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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SHEYLA PRISCILA SOUZA DE OLIVEIRA EXERCÍCIO PROFISSIONAL: Pautas para análise das competências e atribuições profissionais dos/as assistentes sociais da atenção básica de saúde do município do Natal/RN” Natal/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SHEYLA PRISCILA SOUZA DE OLIVEIRA

“EXERCÍCIO PROFISSIONAL: Pautas para análise das competências e atribuições profissionais dos/as assistentes sociais da atenção básica de saúde

do município do Natal/RN”

Natal/RN 2016

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Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Oliveira, Sheyla Priscila Souza de.

“Exercício profissional: pautas para análise das competências e atribuições profissionais dos/as

assistentes sociais da atenção básica de saúde do município do Natal/RN” / Sheyla Priscila Souza de

Oliveira. - Natal, 2016.

165f: il.

Orientadora: Profa. Dra. Edla Hoffmann.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de

Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Serviço Social.

1. Serviço Social - Trabalho – Dissertação. 2. Exercício profissional - Dissertação. 3. Projeto ético-

político - Dissertação. 4. Atenção básica de saúde - Dissertação. I. Hoffmann, Edla. II.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

IV. Título.

RN/BS/CCSA CDU 364-45:61

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AGRADECIMENTOS

A caminhada em busca dos sonhos nunca é fácil, talvez um pouco mais

dolorosa para uns e menos para outros. Chegar até aqui implica na superação

de muitos obstáculos encontrados ao longo do percurso que, em alguns casos,

não estavam previstos. Por outro lado, implica também no amadurecimento

intelectual e profissional do/a discente recém-formado/a que entra em um curso

de pós-graduação, agregando novos conhecimentos, aprofundando-os e

inúmeros desafios.

Diante disso, primeiramente quero agradecer a Deus por toda proteção e

força de me fazer continuar, mesmo querendo desistir em alguns momentos

diante das várias dificuldades que se apresentaram nesse processo.

À minha família que é minha base, meu apoio nos bons e maus

momentos. Minha mãe que é minha guerreira, inspiração de força e meu pai,

meu orgulho e aos meus irmãos companheiros de sempre.

Ao meu namorado, que é um grande companheiro e que vem me

apoiando nesse processo, que me tranquiliza com sua calma, me entende com

sua sabedoria e me adoça com seu amor e carinho, além de suportar meus

momentos de estresses e compreender a minha restrição de saídas para lazer.

À minha filha, minha vida, Anna Lívia, que me impulsiona todos os dias a

buscar dar o meu melhor, além de me revigorar com seu sorriso singelo e

delicado, fazendo valer a pena todo esforço e dedicação.

À professora Moema Serpa, que apesar de não estar presente na mesa

de defesa, esteve presente na qualificação e ajudou a construir esse estudo com

suas ricas contribuições.

À Regina Ávila por ter aceitado o convite com pouquíssimo tempo e

mesmo assim se dispor a estar trazendo seus apontamentos afim de contribuir

na qualificação desse estudo.

À professora Célia por estar novamente se dispondo a ler e discutir o

referido estudo com vistas a agregar contribuições valiosas para a reflexão das

questões levantadas ao longo da dissertação.

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Ao programa de mestrado em Serviço Social por todo apoio e atenção as

minhas necessidades enquanto discente e por toda disponibilidade em

solucionar os empecilhos que apareceram no percurso da formação.

À CAPES pela oportunidade de ofertar as bolsas de auxílio para formação

em mestrado.

Aos sujeitos de pesquisa que se disponibilizaram a participar do estudo e

assim contribuir para a construção da dissertação e fomentar a produção do

conhecimento no âmbito do Serviço Social com vistas a discutirmos as lacunas

existentes no exercício profissional e que merecem destaque para buscarmos

fortalecer a direção político-social do projeto profissional crítico de bases

marxistas.

Por último e não menos importante, quero agradecer a pessoa que esteve

de perto no meu processo de formação no mestrado e que sabe melhor do que

ninguém, as dificuldades e anseios, assim agradeço imensamente à professora

Edla Hoffmann que tive a grande sorte de tê-la como orientadora nesse processo

árduo e de grandes desafios. Agradeço a oportunidade de ter tido de perto um

espelho e referência de profissional competente, responsável, dedicada,

organizada e exigente, que trata com amor e carinho suas orientandas, sempre

elogiando na hora que merece e chamando atenção quando necessário. Mais

que uma orientadora para a construção da dissertação, é uma mulher forte que

proporciona uma aprendizagem para a vida.

Posso dizer com toda certeza que o mestrado (com todos os sujeitos

envolvidos) representou um divisor de águas na minha formação tanto

profissional quanto pessoal pelo próprio processo de amadurecimento intelectual

que a pós-graduação exige.

Meu muito obrigada a todos/as!!!

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RESUMO

Compreender a dinâmica societária e os caminhos por quais estão percorrendo

as políticas sociais e a efetivação dos direitos sociais na conjuntura hostil e

contraditória da sociedade capitalista, amparadas no ideário neoliberal, é

imprescindível para analisar o exercício profissional dos/as assistentes sociais

nos seus diversos espaços de inserção. Nessa perspectiva, o presente estudo é

fruto de uma pesquisa de campo e bibliográfica com o objetivo geral de analisar

como tem se desenvolvido o exercício profissional do (a) assistente social na

Atenção Básica da Política de Saúde no município do Natal/RN, com vistas a

contribuir para a discussão do fazer profissional e a importância do projeto ético-

político como elemento norteador e indispensável para o Serviço Social. Os

dados empíricos foram coletados a partir de entrevistas semiestruturadas com

assistentes sociais lotados/as na atenção básica de Natal. Assim, foram

entrevistados/as assistentes sociais de USF, UBS, diretor/a de Distrito Sanitário,

diretor/a de unidade de saúde, NASF e Consultórios na Rua. Os dados da coleta

foram analisados a partir da técnica de análise de conteúdo e os resultados

expostos no capítulo três da dissertação. Os resultados demonstram a

fragilidade das condições de trabalho nas quais se encontram os/as assistentes

sociais, fruto de dificuldades vivenciadas pela política de saúde de modo geral,

e que afetam os profissionais por se inserirem em processos de trabalho já

definidos pelos empregadores e por terem as políticas sociais como principal

campo de atuação. Outro ponto interessante revelado no estudo é a

confusão/imprecisão que os sujeitos de pesquisa fazem ao se referir as

competências e atribuições privativas do Serviço Social, principalmente sobre

essa última por estarem inseridos em equipes multiprofissionais e

interdisciplinares. Nessa perspectiva é de extrema importância

problematizarmos o tema que ora se apresenta, pois é a produção do

conhecimento acerca do exercício profissional, em tempos de regressão de

direitos e fortalecimento do neoconservadorismo, que nos permite olharmos para

os rumos que a profissão tem tomado e reiterar a necessidade da defesa do

fazer profissional norteado pelo projeto profissional crítico.

Palavras-chave: Serviço Social. Trabalho. Exercício profissional. Projeto ético-

político. Atenção básica de saúde.

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ABSTRACT

To understand the dynamics societária and the roads for which are traveling the

social politics and the efetivação of the social rights in the hostile and

contradictory conjuncture of the capitalist society, aided in the neoliberal ideário,

it is indispensable to analyze the social workers' professional exercise in their

several insert spaces. In that perspective, the present study is fruit of a field

research and bibliographical with the general objective of analyzing how he/she

has if developed the (the) social worker's professional exercise in the Basic

Attention of the Politics of Health in the municipal district of Christmas / RN, with

views to contribute for the discussion of doing professional and the importance of

the ethical-political project as element norteador and indispensable for the Social

Service. The empiric data were collected starting from interviews

semiestruturadas with full social workers / the in the basic attention of Christmas.

Like this, they were interviewed / the social workers of USF, UBS, director / the

one of Sanitary District, director / the one of unit of health, NASF and Clinics in

the Street. The data of the collection were analyzed starting from the technique

of content analysis and the exposed results in the chapter three of the

dissertation. The results demonstrate the fragility of the work conditions in which

are the social workers, fruit of difficulties lived by the politics of health in general,

and that affect the professionals for if they insert in work processes already

defined for the employers and for they have the social politics as main field of

performance. Another interesting point revealed in the study is the confusion /

imprecision that the subject of research do when referring the competences and

private attributions of the Social Service, mainly on that last one for they be

inserted in teams multiprofissionais and interdisciplinary. In that perspective it is

of extreme importance problematize the theme that prays if it presents, therefore

it is the production of the knowledge concerning the professional exercise, in

times of regression of rights and invigoration of the neoconservadorismo, that it

allows we look each other at the directions that the profession has been taking

and to reiterate the need of the defense of doing professional orientated by the

critical professional project.

Keywords: Social Service. Job. professional practice. ethical-political project. Basic health care.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AB – Atenção Básica

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

AIS - Ações Integradas de Saúde

ACS - Agentes Comunitários de Saúde

ANFIP – Associação Nacional de Auditores-Fiscais da Receita Federal do

Brasil

APS – Atenção Primária em Saúde

CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CAPS – Caixas de Aposentadorias e Pensões

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos em Saúde

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CIT - Comissão Intergestores Tripartite

CNS – Conferência Nacional de Saúde

DAB – Departamento de Atenção Básica

DSS - Determinantes Sociais de Saúde

DRU - Desvinculação de Receitas da União

EBSERH - Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

ECR - Equipes de Consultório na Rua

ESF - Estratégia de Saúde da Família

FHC - Fernando Henrique Cardoso

FUNRURAL - Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural

IAPS – Institutos de Aposentadorias e Pensões

IAPAS - Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência

Social

INPS - Instituto Nacional de Previdência Social

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

LOS - Lei Orgânica da Saúde

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NASF - Núcleos de Apoio à Saúde da Família

NOB – Norma Operacional Básica

NOAS – Norma Operacional da Assistência à Saúde

MARE - Ministério da Administração e da Reforma do Estado

MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social

MS – Ministério da Saúde

RAS - Redes de Atenção à Saúde

PAB - Piso de Atenção Básica

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde PIASS

PIASS - Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento

PREV-SAÚDE - Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde

PSF – Programa Saúde da Família

PDRE - Plano Diretor da Reforma do Estado

PNAB - Política Nacional de Atenção Básica

SAS - Secretaria de Atenção à Saúde

SESP - Serviço Especial de Saúde Pública

SINPAS - Sistema Nacional de Previdência Social e Assistência Social

SMS - Secretária Municipal de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

SUDS – Sistema Único e Descentralizado de Saúde

USF – Unidade de Saúde da Família

UBS – Unidade Básica de Saúde

TCLE - Termos de Consentimento Livre e Esclarecido

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Orçamento da União 66 Gráfico 02 – Faixa etária dos/as entrevistados/as 107 Gráfico 03 – Escolaridade dos sujeitos de pesquisa 108 Gráfico 04 – Tempo de trabalho na saúde 110 Gráfico 05 - Tempo de trabalho na AB 111

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Universo da pesquisa 22

Tabela 02 – Amostra da pesquisa 23

Tabela 03 – Unidades de Saúde em Natal/RN 104

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LISTA DE QUADROS

Quadro – 01 Projeto ético-político e Reforma Sanitária 122

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

2 O TRABALHO NA ERA DA MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL: implicações

para as políticas sociais e o Serviço Social................................................. 28

2.1 A era da mundialização do capital e a reestruturação produtiva ................ 30

2.2 Estado e políticas sociais sob o predomínio do neoliberalismo: uma análise

dos desmontes da seguridade social e da política de saúde ........................... 46

2.3 Atenção Básica de saúde frente às ofensivas do capital ao SUS .............. 70

3 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NA ATENÇÃO

BÁSICA DE SAÚDE: Desafios e proposições ao projeto ético-político do

Serviço Social ................................................................................................ 82

3.1 O exercício profissional do/a assistente social: desafios cotidianos e a

interlocução com o PEPSS .............................................................................. 83

3.2 Caracterização da Atenção Básica no município do Natal/RN ................. 100

3.3 As particularidades do exercício profissional do/a assistente social na

atenção básica de Natal/RN ........................................................................... 106

3.4 Competências e atribuições profissionais na Atenção Básica de Saúde do

município do Natal/RN ................................................................................... 117

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 138

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 146

APÊNDICES .................................................................................................. 157

ANEXOS ........................................................................................................ 160

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“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.

(Eduardo Galeano)

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1 INTRODUÇÃO

O exercício profissional do/a assistente social é permeado por questões

internas, no sentido da formação e dos valores e princípios éticos que são

incorporados pela categoria, e externas a profissão quando relacionadas à

conjuntura societária na qual se encontra e que o desafia no cotidiano das

instituições e serviços. Historicamente, o Serviço Social crítico, constituído após

a erosão do pensamento tradicional da profissão, tem se desenvolvido na

contramão da maré capitalista sob as bases neoliberais e encontrado duras

barreiras para a viabilização do acesso aos direitos sociais pela classe

trabalhadora.

Diante desse fato, não é coerente afirmar que as dificuldades e desafios

vivenciados pelos/as profissionais de Serviço Social são recentes, entretanto, se

presencia na atualidade o acirramento de velhas e novas questões: privatização

progressiva dos direitos sociais; desregulamentação/flexibilização dos direitos

trabalhistas; reformas previdenciárias que afastam a concepção de proteção

social universal, integrada e gratuita, além da retomada de ideários

conservadores no trato da Questão Social.

A exemplo disso se evidencia a privatização da saúde através da

ampliação do capital estrangeiro no Sistema Único de Saúde (SUS) e da

ampliação da participação da iniciativa privada; na educação com propostas de

pós-graduação paga, expansão da educação a distância e das faculdades

particulares com incentivos do Estado, são os principais indícios desse processo

que individualiza, novamente, a pobreza e as situações ligadas a ela.

Na conjuntura neoliberal, a meritocracia tem ganhado força nas propostas

elitistas e conservadoras dos projetos de direita, que afirmam indevidamente a

existência de condições igualitárias para toda sociedade brasileira, mesmo

diante dos índices de desigualdade sociais extremamente claros e com enormes

disparidades entre ricos e pobres. Apontam como falhas do Estado e motivos

para aumento dos gastos públicos, os programas criados e/ou expandidos nos

governos petistas: Bolsa Família, Programa Universidade para todos - PROUNI,

Ciências sem Fronteiras, entre outros.

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No âmbito do trabalho as perdas são imensas. Após a crise de 1970, que

culminou com a reestruturação produtiva do capital e incorporação do modelo

toyotista ou flexível de produção. A classe trabalhadora passou a sofrer ataques

intensivos aos seus direitos com a desregulamentação de direitos trabalhistas,

aumento da rotatividade, rebaixamento dos valores dos salários, diminuição de

trabalhadores formais e aumento do trabalho desprotegido pela previdência

social (ANTUNES; ALVES, 2004).

Na contramão do aumento exponencial da exploração da força de

trabalho e apropriação da mais-valia, tem-se a expansão do capital a partir do

processo de mundialização e do financiamento do Estado através do uso do

fundo público para investimentos em áreas de rentabilidade econômicas.

Resta para as políticas sociais, então, a implementação de ações

focalizadas nas populações mais carentes e com pouco alcance e impacto nas

suas reais necessidades, bem como, a oferta de programas e projetos limitados

e restritos na questão do acesso, além de uma clara precarização no

funcionamento destas. É preciso ressaltar que estas considerações não

desmerecem a importância das políticas sociais no contexto de regressão de

direitos que ora vivenciamos, mas sim, denunciam o descaso do Estado no

aparelhamento dessas políticas e a necessidade de ampliação da cobertura para

população.

Na relação capital trabalho, verifica-se ações que visam apenas minimizar

as mazelas causadas pelo modo de produção capitalista, não objetivando

superar as desigualdades sociais desse sistema por via da inclusão das pessoas

ao acesso a bens de produção e consumo.

Todos esses fatores influenciam diretamente o exercício profissional do/a

assistente social, enquanto trabalhador assalariado, ou seja, aquele que vende

sua força de trabalho a um empregador em troca de um valor que, teoricamente,

corresponde ao valor do produto gerado pela sua força de trabalho.

Vale salientar que nessa condição de assalariado, os/as trabalhadores/as

tem na força de trabalho sua única fonte de subsistência o que implica na

configuração da força de trabalho como mercadoria e todas as característica e

contradições que a compreendem (venda e troca). Consequentemente o/a

assistente social, assalariado porque vende sua força de trabalho, sofre os

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rebatimentos das alterações no campo do trabalho, como profissional atuante

nas políticas sociais e que se inserem em processos de trabalho pré-

estabelecidos pelos empregadores e assim, dependem das condições objetivas

que lhe são ofertados para o trabalho.

Significa dizer que o fazer profissional tem boa parte condicionada as

condições objetivas e subjetivas que lhe são dadas. Atuar em políticas

focalizadas, tem direcionado profissionais a trabalhar numa lógica de

seletividade entre os mais pobres, o que nos desafia a buscar alternativas para

a ampliação do acesso aos direitos sociais.

No campo da saúde, por exemplo, observa-se uma distorção dos

princípios de integralidade e universalidade defendidos pela Reforma Sanitária

e materializados na Constituição Federal de 1988, uma vez que, a política de

saúde desenvolvida em consonância com o ideário neoliberal, a coloca de forma

fragmentada, precária e focalizada, direcionando-as para as parcelas mais

pobres da população. E, é nesse quadro que se desdobra o fazer profissional e

se coloca o desafio de tornar acessível a todos os cidadãos o direito à saúde em

um contexto adverso.

Em tempos difíceis causados pela ofensiva do capital sob a égide do

ideário neoliberal, a necessidade de resistência e defesa do projeto ético-político

se fazem mais fortes para direcionar o exercício profissional contra os interesses

capitalistas e recusa do conservadorismo emergente com as teorias pós-

modernas.

Nessa perspectiva, a presente pesquisa foi desenvolvida no intuito de

analisar o exercício profissional do/a assistente social na Atenção Básica da

política de saúde em Natal/RN a partir das difíceis situações de desmontes de

direitos sociais por quais passam todas as políticas sociais no Brasil, além dos

desafios vivenciados pelos/as profissionais de Serviço Social no seu trabalho na

condição de trabalhadores/as assalariados/as.

O interesse em se debruçar sobre determinado tema é originário da

graduação, mais especificamente do período de estágio curricular obrigatório,

realizado em um hospital filantrópico, conveniado com o SUS, no período de

julho de 2012 a junho de 2013, na área da oncologia e de alta complexidade,

onde foi possível identificar diversos entraves para o exercício profissional do/a

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assistente social conforme orientado pelo projeto ético-político. As disparidades

mais gritantes foram a respeito das competências e atribuições relativas aos/as

profissionais que as distanciavam do “dever ser” do Serviço Social.

Embora, as profissionais tivessem clareza acerca das competências e

atribuições profissionais, as assistentes sociais declaravam estar sem saída para

modificação da realidade verificada devido ao vínculo empregatício (CLT) que as

impossibilitava de se opor as atividades demandadas pela instituição ao Serviço

Social e, com isso, se curvavam as solicitações como: marcação de exames e

consultas, que predominavam no exercício profissional.

A realidade evidenciada acima pode vislumbrar, em um primeiro

momento, a impossibilidade da defesa de um projeto profissional crítico e que

faz frente ao modo de produção capitalista, diante dos desafios que lhe são

impostos. Todavia, essa realidade não representa a falência de tais projetos,

nem tampouco que esteja a parte do movimento societário no qual se conforma.

O projeto ético-político nos direciona e esclarece o posicionamento que

os/as profissionais necessitam ter para defesa intransigente dos direitos sociais,

renegando posturas conservadoras, preconceituosas e excludentes amplamente

difundidas na sociedade capitalista. Todos esses aspectos devem estar

presentes na atuação profissional de modo que estejam balizados dentro da

relativa autonomia que o/a assistente social possui.

Assim, apesar das indagações e inquietações iniciais terem surgido no

período de estágio na alta complexidade, a Atenção Básica foi escolhida como

lócus da análise da pesquisa por ser uma das portas de entrada dos usuários as

ações e serviços do SUS e pelas suas características de continuidade do

cuidado e criação de vínculos com as comunidades, o que a torna um riquíssimo

campo de atuação do/a assistente social para atividades menos pontuais e

emergências como se apresenta em algumas vezes nas unidades de média e

alta complexidade.

No Brasil, a Atenção Básica tem na Estratégia de Saúde da Família (ESF),

a principal alternativa para reordenação do SUS englobando seus princípios e

diretrizes. Todavia, esta tem se desenvolvido através da oferta de ações e

serviços em Unidades de Saúde da Família (USF) e as Unidades Básicas de

Saúde (UBS) sem saúde da família. Em uma perspectiva ampliada, a AB busca

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proporcionar mais qualidade de vida a população ao trabalhar na promoção e

prevenção, sem prejuízo para as ações assistenciais, como forma de reverter o

modelo médico-curativo hegemônico nos processos de trabalho em saúde.

A AB ocupa esse lugar de destaque por ser o nível de maior capilaridade

do sistema e uma de suas portas de entrada, além de ser capaz de resolver a

maior parte (em torno de 85%) dos problemas da saúde mais comuns na

sociedade brasileira, o primeiro nível de atenção se orienta pelos princípios da

universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado da

integralidade da atenção, da humanização, da equidade e da participação social

(BRASIL, 2012).

Nesse sentido o/a assistente social possui na AB um campo bastante rico

de atuação pelos princípios expressos acima que permitem uma maior

aproximação dos/as profissionais com a realidade/vivências dos/as usuários/as

de modo a compreender suas necessidades para os devidos encaminhamentos

e/ou a assistência nesse nível de atenção.

O/a assistente social tem muito a contribuir para a efetivação do direito à

saúde, uma vez que seu projeto profissional busca a universalização dos direitos,

e pode dar potencialidade à democratização do acesso perante a realização de

orientações, socialização de informações que visem a garantia dos direitos

sociais. Do mesmo modo, agregar valor ao trabalho em equipe, no

reconhecimento do território para identificação das necessidades sociais de

saúde e como se processa a determinação social do processo saúde e doença.

Nessa perspectiva o/a assistente social agrega valor no atendimento aos

sujeitos, famílias e comunidade pela sua leitura diferenciada de realidade e seu

aporte teórico que dispõe e que deve estar fundamentado no tripé norteador do

projeto ético político (Lei de Regulamentação da Profissão, 8.662/90, Código de

Ética, CFESS Nº 273/93, Diretrizes Curriculares da ABEPSS), aliado aos

Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde, que permite

direcionar sua atuação para além do atendimento assistencial, centrado na figura

do médico, mas de uma equipe multiprofissional contemplando a dimensão

ampliada de saúde.

Diante da imensidão de aspectos que podem ser trabalhados acerca do

exercício profissional e o projeto ético-político, resolvemos focar nas

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competências e atribuições por identificá-las como gargalo do fazer profissional

nas instituições de saúde tanto por imposições institucionais, como por

imprecisão dos próprios profissionais acerca do que lhe compete. Visto que

ocasiona desvios de funções e/ou acumulação de atividades indevidas,

implicando em uma atuação discernente da ação defendida no projeto

profissional.

As competências profissionais e atribuições privativas do/a assistente

social estão descritas nos artigos 4º e 5º respectivamente na Lei 8.662/93 e se

referem a dimensão técnico-operativa do Serviço Social, aquilo que condiz ao

profissional fazer no âmbito do seu exercício ao se inserirem em processos de

trabalho diversos. Particularmente na saúde, as competências e atribuições

também estão desdobradas nos Parâmetros para Atuação de Assistentes

Sociais na Saúde que servem de instrumento norteador nessa área.

É preciso ressaltar que a dimensão técnico-operativa está articulada as

demais dimensões profissionais, ético-política e a teórico-metodológica,

conformando uma unidade na atuação do/a assistente social cada uma com sua

particularidade e complementariedade, não havendo uma hierarquia de

importância entre estas.

Nesse sentido, as competências dizem respeito a capacidade de apreciar,

tomar decisões e poder fazer algo, enquanto que as atribuições privativas é uma

prerrogativa, privilegio, direito de realizar alguma coisa (IAMAMOTO, 2012).

Mesmo com tal explanação, no cotidiano do exercício profissional, é

comum a confusão acerca das definições de ambas, principalmente nos espaços

em que o/a assistente social compõe equipes multidisciplinares e

interdisciplinares que torna difícil para os/as profissionais expor com clareza o

que representa, a partir de seu trabalho, as competências e atribuições. E são

questões que precisam estar claras para a categoria para que possam explicitar

para as equipes que se inserem e seus empregadores, de modo a evitar

equívocos sobre o papel do/a assistente social na composição destas.

A multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade, embora possuam

conceitos diferentes, são recorrentemente passíveis de confusão por se

referirem a organização das áreas do conhecimento nos mesmos espaços. De

modo geral, a primeira corresponde ao envolvimento de mais de uma área do

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saber sem que estabeleçam uma relação entre si no campo técnico e científico

“é um sistema que funciona através da justaposição de disciplinas em um único

nível, estando ausente uma cooperação sistemática entre os diversos campos

disciplinares” (ALMEIDA FILHO, 2000, p. 16).

Já a segunda, configura a junção de várias áreas do saber de modo

dialogado de forma a solucionar “problemas” de maneira articulada, superando

a fragmentação da disciplinaridade, mas, sem diluir as especificidades de cada

área. A interdisciplinaridade encontra desafios para sua efetivação na medida

em que prevalece a manutenção de velhas práticas de atendimentos individuais

nas unidades de saúde ou por outro lado obscurecem as atribuições de cada

saber (ALMEIDA FILHO, 2000).

A partir dos argumentos expostos, o problema de pesquisa definido para

esse estudo: como as ações profissionais dos/as assistentes sociais inseridos/as

na Atenção Básica expressam e fortalecem a direção social estratégica

projetada no Projeto Ético-Político? Essa questão busca refletir como a atuação

profissional no cotidiano das instituições empregadoras, tem se desenvolvido no

sentido de fortalecer, ou não, o projeto ético-político do Serviço Social.

Para procurar responder ao problema de pesquisa, formulamos as

seguintes questões norteadoras:

1. Quais são as condições de trabalho dos (as) assistentes sociais inseridos (as)

na Atenção Básica no município do Natal/RN?

2. Quais as competências e atribuições dos (as) assistentes sociais na

intervenção na Atenção Básica da política de saúde no município de Natal/RN?

3. Qual a concepção das assistentes sociais acerca do projeto ético-político

profissional?

4. Quais as dificuldades e estratégias encontradas pelos (as) assistentes sociais

para efetivação das competências e atribuições profissionais na Atenção Básica

no município de Natal/RN?

Sob essa perspectiva, destacamos como objetivo geral: Analisar como

tem se desenvolvido o exercício profissional do (a) assistente social na Atenção

Básica da Política de Saúde no município do Natal/RN, com vistas a contribuir

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para a discussão do fazer profissional e a importância do projeto ético-político

como elemento norteador e indispensável para o Serviço Social.

E, como Objetivos específicos:

• Identificar as condições de trabalho que circunscrevem o fazer

profissional dos (as) assistentes sociais na Atenção Básica de saúde no

município de Natal/RN com vistas a revelar as implicações para o

exercício profissional;

• Analisar as competências e atribuições dos (as) assistentes sociais na

atenção básica com vistas a reconhecer possibilidades e dificuldades

encontradas para sua efetivação na direção do Projeto Ético-Político do

Serviço Social;

• Caracterizar a rede de serviços de Atenção Básica do Município do

Natal/RN a fim de compreender o modelo de atenção básica proposto e

executado pelo SUS.

Em relação aos procedimentos teórico-metodológicos, a pesquisa é de

cunho qualitativa, desenvolvida a partir da perspectiva do método crítico

dialético1, uma vez que este, permite analisar o objeto em sua totalidade, sem

desconsiderar as especificidades, captando os aspectos que incidem de forma

direta e indireta no seu movimento. Consideramos mais adequado para o

alcance de nossos objetivos, pois nos permite aprofundar a discussão acerca do

exercício profissional e fortalecimento do projeto ético-político do Serviço Social

na Atenção Básica de saúde do município do Natal/RN.

Para isso, são abordadas categorias de análises que entendemos serem

necessárias para o aprofundamento da problemática, são elas: trabalho

profissional; formação; competências e atribuições; política de saúde e atenção

básica, procurando desenvolvê-las articuladas com as categorias do método

dialético- crítico que norteia esse estudo.

1 O método dialético foi desenvolvido por Karl Marx para o estudo da realidade em superação ao positivismo. Para Marx a sociedade é dinâmica, complexa e contraditória e por isso as teorias e técnicas referentes a natureza não são coerentes com os estudos sociais, uma vez que a sociedade não funciona como as leis naturais, assim como afirmavam os positivistas. A dialética possui três características básicas: a totalidade, a contradição e a historicidade. Assim na dialética o objeto deve ser analisado na sua especificidade (singularidade) possuindo relação com a totalidade (contexto em que se insere), e historicidade (RICHARDSON, 2008, p. 44).

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Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica baseada na literatura

especializada acerca das categorias de análises do problema. Dialogando com

autores do Serviço Social que possuem perspectivas diferentes a respeito do

projeto ético-político, exercício profissional e da categoria trabalho. Os principais

autores estudados foram: Alves (2007); Antunes (2005); Harvey (2012); Netto

(2007); Iamamoto (2010); Guerra (2007); Braz (2007); Ramos (2007);

Vasconcelos (2015) e vários documentos institucionais do Ministério da Saúde e

do município.

Já a pesquisa de campo foi realizada com assistentes sociais que atuam

na Atenção Básica da política de saúde do município do Natal/RN. Através de

um levantamento feito junto a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) foi possível

identificar o número de assistentes sociais na AB que compõe universo dessa

pesquisa. No quadro abaixo é possível visualizar a quantidade de profissionais

atuantes na AB de Natal/RN distribuídas entre as UBSs; USFs; NASFs; Distritos

Sanitários; Consultórios na Rua e Unidades Básicas Ampliadas (Mistas).

Tabela 01 - Universo da pesquisa

Unidades Número de

profissionais

Unidades Número de

profissionais

Distrito Sul 02 USF Jiqui 01

Mista/UBA Quintas 06 USF Nova Descoberta 01

Mista/UBA Cidade Satélite 06 USF Candelária 01

Mista/UBA Mãe Luiza 02 USF Santarém/NASF 01

USF Pirangi 01 USF Nazaré/NASF 01

USF Mirassol 01 USF África/NASF 01

CNR São João 01

CNR Mãe Luiza 01

CNR Ponta Negra 01

TOTAL 27 Fonte: elaborada pela autora

A amostra da pesquisa foi probabilística nas unidades com mais de uma

assistente social, definida por sorteio simples e não probabilística intencional

naquelas unidades que contam com a presença de uma única profissional de

Serviço Social. Dessa forma, ficou definido primeiramente: um (a) assistente

social da Mista Quintas; um (a) da mista Cidade Satélite; um (a) da mista Mãe

Luiza; um (a) da USF Pirangi; um (a) da USF Mirassol; um (a) da USF Nova

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Descoberta; um (a) da USF Candelária; um (a) da USF Jiqui; um (a) do

Consultório na Rua São João; um (a) do Consultório na Rua em Ponta Negra;

um (a) Consultório na Rua em Mãe Luiza; um (a) profissional do NASF Santarém;

um (a) do NASF Nazaré; um (a) do NASF África e um (a) assistente social do

Distrito Sanitário Sul. Totalizando 15 assistentes sociais a serem entrevistadas.

Entretanto, ao entrar em contato com as unidades de saúde para iniciar o

processo de coleta de dados, descobrimos que a unidade de Pirangi, Candelária

e a unidade Mista Cidade Satélite não contam com assistentes sociais em seu

quadro de funcionários/as, pelo fato de algumas terem se aposentado e /ou

transferidas de unidades, bem como o Consultório na Rua em Mãe Luiza, pois

havia acabado o tempo do contrato da profissional; o NASF Santarém, pois a

mesma foi transferida para a gestão central da AB na SMS e o Distrito Sanitário

Sul que substituímos pelo distrito Oeste por ser a única assistente social,

atualmente ao nosso conhecimento, na gestão de distritos sanitários em Natal.

Com isso a amostra ficou da seguinte maneira:

Tabela 02 - Amostra da pesquisa

Unidades Números de

profissionais

Profissionais entrevistados

Distrito Oeste 01 01

UBS Quintas 01 01

USF Cidade Satélite 02 01

Mista/UBA Mãe Luiza 02 01

USF Nazaré/NASF 01 01

USF Mirassol 02 01

CNR São João 01 01

CNR Mãe Luiza 01 01

USF Jiqui 01 01

USF África/NASF 01 01

USF Pajuçara 01 01

USF Cidade Nova 01 01

TOTAL 14 profissionais 12 entrevistados Fonte: elaborada pela autora

A escolha da referida amostra foi intencional no sentido de analisar a

atuação profissional de assistentes sociais em diferentes espaços de inserção

na atenção básica de saúde em Natal/RN, por esse motivo selecionamos apenas

um/a profissional de cada unidade e serviço.

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Como técnica de coleta de dados foram realizadas entrevistas do tipo

semiestruturadas por serem mais flexíveis ao permitir ao pesquisador incluir

novas questões durante a coleta de dados, além de possibilitar ao entrevistado/a

uma maior liberdade para responder as questões sem sair do tema (PRATES,

2003). Para tal, foi utilizado como instrumento de pesquisa, o roteiro de

entrevista, com questões abertas e fechadas. As entrevistas também foram

gravadas com autorização dos sujeitos da pesquisa. Após a coleta dos dados

utilizamos a técnica de Análise de Conteúdo para realização da análise e

interpretação dos dados, tanto quantitativamente como qualitativamente, por

meio de análise frequencial e temática.

A partir dessa técnica, é possível fazer uma leitura das falas, dos

depoimentos, documentos e todo o conteúdo que venha a ser levantado na

pesquisa a fim de extrapolar a superficialidade das aparências (MINAYO, 2013).

Já a representação desses dados se deu por meio de gráficos, quadros e tabelas

e as categorias extraídas das falas dos sujeitos de pesquisa para melhor

exposição dos resultados da pesquisa.

O processo de marcação das entrevistas foi bastante difícil devido ao fato

de existirem poucos/as profissionais na rede e em unidades diferentes das

informadas primeiramente pela SMS, a medida em que, a planilha

disponibilizada pela SMS se encontrava desatualizada acerca da atual lotação

dos/as profissionais. Algumas assistentes sociais haviam se aposentado ou

mudaram de lotações e a secretaria não tinha esse dado atualizado, diante disso,

localizamos as profissionais através das próprias unidades de saúde e distritos

sanitários.

Isso ocasionou uma grande dificuldade de conseguir horários compatíveis

na medida em que muitos/as deles/as são sobrecarregados/as pelas demandas

da instituição, pela grande procura e falta de profissionais suficientes para

atender e/ou pela dificuldade de localizar os/as assistentes sociais.

Todos os cuidados éticos foram tomados, primeiramente com a

submissão do projeto de pesquisa ao comitê de ética do Hospital Onofre Lopes,

responsável pelos estudos realizados na área da saúde na UFRN e elaboração

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) devidamente assinados

pelos sujeitos de pesquisa com a garantia do sigilo total da identidade dos

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mesmos, para isso utilizamos a denominação de “assistente social 1, 2...” para

referenciar as falas.

Nessa perspectiva o projeto foi devidamente aprovado e liberado sob o

parecer de nº 1.350. 004, para início da coleta de dados junto às instituições,

bem como a liberação da SMS via emissão de memorando sobre a pesquisa às

unidades presentes na amostra do estudo.

Vale destacar que optamos por trazer os resultados da pesquisa no

capítulo três da dissertação após toda discussão teórica que demonstra o terreno

no qual se desenvolve o exercício profissional dos/as assistentes sociais.

