universidade federal do rio grande do norte … · como toda construção necessita de um alicerce,...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE POLTICAS PBLICAS - DPP
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS
MESTRADO ACADMICO
EFEITO DA ESTRUTURA ETRIA NAS TAXAS DE HOMICDIOS EM REGIES
METROPOLITANAS BRASILEIRAS (NATAL - RECIFE - SO PAULO)
MRCIO FERNANDES RIBEIRO
NATAL - RN
2012
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes
Departamento de Polticas Pblicas - DPP
MRCIO FERNANDES RIBEIRO
Efeito da estrutura etria nas taxas de homicdios em regies
metropolitanas brasileiras (Natal - Recife - So Paulo)
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Estudos Urbanos e Regionais,
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obteno do ttulo de
Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Flvio Henrique Miranda de
Arajo Freire
Natal-RN
2012
Catalogao da Publicao na Fonte
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Biblioteca Central Zila Mamede
Ribeiro, Mrcio Fernandes.
Efeito da estrutura etria nas taxas de homicdios em regies metropolitanas
brasileiras (Natal - Recife - So Paulo). Natal, 2012.
118 f. : il.
Orientador: Flvio Henrique Miranda de Arajo Freire, Dr.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes. Programa de Ps-Graduao em
Estudos Urbanos e Regionais.
1. Homicdio - Regies metropolitanas Brasil - Dissertao. 2. Populao -
Envelhecimento - Regies metropolitanas - Brasil - Dissertao. 3. Estrutura
etria - Regies metropolitanas - Brasil - Dissertao. I. Freire, Flvio Henrique
Miranda de Arajo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.
RN/UF/BCZM CDU 343.611(81)(043.3)
http://www8.fgv.br/bibliodata/site2/pesquisa/dsp_resultadopesquisa.asp?op=13|PBB&txt=130069&ex=13|PBB&qt=100&tipoPesquisa=LINKBB&Link=0&iRG=0&stringTipo=S&txt2=POLITICA%20HABITACIONAL&dspOp=Obras+do+Autor&dspVl=Politica+habitacional&dspTp=Palavra%20Chavehttp://www8.fgv.br/bibliodata/site2/pesquisa/dsp_resultadopesquisa.asp?op=13|PBB&txt=130069&ex=13|PBB&qt=100&tipoPesquisa=LINKBB&Link=0&iRG=0&stringTipo=S&txt2=POLITICA%20HABITACIONAL&dspOp=Obras+do+Autor&dspVl=Politica+habitacional&dspTp=Palavra%20Chave
MRCIO FERNANDES RIBEIRO
Efeito da estrutura etria nas taxas de homicdios em regies
metropolitanas brasileiras (Natal - Recife - So Paulo)
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Estudos Urbanos e Regionais,
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obteno do ttulo de
Mestre.
Aprovada em ____ de ________________ de _______.
Banca Examinadora
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Flvio Henrique Miranda de Arajo Freire Orientador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Moiss Alberto Calle Aguirre Membro Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Luciana Teixeira de Andrade Membro Externo
Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais PUC-Minas
Aos meus pais, irmos e
sobrinhos que sempre me
apoiam, primordialmente nos
momentos mais difceis
dessa busca constante
repleta de incertezas , que
persisto empreender...
AGRADECIMENTOS
Como toda construo necessita de um alicerce, externo aqui minha gratido, primeiramente
ao Supremo Criador, e, em seguida, aos meus pais, irmos, irms, sobrinhos e sobrinhas, pelo
apoio incondicional as minhas ideias, carinho e compreenso a partir de minhas inmeras
ausncias e recluses pessoais. Viagens pelas prazerosas leituras e interpretaes de
realidades sociais, que eu sozinho jamais teria realizado!
minha irm Marlene, espelho pelo qual venho enxergando o futuro, tendo em vista ter ela
aberto o caminho das letras para todos ns, enquanto famlia que somos. Sendo orgulho e fio
condutor do nosso comportamento tico e moral, dignos de prazer e satisfao. Nossa mestra
de todos os momentos, sempre dedicando do seu precioso tempo para ajudar-nos, nos
orientando a percorrer no caminho do saber, busca constante e inesgotvel, as quais remontam
desde idos de infncia, incluindo nossas trajetrias de educao, desde os primeiros rabiscos.
Professora Dagmar Barbalho, da graduao, por proporcionar-me inspiraes para
enveredar nas literaturas, desde a geografia humana sociologia, me possibilitando conhecer
mais e melhor, temas e abordagens sobre o espao urbano, que rene uma gama de disciplinas
das cincias humanas, dentre elas a demografia, bem como aos demais professores do curso.
Ao meu inesquecvel e Grande Amigo Joo Marcos Farias, que mesmo estando distante
fisicamente, sempre reserva instantes de seu precioso tempo, inclusive sendo esses contatos
por meio telefnico, pelo apoio que eu nem sempre retribuo, inclusive me indicando textos e
lendo os meus escritos, fazendo apontamentos que tm desde ento contribudo para a
finalizao desse meu estudo.
Ao casal de amigos Ednaldo Alves e Simone, por sempre se disporem a contribuir quando a
eles recorro e lhes solicito algum tipo de ajuda, com discusses sobre a temtica por eu
dissertada, ademais, me atendendo prontamente em momentos para conversas informais, me
propiciando descontrao, inclusive em dias especiais, de lazer.
s/aos grandes camaradas do curso de graduao em Geografia, dos quais guardo nobres e
excelentssimas recordaes, e carinhosas lembranas pelo perodo em que fomos companhia
uns dos outros, nos momentos gratificantes de aflies e de sucessos, saudades que tero lugar
de honra e destaque em meu pensar, por qualquer que seja o caminho que eu percorra.
Aos Camaradas Jailson Silva, Lizeide Nunes, Jonir Amorim, Ester Oliveira, Jos Roberto
Baracho, Pedro Jnior, Clcia Oliveira, Dalton Luis, Rosrio Cunha e Washington Castro,
sempre dispostos em contribuir com minha produo acadmica, apoiando em minhas ideias
ainda que complexas, em vezes desconexas e conflitantes. Tambm a Klyne Freire, Antonio
Duarte, Rubens Santos, Jania Souza, Daniela Oliveira, Mery Medeiros, Eucstila Dias, Sgt.
Galvo, Sd. Canind, Aurinay Diniz, Agslene Morais, Jos Martins, Ccero Herculano,
Vagner Vitaliano, Miguel Garcia, Patrcia Carvalho, Ronaldo Felipe, Lcia Alves, Francisco
Vieira, Renata Clarisse, Fernando Rodrigues, Zolnia Fernandes, Andra Viviane, Auzenor
Justino, Marcelino Batista, Carlos Magno, Geralda Efignia, Jaerton Albuquerque, dentre
outros, que direta e indiretamente contriburam com essa dissertao.
Aos professores do PPEUR, por terem sido mediadores nessa minha empreitada acadmica;
sobretudo, motivadores dum processo que se inicia no mestrado, primordialmente por fazer-
me transitar nas disciplinas relacionadas aos estudos do urbano e do regional. Os tenho como
exemplos de incentivo docncia, e que muito me orgulha por eu ter tido a honra de
participar de suas ideias em discusses cientficas.
Aos meus colegas do mestrado por terem sido amigos em momentos difceis que enfrentei,
principalmente de ordem familiar, que amigavelmente compreenderam minhas ausncias.
Alm de laos amigos com Cludia Gazola, Joimary Alves, Joseney Queiroz e Mnica Viana.
Rosangela Gomes, Secretria do PPEUR, e a Sara Raquel que sempre me deram devida
ateno, afeto e respeito quando dos servios administrativos do Programa os quais eu
precisava, tirando dvidas que me surgiam, se preocupando em solucionar eventuais
problemas.
Aos Professores Doutores Moiss Alberto Calle Aguirre (DEST/CCET/UFRN) e Luciana
Teixeira de Andrade (PUCMinas) pelo convite que, prontamente, aceitaram participar da
banca examinadora a qual me conferiu o ttulo de mestre em Estudos Urbanos e Regionais,
contribuindo com relevantes e excelentes sugestes, priorizando o melhoramento cientfico
desse trabalho.
Coordenao de Aperfeioamento Pessoal de Nvel Superior - Capes/CNPq pelo apoio
financeiro ao meu estudo, durante o perodo do curso.
Por fim, minha especial gratido ao Professor Flvio Henrique Miranda de Arajo Freire, que
pacientemente se props orientar-me, tendo pela frente a rdua tarefa de lapidar um
conhecimento prvio, embaraado e vago em relao ao estudo sobre demografia. Orientao
essa com tcnica e rigor cientfico, alm da tica, me dando sugestes de leituras sobre o tema
proposto, enriquecendo minha redao. Tambm me orientando com estmulos e afetividade,
acreditando no meu desejo e capacidade de pesquisar, e apostando em meu potencial de
iniciante, respeitando minhas limitaes ao mesmo tempo em que me impulsionou na anlise
demogrfica, com prudncia e responsabilidade.
O estudo derruba o mito de que
jovem no quer trabalhar e no
gosta de estudar. Mas para que a
sociedade no perca seus jovens
precocemente tem que lhes
garantir o mnimo de
acessibilidades, as quais lhes
possibilitem uma vida adulta
cidad e uma velhice com
dignidade...
(Texto adaptado de Julio Jacobo Waiselfisz)
EFEITO DA ESTRUTURA ETRIA NAS TAXAS DE HOMICDIOS EM REGIES
METROPOLITANAS BRASILEIRAS (NATAL - RECIFE - SO PAULO)
RESUMO
O presente estudo analisa o fenmeno homicdio, a partir da tica das mudanas de estrutura
etria nas regies metropolitanas de Natal, Recife e So Paulo, usando dados do Sistema de
Informaes sobre Mortalidade-SIM/DATASUS, do Ministrio da Sade. Foram realizados
exerccios tericos de padronizao direta com diversas estruturas etrias para avaliar o efeito
das mudanas de estrutura da populao nas taxas de mortalidade por homicdio. Os
resultados apresentados a partir das pirmides etrias e dos grficos apontam para o
envelhecimento da populao nas trs regies metropolitanas, em toda a srie analisada, bem
como evidencia maior risco de vitimizao em pessoas, do sexo masculino, com idades entre
15 e 39 anos. Utilizou-se diversos exerccios de padronizao de taxas de homicdio com
vrios padres etrios, inclusive com uma populao projetada para 2020 da Regio
Metropolitana de So Paulo, ficando mais evidente que quando a populao se torna mais
envelhecida com menos pessoas nos grupos de maior risco, tende a ter taxas de homicdios
menores, podendo ainda apresentar outros resultados, sempre nesta mesma linha de
raciocnio.
