universidade federal do rio grande do norte ......a orientação da professora dra. silvana mara...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL MOVIMENTO ESTUDANTIL E SERVIÇO SOCIAL NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: tendências e particularidades. NATAL-RN 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SERVICcedilO SOCIAL

MOVIMENTO ESTUDANTIL E SERVICcedilO SOCIAL NO CAPITALISMO

CONTEMPORAcircNEO tendecircncias e particularidades

NATAL-RN

2009

Maria Lenira Gurgel Cavalcante

MOVIMENTO ESTUDANTIL E SERVICcedilO SOCIAL NO CAPITALISMO

CONTEMPORAcircNEO tendecircncias e particularidades

Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social da Universidade federal do Rio Grande do Norte para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em Serviccedilo Social sob a orientaccedilatildeo da professora Dra Silvana Mara Morais dos Santos

NATAL-RN

2009

Catalogaccedilatildeo da Publicaccedilatildeo na Fonte UFRN Biblioteca Setorial do CCSA

Divisatildeo de Serviccedilos Teacutecnicos

Cavalcante Maria Lenira Gurgel

Movimento estudantil e servio social no capitalismo contemporneo tendncias e particularidades Maria Lenira Gurgel Cavalcante - Natal RN 2009

191 f

Orientadora Prof Dr Silvana Mara Morais dos Santos Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Cincias Sociais

Aplicadas Programa de Ps-Graduao em Servio Social

1 Servio Social - Dissertao 2 Movimento estudantil ndash Dissertao 3 Capitalismo contemporneo - Dissertao 4 Universidade ndash Formao profissional - Dissertao I Santos Silvana Mara Morais dos II Universidade Federal do Rio Grande do Norte III Ttulo

RNBSCCSA CDU 364 (0433)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo incentivo compreenso e contribuio em toda a minha

caminhada acadmica e em especial no mestrado

A Jsilva (Anjo) companheiro que esteve comigo nos momentos difceis e complicados

enfrentados nesse percurso

A minha irm Lourdinha pelas preocupaes e confiana demonstrada

Ao meu cunhado Roverlan (R) sempre disponvel pra me deixar e pegar nas idas e

vindas de Natal independentes de datas e horrios

A minha amada sobrinha Kauanny que com a sinceridade de uma criana contagia

os espaos com a alegria e a simplicidade da vida alm de ter a capacidade de me

provocar risos mesmo nos momentos em que me sentia pressionada pelas

obrigaes cotidianas e exigncias caractersticas do mestrado

A minha av Antonia e a tia Ftima pelo abrigo em Natal pelo incentivo dedicado e

pelas preocupaes ocasionadas

A Silvana Mara pelas orientaes qualificadas materiais emprestados e a confiana

de que tudo daria certo

A Smya Ramos que considero co-orientadora dessa pesquisa a sua contribuio foi

significativa desde a graduao teve momentos que no meu cantinho de estudo os

seus materiais eram superiores aos meus alm disso agradeo pelo tempo

disponibilizado para ouvir minhas inquietaes e nas leituras realizadas do projeto que

culminou nesta pesquisa Muito obrigada

Aos(as) dirigentes da ENESSO sensibilizados(as) em contribuir com esta dissertao

obrigada pelo material disponibilizado entrevistas concedidas e emails respondidos

As professoras Severina Garcia e Denise Cmara pelas indicaes durante a

disciplina ldquoSeminrio de Dissertaordquo

As professoras Ivanete Boschetti e Telma Gurgel pelas observaes processadas

sobre esse trabalho

As professoras Fernanda Marques e Regina vila pela aceitao em participarem na

banca de defesa desse trabalho

A querida turma do mestrado composta por pessoas batalhadoras comprometidas

com a profisso e sempre prontas a compartilhar informaes e a socializar

experincias que se tornaram importantes no desenvolvimento das investigaes de

todos(as) por isso meus agradecimentos a Ednara Erika Henrique Ilidiana Leila

Joilma Josiane Sussany e Tssia

As amigas Ilidiana Diniz(ilidi) Ednara (Ed) e Valmara companheiras nos momentos

de angustias e superaccedilotildees durante a elaboraccedilatildeo dessa dissertaccedilatildeo haacute e tambeacutem

pela acolhida no residecircncia durante as minhas idas a Natal sempre

compartilhandomesmo que um pequeno quarto

A amiga Janaiky pela ajuda na produccedilatildeo de dados para pesquisa

Ao amigo Henrique que desde o iniacutecio acreditou na viabilidade dessa pesquisa

agradeccedilo pelos emails repassados e pelo caminho disponibilizado que facilitou a

busca de informaccedilotildees sobre a ENESSO

A Larisse Rodrigues pela excelente monografia produzida sobre o MESS e pelas

trocas de informaccedilotildees

RESUMO

A dissertaccedilatildeo analisa a direccedilatildeo social do Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS)por meio da atuaccedilatildeo da Executiva Nacional dos(as) estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) no que se refere a sua posiccedilatildeo poliacutetica sobre Universidade e Formaccedilatildeo profissional no periacuteodo de 2003-2008 Do ponto de vista teoacuterico-metodoloacutegico o objeto de estudo foi apreendido em suas determinaccedilotildees estruturais conjunturais e geracionais considerando a crise contemporacircnea do capital e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo Estado e Sociedade com ecircnfase nas particularidades e mudanccedilas na Universidade e nas exigecircncias postas no acircmbito da Formaccedilatildeo profissional Para a coleta e produccedilatildeo dos dados foi realizada pesquisa documental e de campo Foram entrevistados(as) dirigentes da ENESSO um(a) de cada gestatildeo entre os anos de 2003-2008 aleacutem de representantes da Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) que destaca a relevacircncia da parceria construiacuteda com a entidade de representaccedilatildeo dos(as) estudantes na cena contemporacircnea Os resultados obtidos sugerem que a ENESSO desenvolve uma atuaccedilatildeo em defesa do projeto de universidade puacuteblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formaccedilatildeo fundado nas Diretrizes Curriculares de 1996 o tempo presente eacute marcado no MESS pelo acirramento de disputas pela direccedilatildeo social do movimento entre os grupos poliacuteticos os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre o governo Lula e do papel poliacutetico assumido pela UNE nesse contexto de contra-reforma do ensino superior A conjuntura atual de exaltaccedilatildeo extrema do individualismo tem se revelado desfavoraacutevel agrave organizaccedilatildeo coletiva da classe trabalhadora e em particular dos movimentos estudantil O MESS atravessa um momento de profunda instabilidade dimensatildeo que se expressa na ausecircncia de coordenadores nacionais para gestatildeo 20082009 da ENESSO Apesar das dificuldades enfrentadas destaca-se a parceria construiacuteda entre as entidades representativas do Serviccedilo Social em niacutevel nacional e a luta que desenvolvem em defesa do projeto profissional vinculado a construccedilatildeo de outra sociabilidade para aleacutem do capital

Palavras-chave Movimento Estudantil de Serviccedilo Social Capitalismo contemporacircneo Universidade e Formaccedilatildeo Profissional

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the social direction in which the Student Movement in Social Work in Brazil (ENESSO) has gone through This is done considering how the functioning of the National Executive the Brazilian Social Work Student union has operated The research analyzed their political position regarding the university as well as professional education in the period of 2003 to 2008 The studyrsquos theoretical and methodological object was obtained according to its structural juncture and time determinants All of the mentioned elements considered the contemporary capital crisis and its implications towards the State and Society emphasizing specifically the changes that occurred in the University regarding professional education For the purpose of data collection and production a documental and field research was realized Thus interviews were done considering one manager of each management period of the ENESSO group in the time span of 2003 to 2008 Some subjects that represented the Brazilian Social Work Teaching and Research Association (ABEPSS) as well as were also interviewed These subjects have had a relevant role in partnership with these entities and represented students in the contemporary scene Results suggest that ENESSO has developed work that defends a project of a public free and laic quality university This entity also defends a project that considers the 1996 Curricular Guidelines Currently there is internal dispute in the social direction of the MESS this is seen amongst political groups that diverge in opinions related to the analysis done by the Lula government regarding the political role that the National Student Union-UNE has taken in the counter-reform of higher education This current juncture is seen as extremely individualist and it results as in unfavorable for the collective organization of the working class especially regarding student movement MESS has been going through a moment of profound instability and this dimension is being expressed by the absence of national coordinator for the 20082009 management period at ENESSO Even though there are difficulties it is possible to point out partnership of the entities that represent the national Social Work in Brazil These partnerships are all related to a struggle and search for the development of a professional project that leads towards the sociability awareness that goes beyond capital

Key-Words Social Work Student Movement Contemporary Capitalism University and Professional Education

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

AGCS Acordo Geral sobre Comeacutercio e Serviccedilo

ANDES Associaccedilatildeo Nacional dos Docentes de Ensino Superior

AE Articulaccedilatildeo de Esquerda

ALEITS Associaccedilatildeo Latino-americana de Ensino e Investigaccedilatildeo em Trabalho Social

BM Banco Mundial

CA Centro Acadecircmico

CEDEPSS Centro de Documentaccedilatildeo e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social

UNIASSELVI Centro Universitaacuterio Leonardo da Vinci

CFESS Conselho Federal de Serviccedilo Social

CRESS Conselho Regional de Serviccedilo Social

CONLUTAS Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas

CONLUTE Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas dos Estudantes

CORETUR Conselho de Representantes de Turma

CUT Central Uacutenica dos Trabalhadores

DA Diretoacuterio Acadecircmico

DS Democracia Socialista

DCE Diretoacuterio Central dos Estudantes

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENE Encontro Nacional dos Estudantes

ENESS Encontro Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENEX Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviccedilo Social

ERESS Encontro Regional de Estudantes de Serviccedilo Social

EQM Eu Quero eacute Mais

FAETSFederaccedilatildeo Argentina de Estudantes de Trabalho Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LBA Legiatildeo Brasileira de Assistecircncia

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

ME Movimento Estudantil

MESS Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

MS Movimentos Sociais

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

MTL Movimento Terra Trabalho e Liberdade

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo-governamental

PDP Projeto Democraacutetico e Popular

PLP Partido da Libertaccedilatildeo Proletaacuteria

PROUNI Programa Universidade Para Todos

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados

PT Partido dos Trabalhadores

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das

Universidades Federais

SNFPMESS Seminaacuterio Nacional de Formaccedilatildeo Profissional e Movimento Estudantil de

Serviccedilo Social

SESSUNE Subsecretaria de Estudantes de Serviccedilo Social na UNE

SINAES Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UNITINS Universidade Estadual do Tocantins

UNE Uniatildeo Nacional dos Estudantes

LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1 Natureza das Instituies de Ensino Superior no Brasil ndash Censo de 2007

GRFICO 2 Tipo de Instituies de Ensino Superior Privadas- Censo de 2007

GRFICO 3 Tipo de Instituies de Ensino Superior Pblicas- Censo de 2007

GRFICO 4 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1930-1994

GRFICO 5 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1995-2002

GRFICO 6 Criao de Cursos de Servio Social no perodo de 2003- agosto de

2008

GRFICO 7 Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de

2003-2008

GRFICO 8 Participao em organizao coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO

antes da insero no MESS

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2002

QUADRO 2 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2008

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 4 Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 5 Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-

2008

QUADRO 6 Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes

de sua inserccedilatildeo no MESS

QUADRO 7 Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de

assumirem a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

SUMAacuteRIO

IINTRODUO------------------------------------------------------------------------------------------14

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social-----------------------------------------------------------------------------------------25

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA----------------------------------------------------------------------------25

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes---------------35

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO----------------------------------------------------------------------------------- ------42

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE ----------------------------------------------------------------------------------50

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE -----------------------------------54

3-1 A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal ----------------------------------------------------------------54

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades-

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------59

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais --------------68

IV UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE-75

4-1ldquoREFORMA UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA DO

ESTADO BRASILEIRO --------------------------------------------------------------------------------75

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico ---------------------------------------------------------84

4-3 REMANDO CONTRA MAR a formao profissional do assistente social no

mbito da contra-reforma do ensino superior-----------------------------------------------------98

V- UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL ---- --------------112

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO-------------112

5-2 UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO----

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------124

5-3 REFLEXES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO --------------------147

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies ----------------------161

5-5 SERVIO SOCIAL ABEPSS CFESS E A ENESSO no mbito da parceria

estratgica -----------------------------------------------------------------------------------------------165

CONSIDERAES FINAIS -------------------------------------------------------------------------171

REFERNCIAS-----------------------------------------------------------------------------------------175

ANEXOS -------------------------------------------------------------------------------------------------185

APNDICE----------------------------------------------------------------------------------------------190

Nada Eacute Impossiacutevel De Mudar

Desconfiai do mais trivial

na aparecircncia singelo

E examinai sobretudo o que parece habitual

Suplicamos expressamente

natildeo aceiteis o que eacute de haacutebito como coisa natural

pois em tempo de desordem sangrenta

de confusatildeo organizada de arbitrariedade consciente

de humanidade desumanizada

nada deve parecer natural nada deve parecer

impossiacutevel de mudar (Bertolt Brecht)

14

I INTRODUCcedilAtildeO

Nesta investigaccedilatildeo desenvolvemos um estudo sobre a accedilatildeo do Movimento

Estudantil(ME) tendo como objeto de pesquisa a anaacutelise da direccedilatildeo social do

Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS) e sua relaccedilatildeo com a universidade e

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais no contexto da contra-reforma1 do

ensino superior implementada no periacuteodo de 2003-2008

O interesse pelo estudo dessa temaacutetica iniciou durante o Curso de

Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

(UERN) de 2003 ao iniacutecio de 20072 por meio da minha vivecircncia no ME que

proporcionou momentos enriquecedores na formaccedilatildeo profissional e contribuiu com o

desenvolvimento de reflexotildees participaccedilatildeo em debate e accedilotildees voltadas para a defesa

do atual projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado pelas

Diretrizes Curriculares de 1996

Essa dissertaccedilatildeo representa a continuidade de estudos desenvolvidos

sobre o ME considerando que no trabalho de conclusatildeo de curso abordamos a

atuaccedilatildeo do MESS na (UERN) Os resultados desse estudo me permitem afirmar que

a partir da deacutecada de 1990 ocorreu agrave substancial influecircncia da ENESSO nas accedilotildees

locais dos(as) estudantes de Serviccedilo Social dentre as quais destacamos a efetivaccedilatildeo

de atividade em defesa do espaccedilo profissional do(a) assistente social no Instituto

Nacional de Seguro Social(INSS) a partir de orientaccedilotildees da executiva tivemos a

atuaccedilatildeo do Centro Acadecircmico(CA) nas discussotildees relativas a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares de 1996 mais recentemente podemos

citar o amplo boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(ENADE)

realizado pelos estudante de Serviccedilo Social da UERN em novembro de 20043 a

promoccedilatildeo de debates sobre o exame de proficiecircncia A monografia tambeacutem aponta a

existecircncia de dificuldades relacionadas agrave mobilizaccedilatildeo das bases e da renovaccedilatildeo de

1 Termo utilizado por Behring(2003) como forma de expressar que a reconfiguraccedilatildeo do Estado na realidade atual corrobora para a minimizaccedilatildeo e natildeo consolidaccedilatildeo de direitos2 Essa militacircncia permitiu a inserccedilatildeo em espaccedilos do Movimento Estudantil como representaccedilatildeo estudantil no departamento de Serviccedilo Social da UERN bem como a participaccedilatildeo na Coordenaccedilatildeo Regional da Executiva Nacional de Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) na gestatildeo 20052006 Tal vivecircncia despertou a curiosidade em torno da organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do MESS e da relevacircncia da sua accedilatildeo para profissatildeo bem como para construccedilatildeo de lutas que ultrapasse o universo profissional e contribua para a mobilizaccedilatildeo pela universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com qualidade Desse interesse resultou a produccedilatildeo monograacutefica intitulada Movimento Estudantil de Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte trajetoacuteria histoacuterica na luta por uma universidade puacuteblica e de qualidade defendida em janeiro de 20073 A partir dessa avaliaccedilatildeo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura(MEC) atribuiu nota inferior a 1 o que representou a menor nota dentre os cursos de Serviccedilo Social do Brasil

15

dirigentes estudantis para os espaccedilos como o Conselho de Representantes de

Turma(CORETUR) CA e Diretoacuterio Central dos Estudantes(DCE)

Revelou ainda o compromisso histoacuterico do movimento com a defesa da

universidade puacuteblica gratuita e de qualidade mediante a efetivaccedilatildeo de diversas lutas

e atividades como as mobilizaccedilotildees e greves em prol da estadualizaccedilatildeo da UERN na

deacutecada de 1980 atos contraacuterios ao pagamento de taxas no acircmbito das instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino em particular na UERN promoccedilatildeo de manifestaccedilotildees em 2004

durante as comemoraccedilotildees de 36 anos dessa instituiccedilatildeo O objetivo dessa accedilatildeo dentre

outros consistia em mostrar para a sociedade acadecircmica e mossoroense a

insatisfaccedilatildeo estudantil com as precaacuterias condiccedilotildees de funcionamento da universidade

Aleacutem disso a investigaccedilatildeo monograacutefica demonstrou preocupaccedilotildees do MESS da

UERN com a formaccedilatildeo profissional e com a defesa do projeto eacutetico-poliacutetico da

profissatildeo

A produccedilatildeo de dados referente a esta pesquisa na graduaccedilatildeo explicitou

tambeacutem a decepccedilatildeo de segmentos do MESS no acircmbito da UERN com a contra-

reforma do ensino superior materializada na primeira gestatildeo sob a presidecircncia de Luis

Inaacutecio Lula da Silva dimensatildeo que pode ser aprendida inclusive na fala de uma das

entrevistadas que contribuiu com a socializaccedilatildeo de informaccedilotildees para o trabalho

monograacutefico

Quando eu entrei na universidade em 2002 era justamente o ano da campanha eleitoral para presidente [] era todas as expectativas em cima do governo Lula [] mas as coisas natildeo funcionaram assim a gente imaginava que as reformas fossem acontecer mas natildeo da forma como ele fez apenas camuflou as reformas que FHC queria fazer (orquiacutedea)

A construccedilatildeo da monografia associada agrave militacircncia potencializou a

apreensatildeo de alguns desafios que perpassam a organizaccedilatildeo do MESS na

contemporaneidade Destacamos a realidade objetiva em que parte significativa

dos(as) dirigentes locais do CA desenvolvia estaacutegio remunerado eou outras atividades

de inserccedilatildeo no mercado de trabalho Esse contexto nos remete a refletir sobre o

compromisso majoritaacuterio desses sujeitos com a luta coletiva expresso no

envolvimento com a construccedilatildeo do MESS em meio agrave sobrecarga de atividades

desempenhadas Em decorrecircncia dessa realidade explicitam-se limitaccedilotildees

provocadas pelas condiccedilotildees objetivas e subjetivas de inserccedilatildeo desses militantes no

movimento e direccedilatildeo da entidade estudantil tais como minimizaccedilatildeo na participaccedilatildeo de

reuniotildees estudantis foacuteruns do ME e do MESS reduccedilatildeo na construccedilatildeo de atividades

entre outras

16

Outra vivecircncia importante para construccedilatildeo do objeto de estudo consistiu na

experiecircncia de estaacutegio4 no Conselho Regional de Serviccedilo Social (CRESS) Seccional

de Mossoroacute que possibilitou a participaccedilatildeo em discussotildees ciclos de debates entre

outras atividades sobre diferentes temaacuteticas relacionadas agrave profissatildeo em especial agrave

proacutepria formaccedilatildeo profissional O estaacutegio eacute considerado pela Associaccedilatildeo Brasileira de

Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) um elemento essencial na construccedilatildeo

de um perfil profissional criacutetico reflexivo e investigativo que contribui para formaccedilatildeo

de profissionais com competecircncias e habilidades capazes de desvendar as relaccedilotildees

sociais contraditoacuterias no cotidiano de trabalho dos(as) assistentes sociais O estaacutegio

no CRESS potencializou um aprofundamento de estudos e vivecircncias relacionadas ao

exerciacutecio e agrave formaccedilatildeo profissional em Serviccedilo Social aleacutem da aproximaccedilatildeo com a

dimensatildeo da organizaccedilatildeo poliacutetica da categoria profissional

Diante dessas constataccedilotildees no universo da UERN foi aguccedilada a nossa

inquietaccedilatildeo e curiosidade sobre accedilatildeo do MESS em niacutevel nacional de tal forma que

dando continuidade ao estudo iniciado no periacuteodo do Curso de Graduaccedilatildeo novos

questionamentos emergiram na perspectiva de analisar a atuaccedilatildeo e as implicaccedilotildees do

MESS na defesa de um determinado projeto de universidade e formaccedilatildeo profissional

Os resultados da pesquisa realizada na monografia ressaltados anteriormente satildeo

particularidades da organizaccedilatildeo e accedilatildeo poliacutetica do MESS local a partir sobretudo da

deacutecada de 1990 ou configura-se numa tendecircncia que pode ser generalizada a esse

sujeito coletivo em niacutevel nacional Como as determinaccedilotildees soacutecio-conjunturais do

periacuteodo de 2003-2008 inflexionam e caracterizam a accedilatildeo poliacutetica do MESS em acircmbito

nacional Quais satildeo as estrateacutegias e as formas de luta desenvolvidas Quem satildeo

seus principais aliados e opositores no cotidiano das lutas Diante dessas reflexotildees

essa pesquisa apresenta como objetivo analisar a direccedilatildeo social do MESS mediante a

atuaccedilatildeo da ENESSO em relaccedilatildeo agrave universidade e agrave formaccedilatildeo profissional no

interregno de 2003 a 2008

Portanto considerando agrave insuficiecircncia de tempo pela dinacircmica de duraccedilatildeo

do mestrado bem como devido a problemaacuteticas referentes a deslocamentos e as

proacuteprias condiccedilotildees objetivas torna-se imprescindiacutevel agrave instituiccedilatildeo de uma delimitaccedilatildeo

temporal para a realizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

Eacute nesse sentido que estabelecemos esse recorte temporal o qual tambeacutem

eacute demarcado pelo iniacutecio do governo Lula e engloba ainda parte do seu segundo

mandato (2003-2008) O processo que nos levou a efetivaccedilatildeo de tal delimitaccedilatildeo

consiste na possibilidade de potencializar algumas consideraccedilotildees e problematizaccedilotildees

4 Estagio curricular de caraacuteter obrigatoacuterio efetivado durante a graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social no periacuteodo letivo de 20042 a 20061

17

interessantes e enriquecedoras na investigaccedilatildeo tais como proporcionou a

contextualizaccedilatildeo da materializaccedilatildeo de uma contra-reforma do ensino superior

circunscrita no acircmbito de um governo cujo partido presidencial emergiu e consolidou-

se historicamente identificado com a luta por uma educaccedilatildeo puacuteblica e de qualidade

contudo age no executivo federal em conformidade com o ideaacuterio neoliberal de

destruiccedilatildeo daquela luta e ainda permitiu evidenciarmos algumas dimensotildees do

relacionamento deste governo com os movimentos sociais(MS) e em particular com

o ME

Aleacutem disso o ano de 2008 constitui-se um marco para o MESS Trata-se

da existecircncia de trinta anos de reorganizaccedilatildeo do movimento e vinte anos de criaccedilatildeo

da ENESSO entretanto neste importante ano tivemos no Encontro Nacional de

Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSS) realizado em julho de 2008 em Londrina-PR

a natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos da Coordenaccedilatildeo Nacional da executiva O que este fato

representa para o MESS Uma crise As diferentes vertentes que compotildeem o MESS

estatildeo preocupadas com os interesses reais do coletivo de estudantes de Serviccedilo

Social possuem uma agenda poliacutetica ou estatildeo submetidas agrave mera conquista da

entidade como expressatildeo de um tipo de poder poliacutetico desvinculado de uma direccedilatildeo

social criacutetica

A relevacircncia dessa pesquisa consiste na anaacutelise de um sujeito coletivo

historicamente protagonista na luta por uma universidade e formaccedilatildeo de qualidades

Destarte eacute relevante para o Serviccedilo Social por problematizar o processo de formaccedilatildeo

profissional dos(das) assistentes sociais ressaltando a ameaccedila vivenciada pelo atual

projeto educacional em decorrecircncia das medidas efetivadas pelo governo vigente

consubstanciadas nas orientaccedilotildees neoliberais

Aleacutem disso consideramos a pesquisa importante na medida em que

analisa um fenocircmeno ainda em curso podendo de tal forma contribuir na elaboraccedilatildeo

de investigaccedilotildees seguintes bem como pode subsidiar reflexotildees significativa para

proacutepria organizaccedilatildeo poliacutetica do MESS nessa conjuntura tatildeo adversa

Outro aspecto que explicita a relevacircncia acadecircmica dessa pesquisa

consiste na reduzida produccedilatildeo teoacuterica sobre a atuaccedilatildeo do ME em particular do MESS

Estudos que tem como temaacutetica o segmento estudantil em larga medida estaacute

circunscrita a accedilatildeo desse movimento no contexto da ditadura militar em virtude do

protagonismo que desenvolveu na luta contra o regime ditatorial Portanto elaborar

produccedilotildees teoacutericas sobre o ME em conjunturas recentes consistiu em um desafio

diante da bibliografia escassa o que por sua vez representa uma contribuiccedilatildeo no

estudo da accedilatildeo e particularidades desse MS

18

Do ponto de vista terico-metodolgico a pesquisa foi desenvolvida numa

perspectiva de totalidade com vista a apreender as determinaes estruturais e

conjunturais e suas implicaes no objeto investigado

Temos a compreenso que o conhecimento um saber provisrio e

ilimitado nesse sentido relevante o entendimento de que as teorias e seus mtodos

consistem em referenciais que potencializam a apreenso da realidade a partir do

desenvolvimento das investigaes cientficas Cardoso(1976) caracteriza o mtodo

como elemento que contribui na apreenso de possibilidades e limites inerentes a

prpria elaborao do conhecimento ainda o concebe como parte constitutiva de

determinada teoria social Portanto o referencial terico-metodolgico no deve ser

empregado nas pesquisas como receiturio infalvel e mecanicista As teorias so

construdas no mbito da historicidade ou seja refletem sobre problemticas

circunscritas no tempo e espao Alm disso na perspectiva marxiana constitui a

reproduo no plano ideal do movimento do real em que se busca apreender as

determinaes que conformam os fenmenos existentes na realidade histrica em

uma dimenso de totalidade

Totalidade na perspectiva de conhecer um determinado objeto levando-se

em considerao os seus determinantes a partir de um processo de abstrao

fundamentado no movimento do real e no a apreenso da realidade como factvel de

um conhecimento total e absoluto visto que ldquoas leis inerentes ao ser social so leis

histricas decorrentes das necessidades e conexes internas dos fenmenos dos

fatos e processos sociais por isso so tendenciaisrdquo (PONTES 2002 p76) Ou na

concepo de Lowy

O que define a cincia como tal a tentativa de conhecimento da verdade Nesse sentido h uma relao entre cincia e conhecimento da verdade Porm a verdade absoluta jamais ser conhecida todo o processo de conhecimento um processo de acercamento de aproximao verdade (2000 p110)

Ratificamos a necessidade de entendimento histrico da realidade na

medida em que temos a compreenso de ser a esfera estrutural a determinante na

constituio das relaes sociais e de tal modo decisiva na (re)configurao do

Estado capitalista e da organizao e atuao dos sujeitos nesta forma de

sociabilidade Como assinala Tonet

Na perspectiva metodolgica marxiana a produo terica nunca uma questo apenas terica- de modo diferente em momentos diferentes- uma relao estreita com o andamento do processo real

19

alm de terem reflexos na prpria vida cotidiana dos intelectuais( 2004 p207)

Para a coleta e produo dos dados utilizamos pesquisa bibliogrfica a

partir de fontes como livros artigos dissertaes teses entre outras que perpassou

toda investigao Todavia sabemos das dificuldades decorrentes sobretudo do

escasso registro de obras que tratam do ME na atualidade pois a maioria das anlises

sobre este segmento organizado se refere ao contexto da ditadura militar iniciada em

1964 Tal realidade resultante provavelmente do seu protagonismo na luta pela

liberdade e democracia naquele perodo pode expressar ainda o momento de influxo

vivenciado por diversos MS que se expressa tambm no mbito do segmento

estudantil no contexto contemporneo

Utilizamos tambm pesquisa documental na qual privilegiamos a anlise

de documentos construdos pelo prprio ME especialmente o MESS Os principais

documentos que subsidiaram a anlise foram as deliberaes aprovadas nos ENESS

no perodo que engloba o recorte temporal da pesquisa Estas deliberaes

estabelecem as lutas a serem desenvolvidas em cada ano de direo da ENESSO

alm de boletins jornais cadernos e estatutos produzidos pela entidade de 2003-

2008 documentos aprovados sobre a contra-reforma universitria como decreto lei

regulamentos alm de elaboraes oficiais sobre as atuais mudanas na educao

superior brasileira como exemplo podemos citar o prprio plano de reestruturao

das universidades federais de autoria do MEC

Consideramos significativo situar na discusso os documentos

apreendidos como os instrumentos normativos da profisso principalmente as

Diretrizes Curriculares para o Curso de Servio Social de 1996 Estas foram

analisadas sobretudo no captulo quatro da dissertao com o objetivo de

problematizar a relao -contra-reforma universitria ndash formao profissional- e

atuao do segmento estudantil nestas esferas

De modo complementar sinalizamos o propsito de realizarmos pesquisa

de campo atravs de entrevistas do tipo semi-estruturada com um(a) dirigente da

ENESSO em cada ano compreendido no perodo 2003-2008 num total de cinco

entrevistas que seriam utilizadas com a perspectiva de resgatar a atuao do MESS

a partir da fala dos seus(suas) militantes Para Neto mediante as entrevistas o

investigador procura apreender informaes expressas na fala dos sujeitos e de tal

forma

Ela no significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos autores

20

enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizada (1994 p57)

Devemos considerar que informaccedilotildees distorcidas ou irreais podem ser

transmitidas pelos entrevistados(as) contudo isso natildeo invalida a utilizaccedilatildeo da

entrevista como uma importante teacutecnica de produccedilatildeo de dados principalmente

quando o conteuacutedo expresso pelos informantes eacute analisado evidenciando a

conjuntura na qual a fala se reporta vislumbrando desse modo a apreensatildeo dos seus

determinantes

Elaboramos o roteiro de entrevista para ser realizado com cinco militantes

Um participante de cada diretoria compreendida no periacuteodo 2003-2008 portanto

entrevista com dirigente da diretoria 2003-2004 2004-2005 2005-2006 2006-2007 e

2007-2008 Esse correspondeu ao uacutenico criteacuterio estabelecido ou seja consideramos

preponderantemente a disponibilidade dos sujeitos sem elencar o cargo ocupado na

ENESSO regiatildeo e instituiccedilatildeo na qual se processou a graduaccedilatildeo

Assim sendo realizamos duas entrevistas durante o Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviccedilo Social(ENPESS) que ocorreu entre os dias 1 e 5 de

dezembro de 2008 na cidade de Satildeo Luiacutes-MA uma materializada no dia 02 com

um(a) dirigente da gestatildeo 2004-2005 a segunda iniciada tambeacutem dia 02 e concluiacuteda

no dia seguinte com dirigente da gestatildeo 2006-2007 A terceira entrevista foi realizada

no dia 9 de marccedilo de 2009 em Recife-PE esta com militante da gestatildeo 2005-2006

Diante da impossibilidade de efetivaccedilatildeo das demais entrevistas entramos em contato

via email com um(a) dirigente das gestatildeo 2003-2004 e 2007-2008 os(as) quais se

disponibilizaram a responder as questotildees que compunham o roteiro de entrevista

eles(as) responderam e enviaram mediante endereccedilo eletrocircnico Os sujeitos que

responderam o roteiro de forma presencial ou via email satildeo identificados nessa

pesquisa por nome de planetas assim caracterizados Vecircnus gestatildeo 2003-2004

Urano 2004-2005 Terra 2005-2006 Neturno 2006-2007 e Marte 2007-2008 Essa

estrateacutegia foi utilizada como meio de garantir a privacidade e preservar as fontes de

informaccedilotildees dessa investigaccedilatildeo

A obtenccedilatildeo de respostas via email consistiu em um procedimento

metodoloacutegico que viabilizou a complementaccedilatildeo de problematizaccedilotildees importantes por

dois(duas) dirigentes da ENESSO pertencentes ao universo da pesquisa Contudo eacute

salutar manifestar que o meio eletrocircnico reduziu a interferecircncia da pesquisadora no

processo de produccedilatildeo de dados visto que ficou impossibilitado o esclarecimento

imediato de duacutevidas durante a concessatildeo das respostas entretanto eacute importante

destacar que os sujeitos que responderam via email se disponibilizaram para

21

prestaccedilatildeo de quaisquer esclarecimentos e fornecimento de quaisquer informaccedilotildees

posteriores ao envio das respostas

Na pesquisa de campo ainda elaboramos um questionaacuterio com o objetivo

de traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO de julho de 2003 a julho de 2008

visto ser este o mecircs que ocorre o ENESS espaccedilo em que se elege a diretoria da

executiva e dessa maneira marca o inicio de uma determinada gestatildeo O perfil

evidenciou um conhecimento mais detalhado dos sujeitos que materializaram a accedilatildeo

poliacutetica do MESS no periacuteodo abordado pela pesquisa Assim potencializou o

entendimento de questotildees importantes pois expressou dados qualitativos e

quantitativos relacionados sobretudo aos aspectos geracionais dos(as) dirigentes do

movimento abordado

A entidade eacute composta de sete cargos nacionais de tal modo no periacuteodo

ressaltado tivemos cinco diferentes diretorias totalizando portanto trinta e cinco

dirigentes O questionaacuterio foi encaminhado via email para todos(as) esses sujeitos

conforme endereccedilo eletrocircnico disponibilizados nos documentos produzidos no

decorrer dessas cinco gestotildees Do total de trinta e cinco enviados para os(as)

coordenadores(as) nacionais obtivemos resposta de vinte e dois o que representa um

percentual de 63 desse universo

O natildeo recebimento de 37 dos questionaacuterios enviados pode ser reflexo

da mudanccedila de endereccedilos eletrocircnicos entretanto eacute importante evidenciar a nossa

tentativa de conseguir os endereccedilos atualizados por meio dos(as) dirigentes que

responderam o questionaacuterio

Tambeacutem enviamos o mesmo questionaacuterio para um(a) militante que

ocupou o cargo de coordenador(a) regional5 da ENESSO na gestatildeo 2006-2007 e que

na sua gestatildeo fez oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da entidade Este(a) ainda respondeu

e enviou eletronicamente um roteiro constituiacutedo de trecircs perguntas Essa accedilatildeo foi

materializada com o intuito de analisamos a apreensatildeo de um sujeito que atuou na

coordenaccedilatildeo regional da ENESSO e se colocou no campo de oposiccedilatildeo o que por sua

vez favorece a anaacutelise considerando divergecircncias e contradiccedilotildees que perpassam a

accedilatildeo desse MS e da entidade aqui estudada

Constituiacutea propoacutesito da pesquisa a realizaccedilatildeo de entrevistas com dois

membros da ABEPSS e do Conselho Federal de Serviccedilo Social(CFESS) A efetivaccedilatildeo

destas entrevistas com representantes da ABEPSS e CFESS proporcionaria um

enriquecimento do trabalho visto que as trecircs entidades nacionais da categoria se

articulam e promovem lutas conjuntas o que favoreceria a apreensatildeo da atuaccedilatildeo da

5 A regiatildeo a que pertence esse(a) dirigente eacute a II que engloba os estados do Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte Na dissertaccedilatildeo ele(a) eacute identificado pelo nome de Luz

22

ENESSO neste contexto da contra-reforma do ensino superior do governo de Lula O

conjunto dessas estrateacutegias possibilitaria a apreensatildeo do objeto de estudo em suas

contradiccedilotildees e densidade histoacuterica

Diante do exposto entramos em contato via email e de forma presencial

com as presidentes da ABEPSS das gestotildees 20052006 e 20072008 e obtivemos

ecircxito com a representante da gestatildeo20072008 que respondeu e enviou

eletronicamente os nossos questionamentos Em relaccedilatildeo aacutes entrevistas com

representantes do CFESS natildeo obtivemos ecircxito no estabelecimento dos contatos

A dissertaccedilatildeo apresenta-se estruturada em cinco capiacutetulos que se

subdividem em itens O primeiro capiacutetulo corresponde agrave introduccedilatildeo

Na segunda parte tecemos anaacutelise sobre o ME na qual o caracterizamos

como um MS que historicamente se constitui espaccedilo de atuaccedilatildeo da juventude

universitaacuteria no Brasil tendecircncia constatada na trajetoacuteria histoacuterica realizada no

segundo item dessa segunda parte Efetivamos algumas particularidades que

perpassa a organizaccedilatildeo do ME como a expansatildeo das Executivas de Cursos nos anos

de 1990 e as contradiccedilotildees que envolvem a UNE na conjuntura atual Aleacutem disso

abordamos sobre a reorganizaccedilatildeo do MESS no final dos anos de 1970 processo que

corroborou com a criaccedilatildeo da Subsecretaria dos Estudantes de Serviccedilo Social na

UNE(SESSUNE) em 1988 posteriormente transformada em ENESSO no ano de

1993 Entidade que desde a sua criaccedilatildeo se configura como espaccedilo sintonizado com a

defesa da universidade puacuteblica no Brasil e com a formaccedilatildeo profissional dos(as)

assistentes sociais perspectiva evidenciada tambeacutem nessa investigaccedilatildeo

O terceiro capiacutetulo direciona-se no sentido de apreendemos os limites e

possibilidade das poliacuteticas sociais e em particular da educaccedilatildeo no acircmbito da

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da sociabilidade capitalista Nessa dimensatildeo temos a

concepccedilatildeo que as contradiccedilotildees inerentes a esse modelo societal rebate nos diversos

complexos sociais incluindo a esfera educacional Pois entendemos a educaccedilatildeo

como uma esfera caracterizada pela disputa de projetos diferenciados perspectiva

que se vislumbra por exemplo na defesa da educaccedilatildeo como um direito social e

estrateacutegia importante na construccedilatildeo de mediaccedilotildees sintonizadas com outra

sociabilidade projeto defendido majoritariamente pelo MESS e a ENESSO e de

outro lado verificamos a luta de grupos privatistas que consideram o setor educacional

como mercadoria portanto vinculado aos interesses do capital associado agrave

concepccedilatildeo da educaccedilatildeo restringir-se a funcionalidade de atender meramente as

necessidades do mercado competitivo A anaacutelise foi potencializada com a construccedilatildeo

de mediaccedilotildees relacionadas ao capitalismo contemporacircneo para tal nos

fundamentamos em autores como Antunes e Harvey visto que consideramos

23

incoerente e inconsistente analisarmos a direccedilatildeo social da atuaccedilatildeo da ENESSO sem

contextualizarmos a sociedade na qual ela se processa

No quarto capitulo tratamos do processo de contra-reforma do ensino

superior durante os anos de governo Lula que tem se efetivado numa direccedilatildeo

preponderante de desqualificaccedilatildeo da perspectiva de universidade puacuteblica

caracterizada pela indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo aspecto que

se confirma com a crescente expansatildeo da Iniciativa privada com amplo apoio

governamental Assim abordamos no acircmbito da contradiccedilatildeo algumas das medidas jaacute

concretizadas como Programa Universidade Para Todos(PROUNI) Sistema Nacional

de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior(SINAES) Poliacutetica de Cotas Ensino a Distacircncia e

Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades

Federais(Reuni) O uacuteltimo item dessa parte apresenta como objetivo prioritaacuterio a

discussatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado

pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma em

que configuramos como um momento complexo e desfavoraacutevel para materializaccedilatildeo

dos princiacutepios norteadores da formaccedilatildeo defendida pelas entidades representativas da

profissatildeo incluindo a ENESSO

No quinto capiacutetulo traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO no

periacuteodo de 2003-2008 em que abordamos questotildees relacionadas agraves esferas poliacuteticas

sociais e econocircmicas desses sujeitos Embora subdividido didaticamente em cinco

itens privilegiamos em todo o capitulo a discussatildeo em torno da atuaccedilatildeo dessa

entidade nos acircmbitos da universidade e da formaccedilatildeo profissional enriquecidas com

as mediaccedilotildees realizadas nos capiacutetulos anteriores Destacamos tambeacutem desafios e

contradiccedilotildees que perpassam o MESS e a ENESSO na atualidade Para tal nos

baseamos nas informaccedilotildees fornecidas por ex-coordenadores(as) da ENESSO e nos

documentos elaborados e divulgados pela executiva durante o periacuteodo investigado

nessa pesquisa aleacutem da produccedilatildeo de dados obtida mediante as informaccedilotildees

concedidas por um(a) dirigente de oposiccedilatildeo e representantes da ABEPSS que

teceram reflexotildees sobre atuaccedilatildeo da ENESSO na contemporaneidade

24

Acredito na Rapaziada

Eu acredito eacute na rapaziada

Que segue em frente e segura o rojatildeo

Eu ponho feacute eacute na feacute da moccedilada

Que natildeo foge da fera e enfrenta o leatildeo

Eu vou agrave luta com essa juventude

Que natildeo corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que natildeo taacute na saudade e constroacutei

A manhatilde desejada

(gonzaguinha)

25

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA

No intuito de analisarmos a direo social do MESS mediante protagonismo

da ENESSO faz se necessrio uma abordagem do ME como expresso de um MS

em que concebermos tais sujeitos como esferas coletivas de organizao e atuao

poltica Temos o entendimento que a poltica no se reduz aos espaos

institucionais mas se faz presente nas mais variadas esferas societrias e que pode

ser instrumento de conservao da sociabilidade burguesa como pode ser utilizada

para sua superao a partir da anlise e conhecimento crtico do real que potencializa

uma ao orientada para negao da ordem vigente

Conceber o ME como MS nos remete ao entendimento de que uma

investigao sobre sua atuao deve considerar importantes dimenses tais quais o

atual momento histrico e suas determinaes para a luta dos(as) trabalhadores(as) e

para esfera educacional em especial a universidade brasileira Pois partimos da

perspectiva de que a luta dos(as) estudantes no se desenvolve desconectada da

discusso de um determinado projeto de universidade e dessa maneira to pouco de

uma viso societria

Portanto a discusso do ME no contexto dos MS visa ressaltar tambm a

importncia dos MS no mbito de uma sociabilidade marcada pela disputa de projetos

diferenciados e antagnicos que perpassa diversas esferas da totalidade social Desse

modo tal anlise torna-se relevante para melhor compreendemos a atuao do

MESS no cotidiano de lutas por uma universidade pblica gratuita democrtica laica

e de qualidade e de um projeto de formao profissional consubstanciadas nas

Diretrizes Curriculares de 1996 lutas inseridas numa conjuntura de disputa de projetos

educacionais nos marcos dessa sociabilidade Nesse aspecto relevante frisar que

historicamente o ME e em especial o MESS tem atuado em sintonia com a defesa de

construo de uma sociabilidade para alm do capital

Nesse cenrio de disputas e correlao de foras polticas e ideolgicas

segmentos dos MS identificados com um iderio emancipatrio assumem um papel

de destaque na implementao de lutas sintonizadas com o ideal de transformao

societal Nesse sentido os MS e entre eles o ME consistem em espaos de

26

organizaccedilatildeo participaccedilatildeo e accedilatildeo coletiva potencialmente favorecedores da

materializaccedilatildeo de uma accedilatildeo poliacutetica transformadora do status quo mediante o

desenvolvimento de lutas e atividades direcionadas para defesa de interesses que

exprimem os valores e princiacutepios que norteiam as accedilotildees desses sujeitos Valores que

majoritariamente se colocam no campo de negaccedilatildeo das relaccedilotildees mercantis

dominantes

A conjuntura atual eacute marcada pelo refluxo dos Movimentos Sociais(MS)

realidade influenciada dentre outros determinantes pela propagaccedilatildeo da

impossibilidade de ultrapassagem da ordem estabelecida e pela valorizaccedilatildeo de

relaccedilotildees mercantis

Luchmann e Souza(2005) sinalizam que a atuaccedilatildeo dos MS nas deacutecadas

de 1970 e 1980 caracterizava-se pelo caraacuteter combativo e contestatoacuterio

diferentemente dos anos 1990 nos quais se configura um direcionamento

particularizado por relaccedilotildees propositivas e participativas junto ao Estado em

detrimento de atuaccedilotildees mais reivindicativas

Para Montatildeno(2002) a inflexatildeo ocorrida na relaccedilatildeo entre as ONG e os MS

constitui uma expressatildeo dessa crise uma vez que nos anos 70 e 80 do seacuteculo XX

existia uma articulaccedilatildeo entre tais sujeitos coletivos na luta pela instituiccedilatildeo do Estado

democraacutetico e de direitos de cidadania para diferentes segmentos da sociedade

brasileira Jaacute nos 1990 explicita-se a profunda alteraccedilatildeo que acontece nessa relaccedilatildeo

visto que as ONG passaram a atuar natildeo mais em parceria mas a ocupar os lugares

dos MS Partindo do entendimento do autor eacute possiacutevel afirmar que essa inflexatildeo

contribui para o processo de reproduccedilatildeo da sociabilidade mercantil jaacute que

majoritariamente as ONG conformam espaccedilos mantidos financeira e ideologicamente

por instituiccedilotildees representantes do capital o que por sua vez potencializa uma atuaccedilatildeo

dessas organizaccedilotildees sintonizada com a manutenccedilatildeo dessa sociedade

Gonh(1992) ressalta que a fragilizaccedilatildeo dos MS eacute influenciada por

problemaacuteticas como o aumento do desemprego a aceitaccedilatildeo das diretrizes neoliberais

como fundamento da relaccedilatildeo Estado e sociedade e tambeacutem pela forte descrenccedila

em relaccedilatildeo a poliacutetica na contemporaneidade

Temos a apreensatildeo que os aspectos salientados por Gonh se apresentam

de modo radicalizado na atualidade Natildeo se pode mascarar a existecircncia de uma

conjuntura marcada cada vez mais pela expansatildeo do desemprego e de suas

consequumlecircncias para a desorganizaccedilatildeo dos segmentos do trabalho situaccedilatildeo que

potencialliza para o natildeo reconhecimento do pertencimento de classe de parte

significativa desses sujeitos

27

A descrena poltica se constitui um elemento particular da nossa histria

Perspectiva que se manifesta no estabelecimento de relaes fundamentadas na

lgica clientelista e na cultura do favor do famoso ldquojeitinho brasileirordquo na sobreposio

de interesses particulares em relao aos anseios da coletividade Aliado a isso

vivencia-se um contexto poltico complexo e difcil particularizado pela conquista da

presidncia por um partido historicamente identificado pelo iderio de transformao

social contudo atuando preponderantemente com fundamentao nos

ensinamentos e indicaes neoliberais de valorizao do privado desqualificao do

pblico e destruio dos direitos sociais Com base nessas reflexes pode-se afirmar

que o cenrio crtico para os MS identificados com a construo de outra

sociabilidade para alm do capital seno crtico o contexto contemporneo no

mnimo preocupante pois se intensifica a vivncia de desvalores sustentadores desta

ordem como egosmo competitividade individualismo associados s particularidades

da realidade brasileira

Entendemos ainda que as perspectivas ps-modernas contribuem para

esse cenrio de desmobilizao pois a negao da razo moderna favorece o

exacerbamento de vivncias efmeras em detrimento da construo de projetos

societrios alternativos para humanidade visto que a ps-modernidade se caracteriza

por concepes que ldquobuscam no isolamento do individuo (o sujeito localizado na

comunidade tecnolgica e informatizada do sculo XIX mas lsquodeslocadorsquo de sua

sociabilidade) a soluo para os problemas enfrentados pelo homem na sociedade

contemporneardquo (MAGALHES 2004 p83)

O isolamento e a atomizao dos sujeitos como caractersticas de

perspectivas situadas no campo da ps-modernidade contribuem para fragilizao de

aes e organizaes coletivas j que se verifica uma forte tendncia de exaltao da

subjetividade sem considerar entretanto o solo societal em que os indivduos esto

inseridos uma sociabilidade marcada pela explorao relaes competitivas

opressoras e egostas

Tais elementos corroboram para fragilizao das organizaes coletivas

identificadas com o iderio de transformao e construo de outra forma societria

inclusive o ME que historicamente levanta a bandeira em favor da universidade

pblica gratuita laica e de qualidade no Brasil

De fato o momento presente evidencia a retrao da organizao

poltica da classe trabalhadora Contexto scio-histrico de abandono das idias

anticapitalista por parte de importantes partidos situados no campo da esquerda

exemplar o caso do PT no Brasil Essa tendncia favorece a constituio de cenrios

nacionais nos quais a realizao de

28

Contra-reforma que sofreriam dura oposio se encaminhadas por governos originariamente neoliberais esto sendo aprovadas por coalizaes que contam com foras que outrora possuam uma imagem no neoliberal (LEHER 2005 p18)

Ou seja vivenciamos uma conjuntura desfavorvel aos segmentos do

trabalho Alicerando-nos em Fontes(2008) assinalamos que a radicalidade neoliberal

do tempo presente expressa o processo de intensificao da disponibilizao e

disciplinamento do trabalho em relao ao capital Disciplina na qual as foras

dominantes utilizam a violncia e a construo de consensos que rebatem fortemente

nos MS em particular no movimento sindical no a toa que ldquoassistimos destruio

dos sindicatos combativos ao desmonte de anteparos legais ao aguamento da

concorrncia internacional dos trabalhadoresrdquo (FONTES 2008 p31)

A autora ainda chama ateno para o explcito processo de metamorfose

que perpassam os MS nesse contexto de aprofundamento da explorao e

subalternizao dos segmentos do trabalho Dessa maneira organizaes populares

de cunho reivindicativo passaram a se configurar em espaos ldquomercantil-filantrpicordquo

Essa regressiva converso est articulada a marcante propagao no campo das

organizaes sociais da importncia das demandas especficas entretanto

desvinculadas da luta anticapital perspectiva que predominou sobretudo nos anos de

1980 imbricada a essa tendncia se verifica a disseminao de militantes que

embora preocupados com a melhoria de condies de existncia da populao

explorada e oprimida atuam de modo localizado pontual e fragmentado levando-os

ao abandono de lutas e reflexes sintonizadas com o ideal do fim da sociedade de

classes Realidade que corrobora com a transformao de militantes em assessoristas

de projetos sociais situados no campo da filantropia bem como para o aniquilamento

ldquodo horizonte da contradio entre fazer filantropia ser militante e ser remunerado

mercantil por essa atividaderdquo (FONTES 2008 p 35)

Sem dvidas essas ldquoconfusesrdquo ou mudanas de funes no interior das

organizaes de origem populares consistem em mais uma das estratgias de

convencimento empregada pela ideologia do capital na sua verso neoliberal com o

intuito de fragilizar as organizaes e os sujeitos contestadores e opositores da sua

dominncia Esse propsito de inflexo das lutas se expressa por exemplo na

tentativa desmesurada de satanizar o Estado e mascarar as contradies existentes

na sociedade civil

Em reflexo sobre os movimentos de classes no Brasil MOURA(2008)

assevera que na atual conjuntura o movimento sindical e os partidos de esquerda ldquo

29

parecem no dar conta de incorporar os diferentes sujeitos que se apresentamrdquo (p

52) Essa situao manifesta um momento de mxima complexidade no que diz

respeito organizao e atuao poltica dos segmentos do trabalho cada vez mais

a classe trabalhadora se torna diversificada e heterognea o que significa que a

tomada de conscincia e o pertencimento de classe uma necessidade real

importante e urgente por parte dos(as) desempregados dos(as) subcontratados

dos(as) inseridos(as) na informalidade e principalmente pelos movimentos de

trabalhadores(as) j organizados

Iamamoto(2006) sinaliza que essa tendncia de reduzida combatividade

do movimentos sindical e suas entidades deve ser entendida levando-se em

considerao os rebatimentos da reestruturao produtiva que acaba por gerar uma

diversificao nas relaes de trabalho no interior das fbricas a expanso de

trabalhos precarizados o acirramento da competitividade entre os trabalhadores(as)

dimenses que incidem na desorganizao poltica dos segmentos do trabalho

Para contribuir com nosso entendimento sobre a inflexo pelo qual passa

os MS na contemporaneidade em particular o movimento sindical j que temos o

entendimento que a organizao estudantil e suas entidades historicamente

apresentam vinculaes com esses sujeitos polticos realizaremos uma breve anlise

da recente trajetria da organizao da classe trabalhadora no Brasil

Segundo Moura(2008) o novo sindicalismo iniciado no final da dcada de

1970 com as manifestaes e greves sobretudo circunscritas ao ABC paulista se

fundamentava na defesa de direitos trabalhistas e sociais a participao da base

associada a luta pela democracia poltica no pas Foi o fortalecimento dessa vertente

que culminou com a criao da Central nica dos Trabalhadores(CUT) em 1983 e que

desde a sua fundao apresenta-se estritamente vinculada a criao do Partido dos

Trabalhadores em 1980 Conforme (MOURA 2008 p58)

Com bases sociais vinculadas diretamente ao movimento dos trabalhadores consolidou-se o projeto de fundao do PT Esse partido de formao originalmente operria foi determinante na formao da CUT Pode-se dizer que as fronteiras entre os militantes do PT e da CUT alm da ampla maioria dos movimentos sociais e populares que retomavam suas aes ou se constituam no pas ps-ditadura no estavam definidas Naquele quadro o PT expressava o movimento de massa o conjunto dos trabalhadores que em geral no estavam ligados aos partidos comunistas

A vitria de Fernando Collor de Mello e logo em seguida os oito anos de

gesto de Fernando Henrique Cardoso(FHC) colocaram o Brasil a plena disposio

da expanso neoliberal que j se processava mundo afora A vitria do PT em 2002

30

apoiado pela CUT at significou a contestao esmagadora da populao brasileira

com o rumo dado ao pas nas gestes anteriores entretanto o caminho adotado no

foi destoante do receiturio neoliberal Assim

Cada vez mais setores do movimento sindical brasileiro incorporam as teses gestadas pelos intelectuais orgnicos da burguesia O discurso de pretensa inexorabilidade do processo de ldquoglobalizao econmicardquo parece ter abarcado os setores dirigentes da CUT e do PT O projeto orientado pelo segmento especulativo do capital com o discurso de incorporao ordem e de parceria entre trabalhadores e patres Afirma a diluio das classes em prol de uma individualidade falaciosa (MOURA 2008 p59)

Como ser tratado nos captulos seguintes o governo de Lula tem sido

responsvel pela implementao de medidas que se pautam na perspectiva de

aprofundar a regulao neoliberal no pas Sendo esse posicionamento poltico

apoiado por entidades que historicamente tiveram suas aes voltadas para defesa

dos interesses da maioria da populao entre elas a CUT e a prpria Unio Nacional

dos Estudantes(UNE)

No mbito de negao da atuao poltica da CUT sobretudo no que diz

respeito relao de subordinao diante do governo Lula tivemos a criao em 15

de dezembro de 2005 da Coordenao Nacional de Lutas(CONLUTAS) formada por

sindicatos MS e organizaes de cunho popular comprometidas com o

desenvolvimento de lutas contrrias as contra-reformas que vem sendo materializadas

no Brasil Segundo essa entidade a CUT se transformou em uma organizao que

prefere apoiar o atual governo do que defender os interesses e direitos dos(as)

trabalhadores(as) nacionais

Acreditamos que seja necessrio destacar que a criao da CONLUTAS

recebeu influncia significativa de militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores

Unificados(PSTU)6 este considera o PT um partido reformista e que no cenrio atual

subsidia as aes da burguesia nacional

A criao de novas entidades no campo de organizao dos(as)

trabalhadores(as) e tambm do segmento estudantil evidencia o descontentamento

poltico de militantes com a conduo do pas que direcionada por um partido

construdo no mbito das lutas sociais todavia tem atuado em conformidade com a

hegemonia neoliberal adotada nos governos anteriores o que de certo modo

manifesta um expressivo divisionismo eou instabilidade existente no movimento

6 O PSTU foi fundado em 1994 sobretudo por militantes que romperam com o PT Mais recentemente em 2004 ocorreu uma nova dissenso no PT que culminou com a criao do Partido Socialista e Liberdade(PSOL)

31

organizado dos segmentos do trabalho e estudantil no Brasil e que rebate de maneira

significativa no MESS Tendncia evidenciada por exemplo nos conflitos que

envolvem a postura do segmento estudantil e da ENESSO diante do governo Lula e

da UNE aspectos amplamente debatidos pelos agrupamentos polticos que se

organizam no MESS7

Contudo a contradio inerente a sociedade do capital e desse modo

foras antagnicas a dominao burguesa se manifestam de modo combativo

inclusive nesse contexto de retrao poltica da classe trabalhadora

De maneira mais ampla temos a criao do denominado movimento

antimundializao que nos ltimos anos tem protagonizado relevantes lutas contra a

dominao capitalista O marco desse movimento consistiu os protestos durante a

reunio da Organizao Mundial do Comrcio(OMC) na cidade de Seatte em 1999

Apresentando posicionamento radicalmente contrrio ao receiturio neoliberal esse

movimento construiu e organiza o Frum Social Mundial espao que segundo

Wallertein( 2005) tem o objetivo de promover lutas contra os males provocados pelo

capital com postura de respeito as necessidades imediatas dos diversos segmentos

que compem o frum

Para Chesnais Serfati e Urdf(2005) o movimento antimundializao

apresentou como primeiros objetivos o combate a mercantilizao dos servios

pblicos efetivado mundialmente pela OMC mediante o Acordo Geral sobre Comrcio

e Servio(AGCS) mercantilizao que atinge diversas esferas entre elas a educao

O pensamento de Wood(2005) que a organizao dos(as)

trabalhadores(as) deve comear dentro de cada Estado dado seu entendimento que

o Estado no atual momento da globalizao apresenta funcionalidades imprescindveis

para a acumulao do capital Entre tais funes evidenciamos o seu papel de

ldquomanter a mo de obra imobilizada enquanto o capital se move atravs das fronteiras

nacionais ou nos capitalismos menos desenvolvidos atua como correia de

transmisso para outros Estados capitalistas mais avanados(WOOD 2005 p111)

A apreenso da autora situa o Estado como importante alvo das lutas de

classes em nvel local e nacional visto que no mbito da contradio como agente da

globalizao o Estado pode se constitui antagonicamente como ente bloqueador

desta

Em mbito nacional alguns sujeitos coletivos denominados por

Moura(2008) de ldquonovos movimentos de classerdquo tm assumido uma postura de

organizao combativa diante da perda de direitos e das precrias condies de

7 O aprofundamento dessa questo se encontra no capitulo cinco dessa dissertao

32

existncia seja na cidade eou campo Nessa dimenso temos a significativa atuao

poltica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) o Movimento dos

Trabalhadores Sem Teto(MTST) e o Movimento Terra Trabalho e Liberdade(MTL) que

segundo a autora implementam

Uma lgica e interveno inovadoras Organiza e aglutina segmentos distintos de trabalhadores sob uma mesma ldquobandeirardquo Essas novas organizaes buscam implementar alternativas econmicas para sobrevivncia e auto-susteno dos trabalhadores Experincias que se desenvolvem numa dinmica que busca o controle do processo de trabalho e forma no-capitalista de organizao econmica A organizao de massa priorizando a democracia e a ao direta a principal referncia desses movimentos(MOURA 2008 p60)

Diante do exposto seja a necessidade de luta circunscrita aos Estados

nacionais apontadas por Wood ou as lutas globais destacadas por Chesnais Serfati e

Urdf e ainda os movimentos existentes no Brasil que foram destacados por

MOURA(2008) constituem e expressam possveis e concretas respostas de

resistncia do trabalho contra o capital

Em se tratando especialmente do ME interessante ressaltar algumas

caractersticas peculiares desse MS entre elas um movimento formado

majoritariamente pela juventude8 que se depara na contemporaneidade com um

cenrio de crise em que o diploma universitrio no representa mais a garantia de um

futuro melhor Nesses termos Almeida (2004) destaca que a preocupao dos(as)

estudantes com a insero no mercado de trabalho to significativa que verificamos

seus rebatimentos inclusive no afastamento considervel de alunos(as) das

organizaes coletivas no mbito universitrio como o caso do ME

Os dados da pesquisa realizada em novembro de 1999 pelo Ncleo de

Opinio Pblica da Fundao Perseu Abramo com jovens de quinze a vinte quatro

anos nas noves regies metropolitanas e Distrito Federal revelam que do total de

entrevistados(as) 58 estudavam Entretanto s a condio de estudante no

suficiente para caracterizar de forma mais profunda a juventude brasileira pois tal

pesquisa tambm evidenciou que do universo investigado 78 trabalhavam eou

estavam na procura de emprego para adentrarem no mundo do trabalho

8 A dissertao no tem o propsito de confrontar teoricamente as diferentes concepes existentes sobre juventude Contudo temos o entendimento que no podemos tratar dessa temtica levando-se em considerao somente a idade em si mas as determinaes econmicas sociais polticas culturais que incidem na vida desses sujeitos que vivenciam entre outras dimenses situaes de confrontos de valores idias momentos de transio processos formativos e nveis de maturidade diferenciados

33

Relevante enfatizar que os dois principais motivos elencados pelos jovens

que abandonaram os estudos so de natureza econmica 34 deles apontaram

impossibilidade em conciliar trabalho e estudo e 16 evidenciaram a falta de recursos

financeiros como impedimento para continuidade da vida escolar9

Em dezembro de 2003 investigao do Projeto JuventudeInstituto

Cidadania em parceria com o Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE divulgaram

dados de uma pesquisa realizada com jovens entre 15 e 24 anos de todo o pas e que

tratou ainda de retomar e ampliar os temas destacados pela pesquisa da fundao

Perseu Abramo de 1999

Com base nos dados da pesquisa do Projeto Juventude trs em cada

quatro jovens entrevistados(as) esto inseridos(as) no mercado de trabalho ou

procurando uma ocupao O tema ldquotrabalhordquo se configura entre os(as) jovens como

aqueles de maior interesse e preocupao Visto que o trabalho se apresenta como

elemento fundamental de seu presente ou de seu futuro prximo concebido como necessidade pela maioria mas tambm como fator de crescimento de conquista de independncia e de auto-realizao para parcelas amplas da juventude( ProjetoJuventude 2003 p92)

A violncia e dificuldades de insero no mercado de trabalho so tidas

como os principais aspectos negativos da condio de ser jovem no Brasil

Em relao dimenso cultural a pesquisa evidencia que 85 dos

entrevistados(as) no participam de grupos de jovens e aqueles(as) que participam

atuam especialmente em organizaes vinculadas a Igreja

Recente pesquisa da Fundao Getulio Vargas10 destaca que falta aos

pais e jovens brasileiros tomarem conscincia do poder transformador da educao

em suas vidas como os altos impactos educacionais exercidos na esfera de

empregabilidade salrio e sade

O carter transformador da educao como salientado pela Fundao se

consubstancia notoriamente numa tendncia de proporcionar melhores conquistas e

desenvolvimento no interior do mercado de trabalho o que representa sobretudo

uma lgica de preservao dessa sociabilidade pois no se apreende incentivos a um

tipo de educao como mediao que possibilite o questionamento da sociedade

9 Conforme dados da pesquisa do percentual de 42 que pararam de estudar apenas 1 o fez por ter concludo o ensino superior10 A pesquisa foi divulgada no site da Fundao no dia 16 de abril de 2009 e patrocinada pela prpria fundao pelo Unibanco pelo Movimento Todos pela Educao e pela Educar Dpaschoal As principais fontes da pesquisa foram os microdados dos Suplementos da PNDA de 2004 e 2006 microdados da Pesquisa Mensal do Emprego(IBGE)

34

erguida pelo capital marcada pela dominao explorao e opresso que repercute

inclusive na esfera educacional como evidenciado no capitulo trs desse trabalho

Segundo dados disponibilizados pela Fundao Getulio Vargas no

universo da referida pesquisa os jovens entre 15 e 17 anos elencaram a ausncia de

interesse como principal responsvel pelo abandono escolar representando um

percentual de 403 enquanto que o abandono por questes de renda e trabalho

corresponderam ao patamar de 271 Os dados so realmente inquietantes levando-

nos a refletir o que na essncia representa a denominada ausncia de interesse No

seria um reflexo da profunda instabilidade vivenciada neste contexto de extrema crise

dessa sociabilidade em vez de se configurar como mera falta de apreenso dos pais e

jovens em relao ao impacto da educao nas suas vidas

Nessa dimenso a anlise da atuao do MESS um movimento

constitudo majoritariamente por jovens exige mediaes que reflitam sobre essas

problemticas enfrentadas pela juventude na atualidade

O afastamento de estudantes das organizaes coletivas no interior das

instituies de ensino superior configura tambm reflexo da ausncia de uma efetiva

poltica de assistncia estudantil que proporcione a permanncia dos(as)

universitrios(as) no cotidiano dessas instituies

Aliado a esses aspectos de ordem objetiva que contribuem para o

distanciamento de jovens do universo da educao formal e desse modo das

prprias organizaes coletivas peculiares a tais espaos como o ME ainda

vivenciamos um ntido processo de despolitizao que atinge vrios mbitos e

organizaes da sociedade O tempo presente reflete a radicalizao da barbrie

expressa por exemplo na agudizao das relaes competitivas e do individualismo

o que por sua vez fragiliza a construo de valores e prticas identificadas com a

construo de outro projeto societrio Outro elemento presente na realidade do ME

a tentativa de ocupao de entidades historicamente identificadas com a

transformao societal por foras tericas e polticas conservadoras Nas palavras de

Fontes(2009) ldquons estamos vivendo um momento de em que o capital hoje investe

fortemente em apassivar movimento sociais ainda que tenha que gastar algum recurso

para issordquo(2009 p04)

Outro aspecto importante consiste na transitoriedade do ME que aliada

fragilizao na formao poltica dos(as) militantes representa dificuldades no

processo de renovao de seus membros

Alm disso o carter pluriclassista do movimento contribui para a

apreenso e desenvolvimento de aes diferenciadas no contexto social nesse

sentido levando-se em considerao o grupo poltico pode existir concepes

35

diversas sobre a funcionalidade da universidade na sociabilidade capitalista Logo no

tocante a prpria contra-reforma do ensino superior e a formao profissional os

posicionamentos podem ser diversificados no interior do ME

Alm disso a conjuntura recente revela mudanas relativas s esferas

cultural e social dos jovens visto que verificamos a emergncia de novos espaos de

atuao juvenil so exemplos dessa tendncia os movimentos hip hop e rap os quais

segundo Mische (1996 p25) ldquosurgem como a voz de revolta e auto-afirmao Estes

constituem espaos de resistncia com criatividade ao desespero da violncia das

aspiraes bloqueadas e da falta de respeito por parte da cultura dominanterdquo

Portanto ao mesmo tempo que a atual conjuntura contribuiu no enfraquecimento de

determinados espaos polticos de organizao contraditoriamente proporciona o

fortalecimento da atuao dos (as) jovens em outras dinmicas de organizao

Consideramos desse modo que o ME brasileiro enfrenta na atualidade

contradies e desafios que podem contribuir ainda mais para o cenrio de

fragmentao de sua atuao poltica

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes

O resgate histrico do Movimento Estudantil(ME) brasileiro evidencia que a

defesa da universidade pblica gratuita e de qualidade social constitui em uma das

principais bandeiras de luta desse segmento organizado Permite ainda

apreendermos a ao poltica majoritariamente assumida ao longo de diferentes

conjunturas brasileiras em especial no atual cenrio de realizao de profundas

mudanas no mbito da educao superior lcus privilegiado de sua organizao e

atuao Assim faremos uma breve contextualizao do ME apresentando como

marco inicial de sua ao a criao da UNE por se tratar da entidade mxima dos(as)

discentes universitrios(as) no pas

Antes da criao da (UNE) no ano de 1937 a atuao do segmento

estudantil era caracterizada conforme Poerner (1979) pela transitoriedade e

regionalismo ou seja por aes focalistas e de carter local somente em 1937

com a criao e reconhecimento pelos (as) estudantes brasileiros(as) da UNE como

sua entidade mxima de representao que as lutas estudantis tornaram-se mais

expressivas e articuladas em nvel nacional

Segundo esse autor desde sua criao at a dcada de 1950 o ME

mediante atuao da UNE participou de lutas importantes no cenrio brasileiro dentre

36

das quais ressaltamos as mobilizaes contra o Estado Novo11 defesa do patrimnio

territorial e econmico do pas expressa por meio da campanha favorvel criao da

Petrobrs e pela proteo dos recursos naturais sobretudo das riquezas minerais os

protestos contra o aumento nas passagens dos bondes de So Paulo entre outras

aes

Diante do exposto evidencia-se que naquele momento o ME preocupava-

se com questes referenciadas na agenda poltica conjuntural do pas e prevalecia

tendncia de abstrair as singularidades do movimento secundarizando as

problemticas vivenciadas pelos(as) estudantes no cotidiano das instituies de

ensino superior brasileiras

Esta tendncia sofre alteraes na dcada de 1960 quando so realizados

dois seminrios sobre reforma universitria nos anos de 1961 e 1962

respectivamente na Bahia e no Paran O resultado dos seminrios foi expresso na

denncia por segmentos do ME quanto disseminao ideolgica pelos setores

dominantes da lgica que defende o ensino superior como privilgio de uma minoria e

a universidade como instrumento dos setores interessados na preservao da ordem

vigente Portanto desde a dcada de 1960 a defesa da universidade pblica gratuita

e de qualidade social bem como o desenvolvimento de processos formativos crticos

se tornaram mais expressivos nas reivindicaes e aes do ME

Em 1964 tivemos a instaurao da ditadura militar caracterizada na

realidade brasileira pela represso autoritarismo censura com destruio de canais e

espaos democrticos e morte de lideranas polticas Durante a ditadura uma das

metas principais dos governos autoritrios consistia na atrao de capitais

estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos Estados

Unidos No toa que durante esse perodo tivemos o chamado ldquomilagre

econmicordquo durante o qual os ndices de crescimento foram considerados

expressivos entretanto essa elevao no se converteu para toda sociedade sendo

os segmentos das classes trabalhadoras aviltados do processo que teve poucos

beneficiados alm disso vale ressaltar que foi proporcionado pela contnua poltica de

endividamento do Brasil

Desde a instaurao do regime militar as legislaes adotadas

demonstravam a preocupao em conter a atuao estudantil em novembro de 1964

foi aprovada a Lei Suplicy de Lacerda que tinha como principal objetivo eliminar a

autonomia do ME

importante destacar que em maio de 1968 acontece em diversos

11 O denominado Estado novo correspondeu aos anos de gesto de Getulio Vargas nos anos de 1937 a 1945

37

pases manifestaes de negao da sociabilidade capitalista e constitudas

significativamente por estudantes sendo que a maior expresso dessas

manifestaes ocorreu na Frana

Fontes(2009) considera que o maio de 1968 representa o epicentro de

um complexo processo de lutas que vinham se manifestando em diversas partes do

mundo como Mxico EUA Japo Europa e que caracteriza a ldquo a irrupo no plano

internacional de um certo tipo de lutas de novo tipo que no podem mais ser contidas

nem so solucionveis nos espaos nacionaisrdquo (p1) As lutas destacadas pela autora

so aquelas que denunciavam a crescente devastao internacional do capital e que

se expressavam por exemplo nas questes pacifistas anticoloniais racistas

sexistas entre outras as quais no poderiam ser enfrentadas no espao restrito dos

Estados nacionais

Para essa autora a represso militar configurou o maio de 1968 no Brasil

como manifestaes predominantemente estudantil e antiditatorial contudo

necessrio considerar que as manifestaes se processaram por diversos setores

urbanos do pas visto que aquela conjuntura marcada pelo

processo de diversificao industrial importante e impactante era um perodo de virada da estrutura demogrfica nacional e que portanto as manifestaes de 68 so fortemente antiditatoriais e com um cunho fortemente popular E contra elas e contra a possibilidade o temor que esse tipo de manifestao se estendesse que certamente o AI 5 inaugura a pior represso no caso brasileiro(2009 p02)

Nesta conjuntura contraditria e repressiva foi realizado o XXX Congresso

da (UNE) em outubro de 1968 que se constituiu num desafio para o ME pois a

violncia desencadeada contra os crticos do regime se intensificava alm disso as

reunies encontros estudantis e as mobilizaes de repdio as atrocidades cometidas

pela ditadura eram consideradas como aes subversivas e de ameaa a ordem

estabelecida Preocupados com a represso o lugar escolhido para realizao do

referido encontro foi Ibina pequena cidade no interior do estado de So Paulo

objetivando com tal medida no chamar ateno e assim evitar um confronto

policial No entanto a clandestinidade no se materializou e a realizao do congresso

chegou ao conhecimento das autoridades militares e praticamente todos os

congressistas foram presos entre eles os principais lderes do ME gerando um

grande abalo e marcando o incio de influxo do movimento

O refluxo do ME deve ser analisado levando-se em considerao a

instituio das medidas repressivas as quais se tornaram constantes naquele

contexto brasileiro Assim em dezembro de 1968 inicia-se o que Netto (2005 p38)

38

denominou de ldquogenuno momento da autocracia burguesardquo com a instalao do Ato

Institucional 5 considerado uma das legislaes mais autoritrias e violentas do

regime Em fevereiro de 1969 o Decreto lei 477 foi institudo e tratou de estabelecer

as infraes disciplinares cometidas por docentes discentes e funcionrios(as) das

instituies de ensino no pas concebendo greves e mobilizaes estudantis como

atos infracionais visando a fragilizao do ME

necessrio destacar que nas dcadas de 1960 e 1970 as aes

polticas do ME estavam voltadas para denncia do descaso dos governos ditatoriais

com a educao evidenciado a interferncia norte americana neste setor por

intermdio dos acordos MEC ndash USAID bem como procuravam fortalecer a luta contra

o regime militar

Este direcionamento de aes voltadas mais especificamente para o

mbito educacional bem como atividades de carter genrico consistia em motivo de

discordncia no tocante a forma de atuao a ser desenvolvida pelo ME Nessa

perspectiva Ramos referendada em Martins Filho (1987) ressalta a presena de

duas tendnciasA primeira atribua-lhe a funo de denunciar a ditadura militar atravs de grandes manifestaes pblicas que marcariam sua presena perante a sociedade [] a segunda posio defendia a ldquoluta especficardquo ou luta nas escolas [] nesta concepo a politizao dos (as) universitrios (as) surgiria das reivindicaes que lhes so especficas e seria no seu processo de organizao que eles (as) apoiariam o movimento dos (as) trabalhadoras (RAMOS 1996 p63)

Podemos considerar a tendncia defensora das grandes mobilizaes nas

ruas como hegemnica no mago do ME naquele momento Decorrente desta

posio necessrio enfatizar o protagonismo desse movimento na atuao contra o

regime repressor de 1964 Neste mbito a reconstruo da UNE conformou uma

caminhada rdua nesse processo

Neste contexto importante evidenciar que o XXXI Congresso da UNE

mais conhecido como ldquoCongresso da Reconstruordquo ocorrido em 1979 em Salvador

no Centro de Convenes da Bahia significou antes de tudo a expresso da

organizao e fortalecimento das bases estudantis que vinha ocorrendo em todo pas

Em 1972 alguns Centros Acadmicos retomam a iniciativa de denunciar as

barbaridades praticadas pela ditadura Esse ano e o seguinte so marcados pela

realizao dos primeiros encontros por rea de acordo com as diferentes profisses

Em 1975 a ocorrncia de greves em algumas universidades brasileiras como nos

estados do Rio Grande do Sul So Paulo Rio de Janeiro Bahia e Pernambuco

sinaliza que o ME encontrava-se em processo de reorganizao e recuperao do

39

carter poltico combativo das entidades estudantis Com tais propsitos no ano de

1976 aconteceram as primeiras eleies de Diretrios Acadmicos Livres como por

exemplo o da Universidade de So Paulo (USP) importante destacar tambm que

em 1976 foram realizados o I e II Encontro Nacional dos Estudantes (ENE) Estes

encontros consistiram nas primeiras medidas visando reorganizao do ME em nvel

nacional

O ano de 1977 ficou marcado pela volta dos(as) estudantes s ruas com

as grandes mobilizaes contra o ensino pago o aumento abusivo das mensalidades

nas universidades privadas e tambm contra o regime ditatorial

Outro fato relevante ocorrido no mesmo ano consistiu no III ENE no qual

foi formada a comisso Pr-UNE cuja responsabilidade correspondia em ldquocoordenar

as lutas estudantis em nvel nacional propagandear a histria da UNE e promover o

debate acerca da necessidade de sua reconstruordquo (ROMAGNOLI e ALVES 1988 p

32)

interessante salientar que as insatisfaes com a ditadura militar se

intensificaram e outros segmentos organizados da sociedade renasceram com

nfase para o ressurgimento das reivindicaes operrias expressas sobretudo

atravs dos movimentos grevistas no ABC paulista em 1978

Tal ano significativo para o ME devido o crescimento quantitativo de CAs

pela eleio da primeira diretoria livre para a Unio Estudantil de So Paulo e ainda

pela efetivao do IV ENE que tratou das discusses sobre a realizao do

Congresso de Reconstruo da UNE estabelecendo inclusive a data e local Como

podemos observar este congresso foi decorrncia de um processo de rearticulao do

ME que estava acontecendo em todo Brasil

Observamos na conjuntura brasileira do final da dcada de 1970 o

fortalecimento das lutas de diversos segmentos da sociedade na defesa pelo retorno

ao Estado de direito e o ME constituiu-se em um importante protagonista nesse

processo

Portanto o segmento estudantil organizado teve papel relevante na luta

contra a ditadura militar dessa maneira conforme Romagnoli e Alves (1988) no

Congresso da UNE de 1979 entre as lutas que deveriam ser implementadas por esta

entidade estavam a defesa da anistia ampla e irrestrita e a reivindicao por uma

Assemblia Nacional Constituinte Alm disso no podemos deixar de referenciar a

contribuio estudantil nas presses pelas ldquoDiretas jrdquo desencadeadas por

mobilizaes de vrios segmentos da sociedade favorveis realizao das eleies

diretas para Presidncia da Repblica no ano de 1985 Apesar de amplas

manifestaes em todo pas o processo eleitoral democrtico no se materializou

40

mesmo assim a articulao das foras polticas contrrias ao regime se fortaleceu

Na dcada de 1980 Ramos (1996) sinaliza a existncia de trs tendncias

polticas principais que atuavam no ME brasileiro A primeira tratava-se da tendncia

denominada ldquoViraordquo composta por estudantes com vnculos polticos com a Unio

da Juventude Socialista(UJS) vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) que

era hegemnica nos diretrios da UNE e defendia a necessidade da luta por liberdade

democracia e soberania nacional A segunda tendncia era composta principalmente

por militantes do PT e ressaltava a importncia de articulao com outros sujeitos

coletivos no intuito de estabelecer alianas no mbito universitrio na perspectiva de

contribuir para a construo de uma nova hegemonia social como primordial para o

segmento estudantil organizado J a terceira tendncia considerada minoritria

aglutinava tendncias ligadas tambm ao PT ao Partido da Libertao

Proletria(PLP) e ao PSTU que destacava a prioridade da luta contra o capital a partir

da aliana entre o ME e os trabalhadores (as) camponeses (as) e operrios (as)

Analisamos que a divergncia de tendncias no tocante ao papel social a

ser assumido pelo ME demonstra que no podemos atribuir prticas unitrias aos MS

pois eles comportam vrios grupos polticos com concepes diferenciadas possvel

observamos nas vertentes citadas uma postura progressista na dimenso de defesa

de lutas importantes que contriburam na elaborao da crtica e da ao poltica

contra a realidade instituda

Andrade afirma que as tendncias constituem-se no ldquoelo entre partido

poltico e universidade refere-se a grupos organizados que atuam no ME e elaboram

suas propostas e orientaes luz dos programas estratgias e tticas que os

partidos de esquerda elaboram em funo da conjuntura polticas e econmicas

vigentesrdquo (ANDRADE 1994 p31) Entretanto algumas ponderaes so necessrias

pois nem todos(as) militantes das tendncias so filiados(as) a partidos polticos uma

tendncia pode atuar sem contudo apresentar vnculo orgnico com partidos

polticos alm disso no difcil encontrarmos filiados(as) de partidos polticos sejam

eles considerados de esquerda ou de direita que militam no ME independente de

participarem de tendncias

Nos anos de 1990 uma das atividades que marcou a atuao do ME

consistiu na realizao do V Seminrio sobre reforma universitria em So Paulo o

evento contou com expressiva participao dos (as) estudantes que chegaram

concluso de que a universidade

Tem por objetivos o desenvolvimento da cincia da tecnologia da cultura pautando-se na liberdade de investigao e debate no

41

pluralismo metodolgico e terico na autonomia em relao aos diferentes governos e empresas privadas e cujas prioridades so definidas pela prpria comunidade universitria (BOLETIM DA UNE 1990)

Ainda durante a vigncia dos anos 1990 ressaltamos a participao

estudantil nas mobilizaes em defesa do impeachment do presidente Collor (1992)

os denominados ldquocaras pintadasrdquo entraram em cena contra este governo de cunho

neoliberal entendido pelo ME como um inimigo da universidade pblica12

No que concerne ao movimento dos ldquocaras pintadasrdquo Mische (1996)

chama ateno para sua heterogeneidade diferentemente das manifestaes dos

anos 19601980 cuja composio era basicamente de jovens oriundos da classe

mdia Esta alterao associa-se ao fato de que as ldquoredes de estudo trabalho cultura

e sociabilidade no esto mais centralizadas nas universidadesrdquo (MISCHE 1996

p24) provocando mudanas na prpria organizao da juventude brasileira

principalmente com a emergncia de novos espaos de atuao ou seja ldquode maneira

diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da dcada de 60 os

jovens atuais buscam novas formas de aglutinao participao e expressordquo

(RAMOS e BRITO 2005 p 3)

Alm disso Ramos(1996 p71) afirma que a participao poltica nas

reivindicaes de 1992 no foi ldquocanalizada pelos movimentos e entidades juvenis

para uma organizao mais crtica e comprometida nas diversas esferas coletivas do

ME em particularrdquo Tal perspectiva pode ser percebida dentre outras questes pelo

refluxo que atravessa o ME na atualidade percebido a partir de expresses tais

como na incapacidade de aglutinar a juventude no divisionismo nos debates e aes

travadas pelas suas organizaes na perda de combatividade que antes consistia

numa de suas caractersticas essenciais

Uma alternativa a estrutura do ME apresentada por Mische (1996) capaz

de potencializar a revitalizao da organizao poltica dos(as) estudantes

universitrios so as executivas de curso que ganharam expressividade no final dos

anos 1980 com a realizao dos Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

(ENEX) nos quais ldquodiscutia-se prioritariamente o papel social do ME e as propostas

para a interveno das executivasrdquo (RAMOS 1996 p82)

12 Collor presidiu o Brasil por dois anos de 1990 a 1992

42

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO

As executivas de curso so expresses do movimento estudantil por rea

que objetivam implementar aes relacionadas a determinada profisso essa atuao

pode ser desenvolvida de maneira endgena quanto pode ser direcionada para o

entendimento das demandas profissionais analisadas criticamente a partir das suas

determinaes histricas

Em 1992 tivemos a criao do Frum Nacional das Executivas de Curso

que conformou um espao privilegiado de discusso e troca de experincia entre as

diversas executivas Tal dimenso sinalizada na sua compreenso como um espao

de ldquoarticulao das executivas onde se possam construir lutas em conjunto aumentar

o contato entre executivas da mesma rea do conhecimento e socializar experincias

e acmulos em determinados assuntosrdquo (FRUM DAS EXECUTIVAS 2005)

Na reunio do frum ocorrida em setembro de 2005 ficou evidente a

preocupao das executivas em discutir a funo social que a universidade brasileira

tem cumprido dada apreenso desta instituio como um aparelho ideolgico que

em larga escala atua em conformidade com a supervalorizao da dimenso

tecnicista e seguidora da lgica do mercado priorizando desse modo a formao de

profissionais para atuarem conforme o modelo societrio dominante

Ainda foram ressaltadas questes relacionadas necessidade das

executivas travarem lutas conjuntas a partir de um calendrio de atividades unificado

ratificando tal entendimento nos encaminhamentos construdos alm de ter sido

aprovada a tarefa de elaborao de um documento consistente sobre educao e

universidade com nfase para aspectos como extenso abertura de cursos

avaliao e exame de proficincia para ser enviado s entidades estudantis13

Tais encaminhamentos expressam que as executivas no se preocupam

somente com problemticas referentes s particularidades dos seus respectivos

cursos Porm necessrio que as executivas como alternativas de organizao para

o ME no se tornem entidades burocratizadas e hierarquizadas a exemplo da UNE na

contemporaneidade dado o seu afastamento das bases estudantis e de suas

conseqentes reivindicaes

O Frum das Executivas e Federaes de Curso(FENEX) tem assumido

uma postura de negao no que se referem s principais medidas realizadas no

13 At o presente momento no temos conhecimento da elaborao desses documentos

43

campo da contra-reforma do ensino superior tais como ENADE PROUNI e mais

recentemente REUNI Essa perspectiva pode ser apreendida por exemplo no

relatrio elaborado em decorrncia da reunio do Frum ocorrida em fevereiro de

200814 o qual estabelece que ldquoas executivas auxiliem na construo de comits

locais contra o REUNI e insiram o debate do REUNI em seus fruns[] ampliando o

debate no conjunto dos estudantesrdquo (FENEX 2008 p01)

Interessante esclarecer que esse Frum vem se constituindo em um

espao de organizao estudantil desvinculado da direo da UNE e que tem

apresentado uma direo crtica em relao atuao poltica na entidade nacional

dos(as) estudantes brasileiros(as) desse modo o frum tem se destacado na

construo da Frente Contra a Reforma Universitria em curso no Brasil

Em relao a UNE no 49 Congresso ocorrido tambm em 2005

tendncia denominada de Unio de Juventude Socialista (UJS) conseguiu manter sua

hegemonia na entidade Sua postura de apoio a contra-reforma efetivada pelo

Governo Lula ficou evidente devido s propostas aprovadas neste congresso Para

justificar o posicionamento de entender as aes do Governo como ldquoreformardquo e desse

modo se colocar favorvel a poltica educacional que de fato orientada pelas

diretivas neoliberais um dos argumentos utilizados consistiu na defesa de que as

reivindicaes da UNE relacionadas assistncia estudantil foram incorporadas com

a destinao de 5 das verbas de custeio das instituies federais para essa rubrica

Nos congressos de 2007 e 2009 a mesma tendncia que se encontra

majoritariamente nas direes da UNE desde o seu congresso de Reconstruo em

1979 permanece na direo majoritria da entidade Conforme Santos(2007)

A direo da UNE hegemonizada por militantes do PC do B por meio de sua juventude a Unio da Juventude Socialista ndash UJS Vale ressaltar que desde a eleio do Governo Lula (2002) a Juventude do PT-JPT(pertencentes majoritariamente a tendncia interna do partido - Articulao Unidade na Luta) aliou-se a UJS imprimindo a direo da UNE uma prtica governista e ldquopelegardquo por se afastar das lutas estudantis(106)

A argumentao de Santos revela complexidades na atuao da UNE no

tempo presente e que reflete nos demais espaos de atuao e organizao

estudantil inclusive no MESS e na ENESSO conforme apontamento da nossa

pesquisa a executiva de Servio Social age de modo a negar e afirmar a UNE num

14 Na reunio do FENEX ocorrida em fevereiro de 2008 na cidade de Salvador estavam presente as entidades dos seguintes cursos Engenharia Florestal Geografia Fonoaudiologia Medicina Biologia computao Servio Social Comunicao Social Filosofia Farmcia Nutrio Enfermagem Educao Fsica Letras Histria Terapia Ocupacional Biblioteconomia Agronomia Artes e Economia

44

processo real e contraditrio que envolve as disputas e o direcionamento das lutas

estudantis Segundo o estudo de Santos(2007) a UNE se converteu em uma entidade

burocrtica e hierarquizada pelas suas tendncias majoritrias que processa uma

ao despolitizada tendncia verificada na transfigurao de uma entidade histrica

em uma instncia preocupada sobretudo com a arrecadao de dinheiro mediante

a venda de carteirinhas de estudantes15

Particularmente em relao ao MESSS o estudo de Ramos(1996)

expressa que sua organizao em nvel nacional se intensificou no contexto de lutas

pela redemocratizao do pas no final dos anos 197016 ou seja momento de

efervescncia das lutas em prol da conquista da democracia poltica e da garantia de

direitos sociais reclamados por diversos segmentos da sociedade brasileira

Exemplo dessa assertiva consistiu a realizao do primeiro ENESS em

197817 frum que desde a sua origem at os dias atuais se configura como espao

privilegiado de reflexes debates e deliberaes deste segmento estudantil e

conforme indica (RAMOS 1996 p101) logo ldquono incio da dcada de 1980 em meio ao

processo de discusso interna sobre a organizao do MESS j era analisada a

necessidade de criao de uma entidade nacional de estudantesrdquo

Nessa dcada ocorre tambm a expanso de centros acadmicos de

Servio Social o que por sua vez expressa o continuo processo de organizao pelo

qual perpassa esse segmento

Alm das discusses relativas criao de uma entidade nacional dos(as)

estudantes o MESS manifestava preocupaes em torno da formao profissional

em particular com atuao no mbito da reformulao curricular que culminou com a

criao do currculo mnimo de 1982 e que segundo MARTINS(1992) no I ENESS

ficou evidenciada a posio estudantil de

No fazer com que o estudo sobre o currculo se limitasse as discusses por matrias especificas mas que fosse possvel discutir-se[] ressaltando-se que as questes referentes ao currculo em Servio Social so apenas um item das questes relativas a educao em nossa sociedade(p36)

15Para o autor a UNE se remete na atualidade a uma fabrica de dinheiro com a produo de carteiras estudantis(P107)16 importante registrar que anterior a instaurao da ditadura militar no mbito de organizao segmento estudantil de Servio Social ocorreram alguns encontros nacionais e Silva(2006) destaca a criao da ENESS( Executiva Nacional de Estudantes de Servio Social) atuante at 1968 ano de instituio do AI 5 e que conforme o autor ldquo possua estrutura organizativa semelhante a da ENESSOrdquo(p21)17 O Encontro aconteceu na Universidade Estadual de Londrina com o tema ldquoO Servio Social e a Realidade Brasileirardquo entre os dias 29 e 31 de outubro de 1978

45

No ENESS de 197918 tivemos a criao da Secretria Executiva Nacional

formada pela escola sede do encontro e um representante de cada regio constituda

com o objetivo de potencializar a organizao do MESS alm disso so aprovadas a

realizao os Encontros Regionais de Estudantes de Servio Social(ERESS) e do

Conselho Nacional de Entidades Estudantis(CONESS)19

Pequeno(1990) ressalta que os anos de 1980 foram importantes para o

fortalecimento do MESS devido tambm a sua postura de reivindicar a ocupao de

espaos junto a organizao da categoria Esta que ldquoinserida numa conjuntura de luta

pelos direitos sociais comeou a se pensar e a buscar novos caminhos para sua

organizao encontrando no Movimento Estudantil um grande aliado para essa

mudanardquo(p51) A partir de ento o MESS procurou construir aliana com outras

entidades de representao estudantil MS e as entidades representativas do Servio

Social no caso a ABEPSS e o CFESS

Segundo essa autora tambm a partir de 1982 inicia-se o processo de

ascenso do PT no ME em particular no MESS que disputava a hegemonia do

Movimento sobretudo com militantes vinculados ao PC do B este que ldquoaliado com

algumas reitorias apresentava uma postura conservadorardquo (p59)

Importante ressaltar que no ENESS de 1985 um agrupamento de

estudantes defendeu da SESSUNE chegando a levar tal proposta para plenria final

Entretanto o encaminhamento tomado sinalizou a necessidade de aprofundar essa

questo levando esse debate para os(as) estudantes das diversas escolas de

Servio Social do pas Como podemos apreender o processo de criao da entidade

nacional foi resultante de um debate democrtico travado pelos estudantes

Em 198620 importante destacar mudanas na realizao do ENESS que

passa a ter a durao de cinco dias e no mais de trs como anteriormente

Aps dez anos de debates no ENESS de 1988 criada a SESSUNE com

o objetivo de contribuir com a organizao nacional dos estudantes A partir de ento

tem uma atuao embasada na perspectiva de situar e analisar as questes relativas

profisso no contexto scio-histrico das determinaes estruturais e conjunturais

No seu primeiro ano de existncia a entidade funcionou sem estatuto21 devido

insuficincia de tempo no referido encontro contudo a diretoria eleita atuou

considerando o seguinte parmetro

18 Este ocorreu na Universidade Catlica de Salvador ndashBA o qual no teve tema definido19 Essa estrutura organizativa permanece nos dias atuais no CONESS que se discute e se aprova as pautas das mesas e das oficinas a serem realizas no ENESS20 Este ENESS apresentou como tema ldquoSe muito vale o j feito mais vale o que serrdquo e foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ)21 O estatuto foi aprovado somente no ENESS seguinte

46

Articulao com o movimento estudantil geral articulao com o movimento da categoria representar os estudantes de Servio social em territrio nacional e internacional articular os estudantes de Servio Social no pas promover o debate sobre os problemasespecficos dos estudantes de Servio social e coordenar e organizar os encontros nacionais e regionais junto a escola sede dos eventos( PEQUENO 1990 p 70)

Para Santos(2007) a dcada que engloba os anos de 1978 a 1988

ocorreu no MESS um processo de reconstruo de sua ldquobase organizativa nacional e

de reaglutinao poltica dos estudantes principalmente pelos debates em torno da

conjuntura e da formao profissional reivindicando uma direo poltica filiada a

inteno de ruptura com o conservadorismordquo (p116)

No ano de 1991 acontece o primeiro Seminrio Nacional de Formao

Profissional e Movimento Estudantil de Servio Social(SNFPMESS) o que revela a

preocupao MESS com a Formao profissional mediante a criao de um espao

prioritrio para discusso dessa temtica o qual realizado a cada dois anos A

preocupao do movimento com a formao profissional se verifica desde a

reorganizao desse segmento no final da dcada de 1970 e como veremos essa

questo se mantm atualmente como uma esfera privilegiada na pauta dos(as)

estudantes e de sua entidade representativa

Em 1992 a SESSUNE promove o segundo Seminrio Nacional de Formao Profissional Nesse seminrio houve a elaborao do anteprojeto da ldquoCampanha Nacional pela Reestruturao da Formao Profissional do (a) Assistente Social no Brasilrdquo Um dos desdobramentos desta campanha foi a elaborao do Documento Pro Dia Nascer Feliz documento sistematizado pelo CArsquos e DArsquos de Servio Social engajados no movimento estudantil essa sistematizao serve como documento base para as discusses iniciais do processo de reviso curricular promovida pela ABESS na gesto 93-95 com sede na UFPE em Recife-PE(SANTOS 2007 119)

Hoje os fruns organizados pela ENESSO escola sede dos encontros e a

representao discente em ABEPSS so Conselho Nacional de Entidades Estudantis

de Servio Social(CONESS) formado pelos CAs e DAs cujo objetivo maior a

definio da pauta para o encontro nacional O Conselho Regional de Entidades

Estudantis em Servio Social(CORESS22) que apresenta a mesma funcionalidade s

que em mbito regional ERESS que consiste no maior frum de discusso de cada

22 neste encontro que acontece a eleio para as Coordenaes regionais da ENESSO portanto processo eleitoral desvinculado da eleio para direo nacional da entidade Cf ENESSO(2007)

47

regio que compem a ENESSO ENESS que se refere a mxima instncia de

deliberao do MESS e evento no qual se elege a diretoria nacional da entidade alm

dos SNFPMESS e dos Seminrios Regionais de Formao Profissional e Movimento

Estudantil de Servio Social no qual os(as) estudantes tem a oportunidade de

participar de mesas de discusso e apresentar trabalho sobre diversas temticas que

perpassa a profisso sendo os dois ltimos encontros no deliberativos

No ano de 1992 emergem no MESS agrupamentos polticos organizados

em teses que passaram a disputar a direo nacional da entidade perspectiva que

segundo Silva(2006) expressa ldquoo acumulo poltico j adquirido por este movimentordquo

A mudana de SESSUNE para ENESSO23 em 1993 representou

sobretudo a perspectiva de assumir autonomia em relao a UNE Alm disso esse

papel aglutinador assumido pela ENESSO est em consonncia com a tendncia

presente no ME na dcada de 1990 das executivas se apresentarem com uma

dinmica de organizao estudantil a partir do desenvolvimento de lutas abrangentes

bem como de atividades especficas de determinada profisso

Segundo estudo de Silva (2006) de 1994 a 1998 tem-se o acirramento pela

direo da entidade em que em 1995 duas chapas pleitearam os cargos nacionais da

ENESSO o grupo poltico Projeto Democrtico e Popular(PDP) e a candidatura ldquoNo

d mais pra segurarrdquo formada por estudantes no organizados em grupos e por

militantes vinculados ao PSTU sendo que a primeira saiu vencedora na disputa

eleitoral Em 1997 temos a criao de mais um grupo poltico no MESS o Eu Quero

Mais(EQM) que chegou a direo da entidade em 1998 marcando o fim da

hegemonia do PDP no MESS

O ano de 1998 significativo para o MESS pela conquista de garantia da

representao discente na ABEPSS entidade voltada prioritariamente para as

problematizaes e desenvolvimento de aes em torno da formao profissional o

que mais uma vez refora a preocupao do movimento com o processo formativo24

dos(as) assistentes sociais Segundo Rodrigues

23 A entidade mxima de representao de estudantes de Servio Social- no tocante a organizao do Movimento Estudantil- como forma de melhor atingir os objetivos de articulao e potencializao de lutas- est dividida organizacionalmente em sete regionais as quais englobam as escolas de Servio Social nelas localizadas so elas regio I-Acre Amazonas Roraima Rondnia Par Maranho e Piau II-Cear Rio Grande do Norte Paraba e Pernambuco III-Alagoas Sergipe e Bahia IV-Tocantins Gois Distrito federal Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (Uberlndia e Uberaba) V - Minas Gerais Esprito Santo e Rio de Janeiro VI - Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul e VII-So Paulo (cf ESTATUTO DA ENTIDADE 2007)24 Segundo as contribuies de Santos(2007) de 1993-1998 o MESS desenvolveu algumas ldquoaes que ratificam a prioridade da formao profissional como Realizao da Pesquisa sobre o perfil dos estudantes (1995) para contribuio com o debate das diretrizes curriculares de 1996154 a realizao de cursos de formao poltica ldquo O Capacitardquo (199697) a

48

A partir da legitimidade poltica adquirida historicamente pelo MESS que ao longo da sua trajetria se mostrou comprometida com a formao qualificada e com o projeto tico-poltico profissional a categoria estudantil conquistou espao de representao na ABEPSS H portanto representao discente na diretoria nacional e regional estreitando a relao poltica existente entre as duas entidades(2008p39)

A partir dos anos 2000 a entidade passa a empreender campanhas em

favor da reduo de mensalidades decorrente do expressivo nmero de Cursos de

Servio Social na iniciativa privada e tambm apresenta um postura crtica em

relao poltica educacional materializada na era FHC que se manifesta por

exemplo na contestao do Provo25

Hoje a ENESSO composta nacionalmente por cinco coordenaes a

geral de divulgao e imprensa relaes internacionais finanas e de movimentos

sociais e mais duas secretarias a geral e a de formao profissional26 Alm da

direo nacional existem os coordenadores regionais que so eleitos nos encontros

de cada regio que compem a ENESSO o que permite que sujeitos no

pertencentes ao mesmo agrupamento da direo nacional assumam a entidade em

mbitos regionalizados o que por sua vez pode reforar o fortalecimento da

democracia no interior da entidade ou por lado ocasionar prticas antidemocrticas

na tomada de decises e no desenvolvimento e abrangncia das lutas e atividades

em virtudes de disputas entre a coordenao nacional e determinadas coordenaes

regionais Conforme o seu Estatuto as principais funes da ENESSO constituem na

Elaborao e execuo das atividades referentes aos estudantes de Servio Social e as lutas do Movimento Estudantil com base nas diretrizes e polticas de ao aprovadas no ENESS Sistematizar e divulgar as informaes das escolas atravs de boletins informativos jornais e outros veculos de comunicao Acompanhar cotidianamente a organizao do Movimento Estudantil nas escolas atravs de visitas contatos telefnicos via internet etc (ENESSO 2007 p12)

contribuio dos estudantes organizados nas teses apresentadas nos ENESS disputando idias concepes e a hegemonia na direo poltica do MESS a conquista da representao estudantil em ABEPSS em 1998rdquo(p121)25 Cf (Silva 2006) que tambm evidncia no XXII realizado no ano 2000 na cidade de Lins SP quanto ao sistema de votao uma vez que o voto deixaria de ser por escola ( em que cada uma teria direito a trs votos) passando a ser universal26 Interessante registrar que no ltimo ENESS realizado em Londrina-PR as Coordenaes Nacionais da Executiva no foram ocupadas A Secretaria de Formaccedilatildeo profissional foi crida em 1993 no ENESS que ocorreu na cidade de So LeopoldoRS e demonstra a preocupao do MESS com as problemticas da Formao Profissional do Assistente Social

49

A funcionalidade evidencia a relevncia da entidade para a organizao do

MESS dado o seu carter de articular o movimento em nvel nacional

potencializando desse modo as atividades travadas pelo segmento

Atualmente um dos importantes instrumentos na interlocuo dos

estudantes e de disponibilizao de informaes e de produes da entidade se

refere ao grupo de discusso executivamess o qual conta com 1350 associados(as)

Ele surgiu a partir de uma deliberao do planejamento estratgico da executiva

sendo criado no ano de 2000 com o objetivo de contribuir na socializao e promoo

de debates que perpassa a organizao desse movimento

importante esclarecer que as aes desenvolvidas pela ENESSO devem

se pautar nas deliberaes aprovadas pelo coletivo de estudantes presentes no

ENESS realizado anualmente

As deliberaes expressam em certa medida a disputa entre os diferentes

grupos e tendncias que militam no MESS bem como potencializa o entendimento da

direo social expressa na ao poltica da ENESSO As deliberaes apresentam

diretivas relativas a cinco principais eixos ou campos de atuao Conjuntura

Movimento Estudantil Cultura e valores Universidade e Formao profissional

Desde a dcada de 1990 temos majoritariamente o reconhecimento no

campo profissional da relevncia da ENESSO nas reflexes e direcionamento do

Servio Social brasileiro visto que na sua ldquorecente trajetria acompanhou o

movimento de renovao profissional gerado nos anos 8090 e para ele contribuiurdquo

(RAMOS 1996 p 118) Dez anos depois essa autora reafirma a relevncia da ao

poltica da ENESSO ao expressar que ela

Tem se posicionado politicamente e lutado pela defesa de um projeto poltico da classe trabalhadora capaz de acumular foras para conquistar uma nova direo social poltica e cultural uma universidade democrtica gratuita e de qualidade social uma formao profissional que propicie a capacitao terico-metodolgica tcnico-operativo e tico-poltico de profissionais que venham a responder s demandas populares no sentido de reforar os direitos de cidadania dos segmentos majoritrios da populao (RAMOS 2006 p178)

Diante disso reafirmamos o propsito de analisarmos a ao poltica da

ENESSO no cenrio da atual contra-reforma do ensino superior na perspectiva de

identificar a direo social que a entidade assume e como se caracterizam as suas

lutas atualmente nas esferas da universidade e da formao profissional dimenses

aprofundadas nos captulos seguintes

50

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE

A trajetria at aqui traada do ME nos possibilita afirmar que em

diferentes conjunturas nacionais a defesa da educao pblica gratuita e de

qualidade historicamente se configura como o projeto aglutinador de diversos

estudantes brasileiros(as) a perspectiva de materializao desse projeto que vem

sendo destrudo pela atual contra-reforma do ensino superior e que tem se constitudo

em foco de discordncia do ME nacional na conjuntura recente

O pice dessa discordncia ocorreu ainda em 2004 com a criao da

Coordenao Nacional de Lutas dos Estudantes(CONLUTE) que afirma ter como

objetivos essenciais a coordenao de lutas que se contraponham as medidas

situadas no campo da contra-reforma que desmorona a educao superior pblica no

pas Segundo concepo da entidade suas aes se remetem ainda para organizar

os(as) estudantes

que romperam com a UNE e que ainda esto nela para lutar contra a poltica de desmonte da educao pblica do governo Lula Uma vez que a UNE controlada pelos partidos do governo abandonou as lutas e que a democracia se tornou inexistente no interior dessa entidade a Conlute aparece como embrio de uma alternativa para o Movimento Estudantil(CONLUTE 2008)

A partir dessa ruptura em relao a UNE algumas indagaes tornam-se

importantes a criao de outra entidade de organizao estudantil em nvel

nacional o caminho para enfrentar as investidas do capital na educao e a atual

poltica para o ensino superior Essa entidade tem conseguido articular os(as)

estudantes na luta contra a reforma universitria independemente do seu

reconhecimento ou da UNE como entidade mxima de representao do segmento no

Brasil estratgica a desistncia de segmentos do ME contrrios reforma em

obter a direo e reorganizar a UNE uma entidade brasileira histrica e que contribuiu

para conquistas significativas no pas A criao de mais uma entidade fragmenta ou

revitaliza a atuao estudantil na atualidade Esses questionamentos so importantes

porque trata de problemticas estritamente relacionadas organizao e atuao

poltica do ME no tempo presente e que na contemporaneidade constituem-se em alvo

de debate e discordncias tambm no MESS e que rebate na atuao da ENESSO

visto que o reconhecimento ou no da UNE como principal entidade poltica dos(as)

51

estudantes constitui um dos principais pontos de divergncias dos grupos

organizados no MESS

O direcionamento da ENESSO nos ltimos ENESS tem se situado no

campo de defesa da UNE e de seu reconhecimento como entidade mxima de

representao do segmento estudantil no Brasil e desse modo reconhece que essa

entidade necessita voltar s aes para lutas identificadas com a defesa da educao

pblica gratuita de qualidade social e sintonizadas com o iderio de transformao

societal Dimenso explicitada na seguinte argumentao

Apesar das aes polticas da direo majoritria da UNE devemos reivindicar essa entidade que nossa(dos estudantes) que tem uma trajetria de luta e peso poltico Sempre foi um instrumento da luta pela educao pblica e pela transformao social do pas e ainda continua tendo fora respaldo e legitimidade na sociedade brasileira e possuindo grande potencial para retomar as lutas dos reais interesses coletivos dos estudantes no pas (ENESSO 2005 p03)27

A ressalva realizada pela ENESSO se consubstancia no fato de que a

UNE atua hegemonicamente em conformidade com a contra-reforma alm disso

os(as) estudantes corroboradores(as) com o direcionamento poltico da entidade

podem se tornar ainda mais efetivos no mbito do ME e em particular do MESS com

as medidas adotadas pelo governo como por exemplo o PROUNI e o ensino

distncia medidas que proporcionam a expanso do setor privado sem precedentes

na histria da educao brasileira e que sero refletidas mais adiante

Isto no significa que estudantes inseridos(as) na modalidade a distncia

ou ento aqueles(as) beneficiados(as) pelo PROUNI necessariamente constituem

sujeitos defensores da poltica educacional adotada pelo governo Lula Contudo o

prprio cenrio de enfraquecimento das lutas coletivas da deficincia na formao

poltica do segmento estudantil e a supervalorizao da esfera tecnicista na formao

de perfis profissionais voltados para o atendimento das demandas imediatas do

mercado contribuem para uma apreenso acrtica das medidas materializadas no

contexto da contra-reforma do ensino superior

27 Essa posio de defesa da UNE como entidade histrica e mxima de representao dos(as) estudantes universitrios(as) tambm foi ratificada no ENESS de 2007 ocorrido em Contagem-MG quando por ocasio da reviso do Estatuto da ENESSO ficou definido que esta entidade reconhece a UNE como ldquoinstncia de representao do movimento estudantil para que a mesma estimule unifique e fortalea a luta das (os) estudantes pela defesa da universidade pblica gratuita democrtica laica popular de qualidade com ensino presencial e juntamente com outros movimentos sociais lute por um novo projeto de sociedaderdquo (2007 p 01)

52

Entendemos que a apreensatildeo do objeto de estudo que consiste na anaacutelise

da atuaccedilatildeo do MESS na defesa da universidade puacuteblica gratuita e de qualidade e do

projeto de formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais no periacuteodo de 2003-2008 requer

abordagens relativas as modificaccedilotildees verificadas no acircmbito educacional em especial

no ensino superior brasileiro e desse modo consideraccedilotildees sobre as poliacuteticas sociais

em particular no contexto de domiacutenio neoliberal conjuntura que soacute pode ser entendida

se apreendemos o movimento geral da sociabilidade capitalista na

contemporaneidade Satildeo dessas mediaccedilotildees que trataremos a seguir

53

Privatizado

Privatizaram sua vida seu trabalho sua hora de amar e seu

direito de pensar

Eacute da empresa privada o seu passo em frente

seu patildeo e seu salaacuterio E agora natildeo contente querem

privatizar o conhecimento a sabedoria

o pensamento que soacute agrave humanidade pertence

(Bertolt Brecht)

54

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

3-1- A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal

Partimos da concepo que o desvelamento das relaes entre o Estado e

a sociedade nas ltimas trs dcadas baseadas na perspectiva de reduo da

interveno estatal nas problemticas sociais s podem ser entendidas criticamente

se considerarmos o movimento real da sociedade capitalista caracterizado pelo

aprofundamento da barbrie

Esse direcionamento de anlise significa afirmar que as alteraes

ocorridas no mundo do trabalho e por conseguinte no mago da produo

capitalista ou seja a produo da vida material repercute no desenvolvimento e

funcionamento das polticas sociais incluindo aqui a educao e na ao dos sujeitos

nesses espaos Desse modo o processo de contra-reformas desencadeadas nos

diversos setores -educao organizao sindical previdncia entre outros- em escala

mundial e com particularidades na realidade brasileira tem suas razes nessa

reconfigurao da produo e acumulao do capital ocasionada pela crise verificada

a partir dos anos 70 do sculo XX

No mundo do trabalho atual autores como Antunes (2000) Harvey (2006)

apontam a ocorrncia de profundas mudanas na base de produo capitalista o

fordismo28 taylorismo29 entra em declnio e emerge no final dos anos 1970 em nvel

mundial o denominado toyotismo ou modelo flexvel

A produo em srie e massificada com vista a atender o consumo em

massa a rigidez nos processos produtivos a segmentao entre planejadores e

executores que caracterizam o padro fordistataylorista no mais proporciona a

obteno de altas taxas de lucros necessidade precpua do capital

Assim o novo padro visa superao da crise provocada pela

concorrncia intercapitalista bem como objetiva manter sob controle a luta de classes

28Harvey(2006) aponta que o fordismo apresentou um pequeno desenvolvimento fora dos Estados Unidos antes do final da dcada de 1940 visto que se materializou de modo mais consistente tanto na Europa como no Japo aps este perodo e que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial 29 Taylor na obra ldquoos Princpios da Administrao Cientificardquo (1911) detalhava como se podia atingir altos nveis de produtividade a partir da ldquodecomposio de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organizao de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padres rigorosos de tempo e estudo do movimentordquo( Harvey2006 p124)

55

a partir de mudanas nas dimenses objetivas e subjetivas dos segmentos do

trabalho

O padro flexvel de produo e acumulao apresenta como elementos

constitutivos o just in time30 flexibilizao terceirizao31 controle de qualidade32

subcontratao eliminao de desperdcio de modo que modelos produtivos e

administrativos fundamentados na ldquogerencia participativa sindicalismo de empresa

[] propagam se intensamenterdquo (ANTUNES 2000 p27) Essa tendncia de

flexibilizao difere do disciplinamento das fbricas no perodo de emergncia da

industrializao na qual conforme MARX ldquono lugar do chicote do feitor de escravos

surge o manual de penalidades do supervisorrdquo (1975 p45) Agora identificamos a

substituio do manual de penalidades por um sistema de gesto cujo trabalhador

autovigilante no processo produtivo

Outra faceta trazida com a adoo do modelo flexvel a de processos

de trabalho caracterizados pela polivalncia nos quais o(a) trabalhador(a)

exigido(a) a executar diversas atividades o que por sua vez implica o desempenho

de diferentes habilidades e competncias Dessa forma a demanda do mercado de

trabalho por qualificao e formao tambm flexveis se torna uma necessidade

real s para exemplificar esse direcionamento hoje constitui-se praticamente uma

imposio tcita para se tornar competitivo no mercado conhecimentos de informtica

e de outras lnguas Entretanto importante ressaltar que ter tais conhecimentos e

uma formao que lhe possibilite competir no mercado no significa

necessariamente a garantia de insero no mercado de trabalho formal pois como

veremos adiante a conjuntura atual -seja nos pases de capitalismo avanado ou nos

denominados perifricos- marcada pelo notvel aumento do desemprego Essa

realidade nos leva a afirmar que o diploma universitrio e o que ele representa j no

consistem em segurana e perspectiva de futuro estvel como se vislumbrava em

dcadas passadas Esta realidade certamente tem implicaes nos espaos de

organizao universitria como se configura o ME

30 Importante tendncia do modelo flexvel que visa racionalizao no desempenho das atividades a partir do maior rendimento possvel do trabalho vivo Segundo Coriat(1994 p55) o jus in time se baseia especialmente ldquona manipulao ou na observao simultnea de vrias mquinas diferentesrdquo e no na repetio dos movimentos como se verificava no fordismotaylorismo Nas palavras de Antunes(2002 p54) o jus in time ldquotem como princpio melhorar o aproveitamento possvel do tempo de produordquo31 Fenmeno em que somente parte da produo realizada no mbito de determinada fbrica na qual se prioriza o que central em sua especialidade desse modo o restante da produo transferido para responsabilidade de terceiros Cf Antunes(2002)32 Controle de qualidade implementado sobretudo mediante a criao dos Crculos de Controle de qualidade(CCQ) os quais so formados por trabalhadores(as) e que incentivados pelo capital agem no sentido de analisar o desempenho de suas atividades com o objetivo de melhorar o rendimento e produtividade das empresas nas quais trabalham

56

Para Antunes(2000) possvel observar no mundo do trabalho

contemporneo diversas mudanas no sentido de uma crescente reduo do trabalho

industrial fabril em nvel internacional ao passo que se verifica o aumento de

assalariados(as) no ramo de servios bem como notvel a diversificao

heterogeneidade e complexificao dos segmentos do trabalho que se expressa

mediante ldquocrescente incorporao do contingente feminino no mundo operrio

vivencia-se tambm uma subproletarizao intensificada presente na expanso do

trabalho parcial temporrio subcontratato ldquoterceirizadordquo que marca a sociedade dual

no capitalismo avanadordquo (ANTUNES 2000 p 41)Nos termos de Harvey

A acumulao flexvel []na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de trabalho dos produtos e padres de consumo Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos novas maneiras de fornecimento de servios financeiros novos mercados e sobretudo taxas intensificadas de inovao comercial tecnolgica e organizacional (2006 p140)

A flexibilidade do mercado e dos processos de trabalho provoca

redimensionamentos na organizao dos sujeitos do trabalho visto que a

complexificao a heterogeneidade a crise objetiva contribui veementemente para o

enfraquecimento de aes polticas voltadas para defesa e conquistas de direitos

trabalhistas e sociais bem como lutas identificadas com o iderio de transformao

social

O produto dessas mudanas consiste no aumento radicalizado do

desemprego estrutural que afeta a classe trabalhadora em mbito planetrio A

reduo de postos de trabalho formal acaba por determinar a elevao do setor

informal no qual os sujeitos so totalmente desprovidos de garantias trabalhistas

caso no tenham condies de pagar previdncia privada ou seja vivencia uma

situao de insegurana em moldes radicalizados Outro aspecto pertinente a ser

considerado que muitas atividades situadas no universo da informalidade so

caracterizadas pela ilegalidade como por exemplo vendedores ambulantes no

legalizados o que leva a insero de parte desse segmento no mundo da

criminalidade a partir do desempenho de atividades ilcitas Uma perversa faceta

dessa realidade a dificuldade em termos de organizao dessas pessoas haja vista

as prprias peculiaridades na execuo do trabalho aliada a tentativa da classe

dominante em mascarar os conflitos e interesses antagnicos presentes na

sociabilidade do capital

Sinalizamos que a alienao se apresenta na atualidade de forma intensa

dentre suas expresses podemos citar a propagada gesto participativa que

57

dissemina entre os(as) trabalhadores a falsa noo de interesses iguais entre estes e

os capitalistas o que acaba por radicaliz-la j que a produo continua sendo

coletiva e sua apropriao privada sendo tal relao mascarada com o falacioso

discurso da valorizao participao e do ldquovestir a camisardquo da empresa e da

conseguinte identidades de projetos que na verdade so inconciliveis

Em relao discusso sobre a ampliao do desemprego importante

fundamentar este debate com os aspectos do desenvolvimento das foras produtivas

que se expressam mediante o avano da cincia e da tcnica Sobre esta questo

temos na obra O capital um profundo desvendamento relativo funcionalidade dessas

esferas para o modo de produo capitalista Assim com a expanso da

industrializao a partir do emprego da mquina-ferramenta - aquela que substitui o

trabalhador - Marx enfatiza que a maquinaria em vez de proporcionar o alvio da

labuta diria contraditoriamente sob a gide do capital visa to somente extrao

da mais valia relativa mediante o aumento da produtividade Isso independente das

conseqncias degradantes geradas para os segmentos do trabalho nas diversas

esferas da vida ou at mesmo eliminando as condies de existncia de parte

significativa da populao trabalhadora que no consegue vender a fora de trabalho

para garantir a sua subsistncia em decorrncia do constante processo de

substituio da fora de trabalho por mquinas

Nesses termos podemos constatar que o desenvolvimento da cincia

pode potencializar a elevao das condies de existncia de homens e mulheres se

pautado numa perspectiva de emancipao humana que contribua para a melhoria

das condies de vida da maioria da populao ou antagonicamente pode vislumbrar

apenas a obteno da pedra de toque do capital lucro exacerbado mediante a

obteno de mais valia

A argumentao aqui efetivada no est consubstanciada em uma

dimenso de ldquosatanizaordquo da cincia por conseguinte da tecnologia no estamos

responsabilizando-a pelo desemprego destruio da natureza e desigualdades

sociais Entretanto a utilizao da cincia com a mera finalidade de elevar a

produtividade e conseqentemente os lucros acarreta graves conseqncias para a

humanidade inclusive corroborando para perda de numerosos postos de trabalho nos

mais diversificados ramos de atividades Segundo MARX

Como mquina o meio de trabalho logo se torna um concorrente do prprio trabalhador A autovalorizao do capital por meio da maquina est na razo direta do numero de trabalhadores cujas condies de existncia ela destri (1975 p 48)

58

Na conjuntura contemporacircnea verificamos a agudizaccedilatildeo desse processo

contraditoacuterio expresso pela crescente taxa de desemprego acarretada tambeacutem pelo

aumento de trabalho morto e minimizaccedilatildeo de trabalho vivo em uma era de grandes

avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos

Essa relaccedilatildeo manifesta mais um antagonismo fundante desse modelo

societaacuterio Segundo contribuiccedilotildees marxianas a forccedila de trabalho eacute a uacutenica criadora de

valor e mais valor apresentando a maquinaria apenas a capacidade de transferir valor

ao produto por ela fabricado assim com a elevaccedilatildeo de investimento em trabalho

morto e sua substituiccedilatildeo pela forccedila de trabalho se constata o acirramento dessa

contradiccedilatildeo

Portanto eacute imprescindiacutevel evidenciarmos que o usufruto da propagada

revoluccedilatildeo informacional e tecnoloacutegica produzida nos dias atuais assim como a

utilizaccedilatildeo da racionalidade na produccedilatildeo a partir do uso da teacutecnica e da ciecircncia natildeo se

traduzem para todos(as) de maneira igualitaacuteria pois como analisa Marx a marca

central da sociabilidade capitalista eacute a contradiccedilatildeo que se manifesta na apropriaccedilatildeo de

modo desigual da riqueza coletivamente produzida

Procuramos assinalar que a produccedilatildeo capitalista se transforma assim

como a ciecircncia e a teacutecnica todavia os trabalhadores(as) continuam sendo

explorados(as) pois a base societal permanece esteada na contradiccedilatildeo entre

possuidores e natildeo dos meios de produccedilatildeo portanto uma sociabilidade pautada

majoritariamente por desvalores como competitividade individualismo egoiacutesmo

potencializando as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo dominaccedilatildeo e opressatildeo entre os seres

humanos

Esse cenaacuterio caracterizado pela introduccedilatildeo de novas tecnologias no

espaccedilo da produccedilatildeo exige reordenamento na esfera da qualificaccedilatildeo e formaccedilatildeo

profissional Associada a emergecircncia do neoliberalismo como regulaccedilatildeo majoritaacuteria

entre o Estado e sociedade nos dias contemporacircneos eacute que temos a materializaccedilatildeo

de significativas mudanccedilas nas diversas poliacuteticas sociais em particular na educaccedilatildeo

Um indicador dessa direccedilatildeo consiste na ampla reestruturaccedilatildeo que as instituiccedilotildees de

ensino superior atravessam situadas tambeacutem numa perspectiva de racionalizar e

flexibilizar os processos formativos o que por sua vez rebate diretamente no espaccedilo

de aglutinaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do ME Universitaacuterio ou seja nas instituiccedilotildees de ensino

superior

59

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades

O debate sobre a direo social da educao no contexto atual requisita

inicialmente uma abordagem que proporcione o desvendamento da funcionalidade do

Estado e das polticas sociais para a sociedade capitalista

Diante disso consideramos fundamentais as contribuies de Behring e

Boschetti(2007) pois explicitam que as polticas sociais apresentam como

determinantes o desenvolvimento da industrializao as lutas de classes e a

conseqente interveno do Estado neste embate

Em sintonia com tal entendimento Vieira afirma que indubitavelmente a

emergncia das polticas sociais est articulada a atuao operria ainda no perodo

inicial das revolues industriais pois segundo sua interpretao as polticas sociais

como ldquoestratgia governamental de interveno nas relaes sociais unicamente

pde existir com o surgimento dos movimentos populares do sculo XIXrdquo(1992 p19)

Para Faleiros(2000) a origem das polticas sociais se remete ao processo

de reproduo da fora de trabalho e desse modo expressa a correlao de foras

intrnseca a sociedade capitalista e tambm no prprio aparelho do Estado

Perpassada pelas contradies de classe as polticas sociais representam tambm

mecanismos de legitimao estatal e governamental

Assim torna-se evidente que as polticas sociais entre as quais a

educao origina-se no interior das relaes de classe e dessa maneira

perpassada eou crivada por antagonismos intrnsecos a esta processualidade

Expresso dessa afirmao consiste no fato delas contriburem efetivamente para a

reproduo da sociabilidade do capital ao passo que se configuram e como de fato

so conquistas dos segmentos do trabalho Dessa maneira significativo destacar a

luta travada por diferentes sujeitos coletivos em favor de uma educao de qualidade

promovida pelo Estado e que na realidade brasileira pas da periferia do capital

majoritariamente o ME universitrio no decorrer de sua histria apresenta um

protagonismo considervel no desencadeamento de lutas e atividade voltada para

defesa de uma educao superior pblica gratuita laica e de qualidade

Esse carter contraditrio das polticas sociais est iarticulado a prpria

natureza de seu ente materializador ou seja a lgica e funcionalidade do Estado

moderno

Tonet(2004) ao analisar a concepo de Estado segundo o pensamento

de Marx ressalta que o mesmo tem sua origem no antagonismo das classes sociais

diferentemente das abordagens liberais que concebem a sua criao como resultante

60

de um pacto social entre os indiviacuteduos que proporciona a convivecircncia entre os

humanos jaacute que a desigualdade seria decorrente do usufruto da proacutepria igualdade

existente entre os seres

Nessa perspectiva temos o entendimento que a esfera das relaccedilotildees

materiais consiste na dimensatildeo determinante para constituiccedilatildeo do Estado moderno e

portanto dos complexos sociais dele resultantes como eacute o caso da educaccedilatildeo formal

na sociabilidade capitalista e desse modo modificaccedilotildees no seu acircmbito como

analisadas anteriormente exigem alteraccedilotildees nos diferentes campos da sociedade

como acontece no atual cenaacuterio do sistema educacional

Tonet(2004) ainda chama atenccedilatildeo para a assertiva marxiana de que

sendo o Estado originaacuterio da relaccedilatildeo contraditoacuteria das classes sociais certamente ele

representa pela sua natureza um instrumento de reproduccedilatildeo dos ideais da classe

dominante

Temos o entendimento que a contradiccedilatildeo perpassa os diversos setores da

sociabilidade burguesa o que abrange inclusive o Estado moderno Dessa maneira

a depender das forccedilas poliacuteticas dirigente do Estado as suas accedilotildees podem contemplar

mais as reivindicaccedilotildees dos segmentos do trabalho e setores subalternizados ou

inversamente as requisiccedilotildees da classe dominante

Diante do exposto desenvolvemos o pensamento que na atual conjuntura

de radicalizaccedilatildeo da crise capitalista as accedilotildees efetivada pelo Estado estatildeo voltadas

predominantemente para atender as reclamaccedilotildees do capital o que de certo modo

manifesta o processo de enfraquecimento da organizaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

trabalhadores(as) em niacutevel mundial

A partir de tais constataccedilotildees temos a conclusatildeo do Estado ser impotente

para erradicar as desigualdades sociais visto que essa eliminaccedilatildeo significaria a sua

proacutepria destruiccedilatildeo pois tanto o Estado como as desigualdades tecircm origens nas

diferenccedilas e antagonismos de classes

Desse modo podemos enfatizar que as accedilotildees do Estado na viabilizaccedilatildeo

das poliacuteticas sociais podem amenizar eou administrar as desigualdades os conflitos

e a luta de classes mas de modo algum podem instituir a igualdade de condiccedilotildees

para os sujeitos nesta sociabilidade regida pela exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo

O que estamos afirmando eacute que as poliacuteticas sociais natildeo satildeo capazes de

por fim a exploraccedilatildeo e contradiccedilotildees existentes na sociabilidade capitalista Exemplo

disso eacute que mesmo em paiacuteses de capitalismo avanccedilado nos quais entre os anos de

1940 ateacute 1970 as poliacuteticas sociais tenderam a universalidade nem assim os

segmentos do trabalho deixaram de ser explorados e oprimidos pois os meios de

61

produo continuaram sendo de propriedade privada e de modo algum foram

socializados

Contudo isso no significa que as lutas por polticas sociais e portanto

por direitos no seja importante pois elas contribuem para a melhoria das condies

de existncia dos segmentos do trabalho e manifestam certamente a relevncia da

organizao dos sujeitos na obteno de significativas conquistas polticas sociais

econmicas e culturais Como argumenta Tonet( 2004 p178)

A luta pelos direitos do cidado sempre vlida para a classe trabalhadora Mais ainda porque estes direitos interessam muito mais aos trabalhadores do que burguesia sempre bom lembrar que a emancipao poltica no uma situao esttica mas um campo uma arena de luta um resultado de lutas sociais- ainda que em ultima instncia sob a regncia do capital- de modo que o seu abandono pela classe trabalhadora significaria ceder terreno para os interesses da burguesia Esta pois fora de cogitao a supresso dos direitos conquistados e isto vale tanto para os pases mais desenvolvidos como para os menos desenvolvidos

Consubstanciadas nesse entendimento em relao funcionalidade do

Estado e das polticas sociais Behring e Boschetti(2007) destacam que no ocorreu

um corte radical entre a perspectiva liberal predominante no sculo XIX e o Estado

social do sculo XX dado o fato que os dois apresentaram direcionamento comum e

central de reconhecer direitos sem todavia colocar em questionamento os pilares

sustentadores do capitalismo como a propriedade privada o trabalho assalariado a

luta de classes entre outros

Ainda segundo as autoras as polticas sociais foram institudas de modo

diferenciado e em ritmos distintos nos vrios pases entretanto existe uma

concordncia entre estudiosos(as) da temtica em ldquosituar o final do sculo XIX como o

perodo em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar aes sociais de

forma mais ampla planejada e sistematizada e com carter de obrigatoriedaderdquo

(BEHRING E BOSCHETTI 2007 p64)

Nos pases de capitalismo avanado como salientado as polticas sociais

se expandem de maneira gradativa do incio da primeira grande guerra mundial at os

anos de 1930 perodo de depresso econmica que teve como smbolo maior a

quebra da bolsa de valores de Nova Yorque e se generalizaram somente aps a

segunda grande guerra (1945) momento de crescimento e expanso da economia

Entretanto no manifestavam o abandono da sociabilidade capitalista nem tampouco

a defesa da socializao dos meios de produo

62

Conforme a abordagem liberal de Marshall (1967) os direitos civis

(necessrios liberdade individual) e polticos (participao no exerccio poltico)

juntamente com os direitos sociais que se afirmaram com o Estado interventor

constituem os elementos da cidadania burguesa Estes ratificam o direito a um mnimo

econmico que possibilite a existncia de uma vida civilizada entre tais direitos

encontra-se a educao e os servios sociais

Corroboramos com a perspectiva de TONET de situar as conquistas

referentes cidadania no solo da sociedade capitalista na tentativa de evidenciarmos

que a defesa por cidadania portanto por direitos no mbito dessa sociedade

importante mas no proporciona o fim das desigualdades pois o capitalismo se

sustenta tendo como fundamento a reproduo destas ou seja ldquoa condio de

cidadania exatamente expresso e instrumento da reproduo da ciso que se

opera e continua a operar-se no homem como resultado da sociabilidade do capitalrdquo

(TONET 1997 p172-173)

Portanto foi com a consolidao do modelo de produo baseado nos

princpios do fordismo-taylorismo que as polticas sociais se tornaram nos termos de

Behring e Boschetti(2007) abrangentes e universalizadas dada a influncia do

pensamento de Keynes que defendia uma ao estatal fundamentada na poltica do

pleno emprego e na elevao da igualdade social Essa tendncia de abrangncia e

universalidade das polticas sociais tambm foi resultante das reivindicaes dos

segmentos do trabalho por melhoria das condies materiais e espirituais de

existncia e ainda pela chegada ao poder de partidos da social-democracia e sua

ldquorespectiva defesa de elaborao e efetivao de reformas visando a criao de

direitosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p84) Para Harvey a atuao do Estado

no contexto de predominncia do fordismo-keynesianismo se pautou numa dimenso

de

controlar ciclos econmicos com uma combinao apropriada de polticas fiscais e monetrias no perodo ps-guerra Essas polticas eram dirigidas para reas de investimento pblico - em setores como o transporte os equipamentos pblicos etc - vitais para o crescimento da produo e do consumo de massa e que tambm buscava fornecer um forte complemento ao salrio social com gastos de seguridade social assistncia medica educao habitao etc Alm disso o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produo (HARVEY 2006 p129)

Constatamos que as orientaes keynesianas que predominaram no

perodo de vigncia fordista apresentavam preocupaes relativas melhoria de vida

63

dos(as) trabalhadores(as) como se verifica mediante a defesa e expanso dos

servios sociais nos pases de industrializao avanada e tardiamente expandida de

modo pfio para os Estados da periferia do capital contraditoriamente j no contexto

de retrao neoliberal

Relevante assinalar que a expanso das polticas sociais representava para

o capital a perspectiva de proporcionar condies econmicas para a populao

consumir as mercadorias produzidas em larga escala enquanto que para a classe

trabalhadora expressava a conquista de direitos significativos Essa processualidade

das polticas como mecanismo de manuteno da ordem estabelecida ao mesmo

tempo em que se configura como conquista para os segmentos explorados e

dominados evidencia o seu carter contraditrio nos marcos desse modelo societrio

A reestruturao produtiva em expanso desde a dcada de 1970 como

resposta a reduzida obteno de lucros acompanhada por outra concepo de

regulao social baseada em orientaes diferentes do Estado de bem estar social

vigente no ps-segunda guerra

nesse contexto de redefinio da relao Estado e sociedade que as

diretivas neoliberais ganham terreno em nvel mundial visto que ldquopara os liberais a

crise resultava do poder excessivo e nefasto dos sindicatos e do movimento operrio

que corroeram as bases de acumulao e do aumento dos gastos sociais do Estado o

que desencadearia processos inflacionriosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p126)

Essa argumentao utilizada pelos segmentos dominantes de reduzir

custos como meio de garantir estabilidade fiscal acarretou mudanas significativas no

desenvolvimento das polticas sociais que tem a focalizao e seletividade como

suas caractersticas singulares

Para Anderson(2005) as premissas neoliberais j estavam previstas no

livro ldquoo caminho da Servidordquo de Friedrick Haych publicado em 1944 Todavia o

apogeu capitalista no perodo de predominncia do fordismo-keynesianismo impediu a

sua execuo portanto na conjuntura de crise dos anos de 1970 que o

neoliberalismo encontra condies favorveis para sua expanso e consolidao em

diferentes realidades econmicas sociais polticas e culturais

Segundo Carcanholo(2002) o neoliberalismo se sustenta em quatro

premissas bsicas e que potencializam a supremacia do mercado a privatizao e a

abertura nacional ao capital estrangeiro so elas

[] os agentes individuais tomam decises motivadas unicamente pelo interesse prprio e todas as interaes econmicas polticas eou sociais entre esses indivduos s podem ser explicadas em

64

termos desse interesse proacuteprio Em segundo lugar essas interaccedilotildees baseadas no interesse proacuteprio natildeo levam ao caos social mas a harmonia jaacute que elas fazem parte de uma ordem natural Em terceiro lugar esta uacuteltima tem grande expressatildeo no mercado Eacute ele o responsaacutevel pela interaccedilatildeo entre todos os interesses individuais e portanto pela manutenccedilatildeo da ordem natural Finalmente [] qualquer intervenccedilatildeo nesse mercado eacute indesejaacutevel porque dificulta o estabelecimento da ordem natural (Carcanholo 2002 p17-18)

Com base nas premissas ressaltadas pelo autor se torna recorrente a

tendecircncia de reduccedilatildeo do Estado na aacuterea social pois o mesmo continua agindo

majoritariamente para oferecer as condiccedilotildees de manutenccedilatildeo da sociedade vigente e

desse modo efetivando medidas de privilegiamento do capital em detrimento do

trabalho como se manifesta na concretizaccedilatildeo de vaacuterias contra-reformas Diante dessa

constataccedilatildeo fazemos a seguinte reflexatildeo no atual estaacutegio do capital podemos

configurar o Estado como mero comitecirc organizativo da burguesia As mediaccedilotildees

elaboradas acima evidenciam que temos a compreensatildeo de analisarmos as

discussotildees e a atuaccedilatildeo do Estado no acircmbito da categoria da contradiccedilatildeo por isso

ressaltamos antagonismos que perpassam as poliacuteticas sociais todavia natildeo podemos

desconsiderar o forte direcionamento da accedilatildeo do Estado para o fortalecimento da

sociabilidade burguesa assim eacute recorrente entre outras medidas a realizaccedilatildeo de

contra-reformas voltadas para retirada de direitos jaacute adquiridos pelos

trabalhadores(as) bem como eacute visiacutevel a fragilidade do Estado sobretudo em paiacuteses

perifeacutericos como o Brasil de materializar direitos jaacute assegurados como a educaccedilatildeo

formal para todos(as)

Exemplo dessa direccedilatildeo satildeo as privatizaccedilotildees as quais corroboram para

transfigurar direitos em mercadorias aleacutem de contribuir ideologicamente para

reestruturaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos que tendem a se adaptar aos princiacutepios

norteadores do mercado Eacute nessa conjuntura que se desencadeiam as diversas

contra-reformas como na previdecircncia educaccedilatildeo dentre outros fortalecendo a loacutegica

de sobrepor os princiacutepios mercantis nos diferentes setores sociais

Diante disso outro ponto a ser problematizado a partir das premissas

elencadas por Carcanholo eacute a perspectiva de naturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais na

qual o mercado se apresenta como marco regulatoacuterio dessa ordem de tal maneira

que somente ele eacute capaz de proporcionar o desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos

indiviacuteduos Nesses termos a defesa e luta por outra sociedade antagocircnica a

capitalista se torna algo pernicioso e ateacute mesmo destrutivo para a humanidade

A ascensatildeo e hegemonia conquistada pelos representantes do capital na

sua versatildeo neoliberal natildeo pode ser desvinculada da direccedilatildeo e derrocada do

65

socialismo real no leste da Europa Dimenses que contriburam de maneira efetiva

para propagao falaciosa de ser o capitalismo a nica forma de sociabilidade

possvel para humanidade como se o mesmo fosse natural e no construdo

historicamente pelos sujeitos sociais ou seja

diz-se que no existe alternativa para o capitalismo que todaprocura por uma alternativa conduz ao totalitarismo ou ento uma iluso uma utopia um sonho romntico um anacronismo fora de moda (LOWY 2002 p36)

Anderson (2005 p23) ao realizar um balano sobre o neoliberalismo

assinala o seu xito ideolgico especialmente no tocante a disseminao ldquode que no

h alternativas para os seus princpios que todos sejam confessando ou negando

tm de adaptar-se as suas normasrdquo

O nosso intuito foi destacar processualidades contraditrias que

peculiarizam as polticas sociais e no evidenciar seu resgate histrico entretanto do

nosso ponto de vista a retomada ainda que de forma breve de sua trajetria na

realidade brasileira potencializa o entendimento da reconfigurao das polticas

sociais no contexto neoliberal como se verifica com a educao

Assim sendo Faleiros(2000) elenca quatro conjunturas importantes na

histria das polticas sociais no Brasil so elas o perodo que engloba os anos de

1930 a 1960 caracterizado pela implantao de seguro social para alguns segmentos

do trabalho o cenrio de vigncia da ditadura militar de predomnio do complexo

industrial-militar-assistencial o perodo da constituinte e por ltimo a conjuntura de

domnio neoliberal a partir dos anos de 1990

O primeiro momento destacado pelo autor consubstanciado na poltica

trabalhista de Getulio Vargas33 que visava mascarar as contradies mediante a falsa

concepo da possvel constituio de uma colaborao de classes Fundamentado

nesta concepo foram adotadas algumas medidas concernentes s polticas sociais

expressas em aes como a criao dos seguros sociais substitudos

gradativamente pelos institutos de previdncia social a criao da Legio Brasileira

de Assistncia(LBA) em 1942 no qual predominava o vis assistencialista mediante

a articulao de obras de caridade de cunho religioso atravs de aes realizadas

pelas primeiras-damas

Este contexto de expanso da urbanizao e industrializao do pas se

constituiu no momento de forte organizao dos operrios o que explica a

33 Vargas presidiu o pas de 1934 a 1945 Assumiu novamente a presidncia entre os anos de 1951 a 1954

66

preocupao do Estado em sistematizar a sua atuao no mbito da luta de classes a

partir do desenvolvimento de aes no campo social e trabalhista Com tal intento foi

criado o Ministrio do Trabalho em 1930 cujo objetivo consistia em amenizar as lutas

dos(as) trabalhadores(as) mediante atuao que procurou atrelar s entidades de

classe- como os sindicatos- esfera governamental

A ditadura militar instaurada em 1964 consistiu smbolo de opresso

autoritarismo e da utilizao das foras repressivas e coercitivas em detrimento das

experincias democrticas Momento caracterizado tambm pelo privilgio dos

interesses econmicos da elite brasileira associada aos anseios da burguesia

internacional Neste sentido uma das metas principais dos governos ditatoriais era

atrair capitais estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos

Estados Unidos

Marcado por autoritarismo e clientelismo a atuao do Estado tambm se

efetivara no enfrentamento das expresses da questo social Neste perodo foram

adotadas medidas como a centralizao dos institutos de previdncia social

ampliao de direitos previdencirios aos trabalhadores do campo criao do

Ministrio da Previdncia e Assistncia Social rgo que incorporou a LBA a

Fundao para o bem-estar do menor (FUNABEM) entre outros Para Behring e

Boschetti a poltica social no contexto da ditadura apesar de sua verificada ampliao

foi ldquoconduzida de forma tecnocrtica e conservadora reiterando uma dinmica singular

de expanso dos direitos sociais em meio restrio dos direitos civis e polticos

modernizando o aparato varguistardquo (2007 p135)

A crise do regime ditatorial j deflagrada no final dos anos 1970 com a

derrocada do milagre econmico foi impulsionada ainda pela (re)organizao de

diversos segmentos da sociedade brasileira na luta pelos seus interesses particulares

mas tambm pela defesa do Estado democrtico e de direito

esse contexto de crise econmica e efervescncia poltica que culmina

no terceiro momento identificado por Faleiros o da constituinte Conforme o autor a

Constituio de 1988 expressa a disputa entre segmentos populares organizados e

setores conservadores que se aglutinaram na ala tradicional do Congresso Nacional

denominada naquele perodo de centro e que tratou de defender os interesses

dominantes mediante postura de negao e oposio s presses por direitos sociais

Embora caracterizada de constituio cidad ela representa o conjunto de

foras contraditrias presentes na sociedade capitalista e na particularidade da

realidade brasileira Importante ressaltar tambm que nela se estabelece a

Seguridade Social constituda pelo direito universal a sade os direitos previdencirios

e a assistncia social como direito do cidado(a) e dever do Estado

67

Em relao seguridade social Boschetti(2008) salienta que um de seus

pilares consiste na estruturao com base na organizao social do trabalho e que

tanto nos pases europeus como na Amrica Latina e Caribe esto presente tanto a

lgica do seguro que predomina na esfera da Previdncia Social como a lgica da

assistncia esta que na realidade brasileira se expressa nas polticas de Sade e de

Assistncia Social

A Constituio ainda no seu artigo 205 ratifica a Educao como direito

de todos(as) e dever estatal bem como garante no artigo 207 a autonomia didtico-

cientfica administrativa de gesto financeira e patrimonial das universidades do

pas Tais instituies segundo o texto constitucional devem se pautar pelo princpio

bsico de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extenso

A garantia legal desses direitos significa inegavelmente uma grande

conquista de setores populares entre eles do ME entretanto isso no garante a sua

real operacionalizao ou seja no proporciona o seu usufruto para a grande maioria

da populao brasileira Essa discrepncia j tomava consistncia nos idos de 1985

com o inicio da gesto Sarney34 que governou baseado numa poltica de conteno

de gastos com reduo e cortes de investimentos em setores como sade e

educao

Essa no identidade entre legalidade e operacionalidade se torna mais

crtica no ltimo momento explicitado por Faleiros qual seja o de domnio neoliberal

Segundo Behring(2003) o que tem ocorrido no Brasil dos anos 1990 aos

dias atuais um processo de conta-reforma do Estado que dificulta eou reorienta as

garantias preconizadas na Constituio de 1988 Para Iamamoto(2008) essa

perspectiva tem continuidade nos anos de gesto Lula que ao manter a mesma

poltica econmica da era FHC

consagra a ortodoxia econmica monetarista recomendada pelos organismos internacionais como a nica possvel s h ldquogesto responsvelrdquo com a poltica neoliberal que mantenha o ajuste fiscal duro o juro real elevado a poltica monetarista concentracionista o cmbio flutuante e a livre movimentao de capitais Essa mesma poltica [] o pressuposto dos programas sociais na tentativa de compensar o que est sendo agravado pela poltica econmica e pela ausncia de efetivas reformas(p36)

Portanto vivenciamos uma tendncia do Estado em minimizar a sua

atuao no campo das polticas sociais expresso que se confirma mediante a

mercantilizao em diversificados setores sade previdncia educao segurana

34 Sarney assumiu a Presidncia da Repblica no perodo de maro de 1985 a maro de 1990

68

entre outros Mas como ratificamos acima o Estado continua agindo no sentido de

atender as requisies para manuteno da sociabilidade do capital sendo possvel

apreender essa dimenso nos mais diversificados pases sejam de centro ou da

periferia do capital Tendncia que se confirma nesse momento de aprofundamento da

crise capitalista exemplo disso acontece aqui no Brasil O que dizer por exemplo

diante da afirmao do governo brasileiro ao se prontificar a destinar recursos para o

FMI num cenrio em que milhares de trabalhadores(as) no pas perdem o emprego e

conseqentemente a sua condio de subsistncia Preocupaes com os segmentos

do trabalho ou em no colocar em questionamento o prprio ente gerador da crise o

sistema capitalista

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais

A educao como poltica social diretamente afetada pela concretizao

das diretrizes neoliberais j que elas sinalizam a minimizao de investimentos estatal

na rea social como meio de reduzir gastos e ainda mais nessa conjuntura de crise

em que montantes de recursos em escala mundial so destinados para amenizar os

seus efeitos Mas amenizar danos para os capitalistas ou para os segmentos do

trabalho Importante enfatizar que a sociabilidade capitalista permeada por

interesses contraditrios resultantes dos prprios antagonismos intrnsecos a esse

modelo societrio que objetiva a obteno de superlucros mediante explorao e

dominao mesmo no contexto de radicalizao da barbrie

Nessa dimenso a educao tambm se configura como um importante

campo de disputa entre projetos diferenciados Logo podemos sinalizar a existncia

de projetos identificados com a defesa da educao como direito social universal e

instrumento imprescindvel na desconstruo de valores mercantis o que por sua vez

contribui na construo de valores sintonizados com outro modelo societrio E

antagonicamente de outros projetos que buscam transfigurar a esfera educacional em

mais um ramo lucrativo para o capital alm de procurar restringir tal setor a um tipo de

funcionalidade voltada ao atendimento das necessidades do mercado competitivo

direo fortalecida na era hegemnica do neoliberalismo afinal de contas

69

O acesso ao conhecimento cientifico e tcnico sempre teve importncia na luta competitiva mas tambm aqui podemos ver uma renovao de interesses e de nfase j que num mundo de rpidas mudanas e de sistemas de produo flexvel [] o conhecimento da ultima tcnica do mais novo produto da mais recente descoberta cientfica implica a possibilidade de alcanar uma importante vantagem competitiva O prprio saber se torna uma mercadoria-chave a ser produzida e vendida a quem pagar mais sob condies que so elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVYE 2006 P151)

Portanto alm do esforo exercido para mercantilizar a educao como

bem retrata Harvye no podemos desconsiderar a utilizao da rede educacional

institucionalizada pelos representantes do grande capital com vistas tambm a

formao de consensos que potencializam a dominao e manuteno do poder

vigente como explicita Mszaros (2005) na sua abordagem

Segundo este autor a educao formal ou institucionalizada sobretudo

nos ltimos 150 anos apresentou como funcionalidade no somente produzir os

conhecimentos e mo-de-obra imprescindvel ao processo de reproduo do capital

mas contribuiu efetivamente para a transmisso de valores que servem de suporte

e legitimidade aos interesses dominantes

Concordamos com Mszaros (2005) quando ratifica o direcionamento de

adequao da educao aos interesses mercantis entretanto destacamos nesse

debate o fato da sociabilidade capitalista ser atravessada nos seus mais diversos

mbitos pela contradio por conseguinte o desenvolvimento de processos

formativos sintonizados com o iderio de transformao societal tambm se coloca

como uma possibilidade real

Diante dessa problematizao importante destacar o pensamento de

Tonet (2007) segundo o qual a funcionalidade central da educao constitui a

apropriao de conhecimentos habilidades e valores produzidos e construdos no

decorrer da histria pelos indivduos singulares De tal modo que o ldquoacesso de todos

educao sistematizada portanto formal uma necessidade para que as pessoas

possam se apropriar do patrimnio do gnero humanordquo (TONET 2007 p5)

contudo essa apropriao no est descolada dos antagonismos sociais e assim

sendo recorrente que em uma sociedade de classes os interesses que

predominantemente estruturam a educao sejam tambm os anseios da classe

dominante Porm como j enfatizamos a contradio intrnseca a sociabilidade

burguesa e dessa forma com base nas formulaes de Tonet (2004) afirmamos

que a educao na perspectiva do trabalho se remete a defesa da apropriao do

patrimnio humano - artes direito filosofia etc - de forma ampla por parte de

70

todos(as) sujeitos sociais e histricos Em contrapartida na ptica do capital a

tendncia de limitar o acesso e a qualidade da educao pois seu objetivo ldquono

a realizao plena de todos os indivduos e pois do gnero humano mas a sua

prpria realizaordquo (p224)

Na realidade especfica do Brasil cada vez mais recorrente a reduo de

investimentos na rea social o que atinge tambm a educao alm disso se

intensificou nas ultimas dcadas a disponibilidade de todos os nveis da educao

formal para a esfera privada o que configura o domnio do mercado sobre esse

setor e isso representa inclusive a predominncia dos valores mercantis nos

processos formativos

Neste sentido observamos a partir de anlises como as realizadas por

Tonet (1998 2007) e Mszaros (2005) a necessidade de construo de uma

perspectiva crtica para a educao que no se limite em atender aos anseios de

reproduo dessa ordem societria ao contrrio que seja sintonizada com a luta na

busca da derrocada da gide do capital portanto uma verdadeira mediao para a

conquista da emancipao humana

Dessa forma preciso considerar que na poca de predominncia do

padro fordista-taylorista a esfera educacional apresentava majoritariamente o vis

informativo e limitado pois no necessitava de trabalhador(a) com habilidades

criativas em decorrncia da ntida separao entre planejadores e executores

caracterstica desse modelo produtivo A emergncia da flexibilidade no mundo do

trabalho reclama outro tipo de formao na qual

O trabalhador precisa aprender a pensar a resolver problemas novos e imprevistos precisa ter uma formao polivalente ou seja uma formao que lhe permita realizar tarefas diversas e alm disso a transitar com mais facilidade de um emprego a outro pois a estabilidade j no faz parte desta nova forma de produo (TONET 2007 10)

Alicerando-nos nas contribuies do autor verificamos que a educao

passa por complexas processualidades na contemporaneidade Nesse cenrio de

crise e mudanas estruturais ela necessita se readequar e gerar alternativas diante

dos novos padres e relaes sociais Analisamos que a readequao em larga

medida tem se pautado na tendncia de submeter atividade educativa ao vis

mercantilista

Diante do exposto que Tonet (2007) chama ateno para a difcil situao

que peculiariza a educao no momento atual Segundo ele a educao se encontra

em uma verdadeira encruzilhada visto que contribui para reproduo da sociabilidade

71

capitalista que no presente marcada pela radicalidade da barbrie ou contribui

para construo de outro sistema societrio Essa encruzilhada expressa os interesses

contraditrios existentes na sociedade do capital com particularidades nos complexos

sociais e aqui em especial na educao

Tonet(2004) analisa requisitos sintonizados com o desenvolvimento de

atividades educativas que vislumbrem a transformao social Desse modo

elencaremos os requisitos defendidos pelo autor com o objetivo de destacar a

necessidade de seu fortalecimento com vistas a potencializar projetos educacionais

negadoras da ordem estabelecida

O primeiro requisito concerne perspectiva de empreender nas atividades

educativas conhecimentos profundos e slidos da finalidade pretendida ou seja da

emancipao humana dimenso balizadora das prticas educativas cotidianas O

segundo se refere real necessidade de uma anlise crtica e radical da sociabilidade

capitalista ou seja compreenso ldquodas caractersticas essenciais da crise por que

passa esta sociabilidade das conseqncias que da advm para o processo de

autoconstruo humana da maneira como esta crise se manifesta nos diversos

campos da atividade humana [](TONET 2004 p 232) Outro requisito consiste no

conhecimento aprofundado do prprio campo da educao visto que esse tem suas

especificidades A quarta requisio tratado por Tonet se remete ao domnio dos

contedos inerentes a cada rea do saber como por exemplo podemos citar a

importncia do educador(a) ter domnio da rea prioritria na qual atua seja na

filosofia na sociologia no direito entre outras O ultimo requisito constitui a relevncia

da articulao da atividade educativa com o desenvolvimento das lutas empreendidas

pelos segmentos subalternizados o que favorece na materializao de aes

negadoras do projeto societrio capitalista

Reflexes crticas como as realizadas por Tonet e pelo prprio Mszaros

so importantes tambm para contribuir com o desvendamento das determinaes

que impossibilitam a materializao de uma educao formal libertadora no marco da

sociabilidade sob a gide do capital pois tal sistema se reproduz tendo como

essncia a perpetuao e ampliao das contradies que lhe so intrnsecas

Entretanto como apontado acima isso no significa negar a possibilidade

real de direcionar a educao por princpios eou requisitos sintonizados com a

construo de outra ordem devido aos prprios antagonismos inerentes a

sociabilidade capitalista De tal modo uma compreenso abrangente de educao

conforme o pensamento de Mszaros(2005) significa o entendimento de que o

processo de aprendizagem no se restringe a esfera institucional majoritariamente

utilizada pelo capital mas engloba todos os aspectos da nossa vida tornando-se

72

imprescindvel a interconexo dessas vivncias com a esfera formal A perspectiva de

construo de outra concepo educacional tambm sinalizada por Tonet na

seguinte assertiva ldquo evidente que uma educao voltada para a construo de uma

sociedade que tenha como horizonte a emancipao humana ter que ser norteada

por princpios e dever encontrar formas profundamente diferentes daquelas voltadas

para a reproduo da sociabilidade regida pelo capitalrdquo (1998 p10)

