o alicerce - edição 6

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O ALICERCE EDIÇÃO 6 - GRAMADO, JANEIRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO O ano virou com a indig- nação da comunidade gramadense, que viu o projeto do Execuvo municipal que cria novos cargos de confiança ser aprovado na Câmara de Vereadores. Votado em 21 de dezembro, o projeto de lei 79/2015, que entre outras alte- rações no quadro de funcionários públicos, cria 22 novos cargos em comissão (CCs), revoltou principal- mente os trabalhadores munici- pais concursados. Estes recebem, a cada ano, reajustes salarias pífios, enquanto que os salários de alguns CCs passam de R$ 8 mil. O placar na Câmara foi de 5x3. Endossaram os cargos de confiança a bancada do pardo de governo – PP – (Rosi Ecker, Giovani Colorio, Ra- finha Adam e Rafael Ronsoni), além de Manu Caliari (PRB). O plenário esteve lotado, registrando mobiliza- ção popular sem precedentes. Os ânimos estavam exaltados nos discursos sobre o projeto entre os vereadores, com interrupções e tom de voz alto. Os discursos da bancada de oposição foram incisivos nas crícas. João Teixeira (PMDB) falou em “rasgar dinheiro”, conside- rando inadequada a oneração com novos CCs em momento em que se fala em contenção de gastos. Citou alguns cargos previstos no projeto, como o de chefe de Gabinete da Pri- meira Dama, com remuneração na faixa de R$ 8 mil. Todos os vereadores do PP se manifestaram, com exceção de Rosi Ecker, que nenhuma palavra profe- riu para jusficar o voto. O então líder da bancada, Giovani Colorio, bradou que não era justo queso- nar a honesdade e eficiência da gestão do prefeito Nestor Tissot (PP). Os favoráveis aos CCs jusfi- caram que estes são necessários frente ao crescimento da cidade. A comunidade presente não se calou e contrapôs afirmando que quem leva adiante esse crescimento são os funcionários, não os chefes. O impacto orçamentário do pro- jeto gira em torno de R$ 1,7 milhão por ano. O quadro de CCs das secre- tarias apresenta fiscais para tudo que se pode imaginar, com funções muito parecidas, como Supervisor de Manutenção Asfálca e Supervi- sor de Pavimentação Asfálca (Sec. de Obras) ambos com salários aci- ma de R$ 3 mil. PARTICIPAÇÃO POPULAR ASSUSTA PARLAMENTARES A comunidade lotou o plenário Júlio Floriano Petersen, com boa presença de servidores municipais concursados, que quesonavam o porquê de haver dinheiro para cargos de confiança enquanto para os funcionários eram aprovados reajustes salariais risíveis a cada ano. Quando ocorreu a votação, os presentes se levantaram e confron- taram os parlamentares, revolta- dos com o resultado. A sessão foi pausada, com a maioria dos vere- adores saindo do recinto. Os segu- ranças da casa estavam à espreita. Inclusive haviam revistado alguns membros da comunidade na entra- da. Ficou a impressão de que alguns vereadores não estavam nada à vontade com a parcipação e pres- são popular. O então presidente da casa, Jaime Schaumlöffel (PP), repreendeu várias vezes as mani- festações dos presentes, pedindo “respeito”. Ameaçou rerar os que exerciam seu direito democráco e encerrar a sessão caso não houves- se silêncio. Invocando o regimento interno, o vereador Evandro Mos- chem (PMDB) retrucou dizendo que o presidente não poderia sim- plesmente encerrar a sessão, ape- nas suspendê-la por determinado tempo. A pergunta que pairou entre os presentes foi: se a comunidade não pode tentar interferir nas decisões polícas, quem os vereadores estão representando? IGOR MALLMANN Casa do povo? Apesar da indignação popular, Câmara aprova contratação de novos CCs na prefeitura

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O ALICERCEEDIÇÃO 6 - GRAMADO, JANEIRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL

FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO

O ano virou com a indig-nação da comunidade gramadense, que viu o projeto do Executivo municipal que cria novos

cargos de confiança ser aprovado na Câmara de Vereadores. Votado em 21 de dezembro, o projeto de lei 79/2015, que entre outras alte-rações no quadro de funcionários públicos, cria 22 novos cargos em comissão (CCs), revoltou principal-mente os trabalhadores munici-pais concursados. Estes recebem, a cada ano, reajustes salarias pífios, enquanto que os salários de alguns CCs passam de R$ 8 mil.

O placar na Câmara foi de 5x3. Endossaram os cargos de confiança a bancada do partido de governo – PP – (Rosi Ecker, Giovani Colorio, Ra-finha Adam e Rafael Ronsoni), além de Manu Caliari (PRB). O plenário esteve lotado, registrando mobiliza-ção popular sem precedentes.

Os ânimos estavam exaltados nos discursos sobre o projeto entre os vereadores, com interrupções e tom de voz alto. Os discursos da bancada de oposição foram incisivos nas críticas. João Teixeira (PMDB) falou em “rasgar dinheiro”, conside-rando inadequada a oneração com novos CCs em momento em que se fala em contenção de gastos. Citou alguns cargos previstos no projeto, como o de chefe de Gabinete da Pri-meira Dama, com remuneração na faixa de R$ 8 mil.

Todos os vereadores do PP se manifestaram, com exceção de Rosi Ecker, que nenhuma palavra profe-riu para justificar o voto. O então líder da bancada, Giovani Colorio, bradou que não era justo questio-nar a honestidade e eficiência da gestão do prefeito Nestor Tissot (PP). Os favoráveis aos CCs justifi-caram que estes são necessários frente ao crescimento da cidade. A comunidade presente não se calou e contrapôs afirmando que quem leva adiante esse crescimento são

os funcionários, não os chefes.O impacto orçamentário do pro-

jeto gira em torno de R$ 1,7 milhão por ano. O quadro de CCs das secre-tarias apresenta fiscais para tudo que se pode imaginar, com funções muito parecidas, como Supervisor de Manutenção Asfáltica e Supervi-sor de Pavimentação Asfáltica (Sec. de Obras) ambos com salários aci-ma de R$ 3 mil.

