falaroça edição 6

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Rio antigo: a fazenda Quebra Cangalha e a origem da Rocinha Barracos começaram a subir o morro no início dos anos 50 Mãe e lha se reencontram depois de quase 40 anos de separação Filha mais nova encontrou a irmã através de um grupo no Facebook Reportagem ímpar 03 Foto: Augusto Malta / Brascan Cem Anos no Brasil / Acervo Instuto Moreira Salles Fala Roça é incluído nas comemorações do Rio450 Outros dois projetos da Rocinha também foram inseridos no calendário PÁGINA 6 Museu Sankofa da Rocinha ganha coluna no jornal Proposta é trabalhar com fotos antigas PÁGINA 4 Lendas da Rocinha Conheça a história da Tia Mocinha em forma de poema PÁGINA 8 Foto: Michele Silva Você conhece? 04 Foto: Rodolfo Menezes Brechós fazem sucesso na Rocinha Consumidor está mais consciente e tem menos preconceito com usados Colcha de retalhos 05 De volta para minha terra Paraibana retorna à terra natal após 30 anos sem visitar familiares Foto: Michel Silva Queremos saber 06 Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edição 6 EDIÇÃO ESPECIAL PARABÉNS, RIO! Foto: Wendy Andrade

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Jornal Nordestino da Rocinha, Rio de Janeiro

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Rio antigo: a fazenda Quebra Cangalha e a origem da RocinhaBarracos comearam a subir o morro no incio dos anos 50Me e flha se reencontram depois de quase 40 anos de separaoFilha mais nova encontrou a irm atravs de um grupo no FacebookReportagem mpar 03Foto: Augusto Malta / Brascan Cem Anos no Brasil / Acervo Inst tuto Moreira SallesFala Roa includo nas comemoraes do Rio450Outros dois projetos da Rocinha tambm foram inseridos no calendrioPGINA 6Museu Sankofa da Rocinha ganha coluna no jornalProposta trabalhar com fotos antigasPGINA 4Lendas da RocinhaConhea a histria da Tia Mocinha em forma de poemaPGINA 8loLo: Mlchele SllvaVoc conhece? 04loLo: 8odolfo MenezesBrechs fazem sucesso na RocinhaConsumidor est mais consciente e tem menos preconceito com usadosColcha de retalhos 05De volta para minha terraParaibana retorna terra natal aps 30 anos sem visitar familiaresloLo: Mlchel SllvaQueremos saber 06Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6 EDIO ESPECIALPARABNS, RIO!loLo: Wendy Andradewww.falaroca.com /falaroca @fala_rocamulheres, me eflha, que passaram quase 40 anos sem se ver e se reencontraram com a ajuda da internet.Alemdasreportagens, inserimos um caa palavras relacionado a Iatos historicos da Rocinha para testarmos sua memoria e a sua habili-dade na busca pelas palavras.Voc tambem pode sugerir assuntos que gostaria de ler aqui,enviarfotoseinfor-maes atraves dos nossos contatos que voc encontra aqui no fnal desta pgina.Tenham uma boa leitura!Nestaedioespe-cial, comemoramos os 450 anos do Rio de Janeiro com uma materia sobreaorigemdaRocinha. AtravesdeIotos,escrituras e, principalmente, a partir do depoimentodeumherdeiro daIamiliaCastroGuido, contaremososprimordios dosurgimentodaRocinha entre 1868 e 1950.O jornal mostra ainda os brechs que fazem sucesso na Rocinha com a venda de roupas usadas a preos aces-siveis.Segundodadosdo Servio Brasileiro de Apoio Editorial02 Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6Nova edio, mais contedopor !