Diante do exposto temos o entendimento que o domnio burgus tambm

se faz presente na educao pois esta esfera sofre os rebatimentos da diviso da

sociedade em classes sociais decorrente dessa constatao histrica do

antagonismo de classes que a construo de atividades educativas e portanto de

formao profissional questionadora dessa ordem tambm uma possibilidade real

Assim concebemos que o projeto profissional que hegemonicamente direciona a

formao dos(as) assistentes sociais no Brasil se fundamenta numa perspectiva que

sem dvidas contribui para a anlise crtica da atual sociabilidade bem como

preconiza a defesa de construo de uma outra sociedade alicerada na verdadeira

emancipao de homens e mulheres Projeto de formao profissional que cada vez

mais se depara com obstculos para sua materializao tais como a insuficincia

das condies objetivas que dificulta a efetivao das diretrizes curriculares uma

realidade em todo pas alm de vivenciarmos um perodo de fortalecimento de

valores mercantis associada fragilidade da teoria social crtica no mbito da

educao o que configura assim uma conjuntura no favorvel para universalizao

desse projeto Entretanto a luta empreendida pelas entidades representativas do

Servio Social englobando a ao de segmentos de docentes e discentes ratifica o

compromisso preponderante dessa profisso com a construo e realizao de

atividades educativas emancipadoras

Assim apreendermos nesse estudo a sociabilidade capitalista como

espao de disputa e luta de classes e por conseguinte de perspectivas educacionais

diferenciadas e at mesmo contraditrias Desse modo a subordinao de uma

classe em relao outra no exercida somente com o uso da fora mas tambm

mediante a utilizao de diversos mecanismos entre eles as polticas sociais como a

educao que contribuem para que a classe dominante garanta a reproduo da fora

de trabalho e de sua condio de classe como tal

Destarte as mudanas pelas quais passa a sociabilidade capitalista no

momento presente e suas implicaes na relao do Estado com a sociedade

consiste requisito essencial para apreenso das determinaes que incidem sobre a

necessidade de reconfigurao nos espaos formais de qualificao e aprendizagem

Dessa forma faz-se necessrio considerar as alteraes no mbito da formao dos

73

segmentos do trabalho incluindo os(as)assistentes sociais o que por usa vez

contribui no desvelamento da direo social da ao dos sujeitos coletivos nesta

realidade histrica entre os quais o segmento estudantil

Diante do exposto entendemos que refletir sobre a contra-reforma do

ensino superior e seus impactos para o projeto de formao dos(as) assistentes

sociais e da direo social da ao poltica dos(as) estudantes nesta conjuntura

reclama consideraes relativas ascenso neoliberal no pas com sua respectiva

diretiva de ldquoreformarrdquo o Estado A abordagem potencializa a apreenso das

determinaes que incidem na readequao das instituies de ensino e a educao

superior a lgica conjuntural do mercado

74

O Que Foi Feito Deveraacute

O que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou

O que foi feito da vida o que foi feito do amor

Quisera encontrar aquele verso meninoQue escrevi haacute tantos anos atraacutes

Falo assim com saudade falo assim por saber

Se muito vale o jaacute feito mas vale o que seraacuteMas vale o que seraacute

E o que foi feito eacute precisoconhecer para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza falo por acreditar

Que eacute cobrando o que fomosque noacutes iremos crescer

Noacutes iremos crescer outros outubros viratildeo

Outras manhatildes plenas de sol e de luzAlertem todos alarmas

que o homem que eu era voltouA tribo toda reunida raccedilatildeo dividida ao solE nossa Vera Cruz

quando o descanso era luta pelo patildeoE aventura sem par

Quando o cansaccedilo era rio e rio qualquer dava peacute

E a cabeccedila rolava num gira-girar de amorE ateacute mesmo a feacute natildeo era cega nem nada

Era soacute nuvem no ceacuteu e raizHoje essa vida soacute cabe

na palma da minha paixatildeoDevera nunca se acabe abelha fazendo o seu mel

No pranto que criei nem vaacute dormir como pedra e esquecer

O que foi feito de noacutes

(Milton Nascimento)

75

IV UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

4-1 ldquoREFORMArdquo UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA

DO ESTADO BRASILEIRO

Antes da discussatildeo sobre contra-reforma implementada pelo Estado

brasileiro tecemos algumas consideraccedilotildees sobre a constituiccedilatildeo da Universidade

nacional o que permitiu apreensatildeo da disputa de valores e projetos educacionais

diferenciados para esta instituiccedilatildeo tatildeo relevante para o desenvolvimento econocircmico

social poliacutetico e cultural do paiacutes

A universidade eacute recente no cenaacuterio nacional foi criada somente no final

dos anos 1920 e com processo de expansatildeo na deacutecada de 1930 em que recebeu

influecircncias do modelo de escolas superiores ateacute entatildeo majoritaacuterio no Brasil

Segundo Rocha(2004) as primeiras instituiccedilotildees de ensino superior no

Brasil foram criadas trecircs Seacuteculos apoacutes o descobrimento visto que o domiacutenio

portuguecircs se estendia tambeacutem nas esferas da educaccedilatildeo e cultura como forma de

manter o poder sob a colocircnia Foi com a chegada do reino portuguecircs em 1808 que

surgiram agraves primeiras escolas superiores inicialmente nos estados da Bahia e Rio de

Janeiro E tardiamente no periacuteodo republicano foram criadas as primeiras

universidades no Brasil em 1920 foi fundada a Universidade do Rio de Janeiro e em

1927 a Universidade de Minas Gerias ambas formadas a partir da aglutinaccedilatildeo de

escolas superiores jaacute existentes

Conforme as contribuiccedilotildees de Fernandes (1975) a universidade assumiu o

caraacuteter de um conglomerado de escolas superiores com suas respectivas fragilidades

quais sejam o pequeno nuacutemero de estudantes professores e funcionaacuterios a

supervalorizaccedilatildeo do ensino em detrimento da pesquisa quando defendemos que

ambas as atividades devem funcionar articuladamente aleacutem da centralizaccedilatildeo na

tomada de decisotildees sem levar em consideraccedilatildeo os (as) envolvidos (as) na construccedilatildeo

desse espaccedilo

Em 1930 eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede sinalizando a

preocupaccedilatildeo do Estado nacional com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra num

cenaacuterio de crescimento e expansatildeo da industrializaccedilatildeo no paiacutes

Em 1934 foi fundada a Universidade de Satildeo Paulo e em 1935 a

Universidade do Distrito Federal criadas jaacute sob a influecircncia do modelo germacircnico-

humboldtiano que preconiza a indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensatildeo e

76

concebe a universidade como espao privilegiado na produo do conhecimento e de

desenvolvimento cultural35

Como destacado no segundo captulo desse trabalho em 1937 foi criada

a UNE Diante do exposto sinalizamos que a sua criao se processou concomitante

a estruturao e consolidao da universidade no pas o que demonstra que desde o

princpio o ME se constitui locus privilegiado de organizao e atuao dos(as)

universitrios(as)

Nesse sentido na dcada de 1940 o aumento de professores e de

estudantes nas instituies de ensino superior e a incluso da pesquisa nessa esfera

configuraram-se aspectos fundamentais na deflagrao da crise do modelo brasileiro

de escolas superiores predominantes nos interior das universidades brasileiras A

partir de ento temos a construo de uma perspectiva de universidade apreendida

como espao primordial na criao e produo de conhecimento Importante destacar

que nessas dcadas temos a expanso da urbanizao e industrializao no pas o

que requisita o desenvolvimento da cincia e da tcnica

Contudo uma perspectiva crtica de universidade encontrou forte

resistncia inclusive por parte do Estado que sob a vigncia do Estado Novo de

Vargas procurou adequar as instituies aos interesses dominantes

Temos a concepo que a misso da universidade no pode ser reduzida

a dimenso do ensino e desse modo se configurar em mera funcionalidade de formar

sujeitos para atuar em determinadas profisses como ocorreu no processo de

constituio dessa instituio nem to pouco de se remeter a promoo do

desenvolvimento cientfico e tecnolgico visando to somente a reproduo dessa

sociabilidade ela deve se constituir em um espao de construo da cultura cincia

tecnologia investigao cientifica nas mais variadas reas do conhecimento com a

prerrogativa de proporcionar o desenvolvimento da humanidade e no do capital

A educao superior e por conseguinte a universidade pblica como

importante necessidade social deve ser mantida pelo Estado objetivando a sua

garantia como direito No entanto isso se constitui um desafio a ser perseguido e tem

sido alvo de luta dos segmentos do trabalho e dos setores identificados com esse

iderio como historicamente se configura os(as) estudantes e suas entidades Pois no

decorrer da breve histria da universidade no Brasil alicerada no trip de ensino

pesquisa e extenso ela ameaada constantemente tendo em vista o esforo da

35 Em 1932 foi lanado o ldquoManifesto dos pioneiros da educaordquo elaborado por intelectuais brasileiros que reivindicavam uma atuao do Estado na garantia da educao e requisitavam para o ensino superior a criao de universidades caracterizadas pelo desenvolvimento de investigaes cientficas culturais e formaes de profissionais nas mais diversificadas reas de atuao Cf Rocha(2004)

77

classe dominante em diferentes conjunturas de construir medidas visando a sua

privatizaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo do ensino superior numa mercadoria altamente

competitiva e lucrativa

Na deacutecada de 1950 Rocha(2004) aponta que sob a bandeira do

nacionalismo foi desencadeado o processo de federalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de

ensino superiores estaduais e privadas caminho rejeitado nos anos de 1960 quando

se verifica a expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo superior brasileira

Essa tendecircncia foi amplamente reforccedilada na ditadura militar instaurada

com o golpe de 1964 dado o compromisso dos governos ditatoriais com o capital

tanto em niacutevel interno como externo nesta dimensatildeo vaacuterias accedilotildees foram efetivadas

de forma autoritaacuteria buscando adaptar as instituiccedilotildees ao modelo poliacutetico desenvolvido

pelo regime ditatorial

Podemos destacar como medidas viabilizadoras do enquadramento da

universidade brasileira agraves regras ditatoriais e a exploraccedilatildeo do capital a elaboraccedilatildeo dos

Relatoacuterios Meira Mattos e Atcon estes documentos traziam recomendaccedilotildees que

procuravam adequar as instituiccedilotildees agrave loacutegica mercantilista de formaccedilatildeo de matildeo-de-obra

para o mercado e ainda visavam controlar as reivindicaccedilotildees e manifestaccedilotildees

estudantis tatildeo recorrentes naquele periacuteodo

O relatoacuterio Meira Mattos pregava a repressatildeo a quaisquer protestos

realizados principalmente pelo ME por serem compreendidos pela ditadura como

subversivos a ordem vigente enquanto o Relatoacuterio Atcon recomendava a efetivaccedilatildeo

de mudanccedilas na estrutura administrativa das universidades brasileiras as quais

deveriam se fundamentar na concepccedilatildeo empresarial de eficiecircncia e rentabilidade os

documentos assinalados constituiacuteram a base de fundamentaccedilatildeo da reforma

universitaacuteria de 1968 Cavalcante fundamentando-se em Faacuteveo(1991) assinala que

Esta reforma universitaacuteria introduziu mudanccedilas significativas na organizaccedilatildeo e funcionalidade das universidades no Brasil ao mesmo tempo em que incorporou algumas reivindicaccedilotildees da comunidade acadecircmica com o objetivo de abrandar as manifestaccedilotildees no seu interior como o regime integral para professores possibilitou o fortalecimento da loacutegica empresarial nas instituiccedilotildees de ensino superior ao estabelecer a garantia de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo universitaacuteria de pessoas como experiecircncia na aacuterea dos negoacutecios corroborando com a perspectiva de dicotomia entre planejadores e executores e de entrega da universidade a administraccedilatildeo em moldes empresariais( CAVALCANTE 2007 p6)

A reforma universitaacuteria de 1968 foi orientada tambeacutem pelos acordos MEC-

USAID estabelecido entre Brasil e Estados Unidos cujo objetivo era transformar a

78

universidade brasileira visando ldquoa eficincia modernizao a flexibilidade

administrativa e formao de recursos humanos de alto nvel para o

desenvolvimento do pasrdquo (LAMPERT 2004 p77)

O trmino da ditadura militar no representou o inicio de um compromisso

com a universidade pblica por parte do governo Sarney pois a sua gesto tratou de

preservar os interesses dominantes e como esclarece Ramos(1996 p57) ele

ldquoelaborou o documento ldquoEducao Para Todos - caminho para mudanardquo no qual se

denota a preocupao com o ensino bsico sem se analisar entretanto o ensino

superiorrdquo

A realidade de descaso com as universidades pblicas continuou nos

governos subseqentes estimulada pela ideologia neoliberal de transfigurao da

rea educacional em mais um ramo lucrativo para o mercado de negcios

culminando dessa forma no crescimento acelerado da iniciativa privada e na reduo

de investimentos no setor pblico o que contribui para um cenrio verdadeiramente

crtico como veremos adiante

A reforma do Estado se colocou como demanda real no final da dcada de

1980 para as diferentes foras sociais e polticas da sociedade brasileira Essa

necessidade se explica pela seguinte constatao ldquoao mesmo tempo em que

tnhamos no plano jurdico-poltico a constituio mais avanada [] o aparelho de

Estado continuava funcionando e mais do que isso continuava articulado ao projeto

poltico-econmico da ditadurardquo (NETTO 2004 p 12)

Trata-se portanto naquele perodo da tcita existncia de um consenso

entre distintas foras sociais e polticas em torno da real necessidade de reformar o

Estado nacional

Essa concepo se estabelece j no contexto de consolidao neoliberal

nos pases de capitalismo avanado o que demonstra o lapso entre o centro e a

periferia do capital

Entretanto enquanto as foras populares se colocaram na perspectiva de

reformar o Estado em seu real sentido ou seja com o objetivo de efetivar direitos a

partir da operacionalidade das conquistas estabelecidas na Constituio de 1988 a

burguesia nacional se colocou em sentido contrrio pois se pautou na defesa de

adequar as estruturas nacionais nova ordem do capital na sua verso neoliberal Foi

esta fora social e poltica que se tornou hegemnica e tomou a direo estatal nos

anos 1990 no Brasil

Assim sinalizamos o governo de Fernando Collor de Melo(1990-1992)

como precursor das primeiras medidas de reformar o Estado em sentido oposto ou

seja de materializar aes que se constituram como o incio de uma contra-reforma

79

caracterizada pela perda e natildeo pelo ganho de direitos Behring (2003 p) assinala que

este governo tratou de adequar o paiacutes ao reordenamento do capital mundial

Contudo foi na era FHC (1995-2002) que as concepccedilotildees neoliberais

comeccedilaram a ser efetivadas de forma mais intensa expressatildeo dessa assertiva satildeo as

reformas do Estado manifestadas na poliacutetica de privatizaccedilotildees aleacutem do verdadeiro

esfacelamento das poliacuteticas sociais

Netto(2004) identifica FHC como o governante dos banqueiros e que seu

primeiro mandato apresentou como objetivo preciacutepuo adequar a inserccedilatildeo nacional

aos anseios do capital mundial

A anaacutelise realizada por Behring(2003) demonstra que a formaccedilatildeo social

brasileira eacute caracterizada por traccedilos como paternalismo e heteronomia que

contribuem para intensificar a concentraccedilatildeo da riqueza produzida e da dependecircncia do

paiacutes em relaccedilatildeo agraves orientaccedilotildees que representam o capital internacional

Para garantir a inserccedilatildeo subordinada do paiacutes no circuito mundializado do

capital na deacutecada de 1990 FHC governou com o propoacutesito de executar segundo

concepccedilatildeo de Netto(2004) trecircs tarefas baacutesicas dirimir as resistecircncias contraacuterias ao

direcionamento adotado na sua gestatildeo utilizando para este fim tanto a forccedila como a

construccedilatildeo de consensos A formaccedilatildeo de consensos se deu na dimensatildeo de satanizar

o aparelho do Estado a defesa ideoloacutegica de globalizar o paiacutes aleacutem da tendecircncia de

privilegiar o privado e desqualificar o puacuteblico A segunda tarefa consistiu na

prerrogativa de sucumbir o aparato legal oposto ao receituaacuterio neoliberal nesse caso

o alvo principal constitui-se a Constituiccedilatildeo de 1988 como foi ressaltado esta carta

representou grande avanccedilo juriacutedico especialmente no tocante ao item que trata dos

direitos sociais A uacuteltima tarefa estreitamente articulada agraves demais se referiu a

demanda de promover accedilotildees que editadas a partir de medidas provisoacuterias

regulamentaccedilotildees entre outros aparatos promovessem mudanccedilas substanciais na

estrutura do Estado nacional Diante do exposto tem-se a poliacutetica de ajuste fiscal

materializada com um plano de estabilizaccedilatildeo da moeda e a continuidade da poliacutetica de

privatizaccedilatildeo

Nesses termos a contra-reforma do Estado delineada por FHC se

apresentou em total sintonia com a tendecircncia do capital mundial de promover um

verdadeiro enxugamento das suas accedilotildees no campo social e de valorizar o privado

como referecircncia na execuccedilatildeo de serviccedilos que na uacuteltima carta constitucional se

constituem em direitos Essa direccedilatildeo se manifestou de maneira niacutetida na educaccedilatildeo e

em especial no ensino superior Pois em sintonia com as recomendaccedilotildees das

agecircncias multilaterais a universidade puacuteblica oferece

80

ensino de melhor qualidade que as universidades privadas Todavia estas regidas por critrios empresariais so tidas como a referncia organizacional Consideradas mas geis eficientes financeiramente equilibradas apresentam maior diferenciao institucional e menor ndices de conflitos e tenses polticas (IAMAMOTO 2004 p40)

Considerando as anlises de Siqueira (2004) o Banco Mundial(BM) passou

a intervir na rea educacional na dcada de 1960 tendo como alvo preferencial as

modalidades de ensino tcnico-vocacional e superior visto que naquele perodo

esses nveis eram concebidos como prioritrios para o desenvolvimento das foras

produtivas

Nos anos 1980 o BM financiou diversas pesquisas sobretudo em pases

do continente africano com o intuito de intensificar sua interferncia na educao em

escala mundial Os estudos realizados pelo rgo enfatizavam o ensino superior como

oneroso para a administrao pblica alm de argumentar que ele privilegiava as

camadas mais favorecidas assim as recomendaes eram no sentido de priorizar os

investimentos pblicos majoritariamente no ensino fundamental

Ainda seguindo as contribuies de Siqueira com a derrubada do muro de

Berlim associado fragilidade do Estado de bem estar social ou provedor como por

ela denominado o BM passou a intervir de maneira mais incisiva no ensino superior

apresentando como objetivo instituir um modelo de gesto caracterizado pela

eficincia e procurando abrir tal espao para a iniciativa privada Logo no comeo do

novo sculo entendido como a ldquosociedade do conhecimentordquo a educao superior

compreendida pelo BM como uma ldquorea de negciosrdquo a qual deve ser dirigida ldquopelo

setor privado internacional e grandes firmas nacionais a ele associados que estariam

prontos para vender seus pacotes educacionais consultorias equipamentos etcrdquo

(SIQUEIRA 2004 p50)

Essa interveno no campo educacional revela o processo de expanso

da explorao e domnio do capital em setores diversificados na busca ilimitada por

lucros A educao como mercadoria e sua adequao vislumbrando somente a

formao de mo-de-obra ldquoqualificadardquo para o mercado significa mais do que a perda

de direitos pois minimiza processos formativos crticos o que por sua vez corrobora

com a formao de profissionais identificados(as) com a preservao do status quo

Orientados por tais argumentos os rebatimentos da poltica neoliberal no

ensino superior na vigncia de FHC no comando do executivo nacional podem ser

constatados a partir das problemticas levantadas na passagem seguinte

81

As universidades federais passaram a viver uma situao de indigncia com cortes de energia eltrica telefone gua despensa das empresas terceirizadas responsveis pela limpeza sem falar nos aspectos didticos-cientficos prejudicados pela deficincia de bibliotecas laboratrios salas de aula e falta de computadores e outros equipamentos necessrios para esse fim (MAUS 2004 p22)

Foi durante a gesto de FHC que em 1996 tivemos a aprovao da Lei de

Diretrizes e Bases (LDB) para educao que segundo Netto (2004) em sintonia com

as demandas do mercado consistiu em amparo legal para expanso do setor privado

e desqualificao da universidade pblica sobretudo a partir da apreenso da

autonomia universitria limitada a dimenso gerencial e financeira Alm disso

Iamamoto (2004) sinaliza mecanismos da referida lei que privilegiou a criao de

cursos de curta durao em nvel superior secundarizando a qualidade entre os quais

se encontram os seqenciais36 e os mestrados profissionalizantes37 Para o Sindicato

da Associao Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES) a situao da

universidade pblica na dcada de 1990 apresentava a progressiva tendncia de

desresponsabilizao do Estado com sua manuteno Descaso que se verificou na

submisso da

Universidade lgica imediatista empresarial seja pela gesto direta de uma rede de ensino responsvel hoje por um percentual irrisrio de aproximadamente 22 das matriculas dos cursos de graduao seja pelo controle e direcionamento de boa parte da pesquisa cientfica e tecnolgica produzida no pas a poltica governamental brasileira vem descaracterizando a universidade enquanto instituio de carter pblico e despojando-a portanto de sua condio de instituio a servio da populao brasileira (ANDES 1996 p20)

O quadro abordado preocupante pois ao mesmo tempo em que

incentiva a abertura indiscriminada de instituies privadas muitas das quais se

restringindo a autnticas fbricas de diplomas desqualifica as universidades pblicas

to necessrias para o desenvolvimento do pas a partir de sua democratizao e da

valorizao deste espao como referencial na produo e socializao do

conhecimento Assim os rebatimentos da destruio eou readequao da

36 Iamamoto 2004 classifica tais cursos como um processo de ldquoaligeiramento da formao- para responder de maneira mais imediata s demandas emergentes decorrentes das rpidas transformaes que vm se operando nesse mercadordquo (2004 p54) 37 Para Iamamoto (2004) so mestrados mais baratos e autofinanciados ldquocom retorno rpido uma vez que pode ser concludo em apenas um ano Favorece a integrao universidade e mercado reforando o papel que vem sendo atribudo a essa instituio enquanto formadorade mo-de-obra para atender s mutantes necessidades da produo no seu mais amplo espectrordquo (p59)

82

universidade pblica aos interesses mercantis atinge no somente o espao restrito

da academia mas a populao de forma abrangente pois esta instituio se

caracteriza pela produo cultural realizaes de investigaes cientficas que

contribuem para o desenvolvimento tecnolgico econmico poltico cultural e social

da nao alm de formar profissionais que atuam em diversificados ramos de

atividades requisitados nesta sociabilidade

Tal realidade no diferente no decorrer das duas gestes de Luis Incio

Lula da Silva com incio em 2003 e vigente at os dias atuais que se pautam numa

perspectiva de aceitao das orientaes do capital internacional na verso

neoliberal

Salles (2006) salienta que o PT foi fundado em 1980 com o intuito de se

constituir no representante partidrio dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)

configurando-se dessa maneira em um partido caracterizado poltica e

ideologicamente pela negao do sistema vigente portanto pela recusa das relaes

de explorao dominao autoritarismo e privilgios que marcam a trajetria histrica

do pas Entretanto segundo o seu pensamento o PT com o propsito de chegar

presidncia da repblica elaborou um projeto que foi negociado com polticos de

diversos matizes inclusive de centro esquerda e direita Assim um dos

desdobramentos dessa aliana que o ldquogoverno Lula [] optou por fazer as reformas

diante das quais o governo anterior recuou ou no teve a legitimidade suficiente para

faz-lasrdquo (SALLES 2006 p32)

Em consonncia com esse direcionamento de anlise Lima (2004) ratifica

o processo de aliana do PT com representantes do capital financeiro e sinaliza essa

expresso em quatro dimenses a extino das referncias do socialismo como

princpios do partido a burocratizao em decorrncia da ampliao de funcionrios

em substituio aos militantes de base minimizao das lutas dos trabalhadores(as)

com vistas obteno de cargos conseguida mediante construo de acordos com a

burguesia e ainda se manifesta pelo aprofundamento da concretizao das

concepes neoliberais no pas evidenciadas no favorecimento dos interesses dos

organismos do capital globalizado durante os anos do governo Lula

Dias(2006) assinala que o governo de Lula da Silva se caracteriza pela

materializao de uma poltica de continuidade do governo anterior Atua desse modo

em conformidade com as orientaes neoliberais aderidas por FHC Outro importante

aspecto consiste na sua prtica poltica de desqualificar as organizaes dos

segmentos do trabalho Nesse contexto de desqualificao que se potencializa

tambm a fragilidade das aes desses sujeitos coletivos passando a atuar muito

mais numa perspectiva de colaborar com a institucionalidade em vez de assumir

83

posturas de combatividade e reivindicaes Ao passo que contraditoriamente se

verifica a ampla valorizao do governo Lula em relao atuao das ONG que

embora denominadas de no governamentais sobrevivem com recursos oriundos das

diversas esferas do Estado alm dos montantes recebidos de instituies que

explicitamente representam os interesses do capital A explanao seguinte

demonstra a contradio vivenciada na poltica brasileira de hoje j que o ex-operrio

que ocupa a presidncia ldquodesempenha o papel articulador nos marcos do territrio

brasileiro do bloco de poder comandado pela burguesia financeira internacionalrdquo

(DIAS 2006 p 2000)

Nesse sentido constata-se que o governo petista do ex-operrio Lula se

caracteriza pela recusa do projeto de transformao societal e tenta criar um cenrio

que mostre que a continuidade econmica e poltica das diretivas do capitalismo

neoliberal mais do que necessrias so naturais uma tendncia de mascarar de

diversas formas a existncia de conflitos e interesses antagnicos Prtica poltica que

descaracteriza o protagonismo de sindicatos MS afinal seno existem interesses

contraditrios qual a funcionalidades desses sujeitos coletivos Corroborar com bom

desenvolvimento desta sociabilidade Tudo indica que esse o caminho at o

presente momento que vem sendo seguindo por alguns MS e suas entidades

organizativas

Essa direo poltica se apresenta por exemplo no uso indiscriminado de

medidas provisrias que dado o carter de urgncia das matrias votadas no

legislativo minimiza a possibilidade de debates e desenvolvimento de aes de

segmentos da sociedade que rejeitem e se contraponham s medidas encaminhadas

pelo governo sucumbindo dessa maneira a construo da democracia e o

protagonismo dos sujeitos coletivos

Sem dvida a chegada de Lula presidncia representou o

descontentamento da grande maioria da populao brasileira com a situao de

pauperizao e perdas de direitos reinante na era FHC contudo as suas gestes so

marcadas pela continuao da implementao das diretrizes neoliberais pautadas na

destruio das conquistas dos segmentos do trabalho Como aborda Carvalho entre

os condutores da reordenao do Brasil ao capital internacional na sua verso

neoliberal esto

O socilogo considerado referncia na construo de um pensamento progressista qui de esquerda nas anlises da sociologia poltica [] e um lder poltico de esquerda urdido nas lutas sindicais que ascende ao poder por proclamao popular encarnando a esperana de ruptura com os rumos neoliberais (CARVALHO 2006 p124)

84

Ainda nos baseando nas elaboraes de Carvalho (2006) entende-se que

o iderio neoliberal comea a materializar-se no Brasil no momento de construo do

Estado democrtico dessa maneira observamos um processo contraditrio de

instituio de um Estado ajustador e reducionista na rea social no cenrio da

democratizao poltica Portanto mais uma vez constata-se que a emancipao

poltica importante todavia somente a emancipao humana capaz de libertar os

homens e mulheres de sua condio de explorados(as) e dominado(as) pelo capital

nessa relao contraditria que se encontra a agudizao da educao

superior pblica no Brasil que respaldada na Carta Constitucional de 1988 como

direito de cidadania e dever estatal na atual conjuntura atravessa um forte processo

de privatizao e desqualificao Tendncia que se coloca para atender as demandas

da produo reestruturada e de obteno de lucros mediante sua mercantilizao

para o grande capital financeiro Expresso dessa assertiva constitui-se a atual contra-

reforma do ensino superior do governo Lula

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico

Na educao a continuidade da poltica neoliberal se materializa com a

contra-reforma do ensino superior que vem sendo concretizada de maneira

fragmentada visando a desresponsabilizao do Estado com este nvel da educao

A contra-reforma est em consonncia com as orientaes deliberadas pelos

organismos representantes do grande capital como o Fundo Monetrio Internacional

(FMI) e a OMC pois conforme a perspectiva de tais agentes o ensino superior

compreendido

Como uma mercadoria que deve ser suprida por entidades privadas que disputaro entre si o maior nmero de consumidores possvel o foco central e talvez nico da formao do aluno universitrio passa a ser a preparao para o mercado de trabalho desprezando-se a teoria e o ldquoaprender a aprenderrdquo e enfatizando o domnio de tcnicas transformando a universidade em um ensino de 3 grau [] situada dentro da proposta do neoliberalismo supe que o governo no deve ser o articulador da poltica educacional mas que deve deix-la a merc da regulao da competio entre os investidores privados(OLIVEIRA COSTA MALAFAIA 2004 p55)

85

Afinal de contas ainda em fevereiro de 2003 no incio do governo Lula o

ento ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central respectivamente Palocci

Filho e Henrique Meirelles enviaram conjuntamente documentos ao FMI agente do

grande capital internacional confirmando a realizao de esforos com o objetivo de

manuteno do ajuste fiscal e da materializao de reformas estruturais propostas por

tal organismo

Tambm em 2003 o primeiro ministro da educao do governo Lula o

senador Cristvo Buarque assinalou no texto ldquoa universidade numa encruzilhadardquo a

necessidade de mudanas substanciais para a universidade pblica no pas A

encruzilhada representa para ele a opo dessa instituio continuar se

fundamentando na modernidade tcnica ou direcionar sua funcionalidade para a

modernidade tica na qual o conhecimento seja submetido a valores ticos

identificados com a defesa de semelhana entre os indivduos e com a efetiva

perspectiva de proporcionar ao conjunto da sociedade os resultados do progresso

cientfico e tecnolgico possvel garantir essa socializao num contexto societrio

caracterizado pela apropriao privada inclusive do conhecimento produzido pela

humanidade

Concordamos com Buarque que a universidade vivencia uma situao de

crise Essa realidade se verifica no somente no campo restrito do ensino superior

mas perpassa todo o universo da educao Entretanto entendemos que o real dilema

da educao consiste no que evidencia Tonet(2007) contribuir para a reproduo da

sociabilidade capitalista marcada cada vez mais pela barbrie ou contribuir com a

construo de uma sociedade alternativa

Algumas reflexes surgem nesse mbito como podemos pensar que

mudanas endgenas ocorridas no espao universitrio garantiro o futuro de seus

estudantes Como refletir sobre a derrocada da desigualdade social sem considerar o

fim do modelo societrio capitalista que subjaz processos de desigualdades Afinal

como o prprio Buarque ratifica ldquoo produto dos avanos cientficos e tecnolgicos das

universidades foi posto a servio de minorias privilegiadas tambm em outras reas O

uso e consumo desses conhecimentos tambm ficaram restritos s elites minoritriasrdquo

(2003 p 13) Esse esclarecimento no expressa uma dimenso das diferenas e

antagonismos de classes inerentes ao capitalismo

Para o ento ministro da educao a universidade deveria ser refundada

como meio de atingir seus verdadeiros propsitos e deixar de se constituir em uma

instituio a servio de uma parcela reduzida da populao Entre as iniciativas

indicadas pelo governo Lula para o sistema universitrio brasileiro se encontravam

regulao de transferncia que permita ao estudante trocar de instituio com

86

agilidade ampliaccedilatildeo de vagas com a utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia criaccedilatildeo de cotas

para grupos eacutetnicos flexibilizaccedilatildeo dos cursos necessidade de outras fontes de

financiamentos seja de ordem puacuteblica eou privada estabelecimento de avaliaccedilatildeo para

todas as instituiccedilotildees voltada para identificaccedilatildeo de suas qualidades e fragilidades com

vistas a melhorar o desempenho na sociedade brasileira

Embora apresentando importantes anaacutelises sobre a universidade puacuteblica

entendemos que parte significativa das indicaccedilotildees observadas por Buarque constituiu

a base de fundamentaccedilatildeo para a contra-reforma que refunda eou reestrutura a

universidade em conformidade com as requisiccedilotildees das agecircncias que representam os

interesses do capital

Assim para melhor problematizarmos a atuaccedilatildeo do ME e em especial do

MESS no atual cenaacuterio de desmoronamento da educaccedilatildeo superior puacuteblica faz-se

necessaacuterio algumas consideraccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo do governo a partir de reflexotildees

sobre as medidas situadas no campo da contra-reforma do ensino superior com a

perspectiva de apreendermos os rebatimentos das medidas materializadas para a

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) bem como dos

desafios colocados para o segmento estudantil em tal cenaacuterio

Entre as iniciativas adotadas no contexto da contra-reforma destacamos

inicialmente o Programa Universidade para Todos (PROUNI) que estabelece a

destinaccedilatildeo de vagas para estudantes considerados de baixa renda em instituiccedilotildees

particulares mediante troca por isenccedilatildeo fiscal Os dados do MEC destacam que de

2005 a 200938 foram distribuiacutedas 887445 bolsas do PROUNI Desse total 520855 de

caraacuteter integral e 366590 parcial O dinheiro que deixou de ser arrecadado pela

isenccedilatildeo de fiscal em troca dessas vagas poderia ser investido nas instituiccedilotildees

puacuteblicas proporcionando desse modo melhorias nas condiccedilotildees de trabalho de

docentes e teacutecnicos-administrativos e de aprendizado para os(as) discentes aleacutem de

contribuir para a expansatildeo de vagas nos espaccedilos de formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo puacuteblica

ou seja o PROUNI constitui-se num excelente mecanismo de desvio de recursos de

origem puacuteblica para o setor privado fortalecendo ainda mais a dimensatildeo de

mercantilizaccedilatildeo do ensino

Essa tendecircncia gradual de mercantilizaccedilatildeo se torna expliacutecita quando

analisamos alguns dados do censo de 2007 do ensino superior Eles mostram como a

educaccedilatildeo tem se constituiacutedo em aacuterea de investimento e rentabilidade para o capital

38 Dados disponiacuteveis no site httpsiteprounimecgovbrimagesarquivospdfRepresentacoes_graficasbolsas_ofertadas_anopdf

87

Das 2281 instituiccedilotildees que oferecem essa modalidade de ensino 2032 satildeo privadas

ou seja se tem nesse universo o piacutefio nuacutemero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas

Graacutefico 1Natureza das Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil

249 11

203289

PuacuteblicaPrivada

Fonte INEP 2009

Os nuacutemeros socializados no graacutefico 1 natildeo deixam duacutevidas sobre a

acelerada busca de rentabilidade na educaccedilatildeo superior pois se tem a confirmaccedilatildeo

que aproximadamente 90 das instituiccedilotildees nesse niacutevel de ensino se concentram na

aacuterea privada Portanto natildeo eacute possiacutevel deslocar essa expressiva quantidade da

dimensatildeo de qualidade satildeo esferas distintas mais integrantes desse mesmo

processo Assim sendo sinalizamos preocupaccedilotildees com o ensino disponibilizado em

termos de qualidade e ainda por preponderantemente estarem sob domiacutenio direto

da administraccedilatildeo que visa o lucro imediato a propensatildeo de assimilaccedilatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica dos valores dominantes na sociabilidade capitalista se constitui uma

tendecircncia real Retomando as contribuiccedilotildees de Tonet(2004) a educaccedilatildeo sob a oacutetica

do capital tem a perspectiva de garantir condiccedilotildees para sua preservaccedilatildeo e natildeo

contribuir para o desenvolvimento pleno de todos os indiviacuteduos

Segundo o censo de 2007 das 2032 instituiccedilotildees privadas somente 87

consistem em universidades caracterizadas pela indissociabilidade entre ensino

pesquisa e extensatildeo os demais espaccedilos constituem-se em centros universitaacuterios

faculdades integradas faculdades escolas e institutos Entretanto desse reduzido

numero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas 96 satildeo universidades

88

Graacutefico 2Tipo de Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Privadas

1945 96

87 4

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP 2OO9

A partir dos dados do graacutefico de nordm2 assinalamos que a exploraccedilatildeo do

capital na educaccedilatildeo visa sobretudo o lucro imediato visto que de 96 das intuiccedilotildees

privadas natildeo satildeo universidade que requer investimentos em pesquisa e extensatildeo

Daiacute poderiacuteamos afirmar que o ensino se constitui o alvo prioritaacuterio das investidas do

capital na aacuterea da educaccedilatildeo Contudo cada vez mais eacute recorrente o desenvolvimento

de pesquisas nas universidades puacuteblicas sendo os seus resultados utilizados

diretamente pelos setores dominantes com objetivos de aumentar a competitividade e

rentabilidade de suas empresas demonstrando que os benefiacutecios adquiridos pelo

avanccedilo da ciecircncia satildeo socializados e usufruiacutedos de forma desigual pelos sujeitos

nesta forma de sociabilidade caracterizada pela divisatildeo de classes Para Castro(2008

p247)

A tendecircncia mundial de crescente privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo comeccedila gradualmente no Brasil a minar o caraacuteter puacuteblico das universidades federais e estaduais na medida em que os governos cortamou reduzem o repasse de verbas forccedilando-as a adotarem formas alternativas de captaccedilatildeo de recursos em parte articulada ao setor privado

89

Graacutefico 3

Instituiccedilotildees de Ensino Superior Puacuteblicas

15361

96 39

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP (2009)

Constatamos uma grande diferenccedila entre a quantidade de instituiccedilotildees

privadas e puacuteblicas como ficou evidenciado no graacutefico de nordm 1 Entretanto analisando

conjuntamente os dados dos graacuteficos 2 e 3 temos a conclusatildeo que apesar do grande

nuacutemero de instituiccedilotildees privadas as universidades estatildeo majoritariamente na aacuterea

puacuteblica levando-nos a ratificar a sua relevacircncia para o desenvolvimento do paiacutes

mediante a oferta de um ensino mais qualificado associando as esferas de pesquisa e

extensatildeo Desse modo a luta em favor da universidade puacuteblica no Brasil

historicamente protagonizada por estudantes se configura como uma defesa que

ultrapassa os proacuteprios limites e interesses institucionais

Menezes(2000) analisa que existe uma verdadeira intenccedilatildeo de se negar as

diferenccedilas entre as diversificadas instituiccedilotildees colocando-as todas no mesmo patamar

Essa falsa identidade conceitual potencializa a accedilatildeo daqueles que por motivaccedilotildees

econocircmicas eou poliacuteticas insistem na derrocada da universidade puacuteblica visto que

A equivocada identificaccedilatildeo entre universidade e ensino superior [] dificulta entre noacutes a compreensatildeo da dimensatildeo da questatildeo da universidade puacuteblica e de sua destruiccedilatildeo Para alguns a destruiccedilatildeo se restringe ao fim de determinados regimes funcionais para outros a preocupaccedilatildeo eacute a eliminaccedilatildeo da gratuidade do ensino superior por sua vez defendida por outros ainda para a completa liberaccedilatildeo de um mercado educacional bilionaacuterio (MENEZES 2000 p 10)

Nesses termos se verifica um pequeno nuacutemero de universidades em meio

agrave expressiva quantidade de outras instituiccedilotildees sobretudo no acircmbito privado

evidenciando que de modo abrangente as preocupaccedilotildees desse setor se voltam para

90

os lucros adquiridos com a venda do ensino pois de forma majoritaacuteria natildeo investem

no desenvolvimento de pesquisa e tampouco na materializaccedilatildeo de projetos de

extensatildeo Logo a confusatildeo intencionalmente promovida como foi destacado por

Menezes acaba por apresentar tais espaccedilos para a maioria da populaccedilatildeo com o

mesmo status e importacircncia das universidades quando na realidade desempenham

atividades e funcionalidades diferentes

Satildeo importantes as contribuiccedilotildees de Saviani (2005) relacionadas agrave

discussatildeo sobre o puacuteblico e privado como categorias de anaacutelise na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira O autor salienta alguns equiacutevocos que perpassam esse debate

como a defesa de manutenccedilatildeo da tutela educacional por parte do Estado pois

segundo ele eacute necessaacuterio libertaacute-la

Libertar a educaccedilatildeo da tutela estatal significa ratificar a concepccedilatildeo de

direcionamento de classe presente na atuaccedilatildeo do Estado cuja serventia contribui pra

preservaccedilatildeo do status quo entretanto como ressalta Saviani a retirada da tutela natildeo

Devia ser confundida com a liberaccedilatildeo do Estado dos encargos educacionais sobreonerando a populaccedilatildeo [] trata-se pois de inverter esta tendecircncia exigindo que o Estado assuma plenamente os encargos que garantam as melhores condiccedilotildees de funcionamentos da rede de escolas puacuteblicas E isto seraacute viaacutevel na medida em que as organizaccedilotildees populares exerccedilam severo controle sobre a educaccedilatildeo em geral e principalmente nas escolas mantidas pelo Estado (2005 p174)

A preocupaccedilatildeo do autor eacute significativa na perspectiva de que cada vez

mais o Estado controla a educaccedilatildeo no intuito de atender as necessidades do

mercado em detrimento dos interesses sociais da maioria da populaccedilatildeo explorada e

oprimida Vejamos a adoccedilatildeo do PROUNI representa a tendecircncia de reduzir

investimentos na esfera puacuteblica e o consequumlente fortalecimento da iniciativa privada

Mais do que isso garante a inserccedilatildeo de estudantes em instituiccedilotildees particulares

preocupadas majoritariamente com a obtenccedilatildeo de lucros e natildeo com a formaccedilatildeo

propriamente dita Reflitamos quantos estudantes deixam de frequumlentar as aulas nas

escolas privadas por falta de pagamentos A expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo

se processa por preocupaccedilotildees com o desenvolvimento espiritual da humanidade ou

majoritariamente por interesses rentaacuteveis

Nesse sentido eacute importante explicitar o pensamento de Sanfelice quando

o mesmo esclarece que

91

A escola estatal no necessariamente pblica quando tomamos o adjetivo pblico na forma de qualificao daquilo que pertence a um povo a uma coletividade que comum aberto a quaisquer pessoas que no tem carter secreto manifesto e transparente (2005 p179)

Nas condies ressaltadas pelo autor fica evidenciada mais uma vez a

impossibilidade de construo de uma rede educacional formal verdadeiramente

pblica nos marcos da sociedade capitalista pois a mesma apresenta como um dos

seus fundamentos a perpetuao das desigualdades e de interesses individuais e do

capital em detrimento das necessidades reais da populao Porm a escola pblica

contribui para atender em maior escala os anseios da coletividade nessa forma de

sociabilidade se levamos em considerao entre outras dimenses que a educao

dominada pelo setor privado visa especialmente formao de fora de trabalho

para o mercado secundarizando as verdadeiras necessidades humanas alm disso

transforma um direito em servio na procura excessiva por lucros Destarte podemos

perceber que a relao pblico-privado na esfera da educao perpassada por

intensas contradies que so vinculadas s relaes antagnicas que particularizam

o modelo societrio capitalista

Buff (2005) discorrendo sobre a relao pblico e privado na educao

afirma ser tal relao crivada por conflitos e dualidade A autora enfatiza ainda que a

esfera privada at a primeira metade do sculo passado se concentrou

especialmente no ensino mdio sendo defendido majoritariamente por

representantes da Igreja catlica j a partir dos anos 1980 verifica-se uma alterao

na relao dado que o protagonismo passa a ser assumido pelos denominados

ldquotubares do ensinordquo com prioridade para a educao superior Certamente essa

mudana no se efetiva por acaso pois esse redimensionamento est inserido nas

profundas modificaes vivenciadas pelo capital as quais atingem os diversos

complexos sociais

No mbito de efetivao de medidas para o ensino superior durante a

primeira gesto de Lula tivemos ainda em 2003 a institucionalizao do sistema de

cotas nas universidades pblicas destinada a estudantes oriundos de escolas

pblicas particularmente negros pardos e ndios Segundo estudo de Castro(2008)

atualmente este sistema implantado em 18 universidades brasileiras sendo alvo de

significativas discusses em que posicionamentos contrrios se apiam

principalmente na concepo de mrito alm de acreditarem que as reservas de

vagas pode corroborar com discriminao ao incentivar um ldquoracismo s avessasrdquo j os

defensores das cotas compreendem que elas so aes afirmativas que visam o

92

tratamento diferenciado para sujeitos historicamente alvo de preconceitos e que se

encontram em posiccedilatildeo desigual inclusive no que se refere agrave educaccedilatildeo em especial

no niacutevel universitaacuterio Levando-se em consideraccedilatildeo informaccedilotildees do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica(IBGE) as desigualdades entre brancos pretos e

pardos se manteve em 2004 Segundo dados divulgados pela Instituiccedilatildeo em 2006 no

que se refere ao analfabetismo funcional no paiacutes 18 dos(as) brancos(as) tinham

menos de quatro anos completos de estudos enquanto que na populaccedilatildeo de cor

preta e parda esse percentual ultrapassou os 3039 Outros dados revelam essa

desigualdade

em relaccedilatildeo a adequaccedilatildeo seacuterie-idade considerando os jovens de 18 a 24 anos verificou-se que 11 dos de cor branca e 27 dos de cor preta e parda ainda frequumlentavam o ensino fundamental enquanto 35 dos brancos e 51 dos pretos e pardos estavam no ensino meacutedio Nessa mesma faixa etaacuteria 47 dos estudantes de cor branca estavam no ensino superior um proporccedilatildeo quase trecircs vezes superior aacute dos estudantes de cor preta e parda(IBGE p10 2006)

Os nuacutemeros socializados pelo IBGE ratificam a necessidade de poliacuteticas

afirmativas para a populaccedilatildeo afro do Brasil tais como o proacuteprio sistema de cotas jaacute

implementado em 18 instituiccedilotildees de ensino superior mecanismo que contribui para o

arrefecimento dessas desigualdades tatildeo visiacuteveis e gritantes na realidade brasileira

Importante registrar que a ENESSO tem uma postura poliacutetica favoraacutevel ao sistema de

cotas tal como consta nas deliberaccedilotildees aprovadas no decorrer do periacuteodo aqui

investigado as quais seratildeo analisadas no proacuteximo capiacutetulo

Outra medida situada no campo de mudanccedilas do ensino superior consiste

a aprovaccedilatildeo por parte do MEC da abertura sem controle de cursos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia com o objetivo primordial de elevar o nuacutemero de estudantes no ensino

superior todavia secundarizando a qualidade e o direito a educaccedilatildeo

O aceleramento da poliacutetica privatista mediante utilizaccedilatildeo do ensino a

distancia eacute garantido legalmente no artigo 80 da LDB o qual estabelece que esse

meio seja incentivado pelo poder puacuteblico em todos os niacuteveis educacionais

Posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nordm 2494 de 10 de fevereiro de 1998 e

pela portaria nordm 301 de 07 de abril do mesmo ano Entretanto foi com o Decreto nordm

5622 de 19 de dezembro de 2005 que a modalidade agrave distacircncia se expandiu de

modo exacerbado por todo o paiacutes

39 Esses dados foram socializados na Siacutentese dos Indicadores Sociais elaborado pelo IBGE em 2005 e disponibilizados no site da instituiccedilatildeo wwwibgegovbr

93

A expanso de cursos distncia no governo Lula estava prevista nas

propostas do grupo de trabalho interministerial ainda no ano de 2003 na qual a

equipe de trabalho discorre sobre a crise das universidades federais e a necessidade

de elevar o nmero de estudantes na educao superior Siqueira esclarece que a

elevao se daria a partir ldquodo aumento da carga horria dos professores em sala de

aula o aumento da relao aluno-professor e o uso da educao distnciardquo (2004

p63) Para Lima importante destacar

Desde o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso a educao a distncia tem sido utilizada com mais uma estratgia de privatizao das universidades pblicas ldquomaquiadasrdquo com o discurso da democratizao do acesso a esse nvel de ensino (LIMA 2004 p41)

Alm disso interessante frisar que o ensino distncia em sintonia com

as mudanas no mundo do trabalho principalmente com o desenvolvimento da esfera

tecnolgica informacional potencializa o processo de substituio de trabalho vivo por

morto visto que o mtodo virtual secundariza eou at mesmo dispensa o(a)

professor(a) na sala de aula ou seja contraditoriamente ao mesmo tempo em que

coloca mais profissionais no cenrio competitivo entre os quais professores(as)

contribui para a elevao de desemprego pois a prioridade no com o ensino mas

com a rentabilidade adquirida pela utilizao da modalidade distncia

Nesse sentido temos o discernimento e convico terico-poltica que a

expanso sem nenhum controle de cursos de graduao distncia constitui mais

uma medida governamental que possibilita em larga medida o aprofundamento sem

precedentes na histria do Brasil da mercantilizao da educao em especial do

nvel superior Esse processo se materializa a partir da venda direta do ensino nas

instituies privadas ou mediante a utilizao da modalidade nas instituies pblicas

com o objetivo central de atender as requisies mercantis

Conforme dados socializados pelo secretrio de Educao a Distncia

Carlos Bielschowsky em abril de 2009 existia no Brasil 109 instituies que ofertam

cursos de graduao distncia sendo que oito40 delas so responsveis pelo total

de 416320 alunos o correspondente a um percentual de 547 dos(as) estudantes

matriculados(as) nessa modalidade

40 As instituies so Universidade do Norte do Paran (Unopar) a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) o Centro Universitrio Leonardo da Vinci (Uniasselvi) de Santa Catarina e a Faculdade Educacional da Lapa (Fael) do Paran Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) do Rio Grande do Sul a Faculdade de Tecnologia e Cincias (FTC) da Bahia a Universidade Castelo Branco (UCB) do Rio de Janeiro e a Universidade Cidade de So Paulo (Unicid)

94

Ainda segundo informaes publicizados no site do MEC desde o inicio

de 2009 se processa uma superviso nessas instituies com o objetivo de garantir a

qualidade e os direitos dos(as) estudantes Os resultados parciais da fiscalizao

apontam irregularidades nos espaos de atendimento presencial aos discentes que se

expressam na ausncia de coordenadores(as) na falta de laboratrios de informtica

e de bibliotecas requisitos bsicos para oferta do ensino As constatao das

irregularidades resultar de inicio na desativao de 1337 plos vinculados A Unitins

e a Fael que associadas ao Sistema Eadcon detm 1494 plos de oferta de ensino a

distncia dos quais 1278 sero desativados conforme informao do MEC visto

que a Eadcon no est credenciada pelo Ministrio a oferecer cursos de graduao

nessa modalidade estando autorizada a atuar somente na oferta de especializao

Alm disso A Uniasselvi tambm ter 60 de seus 93 plos desativados entretanto

ela ldquopromove reestruturao em comum acordo com o MEC e vai reformular o

processo de avaliao alm de aprimorar a infra-estrutura dos plos

remanescentesrdquo(MEC 2009)

Diante dessa realidade observamos que a preocupao do MEC com a

qualidade do ensino oferecido pela modalidade distncia se verifica depois da

abertura desenfreada de cursos de graduao em todo o pas processo que teve

incentivo e aval do prprio ministrio

Outra medida pertencente a ldquocontra-reformardquo o Sistema Nacional de

Avaliao do Ensino Superior(SINAES) o qual constitudo de trs eixos avaliao

dos cursos das instituies e o Exame Nacional de Desempenho dos estudantes

(ENADE) Apesar de incorporar elementos importantes no processo avaliativo desde

a sua implantao o mesmo tem privilegiado especialmente o resultado do ENADE

Este pautado numa perspectiva punitiva e de ranqueamento assim os(as)

estudantes selecionados(as) para realizar a prova e que porventura no

comparecerem na data estabelecida so impedidos(as) de receber o diploma alm

disso a divulgao de notas obtidas pelos cursos levando-se em considerao

somente o ENADE acaba culpabilizando o segmento estudantil pela realidade da

universidade pblica na atualidade sem uma devida anlise econmica social

histrica poltica e cultural O ranqueamento construdo a partir da avaliao gera

uma classificao entre as instituies boa e de m qualidade que incide

diretamente na distribuio de verbas o curioso o fato daquelas cujos resultados

no so satisfatrios para os analistas serem penalizadas mediante reduo de

investimentos podendo at mesmo ser descredenciadas

Para Mello(2007) a avaliao pode ser consubstanciada em trs

perspectivas diferentes porm no excludentes so elas avaliao como instrumento

95

de praacutetica gerencial em que satildeo considerados prioritariamente metas a serem

alcanccediladas avaliaccedilatildeo como controle social cuja preocupaccedilatildeo se remete a elaboraccedilatildeo

de objetivos preservando-se a autonomia institucional e finalmente a avaliaccedilatildeo como

possibilidade de regeneraccedilatildeo de autonomia poliacutetica e acadecircmica na qual a auto-

avaliaccedilatildeo possa proporcionar a incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees de naturezas diversas

como projetos para instituiccedilatildeo estrateacutegias de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos Entretanto segundo apreensatildeo do autor eacute fundamentado na primeira

abordagem que as avaliaccedilotildees vecircm se concretizando nos espaccedilos acadecircmicos pois

[] as decisotildees de cunho eminentemente poliacutetico aparecem como uma questatildeo meramente gerencial que exige uma resposta imediata e inadiaacutevel do oacutergatildeo gestor Os problemas relativos ao ensino superior tanto com relaccedilatildeo agrave administraccedilatildeo quanto com relaccedilatildeo agraves questotildees de produccedilatildeo e veiculaccedilatildeo de conhecimento natildeo satildeo reconhecidos como determinaccedilotildees das formaccedilotildees sociais mas satildeo interpretados como decisotildees que tecircm que ser tomadas para resolver problemas e garantir a aplicaccedilatildeo dos recursos (MELLO 2007 p16)

A tendecircncia punitiva do ENADE se verifica na Lei nordm 10861 de 24 de

abril de 2004 que no seu inciso 5ordm do artigo 5ordm estabelece o exame como

componente curricular obrigatoacuterio para os cursos de graduaccedilatildeo O inciso 10ordm do

mesmo artigo explicita o reducionismo dessa avaliaccedilatildeo pois destaca a concessatildeo de

bolsas e outras formas de estiacutemulos a estudantes que obtiverem melhores

desempenhos Como analisar o rendimento acadecircmico de um(a) estudante

considerando somente o resultado da prova

O ANDES(1996) defende a realizaccedilatildeo de processos avaliativos que

englobem elementos internos e externos No primeiro caso requisita-se a

participaccedilatildeo democraacutetica de todos os segmentos acadecircmicos estudantes docentes e

teacutecnico-administrativos no segundo exige-se o envolvimento da comunidade na qual

a instituiccedilatildeo estaacute inserida com o intuito de a sociedade analisar e contribuir com o

desenvolvimento da funccedilatildeo social da instituiccedilatildeo

Aleacutem das accedilotildees jaacute assinaladas faz-se necessaacuterio evidenciarmos uma

das mais atuais que eacute o REUNI este vislumbra melhorar o rendimento dos atuais

recursos fiacutesicos e humanos das universidades federais sendo as principais metas

elevar a taxa de diplomaccedilatildeo dos cursos para 90 e aumentar para dezoito a relaccedilatildeo

aluno-professor

O preocupante nesta proposta como abordam Martinez e Tonegutti

(2007) eacute a natildeo contextualizaccedilatildeo das metas citadas com a dinacircmica vivenciada nas

instituiccedilotildees de ensino superior federais Nesses termos algumas das problemaacuteticas

96

salientadas pelos autores so como elevar o nvel de diplomao sem considerar a

situao econmica e social dos(as) estudantes brasileiros(as) como atingir a meta

estabelecida no tocante a relao professor-aluno em uma conjuntura de sobrecarga

vivida no cotidiano pela grande maioria dos(as) docentes Outras questes

significativas para serem refletidas so referentes prpria flexibilidade41 dos cursos

e alm disso por se tratar de um plano de governo como garantir a liberao de

verbas no decorrer da futura gesto presidencial pois as linhas traadas pelo

REUNI apresentam como horizonte o ano de 2012 Como observamos muitos so

os limites para a universidade pblica trazidas por mais uma ao integrante da

contra-reforma do ensino superior brasileiro

Para Boschetti(2008) o REUNI foi institudo nas universidades visando

atender as requisies do FMI que estabeleceu a meta de inserir 30 da populao

brasileira na faixa etria de 18-24 anos nesse nvel da educao Diante do exposto

fica evidenciado o direcionamento do Governo Lula em operacionalizar as

recomendaes daqueles que defendem os interesses do capital e desconsideram a

qualidade na formao profissional em prol da lucratividade

A anlise do ANDES sobre o REUNI ratifica o posicionamento de situar

essa ao como mais uma medida que expressa a perspectiva do atual governo de

ampliar o acesso na educao superior sem a devida elevao de recursos para

manuteno dessa expanso42 Desse modo as repercusses so no sentido de

ldquoprecarizao do trabalho docente e a transformao paulatina de universidade em

instituies com um ensino cada vez mais superficialrdquo (ANDES 2007 p08)

Diante dos primeiros passos no processo de institucionalizao do REUNI

nas Universidades Federais notria a aberturas de concursos sobretudo para

docentes e dessa maneira no podemos desconsiderar a importncia dessa ao

num contexto de intensa sobrecarga vivenciada por professores(as) nas instituies

pblicas sendo pois resultante de lutas do movimento da educao no Brasil e

especificamente no nvel superior dos segmentos universitrios organizados

Entretanto somente a abertura de concursos no suficiente para termos uma anlise

mais consistente do programa pois no nos permite apreendermos se os cursos

abertos nos mbito do REUNI garantem uma formao profissional com qualidade e

41 Flexibilidade no sentido que o plano se fundamenta nos processos flexibilizados de redefinio do ensino superior implantado nos EUA e tambm influenciado pelo modelo de bacharelado de Bolonha ldquoeste em virtude das necessidades decorrentes da comunidade europia o que se objetiva compatibilizar a formao profissional entre os vrios pases pela adequao do desenho curricular que varia bastante de pas para pasrdquo Cf Martinez e Tonegutti (2007)42O Plano Nacional de Educao estabelece a destinao de 10 do PIB para educao contudo o total empregado corresponde ao percentual de apenas 35Cf (ANDES 2007)

97

no caso do Servio Social tendo como pressuposto as Diretrizes Curriculares

elaboradas pelo ABEPSS

Durante a provao do REUNI pelos Conselhos Universitrios das

universidades federais no final de 2007 tivemos segundo dados da CONLUTE pelo

menos quinze reitorias ocupadas pelo ME porm as ocupaes e reivindicaes no

foram suficientes pois o Plano de Reestruturao foi aprovado em plenitude pelas

IFES Embora no tendo sucesso quanto ao objetivo de impedir a implementao de

tal proposta podemos afirmar que as atividades executadas pelo segmento estudantil

evidenciam o fortalecimento das mobilizaes do ME em nvel nacional

Em abril de 2009 socializada mais uma proposta do MEC para o ensino

superior que prev a adoo do Exame Nacional do Ensino Mdio(ENEM) como

principal mecanismo de acesso as instituies federais Documento elaborado e

disponibilizado pelo MEC esclarece que os resultados do ENEM sero utilizados de

duas maneiras

A primeira mediante simples informao pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira-Inep IES dos boletins de resultados dos candidatos que tiverem realizado o novo ENEM adotado como prova de seleo com base em Edital prprio publicado pela IES facultando-se sua utilizao como fase nica ou primeira fase do processo seletivo A segunda forma de utilizao do novo ENEM consiste na adeso ao Sistema de Seleo Unificada sistema informatizado do Ministrio da Educao apto a processar oregistro das vagas especificamente oferecidas pelas IES (ldquovagas ENEMrdquo) em confronto com as listas ordenadas de candidatos em ordem decrescente por curso segundo a pontuao no Exame O pressuposto da adeso ao Sistema de Seleo Unificado autilizao do novo ENEM como fase nica sem prejuzo de eventual realizao de exame de aptido para reas especficas (desde que esse se d em tempo compatvel com da primeira e segunda chamadas do Sistema de Seleo Unificado) (MEC 2009)

O fim do vestibular sempre esteve presente como bandeira de luta do

movimento por educao pblica no Brasil incluindo aqui o segmento estudantil

organizado O propsito de utilizao do ENEM como mecanismo de entrada nas

universidades no garante a efetiva democratizao do ensino superior visto que o

acesso continuar sendo determinando por outro processo seletivo que no mais o

vestibular Por se tratar de uma medida ainda incipiente no nos permite a realizao

de uma anlise mais consiste desse processo entretanto analisando esta medida no

campo da contradio temos a concepo que ela no resultar em ganhos

expressivos para os segmentos pauperizados se no for acompanhada de uma efetiva

98

ampliaccedilatildeo de vagas nas universidades federais e de melhorias consideraacuteveis nos

niacuteveis fundamental e meacutedio de ensino

4-3 REMANDO CONTRA MAREacute a formaccedilatildeo profissional do(a) assistente social no

acircmbito da contra-reforma do ensino superior

A contra-reforma do ensino superior orientada pelas concepccedilotildees

neoliberais efetivada na era FHC e com continuidade nas gestotildees de Lula traz

implicaccedilotildees substanciais para materializaccedilatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional

dos(as) assistentes sociais Projeto resultante da reformulaccedilatildeo curricular no iniacutecio da

deacutecada de 1990 em que a qualidade da formaccedilatildeo profissional consistia ao mesmo

tempo em objetivo e desafio para categoria

Assim sendo de 1994 a 1996 a entatildeo Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino

de Serviccedilo Social(ABESS) promoveu conjuntamente com o Centro de Documentaccedilatildeo

e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social(CEDEPSS) e com expressivo apoio

do CFESS e da ENESSO em torno de duzentas oficinas locais em unidade filiadas a

ABESS aleacutem de vinte e cinco oficinas regionais e duas nacionais

Essa ampla discussatildeo foi imprescindiacutevel para construccedilatildeo da Proposta

Nacional de Diretrizes Curriculares para o curso de Serviccedilo Social cuja aprovaccedilatildeo

ocorreu em assembleacuteia geral durante a II Oficina Nacional de Formaccedilatildeo Profissional

nos dias 07 e 08 de novembro de 1996 na cidade do Rio de Janeiro

Os pressupostos que nortearam a perspectiva de formaccedilatildeo profissional

presentes na referida proposta se expressam no entendimento de que o Serviccedilo

Social consiste em uma profissatildeo que se particulariza no acircmbito de intervenccedilatildeo da

questatildeo social esta portanto se configura como fundamento basilar de sua existecircncia

na sociabilidade regida pelo capital e que na deacutecada de 1990 a relaccedilatildeo capital-

trabalho apresenta uma tendecircncia de agravamento no contexto brasileiro diante das

particularidades da reestruturaccedilatildeo produtiva no contexto nacional fato que atinge a

profissatildeo nos acircmbitos da formaccedilatildeo e da intervenccedilatildeo dessa maneira tem-se a

apreensatildeo de que o Serviccedilo Social como parte integrante de um processo trabalho eacute

determinado estrutural e conjunturalmente pelas configuraccedilotildees da questatildeo social e

das consequumlentes formas de seu enfretamento

99

Portanto a institucionalizaccedilatildeo do Serviccedilo Social como profissatildeo constitui

um desdobramento da intensificaccedilatildeo das contradiccedilotildees inerentes ao modelo societaacuterio

capitalista de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Nesses termos as Diretrizes Curriculares enfatizam que os(as) assistentes

sociais tecircm nas diversas expressotildees da questatildeo social a mateacuteria essencial que

proporciona a inserccedilatildeo de tais profissionais em processos de trabalho

Temos a compreensatildeo de ser a questatildeo social fruto das desigualdades

geradas pelo antagonismo entre capital x trabalho Nessa sociabilidade auto-rotulada

de livre os capitalistas se apresentam no mercado competitivo como proprietaacuterios

dos meios-de-produccedilatildeo e os trabalhadores donos somente da sua forccedila de trabalho

Portanto relaccedilotildees opostas e desiguais com repercussotildees nefastas para a humanidade

e que se expressam na opressatildeo e domiacutenio de classes Consubstanciado no

pensamento marxiano Tonet ratifica

O capital cujas personas satildeo os burgueses eacute uma relaccedilatildeo essencialmente contraditoacuteria A apropriaccedilatildeo da riqueza socialmente produzida por um nuacutemero de pessoas que deste modo hegemonizam em seu benefiacutecio todo o processo social eacute inseparaacutevel de sua existecircncia (TONET 2004 p 14)

Eacute no seio desse profundo antagonismo que o (a) assistente social eacute

requisitado a trabalhar e nesse sentido os projetos de formaccedilatildeo profissional

consistem em instrumentos importantes na constituiccedilatildeo de um perfil profissional que

pode vislumbrar uma atuaccedilatildeo para manutenccedilatildeo dos privileacutegios sustentadores do

capital como antagonicamente podem ser construiacutedos ratificando um processo

formativo criacutetico no intuito de formar profissionais identificados com o

desenvolvimento de accedilotildees direcionadas para negaccedilatildeo e contestaccedilatildeo da ordem

estabelecida sendo esta uacuteltima a perspectiva ratificada nas Diretrizes Curriculares

para o curso de Serviccedilo Social em vigecircncia desde 1996 Como retrata Iamamoto

(2006) o traccedilo poliacutetico do trabalho do(a) assistente social reside no fato de que ele se

materializa numa sociabilidade na qual se encontram

Presentes interesses sociais distintos e antagocircnicos que se refratam no terreno institucional definindo forccedilas sociopoliacuteticas em luta para construir hegemonias definir consensos de classe e estabelecer formas de controle social a elas vinculadas (IAMAMOTO 2006 p 98)

Certamente o projeto de formaccedilatildeo profissional forjado pela categoria nas

uacuteltimas deacutecadas hegemonizado em torno da intenccedilatildeo de ruptura e que se expressa

100

por exemplo no Coacutedigo de Eacutetica de 1993 na Lei 86621993 que trata da

Regulamentaccedilatildeo da profissatildeo e as Diretrizes Curriculares de 1996 encontra-se em

sintonia com um processo formativo de qualidade e comprometido com a luta por

direitos bem como com a compreensatildeo de serem os usuaacuterios dos serviccedilos sociais

sujeitos construtores da histoacuteria Portanto uma perspectiva de formaccedilatildeo profissional

criacutetica e que requisita uma apreensatildeo da realidade com suas multifacetadas

contradiccedilotildees no intuito de materializar accedilotildees nos marcos do projeto eacutetico-poliacutetico

profissional hoje hegemocircnico no acircmbito do serviccedilo Social brasileiro

Nesse sentido a preocupaccedilatildeo com a qualidade na formaccedilatildeo profissional

se manifesta integralmente em toda proposta e de forma preponderante nos

princiacutepios que regem as Diretrizes Curriculares que satildeo a flexibilidade de

organizaccedilatildeo dos curriacuteculos plenos o que por sua vez favorece a apreensatildeo de

problemaacuteticas locais mediante a oferta de oficinas seminaacuterios temaacuteticos e atividades

complementares a tendecircncia de assegurar rigoroso trata teoacuterico histoacuterico e

metodoloacutegico da realidade bem como do Serviccedilo Social inserido nela

potencializando dessa forma uma intervenccedilatildeo qualificada dos(as) profissionais nos

processos de trabalho adoccedilatildeo de uma teoria social criacutetica com o intuito de

proporcionar a apreensatildeo dos fenocircmenos em sua totalidade histoacuterica a busca de

superaccedilatildeo da fragmentaccedilatildeo de conteuacutedos na organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo curricular o

estabelecimento das dimensotildees investigativa e interventiva o que corrobora para o

fortalecimento da relaccedilatildeo teoria e realidade defesa de qualidade para cursos diurnos

e noturnos tendecircncia de proporcionar interdisciplinaridade nas diversos acircmbito que

compotildeem a formaccedilatildeo profissional indissociabilidade entre ensino pesquisa e

extensatildeo o exerciacutecio do pluralismo que consiste em dimensatildeo inerente ao acircmbito

acadecircmico estabelecimento da eacutetica como principio fundamental e que perpassa toda

a formaccedilatildeo profissional a necessaacuteria indissociabilidade entre supervisatildeo de campo e

acadecircmica durante a realizaccedilatildeo do estaacutegio como forma de contribuir com a qualidade

no processo de aprendizagem dos sujeitos em formaccedilatildeo

Discorrendo sobre a formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais Iamamoto

(2006) enfatiza a necessidade na contemporaneidade de fortalecimento articulado

das esferas teoacuterico-metodoloacutegico eacutetico-poliacutetico e teacutecnico-operativo como

indispensaacuteveis para uma formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional criacutetica e capaz de apreender

o movimento contraditoacuterio da realidade capitalista compreendendo os limites e

possibilidades nela existentes no intento de que os(as) profissionais atuem em

conformidade com a legislaccedilatildeo profissional vigente o que significa o cumprimento e

fortalecimento do estabelecido na lei 866219993 e no Coacutedigo de Eacutetica tambeacutem de

1993 A ressalva realizada pela autora ratifica o perfil de assistentes sociais projetado

101

no decorrer da elaborao aprovao e implantao das Diretrizes Curriculares cuja

dimenso destaca a necessidade de

Um profissional que atua nas expresses da questo social formulando e implementando propostas para o seu enfretamento por meios de polticas sociais pblicas empresariais de organizaes da sociedade civil e movimentos sociais Profissional dotado de uma formao intelectual e cultural generalista crtica competente em sua rea de desempenho com capacidade de insero criativa e propositiva no conjunto das relaes e no mercado de trabalho Profissional comprometido com os valores norteadores do Cdigo de tica do Assistente Social (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL 1999)

Fundado nessa proposio a lgica curricular aprovada pela categoria em

1996 apresenta trs ncleos de fundamentao que se sustentam na perspectiva de

articulao de conhecimentos que possibilite a construo de um projeto assentado

na complexidade e dinamicidade do real e comprometido com a qualidade na

formao dos(as) assistente sociais No ncleo de fundamentos terico-metodolgicos

da vida social a principal preocupao direcionada para a compreenso do ser no

mbito da sociabilidade capitalista sendo o trabalho aprendido como o ato fundante

no processo de produo e reproduo social J o ncleo de fundamentos da

formao scio-histrica da sociedade brasileira tem o objetivo essencial de

aprofundar os conhecimentos relacionados formao brasileira considerando suas

determinaes econmicas sociais polticas e culturais o que implica a necessidade

de anlise da relao ldquoestadosociedade os projetos polticos em debate as polticas

sociais as classes sociais e suas representaes culturais os movimentos

organizados da sociedade civil entre outros aspectosrdquo (IAMAMOTO 2006 p 72) O

ncleo de fundamentos do trabalho profissional tem a proposio de discutir os

fundamentos do Servio Social em que este entendido como uma profisso

constituda no mago da diviso social e tcnica do trabalho Importante registrar que

os trs ncleos no foram elaborados de maneira hierrquica mas partindo da

concepo que se trata de conhecimentos articulados e necessrios a construo de

um perfil profissional crtico de postura interventiva e investigativa43

43Nesses termos as matrias consideradas bsicas para o curso de Servio Social fundamentadas nos ncleos da vida social da formao da sociedade brasileira e do trabalho profissional tendo o discernimento que essas matrias requisitam a abordagem de contedos que proporcionem uma devida capacitao terico-metodolgica e tico-poltica objetivando apreenso e interveno crtica na realidadeso Sociologia Cincia poltica Economia Poltica Psicologia Antropologia Formao scio-histrico do Brasil Direito Poltica Social Acumulao Capitalista e Desigualdades Sociais Fundamentos Histricos e Terico-metodolgicos do Servio Social Processo de Trabalho do Servio Social Administrao e Planejamento em Servio Social Pesquisa em Servio Social e tica Profissional Alm das atividades consideradas indispensveis Estgio Supervisionado e o Trabalho de Concluso de

102

Em 2006 Aps dez anos de aprovao a ABEPSS realizou pesquisa de

cunho avaliativo sobre a materializao das Diretrizes Curriculares esta contou com a

participao de estudantes de Servio Social de todo pas e de diferentes unidades de

ensino a anlise processada pela entidade evidencia o acelerado processo de

privatizao da educao e que por conseguinte atinge os espaos de formao

profissional do(a) assistente social

Nesse sentido o debate sobre a contra-reforma do ensino superior

relevante para o Servio Social por se tratar do lcus privilegiado da formao

profissional e que vem sendo duramente atacado pela verso neoliberal do capital

Nesse sentido segundo as contribuies de PINTO (2007 p16)

A formao decorrente da contra-reforma da educao no nos serve por ser uma formao que nos faz questionar a capacidade do aluno adquirir as habilidades necessrias para atender na ponta os usurios de uma instituio Os componentes ticos necessrios diante da agudizao da questo social e o desenvolvimento de habilidades para investigar a realidade social e conhecer a populao atendida para melhor traar as linhas e projetos de interveno alm da capacidade de reconhecer o trabalho do assistente social como parte da engrenagem da sociedade capitalista e no como uma prtica que ganha sentido por si mesma na imediaticidade de sua ao sero forte e profundamente inviabilizados pela contra-reforma da educao de interesse do capital

As preocupaes levantadas pela autora so significativas e se

consubstanciam na defesa de um perfil de formao profissional baseado nos

princpios defendidos pela ABEPSS e j ressaltados anteriormente s para

exemplificar destacamos o ldquoestabelecimento das dimenses investigativa e

interpretativa como princpios formativos e condio central da formao profissional e

da relao teoria e realidade indissociabilidade das dimenses de ensino pesquisa e

extensordquo (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL

1999)

Destarte a concretizao de tais princpios em instituies de ensino

presenciais j se constitui uma realidade problemtica decorrente das condies de

trabalho e aprendizagem que so disponibilizadas e em se tratando de graduao

distncia se tornam ainda mais problemticas pela prpria lgica de funcionalidade e

padres organizativos de tal modalidade o que coloca em xeque o projeto de

Curso Entretanto todos os tpicos referentes a todas as matrias elencadas anteriormente foram simplesmente suprimidos pela Comisso Nacional de Educao(CNE)

103

formaccedilatildeo construiacutedo nas ultimas deacutecadas pelos (as) assistentes sociais

brasileiros(as)

Desse modo a proliferaccedilatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social agrave

distacircncia jaacute eacute uma realidade em todo o paiacutes Nessas circunstacircncias as entidades

representativas da profissatildeo (ABEPSS CFESS E ENESSO) de maneira articulada

tecircm elaborado e executado estrateacutegias diante dessa situaccedilatildeo no intuito de defender o

atual projeto de formaccedilatildeo profissional construiacutedo no decorrer das uacuteltimas deacutecadas de

forma coletiva pela categoria e que se baseia numa perspectiva criacutetica de anaacutelise e

atuaccedilatildeo social Para Braz(2007) essa massificaccedilatildeo no acesso ao ensino superior da

forma como tem se materializado repercute em termos quantitativo e qualitativo na

formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) visto que em aproximadamente

dez anos o nuacutemero de profissionais ativos dobraraacute44 aleacutem da duvidosa qualidade na

formaccedilatildeo a distacircncia dessa maneira rebatimentos negativos pode se verificar

No acircmbito do exerciacutecio profissional que quando desqualificado vulnerabiliza a imagem da profissatildeo no sentido de sua desvalorizaccedilatildeo na sociedade aleacutem de pressionar para baixo as jaacute desfavoraacuteveis condiccedilotildees de trabalho [ainda] uma formaccedilatildeo profissional pouco qualificada tende a dificultar a formaccedilatildeo de novos quadros teoacutericos e poliacuteticos para o projeto profissional(BRAZ 2007 09)

Preocupaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees da difusatildeo de graduaccedilatildeo agrave distacircncia

para o projeto profissional do Serviccedilo Social tem se tornando imprescindiacutevel e

recorrente nos espaccedilos de discussatildeo da categoria que se expressa tanto no acircmbito

dos foacuteruns profissionais e estudantis como no campo da produccedilatildeo teoacuterica

Essa tendecircncia se verifica em larga medida pelo fato de que a poliacutetica

educacional na recente conjuntura nacional tem amplamente se adequado ao projeto

neoliberal privatizante como se manifesta na proliferaccedilatildeo da graduaccedilatildeo agrave distacircncia

Esta coloca em risco a formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do

Serviccedilo Social que conforme elucidativa explanaccedilatildeo de Boschetti natildeo oferece uma

formaccedilatildeo caracterizada pela

Indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo processo formativo baacutesico com perspectiva de totalidade e apreensatildeo criacutetica da realidade ensino do trabalho [] em vaacuterios momentos do processo formativo em vaacuterias disciplinas realizaccedilatildeo de estaacutegio presencial com articulaccedilatildeo estreita entre o acompanhamento do supervisor acadecircmico e de campo realizaccedilatildeo de pesquisa e investigaccedilatildeo como princiacutepio formativo que deve perpassa todo o curriacuteculo acesso aacute bibliografia de qualidade natildeo apenas a textos

44 Baseado em dados do CFESS o autor afirma que existem atualmente no Brasil um total de 74500 profissionais ativos

104

baacutesicos de sala de aula mas ao universo de possibilidades de leitura e conhecimento que se descortina no acesso as bibliotecas((2008 p09)

O entendimento das preocupaccedilotildees de Braz e Boschetti se torna

transparente quando se apreende as contradiccedilotildees de classe que fundam e

perpassam a atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social na sociabilidade capitalista

Boschetti (2007 2008) como assinalado anteriormente ao formular

reflexotildees sobre os rebatimentos da contra-reforma para a formaccedilatildeo e exerciacutecio

profissionais sinaliza preocupaccedilotildees relacionadas ao ensino agrave distacircncia tais como

ausecircncia de uma poliacutetica de estaacutegio sintonizada com as Diretrizes Curriculares

problemas de infra-estrutura falta de encontros presencias entre outros elementos

levantados pela autora e que satildeo fundamentais para uma formaccedilatildeo de qualidade

A recente pesquisa da ABEPSS indica que as principais dificuldades na

implementaccedilatildeo das Diretrizes por parte das unidades de ensino satildeo as de ordem

teoacuterico-metodologico que se remetem a transversalidade dos conteuacutedos o domiacutenio do

conteuacutedo do ementaacuterio e entendimento da nova loacutegica curricular A partir dos dados

obtidos a entidade indica desafios enfrentados na materializaccedilatildeo das diretrizes quais

sejam

garantia do tratamento transversal da questatildeo social nas disciplinas de FHTMSS garantia de unidade entre histoacuteria teoria e meacutetodo na grade curricular domiacutenio de categorias fundamentais das diferentes matrizes teoacutericas que subsidiam a praacutetica profissional apreensatildeo de categorias pertencentes ao quadro referencial de Marx e tradiccedilatildeo marxista aprofundamento do conhecimento histoacuterico do contexto social econocircmico e poliacutetico brasileiro por parte de docentes e discentes garantia da transversalidade de processos investigativos e interventivos na formaccedilatildeo profissional articulados aos componentes curriculares compreensatildeo histoacuterica da profissatildeo respaldada em uma concepccedilatildeo criacutetico-dialeacutetica (ABEPSS 2008 188)

Outra dado que nos chama a atenccedilatildeo eacute o fato da sobrecarga vivenciada

pelos docentes de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas ter sido apontada como uma real

dificuldade na implantaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares situaccedilatildeo que revela a tendecircncia

de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho no acircmbito universitaacuterio A insuficiecircncia de

recursos tambeacutem eacute indicada como uma barreira enfrentada no cotidiano das

instituiccedilotildees

Portanto eacute relevante (re)afirmar que a contra-reforma nos moldes como

vem sendo materializado no paiacutes contribui incisivamente para enfraquecer a

proposta de processo formativo comprometido com a construccedilatildeo de um perfil

105

profissional interpretativo crtico e investigativo perspectiva defendida e expressa nas

Diretrizes Curriculares de 1996

importante esclarecer que em 2002 ainda no governo FHC

modificaes legais foram aprovadas nas Diretrizes Curriculares para o curso de

Servio Social que retiram ganhos da proposta original elaborada pela ABEPSS Foi

instituda como uma das competncias e habilidades gerais para o(a) assistente

social a utilizao de recursos da informtica no que a utilizao de recursos

tecnolgicos no seja importante para o exerccio profissional mas a tendncia

verificada com esta medida de direcionar a formao para o vis tecnicista em

detrimento da capacitao terico-metodolgica e tico-poltica visto que se

processou o no estabelecimento do texto legitimado pela categoria uma vez que o

contedo original no estabelecia a necessidade da utilizao de recursos da

informtica preconizava o compromisso do(a) assistente social com os valores e

princpios norteadores do cdigo de tica outras regresses so abordadas por

Iamamoto(2002 p22)

Assim no projeto original encaminhado ao CNE que a formao profissional deve viabilizar uma capacitao terico-metodologico e tico-poltica como requisito fundamental para o exerccio de atividades tcnico-operativas com vistas apreenso crtica dos processos sociais na sua totalidade anlise do movimento histrico da realidade brasileira apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no pas Tais objetivos supra destacados foram eliminados do texto legal E os tpicos de estudos foram totalmente banidos do texto oficial para todas as especialidades Eles consubstanciavam o detalhamento dos contedos curriculares anunciados nos trs ncleos de fundamentao[] esse corte significa na prtica a impossibilidade de se garantir um contedo bsico comum formao profissional no pas mais alm dos trs ncleos organizadores da estrutura curricular O contedo da formao passa a ser submetido livre iniciativa das unidades de ensino pblicas e privadas desde que preservados os referidos ncleos

Para a ABEPSS(2008) as modificaes realizadas pelo CNE ldquotendem a

reducionismos terico-metodolgicos e desvios tico-polticos da formao

Profissionalrdquo(p05) O que por sua vez pode implicar na construo de cursos

destoantes da direo social defendida pelas diretrizes de 1996

Pereira(2007) ao discorrer sobre a mercantilizao do ensino superior na

era FHC evidencia dados importantes que expressam a crescente ofensiva do capital

nesse setor Especificamente em relao ao Servio Social a autora destaca que de

1930 a 1994 existiam 74 cursos sendo 47 privados e 27 pblicos evidenciado que

mesmo numa conjuntura no neoliberal a formao de assistentes sociais se dava

106

predominantemente em instituiccedilotildees privadas setor que abrangia aproximadamente

64 dos cursos no Brasil relaccedilatildeo expressa no graacutefico 4

Graacutefico 4

Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-1994)

Fonte Pereira (2007)

Durante as duas gestotildees de FHC(1995- 2002) foram criados 49 novos

cursos de Serviccedilo Social destes somente cinco em instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas o que demonstra o compromisso desse governo com o setor privado

conforme demonstraccedilatildeo abaixo

O relatoacuterio final da pesquisa da ABEPSS sugere que no periacuteodo de 1980

e 1994 houve uma reduccedilatildeo na criaccedilatildeo de cursos de Serviccedilo Social no paiacutes realidade

alterada na segunda metade da deacutecada de 1990 na qual se verificou uma expansatildeo

significativa de cursos inseridos sobretudo na iniciativa privada

107

Graacutefico 5 Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1995-2002)

Fonte Pereira(2007)

Os dados do graacutefico 5 indicam uma forte tendecircncia de crescimento de

cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1995-2002 uma expansatildeo sobretudo da

esfera privada responsaacutevel por praticamente 90 dos cursos criados Diante do

exposto se sustenta a concepccedilatildeo que FHC disponibilizou amplamente o ensino

superior para rentabilidade do capital No quadro1 temos um demonstrativo da

distribuiccedilatildeo dos cursos em relaccedilatildeo agrave natureza das instituiccedilotildees antes e durante a era

FHC na presidecircncia da repuacuteblica

A reduzida quantidade de cursos em instituiccedilotildees puacuteblicas eacute preocupante

tanto pelo niacutetido processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira como pela

questionada qualidade do ensino ofertado na maioria das instituiccedilotildees privadas Como

abordado anteriormente a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo formatada pela categoria subjaz

um processo qualificado com vistas ao exerciacutecio profissional sintonizado com o

desafiante projeto profissional que nos remete ao desvendamento das contradiccedilotildees

dessa sociabilidade o que por sua vez potencializa a apreensatildeo dos limites e

possibilidade existente no cotidiano de atuaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais

108

Quadro 1Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-2002)

Fonte Pereira (2007)

Partindo de dados apresentados por Pereira(2007) temos a conclusatildeo de

que ateacute o iniacutecio do governo Lula existiam no paiacutes 123 cursos de Serviccedilo Social num

total de 91 em instituiccedilotildees privadas e 32 cursos puacuteblicos Pois bem conforme os

dados do INEP em agosto de 2008 existem no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social

Daiacute conclui-se que soacute em parte desse periacuteodo de Lula na presidecircncia da repuacuteblica

foram criados 179 novos cursos e desses temos o alarmante nuacutemero de 169 na

iniciativa privada e a reduzida quantidade de 19 cursos na esfera puacuteblica

Demonstramos essa relaccedilatildeo nos graacuteficos 6

Graacutefico 6

Criaccedilatildeo de Cursos de Serviccedilo Social (2003 - agosto de 2008)

FonteINEP(2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

Total 91 74 32 26 123

109

Daiacute temos o percentual de 6375 de cursos privados e de 3725

puacuteblicos embora seja um percentual menor que o observado na era FHC o graacutefico 6

propotildee que eacute real a tendecircncia de continuidade da poliacutetica educacional do governo

Lula em relaccedilatildeo ao seu antecessor Isso significa a permanecircncia majoritaacuteria de cursos

de Serviccedilo Social na esfera privada No graacutefico 2 disponibilizado no item anterior

desse trabalho destacamos que a maioria das intuiccedilotildees privadas natildeo satildeo

universidades o que nos remete a reflexatildeo que parte significativa da formaccedilatildeo de

assistentes sociais natildeo se processa em universidade portanto em ambientes

caracterizados pela dissociaccedilatildeo entre ensino pesquisa e extensatildeo contrariando o

projeto de formaccedilatildeo pautado pela ABEPSS e defendido pelo CFESS e a ENESSO

Quadro 2

Cursos de Serviccedilo Social (1930-2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

2003-82008 160 6375 19 3725 179

Total 251 8394 51 1606 302

FONTE Pereira (2007) INEP(2008)

O quadro 2 apresenta uma siacutentese dos dados trabalhados ateacute o momento

e a partir dele constatamos que nos trecircs periacuteodos destacados eacute predominante a

existecircncia de cursos de Serviccedilo Social na esfera privada Levando-nos a refletir que

mesmo diante dessa realidade a categoria com ampla influencia dos profissionais que

atuam na academia foi protagonista na formulaccedilatildeo de um projeto profissional

indubitavelmente defensor de direitos estes que soacute podem ser materializados na

esfera puacuteblica caso contraacuterio perdem esse caraacuteter

110

Os dados expressam certamente o aumento consideraacutevel do ensino

superior no paiacutes entretanto natildeo se trata de democratizaccedilatildeo desse niacutevel educacional

antes se constitui um processo de massificaccedilatildeo voltado ao atendimento das

exigecircncias dos organismos que representam os interesses do capital Portanto a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute com a qualidade nem tampouco com a democratizaccedilatildeo do

conhecimento produzido como eacute possiacutevel de se observar a partir do crescimento

consideraacutevel da iniciativa privada Outra faceta revelada pelos dados eacute a tendecircncia

de continuidade por parte do governo Lula da poliacutetica educacional efetivada durante as

gestotildees de FHC de incentivos a sua mercantilizaccedilatildeo transfigurando direito em

mercadoria rentaacutevel Expressa sem duacutevidas o acelerado processo de criaccedilatildeo de

cursos de Serviccedilo Social no Brasil nos uacuteltimos anos e especialmente na esfera

privada o que certamente constitui implicaccedilotildees dos incentivos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia visto que parte significativa desta modalidade eacute ofertada no acircmbito privado

Do nosso ponto de vista reflexotildees que tenham como horizonte a atuaccedilatildeo

do ME e em particular o MESS devem considerar as profundas modificaccedilotildees em

processo de materializaccedilatildeo nos espaccedilos de formaccedilatildeo profissional entretanto natildeo de

maneira endoacutegena pois o entendimento dessas alteraccedilotildees soacute pode ser apreendido

situando-as no movimento mais abrangente da sociabilidade capitalista

111

ldquoA revoluo acontece atravs do homem mas o homem tem de forjar dia a dia o seu esprito revolucionriordquo (Che Guevara)

ldquoAlgo s impossvel at que algum duvide e acabe provando ao

contrriordquo (Albert Einstein)

A argila fundamental de nossa obra a juventude Nela depositamos todas as nossas esperanas e a preparamos para receber idias para moldar nosso

futuro (Che Guevara)

112

V UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

Analisamos o perfil dos(as) militantes que estiveram na direo nacional da

ENESSO no perodo de 2003-2008 com o objetivo de construmos mediaes

relacionadas dimenso geracional o que implica consideraes relativas a aspectos

sociais polticos econmicos e culturais desses(as) sujeitos45 Para elaborao do

perfil utilizamos informaes concedidas por 22 coordenadores(as) nacionais que

responderam o questionrio durante a produo de dados para esta pesquisa

Conforme o quadro 3 expressivo a presena de pessoas na faixa de 26

a 30 anos na direo da entidade com o percentual de 41 contudo os dados

sugerem que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO se situam na faixa

etria de 21 a 25 anos correspondendo a 50 Os nmeros ratificam que o MESS

consiste num movimento social composto sobretudo pela juventude brasileira que

enfrenta um contexto radicalizado por crises e instabilidades que geram incertezas no

presente e futuro Um cenrio no qual a concluso do curso universitrio no consiste

em garantia de entrada dos(as) jovens no mercado de trabalho com condies dignas

para desempenhar as atividades profissionais Vivenciamos um perodo de

radicalizao da crise do capital em que o desemprego se configura como uma de

suas manifestaes mais drstica e perversa para aqueles(as) que necessitam vender

sua fora de trabalho para sobreviver Assim deixado a margem do mercado formal

milhes de trabalhadores(as) antes empregados(as) o que por sua vez ocasiona

incertezas e desespero nas pessoas em processo de formao profissional e que

objetivam a sua insero na esfera formal do mercado de trabalho Segundo dados

socializados por Iamamoto no Brasil

O ndice dos empregados sem carteira assinada passa de 211 em 1995 para 242 do total de ocupados em 2003 somando os empregados sem carteira assinada e os trabalhadores por conta prpria a participao desses segmentos no total da ocupao eleva-se para 455 no mesmo ano perfazendo o contingente da populao economicamente ativa que se encontra na informalidade(2008 p37)

45 Como j ressaltado na introduo desse trabalho os dados concernentes ao perfil dos(as) dirigentes foram obtidos mediante o envio de questionrio para os sujeitos inseridos(as) no universo da pesquisa

113

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Faixa etaacuteria Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

15 a 20 1 4521 a 25 11 5026 a 30 9 41

Acima de 30 1 45Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Ramos(1996) na pesquisa efetivada sobre o MESS construiu o perfil

dos(as) dirigentes da SESSUNEENESSO nos anos de 1988 a 1995 Naquele

periacuteodo os(as) jovens na faixa etaacuteria de 21 a 25 anos tambeacutem predominavam na

direccedilatildeo da entidade com o percentual de 666 Essa autora analisa que o

protagonismo de jovens nessa entidade estudantil evidencia preocupaccedilotildees desse

segmento com as problemaacuteticas sociais e poliacuteticas do Brasil

No tocante a dimensatildeo de gecircnero a maioria dos(as) coordenadores(as)

que ocuparam a direccedilatildeo nacional da ENESSO satildeo do sexo feminino Baseando-nos

na quantidade de questionaacuterios respondidos 15 informaram ser do sexo feminino e 7

do masculino de tal forma que temos o percentual de 68 de mulheres e 32 de

homens

Esse percentual reflete o fato do Serviccedilo Social ser uma profissatildeo

constituiacuteda predominantemente por mulheres o que repercute certamente na

ocupaccedilatildeo das entidades que a representa Para Iamamoto

Uma categoria profissional predominantemente feminina uma profissatildeo tradicionalmente de mulheres e para mulheres A condiccedilatildeo feminina eacute um dos selos da identidade desse profissional o que natildeo implica desconhecer o contingente masculino de assistentes sociais com representaccedilatildeo nitidamente majoritaacuteria no conjunto da categoria profissional no paiacutes Com tal perfil o assistente social absorve tanto a imagem social da mulher quanto as discriminaccedilotildees a ela imposta no mercado de trabalho (p104 2006)

Essas discriminaccedilotildees satildeo apreendidas tambeacutem no acircmbito da poliacutetica Da

atuaccedilatildeo nos MS e aqui em particular no MESS Como eacute possiacutevel verificarmos essa

condiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo A nossa pesquisa natildeo tem o propoacutesito de responder a tais

questionamentos mas certamente essas satildeo inquietaccedilotildees que surgem com a

produccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo dos dados

114

A partir de documentos produzidos pela coordenao nacional da

entidade nos quais constam a relao de seus(suas) dirigentes foi possvel chegar

totalidade dessa relao Conforme esse levantamento dos(as) 35 Coordenadores(as)

que abrange o recorte temporal da pesquisa temos um total de 24( vinte e quatro)

mulheres e 11(onze) homens o equivalente a 69 e 31 respectivamente

No tocante a questo tnico-racial do total de dirigentes que responderam

o questionrio 9 afirmaram ser afro-brasileiros(as) 4 pardos(as) e 9 brancos(as)

dados demonstrados no grfico 7

Grfico 7Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de 2003-

2008

41

41

18

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

De tal modo somando-se a quantidade de afro-brasileiros(as) e

pardos(as) temos uma sobreposio em relao aos(as) militantes brancos(as)

Analisando as opes de resposta em separado verificamos que o percentual sugere

que a quantidade de estudantes afros e brancos(as) igualitria na direo da

ENESSO Aparentemente pode se pensar que os nmeros disponibilizados no

grfico 7 contrariam a realidade de opresso e discriminao pela qual passa a

populao afro-brasileira no pas e que certamente dificultam a sua entrada no ensino

superior Conforme Castro (2008 p248)

A partir das lutas dos movimentos tnicos afro-brasileiros a discriminao racial no Brasil camuflada sob o manto da dita ldquodemocracia racialrdquo comea a ser reconhecida Os debates em torno da desigualdade racial vm contribuindo para alertar a sociedade

115

sobre a necessidade das poliacuteticas afirmativas cujo objetivo eacute igualar a oportunidade atraveacutes de mecanismos reparadores de discriminaccedilatildeo e desigualdade social de raccedila de gecircnero de idade e de origem

Diante do exposto analisamos que os dados provenientes do questionaacuterio

podem representar o direcionamento de que os(as) estudantes de Serviccedilo Social

pertencem cada vez mais a segmentos oprimidos nesta sociabilidade o que requer

reflexotildees sobre a condiccedilatildeo de permanecircncia dos(as) estudantes no ensino superior e o

aprofundamento das complexas relaccedilotildees entre inserccedilatildeo de classe social educaccedilatildeo e

questatildeo eacutetnico-racial

O quadro 4 trata da religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO Aqui eacute

necessaacuterio fazermos uma observaccedilatildeo quanto agraves opccedilotildees colocadas no questionaacuterio

Inicialmente apoacutes recebimento dos dados consideramos um equiacutevoco a natildeo

colocaccedilatildeo da opccedilatildeo nenhuma religiatildeo no intuito de corrigimos o erro citado

reenviamos outro email para as pessoas que natildeo responderam a esta questatildeo e para

os(as) que indicaram a opccedilatildeo outra religiatildeo ainda assim apreendemos que o

percentual de 32correspondente a escolha de outra religiatildeo possa refletir esse

equivoco visto que nem todos(as) responderam ao segundo email que indagava

somente sobre a problemaacutetica da religiatildeo Mesmo diante dessa dificuldade a

obtenccedilatildeo dos dados nos possibilita sinalizar que no tocante a religiatildeo os(as) ex-

militantes da ENESSO tem uma postura de negaccedilatildeo das religiotildees dominantes como o

catolicismo e o protestantismo tendecircncia que se vislumbra nos percentuais de 14 e

4 respectivamente A questatildeo da religiatildeo eacute importante dada a apreensatildeo que

direcionamentos sobretudo da igreja catoacutelica e de igrejas situadas no campo do

protestantismo se contrapotildeem aos princiacutepios norteadores da profissatildeo

QUADRO 4Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Religiatildeo Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Catoacutelica 4 18

Espiacuterita 2 9

Nenhuma 5 23

Natildeo respondeu 3 14

Outra 7 32

Protestante 1 4

Umbanda 0 0

116

Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

A sexta questatildeo do questionaacuterio indagava em que tipo de instituiccedilatildeo os

ex-militantes da ENESSO realizaram o ensino meacutedio se predominantemente em

escola puacuteblica ou privada Mediante os dados obtidos 15 afirmaram ter estudado em

escolas puacuteblicas que se concretiza no percentual de 68 e em escolas particulares

representando um total de 32

Esses dados diferem um pouco dos nuacutemeros obtidos por Ramos(1996)

quando os mesmos sinalizaram que existia equiliacutebrio na natureza das instituiccedilotildees de

ensino nas quais foram realizado o ensino meacutedio dos(as) dirigentes da ENESSO do

periacuteodo de 1988-1995 Essa mudanccedila pode refletir mais uma vez a tendecircncia de

origem subalternizada de estudantes de Serviccedilo Social no paiacutes em que eles(as) natildeo

deteacutem condiccedilotildees de financiar seus estudos em escolas privadas nem tecirc-las mantidas

por seus familiares

Em contrapartida os dados sugerem o esforccedilo desses(as) estudantes em

ingressar no ensino superior apresentando uma trajetoacuteria de estudos na esfera

puacuteblica esta que enfrenta dificuldades na cena contemporacircnea de ordem objetiva e

subjetiva como por exemplo a sobrecarga dos(as) professores(as) a necessidades

de maiores investimentos incentivos a capacitaccedilatildeo dos(as) profissionais entre outras

Essa relaccedilatildeo de sobreposiccedilatildeo do puacuteblico em relaccedilatildeo ao privado se

confirma tambeacutem quando perguntamos sobre a instituiccedilatildeo na qual foi realizada a

graduaccedilatildeo de acordo com a obtenccedilatildeo de dados dos(as) 22 coordenadores(as)

nacionais que responderam o questionaacuterio 14 satildeo oriundos(as) de cursos de

universidades puacuteblicas o que implica um percentual de 64 e 8 da esfera privada o

equivalente a 36

Diante dessas constataccedilotildees fazemos o seguinte questionamento Embora

com a sobreposiccedilatildeo de cursos privados de Serviccedilo Social e por conseguinte de

estudantes nesse setor por que na executiva temos uma ocupaccedilatildeo maior de

militantes originaacuterios(as) de universidades puacuteblicas Essa perspectiva foi salientada

por um(a) entrevistado(a) como uma das dificuldades enfrentadas durante a sua

gestatildeo na ENESSO

A gente inicia os anos 90 com a grande privatizaccedilatildeo do ensino superior e isso eu acho que eacute uma dificuldade do Movimento Estudantil [] Que eacute chegar ateacute as instituiccedilotildees privadas neacutefazer com que o movimento estudantil exista nesses espaccedilos seja pela repressatildeo que tem seja porque neacute Noacutes temos dificuldades enquanto militantes de estaacute presente em todos os espaccedilos(Urano)

117

Essa dificuldade de atuaccedilatildeo do MESS em particular da Executiva

tambeacutem foi por salientada por Neturno na passagem em que explicita o

desenvolvimento de atividades voltadas para o enfrentamento dessa problemaacutetica

Entatildeo a gente relanccedila um documento que jaacute tinha lanccedilado anteriormente eacute que eacute uma cartilha construa Ca e Da principalmente para priorizar a construccedilatildeo de centro acadecircmico de diretoacuterio acadecircmico dentro das universidades particulares porque eacute um local onde tem uma restriccedilatildeo maior de acesso aos movimentos sociais a entrada da executiva em algumas universidades eacute questionada eacute barrada haacute empecilho para construccedilatildeo de mobilizaccedilatildeo interna dentro das universidades particulares(NETURNO)

Consideramos que os dados publicizados e a fala dos(as)

entrevistados(as) refletem a existecircncia de maior autonomia e liberdade de organizaccedilatildeo

dos(as) estudantes nas universidades puacuteblicas mesmo tendo a apreensatildeo que

existem tentativas dos setores dominantes em criminalizar os MS nos mais

diversificados espaccedilos e incluindo aqui o ME temos o entendimento que essas

iniciativas satildeo mais frequumlentes e fortes no acircmbito de organizaccedilotildees na esfera privada o

que por sua vez proporciona uma fragilizaccedilatildeo da atuaccedilatildeo estudantil nesse setor

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute que mesmo diante da expansatildeo de cursos de

Serviccedilo Social em diferentes tipos de Instituiccedilotildees de Ensino como Faculdades

Isoladas Centros entre outras de 2003-2008 podemos afirmar que os(as) militantes

que assumiram a coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO estudavam majoritariamente

em universidades puacuteblicas ou privadas do total de 35 coordenadores(as) somente

dois(duas) estavam inseridos(as) em centros universitaacuterios correspondendo a um

percentual de 94 e 6 respectivamente O que reafirma a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

universitaacuterio no sentido poliacutetico e pedagoacutegico presencial da formaccedilatildeo profissional

caracterizado pelo confronto de ideacuteias da troca de conhecimento da existecircncia de

ensino mas tambeacutem de pesquisa e extensatildeo para possibilidade da formaccedilatildeo critica

dos(as) estudantes

Analisando a totalidade de dados mediante apreensatildeo em documentos

desses(as)35 coordenadores(as) que significa o total de estudantes que ocuparam os

cargos nacionais da entidade no periacuteodo delimitado pela pesquisa temos o resultado

de 19 dirigentes de universidades puacuteblicas o que representa um percentual de 54 e

16 advindos(as) de instituiccedilotildees privadas ou seja 46 Dessa forma podemos admitir

que os nuacutemeros obtidos a partir do questionaacuterio apontam o real pois a afirma a

tendecircncia de uma porcentagem maior de graduandos(as) de universidades puacuteblicas

118

Entretanto levando-se em consideraccedilatildeo o numero total de militantes e natildeo soacute

aqueles(as) que responderam o questionaacuterio a diferenccedila entre os(as) estudantes de

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas descresse Essa perspectiva se diferencia dos dados

sinalizados na pesquisa de Ramos quando ela apontou uma expressiva dominacircncia

de militantes de universidades puacuteblicas na direccedilatildeo nacional da entidade nos anos de

1988 a 1995

Eacute interessante enfatizar ainda que apesar de parte significativa dos(as)

militantes serem provenientes de instituiccedilotildees puacuteblicas a accedilatildeo da Executiva deve

considerar os diferentes espaccedilos em que se encontram os(as) estudantes de Serviccedilo

Social visto que como salientado no capitulo 4 desse trabalho existe uma forte

predominacircncia de cursos na aacuterea privada o que pode explicar inclusive a gradativa

participaccedilatildeo de estudantes de instituiccedilotildees privadas nas coordenaccedilotildees nacionais da

ENESSO

Outro aspecto considerado nessa investigaccedilatildeo se remete a inserccedilatildeo

desses sujeitos no mercado de trabalho Nesse sentido os dados sinalizam que 17

dirigentes ou 77 dos(as) entrevistados(as) desenvolviam alguma atividade

remunerada De tal forma reafirmamos que cada vez mais os(as) estudantes

brasileiros(as) satildeo trabalhadores(as) e sujeitos preocupados(as) com a garantia de

suas condiccedilotildees objetivas durante a graduaccedilatildeo o que representa uma reduccedilatildeo de

tempo para o desempenho das atividades e vivecircncias acadecircmicas Essa dimensatildeo

pode tambeacutem ser apreendida em uma das falas de nossos(a) entrevistados(a)

quando comentava sobre as dificuldades enfrentadas durante a gestatildeo em que

participou da ENESSO

a questatildeo financeira pesa muito a maioria dos estudantes de serviccedilo social satildeo oriundos da classe trabalhadora e temos dificuldades de participar dos espaccedilos de ir para congresso ir para encontros de estudantes []eu acho que existe hoje uma grande numero de encontros no serviccedilo social tanto do ME quanto da categoria entatildeo os estudantes acabam priorizando algum encontro que ele vai participar(Terra)

Quanto agraves formas de inserccedilatildeo no mercado de trabalho temos a indicaccedilatildeo

de que os(as) 17 militantes que responderam positivamente todos(as) realizavam

estaacutegio remunerado nos mais diversificados espaccedilos e na atuaccedilatildeo das poliacuteticas

119

sociais sendo que trecircs aleacutem do estaacutegio trabalhavam em outras instituiccedilotildees46 e um(a)

militante informou que desenvolvia atividades autocircnomas

Quanto a renda mensal da famiacutelia as opccedilotildees mais indicadas pelos ex-

militantes foi entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos o que equivale a aproximadamente mil e

setecentos reais47 seguida da opccedilatildeo entre 5 e 6 salaacuterios o que corresponde a pouco

mais de dois mil e quinhentos reais As trecircs primeiras opccedilotildees que vai de 1 a 6

salaacuterios englobou portanto 73 dos sujeitos Dessa maneira acreditamos que os

dados do Quadro 5 demonstram que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO

satildeo provenientes dos segmentos do trabalho

A partir do cruzamento dos dados obtidos sinalizamos que os(as) dois

(duas) sujeitos que informaram ter um renda mensal entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos o

que remete a menos de mil reais mensal correspondem a dirigentes que aleacutem do

estaacutegio desempenhavam outras atividades remuneradas O que reforccedila cada vez

mais a tendecircncia dos(as) estudantes principalmente os(as) oriundos da classe

trabalhadora mais pauperizada de ao chegar no ensino superior assumirem a

responsabilidade pela sua manutenccedilatildeo acadecircmica Por outro lado dos(as) cinco

militantes estudantis que natildeo tiveram nenhuma forma de inserccedilatildeo no mercado de

trabalho dois(duas) deles(as) tem uma renda mensal acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

expressando a condiccedilatildeo financeira de seus familiares na manutenccedilatildeo de sua vida

acadecircmica Entretanto eacute importante frisar que esses mesmos sujeitos estudaram o

ensino meacutedio em instituiccedilatildeo privada e o ensino superior em universidades puacuteblicas

QUADRO 5Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Renda mensal Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos

8 36

Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos

6 27

Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 9 e 10 salaacuterios-miacutenimos

1 5

46Alguns dos espaccedilos de realizaccedilatildeo dos estaacutegios foram Empresa de saneamento baacutesico SESC instituiccedilatildeo de defesa dos direitos da crianccedila e do adolescente prefeituras Ministeacuterio Puacuteblico secretarias de habitaccedilatildeo Central Permanente de Acolhimento entre outros As pessoas que trabalharam em outras atividades aleacutem do estagio foram ministrando aulas47 Valores considerando o salaacuterio de R$ 415 00 que esteve vigente no Brasil ateacute fevereiro de 2008

120

Acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

3 14

Total 22 Total 100

Outra questatildeo respondida pelos dirigentes da ENESSO correspondeu a

sua inserccedilatildeo ou natildeo em organizaccedilatildeo coletiva antes de ser militante do MESS

Conforme demonstraccedilatildeo no graacutefico 8 dos(as) 22 dirigentes que contribuiacuteram nessa

pesquisa 15 deles(as) asseveraram ter experiecircncia no acircmbito da organizaccedilatildeo

coletiva anterior a militacircncia no ME universitaacuterio o que por sua vez representa um

percentual de 68 destacando que seis dirigentes que responderam positivamente

elencaram participaccedilatildeo em mais de um espaccedilo de atuaccedilatildeo

GRAacuteFICO 8Participaccedilatildeo em organizaccedilatildeo coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO antes da

inserccedilatildeo no MESS

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

No quadro abaixo expressamos todos os espaccedilos citados pelos sujeitos

com a perspectiva de sinalizar as vivecircncias de organizaccedilatildeo dos(as) dirigentes da

ENESSO antes de sua accedilatildeo no MESS Assim temos indicaccedilotildees em que espaccedilos

ocorreram essa atuaccedilatildeo

121

QUADRO 6Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes de

sua inserccedilatildeo no MESS

Organizaccedilatildeo citada pelos dirigentes Nuacutemero de dirigentes que citaram a organizaccedilatildeo

Movimento Estudantil Secundarista 9Partido Poltico 3Movimento de Mulheres 1Movimento da Economia Solidria 1Grupo de Jovens da Igreja Catlica (juventude Catlica)

2

Grupo Hora da Verdade 1Movimento Comunitrio 2Grupo de Adolescentes do Centro de Voluntariado (vinculado ao Movimento de Adolescentes Brasileiros)

1

Terceiro Setor 1

Grupos 1

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

Dos dados citados no Quadro 6 apreendemos que a vivncia no

Movimento Estudantil Secundarista constitui um espao relevante na formao

poltica dos(as) dirigentes da ENESSO visto ter sido a experincia mais destacada

por eles(as) antes de sua insero na universidade e por conseguinte no MESS Dos

nove estudantes que indicaram a participao no Movimento Secundarista seis

provenientes de escolas pblicas e trs oriundos(as) de escolas privadas Nesse

sentido os dados podem indicar que o Movimento Estudantil Secundarista apresenta-

se mais atuante nas escolas pblicas

Conforme a investigao de Ramos(1996) independente da natureza da

instituio na qual os(as) dirigentes estudaram no ensino mdio eles(as) tiveram

vivncias no ME secundarista bem como em outros espaos de organizao coletiva

o que ldquo possibilita a busca de formas polticas de participao na universidaderdquo (p90)

interessante considerarmos a diversidade e natureza de espaos

ocupados(as) pelos dirigentes entretanto diante da simples citao desses no

temos condies de analisar a direo social das entidades e movimentos sociais em

que iniciaram sua participao

122

Antes de chegar a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO todos(as) ex-

dirigentes ou seja o equivalente a 100 dos(as) que responderam o questionaacuterio

passaram por experiecircncia em espaccedilos e entidades do ME universitaacuterio

O quadro 7 tem o objetivo de socializar em que entidades os(as)

estudantes atuaram antes da ENESSO

Quadro 7Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de assumirem

a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

Entidades estudantis Quantidades de estudantes que indicaram a entidade

Conselho de Representantes de Turma (CORETUR)

5

Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico (CA ou DA)

20

Diretoacuterio Central dos Estudantes (DCE)

4

Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO

3

Outras 1

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Importante explicar que dos(as) 2248 ex-dirigentes da ENESSO que

enviaram as suas contribuiccedilotildees 13 tiveram vivecircncia em um uacutenico espaccedilo

predominantemente em CA ou DA 7 em duas entidades49 250 militante com vivecircncia

em trecircs espaccedilos

Diante dos dados estabelecidos anteriormente temos a indicaccedilatildeo que a

passagem do(a) estudante pelo CA ou DA constitui-se uma tendecircncia majoritaacuteria

pois somente dois sujeitos natildeo atuaram nessa entidade antes da experiecircncia na

Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO Acreditamos que essa dimensatildeo representa uma

trajetoacuteria de acumulo e vivecircncias que possibilitam uma atuaccedilatildeo mais qualificada

dos(as) estudantes ao assumirem a direccedilatildeo nacional da executiva Para Ramos(1996

p94)

48 Desses 11 em CA ou DA 1 como CORETUR e outro(a) como membro do DCE 49 As entidades foram 2 de CA ou DA e do DCE 2 atuou no CORETUR e no CA ou DA 2 estudante ocupou cargo no CA ou DA e na Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e finalmente 1 estudante ocupou cargo no CA e em outra entidade citada por ele(a)50 Os espaccedilos foram CORETUR CA OU DA e Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e outro(a) no CORETUR CA OU DA e no DCE

123

A experiecircncia de participaccedilatildeo anterior em outras instacircncias deliberativas e estudantis de base possibilita maior maturidade poliacutetica ao(a) dirigente da entidade nacional pois este(a) jaacute traz um acuacutemulo de vivecircncias coletivas que vatildeo se afirmando cada vez mais no processo de militacircncia

Outro dado relevante eacute que dos(as) 20 estudantes que evidenciaram ter

atuado em CA ou DA 12 desempenharam essa accedilatildeo em universidades puacuteblicas o

equivalente a 60 e 8 em instituiccedilotildees privadas destarte 40

Outro questionamento se referiu agrave filiaccedilatildeo partidaacuteria dos(as) dirigentes da

ENESSO no periacuteodo de 2003-2008 Conforme os dados a predominacircncia eacute de

sujeitos natildeo filiados(as) a partidos poliacuteticos um total de 14 dirigentes o

correspondente ao percentual de 64 Esse expressivo percentual de natildeo filiados(as)

pode corroborar para um processo de fragilizaccedilatildeo na formaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

militantes do MESS e consequumlentemente dos(as) dirigentes da ENESSO Ou reflete

autonomia do Movimente em relaccedilatildeo a partidos poliacuteticos Temos o entendimento que

seja importante a articulaccedilatildeo entre esses sujeitos coletivos e que o partido poliacutetico se

configura como relevante espaccedilo de formaccedilatildeo contudo eacute destruidora a transfiguraccedilatildeo

de Movimentos em correia de transmissatildeo deles seja de partidos situados no campo

da direita ou esquerda Um(a) dos(as) entrevistados(as) considera que

essa relaccedilatildeo movimento estudantil e partido poliacutetico que natildeo soacute tem no movimento estudantil[]eacute importante essa relaccedilatildeo[] o MS ele tem por natureza apenas uma pauta ele surge pra defender uma pauta poliacutetica no caso do MESS pra defender a formaccedilatildeo em serviccedilo social com qualidade e aiacute entra o debate de defender a universidade e defender a educaccedilatildeo publica gratuita de qualidade entatildeo soacute essa dimensatildeo partidaacuteria essa dimensatildeo com esses grupos poliacuteticos faz com que a gente perceba que a nossa pauta tem que ta vinculada haacute uma pauta maior geral de disputa e de um projeto de sociedade entatildeo acho que eacute importante a contribuiccedilatildeo agora fica a gente a compreender que natildeo satildeo momentos tatildeo distintos mais que cada um desses movimentos tem suas peculiaridades Movimento Estudantil Movimento Sociais tem uma peculiaridade assim como o partido cada um tem que conseguir compreender a dinacircmica e da mesma forma que o partido influecircncia o Movimento Estudantil o Movimento Estudantil influecircncia o partido(Urano)

Mediante o cruzamento de dados temos a indicaccedilatildeo que apenas dois ex-

militantes socializaram ter experiecircncia nesse tipo de organizaccedilatildeo antes de sua

entrada no MESS e desse modo anterior a sua gestatildeo na executiva Portanto

mediante os a produccedilatildeo de dados temos que dos(as) 8 que indicaram filiaccedilatildeo

partidaacuteria o equivalente a 36 seis delas ocorreram durante a vivecircncia universitaacuteria

124

o que sinaliza uma trajetoacuteria de articulaccedilatildeo entre essas duas formas de organizaccedilatildeo

coletiva O que explica essa tendecircncia A preocupaccedilatildeo dos(as) militantes com a

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica A procura de outros espaccedilos de militacircncia depois da

vivencia acadecircmica dada a caracteriacutestica de transitoriedade do ME Essas satildeo

questotildees que soacute poderatildeo ser aprofundadas e entendidas com a realizaccedilatildeo de outras

pesquisas e investigaccedilotildees

Um dirigente que manifestou participaccedilatildeo em partido poliacutetico antes de sua

militacircncia no MESS declarou ter se desfilado anterior a vivecircncia universitaacuteria

Ainda eacute importante destacar a seguinte apreensatildeo dos(as) 8 que

responderam positivamente durante a ocupaccedilatildeo de cargo na executiva todos(as)

foram filiados(as) ao PT natildeo sendo nenhum outro partido elencado pelos(as)

dirigentes Essa tendecircncia provoca curiosidades e inquietaccedilotildees sobretudo no sentido

de entendermos o porquecirc de mesmo durante forte investidas de um governo na

perspectiva de minimizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica e de fortalecimento da iniciativa

privada termos esse direcionamento de filiaccedilatildeo ao partido que representa os

interesses governamentais por militantes do MESS e coordenadores nacionais da

ENESSO que historicamente luta em favor da defesa da universidade puacuteblica

gratuita laica e de qualidade no Brasil Ainda eacute significativo salientar o fato de um

dirigente ter afirmado que atualmente se desfilou do PT e passou a atuar no PSTU

Essa hegemonia de filiaccedilatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO ao PT

repercutiu na atuaccedilatildeo da entidade nos acircmbitos de defesa da universidade puacuteblica

gratuita presencial laica e de qualidade e da formaccedilatildeo profissional fundada nas

diretrizes curriculares de 1996 neste contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma do

ensino superior no governo do petista Lula A pesquisa documental e o

aprofundamento de anaacutelises das entrevistas com ex-dirigentes da ENESSO

materializado no proacuteximo item contribuiraacute com o entendimento dessas

problematizaccedilotildees

5-2 UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO

A ENESSO desenvolve suas accedilotildees considerando as deliberaccedilotildees51

aprovadas no encontro nacional no qual eacute manifestado o posicionamento a ser

desenvolvido pela executiva relativa a cinco eixos prioritaacuterios de atuaccedilatildeo Conjuntura

Cultura e Valores Formaccedilatildeo Profissional Movimento Estudantil e Universidade

Importante destacar que essas esferas satildeo divididas em termos didaacuteticos com vista a

51 Atualmente as deliberaccedilotildees satildeo cumulativas e satildeo modificadas quando da necessidade do segmento estudantil

125

facilitar as discusses e aprovaes das deliberaes durante o encontro contudo

so dimenses imbricadas entre si

Nessa dimenso trataremos de evidenciar a partir das decises ratificadas

nos ENESS que engloba o perodo de 2003-2008 bem como nos documentos

produzidos pela ENESSO e na fala dos(as) dirigentes entrevistados(as) o

direcionamento da executiva especialmente nos mbitos da universidade formao

profissional e ME

Dessa maneira o XXV ENESS que ocorreu entre 03 e 08 de agosto de

2003 na cidade de Salvador-BA 52 marcou a existncia de 15 anos da ENESSO As

aprovaes da plenria expressaram o posicionamento contrrio dos(as) estudantes

de Servio Social diante das primeiras medidas pertencentes a contra-reforma do

ensino superior efetivada na gesto do governo petista Nessa perspectiva conforme

o deliberado a ENESSO deveria explicitar o compromisso com uma tendncia de

avaliao contraposta ao SINAES bem como apresentar uma postura crtica e de

negao ao PROUNI o qual estava em processo de discusso e aprovao por parte

do governo A preocupao do segmento estudantil com um processo avaliativo

qualificado se manifesta ao defender a necessidade de

Uma ampla avaliao institucional que se realize antes da avaliao dirigida ao corpo discente considerando as especificidades regionais de cada escola bem como a implementao e aplicao das diretrizes curriculares da ABEPSS Que avalie tambm as condies de acesso e permanncia dos estudantes nas universidades e as condies didticas pedaggicas e estruturais(ENESSO 2003 p03)

As deliberaes referentes ao eixo da formao profissional expressam o

compromisso da ENESSO com a defesa das Diretrizes Curriculares como forma de

potencializar uma formao qualificada e o fortalecimento do projeto tico-poltico do

Servio Social Para tal a plenria presente no XXV ENESS destacou a necessidade

de articulao com as demais entidades de representao e organizao da profisso

a ABEPSS e o CFESS

No eixo que trata especificamente do ME se registra a aprovao de que a

UNE no tocante a contra-reforma do ensino superior no representa os(as)

estudantes de Servio Social entretanto estatutariamente a ENESSO continua

reconhecendo-a como a entidade mxima de articulao e organizao do segmento

no Brasil

52 O tema do ENESS foi ldquoo Servio Social em busca de uma construo coletiva na atual conjuntura brasileirardquo

126

Nitidamente essa contradio poltica em relao a UNE se tornou

recorrente sobretudo nos anos de gesto de Lula na presidncia da repblica uma

vez que a tendncia UJS majoritria na entidade e articulada ao PC do B tem uma

posio de aceitao da contra-reforma do ensino superior levando ao

descontentamento para a base do movimento e provocando at mesmo severos

divisionismos no mbito da organizao estudantil nacional realidade expressa por

exemplo na criao da CONLUTE em 2004

Desse modo a gesto 20032004 ldquoENESSO na luta para fazer a sua

prpria histriardquo estava diante de um significativo desafio desenvolver lutas que

contemplasse as deliberaes contrrias dos(as) estudantes em relao s medidas

adotadas para educao pela gesto Lula um governo forjado no campo dos MS e

que chegou a presidncia amplamente apoiado pelo ME incluindo o MESS Alm

disso como mostraram os dados relacionados ao perfil dos(as) dirigentes da

ENESSO substancial a existncia de coordenadores(as) da entidade filiado(a) ao

PT sendo que em todas as gestes que engloba o perodo aqui estudado se confirma

a presena de pelo menos um(a) militante com essa filiao partidria

Na carta de apresentao da nova gesto confirmado o compromisso

com a efetivao das deliberaes estabelecidas pelo coletivo de estudantes

presentes no ENESS de Salvador a partir do desenvolvimento de aes que

possibilitem o fortalecimento das trs entidades da profisso e a posio de atuar

articuladamente com MS e organizaes sindicais que expressam os interesses da

classe trabalhadora

A ENESSO no perodo 2003-2004 desenvolveu a campanha ldquoAbaixo a

mercantilizao do ensinordquo Esta se desenvolveu a partir da produo de cartazes

textos divulgados em boletins e jornais elaborados pela prpria entidade Nesses

documentos verificamos a argumentao de que a tendncia de transfigurar a

educao em mercadoria consiste num desrespeito ao reconhecimento da educao

como direito e da responsabilidade do Estado na sua promoo tal qual

estabelecido nos artigos 206 e 207 da Carta Constitucional de 1988

importante evidenciar que a segunda edio do jornal produzido na

gesto ldquoENESSO na luta pra fazer a sua prpria histriardquo aborda criticamente os

principais pontos da proposta da reforma universitria que seria viabilizada pelo

recente governo federal Nessa dimenso a anlise apreende o PROUNI como um

caminho que potencializa a retirada de responsabilidade do Estado na manuteno do

ensino superior e fortalece a iniciativa privada como ressaltado no seguinte

entendimento

127

Se o governo quer criar mais vagas no ensino privado( que somos contra) inaceitvel a renuncia fiscal pois dinheiro pblico no arrecadado financiando os tubares do ensino alm disso com ensino de m qualidade sem pesquisa e extenso porque o governo no cria um fundo financiado pelas instituies privadas para financiar a demanda de vagas (ENESSO p01 2004)

Outra manifestao contrria da entidade s medidas propostas pelo

governo federal para serem implementadas na educao superior consistiu na

negao da utilizao do ensino a distncia Nessa abordagem a ENESSO

considerou que segundo dados do IBGE apenas 4 da populao brasileira teriam

acesso ao servio de internet o jornal ainda chama ateno para o fato dessa

modalidade est vinculada a corporaes financeiras o que expressa a preocupao

com a rentabilidade e no com uma educao de qualidade e comprometida com a

melhoria de vida dos sujeitos histricos A entidade finaliza a anlise das proposies

do governo para educao superior afirmando que elas

no atendem aos interesses dos setores que defendem o ensino pblico gratuito e de qualidade Sendo assim apoiando-se em nossas deliberaes que tem como principio a defesa intransigente do carter pblico e gratuito da universidade no podemos aceitar os elementos que vem configurando a chamada reforma universitria que representa o aprofundamento da mercantilizao do ensino(ENESSO p2 2004)

No terceiro e ltimo boletim elaborado na gesto 2003-2004 os seus

dirigentes chamam ateno para as dificuldades enfrentadas pela entidade as

ressalvas so direcionadas sobretudo para falta de recursos financeiros que fragiliza

as aes da ENESSO ao limitar a ida dos(as) coordenadores ao encontros e fruns

estudantis impossibilita ainda a maior produo dos materiais utilizados no

desenvolvimento das atividades e execuo das campanhas lanadas o que por sua

vez significa a no apropriao de estudantes das discusses e das aes efetivadas

pela entidade que os representam nos mais variados espaos

Apesar das dificuldades os(as) dirigentes da ENESSO da gesto 2003-

2004 atribuem ao ME um espao de aprendizado e que contribui para construo de

sujeitos histricos e militantes mais qualificados com apreenso crtica da realidade

social

De 25 a 30 de julho de 200453 aconteceu em Vitria-ES o XXVI ENESS54

em que as pautas aprovadas pelo coletivo de estudantes ratificaram o mesmo

53 A chapa Viver na Luta foi a nica concorrente a direo nacional da ENESSO54 Encontro teve como tema ldquoParticipar construir a histria Atuar tornar sonho ao ousar revolucionar o mundordquo

128

posicionamento do encontro passado uma postura majoritria dos(as) estudantes de

Servio Social de recusar a contra-reforma do ensino superior em curso no Brasil As

deliberaes sinalizam que a nova gesto da ENESSO dever se contrapor ao

SINAES e por conseguinte ao exame direcionado ao segmento estudantil previsto

por esse processo avaliativo no caso o ENADE E nesse sentido tem-se a posio

de que a executiva seja contrria a participao da ABEPSS na comisso de avaliao

preconizada pelo MEC inicialmente essa deciso gera uma relao conflituosa das

entidades quando se aborda a problemtica do SINAES

O compromisso majoritrio do MESS com a universidade pblica se

verificou tambm na realizao do ato pblico durante o ENESS O ato teve o seguinte

tema ldquoEnsino pblico gratuito laico e de qualidade para todos Educao No

mercadoria contra essa proposta de reforma universitriardquo

Diante das observaes sobre as deliberaes decorrentes do XXVI

ENESS constatamos que a atuao da ENESSO no perodo de 20042005

apresentar uma continuidade em relao s lutas e atividades travadas

anteriormente especialmente nos mbitos da universidade e da formao

profissional Nesses termos ainda em 2004 a ENESSO age com o objetivo de

promover o boicote ao ENADE tarefa a ser cumprida pela entidade e que ficou

estabelecida no prprio encontro nacional assim a gesto ldquoViver na Lutardquo realizou

uma campanha nacional destacando a posio da entidade e a necessria postura

poltica de convocar os(as) estudantes de Servio Social a apoiar o boicote ao exame

Segundo dados da prpria ENESSO a campanha obteve xito e o

boicote no dia 07 de novembro de 2004 foi efetivado com sucesso em diversos

cursos chegando adeso de at 90 em algumas instituies de ensino superior

no geral o nmero correspondeu a 60 dos(as) estudantes de Servio Social

selecionados(as) para fazer a avaliao O jornal da entidade divulgado em janeiro de

2005 afirma que o movimento sofreu perseguies em diversas escolas por todo pas

Essa postura evidencia a freqente tendncia de criminalizao dos MS e que entre

outros rebatimentos gera uma imagem distorcida desses sujeitos coletivos frente

maioria da populao brasileira tendo a mdia um participao considervel nesse

mascaramento da contraditria e desigual realidade na sociabilidade capitalista e no

Brasil No mbito especifico do Servio Social Urano da gesto 20042005 indica

tensionamentos com a ABEPSS no processo de boicote ao ENADE o(a) dirigente

ressalva

mas a diretoria da abepss seguia isso a risca que era eles tinha um assento na comisso de avaliao e ns ramos contrrios a essa participao que a abepss defendia naquele momento que os

129

estudantes deveriam fazer o enade ento ns travamos essa discusso dentro da abepss assim como no cfess de levar essa discusso da reforma universitria para dentro dessas outras entidades trazendo elas para luta para pareceria e colocando o que de fato a reforma universitria trazia de implicaes para vida profissional n Para formao profissional ento a gente conseguiu fazer n no foi muito fcil fazer essa articulao porque a abepss tinha um posicionamento contrrio e a de 2004 em diante ficou mais fcil porque foi a gesto do nordeste a gesto da UFPE e um dos compromissos da gesto da UFPE no enpess de 2004 que aconteceu no Rio Grande do Sul era sair da comisso de avaliao do enade e ter um posicionamento critico em relao ao enade

Diante desses resultados fazemos as seguintes reflexes a campanha

desenvolvida expressou o potencial organizativo que a entidade apresenta nesse

cenrio de refluxo dos movimentos sociais A ao foi materializada articuladamente

com outras entidades estudantis E no mbito especfico do Servio Social teve o

apoio da categoria e de suas entidades representativas A avaliao feita pela prpria

entidade favorece a concretizao de algumas reflexes Temos o entendimento que o

ME assim como outros MS atravessa um momento de inflexo e dessa maneira o

boicote ao ENADE tambm sofreu as implicaes dessa conjuntura isso se

manifesta por exemplo no total de 40 de estudantes que no atenderam a postura

poltica de assumir o boicote Isso aconteceu por qu Pelo forte individualismo que

vigora na sociabilidade capitalista Tambm alm disso no mbito do prprio Servio

Social a ABEPSS esteve presente na comisso de elaborao da prova o que de

certa maneira por parte do segmento estudantil contribuiu para uma apreenso de

legitimidade daquela entidade em relao ao ENADE outro aspecto a ser

considerado consistiu nas dificuldades de ordem objetiva que limitou o potencial da

campanha ainda destacamos o fato de que na poca mais de 70 das escolas de

Servio Social se encontravam na esfera privada que majoritariamente utiliza os

resultados obtidos para divulgao de propagandas no competitivo mercado da

educao o que por sua vez dificultou a organizao e mobilizao do segmento

inserido nessas instituies de ensino superior tambm relevante ressaltar que

essa atividade no foi desenvolvida majoritariamente com outras entidades estudantis

e MS portanto executada de modo fragmentado no prprio mbito de organizao do

ME

Os dados sugerem que a gesto ldquoviver na Lutardquo 20042005 atuou tendo

como foco central de suas aes a discusso sobre as Diretrizes Curriculares A

principal campanha da gesto ldquocontra essa reforma do ensino superior do governo

Lula em defesa das nossas diretrizes curriculares- a ENESSO somos todos nsrdquo No

mesmo jornal que analisa os resultados do ENADE a gesto plubiciza de maneira

130

sucinta o processo que culminou na elaborao das referidas diretrizes Ainda tratou

de destacar os rebatimentos da lgica mercadolgica para a fragilizao da formao

profissional do(a) assistente social

Em abril de 2005 a entidade produziu um boletim sobre a reforma

universitria e a formao profissional no qual argumentava que as medidas de

destruio da universidade pblica no Brasil j estavam em curso desde a dcada de

1990 Nessa dimenso a ENESSO problematiza a no aprovao por parte do MEC

da proposta de currculo elaboradas pela ABEPSS e aprovada pela categoria em

novembro de 1996 Diante do exposto tem se a concluso que aes do governo

Lula como o PROUNI e o SINAESENADE consistem em um processo de concluso

da poltica privatista iniciada nos governos anteriores e sobretudo na era FHC

O texto ainda faz referncia crtica ao posicionamento de aceitao da

contra-reforma do ensino superior por parte da UNE Contudo a postura de rejeio

da ENESSO no significa a negao da importncia dessa entidade estudantil na

trajetria brasileira Utilizando tal argumentao gesto ldquoviver na Lutardquo evidencia

preocupaes com a criao da CONLUTE outra organizao de carter nacional e

com uma ao poltica antagnica a desenvolvida pela UNE especialmente no que se

refere atuao de Lula na presidncia da repblica

Em maio de 2005 a ENESSO mais uma vez socializa no seu jornal a

importncia da campanha em favor da formao pautada nas Diretrizes de 1996 A

entidade chama ateno para a poltica privatizante que predominou na educao

durante a vigncia do governo FHC e que teve continuidade na gesto de Lula Ainda

preocupada com a formao profissional o jornal retrata a relevncia do estgio como

importante instrumento no fortalecimento da relao teoria-realidade entretanto a

entidade considera que dificuldades limitam o desempenho dessa atividade de forma

mais qualificada assim sendo so ressaltadas a tendncia de reduzi-lo a mo-de-

obra barata a necessidade de um acompanhamento por parte dos profissionais e das

instituies de ensino mais efetivo com vistas a potencializar essa vivncia e

contribuir para o futuro exerccio profissional dos(as) estudantes Essa perspectiva de

travar o debate da contra-reforma do ensino superior a partir da discusso das

Diretrizes Curriculares constituiu uma estratgia poltica dos(as) dirigentes da

executiva

Nos documentos produzidos pela entidade no perodo de 2004-2005

embora o foco prioritrio seja o debate e a conseqente defesa das Diretrizes

Curriculares importante evidenciar que as anlises constantes nessas produes

so realizadas numa perspectiva de totalidade visto que observamos uma reflexo

131

remetida ao contexto scio-histrico vigente Essa dimenso se explicita na seguinte

constatao

No podemos entender a atual proposta de reforma do ensino superior como algo isolado mas como um processo que teve incio em 1996 com a LDB com a reforma do ensino superior de 1998 que esta faz parte da reforma do Estado do governo federal implementada na dcada de 1990 e que o atual governo d continuidade Tais medidas so orientadas por uma perspectiva neoliberal de reduo da esfera estatal e de fortalecimento das iniciativas privada no financiamento formulao e execuo das polticas pblicas[]e a educao como um espao especifico porm no exclusivo da formao ao se configurar como poltica pblica e direito do cidado sofre igualmente das orientaes privatistas que vivenciam as outras polticas pblicas(ENESSO P 04 2005)

Concordamos com a concepo que a poltica para educao adotada

durantes as duas gestes de Lula configura ao mesmo tempo continuidade e

aprofundamento da lgica predominante nos anos de 1990 entretanto no podemos

apreender essa tendncia como um fenmeno natural ou seja segui as orientaes

neoliberais consistiria no nico caminho possvel a ser trilhado pelo governo do petista

Lula

Essa propenso presente nas elaboraes e posicionamento da entidade

pode ser reflexo da ligao de alguns de seus dirigentes com o PT que embora

desenvolva uma atuao crtica em relao contra-reforma do ensino superior

procura justificar a postura adotada pelo governo Lula

Entre os dias 24 e 29 de julho de 2005 aconteceu o XXVII ENESS55 na

cidade de Recife-PE nesse encontro duas candidaturas concorreram a direo da

ENESSO ldquoA luta no pode Pararrdquo constituda por militantes do agrupamento Viver na

Luta e ldquochega de inrcia a Sada pela Esquerdardquo por militantes do grupo de mesmo

nome a primeira ganhou a disputa eleitoral

As resolues aprovadas no ltimo dia do encontro direcionaram a

ENESSO a dar prosseguimento trajetria crtica nos mbitos da universidade e da

formao profissional Nesses termos a direo contrria a contra-reforma se afirma

na negao das medidas j implantadas no campo da educao superior como o

PROUNI e o ENADE

No eixo da formao profissional salientada a importncia da articulao

das trs entidades representativas da profisso como estratgia poltica de defesa de

55 Este encontro apresentou como tema ldquomuitos para poucos poucos para muitos nada para outros o desafio para o Servio Social na luta pela consolidao de direitosrdquo

132

uma formao referendada nas Diretrizes Curriculares de 1996 Essa dimenso se

expressa no desenvolvimento conjunto de lutas e atividades Assim sendo em

dezembro de 2005 a ABEPSS a ENESSO e o CFESS lanaram manifesto no qual

publicizava a preocupao das entidades com abertura de cursos de Servio Social a

distncia entendendo que essa modalidade de ensino evidencia o crescente processo

de aligeiramento da formao profissional o que por sua vez fortalece a entrada de

profissionais na sociedade e no mercado sem a devida preparao para o exerccio

da profisso Segundo Terra da gesto 20052006 da direo nacional da ENESSO

na verdade esse tema reforma universitria que era o que nos angustivamos n E o que ns pautvamos na poca um ano de gesto foi questo da reforma universitriaagora o posicionamento da entidade ele t bastante claro construdo dentro das deliberaes que foram construdas coletivamente com os estudantes a partir dos posicionamentos que tem das tendncias polticas que impulsionam elas formulam discutem com os estudantes constroem as deliberaes e a entidade encampa esse processo

A nova diretoria da ENESSO ldquoA Luta No Pode Pararrdquo na carta de

apresentao definiu como foco central de sua atuao para o perodo de 20052006

o fortalecimento do ME Assim a sua principal bandeira foi ldquoENESSO defesa da

articulao e fortalecimento do Movimento Estudantilrdquo essa temtica esteve presente

nos principais documentos produzido pela entidade no decorrer da referida gesto

O jornal de maro de 2006 teve amplo espao destinado reflexo do

protagonismo da juventude brasileira nos rumos do pas nessa oportunidade

enfatizada a campanha ldquoo petrleo nossordquo desencadeada pela UNE nos anos de

1950 e da combativa atuao do segmento estudantil durante os anos de vigncia da

ditadura militar iniciada com o golpe de 1964 Na produo se sobressai anlise que

a conjuntura recente desfavorvel para organizao dos MS em particular no

MESS este contexto se fortalece com

o desmonte da educao pblica gratuita e de qualidade Consoante com isso tem crescido o nmero de escolas privadas e curso a distncia que dificultam a participao dos estudantes no movimento devido o perfil dos estudantes que so da classe trabalhadora (precisam trabalhar para manter os estudos) da falta de democracia nestas instituies( ENESSO p 01 2006)

Certamente a diversidade de instituies pblicas e privadas mais

recentemente a proliferao da modalidade distncia requer o desenvolvimento de

atividades e estratgias diferenciadas nesses espaos e que possa contribuir para o

133

processo de articulao e organizao do MESS e de sua atuao consubstanciada

na defesa da educao pblica56 e de uma formao qualificada

Essa produo ainda traz uma abordagem sobre a formao profissional

em que o centro da discusso constituiu o processo de avaliao a ser desenvolvido

pela ABEPSS sobre os 10 anos de aprovao e implementao das Diretrizes

Curriculares nas unidades de formao acadmica investigao destacada no quatro

trs dessa dissertao O texto realiza uma breve trajetria do Servio Social no qual

privilegiado o processo que culminou na constituio das diretrizes em 1996 Aps

esse resgate histrico a coordenao nacional da ENESSO juntamente com a

representao discente em ABEPSS orientam os CA a promoverem pelo menos um

seminrio sobre a referida pesquisa no intuito de pensar em estratgias que

possibilitem a participao de todos(as) nas discusses que resultar no

preenchimento do instrumental da pesquisa ratifica a importncia de uma

representao estudantil de cada unidade acadmica nas oficinas promovidas pela

abepss para discutir a investigao e ainda incentiva a ida de discentes ao ENPESS

de dezembro de 2006 para participarem e se apropriarem dos debates relacionados a

esse processo avaliativo O incentivo da ENESSO demonstra o seu compromisso

com os rumos do Servio Social e com as questes debatidas pelas outra entidade da

profisso

Entretanto importante problematizarmos que embora a gesto 20052006

tenha apresentado com eixo estruturante de sua atuao o fortalecimento do ME no

tivemos a realizao de medidas mais consistente pra esse fim com exemplo a

realizao de cursos de formao poltica que potencializaria uma qualificao para

os(s) militantes do MESS e dirigentes da ENESSO

De 24 a 29 de julho de 2006 aconteceu o XXVIII ENESS na cidade de

Palmas-To57 Mais uma vez duas candidaturas disputam a direo da executiva Uma

chapa com membros e apoiada pelo grupo Viver na Luta e outra com apoio de

militantes de agrupamentos de oposio como PDP A sada pela Esquerda e um

grupo em processo de criao o ldquoCara e Coraes Novosrdquo A primeira saiu vencedora

no pleito

56 Inserida na luta em favor da Universidade pblica no Brasil a ENESSO divulga em outubro de 2005 nota de apoios aos (as) estudantes da Universidade Federal de Alagoas que desencadearam um movimento de greve reivindicando pautas do ME e se colocando contrrios(as) a contra-reforma educacional de Lula 57 O ENESS de Palma teve como tema Um outro mundo possvel ldquopara ver meu sonho teimoso se realizarrdquo

134

Nesse encontro as deliberaccedilotildees sancionadas manifestam a postura de

recusa dos(as) estudantes de Serviccedilo Social com o niacutetido processo de mercantilizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo presente na poliacutetica educacional de Lula

Diante disso observa-se a necessidade de se travar o debate da contra-

reforma articuladamente com a discussatildeo sobre formaccedilatildeo profissional tendecircncia jaacute

apreendidas nas gestotildees passadas Essa estrateacutegia eacute preconizada como meio de

facilitar a compreensatildeo por parte dos(as) estudantes dos negativos rebatimentos das

medidas efetivadas para seu cotidiano nas instituiccedilotildees de ensino e endogenamente

para profissatildeo Outra deliberaccedilatildeo referente ao ensino superior que explicita a direccedilatildeo

poliacutetica a ser seguida pela entidade trata-se da afirmaccedilatildeo que

a ENESSO natildeo dispute o anteprojeto no congresso se posicionando contrariamente agrave reforma universitaacuteria que expressa a mercantilizaccedilatildeo do ensino Combatendo por meio da formaccedilatildeo poliacutetica e do fortalecimento dos CAS e DAS e DCE`S e incentivando alianccedilas com CAS de outros cursos nas universidades nos municiacutepios e etc E com as entidades combativas que tambeacutem se colocam afetivamente contra a reforma neoliberal do ensino superior ( ENESSO p 03 2006)

Como destacado anteriormente as deliberaccedilotildees por englobarem o

consenso do coletivo de estudantes presentes no Encontro Nacional reflete de modo

mais amplo as contradiccedilotildees e disputas poliacuteticas no interior do MESS assim sendo

posturas nitidamente mais criacuteticas em relaccedilatildeo agrave gestatildeo e as accedilotildees de Lula podem ser

expressatildeo da forccedila de agrupamentos que fazem oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da

ENESSO

A partir da anaacutelise documental e aqui especialmente das deliberaccedilotildees

aprovadas no periacuteodo de 2003-2008 merece destaque o fato de ser constatada pelo

segmento estudantil a necessidade de construccedilatildeo de alianccedilas com outros sujeitos

histoacutericos no desenvolvimento de lutas e atividades seja no espaccedilo restrito da

universidade ou fora dele De tal forma salientamos a perspectiva de articulaccedilatildeo com

entidades como ABEPSS o Conjunto CFESS-CRESS o ANDES e outros

movimentos como O MST a defesa de participaccedilatildeo da ENESSO no grito dos

Excluiacutedos na luta em favor do territoacuterio indiacutegena quilombola dos direitos dos

trabalhadores rurais e urbanos

No ENESS de 2006 tanto no eixo de universidade como de formaccedilatildeo

profissional se confirma a posiccedilatildeo contraacuteria do MESS em relaccedilatildeo ao exame de

135

proficincia58 Esse apreendido como um mecanismo punitivo para os(as)

estudantes e que no contribui para melhorias de ensino e aprendizagem nas

instituies

No eixo de formao profissional reforada a relevncia da participao

dos(as) discentes e da prpria ENESSO na pesquisa promovida pela ABEPSS cujo

objetivo precpuo a analise do processo de implementao das Diretrizes

Curriculares no decorrer de seus 10 anos bem como se preocupa com o combate

conjuntamente com as outras entidades do Servio Social a abertura de cursos que

no sejam fundados nas diretrizes

Essa tendncia coloca a ENESSO definitivamente contra a poltica de

abertura de cursos de graduao distncia que como j ressaltado no captulo

anterior se proliferam por todo o pas e no segue o preconizado pelas legislaes da

profisso

A posio da ENESSO gera no mbito da organizao do MESS situaes

contraditrias e conflituosas Os(as) estudantes dessa modalidade se sentem

representados pela ENESSO Segundo dirigente da ENESSO no perodo de

20062007eu acho que cria uma crise ainda maior que vai pra alm disso a necessidade do estudante do ensino a distncia passa a sentir de criar uma prpria entidade que lhes represente porque se a gente for avaliar que o estudante ele acaba se sentindo retaliado em todo espao do movimento estudantil que vai(NETURNO)

Assim a gesto 20062007 da ENESSO ldquotodos(as) na lutardquo alm das

dificuldades de organizao provocadas por exemplo pelo contexto de refluxo dos

MS fragilidades na formao poltica dos(as)estudantes as condies objetivas do

segmento estudantil e da prpria ENESSO ainda enfrentou srios obstculos

decorrentes do aumento exagerado de estudantes provenientes de cursos distancia

que no concordam com a posio de negao da executiva referente a essa

modalidade

Para Neturno a principal estratgia para amenizar essa situao

conflitante foi o dilogo com os(as) estudantes inseridos(as) na graduao a distncia

A principal argumentao utilizada pela ENESSO nas reunies acontecidas durantes

os encontros regionais foi de pautar o debate da poltica educacional na

contemporaneidade nela incluindo a graduao a distancia e seus rebatimentos para

formao do(a) assistente social Essa dimenso elucidada na fala do(a)

entrevistado

58 No dia 28 de setembro de 2008 por ocasio do 37 Encontro Nacional CFESSCRESS a categoria aprova a no adoo do exame de proficincia para o Servio Social

136

principalmente natildeo ter uma regulamentaccedilatildeo para o estaacutegio como eacute que vai se daacute a questatildeo do aprendizado da pratica profissional como eacute que o estudante vai ter contato com a pratica profissional como vai ser essa orientaccedilatildeo Vai ser a distacircncia tambeacutem Pra um professor que natildeo conhece a realidade do local onde o estudante taacute executando a sua intervenccedilatildeo []Como eacute que a gente orienta intervenccedilatildeo num local que a gente natildeo conhece Esses foram os aspectos que facilitaram muito o diaacutelogo mostrar os pontos de fragilidades dessa metodologia e aiacute a gente conseguiu fazer com que eles se sentissem representados pela entidade durante aquele periacuteodo (NETURNO)

A preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas entidades esteve presente durante

a aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no eixo do ME durante o ENESS de Palmas Dessa

maneira naquele encontro asseverou-se que os estudantes ali presentes eram

contra o divisionismo do ME e dos espaccedilos que se constituem em criaccedilotildees de

entidades paralelas as jaacute existentes as quais natildeo fortalecem ao contrario

enfraquecem o movimento

Essa proposiccedilatildeo representa inquietaccedilotildees diante da modalidade a distacircncia

e ou tambeacutem representa uma criacutetica relativa agrave criaccedilatildeo da CONLUTE no ano de 2004

Jaacute que esta tem atuando em paralelo a UNE Esses questionamentos contribuem

para o processo de apreensatildeo das fragilidades que perpassa o ME na atualidade e

que repercutem na sua atuaccedilatildeo poliacutetica

Um fato significativo a ser registrado eacute que a 14ordf deliberaccedilatildeo do eixo

conjuntura previa para o final do encontro uma anaacutelise da gestatildeo de Lula no qual

resultaria em um documento com avaliaccedilatildeo e perspectivas do segmento diante desse

governo Entretanto as escolas59 que ficaram ateacute o final do encontro utilizaram o

argumento de esvaziamento da plenaacuteria para natildeo elaborar o documento A natildeo

materializaccedilatildeo dessa deliberaccedilatildeo representa uma contradiccedilatildeo poliacutetica da executiva

diante do governo Lula De negaccedilatildeo da poliacutetica educacional mas de afirmaccedilatildeo e

defesa de seu governo Mesmo com o total de 10 escolas presentes ateacute o final do

encontro o esvaziamento da plenaacuteria se constitui um argumento consistente

O jornal da executiva divulgado em abril de 2007 traz reflexotildees referentes

agrave formaccedilatildeo profissional Movimento Estudantil e Universidade A discussatildeo no campo

da formaccedilatildeo tem como cerne o posicionamento contraacuterio da entidade ao exame de

proficiecircncia No documento eacute exposto que a expansatildeo da esfera privada com a

utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia consistiu na principal determinaccedilatildeo para que

assistentes sociais assumissem a defesa de adoccedilatildeo desse mecanismo para a

59 As escolas foram PUC-RS UEPB UFPE UFPB UFAL ULBRA UFS UCSALUSF E PUC-BH

137

profisso Conforme anlise da ENESSO a aprovao do exame no remete

necessariamente a qualificao profissional de modo que

se quisermos realmente melhorar a nossa formao profissional e nos posicionarmos contrrios a tudo que venha de encontro s diretrizes curriculares da categoria teremos mais fora se pautarmos nossa bandeira histrica da implementao na integra das diretrizes curriculares teramos assim um aproveitamento melhor do rendimento dos estudantes e possivelmente uma melhor qualificao profissional( ENESSO p02 2007)

De 2003 a meados de 2008 recorte temporal da pesquisa constatamos

que a produo da ENESSO no que se refere ao debate da formao profissional

apresenta na sua totalidade uma ntida direo de defesa inconteste das Diretrizes

Curriculares contribuindo dessa maneira para o reconhecimento da importncia

dessa entidade perante a categoria nos diversos debates e espaos que perpassam o

Servio Social brasileiro

No mbito do ME a edio do jornal de abril de 2007 trouxe o debate em

torno da UNE como ponto prioritrio de sua reflexo A ENESSO analisa que ao se

colocar favorvel a poltica educacional do governo Lula a UNE provocou uma

fragmentao no ME Para a executiva necessrio unificar o Movimento e essa se

dar mediante a defesa de medidas como ldquodemocracia nas instituies de Ensino

regulamentao do ensino privado mais verbas para IFES para garantir expanso do

ensino pblico e acesso e permanecia rubrica especifica para assistncia estudantilrdquo

(ENESSO P02-03 2007)

Um processo de revitalizao no ME requer o fortalecimento de entidades

estudantis e o desenvolvimento de aes que possam contribuir verdadeiramente

para unificao de pautas de estudantes que hoje se encontram em diversificadas

instituies privadas e pblicas presenciais e no presenciais Mais alm disso

significa processualidades complexas e contraditrias vejamos a UNE atua em

defesa da contra-reforma do ensino mas age segundo as suas anlises em nome da

defesa da expanso da educao superior no pas Portanto vivenciamos uma

conjuntura difcil na qual entidades e movimentos antes considerados

majoritariamente como espaos de contestao do status quo hoje atuam em

consonncia com a ordem vigente embora se reclamando como defensores de

melhorias e preocupados com a transformao social

No ultimo eixo de discusso o jornal da executiva apresentou o texto

intitulado ldquopor uma Universidade Democrtica e Popularrdquo e que no seu princpio

destacava

138

Em 2002 com a eleiccedilatildeo do Governo Lula criou um clima de muitas expectativas para o movimento da educaccedilatildeo que viu em Lula a possibilidade de reverter os oitos anos de sucateamento do Ensino Superior Puacuteblico e de expansatildeo do mesmo No entanto tais expectativas natildeo foram correspondidas na integra o Governo iniciou seu governo apresentando uma proposta de Reforma Universitaacuteria que natildeo era suficiente para resolver os principais gargalhos do ensino superior como financiamento para IFES e a regulamentaccedilatildeo do setor privado (ENESSO P 03 2007)

Analisamos que mais que insuficiente a proposta do governo Lula se

colocou numa linha de continuidade a poliacutetica adotada na era FHC que se

manifestou por exemplo com o PROUNI e a Lei de Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica que

ratificaram firmemente o compromisso com a iniciativa privada deixando pra segundo

plano a educaccedilatildeo puacuteblica pois mesmo com a defesa de instituiccedilatildeo de cotas sociais e

raciais e posteriormente a concretizaccedilatildeo de alguns concursos puacuteblicos para docentes

nas Universidades Federais fruto das reivindicaccedilotildees dos segmentos dos

trabalhadores(as) em educaccedilatildeo o setor privado continuou intocaacutevel portanto

fazemos a anaacutelise que na verdade natildeo foi na iacutentegra que as expectativas natildeo foram

correspondidas elas foram substancialmente abaladas e negadas por este governo

O XXIX ENESS ocorreu de 14 a 19 de julho de 2007 na cidade de

Contagem-MG Nesse encontro duas chapas da regiatildeo V disputaram a coordenaccedilatildeo

nacional da entidade Uma composta por militantes do Rio de Janeiro vinculados(as)

aos agrupamentos A Saiacuteda eacute pela Esquerda e Cara e Coraccedilotildees Novos outra

constituiacuteda por estudantes do Espiacuterito Santo e Minas Gerais que publicizaram natildeo

pertencer a nenhum grupo organizado do MESS mas receberam o apoio de militantes

que se organizavam no Viver na Luta este que declarou no mesmo encontro o

teacutermino de suas contribuiccedilotildees no MESS a segunda candidatura venceu a disputa

Marte dirigente da gestatildeo 20072008 se referido aos agrupamentos que concorreram

a direccedilatildeo da ENESSO evidencia que

Noacutes dialogamos com todas as teses e estudantes sem perder a direccedilatildeo que queriacuteamos imprimir ao movimento No entanto natildeo conseguimos adesatildeo de algumas escolas do Rio pela forte influencia dessas duas correntes eacute importante destacar que essas duas correntes tecircm sua forccedila nesse estado e pouca influencia no restante do paiacutes