PARTICIPAÇÃO POPULAR ASSUSTA PARLAMENTARES

A comunidade lotou o plenário Júlio Floriano Petersen, com boa presença de servidores municipais concursados, que questionavam o porquê de haver dinheiro para cargos de confiança enquanto para os funcionários eram aprovados reajustes salariais risíveis a cada ano. Quando ocorreu a votação, os presentes se levantaram e confron-taram os parlamentares, revolta-dos com o resultado. A sessão foi pausada, com a maioria dos vere-adores saindo do recinto. Os segu-ranças da casa estavam à espreita. Inclusive haviam revistado alguns membros da comunidade na entra-da.

Ficou a impressão de que alguns vereadores não estavam nada à vontade com a participação e pres-são popular. O então presidente da casa, Jaime Schaumlöffel (PP), repreendeu várias vezes as mani-festações dos presentes, pedindo “respeito”. Ameaçou retirar os que exerciam seu direito democrático e encerrar a sessão caso não houves-se silêncio. Invocando o regimento interno, o vereador Evandro Mos-chem (PMDB) retrucou dizendo que o presidente não poderia sim-plesmente encerrar a sessão, ape-nas suspendê-la por determinado tempo.

A pergunta que pairou entre os presentes foi: se a comunidade não pode tentar interferir nas decisões políticas, quem os vereadores estão representando?

IGOR MALLMANN

Casa do povo?Apesar da indignação popular, Câmara aprova contratação de novos CCs na prefeitura

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2016: A peleia já começouOs ataques aos interesses do povo vêm de governos e classes patronais

O ano já iniciou com protestos em capitais do país contra o au-mento das tarifas do transporte coletivo.

Esta é a luta por um direito tão básico que o de se movimentar na cidade. Uma luta pela va-lorização do sistema coletivo, enquanto um mar de veículos privados toma as ruas, impulsio-nados pela sanha consumista. Apesar disso, a polícia reprime violentamente os manifestantes e a mídia corporativa os difama de forma baixa e com espetacu-larização, sempre os taxando de “vândalos”. (Em São Paulo, a PM sequer deixou o ato do dia 12 de janeiro começar, montou um aparato de guerra e deixou vários manifestantes feridos). E a briga pelo transporte realmente públi-co é uma luta de todos nós. Em Gramado, por exemplo, a passa-gem está em R$ 3,00 e ainda es-peramos para ver quanto irá au-mentar nesse ano. Finalmente, após determinação judicial ainda em 2013, está sendo feita uma li-citação para o serviço. Os ônibus são atiquíssimos.

A luta contra o valor das pas-sagens desencadeou, em 2013, a revolta da população contra uma conjuntura muito mais ampla de sujeição dos menos favorecidos aos interesses ditatoriais do capi-tal aliado aos governos. Contex-to assim temos agora também. O ano deverá ser difícil para o povo. Em um Congresso Nacio-nal extremamente conservador, tramitam projetos que ameaçam seriamente os nossos direitos. O PL das terceirizações é a meni-na dos olhos da classe patronal,

cujas mãos comicham na ânsia de rasgar a CLT. As mulheres são atacadas com a proposta que di-ficulta concessão de pílula do dia seguinte às vítimas de aborto. A lei antiterror, do Governo Fede-ral, abre espaço para o aumen-to da já forte criminalização de movimentos sociais e protestos. A redução da maioridade penal é outra pauta que castigará ainda mais a juven-tude das pe-riferias, prin-c i p a l m e n t e negros – dado o racismo en-crustado em nossas ins-tituições de “segurança”. Pois sabemos que filho de rico é imune à justiça, en-quanto pobre é sempre en-quadrado nos preconceitos das polícias. Ademais, qui-lombolas e índios lutam contra o avan-ço criminoso do latifúndio sobre seus ter-ritórios ances-trais. O assassinato do garotinho indígena Vitor ocorrido recente-mente é apenas uma ponta do tratamento despendido pela so-ciedade do lucro para com os le-gítimos ocupantes destas terras.

A direita que perdeu nas urnas decidiu que quer retomar do PT a gestão do capitalismo no país a qualquer custo. Multiplicam-se discursos conservadores e pre-

conceituosos na internet e nas ruas, como vimos em 2015. Ve-mos reproduzida nas conversas a velha teoria liberal, que preconi-za desmonte feroz dos sistemas públicos (já sucateados) em prol do capital privado.

Mas se a saída para os de baixo não está com o bando reacionário que quer o impea-chment, tampouco está com o

govern i smo. Muitos se en-tusiasmaram com a troca do neoliberal e homem do Bradesco Joa-quim Levy por Nelson Barbo-sa no Ministé-rio da Fazen-da. Barbosa, porém, em seu discurso de posse, fri-sou que levará adiante o ajus-te fiscal, que corta na carne dos trabalha-dores, e tam-bém mandará ao Congresso a reforma da prev idênc ia , c o l o c a n d o idade mínima

para se aposentar. Não, ao contrário do que re-

gurgita a mídia corporativa, o que satura o gasto público não é a previdência. É a dívida públi-ca que suga os recursos, os juros nas alturas e tudo o que faz a far-ra do capital financeiro. Agiota-gem oficial.

E os petistas ainda se compra-zem e salivam com a afirmação

do ex-diretor da Petrobras Nes-tor Cerveró de que R$ 100 mi-lhões foram pagos em propina na gestão FHC (nada de surpre-endente; os tucanos foram notó-rios espoliadores do povo com as privatizações). Quer dizer que se os tucanos roubaram, o espólio ocorrido durante os governos do PT é justificável? Estabelece-se uma comparação, transparecen-do que a diferença entre os par-tidos não é tão grande quanto seus militantes tentam fazer crer. A maioria dos petistas nem deve lembrar mais do tempo em que o partido foi de esquerda, minima-mente reformista ou socialdemo-crata. Se fazem de vítimas agora, mas quem mandou se aliar com a pior direita do PMDB e PP com o objetivo de alcançar o trono a qualquer custo?