$-"./+s Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae), os consumidores estomaisconscientese menospreconceituosos. A reportagem Ioi escrita pelo morador Jorge Kadinho, que frequentador assduo dos brechos.Duas histrias que parecem roteiro de flme ganharam as pginas do jornal. A primeira e da moradora Josita Maria, 62anos,paraibana,que depois de 30 anos morando no Rio alcanou a oportuni-dade de visitar os Iamiliares na terra natal. Outra histo-riaemocionanteededuas Lxemplares da 3 edlo foram enLregues na Macega, na parLe alLa da 8oclnha. Diretora executivaMichele [email protected] de produoMichel [email protected] de redaoBeatriz [email protected] fnanceiroMarcelo [email protected] de projetosMonique [email protected] de produoTainara [email protected] SilvaMichel SilvaBeatriz CaladoColaboraoJorge KadinhoRafael AraujoMuseu Sankofa da RocinhaFotografaRodolfo MenezesDiagramaoMichel SilvaRafael BressanPeriodicidadeBimestralTiragem5 mil [email protected]/falarocatwitter.com/fala_rocaExpedienteApoioAprendendo o NordestinsTelefones teis 27 Regio Administrativa3322-6823/1019 GRES Acadmicos da Rocinha3205-3303 AMABB2422-0211 UPMMR 3322-8273 AMAVL9996-66359 C.F Rinaldo de Lamare3324-2454 Complexo Esportivo da Rocinha 2334-6815 Biblioteca Parque da Rocinha 2334-7097/98 E. M Andre Urani 2274-8055 CIEP Abelardo Barbosa3322-3952 CIEP 303 Ayrton Senna3322-5607 CIEP Dr. Bento Rubio3322-3433 E.M Francisco de Paula Brito3322-3525 Subprefeitura da Zona Sul do Rio2274-4049 Homem Iorte, decidido. ReIerente a um homem ou menino de boa ndole. Ex: Seu Chico ajuda a todos! ta cabra da peste!Cabra da pesteltimo tiro na macacaDiz-se de uma mulher que completou 30 anos e no casou.MarraiaBola de marraio. Bola de gude. Bola de vidro usada pelas crianas para brincar.Conhea mais termos do nordeste em:www.Ialaroca.comloLo: klLa edroza UPA Rocinha3322-7839 CEDAE Rocinha3324-0519www.falaroca.com /falaroca @fala_rocaRio antigo: a fazenda Quebra Cangalha e a origem da RocinhaBarracos comearam a subir o morro no incio dos anos 50por 0123$% 41%5"Reportagem mpar03Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6Emhomenagemaos 450anosdoRio deJaneiro,ojornal FALA ROA revirou o bau e contar a origem da Roci-nhapormeiodamemoria doassessorcomercialJoo CastroGuido,52anos, herdeirodaIamiliaCastro Guido. A Iamilia Castro Guido, de origemportuguesa,chegou ao Brasil em 1868. Na epo-ca, o jovem Braulio Noberto deCastroGuidoIoien-viadoporseuspaisparac paratrabalharnaindustria de tecidos junto com outros portugueses.Algunsanos depois,oirmodeBraulio, AdrianodeCastroGuido, tambemIoienviadoparao Brasilparatrabalharcom seu irmo. Diantedisso,elesse tornaramsocioseIunda-ramaCompanhiaCastro Guido cujas virtudes eram a Fe, Esperana e Caridade. Oriundos de Coimbra, regio central de Portugal, os irmos estabeleceram-se no comer-cio brasileiro e expandiram os negocios para a industria de tecidos, bancos, Iazendas, imoveis, polvora e entreteni-mento.Naepoca,aCompanhia Castro Guido era dona de diversas Iazendas no Rio de Janeiro, entre elas a Iazenda Quebra Cangalha. Segundo Joo Castro Guido, o dono daQuebraCangalha,que ocupava um terreno de apro-ximadamente 500 mil metros quadrados de onde hoje a Rocinha, era um Iazendeiro portugus chamado Manoel Fernandes Cortinhas. Antes de retornar para Portugal, no incio dos anos 10, ele vendeu a Iazenda para o engenheiro Luiz Catanhede por cerca de 50 conto de ris.Luiz contratou cerca de 15 pessoas para cuidar e morar na fazenda. A rea ocupada pelaRocinhapossuia,ori-ginalmente,caracteristicas rurais.Maselenotinha viso de negocios e entregou o terreno a Companhia Castro Guido, em 1915, atravs de um acordo para acabar com uma divida entre ele e o banco criado pelos Irmos Guido, conta Joo.Oassessorcomercial conta que o nome da fazenda surgiu por causa de um tipo de madeira. 