A partir das resoluccedilotildees desse encontro assinalamos que

majoritariamente o MESS constitui um segmento comprometido com a luta em favor

da universidade puacuteblica no Brasil e um sujeito que atua em defesa da formaccedilatildeo

subsidiada pelas Diretrizes Curriculares de 1996

139

Logo no eixo de conjuntura observamos a aprovao de deliberaes

mais crticas em relao ao governo Lula uma tendncia de negao de modo mais

abrangente e no limitadas as suas aes para o campo educacional

As deliberaes consistem expresso das diversas foras polticas que

militam no MESS e de certa maneira manifestam os posicionamentos diversificados

dessas foras inclusive sobre o governo Lula Dessa maneira a aprovao de

deliberaes que direcionam a ENESSO a desenvolver uma ao mais incisiva contra

as aes efetivadas durantes as gestes Lula pode certamente expressar o

fortalecimento de grupos polticos identificados como opositores a esse governo

No eixo de formao profissional o posicionamento contrrio ao exame de

proficincia se manteve a perspectiva de fortalecer a articulao com a ABEPSS e o

conjunto CFESS-CRESS no desenvolvimento de lutas e atividades voltadas para

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social o que por sua vez significa a

reafirmao e consolidao das Diretrizes Curriculares nesse contexto desfavorvel

para sua implementao

Especialmente no eixo universidade destacamos essa deliberao

Por uma poltica de universalizao do acesso universidade pblica que vise o fim do vestibular Expanso e ampliao das vagas nas universidades pblicas fim das taxas campanhas em defesa do ensino pblico gratuito laico de qualidade presencial para todas e todos em todos os nveis refutando a proposta do reuni e o atual processo de interiorizao das ifes por acreditamos que esse noatendem a essas reivindicaes (ENESSO 2007)

Logo a gesto 20072008 da ENESSO ldquoousar e unir todos(as) juntos

para construirrdquo teve pela frente a necessidade de desenvolver atividades contrrias a

mais uma das aes aprovadas no campo da contra-reforma do ensino superior o

REUNI A contra-reforma vem sendo efetivada de modo parcelado de incio foram

adotadas aes como o PROUNI a substituio do Provo pela ENADE depois

tivemos a proliferao dos cursos distncia entre outras medidas e mais

recentemente o REUNI Essa fragmentao reclama atuaes diferentes da ENESSO

assim por exemplo a estratgia de boicotar o ENADE obteve xito no mbito do

Servio Social em 2004 entretanto atividades contra o PROUNI eou REUNI requer

outras estratgias cada vez mais articuladas com outros segmentos dentro e fora do

espao universitrio Portanto no perodo estudado nessa pesquisa as gestes da

ENESSO nele includo tiveram que dar prosseguimento as aes voltadas para as

medidas j efetivadas bem como canalizar energias para as novas medidas

direcionadas para o ensino superior

140

O planejamento estratgico da nova gesto ocorreu nos dias 08 e 09 de

setembro de 2007 alguns dos planos forjados foram a necessidade de criao do

site da executiva o qual foi criado contudo so reduzidas as informaes

proveniente das limitadas atualizaes o desenvolvimento de seminrios regionais

juntamente com os CRESS sobre o exame de proficincia na ida dos coordenadores

da ENESSO as escolas ficou previsto a distribuio de materiais produzidos pelas

outras entidades da profisso como forma de potencializar a articulao das mesmas

realizar debates sobre a contra-reforma do ensino superior entre outras Outra

importante meta traada por ocasio do planejamento estratgico se referiu

promoo de um curso de formao poltica para os(as) militantes do MESS O estudo

de Santos(2007) afirma que essa gesto atuou apresentado como foco central de

suas aes o eixo da formao profissional com a reafirmao da direo social

consubstanciada no projeto profissional fundado na perspectiva crtica da inteno de

ruptura

A ENESSO em 22 de outubro de 2007 elaborou moo de apoio60 ldquos

universidades em luta para Barrar o REUNIrdquo na qual publiciza preocupaes com a

possibilidade de flexibilizao curricular prevista pelo programa registrada tambm

a indignao da executiva com qualquer tipo de represso direcionada aqueles(as)

que se manifestam politicamente contra essa medida do governo

Em 15 de maio de 2008 por ocasio das comemoraes do dia do(a)

assistente social a ENESSO conjuntamente com o Conjunto CFESSCRESS e a

ABEPSS socializaram manifesto contra cursos de graduao distncia em Servio

Social por entenderem que essa modalidade se confronta radicalmente com a

formao preconizada pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no documento

reafirmada a posio das entidades de continuarem lutando contra a abertura de

curso inseridos nessa modalidade o que por sua vez representa o compromisso com

a formao e exerccio profissional com qualidade

A gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo produziu uma

cartilha intitulada ldquo20 anos ENESSOrdquo em que apresentava didaticamente os

60 A gesto 2007-2008 ainda lanou em 09 de abril de 2008 moo de apoio ldquoAos estudantes da UNB para Barrar as Fundaes Privadas nas IFESrdquo A moo fazia referncia ocupao da reitoria da UNB por estudantes que reivindicam a retirada do reitor e a transparncia na administrao da instituio Em 08 de fevereiro de 2008 a executiva produziu moo de repdio contra a atitude do governo federal em no disponibilizar vagas para assistente social para concurso no Instituto Nacional de Seguro Social(INSS) Em 05 de maro de 2008 outra moo de apoio lanada em favor da luta das mulheres da via Campesina que ocuparam a Fazenda Tarum no RS em protesto contra a compra de terras ilegais pela empresa Stora Enso sendo a ao duramente reprimida pelo aparato policial conforme a moo a ocupao das mulheres camponesas legitima pois luta pela soberania alimentar e contra o Deserto Verde que destri a cada dia a biodiversidade das terras brasileiras forando milhares de camponeses a migrarem do campo para as periferias das cidadesrdquo ( ENESSO 2008)

141

diferentes espaos e entidades estudantis tais como CORETUR CA DCE

ENESSO e suas respectivas funcionalidades A cartilha foi elaborada com o objetivo

principal de fomentar a discusso sobre a organizao dos(as) estudantes com vistas

a criao de CA e DA vislumbrando dessa modo o fortalecimento do movimento

A cartilha ainda trouxe reflexes sobre a articulao da ENESSO com as

entidades internacionais a Federao Argentina de Estudantes de Trabalho

Social(FAETS) e a Associao Latino-americana de Ensino e Investigao em

Trabalho Social(ALEITS)61 Para executiva essa articulao representa esforos

voltados para o fortalecimento e ampliao das ldquoplataformas de lutas unificando

estudantes e trabalhadores contra a expanso de dominao do grande capital e em

defesa de um projeto societrio socialistardquo(ENESSO p 18 2007) Embora no seja o

objetivo precpuo dessa pesquisa o estudo das alianas da ENESSO com outras

entidades e movimentos torna-se necessrio destacar que a mesma procura

construir articulaes com sujeitos coletivos historicamente sintonizados com a luta

por direitos sociais bem como organizaes que vislumbra uma transformao

societal

Em junho de 2008 a ENESSO participou do Seminrio Nacional

ldquoPrecarizao da Formao e Implicaes no Exerccio Profissional Em debate

Metodologia do Depoimento Sem Danos e Exame de Proficinciardquo promovido pelo

CFESS62 Nesta oportunidade as trs entidades da categoria se posicionaram

contrria a realizao do exame de proficincia no Servio Social

Em julho de 2008 a gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo

divulga jornal no qual sintetiza as principais aes desenvolvidas pela direo entre

elas destacamos a materializao do curso de formao poltica previsto durante o

planejamento estratgico da Coordenao Nacional ainda em 2007 O Curso de

Formao Poltica do Movimento Estudantil em Servio Social(CFPMESS) ocorreu

de 22 a 25 de maio de 2008 durante o XXX CONESS no estado de Sergipe

promovido pela ENESSO Centro Acadmico de Servio Social da Universidade

Federal do Sergipe (UFS) e da representao discente em ABEPSS e com apoio do

conjunto CFESSCRESS e do MST visto que o evento se processou em um de seus

Assentamentos no caso particular o Quissam Consideramos a efetivao desse

curso necessrio e importante para o MESS dada a conjuntura de fragmentao do

ME e arrefecimento das lutas sociais alm disso por ter acontecido durante o

CONESS possibilitou a participao de representante de CA e DA de Servio Social

61 Essa entidade foi fundada em agosto de 2006 e o estatuto aprovado no XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais(CBAS) ocorrido em 2007 na cidade de Foz do Iguau ndash PR Nela os(as) estudantes tem direito a voz62 Este ocorreu nos dias 12 e 13 de junho de 2008 em Braslia-DF

142

de diferentes universidades potencializando a articulao dessas entidades e ainda

a sua realizao em um dos espaos do MST evidencia a perspectiva de construo

de alianas do MESS com segmentos do trabalho identificados com a transformao

social

O jornal publicizado em julho de 2008 traz um texto intitulado ldquopela

Revogao Imediata do REUNIrdquo Em que ratificada a direo assumida nas

deliberaes do XXIX ENESS pelo MESS O texto assevera que o Programa

possibilita uma flexibilizao curricular que desqualifica nossos diplomas e prejudica nossa formao profissional ou seja a total destruio dos diplomados profissionais em cursos bsicos genricos formando diplomados em nada Mas o resultado ser depois no mercado de trabalho com sub-remunerao destes diplomados em nada com salrios miserveis e a reduo do custo do trabalho em beneficio capitalista Essa poltica de destruio da educao ataca brutalmente as conquistas na rea da educao como no caso do ensino superior o seu trip de ensino-pesquisa-extenso que colocam a produo de conhecimentos para os interesses da nao e sua soberania ameaadas(ENESSO 2008 p06)

Podemos observar que anlise da ENESSO assume um carter

generalista em relao s aes do REUNI sem sinalizar possibilidade de formao

com qualidade no mbito desse programa Diante da realidade de total aprovao dos

programas pelas universidades federais acreditamos que a correlao de foras no

interior das instituies seja importante para que mesmo com recursos

disponibilizados por esse programa possam ser implementadas melhorias para a

comunidade acadmica bem como potencializar a construo de cursos

fundamentados nos projetos pedaggicos de suas profisses essa ressalva se torna

relevante sobretudo entretanto voltamos a afirmar que a abertura de concursos no

significa no Servio Social em particular a garantia dos princpios formativos

defendidos pela profisso

De 13 a 17 de julho de 2008 ocorreu o XXX ENESS na Universidade

Estadual de Londrina (UEL) com o ttulo ldquoo sonho no envelhece 30 anos de

reorganizao do MESSrdquo em referncia a realizao do ENESS de 1978 considerado

marco na reorganizao do MESS o qual foi realizado na mesma universidade A

escolha da UEL para sediar o XXX ENESS ao se configurar com um ato de

homenagem para alm disso consistiu em resgate histrico da trajetria de

organizao e atuao desse movimento no Brasil

Neste encontro inicialmente trs chapas se propuseram a disputar a

direo da ENESSO visto que uma das chapas antes de comear o processo de

votao fomentou o debate em torno do anarquismo e solicitou aos(as) estudantes

143

simpatizantes da chapa que se abstivessem da eleio de tal modo que somente

duas candidaturas concorreram de fato a direo da executiva

A chapa ldquoMaria Bonitardquo constituda de estudantes de So Paulo e contava

com o apoio de militantes que se organizavam no recente extinto grupo Viver na Luta

que esteve frente da coordenao nacional da entidade nas gestes anteriores

A outra candidatura consista a ldquoFrente de Esquerda no MESSrdquo composta

por estudantes da regio V e majoritariamente da Universidade Federal do Rio de

Janeiro e vinculados aos agrupamentos ldquoA Sada Pela Esquerdardquo e pelo coletivo em

processo de formao ldquoRompendo Amarrasrdquo

Segundo militante de oposio que nos concedeu informaes durante a

produo de dados para essa pesquisa logo aps as escolas terem votado dois

estudantes de diferentes instituies argumentaram que suas escolas no foram

chamadas para votao63 contudo no tinha o registro de participao dessas

escolas que estavam representadas somente por um estudante nos outros

momentos de discusso e deliberao do encontro o que remete ao entendimento

que tais sujeitos estavam preocupados somente com a disputa dos cargos da

ENESSO Ainda com base nas argumentaes de Luz64 esses dois estudantes

votaram65 na chapa ldquoMaria Bonitardquo e que segundo o resultado da votao tal chapa

venceu a disputa com a diferena de trs votos portanto a quantidade de votos que

uma escola tem direito

Entretanto depois de anunciado o resultado propagou-se a denuncia que

um dos estudantes que havia reclamado de ltima hora a participao no processo de

votao no era estudante de Servio Social o que gerou impasse diante dessa

atitude fraudulenta e antidemocrtica pois ao se retirar os trs votos que o mesmo

creditou na chapa ldquoMaria Bonitardquo o pleito ficou empatado

63 Nesse encontro o voto foi por escola conforme o qual cada escola tem direitos a trs votos independentes da quantidade de estudantes presentes o que garante a paridade entre as instituies contudo importante destacar que esse sistema de votao alvo de discordncia e de consistentes conflitos nos fruns do MESS64 Militante de oposio que contribuiu nessa investigao mediante a resposta de questionamentos relacionados atuao das tendncias e da ENESSO nessa conjuntura de concretizao da contra-reforma do ensino superior dimenses aprofundadas no item 4 desse capitulo65 possvel ter conhecimento em que chapa se votou pois a votao se processa de modo aberto para plenria a comisso chama nominalmente as escolas e as mesmas declaram seus votos que sendo por escola a depender de divergncias interna dos alunos(os) essa diferena se manifesta e assim uma mesma escola pode votar em diferentes chapas assim por exemplo os trs votos a que uma escola tem direito pode se destinar um pra uma determinada chapa e dois para outra o que no acontece quando um escola est representada poder um(a) estudante visto que ele(a) direciona os trs votos sem a existncia de posicionamento interno contrrio no ato da votao

144

Portanto o processo foi anulado diante dessas praacuteticas antidemocraacuteticas

que corroboram para o natildeo fortalecimento do MESS e de suas entidades Dimensatildeo

explicitada tambeacutem pelo(o) dirigente da ENESSO da gestatildeo 20072008 que esteve

na constituiccedilatildeo da comissatildeo eleitoral que confirmou o fato de que um estudante do

curso de histoacuteria votou como se fosse estudante de Serviccedilo Social o que justificaria a

ato de anulaccedilatildeo Conforme explicitado a seguir

Verifiquei com o estudante a denuacutencia e relatou que realmente natildeo era estudante de Serviccedilo Social e sim de histoacuteria e que tinha sido convidado por um amigo estudante de Serviccedilo Social membro do PT e que havia solicitado para que votasse Diante dos fatos declaramos o processo anulado conforme rege o estatuto e observamos as condiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de novo pleito O que foi impossiacutevel por algumas escolas terem viajado de volta para seus estados apoacutes a votaccedilatildeo e outras estarem de saiacuteda Tentamos um acordo entre as chapas para que existisse uma gestatildeo compartilhada entre elas mas natildeo obteve ecircxito A chapa de Satildeo Paulo propocircs que a nossa gestatildeo continuasse ateacute encontrar outra data para uma nova eleiccedilatildeo apesar de natildeo querermos achamos melhor do que deixar sem Coordenaccedilatildeo Nacional Num primeiro momento de discussatildeo a ideacuteia teve boa aceitaccedilatildeo mas a chapa do Rio de Janeiro rebateu a proposta e por fim os estudantes se retiraram pouco a pouco inviabilizando qualquer tipo de eleiccedilatildeo por natildeo ser legiacutetimo um processo sem todas as escolas

O preocupante eacute que o estudante de histoacuteria enganou parte significativa da

plenaacuteria entretanto como demonstrado na fala anterior militantes do MESS tinham

conhecimento da situaccedilatildeo fraudulenta que se processava na disputa pela

coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO e mesmo assim foram incapazes de denunciar

essa fraude o que revela a real existecircncia de militantes nesse movimento que se

utilizam de qualquer artifiacutecio sem considerar princiacutepios como a socializaccedilatildeo de

informaccedilatildeo a recusa de praacutetica autoritaacuterias e enganosas que desrespeitam o

posicionamento diferenciado de seus colegas e os interesses da maioria

Embora sem coordenaccedilatildeo nacional as deliberaccedilotildees aprovadas nesse

encontro para a gestatildeo 20082009 da executiva posicionam essa entidade a encampar

lutas que ratifiquem a direccedilatildeo contraacuteria da entidade em relaccedilatildeo agraves medidas para

educaccedilatildeo superior do governo Lula Em espacial no eixo de universidade66 foram

mantidas as mesmas deliberaccedilotildees ratificadas no ENESS passado Dessa maneira se

mantecircm a posiccedilatildeo de negaccedilatildeo ao SINAES PROUNI REUNI educaccedilatildeo a distacircncia

entre outras

66 Esta decisatildeo foi tomada devido ao atraso na programaccedilatildeo do evento que minimizou o tempo destinado a revisatildeo das deliberaccedilotildees

145

No campo especifico da formao profissional se vislumbra a

preocupao do segmento estudantil na apropriao dos dados obtidos com a

pesquisa avaliativa das Diretrizes Curriculares realizada pela ABEPSS Nesse sentido

tem-se o encaminhamento de que tanto no Seminrio Regional como Nacional de

Formao Profissional e Movimento Estudantil em Servio Social se garanta espaos

destinados para divulgao dos resultados da pesquisa Alm disso tem a indicao

de que

A ENESSO e a representao discente em ABEPSS fortaleam a luta contra o exame de proficincia nas escolas e no encontro do conjunto CFESSCRESS garantindo a sua participao em todo momento no encontro E fomentar o debate sobre uma nova avaliao que envolva os trs segmentos da categoria(discente docentes e profissionais) e que amplie a construo dessa ferramenta para que seja uma avaliao continuada( ENESSO 2008)

Nessa perspectiva apreendemos a preocupao do segmento estudantil

com a construo de processos avaliativos que corroborem no entendimento dos

limites e potencialidades da formao profissional portanto a negao em relao ao

ENADE significa um posicionamento poltico de negao a um sistema de avaliao

majoritariamente punitivo para os(as) estudantes ou seja no representa a rejeio a

avaliao mas aos interesses que ela representa

No eixo de ME a complexa processualidade de afirmaonegao da

UNE se confirma mais uma vez Tendncia que se manifesta tambm em relao

CONLUTE ldquoque a ENESSO fomente debate da CONLUTE e outras organizaes de

luta na medida em que esta se apresenta como espao de luta contra a reforma

universitriardquo (ENESSO 2008) A promoo de articulao em relao CONLUTE se

pauta de modo restrito no campo de negao da contra-reforma do ensino superior

no sendo considerada a possibilidade de vinculao com esta organizao no

desenvolvimento de outras atividades e lutas

Diante das deliberaes analisadas corroboramos com Santos quando

ele afirma que elas se estruturam em grandes blocos de discusso decorrente

certamente da prpria organizao em eixos entretanto essa tendncia no significa

que esse segmento ldquono atualize e aperfeioe suas bandeiras e instrumentos de luta

mas pelo contrrio revela que os estudantes organizados no movimento imprimem

uma prxis poltica que possibilita a continuidade de suas lutas e resistncia

reafirmada a cada encontrordquo (p124)

Entretanto no ano de comemoraes relativas aos 30 anos de

reorganizao do MESS e de 20 anos de criao da ENESSO no tivemos para

implementao das deliberaes a ocupao dos cargos nacionais dessa entidade

146

como explicitado acima As prticas antidemocrticas a acirrada disputa entre duas

candidaturas e a no previso estatutria diante do impasse estabelecido aliada a

indisponibilidade poltica que possibilitassem a construo de um consenso

concorreram para o estabelecimento dessa lamentvel ausncia de coordenadores

nacionais ficando a incumbncia de materializao das deliberaes para as

coordenaes regionais O fortalecimento das coordenaes regionais legitimo e

necessria contudo o esvaziamento das coordenaes nacionais da ENESSO

dificulta a prpria potencializao dessas instncias visto que se minimiza ou at

mesmo fica impossibilitada o desenvolvimento de campanhas nacionais seja nos

mbitos da universidade eou formao profissional alm disso a responsabilidade na

produo de material a serem socializadas com a base estudantil fica fortemente

comprometida a representao da entidade em eventos fica sem referncia entre

outras

Em setembro de 2008 ex-militantes do MESS e reunidos(as) em Braslia

durante o 37 Encontro Nacional CFESSCRESS construram e divulgaram carta

intitulada ldquoaos estudantes de Servio Social coordenadores regionais da enesso e

diretorias de CAs e DAs do pasrdquo sinalizando preocupaes com o fato acontecido

Dela extramos o seguinte fragmento

A ENESSO patrimnio poltico do Servio Social brasileiro e foi construda por muitas mos e foras polticas desde 1979 tendo sido Executiva Nacional SESSUNE e ENESSO Em seu mbito se formaram geraes de assistentes sociais no campo do projeto tico-poltico muitos hoje militantes do Conjunto CFESSCRESS da ABEPSS da ALAEITS e dos movimentos de resistncia barbrie capitalista Nesse momento de contra-reforma do ensino superior mais do que nunca fundamental que a ENESSO esteja forte representativa e estruturada

O trecho apesar de suscito evidencia com propriedades a importncia da

ENESSO na trajetria de construo e defesa do projeto profissional do Servio Social

e aborda ainda a relevncia de se ter uma entidade comprometida com a defesa de

uma educao e uma formao de qualidades neste contexto de tentativa de

esfacelamento desse ideal Diante do exposto que desafios apreendemos nessa

conjuntura complexa para o ME particularizada no mbito do MESS com as

fragilidades que hoje enfrenta o MESS e a ENESSO

147

5-3 REFLEXOtildeES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO

Com a anaacutelise do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO e da pesquisa

documental associada agraves informaccedilotildees concedidas nas entrevistas pelos(as) ex-

Coordenadores(as) da entidade trataremos de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre sua

accedilatildeo nessa conjuntura de materializaccedilatildeo da contra-reforma do ensino superior

procurando abordar tambeacutem as possibilidades e limites dessa atuaccedilatildeo

Dessa maneira os dados sugerem que a vivecircncia dos(as) estudantes

ainda nos primeiros periacuteodos do curso de Serviccedilo Social nos foacuteruns estudantis como

ERESS seminaacuterios estudantis de formaccedilatildeo profissional e encontros locais satildeo

fundamentais para instigar a participaccedilatildeo desses(as) na construccedilatildeo da entidade

os(as) levando a disputa de sua direccedilatildeo

Satildeo nesses espaccedilos que se materializam discussotildees se constroem

deliberaccedilotildees e se direciona a atuaccedilatildeo da ENESSO potencializando a articulaccedilatildeo e

aproximaccedilatildeo dos(as) estudantes com o ME e suas entidades Essa perspectiva

requer dos CA e DA o desenvolvimento de atividades sistemaacuteticas dada a

transitoriedade do movimento voltadas para o incentivo de participaccedilatildeo dos(as)

estudantes ainda nos primeiros periacuteodos do curso nos diferentes espaccedilos de

organizaccedilatildeo do segmento estudantil nesse contexto de retraccedilatildeo poliacutetica

comprometida com a transformaccedilatildeo societal e de difiacuteceis condiccedilotildees objetivas de

militantes e das proacuteprias entidades que os(as) representam

Em pesquisa empiacuterica realizada com os(as) estudantes presentes no

XXIX ENESS na cidade de ContagemBH Santos (2007) diante dos dados

produzidos afirma que a maioria se encontravam no terceiro e quarto periacuteodo do

Curso de Serviccedilo Social com o percentual de 33 dos entrevistados(as)67 A referida

pesquisa ainda indicou que 65 dos(as) estudantes que participaram da

investigaccedilatildeo estavam no encontro na condiccedilatildeo de natildeo ocupantes de cargos em

entidade estudantil como CA ou DA

No acircmbito do ME e em particular no MESS eacute expressivo a presenccedila de

estudantes organizados(as) em grupos entretanto nem todos elaboram teses ou

seja documentos que manifestam o direcionamento do agrupamento sobre as

questotildees discutidas pelo movimento tais como conjuntura formaccedilatildeo profissional

cultura e valores ME e universidade Na esfera do Serviccedilo Social e no periacuteodo

delimitado pela pesquisa o Projeto Democraacutetico Popular(PDP) Viver na Luta A saiacuteda

67 Esses dados foram obtidos mediante a utilizaccedilatildeo de questionaacuterios respondidos por cinquumlenta e quatro estudantes de Serviccedilo Social que estiveram no ENESS realizado em julho de 2007 no qual esteve presente mais de quinhentos discentes de todo paiacutes

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Pela Esquerda68 e o Cara e Coraes Novos se constituam os principais grupos

polticos presentes na organizao do MESS Segundo Rodrigues

Em junho de 2008 existem dois grupos organizados em teses no MESS dentre os diversos grupos que organizam-se em ldquopr-tesesrdquo ou apenas como grupos polticos organizados Os grupos organizados em teses so Projeto Democrtico e Popular ndash PDP e A Sada pela Esquerda No XXIX ENESS em 2007 o Viver na Luta - VNLapresentou para os estudantes o fim da tese mesmo assim alguns de seus militantes ainda se organizam em grupos polticos no MESS (2008 p 43)

O PDP69 esteve na direo da ENESSO por um perodo bastante

expressivo do inicio a segunda metade da dcada de 1990 quando perde a

hegemonia para o grupo Eu Quero Mais(EQM)70 todavia segundo Ramos(2005) ldquoa

mudana de direo no comprometeu o acumulo de discusso no processo de

construo da organizao estudantil e da defesa do projeto tico-poltico

profissionalrdquo(p103)

No processo de produo de dados para esta pesquisa dos(as) cinco

entrevistados(as) um(a) de cada gesto que compreende o perodo de 2003-2008

quatro deles(as) eram membros do agrupamento poltico Viver na Luta Sendo que

dois desses(as) militantes tambm se organizavam na tendncias partidria a

Articulao de Esquerda(AE) e outro(a) dirigente construa o agrupamento partidrio a

Democracia Socialista(DS) Tanto a AE como a DS so vinculadas ao PT Para

esses(as) quatros dirigentes os grupos so importantes espaos de organizao e de

construo poltica e que contribui para o desenvolvimento de aes mais

qualificadas o que por sua vez corrobora com o fortalecimento do MESS e da

ENESSO Podemos apreender essa perspectiva na fala do(a) entrevistado(a)

O acumulo das organizaes dentro do Movimento Estudantil so extremamente importantes principalmente quando essas organizaes constroem teses que apresentam nos encontros nacionais a concepo poltica que se tem do movimento extremamente importante no s para o militante que t nesse processo de organizao mas como tambm para os estudantes

68 A sada pela Esquerda surgiu no ENESS de 2004 realizado em vitria-ES Cf Rodrigues(2008) Para Silva esse grupo surgiu j no ENESS de 2003 realizado em Salvador-BA 69 O PDP surge nos anos de 1980 e se constituiu o primeiro agrupamento organizado em tese no mbito do MESS sendo vigente at os dias atuais70 O EQM encerrou suas contribuies no ano de 2003 com o trmino desse grupo muitos de seus militantes acabaram por contribuir na constituio do agrupamento Viver na Luta no ano de 2004 este que predominou na direo da ENESSO no perodo ora abordado nesta pesquisa

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que acabam percebendo quais satildeo as vertentes poliacuteticas que norteiam cada organizaccedilatildeo em termos do mess (NETURNO)

De 2003 a 2007 eacute importante registrar a predominacircncia na direccedilatildeo da

ENESSO de estudantes pertencentes ou simpatizantes ao grupo poliacutetico Viver na

Luta que socializou no ENESS de 2007 o fim de sua atuaccedilatildeo no MESS Para Marte

da gestatildeo 20052006 que afirma ter sido um dos(as) fundadores(as) do Viver na Luta

elenca como diferencial do agrupamento a preocupaccedilatildeo com o eixo da formaccedilatildeo

profissional e a defesa do voto universal nos processo de votaccedilatildeo nos ENESS

Diante do exposto apreendemos que eacute recorrente a construccedilatildeo e

desconstruccedilatildeo de agrupamentos no MESS e que algum deles mesmo chegando agrave

direccedilatildeo da entidade natildeo apresenta uma atuaccedilatildeo duradoura na organizaccedilatildeo do

movimento exemplo dessa perspectiva o proacuteprio fim do EQM e posteriormente do

Viver na Luta e por outro lado embora o PDP que impulsionou a poliacutetica da ENESSO

por um periacuteodo consideraacutevel e que continua em vigecircncia na contemporaneidade

apresenta fragilidades e natildeo consegue construir alianccedilas para assumir a direccedilatildeo

nacional da entidade aleacutem disso tivemos a criaccedilatildeo do grupo A Saiacuteda eacute Pela Esquerda

e mais recentemente por volta de 2006 o Cara e Coraccedilotildees Novos Segundo

concepccedilatildeo de Rodrigues

As teses e grupos presentes no MESS divergem principalmente na leitura que fazem de conjuntura da sociedade brasileira essencialmente sobre anaacutelise governamental em relaccedilatildeo ao governo Lula como tambeacutem as estrateacutegias as accedilotildees e organizaccedilatildeo do MESS o que por muitas vezes acabam por limitar o debate no interior do movimento estudantil sectarizando o movimento e dificultando o fortalecimento das lutas(45)

Diante do exposto eacute possiacutevel apreendermos o quanto processual eacute a

organizaccedilatildeo no MESS e que os agrupamentos expressam as divergecircncias disputas e

a heterogeneidade caracteriacutestica desse movimento Analisamos ainda que a

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de agrupamentos em curto espaccedilo de tempo revelam

instabilidades poliacuteticas pela qual perpassa o MESS na atualidade e que imbuiacuteda nessa

conjuntura de instabilidade e retraccedilatildeo poliacutetica da classe trabalhadora se expressam

em posicionamentos diferenciados em relaccedilatildeo ao governo Lula bem como no tocante

as entidades sindicais e estudantis criadas depois da ascensatildeo do PT ao governo

federal como a CONLUTAS e a CONLUTE

150

Direcionamento desfavorvel a atuao dos grupos polticos foi sinalizada

por um(a) das dirigentes entrevistados(a) pertencente a gesto 20072008 e que se

declarou no pertencer a nenhum agrupamento existentes no MESS segundo o qual

As correntes dentro do MESS sempre tiveram como pano de fundouma influncia partidria velada O que do meu ponto de vista engessa os debates empobrece os espaos de participao dos estudantes fragiliza e fragmenta o movimento estudantil A atuao das tendncias tem se limitado a disputa por cargos de direo da ENESSO e no percebo contribuies de nenhuma corrente para a abertura e consolidao de novos DAs CAs entre outros aspectos relevantes para o movimento Sua participao se limita praticamente aos Encontros utilizando de uma poltica panfletria para adeso de novos militantes No entanto isso no significa que no possuam influncia na escolha dos dirigentes da ENESSO Apesar das limitaes apresentadas e das incoerncias apontadas conseguem articular no momento dos encontros as faculdades para a eleio dos novos representantes(Marte)

Como demonstrado na construo do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

a maioria de militantes no filiados(as) a partidos polticos entretanto no podemos

desconsiderar a vinculao existentes entre esses dois sujeitos coletivos que se

manifesta tambm na filiao partidria de estudantes organizados em

agrupamentos no MESS Dessa maneira significativa a presena na construo do

MESS de sujeitos inseridos(as) no PSOL PSTU e PT este que teve militantes

filiados(as) na direo nacional da ENESSO em todas as gestes abordadas no

perodo aqui analisado No mbito de discusso dessa problematizao Santos

assinala uma perspectiva polmica que se processa nos debates do MESS

presente nos debates[] a preocupao com as influncias das correntes polticas partidrias no movimento Esse debate polariza-se fundamentalmente sob as tentativas de aparelhamento do movimento estudantil pelos partidos polticos que buscam fazer da ENESSO uma correia de transmisso das lutas e das pautas partidrias ndash no caso dos ltimos encontros (2004-2007) trata-se da prtica poltica dos sujeitos ligados a tendncia interna do PT Articulao de Esquerda AEPT (chegou a hegemonizar o ex-Coletivo ldquoViver Na Lutardquo ndash findou sua contribuio no XXIX ENESS2007) pelos militantes do [] PSTU (mantm hegemonia sob o coletivo ldquoA sada pela Esquerdardquo e busca dentre outras pautas impor o rompimento poltico da ENESSO com a UNE de forma sectria e a construo da CONLUTE Tal prtica muitas vezes se afasta das discusses especficas do MESS especialmente no eixo de formao profissional) pelos militantes ligados [] PSOL (Mantm hegemonia no recente coletivocriado em 2006 ldquoPor um MESS de Caras e Coraes Novosrdquo e na Tese ldquoProjeto Democrtico e Popular- PDPrdquo Esse coletivo se inscreve como uma alternativa frente a crise instaurada no movimento a partir

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das disputas pela direo da ENESSO no entanto no conseguiu efetivamente fazer sua poltica e acabam por seguir as orientao polticas do coletivo ldquoA sada Pela Esquerdardquo(SANTOS71 2007 p122)

Temos a compreenso que o aparelhamento se expressa por exemplo

na ausncia de espaos democrticos o que no ocorre no MESS pois existe um

variedade de fruns estudantis que possibilita a participao dos(as) estudantes nas

tomadas de deciso o que se confirma no processo de aprovao das deliberaes

que norteiam a direo poltica a ser assumida pela ENESSO entretanto no

podemos deixar de considerar que o MESS passa atualmente por momentos de

instabilidades e que repercute na sua entidade mxima Sem dvidas se processa

um contexto de acirramento entres os grupos polticos atuantes no MESS mas isso

reflete a conjuntura na qual estamos imbudos(as) no remetendo necessariamente a

uma tendncia de busca de aparelhamento da executiva pois se assim fosse no

perodo aqui investigado no qual tivemos a predominncia de militantes do

agrupamento viver na luta hegemonizado pela AEPT como afirmado por

Santos(2007) nos documentos produzidos pela entidade no se apresentaria uma

negao da contra-reforma do ensino superior do governo Lula pois estaria se

contrapondo as recomendaes do Partido e uma entidade aparelhada desconsidera

as demandas do movimento para atender as requisies partidrias o que no se

verificou nessa pesquisa no que concerne a atuao da ENESSO no mbito da

universidade

Dessa maneira temos a concepo que a existncia de partidrios(as) do

PT na direo da ENESSO no significa necessariamente e de modo mecanizado a

aceitao da contra-reforma do ensino superior implementada pelo governo do PT

tendncia evidenciada nos documentos produzidos pelas gestes da entidade e

analisados no item anterior Essa perspectiva tambm reforada nas entrevistas

concedidas pelos(as) militantes e sintetizada na fala de Vnus

No ano em que era membro da Executiva ramos contrrios a reforma universitria pelo fato da reforma se constituir em uma estratgia superficial de enfrentamento da educao brasileira que legitima o processo de precarizao massificao e mercantilizao do ensino transformando os direitos sociais em mercadorias e servios

71 O autor tambm explcita que nos ENESS que compreendem o perodo de 2004-2007 as teses em sua totalidade privilegiaram as discusses em torno do eixo de conjuntura trabalhando de modo superficial as demais esferas universidade formao profissional movimento estudantil e Cultura e Valores

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O posicionamento contraacuterio da ENESSO foi ressaltada por todos(as) os

entrevistados(as) sendo que em cada gestatildeo as discussotildees produccedilatildeo de material

desenvolvimento de atividades como oficinas divulgaccedilatildeo de textos entre outros

consideravam a complexidade e processualidade do real Nesse sentido podemos

afirmar que nas gestotildees 20032004 e 20042005 a aproximaccedilatildeo entendimento e

direcionamento contraacuterios as medidas iniciais propostas e executadas pelo governo

como o SINAES e o PROUNI consistiam no alvo prioritaacuterio dessas atividades

Conforme Urano da gestatildeo 20042005

Noacutes desencadeamos uma campanha que foi contra a reforma universitaacuteria do governo lula em defesa das diretrizes curricularesHouveram varias accedilotildees primeira accedilatildeo e aiacute saiu como deliberaccedilatildeo no eness que noacutes divulgamos foi o boicote ao enade[]e aiacute a gente jaacute saiu do eness com essas deliberaccedilatildeo de boicotar o enade Aprovamos como seria a nossa taacutetica no planejamento que foi em agosto e aiacute a partir daiacute noacutes elaboramos boletins elaboramos planfetos com dez motivos para boicotar o enade entramos em contato com as coordenaccedilotildees regionais com os centros acadecircmicos e fizemos toda a campanha a primeira accedilatildeo de boicote ao enadeApoacutes o boicote noacutes fizemos que aiacute ta no jornal[]avaliaccedilatildeo desse boicote eacute aleacutem disso[]que foi esse debate mais amplo sobre a reforma universitaacuteria[]fizemos vaacuterias palestras fizemos adesivos fizemos oficinas passadas nas universidades Nesse sentido orientamos para que nos encontros tanto nos coress nos eress houvessem discussotildees nesse sentido e aiacute tambeacutem aconteceu que em todos esses encontros tinham esse debate debater o mote da campanha e levando as especificidades de cada regiatildeo[]mas sempre presentes nos debates nos encontros nas oficinas orientando as universidades a fazerem debates palestras seminaacuterios para que fosse esclarecendo aos estudantes neacute Do que se tratava a reforma universitaacuteria

Nas gestotildees seguintes 20052006 20062007 e 20072008 o

posicionamento de negaccedilatildeo a contra-reforma se manifesta tambeacutem nas criacuteticas

direcionas a aberturas e proliferaccedilatildeo dos cursos em Serviccedilo Social agrave distacircncia nas

discussotildees e negaccedilatildeo do exame de proficiecircncia na profissatildeo nas criacuteticas feitas ao

REUNI Dimensatildeo sintetizada na argumentaccedilatildeo de Neturno da gestatildeo 20062007

O REUNI[] eacute um debate que vai contra a tudo que gente defendeprincipalmente por que a nossa defesa do projeto pedagoacutegico jaacute imbrica na disputa de espaccedilo com esse projeto do REUNI entatildeo isso eacute algo que jaacute foi constituiacutedo no final no termino da nossa gestatildeo mas que ficou claro[] natildeo dava pra ser a favor daquilo que batia direto nas nossas diretrizes curriculares batia em tudo que a gente havia deliberado ao longo do ano no encontro nacional em tudo que tinha sido construiacutedo ateacute do plano de accedilatildeo da proacutepria gestatildeo

153

Os(as) dirigentes da ENESSO apreendem a contra-reforma como um

processo desencadeado principalmente na era FHC e dessa maneira natildeo deve ser

entendido sem essa anaacutelise histoacuterica mais ampla Corroboramos com a anaacutelise feita

pelos(as) militantes entrevistados(as) contudo temos a concepccedilatildeo que por se tratar

de um governo de um partido forjado no campo dos MS as suas accedilotildees deveriam ser

de resistecircncia aos ditames do capital e natildeo de entrega da educaccedilatildeo a plena

exploraccedilatildeo capitalista sem o esboccedilo de nenhum confronto conflito ou desobediecircncia

aos organismos internacionais

No tocante a formaccedilatildeo profissional os dados destacam o compromisso do

MESS e de sua entidade nacional com a defesa do projeto pautado nas Diretrizes

Curriculares elaboradas pela ABEPSS em 1996 e que desde o processo de

aprovaccedilatildeo pelo CNE sofre os rebatimentos da poliacutetica privatizante que atinge a

educaccedilatildeo superior brasileira Conforme argumentaccedilatildeo de Ramos(2005 p102)

a formaccedilatildeo profissional eacute um acircmbito que vem tendo um investimento prioritaacuterio do MESS a partir da compreensatildeo de que o debate em torno do projeto de formaccedilatildeo profissional eacute um campo de disputa ideoloacutegica e poliacutetica para a defesa de uma outra direccedilatildeo para universidade bem como de uma outra hegemonia para a sociedade

A direccedilatildeo social criacutetica da formaccedilatildeo defendida pela ENESSO e expressa

tanto nos documentos produzidos como na fala de seus(as) dirigentes apresenta

sintonia com a afirmaccedilatildeo da autora

A formaccedilatildeo profissional consiste um dos eixos prioritaacuterios de debate no

MESS No ENESS satildeo formados grupos de discussatildeo voltados para o debate dessa

temaacutetica resultando nas deliberaccedilotildees aprovadas na plenaacuteria final e que constitui o

norte para a accedilatildeo da ENESSO como tratado no item anterior

A defesa do projeto de formaccedilatildeo profissional se manifesta tambeacutem na

articulaccedilatildeo da ENESSO com a ABEPSS e o CFESS no desenvolvimento de

encontros e atividades voltados para discussatildeo da formaccedilatildeo e do exerciacutecio

profissional Temos o entendimento que universidade formaccedilatildeo e o exerciacutecio

profissional satildeo dimensotildees distintas e interdependes entre si e que constituem

esferas privilegiadas de discussatildeo no acircmbito da organizaccedilatildeo estudantil Essa

tendecircncia se verifica de modo majoritaacuterio pelos sujeitos entrevistados(as)

Eacute o mess ele sempre teve pautado na defesa das diretrizescurriculares e a efetivaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do serviccedilo social entatildeo assim eacute natildeo haacute uma dissociaccedilatildeo a militacircncia a construccedilatildeo poliacutetica a defesa de uma universidade puacuteblica gratuita e de qualidade dentro dos princiacutepios do projeto eacutetico poliacutetico profissional e das diretrizes curriculares( Terra)

154

A investigaccedilatildeo realizada por Santos(2007) sugere que a esfera da

formaccedilatildeo profissional se configurou como o eixo que provocou maior interesse

dos(as) estudantes que estiveram presente no ENESS de 2007 com o percentual de

38 da amostragem produzida por ele72 Entretanto as discussotildees sobre a formaccedilatildeo

profissional natildeo podem ser entendidas sem contextualizaacute-las na atual dinacircmica da

sociabilidade capitalista e suas particularidades na realidade nacional

Quanto agraves limitaccedilotildees foram salientadas pelos dirigentes nacionais

questotildees financeiras que dificultam a materializaccedilatildeo das atividades planejadas para

objetivaccedilatildeo das deliberaccedilotildees

A dimensatildeo geograacutefica do paiacutes que mesmo com a existecircncia das

coordenaccedilotildees regionais inviabiliza a atuaccedilatildeo da executiva na totalidade das escolas

de Serviccedilo Social realidade que se tornou mais complexa com a intensificaccedilatildeo da

privatizaccedilatildeo no ensino superior que ampliou de modo expressivo os cursos na

iniciativa privada Entretanto eacute interessante destacar que pode existir profundos

tensionamentos entre coordenaccedilatildeo nacional e regional pois a eleiccedilatildeo para as

regionais satildeo realizadas nos ERESS e desvinculadas da eleiccedilatildeo nacional o que por

sua vez e permite ainda a ocupaccedilatildeo dessas instacircncias por militantes com

posicionamentos poliacuteticos divergentes da direccedilatildeo nacional Essa perspectiva foi

salientadas por dois(duas) dirigentes que sinalizaram dificuldades da ENESSO em

desenvolver atividades em determinadas regiotildees

A mercantilizaccedilatildeo tambeacutem traz dificuldades para a atuaccedilatildeo da ENESSO

pois a fala majoritaacuteria dos(as) entrevistados(as) indicam maior autonomia de

organizaccedilatildeo na esfera puacuteblica

A fraacutegil formaccedilatildeo poliacutetica dos(as) estudantes que corroboram para uma

negaccedilatildeo da organizaccedilatildeo estudantil por parte do proacuteprio segmento que imbuiacutedos na

loacutegica dominante nega as vivecircncias coletivas Essa tendecircncia requisita dos(as)

militantes principalmente daqueles(as) que assumem as entidades estudantis como

a ENESSO uma formaccedilatildeo poliacutetica consistente e qualificada com vista ao

enfrentamento dessas barreiras no cotidiano de sua accedilatildeo Eacute relevante frisar que

conforme definiu Fontes(2009) vivenciamos um contexto de fragilidade dos MS em

que a classe dominante se utiliza da coerccedilatildeo e do convencimento para amenizar as

accedilotildees de contestaccedilatildeo dessa ordem Ainda assim a autora acredita que

72 Conjuntura obteve o percentual de 29 Cultura 6 Universidade 12 e Movimento Estudantil 15

155

Essa juventude tem limites para aturar goela abaixo a privatizao do ensino superior a fragmentao do ensino superior numa hierarquizao alucinada segundo a qual alguns vo ter cursos superiores de boa qualidade e uma grande massa ser de tecnlogos de 2 anos ou cursos distncia de pssima qualidade Durante algum tempo isso pode funcionar mas no por muito tempo A nossa juventude no idiota e a populao tambm no boba Se a grande imprensa atua tratando essa populao como bicho de zoolgico no pior sentido essa populao reage(FONTES73 2009 p10)

Foi citado ainda que a ldquotenso com alguns grupos polticos dentro do

MESS dificulta a organizao de alguns encontros campanhas socializao de

informaes estratgias de lutas nacionaisrdquo(Marte) Alm dessas sinalizaes

consideramos relevante a apreenso realizada pelo(a) entrevistado(a) quanto ele(a)

explicitava outros limites no decorrer da sua gesto

tem o limite conjuntural que n Na poca que participei fazendo um recorte gente j t dentro do recuo dos MS n Tem a dificuldade da organizao coletiva isso a principal limitao n De militncia mesmo no que eu estou colocando a questo financeira a questo outra mas a questo conjunturalmente dificulta que o limite maior da implementao da luta pela universidade pblica gratuita e de qualidade n Para implementao do projeto tico poltico profissional a gente est numa conjuntura adversa onde os MS passam por um refluxo enorme n E onde o individualismo a questo do individualismo da falta de interesse coletivo a principal barreira do militante dentro da executiva ento essa a avaliao que eu fao do ponto de vista das limitaes

A fala do(a) militante expressa os valores predominante nesta

sociabilidade e que fragiliza as organizaes coletivas como MS que

majoritariamente apresentam uma atuao de recusa da ordem societal estabelecida

No tocante as potencialidades apreendidas pelos dirigentes no

desenvolvimento das aes efetivadas pela ENESSO so destacas o papel da

entidade na apreenso das inquietaes estudantis a partir dos debates travados nos

fruns74 do MESS contribuindo para que a executiva seja um importante sujeito na

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social em articulao com a ABEPSS e o

CFESS A discusso da entidade com a base estudantil que corrobora para uma

atuao democrtica mediante a materializao de atividades discutidas

73 Em entrevista concedida pela autora ao observatrio Barlavento e disponibilizada no sitehttpwwwbarlaventoorga3indexphpoption=com_contentampview=articleampid=70entrevistacom-virginia-fontesampcatid=47brasilampItemid=65 acesso 30 de abril de 200974 Santos destaca os dados de sua pesquisa sugere que a principal motivao que levou os(as) estudantes a participar do ENESS de 2007 se remete ao interesse de acompanhar os debates contemporneos que afetam e influenciam a profisso

156

preponderantemente com o coletivo de estudantes O debate constante com as

coordenaes regionais respeitando as especificidades de cada regio A autonomia

do ME e em particular da ENESSO frente ldquoao movimento dos professores da

prpria categoria de Servio Social sempre uma postura de autonomia de

independnciardquo(URANO) tambm foi salientada pelos(as) dirigentes

As estratgias citadas pelos entrevistados(as) foram a descentralizao

poltica na qual cada coordenador(a) nacional fica responsvel pela cobertura das

escolas de uma determinada regio quando se trata da realizao de oficinas

seminrios visitas as escolas e tambm a participao e construo dos fruns

estudantis locais e regionais O incentivo a construo de CA e DA em escolas nas

quais essas instncias inexistiam seja na iniciativa pblica ou privada Articulao

com as representaes discentes em ABEPSS com o objetivo de fortalecer a luta em

favor das Diretrizes Curriculares O desenvolvimento de campanhas de quitao de

dbitos das escolas visto que a ENESSO mantida pelo pagamento de anuidades75

por parte dos CAs e DAs dos cursos de Servio Social como forma de potencializar

a autonomia da entidade

Os(as) entrevistados(as) apontam como principais aliados do MESS e por

conseguinte da ENESSO as demais entidades representativa da profisso a

ABEPSS e o CFESS e os CRESS que compartilham princpios lutas e atividades

nessa conjuntura desfavorvel a organizao e articulao poltica de segmentos

negadores dessa ordem Entretanto Marte referindo aos CRESS evidencia que ldquocabe

ressaltar que em alguns estados o dilogo com essa instncia difcilrdquo

As entidades estudantis que tem uma postura de defesa da universidade

e de um ensino superior com qualidade tambm foram ressaltadas direes de

faculdades especialmente pblicas alm do ANDES que tido como um importante

aliado na defesa por uma educao qualificada e na prpria luta contraria a atual

contra-reforma do ensino superior A direo minoritria da UNE tambm foi citada

por dois militantes que salientam as contradies existentes naquela entidade J que

a eleio da mesma proporcional e isso possibilita a ocupao de alguns cargos por

dirigentes no pertencentes corrente majoritria no caso a UJS vinculada ao PC do

B foram salientados ainda o MST e a CUT como importantes aliados da entidade

Mediante as entidades e movimentos citados apreendemos que a

executiva procurar construir alianas com sujeitos que predominantemente no

decorrer da histria apresentou eou apresenta uma postura de defesa de direitos e

situada no campo da esquerda nacional Entretanto isso no significa a inexistncia

75 A anuidade equivale ao valor do salrio mnimo vigente no pas As escolas que sediaram encontros no decorrer do ano so isentas do pagamento

157

de contradies em que citamos a UNE e a CUT como entidades que tem

apresentando uma atuao acrtica na atual conjuntura nacional tendncia que

culminou inclusive com a desfiliao do ANDES da referida entidade sindical

Quanto aos opositores os(as) dirigentes da ENESSO destacam as

mantenedoras e coordenaes de cursos de universidades privadas que impediam o

acesso dos(as) dirigentes aos(as) estudantes como demonstrado na seguinte

passagem aqueles(as) ldquoque fazem a defesa intransigente da instituio no campo de

defesa do campo de trabalho eu trabalho aqui como que eu vou bater e se perde

dentro do campo contraditrio da atuao profissionalrdquo (Neturno) Foi ressaltado

ainda rgo de represso do Estado especialmente a polcia que procura reprimir as

mobilizaes estudantis

No ENESS 2007 alguns estudantes foram ameaados pela polcia outros foram atingidos por spray de pimenta Na luta pelo passe-livre foi utilizado cavalaria contra os estudantes tropa de choque seguranas de universidades usando de fora fsica excessiva pararetirar estudantes de reitorias etc(Marte)

Para Terra o grande opositor o prprio sistema vigente uma conjuntura

que dificulta a efetivao das lutas dos MS e em particular do MESS e de sua

entidade nacional Certamente estamos numa sociabilidade negadora de vivncias

coletivas pois o que predomina a imediaticidade e a busca pelos anseios individuais

entretanto no podemos negar que a burguesia tem entidades e organismos que

defendem seus interesses em detrimentos das demandas dos segmentos

subalternizados Exemplo disso consiste a investida do capital na educao superior e

que atualmente conta expressivamente com o aparelho do Estado com a grande

mdia com corporaes financeiras entre outras

No campo de dificuldades em termos da organizao poltica do MESS

os(as) dirigentes evidenciaram a expanso da privatizao do ensino superior visto

que segundo suas contribuies recorrente a represso nesses espaos O reduzido

registro histrico sobre o ME reflexo da prpria transitoriedade desse movimento

Dificuldades dos(as) estudantes incluindo os(as) coordenadores(as) da ENESSO em

participar de todos os eventos expresso das prprias condies objetivas dos(as)

militantes e de seus compromissos cotidianos Conseguir maior adeso dos(as)

estudantes e fazer com que eles(as) se percebam nos fruns estudantisrdquo fazer com

que o estudante perceba que o seu problema cotidiano est ali sendo discutidordquo

(Urano) Ainda foi citada os tensionamentos de atuar em um espao to heterogneo

com a existncia de posicionamentos diversos e s vezes antagnicos Marte traz uma

reflexo polmica sobre as dificuldades enfrentadas na gesto 20072008 e que se

158

remete aos agrupamentos polticos atuantes no movimento e que consistem numa

expresso dessa diversidade caracterstica do ME e especial do MESS Para ele(a)

as tendncias

O debate sobre a contribuio das ldquotesesrdquo polmico e meu posicionamento contrrio a qualquer forma de aparelhamento ou ingerncia partidria no MESS No foram raras s vezes em que os encontros foram implodidos por tais correntes As teses tm em minha opinio contribudo para a fragmentao desarticulao e sectarizao dos estudantes Os Encontros tm sido permeados por embates entre as teses perdendo o debate das mesas desmotivando os estudantes e enfraquecendo o movimento Esse talvez nesse momento possa ser um dos fatores de maior fragilizao do MESS Observadas com mais ateno percebe-se um carter denuncista e quase nulo em proposies para superao dos problemas do MESS A contribuio poltica que segundo alguns defensores poderiam ser utilizados seriam os debates macro societrios mas que so apresentados como leitura de cartilha e no como um estudo de fato de uma situao O que em minha opinio empobrece a discusso e no traz benefcios para o pensamento crtico(Marte)

Afirmandonegando a argumentao acima Terra da gesto 20052006

explicita que apesar da

necessidade e da legitimao que eu fao dos agrupamentos polticos mas na poca que eu estava na executiva j existiam um enfraquecimento desses agrupamentos polticos a organizao ela j estava se tornando frgil ns no tnhamos mais as grandes plenrias dos movimentos o movimento poltico partidrio ele comea a ficar mais latente e a as brigas internas do movimento elas se tornam mais visveis mas no do ponto de vista estratgico mas do ponto de vista poltico partidrio ento eram as principais dificuldades e a questo da organizao poltica ela vem n

Analisando a fala dos(as) entrevistados(as) apreendemos que so

posicionamentos diferentes em relao aos grupos polticos enquanto um(a) defende

e legitima atuao dos mesmos outro(a) coordenador(a) da ENESSO a nega

entretanto ambos concordam no sentido de atribuir a esses grupos ampla ao

nesse processo de fragilizao pela qual perpassa o MESS na contemporaneidade

que se expressa por exemplo na no ocupao das coordenaes nacionais para

gesto 20082009 da ENESSO

No nosso entendimento para Marte da gesto 20072008 os

agrupamentos se constituem em correia de transmisso dos partidos polticos para

com o MESS o que por sua vez fragiliza e desmobiliza esse movimento mediante o

159

enfraquecimento ou anulao de sua autonomia Enquanto que para Terra da gesto

20052006 os agrupamentos historicamente constituem os principais impulsionadores

da poltica da ENESSO e o que acontece hoje que eles no esto mais formulando

organizando e propondo ldquode voc realizar plenria produzir material fortalecer a

entidaderdquo (Terra) e quando essas dimenses deixam de ser pautadas o que mais

reflete so as vinculaes partidrias deixando o precpuo ou seja o fortalecimento

do MESS para segundo plano

Analisamos que a existncia de agrupamentos polticos inclusive no ME

e aqui especificamente do MESS reflete uma tendncia de discusso organizao e

atuao com posicionamentos divergentes que a vivncia no campo da democracia

poltica possibilita e que os(as) estudantes tiveram importante atuao nessa

conquista

Destarte no fazemos defesa da utilizao das organizaes estudantis

por sujeitos com mera pretenso partidria que procuram aparelhar as entidades o

que por sua vez representa a reduo ou anulao de espaos democrticos nos

debates e tomadas de decises visto que a principal pretenso colocar a entidade

prioritariamente a disposio do partido Temos o entendimento que as organizaes

estudantis se configuram como espaos de referncia dos(as) estudantes na sua luta

cotidiana em instituies pblicas e privadas O que no significa a negao de

vinculao com outros sujeitos coletivos como MS e Partidos polticos na construo

de alianas com o objetivo de realizar aes que ultrapassem as demandas

especficas do segmento ou seja necessria a articulao quando se visa

ultrapassagem de conquistas corporativas e se busca a negao da sociabilidade

capitalista objetivo histrico e majoritrio no MESS

A anlise realizada pelos (as) dirigentes sobre a atuao do ME na

contemporaneidade no sentido de que no se pode pensar a atuao desse

segmento sem contextualiz-la nessa conjuntura neoliberal de no ascenso dos MS

em que cada vez mais predomina o individualismo e a negao de prticas coletivas

Dimenso que sintetizamos na fala de Urano ldquoacho que os anos 1990 foram muito

perversos como estvamos num processo de reorganizao ele veio com muita fora

para desarticular esses MSrdquo

um contexto de refluxo que corrobora para o enfraquecimento das lutas

sociais alm disso na realidade brasileira historicamente a principal entidade

dos(as) estudantes passam por um processo de cooptao por parte do governo

federal em que nitidamente so efetivadas medidas que fragilizam a perspectiva de

universidade pblica e potencializam a esfera privada com amplo apoio da UNE No

caso especfico do MESS a principal entidade passou o perodo de gesto 2008-2009

160

sem dirigentes para impulsionar a poltica da entidade o que rebate negativamente na

organizao e mobilizao estudantil

Embora com tantas dificuldades militantes apontam que ainda assim o

ME tem sido importante na luta em favor da universidade pblica gratuita laica e de

qualidade no Brasil Conforme Marte

Infelizmente concordo com alguns autores que apontam o refluxo dos movimentos sociais e no caso do MESS Existe uma crise de quadros no MESS que tem atingido a estrutura de nossa organizao Apesar disso identifico no movimento estudantil um enorme potencial transformador da sociedade [] Fica mais evidente o movimento estudantil na luta pela universidade pblica Que no meu entender ainda no foi extinta pela intensa luta dos estudantes dessas instituies Em algumas faculdades privadas como as PUCrsquos percebemos uma organizao estudantil capaz de barrar aumentos de mensalidades denncia de falta de investimento em corpo docente materiais livros etc

Na apreenso de todos(as) os(as) entrevistados(as) a atuao dos(as)

estudantes fundamental para preservao e conquista de direitos na esfera

educacional dimenso privilegiada no Servio Social pelo prprio perfil de formao

profissional que mediante a anlise crtica da sociabilidade capitalista e da formao

econmica social e poltica do Brasil corrobora para uma interveno crtica dos(as)

estudantes

Diante do exposto os(as) militantes entrevistados(as) apreendem a

ENESSO como uma entidade combativa e comprometida com a universidade pblica

e com o projeto profissional do Servio Social e fundamental na articulao nacional

dos(as) estudantes e que no decorrer de sua histria tem contribudo politicamente

com as lutas dos(as) assistentes sociais brasileiros(as)

voltando pra importncia da entidade s a gente remontar a nossa histria ns participamos diretamente da reformulao das diretrizes curriculares ns participamos diretamente na construo do cdigo de tica ns participamos ativamente dentro do debate de construo da lei orgnica da assistncia ns participamos atualmente dentro dos debates mais importantes dentro da categoria o debate sobre construo ou no do exame de proficincia[]ns temos sim grande importncia essa uma instituio uma entidade que tem importncia concreta na luta real dos estudantes de servio social no Brasil e dos assistentes socais de uma forma mais geral (Neturno)

Alm disso recorrente na fala dos(as) militantes a participao no ME

em particular no MESS e na coordenao da ENESSO como relevante na construo

161

de um pensamento e da ao crtica que se procura manter aps a concluso do

curso mediante a militncia em outros espaos como entidades da profisso outros

MS e partidos polticos Essa perspectiva j havia sido sinalizada por

Ramos(2005)ldquoEnquanto movimento social com base transitria o ME um locus

muitas vezes de iniciao de parcela da juventude na militncia poltica se

configurando como um espao de formao poltico-ideolgica de militantes que

depois iro atuar em outras esferas organizativasrdquo(p105) Essa perspectiva tambm

sinaliza em Silva(2008) que concebe o MESS como importante espao na formao

profissional e poltica dos(as) estudantes

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies

Como j foi relatado no perodo investigado nesta pesquisa ocuparam

majoritariamente a coordenao nacional da ENESSO sujeitos organizados

simpatizantes eou apoiados pelo agrupamento e militantes do ldquoViver na Lutardquo Embora

no se constitua objetivo principal dessa pesquisa o estudo sobre os agrupamentos

que atuam no MESS consideramos ser importante destacar a apreenso de um(a)

militante que atuou no MESS de 20042008 e esteve como coordenador(a)76 regional

da ENESSO na condio de oposio a coordenao nacional

As contribuies do(a) dirigente regional se estrutura a partir de trs

questionamentos anlise em relao atuao das tendncias no MESS atuao da

ENESSO nos mbitos da universidade e da formao profissional objetivo precpuo

desse trabalho e finalmente atuao da executiva no processo de organizao e

mobilizao dos(as) estudantes na contemporaneidade

Em relao primeira discusso o(a) dirigente regional defende que as

tendncias foram fundamentais na construo do MESS pois contribuiu na

organizao estrutural dos encontros bem como no amadurecimento poltico dos(as)

militantes mediante a elaborao de documentos fomentao de debates e

corroborou ainda na aproximao do MESS com partidos polticos e outros MS

permitindo que o movimento apresente atualmente uma atuao no restrita ao

espao universitrio

Como observado essa concepo no se difere da maioria dos(as)

dirigentes nacionais entrevistados(as) nesta investigao que tambm sinalizam a

76 A(o) militante receber o nome fictcio de Luz Estudante de universidade pblica que atuou em instncias como CORETUR e CA A dirigente no filiado(a) a partido poltico

162

relevacircncia dos agrupamentos na construccedilatildeo do MESS a partir do desenvolvimento de

debates na construccedilatildeo dos foacuteruns estudantis na elaboraccedilatildeo de documentos que

abordam questotildees fundamentais como conjuntura universidade cultura formaccedilatildeo

profissional e sobre o proacuteprio movimento Luz reflete tambeacutem a articulaccedilatildeo dos grupos

presentes no MESS com os partidos poliacuteticos que na sua concepccedilatildeo

Todas as tendecircncias que existiram no MESS tiveram em algum momento militantes filiados a partidos poliacuteticos o que muitas vezes permitiu uma correlaccedilatildeo de forccedilas entre os partidos poliacuteticos e as tendecircncias Quando na histoacuteria brasileira se acirram as disputas entre os partidos de esquerda se acirram tambeacutem as disputas entre as tendecircncias no MESS havendo entatildeo uma pluralidade de direcionamentos poliacuteticos e ideoloacutegicos Esse processo refletia diretamente na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo do MESS trazendo em alguns momentos fortalecimento e em outros desmobilizaccedilatildeo dos estudantes para as lutas(Luz)

Para Marte da gestatildeo 20072008 que se colocou contraacuterio a accedilatildeo dos

grupos acredita que a real disputa pela ENESSO por militantes filiados(as) a partidos

poliacuteticos em especial do PSTU eacute decorrente da forte atuaccedilatildeo da ENESSO que se

configura como uma das executivas de cursos mais combativas e com poder de

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo estudantil o que no seu entendimento chama atenccedilatildeo dos

partidos77

A combatividade da executiva pode chamar a atenccedilatildeo de diferentes

correntes partidaacuterias entretanto o fato em si de militantes do MESS atuarem tambeacutem

em partidos entre os quais o PSTU natildeo significa que a intenccedilatildeo preponderante

desses militantes seja ocupar os espaccedilos da ENESSO com vista a atender

meramente os interesses partidaacuterios Expressatildeo disso eacute que como registrado no item

que tratou do perfil dos(as) dirigentes nacionais da entidades nas gestotildees entre os

anos de 2003-2008 em relaccedilatildeo a filiaccedilatildeo partidaacuteria existiu uma total predominacircncia

de coordenadoras filiados ao PT e na maioria dos casos essa se deu apoacutes a inserccedilatildeo

no MESS e mesmo assim nos documentos produzidos pela entidade fica explicito a

sua direccedilatildeo de recusa da contra-reforma do ensino superior do governo Lula inclusive

encampando accedilotildees de repercussotildees significativas como foi o boicote ao ENADE em

2004 o que natildeo representa a inexistecircncia de limitaccedilotildees e contradiccedilotildees

especialmente nesse cenaacuterio de fragilizaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo dos MS e de

desconfianccedila e descreacutedito em relaccedilatildeo aos partidos poliacuteticos

77 Eacute importante destacar que natildeo soacute militantes de partidos poliacuteticos forjado no campo da esquerda atuam no MESS ainda que de forma tiacutemida se faz presente militante identificados com partidos historicamente situados no campo de direita e comprometidos com os privileacutegios da burguesia Nos congressos da UNE eacute recorrente a articulaccedilatildeo da juventude de partidos como o PMDB e os DEMOCRATAS estes anteriormente chamados de PFL jovem

163

Segundo as contribuies de Luz avanos e retrocessos perpassam a

atuao dos agrupamentos existentes no MESS Essa perspectiva se verifica por

exemplo quando os(as)

estudantes no conseguem nos encontros tirar deliberaes em comum para a luta da ENESSO e quando como ocorreu em muitos ENESSrsquos a fragilizao nos atos pblicos porque as teses se dividiram no ato porque tinham divergncias nas bandeiras de lutas Em alguns encontros os estudantes que no faziam parte das tendncias demonstravam claramente empatia e rejeio s teses e a partidos polticos e colocavam que as disputas tinham apenas o objetivo de conseguir a diretoria da ENESSO

A fala do(a) entrevistado(a) nos remete a reflexo em torno da ao dos

agrupamentos polticos nessa conjuntura de acirramento das disputas entre as

vertentes que se organizam no MESS Analisamos que essa efervescncia seja

reflexo sobretudo da conjuntura nacional visto que um dos pontos prioritrios que

distinguem os grupos que existiram eou existem no perodo dessa investigao se

refere prioritariamente a uma posio de rejeio ou no em relao ao governo Lula e

ao reconhecimento ou no da UNE como entidade mxima de organizao e na

mobilizao e direcionamento das lutas e demandas estudantis no pas Portanto a

existncia de diviso em atos pblicos revela prticas sectrias e que certamente

fragilizam o movimento Agrupamentos como o recm acabado Viver na Luta tese que

esteve majoritariamente na direo nacional da ENESSO no perodo aqui analisado

apresentava uma atuao de defesa em relao a UNE e desse modo de

possibilidade de reorganizao e retomada combativa dessa entidade j o grupo A

Sada pela Esquerda majoritariamente faz a defesa de que ldquopermanecer nos

marcos da UNE gastar energia numa luta intilrdquo (2005)

No que se refere atuao da ENESSO nos mbitos da universidade e da

formao profissional o(a) militante enfatiza que historicamente a defesa da

universidade pblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formao

profissional fundado no projeto tico poltico do Servio Social constituem esferas

defendidas pelo MESS e dessa maneira ele(a) sinaliza a necessidade da atuao da

ENESSO independente da chapa eleita seguir as orientaes previstas nas

deliberaes aprovadas pelo conjunto de estudantes presentes no Encontro Nacional

do segmento

Nesse sentido assinalamos anteriormente que as deliberaes ratificadas

nos ENESS que compreendem o interregno de 2003-2008 apresentaram uma

postura de afirmao de processos formativos fundamentados nas Diretrizes

Curriculares de 1996 bem como direcionaram a entidade a assumir uma direo de

164

defesa da universidade puacuteblica e socialmente referenciada o que por sua vez implica

a luta em oposiccedilatildeo a contra-reforma do ensino superior efetivada nas gestotildees de

Lula Diante do exposto Luz reflete sobre possiacuteveis limitaccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS e

da ENESSO no acircmbito da universidade decorrentes das polecircmicas que envolvem a

forma de articulaccedilatildeo com o ME geral

isto porque nas ultimas gestotildees da diretoria da ENESSO essa articulaccedilatildeo ocorre atraveacutes da UNE e muitosas estudantes apesar dela ser a entidade maacutexima de representaccedilatildeo dos estudantes natildeo acredita em seu poder de enfrentamento pois ela tem sido a favor de todas as propostas do governo com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria Essa polemica se estende haacute alguns anos e nos ENESS se colocam como ponto central na discussatildeo sobre articulaccedilatildeo com o ME geral Os estudantes se dividem uns acreditam que a articulaccedilatildeo deve continuar sendo atraveacutes da UNE outros defendem que seja atraveacutes de outras entidades como a CONLUTE e movimentos de aacuterea Eacute importante ressaltar o interesse poliacutetico nessas discussotildees e articulaccedilotildees essas disputas poliacuteticas em alguns momentos acabam por limitar a articulaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da ENESSO com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria

A CONLUTE eacute uma entidade jovem criada recentemente mas que pauta

e fomenta o debate de questotildees diferentemente da UNE esta que embora apresente

uma frente de esquerda devido a proporcionalidade que marca o processo eleitoral da

entidade mas a forccedila poliacutetica maior eacute de aceitaccedilatildeo predominante das accedilotildees

governamentais sem esboccedilo de negaccedilatildeo O que nos leva a refletir que seja

importante a articulaccedilatildeo da ENESSO com as entidades e movimentos que partilham

princiacutepios e lutas conjuntas

Um dimensatildeo sinalizada pelo(a) coordenadora regional bem como

pelos(as) coordenadores(as) nacionais eacute reconhecer a importacircncia da alianccedila com o

conjunto CFESS-CRESS e a ABEPSS como potencialidade no fortalecimento de lutas

contra a precarizaccedilatildeo do ensino e em favor da formaccedilatildeo qualificada

No tocante a esfera de atuaccedilatildeo da ENESSO na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

dos(as) estudantes na cena contemporacircnea o(a) militante socializa significativas

criacuteticas Essas satildeo direcionadas no sentido de fortalecer a representatividade da

entidade que segundo Luz

Eacute necessaacuterio que a diretoria da ENESSO tenha representatividade perante osas estudantes para uma maior identificaccedilatildeo com as lutas travadas pela entidade Para que se consiga representatividade eacute necessaacuterio trabalho de base o contato e formaccedilatildeo poliacutetica criacutetica deve ser priorizado em suas atividades o que as uacuteltimas gestotildees da coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO deixam a desejar Atraveacutes do trabalho de base e da formaccedilatildeo criacutetica osas estudantes constroem as pautas das lutas gerando identificaccedilatildeo organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

165

Como observamos no item anterior os(as) dirigentes nacionais da

ENESSO sinalizam a articulaccedilatildeo com as bases estudantis como uma relevante

potencialidade na construccedilatildeo do MESS e na atuaccedilatildeo da ENESSO o que agora eacute

apontado por Luz como fragilidade no processo de mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes

Entretanto majoritariamente os(as) dirigentes entrevistados(as) aqui

incluindo nacionais e regionais chama a atenccedilatildeo para a conjuntura desfavoraacutevel para

organizaccedilatildeo coletiva que tem fortes rebatimentos nos MS em particular no MESS

5-5 SERVICcedilO SOCIAL ABEPSS CFESS e A ENESSO no acircmbito da parceria

estrateacutegica

A pesquisa tratou de explicitar a atuaccedilatildeo da ENESSO nas esferas da

universidade e da formaccedilatildeo profissional na qual procuramos apontar potencialidades

limites e contradiccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS mediante a accedilatildeo de sua entidade

nacional Diante disso a parceria entre as entidades da profissatildeo se confirma como

uma significativa tendecircncia no acircmbito organizativo do Serviccedilo Social sobretudo a

partir da deacutecada de 1990 perspectiva amplamente apontadas pelos dirigentes da

ENESSO entrevistados(as) nessa investigaccedilatildeo e nos documentos produzidos pela

entidade que define a parceria com a ABEPSS e com o conjunto CFESS-CRESS

como essencial na efetivaccedilatildeo de lutas que tenham como horizonte a defesa da

formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social

Dessa maneira apontaremos algumas mediaccedilotildees relacionadas a essa

articulaccedilatildeo em que nos baseamos no seguinte fio condutor para o desenvolvimento

da anaacutelise apreensatildeo em relaccedilatildeo a parceria das entidades as estrateacutegias

desenvolvidas pelas entidades no acircmbito da universidade e da formaccedilatildeo profissional e

dificuldades enfrentadas nesse processo de articulaccedilatildeo Para tal levamos em

consideraccedilatildeo a fala de representante de outra entidade da categoria particularmente

da ABEPSS Em que chamamos a atenccedilatildeo para as particularidades que perpassa a

articulaccedilatildeo com a ENESSO voltada para defesa do projeto que direciona a formaccedilatildeo

e o exerciacutecio profissional no paiacutes

Nesse sentido esboccedilaremos uma breve contextualizaccedilatildeo relativa ao

projeto profissional hegemocircnico no Serviccedilo Social e que fundamenta a formaccedilatildeo

pautada nas Diretrizes Curriculares jaacute evidenciadas no capitulo quarto desse trabalho

O final da deacutecada de 1970 se configura para profissatildeo como um periacuteodo

de intensa discussatildeo e inquietaccedilatildeo decorrentes entre outros aspectos da

166

aproximaccedilatildeo de segmentos da profissatildeo com uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

criacutetica contribuindo para construccedilatildeo de um projeto eacutetico-poliacutetico sintonizado com os

ideais da vertente de ruptura78 e portanto com os interesses da classe trabalhadora e

de sujeitos sociais historicamente subalternizados

Natildeo podemos desvincular esse processo do cenaacuterio brasileiro marcado

naquele momento pela crise do sistema ditatorial fragilidade do milagre econocircmico

a reorganizaccedilatildeo de setores importantes entre os quais diversos MS que

transformaram a liberdade e a democracia nas principais bandeiras de luta ou seja

uma conjuntura de efervescecircncia nos marcos da redemocratizaccedilatildeo poliacutetica

caracterizada na sua essencialidade por accedilotildees combativas e contestatoacuterias

direcionadas por vaacuterios setores da sociedade civil contra a ditadura instalada em abril

de 1964 Assim Netto (1999 p 100) destaca

A luta pela democracia na sociedade brasileira fazendo-se ecoar na categoria profissional criou o quadro necessaacuterio para quebrar o quase monopoacutelio do conservadorismo no Serviccedilo Social no processo de derrota da ditadura militar inscreveu-se a primeira condiccedilatildeo a condiccedilatildeo poliacutetica para a constituiccedilatildeo de um projeto profissional

Outra dimensatildeo tambeacutem sinalizada por Netto (1999) Iamamoto (2006)

constitui a elevaccedilatildeo na produccedilatildeo teoacuterica dos (as) assistentes sociais vinculada a uma

perspectiva de anaacutelise e intervenccedilatildeo criacutetica dana realidade social influenciada pela

aproximaccedilatildeo de profissionais do Serviccedilo Social com a matriz marxiana e com os

pensadores(as) marxistas Nesse sentido eacute interessante chamarmos a atenccedilatildeo para a

contribuiccedilatildeo do meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico na construccedilatildeo do

conhecimento e portanto na apreensatildeo da realidade visto que permite a elaboraccedilatildeo

de anaacutelises levando-se em consideraccedilatildeo as muacuteltiplas determinaccedilotildees das

problemaacuteticas sociais proporcionando uma compreensatildeo cuja centralidade consiste

na desnaturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees histoacutericas

78 No processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional trecircs correntes se destacaram 1ordf a modernizaccedilatildeo conservadora que procurou adequar agrave profissatildeo as estrateacutegias de expansatildeo do capitalismo no Brasil os seminaacuterios de Araxaacute (1967) e Teresoacutepolis (1970) expressam a afirmaccedilatildeo dessa perspectiva baseada sobretudo no estrutural funcionalismo norte-americano a 2ordf vertente consistiu na reatualizaccedilatildeo do conservadorismo influenciada pelas concepccedilotildees fenomenoloacutegicas a qual privilegiava o vieacutes psicologista na atuaccedilatildeo do (a) assistente social a 3ordf vertente denominada de intenccedilatildeo de ruptura baseada especialmente na tradiccedilatildeo marxista cujo siacutembolo dessa aproximaccedilatildeo correspondeu o famoso meacutetodo de BH ainda nos primeiros anos da deacutecada de 1970 Todavia pelo proacuteprio contexto de repressatildeo vivenciado durante a ditadura militar a influecircncia do marxismo no acircmbito do Serviccedilo Social soacute ganhou expressividade no final dos anos 1970 e conforme Netto eacute a intenccedilatildeo de ruptura que daacute o tom da polecircmica profissional na 1ordf metade dos anos 1980 ( cf NETTO 2005)

167

Pereira(2007) elenca alguns momentos considerados emblemticos nesse

processo de negao do Servio Social tradicional e afirmao de um projeto

profissional sintonizado com perspectiva de transformao social visando a

emancipao humana Entre eles destacamos o denominado congresso da virada em

1979 a construo do cdigo de tica de 1986 o qual evidencia a ruptura com as

bases tericas conservadoras e a tica da neutralidade passando a situar a atuao

do(a) assistente social no mbitos das relaes histricas e contraditrias que

caracterizam a sociabilidade capitalista a constituio do Centro de Documentao

Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social(CEDEPSS) que impulsionou os

debates e o desenvolvimento de aes que destacavam a importncia da pesquisa no

cotidiano da profisso para alm da academia o reconhecimento nos anos de 1980

por parte das agncias de incentivos a pesquisa de ser o Servio Social uma rea de

conhecimento o que contribui fundamentalmente na criao e expanso da ps-

graduao no pas o fortalecimento organizativos das entidades em nvel profissional

e estudantil e ainda os debates promovidos pela antiga ABESS hoje ABEPSS que

culminou na formulao do Currculo Mnimo de 1982 o qual passou a conceber a

ldquoprofisso inserida na diviso scio-tcnica do trabalho no processo de produo e

reproduo das relaes sociais capitalistasrdquo(2007 p14)

relevante evidenciarmos que essa redefinio no mbito do Servio

Social foi resultado de intensos debates coletivos envolvendo os diversos sujeitos

dessa profisso entre estes os (as) estudantes e de suas entidades poltico-

organizativas

Pensar a profisso requer considerarmos o constante movimento da

sociedade capitalista a partir da anlise das prprias transformaes histricas Nessa

perspectiva a reviso dos instrumentos normativos constitui uma necessidade real no

intuito de responder as demandas colocadas no cotidiano da formao e atuao

profissionais mudanas contudo preservando-se a postura crtica alcanada

hegemonicamente no mbito da profisso

Portanto nessa caminhada temos a reformulao do Cdigo de tica de

1986 redundando no Cdigo em vigncia de 1993 As alteraes efetivadas visaram

superao de limites de natureza terico-prtica o que permitiu a construo de

mediaes no sentido de melhor apreender as particularidades resultantes por

exemplo das relaes de gnero etnia entre outras alm disso procurou-se

retraduzir os seus valores norteadores no ldquorelacionamento entre assistentes sociais

instituies e populao preservando os direitos e deveres profissionais a qualidade

dos servios e a responsabilidade do usurio (CDIGO DE TICA DE 1993)

168

Assim nos anos 1990 percebemos a retomada da discusso da tica nas

diversas esferas do Servio Social incluindo a formao profissional aliado a essa

reflexo ocorre aprovao da Lei de Regulamentao Profissional n 866293 a

qual estabelece as competncias e atribuies privativas do (a) assistente social

conformando um documento indispensvel na defesa da profisso e dos servios

prestados aos usurios nos espaos de interveno desta profisso

significativo apontar que essa trajetria de redefinio e consolidao do

atual projeto tico-poltico tambm foi protagonizada pelos estudantes como

destacado no capitulo dois dessa pesquisa em que consubstanciamos esta afirmativa

a partir da anlise realizada por Ramos (1996) cuja abordagem sobre o MESS em

nvel nacional ratifica a contribuio desse segmento na construo do novo projeto

profissional Esta atuao do MESS em relao s problemticas debates desafios

que perpassa o Servio Social se expressa por exemplo pelo reconhecimento da

ENESSO como uma das entidades representativas da profisso manifestada tal

apreenso na fecunda articulao desta com a ABEPSS e o CFESS

Nessa dimenso ressaltamos que tal projeto se materializa nos

instrumentos aqui citados cdigo de tica lei de regulamentao e diretrizes

curriculares contudo a eles no se reduzem dada compreenso do mesmo se

expressar nas deliberaes dos encontros profissionais e estudantis nas campanhas

elaboradas pelas entidades na interveno cotidiana dos (as) assistentes sociais

voltada para a garantia de direitos e do ser humano como sujeito construtor dos

processos histricos bem como atravs da formao de alianas com outros

segmentos voltadas para construo de um movimento verdadeiramente contra-

hegemnico a sociabilidade do capital

Nesse sentido a anlise da fala da representante da ABPSS evidencia

que a parceria existente entre as trs entidades se sustenta na unidade em torno da

defesa do projeto profissional o qual teve suas bases de constituio nos anos 1980

com sua firmao na dcada seguinte dimenso sintetizada na fala abaixo

numa ampla articulao de foras predominantes na direo das entidades as quais se identificam nos princpios fundamentais norteadores do projeto tico-poltico-profissional do Servio Social Refiro-me ao projeto que ganha visibilidade a partir de 1979 em contraposio ao projeto profissional tradicional na busca de vinculao s lutas e conquistas democrticas e ao iderio emancipatrio da classe trabalhadora ndash referncia de luta de vastos segmentos dessa classe no Brasil e em todo o mundo( representante ABEPSS)

169

Unidade que como ressaltado pela representante da ABEPSS natildeo

significa a inexistecircncia de contradiccedilotildees divergecircncias e polecircmicas internamente nas

entidades e entre elas Dimensatildeo sinalizada em algumas passagens pelos dirigentes

da ENESSO que evidenciaram momentos conflitantes que envolvem a articulaccedilatildeo no

acircmbito da parceria entre a ABEPSS e conjunto CFESS-CRESS Destacamos ainda a

articulaccedilatildeo das entidades em defesa do projeto hoje hegemocircnico no Serviccedilo Social eacute

construiacuteda entre sujeitos que representam os interesses da mesma profissatildeo

vinculada a uma visatildeo societaacuteria mas com organizaccedilatildeo estruturaccedilatildeo manutenccedilatildeo

dinacircmicas e funcionalidades diferentes

No que se refere agrave atuaccedilatildeo das trecircs entidades nas esferas da universidade

e da formaccedilatildeo profissional tem-se a confirmaccedilatildeo que a formaccedilatildeo pautada nas

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui a principal referecircncia na luta por um processo

formativo de qualidade e sintonizado com a perspectiva de educaccedilatildeo emancipatoacuteria

Nessa dimensatildeo as trecircs entidades concretizam atividades que explicitam o

posicionamento contraacuterio a qualquer forma de privatizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo tais como produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de notas que evidenciam esse

posicionamento de defesa da universidade puacuteblica gratuita laica presencial e de

qualidade aleacutem disso eacute importante destacar que nos eventos promovidos pela

ABEPSS e pelo Conjunto CFESS-CRESS eacute garantida a participaccedilatildeo da ENESSO nos

debates e polecircmicas que envolvem a profissatildeo o que potencializa essa articulaccedilatildeo e

dessa maneira as accedilotildees voltadas para defesa do projeto profissional do Serviccedilo

Social nessa conjuntura tatildeo adversa para sua concretizaccedilatildeo

Quanto a possiacuteveis dificuldades vivenciadas nesse processo de articulaccedilatildeo

entre as trecircs entidades e em particular com a ENESSO a representante da ABEPSS

argumenta queEm relaccedilatildeo ao ENESSO pode-se supor que a atual estrutura da entidade sem uma coordenaccedilatildeo nacional tenha implicaccedilotildees e venha dificultar a articulaccedilatildeo nacional na medida em que as decisotildees satildeo inicialmente discutidas e tomadas nas bases regionais com possiacuteveis prejuiacutezos para a agilidade dos processos conjuntos

Com a ausecircncia de coordenadores(as) nacionais a responsabilidade na

concretizaccedilatildeo das deliberaccedilotildees aprovadas no ENESS de Londrina em 2008 ficaram

na incumbecircncia das coordenaccedilotildees regionais o que por sua vez representa uma

fragilizaccedilatildeo em termos de articulaccedilatildeo em niacutevel nacional como se processa entre as

ABEPSS CFESS-CRESS e a ENESSO

Desse modo analisamos que a defesa do projeto profissional que por sua

vez remete a luta em prol da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo fundamentada nas

170

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui-se a principal determinaccedilatildeo no

estabelecimento e fortalecimento da articulaccedilatildeo existente ente as entidades

representativas do Serviccedilo Social

Parceria que se torna ainda mais necessaacuteria nesse contexto neoliberal de

exacerbaccedilatildeo do privado expansatildeo de cursos sem considerar os princiacutepios formativos

defendidos pelas entidades que representam o Serviccedilo Social no paiacutes fragilidade dos

MS e organizaccedilotildees coletivas que apresentam uma praacutetica de recusa da sociabilidade

do capital entre outras dimensotildees jaacute abordadas nessa pesquisa Entretanto para que

essa articulaccedilatildeo se mantenha e mais que isso seja potencializada ateacute mesmo em

decorrecircncia do cenaacuterio sinalizado anteriormente eacute preciso que a ABEPSS o conjunto

CFESS-CRESS e a ENESSO estejam firmes atuantes e combativas em suas

particularidades o que revela um desafio coletivo das entidades e ao mesmo tempo

de cada uma dentro de suas possibilidades e limitaccedilotildees no tempo presente Nesse

sentido entendemos que ao MESS se evidencia a necessidade de fortalecer e

revitalizar suas accedilotildees e entidades como a ENESSO nessa luta em favor do projeto

profissional vinculado a construccedilatildeo de outra ordem societaacuteria

171

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apreendemos o ME como um importante movimento social que articula a

juventude universitaacuteria em niacutevel nacional desde a criaccedilatildeo da UNE no ano de 1937

Ao construiacutemos essa caracterizaccedilatildeo analisamos que a accedilatildeo desse segmento natildeo se

processa de forma desvinculada de uma concepccedilatildeo de sociedade o que por sua vez

nos possibilitou investigarmos a direccedilatildeo social de sua atuaccedilatildeo no campo da

historicidade e da contradiccedilatildeo que particulariza a sociabilidade burguesa

Mediante o estudo da atuaccedilatildeo da ENESSO enfatizamos que desde a sua

criaccedilatildeo no ano de 1988 ela se configura como espaccedilo privilegiado de aglutinaccedilatildeo e

protagonismo dos(as) estudantes de Serviccedilo Social no Brasil legitimada e

reconhecida pelas demais entidade da profissatildeo

Durante as gestotildees que compreende os anos de 2003-2008 sinalizamos

que a direccedilatildeo social das accedilotildees efetivadas pela ENESSO se consubstancia na defesa

da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo profissional fundada nas Diretrizes

Curriculares de 1996 tendecircncia confirmada pelos(as) dirigentes e pelos documentos

produzidos pela entidade uma perspectiva de universidade e de formaccedilatildeo sintonizada

com a negaccedilatildeo da sociabilidade capitalista e comprometida com a construccedilatildeo de outro

projeto societaacuterio

Entretanto a conjuntura neoliberal que minimiza a organizaccedilatildeo poliacutetica

dos MS tambeacutem repercute no acircmbito de atuaccedilatildeo da ENESSO dada a valorizaccedilatildeo do

individualismo e de negaccedilatildeo de vivecircncias coletivas aliada a um contexto de crise

objetiva em que cada vez mais os (as) estudantes se preocupam com sua

manutenccedilatildeo e inserccedilatildeo no mundo do trabalho ainda durante a graduaccedilatildeo Portanto

temos um cenaacuterio caracterizado pela fragilidade de accedilotildees coletivas combativas de

contestaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e de lutas mais consistentes e articuladas ateacute mesmo com

outras entidades estudantis

A realizaccedilatildeo de atividades fragmentadas reduz a capacidade de barrar

eou ateacute mesmo amenizar as investidas do capital na educaccedilatildeo brasileira tendecircncia

fortalecida nos anos de 1990 e mantida nos anos 2000 com a concretizaccedilatildeo da

contra-reforma do ensino superior no governo Lula que se sustenta numa loacutegica de

privilegiamento do privado e reconfiguraccedilatildeo das instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de

atender sobretudo as demandas do capital Realidade que gera disputas e

contradiccedilotildees no ME que se manifesta inclusive com a criaccedilatildeo de outra entidade

nacional de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes no caso a CONLUTE situaccedilatildeo

conflitante vivenciada tambeacutem pelo MESS

172

A pesquisa sugere um contexto de acirramento entre os agrupamentos

poliacuteticos atuantes no MESS os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre

o governo Lula e do posicionamento poliacutetico em relaccedilatildeo a UNE Os tensionamentos

em torno dessas questotildees perpassam na maior parte das discussotildees e geram grandes

debates e conflitos especialmente no processo de aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no

final de cada ENESS que se constituem o norte a ser seguido pela nova direccedilatildeo da

ENESSO

Temos a concepccedilatildeo que as polecircmicas atuais que provocam divergecircncias

nos partidos poliacuteticos forjados no campo da esquerda como PT PSTU e PSOL e as

organizaccedilotildees sindicais como CUT e CONLUTAS rebatem no MESS em virtude do

posicionamento histoacuterico desse movimento de pautar a discussatildeo e as lutas dos

segmentos do trabalho e de se colocar numa direccedilatildeo de recusa da sociabilidade

capitalista e de defesa da construccedilatildeo de outra sociedade o que contribui no

estabelecimento de relaccedilotildees com movimento e entidades que travam debates e

desenvolve atividades em torno das questotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho

e as disputas poliacuteticas partidaacuterias em determinado momento histoacuterico

Diante disso a investigaccedilatildeo aponta que o MESS e a ENESSO vivecircncia

uma relaccedilatildeo de negaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo em relaccedilatildeo a UNE e a CONLUTE No tocante a

primeira as deliberaccedilotildees que abrangem os anos de 2003-2008 e o proacuteprio estatuto da

executiva a reconhece como entidade maior de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes

brasileiros(as) entretanto a nega quando se trata do posicionamento assumido diante

da contra-reforma do ensino superior Por outro lado a ENESSO esboccedila uma accedilatildeo de

negaccedilatildeo da CONLUTE como uma entidade paralela a UNE que no seu

entendimento pode dividir e sectarizar ainda mais o ME no Brasil contudo as

deliberaccedilotildees ainda que timidamente apontam a necessidade de discussatildeo e

fomentaccedilatildeo do debate em torno dessa entidade que reage negativamente agraves accedilotildees

do governo Lula para educaccedilatildeo superior direccedilatildeo que potencializa essa aproximaccedilatildeo

com a ENESSO

Todavia a disputa entre os grupamentos existentes no MESS natildeo pode

ser reduzida a conquista dos cargos da ENESSO dimensatildeo timidamente sinalizada

por alguns(mas) dos(as) entrevistados(as) nem atuar de modo sectarista perspectiva

que deixa os interesses estudantis para segundo plano Atuando dessa forma os

grupos poliacuteticos presentes no MESS tendem a se enfraquecer e a fragilizar o proacuteprio

momento e a ENESSO

A natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos nacionais da ENESSO para a gestatildeo

20082009 em meio a um conturbado processo de fraude eleitoral revela o contexto

de fragilidade pela qual passa o MESS na atualidade e que revela instabilidades na

173

organizaccedilatildeo desse segmento e que atingiu profundamente a executiva Os dados

produzidos nessa investigaccedilatildeo sugere que majoritariamente a organizaccedilatildeo dos(as)

militantes em grupos tendem a fortalecer as lutas do movimento visto que seus(as)

militantes tambeacutem ocupam outros espaccedilos de atuaccedilatildeo como partidos e movimentos

o que contribui na construccedilatildeo de uma consciecircncia poliacutetica mais abrangente e criacutetica

entretanto o momento atual revela que os agrupamentos jaacute natildeo mais impulsionam a

atuaccedilatildeo da ENESSO como em periacuteodos anteriores e desse modo as divergecircncias

partidaacuterias se tornam mais recorrentes e visiacuteveis o que pode expressar uma das

determinaccedilotildees geradoras dessa forte instabilidade pela qual passa o MESS e a

ENESSO

E mesmo nessa conjuntura de instabilidades e fragilidade poliacutetica do

MESS e da ENESSO a construccedilatildeo de medidas voltadas para uma atuaccedilatildeo mais

qualificada dos(s) militantes e consequumlentemente dos(as) dirigentes das entidades

estudantis de base satildeo sucumbidas diante da falta de recurso das vaacuterias atividades

e obrigaccedilotildees cotidianas dos(as) militantes No decorrer do periacuteodo aqui analisado foi

realizado em abrangecircncia nacional somente um curso de formaccedilatildeo poliacutetica voltado

para os(as) militantes do MESS

Contradiccedilotildees satildeo apontadas no sentido de que embora a ENESSO se

posicione contraacuterio a contra-reforma do ensino superior as elaboraccedilotildees sobre essa

problemaacutetica sinalizam uma tendecircncia de que as medidas aprovadas pelo governo

Lula satildeo de certo modo justificaacuteveis devido ao processo de adoccedilatildeo das diretivas

neoliberais ainda durante a era FHC

Dentre as dificuldades apreendidas nessa pesquisa se encontram as de

ordem objetiva diante da realidade de falta de recursos da ENESSO que repercute

diretamente na atuaccedilatildeo poliacutetica da entidade pois a falta de condiccedilotildees limita a atuaccedilatildeo

da entidade em espaccedilos como cursos de Serviccedilo Social presenccedila em eventos como

seminaacuterio oficinas e entre outros Dificuldades resultantes da crescente privatizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo superior que se manifesta por exemplo na apreensatildeo de que ateacute

agosto de 2008 existiam no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social sendo 51 na esfera

puacuteblica e 251 no setor privado visto que a pesquisa sugere a existecircncia de maior

autonomia de organizaccedilatildeo do MESS nas instituiccedilotildees puacuteblicas

A investigaccedilatildeo sinaliza possibilidades na atuaccedilatildeo da ENESSO no sentido

de que mesmo em uma conjuntura limitada da atuaccedilatildeo dos MS a entidade consegue

pautar importantes debates que ultrapassa a esfera restrita dos(as) estudantes e

nessa perspectiva a executiva procura se articular com outros sujeitos MS e

entidades como a ABEPSS e o conjunto CFESS-CRESS

174

A unidade em torno da defesa do projeto profissional consiste em uma

determinaccedilatildeo significativa na articulaccedilatildeo entre as entidades representativas do Serviccedilo

Social entretanto essa unidade natildeo representa a ausecircncia de discordacircncias

diferenccedilas e contradiccedilotildees nessa relaccedilatildeo

175

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185

ANEXO I

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM EX COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO

1- Comente sobre a sua trajetoacuteria no movimento estudantil ateacute chegar a coordenaccedilatildeo da enesso

2- Era membro de alguma tendecircncia no movimento estudantil Quais as principais bandeiras de lutas Que analise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no movimento estudantil

3- Qual o posicionamento da entidade em relaccedilatildeo a reforma universitaacuteria do governolula

4- Quais as principais atividades e lutas realizadas no tocante a defesa da universidade puacuteblica no Brasil

5- Quais as principais atividades e lutas efetivadas em relaccedilatildeo a defesa do atual projeto de formaccedilatildeo profissional fundado nas diretrizes curriculares

6- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo da executiva tanto em relaccedilatildeo agrave universidade como a formaccedilatildeo profissional levando em consideraccedilatildeo limites estrateacutegias e potencialidades a partir das atividades e lutas travadas

7- Quais os principais aliados e opositores do movimento estudantil e em particular no acircmbito do movimento estudantil de serviccedilo social

8- Comente sobre possiacuteveis dificuldades em termos da organizaccedilatildeo-poliacutetica do mess no seu periacuteodo de militacircncia

9- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo do movimento estudantil na sociedade e em particular no atual cenaacuterio neoliberal

10- Teria algo relevante a acrescentar sobre a enesso como entidade representativa dos(as) estudantes de serviccedilo social em niacutevel nacional

186

ANEXO II

ROTEIRO UTILIZADO NA ELABORACcedilAtildeO DE PERFIL DOS(AS) DIRIGENTESNACIONAIS DA ENESSO NO PERIacuteODO DE 20032008

1 - ANO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO

R ___________________________________

2 - FAIXA ETAacuteRIA

Entre 15-20 ( )Entre 21-25 ( )Entre 26-30 ( )Acima de 30 ( )

3 - SEXO

Masculino ( ) Feminino ( )

4 - COR Negra ( ) Branca ( ) Parda ( )

5 - RELIGIAtildeO

Catoacutelica ( ) protestante( ) espiacuterita( ) umbanda ( ) outra ( ) Especificar________________

6 - ENSINO MEacuteDIO REALIZADO PREDOMINATEMENTE EM ESCOLA

Puacuteblica ( )Privada ( )

7 - GRADUACcedilAtildeO REALIZADA EM INSTITUICcedilAtildeO

Puacuteblica ( ) privada ( )Instituiccedilatildeo ______________________________

8 - DURANTE O PERIacuteODO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO DESEMPENHAVA ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA

Trabalho ( ) especificar __________________________________________________ Quantas horas diaacuterias ____________________

Estagio ( ) especificar _______________________________________________________Quantas horas diaacuterias____________________________

9 - RENDA MENSAL DA FAMIacuteLIA

187

Entre 1 e 2 salaacuterios- miacutenimos ( ) Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 9 e 10 salaacuterios- miacutenimo ( )Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos ( ) Acima de dez salaacuterios ( )

10 - ANTES DE MILITAR NO MESS PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ORGANIZACcedilAtildeO COLETIVA

Natildeo ( ) sim ( ) Especificar_______________________________________________

11 - ANTES DE SER DIRIGENTE DA ENESSO OCUPOU ALGUM CARGO EM ENTIDADE DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

( ) CORETUR( ) Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico( ) Diretoacuterio Central dos Estudantes( ) Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO( ) Outra _____________________________________________________________

12 - NO PERIODO EM QUE FOI DIRIGENTE DA ENESSO ERA FILIADO A ALGUM PARTIDO POLIacuteTICO

( ) Natildeo ( ) sim Especificar____________________________________________

188

ANEXO III

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM MENBRO DA ABEPSS

1 COMO VOC ANALISA A ldquoPARCERIA ESTRATGICArdquo ENTRE AS TRS ENTIDADES NACIONAIS DA CATEGORIA

2 QUAIS AS PRINCIPAIS ESTRATGIAS E AES DESENVOLVIDAS PELAS TRS ENTIDADES NA DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA GRATUITA PRESENCIAL LAICA E DE QUALIDADE E DO PROJETO DE FORMAO PROFISSIONAL FUNDADO NAS DIRETRIZES CURRICULARES

3 QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELO CFESSABEPSS NO PROCESSO DE ARTICULAO ENTRE AS TRS ENTIDADES E PARTICULARMENTE EM RELAO A ENESSO

189

ANEXO IV

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM COORDENADOR(A) REGIONAL DA ENESSO (MEMBRO DE OPOSICcedilAtildeO A DIRECcedilAtildeO NACIONAL DA ENESSO)

1 Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

2 Comente sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO nos acircmbitos da Universidade e da Formaccedilatildeo profissional considerando estrateacutegias limites e potencialidades

3 Teria algo relevante a acrescentar sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO no processo de organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes na contemporaneidade

190

APEcircNDICE I

RELAO DOS COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO NO PERODO

DE 2003-2008

GESTAtildeO 20032004

Coordenao Geral Adriana Oliveira ndash PUCSPSecretaria Geral Wagner Hosokawa ndash PUCSP Coordenao de Finanas Lucilene Gomes PUCCampinasCoordenao de Divulgao e Impressa Graziela Sue ndash UNISALCoordenao Movimentos Sociais Julia Benedini ndash UNESPCoordenao Relaes Internacionais Anita Martins ndash UNESPCoordenao de Formao Profissional Michele Marx- Centro Universitrio Baro de Mau Ribeiro Preto(SP)

GESTAtildeO 20042005

Coordenao Geral Ana Carolina trindade dos santos UFS-SESecretaria Geral Daniele Rebouas UCSAL-BACoordenao de Finanas Amanda Bastos UFS-SECoordenao de Divulgao e ImpressaAline Arajo- UCCSAL-BACoordenao Movimentos Sociais Itanamara Cavalcante UFS-SECoordenao Relaes InternacionaisFernanda mantelli-UCSAL-BAcoordenao de Formao Profissionaljacklene mirne UNIT-SE

GESTAtildeO 20052006

Coordenao Geral Celso Severo UFPE-PESecretaria Geral Natalia Teixeira UFPE-PECoordenao de Finanas Juliana Nunes UEPBCoordenao de Divulgao e Impressa Evandro Gomes Correia jr UFPBCoordenao Movimentos Sociais Raquel Mazuele de p Arajo UERNCoordenao Relaes Internacionais Alison Cleiton UEPBCoordenao de Formao Profissional Albertina Felix da Cuz-UEPB

GESTAtildeO 20062007

Coordenao Geral Fabiano SantosSecretaria Geral Roberto AlvesCoordenao de Finanas Emanuela BritoCoordenao de Divulgao e Impressa Aline CerqueiraCoordenao Movimentos Sociais Aline TapiocaCoordenao Relaes Internacionais Andr NovaisCoordenao de Formao Profissional Deyse Morais

191

GESTAtildeO 20072008

Coordenao Geral Shanti Mairananda de Oliveira Braga ndash UFJFSecretaria Geral Samantha Catarina de Andrade Santos - PUC MinasCoordenao de FinanasAline Felipe Barreto - UFESCoordenao de Divulgao e Impressa Ernandes Jos - UFVJMCoordenao Movimentos Sociais Haimon Verly - UFESCoordenao Relaes Internacionais Cristovo de Oliveira Braga - UFJFCoordenao de Formao Profissional Leonardo David Rosa Reis - PUC Minas

Maria Lenira Gurgel Cavalcante

MOVIMENTO ESTUDANTIL E SERVICcedilO SOCIAL NO CAPITALISMO

CONTEMPORAcircNEO tendecircncias e particularidades

Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social da Universidade federal do Rio Grande do Norte para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em Serviccedilo Social sob a orientaccedilatildeo da professora Dra Silvana Mara Morais dos Santos

NATAL-RN

2009

Catalogaccedilatildeo da Publicaccedilatildeo na Fonte UFRN Biblioteca Setorial do CCSA

Divisatildeo de Serviccedilos Teacutecnicos

Cavalcante Maria Lenira Gurgel

Movimento estudantil e servio social no capitalismo contemporneo tendncias e particularidades Maria Lenira Gurgel Cavalcante - Natal RN 2009

191 f

Orientadora Prof Dr Silvana Mara Morais dos Santos Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Cincias Sociais

Aplicadas Programa de Ps-Graduao em Servio Social

1 Servio Social - Dissertao 2 Movimento estudantil ndash Dissertao 3 Capitalismo contemporneo - Dissertao 4 Universidade ndash Formao profissional - Dissertao I Santos Silvana Mara Morais dos II Universidade Federal do Rio Grande do Norte III Ttulo

RNBSCCSA CDU 364 (0433)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo incentivo compreenso e contribuio em toda a minha

caminhada acadmica e em especial no mestrado

A Jsilva (Anjo) companheiro que esteve comigo nos momentos difceis e complicados

enfrentados nesse percurso

A minha irm Lourdinha pelas preocupaes e confiana demonstrada

Ao meu cunhado Roverlan (R) sempre disponvel pra me deixar e pegar nas idas e

vindas de Natal independentes de datas e horrios

A minha amada sobrinha Kauanny que com a sinceridade de uma criana contagia

os espaos com a alegria e a simplicidade da vida alm de ter a capacidade de me

provocar risos mesmo nos momentos em que me sentia pressionada pelas

obrigaes cotidianas e exigncias caractersticas do mestrado

A minha av Antonia e a tia Ftima pelo abrigo em Natal pelo incentivo dedicado e

pelas preocupaes ocasionadas

A Silvana Mara pelas orientaes qualificadas materiais emprestados e a confiana

de que tudo daria certo

A Smya Ramos que considero co-orientadora dessa pesquisa a sua contribuio foi

significativa desde a graduao teve momentos que no meu cantinho de estudo os

seus materiais eram superiores aos meus alm disso agradeo pelo tempo

disponibilizado para ouvir minhas inquietaes e nas leituras realizadas do projeto que

culminou nesta pesquisa Muito obrigada

Aos(as) dirigentes da ENESSO sensibilizados(as) em contribuir com esta dissertao

obrigada pelo material disponibilizado entrevistas concedidas e emails respondidos

As professoras Severina Garcia e Denise Cmara pelas indicaes durante a

disciplina ldquoSeminrio de Dissertaordquo

As professoras Ivanete Boschetti e Telma Gurgel pelas observaes processadas

sobre esse trabalho

As professoras Fernanda Marques e Regina vila pela aceitao em participarem na

banca de defesa desse trabalho

A querida turma do mestrado composta por pessoas batalhadoras comprometidas

com a profisso e sempre prontas a compartilhar informaes e a socializar

experincias que se tornaram importantes no desenvolvimento das investigaes de

todos(as) por isso meus agradecimentos a Ednara Erika Henrique Ilidiana Leila

Joilma Josiane Sussany e Tssia

As amigas Ilidiana Diniz(ilidi) Ednara (Ed) e Valmara companheiras nos momentos

de angustias e superaccedilotildees durante a elaboraccedilatildeo dessa dissertaccedilatildeo haacute e tambeacutem

pela acolhida no residecircncia durante as minhas idas a Natal sempre

compartilhandomesmo que um pequeno quarto

A amiga Janaiky pela ajuda na produccedilatildeo de dados para pesquisa

Ao amigo Henrique que desde o iniacutecio acreditou na viabilidade dessa pesquisa

agradeccedilo pelos emails repassados e pelo caminho disponibilizado que facilitou a

busca de informaccedilotildees sobre a ENESSO

A Larisse Rodrigues pela excelente monografia produzida sobre o MESS e pelas

trocas de informaccedilotildees

RESUMO

A dissertaccedilatildeo analisa a direccedilatildeo social do Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS)por meio da atuaccedilatildeo da Executiva Nacional dos(as) estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) no que se refere a sua posiccedilatildeo poliacutetica sobre Universidade e Formaccedilatildeo profissional no periacuteodo de 2003-2008 Do ponto de vista teoacuterico-metodoloacutegico o objeto de estudo foi apreendido em suas determinaccedilotildees estruturais conjunturais e geracionais considerando a crise contemporacircnea do capital e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo Estado e Sociedade com ecircnfase nas particularidades e mudanccedilas na Universidade e nas exigecircncias postas no acircmbito da Formaccedilatildeo profissional Para a coleta e produccedilatildeo dos dados foi realizada pesquisa documental e de campo Foram entrevistados(as) dirigentes da ENESSO um(a) de cada gestatildeo entre os anos de 2003-2008 aleacutem de representantes da Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) que destaca a relevacircncia da parceria construiacuteda com a entidade de representaccedilatildeo dos(as) estudantes na cena contemporacircnea Os resultados obtidos sugerem que a ENESSO desenvolve uma atuaccedilatildeo em defesa do projeto de universidade puacuteblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formaccedilatildeo fundado nas Diretrizes Curriculares de 1996 o tempo presente eacute marcado no MESS pelo acirramento de disputas pela direccedilatildeo social do movimento entre os grupos poliacuteticos os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre o governo Lula e do papel poliacutetico assumido pela UNE nesse contexto de contra-reforma do ensino superior A conjuntura atual de exaltaccedilatildeo extrema do individualismo tem se revelado desfavoraacutevel agrave organizaccedilatildeo coletiva da classe trabalhadora e em particular dos movimentos estudantil O MESS atravessa um momento de profunda instabilidade dimensatildeo que se expressa na ausecircncia de coordenadores nacionais para gestatildeo 20082009 da ENESSO Apesar das dificuldades enfrentadas destaca-se a parceria construiacuteda entre as entidades representativas do Serviccedilo Social em niacutevel nacional e a luta que desenvolvem em defesa do projeto profissional vinculado a construccedilatildeo de outra sociabilidade para aleacutem do capital

Palavras-chave Movimento Estudantil de Serviccedilo Social Capitalismo contemporacircneo Universidade e Formaccedilatildeo Profissional

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the social direction in which the Student Movement in Social Work in Brazil (ENESSO) has gone through This is done considering how the functioning of the National Executive the Brazilian Social Work Student union has operated The research analyzed their political position regarding the university as well as professional education in the period of 2003 to 2008 The studyrsquos theoretical and methodological object was obtained according to its structural juncture and time determinants All of the mentioned elements considered the contemporary capital crisis and its implications towards the State and Society emphasizing specifically the changes that occurred in the University regarding professional education For the purpose of data collection and production a documental and field research was realized Thus interviews were done considering one manager of each management period of the ENESSO group in the time span of 2003 to 2008 Some subjects that represented the Brazilian Social Work Teaching and Research Association (ABEPSS) as well as were also interviewed These subjects have had a relevant role in partnership with these entities and represented students in the contemporary scene Results suggest that ENESSO has developed work that defends a project of a public free and laic quality university This entity also defends a project that considers the 1996 Curricular Guidelines Currently there is internal dispute in the social direction of the MESS this is seen amongst political groups that diverge in opinions related to the analysis done by the Lula government regarding the political role that the National Student Union-UNE has taken in the counter-reform of higher education This current juncture is seen as extremely individualist and it results as in unfavorable for the collective organization of the working class especially regarding student movement MESS has been going through a moment of profound instability and this dimension is being expressed by the absence of national coordinator for the 20082009 management period at ENESSO Even though there are difficulties it is possible to point out partnership of the entities that represent the national Social Work in Brazil These partnerships are all related to a struggle and search for the development of a professional project that leads towards the sociability awareness that goes beyond capital

Key-Words Social Work Student Movement Contemporary Capitalism University and Professional Education

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

AGCS Acordo Geral sobre Comeacutercio e Serviccedilo

ANDES Associaccedilatildeo Nacional dos Docentes de Ensino Superior

AE Articulaccedilatildeo de Esquerda

ALEITS Associaccedilatildeo Latino-americana de Ensino e Investigaccedilatildeo em Trabalho Social

BM Banco Mundial

CA Centro Acadecircmico

CEDEPSS Centro de Documentaccedilatildeo e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social

UNIASSELVI Centro Universitaacuterio Leonardo da Vinci

CFESS Conselho Federal de Serviccedilo Social

CRESS Conselho Regional de Serviccedilo Social

CONLUTAS Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas

CONLUTE Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas dos Estudantes

CORETUR Conselho de Representantes de Turma

CUT Central Uacutenica dos Trabalhadores

DA Diretoacuterio Acadecircmico

DS Democracia Socialista

DCE Diretoacuterio Central dos Estudantes

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENE Encontro Nacional dos Estudantes

ENESS Encontro Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENEX Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviccedilo Social

ERESS Encontro Regional de Estudantes de Serviccedilo Social

EQM Eu Quero eacute Mais

FAETSFederaccedilatildeo Argentina de Estudantes de Trabalho Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LBA Legiatildeo Brasileira de Assistecircncia

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

ME Movimento Estudantil

MESS Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

MS Movimentos Sociais

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

MTL Movimento Terra Trabalho e Liberdade

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo-governamental

PDP Projeto Democraacutetico e Popular

PLP Partido da Libertaccedilatildeo Proletaacuteria

PROUNI Programa Universidade Para Todos

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados

PT Partido dos Trabalhadores

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das

Universidades Federais

SNFPMESS Seminaacuterio Nacional de Formaccedilatildeo Profissional e Movimento Estudantil de

Serviccedilo Social

SESSUNE Subsecretaria de Estudantes de Serviccedilo Social na UNE

SINAES Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UNITINS Universidade Estadual do Tocantins

UNE Uniatildeo Nacional dos Estudantes

LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1 Natureza das Instituies de Ensino Superior no Brasil ndash Censo de 2007

GRFICO 2 Tipo de Instituies de Ensino Superior Privadas- Censo de 2007

GRFICO 3 Tipo de Instituies de Ensino Superior Pblicas- Censo de 2007

GRFICO 4 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1930-1994

GRFICO 5 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1995-2002

GRFICO 6 Criao de Cursos de Servio Social no perodo de 2003- agosto de

2008

GRFICO 7 Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de

2003-2008

GRFICO 8 Participao em organizao coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO

antes da insero no MESS

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2002

QUADRO 2 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2008

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 4 Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 5 Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-

2008

QUADRO 6 Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes

de sua inserccedilatildeo no MESS

QUADRO 7 Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de

assumirem a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

SUMAacuteRIO

IINTRODUO------------------------------------------------------------------------------------------14

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social-----------------------------------------------------------------------------------------25

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA----------------------------------------------------------------------------25

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes---------------35

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO----------------------------------------------------------------------------------- ------42

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE ----------------------------------------------------------------------------------50

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE -----------------------------------54

3-1 A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal ----------------------------------------------------------------54

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades-

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------59

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais --------------68

IV UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE-75

4-1ldquoREFORMA UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA DO

ESTADO BRASILEIRO --------------------------------------------------------------------------------75

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico ---------------------------------------------------------84

4-3 REMANDO CONTRA MAR a formao profissional do assistente social no

mbito da contra-reforma do ensino superior-----------------------------------------------------98

V- UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL ---- --------------112

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO-------------112

5-2 UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO----

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------124

5-3 REFLEXES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO --------------------147

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies ----------------------161

5-5 SERVIO SOCIAL ABEPSS CFESS E A ENESSO no mbito da parceria

estratgica -----------------------------------------------------------------------------------------------165

CONSIDERAES FINAIS -------------------------------------------------------------------------171

REFERNCIAS-----------------------------------------------------------------------------------------175

ANEXOS -------------------------------------------------------------------------------------------------185

APNDICE----------------------------------------------------------------------------------------------190

Nada Eacute Impossiacutevel De Mudar

Desconfiai do mais trivial

na aparecircncia singelo

E examinai sobretudo o que parece habitual

Suplicamos expressamente

natildeo aceiteis o que eacute de haacutebito como coisa natural

pois em tempo de desordem sangrenta

de confusatildeo organizada de arbitrariedade consciente

de humanidade desumanizada

nada deve parecer natural nada deve parecer

impossiacutevel de mudar (Bertolt Brecht)

14

I INTRODUCcedilAtildeO

Nesta investigaccedilatildeo desenvolvemos um estudo sobre a accedilatildeo do Movimento

Estudantil(ME) tendo como objeto de pesquisa a anaacutelise da direccedilatildeo social do

Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS) e sua relaccedilatildeo com a universidade e

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais no contexto da contra-reforma1 do

ensino superior implementada no periacuteodo de 2003-2008

O interesse pelo estudo dessa temaacutetica iniciou durante o Curso de

Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

(UERN) de 2003 ao iniacutecio de 20072 por meio da minha vivecircncia no ME que

proporcionou momentos enriquecedores na formaccedilatildeo profissional e contribuiu com o

desenvolvimento de reflexotildees participaccedilatildeo em debate e accedilotildees voltadas para a defesa

do atual projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado pelas

Diretrizes Curriculares de 1996

Essa dissertaccedilatildeo representa a continuidade de estudos desenvolvidos

sobre o ME considerando que no trabalho de conclusatildeo de curso abordamos a

atuaccedilatildeo do MESS na (UERN) Os resultados desse estudo me permitem afirmar que

a partir da deacutecada de 1990 ocorreu agrave substancial influecircncia da ENESSO nas accedilotildees

locais dos(as) estudantes de Serviccedilo Social dentre as quais destacamos a efetivaccedilatildeo

de atividade em defesa do espaccedilo profissional do(a) assistente social no Instituto

Nacional de Seguro Social(INSS) a partir de orientaccedilotildees da executiva tivemos a

atuaccedilatildeo do Centro Acadecircmico(CA) nas discussotildees relativas a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares de 1996 mais recentemente podemos

citar o amplo boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(ENADE)

realizado pelos estudante de Serviccedilo Social da UERN em novembro de 20043 a

promoccedilatildeo de debates sobre o exame de proficiecircncia A monografia tambeacutem aponta a

existecircncia de dificuldades relacionadas agrave mobilizaccedilatildeo das bases e da renovaccedilatildeo de

1 Termo utilizado por Behring(2003) como forma de expressar que a reconfiguraccedilatildeo do Estado na realidade atual corrobora para a minimizaccedilatildeo e natildeo consolidaccedilatildeo de direitos2 Essa militacircncia permitiu a inserccedilatildeo em espaccedilos do Movimento Estudantil como representaccedilatildeo estudantil no departamento de Serviccedilo Social da UERN bem como a participaccedilatildeo na Coordenaccedilatildeo Regional da Executiva Nacional de Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) na gestatildeo 20052006 Tal vivecircncia despertou a curiosidade em torno da organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do MESS e da relevacircncia da sua accedilatildeo para profissatildeo bem como para construccedilatildeo de lutas que ultrapasse o universo profissional e contribua para a mobilizaccedilatildeo pela universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com qualidade Desse interesse resultou a produccedilatildeo monograacutefica intitulada Movimento Estudantil de Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte trajetoacuteria histoacuterica na luta por uma universidade puacuteblica e de qualidade defendida em janeiro de 20073 A partir dessa avaliaccedilatildeo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura(MEC) atribuiu nota inferior a 1 o que representou a menor nota dentre os cursos de Serviccedilo Social do Brasil

15

dirigentes estudantis para os espaccedilos como o Conselho de Representantes de

Turma(CORETUR) CA e Diretoacuterio Central dos Estudantes(DCE)

Revelou ainda o compromisso histoacuterico do movimento com a defesa da

universidade puacuteblica gratuita e de qualidade mediante a efetivaccedilatildeo de diversas lutas

e atividades como as mobilizaccedilotildees e greves em prol da estadualizaccedilatildeo da UERN na

deacutecada de 1980 atos contraacuterios ao pagamento de taxas no acircmbito das instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino em particular na UERN promoccedilatildeo de manifestaccedilotildees em 2004

durante as comemoraccedilotildees de 36 anos dessa instituiccedilatildeo O objetivo dessa accedilatildeo dentre

outros consistia em mostrar para a sociedade acadecircmica e mossoroense a

insatisfaccedilatildeo estudantil com as precaacuterias condiccedilotildees de funcionamento da universidade

Aleacutem disso a investigaccedilatildeo monograacutefica demonstrou preocupaccedilotildees do MESS da

UERN com a formaccedilatildeo profissional e com a defesa do projeto eacutetico-poliacutetico da

profissatildeo

A produccedilatildeo de dados referente a esta pesquisa na graduaccedilatildeo explicitou

tambeacutem a decepccedilatildeo de segmentos do MESS no acircmbito da UERN com a contra-

reforma do ensino superior materializada na primeira gestatildeo sob a presidecircncia de Luis

Inaacutecio Lula da Silva dimensatildeo que pode ser aprendida inclusive na fala de uma das

entrevistadas que contribuiu com a socializaccedilatildeo de informaccedilotildees para o trabalho

monograacutefico

Quando eu entrei na universidade em 2002 era justamente o ano da campanha eleitoral para presidente [] era todas as expectativas em cima do governo Lula [] mas as coisas natildeo funcionaram assim a gente imaginava que as reformas fossem acontecer mas natildeo da forma como ele fez apenas camuflou as reformas que FHC queria fazer (orquiacutedea)

A construccedilatildeo da monografia associada agrave militacircncia potencializou a

apreensatildeo de alguns desafios que perpassam a organizaccedilatildeo do MESS na

contemporaneidade Destacamos a realidade objetiva em que parte significativa

dos(as) dirigentes locais do CA desenvolvia estaacutegio remunerado eou outras atividades

de inserccedilatildeo no mercado de trabalho Esse contexto nos remete a refletir sobre o

compromisso majoritaacuterio desses sujeitos com a luta coletiva expresso no

envolvimento com a construccedilatildeo do MESS em meio agrave sobrecarga de atividades

desempenhadas Em decorrecircncia dessa realidade explicitam-se limitaccedilotildees

provocadas pelas condiccedilotildees objetivas e subjetivas de inserccedilatildeo desses militantes no

movimento e direccedilatildeo da entidade estudantil tais como minimizaccedilatildeo na participaccedilatildeo de

reuniotildees estudantis foacuteruns do ME e do MESS reduccedilatildeo na construccedilatildeo de atividades

entre outras

16

Outra vivecircncia importante para construccedilatildeo do objeto de estudo consistiu na

experiecircncia de estaacutegio4 no Conselho Regional de Serviccedilo Social (CRESS) Seccional

de Mossoroacute que possibilitou a participaccedilatildeo em discussotildees ciclos de debates entre

outras atividades sobre diferentes temaacuteticas relacionadas agrave profissatildeo em especial agrave

proacutepria formaccedilatildeo profissional O estaacutegio eacute considerado pela Associaccedilatildeo Brasileira de

Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) um elemento essencial na construccedilatildeo

de um perfil profissional criacutetico reflexivo e investigativo que contribui para formaccedilatildeo

de profissionais com competecircncias e habilidades capazes de desvendar as relaccedilotildees

sociais contraditoacuterias no cotidiano de trabalho dos(as) assistentes sociais O estaacutegio

no CRESS potencializou um aprofundamento de estudos e vivecircncias relacionadas ao

exerciacutecio e agrave formaccedilatildeo profissional em Serviccedilo Social aleacutem da aproximaccedilatildeo com a

dimensatildeo da organizaccedilatildeo poliacutetica da categoria profissional

Diante dessas constataccedilotildees no universo da UERN foi aguccedilada a nossa

inquietaccedilatildeo e curiosidade sobre accedilatildeo do MESS em niacutevel nacional de tal forma que

dando continuidade ao estudo iniciado no periacuteodo do Curso de Graduaccedilatildeo novos

questionamentos emergiram na perspectiva de analisar a atuaccedilatildeo e as implicaccedilotildees do

MESS na defesa de um determinado projeto de universidade e formaccedilatildeo profissional

Os resultados da pesquisa realizada na monografia ressaltados anteriormente satildeo

particularidades da organizaccedilatildeo e accedilatildeo poliacutetica do MESS local a partir sobretudo da

deacutecada de 1990 ou configura-se numa tendecircncia que pode ser generalizada a esse

sujeito coletivo em niacutevel nacional Como as determinaccedilotildees soacutecio-conjunturais do

periacuteodo de 2003-2008 inflexionam e caracterizam a accedilatildeo poliacutetica do MESS em acircmbito

nacional Quais satildeo as estrateacutegias e as formas de luta desenvolvidas Quem satildeo

seus principais aliados e opositores no cotidiano das lutas Diante dessas reflexotildees

essa pesquisa apresenta como objetivo analisar a direccedilatildeo social do MESS mediante a

atuaccedilatildeo da ENESSO em relaccedilatildeo agrave universidade e agrave formaccedilatildeo profissional no

interregno de 2003 a 2008

Portanto considerando agrave insuficiecircncia de tempo pela dinacircmica de duraccedilatildeo

do mestrado bem como devido a problemaacuteticas referentes a deslocamentos e as

proacuteprias condiccedilotildees objetivas torna-se imprescindiacutevel agrave instituiccedilatildeo de uma delimitaccedilatildeo

temporal para a realizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

Eacute nesse sentido que estabelecemos esse recorte temporal o qual tambeacutem

eacute demarcado pelo iniacutecio do governo Lula e engloba ainda parte do seu segundo

mandato (2003-2008) O processo que nos levou a efetivaccedilatildeo de tal delimitaccedilatildeo

consiste na possibilidade de potencializar algumas consideraccedilotildees e problematizaccedilotildees

4 Estagio curricular de caraacuteter obrigatoacuterio efetivado durante a graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social no periacuteodo letivo de 20042 a 20061

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interessantes e enriquecedoras na investigaccedilatildeo tais como proporcionou a

contextualizaccedilatildeo da materializaccedilatildeo de uma contra-reforma do ensino superior

circunscrita no acircmbito de um governo cujo partido presidencial emergiu e consolidou-

se historicamente identificado com a luta por uma educaccedilatildeo puacuteblica e de qualidade

contudo age no executivo federal em conformidade com o ideaacuterio neoliberal de

destruiccedilatildeo daquela luta e ainda permitiu evidenciarmos algumas dimensotildees do

relacionamento deste governo com os movimentos sociais(MS) e em particular com

o ME

Aleacutem disso o ano de 2008 constitui-se um marco para o MESS Trata-se

da existecircncia de trinta anos de reorganizaccedilatildeo do movimento e vinte anos de criaccedilatildeo

da ENESSO entretanto neste importante ano tivemos no Encontro Nacional de

Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSS) realizado em julho de 2008 em Londrina-PR

a natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos da Coordenaccedilatildeo Nacional da executiva O que este fato

representa para o MESS Uma crise As diferentes vertentes que compotildeem o MESS

estatildeo preocupadas com os interesses reais do coletivo de estudantes de Serviccedilo

Social possuem uma agenda poliacutetica ou estatildeo submetidas agrave mera conquista da

entidade como expressatildeo de um tipo de poder poliacutetico desvinculado de uma direccedilatildeo

social criacutetica

A relevacircncia dessa pesquisa consiste na anaacutelise de um sujeito coletivo

historicamente protagonista na luta por uma universidade e formaccedilatildeo de qualidades

Destarte eacute relevante para o Serviccedilo Social por problematizar o processo de formaccedilatildeo

profissional dos(das) assistentes sociais ressaltando a ameaccedila vivenciada pelo atual

projeto educacional em decorrecircncia das medidas efetivadas pelo governo vigente

consubstanciadas nas orientaccedilotildees neoliberais

Aleacutem disso consideramos a pesquisa importante na medida em que

analisa um fenocircmeno ainda em curso podendo de tal forma contribuir na elaboraccedilatildeo

de investigaccedilotildees seguintes bem como pode subsidiar reflexotildees significativa para

proacutepria organizaccedilatildeo poliacutetica do MESS nessa conjuntura tatildeo adversa

Outro aspecto que explicita a relevacircncia acadecircmica dessa pesquisa

consiste na reduzida produccedilatildeo teoacuterica sobre a atuaccedilatildeo do ME em particular do MESS

Estudos que tem como temaacutetica o segmento estudantil em larga medida estaacute

circunscrita a accedilatildeo desse movimento no contexto da ditadura militar em virtude do

protagonismo que desenvolveu na luta contra o regime ditatorial Portanto elaborar

produccedilotildees teoacutericas sobre o ME em conjunturas recentes consistiu em um desafio

diante da bibliografia escassa o que por sua vez representa uma contribuiccedilatildeo no

estudo da accedilatildeo e particularidades desse MS

18

Do ponto de vista terico-metodolgico a pesquisa foi desenvolvida numa

perspectiva de totalidade com vista a apreender as determinaes estruturais e

conjunturais e suas implicaes no objeto investigado

Temos a compreenso que o conhecimento um saber provisrio e

ilimitado nesse sentido relevante o entendimento de que as teorias e seus mtodos

consistem em referenciais que potencializam a apreenso da realidade a partir do

desenvolvimento das investigaes cientficas Cardoso(1976) caracteriza o mtodo

como elemento que contribui na apreenso de possibilidades e limites inerentes a

prpria elaborao do conhecimento ainda o concebe como parte constitutiva de

determinada teoria social Portanto o referencial terico-metodolgico no deve ser

empregado nas pesquisas como receiturio infalvel e mecanicista As teorias so

construdas no mbito da historicidade ou seja refletem sobre problemticas

circunscritas no tempo e espao Alm disso na perspectiva marxiana constitui a

reproduo no plano ideal do movimento do real em que se busca apreender as

determinaes que conformam os fenmenos existentes na realidade histrica em

uma dimenso de totalidade

Totalidade na perspectiva de conhecer um determinado objeto levando-se

em considerao os seus determinantes a partir de um processo de abstrao

fundamentado no movimento do real e no a apreenso da realidade como factvel de

um conhecimento total e absoluto visto que ldquoas leis inerentes ao ser social so leis

histricas decorrentes das necessidades e conexes internas dos fenmenos dos

fatos e processos sociais por isso so tendenciaisrdquo (PONTES 2002 p76) Ou na

concepo de Lowy

O que define a cincia como tal a tentativa de conhecimento da verdade Nesse sentido h uma relao entre cincia e conhecimento da verdade Porm a verdade absoluta jamais ser conhecida todo o processo de conhecimento um processo de acercamento de aproximao verdade (2000 p110)

Ratificamos a necessidade de entendimento histrico da realidade na

medida em que temos a compreenso de ser a esfera estrutural a determinante na

constituio das relaes sociais e de tal modo decisiva na (re)configurao do

Estado capitalista e da organizao e atuao dos sujeitos nesta forma de

sociabilidade Como assinala Tonet

Na perspectiva metodolgica marxiana a produo terica nunca uma questo apenas terica- de modo diferente em momentos diferentes- uma relao estreita com o andamento do processo real

19

alm de terem reflexos na prpria vida cotidiana dos intelectuais( 2004 p207)

Para a coleta e produo dos dados utilizamos pesquisa bibliogrfica a

partir de fontes como livros artigos dissertaes teses entre outras que perpassou

toda investigao Todavia sabemos das dificuldades decorrentes sobretudo do

escasso registro de obras que tratam do ME na atualidade pois a maioria das anlises

sobre este segmento organizado se refere ao contexto da ditadura militar iniciada em

1964 Tal realidade resultante provavelmente do seu protagonismo na luta pela

liberdade e democracia naquele perodo pode expressar ainda o momento de influxo

vivenciado por diversos MS que se expressa tambm no mbito do segmento

estudantil no contexto contemporneo

Utilizamos tambm pesquisa documental na qual privilegiamos a anlise

de documentos construdos pelo prprio ME especialmente o MESS Os principais

documentos que subsidiaram a anlise foram as deliberaes aprovadas nos ENESS

no perodo que engloba o recorte temporal da pesquisa Estas deliberaes

estabelecem as lutas a serem desenvolvidas em cada ano de direo da ENESSO

alm de boletins jornais cadernos e estatutos produzidos pela entidade de 2003-

2008 documentos aprovados sobre a contra-reforma universitria como decreto lei

regulamentos alm de elaboraes oficiais sobre as atuais mudanas na educao

superior brasileira como exemplo podemos citar o prprio plano de reestruturao

das universidades federais de autoria do MEC

Consideramos significativo situar na discusso os documentos

apreendidos como os instrumentos normativos da profisso principalmente as

Diretrizes Curriculares para o Curso de Servio Social de 1996 Estas foram

analisadas sobretudo no captulo quatro da dissertao com o objetivo de

problematizar a relao -contra-reforma universitria ndash formao profissional- e

atuao do segmento estudantil nestas esferas

De modo complementar sinalizamos o propsito de realizarmos pesquisa

de campo atravs de entrevistas do tipo semi-estruturada com um(a) dirigente da

ENESSO em cada ano compreendido no perodo 2003-2008 num total de cinco

entrevistas que seriam utilizadas com a perspectiva de resgatar a atuao do MESS

a partir da fala dos seus(suas) militantes Para Neto mediante as entrevistas o

investigador procura apreender informaes expressas na fala dos sujeitos e de tal

forma

Ela no significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos autores

20

enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizada (1994 p57)

Devemos considerar que informaccedilotildees distorcidas ou irreais podem ser

transmitidas pelos entrevistados(as) contudo isso natildeo invalida a utilizaccedilatildeo da

entrevista como uma importante teacutecnica de produccedilatildeo de dados principalmente

quando o conteuacutedo expresso pelos informantes eacute analisado evidenciando a

conjuntura na qual a fala se reporta vislumbrando desse modo a apreensatildeo dos seus

determinantes

Elaboramos o roteiro de entrevista para ser realizado com cinco militantes

Um participante de cada diretoria compreendida no periacuteodo 2003-2008 portanto

entrevista com dirigente da diretoria 2003-2004 2004-2005 2005-2006 2006-2007 e

2007-2008 Esse correspondeu ao uacutenico criteacuterio estabelecido ou seja consideramos

preponderantemente a disponibilidade dos sujeitos sem elencar o cargo ocupado na

ENESSO regiatildeo e instituiccedilatildeo na qual se processou a graduaccedilatildeo

Assim sendo realizamos duas entrevistas durante o Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviccedilo Social(ENPESS) que ocorreu entre os dias 1 e 5 de

dezembro de 2008 na cidade de Satildeo Luiacutes-MA uma materializada no dia 02 com

um(a) dirigente da gestatildeo 2004-2005 a segunda iniciada tambeacutem dia 02 e concluiacuteda

no dia seguinte com dirigente da gestatildeo 2006-2007 A terceira entrevista foi realizada

no dia 9 de marccedilo de 2009 em Recife-PE esta com militante da gestatildeo 2005-2006

Diante da impossibilidade de efetivaccedilatildeo das demais entrevistas entramos em contato

via email com um(a) dirigente das gestatildeo 2003-2004 e 2007-2008 os(as) quais se

disponibilizaram a responder as questotildees que compunham o roteiro de entrevista

eles(as) responderam e enviaram mediante endereccedilo eletrocircnico Os sujeitos que

responderam o roteiro de forma presencial ou via email satildeo identificados nessa

pesquisa por nome de planetas assim caracterizados Vecircnus gestatildeo 2003-2004

Urano 2004-2005 Terra 2005-2006 Neturno 2006-2007 e Marte 2007-2008 Essa

estrateacutegia foi utilizada como meio de garantir a privacidade e preservar as fontes de

informaccedilotildees dessa investigaccedilatildeo

A obtenccedilatildeo de respostas via email consistiu em um procedimento

metodoloacutegico que viabilizou a complementaccedilatildeo de problematizaccedilotildees importantes por

dois(duas) dirigentes da ENESSO pertencentes ao universo da pesquisa Contudo eacute

salutar manifestar que o meio eletrocircnico reduziu a interferecircncia da pesquisadora no

processo de produccedilatildeo de dados visto que ficou impossibilitado o esclarecimento

imediato de duacutevidas durante a concessatildeo das respostas entretanto eacute importante

destacar que os sujeitos que responderam via email se disponibilizaram para

21

prestaccedilatildeo de quaisquer esclarecimentos e fornecimento de quaisquer informaccedilotildees

posteriores ao envio das respostas

Na pesquisa de campo ainda elaboramos um questionaacuterio com o objetivo

de traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO de julho de 2003 a julho de 2008

visto ser este o mecircs que ocorre o ENESS espaccedilo em que se elege a diretoria da

executiva e dessa maneira marca o inicio de uma determinada gestatildeo O perfil

evidenciou um conhecimento mais detalhado dos sujeitos que materializaram a accedilatildeo

poliacutetica do MESS no periacuteodo abordado pela pesquisa Assim potencializou o

entendimento de questotildees importantes pois expressou dados qualitativos e

quantitativos relacionados sobretudo aos aspectos geracionais dos(as) dirigentes do

movimento abordado

A entidade eacute composta de sete cargos nacionais de tal modo no periacuteodo

ressaltado tivemos cinco diferentes diretorias totalizando portanto trinta e cinco

dirigentes O questionaacuterio foi encaminhado via email para todos(as) esses sujeitos

conforme endereccedilo eletrocircnico disponibilizados nos documentos produzidos no

decorrer dessas cinco gestotildees Do total de trinta e cinco enviados para os(as)

coordenadores(as) nacionais obtivemos resposta de vinte e dois o que representa um

percentual de 63 desse universo

O natildeo recebimento de 37 dos questionaacuterios enviados pode ser reflexo

da mudanccedila de endereccedilos eletrocircnicos entretanto eacute importante evidenciar a nossa

tentativa de conseguir os endereccedilos atualizados por meio dos(as) dirigentes que

responderam o questionaacuterio

Tambeacutem enviamos o mesmo questionaacuterio para um(a) militante que

ocupou o cargo de coordenador(a) regional5 da ENESSO na gestatildeo 2006-2007 e que

na sua gestatildeo fez oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da entidade Este(a) ainda respondeu

e enviou eletronicamente um roteiro constituiacutedo de trecircs perguntas Essa accedilatildeo foi

materializada com o intuito de analisamos a apreensatildeo de um sujeito que atuou na

coordenaccedilatildeo regional da ENESSO e se colocou no campo de oposiccedilatildeo o que por sua

vez favorece a anaacutelise considerando divergecircncias e contradiccedilotildees que perpassam a

accedilatildeo desse MS e da entidade aqui estudada

Constituiacutea propoacutesito da pesquisa a realizaccedilatildeo de entrevistas com dois

membros da ABEPSS e do Conselho Federal de Serviccedilo Social(CFESS) A efetivaccedilatildeo

destas entrevistas com representantes da ABEPSS e CFESS proporcionaria um

enriquecimento do trabalho visto que as trecircs entidades nacionais da categoria se

articulam e promovem lutas conjuntas o que favoreceria a apreensatildeo da atuaccedilatildeo da

5 A regiatildeo a que pertence esse(a) dirigente eacute a II que engloba os estados do Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte Na dissertaccedilatildeo ele(a) eacute identificado pelo nome de Luz

22

ENESSO neste contexto da contra-reforma do ensino superior do governo de Lula O

conjunto dessas estrateacutegias possibilitaria a apreensatildeo do objeto de estudo em suas

contradiccedilotildees e densidade histoacuterica

Diante do exposto entramos em contato via email e de forma presencial

com as presidentes da ABEPSS das gestotildees 20052006 e 20072008 e obtivemos

ecircxito com a representante da gestatildeo20072008 que respondeu e enviou

eletronicamente os nossos questionamentos Em relaccedilatildeo aacutes entrevistas com

representantes do CFESS natildeo obtivemos ecircxito no estabelecimento dos contatos

A dissertaccedilatildeo apresenta-se estruturada em cinco capiacutetulos que se

subdividem em itens O primeiro capiacutetulo corresponde agrave introduccedilatildeo

Na segunda parte tecemos anaacutelise sobre o ME na qual o caracterizamos

como um MS que historicamente se constitui espaccedilo de atuaccedilatildeo da juventude

universitaacuteria no Brasil tendecircncia constatada na trajetoacuteria histoacuterica realizada no

segundo item dessa segunda parte Efetivamos algumas particularidades que

perpassa a organizaccedilatildeo do ME como a expansatildeo das Executivas de Cursos nos anos

de 1990 e as contradiccedilotildees que envolvem a UNE na conjuntura atual Aleacutem disso

abordamos sobre a reorganizaccedilatildeo do MESS no final dos anos de 1970 processo que

corroborou com a criaccedilatildeo da Subsecretaria dos Estudantes de Serviccedilo Social na

UNE(SESSUNE) em 1988 posteriormente transformada em ENESSO no ano de

1993 Entidade que desde a sua criaccedilatildeo se configura como espaccedilo sintonizado com a

defesa da universidade puacuteblica no Brasil e com a formaccedilatildeo profissional dos(as)

assistentes sociais perspectiva evidenciada tambeacutem nessa investigaccedilatildeo

O terceiro capiacutetulo direciona-se no sentido de apreendemos os limites e

possibilidade das poliacuteticas sociais e em particular da educaccedilatildeo no acircmbito da

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da sociabilidade capitalista Nessa dimensatildeo temos a

concepccedilatildeo que as contradiccedilotildees inerentes a esse modelo societal rebate nos diversos

complexos sociais incluindo a esfera educacional Pois entendemos a educaccedilatildeo

como uma esfera caracterizada pela disputa de projetos diferenciados perspectiva

que se vislumbra por exemplo na defesa da educaccedilatildeo como um direito social e

estrateacutegia importante na construccedilatildeo de mediaccedilotildees sintonizadas com outra

sociabilidade projeto defendido majoritariamente pelo MESS e a ENESSO e de

outro lado verificamos a luta de grupos privatistas que consideram o setor educacional

como mercadoria portanto vinculado aos interesses do capital associado agrave

concepccedilatildeo da educaccedilatildeo restringir-se a funcionalidade de atender meramente as

necessidades do mercado competitivo A anaacutelise foi potencializada com a construccedilatildeo

de mediaccedilotildees relacionadas ao capitalismo contemporacircneo para tal nos

fundamentamos em autores como Antunes e Harvey visto que consideramos

23

incoerente e inconsistente analisarmos a direccedilatildeo social da atuaccedilatildeo da ENESSO sem

contextualizarmos a sociedade na qual ela se processa

No quarto capitulo tratamos do processo de contra-reforma do ensino

superior durante os anos de governo Lula que tem se efetivado numa direccedilatildeo

preponderante de desqualificaccedilatildeo da perspectiva de universidade puacuteblica

caracterizada pela indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo aspecto que

se confirma com a crescente expansatildeo da Iniciativa privada com amplo apoio

governamental Assim abordamos no acircmbito da contradiccedilatildeo algumas das medidas jaacute

concretizadas como Programa Universidade Para Todos(PROUNI) Sistema Nacional

de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior(SINAES) Poliacutetica de Cotas Ensino a Distacircncia e

Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades

Federais(Reuni) O uacuteltimo item dessa parte apresenta como objetivo prioritaacuterio a

discussatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado

pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma em

que configuramos como um momento complexo e desfavoraacutevel para materializaccedilatildeo

dos princiacutepios norteadores da formaccedilatildeo defendida pelas entidades representativas da

profissatildeo incluindo a ENESSO

No quinto capiacutetulo traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO no

periacuteodo de 2003-2008 em que abordamos questotildees relacionadas agraves esferas poliacuteticas

sociais e econocircmicas desses sujeitos Embora subdividido didaticamente em cinco

itens privilegiamos em todo o capitulo a discussatildeo em torno da atuaccedilatildeo dessa

entidade nos acircmbitos da universidade e da formaccedilatildeo profissional enriquecidas com

as mediaccedilotildees realizadas nos capiacutetulos anteriores Destacamos tambeacutem desafios e

contradiccedilotildees que perpassam o MESS e a ENESSO na atualidade Para tal nos

baseamos nas informaccedilotildees fornecidas por ex-coordenadores(as) da ENESSO e nos

documentos elaborados e divulgados pela executiva durante o periacuteodo investigado

nessa pesquisa aleacutem da produccedilatildeo de dados obtida mediante as informaccedilotildees

concedidas por um(a) dirigente de oposiccedilatildeo e representantes da ABEPSS que

teceram reflexotildees sobre atuaccedilatildeo da ENESSO na contemporaneidade

24

Acredito na Rapaziada

Eu acredito eacute na rapaziada

Que segue em frente e segura o rojatildeo

Eu ponho feacute eacute na feacute da moccedilada

Que natildeo foge da fera e enfrenta o leatildeo

Eu vou agrave luta com essa juventude

Que natildeo corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que natildeo taacute na saudade e constroacutei

A manhatilde desejada

(gonzaguinha)

25

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA

No intuito de analisarmos a direo social do MESS mediante protagonismo

da ENESSO faz se necessrio uma abordagem do ME como expresso de um MS

em que concebermos tais sujeitos como esferas coletivas de organizao e atuao

poltica Temos o entendimento que a poltica no se reduz aos espaos

institucionais mas se faz presente nas mais variadas esferas societrias e que pode

ser instrumento de conservao da sociabilidade burguesa como pode ser utilizada

para sua superao a partir da anlise e conhecimento crtico do real que potencializa

uma ao orientada para negao da ordem vigente

Conceber o ME como MS nos remete ao entendimento de que uma

investigao sobre sua atuao deve considerar importantes dimenses tais quais o

atual momento histrico e suas determinaes para a luta dos(as) trabalhadores(as) e

para esfera educacional em especial a universidade brasileira Pois partimos da

perspectiva de que a luta dos(as) estudantes no se desenvolve desconectada da

discusso de um determinado projeto de universidade e dessa maneira to pouco de

uma viso societria

Portanto a discusso do ME no contexto dos MS visa ressaltar tambm a

importncia dos MS no mbito de uma sociabilidade marcada pela disputa de projetos

diferenciados e antagnicos que perpassa diversas esferas da totalidade social Desse

modo tal anlise torna-se relevante para melhor compreendemos a atuao do

MESS no cotidiano de lutas por uma universidade pblica gratuita democrtica laica

e de qualidade e de um projeto de formao profissional consubstanciadas nas

Diretrizes Curriculares de 1996 lutas inseridas numa conjuntura de disputa de projetos

educacionais nos marcos dessa sociabilidade Nesse aspecto relevante frisar que

historicamente o ME e em especial o MESS tem atuado em sintonia com a defesa de

construo de uma sociabilidade para alm do capital

Nesse cenrio de disputas e correlao de foras polticas e ideolgicas

segmentos dos MS identificados com um iderio emancipatrio assumem um papel

de destaque na implementao de lutas sintonizadas com o ideal de transformao

societal Nesse sentido os MS e entre eles o ME consistem em espaos de

26

organizaccedilatildeo participaccedilatildeo e accedilatildeo coletiva potencialmente favorecedores da

materializaccedilatildeo de uma accedilatildeo poliacutetica transformadora do status quo mediante o

desenvolvimento de lutas e atividades direcionadas para defesa de interesses que

exprimem os valores e princiacutepios que norteiam as accedilotildees desses sujeitos Valores que

majoritariamente se colocam no campo de negaccedilatildeo das relaccedilotildees mercantis

dominantes

A conjuntura atual eacute marcada pelo refluxo dos Movimentos Sociais(MS)

realidade influenciada dentre outros determinantes pela propagaccedilatildeo da

impossibilidade de ultrapassagem da ordem estabelecida e pela valorizaccedilatildeo de

relaccedilotildees mercantis

Luchmann e Souza(2005) sinalizam que a atuaccedilatildeo dos MS nas deacutecadas

de 1970 e 1980 caracterizava-se pelo caraacuteter combativo e contestatoacuterio

diferentemente dos anos 1990 nos quais se configura um direcionamento

particularizado por relaccedilotildees propositivas e participativas junto ao Estado em

detrimento de atuaccedilotildees mais reivindicativas

Para Montatildeno(2002) a inflexatildeo ocorrida na relaccedilatildeo entre as ONG e os MS

constitui uma expressatildeo dessa crise uma vez que nos anos 70 e 80 do seacuteculo XX

existia uma articulaccedilatildeo entre tais sujeitos coletivos na luta pela instituiccedilatildeo do Estado

democraacutetico e de direitos de cidadania para diferentes segmentos da sociedade

brasileira Jaacute nos 1990 explicita-se a profunda alteraccedilatildeo que acontece nessa relaccedilatildeo

visto que as ONG passaram a atuar natildeo mais em parceria mas a ocupar os lugares

dos MS Partindo do entendimento do autor eacute possiacutevel afirmar que essa inflexatildeo

contribui para o processo de reproduccedilatildeo da sociabilidade mercantil jaacute que

majoritariamente as ONG conformam espaccedilos mantidos financeira e ideologicamente

por instituiccedilotildees representantes do capital o que por sua vez potencializa uma atuaccedilatildeo

dessas organizaccedilotildees sintonizada com a manutenccedilatildeo dessa sociedade

Gonh(1992) ressalta que a fragilizaccedilatildeo dos MS eacute influenciada por

problemaacuteticas como o aumento do desemprego a aceitaccedilatildeo das diretrizes neoliberais

como fundamento da relaccedilatildeo Estado e sociedade e tambeacutem pela forte descrenccedila

em relaccedilatildeo a poliacutetica na contemporaneidade

Temos a apreensatildeo que os aspectos salientados por Gonh se apresentam

de modo radicalizado na atualidade Natildeo se pode mascarar a existecircncia de uma

conjuntura marcada cada vez mais pela expansatildeo do desemprego e de suas

consequumlecircncias para a desorganizaccedilatildeo dos segmentos do trabalho situaccedilatildeo que

potencialliza para o natildeo reconhecimento do pertencimento de classe de parte

significativa desses sujeitos

27

A descrena poltica se constitui um elemento particular da nossa histria

Perspectiva que se manifesta no estabelecimento de relaes fundamentadas na

lgica clientelista e na cultura do favor do famoso ldquojeitinho brasileirordquo na sobreposio

de interesses particulares em relao aos anseios da coletividade Aliado a isso

vivencia-se um contexto poltico complexo e difcil particularizado pela conquista da

presidncia por um partido historicamente identificado pelo iderio de transformao

social contudo atuando preponderantemente com fundamentao nos

ensinamentos e indicaes neoliberais de valorizao do privado desqualificao do

pblico e destruio dos direitos sociais Com base nessas reflexes pode-se afirmar

que o cenrio crtico para os MS identificados com a construo de outra

sociabilidade para alm do capital seno crtico o contexto contemporneo no

mnimo preocupante pois se intensifica a vivncia de desvalores sustentadores desta

ordem como egosmo competitividade individualismo associados s particularidades

da realidade brasileira

Entendemos ainda que as perspectivas ps-modernas contribuem para

esse cenrio de desmobilizao pois a negao da razo moderna favorece o

exacerbamento de vivncias efmeras em detrimento da construo de projetos

societrios alternativos para humanidade visto que a ps-modernidade se caracteriza

por concepes que ldquobuscam no isolamento do individuo (o sujeito localizado na

comunidade tecnolgica e informatizada do sculo XIX mas lsquodeslocadorsquo de sua

sociabilidade) a soluo para os problemas enfrentados pelo homem na sociedade

contemporneardquo (MAGALHES 2004 p83)

O isolamento e a atomizao dos sujeitos como caractersticas de

perspectivas situadas no campo da ps-modernidade contribuem para fragilizao de

aes e organizaes coletivas j que se verifica uma forte tendncia de exaltao da

subjetividade sem considerar entretanto o solo societal em que os indivduos esto

inseridos uma sociabilidade marcada pela explorao relaes competitivas

opressoras e egostas

Tais elementos corroboram para fragilizao das organizaes coletivas

identificadas com o iderio de transformao e construo de outra forma societria

inclusive o ME que historicamente levanta a bandeira em favor da universidade

pblica gratuita laica e de qualidade no Brasil

De fato o momento presente evidencia a retrao da organizao

poltica da classe trabalhadora Contexto scio-histrico de abandono das idias

anticapitalista por parte de importantes partidos situados no campo da esquerda

exemplar o caso do PT no Brasil Essa tendncia favorece a constituio de cenrios

nacionais nos quais a realizao de

28

Contra-reforma que sofreriam dura oposio se encaminhadas por governos originariamente neoliberais esto sendo aprovadas por coalizaes que contam com foras que outrora possuam uma imagem no neoliberal (LEHER 2005 p18)

Ou seja vivenciamos uma conjuntura desfavorvel aos segmentos do

trabalho Alicerando-nos em Fontes(2008) assinalamos que a radicalidade neoliberal

do tempo presente expressa o processo de intensificao da disponibilizao e

disciplinamento do trabalho em relao ao capital Disciplina na qual as foras

dominantes utilizam a violncia e a construo de consensos que rebatem fortemente

nos MS em particular no movimento sindical no a toa que ldquoassistimos destruio

dos sindicatos combativos ao desmonte de anteparos legais ao aguamento da

concorrncia internacional dos trabalhadoresrdquo (FONTES 2008 p31)

A autora ainda chama ateno para o explcito processo de metamorfose

que perpassam os MS nesse contexto de aprofundamento da explorao e

subalternizao dos segmentos do trabalho Dessa maneira organizaes populares

de cunho reivindicativo passaram a se configurar em espaos ldquomercantil-filantrpicordquo

Essa regressiva converso est articulada a marcante propagao no campo das

organizaes sociais da importncia das demandas especficas entretanto

desvinculadas da luta anticapital perspectiva que predominou sobretudo nos anos de

1980 imbricada a essa tendncia se verifica a disseminao de militantes que

embora preocupados com a melhoria de condies de existncia da populao

explorada e oprimida atuam de modo localizado pontual e fragmentado levando-os

ao abandono de lutas e reflexes sintonizadas com o ideal do fim da sociedade de

classes Realidade que corrobora com a transformao de militantes em assessoristas

de projetos sociais situados no campo da filantropia bem como para o aniquilamento

ldquodo horizonte da contradio entre fazer filantropia ser militante e ser remunerado

mercantil por essa atividaderdquo (FONTES 2008 p 35)

Sem dvidas essas ldquoconfusesrdquo ou mudanas de funes no interior das

organizaes de origem populares consistem em mais uma das estratgias de

convencimento empregada pela ideologia do capital na sua verso neoliberal com o

intuito de fragilizar as organizaes e os sujeitos contestadores e opositores da sua

dominncia Esse propsito de inflexo das lutas se expressa por exemplo na

tentativa desmesurada de satanizar o Estado e mascarar as contradies existentes

na sociedade civil

Em reflexo sobre os movimentos de classes no Brasil MOURA(2008)

assevera que na atual conjuntura o movimento sindical e os partidos de esquerda ldquo

29

parecem no dar conta de incorporar os diferentes sujeitos que se apresentamrdquo (p