A conclusão é o fortalecimen-to de minha convicção de que o caminho para uma sociedade mais livre, socialmente justa e solidária é a organização e a luta do povo por fora dos aparelhos burocráticos do Estado. É a es-querda libertária e combativa. Pois o Estado está a serviço do capital, de uma minoria, invaria-velmente. Quem governa, gover-na com o andar de cima da socie-dade. Assim, fica a necessidade da ação direta de trabalhadores, estudantes, mulheres, indígenas e todos que têm seus direitos e dignidade suprimidos. Zumbi dos Palmares, Sepé Tiaraju e tantos outros heróis do nosso povo já sabiam disso há muito tempo. Sindicatos e movimentos sociais precisam renunciar à burocracia e a submissão às estruturas de governos. Isso em troca de de-mocracia direta e independência de classe.

“A luta contra o valor das passagens

desencadeou, em 2013, a revolta da população contra uma conjuntura

muito mais ampla de sujeição dos

menos favorecidos aos interesses ditatoriais do

capital aliado aos governos.”

IGOR MALLMANN

RODRIGO CALLAIS

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“Não importa o quanto o

trabalhador faça o seu melhor ou

busque melhores

resultados para seu patrão,

pois na hora de colher os frutos

o resultado será apenas para um.”

Cultura Dissidente

Pra não dizer que não falei das flores

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, cam-pos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações

Pelas ruas marchando indeci-sos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores ven-cendo o canhão

(refrão)

Há soldados armados, ama-dos ou não

Quase todos perdidos de armas na mão

Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição

De morrer pela pátria e viver sem razão

(refrão)

Nas escolas, nas ruas, cam-pos, construções

Somos todos soldados, armados ou não

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão

A certeza na frente, a história na mão

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Aprendendo e ensinando uma nova lição

Geraldo Vandré

O TRABALHO

A culpa é do trabalhador?

Neste início de 2016 fo-mos surpreendidos com uma postagem nas redes sociais de uma cliente revoltada com um café

colonial que lhe serviu nata azeda e pães mofados, lhe sendo ofertado pelo “equívoco” um desconto de R$ 5.00 na conta do restaurante.

Até aí nada exagerado: uma cliente insatisfeita com um serviço que lhe não foi apresentado como pretendia e deveria ter sido realiza-do.

Ocorre que em uma atitude de grandeza o estabelecimento reco-nheceu o erro. Porém, infelizmen-te, esta grandeza teve um tropeço muito maior do que se esperava, pois a empresa, visando se eximir de um erro administrativo e de ges-tão, transferiu para um empregado que estaria “em treinamento” a ca-tástrofe que ocorreu no local.

Ora, o trabalhador faz apenas o que a empresa e seus gestores mandam e exerce suas atividades de acordo com as ordens que os mesmos lhe repassam. E coitado do trabalhador que não observar tais determinações, pois será ta-chado como um preguiçoso ou de-sobediente.

Infelizmente vemos como al-guns tratam os que lhes ajudam a engrandecerem seus negócios, suas rendas e seus nomes em um momento em que estão contra a parede, em situação desconfor-tável, transferem a culpa e a res-ponsabilidade para o trabalhador e não ao modo de operação que a empresa determina para aumentar seu lucro.

Dizer que um trabalhador “em treinamento” não sabe lidar com uma situação trágica como esta beira o absurdo e o desrespeito com todos os trabalhadores. Pois imagine que uma empresa com grande nome e reconhecida his-toricamente em nossa região não tem sequer um gerente ou pro-prietário para driblar ou amenizar a situação (mas na hora de buscar os pilas quem aparecerá?).

E é assim que se chega à conclu-são de que não importa o quanto o trabalhador faça seu melhor ou busque melhores resultados para seu patrão, pois na hora de colher os frutos o resultado será apenas para um. E na hora do equívoco/erro a culpa será do trabalhador.

É neste sistema capitalista que estamos inseridos, onde a priori-dade é o máximo lucro e o respeito às pessoas está em segundo plano. Somente com a unidade dos traba-lhadores será possível mudar esta realidade e mentalidade.

RODRIGO CALLAIS

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CONSCIÊNCIA LIBERTÁRIA

IGOR MALLMANN

As ilusões da democracia representativa

Na Antiguidade, os pensado-res gregos afirmaram que existem três tipos de gover-nos, classificação que serviu de base para os séculos que

se seguiram. São eles: o que é exercido por um único individuo (monarquia, ti-rania); o governo no qual o poder está concentrado em um pequeno grupo de indivíduos (aristocracia, oligarquia); por fim, a organização segundo a qual as decisões são tomadas em conjunto pelo grande número de indivíduos (de-mocracia).

Conforme descrito nas constitui-ções ocidentais, vivemos em uma de-mocracia (democracia representativa, indireta). Porém, este conceito pode ser muito questionado. Democracia até que ponto? Quão autônomo é o Estado para promover a democracia? Mais do que isso: o Estado é um ins-trumento eficaz para a participação popular?

Pois bem. As pessoas costumam imaginar a política como o que ocorre exclusivamente dentro de parlamen-tos e outros órgãos estatais. Isso é um grande equívoco. A política deve ser compreendida antes como a arena

de disputa de interesses dos grupos e ideias que formam a sociedade. En-tram as organizações populares de base, os poderes econômicos, a ideo-logia, a cultura etc.