Enquanto que a devolução será feita a partir da defesa aberta da dissertação,

bem como uma cópia em CD disponibilizada para os/as trabalhadores/as dos

serviços participantes dessa pesquisa.

O estudo se mostra de extrema importância para fomentar a discussão no

âmbito do Serviço Social na formação e no exercício profissional,

problematizando a atuação do/a assistente social na atenção básica da política

de saúde no município do Natal/RN para pensarmos como tem se efetivado o

projeto ético-político, identificando os pontos em que avançamos, as fragilidades

e desafios que precisam ser superados, contribuindo assim para sua defesa. Do

mesmo modo, a pesquisa possui grande relevância para a academia, pois é uma

forma de produzir conhecimento, que é um dos objetivos das universidades

públicas, e devolver para a sociedade informações acerca de uma política que

está bastante próxima da realidade dos sujeitos usuários do SUS.

Vale ressaltar que há uma escassez de estudos sobre a atuação do/a

assistente social na atenção básica, visto que o maior número expressivo de

assistentes sociais na saúde se encontra na média e alta complexidade o que

dificulta a elaboração de estudos nesse âmbito.

Além de que a saúde, particularmente a atenção básica, carece de

profissionais qualificados, de uma equipe multiprofissional que saiba trabalhar

numa perspectiva interdisciplinar. Que seja capaz de acolher, produzir saúde de

forma integrada aos usuários, por meio de processos democráticos e

participativos, constituindo novas formas e práticas de atenção à saúde, novos

saberes construídos coletivamente em prol da classe trabalhadora.

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A realização deste estudo é, também, relevante para os/as demais

trabalhadores/as de saúde e para os usuários das ações e serviços de saúde,

na medida em que, procura problematizar a saúde como um direito de cidadania,

voltado para os interesses e necessidades dos usuários, por meio da

identificação/atendimento de suas demandas, do acesso aos diferentes níveis

de atenção em saúde e tecnologias capazes de prolongar a vida. Procura

contribuir para a qualificação dos processos de trabalho que o/a assistente social

se insere, destacando as contribuições desse no trabalho em equipe na

construção de um saber interdisciplinar.

Nessa perspectiva o Serviço Social, articulado a outras categorias

profissionais progressistas e movimentos sociais que defendem a consolidação

do direito a saúde através do SUS, deve ter o projeto ético-político como guia

para sua atuação e este deve estar atrelado ao projeto da Reforma Sanitária.

Expressando a relevância de pensar a importância do exercício profissional,

pautado nos valores profissionais, na saúde em especial na AB diante do seu

nível de capilaridade junto às famílias contribuindo para a construção (CFESS,

2010).

Por fim, no que concerne a organização dessa dissertação, está dividida

em três capítulos, a contar com essa introdução, distribuída em itens que se

interligam e foi pensada de modo a contextualizar a realidade encontrada a partir

da pesquisa de campo.

Com isso, julgamos necessário trazer inicialmente no segundo capítulo,

as principais características da categoria trabalho a partir da crise capitalista de

1970, e consequentemente a reestruturação produtiva do capital e a

incorporação do padrão flexível na condução da produção e relações de

trabalho, bem como a intensificação da exploração da força de trabalho através

do processo de mundialização do capital.

Todos esses fatores de forma conjunta, adensaram o acirramento da

Questão Social e consubstanciaram as formas de enfrentamento. Nessa

conjuntura, também problematizamos a formatação do Estado e das políticas

sociais, especialmente no âmbito da seguridade social com ênfase para a saúde,

bem como para Atenção Básica dentro da maré neoliberal.

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Compreendemos que a formatação do Estado frente à prestação direta

das políticas sociais, as dificuldades que evidenciamos na atual política de saúde

com ênfase para a Atenção Básica são produtos de todas as alterações do

capital na sua esfera produtiva, que precisa de uma ideologia (nesse caso o

neoliberalismo) que o sustente e a justifique.

No terceiro capítulo abordamos o exercício profissional do/a assistente

social na atenção básica, sob a ótica neoliberal, expondo as suas

particularidades nesse espaço de inserção, com vistas a analisar as proposições

e desafios para o projeto ético-político do Serviço Social. Para isso explicitamos,

a priori, a construção histórica do projeto profissional e os caminhos trilhados até

a conformação do projeto atual e sua hegemonia para dar visibilidade ao que é

o projeto ético-político, sua importância para a categoria e defesa dos interesses

da classe trabalhadora e os entraves que envolvem a concretização desse

projeto nos limites da sociabilidade capitalista.

Ainda no referido capítulo, problematizamos a condição de trabalhador/a

assalariado/a do/a assistente social considerando as ofensivas do capital aos

direitos trabalhistas que assolam toda a classe trabalhadora, na qual também se

inserem os/as profissionais do Serviço Social, objetivando não cair em uma

análise unívoca da atuação profissional. Por fim, fazemos uma discussão acerca

das competências e atribuições profissionais com base nos dados coletados afim

de trazer para reflexões os avanços percebidos, as dificuldades, desafios e

alternativas a serem traçadas.

Nas considerações finais buscamos sintetizar as discussões abordadas

ao longo da dissertação com vistas a retomar os principais apontamentos que o

estudo apresenta, de modo a incitar a reflexão dos mesmos e sua

problematização.

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2 O TRABALHO NA ERA DA MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL: reconfiguração

do Estado, implicações para a política de saúde e Atenção Básica.

O mundo do trabalho sofreu uma série de alterações desde a sua

conformação nas sociedades pré-capitalistas até a sociedade capitalista

contemporânea, prova disso são as três revoluções industriais2 ocorridas ao

longo do seu processo de maturação e desenvolvimento. Como os próprios

nomes remetem, as revoluções industriais trouxeram profundas mudanças nas

estruturas econômicas, sociais e políticas da sociabilidade capitalista, mudando

assim a forma de organização e relação dos atores sociais.

Nesse sentido é preciso ressaltar que cada uma das três revoluções

agregou aspectos importantes ao funcionamento do modo de produção

capitalista, contudo, é a partir da Terceira Revolução, chamada também de

revolução tecnológica, que o capital adquire características particulares com a

mundialização do capital e as suas novas formas de centralização impulsionadas

a partir da reestruturação produtiva e sedimentadas no ideário neoliberal. Por

esse motivo, nosso estudo irá se deter a esta última para conduzir o

desencadeamento das ideias e melhor compreensão da discussão.

A era da mundialização do capital, sob o predomínio do capital financeiro,

representa um novo regime de acumulação capitalista e uma nova escala do

processo de internacionalização do capital, que redimensionou o modo de

produção na sua objetividade e subjetividade em toda esfera global. Esse

processo implicou na elevação de níveis diferenciados de exploração da classe

trabalhadora e extração de mais-valia3, acentuando as diferentes expressões da

Questão Social4. As relações capitalistas passam a ser dominadas por grandes

2 O capital possui três revoluções industriais ao longo da sua história. Essas dizem respeito à profundas mudanças de implicações econômicas, políticas e sociais. A primeira Revolução Industrial aconteceu no século XVIII, na Inglaterra, trouxe o advento da máquina a vapor na produção e a doutrina do mercado era o liberalismo. A segunda, ocorrida no século XIX, tem como marco a utilização da eletricidade, do aço, e da eletromecânica. A produção se organizava no modo fordismo-taylorismo. A terceira, também chamada de revolução técnico-científica, iniciou-se em meados do século XX e correspondeu ao processo de inovações no campo da informática e suas aplicações nos campos da produção e do consumo. 3 Mais-valia refere-se ao valor excedente produzido pelo trabalhador e apropriado pelo capitalista, sem nenhum custo ou despesa, no processo de produção de mercadorias (NETTO; BRAZ, 2008). 4 A Questão Social é apreendida como um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais

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grupos transnacionais, formadas por empresas industriais associadas a

instituições financeiras, que subordinam os Estados Nacionais através das

organizações multilaterais (Fundo Monetário Internacional; Banco Mundial;

Organização Mundial do Comércio).

Diante disso, esse capítulo discute as configurações ocorridas na esfera

do trabalho ao longo da trajetória do modo de produção capitalista e, em

especial, após a reestruturação produtiva, oriunda da crise estrutural do capital

ocorrida em 1970, que irá propugnar novas formas de gestão e relações de

trabalho implicando na forma objetiva e subjetiva da produção e reprodução

social da classe trabalhadora. Sob aspectos arrasadores do processo de

mundialização do capital, as políticas sociais foram reconfiguradas a partir do

tratamento dado pelo Estado as diversas expressões da questão social, bem

como os rebatimentos para o Serviço Social nesse contexto contraditório.

Além disso, serão abordados, também, os reflexos dessas alterações do

capital na sua esfera produtiva e financeira, principalmente, nas políticas sociais

de Seguridade Social, especialmente a de saúde, a partir da reconfiguração do

Estado com perdas e negação de direitos da classe trabalhadora e precarização

das condições de vida dos/as trabalhadores/as. Aparece como expressão

dessas ações, a privatização da saúde com a ampliação da iniciativa privada no

SUS; capital estrangeiro e a mercantilização gradativa do direito à saúde.

No último item deste capítulo, é discutida a conformação da atenção

básica de saúde de modo geral, com foco para as particularidades desse nível

de atenção do SUS que historicamente carrega um estigma e preconceito de

serem ações e serviços básicos voltados apenas para populações carentes.

Quando na verdade traz para o modelo de saúde, possibilidades de

reorganização e novas práticas voltadas para a promoção, prevenção

trabalhadas em uma perspectiva interdisciplinar que ultrapasse o foco na cura

da doença e no individuo de modo isolado.

coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2010, p. 29).

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2.1 A Era da Mundialização do Capital e a Reestruturação Produtiva

Vivenciamos um contexto de mundialização do capital (também

designado como fenômeno da “globalização”) sob o predomínio do capital

financeiro. Vale salientar que apesar desses dois termos serem utilizados para

se referir ao processo de expansão do capital para além das fronteiras nacionais,

a sua internacionalização, eles não possuem o mesmo significado. O termo

globalização é carregado de ideologias burguesas, pois remete a um progresso

benéfico e inevitável das forças do mercado.

Trata-se de uma palavra-chave que constitui hoje em dia verdadeiro slogan das organizações econômicas internacionais. Dever-se-ia, portanto, banir toda e qualquer tentativa de orientar ou de domar o processo. No alvorecer do século XXI, a globalização constituiria a própria expressão da “modernidade”, notadamente por ser o resultado das “forças do mercado”, finalmente liberadas, pelo menos parcialmente, das correntes nocivas com que o Estado lhes manietou durante meio século (CHESNAIS, 1996, p. 6).

Já o termo mundialização do capital é utilizado por autores franceses, da

década de 1970, de tradição marxiana sobre o estudo da internacionalização do

capital. O conceito de mundialização associado ao capital, consiste no fato de

que parte dos segmentos mais decisivos dos mercados financeiros é hoje em

dia mundializado com modalidades e instrumentos variados (CHESNAIS, 1996).

Nessa perspectiva, o termo mundialização denuncia uma crítica a esse

movimento de internacionalização do capital que a globalização não mostra.

Enquanto a globalização é empregada no sentindo de progresso e evolução

natural do capital, a mundialização demonstra aspectos importantes a esse

processo e suas reais causas e implicações. Esse processo está ancorado

“[...] nos grandes grupos industriais transnacionais, resultantes de processos de

fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregulamentação e

liberalização da economia” (IAMAMOTO, 2010. p. 108).

Essas empresas industriais associam-se as instituições financeiras que

passam a intervir no nível e ritmo de investimentos das empresas. Desta forma,

a mundialização do capital e especificamente a dominação do capital financeiro

representa um novo regime de acumulação capitalista e expressa níveis

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diferenciados dos estágios anteriores5. É preciso salientar que o processo de

mundialização do capital não está dissociado da reestruturação produtiva e do

desenvolvimento das ideias neoliberais e, consequentemente de seus produtos.

A redução do Estado para as políticas sociais através da privatização dos órgãos

públicos, terceirização dos serviços, cortes de gastos sociais fazem parte de um

mesmo movimento, a medida que:

A mundialização financeira sob suas distintas vias de efetivação unifica, dentro de um mesmo movimento, processos que vêm sendo tratados pelos intelectuais como se fossem isolados ou autônomos: a “reforma” do Estado, tida como específica da arena política; a reestruturação produtiva, referente às atividades econômicas empresarias e à esfera do trabalho; a questão social, reduzida aos chamados processos de exclusão e integração social, geralmente circunscritos a dilemas da eficácia da gestão social; à ideologia neoliberal e concepções pós-modernas, atinentes à esfera da cultura (IAMAMOTO, 2010, p. 114).

O processo que hoje denominamos de mundialização do capital é fruto

de uma série de mudanças operadas no mundo da produção capitalista

principalmente após as inovações trazidas pela Terceira Revolução Industrial ou

Revolução técnico-científica, ocorrida no século XX, quando passou a ser

incorporado ao processo de produção e consumo o uso da tecnologia avançada

como a robótica, biotecnologia, nanotecnologia, microeletrônica e da informática.

Esse processo se deu nas bases do toyotismo, principal marco da reestruturação

produtiva.

Cabe ressaltar que a evolução/transformação do capitalismo está ligada

não só a incorporação dessas novas tecnologias ocasionada pela Terceira

Revolução Industrial, mas também pela interação dos processos estritamente

econômicos, organizacionais, sociopolíticos e culturais que juntos implicam em

5 O capital possui em sua trajetória três estágios de evolução: capital comercial ou mercantilista, considerada a fase inicial do capital após a erosão do sistema feudal, em que os comerciantes terão um importante papel no processo de acumulação capitalista e as relações sociais seguirão em torno do comercial. Em segundo a fase concorrencial do capitalismo, também denominada de clássica ou liberal, “sobre a base da grande indústria (a indústria moderna), que provocará um processo de urbanização sem precedentes, o capitalismo concorrencial criará o mercado mundial: os países mais avançados (e, nesse período, a liderança estará com a Inglaterra) buscarão matérias brutas e primas nos rincões mais afastados do globo e inundarão todas as suas latitudes com suas mercadorias produzidas em larga escala [...]” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 172). Posteriormente, entre o fim do século XIX e início do XX, temos o capital monopolista que dará início a fase imperialista do capital.

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profundas alterações no seu desenvolvimento. Contudo, a essência exploradora

e centralizadora do capital permanece como norte para as mudanças.

Essa incorporação da tecnologia aos processos de produção e consumo

permitiu aos capitalistas otimizar o tempo e aumentar a escala de produção,

reduzir a força de trabalho humano/vivo através da substituição pela máquina

(trabalho morto), além de possibilitar a “integração” mundial no âmbito da

economia. O uso das tecnologias propiciou a expansão do capital para além das

fronteiras dos estados nacionais.

No final dos anos do século XIX adentramos em outro estágio do

capitalismo: o capital monopolista, que atrelado ao desenvolvimento dos

monopólios, há a ascensão dos bancos que passarão a ser peça chave nas

transações capitalistas.

Inaugurava-se uma nova função dos bancos, a de centralizar num único organismo os recursos de miríades de capitalistas dispersos, convertendo-os em “capitalistas coletivos”, cujo controle e manipulação do crédito permitia expandir ou estrangular determinados setores da produção (FONTES, 2010, p 106)

É preciso ressaltar que o capital possui em sua essência características

imperialistas, pois buscam dominar todos os espaços de produção e reprodução

humana em detrimento do lucro para o capital. Mas, é a partir da conformação

dos monopólios e capital financeiro que essa característica ganha ênfase e

precedentes jamais vistos na sua trajetória. Sendo considerada a fase superior

do capitalismo.

O estágio imperialista é divido em três fases: a clássica (1890-1940); os

Anos Dourados (final do segundo pós-guerra até 1970) e o contemporâneo

(meados dos anos de 1970 até os dias atuais), cada uma dessas fases possuem

características distintas dentro do processo de evolução e crises do capitalismo

(NETTO; BRAZ, 2008).

A fase clássica do imperialismo é marcada pelo surgimento dos

monopólios a partir do intenso crescimento concorrencial entre os capitalistas na

busca pelo lucro. Com isso, as empresas que não conseguiam desempenhar os

mesmos resultados das demais, acabavam sendo destruídas ou se fundiam com

outras no intuito de se tornarem mais fortes no mercado.

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33

É importante ressaltar que nesse período o Estado não intervia nas

relações de mercado, pois sua figura era rechaçada pelos defensores do

liberalismo6 que acreditavam que as relações econômicas seguiam um fluxo

natural de evolução e assim proporcionavam o bem-estar geral da sociedade.

Entretanto, o surgimento dos monopólios e as guerras pela tomada do

controle de territórios de outros países demonstraram a inconsistência dessa

concepção liberal da economia.

A partir do fim da segunda guerra mundial o capitalismo entra na sua

segunda fase do imperialismo: os Anos Dourados também chamado de 30 anos

gloriosos pelo expressivo desenvolvimento das taxas de crescimento do capital

alcançados nessa etapa. Essa fase terá como base as ideias keynesianas7 e o

desenvolvimento do Welfare State8.

Diante disso, após o final do segundo pós-guerra verifica-se alterações na

relação entre o capital, Estado e classe trabalhadora. Constatada a necessidade

de intervenção do Estado nas leis de mercado, este passa a operar como

regulador no intuito de retomar as taxas de lucro através da produção e consumo

afetados pela crise de 1929. Nesse momento começa a surgir uma série de

medidas de proteção social aos trabalhadores ligados aos vínculos formais e

incentivo ao consumo através da concessão de benefícios denominados de

salários indiretos.

Nessa perspectiva, a crise do capital que ocorreu em 1929-19329, teve

como consequências “[...] o desemprego em massa, a forte queda de renda, a

queda na taxa de lucro e, com isso, a perda de credibilidade dos pressupostos

liberalismo econômico [...]” (SALVADOR, 2008, p.41). Exigiu do capitalismo

6 O liberalismo defendia o desenvolvimento “natural” da economia, sem intervenção estatal sob alegação de que o mercado se autorregulava. Adam Smith, da economia clássica, alegava que o mercado era a via pela qual proporcionaria a abolição das classes e das desigualdades sociais e que a intervenção estatal implicaria na criação de monopólios e ineficiências, prejudicando o desenvolvimento natural do mercado e da expansão do bem comum (SPING-ANDERSEN, 1991). 7 As teorizações keynesianas correspondem a um conjunto de ideias desenvolvidas por John Maynard Keynes, no século XX, orientando uma política intervencionista do Estado na economia, com medidas que englobavam também as políticas sociais, com vistas a resgatar o crescimento capitalista após a degradação ocasionada pela crise de 1929 (BEHRING; BOSCHETTI, 2010). 8 Estado de bem-estar social ou Welfare State correspondem ao período em que houve uma forte regulação/intervenção do Estado nos campos sociais, através da políticas sociais, e econômicos para o incremento do mercado (BEHRING, 2009). 9 A crise de 1929, de um modo geral, foi uma crise de superprodução e subconsumo.

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ações que respondessem e superassem a crise.

Nessa direção, Alves (2011) aponta três elementos constitutivos do modo

de produção capitalista que sofre alterações nesse processo, sendo eles: a

cooperação (trabalhador coletivo), manufatura (divisão do trabalho) e a grande

indústria (maquinaria), que não aparecem apenas como formas históricas da

organização da produção capitalista substituídas a cada reestruturação por

formas mais avançadas, mas se recompõe em cada fase de desenvolvimento do

capitalismo, demonstrando a organicidade desse sistema.

Esse processo será acompanhado do modelo fordismo/taylorismo que

será o orientador da gestão do trabalho no capitalismo até a crise de 1970, em

que expressará o esgotamento desse modo de produção em massa. O

taylorismo10 remete ao método cientifico de organização do trabalho aplicado a

produção que passa a ser fragmentada, cada trabalhador opera em apenas uma

parte do processo, hierarquizada e cronometrada visando o aumento da

produção e otimização do tempo gasto pelos trabalhadores para produzir as

mercadorias. Já o fordismo11 consistia no método de produção em massa ou

linha de produção. Juntos, o taylorismo/fordismo formaram “[...] a ideologia

orgânica da organização do trabalho e da produção capitalista no século XX que

surge na etapa da grande indústria [...] (ALVES, 2011, p. 34).

Nessa conjuntura o Estado desempenhou um papel importante para a

recuperação da acumulação capitalista, adotando as ideias formuladas por John

Maynard Keynes, publicadas em seu livro, Teoria geral do emprego do juro e da

moeda, em 1936, tinha como pressuposto a intervenção do Estado na regulação

da economia com objetivo de impulsionar o pleno emprego e o consumo

(SALVADOR, 2008).

As teorizações keynesianas serviram de base para a construção do

Estado de Bem-estar Social, que se consolidou no segundo pós-guerra, em

vários países da Europa. Assim, o keynesianismo associado ao fordismo

conseguiu reverter as baixas taxas de crescimento econômico registrados no

10 Desenvolvido pelo engenheiro americano Frederick W. Taylor. Em 1911, Taylor publicou “Os

princípios da administração”, obra na qual expôs seu método (BATISTA, 2008). 11 O fordismo foi um termo atribuído ao modo de produção automobilística em massa (linha de produção), criado por Henry Ford em sua fábrica e incorporado por outros setores (BASTISTA, 2008).

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período de crise e vivenciou durante trinta anos, elevados números de

crescimento econômico.

Para tanto, o Estado passou a investir na reprodução da força de trabalho

e na reprodução do capital para obtenção de tais resultados. No que concerne à

reprodução da força de trabalho foi investido em políticas sociais de saúde,

educação e Previdência Social, além de subsídios para o lazer. Oliveira (1998)

considera essa série de serviços e benefícios como salários indiretos. Dessa

forma, os trabalhadores podiam direcionar seus “salários diretos” (aquele

dinheiro pago diretamente ao trabalhador pela sua força de trabalho), para o

consumo e impulsionar a dinâmica da economia.

Todavia, em meados dos anos de 1960 o modelo keynesiano começa a

demonstrar sinais de esgotamento do seu ciclo de crescimento que se consolida

com a eclosão da crise mundial do capital a partir de 1970. A década de 1970

marca um momento importante do capitalismo mundial. Foi nesse período que o

atual sistema vivenciou sua maior crise econômica da história12.

Vale salientar que pela sua essência contraditória de geração de riqueza

e concomitantemente também da pobreza e desigualdade social pelo seu caráter

concentrador, o capital possui crises cíclicas, consideradas inerentes ao seu

próprio movimento. Crise essa considerada estrutural pela sua proporção e

características13, na medida em que envolveu todas as partes do processo de

acumulação (produção, distribuição e consumo). Além disso, também trata de

uma crise global, pois suas implicações não se restringem e não podem ser

relegadas aos países periféricos, visto que, afeta todas as sociedades, mesmo

que de modo diferenciado em cada uma delas (TONET, 2005).

Designada como crise de superprodução, capaz de colocar o mundo

capitalista, mais uma vez, diante dos seus próprios limites exigindo deste a busca

pela retomada do crescimento das taxas de lucro. Posto que, o modelo

12 As crises são consideradas inerentes ao modo de produção capitalista, pois a sua forma de exploração/acumulação encontra barreiras postas pela sua própria lógica destrutiva, nessa perspectiva é inimaginável uma sociedade capitalista sem crises a medida que estas são participes do seu processo (NETTO; BRAZ, 2008). 13 Em termos simples e gerais, uma crise estrutural afeta a totalidade de um complexo social em todas as relações com as suas partes constituintes ou subcomplexos, como também a outros complexos aos quais é articulada”. Nesse sentido a crise dos anos de 1970 se apresenta como estrutural pela sua proporção que afetou todo o sistema capitalista (MÉSZÁROS, 2010, p. 66).

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fordista/keynesiano não respondia mais aos anseios do capital, pois não

conseguia mais obter o crescimento econômico vivenciado nos trinta anos

gloriosos do Welfare State.

Isso se deu pela redução do crescimento econômico e o aumento da

inflação denominada de estagflação14. Ainda nesse período temos a guerra

árabe-israelense e o aumento expressivo do preço do petróleo pelos países

árabes membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP),

como resultado houve a falência de diversas indústrias na Europa, como a

siderurgia, metalurgia e têxteis.

Os choques do petróleo (1973 e 1979) contribuíram no sentido de agravar os problemas que já estavam em curso na economia americana, quais sejam: aumento da concorrência internacional, declínio da produtividade e rentabilidade, inflação galopante e o

desemprego. (LEITE, et al, 2011, p. 11).

As estratégias utilizadas para superação da crise dizem respeito à

retomada do crescimento das taxas de lucro, a reestruturação produtiva do

capital e o redimensionamento do papel do Estado na condução da recuperação

do sistema capitalista apontando para uma “[...] reorganização do papel das

forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, tanto na

esfera da produção como na das relações sociais” (MOTA, 2008, p. 65).

No âmbito da produção capitalista, há a adoção de uma série de medidas

que a reconfiguraram com vistas à superação da crise e retomada do

crescimento das taxas de lucro. Esse movimento designado como

reestruturação produtiva, de acordo com Alves (2007), possui três dimensões

interiores à produção capitalista: as que correspondem às inovações

organizacionais; inovações tecnológicas e as inovações sócio-metabólicas15.

A reestruturação produtiva do capital não se dará mais nas bases do

fordismo/taylorismo, mas sim, inspiradas no Sistema Toyota de Produção ou

Toyotismo16 também chamado de modelo flexível que vai se caracterizar como

14 Combinação de recessão econômica com aumento da inflação. 15 Inovações ligadas ao que ele vai chamar de “captura da subjetividade” a medida em que o capital, no toyotismo, prepara também o terreno ideológico para a obtenção do consentimento dos trabalhadores as mudanças impostas pelo modelo flexível (ALVES, 2011). 16 A filosofia do toyotismo tem sua gênese histórica no Japão, elaborada pelos engenheiros da Toyta. Seu criador Taiichi Ohno, trouxe em seu livro O Sistema Toyota de Produção: para além

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“ideologia orgânica” desse processo que incorpora princípios para a gestão da

produção e do trabalho vivo17 (ALVES, 2011).

Os valores e dispositivos organizacionais do Sistema Toyota de Produção ou toyotismo tornaram-se “senso comum” da gestão do capital. Por exemplo, mesmo não participando da criação de valor, organizações de serviços e de administração pública (inclusive da instância socioreprodutiva) tendem a incorporar valores do neoprodutivismo toyotista (ALVES, 2011, p. 43).

Esse processo irá causar implicações objetivas e subjetivas no âmbito do

trabalho, além de extrapolar a esfera da produção capitalista se espraiando para

as demais esferas da vida social.

Na esfera da produção, observa-se o aumento das taxas de lucro via crescimento da produtividade do trabalho, intermediada pelo uso de novas tecnologias e de novas formas de consumo da força de trabalho. Na esfera da circulação, essa organização incide em mudanças no mercado consumidor, determinando também novas formas de concorrência entre firmas, com base na seletividade dos mercados e no marketing da qualidade dos produtos. Na esfera sócio-política e institucional ocorreram novas modalidades de controle do capital sobre o trabalho, que exigem um conjunto de reformas institucionais e a implementação de mecanismos capazes de promover a adesão e o consentimento dos trabalhadores às mudanças requeridas (MOTA; AMARAL, 1998, p. 28).

A introdução de novas tecnologias, em substituição do trabalho vivo pelo

trabalho morto18 e a adoção de um modelo flexível de acumulação atinge não

somente a produção, mas também as relações e condições de trabalho

causando rebatimentos de forma direta e indireta a toda classe trabalhadora. De

maneira direta podemos citar alguns aspectos mais visíveis acerca da

flexibilização e sua efetividade do aparato produtivo, pois:

da produção em larga escala, 1978, um complexo ideológico-moral que determinou a gestão da produção e da gestão do trabalho no capitalismo mundial (ALVES, 2011). 17 O trabalho vivo se refere a um dos elementos constitutivos do processo de trabalho que é a própria força de trabalho utilizada para a transformação da natureza para satisfazer as necessidades humanas (NETTO; BRAZ, 2008). 18 Trabalho realizado pelas máquinas e tecnologias no processo de produção. É chamado assim por se referirem ao trabalho não realizado pelo homem.

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[...] é também imprescindível a flexibilização dos trabalhadores. Direitos flexíveis, de modo a dispor desta força de trabalho em função direta das necessidades do mercado consumidor. O toyotismo estrutura-se a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliando-os, através de horas extras, trabalhadores

temporários ou subcontratação, dependendo das condições de mercado. O ponto de partida básico é um número reduzido de trabalhadores e a realização de horas extras (ANTUNES, 1995, p. 32).

Como consequência desse processo há a precarização das condições

de trabalho para a classe trabalhadora “Surge o que podemos considerar um

salariato19 precário, decorrente da precarização intensa das condições de

contratação salarial do proletariado” (ALVES, 2007, p. 91).

Nessa perspectiva há na esfera do trabalho uma múltipla

processualidade, de um lado a diminuição do operariado industrial tradicional,

além da heterogeneização do trabalho através da absorção da mão-de-obra

feminina e de outro o aumento do trabalho assalariado empregados no setor de

serviços20. Concomitantemente, a expansão de um modo de trabalho parcial,

precário, subcontratado e terceirizado que o autor ira designar como

subprolaterização (ANTUNES; ALVES; 2004).

Esta redução do operariado fabril está relacionada ao fato de que há

uma constante redução do número de trabalhadores que são substituídos por

máquinas e/ou porque passam a desempenhar diversas tarefas ao mesmo

tempo (trabalhador polivalente), repercutindo também numa redução de postos

de trabalho.

Nesse novo estágio, ocasionado pela reestruturação produtiva, o campo

do trabalho experimentará níveis diferenciados de desemprego, sendo este

produto da inserção de novas tecnologias no setor de produção e de formas

diversificadas de exploração da classe trabalhadora através da

desregulamentação do trabalho.

Nas décadas recentes o desemprego, nos países capitalistas altamente desenvolvidos, limitava-se em grande parte “aos bolsões de subdesenvolvimento”; e milhões de pessoas

19 “[...] Expressão que temos utilizado para traduzir as formas político-institucionais de implicação social do trabalho assalariado nas sociedades burguesas [...]” (ALVES, 2007, p. 89). 20 Também chamado de setor terciário, corresponde ao comércio de bens e a prestação de serviços.

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afetadas por ele costumavam ser otimisticamente ignoradas, no grande estilo de autocomplacência neocapitalista, como representando os “custos inevitáveis da modernização” (MÉSZÁROS, 2011, p. 67).

Agora, o desemprego alastra-se de modo a afetar, também, a força de

trabalho altamente qualificada, acirrando a disputa entre os trabalhadores, pelos

escassos postos de trabalho. Assim, esse novo padrão de desemprego

demonstra o aprofundamento da crise estrutural do capital (MÉSZÁROS, 2011).

Nessa perspectiva, o desemprego e a miséria são a marca desse novo

modelo de gestão da produção capitalista calcada no neoliberalismo, pois

excluem contingentes cada vez maiores de trabalhadores e preconiza a

concentração de renda, como afirma Maranhão (2008), acerca do capitalismo

nessa fase atual, “[...] esse mesmo sistema que ampliou sem precedentes a

técnica, a ciência e a riqueza, tem se deparado, em escala ascendente, com um

crescimento exponencial da desigualdade social, da pobreza e da miséria”

(p.93).

Os trabalhadores desempregados têm sofrido aumento no tempo médio

de procura por trabalho, ou seja, ficando mais tempo desempregados. E assim,

devido ao elevado número de população sobrante muitos autores afirmam

estarmos vivenciando o “fim da sociedade do trabalho”, uma vez que a

organização da vida social não estaria mais centrada no trabalho (MARANHÃO,

2008).

O que alguns autores denominam de perda da centralidade do trabalho (Claus Offe) ou extinção do valor-trabalho (Dominique Medá) é tão-somente a metamorfose complexa do vínculo de “emprego” em novas formas de subalternidade salarial para além do vínculo empregatício (ALVES, 2007, p. 108).

Nesse sentido, autores como o próprio Alves (2007), Antunes (1995);

Netto e Braz (2007) e Maranhão (2008), defendem que o trabalho não perdeu

centralidade na organização da vida social e explicam a superpopulação

excedente como elemento inerente ao modo de produção capitalista, que é

incapaz de absorver toda a massa de trabalhadores, além de ser funcional ao

capital, pois:

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1) Dinamiza os ciclos de rotação do capital (D – M – P – M’ – D’), deixando à disponibilidade dos diversos investimentos e créditos capitalistas uma quantidade sempre renovável de força de trabalho; 2) Barateia o custo da força de trabalho, ao despejar continuamente no mercado uma grande quantidade de oferta dessa mercadoria; 3) aumenta a produtividade através da intensificação da extração de mais-valia absoluta e relativa, fazendo com que os trabalhadores se autopoliciem e trabalhem com mais constâncias (MARANHÃO, 2008, p. 106).

As mutações no âmbito do trabalho são claras e inegáveis. O capital

busca a todo momento, colocar o trabalhador como um apêndice da máquina

para fazer com que o capital dependa cada vez menos da força de trabalho.

Todavia, a força de trabalho é o que cria valor, mesmo com a incorporação das

diversas tecnologias capazes de agilizar e duplicar a produção de mercadorias.

Embora, a classe trabalhadora tenha se modificado ao longo da conformação da

sociedade capitalista, suas essências principais se mantem que são os

trabalhadores que dependem unicamente da venda da sua força de trabalho.

Diante disso, mediante todas as modificações apontadas, o trabalho continua

sendo central na vida social, pois é o lugar no processo de produção que

determina o lugar do sujeito na sociedade.

A manutenção de taxas de desemprego é uma das estratégias do capital

na tentativa de desvalorizar a mercadoria força de trabalho e assim extrair o

máximo de mais-valia.

[...] o principal modo de desvalorização do trabalho vivo é “produzi-lo” em excesso como força de trabalho, ou seja, como mercadoria disponível para o consumo capitalista. Cria-se uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva. É uma população excedente e sobrante às necessidades de acumulação do capital, mas que possui uma funcionalidade sistêmica [...] (ALVES, 2007, p. 98).

O desemprego é a faceta mais cruel do capitalismo que exclui enormes

parcelas da população do processo produtivo e as impedem de garantir, mesmo

que minimamente, a sua subsistência através da venda da sua força de trabalho

além de garantir um determinado status social aos trabalhadores, pois é o papel

ocupado na cadeia produtiva que determina o seu lugar na sociedade. “O

desemprego é vivido como uma experiência humilhante por aqueles que já

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exerceram uma profissão estável e que veem suas chances de reintegração

profissional se restringir dia após dia” (PAUGAM, 2003, p. 34).

Segundo dados do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o

número de pessoas sem ocupação, no Brasil, no segundo trimestre de 2016, foi

estimada em 11,3%. Isso representa o aumento de 0,4 ponto percentual na

comparação com o primeiro trimestre de 2016 (10,9%) e alta de 3,0 pontos

percentuais frente ao 2º trimestre de 2015 (8,3%) (IBGE, 2016). Em relação as

regiões do país podemos ver: “Norte (de 8,5% para 11,2%), Nordeste (de 10,3%

para 13,2%), Sudeste (de 8,3% para 11,7%), Sul (de 5,5% para 8,0%) e Centro-

Oeste (de 7,4% para 9,7%)”. A Região Nordeste aparece registrando a maior

taxa de desocupação dentre todas as regiões (IBGE, 2016, p. 11).

Essas expressões da precarização do trabalho na era da neoliberalização

fundamentadas no aumento da taxa de desemprego e intensificação da

exploração da força de trabalho dão origem ao que Alves (2009) designa por

“experiência vivida” e “experiência percebida” da precarização do trabalho. A

“experiência da precarização” implica “experiência percebida” e “experiência

vivida”, processos dialeticamente articulados, que se impõem aos

sujeitos/agentes assalariados em processo de reestruturação (ALVES, 2009, p.