52) Essa situao manifesta um momento de mxima complexidade no que diz

respeito organizao e atuao poltica dos segmentos do trabalho cada vez mais

a classe trabalhadora se torna diversificada e heterognea o que significa que a

tomada de conscincia e o pertencimento de classe uma necessidade real

importante e urgente por parte dos(as) desempregados dos(as) subcontratados

dos(as) inseridos(as) na informalidade e principalmente pelos movimentos de

trabalhadores(as) j organizados

Iamamoto(2006) sinaliza que essa tendncia de reduzida combatividade

do movimentos sindical e suas entidades deve ser entendida levando-se em

considerao os rebatimentos da reestruturao produtiva que acaba por gerar uma

diversificao nas relaes de trabalho no interior das fbricas a expanso de

trabalhos precarizados o acirramento da competitividade entre os trabalhadores(as)

dimenses que incidem na desorganizao poltica dos segmentos do trabalho

Para contribuir com nosso entendimento sobre a inflexo pelo qual passa

os MS na contemporaneidade em particular o movimento sindical j que temos o

entendimento que a organizao estudantil e suas entidades historicamente

apresentam vinculaes com esses sujeitos polticos realizaremos uma breve anlise

da recente trajetria da organizao da classe trabalhadora no Brasil

Segundo Moura(2008) o novo sindicalismo iniciado no final da dcada de

1970 com as manifestaes e greves sobretudo circunscritas ao ABC paulista se

fundamentava na defesa de direitos trabalhistas e sociais a participao da base

associada a luta pela democracia poltica no pas Foi o fortalecimento dessa vertente

que culminou com a criao da Central nica dos Trabalhadores(CUT) em 1983 e que

desde a sua fundao apresenta-se estritamente vinculada a criao do Partido dos

Trabalhadores em 1980 Conforme (MOURA 2008 p58)

Com bases sociais vinculadas diretamente ao movimento dos trabalhadores consolidou-se o projeto de fundao do PT Esse partido de formao originalmente operria foi determinante na formao da CUT Pode-se dizer que as fronteiras entre os militantes do PT e da CUT alm da ampla maioria dos movimentos sociais e populares que retomavam suas aes ou se constituam no pas ps-ditadura no estavam definidas Naquele quadro o PT expressava o movimento de massa o conjunto dos trabalhadores que em geral no estavam ligados aos partidos comunistas

A vitria de Fernando Collor de Mello e logo em seguida os oito anos de

gesto de Fernando Henrique Cardoso(FHC) colocaram o Brasil a plena disposio

da expanso neoliberal que j se processava mundo afora A vitria do PT em 2002

30

apoiado pela CUT at significou a contestao esmagadora da populao brasileira

com o rumo dado ao pas nas gestes anteriores entretanto o caminho adotado no

foi destoante do receiturio neoliberal Assim

Cada vez mais setores do movimento sindical brasileiro incorporam as teses gestadas pelos intelectuais orgnicos da burguesia O discurso de pretensa inexorabilidade do processo de ldquoglobalizao econmicardquo parece ter abarcado os setores dirigentes da CUT e do PT O projeto orientado pelo segmento especulativo do capital com o discurso de incorporao ordem e de parceria entre trabalhadores e patres Afirma a diluio das classes em prol de uma individualidade falaciosa (MOURA 2008 p59)

Como ser tratado nos captulos seguintes o governo de Lula tem sido

responsvel pela implementao de medidas que se pautam na perspectiva de

aprofundar a regulao neoliberal no pas Sendo esse posicionamento poltico

apoiado por entidades que historicamente tiveram suas aes voltadas para defesa

dos interesses da maioria da populao entre elas a CUT e a prpria Unio Nacional

dos Estudantes(UNE)

No mbito de negao da atuao poltica da CUT sobretudo no que diz

respeito relao de subordinao diante do governo Lula tivemos a criao em 15

de dezembro de 2005 da Coordenao Nacional de Lutas(CONLUTAS) formada por

sindicatos MS e organizaes de cunho popular comprometidas com o

desenvolvimento de lutas contrrias as contra-reformas que vem sendo materializadas

no Brasil Segundo essa entidade a CUT se transformou em uma organizao que

prefere apoiar o atual governo do que defender os interesses e direitos dos(as)

trabalhadores(as) nacionais

Acreditamos que seja necessrio destacar que a criao da CONLUTAS

recebeu influncia significativa de militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores

Unificados(PSTU)6 este considera o PT um partido reformista e que no cenrio atual

subsidia as aes da burguesia nacional

A criao de novas entidades no campo de organizao dos(as)

trabalhadores(as) e tambm do segmento estudantil evidencia o descontentamento

poltico de militantes com a conduo do pas que direcionada por um partido

construdo no mbito das lutas sociais todavia tem atuado em conformidade com a

hegemonia neoliberal adotada nos governos anteriores o que de certo modo

manifesta um expressivo divisionismo eou instabilidade existente no movimento

6 O PSTU foi fundado em 1994 sobretudo por militantes que romperam com o PT Mais recentemente em 2004 ocorreu uma nova dissenso no PT que culminou com a criao do Partido Socialista e Liberdade(PSOL)

31

organizado dos segmentos do trabalho e estudantil no Brasil e que rebate de maneira

significativa no MESS Tendncia evidenciada por exemplo nos conflitos que

envolvem a postura do segmento estudantil e da ENESSO diante do governo Lula e

da UNE aspectos amplamente debatidos pelos agrupamentos polticos que se

organizam no MESS7

Contudo a contradio inerente a sociedade do capital e desse modo

foras antagnicas a dominao burguesa se manifestam de modo combativo

inclusive nesse contexto de retrao poltica da classe trabalhadora

De maneira mais ampla temos a criao do denominado movimento

antimundializao que nos ltimos anos tem protagonizado relevantes lutas contra a

dominao capitalista O marco desse movimento consistiu os protestos durante a

reunio da Organizao Mundial do Comrcio(OMC) na cidade de Seatte em 1999

Apresentando posicionamento radicalmente contrrio ao receiturio neoliberal esse

movimento construiu e organiza o Frum Social Mundial espao que segundo

Wallertein( 2005) tem o objetivo de promover lutas contra os males provocados pelo

capital com postura de respeito as necessidades imediatas dos diversos segmentos

que compem o frum

Para Chesnais Serfati e Urdf(2005) o movimento antimundializao

apresentou como primeiros objetivos o combate a mercantilizao dos servios

pblicos efetivado mundialmente pela OMC mediante o Acordo Geral sobre Comrcio

e Servio(AGCS) mercantilizao que atinge diversas esferas entre elas a educao

O pensamento de Wood(2005) que a organizao dos(as)

trabalhadores(as) deve comear dentro de cada Estado dado seu entendimento que

o Estado no atual momento da globalizao apresenta funcionalidades imprescindveis

para a acumulao do capital Entre tais funes evidenciamos o seu papel de

ldquomanter a mo de obra imobilizada enquanto o capital se move atravs das fronteiras

nacionais ou nos capitalismos menos desenvolvidos atua como correia de

transmisso para outros Estados capitalistas mais avanados(WOOD 2005 p111)

A apreenso da autora situa o Estado como importante alvo das lutas de

classes em nvel local e nacional visto que no mbito da contradio como agente da

globalizao o Estado pode se constitui antagonicamente como ente bloqueador

desta

Em mbito nacional alguns sujeitos coletivos denominados por

Moura(2008) de ldquonovos movimentos de classerdquo tm assumido uma postura de

organizao combativa diante da perda de direitos e das precrias condies de

7 O aprofundamento dessa questo se encontra no capitulo cinco dessa dissertao

32

existncia seja na cidade eou campo Nessa dimenso temos a significativa atuao

poltica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) o Movimento dos

Trabalhadores Sem Teto(MTST) e o Movimento Terra Trabalho e Liberdade(MTL) que

segundo a autora implementam

Uma lgica e interveno inovadoras Organiza e aglutina segmentos distintos de trabalhadores sob uma mesma ldquobandeirardquo Essas novas organizaes buscam implementar alternativas econmicas para sobrevivncia e auto-susteno dos trabalhadores Experincias que se desenvolvem numa dinmica que busca o controle do processo de trabalho e forma no-capitalista de organizao econmica A organizao de massa priorizando a democracia e a ao direta a principal referncia desses movimentos(MOURA 2008 p60)

Diante do exposto seja a necessidade de luta circunscrita aos Estados

nacionais apontadas por Wood ou as lutas globais destacadas por Chesnais Serfati e

Urdf e ainda os movimentos existentes no Brasil que foram destacados por

MOURA(2008) constituem e expressam possveis e concretas respostas de

resistncia do trabalho contra o capital

Em se tratando especialmente do ME interessante ressaltar algumas

caractersticas peculiares desse MS entre elas um movimento formado

majoritariamente pela juventude8 que se depara na contemporaneidade com um

cenrio de crise em que o diploma universitrio no representa mais a garantia de um

futuro melhor Nesses termos Almeida (2004) destaca que a preocupao dos(as)

estudantes com a insero no mercado de trabalho to significativa que verificamos

seus rebatimentos inclusive no afastamento considervel de alunos(as) das

organizaes coletivas no mbito universitrio como o caso do ME

Os dados da pesquisa realizada em novembro de 1999 pelo Ncleo de

Opinio Pblica da Fundao Perseu Abramo com jovens de quinze a vinte quatro

anos nas noves regies metropolitanas e Distrito Federal revelam que do total de

entrevistados(as) 58 estudavam Entretanto s a condio de estudante no

suficiente para caracterizar de forma mais profunda a juventude brasileira pois tal

pesquisa tambm evidenciou que do universo investigado 78 trabalhavam eou

estavam na procura de emprego para adentrarem no mundo do trabalho

8 A dissertao no tem o propsito de confrontar teoricamente as diferentes concepes existentes sobre juventude Contudo temos o entendimento que no podemos tratar dessa temtica levando-se em considerao somente a idade em si mas as determinaes econmicas sociais polticas culturais que incidem na vida desses sujeitos que vivenciam entre outras dimenses situaes de confrontos de valores idias momentos de transio processos formativos e nveis de maturidade diferenciados

33

Relevante enfatizar que os dois principais motivos elencados pelos jovens

que abandonaram os estudos so de natureza econmica 34 deles apontaram

impossibilidade em conciliar trabalho e estudo e 16 evidenciaram a falta de recursos

financeiros como impedimento para continuidade da vida escolar9

Em dezembro de 2003 investigao do Projeto JuventudeInstituto

Cidadania em parceria com o Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE divulgaram

dados de uma pesquisa realizada com jovens entre 15 e 24 anos de todo o pas e que

tratou ainda de retomar e ampliar os temas destacados pela pesquisa da fundao

Perseu Abramo de 1999

Com base nos dados da pesquisa do Projeto Juventude trs em cada

quatro jovens entrevistados(as) esto inseridos(as) no mercado de trabalho ou

procurando uma ocupao O tema ldquotrabalhordquo se configura entre os(as) jovens como

aqueles de maior interesse e preocupao Visto que o trabalho se apresenta como

elemento fundamental de seu presente ou de seu futuro prximo concebido como necessidade pela maioria mas tambm como fator de crescimento de conquista de independncia e de auto-realizao para parcelas amplas da juventude( ProjetoJuventude 2003 p92)

A violncia e dificuldades de insero no mercado de trabalho so tidas

como os principais aspectos negativos da condio de ser jovem no Brasil

Em relao dimenso cultural a pesquisa evidencia que 85 dos

entrevistados(as) no participam de grupos de jovens e aqueles(as) que participam

atuam especialmente em organizaes vinculadas a Igreja

Recente pesquisa da Fundao Getulio Vargas10 destaca que falta aos

pais e jovens brasileiros tomarem conscincia do poder transformador da educao

em suas vidas como os altos impactos educacionais exercidos na esfera de

empregabilidade salrio e sade

O carter transformador da educao como salientado pela Fundao se

consubstancia notoriamente numa tendncia de proporcionar melhores conquistas e

desenvolvimento no interior do mercado de trabalho o que representa sobretudo

uma lgica de preservao dessa sociabilidade pois no se apreende incentivos a um

tipo de educao como mediao que possibilite o questionamento da sociedade

9 Conforme dados da pesquisa do percentual de 42 que pararam de estudar apenas 1 o fez por ter concludo o ensino superior10 A pesquisa foi divulgada no site da Fundao no dia 16 de abril de 2009 e patrocinada pela prpria fundao pelo Unibanco pelo Movimento Todos pela Educao e pela Educar Dpaschoal As principais fontes da pesquisa foram os microdados dos Suplementos da PNDA de 2004 e 2006 microdados da Pesquisa Mensal do Emprego(IBGE)

34

erguida pelo capital marcada pela dominao explorao e opresso que repercute

inclusive na esfera educacional como evidenciado no capitulo trs desse trabalho

Segundo dados disponibilizados pela Fundao Getulio Vargas no

universo da referida pesquisa os jovens entre 15 e 17 anos elencaram a ausncia de

interesse como principal responsvel pelo abandono escolar representando um

percentual de 403 enquanto que o abandono por questes de renda e trabalho

corresponderam ao patamar de 271 Os dados so realmente inquietantes levando-

nos a refletir o que na essncia representa a denominada ausncia de interesse No

seria um reflexo da profunda instabilidade vivenciada neste contexto de extrema crise

dessa sociabilidade em vez de se configurar como mera falta de apreenso dos pais e

jovens em relao ao impacto da educao nas suas vidas

Nessa dimenso a anlise da atuao do MESS um movimento

constitudo majoritariamente por jovens exige mediaes que reflitam sobre essas

problemticas enfrentadas pela juventude na atualidade

O afastamento de estudantes das organizaes coletivas no interior das

instituies de ensino superior configura tambm reflexo da ausncia de uma efetiva

poltica de assistncia estudantil que proporcione a permanncia dos(as)

universitrios(as) no cotidiano dessas instituies

Aliado a esses aspectos de ordem objetiva que contribuem para o

distanciamento de jovens do universo da educao formal e desse modo das

prprias organizaes coletivas peculiares a tais espaos como o ME ainda

vivenciamos um ntido processo de despolitizao que atinge vrios mbitos e

organizaes da sociedade O tempo presente reflete a radicalizao da barbrie

expressa por exemplo na agudizao das relaes competitivas e do individualismo

o que por sua vez fragiliza a construo de valores e prticas identificadas com a

construo de outro projeto societrio Outro elemento presente na realidade do ME

a tentativa de ocupao de entidades historicamente identificadas com a

transformao societal por foras tericas e polticas conservadoras Nas palavras de

Fontes(2009) ldquons estamos vivendo um momento de em que o capital hoje investe

fortemente em apassivar movimento sociais ainda que tenha que gastar algum recurso

para issordquo(2009 p04)

Outro aspecto importante consiste na transitoriedade do ME que aliada

fragilizao na formao poltica dos(as) militantes representa dificuldades no

processo de renovao de seus membros

Alm disso o carter pluriclassista do movimento contribui para a

apreenso e desenvolvimento de aes diferenciadas no contexto social nesse

sentido levando-se em considerao o grupo poltico pode existir concepes

35

diversas sobre a funcionalidade da universidade na sociabilidade capitalista Logo no

tocante a prpria contra-reforma do ensino superior e a formao profissional os

posicionamentos podem ser diversificados no interior do ME

Alm disso a conjuntura recente revela mudanas relativas s esferas

cultural e social dos jovens visto que verificamos a emergncia de novos espaos de

atuao juvenil so exemplos dessa tendncia os movimentos hip hop e rap os quais

segundo Mische (1996 p25) ldquosurgem como a voz de revolta e auto-afirmao Estes

constituem espaos de resistncia com criatividade ao desespero da violncia das

aspiraes bloqueadas e da falta de respeito por parte da cultura dominanterdquo

Portanto ao mesmo tempo que a atual conjuntura contribuiu no enfraquecimento de

determinados espaos polticos de organizao contraditoriamente proporciona o

fortalecimento da atuao dos (as) jovens em outras dinmicas de organizao

Consideramos desse modo que o ME brasileiro enfrenta na atualidade

contradies e desafios que podem contribuir ainda mais para o cenrio de

fragmentao de sua atuao poltica

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes

O resgate histrico do Movimento Estudantil(ME) brasileiro evidencia que a

defesa da universidade pblica gratuita e de qualidade social constitui em uma das

principais bandeiras de luta desse segmento organizado Permite ainda

apreendermos a ao poltica majoritariamente assumida ao longo de diferentes

conjunturas brasileiras em especial no atual cenrio de realizao de profundas

mudanas no mbito da educao superior lcus privilegiado de sua organizao e

atuao Assim faremos uma breve contextualizao do ME apresentando como

marco inicial de sua ao a criao da UNE por se tratar da entidade mxima dos(as)

discentes universitrios(as) no pas

Antes da criao da (UNE) no ano de 1937 a atuao do segmento

estudantil era caracterizada conforme Poerner (1979) pela transitoriedade e

regionalismo ou seja por aes focalistas e de carter local somente em 1937

com a criao e reconhecimento pelos (as) estudantes brasileiros(as) da UNE como

sua entidade mxima de representao que as lutas estudantis tornaram-se mais

expressivas e articuladas em nvel nacional

Segundo esse autor desde sua criao at a dcada de 1950 o ME

mediante atuao da UNE participou de lutas importantes no cenrio brasileiro dentre

36

das quais ressaltamos as mobilizaes contra o Estado Novo11 defesa do patrimnio

territorial e econmico do pas expressa por meio da campanha favorvel criao da

Petrobrs e pela proteo dos recursos naturais sobretudo das riquezas minerais os

protestos contra o aumento nas passagens dos bondes de So Paulo entre outras

aes

Diante do exposto evidencia-se que naquele momento o ME preocupava-

se com questes referenciadas na agenda poltica conjuntural do pas e prevalecia

tendncia de abstrair as singularidades do movimento secundarizando as

problemticas vivenciadas pelos(as) estudantes no cotidiano das instituies de

ensino superior brasileiras

Esta tendncia sofre alteraes na dcada de 1960 quando so realizados

dois seminrios sobre reforma universitria nos anos de 1961 e 1962

respectivamente na Bahia e no Paran O resultado dos seminrios foi expresso na

denncia por segmentos do ME quanto disseminao ideolgica pelos setores

dominantes da lgica que defende o ensino superior como privilgio de uma minoria e

a universidade como instrumento dos setores interessados na preservao da ordem

vigente Portanto desde a dcada de 1960 a defesa da universidade pblica gratuita

e de qualidade social bem como o desenvolvimento de processos formativos crticos

se tornaram mais expressivos nas reivindicaes e aes do ME

Em 1964 tivemos a instaurao da ditadura militar caracterizada na

realidade brasileira pela represso autoritarismo censura com destruio de canais e

espaos democrticos e morte de lideranas polticas Durante a ditadura uma das

metas principais dos governos autoritrios consistia na atrao de capitais

estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos Estados

Unidos No toa que durante esse perodo tivemos o chamado ldquomilagre

econmicordquo durante o qual os ndices de crescimento foram considerados

expressivos entretanto essa elevao no se converteu para toda sociedade sendo

os segmentos das classes trabalhadoras aviltados do processo que teve poucos

beneficiados alm disso vale ressaltar que foi proporcionado pela contnua poltica de

endividamento do Brasil

Desde a instaurao do regime militar as legislaes adotadas

demonstravam a preocupao em conter a atuao estudantil em novembro de 1964

foi aprovada a Lei Suplicy de Lacerda que tinha como principal objetivo eliminar a

autonomia do ME

importante destacar que em maio de 1968 acontece em diversos

11 O denominado Estado novo correspondeu aos anos de gesto de Getulio Vargas nos anos de 1937 a 1945

37

pases manifestaes de negao da sociabilidade capitalista e constitudas

significativamente por estudantes sendo que a maior expresso dessas

manifestaes ocorreu na Frana

Fontes(2009) considera que o maio de 1968 representa o epicentro de

um complexo processo de lutas que vinham se manifestando em diversas partes do

mundo como Mxico EUA Japo Europa e que caracteriza a ldquo a irrupo no plano

internacional de um certo tipo de lutas de novo tipo que no podem mais ser contidas

nem so solucionveis nos espaos nacionaisrdquo (p1) As lutas destacadas pela autora

so aquelas que denunciavam a crescente devastao internacional do capital e que

se expressavam por exemplo nas questes pacifistas anticoloniais racistas

sexistas entre outras as quais no poderiam ser enfrentadas no espao restrito dos

Estados nacionais

Para essa autora a represso militar configurou o maio de 1968 no Brasil

como manifestaes predominantemente estudantil e antiditatorial contudo

necessrio considerar que as manifestaes se processaram por diversos setores

urbanos do pas visto que aquela conjuntura marcada pelo

processo de diversificao industrial importante e impactante era um perodo de virada da estrutura demogrfica nacional e que portanto as manifestaes de 68 so fortemente antiditatoriais e com um cunho fortemente popular E contra elas e contra a possibilidade o temor que esse tipo de manifestao se estendesse que certamente o AI 5 inaugura a pior represso no caso brasileiro(2009 p02)

Nesta conjuntura contraditria e repressiva foi realizado o XXX Congresso

da (UNE) em outubro de 1968 que se constituiu num desafio para o ME pois a

violncia desencadeada contra os crticos do regime se intensificava alm disso as

reunies encontros estudantis e as mobilizaes de repdio as atrocidades cometidas

pela ditadura eram consideradas como aes subversivas e de ameaa a ordem

estabelecida Preocupados com a represso o lugar escolhido para realizao do

referido encontro foi Ibina pequena cidade no interior do estado de So Paulo

objetivando com tal medida no chamar ateno e assim evitar um confronto

policial No entanto a clandestinidade no se materializou e a realizao do congresso

chegou ao conhecimento das autoridades militares e praticamente todos os

congressistas foram presos entre eles os principais lderes do ME gerando um

grande abalo e marcando o incio de influxo do movimento

O refluxo do ME deve ser analisado levando-se em considerao a

instituio das medidas repressivas as quais se tornaram constantes naquele

contexto brasileiro Assim em dezembro de 1968 inicia-se o que Netto (2005 p38)

38

denominou de ldquogenuno momento da autocracia burguesardquo com a instalao do Ato

Institucional 5 considerado uma das legislaes mais autoritrias e violentas do

regime Em fevereiro de 1969 o Decreto lei 477 foi institudo e tratou de estabelecer

as infraes disciplinares cometidas por docentes discentes e funcionrios(as) das

instituies de ensino no pas concebendo greves e mobilizaes estudantis como

atos infracionais visando a fragilizao do ME

necessrio destacar que nas dcadas de 1960 e 1970 as aes

polticas do ME estavam voltadas para denncia do descaso dos governos ditatoriais

com a educao evidenciado a interferncia norte americana neste setor por

intermdio dos acordos MEC ndash USAID bem como procuravam fortalecer a luta contra

o regime militar

Este direcionamento de aes voltadas mais especificamente para o

mbito educacional bem como atividades de carter genrico consistia em motivo de

discordncia no tocante a forma de atuao a ser desenvolvida pelo ME Nessa

perspectiva Ramos referendada em Martins Filho (1987) ressalta a presena de

duas tendnciasA primeira atribua-lhe a funo de denunciar a ditadura militar atravs de grandes manifestaes pblicas que marcariam sua presena perante a sociedade [] a segunda posio defendia a ldquoluta especficardquo ou luta nas escolas [] nesta concepo a politizao dos (as) universitrios (as) surgiria das reivindicaes que lhes so especficas e seria no seu processo de organizao que eles (as) apoiariam o movimento dos (as) trabalhadoras (RAMOS 1996 p63)

Podemos considerar a tendncia defensora das grandes mobilizaes nas

ruas como hegemnica no mago do ME naquele momento Decorrente desta

posio necessrio enfatizar o protagonismo desse movimento na atuao contra o

regime repressor de 1964 Neste mbito a reconstruo da UNE conformou uma

caminhada rdua nesse processo

Neste contexto importante evidenciar que o XXXI Congresso da UNE

mais conhecido como ldquoCongresso da Reconstruordquo ocorrido em 1979 em Salvador

no Centro de Convenes da Bahia significou antes de tudo a expresso da

organizao e fortalecimento das bases estudantis que vinha ocorrendo em todo pas

Em 1972 alguns Centros Acadmicos retomam a iniciativa de denunciar as

barbaridades praticadas pela ditadura Esse ano e o seguinte so marcados pela

realizao dos primeiros encontros por rea de acordo com as diferentes profisses

Em 1975 a ocorrncia de greves em algumas universidades brasileiras como nos

estados do Rio Grande do Sul So Paulo Rio de Janeiro Bahia e Pernambuco

sinaliza que o ME encontrava-se em processo de reorganizao e recuperao do

39

carter poltico combativo das entidades estudantis Com tais propsitos no ano de

1976 aconteceram as primeiras eleies de Diretrios Acadmicos Livres como por

exemplo o da Universidade de So Paulo (USP) importante destacar tambm que

em 1976 foram realizados o I e II Encontro Nacional dos Estudantes (ENE) Estes

encontros consistiram nas primeiras medidas visando reorganizao do ME em nvel

nacional

O ano de 1977 ficou marcado pela volta dos(as) estudantes s ruas com

as grandes mobilizaes contra o ensino pago o aumento abusivo das mensalidades

nas universidades privadas e tambm contra o regime ditatorial

Outro fato relevante ocorrido no mesmo ano consistiu no III ENE no qual

foi formada a comisso Pr-UNE cuja responsabilidade correspondia em ldquocoordenar

as lutas estudantis em nvel nacional propagandear a histria da UNE e promover o

debate acerca da necessidade de sua reconstruordquo (ROMAGNOLI e ALVES 1988 p

32)

interessante salientar que as insatisfaes com a ditadura militar se

intensificaram e outros segmentos organizados da sociedade renasceram com

nfase para o ressurgimento das reivindicaes operrias expressas sobretudo

atravs dos movimentos grevistas no ABC paulista em 1978

Tal ano significativo para o ME devido o crescimento quantitativo de CAs

pela eleio da primeira diretoria livre para a Unio Estudantil de So Paulo e ainda

pela efetivao do IV ENE que tratou das discusses sobre a realizao do

Congresso de Reconstruo da UNE estabelecendo inclusive a data e local Como

podemos observar este congresso foi decorrncia de um processo de rearticulao do

ME que estava acontecendo em todo Brasil

Observamos na conjuntura brasileira do final da dcada de 1970 o

fortalecimento das lutas de diversos segmentos da sociedade na defesa pelo retorno

ao Estado de direito e o ME constituiu-se em um importante protagonista nesse

processo

Portanto o segmento estudantil organizado teve papel relevante na luta

contra a ditadura militar dessa maneira conforme Romagnoli e Alves (1988) no

Congresso da UNE de 1979 entre as lutas que deveriam ser implementadas por esta

entidade estavam a defesa da anistia ampla e irrestrita e a reivindicao por uma

Assemblia Nacional Constituinte Alm disso no podemos deixar de referenciar a

contribuio estudantil nas presses pelas ldquoDiretas jrdquo desencadeadas por

mobilizaes de vrios segmentos da sociedade favorveis realizao das eleies

diretas para Presidncia da Repblica no ano de 1985 Apesar de amplas

manifestaes em todo pas o processo eleitoral democrtico no se materializou

40

mesmo assim a articulao das foras polticas contrrias ao regime se fortaleceu

Na dcada de 1980 Ramos (1996) sinaliza a existncia de trs tendncias

polticas principais que atuavam no ME brasileiro A primeira tratava-se da tendncia

denominada ldquoViraordquo composta por estudantes com vnculos polticos com a Unio

da Juventude Socialista(UJS) vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) que

era hegemnica nos diretrios da UNE e defendia a necessidade da luta por liberdade

democracia e soberania nacional A segunda tendncia era composta principalmente

por militantes do PT e ressaltava a importncia de articulao com outros sujeitos

coletivos no intuito de estabelecer alianas no mbito universitrio na perspectiva de

contribuir para a construo de uma nova hegemonia social como primordial para o

segmento estudantil organizado J a terceira tendncia considerada minoritria

aglutinava tendncias ligadas tambm ao PT ao Partido da Libertao

Proletria(PLP) e ao PSTU que destacava a prioridade da luta contra o capital a partir

da aliana entre o ME e os trabalhadores (as) camponeses (as) e operrios (as)

Analisamos que a divergncia de tendncias no tocante ao papel social a

ser assumido pelo ME demonstra que no podemos atribuir prticas unitrias aos MS

pois eles comportam vrios grupos polticos com concepes diferenciadas possvel

observamos nas vertentes citadas uma postura progressista na dimenso de defesa

de lutas importantes que contriburam na elaborao da crtica e da ao poltica

contra a realidade instituda

Andrade afirma que as tendncias constituem-se no ldquoelo entre partido

poltico e universidade refere-se a grupos organizados que atuam no ME e elaboram

suas propostas e orientaes luz dos programas estratgias e tticas que os

partidos de esquerda elaboram em funo da conjuntura polticas e econmicas

vigentesrdquo (ANDRADE 1994 p31) Entretanto algumas ponderaes so necessrias

pois nem todos(as) militantes das tendncias so filiados(as) a partidos polticos uma

tendncia pode atuar sem contudo apresentar vnculo orgnico com partidos

polticos alm disso no difcil encontrarmos filiados(as) de partidos polticos sejam

eles considerados de esquerda ou de direita que militam no ME independente de

participarem de tendncias

Nos anos de 1990 uma das atividades que marcou a atuao do ME

consistiu na realizao do V Seminrio sobre reforma universitria em So Paulo o

evento contou com expressiva participao dos (as) estudantes que chegaram

concluso de que a universidade

Tem por objetivos o desenvolvimento da cincia da tecnologia da cultura pautando-se na liberdade de investigao e debate no

41

pluralismo metodolgico e terico na autonomia em relao aos diferentes governos e empresas privadas e cujas prioridades so definidas pela prpria comunidade universitria (BOLETIM DA UNE 1990)

Ainda durante a vigncia dos anos 1990 ressaltamos a participao

estudantil nas mobilizaes em defesa do impeachment do presidente Collor (1992)

os denominados ldquocaras pintadasrdquo entraram em cena contra este governo de cunho

neoliberal entendido pelo ME como um inimigo da universidade pblica12

No que concerne ao movimento dos ldquocaras pintadasrdquo Mische (1996)

chama ateno para sua heterogeneidade diferentemente das manifestaes dos

anos 19601980 cuja composio era basicamente de jovens oriundos da classe

mdia Esta alterao associa-se ao fato de que as ldquoredes de estudo trabalho cultura

e sociabilidade no esto mais centralizadas nas universidadesrdquo (MISCHE 1996

p24) provocando mudanas na prpria organizao da juventude brasileira

principalmente com a emergncia de novos espaos de atuao ou seja ldquode maneira

diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da dcada de 60 os

jovens atuais buscam novas formas de aglutinao participao e expressordquo

(RAMOS e BRITO 2005 p 3)

Alm disso Ramos(1996 p71) afirma que a participao poltica nas

reivindicaes de 1992 no foi ldquocanalizada pelos movimentos e entidades juvenis

para uma organizao mais crtica e comprometida nas diversas esferas coletivas do

ME em particularrdquo Tal perspectiva pode ser percebida dentre outras questes pelo

refluxo que atravessa o ME na atualidade percebido a partir de expresses tais

como na incapacidade de aglutinar a juventude no divisionismo nos debates e aes

travadas pelas suas organizaes na perda de combatividade que antes consistia

numa de suas caractersticas essenciais

Uma alternativa a estrutura do ME apresentada por Mische (1996) capaz

de potencializar a revitalizao da organizao poltica dos(as) estudantes

universitrios so as executivas de curso que ganharam expressividade no final dos

anos 1980 com a realizao dos Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

(ENEX) nos quais ldquodiscutia-se prioritariamente o papel social do ME e as propostas

para a interveno das executivasrdquo (RAMOS 1996 p82)

12 Collor presidiu o Brasil por dois anos de 1990 a 1992

42

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO

As executivas de curso so expresses do movimento estudantil por rea

que objetivam implementar aes relacionadas a determinada profisso essa atuao

pode ser desenvolvida de maneira endgena quanto pode ser direcionada para o

entendimento das demandas profissionais analisadas criticamente a partir das suas

determinaes histricas

Em 1992 tivemos a criao do Frum Nacional das Executivas de Curso

que conformou um espao privilegiado de discusso e troca de experincia entre as

diversas executivas Tal dimenso sinalizada na sua compreenso como um espao

de ldquoarticulao das executivas onde se possam construir lutas em conjunto aumentar

o contato entre executivas da mesma rea do conhecimento e socializar experincias

e acmulos em determinados assuntosrdquo (FRUM DAS EXECUTIVAS 2005)

Na reunio do frum ocorrida em setembro de 2005 ficou evidente a

preocupao das executivas em discutir a funo social que a universidade brasileira

tem cumprido dada apreenso desta instituio como um aparelho ideolgico que

em larga escala atua em conformidade com a supervalorizao da dimenso

tecnicista e seguidora da lgica do mercado priorizando desse modo a formao de

profissionais para atuarem conforme o modelo societrio dominante

Ainda foram ressaltadas questes relacionadas necessidade das

executivas travarem lutas conjuntas a partir de um calendrio de atividades unificado

ratificando tal entendimento nos encaminhamentos construdos alm de ter sido

aprovada a tarefa de elaborao de um documento consistente sobre educao e

universidade com nfase para aspectos como extenso abertura de cursos

avaliao e exame de proficincia para ser enviado s entidades estudantis13

Tais encaminhamentos expressam que as executivas no se preocupam

somente com problemticas referentes s particularidades dos seus respectivos

cursos Porm necessrio que as executivas como alternativas de organizao para

o ME no se tornem entidades burocratizadas e hierarquizadas a exemplo da UNE na

contemporaneidade dado o seu afastamento das bases estudantis e de suas

conseqentes reivindicaes

O Frum das Executivas e Federaes de Curso(FENEX) tem assumido

uma postura de negao no que se referem s principais medidas realizadas no

13 At o presente momento no temos conhecimento da elaborao desses documentos

43

campo da contra-reforma do ensino superior tais como ENADE PROUNI e mais

recentemente REUNI Essa perspectiva pode ser apreendida por exemplo no

relatrio elaborado em decorrncia da reunio do Frum ocorrida em fevereiro de

200814 o qual estabelece que ldquoas executivas auxiliem na construo de comits

locais contra o REUNI e insiram o debate do REUNI em seus fruns[] ampliando o

debate no conjunto dos estudantesrdquo (FENEX 2008 p01)

Interessante esclarecer que esse Frum vem se constituindo em um

espao de organizao estudantil desvinculado da direo da UNE e que tem

apresentado uma direo crtica em relao atuao poltica na entidade nacional

dos(as) estudantes brasileiros(as) desse modo o frum tem se destacado na

construo da Frente Contra a Reforma Universitria em curso no Brasil

Em relao a UNE no 49 Congresso ocorrido tambm em 2005

tendncia denominada de Unio de Juventude Socialista (UJS) conseguiu manter sua

hegemonia na entidade Sua postura de apoio a contra-reforma efetivada pelo

Governo Lula ficou evidente devido s propostas aprovadas neste congresso Para

justificar o posicionamento de entender as aes do Governo como ldquoreformardquo e desse

modo se colocar favorvel a poltica educacional que de fato orientada pelas

diretivas neoliberais um dos argumentos utilizados consistiu na defesa de que as

reivindicaes da UNE relacionadas assistncia estudantil foram incorporadas com

a destinao de 5 das verbas de custeio das instituies federais para essa rubrica

Nos congressos de 2007 e 2009 a mesma tendncia que se encontra

majoritariamente nas direes da UNE desde o seu congresso de Reconstruo em

1979 permanece na direo majoritria da entidade Conforme Santos(2007)

A direo da UNE hegemonizada por militantes do PC do B por meio de sua juventude a Unio da Juventude Socialista ndash UJS Vale ressaltar que desde a eleio do Governo Lula (2002) a Juventude do PT-JPT(pertencentes majoritariamente a tendncia interna do partido - Articulao Unidade na Luta) aliou-se a UJS imprimindo a direo da UNE uma prtica governista e ldquopelegardquo por se afastar das lutas estudantis(106)

A argumentao de Santos revela complexidades na atuao da UNE no

tempo presente e que reflete nos demais espaos de atuao e organizao

estudantil inclusive no MESS e na ENESSO conforme apontamento da nossa

pesquisa a executiva de Servio Social age de modo a negar e afirmar a UNE num

14 Na reunio do FENEX ocorrida em fevereiro de 2008 na cidade de Salvador estavam presente as entidades dos seguintes cursos Engenharia Florestal Geografia Fonoaudiologia Medicina Biologia computao Servio Social Comunicao Social Filosofia Farmcia Nutrio Enfermagem Educao Fsica Letras Histria Terapia Ocupacional Biblioteconomia Agronomia Artes e Economia

44

processo real e contraditrio que envolve as disputas e o direcionamento das lutas

estudantis Segundo o estudo de Santos(2007) a UNE se converteu em uma entidade

burocrtica e hierarquizada pelas suas tendncias majoritrias que processa uma

ao despolitizada tendncia verificada na transfigurao de uma entidade histrica

em uma instncia preocupada sobretudo com a arrecadao de dinheiro mediante

a venda de carteirinhas de estudantes15

Particularmente em relao ao MESSS o estudo de Ramos(1996)

expressa que sua organizao em nvel nacional se intensificou no contexto de lutas

pela redemocratizao do pas no final dos anos 197016 ou seja momento de

efervescncia das lutas em prol da conquista da democracia poltica e da garantia de

direitos sociais reclamados por diversos segmentos da sociedade brasileira

Exemplo dessa assertiva consistiu a realizao do primeiro ENESS em

197817 frum que desde a sua origem at os dias atuais se configura como espao

privilegiado de reflexes debates e deliberaes deste segmento estudantil e

conforme indica (RAMOS 1996 p101) logo ldquono incio da dcada de 1980 em meio ao

processo de discusso interna sobre a organizao do MESS j era analisada a

necessidade de criao de uma entidade nacional de estudantesrdquo

Nessa dcada ocorre tambm a expanso de centros acadmicos de

Servio Social o que por sua vez expressa o continuo processo de organizao pelo

qual perpassa esse segmento

Alm das discusses relativas criao de uma entidade nacional dos(as)

estudantes o MESS manifestava preocupaes em torno da formao profissional

em particular com atuao no mbito da reformulao curricular que culminou com a

criao do currculo mnimo de 1982 e que segundo MARTINS(1992) no I ENESS

ficou evidenciada a posio estudantil de

No fazer com que o estudo sobre o currculo se limitasse as discusses por matrias especificas mas que fosse possvel discutir-se[] ressaltando-se que as questes referentes ao currculo em Servio Social so apenas um item das questes relativas a educao em nossa sociedade(p36)

15Para o autor a UNE se remete na atualidade a uma fabrica de dinheiro com a produo de carteiras estudantis(P107)16 importante registrar que anterior a instaurao da ditadura militar no mbito de organizao segmento estudantil de Servio Social ocorreram alguns encontros nacionais e Silva(2006) destaca a criao da ENESS( Executiva Nacional de Estudantes de Servio Social) atuante at 1968 ano de instituio do AI 5 e que conforme o autor ldquo possua estrutura organizativa semelhante a da ENESSOrdquo(p21)17 O Encontro aconteceu na Universidade Estadual de Londrina com o tema ldquoO Servio Social e a Realidade Brasileirardquo entre os dias 29 e 31 de outubro de 1978

45

No ENESS de 197918 tivemos a criao da Secretria Executiva Nacional

formada pela escola sede do encontro e um representante de cada regio constituda

com o objetivo de potencializar a organizao do MESS alm disso so aprovadas a

realizao os Encontros Regionais de Estudantes de Servio Social(ERESS) e do

Conselho Nacional de Entidades Estudantis(CONESS)19

Pequeno(1990) ressalta que os anos de 1980 foram importantes para o

fortalecimento do MESS devido tambm a sua postura de reivindicar a ocupao de

espaos junto a organizao da categoria Esta que ldquoinserida numa conjuntura de luta

pelos direitos sociais comeou a se pensar e a buscar novos caminhos para sua

organizao encontrando no Movimento Estudantil um grande aliado para essa

mudanardquo(p51) A partir de ento o MESS procurou construir aliana com outras

entidades de representao estudantil MS e as entidades representativas do Servio

Social no caso a ABEPSS e o CFESS

Segundo essa autora tambm a partir de 1982 inicia-se o processo de

ascenso do PT no ME em particular no MESS que disputava a hegemonia do

Movimento sobretudo com militantes vinculados ao PC do B este que ldquoaliado com

algumas reitorias apresentava uma postura conservadorardquo (p59)

Importante ressaltar que no ENESS de 1985 um agrupamento de

estudantes defendeu da SESSUNE chegando a levar tal proposta para plenria final

Entretanto o encaminhamento tomado sinalizou a necessidade de aprofundar essa

questo levando esse debate para os(as) estudantes das diversas escolas de

Servio Social do pas Como podemos apreender o processo de criao da entidade

nacional foi resultante de um debate democrtico travado pelos estudantes

Em 198620 importante destacar mudanas na realizao do ENESS que

passa a ter a durao de cinco dias e no mais de trs como anteriormente

Aps dez anos de debates no ENESS de 1988 criada a SESSUNE com

o objetivo de contribuir com a organizao nacional dos estudantes A partir de ento

tem uma atuao embasada na perspectiva de situar e analisar as questes relativas

profisso no contexto scio-histrico das determinaes estruturais e conjunturais

No seu primeiro ano de existncia a entidade funcionou sem estatuto21 devido

insuficincia de tempo no referido encontro contudo a diretoria eleita atuou

considerando o seguinte parmetro

18 Este ocorreu na Universidade Catlica de Salvador ndashBA o qual no teve tema definido19 Essa estrutura organizativa permanece nos dias atuais no CONESS que se discute e se aprova as pautas das mesas e das oficinas a serem realizas no ENESS20 Este ENESS apresentou como tema ldquoSe muito vale o j feito mais vale o que serrdquo e foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ)21 O estatuto foi aprovado somente no ENESS seguinte

46

Articulao com o movimento estudantil geral articulao com o movimento da categoria representar os estudantes de Servio social em territrio nacional e internacional articular os estudantes de Servio Social no pas promover o debate sobre os problemasespecficos dos estudantes de Servio social e coordenar e organizar os encontros nacionais e regionais junto a escola sede dos eventos( PEQUENO 1990 p 70)

Para Santos(2007) a dcada que engloba os anos de 1978 a 1988

ocorreu no MESS um processo de reconstruo de sua ldquobase organizativa nacional e

de reaglutinao poltica dos estudantes principalmente pelos debates em torno da

conjuntura e da formao profissional reivindicando uma direo poltica filiada a

inteno de ruptura com o conservadorismordquo (p116)

No ano de 1991 acontece o primeiro Seminrio Nacional de Formao

Profissional e Movimento Estudantil de Servio Social(SNFPMESS) o que revela a

preocupao MESS com a Formao profissional mediante a criao de um espao

prioritrio para discusso dessa temtica o qual realizado a cada dois anos A

preocupao do movimento com a formao profissional se verifica desde a

reorganizao desse segmento no final da dcada de 1970 e como veremos essa

questo se mantm atualmente como uma esfera privilegiada na pauta dos(as)

estudantes e de sua entidade representativa

Em 1992 a SESSUNE promove o segundo Seminrio Nacional de Formao Profissional Nesse seminrio houve a elaborao do anteprojeto da ldquoCampanha Nacional pela Reestruturao da Formao Profissional do (a) Assistente Social no Brasilrdquo Um dos desdobramentos desta campanha foi a elaborao do Documento Pro Dia Nascer Feliz documento sistematizado pelo CArsquos e DArsquos de Servio Social engajados no movimento estudantil essa sistematizao serve como documento base para as discusses iniciais do processo de reviso curricular promovida pela ABESS na gesto 93-95 com sede na UFPE em Recife-PE(SANTOS 2007 119)

Hoje os fruns organizados pela ENESSO escola sede dos encontros e a

representao discente em ABEPSS so Conselho Nacional de Entidades Estudantis

de Servio Social(CONESS) formado pelos CAs e DAs cujo objetivo maior a

definio da pauta para o encontro nacional O Conselho Regional de Entidades

Estudantis em Servio Social(CORESS22) que apresenta a mesma funcionalidade s

que em mbito regional ERESS que consiste no maior frum de discusso de cada

22 neste encontro que acontece a eleio para as Coordenaes regionais da ENESSO portanto processo eleitoral desvinculado da eleio para direo nacional da entidade Cf ENESSO(2007)

47

regio que compem a ENESSO ENESS que se refere a mxima instncia de

deliberao do MESS e evento no qual se elege a diretoria nacional da entidade alm

dos SNFPMESS e dos Seminrios Regionais de Formao Profissional e Movimento

Estudantil de Servio Social no qual os(as) estudantes tem a oportunidade de

participar de mesas de discusso e apresentar trabalho sobre diversas temticas que

perpassa a profisso sendo os dois ltimos encontros no deliberativos

No ano de 1992 emergem no MESS agrupamentos polticos organizados

em teses que passaram a disputar a direo nacional da entidade perspectiva que

segundo Silva(2006) expressa ldquoo acumulo poltico j adquirido por este movimentordquo

A mudana de SESSUNE para ENESSO23 em 1993 representou

sobretudo a perspectiva de assumir autonomia em relao a UNE Alm disso esse

papel aglutinador assumido pela ENESSO est em consonncia com a tendncia

presente no ME na dcada de 1990 das executivas se apresentarem com uma

dinmica de organizao estudantil a partir do desenvolvimento de lutas abrangentes

bem como de atividades especficas de determinada profisso

Segundo estudo de Silva (2006) de 1994 a 1998 tem-se o acirramento pela

direo da entidade em que em 1995 duas chapas pleitearam os cargos nacionais da

ENESSO o grupo poltico Projeto Democrtico e Popular(PDP) e a candidatura ldquoNo

d mais pra segurarrdquo formada por estudantes no organizados em grupos e por

militantes vinculados ao PSTU sendo que a primeira saiu vencedora na disputa

eleitoral Em 1997 temos a criao de mais um grupo poltico no MESS o Eu Quero

Mais(EQM) que chegou a direo da entidade em 1998 marcando o fim da

hegemonia do PDP no MESS

O ano de 1998 significativo para o MESS pela conquista de garantia da

representao discente na ABEPSS entidade voltada prioritariamente para as

problematizaes e desenvolvimento de aes em torno da formao profissional o

que mais uma vez refora a preocupao do movimento com o processo formativo24

dos(as) assistentes sociais Segundo Rodrigues

23 A entidade mxima de representao de estudantes de Servio Social- no tocante a organizao do Movimento Estudantil- como forma de melhor atingir os objetivos de articulao e potencializao de lutas- est dividida organizacionalmente em sete regionais as quais englobam as escolas de Servio Social nelas localizadas so elas regio I-Acre Amazonas Roraima Rondnia Par Maranho e Piau II-Cear Rio Grande do Norte Paraba e Pernambuco III-Alagoas Sergipe e Bahia IV-Tocantins Gois Distrito federal Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (Uberlndia e Uberaba) V - Minas Gerais Esprito Santo e Rio de Janeiro VI - Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul e VII-So Paulo (cf ESTATUTO DA ENTIDADE 2007)24 Segundo as contribuies de Santos(2007) de 1993-1998 o MESS desenvolveu algumas ldquoaes que ratificam a prioridade da formao profissional como Realizao da Pesquisa sobre o perfil dos estudantes (1995) para contribuio com o debate das diretrizes curriculares de 1996154 a realizao de cursos de formao poltica ldquo O Capacitardquo (199697) a

48

A partir da legitimidade poltica adquirida historicamente pelo MESS que ao longo da sua trajetria se mostrou comprometida com a formao qualificada e com o projeto tico-poltico profissional a categoria estudantil conquistou espao de representao na ABEPSS H portanto representao discente na diretoria nacional e regional estreitando a relao poltica existente entre as duas entidades(2008p39)

A partir dos anos 2000 a entidade passa a empreender campanhas em

favor da reduo de mensalidades decorrente do expressivo nmero de Cursos de

Servio Social na iniciativa privada e tambm apresenta um postura crtica em

relao poltica educacional materializada na era FHC que se manifesta por

exemplo na contestao do Provo25

Hoje a ENESSO composta nacionalmente por cinco coordenaes a

geral de divulgao e imprensa relaes internacionais finanas e de movimentos

sociais e mais duas secretarias a geral e a de formao profissional26 Alm da

direo nacional existem os coordenadores regionais que so eleitos nos encontros

de cada regio que compem a ENESSO o que permite que sujeitos no

pertencentes ao mesmo agrupamento da direo nacional assumam a entidade em

mbitos regionalizados o que por sua vez pode reforar o fortalecimento da

democracia no interior da entidade ou por lado ocasionar prticas antidemocrticas

na tomada de decises e no desenvolvimento e abrangncia das lutas e atividades

em virtudes de disputas entre a coordenao nacional e determinadas coordenaes

regionais Conforme o seu Estatuto as principais funes da ENESSO constituem na

Elaborao e execuo das atividades referentes aos estudantes de Servio Social e as lutas do Movimento Estudantil com base nas diretrizes e polticas de ao aprovadas no ENESS Sistematizar e divulgar as informaes das escolas atravs de boletins informativos jornais e outros veculos de comunicao Acompanhar cotidianamente a organizao do Movimento Estudantil nas escolas atravs de visitas contatos telefnicos via internet etc (ENESSO 2007 p12)

contribuio dos estudantes organizados nas teses apresentadas nos ENESS disputando idias concepes e a hegemonia na direo poltica do MESS a conquista da representao estudantil em ABEPSS em 1998rdquo(p121)25 Cf (Silva 2006) que tambm evidncia no XXII realizado no ano 2000 na cidade de Lins SP quanto ao sistema de votao uma vez que o voto deixaria de ser por escola ( em que cada uma teria direito a trs votos) passando a ser universal26 Interessante registrar que no ltimo ENESS realizado em Londrina-PR as Coordenaes Nacionais da Executiva no foram ocupadas A Secretaria de Formaccedilatildeo profissional foi crida em 1993 no ENESS que ocorreu na cidade de So LeopoldoRS e demonstra a preocupao do MESS com as problemticas da Formao Profissional do Assistente Social

49

A funcionalidade evidencia a relevncia da entidade para a organizao do

MESS dado o seu carter de articular o movimento em nvel nacional

potencializando desse modo as atividades travadas pelo segmento

Atualmente um dos importantes instrumentos na interlocuo dos

estudantes e de disponibilizao de informaes e de produes da entidade se

refere ao grupo de discusso executivamess o qual conta com 1350 associados(as)

Ele surgiu a partir de uma deliberao do planejamento estratgico da executiva

sendo criado no ano de 2000 com o objetivo de contribuir na socializao e promoo

de debates que perpassa a organizao desse movimento

importante esclarecer que as aes desenvolvidas pela ENESSO devem

se pautar nas deliberaes aprovadas pelo coletivo de estudantes presentes no

ENESS realizado anualmente

As deliberaes expressam em certa medida a disputa entre os diferentes

grupos e tendncias que militam no MESS bem como potencializa o entendimento da

direo social expressa na ao poltica da ENESSO As deliberaes apresentam

diretivas relativas a cinco principais eixos ou campos de atuao Conjuntura

Movimento Estudantil Cultura e valores Universidade e Formao profissional

Desde a dcada de 1990 temos majoritariamente o reconhecimento no

campo profissional da relevncia da ENESSO nas reflexes e direcionamento do

Servio Social brasileiro visto que na sua ldquorecente trajetria acompanhou o

movimento de renovao profissional gerado nos anos 8090 e para ele contribuiurdquo

(RAMOS 1996 p 118) Dez anos depois essa autora reafirma a relevncia da ao

poltica da ENESSO ao expressar que ela

Tem se posicionado politicamente e lutado pela defesa de um projeto poltico da classe trabalhadora capaz de acumular foras para conquistar uma nova direo social poltica e cultural uma universidade democrtica gratuita e de qualidade social uma formao profissional que propicie a capacitao terico-metodolgica tcnico-operativo e tico-poltico de profissionais que venham a responder s demandas populares no sentido de reforar os direitos de cidadania dos segmentos majoritrios da populao (RAMOS 2006 p178)

Diante disso reafirmamos o propsito de analisarmos a ao poltica da

ENESSO no cenrio da atual contra-reforma do ensino superior na perspectiva de

identificar a direo social que a entidade assume e como se caracterizam as suas

lutas atualmente nas esferas da universidade e da formao profissional dimenses

aprofundadas nos captulos seguintes

50

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE

A trajetria at aqui traada do ME nos possibilita afirmar que em

diferentes conjunturas nacionais a defesa da educao pblica gratuita e de

qualidade historicamente se configura como o projeto aglutinador de diversos

estudantes brasileiros(as) a perspectiva de materializao desse projeto que vem

sendo destrudo pela atual contra-reforma do ensino superior e que tem se constitudo

em foco de discordncia do ME nacional na conjuntura recente

O pice dessa discordncia ocorreu ainda em 2004 com a criao da

Coordenao Nacional de Lutas dos Estudantes(CONLUTE) que afirma ter como

objetivos essenciais a coordenao de lutas que se contraponham as medidas

situadas no campo da contra-reforma que desmorona a educao superior pblica no

pas Segundo concepo da entidade suas aes se remetem ainda para organizar

os(as) estudantes

que romperam com a UNE e que ainda esto nela para lutar contra a poltica de desmonte da educao pblica do governo Lula Uma vez que a UNE controlada pelos partidos do governo abandonou as lutas e que a democracia se tornou inexistente no interior dessa entidade a Conlute aparece como embrio de uma alternativa para o Movimento Estudantil(CONLUTE 2008)

A partir dessa ruptura em relao a UNE algumas indagaes tornam-se

importantes a criao de outra entidade de organizao estudantil em nvel

nacional o caminho para enfrentar as investidas do capital na educao e a atual

poltica para o ensino superior Essa entidade tem conseguido articular os(as)

estudantes na luta contra a reforma universitria independemente do seu

reconhecimento ou da UNE como entidade mxima de representao do segmento no

Brasil estratgica a desistncia de segmentos do ME contrrios reforma em

obter a direo e reorganizar a UNE uma entidade brasileira histrica e que contribuiu

para conquistas significativas no pas A criao de mais uma entidade fragmenta ou

revitaliza a atuao estudantil na atualidade Esses questionamentos so importantes

porque trata de problemticas estritamente relacionadas organizao e atuao

poltica do ME no tempo presente e que na contemporaneidade constituem-se em alvo

de debate e discordncias tambm no MESS e que rebate na atuao da ENESSO

visto que o reconhecimento ou no da UNE como principal entidade poltica dos(as)

51

estudantes constitui um dos principais pontos de divergncias dos grupos

organizados no MESS

O direcionamento da ENESSO nos ltimos ENESS tem se situado no

campo de defesa da UNE e de seu reconhecimento como entidade mxima de

representao do segmento estudantil no Brasil e desse modo reconhece que essa

entidade necessita voltar s aes para lutas identificadas com a defesa da educao

pblica gratuita de qualidade social e sintonizadas com o iderio de transformao

societal Dimenso explicitada na seguinte argumentao

Apesar das aes polticas da direo majoritria da UNE devemos reivindicar essa entidade que nossa(dos estudantes) que tem uma trajetria de luta e peso poltico Sempre foi um instrumento da luta pela educao pblica e pela transformao social do pas e ainda continua tendo fora respaldo e legitimidade na sociedade brasileira e possuindo grande potencial para retomar as lutas dos reais interesses coletivos dos estudantes no pas (ENESSO 2005 p03)27

A ressalva realizada pela ENESSO se consubstancia no fato de que a

UNE atua hegemonicamente em conformidade com a contra-reforma alm disso

os(as) estudantes corroboradores(as) com o direcionamento poltico da entidade

podem se tornar ainda mais efetivos no mbito do ME e em particular do MESS com

as medidas adotadas pelo governo como por exemplo o PROUNI e o ensino

distncia medidas que proporcionam a expanso do setor privado sem precedentes

na histria da educao brasileira e que sero refletidas mais adiante

Isto no significa que estudantes inseridos(as) na modalidade a distncia

ou ento aqueles(as) beneficiados(as) pelo PROUNI necessariamente constituem

sujeitos defensores da poltica educacional adotada pelo governo Lula Contudo o

prprio cenrio de enfraquecimento das lutas coletivas da deficincia na formao

poltica do segmento estudantil e a supervalorizao da esfera tecnicista na formao

de perfis profissionais voltados para o atendimento das demandas imediatas do

mercado contribuem para uma apreenso acrtica das medidas materializadas no

contexto da contra-reforma do ensino superior

27 Essa posio de defesa da UNE como entidade histrica e mxima de representao dos(as) estudantes universitrios(as) tambm foi ratificada no ENESS de 2007 ocorrido em Contagem-MG quando por ocasio da reviso do Estatuto da ENESSO ficou definido que esta entidade reconhece a UNE como ldquoinstncia de representao do movimento estudantil para que a mesma estimule unifique e fortalea a luta das (os) estudantes pela defesa da universidade pblica gratuita democrtica laica popular de qualidade com ensino presencial e juntamente com outros movimentos sociais lute por um novo projeto de sociedaderdquo (2007 p 01)

52

Entendemos que a apreensatildeo do objeto de estudo que consiste na anaacutelise

da atuaccedilatildeo do MESS na defesa da universidade puacuteblica gratuita e de qualidade e do

projeto de formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais no periacuteodo de 2003-2008 requer

abordagens relativas as modificaccedilotildees verificadas no acircmbito educacional em especial

no ensino superior brasileiro e desse modo consideraccedilotildees sobre as poliacuteticas sociais

em particular no contexto de domiacutenio neoliberal conjuntura que soacute pode ser entendida

se apreendemos o movimento geral da sociabilidade capitalista na

contemporaneidade Satildeo dessas mediaccedilotildees que trataremos a seguir

53

Privatizado

Privatizaram sua vida seu trabalho sua hora de amar e seu

direito de pensar

Eacute da empresa privada o seu passo em frente

seu patildeo e seu salaacuterio E agora natildeo contente querem

privatizar o conhecimento a sabedoria

o pensamento que soacute agrave humanidade pertence

(Bertolt Brecht)

54

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

3-1- A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal

Partimos da concepo que o desvelamento das relaes entre o Estado e

a sociedade nas ltimas trs dcadas baseadas na perspectiva de reduo da

interveno estatal nas problemticas sociais s podem ser entendidas criticamente

se considerarmos o movimento real da sociedade capitalista caracterizado pelo

aprofundamento da barbrie

Esse direcionamento de anlise significa afirmar que as alteraes

ocorridas no mundo do trabalho e por conseguinte no mago da produo

capitalista ou seja a produo da vida material repercute no desenvolvimento e

funcionamento das polticas sociais incluindo aqui a educao e na ao dos sujeitos

nesses espaos Desse modo o processo de contra-reformas desencadeadas nos

diversos setores -educao organizao sindical previdncia entre outros- em escala

mundial e com particularidades na realidade brasileira tem suas razes nessa

reconfigurao da produo e acumulao do capital ocasionada pela crise verificada

a partir dos anos 70 do sculo XX

No mundo do trabalho atual autores como Antunes (2000) Harvey (2006)

apontam a ocorrncia de profundas mudanas na base de produo capitalista o

fordismo28 taylorismo29 entra em declnio e emerge no final dos anos 1970 em nvel

mundial o denominado toyotismo ou modelo flexvel

A produo em srie e massificada com vista a atender o consumo em

massa a rigidez nos processos produtivos a segmentao entre planejadores e

executores que caracterizam o padro fordistataylorista no mais proporciona a

obteno de altas taxas de lucros necessidade precpua do capital

Assim o novo padro visa superao da crise provocada pela

concorrncia intercapitalista bem como objetiva manter sob controle a luta de classes

28Harvey(2006) aponta que o fordismo apresentou um pequeno desenvolvimento fora dos Estados Unidos antes do final da dcada de 1940 visto que se materializou de modo mais consistente tanto na Europa como no Japo aps este perodo e que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial 29 Taylor na obra ldquoos Princpios da Administrao Cientificardquo (1911) detalhava como se podia atingir altos nveis de produtividade a partir da ldquodecomposio de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organizao de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padres rigorosos de tempo e estudo do movimentordquo( Harvey2006 p124)

55

a partir de mudanas nas dimenses objetivas e subjetivas dos segmentos do

trabalho

O padro flexvel de produo e acumulao apresenta como elementos

constitutivos o just in time30 flexibilizao terceirizao31 controle de qualidade32

subcontratao eliminao de desperdcio de modo que modelos produtivos e

administrativos fundamentados na ldquogerencia participativa sindicalismo de empresa

[] propagam se intensamenterdquo (ANTUNES 2000 p27) Essa tendncia de

flexibilizao difere do disciplinamento das fbricas no perodo de emergncia da

industrializao na qual conforme MARX ldquono lugar do chicote do feitor de escravos

surge o manual de penalidades do supervisorrdquo (1975 p45) Agora identificamos a

substituio do manual de penalidades por um sistema de gesto cujo trabalhador

autovigilante no processo produtivo

Outra faceta trazida com a adoo do modelo flexvel a de processos

de trabalho caracterizados pela polivalncia nos quais o(a) trabalhador(a)

exigido(a) a executar diversas atividades o que por sua vez implica o desempenho

de diferentes habilidades e competncias Dessa forma a demanda do mercado de

trabalho por qualificao e formao tambm flexveis se torna uma necessidade

real s para exemplificar esse direcionamento hoje constitui-se praticamente uma

imposio tcita para se tornar competitivo no mercado conhecimentos de informtica

e de outras lnguas Entretanto importante ressaltar que ter tais conhecimentos e

uma formao que lhe possibilite competir no mercado no significa

necessariamente a garantia de insero no mercado de trabalho formal pois como

veremos adiante a conjuntura atual -seja nos pases de capitalismo avanado ou nos

denominados perifricos- marcada pelo notvel aumento do desemprego Essa

realidade nos leva a afirmar que o diploma universitrio e o que ele representa j no

consistem em segurana e perspectiva de futuro estvel como se vislumbrava em

dcadas passadas Esta realidade certamente tem implicaes nos espaos de

organizao universitria como se configura o ME

30 Importante tendncia do modelo flexvel que visa racionalizao no desempenho das atividades a partir do maior rendimento possvel do trabalho vivo Segundo Coriat(1994 p55) o jus in time se baseia especialmente ldquona manipulao ou na observao simultnea de vrias mquinas diferentesrdquo e no na repetio dos movimentos como se verificava no fordismotaylorismo Nas palavras de Antunes(2002 p54) o jus in time ldquotem como princpio melhorar o aproveitamento possvel do tempo de produordquo31 Fenmeno em que somente parte da produo realizada no mbito de determinada fbrica na qual se prioriza o que central em sua especialidade desse modo o restante da produo transferido para responsabilidade de terceiros Cf Antunes(2002)32 Controle de qualidade implementado sobretudo mediante a criao dos Crculos de Controle de qualidade(CCQ) os quais so formados por trabalhadores(as) e que incentivados pelo capital agem no sentido de analisar o desempenho de suas atividades com o objetivo de melhorar o rendimento e produtividade das empresas nas quais trabalham

56

Para Antunes(2000) possvel observar no mundo do trabalho

contemporneo diversas mudanas no sentido de uma crescente reduo do trabalho

industrial fabril em nvel internacional ao passo que se verifica o aumento de

assalariados(as) no ramo de servios bem como notvel a diversificao

heterogeneidade e complexificao dos segmentos do trabalho que se expressa

mediante ldquocrescente incorporao do contingente feminino no mundo operrio

vivencia-se tambm uma subproletarizao intensificada presente na expanso do

trabalho parcial temporrio subcontratato ldquoterceirizadordquo que marca a sociedade dual

no capitalismo avanadordquo (ANTUNES 2000 p 41)Nos termos de Harvey

A acumulao flexvel []na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de trabalho dos produtos e padres de consumo Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos novas maneiras de fornecimento de servios financeiros novos mercados e sobretudo taxas intensificadas de inovao comercial tecnolgica e organizacional (2006 p140)

A flexibilidade do mercado e dos processos de trabalho provoca

redimensionamentos na organizao dos sujeitos do trabalho visto que a

complexificao a heterogeneidade a crise objetiva contribui veementemente para o

enfraquecimento de aes polticas voltadas para defesa e conquistas de direitos

trabalhistas e sociais bem como lutas identificadas com o iderio de transformao

social

O produto dessas mudanas consiste no aumento radicalizado do

desemprego estrutural que afeta a classe trabalhadora em mbito planetrio A

reduo de postos de trabalho formal acaba por determinar a elevao do setor

informal no qual os sujeitos so totalmente desprovidos de garantias trabalhistas

caso no tenham condies de pagar previdncia privada ou seja vivencia uma

situao de insegurana em moldes radicalizados Outro aspecto pertinente a ser

considerado que muitas atividades situadas no universo da informalidade so

caracterizadas pela ilegalidade como por exemplo vendedores ambulantes no

legalizados o que leva a insero de parte desse segmento no mundo da

criminalidade a partir do desempenho de atividades ilcitas Uma perversa faceta

dessa realidade a dificuldade em termos de organizao dessas pessoas haja vista

as prprias peculiaridades na execuo do trabalho aliada a tentativa da classe

dominante em mascarar os conflitos e interesses antagnicos presentes na

sociabilidade do capital

Sinalizamos que a alienao se apresenta na atualidade de forma intensa

dentre suas expresses podemos citar a propagada gesto participativa que

57

dissemina entre os(as) trabalhadores a falsa noo de interesses iguais entre estes e

os capitalistas o que acaba por radicaliz-la j que a produo continua sendo

coletiva e sua apropriao privada sendo tal relao mascarada com o falacioso

discurso da valorizao participao e do ldquovestir a camisardquo da empresa e da

conseguinte identidades de projetos que na verdade so inconciliveis

Em relao discusso sobre a ampliao do desemprego importante

fundamentar este debate com os aspectos do desenvolvimento das foras produtivas

que se expressam mediante o avano da cincia e da tcnica Sobre esta questo

temos na obra O capital um profundo desvendamento relativo funcionalidade dessas

esferas para o modo de produo capitalista Assim com a expanso da

industrializao a partir do emprego da mquina-ferramenta - aquela que substitui o

trabalhador - Marx enfatiza que a maquinaria em vez de proporcionar o alvio da

labuta diria contraditoriamente sob a gide do capital visa to somente extrao

da mais valia relativa mediante o aumento da produtividade Isso independente das

conseqncias degradantes geradas para os segmentos do trabalho nas diversas

esferas da vida ou at mesmo eliminando as condies de existncia de parte

significativa da populao trabalhadora que no consegue vender a fora de trabalho

para garantir a sua subsistncia em decorrncia do constante processo de

substituio da fora de trabalho por mquinas

Nesses termos podemos constatar que o desenvolvimento da cincia

pode potencializar a elevao das condies de existncia de homens e mulheres se

pautado numa perspectiva de emancipao humana que contribua para a melhoria

das condies de vida da maioria da populao ou antagonicamente pode vislumbrar

apenas a obteno da pedra de toque do capital lucro exacerbado mediante a

obteno de mais valia

A argumentao aqui efetivada no est consubstanciada em uma

dimenso de ldquosatanizaordquo da cincia por conseguinte da tecnologia no estamos

responsabilizando-a pelo desemprego destruio da natureza e desigualdades

sociais Entretanto a utilizao da cincia com a mera finalidade de elevar a

produtividade e conseqentemente os lucros acarreta graves conseqncias para a

humanidade inclusive corroborando para perda de numerosos postos de trabalho nos

mais diversificados ramos de atividades Segundo MARX

Como mquina o meio de trabalho logo se torna um concorrente do prprio trabalhador A autovalorizao do capital por meio da maquina est na razo direta do numero de trabalhadores cujas condies de existncia ela destri (1975 p 48)

58

Na conjuntura contemporacircnea verificamos a agudizaccedilatildeo desse processo

contraditoacuterio expresso pela crescente taxa de desemprego acarretada tambeacutem pelo

aumento de trabalho morto e minimizaccedilatildeo de trabalho vivo em uma era de grandes

avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos

Essa relaccedilatildeo manifesta mais um antagonismo fundante desse modelo

societaacuterio Segundo contribuiccedilotildees marxianas a forccedila de trabalho eacute a uacutenica criadora de

valor e mais valor apresentando a maquinaria apenas a capacidade de transferir valor

ao produto por ela fabricado assim com a elevaccedilatildeo de investimento em trabalho

morto e sua substituiccedilatildeo pela forccedila de trabalho se constata o acirramento dessa

contradiccedilatildeo

Portanto eacute imprescindiacutevel evidenciarmos que o usufruto da propagada

revoluccedilatildeo informacional e tecnoloacutegica produzida nos dias atuais assim como a

utilizaccedilatildeo da racionalidade na produccedilatildeo a partir do uso da teacutecnica e da ciecircncia natildeo se

traduzem para todos(as) de maneira igualitaacuteria pois como analisa Marx a marca

central da sociabilidade capitalista eacute a contradiccedilatildeo que se manifesta na apropriaccedilatildeo de

modo desigual da riqueza coletivamente produzida

Procuramos assinalar que a produccedilatildeo capitalista se transforma assim

como a ciecircncia e a teacutecnica todavia os trabalhadores(as) continuam sendo

explorados(as) pois a base societal permanece esteada na contradiccedilatildeo entre

possuidores e natildeo dos meios de produccedilatildeo portanto uma sociabilidade pautada

majoritariamente por desvalores como competitividade individualismo egoiacutesmo

potencializando as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo dominaccedilatildeo e opressatildeo entre os seres

humanos

Esse cenaacuterio caracterizado pela introduccedilatildeo de novas tecnologias no

espaccedilo da produccedilatildeo exige reordenamento na esfera da qualificaccedilatildeo e formaccedilatildeo

profissional Associada a emergecircncia do neoliberalismo como regulaccedilatildeo majoritaacuteria

entre o Estado e sociedade nos dias contemporacircneos eacute que temos a materializaccedilatildeo

de significativas mudanccedilas nas diversas poliacuteticas sociais em particular na educaccedilatildeo

Um indicador dessa direccedilatildeo consiste na ampla reestruturaccedilatildeo que as instituiccedilotildees de

ensino superior atravessam situadas tambeacutem numa perspectiva de racionalizar e

flexibilizar os processos formativos o que por sua vez rebate diretamente no espaccedilo

de aglutinaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do ME Universitaacuterio ou seja nas instituiccedilotildees de ensino

superior

59

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades

O debate sobre a direo social da educao no contexto atual requisita

inicialmente uma abordagem que proporcione o desvendamento da funcionalidade do

Estado e das polticas sociais para a sociedade capitalista

Diante disso consideramos fundamentais as contribuies de Behring e

Boschetti(2007) pois explicitam que as polticas sociais apresentam como

determinantes o desenvolvimento da industrializao as lutas de classes e a

conseqente interveno do Estado neste embate

Em sintonia com tal entendimento Vieira afirma que indubitavelmente a

emergncia das polticas sociais est articulada a atuao operria ainda no perodo

inicial das revolues industriais pois segundo sua interpretao as polticas sociais

como ldquoestratgia governamental de interveno nas relaes sociais unicamente

pde existir com o surgimento dos movimentos populares do sculo XIXrdquo(1992 p19)

Para Faleiros(2000) a origem das polticas sociais se remete ao processo

de reproduo da fora de trabalho e desse modo expressa a correlao de foras

intrnseca a sociedade capitalista e tambm no prprio aparelho do Estado

Perpassada pelas contradies de classe as polticas sociais representam tambm

mecanismos de legitimao estatal e governamental

Assim torna-se evidente que as polticas sociais entre as quais a

educao origina-se no interior das relaes de classe e dessa maneira

perpassada eou crivada por antagonismos intrnsecos a esta processualidade

Expresso dessa afirmao consiste no fato delas contriburem efetivamente para a

reproduo da sociabilidade do capital ao passo que se configuram e como de fato

so conquistas dos segmentos do trabalho Dessa maneira significativo destacar a

luta travada por diferentes sujeitos coletivos em favor de uma educao de qualidade

promovida pelo Estado e que na realidade brasileira pas da periferia do capital

majoritariamente o ME universitrio no decorrer de sua histria apresenta um

protagonismo considervel no desencadeamento de lutas e atividade voltada para

defesa de uma educao superior pblica gratuita laica e de qualidade

Esse carter contraditrio das polticas sociais est iarticulado a prpria

natureza de seu ente materializador ou seja a lgica e funcionalidade do Estado

moderno

Tonet(2004) ao analisar a concepo de Estado segundo o pensamento

de Marx ressalta que o mesmo tem sua origem no antagonismo das classes sociais

diferentemente das abordagens liberais que concebem a sua criao como resultante

60

de um pacto social entre os indiviacuteduos que proporciona a convivecircncia entre os

humanos jaacute que a desigualdade seria decorrente do usufruto da proacutepria igualdade

existente entre os seres

Nessa perspectiva temos o entendimento que a esfera das relaccedilotildees

materiais consiste na dimensatildeo determinante para constituiccedilatildeo do Estado moderno e

portanto dos complexos sociais dele resultantes como eacute o caso da educaccedilatildeo formal

na sociabilidade capitalista e desse modo modificaccedilotildees no seu acircmbito como

analisadas anteriormente exigem alteraccedilotildees nos diferentes campos da sociedade

como acontece no atual cenaacuterio do sistema educacional

Tonet(2004) ainda chama atenccedilatildeo para a assertiva marxiana de que

sendo o Estado originaacuterio da relaccedilatildeo contraditoacuteria das classes sociais certamente ele

representa pela sua natureza um instrumento de reproduccedilatildeo dos ideais da classe

dominante

Temos o entendimento que a contradiccedilatildeo perpassa os diversos setores da

sociabilidade burguesa o que abrange inclusive o Estado moderno Dessa maneira

a depender das forccedilas poliacuteticas dirigente do Estado as suas accedilotildees podem contemplar

mais as reivindicaccedilotildees dos segmentos do trabalho e setores subalternizados ou

inversamente as requisiccedilotildees da classe dominante

Diante do exposto desenvolvemos o pensamento que na atual conjuntura

de radicalizaccedilatildeo da crise capitalista as accedilotildees efetivada pelo Estado estatildeo voltadas

predominantemente para atender as reclamaccedilotildees do capital o que de certo modo

manifesta o processo de enfraquecimento da organizaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

trabalhadores(as) em niacutevel mundial

A partir de tais constataccedilotildees temos a conclusatildeo do Estado ser impotente

para erradicar as desigualdades sociais visto que essa eliminaccedilatildeo significaria a sua

proacutepria destruiccedilatildeo pois tanto o Estado como as desigualdades tecircm origens nas

diferenccedilas e antagonismos de classes

Desse modo podemos enfatizar que as accedilotildees do Estado na viabilizaccedilatildeo

das poliacuteticas sociais podem amenizar eou administrar as desigualdades os conflitos

e a luta de classes mas de modo algum podem instituir a igualdade de condiccedilotildees

para os sujeitos nesta sociabilidade regida pela exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo

O que estamos afirmando eacute que as poliacuteticas sociais natildeo satildeo capazes de

por fim a exploraccedilatildeo e contradiccedilotildees existentes na sociabilidade capitalista Exemplo

disso eacute que mesmo em paiacuteses de capitalismo avanccedilado nos quais entre os anos de

1940 ateacute 1970 as poliacuteticas sociais tenderam a universalidade nem assim os

segmentos do trabalho deixaram de ser explorados e oprimidos pois os meios de

61

produo continuaram sendo de propriedade privada e de modo algum foram

socializados

Contudo isso no significa que as lutas por polticas sociais e portanto

por direitos no seja importante pois elas contribuem para a melhoria das condies

de existncia dos segmentos do trabalho e manifestam certamente a relevncia da

organizao dos sujeitos na obteno de significativas conquistas polticas sociais

econmicas e culturais Como argumenta Tonet( 2004 p178)

A luta pelos direitos do cidado sempre vlida para a classe trabalhadora Mais ainda porque estes direitos interessam muito mais aos trabalhadores do que burguesia sempre bom lembrar que a emancipao poltica no uma situao esttica mas um campo uma arena de luta um resultado de lutas sociais- ainda que em ultima instncia sob a regncia do capital- de modo que o seu abandono pela classe trabalhadora significaria ceder terreno para os interesses da burguesia Esta pois fora de cogitao a supresso dos direitos conquistados e isto vale tanto para os pases mais desenvolvidos como para os menos desenvolvidos

Consubstanciadas nesse entendimento em relao funcionalidade do

Estado e das polticas sociais Behring e Boschetti(2007) destacam que no ocorreu

um corte radical entre a perspectiva liberal predominante no sculo XIX e o Estado

social do sculo XX dado o fato que os dois apresentaram direcionamento comum e

central de reconhecer direitos sem todavia colocar em questionamento os pilares

sustentadores do capitalismo como a propriedade privada o trabalho assalariado a

luta de classes entre outros

Ainda segundo as autoras as polticas sociais foram institudas de modo

diferenciado e em ritmos distintos nos vrios pases entretanto existe uma

concordncia entre estudiosos(as) da temtica em ldquosituar o final do sculo XIX como o

perodo em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar aes sociais de

forma mais ampla planejada e sistematizada e com carter de obrigatoriedaderdquo

(BEHRING E BOSCHETTI 2007 p64)

Nos pases de capitalismo avanado como salientado as polticas sociais

se expandem de maneira gradativa do incio da primeira grande guerra mundial at os

anos de 1930 perodo de depresso econmica que teve como smbolo maior a

quebra da bolsa de valores de Nova Yorque e se generalizaram somente aps a

segunda grande guerra (1945) momento de crescimento e expanso da economia

Entretanto no manifestavam o abandono da sociabilidade capitalista nem tampouco

a defesa da socializao dos meios de produo

62

Conforme a abordagem liberal de Marshall (1967) os direitos civis

(necessrios liberdade individual) e polticos (participao no exerccio poltico)

juntamente com os direitos sociais que se afirmaram com o Estado interventor

constituem os elementos da cidadania burguesa Estes ratificam o direito a um mnimo

econmico que possibilite a existncia de uma vida civilizada entre tais direitos

encontra-se a educao e os servios sociais

Corroboramos com a perspectiva de TONET de situar as conquistas

referentes cidadania no solo da sociedade capitalista na tentativa de evidenciarmos

que a defesa por cidadania portanto por direitos no mbito dessa sociedade

importante mas no proporciona o fim das desigualdades pois o capitalismo se

sustenta tendo como fundamento a reproduo destas ou seja ldquoa condio de

cidadania exatamente expresso e instrumento da reproduo da ciso que se

opera e continua a operar-se no homem como resultado da sociabilidade do capitalrdquo

(TONET 1997 p172-173)

Portanto foi com a consolidao do modelo de produo baseado nos

princpios do fordismo-taylorismo que as polticas sociais se tornaram nos termos de

Behring e Boschetti(2007) abrangentes e universalizadas dada a influncia do

pensamento de Keynes que defendia uma ao estatal fundamentada na poltica do

pleno emprego e na elevao da igualdade social Essa tendncia de abrangncia e

universalidade das polticas sociais tambm foi resultante das reivindicaes dos

segmentos do trabalho por melhoria das condies materiais e espirituais de

existncia e ainda pela chegada ao poder de partidos da social-democracia e sua

ldquorespectiva defesa de elaborao e efetivao de reformas visando a criao de

direitosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p84) Para Harvey a atuao do Estado

no contexto de predominncia do fordismo-keynesianismo se pautou numa dimenso

de

controlar ciclos econmicos com uma combinao apropriada de polticas fiscais e monetrias no perodo ps-guerra Essas polticas eram dirigidas para reas de investimento pblico - em setores como o transporte os equipamentos pblicos etc - vitais para o crescimento da produo e do consumo de massa e que tambm buscava fornecer um forte complemento ao salrio social com gastos de seguridade social assistncia medica educao habitao etc Alm disso o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produo (HARVEY 2006 p129)

Constatamos que as orientaes keynesianas que predominaram no

perodo de vigncia fordista apresentavam preocupaes relativas melhoria de vida

63

dos(as) trabalhadores(as) como se verifica mediante a defesa e expanso dos

servios sociais nos pases de industrializao avanada e tardiamente expandida de

modo pfio para os Estados da periferia do capital contraditoriamente j no contexto

de retrao neoliberal

Relevante assinalar que a expanso das polticas sociais representava para

o capital a perspectiva de proporcionar condies econmicas para a populao

consumir as mercadorias produzidas em larga escala enquanto que para a classe

trabalhadora expressava a conquista de direitos significativos Essa processualidade

das polticas como mecanismo de manuteno da ordem estabelecida ao mesmo

tempo em que se configura como conquista para os segmentos explorados e

dominados evidencia o seu carter contraditrio nos marcos desse modelo societrio

A reestruturao produtiva em expanso desde a dcada de 1970 como

resposta a reduzida obteno de lucros acompanhada por outra concepo de

regulao social baseada em orientaes diferentes do Estado de bem estar social

vigente no ps-segunda guerra

nesse contexto de redefinio da relao Estado e sociedade que as

diretivas neoliberais ganham terreno em nvel mundial visto que ldquopara os liberais a

crise resultava do poder excessivo e nefasto dos sindicatos e do movimento operrio

que corroeram as bases de acumulao e do aumento dos gastos sociais do Estado o

que desencadearia processos inflacionriosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p126)

Essa argumentao utilizada pelos segmentos dominantes de reduzir

custos como meio de garantir estabilidade fiscal acarretou mudanas significativas no

desenvolvimento das polticas sociais que tem a focalizao e seletividade como

suas caractersticas singulares

Para Anderson(2005) as premissas neoliberais j estavam previstas no

livro ldquoo caminho da Servidordquo de Friedrick Haych publicado em 1944 Todavia o

apogeu capitalista no perodo de predominncia do fordismo-keynesianismo impediu a

sua execuo portanto na conjuntura de crise dos anos de 1970 que o

neoliberalismo encontra condies favorveis para sua expanso e consolidao em

diferentes realidades econmicas sociais polticas e culturais

Segundo Carcanholo(2002) o neoliberalismo se sustenta em quatro

premissas bsicas e que potencializam a supremacia do mercado a privatizao e a

abertura nacional ao capital estrangeiro so elas

[] os agentes individuais tomam decises motivadas unicamente pelo interesse prprio e todas as interaes econmicas polticas eou sociais entre esses indivduos s podem ser explicadas em

64

termos desse interesse proacuteprio Em segundo lugar essas interaccedilotildees baseadas no interesse proacuteprio natildeo levam ao caos social mas a harmonia jaacute que elas fazem parte de uma ordem natural Em terceiro lugar esta uacuteltima tem grande expressatildeo no mercado Eacute ele o responsaacutevel pela interaccedilatildeo entre todos os interesses individuais e portanto pela manutenccedilatildeo da ordem natural Finalmente [] qualquer intervenccedilatildeo nesse mercado eacute indesejaacutevel porque dificulta o estabelecimento da ordem natural (Carcanholo 2002 p17-18)

Com base nas premissas ressaltadas pelo autor se torna recorrente a

tendecircncia de reduccedilatildeo do Estado na aacuterea social pois o mesmo continua agindo

majoritariamente para oferecer as condiccedilotildees de manutenccedilatildeo da sociedade vigente e

desse modo efetivando medidas de privilegiamento do capital em detrimento do

trabalho como se manifesta na concretizaccedilatildeo de vaacuterias contra-reformas Diante dessa

constataccedilatildeo fazemos a seguinte reflexatildeo no atual estaacutegio do capital podemos

configurar o Estado como mero comitecirc organizativo da burguesia As mediaccedilotildees

elaboradas acima evidenciam que temos a compreensatildeo de analisarmos as

discussotildees e a atuaccedilatildeo do Estado no acircmbito da categoria da contradiccedilatildeo por isso

ressaltamos antagonismos que perpassam as poliacuteticas sociais todavia natildeo podemos

desconsiderar o forte direcionamento da accedilatildeo do Estado para o fortalecimento da

sociabilidade burguesa assim eacute recorrente entre outras medidas a realizaccedilatildeo de

contra-reformas voltadas para retirada de direitos jaacute adquiridos pelos

trabalhadores(as) bem como eacute visiacutevel a fragilidade do Estado sobretudo em paiacuteses

perifeacutericos como o Brasil de materializar direitos jaacute assegurados como a educaccedilatildeo

formal para todos(as)

Exemplo dessa direccedilatildeo satildeo as privatizaccedilotildees as quais corroboram para

transfigurar direitos em mercadorias aleacutem de contribuir ideologicamente para

reestruturaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos que tendem a se adaptar aos princiacutepios

norteadores do mercado Eacute nessa conjuntura que se desencadeiam as diversas

contra-reformas como na previdecircncia educaccedilatildeo dentre outros fortalecendo a loacutegica

de sobrepor os princiacutepios mercantis nos diferentes setores sociais

Diante disso outro ponto a ser problematizado a partir das premissas

elencadas por Carcanholo eacute a perspectiva de naturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais na

qual o mercado se apresenta como marco regulatoacuterio dessa ordem de tal maneira

que somente ele eacute capaz de proporcionar o desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos

indiviacuteduos Nesses termos a defesa e luta por outra sociedade antagocircnica a

capitalista se torna algo pernicioso e ateacute mesmo destrutivo para a humanidade

A ascensatildeo e hegemonia conquistada pelos representantes do capital na

sua versatildeo neoliberal natildeo pode ser desvinculada da direccedilatildeo e derrocada do

65

socialismo real no leste da Europa Dimenses que contriburam de maneira efetiva

para propagao falaciosa de ser o capitalismo a nica forma de sociabilidade

possvel para humanidade como se o mesmo fosse natural e no construdo

historicamente pelos sujeitos sociais ou seja

diz-se que no existe alternativa para o capitalismo que todaprocura por uma alternativa conduz ao totalitarismo ou ento uma iluso uma utopia um sonho romntico um anacronismo fora de moda (LOWY 2002 p36)

Anderson (2005 p23) ao realizar um balano sobre o neoliberalismo

assinala o seu xito ideolgico especialmente no tocante a disseminao ldquode que no

h alternativas para os seus princpios que todos sejam confessando ou negando

tm de adaptar-se as suas normasrdquo

O nosso intuito foi destacar processualidades contraditrias que

peculiarizam as polticas sociais e no evidenciar seu resgate histrico entretanto do

nosso ponto de vista a retomada ainda que de forma breve de sua trajetria na

realidade brasileira potencializa o entendimento da reconfigurao das polticas

sociais no contexto neoliberal como se verifica com a educao

Assim sendo Faleiros(2000) elenca quatro conjunturas importantes na

histria das polticas sociais no Brasil so elas o perodo que engloba os anos de

1930 a 1960 caracterizado pela implantao de seguro social para alguns segmentos

do trabalho o cenrio de vigncia da ditadura militar de predomnio do complexo

industrial-militar-assistencial o perodo da constituinte e por ltimo a conjuntura de

domnio neoliberal a partir dos anos de 1990

O primeiro momento destacado pelo autor consubstanciado na poltica

trabalhista de Getulio Vargas33 que visava mascarar as contradies mediante a falsa

concepo da possvel constituio de uma colaborao de classes Fundamentado

nesta concepo foram adotadas algumas medidas concernentes s polticas sociais

expressas em aes como a criao dos seguros sociais substitudos

gradativamente pelos institutos de previdncia social a criao da Legio Brasileira

de Assistncia(LBA) em 1942 no qual predominava o vis assistencialista mediante

a articulao de obras de caridade de cunho religioso atravs de aes realizadas

pelas primeiras-damas

Este contexto de expanso da urbanizao e industrializao do pas se

constituiu no momento de forte organizao dos operrios o que explica a

33 Vargas presidiu o pas de 1934 a 1945 Assumiu novamente a presidncia entre os anos de 1951 a 1954

66

preocupao do Estado em sistematizar a sua atuao no mbito da luta de classes a

partir do desenvolvimento de aes no campo social e trabalhista Com tal intento foi

criado o Ministrio do Trabalho em 1930 cujo objetivo consistia em amenizar as lutas

dos(as) trabalhadores(as) mediante atuao que procurou atrelar s entidades de

classe- como os sindicatos- esfera governamental

A ditadura militar instaurada em 1964 consistiu smbolo de opresso

autoritarismo e da utilizao das foras repressivas e coercitivas em detrimento das

experincias democrticas Momento caracterizado tambm pelo privilgio dos

interesses econmicos da elite brasileira associada aos anseios da burguesia

internacional Neste sentido uma das metas principais dos governos ditatoriais era

atrair capitais estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos

Estados Unidos

Marcado por autoritarismo e clientelismo a atuao do Estado tambm se

efetivara no enfrentamento das expresses da questo social Neste perodo foram

adotadas medidas como a centralizao dos institutos de previdncia social

ampliao de direitos previdencirios aos trabalhadores do campo criao do

Ministrio da Previdncia e Assistncia Social rgo que incorporou a LBA a

Fundao para o bem-estar do menor (FUNABEM) entre outros Para Behring e

Boschetti a poltica social no contexto da ditadura apesar de sua verificada ampliao

foi ldquoconduzida de forma tecnocrtica e conservadora reiterando uma dinmica singular

de expanso dos direitos sociais em meio restrio dos direitos civis e polticos

modernizando o aparato varguistardquo (2007 p135)

A crise do regime ditatorial j deflagrada no final dos anos 1970 com a

derrocada do milagre econmico foi impulsionada ainda pela (re)organizao de

diversos segmentos da sociedade brasileira na luta pelos seus interesses particulares

mas tambm pela defesa do Estado democrtico e de direito

esse contexto de crise econmica e efervescncia poltica que culmina

no terceiro momento identificado por Faleiros o da constituinte Conforme o autor a

Constituio de 1988 expressa a disputa entre segmentos populares organizados e

setores conservadores que se aglutinaram na ala tradicional do Congresso Nacional

denominada naquele perodo de centro e que tratou de defender os interesses

dominantes mediante postura de negao e oposio s presses por direitos sociais

Embora caracterizada de constituio cidad ela representa o conjunto de

foras contraditrias presentes na sociedade capitalista e na particularidade da

realidade brasileira Importante ressaltar tambm que nela se estabelece a

Seguridade Social constituda pelo direito universal a sade os direitos previdencirios

e a assistncia social como direito do cidado(a) e dever do Estado

67

Em relao seguridade social Boschetti(2008) salienta que um de seus

pilares consiste na estruturao com base na organizao social do trabalho e que

tanto nos pases europeus como na Amrica Latina e Caribe esto presente tanto a

lgica do seguro que predomina na esfera da Previdncia Social como a lgica da

assistncia esta que na realidade brasileira se expressa nas polticas de Sade e de

Assistncia Social

A Constituio ainda no seu artigo 205 ratifica a Educao como direito

de todos(as) e dever estatal bem como garante no artigo 207 a autonomia didtico-

cientfica administrativa de gesto financeira e patrimonial das universidades do

pas Tais instituies segundo o texto constitucional devem se pautar pelo princpio

bsico de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extenso

A garantia legal desses direitos significa inegavelmente uma grande

conquista de setores populares entre eles do ME entretanto isso no garante a sua

real operacionalizao ou seja no proporciona o seu usufruto para a grande maioria

da populao brasileira Essa discrepncia j tomava consistncia nos idos de 1985

com o inicio da gesto Sarney34 que governou baseado numa poltica de conteno

de gastos com reduo e cortes de investimentos em setores como sade e

educao

Essa no identidade entre legalidade e operacionalidade se torna mais

crtica no ltimo momento explicitado por Faleiros qual seja o de domnio neoliberal

Segundo Behring(2003) o que tem ocorrido no Brasil dos anos 1990 aos

dias atuais um processo de conta-reforma do Estado que dificulta eou reorienta as

garantias preconizadas na Constituio de 1988 Para Iamamoto(2008) essa

perspectiva tem continuidade nos anos de gesto Lula que ao manter a mesma

poltica econmica da era FHC

consagra a ortodoxia econmica monetarista recomendada pelos organismos internacionais como a nica possvel s h ldquogesto responsvelrdquo com a poltica neoliberal que mantenha o ajuste fiscal duro o juro real elevado a poltica monetarista concentracionista o cmbio flutuante e a livre movimentao de capitais Essa mesma poltica [] o pressuposto dos programas sociais na tentativa de compensar o que est sendo agravado pela poltica econmica e pela ausncia de efetivas reformas(p36)

Portanto vivenciamos uma tendncia do Estado em minimizar a sua

atuao no campo das polticas sociais expresso que se confirma mediante a

mercantilizao em diversificados setores sade previdncia educao segurana

34 Sarney assumiu a Presidncia da Repblica no perodo de maro de 1985 a maro de 1990

68

entre outros Mas como ratificamos acima o Estado continua agindo no sentido de

atender as requisies para manuteno da sociabilidade do capital sendo possvel

apreender essa dimenso nos mais diversificados pases sejam de centro ou da

periferia do capital Tendncia que se confirma nesse momento de aprofundamento da

crise capitalista exemplo disso acontece aqui no Brasil O que dizer por exemplo

diante da afirmao do governo brasileiro ao se prontificar a destinar recursos para o

FMI num cenrio em que milhares de trabalhadores(as) no pas perdem o emprego e

conseqentemente a sua condio de subsistncia Preocupaes com os segmentos

do trabalho ou em no colocar em questionamento o prprio ente gerador da crise o

sistema capitalista

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais

A educao como poltica social diretamente afetada pela concretizao

das diretrizes neoliberais j que elas sinalizam a minimizao de investimentos estatal

na rea social como meio de reduzir gastos e ainda mais nessa conjuntura de crise

em que montantes de recursos em escala mundial so destinados para amenizar os

seus efeitos Mas amenizar danos para os capitalistas ou para os segmentos do

trabalho Importante enfatizar que a sociabilidade capitalista permeada por

interesses contraditrios resultantes dos prprios antagonismos intrnsecos a esse

modelo societrio que objetiva a obteno de superlucros mediante explorao e

dominao mesmo no contexto de radicalizao da barbrie

Nessa dimenso a educao tambm se configura como um importante

campo de disputa entre projetos diferenciados Logo podemos sinalizar a existncia

de projetos identificados com a defesa da educao como direito social universal e

instrumento imprescindvel na desconstruo de valores mercantis o que por sua vez

contribui na construo de valores sintonizados com outro modelo societrio E

antagonicamente de outros projetos que buscam transfigurar a esfera educacional em

mais um ramo lucrativo para o capital alm de procurar restringir tal setor a um tipo de

funcionalidade voltada ao atendimento das necessidades do mercado competitivo

direo fortalecida na era hegemnica do neoliberalismo afinal de contas

69

O acesso ao conhecimento cientifico e tcnico sempre teve importncia na luta competitiva mas tambm aqui podemos ver uma renovao de interesses e de nfase j que num mundo de rpidas mudanas e de sistemas de produo flexvel [] o conhecimento da ultima tcnica do mais novo produto da mais recente descoberta cientfica implica a possibilidade de alcanar uma importante vantagem competitiva O prprio saber se torna uma mercadoria-chave a ser produzida e vendida a quem pagar mais sob condies que so elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVYE 2006 P151)

Portanto alm do esforo exercido para mercantilizar a educao como

bem retrata Harvye no podemos desconsiderar a utilizao da rede educacional

institucionalizada pelos representantes do grande capital com vistas tambm a

formao de consensos que potencializam a dominao e manuteno do poder

vigente como explicita Mszaros (2005) na sua abordagem

Segundo este autor a educao formal ou institucionalizada sobretudo

nos ltimos 150 anos apresentou como funcionalidade no somente produzir os

conhecimentos e mo-de-obra imprescindvel ao processo de reproduo do capital

mas contribuiu efetivamente para a transmisso de valores que servem de suporte

e legitimidade aos interesses dominantes

Concordamos com Mszaros (2005) quando ratifica o direcionamento de

adequao da educao aos interesses mercantis entretanto destacamos nesse

debate o fato da sociabilidade capitalista ser atravessada nos seus mais diversos

mbitos pela contradio por conseguinte o desenvolvimento de processos

formativos sintonizados com o iderio de transformao societal tambm se coloca

como uma possibilidade real

Diante dessa problematizao importante destacar o pensamento de

Tonet (2007) segundo o qual a funcionalidade central da educao constitui a

apropriao de conhecimentos habilidades e valores produzidos e construdos no

decorrer da histria pelos indivduos singulares De tal modo que o ldquoacesso de todos

educao sistematizada portanto formal uma necessidade para que as pessoas

possam se apropriar do patrimnio do gnero humanordquo (TONET 2007 p5)

contudo essa apropriao no est descolada dos antagonismos sociais e assim

sendo recorrente que em uma sociedade de classes os interesses que

predominantemente estruturam a educao sejam tambm os anseios da classe

dominante Porm como j enfatizamos a contradio intrnseca a sociabilidade

burguesa e dessa forma com base nas formulaes de Tonet (2004) afirmamos

que a educao na perspectiva do trabalho se remete a defesa da apropriao do

patrimnio humano - artes direito filosofia etc - de forma ampla por parte de

70

todos(as) sujeitos sociais e histricos Em contrapartida na ptica do capital a

tendncia de limitar o acesso e a qualidade da educao pois seu objetivo ldquono

a realizao plena de todos os indivduos e pois do gnero humano mas a sua

prpria realizaordquo (p224)

Na realidade especfica do Brasil cada vez mais recorrente a reduo de

investimentos na rea social o que atinge tambm a educao alm disso se

intensificou nas ultimas dcadas a disponibilidade de todos os nveis da educao

formal para a esfera privada o que configura o domnio do mercado sobre esse

setor e isso representa inclusive a predominncia dos valores mercantis nos

processos formativos

Neste sentido observamos a partir de anlises como as realizadas por

Tonet (1998 2007) e Mszaros (2005) a necessidade de construo de uma

perspectiva crtica para a educao que no se limite em atender aos anseios de

reproduo dessa ordem societria ao contrrio que seja sintonizada com a luta na

busca da derrocada da gide do capital portanto uma verdadeira mediao para a

conquista da emancipao humana

Dessa forma preciso considerar que na poca de predominncia do

padro fordista-taylorista a esfera educacional apresentava majoritariamente o vis

informativo e limitado pois no necessitava de trabalhador(a) com habilidades

criativas em decorrncia da ntida separao entre planejadores e executores

caracterstica desse modelo produtivo A emergncia da flexibilidade no mundo do

trabalho reclama outro tipo de formao na qual

O trabalhador precisa aprender a pensar a resolver problemas novos e imprevistos precisa ter uma formao polivalente ou seja uma formao que lhe permita realizar tarefas diversas e alm disso a transitar com mais facilidade de um emprego a outro pois a estabilidade j no faz parte desta nova forma de produo (TONET 2007 10)

Alicerando-nos nas contribuies do autor verificamos que a educao

passa por complexas processualidades na contemporaneidade Nesse cenrio de

crise e mudanas estruturais ela necessita se readequar e gerar alternativas diante

dos novos padres e relaes sociais Analisamos que a readequao em larga

medida tem se pautado na tendncia de submeter atividade educativa ao vis

mercantilista

Diante do exposto que Tonet (2007) chama ateno para a difcil situao

que peculiariza a educao no momento atual Segundo ele a educao se encontra

em uma verdadeira encruzilhada visto que contribui para reproduo da sociabilidade

71

capitalista que no presente marcada pela radicalidade da barbrie ou contribui

para construo de outro sistema societrio Essa encruzilhada expressa os interesses

contraditrios existentes na sociedade do capital com particularidades nos complexos

sociais e aqui em especial na educao

Tonet(2004) analisa requisitos sintonizados com o desenvolvimento de

atividades educativas que vislumbrem a transformao social Desse modo

elencaremos os requisitos defendidos pelo autor com o objetivo de destacar a

necessidade de seu fortalecimento com vistas a potencializar projetos educacionais

negadoras da ordem estabelecida

O primeiro requisito concerne perspectiva de empreender nas atividades

educativas conhecimentos profundos e slidos da finalidade pretendida ou seja da

emancipao humana dimenso balizadora das prticas educativas cotidianas O

segundo se refere real necessidade de uma anlise crtica e radical da sociabilidade

capitalista ou seja compreenso ldquodas caractersticas essenciais da crise por que

passa esta sociabilidade das conseqncias que da advm para o processo de

autoconstruo humana da maneira como esta crise se manifesta nos diversos

campos da atividade humana [](TONET 2004 p 232) Outro requisito consiste no

conhecimento aprofundado do prprio campo da educao visto que esse tem suas

especificidades A quarta requisio tratado por Tonet se remete ao domnio dos

contedos inerentes a cada rea do saber como por exemplo podemos citar a

importncia do educador(a) ter domnio da rea prioritria na qual atua seja na

filosofia na sociologia no direito entre outras O ultimo requisito constitui a relevncia

da articulao da atividade educativa com o desenvolvimento das lutas empreendidas

pelos segmentos subalternizados o que favorece na materializao de aes

negadoras do projeto societrio capitalista

Reflexes crticas como as realizadas por Tonet e pelo prprio Mszaros

so importantes tambm para contribuir com o desvendamento das determinaes

que impossibilitam a materializao de uma educao formal libertadora no marco da

sociabilidade sob a gide do capital pois tal sistema se reproduz tendo como

essncia a perpetuao e ampliao das contradies que lhe so intrnsecas

Entretanto como apontado acima isso no significa negar a possibilidade

real de direcionar a educao por princpios eou requisitos sintonizados com a

construo de outra ordem devido aos prprios antagonismos inerentes a

sociabilidade capitalista De tal modo uma compreenso abrangente de educao

conforme o pensamento de Mszaros(2005) significa o entendimento de que o

processo de aprendizagem no se restringe a esfera institucional majoritariamente

utilizada pelo capital mas engloba todos os aspectos da nossa vida tornando-se

72

imprescindvel a interconexo dessas vivncias com a esfera formal A perspectiva de

construo de outra concepo educacional tambm sinalizada por Tonet na

seguinte assertiva ldquo evidente que uma educao voltada para a construo de uma

sociedade que tenha como horizonte a emancipao humana ter que ser norteada

por princpios e dever encontrar formas profundamente diferentes daquelas voltadas

para a reproduo da sociabilidade regida pelo capitalrdquo (1998 p10)

Diante do exposto temos o entendimento que o domnio burgus tambm

se faz presente na educao pois esta esfera sofre os rebatimentos da diviso da

sociedade em classes sociais decorrente dessa constatao histrica do

antagonismo de classes que a construo de atividades educativas e portanto de

formao profissional questionadora dessa ordem tambm uma possibilidade real

Assim concebemos que o projeto profissional que hegemonicamente direciona a

formao dos(as) assistentes sociais no Brasil se fundamenta numa perspectiva que

sem dvidas contribui para a anlise crtica da atual sociabilidade bem como

preconiza a defesa de construo de uma outra sociedade alicerada na verdadeira

emancipao de homens e mulheres Projeto de formao profissional que cada vez

mais se depara com obstculos para sua materializao tais como a insuficincia

das condies objetivas que dificulta a efetivao das diretrizes curriculares uma

realidade em todo pas alm de vivenciarmos um perodo de fortalecimento de

valores mercantis associada fragilidade da teoria social crtica no mbito da

educao o que configura assim uma conjuntura no favorvel para universalizao

desse projeto Entretanto a luta empreendida pelas entidades representativas do

Servio Social englobando a ao de segmentos de docentes e discentes ratifica o

compromisso preponderante dessa profisso com a construo e realizao de

atividades educativas emancipadoras

Assim apreendermos nesse estudo a sociabilidade capitalista como

espao de disputa e luta de classes e por conseguinte de perspectivas educacionais

diferenciadas e at mesmo contraditrias Desse modo a subordinao de uma

classe em relao outra no exercida somente com o uso da fora mas tambm

mediante a utilizao de diversos mecanismos entre eles as polticas sociais como a

educao que contribuem para que a classe dominante garanta a reproduo da fora

de trabalho e de sua condio de classe como tal

Destarte as mudanas pelas quais passa a sociabilidade capitalista no

momento presente e suas implicaes na relao do Estado com a sociedade

consiste requisito essencial para apreenso das determinaes que incidem sobre a

necessidade de reconfigurao nos espaos formais de qualificao e aprendizagem

Dessa forma faz-se necessrio considerar as alteraes no mbito da formao dos

73

segmentos do trabalho incluindo os(as)assistentes sociais o que por usa vez

contribui no desvelamento da direo social da ao dos sujeitos coletivos nesta

realidade histrica entre os quais o segmento estudantil

Diante do exposto entendemos que refletir sobre a contra-reforma do

ensino superior e seus impactos para o projeto de formao dos(as) assistentes

sociais e da direo social da ao poltica dos(as) estudantes nesta conjuntura

reclama consideraes relativas ascenso neoliberal no pas com sua respectiva

diretiva de ldquoreformarrdquo o Estado A abordagem potencializa a apreenso das

determinaes que incidem na readequao das instituies de ensino e a educao

superior a lgica conjuntural do mercado

74

O Que Foi Feito Deveraacute

O que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou

O que foi feito da vida o que foi feito do amor

Quisera encontrar aquele verso meninoQue escrevi haacute tantos anos atraacutes

Falo assim com saudade falo assim por saber

Se muito vale o jaacute feito mas vale o que seraacuteMas vale o que seraacute

E o que foi feito eacute precisoconhecer para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza falo por acreditar

Que eacute cobrando o que fomosque noacutes iremos crescer

Noacutes iremos crescer outros outubros viratildeo

Outras manhatildes plenas de sol e de luzAlertem todos alarmas

que o homem que eu era voltouA tribo toda reunida raccedilatildeo dividida ao solE nossa Vera Cruz

quando o descanso era luta pelo patildeoE aventura sem par

Quando o cansaccedilo era rio e rio qualquer dava peacute

E a cabeccedila rolava num gira-girar de amorE ateacute mesmo a feacute natildeo era cega nem nada

Era soacute nuvem no ceacuteu e raizHoje essa vida soacute cabe

na palma da minha paixatildeoDevera nunca se acabe abelha fazendo o seu mel

No pranto que criei nem vaacute dormir como pedra e esquecer

O que foi feito de noacutes

(Milton Nascimento)

75

IV UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

4-1 ldquoREFORMArdquo UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA

DO ESTADO BRASILEIRO

Antes da discussatildeo sobre contra-reforma implementada pelo Estado

brasileiro tecemos algumas consideraccedilotildees sobre a constituiccedilatildeo da Universidade

nacional o que permitiu apreensatildeo da disputa de valores e projetos educacionais

diferenciados para esta instituiccedilatildeo tatildeo relevante para o desenvolvimento econocircmico

social poliacutetico e cultural do paiacutes

A universidade eacute recente no cenaacuterio nacional foi criada somente no final

dos anos 1920 e com processo de expansatildeo na deacutecada de 1930 em que recebeu

influecircncias do modelo de escolas superiores ateacute entatildeo majoritaacuterio no Brasil

Segundo Rocha(2004) as primeiras instituiccedilotildees de ensino superior no

Brasil foram criadas trecircs Seacuteculos apoacutes o descobrimento visto que o domiacutenio

portuguecircs se estendia tambeacutem nas esferas da educaccedilatildeo e cultura como forma de

manter o poder sob a colocircnia Foi com a chegada do reino portuguecircs em 1808 que

surgiram agraves primeiras escolas superiores inicialmente nos estados da Bahia e Rio de

Janeiro E tardiamente no periacuteodo republicano foram criadas as primeiras

universidades no Brasil em 1920 foi fundada a Universidade do Rio de Janeiro e em

1927 a Universidade de Minas Gerias ambas formadas a partir da aglutinaccedilatildeo de

escolas superiores jaacute existentes

Conforme as contribuiccedilotildees de Fernandes (1975) a universidade assumiu o

caraacuteter de um conglomerado de escolas superiores com suas respectivas fragilidades

quais sejam o pequeno nuacutemero de estudantes professores e funcionaacuterios a

supervalorizaccedilatildeo do ensino em detrimento da pesquisa quando defendemos que

ambas as atividades devem funcionar articuladamente aleacutem da centralizaccedilatildeo na

tomada de decisotildees sem levar em consideraccedilatildeo os (as) envolvidos (as) na construccedilatildeo

desse espaccedilo

Em 1930 eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede sinalizando a

preocupaccedilatildeo do Estado nacional com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra num

cenaacuterio de crescimento e expansatildeo da industrializaccedilatildeo no paiacutes

Em 1934 foi fundada a Universidade de Satildeo Paulo e em 1935 a

Universidade do Distrito Federal criadas jaacute sob a influecircncia do modelo germacircnico-

humboldtiano que preconiza a indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensatildeo e

76

concebe a universidade como espao privilegiado na produo do conhecimento e de

desenvolvimento cultural35

Como destacado no segundo captulo desse trabalho em 1937 foi criada

a UNE Diante do exposto sinalizamos que a sua criao se processou concomitante

a estruturao e consolidao da universidade no pas o que demonstra que desde o

princpio o ME se constitui locus privilegiado de organizao e atuao dos(as)

universitrios(as)

Nesse sentido na dcada de 1940 o aumento de professores e de

estudantes nas instituies de ensino superior e a incluso da pesquisa nessa esfera

configuraram-se aspectos fundamentais na deflagrao da crise do modelo brasileiro

de escolas superiores predominantes nos interior das universidades brasileiras A

partir de ento temos a construo de uma perspectiva de universidade apreendida

como espao primordial na criao e produo de conhecimento Importante destacar

que nessas dcadas temos a expanso da urbanizao e industrializao no pas o

que requisita o desenvolvimento da cincia e da tcnica

Contudo uma perspectiva crtica de universidade encontrou forte

resistncia inclusive por parte do Estado que sob a vigncia do Estado Novo de

Vargas procurou adequar as instituies aos interesses dominantes

Temos a concepo que a misso da universidade no pode ser reduzida

a dimenso do ensino e desse modo se configurar em mera funcionalidade de formar

sujeitos para atuar em determinadas profisses como ocorreu no processo de

constituio dessa instituio nem to pouco de se remeter a promoo do

desenvolvimento cientfico e tecnolgico visando to somente a reproduo dessa

sociabilidade ela deve se constituir em um espao de construo da cultura cincia

tecnologia investigao cientifica nas mais variadas reas do conhecimento com a

prerrogativa de proporcionar o desenvolvimento da humanidade e no do capital

A educao superior e por conseguinte a universidade pblica como

importante necessidade social deve ser mantida pelo Estado objetivando a sua

garantia como direito No entanto isso se constitui um desafio a ser perseguido e tem

sido alvo de luta dos segmentos do trabalho e dos setores identificados com esse

iderio como historicamente se configura os(as) estudantes e suas entidades Pois no

decorrer da breve histria da universidade no Brasil alicerada no trip de ensino

pesquisa e extenso ela ameaada constantemente tendo em vista o esforo da

35 Em 1932 foi lanado o ldquoManifesto dos pioneiros da educaordquo elaborado por intelectuais brasileiros que reivindicavam uma atuao do Estado na garantia da educao e requisitavam para o ensino superior a criao de universidades caracterizadas pelo desenvolvimento de investigaes cientficas culturais e formaes de profissionais nas mais diversificadas reas de atuao Cf Rocha(2004)

77

classe dominante em diferentes conjunturas de construir medidas visando a sua

privatizaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo do ensino superior numa mercadoria altamente

competitiva e lucrativa

Na deacutecada de 1950 Rocha(2004) aponta que sob a bandeira do

nacionalismo foi desencadeado o processo de federalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de

ensino superiores estaduais e privadas caminho rejeitado nos anos de 1960 quando

se verifica a expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo superior brasileira

Essa tendecircncia foi amplamente reforccedilada na ditadura militar instaurada

com o golpe de 1964 dado o compromisso dos governos ditatoriais com o capital

tanto em niacutevel interno como externo nesta dimensatildeo vaacuterias accedilotildees foram efetivadas

de forma autoritaacuteria buscando adaptar as instituiccedilotildees ao modelo poliacutetico desenvolvido

pelo regime ditatorial

Podemos destacar como medidas viabilizadoras do enquadramento da

universidade brasileira agraves regras ditatoriais e a exploraccedilatildeo do capital a elaboraccedilatildeo dos

Relatoacuterios Meira Mattos e Atcon estes documentos traziam recomendaccedilotildees que

procuravam adequar as instituiccedilotildees agrave loacutegica mercantilista de formaccedilatildeo de matildeo-de-obra

para o mercado e ainda visavam controlar as reivindicaccedilotildees e manifestaccedilotildees

estudantis tatildeo recorrentes naquele periacuteodo

O relatoacuterio Meira Mattos pregava a repressatildeo a quaisquer protestos

realizados principalmente pelo ME por serem compreendidos pela ditadura como

subversivos a ordem vigente enquanto o Relatoacuterio Atcon recomendava a efetivaccedilatildeo

de mudanccedilas na estrutura administrativa das universidades brasileiras as quais

deveriam se fundamentar na concepccedilatildeo empresarial de eficiecircncia e rentabilidade os

documentos assinalados constituiacuteram a base de fundamentaccedilatildeo da reforma

universitaacuteria de 1968 Cavalcante fundamentando-se em Faacuteveo(1991) assinala que

Esta reforma universitaacuteria introduziu mudanccedilas significativas na organizaccedilatildeo e funcionalidade das universidades no Brasil ao mesmo tempo em que incorporou algumas reivindicaccedilotildees da comunidade acadecircmica com o objetivo de abrandar as manifestaccedilotildees no seu interior como o regime integral para professores possibilitou o fortalecimento da loacutegica empresarial nas instituiccedilotildees de ensino superior ao estabelecer a garantia de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo universitaacuteria de pessoas como experiecircncia na aacuterea dos negoacutecios corroborando com a perspectiva de dicotomia entre planejadores e executores e de entrega da universidade a administraccedilatildeo em moldes empresariais( CAVALCANTE 2007 p6)

A reforma universitaacuteria de 1968 foi orientada tambeacutem pelos acordos MEC-

USAID estabelecido entre Brasil e Estados Unidos cujo objetivo era transformar a

78

universidade brasileira visando ldquoa eficincia modernizao a flexibilidade

administrativa e formao de recursos humanos de alto nvel para o

desenvolvimento do pasrdquo (LAMPERT 2004 p77)

O trmino da ditadura militar no representou o inicio de um compromisso

com a universidade pblica por parte do governo Sarney pois a sua gesto tratou de

preservar os interesses dominantes e como esclarece Ramos(1996 p57) ele

ldquoelaborou o documento ldquoEducao Para Todos - caminho para mudanardquo no qual se

denota a preocupao com o ensino bsico sem se analisar entretanto o ensino

superiorrdquo

A realidade de descaso com as universidades pblicas continuou nos

governos subseqentes estimulada pela ideologia neoliberal de transfigurao da

rea educacional em mais um ramo lucrativo para o mercado de negcios

culminando dessa forma no crescimento acelerado da iniciativa privada e na reduo

de investimentos no setor pblico o que contribui para um cenrio verdadeiramente

crtico como veremos adiante

A reforma do Estado se colocou como demanda real no final da dcada de

1980 para as diferentes foras sociais e polticas da sociedade brasileira Essa

necessidade se explica pela seguinte constatao ldquoao mesmo tempo em que

tnhamos no plano jurdico-poltico a constituio mais avanada [] o aparelho de

Estado continuava funcionando e mais do que isso continuava articulado ao projeto

poltico-econmico da ditadurardquo (NETTO 2004 p 12)

Trata-se portanto naquele perodo da tcita existncia de um consenso

entre distintas foras sociais e polticas em torno da real necessidade de reformar o

Estado nacional

Essa concepo se estabelece j no contexto de consolidao neoliberal

nos pases de capitalismo avanado o que demonstra o lapso entre o centro e a

periferia do capital

Entretanto enquanto as foras populares se colocaram na perspectiva de

reformar o Estado em seu real sentido ou seja com o objetivo de efetivar direitos a

partir da operacionalidade das conquistas estabelecidas na Constituio de 1988 a

burguesia nacional se colocou em sentido contrrio pois se pautou na defesa de

adequar as estruturas nacionais nova ordem do capital na sua verso neoliberal Foi

esta fora social e poltica que se tornou hegemnica e tomou a direo estatal nos

anos 1990 no Brasil

Assim sinalizamos o governo de Fernando Collor de Melo(1990-1992)

como precursor das primeiras medidas de reformar o Estado em sentido oposto ou

seja de materializar aes que se constituram como o incio de uma contra-reforma

79

caracterizada pela perda e natildeo pelo ganho de direitos Behring (2003 p) assinala que

este governo tratou de adequar o paiacutes ao reordenamento do capital mundial

Contudo foi na era FHC (1995-2002) que as concepccedilotildees neoliberais

comeccedilaram a ser efetivadas de forma mais intensa expressatildeo dessa assertiva satildeo as

reformas do Estado manifestadas na poliacutetica de privatizaccedilotildees aleacutem do verdadeiro

esfacelamento das poliacuteticas sociais

Netto(2004) identifica FHC como o governante dos banqueiros e que seu

primeiro mandato apresentou como objetivo preciacutepuo adequar a inserccedilatildeo nacional

aos anseios do capital mundial

A anaacutelise realizada por Behring(2003) demonstra que a formaccedilatildeo social

brasileira eacute caracterizada por traccedilos como paternalismo e heteronomia que

contribuem para intensificar a concentraccedilatildeo da riqueza produzida e da dependecircncia do

paiacutes em relaccedilatildeo agraves orientaccedilotildees que representam o capital internacional

Para garantir a inserccedilatildeo subordinada do paiacutes no circuito mundializado do

capital na deacutecada de 1990 FHC governou com o propoacutesito de executar segundo

concepccedilatildeo de Netto(2004) trecircs tarefas baacutesicas dirimir as resistecircncias contraacuterias ao

direcionamento adotado na sua gestatildeo utilizando para este fim tanto a forccedila como a

construccedilatildeo de consensos A formaccedilatildeo de consensos se deu na dimensatildeo de satanizar

o aparelho do Estado a defesa ideoloacutegica de globalizar o paiacutes aleacutem da tendecircncia de

privilegiar o privado e desqualificar o puacuteblico A segunda tarefa consistiu na

prerrogativa de sucumbir o aparato legal oposto ao receituaacuterio neoliberal nesse caso

o alvo principal constitui-se a Constituiccedilatildeo de 1988 como foi ressaltado esta carta

representou grande avanccedilo juriacutedico especialmente no tocante ao item que trata dos

direitos sociais A uacuteltima tarefa estreitamente articulada agraves demais se referiu a

demanda de promover accedilotildees que editadas a partir de medidas provisoacuterias

regulamentaccedilotildees entre outros aparatos promovessem mudanccedilas substanciais na

estrutura do Estado nacional Diante do exposto tem-se a poliacutetica de ajuste fiscal

materializada com um plano de estabilizaccedilatildeo da moeda e a continuidade da poliacutetica de

privatizaccedilatildeo

Nesses termos a contra-reforma do Estado delineada por FHC se

apresentou em total sintonia com a tendecircncia do capital mundial de promover um

verdadeiro enxugamento das suas accedilotildees no campo social e de valorizar o privado

como referecircncia na execuccedilatildeo de serviccedilos que na uacuteltima carta constitucional se

constituem em direitos Essa direccedilatildeo se manifestou de maneira niacutetida na educaccedilatildeo e

em especial no ensino superior Pois em sintonia com as recomendaccedilotildees das

agecircncias multilaterais a universidade puacuteblica oferece

80

ensino de melhor qualidade que as universidades privadas Todavia estas regidas por critrios empresariais so tidas como a referncia organizacional Consideradas mas geis eficientes financeiramente equilibradas apresentam maior diferenciao institucional e menor ndices de conflitos e tenses polticas (IAMAMOTO 2004 p40)

Considerando as anlises de Siqueira (2004) o Banco Mundial(BM) passou

a intervir na rea educacional na dcada de 1960 tendo como alvo preferencial as

modalidades de ensino tcnico-vocacional e superior visto que naquele perodo

esses nveis eram concebidos como prioritrios para o desenvolvimento das foras

produtivas

Nos anos 1980 o BM financiou diversas pesquisas sobretudo em pases

do continente africano com o intuito de intensificar sua interferncia na educao em

escala mundial Os estudos realizados pelo rgo enfatizavam o ensino superior como

oneroso para a administrao pblica alm de argumentar que ele privilegiava as

camadas mais favorecidas assim as recomendaes eram no sentido de priorizar os

investimentos pblicos majoritariamente no ensino fundamental

Ainda seguindo as contribuies de Siqueira com a derrubada do muro de

Berlim associado fragilidade do Estado de bem estar social ou provedor como por

ela denominado o BM passou a intervir de maneira mais incisiva no ensino superior

apresentando como objetivo instituir um modelo de gesto caracterizado pela

eficincia e procurando abrir tal espao para a iniciativa privada Logo no comeo do

novo sculo entendido como a ldquosociedade do conhecimentordquo a educao superior

compreendida pelo BM como uma ldquorea de negciosrdquo a qual deve ser dirigida ldquopelo

setor privado internacional e grandes firmas nacionais a ele associados que estariam

prontos para vender seus pacotes educacionais consultorias equipamentos etcrdquo

(SIQUEIRA 2004 p50)

Essa interveno no campo educacional revela o processo de expanso

da explorao e domnio do capital em setores diversificados na busca ilimitada por

lucros A educao como mercadoria e sua adequao vislumbrando somente a

formao de mo-de-obra ldquoqualificadardquo para o mercado significa mais do que a perda

de direitos pois minimiza processos formativos crticos o que por sua vez corrobora

com a formao de profissionais identificados(as) com a preservao do status quo

Orientados por tais argumentos os rebatimentos da poltica neoliberal no

ensino superior na vigncia de FHC no comando do executivo nacional podem ser

constatados a partir das problemticas levantadas na passagem seguinte

81

As universidades federais passaram a viver uma situao de indigncia com cortes de energia eltrica telefone gua despensa das empresas terceirizadas responsveis pela limpeza sem falar nos aspectos didticos-cientficos prejudicados pela deficincia de bibliotecas laboratrios salas de aula e falta de computadores e outros equipamentos necessrios para esse fim (MAUS 2004 p22)

Foi durante a gesto de FHC que em 1996 tivemos a aprovao da Lei de

Diretrizes e Bases (LDB) para educao que segundo Netto (2004) em sintonia com

as demandas do mercado consistiu em amparo legal para expanso do setor privado

e desqualificao da universidade pblica sobretudo a partir da apreenso da

autonomia universitria limitada a dimenso gerencial e financeira Alm disso

Iamamoto (2004) sinaliza mecanismos da referida lei que privilegiou a criao de

cursos de curta durao em nvel superior secundarizando a qualidade entre os quais

se encontram os seqenciais36 e os mestrados profissionalizantes37 Para o Sindicato

da Associao Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES) a situao da

universidade pblica na dcada de 1990 apresentava a progressiva tendncia de

desresponsabilizao do Estado com sua manuteno Descaso que se verificou na

submisso da

Universidade lgica imediatista empresarial seja pela gesto direta de uma rede de ensino responsvel hoje por um percentual irrisrio de aproximadamente 22 das matriculas dos cursos de graduao seja pelo controle e direcionamento de boa parte da pesquisa cientfica e tecnolgica produzida no pas a poltica governamental brasileira vem descaracterizando a universidade enquanto instituio de carter pblico e despojando-a portanto de sua condio de instituio a servio da populao brasileira (ANDES 1996 p20)

O quadro abordado preocupante pois ao mesmo tempo em que

incentiva a abertura indiscriminada de instituies privadas muitas das quais se

restringindo a autnticas fbricas de diplomas desqualifica as universidades pblicas

to necessrias para o desenvolvimento do pas a partir de sua democratizao e da

valorizao deste espao como referencial na produo e socializao do

conhecimento Assim os rebatimentos da destruio eou readequao da

36 Iamamoto 2004 classifica tais cursos como um processo de ldquoaligeiramento da formao- para responder de maneira mais imediata s demandas emergentes decorrentes das rpidas transformaes que vm se operando nesse mercadordquo (2004 p54) 37 Para Iamamoto (2004) so mestrados mais baratos e autofinanciados ldquocom retorno rpido uma vez que pode ser concludo em apenas um ano Favorece a integrao universidade e mercado reforando o papel que vem sendo atribudo a essa instituio enquanto formadorade mo-de-obra para atender s mutantes necessidades da produo no seu mais amplo espectrordquo (p59)

82

universidade pblica aos interesses mercantis atinge no somente o espao restrito

da academia mas a populao de forma abrangente pois esta instituio se

caracteriza pela produo cultural realizaes de investigaes cientficas que

contribuem para o desenvolvimento tecnolgico econmico poltico cultural e social

da nao alm de formar profissionais que atuam em diversificados ramos de

atividades requisitados nesta sociabilidade

Tal realidade no diferente no decorrer das duas gestes de Luis Incio

Lula da Silva com incio em 2003 e vigente at os dias atuais que se pautam numa

perspectiva de aceitao das orientaes do capital internacional na verso

neoliberal

Salles (2006) salienta que o PT foi fundado em 1980 com o intuito de se

constituir no representante partidrio dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)

configurando-se dessa maneira em um partido caracterizado poltica e

ideologicamente pela negao do sistema vigente portanto pela recusa das relaes

de explorao dominao autoritarismo e privilgios que marcam a trajetria histrica

do pas Entretanto segundo o seu pensamento o PT com o propsito de chegar

presidncia da repblica elaborou um projeto que foi negociado com polticos de

diversos matizes inclusive de centro esquerda e direita Assim um dos

desdobramentos dessa aliana que o ldquogoverno Lula [] optou por fazer as reformas

diante das quais o governo anterior recuou ou no teve a legitimidade suficiente para

faz-lasrdquo (SALLES 2006 p32)

Em consonncia com esse direcionamento de anlise Lima (2004) ratifica

o processo de aliana do PT com representantes do capital financeiro e sinaliza essa

expresso em quatro dimenses a extino das referncias do socialismo como

princpios do partido a burocratizao em decorrncia da ampliao de funcionrios

em substituio aos militantes de base minimizao das lutas dos trabalhadores(as)

com vistas obteno de cargos conseguida mediante construo de acordos com a

burguesia e ainda se manifesta pelo aprofundamento da concretizao das

concepes neoliberais no pas evidenciadas no favorecimento dos interesses dos

organismos do capital globalizado durante os anos do governo Lula

Dias(2006) assinala que o governo de Lula da Silva se caracteriza pela

materializao de uma poltica de continuidade do governo anterior Atua desse modo

em conformidade com as orientaes neoliberais aderidas por FHC Outro importante

aspecto consiste na sua prtica poltica de desqualificar as organizaes dos

segmentos do trabalho Nesse contexto de desqualificao que se potencializa

tambm a fragilidade das aes desses sujeitos coletivos passando a atuar muito

mais numa perspectiva de colaborar com a institucionalidade em vez de assumir

83

posturas de combatividade e reivindicaes Ao passo que contraditoriamente se

verifica a ampla valorizao do governo Lula em relao atuao das ONG que

embora denominadas de no governamentais sobrevivem com recursos oriundos das

diversas esferas do Estado alm dos montantes recebidos de instituies que

explicitamente representam os interesses do capital A explanao seguinte

demonstra a contradio vivenciada na poltica brasileira de hoje j que o ex-operrio

que ocupa a presidncia ldquodesempenha o papel articulador nos marcos do territrio

brasileiro do bloco de poder comandado pela burguesia financeira internacionalrdquo

(DIAS 2006 p 2000)

Nesse sentido constata-se que o governo petista do ex-operrio Lula se

caracteriza pela recusa do projeto de transformao societal e tenta criar um cenrio

que mostre que a continuidade econmica e poltica das diretivas do capitalismo

neoliberal mais do que necessrias so naturais uma tendncia de mascarar de

diversas formas a existncia de conflitos e interesses antagnicos Prtica poltica que

descaracteriza o protagonismo de sindicatos MS afinal seno existem interesses

contraditrios qual a funcionalidades desses sujeitos coletivos Corroborar com bom

desenvolvimento desta sociabilidade Tudo indica que esse o caminho at o

presente momento que vem sendo seguindo por alguns MS e suas entidades

organizativas

Essa direo poltica se apresenta por exemplo no uso indiscriminado de

medidas provisrias que dado o carter de urgncia das matrias votadas no

legislativo minimiza a possibilidade de debates e desenvolvimento de aes de

segmentos da sociedade que rejeitem e se contraponham s medidas encaminhadas

pelo governo sucumbindo dessa maneira a construo da democracia e o

protagonismo dos sujeitos coletivos

Sem dvida a chegada de Lula presidncia representou o

descontentamento da grande maioria da populao brasileira com a situao de

pauperizao e perdas de direitos reinante na era FHC contudo as suas gestes so

marcadas pela continuao da implementao das diretrizes neoliberais pautadas na

destruio das conquistas dos segmentos do trabalho Como aborda Carvalho entre

os condutores da reordenao do Brasil ao capital internacional na sua verso

neoliberal esto

O socilogo considerado referncia na construo de um pensamento progressista qui de esquerda nas anlises da sociologia poltica [] e um lder poltico de esquerda urdido nas lutas sindicais que ascende ao poder por proclamao popular encarnando a esperana de ruptura com os rumos neoliberais (CARVALHO 2006 p124)

84

Ainda nos baseando nas elaboraes de Carvalho (2006) entende-se que

o iderio neoliberal comea a materializar-se no Brasil no momento de construo do

Estado democrtico dessa maneira observamos um processo contraditrio de

instituio de um Estado ajustador e reducionista na rea social no cenrio da

democratizao poltica Portanto mais uma vez constata-se que a emancipao

poltica importante todavia somente a emancipao humana capaz de libertar os

homens e mulheres de sua condio de explorados(as) e dominado(as) pelo capital

nessa relao contraditria que se encontra a agudizao da educao

superior pblica no Brasil que respaldada na Carta Constitucional de 1988 como

direito de cidadania e dever estatal na atual conjuntura atravessa um forte processo

de privatizao e desqualificao Tendncia que se coloca para atender as demandas

da produo reestruturada e de obteno de lucros mediante sua mercantilizao

para o grande capital financeiro Expresso dessa assertiva constitui-se a atual contra-

reforma do ensino superior do governo Lula

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico

Na educao a continuidade da poltica neoliberal se materializa com a

contra-reforma do ensino superior que vem sendo concretizada de maneira

fragmentada visando a desresponsabilizao do Estado com este nvel da educao

A contra-reforma est em consonncia com as orientaes deliberadas pelos

organismos representantes do grande capital como o Fundo Monetrio Internacional

(FMI) e a OMC pois conforme a perspectiva de tais agentes o ensino superior

compreendido

Como uma mercadoria que deve ser suprida por entidades privadas que disputaro entre si o maior nmero de consumidores possvel o foco central e talvez nico da formao do aluno universitrio passa a ser a preparao para o mercado de trabalho desprezando-se a teoria e o ldquoaprender a aprenderrdquo e enfatizando o domnio de tcnicas transformando a universidade em um ensino de 3 grau [] situada dentro da proposta do neoliberalismo supe que o governo no deve ser o articulador da poltica educacional mas que deve deix-la a merc da regulao da competio entre os investidores privados(OLIVEIRA COSTA MALAFAIA 2004 p55)

85

Afinal de contas ainda em fevereiro de 2003 no incio do governo Lula o

ento ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central respectivamente Palocci

Filho e Henrique Meirelles enviaram conjuntamente documentos ao FMI agente do

grande capital internacional confirmando a realizao de esforos com o objetivo de

manuteno do ajuste fiscal e da materializao de reformas estruturais propostas por

tal organismo

Tambm em 2003 o primeiro ministro da educao do governo Lula o

senador Cristvo Buarque assinalou no texto ldquoa universidade numa encruzilhadardquo a

necessidade de mudanas substanciais para a universidade pblica no pas A

encruzilhada representa para ele a opo dessa instituio continuar se

fundamentando na modernidade tcnica ou direcionar sua funcionalidade para a

modernidade tica na qual o conhecimento seja submetido a valores ticos

identificados com a defesa de semelhana entre os indivduos e com a efetiva

perspectiva de proporcionar ao conjunto da sociedade os resultados do progresso

cientfico e tecnolgico possvel garantir essa socializao num contexto societrio

caracterizado pela apropriao privada inclusive do conhecimento produzido pela

humanidade

Concordamos com Buarque que a universidade vivencia uma situao de

crise Essa realidade se verifica no somente no campo restrito do ensino superior

mas perpassa todo o universo da educao Entretanto entendemos que o real dilema

da educao consiste no que evidencia Tonet(2007) contribuir para a reproduo da

sociabilidade capitalista marcada cada vez mais pela barbrie ou contribuir com a

construo de uma sociedade alternativa

Algumas reflexes surgem nesse mbito como podemos pensar que

mudanas endgenas ocorridas no espao universitrio garantiro o futuro de seus

estudantes Como refletir sobre a derrocada da desigualdade social sem considerar o

fim do modelo societrio capitalista que subjaz processos de desigualdades Afinal

como o prprio Buarque ratifica ldquoo produto dos avanos cientficos e tecnolgicos das

universidades foi posto a servio de minorias privilegiadas tambm em outras reas O

uso e consumo desses conhecimentos tambm ficaram restritos s elites minoritriasrdquo

(2003 p 13) Esse esclarecimento no expressa uma dimenso das diferenas e

antagonismos de classes inerentes ao capitalismo

Para o ento ministro da educao a universidade deveria ser refundada

como meio de atingir seus verdadeiros propsitos e deixar de se constituir em uma

instituio a servio de uma parcela reduzida da populao Entre as iniciativas

indicadas pelo governo Lula para o sistema universitrio brasileiro se encontravam

regulao de transferncia que permita ao estudante trocar de instituio com

86

agilidade ampliaccedilatildeo de vagas com a utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia criaccedilatildeo de cotas

para grupos eacutetnicos flexibilizaccedilatildeo dos cursos necessidade de outras fontes de

financiamentos seja de ordem puacuteblica eou privada estabelecimento de avaliaccedilatildeo para

todas as instituiccedilotildees voltada para identificaccedilatildeo de suas qualidades e fragilidades com

vistas a melhorar o desempenho na sociedade brasileira

Embora apresentando importantes anaacutelises sobre a universidade puacuteblica

entendemos que parte significativa das indicaccedilotildees observadas por Buarque constituiu

a base de fundamentaccedilatildeo para a contra-reforma que refunda eou reestrutura a

universidade em conformidade com as requisiccedilotildees das agecircncias que representam os

interesses do capital

Assim para melhor problematizarmos a atuaccedilatildeo do ME e em especial do

MESS no atual cenaacuterio de desmoronamento da educaccedilatildeo superior puacuteblica faz-se

necessaacuterio algumas consideraccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo do governo a partir de reflexotildees

sobre as medidas situadas no campo da contra-reforma do ensino superior com a

perspectiva de apreendermos os rebatimentos das medidas materializadas para a

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) bem como dos

desafios colocados para o segmento estudantil em tal cenaacuterio

Entre as iniciativas adotadas no contexto da contra-reforma destacamos

inicialmente o Programa Universidade para Todos (PROUNI) que estabelece a

destinaccedilatildeo de vagas para estudantes considerados de baixa renda em instituiccedilotildees

particulares mediante troca por isenccedilatildeo fiscal Os dados do MEC destacam que de

2005 a 200938 foram distribuiacutedas 887445 bolsas do PROUNI Desse total 520855 de

caraacuteter integral e 366590 parcial O dinheiro que deixou de ser arrecadado pela

isenccedilatildeo de fiscal em troca dessas vagas poderia ser investido nas instituiccedilotildees

puacuteblicas proporcionando desse modo melhorias nas condiccedilotildees de trabalho de

docentes e teacutecnicos-administrativos e de aprendizado para os(as) discentes aleacutem de

contribuir para a expansatildeo de vagas nos espaccedilos de formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo puacuteblica

ou seja o PROUNI constitui-se num excelente mecanismo de desvio de recursos de

origem puacuteblica para o setor privado fortalecendo ainda mais a dimensatildeo de

mercantilizaccedilatildeo do ensino

Essa tendecircncia gradual de mercantilizaccedilatildeo se torna expliacutecita quando

analisamos alguns dados do censo de 2007 do ensino superior Eles mostram como a

educaccedilatildeo tem se constituiacutedo em aacuterea de investimento e rentabilidade para o capital

38 Dados disponiacuteveis no site httpsiteprounimecgovbrimagesarquivospdfRepresentacoes_graficasbolsas_ofertadas_anopdf

87

Das 2281 instituiccedilotildees que oferecem essa modalidade de ensino 2032 satildeo privadas

ou seja se tem nesse universo o piacutefio nuacutemero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas

Graacutefico 1Natureza das Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil

249 11

203289

PuacuteblicaPrivada

Fonte INEP 2009

Os nuacutemeros socializados no graacutefico 1 natildeo deixam duacutevidas sobre a

acelerada busca de rentabilidade na educaccedilatildeo superior pois se tem a confirmaccedilatildeo

que aproximadamente 90 das instituiccedilotildees nesse niacutevel de ensino se concentram na

aacuterea privada Portanto natildeo eacute possiacutevel deslocar essa expressiva quantidade da

dimensatildeo de qualidade satildeo esferas distintas mais integrantes desse mesmo

processo Assim sendo sinalizamos preocupaccedilotildees com o ensino disponibilizado em

termos de qualidade e ainda por preponderantemente estarem sob domiacutenio direto

da administraccedilatildeo que visa o lucro imediato a propensatildeo de assimilaccedilatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica dos valores dominantes na sociabilidade capitalista se constitui uma

tendecircncia real Retomando as contribuiccedilotildees de Tonet(2004) a educaccedilatildeo sob a oacutetica

do capital tem a perspectiva de garantir condiccedilotildees para sua preservaccedilatildeo e natildeo

contribuir para o desenvolvimento pleno de todos os indiviacuteduos

Segundo o censo de 2007 das 2032 instituiccedilotildees privadas somente 87

consistem em universidades caracterizadas pela indissociabilidade entre ensino

pesquisa e extensatildeo os demais espaccedilos constituem-se em centros universitaacuterios

faculdades integradas faculdades escolas e institutos Entretanto desse reduzido

numero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas 96 satildeo universidades

88

Graacutefico 2Tipo de Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Privadas

1945 96

87 4

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP 2OO9

A partir dos dados do graacutefico de nordm2 assinalamos que a exploraccedilatildeo do

capital na educaccedilatildeo visa sobretudo o lucro imediato visto que de 96 das intuiccedilotildees

privadas natildeo satildeo universidade que requer investimentos em pesquisa e extensatildeo

Daiacute poderiacuteamos afirmar que o ensino se constitui o alvo prioritaacuterio das investidas do

capital na aacuterea da educaccedilatildeo Contudo cada vez mais eacute recorrente o desenvolvimento

de pesquisas nas universidades puacuteblicas sendo os seus resultados utilizados

diretamente pelos setores dominantes com objetivos de aumentar a competitividade e

rentabilidade de suas empresas demonstrando que os benefiacutecios adquiridos pelo

avanccedilo da ciecircncia satildeo socializados e usufruiacutedos de forma desigual pelos sujeitos

nesta forma de sociabilidade caracterizada pela divisatildeo de classes Para Castro(2008

p247)

A tendecircncia mundial de crescente privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo comeccedila gradualmente no Brasil a minar o caraacuteter puacuteblico das universidades federais e estaduais na medida em que os governos cortamou reduzem o repasse de verbas forccedilando-as a adotarem formas alternativas de captaccedilatildeo de recursos em parte articulada ao setor privado

89

Graacutefico 3

Instituiccedilotildees de Ensino Superior Puacuteblicas

15361

96 39

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP (2009)

Constatamos uma grande diferenccedila entre a quantidade de instituiccedilotildees

privadas e puacuteblicas como ficou evidenciado no graacutefico de nordm 1 Entretanto analisando

conjuntamente os dados dos graacuteficos 2 e 3 temos a conclusatildeo que apesar do grande

nuacutemero de instituiccedilotildees privadas as universidades estatildeo majoritariamente na aacuterea

puacuteblica levando-nos a ratificar a sua relevacircncia para o desenvolvimento do paiacutes

mediante a oferta de um ensino mais qualificado associando as esferas de pesquisa e

extensatildeo Desse modo a luta em favor da universidade puacuteblica no Brasil

historicamente protagonizada por estudantes se configura como uma defesa que

ultrapassa os proacuteprios limites e interesses institucionais

Menezes(2000) analisa que existe uma verdadeira intenccedilatildeo de se negar as

diferenccedilas entre as diversificadas instituiccedilotildees colocando-as todas no mesmo patamar

Essa falsa identidade conceitual potencializa a accedilatildeo daqueles que por motivaccedilotildees

econocircmicas eou poliacuteticas insistem na derrocada da universidade puacuteblica visto que

A equivocada identificaccedilatildeo entre universidade e ensino superior [] dificulta entre noacutes a compreensatildeo da dimensatildeo da questatildeo da universidade puacuteblica e de sua destruiccedilatildeo Para alguns a destruiccedilatildeo se restringe ao fim de determinados regimes funcionais para outros a preocupaccedilatildeo eacute a eliminaccedilatildeo da gratuidade do ensino superior por sua vez defendida por outros ainda para a completa liberaccedilatildeo de um mercado educacional bilionaacuterio (MENEZES 2000 p 10)

Nesses termos se verifica um pequeno nuacutemero de universidades em meio

agrave expressiva quantidade de outras instituiccedilotildees sobretudo no acircmbito privado

evidenciando que de modo abrangente as preocupaccedilotildees desse setor se voltam para

90

os lucros adquiridos com a venda do ensino pois de forma majoritaacuteria natildeo investem

no desenvolvimento de pesquisa e tampouco na materializaccedilatildeo de projetos de

extensatildeo Logo a confusatildeo intencionalmente promovida como foi destacado por

Menezes acaba por apresentar tais espaccedilos para a maioria da populaccedilatildeo com o

mesmo status e importacircncia das universidades quando na realidade desempenham

atividades e funcionalidades diferentes

Satildeo importantes as contribuiccedilotildees de Saviani (2005) relacionadas agrave

discussatildeo sobre o puacuteblico e privado como categorias de anaacutelise na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira O autor salienta alguns equiacutevocos que perpassam esse debate

como a defesa de manutenccedilatildeo da tutela educacional por parte do Estado pois

segundo ele eacute necessaacuterio libertaacute-la

Libertar a educaccedilatildeo da tutela estatal significa ratificar a concepccedilatildeo de

direcionamento de classe presente na atuaccedilatildeo do Estado cuja serventia contribui pra

preservaccedilatildeo do status quo entretanto como ressalta Saviani a retirada da tutela natildeo

Devia ser confundida com a liberaccedilatildeo do Estado dos encargos educacionais sobreonerando a populaccedilatildeo [] trata-se pois de inverter esta tendecircncia exigindo que o Estado assuma plenamente os encargos que garantam as melhores condiccedilotildees de funcionamentos da rede de escolas puacuteblicas E isto seraacute viaacutevel na medida em que as organizaccedilotildees populares exerccedilam severo controle sobre a educaccedilatildeo em geral e principalmente nas escolas mantidas pelo Estado (2005 p174)

A preocupaccedilatildeo do autor eacute significativa na perspectiva de que cada vez

mais o Estado controla a educaccedilatildeo no intuito de atender as necessidades do

mercado em detrimento dos interesses sociais da maioria da populaccedilatildeo explorada e

oprimida Vejamos a adoccedilatildeo do PROUNI representa a tendecircncia de reduzir

investimentos na esfera puacuteblica e o consequumlente fortalecimento da iniciativa privada

Mais do que isso garante a inserccedilatildeo de estudantes em instituiccedilotildees particulares

preocupadas majoritariamente com a obtenccedilatildeo de lucros e natildeo com a formaccedilatildeo

propriamente dita Reflitamos quantos estudantes deixam de frequumlentar as aulas nas

escolas privadas por falta de pagamentos A expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo

se processa por preocupaccedilotildees com o desenvolvimento espiritual da humanidade ou

majoritariamente por interesses rentaacuteveis

Nesse sentido eacute importante explicitar o pensamento de Sanfelice quando

o mesmo esclarece que

91

A escola estatal no necessariamente pblica quando tomamos o adjetivo pblico na forma de qualificao daquilo que pertence a um povo a uma coletividade que comum aberto a quaisquer pessoas que no tem carter secreto manifesto e transparente (2005 p179)

Nas condies ressaltadas pelo autor fica evidenciada mais uma vez a

impossibilidade de construo de uma rede educacional formal verdadeiramente

pblica nos marcos da sociedade capitalista pois a mesma apresenta como um dos

seus fundamentos a perpetuao das desigualdades e de interesses individuais e do

capital em detrimento das necessidades reais da populao Porm a escola pblica

contribui para atender em maior escala os anseios da coletividade nessa forma de

sociabilidade se levamos em considerao entre outras dimenses que a educao

dominada pelo setor privado visa especialmente formao de fora de trabalho

para o mercado secundarizando as verdadeiras necessidades humanas alm disso

transforma um direito em servio na procura excessiva por lucros Destarte podemos

perceber que a relao pblico-privado na esfera da educao perpassada por

intensas contradies que so vinculadas s relaes antagnicas que particularizam

o modelo societrio capitalista

Buff (2005) discorrendo sobre a relao pblico e privado na educao

afirma ser tal relao crivada por conflitos e dualidade A autora enfatiza ainda que a

esfera privada at a primeira metade do sculo passado se concentrou

especialmente no ensino mdio sendo defendido majoritariamente por

representantes da Igreja catlica j a partir dos anos 1980 verifica-se uma alterao

na relao dado que o protagonismo passa a ser assumido pelos denominados

ldquotubares do ensinordquo com prioridade para a educao superior Certamente essa

mudana no se efetiva por acaso pois esse redimensionamento est inserido nas

profundas modificaes vivenciadas pelo capital as quais atingem os diversos

complexos sociais

No mbito de efetivao de medidas para o ensino superior durante a

primeira gesto de Lula tivemos ainda em 2003 a institucionalizao do sistema de

cotas nas universidades pblicas destinada a estudantes oriundos de escolas

pblicas particularmente negros pardos e ndios Segundo estudo de Castro(2008)

atualmente este sistema implantado em 18 universidades brasileiras sendo alvo de

significativas discusses em que posicionamentos contrrios se apiam

principalmente na concepo de mrito alm de acreditarem que as reservas de

vagas pode corroborar com discriminao ao incentivar um ldquoracismo s avessasrdquo j os

defensores das cotas compreendem que elas so aes afirmativas que visam o

92

tratamento diferenciado para sujeitos historicamente alvo de preconceitos e que se

encontram em posiccedilatildeo desigual inclusive no que se refere agrave educaccedilatildeo em especial

no niacutevel universitaacuterio Levando-se em consideraccedilatildeo informaccedilotildees do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica(IBGE) as desigualdades entre brancos pretos e

pardos se manteve em 2004 Segundo dados divulgados pela Instituiccedilatildeo em 2006 no

que se refere ao analfabetismo funcional no paiacutes 18 dos(as) brancos(as) tinham

menos de quatro anos completos de estudos enquanto que na populaccedilatildeo de cor

preta e parda esse percentual ultrapassou os 3039 Outros dados revelam essa

desigualdade

em relaccedilatildeo a adequaccedilatildeo seacuterie-idade considerando os jovens de 18 a 24 anos verificou-se que 11 dos de cor branca e 27 dos de cor preta e parda ainda frequumlentavam o ensino fundamental enquanto 35 dos brancos e 51 dos pretos e pardos estavam no ensino meacutedio Nessa mesma faixa etaacuteria 47 dos estudantes de cor branca estavam no ensino superior um proporccedilatildeo quase trecircs vezes superior aacute dos estudantes de cor preta e parda(IBGE p10 2006)

Os nuacutemeros socializados pelo IBGE ratificam a necessidade de poliacuteticas

afirmativas para a populaccedilatildeo afro do Brasil tais como o proacuteprio sistema de cotas jaacute

implementado em 18 instituiccedilotildees de ensino superior mecanismo que contribui para o

arrefecimento dessas desigualdades tatildeo visiacuteveis e gritantes na realidade brasileira

Importante registrar que a ENESSO tem uma postura poliacutetica favoraacutevel ao sistema de

cotas tal como consta nas deliberaccedilotildees aprovadas no decorrer do periacuteodo aqui

investigado as quais seratildeo analisadas no proacuteximo capiacutetulo

Outra medida situada no campo de mudanccedilas do ensino superior consiste

a aprovaccedilatildeo por parte do MEC da abertura sem controle de cursos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia com o objetivo primordial de elevar o nuacutemero de estudantes no ensino

superior todavia secundarizando a qualidade e o direito a educaccedilatildeo

O aceleramento da poliacutetica privatista mediante utilizaccedilatildeo do ensino a

distancia eacute garantido legalmente no artigo 80 da LDB o qual estabelece que esse

meio seja incentivado pelo poder puacuteblico em todos os niacuteveis educacionais

Posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nordm 2494 de 10 de fevereiro de 1998 e

pela portaria nordm 301 de 07 de abril do mesmo ano Entretanto foi com o Decreto nordm

5622 de 19 de dezembro de 2005 que a modalidade agrave distacircncia se expandiu de

modo exacerbado por todo o paiacutes

39 Esses dados foram socializados na Siacutentese dos Indicadores Sociais elaborado pelo IBGE em 2005 e disponibilizados no site da instituiccedilatildeo wwwibgegovbr

93

A expanso de cursos distncia no governo Lula estava prevista nas

propostas do grupo de trabalho interministerial ainda no ano de 2003 na qual a

equipe de trabalho discorre sobre a crise das universidades federais e a necessidade

de elevar o nmero de estudantes na educao superior Siqueira esclarece que a

elevao se daria a partir ldquodo aumento da carga horria dos professores em sala de

aula o aumento da relao aluno-professor e o uso da educao distnciardquo (2004

p63) Para Lima importante destacar

Desde o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso a educao a distncia tem sido utilizada com mais uma estratgia de privatizao das universidades pblicas ldquomaquiadasrdquo com o discurso da democratizao do acesso a esse nvel de ensino (LIMA 2004 p41)

Alm disso interessante frisar que o ensino distncia em sintonia com

as mudanas no mundo do trabalho principalmente com o desenvolvimento da esfera

tecnolgica informacional potencializa o processo de substituio de trabalho vivo por

morto visto que o mtodo virtual secundariza eou at mesmo dispensa o(a)

professor(a) na sala de aula ou seja contraditoriamente ao mesmo tempo em que

coloca mais profissionais no cenrio competitivo entre os quais professores(as)

contribui para a elevao de desemprego pois a prioridade no com o ensino mas

com a rentabilidade adquirida pela utilizao da modalidade distncia

Nesse sentido temos o discernimento e convico terico-poltica que a

expanso sem nenhum controle de cursos de graduao distncia constitui mais

uma medida governamental que possibilita em larga medida o aprofundamento sem

precedentes na histria do Brasil da mercantilizao da educao em especial do

nvel superior Esse processo se materializa a partir da venda direta do ensino nas

instituies privadas ou mediante a utilizao da modalidade nas instituies pblicas

com o objetivo central de atender as requisies mercantis

Conforme dados socializados pelo secretrio de Educao a Distncia

Carlos Bielschowsky em abril de 2009 existia no Brasil 109 instituies que ofertam

cursos de graduao distncia sendo que oito40 delas so responsveis pelo total

de 416320 alunos o correspondente a um percentual de 547 dos(as) estudantes

matriculados(as) nessa modalidade

40 As instituies so Universidade do Norte do Paran (Unopar) a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) o Centro Universitrio Leonardo da Vinci (Uniasselvi) de Santa Catarina e a Faculdade Educacional da Lapa (Fael) do Paran Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) do Rio Grande do Sul a Faculdade de Tecnologia e Cincias (FTC) da Bahia a Universidade Castelo Branco (UCB) do Rio de Janeiro e a Universidade Cidade de So Paulo (Unicid)

94

Ainda segundo informaes publicizados no site do MEC desde o inicio

de 2009 se processa uma superviso nessas instituies com o objetivo de garantir a

qualidade e os direitos dos(as) estudantes Os resultados parciais da fiscalizao

apontam irregularidades nos espaos de atendimento presencial aos discentes que se

expressam na ausncia de coordenadores(as) na falta de laboratrios de informtica

e de bibliotecas requisitos bsicos para oferta do ensino As constatao das

irregularidades resultar de inicio na desativao de 1337 plos vinculados A Unitins

e a Fael que associadas ao Sistema Eadcon detm 1494 plos de oferta de ensino a

distncia dos quais 1278 sero desativados conforme informao do MEC visto

que a Eadcon no est credenciada pelo Ministrio a oferecer cursos de graduao

nessa modalidade estando autorizada a atuar somente na oferta de especializao

Alm disso A Uniasselvi tambm ter 60 de seus 93 plos desativados entretanto

ela ldquopromove reestruturao em comum acordo com o MEC e vai reformular o

processo de avaliao alm de aprimorar a infra-estrutura dos plos

remanescentesrdquo(MEC 2009)