'A cangalha era onomedasmadeirasque sustentavam e equilibravam osbois.ComoaIazenda eraingreme,ascangalhas quebravam facilmente. Da surgiu o nome Quebra Can-galha porque o ex-dono das terras caminhava com os bois ateoaltodaRocinhapara plantar caIe, Irutas, legumes e mamona, explica Joo.Apesar de ter ganhado a Iazenda como pagamento de uma divida, os irmos Braulio Noberto de Castro Guido e AdrianodeCastroGuido propriedadecommaisde quinhentos mil metros qua-drados,atravessadapela estrada que desce da Tijuca ao Jardim Botanico, perto do mar, e propria para sanatorio, collegio ou hospital. Trata-se com Castro Guido & C. na Rua Primeiro de Maro n 7.O terreno no Ioi vendido e a urbanizao da zona sul avanava com a construo da AvenidaNiemeyer,em 1916. No incio dos anos 20, existiamalgunspequenos produtoresqueplantavam legumes,verdurasehor-talias.Osprodutoseram levadosparaumaIeirana PraaSantosDumont,na Gvea,atravsdaEstrada da Gvea. Os consumidores perguntavam de onde vinham os produtos e os comerciantes diziam que era l da roci-nha, da que surgiu o nome de nossa Iavela. Os irmos Guido Ialece-ram na metade dos anos 20 e os herdeiros assumiram os negcios. Entre 1927 e 1930, a Companhia loteou a Iazenda e vendeu uma quantidade de terrenos para clientes parti-culares. Um dos lotes, de n 81, foi doado para a Parquia Nossa Senhora da Paz de Ipa-nema pela atriz VictoriaMiranda,norade Adriano de Castro Guido. Ela usou o nome da Iamilia e Iez a doao do terreno, onde mais tarde Ioi construida a Parquia Nossa Senhora da Boa Viagem, conhecida como Igreja da Fundao, perto do restaurante Bobs. No incio dos anos 30, a CompanhiaCastroGuido declarou Ialncia e os her-deirosnotinhammais interessepeloterrenoda Fazenda Quebra Cangalha. A Estrada da Gvea passava por melhorias no asIalto e ilumi-nao. Alm disso, existiam boatos de que o terreno eram 'terras do governo ou 'sem dono,porissoaspessoas comearam a ocupar os lotes, contribuindo para o cresci-mento irregular da Rocinha.Com a migrao de nor-destinos para c no incio dos anos 50, eles transformaram a Rocinha no que ela atu-almente. Uma cidade dentro da cidade.alsagem da 8oclnha em 1938: e posslvel observar casas na reglo da 8oupa Su[a, ulonela e na enLrada da 8oclnha.A migrao de nordestnos e a construo do tnel Dois Irmos - atual Zuzu Angel - contriburam para o crescimento da Rocinha.A famlia Castro Guido, de origem portuguesa, chegou ao Brasil em 1868. A rea ocupadapela Rocinha possua, originalmente, caractersticas rurais !oo CasLro Culdo, assessor comerclalno quiseram continuar com a propriedade e colocaram um anuncio no jornal Correio da Manh, no dia 6 de janeiro de 1916, pondo a Iazenda a venda: 'Vende-se uma grande loLo: Acervo pessoal da lamllla CasLro CuldoloLo: Mlchel Sllvawww.falaroca.com /falaroca @fala_rocaO preo das roupas varia deR$5,00aR$20,00.O brecho Iunciona de segunda a sbado, de 14h30 s 20h. J encontrei muitas roupas boas aqui no brech, gosto de vir quando chegam novas peas, conta Manoel Souza, 54 anos. Outrobrechquevem conquistando clientela fun-ciona na Ao Social Padre Anchieta (Aspa), no Cami-nho do Boiadeiro. No entanto, existem brechs que no tm lojas fsicas, como por exem-ploobrechquefunciona embaixodoviadutopr-ximo ao Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, durante o fnal de semana.Paraquemprocurapor peasbsicasouroupas paraIestaseeventosmais Iormais, o brecho pode ser uma opo. Sabendo o que comprarecomocombinar as peas, e possivel montar looks interessantes. Porem, o mais importante e no ter receio de se aventurar.O MuseuSankoIa deHistoriaeMe-moriadaRocinha temoobjetivoderesgatara memoriada Iavela, mas sem deixar de pensar no futuro. A ideia de museu surgiu h seis anos, mas esse trabalho existe desde a dcada de 1970 com acriaodolivroVaralde Lembranas.O grupo que faz esse res-gateecompostoporsete integrantes, todos moradores da Rocinha. A principal Ierra-menta de pesquisa o prprio morador, que pode enviar fotos e documentos, que depois de digitalizados,voltampara ele. Outra Iorma de preservar amemoriacoletivaocorre Voc conhece?04 Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6por meio de historias conta-das oralmente por moradores mais antigos. O museu possui um blog na internet, abastecido com textos sobre a Rocinha e com as inIormaes dos even-tos do projeto. O Museu SankoIa realiza aes no sentido de preserva-o e constituio do acervo sobre as memorias e as historias da Rocinha e politicas publicas de cultura para a Iavela. Nesta coluna, publicaremos historias de pessoas, gente que vive, que faz,quecontaenarrasuas memorias. Falaremos histori-camente do cotidiano e da vida corriqueira, de ns mesmos que aqui vivemos.Bloco das PiranhasCriado na dcada de 90, no alto do Laboriaux, um grupo de amigos chamava a ateno comotipodefantasiaque usava:roupasdemulheres. Diantedisso,apelidaramo grupo de Bloco das Piranhas. O bloco alegrava os mora-dores cujo trajeto iniciava no Laboriaux e ia at o Porto Vermelho. Muita curtio, sen-sualidade e glamour fzeram parte do Bloco das Piranhas. Ainda hoje, no Carnaval, e comum ver grupos de homens circulando pela Rocinha, com roupas de mulheres. No pode-Museu Sankofa da Rocinha ganha coluna no jornalProposta trabalhar com fotos antigaspor 0)6$) 4"78+#" -" !+2173"Brechs fazem sucesso na RocinhaConsumidor est mais consciente e tem menos preconceito com usadosNoRiodeJaneiro, noseculo19,um vendedorchamado Belchiorcriouaprimeira lojadevendaderoupase objetosdesegundamoda cidade.Comomuitagen-tetinhadifculdadesem pronunciaronomedoven-dedor,aspessoasIoram chamando-o de diversos no-mes, at que se chegou a pa-lavra que conhecemos hoje: brech.Foiassimqueesse tipo de comrcio surgiu aqui no Brasil Iazendo reIerncia prticadecomercializar itens usados. Mas c entre ns, os bre-chsdeixaramdeserum lugarderoupasvelhase quinquilharias.NoBrasil, segundopesquisadoSer-vio Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o mercado de bre-chos e de venda de produtos usados cresceu 210% nos lti-mos 5 anos. Os consumidores esto mais conscientes e com menos preconceito em rela-o a itens de segunda mo. Alemdisso,asbuscaspor peas retrs e vintages esto em alta por conta das ultimas tendncias de moda.Apesar do crescimento do setor, o costume de comprar coisas usadas ainda no se tornoutradionoBrasil. Quando esses produtos anti-gos so vendidos, o preo e praticamente simbolico e a aquisio geralmente feita por pessoas ntimas de quem estvendendo.Onegcio tambem e Ieito pelo boca a boca, como Ioi o caso de Eli-sangela Barbosa, de 42 anos, que mora na Rua 3, e que j vendeu as proprias roupas. 'EuIaziabrechodeum dia s. J fz na casa do meu av e na minha casa. A pri-meira vez que fz o brech foi para pagar algumas contas. As pessoas valorizam mais o que compram ao invs do queganham.Mesmoque paguemR$2,00emuma pea, explica. QuempreIeririremum localfsicoparaadquirir peas antigas, nem precisa sair da Rocinha. Aqui mesmo temosbrechsqueesto atraindo muitos moradores pela qualidade das roupas e, principalmente, por conta das marcas. E possivel encontrar peas de griIe como Calvin Klein, Lacoste, GAP, Tommy HilIgerentreoutraspor preos bem em conta. O brecho da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, na Fundao,eumdosmais antigo da Rocinha. As roupas sodoadaspelosproprios moradores da Rocinha. Mulher avalla uma cala [eans em melo aos cabldelros no brech da lgre[a nossa Senhora da 8oa vlagem.mos esquecer do Bloco das Piranhas que agitava a Paula Brito. Na Ioto acima esto os inte-grantes do bloco, nos anos 90. Reconheceu alguem? Entre em contato com as redes sociais do Fala Roa.Amigos reunidos com roupas de mulheres, na dcada de 90, no alto do Laboriaux. por 9+(:$ ;"-173+Aprimeiravezquefz obrechfoiparapagar algumas contas Lllsangela 8arbosa, moradora da 8ua 3loLo: 8odolfo MenezesloLo: Museu Sankofa Memrla e PlsLrla da 