2).

A primeira diz respeito a realidade que independe da vontade do sujeito,

aquela que se apresenta como é e sem seu consentimento. A segunda é a forma

como esta realidade é percebida pelos trabalhadores, a partir dos seus relatos.

O neoliberalismo se utilizou dos elementos ideológicos para justificar as

mudanças engendradas com a reestruturação produtiva. Dessa forma:

[...] o elemento ideológico é, em si, uma mediação fundamental (e fundante) da “experiência percebida” da classe do trabalho, na medida em que contribui para instaurar o conteúdo ideacional dos novos métodos de gestão de cariz toyotista (ALVES, 2009, p. 3).

Diante disso, podemos dizer que a realidade vivida é coberta de um

elemento ideológico que obscurece a forma como os sujeitos a percebe,

objetivando a “manutenção” da ordem capitalista. A naturalização das

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perversidades geradas pelo sistema como algo inalterável e, assim, deve-se

buscar superar as dificuldades “normais” dentro da órbita do capital.

Nessa lógica, a introdução das mudanças necessitou do consentimento

da classe trabalhadora para a sua incorporação. Isso se fez a partir da difusão

de uma ideologia que defende tais alterações importantes para todos inclusive

para os próprios trabalhadores.

Para a burguesia, este movimento se materializa na defesa de um ‘pensamento único’ que invoca a modernidade das mudanças e a irreversibilidade dos processos de ajustes, amparados no neoliberalismo [...] (MOTTA; AMARAL, 1998, p.30).

Assim, as mudanças foram implantadas no processo produtivo sem o

uso da coerção, mas através da internalização dos novos processos pelos

trabalhadores21 de modo que os mesmos passassem a se sentir partícipes

igualitários para o sucesso ou fracasso das instituições.

O mundo capitalista mergulhou na neoliberalização como a resposta por meio de uma série de idas e vindas e de experimentos caóticos que na verdade só convergiram como uma nova ortodoxia com a articulação, nos anos 1990, do que veio a ser conhecido como o “Consenso de Washington” (HARVEY, 2012, p. 23).

A reestruturação produtiva se fez também no âmbito do Estado, pois a

sua reconfiguração foi importante para alavancar as alterações propostas no

campo do trabalho. Diante disso, nesse momento da crise de 1970 as ideias

neoliberais ganham ênfase na medida em que o Estado de Bem-Estar Social foi

acusado de ser o responsável pelo quadro de crise instaurado. Os gastos sociais

do Estado eram apontados como pedra de toque para esta crise.

Assim, segundo os defensores do ideário neoliberal22 era necessário reduzir os

21 A exemplo da internalização das mudanças, temos a substituição da figura do emprego pelo colaborador nas empresas, transmitindo para o funcionário a ideia de que ele também faz parte, de uma forma essencial, para o sucesso da instituição destruindo (ou encobrindo), a hierarquia presente na organização da mesma. Dessa forma, o funcionário passa a vestir a camisa da empresa no sentido de que se esta ganha, todos saem ganhando. 22 De acordo com Anderson (1995), o neoliberalismo nasceu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial materializado no texto de Friedrich Hayek, escrito em 1944, onde ele resgata aspectos importantes do liberalismo clássico entre eles a defesa intransigente de um mercado livre com pouquíssima regulação do Estado. “Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitação

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gastos do Estado para que este se tornasse mais eficiente e eficaz nas suas

ações.

O neoliberalismo passou a ser difundido a partir do encontro

internacional entre as principais economias mundiais e seus organismos como

FMI e Banco Mundial, realizada em 1989, em Washington, onde foram propostas

uma série de medidas a serem adotadas, no âmbito macroeconômico, pelos

países periféricos como única alternativa para a superação da crise mundial,

Objetivado em propostas de políticas macroeconômicas e de reformas estruturais, o Consenso de Washington deve ser pensado como um dos meios pelos quais a burguesia internacional imprime uma direção política de classe às estratégias de enfretamento da crise dos anos de 1980, especialmente no que diz respeito às reformas a serem implementadas pelos países periféricos, devedores do capital financeiro internacional (MOTA, 2008, p. 80).

A subordinação dos países em desenvolvimento aos ditames neoliberais

acordados no Consenso de Washington trouxe implicações no reordenamento

no mundo da produção e nas relações sociais que impactaram negativamente

na vida dos trabalhadores. Dessa forma, o neoliberalismo atribuiu ao modo de

produção capitalista novas bases ideopolíticas para acumulação do capital no

seu período imperialista/financeiro desenvolvendo uma série de orientações

macroeconômicas para os países. Os resultados das medidas neoliberais serão

sentidos, principalmente no campo dos gastos sociais do Estado que sofrera um

significativo enxugamento de acordo com o chamado ajuste fiscal23.

A retração do Estado na ótica neoliberal estava situada nos gastos

públicos com a reprodução da força de trabalho, mais especificamente com as

políticas sociais. Apesar de a direita afirmar que a redução seria em todas as

esferas do Estado inclusive na reprodução do capital que segundo Oliveira

(1998) é o principal responsável pela crise fiscal do Estado. Há nesse sentido

uma disputa do fundo público24 para a financeirização do capital defendido pelos

dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciada como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política” (ANDERSON, 1995, p. 10). 23 O sentido do ajuste fiscal, no qual está empregado no contexto neoliberal, remete a “revisão” das despesas do Estado com vistas a reduzir seus gastos públicos com enfoque para “políticas liberalizantes, privatizantes e de mercado” (SOARES, 2000, p. 16). 24 O orçamento público é que garante concretude à ação planejada do Estado e espelha as prioridades das políticas públicas que serão priorizadas pelo governo. O fundo público deve

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neoliberais.

O Estado será reformulado essencialmente no que concernem as políticas

sociais consideradas a principal responsável pela evasão de seus recursos,

passando a ser alvo de medidas neoliberais sob a afirmação de que é preciso

enxugar as contas estatais para torná-lo mais forte e eficiente. Esse contexto

mundial influenciou também as alterações sociais, políticas e econômicas no

Brasil.

O Brasil entrou no processo de reestruturação produtiva de modo tardio e

subordinado as deliberações do Consenso de Washington, sem considerar as

particularidades e necessidades sociais da classe trabalhadora. As mudanças

foram implantadas com base no receituário neoliberal que se expandiu para

América-Latina a partir da experiência no Chile com o golpe de Pinochet25 que

instaurou o neoliberalismo no país (SOARES, 2001).

As mudanças no âmbito do Estado e da economia, no Brasil, apareceram

como única alternativa para retomar o crescimento diante da crise que assolou

o capitalismo em sua totalidade. Vela ressaltar que o período no qual se instaura

o neoliberalismo no Brasil (1990) é posterior a década perdida26 (1980) quando

o país, ainda sob a ditadura militar, apresentava elevados índices de

endividamento, inflação e estagnação nas taxas de crescimento econômico.

Nesse mesmo período, as economias mundiais já estavam implementando as

mudanças nas diretrizes neoliberalistas, o que reafirmou a necessidade de se

adequar a tais mudanças.

Como país retardatário, no entanto, o Brasil já entrou na fase das chamadas “medidas corretivas” do ajuste preconizado pelo Consenso de Washington, combinando, assim, as já conhecidas políticas ortodoxas no campo econômico com propostas ditas de “reforma do Estado”, aliadas a programas de “alívio” para a

assegurar recursos suficientes para o financiamento das políticas sociais (SALVADOR, 2012, p. 5). 25 O Golpe de Estado de 11 de Setembro, ocorrido no Chile em 1973, consistiu na derrubada do regime democrático constitucional do Chile e de seu presidente, Salvador Allende, encerrando a democracia representativa e instaurando o regime burocrático-autoritário no país. O golpe contou com apoio e financiamento dos EUA e da CIA, colocando no poder oficiais da marinha e do exército chileno tendo a frente o general Augusto Pinochet Ugarte. (ÁVILA, 2014). 26 A década de 1980 é lembrada pela estagnação econômica, tanto no Brasil quanto em outros países da América do Sul, ao se verificar uma forte retração da produção industrial, além do aumento da inflação, desemprego e baixo crescimento econômico (BANDEIRA, 2002).

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pobreza, tratando de enquadrar-se (ao menos na retórica) no chamado “Ajuste com Rosto Humano” proposto por alguns organismos internacionais como o PNUD, ou na “humanização da globalização” (SOARES, 2001, p. 172).

Tudo isso implicou em “custos sociais” para a classe trabalhadora que foi

penalizada com o afastamento do Estado na responsabilização da prestação das

políticas sociais, o que ocasionou oferta precárias de serviços básicos atingindo

a seguridade social, educação, moradia entre outras. O agravamento da questão

social desmentiu os discursos de priorização de combate à pobreza e melhoria

na qualidade de vida das populações carentes, discurso esse amplamente

difundido pelos defensores do neoliberalismo para legitimação desse projeto

junto a classe trabalhadora. Contudo:

A combinação perversa entre a reestruturação recessiva da economia e do setor público; a geração de novas situações de exclusão social; e o agravamento das já precárias condições sociais daquela parcela da população já considerada “em situação de pobreza”, resulta naquilo que estamos chamando de custo social do ajuste no Brasil (SOARES, 2001, p. 172).

Essa corrente só começa a se desenvolver a partir dos anos de 1990 com

o governo de Fernando Collor de Melo (1990-1992), e mais fortemente no

governo de Fernando Henrique Cardoso – FHC (primeiro mandato 1994-1995 e

o segundo 1998-2002), quando a tendência neoliberal aparece de forma mais

marcante.

No próximo item será abordado o novo caráter admitido pelo Estado no

projeto neoliberal e a forma dirigida as políticas sociais, de modo geral, e as

políticas de proteção social geridas no âmbito da chamada Seguridade Social

brasileira e, em especial, a política de saúde.

2.2 ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS SOB O PREDOMÍNIO DO

NEOLIBERALISMO: uma análise dos desmontes da seguridade social e da

política de saúde

As mutações no mundo do trabalho e a configuração da atuação do

Estado sob os preceitos neoliberais têm repercussões diretas nas políticas

sociais e, em especial as de Seguridade Social, uma vez que estas estão

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historicamente ligadas à proteção social, que tem como fundamento principal o

trabalho formal. Com o desemprego inúmeros trabalhadores perdem diversos

direitos de proteção social, principalmente os previdenciários que são

concedidos em forma de contrato social ou seguro.

O Estado, na sua concepção clássica, é definido como uma entidade

representativa dos interesses gerais da sociedade, expressando assim uma

neutralidade na mediação das relações sociais e dos diferentes interesses

comuns e individuais. Todavia, na formulação marxiana sobre o Estado, ele

aparece com um caráter burguês evidenciado nas suas ações. “O Estado é um

produto da sociedade civil, expressa suas contradições e as perpetua [...]”

(MONTAÑO; DURIGUETO, 2011, p. 35).

É na sociedade civil que se evidencia as lutas de classe, a produção e

reprodução da vida material, ou seja, é na sociedade civil que se produz a

riqueza econômica. E a burguesia, por ter o controle dos meios de produção

passa a se constituir como uma classe dominante que estende seu poder ao

Estado, diante disso este aparece como um dominador de classe, a medida em

que preserva e dissemina os interesses da classe dominante burguesa.

Ao analisar o Estado, após as transformações da sociedade capitalista

no século XX com a conquista do sufrágio universal, abertura política e

constituição de centrais sindicais, o Estado, na concepção de Gramsci (1978),

não perdeu sua essência de classe, mas se modificou ao perceber que o uso

exclusivo da coerção não era mais suficiente para manter a ordem e os

interesses da burguesia.

Nesse Estado ampliado, as imposições não se davam apenas através

do uso da coerção, mas adquiria novas formas de articulação política que

mesclam coerção e consenso, dominação e hegemonia. Essa análise

gramsciana enriqueceu a compreensão marxiana de Estado, agregando novos

elementos e desdobramentos a partir das mudanças elencadas. Assim, o Estado

liberal respondia as reivindicações dos trabalhadores, que estavam revoltados

com sua situação de pauperismo, de forma repressiva pois julgava a pobreza

como algo natural e inerente a ação humana em estar ou não nessa situação,

correspondendo a uma análise moral da miséria.

Com isso, as políticas sociais eram vistas de modo muito negativa pelos

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liberais que as consideravam responsáveis pela manutenção do ócio e da

miséria pois desestimulava a procura ao trabalho gerando assim uma

acomodação.

Contudo, a pressão dos trabalhadores em prol de melhorias de trabalho

e de proteção social obrigou os capitalistas a reconhecer os direitos sociais e

implementarem políticas sociais que, ao menos, minimizassem as situações de

extrema pobreza vivenciada por aqueles sujeitos. A mobilização e organização

da classe trabalhadora foram primordial para a transformação do Estado liberal.

(BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 63).

A crise de 1929, amplamente abordada nos itens anteriores, pediu

estratégias que tirassem o capital da crise e retomassem as taxas de

crescimento. As medidas adotadas foram via intervenção estatal através do

keynesianismo e investimentos em políticas sociais com objetivo de acender o

consumo em massa e o pleno emprego. As medidas proporcionaram ao capital

vivenciar períodos de grande crescimento econômico, os 30 anos gloriosos, que

perdurou até os anos de 1970 quando o capital entra em mais uma crise.

Após a crise de 1970 a relação do Estado com a sociedade civil é

novamente modificada. O Estado que antes desempenhava uma serie de v

medidas no âmbito das políticas de proteção social do Welfare State, que não

foi vivenciado no Brasil, agora passa a se retrair na oferta destas. Essa é a

principal característica do projeto neoliberal.

O tema do Estado - suas dimensões, seu formato, sua redefinição para inserir-se na nova ordem econômico-mundial - foi perseguido como questão estratégica. A modernização econômica exigiu, assim, uma profunda reforma, de caráter privatizante e desregulamentador. (SIMIONATTO, 2004, p. 5)

O Estado nos moldes neoliberais passa a ser mínimo, direcionando suas

ações para as parcelas mais pauperizadas da sociedade, entregando a outra

parcela ao usufruto do mercado, ocasionando uma polarização entre aqueles

que não podem pagar e dessa forma utilizam o sistema público, de modo

compensatório, e aqueles que detêm melhores condições financeiras para

acessar os direitos sociais através do mercado. Esse fato acirra as expressões

da questão social e a desigualdade social historicamente presente nas lutas de

classe na sociedade burguesa.

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O modo de produção capitalista possui em sua essência um caráter

explorador da força de trabalho e concentrador da riqueza socialmente

produzida. O resultado desse processo é o acirramento das desigualdades

sociais e das diversas expressões da questão social que se traduzem na falta de

condições dignas de vida das classes trabalhadoras. Assim, a gênese da

questão social “[...] está na maneira com que os homens se organizam para

produzir num determinado momento histórico, como vimos o de constituição das

relações sociais capitalistas” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 52).

As mazelas produzidas pelo capitalismo repercutem de forma cruel e

perversa na vida da classe trabalhadora que as vivenciam e enfrentam de

inúmeras formas. Por ser a força de trabalho a única mercadoria que detém,

estes se submetem aos ditames do capitalista que os contratam. Entretanto, as

adversidades do dia a dia também despertam rebeldia.

A violência dos primeiros protestos operários era a reação inevitável à brutalidade da exploração capitalista, então basicamente centrada no incremento do excedente mediante a extensão da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) – inexistiam quaisquer garantias para os trabalhadores, indefesos diante da rapacidade da burguesia (NETTO; BRAZ, 2008, p. 173).

As lutas de classes, oriundas dos interesses distintos na relação entre a

classe trabalhadora e os capitalistas, são marcas históricas no processo de

conformação da sociedade burguesa. As respostas do Estado e as

reinvindicações dos trabalhadores são diversas ao longo das fases do sistema

capitalista e do papel do Estado e se modifica de acordo com a relação

estabelecida entre este e a sociedade civil.

A política social não tem data definida sobre seu surgimento, mas se

sabe que ela é conformada no seio da sociedade capitalista no período de

confluência da Revolução Industrial, das lutas de classe e da intervenção do

Estado. Todavia, é a partir do segundo pós-guerra que se tem o seu

espraiamento é “ao lado da caridade privada e de ações filantrópicas, algumas

iniciativas pontuais com características assistenciais são identificadas como

protoformas de políticas sociais” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010 p. 47).

Ao longo do desenvolvimento capitalista, as políticas sociais foram se

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gestando na contradição capital x trabalho em que se predomina os interesses

do capital sobre o trabalho, mas há a necessidade do trabalho para a

acumulação capitalista, o que evidencia uma verdadeira disputa. Elas aparecem

como forma de enfretamento da questão social gerada pelo movimento do

próprio sistema capitalista que destrói, explora e minimiza a força de trabalho,

mas que precisa dela apta para servir aos interesses do capital.

As políticas sociais e a formatação de padrões de proteção social são desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – em geral setorializadas e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social no capitalismo, cujo fundamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho (BEHRING; BOSCHETTI, 2010 p. 51).

As políticas sociais não possuem a capacidade de eliminar todas as

expressões da questão social porque para isso seria necessário a transformação

e superação do modo de produção capitalista, que é o gerador da questão social,

e com isso as políticas sociais não tem esse caráter revolucionário, mas são

formas de frear a lógica exploradora e perversa do capitalismo.

Nessa perspectiva, foram criados sistemas de proteção social, através

da luta e organização da classe trabalhadora, em defesa de ações do Estado

que os protegessem de situações permanentes ou temporárias de perda

laborativa, as políticas sociais em forma de proteção social se diferenciam das

demais políticas, pois foram pensados como provisão de bem-estar social

coletivo, entretanto, na sociedade capitalista a sua logística sempre esteve

atrelado ao trabalho e a contribuição.

[...] quanto mais a proteção social capitalista se desvincula do trabalho assalariado ou autorremunerado e do controle de situações identificadas como vagabundagem, mais essa proteção é malvista, esvaziada de dignidade e alvo de desqualificações. Em compensação, quanto mais essa proteção se vincula ao trabalho assalariado e se mercantiliza, mais é bem‑vista e merecedora de credibilidade e prestígio social (PEREIRA, 2013, p. 643).

O acesso às políticas de proteção social por via da contribuição do

trabalho assalariado era então identificado como um direito previsto pelo seu

pagamento antecipado, considerado justo na sociabilidade capitalista, como

fruto do merecimento, enquanto as políticas direcionadas para os trabalhadores

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fora do mercado de trabalho são vistas como caridade, benesse e/ou motivo de

envergonha para o sujeito. Prevalece ainda o pensamento do ideário liberal que

coloca o trabalho como dignificador do homem e a ociosidade como algo a ser

combatido. As conquistas devem se dar por mérito próprio e individual:

Para além do valor do salário, a submissão da proteção social a um formato meritocrático que seleciona a ocupação que vai ser, ou não, incluída no direito trabalhista a transforma em território de regulação econômica e não social. Essa transmutação é uma das possíveis estratégias, de caráter sutil, pelas quais o caráter antagônico da proteção social aos interesses do capital se manifesta. (SPOSATI, 2013, p. 660-661).

Temos dois marcos mundiais para a conformação das políticas sociais de

proteção. O primeiro nasceu na Alemanha, século XX, sob o governo de Otto

Von Bismarck que estabeleceu políticas previdenciárias em forma de seguro

social. Assim o acesso aos benefícios se dava por meio de um pagamento

prévio, descontado dos trabalhadores formais, dando direitos aos contribuintes

e seus familiares dependentes. Tinha como pressuposto a substituição da renda

do trabalho em caso de perda da capacidade laborativa consequente de doença,

acidente de trabalho, invalidez ou idade avançada (BOSCHETTI; SALVADOR,

2009, p. 3).

Posteriormente, em um contexto diferente, durante a segunda guerra

mundial e de crise vivenciada pelo capital em 1929, é formulado, na Inglaterra,

o Plano Beveridge que apresentava críticas ao modelo bismarckiano. O novo

modelo proposto, estabelecia o acesso aos direitos sociais sem a antecipação

de um pagamento, considerado universal a população, porem era garantido o

básico as necessidades sociais dos sujeitos.

Esses dois modelos passaram a inspirar a constituição da seguridade

social em diversos países predominando as características de um ou outro

dependendo da conjuntura social. “A composição dos sistemas de proteção

social varia de um país para outro, mas a seguridade social (previdência, saúde,

assistência social) constitui o núcleo duro em praticamente todas as nações”

(BOSCHETTI, 2012, p. 756).

Com a onda neoliberal a lógica social de implementação da seguridade

social foi sendo cada vez mais reduzida em detrimento da lógica contratual do

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seguro. As contrarreformas operadas no âmbito das políticas de proteção social

com a diminuição e negação dos direitos sociais da classe trabalhadora em

nome da modernização do aparelho do Estado aumenta a distância da

consolidação de uma seguridade integral e universal.

No Brasil, esse contexto não será diferente. A Constituição Federal de

1988 traz a importante conquista da garantia da seguridade social formada sob

o tripé da previdência, saúde e assistência social, colocando essas ultimas como

direitos sociais universal, no caso da saúde, e não contributivo para ambas,

embora a assistência seja direcionada para uma população específica, aquela

excluída dos direitos previdenciários destinadas apenas aos chamados

segurados.

No caso brasileiro a Seguridade Social se estrutura nos modelos alemão

bismarckiano e, no inglês beveridgeano. Impressa na Constituição Federal de

1988 e reconhecida como um direito e política de proteção social. O período que

antecede essa data, o contrato social estruturava a previdência e a assistência

à saúde no país. Com a Constituição Federal de 1988 a saúde passou a ser

universal e foi incorporada também a assistência social ficando mantido no

caráter contributivo direito apenas a previdência social.

A mistura desses dois modelos pode ser evidenciado na constituição da

Previdência Social que é trazido na CF de 1988 como sendo contributiva, a

saúde que é o direito de todos sem distinção qualquer e as assistência que é

para aqueles que dela precisarem, os sujeito em maior grau de vulnerabilidade

e risco social. De acordo com a Constituição Federal de 1988, no seu art. 194

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (BRASIL, 1988).

Os sistemas de proteção social devem funcionar de forma integrada, no

que concerne as políticas de saúde, previdência e assistência social,

possibilitando o atendimento integral das necessidades dos sujeitos dentro

dessas áreas, com isso o orçamento também deve ser único e direcionados para

esse fim.

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Um sistema de proteção social deve garantir a cobertura das

necessidades sociais de modo universal para o conjunto da população, sem

eleição de critérios de seletividade que incluam ou não determinados

seguimentos populacionais. Em outras palavras, a contribuição direta dos

trabalhadores não deve ser um pré-requisito para as medidas do Estado.

As políticas que conformam a seguridade social brasileira não são

tratadas de forma articuladas, prova disso é a separação que há a partir da

década de 1990 com a elaboração de leis próprias para cada uma. Nesse

processo, as políticas passaram a serem tratadas de formas desiguais, com

hierarquização de prioridades onde a previdência é a mais atrativa pelo seu

caráter contributivo, a saúde divide espaço com a previdência e a assistência

sempre foi colocada a margem dos demais.

Apesar do conceito constitucional, não ocorreu a efetivação de um

Ministério da Seguridade Social, conforme esperado, e as políticas de saúde,

previdência e assistência social seguem geridas por ministérios e orçamentos

específicos, sem a necessária e devida articulação. Além de ministérios

específicos, cada uma das políticas possui fundos orçamentários próprios e

conselhos e conferências também específicos (BEHRING; BOSCHETTI, 2010,

p. 163).

No caso brasileiro, em um contexto de agudas desigualdades sociais,

pobreza estrutural e fortes relações informais de trabalho, esse modelo, que fica

entre o seguro e a assistência, deixa sem acesso aos direitos da seguridade

social uma parcela enorme da população. A seguridade brasileira não se

constituiu enquanto um sistema verdadeiramente de proteção social onde o

sujeito possa transitar de acordo com sua necessidade, “o modelo brasileiro de

proteção social não partiu do reconhecimento universal enquanto direito de todos

os trabalhadores; sua lógica seletiva foi incluindo paulatinamente segmentos da

força de trabalho ativa” (SPOSATI, 2013, p. 661).

Como mais nítido disso temos a dualidade entre previdência e

assistência social, onde o acesso a um é a negação do acesso ao outro, dessa

maneira, elas não se complementam e garantem de fato uma proteção social

aos indivíduos. A lógica do seguro impõe limites estruturais para sua

universalização.

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A seguridade social pode garantir mais, ou menos, acesso a direitos, quanto mais se desvencilhar da lógica do seguro e quanto mais assumir a lógica social. De todo modo, ambas são profundamente dependentes da organização social do trabalho. Nos países em que as duas lógicas convivem no âmbito da seguridade social, elas estabelecem entre si uma relação que venho designando como sendo de atração e rejeição. É a ausência de uma dessas lógicas que leva à necessidade e à instauração da outra lógica (BOSCHETTI, 2009, p. 5).

Trabalho e assistência social não são incompatíveis. Dessa forma não

devem ser tratados nessa ação de atração e rejeição trazida por Boschetti (2009)

devem servir para sanar as necessidades dos trabalhadores independentes da

condição de uma contribuição prévia para ter acesso. No período do segundo

pós-guerra as políticas keynesianas nos países europeus demonstram essa

complementariedade da seguridade social numa perspectiva mais ampla e

efetiva de garantia de direitos aos trabalhadores.

Dessa forma, colocam interesses diferentes e dividem a população em

segmentações. Segmenta as lutas que deixam de se articular na reivindicação

de um sistema de seguridade público e universal e passa a focar em políticas

especificas como saúde e assistência, muitas vezes por não ser beneficiário da

previdência. Se perde assim uma visão macro das políticas de proteção social.

Contraditoriamente, a promulgação da CF 1988 acontece praticamente no

mesmo período, 1990, de implementação do projeto neoliberal no Brasil que

passa a ter como objetivo o alcance da rentabilidade econômica, colocando em

segundo plano os gastos sociais apontados como principal barreira para o

desenvolvimento econômico e necessário do capital.

No governo de FHC (primeiro mandato, 1995-1998 e o segundo

mandato, 1999-2003), há a consolidação do projeto neoliberal que instaurou uma

ampla contrarreforma27 direcionada a desestruturação dos direitos sociais. Em

1995 foi elaborado o principal documento orientador da reforma, elaborado por

Bresser Pereira, ministro do Ministério da Administração e da Reforma do Estado

(MARE). Trata-se do Plano Diretor da Reforma do Estado (PDRE) contendo as

27 As medidas adotadas pelos governos neoliberais são classificadas por Behring e Boschetti (2010) como contrarreforma, uma vez que as autoras entendem as reformas como fruto da luta dos trabalhadores no reconhecimento de direitos socialmente conquistados por eles, enquanto que as medidas neoliberais buscam desarmar as conquistas já consolidadas.

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ações que o Estado deveria tomar nas diversas áreas, para a modernização e

superação da “ineficiência” de sua gestão, havendo assim um enxugamento nos

gastos públicos.

O projeto reformista, direcionado pelos organismos internacionais, tinha

como base o ajuste fiscal do Estado, que prescreveu a adoção de medidas

direcionadas às políticas sociais e a Previdência Social. Resultaram numa

regressão e negação dos direitos conquistados, deixando apenas o mínimo

necessário para a manutenção da ordem social, fato que provoca uma

desresponsabilização do Estado e culpabilização dos indivíduos por sua

situação.

De acordo com o PDRE, o Estado deixa de ser responsável direto pelas

políticas sociais e passa a ser um regulador, transferindo a responsabilidade

para o âmbito privado, sob a justificativa de as tornarem mais eficazes diante da

ineficiência da gestão estatal, com isso que o Estado direciona ações apenas as

camadas mais pauperizadas da população brasileira. A privatização,

precarização/flexibilização do trabalho com a terceirização são as marcas que

identificam o reformismo neoliberal (MONTAÑO, 2010). No governo do

presidente Luiz Inácio Lula da Silva (primeiro mandato 2003-2007 e segundo

mandato 2008-2012), a tendência neoliberal é reafirmada:

[...] ao manter a continuidade da política econômica, consagra a ortodoxia econômica monetarista recomendada pelos organismos internacionais como a única possível: só há “gestão responsável” com a política neoliberal, que mantenha o ajuste fiscal duro, o juro real elevado, a política monetária concentracionista, o câmbio flutuante e a livre movimentação de capitais (IAMAMOTO, 2010, p. 36).

Autores como Mattoso (2013) defendem a ideia de que o governo petista

avançou tanto no âmbito econômico como no social, superando diversos

problemas que pareciam irreversíveis no governo FHC. Segundo o autor:

O conjunto de programas e ações do Estado, tais como os de garantia de renda (seguridade social e Bolsa Família, por exemplo), de garantia de bens e serviços (saúde, água, luz, entre outros) e de regulação (como o salário-mínimo), mesmo que ainda demandando melhor articulação, conformou uma maior mobilização de recursos fiscais e uma nova política social, capazes de enfrentar a pobreza e a desigualdade endêmicas e

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favorecer a ampla recuperação do mercado interno (MATTOSO, 2013, p. 115).

De fato, apesar de o governo Lula ter dado continuidade a muitas políticas

emanadas no período FHC, é possível identificar alterações significativas de

uma gestão para outra e visualizar avanços em diversas áreas sociais com a

unificação e ampliação do acesso aos programas de transferência direta de

renda representado no Bolsa Família28, na educação com a expansão das bolsas

de pós-graduação e outras iniciativas. Contudo, o projeto do capital continuou

sendo privilegiado em detrimento do projeto democrático. Isso porque as

políticas sociais mantiveram suas características focalizadas e seletivas. Além

de observar um grande investimento de dinheiro público em organismos privados

que podem ser vistos de forma ainda mais nítida na saúde, através dos

convênios e na educação através dos programas de bolsas gratuitas e de

facilidade de financiamentos.

Na área da saúde a disputa entre os interesses de classe é perceptível a

partir de uma luta histórica da concretização da saúde como direito de todos e

dever do Estado, e até mesmo após da sua garantia de acesso a todos, esta

política continua enfrentando sérios desafios no seu cotidiano.

Fruto da luta dos trabalhadores, movimentos sociais, profissionais de

saúde, movimentos populares entre outros atores, a saúde como direito

assegurado na Constituição Federal de 1988 representou um enorme avanço e

conquista no campo da defesa dos direitos sociais e cidadania. A construção da

materialização desse direito se iniciou nos anos de 1970 quando surge o

movimento da Reforma Sanitária.

A Reforma Sanitária inicialmente emerge a partir de uma ideia de um

grupo de intelectuais, que tem o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde

(CEBES)29 como difusor dessa ideia, e passa a congregar profissionais da

saúde, estudantes, movimentos populares, partidos políticos de esquerda, e

sindicatos. Transformando-se em uma proposta para reformulação do setor

28 É um programa de transferência direta de renda, direcionado às famílias em situação de

pobreza e de extrema pobreza, de forma que consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza (BRASIL, 2004). 29 O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde é uma entidade nacional criada em 1976, cuja missão histórica é a luta pela democratização da sociedade e a defesa dos direitos sociais, em particular o direito universal à saúde.

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saúde, dando início a uma série de articulações frente a difícil correlação de força

existente nos interesses antagônicos para a democratização da saúde (PAIM,

2007).

Portanto a ideia desencadeou um movimento que agregou diversos

sujeitos da sociedade, aproximando-se dos seguimentos populares, que eram

os mais afetados pela segregação da política de saúde na época em que a saúde

era direito apenas dos segurados da previdência social, os trabalhadores formais

e sua família. O movimento foi capaz de elaborar uma proposta e ampliar as

bases de sustentação política para as mudanças da área da saúde. (PAIM,

2007).

Nesse sentido, em 1986, foi realizado a 8ª Conferência Nacional de Saúde

que contou com a participação de cerca de 4.500 pessoas e mil delegados onde

foram discutidos os pontos colocados pelos integrantes da Reforma Sanitária.

Esta conferência foi estruturada sobre três eixos básicos: saúde como direito inerente à cidadania, reformulação do sistema nacional de saúde e financiamento do setor saúde. Para cada eixo eram previamente encomendados textos para acadêmicos, intelectuais e especialista a título de subsídio para os debates. Muitos desses autores vinculados ao movimento sanitário foram, também, convidados para participarem das três grandes mesas-redondas (PAIM, 2007, p. 92).

A conferência deu origem a um relatório que condessou as propostas

defendidas pela Reforma Sanitária que seriam levadas a Assembleia

Constituinte do ano seguinte para disputar com as propostas do projeto privatista

defendido pelo empresariado da área médica e farmacêutica (BRAVO, 2009).

A Reforma Sanitária traz um novo conceito de saúde atribuindo a esta

uma concepção ampliada que leva em consideração a Determinação Social de

Saúde (DSS)30 e os condicionantes, contrapondo-se da concepção tradicional

médico-curativa. Foram debatidas as seguintes propostas:

[...] a universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor

30 Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007, p. 78).

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através da estratégia do Sistema Unificado de Saúde visando um profundo reordenamento setorial com um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão – os Conselhos de Saúde (BRAVO, 2009, p. 94).

Vale salientar que a Reforma Sanitária deve ser entendida enquanto um

processo político que não se esgota com a implantação do SUS. Esta é um

processo continuo e dialético que se encontra em permanente disputa com

projetos de interesses divergentes para a saúde voltados para o mercado. Se

expressa enquanto um processo que aglutina um conjunto de atos em diferentes

momentos e espaços de luta que evidenciam práticas políticas, econômicas,

sociais, ideológicas e simbólicas após a 8ª conferência de saúde (PAIM, 2007).

Dessa forma, pode-se concluir que o movimento da Reforma Sanitária foi

um marco para a história do sistema de saúde pública brasileira, na medida em

que extrapolou o campo da saúde e atingiu o debate da efetivação da cidadania

com a luta pela defesa dos direitos sociais que vieram a ser impressos na

Constituição Cidadã de 1988. Representando uma verdadeira reforma social que

democratizou o Estado, a saúde e a sociedade a partir da luta por direito ao

acesso a saúde. Ultrapassando a setorização de uma única política,

disseminando a defesa do exercício da cidadania e do reconhecimento dos

direitos sociais de trazer para a realidade brasileira, direitos democráticos jamais

vistos em sua história.

Após a 8ª CNS o governo se viu obrigado a introduzir mudanças através

das propostas do movimento devido a uma enorme pressão exercida por este.

Em 1987, houve a criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

(SUDS) através de decreto aprovado pelo presidente da república. A aprovação

do SUDS foi “[...] um passo decisivo para o processo de descentralização e

redefinição de papeis e atribuições entre níveis federal, estadual e municipal”

(BRAVO, 2007, p. 89).

Assim, em 1988, foi aprovada a nova Constituição Federal (CF) brasileira

que trouxe em seu texto as principais propostas contidas no relatório elaborado

na 8ª CNS, dentre as principais a que coloca a saúde como um dever do Estado

e direito social de todos os cidadãos, conforme o art. 196 da Constituição:

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Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

A saúde deve ser prestada a partir de um sistema único, para tal é criado

e instituído o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pela Lei Orgânica

da Saúde (LOS), representada pelas Leis 8.080/90 que dispõe sobre as

condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e

o funcionamento dos serviços do SUS e a Lei 8.142/90 que dispõe sobre a

participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências

intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

A Lei 8080/90 que vem normatizar o SUS, coloca como princípios desse

sistema:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; (BRASIL, 1990).

Apesar de a legislação assegurar um sistema público de saúde, gratuito

e de qualidade, a sua efetivação na realidade não foi sentida. Os problemas

antigos de saúde como a dificuldade de acesso, má qualidade no atendimento,

permaneceram perante o descaso do Estado com a prestação das políticas

sociais e negação dos direitos impressos na constituição.