Diante dessa realidade observamos que a preocupao do MEC com a

qualidade do ensino oferecido pela modalidade distncia se verifica depois da

abertura desenfreada de cursos de graduao em todo o pas processo que teve

incentivo e aval do prprio ministrio

Outra medida pertencente a ldquocontra-reformardquo o Sistema Nacional de

Avaliao do Ensino Superior(SINAES) o qual constitudo de trs eixos avaliao

dos cursos das instituies e o Exame Nacional de Desempenho dos estudantes

(ENADE) Apesar de incorporar elementos importantes no processo avaliativo desde

a sua implantao o mesmo tem privilegiado especialmente o resultado do ENADE

Este pautado numa perspectiva punitiva e de ranqueamento assim os(as)

estudantes selecionados(as) para realizar a prova e que porventura no

comparecerem na data estabelecida so impedidos(as) de receber o diploma alm

disso a divulgao de notas obtidas pelos cursos levando-se em considerao

somente o ENADE acaba culpabilizando o segmento estudantil pela realidade da

universidade pblica na atualidade sem uma devida anlise econmica social

histrica poltica e cultural O ranqueamento construdo a partir da avaliao gera

uma classificao entre as instituies boa e de m qualidade que incide

diretamente na distribuio de verbas o curioso o fato daquelas cujos resultados

no so satisfatrios para os analistas serem penalizadas mediante reduo de

investimentos podendo at mesmo ser descredenciadas

Para Mello(2007) a avaliao pode ser consubstanciada em trs

perspectivas diferentes porm no excludentes so elas avaliao como instrumento

95

de praacutetica gerencial em que satildeo considerados prioritariamente metas a serem

alcanccediladas avaliaccedilatildeo como controle social cuja preocupaccedilatildeo se remete a elaboraccedilatildeo

de objetivos preservando-se a autonomia institucional e finalmente a avaliaccedilatildeo como

possibilidade de regeneraccedilatildeo de autonomia poliacutetica e acadecircmica na qual a auto-

avaliaccedilatildeo possa proporcionar a incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees de naturezas diversas

como projetos para instituiccedilatildeo estrateacutegias de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos Entretanto segundo apreensatildeo do autor eacute fundamentado na primeira

abordagem que as avaliaccedilotildees vecircm se concretizando nos espaccedilos acadecircmicos pois

[] as decisotildees de cunho eminentemente poliacutetico aparecem como uma questatildeo meramente gerencial que exige uma resposta imediata e inadiaacutevel do oacutergatildeo gestor Os problemas relativos ao ensino superior tanto com relaccedilatildeo agrave administraccedilatildeo quanto com relaccedilatildeo agraves questotildees de produccedilatildeo e veiculaccedilatildeo de conhecimento natildeo satildeo reconhecidos como determinaccedilotildees das formaccedilotildees sociais mas satildeo interpretados como decisotildees que tecircm que ser tomadas para resolver problemas e garantir a aplicaccedilatildeo dos recursos (MELLO 2007 p16)

A tendecircncia punitiva do ENADE se verifica na Lei nordm 10861 de 24 de

abril de 2004 que no seu inciso 5ordm do artigo 5ordm estabelece o exame como

componente curricular obrigatoacuterio para os cursos de graduaccedilatildeo O inciso 10ordm do

mesmo artigo explicita o reducionismo dessa avaliaccedilatildeo pois destaca a concessatildeo de

bolsas e outras formas de estiacutemulos a estudantes que obtiverem melhores

desempenhos Como analisar o rendimento acadecircmico de um(a) estudante

considerando somente o resultado da prova

O ANDES(1996) defende a realizaccedilatildeo de processos avaliativos que

englobem elementos internos e externos No primeiro caso requisita-se a

participaccedilatildeo democraacutetica de todos os segmentos acadecircmicos estudantes docentes e

teacutecnico-administrativos no segundo exige-se o envolvimento da comunidade na qual

a instituiccedilatildeo estaacute inserida com o intuito de a sociedade analisar e contribuir com o

desenvolvimento da funccedilatildeo social da instituiccedilatildeo

Aleacutem das accedilotildees jaacute assinaladas faz-se necessaacuterio evidenciarmos uma

das mais atuais que eacute o REUNI este vislumbra melhorar o rendimento dos atuais

recursos fiacutesicos e humanos das universidades federais sendo as principais metas

elevar a taxa de diplomaccedilatildeo dos cursos para 90 e aumentar para dezoito a relaccedilatildeo

aluno-professor

O preocupante nesta proposta como abordam Martinez e Tonegutti

(2007) eacute a natildeo contextualizaccedilatildeo das metas citadas com a dinacircmica vivenciada nas

instituiccedilotildees de ensino superior federais Nesses termos algumas das problemaacuteticas

96

salientadas pelos autores so como elevar o nvel de diplomao sem considerar a

situao econmica e social dos(as) estudantes brasileiros(as) como atingir a meta

estabelecida no tocante a relao professor-aluno em uma conjuntura de sobrecarga

vivida no cotidiano pela grande maioria dos(as) docentes Outras questes

significativas para serem refletidas so referentes prpria flexibilidade41 dos cursos

e alm disso por se tratar de um plano de governo como garantir a liberao de

verbas no decorrer da futura gesto presidencial pois as linhas traadas pelo

REUNI apresentam como horizonte o ano de 2012 Como observamos muitos so

os limites para a universidade pblica trazidas por mais uma ao integrante da

contra-reforma do ensino superior brasileiro

Para Boschetti(2008) o REUNI foi institudo nas universidades visando

atender as requisies do FMI que estabeleceu a meta de inserir 30 da populao

brasileira na faixa etria de 18-24 anos nesse nvel da educao Diante do exposto

fica evidenciado o direcionamento do Governo Lula em operacionalizar as

recomendaes daqueles que defendem os interesses do capital e desconsideram a

qualidade na formao profissional em prol da lucratividade

A anlise do ANDES sobre o REUNI ratifica o posicionamento de situar

essa ao como mais uma medida que expressa a perspectiva do atual governo de

ampliar o acesso na educao superior sem a devida elevao de recursos para

manuteno dessa expanso42 Desse modo as repercusses so no sentido de

ldquoprecarizao do trabalho docente e a transformao paulatina de universidade em

instituies com um ensino cada vez mais superficialrdquo (ANDES 2007 p08)

Diante dos primeiros passos no processo de institucionalizao do REUNI

nas Universidades Federais notria a aberturas de concursos sobretudo para

docentes e dessa maneira no podemos desconsiderar a importncia dessa ao

num contexto de intensa sobrecarga vivenciada por professores(as) nas instituies

pblicas sendo pois resultante de lutas do movimento da educao no Brasil e

especificamente no nvel superior dos segmentos universitrios organizados

Entretanto somente a abertura de concursos no suficiente para termos uma anlise

mais consistente do programa pois no nos permite apreendermos se os cursos

abertos nos mbito do REUNI garantem uma formao profissional com qualidade e

41 Flexibilidade no sentido que o plano se fundamenta nos processos flexibilizados de redefinio do ensino superior implantado nos EUA e tambm influenciado pelo modelo de bacharelado de Bolonha ldquoeste em virtude das necessidades decorrentes da comunidade europia o que se objetiva compatibilizar a formao profissional entre os vrios pases pela adequao do desenho curricular que varia bastante de pas para pasrdquo Cf Martinez e Tonegutti (2007)42O Plano Nacional de Educao estabelece a destinao de 10 do PIB para educao contudo o total empregado corresponde ao percentual de apenas 35Cf (ANDES 2007)

97

no caso do Servio Social tendo como pressuposto as Diretrizes Curriculares

elaboradas pelo ABEPSS

Durante a provao do REUNI pelos Conselhos Universitrios das

universidades federais no final de 2007 tivemos segundo dados da CONLUTE pelo

menos quinze reitorias ocupadas pelo ME porm as ocupaes e reivindicaes no

foram suficientes pois o Plano de Reestruturao foi aprovado em plenitude pelas

IFES Embora no tendo sucesso quanto ao objetivo de impedir a implementao de

tal proposta podemos afirmar que as atividades executadas pelo segmento estudantil

evidenciam o fortalecimento das mobilizaes do ME em nvel nacional

Em abril de 2009 socializada mais uma proposta do MEC para o ensino

superior que prev a adoo do Exame Nacional do Ensino Mdio(ENEM) como

principal mecanismo de acesso as instituies federais Documento elaborado e

disponibilizado pelo MEC esclarece que os resultados do ENEM sero utilizados de

duas maneiras

A primeira mediante simples informao pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira-Inep IES dos boletins de resultados dos candidatos que tiverem realizado o novo ENEM adotado como prova de seleo com base em Edital prprio publicado pela IES facultando-se sua utilizao como fase nica ou primeira fase do processo seletivo A segunda forma de utilizao do novo ENEM consiste na adeso ao Sistema de Seleo Unificada sistema informatizado do Ministrio da Educao apto a processar oregistro das vagas especificamente oferecidas pelas IES (ldquovagas ENEMrdquo) em confronto com as listas ordenadas de candidatos em ordem decrescente por curso segundo a pontuao no Exame O pressuposto da adeso ao Sistema de Seleo Unificado autilizao do novo ENEM como fase nica sem prejuzo de eventual realizao de exame de aptido para reas especficas (desde que esse se d em tempo compatvel com da primeira e segunda chamadas do Sistema de Seleo Unificado) (MEC 2009)

O fim do vestibular sempre esteve presente como bandeira de luta do

movimento por educao pblica no Brasil incluindo aqui o segmento estudantil

organizado O propsito de utilizao do ENEM como mecanismo de entrada nas

universidades no garante a efetiva democratizao do ensino superior visto que o

acesso continuar sendo determinando por outro processo seletivo que no mais o

vestibular Por se tratar de uma medida ainda incipiente no nos permite a realizao

de uma anlise mais consiste desse processo entretanto analisando esta medida no

campo da contradio temos a concepo que ela no resultar em ganhos

expressivos para os segmentos pauperizados se no for acompanhada de uma efetiva

98

ampliaccedilatildeo de vagas nas universidades federais e de melhorias consideraacuteveis nos

niacuteveis fundamental e meacutedio de ensino

4-3 REMANDO CONTRA MAREacute a formaccedilatildeo profissional do(a) assistente social no

acircmbito da contra-reforma do ensino superior

A contra-reforma do ensino superior orientada pelas concepccedilotildees

neoliberais efetivada na era FHC e com continuidade nas gestotildees de Lula traz

implicaccedilotildees substanciais para materializaccedilatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional

dos(as) assistentes sociais Projeto resultante da reformulaccedilatildeo curricular no iniacutecio da

deacutecada de 1990 em que a qualidade da formaccedilatildeo profissional consistia ao mesmo

tempo em objetivo e desafio para categoria

Assim sendo de 1994 a 1996 a entatildeo Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino

de Serviccedilo Social(ABESS) promoveu conjuntamente com o Centro de Documentaccedilatildeo

e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social(CEDEPSS) e com expressivo apoio

do CFESS e da ENESSO em torno de duzentas oficinas locais em unidade filiadas a

ABESS aleacutem de vinte e cinco oficinas regionais e duas nacionais

Essa ampla discussatildeo foi imprescindiacutevel para construccedilatildeo da Proposta

Nacional de Diretrizes Curriculares para o curso de Serviccedilo Social cuja aprovaccedilatildeo

ocorreu em assembleacuteia geral durante a II Oficina Nacional de Formaccedilatildeo Profissional

nos dias 07 e 08 de novembro de 1996 na cidade do Rio de Janeiro

Os pressupostos que nortearam a perspectiva de formaccedilatildeo profissional

presentes na referida proposta se expressam no entendimento de que o Serviccedilo

Social consiste em uma profissatildeo que se particulariza no acircmbito de intervenccedilatildeo da

questatildeo social esta portanto se configura como fundamento basilar de sua existecircncia

na sociabilidade regida pelo capital e que na deacutecada de 1990 a relaccedilatildeo capital-

trabalho apresenta uma tendecircncia de agravamento no contexto brasileiro diante das

particularidades da reestruturaccedilatildeo produtiva no contexto nacional fato que atinge a

profissatildeo nos acircmbitos da formaccedilatildeo e da intervenccedilatildeo dessa maneira tem-se a

apreensatildeo de que o Serviccedilo Social como parte integrante de um processo trabalho eacute

determinado estrutural e conjunturalmente pelas configuraccedilotildees da questatildeo social e

das consequumlentes formas de seu enfretamento

99

Portanto a institucionalizaccedilatildeo do Serviccedilo Social como profissatildeo constitui

um desdobramento da intensificaccedilatildeo das contradiccedilotildees inerentes ao modelo societaacuterio

capitalista de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Nesses termos as Diretrizes Curriculares enfatizam que os(as) assistentes

sociais tecircm nas diversas expressotildees da questatildeo social a mateacuteria essencial que

proporciona a inserccedilatildeo de tais profissionais em processos de trabalho

Temos a compreensatildeo de ser a questatildeo social fruto das desigualdades

geradas pelo antagonismo entre capital x trabalho Nessa sociabilidade auto-rotulada

de livre os capitalistas se apresentam no mercado competitivo como proprietaacuterios

dos meios-de-produccedilatildeo e os trabalhadores donos somente da sua forccedila de trabalho

Portanto relaccedilotildees opostas e desiguais com repercussotildees nefastas para a humanidade

e que se expressam na opressatildeo e domiacutenio de classes Consubstanciado no

pensamento marxiano Tonet ratifica

O capital cujas personas satildeo os burgueses eacute uma relaccedilatildeo essencialmente contraditoacuteria A apropriaccedilatildeo da riqueza socialmente produzida por um nuacutemero de pessoas que deste modo hegemonizam em seu benefiacutecio todo o processo social eacute inseparaacutevel de sua existecircncia (TONET 2004 p 14)

Eacute no seio desse profundo antagonismo que o (a) assistente social eacute

requisitado a trabalhar e nesse sentido os projetos de formaccedilatildeo profissional

consistem em instrumentos importantes na constituiccedilatildeo de um perfil profissional que

pode vislumbrar uma atuaccedilatildeo para manutenccedilatildeo dos privileacutegios sustentadores do

capital como antagonicamente podem ser construiacutedos ratificando um processo

formativo criacutetico no intuito de formar profissionais identificados com o

desenvolvimento de accedilotildees direcionadas para negaccedilatildeo e contestaccedilatildeo da ordem

estabelecida sendo esta uacuteltima a perspectiva ratificada nas Diretrizes Curriculares

para o curso de Serviccedilo Social em vigecircncia desde 1996 Como retrata Iamamoto

(2006) o traccedilo poliacutetico do trabalho do(a) assistente social reside no fato de que ele se

materializa numa sociabilidade na qual se encontram

Presentes interesses sociais distintos e antagocircnicos que se refratam no terreno institucional definindo forccedilas sociopoliacuteticas em luta para construir hegemonias definir consensos de classe e estabelecer formas de controle social a elas vinculadas (IAMAMOTO 2006 p 98)

Certamente o projeto de formaccedilatildeo profissional forjado pela categoria nas

uacuteltimas deacutecadas hegemonizado em torno da intenccedilatildeo de ruptura e que se expressa

100

por exemplo no Coacutedigo de Eacutetica de 1993 na Lei 86621993 que trata da

Regulamentaccedilatildeo da profissatildeo e as Diretrizes Curriculares de 1996 encontra-se em

sintonia com um processo formativo de qualidade e comprometido com a luta por

direitos bem como com a compreensatildeo de serem os usuaacuterios dos serviccedilos sociais

sujeitos construtores da histoacuteria Portanto uma perspectiva de formaccedilatildeo profissional

criacutetica e que requisita uma apreensatildeo da realidade com suas multifacetadas

contradiccedilotildees no intuito de materializar accedilotildees nos marcos do projeto eacutetico-poliacutetico

profissional hoje hegemocircnico no acircmbito do serviccedilo Social brasileiro

Nesse sentido a preocupaccedilatildeo com a qualidade na formaccedilatildeo profissional

se manifesta integralmente em toda proposta e de forma preponderante nos

princiacutepios que regem as Diretrizes Curriculares que satildeo a flexibilidade de

organizaccedilatildeo dos curriacuteculos plenos o que por sua vez favorece a apreensatildeo de

problemaacuteticas locais mediante a oferta de oficinas seminaacuterios temaacuteticos e atividades

complementares a tendecircncia de assegurar rigoroso trata teoacuterico histoacuterico e

metodoloacutegico da realidade bem como do Serviccedilo Social inserido nela

potencializando dessa forma uma intervenccedilatildeo qualificada dos(as) profissionais nos

processos de trabalho adoccedilatildeo de uma teoria social criacutetica com o intuito de

proporcionar a apreensatildeo dos fenocircmenos em sua totalidade histoacuterica a busca de

superaccedilatildeo da fragmentaccedilatildeo de conteuacutedos na organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo curricular o

estabelecimento das dimensotildees investigativa e interventiva o que corrobora para o

fortalecimento da relaccedilatildeo teoria e realidade defesa de qualidade para cursos diurnos

e noturnos tendecircncia de proporcionar interdisciplinaridade nas diversos acircmbito que

compotildeem a formaccedilatildeo profissional indissociabilidade entre ensino pesquisa e

extensatildeo o exerciacutecio do pluralismo que consiste em dimensatildeo inerente ao acircmbito

acadecircmico estabelecimento da eacutetica como principio fundamental e que perpassa toda

a formaccedilatildeo profissional a necessaacuteria indissociabilidade entre supervisatildeo de campo e

acadecircmica durante a realizaccedilatildeo do estaacutegio como forma de contribuir com a qualidade

no processo de aprendizagem dos sujeitos em formaccedilatildeo

Discorrendo sobre a formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais Iamamoto

(2006) enfatiza a necessidade na contemporaneidade de fortalecimento articulado

das esferas teoacuterico-metodoloacutegico eacutetico-poliacutetico e teacutecnico-operativo como

indispensaacuteveis para uma formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional criacutetica e capaz de apreender

o movimento contraditoacuterio da realidade capitalista compreendendo os limites e

possibilidades nela existentes no intento de que os(as) profissionais atuem em

conformidade com a legislaccedilatildeo profissional vigente o que significa o cumprimento e

fortalecimento do estabelecido na lei 866219993 e no Coacutedigo de Eacutetica tambeacutem de

1993 A ressalva realizada pela autora ratifica o perfil de assistentes sociais projetado

101

no decorrer da elaborao aprovao e implantao das Diretrizes Curriculares cuja

dimenso destaca a necessidade de

Um profissional que atua nas expresses da questo social formulando e implementando propostas para o seu enfretamento por meios de polticas sociais pblicas empresariais de organizaes da sociedade civil e movimentos sociais Profissional dotado de uma formao intelectual e cultural generalista crtica competente em sua rea de desempenho com capacidade de insero criativa e propositiva no conjunto das relaes e no mercado de trabalho Profissional comprometido com os valores norteadores do Cdigo de tica do Assistente Social (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL 1999)

Fundado nessa proposio a lgica curricular aprovada pela categoria em

1996 apresenta trs ncleos de fundamentao que se sustentam na perspectiva de

articulao de conhecimentos que possibilite a construo de um projeto assentado

na complexidade e dinamicidade do real e comprometido com a qualidade na

formao dos(as) assistente sociais No ncleo de fundamentos terico-metodolgicos

da vida social a principal preocupao direcionada para a compreenso do ser no

mbito da sociabilidade capitalista sendo o trabalho aprendido como o ato fundante

no processo de produo e reproduo social J o ncleo de fundamentos da

formao scio-histrica da sociedade brasileira tem o objetivo essencial de

aprofundar os conhecimentos relacionados formao brasileira considerando suas

determinaes econmicas sociais polticas e culturais o que implica a necessidade

de anlise da relao ldquoestadosociedade os projetos polticos em debate as polticas

sociais as classes sociais e suas representaes culturais os movimentos

organizados da sociedade civil entre outros aspectosrdquo (IAMAMOTO 2006 p 72) O

ncleo de fundamentos do trabalho profissional tem a proposio de discutir os

fundamentos do Servio Social em que este entendido como uma profisso

constituda no mago da diviso social e tcnica do trabalho Importante registrar que

os trs ncleos no foram elaborados de maneira hierrquica mas partindo da

concepo que se trata de conhecimentos articulados e necessrios a construo de

um perfil profissional crtico de postura interventiva e investigativa43

43Nesses termos as matrias consideradas bsicas para o curso de Servio Social fundamentadas nos ncleos da vida social da formao da sociedade brasileira e do trabalho profissional tendo o discernimento que essas matrias requisitam a abordagem de contedos que proporcionem uma devida capacitao terico-metodolgica e tico-poltica objetivando apreenso e interveno crtica na realidadeso Sociologia Cincia poltica Economia Poltica Psicologia Antropologia Formao scio-histrico do Brasil Direito Poltica Social Acumulao Capitalista e Desigualdades Sociais Fundamentos Histricos e Terico-metodolgicos do Servio Social Processo de Trabalho do Servio Social Administrao e Planejamento em Servio Social Pesquisa em Servio Social e tica Profissional Alm das atividades consideradas indispensveis Estgio Supervisionado e o Trabalho de Concluso de

102

Em 2006 Aps dez anos de aprovao a ABEPSS realizou pesquisa de

cunho avaliativo sobre a materializao das Diretrizes Curriculares esta contou com a

participao de estudantes de Servio Social de todo pas e de diferentes unidades de

ensino a anlise processada pela entidade evidencia o acelerado processo de

privatizao da educao e que por conseguinte atinge os espaos de formao

profissional do(a) assistente social

Nesse sentido o debate sobre a contra-reforma do ensino superior

relevante para o Servio Social por se tratar do lcus privilegiado da formao

profissional e que vem sendo duramente atacado pela verso neoliberal do capital

Nesse sentido segundo as contribuies de PINTO (2007 p16)

A formao decorrente da contra-reforma da educao no nos serve por ser uma formao que nos faz questionar a capacidade do aluno adquirir as habilidades necessrias para atender na ponta os usurios de uma instituio Os componentes ticos necessrios diante da agudizao da questo social e o desenvolvimento de habilidades para investigar a realidade social e conhecer a populao atendida para melhor traar as linhas e projetos de interveno alm da capacidade de reconhecer o trabalho do assistente social como parte da engrenagem da sociedade capitalista e no como uma prtica que ganha sentido por si mesma na imediaticidade de sua ao sero forte e profundamente inviabilizados pela contra-reforma da educao de interesse do capital

As preocupaes levantadas pela autora so significativas e se

consubstanciam na defesa de um perfil de formao profissional baseado nos

princpios defendidos pela ABEPSS e j ressaltados anteriormente s para

exemplificar destacamos o ldquoestabelecimento das dimenses investigativa e

interpretativa como princpios formativos e condio central da formao profissional e

da relao teoria e realidade indissociabilidade das dimenses de ensino pesquisa e

extensordquo (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL

1999)

Destarte a concretizao de tais princpios em instituies de ensino

presenciais j se constitui uma realidade problemtica decorrente das condies de

trabalho e aprendizagem que so disponibilizadas e em se tratando de graduao

distncia se tornam ainda mais problemticas pela prpria lgica de funcionalidade e

padres organizativos de tal modalidade o que coloca em xeque o projeto de

Curso Entretanto todos os tpicos referentes a todas as matrias elencadas anteriormente foram simplesmente suprimidos pela Comisso Nacional de Educao(CNE)

103

formaccedilatildeo construiacutedo nas ultimas deacutecadas pelos (as) assistentes sociais

brasileiros(as)

Desse modo a proliferaccedilatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social agrave

distacircncia jaacute eacute uma realidade em todo o paiacutes Nessas circunstacircncias as entidades

representativas da profissatildeo (ABEPSS CFESS E ENESSO) de maneira articulada

tecircm elaborado e executado estrateacutegias diante dessa situaccedilatildeo no intuito de defender o

atual projeto de formaccedilatildeo profissional construiacutedo no decorrer das uacuteltimas deacutecadas de

forma coletiva pela categoria e que se baseia numa perspectiva criacutetica de anaacutelise e

atuaccedilatildeo social Para Braz(2007) essa massificaccedilatildeo no acesso ao ensino superior da

forma como tem se materializado repercute em termos quantitativo e qualitativo na

formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) visto que em aproximadamente

dez anos o nuacutemero de profissionais ativos dobraraacute44 aleacutem da duvidosa qualidade na

formaccedilatildeo a distacircncia dessa maneira rebatimentos negativos pode se verificar

No acircmbito do exerciacutecio profissional que quando desqualificado vulnerabiliza a imagem da profissatildeo no sentido de sua desvalorizaccedilatildeo na sociedade aleacutem de pressionar para baixo as jaacute desfavoraacuteveis condiccedilotildees de trabalho [ainda] uma formaccedilatildeo profissional pouco qualificada tende a dificultar a formaccedilatildeo de novos quadros teoacutericos e poliacuteticos para o projeto profissional(BRAZ 2007 09)

Preocupaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees da difusatildeo de graduaccedilatildeo agrave distacircncia

para o projeto profissional do Serviccedilo Social tem se tornando imprescindiacutevel e

recorrente nos espaccedilos de discussatildeo da categoria que se expressa tanto no acircmbito

dos foacuteruns profissionais e estudantis como no campo da produccedilatildeo teoacuterica

Essa tendecircncia se verifica em larga medida pelo fato de que a poliacutetica

educacional na recente conjuntura nacional tem amplamente se adequado ao projeto

neoliberal privatizante como se manifesta na proliferaccedilatildeo da graduaccedilatildeo agrave distacircncia

Esta coloca em risco a formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do

Serviccedilo Social que conforme elucidativa explanaccedilatildeo de Boschetti natildeo oferece uma

formaccedilatildeo caracterizada pela

Indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo processo formativo baacutesico com perspectiva de totalidade e apreensatildeo criacutetica da realidade ensino do trabalho [] em vaacuterios momentos do processo formativo em vaacuterias disciplinas realizaccedilatildeo de estaacutegio presencial com articulaccedilatildeo estreita entre o acompanhamento do supervisor acadecircmico e de campo realizaccedilatildeo de pesquisa e investigaccedilatildeo como princiacutepio formativo que deve perpassa todo o curriacuteculo acesso aacute bibliografia de qualidade natildeo apenas a textos

44 Baseado em dados do CFESS o autor afirma que existem atualmente no Brasil um total de 74500 profissionais ativos

104

baacutesicos de sala de aula mas ao universo de possibilidades de leitura e conhecimento que se descortina no acesso as bibliotecas((2008 p09)

O entendimento das preocupaccedilotildees de Braz e Boschetti se torna

transparente quando se apreende as contradiccedilotildees de classe que fundam e

perpassam a atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social na sociabilidade capitalista

Boschetti (2007 2008) como assinalado anteriormente ao formular

reflexotildees sobre os rebatimentos da contra-reforma para a formaccedilatildeo e exerciacutecio

profissionais sinaliza preocupaccedilotildees relacionadas ao ensino agrave distacircncia tais como

ausecircncia de uma poliacutetica de estaacutegio sintonizada com as Diretrizes Curriculares

problemas de infra-estrutura falta de encontros presencias entre outros elementos

levantados pela autora e que satildeo fundamentais para uma formaccedilatildeo de qualidade

A recente pesquisa da ABEPSS indica que as principais dificuldades na

implementaccedilatildeo das Diretrizes por parte das unidades de ensino satildeo as de ordem

teoacuterico-metodologico que se remetem a transversalidade dos conteuacutedos o domiacutenio do

conteuacutedo do ementaacuterio e entendimento da nova loacutegica curricular A partir dos dados

obtidos a entidade indica desafios enfrentados na materializaccedilatildeo das diretrizes quais

sejam

garantia do tratamento transversal da questatildeo social nas disciplinas de FHTMSS garantia de unidade entre histoacuteria teoria e meacutetodo na grade curricular domiacutenio de categorias fundamentais das diferentes matrizes teoacutericas que subsidiam a praacutetica profissional apreensatildeo de categorias pertencentes ao quadro referencial de Marx e tradiccedilatildeo marxista aprofundamento do conhecimento histoacuterico do contexto social econocircmico e poliacutetico brasileiro por parte de docentes e discentes garantia da transversalidade de processos investigativos e interventivos na formaccedilatildeo profissional articulados aos componentes curriculares compreensatildeo histoacuterica da profissatildeo respaldada em uma concepccedilatildeo criacutetico-dialeacutetica (ABEPSS 2008 188)

Outra dado que nos chama a atenccedilatildeo eacute o fato da sobrecarga vivenciada

pelos docentes de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas ter sido apontada como uma real

dificuldade na implantaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares situaccedilatildeo que revela a tendecircncia

de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho no acircmbito universitaacuterio A insuficiecircncia de

recursos tambeacutem eacute indicada como uma barreira enfrentada no cotidiano das

instituiccedilotildees

Portanto eacute relevante (re)afirmar que a contra-reforma nos moldes como

vem sendo materializado no paiacutes contribui incisivamente para enfraquecer a

proposta de processo formativo comprometido com a construccedilatildeo de um perfil

105

profissional interpretativo crtico e investigativo perspectiva defendida e expressa nas

Diretrizes Curriculares de 1996

importante esclarecer que em 2002 ainda no governo FHC

modificaes legais foram aprovadas nas Diretrizes Curriculares para o curso de

Servio Social que retiram ganhos da proposta original elaborada pela ABEPSS Foi

instituda como uma das competncias e habilidades gerais para o(a) assistente

social a utilizao de recursos da informtica no que a utilizao de recursos

tecnolgicos no seja importante para o exerccio profissional mas a tendncia

verificada com esta medida de direcionar a formao para o vis tecnicista em

detrimento da capacitao terico-metodolgica e tico-poltica visto que se

processou o no estabelecimento do texto legitimado pela categoria uma vez que o

contedo original no estabelecia a necessidade da utilizao de recursos da

informtica preconizava o compromisso do(a) assistente social com os valores e

princpios norteadores do cdigo de tica outras regresses so abordadas por

Iamamoto(2002 p22)

Assim no projeto original encaminhado ao CNE que a formao profissional deve viabilizar uma capacitao terico-metodologico e tico-poltica como requisito fundamental para o exerccio de atividades tcnico-operativas com vistas apreenso crtica dos processos sociais na sua totalidade anlise do movimento histrico da realidade brasileira apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no pas Tais objetivos supra destacados foram eliminados do texto legal E os tpicos de estudos foram totalmente banidos do texto oficial para todas as especialidades Eles consubstanciavam o detalhamento dos contedos curriculares anunciados nos trs ncleos de fundamentao[] esse corte significa na prtica a impossibilidade de se garantir um contedo bsico comum formao profissional no pas mais alm dos trs ncleos organizadores da estrutura curricular O contedo da formao passa a ser submetido livre iniciativa das unidades de ensino pblicas e privadas desde que preservados os referidos ncleos

Para a ABEPSS(2008) as modificaes realizadas pelo CNE ldquotendem a

reducionismos terico-metodolgicos e desvios tico-polticos da formao

Profissionalrdquo(p05) O que por sua vez pode implicar na construo de cursos

destoantes da direo social defendida pelas diretrizes de 1996

Pereira(2007) ao discorrer sobre a mercantilizao do ensino superior na

era FHC evidencia dados importantes que expressam a crescente ofensiva do capital

nesse setor Especificamente em relao ao Servio Social a autora destaca que de

1930 a 1994 existiam 74 cursos sendo 47 privados e 27 pblicos evidenciado que

mesmo numa conjuntura no neoliberal a formao de assistentes sociais se dava

106

predominantemente em instituiccedilotildees privadas setor que abrangia aproximadamente

64 dos cursos no Brasil relaccedilatildeo expressa no graacutefico 4

Graacutefico 4

Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-1994)

Fonte Pereira (2007)

Durante as duas gestotildees de FHC(1995- 2002) foram criados 49 novos

cursos de Serviccedilo Social destes somente cinco em instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas o que demonstra o compromisso desse governo com o setor privado

conforme demonstraccedilatildeo abaixo

O relatoacuterio final da pesquisa da ABEPSS sugere que no periacuteodo de 1980

e 1994 houve uma reduccedilatildeo na criaccedilatildeo de cursos de Serviccedilo Social no paiacutes realidade

alterada na segunda metade da deacutecada de 1990 na qual se verificou uma expansatildeo

significativa de cursos inseridos sobretudo na iniciativa privada

107

Graacutefico 5 Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1995-2002)

Fonte Pereira(2007)

Os dados do graacutefico 5 indicam uma forte tendecircncia de crescimento de

cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1995-2002 uma expansatildeo sobretudo da

esfera privada responsaacutevel por praticamente 90 dos cursos criados Diante do

exposto se sustenta a concepccedilatildeo que FHC disponibilizou amplamente o ensino

superior para rentabilidade do capital No quadro1 temos um demonstrativo da

distribuiccedilatildeo dos cursos em relaccedilatildeo agrave natureza das instituiccedilotildees antes e durante a era

FHC na presidecircncia da repuacuteblica

A reduzida quantidade de cursos em instituiccedilotildees puacuteblicas eacute preocupante

tanto pelo niacutetido processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira como pela

questionada qualidade do ensino ofertado na maioria das instituiccedilotildees privadas Como

abordado anteriormente a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo formatada pela categoria subjaz

um processo qualificado com vistas ao exerciacutecio profissional sintonizado com o

desafiante projeto profissional que nos remete ao desvendamento das contradiccedilotildees

dessa sociabilidade o que por sua vez potencializa a apreensatildeo dos limites e

possibilidade existente no cotidiano de atuaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais

108

Quadro 1Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-2002)

Fonte Pereira (2007)

Partindo de dados apresentados por Pereira(2007) temos a conclusatildeo de

que ateacute o iniacutecio do governo Lula existiam no paiacutes 123 cursos de Serviccedilo Social num

total de 91 em instituiccedilotildees privadas e 32 cursos puacuteblicos Pois bem conforme os

dados do INEP em agosto de 2008 existem no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social

Daiacute conclui-se que soacute em parte desse periacuteodo de Lula na presidecircncia da repuacuteblica

foram criados 179 novos cursos e desses temos o alarmante nuacutemero de 169 na

iniciativa privada e a reduzida quantidade de 19 cursos na esfera puacuteblica

Demonstramos essa relaccedilatildeo nos graacuteficos 6

Graacutefico 6

Criaccedilatildeo de Cursos de Serviccedilo Social (2003 - agosto de 2008)

FonteINEP(2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

Total 91 74 32 26 123

109

Daiacute temos o percentual de 6375 de cursos privados e de 3725

puacuteblicos embora seja um percentual menor que o observado na era FHC o graacutefico 6

propotildee que eacute real a tendecircncia de continuidade da poliacutetica educacional do governo

Lula em relaccedilatildeo ao seu antecessor Isso significa a permanecircncia majoritaacuteria de cursos

de Serviccedilo Social na esfera privada No graacutefico 2 disponibilizado no item anterior

desse trabalho destacamos que a maioria das intuiccedilotildees privadas natildeo satildeo

universidades o que nos remete a reflexatildeo que parte significativa da formaccedilatildeo de

assistentes sociais natildeo se processa em universidade portanto em ambientes

caracterizados pela dissociaccedilatildeo entre ensino pesquisa e extensatildeo contrariando o

projeto de formaccedilatildeo pautado pela ABEPSS e defendido pelo CFESS e a ENESSO

Quadro 2

Cursos de Serviccedilo Social (1930-2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

2003-82008 160 6375 19 3725 179

Total 251 8394 51 1606 302

FONTE Pereira (2007) INEP(2008)

O quadro 2 apresenta uma siacutentese dos dados trabalhados ateacute o momento

e a partir dele constatamos que nos trecircs periacuteodos destacados eacute predominante a

existecircncia de cursos de Serviccedilo Social na esfera privada Levando-nos a refletir que

mesmo diante dessa realidade a categoria com ampla influencia dos profissionais que

atuam na academia foi protagonista na formulaccedilatildeo de um projeto profissional

indubitavelmente defensor de direitos estes que soacute podem ser materializados na

esfera puacuteblica caso contraacuterio perdem esse caraacuteter

110

Os dados expressam certamente o aumento consideraacutevel do ensino

superior no paiacutes entretanto natildeo se trata de democratizaccedilatildeo desse niacutevel educacional

antes se constitui um processo de massificaccedilatildeo voltado ao atendimento das

exigecircncias dos organismos que representam os interesses do capital Portanto a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute com a qualidade nem tampouco com a democratizaccedilatildeo do

conhecimento produzido como eacute possiacutevel de se observar a partir do crescimento

consideraacutevel da iniciativa privada Outra faceta revelada pelos dados eacute a tendecircncia

de continuidade por parte do governo Lula da poliacutetica educacional efetivada durante as

gestotildees de FHC de incentivos a sua mercantilizaccedilatildeo transfigurando direito em

mercadoria rentaacutevel Expressa sem duacutevidas o acelerado processo de criaccedilatildeo de

cursos de Serviccedilo Social no Brasil nos uacuteltimos anos e especialmente na esfera

privada o que certamente constitui implicaccedilotildees dos incentivos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia visto que parte significativa desta modalidade eacute ofertada no acircmbito privado

Do nosso ponto de vista reflexotildees que tenham como horizonte a atuaccedilatildeo

do ME e em particular o MESS devem considerar as profundas modificaccedilotildees em

processo de materializaccedilatildeo nos espaccedilos de formaccedilatildeo profissional entretanto natildeo de

maneira endoacutegena pois o entendimento dessas alteraccedilotildees soacute pode ser apreendido

situando-as no movimento mais abrangente da sociabilidade capitalista

111

ldquoA revoluo acontece atravs do homem mas o homem tem de forjar dia a dia o seu esprito revolucionriordquo (Che Guevara)

ldquoAlgo s impossvel at que algum duvide e acabe provando ao

contrriordquo (Albert Einstein)

A argila fundamental de nossa obra a juventude Nela depositamos todas as nossas esperanas e a preparamos para receber idias para moldar nosso

futuro (Che Guevara)

112

V UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

Analisamos o perfil dos(as) militantes que estiveram na direo nacional da

ENESSO no perodo de 2003-2008 com o objetivo de construmos mediaes

relacionadas dimenso geracional o que implica consideraes relativas a aspectos

sociais polticos econmicos e culturais desses(as) sujeitos45 Para elaborao do

perfil utilizamos informaes concedidas por 22 coordenadores(as) nacionais que

responderam o questionrio durante a produo de dados para esta pesquisa

Conforme o quadro 3 expressivo a presena de pessoas na faixa de 26

a 30 anos na direo da entidade com o percentual de 41 contudo os dados

sugerem que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO se situam na faixa

etria de 21 a 25 anos correspondendo a 50 Os nmeros ratificam que o MESS

consiste num movimento social composto sobretudo pela juventude brasileira que

enfrenta um contexto radicalizado por crises e instabilidades que geram incertezas no

presente e futuro Um cenrio no qual a concluso do curso universitrio no consiste

em garantia de entrada dos(as) jovens no mercado de trabalho com condies dignas

para desempenhar as atividades profissionais Vivenciamos um perodo de

radicalizao da crise do capital em que o desemprego se configura como uma de

suas manifestaes mais drstica e perversa para aqueles(as) que necessitam vender

sua fora de trabalho para sobreviver Assim deixado a margem do mercado formal

milhes de trabalhadores(as) antes empregados(as) o que por sua vez ocasiona

incertezas e desespero nas pessoas em processo de formao profissional e que

objetivam a sua insero na esfera formal do mercado de trabalho Segundo dados

socializados por Iamamoto no Brasil

O ndice dos empregados sem carteira assinada passa de 211 em 1995 para 242 do total de ocupados em 2003 somando os empregados sem carteira assinada e os trabalhadores por conta prpria a participao desses segmentos no total da ocupao eleva-se para 455 no mesmo ano perfazendo o contingente da populao economicamente ativa que se encontra na informalidade(2008 p37)

45 Como j ressaltado na introduo desse trabalho os dados concernentes ao perfil dos(as) dirigentes foram obtidos mediante o envio de questionrio para os sujeitos inseridos(as) no universo da pesquisa

113

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Faixa etaacuteria Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

15 a 20 1 4521 a 25 11 5026 a 30 9 41

Acima de 30 1 45Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Ramos(1996) na pesquisa efetivada sobre o MESS construiu o perfil

dos(as) dirigentes da SESSUNEENESSO nos anos de 1988 a 1995 Naquele

periacuteodo os(as) jovens na faixa etaacuteria de 21 a 25 anos tambeacutem predominavam na

direccedilatildeo da entidade com o percentual de 666 Essa autora analisa que o

protagonismo de jovens nessa entidade estudantil evidencia preocupaccedilotildees desse

segmento com as problemaacuteticas sociais e poliacuteticas do Brasil

No tocante a dimensatildeo de gecircnero a maioria dos(as) coordenadores(as)

que ocuparam a direccedilatildeo nacional da ENESSO satildeo do sexo feminino Baseando-nos

na quantidade de questionaacuterios respondidos 15 informaram ser do sexo feminino e 7

do masculino de tal forma que temos o percentual de 68 de mulheres e 32 de

homens

Esse percentual reflete o fato do Serviccedilo Social ser uma profissatildeo

constituiacuteda predominantemente por mulheres o que repercute certamente na

ocupaccedilatildeo das entidades que a representa Para Iamamoto

Uma categoria profissional predominantemente feminina uma profissatildeo tradicionalmente de mulheres e para mulheres A condiccedilatildeo feminina eacute um dos selos da identidade desse profissional o que natildeo implica desconhecer o contingente masculino de assistentes sociais com representaccedilatildeo nitidamente majoritaacuteria no conjunto da categoria profissional no paiacutes Com tal perfil o assistente social absorve tanto a imagem social da mulher quanto as discriminaccedilotildees a ela imposta no mercado de trabalho (p104 2006)

Essas discriminaccedilotildees satildeo apreendidas tambeacutem no acircmbito da poliacutetica Da

atuaccedilatildeo nos MS e aqui em particular no MESS Como eacute possiacutevel verificarmos essa

condiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo A nossa pesquisa natildeo tem o propoacutesito de responder a tais

questionamentos mas certamente essas satildeo inquietaccedilotildees que surgem com a

produccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo dos dados

114

A partir de documentos produzidos pela coordenao nacional da

entidade nos quais constam a relao de seus(suas) dirigentes foi possvel chegar

totalidade dessa relao Conforme esse levantamento dos(as) 35 Coordenadores(as)

que abrange o recorte temporal da pesquisa temos um total de 24( vinte e quatro)

mulheres e 11(onze) homens o equivalente a 69 e 31 respectivamente

No tocante a questo tnico-racial do total de dirigentes que responderam

o questionrio 9 afirmaram ser afro-brasileiros(as) 4 pardos(as) e 9 brancos(as)

dados demonstrados no grfico 7

Grfico 7Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de 2003-

2008

41

41

18

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

De tal modo somando-se a quantidade de afro-brasileiros(as) e

pardos(as) temos uma sobreposio em relao aos(as) militantes brancos(as)

Analisando as opes de resposta em separado verificamos que o percentual sugere

que a quantidade de estudantes afros e brancos(as) igualitria na direo da

ENESSO Aparentemente pode se pensar que os nmeros disponibilizados no

grfico 7 contrariam a realidade de opresso e discriminao pela qual passa a

populao afro-brasileira no pas e que certamente dificultam a sua entrada no ensino

superior Conforme Castro (2008 p248)

A partir das lutas dos movimentos tnicos afro-brasileiros a discriminao racial no Brasil camuflada sob o manto da dita ldquodemocracia racialrdquo comea a ser reconhecida Os debates em torno da desigualdade racial vm contribuindo para alertar a sociedade

115

sobre a necessidade das poliacuteticas afirmativas cujo objetivo eacute igualar a oportunidade atraveacutes de mecanismos reparadores de discriminaccedilatildeo e desigualdade social de raccedila de gecircnero de idade e de origem

Diante do exposto analisamos que os dados provenientes do questionaacuterio

podem representar o direcionamento de que os(as) estudantes de Serviccedilo Social

pertencem cada vez mais a segmentos oprimidos nesta sociabilidade o que requer

reflexotildees sobre a condiccedilatildeo de permanecircncia dos(as) estudantes no ensino superior e o

aprofundamento das complexas relaccedilotildees entre inserccedilatildeo de classe social educaccedilatildeo e

questatildeo eacutetnico-racial

O quadro 4 trata da religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO Aqui eacute

necessaacuterio fazermos uma observaccedilatildeo quanto agraves opccedilotildees colocadas no questionaacuterio

Inicialmente apoacutes recebimento dos dados consideramos um equiacutevoco a natildeo

colocaccedilatildeo da opccedilatildeo nenhuma religiatildeo no intuito de corrigimos o erro citado

reenviamos outro email para as pessoas que natildeo responderam a esta questatildeo e para

os(as) que indicaram a opccedilatildeo outra religiatildeo ainda assim apreendemos que o

percentual de 32correspondente a escolha de outra religiatildeo possa refletir esse

equivoco visto que nem todos(as) responderam ao segundo email que indagava

somente sobre a problemaacutetica da religiatildeo Mesmo diante dessa dificuldade a

obtenccedilatildeo dos dados nos possibilita sinalizar que no tocante a religiatildeo os(as) ex-

militantes da ENESSO tem uma postura de negaccedilatildeo das religiotildees dominantes como o

catolicismo e o protestantismo tendecircncia que se vislumbra nos percentuais de 14 e

4 respectivamente A questatildeo da religiatildeo eacute importante dada a apreensatildeo que

direcionamentos sobretudo da igreja catoacutelica e de igrejas situadas no campo do

protestantismo se contrapotildeem aos princiacutepios norteadores da profissatildeo

QUADRO 4Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Religiatildeo Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Catoacutelica 4 18

Espiacuterita 2 9

Nenhuma 5 23

Natildeo respondeu 3 14

Outra 7 32

Protestante 1 4

Umbanda 0 0

116

Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

A sexta questatildeo do questionaacuterio indagava em que tipo de instituiccedilatildeo os

ex-militantes da ENESSO realizaram o ensino meacutedio se predominantemente em

escola puacuteblica ou privada Mediante os dados obtidos 15 afirmaram ter estudado em

escolas puacuteblicas que se concretiza no percentual de 68 e em escolas particulares

representando um total de 32

Esses dados diferem um pouco dos nuacutemeros obtidos por Ramos(1996)

quando os mesmos sinalizaram que existia equiliacutebrio na natureza das instituiccedilotildees de

ensino nas quais foram realizado o ensino meacutedio dos(as) dirigentes da ENESSO do

periacuteodo de 1988-1995 Essa mudanccedila pode refletir mais uma vez a tendecircncia de

origem subalternizada de estudantes de Serviccedilo Social no paiacutes em que eles(as) natildeo

deteacutem condiccedilotildees de financiar seus estudos em escolas privadas nem tecirc-las mantidas

por seus familiares

Em contrapartida os dados sugerem o esforccedilo desses(as) estudantes em

ingressar no ensino superior apresentando uma trajetoacuteria de estudos na esfera

puacuteblica esta que enfrenta dificuldades na cena contemporacircnea de ordem objetiva e

subjetiva como por exemplo a sobrecarga dos(as) professores(as) a necessidades

de maiores investimentos incentivos a capacitaccedilatildeo dos(as) profissionais entre outras

Essa relaccedilatildeo de sobreposiccedilatildeo do puacuteblico em relaccedilatildeo ao privado se

confirma tambeacutem quando perguntamos sobre a instituiccedilatildeo na qual foi realizada a

graduaccedilatildeo de acordo com a obtenccedilatildeo de dados dos(as) 22 coordenadores(as)

nacionais que responderam o questionaacuterio 14 satildeo oriundos(as) de cursos de

universidades puacuteblicas o que implica um percentual de 64 e 8 da esfera privada o

equivalente a 36

Diante dessas constataccedilotildees fazemos o seguinte questionamento Embora

com a sobreposiccedilatildeo de cursos privados de Serviccedilo Social e por conseguinte de

estudantes nesse setor por que na executiva temos uma ocupaccedilatildeo maior de

militantes originaacuterios(as) de universidades puacuteblicas Essa perspectiva foi salientada

por um(a) entrevistado(a) como uma das dificuldades enfrentadas durante a sua

gestatildeo na ENESSO

A gente inicia os anos 90 com a grande privatizaccedilatildeo do ensino superior e isso eu acho que eacute uma dificuldade do Movimento Estudantil [] Que eacute chegar ateacute as instituiccedilotildees privadas neacutefazer com que o movimento estudantil exista nesses espaccedilos seja pela repressatildeo que tem seja porque neacute Noacutes temos dificuldades enquanto militantes de estaacute presente em todos os espaccedilos(Urano)

117

Essa dificuldade de atuaccedilatildeo do MESS em particular da Executiva

tambeacutem foi por salientada por Neturno na passagem em que explicita o

desenvolvimento de atividades voltadas para o enfrentamento dessa problemaacutetica

Entatildeo a gente relanccedila um documento que jaacute tinha lanccedilado anteriormente eacute que eacute uma cartilha construa Ca e Da principalmente para priorizar a construccedilatildeo de centro acadecircmico de diretoacuterio acadecircmico dentro das universidades particulares porque eacute um local onde tem uma restriccedilatildeo maior de acesso aos movimentos sociais a entrada da executiva em algumas universidades eacute questionada eacute barrada haacute empecilho para construccedilatildeo de mobilizaccedilatildeo interna dentro das universidades particulares(NETURNO)

Consideramos que os dados publicizados e a fala dos(as)

entrevistados(as) refletem a existecircncia de maior autonomia e liberdade de organizaccedilatildeo

dos(as) estudantes nas universidades puacuteblicas mesmo tendo a apreensatildeo que

existem tentativas dos setores dominantes em criminalizar os MS nos mais

diversificados espaccedilos e incluindo aqui o ME temos o entendimento que essas

iniciativas satildeo mais frequumlentes e fortes no acircmbito de organizaccedilotildees na esfera privada o

que por sua vez proporciona uma fragilizaccedilatildeo da atuaccedilatildeo estudantil nesse setor

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute que mesmo diante da expansatildeo de cursos de

Serviccedilo Social em diferentes tipos de Instituiccedilotildees de Ensino como Faculdades

Isoladas Centros entre outras de 2003-2008 podemos afirmar que os(as) militantes

que assumiram a coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO estudavam majoritariamente

em universidades puacuteblicas ou privadas do total de 35 coordenadores(as) somente

dois(duas) estavam inseridos(as) em centros universitaacuterios correspondendo a um

percentual de 94 e 6 respectivamente O que reafirma a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

universitaacuterio no sentido poliacutetico e pedagoacutegico presencial da formaccedilatildeo profissional

caracterizado pelo confronto de ideacuteias da troca de conhecimento da existecircncia de

ensino mas tambeacutem de pesquisa e extensatildeo para possibilidade da formaccedilatildeo critica

dos(as) estudantes

Analisando a totalidade de dados mediante apreensatildeo em documentos

desses(as)35 coordenadores(as) que significa o total de estudantes que ocuparam os

cargos nacionais da entidade no periacuteodo delimitado pela pesquisa temos o resultado

de 19 dirigentes de universidades puacuteblicas o que representa um percentual de 54 e

16 advindos(as) de instituiccedilotildees privadas ou seja 46 Dessa forma podemos admitir

que os nuacutemeros obtidos a partir do questionaacuterio apontam o real pois a afirma a

tendecircncia de uma porcentagem maior de graduandos(as) de universidades puacuteblicas

118

Entretanto levando-se em consideraccedilatildeo o numero total de militantes e natildeo soacute

aqueles(as) que responderam o questionaacuterio a diferenccedila entre os(as) estudantes de

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas descresse Essa perspectiva se diferencia dos dados

sinalizados na pesquisa de Ramos quando ela apontou uma expressiva dominacircncia

de militantes de universidades puacuteblicas na direccedilatildeo nacional da entidade nos anos de

1988 a 1995

Eacute interessante enfatizar ainda que apesar de parte significativa dos(as)

militantes serem provenientes de instituiccedilotildees puacuteblicas a accedilatildeo da Executiva deve

considerar os diferentes espaccedilos em que se encontram os(as) estudantes de Serviccedilo

Social visto que como salientado no capitulo 4 desse trabalho existe uma forte

predominacircncia de cursos na aacuterea privada o que pode explicar inclusive a gradativa

participaccedilatildeo de estudantes de instituiccedilotildees privadas nas coordenaccedilotildees nacionais da

ENESSO

Outro aspecto considerado nessa investigaccedilatildeo se remete a inserccedilatildeo

desses sujeitos no mercado de trabalho Nesse sentido os dados sinalizam que 17

dirigentes ou 77 dos(as) entrevistados(as) desenvolviam alguma atividade

remunerada De tal forma reafirmamos que cada vez mais os(as) estudantes

brasileiros(as) satildeo trabalhadores(as) e sujeitos preocupados(as) com a garantia de

suas condiccedilotildees objetivas durante a graduaccedilatildeo o que representa uma reduccedilatildeo de

tempo para o desempenho das atividades e vivecircncias acadecircmicas Essa dimensatildeo

pode tambeacutem ser apreendida em uma das falas de nossos(a) entrevistados(a)

quando comentava sobre as dificuldades enfrentadas durante a gestatildeo em que

participou da ENESSO

a questatildeo financeira pesa muito a maioria dos estudantes de serviccedilo social satildeo oriundos da classe trabalhadora e temos dificuldades de participar dos espaccedilos de ir para congresso ir para encontros de estudantes []eu acho que existe hoje uma grande numero de encontros no serviccedilo social tanto do ME quanto da categoria entatildeo os estudantes acabam priorizando algum encontro que ele vai participar(Terra)

Quanto agraves formas de inserccedilatildeo no mercado de trabalho temos a indicaccedilatildeo

de que os(as) 17 militantes que responderam positivamente todos(as) realizavam

estaacutegio remunerado nos mais diversificados espaccedilos e na atuaccedilatildeo das poliacuteticas

119

sociais sendo que trecircs aleacutem do estaacutegio trabalhavam em outras instituiccedilotildees46 e um(a)

militante informou que desenvolvia atividades autocircnomas

Quanto a renda mensal da famiacutelia as opccedilotildees mais indicadas pelos ex-

militantes foi entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos o que equivale a aproximadamente mil e

setecentos reais47 seguida da opccedilatildeo entre 5 e 6 salaacuterios o que corresponde a pouco

mais de dois mil e quinhentos reais As trecircs primeiras opccedilotildees que vai de 1 a 6

salaacuterios englobou portanto 73 dos sujeitos Dessa maneira acreditamos que os

dados do Quadro 5 demonstram que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO

satildeo provenientes dos segmentos do trabalho

A partir do cruzamento dos dados obtidos sinalizamos que os(as) dois

(duas) sujeitos que informaram ter um renda mensal entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos o

que remete a menos de mil reais mensal correspondem a dirigentes que aleacutem do

estaacutegio desempenhavam outras atividades remuneradas O que reforccedila cada vez

mais a tendecircncia dos(as) estudantes principalmente os(as) oriundos da classe

trabalhadora mais pauperizada de ao chegar no ensino superior assumirem a

responsabilidade pela sua manutenccedilatildeo acadecircmica Por outro lado dos(as) cinco

militantes estudantis que natildeo tiveram nenhuma forma de inserccedilatildeo no mercado de

trabalho dois(duas) deles(as) tem uma renda mensal acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

expressando a condiccedilatildeo financeira de seus familiares na manutenccedilatildeo de sua vida

acadecircmica Entretanto eacute importante frisar que esses mesmos sujeitos estudaram o

ensino meacutedio em instituiccedilatildeo privada e o ensino superior em universidades puacuteblicas

QUADRO 5Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Renda mensal Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos

8 36

Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos

6 27

Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 9 e 10 salaacuterios-miacutenimos

1 5

46Alguns dos espaccedilos de realizaccedilatildeo dos estaacutegios foram Empresa de saneamento baacutesico SESC instituiccedilatildeo de defesa dos direitos da crianccedila e do adolescente prefeituras Ministeacuterio Puacuteblico secretarias de habitaccedilatildeo Central Permanente de Acolhimento entre outros As pessoas que trabalharam em outras atividades aleacutem do estagio foram ministrando aulas47 Valores considerando o salaacuterio de R$ 415 00 que esteve vigente no Brasil ateacute fevereiro de 2008

120

Acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

3 14

Total 22 Total 100

Outra questatildeo respondida pelos dirigentes da ENESSO correspondeu a

sua inserccedilatildeo ou natildeo em organizaccedilatildeo coletiva antes de ser militante do MESS

Conforme demonstraccedilatildeo no graacutefico 8 dos(as) 22 dirigentes que contribuiacuteram nessa

pesquisa 15 deles(as) asseveraram ter experiecircncia no acircmbito da organizaccedilatildeo

coletiva anterior a militacircncia no ME universitaacuterio o que por sua vez representa um

percentual de 68 destacando que seis dirigentes que responderam positivamente

elencaram participaccedilatildeo em mais de um espaccedilo de atuaccedilatildeo

GRAacuteFICO 8Participaccedilatildeo em organizaccedilatildeo coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO antes da

inserccedilatildeo no MESS

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

No quadro abaixo expressamos todos os espaccedilos citados pelos sujeitos

com a perspectiva de sinalizar as vivecircncias de organizaccedilatildeo dos(as) dirigentes da

ENESSO antes de sua accedilatildeo no MESS Assim temos indicaccedilotildees em que espaccedilos

ocorreram essa atuaccedilatildeo

121

QUADRO 6Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes de

sua inserccedilatildeo no MESS

Organizaccedilatildeo citada pelos dirigentes Nuacutemero de dirigentes que citaram a organizaccedilatildeo

Movimento Estudantil Secundarista 9Partido Poltico 3Movimento de Mulheres 1Movimento da Economia Solidria 1Grupo de Jovens da Igreja Catlica (juventude Catlica)

2

Grupo Hora da Verdade 1Movimento Comunitrio 2Grupo de Adolescentes do Centro de Voluntariado (vinculado ao Movimento de Adolescentes Brasileiros)

1

Terceiro Setor 1

Grupos 1

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

Dos dados citados no Quadro 6 apreendemos que a vivncia no

Movimento Estudantil Secundarista constitui um espao relevante na formao

poltica dos(as) dirigentes da ENESSO visto ter sido a experincia mais destacada

por eles(as) antes de sua insero na universidade e por conseguinte no MESS Dos

nove estudantes que indicaram a participao no Movimento Secundarista seis

provenientes de escolas pblicas e trs oriundos(as) de escolas privadas Nesse

sentido os dados podem indicar que o Movimento Estudantil Secundarista apresenta-

se mais atuante nas escolas pblicas

Conforme a investigao de Ramos(1996) independente da natureza da

instituio na qual os(as) dirigentes estudaram no ensino mdio eles(as) tiveram

vivncias no ME secundarista bem como em outros espaos de organizao coletiva

o que ldquo possibilita a busca de formas polticas de participao na universidaderdquo (p90)

interessante considerarmos a diversidade e natureza de espaos

ocupados(as) pelos dirigentes entretanto diante da simples citao desses no

temos condies de analisar a direo social das entidades e movimentos sociais em

que iniciaram sua participao

122

Antes de chegar a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO todos(as) ex-

dirigentes ou seja o equivalente a 100 dos(as) que responderam o questionaacuterio

passaram por experiecircncia em espaccedilos e entidades do ME universitaacuterio

O quadro 7 tem o objetivo de socializar em que entidades os(as)

estudantes atuaram antes da ENESSO

Quadro 7Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de assumirem

a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

Entidades estudantis Quantidades de estudantes que indicaram a entidade

Conselho de Representantes de Turma (CORETUR)

5

Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico (CA ou DA)

20

Diretoacuterio Central dos Estudantes (DCE)

4

Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO

3

Outras 1

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Importante explicar que dos(as) 2248 ex-dirigentes da ENESSO que

enviaram as suas contribuiccedilotildees 13 tiveram vivecircncia em um uacutenico espaccedilo

predominantemente em CA ou DA 7 em duas entidades49 250 militante com vivecircncia

em trecircs espaccedilos

Diante dos dados estabelecidos anteriormente temos a indicaccedilatildeo que a

passagem do(a) estudante pelo CA ou DA constitui-se uma tendecircncia majoritaacuteria

pois somente dois sujeitos natildeo atuaram nessa entidade antes da experiecircncia na

Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO Acreditamos que essa dimensatildeo representa uma

trajetoacuteria de acumulo e vivecircncias que possibilitam uma atuaccedilatildeo mais qualificada

dos(as) estudantes ao assumirem a direccedilatildeo nacional da executiva Para Ramos(1996

p94)

48 Desses 11 em CA ou DA 1 como CORETUR e outro(a) como membro do DCE 49 As entidades foram 2 de CA ou DA e do DCE 2 atuou no CORETUR e no CA ou DA 2 estudante ocupou cargo no CA ou DA e na Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e finalmente 1 estudante ocupou cargo no CA e em outra entidade citada por ele(a)50 Os espaccedilos foram CORETUR CA OU DA e Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e outro(a) no CORETUR CA OU DA e no DCE

123

A experiecircncia de participaccedilatildeo anterior em outras instacircncias deliberativas e estudantis de base possibilita maior maturidade poliacutetica ao(a) dirigente da entidade nacional pois este(a) jaacute traz um acuacutemulo de vivecircncias coletivas que vatildeo se afirmando cada vez mais no processo de militacircncia

Outro dado relevante eacute que dos(as) 20 estudantes que evidenciaram ter

atuado em CA ou DA 12 desempenharam essa accedilatildeo em universidades puacuteblicas o

equivalente a 60 e 8 em instituiccedilotildees privadas destarte 40

Outro questionamento se referiu agrave filiaccedilatildeo partidaacuteria dos(as) dirigentes da

ENESSO no periacuteodo de 2003-2008 Conforme os dados a predominacircncia eacute de

sujeitos natildeo filiados(as) a partidos poliacuteticos um total de 14 dirigentes o

correspondente ao percentual de 64 Esse expressivo percentual de natildeo filiados(as)

pode corroborar para um processo de fragilizaccedilatildeo na formaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

militantes do MESS e consequumlentemente dos(as) dirigentes da ENESSO Ou reflete

autonomia do Movimente em relaccedilatildeo a partidos poliacuteticos Temos o entendimento que

seja importante a articulaccedilatildeo entre esses sujeitos coletivos e que o partido poliacutetico se

configura como relevante espaccedilo de formaccedilatildeo contudo eacute destruidora a transfiguraccedilatildeo

de Movimentos em correia de transmissatildeo deles seja de partidos situados no campo

da direita ou esquerda Um(a) dos(as) entrevistados(as) considera que

essa relaccedilatildeo movimento estudantil e partido poliacutetico que natildeo soacute tem no movimento estudantil[]eacute importante essa relaccedilatildeo[] o MS ele tem por natureza apenas uma pauta ele surge pra defender uma pauta poliacutetica no caso do MESS pra defender a formaccedilatildeo em serviccedilo social com qualidade e aiacute entra o debate de defender a universidade e defender a educaccedilatildeo publica gratuita de qualidade entatildeo soacute essa dimensatildeo partidaacuteria essa dimensatildeo com esses grupos poliacuteticos faz com que a gente perceba que a nossa pauta tem que ta vinculada haacute uma pauta maior geral de disputa e de um projeto de sociedade entatildeo acho que eacute importante a contribuiccedilatildeo agora fica a gente a compreender que natildeo satildeo momentos tatildeo distintos mais que cada um desses movimentos tem suas peculiaridades Movimento Estudantil Movimento Sociais tem uma peculiaridade assim como o partido cada um tem que conseguir compreender a dinacircmica e da mesma forma que o partido influecircncia o Movimento Estudantil o Movimento Estudantil influecircncia o partido(Urano)

Mediante o cruzamento de dados temos a indicaccedilatildeo que apenas dois ex-

militantes socializaram ter experiecircncia nesse tipo de organizaccedilatildeo antes de sua

entrada no MESS e desse modo anterior a sua gestatildeo na executiva Portanto

mediante os a produccedilatildeo de dados temos que dos(as) 8 que indicaram filiaccedilatildeo

partidaacuteria o equivalente a 36 seis delas ocorreram durante a vivecircncia universitaacuteria

124

o que sinaliza uma trajetoacuteria de articulaccedilatildeo entre essas duas formas de organizaccedilatildeo

coletiva O que explica essa tendecircncia A preocupaccedilatildeo dos(as) militantes com a

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica A procura de outros espaccedilos de militacircncia depois da

vivencia acadecircmica dada a caracteriacutestica de transitoriedade do ME Essas satildeo

questotildees que soacute poderatildeo ser aprofundadas e entendidas com a realizaccedilatildeo de outras

pesquisas e investigaccedilotildees

Um dirigente que manifestou participaccedilatildeo em partido poliacutetico antes de sua

militacircncia no MESS declarou ter se desfilado anterior a vivecircncia universitaacuteria

Ainda eacute importante destacar a seguinte apreensatildeo dos(as) 8 que

responderam positivamente durante a ocupaccedilatildeo de cargo na executiva todos(as)

foram filiados(as) ao PT natildeo sendo nenhum outro partido elencado pelos(as)

dirigentes Essa tendecircncia provoca curiosidades e inquietaccedilotildees sobretudo no sentido

de entendermos o porquecirc de mesmo durante forte investidas de um governo na

perspectiva de minimizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica e de fortalecimento da iniciativa

privada termos esse direcionamento de filiaccedilatildeo ao partido que representa os

interesses governamentais por militantes do MESS e coordenadores nacionais da

ENESSO que historicamente luta em favor da defesa da universidade puacuteblica

gratuita laica e de qualidade no Brasil Ainda eacute significativo salientar o fato de um

dirigente ter afirmado que atualmente se desfilou do PT e passou a atuar no PSTU

Essa hegemonia de filiaccedilatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO ao PT

repercutiu na atuaccedilatildeo da entidade nos acircmbitos de defesa da universidade puacuteblica

gratuita presencial laica e de qualidade e da formaccedilatildeo profissional fundada nas

diretrizes curriculares de 1996 neste contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma do

ensino superior no governo do petista Lula A pesquisa documental e o

aprofundamento de anaacutelises das entrevistas com ex-dirigentes da ENESSO

materializado no proacuteximo item contribuiraacute com o entendimento dessas

problematizaccedilotildees

5-2 UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO

A ENESSO desenvolve suas accedilotildees considerando as deliberaccedilotildees51

aprovadas no encontro nacional no qual eacute manifestado o posicionamento a ser

desenvolvido pela executiva relativa a cinco eixos prioritaacuterios de atuaccedilatildeo Conjuntura

Cultura e Valores Formaccedilatildeo Profissional Movimento Estudantil e Universidade

Importante destacar que essas esferas satildeo divididas em termos didaacuteticos com vista a

51 Atualmente as deliberaccedilotildees satildeo cumulativas e satildeo modificadas quando da necessidade do segmento estudantil

125

facilitar as discusses e aprovaes das deliberaes durante o encontro contudo

so dimenses imbricadas entre si

Nessa dimenso trataremos de evidenciar a partir das decises ratificadas

nos ENESS que engloba o perodo de 2003-2008 bem como nos documentos

produzidos pela ENESSO e na fala dos(as) dirigentes entrevistados(as) o

direcionamento da executiva especialmente nos mbitos da universidade formao

profissional e ME

Dessa maneira o XXV ENESS que ocorreu entre 03 e 08 de agosto de

2003 na cidade de Salvador-BA 52 marcou a existncia de 15 anos da ENESSO As

aprovaes da plenria expressaram o posicionamento contrrio dos(as) estudantes

de Servio Social diante das primeiras medidas pertencentes a contra-reforma do

ensino superior efetivada na gesto do governo petista Nessa perspectiva conforme

o deliberado a ENESSO deveria explicitar o compromisso com uma tendncia de

avaliao contraposta ao SINAES bem como apresentar uma postura crtica e de

negao ao PROUNI o qual estava em processo de discusso e aprovao por parte

do governo A preocupao do segmento estudantil com um processo avaliativo

qualificado se manifesta ao defender a necessidade de

Uma ampla avaliao institucional que se realize antes da avaliao dirigida ao corpo discente considerando as especificidades regionais de cada escola bem como a implementao e aplicao das diretrizes curriculares da ABEPSS Que avalie tambm as condies de acesso e permanncia dos estudantes nas universidades e as condies didticas pedaggicas e estruturais(ENESSO 2003 p03)

As deliberaes referentes ao eixo da formao profissional expressam o

compromisso da ENESSO com a defesa das Diretrizes Curriculares como forma de

potencializar uma formao qualificada e o fortalecimento do projeto tico-poltico do

Servio Social Para tal a plenria presente no XXV ENESS destacou a necessidade

de articulao com as demais entidades de representao e organizao da profisso

a ABEPSS e o CFESS

No eixo que trata especificamente do ME se registra a aprovao de que a

UNE no tocante a contra-reforma do ensino superior no representa os(as)

estudantes de Servio Social entretanto estatutariamente a ENESSO continua

reconhecendo-a como a entidade mxima de articulao e organizao do segmento

no Brasil

52 O tema do ENESS foi ldquoo Servio Social em busca de uma construo coletiva na atual conjuntura brasileirardquo

126

Nitidamente essa contradio poltica em relao a UNE se tornou

recorrente sobretudo nos anos de gesto de Lula na presidncia da repblica uma

vez que a tendncia UJS majoritria na entidade e articulada ao PC do B tem uma

posio de aceitao da contra-reforma do ensino superior levando ao

descontentamento para a base do movimento e provocando at mesmo severos

divisionismos no mbito da organizao estudantil nacional realidade expressa por

exemplo na criao da CONLUTE em 2004

Desse modo a gesto 20032004 ldquoENESSO na luta para fazer a sua

prpria histriardquo estava diante de um significativo desafio desenvolver lutas que

contemplasse as deliberaes contrrias dos(as) estudantes em relao s medidas

adotadas para educao pela gesto Lula um governo forjado no campo dos MS e

que chegou a presidncia amplamente apoiado pelo ME incluindo o MESS Alm

disso como mostraram os dados relacionados ao perfil dos(as) dirigentes da

ENESSO substancial a existncia de coordenadores(as) da entidade filiado(a) ao

PT sendo que em todas as gestes que engloba o perodo aqui estudado se confirma

a presena de pelo menos um(a) militante com essa filiao partidria

Na carta de apresentao da nova gesto confirmado o compromisso

com a efetivao das deliberaes estabelecidas pelo coletivo de estudantes

presentes no ENESS de Salvador a partir do desenvolvimento de aes que

possibilitem o fortalecimento das trs entidades da profisso e a posio de atuar

articuladamente com MS e organizaes sindicais que expressam os interesses da

classe trabalhadora

A ENESSO no perodo 2003-2004 desenvolveu a campanha ldquoAbaixo a

mercantilizao do ensinordquo Esta se desenvolveu a partir da produo de cartazes

textos divulgados em boletins e jornais elaborados pela prpria entidade Nesses

documentos verificamos a argumentao de que a tendncia de transfigurar a

educao em mercadoria consiste num desrespeito ao reconhecimento da educao

como direito e da responsabilidade do Estado na sua promoo tal qual

estabelecido nos artigos 206 e 207 da Carta Constitucional de 1988

importante evidenciar que a segunda edio do jornal produzido na

gesto ldquoENESSO na luta pra fazer a sua prpria histriardquo aborda criticamente os

principais pontos da proposta da reforma universitria que seria viabilizada pelo

recente governo federal Nessa dimenso a anlise apreende o PROUNI como um

caminho que potencializa a retirada de responsabilidade do Estado na manuteno do

ensino superior e fortalece a iniciativa privada como ressaltado no seguinte

entendimento

127

Se o governo quer criar mais vagas no ensino privado( que somos contra) inaceitvel a renuncia fiscal pois dinheiro pblico no arrecadado financiando os tubares do ensino alm disso com ensino de m qualidade sem pesquisa e extenso porque o governo no cria um fundo financiado pelas instituies privadas para financiar a demanda de vagas (ENESSO p01 2004)

Outra manifestao contrria da entidade s medidas propostas pelo

governo federal para serem implementadas na educao superior consistiu na

negao da utilizao do ensino a distncia Nessa abordagem a ENESSO

considerou que segundo dados do IBGE apenas 4 da populao brasileira teriam

acesso ao servio de internet o jornal ainda chama ateno para o fato dessa

modalidade est vinculada a corporaes financeiras o que expressa a preocupao

com a rentabilidade e no com uma educao de qualidade e comprometida com a

melhoria de vida dos sujeitos histricos A entidade finaliza a anlise das proposies

do governo para educao superior afirmando que elas

no atendem aos interesses dos setores que defendem o ensino pblico gratuito e de qualidade Sendo assim apoiando-se em nossas deliberaes que tem como principio a defesa intransigente do carter pblico e gratuito da universidade no podemos aceitar os elementos que vem configurando a chamada reforma universitria que representa o aprofundamento da mercantilizao do ensino(ENESSO p2 2004)

No terceiro e ltimo boletim elaborado na gesto 2003-2004 os seus

dirigentes chamam ateno para as dificuldades enfrentadas pela entidade as

ressalvas so direcionadas sobretudo para falta de recursos financeiros que fragiliza

as aes da ENESSO ao limitar a ida dos(as) coordenadores ao encontros e fruns

estudantis impossibilita ainda a maior produo dos materiais utilizados no

desenvolvimento das atividades e execuo das campanhas lanadas o que por sua

vez significa a no apropriao de estudantes das discusses e das aes efetivadas

pela entidade que os representam nos mais variados espaos

Apesar das dificuldades os(as) dirigentes da ENESSO da gesto 2003-

2004 atribuem ao ME um espao de aprendizado e que contribui para construo de

sujeitos histricos e militantes mais qualificados com apreenso crtica da realidade

social

De 25 a 30 de julho de 200453 aconteceu em Vitria-ES o XXVI ENESS54

em que as pautas aprovadas pelo coletivo de estudantes ratificaram o mesmo

53 A chapa Viver na Luta foi a nica concorrente a direo nacional da ENESSO54 Encontro teve como tema ldquoParticipar construir a histria Atuar tornar sonho ao ousar revolucionar o mundordquo

128

posicionamento do encontro passado uma postura majoritria dos(as) estudantes de

Servio Social de recusar a contra-reforma do ensino superior em curso no Brasil As

deliberaes sinalizam que a nova gesto da ENESSO dever se contrapor ao

SINAES e por conseguinte ao exame direcionado ao segmento estudantil previsto

por esse processo avaliativo no caso o ENADE E nesse sentido tem-se a posio

de que a executiva seja contrria a participao da ABEPSS na comisso de avaliao

preconizada pelo MEC inicialmente essa deciso gera uma relao conflituosa das

entidades quando se aborda a problemtica do SINAES

O compromisso majoritrio do MESS com a universidade pblica se

verificou tambm na realizao do ato pblico durante o ENESS O ato teve o seguinte

tema ldquoEnsino pblico gratuito laico e de qualidade para todos Educao No

mercadoria contra essa proposta de reforma universitriardquo

Diante das observaes sobre as deliberaes decorrentes do XXVI

ENESS constatamos que a atuao da ENESSO no perodo de 20042005

apresentar uma continuidade em relao s lutas e atividades travadas

anteriormente especialmente nos mbitos da universidade e da formao

profissional Nesses termos ainda em 2004 a ENESSO age com o objetivo de

promover o boicote ao ENADE tarefa a ser cumprida pela entidade e que ficou

estabelecida no prprio encontro nacional assim a gesto ldquoViver na Lutardquo realizou

uma campanha nacional destacando a posio da entidade e a necessria postura

poltica de convocar os(as) estudantes de Servio Social a apoiar o boicote ao exame

Segundo dados da prpria ENESSO a campanha obteve xito e o

boicote no dia 07 de novembro de 2004 foi efetivado com sucesso em diversos

cursos chegando adeso de at 90 em algumas instituies de ensino superior

no geral o nmero correspondeu a 60 dos(as) estudantes de Servio Social

selecionados(as) para fazer a avaliao O jornal da entidade divulgado em janeiro de

2005 afirma que o movimento sofreu perseguies em diversas escolas por todo pas

Essa postura evidencia a freqente tendncia de criminalizao dos MS e que entre

outros rebatimentos gera uma imagem distorcida desses sujeitos coletivos frente

maioria da populao brasileira tendo a mdia um participao considervel nesse

mascaramento da contraditria e desigual realidade na sociabilidade capitalista e no

Brasil No mbito especifico do Servio Social Urano da gesto 20042005 indica

tensionamentos com a ABEPSS no processo de boicote ao ENADE o(a) dirigente

ressalva

mas a diretoria da abepss seguia isso a risca que era eles tinha um assento na comisso de avaliao e ns ramos contrrios a essa participao que a abepss defendia naquele momento que os

129

estudantes deveriam fazer o enade ento ns travamos essa discusso dentro da abepss assim como no cfess de levar essa discusso da reforma universitria para dentro dessas outras entidades trazendo elas para luta para pareceria e colocando o que de fato a reforma universitria trazia de implicaes para vida profissional n Para formao profissional ento a gente conseguiu fazer n no foi muito fcil fazer essa articulao porque a abepss tinha um posicionamento contrrio e a de 2004 em diante ficou mais fcil porque foi a gesto do nordeste a gesto da UFPE e um dos compromissos da gesto da UFPE no enpess de 2004 que aconteceu no Rio Grande do Sul era sair da comisso de avaliao do enade e ter um posicionamento critico em relao ao enade

Diante desses resultados fazemos as seguintes reflexes a campanha

desenvolvida expressou o potencial organizativo que a entidade apresenta nesse

cenrio de refluxo dos movimentos sociais A ao foi materializada articuladamente

com outras entidades estudantis E no mbito especfico do Servio Social teve o

apoio da categoria e de suas entidades representativas A avaliao feita pela prpria

entidade favorece a concretizao de algumas reflexes Temos o entendimento que o

ME assim como outros MS atravessa um momento de inflexo e dessa maneira o

boicote ao ENADE tambm sofreu as implicaes dessa conjuntura isso se

manifesta por exemplo no total de 40 de estudantes que no atenderam a postura

poltica de assumir o boicote Isso aconteceu por qu Pelo forte individualismo que

vigora na sociabilidade capitalista Tambm alm disso no mbito do prprio Servio

Social a ABEPSS esteve presente na comisso de elaborao da prova o que de

certa maneira por parte do segmento estudantil contribuiu para uma apreenso de

legitimidade daquela entidade em relao ao ENADE outro aspecto a ser

considerado consistiu nas dificuldades de ordem objetiva que limitou o potencial da

campanha ainda destacamos o fato de que na poca mais de 70 das escolas de

Servio Social se encontravam na esfera privada que majoritariamente utiliza os

resultados obtidos para divulgao de propagandas no competitivo mercado da

educao o que por sua vez dificultou a organizao e mobilizao do segmento

inserido nessas instituies de ensino superior tambm relevante ressaltar que

essa atividade no foi desenvolvida majoritariamente com outras entidades estudantis

e MS portanto executada de modo fragmentado no prprio mbito de organizao do

ME

Os dados sugerem que a gesto ldquoviver na Lutardquo 20042005 atuou tendo

como foco central de suas aes a discusso sobre as Diretrizes Curriculares A

principal campanha da gesto ldquocontra essa reforma do ensino superior do governo

Lula em defesa das nossas diretrizes curriculares- a ENESSO somos todos nsrdquo No

mesmo jornal que analisa os resultados do ENADE a gesto plubiciza de maneira

130

sucinta o processo que culminou na elaborao das referidas diretrizes Ainda tratou

de destacar os rebatimentos da lgica mercadolgica para a fragilizao da formao

profissional do(a) assistente social

Em abril de 2005 a entidade produziu um boletim sobre a reforma

universitria e a formao profissional no qual argumentava que as medidas de

destruio da universidade pblica no Brasil j estavam em curso desde a dcada de

1990 Nessa dimenso a ENESSO problematiza a no aprovao por parte do MEC

da proposta de currculo elaboradas pela ABEPSS e aprovada pela categoria em

novembro de 1996 Diante do exposto tem se a concluso que aes do governo

Lula como o PROUNI e o SINAESENADE consistem em um processo de concluso

da poltica privatista iniciada nos governos anteriores e sobretudo na era FHC

O texto ainda faz referncia crtica ao posicionamento de aceitao da

contra-reforma do ensino superior por parte da UNE Contudo a postura de rejeio

da ENESSO no significa a negao da importncia dessa entidade estudantil na

trajetria brasileira Utilizando tal argumentao gesto ldquoviver na Lutardquo evidencia

preocupaes com a criao da CONLUTE outra organizao de carter nacional e

com uma ao poltica antagnica a desenvolvida pela UNE especialmente no que se

refere atuao de Lula na presidncia da repblica

Em maio de 2005 a ENESSO mais uma vez socializa no seu jornal a

importncia da campanha em favor da formao pautada nas Diretrizes de 1996 A

entidade chama ateno para a poltica privatizante que predominou na educao

durante a vigncia do governo FHC e que teve continuidade na gesto de Lula Ainda

preocupada com a formao profissional o jornal retrata a relevncia do estgio como

importante instrumento no fortalecimento da relao teoria-realidade entretanto a

entidade considera que dificuldades limitam o desempenho dessa atividade de forma

mais qualificada assim sendo so ressaltadas a tendncia de reduzi-lo a mo-de-

obra barata a necessidade de um acompanhamento por parte dos profissionais e das

instituies de ensino mais efetivo com vistas a potencializar essa vivncia e

contribuir para o futuro exerccio profissional dos(as) estudantes Essa perspectiva de

travar o debate da contra-reforma do ensino superior a partir da discusso das

Diretrizes Curriculares constituiu uma estratgia poltica dos(as) dirigentes da

executiva

Nos documentos produzidos pela entidade no perodo de 2004-2005

embora o foco prioritrio seja o debate e a conseqente defesa das Diretrizes

Curriculares importante evidenciar que as anlises constantes nessas produes

so realizadas numa perspectiva de totalidade visto que observamos uma reflexo

131

remetida ao contexto scio-histrico vigente Essa dimenso se explicita na seguinte

constatao

No podemos entender a atual proposta de reforma do ensino superior como algo isolado mas como um processo que teve incio em 1996 com a LDB com a reforma do ensino superior de 1998 que esta faz parte da reforma do Estado do governo federal implementada na dcada de 1990 e que o atual governo d continuidade Tais medidas so orientadas por uma perspectiva neoliberal de reduo da esfera estatal e de fortalecimento das iniciativas privada no financiamento formulao e execuo das polticas pblicas[]e a educao como um espao especifico porm no exclusivo da formao ao se configurar como poltica pblica e direito do cidado sofre igualmente das orientaes privatistas que vivenciam as outras polticas pblicas(ENESSO P 04 2005)

Concordamos com a concepo que a poltica para educao adotada

durantes as duas gestes de Lula configura ao mesmo tempo continuidade e

aprofundamento da lgica predominante nos anos de 1990 entretanto no podemos

apreender essa tendncia como um fenmeno natural ou seja segui as orientaes

neoliberais consistiria no nico caminho possvel a ser trilhado pelo governo do petista

Lula

Essa propenso presente nas elaboraes e posicionamento da entidade

pode ser reflexo da ligao de alguns de seus dirigentes com o PT que embora

desenvolva uma atuao crtica em relao contra-reforma do ensino superior

procura justificar a postura adotada pelo governo Lula

Entre os dias 24 e 29 de julho de 2005 aconteceu o XXVII ENESS55 na

cidade de Recife-PE nesse encontro duas candidaturas concorreram a direo da

ENESSO ldquoA luta no pode Pararrdquo constituda por militantes do agrupamento Viver na

Luta e ldquochega de inrcia a Sada pela Esquerdardquo por militantes do grupo de mesmo

nome a primeira ganhou a disputa eleitoral

As resolues aprovadas no ltimo dia do encontro direcionaram a

ENESSO a dar prosseguimento trajetria crtica nos mbitos da universidade e da

formao profissional Nesses termos a direo contrria a contra-reforma se afirma

na negao das medidas j implantadas no campo da educao superior como o

PROUNI e o ENADE

No eixo da formao profissional salientada a importncia da articulao

das trs entidades representativas da profisso como estratgia poltica de defesa de

55 Este encontro apresentou como tema ldquomuitos para poucos poucos para muitos nada para outros o desafio para o Servio Social na luta pela consolidao de direitosrdquo

132

uma formao referendada nas Diretrizes Curriculares de 1996 Essa dimenso se

expressa no desenvolvimento conjunto de lutas e atividades Assim sendo em

dezembro de 2005 a ABEPSS a ENESSO e o CFESS lanaram manifesto no qual

publicizava a preocupao das entidades com abertura de cursos de Servio Social a

distncia entendendo que essa modalidade de ensino evidencia o crescente processo

de aligeiramento da formao profissional o que por sua vez fortalece a entrada de

profissionais na sociedade e no mercado sem a devida preparao para o exerccio

da profisso Segundo Terra da gesto 20052006 da direo nacional da ENESSO

na verdade esse tema reforma universitria que era o que nos angustivamos n E o que ns pautvamos na poca um ano de gesto foi questo da reforma universitriaagora o posicionamento da entidade ele t bastante claro construdo dentro das deliberaes que foram construdas coletivamente com os estudantes a partir dos posicionamentos que tem das tendncias polticas que impulsionam elas formulam discutem com os estudantes constroem as deliberaes e a entidade encampa esse processo

A nova diretoria da ENESSO ldquoA Luta No Pode Pararrdquo na carta de

apresentao definiu como foco central de sua atuao para o perodo de 20052006

o fortalecimento do ME Assim a sua principal bandeira foi ldquoENESSO defesa da

articulao e fortalecimento do Movimento Estudantilrdquo essa temtica esteve presente

nos principais documentos produzido pela entidade no decorrer da referida gesto

O jornal de maro de 2006 teve amplo espao destinado reflexo do

protagonismo da juventude brasileira nos rumos do pas nessa oportunidade

enfatizada a campanha ldquoo petrleo nossordquo desencadeada pela UNE nos anos de

1950 e da combativa atuao do segmento estudantil durante os anos de vigncia da

ditadura militar iniciada com o golpe de 1964 Na produo se sobressai anlise que

a conjuntura recente desfavorvel para organizao dos MS em particular no

MESS este contexto se fortalece com

o desmonte da educao pblica gratuita e de qualidade Consoante com isso tem crescido o nmero de escolas privadas e curso a distncia que dificultam a participao dos estudantes no movimento devido o perfil dos estudantes que so da classe trabalhadora (precisam trabalhar para manter os estudos) da falta de democracia nestas instituies( ENESSO p 01 2006)

Certamente a diversidade de instituies pblicas e privadas mais

recentemente a proliferao da modalidade distncia requer o desenvolvimento de

atividades e estratgias diferenciadas nesses espaos e que possa contribuir para o

133

processo de articulao e organizao do MESS e de sua atuao consubstanciada

na defesa da educao pblica56 e de uma formao qualificada

Essa produo ainda traz uma abordagem sobre a formao profissional

em que o centro da discusso constituiu o processo de avaliao a ser desenvolvido

pela ABEPSS sobre os 10 anos de aprovao e implementao das Diretrizes

Curriculares nas unidades de formao acadmica investigao destacada no quatro

trs dessa dissertao O texto realiza uma breve trajetria do Servio Social no qual

privilegiado o processo que culminou na constituio das diretrizes em 1996 Aps

esse resgate histrico a coordenao nacional da ENESSO juntamente com a

representao discente em ABEPSS orientam os CA a promoverem pelo menos um

seminrio sobre a referida pesquisa no intuito de pensar em estratgias que

possibilitem a participao de todos(as) nas discusses que resultar no

preenchimento do instrumental da pesquisa ratifica a importncia de uma

representao estudantil de cada unidade acadmica nas oficinas promovidas pela

abepss para discutir a investigao e ainda incentiva a ida de discentes ao ENPESS

de dezembro de 2006 para participarem e se apropriarem dos debates relacionados a

esse processo avaliativo O incentivo da ENESSO demonstra o seu compromisso

com os rumos do Servio Social e com as questes debatidas pelas outra entidade da

profisso

Entretanto importante problematizarmos que embora a gesto 20052006

tenha apresentado com eixo estruturante de sua atuao o fortalecimento do ME no

tivemos a realizao de medidas mais consistente pra esse fim com exemplo a

realizao de cursos de formao poltica que potencializaria uma qualificao para

os(s) militantes do MESS e dirigentes da ENESSO

De 24 a 29 de julho de 2006 aconteceu o XXVIII ENESS na cidade de

Palmas-To57 Mais uma vez duas candidaturas disputam a direo da executiva Uma

chapa com membros e apoiada pelo grupo Viver na Luta e outra com apoio de

militantes de agrupamentos de oposio como PDP A sada pela Esquerda e um

grupo em processo de criao o ldquoCara e Coraes Novosrdquo A primeira saiu vencedora

no pleito

56 Inserida na luta em favor da Universidade pblica no Brasil a ENESSO divulga em outubro de 2005 nota de apoios aos (as) estudantes da Universidade Federal de Alagoas que desencadearam um movimento de greve reivindicando pautas do ME e se colocando contrrios(as) a contra-reforma educacional de Lula 57 O ENESS de Palma teve como tema Um outro mundo possvel ldquopara ver meu sonho teimoso se realizarrdquo

134

Nesse encontro as deliberaccedilotildees sancionadas manifestam a postura de

recusa dos(as) estudantes de Serviccedilo Social com o niacutetido processo de mercantilizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo presente na poliacutetica educacional de Lula

Diante disso observa-se a necessidade de se travar o debate da contra-

reforma articuladamente com a discussatildeo sobre formaccedilatildeo profissional tendecircncia jaacute

apreendidas nas gestotildees passadas Essa estrateacutegia eacute preconizada como meio de

facilitar a compreensatildeo por parte dos(as) estudantes dos negativos rebatimentos das

medidas efetivadas para seu cotidiano nas instituiccedilotildees de ensino e endogenamente

para profissatildeo Outra deliberaccedilatildeo referente ao ensino superior que explicita a direccedilatildeo

poliacutetica a ser seguida pela entidade trata-se da afirmaccedilatildeo que

a ENESSO natildeo dispute o anteprojeto no congresso se posicionando contrariamente agrave reforma universitaacuteria que expressa a mercantilizaccedilatildeo do ensino Combatendo por meio da formaccedilatildeo poliacutetica e do fortalecimento dos CAS e DAS e DCE`S e incentivando alianccedilas com CAS de outros cursos nas universidades nos municiacutepios e etc E com as entidades combativas que tambeacutem se colocam afetivamente contra a reforma neoliberal do ensino superior ( ENESSO p 03 2006)

Como destacado anteriormente as deliberaccedilotildees por englobarem o

consenso do coletivo de estudantes presentes no Encontro Nacional reflete de modo

mais amplo as contradiccedilotildees e disputas poliacuteticas no interior do MESS assim sendo

posturas nitidamente mais criacuteticas em relaccedilatildeo agrave gestatildeo e as accedilotildees de Lula podem ser

expressatildeo da forccedila de agrupamentos que fazem oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da

ENESSO

A partir da anaacutelise documental e aqui especialmente das deliberaccedilotildees

aprovadas no periacuteodo de 2003-2008 merece destaque o fato de ser constatada pelo

segmento estudantil a necessidade de construccedilatildeo de alianccedilas com outros sujeitos

histoacutericos no desenvolvimento de lutas e atividades seja no espaccedilo restrito da

universidade ou fora dele De tal forma salientamos a perspectiva de articulaccedilatildeo com

entidades como ABEPSS o Conjunto CFESS-CRESS o ANDES e outros

movimentos como O MST a defesa de participaccedilatildeo da ENESSO no grito dos

Excluiacutedos na luta em favor do territoacuterio indiacutegena quilombola dos direitos dos

trabalhadores rurais e urbanos

No ENESS de 2006 tanto no eixo de universidade como de formaccedilatildeo

profissional se confirma a posiccedilatildeo contraacuteria do MESS em relaccedilatildeo ao exame de

135

proficincia58 Esse apreendido como um mecanismo punitivo para os(as)

estudantes e que no contribui para melhorias de ensino e aprendizagem nas

instituies

No eixo de formao profissional reforada a relevncia da participao

dos(as) discentes e da prpria ENESSO na pesquisa promovida pela ABEPSS cujo

objetivo precpuo a analise do processo de implementao das Diretrizes

Curriculares no decorrer de seus 10 anos bem como se preocupa com o combate

conjuntamente com as outras entidades do Servio Social a abertura de cursos que

no sejam fundados nas diretrizes

Essa tendncia coloca a ENESSO definitivamente contra a poltica de

abertura de cursos de graduao distncia que como j ressaltado no captulo

anterior se proliferam por todo o pas e no segue o preconizado pelas legislaes da

profisso

A posio da ENESSO gera no mbito da organizao do MESS situaes

contraditrias e conflituosas Os(as) estudantes dessa modalidade se sentem

representados pela ENESSO Segundo dirigente da ENESSO no perodo de

20062007eu acho que cria uma crise ainda maior que vai pra alm disso a necessidade do estudante do ensino a distncia passa a sentir de criar uma prpria entidade que lhes represente porque se a gente for avaliar que o estudante ele acaba se sentindo retaliado em todo espao do movimento estudantil que vai(NETURNO)

Assim a gesto 20062007 da ENESSO ldquotodos(as) na lutardquo alm das

dificuldades de organizao provocadas por exemplo pelo contexto de refluxo dos

MS fragilidades na formao poltica dos(as)estudantes as condies objetivas do

segmento estudantil e da prpria ENESSO ainda enfrentou srios obstculos

decorrentes do aumento exagerado de estudantes provenientes de cursos distancia

que no concordam com a posio de negao da executiva referente a essa

modalidade

Para Neturno a principal estratgia para amenizar essa situao

conflitante foi o dilogo com os(as) estudantes inseridos(as) na graduao a distncia

A principal argumentao utilizada pela ENESSO nas reunies acontecidas durantes

os encontros regionais foi de pautar o debate da poltica educacional na

contemporaneidade nela incluindo a graduao a distancia e seus rebatimentos para

formao do(a) assistente social Essa dimenso elucidada na fala do(a)

entrevistado

58 No dia 28 de setembro de 2008 por ocasio do 37 Encontro Nacional CFESSCRESS a categoria aprova a no adoo do exame de proficincia para o Servio Social

136

principalmente natildeo ter uma regulamentaccedilatildeo para o estaacutegio como eacute que vai se daacute a questatildeo do aprendizado da pratica profissional como eacute que o estudante vai ter contato com a pratica profissional como vai ser essa orientaccedilatildeo Vai ser a distacircncia tambeacutem Pra um professor que natildeo conhece a realidade do local onde o estudante taacute executando a sua intervenccedilatildeo []Como eacute que a gente orienta intervenccedilatildeo num local que a gente natildeo conhece Esses foram os aspectos que facilitaram muito o diaacutelogo mostrar os pontos de fragilidades dessa metodologia e aiacute a gente conseguiu fazer com que eles se sentissem representados pela entidade durante aquele periacuteodo (NETURNO)

A preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas entidades esteve presente durante

a aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no eixo do ME durante o ENESS de Palmas Dessa

maneira naquele encontro asseverou-se que os estudantes ali presentes eram

contra o divisionismo do ME e dos espaccedilos que se constituem em criaccedilotildees de

entidades paralelas as jaacute existentes as quais natildeo fortalecem ao contrario

enfraquecem o movimento

Essa proposiccedilatildeo representa inquietaccedilotildees diante da modalidade a distacircncia

e ou tambeacutem representa uma criacutetica relativa agrave criaccedilatildeo da CONLUTE no ano de 2004

Jaacute que esta tem atuando em paralelo a UNE Esses questionamentos contribuem

para o processo de apreensatildeo das fragilidades que perpassa o ME na atualidade e

que repercutem na sua atuaccedilatildeo poliacutetica

Um fato significativo a ser registrado eacute que a 14ordf deliberaccedilatildeo do eixo

conjuntura previa para o final do encontro uma anaacutelise da gestatildeo de Lula no qual

resultaria em um documento com avaliaccedilatildeo e perspectivas do segmento diante desse

governo Entretanto as escolas59 que ficaram ateacute o final do encontro utilizaram o

argumento de esvaziamento da plenaacuteria para natildeo elaborar o documento A natildeo

materializaccedilatildeo dessa deliberaccedilatildeo representa uma contradiccedilatildeo poliacutetica da executiva

diante do governo Lula De negaccedilatildeo da poliacutetica educacional mas de afirmaccedilatildeo e

defesa de seu governo Mesmo com o total de 10 escolas presentes ateacute o final do

encontro o esvaziamento da plenaacuteria se constitui um argumento consistente

O jornal da executiva divulgado em abril de 2007 traz reflexotildees referentes

agrave formaccedilatildeo profissional Movimento Estudantil e Universidade A discussatildeo no campo

da formaccedilatildeo tem como cerne o posicionamento contraacuterio da entidade ao exame de

proficiecircncia No documento eacute exposto que a expansatildeo da esfera privada com a

utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia consistiu na principal determinaccedilatildeo para que

assistentes sociais assumissem a defesa de adoccedilatildeo desse mecanismo para a

59 As escolas foram PUC-RS UEPB UFPE UFPB UFAL ULBRA UFS UCSALUSF E PUC-BH

137

profisso Conforme anlise da ENESSO a aprovao do exame no remete

necessariamente a qualificao profissional de modo que

se quisermos realmente melhorar a nossa formao profissional e nos posicionarmos contrrios a tudo que venha de encontro s diretrizes curriculares da categoria teremos mais fora se pautarmos nossa bandeira histrica da implementao na integra das diretrizes curriculares teramos assim um aproveitamento melhor do rendimento dos estudantes e possivelmente uma melhor qualificao profissional( ENESSO p02 2007)

De 2003 a meados de 2008 recorte temporal da pesquisa constatamos

que a produo da ENESSO no que se refere ao debate da formao profissional

apresenta na sua totalidade uma ntida direo de defesa inconteste das Diretrizes

Curriculares contribuindo dessa maneira para o reconhecimento da importncia

dessa entidade perante a categoria nos diversos debates e espaos que perpassam o

Servio Social brasileiro

No mbito do ME a edio do jornal de abril de 2007 trouxe o debate em

torno da UNE como ponto prioritrio de sua reflexo A ENESSO analisa que ao se

colocar favorvel a poltica educacional do governo Lula a UNE provocou uma

fragmentao no ME Para a executiva necessrio unificar o Movimento e essa se

dar mediante a defesa de medidas como ldquodemocracia nas instituies de Ensino

regulamentao do ensino privado mais verbas para IFES para garantir expanso do

ensino pblico e acesso e permanecia rubrica especifica para assistncia estudantilrdquo

(ENESSO P02-03 2007)

Um processo de revitalizao no ME requer o fortalecimento de entidades

estudantis e o desenvolvimento de aes que possam contribuir verdadeiramente

para unificao de pautas de estudantes que hoje se encontram em diversificadas

instituies privadas e pblicas presenciais e no presenciais Mais alm disso

significa processualidades complexas e contraditrias vejamos a UNE atua em

defesa da contra-reforma do ensino mas age segundo as suas anlises em nome da

defesa da expanso da educao superior no pas Portanto vivenciamos uma

conjuntura difcil na qual entidades e movimentos antes considerados

majoritariamente como espaos de contestao do status quo hoje atuam em

consonncia com a ordem vigente embora se reclamando como defensores de

melhorias e preocupados com a transformao social

No ultimo eixo de discusso o jornal da executiva apresentou o texto

intitulado ldquopor uma Universidade Democrtica e Popularrdquo e que no seu princpio

destacava

138

Em 2002 com a eleiccedilatildeo do Governo Lula criou um clima de muitas expectativas para o movimento da educaccedilatildeo que viu em Lula a possibilidade de reverter os oitos anos de sucateamento do Ensino Superior Puacuteblico e de expansatildeo do mesmo No entanto tais expectativas natildeo foram correspondidas na integra o Governo iniciou seu governo apresentando uma proposta de Reforma Universitaacuteria que natildeo era suficiente para resolver os principais gargalhos do ensino superior como financiamento para IFES e a regulamentaccedilatildeo do setor privado (ENESSO P 03 2007)

Analisamos que mais que insuficiente a proposta do governo Lula se

colocou numa linha de continuidade a poliacutetica adotada na era FHC que se

manifestou por exemplo com o PROUNI e a Lei de Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica que

ratificaram firmemente o compromisso com a iniciativa privada deixando pra segundo

plano a educaccedilatildeo puacuteblica pois mesmo com a defesa de instituiccedilatildeo de cotas sociais e

raciais e posteriormente a concretizaccedilatildeo de alguns concursos puacuteblicos para docentes

nas Universidades Federais fruto das reivindicaccedilotildees dos segmentos dos

trabalhadores(as) em educaccedilatildeo o setor privado continuou intocaacutevel portanto

fazemos a anaacutelise que na verdade natildeo foi na iacutentegra que as expectativas natildeo foram

correspondidas elas foram substancialmente abaladas e negadas por este governo

O XXIX ENESS ocorreu de 14 a 19 de julho de 2007 na cidade de

Contagem-MG Nesse encontro duas chapas da regiatildeo V disputaram a coordenaccedilatildeo

nacional da entidade Uma composta por militantes do Rio de Janeiro vinculados(as)

aos agrupamentos A Saiacuteda eacute pela Esquerda e Cara e Coraccedilotildees Novos outra

constituiacuteda por estudantes do Espiacuterito Santo e Minas Gerais que publicizaram natildeo

pertencer a nenhum grupo organizado do MESS mas receberam o apoio de militantes

que se organizavam no Viver na Luta este que declarou no mesmo encontro o

teacutermino de suas contribuiccedilotildees no MESS a segunda candidatura venceu a disputa

Marte dirigente da gestatildeo 20072008 se referido aos agrupamentos que concorreram

a direccedilatildeo da ENESSO evidencia que

Noacutes dialogamos com todas as teses e estudantes sem perder a direccedilatildeo que queriacuteamos imprimir ao movimento No entanto natildeo conseguimos adesatildeo de algumas escolas do Rio pela forte influencia dessas duas correntes eacute importante destacar que essas duas correntes tecircm sua forccedila nesse estado e pouca influencia no restante do paiacutes

A partir das resoluccedilotildees desse encontro assinalamos que

majoritariamente o MESS constitui um segmento comprometido com a luta em favor

da universidade puacuteblica no Brasil e um sujeito que atua em defesa da formaccedilatildeo

subsidiada pelas Diretrizes Curriculares de 1996

139

Logo no eixo de conjuntura observamos a aprovao de deliberaes

mais crticas em relao ao governo Lula uma tendncia de negao de modo mais

abrangente e no limitadas as suas aes para o campo educacional

As deliberaes consistem expresso das diversas foras polticas que

militam no MESS e de certa maneira manifestam os posicionamentos diversificados

dessas foras inclusive sobre o governo Lula Dessa maneira a aprovao de

deliberaes que direcionam a ENESSO a desenvolver uma ao mais incisiva contra

as aes efetivadas durantes as gestes Lula pode certamente expressar o

fortalecimento de grupos polticos identificados como opositores a esse governo

No eixo de formao profissional o posicionamento contrrio ao exame de

proficincia se manteve a perspectiva de fortalecer a articulao com a ABEPSS e o

conjunto CFESS-CRESS no desenvolvimento de lutas e atividades voltadas para

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social o que por sua vez significa a

reafirmao e consolidao das Diretrizes Curriculares nesse contexto desfavorvel

para sua implementao

Especialmente no eixo universidade destacamos essa deliberao

Por uma poltica de universalizao do acesso universidade pblica que vise o fim do vestibular Expanso e ampliao das vagas nas universidades pblicas fim das taxas campanhas em defesa do ensino pblico gratuito laico de qualidade presencial para todas e todos em todos os nveis refutando a proposta do reuni e o atual processo de interiorizao das ifes por acreditamos que esse noatendem a essas reivindicaes (ENESSO 2007)

Logo a gesto 20072008 da ENESSO ldquoousar e unir todos(as) juntos

para construirrdquo teve pela frente a necessidade de desenvolver atividades contrrias a

mais uma das aes aprovadas no campo da contra-reforma do ensino superior o

REUNI A contra-reforma vem sendo efetivada de modo parcelado de incio foram

adotadas aes como o PROUNI a substituio do Provo pela ENADE depois

tivemos a proliferao dos cursos distncia entre outras medidas e mais

recentemente o REUNI Essa fragmentao reclama atuaes diferentes da ENESSO

assim por exemplo a estratgia de boicotar o ENADE obteve xito no mbito do

Servio Social em 2004 entretanto atividades contra o PROUNI eou REUNI requer

outras estratgias cada vez mais articuladas com outros segmentos dentro e fora do

espao universitrio Portanto no perodo estudado nessa pesquisa as gestes da

ENESSO nele includo tiveram que dar prosseguimento as aes voltadas para as

medidas j efetivadas bem como canalizar energias para as novas medidas

direcionadas para o ensino superior

140

O planejamento estratgico da nova gesto ocorreu nos dias 08 e 09 de

setembro de 2007 alguns dos planos forjados foram a necessidade de criao do

site da executiva o qual foi criado contudo so reduzidas as informaes

proveniente das limitadas atualizaes o desenvolvimento de seminrios regionais

juntamente com os CRESS sobre o exame de proficincia na ida dos coordenadores

da ENESSO as escolas ficou previsto a distribuio de materiais produzidos pelas

outras entidades da profisso como forma de potencializar a articulao das mesmas

realizar debates sobre a contra-reforma do ensino superior entre outras Outra

importante meta traada por ocasio do planejamento estratgico se referiu

promoo de um curso de formao poltica para os(as) militantes do MESS O estudo

de Santos(2007) afirma que essa gesto atuou apresentado como foco central de

suas aes o eixo da formao profissional com a reafirmao da direo social

consubstanciada no projeto profissional fundado na perspectiva crtica da inteno de

ruptura

A ENESSO em 22 de outubro de 2007 elaborou moo de apoio60 ldquos

universidades em luta para Barrar o REUNIrdquo na qual publiciza preocupaes com a

possibilidade de flexibilizao curricular prevista pelo programa registrada tambm

a indignao da executiva com qualquer tipo de represso direcionada aqueles(as)

que se manifestam politicamente contra essa medida do governo

Em 15 de maio de 2008 por ocasio das comemoraes do dia do(a)

assistente social a ENESSO conjuntamente com o Conjunto CFESSCRESS e a

ABEPSS socializaram manifesto contra cursos de graduao distncia em Servio

Social por entenderem que essa modalidade se confronta radicalmente com a

formao preconizada pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no documento

reafirmada a posio das entidades de continuarem lutando contra a abertura de

curso inseridos nessa modalidade o que por sua vez representa o compromisso com

a formao e exerccio profissional com qualidade

A gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo produziu uma

cartilha intitulada ldquo20 anos ENESSOrdquo em que apresentava didaticamente os

60 A gesto 2007-2008 ainda lanou em 09 de abril de 2008 moo de apoio ldquoAos estudantes da UNB para Barrar as Fundaes Privadas nas IFESrdquo A moo fazia referncia ocupao da reitoria da UNB por estudantes que reivindicam a retirada do reitor e a transparncia na administrao da instituio Em 08 de fevereiro de 2008 a executiva produziu moo de repdio contra a atitude do governo federal em no disponibilizar vagas para assistente social para concurso no Instituto Nacional de Seguro Social(INSS) Em 05 de maro de 2008 outra moo de apoio lanada em favor da luta das mulheres da via Campesina que ocuparam a Fazenda Tarum no RS em protesto contra a compra de terras ilegais pela empresa Stora Enso sendo a ao duramente reprimida pelo aparato policial conforme a moo a ocupao das mulheres camponesas legitima pois luta pela soberania alimentar e contra o Deserto Verde que destri a cada dia a biodiversidade das terras brasileiras forando milhares de camponeses a migrarem do campo para as periferias das cidadesrdquo ( ENESSO 2008)

141

diferentes espaos e entidades estudantis tais como CORETUR CA DCE

ENESSO e suas respectivas funcionalidades A cartilha foi elaborada com o objetivo

principal de fomentar a discusso sobre a organizao dos(as) estudantes com vistas

a criao de CA e DA vislumbrando dessa modo o fortalecimento do movimento

A cartilha ainda trouxe reflexes sobre a articulao da ENESSO com as

entidades internacionais a Federao Argentina de Estudantes de Trabalho

Social(FAETS) e a Associao Latino-americana de Ensino e Investigao em

Trabalho Social(ALEITS)61 Para executiva essa articulao representa esforos

voltados para o fortalecimento e ampliao das ldquoplataformas de lutas unificando

estudantes e trabalhadores contra a expanso de dominao do grande capital e em

defesa de um projeto societrio socialistardquo(ENESSO p 18 2007) Embora no seja o

objetivo precpuo dessa pesquisa o estudo das alianas da ENESSO com outras

entidades e movimentos torna-se necessrio destacar que a mesma procura

construir articulaes com sujeitos coletivos historicamente sintonizados com a luta

por direitos sociais bem como organizaes que vislumbra uma transformao

societal

Em junho de 2008 a ENESSO participou do Seminrio Nacional

ldquoPrecarizao da Formao e Implicaes no Exerccio Profissional Em debate

Metodologia do Depoimento Sem Danos e Exame de Proficinciardquo promovido pelo

CFESS62 Nesta oportunidade as trs entidades da categoria se posicionaram

contrria a realizao do exame de proficincia no Servio Social

Em julho de 2008 a gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo

divulga jornal no qual sintetiza as principais aes desenvolvidas pela direo entre

elas destacamos a materializao do curso de formao poltica previsto durante o

planejamento estratgico da Coordenao Nacional ainda em 2007 O Curso de

Formao Poltica do Movimento Estudantil em Servio Social(CFPMESS) ocorreu

de 22 a 25 de maio de 2008 durante o XXX CONESS no estado de Sergipe

promovido pela ENESSO Centro Acadmico de Servio Social da Universidade

Federal do Sergipe (UFS) e da representao discente em ABEPSS e com apoio do

conjunto CFESSCRESS e do MST visto que o evento se processou em um de seus

Assentamentos no caso particular o Quissam Consideramos a efetivao desse

curso necessrio e importante para o MESS dada a conjuntura de fragmentao do

ME e arrefecimento das lutas sociais alm disso por ter acontecido durante o

CONESS possibilitou a participao de representante de CA e DA de Servio Social

61 Essa entidade foi fundada em agosto de 2006 e o estatuto aprovado no XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais(CBAS) ocorrido em 2007 na cidade de Foz do Iguau ndash PR Nela os(as) estudantes tem direito a voz62 Este ocorreu nos dias 12 e 13 de junho de 2008 em Braslia-DF

142

de diferentes universidades potencializando a articulao dessas entidades e ainda

a sua realizao em um dos espaos do MST evidencia a perspectiva de construo

de alianas do MESS com segmentos do trabalho identificados com a transformao

social

O jornal publicizado em julho de 2008 traz um texto intitulado ldquopela

Revogao Imediata do REUNIrdquo Em que ratificada a direo assumida nas

deliberaes do XXIX ENESS pelo MESS O texto assevera que o Programa

possibilita uma flexibilizao curricular que desqualifica nossos diplomas e prejudica nossa formao profissional ou seja a total destruio dos diplomados profissionais em cursos bsicos genricos formando diplomados em nada Mas o resultado ser depois no mercado de trabalho com sub-remunerao destes diplomados em nada com salrios miserveis e a reduo do custo do trabalho em beneficio capitalista Essa poltica de destruio da educao ataca brutalmente as conquistas na rea da educao como no caso do ensino superior o seu trip de ensino-pesquisa-extenso que colocam a produo de conhecimentos para os interesses da nao e sua soberania ameaadas(ENESSO 2008 p06)

Podemos observar que anlise da ENESSO assume um carter

generalista em relao s aes do REUNI sem sinalizar possibilidade de formao

com qualidade no mbito desse programa Diante da realidade de total aprovao dos

programas pelas universidades federais acreditamos que a correlao de foras no

interior das instituies seja importante para que mesmo com recursos

disponibilizados por esse programa possam ser implementadas melhorias para a

comunidade acadmica bem como potencializar a construo de cursos

fundamentados nos projetos pedaggicos de suas profisses essa ressalva se torna

relevante sobretudo entretanto voltamos a afirmar que a abertura de concursos no

significa no Servio Social em particular a garantia dos princpios formativos

defendidos pela profisso

De 13 a 17 de julho de 2008 ocorreu o XXX ENESS na Universidade

Estadual de Londrina (UEL) com o ttulo ldquoo sonho no envelhece 30 anos de

reorganizao do MESSrdquo em referncia a realizao do ENESS de 1978 considerado

marco na reorganizao do MESS o qual foi realizado na mesma universidade A

escolha da UEL para sediar o XXX ENESS ao se configurar com um ato de

homenagem para alm disso consistiu em resgate histrico da trajetria de

organizao e atuao desse movimento no Brasil

Neste encontro inicialmente trs chapas se propuseram a disputar a

direo da ENESSO visto que uma das chapas antes de comear o processo de

votao fomentou o debate em torno do anarquismo e solicitou aos(as) estudantes

143

simpatizantes da chapa que se abstivessem da eleio de tal modo que somente

duas candidaturas concorreram de fato a direo da executiva

A chapa ldquoMaria Bonitardquo constituda de estudantes de So Paulo e contava

com o apoio de militantes que se organizavam no recente extinto grupo Viver na Luta

que esteve frente da coordenao nacional da entidade nas gestes anteriores

A outra candidatura consista a ldquoFrente de Esquerda no MESSrdquo composta

por estudantes da regio V e majoritariamente da Universidade Federal do Rio de

Janeiro e vinculados aos agrupamentos ldquoA Sada Pela Esquerdardquo e pelo coletivo em

processo de formao ldquoRompendo Amarrasrdquo

Segundo militante de oposio que nos concedeu informaes durante a

produo de dados para essa pesquisa logo aps as escolas terem votado dois

estudantes de diferentes instituies argumentaram que suas escolas no foram

chamadas para votao63 contudo no tinha o registro de participao dessas

escolas que estavam representadas somente por um estudante nos outros

momentos de discusso e deliberao do encontro o que remete ao entendimento

que tais sujeitos estavam preocupados somente com a disputa dos cargos da

ENESSO Ainda com base nas argumentaes de Luz64 esses dois estudantes

votaram65 na chapa ldquoMaria Bonitardquo e que segundo o resultado da votao tal chapa

venceu a disputa com a diferena de trs votos portanto a quantidade de votos que

uma escola tem direito

Entretanto depois de anunciado o resultado propagou-se a denuncia que

um dos estudantes que havia reclamado de ltima hora a participao no processo de

votao no era estudante de Servio Social o que gerou impasse diante dessa

atitude fraudulenta e antidemocrtica pois ao se retirar os trs votos que o mesmo

creditou na chapa ldquoMaria Bonitardquo o pleito ficou empatado

63 Nesse encontro o voto foi por escola conforme o qual cada escola tem direitos a trs votos independentes da quantidade de estudantes presentes o que garante a paridade entre as instituies contudo importante destacar que esse sistema de votao alvo de discordncia e de consistentes conflitos nos fruns do MESS64 Militante de oposio que contribuiu nessa investigao mediante a resposta de questionamentos relacionados atuao das tendncias e da ENESSO nessa conjuntura de concretizao da contra-reforma do ensino superior dimenses aprofundadas no item 4 desse capitulo65 possvel ter conhecimento em que chapa se votou pois a votao se processa de modo aberto para plenria a comisso chama nominalmente as escolas e as mesmas declaram seus votos que sendo por escola a depender de divergncias interna dos alunos(os) essa diferena se manifesta e assim uma mesma escola pode votar em diferentes chapas assim por exemplo os trs votos a que uma escola tem direito pode se destinar um pra uma determinada chapa e dois para outra o que no acontece quando um escola est representada poder um(a) estudante visto que ele(a) direciona os trs votos sem a existncia de posicionamento interno contrrio no ato da votao

144

Portanto o processo foi anulado diante dessas praacuteticas antidemocraacuteticas

que corroboram para o natildeo fortalecimento do MESS e de suas entidades Dimensatildeo

explicitada tambeacutem pelo(o) dirigente da ENESSO da gestatildeo 20072008 que esteve

na constituiccedilatildeo da comissatildeo eleitoral que confirmou o fato de que um estudante do

curso de histoacuteria votou como se fosse estudante de Serviccedilo Social o que justificaria a

ato de anulaccedilatildeo Conforme explicitado a seguir

Verifiquei com o estudante a denuacutencia e relatou que realmente natildeo era estudante de Serviccedilo Social e sim de histoacuteria e que tinha sido convidado por um amigo estudante de Serviccedilo Social membro do PT e que havia solicitado para que votasse Diante dos fatos declaramos o processo anulado conforme rege o estatuto e observamos as condiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de novo pleito O que foi impossiacutevel por algumas escolas terem viajado de volta para seus estados apoacutes a votaccedilatildeo e outras estarem de saiacuteda Tentamos um acordo entre as chapas para que existisse uma gestatildeo compartilhada entre elas mas natildeo obteve ecircxito A chapa de Satildeo Paulo propocircs que a nossa gestatildeo continuasse ateacute encontrar outra data para uma nova eleiccedilatildeo apesar de natildeo querermos achamos melhor do que deixar sem Coordenaccedilatildeo Nacional Num primeiro momento de discussatildeo a ideacuteia teve boa aceitaccedilatildeo mas a chapa do Rio de Janeiro rebateu a proposta e por fim os estudantes se retiraram pouco a pouco inviabilizando qualquer tipo de eleiccedilatildeo por natildeo ser legiacutetimo um processo sem todas as escolas

O preocupante eacute que o estudante de histoacuteria enganou parte significativa da

plenaacuteria entretanto como demonstrado na fala anterior militantes do MESS tinham

conhecimento da situaccedilatildeo fraudulenta que se processava na disputa pela

coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO e mesmo assim foram incapazes de denunciar

essa fraude o que revela a real existecircncia de militantes nesse movimento que se

utilizam de qualquer artifiacutecio sem considerar princiacutepios como a socializaccedilatildeo de

informaccedilatildeo a recusa de praacutetica autoritaacuterias e enganosas que desrespeitam o

posicionamento diferenciado de seus colegas e os interesses da maioria

Embora sem coordenaccedilatildeo nacional as deliberaccedilotildees aprovadas nesse

encontro para a gestatildeo 20082009 da executiva posicionam essa entidade a encampar

lutas que ratifiquem a direccedilatildeo contraacuteria da entidade em relaccedilatildeo agraves medidas para

educaccedilatildeo superior do governo Lula Em espacial no eixo de universidade66 foram

mantidas as mesmas deliberaccedilotildees ratificadas no ENESS passado Dessa maneira se

mantecircm a posiccedilatildeo de negaccedilatildeo ao SINAES PROUNI REUNI educaccedilatildeo a distacircncia

entre outras

66 Esta decisatildeo foi tomada devido ao atraso na programaccedilatildeo do evento que minimizou o tempo destinado a revisatildeo das deliberaccedilotildees

145

No campo especifico da formao profissional se vislumbra a

preocupao do segmento estudantil na apropriao dos dados obtidos com a

pesquisa avaliativa das Diretrizes Curriculares realizada pela ABEPSS Nesse sentido

tem-se o encaminhamento de que tanto no Seminrio Regional como Nacional de

Formao Profissional e Movimento Estudantil em Servio Social se garanta espaos

destinados para divulgao dos resultados da pesquisa Alm disso tem a indicao

de que

A ENESSO e a representao discente em ABEPSS fortaleam a luta contra o exame de proficincia nas escolas e no encontro do conjunto CFESSCRESS garantindo a sua participao em todo momento no encontro E fomentar o debate sobre uma nova avaliao que envolva os trs segmentos da categoria(discente docentes e profissionais) e que amplie a construo dessa ferramenta para que seja uma avaliao continuada( ENESSO 2008)

Nessa perspectiva apreendemos a preocupao do segmento estudantil

com a construo de processos avaliativos que corroborem no entendimento dos

limites e potencialidades da formao profissional portanto a negao em relao ao

ENADE significa um posicionamento poltico de negao a um sistema de avaliao

majoritariamente punitivo para os(as) estudantes ou seja no representa a rejeio a

avaliao mas aos interesses que ela representa

No eixo de ME a complexa processualidade de afirmaonegao da

UNE se confirma mais uma vez Tendncia que se manifesta tambm em relao

CONLUTE ldquoque a ENESSO fomente debate da CONLUTE e outras organizaes de

luta na medida em que esta se apresenta como espao de luta contra a reforma

universitriardquo (ENESSO 2008) A promoo de articulao em relao CONLUTE se

pauta de modo restrito no campo de negao da contra-reforma do ensino superior

no sendo considerada a possibilidade de vinculao com esta organizao no

desenvolvimento de outras atividades e lutas

Diante das deliberaes analisadas corroboramos com Santos quando

ele afirma que elas se estruturam em grandes blocos de discusso decorrente

certamente da prpria organizao em eixos entretanto essa tendncia no significa

que esse segmento ldquono atualize e aperfeioe suas bandeiras e instrumentos de luta

mas pelo contrrio revela que os estudantes organizados no movimento imprimem

uma prxis poltica que possibilita a continuidade de suas lutas e resistncia

reafirmada a cada encontrordquo (p124)

Entretanto no ano de comemoraes relativas aos 30 anos de

reorganizao do MESS e de 20 anos de criao da ENESSO no tivemos para

implementao das deliberaes a ocupao dos cargos nacionais dessa entidade

146

como explicitado acima As prticas antidemocrticas a acirrada disputa entre duas

candidaturas e a no previso estatutria diante do impasse estabelecido aliada a

indisponibilidade poltica que possibilitassem a construo de um consenso

concorreram para o estabelecimento dessa lamentvel ausncia de coordenadores

nacionais ficando a incumbncia de materializao das deliberaes para as

coordenaes regionais O fortalecimento das coordenaes regionais legitimo e

necessria contudo o esvaziamento das coordenaes nacionais da ENESSO

dificulta a prpria potencializao dessas instncias visto que se minimiza ou at

mesmo fica impossibilitada o desenvolvimento de campanhas nacionais seja nos

mbitos da universidade eou formao profissional alm disso a responsabilidade na

produo de material a serem socializadas com a base estudantil fica fortemente

comprometida a representao da entidade em eventos fica sem referncia entre

outras

Em setembro de 2008 ex-militantes do MESS e reunidos(as) em Braslia

durante o 37 Encontro Nacional CFESSCRESS construram e divulgaram carta

intitulada ldquoaos estudantes de Servio Social coordenadores regionais da enesso e

diretorias de CAs e DAs do pasrdquo sinalizando preocupaes com o fato acontecido

Dela extramos o seguinte fragmento

A ENESSO patrimnio poltico do Servio Social brasileiro e foi construda por muitas mos e foras polticas desde 1979 tendo sido Executiva Nacional SESSUNE e ENESSO Em seu mbito se formaram geraes de assistentes sociais no campo do projeto tico-poltico muitos hoje militantes do Conjunto CFESSCRESS da ABEPSS da ALAEITS e dos movimentos de resistncia barbrie capitalista Nesse momento de contra-reforma do ensino superior mais do que nunca fundamental que a ENESSO esteja forte representativa e estruturada

O trecho apesar de suscito evidencia com propriedades a importncia da

ENESSO na trajetria de construo e defesa do projeto profissional do Servio Social

e aborda ainda a relevncia de se ter uma entidade comprometida com a defesa de

uma educao e uma formao de qualidades neste contexto de tentativa de

esfacelamento desse ideal Diante do exposto que desafios apreendemos nessa

conjuntura complexa para o ME particularizada no mbito do MESS com as

fragilidades que hoje enfrenta o MESS e a ENESSO

147

5-3 REFLEXOtildeES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO

Com a anaacutelise do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO e da pesquisa

documental associada agraves informaccedilotildees concedidas nas entrevistas pelos(as) ex-

Coordenadores(as) da entidade trataremos de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre sua

accedilatildeo nessa conjuntura de materializaccedilatildeo da contra-reforma do ensino superior

procurando abordar tambeacutem as possibilidades e limites dessa atuaccedilatildeo

Dessa maneira os dados sugerem que a vivecircncia dos(as) estudantes

ainda nos primeiros periacuteodos do curso de Serviccedilo Social nos foacuteruns estudantis como

ERESS seminaacuterios estudantis de formaccedilatildeo profissional e encontros locais satildeo

fundamentais para instigar a participaccedilatildeo desses(as) na construccedilatildeo da entidade

os(as) levando a disputa de sua direccedilatildeo

Satildeo nesses espaccedilos que se materializam discussotildees se constroem

deliberaccedilotildees e se direciona a atuaccedilatildeo da ENESSO potencializando a articulaccedilatildeo e

aproximaccedilatildeo dos(as) estudantes com o ME e suas entidades Essa perspectiva

requer dos CA e DA o desenvolvimento de atividades sistemaacuteticas dada a

transitoriedade do movimento voltadas para o incentivo de participaccedilatildeo dos(as)

estudantes ainda nos primeiros periacuteodos do curso nos diferentes espaccedilos de

organizaccedilatildeo do segmento estudantil nesse contexto de retraccedilatildeo poliacutetica

comprometida com a transformaccedilatildeo societal e de difiacuteceis condiccedilotildees objetivas de

militantes e das proacuteprias entidades que os(as) representam

Em pesquisa empiacuterica realizada com os(as) estudantes presentes no

XXIX ENESS na cidade de ContagemBH Santos (2007) diante dos dados

produzidos afirma que a maioria se encontravam no terceiro e quarto periacuteodo do

Curso de Serviccedilo Social com o percentual de 33 dos entrevistados(as)67 A referida

pesquisa ainda indicou que 65 dos(as) estudantes que participaram da

investigaccedilatildeo estavam no encontro na condiccedilatildeo de natildeo ocupantes de cargos em

entidade estudantil como CA ou DA

No acircmbito do ME e em particular no MESS eacute expressivo a presenccedila de

estudantes organizados(as) em grupos entretanto nem todos elaboram teses ou

seja documentos que manifestam o direcionamento do agrupamento sobre as

questotildees discutidas pelo movimento tais como conjuntura formaccedilatildeo profissional

cultura e valores ME e universidade Na esfera do Serviccedilo Social e no periacuteodo

delimitado pela pesquisa o Projeto Democraacutetico Popular(PDP) Viver na Luta A saiacuteda

67 Esses dados foram obtidos mediante a utilizaccedilatildeo de questionaacuterios respondidos por cinquumlenta e quatro estudantes de Serviccedilo Social que estiveram no ENESS realizado em julho de 2007 no qual esteve presente mais de quinhentos discentes de todo paiacutes

148

Pela Esquerda68 e o Cara e Coraes Novos se constituam os principais grupos

polticos presentes na organizao do MESS Segundo Rodrigues

Em junho de 2008 existem dois grupos organizados em teses no MESS dentre os diversos grupos que organizam-se em ldquopr-tesesrdquo ou apenas como grupos polticos organizados Os grupos organizados em teses so Projeto Democrtico e Popular ndash PDP e A Sada pela Esquerda No XXIX ENESS em 2007 o Viver na Luta - VNLapresentou para os estudantes o fim da tese mesmo assim alguns de seus militantes ainda se organizam em grupos polticos no MESS (2008 p 43)

O PDP69 esteve na direo da ENESSO por um perodo bastante

expressivo do inicio a segunda metade da dcada de 1990 quando perde a

hegemonia para o grupo Eu Quero Mais(EQM)70 todavia segundo Ramos(2005) ldquoa

mudana de direo no comprometeu o acumulo de discusso no processo de

construo da organizao estudantil e da defesa do projeto tico-poltico

profissionalrdquo(p103)

No processo de produo de dados para esta pesquisa dos(as) cinco

entrevistados(as) um(a) de cada gesto que compreende o perodo de 2003-2008

quatro deles(as) eram membros do agrupamento poltico Viver na Luta Sendo que

dois desses(as) militantes tambm se organizavam na tendncias partidria a

Articulao de Esquerda(AE) e outro(a) dirigente construa o agrupamento partidrio a

Democracia Socialista(DS) Tanto a AE como a DS so vinculadas ao PT Para

esses(as) quatros dirigentes os grupos so importantes espaos de organizao e de

construo poltica e que contribui para o desenvolvimento de aes mais

qualificadas o que por sua vez corrobora com o fortalecimento do MESS e da

ENESSO Podemos apreender essa perspectiva na fala do(a) entrevistado(a)

O acumulo das organizaes dentro do Movimento Estudantil so extremamente importantes principalmente quando essas organizaes constroem teses que apresentam nos encontros nacionais a concepo poltica que se tem do movimento extremamente importante no s para o militante que t nesse processo de organizao mas como tambm para os estudantes

68 A sada pela Esquerda surgiu no ENESS de 2004 realizado em vitria-ES Cf Rodrigues(2008) Para Silva esse grupo surgiu j no ENESS de 2003 realizado em Salvador-BA 69 O PDP surge nos anos de 1980 e se constituiu o primeiro agrupamento organizado em tese no mbito do MESS sendo vigente at os dias atuais70 O EQM encerrou suas contribuies no ano de 2003 com o trmino desse grupo muitos de seus militantes acabaram por contribuir na constituio do agrupamento Viver na Luta no ano de 2004 este que predominou na direo da ENESSO no perodo ora abordado nesta pesquisa

149

que acabam percebendo quais satildeo as vertentes poliacuteticas que norteiam cada organizaccedilatildeo em termos do mess (NETURNO)

De 2003 a 2007 eacute importante registrar a predominacircncia na direccedilatildeo da

ENESSO de estudantes pertencentes ou simpatizantes ao grupo poliacutetico Viver na

Luta que socializou no ENESS de 2007 o fim de sua atuaccedilatildeo no MESS Para Marte

da gestatildeo 20052006 que afirma ter sido um dos(as) fundadores(as) do Viver na Luta

elenca como diferencial do agrupamento a preocupaccedilatildeo com o eixo da formaccedilatildeo

profissional e a defesa do voto universal nos processo de votaccedilatildeo nos ENESS

Diante do exposto apreendemos que eacute recorrente a construccedilatildeo e

desconstruccedilatildeo de agrupamentos no MESS e que algum deles mesmo chegando agrave

direccedilatildeo da entidade natildeo apresenta uma atuaccedilatildeo duradoura na organizaccedilatildeo do

movimento exemplo dessa perspectiva o proacuteprio fim do EQM e posteriormente do

Viver na Luta e por outro lado embora o PDP que impulsionou a poliacutetica da ENESSO

por um periacuteodo consideraacutevel e que continua em vigecircncia na contemporaneidade

apresenta fragilidades e natildeo consegue construir alianccedilas para assumir a direccedilatildeo

nacional da entidade aleacutem disso tivemos a criaccedilatildeo do grupo A Saiacuteda eacute Pela Esquerda

e mais recentemente por volta de 2006 o Cara e Coraccedilotildees Novos Segundo

concepccedilatildeo de Rodrigues

As teses e grupos presentes no MESS divergem principalmente na leitura que fazem de conjuntura da sociedade brasileira essencialmente sobre anaacutelise governamental em relaccedilatildeo ao governo Lula como tambeacutem as estrateacutegias as accedilotildees e organizaccedilatildeo do MESS o que por muitas vezes acabam por limitar o debate no interior do movimento estudantil sectarizando o movimento e dificultando o fortalecimento das lutas(45)

Diante do exposto eacute possiacutevel apreendermos o quanto processual eacute a

organizaccedilatildeo no MESS e que os agrupamentos expressam as divergecircncias disputas e

a heterogeneidade caracteriacutestica desse movimento Analisamos ainda que a

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de agrupamentos em curto espaccedilo de tempo revelam

instabilidades poliacuteticas pela qual perpassa o MESS na atualidade e que imbuiacuteda nessa

conjuntura de instabilidade e retraccedilatildeo poliacutetica da classe trabalhadora se expressam

em posicionamentos diferenciados em relaccedilatildeo ao governo Lula bem como no tocante

as entidades sindicais e estudantis criadas depois da ascensatildeo do PT ao governo

federal como a CONLUTAS e a CONLUTE

150

Direcionamento desfavorvel a atuao dos grupos polticos foi sinalizada

por um(a) das dirigentes entrevistados(a) pertencente a gesto 20072008 e que se

declarou no pertencer a nenhum agrupamento existentes no MESS segundo o qual

As correntes dentro do MESS sempre tiveram como pano de fundouma influncia partidria velada O que do meu ponto de vista engessa os debates empobrece os espaos de participao dos estudantes fragiliza e fragmenta o movimento estudantil A atuao das tendncias tem se limitado a disputa por cargos de direo da ENESSO e no percebo contribuies de nenhuma corrente para a abertura e consolidao de novos DAs CAs entre outros aspectos relevantes para o movimento Sua participao se limita praticamente aos Encontros utilizando de uma poltica panfletria para adeso de novos militantes No entanto isso no significa que no possuam influncia na escolha dos dirigentes da ENESSO Apesar das limitaes apresentadas e das incoerncias apontadas conseguem articular no momento dos encontros as faculdades para a eleio dos novos representantes(Marte)

Como demonstrado na construo do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

a maioria de militantes no filiados(as) a partidos polticos entretanto no podemos

desconsiderar a vinculao existentes entre esses dois sujeitos coletivos que se

manifesta tambm na filiao partidria de estudantes organizados em

agrupamentos no MESS Dessa maneira significativa a presena na construo do

MESS de sujeitos inseridos(as) no PSOL PSTU e PT este que teve militantes

filiados(as) na direo nacional da ENESSO em todas as gestes abordadas no

perodo aqui analisado No mbito de discusso dessa problematizao Santos

assinala uma perspectiva polmica que se processa nos debates do MESS

presente nos debates[] a preocupao com as influncias das correntes polticas partidrias no movimento Esse debate polariza-se fundamentalmente sob as tentativas de aparelhamento do movimento estudantil pelos partidos polticos que buscam fazer da ENESSO uma correia de transmisso das lutas e das pautas partidrias ndash no caso dos ltimos encontros (2004-2007) trata-se da prtica poltica dos sujeitos ligados a tendncia interna do PT Articulao de Esquerda AEPT (chegou a hegemonizar o ex-Coletivo ldquoViver Na Lutardquo ndash findou sua contribuio no XXIX ENESS2007) pelos militantes do [] PSTU (mantm hegemonia sob o coletivo ldquoA sada pela Esquerdardquo e busca dentre outras pautas impor o rompimento poltico da ENESSO com a UNE de forma sectria e a construo da CONLUTE Tal prtica muitas vezes se afasta das discusses especficas do MESS especialmente no eixo de formao profissional) pelos militantes ligados [] PSOL (Mantm hegemonia no recente coletivocriado em 2006 ldquoPor um MESS de Caras e Coraes Novosrdquo e na Tese ldquoProjeto Democrtico e Popular- PDPrdquo Esse coletivo se inscreve como uma alternativa frente a crise instaurada no movimento a partir

151

das disputas pela direo da ENESSO no entanto no conseguiu efetivamente fazer sua poltica e acabam por seguir as orientao polticas do coletivo ldquoA sada Pela Esquerdardquo(SANTOS71 2007 p122)

Temos a compreenso que o aparelhamento se expressa por exemplo

na ausncia de espaos democrticos o que no ocorre no MESS pois existe um

variedade de fruns estudantis que possibilita a participao dos(as) estudantes nas

tomadas de deciso o que se confirma no processo de aprovao das deliberaes

que norteiam a direo poltica a ser assumida pela ENESSO entretanto no

podemos deixar de considerar que o MESS passa atualmente por momentos de

instabilidades e que repercute na sua entidade mxima Sem dvidas se processa

um contexto de acirramento entres os grupos polticos atuantes no MESS mas isso

reflete a conjuntura na qual estamos imbudos(as) no remetendo necessariamente a

uma tendncia de busca de aparelhamento da executiva pois se assim fosse no

perodo aqui investigado no qual tivemos a predominncia de militantes do

agrupamento viver na luta hegemonizado pela AEPT como afirmado por

Santos(2007) nos documentos produzidos pela entidade no se apresentaria uma

negao da contra-reforma do ensino superior do governo Lula pois estaria se

contrapondo as recomendaes do Partido e uma entidade aparelhada desconsidera

as demandas do movimento para atender as requisies partidrias o que no se

verificou nessa pesquisa no que concerne a atuao da ENESSO no mbito da

universidade

Dessa maneira temos a concepo que a existncia de partidrios(as) do

PT na direo da ENESSO no significa necessariamente e de modo mecanizado a

aceitao da contra-reforma do ensino superior implementada pelo governo do PT

tendncia evidenciada nos documentos produzidos pelas gestes da entidade e

analisados no item anterior Essa perspectiva tambm reforada nas entrevistas

concedidas pelos(as) militantes e sintetizada na fala de Vnus

No ano em que era membro da Executiva ramos contrrios a reforma universitria pelo fato da reforma se constituir em uma estratgia superficial de enfrentamento da educao brasileira que legitima o processo de precarizao massificao e mercantilizao do ensino transformando os direitos sociais em mercadorias e servios

71 O autor tambm explcita que nos ENESS que compreendem o perodo de 2004-2007 as teses em sua totalidade privilegiaram as discusses em torno do eixo de conjuntura trabalhando de modo superficial as demais esferas universidade formao profissional movimento estudantil e Cultura e Valores

152

O posicionamento contraacuterio da ENESSO foi ressaltada por todos(as) os

entrevistados(as) sendo que em cada gestatildeo as discussotildees produccedilatildeo de material

desenvolvimento de atividades como oficinas divulgaccedilatildeo de textos entre outros

consideravam a complexidade e processualidade do real Nesse sentido podemos

afirmar que nas gestotildees 20032004 e 20042005 a aproximaccedilatildeo entendimento e

direcionamento contraacuterios as medidas iniciais propostas e executadas pelo governo

como o SINAES e o PROUNI consistiam no alvo prioritaacuterio dessas atividades

Conforme Urano da gestatildeo 20042005

Noacutes desencadeamos uma campanha que foi contra a reforma universitaacuteria do governo lula em defesa das diretrizes curricularesHouveram varias accedilotildees primeira accedilatildeo e aiacute saiu como deliberaccedilatildeo no eness que noacutes divulgamos foi o boicote ao enade[]e aiacute a gente jaacute saiu do eness com essas deliberaccedilatildeo de boicotar o enade Aprovamos como seria a nossa taacutetica no planejamento que foi em agosto e aiacute a partir daiacute noacutes elaboramos boletins elaboramos planfetos com dez motivos para boicotar o enade entramos em contato com as coordenaccedilotildees regionais com os centros acadecircmicos e fizemos toda a campanha a primeira accedilatildeo de boicote ao enadeApoacutes o boicote noacutes fizemos que aiacute ta no jornal[]avaliaccedilatildeo desse boicote eacute aleacutem disso[]que foi esse debate mais amplo sobre a reforma universitaacuteria[]fizemos vaacuterias palestras fizemos adesivos fizemos oficinas passadas nas universidades Nesse sentido orientamos para que nos encontros tanto nos coress nos eress houvessem discussotildees nesse sentido e aiacute tambeacutem aconteceu que em todos esses encontros tinham esse debate debater o mote da campanha e levando as especificidades de cada regiatildeo[]mas sempre presentes nos debates nos encontros nas oficinas orientando as universidades a fazerem debates palestras seminaacuterios para que fosse esclarecendo aos estudantes neacute Do que se tratava a reforma universitaacuteria

Nas gestotildees seguintes 20052006 20062007 e 20072008 o

posicionamento de negaccedilatildeo a contra-reforma se manifesta tambeacutem nas criacuteticas

direcionas a aberturas e proliferaccedilatildeo dos cursos em Serviccedilo Social agrave distacircncia nas

discussotildees e negaccedilatildeo do exame de proficiecircncia na profissatildeo nas criacuteticas feitas ao

REUNI Dimensatildeo sintetizada na argumentaccedilatildeo de Neturno da gestatildeo 20062007

O REUNI[] eacute um debate que vai contra a tudo que gente defendeprincipalmente por que a nossa defesa do projeto pedagoacutegico jaacute imbrica na disputa de espaccedilo com esse projeto do REUNI entatildeo isso eacute algo que jaacute foi constituiacutedo no final no termino da nossa gestatildeo mas que ficou claro[] natildeo dava pra ser a favor daquilo que batia direto nas nossas diretrizes curriculares batia em tudo que a gente havia deliberado ao longo do ano no encontro nacional em tudo que tinha sido construiacutedo ateacute do plano de accedilatildeo da proacutepria gestatildeo

153

Os(as) dirigentes da ENESSO apreendem a contra-reforma como um

processo desencadeado principalmente na era FHC e dessa maneira natildeo deve ser

entendido sem essa anaacutelise histoacuterica mais ampla Corroboramos com a anaacutelise feita

pelos(as) militantes entrevistados(as) contudo temos a concepccedilatildeo que por se tratar

de um governo de um partido forjado no campo dos MS as suas accedilotildees deveriam ser

de resistecircncia aos ditames do capital e natildeo de entrega da educaccedilatildeo a plena

exploraccedilatildeo capitalista sem o esboccedilo de nenhum confronto conflito ou desobediecircncia

aos organismos internacionais

No tocante a formaccedilatildeo profissional os dados destacam o compromisso do

MESS e de sua entidade nacional com a defesa do projeto pautado nas Diretrizes

Curriculares elaboradas pela ABEPSS em 1996 e que desde o processo de

aprovaccedilatildeo pelo CNE sofre os rebatimentos da poliacutetica privatizante que atinge a

educaccedilatildeo superior brasileira Conforme argumentaccedilatildeo de Ramos(2005 p102)

a formaccedilatildeo profissional eacute um acircmbito que vem tendo um investimento prioritaacuterio do MESS a partir da compreensatildeo de que o debate em torno do projeto de formaccedilatildeo profissional eacute um campo de disputa ideoloacutegica e poliacutetica para a defesa de uma outra direccedilatildeo para universidade bem como de uma outra hegemonia para a sociedade

A direccedilatildeo social criacutetica da formaccedilatildeo defendida pela ENESSO e expressa

tanto nos documentos produzidos como na fala de seus(as) dirigentes apresenta

sintonia com a afirmaccedilatildeo da autora

A formaccedilatildeo profissional consiste um dos eixos prioritaacuterios de debate no

MESS No ENESS satildeo formados grupos de discussatildeo voltados para o debate dessa

temaacutetica resultando nas deliberaccedilotildees aprovadas na plenaacuteria final e que constitui o

norte para a accedilatildeo da ENESSO como tratado no item anterior

A defesa do projeto de formaccedilatildeo profissional se manifesta tambeacutem na

articulaccedilatildeo da ENESSO com a ABEPSS e o CFESS no desenvolvimento de

encontros e atividades voltados para discussatildeo da formaccedilatildeo e do exerciacutecio

profissional Temos o entendimento que universidade formaccedilatildeo e o exerciacutecio

profissional satildeo dimensotildees distintas e interdependes entre si e que constituem

esferas privilegiadas de discussatildeo no acircmbito da organizaccedilatildeo estudantil Essa

tendecircncia se verifica de modo majoritaacuterio pelos sujeitos entrevistados(as)

Eacute o mess ele sempre teve pautado na defesa das diretrizescurriculares e a efetivaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do serviccedilo social entatildeo assim eacute natildeo haacute uma dissociaccedilatildeo a militacircncia a construccedilatildeo poliacutetica a defesa de uma universidade puacuteblica gratuita e de qualidade dentro dos princiacutepios do projeto eacutetico poliacutetico profissional e das diretrizes curriculares( Terra)

154

A investigaccedilatildeo realizada por Santos(2007) sugere que a esfera da

formaccedilatildeo profissional se configurou como o eixo que provocou maior interesse

dos(as) estudantes que estiveram presente no ENESS de 2007 com o percentual de

38 da amostragem produzida por ele72 Entretanto as discussotildees sobre a formaccedilatildeo

profissional natildeo podem ser entendidas sem contextualizaacute-las na atual dinacircmica da

sociabilidade capitalista e suas particularidades na realidade nacional

Quanto agraves limitaccedilotildees foram salientadas pelos dirigentes nacionais

questotildees financeiras que dificultam a materializaccedilatildeo das atividades planejadas para

objetivaccedilatildeo das deliberaccedilotildees

A dimensatildeo geograacutefica do paiacutes que mesmo com a existecircncia das

coordenaccedilotildees regionais inviabiliza a atuaccedilatildeo da executiva na totalidade das escolas

de Serviccedilo Social realidade que se tornou mais complexa com a intensificaccedilatildeo da

privatizaccedilatildeo no ensino superior que ampliou de modo expressivo os cursos na

iniciativa privada Entretanto eacute interessante destacar que pode existir profundos

tensionamentos entre coordenaccedilatildeo nacional e regional pois a eleiccedilatildeo para as

regionais satildeo realizadas nos ERESS e desvinculadas da eleiccedilatildeo nacional o que por

sua vez e permite ainda a ocupaccedilatildeo dessas instacircncias por militantes com

posicionamentos poliacuteticos divergentes da direccedilatildeo nacional Essa perspectiva foi

salientadas por dois(duas) dirigentes que sinalizaram dificuldades da ENESSO em

desenvolver atividades em determinadas regiotildees

A mercantilizaccedilatildeo tambeacutem traz dificuldades para a atuaccedilatildeo da ENESSO

pois a fala majoritaacuteria dos(as) entrevistados(as) indicam maior autonomia de

organizaccedilatildeo na esfera puacuteblica

A fraacutegil formaccedilatildeo poliacutetica dos(as) estudantes que corroboram para uma

negaccedilatildeo da organizaccedilatildeo estudantil por parte do proacuteprio segmento que imbuiacutedos na

loacutegica dominante nega as vivecircncias coletivas Essa tendecircncia requisita dos(as)

militantes principalmente daqueles(as) que assumem as entidades estudantis como

a ENESSO uma formaccedilatildeo poliacutetica consistente e qualificada com vista ao

enfrentamento dessas barreiras no cotidiano de sua accedilatildeo Eacute relevante frisar que

conforme definiu Fontes(2009) vivenciamos um contexto de fragilidade dos MS em

que a classe dominante se utiliza da coerccedilatildeo e do convencimento para amenizar as

accedilotildees de contestaccedilatildeo dessa ordem Ainda assim a autora acredita que

72 Conjuntura obteve o percentual de 29 Cultura 6 Universidade 12 e Movimento Estudantil 15

155

Essa juventude tem limites para aturar goela abaixo a privatizao do ensino superior a fragmentao do ensino superior numa hierarquizao alucinada segundo a qual alguns vo ter cursos superiores de boa qualidade e uma grande massa ser de tecnlogos de 2 anos ou cursos distncia de pssima qualidade Durante algum tempo isso pode funcionar mas no por muito tempo A nossa juventude no idiota e a populao tambm no boba Se a grande imprensa atua tratando essa populao como bicho de zoolgico no pior sentido essa populao reage(FONTES73 2009 p10)

Foi citado ainda que a ldquotenso com alguns grupos polticos dentro do

MESS dificulta a organizao de alguns encontros campanhas socializao de

informaes estratgias de lutas nacionaisrdquo(Marte) Alm dessas sinalizaes

consideramos relevante a apreenso realizada pelo(a) entrevistado(a) quanto ele(a)

explicitava outros limites no decorrer da sua gesto

tem o limite conjuntural que n Na poca que participei fazendo um recorte gente j t dentro do recuo dos MS n Tem a dificuldade da organizao coletiva isso a principal limitao n De militncia mesmo no que eu estou colocando a questo financeira a questo outra mas a questo conjunturalmente dificulta que o limite maior da implementao da luta pela universidade pblica gratuita e de qualidade n Para implementao do projeto tico poltico profissional a gente est numa conjuntura adversa onde os MS passam por um refluxo enorme n E onde o individualismo a questo do individualismo da falta de interesse coletivo a principal barreira do militante dentro da executiva ento essa a avaliao que eu fao do ponto de vista das limitaes

A fala do(a) militante expressa os valores predominante nesta

sociabilidade e que fragiliza as organizaes coletivas como MS que

majoritariamente apresentam uma atuao de recusa da ordem societal estabelecida

No tocante as potencialidades apreendidas pelos dirigentes no

desenvolvimento das aes efetivadas pela ENESSO so destacas o papel da

entidade na apreenso das inquietaes estudantis a partir dos debates travados nos

fruns74 do MESS contribuindo para que a executiva seja um importante sujeito na

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social em articulao com a ABEPSS e o

CFESS A discusso da entidade com a base estudantil que corrobora para uma

atuao democrtica mediante a materializao de atividades discutidas

73 Em entrevista concedida pela autora ao observatrio Barlavento e disponibilizada no sitehttpwwwbarlaventoorga3indexphpoption=com_contentampview=articleampid=70entrevistacom-virginia-fontesampcatid=47brasilampItemid=65 acesso 30 de abril de 200974 Santos destaca os dados de sua pesquisa sugere que a principal motivao que levou os(as) estudantes a participar do ENESS de 2007 se remete ao interesse de acompanhar os debates contemporneos que afetam e influenciam a profisso

156

preponderantemente com o coletivo de estudantes O debate constante com as

coordenaes regionais respeitando as especificidades de cada regio A autonomia

do ME e em particular da ENESSO frente ldquoao movimento dos professores da

prpria categoria de Servio Social sempre uma postura de autonomia de

independnciardquo(URANO) tambm foi salientada pelos(as) dirigentes

As estratgias citadas pelos entrevistados(as) foram a descentralizao

poltica na qual cada coordenador(a) nacional fica responsvel pela cobertura das

escolas de uma determinada regio quando se trata da realizao de oficinas

seminrios visitas as escolas e tambm a participao e construo dos fruns

estudantis locais e regionais O incentivo a construo de CA e DA em escolas nas

quais essas instncias inexistiam seja na iniciativa pblica ou privada Articulao

com as representaes discentes em ABEPSS com o objetivo de fortalecer a luta em

favor das Diretrizes Curriculares O desenvolvimento de campanhas de quitao de

dbitos das escolas visto que a ENESSO mantida pelo pagamento de anuidades75

por parte dos CAs e DAs dos cursos de Servio Social como forma de potencializar

a autonomia da entidade

Os(as) entrevistados(as) apontam como principais aliados do MESS e por

conseguinte da ENESSO as demais entidades representativa da profisso a

ABEPSS e o CFESS e os CRESS que compartilham princpios lutas e atividades

nessa conjuntura desfavorvel a organizao e articulao poltica de segmentos

negadores dessa ordem Entretanto Marte referindo aos CRESS evidencia que ldquocabe

ressaltar que em alguns estados o dilogo com essa instncia difcilrdquo

As entidades estudantis que tem uma postura de defesa da universidade

e de um ensino superior com qualidade tambm foram ressaltadas direes de

faculdades especialmente pblicas alm do ANDES que tido como um importante

aliado na defesa por uma educao qualificada e na prpria luta contraria a atual

contra-reforma do ensino superior A direo minoritria da UNE tambm foi citada

por dois militantes que salientam as contradies existentes naquela entidade J que

a eleio da mesma proporcional e isso possibilita a ocupao de alguns cargos por

dirigentes no pertencentes corrente majoritria no caso a UJS vinculada ao PC do

B foram salientados ainda o MST e a CUT como importantes aliados da entidade

Mediante as entidades e movimentos citados apreendemos que a

executiva procurar construir alianas com sujeitos que predominantemente no

decorrer da histria apresentou eou apresenta uma postura de defesa de direitos e

situada no campo da esquerda nacional Entretanto isso no significa a inexistncia

75 A anuidade equivale ao valor do salrio mnimo vigente no pas As escolas que sediaram encontros no decorrer do ano so isentas do pagamento

157

de contradies em que citamos a UNE e a CUT como entidades que tem

apresentando uma atuao acrtica na atual conjuntura nacional tendncia que

culminou inclusive com a desfiliao do ANDES da referida entidade sindical

Quanto aos opositores os(as) dirigentes da ENESSO destacam as

mantenedoras e coordenaes de cursos de universidades privadas que impediam o

acesso dos(as) dirigentes aos(as) estudantes como demonstrado na seguinte

passagem aqueles(as) ldquoque fazem a defesa intransigente da instituio no campo de

defesa do campo de trabalho eu trabalho aqui como que eu vou bater e se perde

dentro do campo contraditrio da atuao profissionalrdquo (Neturno) Foi ressaltado

ainda rgo de represso do Estado especialmente a polcia que procura reprimir as

mobilizaes estudantis

No ENESS 2007 alguns estudantes foram ameaados pela polcia outros foram atingidos por spray de pimenta Na luta pelo passe-livre foi utilizado cavalaria contra os estudantes tropa de choque seguranas de universidades usando de fora fsica excessiva pararetirar estudantes de reitorias etc(Marte)

Para Terra o grande opositor o prprio sistema vigente uma conjuntura

que dificulta a efetivao das lutas dos MS e em particular do MESS e de sua

entidade nacional Certamente estamos numa sociabilidade negadora de vivncias

coletivas pois o que predomina a imediaticidade e a busca pelos anseios individuais

entretanto no podemos negar que a burguesia tem entidades e organismos que

defendem seus interesses em detrimentos das demandas dos segmentos

subalternizados Exemplo disso consiste a investida do capital na educao superior e

que atualmente conta expressivamente com o aparelho do Estado com a grande

mdia com corporaes financeiras entre outras

No campo de dificuldades em termos da organizao poltica do MESS

os(as) dirigentes evidenciaram a expanso da privatizao do ensino superior visto

que segundo suas contribuies recorrente a represso nesses espaos O reduzido

registro histrico sobre o ME reflexo da prpria transitoriedade desse movimento

Dificuldades dos(as) estudantes incluindo os(as) coordenadores(as) da ENESSO em

participar de todos os eventos expresso das prprias condies objetivas dos(as)

militantes e de seus compromissos cotidianos Conseguir maior adeso dos(as)

estudantes e fazer com que eles(as) se percebam nos fruns estudantisrdquo fazer com

que o estudante perceba que o seu problema cotidiano est ali sendo discutidordquo