Palavras-chave: Homicdio, Estrutura etria, Envelhecimento populacional
EFECTO DE LA ESTRUCTURA DE EDAD EN LAS TASAS DE HOMICIDIO EN
LAS REGIONES METROPOLITANAS EN BRASIL (NATAL - RECIFE - SO
PAULO)
RESUMEN
Este estudio examina el fenmeno de asesinato, desde la perspectiva de cambiar la
estructura de edad de la zona metropolitana de Natal, Recife y Sao Paulo, utilizando los
datos del Sistema de Informacin de Mortalidad-SIM/DATASUS, del Ministerio de Salud.
Se llevaron a cabo ejercicios tericos estandarizacin directa con las estructuras de
diferentes edades para evaluar el efecto de los cambios en la estructura de la poblacin en
las tasas de mortalidad por homicidio. Los resultados presentados en las pirmides de edad
y las cartas apuntan a la poblacin de edad avanzada en las tres reas metropolitanas de la
serie analizada, as como las que muestran un mayor riesgo de victimizacin en las
personas, hombres, de edades comprendidas entre 15 y 39 aos. Hemos utilizado diversos
ejercicios de las tasas de homicidios con patrones estandarizados de distintas edades,
incluyendo una poblacin proyectada para el ao 2020 de la Regin Metropolitana de So
Paulo, cada vez ms evidente que cuando la poblacin se vuelve ms edad con menos
gente en los grupos de mayor riesgo tienden a tener menores tasas de muertes por
homicidio, tambin puede presentar otros resultados siempre la misma lnea de
razonamiento.
Palabras clave: Homicidio, Estructura de edad, Envejecimiento de la poblacin
LISTA DE SIGLAS
RM Regio Metropolitana
CID Classificao Internacional de Doenas
SIM Sistema de Informaes sobre Mortalidade
CEPAL Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
ONU Organizao das Naes Unidas
EUA Estados Unidos da Amrica
PIA Populao em Idade Ativa
PEA Populao Economicamente Ativa
IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
OMS Organizao Mundial da Sade
SEADE Sistema Estadual de Anlise de Dados (Fundao do Governo do Estado de So
Paulo)
TBM Taxa Bruta de Mortalidade
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa fsico-administrativo da Regio Metropolitana de Natal (RMN) ............ 40
Figura 2 Mapa fsico da Regio-administrativo Metropolitana de Recife (RMR) ........... 50
Figura 3 Mapa fsico-administrativo da Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP) ... 58
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de Natal - Ano 2000....................... 42
Grfico 2 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de Natal - Ano 2010....................... 42
Grfico 3 Percentual da Populao da Regio Metropolitana de Natal, segundo o Grupo
Etrio - anos censitrios 2000 e 2010 .................................................................................. 44
Grfico 4 Taxas de homicdio (por 100.000 hab.) da Regio Metropolitana de Natal,
segundo o sexo - perodo 1998/2010 ................................................................................... 45
Grfico 5 Percentual de Homicdios da Regio Metropolitana de Natal, segundo o Grupo
Etrio - perodo 1998/2010 .................................................................................................. 46
Grfico 6 Taxas de Homicdio da Regio Metropolitana de Natal, segundo as idades
Etrias 15-39 anos - perodo 1998/2010 .............................................................................. 48
Grfico 7 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de Recife - Ano 2000 ..................... 52
Grfico 8 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de Recife - Ano 2010 ..................... 52
Grfico 9 Percentual da Populao na Regio Metropolitana de Recife, segundo o Grupo
Etrio - anos censitrios 2000 e 2010 .................................................................................. 53
Grfico 10 Taxas de homicdio (por 100.000 hab.) da Regio Metropolitana de Recife,
segundo o sexo - perodo 1998/2010 ................................................................................... 54
Grfico 11 Percentual de Homicdios na Regio Metropolitana de Recife, segundo o
Grupo Etrio - perodo 1998/2010 ...................................................................................... 55
Grfico 12 Taxas de Homicdios na Regio Metropolitana de Recife, segundo as idades
Etrias 15-39 anos - perodo 1998/2010 .............................................................................. 56
Grfico 13 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de So Paulo - Ano 2000 ............. 60
Grfico 14 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de So Paulo - Ano 2010 ............. 60
Grfico 15 Pirmide Etria da Regio Metropolitana de So Paulo - Projeo
populacional para 2020 ........................................................................................................ 60
Grfico 16 Percentual da Populao na Regio Metropolitana de So Paulo, segundo o
Grupo Etrio - anos censitrios 2000 e 2010 ....................................................................... 62
Grfico 17 Taxas de homicdio (por 100.000 hab.) da Regio Metropolitana de So
Paulo, segundo o sexo - perodo 1998/2010 ........................................................................ 63
Grfico 18 Percentual de Homicdio da Regio Metropolitana de So Paulo, segundo o
grupo etrio - perodo 1998/2010 ........................................................................................ 64
Grfico 19 Taxas de homicdio da Regio Metropolitana de So Paulo, segundo as idades
etrias 15-39 anos - perodo 1998/2010 .............................................................................. 66
Grfico 20 Percentual da Populao das Regies Metropolitanas de Natal, Recife e So
Paulo, segundo o grupo etrio - Ano 2000 .......................................................................... 75
Grfico 21 Percentual da Populao das Regies Metropolitanas de Natal, Recife e So
Paulo, segundo o grupo etrio - Ano 2010 .......................................................................... 75
Grfico 22 Taxas de Homicdio (por 100.000 hab.) na Regio Metropolitana de Natal -
perodo 1998/2010 ............................................................................................................... 79
Grfico 23 Taxas de Homicdio (por 100.000 hab.) na Regio Metropolitana de Natal -
perodo 1998/2010 ............................................................................................................... 80
Grfico 24 Taxas de Homicdio (por 100.000 hab.) na Regio Metropolitana de Recife -
Perodo 1998/2010 ............................................................................................................... 83
Grfico 25 Taxas de Homicdio (por 100.000 hab.) na Regio Metropolitana de Recife -
Perodo 1998/2010 ............................................................................................................... 84
Grfico 26 Taxas de Homicdio (por 100.000 hab.) na Regio Metropolitana de So
Paulo - Perodo 1998/2010 .................................................................................................. 87
Grfico 27 Taxas de Homicdio (por 100.000 hab.) na Regio Metropolitana de So
Paulo - Perodo 1998/2010 .................................................................................................. 88
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................................ 19
2 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 26
2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 26
2.2 Objetivos Especficos ........................................................................................... 26
3 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................................................... 27
4 CARACTERIZAO DEMOGRFICA E DOS HOMICDIOS NAS REGIES
METROPOLITANAS DE NATAL, RECIFE E SO PAULO ......................................... 36
4.1 REGIO METROPOLITANA DE NATAL (RMN) .......................................... 39
4.2 REGIO METROPOLITANA DE RECIFE (RMR) .......................................... 49
4.3 REGIO METROPOLITANA DE SO PAULO (RMSP) ................................ 58
5 METODOLOGIA E TCNICAS UTILIZADAS NA PESQUISA ................................. 67
6 ANLISES DO EFEITO DA ESTRUTURA ETRIA NAS TAXAS DE
MORTALIDADE POR HOMICDIO PARA AS REGIES METROPOLITANAS DE
NATAL, RECIFE E SO PAULO .................................................................................... 71
6.1 ANLISES DAS TAXAS DE HOMICDIO PARA A REGIO
METROPOLITANA DE NATAL ...................................................................................... 76
6.2 ANLISES DAS TAXAS DE HOMICDIO PARA A REGIO
METROPOLITANA DE RECIFE ...................................................................................... 81
6.3 ANLISES DAS TAXAS DE HOMICDIO PARA A REGIO
METROPOLITANA DE SO PAULO.............................................................................. 85
7 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 89
REFERNCIAS .................................................................................................................. 95
APNDICES
ANEXO
19
1 INTRODUO
O presente estudo visa pesquisar o fenmeno homicdio1 nas regies metropolitanas
(RM) brasileiras, de Natal, Recife e So Paulo. As mortes violentas impactam na sociedade de
diversas formas e, certamente, em todos os espaos habitados, ou seja, aonde haja as
interaes sociais.
Os homicdios, conforme a literatura, pertencem ao grande grupo X85-Y05 Agresses,
da Classificao Internacional de Doenas CID 10, que para as anlises desse estudo so
coletados a partir dos dados fornecidos pelo Sistema de Informaes sobre Mortalidade
SIM/DATASUS, do Ministrio da Sade2.
O estudo se baseia nas trs RMs descritas, distintas inclusive geograficamente
(Anexo), sendo a de So Paulo, a maior e mais consolidada do Brasil, com taxas de
homicdios em forte declnio, e estrutura etria mais envelhecida que as outras duas regies
em anlise. Recife possivelmente mais consolidada RM nordestina, e certamente a mais
violenta das trs analisadas. A Regio Metropolitana de Natal (RMN) caracterizada por ser
uma metrpole em formao, com taxas de mortalidade por homicdio em ritmo de
crescimento nos ltimos anos. A estrutura etria da RMN, de acordo com os dados, mais
jovem do que as outras duas.
A Regio Metropolitana de So Paulo, por ser bastante populosa, possui enormes e
complexos problemas estruturais, dentre os quais reas densas de ocupaes desordenadas,
1 De acordo com Viano (2007, p.109), o homicdio o pice de uma cadeia ou srie de aes e reaes menores
por parte dos envolvidos. A interao de dois agentes e, s vezes, das pessoas em volta pode descambar em
violncia. Sendo assim, o homicdio o ato de agir de forma violenta contra uma ou mais pessoas, resultando
em morte de oponente. O homicida, inclusive em algumas situaes e talvez usando de atitudes covardes, se
apodera na maioria das vezes, de objetos perfuro cortantes e ou utiliza-se de agresses fsicas excessivas e
desproporcionais ao ponto de matar outro(s) indivduo(s) envolvido(s) em ao conflitante. 2 Disponvel em:
20
com destaque para espaos habitados de forma precrias3, inclusive no municpio polo da
RM. Alguns estudos sobre essa Regio metropolitana evidenciam altas taxas de homicdios
principalmente nos anos 1980 e 1990, a qual se apresentava como a mais violenta do pas.