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A incorporação da saúde como direito de todos e dever do Estado não

extinguiu a correlação de forças e antagonismos entre os projetos distintos na

área da saúde, de fato o seu reconhecimento foi uma grande conquista para a

população, todavia manteve-se em constante disputa com o projeto de mercado.

[...] apesar de explicitar como desafio a incorporação da agenda ético-política da reforma sanitária, pelas suas ações tem mantido a polarização entre os dois projetos. Em algumas proposições procura fortalecer o primeiro projeto e, na maioria de suas ações, mantém o segundo projeto, quando as ações enfatizam a focalização e a precarização dos recursos humanos em decorrência do desfinanciamento (BRAVO, 2009, p. 102).

Na década de 1990, na área da saúde temos claramente a polarização

dos dois projetos de saúde defendidos no Brasil: privatista, ligado a lógica do

mercado, e o democrático da Reforma Sanitária. O primeiro busca o desmonte

da saúde enquanto direito e a sua satisfação através da relação de venda e

compra assim como as mercadorias no modo de produção capitalista enquanto

que o segundo Reforma Sanitária, procura reafirmar a saúde como direito e o

dever do Estado na sua oferta. Este último vem perdendo espaço no projeto

neoliberalista a medida em que possuem interesses divergentes, e a saúde vem

se conformando na lógica focalizada, enfraquecendo os princípios de

universalidade, integralidade e equidade.

Nesse cenário de rupturas e continuidades, na década de 2000, há uma

retomada aos princípios da Reforma Sanitária e do SUS, com a

institucionalização do Pacto pela Saúde, em 2006. Vem para substituir os

processos de gestão e habilitação do SUS, firmados pelas Normas Operacionais

Básicas e Normas de Assistência à Saúde, instituídas através de Portarias

Ministeriais.

O Pacto pela Saúde tem por objetivo redefinir os compromissos coletivos

e responsabilidades dos entes federados, com foco nos resultados sanitários,

visto as diferentes necessidades de saúde da população. Para tal, respeita as

diferenças loco regionais, fortalecendo a organização do SUS a partir de

definições das regiões de saúde, como também os espaços e mecanismos de

controle social (CONASS, 2011). Se institui a partir de seus três componentes:

Pacto pela Vida; Pacto em defesa do SUS e o pacto de Gestão.

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O Pacto pela Vida (2011) vai dar materialidade ao foco por resultados,

que devem ser garantidas pelo fortalecimento da Atenção Básica, via formulação

da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e da Política Nacional de

Promoção da Saúde (PNPS), ambas com objetivo de redirecionar o modelo de

atenção à saúde hegemônico assistencial, focado na doença, nas práticas

curativas e individuais, propondo um modelo focado nas necessidades de saúde,

nas práticas de prevenção e promoção a saúde, ofertada por uma equipe. Para

tal estabeleceu inicialmente, seis prioridades sanitárias:

1. saúde do idoso: implantar a política nacional de saúde da pessoa idosa, buscando a atenção integral. 2. câncer de colo de útero e de mama: contribuir para a redução da mortalidade por câncer de colo do útero e de mama. 3. mortalidade infantil e materna: reduzir a mortalidade materna, infantil neonatal, infantil por doença diarréica e por pneumonias. 4. doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; fortalecer a capacidade de resposta do sistema de saúde às doenças emergentes e endemias. 5. promoção da saúde: elaborar e implantar a política nacional de promoção da saúde, com ênfase na adoção de hábitos saudáveis por parte da população brasileira, de forma a internalizar a responsabilidade individual da prática de atividade física regular alimentação saudável e combate ao tabagismo. 6. atenção básica à saúde - consolidar e qualificar a estratégia da saúde da família (PSF) como modelo de atenção básica à saúde e como centro ordenador das redes de atenção à saúde do sus. (BRASIL, 2011).

Posteriormente, em 2011, foram acrescentadas mais cinco prioridades

ao Pacto pela Vida: saúde do trabalhador; saúde mental; saúde do homem;

saúde da pessoa com deficiência e saúde da pessoa submetida a situações de

violência.

Já o Pacto em Defesa do SUS destaca a necessidade de fortalecer o

controle social e a solidariedade entre os entes federativos, trazendo como

prioridades:

1. Implementar um projeto permanente de mobilização social com a finalidade de: - Mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público universal garantidor desses direitos; - Alcançar, no curto prazo, a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, pelo Congresso Nacional;

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- Garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos orçamentários e financeiros para a saúde. - Aprovar o orçamento do SUS, composto pelos orçamentos das três esferas de gestão, explicitando o compromisso de cada uma delas. 2. Elaborar e divulgar a declaração dos direitos e deveres do exercício da cidadania na saúde (brasil, 2011).

Por último o Pacto de Gestão do SUS que estabelece as

responsabilidades sanitárias, de forma a diminuir a duplicidade de competências

e definir claramente as atribuições de cada ente federado. Contribuindo para o

fortalecimento da gestão compartilhada e solidária do SUS e enfatiza a

descentralização para os municípios (BRASIL, 2006) elenca como prioridades:

1) Definir de forma inequívoca a responsabilidade sanitária de cada instância gestora do sus: federal, estadual e municipal, superando o atual processo de habilitação. 2) Estabelecer as diretrizes para a gestão do sus, com ênfase na Descentralização; Regionalização; Financiamento; Programação Pactuada e Integrada; Regulação; Participação e Controle Social; Planejamento; Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (BRASIL, 2011).

Esse fato reacendeu a defesa do projeto sanitarista ao ressaltar

questões importantes para a consolidação do SUS enquanto um sistema

universal, gratuito equânime e integral na atenção ao cuidado, entretanto, no ano

seguinte, há a criação das Fundações públicas de Direito privado31. As

fundações foram criadas a partir do Projeto de Lei Complementar nº 92/2007, é

uma das modalidades da parceria público-privada32, e trazem como proposta a

atuação no âmbito da gestão do trabalho e do sistema de saúde sob a alegação

de atribuir mais agilidade a máquina pública, eficiência e eficácia na utilização

dos recursos e serviços prestados à população. Nesse sentido, a ideia aparece

31 “[...] é um organismo da Administração Pública com flexibilidade e autonomia mais amplas do que as atuais autarquias e fundações públicas de direito público possuem. Poderá dispor de instrumentos administrativos de natureza privada e, nesse sentido, é comparável a uma empresa pública estatal”. (BRASIL, 2007 p. 7). 32 As OSCIPS são empresas de direito privado e não lucrativas, criadas no governo de Fernando Henrique Cardoso, foram uma nova forma de regulação do Terceiro Setor, concebidas como instrumento de viabilização e implementação de Políticas Públicas. Estas organizações atuam desde a promoção da assistência social, passando pelos âmbitos da cultura, ética, voluntariado, cidadania, paz, direitos humanos, estudos e pesquisas.

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como uma modernização do Estado, justificativa amplamente utilizada pelos

defensores do neoliberalismo.

O fetiche da iniciativa privada aplicado ao Estado tem o ‘mérito’ de ocultar a essência dos processos que o Estado do capital deseja legitimar: ao tentar prender-nos à forma desviamo-nos do fundamental, do essencial. A forma é a fundação estatal, o conteúdo é a privatização dos serviços sociais, das políticas sociais, dos direitos dos trabalhadores (GRANEMANN, 2007, p. 45).

As fundações são extremamente preocupantes para todo o sistema, pois

amplia o espaço de atuação da iniciativa privada no SUS, o que implica em

desregulamentações de direitos trabalhistas, diminuição na participação popular

nas tomadas de decisões e fiscalização das ações dessas instituições, além do

beneficiamento do capital em detrimento do social na lógica que as ações e

serviços de saúde podem assumir na concepção dessas organizações.

Entretanto é apenas no governo Dilma (2011-2015)33 que as fundações,

de fato, são criadas através da aprovação do projeto de lei complementar

92/2007 elaboradas na gestão do Lula. O caráter privatista ganha maior

destaque a partir da ênfase dada as parcerias público-privadas. Em seu primeiro

mandato, no ano de 2011, a aprovação da Lei n. 12.550 que cria a Empresa

Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), trata-se de uma fundação estatal

de direito privado, que passou a ser responsável pelo gerenciamento dos

hospitais universitários, retirando a autonomia das universidades públicas sob

seus hospitais escolas (BRAVO; MENEZES, 2013).

Outro aspecto importante e contraditório do governo Dilma é acerca do

financiamento da saúde, que sempre foi ponto crítico no debate entre os projetos

em disputa, representantes do projeto democrático de saúde, defendiam, através

do movimento saúde mais 1034, a destinação de 10% da corrente bruta do

Produto Interno Bruto (PIB), essa proposta foi impressa na emenda

constitucional nº 29, que iria superar o subfinanciamento do setor, garantindo o

33 Esse período corresponde ao primeiro mandato da presidente. Nas eleições presidenciais de 2014 ela foi reeleita, este mandato deveria permanecer até 2018, contudo esta foi afastada através do processo de impeachment acontecido no dia 12 de maio de 2016. 34 O Movimento Nacional em Defesa da Saúde Pública foi iniciado a partir de uma reunião histórica que aglutinou atores de várias entidades representativas da sociedade brasileira, em 13 de março de 2012, e defendia o investimento de 10% do PIB para saúde.

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montante suficiente para uma saúde universal e de qualidade.

Aprovação da emenda n º 29, em 2000, após 11 anos em tramitação no

Congresso Nacional, representou uma enorme conquista para o SUS, pois

garante a definição do montante a ser destinado a saúde nas três esferas de

governo. Contudo, foi aprovada, mas não em seu texto original. Os 10% da renda

do PIB e a Contribuição Social a Saúde (CSS) foram retirados dando lugar a uma

nova proposta após a regulamentação da emenda.

Com a regulamentação da EC-29 ficou definido que a União aplicaria o

valor nominal gasto no ano anterior, acrescido da variação nominal do PIB do

mesmo ano. Para os estados, Distrito Federal e municípios ficou definido o

montante de 12% e 15% respectivamente. Nessa lógica, os vetos ocorridos na

emenda foram em torno do orçamento referente aos montantes destinados pela

União. Ficando um valor bem abaixo do reivindicado pelos movimentos sociais

que seria os 10% fixo do PIB. Como forma de minimizar essa inequidade no

financiamento foi definida através da Emenda Constitucional nº 86/2015 o

percentual gradativo de 15% do orçamento líquido até 2020.

Com isso podemos perceber que o subfinanciamento da saúde

permanece na tensa relação entre os projetos distintos, a medida em que o

montante destinado a saúde continua inferior ao estabelecido na EC-29 original.

Outra questão emblemática, diz respeito a iniciativa privada que é em

caráter complementar, segundo a Lei Orgânica da Saúde, contudo a

complementariedade tem se alastrado por todos os serviços e por todas as

formas. Recentemente houve a ampliação da participação do capital estrangeiro

por meio da modificação do Artigo nº 23 da Lei 8.080/90 através da Lei nº

13.097/15. O artigo 23 da Lei orgânica da saúde passou a definir que:

Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas ou de capital estrangeiro na assistência à saúde nos seguintes casos: I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos; II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar: a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e clínica especializada; e b) ações e pesquisas de planejamento familiar;

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III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e IV - demais casos previstos em legislação específica (BRASIL, 1990).

A ampliação do capital estrangeiro representa a paulatina

mercadorização da saúde, compreendida enquanto um direito social universal e

gratuito, constituído em fortes ondas contrárias à sua efetivação e um evidente

descaso do Estado, desde sua criação até os dias atuais, e que tem sofrido

ataques cada vez maiores a partir de mudanças aparentemente pequenas.

Além, disso, atualmente, com o governo de Michel Temer (2016) mais

ameaças a política de saúde estão foram propostas, uma delas é da criação de

planos populares em que a população teria acesso a planos de saúde em valores

mais baixos, todavia os serviços ofertados também seriam mínimos de acordo

com as faixas de preço dos planos ofertados. Tal proposta, diminuiria os gastos

do Estado com a saúde, que no seu formato universal é considerada

insustentável via SUS.

Essa proposta fere o princípio da universalidade e integralidade do SUS

e demonstra a clara tentativa de destruição do sistema público de saúde

amplamente defendido e construído a partir das lutas dos trabalhadores e

movimentos sociais e um governo nitidamente elitista que prega a prevalência

de interesses econômicos.

Dessa forma, os atuais governos continuam seguindo uma linha neoliberal

que se evidencia de um lado, formas mais claras e intensas em algumas

medidas, focalização das políticas sociais, investimentos públicos no âmbito

privado. De outro lado, se percebe um avanço nas áreas sociais a partir do

atendimento as reivindicações das agendas democráticas no período da gestão

petista. As disputas entre os projetos societários democráticos e ligados ao

capital continuam presentes na conjuntura.

Há na lógica neoliberal uma clara restrição de direitos sob o argumento

de crise fiscal do Estado e assim as políticas sociais passam a ser pensadas sob

o trinômio do ideário neoliberal para as mesmas: a privatização, a

focalização/seletividade e a descentralização conforme Behring e Boschetti

(2010). Esse trinômio terá como implicações a separação entre os cidadãos que

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podem e os que não podem pagar pelos serviços e o direcionamento do Estado

para efetivação de políticas sociais para aqueles que são comprovadamente

mais pobres entre os pobres através da focalização e seletividade (BEHRING;

BOSCHETTI, 2010).

Nessa perspectiva o fundo público35 tem se afirmado como palco de

disputas de interesses entre o capital e o trabalho, mas de fato, tem prevalecido

a ênfase em políticas econômicas que privilegiam o capital. Subordinam os

Estados nacionais às políticas econômicas internacionais, através da dívida

pública externa que é contraída a juros altíssimos e endivida os Estados e os

obriga a destinar boa parte do superávit primário para o pagamento da dívida

como poderemos observar no gráfico do Tribunal de Contas da União (TCU)

mais adiante.

A dívida pública tem funcionado como um mecanismo de crescente desvio de recursos públicos que garantem uma ampla fonte de rendas para determinadas elites estabelecidas principalmente no setor financeiro, mas presentes também em outras estruturas de poder (FATORELLI, 2012, p. 61).

Gráfico 01 – Orçamento da União

Fonte: http://www8d.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=684712

35 O fundo público se refere a uma reserva de dinheiro destinado a investimentos em diversas áreas. De acordo com Salvador (2004, p. 2) “O fundo público deve assegurar recursos suficientes para o financiamento das políticas sociais”, todavia este se constitui enquanto espaço de luta política dentro da lógica neoliberal que tende a direcioná-lo para a iniciativa privada.

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Percebe-se a disparidade entre as áreas de aplicação de recursos e a

eleição de prioridades do governo voltadas para campos que possam favorecer

ao capital, como a previdência social que é contributiva e pertence a seguridade

cujo recursos podem ser desvinculados via DRU para investimentos em outras

áreas. Para a saúde foram direcionados 4,14% dos recursos, bem abaixo dos

10% do PIB reivindicados.

Esse sistema conta com aparato legal, político, financeiro e econômico

para operar e que esse conjunto articulado de mecanismos é denominado de

“Sistemas da Dívida”. Outro privilegio impressionante está impresso na Lei de

Responsabilidade Fiscal. “Essa lei limita gastos e investimentos sociais, mas dá

liberdade total, sem restrições, para o custeio da política monetária [...] ainda que

essa política gere fantásticos prejuízos ao patrimônio nacional” (FATTORELLI,

2012, p. 67).

Diante disso, as políticas sociais aparecem em segundo plano na pauta

do Estado em detrimento da priorização do pagamento da dívida pública e do

financiamento do capital. O superávit primário36 como fonte de recursos do

Estado é alimentado segundo Behring (2003) por um mecanismo criado no

âmbito do plano Real e que hoje se chama Desvinculação de Receitas da União

(DRU). A DRU desvincula 20% das receitas de impostos e de contribuições

sociais da união para o investimento em outras áreas.

A DRU tem permitido a desvinculação de recursos da seguridade social

para o mercado financeiro e para o pagamento da dívida pública atingindo

diretamente a alocação de recursos para as políticas sociais e no cumprimento

dos deveres do Estado para com os direitos sociais (BOSCHETTI, 2012).

Diante disso as consequências dessas medidas rebatem em grande parte

a uma parcela significativa de trabalhadores/as, que não podem adquirir bens no

mercado. Visto que, são desassistidos/as e/ou com acesso precário aos serviços

públicos essenciais, oferecidos pelo Estado de forma irregular a fim de

compensar às misérias geradas pela concentração de renda do sistema

capitalista. Entretanto, tais medidas são incapazes de atender as necessidades

básicas da classe trabalhadora em sua plenitude.

36 O superávit primário refere-se às receitas positivas da união.

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Nessa perspectiva os trabalhadores sempre buscaram mecanismos de

resistência à exploração através das greves, paralisações, entre outras. A

organização sindical é uma delas e que hoje apresenta novas formatações

engendradas pela crise do capital ocorrida em 1970. Um dos aspectos

apontados nesse sentido é de que os sindicatos:

Distanciam-se crescentemente do sindicalismo e dos movimentos sociais classistas dos anos 60/70, que propugnavam pelo controle social da produção, aderindo ao acrílico sindicalismo de participação e negociação, que em geral aceita a ordem do capital e do mercado, só questionando aspectos fenomênicos desta mesma ordem. Abandonaram as perspectivas que se inseriam em ações mais globais [...] (ANTUNES, 1995, p. 43).

Assim, as lutas passaram a ser mais pontuais e defensivas diante dos

desmontes de direitos elencados pelo neoliberalismo, o que fragiliza o

movimento de organização dos trabalhadores no sentido de obter conquistas

mais amplas que proporcionem reais condições de qualidade de vida e a

superação do modo de produção capitalista. Os sindicatos aparecem agora

como mediadores de conflitos de interesses entre trabalhadores e capitalistas.

Além disso, as transformações acarretadas na composição da classe

trabalhadora, onde esta se mostra heterogenia e fragmentada, dificulta ainda

mais a sindicalização dos trabalhadores e a luta por objetivos comuns.

Uma outra consequência dessas transformações no âmbito sindical foi a intensificação da tendência neocorporativa, que procura preservar os interesses do operariado estável, vinculado aos sindicatos, contra os segmentos que compreendem o trabalho precário, terceirizado, parcial etc., o que denominam os subproletariado (ANTUNES, 1995, p. 72).

É interessante ressaltar que esses obstáculos à sindicalização

repercutiram na eficácia das ações e práticas de greve devido as diversas

repressões implícitas e explicitas que os trabalhadores são submetidos.

Ao longo da década de 1980 pôde-se constatar uma diminuição dos movimentos grevistas nos países capitalistas avançados, que por certo advém das dificuldades de aglutinar, numa mesma empresa, os operários "estáveis" e aqueles "terceirizados", que trabalham por empreitada, ou os trabalhadores imigrantes,

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segmentos que não contam, em grande parte, nem mesmo com a presença de representação sindical (ANTUNES, 1995, p.72).

Dessa forma, a organização dos trabalhadores implica no enfrentamento

de uma série de desafios que circunscrevem o atual quadro do trabalho no

capitalismo necessitando criar novas estratégias que viabilizem a resistências às

barbáries advindas do avanço do capital.

De fato, o modo de produção capitalista em nenhum momento da história

foi favorável aos interesses da classe trabalhadora, na medida em que sua lógica

lucrativa, exploradora e excludente não converge com as necessidades dessa

classe social. O que emerge como algo novo nessa sociabilidade é a

intensificação da perversidade desse sistema que ao se tornar cada vez mais

desenvolvido e complexo e atingir níveis cada vez mais altos de acumulação,

desapropriam de condições dignas de vida milhares de trabalhadores, que

dependem apenas da venda da força de trabalho para sua subsistência

(MARANHÃO, 2008).

Dessa forma, o trabalho tem se mostrado cada vez mais complexo e

excludente, aumentando a competitividade entre os trabalhadores e a

fragmentação entre os mesmos e fragilizando e/ou obscurecendo a consciência

de classe37 necessária para articulação/mobilização dos trabalhadores em

defesa de seus direitos. Assim, esses fatores servem para fragilizar a

organização e a resistência às ofensivas do capital, pois além da difícil tarefa de

se organizar em prol da reivindicação de direitos os trabalhadores têm se detido

a lutas mais pontuais e defensivas.

A reestruturação produtiva, baseada no modelo de flexibilização ou

toyotista, associada ao ideário neoliberal ocasionou implicações para a classe

trabalhadora, pois representou um retrocesso nas conquistas dos direitos do

trabalho firmemente conquistados e na refração do Estado frente a

responsabilidade na prestação das políticas sociais.

No próximo item serão discutidas as particularidades da atenção básica

de saúde no contexto da política de saúde já abordado, objetivando chamar

37 Consciência de classe é o sentimento de pertença de um agente social a um grupo económico determinado, mas sobretudo para denominar essa consciência particular que é a consciência de classe do proletariado, consciência que é ao mesmo tempo particular e interessada e universal (BOUDON, 1993).

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atenção para esse nível do cuidado, sua conformação, importância e desafios

dentro dessa conjuntura.

2.3 Atenção Básica de Saúde Frente às Ofensivas do Capital ao SUS

A Atenção Básica de Saúde (AB) desempenha um importante papel na

estruturação das Redes de Atenção à Saúde (RAS)38, estas buscam superar a

fragmentação existente na prestação do cuidado no SUS. As RAS introduzem

um modo de operacionalização horizontal, sem prevalência e/ou valorização de

um nível de atenção específico, considerando as particularidades de cada um a

partir das necessidades de saúde apresentadas pela população usuária. Nesse

processo, a AB aparece como o centro de comunicação da rede, como veremos

melhor mais adiante.

A AB é considerada o primeiro nível de atenção ao cuidado dentro do

SUS, que por sua vez é estruturado de forma hierarquizada e crescente segundo

a Lei 8080/90. Assim, de acordo com o art. 8º da referida Lei:

As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde - SUS, seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada, serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente (BRASIL, 1990, p. 25).

Nesse sentido, os serviços e ações de saúde estão divididos entre a

atenção primária (definida nos documentos oficiais brasileiro como atenção

básica), atenção secundária (média complexidade) e atenção terciária (alta

complexidade). É a partir da consolidação do SUS que a atenção primária

começará, de fato, a se expressar, no Brasil, como um nível de atenção

assistencial e como forma de organização desse setor.

Entretanto, no contexto mundial a Atenção Primária em saúde foi utilizada

38 As Redes de Atenção à Saúde (RAS) constituem-se em arranjos organizativos formados por

ações e serviços de saúde com diferentes configurações tecnológicas e missões assistenciais, articulados de forma complementar e com base territorial. Têm diversos atributos, entre eles: a atenção básica estruturada como primeiro ponto de atenção e principal porta de entrada do sistema, constituída de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado e atendendo às suas necessidades de saúde (MENDES, 2012).

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como forma de organização dos modelos assistenciais pela primeira vez, na

Inglaterra, no chamado Relatório Dawson, em 1920.

Esse documento do governo inglês procurou, de um lado, contrapor-se ao modelo flexineriano39 americano de cunho curativo, fundado no reducionismo biológico e na atenção individual, e, de outro, constituir-se em uma referência para a organização do modelo de atenção inglês, que começava a preocupar as autoridades daquele país, devido ao elevado custo, à crescente complexidade da atenção médica e à baixa resolutividade (FAUSTO; MATTA, 2007, p. 44).

O campo difusor da Atenção Primária foi a Conferência Internacional

Sobre Cuidados Primários, realizada em Alma-Ata, Cazaquistão, 1978 que veio

reafirmar a APS enquanto cuidados essenciais de saúde que:

[...] baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e automedicação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde (ALMA-ATA, 1978, p. 1).

É a partir dessa definição de Atenção Primária aliada as contribuições

do relatório de Dawson, que emergem outros conceitos para além da visão

biomédica do cuidado a saúde, como:

A educação em saúde; o saneamento básico; o programa materno-infantil, incluindo imunização e planejamento familiar; a prevenção de endemias; o tratamento apropriado das doenças e danos mais comuns; a provisão de medicamentos essenciais;

39 O modelo de medicina voltado para a assistência à doença em seus aspectos individuais e biológicos, centrado no hospital, nas especialidades médicas e no uso intensivo de tecnologia é chamado de medicina científica ou biomedicina ou modelo flexineriano, em homenagem a Flexner, cujo relatório, em 1911, fundamentou a reforma das faculdades de medicina nos EUA e Canadá. Esta concepção estruturou a assistência médica previdenciária na década de 1940, expandindo-se na década de 1950, orientando também a organização dos hospitais estaduais e universitários (SILVA JÚNIOR; ALVES, 2007, p. 28-29).

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a promoção de alimentação saudável e de micronutrientes; e a valorização das práticas complementares. Principalmente, aponta para a saúde como expressão de direito humano (MENDES, 2015, p. 30).

Vale salientar, que a conferência condensou posicionamentos e ideias

plurais e divergentes, pois entre os organizadores da conferência havia os que

defendessem a atenção primária em um sentido integrado e os que defendiam

em um sentido restrito/seletivo. Mas a atenção primária foi hegemonicamente

compreendida em uma lógica abrangente e integrativa pela declaração de Alma-

Ata.

Dessa forma, esta concepção influenciou a organização dos sistemas de

saúde em todo o mundo colocando duas características básicas: a primeira

relacionada a regionalização onde os serviços devem atender as necessidades

especificas de cada região; a segunda é a integralidade em que as ações

curativas devem ser indissociáveis das ações preventivas (FAUSTO; MATTA,

2007).

As ideias acerca da medicina preventiva serviram de base para fortalecer

a organização da atenção primária em saúde internacionalmente sob a

perspectiva de uma abordagem integral, uma vez que, a medicina preventiva

defendia “[...] que a atenção médica, em sua fase inicial, deveria se fazer mais

próxima do ambiente sociocultural dos indivíduos e famílias [...]” (FAUSTO;

MATTA, 2007, p. 45). E dessa forma, respaldar a intervenção médica em

prevenção e controle da doença.

Contudo, no ano seguinte a realização da Conferência em Alma-Ata,

houve a Conferência de Bellagio, na Itália, onde foi difundida a ideia de atenção

primária seletiva e focalizada em questões especificas de saúde e voltadas para

as populações carentes (FAUSTO; MATA, 2007).

A proposta seletiva de APS tem como pressuposto a oferta de condições

mínimas para a cobertura das necessidades de saúde, sendo direcionadas para

populações mais precarizadas que se encontram em situação de extrema

pobreza e assim não podem acessar o mercado para responder as suas

necessidades por conta própria.

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Subentende programas com objetivos restritos, visando cobrir determinadas necessidades previamente definidas de grupos populacionais em extrema pobreza, com recursos de baixa densidade tecnológica e sem possibilidade de acesso aos níveis secundário e terciário, correspondendo a uma tradução restrita dos objetivos preconizados na Conferência de Alma-Ata, em 1978, para a Estratégia de Saúde para Todos no ano 2000 (GIOVANELLA; MENDONÇA, 2009, p. 576).

A outra concepção de APS se refere ao primeiro nível de atenção,

resolutiva, mas voltada apenas para os problemas mais comuns de saúde, o que

também diverge da interpretação ampliada formulada em Alma-Ata, visto que

evidencia um recorte, também, restritivo (MENDES, 2015).

A crítica à noção de atenção primária desenvolvida na declaração de

Alma-Ata centrava-se no argumento de que não era possível garantir uma

atenção primária integral e que a forma como ela estava impressa na declaração

de Alma-Ata era uma visão idealizada e ampla, e por isso com poucas chances

de aplicabilidade (CAMARGO, 2014). Assim, essa polarização entre as duas

propostas de atenção primária, a seletiva e a integral, continuou por toda a

década de 1980 tendo repercussão na década de 1990. “O resultado dessa

polêmica foi favorável às concepções da atenção primária seletiva” (FAUSTO;

MATTA, 2007, p. 50).

O contexto de neoliberalização, já discutido nesse estudo, contribuiu para

a disseminação da atenção primária sob a perspectiva seletiva que ganhou apoio

das agências internacionais como o Banco Mundial, que:

Defendia as cestas básicas de serviços de saúde, sugerindo que o setor público deveria prover um conjunto mínimo de ações essenciais aos que não pudessem arcar individualmente com os gastos em saúde (FAUSTO; MATTA, 2007, p. 51).

Nos anos de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS), abandonou

a ideia de atenção primaria integral e passou a comungar da proposta seletiva

da atenção primária, mas com outra proposta. A proposta da OMS é a de um

“novo universalismo” onde os Estados, ao invés de assumir todas as ações para

população de modo geral ou só assumir um conjunto mínimo de ações para os

pobres, deveriam se responsabilizar por um conjunto de ações essenciais

ofertadas com alta qualidade para toda a população (FAUSTO; MATTA, 2007).

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No que tange a organização do modelo assistencial que enfatiza a

atenção primária, após o SUS as primeiras inciativas foram: Programa de

Agentes Comunitários de Saúde (PACS), em 1991e a proposta de criação do

Programa Saúde da Família (PSF), em 1994, sendo implantado, de fato, em

1998, após a edição da Norma Operacional Básica em 1996 (NOB-SUS/96)40.

O PACS e posteriormente o PSF surgem com o intuito de estimular os municípios a assumirem alternativas de organização da atenção em âmbito local, especialmente aqueles municípios pequenos, sem nenhuma ou com exígua rede de serviços de saúde conformada (FAUSTO; MATTA, 2007, p. 58).

O PACS caracteriza-se “como o elo entre a comunidade e a equipe que

se responsabiliza pela atenção básica em saúde de uma área adscrita”

(CAMARGO, 2014, p. 32). Inicialmente se desenvolveu no norte e nordeste do

país contribuindo para a redução da mortalidade infantil e materna, através da

expansão dos serviços de saúde para as regiões mais pobres.

Já o PSF, as unidades de saúde devem contar com uma equipe

multiprofissional mínima formada por um médico generalista, um enfermeiro, um

auxiliar ou técnico de enfermagem e um número suficiente de Agentes

Comunitários de Saúde (ACS) para cobrir toda a população da área

especificada, não ultrapassando o limite máximo de 12 agentes por equipe.

Assim, cada equipe é responsável pelo atendimento à população de uma área

geográfica definida (CORBO; MOROSINI; PONTES, 2007, p. 85).

Como podemos observar, os/as profissionais indicados para a

constituição das equipes de saúde são ligados a área médica, não havendo

exigência da incorporação de assistentes sociais nas equipes. Isso se deve a

primazia do modelo tradicional de saúde hegemônico no SUS em que persiste a

prática curativista, que também vai em direção dos preceitos neoliberais no

sentido de oferecer os mínimos sociais.

Dessa forma, a abordagem da atenção primária expressa através dos

programas PACS e PSF é de caráter seletivo, uma vez que, no momento de sua

40 Tem como objetivo "promover e consolidar o pleno exercício, por parte do poder público municipal e do Distrito Federal, da função de gestor da atenção à saúde dos seus munícipes, com consequente redefinição das responsabilidades dos Estados, do DF e da união" (BRASIL, 1996).

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implantação são desarticulados das demais ações e serviços de saúde. Além de

serem focalizados para estratos mais pauperizados da sociedade destoando dos

princípios de integralidade e universalidade defendidos pelo Movimento da

Reforma Sanitária.

A posição marginal que ocupava o PACS e o PSF dentro do Ministério da Saúde contribuiu para que tais programas assumissem no primeiro momento um perfil segmentado. Sua vinculação se fez junto à Coordenação da Saúde da Comunidade (Cosac) dentro do Departamento de Operações da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), sob responsabilidade da Gerência Nacional do Agente Comunitário e da Gerência da Saúde da Família (MATTA; FAUSTO, 2007, p. 59).

Nos termos normativos, como aponta Matta e Fausto (2007), a APS ganha

visibilidade na política de saúde brasileira a partir da edição da Norma

Operacional Básica41 do SUS (NOB-SUS), de 1996, que vem estabelecer o Piso

de Atenção Básica (PAB). Assim, o Ministério da saúde passou a incentivar

financeiramente a implantação do PACS e PSF corroborando para sua expansão

para diversas regiões do país.

Vale destacar que é a partir da NOB/96 que o termo utilizado nos

documentos oficiais da política de saúde no Brasil passa a ser o de Atenção

Básica em substituição ao termo Atenção Primária como referência ao primeiro

nível de atenção na organização do sistema de saúde brasileiro (CAMARGO,

2014).

Na perspectiva do MS, o documento representava as bases para o redirecionamento/reordenação do modelo de atenção à saúde, visando incorporar o modelo Epidemiológico ao modelo clínico dominante e trabalhar na perspectiva da Vigilância em Saúde (BRASIL, 1997). Em suma, preconizava mudanças essenciais no modelo de atenção à saúde, com redefinição das responsabilidades dos Estados, Distrito Federal e União, no auge do governo FHC, profundo defensor dos ideais neoliberais. Contraditoriamente, foi considerada um instrumento de regulação do SUS (MELO, 2011, p. 133-134).

41 Define e estabelece as responsabilidades entre estados e municípios, as modalidades de gestão municipal da saúde: Plena da Atenção Básica e Plena do Sistema Municipal, o Piso de Atenção Básica (PAB) e a Programação Pactuada Integrada (PPI), dentre outros (BRASIL, 1996).

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Ainda na década de 1990 houve outras iniciativas do MS nesse sentido

publicando, em 1997 o manual Saúde da Família: uma estratégia para a

reorientação do modelo assistencial que tinha por objetivo:

Contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população (BRASIL, 1997, p. 10).

Contudo, a mudança semântica do PSF, ao ser adotado pelo MS como

estratégia para reorganização da APS, “[...] não foi acompanhada por uma

transformação paradigmática que imprimisse o conteúdo de estratégia ao PSF”

(MENDES, 2012, p. 74). Em 2001 foi lançada a NOAS-SUS 01/01, reeditada

em 2002, com vistas a superar as dificuldades de organização do sistema. Nesse

sentido, a norma apresenta como objetivo apontar as “diretrizes para o avanço

do processo de descentralização em saúde, baseadas na macroestratégia de

regionalização [...]”. Dessa forma, buscando, promover maior equidade no

acesso as ações e serviços de saúde para o conjunto da população em todos os

níveis de atenção (BRASIL, 2001, p. 5).

Nessa perspectiva, a atenção básica aparece com uma concepção

ampliada, tendo suas responsabilidades expandidas ao reconhecer a

persistência de problemas na sua efetivação diante da obtenção dos resultados.

Assim, a ABS é definida como o “conjunto de ações do primeiro nível de atenção

em saúde que deve ser ofertado por todos os municípios do País em seu próprio

território, com qualidade e suficiência para sua população” (BRASIL, 2001, p.

17). Entretanto:

Novamente aparece a questão “do conjunto de ações do primeiro nível de atenção”, o que restringe a APS ao “pacote básico”, presa aos umbrais desse nível de atenção. Novamente a ESF aparece como um eixo importante para a ampliação e qualificação da AB. (MELO, 2011, p. 155).

Apesar de todas essas iniciativas do MS apontando a ESF como

estratégia para a organização da atenção básica e desta como estratégia para

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reorganização do modelo assistencial, isso não se verifica na sua aplicação

prática42.

Até o momento, a APS permanece encerrada ao primeiro nível de atenção e à porta de entrada, sem considerar sua centralidade no sistema de saúde, presa à política setorial da saúde, consubstanciando a tese do “pacote básico de serviços”. Por mais que se divulgue que se trata de uma atenção ampliada, aparentemente persiste uma interpretação reducionista do conceito de APS, através da oferta de uma APS seletiva à população (MELO, 2011, p. 56).

Com isso, a lógica mercantil, que impera na formulação da política de

saúde, orienta para a priorização da atenção básica aos grupos mais vulneráveis

e pauperizados (SOUZA, 2010).