Assim, devemos pensar sobre que interesses e poderes estão na arena política, dentro e fora do Estado. O de-senvolvimento do sistema capitalista, com eventos tais como a Revolução Industrial e a mais recente financei-rização da economia, redundou na ascensão de empresas e conglomera-dos cada vez mais poderosos, além de profundas desigualdades sociais. Con-trolando vultuoso capital e recursos, inclusive humanos, as corporações pri-vadas detêm posição de força na socie-dade. E estão dentro dos parlamentos, com os políticos por elas financiados. Por meio dos lobbies, aprovam leis que são favoráveis a seus negócios. Fraudam contratos (Operação Lava--Jato etc.), subornam para sonegar im-postos (Operação Zelotes etc.). Além disso, olhando para a dívida pública, que no Brasil consome mais de 40% do orçamento público anual, vamos que os bancos controlam a maior par-te dos títulos e se beneficiam com os juros altos. Enfim, a política no âmbito estatal não tem autonomia em relação

à economia, mas é antes influenciada e em muitos casos coagida.

E não existe nenhum tipo de con-trole democrático sobre essas em-presas, sobre o “mercado”. São tira-nias privadas, como classificou Noam Chomsky. Ali impera apenas lucro, o proveito privado. Este, ao contrário do que tentam ludibriar as teorias libe-rais-reacionárias, não tem nenhuma virtude útil ao conjunto da sociedade. Importa lucrar, independente de os meios resultarem em desserviços à so-ciedade. O que dizer, por exemplo, da mineradora Samarco-Vale, que produ-ziu uma catástrofe ambiental difícil de mensurar? Que dizem os defensores da perfeição do mercado? Um exem-plo mais amplo: os meios de comuni-cação privados, visando o maior lucro, prezam por agradar e atrair anuncian-tes, mesmo que às custas de passar informações “simpáticas” àqueles ou censurar o que eventualmente denigra um patrocinador.

A mensagem da ideologia domi-nante também é reforçada justamente pela posse do grosso dos meios de co-municação por parte de grupos priva-dos, fugindo à pluralidade de ideais e reproduzindo discurso único.

Tudo isso leva ao descrédito da

democracia burguesa, do sistema de representação dito intocável. A popu-lação é convocada às urnas em um dia definido para escolher dentre alguns candidatos pré-definidos. Então, são eleitos aqueles que farão as escolhas pela população. Podemos nos pergun-tar: ainda que esses cidadãos eleitos tivessem a liberdade de governar intei-ramente em favor das massas (o que não têm, como visto), poderiam eles expressar fielmente as vontades e ne-cessidades do povo?

BOM GOVERNO... PARA QUEM?

Vários autores ao longo da história, desde os clássicos Platão e Aristóte-les, apresentaram uma visão conser-vadora da sociedade, enaltecendo a concentração de poder como uma ne-cessidade para o funcionamento ade-quado da sociedade, para o bem de to-dos etc.. Cheios de preconceitos, viam no empoderamento do povo um risco. Isso se explica pelo fato de esses pensa-dores olharem a sociedade desde cima – uma sociedade com privilégios de nascimento, econômicos, religiosos... Maquiavel (filósofo que emprestou seu nome para a eternizada expressão

“Os anarquistas entendem

que é possível e desejável

uma forma de organização

em sociedade sem a tutela

de um Estado. Isso porque a democracia

plena é inviável na estrutura centralizada

do Estado, na qual algumas

cabeças tomam decisões por milhões de cidadãos.”

A construção da democracia de fato é viável apenas com a ação direta da população

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“Um processo revolucionário tem como condição que sua direção seja de baixo para cima e não o inverso, como quase sempre é feito”

Juan Carlos Mechoso

A Internacional

Letra traduzida ao português:

De pé, ó vítimas da fome!De pé, famélicos da terra!Da ideia a chama já consomeA crosta bruta que a soterra.Cortai o mal bem pelo fundo!De pé, de pé, não mais senhores!Se nada somos neste mundo,Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unido façamos,Nesta luta final,Uma terra sem amosA Internacional

Senhores, patrões, chefes supremos,Nada esperamos de nenhum!Sejamos nós que conquistemosA terra mãe livre e comum!Para não ter protestos vãos,Para sair desse antro estreito,Façamos nós por nossas mãosTudo o que a nós diz respeito!

Bem unido façamos,Nesta luta final,Uma terra sem amosA Internacional

Crime de rico a lei cobre,O Estado esmaga o oprimido.Não há direitos para o pobre,Ao rico tudo é permitido.À opressão não mais sujeitos!Somos iguais todos os seres.Não mais deveres sem direitos,Não mais direitos sem deveres!

Bem unido façamos,Nesta luta final,Uma terra sem amosA Internacional

Abomináveis na grandeza,Os reis da mina e da fornalhaEdificaram a riquezaSobre o suor de quem trabalha!Todo o produto de quem suaA corja rica o recolheu.Querendo que ela o restitua,O povo só quer o que é seu!

Bem unido façamos,Nesta luta final,Uma terra sem amosA Internacional

Nós fomos de fumo embriagados,Paz entre nós, guerra aos senhores!Façamos greve de soldados!Somos irmãos, trabalhadores!Se a raça vil, cheia de galas,Nos quer à força canibais,Logo verá que as nossas balasSão para os nossos generais!

Bem unido façamos,Nesta luta final,Uma terra sem amosA Internacional

Pois somos do povo os ativosTrabalhador forte e fecundo.Pertence a Terra aos produtivos;Ó parasitas deixai o mundoÓ parasitas que te nutresDo nosso sangue a gotejar,Se nos faltarem os abutresNão deixa o sol de fulgurar!

Bem unido façamos,Nesta luta final,Uma terra sem amosA Internacional

A Internacional, como designa o nome, é um hino internacionalista, sendo também uma das canções mais conhecidas de todo o mundo. Foi composta em 18 de Junho de 1888 por Pierre Degeyter, operário anarquista de origem belga fixado com a sua família na cidade francesa de Lille. Naquele dia fora oferecido a Degeyter um livro de poemas de Eugéne Pottier, operário francês também anar-quista, que havia sido membro da Comuna de Paris. Após o sangrento esmaga-mento da Comuna, de cuja defesa participou, Pottier partiu para o exílio durante o qual escreveu diversos poemas, entre os quais o que viria a constituir a letra de A Internacional. A canção é cantada por comunistas, socialistas e anarquistas. Foi traduzida para os mais variados idiomas.