8oclnhawww.falaroca.com /falaroca @fala_rocao Laboriaux, em 1992, por indicaodoflhodeuma moradora do predio, conta ela.Jositaestavagrvida do terceiro flho quando se mudou para a Rocinha.Depoisdeumviverum periodo conturbado na casa em que vivia no Laboriaux, JositaePaulovenderamo imovel e alugaram um poro na Praa do Skate, na Curva do S. Era muito ruim porque a gente no podia fcar em p dentro de casa. Tinha que andar agachado, relembra. Na metade dos anos 90, seu marido recebeu um dinheiro de uma resciso contratual deumtrabalhoecompra-ram uma casa na parte alta da Vila Verde por indicao de uma amiga. 'A casa era boa,naquelapocatinha muitomatoealadeiraera de barro. Depois eu me arre-pendi porque o dinheiro que ele tinha recebido dava para comprar uma casa na parte baixa da Rocinha, explica. Desdequeelaveiopara oRio,nohaviavisitado nenhuma vez os Iamiliares naParaiba. AIamiliadela pensava que ela no queria mais contato com eles porque enviavam cartas para ela e no recebiam respostas. Porem, Colcha de retalhos05Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6'EstavanaPraaGeneral Osorio com a minha amiga e ele chegou perto de mim. Comeamosaconversare ele disse que procurava um relacionamento. Era bom de papo, conta ela que casada h 25 anos com Paulo Afonso, de64anos,naturaldeRio Pomba, em Minas Gerais.Em 1988, Josita e Paulo decidiram alugar uma casa naGlria,atrsdoprdio da extinta revista Manchete. Estvamos morando h oito meses na Gloria e engravi-dei dele. Eu perdi o emprego por conta da gravidez e ele ganhouumapequenacasa no playground do prdio em que ele trabalhava na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, ai fomos morar l, explica ela.Paulo trabalhava como por-teiro e ela tinha que fcar em casa porque precisava cuidar da flha. A primeira flha ia bem at que veio a notcia de que estava grvida pela segunda vez, em 1989.Me de duas meninas aos 32 anos de idade e desem-pregada, Josita viu a situao da Iamilia se agravar com a demisso do marido do predio em Ipanema. 'Meu marido teve problemas no trabalho e tivemos que nos mudar para Muitasvezes,viajar deavioemais barato do que via-jardenibus.Desde2011, asclassesCeDimpulsio-naram o mercado de turismo noBrasilcomaampliao docredito.Onordestebra-sileiroeumdosprincipais destinosnacionais,entre-tanto, a viagem da moradora Josita Maria da Silva, de 62 anos, Ioi por um motivo di-Ierente. Ela visitou os Iami-liares aps 30 anos longe da terral natal, na Paraiba.Criadanaroa,aparai-bana nasceu em Boqueiro, uma cidade do interior parai-bano. Ela veio para o Rio de Janeiro na metade dos anos 80 apos a morte da me. Antes de vir para o Rio, ela traba-lhou durante oito anos como proIessora de artes em uma escola municipal na propria cidade.Assim que chegou no Rio, ela Ioi morar em Copa-cabananaquartodeuma prima que trabalhava em um predio. Em poucos meses, a prima conseguiu um emprego de domestica para Josita em Ipanema. Os passeios que ela fazia na Praa General Osorio, em Ipanema, Iez com ela conhe-cesse o Iuturo marido. por 0123$% 41%5" $ 0123$%$ 41%5"uona !oslLa posa na la[e da casa onde mora na vlla verde.De volta para minha terraParaibana retorna terra natal aps 30 anos sem visitar familiaresum primo de Josita morava naGloriaetinhateleIone. Quando podia visitar o primo, ela ligava para as irms que esperavam ansiosamente por noticias.Os trabalhos que ela fazia na rea de limpeza no gera-vamumarendasuIiciente para viajar. Alem disso, os Iilhosprecisavamestudar. Depois de crescidos, os flhos resolveramrecompensara me por toda a dedicao e organizaram a viagem dela paraaParaibaatravesda internet.Aviagemaconteceuno incio de 2015 junto com seu marido. Foi a primeira vez que ela viajou de avio. Eu nunca tinha visto um aero-porto. Foi tudo muito novo. Quando vim para o Rio, Ioi uma viagem de trs dias em um nibus. A viagem de avio Ioimenosdeduashoras. Quando o avio decolou, eu pedi ajuda para Jesus aben-oar a viagem, conta ela.A paraibana que veio para o Rio iniciar uma nova vida voltava para a cidade em que nasceu para reviver a velha vida na roa. 