Assim, em 2003, já no período do governo Lula, marcado por medidas

que ora privilegiam e retomam o projeto da Reforma Sanitária e medidas que ora

privilegiam o projeto privatista, continuando assim com a polarização entre os

dois projetos antagônicos, são identificados aspectos que apontam para o

resgate do projeto democrático e aspectos que remetem a conservação das

medidas adotadas na era FHC43.

O Pacto pela Saúde, lançado em 2006, destaca a Atenção Básica como

principal estratégia de reordenação do sistema de saúde, adotando a Estratégia

de Saúda da Família (ESF), em substituição ao PSF. Dessa forma, a Estratégia

de Saúde da Família (ESF) aparece como principal forma de organizar a atenção

básica, embora não seja única, com ênfase para o seu fortalecimento através

das medidas elencadas pelos objetivos expostos.

A Estratégia Saúde da Família visa à reorganização da atenção básica no País, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde, e é tida pelo Ministério da Saúde e gestores estaduais e municipais, representados respectivamente pelo CONASS e CONASEMS, como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da atenção básica por favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de aprofundar os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, de

42 Vale destacar que é apenas em 2006 que a ESF se efetiva como estratégia após a aprovação da PNAB. 43 Permanecendo intocáveis: o superávit primário; a Desvinculação de Receitas da União (DRU); taxas de juros parametradas pelo Selic; apostas na política de exportação, com base no agronegócio; o inesgotável pagamento de juros, encargos e amortização da dívida pública; e o aumento da arrecadação da união (BRAVO; MENEZES, 2013, p.20).

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ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação custo-efetividade (BRASIL, 2012, p. 54).

Entretanto, esta não é a única forma de organização da AB, uma vez que

há a existência de Unidades Básicas de Saúde (UBS), sem equipes de saúde da

família, conforme poderemos ver mais adiante ao apresentarmos a rede de

atenção no município do Natal/RN.

Ainda em 2006 é lançada a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB),

através da portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006, que:

Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS) (BRASIL, 2006).

Em 2011 foi publicada a portaria nº 2.488 que aprovou revisão da Política

de Atenção Básica que passou a ter uma nova regulamentação: a PNAB/12.

Esta trouxe as alterações promovidas pelo Decreto 7.508/2011, que regulamenta

a Lei 8.080/90 abordando as mudanças elencadas pelo Pacto pela Vida e pela

PNAB/2006.

O decreto traz conceitos importantes para o processo de regionalização,

como regiões de saúde, que se referem a distribuição dos serviços de saúde

entre os municípios limítrofes e que possuem características em comum

(econômica, cultural, social), compreendendo a atenção básica, urgência e

emergência, hospitais gerais, atenção psicossocial e ambulatório especializado;

além disso merece destaque a instituição das redes de atenção que definem o

conjunto de ações e serviços prestados pelo SUS em todos os níveis de atenção.

Além de ampliar as portas de entrada do sistema de saúde para quatro

serviços possíveis contando com a AB (porta de entrada preferencial); Atenção

Psicossocial; Atenção de urgência e emergência e especiais de acesso aberto.

(BRASIL, 2011).

Todavia, embora evidenciadas mudanças com o Decreto a AB continua

desempenhando um papel importante no reordenamento do modelo de saúde,

pois tem como funções para contribuir com o funcionamento das RAS:

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I - Ser base: ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária; II - Ser resolutiva: identificar riscos, necessidades e demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais; III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção, responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários por meio de uma relação horizontal, contínua e integrada, com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais [...]. IV - Ordenar as redes: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando-as em relação aos outros pontos de atenção, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários (BRASIL, 2011, p. 26).

As RAS aparecem como uma nova proposta de articulação das ações e

servidos de saúde no SUS que além de buscar superar o modelo hierarquizado

no qual está organizado o sistema tende a oferecer maior qualidade na prestação

dos serviços.

O modelo de gestão que se pratica no SUS – o modelo da gestão da oferta –, é incompatível com a geração de valor para as pessoas usuárias porque tem seu foco na oferta de serviços e não nas necessidades da população usuária. Esse modelo é estruturado por parâmetros de oferta, construídos, em geral, por séries históricas que refletem mais os mecanismos políticos de conformação dos padrões de capacidade instalada ao longo do tempo, não tendo ligação com as reais necessidades das pessoas usuárias (MENDES, 2015, p. 16).

Figura 01 - A mudança dos sistemas piramidais e hierárquicos para as redes de atenção à

saúde.

Fonte: Mendes (2011).

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Com a redefinição da Atenção Básica de Saúde, a partir do Pacto pela

Vida e da PNAB (2012), o primeiro nível de atenção no sistema passou a se

nortear pelos princípios da universalidade, acessibilidade e coordenação do

cuidado, equidade, vínculo e continuidade, responsabilização, integralidade,

humanização e participação social, de acordo com a sistematização (BRASIL,

2012).

Esses princípios são importantes para a garantia de uma atenção básica

resolutiva, capaz de ser ordenadora dos serviços dentro das redes de atenção,

a medida em que aparece como centro de comunicação com todos as ações e

serviços de saúde, dos mais simples aos complexos, respeitando a

hierarquização do sistema.

Porém, as conquistas no âmbito da atenção básica se fazem entre

continuidades e rupturas, avanços e retrocessos ao passo em que a legislação

progride no sentido de reafirmação do direito à saúde, da AB enquanto estratégia

de reordenamento do modelo de atenção e da garantia de uma saúde de

qualidade a toda população. Ademais, por outro lado, reitera também a

participação da iniciativa privada de forma “complementar” na prestação da

política de saúde via SUS. Essas contradições dificultam a efetivação do projeto

democrático e beneficia o privado.

Bravo e Menezes (2013) chamam atenção para os pontos do decreto que

dizem respeito à iniciativa privada.

Nessa regulamentação merece reflexão a ênfase dada a parceria público-privada. No Artigo 3º é ressaltada a participação complementar da iniciativa privada e no artigo 16 é destacado que no planejamento devem ser considerados os serviços prestados pela iniciativa privada. Outro aspecto preocupante da regulamentação é a falta de referência aos Conselhos de Saúde (BRAVO; MENEZES, 2013, p. 38).

Nessa perspectiva é possível visualizar a continuação da dualidade do

sistema de saúde brasileiro (da relação público-privado), que prevalece na

constituição de um sistema “único” e transparece, mais uma vez, a disputa dos

projetos antagônicos que permeiam as discussões da saúde.

Essa disputa atrelada a ideia de um Estado mínimo para as necessidades

sociais com ênfase para a esfera econômica, imprime a saúde e, em especial, a

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APS grandes desafios que precisam ser superados para sua efetivação.

A atenção básica nesse contexto de retomada dos preceitos da Reforma

Sanitária aparece como forma de superação do modelo fragmentado que vem

sendo implementado no SUS com ênfase para o atendimento médico-curativo e

individual, padrão que vem se mostrando ineficiente para promover o cuidado a

saúde, uma vez que o processo saúde-doença não envolve apenas um fator,

mas um conjunto de determinações sociais conforme estamos ressaltando no

decorrer do estudo.

No próximo capítulo abordaremos o exercício profissional do/a assistente

social na atenção básica de saúde do município do Natal/RN por considerarmos

a importância do Serviço Social nesse campo da saúde com o intuito de

problematizar as questões que permeiam o fazer profissional nesse espaço.

3 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NA ATENÇÃO

BÁSICA DE SAÚDE: Desafios e proposições ao projeto ético-político do Serviço

Social

A ordem socioeconômica imposta aos países em desenvolvimento

colocou uma série de desafios e dificuldades a classe trabalhadora que vem

tendo seus direitos sociais, amplamente conquistados em luta contra a barbárie

capitalista, reduzidos e modificados em detrimento do capital. Os desmontes têm

repercutido em verdadeiros retrocessos para os trabalhadores, implicando na

precarização das condições de vida das classes populares.

As políticas sociais e a reconfiguração do papel do Estado frente a estas,

foram o cerne das medidas neoliberais. Assim, o Serviço Social enquanto

profissão interventiva sofre enormes rebatimentos no seu exercício que

depende, em grande parte, da forma como são geridas as políticas sociais e os

serviços.

Diante disso, esse capítulo visa discutir o exercício profissional do/a

assistente social no contexto das políticas sociais sob os ditames do projeto

neoliberal e as implicações para essa profissão interventiva e com propostas

incompatíveis com o projeto do capital.

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Em um primeiro momento problematizamos o exercício profissional do/a

assistente social enquanto trabalhador assalariado, trazendo ao mesmo tempo,

as bases legais, princípios e valores que circunscrevem a profissão no qual estão

consolidados no projeto ético-político do Serviço Social. Esse esforço é

necessário para compreendermos os desafios e dificuldades vivenciados

pelos/as profissionais, além de evidenciar ponderações necessárias as análises

do exercício profissional.

No segundo item, trazemos a caracterização dos serviços e ações da

atenção básica em Natal afim de apresentar o terreno em que se desenvolve o

exercício profissional dos/as assistentes sociais no referido município.

Posteriormente, no item seguinte, abordamos as particularidades do

exercício profissional do/a assistente social na atenção básica de Natal, a partir

da conjuntura já apresentada, discutindo as formas de contratação desses

profissionais, condições de trabalho, formação.

No último item, discutimos as competências e atribuições privativas

desses profissionais na atenção básica em Natal por considerarmos essa

temática extremamente provocativa ao Serviço Social e rodeada de aspectos

complexos que se interligam para análise das mesmas.

3.1 O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL: desafios

cotidianos e a interlocução com o PEPSS

O Serviço Social é regulamentado como uma profissão liberal inserida

na divisão social e técnica do trabalho possui marcos legais e éticos que

amparam o/a assistente social no seu exercício profissional. A profissão é

norteada pelo projeto ético-político que data dos anos de 1990, período de sua

consolidação, começando a ser construído já em 1960 quando as bases do

Serviço Social tradicional começam a ser corroídas por divergências e

questionamentos levantados pelas vanguardas da categoria acerca do

conservadorismo, até então imperante na profissão desde o seu surgimento.

Esse movimento foi iniciado por vanguardas da categoria oriundas de

diversos países da América Latina e foi denominado de “Movimento de

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Reconceituação44”. Assim, é esse movimento que demarca o processo de

renovação da profissão através de avanços e rupturas no sentido de construção

de uma consciência crítica dos sujeitos.

É após o Movimento de Ruptura que a profissão passara a estar

comprometida com a defesa dos direitos sociais da classe trabalhadora através

da efetivação dos direitos e políticas sociais, assumindo assim outro caráter

político e questionador do modo de sociabilidade capitalista.

Nessa perspectiva é interessante ressaltar o que vem a ser o projeto ético-

político do Serviço Social para melhor entendimento da problemática.

Primeiramente este é um projeto profissional com direção ideopolítica em defesa

dos interesses da classe trabalhadora com aspiração a construção de uma

sociedade justa e igualitária. Nele estão contidos princípios éticos, direitos e

deveres norteadores para a atuação profissional. Nesse sentido o projeto ético-

político possui componentes imperativos e indicativos.

Imperativos são aqueles componentes compulsórios, obrigatórios para todos que exercem a profissão (estes componentes, em geral, são objeto de regulamentação estatal); indicativos são aqueles em torno dos quais há um consenso mínimo que garanta o seu cumprimento rigoroso e idêntico por todos os membros da categoria profissional (NETTO, 1999, p. 9).

Vale ressaltar que o projeto não está fundamentado em um único

documento, ele é formado pela Lei de Regulamentação da profissão (8.662/93),

pelas diretrizes curriculares da ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e

Pesquisa em Serviço Social), e o Código de Ética profissional instituído pela

resolução CFESS nº 273 de março de 1993. Esses três dispositivos formam o

projeto ético-político do Serviço Social agregando os componentes imperativos

e indicativos apontados acima por Netto (1999).

O projeto ético-político do Serviço Social é um projeto profissional

construído coletivamente pelo corpo da categoria através do respeito ao

44 O Movimento de Reconceituação refere-se ao processo de renovação do Serviço Social em que a profissão voltou-se para discutir, de forma endógena, as suas dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. O movimento está divido em três direções: Perspectiva Modernizadora; Reatualização do Conservadorismo e a Intenção de Ruptura (NETTO, 2010).

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pluralismo de ideias e posicionamentos divergentes, chegando assim a um

relativo consenso, onde tal projeto adquire certa hegemonia. O autor destaca o

que vem a configurar como projeto profissional:

Inscrevem-se no marco dos projetos coletivos aqueles relacionados às profissões especificamente as profissões que, reguladas juridicamente, supõem uma formação teórica e/ou técnico-interventiva, em geral de nível acadêmico superior. [...] Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais) (NETTO, 1999, p. 4).

Dessa forma, o projeto profissional é fundamentado por um conjunto de

elementos que conformam as dimensões teóricas, político-organizativas e

jurídico-políticas que se articulam e embasam o exercício profissional.

a) A produção de conhecimentos no interior do Serviço Social, através da qual conhecemos a maneira como são sistematizadas as diversas modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional e especulativos e prospectivos em relação a ele. b). As instâncias político-organizativas da profissão, que envolvem tanto os fóruns de deliberação quanto as entidades da profissão: as associações profissionais, as organizações sindicais e, fundamentalmente, o conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal e Conselhos Regionais de Serviço Social), a ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), além do movimento estudantil [...]. c) A dimensão jurídico-política da profissão, na qual se constitui o arcabouço legal e institucional da profissão, que envolve um conjunto de leis e resoluções, documentos e textos políticos consagrados no seio da profissão (TEIXEIRA; BRAZ, 2009, p.8-9).

Houve uma longa trajetória para a construção do projeto profissional como

está consolidado hoje, passando por diversos momentos de convergências e

divergências em torno das dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e

técnico-operativas.

O redirecionamento do pensamento conservador do Serviço Social

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denominado de Movimento de Reconceituação está dividido em três direções ou

vertentes, a primeira é a direção da perspectiva da Modernização

Conservadora45; a segunda é a perspectiva da Reatualização do

Conservadorismo46 e por última a perspectiva de Intenção de Ruptura. Estas

direções expressam momentos de nuances diferentes da renovação da

profissão com avanços e retrocessos em relação a superação no pensamento

conservador (NETTO, 2010).

Para a compreensão do atual projeto ético-político vale chamarmos

atenção para a terceira direção de renovação do Serviço Social, a Intenção de

Ruptura, que se gestou no período de crise do modelo ditatorial com forte

participação popular pressionando pela redemocratização do país, que

influenciou a redefinição do pensamento conservador e a participação dos

profissionais na defesa da abertura política.

O período ditatorial perdurou dos anos de 1964 a 1985, representando um

marco de fortes tensões sociais, coerção e repressão armada.

Contraditoriamente, o autoritarismo militar encontrou resistência dos

movimentos sociais em defesa dos direitos sociais e civis que junto a insatisfação

popular pelo modo de gestão do regime ditatorial que deteriorava o modo de vida

dos/as trabalhadores/as, ascendeu a rebeldia e efervescência dos movimentos

sociais e populares (FERNANDES, 1975).

Surge então uma nova forma de conceber a atuação do Estado na

representação dos interesses coletivos da sociedade e sua responsabilidade na

prestação das políticas sociais. A participação de estudantes e intelectuais nas

formulações as críticas ao modelo ditatorial e a omissão do Estado diante das

45 De acordo com Netto (2010), expressa um esforço da categoria em se adequar as exigências postas pela conjuntura sociopolítica emanada pelo golpe militar de 1964. O autor aponta ainda que “[...] o núcleo central desta perspectiva é a tematização do Serviço Social como interveniente, dinamizador e integrador no processo de desenvolvimento”. (p. 154). Esta direção é marcada pelo primeiro Seminário de Teorização do Serviço Social, organizado pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS) em Araxá (MG), entre 19 a 26 de março de 1967, e pelo segundo encontro realizado na cidade de Teresópolis (RJ), entre 10 a 17 de janeiro de 1970, ambos resultaram na elaboração de dois documentos no qual é apontada a direção da atuação do Serviço Social em consonância com as novas exigências do período ditatorial, abordando elementos teórico-metodológicos, ideológicos e operativos em um seguimento de cunho estrutural-funcionalista. 46 A Reatualização do Conservadorismo é marcada pela realização de dois seminários nas cidades de Sumaré, entre 20 a 24 de novembro de 1978, e Alto da Boa Vista, em novembro de 1984, ambas localizadas no estado do Rio de Janeiro, de onde resultou na elaboração de dois documentos respectivamente (NETTO, 2010).

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mazelas sociais foi importante para a construção de propostas e reivindicações

que calcassem a atuação dos movimentos sociais e populares (FERNANDES,

1975).

Com isso, o Serviço Social, no âmbito das academias, passou a incorporar

novos pensamentos divergentes das correntes conservadoras e questionar a

conduta da profissão. A Intenção de Ruptura emerge, ainda na década de 1970,

sendo levantada por profissionais que representavam a vanguarda do Serviço

Social por suas ideias estarem a frente de seu tempo. Esta surge isolada aos

muros da universidade, inicialmente na Escola de Serviço Social da

Universidade Católica de Minas Gerais, onde foi elaborado o Método de BH por

docentes da mesma universidade, sendo resultado de experiências a partir de

pesquisas e extensões universitárias e estágios onde criticavam e apontavam

alternativas as práticas conservadoras (NETTO, 2010).

O fato que marca a perspectiva de Intenção de Ruptura é o III Congresso

Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), ocorrido em 1979, na cidade de São

Paulo, quando há a substituição da mesa de abertura que seria formada por

nomes oficiais da ditadura militar passando a ser composta por nomes do

movimento dos trabalhadores ficando assim conhecido como “Congresso da

Virada” (TEIXEIRA; BRAZ, 2009).

É a partir desse período histórico, mais precisamente, na segunda metade

da década de 1980 que essa direção irá extrapolar o âmbito acadêmico e passar

a vigorar nos debates profissionais. A Intenção de Ruptura passou por “três

momentos diferenciáveis: o da sua emersão, o da sua consolidação acadêmica

e o do seu espraiamento sobre a categoria profissional” (NETTO, 2010, p. 261),

porém esse processo não aconteceu de forma linear. No período de emergência

e consolidação acadêmica houve algumas interrupções e só foram retomados

mais tarde no momento de espraiamento para a categoria profissional.

Assim, o processo que se inicia em meados da década de 1960 alcança

seu auge na década de 1980 a qual é considerada a maturidade intelectual da

profissão principalmente com a expansão dos cursos de pós-graduação em

Serviço Social e aproximação direta com a tradição marxista.

A obra de Iamamoto (1982) é considerada o marco dessa maturidade

intelectual. Entretanto, esta terceira vertente não alcançou os resultados

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previstos no âmbito do exercício profissional que “[...] no seu perfil, um flagrante

hiato entre a intenção de romper com o passado conservador do Serviço Social

e os indicativos prático-profissionais para consumá-la” (NETTO, 2010, p. 161).

Mas representou um enorme avanço para a renovação e consolidação da

profissão e do projeto ético-político como está expresso hoje.

É a partir desse momento que começa a se desenvolver pela primeira vez,

no âmbito do Serviço Social, um projeto profissional comprometido com a defesa

dos direitos da classe trabalhadora, incorporando princípios éticos diferentes dos

princípios tradicionais burguês e distante do conservadorismo católico existentes

na sua base.

A origem do Projeto Ético-Político Profissional, concebido nos anos 90, e sua direção sociopolítica deitam raízes nas lutas da classe trabalhadora pelos seus interesses imediatos (trabalho, salário, reforma agrária, reforma urbana, direitos sociais, previdenciários, trabalhistas e etc.), acoplados a luta contra a ditadura e à construção da democracia em articulação aos seus interesses históricos expressos nas lutas anticapitalistas, anti-imperialistas e socialistas (ABRAMIDES, 2006, p. 28).

O novo projeto profissional de 1993, que é uma reedição do código de

ética de 198647, condensa em seu Código de Ética, princípios humanistas que

defendem uma sociedade livre de qualquer tipo de exploração e discriminação,

apreendendo uma ética emancipatória que expressa os valores do projeto

profissional48, a saber:

I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusado arbítrio e do autoritarismo; III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;

47 A profissão teve ao longo da sua história cinco códigos de ética todos consoantes com as situações internas e externas à dinâmica e à organização da profissão, contudo os dois últimos, 1986 e 1993, são os mais expressivos “[...] sinalizam claramente a adoção a um projeto profissional que contemple as dimensões teóricas, técnica e política, dimensões estas inexistentes na formação, logo, na prática profissional daqueles profissionais formados nos contextos anteriores a 1986” (SILVA, 2012, p. 42). 48 A ação ética se realiza a partir de escolhas críticas e conscientes diante da moral estabelecida, direcionada pela busca da realização humana (CARDOSO, 2013. p. 53).

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IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; (CFESS nº 273,1993).

O princípio da liberdade, considerado como central e fundamental para a

conformação dos demais, parte do pressuposto da efetivação de uma sociedade

livre de exploração/dominação (do homem pelo homem) da classe trabalhadora,

direcionando a uma perspectiva emancipatória que possibilite uma plena

liberdade do indivíduo diferenciando-se do sentido atribuído na sociabilidade

capitalista, a qual defende nos limites de seus interesses (CARDOSO, 2013).

Diante disso, o segundo princípio do Código de Ética: Defesa

intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo, traz

as bases para a efetivação da liberdade da forma como é concebida no projeto

profissional. A violação de direitos contraria a concepção de liberdade,

emancipação humana e autonomia defendidas no Código de Ética, a medida em

que pauperiza as condições de produção e reprodução da força de trabalho ao

passo em que aumenta as desigualdades sociais e exclusão social da classe

trabalhadora.

O Estado é um dos maiores violadores de direitos e também o maior

empregador de assistentes sociais, o que implica em uma relação conflituosa e

contraditória na defesa dos direitos apreendida pelo Serviço Social, por esse

motivo, a concepção ética apreendida pelo/a profissional é importante para

definir os rumos das suas ações, no sentido de combater tais violações ou de

conservar e reproduzir, pois:

a violação de direito não ocorre apenas por ação. Ela também ocorre por omissão [...] negar a população acesso a necessidades legitimas por não estarem previstas legalmente; não agir contra relações de trabalho autoritárias, injustas, precarizadas; não se organizar sindicalmente nem fazer lutas sociais; submeter-se a ditames institucionais que violam direitos; todos esses comportamentos que podem eternizar violações de direitos, não combatê-las (RUIZ, 2013, p. 37).

O/a profissional em seu exercício pode contribuir para a manutenção da

violação dos direitos, como pode se posicionar de forma crítica embasada no

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projeto ético-político. A ampliação e consolidação da cidadania, defesa do

aprofundamento da democracia, posicionamento em favor da equidade e justiça

social, estão entrelaçados e respondem ao primeiro princípio fundamental do

código de ética (liberdade), são ações necessárias para o alcance desse

princípio e a concretização de todos (cidadania, emancipação humana e

democracia) pressupõe a superação do modo de produção capitalista, assim:

A oposição ao conservadorismo vai decorrer não só da defesa manifesta dos onze princípios e valores expressos no Código de Ética do Assistente Social, mas da definição de objetivos, metas, estratégias, ações necessárias e do seu desenvolvimento articulado ao compromisso com a classe trabalhadora (VASCONCELOS, 2015, p. 480).

Tais princípios do Código de Ética expressam um conjunto de valores que

apontam o norte do “dever ser” profissional, direcionam a atuação do/a

assistente social para um sentido totalmente oposto ao que se empregava no

Serviço Social tradicional, repudiando a ação centrada no sujeito como se ele

fosse o responsável pela sua situação de pobreza, miséria, na intenção de

ajusta-lo a sociedade.

A ética de ruptura/emancipatória presente no projeto profissional crítico

repudia todas as ações preconceituosas e conservadoras presentes na

sociabilidade capitalista e que podem ser reproduzias pelos/as assistentes

sociais no seu exercício, de forma consciente ou inconsciente, retirando a

essência complexa, histórica, social e político-econômica da questão social fruto

desse modo de produção (CARDOSO, 2013).

Nessa perspectiva, a profissão está embasada na Lei de Regulamentação

Nº 8.662 de 07 de julho de 1993 que traz vários elementos acerca do exercício

do Serviço Social no país. Mas é preciso destacar que a primeira lei de

regulamentação da profissão foi criada ainda na década de 1960 no governo de

João Goulart (1961-1964), pela lei 3.252/1957 e o decreto 994/1962, que já

definiam a obrigatoriedade da obtenção do registro de diploma e a inscrição no

Conselho Regional regulando as escolas de formação, os espaços a serem

ocupados pelos/as assistentes sociais e a distribuição dos Conselhos

profissionais.

Aparece também nesse momento a discussão sobre os currículos e a

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condição do/a assistente social enquanto trabalhador assalariado. O exercício

profissional ficou orientado por esse decreto de 1957 a 1993 quando é revogado

pela Lei º 8.662 (SILVA, 2012).

A atualização se deu pelas novas dinâmicas societárias impressas a

profissão. Assim a Lei 8.662/90 trouxe, além do que já havia antes

(obrigatoriedade de diploma e inscrição no conselho), as competências e

atribuições do/a assistente social49 A Lei de Regulamentação também dispõe

sobre a carga horária de trabalho do (a) assistente social, que pela Lei nº 12.317,

de 26 de Agosto de 2010, acrescenta o dispositivo sobre a carga horária de

trabalho onde passa a vigorar o “Art. 5º- A. A duração do trabalho do Assistente

Social é de 30 (trinta) horas semanais”. Sem redução salarial para os (as)

profissionais empregados (as) (BRASIL, 1993).

No âmbito da formação profissional e produção de conhecimentos, as

Diretrizes Curriculares que baliza a formação de profissionais, apresentando o

perfil do bacharel em Serviço Social, competências e habilidades, disciplinas

básicas a serem contempladas nos cursos superiores, estágio supervisionado,

atividades complementares, além do tempo de duração dos cursos (CFESS,

1999).

A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-metodológica e ético-política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-operativas, com vistas à apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade; Análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país; Compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; Identificação das demandas presentes na sociedade, visando formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado (CFESS, 1999 p. 1-2).

Todos esses aspectos regulamentam e direcionam o exercício

profissional destacando as competências, atribuições e a jornada de trabalho

49 As competências e atribuições balizam a atuação profissional do/a assistente social elencando as atividades que são de responsabilidade dos profissionais, mas também de outros e aquelas atividades que são restritamente do Serviço Social (IAMAMOTO, 2012).

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dos (as) assistentes sociais para balizar a sua intervenção em instituições

públicas e/ou privadas, nesse sentindo se pode dizer que o projeto ético-político

é basilar para o fazer profissional do/a assistente social.

É importante estarmos atentos/as ao fato do projeto ético-político ser um

norteador do exercício profissional, significa dizer que o projeto não o define, não

o determina, apesar de ser parte constitutiva do exercício e extremamente

importante. A conformação da atuação do/a assistente social emprega questões

multifatoriais que devem ser consideradas afim de evitar análises unilaterais de

cunho fatalista ou messiânicas. Com isso, devemos chamar atenção para os

limites do projeto profissional na sociabilidade capitalista que se inicia com o fato

do/a assistente social ser um trabalhador assalariado, assim como o conjunto da

classe trabalhadora.

A condição de trabalhador assalariado implica dizer que o profissional

está imerso nas relações de compra e venda de força de trabalho, entre

empregado e empregador, uma vez que este, não possui meios objetivos para o

exercício do fazer profissional, sem que esteja vinculado a uma instituição

(pública, privada, filantrópica entre outras) (IAMAMOTO 2010).

Nesse sentido, os processos de trabalho nos quais se inserem os

assistentes sociais, dispõem de uma relativa autonomia em seu exercício, que é

tensionado por essa relação onde o empregador impõe ao profissional as

demandas que este deve atender.

Os empregadores determinam as necessidades sociais que o trabalho do assistente social deve responder, delimitando a matéria sobre qual incide esse trabalho; interferem nas condições em que se operam os atendimentos assim como os seus efeitos na reprodução das relações sociais. Eles impõem, ainda, exigências trabalhistas e ocupacionais aos seus empregados especializados e mediam as relações com o trabalho coletivo por eles articulados (IAMAMOTO, 2010, p. 215).

Nessa linha, a condição de trabalhador assalariado imprime ao exercício

profissional, “dilemas da alienação e de determinações sociais que afetam a

coletividade dos trabalhadores [...]” (IAMAMOTO, 2010, p.215). E estas se fazem

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de forma particular na profissão pelo seu direcionamento político-ideológico que

vai à contramão do projeto societário hegemônico do capitalismo.

O/a assistente social vivencia verdadeiros dilemas no seu exercício

profissional a medida em que precisa atender as demandas do empregador que

o contrata e as demandas dos usuários dos serviços, e esses nem sempre estão

em sintonia. Todavia, a defesa dos direitos sociais da classe trabalhadora deve

ser sempre o foco da atuação mediado no conflito capital trabalho.

É a relativa autonomia que garante ao/a profissional a possibilidade de

fazer escolhas éticas, políticas e técnicas no seu exercício profissional

direcionado pelo projeto ético-político. É considerada relativa porque encontra

barreiras objetivas na condução do exercício no cotidiano das instituições

públicas e privadas.

Assim, as análises, pareceres e laudos, por exemplo, são resultantes de

escolhas objetivas e subjetivas dos/as profissionais a medida em que partem da

leitura da realidade e ideologias incorporadas por esses profissionais.

Dentre os direitos do/a assistente social presentes no Código de Ética está

o que se refere a autonomia profissional que diz: “ampla autonomia no exercício

da Profissão, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais incompatíveis

com as suas atribuições, cargos ou funções” (CFESS, 1993, p. 26). Aqui está

previsto a garantia das competências e atribuições expressamente ligadas ao

Serviço Social, podendo o/a profissional se recusar.

Ademais, em razão da precarização das políticas sociais via

financiamento do Estado, rebate na atuação profissional dos/as assistentes

sociais. Tais mudanças afetam os/as assistentes sociais tanto pela condição de

trabalhadores assalariados/as como pelo fato de terem as políticas sociais como

sua principal área de atuação.

Vale salientar que a ligação entre as políticas sociais e o Serviço Social

pode ser observada a partir da intervenção sistêmica do Estado no

enfrentamento das diversas expressões da Questão Social no decorrer da

década de 1930, quando esses profissionais passam a ser requisitados pelo

Estado para atuar nessas políticas.

Apesar de essa ligação estar presente na profissão desde a década de

1930, é apenas em 1970 que o Serviço Social se volta para a discussão das

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políticas sociais no currículo. Contudo, essa discussão, nesse momento, não

conseguiu superar o distanciamento analítico entre ambas devido ao próprio

caráter conservador e tecnicista da profissão dominante até o período do

Movimento de Reconceituação, supracitado mais acima (BEHRING;

BOSCHETTI, 2010). .

A partir desse período as políticas sociais passam a ser tema central dos

debates dentro da categoria seja pela importância do tema, seja pela intrínseca

relação entre ambas ou pelas mudanças conjunturais que as afetam. Conforme

Mioto e Nogueira (2013) a relação visceral entre ambas floresce e aprofundam-

se ao longo duas últimas décadas do século XX, mas é no início do século XXI

que ela se consolida.

Ainda segundo as autoras a inclusão das políticas sociais no debate do

Serviço Social permitiu a profissão situar mais concretamente seus objetivos na

sociedade capitalista. Permitiu pensar a profissão sob a perspectiva do “por que

fazer” ao invés do “como fazer” e mais precisamente avançar no sentido de

pensar o “para que fazer”. “As proposições daí advindas constituíram as bases

de um projeto profissional para os (as) assistentes sociais brasileiros, [...]

conhecido como Projeto Ético-Político Profissional” (MIOTO, 2009, p. 214).

O exercício profissional do/a assistente social está atravessado por

diversos condicionantes que o determina. Tais condicionantes dizem respeito ao

contexto social e histórico, no qual se insere a profissão, que imprimem ao

exercício condições objetivas (condições de trabalho, relações de trabalho,

capacidade do profissional na leitura crítica da realidade, escolhas éticas e

políticas assumidas por este profissional) que envolvem o trabalho do (a)

assistente social.

A partir do entendimento de que para haver trabalho50 é preciso se ter os

meios51 e o objeto52 sobre o qual incidirá a ação do sujeito. Compreendemos que

50 O que Marx (1971) veio a chamar de trabalho é a ação do homem, em interação com a natureza, quando este a transforma com o objetivo de satisfazer a suas necessidades “[...] a sociedade, através dos seus membros (homens e mulheres), transforma matérias naturais em produtos que atendam às suas necessidades” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 30). 51 Os meios de trabalho é “Tudo aquilo de que se vale o homem para trabalhar (instrumentos, ferramentas, instalações etc.), bem como a terra, que é um meio universal de trabalho” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 58). 52 Já o objeto é “tudo aquilo (matérias naturais brutas ou matérias naturais já modificadas pela ação do trabalho) sobre que incide o trabalho humano” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 58).

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a análise do exercício profissional do (a) assistente social, deve considerar o

Serviço Social enquanto uma profissão liberal inscrita na divisão sócio técnica

do trabalho, que implica dizer que está imersa na dinâmica no âmbito do trabalho

e assim sofre com as alterações deste.

Transitar do foco da prática ao trabalho não é uma mudança de nomenclatura, mas de concepção: o que geralmente é chamado de prática corresponde a um dos elementos constitutivos do processo de trabalho que é o próprio trabalho. Mas para existir trabalho são necessários os meios de trabalho e a matéria-prima ou objeto sobre o que incide a ação transformadora do trabalho (IAMAMOTO, 2010, p. 94).

Assim, o exercício profissional do/a assistente social está intimamente

ligado ao contexto macrossocial das esferas econômicas, sociais, políticas e

culturais na sociedade capitalista. O profissional necessita vender sua força de

trabalho a um empregador, público ou privado, para ter acesso aos meios

necessários para desempenhar suas competências e atribuições no trato da

Questão Social.

Apesar de o Serviço Social ser regulamentado como uma profissão

liberal53, o/a assistente social não possui os meios necessários para o

desenvolvimento do seu exercício profissional. Dessa forma, há a necessidade

da mediação do mercado para que o profissional possa desempenhar suas

atividades e que impõe ao assistente social a questão da relativa autonomia.

É a relação de compra e venda da força de trabalho que imprime ao

exercício profissional as contradições típicas de uma mercadoria. Apresenta

assim as suas dimensões de um trabalho concreto, porque cria valor de uso e

trabalho abstrato que evidencia valor de troca. (NETTO; BRAZ, 2007 p. 80).

Assim, o trabalho concreto corresponde ao valor de uso da mercadoria, a

necessidade que ela responde e pela qual foi criada. Pode-se dizer, então, que

estamos falando do trabalho em si ou trabalho útil.

Enquanto o trabalho abstrato está impresso no valor de troca, passamos

a analisar o trabalho abstrato existente na conformação das mercadorias como

forma de chegar a um denominador comum justo pago pela mercadoria.

53 Implica dizer que possui total liberdade para o exercício da sua profissão, podendo constituir empresa ou ser empregado, desde que esteja registrado em uma ordem ou conselho.

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A mercadoria é um valor de uso que se produz para a troca, para a venda; os valores de uso produzidos para o autoconsumo do produtor (o móvel que o marceneiro fabrica para uso em sua própria casa) não são mercadorias – somente valores de uso que satisfaçam necessidades sociais (humanas) de outrem e, portanto, sejam requisitados por outrem [...] (NETTO; BRAZ, 2007, p. 79-80).