“maquiavélico”) ao menos foi mais sincero: conselheiro de monar-cas, evidenciou que o objetivo de quem reina é o poder por si. Quem governa, governa para seu próprio benefício.

Veio o século XIX e as teorias revolucionárias de emancipação das massas, das quais germinaram o socialismo nas vertentes anar-quista e marxista. O Estado passou a ser visto como um instrumento da classe dominante – a burguesia. Enquanto marxistas consideram que o Estado pode vir a servir às classes oprimidas, o anarquismo entende que este aparato centrali-zado não é neutro; é naturalmente hierárquico e opressor. Se houver democracia efetiva, direta, com conselhos e assembleias popula-res descentralizados em todos os níveis então não há mais Estado. Se há Estado, há uma camada de indivíduos com o privilégio de im-por sua vontade sobre os demais com coerção.

Nas palavras de Bakunin, “o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, com-por-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governan-tes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se--ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais repre-sentarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”.

A DEFESA DA DEMOCRACIA PELA ÓTICA ANARQUISTA

Devo dizer algumas palavras sobre a concepção anarquista de democracia, contribuindo no de-bate de alternativas ao sistema de representação. Os ataques mais baixos ao anarquismo dizem que ele prescreve o fim da sociedade, o individualismo, a baderna etc. Na verdade, a tradição do anarquis-mo que acompanha classe traba-lhadora ao longo dos últimos 150 anos pretende algo bem diferente: a legítima democracia, com igual-dade econômica e de tomada de decisões políticas.

Os anarquistas entendem que é possível e desejável uma forma de organização em sociedade sem a tutela de um Estado. Isso porque a democracia plena é inviável na estrutura centralizada do Estado, na qual algumas cabeças tomam decisões por milhões de cidadãos.

O anarquismo crê na constituição de assembleias em todas as loca-lidades, abertas à participação de todos. As assembleias se federa-riam com as demais regiões por meio de delegados com cargos rotativos. A economia, ao invés de ser monopolizada pela burocracia estatal, seria autogerida pelos pró-prios trabalhadores em seus locais de trabalho. Também com sistema federativo entre os setores para organizar o suprimento da popula-ção. Ainda que sejam necessários pareceres de técnicos, por exem-plo, a assembleia geral é suprema nas decisões.

As organizações políticas que integram a Coordenação Anarquis-ta Brasileira (CAB), por exemplo, trabalham com a perspectiva de acúmulo de conquistas por parte das classes oprimidas. A Revolu-ção Social é o objetivo finalista. O trabalho se dá no dia a dia, em sindicatos e movimentos sociais, arrancando direitos de patrões e governos. Em todos os espaços de inserção, visa ao princípio da de-mocracia de base e o fortalecimen-to da consciência e da capacidade de luta do povo.

O MITO DO SOCIALISMO COMO SUPRESSOR DA LIBER-

DADE

Conclui-se, portanto, que é fa-laciosa a concepção que reina no senso comum, cultuada pela ideo-logia dominante, de que as demo-cracias liberais ocidentais são os modelos de governo que promo-vem a maior liberdade ao povo. Também é infundada a afirmação de que o socialismo é opressor. As experiências marxistas-leninistas (socialismo autoritário), como a União Soviética de Stálin e cia., fo-ram, sim, opressoras, tiranias em muitos casos. Mas essa foi uma forma de organização – o governo autoritário, concentrado em mãos de uma classe de burocratas. Essa perspectiva não é compartilhada pela ala socialista libertária e ou-tros setores da esquerda.

Várias revoluções e experiên-cias mostram que o socialismo pode – e deve, creio – ser demo-crático, libertário. Vemos isso ocorrer neste exato momento no Curdistão, com a chamada Revolu-ção de Rojava – a qual vale a pena ser pesquisada – acabando com as estruturas estatais, economia baseada em cooperativas e prota-gonismo feminino em uma região historicamente marcada pela ex-tremada violência de gênero.

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“Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, tam-bém a mentira, por menor que seja,

estraga toda a nossa vida.”Mahatma Gandhi

Neste último ano tivemos um período de grande ins-tabilidade política por uma bandeira levantada contra o resultado eleitoral pelos

oposicionistas derrotados/perdedo-res contra o atual governo federal que se reelegeu com apoio da maioria do pleito.

Não aceitando o resultado das ur-nas procuraram de todos os modos inflar mecanismos para que o país ficasse insustentável e ingovernável, infelizmente com tais atitudes somen-te trazem ainda mais prejuízos para o Brasil.

Primeiramente porque os oposi-cionistas iludem a população a utili-zando como instrumento para tentar dar legitimidade às suas intenções meramente de busca insaciável pelo poder. É o poder pelo poder.

Assim como, porque estes mes-mos políticos sequer dizem quais são suas propostas para o país, pois a sua única intenção é chegar ao poder e se apoderar, mas, sem responsabilida-des.

Ou seja, querem fazer no Brasil o que passamos no RS um desgoverno sem compromisso com nada, pois não prometem nada já que não tem propostas e muito menos coragem de falar para o povo suas reais intenções, entre elas a flexibilização das relações de trabalho para criar uma suposta competitividade aos grandes empre-sário$ com ataque aos direitos dos trabalhadores.

Além disso, devemos atentar para a principal arma utilizada pelos de-sesperados derrotados/perdedores a MENTIRA.

A cada segundo vemos nas redes sociais e incrivelmente em alguns dis-cursos mentiras e mais mentiras sem fundamento e sem base.

Criam mecanismos e teias de re-lacionamentos através de páginas na

internet e nas redes sociais visando atacar a imagem de partidos e de pes-soas, mas, não apresentam nada de novo para o país e muito menos a cul-tura da verdade.