Observando os dados do SIM/DATASUS, e estudos de Soares (2008), Viano (2007) e
Waiselfisz (2008b; 2010; 2011), os homicdios nesta RM vm caindo consideravelmente.
Na Regio Metropolitana de Recife (RMR) se evidencia desde os anos 80 um
crescimento desordenado do espao urbano, o que no difere do crescimento urbano das
demais metrpoles estudadas; o processo de urbanizao mais evidente a partir de
ocupaes precrias e alto ndice de desigualdades sociais, possivelmente decorrentes desse
crescimento desigual. A RMR alm de ter enormes taxas de desigualdades sociais, tambm
ostentava como uma das regies mais violentas do Pas at meados de 2000, mas que
recentemente vem refletindo estagnao nas taxas de mortalidade por homicdio, constatada
pelos dados do SIM/DATASUS; dados que corroboram com pesquisas de Minayo (1994),
Mello Jorge; Gawryszewski; Latorre (1997), Freire; Silva (2010) e Waiselfisz (2008a; 2008b;
2010).
Sobre a Regio Metropolitana de Natal, os dados do SIM/DATASUS, e anlises de
Freire e Silva (2010), vem apontando para um aumento nas taxas de mortes por homicdio em
quase toda a srie temporal evidenciada, com destaque para os anos 2008 e 2009, que
atingiram taxas brutas de mortalidade de 30,03 e 34,47 homicdios por 100.000 habitantes,
respectivamente. Duas provveis hipteses emergem inicialmente desta problemtica, a
primeira consiste por suspeitas de que os homicdios esto associados ao trfico e consumo de
drogas e lcool, e que as vtimas desse conflito social so quase na sua totalidade de jovens,
3 reas de aglomerados subnormais, conforme resultados do Censo 2010.
21
que residentes em bairros pobres, nas periferias das regies estudadas, esto mais vulnerveis
e suscetveis de serem afetados pela violncia letal.
A literatura tem apontado outros caminhos, englobando a prpria dinmica do espao
urbano e as desigualdades de oportunidades e de acesso a bens e servios, constatados nas
interaes sociais. Muito embora o fenmeno do homicdio seja percebido mais em reas de
pobreza, sua ocorrncia possui uma dinamicidade muito variada.
A literatura tambm evidencia que quanto mais integrada e urbanizada estiver a regio
metropolitana mais suscetvel violncia estar a populao jovem que considerada como a
de maior risco, uma vez que o processo de urbanizao cria condies necessrias para o
crescimento demogrfico e, consequentemente, esse talvez impacta nas taxas de mortes por
homicdio em regies metropolitanas, conforme afirmam pesquisas feitas por Cano; Santos
(2003; 2007) Dias (2004) e Freire et al. (No prelo 2011). A RMN apresenta nos municpios
mais integrados com o polo, maior concentrao populacional e, consequentemente, maiores
percentuais e taxas de bitos por agresses, muito embora haja leituras que apontam para a
interiorizao do fenmeno.
Constata-se que h necessidades de se analisar o fenmeno da violncia e do crime a
partir da quantificao de variveis (independentes e dependentes) das vtimas. Variveis
essas que podero proporcionar respostas s inquietaes nos campos investigativos das
cincias humanas e sociais, e mais nos estudos estatsticos e demogrficos.
Segundo Abramovay et al. (2002) e Napoleo; Castro (2000), a pobreza e a
distribuio de renda to somente no medem as consequncias das mortes violentas. Para
essa autora h outros motivos causadores, que talvez possam estar relacionados s redes
sociais mantidas pelos jovens, bem como ausncia de polticas de juventude, com educao de
qualidade, moradia digna, lazer comprometido com a cidadania. Atualmente podem-se
22
verificar grupos de jovens, inclusive estudantes, utilizarem meios para combinar conflitos
rivais, como se fosse uma demarcao de territrio, num suposto novo modelo identitrio,
promovendo conflitos entre estudantes de escola X, que no pode dividir espaos harmnicos
com os de escolas Y, porque se encontram para brigar.
Certamente os conflitos que ocorrem entre grupos de jovens rivais em diferentes
espaos urbanos apontam novas configuraes para o enfrentamento da criminalidade e para
os desdobramentos de suas formas violentas, como exemplo, os conflitos que ressurgem nas
ruas de espaos urbanos e, que muitos deles resultam em homicdios.
Hoje, grupos de jovens adolescentes se encontram para conflitar, ou seja, sendo mais
uma forma de demarcar territrios, conforme seus interesses individuais, enquanto
componentes de grupos sociais distintos, caracterizados atravs de rtulos e vestimentas
denotando a diferenciao de cada um deles. Muitos desses jovens assumem ideais e
comportamentos ditos modernos, visando primordialmente serem aceitos em grupos juvenis,
os quais inspiram coragem, liberdade e aceitao.
perceptvel que em muitos dos casos onde se constatam conflitos juvenis, iniciam-se
a partir de seus passeios aos shoppings e outros lugares pblicos dos grandes centros urbanos,
inclusive em campos de futebol, objetivando principalmente se enturmarem nos grupos j
existentes, dentre esses os de torcidas organizadas de times de futebol, onde quase sempre
acabam em conflitos e verdadeiras ondas de violncia, provocando arrastes furtos/ roubos e,
impondo pnico aos frequentadores, clientes dos estabelecimentos comerciais desses espaos,
atravs de atos agressivos. Tambm j se tm registrado casos de assassinatos entre
torcedores. Aes essas que preocupam autoridades do governo e da justia, bem como
provoca desestruturao nas famlias dos envolvidos nos conflitos.
23
O fenmeno do homicdio vem sendo observado em maior grau nos pases pobres, que
esto em vias de desenvolvimento, como apontam as pesquisas sobre violncia na Amrica
Latina e Caribe, da Comisin Econmica para Amrica Latina y el Caribe - CEPAL
(KAZTMAN, 1999; 2001) no estudo sobre vulnerabilidades na Amrica Latina, por
Abramovay et al. (2002) e Waiselfisz (2007). As pesquisas realizadas por Waiselfisz (2008a;
2008b; 2010) vem apontando para aumento nas taxas de homicdios em regies latino-
americanas, com destaque para a Guatemala, Honduras, Colmbia, Brasil, Haiti e El
Salvador.
Algumas supostas contradies afloram dessa afirmao, tendo em vista que, pases do
continente africano, bem como da sia e Oriente Mdio, conforme dados do PNUD4, da
Organizao das Naes Unidas (ONU), possuem baixas taxas de crimes violentos
envolvendo a populao jovem, salvo as regies que vem h dcadas travando guerras por
terras e religiosas.
O tema violncia bastante investigado por estudiosos de diversas reas do
conhecimento, sendo o homicdio, em especial aquele que posterior ao ato violento, o que
faz suscitar conceitos existentes na sociedade moderna, como o de misria e de conflito e
excluso socioespacial.
Na Europa, Foucault (2007) tem desenvolvido um expressivo estudo relacionado ao
problema da priso e da punio, o qual remonta desde os sculos XVI, XVII e XVIII at aos
dias de hoje. No seu famoso livro Vigiar e Punir, ele apresenta como se desenvolveu a
punio na Frana a partir do perodo inquisitrio, com mtodos de castigo que levava o ru a
humilhao, a dor/ sofrimento, e finalmente morte.
4 Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento Brasil. Disponvel em:
24
Nos Estados Unidos da Amrica (EUA), a Escola de Chicago apresenta diversos
estudos sobre a criminalidade e a violncia, e que sempre est associado pobreza, ao risco e
vulnerabilidade social, o que Kaztman; Filgueira (1999) e Kaztman (1999; 2001) e
Abramovay; et al. (2002) vo dizer que, na Amrica Latina, pensando o caso das metrpoles
nacionais, essa situao se agrava pelo processo de vitimizao5 que surge da exposio
vulnerabilidade e aos riscos sociais, onde os jovens e suas famlias so submetidos ao
sofrerem o processo de segregao, tanto social quanto espacial.
Os resultados sobre vtimas de homicdios apontam para o grupo etrio de 15 a 29
anos como sendo o de maior risco (WAISELFISZ, 2008b; 2010; 2011; 2012). Outros estudos,
como os de Soares (2008) e Viano (2007), citam tambm, em menor escala, como potenciais
vtimas de mortes por agresses pessoas na idade entre 30 a 39 anos.
A criminalidade violenta entra para a modernidade como um entrave de governos e da
sociedade de modo geral. Percebe-se de acordo com pesquisas sobre pobreza e desigualdades
sociais (BEATO FILHO; REIS, s/d), de que cada vez mais esse tipo de atitude marginal
gerada pela violncia tem atingido agressivamente a juventude; e consequentemente provoca
fissuras e deformaes na estrutura etria da populao, e certamente tem acarretado
preocupaes ao Estado, ao mercado e sociedade, por atingir com agressividade grupos
etrios da Populao em Idade Ativa (PIA) e Populao Economicamente Ativa (PEA), no
Brasil, como apontam o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) e o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).
Est claro, portanto, que a violncia levada ao seu extremo, atravs do homicdio,
seletiva por idade, e atinge a populao de forma diferente ao longo dos grupos etrios. No
5 A etimologia da palavra/ termo vitimizao, deriva do latim victima (victimia e victus), a qual tem origem no
paganismo; o termo era utilizado para designar pessoa ou animal oferecida como// por sacrifcio aos deuses.
Juridicamente, o termo vtima tem significado na pessoa que sofre ameaa, infortnio, provocado por si
mesma, por outrem ou por decorrncia do acaso (abuso da honra, vida, liberdade, etc.). (Novo Dicionrio
Aurlio Sculo XXI, com adaptaes do autor).
25
Brasil em geral, durante boa parte do sculo passado, observou-se uma grande transformao
nos nveis de mortalidade e fecundidade, de maneira que cada vez mais as mulheres passaram
a ter menos filhos e a esperana de vida passou a aumentar com os anos, a consequncia mais
direta e perceptvel desta transio demogrfica foi a mudana na estrutura etria da
populao rumo ao envelhecimento, como apontam Brito; Carvalho e Baeniger (2007) e
Fernandes (1996).
Este trabalho no se ocupa em discutir as questes sociais e econmicas que levam
algum a cometer um homicdio. Tambm no objetivo aqui analisar consequncias sociais
para o aumento ou declnio de taxas de homicdio, embora no captulo IV seja apresentada
uma anlise do perfil da violncia por homicdio das trs regies metropolitanas.