'Quando che-guei em Boqueiro, foi uma alegria muito grande. Minhas irms me buscaram no aero-portoeIomosemborade carro para casa. Chegamos em casa as 2h e todo mundo estava acordado. Meus Iami-liares soltaram Iogos muitos de artiIicio comemorandoa minha chegada na cidade, lembra ela.DevoltaaoRio,elaj fazplanosparaaprxima viagem. 'Antes de voltar eu prometi para as minhas irms que iria retorna Boqueiro todo ano. Na prxima viagem querolevarmeuflhomais novo, conta ela com um sorriso no rosto e segurando um celular que comprou para manter con-tato com os Iamiliares.lamlllares buscaram !oslLa (a dlrelLa) e aulo (a esquerda) no aeroporLo de Camplna Crande, na aralba.Boqueiro, PBBoqueirouma cidade do interior paraibano, distan-te da capital, Joo Pessoa. Suapopulaoem2011 IoiestimadapeloIBGE em 16.966 habitantes.Umadasprincipais atraes de Boqueiro o Aude Epitcio Pessoa. O aude abastece as cida-des de Campina Grande, Boqueiro,Queimadas, Pocinhos, Caturite, Riacho de Santo Antnio e Barra de So Miguel.loLo: !aldeLe SanLosloLo: Mlchel Sllvawww.falaroca.com /falaroca @fala_rocaQueremos saber06 Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6Me e flha se reencontram depois de quase 40 anos de separao Filha mais nova encontrou a irm atravs de um grupo no Facebook O brilhonosolhose aagitaodeDona Nicelogoentregam a felicidade que ela est sen-tindo:acearense,naturalde Fortaleza, de 59 anos, encon-trou a primeira flha, que no via h quase 40 anos, com a ajudadainterneteagorae ssorrisosparaaRainha, comoechamadacarinhosa-mente a primognita Jeonice Felix dos Santos, de 40 anos. O encontro so Ioi possivel porque Giselle Natalina, flha mais nova de Clovenice Alves de Souza, que prefere ser cha-mada de Dona Nice, decidiu procurar pela irm em grupos nas redes sociais. Apos ver a me triste em diversas datas comemorativas, Giselle conta que decidiu iniciar a busca pela irm mais velha. A pro-cura comeou h quatro anos, mas Ioi so em maio deste ano que ela encontrou Joenice. Eu j procurava pela minha irm h muitos anos, mas as informaes que eu tinha no casavam. Pesquisando pela internet eu achei um grupo do bairro Henrique Jorge, que por ?$">(1@ A"%"-+ $ 0123$%$ 41%5"!oenlce vlslLou a casa da me no Cesrlo, parLe alLa da 8oclnha. era onde minha irm morava quando pequena. Coloquei os dados que tinha e as pes-soas do grupo me ajudaram a achar, conta.O to esperado encontro entre me e flha aconteceu emjunhoecontoucoma ajuda dos amigos do trabalho de Joenice, que lhe deram as passagens de avio. Joenice veio passar uma semana no Rio de Janeiro, na Rocinha, na companhia de sua me e irmos. Aindasemacredi-tarnoqueestavavivendo, Joenice diz que fcou muito emocionada quando desco-briu que a sua me verdadeira estava viva. 'Eu comecei a passar mal, chorava e ria ao mesmo tempo. Eu pensei que elajestavamortaesofri muito na minha inIncia sem a presena dela. Quando des-cobri que teria a chance de v-lapassouumflmeem minha cabea, lembra. Aseparaoaconteceu quandoDonaNiceperdeu ocontatocomaflha,que naepocatinhaseisanos. Ela conta que foi me muito jovem, aos 20 anos, e o pai dela no aceitou muito bem a gestao. Alegando que a flha no teria a responsabi-lidade necessria para cuidar da criana, ele deu a neta para outra pessoa cuidar. 