Veja que a tática de repassar a mentira é repeti-la várias vezes era uma das bases do nazismo para con-seguir apoio da população para as atrocidades que o demoníaco Hitler aplicou na Europa.

É inegavelmente necessário que a população saiba que toda notícia, tanto de um lado como do outro nesta história deve ser antes de repassada conferida, pois corremos o risco de criarmos monstros que se acharão deuses e não homens caso cheguem ao poder.

Esses perdedores atrasaram vota-ções e promoveram um destempera-do processo de impedimento da presi-dente para tentar chegar de qualquer jeito ao poder e tendo como aliado para tal golpe à democracia Eduardo Cunha, um dos homens mais deso-nestos e investigados por crimes de corrupção do país em toda a sua tra-jetória política.

Atenção ao fato de que este “no-bre” deputado abraçou a oposição e o infundado pedido de impedimento da presidente justo no momento em que as investigações da Polícia Federal lhe encurralaram e visando desviar o foco dele e a oposição comemorou como um título uma coisa que só traz mais danos para todo o país, devido a ins-tabilidade política que estes senhores tem causado e que atrapalham qual-quer tentativa de melhores rumos.

Vejamos que o momento destes ataques sedentos dos opositores é exatamente aproveitado após o go-verno aplicar duras medidas que afe-taram a vida de todos ao realizar o au-

mento dos combustíveis e de energia, setores onde a população que menos tem mais sente.

Tais medidas obviamente não agradam ninguém, tanto quem votou como quem não votou no governo, mas o que os oposicionistas vampi-ros pelo poder não contam é que por mais de três anos o governo segurou o preço dos combustíveis e que lá se vão três anos escassos na produção de energia pela falta de chuva onde mais se precisa de água para gerar energia o mais barato possível.

Muitos vendem a falsa ideia de que a corrupção nasceu agora e foi inventada na última década, quando na verdade hoje ela é combatida inde-pendentemente de partido e de quais intere$$ados há na história.

Peça aos mais velhos se em algum momento eles imaginaram que gran-des empreiteiros e até banqueiros se-riam presos?

A resposta é negativa, pois recen-temente faziam de tudo para aca-barem com investigações ou sequer permitiam serem investigados como no período da Ditadura Militar onde não havia qualquer transparência nas atividades do país e a todo custo ten-tava se impedir a punição de grandes corruptores endinheirados e políticos que visavam apenas se utilizar dos bens públicos.

Ocorre amigo trabalhador, que é importantíssimo pensar algumas coi-sas:

1º- Por que os oposicionistas que-rem atacar tanto um partido e “esque-cem” dos outros partidos acusados?

2º- Por que quando delatores acu-sam o partido do governo é verdade,

mas, quando apontam para os oposi-cionistas é mentira?

3º- O interesse da oposição é man-ter as investigações ou fazer de tudo para que o vento não aponte para o lado deles?

4º- Por que quando um governo permite que se investiguem todos (aliados ou não) ele é considerado cor-rupto?

5º- O que a oposição tanto teme com as investigações?

O que vemos é que os opositores semeiam, regam e deixam o mato da crise crescer. Desse modo: quem plan-ta crise, colhe crise de olho nos frutos que lhes serão favoráveis.

Eles negam que o país escapou da fase mais dura da crise internacional que afetou duramente os Estados Uni-dos e a Europa e não lhe dizem que, por exemplo, na Espanha em 2013 chegou a ter uma taxa de desemprego de mais de 25% da população, ou seja, 1 a cada 4 trabalhadores sem empre-go, Portugal, Itália e Grécia quebrados, assim como, os americanos estão am-plamente endividados e veem a mi-séria e a falta de moradia crescerem sem que aqui no Brasil nada disso seja informado de maneira real e criam a ilusão que lá fora não há crise e que quem está mal somos nós.

Esta tática é utilizada para não aca-bar com os falsos argumentos de uma oposição sem propostas, sem rumo para o futuro do país e que visa o po-der para quando chegar lá atacar os direitos dos trabalhadores com suas teorias liberais que dizem ser justas, pois todos teriam as mesmas oportu-nidades. Só que não: será que o filho de um pobre tem as mesmas chances do filho de um rico?

É necessário que nosso povo não se iluda com mentiras e com os “do-nos” da verdade, bem como, temos que criar o hábito de pesquisar e con-firmar as notícias e “verdades” que nos vendem para não nos tornarmos meramente repassadores de lorotas.

Leia, analise e forme o teu pensa-mento, mas não deixe que os outros pensem por você e que mentirosos se utilizem de sua honestidade visando apenas o poder pelo poder.

Tenha um ótimo ano de 2016, amigo camarada!

PENSAR COLETIVO

Os derrotados, a proliferação da mentira e da crise

ANDREI MENDES DE ANDRADES

O Estado excludente e a resistência HISTÓRIA IMEDIATA 7

LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

“O Estado da classe mais poderosa, da classe

economicamente dominante,

classe que, por intermédio

dele, converte-se também em classe

politicamente dominante,

adquirindo assim novos meios para

a repressão e exploração da

classe oprimida.”

Professor

Na maior parte dos Estados históricos, os direitos con-cedidos aos cidadãos são regulados de acordo com a riqueza, ficando evidente

que o Estado pode ser dito claramen-te tratar-se de um organismo para a proteção da classe possuidora para protegê-la contra a não-possuidora.

Foi assim nas classes atenienses e romanas, classificadas segundo a ri-queza. Foi assim no Estado feudal da Idade Média, onde o poder político era distribuído conforme a importân-cia da propriedade territorial. E é as-sim no censo eleitoral dos modernos Estados representativos.

Como o estado surgiu da necessi-dade de conter as oposições de clas-ses, mas ao mesmo tempo surgiu no meio do conflito subsistente entre elas, ele é, em regra, o Estado da clas-se mais poderosa, da classe economi-camente dominante, classe que, por intermédio dele, converte-se também em classe politicamente dominante, adquirindo assim novos meios para a repressão e exploração da classe opri-mida.