Constata-se que, a relevncia desse estudo se d na medida em que o fenmeno
homicdio direta e ou indiretamente vem afetando a dinmica populacional a partir das
mudanas perceptveis na estrutura etria, bem como possibilitando novos caminhos para
investigaes nas diversas reas das cincias humanas.
O trabalho inicia-se com um texto introdutrio, justificando a escolha do tema,
seguido da exposio dos objetivos, geral e especficos. A anlise se divide em: Captulo III,
da reviso bibliogrfica; no Captulo IV, faz-se a caracterizao demogrfica e dos homicdios
nas trs RMs analisadas, especificando cada uma delas, com explicitao de grficos em
percentuais de populao e homicdios; o Captulo V aborda a metodologia e as tcnicas
utilizadas para comparar o fenmeno dos homicdios nas trs regies analisadas e, o Captulo
VI avalia o efeito das mudanas de estrutura etria nas taxas de homicdios. Sero tecidas
algumas consideraes finais, ressaltando os principais resultados produzidos pelas anlises
nas regies comparadas.
26
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Esse estudo prope avaliar o efeito das mudanas de estrutura etria nas taxas de
homicdios, observando as regies metropolitanas de Natal, Recife e So Paulo.
2.1 Objetivos Especficos
Evidenciar o fenmeno homicdio na medida em que esse sofre impactos das
mudanas de estrutura etria da populao nas trs regies metropolitanas (RMs)
analisadas;
Verificar as taxas bruta e padronizada de mortalidade por homicdios nas trs
regies metropolitanas;
Estudar as taxas de homicdio nas trs RMs, segundo sexo e idade; e,
Analisar a tendncia temporal dos homicdios nas trs Regies Metropolitanas.
27
3 REVISO BIBLIOGRFICA
O tema homicdio, por estar ao longo de vrias dcadas trazendo inmeras
preocupaes s pessoas e sociedade de um modo mais amplo, tem suscitado investigaes
em diversos campos das cincias humanas, com destaque para a sociologia, a geografia e a
demografia, sendo essa ltima disciplina interesse primordial desse estudo. Conforme
pesquisas demogrficas acerca do homicdio, atualmente h uma linha de pressupostos na
qual se investiga de que forma as taxas de homicdios est interferindo nas mudanas de
estrutura etria rumo ao envelhecimento populacional.
Como atestam Beato Filho; Marinho (2007), Beato Filho; Peixoto e Andrade (2004),
Raizer (2007) e Soares (2008), alm de Waiselfisz (2010; 2011; 2012), o perfil demogrfico
das vtimas de homicdio de homens adultos jovens, principalmente entre as idades de 15 a
39 anos.
Zaluar (1996) e Cano; Ribeiro (2007) apontam para o processo de urbanizao da
criminalidade violenta, com nfase nos homicdios ocorridos em municpios que tm grau de
integrao6 muito forte com o polo metropolitano, processo esse que estaria mudando o
comportamento etrio da populao da regio, denominado por alguns gegrafos de
comportamento metropolitano e ou rurbano, que tambm da geografia pode-se chamar de
rea ou regio em processo de conurbao. J, Adorno (1993) e Yunes (2001), alm de
6 A definio quanto ao nvel de integrao na dinmica do aglomerado metropolitano do trabalho: Anlise das
Regies Metropolitanas do Brasil: Identificao dos espaos metropolitanos e construo de tipologias
(OBSERVATRIO DAS METRPOLES, 2004) e levou em considerao as seguintes variveis: Taxa de
crescimento populacional total por municpio 1991-2000; Densidade hab/km2; Nmero de pessoas que
trabalham ou estudam em outros municpios 2000; percentual de ocupados no-agrcolas em 2000; nmero de
passageiros em vos domsticos; posio no ranking nacional dos portos e PIB em 2003. Disponvel em: Freire
et al., (No prelo 2011), pesquisa Organizao social do territrio e criminalidade violenta, desenvolvida pelo
Observatrio das Metrpoles/INCT/CNPq.
28
considerarem esse fator do ponto de vista da urbanizao, chama ateno para o aumento da
criminalidade violenta interiorizao do fenmeno.
H vasta literatura sobre o tema homicdio, contudo, nesse estudo se tentar trazer
alguns conceitos e ideias mais gerais acerca do assunto. A violncia letal, no caso dos
homicdios, cada vez mais tem influenciado estudos, em diferentes campos cientficos, como
na sociologia, na geografia, na antropologia, na histria, na psicologia, no direito criminal/
penal e na demografia.
As pesquisas sobre homicdio trazem diversificadas questes interpretativas, duas das
quais estariam centradas sobre como e onde se do os crimes, e de que forma possvel
entender o comportamento social da vtima. Essa ltima questo, como coloca vrios autores
das cincias humanas, provavelmente traz associao ao comportamento social do indivduo
criminoso, que age em todas as sociedades e nos seus diversos estratos, ou seja, bases sociais.
Alves (1994) e Alves; Cavenaghi (2006), atravs de suas pesquisas sobre transio
demogrfica, descrevem as mudanas na estrutura etria da populao brasileira que ocorrem
a partir do declnio da fecundidade, diminuindo em sua base e aumentando no topo, ou seja,
h visvel queda da natalidade com envelhecimento da populao pela base da pirmide. H
tambm o envelhecimento pelo topo, passando pela reduo da mortalidade, principalmente
na idade adulta. (IBGE, 2009).
Observando que o fenmeno homicdio tambm impacta e muda a estrutura etria de
uma populao, por ser um fato social na viso durkheimiana, se d por meandros da
vulnerabilidade que o indivduo est propenso a sofrer em sua linha tnue de vida. Alm
disso, possvel visualizar essa dinmica sobre outra tica, a mudana na estrutura etria
pode impactar nas taxas de mortalidade por homicdio, desde que diminua ou aumente o peso
relativo da populao em idade de maior risco.
29
Trazendo a discusso sobre homicdios para as ocorrncias do fenmeno nas RM
analisadas, objeto desse estudo, o que no recente, percebe-se um complexo, mas imbricado
escarcu de conceitos que perpassam a ideia to somente sociolgica da criminalidade;
observa-se que cada vez mais a problemtica envolvendo os crimes violentos tem ganhado
dimenso no campo da demografia. Conforme Adorno (1993), Santos (2007) e Viano (2007),
as mortes por homicdios esto tomando corpo na sociedade, ao ponto de interferir no
somente na vida das pessoas, mas no modo de vida das cidades.
As anlises de Foucault (2007) sobre o nascimento da priso como modelo de punir
em substituio ao suplcio, se faz constata no conflito gerado pela violncia. O autor afirma
que no final do Sculo XVIII o suplcio j d indcios de extino. A partir de ento
necessrio que seja reformulada a ttica condenatria imposta pela justia, uma vez que o
suplcio tornara-se intolervel. O delinquente do Sculo XVIII mais ousado, audacioso no
cometimento do crime do que o do sculo anterior. A delinquncia agora (Sculo XVIII) est
agindo de forma mais organizada. Interpretar as leis e suas formas punitivas.
Talvez um modo de questionar como funcionasse a prtica da polcia e a justia na
Europa dos Sculos XVII e XVIII. As causas dos crimes contavam com investigaes mais
bem reguladas nos princpios intervencionistas da realeza, que sancionava a aplicabilidade de
leis, com olhares cuidadosos, precisamente, como enfatiza Foucault, aos crimes cometidos
contra a economia. O autor discorda da ideia de uma justia mais humanizada e suave quanto
ao fato de negar o suplcio.
E, conforme Sueli Felix (2002) e Zaluar (1985; 1996), a violncia no uma novidade
que est ocorrendo na sociedade moderna; a criminalidade violenta remonta desde as tribos
primitivas, que tradicionalmente usavam rituais violentos como forma de punio, e tambm
como forma de dominao aps conflitos e guerras sangrentos.
30
possvel que os atos violentos mortes decorrentes de homicdios, latrocnios,
suicdios, acidentes de trnsito tenham razes na natureza selvagem do indivduo, porm,
esse pensamento colide um tanto com as discusses atuais. Porm, A viso do panoptismo em
Foucault (2007) de que o criminoso sendo uma ameaa sociedade, estando preso tenha que
ser conduzido sempre para um ordenamento exemplar e educativo. Qualquer deslize humano
tido como erro, cujo tem como equilbrio uma resposta da sociedade ao crime, sendo a
punio o modelo mais presente e visvel na contemporaneidade.
Muito embora se observe que, a violao e ou a morte por homicdio so as formas
mais grotescas, cruis e desumanas, que merecem ateno dos governantes e da sociedade.
Inclusive com maior incidncia de mortes violentas se concentrando na populao masculina
e jovem. real, no entanto, que a violncia no pode ser vista como coisa dada simplesmente.
De acordo com Abramovay et al. (2002), Beato Filho; Marinho (2007) e Peixoto (2003), o ato
violento, como resultante do homicdio, ocorre em quaisquer das esferas pblicas e privadas
da sociedade, ou seja, a criminalidade violenta como ao/ reao do sujeito alastra-se por
todas as comunidades e grupos sociais, nas suas diversas classes.
Pensar o crime violento e a sua dinmica demogrfica, com relao amplitude social
seja talvez reconstruir uma epistemologia sociolgica da violncia, pormenorizando as
instncias particularizadas sob o prisma do cotidiano nas sociedades modernas. Mas esse no
ser objetivo dessa investigao.
Muitos autores da sociologia, como Beato Filho; Marinho (2007) e Soares (2008) ao
investigarem, principalmente, sobre violncia urbana tm percebido que quanto mais um
espao se urbaniza, como se constata em regies metropolitanas brasileiras, mais violento ele
se torna.
31
A violncia letal considerada hoje um dos fatores que certamente tem impactado nos
campos da poltica e da economia, reproduzindo enormes fendas desiguais na vida das
pessoas (MAIA, 1999) e (MARANDOLA JNIOR; HOGAN, 2009). Entretanto, outros
autores colocam que no somente os espaos ditos metropolitanos, mais tambm algumas
regies do meio rural j apresentam considerveis taxas de mortes por homicdio, e que
algumas regies metropolitanas, tomando o exemplo de So Paulo nesse estudo, tm suas
mortes por homicdio em pleno declnio.