'Nocomeo,conseguia ver minha flha com frequ-ncia,eulevavaascoisas para ela, mas com o passar dosanosnossosencontros IoramIicandocadavez maisdistanteseasaudade soaumentava,dizDona Nice, que perdeu a me ainda criana, com apenas 9 anos e Ioi criada pelo pai. Dona Nice j tinha regis-trado a flha apenas em seu nome,quandoobebfoi entregue para adoo. Mas, quandodescobriuquea criana havia sido registrada novamente, e no mesmo car-torio do primeiro registro, ela foi questionar o pai sobre o assunto, que no reagiu bem. 'Quando descobri me enIu-reci. Fui Ialar com meu pai e ele colocou toda a culpa em cima de mim. Foi nessa epoca Aseparaoaconte-ceu quando Dona Nice perdeu o contato com aflha,quenapoca tinha seis anos.guiu o dinheiro da passagem, juntou algumas economias e veio para o Rio em busca de uma vida nova. Assim que chegouaqui,foitrabalhar como domestica. Os anos Ioram passando, mas a saudade da flha aumen-tava a cada dia. Apesar de ter voltado algumas vezes a For-taleza, ela nunca mais tinha visto a flha. Agora, depois desse reen-contro, a promessa e de nunca mais fcarem longe uma da outra. Jeonice tem duas flhas, queDonaNiceestdoida para conhecer e esse encon-tro j tem data marcada: Dona Nice ganhou dos patres a passagem para visitar a flha e a Iamilia dela ainda esse ano, no Cear.Ela vai fcar uma semana em Quixad, a cidade em que a flha mora atualmente. Depois do reencontro, me e lha prometeram nunca mais carem longe uma da outra.O FalaRoaIoium dosganhadoresdo editalAesLocais Rio450,daSecretariade CulturadoRio,pelotraba-lhoquevemrealizandona comunicaocomunitria enoresgatedememorias edaculturanordestinana Rocinha.Aotodo,Ioram escolhidos85projetosem diIerentes regies do Rio de Janeiro, entre eles o Favela-DaRocinha.com,quetam-bematuanacomunicao comunitria e o Movimento Preserva Laboriaux. Agora, alem desse reconhe-cimento, o Fala Roa ganhou fnanciamento por um ano. 'Ganhamos a oportunidade de crescer e Iazer nosso jornal chegar a mais pessoas, diz Michele Silva, coordenadora executiva do Fala Roa.O Fala Roa tem as 6 pro-ximas edies garantidas.Fala Roa includo nas comemoraes do Rio450por !$-"./+loLo: Mlchele SllvaloLo: Mlchele SllvaloLo: Arqulvo/!ornal lala 8oaMichele Silva, integrante do Fala Roa, exibe o certcado do Rio450.que decidi sair de casa. Peguei algumasroupasesapatos e fugi s 5h da manh. Me lembro como se Iosse hoje. No mesmo dia em que saiu de casa, Dona Nice arranjou um emprego e abrigo na casa de uma colega de trabalho. Ela fcou sabendo que uma amigaquemoravanoRio estavapassandoIeriasna cidade e decidiu pedir para ir embora junto com ela. Conse-www.falaroca.com /falaroca @fala_rocaVocsabiaquenos anos60existiuum clubenaRocinha? Bonstempos...Osantigos nocansamderelembrar aSociedadeRecreativae Educacional da Gvea (SO-REG).Dentrodoclube, funcionavaumaescolaque atendia a comunidade, alem de uma bela quadra de fute-bol de salo que foi palco de campeonatosmemorveis, erevelouoBrait,timedo saudoso Seu Moises, da Iar-mcia Albion. O Vasquinho tambem marcou epoca.No lado social, destaque para o baile do Hava, que tornou os carnavais daquela pocainesquecveis.Nas dependnciasdaSOREG morava um bicho preguia (de estimao) que, segundo antigos moradores, morreu aIogado na piscina do clube, deixandotodos tristes.A Rocinha tambem tinha suas musas. Elas povoavam o sonho da juventude como MarlenePires,a'Miss SOREG, que simbolizava a beleza da Iavela, eleita em um concursopromovido pelo clube.Como tudo que bom dura pouco, a SOREG, que tinha o Seu Luz da Caipira como porteiro, deu lugar a garagem da empresa de nibus TAUTransportes Amigos Unidos quefuncionoudurante anos na Rocinha. O terreno da TAU foi adquirido pelo Estado em virtude das obras do Plano de Acelerao do Crescimento(PAC),onde hoje tem 144 coloridas uni-dades habitacionais. Divirta-seprocurando palavras relacionadas a esse tempo. Guia cultural07Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6A extinta SOREGpor !"