(Urano) Ainda foi citada os tensionamentos de atuar em um espao to heterogneo

com a existncia de posicionamentos diversos e s vezes antagnicos Marte traz uma

reflexo polmica sobre as dificuldades enfrentadas na gesto 20072008 e que se

158

remete aos agrupamentos polticos atuantes no movimento e que consistem numa

expresso dessa diversidade caracterstica do ME e especial do MESS Para ele(a)

as tendncias

O debate sobre a contribuio das ldquotesesrdquo polmico e meu posicionamento contrrio a qualquer forma de aparelhamento ou ingerncia partidria no MESS No foram raras s vezes em que os encontros foram implodidos por tais correntes As teses tm em minha opinio contribudo para a fragmentao desarticulao e sectarizao dos estudantes Os Encontros tm sido permeados por embates entre as teses perdendo o debate das mesas desmotivando os estudantes e enfraquecendo o movimento Esse talvez nesse momento possa ser um dos fatores de maior fragilizao do MESS Observadas com mais ateno percebe-se um carter denuncista e quase nulo em proposies para superao dos problemas do MESS A contribuio poltica que segundo alguns defensores poderiam ser utilizados seriam os debates macro societrios mas que so apresentados como leitura de cartilha e no como um estudo de fato de uma situao O que em minha opinio empobrece a discusso e no traz benefcios para o pensamento crtico(Marte)

Afirmandonegando a argumentao acima Terra da gesto 20052006

explicita que apesar da

necessidade e da legitimao que eu fao dos agrupamentos polticos mas na poca que eu estava na executiva j existiam um enfraquecimento desses agrupamentos polticos a organizao ela j estava se tornando frgil ns no tnhamos mais as grandes plenrias dos movimentos o movimento poltico partidrio ele comea a ficar mais latente e a as brigas internas do movimento elas se tornam mais visveis mas no do ponto de vista estratgico mas do ponto de vista poltico partidrio ento eram as principais dificuldades e a questo da organizao poltica ela vem n

Analisando a fala dos(as) entrevistados(as) apreendemos que so

posicionamentos diferentes em relao aos grupos polticos enquanto um(a) defende

e legitima atuao dos mesmos outro(a) coordenador(a) da ENESSO a nega

entretanto ambos concordam no sentido de atribuir a esses grupos ampla ao

nesse processo de fragilizao pela qual perpassa o MESS na contemporaneidade

que se expressa por exemplo na no ocupao das coordenaes nacionais para

gesto 20082009 da ENESSO

No nosso entendimento para Marte da gesto 20072008 os

agrupamentos se constituem em correia de transmisso dos partidos polticos para

com o MESS o que por sua vez fragiliza e desmobiliza esse movimento mediante o

159

enfraquecimento ou anulao de sua autonomia Enquanto que para Terra da gesto

20052006 os agrupamentos historicamente constituem os principais impulsionadores

da poltica da ENESSO e o que acontece hoje que eles no esto mais formulando

organizando e propondo ldquode voc realizar plenria produzir material fortalecer a

entidaderdquo (Terra) e quando essas dimenses deixam de ser pautadas o que mais

reflete so as vinculaes partidrias deixando o precpuo ou seja o fortalecimento

do MESS para segundo plano

Analisamos que a existncia de agrupamentos polticos inclusive no ME

e aqui especificamente do MESS reflete uma tendncia de discusso organizao e

atuao com posicionamentos divergentes que a vivncia no campo da democracia

poltica possibilita e que os(as) estudantes tiveram importante atuao nessa

conquista

Destarte no fazemos defesa da utilizao das organizaes estudantis

por sujeitos com mera pretenso partidria que procuram aparelhar as entidades o

que por sua vez representa a reduo ou anulao de espaos democrticos nos

debates e tomadas de decises visto que a principal pretenso colocar a entidade

prioritariamente a disposio do partido Temos o entendimento que as organizaes

estudantis se configuram como espaos de referncia dos(as) estudantes na sua luta

cotidiana em instituies pblicas e privadas O que no significa a negao de

vinculao com outros sujeitos coletivos como MS e Partidos polticos na construo

de alianas com o objetivo de realizar aes que ultrapassem as demandas

especficas do segmento ou seja necessria a articulao quando se visa

ultrapassagem de conquistas corporativas e se busca a negao da sociabilidade

capitalista objetivo histrico e majoritrio no MESS

A anlise realizada pelos (as) dirigentes sobre a atuao do ME na

contemporaneidade no sentido de que no se pode pensar a atuao desse

segmento sem contextualiz-la nessa conjuntura neoliberal de no ascenso dos MS

em que cada vez mais predomina o individualismo e a negao de prticas coletivas

Dimenso que sintetizamos na fala de Urano ldquoacho que os anos 1990 foram muito

perversos como estvamos num processo de reorganizao ele veio com muita fora

para desarticular esses MSrdquo

um contexto de refluxo que corrobora para o enfraquecimento das lutas

sociais alm disso na realidade brasileira historicamente a principal entidade

dos(as) estudantes passam por um processo de cooptao por parte do governo

federal em que nitidamente so efetivadas medidas que fragilizam a perspectiva de

universidade pblica e potencializam a esfera privada com amplo apoio da UNE No

caso especfico do MESS a principal entidade passou o perodo de gesto 2008-2009

160

sem dirigentes para impulsionar a poltica da entidade o que rebate negativamente na

organizao e mobilizao estudantil

Embora com tantas dificuldades militantes apontam que ainda assim o

ME tem sido importante na luta em favor da universidade pblica gratuita laica e de

qualidade no Brasil Conforme Marte

Infelizmente concordo com alguns autores que apontam o refluxo dos movimentos sociais e no caso do MESS Existe uma crise de quadros no MESS que tem atingido a estrutura de nossa organizao Apesar disso identifico no movimento estudantil um enorme potencial transformador da sociedade [] Fica mais evidente o movimento estudantil na luta pela universidade pblica Que no meu entender ainda no foi extinta pela intensa luta dos estudantes dessas instituies Em algumas faculdades privadas como as PUCrsquos percebemos uma organizao estudantil capaz de barrar aumentos de mensalidades denncia de falta de investimento em corpo docente materiais livros etc

Na apreenso de todos(as) os(as) entrevistados(as) a atuao dos(as)

estudantes fundamental para preservao e conquista de direitos na esfera

educacional dimenso privilegiada no Servio Social pelo prprio perfil de formao

profissional que mediante a anlise crtica da sociabilidade capitalista e da formao

econmica social e poltica do Brasil corrobora para uma interveno crtica dos(as)

estudantes

Diante do exposto os(as) militantes entrevistados(as) apreendem a

ENESSO como uma entidade combativa e comprometida com a universidade pblica

e com o projeto profissional do Servio Social e fundamental na articulao nacional

dos(as) estudantes e que no decorrer de sua histria tem contribudo politicamente

com as lutas dos(as) assistentes sociais brasileiros(as)

voltando pra importncia da entidade s a gente remontar a nossa histria ns participamos diretamente da reformulao das diretrizes curriculares ns participamos diretamente na construo do cdigo de tica ns participamos ativamente dentro do debate de construo da lei orgnica da assistncia ns participamos atualmente dentro dos debates mais importantes dentro da categoria o debate sobre construo ou no do exame de proficincia[]ns temos sim grande importncia essa uma instituio uma entidade que tem importncia concreta na luta real dos estudantes de servio social no Brasil e dos assistentes socais de uma forma mais geral (Neturno)

Alm disso recorrente na fala dos(as) militantes a participao no ME

em particular no MESS e na coordenao da ENESSO como relevante na construo

161

de um pensamento e da ao crtica que se procura manter aps a concluso do

curso mediante a militncia em outros espaos como entidades da profisso outros

MS e partidos polticos Essa perspectiva j havia sido sinalizada por

Ramos(2005)ldquoEnquanto movimento social com base transitria o ME um locus

muitas vezes de iniciao de parcela da juventude na militncia poltica se

configurando como um espao de formao poltico-ideolgica de militantes que

depois iro atuar em outras esferas organizativasrdquo(p105) Essa perspectiva tambm

sinaliza em Silva(2008) que concebe o MESS como importante espao na formao

profissional e poltica dos(as) estudantes

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies

Como j foi relatado no perodo investigado nesta pesquisa ocuparam

majoritariamente a coordenao nacional da ENESSO sujeitos organizados

simpatizantes eou apoiados pelo agrupamento e militantes do ldquoViver na Lutardquo Embora

no se constitua objetivo principal dessa pesquisa o estudo sobre os agrupamentos

que atuam no MESS consideramos ser importante destacar a apreenso de um(a)

militante que atuou no MESS de 20042008 e esteve como coordenador(a)76 regional

da ENESSO na condio de oposio a coordenao nacional

As contribuies do(a) dirigente regional se estrutura a partir de trs

questionamentos anlise em relao atuao das tendncias no MESS atuao da

ENESSO nos mbitos da universidade e da formao profissional objetivo precpuo

desse trabalho e finalmente atuao da executiva no processo de organizao e

mobilizao dos(as) estudantes na contemporaneidade

Em relao primeira discusso o(a) dirigente regional defende que as

tendncias foram fundamentais na construo do MESS pois contribuiu na

organizao estrutural dos encontros bem como no amadurecimento poltico dos(as)

militantes mediante a elaborao de documentos fomentao de debates e

corroborou ainda na aproximao do MESS com partidos polticos e outros MS

permitindo que o movimento apresente atualmente uma atuao no restrita ao

espao universitrio

Como observado essa concepo no se difere da maioria dos(as)

dirigentes nacionais entrevistados(as) nesta investigao que tambm sinalizam a

76 A(o) militante receber o nome fictcio de Luz Estudante de universidade pblica que atuou em instncias como CORETUR e CA A dirigente no filiado(a) a partido poltico

162

relevacircncia dos agrupamentos na construccedilatildeo do MESS a partir do desenvolvimento de

debates na construccedilatildeo dos foacuteruns estudantis na elaboraccedilatildeo de documentos que

abordam questotildees fundamentais como conjuntura universidade cultura formaccedilatildeo

profissional e sobre o proacuteprio movimento Luz reflete tambeacutem a articulaccedilatildeo dos grupos

presentes no MESS com os partidos poliacuteticos que na sua concepccedilatildeo

Todas as tendecircncias que existiram no MESS tiveram em algum momento militantes filiados a partidos poliacuteticos o que muitas vezes permitiu uma correlaccedilatildeo de forccedilas entre os partidos poliacuteticos e as tendecircncias Quando na histoacuteria brasileira se acirram as disputas entre os partidos de esquerda se acirram tambeacutem as disputas entre as tendecircncias no MESS havendo entatildeo uma pluralidade de direcionamentos poliacuteticos e ideoloacutegicos Esse processo refletia diretamente na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo do MESS trazendo em alguns momentos fortalecimento e em outros desmobilizaccedilatildeo dos estudantes para as lutas(Luz)

Para Marte da gestatildeo 20072008 que se colocou contraacuterio a accedilatildeo dos

grupos acredita que a real disputa pela ENESSO por militantes filiados(as) a partidos

poliacuteticos em especial do PSTU eacute decorrente da forte atuaccedilatildeo da ENESSO que se

configura como uma das executivas de cursos mais combativas e com poder de

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo estudantil o que no seu entendimento chama atenccedilatildeo dos

partidos77

A combatividade da executiva pode chamar a atenccedilatildeo de diferentes

correntes partidaacuterias entretanto o fato em si de militantes do MESS atuarem tambeacutem

em partidos entre os quais o PSTU natildeo significa que a intenccedilatildeo preponderante

desses militantes seja ocupar os espaccedilos da ENESSO com vista a atender

meramente os interesses partidaacuterios Expressatildeo disso eacute que como registrado no item

que tratou do perfil dos(as) dirigentes nacionais da entidades nas gestotildees entre os

anos de 2003-2008 em relaccedilatildeo a filiaccedilatildeo partidaacuteria existiu uma total predominacircncia

de coordenadoras filiados ao PT e na maioria dos casos essa se deu apoacutes a inserccedilatildeo

no MESS e mesmo assim nos documentos produzidos pela entidade fica explicito a

sua direccedilatildeo de recusa da contra-reforma do ensino superior do governo Lula inclusive

encampando accedilotildees de repercussotildees significativas como foi o boicote ao ENADE em

2004 o que natildeo representa a inexistecircncia de limitaccedilotildees e contradiccedilotildees

especialmente nesse cenaacuterio de fragilizaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo dos MS e de

desconfianccedila e descreacutedito em relaccedilatildeo aos partidos poliacuteticos

77 Eacute importante destacar que natildeo soacute militantes de partidos poliacuteticos forjado no campo da esquerda atuam no MESS ainda que de forma tiacutemida se faz presente militante identificados com partidos historicamente situados no campo de direita e comprometidos com os privileacutegios da burguesia Nos congressos da UNE eacute recorrente a articulaccedilatildeo da juventude de partidos como o PMDB e os DEMOCRATAS estes anteriormente chamados de PFL jovem

163

Segundo as contribuies de Luz avanos e retrocessos perpassam a

atuao dos agrupamentos existentes no MESS Essa perspectiva se verifica por

exemplo quando os(as)

estudantes no conseguem nos encontros tirar deliberaes em comum para a luta da ENESSO e quando como ocorreu em muitos ENESSrsquos a fragilizao nos atos pblicos porque as teses se dividiram no ato porque tinham divergncias nas bandeiras de lutas Em alguns encontros os estudantes que no faziam parte das tendncias demonstravam claramente empatia e rejeio s teses e a partidos polticos e colocavam que as disputas tinham apenas o objetivo de conseguir a diretoria da ENESSO

A fala do(a) entrevistado(a) nos remete a reflexo em torno da ao dos

agrupamentos polticos nessa conjuntura de acirramento das disputas entre as

vertentes que se organizam no MESS Analisamos que essa efervescncia seja

reflexo sobretudo da conjuntura nacional visto que um dos pontos prioritrios que

distinguem os grupos que existiram eou existem no perodo dessa investigao se

refere prioritariamente a uma posio de rejeio ou no em relao ao governo Lula e

ao reconhecimento ou no da UNE como entidade mxima de organizao e na

mobilizao e direcionamento das lutas e demandas estudantis no pas Portanto a

existncia de diviso em atos pblicos revela prticas sectrias e que certamente

fragilizam o movimento Agrupamentos como o recm acabado Viver na Luta tese que

esteve majoritariamente na direo nacional da ENESSO no perodo aqui analisado

apresentava uma atuao de defesa em relao a UNE e desse modo de

possibilidade de reorganizao e retomada combativa dessa entidade j o grupo A

Sada pela Esquerda majoritariamente faz a defesa de que ldquopermanecer nos

marcos da UNE gastar energia numa luta intilrdquo (2005)

No que se refere atuao da ENESSO nos mbitos da universidade e da

formao profissional o(a) militante enfatiza que historicamente a defesa da

universidade pblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formao

profissional fundado no projeto tico poltico do Servio Social constituem esferas

defendidas pelo MESS e dessa maneira ele(a) sinaliza a necessidade da atuao da

ENESSO independente da chapa eleita seguir as orientaes previstas nas

deliberaes aprovadas pelo conjunto de estudantes presentes no Encontro Nacional

do segmento

Nesse sentido assinalamos anteriormente que as deliberaes ratificadas

nos ENESS que compreendem o interregno de 2003-2008 apresentaram uma

postura de afirmao de processos formativos fundamentados nas Diretrizes

Curriculares de 1996 bem como direcionaram a entidade a assumir uma direo de

164

defesa da universidade puacuteblica e socialmente referenciada o que por sua vez implica

a luta em oposiccedilatildeo a contra-reforma do ensino superior efetivada nas gestotildees de

Lula Diante do exposto Luz reflete sobre possiacuteveis limitaccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS e

da ENESSO no acircmbito da universidade decorrentes das polecircmicas que envolvem a

forma de articulaccedilatildeo com o ME geral

isto porque nas ultimas gestotildees da diretoria da ENESSO essa articulaccedilatildeo ocorre atraveacutes da UNE e muitosas estudantes apesar dela ser a entidade maacutexima de representaccedilatildeo dos estudantes natildeo acredita em seu poder de enfrentamento pois ela tem sido a favor de todas as propostas do governo com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria Essa polemica se estende haacute alguns anos e nos ENESS se colocam como ponto central na discussatildeo sobre articulaccedilatildeo com o ME geral Os estudantes se dividem uns acreditam que a articulaccedilatildeo deve continuar sendo atraveacutes da UNE outros defendem que seja atraveacutes de outras entidades como a CONLUTE e movimentos de aacuterea Eacute importante ressaltar o interesse poliacutetico nessas discussotildees e articulaccedilotildees essas disputas poliacuteticas em alguns momentos acabam por limitar a articulaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da ENESSO com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria

A CONLUTE eacute uma entidade jovem criada recentemente mas que pauta

e fomenta o debate de questotildees diferentemente da UNE esta que embora apresente

uma frente de esquerda devido a proporcionalidade que marca o processo eleitoral da

entidade mas a forccedila poliacutetica maior eacute de aceitaccedilatildeo predominante das accedilotildees

governamentais sem esboccedilo de negaccedilatildeo O que nos leva a refletir que seja

importante a articulaccedilatildeo da ENESSO com as entidades e movimentos que partilham

princiacutepios e lutas conjuntas

Um dimensatildeo sinalizada pelo(a) coordenadora regional bem como

pelos(as) coordenadores(as) nacionais eacute reconhecer a importacircncia da alianccedila com o

conjunto CFESS-CRESS e a ABEPSS como potencialidade no fortalecimento de lutas

contra a precarizaccedilatildeo do ensino e em favor da formaccedilatildeo qualificada

No tocante a esfera de atuaccedilatildeo da ENESSO na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

dos(as) estudantes na cena contemporacircnea o(a) militante socializa significativas

criacuteticas Essas satildeo direcionadas no sentido de fortalecer a representatividade da

entidade que segundo Luz

Eacute necessaacuterio que a diretoria da ENESSO tenha representatividade perante osas estudantes para uma maior identificaccedilatildeo com as lutas travadas pela entidade Para que se consiga representatividade eacute necessaacuterio trabalho de base o contato e formaccedilatildeo poliacutetica criacutetica deve ser priorizado em suas atividades o que as uacuteltimas gestotildees da coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO deixam a desejar Atraveacutes do trabalho de base e da formaccedilatildeo criacutetica osas estudantes constroem as pautas das lutas gerando identificaccedilatildeo organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

165

Como observamos no item anterior os(as) dirigentes nacionais da

ENESSO sinalizam a articulaccedilatildeo com as bases estudantis como uma relevante

potencialidade na construccedilatildeo do MESS e na atuaccedilatildeo da ENESSO o que agora eacute

apontado por Luz como fragilidade no processo de mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes

Entretanto majoritariamente os(as) dirigentes entrevistados(as) aqui

incluindo nacionais e regionais chama a atenccedilatildeo para a conjuntura desfavoraacutevel para

organizaccedilatildeo coletiva que tem fortes rebatimentos nos MS em particular no MESS

5-5 SERVICcedilO SOCIAL ABEPSS CFESS e A ENESSO no acircmbito da parceria

estrateacutegica

A pesquisa tratou de explicitar a atuaccedilatildeo da ENESSO nas esferas da

universidade e da formaccedilatildeo profissional na qual procuramos apontar potencialidades

limites e contradiccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS mediante a accedilatildeo de sua entidade

nacional Diante disso a parceria entre as entidades da profissatildeo se confirma como

uma significativa tendecircncia no acircmbito organizativo do Serviccedilo Social sobretudo a

partir da deacutecada de 1990 perspectiva amplamente apontadas pelos dirigentes da

ENESSO entrevistados(as) nessa investigaccedilatildeo e nos documentos produzidos pela

entidade que define a parceria com a ABEPSS e com o conjunto CFESS-CRESS

como essencial na efetivaccedilatildeo de lutas que tenham como horizonte a defesa da

formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social

Dessa maneira apontaremos algumas mediaccedilotildees relacionadas a essa

articulaccedilatildeo em que nos baseamos no seguinte fio condutor para o desenvolvimento

da anaacutelise apreensatildeo em relaccedilatildeo a parceria das entidades as estrateacutegias

desenvolvidas pelas entidades no acircmbito da universidade e da formaccedilatildeo profissional e

dificuldades enfrentadas nesse processo de articulaccedilatildeo Para tal levamos em

consideraccedilatildeo a fala de representante de outra entidade da categoria particularmente

da ABEPSS Em que chamamos a atenccedilatildeo para as particularidades que perpassa a

articulaccedilatildeo com a ENESSO voltada para defesa do projeto que direciona a formaccedilatildeo

e o exerciacutecio profissional no paiacutes

Nesse sentido esboccedilaremos uma breve contextualizaccedilatildeo relativa ao

projeto profissional hegemocircnico no Serviccedilo Social e que fundamenta a formaccedilatildeo

pautada nas Diretrizes Curriculares jaacute evidenciadas no capitulo quarto desse trabalho

O final da deacutecada de 1970 se configura para profissatildeo como um periacuteodo

de intensa discussatildeo e inquietaccedilatildeo decorrentes entre outros aspectos da

166

aproximaccedilatildeo de segmentos da profissatildeo com uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

criacutetica contribuindo para construccedilatildeo de um projeto eacutetico-poliacutetico sintonizado com os

ideais da vertente de ruptura78 e portanto com os interesses da classe trabalhadora e

de sujeitos sociais historicamente subalternizados

Natildeo podemos desvincular esse processo do cenaacuterio brasileiro marcado

naquele momento pela crise do sistema ditatorial fragilidade do milagre econocircmico

a reorganizaccedilatildeo de setores importantes entre os quais diversos MS que

transformaram a liberdade e a democracia nas principais bandeiras de luta ou seja

uma conjuntura de efervescecircncia nos marcos da redemocratizaccedilatildeo poliacutetica

caracterizada na sua essencialidade por accedilotildees combativas e contestatoacuterias

direcionadas por vaacuterios setores da sociedade civil contra a ditadura instalada em abril

de 1964 Assim Netto (1999 p 100) destaca

A luta pela democracia na sociedade brasileira fazendo-se ecoar na categoria profissional criou o quadro necessaacuterio para quebrar o quase monopoacutelio do conservadorismo no Serviccedilo Social no processo de derrota da ditadura militar inscreveu-se a primeira condiccedilatildeo a condiccedilatildeo poliacutetica para a constituiccedilatildeo de um projeto profissional

Outra dimensatildeo tambeacutem sinalizada por Netto (1999) Iamamoto (2006)

constitui a elevaccedilatildeo na produccedilatildeo teoacuterica dos (as) assistentes sociais vinculada a uma

perspectiva de anaacutelise e intervenccedilatildeo criacutetica dana realidade social influenciada pela

aproximaccedilatildeo de profissionais do Serviccedilo Social com a matriz marxiana e com os

pensadores(as) marxistas Nesse sentido eacute interessante chamarmos a atenccedilatildeo para a

contribuiccedilatildeo do meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico na construccedilatildeo do

conhecimento e portanto na apreensatildeo da realidade visto que permite a elaboraccedilatildeo

de anaacutelises levando-se em consideraccedilatildeo as muacuteltiplas determinaccedilotildees das

problemaacuteticas sociais proporcionando uma compreensatildeo cuja centralidade consiste

na desnaturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees histoacutericas

78 No processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional trecircs correntes se destacaram 1ordf a modernizaccedilatildeo conservadora que procurou adequar agrave profissatildeo as estrateacutegias de expansatildeo do capitalismo no Brasil os seminaacuterios de Araxaacute (1967) e Teresoacutepolis (1970) expressam a afirmaccedilatildeo dessa perspectiva baseada sobretudo no estrutural funcionalismo norte-americano a 2ordf vertente consistiu na reatualizaccedilatildeo do conservadorismo influenciada pelas concepccedilotildees fenomenoloacutegicas a qual privilegiava o vieacutes psicologista na atuaccedilatildeo do (a) assistente social a 3ordf vertente denominada de intenccedilatildeo de ruptura baseada especialmente na tradiccedilatildeo marxista cujo siacutembolo dessa aproximaccedilatildeo correspondeu o famoso meacutetodo de BH ainda nos primeiros anos da deacutecada de 1970 Todavia pelo proacuteprio contexto de repressatildeo vivenciado durante a ditadura militar a influecircncia do marxismo no acircmbito do Serviccedilo Social soacute ganhou expressividade no final dos anos 1970 e conforme Netto eacute a intenccedilatildeo de ruptura que daacute o tom da polecircmica profissional na 1ordf metade dos anos 1980 ( cf NETTO 2005)

167

Pereira(2007) elenca alguns momentos considerados emblemticos nesse

processo de negao do Servio Social tradicional e afirmao de um projeto

profissional sintonizado com perspectiva de transformao social visando a

emancipao humana Entre eles destacamos o denominado congresso da virada em

1979 a construo do cdigo de tica de 1986 o qual evidencia a ruptura com as

bases tericas conservadoras e a tica da neutralidade passando a situar a atuao

do(a) assistente social no mbitos das relaes histricas e contraditrias que

caracterizam a sociabilidade capitalista a constituio do Centro de Documentao

Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social(CEDEPSS) que impulsionou os

debates e o desenvolvimento de aes que destacavam a importncia da pesquisa no

cotidiano da profisso para alm da academia o reconhecimento nos anos de 1980

por parte das agncias de incentivos a pesquisa de ser o Servio Social uma rea de

conhecimento o que contribui fundamentalmente na criao e expanso da ps-

graduao no pas o fortalecimento organizativos das entidades em nvel profissional

e estudantil e ainda os debates promovidos pela antiga ABESS hoje ABEPSS que

culminou na formulao do Currculo Mnimo de 1982 o qual passou a conceber a

ldquoprofisso inserida na diviso scio-tcnica do trabalho no processo de produo e

reproduo das relaes sociais capitalistasrdquo(2007 p14)

relevante evidenciarmos que essa redefinio no mbito do Servio

Social foi resultado de intensos debates coletivos envolvendo os diversos sujeitos

dessa profisso entre estes os (as) estudantes e de suas entidades poltico-

organizativas

Pensar a profisso requer considerarmos o constante movimento da

sociedade capitalista a partir da anlise das prprias transformaes histricas Nessa

perspectiva a reviso dos instrumentos normativos constitui uma necessidade real no

intuito de responder as demandas colocadas no cotidiano da formao e atuao

profissionais mudanas contudo preservando-se a postura crtica alcanada

hegemonicamente no mbito da profisso

Portanto nessa caminhada temos a reformulao do Cdigo de tica de

1986 redundando no Cdigo em vigncia de 1993 As alteraes efetivadas visaram

superao de limites de natureza terico-prtica o que permitiu a construo de

mediaes no sentido de melhor apreender as particularidades resultantes por

exemplo das relaes de gnero etnia entre outras alm disso procurou-se

retraduzir os seus valores norteadores no ldquorelacionamento entre assistentes sociais

instituies e populao preservando os direitos e deveres profissionais a qualidade

dos servios e a responsabilidade do usurio (CDIGO DE TICA DE 1993)

168

Assim nos anos 1990 percebemos a retomada da discusso da tica nas

diversas esferas do Servio Social incluindo a formao profissional aliado a essa

reflexo ocorre aprovao da Lei de Regulamentao Profissional n 866293 a

qual estabelece as competncias e atribuies privativas do (a) assistente social

conformando um documento indispensvel na defesa da profisso e dos servios

prestados aos usurios nos espaos de interveno desta profisso

significativo apontar que essa trajetria de redefinio e consolidao do

atual projeto tico-poltico tambm foi protagonizada pelos estudantes como

destacado no capitulo dois dessa pesquisa em que consubstanciamos esta afirmativa

a partir da anlise realizada por Ramos (1996) cuja abordagem sobre o MESS em

nvel nacional ratifica a contribuio desse segmento na construo do novo projeto

profissional Esta atuao do MESS em relao s problemticas debates desafios

que perpassa o Servio Social se expressa por exemplo pelo reconhecimento da

ENESSO como uma das entidades representativas da profisso manifestada tal

apreenso na fecunda articulao desta com a ABEPSS e o CFESS

Nessa dimenso ressaltamos que tal projeto se materializa nos

instrumentos aqui citados cdigo de tica lei de regulamentao e diretrizes

curriculares contudo a eles no se reduzem dada compreenso do mesmo se

expressar nas deliberaes dos encontros profissionais e estudantis nas campanhas

elaboradas pelas entidades na interveno cotidiana dos (as) assistentes sociais

voltada para a garantia de direitos e do ser humano como sujeito construtor dos

processos histricos bem como atravs da formao de alianas com outros

segmentos voltadas para construo de um movimento verdadeiramente contra-

hegemnico a sociabilidade do capital

Nesse sentido a anlise da fala da representante da ABPSS evidencia

que a parceria existente entre as trs entidades se sustenta na unidade em torno da

defesa do projeto profissional o qual teve suas bases de constituio nos anos 1980

com sua firmao na dcada seguinte dimenso sintetizada na fala abaixo

numa ampla articulao de foras predominantes na direo das entidades as quais se identificam nos princpios fundamentais norteadores do projeto tico-poltico-profissional do Servio Social Refiro-me ao projeto que ganha visibilidade a partir de 1979 em contraposio ao projeto profissional tradicional na busca de vinculao s lutas e conquistas democrticas e ao iderio emancipatrio da classe trabalhadora ndash referncia de luta de vastos segmentos dessa classe no Brasil e em todo o mundo( representante ABEPSS)

169

Unidade que como ressaltado pela representante da ABEPSS natildeo

significa a inexistecircncia de contradiccedilotildees divergecircncias e polecircmicas internamente nas

entidades e entre elas Dimensatildeo sinalizada em algumas passagens pelos dirigentes

da ENESSO que evidenciaram momentos conflitantes que envolvem a articulaccedilatildeo no

acircmbito da parceria entre a ABEPSS e conjunto CFESS-CRESS Destacamos ainda a

articulaccedilatildeo das entidades em defesa do projeto hoje hegemocircnico no Serviccedilo Social eacute

construiacuteda entre sujeitos que representam os interesses da mesma profissatildeo

vinculada a uma visatildeo societaacuteria mas com organizaccedilatildeo estruturaccedilatildeo manutenccedilatildeo

dinacircmicas e funcionalidades diferentes

No que se refere agrave atuaccedilatildeo das trecircs entidades nas esferas da universidade

e da formaccedilatildeo profissional tem-se a confirmaccedilatildeo que a formaccedilatildeo pautada nas

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui a principal referecircncia na luta por um processo

formativo de qualidade e sintonizado com a perspectiva de educaccedilatildeo emancipatoacuteria

Nessa dimensatildeo as trecircs entidades concretizam atividades que explicitam o

posicionamento contraacuterio a qualquer forma de privatizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo tais como produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de notas que evidenciam esse

posicionamento de defesa da universidade puacuteblica gratuita laica presencial e de

qualidade aleacutem disso eacute importante destacar que nos eventos promovidos pela

ABEPSS e pelo Conjunto CFESS-CRESS eacute garantida a participaccedilatildeo da ENESSO nos

debates e polecircmicas que envolvem a profissatildeo o que potencializa essa articulaccedilatildeo e

dessa maneira as accedilotildees voltadas para defesa do projeto profissional do Serviccedilo

Social nessa conjuntura tatildeo adversa para sua concretizaccedilatildeo

Quanto a possiacuteveis dificuldades vivenciadas nesse processo de articulaccedilatildeo

entre as trecircs entidades e em particular com a ENESSO a representante da ABEPSS

argumenta queEm relaccedilatildeo ao ENESSO pode-se supor que a atual estrutura da entidade sem uma coordenaccedilatildeo nacional tenha implicaccedilotildees e venha dificultar a articulaccedilatildeo nacional na medida em que as decisotildees satildeo inicialmente discutidas e tomadas nas bases regionais com possiacuteveis prejuiacutezos para a agilidade dos processos conjuntos

Com a ausecircncia de coordenadores(as) nacionais a responsabilidade na

concretizaccedilatildeo das deliberaccedilotildees aprovadas no ENESS de Londrina em 2008 ficaram

na incumbecircncia das coordenaccedilotildees regionais o que por sua vez representa uma

fragilizaccedilatildeo em termos de articulaccedilatildeo em niacutevel nacional como se processa entre as

ABEPSS CFESS-CRESS e a ENESSO

Desse modo analisamos que a defesa do projeto profissional que por sua

vez remete a luta em prol da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo fundamentada nas

170

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui-se a principal determinaccedilatildeo no

estabelecimento e fortalecimento da articulaccedilatildeo existente ente as entidades

representativas do Serviccedilo Social

Parceria que se torna ainda mais necessaacuteria nesse contexto neoliberal de

exacerbaccedilatildeo do privado expansatildeo de cursos sem considerar os princiacutepios formativos

defendidos pelas entidades que representam o Serviccedilo Social no paiacutes fragilidade dos

MS e organizaccedilotildees coletivas que apresentam uma praacutetica de recusa da sociabilidade

do capital entre outras dimensotildees jaacute abordadas nessa pesquisa Entretanto para que

essa articulaccedilatildeo se mantenha e mais que isso seja potencializada ateacute mesmo em

decorrecircncia do cenaacuterio sinalizado anteriormente eacute preciso que a ABEPSS o conjunto

CFESS-CRESS e a ENESSO estejam firmes atuantes e combativas em suas

particularidades o que revela um desafio coletivo das entidades e ao mesmo tempo

de cada uma dentro de suas possibilidades e limitaccedilotildees no tempo presente Nesse

sentido entendemos que ao MESS se evidencia a necessidade de fortalecer e

revitalizar suas accedilotildees e entidades como a ENESSO nessa luta em favor do projeto

profissional vinculado a construccedilatildeo de outra ordem societaacuteria

171

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apreendemos o ME como um importante movimento social que articula a

juventude universitaacuteria em niacutevel nacional desde a criaccedilatildeo da UNE no ano de 1937

Ao construiacutemos essa caracterizaccedilatildeo analisamos que a accedilatildeo desse segmento natildeo se

processa de forma desvinculada de uma concepccedilatildeo de sociedade o que por sua vez

nos possibilitou investigarmos a direccedilatildeo social de sua atuaccedilatildeo no campo da

historicidade e da contradiccedilatildeo que particulariza a sociabilidade burguesa

Mediante o estudo da atuaccedilatildeo da ENESSO enfatizamos que desde a sua

criaccedilatildeo no ano de 1988 ela se configura como espaccedilo privilegiado de aglutinaccedilatildeo e

protagonismo dos(as) estudantes de Serviccedilo Social no Brasil legitimada e

reconhecida pelas demais entidade da profissatildeo

Durante as gestotildees que compreende os anos de 2003-2008 sinalizamos

que a direccedilatildeo social das accedilotildees efetivadas pela ENESSO se consubstancia na defesa

da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo profissional fundada nas Diretrizes

Curriculares de 1996 tendecircncia confirmada pelos(as) dirigentes e pelos documentos

produzidos pela entidade uma perspectiva de universidade e de formaccedilatildeo sintonizada

com a negaccedilatildeo da sociabilidade capitalista e comprometida com a construccedilatildeo de outro

projeto societaacuterio

Entretanto a conjuntura neoliberal que minimiza a organizaccedilatildeo poliacutetica

dos MS tambeacutem repercute no acircmbito de atuaccedilatildeo da ENESSO dada a valorizaccedilatildeo do

individualismo e de negaccedilatildeo de vivecircncias coletivas aliada a um contexto de crise

objetiva em que cada vez mais os (as) estudantes se preocupam com sua

manutenccedilatildeo e inserccedilatildeo no mundo do trabalho ainda durante a graduaccedilatildeo Portanto

temos um cenaacuterio caracterizado pela fragilidade de accedilotildees coletivas combativas de

contestaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e de lutas mais consistentes e articuladas ateacute mesmo com

outras entidades estudantis

A realizaccedilatildeo de atividades fragmentadas reduz a capacidade de barrar

eou ateacute mesmo amenizar as investidas do capital na educaccedilatildeo brasileira tendecircncia

fortalecida nos anos de 1990 e mantida nos anos 2000 com a concretizaccedilatildeo da

contra-reforma do ensino superior no governo Lula que se sustenta numa loacutegica de

privilegiamento do privado e reconfiguraccedilatildeo das instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de

atender sobretudo as demandas do capital Realidade que gera disputas e

contradiccedilotildees no ME que se manifesta inclusive com a criaccedilatildeo de outra entidade

nacional de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes no caso a CONLUTE situaccedilatildeo

conflitante vivenciada tambeacutem pelo MESS

172

A pesquisa sugere um contexto de acirramento entre os agrupamentos

poliacuteticos atuantes no MESS os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre

o governo Lula e do posicionamento poliacutetico em relaccedilatildeo a UNE Os tensionamentos

em torno dessas questotildees perpassam na maior parte das discussotildees e geram grandes

debates e conflitos especialmente no processo de aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no

final de cada ENESS que se constituem o norte a ser seguido pela nova direccedilatildeo da

ENESSO

Temos a concepccedilatildeo que as polecircmicas atuais que provocam divergecircncias

nos partidos poliacuteticos forjados no campo da esquerda como PT PSTU e PSOL e as

organizaccedilotildees sindicais como CUT e CONLUTAS rebatem no MESS em virtude do

posicionamento histoacuterico desse movimento de pautar a discussatildeo e as lutas dos

segmentos do trabalho e de se colocar numa direccedilatildeo de recusa da sociabilidade

capitalista e de defesa da construccedilatildeo de outra sociedade o que contribui no

estabelecimento de relaccedilotildees com movimento e entidades que travam debates e

desenvolve atividades em torno das questotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho

e as disputas poliacuteticas partidaacuterias em determinado momento histoacuterico

Diante disso a investigaccedilatildeo aponta que o MESS e a ENESSO vivecircncia

uma relaccedilatildeo de negaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo em relaccedilatildeo a UNE e a CONLUTE No tocante a

primeira as deliberaccedilotildees que abrangem os anos de 2003-2008 e o proacuteprio estatuto da

executiva a reconhece como entidade maior de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes

brasileiros(as) entretanto a nega quando se trata do posicionamento assumido diante

da contra-reforma do ensino superior Por outro lado a ENESSO esboccedila uma accedilatildeo de

negaccedilatildeo da CONLUTE como uma entidade paralela a UNE que no seu

entendimento pode dividir e sectarizar ainda mais o ME no Brasil contudo as

deliberaccedilotildees ainda que timidamente apontam a necessidade de discussatildeo e

fomentaccedilatildeo do debate em torno dessa entidade que reage negativamente agraves accedilotildees

do governo Lula para educaccedilatildeo superior direccedilatildeo que potencializa essa aproximaccedilatildeo

com a ENESSO

Todavia a disputa entre os grupamentos existentes no MESS natildeo pode

ser reduzida a conquista dos cargos da ENESSO dimensatildeo timidamente sinalizada

por alguns(mas) dos(as) entrevistados(as) nem atuar de modo sectarista perspectiva

que deixa os interesses estudantis para segundo plano Atuando dessa forma os

grupos poliacuteticos presentes no MESS tendem a se enfraquecer e a fragilizar o proacuteprio

momento e a ENESSO

A natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos nacionais da ENESSO para a gestatildeo

20082009 em meio a um conturbado processo de fraude eleitoral revela o contexto

de fragilidade pela qual passa o MESS na atualidade e que revela instabilidades na

173

organizaccedilatildeo desse segmento e que atingiu profundamente a executiva Os dados

produzidos nessa investigaccedilatildeo sugere que majoritariamente a organizaccedilatildeo dos(as)

militantes em grupos tendem a fortalecer as lutas do movimento visto que seus(as)

militantes tambeacutem ocupam outros espaccedilos de atuaccedilatildeo como partidos e movimentos

o que contribui na construccedilatildeo de uma consciecircncia poliacutetica mais abrangente e criacutetica

entretanto o momento atual revela que os agrupamentos jaacute natildeo mais impulsionam a

atuaccedilatildeo da ENESSO como em periacuteodos anteriores e desse modo as divergecircncias

partidaacuterias se tornam mais recorrentes e visiacuteveis o que pode expressar uma das

determinaccedilotildees geradoras dessa forte instabilidade pela qual passa o MESS e a

ENESSO

E mesmo nessa conjuntura de instabilidades e fragilidade poliacutetica do

MESS e da ENESSO a construccedilatildeo de medidas voltadas para uma atuaccedilatildeo mais

qualificada dos(s) militantes e consequumlentemente dos(as) dirigentes das entidades

estudantis de base satildeo sucumbidas diante da falta de recurso das vaacuterias atividades

e obrigaccedilotildees cotidianas dos(as) militantes No decorrer do periacuteodo aqui analisado foi

realizado em abrangecircncia nacional somente um curso de formaccedilatildeo poliacutetica voltado

para os(as) militantes do MESS

Contradiccedilotildees satildeo apontadas no sentido de que embora a ENESSO se

posicione contraacuterio a contra-reforma do ensino superior as elaboraccedilotildees sobre essa

problemaacutetica sinalizam uma tendecircncia de que as medidas aprovadas pelo governo

Lula satildeo de certo modo justificaacuteveis devido ao processo de adoccedilatildeo das diretivas

neoliberais ainda durante a era FHC

Dentre as dificuldades apreendidas nessa pesquisa se encontram as de

ordem objetiva diante da realidade de falta de recursos da ENESSO que repercute

diretamente na atuaccedilatildeo poliacutetica da entidade pois a falta de condiccedilotildees limita a atuaccedilatildeo

da entidade em espaccedilos como cursos de Serviccedilo Social presenccedila em eventos como

seminaacuterio oficinas e entre outros Dificuldades resultantes da crescente privatizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo superior que se manifesta por exemplo na apreensatildeo de que ateacute

agosto de 2008 existiam no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social sendo 51 na esfera

puacuteblica e 251 no setor privado visto que a pesquisa sugere a existecircncia de maior

autonomia de organizaccedilatildeo do MESS nas instituiccedilotildees puacuteblicas

A investigaccedilatildeo sinaliza possibilidades na atuaccedilatildeo da ENESSO no sentido

de que mesmo em uma conjuntura limitada da atuaccedilatildeo dos MS a entidade consegue

pautar importantes debates que ultrapassa a esfera restrita dos(as) estudantes e

nessa perspectiva a executiva procura se articular com outros sujeitos MS e

entidades como a ABEPSS e o conjunto CFESS-CRESS

174

A unidade em torno da defesa do projeto profissional consiste em uma

determinaccedilatildeo significativa na articulaccedilatildeo entre as entidades representativas do Serviccedilo

Social entretanto essa unidade natildeo representa a ausecircncia de discordacircncias

diferenccedilas e contradiccedilotildees nessa relaccedilatildeo

175

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ANEXO I

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM EX COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO

1- Comente sobre a sua trajetoacuteria no movimento estudantil ateacute chegar a coordenaccedilatildeo da enesso

2- Era membro de alguma tendecircncia no movimento estudantil Quais as principais bandeiras de lutas Que analise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no movimento estudantil

3- Qual o posicionamento da entidade em relaccedilatildeo a reforma universitaacuteria do governolula

4- Quais as principais atividades e lutas realizadas no tocante a defesa da universidade puacuteblica no Brasil

5- Quais as principais atividades e lutas efetivadas em relaccedilatildeo a defesa do atual projeto de formaccedilatildeo profissional fundado nas diretrizes curriculares

6- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo da executiva tanto em relaccedilatildeo agrave universidade como a formaccedilatildeo profissional levando em consideraccedilatildeo limites estrateacutegias e potencialidades a partir das atividades e lutas travadas

7- Quais os principais aliados e opositores do movimento estudantil e em particular no acircmbito do movimento estudantil de serviccedilo social

8- Comente sobre possiacuteveis dificuldades em termos da organizaccedilatildeo-poliacutetica do mess no seu periacuteodo de militacircncia

9- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo do movimento estudantil na sociedade e em particular no atual cenaacuterio neoliberal

10- Teria algo relevante a acrescentar sobre a enesso como entidade representativa dos(as) estudantes de serviccedilo social em niacutevel nacional

186

ANEXO II

ROTEIRO UTILIZADO NA ELABORACcedilAtildeO DE PERFIL DOS(AS) DIRIGENTESNACIONAIS DA ENESSO NO PERIacuteODO DE 20032008

1 - ANO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO

R ___________________________________

2 - FAIXA ETAacuteRIA

Entre 15-20 ( )Entre 21-25 ( )Entre 26-30 ( )Acima de 30 ( )

3 - SEXO

Masculino ( ) Feminino ( )

4 - COR Negra ( ) Branca ( ) Parda ( )

5 - RELIGIAtildeO

Catoacutelica ( ) protestante( ) espiacuterita( ) umbanda ( ) outra ( ) Especificar________________

6 - ENSINO MEacuteDIO REALIZADO PREDOMINATEMENTE EM ESCOLA

Puacuteblica ( )Privada ( )

7 - GRADUACcedilAtildeO REALIZADA EM INSTITUICcedilAtildeO

Puacuteblica ( ) privada ( )Instituiccedilatildeo ______________________________

8 - DURANTE O PERIacuteODO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO DESEMPENHAVA ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA

Trabalho ( ) especificar __________________________________________________ Quantas horas diaacuterias ____________________

Estagio ( ) especificar _______________________________________________________Quantas horas diaacuterias____________________________

9 - RENDA MENSAL DA FAMIacuteLIA

187

Entre 1 e 2 salaacuterios- miacutenimos ( ) Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 9 e 10 salaacuterios- miacutenimo ( )Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos ( ) Acima de dez salaacuterios ( )

10 - ANTES DE MILITAR NO MESS PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ORGANIZACcedilAtildeO COLETIVA

Natildeo ( ) sim ( ) Especificar_______________________________________________

11 - ANTES DE SER DIRIGENTE DA ENESSO OCUPOU ALGUM CARGO EM ENTIDADE DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

( ) CORETUR( ) Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico( ) Diretoacuterio Central dos Estudantes( ) Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO( ) Outra _____________________________________________________________

12 - NO PERIODO EM QUE FOI DIRIGENTE DA ENESSO ERA FILIADO A ALGUM PARTIDO POLIacuteTICO

( ) Natildeo ( ) sim Especificar____________________________________________

188

ANEXO III

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM MENBRO DA ABEPSS

1 COMO VOC ANALISA A ldquoPARCERIA ESTRATGICArdquo ENTRE AS TRS ENTIDADES NACIONAIS DA CATEGORIA

2 QUAIS AS PRINCIPAIS ESTRATGIAS E AES DESENVOLVIDAS PELAS TRS ENTIDADES NA DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA GRATUITA PRESENCIAL LAICA E DE QUALIDADE E DO PROJETO DE FORMAO PROFISSIONAL FUNDADO NAS DIRETRIZES CURRICULARES

3 QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELO CFESSABEPSS NO PROCESSO DE ARTICULAO ENTRE AS TRS ENTIDADES E PARTICULARMENTE EM RELAO A ENESSO

189

ANEXO IV

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM COORDENADOR(A) REGIONAL DA ENESSO (MEMBRO DE OPOSICcedilAtildeO A DIRECcedilAtildeO NACIONAL DA ENESSO)

1 Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

2 Comente sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO nos acircmbitos da Universidade e da Formaccedilatildeo profissional considerando estrateacutegias limites e potencialidades

3 Teria algo relevante a acrescentar sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO no processo de organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes na contemporaneidade

190

APEcircNDICE I

RELAO DOS COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO NO PERODO

DE 2003-2008

GESTAtildeO 20032004

Coordenao Geral Adriana Oliveira ndash PUCSPSecretaria Geral Wagner Hosokawa ndash PUCSP Coordenao de Finanas Lucilene Gomes PUCCampinasCoordenao de Divulgao e Impressa Graziela Sue ndash UNISALCoordenao Movimentos Sociais Julia Benedini ndash UNESPCoordenao Relaes Internacionais Anita Martins ndash UNESPCoordenao de Formao Profissional Michele Marx- Centro Universitrio Baro de Mau Ribeiro Preto(SP)

GESTAtildeO 20042005

Coordenao Geral Ana Carolina trindade dos santos UFS-SESecretaria Geral Daniele Rebouas UCSAL-BACoordenao de Finanas Amanda Bastos UFS-SECoordenao de Divulgao e ImpressaAline Arajo- UCCSAL-BACoordenao Movimentos Sociais Itanamara Cavalcante UFS-SECoordenao Relaes InternacionaisFernanda mantelli-UCSAL-BAcoordenao de Formao Profissionaljacklene mirne UNIT-SE

GESTAtildeO 20052006

Coordenao Geral Celso Severo UFPE-PESecretaria Geral Natalia Teixeira UFPE-PECoordenao de Finanas Juliana Nunes UEPBCoordenao de Divulgao e Impressa Evandro Gomes Correia jr UFPBCoordenao Movimentos Sociais Raquel Mazuele de p Arajo UERNCoordenao Relaes Internacionais Alison Cleiton UEPBCoordenao de Formao Profissional Albertina Felix da Cuz-UEPB

GESTAtildeO 20062007

Coordenao Geral Fabiano SantosSecretaria Geral Roberto AlvesCoordenao de Finanas Emanuela BritoCoordenao de Divulgao e Impressa Aline CerqueiraCoordenao Movimentos Sociais Aline TapiocaCoordenao Relaes Internacionais Andr NovaisCoordenao de Formao Profissional Deyse Morais

191

GESTAtildeO 20072008

Coordenao Geral Shanti Mairananda de Oliveira Braga ndash UFJFSecretaria Geral Samantha Catarina de Andrade Santos - PUC MinasCoordenao de FinanasAline Felipe Barreto - UFESCoordenao de Divulgao e Impressa Ernandes Jos - UFVJMCoordenao Movimentos Sociais Haimon Verly - UFESCoordenao Relaes Internacionais Cristovo de Oliveira Braga - UFJFCoordenao de Formao Profissional Leonardo David Rosa Reis - PUC Minas

Catalogaccedilatildeo da Publicaccedilatildeo na Fonte UFRN Biblioteca Setorial do CCSA

Divisatildeo de Serviccedilos Teacutecnicos

Cavalcante Maria Lenira Gurgel

Movimento estudantil e servio social no capitalismo contemporneo tendncias e particularidades Maria Lenira Gurgel Cavalcante - Natal RN 2009

191 f

Orientadora Prof Dr Silvana Mara Morais dos Santos Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Cincias Sociais

Aplicadas Programa de Ps-Graduao em Servio Social

1 Servio Social - Dissertao 2 Movimento estudantil ndash Dissertao 3 Capitalismo contemporneo - Dissertao 4 Universidade ndash Formao profissional - Dissertao I Santos Silvana Mara Morais dos II Universidade Federal do Rio Grande do Norte III Ttulo

RNBSCCSA CDU 364 (0433)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo incentivo compreenso e contribuio em toda a minha

caminhada acadmica e em especial no mestrado

A Jsilva (Anjo) companheiro que esteve comigo nos momentos difceis e complicados

enfrentados nesse percurso

A minha irm Lourdinha pelas preocupaes e confiana demonstrada

Ao meu cunhado Roverlan (R) sempre disponvel pra me deixar e pegar nas idas e

vindas de Natal independentes de datas e horrios

A minha amada sobrinha Kauanny que com a sinceridade de uma criana contagia

os espaos com a alegria e a simplicidade da vida alm de ter a capacidade de me

provocar risos mesmo nos momentos em que me sentia pressionada pelas

obrigaes cotidianas e exigncias caractersticas do mestrado

A minha av Antonia e a tia Ftima pelo abrigo em Natal pelo incentivo dedicado e

pelas preocupaes ocasionadas

A Silvana Mara pelas orientaes qualificadas materiais emprestados e a confiana

de que tudo daria certo

A Smya Ramos que considero co-orientadora dessa pesquisa a sua contribuio foi

significativa desde a graduao teve momentos que no meu cantinho de estudo os

seus materiais eram superiores aos meus alm disso agradeo pelo tempo

disponibilizado para ouvir minhas inquietaes e nas leituras realizadas do projeto que

culminou nesta pesquisa Muito obrigada

Aos(as) dirigentes da ENESSO sensibilizados(as) em contribuir com esta dissertao

obrigada pelo material disponibilizado entrevistas concedidas e emails respondidos

As professoras Severina Garcia e Denise Cmara pelas indicaes durante a

disciplina ldquoSeminrio de Dissertaordquo

As professoras Ivanete Boschetti e Telma Gurgel pelas observaes processadas

sobre esse trabalho

As professoras Fernanda Marques e Regina vila pela aceitao em participarem na

banca de defesa desse trabalho

A querida turma do mestrado composta por pessoas batalhadoras comprometidas

com a profisso e sempre prontas a compartilhar informaes e a socializar

experincias que se tornaram importantes no desenvolvimento das investigaes de

todos(as) por isso meus agradecimentos a Ednara Erika Henrique Ilidiana Leila

Joilma Josiane Sussany e Tssia

As amigas Ilidiana Diniz(ilidi) Ednara (Ed) e Valmara companheiras nos momentos

de angustias e superaccedilotildees durante a elaboraccedilatildeo dessa dissertaccedilatildeo haacute e tambeacutem

pela acolhida no residecircncia durante as minhas idas a Natal sempre

compartilhandomesmo que um pequeno quarto

A amiga Janaiky pela ajuda na produccedilatildeo de dados para pesquisa

Ao amigo Henrique que desde o iniacutecio acreditou na viabilidade dessa pesquisa

agradeccedilo pelos emails repassados e pelo caminho disponibilizado que facilitou a

busca de informaccedilotildees sobre a ENESSO

A Larisse Rodrigues pela excelente monografia produzida sobre o MESS e pelas

trocas de informaccedilotildees

RESUMO

A dissertaccedilatildeo analisa a direccedilatildeo social do Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS)por meio da atuaccedilatildeo da Executiva Nacional dos(as) estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) no que se refere a sua posiccedilatildeo poliacutetica sobre Universidade e Formaccedilatildeo profissional no periacuteodo de 2003-2008 Do ponto de vista teoacuterico-metodoloacutegico o objeto de estudo foi apreendido em suas determinaccedilotildees estruturais conjunturais e geracionais considerando a crise contemporacircnea do capital e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo Estado e Sociedade com ecircnfase nas particularidades e mudanccedilas na Universidade e nas exigecircncias postas no acircmbito da Formaccedilatildeo profissional Para a coleta e produccedilatildeo dos dados foi realizada pesquisa documental e de campo Foram entrevistados(as) dirigentes da ENESSO um(a) de cada gestatildeo entre os anos de 2003-2008 aleacutem de representantes da Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) que destaca a relevacircncia da parceria construiacuteda com a entidade de representaccedilatildeo dos(as) estudantes na cena contemporacircnea Os resultados obtidos sugerem que a ENESSO desenvolve uma atuaccedilatildeo em defesa do projeto de universidade puacuteblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formaccedilatildeo fundado nas Diretrizes Curriculares de 1996 o tempo presente eacute marcado no MESS pelo acirramento de disputas pela direccedilatildeo social do movimento entre os grupos poliacuteticos os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre o governo Lula e do papel poliacutetico assumido pela UNE nesse contexto de contra-reforma do ensino superior A conjuntura atual de exaltaccedilatildeo extrema do individualismo tem se revelado desfavoraacutevel agrave organizaccedilatildeo coletiva da classe trabalhadora e em particular dos movimentos estudantil O MESS atravessa um momento de profunda instabilidade dimensatildeo que se expressa na ausecircncia de coordenadores nacionais para gestatildeo 20082009 da ENESSO Apesar das dificuldades enfrentadas destaca-se a parceria construiacuteda entre as entidades representativas do Serviccedilo Social em niacutevel nacional e a luta que desenvolvem em defesa do projeto profissional vinculado a construccedilatildeo de outra sociabilidade para aleacutem do capital

Palavras-chave Movimento Estudantil de Serviccedilo Social Capitalismo contemporacircneo Universidade e Formaccedilatildeo Profissional

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the social direction in which the Student Movement in Social Work in Brazil (ENESSO) has gone through This is done considering how the functioning of the National Executive the Brazilian Social Work Student union has operated The research analyzed their political position regarding the university as well as professional education in the period of 2003 to 2008 The studyrsquos theoretical and methodological object was obtained according to its structural juncture and time determinants All of the mentioned elements considered the contemporary capital crisis and its implications towards the State and Society emphasizing specifically the changes that occurred in the University regarding professional education For the purpose of data collection and production a documental and field research was realized Thus interviews were done considering one manager of each management period of the ENESSO group in the time span of 2003 to 2008 Some subjects that represented the Brazilian Social Work Teaching and Research Association (ABEPSS) as well as were also interviewed These subjects have had a relevant role in partnership with these entities and represented students in the contemporary scene Results suggest that ENESSO has developed work that defends a project of a public free and laic quality university This entity also defends a project that considers the 1996 Curricular Guidelines Currently there is internal dispute in the social direction of the MESS this is seen amongst political groups that diverge in opinions related to the analysis done by the Lula government regarding the political role that the National Student Union-UNE has taken in the counter-reform of higher education This current juncture is seen as extremely individualist and it results as in unfavorable for the collective organization of the working class especially regarding student movement MESS has been going through a moment of profound instability and this dimension is being expressed by the absence of national coordinator for the 20082009 management period at ENESSO Even though there are difficulties it is possible to point out partnership of the entities that represent the national Social Work in Brazil These partnerships are all related to a struggle and search for the development of a professional project that leads towards the sociability awareness that goes beyond capital

Key-Words Social Work Student Movement Contemporary Capitalism University and Professional Education

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

AGCS Acordo Geral sobre Comeacutercio e Serviccedilo

ANDES Associaccedilatildeo Nacional dos Docentes de Ensino Superior

AE Articulaccedilatildeo de Esquerda

ALEITS Associaccedilatildeo Latino-americana de Ensino e Investigaccedilatildeo em Trabalho Social

BM Banco Mundial

CA Centro Acadecircmico

CEDEPSS Centro de Documentaccedilatildeo e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social

UNIASSELVI Centro Universitaacuterio Leonardo da Vinci

CFESS Conselho Federal de Serviccedilo Social

CRESS Conselho Regional de Serviccedilo Social

CONLUTAS Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas

CONLUTE Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas dos Estudantes

CORETUR Conselho de Representantes de Turma

CUT Central Uacutenica dos Trabalhadores

DA Diretoacuterio Acadecircmico

DS Democracia Socialista

DCE Diretoacuterio Central dos Estudantes

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENE Encontro Nacional dos Estudantes

ENESS Encontro Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENEX Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviccedilo Social

ERESS Encontro Regional de Estudantes de Serviccedilo Social

EQM Eu Quero eacute Mais

FAETSFederaccedilatildeo Argentina de Estudantes de Trabalho Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LBA Legiatildeo Brasileira de Assistecircncia

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

ME Movimento Estudantil

MESS Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

MS Movimentos Sociais

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

MTL Movimento Terra Trabalho e Liberdade

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo-governamental

PDP Projeto Democraacutetico e Popular

PLP Partido da Libertaccedilatildeo Proletaacuteria

PROUNI Programa Universidade Para Todos

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados

PT Partido dos Trabalhadores

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das

Universidades Federais

SNFPMESS Seminaacuterio Nacional de Formaccedilatildeo Profissional e Movimento Estudantil de

Serviccedilo Social

SESSUNE Subsecretaria de Estudantes de Serviccedilo Social na UNE

SINAES Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UNITINS Universidade Estadual do Tocantins

UNE Uniatildeo Nacional dos Estudantes

LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1 Natureza das Instituies de Ensino Superior no Brasil ndash Censo de 2007

GRFICO 2 Tipo de Instituies de Ensino Superior Privadas- Censo de 2007

GRFICO 3 Tipo de Instituies de Ensino Superior Pblicas- Censo de 2007

GRFICO 4 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1930-1994

GRFICO 5 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1995-2002

GRFICO 6 Criao de Cursos de Servio Social no perodo de 2003- agosto de

2008

GRFICO 7 Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de

2003-2008

GRFICO 8 Participao em organizao coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO

antes da insero no MESS

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2002

QUADRO 2 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2008

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 4 Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 5 Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-

2008

QUADRO 6 Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes

de sua inserccedilatildeo no MESS

QUADRO 7 Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de

assumirem a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

SUMAacuteRIO

IINTRODUO------------------------------------------------------------------------------------------14

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social-----------------------------------------------------------------------------------------25

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA----------------------------------------------------------------------------25

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes---------------35

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO----------------------------------------------------------------------------------- ------42

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE ----------------------------------------------------------------------------------50

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE -----------------------------------54

3-1 A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal ----------------------------------------------------------------54

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades-

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------59

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais --------------68

IV UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE-75

4-1ldquoREFORMA UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA DO

ESTADO BRASILEIRO --------------------------------------------------------------------------------75

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico ---------------------------------------------------------84

4-3 REMANDO CONTRA MAR a formao profissional do assistente social no

mbito da contra-reforma do ensino superior-----------------------------------------------------98

V- UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL ---- --------------112

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO-------------112

5-2 UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO----

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------124

5-3 REFLEXES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO --------------------147

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies ----------------------161

5-5 SERVIO SOCIAL ABEPSS CFESS E A ENESSO no mbito da parceria

estratgica -----------------------------------------------------------------------------------------------165

CONSIDERAES FINAIS -------------------------------------------------------------------------171

REFERNCIAS-----------------------------------------------------------------------------------------175

ANEXOS -------------------------------------------------------------------------------------------------185

APNDICE----------------------------------------------------------------------------------------------190

Nada Eacute Impossiacutevel De Mudar

Desconfiai do mais trivial

na aparecircncia singelo

E examinai sobretudo o que parece habitual

Suplicamos expressamente

natildeo aceiteis o que eacute de haacutebito como coisa natural

pois em tempo de desordem sangrenta

de confusatildeo organizada de arbitrariedade consciente

de humanidade desumanizada

nada deve parecer natural nada deve parecer

impossiacutevel de mudar (Bertolt Brecht)

14

I INTRODUCcedilAtildeO

Nesta investigaccedilatildeo desenvolvemos um estudo sobre a accedilatildeo do Movimento

Estudantil(ME) tendo como objeto de pesquisa a anaacutelise da direccedilatildeo social do

Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS) e sua relaccedilatildeo com a universidade e

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais no contexto da contra-reforma1 do

ensino superior implementada no periacuteodo de 2003-2008

O interesse pelo estudo dessa temaacutetica iniciou durante o Curso de

Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

(UERN) de 2003 ao iniacutecio de 20072 por meio da minha vivecircncia no ME que

proporcionou momentos enriquecedores na formaccedilatildeo profissional e contribuiu com o

desenvolvimento de reflexotildees participaccedilatildeo em debate e accedilotildees voltadas para a defesa

do atual projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado pelas

Diretrizes Curriculares de 1996

Essa dissertaccedilatildeo representa a continuidade de estudos desenvolvidos

sobre o ME considerando que no trabalho de conclusatildeo de curso abordamos a

atuaccedilatildeo do MESS na (UERN) Os resultados desse estudo me permitem afirmar que

a partir da deacutecada de 1990 ocorreu agrave substancial influecircncia da ENESSO nas accedilotildees

locais dos(as) estudantes de Serviccedilo Social dentre as quais destacamos a efetivaccedilatildeo

de atividade em defesa do espaccedilo profissional do(a) assistente social no Instituto

Nacional de Seguro Social(INSS) a partir de orientaccedilotildees da executiva tivemos a

atuaccedilatildeo do Centro Acadecircmico(CA) nas discussotildees relativas a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares de 1996 mais recentemente podemos

citar o amplo boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(ENADE)

realizado pelos estudante de Serviccedilo Social da UERN em novembro de 20043 a

promoccedilatildeo de debates sobre o exame de proficiecircncia A monografia tambeacutem aponta a

existecircncia de dificuldades relacionadas agrave mobilizaccedilatildeo das bases e da renovaccedilatildeo de

1 Termo utilizado por Behring(2003) como forma de expressar que a reconfiguraccedilatildeo do Estado na realidade atual corrobora para a minimizaccedilatildeo e natildeo consolidaccedilatildeo de direitos2 Essa militacircncia permitiu a inserccedilatildeo em espaccedilos do Movimento Estudantil como representaccedilatildeo estudantil no departamento de Serviccedilo Social da UERN bem como a participaccedilatildeo na Coordenaccedilatildeo Regional da Executiva Nacional de Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) na gestatildeo 20052006 Tal vivecircncia despertou a curiosidade em torno da organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do MESS e da relevacircncia da sua accedilatildeo para profissatildeo bem como para construccedilatildeo de lutas que ultrapasse o universo profissional e contribua para a mobilizaccedilatildeo pela universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com qualidade Desse interesse resultou a produccedilatildeo monograacutefica intitulada Movimento Estudantil de Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte trajetoacuteria histoacuterica na luta por uma universidade puacuteblica e de qualidade defendida em janeiro de 20073 A partir dessa avaliaccedilatildeo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura(MEC) atribuiu nota inferior a 1 o que representou a menor nota dentre os cursos de Serviccedilo Social do Brasil

15

dirigentes estudantis para os espaccedilos como o Conselho de Representantes de

Turma(CORETUR) CA e Diretoacuterio Central dos Estudantes(DCE)

Revelou ainda o compromisso histoacuterico do movimento com a defesa da

universidade puacuteblica gratuita e de qualidade mediante a efetivaccedilatildeo de diversas lutas

e atividades como as mobilizaccedilotildees e greves em prol da estadualizaccedilatildeo da UERN na

deacutecada de 1980 atos contraacuterios ao pagamento de taxas no acircmbito das instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino em particular na UERN promoccedilatildeo de manifestaccedilotildees em 2004

durante as comemoraccedilotildees de 36 anos dessa instituiccedilatildeo O objetivo dessa accedilatildeo dentre

outros consistia em mostrar para a sociedade acadecircmica e mossoroense a

insatisfaccedilatildeo estudantil com as precaacuterias condiccedilotildees de funcionamento da universidade

Aleacutem disso a investigaccedilatildeo monograacutefica demonstrou preocupaccedilotildees do MESS da

UERN com a formaccedilatildeo profissional e com a defesa do projeto eacutetico-poliacutetico da

profissatildeo

A produccedilatildeo de dados referente a esta pesquisa na graduaccedilatildeo explicitou

tambeacutem a decepccedilatildeo de segmentos do MESS no acircmbito da UERN com a contra-

reforma do ensino superior materializada na primeira gestatildeo sob a presidecircncia de Luis

Inaacutecio Lula da Silva dimensatildeo que pode ser aprendida inclusive na fala de uma das

entrevistadas que contribuiu com a socializaccedilatildeo de informaccedilotildees para o trabalho

monograacutefico

Quando eu entrei na universidade em 2002 era justamente o ano da campanha eleitoral para presidente [] era todas as expectativas em cima do governo Lula [] mas as coisas natildeo funcionaram assim a gente imaginava que as reformas fossem acontecer mas natildeo da forma como ele fez apenas camuflou as reformas que FHC queria fazer (orquiacutedea)

A construccedilatildeo da monografia associada agrave militacircncia potencializou a

apreensatildeo de alguns desafios que perpassam a organizaccedilatildeo do MESS na

contemporaneidade Destacamos a realidade objetiva em que parte significativa

dos(as) dirigentes locais do CA desenvolvia estaacutegio remunerado eou outras atividades

de inserccedilatildeo no mercado de trabalho Esse contexto nos remete a refletir sobre o

compromisso majoritaacuterio desses sujeitos com a luta coletiva expresso no

envolvimento com a construccedilatildeo do MESS em meio agrave sobrecarga de atividades

desempenhadas Em decorrecircncia dessa realidade explicitam-se limitaccedilotildees

provocadas pelas condiccedilotildees objetivas e subjetivas de inserccedilatildeo desses militantes no

movimento e direccedilatildeo da entidade estudantil tais como minimizaccedilatildeo na participaccedilatildeo de

reuniotildees estudantis foacuteruns do ME e do MESS reduccedilatildeo na construccedilatildeo de atividades

entre outras

16

Outra vivecircncia importante para construccedilatildeo do objeto de estudo consistiu na

experiecircncia de estaacutegio4 no Conselho Regional de Serviccedilo Social (CRESS) Seccional

de Mossoroacute que possibilitou a participaccedilatildeo em discussotildees ciclos de debates entre

outras atividades sobre diferentes temaacuteticas relacionadas agrave profissatildeo em especial agrave

proacutepria formaccedilatildeo profissional O estaacutegio eacute considerado pela Associaccedilatildeo Brasileira de

Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) um elemento essencial na construccedilatildeo

de um perfil profissional criacutetico reflexivo e investigativo que contribui para formaccedilatildeo

de profissionais com competecircncias e habilidades capazes de desvendar as relaccedilotildees

sociais contraditoacuterias no cotidiano de trabalho dos(as) assistentes sociais O estaacutegio

no CRESS potencializou um aprofundamento de estudos e vivecircncias relacionadas ao

exerciacutecio e agrave formaccedilatildeo profissional em Serviccedilo Social aleacutem da aproximaccedilatildeo com a

dimensatildeo da organizaccedilatildeo poliacutetica da categoria profissional

Diante dessas constataccedilotildees no universo da UERN foi aguccedilada a nossa

inquietaccedilatildeo e curiosidade sobre accedilatildeo do MESS em niacutevel nacional de tal forma que

dando continuidade ao estudo iniciado no periacuteodo do Curso de Graduaccedilatildeo novos

questionamentos emergiram na perspectiva de analisar a atuaccedilatildeo e as implicaccedilotildees do

MESS na defesa de um determinado projeto de universidade e formaccedilatildeo profissional

Os resultados da pesquisa realizada na monografia ressaltados anteriormente satildeo

particularidades da organizaccedilatildeo e accedilatildeo poliacutetica do MESS local a partir sobretudo da

deacutecada de 1990 ou configura-se numa tendecircncia que pode ser generalizada a esse

sujeito coletivo em niacutevel nacional Como as determinaccedilotildees soacutecio-conjunturais do

periacuteodo de 2003-2008 inflexionam e caracterizam a accedilatildeo poliacutetica do MESS em acircmbito

nacional Quais satildeo as estrateacutegias e as formas de luta desenvolvidas Quem satildeo

seus principais aliados e opositores no cotidiano das lutas Diante dessas reflexotildees

essa pesquisa apresenta como objetivo analisar a direccedilatildeo social do MESS mediante a

atuaccedilatildeo da ENESSO em relaccedilatildeo agrave universidade e agrave formaccedilatildeo profissional no

interregno de 2003 a 2008

Portanto considerando agrave insuficiecircncia de tempo pela dinacircmica de duraccedilatildeo

do mestrado bem como devido a problemaacuteticas referentes a deslocamentos e as

proacuteprias condiccedilotildees objetivas torna-se imprescindiacutevel agrave instituiccedilatildeo de uma delimitaccedilatildeo

temporal para a realizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

Eacute nesse sentido que estabelecemos esse recorte temporal o qual tambeacutem

eacute demarcado pelo iniacutecio do governo Lula e engloba ainda parte do seu segundo

mandato (2003-2008) O processo que nos levou a efetivaccedilatildeo de tal delimitaccedilatildeo

consiste na possibilidade de potencializar algumas consideraccedilotildees e problematizaccedilotildees

4 Estagio curricular de caraacuteter obrigatoacuterio efetivado durante a graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social no periacuteodo letivo de 20042 a 20061

17

interessantes e enriquecedoras na investigaccedilatildeo tais como proporcionou a

contextualizaccedilatildeo da materializaccedilatildeo de uma contra-reforma do ensino superior

circunscrita no acircmbito de um governo cujo partido presidencial emergiu e consolidou-

se historicamente identificado com a luta por uma educaccedilatildeo puacuteblica e de qualidade

contudo age no executivo federal em conformidade com o ideaacuterio neoliberal de

destruiccedilatildeo daquela luta e ainda permitiu evidenciarmos algumas dimensotildees do

relacionamento deste governo com os movimentos sociais(MS) e em particular com

o ME

Aleacutem disso o ano de 2008 constitui-se um marco para o MESS Trata-se

da existecircncia de trinta anos de reorganizaccedilatildeo do movimento e vinte anos de criaccedilatildeo

da ENESSO entretanto neste importante ano tivemos no Encontro Nacional de

Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSS) realizado em julho de 2008 em Londrina-PR

a natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos da Coordenaccedilatildeo Nacional da executiva O que este fato

representa para o MESS Uma crise As diferentes vertentes que compotildeem o MESS

estatildeo preocupadas com os interesses reais do coletivo de estudantes de Serviccedilo

Social possuem uma agenda poliacutetica ou estatildeo submetidas agrave mera conquista da

entidade como expressatildeo de um tipo de poder poliacutetico desvinculado de uma direccedilatildeo

social criacutetica

A relevacircncia dessa pesquisa consiste na anaacutelise de um sujeito coletivo

historicamente protagonista na luta por uma universidade e formaccedilatildeo de qualidades

Destarte eacute relevante para o Serviccedilo Social por problematizar o processo de formaccedilatildeo

profissional dos(das) assistentes sociais ressaltando a ameaccedila vivenciada pelo atual

projeto educacional em decorrecircncia das medidas efetivadas pelo governo vigente

consubstanciadas nas orientaccedilotildees neoliberais

Aleacutem disso consideramos a pesquisa importante na medida em que

analisa um fenocircmeno ainda em curso podendo de tal forma contribuir na elaboraccedilatildeo

de investigaccedilotildees seguintes bem como pode subsidiar reflexotildees significativa para

proacutepria organizaccedilatildeo poliacutetica do MESS nessa conjuntura tatildeo adversa

Outro aspecto que explicita a relevacircncia acadecircmica dessa pesquisa

consiste na reduzida produccedilatildeo teoacuterica sobre a atuaccedilatildeo do ME em particular do MESS

Estudos que tem como temaacutetica o segmento estudantil em larga medida estaacute

circunscrita a accedilatildeo desse movimento no contexto da ditadura militar em virtude do

protagonismo que desenvolveu na luta contra o regime ditatorial Portanto elaborar

produccedilotildees teoacutericas sobre o ME em conjunturas recentes consistiu em um desafio

diante da bibliografia escassa o que por sua vez representa uma contribuiccedilatildeo no

estudo da accedilatildeo e particularidades desse MS

18

Do ponto de vista terico-metodolgico a pesquisa foi desenvolvida numa

perspectiva de totalidade com vista a apreender as determinaes estruturais e

conjunturais e suas implicaes no objeto investigado

Temos a compreenso que o conhecimento um saber provisrio e

ilimitado nesse sentido relevante o entendimento de que as teorias e seus mtodos

consistem em referenciais que potencializam a apreenso da realidade a partir do

desenvolvimento das investigaes cientficas Cardoso(1976) caracteriza o mtodo

como elemento que contribui na apreenso de possibilidades e limites inerentes a

prpria elaborao do conhecimento ainda o concebe como parte constitutiva de

determinada teoria social Portanto o referencial terico-metodolgico no deve ser

empregado nas pesquisas como receiturio infalvel e mecanicista As teorias so

construdas no mbito da historicidade ou seja refletem sobre problemticas

circunscritas no tempo e espao Alm disso na perspectiva marxiana constitui a

reproduo no plano ideal do movimento do real em que se busca apreender as

determinaes que conformam os fenmenos existentes na realidade histrica em

uma dimenso de totalidade

Totalidade na perspectiva de conhecer um determinado objeto levando-se

em considerao os seus determinantes a partir de um processo de abstrao

fundamentado no movimento do real e no a apreenso da realidade como factvel de

um conhecimento total e absoluto visto que ldquoas leis inerentes ao ser social so leis

histricas decorrentes das necessidades e conexes internas dos fenmenos dos

fatos e processos sociais por isso so tendenciaisrdquo (PONTES 2002 p76) Ou na

concepo de Lowy

O que define a cincia como tal a tentativa de conhecimento da verdade Nesse sentido h uma relao entre cincia e conhecimento da verdade Porm a verdade absoluta jamais ser conhecida todo o processo de conhecimento um processo de acercamento de aproximao verdade (2000 p110)

Ratificamos a necessidade de entendimento histrico da realidade na

medida em que temos a compreenso de ser a esfera estrutural a determinante na

constituio das relaes sociais e de tal modo decisiva na (re)configurao do

Estado capitalista e da organizao e atuao dos sujeitos nesta forma de

sociabilidade Como assinala Tonet

Na perspectiva metodolgica marxiana a produo terica nunca uma questo apenas terica- de modo diferente em momentos diferentes- uma relao estreita com o andamento do processo real

19

alm de terem reflexos na prpria vida cotidiana dos intelectuais( 2004 p207)

Para a coleta e produo dos dados utilizamos pesquisa bibliogrfica a

partir de fontes como livros artigos dissertaes teses entre outras que perpassou

toda investigao Todavia sabemos das dificuldades decorrentes sobretudo do

escasso registro de obras que tratam do ME na atualidade pois a maioria das anlises

sobre este segmento organizado se refere ao contexto da ditadura militar iniciada em

1964 Tal realidade resultante provavelmente do seu protagonismo na luta pela

liberdade e democracia naquele perodo pode expressar ainda o momento de influxo

vivenciado por diversos MS que se expressa tambm no mbito do segmento

estudantil no contexto contemporneo

Utilizamos tambm pesquisa documental na qual privilegiamos a anlise

de documentos construdos pelo prprio ME especialmente o MESS Os principais

documentos que subsidiaram a anlise foram as deliberaes aprovadas nos ENESS

no perodo que engloba o recorte temporal da pesquisa Estas deliberaes

estabelecem as lutas a serem desenvolvidas em cada ano de direo da ENESSO

alm de boletins jornais cadernos e estatutos produzidos pela entidade de 2003-

2008 documentos aprovados sobre a contra-reforma universitria como decreto lei

regulamentos alm de elaboraes oficiais sobre as atuais mudanas na educao

superior brasileira como exemplo podemos citar o prprio plano de reestruturao

das universidades federais de autoria do MEC

Consideramos significativo situar na discusso os documentos

apreendidos como os instrumentos normativos da profisso principalmente as

Diretrizes Curriculares para o Curso de Servio Social de 1996 Estas foram

analisadas sobretudo no captulo quatro da dissertao com o objetivo de

problematizar a relao -contra-reforma universitria ndash formao profissional- e

atuao do segmento estudantil nestas esferas

De modo complementar sinalizamos o propsito de realizarmos pesquisa

de campo atravs de entrevistas do tipo semi-estruturada com um(a) dirigente da

ENESSO em cada ano compreendido no perodo 2003-2008 num total de cinco

entrevistas que seriam utilizadas com a perspectiva de resgatar a atuao do MESS

a partir da fala dos seus(suas) militantes Para Neto mediante as entrevistas o

investigador procura apreender informaes expressas na fala dos sujeitos e de tal

forma

Ela no significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos autores

20

enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizada (1994 p57)

Devemos considerar que informaccedilotildees distorcidas ou irreais podem ser

transmitidas pelos entrevistados(as) contudo isso natildeo invalida a utilizaccedilatildeo da

entrevista como uma importante teacutecnica de produccedilatildeo de dados principalmente

quando o conteuacutedo expresso pelos informantes eacute analisado evidenciando a

conjuntura na qual a fala se reporta vislumbrando desse modo a apreensatildeo dos seus

determinantes

Elaboramos o roteiro de entrevista para ser realizado com cinco militantes

Um participante de cada diretoria compreendida no periacuteodo 2003-2008 portanto

entrevista com dirigente da diretoria 2003-2004 2004-2005 2005-2006 2006-2007 e

2007-2008 Esse correspondeu ao uacutenico criteacuterio estabelecido ou seja consideramos

preponderantemente a disponibilidade dos sujeitos sem elencar o cargo ocupado na

ENESSO regiatildeo e instituiccedilatildeo na qual se processou a graduaccedilatildeo

Assim sendo realizamos duas entrevistas durante o Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviccedilo Social(ENPESS) que ocorreu entre os dias 1 e 5 de

dezembro de 2008 na cidade de Satildeo Luiacutes-MA uma materializada no dia 02 com

um(a) dirigente da gestatildeo 2004-2005 a segunda iniciada tambeacutem dia 02 e concluiacuteda

no dia seguinte com dirigente da gestatildeo 2006-2007 A terceira entrevista foi realizada

no dia 9 de marccedilo de 2009 em Recife-PE esta com militante da gestatildeo 2005-2006

Diante da impossibilidade de efetivaccedilatildeo das demais entrevistas entramos em contato

via email com um(a) dirigente das gestatildeo 2003-2004 e 2007-2008 os(as) quais se

disponibilizaram a responder as questotildees que compunham o roteiro de entrevista

eles(as) responderam e enviaram mediante endereccedilo eletrocircnico Os sujeitos que

responderam o roteiro de forma presencial ou via email satildeo identificados nessa

pesquisa por nome de planetas assim caracterizados Vecircnus gestatildeo 2003-2004

Urano 2004-2005 Terra 2005-2006 Neturno 2006-2007 e Marte 2007-2008 Essa

estrateacutegia foi utilizada como meio de garantir a privacidade e preservar as fontes de

informaccedilotildees dessa investigaccedilatildeo

A obtenccedilatildeo de respostas via email consistiu em um procedimento

metodoloacutegico que viabilizou a complementaccedilatildeo de problematizaccedilotildees importantes por

dois(duas) dirigentes da ENESSO pertencentes ao universo da pesquisa Contudo eacute

salutar manifestar que o meio eletrocircnico reduziu a interferecircncia da pesquisadora no

processo de produccedilatildeo de dados visto que ficou impossibilitado o esclarecimento

imediato de duacutevidas durante a concessatildeo das respostas entretanto eacute importante

destacar que os sujeitos que responderam via email se disponibilizaram para

21

prestaccedilatildeo de quaisquer esclarecimentos e fornecimento de quaisquer informaccedilotildees

posteriores ao envio das respostas

Na pesquisa de campo ainda elaboramos um questionaacuterio com o objetivo

de traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO de julho de 2003 a julho de 2008

visto ser este o mecircs que ocorre o ENESS espaccedilo em que se elege a diretoria da

executiva e dessa maneira marca o inicio de uma determinada gestatildeo O perfil

evidenciou um conhecimento mais detalhado dos sujeitos que materializaram a accedilatildeo

poliacutetica do MESS no periacuteodo abordado pela pesquisa Assim potencializou o

entendimento de questotildees importantes pois expressou dados qualitativos e

quantitativos relacionados sobretudo aos aspectos geracionais dos(as) dirigentes do

movimento abordado

A entidade eacute composta de sete cargos nacionais de tal modo no periacuteodo

ressaltado tivemos cinco diferentes diretorias totalizando portanto trinta e cinco

dirigentes O questionaacuterio foi encaminhado via email para todos(as) esses sujeitos

conforme endereccedilo eletrocircnico disponibilizados nos documentos produzidos no

decorrer dessas cinco gestotildees Do total de trinta e cinco enviados para os(as)

coordenadores(as) nacionais obtivemos resposta de vinte e dois o que representa um

percentual de 63 desse universo

O natildeo recebimento de 37 dos questionaacuterios enviados pode ser reflexo

da mudanccedila de endereccedilos eletrocircnicos entretanto eacute importante evidenciar a nossa

tentativa de conseguir os endereccedilos atualizados por meio dos(as) dirigentes que

responderam o questionaacuterio

Tambeacutem enviamos o mesmo questionaacuterio para um(a) militante que

ocupou o cargo de coordenador(a) regional5 da ENESSO na gestatildeo 2006-2007 e que

na sua gestatildeo fez oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da entidade Este(a) ainda respondeu

e enviou eletronicamente um roteiro constituiacutedo de trecircs perguntas Essa accedilatildeo foi

materializada com o intuito de analisamos a apreensatildeo de um sujeito que atuou na

coordenaccedilatildeo regional da ENESSO e se colocou no campo de oposiccedilatildeo o que por sua

vez favorece a anaacutelise considerando divergecircncias e contradiccedilotildees que perpassam a

accedilatildeo desse MS e da entidade aqui estudada

Constituiacutea propoacutesito da pesquisa a realizaccedilatildeo de entrevistas com dois

membros da ABEPSS e do Conselho Federal de Serviccedilo Social(CFESS) A efetivaccedilatildeo

destas entrevistas com representantes da ABEPSS e CFESS proporcionaria um

enriquecimento do trabalho visto que as trecircs entidades nacionais da categoria se

articulam e promovem lutas conjuntas o que favoreceria a apreensatildeo da atuaccedilatildeo da

5 A regiatildeo a que pertence esse(a) dirigente eacute a II que engloba os estados do Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte Na dissertaccedilatildeo ele(a) eacute identificado pelo nome de Luz

22

ENESSO neste contexto da contra-reforma do ensino superior do governo de Lula O

conjunto dessas estrateacutegias possibilitaria a apreensatildeo do objeto de estudo em suas

contradiccedilotildees e densidade histoacuterica

Diante do exposto entramos em contato via email e de forma presencial

com as presidentes da ABEPSS das gestotildees 20052006 e 20072008 e obtivemos

ecircxito com a representante da gestatildeo20072008 que respondeu e enviou

eletronicamente os nossos questionamentos Em relaccedilatildeo aacutes entrevistas com

representantes do CFESS natildeo obtivemos ecircxito no estabelecimento dos contatos

A dissertaccedilatildeo apresenta-se estruturada em cinco capiacutetulos que se

subdividem em itens O primeiro capiacutetulo corresponde agrave introduccedilatildeo

Na segunda parte tecemos anaacutelise sobre o ME na qual o caracterizamos

como um MS que historicamente se constitui espaccedilo de atuaccedilatildeo da juventude

universitaacuteria no Brasil tendecircncia constatada na trajetoacuteria histoacuterica realizada no

segundo item dessa segunda parte Efetivamos algumas particularidades que

perpassa a organizaccedilatildeo do ME como a expansatildeo das Executivas de Cursos nos anos

de 1990 e as contradiccedilotildees que envolvem a UNE na conjuntura atual Aleacutem disso

abordamos sobre a reorganizaccedilatildeo do MESS no final dos anos de 1970 processo que

corroborou com a criaccedilatildeo da Subsecretaria dos Estudantes de Serviccedilo Social na

UNE(SESSUNE) em 1988 posteriormente transformada em ENESSO no ano de

1993 Entidade que desde a sua criaccedilatildeo se configura como espaccedilo sintonizado com a

defesa da universidade puacuteblica no Brasil e com a formaccedilatildeo profissional dos(as)

assistentes sociais perspectiva evidenciada tambeacutem nessa investigaccedilatildeo

O terceiro capiacutetulo direciona-se no sentido de apreendemos os limites e

possibilidade das poliacuteticas sociais e em particular da educaccedilatildeo no acircmbito da

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da sociabilidade capitalista Nessa dimensatildeo temos a

concepccedilatildeo que as contradiccedilotildees inerentes a esse modelo societal rebate nos diversos

complexos sociais incluindo a esfera educacional Pois entendemos a educaccedilatildeo

como uma esfera caracterizada pela disputa de projetos diferenciados perspectiva

que se vislumbra por exemplo na defesa da educaccedilatildeo como um direito social e

estrateacutegia importante na construccedilatildeo de mediaccedilotildees sintonizadas com outra

sociabilidade projeto defendido majoritariamente pelo MESS e a ENESSO e de

outro lado verificamos a luta de grupos privatistas que consideram o setor educacional

como mercadoria portanto vinculado aos interesses do capital associado agrave

concepccedilatildeo da educaccedilatildeo restringir-se a funcionalidade de atender meramente as

necessidades do mercado competitivo A anaacutelise foi potencializada com a construccedilatildeo

de mediaccedilotildees relacionadas ao capitalismo contemporacircneo para tal nos

fundamentamos em autores como Antunes e Harvey visto que consideramos

23

incoerente e inconsistente analisarmos a direccedilatildeo social da atuaccedilatildeo da ENESSO sem

contextualizarmos a sociedade na qual ela se processa

No quarto capitulo tratamos do processo de contra-reforma do ensino

superior durante os anos de governo Lula que tem se efetivado numa direccedilatildeo

preponderante de desqualificaccedilatildeo da perspectiva de universidade puacuteblica

caracterizada pela indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo aspecto que

se confirma com a crescente expansatildeo da Iniciativa privada com amplo apoio

governamental Assim abordamos no acircmbito da contradiccedilatildeo algumas das medidas jaacute

concretizadas como Programa Universidade Para Todos(PROUNI) Sistema Nacional

de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior(SINAES) Poliacutetica de Cotas Ensino a Distacircncia e

Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades

Federais(Reuni) O uacuteltimo item dessa parte apresenta como objetivo prioritaacuterio a

discussatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado

pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma em

que configuramos como um momento complexo e desfavoraacutevel para materializaccedilatildeo

dos princiacutepios norteadores da formaccedilatildeo defendida pelas entidades representativas da

profissatildeo incluindo a ENESSO

No quinto capiacutetulo traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO no

periacuteodo de 2003-2008 em que abordamos questotildees relacionadas agraves esferas poliacuteticas

sociais e econocircmicas desses sujeitos Embora subdividido didaticamente em cinco

itens privilegiamos em todo o capitulo a discussatildeo em torno da atuaccedilatildeo dessa

entidade nos acircmbitos da universidade e da formaccedilatildeo profissional enriquecidas com

as mediaccedilotildees realizadas nos capiacutetulos anteriores Destacamos tambeacutem desafios e

contradiccedilotildees que perpassam o MESS e a ENESSO na atualidade Para tal nos

baseamos nas informaccedilotildees fornecidas por ex-coordenadores(as) da ENESSO e nos

documentos elaborados e divulgados pela executiva durante o periacuteodo investigado

nessa pesquisa aleacutem da produccedilatildeo de dados obtida mediante as informaccedilotildees

concedidas por um(a) dirigente de oposiccedilatildeo e representantes da ABEPSS que

teceram reflexotildees sobre atuaccedilatildeo da ENESSO na contemporaneidade

24

Acredito na Rapaziada

Eu acredito eacute na rapaziada

Que segue em frente e segura o rojatildeo

Eu ponho feacute eacute na feacute da moccedilada

Que natildeo foge da fera e enfrenta o leatildeo

Eu vou agrave luta com essa juventude

Que natildeo corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que natildeo taacute na saudade e constroacutei

A manhatilde desejada

(gonzaguinha)

25

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA

No intuito de analisarmos a direo social do MESS mediante protagonismo

da ENESSO faz se necessrio uma abordagem do ME como expresso de um MS

em que concebermos tais sujeitos como esferas coletivas de organizao e atuao

poltica Temos o entendimento que a poltica no se reduz aos espaos

institucionais mas se faz presente nas mais variadas esferas societrias e que pode

ser instrumento de conservao da sociabilidade burguesa como pode ser utilizada

para sua superao a partir da anlise e conhecimento crtico do real que potencializa

uma ao orientada para negao da ordem vigente

Conceber o ME como MS nos remete ao entendimento de que uma

investigao sobre sua atuao deve considerar importantes dimenses tais quais o

atual momento histrico e suas determinaes para a luta dos(as) trabalhadores(as) e

para esfera educacional em especial a universidade brasileira Pois partimos da

perspectiva de que a luta dos(as) estudantes no se desenvolve desconectada da

discusso de um determinado projeto de universidade e dessa maneira to pouco de

uma viso societria

Portanto a discusso do ME no contexto dos MS visa ressaltar tambm a

importncia dos MS no mbito de uma sociabilidade marcada pela disputa de projetos

diferenciados e antagnicos que perpassa diversas esferas da totalidade social Desse

modo tal anlise torna-se relevante para melhor compreendemos a atuao do

MESS no cotidiano de lutas por uma universidade pblica gratuita democrtica laica

e de qualidade e de um projeto de formao profissional consubstanciadas nas

Diretrizes Curriculares de 1996 lutas inseridas numa conjuntura de disputa de projetos

educacionais nos marcos dessa sociabilidade Nesse aspecto relevante frisar que

historicamente o ME e em especial o MESS tem atuado em sintonia com a defesa de

construo de uma sociabilidade para alm do capital

Nesse cenrio de disputas e correlao de foras polticas e ideolgicas

segmentos dos MS identificados com um iderio emancipatrio assumem um papel

de destaque na implementao de lutas sintonizadas com o ideal de transformao

societal Nesse sentido os MS e entre eles o ME consistem em espaos de

26

organizaccedilatildeo participaccedilatildeo e accedilatildeo coletiva potencialmente favorecedores da

materializaccedilatildeo de uma accedilatildeo poliacutetica transformadora do status quo mediante o

desenvolvimento de lutas e atividades direcionadas para defesa de interesses que

exprimem os valores e princiacutepios que norteiam as accedilotildees desses sujeitos Valores que

majoritariamente se colocam no campo de negaccedilatildeo das relaccedilotildees mercantis

dominantes

A conjuntura atual eacute marcada pelo refluxo dos Movimentos Sociais(MS)

realidade influenciada dentre outros determinantes pela propagaccedilatildeo da

impossibilidade de ultrapassagem da ordem estabelecida e pela valorizaccedilatildeo de

relaccedilotildees mercantis

Luchmann e Souza(2005) sinalizam que a atuaccedilatildeo dos MS nas deacutecadas

de 1970 e 1980 caracterizava-se pelo caraacuteter combativo e contestatoacuterio

diferentemente dos anos 1990 nos quais se configura um direcionamento

particularizado por relaccedilotildees propositivas e participativas junto ao Estado em

detrimento de atuaccedilotildees mais reivindicativas

Para Montatildeno(2002) a inflexatildeo ocorrida na relaccedilatildeo entre as ONG e os MS

constitui uma expressatildeo dessa crise uma vez que nos anos 70 e 80 do seacuteculo XX

existia uma articulaccedilatildeo entre tais sujeitos coletivos na luta pela instituiccedilatildeo do Estado

democraacutetico e de direitos de cidadania para diferentes segmentos da sociedade

brasileira Jaacute nos 1990 explicita-se a profunda alteraccedilatildeo que acontece nessa relaccedilatildeo

visto que as ONG passaram a atuar natildeo mais em parceria mas a ocupar os lugares

dos MS Partindo do entendimento do autor eacute possiacutevel afirmar que essa inflexatildeo

contribui para o processo de reproduccedilatildeo da sociabilidade mercantil jaacute que

majoritariamente as ONG conformam espaccedilos mantidos financeira e ideologicamente

por instituiccedilotildees representantes do capital o que por sua vez potencializa uma atuaccedilatildeo

dessas organizaccedilotildees sintonizada com a manutenccedilatildeo dessa sociedade

Gonh(1992) ressalta que a fragilizaccedilatildeo dos MS eacute influenciada por

problemaacuteticas como o aumento do desemprego a aceitaccedilatildeo das diretrizes neoliberais

como fundamento da relaccedilatildeo Estado e sociedade e tambeacutem pela forte descrenccedila

em relaccedilatildeo a poliacutetica na contemporaneidade

Temos a apreensatildeo que os aspectos salientados por Gonh se apresentam

de modo radicalizado na atualidade Natildeo se pode mascarar a existecircncia de uma

conjuntura marcada cada vez mais pela expansatildeo do desemprego e de suas

consequumlecircncias para a desorganizaccedilatildeo dos segmentos do trabalho situaccedilatildeo que

potencialliza para o natildeo reconhecimento do pertencimento de classe de parte

significativa desses sujeitos

27

A descrena poltica se constitui um elemento particular da nossa histria

Perspectiva que se manifesta no estabelecimento de relaes fundamentadas na

lgica clientelista e na cultura do favor do famoso ldquojeitinho brasileirordquo na sobreposio

de interesses particulares em relao aos anseios da coletividade Aliado a isso

vivencia-se um contexto poltico complexo e difcil particularizado pela conquista da

presidncia por um partido historicamente identificado pelo iderio de transformao

social contudo atuando preponderantemente com fundamentao nos

ensinamentos e indicaes neoliberais de valorizao do privado desqualificao do

pblico e destruio dos direitos sociais Com base nessas reflexes pode-se afirmar

que o cenrio crtico para os MS identificados com a construo de outra

sociabilidade para alm do capital seno crtico o contexto contemporneo no

mnimo preocupante pois se intensifica a vivncia de desvalores sustentadores desta

ordem como egosmo competitividade individualismo associados s particularidades

da realidade brasileira

Entendemos ainda que as perspectivas ps-modernas contribuem para

esse cenrio de desmobilizao pois a negao da razo moderna favorece o

exacerbamento de vivncias efmeras em detrimento da construo de projetos

societrios alternativos para humanidade visto que a ps-modernidade se caracteriza

por concepes que ldquobuscam no isolamento do individuo (o sujeito localizado na

comunidade tecnolgica e informatizada do sculo XIX mas lsquodeslocadorsquo de sua

sociabilidade) a soluo para os problemas enfrentados pelo homem na sociedade

contemporneardquo (MAGALHES 2004 p83)

O isolamento e a atomizao dos sujeitos como caractersticas de

perspectivas situadas no campo da ps-modernidade contribuem para fragilizao de

aes e organizaes coletivas j que se verifica uma forte tendncia de exaltao da

subjetividade sem considerar entretanto o solo societal em que os indivduos esto

inseridos uma sociabilidade marcada pela explorao relaes competitivas

opressoras e egostas

Tais elementos corroboram para fragilizao das organizaes coletivas

identificadas com o iderio de transformao e construo de outra forma societria

inclusive o ME que historicamente levanta a bandeira em favor da universidade

pblica gratuita laica e de qualidade no Brasil

De fato o momento presente evidencia a retrao da organizao

poltica da classe trabalhadora Contexto scio-histrico de abandono das idias

anticapitalista por parte de importantes partidos situados no campo da esquerda

exemplar o caso do PT no Brasil Essa tendncia favorece a constituio de cenrios

nacionais nos quais a realizao de

28

Contra-reforma que sofreriam dura oposio se encaminhadas por governos originariamente neoliberais esto sendo aprovadas por coalizaes que contam com foras que outrora possuam uma imagem no neoliberal (LEHER 2005 p18)

Ou seja vivenciamos uma conjuntura desfavorvel aos segmentos do

trabalho Alicerando-nos em Fontes(2008) assinalamos que a radicalidade neoliberal

do tempo presente expressa o processo de intensificao da disponibilizao e

disciplinamento do trabalho em relao ao capital Disciplina na qual as foras

dominantes utilizam a violncia e a construo de consensos que rebatem fortemente

nos MS em particular no movimento sindical no a toa que ldquoassistimos destruio

dos sindicatos combativos ao desmonte de anteparos legais ao aguamento da

concorrncia internacional dos trabalhadoresrdquo (FONTES 2008 p31)

A autora ainda chama ateno para o explcito processo de metamorfose

que perpassam os MS nesse contexto de aprofundamento da explorao e

subalternizao dos segmentos do trabalho Dessa maneira organizaes populares

de cunho reivindicativo passaram a se configurar em espaos ldquomercantil-filantrpicordquo

Essa regressiva converso est articulada a marcante propagao no campo das

organizaes sociais da importncia das demandas especficas entretanto

desvinculadas da luta anticapital perspectiva que predominou sobretudo nos anos de

1980 imbricada a essa tendncia se verifica a disseminao de militantes que

embora preocupados com a melhoria de condies de existncia da populao

explorada e oprimida atuam de modo localizado pontual e fragmentado levando-os

ao abandono de lutas e reflexes sintonizadas com o ideal do fim da sociedade de

classes Realidade que corrobora com a transformao de militantes em assessoristas

de projetos sociais situados no campo da filantropia bem como para o aniquilamento

ldquodo horizonte da contradio entre fazer filantropia ser militante e ser remunerado

mercantil por essa atividaderdquo (FONTES 2008 p 35)

Sem dvidas essas ldquoconfusesrdquo ou mudanas de funes no interior das

organizaes de origem populares consistem em mais uma das estratgias de

convencimento empregada pela ideologia do capital na sua verso neoliberal com o

intuito de fragilizar as organizaes e os sujeitos contestadores e opositores da sua

dominncia Esse propsito de inflexo das lutas se expressa por exemplo na

tentativa desmesurada de satanizar o Estado e mascarar as contradies existentes

na sociedade civil

Em reflexo sobre os movimentos de classes no Brasil MOURA(2008)

assevera que na atual conjuntura o movimento sindical e os partidos de esquerda ldquo

29

parecem no dar conta de incorporar os diferentes sujeitos que se apresentamrdquo (p

52) Essa situao manifesta um momento de mxima complexidade no que diz

respeito organizao e atuao poltica dos segmentos do trabalho cada vez mais

a classe trabalhadora se torna diversificada e heterognea o que significa que a

tomada de conscincia e o pertencimento de classe uma necessidade real

importante e urgente por parte dos(as) desempregados dos(as) subcontratados

dos(as) inseridos(as) na informalidade e principalmente pelos movimentos de

trabalhadores(as) j organizados

Iamamoto(2006) sinaliza que essa tendncia de reduzida combatividade

do movimentos sindical e suas entidades deve ser entendida levando-se em

considerao os rebatimentos da reestruturao produtiva que acaba por gerar uma

diversificao nas relaes de trabalho no interior das fbricas a expanso de

trabalhos precarizados o acirramento da competitividade entre os trabalhadores(as)

dimenses que incidem na desorganizao poltica dos segmentos do trabalho

Para contribuir com nosso entendimento sobre a inflexo pelo qual passa

os MS na contemporaneidade em particular o movimento sindical j que temos o

entendimento que a organizao estudantil e suas entidades historicamente

apresentam vinculaes com esses sujeitos polticos realizaremos uma breve anlise

da recente trajetria da organizao da classe trabalhadora no Brasil

Segundo Moura(2008) o novo sindicalismo iniciado no final da dcada de

1970 com as manifestaes e greves sobretudo circunscritas ao ABC paulista se

fundamentava na defesa de direitos trabalhistas e sociais a participao da base

associada a luta pela democracia poltica no pas Foi o fortalecimento dessa vertente

que culminou com a criao da Central nica dos Trabalhadores(CUT) em 1983 e que

desde a sua fundao apresenta-se estritamente vinculada a criao do Partido dos

Trabalhadores em 1980 Conforme (MOURA 2008 p58)

Com bases sociais vinculadas diretamente ao movimento dos trabalhadores consolidou-se o projeto de fundao do PT Esse partido de formao originalmente operria foi determinante na formao da CUT Pode-se dizer que as fronteiras entre os militantes do PT e da CUT alm da ampla maioria dos movimentos sociais e populares que retomavam suas aes ou se constituam no pas ps-ditadura no estavam definidas Naquele quadro o PT expressava o movimento de massa o conjunto dos trabalhadores que em geral no estavam ligados aos partidos comunistas

A vitria de Fernando Collor de Mello e logo em seguida os oito anos de

gesto de Fernando Henrique Cardoso(FHC) colocaram o Brasil a plena disposio

da expanso neoliberal que j se processava mundo afora A vitria do PT em 2002

30

apoiado pela CUT at significou a contestao esmagadora da populao brasileira

com o rumo dado ao pas nas gestes anteriores entretanto o caminho adotado no

foi destoante do receiturio neoliberal Assim

Cada vez mais setores do movimento sindical brasileiro incorporam as teses gestadas pelos intelectuais orgnicos da burguesia O discurso de pretensa inexorabilidade do processo de ldquoglobalizao econmicardquo parece ter abarcado os setores dirigentes da CUT e do PT O projeto orientado pelo segmento especulativo do capital com o discurso de incorporao ordem e de parceria entre trabalhadores e patres Afirma a diluio das classes em prol de uma individualidade falaciosa (MOURA 2008 p59)

Como ser tratado nos captulos seguintes o governo de Lula tem sido

responsvel pela implementao de medidas que se pautam na perspectiva de

aprofundar a regulao neoliberal no pas Sendo esse posicionamento poltico

apoiado por entidades que historicamente tiveram suas aes voltadas para defesa

dos interesses da maioria da populao entre elas a CUT e a prpria Unio Nacional

dos Estudantes(UNE)

No mbito de negao da atuao poltica da CUT sobretudo no que diz

respeito relao de subordinao diante do governo Lula tivemos a criao em 15

de dezembro de 2005 da Coordenao Nacional de Lutas(CONLUTAS) formada por

sindicatos MS e organizaes de cunho popular comprometidas com o

desenvolvimento de lutas contrrias as contra-reformas que vem sendo materializadas

no Brasil Segundo essa entidade a CUT se transformou em uma organizao que

prefere apoiar o atual governo do que defender os interesses e direitos dos(as)

trabalhadores(as) nacionais

Acreditamos que seja necessrio destacar que a criao da CONLUTAS

recebeu influncia significativa de militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores

Unificados(PSTU)6 este considera o PT um partido reformista e que no cenrio atual

subsidia as aes da burguesia nacional

A criao de novas entidades no campo de organizao dos(as)

trabalhadores(as) e tambm do segmento estudantil evidencia o descontentamento

poltico de militantes com a conduo do pas que direcionada por um partido

construdo no mbito das lutas sociais todavia tem atuado em conformidade com a

hegemonia neoliberal adotada nos governos anteriores o que de certo modo

manifesta um expressivo divisionismo eou instabilidade existente no movimento

6 O PSTU foi fundado em 1994 sobretudo por militantes que romperam com o PT Mais recentemente em 2004 ocorreu uma nova dissenso no PT que culminou com a criao do Partido Socialista e Liberdade(PSOL)

31

organizado dos segmentos do trabalho e estudantil no Brasil e que rebate de maneira

significativa no MESS Tendncia evidenciada por exemplo nos conflitos que

envolvem a postura do segmento estudantil e da ENESSO diante do governo Lula e

da UNE aspectos amplamente debatidos pelos agrupamentos polticos que se

organizam no MESS7

Contudo a contradio inerente a sociedade do capital e desse modo

foras antagnicas a dominao burguesa se manifestam de modo combativo

inclusive nesse contexto de retrao poltica da classe trabalhadora

De maneira mais ampla temos a criao do denominado movimento

antimundializao que nos ltimos anos tem protagonizado relevantes lutas contra a

dominao capitalista O marco desse movimento consistiu os protestos durante a

reunio da Organizao Mundial do Comrcio(OMC) na cidade de Seatte em 1999

Apresentando posicionamento radicalmente contrrio ao receiturio neoliberal esse

movimento construiu e organiza o Frum Social Mundial espao que segundo

Wallertein( 2005) tem o objetivo de promover lutas contra os males provocados pelo

capital com postura de respeito as necessidades imediatas dos diversos segmentos

que compem o frum

Para Chesnais Serfati e Urdf(2005) o movimento antimundializao

apresentou como primeiros objetivos o combate a mercantilizao dos servios

pblicos efetivado mundialmente pela OMC mediante o Acordo Geral sobre Comrcio

e Servio(AGCS) mercantilizao que atinge diversas esferas entre elas a educao

O pensamento de Wood(2005) que a organizao dos(as)

trabalhadores(as) deve comear dentro de cada Estado dado seu entendimento que

o Estado no atual momento da globalizao apresenta funcionalidades imprescindveis

para a acumulao do capital Entre tais funes evidenciamos o seu papel de

ldquomanter a mo de obra imobilizada enquanto o capital se move atravs das fronteiras

nacionais ou nos capitalismos menos desenvolvidos atua como correia de

transmisso para outros Estados capitalistas mais avanados(WOOD 2005 p111)

A apreenso da autora situa o Estado como importante alvo das lutas de

classes em nvel local e nacional visto que no mbito da contradio como agente da

globalizao o Estado pode se constitui antagonicamente como ente bloqueador

desta

Em mbito nacional alguns sujeitos coletivos denominados por

Moura(2008) de ldquonovos movimentos de classerdquo tm assumido uma postura de

organizao combativa diante da perda de direitos e das precrias condies de

7 O aprofundamento dessa questo se encontra no capitulo cinco dessa dissertao

32

existncia seja na cidade eou campo Nessa dimenso temos a significativa atuao

poltica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) o Movimento dos

Trabalhadores Sem Teto(MTST) e o Movimento Terra Trabalho e Liberdade(MTL) que

segundo a autora implementam

Uma lgica e interveno inovadoras Organiza e aglutina segmentos distintos de trabalhadores sob uma mesma ldquobandeirardquo Essas novas organizaes buscam implementar alternativas econmicas para sobrevivncia e auto-susteno dos trabalhadores Experincias que se desenvolvem numa dinmica que busca o controle do processo de trabalho e forma no-capitalista de organizao econmica A organizao de massa priorizando a democracia e a ao direta a principal referncia desses movimentos(MOURA 2008 p60)

Diante do exposto seja a necessidade de luta circunscrita aos Estados

nacionais apontadas por Wood ou as lutas globais destacadas por Chesnais Serfati e

Urdf e ainda os movimentos existentes no Brasil que foram destacados por

MOURA(2008) constituem e expressam possveis e concretas respostas de

resistncia do trabalho contra o capital

Em se tratando especialmente do ME interessante ressaltar algumas

caractersticas peculiares desse MS entre elas um movimento formado

majoritariamente pela juventude8 que se depara na contemporaneidade com um

cenrio de crise em que o diploma universitrio no representa mais a garantia de um

futuro melhor Nesses termos Almeida (2004) destaca que a preocupao dos(as)

estudantes com a insero no mercado de trabalho to significativa que verificamos

seus rebatimentos inclusive no afastamento considervel de alunos(as) das

organizaes coletivas no mbito universitrio como o caso do ME

Os dados da pesquisa realizada em novembro de 1999 pelo Ncleo de

Opinio Pblica da Fundao Perseu Abramo com jovens de quinze a vinte quatro

anos nas noves regies metropolitanas e Distrito Federal revelam que do total de

entrevistados(as) 58 estudavam Entretanto s a condio de estudante no

suficiente para caracterizar de forma mais profunda a juventude brasileira pois tal

pesquisa tambm evidenciou que do universo investigado 78 trabalhavam eou

estavam na procura de emprego para adentrarem no mundo do trabalho

8 A dissertao no tem o propsito de confrontar teoricamente as diferentes concepes existentes sobre juventude Contudo temos o entendimento que no podemos tratar dessa temtica levando-se em considerao somente a idade em si mas as determinaes econmicas sociais polticas culturais que incidem na vida desses sujeitos que vivenciam entre outras dimenses situaes de confrontos de valores idias momentos de transio processos formativos e nveis de maturidade diferenciados

33

Relevante enfatizar que os dois principais motivos elencados pelos jovens

que abandonaram os estudos so de natureza econmica 34 deles apontaram

impossibilidade em conciliar trabalho e estudo e 16 evidenciaram a falta de recursos

financeiros como impedimento para continuidade da vida escolar9

Em dezembro de 2003 investigao do Projeto JuventudeInstituto

Cidadania em parceria com o Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE divulgaram

dados de uma pesquisa realizada com jovens entre 15 e 24 anos de todo o pas e que

tratou ainda de retomar e ampliar os temas destacados pela pesquisa da fundao

Perseu Abramo de 1999

Com base nos dados da pesquisa do Projeto Juventude trs em cada

quatro jovens entrevistados(as) esto inseridos(as) no mercado de trabalho ou

procurando uma ocupao O tema ldquotrabalhordquo se configura entre os(as) jovens como

aqueles de maior interesse e preocupao Visto que o trabalho se apresenta como

elemento fundamental de seu presente ou de seu futuro prximo concebido como necessidade pela maioria mas tambm como fator de crescimento de conquista de independncia e de auto-realizao para parcelas amplas da juventude( ProjetoJuventude 2003 p92)

A violncia e dificuldades de insero no mercado de trabalho so tidas

como os principais aspectos negativos da condio de ser jovem no Brasil

Em relao dimenso cultural a pesquisa evidencia que 85 dos

entrevistados(as) no participam de grupos de jovens e aqueles(as) que participam

atuam especialmente em organizaes vinculadas a Igreja

Recente pesquisa da Fundao Getulio Vargas10 destaca que falta aos

pais e jovens brasileiros tomarem conscincia do poder transformador da educao

em suas vidas como os altos impactos educacionais exercidos na esfera de

empregabilidade salrio e sade

O carter transformador da educao como salientado pela Fundao se

consubstancia notoriamente numa tendncia de proporcionar melhores conquistas e

desenvolvimento no interior do mercado de trabalho o que representa sobretudo

uma lgica de preservao dessa sociabilidade pois no se apreende incentivos a um

tipo de educao como mediao que possibilite o questionamento da sociedade

9 Conforme dados da pesquisa do percentual de 42 que pararam de estudar apenas 1 o fez por ter concludo o ensino superior10 A pesquisa foi divulgada no site da Fundao no dia 16 de abril de 2009 e patrocinada pela prpria fundao pelo Unibanco pelo Movimento Todos pela Educao e pela Educar Dpaschoal As principais fontes da pesquisa foram os microdados dos Suplementos da PNDA de 2004 e 2006 microdados da Pesquisa Mensal do Emprego(IBGE)

34

erguida pelo capital marcada pela dominao explorao e opresso que repercute

inclusive na esfera educacional como evidenciado no capitulo trs desse trabalho

Segundo dados disponibilizados pela Fundao Getulio Vargas no

universo da referida pesquisa os jovens entre 15 e 17 anos elencaram a ausncia de

interesse como principal responsvel pelo abandono escolar representando um

percentual de 403 enquanto que o abandono por questes de renda e trabalho

corresponderam ao patamar de 271 Os dados so realmente inquietantes levando-

nos a refletir o que na essncia representa a denominada ausncia de interesse No

seria um reflexo da profunda instabilidade vivenciada neste contexto de extrema crise

dessa sociabilidade em vez de se configurar como mera falta de apreenso dos pais e

jovens em relao ao impacto da educao nas suas vidas

Nessa dimenso a anlise da atuao do MESS um movimento

constitudo majoritariamente por jovens exige mediaes que reflitam sobre essas

problemticas enfrentadas pela juventude na atualidade

O afastamento de estudantes das organizaes coletivas no interior das

instituies de ensino superior configura tambm reflexo da ausncia de uma efetiva

poltica de assistncia estudantil que proporcione a permanncia dos(as)

universitrios(as) no cotidiano dessas instituies

Aliado a esses aspectos de ordem objetiva que contribuem para o

distanciamento de jovens do universo da educao formal e desse modo das

prprias organizaes coletivas peculiares a tais espaos como o ME ainda

vivenciamos um ntido processo de despolitizao que atinge vrios mbitos e

organizaes da sociedade O tempo presente reflete a radicalizao da barbrie

expressa por exemplo na agudizao das relaes competitivas e do individualismo

o que por sua vez fragiliza a construo de valores e prticas identificadas com a

construo de outro projeto societrio Outro elemento presente na realidade do ME

a tentativa de ocupao de entidades historicamente identificadas com a

transformao societal por foras tericas e polticas conservadoras Nas palavras de

Fontes(2009) ldquons estamos vivendo um momento de em que o capital hoje investe

fortemente em apassivar movimento sociais ainda que tenha que gastar algum recurso

para issordquo(2009 p04)

Outro aspecto importante consiste na transitoriedade do ME que aliada

fragilizao na formao poltica dos(as) militantes representa dificuldades no

processo de renovao de seus membros

Alm disso o carter pluriclassista do movimento contribui para a

apreenso e desenvolvimento de aes diferenciadas no contexto social nesse

sentido levando-se em considerao o grupo poltico pode existir concepes

35

diversas sobre a funcionalidade da universidade na sociabilidade capitalista Logo no

tocante a prpria contra-reforma do ensino superior e a formao profissional os

posicionamentos podem ser diversificados no interior do ME

Alm disso a conjuntura recente revela mudanas relativas s esferas

cultural e social dos jovens visto que verificamos a emergncia de novos espaos de

atuao juvenil so exemplos dessa tendncia os movimentos hip hop e rap os quais

segundo Mische (1996 p25) ldquosurgem como a voz de revolta e auto-afirmao Estes

constituem espaos de resistncia com criatividade ao desespero da violncia das

aspiraes bloqueadas e da falta de respeito por parte da cultura dominanterdquo

Portanto ao mesmo tempo que a atual conjuntura contribuiu no enfraquecimento de

determinados espaos polticos de organizao contraditoriamente proporciona o

fortalecimento da atuao dos (as) jovens em outras dinmicas de organizao

Consideramos desse modo que o ME brasileiro enfrenta na atualidade

contradies e desafios que podem contribuir ainda mais para o cenrio de

fragmentao de sua atuao poltica

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes

O resgate histrico do Movimento Estudantil(ME) brasileiro evidencia que a

defesa da universidade pblica gratuita e de qualidade social constitui em uma das

principais bandeiras de luta desse segmento organizado Permite ainda

apreendermos a ao poltica majoritariamente assumida ao longo de diferentes

conjunturas brasileiras em especial no atual cenrio de realizao de profundas

mudanas no mbito da educao superior lcus privilegiado de sua organizao e

atuao Assim faremos uma breve contextualizao do ME apresentando como

marco inicial de sua ao a criao da UNE por se tratar da entidade mxima dos(as)

discentes universitrios(as) no pas

Antes da criao da (UNE) no ano de 1937 a atuao do segmento

estudantil era caracterizada conforme Poerner (1979) pela transitoriedade e

regionalismo ou seja por aes focalistas e de carter local somente em 1937

com a criao e reconhecimento pelos (as) estudantes brasileiros(as) da UNE como

sua entidade mxima de representao que as lutas estudantis tornaram-se mais

expressivas e articuladas em nvel nacional

Segundo esse autor desde sua criao at a dcada de 1950 o ME

mediante atuao da UNE participou de lutas importantes no cenrio brasileiro dentre

36

das quais ressaltamos as mobilizaes contra o Estado Novo11 defesa do patrimnio

territorial e econmico do pas expressa por meio da campanha favorvel criao da

Petrobrs e pela proteo dos recursos naturais sobretudo das riquezas minerais os

protestos contra o aumento nas passagens dos bondes de So Paulo entre outras

aes

Diante do exposto evidencia-se que naquele momento o ME preocupava-

se com questes referenciadas na agenda poltica conjuntural do pas e prevalecia

tendncia de abstrair as singularidades do movimento secundarizando as

problemticas vivenciadas pelos(as) estudantes no cotidiano das instituies de

ensino superior brasileiras

Esta tendncia sofre alteraes na dcada de 1960 quando so realizados

dois seminrios sobre reforma universitria nos anos de 1961 e 1962

respectivamente na Bahia e no Paran O resultado dos seminrios foi expresso na

denncia por segmentos do ME quanto disseminao ideolgica pelos setores

dominantes da lgica que defende o ensino superior como privilgio de uma minoria e

a universidade como instrumento dos setores interessados na preservao da ordem

vigente Portanto desde a dcada de 1960 a defesa da universidade pblica gratuita

e de qualidade social bem como o desenvolvimento de processos formativos crticos

se tornaram mais expressivos nas reivindicaes e aes do ME

Em 1964 tivemos a instaurao da ditadura militar caracterizada na

realidade brasileira pela represso autoritarismo censura com destruio de canais e

espaos democrticos e morte de lideranas polticas Durante a ditadura uma das

metas principais dos governos autoritrios consistia na atrao de capitais

estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos Estados

Unidos No toa que durante esse perodo tivemos o chamado ldquomilagre

econmicordquo durante o qual os ndices de crescimento foram considerados

expressivos entretanto essa elevao no se converteu para toda sociedade sendo

os segmentos das classes trabalhadoras aviltados do processo que teve poucos

beneficiados alm disso vale ressaltar que foi proporcionado pela contnua poltica de

endividamento do Brasil

Desde a instaurao do regime militar as legislaes adotadas

demonstravam a preocupao em conter a atuao estudantil em novembro de 1964

foi aprovada a Lei Suplicy de Lacerda que tinha como principal objetivo eliminar a

autonomia do ME

importante destacar que em maio de 1968 acontece em diversos

11 O denominado Estado novo correspondeu aos anos de gesto de Getulio Vargas nos anos de 1937 a 1945

37

pases manifestaes de negao da sociabilidade capitalista e constitudas

significativamente por estudantes sendo que a maior expresso dessas

manifestaes ocorreu na Frana

Fontes(2009) considera que o maio de 1968 representa o epicentro de

um complexo processo de lutas que vinham se manifestando em diversas partes do

mundo como Mxico EUA Japo Europa e que caracteriza a ldquo a irrupo no plano

internacional de um certo tipo de lutas de novo tipo que no podem mais ser contidas

nem so solucionveis nos espaos nacionaisrdquo (p1) As lutas destacadas pela autora

so aquelas que denunciavam a crescente devastao internacional do capital e que

se expressavam por exemplo nas questes pacifistas anticoloniais racistas

sexistas entre outras as quais no poderiam ser enfrentadas no espao restrito dos

Estados nacionais

Para essa autora a represso militar configurou o maio de 1968 no Brasil

como manifestaes predominantemente estudantil e antiditatorial contudo

necessrio considerar que as manifestaes se processaram por diversos setores

urbanos do pas visto que aquela conjuntura marcada pelo

processo de diversificao industrial importante e impactante era um perodo de virada da estrutura demogrfica nacional e que portanto as manifestaes de 68 so fortemente antiditatoriais e com um cunho fortemente popular E contra elas e contra a possibilidade o temor que esse tipo de manifestao se estendesse que certamente o AI 5 inaugura a pior represso no caso brasileiro(2009 p02)

Nesta conjuntura contraditria e repressiva foi realizado o XXX Congresso

da (UNE) em outubro de 1968 que se constituiu num desafio para o ME pois a

violncia desencadeada contra os crticos do regime se intensificava alm disso as

reunies encontros estudantis e as mobilizaes de repdio as atrocidades cometidas

pela ditadura eram consideradas como aes subversivas e de ameaa a ordem

estabelecida Preocupados com a represso o lugar escolhido para realizao do

referido encontro foi Ibina pequena cidade no interior do estado de So Paulo

objetivando com tal medida no chamar ateno e assim evitar um confronto

policial No entanto a clandestinidade no se materializou e a realizao do congresso

chegou ao conhecimento das autoridades militares e praticamente todos os

congressistas foram presos entre eles os principais lderes do ME gerando um

grande abalo e marcando o incio de influxo do movimento

O refluxo do ME deve ser analisado levando-se em considerao a

instituio das medidas repressivas as quais se tornaram constantes naquele

contexto brasileiro Assim em dezembro de 1968 inicia-se o que Netto (2005 p38)

38

denominou de ldquogenuno momento da autocracia burguesardquo com a instalao do Ato

Institucional 5 considerado uma das legislaes mais autoritrias e violentas do

regime Em fevereiro de 1969 o Decreto lei 477 foi institudo e tratou de estabelecer

as infraes disciplinares cometidas por docentes discentes e funcionrios(as) das

instituies de ensino no pas concebendo greves e mobilizaes estudantis como

atos infracionais visando a fragilizao do ME

necessrio destacar que nas dcadas de 1960 e 1970 as aes

polticas do ME estavam voltadas para denncia do descaso dos governos ditatoriais

com a educao evidenciado a interferncia norte americana neste setor por

intermdio dos acordos MEC ndash USAID bem como procuravam fortalecer a luta contra

o regime militar

Este direcionamento de aes voltadas mais especificamente para o

mbito educacional bem como atividades de carter genrico consistia em motivo de

discordncia no tocante a forma de atuao a ser desenvolvida pelo ME Nessa

perspectiva Ramos referendada em Martins Filho (1987) ressalta a presena de

duas tendnciasA primeira atribua-lhe a funo de denunciar a ditadura militar atravs de grandes manifestaes pblicas que marcariam sua presena perante a sociedade [] a segunda posio defendia a ldquoluta especficardquo ou luta nas escolas [] nesta concepo a politizao dos (as) universitrios (as) surgiria das reivindicaes que lhes so especficas e seria no seu processo de organizao que eles (as) apoiariam o movimento dos (as) trabalhadoras (RAMOS 1996 p63)

Podemos considerar a tendncia defensora das grandes mobilizaes nas

ruas como hegemnica no mago do ME naquele momento Decorrente desta

posio necessrio enfatizar o protagonismo desse movimento na atuao contra o

regime repressor de 1964 Neste mbito a reconstruo da UNE conformou uma

caminhada rdua nesse processo

Neste contexto importante evidenciar que o XXXI Congresso da UNE

mais conhecido como ldquoCongresso da Reconstruordquo ocorrido em 1979 em Salvador

no Centro de Convenes da Bahia significou antes de tudo a expresso da

organizao e fortalecimento das bases estudantis que vinha ocorrendo em todo pas

Em 1972 alguns Centros Acadmicos retomam a iniciativa de denunciar as

barbaridades praticadas pela ditadura Esse ano e o seguinte so marcados pela

realizao dos primeiros encontros por rea de acordo com as diferentes profisses

Em 1975 a ocorrncia de greves em algumas universidades brasileiras como nos

estados do Rio Grande do Sul So Paulo Rio de Janeiro Bahia e Pernambuco

sinaliza que o ME encontrava-se em processo de reorganizao e recuperao do

39

carter poltico combativo das entidades estudantis Com tais propsitos no ano de

1976 aconteceram as primeiras eleies de Diretrios Acadmicos Livres como por

exemplo o da Universidade de So Paulo (USP) importante destacar tambm que

em 1976 foram realizados o I e II Encontro Nacional dos Estudantes (ENE) Estes

encontros consistiram nas primeiras medidas visando reorganizao do ME em nvel

nacional

O ano de 1977 ficou marcado pela volta dos(as) estudantes s ruas com

as grandes mobilizaes contra o ensino pago o aumento abusivo das mensalidades

nas universidades privadas e tambm contra o regime ditatorial

Outro fato relevante ocorrido no mesmo ano consistiu no III ENE no qual

foi formada a comisso Pr-UNE cuja responsabilidade correspondia em ldquocoordenar

as lutas estudantis em nvel nacional propagandear a histria da UNE e promover o

debate acerca da necessidade de sua reconstruordquo (ROMAGNOLI e ALVES 1988 p

32)

interessante salientar que as insatisfaes com a ditadura militar se

intensificaram e outros segmentos organizados da sociedade renasceram com

nfase para o ressurgimento das reivindicaes operrias expressas sobretudo

atravs dos movimentos grevistas no ABC paulista em 1978

Tal ano significativo para o ME devido o crescimento quantitativo de CAs

pela eleio da primeira diretoria livre para a Unio Estudantil de So Paulo e ainda

pela efetivao do IV ENE que tratou das discusses sobre a realizao do

Congresso de Reconstruo da UNE estabelecendo inclusive a data e local Como

podemos observar este congresso foi decorrncia de um processo de rearticulao do

ME que estava acontecendo em todo Brasil

Observamos na conjuntura brasileira do final da dcada de 1970 o

fortalecimento das lutas de diversos segmentos da sociedade na defesa pelo retorno

ao Estado de direito e o ME constituiu-se em um importante protagonista nesse

processo

Portanto o segmento estudantil organizado teve papel relevante na luta

contra a ditadura militar dessa maneira conforme Romagnoli e Alves (1988) no

Congresso da UNE de 1979 entre as lutas que deveriam ser implementadas por esta

entidade estavam a defesa da anistia ampla e irrestrita e a reivindicao por uma

Assemblia Nacional Constituinte Alm disso no podemos deixar de referenciar a

contribuio estudantil nas presses pelas ldquoDiretas jrdquo desencadeadas por

mobilizaes de vrios segmentos da sociedade favorveis realizao das eleies

diretas para Presidncia da Repblica no ano de 1985 Apesar de amplas

manifestaes em todo pas o processo eleitoral democrtico no se materializou

40

mesmo assim a articulao das foras polticas contrrias ao regime se fortaleceu

Na dcada de 1980 Ramos (1996) sinaliza a existncia de trs tendncias

polticas principais que atuavam no ME brasileiro A primeira tratava-se da tendncia

denominada ldquoViraordquo composta por estudantes com vnculos polticos com a Unio

da Juventude Socialista(UJS) vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) que

era hegemnica nos diretrios da UNE e defendia a necessidade da luta por liberdade

democracia e soberania nacional A segunda tendncia era composta principalmente

por militantes do PT e ressaltava a importncia de articulao com outros sujeitos

coletivos no intuito de estabelecer alianas no mbito universitrio na perspectiva de

contribuir para a construo de uma nova hegemonia social como primordial para o

segmento estudantil organizado J a terceira tendncia considerada minoritria

aglutinava tendncias ligadas tambm ao PT ao Partido da Libertao

Proletria(PLP) e ao PSTU que destacava a prioridade da luta contra o capital a partir

da aliana entre o ME e os trabalhadores (as) camponeses (as) e operrios (as)

Analisamos que a divergncia de tendncias no tocante ao papel social a

ser assumido pelo ME demonstra que no podemos atribuir prticas unitrias aos MS

pois eles comportam vrios grupos polticos com concepes diferenciadas possvel

observamos nas vertentes citadas uma postura progressista na dimenso de defesa

de lutas importantes que contriburam na elaborao da crtica e da ao poltica

contra a realidade instituda

Andrade afirma que as tendncias constituem-se no ldquoelo entre partido

poltico e universidade refere-se a grupos organizados que atuam no ME e elaboram

suas propostas e orientaes luz dos programas estratgias e tticas que os

partidos de esquerda elaboram em funo da conjuntura polticas e econmicas

vigentesrdquo (ANDRADE 1994 p31) Entretanto algumas ponderaes so necessrias

pois nem todos(as) militantes das tendncias so filiados(as) a partidos polticos uma

tendncia pode atuar sem contudo apresentar vnculo orgnico com partidos

polticos alm disso no difcil encontrarmos filiados(as) de partidos polticos sejam

eles considerados de esquerda ou de direita que militam no ME independente de

participarem de tendncias

Nos anos de 1990 uma das atividades que marcou a atuao do ME

consistiu na realizao do V Seminrio sobre reforma universitria em So Paulo o

evento contou com expressiva participao dos (as) estudantes que chegaram

concluso de que a universidade

Tem por objetivos o desenvolvimento da cincia da tecnologia da cultura pautando-se na liberdade de investigao e debate no

41

pluralismo metodolgico e terico na autonomia em relao aos diferentes governos e empresas privadas e cujas prioridades so definidas pela prpria comunidade universitria (BOLETIM DA UNE 1990)

Ainda durante a vigncia dos anos 1990 ressaltamos a participao

estudantil nas mobilizaes em defesa do impeachment do presidente Collor (1992)

os denominados ldquocaras pintadasrdquo entraram em cena contra este governo de cunho

neoliberal entendido pelo ME como um inimigo da universidade pblica12

No que concerne ao movimento dos ldquocaras pintadasrdquo Mische (1996)

chama ateno para sua heterogeneidade diferentemente das manifestaes dos

anos 19601980 cuja composio era basicamente de jovens oriundos da classe

mdia Esta alterao associa-se ao fato de que as ldquoredes de estudo trabalho cultura

e sociabilidade no esto mais centralizadas nas universidadesrdquo (MISCHE 1996

p24) provocando mudanas na prpria organizao da juventude brasileira

principalmente com a emergncia de novos espaos de atuao ou seja ldquode maneira

diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da dcada de 60 os

jovens atuais buscam novas formas de aglutinao participao e expressordquo

(RAMOS e BRITO 2005 p 3)

Alm disso Ramos(1996 p71) afirma que a participao poltica nas

reivindicaes de 1992 no foi ldquocanalizada pelos movimentos e entidades juvenis

para uma organizao mais crtica e comprometida nas diversas esferas coletivas do

ME em particularrdquo Tal perspectiva pode ser percebida dentre outras questes pelo

refluxo que atravessa o ME na atualidade percebido a partir de expresses tais

como na incapacidade de aglutinar a juventude no divisionismo nos debates e aes

travadas pelas suas organizaes na perda de combatividade que antes consistia

numa de suas caractersticas essenciais

Uma alternativa a estrutura do ME apresentada por Mische (1996) capaz

de potencializar a revitalizao da organizao poltica dos(as) estudantes

universitrios so as executivas de curso que ganharam expressividade no final dos

anos 1980 com a realizao dos Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

(ENEX) nos quais ldquodiscutia-se prioritariamente o papel social do ME e as propostas

para a interveno das executivasrdquo (RAMOS 1996 p82)

12 Collor presidiu o Brasil por dois anos de 1990 a 1992

42

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO

As executivas de curso so expresses do movimento estudantil por rea

que objetivam implementar aes relacionadas a determinada profisso essa atuao

pode ser desenvolvida de maneira endgena quanto pode ser direcionada para o

entendimento das demandas profissionais analisadas criticamente a partir das suas

determinaes histricas

Em 1992 tivemos a criao do Frum Nacional das Executivas de Curso

que conformou um espao privilegiado de discusso e troca de experincia entre as

diversas executivas Tal dimenso sinalizada na sua compreenso como um espao

de ldquoarticulao das executivas onde se possam construir lutas em conjunto aumentar

o contato entre executivas da mesma rea do conhecimento e socializar experincias

e acmulos em determinados assuntosrdquo (FRUM DAS EXECUTIVAS 2005)

Na reunio do frum ocorrida em setembro de 2005 ficou evidente a

preocupao das executivas em discutir a funo social que a universidade brasileira

tem cumprido dada apreenso desta instituio como um aparelho ideolgico que

em larga escala atua em conformidade com a supervalorizao da dimenso

tecnicista e seguidora da lgica do mercado priorizando desse modo a formao de

profissionais para atuarem conforme o modelo societrio dominante

Ainda foram ressaltadas questes relacionadas necessidade das

executivas travarem lutas conjuntas a partir de um calendrio de atividades unificado

ratificando tal entendimento nos encaminhamentos construdos alm de ter sido

aprovada a tarefa de elaborao de um documento consistente sobre educao e

universidade com nfase para aspectos como extenso abertura de cursos

avaliao e exame de proficincia para ser enviado s entidades estudantis13

Tais encaminhamentos expressam que as executivas no se preocupam

somente com problemticas referentes s particularidades dos seus respectivos

cursos Porm necessrio que as executivas como alternativas de organizao para

o ME no se tornem entidades burocratizadas e hierarquizadas a exemplo da UNE na

contemporaneidade dado o seu afastamento das bases estudantis e de suas

conseqentes reivindicaes

O Frum das Executivas e Federaes de Curso(FENEX) tem assumido

uma postura de negao no que se referem s principais medidas realizadas no

13 At o presente momento no temos conhecimento da elaborao desses documentos

43

campo da contra-reforma do ensino superior tais como ENADE PROUNI e mais

recentemente REUNI Essa perspectiva pode ser apreendida por exemplo no

relatrio elaborado em decorrncia da reunio do Frum ocorrida em fevereiro de

200814 o qual estabelece que ldquoas executivas auxiliem na construo de comits

locais contra o REUNI e insiram o debate do REUNI em seus fruns[] ampliando o

debate no conjunto dos estudantesrdquo (FENEX 2008 p01)

Interessante esclarecer que esse Frum vem se constituindo em um

espao de organizao estudantil desvinculado da direo da UNE e que tem

apresentado uma direo crtica em relao atuao poltica na entidade nacional

dos(as) estudantes brasileiros(as) desse modo o frum tem se destacado na

construo da Frente Contra a Reforma Universitria em curso no Brasil

Em relao a UNE no 49 Congresso ocorrido tambm em 2005

tendncia denominada de Unio de Juventude Socialista (UJS) conseguiu manter sua

hegemonia na entidade Sua postura de apoio a contra-reforma efetivada pelo

Governo Lula ficou evidente devido s propostas aprovadas neste congresso Para

justificar o posicionamento de entender as aes do Governo como ldquoreformardquo e desse

modo se colocar favorvel a poltica educacional que de fato orientada pelas

diretivas neoliberais um dos argumentos utilizados consistiu na defesa de que as

reivindicaes da UNE relacionadas assistncia estudantil foram incorporadas com

a destinao de 5 das verbas de custeio das instituies federais para essa rubrica

Nos congressos de 2007 e 2009 a mesma tendncia que se encontra

majoritariamente nas direes da UNE desde o seu congresso de Reconstruo em

1979 permanece na direo majoritria da entidade Conforme Santos(2007)

A direo da UNE hegemonizada por militantes do PC do B por meio de sua juventude a Unio da Juventude Socialista ndash UJS Vale ressaltar que desde a eleio do Governo Lula (2002) a Juventude do PT-JPT(pertencentes majoritariamente a tendncia interna do partido - Articulao Unidade na Luta) aliou-se a UJS imprimindo a direo da UNE uma prtica governista e ldquopelegardquo por se afastar das lutas estudantis(106)

A argumentao de Santos revela complexidades na atuao da UNE no

tempo presente e que reflete nos demais espaos de atuao e organizao

estudantil inclusive no MESS e na ENESSO conforme apontamento da nossa

pesquisa a executiva de Servio Social age de modo a negar e afirmar a UNE num

14 Na reunio do FENEX ocorrida em fevereiro de 2008 na cidade de Salvador estavam presente as entidades dos seguintes cursos Engenharia Florestal Geografia Fonoaudiologia Medicina Biologia computao Servio Social Comunicao Social Filosofia Farmcia Nutrio Enfermagem Educao Fsica Letras Histria Terapia Ocupacional Biblioteconomia Agronomia Artes e Economia

44

processo real e contraditrio que envolve as disputas e o direcionamento das lutas

estudantis Segundo o estudo de Santos(2007) a UNE se converteu em uma entidade

burocrtica e hierarquizada pelas suas tendncias majoritrias que processa uma

ao despolitizada tendncia verificada na transfigurao de uma entidade histrica

em uma instncia preocupada sobretudo com a arrecadao de dinheiro mediante

a venda de carteirinhas de estudantes15

Particularmente em relao ao MESSS o estudo de Ramos(1996)

expressa que sua organizao em nvel nacional se intensificou no contexto de lutas

pela redemocratizao do pas no final dos anos 197016 ou seja momento de

efervescncia das lutas em prol da conquista da democracia poltica e da garantia de

direitos sociais reclamados por diversos segmentos da sociedade brasileira

Exemplo dessa assertiva consistiu a realizao do primeiro ENESS em

197817 frum que desde a sua origem at os dias atuais se configura como espao

privilegiado de reflexes debates e deliberaes deste segmento estudantil e

conforme indica (RAMOS 1996 p101) logo ldquono incio da dcada de 1980 em meio ao

processo de discusso interna sobre a organizao do MESS j era analisada a

necessidade de criao de uma entidade nacional de estudantesrdquo

Nessa dcada ocorre tambm a expanso de centros acadmicos de

Servio Social o que por sua vez expressa o continuo processo de organizao pelo

qual perpassa esse segmento

Alm das discusses relativas criao de uma entidade nacional dos(as)

estudantes o MESS manifestava preocupaes em torno da formao profissional

em particular com atuao no mbito da reformulao curricular que culminou com a

criao do currculo mnimo de 1982 e que segundo MARTINS(1992) no I ENESS

ficou evidenciada a posio estudantil de

No fazer com que o estudo sobre o currculo se limitasse as discusses por matrias especificas mas que fosse possvel discutir-se[] ressaltando-se que as questes referentes ao currculo em Servio Social so apenas um item das questes relativas a educao em nossa sociedade(p36)

15Para o autor a UNE se remete na atualidade a uma fabrica de dinheiro com a produo de carteiras estudantis(P107)16 importante registrar que anterior a instaurao da ditadura militar no mbito de organizao segmento estudantil de Servio Social ocorreram alguns encontros nacionais e Silva(2006) destaca a criao da ENESS( Executiva Nacional de Estudantes de Servio Social) atuante at 1968 ano de instituio do AI 5 e que conforme o autor ldquo possua estrutura organizativa semelhante a da ENESSOrdquo(p21)17 O Encontro aconteceu na Universidade Estadual de Londrina com o tema ldquoO Servio Social e a Realidade Brasileirardquo entre os dias 29 e 31 de outubro de 1978

45

No ENESS de 197918 tivemos a criao da Secretria Executiva Nacional

formada pela escola sede do encontro e um representante de cada regio constituda

com o objetivo de potencializar a organizao do MESS alm disso so aprovadas a

realizao os Encontros Regionais de Estudantes de Servio Social(ERESS) e do

Conselho Nacional de Entidades Estudantis(CONESS)19

Pequeno(1990) ressalta que os anos de 1980 foram importantes para o

fortalecimento do MESS devido tambm a sua postura de reivindicar a ocupao de

espaos junto a organizao da categoria Esta que ldquoinserida numa conjuntura de luta

pelos direitos sociais comeou a se pensar e a buscar novos caminhos para sua

organizao encontrando no Movimento Estudantil um grande aliado para essa

mudanardquo(p51) A partir de ento o MESS procurou construir aliana com outras

entidades de representao estudantil MS e as entidades representativas do Servio

Social no caso a ABEPSS e o CFESS

Segundo essa autora tambm a partir de 1982 inicia-se o processo de

ascenso do PT no ME em particular no MESS que disputava a hegemonia do

Movimento sobretudo com militantes vinculados ao PC do B este que ldquoaliado com

algumas reitorias apresentava uma postura conservadorardquo (p59)

Importante ressaltar que no ENESS de 1985 um agrupamento de

estudantes defendeu da SESSUNE chegando a levar tal proposta para plenria final

Entretanto o encaminhamento tomado sinalizou a necessidade de aprofundar essa

questo levando esse debate para os(as) estudantes das diversas escolas de

Servio Social do pas Como podemos apreender o processo de criao da entidade

nacional foi resultante de um debate democrtico travado pelos estudantes

Em 198620 importante destacar mudanas na realizao do ENESS que

passa a ter a durao de cinco dias e no mais de trs como anteriormente

Aps dez anos de debates no ENESS de 1988 criada a SESSUNE com

o objetivo de contribuir com a organizao nacional dos estudantes A partir de ento

tem uma atuao embasada na perspectiva de situar e analisar as questes relativas

profisso no contexto scio-histrico das determinaes estruturais e conjunturais

No seu primeiro ano de existncia a entidade funcionou sem estatuto21 devido

insuficincia de tempo no referido encontro contudo a diretoria eleita atuou

considerando o seguinte parmetro

18 Este ocorreu na Universidade Catlica de Salvador ndashBA o qual no teve tema definido19 Essa estrutura organizativa permanece nos dias atuais no CONESS que se discute e se aprova as pautas das mesas e das oficinas a serem realizas no ENESS20 Este ENESS apresentou como tema ldquoSe muito vale o j feito mais vale o que serrdquo e foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ)21 O estatuto foi aprovado somente no ENESS seguinte

46

Articulao com o movimento estudantil geral articulao com o movimento da categoria representar os estudantes de Servio social em territrio nacional e internacional articular os estudantes de Servio Social no pas promover o debate sobre os problemasespecficos dos estudantes de Servio social e coordenar e organizar os encontros nacionais e regionais junto a escola sede dos eventos( PEQUENO 1990 p 70)

Para Santos(2007) a dcada que engloba os anos de 1978 a 1988

ocorreu no MESS um processo de reconstruo de sua ldquobase organizativa nacional e

de reaglutinao poltica dos estudantes principalmente pelos debates em torno da

conjuntura e da formao profissional reivindicando uma direo poltica filiada a

inteno de ruptura com o conservadorismordquo (p116)

No ano de 1991 acontece o primeiro Seminrio Nacional de Formao

Profissional e Movimento Estudantil de Servio Social(SNFPMESS) o que revela a

preocupao MESS com a Formao profissional mediante a criao de um espao

prioritrio para discusso dessa temtica o qual realizado a cada dois anos A

preocupao do movimento com a formao profissional se verifica desde a

reorganizao desse segmento no final da dcada de 1970 e como veremos essa

questo se mantm atualmente como uma esfera privilegiada na pauta dos(as)

estudantes e de sua entidade representativa

Em 1992 a SESSUNE promove o segundo Seminrio Nacional de Formao Profissional Nesse seminrio houve a elaborao do anteprojeto da ldquoCampanha Nacional pela Reestruturao da Formao Profissional do (a) Assistente Social no Brasilrdquo Um dos desdobramentos desta campanha foi a elaborao do Documento Pro Dia Nascer Feliz documento sistematizado pelo CArsquos e DArsquos de Servio Social engajados no movimento estudantil essa sistematizao serve como documento base para as discusses iniciais do processo de reviso curricular promovida pela ABESS na gesto 93-95 com sede na UFPE em Recife-PE(SANTOS 2007 119)

Hoje os fruns organizados pela ENESSO escola sede dos encontros e a

representao discente em ABEPSS so Conselho Nacional de Entidades Estudantis

de Servio Social(CONESS) formado pelos CAs e DAs cujo objetivo maior a

definio da pauta para o encontro nacional O Conselho Regional de Entidades

Estudantis em Servio Social(CORESS22) que apresenta a mesma funcionalidade s

que em mbito regional ERESS que consiste no maior frum de discusso de cada

22 neste encontro que acontece a eleio para as Coordenaes regionais da ENESSO portanto processo eleitoral desvinculado da eleio para direo nacional da entidade Cf ENESSO(2007)

47

regio que compem a ENESSO ENESS que se refere a mxima instncia de

deliberao do MESS e evento no qual se elege a diretoria nacional da entidade alm

dos SNFPMESS e dos Seminrios Regionais de Formao Profissional e Movimento

Estudantil de Servio Social no qual os(as) estudantes tem a oportunidade de

participar de mesas de discusso e apresentar trabalho sobre diversas temticas que

perpassa a profisso sendo os dois ltimos encontros no deliberativos

No ano de 1992 emergem no MESS agrupamentos polticos organizados

em teses que passaram a disputar a direo nacional da entidade perspectiva que

segundo Silva(2006) expressa ldquoo acumulo poltico j adquirido por este movimentordquo

A mudana de SESSUNE para ENESSO23 em 1993 representou

sobretudo a perspectiva de assumir autonomia em relao a UNE Alm disso esse

papel aglutinador assumido pela ENESSO est em consonncia com a tendncia

presente no ME na dcada de 1990 das executivas se apresentarem com uma

dinmica de organizao estudantil a partir do desenvolvimento de lutas abrangentes

bem como de atividades especficas de determinada profisso

Segundo estudo de Silva (2006) de 1994 a 1998 tem-se o acirramento pela

direo da entidade em que em 1995 duas chapas pleitearam os cargos nacionais da

ENESSO o grupo poltico Projeto Democrtico e Popular(PDP) e a candidatura ldquoNo

d mais pra segurarrdquo formada por estudantes no organizados em grupos e por

militantes vinculados ao PSTU sendo que a primeira saiu vencedora na disputa

eleitoral Em 1997 temos a criao de mais um grupo poltico no MESS o Eu Quero

Mais(EQM) que chegou a direo da entidade em 1998 marcando o fim da

hegemonia do PDP no MESS

O ano de 1998 significativo para o MESS pela conquista de garantia da

representao discente na ABEPSS entidade voltada prioritariamente para as

problematizaes e desenvolvimento de aes em torno da formao profissional o

que mais uma vez refora a preocupao do movimento com o processo formativo24

dos(as) assistentes sociais Segundo Rodrigues

23 A entidade mxima de representao de estudantes de Servio Social- no tocante a organizao do Movimento Estudantil- como forma de melhor atingir os objetivos de articulao e potencializao de lutas- est dividida organizacionalmente em sete regionais as quais englobam as escolas de Servio Social nelas localizadas so elas regio I-Acre Amazonas Roraima Rondnia Par Maranho e Piau II-Cear Rio Grande do Norte Paraba e Pernambuco III-Alagoas Sergipe e Bahia IV-Tocantins Gois Distrito federal Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (Uberlndia e Uberaba) V - Minas Gerais Esprito Santo e Rio de Janeiro VI - Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul e VII-So Paulo (cf ESTATUTO DA ENTIDADE 2007)24 Segundo as contribuies de Santos(2007) de 1993-1998 o MESS desenvolveu algumas ldquoaes que ratificam a prioridade da formao profissional como Realizao da Pesquisa sobre o perfil dos estudantes (1995) para contribuio com o debate das diretrizes curriculares de 1996154 a realizao de cursos de formao poltica ldquo O Capacitardquo (199697) a

48

A partir da legitimidade poltica adquirida historicamente pelo MESS que ao longo da sua trajetria se mostrou comprometida com a formao qualificada e com o projeto tico-poltico profissional a categoria estudantil conquistou espao de representao na ABEPSS H portanto representao discente na diretoria nacional e regional estreitando a relao poltica existente entre as duas entidades(2008p39)

A partir dos anos 2000 a entidade passa a empreender campanhas em

favor da reduo de mensalidades decorrente do expressivo nmero de Cursos de

Servio Social na iniciativa privada e tambm apresenta um postura crtica em

relao poltica educacional materializada na era FHC que se manifesta por

exemplo na contestao do Provo25

Hoje a ENESSO composta nacionalmente por cinco coordenaes a

geral de divulgao e imprensa relaes internacionais finanas e de movimentos

sociais e mais duas secretarias a geral e a de formao profissional26 Alm da

direo nacional existem os coordenadores regionais que so eleitos nos encontros

de cada regio que compem a ENESSO o que permite que sujeitos no

pertencentes ao mesmo agrupamento da direo nacional assumam a entidade em

mbitos regionalizados o que por sua vez pode reforar o fortalecimento da

democracia no interior da entidade ou por lado ocasionar prticas antidemocrticas

na tomada de decises e no desenvolvimento e abrangncia das lutas e atividades

em virtudes de disputas entre a coordenao nacional e determinadas coordenaes

regionais Conforme o seu Estatuto as principais funes da ENESSO constituem na

Elaborao e execuo das atividades referentes aos estudantes de Servio Social e as lutas do Movimento Estudantil com base nas diretrizes e polticas de ao aprovadas no ENESS Sistematizar e divulgar as informaes das escolas atravs de boletins informativos jornais e outros veculos de comunicao Acompanhar cotidianamente a organizao do Movimento Estudantil nas escolas atravs de visitas contatos telefnicos via internet etc (ENESSO 2007 p12)

contribuio dos estudantes organizados nas teses apresentadas nos ENESS disputando idias concepes e a hegemonia na direo poltica do MESS a conquista da representao estudantil em ABEPSS em 1998rdquo(p121)25 Cf (Silva 2006) que tambm evidncia no XXII realizado no ano 2000 na cidade de Lins SP quanto ao sistema de votao uma vez que o voto deixaria de ser por escola ( em que cada uma teria direito a trs votos) passando a ser universal26 Interessante registrar que no ltimo ENESS realizado em Londrina-PR as Coordenaes Nacionais da Executiva no foram ocupadas A Secretaria de Formaccedilatildeo profissional foi crida em 1993 no ENESS que ocorreu na cidade de So LeopoldoRS e demonstra a preocupao do MESS com as problemticas da Formao Profissional do Assistente Social

49

A funcionalidade evidencia a relevncia da entidade para a organizao do

MESS dado o seu carter de articular o movimento em nvel nacional

potencializando desse modo as atividades travadas pelo segmento

Atualmente um dos importantes instrumentos na interlocuo dos

estudantes e de disponibilizao de informaes e de produes da entidade se

refere ao grupo de discusso executivamess o qual conta com 1350 associados(as)

Ele surgiu a partir de uma deliberao do planejamento estratgico da executiva

sendo criado no ano de 2000 com o objetivo de contribuir na socializao e promoo

de debates que perpassa a organizao desse movimento

importante esclarecer que as aes desenvolvidas pela ENESSO devem

se pautar nas deliberaes aprovadas pelo coletivo de estudantes presentes no

ENESS realizado anualmente

As deliberaes expressam em certa medida a disputa entre os diferentes

grupos e tendncias que militam no MESS bem como potencializa o entendimento da

direo social expressa na ao poltica da ENESSO As deliberaes apresentam

diretivas relativas a cinco principais eixos ou campos de atuao Conjuntura

Movimento Estudantil Cultura e valores Universidade e Formao profissional

Desde a dcada de 1990 temos majoritariamente o reconhecimento no

campo profissional da relevncia da ENESSO nas reflexes e direcionamento do

Servio Social brasileiro visto que na sua ldquorecente trajetria acompanhou o

movimento de renovao profissional gerado nos anos 8090 e para ele contribuiurdquo

(RAMOS 1996 p 118) Dez anos depois essa autora reafirma a relevncia da ao

poltica da ENESSO ao expressar que ela

Tem se posicionado politicamente e lutado pela defesa de um projeto poltico da classe trabalhadora capaz de acumular foras para conquistar uma nova direo social poltica e cultural uma universidade democrtica gratuita e de qualidade social uma formao profissional que propicie a capacitao terico-metodolgica tcnico-operativo e tico-poltico de profissionais que venham a responder s demandas populares no sentido de reforar os direitos de cidadania dos segmentos majoritrios da populao (RAMOS 2006 p178)

Diante disso reafirmamos o propsito de analisarmos a ao poltica da

ENESSO no cenrio da atual contra-reforma do ensino superior na perspectiva de

identificar a direo social que a entidade assume e como se caracterizam as suas

lutas atualmente nas esferas da universidade e da formao profissional dimenses

aprofundadas nos captulos seguintes

50

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE

A trajetria at aqui traada do ME nos possibilita afirmar que em

diferentes conjunturas nacionais a defesa da educao pblica gratuita e de

qualidade historicamente se configura como o projeto aglutinador de diversos

estudantes brasileiros(as) a perspectiva de materializao desse projeto que vem

sendo destrudo pela atual contra-reforma do ensino superior e que tem se constitudo

em foco de discordncia do ME nacional na conjuntura recente

O pice dessa discordncia ocorreu ainda em 2004 com a criao da

Coordenao Nacional de Lutas dos Estudantes(CONLUTE) que afirma ter como

objetivos essenciais a coordenao de lutas que se contraponham as medidas

situadas no campo da contra-reforma que desmorona a educao superior pblica no

pas Segundo concepo da entidade suas aes se remetem ainda para organizar

os(as) estudantes

que romperam com a UNE e que ainda esto nela para lutar contra a poltica de desmonte da educao pblica do governo Lula Uma vez que a UNE controlada pelos partidos do governo abandonou as lutas e que a democracia se tornou inexistente no interior dessa entidade a Conlute aparece como embrio de uma alternativa para o Movimento Estudantil(CONLUTE 2008)