Argumentos de Coelho (2005), sobre as curvas que se impregnam nos atos
consumados da violncia letal traz a tona, por parte de uso pelo poder pblico, duas
perspectivas de justia, uma distributiva e outra retributiva, politicamente opostas, e
provavelmente dvidas quanto ao aparelhamento das polcias, civil e militar, que requerido
pela sociedade frente percepo da insegurana e incorporao da eficincia e da eficcia
da sistema de segurana pblica. Tais argumentos tambm coincidem com os de Peralva
(2000) e Soares (2007), muito embora esse trabalho no tenha proporcionado anlises
profundas sobre esse assunto, contanto, se fez necessrio abord-los aqui devido
congruncia das discusses levantadas em pesquisas relacionadas ao judicial e justia
criminal.
As contribuies descritas nesse captulo, sobre o fenmeno homicdio, refletem a
aproximao do enfoque urbano com a demografia. A compreenso e anlise dos resultados
apresentados para as trs regies metropolitanas pesquisadas demonstram a interao nos
debates entre as duas reas de estudo.
O homicdio, conforme Adorno (1993), Cano; Santos (2007) e Waiselfisz (2010;
2011), um fenmeno urbano, mas que j h fortes indcios de sua interiorizao (SOARES,
2008), e afeta cada vez mais a populao masculina jovem e adulta jovem. Afirma Soares
32
(2007) que, falta uma poltica de segurana no territrio brasileiro compatvel com as
problemticas no somente relacionadas s drogas e ao seu consumo, mas corroborando com
Abramovay et al. (2002) e Waiselfisz (2007; 2008b) so ausentes polticas sociais voltadas
para os jovens, principalmente os jovens de classes menos favorecidas na sociedade.
Na Amrica Latina e Caribe se destacam os trabalhos da CEPAL, em particular os
trabalhos de Kaztman (1999; 2001), ao ressaltar que h um conjunto de fatores contribuintes
para se atingir a vulnerabilidade social. No entanto, o risco social est presente em todos os
espaos de interaes na sociedade, e que esses problemas uma vez relacionados ao processo
de urbanizao, tambm se torna preocupante nas comunidades, tendo em vista que a
violncia letal se instala com maior rapidez aonde h mais fragilidades versus implantao de
mecanismos de intervenes.
No Brasil, Abramovay et al. (2002) e Medeiros; Osrio (2000) tecem consideraes
sobre pobreza e desigualdades sociais, com nfase principalmente nos confrontos gerados nas
famlias, domiclios. Os contrastes verificados nas famlias certamente so herdados de
gerao em gerao. Kaztman (2001) alega que, em famlias ou domiclios onde pais no
conseguem garantir educao aos filhos, tornam-se desestruturadas, porque no conseguem
influenciar na insero de seus filhos no mercado de trabalho. Provavelmente os conflitos
familiares geram, de formas diversificadas e diretas e ou indiretas, tipos de agresses fsicas
que culminam em mortes.
Andrade; Marinho (2011) pesquisando o problema da violncia na Regio
Metropolitana de Belo Horizonte, em contraste ao processo de urbanizao, bem como Raizer
(2007), Santos (2007), Peres (2007) e Peres; Santos (2005), pesquisando o mesmo tipo de
violncia no Estado do Esprito Santo, evidenciam como possveis impactos das mortes por
33
homicdio, no somente o processo de urbanizao, mas justamente a questo da
juvenilizao do fenmeno, o que por sua vez interfere na dinmica da estrutura etria.
Percebe-se, porm, o homicdio se constituindo, enquanto problemtica exclusiva da
sociedade. Algumas causas do crime esto inseridas num contexto de excluso e
desigualdades sociais, as quais so ntidas nas grandes cidades do pas, como apontam
Abramovay et al. (2002); Mello-Jorge; Gawryszewski; Latorre (1997); Minayo (1994); Patel
(2000); Waiselfisz (2008b).
Porto (2000, p.6) afirma que: A violncia passa a ser consumida num movimento
dinmico em que o consumo participa tambm do processo de sua produo, ainda que como
representao. A autora ainda diz que, a violncia num cotidiano mundializado acompanha
uma trama social a partir do processo de urbanizao/ globalizao em curso, o qual inclui,
mas tambm exclui indivduos e grupos em sociedades. Onde esse processo de urbanizao
passa primordialmente pelo processo de crescimento da histria demogrfica de uma regio
que esteja em plena evoluo socioeconmica sugerida por Nadalin (2004).
Diversos estudos, como os de Abramovay et al. (2002) e Waiselfisz (2008; 2010;
2011; 2012), concluem que a pobreza pouco impacta nas mortes violentas, tendo em vista que
em regies muito pobres, a exemplo da frica e sia, no h ndices de mortes por homicdio
se comparadas aos que ocorrem em pases em desenvolvimento, como no Brasil.
Toda essa reviso bibliogrfica mostra como complexo o estudo da criminalidade
violenta, traduzida aqui em mortalidade por homicdios. Ao longo de todos os autores citados,
est claro um fato que comum e mencionado por muitos trabalhos, a dimenso demogrfica
do fenmeno. Homicdios no uma causa de morte distribuda em todas as faixas etrias,
alm de ter forte diferencial por sexo.
34
O Brasil, desde a dcada de 40 do sculo anterior, comeou a experimentar declnio
nos nveis de mortalidade e, posteriormente, de fecundidade, impactando fortemente na
estrutura etria da populao. Conforme dados do IBGE, h certa desconcentrao do
quantitativo populacional em alguns grupos etrios, principalmente em coortes jovens, A
questo : ser que isso tem algum efeito nas taxas brutas de homicdios? Outra questo se
pode elaborar a partir deste raciocnio: como ser a tendncia dos homicdios numa populao
que est envelhecendo rapidamente?
Alm disso, esse processo de declnio da fecundidade e da mortalidade ocorre em
ritmo diferente nas diversas regies do Pas. H regies onde a fecundidade inicia seu declnio
mais tardiamente que outras, o declnio da mortalidade tambm teve ponto de partida e ritmo
de declnio diverso entre as regies. Alm do que, existe o que se denomina inrcia
demogrfica (FREIRE, 2011), onde um declnio de fecundidade no implica em imediato
declnio da natalidade. Portanto, temos diferentes estgios de envelhecimento populacional no
Brasil.
Neste sentido, haver regies onde a populao dos 15 aos 19, 20 aos 24 e at mesmo
dos 25 aos 29 anos perdem peso relativo, e como so essas as faixas etrias de maior risco de
homicdio, a taxa bruta geral de homicdios nesses locais tendem a diminuir. Alm disso,
mesmo naquelas regies que ainda no experimentam esse fenmeno, a tendncia que sua
estrutura etria envelhea, impactando da mesma maneira nas taxas de homicdio.
Este cenrio, portanto, reduz a quantidade de indivduos com maior risco de
vitimizao por homicdios, principalmente nos grupos etrios compreendendo os indivduos
da populao entre 15 e 39 anos de idade. Silva (2006) analisando a tipologia dos homicdios
consumados e tentados em Belo Horizonte, entre 2003 e 2005, refora a tese de que os jovens
35
de 15 a 25 anos so os que tm maiores riscos de serem vtimas e ou autores de crimes
violentos.
Silva (2006) tambm afirma em sua anlise, que a maioria dos envolvidos nas mortes
violentas do sexo masculino, corroborando com as afirmaes de diversos estudos sobre o
fenmeno homicdio. Entretanto, a comarca por ela analisada est em uma regio que vem
apontando expressiva reduo nas taxas de mortes por homicdio, nos ltimos dez anos,
inclusive a despeito dessa regio duas das maiores metrpoles brasileiras, como Rio de
Janeiro e So Paulo tambm esto apresentando baixa fecundidade e natalidade, constatado
atravs dos resultados dos censos do IBGE.
Por outro lado, h tambm o impacto dos homicdios nos componentes que regem a
dinmica demogrfica. Torres (2010) mostra que em regies com altas taxas de homicdios,
como na Regio Metropolitana de Recife, essas mortes tm um impacto de reduzir em at 3,5
anos a esperana de vida nos homens. Mas, isso no objeto deste estudo.
36
4 CARACTERIZAO DEMOGRFICA E DOS HOMICDIOS NAS REGIES
METROPOLITANAS DE NATAL, RECIFE E SO PAULO
Nesse captulo feita uma breve caracterizao de cada regio metropolitana em
anlise e sero apresentados dados comparativos das trs RMs analisadas, tanto referente
populao quanto ao homicdio, inclusive com percentuais e taxas por 100.000 habitantes, em
toda a srie escolhida, compreendendo o perodo de 1998 a 2010, distribuda por grupo etrio
e sexo.
A caracterizao demogrfica que se pretende abordar com as anlises deste captulo
buscam elucidar as modificaes pelas quais as estruturas etrias das regies metropolitanas
de Natal, Recife e So Paulo vm experimentando.
As trs regies metropolitanas aqui em estudo apresentam cenrios distintos tanto de
estrutura etria como de distribuio socioeconmica, certamente essas RMs se configuram
como grandes centros urbanos, onde seu polo geralmente concentra o chamado corao
financeiro da regio, uma vez que nelas se instalam indstrias e empresas de porte, como
multinacionais de montagem e produo em larga escala, visando justamente suprir o
mercado tanto interno como, e primordialmente o externo. Com isso, tambm se pode
perceber que nessas regies que se observam os maiores problemas socioeconmicos,
abismos entre classes sociais.
A Regio Metropolitana de Natal est localizada no Nordeste brasileiro, podendo ser
considerada uma metrpole que ainda est em processo de formao, conforme estudos de
Clementino e Pessoa (2009), diferentemente das outras duas aqui em anlise. E que conforme
37
estudos recentes realizados por Freire et al. (No prelo 2011), essa RM formada por dez7
municpios, concentra em Natal, seu polo metropolitano, maior quantidade de populao,
inclusive segundo os dados dos censos demogrficos 2000 e 2010, o municpio polo
totalmente urbanizado, e que os dados desse ltimo constata que Parnamirim atingiu esse
processo associado ao desenvolvimento.
Freire et al. (No prelo 2011) ainda constatam que o polo, municpio de Natal, cresceu
a uma taxa de 1,81 % ao ano no perodo 1991/2010 enquanto que o municpio de Parnamirim
cresceu a um ritmo de 7,9% ao.ano, seguido de So Gonalo do Amarante com taxa de
4,86%. Esses autores tambm apresentam comparaes entre a morte violenta e o grau de
integrao metropolitano para a RMN, onde os municpios de Cear-Mirim, Monte Alegre,
Nsia Floresta e So Jos de Mipibu tm baixo grau de integrao com o polo, enquanto que
Parnamirim e So Gonalo do Amarante tm alto grau de integrao, e coincidentemente
agrega os maiores ndices do fenmeno homicdio.