#$%& (%)*+,CLUBEESCOLACAMPEONATOSBRAITSEU MOISESVASQUINHOHAVAIPREGUIAJUVENTUDEMUSASSEU LUIZGARAGEMTERRENOPACHABITAES DelciaVoc sabia?O clipe do astro Michael Jack-son quase foi gravado na Rocinha.AIavela Santa Marta Ioi escolhida numa seleo que incluiu outras oito comunidades da Zona Sulcarioca,entreelasa Rocinha, que era conside-rada Iavorita.Em 1933, um censo sobre predioseediIiciosrea-lizadonaRocinhahavia contabilizado 354 barracos na Estrada da Gvea e 13 barracos no Laboriaux.C 8ubaco e mals cremoso do que o 8alo de uols.Paraibana ensina a fazer prato tpico do Nordestepor Mlchel SllvaA distncia entre o Rio eoNordestebra-sileirocausauma imensasaudadenopaladar demilhesdenordestinos que vivem no Rio de Janei-ro. Porem, a saudade chegou aofmparaumaex-mora-dora da Rocinha. Renata Nunes, 28 anos, e naturaldeJooPessoa,na INGREDIENTES 1 xcara (ch) de arroz vermelho 2 xcaras (ch) de feijo verde 3 xcaras (ch) de leite integral 2 colheres (sopa) de nata 1 xcara (ch) de queijo coalho cortado em cubos peque-nos 1 colher (sopa) de manteiga da terra 2 pimentas de cheiro pequenas bem picadas Coentro Iresco a gosto Sal a gosto Ferva umaxcara de gua e adicione oarroz, j lavado. Espere cozinhar at secar. Adicione parte do leite, o Ieijo verde e o sal. V colocando leite aos poucos at chegar em umaconsistncia que voc goste. Quando estiver tudo cozido, desligue o Iogo e adicione pimenta de cheiro, nata, manteiga da terra, coentro picado e o queijo coalho, deixando repousar por um minuto coma panela tampada. Acerte o sal, se necessrio, e sirva.MODO DE PREPAROParaiba. Ela veio morar na Rocinha aos 2 anos de idade. Adecisodevoltarpara oNordesteIoidireta.'Eu queria uma experincia fora da favela e me aproximar da minha famlia que tive pouco contato, conta ela.No Rio, ela participou de um concurso latinoamericano de culinria.Areceitaindicadapor Renata e um prato tipico na Paraiba: Rubaco Paraibano. 'E um prato reIerncia por aqui e todos os restaurantes oIerecem, diz ela.Alem da Paraiba, o Ruba-co possui modifcaes em outros estados do Nordeste.Confra abaixo a receita do Rubaco Paraibano.loLo: Crd[a Almeldawww.falaroca.com /falaroca @fala_rocaDa minha janela posso ver...08 Ano 2 | Rio de Janeiro - Agosto de 2015 | Edio 6Reservamosumespaopara voc,morador,mostrar,em formadefotografa,oque v pela janela da sua casa, seja uma vista para o mar, a janela do vizinho, oCristoRedentor,umbeco,um valo, etc.O objetivo desta coluna e permitir que voc expresse seus sentimentos atravs da fotografa sejam eles bons ou ruins. Envie sua Ioto com nome, local onde mora na Rocinha e complete a Irase 'Da minha janela posso ver.. para o e-mail janelafalaroca.com.Leandro Lima, mora na Paula BritoDa minha janela posso ver a vista todos os dias da laje de casa. A paisagem e boa para reexo, vi o lugar evoluir tanto em to pouco tempo.CONFIRA AS IMAGENSESCOLHIDAS PARAESTA SEO.Jlio Souza, mora na Vila VerdeDa minha janela posso ver as casas iluminadas por lmpadas incandescentes.Ester Miranda, mora na Cidade NovaDa minha janela posso ver cinco janelas, telhados e caixa dgua.Meu nome e Tia Mocinha.A Tia MocinhaEra uma mulherQue com elaNo tinha ca certo.Ou e ou no e.Quem j comeu o lanche dela,Sabia como era bomO po com maionese e o suco de caju.Fora as suas outras utilidades,A Tia Mocinha Iez historiaNa Acadmicos da RocinhaE na comunidade.Obs: Quem chegou a irNo pagode da Tia Mocinha?Se voc Ioi, voc tem historia.Se no Ioi, pede para te contarem como era.Nos eramos IelizesE no sabiamos.Lendas da Rocinhapor !"#"$% '(")*+,!"#$%&()*+,-.#-/*0#1+/*23/14%3.-# 3/5/ 6.# 7/3.14#8*RaIael Araujo e morador daRocinhaedescreve osmoradoresantigosem Iorma de poesia com uma Ioto do personagem.loLo: Acervo Cclmar SanLos