A partir dessa ruptura em relao a UNE algumas indagaes tornam-se

importantes a criao de outra entidade de organizao estudantil em nvel

nacional o caminho para enfrentar as investidas do capital na educao e a atual

poltica para o ensino superior Essa entidade tem conseguido articular os(as)

estudantes na luta contra a reforma universitria independemente do seu

reconhecimento ou da UNE como entidade mxima de representao do segmento no

Brasil estratgica a desistncia de segmentos do ME contrrios reforma em

obter a direo e reorganizar a UNE uma entidade brasileira histrica e que contribuiu

para conquistas significativas no pas A criao de mais uma entidade fragmenta ou

revitaliza a atuao estudantil na atualidade Esses questionamentos so importantes

porque trata de problemticas estritamente relacionadas organizao e atuao

poltica do ME no tempo presente e que na contemporaneidade constituem-se em alvo

de debate e discordncias tambm no MESS e que rebate na atuao da ENESSO

visto que o reconhecimento ou no da UNE como principal entidade poltica dos(as)

51

estudantes constitui um dos principais pontos de divergncias dos grupos

organizados no MESS

O direcionamento da ENESSO nos ltimos ENESS tem se situado no

campo de defesa da UNE e de seu reconhecimento como entidade mxima de

representao do segmento estudantil no Brasil e desse modo reconhece que essa

entidade necessita voltar s aes para lutas identificadas com a defesa da educao

pblica gratuita de qualidade social e sintonizadas com o iderio de transformao

societal Dimenso explicitada na seguinte argumentao

Apesar das aes polticas da direo majoritria da UNE devemos reivindicar essa entidade que nossa(dos estudantes) que tem uma trajetria de luta e peso poltico Sempre foi um instrumento da luta pela educao pblica e pela transformao social do pas e ainda continua tendo fora respaldo e legitimidade na sociedade brasileira e possuindo grande potencial para retomar as lutas dos reais interesses coletivos dos estudantes no pas (ENESSO 2005 p03)27

A ressalva realizada pela ENESSO se consubstancia no fato de que a

UNE atua hegemonicamente em conformidade com a contra-reforma alm disso

os(as) estudantes corroboradores(as) com o direcionamento poltico da entidade

podem se tornar ainda mais efetivos no mbito do ME e em particular do MESS com

as medidas adotadas pelo governo como por exemplo o PROUNI e o ensino

distncia medidas que proporcionam a expanso do setor privado sem precedentes

na histria da educao brasileira e que sero refletidas mais adiante

Isto no significa que estudantes inseridos(as) na modalidade a distncia

ou ento aqueles(as) beneficiados(as) pelo PROUNI necessariamente constituem

sujeitos defensores da poltica educacional adotada pelo governo Lula Contudo o

prprio cenrio de enfraquecimento das lutas coletivas da deficincia na formao

poltica do segmento estudantil e a supervalorizao da esfera tecnicista na formao

de perfis profissionais voltados para o atendimento das demandas imediatas do

mercado contribuem para uma apreenso acrtica das medidas materializadas no

contexto da contra-reforma do ensino superior

27 Essa posio de defesa da UNE como entidade histrica e mxima de representao dos(as) estudantes universitrios(as) tambm foi ratificada no ENESS de 2007 ocorrido em Contagem-MG quando por ocasio da reviso do Estatuto da ENESSO ficou definido que esta entidade reconhece a UNE como ldquoinstncia de representao do movimento estudantil para que a mesma estimule unifique e fortalea a luta das (os) estudantes pela defesa da universidade pblica gratuita democrtica laica popular de qualidade com ensino presencial e juntamente com outros movimentos sociais lute por um novo projeto de sociedaderdquo (2007 p 01)

52

Entendemos que a apreensatildeo do objeto de estudo que consiste na anaacutelise

da atuaccedilatildeo do MESS na defesa da universidade puacuteblica gratuita e de qualidade e do

projeto de formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais no periacuteodo de 2003-2008 requer

abordagens relativas as modificaccedilotildees verificadas no acircmbito educacional em especial

no ensino superior brasileiro e desse modo consideraccedilotildees sobre as poliacuteticas sociais

em particular no contexto de domiacutenio neoliberal conjuntura que soacute pode ser entendida

se apreendemos o movimento geral da sociabilidade capitalista na

contemporaneidade Satildeo dessas mediaccedilotildees que trataremos a seguir

53

Privatizado

Privatizaram sua vida seu trabalho sua hora de amar e seu

direito de pensar

Eacute da empresa privada o seu passo em frente

seu patildeo e seu salaacuterio E agora natildeo contente querem

privatizar o conhecimento a sabedoria

o pensamento que soacute agrave humanidade pertence

(Bertolt Brecht)

54

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

3-1- A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal

Partimos da concepo que o desvelamento das relaes entre o Estado e

a sociedade nas ltimas trs dcadas baseadas na perspectiva de reduo da

interveno estatal nas problemticas sociais s podem ser entendidas criticamente

se considerarmos o movimento real da sociedade capitalista caracterizado pelo

aprofundamento da barbrie

Esse direcionamento de anlise significa afirmar que as alteraes

ocorridas no mundo do trabalho e por conseguinte no mago da produo

capitalista ou seja a produo da vida material repercute no desenvolvimento e

funcionamento das polticas sociais incluindo aqui a educao e na ao dos sujeitos

nesses espaos Desse modo o processo de contra-reformas desencadeadas nos

diversos setores -educao organizao sindical previdncia entre outros- em escala

mundial e com particularidades na realidade brasileira tem suas razes nessa

reconfigurao da produo e acumulao do capital ocasionada pela crise verificada

a partir dos anos 70 do sculo XX

No mundo do trabalho atual autores como Antunes (2000) Harvey (2006)

apontam a ocorrncia de profundas mudanas na base de produo capitalista o

fordismo28 taylorismo29 entra em declnio e emerge no final dos anos 1970 em nvel

mundial o denominado toyotismo ou modelo flexvel

A produo em srie e massificada com vista a atender o consumo em

massa a rigidez nos processos produtivos a segmentao entre planejadores e

executores que caracterizam o padro fordistataylorista no mais proporciona a

obteno de altas taxas de lucros necessidade precpua do capital

Assim o novo padro visa superao da crise provocada pela

concorrncia intercapitalista bem como objetiva manter sob controle a luta de classes

28Harvey(2006) aponta que o fordismo apresentou um pequeno desenvolvimento fora dos Estados Unidos antes do final da dcada de 1940 visto que se materializou de modo mais consistente tanto na Europa como no Japo aps este perodo e que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial 29 Taylor na obra ldquoos Princpios da Administrao Cientificardquo (1911) detalhava como se podia atingir altos nveis de produtividade a partir da ldquodecomposio de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organizao de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padres rigorosos de tempo e estudo do movimentordquo( Harvey2006 p124)

55

a partir de mudanas nas dimenses objetivas e subjetivas dos segmentos do

trabalho

O padro flexvel de produo e acumulao apresenta como elementos

constitutivos o just in time30 flexibilizao terceirizao31 controle de qualidade32

subcontratao eliminao de desperdcio de modo que modelos produtivos e

administrativos fundamentados na ldquogerencia participativa sindicalismo de empresa

[] propagam se intensamenterdquo (ANTUNES 2000 p27) Essa tendncia de

flexibilizao difere do disciplinamento das fbricas no perodo de emergncia da

industrializao na qual conforme MARX ldquono lugar do chicote do feitor de escravos

surge o manual de penalidades do supervisorrdquo (1975 p45) Agora identificamos a

substituio do manual de penalidades por um sistema de gesto cujo trabalhador

autovigilante no processo produtivo

Outra faceta trazida com a adoo do modelo flexvel a de processos

de trabalho caracterizados pela polivalncia nos quais o(a) trabalhador(a)

exigido(a) a executar diversas atividades o que por sua vez implica o desempenho

de diferentes habilidades e competncias Dessa forma a demanda do mercado de

trabalho por qualificao e formao tambm flexveis se torna uma necessidade

real s para exemplificar esse direcionamento hoje constitui-se praticamente uma

imposio tcita para se tornar competitivo no mercado conhecimentos de informtica

e de outras lnguas Entretanto importante ressaltar que ter tais conhecimentos e

uma formao que lhe possibilite competir no mercado no significa

necessariamente a garantia de insero no mercado de trabalho formal pois como

veremos adiante a conjuntura atual -seja nos pases de capitalismo avanado ou nos

denominados perifricos- marcada pelo notvel aumento do desemprego Essa

realidade nos leva a afirmar que o diploma universitrio e o que ele representa j no

consistem em segurana e perspectiva de futuro estvel como se vislumbrava em

dcadas passadas Esta realidade certamente tem implicaes nos espaos de

organizao universitria como se configura o ME

30 Importante tendncia do modelo flexvel que visa racionalizao no desempenho das atividades a partir do maior rendimento possvel do trabalho vivo Segundo Coriat(1994 p55) o jus in time se baseia especialmente ldquona manipulao ou na observao simultnea de vrias mquinas diferentesrdquo e no na repetio dos movimentos como se verificava no fordismotaylorismo Nas palavras de Antunes(2002 p54) o jus in time ldquotem como princpio melhorar o aproveitamento possvel do tempo de produordquo31 Fenmeno em que somente parte da produo realizada no mbito de determinada fbrica na qual se prioriza o que central em sua especialidade desse modo o restante da produo transferido para responsabilidade de terceiros Cf Antunes(2002)32 Controle de qualidade implementado sobretudo mediante a criao dos Crculos de Controle de qualidade(CCQ) os quais so formados por trabalhadores(as) e que incentivados pelo capital agem no sentido de analisar o desempenho de suas atividades com o objetivo de melhorar o rendimento e produtividade das empresas nas quais trabalham

56

Para Antunes(2000) possvel observar no mundo do trabalho

contemporneo diversas mudanas no sentido de uma crescente reduo do trabalho

industrial fabril em nvel internacional ao passo que se verifica o aumento de

assalariados(as) no ramo de servios bem como notvel a diversificao

heterogeneidade e complexificao dos segmentos do trabalho que se expressa

mediante ldquocrescente incorporao do contingente feminino no mundo operrio

vivencia-se tambm uma subproletarizao intensificada presente na expanso do

trabalho parcial temporrio subcontratato ldquoterceirizadordquo que marca a sociedade dual

no capitalismo avanadordquo (ANTUNES 2000 p 41)Nos termos de Harvey

A acumulao flexvel []na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de trabalho dos produtos e padres de consumo Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos novas maneiras de fornecimento de servios financeiros novos mercados e sobretudo taxas intensificadas de inovao comercial tecnolgica e organizacional (2006 p140)

A flexibilidade do mercado e dos processos de trabalho provoca

redimensionamentos na organizao dos sujeitos do trabalho visto que a

complexificao a heterogeneidade a crise objetiva contribui veementemente para o

enfraquecimento de aes polticas voltadas para defesa e conquistas de direitos

trabalhistas e sociais bem como lutas identificadas com o iderio de transformao

social

O produto dessas mudanas consiste no aumento radicalizado do

desemprego estrutural que afeta a classe trabalhadora em mbito planetrio A

reduo de postos de trabalho formal acaba por determinar a elevao do setor

informal no qual os sujeitos so totalmente desprovidos de garantias trabalhistas

caso no tenham condies de pagar previdncia privada ou seja vivencia uma

situao de insegurana em moldes radicalizados Outro aspecto pertinente a ser

considerado que muitas atividades situadas no universo da informalidade so

caracterizadas pela ilegalidade como por exemplo vendedores ambulantes no

legalizados o que leva a insero de parte desse segmento no mundo da

criminalidade a partir do desempenho de atividades ilcitas Uma perversa faceta

dessa realidade a dificuldade em termos de organizao dessas pessoas haja vista

as prprias peculiaridades na execuo do trabalho aliada a tentativa da classe

dominante em mascarar os conflitos e interesses antagnicos presentes na

sociabilidade do capital

Sinalizamos que a alienao se apresenta na atualidade de forma intensa

dentre suas expresses podemos citar a propagada gesto participativa que

57

dissemina entre os(as) trabalhadores a falsa noo de interesses iguais entre estes e

os capitalistas o que acaba por radicaliz-la j que a produo continua sendo

coletiva e sua apropriao privada sendo tal relao mascarada com o falacioso

discurso da valorizao participao e do ldquovestir a camisardquo da empresa e da

conseguinte identidades de projetos que na verdade so inconciliveis

Em relao discusso sobre a ampliao do desemprego importante

fundamentar este debate com os aspectos do desenvolvimento das foras produtivas

que se expressam mediante o avano da cincia e da tcnica Sobre esta questo

temos na obra O capital um profundo desvendamento relativo funcionalidade dessas

esferas para o modo de produo capitalista Assim com a expanso da

industrializao a partir do emprego da mquina-ferramenta - aquela que substitui o

trabalhador - Marx enfatiza que a maquinaria em vez de proporcionar o alvio da

labuta diria contraditoriamente sob a gide do capital visa to somente extrao

da mais valia relativa mediante o aumento da produtividade Isso independente das

conseqncias degradantes geradas para os segmentos do trabalho nas diversas

esferas da vida ou at mesmo eliminando as condies de existncia de parte

significativa da populao trabalhadora que no consegue vender a fora de trabalho

para garantir a sua subsistncia em decorrncia do constante processo de

substituio da fora de trabalho por mquinas

Nesses termos podemos constatar que o desenvolvimento da cincia

pode potencializar a elevao das condies de existncia de homens e mulheres se

pautado numa perspectiva de emancipao humana que contribua para a melhoria

das condies de vida da maioria da populao ou antagonicamente pode vislumbrar

apenas a obteno da pedra de toque do capital lucro exacerbado mediante a

obteno de mais valia

A argumentao aqui efetivada no est consubstanciada em uma

dimenso de ldquosatanizaordquo da cincia por conseguinte da tecnologia no estamos

responsabilizando-a pelo desemprego destruio da natureza e desigualdades

sociais Entretanto a utilizao da cincia com a mera finalidade de elevar a

produtividade e conseqentemente os lucros acarreta graves conseqncias para a

humanidade inclusive corroborando para perda de numerosos postos de trabalho nos

mais diversificados ramos de atividades Segundo MARX

Como mquina o meio de trabalho logo se torna um concorrente do prprio trabalhador A autovalorizao do capital por meio da maquina est na razo direta do numero de trabalhadores cujas condies de existncia ela destri (1975 p 48)

58

Na conjuntura contemporacircnea verificamos a agudizaccedilatildeo desse processo

contraditoacuterio expresso pela crescente taxa de desemprego acarretada tambeacutem pelo

aumento de trabalho morto e minimizaccedilatildeo de trabalho vivo em uma era de grandes

avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos

Essa relaccedilatildeo manifesta mais um antagonismo fundante desse modelo

societaacuterio Segundo contribuiccedilotildees marxianas a forccedila de trabalho eacute a uacutenica criadora de

valor e mais valor apresentando a maquinaria apenas a capacidade de transferir valor

ao produto por ela fabricado assim com a elevaccedilatildeo de investimento em trabalho

morto e sua substituiccedilatildeo pela forccedila de trabalho se constata o acirramento dessa

contradiccedilatildeo

Portanto eacute imprescindiacutevel evidenciarmos que o usufruto da propagada

revoluccedilatildeo informacional e tecnoloacutegica produzida nos dias atuais assim como a

utilizaccedilatildeo da racionalidade na produccedilatildeo a partir do uso da teacutecnica e da ciecircncia natildeo se

traduzem para todos(as) de maneira igualitaacuteria pois como analisa Marx a marca

central da sociabilidade capitalista eacute a contradiccedilatildeo que se manifesta na apropriaccedilatildeo de

modo desigual da riqueza coletivamente produzida

Procuramos assinalar que a produccedilatildeo capitalista se transforma assim

como a ciecircncia e a teacutecnica todavia os trabalhadores(as) continuam sendo

explorados(as) pois a base societal permanece esteada na contradiccedilatildeo entre

possuidores e natildeo dos meios de produccedilatildeo portanto uma sociabilidade pautada

majoritariamente por desvalores como competitividade individualismo egoiacutesmo

potencializando as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo dominaccedilatildeo e opressatildeo entre os seres

humanos

Esse cenaacuterio caracterizado pela introduccedilatildeo de novas tecnologias no

espaccedilo da produccedilatildeo exige reordenamento na esfera da qualificaccedilatildeo e formaccedilatildeo

profissional Associada a emergecircncia do neoliberalismo como regulaccedilatildeo majoritaacuteria

entre o Estado e sociedade nos dias contemporacircneos eacute que temos a materializaccedilatildeo

de significativas mudanccedilas nas diversas poliacuteticas sociais em particular na educaccedilatildeo

Um indicador dessa direccedilatildeo consiste na ampla reestruturaccedilatildeo que as instituiccedilotildees de

ensino superior atravessam situadas tambeacutem numa perspectiva de racionalizar e

flexibilizar os processos formativos o que por sua vez rebate diretamente no espaccedilo

de aglutinaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do ME Universitaacuterio ou seja nas instituiccedilotildees de ensino

superior

59

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades

O debate sobre a direo social da educao no contexto atual requisita

inicialmente uma abordagem que proporcione o desvendamento da funcionalidade do

Estado e das polticas sociais para a sociedade capitalista

Diante disso consideramos fundamentais as contribuies de Behring e

Boschetti(2007) pois explicitam que as polticas sociais apresentam como

determinantes o desenvolvimento da industrializao as lutas de classes e a

conseqente interveno do Estado neste embate

Em sintonia com tal entendimento Vieira afirma que indubitavelmente a

emergncia das polticas sociais est articulada a atuao operria ainda no perodo

inicial das revolues industriais pois segundo sua interpretao as polticas sociais

como ldquoestratgia governamental de interveno nas relaes sociais unicamente

pde existir com o surgimento dos movimentos populares do sculo XIXrdquo(1992 p19)

Para Faleiros(2000) a origem das polticas sociais se remete ao processo

de reproduo da fora de trabalho e desse modo expressa a correlao de foras

intrnseca a sociedade capitalista e tambm no prprio aparelho do Estado

Perpassada pelas contradies de classe as polticas sociais representam tambm

mecanismos de legitimao estatal e governamental

Assim torna-se evidente que as polticas sociais entre as quais a

educao origina-se no interior das relaes de classe e dessa maneira

perpassada eou crivada por antagonismos intrnsecos a esta processualidade

Expresso dessa afirmao consiste no fato delas contriburem efetivamente para a

reproduo da sociabilidade do capital ao passo que se configuram e como de fato

so conquistas dos segmentos do trabalho Dessa maneira significativo destacar a

luta travada por diferentes sujeitos coletivos em favor de uma educao de qualidade

promovida pelo Estado e que na realidade brasileira pas da periferia do capital

majoritariamente o ME universitrio no decorrer de sua histria apresenta um

protagonismo considervel no desencadeamento de lutas e atividade voltada para

defesa de uma educao superior pblica gratuita laica e de qualidade

Esse carter contraditrio das polticas sociais est iarticulado a prpria

natureza de seu ente materializador ou seja a lgica e funcionalidade do Estado

moderno

Tonet(2004) ao analisar a concepo de Estado segundo o pensamento

de Marx ressalta que o mesmo tem sua origem no antagonismo das classes sociais

diferentemente das abordagens liberais que concebem a sua criao como resultante

60

de um pacto social entre os indiviacuteduos que proporciona a convivecircncia entre os

humanos jaacute que a desigualdade seria decorrente do usufruto da proacutepria igualdade

existente entre os seres

Nessa perspectiva temos o entendimento que a esfera das relaccedilotildees

materiais consiste na dimensatildeo determinante para constituiccedilatildeo do Estado moderno e

portanto dos complexos sociais dele resultantes como eacute o caso da educaccedilatildeo formal

na sociabilidade capitalista e desse modo modificaccedilotildees no seu acircmbito como

analisadas anteriormente exigem alteraccedilotildees nos diferentes campos da sociedade

como acontece no atual cenaacuterio do sistema educacional

Tonet(2004) ainda chama atenccedilatildeo para a assertiva marxiana de que

sendo o Estado originaacuterio da relaccedilatildeo contraditoacuteria das classes sociais certamente ele

representa pela sua natureza um instrumento de reproduccedilatildeo dos ideais da classe

dominante

Temos o entendimento que a contradiccedilatildeo perpassa os diversos setores da

sociabilidade burguesa o que abrange inclusive o Estado moderno Dessa maneira

a depender das forccedilas poliacuteticas dirigente do Estado as suas accedilotildees podem contemplar

mais as reivindicaccedilotildees dos segmentos do trabalho e setores subalternizados ou

inversamente as requisiccedilotildees da classe dominante

Diante do exposto desenvolvemos o pensamento que na atual conjuntura

de radicalizaccedilatildeo da crise capitalista as accedilotildees efetivada pelo Estado estatildeo voltadas

predominantemente para atender as reclamaccedilotildees do capital o que de certo modo

manifesta o processo de enfraquecimento da organizaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

trabalhadores(as) em niacutevel mundial

A partir de tais constataccedilotildees temos a conclusatildeo do Estado ser impotente

para erradicar as desigualdades sociais visto que essa eliminaccedilatildeo significaria a sua

proacutepria destruiccedilatildeo pois tanto o Estado como as desigualdades tecircm origens nas

diferenccedilas e antagonismos de classes

Desse modo podemos enfatizar que as accedilotildees do Estado na viabilizaccedilatildeo

das poliacuteticas sociais podem amenizar eou administrar as desigualdades os conflitos

e a luta de classes mas de modo algum podem instituir a igualdade de condiccedilotildees

para os sujeitos nesta sociabilidade regida pela exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo

O que estamos afirmando eacute que as poliacuteticas sociais natildeo satildeo capazes de

por fim a exploraccedilatildeo e contradiccedilotildees existentes na sociabilidade capitalista Exemplo

disso eacute que mesmo em paiacuteses de capitalismo avanccedilado nos quais entre os anos de

1940 ateacute 1970 as poliacuteticas sociais tenderam a universalidade nem assim os

segmentos do trabalho deixaram de ser explorados e oprimidos pois os meios de

61

produo continuaram sendo de propriedade privada e de modo algum foram

socializados

Contudo isso no significa que as lutas por polticas sociais e portanto

por direitos no seja importante pois elas contribuem para a melhoria das condies

de existncia dos segmentos do trabalho e manifestam certamente a relevncia da

organizao dos sujeitos na obteno de significativas conquistas polticas sociais

econmicas e culturais Como argumenta Tonet( 2004 p178)

A luta pelos direitos do cidado sempre vlida para a classe trabalhadora Mais ainda porque estes direitos interessam muito mais aos trabalhadores do que burguesia sempre bom lembrar que a emancipao poltica no uma situao esttica mas um campo uma arena de luta um resultado de lutas sociais- ainda que em ultima instncia sob a regncia do capital- de modo que o seu abandono pela classe trabalhadora significaria ceder terreno para os interesses da burguesia Esta pois fora de cogitao a supresso dos direitos conquistados e isto vale tanto para os pases mais desenvolvidos como para os menos desenvolvidos

Consubstanciadas nesse entendimento em relao funcionalidade do

Estado e das polticas sociais Behring e Boschetti(2007) destacam que no ocorreu

um corte radical entre a perspectiva liberal predominante no sculo XIX e o Estado

social do sculo XX dado o fato que os dois apresentaram direcionamento comum e

central de reconhecer direitos sem todavia colocar em questionamento os pilares

sustentadores do capitalismo como a propriedade privada o trabalho assalariado a

luta de classes entre outros

Ainda segundo as autoras as polticas sociais foram institudas de modo

diferenciado e em ritmos distintos nos vrios pases entretanto existe uma

concordncia entre estudiosos(as) da temtica em ldquosituar o final do sculo XIX como o

perodo em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar aes sociais de

forma mais ampla planejada e sistematizada e com carter de obrigatoriedaderdquo

(BEHRING E BOSCHETTI 2007 p64)

Nos pases de capitalismo avanado como salientado as polticas sociais

se expandem de maneira gradativa do incio da primeira grande guerra mundial at os

anos de 1930 perodo de depresso econmica que teve como smbolo maior a

quebra da bolsa de valores de Nova Yorque e se generalizaram somente aps a

segunda grande guerra (1945) momento de crescimento e expanso da economia

Entretanto no manifestavam o abandono da sociabilidade capitalista nem tampouco

a defesa da socializao dos meios de produo

62

Conforme a abordagem liberal de Marshall (1967) os direitos civis

(necessrios liberdade individual) e polticos (participao no exerccio poltico)

juntamente com os direitos sociais que se afirmaram com o Estado interventor

constituem os elementos da cidadania burguesa Estes ratificam o direito a um mnimo

econmico que possibilite a existncia de uma vida civilizada entre tais direitos

encontra-se a educao e os servios sociais

Corroboramos com a perspectiva de TONET de situar as conquistas

referentes cidadania no solo da sociedade capitalista na tentativa de evidenciarmos

que a defesa por cidadania portanto por direitos no mbito dessa sociedade

importante mas no proporciona o fim das desigualdades pois o capitalismo se

sustenta tendo como fundamento a reproduo destas ou seja ldquoa condio de

cidadania exatamente expresso e instrumento da reproduo da ciso que se

opera e continua a operar-se no homem como resultado da sociabilidade do capitalrdquo

(TONET 1997 p172-173)

Portanto foi com a consolidao do modelo de produo baseado nos

princpios do fordismo-taylorismo que as polticas sociais se tornaram nos termos de

Behring e Boschetti(2007) abrangentes e universalizadas dada a influncia do

pensamento de Keynes que defendia uma ao estatal fundamentada na poltica do

pleno emprego e na elevao da igualdade social Essa tendncia de abrangncia e

universalidade das polticas sociais tambm foi resultante das reivindicaes dos

segmentos do trabalho por melhoria das condies materiais e espirituais de

existncia e ainda pela chegada ao poder de partidos da social-democracia e sua

ldquorespectiva defesa de elaborao e efetivao de reformas visando a criao de

direitosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p84) Para Harvey a atuao do Estado

no contexto de predominncia do fordismo-keynesianismo se pautou numa dimenso

de

controlar ciclos econmicos com uma combinao apropriada de polticas fiscais e monetrias no perodo ps-guerra Essas polticas eram dirigidas para reas de investimento pblico - em setores como o transporte os equipamentos pblicos etc - vitais para o crescimento da produo e do consumo de massa e que tambm buscava fornecer um forte complemento ao salrio social com gastos de seguridade social assistncia medica educao habitao etc Alm disso o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produo (HARVEY 2006 p129)

Constatamos que as orientaes keynesianas que predominaram no

perodo de vigncia fordista apresentavam preocupaes relativas melhoria de vida

63

dos(as) trabalhadores(as) como se verifica mediante a defesa e expanso dos

servios sociais nos pases de industrializao avanada e tardiamente expandida de

modo pfio para os Estados da periferia do capital contraditoriamente j no contexto

de retrao neoliberal

Relevante assinalar que a expanso das polticas sociais representava para

o capital a perspectiva de proporcionar condies econmicas para a populao

consumir as mercadorias produzidas em larga escala enquanto que para a classe

trabalhadora expressava a conquista de direitos significativos Essa processualidade

das polticas como mecanismo de manuteno da ordem estabelecida ao mesmo

tempo em que se configura como conquista para os segmentos explorados e

dominados evidencia o seu carter contraditrio nos marcos desse modelo societrio

A reestruturao produtiva em expanso desde a dcada de 1970 como

resposta a reduzida obteno de lucros acompanhada por outra concepo de

regulao social baseada em orientaes diferentes do Estado de bem estar social

vigente no ps-segunda guerra

nesse contexto de redefinio da relao Estado e sociedade que as

diretivas neoliberais ganham terreno em nvel mundial visto que ldquopara os liberais a

crise resultava do poder excessivo e nefasto dos sindicatos e do movimento operrio

que corroeram as bases de acumulao e do aumento dos gastos sociais do Estado o

que desencadearia processos inflacionriosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p126)

Essa argumentao utilizada pelos segmentos dominantes de reduzir

custos como meio de garantir estabilidade fiscal acarretou mudanas significativas no

desenvolvimento das polticas sociais que tem a focalizao e seletividade como

suas caractersticas singulares

Para Anderson(2005) as premissas neoliberais j estavam previstas no

livro ldquoo caminho da Servidordquo de Friedrick Haych publicado em 1944 Todavia o

apogeu capitalista no perodo de predominncia do fordismo-keynesianismo impediu a

sua execuo portanto na conjuntura de crise dos anos de 1970 que o

neoliberalismo encontra condies favorveis para sua expanso e consolidao em

diferentes realidades econmicas sociais polticas e culturais

Segundo Carcanholo(2002) o neoliberalismo se sustenta em quatro

premissas bsicas e que potencializam a supremacia do mercado a privatizao e a

abertura nacional ao capital estrangeiro so elas

[] os agentes individuais tomam decises motivadas unicamente pelo interesse prprio e todas as interaes econmicas polticas eou sociais entre esses indivduos s podem ser explicadas em

64

termos desse interesse proacuteprio Em segundo lugar essas interaccedilotildees baseadas no interesse proacuteprio natildeo levam ao caos social mas a harmonia jaacute que elas fazem parte de uma ordem natural Em terceiro lugar esta uacuteltima tem grande expressatildeo no mercado Eacute ele o responsaacutevel pela interaccedilatildeo entre todos os interesses individuais e portanto pela manutenccedilatildeo da ordem natural Finalmente [] qualquer intervenccedilatildeo nesse mercado eacute indesejaacutevel porque dificulta o estabelecimento da ordem natural (Carcanholo 2002 p17-18)

Com base nas premissas ressaltadas pelo autor se torna recorrente a

tendecircncia de reduccedilatildeo do Estado na aacuterea social pois o mesmo continua agindo

majoritariamente para oferecer as condiccedilotildees de manutenccedilatildeo da sociedade vigente e

desse modo efetivando medidas de privilegiamento do capital em detrimento do

trabalho como se manifesta na concretizaccedilatildeo de vaacuterias contra-reformas Diante dessa

constataccedilatildeo fazemos a seguinte reflexatildeo no atual estaacutegio do capital podemos

configurar o Estado como mero comitecirc organizativo da burguesia As mediaccedilotildees

elaboradas acima evidenciam que temos a compreensatildeo de analisarmos as

discussotildees e a atuaccedilatildeo do Estado no acircmbito da categoria da contradiccedilatildeo por isso

ressaltamos antagonismos que perpassam as poliacuteticas sociais todavia natildeo podemos

desconsiderar o forte direcionamento da accedilatildeo do Estado para o fortalecimento da

sociabilidade burguesa assim eacute recorrente entre outras medidas a realizaccedilatildeo de

contra-reformas voltadas para retirada de direitos jaacute adquiridos pelos

trabalhadores(as) bem como eacute visiacutevel a fragilidade do Estado sobretudo em paiacuteses

perifeacutericos como o Brasil de materializar direitos jaacute assegurados como a educaccedilatildeo

formal para todos(as)

Exemplo dessa direccedilatildeo satildeo as privatizaccedilotildees as quais corroboram para

transfigurar direitos em mercadorias aleacutem de contribuir ideologicamente para

reestruturaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos que tendem a se adaptar aos princiacutepios

norteadores do mercado Eacute nessa conjuntura que se desencadeiam as diversas

contra-reformas como na previdecircncia educaccedilatildeo dentre outros fortalecendo a loacutegica

de sobrepor os princiacutepios mercantis nos diferentes setores sociais

Diante disso outro ponto a ser problematizado a partir das premissas

elencadas por Carcanholo eacute a perspectiva de naturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais na

qual o mercado se apresenta como marco regulatoacuterio dessa ordem de tal maneira

que somente ele eacute capaz de proporcionar o desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos

indiviacuteduos Nesses termos a defesa e luta por outra sociedade antagocircnica a

capitalista se torna algo pernicioso e ateacute mesmo destrutivo para a humanidade

A ascensatildeo e hegemonia conquistada pelos representantes do capital na

sua versatildeo neoliberal natildeo pode ser desvinculada da direccedilatildeo e derrocada do

65

socialismo real no leste da Europa Dimenses que contriburam de maneira efetiva

para propagao falaciosa de ser o capitalismo a nica forma de sociabilidade

possvel para humanidade como se o mesmo fosse natural e no construdo

historicamente pelos sujeitos sociais ou seja

diz-se que no existe alternativa para o capitalismo que todaprocura por uma alternativa conduz ao totalitarismo ou ento uma iluso uma utopia um sonho romntico um anacronismo fora de moda (LOWY 2002 p36)

Anderson (2005 p23) ao realizar um balano sobre o neoliberalismo

assinala o seu xito ideolgico especialmente no tocante a disseminao ldquode que no

h alternativas para os seus princpios que todos sejam confessando ou negando

tm de adaptar-se as suas normasrdquo

O nosso intuito foi destacar processualidades contraditrias que

peculiarizam as polticas sociais e no evidenciar seu resgate histrico entretanto do

nosso ponto de vista a retomada ainda que de forma breve de sua trajetria na

realidade brasileira potencializa o entendimento da reconfigurao das polticas

sociais no contexto neoliberal como se verifica com a educao

Assim sendo Faleiros(2000) elenca quatro conjunturas importantes na

histria das polticas sociais no Brasil so elas o perodo que engloba os anos de

1930 a 1960 caracterizado pela implantao de seguro social para alguns segmentos

do trabalho o cenrio de vigncia da ditadura militar de predomnio do complexo

industrial-militar-assistencial o perodo da constituinte e por ltimo a conjuntura de

domnio neoliberal a partir dos anos de 1990

O primeiro momento destacado pelo autor consubstanciado na poltica

trabalhista de Getulio Vargas33 que visava mascarar as contradies mediante a falsa

concepo da possvel constituio de uma colaborao de classes Fundamentado

nesta concepo foram adotadas algumas medidas concernentes s polticas sociais

expressas em aes como a criao dos seguros sociais substitudos

gradativamente pelos institutos de previdncia social a criao da Legio Brasileira

de Assistncia(LBA) em 1942 no qual predominava o vis assistencialista mediante

a articulao de obras de caridade de cunho religioso atravs de aes realizadas

pelas primeiras-damas

Este contexto de expanso da urbanizao e industrializao do pas se

constituiu no momento de forte organizao dos operrios o que explica a

33 Vargas presidiu o pas de 1934 a 1945 Assumiu novamente a presidncia entre os anos de 1951 a 1954

66

preocupao do Estado em sistematizar a sua atuao no mbito da luta de classes a

partir do desenvolvimento de aes no campo social e trabalhista Com tal intento foi

criado o Ministrio do Trabalho em 1930 cujo objetivo consistia em amenizar as lutas

dos(as) trabalhadores(as) mediante atuao que procurou atrelar s entidades de

classe- como os sindicatos- esfera governamental

A ditadura militar instaurada em 1964 consistiu smbolo de opresso

autoritarismo e da utilizao das foras repressivas e coercitivas em detrimento das

experincias democrticas Momento caracterizado tambm pelo privilgio dos

interesses econmicos da elite brasileira associada aos anseios da burguesia

internacional Neste sentido uma das metas principais dos governos ditatoriais era

atrair capitais estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos

Estados Unidos

Marcado por autoritarismo e clientelismo a atuao do Estado tambm se

efetivara no enfrentamento das expresses da questo social Neste perodo foram

adotadas medidas como a centralizao dos institutos de previdncia social

ampliao de direitos previdencirios aos trabalhadores do campo criao do

Ministrio da Previdncia e Assistncia Social rgo que incorporou a LBA a

Fundao para o bem-estar do menor (FUNABEM) entre outros Para Behring e

Boschetti a poltica social no contexto da ditadura apesar de sua verificada ampliao

foi ldquoconduzida de forma tecnocrtica e conservadora reiterando uma dinmica singular

de expanso dos direitos sociais em meio restrio dos direitos civis e polticos

modernizando o aparato varguistardquo (2007 p135)

A crise do regime ditatorial j deflagrada no final dos anos 1970 com a

derrocada do milagre econmico foi impulsionada ainda pela (re)organizao de

diversos segmentos da sociedade brasileira na luta pelos seus interesses particulares

mas tambm pela defesa do Estado democrtico e de direito

esse contexto de crise econmica e efervescncia poltica que culmina

no terceiro momento identificado por Faleiros o da constituinte Conforme o autor a

Constituio de 1988 expressa a disputa entre segmentos populares organizados e

setores conservadores que se aglutinaram na ala tradicional do Congresso Nacional

denominada naquele perodo de centro e que tratou de defender os interesses

dominantes mediante postura de negao e oposio s presses por direitos sociais

Embora caracterizada de constituio cidad ela representa o conjunto de

foras contraditrias presentes na sociedade capitalista e na particularidade da

realidade brasileira Importante ressaltar tambm que nela se estabelece a

Seguridade Social constituda pelo direito universal a sade os direitos previdencirios

e a assistncia social como direito do cidado(a) e dever do Estado

67

Em relao seguridade social Boschetti(2008) salienta que um de seus

pilares consiste na estruturao com base na organizao social do trabalho e que

tanto nos pases europeus como na Amrica Latina e Caribe esto presente tanto a

lgica do seguro que predomina na esfera da Previdncia Social como a lgica da

assistncia esta que na realidade brasileira se expressa nas polticas de Sade e de

Assistncia Social

A Constituio ainda no seu artigo 205 ratifica a Educao como direito

de todos(as) e dever estatal bem como garante no artigo 207 a autonomia didtico-

cientfica administrativa de gesto financeira e patrimonial das universidades do

pas Tais instituies segundo o texto constitucional devem se pautar pelo princpio

bsico de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extenso

A garantia legal desses direitos significa inegavelmente uma grande

conquista de setores populares entre eles do ME entretanto isso no garante a sua

real operacionalizao ou seja no proporciona o seu usufruto para a grande maioria

da populao brasileira Essa discrepncia j tomava consistncia nos idos de 1985

com o inicio da gesto Sarney34 que governou baseado numa poltica de conteno

de gastos com reduo e cortes de investimentos em setores como sade e

educao

Essa no identidade entre legalidade e operacionalidade se torna mais

crtica no ltimo momento explicitado por Faleiros qual seja o de domnio neoliberal

Segundo Behring(2003) o que tem ocorrido no Brasil dos anos 1990 aos

dias atuais um processo de conta-reforma do Estado que dificulta eou reorienta as

garantias preconizadas na Constituio de 1988 Para Iamamoto(2008) essa

perspectiva tem continuidade nos anos de gesto Lula que ao manter a mesma

poltica econmica da era FHC

consagra a ortodoxia econmica monetarista recomendada pelos organismos internacionais como a nica possvel s h ldquogesto responsvelrdquo com a poltica neoliberal que mantenha o ajuste fiscal duro o juro real elevado a poltica monetarista concentracionista o cmbio flutuante e a livre movimentao de capitais Essa mesma poltica [] o pressuposto dos programas sociais na tentativa de compensar o que est sendo agravado pela poltica econmica e pela ausncia de efetivas reformas(p36)

Portanto vivenciamos uma tendncia do Estado em minimizar a sua

atuao no campo das polticas sociais expresso que se confirma mediante a

mercantilizao em diversificados setores sade previdncia educao segurana

34 Sarney assumiu a Presidncia da Repblica no perodo de maro de 1985 a maro de 1990

68

entre outros Mas como ratificamos acima o Estado continua agindo no sentido de

atender as requisies para manuteno da sociabilidade do capital sendo possvel

apreender essa dimenso nos mais diversificados pases sejam de centro ou da

periferia do capital Tendncia que se confirma nesse momento de aprofundamento da

crise capitalista exemplo disso acontece aqui no Brasil O que dizer por exemplo

diante da afirmao do governo brasileiro ao se prontificar a destinar recursos para o

FMI num cenrio em que milhares de trabalhadores(as) no pas perdem o emprego e

conseqentemente a sua condio de subsistncia Preocupaes com os segmentos

do trabalho ou em no colocar em questionamento o prprio ente gerador da crise o

sistema capitalista

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais

A educao como poltica social diretamente afetada pela concretizao

das diretrizes neoliberais j que elas sinalizam a minimizao de investimentos estatal

na rea social como meio de reduzir gastos e ainda mais nessa conjuntura de crise

em que montantes de recursos em escala mundial so destinados para amenizar os

seus efeitos Mas amenizar danos para os capitalistas ou para os segmentos do

trabalho Importante enfatizar que a sociabilidade capitalista permeada por

interesses contraditrios resultantes dos prprios antagonismos intrnsecos a esse

modelo societrio que objetiva a obteno de superlucros mediante explorao e

dominao mesmo no contexto de radicalizao da barbrie

Nessa dimenso a educao tambm se configura como um importante

campo de disputa entre projetos diferenciados Logo podemos sinalizar a existncia

de projetos identificados com a defesa da educao como direito social universal e

instrumento imprescindvel na desconstruo de valores mercantis o que por sua vez

contribui na construo de valores sintonizados com outro modelo societrio E

antagonicamente de outros projetos que buscam transfigurar a esfera educacional em

mais um ramo lucrativo para o capital alm de procurar restringir tal setor a um tipo de

funcionalidade voltada ao atendimento das necessidades do mercado competitivo

direo fortalecida na era hegemnica do neoliberalismo afinal de contas

69

O acesso ao conhecimento cientifico e tcnico sempre teve importncia na luta competitiva mas tambm aqui podemos ver uma renovao de interesses e de nfase j que num mundo de rpidas mudanas e de sistemas de produo flexvel [] o conhecimento da ultima tcnica do mais novo produto da mais recente descoberta cientfica implica a possibilidade de alcanar uma importante vantagem competitiva O prprio saber se torna uma mercadoria-chave a ser produzida e vendida a quem pagar mais sob condies que so elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVYE 2006 P151)

Portanto alm do esforo exercido para mercantilizar a educao como

bem retrata Harvye no podemos desconsiderar a utilizao da rede educacional

institucionalizada pelos representantes do grande capital com vistas tambm a

formao de consensos que potencializam a dominao e manuteno do poder

vigente como explicita Mszaros (2005) na sua abordagem

Segundo este autor a educao formal ou institucionalizada sobretudo

nos ltimos 150 anos apresentou como funcionalidade no somente produzir os

conhecimentos e mo-de-obra imprescindvel ao processo de reproduo do capital

mas contribuiu efetivamente para a transmisso de valores que servem de suporte

e legitimidade aos interesses dominantes

Concordamos com Mszaros (2005) quando ratifica o direcionamento de

adequao da educao aos interesses mercantis entretanto destacamos nesse

debate o fato da sociabilidade capitalista ser atravessada nos seus mais diversos

mbitos pela contradio por conseguinte o desenvolvimento de processos

formativos sintonizados com o iderio de transformao societal tambm se coloca

como uma possibilidade real

Diante dessa problematizao importante destacar o pensamento de

Tonet (2007) segundo o qual a funcionalidade central da educao constitui a

apropriao de conhecimentos habilidades e valores produzidos e construdos no

decorrer da histria pelos indivduos singulares De tal modo que o ldquoacesso de todos

educao sistematizada portanto formal uma necessidade para que as pessoas

possam se apropriar do patrimnio do gnero humanordquo (TONET 2007 p5)

contudo essa apropriao no est descolada dos antagonismos sociais e assim

sendo recorrente que em uma sociedade de classes os interesses que

predominantemente estruturam a educao sejam tambm os anseios da classe

dominante Porm como j enfatizamos a contradio intrnseca a sociabilidade

burguesa e dessa forma com base nas formulaes de Tonet (2004) afirmamos

que a educao na perspectiva do trabalho se remete a defesa da apropriao do

patrimnio humano - artes direito filosofia etc - de forma ampla por parte de

70

todos(as) sujeitos sociais e histricos Em contrapartida na ptica do capital a

tendncia de limitar o acesso e a qualidade da educao pois seu objetivo ldquono

a realizao plena de todos os indivduos e pois do gnero humano mas a sua

prpria realizaordquo (p224)

Na realidade especfica do Brasil cada vez mais recorrente a reduo de

investimentos na rea social o que atinge tambm a educao alm disso se

intensificou nas ultimas dcadas a disponibilidade de todos os nveis da educao

formal para a esfera privada o que configura o domnio do mercado sobre esse

setor e isso representa inclusive a predominncia dos valores mercantis nos

processos formativos

Neste sentido observamos a partir de anlises como as realizadas por

Tonet (1998 2007) e Mszaros (2005) a necessidade de construo de uma

perspectiva crtica para a educao que no se limite em atender aos anseios de

reproduo dessa ordem societria ao contrrio que seja sintonizada com a luta na

busca da derrocada da gide do capital portanto uma verdadeira mediao para a

conquista da emancipao humana

Dessa forma preciso considerar que na poca de predominncia do

padro fordista-taylorista a esfera educacional apresentava majoritariamente o vis

informativo e limitado pois no necessitava de trabalhador(a) com habilidades

criativas em decorrncia da ntida separao entre planejadores e executores

caracterstica desse modelo produtivo A emergncia da flexibilidade no mundo do

trabalho reclama outro tipo de formao na qual

O trabalhador precisa aprender a pensar a resolver problemas novos e imprevistos precisa ter uma formao polivalente ou seja uma formao que lhe permita realizar tarefas diversas e alm disso a transitar com mais facilidade de um emprego a outro pois a estabilidade j no faz parte desta nova forma de produo (TONET 2007 10)

Alicerando-nos nas contribuies do autor verificamos que a educao

passa por complexas processualidades na contemporaneidade Nesse cenrio de

crise e mudanas estruturais ela necessita se readequar e gerar alternativas diante

dos novos padres e relaes sociais Analisamos que a readequao em larga

medida tem se pautado na tendncia de submeter atividade educativa ao vis

mercantilista

Diante do exposto que Tonet (2007) chama ateno para a difcil situao

que peculiariza a educao no momento atual Segundo ele a educao se encontra

em uma verdadeira encruzilhada visto que contribui para reproduo da sociabilidade

71

capitalista que no presente marcada pela radicalidade da barbrie ou contribui

para construo de outro sistema societrio Essa encruzilhada expressa os interesses

contraditrios existentes na sociedade do capital com particularidades nos complexos

sociais e aqui em especial na educao

Tonet(2004) analisa requisitos sintonizados com o desenvolvimento de

atividades educativas que vislumbrem a transformao social Desse modo

elencaremos os requisitos defendidos pelo autor com o objetivo de destacar a

necessidade de seu fortalecimento com vistas a potencializar projetos educacionais

negadoras da ordem estabelecida

O primeiro requisito concerne perspectiva de empreender nas atividades

educativas conhecimentos profundos e slidos da finalidade pretendida ou seja da

emancipao humana dimenso balizadora das prticas educativas cotidianas O

segundo se refere real necessidade de uma anlise crtica e radical da sociabilidade

capitalista ou seja compreenso ldquodas caractersticas essenciais da crise por que

passa esta sociabilidade das conseqncias que da advm para o processo de

autoconstruo humana da maneira como esta crise se manifesta nos diversos

campos da atividade humana [](TONET 2004 p 232) Outro requisito consiste no

conhecimento aprofundado do prprio campo da educao visto que esse tem suas

especificidades A quarta requisio tratado por Tonet se remete ao domnio dos

contedos inerentes a cada rea do saber como por exemplo podemos citar a

importncia do educador(a) ter domnio da rea prioritria na qual atua seja na

filosofia na sociologia no direito entre outras O ultimo requisito constitui a relevncia

da articulao da atividade educativa com o desenvolvimento das lutas empreendidas

pelos segmentos subalternizados o que favorece na materializao de aes

negadoras do projeto societrio capitalista

Reflexes crticas como as realizadas por Tonet e pelo prprio Mszaros

so importantes tambm para contribuir com o desvendamento das determinaes

que impossibilitam a materializao de uma educao formal libertadora no marco da

sociabilidade sob a gide do capital pois tal sistema se reproduz tendo como

essncia a perpetuao e ampliao das contradies que lhe so intrnsecas

Entretanto como apontado acima isso no significa negar a possibilidade

real de direcionar a educao por princpios eou requisitos sintonizados com a

construo de outra ordem devido aos prprios antagonismos inerentes a

sociabilidade capitalista De tal modo uma compreenso abrangente de educao

conforme o pensamento de Mszaros(2005) significa o entendimento de que o

processo de aprendizagem no se restringe a esfera institucional majoritariamente

utilizada pelo capital mas engloba todos os aspectos da nossa vida tornando-se

72

imprescindvel a interconexo dessas vivncias com a esfera formal A perspectiva de

construo de outra concepo educacional tambm sinalizada por Tonet na

seguinte assertiva ldquo evidente que uma educao voltada para a construo de uma

sociedade que tenha como horizonte a emancipao humana ter que ser norteada

por princpios e dever encontrar formas profundamente diferentes daquelas voltadas

para a reproduo da sociabilidade regida pelo capitalrdquo (1998 p10)

Diante do exposto temos o entendimento que o domnio burgus tambm

se faz presente na educao pois esta esfera sofre os rebatimentos da diviso da

sociedade em classes sociais decorrente dessa constatao histrica do

antagonismo de classes que a construo de atividades educativas e portanto de

formao profissional questionadora dessa ordem tambm uma possibilidade real

Assim concebemos que o projeto profissional que hegemonicamente direciona a

formao dos(as) assistentes sociais no Brasil se fundamenta numa perspectiva que

sem dvidas contribui para a anlise crtica da atual sociabilidade bem como

preconiza a defesa de construo de uma outra sociedade alicerada na verdadeira

emancipao de homens e mulheres Projeto de formao profissional que cada vez

mais se depara com obstculos para sua materializao tais como a insuficincia

das condies objetivas que dificulta a efetivao das diretrizes curriculares uma

realidade em todo pas alm de vivenciarmos um perodo de fortalecimento de

valores mercantis associada fragilidade da teoria social crtica no mbito da

educao o que configura assim uma conjuntura no favorvel para universalizao

desse projeto Entretanto a luta empreendida pelas entidades representativas do

Servio Social englobando a ao de segmentos de docentes e discentes ratifica o

compromisso preponderante dessa profisso com a construo e realizao de

atividades educativas emancipadoras

Assim apreendermos nesse estudo a sociabilidade capitalista como

espao de disputa e luta de classes e por conseguinte de perspectivas educacionais

diferenciadas e at mesmo contraditrias Desse modo a subordinao de uma

classe em relao outra no exercida somente com o uso da fora mas tambm

mediante a utilizao de diversos mecanismos entre eles as polticas sociais como a

educao que contribuem para que a classe dominante garanta a reproduo da fora

de trabalho e de sua condio de classe como tal

Destarte as mudanas pelas quais passa a sociabilidade capitalista no

momento presente e suas implicaes na relao do Estado com a sociedade

consiste requisito essencial para apreenso das determinaes que incidem sobre a

necessidade de reconfigurao nos espaos formais de qualificao e aprendizagem

Dessa forma faz-se necessrio considerar as alteraes no mbito da formao dos

73

segmentos do trabalho incluindo os(as)assistentes sociais o que por usa vez

contribui no desvelamento da direo social da ao dos sujeitos coletivos nesta

realidade histrica entre os quais o segmento estudantil

Diante do exposto entendemos que refletir sobre a contra-reforma do

ensino superior e seus impactos para o projeto de formao dos(as) assistentes

sociais e da direo social da ao poltica dos(as) estudantes nesta conjuntura

reclama consideraes relativas ascenso neoliberal no pas com sua respectiva

diretiva de ldquoreformarrdquo o Estado A abordagem potencializa a apreenso das

determinaes que incidem na readequao das instituies de ensino e a educao

superior a lgica conjuntural do mercado

74

O Que Foi Feito Deveraacute

O que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou

O que foi feito da vida o que foi feito do amor

Quisera encontrar aquele verso meninoQue escrevi haacute tantos anos atraacutes

Falo assim com saudade falo assim por saber

Se muito vale o jaacute feito mas vale o que seraacuteMas vale o que seraacute

E o que foi feito eacute precisoconhecer para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza falo por acreditar

Que eacute cobrando o que fomosque noacutes iremos crescer

Noacutes iremos crescer outros outubros viratildeo

Outras manhatildes plenas de sol e de luzAlertem todos alarmas

que o homem que eu era voltouA tribo toda reunida raccedilatildeo dividida ao solE nossa Vera Cruz

quando o descanso era luta pelo patildeoE aventura sem par

Quando o cansaccedilo era rio e rio qualquer dava peacute

E a cabeccedila rolava num gira-girar de amorE ateacute mesmo a feacute natildeo era cega nem nada

Era soacute nuvem no ceacuteu e raizHoje essa vida soacute cabe

na palma da minha paixatildeoDevera nunca se acabe abelha fazendo o seu mel

No pranto que criei nem vaacute dormir como pedra e esquecer

O que foi feito de noacutes

(Milton Nascimento)

75

IV UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

4-1 ldquoREFORMArdquo UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA

DO ESTADO BRASILEIRO

Antes da discussatildeo sobre contra-reforma implementada pelo Estado

brasileiro tecemos algumas consideraccedilotildees sobre a constituiccedilatildeo da Universidade

nacional o que permitiu apreensatildeo da disputa de valores e projetos educacionais

diferenciados para esta instituiccedilatildeo tatildeo relevante para o desenvolvimento econocircmico

social poliacutetico e cultural do paiacutes

A universidade eacute recente no cenaacuterio nacional foi criada somente no final

dos anos 1920 e com processo de expansatildeo na deacutecada de 1930 em que recebeu

influecircncias do modelo de escolas superiores ateacute entatildeo majoritaacuterio no Brasil

Segundo Rocha(2004) as primeiras instituiccedilotildees de ensino superior no

Brasil foram criadas trecircs Seacuteculos apoacutes o descobrimento visto que o domiacutenio

portuguecircs se estendia tambeacutem nas esferas da educaccedilatildeo e cultura como forma de

manter o poder sob a colocircnia Foi com a chegada do reino portuguecircs em 1808 que

surgiram agraves primeiras escolas superiores inicialmente nos estados da Bahia e Rio de

Janeiro E tardiamente no periacuteodo republicano foram criadas as primeiras

universidades no Brasil em 1920 foi fundada a Universidade do Rio de Janeiro e em

1927 a Universidade de Minas Gerias ambas formadas a partir da aglutinaccedilatildeo de

escolas superiores jaacute existentes

Conforme as contribuiccedilotildees de Fernandes (1975) a universidade assumiu o

caraacuteter de um conglomerado de escolas superiores com suas respectivas fragilidades

quais sejam o pequeno nuacutemero de estudantes professores e funcionaacuterios a

supervalorizaccedilatildeo do ensino em detrimento da pesquisa quando defendemos que

ambas as atividades devem funcionar articuladamente aleacutem da centralizaccedilatildeo na

tomada de decisotildees sem levar em consideraccedilatildeo os (as) envolvidos (as) na construccedilatildeo

desse espaccedilo

Em 1930 eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede sinalizando a

preocupaccedilatildeo do Estado nacional com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra num

cenaacuterio de crescimento e expansatildeo da industrializaccedilatildeo no paiacutes

Em 1934 foi fundada a Universidade de Satildeo Paulo e em 1935 a

Universidade do Distrito Federal criadas jaacute sob a influecircncia do modelo germacircnico-

humboldtiano que preconiza a indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensatildeo e

76

concebe a universidade como espao privilegiado na produo do conhecimento e de

desenvolvimento cultural35

Como destacado no segundo captulo desse trabalho em 1937 foi criada

a UNE Diante do exposto sinalizamos que a sua criao se processou concomitante

a estruturao e consolidao da universidade no pas o que demonstra que desde o

princpio o ME se constitui locus privilegiado de organizao e atuao dos(as)

universitrios(as)

Nesse sentido na dcada de 1940 o aumento de professores e de

estudantes nas instituies de ensino superior e a incluso da pesquisa nessa esfera

configuraram-se aspectos fundamentais na deflagrao da crise do modelo brasileiro

de escolas superiores predominantes nos interior das universidades brasileiras A

partir de ento temos a construo de uma perspectiva de universidade apreendida

como espao primordial na criao e produo de conhecimento Importante destacar

que nessas dcadas temos a expanso da urbanizao e industrializao no pas o

que requisita o desenvolvimento da cincia e da tcnica

Contudo uma perspectiva crtica de universidade encontrou forte

resistncia inclusive por parte do Estado que sob a vigncia do Estado Novo de

Vargas procurou adequar as instituies aos interesses dominantes

Temos a concepo que a misso da universidade no pode ser reduzida

a dimenso do ensino e desse modo se configurar em mera funcionalidade de formar

sujeitos para atuar em determinadas profisses como ocorreu no processo de

constituio dessa instituio nem to pouco de se remeter a promoo do

desenvolvimento cientfico e tecnolgico visando to somente a reproduo dessa

sociabilidade ela deve se constituir em um espao de construo da cultura cincia

tecnologia investigao cientifica nas mais variadas reas do conhecimento com a

prerrogativa de proporcionar o desenvolvimento da humanidade e no do capital

A educao superior e por conseguinte a universidade pblica como

importante necessidade social deve ser mantida pelo Estado objetivando a sua

garantia como direito No entanto isso se constitui um desafio a ser perseguido e tem

sido alvo de luta dos segmentos do trabalho e dos setores identificados com esse

iderio como historicamente se configura os(as) estudantes e suas entidades Pois no

decorrer da breve histria da universidade no Brasil alicerada no trip de ensino

pesquisa e extenso ela ameaada constantemente tendo em vista o esforo da

35 Em 1932 foi lanado o ldquoManifesto dos pioneiros da educaordquo elaborado por intelectuais brasileiros que reivindicavam uma atuao do Estado na garantia da educao e requisitavam para o ensino superior a criao de universidades caracterizadas pelo desenvolvimento de investigaes cientficas culturais e formaes de profissionais nas mais diversificadas reas de atuao Cf Rocha(2004)

77

classe dominante em diferentes conjunturas de construir medidas visando a sua

privatizaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo do ensino superior numa mercadoria altamente

competitiva e lucrativa

Na deacutecada de 1950 Rocha(2004) aponta que sob a bandeira do

nacionalismo foi desencadeado o processo de federalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de

ensino superiores estaduais e privadas caminho rejeitado nos anos de 1960 quando

se verifica a expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo superior brasileira

Essa tendecircncia foi amplamente reforccedilada na ditadura militar instaurada

com o golpe de 1964 dado o compromisso dos governos ditatoriais com o capital

tanto em niacutevel interno como externo nesta dimensatildeo vaacuterias accedilotildees foram efetivadas

de forma autoritaacuteria buscando adaptar as instituiccedilotildees ao modelo poliacutetico desenvolvido

pelo regime ditatorial

Podemos destacar como medidas viabilizadoras do enquadramento da

universidade brasileira agraves regras ditatoriais e a exploraccedilatildeo do capital a elaboraccedilatildeo dos

Relatoacuterios Meira Mattos e Atcon estes documentos traziam recomendaccedilotildees que

procuravam adequar as instituiccedilotildees agrave loacutegica mercantilista de formaccedilatildeo de matildeo-de-obra

para o mercado e ainda visavam controlar as reivindicaccedilotildees e manifestaccedilotildees

estudantis tatildeo recorrentes naquele periacuteodo

O relatoacuterio Meira Mattos pregava a repressatildeo a quaisquer protestos

realizados principalmente pelo ME por serem compreendidos pela ditadura como

subversivos a ordem vigente enquanto o Relatoacuterio Atcon recomendava a efetivaccedilatildeo

de mudanccedilas na estrutura administrativa das universidades brasileiras as quais

deveriam se fundamentar na concepccedilatildeo empresarial de eficiecircncia e rentabilidade os

documentos assinalados constituiacuteram a base de fundamentaccedilatildeo da reforma

universitaacuteria de 1968 Cavalcante fundamentando-se em Faacuteveo(1991) assinala que

Esta reforma universitaacuteria introduziu mudanccedilas significativas na organizaccedilatildeo e funcionalidade das universidades no Brasil ao mesmo tempo em que incorporou algumas reivindicaccedilotildees da comunidade acadecircmica com o objetivo de abrandar as manifestaccedilotildees no seu interior como o regime integral para professores possibilitou o fortalecimento da loacutegica empresarial nas instituiccedilotildees de ensino superior ao estabelecer a garantia de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo universitaacuteria de pessoas como experiecircncia na aacuterea dos negoacutecios corroborando com a perspectiva de dicotomia entre planejadores e executores e de entrega da universidade a administraccedilatildeo em moldes empresariais( CAVALCANTE 2007 p6)

A reforma universitaacuteria de 1968 foi orientada tambeacutem pelos acordos MEC-

USAID estabelecido entre Brasil e Estados Unidos cujo objetivo era transformar a

78

universidade brasileira visando ldquoa eficincia modernizao a flexibilidade

administrativa e formao de recursos humanos de alto nvel para o

desenvolvimento do pasrdquo (LAMPERT 2004 p77)

O trmino da ditadura militar no representou o inicio de um compromisso

com a universidade pblica por parte do governo Sarney pois a sua gesto tratou de

preservar os interesses dominantes e como esclarece Ramos(1996 p57) ele

ldquoelaborou o documento ldquoEducao Para Todos - caminho para mudanardquo no qual se

denota a preocupao com o ensino bsico sem se analisar entretanto o ensino

superiorrdquo

A realidade de descaso com as universidades pblicas continuou nos

governos subseqentes estimulada pela ideologia neoliberal de transfigurao da

rea educacional em mais um ramo lucrativo para o mercado de negcios

culminando dessa forma no crescimento acelerado da iniciativa privada e na reduo

de investimentos no setor pblico o que contribui para um cenrio verdadeiramente

crtico como veremos adiante

A reforma do Estado se colocou como demanda real no final da dcada de

1980 para as diferentes foras sociais e polticas da sociedade brasileira Essa

necessidade se explica pela seguinte constatao ldquoao mesmo tempo em que

tnhamos no plano jurdico-poltico a constituio mais avanada [] o aparelho de

Estado continuava funcionando e mais do que isso continuava articulado ao projeto

poltico-econmico da ditadurardquo (NETTO 2004 p 12)

Trata-se portanto naquele perodo da tcita existncia de um consenso

entre distintas foras sociais e polticas em torno da real necessidade de reformar o

Estado nacional

Essa concepo se estabelece j no contexto de consolidao neoliberal

nos pases de capitalismo avanado o que demonstra o lapso entre o centro e a

periferia do capital

Entretanto enquanto as foras populares se colocaram na perspectiva de

reformar o Estado em seu real sentido ou seja com o objetivo de efetivar direitos a

partir da operacionalidade das conquistas estabelecidas na Constituio de 1988 a

burguesia nacional se colocou em sentido contrrio pois se pautou na defesa de

adequar as estruturas nacionais nova ordem do capital na sua verso neoliberal Foi

esta fora social e poltica que se tornou hegemnica e tomou a direo estatal nos

anos 1990 no Brasil

Assim sinalizamos o governo de Fernando Collor de Melo(1990-1992)

como precursor das primeiras medidas de reformar o Estado em sentido oposto ou

seja de materializar aes que se constituram como o incio de uma contra-reforma

79

caracterizada pela perda e natildeo pelo ganho de direitos Behring (2003 p) assinala que

este governo tratou de adequar o paiacutes ao reordenamento do capital mundial

Contudo foi na era FHC (1995-2002) que as concepccedilotildees neoliberais

comeccedilaram a ser efetivadas de forma mais intensa expressatildeo dessa assertiva satildeo as

reformas do Estado manifestadas na poliacutetica de privatizaccedilotildees aleacutem do verdadeiro

esfacelamento das poliacuteticas sociais

Netto(2004) identifica FHC como o governante dos banqueiros e que seu

primeiro mandato apresentou como objetivo preciacutepuo adequar a inserccedilatildeo nacional

aos anseios do capital mundial

A anaacutelise realizada por Behring(2003) demonstra que a formaccedilatildeo social

brasileira eacute caracterizada por traccedilos como paternalismo e heteronomia que

contribuem para intensificar a concentraccedilatildeo da riqueza produzida e da dependecircncia do

paiacutes em relaccedilatildeo agraves orientaccedilotildees que representam o capital internacional

Para garantir a inserccedilatildeo subordinada do paiacutes no circuito mundializado do

capital na deacutecada de 1990 FHC governou com o propoacutesito de executar segundo

concepccedilatildeo de Netto(2004) trecircs tarefas baacutesicas dirimir as resistecircncias contraacuterias ao

direcionamento adotado na sua gestatildeo utilizando para este fim tanto a forccedila como a

construccedilatildeo de consensos A formaccedilatildeo de consensos se deu na dimensatildeo de satanizar

o aparelho do Estado a defesa ideoloacutegica de globalizar o paiacutes aleacutem da tendecircncia de

privilegiar o privado e desqualificar o puacuteblico A segunda tarefa consistiu na

prerrogativa de sucumbir o aparato legal oposto ao receituaacuterio neoliberal nesse caso

o alvo principal constitui-se a Constituiccedilatildeo de 1988 como foi ressaltado esta carta

representou grande avanccedilo juriacutedico especialmente no tocante ao item que trata dos

direitos sociais A uacuteltima tarefa estreitamente articulada agraves demais se referiu a

demanda de promover accedilotildees que editadas a partir de medidas provisoacuterias

regulamentaccedilotildees entre outros aparatos promovessem mudanccedilas substanciais na

estrutura do Estado nacional Diante do exposto tem-se a poliacutetica de ajuste fiscal

materializada com um plano de estabilizaccedilatildeo da moeda e a continuidade da poliacutetica de

privatizaccedilatildeo

Nesses termos a contra-reforma do Estado delineada por FHC se

apresentou em total sintonia com a tendecircncia do capital mundial de promover um

verdadeiro enxugamento das suas accedilotildees no campo social e de valorizar o privado

como referecircncia na execuccedilatildeo de serviccedilos que na uacuteltima carta constitucional se

constituem em direitos Essa direccedilatildeo se manifestou de maneira niacutetida na educaccedilatildeo e

em especial no ensino superior Pois em sintonia com as recomendaccedilotildees das

agecircncias multilaterais a universidade puacuteblica oferece

80

ensino de melhor qualidade que as universidades privadas Todavia estas regidas por critrios empresariais so tidas como a referncia organizacional Consideradas mas geis eficientes financeiramente equilibradas apresentam maior diferenciao institucional e menor ndices de conflitos e tenses polticas (IAMAMOTO 2004 p40)

Considerando as anlises de Siqueira (2004) o Banco Mundial(BM) passou

a intervir na rea educacional na dcada de 1960 tendo como alvo preferencial as

modalidades de ensino tcnico-vocacional e superior visto que naquele perodo

esses nveis eram concebidos como prioritrios para o desenvolvimento das foras

produtivas

Nos anos 1980 o BM financiou diversas pesquisas sobretudo em pases

do continente africano com o intuito de intensificar sua interferncia na educao em

escala mundial Os estudos realizados pelo rgo enfatizavam o ensino superior como

oneroso para a administrao pblica alm de argumentar que ele privilegiava as

camadas mais favorecidas assim as recomendaes eram no sentido de priorizar os

investimentos pblicos majoritariamente no ensino fundamental

Ainda seguindo as contribuies de Siqueira com a derrubada do muro de

Berlim associado fragilidade do Estado de bem estar social ou provedor como por

ela denominado o BM passou a intervir de maneira mais incisiva no ensino superior

apresentando como objetivo instituir um modelo de gesto caracterizado pela

eficincia e procurando abrir tal espao para a iniciativa privada Logo no comeo do

novo sculo entendido como a ldquosociedade do conhecimentordquo a educao superior

compreendida pelo BM como uma ldquorea de negciosrdquo a qual deve ser dirigida ldquopelo

setor privado internacional e grandes firmas nacionais a ele associados que estariam

prontos para vender seus pacotes educacionais consultorias equipamentos etcrdquo

(SIQUEIRA 2004 p50)

Essa interveno no campo educacional revela o processo de expanso

da explorao e domnio do capital em setores diversificados na busca ilimitada por

lucros A educao como mercadoria e sua adequao vislumbrando somente a

formao de mo-de-obra ldquoqualificadardquo para o mercado significa mais do que a perda

de direitos pois minimiza processos formativos crticos o que por sua vez corrobora

com a formao de profissionais identificados(as) com a preservao do status quo

Orientados por tais argumentos os rebatimentos da poltica neoliberal no

ensino superior na vigncia de FHC no comando do executivo nacional podem ser

constatados a partir das problemticas levantadas na passagem seguinte

81

As universidades federais passaram a viver uma situao de indigncia com cortes de energia eltrica telefone gua despensa das empresas terceirizadas responsveis pela limpeza sem falar nos aspectos didticos-cientficos prejudicados pela deficincia de bibliotecas laboratrios salas de aula e falta de computadores e outros equipamentos necessrios para esse fim (MAUS 2004 p22)

Foi durante a gesto de FHC que em 1996 tivemos a aprovao da Lei de

Diretrizes e Bases (LDB) para educao que segundo Netto (2004) em sintonia com

as demandas do mercado consistiu em amparo legal para expanso do setor privado

e desqualificao da universidade pblica sobretudo a partir da apreenso da

autonomia universitria limitada a dimenso gerencial e financeira Alm disso

Iamamoto (2004) sinaliza mecanismos da referida lei que privilegiou a criao de

cursos de curta durao em nvel superior secundarizando a qualidade entre os quais

se encontram os seqenciais36 e os mestrados profissionalizantes37 Para o Sindicato

da Associao Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES) a situao da

universidade pblica na dcada de 1990 apresentava a progressiva tendncia de

desresponsabilizao do Estado com sua manuteno Descaso que se verificou na

submisso da

Universidade lgica imediatista empresarial seja pela gesto direta de uma rede de ensino responsvel hoje por um percentual irrisrio de aproximadamente 22 das matriculas dos cursos de graduao seja pelo controle e direcionamento de boa parte da pesquisa cientfica e tecnolgica produzida no pas a poltica governamental brasileira vem descaracterizando a universidade enquanto instituio de carter pblico e despojando-a portanto de sua condio de instituio a servio da populao brasileira (ANDES 1996 p20)

O quadro abordado preocupante pois ao mesmo tempo em que

incentiva a abertura indiscriminada de instituies privadas muitas das quais se

restringindo a autnticas fbricas de diplomas desqualifica as universidades pblicas

to necessrias para o desenvolvimento do pas a partir de sua democratizao e da

valorizao deste espao como referencial na produo e socializao do

conhecimento Assim os rebatimentos da destruio eou readequao da

36 Iamamoto 2004 classifica tais cursos como um processo de ldquoaligeiramento da formao- para responder de maneira mais imediata s demandas emergentes decorrentes das rpidas transformaes que vm se operando nesse mercadordquo (2004 p54) 37 Para Iamamoto (2004) so mestrados mais baratos e autofinanciados ldquocom retorno rpido uma vez que pode ser concludo em apenas um ano Favorece a integrao universidade e mercado reforando o papel que vem sendo atribudo a essa instituio enquanto formadorade mo-de-obra para atender s mutantes necessidades da produo no seu mais amplo espectrordquo (p59)

82

universidade pblica aos interesses mercantis atinge no somente o espao restrito

da academia mas a populao de forma abrangente pois esta instituio se

caracteriza pela produo cultural realizaes de investigaes cientficas que

contribuem para o desenvolvimento tecnolgico econmico poltico cultural e social

da nao alm de formar profissionais que atuam em diversificados ramos de

atividades requisitados nesta sociabilidade

Tal realidade no diferente no decorrer das duas gestes de Luis Incio

Lula da Silva com incio em 2003 e vigente at os dias atuais que se pautam numa

perspectiva de aceitao das orientaes do capital internacional na verso

neoliberal

Salles (2006) salienta que o PT foi fundado em 1980 com o intuito de se

constituir no representante partidrio dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)

configurando-se dessa maneira em um partido caracterizado poltica e

ideologicamente pela negao do sistema vigente portanto pela recusa das relaes

de explorao dominao autoritarismo e privilgios que marcam a trajetria histrica

do pas Entretanto segundo o seu pensamento o PT com o propsito de chegar

presidncia da repblica elaborou um projeto que foi negociado com polticos de

diversos matizes inclusive de centro esquerda e direita Assim um dos

desdobramentos dessa aliana que o ldquogoverno Lula [] optou por fazer as reformas

diante das quais o governo anterior recuou ou no teve a legitimidade suficiente para

faz-lasrdquo (SALLES 2006 p32)

Em consonncia com esse direcionamento de anlise Lima (2004) ratifica

o processo de aliana do PT com representantes do capital financeiro e sinaliza essa

expresso em quatro dimenses a extino das referncias do socialismo como

princpios do partido a burocratizao em decorrncia da ampliao de funcionrios

em substituio aos militantes de base minimizao das lutas dos trabalhadores(as)

com vistas obteno de cargos conseguida mediante construo de acordos com a

burguesia e ainda se manifesta pelo aprofundamento da concretizao das

concepes neoliberais no pas evidenciadas no favorecimento dos interesses dos

organismos do capital globalizado durante os anos do governo Lula

Dias(2006) assinala que o governo de Lula da Silva se caracteriza pela

materializao de uma poltica de continuidade do governo anterior Atua desse modo

em conformidade com as orientaes neoliberais aderidas por FHC Outro importante

aspecto consiste na sua prtica poltica de desqualificar as organizaes dos

segmentos do trabalho Nesse contexto de desqualificao que se potencializa

tambm a fragilidade das aes desses sujeitos coletivos passando a atuar muito

mais numa perspectiva de colaborar com a institucionalidade em vez de assumir

83

posturas de combatividade e reivindicaes Ao passo que contraditoriamente se

verifica a ampla valorizao do governo Lula em relao atuao das ONG que

embora denominadas de no governamentais sobrevivem com recursos oriundos das

diversas esferas do Estado alm dos montantes recebidos de instituies que

explicitamente representam os interesses do capital A explanao seguinte

demonstra a contradio vivenciada na poltica brasileira de hoje j que o ex-operrio

que ocupa a presidncia ldquodesempenha o papel articulador nos marcos do territrio

brasileiro do bloco de poder comandado pela burguesia financeira internacionalrdquo

(DIAS 2006 p 2000)

Nesse sentido constata-se que o governo petista do ex-operrio Lula se

caracteriza pela recusa do projeto de transformao societal e tenta criar um cenrio

que mostre que a continuidade econmica e poltica das diretivas do capitalismo

neoliberal mais do que necessrias so naturais uma tendncia de mascarar de

diversas formas a existncia de conflitos e interesses antagnicos Prtica poltica que

descaracteriza o protagonismo de sindicatos MS afinal seno existem interesses

contraditrios qual a funcionalidades desses sujeitos coletivos Corroborar com bom

desenvolvimento desta sociabilidade Tudo indica que esse o caminho at o

presente momento que vem sendo seguindo por alguns MS e suas entidades

organizativas

Essa direo poltica se apresenta por exemplo no uso indiscriminado de

medidas provisrias que dado o carter de urgncia das matrias votadas no

legislativo minimiza a possibilidade de debates e desenvolvimento de aes de

segmentos da sociedade que rejeitem e se contraponham s medidas encaminhadas

pelo governo sucumbindo dessa maneira a construo da democracia e o

protagonismo dos sujeitos coletivos

Sem dvida a chegada de Lula presidncia representou o

descontentamento da grande maioria da populao brasileira com a situao de

pauperizao e perdas de direitos reinante na era FHC contudo as suas gestes so

marcadas pela continuao da implementao das diretrizes neoliberais pautadas na

destruio das conquistas dos segmentos do trabalho Como aborda Carvalho entre

os condutores da reordenao do Brasil ao capital internacional na sua verso

neoliberal esto

O socilogo considerado referncia na construo de um pensamento progressista qui de esquerda nas anlises da sociologia poltica [] e um lder poltico de esquerda urdido nas lutas sindicais que ascende ao poder por proclamao popular encarnando a esperana de ruptura com os rumos neoliberais (CARVALHO 2006 p124)

84

Ainda nos baseando nas elaboraes de Carvalho (2006) entende-se que

o iderio neoliberal comea a materializar-se no Brasil no momento de construo do

Estado democrtico dessa maneira observamos um processo contraditrio de

instituio de um Estado ajustador e reducionista na rea social no cenrio da

democratizao poltica Portanto mais uma vez constata-se que a emancipao

poltica importante todavia somente a emancipao humana capaz de libertar os

homens e mulheres de sua condio de explorados(as) e dominado(as) pelo capital

nessa relao contraditria que se encontra a agudizao da educao

superior pblica no Brasil que respaldada na Carta Constitucional de 1988 como

direito de cidadania e dever estatal na atual conjuntura atravessa um forte processo

de privatizao e desqualificao Tendncia que se coloca para atender as demandas

da produo reestruturada e de obteno de lucros mediante sua mercantilizao

para o grande capital financeiro Expresso dessa assertiva constitui-se a atual contra-

reforma do ensino superior do governo Lula

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico

Na educao a continuidade da poltica neoliberal se materializa com a

contra-reforma do ensino superior que vem sendo concretizada de maneira

fragmentada visando a desresponsabilizao do Estado com este nvel da educao

A contra-reforma est em consonncia com as orientaes deliberadas pelos

organismos representantes do grande capital como o Fundo Monetrio Internacional

(FMI) e a OMC pois conforme a perspectiva de tais agentes o ensino superior

compreendido

Como uma mercadoria que deve ser suprida por entidades privadas que disputaro entre si o maior nmero de consumidores possvel o foco central e talvez nico da formao do aluno universitrio passa a ser a preparao para o mercado de trabalho desprezando-se a teoria e o ldquoaprender a aprenderrdquo e enfatizando o domnio de tcnicas transformando a universidade em um ensino de 3 grau [] situada dentro da proposta do neoliberalismo supe que o governo no deve ser o articulador da poltica educacional mas que deve deix-la a merc da regulao da competio entre os investidores privados(OLIVEIRA COSTA MALAFAIA 2004 p55)

85

Afinal de contas ainda em fevereiro de 2003 no incio do governo Lula o

ento ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central respectivamente Palocci

Filho e Henrique Meirelles enviaram conjuntamente documentos ao FMI agente do

grande capital internacional confirmando a realizao de esforos com o objetivo de

manuteno do ajuste fiscal e da materializao de reformas estruturais propostas por

tal organismo

Tambm em 2003 o primeiro ministro da educao do governo Lula o

senador Cristvo Buarque assinalou no texto ldquoa universidade numa encruzilhadardquo a

necessidade de mudanas substanciais para a universidade pblica no pas A

encruzilhada representa para ele a opo dessa instituio continuar se

fundamentando na modernidade tcnica ou direcionar sua funcionalidade para a

modernidade tica na qual o conhecimento seja submetido a valores ticos

identificados com a defesa de semelhana entre os indivduos e com a efetiva

perspectiva de proporcionar ao conjunto da sociedade os resultados do progresso

cientfico e tecnolgico possvel garantir essa socializao num contexto societrio

caracterizado pela apropriao privada inclusive do conhecimento produzido pela

humanidade

Concordamos com Buarque que a universidade vivencia uma situao de

crise Essa realidade se verifica no somente no campo restrito do ensino superior

mas perpassa todo o universo da educao Entretanto entendemos que o real dilema

da educao consiste no que evidencia Tonet(2007) contribuir para a reproduo da

sociabilidade capitalista marcada cada vez mais pela barbrie ou contribuir com a

construo de uma sociedade alternativa

Algumas reflexes surgem nesse mbito como podemos pensar que

mudanas endgenas ocorridas no espao universitrio garantiro o futuro de seus

estudantes Como refletir sobre a derrocada da desigualdade social sem considerar o

fim do modelo societrio capitalista que subjaz processos de desigualdades Afinal

como o prprio Buarque ratifica ldquoo produto dos avanos cientficos e tecnolgicos das

universidades foi posto a servio de minorias privilegiadas tambm em outras reas O

uso e consumo desses conhecimentos tambm ficaram restritos s elites minoritriasrdquo

(2003 p 13) Esse esclarecimento no expressa uma dimenso das diferenas e

antagonismos de classes inerentes ao capitalismo

Para o ento ministro da educao a universidade deveria ser refundada

como meio de atingir seus verdadeiros propsitos e deixar de se constituir em uma

instituio a servio de uma parcela reduzida da populao Entre as iniciativas

indicadas pelo governo Lula para o sistema universitrio brasileiro se encontravam

regulao de transferncia que permita ao estudante trocar de instituio com

86

agilidade ampliaccedilatildeo de vagas com a utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia criaccedilatildeo de cotas

para grupos eacutetnicos flexibilizaccedilatildeo dos cursos necessidade de outras fontes de

financiamentos seja de ordem puacuteblica eou privada estabelecimento de avaliaccedilatildeo para

todas as instituiccedilotildees voltada para identificaccedilatildeo de suas qualidades e fragilidades com

vistas a melhorar o desempenho na sociedade brasileira

Embora apresentando importantes anaacutelises sobre a universidade puacuteblica

entendemos que parte significativa das indicaccedilotildees observadas por Buarque constituiu

a base de fundamentaccedilatildeo para a contra-reforma que refunda eou reestrutura a

universidade em conformidade com as requisiccedilotildees das agecircncias que representam os

interesses do capital

Assim para melhor problematizarmos a atuaccedilatildeo do ME e em especial do

MESS no atual cenaacuterio de desmoronamento da educaccedilatildeo superior puacuteblica faz-se

necessaacuterio algumas consideraccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo do governo a partir de reflexotildees

sobre as medidas situadas no campo da contra-reforma do ensino superior com a

perspectiva de apreendermos os rebatimentos das medidas materializadas para a

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) bem como dos

desafios colocados para o segmento estudantil em tal cenaacuterio

Entre as iniciativas adotadas no contexto da contra-reforma destacamos

inicialmente o Programa Universidade para Todos (PROUNI) que estabelece a

destinaccedilatildeo de vagas para estudantes considerados de baixa renda em instituiccedilotildees

particulares mediante troca por isenccedilatildeo fiscal Os dados do MEC destacam que de

2005 a 200938 foram distribuiacutedas 887445 bolsas do PROUNI Desse total 520855 de

caraacuteter integral e 366590 parcial O dinheiro que deixou de ser arrecadado pela

isenccedilatildeo de fiscal em troca dessas vagas poderia ser investido nas instituiccedilotildees

puacuteblicas proporcionando desse modo melhorias nas condiccedilotildees de trabalho de

docentes e teacutecnicos-administrativos e de aprendizado para os(as) discentes aleacutem de

contribuir para a expansatildeo de vagas nos espaccedilos de formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo puacuteblica

ou seja o PROUNI constitui-se num excelente mecanismo de desvio de recursos de

origem puacuteblica para o setor privado fortalecendo ainda mais a dimensatildeo de

mercantilizaccedilatildeo do ensino

Essa tendecircncia gradual de mercantilizaccedilatildeo se torna expliacutecita quando

analisamos alguns dados do censo de 2007 do ensino superior Eles mostram como a

educaccedilatildeo tem se constituiacutedo em aacuterea de investimento e rentabilidade para o capital

38 Dados disponiacuteveis no site httpsiteprounimecgovbrimagesarquivospdfRepresentacoes_graficasbolsas_ofertadas_anopdf

87

Das 2281 instituiccedilotildees que oferecem essa modalidade de ensino 2032 satildeo privadas

ou seja se tem nesse universo o piacutefio nuacutemero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas

Graacutefico 1Natureza das Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil

249 11

203289

PuacuteblicaPrivada

Fonte INEP 2009

Os nuacutemeros socializados no graacutefico 1 natildeo deixam duacutevidas sobre a

acelerada busca de rentabilidade na educaccedilatildeo superior pois se tem a confirmaccedilatildeo

que aproximadamente 90 das instituiccedilotildees nesse niacutevel de ensino se concentram na

aacuterea privada Portanto natildeo eacute possiacutevel deslocar essa expressiva quantidade da

dimensatildeo de qualidade satildeo esferas distintas mais integrantes desse mesmo

processo Assim sendo sinalizamos preocupaccedilotildees com o ensino disponibilizado em

termos de qualidade e ainda por preponderantemente estarem sob domiacutenio direto

da administraccedilatildeo que visa o lucro imediato a propensatildeo de assimilaccedilatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica dos valores dominantes na sociabilidade capitalista se constitui uma

tendecircncia real Retomando as contribuiccedilotildees de Tonet(2004) a educaccedilatildeo sob a oacutetica

do capital tem a perspectiva de garantir condiccedilotildees para sua preservaccedilatildeo e natildeo

contribuir para o desenvolvimento pleno de todos os indiviacuteduos

Segundo o censo de 2007 das 2032 instituiccedilotildees privadas somente 87

consistem em universidades caracterizadas pela indissociabilidade entre ensino

pesquisa e extensatildeo os demais espaccedilos constituem-se em centros universitaacuterios

faculdades integradas faculdades escolas e institutos Entretanto desse reduzido

numero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas 96 satildeo universidades

88

Graacutefico 2Tipo de Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Privadas

1945 96

87 4

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP 2OO9

A partir dos dados do graacutefico de nordm2 assinalamos que a exploraccedilatildeo do

capital na educaccedilatildeo visa sobretudo o lucro imediato visto que de 96 das intuiccedilotildees

privadas natildeo satildeo universidade que requer investimentos em pesquisa e extensatildeo

Daiacute poderiacuteamos afirmar que o ensino se constitui o alvo prioritaacuterio das investidas do

capital na aacuterea da educaccedilatildeo Contudo cada vez mais eacute recorrente o desenvolvimento

de pesquisas nas universidades puacuteblicas sendo os seus resultados utilizados

diretamente pelos setores dominantes com objetivos de aumentar a competitividade e

rentabilidade de suas empresas demonstrando que os benefiacutecios adquiridos pelo

avanccedilo da ciecircncia satildeo socializados e usufruiacutedos de forma desigual pelos sujeitos

nesta forma de sociabilidade caracterizada pela divisatildeo de classes Para Castro(2008

p247)

A tendecircncia mundial de crescente privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo comeccedila gradualmente no Brasil a minar o caraacuteter puacuteblico das universidades federais e estaduais na medida em que os governos cortamou reduzem o repasse de verbas forccedilando-as a adotarem formas alternativas de captaccedilatildeo de recursos em parte articulada ao setor privado

89

Graacutefico 3

Instituiccedilotildees de Ensino Superior Puacuteblicas

15361

96 39

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP (2009)

Constatamos uma grande diferenccedila entre a quantidade de instituiccedilotildees

privadas e puacuteblicas como ficou evidenciado no graacutefico de nordm 1 Entretanto analisando

conjuntamente os dados dos graacuteficos 2 e 3 temos a conclusatildeo que apesar do grande

nuacutemero de instituiccedilotildees privadas as universidades estatildeo majoritariamente na aacuterea

puacuteblica levando-nos a ratificar a sua relevacircncia para o desenvolvimento do paiacutes

mediante a oferta de um ensino mais qualificado associando as esferas de pesquisa e

extensatildeo Desse modo a luta em favor da universidade puacuteblica no Brasil

historicamente protagonizada por estudantes se configura como uma defesa que

ultrapassa os proacuteprios limites e interesses institucionais

Menezes(2000) analisa que existe uma verdadeira intenccedilatildeo de se negar as

diferenccedilas entre as diversificadas instituiccedilotildees colocando-as todas no mesmo patamar

Essa falsa identidade conceitual potencializa a accedilatildeo daqueles que por motivaccedilotildees

econocircmicas eou poliacuteticas insistem na derrocada da universidade puacuteblica visto que

A equivocada identificaccedilatildeo entre universidade e ensino superior [] dificulta entre noacutes a compreensatildeo da dimensatildeo da questatildeo da universidade puacuteblica e de sua destruiccedilatildeo Para alguns a destruiccedilatildeo se restringe ao fim de determinados regimes funcionais para outros a preocupaccedilatildeo eacute a eliminaccedilatildeo da gratuidade do ensino superior por sua vez defendida por outros ainda para a completa liberaccedilatildeo de um mercado educacional bilionaacuterio (MENEZES 2000 p 10)

Nesses termos se verifica um pequeno nuacutemero de universidades em meio

agrave expressiva quantidade de outras instituiccedilotildees sobretudo no acircmbito privado

evidenciando que de modo abrangente as preocupaccedilotildees desse setor se voltam para

90

os lucros adquiridos com a venda do ensino pois de forma majoritaacuteria natildeo investem

no desenvolvimento de pesquisa e tampouco na materializaccedilatildeo de projetos de

extensatildeo Logo a confusatildeo intencionalmente promovida como foi destacado por

Menezes acaba por apresentar tais espaccedilos para a maioria da populaccedilatildeo com o

mesmo status e importacircncia das universidades quando na realidade desempenham

atividades e funcionalidades diferentes

Satildeo importantes as contribuiccedilotildees de Saviani (2005) relacionadas agrave

discussatildeo sobre o puacuteblico e privado como categorias de anaacutelise na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira O autor salienta alguns equiacutevocos que perpassam esse debate

como a defesa de manutenccedilatildeo da tutela educacional por parte do Estado pois

segundo ele eacute necessaacuterio libertaacute-la

Libertar a educaccedilatildeo da tutela estatal significa ratificar a concepccedilatildeo de

direcionamento de classe presente na atuaccedilatildeo do Estado cuja serventia contribui pra

preservaccedilatildeo do status quo entretanto como ressalta Saviani a retirada da tutela natildeo

Devia ser confundida com a liberaccedilatildeo do Estado dos encargos educacionais sobreonerando a populaccedilatildeo [] trata-se pois de inverter esta tendecircncia exigindo que o Estado assuma plenamente os encargos que garantam as melhores condiccedilotildees de funcionamentos da rede de escolas puacuteblicas E isto seraacute viaacutevel na medida em que as organizaccedilotildees populares exerccedilam severo controle sobre a educaccedilatildeo em geral e principalmente nas escolas mantidas pelo Estado (2005 p174)

A preocupaccedilatildeo do autor eacute significativa na perspectiva de que cada vez

mais o Estado controla a educaccedilatildeo no intuito de atender as necessidades do

mercado em detrimento dos interesses sociais da maioria da populaccedilatildeo explorada e

oprimida Vejamos a adoccedilatildeo do PROUNI representa a tendecircncia de reduzir

investimentos na esfera puacuteblica e o consequumlente fortalecimento da iniciativa privada

Mais do que isso garante a inserccedilatildeo de estudantes em instituiccedilotildees particulares

preocupadas majoritariamente com a obtenccedilatildeo de lucros e natildeo com a formaccedilatildeo

propriamente dita Reflitamos quantos estudantes deixam de frequumlentar as aulas nas

escolas privadas por falta de pagamentos A expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo

se processa por preocupaccedilotildees com o desenvolvimento espiritual da humanidade ou

majoritariamente por interesses rentaacuteveis

Nesse sentido eacute importante explicitar o pensamento de Sanfelice quando

o mesmo esclarece que

91

A escola estatal no necessariamente pblica quando tomamos o adjetivo pblico na forma de qualificao daquilo que pertence a um povo a uma coletividade que comum aberto a quaisquer pessoas que no tem carter secreto manifesto e transparente (2005 p179)

Nas condies ressaltadas pelo autor fica evidenciada mais uma vez a

impossibilidade de construo de uma rede educacional formal verdadeiramente

pblica nos marcos da sociedade capitalista pois a mesma apresenta como um dos

seus fundamentos a perpetuao das desigualdades e de interesses individuais e do

capital em detrimento das necessidades reais da populao Porm a escola pblica

contribui para atender em maior escala os anseios da coletividade nessa forma de

sociabilidade se levamos em considerao entre outras dimenses que a educao

dominada pelo setor privado visa especialmente formao de fora de trabalho

para o mercado secundarizando as verdadeiras necessidades humanas alm disso

transforma um direito em servio na procura excessiva por lucros Destarte podemos

perceber que a relao pblico-privado na esfera da educao perpassada por

intensas contradies que so vinculadas s relaes antagnicas que particularizam

o modelo societrio capitalista

Buff (2005) discorrendo sobre a relao pblico e privado na educao

afirma ser tal relao crivada por conflitos e dualidade A autora enfatiza ainda que a

esfera privada at a primeira metade do sculo passado se concentrou

especialmente no ensino mdio sendo defendido majoritariamente por

representantes da Igreja catlica j a partir dos anos 1980 verifica-se uma alterao

na relao dado que o protagonismo passa a ser assumido pelos denominados

ldquotubares do ensinordquo com prioridade para a educao superior Certamente essa

mudana no se efetiva por acaso pois esse redimensionamento est inserido nas

profundas modificaes vivenciadas pelo capital as quais atingem os diversos

complexos sociais

No mbito de efetivao de medidas para o ensino superior durante a

primeira gesto de Lula tivemos ainda em 2003 a institucionalizao do sistema de

cotas nas universidades pblicas destinada a estudantes oriundos de escolas

pblicas particularmente negros pardos e ndios Segundo estudo de Castro(2008)

atualmente este sistema implantado em 18 universidades brasileiras sendo alvo de

significativas discusses em que posicionamentos contrrios se apiam

principalmente na concepo de mrito alm de acreditarem que as reservas de

vagas pode corroborar com discriminao ao incentivar um ldquoracismo s avessasrdquo j os

defensores das cotas compreendem que elas so aes afirmativas que visam o

92

tratamento diferenciado para sujeitos historicamente alvo de preconceitos e que se

encontram em posiccedilatildeo desigual inclusive no que se refere agrave educaccedilatildeo em especial

no niacutevel universitaacuterio Levando-se em consideraccedilatildeo informaccedilotildees do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica(IBGE) as desigualdades entre brancos pretos e

pardos se manteve em 2004 Segundo dados divulgados pela Instituiccedilatildeo em 2006 no

que se refere ao analfabetismo funcional no paiacutes 18 dos(as) brancos(as) tinham

menos de quatro anos completos de estudos enquanto que na populaccedilatildeo de cor

preta e parda esse percentual ultrapassou os 3039 Outros dados revelam essa

desigualdade

em relaccedilatildeo a adequaccedilatildeo seacuterie-idade considerando os jovens de 18 a 24 anos verificou-se que 11 dos de cor branca e 27 dos de cor preta e parda ainda frequumlentavam o ensino fundamental enquanto 35 dos brancos e 51 dos pretos e pardos estavam no ensino meacutedio Nessa mesma faixa etaacuteria 47 dos estudantes de cor branca estavam no ensino superior um proporccedilatildeo quase trecircs vezes superior aacute dos estudantes de cor preta e parda(IBGE p10 2006)

Os nuacutemeros socializados pelo IBGE ratificam a necessidade de poliacuteticas

afirmativas para a populaccedilatildeo afro do Brasil tais como o proacuteprio sistema de cotas jaacute

implementado em 18 instituiccedilotildees de ensino superior mecanismo que contribui para o

arrefecimento dessas desigualdades tatildeo visiacuteveis e gritantes na realidade brasileira

Importante registrar que a ENESSO tem uma postura poliacutetica favoraacutevel ao sistema de

cotas tal como consta nas deliberaccedilotildees aprovadas no decorrer do periacuteodo aqui

investigado as quais seratildeo analisadas no proacuteximo capiacutetulo

Outra medida situada no campo de mudanccedilas do ensino superior consiste

a aprovaccedilatildeo por parte do MEC da abertura sem controle de cursos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia com o objetivo primordial de elevar o nuacutemero de estudantes no ensino

superior todavia secundarizando a qualidade e o direito a educaccedilatildeo

O aceleramento da poliacutetica privatista mediante utilizaccedilatildeo do ensino a

distancia eacute garantido legalmente no artigo 80 da LDB o qual estabelece que esse

meio seja incentivado pelo poder puacuteblico em todos os niacuteveis educacionais

Posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nordm 2494 de 10 de fevereiro de 1998 e

pela portaria nordm 301 de 07 de abril do mesmo ano Entretanto foi com o Decreto nordm

5622 de 19 de dezembro de 2005 que a modalidade agrave distacircncia se expandiu de

modo exacerbado por todo o paiacutes

39 Esses dados foram socializados na Siacutentese dos Indicadores Sociais elaborado pelo IBGE em 2005 e disponibilizados no site da instituiccedilatildeo wwwibgegovbr

93

A expanso de cursos distncia no governo Lula estava prevista nas

propostas do grupo de trabalho interministerial ainda no ano de 2003 na qual a

equipe de trabalho discorre sobre a crise das universidades federais e a necessidade

de elevar o nmero de estudantes na educao superior Siqueira esclarece que a

elevao se daria a partir ldquodo aumento da carga horria dos professores em sala de

aula o aumento da relao aluno-professor e o uso da educao distnciardquo (2004

p63) Para Lima importante destacar

Desde o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso a educao a distncia tem sido utilizada com mais uma estratgia de privatizao das universidades pblicas ldquomaquiadasrdquo com o discurso da democratizao do acesso a esse nvel de ensino (LIMA 2004 p41)

Alm disso interessante frisar que o ensino distncia em sintonia com

as mudanas no mundo do trabalho principalmente com o desenvolvimento da esfera

tecnolgica informacional potencializa o processo de substituio de trabalho vivo por

morto visto que o mtodo virtual secundariza eou at mesmo dispensa o(a)

professor(a) na sala de aula ou seja contraditoriamente ao mesmo tempo em que

coloca mais profissionais no cenrio competitivo entre os quais professores(as)

contribui para a elevao de desemprego pois a prioridade no com o ensino mas

com a rentabilidade adquirida pela utilizao da modalidade distncia

Nesse sentido temos o discernimento e convico terico-poltica que a

expanso sem nenhum controle de cursos de graduao distncia constitui mais

uma medida governamental que possibilita em larga medida o aprofundamento sem

precedentes na histria do Brasil da mercantilizao da educao em especial do

nvel superior Esse processo se materializa a partir da venda direta do ensino nas

instituies privadas ou mediante a utilizao da modalidade nas instituies pblicas

com o objetivo central de atender as requisies mercantis

Conforme dados socializados pelo secretrio de Educao a Distncia

Carlos Bielschowsky em abril de 2009 existia no Brasil 109 instituies que ofertam

cursos de graduao distncia sendo que oito40 delas so responsveis pelo total

de 416320 alunos o correspondente a um percentual de 547 dos(as) estudantes

matriculados(as) nessa modalidade

40 As instituies so Universidade do Norte do Paran (Unopar) a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) o Centro Universitrio Leonardo da Vinci (Uniasselvi) de Santa Catarina e a Faculdade Educacional da Lapa (Fael) do Paran Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) do Rio Grande do Sul a Faculdade de Tecnologia e Cincias (FTC) da Bahia a Universidade Castelo Branco (UCB) do Rio de Janeiro e a Universidade Cidade de So Paulo (Unicid)

94

Ainda segundo informaes publicizados no site do MEC desde o inicio

de 2009 se processa uma superviso nessas instituies com o objetivo de garantir a

qualidade e os direitos dos(as) estudantes Os resultados parciais da fiscalizao

apontam irregularidades nos espaos de atendimento presencial aos discentes que se

expressam na ausncia de coordenadores(as) na falta de laboratrios de informtica

e de bibliotecas requisitos bsicos para oferta do ensino As constatao das

irregularidades resultar de inicio na desativao de 1337 plos vinculados A Unitins

e a Fael que associadas ao Sistema Eadcon detm 1494 plos de oferta de ensino a

distncia dos quais 1278 sero desativados conforme informao do MEC visto

que a Eadcon no est credenciada pelo Ministrio a oferecer cursos de graduao

nessa modalidade estando autorizada a atuar somente na oferta de especializao

Alm disso A Uniasselvi tambm ter 60 de seus 93 plos desativados entretanto

ela ldquopromove reestruturao em comum acordo com o MEC e vai reformular o

processo de avaliao alm de aprimorar a infra-estrutura dos plos

remanescentesrdquo(MEC 2009)

Diante dessa realidade observamos que a preocupao do MEC com a

qualidade do ensino oferecido pela modalidade distncia se verifica depois da

abertura desenfreada de cursos de graduao em todo o pas processo que teve

incentivo e aval do prprio ministrio

Outra medida pertencente a ldquocontra-reformardquo o Sistema Nacional de

Avaliao do Ensino Superior(SINAES) o qual constitudo de trs eixos avaliao

dos cursos das instituies e o Exame Nacional de Desempenho dos estudantes

(ENADE) Apesar de incorporar elementos importantes no processo avaliativo desde

a sua implantao o mesmo tem privilegiado especialmente o resultado do ENADE

Este pautado numa perspectiva punitiva e de ranqueamento assim os(as)

estudantes selecionados(as) para realizar a prova e que porventura no

comparecerem na data estabelecida so impedidos(as) de receber o diploma alm

disso a divulgao de notas obtidas pelos cursos levando-se em considerao

somente o ENADE acaba culpabilizando o segmento estudantil pela realidade da

universidade pblica na atualidade sem uma devida anlise econmica social

histrica poltica e cultural O ranqueamento construdo a partir da avaliao gera

uma classificao entre as instituies boa e de m qualidade que incide

diretamente na distribuio de verbas o curioso o fato daquelas cujos resultados

no so satisfatrios para os analistas serem penalizadas mediante reduo de

investimentos podendo at mesmo ser descredenciadas

Para Mello(2007) a avaliao pode ser consubstanciada em trs

perspectivas diferentes porm no excludentes so elas avaliao como instrumento

95

de praacutetica gerencial em que satildeo considerados prioritariamente metas a serem

alcanccediladas avaliaccedilatildeo como controle social cuja preocupaccedilatildeo se remete a elaboraccedilatildeo

de objetivos preservando-se a autonomia institucional e finalmente a avaliaccedilatildeo como

possibilidade de regeneraccedilatildeo de autonomia poliacutetica e acadecircmica na qual a auto-

avaliaccedilatildeo possa proporcionar a incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees de naturezas diversas

como projetos para instituiccedilatildeo estrateacutegias de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos Entretanto segundo apreensatildeo do autor eacute fundamentado na primeira

abordagem que as avaliaccedilotildees vecircm se concretizando nos espaccedilos acadecircmicos pois

[] as decisotildees de cunho eminentemente poliacutetico aparecem como uma questatildeo meramente gerencial que exige uma resposta imediata e inadiaacutevel do oacutergatildeo gestor Os problemas relativos ao ensino superior tanto com relaccedilatildeo agrave administraccedilatildeo quanto com relaccedilatildeo agraves questotildees de produccedilatildeo e veiculaccedilatildeo de conhecimento natildeo satildeo reconhecidos como determinaccedilotildees das formaccedilotildees sociais mas satildeo interpretados como decisotildees que tecircm que ser tomadas para resolver problemas e garantir a aplicaccedilatildeo dos recursos (MELLO 2007 p16)

A tendecircncia punitiva do ENADE se verifica na Lei nordm 10861 de 24 de

abril de 2004 que no seu inciso 5ordm do artigo 5ordm estabelece o exame como

componente curricular obrigatoacuterio para os cursos de graduaccedilatildeo O inciso 10ordm do

mesmo artigo explicita o reducionismo dessa avaliaccedilatildeo pois destaca a concessatildeo de

bolsas e outras formas de estiacutemulos a estudantes que obtiverem melhores

desempenhos Como analisar o rendimento acadecircmico de um(a) estudante

considerando somente o resultado da prova

O ANDES(1996) defende a realizaccedilatildeo de processos avaliativos que

englobem elementos internos e externos No primeiro caso requisita-se a

participaccedilatildeo democraacutetica de todos os segmentos acadecircmicos estudantes docentes e

teacutecnico-administrativos no segundo exige-se o envolvimento da comunidade na qual

a instituiccedilatildeo estaacute inserida com o intuito de a sociedade analisar e contribuir com o

desenvolvimento da funccedilatildeo social da instituiccedilatildeo

Aleacutem das accedilotildees jaacute assinaladas faz-se necessaacuterio evidenciarmos uma

das mais atuais que eacute o REUNI este vislumbra melhorar o rendimento dos atuais

recursos fiacutesicos e humanos das universidades federais sendo as principais metas

elevar a taxa de diplomaccedilatildeo dos cursos para 90 e aumentar para dezoito a relaccedilatildeo

aluno-professor

O preocupante nesta proposta como abordam Martinez e Tonegutti

(2007) eacute a natildeo contextualizaccedilatildeo das metas citadas com a dinacircmica vivenciada nas

instituiccedilotildees de ensino superior federais Nesses termos algumas das problemaacuteticas

96

salientadas pelos autores so como elevar o nvel de diplomao sem considerar a

situao econmica e social dos(as) estudantes brasileiros(as) como atingir a meta

estabelecida no tocante a relao professor-aluno em uma conjuntura de sobrecarga

vivida no cotidiano pela grande maioria dos(as) docentes Outras questes

significativas para serem refletidas so referentes prpria flexibilidade41 dos cursos

e alm disso por se tratar de um plano de governo como garantir a liberao de

verbas no decorrer da futura gesto presidencial pois as linhas traadas pelo

REUNI apresentam como horizonte o ano de 2012 Como observamos muitos so

os limites para a universidade pblica trazidas por mais uma ao integrante da

contra-reforma do ensino superior brasileiro

Para Boschetti(2008) o REUNI foi institudo nas universidades visando

atender as requisies do FMI que estabeleceu a meta de inserir 30 da populao

brasileira na faixa etria de 18-24 anos nesse nvel da educao Diante do exposto

fica evidenciado o direcionamento do Governo Lula em operacionalizar as

recomendaes daqueles que defendem os interesses do capital e desconsideram a

qualidade na formao profissional em prol da lucratividade

A anlise do ANDES sobre o REUNI ratifica o posicionamento de situar

essa ao como mais uma medida que expressa a perspectiva do atual governo de

ampliar o acesso na educao superior sem a devida elevao de recursos para

manuteno dessa expanso42 Desse modo as repercusses so no sentido de

ldquoprecarizao do trabalho docente e a transformao paulatina de universidade em

instituies com um ensino cada vez mais superficialrdquo (ANDES 2007 p08)

Diante dos primeiros passos no processo de institucionalizao do REUNI

nas Universidades Federais notria a aberturas de concursos sobretudo para

docentes e dessa maneira no podemos desconsiderar a importncia dessa ao

num contexto de intensa sobrecarga vivenciada por professores(as) nas instituies

pblicas sendo pois resultante de lutas do movimento da educao no Brasil e

especificamente no nvel superior dos segmentos universitrios organizados

Entretanto somente a abertura de concursos no suficiente para termos uma anlise

mais consistente do programa pois no nos permite apreendermos se os cursos

abertos nos mbito do REUNI garantem uma formao profissional com qualidade e

41 Flexibilidade no sentido que o plano se fundamenta nos processos flexibilizados de redefinio do ensino superior implantado nos EUA e tambm influenciado pelo modelo de bacharelado de Bolonha ldquoeste em virtude das necessidades decorrentes da comunidade europia o que se objetiva compatibilizar a formao profissional entre os vrios pases pela adequao do desenho curricular que varia bastante de pas para pasrdquo Cf Martinez e Tonegutti (2007)42O Plano Nacional de Educao estabelece a destinao de 10 do PIB para educao contudo o total empregado corresponde ao percentual de apenas 35Cf (ANDES 2007)

97

no caso do Servio Social tendo como pressuposto as Diretrizes Curriculares

elaboradas pelo ABEPSS

Durante a provao do REUNI pelos Conselhos Universitrios das

universidades federais no final de 2007 tivemos segundo dados da CONLUTE pelo

menos quinze reitorias ocupadas pelo ME porm as ocupaes e reivindicaes no

foram suficientes pois o Plano de Reestruturao foi aprovado em plenitude pelas

IFES Embora no tendo sucesso quanto ao objetivo de impedir a implementao de

tal proposta podemos afirmar que as atividades executadas pelo segmento estudantil

evidenciam o fortalecimento das mobilizaes do ME em nvel nacional

Em abril de 2009 socializada mais uma proposta do MEC para o ensino

superior que prev a adoo do Exame Nacional do Ensino Mdio(ENEM) como

principal mecanismo de acesso as instituies federais Documento elaborado e

disponibilizado pelo MEC esclarece que os resultados do ENEM sero utilizados de

duas maneiras

A primeira mediante simples informao pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira-Inep IES dos boletins de resultados dos candidatos que tiverem realizado o novo ENEM adotado como prova de seleo com base em Edital prprio publicado pela IES facultando-se sua utilizao como fase nica ou primeira fase do processo seletivo A segunda forma de utilizao do novo ENEM consiste na adeso ao Sistema de Seleo Unificada sistema informatizado do Ministrio da Educao apto a processar oregistro das vagas especificamente oferecidas pelas IES (ldquovagas ENEMrdquo) em confronto com as listas ordenadas de candidatos em ordem decrescente por curso segundo a pontuao no Exame O pressuposto da adeso ao Sistema de Seleo Unificado autilizao do novo ENEM como fase nica sem prejuzo de eventual realizao de exame de aptido para reas especficas (desde que esse se d em tempo compatvel com da primeira e segunda chamadas do Sistema de Seleo Unificado) (MEC 2009)

O fim do vestibular sempre esteve presente como bandeira de luta do

movimento por educao pblica no Brasil incluindo aqui o segmento estudantil

organizado O propsito de utilizao do ENEM como mecanismo de entrada nas

universidades no garante a efetiva democratizao do ensino superior visto que o

acesso continuar sendo determinando por outro processo seletivo que no mais o

vestibular Por se tratar de uma medida ainda incipiente no nos permite a realizao

de uma anlise mais consiste desse processo entretanto analisando esta medida no

campo da contradio temos a concepo que ela no resultar em ganhos

expressivos para os segmentos pauperizados se no for acompanhada de uma efetiva

98

ampliaccedilatildeo de vagas nas universidades federais e de melhorias consideraacuteveis nos

niacuteveis fundamental e meacutedio de ensino

4-3 REMANDO CONTRA MAREacute a formaccedilatildeo profissional do(a) assistente social no

acircmbito da contra-reforma do ensino superior

A contra-reforma do ensino superior orientada pelas concepccedilotildees

neoliberais efetivada na era FHC e com continuidade nas gestotildees de Lula traz

implicaccedilotildees substanciais para materializaccedilatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional

dos(as) assistentes sociais Projeto resultante da reformulaccedilatildeo curricular no iniacutecio da

deacutecada de 1990 em que a qualidade da formaccedilatildeo profissional consistia ao mesmo

tempo em objetivo e desafio para categoria

Assim sendo de 1994 a 1996 a entatildeo Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino

de Serviccedilo Social(ABESS) promoveu conjuntamente com o Centro de Documentaccedilatildeo

e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social(CEDEPSS) e com expressivo apoio

do CFESS e da ENESSO em torno de duzentas oficinas locais em unidade filiadas a

ABESS aleacutem de vinte e cinco oficinas regionais e duas nacionais

Essa ampla discussatildeo foi imprescindiacutevel para construccedilatildeo da Proposta

Nacional de Diretrizes Curriculares para o curso de Serviccedilo Social cuja aprovaccedilatildeo

ocorreu em assembleacuteia geral durante a II Oficina Nacional de Formaccedilatildeo Profissional

nos dias 07 e 08 de novembro de 1996 na cidade do Rio de Janeiro

Os pressupostos que nortearam a perspectiva de formaccedilatildeo profissional

presentes na referida proposta se expressam no entendimento de que o Serviccedilo

Social consiste em uma profissatildeo que se particulariza no acircmbito de intervenccedilatildeo da

questatildeo social esta portanto se configura como fundamento basilar de sua existecircncia

na sociabilidade regida pelo capital e que na deacutecada de 1990 a relaccedilatildeo capital-

trabalho apresenta uma tendecircncia de agravamento no contexto brasileiro diante das

particularidades da reestruturaccedilatildeo produtiva no contexto nacional fato que atinge a

profissatildeo nos acircmbitos da formaccedilatildeo e da intervenccedilatildeo dessa maneira tem-se a

apreensatildeo de que o Serviccedilo Social como parte integrante de um processo trabalho eacute

determinado estrutural e conjunturalmente pelas configuraccedilotildees da questatildeo social e

das consequumlentes formas de seu enfretamento

99

Portanto a institucionalizaccedilatildeo do Serviccedilo Social como profissatildeo constitui

um desdobramento da intensificaccedilatildeo das contradiccedilotildees inerentes ao modelo societaacuterio

capitalista de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Nesses termos as Diretrizes Curriculares enfatizam que os(as) assistentes

sociais tecircm nas diversas expressotildees da questatildeo social a mateacuteria essencial que

proporciona a inserccedilatildeo de tais profissionais em processos de trabalho

Temos a compreensatildeo de ser a questatildeo social fruto das desigualdades

geradas pelo antagonismo entre capital x trabalho Nessa sociabilidade auto-rotulada

de livre os capitalistas se apresentam no mercado competitivo como proprietaacuterios

dos meios-de-produccedilatildeo e os trabalhadores donos somente da sua forccedila de trabalho

Portanto relaccedilotildees opostas e desiguais com repercussotildees nefastas para a humanidade

e que se expressam na opressatildeo e domiacutenio de classes Consubstanciado no

pensamento marxiano Tonet ratifica

O capital cujas personas satildeo os burgueses eacute uma relaccedilatildeo essencialmente contraditoacuteria A apropriaccedilatildeo da riqueza socialmente produzida por um nuacutemero de pessoas que deste modo hegemonizam em seu benefiacutecio todo o processo social eacute inseparaacutevel de sua existecircncia (TONET 2004 p 14)

Eacute no seio desse profundo antagonismo que o (a) assistente social eacute

requisitado a trabalhar e nesse sentido os projetos de formaccedilatildeo profissional

consistem em instrumentos importantes na constituiccedilatildeo de um perfil profissional que

pode vislumbrar uma atuaccedilatildeo para manutenccedilatildeo dos privileacutegios sustentadores do

capital como antagonicamente podem ser construiacutedos ratificando um processo

formativo criacutetico no intuito de formar profissionais identificados com o

desenvolvimento de accedilotildees direcionadas para negaccedilatildeo e contestaccedilatildeo da ordem

estabelecida sendo esta uacuteltima a perspectiva ratificada nas Diretrizes Curriculares

para o curso de Serviccedilo Social em vigecircncia desde 1996 Como retrata Iamamoto

(2006) o traccedilo poliacutetico do trabalho do(a) assistente social reside no fato de que ele se

materializa numa sociabilidade na qual se encontram

Presentes interesses sociais distintos e antagocircnicos que se refratam no terreno institucional definindo forccedilas sociopoliacuteticas em luta para construir hegemonias definir consensos de classe e estabelecer formas de controle social a elas vinculadas (IAMAMOTO 2006 p 98)

Certamente o projeto de formaccedilatildeo profissional forjado pela categoria nas

uacuteltimas deacutecadas hegemonizado em torno da intenccedilatildeo de ruptura e que se expressa

100

por exemplo no Coacutedigo de Eacutetica de 1993 na Lei 86621993 que trata da

Regulamentaccedilatildeo da profissatildeo e as Diretrizes Curriculares de 1996 encontra-se em

sintonia com um processo formativo de qualidade e comprometido com a luta por

direitos bem como com a compreensatildeo de serem os usuaacuterios dos serviccedilos sociais

sujeitos construtores da histoacuteria Portanto uma perspectiva de formaccedilatildeo profissional

criacutetica e que requisita uma apreensatildeo da realidade com suas multifacetadas

contradiccedilotildees no intuito de materializar accedilotildees nos marcos do projeto eacutetico-poliacutetico

profissional hoje hegemocircnico no acircmbito do serviccedilo Social brasileiro

Nesse sentido a preocupaccedilatildeo com a qualidade na formaccedilatildeo profissional

se manifesta integralmente em toda proposta e de forma preponderante nos

princiacutepios que regem as Diretrizes Curriculares que satildeo a flexibilidade de

organizaccedilatildeo dos curriacuteculos plenos o que por sua vez favorece a apreensatildeo de

problemaacuteticas locais mediante a oferta de oficinas seminaacuterios temaacuteticos e atividades

complementares a tendecircncia de assegurar rigoroso trata teoacuterico histoacuterico e

metodoloacutegico da realidade bem como do Serviccedilo Social inserido nela

potencializando dessa forma uma intervenccedilatildeo qualificada dos(as) profissionais nos

processos de trabalho adoccedilatildeo de uma teoria social criacutetica com o intuito de

proporcionar a apreensatildeo dos fenocircmenos em sua totalidade histoacuterica a busca de

superaccedilatildeo da fragmentaccedilatildeo de conteuacutedos na organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo curricular o

estabelecimento das dimensotildees investigativa e interventiva o que corrobora para o

fortalecimento da relaccedilatildeo teoria e realidade defesa de qualidade para cursos diurnos

e noturnos tendecircncia de proporcionar interdisciplinaridade nas diversos acircmbito que

compotildeem a formaccedilatildeo profissional indissociabilidade entre ensino pesquisa e

extensatildeo o exerciacutecio do pluralismo que consiste em dimensatildeo inerente ao acircmbito

acadecircmico estabelecimento da eacutetica como principio fundamental e que perpassa toda

a formaccedilatildeo profissional a necessaacuteria indissociabilidade entre supervisatildeo de campo e

acadecircmica durante a realizaccedilatildeo do estaacutegio como forma de contribuir com a qualidade

no processo de aprendizagem dos sujeitos em formaccedilatildeo

Discorrendo sobre a formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais Iamamoto

(2006) enfatiza a necessidade na contemporaneidade de fortalecimento articulado

das esferas teoacuterico-metodoloacutegico eacutetico-poliacutetico e teacutecnico-operativo como

indispensaacuteveis para uma formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional criacutetica e capaz de apreender

o movimento contraditoacuterio da realidade capitalista compreendendo os limites e

possibilidades nela existentes no intento de que os(as) profissionais atuem em

conformidade com a legislaccedilatildeo profissional vigente o que significa o cumprimento e

fortalecimento do estabelecido na lei 866219993 e no Coacutedigo de Eacutetica tambeacutem de

1993 A ressalva realizada pela autora ratifica o perfil de assistentes sociais projetado

101

no decorrer da elaborao aprovao e implantao das Diretrizes Curriculares cuja

dimenso destaca a necessidade de

Um profissional que atua nas expresses da questo social formulando e implementando propostas para o seu enfretamento por meios de polticas sociais pblicas empresariais de organizaes da sociedade civil e movimentos sociais Profissional dotado de uma formao intelectual e cultural generalista crtica competente em sua rea de desempenho com capacidade de insero criativa e propositiva no conjunto das relaes e no mercado de trabalho Profissional comprometido com os valores norteadores do Cdigo de tica do Assistente Social (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL 1999)

Fundado nessa proposio a lgica curricular aprovada pela categoria em

1996 apresenta trs ncleos de fundamentao que se sustentam na perspectiva de

articulao de conhecimentos que possibilite a construo de um projeto assentado

na complexidade e dinamicidade do real e comprometido com a qualidade na

formao dos(as) assistente sociais No ncleo de fundamentos terico-metodolgicos

da vida social a principal preocupao direcionada para a compreenso do ser no

mbito da sociabilidade capitalista sendo o trabalho aprendido como o ato fundante

no processo de produo e reproduo social J o ncleo de fundamentos da

formao scio-histrica da sociedade brasileira tem o objetivo essencial de

aprofundar os conhecimentos relacionados formao brasileira considerando suas

determinaes econmicas sociais polticas e culturais o que implica a necessidade

de anlise da relao ldquoestadosociedade os projetos polticos em debate as polticas

sociais as classes sociais e suas representaes culturais os movimentos

organizados da sociedade civil entre outros aspectosrdquo (IAMAMOTO 2006 p 72) O

ncleo de fundamentos do trabalho profissional tem a proposio de discutir os

fundamentos do Servio Social em que este entendido como uma profisso

constituda no mago da diviso social e tcnica do trabalho Importante registrar que

os trs ncleos no foram elaborados de maneira hierrquica mas partindo da

concepo que se trata de conhecimentos articulados e necessrios a construo de

um perfil profissional crtico de postura interventiva e investigativa43

43Nesses termos as matrias consideradas bsicas para o curso de Servio Social fundamentadas nos ncleos da vida social da formao da sociedade brasileira e do trabalho profissional tendo o discernimento que essas matrias requisitam a abordagem de contedos que proporcionem uma devida capacitao terico-metodolgica e tico-poltica objetivando apreenso e interveno crtica na realidadeso Sociologia Cincia poltica Economia Poltica Psicologia Antropologia Formao scio-histrico do Brasil Direito Poltica Social Acumulao Capitalista e Desigualdades Sociais Fundamentos Histricos e Terico-metodolgicos do Servio Social Processo de Trabalho do Servio Social Administrao e Planejamento em Servio Social Pesquisa em Servio Social e tica Profissional Alm das atividades consideradas indispensveis Estgio Supervisionado e o Trabalho de Concluso de

102

Em 2006 Aps dez anos de aprovao a ABEPSS realizou pesquisa de

cunho avaliativo sobre a materializao das Diretrizes Curriculares esta contou com a

participao de estudantes de Servio Social de todo pas e de diferentes unidades de

ensino a anlise processada pela entidade evidencia o acelerado processo de

privatizao da educao e que por conseguinte atinge os espaos de formao

profissional do(a) assistente social

Nesse sentido o debate sobre a contra-reforma do ensino superior

relevante para o Servio Social por se tratar do lcus privilegiado da formao

profissional e que vem sendo duramente atacado pela verso neoliberal do capital

Nesse sentido segundo as contribuies de PINTO (2007 p16)

A formao decorrente da contra-reforma da educao no nos serve por ser uma formao que nos faz questionar a capacidade do aluno adquirir as habilidades necessrias para atender na ponta os usurios de uma instituio Os componentes ticos necessrios diante da agudizao da questo social e o desenvolvimento de habilidades para investigar a realidade social e conhecer a populao atendida para melhor traar as linhas e projetos de interveno alm da capacidade de reconhecer o trabalho do assistente social como parte da engrenagem da sociedade capitalista e no como uma prtica que ganha sentido por si mesma na imediaticidade de sua ao sero forte e profundamente inviabilizados pela contra-reforma da educao de interesse do capital

As preocupaes levantadas pela autora so significativas e se

consubstanciam na defesa de um perfil de formao profissional baseado nos

princpios defendidos pela ABEPSS e j ressaltados anteriormente s para

exemplificar destacamos o ldquoestabelecimento das dimenses investigativa e

interpretativa como princpios formativos e condio central da formao profissional e

da relao teoria e realidade indissociabilidade das dimenses de ensino pesquisa e

extensordquo (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL

1999)

Destarte a concretizao de tais princpios em instituies de ensino

presenciais j se constitui uma realidade problemtica decorrente das condies de

trabalho e aprendizagem que so disponibilizadas e em se tratando de graduao

distncia se tornam ainda mais problemticas pela prpria lgica de funcionalidade e

padres organizativos de tal modalidade o que coloca em xeque o projeto de

Curso Entretanto todos os tpicos referentes a todas as matrias elencadas anteriormente foram simplesmente suprimidos pela Comisso Nacional de Educao(CNE)

103

formaccedilatildeo construiacutedo nas ultimas deacutecadas pelos (as) assistentes sociais

brasileiros(as)

Desse modo a proliferaccedilatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social agrave

distacircncia jaacute eacute uma realidade em todo o paiacutes Nessas circunstacircncias as entidades

representativas da profissatildeo (ABEPSS CFESS E ENESSO) de maneira articulada

tecircm elaborado e executado estrateacutegias diante dessa situaccedilatildeo no intuito de defender o

atual projeto de formaccedilatildeo profissional construiacutedo no decorrer das uacuteltimas deacutecadas de

forma coletiva pela categoria e que se baseia numa perspectiva criacutetica de anaacutelise e

atuaccedilatildeo social Para Braz(2007) essa massificaccedilatildeo no acesso ao ensino superior da

forma como tem se materializado repercute em termos quantitativo e qualitativo na

formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) visto que em aproximadamente

dez anos o nuacutemero de profissionais ativos dobraraacute44 aleacutem da duvidosa qualidade na

formaccedilatildeo a distacircncia dessa maneira rebatimentos negativos pode se verificar

No acircmbito do exerciacutecio profissional que quando desqualificado vulnerabiliza a imagem da profissatildeo no sentido de sua desvalorizaccedilatildeo na sociedade aleacutem de pressionar para baixo as jaacute desfavoraacuteveis condiccedilotildees de trabalho [ainda] uma formaccedilatildeo profissional pouco qualificada tende a dificultar a formaccedilatildeo de novos quadros teoacutericos e poliacuteticos para o projeto profissional(BRAZ 2007 09)

Preocupaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees da difusatildeo de graduaccedilatildeo agrave distacircncia

para o projeto profissional do Serviccedilo Social tem se tornando imprescindiacutevel e

recorrente nos espaccedilos de discussatildeo da categoria que se expressa tanto no acircmbito

dos foacuteruns profissionais e estudantis como no campo da produccedilatildeo teoacuterica

Essa tendecircncia se verifica em larga medida pelo fato de que a poliacutetica

educacional na recente conjuntura nacional tem amplamente se adequado ao projeto

neoliberal privatizante como se manifesta na proliferaccedilatildeo da graduaccedilatildeo agrave distacircncia

Esta coloca em risco a formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do

Serviccedilo Social que conforme elucidativa explanaccedilatildeo de Boschetti natildeo oferece uma

formaccedilatildeo caracterizada pela

Indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo processo formativo baacutesico com perspectiva de totalidade e apreensatildeo criacutetica da realidade ensino do trabalho [] em vaacuterios momentos do processo formativo em vaacuterias disciplinas realizaccedilatildeo de estaacutegio presencial com articulaccedilatildeo estreita entre o acompanhamento do supervisor acadecircmico e de campo realizaccedilatildeo de pesquisa e investigaccedilatildeo como princiacutepio formativo que deve perpassa todo o curriacuteculo acesso aacute bibliografia de qualidade natildeo apenas a textos

44 Baseado em dados do CFESS o autor afirma que existem atualmente no Brasil um total de 74500 profissionais ativos

104

baacutesicos de sala de aula mas ao universo de possibilidades de leitura e conhecimento que se descortina no acesso as bibliotecas((2008 p09)

O entendimento das preocupaccedilotildees de Braz e Boschetti se torna

transparente quando se apreende as contradiccedilotildees de classe que fundam e

perpassam a atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social na sociabilidade capitalista

Boschetti (2007 2008) como assinalado anteriormente ao formular

reflexotildees sobre os rebatimentos da contra-reforma para a formaccedilatildeo e exerciacutecio

profissionais sinaliza preocupaccedilotildees relacionadas ao ensino agrave distacircncia tais como

ausecircncia de uma poliacutetica de estaacutegio sintonizada com as Diretrizes Curriculares

problemas de infra-estrutura falta de encontros presencias entre outros elementos

levantados pela autora e que satildeo fundamentais para uma formaccedilatildeo de qualidade

A recente pesquisa da ABEPSS indica que as principais dificuldades na

implementaccedilatildeo das Diretrizes por parte das unidades de ensino satildeo as de ordem

teoacuterico-metodologico que se remetem a transversalidade dos conteuacutedos o domiacutenio do

conteuacutedo do ementaacuterio e entendimento da nova loacutegica curricular A partir dos dados

obtidos a entidade indica desafios enfrentados na materializaccedilatildeo das diretrizes quais

sejam

garantia do tratamento transversal da questatildeo social nas disciplinas de FHTMSS garantia de unidade entre histoacuteria teoria e meacutetodo na grade curricular domiacutenio de categorias fundamentais das diferentes matrizes teoacutericas que subsidiam a praacutetica profissional apreensatildeo de categorias pertencentes ao quadro referencial de Marx e tradiccedilatildeo marxista aprofundamento do conhecimento histoacuterico do contexto social econocircmico e poliacutetico brasileiro por parte de docentes e discentes garantia da transversalidade de processos investigativos e interventivos na formaccedilatildeo profissional articulados aos componentes curriculares compreensatildeo histoacuterica da profissatildeo respaldada em uma concepccedilatildeo criacutetico-dialeacutetica (ABEPSS 2008 188)

Outra dado que nos chama a atenccedilatildeo eacute o fato da sobrecarga vivenciada

pelos docentes de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas ter sido apontada como uma real

dificuldade na implantaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares situaccedilatildeo que revela a tendecircncia

de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho no acircmbito universitaacuterio A insuficiecircncia de

recursos tambeacutem eacute indicada como uma barreira enfrentada no cotidiano das

instituiccedilotildees

Portanto eacute relevante (re)afirmar que a contra-reforma nos moldes como

vem sendo materializado no paiacutes contribui incisivamente para enfraquecer a

proposta de processo formativo comprometido com a construccedilatildeo de um perfil

105

profissional interpretativo crtico e investigativo perspectiva defendida e expressa nas

Diretrizes Curriculares de 1996

importante esclarecer que em 2002 ainda no governo FHC

modificaes legais foram aprovadas nas Diretrizes Curriculares para o curso de

Servio Social que retiram ganhos da proposta original elaborada pela ABEPSS Foi

instituda como uma das competncias e habilidades gerais para o(a) assistente

social a utilizao de recursos da informtica no que a utilizao de recursos

tecnolgicos no seja importante para o exerccio profissional mas a tendncia

verificada com esta medida de direcionar a formao para o vis tecnicista em

detrimento da capacitao terico-metodolgica e tico-poltica visto que se

processou o no estabelecimento do texto legitimado pela categoria uma vez que o

contedo original no estabelecia a necessidade da utilizao de recursos da

informtica preconizava o compromisso do(a) assistente social com os valores e

princpios norteadores do cdigo de tica outras regresses so abordadas por

Iamamoto(2002 p22)

Assim no projeto original encaminhado ao CNE que a formao profissional deve viabilizar uma capacitao terico-metodologico e tico-poltica como requisito fundamental para o exerccio de atividades tcnico-operativas com vistas apreenso crtica dos processos sociais na sua totalidade anlise do movimento histrico da realidade brasileira apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no pas Tais objetivos supra destacados foram eliminados do texto legal E os tpicos de estudos foram totalmente banidos do texto oficial para todas as especialidades Eles consubstanciavam o detalhamento dos contedos curriculares anunciados nos trs ncleos de fundamentao[] esse corte significa na prtica a impossibilidade de se garantir um contedo bsico comum formao profissional no pas mais alm dos trs ncleos organizadores da estrutura curricular O contedo da formao passa a ser submetido livre iniciativa das unidades de ensino pblicas e privadas desde que preservados os referidos ncleos

Para a ABEPSS(2008) as modificaes realizadas pelo CNE ldquotendem a

reducionismos terico-metodolgicos e desvios tico-polticos da formao

Profissionalrdquo(p05) O que por sua vez pode implicar na construo de cursos

destoantes da direo social defendida pelas diretrizes de 1996

Pereira(2007) ao discorrer sobre a mercantilizao do ensino superior na

era FHC evidencia dados importantes que expressam a crescente ofensiva do capital

nesse setor Especificamente em relao ao Servio Social a autora destaca que de

1930 a 1994 existiam 74 cursos sendo 47 privados e 27 pblicos evidenciado que

mesmo numa conjuntura no neoliberal a formao de assistentes sociais se dava

106

predominantemente em instituiccedilotildees privadas setor que abrangia aproximadamente

64 dos cursos no Brasil relaccedilatildeo expressa no graacutefico 4

Graacutefico 4

Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-1994)

Fonte Pereira (2007)

Durante as duas gestotildees de FHC(1995- 2002) foram criados 49 novos

cursos de Serviccedilo Social destes somente cinco em instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas o que demonstra o compromisso desse governo com o setor privado

conforme demonstraccedilatildeo abaixo

O relatoacuterio final da pesquisa da ABEPSS sugere que no periacuteodo de 1980

e 1994 houve uma reduccedilatildeo na criaccedilatildeo de cursos de Serviccedilo Social no paiacutes realidade

alterada na segunda metade da deacutecada de 1990 na qual se verificou uma expansatildeo

significativa de cursos inseridos sobretudo na iniciativa privada

107

Graacutefico 5 Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1995-2002)

Fonte Pereira(2007)

Os dados do graacutefico 5 indicam uma forte tendecircncia de crescimento de

cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1995-2002 uma expansatildeo sobretudo da

esfera privada responsaacutevel por praticamente 90 dos cursos criados Diante do

exposto se sustenta a concepccedilatildeo que FHC disponibilizou amplamente o ensino

superior para rentabilidade do capital No quadro1 temos um demonstrativo da

distribuiccedilatildeo dos cursos em relaccedilatildeo agrave natureza das instituiccedilotildees antes e durante a era

FHC na presidecircncia da repuacuteblica

A reduzida quantidade de cursos em instituiccedilotildees puacuteblicas eacute preocupante

tanto pelo niacutetido processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira como pela

questionada qualidade do ensino ofertado na maioria das instituiccedilotildees privadas Como

abordado anteriormente a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo formatada pela categoria subjaz

um processo qualificado com vistas ao exerciacutecio profissional sintonizado com o

desafiante projeto profissional que nos remete ao desvendamento das contradiccedilotildees

dessa sociabilidade o que por sua vez potencializa a apreensatildeo dos limites e

possibilidade existente no cotidiano de atuaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais

108

Quadro 1Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-2002)

Fonte Pereira (2007)

Partindo de dados apresentados por Pereira(2007) temos a conclusatildeo de

que ateacute o iniacutecio do governo Lula existiam no paiacutes 123 cursos de Serviccedilo Social num

total de 91 em instituiccedilotildees privadas e 32 cursos puacuteblicos Pois bem conforme os

dados do INEP em agosto de 2008 existem no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social

Daiacute conclui-se que soacute em parte desse periacuteodo de Lula na presidecircncia da repuacuteblica

foram criados 179 novos cursos e desses temos o alarmante nuacutemero de 169 na

iniciativa privada e a reduzida quantidade de 19 cursos na esfera puacuteblica

Demonstramos essa relaccedilatildeo nos graacuteficos 6

Graacutefico 6

Criaccedilatildeo de Cursos de Serviccedilo Social (2003 - agosto de 2008)

FonteINEP(2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

Total 91 74 32 26 123

109

Daiacute temos o percentual de 6375 de cursos privados e de 3725

puacuteblicos embora seja um percentual menor que o observado na era FHC o graacutefico 6

propotildee que eacute real a tendecircncia de continuidade da poliacutetica educacional do governo

Lula em relaccedilatildeo ao seu antecessor Isso significa a permanecircncia majoritaacuteria de cursos

de Serviccedilo Social na esfera privada No graacutefico 2 disponibilizado no item anterior

desse trabalho destacamos que a maioria das intuiccedilotildees privadas natildeo satildeo

universidades o que nos remete a reflexatildeo que parte significativa da formaccedilatildeo de

assistentes sociais natildeo se processa em universidade portanto em ambientes

caracterizados pela dissociaccedilatildeo entre ensino pesquisa e extensatildeo contrariando o

projeto de formaccedilatildeo pautado pela ABEPSS e defendido pelo CFESS e a ENESSO

Quadro 2

Cursos de Serviccedilo Social (1930-2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

2003-82008 160 6375 19 3725 179

Total 251 8394 51 1606 302

FONTE Pereira (2007) INEP(2008)

O quadro 2 apresenta uma siacutentese dos dados trabalhados ateacute o momento

e a partir dele constatamos que nos trecircs periacuteodos destacados eacute predominante a

existecircncia de cursos de Serviccedilo Social na esfera privada Levando-nos a refletir que

mesmo diante dessa realidade a categoria com ampla influencia dos profissionais que

atuam na academia foi protagonista na formulaccedilatildeo de um projeto profissional

indubitavelmente defensor de direitos estes que soacute podem ser materializados na

esfera puacuteblica caso contraacuterio perdem esse caraacuteter

110

Os dados expressam certamente o aumento consideraacutevel do ensino

superior no paiacutes entretanto natildeo se trata de democratizaccedilatildeo desse niacutevel educacional

antes se constitui um processo de massificaccedilatildeo voltado ao atendimento das

exigecircncias dos organismos que representam os interesses do capital Portanto a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute com a qualidade nem tampouco com a democratizaccedilatildeo do

conhecimento produzido como eacute possiacutevel de se observar a partir do crescimento

consideraacutevel da iniciativa privada Outra faceta revelada pelos dados eacute a tendecircncia

de continuidade por parte do governo Lula da poliacutetica educacional efetivada durante as

gestotildees de FHC de incentivos a sua mercantilizaccedilatildeo transfigurando direito em

mercadoria rentaacutevel Expressa sem duacutevidas o acelerado processo de criaccedilatildeo de

cursos de Serviccedilo Social no Brasil nos uacuteltimos anos e especialmente na esfera

privada o que certamente constitui implicaccedilotildees dos incentivos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia visto que parte significativa desta modalidade eacute ofertada no acircmbito privado

Do nosso ponto de vista reflexotildees que tenham como horizonte a atuaccedilatildeo

do ME e em particular o MESS devem considerar as profundas modificaccedilotildees em

processo de materializaccedilatildeo nos espaccedilos de formaccedilatildeo profissional entretanto natildeo de

maneira endoacutegena pois o entendimento dessas alteraccedilotildees soacute pode ser apreendido

situando-as no movimento mais abrangente da sociabilidade capitalista

111

ldquoA revoluo acontece atravs do homem mas o homem tem de forjar dia a dia o seu esprito revolucionriordquo (Che Guevara)

ldquoAlgo s impossvel at que algum duvide e acabe provando ao

contrriordquo (Albert Einstein)

A argila fundamental de nossa obra a juventude Nela depositamos todas as nossas esperanas e a preparamos para receber idias para moldar nosso

futuro (Che Guevara)

112

V UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

Analisamos o perfil dos(as) militantes que estiveram na direo nacional da

ENESSO no perodo de 2003-2008 com o objetivo de construmos mediaes

relacionadas dimenso geracional o que implica consideraes relativas a aspectos

sociais polticos econmicos e culturais desses(as) sujeitos45 Para elaborao do

perfil utilizamos informaes concedidas por 22 coordenadores(as) nacionais que

responderam o questionrio durante a produo de dados para esta pesquisa

Conforme o quadro 3 expressivo a presena de pessoas na faixa de 26

a 30 anos na direo da entidade com o percentual de 41 contudo os dados

sugerem que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO se situam na faixa

etria de 21 a 25 anos correspondendo a 50 Os nmeros ratificam que o MESS

consiste num movimento social composto sobretudo pela juventude brasileira que

enfrenta um contexto radicalizado por crises e instabilidades que geram incertezas no

presente e futuro Um cenrio no qual a concluso do curso universitrio no consiste

em garantia de entrada dos(as) jovens no mercado de trabalho com condies dignas

para desempenhar as atividades profissionais Vivenciamos um perodo de

radicalizao da crise do capital em que o desemprego se configura como uma de

suas manifestaes mais drstica e perversa para aqueles(as) que necessitam vender

sua fora de trabalho para sobreviver Assim deixado a margem do mercado formal

milhes de trabalhadores(as) antes empregados(as) o que por sua vez ocasiona

incertezas e desespero nas pessoas em processo de formao profissional e que

objetivam a sua insero na esfera formal do mercado de trabalho Segundo dados

socializados por Iamamoto no Brasil

O ndice dos empregados sem carteira assinada passa de 211 em 1995 para 242 do total de ocupados em 2003 somando os empregados sem carteira assinada e os trabalhadores por conta prpria a participao desses segmentos no total da ocupao eleva-se para 455 no mesmo ano perfazendo o contingente da populao economicamente ativa que se encontra na informalidade(2008 p37)

45 Como j ressaltado na introduo desse trabalho os dados concernentes ao perfil dos(as) dirigentes foram obtidos mediante o envio de questionrio para os sujeitos inseridos(as) no universo da pesquisa

113

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Faixa etaacuteria Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

15 a 20 1 4521 a 25 11 5026 a 30 9 41

Acima de 30 1 45Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Ramos(1996) na pesquisa efetivada sobre o MESS construiu o perfil

dos(as) dirigentes da SESSUNEENESSO nos anos de 1988 a 1995 Naquele

periacuteodo os(as) jovens na faixa etaacuteria de 21 a 25 anos tambeacutem predominavam na

direccedilatildeo da entidade com o percentual de 666 Essa autora analisa que o

protagonismo de jovens nessa entidade estudantil evidencia preocupaccedilotildees desse

segmento com as problemaacuteticas sociais e poliacuteticas do Brasil

No tocante a dimensatildeo de gecircnero a maioria dos(as) coordenadores(as)

que ocuparam a direccedilatildeo nacional da ENESSO satildeo do sexo feminino Baseando-nos

na quantidade de questionaacuterios respondidos 15 informaram ser do sexo feminino e 7

do masculino de tal forma que temos o percentual de 68 de mulheres e 32 de

homens

Esse percentual reflete o fato do Serviccedilo Social ser uma profissatildeo

constituiacuteda predominantemente por mulheres o que repercute certamente na

ocupaccedilatildeo das entidades que a representa Para Iamamoto

Uma categoria profissional predominantemente feminina uma profissatildeo tradicionalmente de mulheres e para mulheres A condiccedilatildeo feminina eacute um dos selos da identidade desse profissional o que natildeo implica desconhecer o contingente masculino de assistentes sociais com representaccedilatildeo nitidamente majoritaacuteria no conjunto da categoria profissional no paiacutes Com tal perfil o assistente social absorve tanto a imagem social da mulher quanto as discriminaccedilotildees a ela imposta no mercado de trabalho (p104 2006)

Essas discriminaccedilotildees satildeo apreendidas tambeacutem no acircmbito da poliacutetica Da

atuaccedilatildeo nos MS e aqui em particular no MESS Como eacute possiacutevel verificarmos essa

condiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo A nossa pesquisa natildeo tem o propoacutesito de responder a tais

questionamentos mas certamente essas satildeo inquietaccedilotildees que surgem com a

produccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo dos dados

114

A partir de documentos produzidos pela coordenao nacional da

entidade nos quais constam a relao de seus(suas) dirigentes foi possvel chegar

totalidade dessa relao Conforme esse levantamento dos(as) 35 Coordenadores(as)

que abrange o recorte temporal da pesquisa temos um total de 24( vinte e quatro)

mulheres e 11(onze) homens o equivalente a 69 e 31 respectivamente

No tocante a questo tnico-racial do total de dirigentes que responderam

o questionrio 9 afirmaram ser afro-brasileiros(as) 4 pardos(as) e 9 brancos(as)

dados demonstrados no grfico 7

Grfico 7Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de 2003-

2008

41

41

18

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

De tal modo somando-se a quantidade de afro-brasileiros(as) e

pardos(as) temos uma sobreposio em relao aos(as) militantes brancos(as)

Analisando as opes de resposta em separado verificamos que o percentual sugere

que a quantidade de estudantes afros e brancos(as) igualitria na direo da

ENESSO Aparentemente pode se pensar que os nmeros disponibilizados no

grfico 7 contrariam a realidade de opresso e discriminao pela qual passa a

populao afro-brasileira no pas e que certamente dificultam a sua entrada no ensino

superior Conforme Castro (2008 p248)

A partir das lutas dos movimentos tnicos afro-brasileiros a discriminao racial no Brasil camuflada sob o manto da dita ldquodemocracia racialrdquo comea a ser reconhecida Os debates em torno da desigualdade racial vm contribuindo para alertar a sociedade

115

sobre a necessidade das poliacuteticas afirmativas cujo objetivo eacute igualar a oportunidade atraveacutes de mecanismos reparadores de discriminaccedilatildeo e desigualdade social de raccedila de gecircnero de idade e de origem

Diante do exposto analisamos que os dados provenientes do questionaacuterio

podem representar o direcionamento de que os(as) estudantes de Serviccedilo Social

pertencem cada vez mais a segmentos oprimidos nesta sociabilidade o que requer

reflexotildees sobre a condiccedilatildeo de permanecircncia dos(as) estudantes no ensino superior e o

aprofundamento das complexas relaccedilotildees entre inserccedilatildeo de classe social educaccedilatildeo e

questatildeo eacutetnico-racial

O quadro 4 trata da religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO Aqui eacute

necessaacuterio fazermos uma observaccedilatildeo quanto agraves opccedilotildees colocadas no questionaacuterio

Inicialmente apoacutes recebimento dos dados consideramos um equiacutevoco a natildeo

colocaccedilatildeo da opccedilatildeo nenhuma religiatildeo no intuito de corrigimos o erro citado

reenviamos outro email para as pessoas que natildeo responderam a esta questatildeo e para

os(as) que indicaram a opccedilatildeo outra religiatildeo ainda assim apreendemos que o

percentual de 32correspondente a escolha de outra religiatildeo possa refletir esse

equivoco visto que nem todos(as) responderam ao segundo email que indagava

somente sobre a problemaacutetica da religiatildeo Mesmo diante dessa dificuldade a

obtenccedilatildeo dos dados nos possibilita sinalizar que no tocante a religiatildeo os(as) ex-

militantes da ENESSO tem uma postura de negaccedilatildeo das religiotildees dominantes como o

catolicismo e o protestantismo tendecircncia que se vislumbra nos percentuais de 14 e

4 respectivamente A questatildeo da religiatildeo eacute importante dada a apreensatildeo que

direcionamentos sobretudo da igreja catoacutelica e de igrejas situadas no campo do

protestantismo se contrapotildeem aos princiacutepios norteadores da profissatildeo

QUADRO 4Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Religiatildeo Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Catoacutelica 4 18

Espiacuterita 2 9

Nenhuma 5 23

Natildeo respondeu 3 14

Outra 7 32

Protestante 1 4

Umbanda 0 0

116

Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

A sexta questatildeo do questionaacuterio indagava em que tipo de instituiccedilatildeo os

ex-militantes da ENESSO realizaram o ensino meacutedio se predominantemente em

escola puacuteblica ou privada Mediante os dados obtidos 15 afirmaram ter estudado em

escolas puacuteblicas que se concretiza no percentual de 68 e em escolas particulares

representando um total de 32

Esses dados diferem um pouco dos nuacutemeros obtidos por Ramos(1996)

quando os mesmos sinalizaram que existia equiliacutebrio na natureza das instituiccedilotildees de

ensino nas quais foram realizado o ensino meacutedio dos(as) dirigentes da ENESSO do

periacuteodo de 1988-1995 Essa mudanccedila pode refletir mais uma vez a tendecircncia de

origem subalternizada de estudantes de Serviccedilo Social no paiacutes em que eles(as) natildeo

deteacutem condiccedilotildees de financiar seus estudos em escolas privadas nem tecirc-las mantidas

por seus familiares

Em contrapartida os dados sugerem o esforccedilo desses(as) estudantes em

ingressar no ensino superior apresentando uma trajetoacuteria de estudos na esfera

puacuteblica esta que enfrenta dificuldades na cena contemporacircnea de ordem objetiva e

subjetiva como por exemplo a sobrecarga dos(as) professores(as) a necessidades

de maiores investimentos incentivos a capacitaccedilatildeo dos(as) profissionais entre outras

Essa relaccedilatildeo de sobreposiccedilatildeo do puacuteblico em relaccedilatildeo ao privado se

confirma tambeacutem quando perguntamos sobre a instituiccedilatildeo na qual foi realizada a

graduaccedilatildeo de acordo com a obtenccedilatildeo de dados dos(as) 22 coordenadores(as)

nacionais que responderam o questionaacuterio 14 satildeo oriundos(as) de cursos de

universidades puacuteblicas o que implica um percentual de 64 e 8 da esfera privada o

equivalente a 36

Diante dessas constataccedilotildees fazemos o seguinte questionamento Embora

com a sobreposiccedilatildeo de cursos privados de Serviccedilo Social e por conseguinte de

estudantes nesse setor por que na executiva temos uma ocupaccedilatildeo maior de

militantes originaacuterios(as) de universidades puacuteblicas Essa perspectiva foi salientada

por um(a) entrevistado(a) como uma das dificuldades enfrentadas durante a sua

gestatildeo na ENESSO

A gente inicia os anos 90 com a grande privatizaccedilatildeo do ensino superior e isso eu acho que eacute uma dificuldade do Movimento Estudantil [] Que eacute chegar ateacute as instituiccedilotildees privadas neacutefazer com que o movimento estudantil exista nesses espaccedilos seja pela repressatildeo que tem seja porque neacute Noacutes temos dificuldades enquanto militantes de estaacute presente em todos os espaccedilos(Urano)

117

Essa dificuldade de atuaccedilatildeo do MESS em particular da Executiva

tambeacutem foi por salientada por Neturno na passagem em que explicita o

desenvolvimento de atividades voltadas para o enfrentamento dessa problemaacutetica

Entatildeo a gente relanccedila um documento que jaacute tinha lanccedilado anteriormente eacute que eacute uma cartilha construa Ca e Da principalmente para priorizar a construccedilatildeo de centro acadecircmico de diretoacuterio acadecircmico dentro das universidades particulares porque eacute um local onde tem uma restriccedilatildeo maior de acesso aos movimentos sociais a entrada da executiva em algumas universidades eacute questionada eacute barrada haacute empecilho para construccedilatildeo de mobilizaccedilatildeo interna dentro das universidades particulares(NETURNO)

Consideramos que os dados publicizados e a fala dos(as)

entrevistados(as) refletem a existecircncia de maior autonomia e liberdade de organizaccedilatildeo

dos(as) estudantes nas universidades puacuteblicas mesmo tendo a apreensatildeo que

existem tentativas dos setores dominantes em criminalizar os MS nos mais

diversificados espaccedilos e incluindo aqui o ME temos o entendimento que essas

iniciativas satildeo mais frequumlentes e fortes no acircmbito de organizaccedilotildees na esfera privada o

que por sua vez proporciona uma fragilizaccedilatildeo da atuaccedilatildeo estudantil nesse setor

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute que mesmo diante da expansatildeo de cursos de

Serviccedilo Social em diferentes tipos de Instituiccedilotildees de Ensino como Faculdades

Isoladas Centros entre outras de 2003-2008 podemos afirmar que os(as) militantes

que assumiram a coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO estudavam majoritariamente

em universidades puacuteblicas ou privadas do total de 35 coordenadores(as) somente

dois(duas) estavam inseridos(as) em centros universitaacuterios correspondendo a um

percentual de 94 e 6 respectivamente O que reafirma a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

universitaacuterio no sentido poliacutetico e pedagoacutegico presencial da formaccedilatildeo profissional

caracterizado pelo confronto de ideacuteias da troca de conhecimento da existecircncia de

ensino mas tambeacutem de pesquisa e extensatildeo para possibilidade da formaccedilatildeo critica

dos(as) estudantes

Analisando a totalidade de dados mediante apreensatildeo em documentos

desses(as)35 coordenadores(as) que significa o total de estudantes que ocuparam os

cargos nacionais da entidade no periacuteodo delimitado pela pesquisa temos o resultado

de 19 dirigentes de universidades puacuteblicas o que representa um percentual de 54 e

16 advindos(as) de instituiccedilotildees privadas ou seja 46 Dessa forma podemos admitir

que os nuacutemeros obtidos a partir do questionaacuterio apontam o real pois a afirma a

tendecircncia de uma porcentagem maior de graduandos(as) de universidades puacuteblicas

118

Entretanto levando-se em consideraccedilatildeo o numero total de militantes e natildeo soacute

aqueles(as) que responderam o questionaacuterio a diferenccedila entre os(as) estudantes de

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas descresse Essa perspectiva se diferencia dos dados

sinalizados na pesquisa de Ramos quando ela apontou uma expressiva dominacircncia

de militantes de universidades puacuteblicas na direccedilatildeo nacional da entidade nos anos de

1988 a 1995

Eacute interessante enfatizar ainda que apesar de parte significativa dos(as)

militantes serem provenientes de instituiccedilotildees puacuteblicas a accedilatildeo da Executiva deve

considerar os diferentes espaccedilos em que se encontram os(as) estudantes de Serviccedilo

Social visto que como salientado no capitulo 4 desse trabalho existe uma forte

predominacircncia de cursos na aacuterea privada o que pode explicar inclusive a gradativa

participaccedilatildeo de estudantes de instituiccedilotildees privadas nas coordenaccedilotildees nacionais da

ENESSO

Outro aspecto considerado nessa investigaccedilatildeo se remete a inserccedilatildeo

desses sujeitos no mercado de trabalho Nesse sentido os dados sinalizam que 17

dirigentes ou 77 dos(as) entrevistados(as) desenvolviam alguma atividade

remunerada De tal forma reafirmamos que cada vez mais os(as) estudantes

brasileiros(as) satildeo trabalhadores(as) e sujeitos preocupados(as) com a garantia de

suas condiccedilotildees objetivas durante a graduaccedilatildeo o que representa uma reduccedilatildeo de

tempo para o desempenho das atividades e vivecircncias acadecircmicas Essa dimensatildeo

pode tambeacutem ser apreendida em uma das falas de nossos(a) entrevistados(a)

quando comentava sobre as dificuldades enfrentadas durante a gestatildeo em que

participou da ENESSO

a questatildeo financeira pesa muito a maioria dos estudantes de serviccedilo social satildeo oriundos da classe trabalhadora e temos dificuldades de participar dos espaccedilos de ir para congresso ir para encontros de estudantes []eu acho que existe hoje uma grande numero de encontros no serviccedilo social tanto do ME quanto da categoria entatildeo os estudantes acabam priorizando algum encontro que ele vai participar(Terra)