A Regio Metropolitana de Recife, tambm situada no Nordeste, por estar bem mais
consolidada do que a RMN, certamente tem um desenvolvimento socioeconmico mais bem
estruturado e dinmico, e tambm uma populao mais envelhecida. Freire et al. (No prelo
2011) afirma que, os municpios de Jaboato dos Guararapes, Olinda e Paulista apresentam
alto grau de integrao com Recife, o polo metropolitano, enquanto que, Ipojuca tem baixo
grau. E trazendo para a problemtica do homicdio, esses autores evidenciam que: No geral
os dados evidenciam o aspecto eminentemente urbano da regio metropolitana de Recife,
caracterstica que pode explicar a alta criminalidade observada na regio. E mais, as anlises
desses autores apontam que nessa RM. A tendncia decrescente evidencia a relao negativa
entre Incidncia da Pobreza e taxa total de homicdio em Recife.
7 Muito embora os autores considerem a mesma configurao metropolitana usada pelo DATASUS, a partir do
Censo 2010, que de apenas nove. (ver Freire et al., No prelo 2011).
38
Por um lado, a Regio Metropolitana de Natal vem evidenciando aumento nas taxas de
mortalidade por homicdio, o que talvez esteja associada aos problemas socioeconmicos
enfrentados, como por exemplos, o processo de ocupao desordenado e a queda na
escolarizao/ alfabetizao da populao jovem, por outro, a RMR provavelmente tendo
problemas muito parecidos com os da RMN est conseguindo, conforme os exerccios
realizados nesse estudo, impedir que haja aumento nas taxas de mortes do fenmeno.
J a Regio Metropolitana de So Paulo est localizada na regio Sudeste, sendo ento
a mais industrializada, e consequentemente, mais desenvolvida e financeiramente estabelecida
no territrio nacional. Tambm a regio mais consolidada dentre as metrpoles brasileiras.
Em idos dos anos 1980 e 1990, a RMSP era considerada a mais violenta regio metropolitana
do Brasil. Sabendo-se que, descrevendo a histria social dessa RM possvel relatar que sua
populao possivelmente seja composta de indivduos com mais anos de estudos, como
tambm aponta Cunha (2010), e com empregos formais, talvez devido ao processo acelerado
de desenvolvimento urbano e industrializao.
39
4.1 REGIO METROPOLITANA DE NATAL (RMN)
Conforme Freire et al. (No prelo 2011), o Brasil assume, segundo a Organizao
Mundial de Sade (OMS), a sexta posio na lista de mortes por homicdios no mundo. Essa
afirmao corrobora com a divulgada por Waiselfisz (2010; 2011), que afirma tambm que o
fenmeno da violncia letal certamente no caiu nas regies brasileiras, mas sofreu o impacto
refletido pelo aumento de conflitos em naes da Amrica Latina e Caribe.
A Regio Metropolitana de Natal, conforme estudos de Clementino; Pessoa (2009) e
de Freire; Silva (2010), se caracteriza como uma metrpole que ainda est em formao,
mesmo tendo sido instituda oficialmente no ano 1997. Em 1980 a populao desta RM, de
acordo com dados coletados no SIM/DATASUS, era de 584.646 habitantes. J no ano 1990, a
populao da RMN se caracterizava demograficamente maior, possivelmente devido ao
crescimento urbano observado nas duas maiores cidades, o que contribuiu para a sua criao,
com populao de 840.407. No ano 2000, conforme o Censo Demogrfico, a populao na
regio era de 1.124.669 habitantes.
Em 2010, a RMN apresentou populao de 1.351.004 habitantes, distribuda em
2.807,542 km2; sendo Natal o municpio polo, com populao residente de 803.739 e nove
outros integrantes: Cear-Mirim, Extremoz, Macaba, Monte Alegre, Nsia Floresta,
Parnamirim, So Gonalo do Amarante, So Jos de Mipibu e Vera Cruz8.
8 Para efeitos de comparao das populaes da Regio Metropolitana de Natal dos anos anteriores, como
tambm dos nmeros de bitos foi considerada a configurao atual, onde se incluiu em toda a srie analisada os
dez municpios componentes da RMN atualmente.
40
Figura 1 Mapa fsico-administrativo da Regio Metropolitana de Natal (RMN)
Fonte: NAPP-Observatrio das Metrpoles, Base de Natal/DPP/CCHLA/UFRN, 2012.
(Mapa gentilmente cedido pelo mestrando e bolsista do PPGDEM/CCET/UFRN, Felipe Henrique de Souza).
Para a Regio Metropolitana de Natal, tambm se percebe (Tabela 1 - Apndice) que
h maior nmero de mulheres que de homens na populao total da Grande Natal, as excees
so para os municpios de Nsia Floresta e So Jos de Mipibu o que pode ser averiguado nas
pirmides construdas a partir dos dados censitrios do IBGE, para os anos 2000 e 2010.
A partir das pirmides (Grficos 1 e 2) fica evidenciado o incio do processo de
envelhecimento da populao na Regio Metropolitana de Natal, quando se compara o ano
2000 com 2010. Muito embora as pirmides produzidas para a RMN apontem achatamento na
base e alargamento no topo; tambm percebido aumento na populao nas faixas etrias 10
41
a 14 anos, 15 a 19 anos e 20 a 24 anos, evidenciando ganho nestas populaes, aumentando o
peso de estrutura etria de maior risco de morte por homicdio.
Fica evidenciado na pirmide para RMN, explicitada pelo Grfico 1, que a populao
adulta e idosa, no ano 2000, tem aumentado mais do que nas demais, porm, quando essa
comparada com a do ano 2010 (Grfico 2), fica evidenciado que ao longo do interstcio entre
os anos censitrios analisados houve ganho na faixa que compe o topo da estrutura etria,
destacando-se a populao de 80 anos e mais. Bem como na Populao de 20 a 24 anos tem se
percebido ganhos.
42
Grfico 1 Grfico 2
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio Freire,
DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio Freire,
DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
43
No que tange situao de domiclio, os resultados do Censo 2010 evidenciam que o
municpio polo e Parnamirim so totalmente urbanizados, no possuindo populao rural (ver
Tabela 1 - apndice). Constata-se que na RMN h maior populao de mulheres que de
homens. E mais, os municpios de Cear-Mirim, Extremoz, Macaba, So Jos de Mipibu,
Vera Cruz, Nsia Floresta e Monte Alegre possuem extensa populao rural. Outro dado que
chama a ateno nessa tabela a evidncia de que nos municpios da RMN, segundo os
censos demogrficos 2000 e 2010, na rea rural h uma concentrao maior de populao de
homens se comparada a de mulheres, exceto no ano 2000 para So Gonalo do Amarante, e
em 2010 para Vera Cruz, onde a populao feminina um pouco maior, e Natal e Parnamirim
por terem populao totalmente urbana. Verifica-se mais, que no ano 2000 o municpio de
Parnamirim ainda apresentava populao rural. Ainda conforme esses dados a taxa de
crescimento na Regio Metropolitana de Natal, no decnio 2000-2010 foi de 1,85%. Na
pirmide etria para 2010 (Grfico 2), fica evidenciado que alm das populaes que
ganharam peso no ano 2000 (Grfico 1), acrescenta-se as faixas etrias 25 a 29 anos e 30 a 34
anos, constatando novamente ganho de populao em risco de homicdio na RMN.
Em percentuais, analisando os dados populacionais na RMN (Grfico 3), nos anos
censitrios para 2000 e 2010, ratificando o encontrado nas pirmides estarias, observa-se
queda nas idades da base da estrutura etria e crescimento relativo da populao a partir de 20
anos, que certamente refora a ideia de reduo das taxas de fecundidade (ALVES, 2004),
(ALVES; CAVENAGHI, 2006) e (BRASIL, 2006; 2008a; 2009; 2010).
44
Grfico 3
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
O Grfico 4 aponta o que a literatura j vem evidenciando, a masculinizao das
mortes por homicdio, inclusive para toda a srie escolhida nas trs RM analisadas, atingindo
na RMN um pico no ano 2009, onde se constatou taxa de vitimizao de 67,61 homens
assassinados por 100.000 habitantes, contra taxa de 4,19 mulheres.
45
Grfico 4
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
No que se refere criminalidade violenta, na RMN tem se observado aumento nos
homicdios (Grfico 5), e seguindo o que j vem apontando a literatura nacional, nessa regio
h maior incidncia em indivduos jovens, do sexo masculino, como mostra o Grfico 4, onde
foi registrado, no ano 1998, o assassinato violento de 25,37 homens por 100.000 habitantes,
contra o de 2,39 mulheres. Entretanto, em 2010, essas taxas subiram para 53,85 homens
assassinados, contra 3,26 mulheres por 100 mil habitantes.
46
Grfico 5
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
Em 2003 foi aprovado o Estatuto do Desarmamento, e desde o incio da srie
analisada se verificou um aumento considervel de mortes por homicdio em todo o perodo
de 1998 a 2010, principalmente nas idades de 15 a 29 anos. E, conforme o Grfico 5,
evidencia-se que essa lei no influenciou na mortalidade por esse fenmeno. O que se
verificou que houve, de fato, aumento significativo dos percentuais de homicdios na Regio
Metropolitana de Natal.
Tem se constatado que na srie selecionada (Grfico 5), a distribuio das mortes por
homicdio mais evidente nas faixas etrias de 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 25 a 29 anos, e
que em 2003 atingiu, respectivamente, 14,76%, 30,00% e 13,33%. Em 2005, 19,51%, 33,17%
e 14,63%; e, em 2009, 17,32%, 26,10% e 20,39%, respectivamente nas idades em destaque, o
47
que implica deduzir que as mortes por homicdios so mais evidentes no grupo etrio
quinquenal de 20-24 anos.
Enquanto que, na faixa etria 35 a 39 anos os percentuais caram bastante, como
mostra os resultados das anlises do Grfico 5, atingindo no ano 2003 11,84% e, em 2009,
6,80%. Porm, no ano 2010 os percentuais voltaram a subir, merecendo destacar o declnio de
mortes por homicdios observado na faixa etria 20 a 24 anos, que apresentou 24,53%.