Nesse sentido se deve levar em consideração o valor de uso da força de

trabalho do/a assistente social (a necessidade social a qual ela responde) e

consequentemente o trabalho concreto. E, considera-se também o valor de troca

que é expresso no denominador comum: o dinheiro ou no caso, no salário. Esse

valor de troca considera as determinações gerais do trabalho como o dispêndio

de energia física e psíquica, o trabalho abstrato ou trabalho socialmente

necessário. Sobre a mercadoria:

[...] Para ser trocada, precisa ser comparada: quando o sapateiro leva ao mercado os seus sapatos para trocá-los por tecidos, há que comparar-se o trabalho do sapateiro com o do tecelão. Essa comparação, necessária para a troca, realiza-se com a eliminação das particularidades das diversas formas de trabalho e com a sua redução a um denominador comum, àquilo que todas as formas de trabalho têm entre si: o fato de serem trabalho em geral; quando o trabalho concreto é reduzido à condição de trabalho em geral, tem-se o trabalho abstrato [...]. (NETTO; BRAZ, 2007, p. 105).

Diante disso, é preciso pensar a profissão sob esses dois ângulos,

considerando o seu valor de uso na sociedade capitalista e seu valor de troca,

para dessa forma, ampliar a análise sobre o exercício profissional. Uma vez que

as particularidades dessa atividade profissional não se esgotam no seu valor de

uso, a profissão:

É também portadora de trabalho humano indiferenciado, trabalho humano abstrato, analisado na óptica de sua quantidade, parte do trabalho social médio, que participa na produção e/ou distribuição da mais-valia socialmente produzida e na luta pela hegemonia entre forças sociais (IAMAMOTO, 2010, p. 214).

O exercício profissional é constituído por três dimensões que se

interligam, são elas: teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.

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Estas estão articuladas e possuem características diferentes que se

complementam e assim, conformam a base para o exercício qualificado do(a)

assistente social (GUERRA, 2013).

A dimensão teórico-metodológica do Serviço Social diz respeito ao aporte

teórico no qual se embasa a profissão para conhecimento e leitura da realidade.

A partir da renovação54 da profissão, esta passou a se valer das fontes

marxianas (escritos do próprio Marx) e marxistas (autores inspirados nos estudos

de Marx) para análise crítica da realidade.

A visão marxista, abraçada pelo Serviço Social, corresponde ao projeto e

ideologia de classe assumida por essa profissão, a medida em que denuncia a

barbárie do sistema capitalista e pressupõe a configuração de uma outra

sociabilidade mais justa e igualitária. Essa dimensão juntamente com a ético-

política, subsidia o fazer profissional, dando ao assistente social a capacidade

de desvendar as aparências cotidianas e fazer escolhas guiadas por valores

éticos. Estas dimensionam o pensamento social da profissão.

Estas dimensões se entrelaçam e sustentam o exercício profissional do

(a) assistente social:

Pensar o projeto profissional supõe articular essa dupla dimensão: a) de um lado, as condições macrossocietárias que tecem o terreno sócio-histórico em que se exerce a profissão, seus limites e possibilidades que vão além da vontade do sujeito individual; b) e, de outro lado, as respostas de caráter ético-político e técnico-operativo- apoiadas em fundamentos teóricos e metodológicos – de parte dos agentes profissionais a esse contexto (IAMAMOTO, 2004, p. 5)

Articular essa dupla dimensão, significa fazer leituras da realidade afim de

vislumbrar as alternativas e limites impostos a profissão, dentro da conformação

das políticas sociais implementadas pelo Estado, como forma de afastar

idealizações superestimadas da atuação profissional ou posturas conformistas

diante das aparentes situações imutáveis. É a partir dessa leitura que os/as

54 O movimento de renovação do Serviço Social se iniciou ainda na década de 1960, em que a categoria passou a se voltar para discussões endógenas da profissão, tendo a frente profissionais de vanguardas ligados ao campo acadêmico que vieram a questionar a racionalidade da profissão na sociedade capitalista ocasionando a crise do Serviço Social tradicional. (NETTO, 2010).

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profissionais devem buscar respostas de caráter ético-político e técnico-

operativo amparadas no projeto profissional.

Já a dimensão técnico-operativa remete diretamente ao modo de

proceder da atuação profissional. Nas palavras de Guerra (2013):

A dimensão técnico-operativa é a forma de aparecer da profissão, pela qual é conhecida e reconhecida. Dela emana a imagem social da profissão e sua autoimagem. Ela encontra-se carregada de representações sociais e da cultura profissional. É a dimensão que dá visibilidade social à profissão já que dela depende a resolutividade da situação, que, às vezes, é mera reprodução do instituído, e outras, constitui a dimensão do novo (GUERRA, 2013 p. 4).

Diante disso, é a partir da dimensão técnico-operativa que visualizamos a

conjugação das demais dimensões. Essa dimensão sofre enormes tensões na

medida em que se compreende em espaços de expressão da questão social em

que as políticas sociais são as principais respostas a estas.

A reestruturação produtiva e o neoliberalismo mudaram a forma de gerir

os processos de trabalho e a produção e reprodução da força de trabalho

também nos campos de atuação do/a assistente social que tem como lócus as

políticas sociais. Como discutimos no item anterior, as políticas sociais passaram

a se desenvolver sob o trinômio da privatização, a focalização/seletividade e a

descentralização, esse novo quadro acarretará sérias dificuldades para o

exercício profissional por dois fatores preponderantes.

O primeiro está ligado ao fato do assistente social, enquanto trabalhador

assalariado, sofrer com as questões que afetam o conjunto dos trabalhadores

como o desemprego, a desregulamentação e flexibilização do trabalho (perda de

direitos, contratos temporários) a precarização das condições de trabalho, o que

indica a fragilização dos/as assistentes sociais frente a essas dinâmicas.

A precarização representa péssimas condições de trabalho além de

relações contratuais frágeis e que penalizam os trabalhadores. “[...] A

precarização também é o medo da perda do seu posto de trabalho, ou da perda

de direitos e garantias até então assegurados” (FREITAS; MACHADO, 1999, p.

73).

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E o segundo diz respeito ao fato dos/as assistentes sociais se inserirem

em processos de trabalho pré-definidos pelos empregadores e, com isso, são

sujeitos as condições gerais que lhe são impostas. No caso do exercício no SUS,

por exemplo, os profissionais operam em meio as dificuldades vivenciadas pela

política de saúde de modo geral.

A conservação do modelo tradicional de saúde que enfatiza a prática

curativa e individual foi comprovada como incapaz de resolver os problemas de

saúde da população usuária, é a partir do movimento da Reforma Sanitária que

a saúde deixa de ser pensada como ausência de doença e passa a relacioná-la

com o conjunto das necessidades de saúde, trabalhando também as suas

causas, incentivando boas práticas de saúde que visem o autocuidado,

promoção e prevenção em saúde, proporcionando maior qualidade de vida e a

diminuição de procuras por tratamentos apenas medicamentosos.

Porém, o modelo tradicional tem sido reafirmado no Estado neoliberal e

se mostrado bastante rentável e por isso um excelente campo de atuação da

iniciativa privada através da expansão dos planos privados de saúde e a da

relação público-privada que tem sido cada vez mais frequente na área da saúde.

Entretanto, vale ressaltar que o/a assistente social não está totalmente

preso as questões institucionais e macrossociais. Apesar de serem muito

importante na configuração do exercício profissional, os fatores externos não

podem ser considerados as únicas causas para a não garantia do acesso ao

direito pelo/a assistente social.

É importante estar sempre traçando estratégias de superação das

adversidades e empenho na efetivação dos direitos sociais através do

investimento em formação continuada, participação das decisões sobre as

diversas políticas e incentivo a participação da população.

No próximo item abordaremos a caracterização da atenção básica de

saúde em Natal para compreendermos o terreno no qual se opera o exercício

profissional do/a assistente social, de modo a possibilitar visualizar as

interligações necessárias às análises das competências e atribuições.

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98

3.2 Caracterização da Atenção Básica no município do Natal/RN

Conforme as legislações concernentes ao SUS, os três entes federativos

possuem responsabilidades na prestação da política de saúde no que diz ao

financiamento, elaboração, planejamento, monitoramento e execução, com isso

a atenção básica ficou a cargo dos munícipios (execução e co-financiamento)

que devem proporcioná-la com parâmetros nas orientações do Ministério da

Saúde, mas com autonomia de incrementá-la de acordo com as necessidades e

particularidades da realidade vivenciada pela população local.

A atenção básica no município do Natal está ancorada na Política

Nacional de Atenção Básica - PNAB (2012), de acordo com a “Carteira de

Serviços da Atenção Básica de Natal” editada em 2014 que tem como objetivo:

Ordenar as ações da AB no âmbito municipal, revisando e definindo normas e diretrizes para o funcionamento das equipes e serviços. Seu conteúdo abrange a organização dos serviços, com diretrizes para organização local e para gestão das equipes de saúde, e o conjunto das atividades assistenciais realizadas na atenção básica. O seu intuito é de contribuir para diminuição de iniquidades na oferta de ações e serviços, ampliação da abrangência e melhoria da qualidade da atenção primária (NATAL, 2014, p. 6).

O documento destaca que a AB deve ser orientada pelos seguintes

diretrizes:

▪ Unificação da Política de Atenção Básica em toda a rede do SUS municipal ▪ Implementação de ações imediatas visando a regularização do apoio logístico ▪ Expansão da cobertura da ESF e extensão do horário de atendimento nas unidades ▪ Acolhimento à demanda espontânea com avaliação de risco e vulnerabilidade em todas as Unidades, e rompimento com as restrições de barreira e de bloqueio à atenção. ▪ Gestão participativa e democrática ▪ Descentralização administrativa e profissionalização das gerências locais e distritais com fortalecimento dos Distritos Sanitários ▪ Avaliação da Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica ▪ Promoção de ações de ambiência saudável nas unidades básicas (NATAL, 2014, p.14).

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Dessa forma, a Carteira vem trazer como está estruturada a atenção

básica no município do Natal/RN, se organiza pela oferta de ações e serviços

distribuídos em distritos sanitários que abarcam as quatro regiões

administrativas do município, Norte, Sul, Leste e Oeste. Como a região Norte é

a mais extensa, foi subdivida, totalizando cinco distritos, são eles: Leste, Oeste,

Sul e Norte I e Norte II55 com comando central da SMS. É válido ressaltar que

para fins de planejamento e gestão e em virtude das disparidades entre as

regiões administrativas:

Natal desencadeou o processo de distritalização em 1987, em referência ao processo de regionalização intramunicipal, fruto da assinatura de convênio de cooperação técnica com a Organização Panamericana de Saúde – OPAS, sob a coordenação da Secretaria de Estado da Saúde Pública, objetivando reorientar a política institucional da SMS através de uma série de consultorias com foco em áreas específicas, a saber: organização e estruturação do Sistema Municipal de Saúde, modelo assistencial com ênfase na Vigilância à Saúde, Sistema de Informações em Saúde e Territorialização (NATAL, 2007, p. 11).

Nessa perspectiva, assim como no âmbito nacional, no município os

serviços podem ser oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde – UBS;

Unidades de Saúde da Família – USF; Núcleos de Apoio à Saúde da Família –

NASF; Unidades Básicas Ampliadas – UBA; as Equipes de Consultórios na Rua;

e o Serviço de Atenção Domiciliar (NATAL, 2014).

As UBS são unidades tradicionais, sem saúde da família onde o

atendimento é prestado por diversos profissionais (médicos, assistentes sociais,

enfermeiros e dentistas), por demanda espontânea (quando o usuário procura a

unidade sem nenhum encaminhamento prévio) ou programada. São

responsáveis pela cobertura, em grandes centros urbanos, de no máximo até 18

mil habitantes (PNAB, 2012).

Já as USF são formadas por equipes de saúde da família que devem

contar com no mínimo (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da

55 Em 2005, foi feita uma nova delimitação da região administrativa norte da cidade subdividindo em dois distritos, o Norte I e Norte II levando em consideração as “peculiaridades sócio-demográficas e sanitário-epidemiológicas locais e da necessária intervenção do Poder Público sob uma ótica de gestão participativa com racionalização estratégica de condutas” (NATAL, 2007, p.13).

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Família, ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou

especialista em Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV)

agentes comunitários de saúde. Podem ser acrescentados a essa composição

os profissionais de Saúde Bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista

em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal. Devem atender no

máximo 12 mil habitantes dentro do território (PNAB, 2012).

Com vistas a dar suporte às equipes de saúde da família e qualificar a sua

atuação junto aos usuários das áreas de abrangência das USF foram criados os

Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). A portaria nº 154/2008 que trata

da criação do NASF estabelece no Art. 2º que estes devem ser constituídos por

equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento,

fazendo o matriciamento56 às equipes e na unidade na qual o NASF está

cadastrado.

Além disso, os NASFs não se constituem como porta de entrada do

sistema, e devem atuar de forma integrada à rede de serviços de saúde, a partir

das demandas identificadas no trabalho conjunto com as equipes Saúde da

Família (BRASIL, 2008).

O NASF pode ser duas modalidades 01 (um) ou 02 (dois). O NASF 01

(um) deve ser vinculado a, no mínimo, 08 (oito) equipes de saúde da família e,

no máximo, 20 (vinte) equipes, enquanto que o NASF 02 (dois) deve estar

vinculado a no mínimo 3 (três) equipes. Ambos devem funcionar de acordo com

o horário das equipes de saúde da família, e as atividades podem ser realizadas

nas unidades de saúde ou em outros lugares do território. Além disso, as equipes

não precisam ser da mesma unidade, um NASF, por exemplo, pode estar

vinculado a equipes de unidades de saúde diferentes desde que sejam de um

território em comum (BRASIL, 2008).

Possibilidades de composição do NASF: Assistente social; profissional de Educação Física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; profissional com formação em arte e educação (arte educador); nutricionista; psicólogo; terapeuta ocupacional; médico ginecologista/obstetra; médico homeopata; médico pediatra; médico veterinário; médico psiquiatra; médico geriatra;

56 O apoio matricial se configura como um suporte técnico e especializado a uma equipe de saúde realizada por profissionais de diferentes campos do conhecimento em saúde com vistas a qualificar o trabalho das equipes de saúde das USF (CAMPOS; DOMITTI; 2007).

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médico internista (clínica médica); médico do trabalho; médico acupunturista; e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas (BRASIL, 2014).

No município de Natal, a modalidade adotada é a 01 (um), formada por

07 (sete) profissionais na equipe: 01 (um/a) psicólogo/a, 01 (um/a) assistente

social, 01 (um/a) farmacêutico/a, 01 (um/a) educador/a físico/a, 01 (um/a)

nutricionista e 02 (dois/duas) fisioterapeutas.

O município também dispõe das UBAS ou Unidades Mistas que são

unidades destinadas ao “atendimento em atenção básica e integral à saúde, de

forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer

assistência odontológica e de outros profissionais” (NATAL, 2014, p. 11). Além

disso, a assistência médica deve ser permanente, podendo ser de urgência e

emergência.

Merece destaque, também, os serviços prestados pelas Equipes de

Consultório na Rua (ECR), atendem as demandas das populações em situação

de rua no que concerne a APS, vinculadas as Unidades Saúde da Família. Tem

como objetivo ampliar o acesso da população em situação de rua à rede de

atenção e ofertar atenção à saúde de forma integral e oportuna a esta população.

O acesso se dá por busca ativa, por demanda espontânea da população ou por

encaminhamento de outros pontos da rede de atenção à saúde.

As equipes devem cumprir a carga horária mínima semanal de 30 horas,

“porém seu horário de funcionamento deverá ser adequado às demandas das

pessoas em situação de rua, podendo ocorrer em período diurno e/ou noturno

em todos os dias da semana” (PNAB, 2012 p.62-63).

As equipes deverão realizar suas atividades de forma itinerante, desenvolvendo ações na rua, em instalações específicas, na unidade móvel e também nas instalações das Unidades Básicas de Saúde do território onde está atuando, sempre articuladas e desenvolvendo ações em parceria com as demais equipes de atenção básica do território (UBS e NASF), e dos Centros de Atenção Psicossocial, da Rede de Urgência e dos serviços e instituições componentes do Sistema Único de Assistência Social, entre outras instituições públicas e da sociedade civil (PNAB, 2012 p. 63).

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Por último, temos o Serviço de Atenção Domiciliar que pode ser

substitutivo ou complementar a internação hospitalar ou ao atendimento

ambulatorial. O serviço objetiva diminuir a demanda por internação hospitalar e

a redução do período de permanência dos internados, bem como possibilitar ao

usuário uma maior autonomia sobre sua saúde.

Ademais, as unidades de saúde estão assim distribuídas no município de

acordo com levantamento de dados junto a SMS.

Tabela 03 - Unidades de Saúde em Natal/RN

DISTRITO SANITÁRIO

UNIDADES DE SAÚDE

USF UBA UBS TOTAL

Norte I 11 0 0 11

Norte II 11 0 0 11

Oeste 11 01 01 14

Leste 03 02 05 10

Sul 02 01 06 09

TOTAL 38 04 12 54 Fonte: elaborada pela autora.

Das 54 Unidades de Saúde, 38 são USF; 12, UBS e 04 são UBA, além

dessas, existem 03 NASF (Nazaré, Santarém e África) e 03 Consultórios na Rua

(São João, Ponta Negra e Mãe Luiza), que não constam nessa tabela.

Apesar do quantitativo de unidades, a cobertura da atenção básica em

Natal não é suficiente para responder as demandas e necessidades dos

territórios, esse fato repercute em um número expressivo de população

descoberta e demandas reprimidas. A exemplo, podemos citar os dados dos

distritos Norte I e Norte II nos quais:

verifica-se que a cobertura dos serviços de saúde nos distritos em estudo é de 77% da população no distrito Norte I, enquanto 23% desse total encontra-se descoberto; já no distrito Norte II, tem-se 63% da população em área de cobertura, enquanto uma proporção de 37% encontra-se descoberta (HOFFMANN et al., 2015 p. 9).

As regiões citadas acima, estão entre as áreas consideradas de maiores

vulnerabilidades sociais no município e por esse motivo são as que mais

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demandam investimentos públicos para a população que é extremamente

carente de inúmeros serviços, inclusive de saúde.

Assim, como a atenção básica em um contexto mais amplo, em Natal/RN

se vivencia vários desafios para efetivação do papel resolutivo da AB enquanto

ordenadora e centro de comunicação das RAS. Primeiramente é importante

garantir vínculos de trabalho efetivos a medida que atualmente se evidencia

diversos tipos de vínculos dentro desses espaços.

No distrito Norte I, as equipes são ampliadas e os profissionais são contratados a partir de concursos, Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PRO-VAB) ou Mais Médicos, além de alguns profissionais vinculados às cooperativas, ocasionando uma intensa rotatividade de funcionários (HOFFMANN etal, 2015, p. 12).

Outra questão é a garantia de condições de trabalho adequadas para

os/as profissionais com a oferta dos recursos humanos e matérias necessários

para o funcionamento do serviço e desenvolvimento das ações, garantindo

também a continuidade do cuidado e criação de vínculos afetivos com a

comunidade.

A faceta neoliberal do Estado se apresenta também na micropolítica do

município que não investe o necessário na saúde e a transforma em uma política

focalizada para seguimentos pauperizados da população bem como a sua

precarização.

A criação dos conselhos locais de saúde dentro das próprias unidades é

uma importante ferramenta de controle social, que deve ser usada como forma

de potencializar a defesa do direito à saúde a partir da inserção da comunidade

nas discussões com ponto de partida as suas próprias dificuldades

compartilhadas nas singularidades dos territórios.

No próximo item problematizamos o exercício profissional do/a assistente

social na atenção básica de Natal a partir da pesquisa de campo realizada no

referido município com ênfase para a discussão desse profissional como

assalariado inserido nesse contexto de precarização dos serviços e condições

de trabalho.

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3.3. As particularidades do exercício profissional do/a assistente social na

Atenção Básica de Natal/RN.

O/a assistente social é considerado/a um/a profissional da saúde

expresso na resolução nº 218, de 06 de março de 1997 do Conselho Nacional

de Saúde e na resolução nº 383/99 de 29 de março de 1999 do CFESS. Na

atenção básica desempenha um papel fundamental na concepção de saúde

enquanto conceito ampliado por esta ser o lócus do desenvolvimento de ações

que ultrapassam a prática curativa individual, apesar da enorme presença, ainda,

de uma saúde tradicional.

O/a profissional em Serviço Social pode agregar valor a equipe através da

crítica a saúde focada na doença e do fortalecimento da saúde como direito de

cidadania e seu conceito ampliado. Isso remete a questões mais gerais que

interferem no processo saúde-doença, significa dizer que o/a assistente social

tem seu reconhecimento enquanto trabalhador da saúde na atuação junto aos

Determinantes Sociais de Saúde, que imbricam no processo de cuidado a saúde

e em melhores condições de vida da população, na perspectiva da

intersetorialidade e da interdisciplinaridade.

Nessa perspectiva a partir da pesquisa de campo realizada nas unidades

de saúde em Natal/RN no período de março de 2016 a maio do referido ano,

podemos observar como se desenvolve o exercício profissional dos/as

assistentes sociais na AB do município.

Primeiramente, cabe destacar a caracterização dos sujeitos de pesquisa

entrevistados, sendo a maioria é do sexo feminino, constando apenas um

homem na amostra de 12 assistentes sociais. O que reafirma a predominância

de profissionais mulheres no Serviço Social.

A idade dos/as profissionais varia entre 32 anos a 60 anos, sendo 10 dos

sujeitos pesquisados com idade de 45 a 60 anos.

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Gráfico 02 – Faixa etária de idade dos/as entrevistados

Fonte: elaborado pela autora

De acordo com o gráfico podemos perceber que a maioria dos/as

profissionais estão na faixa dos 50 anos de idade, não aparecendo a faixa dos

20 anos de idade. Também são esses profissionais a maioria dos ocupantes de

cargos efetivos via concursos públicos realizados na saúde de Natal e com vasta

experiência nessa área. Os mais jovens sofrem com a precarização dos vínculos

temporários e exclusão do mercado de trabalho, esta é uma forte tendência da

ampliação das formas “flexíveis” de contratação de trabalhadores que vem se

operando desde a década de 1990 (ANTUNES, 2008).

No que diz respeito a formação profissional 10 (onze) se formaram em

universidades públicas, destas, 09 (dez) na Universidade Federal do Rio Grande

do Norte - UFRN e 01 (um/uma) na Universidade de Brasília - UNB e 02

(dois/duas) em faculdade privada. Desses/as 07 (sete) possuem pós-graduação;

04 (quatro) nunca fizeram e 01 (um/uma) está em andamento, como podemos

ver na figura abaixo.

Gráfico 03 – Escolaridade dos sujeitos de pesquisa

8%

8%

17%

25%

25%

17%

Idade dos sujeitos de pesquisa

32 anos

34 anos

45 anos

50 anos

58 anos

60 anos

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Fonte: elaborado pela autora

A partir do gráfico é possível compreender que a maioria dos/as

profissionais pesquisados possuem preocupação com a educação permanente

e investem em sua qualificação através dos cursos de pós-graduação (todos de

especialização), o que contribui para a melhoria dos serviços ofertados.

Em relação aos vínculos empregatícios 75% (09) dos/as entrevistados/as

são do quadro efetivo do município, enquanto 25% (03) estão empregados/as

via contratos temporários, desse percentual, 02 (dois/duas) são dos Consultórios

na Rua e 01 (um/uma) de USF e não possuem mais de um vínculo de trabalho.

Além da precariedade dos vínculos trabalhistas, porque no nosso caso é contrato temporário, aí já há uma grande fragilidade na questão trabalhista, e os gestores municipais não respeitam também a nossa lei das trinta horas semanais. E que no caso, eu enquanto profissional de Serviço Social, trabalho quarenta horas, tanto eu como outras profissionais na área da saúde desse município [...] (ASSISTENTE SOCIAL 1).

Os contratos temporários fragilizam os trabalhadores em diversos

aspectos, um deles remete a defesa dos próprios direitos enquanto

trabalhadores assalariados, como a garantia da jornada de trabalho conquistada

pela categoria através da promulgação da Lei nº 12.317/2010 que trata da carga

horaria de trabalho dos/as assistentes sociais, determinando o total de trinta

horas semanais. Além do mais, demostra a contradição da proposta de criação

de vínculos e continuidade do cuidado previstos na PNAB (2012), que

regulamenta a atenção básica no país, pela necessidade de criação de vínculos

59%

8%

33%

Nível de formação dos/as assistentes sociais

Com pós-graduação

Pós-graduação emandamento

Não possui pós-graduação

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e continuidade dos serviços para a população, dado o trabalho com as famílias,

indivíduos e comunidades, o que pressupõe vínculos afetivos e efetivos.

Através do princípio da universalidade sabemos que o SUS é de acesso

a todos os cidadãos independente de classe social, gênero, raça e etnia, todavia

as pessoas em situação de rua têm sofrido esse distanciamento das políticas

sociais públicas. As equipes de consultórios na rua, vinculadas as USF,

aparecem como forma de estender os serviços de atenção básica as pessoas

em situação de rua que não procuram as unidades de saúde por diversos

motivos, principalmente, pelo preconceito dos profissionais em atender esse

seguimento “[...] A gente tenta sensibilizar os profissionais da atenção básica

para o atendimento a essa morador de rua que sofre um preconceito e a gente

carrega também um preconceito por cuidar, por estar com eles” (ASSISTENTE

SOCIAL 5).

Ainda que haja a PNPSR e outras políticas setoriais e intersetoriais, elas nem sempre garantem um cuidado integral pois o imaginário social sobre a população em situação de rua influencia significativamente a prática dos profissionais que atuam nos serviços de saúde. [...] Características estigmatizantes como a sujeira, o mau cheiro e o efeito de drogas lícitas e ilícitas são, muitas vezes, determinantes para a precariedade no acolhimento ao morador de rua nos serviços de saúde. O processo de exclusão dessa população é reforçado institucionalmente por meio da burocracia para o agendamento das consultas e da inflexibilização dos horários de atendimento, assim como da exigência de documento de identidade, comprovante de endereço e do Cartão SUS (HALLAIS; BARROS, 2015, p. 1499).

A realidade das Equipes de Consultórios na Rua é carregada de estigmas

e preconceitos por se tratar de um público historicamente privado de direitos na

sociedade e invisível aos olhos do Estado. O trabalho das ECR é importante para

inserir essa população que, apesar de ter a saúde de acesso universal, não são

contemplados com as ações e serviços, muitas vezes, por não se sentirem

possuidores desse direito, pelo medo do preconceito dos profissionais que

atendem e pelas próprias dificuldades de se deslocar até as unidades.

A atuação da ECR permite a identificação das necessidades sociais de

saúde desses sujeitos e sua integração aos serviços ofertados no âmbito do SUS

e demais políticas a partir da articulação da rede intersetorial.

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A criação de vínculo que deve ser estabelecida pelas equipes de

consultórios na rua é de extrema importância para a constituição de laços de

confiança entre a equipe e os usuários para a continuidade do cuidado de uma

população que vivencia diversas formas de exclusão por todos os setores da

sociedade, perdas e desqualificação social57 por não estarem inseridos no

mercado de trabalho formal e terem uma vida considerada normal. Porém, a

contratação temporária dos profissionais inviabiliza essa constituição de vínculos

e interrompe a continuidade do cuidado dificultando a inserção desses sujeitos

nos serviços de saúde de forma acompanhada ou no sentido longitudinal.

Gráfico 04 - Tempo de trabalho na saúde

Fonte: elaborado pela autora

Já sobre o tempo de trabalho na saúde a maioria dos/as profissionais

possui mais de 05 anos de atuação, variando entre 10 a 15 anos no total, assim

como nos serviços de atenção básica pesquisados. Todavia, os/as profissionais

com contratos temporários têm menor tempo de trabalho na saúde e

principalmente no serviço.

57 A desqualificação social está ligada à questões relativas à situação de pobreza e a processos de exclusão do mercado de trabalho. Nas sociedades modernas, a pobreza não é somente o estado de despossuir, mas sim de um status social específico, inferior e desvalorizado, que imprime uma identidade àqueles que vivenciam essa situação (PAUGAM, 2003).

75%

8%

17%

TEMPO DE TRABALHO NA SAÚDE

Mais de 05 anos

3 a 5 anos

1 a 3 anos

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Gráfico 05 - Tempo de trabalho na Atenção Básica

Fonte: elaborado pela autora

Sobre o tempo de trabalho na AB, a maioria dos pesquisados que

possuem mais de 05 (cinco) anos na saúde (10 a 15 anos) é também o mesmo

tempo de experiência na AB, variando apenas os serviços.

No que concerne as demais condições de trabalho, percebemos que

apesar de se diferenciarem de um serviço para outro, de um modo geral, são

bastante precárias em relação as necessidades para o melhor desenvolvimento

das ações e serviços.

Diante disso, as condições de trabalho fazem parte do principal fato,

apontado por profissionais que trabalham na atenção básica de saúde do

município do Natal, como dificuldade que os impedem de prestar um serviço de

melhor qualidade e de proporcionar o acesso aos direitos sociais. Além disso,

dependendo do serviço em que o/a assistente social se insere, as condições

podem ser um pouco melhores ou piores, mesmo dentro da mesma política, no

caso a de saúde, mas a precarização é apontada em todas as falas. No espaço

do NASF, como pode ser visto na fala a seguir:

As condições de trabalho são precarizadas porque, por exemplo, o NASF dá apoio a sete equipes de unidades diferentes, então a gente deveria ter um carro pra ter uma equipe volante [...] nesse trabalho de articulação não é só entre as unidades, eu tenho que ir no Conselho Tutelar, CRAS, CREAS e etc. então a gente precisa ter um carro pra poder circular, estar se deslocando de um lugar para outro e são em torno de 5 km, então nós temos que usar o nosso carro com o dinheiro do nosso

83%

9%8%

TEMPO DE TRABALHO NA AB

Mais de 05 anos

03 a 05 anos

01 a 03 anos

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misero salário. [...] Não tinha um computador, agora que chegou um computador, mas não tem internet aí então ainda não foi instalado os programas que são importantes como o Excel, o Word para que possamos trabalhar. Ficava tendo que trabalhar em casa porque na unidade não oferecia as condições (ASSISTENTE SOCIAL 2).

Podemos perceber que os/as profissionais precisam buscar estratégias

para a viabilização do seu exercício profissional se utilizando de recursos

próprios, frente à negligência do município em ofertar os meios básicos de

trabalho, e até mesmo estendendo a sua jornada de trabalho para além do seu

horário e do espaço institucional implicando em um desgaste da força de trabalho

pela sobrecarga, com vistas a contemplar as inúmeras demandas que chegam

diariamente aos serviços. Como resultado podemos citar principalmente o

adoecimento dos/as trabalhadores/as e a mecanização das respostas

profissionais resultantes da imediaticidade.

Na materialização das políticas, temos profissionais em condições cada vez mais precárias de trabalho, adoecidos, capturados pelo procedimentalismo exigido pelas próprias políticas e seu conjunto de cartilhas e manuais, reiterando a produção do já produzido, ou seja, uma reprodução sem reflexão, sem mediações, sem crítica, despolitizada, com ênfase conformadora (PRATES, 2013, p. 5).

Em outra fala, também relacionada ao NASF é denunciado inclusive a

falta de salas para os profissionais da equipe, a medida em que o NASF não

possui estrutura física própria, pois utiliza as dependências das unidades que

matricia.

A gente tinha uma sala para planejar, mas essa sala a gente utiliza para tudo [...] quando a gente precisa fazer algum atendimento individual você tem que ficar procurando uma sala livre na unidade, nesta unidade porque na outra nem isso porque não tem espaço [...] (ASSISTENTE SOCIAL 3).

O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) normatiza através da

resolução nº 493/2006 de 21 de agosto de 2006 as condições de trabalho

necessárias para o exercício profissional dos/as assistentes sociais

independente da área de atuação.

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111

Art. 1º - É condição essencial, portanto obrigatória, para a realização e execução de qualquer atendimento ao usuário do Serviço Social a existência de espaço físico, nas condições que esta Resolução estabelecer. Art. 2º - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaço suficiente, para abordagens individuais ou coletivas, conforme as características dos serviços prestados [...] Art. 3º - O atendimento efetuado pelo assistente social deve ser feito com portas fechadas, de forma a garantir o sigilo. Art. 4º - O material técnico utilizado e produzido no atendimento é de caráter reservado, sendo seu uso e acesso restrito aos assistentes sociais. Art. 5º - O arquivo do material técnico, utilizado pelo assistente social, poderá estar em outro espaço físico, desde que respeitadas as condições estabelecidas pelo artigo 4º da presente Resolução (CFESS, 2006, p. 2-3)

As condições de trabalho, embora não determinem a atuação profissional

do/a assistente social, repercute na qualidade dos serviços prestados, pois os/as

profissionais necessitam de condições objetivas para viabilizar o acesso aos

direitos sociais e nesse processo precisam planejar suas ações com vistas a

definir as finalidades do seu exercício problematizando o “por que fazer” e “para

quem fazer” e não apenas no âmbito tecnicista do “como fazer” sem elencar

prioridades e análise críticas acerca das suas ações.

Deve-se compreender a precarização em um sentido mais amplo, tanto com relação às condições de acesso e inserção no mercado de trabalho protegido, quanto às condições de trabalho no espaço institucional propriamente dito. Assim, no caso do Serviço Social, uma mediação para que a precarização do trabalho seja entendida é a política social, na sua relação com o fundo público, pois o trabalho do assistente social está atravessado pelas determinações desta (SANTOS; MANFROI, 2015, p. 186).

Assim, significa dizer que a precarização das condições de trabalho que

afetam os/as assistentes sociais é fruto do modo como vem sendo tratada as

políticas sociais no contexto neoliberal, sob a lógica da focalização; tornar os

serviços mais enxutos tanto na oferta, quanto na quantidade de trabalhadores/as

empregados/as.

Nessa perspectiva, a quantidade de profissionais do Serviço Social

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presentes nas unidades de saúde que segundo a maioria dos sujeitos de

pesquisa é insuficiente principalmente naquelas que contam com apenas um/a

assistente social em seu quadro, deixando horários descobertos.

As regiões Norte I, Norte II e Oeste, são as mais vulneráveis do município

e as que possuem as maiores lacunas de profissionais de Serviço Social, com

uma pequena vantagem do distrito Oeste em relação aos demais. Encontramos

02 (dois/duas) em toda região Norte; 04 (três) Oeste; 02 (dois/duas) Leste e 04

(quatro) Sul. Com isso, podemos observar que a região Norte, que é dividida em

dois distritos sanitários, conta apenas com duas profissionais na atenção básica,

entretanto apenas 01 (um/uma) faz atendimento direto a população por se tratar

de uma USF e o/a outra não por ser um NASF e ofertar suporte a equipe.

Como consequência temos a sobrecarga dos profissionais inseridos, e

dificuldades na abrangência da população atendida. A fala da profissional a

seguir, reflete a totalidade das dificuldades de trabalho denunciadas pelos/as

entrevistados/as, independente do serviço que se encontram.

A primeira é que as equipes, a maioria delas, estão estouradas, elas estão passando dos seus limites de cobertura e aí você tem muito mais gente e pouca oferta. O modelo também, que é curativista, acaba não fazendo promoção, prevenção e aí não se dá conta, né? Você não tem exames suficientes, os médicos, as consultas não são suficientes, se trabalha muito na questão individual e não coletiva, há muita resistência nisso. O modelo que está posto, que faz com que não de conta se você ficar nessa oferta individual, sem ampliar os serviços (ASSISTENTE SOCIAL 3).