O Estado antigo era, sobretudo, o Estado dos donos de escravos subju-gados, tal como o Estado Feudal era o órgão de que se valeu a nobreza para manter a submissão dos servos e camponeses dependentes. E o mo-derno Estado representativo é o ins-trumento da exploração do trabalho assalariado pelo capital.

A república democrática, a mais elevada de todas as formas de Estado, em nossas modernas condições so-ciais torna-se cada vez mais uma ne-cessidade inevitável e é a única forma de Estado sob a qual pode ser travada a última e definitiva batalha entre o proletariado e a burguesia.

Houve sociedades que passaram sem o Estado, que não tinham de seu poder, e num determinado estágio de desenvolvimento econômico que es-tava necessariamente ligado à divisão da sociedade em classes, o Estado, em virtude dessa divisão, tornou-se uma necessidade.

Em todos os estágios anteriores da sociedade, a produção era essen-cialmente coletiva e o consumo se realizava também por distribuição direta dos produtos no interior das comunidades comunistas, maiores ou menores. Esse caráter comum da pro-dução verificava-se dentro dos mais estreitos limites, mas trazia consigo a dominação dos produtores sobre seu processo de produção e seus produ-tos. Sabiam o que era feito do pro-

duto: consumiam-no, ele não saía de suas mãos.

E, enquanto a produção se proces-sa nessa base, não pode gerar pode-res fantasmas estranhos a eles, como ocorre regular e inevitavelmente na civilização.

Nesse processo de produção, a divisão do trabalho vai-se introdu-zindo lentamente. Ela mina o caráter comum da produção e da apropria-ção, instaura a apropriação individual

como regra predominante, criando, desse modo, a troca entre indivíduos. A produção mercantil acaba se tor-nando gradualmente a forma domi-nante.

Com a produção mercantil, a pro-dução não é para o consumo próprio e sim para troca, os produtos mudam necessariamente de mãos. Na tro-ca, o produtor entrega seu produto, deixando de saber o que é feito dele. Assim que o dinheiro, e com ele o comerciante, surge como intermedi-ário entre os produtores, o processo de troca se complica e torna-se ainda mais incerto o destino final dos pro-dutos.

E ainda hoje, o produto domina os produtores, o conjunto da produção é regulado, não por um plano elabora-do em comum, mas por leis cegas que atuam com a força dos elementos, em última instância, nas tempestades das crises comerciais periódicas criadas pelo capitalismo financeiro.

Como a base da civilização é a exploração de uma classe por outra,

todo o seu desenvolvimento se ope-ra numa constante contradição. Cada progresso na produção é ao mesmo tempo um retrocesso na condição da classe oprimida, isto é, da imensa maioria.

Cada benefício para uns é neces-sariamente um prejuízo para outros; qualquer nova libertação de uma classe é um novo elemento de opres-são para a outra. A prova mais elo-qüente a respeito disso é a própria introdução da máquina, cujos efeitos são hoje conhecidos em todo o mun-do. Se entre os bárbaros mal se po-dia determinar a diferença entre os direitos e deveres, com a civilização torna-se claro, mesmo para o mais imbecil, a diferença e oposição entre as duas coisas, na medida em que atribui a uma classe quase todos os direitos (Estado) e à outra quase to-dos os deveres (trabalhadores).

Ora, sabemos que na sua estrutu-ra de formação, o Estado foi criado no intuito de defender o interesse privado, mas o resultado das lutas que se desenrolaram após as revolu-ções burguesas (inglesa e francesa) no que diz respeito a uma reviravolta da burguesia, mesmo aliada às clas-ses dominantes (absolutista ou mes-mo revolucionária) e até nas fases revolucionárias na América Latina criaram possibilidades reais para o fortalecimento das classes mais des-favorecidas.

A tensão imposta pela burguesia a partir do século XVIII, apesar da sua própria manutenção do poder abriu caminhos para a formação das clas-ses trabalhadoras, a partir das novas relações de trabalho capitalistas e a sua antítese proletária.

Por mais que o Estado capitalista avance no controle e no planejamen-to da economia, quem se beneficia é sempre a minoria capitalista. O pla-nejamento que interessa à maioria deve limitar o Estado capitalista no seu viés selvagem para as camadas trabalhadoras.

As condições para a mudança es-tão presentes na sociedade atual, já que o espaço para a ação das classes populares se fortaleceu nos últimos anos e apesar da arbitrariedade do governo do nosso estado, temos que mostrar a força da coletividade, pois o sucateamento das estruturas públi-cas e a política do estado mínino são premissas deste governo. Basta ter raciocínio para perceber que todas as ações são calculistas e de caráter ven-dilhão.

Portanto, vamos fazer de 2016 um ano de luta mais engajada e ativista, coletiva, solidária, buscando o cum-primento dos direitos de todos, com a união das classes trabalhadoras e dos servidores, contra a opressão sartoris-ta e fascista!

EDIÇÃO/ REDAÇÃO

REDAÇÃO

PROJETO GRÁFICO/ DIAGRAMAÇÃO

IGOR MALLMANN

LUCIUS FABIANO MARTINS

RODRIGO CALLAIS

ANDREI MENDES DE ANDRADES

GABRIELE MENEZES

Estudante de Jornalismo

Professor

Dirigente sindical

Advogado

Estudante de Publicidade e Propaganda

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EXPEDIENTE

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LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

O ALICERCEEDIÇÃO 6 - GRAMADO, JANEIRO DE 2016. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

EDUCAÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO

Educação, caminho da luta iguali-tária, da mudança revolucionária, da aproximação dos diferentes, do engajamento humanitário e da solidariedade máxima. Ele-

mentos que vemos dentro do nosso con-texto social cada vez mais confusos.

Nós como professores temos que ser os mediadores da transformação, e o clima político e social no nosso estado não requer nada diferente, além de uma mobilização efetiva, pois a instituição atual não nos representa.