O Grfico 6 mostra que aps quatro anos do Estatuto, as taxas de mortes por
homicdio continuam impactando, porm, se averiguou aumento das TBMHs, principalmente
nas faixas etrias jovens. Em 1998, no grupo etrio 20-24 anos, as taxas de mortes violentas
atingiram 27,37 por 100.000 habitantes, e que em 2010 chegou a 66,86; sendo que foi em
2009 que atinge o pico elevado, com 90,73 homicdios por 100.000 habitantes. Enquanto que,
o percentual da populao verificado na srie pesquisada, usando os anos selecionados para a
RMN, tomando a base censitria de 1 de julho, mais concentrado no percentual das idades
etrias 15-39 anos, muito embora os demais grupos atinjam quase metade do total.
48
Grfico 6
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
Em sntese os dados de homicdios coletados a partir do SIM/DATASUS para a RMN,
constatam que de fato est havendo crescimento da mortalidade violenta na regio e que as
vitimas so em sua grande maioria homens, jovens e adultos jovens.
E mesmo no sendo objetivo dessa anlise, importante destacar conforme (FREIRE;
SILVA, 2010), (FREIRE et al., No prelo 2011) e (TORRES, 2010), que as vtimas de
homicdios da RMN so na maioria composta por indivduos solteiros e com poucos anos de
estudo, alm do que o nmero de vitimizao de pessoas declaradas na cor negra prevalece,
porm no sero apresentados dados sobre essas variveis, porque no so objetivos desse
estudo.
49
4.2 REGIO METROPOLITANA DE RECIFE (RMR)
Para a Regio Metropolitana de Recife o estudo apresenta algumas consideraes que
corroboram com as pesquisas de Freire e Silva (2010); Freire et al. (No prelo 2011); Mello
Jorge, Gawryszewski e Latorre (1997) e Minayo (1997). Esta RM vem, ao longo da srie
escolhida apresentando populao envelhecida, tendo em vista que est se percebendo
reduo da fecundidade e natalidade, reduo da mortalidade em geral, estagnao nas taxas
de mortes por homicdio e ganho de populao nas idades aproximadas do topo da pirmide
etria.
Freire et al. (No prelo 2011) afirmam que, a RMR foi criada em 1973, composta de
nove municpios, e que hoje sua configurao est em 14 municpios, sendo Recife o polo da
regio.
50
Figura 2 Mapa fsico-administrativo da Regio Metropolitana de Recife (RMR)
Fonte: NAPP-Observatrio das Metrpoles, Base de Natal/DPP/CCHLA/UFRN, 2012.
(Mapa gentilmente cedido pelo mestrando e bolsista do PPGDEM/CCET/UFRN, Felipe Henrique de Souza).
Ainda, Freire et al. (No prelo 2011) apresentam a distribuio dos homicdios para a
RMR, atravs de variveis demogrficas, como: grau de integrao entre os municpios
metropolitanos e o polo, bem como anlises das mortes violentas, por distribuio de sexo,
faixa etria, dentre outras.
As pirmides produzidas para a Regio Metropolitana de Recife (Grficos 7 e 8)
evidenciam aumento na populao idosa. Comparando os Grficos 13 e 14, seguindo o que j
havia se verificado na RMN, evidencia que a populao etria de 15 a 19 e 20 a 24 anos
perdem peso relativo, tanto no percentual de homens quanto no de mulheres.
51
Alm destes dois grupos etrios, observa-se tambm diminuio relativa da populao,
entre 2000 e 2010, nos grupos etrios 0 a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 14 anos. A partir dos 25
anos tem-se ganho relativo de populao. Isto evidencia a diminuio no peso relativo de
parte da populao com alto risco de homicdio.
O aumento na populao idosa, e, sobretudo, das mulheres tambm pode ser
observado nas pirmides.
52
Grfico 7 Grfico 8
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio Freire,
DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio Freire,
DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
53
O Grfico 9 apresenta o comportamento da populao, em percentuais e por grupo
etrio da RMR na srie temporal analisada, com declnio nas faixas etrias mais jovens, e
aumento nas adultas. Ratificando o que foi visto nas pirmides etrias, a faixa etria 15 a 19
anos desse grfico mostra o percentual de 10,5%, em 2000, e de 8,5% em 2010. Enquanto
que, a faixa etria 20 a 24 anos se comporta com percentuais de 10,1% e 9,1%, em 2000 e
2010, respectivamente. A diminuio desses dois grupos etrios pode ter alguma influncia
nas taxas de homicdio.
Grfico 9
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
De acordo com dados do Censo 2010, a RMR possui 3.690.547 habitantes/km2, e mais
os dados do SIM/DATASUS apresentam para esse ano taxa de mortalidade por homicdio de
54
50,59 por 100.000 habitantes. Em 2000, a populao residente era de 3.337.565, e taxa de
77,21 homicdios, evidenciando reduo nas mortes por homicdio no perodo. Ao analisar o
Grfico 10, percebe-se que embora tenha havido reduo nas taxas de mortes por homicdio
na Regio Metropolitana de Recife, o nmero de vtimas entre homens bem superior ao de
mulheres, e observando a srie escolhida, no perodo de 1998 a 2010, as taxas vm
gradativamente caindo ano aps ano, com ntida constatao nas taxas apresentadas 2008,
2009 e 2010. Dados os quais refletem o processo de estagnao e declnio, ainda que leve, das
taxas de mortes por homicdio para a RMR, diferente das evidencias na RMN.
Grfico 10
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
55
No Grfico 11 fica evidente a partir das anlises realizadas por Freire e Silva (2010),
e, tambm atravs dos dados apresentados por Waiselfisz (2010; 2011; 2012), no Mapa da
violncia, afirmando que a RMR continua revelando altas taxas de homicdio, mas que est
havendo, conforme dados revelados pelo SIM/DATASUS, um suave declnio do fenmeno na
RM em anlise Os resultados deste grfico chamam a ateno para o fato de que, no grupo
etrio de 20 a 24 anos, h aumento no peso relativo de homicdios, ou seja, a partir de 2004 as
mortes por homicdio em Recife tm levemente aumentado sua concentrao nessa faixa de
idade. E, conforme a anlise de estrutura etria, esse grupo etrio diminuiu em termos
relativos na populao da RMR, implicando dizer que caso no fosse esse envelhecimento
populacional, as taxas de homicdios na RM seriam maiores do que as observadas.
Grfico 11
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
56
Prosseguindo a averiguao do Grfico 12 fica evidenciada pouca mudana no
comportamento dos homicdios nas idades etrias de 15 a 39 anos. E visualizando esse
grfico, percebe-se que nos anos 2003 e 2006 as taxas das mortes por homicdio atingiram
picos na faixa etria de 20 a 24 anos, declinando nos anos 2007 e 2008, em oposio ao que
ocorreu na Regio Metropolitana de Natal, e retomando inclinao nos anos 2009 e 2010,
constatando assim que, o fenmeno homicdio tem se destacado nessa faixa etria, no perodo
analisado tanto na populao da RMR, quanto na RMN.
Grfico 12
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
57
Constata-se nos resultados dos grficos 11 e 12 que as mortes por homicdios na
Regio Metropolitana de Recife realmente tem maior peso nas faixas etrias 15 a 19 anos, 20
a 24 anos e 25 a 29 anos.
Observando os dois grficos, fica evidenciado que na RMR est ocorrendo estagnao
das mortes violentas, muito embora seja a que apresenta maior mortalidade em decorrncia do
fenmeno homicdio. Verificando o comportamento dos homicdios (Grfico 11), constata-se
ao longo do perodo analisado que, ao comparar os percentuais dos anos 1998 e 2010, a faixa
etria que mais perdeu populao foi a de 20 a 24 anos, registrando, respectivamente, 25,66%
e 26,95%. Entretanto, fazendo essa mesma comparao, a faixa etria 15 a 19 anos apresentou
ganho de populao, declinando de 20,88% para 17,59%. J a faixa etria 25 a 29 anos foi a
que mais se manteve equiparada em percentuais de mortes por homicdios, registrando
17,14% e 18,56% nos anos incio e final do perodo estudado.
Fica tambm constatado, analisando o Grfico 12, que realmente as idades jovem e
adulta jovem so as que mais perdem peso no conjunto da populao na Regio Metropolitana
de Recife, tendo em vista que as taxas de mortes por homicdio nessa RM registraram nas
faixas etrias 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 25 a 29 anos, no ano 1998, respectivamente,
167,76, 221,67 e 170,15 homicdios por 100.000 habitantes. E no ano 2010 essas taxas
chegaram a 105,02, 150,10 e 102,17 homicdios por 100 mil habitantes, significando que
mesmo tendo havido queda ao longo do perodo estudado, ainda persistem taxas elevadas, se
comparadas com as da Regio Metropolitana de So Paulo.
58
4.3 REGIO METROPOLITANA DE SO PAULO (RMSP)
A RMSP a mais consolidada de todas as RMs brasileiras; sua populao atual de
19.683.975 habitantes/km2, conforme os resultados do Censo 2010. No perodo de dez anos a
populao da Regio Metropolitana de So Paulo tem crescido em quase 2 milhes de
pessoas, muito embora se tenha reduzido sua populao infantil, devido reduo da
fecundidade e natalidade. De acordo com Freire et al. (No prelo 2011), a RMSP constituda
por 39 municpios, sendo So Paulo o polo metropolitano. So Paulo apresenta maior nmero
de populao, bem como apresenta diversificao nos problemas scio-demogrficos na RM.
Figura 3 Mapa fsico-administrativo da Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP)
Fonte: NAPP-Observatrio das Metrpoles, Base de Natal/DPP/CCHLA/UFRN, 2012.
(Mapa gentilmente cedida pelo mestrando e bolsista do DEST/CCET/UFRN, Felipe Henrique de Souza).
59
Ainda Freire et al. (No prelo 2011) afirmam que, a Regio Metropolitana de So Paulo
a maior e mais rica metrpole brasileira, alm dessa estar apontando considerveis
mudanas na estrutura etria da sua populao, e que tambm nessa regio considerada a
maior da Amrica Latina, conforme os autores, h ntida reduo nas taxas de homicdios,
como se ver nas anlises apresentadas pelas discusses a partir dos resultados dos grficos
construdos.
Freire et al. (ibid.) descrevem que, a RMSP ocupa uma rea de aproximadamente
8.000 km2, distribuda em trinta e nove municpios, e que nos ltimos anos tem se percebido
mudanas substanciais e significativas no contingente populacional da regio metropolitana
em destaque, que possivelmente esteja havendo distribuio por interiorizao da populao
em relao ao polo metropolitano. Tambm possvel inferir que est muito prxima de duas
outras regies metropolitanas, a de Campinas e a de Santos, que num futuro talvez essa entre
num processo de conurbao com sua vizinhana, tendo em vista que a maior em nmero de
populao e a mais ativa economicamente.