Percebemos dois fatores presentes na fala do sujeito de pesquisa que se

entrelaçam nesse contexto neoliberal, o primeiro remete ao insuficiente

investimento em recursos humanos para atendimento à população e o segundo

é a supremacia do modelo médico curativo em relação a prevenção e promoção

em saúde, quando na verdade a ênfase deve ser para as atividades preventivas

sem prejuízo para as assistenciais.

A política de saúde, embora tenha evoluído nas concepções e

proposições acerca da promoção e prevenção, em consonância com as

determinações sociais de saúde, ainda são pequenos os avanços nessa

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perspectiva e se mantem o cuidado focado no atendimento individual e na

doença, além de funcionarem de forma desarticulada dentro do próprio sistema.

A crise contemporânea dos sistemas de atenção à saúde reflete o desencontro entre uma situação epidemiológica dominada por condições crônicas e um sistema de atenção à saúde voltado para responder às condições agudas e às agudizações de condições crônicas, de forma fragmentada, episódica e reativa. Isso não deu certo nos países desenvolvidos, isso não está dando certo no SUS (BRASIL, 2015, p. 38).

Dessa maneira, apesar desses fatores serem gerais na execução das

políticas de saúde, afeta diretamente o fazer profissional do/a assistentes sociais

que precisa dar respostas as demandas sociais que são trazidas pelos/as

usuários/as nos inúmeros serviços de saúde em Natal/RN.

O trabalho em equipe é apontado nos dados, 04 (quatro) entrevistados/as,

como um desafio no cotidiano das unidades de saúde, pois alguns profissionais

esboçam resistência em participar de atividades coletivas e/ou compartilhar

dificuldades, ficando o trabalho em equipe, muitas vezes, fechado ao mero

encaminhamento. Principalmente na realidade das equipes de Consultórios na

Rua devido ao estigma que as pessoas em situação de rua carregam na

sociedade. “O trabalho em equipe funciona em parte. Há alguns profissionais

que não são muito abertos para trabalhar em equipe [...] não compartilha as

informações, não discute os casos” (ASSISTENTE SOCIAL 5).

A atuação em equipe é necessária para propiciar, dentro do espaço em

que se trabalha, a integralidade da atenção e cuidado em saúde ou “integralidade

focalizada” (CECÍLIO, 2001), como objetivo de cada profissional e serviço de

saúde.

A superação da visão fragmentada dos saberes é uma importante

ferramenta para melhoria na qualidade dos serviços ofertados que exigem a

compreensão das necessidades de saúde numa perspectiva de totalidade, mas:

Observa-se que no contexto dos serviços de saúde persiste a distância entre o discurso e a prática interdisciplinar na atuação dos profissionais, caracterizada pela insuficiência de fundamentação teórico-conceitual e prática sobre interdisciplinaridade. Tal situação, aliada às fragilidades socioinstitucionais, tende a reforçar lógicas e ações hierarquizadas entre as categorias profissionais que seguem

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centradas meramente nas especificidades teórico-práticas, fragmentando o trabalho e produzindo objetivos incomuns (SILVA; LIMA, 2012, p. 114).

Assim, podemos entender que a interdisciplinaridade não se efetiva de

forma “natural” no processo que agrega diferentes profissões, mas sim,

construída socialmente desde a formação profissional até a prática cotidiana.

Sobre o incentivo a formação/qualificação continuada todos/as

entrevistados/as afirmaram existir por parte da SMS, em muitos casos em

parceria com a UFRN e/ou faculdades privadas. Contudo, nem todos/as os

sujeitos pesquisados participam dos cursos e atividades ofertadas pelas

instituições. Da amostra, 09 (nove) disseram participar com bastante frequência;

01 (um/uma) participa de tempos em tempos e 02 (dois/duas) demonstraram não

ter interesse por considerarem sem necessidade. Quando perguntado sobre as

atividades e a periodicidade que tem participado, um/a deles/as respondeu:

[...] Não diretamente na área (Serviço Social), são mais gerais da saúde, mas não tenho participado de nenhuma, na verdade faz bastante tempo que não participo de nada (ASSISTENTE SOCIAL 6).

É preciso destacar que o compromisso com a qualificação profissional,

além de ser um princípio ético, contido no Código de Ética, é um dos requisitos

ao assistente social para a qualidade na prestação dos serviços aos usuários. A

atualização é importante para não ficar destoado das discussões profissionais o

que foi bastante visível nas entrevistas com esses determinados profissionais.

A educação permanente, embora encontre diversas barreiras objetivas a

sua efetivação - sobrecarga de trabalho, recursos financeiros, entre outros – ela

deve ser compreendida enquanto “[...] um importante instrumento para a

construção e qualificação de ações cotidianas no exercício da profissão e na sua

capacidade de organização política” (CFESS, 2012, p. 21).

O desconhecimento das atribuições privativas por parte dos/as

profissionais é um dos dados também evidenciados pelo conjunto

CFESS/CRESS, na brochura lançada em 2012 ao trazerem as preocupações

em torno das atribuições e que destacam como um dos motivos e preocupações

a falta do aprimoramento intelectual:

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• Distanciamento da categoria em relação às mudanças que ocorrem na profissão nos últimos 20 anos (lei, código, novo currículo, produção teórica) e das conquistas democráticas (CF, ECA, LOAS, SUS), resultando em práticas conservadoras, pragmáticas, sem investimento na capacitação profissional;

• Necessidade de capacitação e qualificação profissional (CFESS, 2012, p. 28).

É latente a necessidade da qualificação profissional devido dinamicidade

das relações societárias que alteram constantemente a matéria prima do Serviço

Social: Questão Social, seus modos de expressões, suas demandas e

respostas. Alteram a própria profissão que precisa estar afinada as mudanças

sociais de modo a se posicionar criticamente frente a estas.

Mas, são também muitos desafios, o compromisso do/a profissional em

estar sempre buscando se qualificar para defender os direitos da classe

trabalhadora e melhores condições de trabalho que permitam esse

aprimoramento sem sobrecarregar os/as profissionais.

Essas questões até aqui apresentadas são importantes para se pensar o

terreno e a forma que vem se desenvolvendo o exercício profissional do/a

assistente social na AB em Natal/RN, acreditamos ser imprescindível desmiuçar

as condições nas quais se faz o exercício profissional e as correlações de força

que o inflexiona.

É a partir dessa explanação introdutória que podemos problematizar as

competências e atribuições privativas dos/as assistentes sociais desempenhada

no cotidiano das instituições de saúde. Assim, no próximo item abordamos a

referida discussão a partir dos dados coletados na pesquisa de campo.

3.4 Competências e atribuições profissionais na Atenção Básica de Saúde

do município do Natal/RN

As competências e atribuições profissionais estão presentes no projeto

ético-político do Serviço Social, mais especificamente na Lei de regulamentação

8.662/93. Ambas balizam o fazer profissional nos espaços de inserção, em que

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as competências dizem respeito as atividades que podem ser desenvolvidas

pelos/as assistentes sociais, mas que não são exclusivas desse/a profissional.

Assim, no art. 4 da lei, são competências dos assistentes sociais:

III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades (CFESS, 1993).

Já as atribuições estão relacionadas às atividades que só podem ser

realizadas por um (a) assistente social, são consideradas restritas a profissão. O

artigo 5º da Lei 8.662/93 designa quais são as atribuições privativas dos

assistentes sociais, a saber:

I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas (CFESS, 1993).

A interpretação em torno do que é competência e do que é atribuição

privativa do/a assistente social é um dos gargalos evidenciados no processo de

investigação a partir das falas dos sujeitos. Contudo, consideramos importante

iniciarmos pela concepção de saúde assumida por esses profissionais para

darmos continuidade a discussão das atividades realizadas pelo Serviço Social

nas unidades pesquisadas.

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Alguns conceitos são fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde como a concepção de saúde, a integralidade, a intersetorialidade, a participação social e a interdisciplinaridade [...] O conceito de saúde contido na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990 ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196) e indicar como fatores determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º) (CFESS, 2010, p. 39).

A concepção de saúde apreendida pelo/a assistente social contribui para

determinar a posição que ele irá assumir na sua atuação profissional, a medida

em que se compreende o sentido para o qual são direcionadas suas ações, seja

na manutenção de uma prática na perspectiva da saúde enquanto ausência de

doença ou no seu sentido ampliado.

Nessa perspectiva, o conceito de saúde impresso na constituição de

1988, é compreendida por 91,7% dos/as profissionais entrevistados/as, mesmo

que de forma um pouco imprecisa em alguns casos, mas compreendem que vai

além da condição de bem-estar físico de maneira isolada. Reconhecem,

inclusive, a própria incorporação da força de trabalho do/a assistente social na

saúde pela necessidade de atuar nos determinantes sociais de saúde.

Então, a minha compreensão é o conceito que nós temos a partir da reforma sanitária, da oitava conferência sanitária de saúde, que coloca que saúde não é só ausência de doença que diz que saúde tem determinantes, condicionantes que depende de renda, educação, ne depende de meio ambiente saudável, então é uma junção de diversos fatores para que a gente possa ter a promoção e prevenção na saúde e também a assistência porque é tudo junto (ASSISTENTE SOCIAL 4).

Aliado a concepção de saúde está a compreensão que estas profissionais

têm sobre o projeto ético-político. 09 (nove) sujeitos de pesquisa apontaram o

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PEPSS como norteador da prática profissional, contudo apenas 01 desse

quantitativo conseguiu aprofundar a análise do projeto para além da sua

identificação como norteador e sua importância.

Olhe o projeto ético-político é a base de sustentação, o alicerce do fazer profissional de um Serviço Social aliado aos direitos sociais, mais é comprometido com a efetivação e ampliação desses direitos, com a negação do conformismo e conservadorismo das situações de pobreza, exclusão e injustiça social. É importante para a gente não ter uma prática acrítica e filantrópica (ASSISTENTE SOCIAL 8).

Os/as demais profissionais (03) não conseguiram tecer comentários a

respeito do projeto ético-político sob a justificativa de estarem afastados das

discussões da profissão ou por terem se formado antes do novo projeto

profissional e/ou não participarem de atividades de formação continuada. O que

pode levar a um exercício profissional esvaziado de criticidade e revestido de

conservadorismo.

Não obstante os avanços da profissão na ausência de um projeto profissional crítico que vise romper com o tradicionalismo das práticas profissionais, ficam muito limitadas às possibilidades de diferenciação entre o exercício profissional e a prática filantrópica, assistencialista, voluntarista (GUERRA, 2007, p. 11).

Os/as profissionais não conseguiram transpor do campo da prática

profissional para o exercício. As respostas foram sempre centradas na prática

em si, como se o significado epistemológico de uma fosse o mesmo da outra.

Como citado anteriormente, a pratica é apenas uma dimensão do exercício

profissional que, por sua vez, engloba análises mais amplas a partir do projeto

ético-político.

No campo teórico, como podemos observar a partir das produções de

Iamamoto acerca da temática, há a superação da mistura de interpretação entre

ambas. Todavia, os/as profissionais entrevistados demonstram não ter

acompanhado essa discussão que é de extrema importância para analisar e

refletir sobre o exercício profissional do/a assistente social e os determinantes

que o circunscrevem, bem como os limites e possibilidades na sociabilidade

capitalista.

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Outro ponto que merece atenção é a redução do projeto ético-político a

um dos seus dispositivos, o Código de Ética. As respostas acerca do projeto

eram sempre com foco exclusivamente para os valores éticos 66%, o que

reafirma a fragilidade do conhecimento dos/as profissionais sobre o projeto ético-

político uma vez que os três (03) elementos constitutivos (código de ética, lei de

regulamentação e diretrizes curriculares) devem ser vistos de forma

indissociada, pois cada um desempenha seu papel importante e peculiar no

exercício profissional dos/as assistentes sociais.

O código de ética é muito importante para o Serviço Social, pois um assistente social sem ética não faz um bom trabalho porque a gente interage com pessoas e isso pede um tratamento ético. Então o projeto ético-político nos orienta nesse sentido (ASSISTENTE SOCIAL 9).

A ética profissional conforma um dos elementos constitutivos do projeto

ético-político e dessa forma não deve ser confundido como sinônimo deste,

embora o expresse através de um conjunto de valores que indicam o ethos

profissional, o modo de ser (CARDOSO, 2013, p. 84).

Além dos valores éticos, o projeto profissional expressa dimensões

políticas e ideológicas que conformam a atuação do/a assistente social

inserido/a nas relações de classes, com um posicionamento claro acerca da

defesa dos direitos da classe trabalhadora e dão concretude para as ações

profissionais (CARDOSO, 2013).

A redução do projeto ético-político ao Código de Ética, obscurece as

demais conquistas da profissão, concretizadas na década de 1990 após a

construção do pensamento crítico do Serviço Social. Além de esconder as

dimensões do exercício profissional do/a assistente social que são calcados

nesse projeto tanto no âmbito da formação, elencando as competências que

os/as futuros profissionais devem ser capazes de ter, finalidades da profissão,

até o código de ética e lei de regulamentação que orientam o próprio fazer.

É também, pelos princípios éticos, políticos e ideológicos que o projeto

profissional se associa a projetos democráticos de sociedade. Diante disso,

buscamos compreender como os sujeitos de pesquisa, a partir da compreensão

que possuem sobre o projeto ético-político, tem sobre a relação deste com o da

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Reforma Sanitária, importante para a defesa da saúde enquanto direito e de

qualidade.

Nessa perspectiva, é importante frisar que 09 (nove) sujeitos de pesquisa

relacionaram a proposta da Reforma Sanitária as concepções defendidas pelo

projeto ético-político no tocante a democratização do acesso a saúde pública de

qualidade como é possível observar na próxima fala:

Essa relação está bem próxima porque a Reforma Sanitária [...] está também em sintonia com o nosso Projeto Ético-político quando quer ampliar os direitos, quando quer fazer uma assistência de qualidade, quando quer que todos tenham acesso sem clientelismo, sem tanta burocracia (ASSISTENTE SOCIAL 11).

O nosso projeto ético-político está afinado aos princípios da Reforma

sanitária, pois ambos defendem a democratização dos direitos sociais para o

conjunto da classe trabalhadora e vão à contramão da concepção dos direitos

enquanto mercadoria. No quadro que veremos a seguir, podemos perceber a

consoante relação entre os princípios do PEPSS e da Reforma Sanitária.

Quadro 01 - Projeto ético-político e Reforma Sanitária

Projeto ético-político do Serviço Social

(Princípios)

Projeto democrático de Saúde (Princípios Reforma Sanitária)

Justiça Social Equidade

Acesso universal Universalidade

Participação social Controle social

Defesa de direitos Integralidade Fonte: elaborada pela autora

No que se relaciona as atividades desempenhadas nas unidades, a partir

das falas, perceberemos que os atendimentos diretos aos usuários com foco

para ações socioassistenciais são predominantes na atuação dos/as assistentes

sociais na saúde. Quase não aparecem atividades de caráter coletivo com

objetivo de mobilização social.

A gente de primeira instância faz a questão da acolhida porque o Serviço Social é assim a porta de entrada da unidade faz a articulação de consultas, a gente faz também de idosos na

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maioria das vezes, visita domiciliar. Como eu já mencionei tem as ESF e só tem eu como assistente social pra dar suporte a toda essa demanda, a estratégia e apropria UBS que tem a demanda aberta que a gente chama demanda adstrita é realizado também visita domiciliar aí atendimento psicossocial a gente trabalha muito com o psicólogo em conjunto e o próprio atendimento social e os encaminhamentos que a gente faz com a rede intersetorial (ASSISTENTE SOCIAL 1).

O atendimento direto aos usuários conforme Os Parâmetros para Atuação

de Assistentes Sociais na Saúde, tem como característica a predominância de

ações socioassistenciais, ações de articulação interdisciplinar e ações

socioeducativas. Estas devem integrar um movimento indissociável e

complementar entre si.

As ações socioassistenciais tem se constituído como principais demandas

nesse eixo de atuação. Todavia, no contexto de contrarreforma do Estado que

ocasiona a precarização dos serviços de saúde, essas demandas se revestem

de caráter burocrático, imediatista, problemas da qualidade e quantidade dos

serviços chegando para os assistentes sociais, que podemos relacionar com a

fala, aparece principalmente as demandas para “solução quanto ao atendimento

(facilitar marcação de consultas e exames, solicitação de internação, alta e

transferência) ” (CFESS, 2010 p.43).

Essas questões direcionam o/a assistente social para uma prática

burocratizada e repetitiva em que o sujeito se abstém de questionamentos e

reflexões sobre as finalidades das suas ações, e assim, atende as requisições

institucionais e não aos interesses e necessidades dos/as usuários/as. Vale

ressaltar que “a característica dessa prática, é o cumprimento fiel das

responsabilidades, requisições, atividades, tarefas designadas ao assistente

social na execução de programas no âmbito das políticas sociais” (COELHO,

2013, p. 47).

O cumprimento acrítico as normas, procedimentos e rotinas institucionais

faz com que o/a assistente social seja tomado/a pela imediaticidade com a qual

as demandas se apresentam e exigem respostas profissionais, desconsiderando

as determinações sociais e históricas das relações de produção e reprodução

social, constituída na sociabilidade capitalista (COELHO, 2013).

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Por fim, a prática burocratizada resgata, mesmo que de forma

inconsciente em alguns casos, o conservadorismo disfarçado e silencioso

presente nessas ações e que só podem ser revelados ao serem colocados em

reflexões constantes realizadas pelos sujeitos que as praticam ao suspenderem

o cotidiano e alienação operada por ele.

Nos programas em que são definidos critérios de elegibilidade para ter

acesso, os/as profissionais que seguem de forma rigorosa e acrítica as

determinações institucionais, se tornam agentes fiscalizadores da pobreza,

colocando em primeiro lugar as recomendações institucionais e não as

necessidades dos sujeitos, desviando-se do projeto ético-político do Serviço

Social que reafirma o compromisso da profissão com a defesa dos direitos da

classe trabalhadora.

Quanto ao eixo sobre a articulação interdisciplinar, contida nos

Parâmetros de atuação, é preciso destacar que esta se refere a relação dos/as

assistentes sociais ao se inserirem nas equipes multiprofissionais, a qual

estaremos desenvolvendo melhor ao problematizar, mais a frente, as

competências e atribuições a partir dos dados da pesquisa. Isso pede o

esclarecimento para os demais profissionais acerca das competências e

atribuições da profissão com vistas a evitar distorções sobre o fazer profissional

do/a assistente social.

Já as ações socioeducativas estão ligadas as orientações reflexivas e

socialização de informações por meio das abordagens individuais, grupais,

coletivas aos usuários, famílias e comunidade “devem-se constituir em eixo

central da atuação do profissional de Serviço Social e recebem também a

denominação de educação em saúde” (CFESS, 2010, p. 55).

As ações socioeducativas não devem se constituir enquanto um mero

repasse de informações e esclarecimentos visando a simples adesão dos

usuários e sim a uma perspectiva de propiciar a participação popular nas

decisões, análises e monitoramento da política de saúde e direitos sociais

(CFESS, 2010).

Estas demandas relacionadas à “solução quanto ao atendimento”

aparecem nitidamente na fala do sujeito de pesquisa que trouxemos um pouco

mais acima, e vai de encontro ao que deve ser evitado pelo/a assistente social

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segundo os Paramentos para atuação de assistentes sociais na saúde. Já as

visitas domiciliares são importantes para a ação profissional, pois favorece uma

melhor compreensão das condições de vida dos usuários que, muitas vezes, não

são passiveis de serem visualizadas nas entrevistas sociais e/ou atividades,

contudo, frequentemente, falta veículos para o deslocamento dos/as

profissionais, como em uma das falas, e prejudica a realização dessa atividade.

Em nenhuma fala apareceu a participação em debates coletivos da

categoria via CRESS, CFESS ou envolvimento em outros tipos de ações

coletivas em defesa dos direitos da categoria e/ou dos/as trabalhadores/as. Esse

fato expressa uma preocupação para a manutenção do posicionamento crítico e

organizativo construído após o projeto ético-político de 1993.

O que de fato deve ser objeto de atuação do assistente social esta

relacionado a:

• democratizar as informações por meio de orientações (individuais e coletivas) e /ou encaminhamentos quanto aos direitos sociais da população usuária; • construir o perfil socioeconômico dos usuários, evidenciando as condições determinantes e condicionantes de saúde, com vistas a possibilitar a formulação de estratégias de intervenção; • enfatizar os determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares e acompanhantes por meio das abordagens individual e/ou grupal; • facilitar e possibilitar o acesso dos usuários aos serviços, bem como a garantia de direitos na esfera da seguridade social por meio da criação de mecanismos e rotinas de ação; • conhecer a realidade do usuário por meio da realização de visitas domiciliares; • conhecer e mobilizar a rede de serviços, tendo por objetivo viabilizar os direitos sociais por meio de visitas institucionais, quando avaliada a necessidade pelo Serviço Social; • fortalecer os vínculos familiares, na perspectiva de incentivar o usuário e sua família a se tornarem sujeitos do processo de promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde (CFESS, 2010 p. 44-45)

Contudo, o fazer profissional não se esgota nessas atividades, sabemos

que o atendimento direto é importante para a viabilização do direito à saúde,

contudo ele é apenas um dois eixos da atuação profissional e ao fazer deste o

predominante ou único meio de interação com os usuários dos serviços, esvazia-

se a oportunidade de se trabalhar aspectos coletivos e reflexivos e assim,

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explorar o lado educativo da ação profissional contribuindo para a mobilização

social em prol da efetivação dos direitos sociais. Outra consequência é o

aprisionamento profissional as demandas institucionais e burocráticas que em

muitos casos, foram visualizadas pelos/as sujeitos da pesquisa como um meio

de promover o acesso aos direitos do usuário.

Um papel educativo que, exercido em todas as instâncias e momentos da atuação profissional, guarda a possibilidade de fomento da participação substantiva dos usuários no controle social e ampliação dos direitos – para além do simples acesso/usufruto de um bem/serviço - , o que pode resultar na contribuição que o assistente social pode dar na qualificação da participação política e na conexão e envolvimento das massas populares, como sujeitos da ação histórica, nas transformações sociais, políticas e econômicas (VASCONCELOS, 2015, p. 388).

Acerca das demandas que chegam ao Serviço Social nas unidades

pesquisadas, prevalecem segundo a maioria dos/as entrevistados/as (75%) a

questão dos maus tratos a idosos e problemas ligados a saúde mental e ainda

emissão de declarações para o Programa de Acessibilidade Especial (PRAE)58,

Secretaria de Transportes Urbanos (SETURN) para carteirinha de gratuidade.

Algumas demandas como a própria saúde mental não são identificadas, em uma

das entrevistas, como demanda direta do Serviço Social, todavia sabemos que

essa questão é alvo de atuação da profissão a medida em que a saúde é vista

sob sua ótica ampliada. Novamente aparece a questão de compreender as

competências e atribuições dos/as assistentes sociais afim de perceber o que é

demanda para a profissão e o destoa destas.

A questão de violência principalmente a idoso de todos os tipos, de negligencia, abandono, apropriação de proventos e agressão e a questão da violência contra mulher também e contra criança, mas essa em menor escala e também de saúde mental essas são as demandas que mais chegam para gente. Que assim não

58 É um serviço gratuito de transporte PORTA A PORTA com veículos acessíveis e adaptados (inicialmente com 10 microônibus, 03 vans e 03 ambulâncias) para o transporte de pessoas comprovadamente com mobilidade reduzida, devido a uma deficiência, à idade ou a qualquer outro fator, mas que não corra risco de vida, não estando em uma situação de urgência ou emergência. O serviço é gerenciado pela Prefeitura do Natal através da STTU e SMS, em parceria com o SETURN.

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e especifica do Serviço Social, mas que eu gosto e eu me aproprio (ASSISTENTE SOCIAL 3).

A questão da violência e a saúde mental, obviamente não são exclusivas

do/a assistente social, uma vez que são demandas impossíveis de serem

resolvidas por um único profissional ou categoria, exige a ação articulada de

diversas áreas do conhecimento e órgãos competentes para os quais possam

ser feitos os encaminhamentos na perspectiva de referência e contra referência.

Mas, os profissionais precisam estar atentos a respeito do que lhe cabe trabalhar

dentro dessas temáticas, especialmente da saúde mental para não invadir o

campo da psicologia.

Analisar as configurações e reconfigurações das demandas dirigidas ao

Serviço Social a luz do contexto neoliberal, é importante para delinear as ações

profissionais bem como os objetivos que estas pretendem e devem alcançar,

tendo sempre como base, o projeto ético-político da profissão. As demandas

acompanham o movimento dinâmico e mutável da sociedade se apresentando

de forma implícita e explicita no cotidiano das instituições (BEZERRA; ARAUJO,

2007).

As necessidades dos usuários, que, condicionadas pelas lutas sociais e pelas relações de poder, se transformam em demandas profissionais, reelaboradas na ótica dos empregadores no embate com os interesses dos usuários dos serviços profissio-nais (IAMAMOTO, 2002, p. 47).

Dessa forma, são as mudanças engendradas no âmbito do trabalho

aliadas as alterações no papel do Estado frente as políticas sociais que

transformam continuamente as demandas dirigidas ao Serviço Social, pois as

demandas “são requisições técnico-operativas que, através do mercado de

trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes”, ou seja, “elas

comportam uma verdadeira ‘teologia’ dos requisitantes a respeito das

modalidades de atendimento de suas necessidades” (MOTA; AMARAL, 1998,

p. 25).

Diante disso, se faz necessário ao fazer profissional o desvendamento

das demandas na relação capital trabalho com vistas a pensar as mediações

necessárias a efetivação do acesso aos direitos sociais. Pois:

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É a partir do conhecimento dessas necessidades, e das determinações que as originam, que os assistentes sociais constroem o lastro que possibilita dar conta das requisições postas no seu cotidiano profissional pelo mercado de trabalho (BEZERRA; ARAUJO, 2007, p. 204).

As demandas da atenção básica são complexas e diversificadas “na APS,

é preferível trabalhar-se com problemas de saúde ou com condições de saúde

do que com diagnósticos de doenças” a medida em que, nem todas as

demandas de saúde podem ser catalogáveis na Classificação internacional de

doenças e problemas relacionados à saúde (CID) (MENDES, 2015, p. 48).

Na atenção básica, assim como em outros espaços de inserção, se

apresentam ao assistente social novas e velhas expressões da questão social,

entre elas:

Violência de gênero, violência urbana, drogadição, AIDS, discriminação por questões de etnia, gênero e geração, moradia de rua, moradia insalubres e em risco, fome, crianças e adolescentes em situação de risco ou abandono, doença mental, discriminação por deficiências físicas, envelhecimento sem recursos, violência contra o idoso, doenças do trabalho, não acesso a direitos e benefícios sociais, miséria, trabalho infantil, entre tantas outras situações que remetem à pobreza, exclusão social e discriminação (CARDOSO, 2013, p. 201).

Problematizar as velhas e novas demandas que chegam para o Serviço

Social, nos faz, também, refletir quais as particularidades do trabalho do/a

assistente social na AB, uma vez que este profissional é chamado/a para

responder a alguma necessidade social e é isso que justifica a permanência da

profissão, a sua utilidade social mediada pela relação de compra e venda dessa

força de trabalho especializada (IAMAMOTO, 2012).

Nessa perspectiva o que diferencia o trabalho do/a assistente social na

atenção básica dos outros profissionais? Quais as contribuições desse

profissional ao se inserirem em equipes multiprofissionais nesse âmbito?

Nas 12 (doze) falas, as particularidades parecem ser claras para os/as

profissionais, mas em 04 (quatro) destas elas são apresentadas no campo do

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“dever ser” que não se efetiva integralmente devido a estruturação da AB em

Natal e falta de assistentes sociais no primeiro nível de atenção.

Como observado em uma das falas sobre as particularidades do/a

assistente social na AB:

Sinceramente, pra mim e difícil de responder porque o que eu estou falando é o que deveria ser porque a gente não tem realmente o assistente social na atenção básica, mas seria de promoção, prevenção, de articular de estimular o controle social porque hoje a gente tem os conselhos locais de saúde que tem participação da gerencia local da unidade como dos profissionais e da população muito importante a atuação do assistentes social nesse conselho porque é ali que se discute os programas de saúde da comunidades (ASSISTENTE SOCIAL 4).

Como citamos anteriormente, a atenção básica em Natal tem adquirido a

ESF como modelo de reorientação dos cuidados primários, com isso muitas

unidades de saúde tradicionais (UBS) têm se transformado em USF a exemplo

podemos citar o distrito norte I que não conta com nenhuma UBS, sendo todas

consideradas estratégias. Contudo, a formação das equipes são mínimas e

oficialmente não é obrigatória a inserção de assistentes sociais no quadro.

As profissões expressas na PNAB (2012) são estritamente da área

médica/biológica o que indica uma abstração do cuidado a saúde centrada na

cura, quando na verdade “a montagem da equipe de SF deve passar por um

processo inverso, isto é, pela concepção de totalidade e não do mínimo possível,

para conseguir ir além da atenção focal” (VASCONCELOS et al., 2009, p. 315).

O processo saúde-doença como vimos, não se esgota no atendimento a

situação de doença, ele é multifatorial e envolve determinações sociais que se

agregam aos aspectos biológicos e assim, no cotidiano das unidades de saúde

esses aspectos se evidenciam, pois, o “social” se apresentam em diversas

demandas e necessidades vivenciadas pelos/as usuários (VASCONCELOS et

al., 2009).

Identificamos através do depoimento espaços de inserção do/a assistente

social que não são devidamente explorados por não haver a integração desses

profissionais. Embora a dimensão social do processo saúde-doença possa e

deva ser trabalhada por outros profissionais, ou seja, não é exclusivo do/a

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assistente social, a apropriação desse profissional sobre as questões

concernentes as expressões da questão social, se faz de forma diferenciada pela

sua qualificação desempenhada pela formação que lhe permite analisar, fazer

as conexões macro e microssociais.

É, a partir da perspectiva ampliada de saúde que o/a assistente social

deve intervir pode contribuir assim no eixo da promoção em saúde que vai além

de organizar as ações e serviços a atuar sobre os efeitos dos problemas de

saúde, mas também sobre as causas que se interligam (condições de vida,

trabalho).

Salvo as particularidades da diversidade de unidades pesquisadas, 25%

das profissionais inseridas em serviços de UBS e USF participam de atividades

de promoção, prevenção e educação em saúde, as demais não participam

porque não tem na unidade por ainda estarem estruturando (como é o caso da

unidade Quintas e Pajuçara). Na fala abaixo, as poucas assistentes sociais que

participam, afirma que:

A gente tem ações de promoção e prevenção, embora ainda sejam muito pequenas. O Serviço Social participa dos grupos de idosos, gestantes, hipertensos, fazendo atividades, incentivando o autocuidado, claro que não é exclusivo nosso, mas, damos uma contribuição boa nisso aí (ASSISTENTE SOCIAL 12).

Mesmo diante de um número pequeno de assistentes sociais na atenção

básica e em especial nas USF, a inserção desses profissionais em ações de

promoção e prevenção trazem contribuições consideradas importantes pelos

sujeitos de pesquisa e que também apontam a necessidade de ampliar esse

campo de atuação. Já os/as profissionais dos NASFs participam mais junto as

equipes matriciadas, enquanto que os Consultórios na Rua afirmam não fazer

atividades de forma coletiva nesse sentido principalmente pela vivencia de

escassez de recursos desses sujeitos.

Quanto as dificuldades para viabilizar o acesso ao direito a saúde 100%

dos/as entrevistados/as apontaram as condições e trabalho e os entraves da

rede de atenção à saúde no que condiz a comunicação entre os serviços.

Hoje a gente tem problemas na assistência que vai de falta de RH, nós temos muita falta principalmente de profissional médico, até falta de insumos também, as vezes falta material para fazer

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curativo...e há um desestímulo de alguns profissionais em se envolver com o trabalho, por questões salariais, mas basicamente assim o que falta mais é recursos humanos e materiais (ASSISTENTE SOCIAL 4). São os entraves para esse usuário andar nessa rede, né? Que de fato, teoricamente existe uma rede construída que vai desde a rede cegonha, rede saúde rede de urgência e emergência, a rede das doenças crônicas, a rede das pessoas com deficiências, a rede da saúde mental, mas quando esse usuário vai andar nessa rede é complicado (ASSISTENTE SOCIAL 6).

São aspectos do sistema e que rebatem de forma direta no exercício

profissional do/a assistente social. Na primeira fala, aparecem questões que

afetam o Serviço Social pela sua condição de trabalhador assalariado,

amplamente discutido nessa dissertação, pois os profissionais não estão imunes

as alterações no âmbito do trabalho e do Estado. Já na segunda é parte da

própria constituição dos processos de trabalho instituídos no SUS e a

manutenção de velhas questões, como a sua desarticulação dos demais níveis

de atenção e inviabiliza a possibilidade de ser resolutiva, que impedem a

concretização do sistema conforme está expresso nas legislações.

Quando passamos a analisar o exercício profissional de assistentes

sociais no âmbito de gestão de distritos sanitários ou unidades de saúde,

verificamos um distanciamento dessas profissionais com as questões ligadas ao

Serviço Social. Assim, quando perguntadas sobre as competências e atribuições

dos/as assistentes sociais, 02 (dois/duas) se recusaram a responder por não se

considerarem em condições de discorrer sobre a temática, afirmando a posição

de diretora ser um dos motivos que as impedem de tecer reflexões em torno

disso a medida em que as requisições nesse cargo são mais burocráticas para

o funcionamento dos serviços.

Cabe destacar que a gestão de unidades, serviços e políticas públicas

vem sendo uma nova requisição para atuação de assistentes sociais a partir da

descentralização das políticas sociais. O fazer profissional nesse campo devem

ser realizadas através de estudos e pesquisas para conhecimento da realidade

da classe trabalhadora.

A formação em Serviço Social não pode ser distanciada pela posição de

gestor, assim as bases devem servir para orientação a coordenação dos

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serviços, programas e projetos no direcionamento de proporcionar ações de

inclusão que atendam às necessidades dos usuários e a garantia do acesso aos

direitos sociais.

Diante disso, competências e atribuições, assim como todo o projeto

profissional, é uma das lacunas nas análises dos/as assistentes sociais. Primeiro

percebe-se a mistura indistinta entre ambas. E segundo, uma clara dificuldade

em elencar as atribuições privativas do/a assistente social.

As privativas eu acho que tá relacionado as questões do atendimento individual dentro da minha área especifica de escuta desse usuário e ver qual a demanda que ele traz se é de inserção em programas sociais e aí cabe a mim estar orientando, estar encaminhando e aí dentro das atividades em grupo dentro da minha área especifica é uma atribuição minha que só eu vou fazer, mas ao mesmo tempo é também uma competência dependo do tema porque eu posso estar numa atividade sobre doenças sexualmente transmissíveis e eu como profissional da saúde tenho que saber não como a enfermeira porque é bem da área dela e da área do médico mas eu tenho conhecimento e posso falar [...] (ASSISTENTE SOCIAL 3).

Nessa fala podemos perceber uma imprecisão por parte do/a assistente

social em delimitar o que seria as competências e as atribuições privativas a

partir da sua rotina na instituição que trabalha. “O que delimita o caráter da

atividade enquanto privativa do assistente social é a sua qualificação enquanto

matéria, área e unidade de Serviço Social” (IAMAMOTO, 2012, p. 39).

A matéria seria o objeto ou assunto que particularmente se exerce a ação

profissional, a área o campo delimitado de atuação do/a assistente social,

enquanto a unidade pode ser vista como o conjunto de profissionais de uma

unidade de trabalho (IAMAMOTO, 2012, p. 39).

Nessa perspectiva, tudo que envolver área, matéria e unidade de Serviço

Social, é privativo da profissão e consequentemente não pode ser exercido por

outro profissional.