Salários congelados, humilhação atrás de direitos adquiridos, nenhuma valorização se descortina no presente e muito menos no futuro. A comunidade escolar, na sua maioria, está avessa para uma luta coletiva, cooptada de forma alienada por uma mídia e um imediatis-mo individualista, que parece permear a mentalidade de parte da população.

A educação tem as condições histó-ricas para capitanear a mudança, extre-mamente necessária para uma liberdade de consciência ativa, voltada para a cons-trução da sociedade mais justa. É a partir dessa consciência adquirida ou potencia-lizada na escola que os alunos e a comu-nidade escolar poderão entender de for-ma clara os diagnósticos da nossa atual conjuntura, e assim entender a verdade.

O professor deve representar a sal-vaguarda do aluno na escola. Mas a li-mitação temporal de seus esforços na sala de aula ao mínimo, a ineficiência ou inadequação de muitos em relação ao discurso, na maioria das vezes, um reflexo repetitivo do senso comum, traz mais dificuldades para uma mobilização e coesão efetiva dos alunos e comunida-de escolar.

A escola é o espaço privilegiado como instituição social, no qual é possí-vel o encontro das diferentes presenças. Também é espaço sociocultural marca-do por símbolos, rituais, crenças, cultu-ras e valores diversos.

Essas possibilidades do espaço edu-cativo escolar precisam ser vistas na sua riqueza, no seu fascínio. Sendo assim, as questões relacionadas à diversidade cul-tural e ideológica devem partir do princí-pio da justiça e principalmente, da verda-de, quer dizer, na escola essas temáticas devem ser consideradas no que mais fascinante ela proporciona às relações humanas: o encontro das diferenças.

Os educadores engajados ideologi-camente são, tam-bém, profissionais da cultura, e não de um padrão único de aluno, de currículo, de conteúdo, de prá-ticas pedagógicas, de atividades esco-lares. Todos, sem exceção, diferem em etnia, naciona-lidade, sexo, idade, crenças, classe.

O trato com a diversidade é algo complexo, pois exige o reconhecimento da diferença e, ao mesmo tempo, o estabelecimento de padrões de respeito, de ética e a garantia dos direitos sociais.

A grande ques-tão está voltada para a preocupação coletiva, abandonada pela escola atual, que é individualista, engajada em pro-blemas banais, o que vislumbramos na nossa comunidade no presente.

Toda a sensibilização com o pro-blema do outro se tornou tema para segundo plano, ou até inexiste, encam-pado por uma pseudoconscientização de caráter efêmero, manifestando-se através das temáticas da moda, como a pseudoecologia, reciclagem, protestos sem referencial teórico a partir de uma

visão parcial da sociedade, geralmen-te ofuscada por uma mídia que não é questionada.

Ora, com fatores assim constatados, fica claro o lado da batalha que devemos ficar como formadores e mediadores. Uma das premissas da atualidade é a transparência por quem devemos lutar.

Em uma comunidade embasada no capitalismo individualista e ao mesmo

tempo de men-sagem subliminar “de que não há oportunidade para todos” temos que trabalhar com ações preocupadas com a continuidade das reformas coletivas e contra esse siste-ma que insiste em terminar com os di-reitos sociais, ou li-mitá-los ao máximo, em um espaço de ação cada vez mais inócuo.

Educar para a verdade é fazer das diferenças um trun-fo, explorá-las na sua riqueza, possi-bilitar a troca, pro-ceder como grupo, entender que o acontecer humano só é possível dentro das perspectivas de

uma consciência libertária.A busca dessa consciência, ainda

desmotivada por muitos professores, pelo desconhecimento ou por neces-sidade estética de aceitação da classe dominante, vai impulsionar nossa vida na orientação para a adoção de práticas pedagógicas, sociais e políticas em que todos os movimentos sejam entendidos como parte da nossa vivência como so-ciedade solidária e coletiva, e não como algo exótico ou como desvio ou desvan-

tagem.Como respeitar as diferenças e, ao

mesmo tempo, intervir em situações e práticas que ferem os direitos huma-nos? Como a humanidade, permeada por tantos interesses e pelo jogo do po-der, poderá equacionar essa situação?

Posso responder a esses questiona-mentos a partir de uma reflexão mais densa sobre as particularidades dos grupos sociais, representando a adoção de políticas públicas que contemplem o diverso, como já tem sido realizado.

Tal conduta, certamente resulta-rá em uma mudança nas relações de poder, na redefinição de escolhas e no estabelecimento de uma verdadeira de-mocracia na nossa cidade e nas escolas.

O poder de mobilização para a mu-dança está no cerne da questão do por que do caminho a seguir, que é o ques-tionamento contínuo, através de uma revolução permanente, contra o des-mando do poder público estadual, que direciona seus esforços para a substitui-ção do sistema educacional em prol da construção de uma estrutura subser-viente e sem representação coletiva.

E a partir da falta de reflexão coletiva por grande parte dos professores é que se constata diariamente nas salas de aula um estado de torpor ideológico e humanístico, que é combatido por pou-cos, heróis da constante resistência, que diariamente mostram para os alunos a história pelo qual passamos.

A perspectiva das ações do atual go-verno estadual, pseudocomandado por uma figura caricata, de um partido que já comprovou sua instabilidade emo-cional, são aterradoras, e por isso, em nome da legitimidade, de um presente ainda possível, é que voltamos nossas energias para a trincheira da liberdade.

Professores voltados para o ensino libertador são poucos, mas suficientes para despertar da ignorância confortá-vel os analfabetos cognitivos em prol do fortalecimento de uma consciência de classe arrebatadora e coletiva.

Transformação na Educação A Revolução Permanente

“Educar para a verdade é fazer

das diferenças um trunfo, explorá-las

na sua riqueza, possibilitar a

troca, proceder como grupo, entender que o acontecer humano só é possível dentro das

perspectivas de uma consciência

libertária.”