O comportamento da populao, por grupo etrio, evidencia a reduo da fecundidade
e o aumento da populao nas faixas etrias adultas e idosa.
Na pirmide construda com dados do Sistema Estadual de Anlise de Dados
(Fundao SEADE), projees para 1/07/2020 (Grfico 15), se faz constatar ainda mais o
envelhecimento da populao. As mudanas percebidas a partir dessa pirmide para a Regio
Metropolitana de So Paulo refletem aumento considervel na populao idosa.
60
Grfico 13
Grfico 14 Grfico 15
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio
Freire, DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio
Freire, DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
Fonte: Fundao SEADE/ Governo do Estado de So Paulo.
Nota de aula em demografia, Prof. Dr. Flvio
Freire, DEST/UFRN (2011).
Elaborao do autor.
61
A pirmide etria em 2020 (Grfico 15) suscita interpretaes, que certamente trazem
preocupaes no que se refere disparidade entre homens e mulheres, nos grupos etrios do
topo da pirmide. a feminizao da melhor idade, ou como dizem os demgrafos, a
feminizao do envelhecimento populacional.
Se o fenmeno for observado a partir das mudanas na estrutura etria da populao,
com destaque para o comportamento nas faixas etrias jovens e adultas jovens (Grfico 16),
idntico ao que vm se verificando nas outras duas RMs analisadas, ficar confirmada a
hiptese de que a RMSP est envelhecendo mais do que as outras duas RMs, a de Natal e a de
Recife. Porm, Freire et al. (No prelo 2011) afirmam que o fenmeno do envelhecimento
mais evidente no municpio polo, do que nos de mdio porte, com grau de integrao mdio e
ou baixo, os quais apresentam populaes mais jovens.
62
Grfico 16
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Fundao SEADE/ Governo do Estado de So Paulo.
Nota de aula sobre padronizao, DEST/CCET/UFRN (FREIRE, 2010).
Elaborao do autor.
Certamente a partir da interpretao dos dados evidenciados nos grficos acima para
esta regio metropolitana, e, ainda, conforme Freire et al. (No prelo 2011), a RMSP alm de
ser a maior regio metropolitana brasileira, vem apresentando com maior visibilidade o
processo de transio demogrfica rumo ao envelhecimento populacional, o que poder ser
observado nos grficos 13, 14 e 15, atravs das pirmides etrias para os anos 2000 e 2010,
que evidencia diminuio nas populaes de 15 a 19 anos e 20 a 24 anos, alm de todos os
outros grupos etrios abaixo dos 15 anos.
63
O Grfico 17 mostra o comportamento das taxas de homicdio na populao por sexo
da RMSP, evidenciando a masculinizao do fenmeno como tambm o seu declnio se
comparado s outras duas RMs da anlise.
Os estudos com vistas a evidenciar o fenmeno homicdio tm apontado considervel
declnio nas mortes violentas na Regio Metropolitana de So Paulo, evidncia apresentada
pela trajetria das taxas de mortes por homicdio (Grfico 17).
Grfico 17
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
Os resultados do Grfico 18 apontam fortes declnios em todas as faixas etrias na
Regio Metropolitana de So Paulo, constatando reduo das mortes por homicdios,
evidenciando ganho de populao nas faixas etrias 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 25 a 29 anos,
64
registrando respectivamente, no ano 1998, 16,31%, 23,59% e 20,21%, e em 2010, 10,37%,
16,76% e 17,72%. Enquanto que, as faixas etrias 30 a 34 anos e 35 a 39 anos registraram nos
respectivos anos 14,31% e 9,57%, no ano 1998, e 14,76% e 11,63%, em 2010. Sendo assim,
possvel apontar que essas duas ltimas faixas etrias perderam populao, com destaque para
o grupo etrio 35 a 39 anos.
Grfico 18
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Elaborao do autor.
Ao analisar os dados apresentados no Grfico 19, constata-se que de fato houve queda
brusca nas mortes por homicdios em todas as faixas etrias da Regio Metropolitana de So
Paulo. Este um ponto que merece ser ressaltado. Verificou-se que na RMSP os grupos
etrios de 15 a 19 e 20 a 24 anos, em termos relativos, j so bem menores em 2010 quando
65
comparados a 2000. Alm disso, as taxas desses dois grupos esto com enorme declnio, ou
seja, os homicdios na RMSP diminuem mais na populao jovem. Portanto, essa combinao
com taxas menores nesses dois grupos etrios tem certamente influncia na diminuio da
taxa geral de homicdio, aqui chamada de Taxa Bruta de Mortalidade por Homicdios.
Por outro lado, importante ressaltar que a combinao entre o aumento do peso
relativo da populao acima dos 30 anos, combinado com o aumento das taxas de homicdios
para esta faixa etria populacional, pode frear o declnio das taxas de homicdio na RMSP, a
menos que a previso da projeo para 2020 (ver Grfico 16) se concretize, e o
envelhecimento populacional nesta regio metropolitana seja tal que, os grupos etrios entre
30 e 34 anos e 35 e 39 anos percam muito seu peso relativo na populao em geral.
66
Grfico 19
Fonte: SIM/DATASUS/Ministrio da Sade.
Nota de aula sobre padronizao, DEST/CCET/UFRN (FREIRE, 2010).
Elaborao do autor.
Os resultados do Grfico 19 constatam o que a literatura vem apontando, que
verdadeiramente h o declnio das mortes por homicdios, uma vez que no ano 1998 as taxas
de homicdios se concentraram fortemente nas faixas etrias 15 a 19 anos, 20 a 24 anos e 25 a
29 anos, registrando respectivamente 97,49, 143,38 e 129,66 homicdios por 100.000
habitantes. E que verificando as taxas no ano 2010, ao longo do perodo analisado explicitam
no somente a queda brusca das mortes por homicdios, mais tambm evidenciam a reduo
da fecundidade/ natalidade e, sobretudo, o envelhecimento da populao na Regio
Metropolitana de So Paulo, que no incio do perodo essa se configurava como a mais
violenta RM do Brasil.
67
5 METODOLOGIA E TCNICAS UTILIZADAS NA PESQUISA
Os exerccios realizados nesse trabalho eliminam os efeitos de estrutura etria nas
taxas de mortes por homicdio, principalmente na populao jovem e adulta jovem, de 15 a 39
anos, tendo em vista nessas idades etrias terem mais gente. Esses exerccios foram feitos
atravs de clculos usando a padronizao direta, a partir da taxa bruta de mortalidade por
homicdio de cada grupo etrio, no perodo analisado (1998-2010).
importante frisar que, no perodo analisado se trabalhou dados dos dois ltimos
censos, 2000 e 2010, sendo assim, houve o ajuste da populao para 1 de julho de 2010,
atravs do calculo aplicado para encontrar a taxa de crescimento entre esses dois anos
censitrios, uma vez que aplicou-se nos exerccios a populao do ano 2000 como padro ao
perodo em estudo, visando atribuir como resultados das anlises a taxa de mortalidade das
RMs padronizadas, atravs da padronizao direta por uma estrutura etria comum.
(CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES, 1998).
Para o clculo das taxas de mortalidade por homicdio utilizou-se a base de dados do
SIM/DATASUS, do Ministrio da Sade.
A taxa bruta de mortalidade por homicdios obtida por:
Onde: O - so os bitos por homicdios;
P - Populao em 1/7 do respectivo ano.
68
Mas, os bitos por homicdios podem ser escritos em funo das taxas especficas de
mortalidade por idade, de maneira que,
Onde: nMx - a taxa de mortalidade por homicdio entre as idades x e x+n.
nPx - a populao do grupo etrio (x; x+n).
Ento, a taxa bruta de mortalidade por homicdio pode ser reescrita por:
Como foi visto at aqui, o interesse central dessa dissertao investigar de que
maneira a mudana na estrutura etria populacional pode impactar nas taxas brutas de
mortalidade por homicdio.
preciso, portanto, eliminar o efeito de estrutura etria nas taxas de homicdio. No se
quer, aqui, levantar hiptese de que a tendncia nas taxas de homicdios nas regies
metropolitanas em anlise est errada, ou seu ritmo poderia ser maior ou menor. At porque a
srie histrica das taxas para uma mesma regio j segue uma mesma estrutura etria, uma
vez que est sendo usada a populao fornecida pelo DATASUS. Essa populao tem o seu
total estimado pelo IBGE, para os anos, intercensitrios, mas a distribuio etria mantida
do Censo em boa parte do perodo analisado.
Os exerccios aqui propostos e realizados vo no sentido de traar cenrios. Por
exemplo, se a RMN tivesse a estrutura etria da populao da RMSP, que mais envelhecida,
como seria sua taxa bruta de mortalidade por homicdio?
69
Para isso, so realizados exerccios de padronizao direta das taxas por uma estrutura
etria comum. Nesse caso, a taxa bruta de mortalidade por homicdio padronizada dada por:
Onde: nMx - a taxa bruta de mortalidade por homicdio da regio de interesse idade
(x; x+n);
nPxs - a populao escolhida como padro idade (x; x+n).
Cabe ainda ressaltar que, as taxas demogrficas e epidemiolgicas devem conter no
denominador a populao no meio do perodo. Os dados trabalhados aqui so oriundos do
DATASUS (http://www.datasus.gov.br), tanto para bitos como de populao. Para os anos
intercensitrios a populao j est estimada pelo dia 1 de julho do respectivo ano. Contudo,
nos anos censitrios a populao est para a data de referncia do Censo, que para 2000 e
2010, 31 de julho.
Nesse caso, preciso ajustar a populao para o meio do ano, ou seja, para 1 de julho
de 2010. Este ajuste foi feito a partir do modelo de crescimento geomtrico.
Onde: - Populao final
- Populao inicial
- a taxa de crescimento
- intervalo de tempo
70
A taxa de crescimento calculada entre 2000 e 2010 obtida por:
Com essa taxa de crescimento, estima-se a populao para 01/07/2010, por:
Ainda no que se refere base de dados, coletou-se como homicdio todas as causas de
morte catalogadas na CID 10, como X85 a Y09, agresses. Trabalhou-se com bitos por local
de ocorrncia.
Para encontrarmos os efeitos de estrutura etria real e residual nas taxas de homicdios
para as trs regies metropolitanas analisadas optamos pelo uso do seguinte clculo:
71
6 ANLISES DO EFEITO DA ESTRUTURA ETRIA NAS TAXAS DE
MORTALIDADE POR HOMIC