A imprecisão em torno das atribuições privativas se evidencia nas

relações entre as equipes de trabalho a medida que operam em uma lógica

interdisciplinar, mas é preciso se ter claro que a interdisciplinaridade tem como

pressuposto atender o indivíduo em sua totalidade de forma integrada o que não

significa a diluição dos saberes em uma unidade.

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Olha, como a gente tem uma equipe multidisciplinar então as

competências são muito parecidas. A mesma competência que

eu tenho, a minha psicóloga tem, e meu terapeuta ocupacional

também. Mas as atribuições privativas como assistente social

tem principalmente os relatórios sociais, óbvio que sou eu que

dou, encaminhamento qualquer um dos profissionais pode dar.

Além do relatório social, a gente tem a questão da atribuição

privativa com relação as orientações da intersetorialidade que

normalmente é a assistente social que faz isso (ASSISTENTE

SOCIAL 9).

A inserção em equipes multiprofissionais mesmo que com uma lógica

interdisciplinar, visando o atendimento integral das necessidades de saúde, não

devem ser usadas como prerrogativa para a diluição das competências e

atribuições profissionais. O trabalho deve-se pautar na complementariedade dos

saberes, em que o/a assistente social deve requerer a observância dos seus

princípios éticos presentes no projeto profissional.

O assistente social, ao participar de trabalho em equipe na saúde, dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do usuário e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações, que o diferencia do médico, do enfermeiro, do nutricionista e dos demais trabalhadores que atuam na saúde (CFESS, 2010, p. 46).

Entretanto, a defesa do espaço de atuação do/a assistente social se faz a

partir da ação dos órgãos de fiscalização da profissão, mas também, no cotidiano

da atuação profissional, pois é na prática que se efetiva e legitima seu campo de

intervenção, por isso a necessidade de uma ação crítica e reflexiva dos/as

profissionais (MATTOS, 2015).

Outro ponto interessante acerca das competências e atribuições,

compradas às atividades desenvolvidas no exercício profissional, refere-se ao

fato de nenhum/a assistente social ter tecido críticas acerca das atividades

realizadas. Embora algumas, visivelmente, sejam de cunho meramente

burocráticas, as profissionais as consideram dentro de suas competências.

Em alguns momentos, 06 (seis) visualizam desvios em suas funções, mas

elencam isso como algo normal e esperado dentro da nossa realidade adversa

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outros/as apontam como algo necessário para a efetivação do acesso ao direito

dos usuários, também relegam para elas, no caso de recusa dessas ações, o

fato do usuário ser prejudicado.

Não é totalmente, é lógico que a gente sofre alguns desvios, porque a gente tem as regras eu e minha colega, mas tem casos que chegam aqui que a gente tem que analisar com outro olhar e quebrar regras. Algumas coisas podem parecer burocráticas mas é o que dá acesso aos direitos aos usuários e nós fazemos porque se não a gente prejudica eles (ASSISTENTE SOCIAL 10)

A lógica dos desmontes e o descaso do Estado culpabiliza os sujeitos que

atuam na ponta das políticas sociais pelo não acesso dos usuários aos serviços

e consequentemente o não acesso aos direitos, colocando os/as profissionais

em um dilema: aceitar competências que não são delas ou se recusar e implicar

no não acesso dos sujeitos.

Isso exige dos/as profissionais o esclarecimento do que lhe compete e

estratégias que visem o respeito aos direitos dos/as assistentes sociais enquanto

trabalhadores regulamentados.

Existem muitos desafios no exercício profissional do/a assistente social,

entretanto, a formação e o aprimoramento continuo da qualificação profissional

é importante para o enfretamento desses desafios, diante disso é basilar para o

Serviço Social, o domínio por parte dos profissionais sobre o projeto ético-político

para que os mesmos possam operar no direcionamento dos objetivos da

profissão comprometida com os interesses da classe trabalhadora.

Sobre as dificuldades para efetivar as competências e atribuições

todos/as profissionais afirmaram não encontrar dificuldades. Em uma das falas

temos:

Não, não encontro nenhuma dificuldade porque todos aqui me respeitam, respeitam meu trabalho. Não colocam nada que não seja da minha área e quando me pedem algo eu vejo se é meu ou não. Ou então eu faço, mas faço porque quero. Não me obrigam a nada (ASSISTENTE SOCIAL 9).

As estratégias são entendidas como alternativas utilizadas pelos/as

assistentes sociais, na análise dos limites da sociabilidade capitalista, para

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viabilizar o acesso aos direitos sociais. No momento em que questionamos as

estratégias utilizadas para efetivação das competências e atribuições, estamos

partindo do pressuposto de que existem limitações e empecilhos para estas,

criados pelos empregadores e/ou contexto neoliberal no qual operamos.

Quando nos referimos a limites e empecilhos, estamos nos referindo a

entreves como: direcionamento de demandas que não são do Serviço Social,

desvio de função,

Que muitas vezes são colocadas por esses atores pela falta de

conhecimento das atribuições e competências do Serviço Social.

A equipe de saúde e/ou os empregadores, frente às condições de trabalho e/ou falta de conhecimento das competências dos assistentes sociais, têm historicamente requisitado a eles diversas ações que não são atribuições dos mesmos, a saber: • marcação de consultas e exames, bem como solicitação de autorização para tais procedimentos aos setores competentes; • solicitação e regulação de ambulância para remoção e alta; • identificação de vagas em outras unidades nas situações de necessidade de transferência hospitalar; • pesagem e medição de crianças e gestantes; • convocação do responsável para informar sobre alta e óbito; • comunicação de óbitos; • emissão de declaração de comparecimento na unidade quando o atendimento for realizado por quaisquer outros profissionais que não o Assistente Social; • montagem de processo e preenchimento de formulários para viabilização de Tratamento Fora de Domicílio (TFD)32, medicação de alto custo e fornecimento de equipamentos (órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção), bem como a dispensação destes (CFESS, 2010).

Na realidade pesquisada, a marcação de consultas e exames é o sinal

mais evidente da distorção das competências e atribuições profissionais, todavia

as profissionais não as enxergam dessa forma. Há uma naturalização dessas

atividades burocráticas, como explorado em linhas anteriores.

Pode-se afirmar que as atividades burocráticas aparecem em 100% das

falas, sempre justificadas pelo intuito de garantir o acesso ao direito por parte

dos usuários dos serviços de saúde. Contudo, “A burocratização ocorre quando

determinados procedimentos práticos são solidificados, formalizados e repetidos

mecanicamente”. (COELHO, 2008, p. 173).

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Nessa perspectiva, ao serem questionadas sobre as estratégias utilizadas

para a defesa das competências e atribuições consoantes com o PEPSS,

apenas 25% (03) dos/as entrevistados/as se dispuseram a responder. Em uma

das falas, observamos a particularidade do NASF

As estratégias que a gente utiliza é buscando mostrar para as equipes das unidades que matriciamos, o papel do assistente social, trabalhando os processos de trabalho, mas não é fácil não. A gente encontra muita resistência por parte das equipes. Cada um quer fazer do seu jeito ou não acreditam nas possibilidades de transformação (ASSISTENTE SOCIAL 10).

Na fala acima, percebemos a tentativa dos/as profissionais, mesmo diante

das resistências por parte das equipes, de reafirmar o papel do/a Serviço Social

nas equipes, bem como sua contribuição a defesa do direito à saúde não se

restringindo ao fatalismo típico do conservadorismo presente na sociedade e na

profissão. Em outra fala, temos:

Eu faço o meu melhor, busco de todas as formas garantir o acesso do usuário aos direitos. Faço do jeito que dá porque esse sistema não ajuda só atrapalha. As dificuldades são imensas, mas tenho a convicção do meu projeto e do meu código de ética (ASSISTENTE SOCIAL 11).

É o compromisso com o projeto ético-político que deve nortear as ações

profissionais, até mesmo o “todas as formas” devem estar calçadas nos

princípios éticos e a luz do que das competências e atribuições de modo a não

desviar dos objetivos da profissão.

Os dados abordados denotam diversos impasses preocupantes para a

manutenção e defesa de um Serviço Social crítico, pois é o exercício profissional

no cotidiano das unidades e serviços de saúde que o legitimam, é a dimensão

técnico-operativa que condensa as demais dimensões e fazem transparecer o

“papel” do/a assistente social.

Na pesquisa não apareceu outras atividades que são inerentes a

profissão e que devem ser vistas de forma indissociável no exercício profissional

como a pesquisa, planejamento, mobilização social, participação e controle

social, consideradas importantes para a qualidade das respostas profissionais

as demandas da classe trabalhadora e a garantia dos direitos (CFESS, 2010).

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Todas as questões aqui apontadas (particularidades da atenção básica,

demandas, concepção de saúde, projeto profissional, reforma sanitária) se

entrelaçam na busca de analisar as competências e atribuições profissionais na

atenção básica de saúde do município do Natal/RN a medida que

compreendemos ser basilar para as reflexões pensar o contexto no qual se

desenvolve e as questões concernentes.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As configurações no âmbito do trabalho repercutem nas demais esferas

da vida social, apesar de alguns autores defenderem o fim do mundo do trabalho,

podemos perceber no decorrer do estudo e das análises, que o trabalho continua

ocupando o centro da organização da vida do homem, pois é a partir do lugar

que cada indivíduo ocupa na esfera produtiva que define o seu lugar na

sociedade e influencia no processo saúde-doença.

Assim, no primeiro capítulo que se refere a introdução, em que trouxemos

a estruturação da pesquisa, motivação do tema, relevância social e profissional,

bem como os sujeitos de pesquisa e o percurso da investigação, permitiu

esclarecer as causas de problematizar esse tema e não outro, os resultados

alcançados e as interligações dos assuntos aqui abordados.

Nessa perspectiva, no capítulo dois, no qual fizemos um apanhado acerca

do trabalho, Estado e as políticas sociais, podemos identificar aspectos sociais,

econômicos e políticos que estabelecem uma relação de complementariedade

entre si ao passo em que estão intimamente imbricados e que se expressam no

cotidiano das classes populares.

O início da sociedade capitalista marca as profundas mudanças sentidas

no âmbito do trabalho que atravessam as formas de organização baseadas nas

teorizações liberais, em que o Estado não deveria intervir no mercado, que em

tese se autorregulava e seguia fluxos naturais de evolução, caminhando para a

construção do bem-estar de todos/as.

Todavia, o modo de produção capitalista vai de encontro com suas

próprias limitações expressas pelas crises cíclicas inerentes aos processos por

ele engendrados. Representada na crise de 1929 o capitalismo procurou se

reinventar através do keynesianismo/fordismo que representou uma forte ação

estatal

Em 1970, novamente o capital entra em uma crise estrutural, sendo

obrigado a buscar formas de superar para se manter, alcançando, dessa vez,

níveis diferenciados de acumulação a partir do chamado modelo flexível e da

formatação do papel do Estado frente a prestação direta das políticas sociais e

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a sua caracterização como um dos financiadores do capital através do

direcionamento do fundo público para o pagamento da dívida externa e

investimentos na iniciativa privada.

Nessa conjuntura de forte apoio neoliberal, as políticas sociais foram as

mais afetadas, pois é nítido a negação do seu caráter de direito e sua tendência

à mercantilização. A Seguridade Social se concentrou no campo de ataques das

medidas neoliberais e se distanciou ainda mais da concepção abrangente de

proteção social com uma previdência social direcionada a contribuintes diretos;

saúde pública precária e assistência social com ofertas mínimas de

sobrevivência.

A política de saúde é um exemplo desse aprimoramento da privatização

dos direitos sociais no qual vem sendo um grande nicho de exploração do

mercado a partir da ampliação da iniciativa privada de caráter “complementar”

no SUS e abertura do capital estrangeiro em inúmeros campos de atuação

dentro do sistema.

Nessa perspectiva, os ataques ao sistema público de saúde têm se dado

das mais diversas formas, seja através da privatização no âmbito da gestão do

SUS com as OSCIPs; OS; Fundações privadas ou por meio de propostas de

pacotes básicos de saúde as populações mais vulneráveis como forma de

minimizar os impactos da extinção de um sistema universal de saúde.

A atenção básica de saúde é o retrato mais nítido da negação do direito

universal à saúde e da integralidade da atenção, uma vez que tem sido destinada

as populações mais empobrecidas a partir da oferta de serviços “básicos”, de

baixo custo, como forma compensatória as famílias e indivíduos pauperizados

que não podem acessar a saúde através dos planos privados.

Em suma, essas questões abordadas no referido capitulo, nos permite

compreender as dinâmicas societárias a partir das relações econômicas, sociais

e políticas que repercutem no nível mais geral ao particular e que explicam as

situações cotidianas vivenciadas pelos/as profissionais nos serviços de saúde, o

que nos ajuda a analisar as raízes da Questão Social sem esvazia-las das

conexões históricas que possui.

É possível, a partir de então, compreender as causas da precarização do

SUS que sofre com a falta de medicamentos, longas filas de espera para

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atendimento, sucateamento das unidades de saúde, manutenção de velhos

problemas que não atraem interesses em serem sanados por não estarem no rol

das atividades lucrativas, mas sim das políticas sociais e dos direitos.

É nesse terreno de contradições e embates de interesses de classe que

se insere o exercício profissional, pois o Serviço Social tem na política social o

seu principal campo de atuação. As mudanças ocorridas nessa área afetam

diretamente o fazer profissional do/a assistente social na medida em que se

insere em processos de trabalho pré-definidos pelos empregadores, que

historicamente tem o Estado como comprador majoritário dessa força de

trabalho especializada. Então, as condições em que se desdobram as políticas

sociais, são as mesmas em que se desenvolve o exercício profissional na

cotidianidade das condições ofertadas.

Nessa perspectiva, no capítulo três, problematizamos as reflexões

teóricas aliadas a realidade identificada através da pesquisa de campo. A

pesquisa de campo feita junto aos/as assistentes sociais de Natal/RN,

comprovou a fragilidade na qual se encontra o exercício profissional que sofre

com as dinâmicas macrossociais e microssociais da política de saúde no âmbito

do SUS. Demonstrando uma insuficiência de recursos materiais e humanos,

além de dificuldades na garantia do direito a saúde nos seus diversos níveis de

atenção, começando pela própria atenção básica em cumprir com seu papel de

ordenadora da rede com foco para prevenção e promoção em saúde.

Os/as profissionais denunciaram estar totalmente dependentes das

condições objetivas que lhe são ofertadas nas unidades de saúde para poderem

efetivar o direito a saúde dentro desses espaços, as dificuldades

correspondentes a negligencia do Estado com a política de saúde é apontada

por todos/as entrevistados/as como principal desafio para o fazer profissional.

De fato, as condições objetivas são muito importantes para o exercício

profissional crítico e conscientemente direcionado a defesa dos direitos da

classe trabalhadora, mas as condições por si não fazem esse papel sem que o/a

profissional esteja afinado com as proposições do projeto ético-político.

Diante disso, percebemos o distanciamento dos/as profissionais com o

projeto profissional e pouco ou nenhum domínio sobre suas próprias

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competências e atribuições, desenvolvimento de atividades burocráticas,

justificadas pelos/as profissionais como meio de garantir o acesso ao direito.

Com isso, poucos/as profissionais relataram possuir estratégias para a

viabilização das competências e atribuições a medida que não se sentiam

realizando atividades que não fazem parte das competências e atribuições. Isso

é preocupante em um contexto que se espraia análises de teor conservador, que

se reimprimem discursos moralistas sobre a pobreza e seus desdobramentos.

Não obstante, os relatos da cotidianidade das profissionais não se

diferenciam, a grosso modo, das análises feitas por outros autores da política de

saúde no âmbito geral.

Destacado a importância da compreensão das mudanças na esfera do

trabalho e suas repercussões na vida dos trabalhadores e a condição do/a

assistente social como assalariado, avançamos na discussão do projeto ético-

político que é o eixo norteador do fazer profissional.

O Serviço Social possui um projeto profissional crítico, construído

coletivamente no seio da categoria a partir do final da década de 1960 com

diversas discussões e perspectivas e propostas de diferentes nuances e

adentrando os anos de 1980 com uma maturação voltada para a perspectiva

crítica da sociabilidade capitalista e a defesa dos direitos sociais da classe

trabalhadora.

Embora o projeto profissional seja hegemônico, ele não é único, ou seja,

não significa dizer que não existam outros dentro da categoria que se

contraponham a este, e na conjuntura da base neoliberal tem ressurgido projetos

neoconservadores de ajustamentos aos interesses do capital que ganham força

com discursos que apontam a inviabilidade do projeto ético-político crítico e

contrario ao capital.

Mesmo passados mais de 20 anos de sua conformação, o PEPSS

continua enfrentando resistências de alguns profissionais por não acreditarem

no seu conjunto de valores para o exercício do/a assistentes social e limitações

nas percepções dos profissionais acerca desse projeto. Nas entrevistas foi

possível identificar tanto a resistência por uma minoria dos entrevistados 02

(dois/duas) que acreditam ser essas proposições distantes de serem

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concretizadas, e pouca clareza sobre o mesmo por parte da maioria dos sujeitos

de pesquisa.

Dois pontos foram observados: o primeiro remete a visualização do

projeto ético-político reduzido ao Código de Ética, como se as direções do PEP

fossem apenas nos valores e princípios éticos para o exercício da profissão e o

segundo ponto diz respeito as confusões sobre as competências e atribuições

vistas como se fossem sinônimas e principalmente dificuldade em discorrer

sobre as atribuições privativas no campo do fazer profissional interdisciplinar.

Para um fazer profissional comprometido com a qualidade dos serviços

prestados e a defesa dos direitos sociais, é importante o/a assistente social estar

ciente de todo projeto ético-político. Este não deve ser apenas uma abstração

da qual se sabe algo ou se viu durante a graduação, mas sim como o norteador

de todo o exercício desde a formação até a própria prática profissional no

cotidiano das instituições, vislumbrando o projeto no seu tripé: diretrizes

curriculares; lei de regulamentação da profissão e código de ética, sempre

atentando para os principais aspectos de cada um deles.

Quando pensamos a atenção básica em Natal, consideramos as

dificuldades gerais do SUS em todo o país, amplamente abordadas por diversos

autores críticos e de espaços de defesa de uma saúde pública e de qualidade.

Analisando a sua conformação em Natal, percebemos lacunas na prestação das

ações e serviços que deixam grandes contingentes de pessoas desassistidas

devido a um número insuficientes de unidades de saúde e equipes reduzidas

para atender as áreas de abrangência.

Em relação a atuação do Serviço Social na atenção básica do município,

há uma quantidade ínfima de assistentes sociais nesse nível de atenção o que

denota um privilegiamento do modelo de equipes mínimas na AB e a impede,

também, de operar em uma lógica integrada e interdisciplinar.

Os bairros mais periféricos em que se encontram as unidades de saúde,

são apontados por possuírem as maiores demandas para o Serviço Social e no

entanto não tem respostas em proporção paritária a suas necessidades. A

exemplo disso, podemos citar a região administrativa norte I que, atualmente,

conta apenas com uma assistente social em unidade básica de saúde e que

apresenta inúmeras demandas que acabam sendo suprimidas.

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As demandas se diferenciam entre saúde mental, violência contra idosos,

crianças e mulheres, que de alguma forma chegam as unidades de saúde com

consequências passiveis de serem tratadas e/ou minimizadas a partir do

atendimento médico, mas que não podem ter suas causas resolvidas ao serem

limitadas a isso.

De fato, o Serviço Social tem compromisso com a defesa dos direitos

sociais da classe trabalhadora e atua no sentido de permitir o acesso desses

usuários as diversas políticas sociais. Entretanto, o projeto ético-político deixa

claro as direções para esse processo ao apontar as competências gerais que os

profissionais devem obter no percurso da formação e a partir das competências

e atribuições privativas aponta aquilo que é próprio do fazer profissional do/a

assistente social.

A viabilização do acesso dos usuários aos direitos sociais não deve ser

utilizada como justificativa para o Serviço Social absorver atividades que não lhe

competem, pois isso obscurece os objetivos reais da profissão e a faz se perder

dos seus propósitos para além do atendimento de demandas institucionais visto

que a profissão defende a mobilização para participação desses sujeitos na

formulação e monitoramento dessas políticas sociais.

As dificuldades e desafios são imensos. Partem de aspectos

macrossociais, institucionais e, também, do compromisso dos próprios

profissionais com a sua qualificação continuada e apropriação do projeto ético-

político para enfrentar as barreiras colocadas no exercício no cotidiano das

unidades de saúde. A alienação operada pelas rotinas nos espaços de atuação

não pode se sobressair a necessidade de aprimoramento teórico sobre os temas

importantes que abarcam o fazer profissional nesse nível de atenção e a busca

de estratégias para a superação das dificuldades, caso contrário estaremos

fadados a uma ação tarefeira e que apenas contribui para a manutenção do

status quo.

Sumariamente, de acordo com os objetivos propostos pela pesquisa em

seu trajeto inicial, os resultados nos mostram que a rede de atenção básica em

Natal tem suas lacunas e apesar de avanços com a implantação de serviços

como o NASF e os Consultórios na Rua, ainda tem muitos desafios a serem

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enfrentados para a garantia do direito à saúde preconizado na CF de 1988 e na

lei 8.080/90.

Diante disso, o exercício profissional do/a assistente social, nesse âmbito,

tem vivenciado inúmeras barreiras que se expressam em seu cotidiano, as

condições de trabalho estão longe do ideal, tanto na questão dos insumos,

quantidade suficiente de profissionais, como na própria forma de contratação

que estão sendo submetidos os/as assistentes sociais que são extremamente

frágeis e de claras regressões de direitos para os trabalhadores.

Nesse contexto, as competências e atribuições profissionais tem se

distanciado das prerrogativas existentes no projeto ético-político do Serviço

Social a medida que se alastra as contratações precárias de assistentes sociais

(e fragiliza a luta e organização dos/as trabalhadores), além do conservadorismo

no trato da questão social e individualização das situações coletivas. De um

modo geral, nas USF e UBS, as profissionais têm feito atividades burocráticas,

em nome da viabilização do acesso dos usuários aos direitos, e se detido as

requisições das demandas institucionais, maior conformismo e pouca

participação em eventos e cursos de educação permanente.

Já nos Consultórios na Rua e NASF, essa atuação vem sendo um pouco

mais diferenciada, ainda se evidencia desvios de funções, mas percebemos

pequenos avanços que merecem ser destacados, pois realizam atividades mais

relacionadas com o projeto profissional, posicionamento crítico na análise da

realidade por parte dos/as profissionais entrevistados e compromisso com a

educação permanente.

Outra questão que merece ser salientada é o fato de que os/as

profissionais pesquisados/as não refletem sobre suas práticas, consoantes ou

não com o projeto ético-político, sentimos a dificuldades que possuem para falar

sobre as competências e atribuições desenvolvidas em seu cotidiano e que

assim, não conseguem identificar os desvios.

A pesquisa mostrou aspectos extremamente relevantes para estarmos

pensando enquanto categoria e chamou atenção para a fragilidade na formação

profissional dos/as assistentes sociais que concluem seus cursos de graduação

e entram no mercado de trabalho sem o necessário domínio acerca do projeto

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ético-político e/ou que se distanciam das discussões da profissão por não se

engajarem em atividades de formação continuada.

Compreendemos as dificuldades e os inúmeros percalços para formação

continuada, mas esse é uma necessidade e compromisso ético do/a assistente

social para qualificar sua intervenção profissional. Também é importante

refletirmos sobre a finalidade das nossas ações com vistas a questionar a quem

interessa e a quem está beneficiando, se de fato, responde as demandas dos

trabalhadores, o qual nos colocamos na defesa de seus direitos.

Atualmente, vivenciamos tempos difíceis para a cidadania e garantia de

direitos, mas compreendemos que as transformações que almejamos só podem

ser possíveis através da luta coletiva da classe trabalhadora a qual pertencemos.

Assim, fortalecer os espaços de reivindicação junto as demais categorias

profissionais é uma das estratégias que devemos usar para a garantia dos

direitos sociais e melhores condições de trabalho.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – PPGSS

Apêndice A - Roteiro de entrevista para os (as) assistentes sociais Pesquisadora: Sheyla Priscila Souza de Oliveira

Mestranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço

Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

• Dados de caracterização dos sujeitos entrevistados

1. Idade

2. Sexo

3. Ano e instituição em que se formou

4. Possui alguma pós-graduação? Se sim, qual?

• Sobre as condições de trabalho:

5. Quanto tempo de trabalho você possui na área da saúde?

A) de 1 a 3 anos B) 3 a 5 anos C) Mais de 5 anos

6. Há quanto tempo você trabalha nesse serviço de saúde?

A) Menos de 1 ano B) 1 a 3 anos C) Mais de 5 anos

7. Qual seu tipo de vínculo empregatício? Se você possui mais de um

vínculo empregatício, onde? Carga horária?

8. Como são as condições de trabalho no serviço de saúde (salário, carga

horária, condições técnicas e éticas para o exercício profissional)?

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9. Quantas assistentes sociais trabalham nesse serviço? Quantas seriam

necessário para dar conta da demanda para o Serviço Social?

10. Como se efetiva o trabalho em equipe?

11. Há incentivo para formação continuada? Que atividades de formação

continuada tem participado? Periodicidade?

12. Como você avalia a articulação da rede intersetorial para o atendimento

integral das necessidades dos usuários que procuram os serviços de

saúde de AB?

• Sobre o fazer profissional:

13. O que você compreende por saúde?

14. Como você relaciona a Reforma Sanitária com o Projeto Ético- Político

profissional?

15. Que atividades são desenvolvidas pelo SS na instituição?

16. Quais as principais demandas que chegam ao Serviço Social na

unidade/serviço?

17. Quais as principais dificuldades que você visualiza para a garantia do

direito à saúde nesse serviço?

18. Quais os principais desafios para o Serviço Social em viabilizar o acesso

aos direitos?

19. De que forma tem-se efetivado o trabalho de promoção, prevenção e

educação em saúde junto a comunidade?

20. Quais as particularidades do trabalho do assistente social na Atenção

Básica?

21. Em sua opinião, o que representa o projeto ético-político do Serviço

Social e qual sua importância para o exercício profissional?

22. Quais as competências desempenhadas pelos/as assistentes sociais

nessa unidade/serviço? E quais as atribuições privativas?

23. Como você visualiza (ou analisa) as competências e atribuições aqui

desenvolvidas?

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24. Quais as dificuldades enfrentadas para a efetivação das competências e

atribuições profissionais dos/as assistentes sociais, conforme estão

definidas no projeto ético-político?

25. Quais as estratégias utilizadas para efetivação das competências e

atribuições?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – PPGSS

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: As Competências e

Atribuições Profissionais do/a Assistente Social na Atenção Básica de

Saúde no Município de Natal/RN e o Projeto Ético-Político Profissional que

tem como pesquisador (a) responsável a discente mestranda Sheyla Priscila

Souza de Oliveira sob orientação da profª Drª Edla Hoffmann.

Esta pesquisa pretende analisar como tem se desenvolvido o exercício

profissional do (a) assistente social na Atenção Básica da Política de Saúde no

município do Natal/RN, com vistas a contribuir para a discussão do fazer

profissional e a importância do projeto ético-político como elemento norteador e

indispensável para o Serviço Social.

O motivo que nos leva a fazer este estudo está relacionado ao

reconhecimento da importância do trabalho do assistente social na Atenção

Básica de Saúde pela contribuição que este profissional pode dar para a garantia

do direito a saúde nesse nível de atenção. Nesse sentido, o estudo visa

problematizar o exercício profissional norteado pelo projeto ético-político. Caso

você decida participar, você deverá responder a entrevista semiestruturada,

previamente agendada, com um roteiro de questões ligadas ao fazer profissional

na unidade/serviço no qual está lotada, havendo a gravação de toda entrevista,

caso você autorize.

A previsão de riscos é mínima, não há previsão de prejuízos a integridade

física, moral e social dos sujeitos ou ao patrimônio físico e/ou financeiro da

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instituição. Pode acontecer um desconforto ao responder algumas questões,

entretanto todos os cuidados necessários serão tomados para minimizar isto. Na

abordagem para realização da coleta de dados buscaremos estabelecer

vínculos, interação, um ambiente de confiança e respeito, onde a pesquisadora

irá esclarecer os objetivos do estudo, a importância da pesquisa e da sua

participação na entrevista para a construção da dissertação, bem como os

cuidados éticos e a preservação da sua identidade em sigilo.

Você também terá a liberdade de se recusar a responder questões, caso

assim desejar, além de ter sua identidade preservada em sigilo.

O estudo tem como benefício a problematização da realidade vivenciada

pelos/as assistentes sociais na Atenção Básica de Saúde de Natal/RN

chamando a atenção para a necessidade de uma atuação baseada no projeto

ético-político.

Em caso de algum problema que você possa ter relacionado com a

pesquisa, você terá direito a assistência gratuita que será prestada pela

pesquisadora responsável Sheyla Priscila Souza de Oliveira, de modo a ser

indenizado caso solicite.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas

ligando para Sheyla Priscila Souza de Oliveira, e-mail:

[email protected], cel: (84) 98745-7527 e/ou orientadora Edla

Hoffmann, e-mail: [email protected], cel: (84) 99672-7424.

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento,

em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e poderão serem

divulgados no apenas em congressos ou publicações científicas, na dissertação

final de mestrado, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa

pesquisa em local seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será

assumido pelo pesquisador e reembolsado para você. Se você sofrer algum

dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê

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de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, telefone: 3342-

5003, E-mail: [email protected], Endereço: Av. Nilo Peçanha, 620 –

Petrópolis – CEP 59.012-300 Nata/RN.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra

com o pesquisador responsável Sheyla Priscila Souza de Oliveira.

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como

os dados serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos,

desconfortos e benefícios que ela trará para mim e ter ficado ciente de todos os

meus direitos, concordo em participar da pesquisa As Competências e

Atribuições Profissionais do/a Assistente Social na Atenção Básica de

Saúde no Município de Natal/RN e o Projeto Ético-Político Profissional, e

autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em congressos e/ou

publicações científicas desde que nenhum dado possa me identificar.

Natal__________

_______________________________

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo As Competências e

Atribuições Profissionais do/a Assistente Social na Atenção Básica de

Saúde no Município de Natal/RN e o Projeto Ético-Político Profissional,

declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os

procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e

assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo e

confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora

assumido estarei infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução

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466/12 do Conselho Nacional de Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas

envolvendo o ser humano.

Natal_______

__________________________

Assinatura do pesquisador responsável

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes,

telefone: 3342-5003, E-mail: [email protected], Endereço: Av. Nilo

Peçanha, 620 – Petrópolis – CEP 59.012-300 Nata/RN.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – PPGSS

Apêndice C – Modelo de Quadro de análise

UNIDADE DE

REGISTRO

DISTRITO OESTE

CATEGORIAS

TEÓRICAS

FALAS

0%

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – PPGSS

Anexo A – Parecer CEP/HUOL

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: AS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Pesquisador: Sheyla Priscila Souza de Oliveira

CAAE: 50623915.4.0000.5292

Instituição Proponente: Pós-Graduação em Serviço Social

Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 1.350.004

Apresentação do Projeto:

O presente projeto tem como objeto de investigação o exercício profissional do

(a) assistente social na Atenção Básica de saúde do município do Natal/RN, por

compreender a importância da inserção desse profissional na Atenção Básica

com vistas à democratização do acesso e a efetivação do direito fundamental à

saúde. As mudanças engendradas pelo projeto neoliberal a partir dos anos de

1990, no Brasil, causaram sérias consequências para a classe trabalhadora no

que concerne a materialização dos direitos sociais, uma vez que o ideário

neoliberal preconiza a redefinição do papel do Estado no sentido de transformá-

lo em mínimo para o social e máximo para o econômico. Nesse sentido, o estudo

tem como. Tem por objetivo analisar como tem se desenvolvido o exercício

profissional do (a) assistente social na Atenção Básica da política de saúde no

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município do Natal/RN, com vistas a contribuir para a discussão do fazer

profissional e a importância do projeto ético-político como elemento norteador e

indispensável para o Serviço Social.

Objetivo da Pesquisa:

GERAL: Analisar como tem se desenvolvido o exercício profissional do (a)

assistente social na atenção Básica da Política de Saúde no município do

Natal/RN, com vistas a contribuir para a discussão do fazer profissional e a

importância do projeto ético-político como elemento norteador e indispensável

para o Serviço Social.

ESPECÍFICOS:

-Identificar as condições de trabalho que circunscrevem o fazer profissional dos

(as) assistentes sociais na Atenção Básica de saúde no município de Natal/RN

com vistas a revelar as implicações para o exercício profissional;

-Analisar as competências e atribuições dos (as) assistentes sociais na atenção

básica com vistas a reconhecer possibilidades e dificuldades encontradas para

sua efetivação na direção do Projeto Ético-Político do Serviço Social;

-Caracterizar a rede de serviços de Atenção Básica do Município do Natal/RN a

fim de compreender o modelo de atenção básica proposto e executado pelo

SUS.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

A descrição dos riscos e benefícios está de acordo com a resolução n°466/2012.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

A pesquisa é relevante uma vez que visa analisar como tem se desenvolvido o

exercício profissional do (a) assistente social na Básica da Política de Saúde no

município do Natal/RN, com vistas a contribuir para a discussão do fazer

profissional e a importância do projeto ético-político como elemento norteador e

indispensável para o Serviço Social.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

O projeto de pesquisa está bem embasado e os termos de apresentação

obrigatória foram apresentados. O TCLE com riscos e benefícios expostos de

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forma clara e linguagem coerente; Folha de rosto devidamente assinada pela

instituição proponente; carta de anuência da instituição assinada e carimbada.

Considerações Finais a critério do CEP:

1. Apresentar relatório parcial da pesquisa, semestralmente, a contar do início da mesma.

2. Apresentar relatório final da pesquisa até 30 dias após o término da mesma.

3. O CEP HUOL deverá ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos

relevantes que alterem o curso normal do estudo.

4. Quaisquer documentações encaminhadas ao CEP HUOL deverão conter

junto uma Carta de Encaminhamento, em que conste o objetivo e justificativa

do que esteja sendo apresentado.

5. Caso a pesquisa seja suspensa ou encerrada antes do previsto, o CEP

HUOL deverá ser comunicado, estando os motivos expressos no relatório final

a ser apresentado.

6. O TCLE deverá ser obtido em duas vias, uma ficará com o pesquisador e a

outra com o sujeito de pesquisa.

7. Em conformidade com a Carta Circular nº. 003/2011CONEP/CNS, faz-se

obrigatório a rubrica em todas as páginas do TCLE pelo sujeito de pesquisa

ou seu responsável e pelo pesquisador.

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:

Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação

Informações Básicas

PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_P 21/10/2015 Aceito

do Projeto ROJETO_595332.pdf 23:29:45

Outros Carta_de_anuencia.pdf 21/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

23:11:35 de Oliveira

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Outros Carta_pendencia.pdf 21/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

23:07:39 de Oliveira

Projeto Detalhado / Projeto.pdf 08/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

Brochura 23:46:47 de Oliveira

Investigador

Outros Carta_de_apresentacao.pdf 08/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

23:45:03 de Oliveira

Folha de Rosto Folha_de_rosto.pdf 08/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

23:37:50 de Oliveira

TCLE / Termos de TCLE.pdf 05/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

Assentimento / 17:21:01 de Oliveira

Justificativa de

Ausência

Outros Folha_de_identificacao.pdf 05/10/2015 Sheyla Priscila Souza Aceito

17:20:13 de Oliveira

Situação do Parecer:

Aprovado

Endereço: Avenida Nilo Peçanha, 620 - 3º subsolo

Bairro: Petrópolis CEP: 59.012-300

UF: RN Município: NATAL

Telefone: (84)3342-5003 Fax: (84)3202-3941 E-mail: [email protected]