Quanto agraves formas de inserccedilatildeo no mercado de trabalho temos a indicaccedilatildeo

de que os(as) 17 militantes que responderam positivamente todos(as) realizavam

estaacutegio remunerado nos mais diversificados espaccedilos e na atuaccedilatildeo das poliacuteticas

119

sociais sendo que trecircs aleacutem do estaacutegio trabalhavam em outras instituiccedilotildees46 e um(a)

militante informou que desenvolvia atividades autocircnomas

Quanto a renda mensal da famiacutelia as opccedilotildees mais indicadas pelos ex-

militantes foi entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos o que equivale a aproximadamente mil e

setecentos reais47 seguida da opccedilatildeo entre 5 e 6 salaacuterios o que corresponde a pouco

mais de dois mil e quinhentos reais As trecircs primeiras opccedilotildees que vai de 1 a 6

salaacuterios englobou portanto 73 dos sujeitos Dessa maneira acreditamos que os

dados do Quadro 5 demonstram que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO

satildeo provenientes dos segmentos do trabalho

A partir do cruzamento dos dados obtidos sinalizamos que os(as) dois

(duas) sujeitos que informaram ter um renda mensal entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos o

que remete a menos de mil reais mensal correspondem a dirigentes que aleacutem do

estaacutegio desempenhavam outras atividades remuneradas O que reforccedila cada vez

mais a tendecircncia dos(as) estudantes principalmente os(as) oriundos da classe

trabalhadora mais pauperizada de ao chegar no ensino superior assumirem a

responsabilidade pela sua manutenccedilatildeo acadecircmica Por outro lado dos(as) cinco

militantes estudantis que natildeo tiveram nenhuma forma de inserccedilatildeo no mercado de

trabalho dois(duas) deles(as) tem uma renda mensal acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

expressando a condiccedilatildeo financeira de seus familiares na manutenccedilatildeo de sua vida

acadecircmica Entretanto eacute importante frisar que esses mesmos sujeitos estudaram o

ensino meacutedio em instituiccedilatildeo privada e o ensino superior em universidades puacuteblicas

QUADRO 5Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Renda mensal Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos

8 36

Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos

6 27

Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 9 e 10 salaacuterios-miacutenimos

1 5

46Alguns dos espaccedilos de realizaccedilatildeo dos estaacutegios foram Empresa de saneamento baacutesico SESC instituiccedilatildeo de defesa dos direitos da crianccedila e do adolescente prefeituras Ministeacuterio Puacuteblico secretarias de habitaccedilatildeo Central Permanente de Acolhimento entre outros As pessoas que trabalharam em outras atividades aleacutem do estagio foram ministrando aulas47 Valores considerando o salaacuterio de R$ 415 00 que esteve vigente no Brasil ateacute fevereiro de 2008

120

Acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

3 14

Total 22 Total 100

Outra questatildeo respondida pelos dirigentes da ENESSO correspondeu a

sua inserccedilatildeo ou natildeo em organizaccedilatildeo coletiva antes de ser militante do MESS

Conforme demonstraccedilatildeo no graacutefico 8 dos(as) 22 dirigentes que contribuiacuteram nessa

pesquisa 15 deles(as) asseveraram ter experiecircncia no acircmbito da organizaccedilatildeo

coletiva anterior a militacircncia no ME universitaacuterio o que por sua vez representa um

percentual de 68 destacando que seis dirigentes que responderam positivamente

elencaram participaccedilatildeo em mais de um espaccedilo de atuaccedilatildeo

GRAacuteFICO 8Participaccedilatildeo em organizaccedilatildeo coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO antes da

inserccedilatildeo no MESS

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

No quadro abaixo expressamos todos os espaccedilos citados pelos sujeitos

com a perspectiva de sinalizar as vivecircncias de organizaccedilatildeo dos(as) dirigentes da

ENESSO antes de sua accedilatildeo no MESS Assim temos indicaccedilotildees em que espaccedilos

ocorreram essa atuaccedilatildeo

121

QUADRO 6Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes de

sua inserccedilatildeo no MESS

Organizaccedilatildeo citada pelos dirigentes Nuacutemero de dirigentes que citaram a organizaccedilatildeo

Movimento Estudantil Secundarista 9Partido Poltico 3Movimento de Mulheres 1Movimento da Economia Solidria 1Grupo de Jovens da Igreja Catlica (juventude Catlica)

2

Grupo Hora da Verdade 1Movimento Comunitrio 2Grupo de Adolescentes do Centro de Voluntariado (vinculado ao Movimento de Adolescentes Brasileiros)

1

Terceiro Setor 1

Grupos 1

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

Dos dados citados no Quadro 6 apreendemos que a vivncia no

Movimento Estudantil Secundarista constitui um espao relevante na formao

poltica dos(as) dirigentes da ENESSO visto ter sido a experincia mais destacada

por eles(as) antes de sua insero na universidade e por conseguinte no MESS Dos

nove estudantes que indicaram a participao no Movimento Secundarista seis

provenientes de escolas pblicas e trs oriundos(as) de escolas privadas Nesse

sentido os dados podem indicar que o Movimento Estudantil Secundarista apresenta-

se mais atuante nas escolas pblicas

Conforme a investigao de Ramos(1996) independente da natureza da

instituio na qual os(as) dirigentes estudaram no ensino mdio eles(as) tiveram

vivncias no ME secundarista bem como em outros espaos de organizao coletiva

o que ldquo possibilita a busca de formas polticas de participao na universidaderdquo (p90)

interessante considerarmos a diversidade e natureza de espaos

ocupados(as) pelos dirigentes entretanto diante da simples citao desses no

temos condies de analisar a direo social das entidades e movimentos sociais em

que iniciaram sua participao

122

Antes de chegar a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO todos(as) ex-

dirigentes ou seja o equivalente a 100 dos(as) que responderam o questionaacuterio

passaram por experiecircncia em espaccedilos e entidades do ME universitaacuterio

O quadro 7 tem o objetivo de socializar em que entidades os(as)

estudantes atuaram antes da ENESSO

Quadro 7Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de assumirem

a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

Entidades estudantis Quantidades de estudantes que indicaram a entidade

Conselho de Representantes de Turma (CORETUR)

5

Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico (CA ou DA)

20

Diretoacuterio Central dos Estudantes (DCE)

4

Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO

3

Outras 1

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Importante explicar que dos(as) 2248 ex-dirigentes da ENESSO que

enviaram as suas contribuiccedilotildees 13 tiveram vivecircncia em um uacutenico espaccedilo

predominantemente em CA ou DA 7 em duas entidades49 250 militante com vivecircncia

em trecircs espaccedilos

Diante dos dados estabelecidos anteriormente temos a indicaccedilatildeo que a

passagem do(a) estudante pelo CA ou DA constitui-se uma tendecircncia majoritaacuteria

pois somente dois sujeitos natildeo atuaram nessa entidade antes da experiecircncia na

Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO Acreditamos que essa dimensatildeo representa uma

trajetoacuteria de acumulo e vivecircncias que possibilitam uma atuaccedilatildeo mais qualificada

dos(as) estudantes ao assumirem a direccedilatildeo nacional da executiva Para Ramos(1996

p94)

48 Desses 11 em CA ou DA 1 como CORETUR e outro(a) como membro do DCE 49 As entidades foram 2 de CA ou DA e do DCE 2 atuou no CORETUR e no CA ou DA 2 estudante ocupou cargo no CA ou DA e na Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e finalmente 1 estudante ocupou cargo no CA e em outra entidade citada por ele(a)50 Os espaccedilos foram CORETUR CA OU DA e Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e outro(a) no CORETUR CA OU DA e no DCE

123

A experiecircncia de participaccedilatildeo anterior em outras instacircncias deliberativas e estudantis de base possibilita maior maturidade poliacutetica ao(a) dirigente da entidade nacional pois este(a) jaacute traz um acuacutemulo de vivecircncias coletivas que vatildeo se afirmando cada vez mais no processo de militacircncia

Outro dado relevante eacute que dos(as) 20 estudantes que evidenciaram ter

atuado em CA ou DA 12 desempenharam essa accedilatildeo em universidades puacuteblicas o

equivalente a 60 e 8 em instituiccedilotildees privadas destarte 40

Outro questionamento se referiu agrave filiaccedilatildeo partidaacuteria dos(as) dirigentes da

ENESSO no periacuteodo de 2003-2008 Conforme os dados a predominacircncia eacute de

sujeitos natildeo filiados(as) a partidos poliacuteticos um total de 14 dirigentes o

correspondente ao percentual de 64 Esse expressivo percentual de natildeo filiados(as)

pode corroborar para um processo de fragilizaccedilatildeo na formaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

militantes do MESS e consequumlentemente dos(as) dirigentes da ENESSO Ou reflete

autonomia do Movimente em relaccedilatildeo a partidos poliacuteticos Temos o entendimento que

seja importante a articulaccedilatildeo entre esses sujeitos coletivos e que o partido poliacutetico se

configura como relevante espaccedilo de formaccedilatildeo contudo eacute destruidora a transfiguraccedilatildeo

de Movimentos em correia de transmissatildeo deles seja de partidos situados no campo

da direita ou esquerda Um(a) dos(as) entrevistados(as) considera que

essa relaccedilatildeo movimento estudantil e partido poliacutetico que natildeo soacute tem no movimento estudantil[]eacute importante essa relaccedilatildeo[] o MS ele tem por natureza apenas uma pauta ele surge pra defender uma pauta poliacutetica no caso do MESS pra defender a formaccedilatildeo em serviccedilo social com qualidade e aiacute entra o debate de defender a universidade e defender a educaccedilatildeo publica gratuita de qualidade entatildeo soacute essa dimensatildeo partidaacuteria essa dimensatildeo com esses grupos poliacuteticos faz com que a gente perceba que a nossa pauta tem que ta vinculada haacute uma pauta maior geral de disputa e de um projeto de sociedade entatildeo acho que eacute importante a contribuiccedilatildeo agora fica a gente a compreender que natildeo satildeo momentos tatildeo distintos mais que cada um desses movimentos tem suas peculiaridades Movimento Estudantil Movimento Sociais tem uma peculiaridade assim como o partido cada um tem que conseguir compreender a dinacircmica e da mesma forma que o partido influecircncia o Movimento Estudantil o Movimento Estudantil influecircncia o partido(Urano)

Mediante o cruzamento de dados temos a indicaccedilatildeo que apenas dois ex-

militantes socializaram ter experiecircncia nesse tipo de organizaccedilatildeo antes de sua

entrada no MESS e desse modo anterior a sua gestatildeo na executiva Portanto

mediante os a produccedilatildeo de dados temos que dos(as) 8 que indicaram filiaccedilatildeo

partidaacuteria o equivalente a 36 seis delas ocorreram durante a vivecircncia universitaacuteria

124

o que sinaliza uma trajetoacuteria de articulaccedilatildeo entre essas duas formas de organizaccedilatildeo

coletiva O que explica essa tendecircncia A preocupaccedilatildeo dos(as) militantes com a

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica A procura de outros espaccedilos de militacircncia depois da

vivencia acadecircmica dada a caracteriacutestica de transitoriedade do ME Essas satildeo

questotildees que soacute poderatildeo ser aprofundadas e entendidas com a realizaccedilatildeo de outras

pesquisas e investigaccedilotildees

Um dirigente que manifestou participaccedilatildeo em partido poliacutetico antes de sua

militacircncia no MESS declarou ter se desfilado anterior a vivecircncia universitaacuteria

Ainda eacute importante destacar a seguinte apreensatildeo dos(as) 8 que

responderam positivamente durante a ocupaccedilatildeo de cargo na executiva todos(as)

foram filiados(as) ao PT natildeo sendo nenhum outro partido elencado pelos(as)

dirigentes Essa tendecircncia provoca curiosidades e inquietaccedilotildees sobretudo no sentido

de entendermos o porquecirc de mesmo durante forte investidas de um governo na

perspectiva de minimizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica e de fortalecimento da iniciativa

privada termos esse direcionamento de filiaccedilatildeo ao partido que representa os

interesses governamentais por militantes do MESS e coordenadores nacionais da

ENESSO que historicamente luta em favor da defesa da universidade puacuteblica

gratuita laica e de qualidade no Brasil Ainda eacute significativo salientar o fato de um

dirigente ter afirmado que atualmente se desfilou do PT e passou a atuar no PSTU

Essa hegemonia de filiaccedilatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO ao PT

repercutiu na atuaccedilatildeo da entidade nos acircmbitos de defesa da universidade puacuteblica

gratuita presencial laica e de qualidade e da formaccedilatildeo profissional fundada nas

diretrizes curriculares de 1996 neste contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma do

ensino superior no governo do petista Lula A pesquisa documental e o

aprofundamento de anaacutelises das entrevistas com ex-dirigentes da ENESSO

materializado no proacuteximo item contribuiraacute com o entendimento dessas

problematizaccedilotildees

5-2 UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO

A ENESSO desenvolve suas accedilotildees considerando as deliberaccedilotildees51

aprovadas no encontro nacional no qual eacute manifestado o posicionamento a ser

desenvolvido pela executiva relativa a cinco eixos prioritaacuterios de atuaccedilatildeo Conjuntura

Cultura e Valores Formaccedilatildeo Profissional Movimento Estudantil e Universidade

Importante destacar que essas esferas satildeo divididas em termos didaacuteticos com vista a

51 Atualmente as deliberaccedilotildees satildeo cumulativas e satildeo modificadas quando da necessidade do segmento estudantil

125

facilitar as discusses e aprovaes das deliberaes durante o encontro contudo

so dimenses imbricadas entre si

Nessa dimenso trataremos de evidenciar a partir das decises ratificadas

nos ENESS que engloba o perodo de 2003-2008 bem como nos documentos

produzidos pela ENESSO e na fala dos(as) dirigentes entrevistados(as) o

direcionamento da executiva especialmente nos mbitos da universidade formao

profissional e ME

Dessa maneira o XXV ENESS que ocorreu entre 03 e 08 de agosto de

2003 na cidade de Salvador-BA 52 marcou a existncia de 15 anos da ENESSO As

aprovaes da plenria expressaram o posicionamento contrrio dos(as) estudantes

de Servio Social diante das primeiras medidas pertencentes a contra-reforma do

ensino superior efetivada na gesto do governo petista Nessa perspectiva conforme

o deliberado a ENESSO deveria explicitar o compromisso com uma tendncia de

avaliao contraposta ao SINAES bem como apresentar uma postura crtica e de

negao ao PROUNI o qual estava em processo de discusso e aprovao por parte

do governo A preocupao do segmento estudantil com um processo avaliativo

qualificado se manifesta ao defender a necessidade de

Uma ampla avaliao institucional que se realize antes da avaliao dirigida ao corpo discente considerando as especificidades regionais de cada escola bem como a implementao e aplicao das diretrizes curriculares da ABEPSS Que avalie tambm as condies de acesso e permanncia dos estudantes nas universidades e as condies didticas pedaggicas e estruturais(ENESSO 2003 p03)

As deliberaes referentes ao eixo da formao profissional expressam o

compromisso da ENESSO com a defesa das Diretrizes Curriculares como forma de

potencializar uma formao qualificada e o fortalecimento do projeto tico-poltico do

Servio Social Para tal a plenria presente no XXV ENESS destacou a necessidade

de articulao com as demais entidades de representao e organizao da profisso

a ABEPSS e o CFESS

No eixo que trata especificamente do ME se registra a aprovao de que a

UNE no tocante a contra-reforma do ensino superior no representa os(as)

estudantes de Servio Social entretanto estatutariamente a ENESSO continua

reconhecendo-a como a entidade mxima de articulao e organizao do segmento

no Brasil

52 O tema do ENESS foi ldquoo Servio Social em busca de uma construo coletiva na atual conjuntura brasileirardquo

126

Nitidamente essa contradio poltica em relao a UNE se tornou

recorrente sobretudo nos anos de gesto de Lula na presidncia da repblica uma

vez que a tendncia UJS majoritria na entidade e articulada ao PC do B tem uma

posio de aceitao da contra-reforma do ensino superior levando ao

descontentamento para a base do movimento e provocando at mesmo severos

divisionismos no mbito da organizao estudantil nacional realidade expressa por

exemplo na criao da CONLUTE em 2004

Desse modo a gesto 20032004 ldquoENESSO na luta para fazer a sua

prpria histriardquo estava diante de um significativo desafio desenvolver lutas que

contemplasse as deliberaes contrrias dos(as) estudantes em relao s medidas

adotadas para educao pela gesto Lula um governo forjado no campo dos MS e

que chegou a presidncia amplamente apoiado pelo ME incluindo o MESS Alm

disso como mostraram os dados relacionados ao perfil dos(as) dirigentes da

ENESSO substancial a existncia de coordenadores(as) da entidade filiado(a) ao

PT sendo que em todas as gestes que engloba o perodo aqui estudado se confirma

a presena de pelo menos um(a) militante com essa filiao partidria

Na carta de apresentao da nova gesto confirmado o compromisso

com a efetivao das deliberaes estabelecidas pelo coletivo de estudantes

presentes no ENESS de Salvador a partir do desenvolvimento de aes que

possibilitem o fortalecimento das trs entidades da profisso e a posio de atuar

articuladamente com MS e organizaes sindicais que expressam os interesses da

classe trabalhadora

A ENESSO no perodo 2003-2004 desenvolveu a campanha ldquoAbaixo a

mercantilizao do ensinordquo Esta se desenvolveu a partir da produo de cartazes

textos divulgados em boletins e jornais elaborados pela prpria entidade Nesses

documentos verificamos a argumentao de que a tendncia de transfigurar a

educao em mercadoria consiste num desrespeito ao reconhecimento da educao

como direito e da responsabilidade do Estado na sua promoo tal qual

estabelecido nos artigos 206 e 207 da Carta Constitucional de 1988

importante evidenciar que a segunda edio do jornal produzido na

gesto ldquoENESSO na luta pra fazer a sua prpria histriardquo aborda criticamente os

principais pontos da proposta da reforma universitria que seria viabilizada pelo

recente governo federal Nessa dimenso a anlise apreende o PROUNI como um

caminho que potencializa a retirada de responsabilidade do Estado na manuteno do

ensino superior e fortalece a iniciativa privada como ressaltado no seguinte

entendimento

127

Se o governo quer criar mais vagas no ensino privado( que somos contra) inaceitvel a renuncia fiscal pois dinheiro pblico no arrecadado financiando os tubares do ensino alm disso com ensino de m qualidade sem pesquisa e extenso porque o governo no cria um fundo financiado pelas instituies privadas para financiar a demanda de vagas (ENESSO p01 2004)

Outra manifestao contrria da entidade s medidas propostas pelo

governo federal para serem implementadas na educao superior consistiu na

negao da utilizao do ensino a distncia Nessa abordagem a ENESSO

considerou que segundo dados do IBGE apenas 4 da populao brasileira teriam

acesso ao servio de internet o jornal ainda chama ateno para o fato dessa

modalidade est vinculada a corporaes financeiras o que expressa a preocupao

com a rentabilidade e no com uma educao de qualidade e comprometida com a

melhoria de vida dos sujeitos histricos A entidade finaliza a anlise das proposies

do governo para educao superior afirmando que elas

no atendem aos interesses dos setores que defendem o ensino pblico gratuito e de qualidade Sendo assim apoiando-se em nossas deliberaes que tem como principio a defesa intransigente do carter pblico e gratuito da universidade no podemos aceitar os elementos que vem configurando a chamada reforma universitria que representa o aprofundamento da mercantilizao do ensino(ENESSO p2 2004)

No terceiro e ltimo boletim elaborado na gesto 2003-2004 os seus

dirigentes chamam ateno para as dificuldades enfrentadas pela entidade as

ressalvas so direcionadas sobretudo para falta de recursos financeiros que fragiliza

as aes da ENESSO ao limitar a ida dos(as) coordenadores ao encontros e fruns

estudantis impossibilita ainda a maior produo dos materiais utilizados no

desenvolvimento das atividades e execuo das campanhas lanadas o que por sua

vez significa a no apropriao de estudantes das discusses e das aes efetivadas

pela entidade que os representam nos mais variados espaos

Apesar das dificuldades os(as) dirigentes da ENESSO da gesto 2003-

2004 atribuem ao ME um espao de aprendizado e que contribui para construo de

sujeitos histricos e militantes mais qualificados com apreenso crtica da realidade

social

De 25 a 30 de julho de 200453 aconteceu em Vitria-ES o XXVI ENESS54

em que as pautas aprovadas pelo coletivo de estudantes ratificaram o mesmo

53 A chapa Viver na Luta foi a nica concorrente a direo nacional da ENESSO54 Encontro teve como tema ldquoParticipar construir a histria Atuar tornar sonho ao ousar revolucionar o mundordquo

128

posicionamento do encontro passado uma postura majoritria dos(as) estudantes de

Servio Social de recusar a contra-reforma do ensino superior em curso no Brasil As

deliberaes sinalizam que a nova gesto da ENESSO dever se contrapor ao

SINAES e por conseguinte ao exame direcionado ao segmento estudantil previsto

por esse processo avaliativo no caso o ENADE E nesse sentido tem-se a posio

de que a executiva seja contrria a participao da ABEPSS na comisso de avaliao

preconizada pelo MEC inicialmente essa deciso gera uma relao conflituosa das

entidades quando se aborda a problemtica do SINAES

O compromisso majoritrio do MESS com a universidade pblica se

verificou tambm na realizao do ato pblico durante o ENESS O ato teve o seguinte

tema ldquoEnsino pblico gratuito laico e de qualidade para todos Educao No

mercadoria contra essa proposta de reforma universitriardquo

Diante das observaes sobre as deliberaes decorrentes do XXVI

ENESS constatamos que a atuao da ENESSO no perodo de 20042005

apresentar uma continuidade em relao s lutas e atividades travadas

anteriormente especialmente nos mbitos da universidade e da formao

profissional Nesses termos ainda em 2004 a ENESSO age com o objetivo de

promover o boicote ao ENADE tarefa a ser cumprida pela entidade e que ficou

estabelecida no prprio encontro nacional assim a gesto ldquoViver na Lutardquo realizou

uma campanha nacional destacando a posio da entidade e a necessria postura

poltica de convocar os(as) estudantes de Servio Social a apoiar o boicote ao exame

Segundo dados da prpria ENESSO a campanha obteve xito e o

boicote no dia 07 de novembro de 2004 foi efetivado com sucesso em diversos

cursos chegando adeso de at 90 em algumas instituies de ensino superior

no geral o nmero correspondeu a 60 dos(as) estudantes de Servio Social

selecionados(as) para fazer a avaliao O jornal da entidade divulgado em janeiro de

2005 afirma que o movimento sofreu perseguies em diversas escolas por todo pas

Essa postura evidencia a freqente tendncia de criminalizao dos MS e que entre

outros rebatimentos gera uma imagem distorcida desses sujeitos coletivos frente

maioria da populao brasileira tendo a mdia um participao considervel nesse

mascaramento da contraditria e desigual realidade na sociabilidade capitalista e no

Brasil No mbito especifico do Servio Social Urano da gesto 20042005 indica

tensionamentos com a ABEPSS no processo de boicote ao ENADE o(a) dirigente

ressalva

mas a diretoria da abepss seguia isso a risca que era eles tinha um assento na comisso de avaliao e ns ramos contrrios a essa participao que a abepss defendia naquele momento que os

129

estudantes deveriam fazer o enade ento ns travamos essa discusso dentro da abepss assim como no cfess de levar essa discusso da reforma universitria para dentro dessas outras entidades trazendo elas para luta para pareceria e colocando o que de fato a reforma universitria trazia de implicaes para vida profissional n Para formao profissional ento a gente conseguiu fazer n no foi muito fcil fazer essa articulao porque a abepss tinha um posicionamento contrrio e a de 2004 em diante ficou mais fcil porque foi a gesto do nordeste a gesto da UFPE e um dos compromissos da gesto da UFPE no enpess de 2004 que aconteceu no Rio Grande do Sul era sair da comisso de avaliao do enade e ter um posicionamento critico em relao ao enade

Diante desses resultados fazemos as seguintes reflexes a campanha

desenvolvida expressou o potencial organizativo que a entidade apresenta nesse

cenrio de refluxo dos movimentos sociais A ao foi materializada articuladamente

com outras entidades estudantis E no mbito especfico do Servio Social teve o

apoio da categoria e de suas entidades representativas A avaliao feita pela prpria

entidade favorece a concretizao de algumas reflexes Temos o entendimento que o

ME assim como outros MS atravessa um momento de inflexo e dessa maneira o

boicote ao ENADE tambm sofreu as implicaes dessa conjuntura isso se

manifesta por exemplo no total de 40 de estudantes que no atenderam a postura

poltica de assumir o boicote Isso aconteceu por qu Pelo forte individualismo que

vigora na sociabilidade capitalista Tambm alm disso no mbito do prprio Servio

Social a ABEPSS esteve presente na comisso de elaborao da prova o que de

certa maneira por parte do segmento estudantil contribuiu para uma apreenso de

legitimidade daquela entidade em relao ao ENADE outro aspecto a ser

considerado consistiu nas dificuldades de ordem objetiva que limitou o potencial da

campanha ainda destacamos o fato de que na poca mais de 70 das escolas de

Servio Social se encontravam na esfera privada que majoritariamente utiliza os

resultados obtidos para divulgao de propagandas no competitivo mercado da

educao o que por sua vez dificultou a organizao e mobilizao do segmento

inserido nessas instituies de ensino superior tambm relevante ressaltar que

essa atividade no foi desenvolvida majoritariamente com outras entidades estudantis

e MS portanto executada de modo fragmentado no prprio mbito de organizao do

ME

Os dados sugerem que a gesto ldquoviver na Lutardquo 20042005 atuou tendo

como foco central de suas aes a discusso sobre as Diretrizes Curriculares A

principal campanha da gesto ldquocontra essa reforma do ensino superior do governo

Lula em defesa das nossas diretrizes curriculares- a ENESSO somos todos nsrdquo No

mesmo jornal que analisa os resultados do ENADE a gesto plubiciza de maneira

130

sucinta o processo que culminou na elaborao das referidas diretrizes Ainda tratou

de destacar os rebatimentos da lgica mercadolgica para a fragilizao da formao

profissional do(a) assistente social

Em abril de 2005 a entidade produziu um boletim sobre a reforma

universitria e a formao profissional no qual argumentava que as medidas de

destruio da universidade pblica no Brasil j estavam em curso desde a dcada de

1990 Nessa dimenso a ENESSO problematiza a no aprovao por parte do MEC

da proposta de currculo elaboradas pela ABEPSS e aprovada pela categoria em

novembro de 1996 Diante do exposto tem se a concluso que aes do governo

Lula como o PROUNI e o SINAESENADE consistem em um processo de concluso

da poltica privatista iniciada nos governos anteriores e sobretudo na era FHC

O texto ainda faz referncia crtica ao posicionamento de aceitao da

contra-reforma do ensino superior por parte da UNE Contudo a postura de rejeio

da ENESSO no significa a negao da importncia dessa entidade estudantil na

trajetria brasileira Utilizando tal argumentao gesto ldquoviver na Lutardquo evidencia

preocupaes com a criao da CONLUTE outra organizao de carter nacional e

com uma ao poltica antagnica a desenvolvida pela UNE especialmente no que se

refere atuao de Lula na presidncia da repblica

Em maio de 2005 a ENESSO mais uma vez socializa no seu jornal a

importncia da campanha em favor da formao pautada nas Diretrizes de 1996 A

entidade chama ateno para a poltica privatizante que predominou na educao

durante a vigncia do governo FHC e que teve continuidade na gesto de Lula Ainda

preocupada com a formao profissional o jornal retrata a relevncia do estgio como

importante instrumento no fortalecimento da relao teoria-realidade entretanto a

entidade considera que dificuldades limitam o desempenho dessa atividade de forma

mais qualificada assim sendo so ressaltadas a tendncia de reduzi-lo a mo-de-

obra barata a necessidade de um acompanhamento por parte dos profissionais e das

instituies de ensino mais efetivo com vistas a potencializar essa vivncia e

contribuir para o futuro exerccio profissional dos(as) estudantes Essa perspectiva de

travar o debate da contra-reforma do ensino superior a partir da discusso das

Diretrizes Curriculares constituiu uma estratgia poltica dos(as) dirigentes da

executiva

Nos documentos produzidos pela entidade no perodo de 2004-2005

embora o foco prioritrio seja o debate e a conseqente defesa das Diretrizes

Curriculares importante evidenciar que as anlises constantes nessas produes

so realizadas numa perspectiva de totalidade visto que observamos uma reflexo

131

remetida ao contexto scio-histrico vigente Essa dimenso se explicita na seguinte

constatao

No podemos entender a atual proposta de reforma do ensino superior como algo isolado mas como um processo que teve incio em 1996 com a LDB com a reforma do ensino superior de 1998 que esta faz parte da reforma do Estado do governo federal implementada na dcada de 1990 e que o atual governo d continuidade Tais medidas so orientadas por uma perspectiva neoliberal de reduo da esfera estatal e de fortalecimento das iniciativas privada no financiamento formulao e execuo das polticas pblicas[]e a educao como um espao especifico porm no exclusivo da formao ao se configurar como poltica pblica e direito do cidado sofre igualmente das orientaes privatistas que vivenciam as outras polticas pblicas(ENESSO P 04 2005)

Concordamos com a concepo que a poltica para educao adotada

durantes as duas gestes de Lula configura ao mesmo tempo continuidade e

aprofundamento da lgica predominante nos anos de 1990 entretanto no podemos

apreender essa tendncia como um fenmeno natural ou seja segui as orientaes

neoliberais consistiria no nico caminho possvel a ser trilhado pelo governo do petista

Lula

Essa propenso presente nas elaboraes e posicionamento da entidade

pode ser reflexo da ligao de alguns de seus dirigentes com o PT que embora

desenvolva uma atuao crtica em relao contra-reforma do ensino superior

procura justificar a postura adotada pelo governo Lula

Entre os dias 24 e 29 de julho de 2005 aconteceu o XXVII ENESS55 na

cidade de Recife-PE nesse encontro duas candidaturas concorreram a direo da

ENESSO ldquoA luta no pode Pararrdquo constituda por militantes do agrupamento Viver na

Luta e ldquochega de inrcia a Sada pela Esquerdardquo por militantes do grupo de mesmo

nome a primeira ganhou a disputa eleitoral

As resolues aprovadas no ltimo dia do encontro direcionaram a

ENESSO a dar prosseguimento trajetria crtica nos mbitos da universidade e da

formao profissional Nesses termos a direo contrria a contra-reforma se afirma

na negao das medidas j implantadas no campo da educao superior como o

PROUNI e o ENADE

No eixo da formao profissional salientada a importncia da articulao

das trs entidades representativas da profisso como estratgia poltica de defesa de

55 Este encontro apresentou como tema ldquomuitos para poucos poucos para muitos nada para outros o desafio para o Servio Social na luta pela consolidao de direitosrdquo

132

uma formao referendada nas Diretrizes Curriculares de 1996 Essa dimenso se

expressa no desenvolvimento conjunto de lutas e atividades Assim sendo em

dezembro de 2005 a ABEPSS a ENESSO e o CFESS lanaram manifesto no qual

publicizava a preocupao das entidades com abertura de cursos de Servio Social a

distncia entendendo que essa modalidade de ensino evidencia o crescente processo

de aligeiramento da formao profissional o que por sua vez fortalece a entrada de

profissionais na sociedade e no mercado sem a devida preparao para o exerccio

da profisso Segundo Terra da gesto 20052006 da direo nacional da ENESSO

na verdade esse tema reforma universitria que era o que nos angustivamos n E o que ns pautvamos na poca um ano de gesto foi questo da reforma universitriaagora o posicionamento da entidade ele t bastante claro construdo dentro das deliberaes que foram construdas coletivamente com os estudantes a partir dos posicionamentos que tem das tendncias polticas que impulsionam elas formulam discutem com os estudantes constroem as deliberaes e a entidade encampa esse processo

A nova diretoria da ENESSO ldquoA Luta No Pode Pararrdquo na carta de

apresentao definiu como foco central de sua atuao para o perodo de 20052006

o fortalecimento do ME Assim a sua principal bandeira foi ldquoENESSO defesa da

articulao e fortalecimento do Movimento Estudantilrdquo essa temtica esteve presente

nos principais documentos produzido pela entidade no decorrer da referida gesto

O jornal de maro de 2006 teve amplo espao destinado reflexo do

protagonismo da juventude brasileira nos rumos do pas nessa oportunidade

enfatizada a campanha ldquoo petrleo nossordquo desencadeada pela UNE nos anos de

1950 e da combativa atuao do segmento estudantil durante os anos de vigncia da

ditadura militar iniciada com o golpe de 1964 Na produo se sobressai anlise que

a conjuntura recente desfavorvel para organizao dos MS em particular no

MESS este contexto se fortalece com

o desmonte da educao pblica gratuita e de qualidade Consoante com isso tem crescido o nmero de escolas privadas e curso a distncia que dificultam a participao dos estudantes no movimento devido o perfil dos estudantes que so da classe trabalhadora (precisam trabalhar para manter os estudos) da falta de democracia nestas instituies( ENESSO p 01 2006)

Certamente a diversidade de instituies pblicas e privadas mais

recentemente a proliferao da modalidade distncia requer o desenvolvimento de

atividades e estratgias diferenciadas nesses espaos e que possa contribuir para o

133

processo de articulao e organizao do MESS e de sua atuao consubstanciada

na defesa da educao pblica56 e de uma formao qualificada

Essa produo ainda traz uma abordagem sobre a formao profissional

em que o centro da discusso constituiu o processo de avaliao a ser desenvolvido

pela ABEPSS sobre os 10 anos de aprovao e implementao das Diretrizes

Curriculares nas unidades de formao acadmica investigao destacada no quatro

trs dessa dissertao O texto realiza uma breve trajetria do Servio Social no qual

privilegiado o processo que culminou na constituio das diretrizes em 1996 Aps

esse resgate histrico a coordenao nacional da ENESSO juntamente com a

representao discente em ABEPSS orientam os CA a promoverem pelo menos um

seminrio sobre a referida pesquisa no intuito de pensar em estratgias que

possibilitem a participao de todos(as) nas discusses que resultar no

preenchimento do instrumental da pesquisa ratifica a importncia de uma

representao estudantil de cada unidade acadmica nas oficinas promovidas pela

abepss para discutir a investigao e ainda incentiva a ida de discentes ao ENPESS

de dezembro de 2006 para participarem e se apropriarem dos debates relacionados a

esse processo avaliativo O incentivo da ENESSO demonstra o seu compromisso

com os rumos do Servio Social e com as questes debatidas pelas outra entidade da

profisso

Entretanto importante problematizarmos que embora a gesto 20052006

tenha apresentado com eixo estruturante de sua atuao o fortalecimento do ME no

tivemos a realizao de medidas mais consistente pra esse fim com exemplo a

realizao de cursos de formao poltica que potencializaria uma qualificao para

os(s) militantes do MESS e dirigentes da ENESSO

De 24 a 29 de julho de 2006 aconteceu o XXVIII ENESS na cidade de

Palmas-To57 Mais uma vez duas candidaturas disputam a direo da executiva Uma

chapa com membros e apoiada pelo grupo Viver na Luta e outra com apoio de

militantes de agrupamentos de oposio como PDP A sada pela Esquerda e um

grupo em processo de criao o ldquoCara e Coraes Novosrdquo A primeira saiu vencedora

no pleito

56 Inserida na luta em favor da Universidade pblica no Brasil a ENESSO divulga em outubro de 2005 nota de apoios aos (as) estudantes da Universidade Federal de Alagoas que desencadearam um movimento de greve reivindicando pautas do ME e se colocando contrrios(as) a contra-reforma educacional de Lula 57 O ENESS de Palma teve como tema Um outro mundo possvel ldquopara ver meu sonho teimoso se realizarrdquo

134

Nesse encontro as deliberaccedilotildees sancionadas manifestam a postura de

recusa dos(as) estudantes de Serviccedilo Social com o niacutetido processo de mercantilizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo presente na poliacutetica educacional de Lula

Diante disso observa-se a necessidade de se travar o debate da contra-

reforma articuladamente com a discussatildeo sobre formaccedilatildeo profissional tendecircncia jaacute

apreendidas nas gestotildees passadas Essa estrateacutegia eacute preconizada como meio de

facilitar a compreensatildeo por parte dos(as) estudantes dos negativos rebatimentos das

medidas efetivadas para seu cotidiano nas instituiccedilotildees de ensino e endogenamente

para profissatildeo Outra deliberaccedilatildeo referente ao ensino superior que explicita a direccedilatildeo

poliacutetica a ser seguida pela entidade trata-se da afirmaccedilatildeo que

a ENESSO natildeo dispute o anteprojeto no congresso se posicionando contrariamente agrave reforma universitaacuteria que expressa a mercantilizaccedilatildeo do ensino Combatendo por meio da formaccedilatildeo poliacutetica e do fortalecimento dos CAS e DAS e DCE`S e incentivando alianccedilas com CAS de outros cursos nas universidades nos municiacutepios e etc E com as entidades combativas que tambeacutem se colocam afetivamente contra a reforma neoliberal do ensino superior ( ENESSO p 03 2006)

Como destacado anteriormente as deliberaccedilotildees por englobarem o

consenso do coletivo de estudantes presentes no Encontro Nacional reflete de modo

mais amplo as contradiccedilotildees e disputas poliacuteticas no interior do MESS assim sendo

posturas nitidamente mais criacuteticas em relaccedilatildeo agrave gestatildeo e as accedilotildees de Lula podem ser

expressatildeo da forccedila de agrupamentos que fazem oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da

ENESSO

A partir da anaacutelise documental e aqui especialmente das deliberaccedilotildees

aprovadas no periacuteodo de 2003-2008 merece destaque o fato de ser constatada pelo

segmento estudantil a necessidade de construccedilatildeo de alianccedilas com outros sujeitos

histoacutericos no desenvolvimento de lutas e atividades seja no espaccedilo restrito da

universidade ou fora dele De tal forma salientamos a perspectiva de articulaccedilatildeo com

entidades como ABEPSS o Conjunto CFESS-CRESS o ANDES e outros

movimentos como O MST a defesa de participaccedilatildeo da ENESSO no grito dos

Excluiacutedos na luta em favor do territoacuterio indiacutegena quilombola dos direitos dos

trabalhadores rurais e urbanos

No ENESS de 2006 tanto no eixo de universidade como de formaccedilatildeo

profissional se confirma a posiccedilatildeo contraacuteria do MESS em relaccedilatildeo ao exame de

135

proficincia58 Esse apreendido como um mecanismo punitivo para os(as)

estudantes e que no contribui para melhorias de ensino e aprendizagem nas

instituies

No eixo de formao profissional reforada a relevncia da participao

dos(as) discentes e da prpria ENESSO na pesquisa promovida pela ABEPSS cujo

objetivo precpuo a analise do processo de implementao das Diretrizes

Curriculares no decorrer de seus 10 anos bem como se preocupa com o combate

conjuntamente com as outras entidades do Servio Social a abertura de cursos que

no sejam fundados nas diretrizes

Essa tendncia coloca a ENESSO definitivamente contra a poltica de

abertura de cursos de graduao distncia que como j ressaltado no captulo

anterior se proliferam por todo o pas e no segue o preconizado pelas legislaes da

profisso

A posio da ENESSO gera no mbito da organizao do MESS situaes

contraditrias e conflituosas Os(as) estudantes dessa modalidade se sentem

representados pela ENESSO Segundo dirigente da ENESSO no perodo de

20062007eu acho que cria uma crise ainda maior que vai pra alm disso a necessidade do estudante do ensino a distncia passa a sentir de criar uma prpria entidade que lhes represente porque se a gente for avaliar que o estudante ele acaba se sentindo retaliado em todo espao do movimento estudantil que vai(NETURNO)

Assim a gesto 20062007 da ENESSO ldquotodos(as) na lutardquo alm das

dificuldades de organizao provocadas por exemplo pelo contexto de refluxo dos

MS fragilidades na formao poltica dos(as)estudantes as condies objetivas do

segmento estudantil e da prpria ENESSO ainda enfrentou srios obstculos

decorrentes do aumento exagerado de estudantes provenientes de cursos distancia

que no concordam com a posio de negao da executiva referente a essa

modalidade

Para Neturno a principal estratgia para amenizar essa situao

conflitante foi o dilogo com os(as) estudantes inseridos(as) na graduao a distncia

A principal argumentao utilizada pela ENESSO nas reunies acontecidas durantes

os encontros regionais foi de pautar o debate da poltica educacional na

contemporaneidade nela incluindo a graduao a distancia e seus rebatimentos para

formao do(a) assistente social Essa dimenso elucidada na fala do(a)

entrevistado

58 No dia 28 de setembro de 2008 por ocasio do 37 Encontro Nacional CFESSCRESS a categoria aprova a no adoo do exame de proficincia para o Servio Social

136

principalmente natildeo ter uma regulamentaccedilatildeo para o estaacutegio como eacute que vai se daacute a questatildeo do aprendizado da pratica profissional como eacute que o estudante vai ter contato com a pratica profissional como vai ser essa orientaccedilatildeo Vai ser a distacircncia tambeacutem Pra um professor que natildeo conhece a realidade do local onde o estudante taacute executando a sua intervenccedilatildeo []Como eacute que a gente orienta intervenccedilatildeo num local que a gente natildeo conhece Esses foram os aspectos que facilitaram muito o diaacutelogo mostrar os pontos de fragilidades dessa metodologia e aiacute a gente conseguiu fazer com que eles se sentissem representados pela entidade durante aquele periacuteodo (NETURNO)

A preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas entidades esteve presente durante

a aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no eixo do ME durante o ENESS de Palmas Dessa

maneira naquele encontro asseverou-se que os estudantes ali presentes eram

contra o divisionismo do ME e dos espaccedilos que se constituem em criaccedilotildees de

entidades paralelas as jaacute existentes as quais natildeo fortalecem ao contrario

enfraquecem o movimento

Essa proposiccedilatildeo representa inquietaccedilotildees diante da modalidade a distacircncia

e ou tambeacutem representa uma criacutetica relativa agrave criaccedilatildeo da CONLUTE no ano de 2004

Jaacute que esta tem atuando em paralelo a UNE Esses questionamentos contribuem

para o processo de apreensatildeo das fragilidades que perpassa o ME na atualidade e

que repercutem na sua atuaccedilatildeo poliacutetica

Um fato significativo a ser registrado eacute que a 14ordf deliberaccedilatildeo do eixo

conjuntura previa para o final do encontro uma anaacutelise da gestatildeo de Lula no qual

resultaria em um documento com avaliaccedilatildeo e perspectivas do segmento diante desse

governo Entretanto as escolas59 que ficaram ateacute o final do encontro utilizaram o

argumento de esvaziamento da plenaacuteria para natildeo elaborar o documento A natildeo

materializaccedilatildeo dessa deliberaccedilatildeo representa uma contradiccedilatildeo poliacutetica da executiva

diante do governo Lula De negaccedilatildeo da poliacutetica educacional mas de afirmaccedilatildeo e

defesa de seu governo Mesmo com o total de 10 escolas presentes ateacute o final do

encontro o esvaziamento da plenaacuteria se constitui um argumento consistente

O jornal da executiva divulgado em abril de 2007 traz reflexotildees referentes

agrave formaccedilatildeo profissional Movimento Estudantil e Universidade A discussatildeo no campo

da formaccedilatildeo tem como cerne o posicionamento contraacuterio da entidade ao exame de

proficiecircncia No documento eacute exposto que a expansatildeo da esfera privada com a

utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia consistiu na principal determinaccedilatildeo para que

assistentes sociais assumissem a defesa de adoccedilatildeo desse mecanismo para a

59 As escolas foram PUC-RS UEPB UFPE UFPB UFAL ULBRA UFS UCSALUSF E PUC-BH

137

profisso Conforme anlise da ENESSO a aprovao do exame no remete

necessariamente a qualificao profissional de modo que

se quisermos realmente melhorar a nossa formao profissional e nos posicionarmos contrrios a tudo que venha de encontro s diretrizes curriculares da categoria teremos mais fora se pautarmos nossa bandeira histrica da implementao na integra das diretrizes curriculares teramos assim um aproveitamento melhor do rendimento dos estudantes e possivelmente uma melhor qualificao profissional( ENESSO p02 2007)

De 2003 a meados de 2008 recorte temporal da pesquisa constatamos

que a produo da ENESSO no que se refere ao debate da formao profissional

apresenta na sua totalidade uma ntida direo de defesa inconteste das Diretrizes

Curriculares contribuindo dessa maneira para o reconhecimento da importncia

dessa entidade perante a categoria nos diversos debates e espaos que perpassam o

Servio Social brasileiro

No mbito do ME a edio do jornal de abril de 2007 trouxe o debate em

torno da UNE como ponto prioritrio de sua reflexo A ENESSO analisa que ao se

colocar favorvel a poltica educacional do governo Lula a UNE provocou uma

fragmentao no ME Para a executiva necessrio unificar o Movimento e essa se

dar mediante a defesa de medidas como ldquodemocracia nas instituies de Ensino

regulamentao do ensino privado mais verbas para IFES para garantir expanso do

ensino pblico e acesso e permanecia rubrica especifica para assistncia estudantilrdquo

(ENESSO P02-03 2007)

Um processo de revitalizao no ME requer o fortalecimento de entidades

estudantis e o desenvolvimento de aes que possam contribuir verdadeiramente

para unificao de pautas de estudantes que hoje se encontram em diversificadas

instituies privadas e pblicas presenciais e no presenciais Mais alm disso

significa processualidades complexas e contraditrias vejamos a UNE atua em

defesa da contra-reforma do ensino mas age segundo as suas anlises em nome da

defesa da expanso da educao superior no pas Portanto vivenciamos uma

conjuntura difcil na qual entidades e movimentos antes considerados

majoritariamente como espaos de contestao do status quo hoje atuam em

consonncia com a ordem vigente embora se reclamando como defensores de

melhorias e preocupados com a transformao social

No ultimo eixo de discusso o jornal da executiva apresentou o texto

intitulado ldquopor uma Universidade Democrtica e Popularrdquo e que no seu princpio

destacava

138

Em 2002 com a eleiccedilatildeo do Governo Lula criou um clima de muitas expectativas para o movimento da educaccedilatildeo que viu em Lula a possibilidade de reverter os oitos anos de sucateamento do Ensino Superior Puacuteblico e de expansatildeo do mesmo No entanto tais expectativas natildeo foram correspondidas na integra o Governo iniciou seu governo apresentando uma proposta de Reforma Universitaacuteria que natildeo era suficiente para resolver os principais gargalhos do ensino superior como financiamento para IFES e a regulamentaccedilatildeo do setor privado (ENESSO P 03 2007)

Analisamos que mais que insuficiente a proposta do governo Lula se

colocou numa linha de continuidade a poliacutetica adotada na era FHC que se

manifestou por exemplo com o PROUNI e a Lei de Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica que

ratificaram firmemente o compromisso com a iniciativa privada deixando pra segundo

plano a educaccedilatildeo puacuteblica pois mesmo com a defesa de instituiccedilatildeo de cotas sociais e

raciais e posteriormente a concretizaccedilatildeo de alguns concursos puacuteblicos para docentes

nas Universidades Federais fruto das reivindicaccedilotildees dos segmentos dos

trabalhadores(as) em educaccedilatildeo o setor privado continuou intocaacutevel portanto

fazemos a anaacutelise que na verdade natildeo foi na iacutentegra que as expectativas natildeo foram

correspondidas elas foram substancialmente abaladas e negadas por este governo

O XXIX ENESS ocorreu de 14 a 19 de julho de 2007 na cidade de

Contagem-MG Nesse encontro duas chapas da regiatildeo V disputaram a coordenaccedilatildeo

nacional da entidade Uma composta por militantes do Rio de Janeiro vinculados(as)

aos agrupamentos A Saiacuteda eacute pela Esquerda e Cara e Coraccedilotildees Novos outra

constituiacuteda por estudantes do Espiacuterito Santo e Minas Gerais que publicizaram natildeo

pertencer a nenhum grupo organizado do MESS mas receberam o apoio de militantes

que se organizavam no Viver na Luta este que declarou no mesmo encontro o

teacutermino de suas contribuiccedilotildees no MESS a segunda candidatura venceu a disputa

Marte dirigente da gestatildeo 20072008 se referido aos agrupamentos que concorreram

a direccedilatildeo da ENESSO evidencia que

Noacutes dialogamos com todas as teses e estudantes sem perder a direccedilatildeo que queriacuteamos imprimir ao movimento No entanto natildeo conseguimos adesatildeo de algumas escolas do Rio pela forte influencia dessas duas correntes eacute importante destacar que essas duas correntes tecircm sua forccedila nesse estado e pouca influencia no restante do paiacutes

A partir das resoluccedilotildees desse encontro assinalamos que

majoritariamente o MESS constitui um segmento comprometido com a luta em favor

da universidade puacuteblica no Brasil e um sujeito que atua em defesa da formaccedilatildeo

subsidiada pelas Diretrizes Curriculares de 1996

139

Logo no eixo de conjuntura observamos a aprovao de deliberaes

mais crticas em relao ao governo Lula uma tendncia de negao de modo mais

abrangente e no limitadas as suas aes para o campo educacional

As deliberaes consistem expresso das diversas foras polticas que

militam no MESS e de certa maneira manifestam os posicionamentos diversificados

dessas foras inclusive sobre o governo Lula Dessa maneira a aprovao de

deliberaes que direcionam a ENESSO a desenvolver uma ao mais incisiva contra

as aes efetivadas durantes as gestes Lula pode certamente expressar o

fortalecimento de grupos polticos identificados como opositores a esse governo

No eixo de formao profissional o posicionamento contrrio ao exame de

proficincia se manteve a perspectiva de fortalecer a articulao com a ABEPSS e o

conjunto CFESS-CRESS no desenvolvimento de lutas e atividades voltadas para

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social o que por sua vez significa a

reafirmao e consolidao das Diretrizes Curriculares nesse contexto desfavorvel

para sua implementao

Especialmente no eixo universidade destacamos essa deliberao

Por uma poltica de universalizao do acesso universidade pblica que vise o fim do vestibular Expanso e ampliao das vagas nas universidades pblicas fim das taxas campanhas em defesa do ensino pblico gratuito laico de qualidade presencial para todas e todos em todos os nveis refutando a proposta do reuni e o atual processo de interiorizao das ifes por acreditamos que esse noatendem a essas reivindicaes (ENESSO 2007)

Logo a gesto 20072008 da ENESSO ldquoousar e unir todos(as) juntos

para construirrdquo teve pela frente a necessidade de desenvolver atividades contrrias a

mais uma das aes aprovadas no campo da contra-reforma do ensino superior o

REUNI A contra-reforma vem sendo efetivada de modo parcelado de incio foram

adotadas aes como o PROUNI a substituio do Provo pela ENADE depois

tivemos a proliferao dos cursos distncia entre outras medidas e mais

recentemente o REUNI Essa fragmentao reclama atuaes diferentes da ENESSO

assim por exemplo a estratgia de boicotar o ENADE obteve xito no mbito do

Servio Social em 2004 entretanto atividades contra o PROUNI eou REUNI requer

outras estratgias cada vez mais articuladas com outros segmentos dentro e fora do

espao universitrio Portanto no perodo estudado nessa pesquisa as gestes da

ENESSO nele includo tiveram que dar prosseguimento as aes voltadas para as

medidas j efetivadas bem como canalizar energias para as novas medidas

direcionadas para o ensino superior

140

O planejamento estratgico da nova gesto ocorreu nos dias 08 e 09 de

setembro de 2007 alguns dos planos forjados foram a necessidade de criao do

site da executiva o qual foi criado contudo so reduzidas as informaes

proveniente das limitadas atualizaes o desenvolvimento de seminrios regionais

juntamente com os CRESS sobre o exame de proficincia na ida dos coordenadores

da ENESSO as escolas ficou previsto a distribuio de materiais produzidos pelas

outras entidades da profisso como forma de potencializar a articulao das mesmas

realizar debates sobre a contra-reforma do ensino superior entre outras Outra

importante meta traada por ocasio do planejamento estratgico se referiu

promoo de um curso de formao poltica para os(as) militantes do MESS O estudo

de Santos(2007) afirma que essa gesto atuou apresentado como foco central de

suas aes o eixo da formao profissional com a reafirmao da direo social

consubstanciada no projeto profissional fundado na perspectiva crtica da inteno de

ruptura

A ENESSO em 22 de outubro de 2007 elaborou moo de apoio60 ldquos

universidades em luta para Barrar o REUNIrdquo na qual publiciza preocupaes com a

possibilidade de flexibilizao curricular prevista pelo programa registrada tambm

a indignao da executiva com qualquer tipo de represso direcionada aqueles(as)

que se manifestam politicamente contra essa medida do governo

Em 15 de maio de 2008 por ocasio das comemoraes do dia do(a)

assistente social a ENESSO conjuntamente com o Conjunto CFESSCRESS e a

ABEPSS socializaram manifesto contra cursos de graduao distncia em Servio

Social por entenderem que essa modalidade se confronta radicalmente com a

formao preconizada pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no documento

reafirmada a posio das entidades de continuarem lutando contra a abertura de

curso inseridos nessa modalidade o que por sua vez representa o compromisso com

a formao e exerccio profissional com qualidade

A gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo produziu uma

cartilha intitulada ldquo20 anos ENESSOrdquo em que apresentava didaticamente os

60 A gesto 2007-2008 ainda lanou em 09 de abril de 2008 moo de apoio ldquoAos estudantes da UNB para Barrar as Fundaes Privadas nas IFESrdquo A moo fazia referncia ocupao da reitoria da UNB por estudantes que reivindicam a retirada do reitor e a transparncia na administrao da instituio Em 08 de fevereiro de 2008 a executiva produziu moo de repdio contra a atitude do governo federal em no disponibilizar vagas para assistente social para concurso no Instituto Nacional de Seguro Social(INSS) Em 05 de maro de 2008 outra moo de apoio lanada em favor da luta das mulheres da via Campesina que ocuparam a Fazenda Tarum no RS em protesto contra a compra de terras ilegais pela empresa Stora Enso sendo a ao duramente reprimida pelo aparato policial conforme a moo a ocupao das mulheres camponesas legitima pois luta pela soberania alimentar e contra o Deserto Verde que destri a cada dia a biodiversidade das terras brasileiras forando milhares de camponeses a migrarem do campo para as periferias das cidadesrdquo ( ENESSO 2008)

141

diferentes espaos e entidades estudantis tais como CORETUR CA DCE

ENESSO e suas respectivas funcionalidades A cartilha foi elaborada com o objetivo

principal de fomentar a discusso sobre a organizao dos(as) estudantes com vistas

a criao de CA e DA vislumbrando dessa modo o fortalecimento do movimento

A cartilha ainda trouxe reflexes sobre a articulao da ENESSO com as

entidades internacionais a Federao Argentina de Estudantes de Trabalho

Social(FAETS) e a Associao Latino-americana de Ensino e Investigao em

Trabalho Social(ALEITS)61 Para executiva essa articulao representa esforos

voltados para o fortalecimento e ampliao das ldquoplataformas de lutas unificando

estudantes e trabalhadores contra a expanso de dominao do grande capital e em

defesa de um projeto societrio socialistardquo(ENESSO p 18 2007) Embora no seja o

objetivo precpuo dessa pesquisa o estudo das alianas da ENESSO com outras

entidades e movimentos torna-se necessrio destacar que a mesma procura

construir articulaes com sujeitos coletivos historicamente sintonizados com a luta

por direitos sociais bem como organizaes que vislumbra uma transformao

societal

Em junho de 2008 a ENESSO participou do Seminrio Nacional

ldquoPrecarizao da Formao e Implicaes no Exerccio Profissional Em debate

Metodologia do Depoimento Sem Danos e Exame de Proficinciardquo promovido pelo

CFESS62 Nesta oportunidade as trs entidades da categoria se posicionaram

contrria a realizao do exame de proficincia no Servio Social

Em julho de 2008 a gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo

divulga jornal no qual sintetiza as principais aes desenvolvidas pela direo entre

elas destacamos a materializao do curso de formao poltica previsto durante o

planejamento estratgico da Coordenao Nacional ainda em 2007 O Curso de

Formao Poltica do Movimento Estudantil em Servio Social(CFPMESS) ocorreu

de 22 a 25 de maio de 2008 durante o XXX CONESS no estado de Sergipe

promovido pela ENESSO Centro Acadmico de Servio Social da Universidade

Federal do Sergipe (UFS) e da representao discente em ABEPSS e com apoio do

conjunto CFESSCRESS e do MST visto que o evento se processou em um de seus

Assentamentos no caso particular o Quissam Consideramos a efetivao desse

curso necessrio e importante para o MESS dada a conjuntura de fragmentao do

ME e arrefecimento das lutas sociais alm disso por ter acontecido durante o

CONESS possibilitou a participao de representante de CA e DA de Servio Social

61 Essa entidade foi fundada em agosto de 2006 e o estatuto aprovado no XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais(CBAS) ocorrido em 2007 na cidade de Foz do Iguau ndash PR Nela os(as) estudantes tem direito a voz62 Este ocorreu nos dias 12 e 13 de junho de 2008 em Braslia-DF

142

de diferentes universidades potencializando a articulao dessas entidades e ainda

a sua realizao em um dos espaos do MST evidencia a perspectiva de construo

de alianas do MESS com segmentos do trabalho identificados com a transformao

social

O jornal publicizado em julho de 2008 traz um texto intitulado ldquopela

Revogao Imediata do REUNIrdquo Em que ratificada a direo assumida nas

deliberaes do XXIX ENESS pelo MESS O texto assevera que o Programa

possibilita uma flexibilizao curricular que desqualifica nossos diplomas e prejudica nossa formao profissional ou seja a total destruio dos diplomados profissionais em cursos bsicos genricos formando diplomados em nada Mas o resultado ser depois no mercado de trabalho com sub-remunerao destes diplomados em nada com salrios miserveis e a reduo do custo do trabalho em beneficio capitalista Essa poltica de destruio da educao ataca brutalmente as conquistas na rea da educao como no caso do ensino superior o seu trip de ensino-pesquisa-extenso que colocam a produo de conhecimentos para os interesses da nao e sua soberania ameaadas(ENESSO 2008 p06)

Podemos observar que anlise da ENESSO assume um carter

generalista em relao s aes do REUNI sem sinalizar possibilidade de formao

com qualidade no mbito desse programa Diante da realidade de total aprovao dos

programas pelas universidades federais acreditamos que a correlao de foras no

interior das instituies seja importante para que mesmo com recursos

disponibilizados por esse programa possam ser implementadas melhorias para a

comunidade acadmica bem como potencializar a construo de cursos

fundamentados nos projetos pedaggicos de suas profisses essa ressalva se torna

relevante sobretudo entretanto voltamos a afirmar que a abertura de concursos no

significa no Servio Social em particular a garantia dos princpios formativos

defendidos pela profisso

De 13 a 17 de julho de 2008 ocorreu o XXX ENESS na Universidade

Estadual de Londrina (UEL) com o ttulo ldquoo sonho no envelhece 30 anos de

reorganizao do MESSrdquo em referncia a realizao do ENESS de 1978 considerado

marco na reorganizao do MESS o qual foi realizado na mesma universidade A

escolha da UEL para sediar o XXX ENESS ao se configurar com um ato de

homenagem para alm disso consistiu em resgate histrico da trajetria de

organizao e atuao desse movimento no Brasil

Neste encontro inicialmente trs chapas se propuseram a disputar a

direo da ENESSO visto que uma das chapas antes de comear o processo de

votao fomentou o debate em torno do anarquismo e solicitou aos(as) estudantes

143

simpatizantes da chapa que se abstivessem da eleio de tal modo que somente

duas candidaturas concorreram de fato a direo da executiva

A chapa ldquoMaria Bonitardquo constituda de estudantes de So Paulo e contava

com o apoio de militantes que se organizavam no recente extinto grupo Viver na Luta

que esteve frente da coordenao nacional da entidade nas gestes anteriores

A outra candidatura consista a ldquoFrente de Esquerda no MESSrdquo composta

por estudantes da regio V e majoritariamente da Universidade Federal do Rio de

Janeiro e vinculados aos agrupamentos ldquoA Sada Pela Esquerdardquo e pelo coletivo em

processo de formao ldquoRompendo Amarrasrdquo

Segundo militante de oposio que nos concedeu informaes durante a

produo de dados para essa pesquisa logo aps as escolas terem votado dois

estudantes de diferentes instituies argumentaram que suas escolas no foram

chamadas para votao63 contudo no tinha o registro de participao dessas

escolas que estavam representadas somente por um estudante nos outros

momentos de discusso e deliberao do encontro o que remete ao entendimento

que tais sujeitos estavam preocupados somente com a disputa dos cargos da

ENESSO Ainda com base nas argumentaes de Luz64 esses dois estudantes

votaram65 na chapa ldquoMaria Bonitardquo e que segundo o resultado da votao tal chapa

venceu a disputa com a diferena de trs votos portanto a quantidade de votos que

uma escola tem direito

Entretanto depois de anunciado o resultado propagou-se a denuncia que

um dos estudantes que havia reclamado de ltima hora a participao no processo de

votao no era estudante de Servio Social o que gerou impasse diante dessa

atitude fraudulenta e antidemocrtica pois ao se retirar os trs votos que o mesmo

creditou na chapa ldquoMaria Bonitardquo o pleito ficou empatado

63 Nesse encontro o voto foi por escola conforme o qual cada escola tem direitos a trs votos independentes da quantidade de estudantes presentes o que garante a paridade entre as instituies contudo importante destacar que esse sistema de votao alvo de discordncia e de consistentes conflitos nos fruns do MESS64 Militante de oposio que contribuiu nessa investigao mediante a resposta de questionamentos relacionados atuao das tendncias e da ENESSO nessa conjuntura de concretizao da contra-reforma do ensino superior dimenses aprofundadas no item 4 desse capitulo65 possvel ter conhecimento em que chapa se votou pois a votao se processa de modo aberto para plenria a comisso chama nominalmente as escolas e as mesmas declaram seus votos que sendo por escola a depender de divergncias interna dos alunos(os) essa diferena se manifesta e assim uma mesma escola pode votar em diferentes chapas assim por exemplo os trs votos a que uma escola tem direito pode se destinar um pra uma determinada chapa e dois para outra o que no acontece quando um escola est representada poder um(a) estudante visto que ele(a) direciona os trs votos sem a existncia de posicionamento interno contrrio no ato da votao

144

Portanto o processo foi anulado diante dessas praacuteticas antidemocraacuteticas

que corroboram para o natildeo fortalecimento do MESS e de suas entidades Dimensatildeo

explicitada tambeacutem pelo(o) dirigente da ENESSO da gestatildeo 20072008 que esteve

na constituiccedilatildeo da comissatildeo eleitoral que confirmou o fato de que um estudante do

curso de histoacuteria votou como se fosse estudante de Serviccedilo Social o que justificaria a

ato de anulaccedilatildeo Conforme explicitado a seguir

Verifiquei com o estudante a denuacutencia e relatou que realmente natildeo era estudante de Serviccedilo Social e sim de histoacuteria e que tinha sido convidado por um amigo estudante de Serviccedilo Social membro do PT e que havia solicitado para que votasse Diante dos fatos declaramos o processo anulado conforme rege o estatuto e observamos as condiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de novo pleito O que foi impossiacutevel por algumas escolas terem viajado de volta para seus estados apoacutes a votaccedilatildeo e outras estarem de saiacuteda Tentamos um acordo entre as chapas para que existisse uma gestatildeo compartilhada entre elas mas natildeo obteve ecircxito A chapa de Satildeo Paulo propocircs que a nossa gestatildeo continuasse ateacute encontrar outra data para uma nova eleiccedilatildeo apesar de natildeo querermos achamos melhor do que deixar sem Coordenaccedilatildeo Nacional Num primeiro momento de discussatildeo a ideacuteia teve boa aceitaccedilatildeo mas a chapa do Rio de Janeiro rebateu a proposta e por fim os estudantes se retiraram pouco a pouco inviabilizando qualquer tipo de eleiccedilatildeo por natildeo ser legiacutetimo um processo sem todas as escolas

O preocupante eacute que o estudante de histoacuteria enganou parte significativa da

plenaacuteria entretanto como demonstrado na fala anterior militantes do MESS tinham

conhecimento da situaccedilatildeo fraudulenta que se processava na disputa pela

coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO e mesmo assim foram incapazes de denunciar

essa fraude o que revela a real existecircncia de militantes nesse movimento que se

utilizam de qualquer artifiacutecio sem considerar princiacutepios como a socializaccedilatildeo de

informaccedilatildeo a recusa de praacutetica autoritaacuterias e enganosas que desrespeitam o

posicionamento diferenciado de seus colegas e os interesses da maioria

Embora sem coordenaccedilatildeo nacional as deliberaccedilotildees aprovadas nesse

encontro para a gestatildeo 20082009 da executiva posicionam essa entidade a encampar

lutas que ratifiquem a direccedilatildeo contraacuteria da entidade em relaccedilatildeo agraves medidas para

educaccedilatildeo superior do governo Lula Em espacial no eixo de universidade66 foram

mantidas as mesmas deliberaccedilotildees ratificadas no ENESS passado Dessa maneira se

mantecircm a posiccedilatildeo de negaccedilatildeo ao SINAES PROUNI REUNI educaccedilatildeo a distacircncia

entre outras

66 Esta decisatildeo foi tomada devido ao atraso na programaccedilatildeo do evento que minimizou o tempo destinado a revisatildeo das deliberaccedilotildees

145

No campo especifico da formao profissional se vislumbra a

preocupao do segmento estudantil na apropriao dos dados obtidos com a

pesquisa avaliativa das Diretrizes Curriculares realizada pela ABEPSS Nesse sentido

tem-se o encaminhamento de que tanto no Seminrio Regional como Nacional de

Formao Profissional e Movimento Estudantil em Servio Social se garanta espaos

destinados para divulgao dos resultados da pesquisa Alm disso tem a indicao

de que

A ENESSO e a representao discente em ABEPSS fortaleam a luta contra o exame de proficincia nas escolas e no encontro do conjunto CFESSCRESS garantindo a sua participao em todo momento no encontro E fomentar o debate sobre uma nova avaliao que envolva os trs segmentos da categoria(discente docentes e profissionais) e que amplie a construo dessa ferramenta para que seja uma avaliao continuada( ENESSO 2008)

Nessa perspectiva apreendemos a preocupao do segmento estudantil

com a construo de processos avaliativos que corroborem no entendimento dos

limites e potencialidades da formao profissional portanto a negao em relao ao

ENADE significa um posicionamento poltico de negao a um sistema de avaliao

majoritariamente punitivo para os(as) estudantes ou seja no representa a rejeio a

avaliao mas aos interesses que ela representa

No eixo de ME a complexa processualidade de afirmaonegao da

UNE se confirma mais uma vez Tendncia que se manifesta tambm em relao

CONLUTE ldquoque a ENESSO fomente debate da CONLUTE e outras organizaes de

luta na medida em que esta se apresenta como espao de luta contra a reforma

universitriardquo (ENESSO 2008) A promoo de articulao em relao CONLUTE se

pauta de modo restrito no campo de negao da contra-reforma do ensino superior

no sendo considerada a possibilidade de vinculao com esta organizao no

desenvolvimento de outras atividades e lutas

Diante das deliberaes analisadas corroboramos com Santos quando

ele afirma que elas se estruturam em grandes blocos de discusso decorrente

certamente da prpria organizao em eixos entretanto essa tendncia no significa

que esse segmento ldquono atualize e aperfeioe suas bandeiras e instrumentos de luta

mas pelo contrrio revela que os estudantes organizados no movimento imprimem

uma prxis poltica que possibilita a continuidade de suas lutas e resistncia

reafirmada a cada encontrordquo (p124)

Entretanto no ano de comemoraes relativas aos 30 anos de

reorganizao do MESS e de 20 anos de criao da ENESSO no tivemos para

implementao das deliberaes a ocupao dos cargos nacionais dessa entidade

146

como explicitado acima As prticas antidemocrticas a acirrada disputa entre duas

candidaturas e a no previso estatutria diante do impasse estabelecido aliada a

indisponibilidade poltica que possibilitassem a construo de um consenso

concorreram para o estabelecimento dessa lamentvel ausncia de coordenadores

nacionais ficando a incumbncia de materializao das deliberaes para as

coordenaes regionais O fortalecimento das coordenaes regionais legitimo e

necessria contudo o esvaziamento das coordenaes nacionais da ENESSO

dificulta a prpria potencializao dessas instncias visto que se minimiza ou at

mesmo fica impossibilitada o desenvolvimento de campanhas nacionais seja nos

mbitos da universidade eou formao profissional alm disso a responsabilidade na

produo de material a serem socializadas com a base estudantil fica fortemente

comprometida a representao da entidade em eventos fica sem referncia entre

outras

Em setembro de 2008 ex-militantes do MESS e reunidos(as) em Braslia

durante o 37 Encontro Nacional CFESSCRESS construram e divulgaram carta

intitulada ldquoaos estudantes de Servio Social coordenadores regionais da enesso e

diretorias de CAs e DAs do pasrdquo sinalizando preocupaes com o fato acontecido

Dela extramos o seguinte fragmento

A ENESSO patrimnio poltico do Servio Social brasileiro e foi construda por muitas mos e foras polticas desde 1979 tendo sido Executiva Nacional SESSUNE e ENESSO Em seu mbito se formaram geraes de assistentes sociais no campo do projeto tico-poltico muitos hoje militantes do Conjunto CFESSCRESS da ABEPSS da ALAEITS e dos movimentos de resistncia barbrie capitalista Nesse momento de contra-reforma do ensino superior mais do que nunca fundamental que a ENESSO esteja forte representativa e estruturada

O trecho apesar de suscito evidencia com propriedades a importncia da

ENESSO na trajetria de construo e defesa do projeto profissional do Servio Social

e aborda ainda a relevncia de se ter uma entidade comprometida com a defesa de

uma educao e uma formao de qualidades neste contexto de tentativa de

esfacelamento desse ideal Diante do exposto que desafios apreendemos nessa

conjuntura complexa para o ME particularizada no mbito do MESS com as

fragilidades que hoje enfrenta o MESS e a ENESSO

147

5-3 REFLEXOtildeES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO

Com a anaacutelise do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO e da pesquisa

documental associada agraves informaccedilotildees concedidas nas entrevistas pelos(as) ex-

Coordenadores(as) da entidade trataremos de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre sua

accedilatildeo nessa conjuntura de materializaccedilatildeo da contra-reforma do ensino superior

procurando abordar tambeacutem as possibilidades e limites dessa atuaccedilatildeo

Dessa maneira os dados sugerem que a vivecircncia dos(as) estudantes

ainda nos primeiros periacuteodos do curso de Serviccedilo Social nos foacuteruns estudantis como

ERESS seminaacuterios estudantis de formaccedilatildeo profissional e encontros locais satildeo

fundamentais para instigar a participaccedilatildeo desses(as) na construccedilatildeo da entidade

os(as) levando a disputa de sua direccedilatildeo

Satildeo nesses espaccedilos que se materializam discussotildees se constroem

deliberaccedilotildees e se direciona a atuaccedilatildeo da ENESSO potencializando a articulaccedilatildeo e

aproximaccedilatildeo dos(as) estudantes com o ME e suas entidades Essa perspectiva

requer dos CA e DA o desenvolvimento de atividades sistemaacuteticas dada a

transitoriedade do movimento voltadas para o incentivo de participaccedilatildeo dos(as)

estudantes ainda nos primeiros periacuteodos do curso nos diferentes espaccedilos de

organizaccedilatildeo do segmento estudantil nesse contexto de retraccedilatildeo poliacutetica

comprometida com a transformaccedilatildeo societal e de difiacuteceis condiccedilotildees objetivas de

militantes e das proacuteprias entidades que os(as) representam

Em pesquisa empiacuterica realizada com os(as) estudantes presentes no

XXIX ENESS na cidade de ContagemBH Santos (2007) diante dos dados

produzidos afirma que a maioria se encontravam no terceiro e quarto periacuteodo do

Curso de Serviccedilo Social com o percentual de 33 dos entrevistados(as)67 A referida

pesquisa ainda indicou que 65 dos(as) estudantes que participaram da

investigaccedilatildeo estavam no encontro na condiccedilatildeo de natildeo ocupantes de cargos em

entidade estudantil como CA ou DA

No acircmbito do ME e em particular no MESS eacute expressivo a presenccedila de

estudantes organizados(as) em grupos entretanto nem todos elaboram teses ou

seja documentos que manifestam o direcionamento do agrupamento sobre as

questotildees discutidas pelo movimento tais como conjuntura formaccedilatildeo profissional

cultura e valores ME e universidade Na esfera do Serviccedilo Social e no periacuteodo

delimitado pela pesquisa o Projeto Democraacutetico Popular(PDP) Viver na Luta A saiacuteda

67 Esses dados foram obtidos mediante a utilizaccedilatildeo de questionaacuterios respondidos por cinquumlenta e quatro estudantes de Serviccedilo Social que estiveram no ENESS realizado em julho de 2007 no qual esteve presente mais de quinhentos discentes de todo paiacutes

148

Pela Esquerda68 e o Cara e Coraes Novos se constituam os principais grupos

polticos presentes na organizao do MESS Segundo Rodrigues

Em junho de 2008 existem dois grupos organizados em teses no MESS dentre os diversos grupos que organizam-se em ldquopr-tesesrdquo ou apenas como grupos polticos organizados Os grupos organizados em teses so Projeto Democrtico e Popular ndash PDP e A Sada pela Esquerda No XXIX ENESS em 2007 o Viver na Luta - VNLapresentou para os estudantes o fim da tese mesmo assim alguns de seus militantes ainda se organizam em grupos polticos no MESS (2008 p 43)

O PDP69 esteve na direo da ENESSO por um perodo bastante

expressivo do inicio a segunda metade da dcada de 1990 quando perde a

hegemonia para o grupo Eu Quero Mais(EQM)70 todavia segundo Ramos(2005) ldquoa

mudana de direo no comprometeu o acumulo de discusso no processo de

construo da organizao estudantil e da defesa do projeto tico-poltico

profissionalrdquo(p103)

No processo de produo de dados para esta pesquisa dos(as) cinco

entrevistados(as) um(a) de cada gesto que compreende o perodo de 2003-2008

quatro deles(as) eram membros do agrupamento poltico Viver na Luta Sendo que

dois desses(as) militantes tambm se organizavam na tendncias partidria a

Articulao de Esquerda(AE) e outro(a) dirigente construa o agrupamento partidrio a

Democracia Socialista(DS) Tanto a AE como a DS so vinculadas ao PT Para

esses(as) quatros dirigentes os grupos so importantes espaos de organizao e de

construo poltica e que contribui para o desenvolvimento de aes mais

qualificadas o que por sua vez corrobora com o fortalecimento do MESS e da

ENESSO Podemos apreender essa perspectiva na fala do(a) entrevistado(a)

O acumulo das organizaes dentro do Movimento Estudantil so extremamente importantes principalmente quando essas organizaes constroem teses que apresentam nos encontros nacionais a concepo poltica que se tem do movimento extremamente importante no s para o militante que t nesse processo de organizao mas como tambm para os estudantes

68 A sada pela Esquerda surgiu no ENESS de 2004 realizado em vitria-ES Cf Rodrigues(2008) Para Silva esse grupo surgiu j no ENESS de 2003 realizado em Salvador-BA 69 O PDP surge nos anos de 1980 e se constituiu o primeiro agrupamento organizado em tese no mbito do MESS sendo vigente at os dias atuais70 O EQM encerrou suas contribuies no ano de 2003 com o trmino desse grupo muitos de seus militantes acabaram por contribuir na constituio do agrupamento Viver na Luta no ano de 2004 este que predominou na direo da ENESSO no perodo ora abordado nesta pesquisa

149

que acabam percebendo quais satildeo as vertentes poliacuteticas que norteiam cada organizaccedilatildeo em termos do mess (NETURNO)

De 2003 a 2007 eacute importante registrar a predominacircncia na direccedilatildeo da

ENESSO de estudantes pertencentes ou simpatizantes ao grupo poliacutetico Viver na

Luta que socializou no ENESS de 2007 o fim de sua atuaccedilatildeo no MESS Para Marte

da gestatildeo 20052006 que afirma ter sido um dos(as) fundadores(as) do Viver na Luta

elenca como diferencial do agrupamento a preocupaccedilatildeo com o eixo da formaccedilatildeo

profissional e a defesa do voto universal nos processo de votaccedilatildeo nos ENESS

Diante do exposto apreendemos que eacute recorrente a construccedilatildeo e

desconstruccedilatildeo de agrupamentos no MESS e que algum deles mesmo chegando agrave

direccedilatildeo da entidade natildeo apresenta uma atuaccedilatildeo duradoura na organizaccedilatildeo do

movimento exemplo dessa perspectiva o proacuteprio fim do EQM e posteriormente do

Viver na Luta e por outro lado embora o PDP que impulsionou a poliacutetica da ENESSO

por um periacuteodo consideraacutevel e que continua em vigecircncia na contemporaneidade

apresenta fragilidades e natildeo consegue construir alianccedilas para assumir a direccedilatildeo

nacional da entidade aleacutem disso tivemos a criaccedilatildeo do grupo A Saiacuteda eacute Pela Esquerda

e mais recentemente por volta de 2006 o Cara e Coraccedilotildees Novos Segundo

concepccedilatildeo de Rodrigues

As teses e grupos presentes no MESS divergem principalmente na leitura que fazem de conjuntura da sociedade brasileira essencialmente sobre anaacutelise governamental em relaccedilatildeo ao governo Lula como tambeacutem as estrateacutegias as accedilotildees e organizaccedilatildeo do MESS o que por muitas vezes acabam por limitar o debate no interior do movimento estudantil sectarizando o movimento e dificultando o fortalecimento das lutas(45)

Diante do exposto eacute possiacutevel apreendermos o quanto processual eacute a

organizaccedilatildeo no MESS e que os agrupamentos expressam as divergecircncias disputas e

a heterogeneidade caracteriacutestica desse movimento Analisamos ainda que a

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de agrupamentos em curto espaccedilo de tempo revelam

instabilidades poliacuteticas pela qual perpassa o MESS na atualidade e que imbuiacuteda nessa

conjuntura de instabilidade e retraccedilatildeo poliacutetica da classe trabalhadora se expressam

em posicionamentos diferenciados em relaccedilatildeo ao governo Lula bem como no tocante

as entidades sindicais e estudantis criadas depois da ascensatildeo do PT ao governo

federal como a CONLUTAS e a CONLUTE

150

Direcionamento desfavorvel a atuao dos grupos polticos foi sinalizada

por um(a) das dirigentes entrevistados(a) pertencente a gesto 20072008 e que se

declarou no pertencer a nenhum agrupamento existentes no MESS segundo o qual

As correntes dentro do MESS sempre tiveram como pano de fundouma influncia partidria velada O que do meu ponto de vista engessa os debates empobrece os espaos de participao dos estudantes fragiliza e fragmenta o movimento estudantil A atuao das tendncias tem se limitado a disputa por cargos de direo da ENESSO e no percebo contribuies de nenhuma corrente para a abertura e consolidao de novos DAs CAs entre outros aspectos relevantes para o movimento Sua participao se limita praticamente aos Encontros utilizando de uma poltica panfletria para adeso de novos militantes No entanto isso no significa que no possuam influncia na escolha dos dirigentes da ENESSO Apesar das limitaes apresentadas e das incoerncias apontadas conseguem articular no momento dos encontros as faculdades para a eleio dos novos representantes(Marte)

Como demonstrado na construo do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

a maioria de militantes no filiados(as) a partidos polticos entretanto no podemos

desconsiderar a vinculao existentes entre esses dois sujeitos coletivos que se

manifesta tambm na filiao partidria de estudantes organizados em

agrupamentos no MESS Dessa maneira significativa a presena na construo do

MESS de sujeitos inseridos(as) no PSOL PSTU e PT este que teve militantes

filiados(as) na direo nacional da ENESSO em todas as gestes abordadas no

perodo aqui analisado No mbito de discusso dessa problematizao Santos

assinala uma perspectiva polmica que se processa nos debates do MESS

presente nos debates[] a preocupao com as influncias das correntes polticas partidrias no movimento Esse debate polariza-se fundamentalmente sob as tentativas de aparelhamento do movimento estudantil pelos partidos polticos que buscam fazer da ENESSO uma correia de transmisso das lutas e das pautas partidrias ndash no caso dos ltimos encontros (2004-2007) trata-se da prtica poltica dos sujeitos ligados a tendncia interna do PT Articulao de Esquerda AEPT (chegou a hegemonizar o ex-Coletivo ldquoViver Na Lutardquo ndash findou sua contribuio no XXIX ENESS2007) pelos militantes do [] PSTU (mantm hegemonia sob o coletivo ldquoA sada pela Esquerdardquo e busca dentre outras pautas impor o rompimento poltico da ENESSO com a UNE de forma sectria e a construo da CONLUTE Tal prtica muitas vezes se afasta das discusses especficas do MESS especialmente no eixo de formao profissional) pelos militantes ligados [] PSOL (Mantm hegemonia no recente coletivocriado em 2006 ldquoPor um MESS de Caras e Coraes Novosrdquo e na Tese ldquoProjeto Democrtico e Popular- PDPrdquo Esse coletivo se inscreve como uma alternativa frente a crise instaurada no movimento a partir

151

das disputas pela direo da ENESSO no entanto no conseguiu efetivamente fazer sua poltica e acabam por seguir as orientao polticas do coletivo ldquoA sada Pela Esquerdardquo(SANTOS71 2007 p122)

Temos a compreenso que o aparelhamento se expressa por exemplo

na ausncia de espaos democrticos o que no ocorre no MESS pois existe um

variedade de fruns estudantis que possibilita a participao dos(as) estudantes nas

tomadas de deciso o que se confirma no processo de aprovao das deliberaes

que norteiam a direo poltica a ser assumida pela ENESSO entretanto no

podemos deixar de considerar que o MESS passa atualmente por momentos de

instabilidades e que repercute na sua entidade mxima Sem dvidas se processa

um contexto de acirramento entres os grupos polticos atuantes no MESS mas isso

reflete a conjuntura na qual estamos imbudos(as) no remetendo necessariamente a

uma tendncia de busca de aparelhamento da executiva pois se assim fosse no

perodo aqui investigado no qual tivemos a predominncia de militantes do

agrupamento viver na luta hegemonizado pela AEPT como afirmado por

Santos(2007) nos documentos produzidos pela entidade no se apresentaria uma

negao da contra-reforma do ensino superior do governo Lula pois estaria se

contrapondo as recomendaes do Partido e uma entidade aparelhada desconsidera

as demandas do movimento para atender as requisies partidrias o que no se

verificou nessa pesquisa no que concerne a atuao da ENESSO no mbito da

universidade

Dessa maneira temos a concepo que a existncia de partidrios(as) do

PT na direo da ENESSO no significa necessariamente e de modo mecanizado a

aceitao da contra-reforma do ensino superior implementada pelo governo do PT

tendncia evidenciada nos documentos produzidos pelas gestes da entidade e

analisados no item anterior Essa perspectiva tambm reforada nas entrevistas

concedidas pelos(as) militantes e sintetizada na fala de Vnus

No ano em que era membro da Executiva ramos contrrios a reforma universitria pelo fato da reforma se constituir em uma estratgia superficial de enfrentamento da educao brasileira que legitima o processo de precarizao massificao e mercantilizao do ensino transformando os direitos sociais em mercadorias e servios

71 O autor tambm explcita que nos ENESS que compreendem o perodo de 2004-2007 as teses em sua totalidade privilegiaram as discusses em torno do eixo de conjuntura trabalhando de modo superficial as demais esferas universidade formao profissional movimento estudantil e Cultura e Valores

152

O posicionamento contraacuterio da ENESSO foi ressaltada por todos(as) os

entrevistados(as) sendo que em cada gestatildeo as discussotildees produccedilatildeo de material

desenvolvimento de atividades como oficinas divulgaccedilatildeo de textos entre outros

consideravam a complexidade e processualidade do real Nesse sentido podemos

afirmar que nas gestotildees 20032004 e 20042005 a aproximaccedilatildeo entendimento e

direcionamento contraacuterios as medidas iniciais propostas e executadas pelo governo

como o SINAES e o PROUNI consistiam no alvo prioritaacuterio dessas atividades

Conforme Urano da gestatildeo 20042005

Noacutes desencadeamos uma campanha que foi contra a reforma universitaacuteria do governo lula em defesa das diretrizes curricularesHouveram varias accedilotildees primeira accedilatildeo e aiacute saiu como deliberaccedilatildeo no eness que noacutes divulgamos foi o boicote ao enade[]e aiacute a gente jaacute saiu do eness com essas deliberaccedilatildeo de boicotar o enade Aprovamos como seria a nossa taacutetica no planejamento que foi em agosto e aiacute a partir daiacute noacutes elaboramos boletins elaboramos planfetos com dez motivos para boicotar o enade entramos em contato com as coordenaccedilotildees regionais com os centros acadecircmicos e fizemos toda a campanha a primeira accedilatildeo de boicote ao enadeApoacutes o boicote noacutes fizemos que aiacute ta no jornal[]avaliaccedilatildeo desse boicote eacute aleacutem disso[]que foi esse debate mais amplo sobre a reforma universitaacuteria[]fizemos vaacuterias palestras fizemos adesivos fizemos oficinas passadas nas universidades Nesse sentido orientamos para que nos encontros tanto nos coress nos eress houvessem discussotildees nesse sentido e aiacute tambeacutem aconteceu que em todos esses encontros tinham esse debate debater o mote da campanha e levando as especificidades de cada regiatildeo[]mas sempre presentes nos debates nos encontros nas oficinas orientando as universidades a fazerem debates palestras seminaacuterios para que fosse esclarecendo aos estudantes neacute Do que se tratava a reforma universitaacuteria

Nas gestotildees seguintes 20052006 20062007 e 20072008 o

posicionamento de negaccedilatildeo a contra-reforma se manifesta tambeacutem nas criacuteticas

direcionas a aberturas e proliferaccedilatildeo dos cursos em Serviccedilo Social agrave distacircncia nas

discussotildees e negaccedilatildeo do exame de proficiecircncia na profissatildeo nas criacuteticas feitas ao

REUNI Dimensatildeo sintetizada na argumentaccedilatildeo de Neturno da gestatildeo 20062007

O REUNI[] eacute um debate que vai contra a tudo que gente defendeprincipalmente por que a nossa defesa do projeto pedagoacutegico jaacute imbrica na disputa de espaccedilo com esse projeto do REUNI entatildeo isso eacute algo que jaacute foi constituiacutedo no final no termino da nossa gestatildeo mas que ficou claro[] natildeo dava pra ser a favor daquilo que batia direto nas nossas diretrizes curriculares batia em tudo que a gente havia deliberado ao longo do ano no encontro nacional em tudo que tinha sido construiacutedo ateacute do plano de accedilatildeo da proacutepria gestatildeo

153

Os(as) dirigentes da ENESSO apreendem a contra-reforma como um

processo desencadeado principalmente na era FHC e dessa maneira natildeo deve ser

entendido sem essa anaacutelise histoacuterica mais ampla Corroboramos com a anaacutelise feita

pelos(as) militantes entrevistados(as) contudo temos a concepccedilatildeo que por se tratar

de um governo de um partido forjado no campo dos MS as suas accedilotildees deveriam ser

de resistecircncia aos ditames do capital e natildeo de entrega da educaccedilatildeo a plena

exploraccedilatildeo capitalista sem o esboccedilo de nenhum confronto conflito ou desobediecircncia

aos organismos internacionais

No tocante a formaccedilatildeo profissional os dados destacam o compromisso do

MESS e de sua entidade nacional com a defesa do projeto pautado nas Diretrizes

Curriculares elaboradas pela ABEPSS em 1996 e que desde o processo de

aprovaccedilatildeo pelo CNE sofre os rebatimentos da poliacutetica privatizante que atinge a

educaccedilatildeo superior brasileira Conforme argumentaccedilatildeo de Ramos(2005 p102)

a formaccedilatildeo profissional eacute um acircmbito que vem tendo um investimento prioritaacuterio do MESS a partir da compreensatildeo de que o debate em torno do projeto de formaccedilatildeo profissional eacute um campo de disputa ideoloacutegica e poliacutetica para a defesa de uma outra direccedilatildeo para universidade bem como de uma outra hegemonia para a sociedade

A direccedilatildeo social criacutetica da formaccedilatildeo defendida pela ENESSO e expressa

tanto nos documentos produzidos como na fala de seus(as) dirigentes apresenta

sintonia com a afirmaccedilatildeo da autora

A formaccedilatildeo profissional consiste um dos eixos prioritaacuterios de debate no

MESS No ENESS satildeo formados grupos de discussatildeo voltados para o debate dessa

temaacutetica resultando nas deliberaccedilotildees aprovadas na plenaacuteria final e que constitui o

norte para a accedilatildeo da ENESSO como tratado no item anterior

A defesa do projeto de formaccedilatildeo profissional se manifesta tambeacutem na

articulaccedilatildeo da ENESSO com a ABEPSS e o CFESS no desenvolvimento de

encontros e atividades voltados para discussatildeo da formaccedilatildeo e do exerciacutecio

profissional Temos o entendimento que universidade formaccedilatildeo e o exerciacutecio

profissional satildeo dimensotildees distintas e interdependes entre si e que constituem

esferas privilegiadas de discussatildeo no acircmbito da organizaccedilatildeo estudantil Essa

tendecircncia se verifica de modo majoritaacuterio pelos sujeitos entrevistados(as)

Eacute o mess ele sempre teve pautado na defesa das diretrizescurriculares e a efetivaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do serviccedilo social entatildeo assim eacute natildeo haacute uma dissociaccedilatildeo a militacircncia a construccedilatildeo poliacutetica a defesa de uma universidade puacuteblica gratuita e de qualidade dentro dos princiacutepios do projeto eacutetico poliacutetico profissional e das diretrizes curriculares( Terra)

154

A investigaccedilatildeo realizada por Santos(2007) sugere que a esfera da

formaccedilatildeo profissional se configurou como o eixo que provocou maior interesse

dos(as) estudantes que estiveram presente no ENESS de 2007 com o percentual de

38 da amostragem produzida por ele72 Entretanto as discussotildees sobre a formaccedilatildeo

profissional natildeo podem ser entendidas sem contextualizaacute-las na atual dinacircmica da

sociabilidade capitalista e suas particularidades na realidade nacional

Quanto agraves limitaccedilotildees foram salientadas pelos dirigentes nacionais

questotildees financeiras que dificultam a materializaccedilatildeo das atividades planejadas para

objetivaccedilatildeo das deliberaccedilotildees

A dimensatildeo geograacutefica do paiacutes que mesmo com a existecircncia das

coordenaccedilotildees regionais inviabiliza a atuaccedilatildeo da executiva na totalidade das escolas

de Serviccedilo Social realidade que se tornou mais complexa com a intensificaccedilatildeo da

privatizaccedilatildeo no ensino superior que ampliou de modo expressivo os cursos na

iniciativa privada Entretanto eacute interessante destacar que pode existir profundos

tensionamentos entre coordenaccedilatildeo nacional e regional pois a eleiccedilatildeo para as

regionais satildeo realizadas nos ERESS e desvinculadas da eleiccedilatildeo nacional o que por

sua vez e permite ainda a ocupaccedilatildeo dessas instacircncias por militantes com

posicionamentos poliacuteticos divergentes da direccedilatildeo nacional Essa perspectiva foi

salientadas por dois(duas) dirigentes que sinalizaram dificuldades da ENESSO em

desenvolver atividades em determinadas regiotildees

A mercantilizaccedilatildeo tambeacutem traz dificuldades para a atuaccedilatildeo da ENESSO

pois a fala majoritaacuteria dos(as) entrevistados(as) indicam maior autonomia de

organizaccedilatildeo na esfera puacuteblica

A fraacutegil formaccedilatildeo poliacutetica dos(as) estudantes que corroboram para uma

negaccedilatildeo da organizaccedilatildeo estudantil por parte do proacuteprio segmento que imbuiacutedos na

loacutegica dominante nega as vivecircncias coletivas Essa tendecircncia requisita dos(as)

militantes principalmente daqueles(as) que assumem as entidades estudantis como

a ENESSO uma formaccedilatildeo poliacutetica consistente e qualificada com vista ao

enfrentamento dessas barreiras no cotidiano de sua accedilatildeo Eacute relevante frisar que

conforme definiu Fontes(2009) vivenciamos um contexto de fragilidade dos MS em

que a classe dominante se utiliza da coerccedilatildeo e do convencimento para amenizar as

accedilotildees de contestaccedilatildeo dessa ordem Ainda assim a autora acredita que

72 Conjuntura obteve o percentual de 29 Cultura 6 Universidade 12 e Movimento Estudantil 15

155

Essa juventude tem limites para aturar goela abaixo a privatizao do ensino superior a fragmentao do ensino superior numa hierarquizao alucinada segundo a qual alguns vo ter cursos superiores de boa qualidade e uma grande massa ser de tecnlogos de 2 anos ou cursos distncia de pssima qualidade Durante algum tempo isso pode funcionar mas no por muito tempo A nossa juventude no idiota e a populao tambm no boba Se a grande imprensa atua tratando essa populao como bicho de zoolgico no pior sentido essa populao reage(FONTES73 2009 p10)

Foi citado ainda que a ldquotenso com alguns grupos polticos dentro do

MESS dificulta a organizao de alguns encontros campanhas socializao de

informaes estratgias de lutas nacionaisrdquo(Marte) Alm dessas sinalizaes

consideramos relevante a apreenso realizada pelo(a) entrevistado(a) quanto ele(a)

explicitava outros limites no decorrer da sua gesto

tem o limite conjuntural que n Na poca que participei fazendo um recorte gente j t dentro do recuo dos MS n Tem a dificuldade da organizao coletiva isso a principal limitao n De militncia mesmo no que eu estou colocando a questo financeira a questo outra mas a questo conjunturalmente dificulta que o limite maior da implementao da luta pela universidade pblica gratuita e de qualidade n Para implementao do projeto tico poltico profissional a gente est numa conjuntura adversa onde os MS passam por um refluxo enorme n E onde o individualismo a questo do individualismo da falta de interesse coletivo a principal barreira do militante dentro da executiva ento essa a avaliao que eu fao do ponto de vista das limitaes

A fala do(a) militante expressa os valores predominante nesta

sociabilidade e que fragiliza as organizaes coletivas como MS que

majoritariamente apresentam uma atuao de recusa da ordem societal estabelecida

No tocante as potencialidades apreendidas pelos dirigentes no

desenvolvimento das aes efetivadas pela ENESSO so destacas o papel da

entidade na apreenso das inquietaes estudantis a partir dos debates travados nos

fruns74 do MESS contribuindo para que a executiva seja um importante sujeito na

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social em articulao com a ABEPSS e o

CFESS A discusso da entidade com a base estudantil que corrobora para uma

atuao democrtica mediante a materializao de atividades discutidas

73 Em entrevista concedida pela autora ao observatrio Barlavento e disponibilizada no sitehttpwwwbarlaventoorga3indexphpoption=com_contentampview=articleampid=70entrevistacom-virginia-fontesampcatid=47brasilampItemid=65 acesso 30 de abril de 200974 Santos destaca os dados de sua pesquisa sugere que a principal motivao que levou os(as) estudantes a participar do ENESS de 2007 se remete ao interesse de acompanhar os debates contemporneos que afetam e influenciam a profisso

156

preponderantemente com o coletivo de estudantes O debate constante com as

coordenaes regionais respeitando as especificidades de cada regio A autonomia

do ME e em particular da ENESSO frente ldquoao movimento dos professores da

prpria categoria de Servio Social sempre uma postura de autonomia de

independnciardquo(URANO) tambm foi salientada pelos(as) dirigentes

As estratgias citadas pelos entrevistados(as) foram a descentralizao

poltica na qual cada coordenador(a) nacional fica responsvel pela cobertura das

escolas de uma determinada regio quando se trata da realizao de oficinas

seminrios visitas as escolas e tambm a participao e construo dos fruns

estudantis locais e regionais O incentivo a construo de CA e DA em escolas nas

quais essas instncias inexistiam seja na iniciativa pblica ou privada Articulao

com as representaes discentes em ABEPSS com o objetivo de fortalecer a luta em

favor das Diretrizes Curriculares O desenvolvimento de campanhas de quitao de

dbitos das escolas visto que a ENESSO mantida pelo pagamento de anuidades75

por parte dos CAs e DAs dos cursos de Servio Social como forma de potencializar

a autonomia da entidade

Os(as) entrevistados(as) apontam como principais aliados do MESS e por

conseguinte da ENESSO as demais entidades representativa da profisso a

ABEPSS e o CFESS e os CRESS que compartilham princpios lutas e atividades

nessa conjuntura desfavorvel a organizao e articulao poltica de segmentos

negadores dessa ordem Entretanto Marte referindo aos CRESS evidencia que ldquocabe

ressaltar que em alguns estados o dilogo com essa instncia difcilrdquo

As entidades estudantis que tem uma postura de defesa da universidade

e de um ensino superior com qualidade tambm foram ressaltadas direes de

faculdades especialmente pblicas alm do ANDES que tido como um importante

aliado na defesa por uma educao qualificada e na prpria luta contraria a atual

contra-reforma do ensino superior A direo minoritria da UNE tambm foi citada

por dois militantes que salientam as contradies existentes naquela entidade J que

a eleio da mesma proporcional e isso possibilita a ocupao de alguns cargos por

dirigentes no pertencentes corrente majoritria no caso a UJS vinculada ao PC do

B foram salientados ainda o MST e a CUT como importantes aliados da entidade

Mediante as entidades e movimentos citados apreendemos que a

executiva procurar construir alianas com sujeitos que predominantemente no

decorrer da histria apresentou eou apresenta uma postura de defesa de direitos e

situada no campo da esquerda nacional Entretanto isso no significa a inexistncia

75 A anuidade equivale ao valor do salrio mnimo vigente no pas As escolas que sediaram encontros no decorrer do ano so isentas do pagamento

157

de contradies em que citamos a UNE e a CUT como entidades que tem

apresentando uma atuao acrtica na atual conjuntura nacional tendncia que

culminou inclusive com a desfiliao do ANDES da referida entidade sindical

Quanto aos opositores os(as) dirigentes da ENESSO destacam as

mantenedoras e coordenaes de cursos de universidades privadas que impediam o

acesso dos(as) dirigentes aos(as) estudantes como demonstrado na seguinte

passagem aqueles(as) ldquoque fazem a defesa intransigente da instituio no campo de

defesa do campo de trabalho eu trabalho aqui como que eu vou bater e se perde

dentro do campo contraditrio da atuao profissionalrdquo (Neturno) Foi ressaltado

ainda rgo de represso do Estado especialmente a polcia que procura reprimir as

mobilizaes estudantis

No ENESS 2007 alguns estudantes foram ameaados pela polcia outros foram atingidos por spray de pimenta Na luta pelo passe-livre foi utilizado cavalaria contra os estudantes tropa de choque seguranas de universidades usando de fora fsica excessiva pararetirar estudantes de reitorias etc(Marte)

Para Terra o grande opositor o prprio sistema vigente uma conjuntura

que dificulta a efetivao das lutas dos MS e em particular do MESS e de sua

entidade nacional Certamente estamos numa sociabilidade negadora de vivncias

coletivas pois o que predomina a imediaticidade e a busca pelos anseios individuais

entretanto no podemos negar que a burguesia tem entidades e organismos que

defendem seus interesses em detrimentos das demandas dos segmentos

subalternizados Exemplo disso consiste a investida do capital na educao superior e

que atualmente conta expressivamente com o aparelho do Estado com a grande

mdia com corporaes financeiras entre outras

No campo de dificuldades em termos da organizao poltica do MESS

os(as) dirigentes evidenciaram a expanso da privatizao do ensino superior visto

que segundo suas contribuies recorrente a represso nesses espaos O reduzido

registro histrico sobre o ME reflexo da prpria transitoriedade desse movimento

Dificuldades dos(as) estudantes incluindo os(as) coordenadores(as) da ENESSO em

participar de todos os eventos expresso das prprias condies objetivas dos(as)

militantes e de seus compromissos cotidianos Conseguir maior adeso dos(as)

estudantes e fazer com que eles(as) se percebam nos fruns estudantisrdquo fazer com

que o estudante perceba que o seu problema cotidiano est ali sendo discutidordquo

(Urano) Ainda foi citada os tensionamentos de atuar em um espao to heterogneo

com a existncia de posicionamentos diversos e s vezes antagnicos Marte traz uma

reflexo polmica sobre as dificuldades enfrentadas na gesto 20072008 e que se

158

remete aos agrupamentos polticos atuantes no movimento e que consistem numa

expresso dessa diversidade caracterstica do ME e especial do MESS Para ele(a)

as tendncias

O debate sobre a contribuio das ldquotesesrdquo polmico e meu posicionamento contrrio a qualquer forma de aparelhamento ou ingerncia partidria no MESS No foram raras s vezes em que os encontros foram implodidos por tais correntes As teses tm em minha opinio contribudo para a fragmentao desarticulao e sectarizao dos estudantes Os Encontros tm sido permeados por embates entre as teses perdendo o debate das mesas desmotivando os estudantes e enfraquecendo o movimento Esse talvez nesse momento possa ser um dos fatores de maior fragilizao do MESS Observadas com mais ateno percebe-se um carter denuncista e quase nulo em proposies para superao dos problemas do MESS A contribuio poltica que segundo alguns defensores poderiam ser utilizados seriam os debates macro societrios mas que so apresentados como leitura de cartilha e no como um estudo de fato de uma situao O que em minha opinio empobrece a discusso e no traz benefcios para o pensamento crtico(Marte)

Afirmandonegando a argumentao acima Terra da gesto 20052006

explicita que apesar da

necessidade e da legitimao que eu fao dos agrupamentos polticos mas na poca que eu estava na executiva j existiam um enfraquecimento desses agrupamentos polticos a organizao ela j estava se tornando frgil ns no tnhamos mais as grandes plenrias dos movimentos o movimento poltico partidrio ele comea a ficar mais latente e a as brigas internas do movimento elas se tornam mais visveis mas no do ponto de vista estratgico mas do ponto de vista poltico partidrio ento eram as principais dificuldades e a questo da organizao poltica ela vem n

Analisando a fala dos(as) entrevistados(as) apreendemos que so

posicionamentos diferentes em relao aos grupos polticos enquanto um(a) defende

e legitima atuao dos mesmos outro(a) coordenador(a) da ENESSO a nega

entretanto ambos concordam no sentido de atribuir a esses grupos ampla ao

nesse processo de fragilizao pela qual perpassa o MESS na contemporaneidade

que se expressa por exemplo na no ocupao das coordenaes nacionais para

gesto 20082009 da ENESSO

No nosso entendimento para Marte da gesto 20072008 os

agrupamentos se constituem em correia de transmisso dos partidos polticos para

com o MESS o que por sua vez fragiliza e desmobiliza esse movimento mediante o

159

enfraquecimento ou anulao de sua autonomia Enquanto que para Terra da gesto

20052006 os agrupamentos historicamente constituem os principais impulsionadores

da poltica da ENESSO e o que acontece hoje que eles no esto mais formulando

organizando e propondo ldquode voc realizar plenria produzir material fortalecer a

entidaderdquo (Terra) e quando essas dimenses deixam de ser pautadas o que mais

reflete so as vinculaes partidrias deixando o precpuo ou seja o fortalecimento

do MESS para segundo plano

Analisamos que a existncia de agrupamentos polticos inclusive no ME

e aqui especificamente do MESS reflete uma tendncia de discusso organizao e

atuao com posicionamentos divergentes que a vivncia no campo da democracia

poltica possibilita e que os(as) estudantes tiveram importante atuao nessa

conquista

Destarte no fazemos defesa da utilizao das organizaes estudantis

por sujeitos com mera pretenso partidria que procuram aparelhar as entidades o

que por sua vez representa a reduo ou anulao de espaos democrticos nos

debates e tomadas de decises visto que a principal pretenso colocar a entidade

prioritariamente a disposio do partido Temos o entendimento que as organizaes

estudantis se configuram como espaos de referncia dos(as) estudantes na sua luta

cotidiana em instituies pblicas e privadas O que no significa a negao de

vinculao com outros sujeitos coletivos como MS e Partidos polticos na construo

de alianas com o objetivo de realizar aes que ultrapassem as demandas

especficas do segmento ou seja necessria a articulao quando se visa

ultrapassagem de conquistas corporativas e se busca a negao da sociabilidade

capitalista objetivo histrico e majoritrio no MESS

A anlise realizada pelos (as) dirigentes sobre a atuao do ME na

contemporaneidade no sentido de que no se pode pensar a atuao desse

segmento sem contextualiz-la nessa conjuntura neoliberal de no ascenso dos MS

em que cada vez mais predomina o individualismo e a negao de prticas coletivas

Dimenso que sintetizamos na fala de Urano ldquoacho que os anos 1990 foram muito

perversos como estvamos num processo de reorganizao ele veio com muita fora

para desarticular esses MSrdquo

um contexto de refluxo que corrobora para o enfraquecimento das lutas

sociais alm disso na realidade brasileira historicamente a principal entidade

dos(as) estudantes passam por um processo de cooptao por parte do governo

federal em que nitidamente so efetivadas medidas que fragilizam a perspectiva de

universidade pblica e potencializam a esfera privada com amplo apoio da UNE No

caso especfico do MESS a principal entidade passou o perodo de gesto 2008-2009

160

sem dirigentes para impulsionar a poltica da entidade o que rebate negativamente na

organizao e mobilizao estudantil

Embora com tantas dificuldades militantes apontam que ainda assim o

ME tem sido importante na luta em favor da universidade pblica gratuita laica e de

qualidade no Brasil Conforme Marte

Infelizmente concordo com alguns autores que apontam o refluxo dos movimentos sociais e no caso do MESS Existe uma crise de quadros no MESS que tem atingido a estrutura de nossa organizao Apesar disso identifico no movimento estudantil um enorme potencial transformador da sociedade [] Fica mais evidente o movimento estudantil na luta pela universidade pblica Que no meu entender ainda no foi extinta pela intensa luta dos estudantes dessas instituies Em algumas faculdades privadas como as PUCrsquos percebemos uma organizao estudantil capaz de barrar aumentos de mensalidades denncia de falta de investimento em corpo docente materiais livros etc

Na apreenso de todos(as) os(as) entrevistados(as) a atuao dos(as)

estudantes fundamental para preservao e conquista de direitos na esfera

educacional dimenso privilegiada no Servio Social pelo prprio perfil de formao

profissional que mediante a anlise crtica da sociabilidade capitalista e da formao

econmica social e poltica do Brasil corrobora para uma interveno crtica dos(as)

estudantes

Diante do exposto os(as) militantes entrevistados(as) apreendem a

ENESSO como uma entidade combativa e comprometida com a universidade pblica

e com o projeto profissional do Servio Social e fundamental na articulao nacional

dos(as) estudantes e que no decorrer de sua histria tem contribudo politicamente

com as lutas dos(as) assistentes sociais brasileiros(as)

voltando pra importncia da entidade s a gente remontar a nossa histria ns participamos diretamente da reformulao das diretrizes curriculares ns participamos diretamente na construo do cdigo de tica ns participamos ativamente dentro do debate de construo da lei orgnica da assistncia ns participamos atualmente dentro dos debates mais importantes dentro da categoria o debate sobre construo ou no do exame de proficincia[]ns temos sim grande importncia essa uma instituio uma entidade que tem importncia concreta na luta real dos estudantes de servio social no Brasil e dos assistentes socais de uma forma mais geral (Neturno)

Alm disso recorrente na fala dos(as) militantes a participao no ME

em particular no MESS e na coordenao da ENESSO como relevante na construo

161

de um pensamento e da ao crtica que se procura manter aps a concluso do

curso mediante a militncia em outros espaos como entidades da profisso outros

MS e partidos polticos Essa perspectiva j havia sido sinalizada por

Ramos(2005)ldquoEnquanto movimento social com base transitria o ME um locus

muitas vezes de iniciao de parcela da juventude na militncia poltica se

configurando como um espao de formao poltico-ideolgica de militantes que

depois iro atuar em outras esferas organizativasrdquo(p105) Essa perspectiva tambm

sinaliza em Silva(2008) que concebe o MESS como importante espao na formao

profissional e poltica dos(as) estudantes

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies

Como j foi relatado no perodo investigado nesta pesquisa ocuparam

majoritariamente a coordenao nacional da ENESSO sujeitos organizados

simpatizantes eou apoiados pelo agrupamento e militantes do ldquoViver na Lutardquo Embora

no se constitua objetivo principal dessa pesquisa o estudo sobre os agrupamentos

que atuam no MESS consideramos ser importante destacar a apreenso de um(a)

militante que atuou no MESS de 20042008 e esteve como coordenador(a)76 regional

da ENESSO na condio de oposio a coordenao nacional

As contribuies do(a) dirigente regional se estrutura a partir de trs

questionamentos anlise em relao atuao das tendncias no MESS atuao da

ENESSO nos mbitos da universidade e da formao profissional objetivo precpuo

desse trabalho e finalmente atuao da executiva no processo de organizao e

mobilizao dos(as) estudantes na contemporaneidade

Em relao primeira discusso o(a) dirigente regional defende que as

tendncias foram fundamentais na construo do MESS pois contribuiu na

organizao estrutural dos encontros bem como no amadurecimento poltico dos(as)

militantes mediante a elaborao de documentos fomentao de debates e

corroborou ainda na aproximao do MESS com partidos polticos e outros MS

permitindo que o movimento apresente atualmente uma atuao no restrita ao

espao universitrio

Como observado essa concepo no se difere da maioria dos(as)

dirigentes nacionais entrevistados(as) nesta investigao que tambm sinalizam a

76 A(o) militante receber o nome fictcio de Luz Estudante de universidade pblica que atuou em instncias como CORETUR e CA A dirigente no filiado(a) a partido poltico

162

relevacircncia dos agrupamentos na construccedilatildeo do MESS a partir do desenvolvimento de

debates na construccedilatildeo dos foacuteruns estudantis na elaboraccedilatildeo de documentos que

abordam questotildees fundamentais como conjuntura universidade cultura formaccedilatildeo

profissional e sobre o proacuteprio movimento Luz reflete tambeacutem a articulaccedilatildeo dos grupos

presentes no MESS com os partidos poliacuteticos que na sua concepccedilatildeo

Todas as tendecircncias que existiram no MESS tiveram em algum momento militantes filiados a partidos poliacuteticos o que muitas vezes permitiu uma correlaccedilatildeo de forccedilas entre os partidos poliacuteticos e as tendecircncias Quando na histoacuteria brasileira se acirram as disputas entre os partidos de esquerda se acirram tambeacutem as disputas entre as tendecircncias no MESS havendo entatildeo uma pluralidade de direcionamentos poliacuteticos e ideoloacutegicos Esse processo refletia diretamente na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo do MESS trazendo em alguns momentos fortalecimento e em outros desmobilizaccedilatildeo dos estudantes para as lutas(Luz)

Para Marte da gestatildeo 20072008 que se colocou contraacuterio a accedilatildeo dos

grupos acredita que a real disputa pela ENESSO por militantes filiados(as) a partidos

poliacuteticos em especial do PSTU eacute decorrente da forte atuaccedilatildeo da ENESSO que se

configura como uma das executivas de cursos mais combativas e com poder de

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo estudantil o que no seu entendimento chama atenccedilatildeo dos

partidos77

A combatividade da executiva pode chamar a atenccedilatildeo de diferentes

correntes partidaacuterias entretanto o fato em si de militantes do MESS atuarem tambeacutem

em partidos entre os quais o PSTU natildeo significa que a intenccedilatildeo preponderante

desses militantes seja ocupar os espaccedilos da ENESSO com vista a atender

meramente os interesses partidaacuterios Expressatildeo disso eacute que como registrado no item

que tratou do perfil dos(as) dirigentes nacionais da entidades nas gestotildees entre os

anos de 2003-2008 em relaccedilatildeo a filiaccedilatildeo partidaacuteria existiu uma total predominacircncia

de coordenadoras filiados ao PT e na maioria dos casos essa se deu apoacutes a inserccedilatildeo

no MESS e mesmo assim nos documentos produzidos pela entidade fica explicito a

sua direccedilatildeo de recusa da contra-reforma do ensino superior do governo Lula inclusive

encampando accedilotildees de repercussotildees significativas como foi o boicote ao ENADE em

2004 o que natildeo representa a inexistecircncia de limitaccedilotildees e contradiccedilotildees

especialmente nesse cenaacuterio de fragilizaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo dos MS e de

desconfianccedila e descreacutedito em relaccedilatildeo aos partidos poliacuteticos

77 Eacute importante destacar que natildeo soacute militantes de partidos poliacuteticos forjado no campo da esquerda atuam no MESS ainda que de forma tiacutemida se faz presente militante identificados com partidos historicamente situados no campo de direita e comprometidos com os privileacutegios da burguesia Nos congressos da UNE eacute recorrente a articulaccedilatildeo da juventude de partidos como o PMDB e os DEMOCRATAS estes anteriormente chamados de PFL jovem

163

Segundo as contribuies de Luz avanos e retrocessos perpassam a

atuao dos agrupamentos existentes no MESS Essa perspectiva se verifica por

exemplo quando os(as)

estudantes no conseguem nos encontros tirar deliberaes em comum para a luta da ENESSO e quando como ocorreu em muitos ENESSrsquos a fragilizao nos atos pblicos porque as teses se dividiram no ato porque tinham divergncias nas bandeiras de lutas Em alguns encontros os estudantes que no faziam parte das tendncias demonstravam claramente empatia e rejeio s teses e a partidos polticos e colocavam que as disputas tinham apenas o objetivo de conseguir a diretoria da ENESSO

A fala do(a) entrevistado(a) nos remete a reflexo em torno da ao dos

agrupamentos polticos nessa conjuntura de acirramento das disputas entre as

vertentes que se organizam no MESS Analisamos que essa efervescncia seja

reflexo sobretudo da conjuntura nacional visto que um dos pontos prioritrios que

distinguem os grupos que existiram eou existem no perodo dessa investigao se

refere prioritariamente a uma posio de rejeio ou no em relao ao governo Lula e

ao reconhecimento ou no da UNE como entidade mxima de organizao e na

mobilizao e direcionamento das lutas e demandas estudantis no pas Portanto a

existncia de diviso em atos pblicos revela prticas sectrias e que certamente

fragilizam o movimento Agrupamentos como o recm acabado Viver na Luta tese que

esteve majoritariamente na direo nacional da ENESSO no perodo aqui analisado

apresentava uma atuao de defesa em relao a UNE e desse modo de

possibilidade de reorganizao e retomada combativa dessa entidade j o grupo A

Sada pela Esquerda majoritariamente faz a defesa de que ldquopermanecer nos

marcos da UNE gastar energia numa luta intilrdquo (2005)

No que se refere atuao da ENESSO nos mbitos da universidade e da

formao profissional o(a) militante enfatiza que historicamente a defesa da

universidade pblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formao

profissional fundado no projeto tico poltico do Servio Social constituem esferas

defendidas pelo MESS e dessa maneira ele(a) sinaliza a necessidade da atuao da

ENESSO independente da chapa eleita seguir as orientaes previstas nas

deliberaes aprovadas pelo conjunto de estudantes presentes no Encontro Nacional

do segmento

Nesse sentido assinalamos anteriormente que as deliberaes ratificadas

nos ENESS que compreendem o interregno de 2003-2008 apresentaram uma

postura de afirmao de processos formativos fundamentados nas Diretrizes

Curriculares de 1996 bem como direcionaram a entidade a assumir uma direo de

164

defesa da universidade puacuteblica e socialmente referenciada o que por sua vez implica

a luta em oposiccedilatildeo a contra-reforma do ensino superior efetivada nas gestotildees de

Lula Diante do exposto Luz reflete sobre possiacuteveis limitaccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS e

da ENESSO no acircmbito da universidade decorrentes das polecircmicas que envolvem a

forma de articulaccedilatildeo com o ME geral

isto porque nas ultimas gestotildees da diretoria da ENESSO essa articulaccedilatildeo ocorre atraveacutes da UNE e muitosas estudantes apesar dela ser a entidade maacutexima de representaccedilatildeo dos estudantes natildeo acredita em seu poder de enfrentamento pois ela tem sido a favor de todas as propostas do governo com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria Essa polemica se estende haacute alguns anos e nos ENESS se colocam como ponto central na discussatildeo sobre articulaccedilatildeo com o ME geral Os estudantes se dividem uns acreditam que a articulaccedilatildeo deve continuar sendo atraveacutes da UNE outros defendem que seja atraveacutes de outras entidades como a CONLUTE e movimentos de aacuterea Eacute importante ressaltar o interesse poliacutetico nessas discussotildees e articulaccedilotildees essas disputas poliacuteticas em alguns momentos acabam por limitar a articulaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da ENESSO com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria

A CONLUTE eacute uma entidade jovem criada recentemente mas que pauta

e fomenta o debate de questotildees diferentemente da UNE esta que embora apresente

uma frente de esquerda devido a proporcionalidade que marca o processo eleitoral da

entidade mas a forccedila poliacutetica maior eacute de aceitaccedilatildeo predominante das accedilotildees

governamentais sem esboccedilo de negaccedilatildeo O que nos leva a refletir que seja

importante a articulaccedilatildeo da ENESSO com as entidades e movimentos que partilham

princiacutepios e lutas conjuntas

Um dimensatildeo sinalizada pelo(a) coordenadora regional bem como

pelos(as) coordenadores(as) nacionais eacute reconhecer a importacircncia da alianccedila com o

conjunto CFESS-CRESS e a ABEPSS como potencialidade no fortalecimento de lutas

contra a precarizaccedilatildeo do ensino e em favor da formaccedilatildeo qualificada

No tocante a esfera de atuaccedilatildeo da ENESSO na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

dos(as) estudantes na cena contemporacircnea o(a) militante socializa significativas

criacuteticas Essas satildeo direcionadas no sentido de fortalecer a representatividade da

entidade que segundo Luz

Eacute necessaacuterio que a diretoria da ENESSO tenha representatividade perante osas estudantes para uma maior identificaccedilatildeo com as lutas travadas pela entidade Para que se consiga representatividade eacute necessaacuterio trabalho de base o contato e formaccedilatildeo poliacutetica criacutetica deve ser priorizado em suas atividades o que as uacuteltimas gestotildees da coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO deixam a desejar Atraveacutes do trabalho de base e da formaccedilatildeo criacutetica osas estudantes constroem as pautas das lutas gerando identificaccedilatildeo organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

165

Como observamos no item anterior os(as) dirigentes nacionais da

ENESSO sinalizam a articulaccedilatildeo com as bases estudantis como uma relevante

potencialidade na construccedilatildeo do MESS e na atuaccedilatildeo da ENESSO o que agora eacute

apontado por Luz como fragilidade no processo de mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes

Entretanto majoritariamente os(as) dirigentes entrevistados(as) aqui

incluindo nacionais e regionais chama a atenccedilatildeo para a conjuntura desfavoraacutevel para

organizaccedilatildeo coletiva que tem fortes rebatimentos nos MS em particular no MESS

5-5 SERVICcedilO SOCIAL ABEPSS CFESS e A ENESSO no acircmbito da parceria

estrateacutegica

A pesquisa tratou de explicitar a atuaccedilatildeo da ENESSO nas esferas da

universidade e da formaccedilatildeo profissional na qual procuramos apontar potencialidades

limites e contradiccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS mediante a accedilatildeo de sua entidade

nacional Diante disso a parceria entre as entidades da profissatildeo se confirma como

uma significativa tendecircncia no acircmbito organizativo do Serviccedilo Social sobretudo a

partir da deacutecada de 1990 perspectiva amplamente apontadas pelos dirigentes da

ENESSO entrevistados(as) nessa investigaccedilatildeo e nos documentos produzidos pela

entidade que define a parceria com a ABEPSS e com o conjunto CFESS-CRESS

como essencial na efetivaccedilatildeo de lutas que tenham como horizonte a defesa da

formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social

Dessa maneira apontaremos algumas mediaccedilotildees relacionadas a essa

articulaccedilatildeo em que nos baseamos no seguinte fio condutor para o desenvolvimento

da anaacutelise apreensatildeo em relaccedilatildeo a parceria das entidades as estrateacutegias

desenvolvidas pelas entidades no acircmbito da universidade e da formaccedilatildeo profissional e

dificuldades enfrentadas nesse processo de articulaccedilatildeo Para tal levamos em

consideraccedilatildeo a fala de representante de outra entidade da categoria particularmente

da ABEPSS Em que chamamos a atenccedilatildeo para as particularidades que perpassa a

articulaccedilatildeo com a ENESSO voltada para defesa do projeto que direciona a formaccedilatildeo

e o exerciacutecio profissional no paiacutes

Nesse sentido esboccedilaremos uma breve contextualizaccedilatildeo relativa ao

projeto profissional hegemocircnico no Serviccedilo Social e que fundamenta a formaccedilatildeo

pautada nas Diretrizes Curriculares jaacute evidenciadas no capitulo quarto desse trabalho

O final da deacutecada de 1970 se configura para profissatildeo como um periacuteodo

de intensa discussatildeo e inquietaccedilatildeo decorrentes entre outros aspectos da

166

aproximaccedilatildeo de segmentos da profissatildeo com uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

criacutetica contribuindo para construccedilatildeo de um projeto eacutetico-poliacutetico sintonizado com os

ideais da vertente de ruptura78 e portanto com os interesses da classe trabalhadora e

de sujeitos sociais historicamente subalternizados

Natildeo podemos desvincular esse processo do cenaacuterio brasileiro marcado

naquele momento pela crise do sistema ditatorial fragilidade do milagre econocircmico

a reorganizaccedilatildeo de setores importantes entre os quais diversos MS que

transformaram a liberdade e a democracia nas principais bandeiras de luta ou seja

uma conjuntura de efervescecircncia nos marcos da redemocratizaccedilatildeo poliacutetica

caracterizada na sua essencialidade por accedilotildees combativas e contestatoacuterias

direcionadas por vaacuterios setores da sociedade civil contra a ditadura instalada em abril

de 1964 Assim Netto (1999 p 100) destaca

A luta pela democracia na sociedade brasileira fazendo-se ecoar na categoria profissional criou o quadro necessaacuterio para quebrar o quase monopoacutelio do conservadorismo no Serviccedilo Social no processo de derrota da ditadura militar inscreveu-se a primeira condiccedilatildeo a condiccedilatildeo poliacutetica para a constituiccedilatildeo de um projeto profissional

Outra dimensatildeo tambeacutem sinalizada por Netto (1999) Iamamoto (2006)

constitui a elevaccedilatildeo na produccedilatildeo teoacuterica dos (as) assistentes sociais vinculada a uma

perspectiva de anaacutelise e intervenccedilatildeo criacutetica dana realidade social influenciada pela

aproximaccedilatildeo de profissionais do Serviccedilo Social com a matriz marxiana e com os

pensadores(as) marxistas Nesse sentido eacute interessante chamarmos a atenccedilatildeo para a

contribuiccedilatildeo do meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico na construccedilatildeo do

conhecimento e portanto na apreensatildeo da realidade visto que permite a elaboraccedilatildeo

de anaacutelises levando-se em consideraccedilatildeo as muacuteltiplas determinaccedilotildees das

problemaacuteticas sociais proporcionando uma compreensatildeo cuja centralidade consiste

na desnaturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees histoacutericas

78 No processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional trecircs correntes se destacaram 1ordf a modernizaccedilatildeo conservadora que procurou adequar agrave profissatildeo as estrateacutegias de expansatildeo do capitalismo no Brasil os seminaacuterios de Araxaacute (1967) e Teresoacutepolis (1970) expressam a afirmaccedilatildeo dessa perspectiva baseada sobretudo no estrutural funcionalismo norte-americano a 2ordf vertente consistiu na reatualizaccedilatildeo do conservadorismo influenciada pelas concepccedilotildees fenomenoloacutegicas a qual privilegiava o vieacutes psicologista na atuaccedilatildeo do (a) assistente social a 3ordf vertente denominada de intenccedilatildeo de ruptura baseada especialmente na tradiccedilatildeo marxista cujo siacutembolo dessa aproximaccedilatildeo correspondeu o famoso meacutetodo de BH ainda nos primeiros anos da deacutecada de 1970 Todavia pelo proacuteprio contexto de repressatildeo vivenciado durante a ditadura militar a influecircncia do marxismo no acircmbito do Serviccedilo Social soacute ganhou expressividade no final dos anos 1970 e conforme Netto eacute a intenccedilatildeo de ruptura que daacute o tom da polecircmica profissional na 1ordf metade dos anos 1980 ( cf NETTO 2005)

167

Pereira(2007) elenca alguns momentos considerados emblemticos nesse

processo de negao do Servio Social tradicional e afirmao de um projeto

profissional sintonizado com perspectiva de transformao social visando a

emancipao humana Entre eles destacamos o denominado congresso da virada em

1979 a construo do cdigo de tica de 1986 o qual evidencia a ruptura com as

bases tericas conservadoras e a tica da neutralidade passando a situar a atuao

do(a) assistente social no mbitos das relaes histricas e contraditrias que

caracterizam a sociabilidade capitalista a constituio do Centro de Documentao

Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social(CEDEPSS) que impulsionou os

debates e o desenvolvimento de aes que destacavam a importncia da pesquisa no

cotidiano da profisso para alm da academia o reconhecimento nos anos de 1980

por parte das agncias de incentivos a pesquisa de ser o Servio Social uma rea de

conhecimento o que contribui fundamentalmente na criao e expanso da ps-

graduao no pas o fortalecimento organizativos das entidades em nvel profissional

e estudantil e ainda os debates promovidos pela antiga ABESS hoje ABEPSS que

culminou na formulao do Currculo Mnimo de 1982 o qual passou a conceber a

ldquoprofisso inserida na diviso scio-tcnica do trabalho no processo de produo e

reproduo das relaes sociais capitalistasrdquo(2007 p14)

relevante evidenciarmos que essa redefinio no mbito do Servio

Social foi resultado de intensos debates coletivos envolvendo os diversos sujeitos

dessa profisso entre estes os (as) estudantes e de suas entidades poltico-

organizativas

Pensar a profisso requer considerarmos o constante movimento da

sociedade capitalista a partir da anlise das prprias transformaes histricas Nessa

perspectiva a reviso dos instrumentos normativos constitui uma necessidade real no

intuito de responder as demandas colocadas no cotidiano da formao e atuao

profissionais mudanas contudo preservando-se a postura crtica alcanada

hegemonicamente no mbito da profisso

Portanto nessa caminhada temos a reformulao do Cdigo de tica de

1986 redundando no Cdigo em vigncia de 1993 As alteraes efetivadas visaram

superao de limites de natureza terico-prtica o que permitiu a construo de

mediaes no sentido de melhor apreender as particularidades resultantes por

exemplo das relaes de gnero etnia entre outras alm disso procurou-se

retraduzir os seus valores norteadores no ldquorelacionamento entre assistentes sociais

instituies e populao preservando os direitos e deveres profissionais a qualidade

dos servios e a responsabilidade do usurio (CDIGO DE TICA DE 1993)

168

Assim nos anos 1990 percebemos a retomada da discusso da tica nas

diversas esferas do Servio Social incluindo a formao profissional aliado a essa

reflexo ocorre aprovao da Lei de Regulamentao Profissional n 866293 a

qual estabelece as competncias e atribuies privativas do (a) assistente social

conformando um documento indispensvel na defesa da profisso e dos servios

prestados aos usurios nos espaos de interveno desta profisso

significativo apontar que essa trajetria de redefinio e consolidao do

atual projeto tico-poltico tambm foi protagonizada pelos estudantes como

destacado no capitulo dois dessa pesquisa em que consubstanciamos esta afirmativa

a partir da anlise realizada por Ramos (1996) cuja abordagem sobre o MESS em

nvel nacional ratifica a contribuio desse segmento na construo do novo projeto

profissional Esta atuao do MESS em relao s problemticas debates desafios

que perpassa o Servio Social se expressa por exemplo pelo reconhecimento da

ENESSO como uma das entidades representativas da profisso manifestada tal

apreenso na fecunda articulao desta com a ABEPSS e o CFESS

Nessa dimenso ressaltamos que tal projeto se materializa nos

instrumentos aqui citados cdigo de tica lei de regulamentao e diretrizes

curriculares contudo a eles no se reduzem dada compreenso do mesmo se

expressar nas deliberaes dos encontros profissionais e estudantis nas campanhas

elaboradas pelas entidades na interveno cotidiana dos (as) assistentes sociais

voltada para a garantia de direitos e do ser humano como sujeito construtor dos

processos histricos bem como atravs da formao de alianas com outros

segmentos voltadas para construo de um movimento verdadeiramente contra-

hegemnico a sociabilidade do capital

Nesse sentido a anlise da fala da representante da ABPSS evidencia

que a parceria existente entre as trs entidades se sustenta na unidade em torno da

defesa do projeto profissional o qual teve suas bases de constituio nos anos 1980

com sua firmao na dcada seguinte dimenso sintetizada na fala abaixo

numa ampla articulao de foras predominantes na direo das entidades as quais se identificam nos princpios fundamentais norteadores do projeto tico-poltico-profissional do Servio Social Refiro-me ao projeto que ganha visibilidade a partir de 1979 em contraposio ao projeto profissional tradicional na busca de vinculao s lutas e conquistas democrticas e ao iderio emancipatrio da classe trabalhadora ndash referncia de luta de vastos segmentos dessa classe no Brasil e em todo o mundo( representante ABEPSS)

169

Unidade que como ressaltado pela representante da ABEPSS natildeo

significa a inexistecircncia de contradiccedilotildees divergecircncias e polecircmicas internamente nas

entidades e entre elas Dimensatildeo sinalizada em algumas passagens pelos dirigentes

da ENESSO que evidenciaram momentos conflitantes que envolvem a articulaccedilatildeo no

acircmbito da parceria entre a ABEPSS e conjunto CFESS-CRESS Destacamos ainda a

articulaccedilatildeo das entidades em defesa do projeto hoje hegemocircnico no Serviccedilo Social eacute

construiacuteda entre sujeitos que representam os interesses da mesma profissatildeo

vinculada a uma visatildeo societaacuteria mas com organizaccedilatildeo estruturaccedilatildeo manutenccedilatildeo

dinacircmicas e funcionalidades diferentes

No que se refere agrave atuaccedilatildeo das trecircs entidades nas esferas da universidade

e da formaccedilatildeo profissional tem-se a confirmaccedilatildeo que a formaccedilatildeo pautada nas

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui a principal referecircncia na luta por um processo

formativo de qualidade e sintonizado com a perspectiva de educaccedilatildeo emancipatoacuteria

Nessa dimensatildeo as trecircs entidades concretizam atividades que explicitam o

posicionamento contraacuterio a qualquer forma de privatizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo tais como produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de notas que evidenciam esse

posicionamento de defesa da universidade puacuteblica gratuita laica presencial e de

qualidade aleacutem disso eacute importante destacar que nos eventos promovidos pela

ABEPSS e pelo Conjunto CFESS-CRESS eacute garantida a participaccedilatildeo da ENESSO nos

debates e polecircmicas que envolvem a profissatildeo o que potencializa essa articulaccedilatildeo e

dessa maneira as accedilotildees voltadas para defesa do projeto profissional do Serviccedilo

Social nessa conjuntura tatildeo adversa para sua concretizaccedilatildeo

Quanto a possiacuteveis dificuldades vivenciadas nesse processo de articulaccedilatildeo

entre as trecircs entidades e em particular com a ENESSO a representante da ABEPSS

argumenta queEm relaccedilatildeo ao ENESSO pode-se supor que a atual estrutura da entidade sem uma coordenaccedilatildeo nacional tenha implicaccedilotildees e venha dificultar a articulaccedilatildeo nacional na medida em que as decisotildees satildeo inicialmente discutidas e tomadas nas bases regionais com possiacuteveis prejuiacutezos para a agilidade dos processos conjuntos

Com a ausecircncia de coordenadores(as) nacionais a responsabilidade na

concretizaccedilatildeo das deliberaccedilotildees aprovadas no ENESS de Londrina em 2008 ficaram

na incumbecircncia das coordenaccedilotildees regionais o que por sua vez representa uma

fragilizaccedilatildeo em termos de articulaccedilatildeo em niacutevel nacional como se processa entre as

ABEPSS CFESS-CRESS e a ENESSO

Desse modo analisamos que a defesa do projeto profissional que por sua

vez remete a luta em prol da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo fundamentada nas

170

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui-se a principal determinaccedilatildeo no

estabelecimento e fortalecimento da articulaccedilatildeo existente ente as entidades

representativas do Serviccedilo Social

Parceria que se torna ainda mais necessaacuteria nesse contexto neoliberal de

exacerbaccedilatildeo do privado expansatildeo de cursos sem considerar os princiacutepios formativos

defendidos pelas entidades que representam o Serviccedilo Social no paiacutes fragilidade dos

MS e organizaccedilotildees coletivas que apresentam uma praacutetica de recusa da sociabilidade

do capital entre outras dimensotildees jaacute abordadas nessa pesquisa Entretanto para que

essa articulaccedilatildeo se mantenha e mais que isso seja potencializada ateacute mesmo em

decorrecircncia do cenaacuterio sinalizado anteriormente eacute preciso que a ABEPSS o conjunto

CFESS-CRESS e a ENESSO estejam firmes atuantes e combativas em suas

particularidades o que revela um desafio coletivo das entidades e ao mesmo tempo

de cada uma dentro de suas possibilidades e limitaccedilotildees no tempo presente Nesse

sentido entendemos que ao MESS se evidencia a necessidade de fortalecer e

revitalizar suas accedilotildees e entidades como a ENESSO nessa luta em favor do projeto

profissional vinculado a construccedilatildeo de outra ordem societaacuteria

171

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apreendemos o ME como um importante movimento social que articula a

juventude universitaacuteria em niacutevel nacional desde a criaccedilatildeo da UNE no ano de 1937

Ao construiacutemos essa caracterizaccedilatildeo analisamos que a accedilatildeo desse segmento natildeo se

processa de forma desvinculada de uma concepccedilatildeo de sociedade o que por sua vez

nos possibilitou investigarmos a direccedilatildeo social de sua atuaccedilatildeo no campo da

historicidade e da contradiccedilatildeo que particulariza a sociabilidade burguesa

Mediante o estudo da atuaccedilatildeo da ENESSO enfatizamos que desde a sua

criaccedilatildeo no ano de 1988 ela se configura como espaccedilo privilegiado de aglutinaccedilatildeo e

protagonismo dos(as) estudantes de Serviccedilo Social no Brasil legitimada e

reconhecida pelas demais entidade da profissatildeo

Durante as gestotildees que compreende os anos de 2003-2008 sinalizamos

que a direccedilatildeo social das accedilotildees efetivadas pela ENESSO se consubstancia na defesa

da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo profissional fundada nas Diretrizes

Curriculares de 1996 tendecircncia confirmada pelos(as) dirigentes e pelos documentos

produzidos pela entidade uma perspectiva de universidade e de formaccedilatildeo sintonizada

com a negaccedilatildeo da sociabilidade capitalista e comprometida com a construccedilatildeo de outro

projeto societaacuterio

Entretanto a conjuntura neoliberal que minimiza a organizaccedilatildeo poliacutetica

dos MS tambeacutem repercute no acircmbito de atuaccedilatildeo da ENESSO dada a valorizaccedilatildeo do

individualismo e de negaccedilatildeo de vivecircncias coletivas aliada a um contexto de crise

objetiva em que cada vez mais os (as) estudantes se preocupam com sua

manutenccedilatildeo e inserccedilatildeo no mundo do trabalho ainda durante a graduaccedilatildeo Portanto

temos um cenaacuterio caracterizado pela fragilidade de accedilotildees coletivas combativas de

contestaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e de lutas mais consistentes e articuladas ateacute mesmo com

outras entidades estudantis

A realizaccedilatildeo de atividades fragmentadas reduz a capacidade de barrar

eou ateacute mesmo amenizar as investidas do capital na educaccedilatildeo brasileira tendecircncia

fortalecida nos anos de 1990 e mantida nos anos 2000 com a concretizaccedilatildeo da

contra-reforma do ensino superior no governo Lula que se sustenta numa loacutegica de

privilegiamento do privado e reconfiguraccedilatildeo das instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de

atender sobretudo as demandas do capital Realidade que gera disputas e

contradiccedilotildees no ME que se manifesta inclusive com a criaccedilatildeo de outra entidade

nacional de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes no caso a CONLUTE situaccedilatildeo

conflitante vivenciada tambeacutem pelo MESS

172

A pesquisa sugere um contexto de acirramento entre os agrupamentos

poliacuteticos atuantes no MESS os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre

o governo Lula e do posicionamento poliacutetico em relaccedilatildeo a UNE Os tensionamentos

em torno dessas questotildees perpassam na maior parte das discussotildees e geram grandes

debates e conflitos especialmente no processo de aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no

final de cada ENESS que se constituem o norte a ser seguido pela nova direccedilatildeo da

ENESSO

Temos a concepccedilatildeo que as polecircmicas atuais que provocam divergecircncias

nos partidos poliacuteticos forjados no campo da esquerda como PT PSTU e PSOL e as

organizaccedilotildees sindicais como CUT e CONLUTAS rebatem no MESS em virtude do

posicionamento histoacuterico desse movimento de pautar a discussatildeo e as lutas dos

segmentos do trabalho e de se colocar numa direccedilatildeo de recusa da sociabilidade

capitalista e de defesa da construccedilatildeo de outra sociedade o que contribui no

estabelecimento de relaccedilotildees com movimento e entidades que travam debates e

desenvolve atividades em torno das questotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho

e as disputas poliacuteticas partidaacuterias em determinado momento histoacuterico

Diante disso a investigaccedilatildeo aponta que o MESS e a ENESSO vivecircncia

uma relaccedilatildeo de negaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo em relaccedilatildeo a UNE e a CONLUTE No tocante a

primeira as deliberaccedilotildees que abrangem os anos de 2003-2008 e o proacuteprio estatuto da

executiva a reconhece como entidade maior de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes

brasileiros(as) entretanto a nega quando se trata do posicionamento assumido diante

da contra-reforma do ensino superior Por outro lado a ENESSO esboccedila uma accedilatildeo de

negaccedilatildeo da CONLUTE como uma entidade paralela a UNE que no seu

entendimento pode dividir e sectarizar ainda mais o ME no Brasil contudo as

deliberaccedilotildees ainda que timidamente apontam a necessidade de discussatildeo e

fomentaccedilatildeo do debate em torno dessa entidade que reage negativamente agraves accedilotildees

do governo Lula para educaccedilatildeo superior direccedilatildeo que potencializa essa aproximaccedilatildeo

com a ENESSO

Todavia a disputa entre os grupamentos existentes no MESS natildeo pode

ser reduzida a conquista dos cargos da ENESSO dimensatildeo timidamente sinalizada

por alguns(mas) dos(as) entrevistados(as) nem atuar de modo sectarista perspectiva

que deixa os interesses estudantis para segundo plano Atuando dessa forma os

grupos poliacuteticos presentes no MESS tendem a se enfraquecer e a fragilizar o proacuteprio

momento e a ENESSO

A natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos nacionais da ENESSO para a gestatildeo

20082009 em meio a um conturbado processo de fraude eleitoral revela o contexto

de fragilidade pela qual passa o MESS na atualidade e que revela instabilidades na

173

organizaccedilatildeo desse segmento e que atingiu profundamente a executiva Os dados

produzidos nessa investigaccedilatildeo sugere que majoritariamente a organizaccedilatildeo dos(as)

militantes em grupos tendem a fortalecer as lutas do movimento visto que seus(as)

militantes tambeacutem ocupam outros espaccedilos de atuaccedilatildeo como partidos e movimentos

o que contribui na construccedilatildeo de uma consciecircncia poliacutetica mais abrangente e criacutetica

entretanto o momento atual revela que os agrupamentos jaacute natildeo mais impulsionam a

atuaccedilatildeo da ENESSO como em periacuteodos anteriores e desse modo as divergecircncias

partidaacuterias se tornam mais recorrentes e visiacuteveis o que pode expressar uma das

determinaccedilotildees geradoras dessa forte instabilidade pela qual passa o MESS e a

ENESSO

E mesmo nessa conjuntura de instabilidades e fragilidade poliacutetica do

MESS e da ENESSO a construccedilatildeo de medidas voltadas para uma atuaccedilatildeo mais

qualificada dos(s) militantes e consequumlentemente dos(as) dirigentes das entidades

estudantis de base satildeo sucumbidas diante da falta de recurso das vaacuterias atividades

e obrigaccedilotildees cotidianas dos(as) militantes No decorrer do periacuteodo aqui analisado foi

realizado em abrangecircncia nacional somente um curso de formaccedilatildeo poliacutetica voltado

para os(as) militantes do MESS

Contradiccedilotildees satildeo apontadas no sentido de que embora a ENESSO se

posicione contraacuterio a contra-reforma do ensino superior as elaboraccedilotildees sobre essa

problemaacutetica sinalizam uma tendecircncia de que as medidas aprovadas pelo governo

Lula satildeo de certo modo justificaacuteveis devido ao processo de adoccedilatildeo das diretivas

neoliberais ainda durante a era FHC

Dentre as dificuldades apreendidas nessa pesquisa se encontram as de

ordem objetiva diante da realidade de falta de recursos da ENESSO que repercute

diretamente na atuaccedilatildeo poliacutetica da entidade pois a falta de condiccedilotildees limita a atuaccedilatildeo

da entidade em espaccedilos como cursos de Serviccedilo Social presenccedila em eventos como

seminaacuterio oficinas e entre outros Dificuldades resultantes da crescente privatizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo superior que se manifesta por exemplo na apreensatildeo de que ateacute

agosto de 2008 existiam no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social sendo 51 na esfera

puacuteblica e 251 no setor privado visto que a pesquisa sugere a existecircncia de maior

autonomia de organizaccedilatildeo do MESS nas instituiccedilotildees puacuteblicas

A investigaccedilatildeo sinaliza possibilidades na atuaccedilatildeo da ENESSO no sentido

de que mesmo em uma conjuntura limitada da atuaccedilatildeo dos MS a entidade consegue

pautar importantes debates que ultrapassa a esfera restrita dos(as) estudantes e

nessa perspectiva a executiva procura se articular com outros sujeitos MS e

entidades como a ABEPSS e o conjunto CFESS-CRESS

174

A unidade em torno da defesa do projeto profissional consiste em uma

determinaccedilatildeo significativa na articulaccedilatildeo entre as entidades representativas do Serviccedilo

Social entretanto essa unidade natildeo representa a ausecircncia de discordacircncias

diferenccedilas e contradiccedilotildees nessa relaccedilatildeo

175

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SANTOS Tiago Barbosa dos A Participaccedilatildeo Poliacutetica dos Estudantes de Serviccedilo Social na Defesa e na Consolidaccedilatildeo da Direccedilatildeo Social da Formaccedilatildeo A Praacutexis Poliacutetica dos Estudantes e a Relaccedilatildeo com a Formaccedilatildeo Profissional Monografia (graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2007

SCHERER-WARREN Ilse Movimentos Sociais um ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica Florianoacutepolis ED da UFSC 1987

SILVA Celso Severo da Accedilatildeo poliacutetica estudantil como estrateacutegia para a construccedilatildeo e fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional Monografia (graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social) Universidade Federal de Pernambuco Recife Miacutemeo 2006

SILVA Andreacutea Alice Rodrigues Convite a Rebeldia uma reflexatildeo sobre o Movimento Estudantil de Serviccedilo Social e seus desafios na contemporaneidade Monografia (graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social) Universidade Estadual do Cearaacute Fortaleza Migravemeo 2008

SIQUEIRA Acircngela Carvalho de Organismos internacionais gastos sociais e reforma universitaacuteria do governo Lula In Reforma universitaacuteria do governo Lula reflexotildees para o debate (org) NEVES Lucia Maria Wanderley MARTINS Silva Andreacute [et al] Satildeo Paulo xamatilde 2004

TINEGUTTI Claacuteudio Antonio e MARTINEZ Milena A UNIVERSIDADE NOVA O REUNI E A QUEDA DA UNIVERSIDADE PUacuteBLICA Miacutemeo 2007

TONET I Educaccedilatildeo e Concepccedilotildees de Cidadania Mariacutelia Miacutemeo 1998

______ Democracia ou liberdade Maceioacute EDUFAL 2004

______ Educaccedilatildeo cidadania e emancipaccedilatildeo humana Editora UNIJUI 2004

______ Educaccedilatildeo contra o capital Maceioacute EDUFAL 2007

VENTURINI Gustavo amp ABRAMO Helena JUVENTUDE POLIacuteTICA E CULTURA IN Teoria e debate Satildeo Paulo 2000

VIERA Evaldo Democracia e Poliacutetica SocialSatildeo Paulo Cortez 1992

WALLERSTEIN Immanuel O que significa ser hoje um movimento anti-sistecircmico InPensamento Criacutetico e Movimentos Sociais diaacutelogos para uma nova praacutexis Roberto Leher e Marina Setuacutebal (org) Satildeo Paulo Cortez 2005

WOOD Ellen Meiksens Trabalho Classe e Estado no capitalismo global InPensamento Criacutetico e Movimentos Sociais diaacutelogos para uma nova praacutexis Roberto Leher e Marina Setuacutebal (org) Satildeo Paulo Cortez 2005

184

SITES

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httpwwwconlutasorgbr acesso em 06 de janeiro de 2009

httpportalmecgovbr acesso em 5 de maio de 2009

httpsiteprounimecgovbrimagesarquivospdfRepresentacoes_graficasbolsas_ofertadas_anopdf Acesso em 08 de outubro de 2009

185

ANEXO I

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM EX COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO

1- Comente sobre a sua trajetoacuteria no movimento estudantil ateacute chegar a coordenaccedilatildeo da enesso

2- Era membro de alguma tendecircncia no movimento estudantil Quais as principais bandeiras de lutas Que analise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no movimento estudantil

3- Qual o posicionamento da entidade em relaccedilatildeo a reforma universitaacuteria do governolula

4- Quais as principais atividades e lutas realizadas no tocante a defesa da universidade puacuteblica no Brasil

5- Quais as principais atividades e lutas efetivadas em relaccedilatildeo a defesa do atual projeto de formaccedilatildeo profissional fundado nas diretrizes curriculares

6- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo da executiva tanto em relaccedilatildeo agrave universidade como a formaccedilatildeo profissional levando em consideraccedilatildeo limites estrateacutegias e potencialidades a partir das atividades e lutas travadas

7- Quais os principais aliados e opositores do movimento estudantil e em particular no acircmbito do movimento estudantil de serviccedilo social

8- Comente sobre possiacuteveis dificuldades em termos da organizaccedilatildeo-poliacutetica do mess no seu periacuteodo de militacircncia

9- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo do movimento estudantil na sociedade e em particular no atual cenaacuterio neoliberal

10- Teria algo relevante a acrescentar sobre a enesso como entidade representativa dos(as) estudantes de serviccedilo social em niacutevel nacional

186

ANEXO II

ROTEIRO UTILIZADO NA ELABORACcedilAtildeO DE PERFIL DOS(AS) DIRIGENTESNACIONAIS DA ENESSO NO PERIacuteODO DE 20032008

1 - ANO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO

R ___________________________________

2 - FAIXA ETAacuteRIA

Entre 15-20 ( )Entre 21-25 ( )Entre 26-30 ( )Acima de 30 ( )

3 - SEXO

Masculino ( ) Feminino ( )

4 - COR Negra ( ) Branca ( ) Parda ( )

5 - RELIGIAtildeO

Catoacutelica ( ) protestante( ) espiacuterita( ) umbanda ( ) outra ( ) Especificar________________

6 - ENSINO MEacuteDIO REALIZADO PREDOMINATEMENTE EM ESCOLA

Puacuteblica ( )Privada ( )

7 - GRADUACcedilAtildeO REALIZADA EM INSTITUICcedilAtildeO

Puacuteblica ( ) privada ( )Instituiccedilatildeo ______________________________

8 - DURANTE O PERIacuteODO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO DESEMPENHAVA ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA

Trabalho ( ) especificar __________________________________________________ Quantas horas diaacuterias ____________________

Estagio ( ) especificar _______________________________________________________Quantas horas diaacuterias____________________________

9 - RENDA MENSAL DA FAMIacuteLIA

187

Entre 1 e 2 salaacuterios- miacutenimos ( ) Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 9 e 10 salaacuterios- miacutenimo ( )Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos ( ) Acima de dez salaacuterios ( )

10 - ANTES DE MILITAR NO MESS PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ORGANIZACcedilAtildeO COLETIVA

Natildeo ( ) sim ( ) Especificar_______________________________________________

11 - ANTES DE SER DIRIGENTE DA ENESSO OCUPOU ALGUM CARGO EM ENTIDADE DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

( ) CORETUR( ) Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico( ) Diretoacuterio Central dos Estudantes( ) Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO( ) Outra _____________________________________________________________

12 - NO PERIODO EM QUE FOI DIRIGENTE DA ENESSO ERA FILIADO A ALGUM PARTIDO POLIacuteTICO

( ) Natildeo ( ) sim Especificar____________________________________________

188

ANEXO III

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM MENBRO DA ABEPSS

1 COMO VOC ANALISA A ldquoPARCERIA ESTRATGICArdquo ENTRE AS TRS ENTIDADES NACIONAIS DA CATEGORIA

2 QUAIS AS PRINCIPAIS ESTRATGIAS E AES DESENVOLVIDAS PELAS TRS ENTIDADES NA DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA GRATUITA PRESENCIAL LAICA E DE QUALIDADE E DO PROJETO DE FORMAO PROFISSIONAL FUNDADO NAS DIRETRIZES CURRICULARES

3 QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELO CFESSABEPSS NO PROCESSO DE ARTICULAO ENTRE AS TRS ENTIDADES E PARTICULARMENTE EM RELAO A ENESSO

189

ANEXO IV

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM COORDENADOR(A) REGIONAL DA ENESSO (MEMBRO DE OPOSICcedilAtildeO A DIRECcedilAtildeO NACIONAL DA ENESSO)

1 Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

2 Comente sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO nos acircmbitos da Universidade e da Formaccedilatildeo profissional considerando estrateacutegias limites e potencialidades

3 Teria algo relevante a acrescentar sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO no processo de organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes na contemporaneidade

190

APEcircNDICE I

RELAO DOS COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO NO PERODO

DE 2003-2008

GESTAtildeO 20032004

Coordenao Geral Adriana Oliveira ndash PUCSPSecretaria Geral Wagner Hosokawa ndash PUCSP Coordenao de Finanas Lucilene Gomes PUCCampinasCoordenao de Divulgao e Impressa Graziela Sue ndash UNISALCoordenao Movimentos Sociais Julia Benedini ndash UNESPCoordenao Relaes Internacionais Anita Martins ndash UNESPCoordenao de Formao Profissional Michele Marx- Centro Universitrio Baro de Mau Ribeiro Preto(SP)

GESTAtildeO 20042005

Coordenao Geral Ana Carolina trindade dos santos UFS-SESecretaria Geral Daniele Rebouas UCSAL-BACoordenao de Finanas Amanda Bastos UFS-SECoordenao de Divulgao e ImpressaAline Arajo- UCCSAL-BACoordenao Movimentos Sociais Itanamara Cavalcante UFS-SECoordenao Relaes InternacionaisFernanda mantelli-UCSAL-BAcoordenao de Formao Profissionaljacklene mirne UNIT-SE

GESTAtildeO 20052006

Coordenao Geral Celso Severo UFPE-PESecretaria Geral Natalia Teixeira UFPE-PECoordenao de Finanas Juliana Nunes UEPBCoordenao de Divulgao e Impressa Evandro Gomes Correia jr UFPBCoordenao Movimentos Sociais Raquel Mazuele de p Arajo UERNCoordenao Relaes Internacionais Alison Cleiton UEPBCoordenao de Formao Profissional Albertina Felix da Cuz-UEPB

GESTAtildeO 20062007

Coordenao Geral Fabiano SantosSecretaria Geral Roberto AlvesCoordenao de Finanas Emanuela BritoCoordenao de Divulgao e Impressa Aline CerqueiraCoordenao Movimentos Sociais Aline TapiocaCoordenao Relaes Internacionais Andr NovaisCoordenao de Formao Profissional Deyse Morais

191

GESTAtildeO 20072008

Coordenao Geral Shanti Mairananda de Oliveira Braga ndash UFJFSecretaria Geral Samantha Catarina de Andrade Santos - PUC MinasCoordenao de FinanasAline Felipe Barreto - UFESCoordenao de Divulgao e Impressa Ernandes Jos - UFVJMCoordenao Movimentos Sociais Haimon Verly - UFESCoordenao Relaes Internacionais Cristovo de Oliveira Braga - UFJFCoordenao de Formao Profissional Leonardo David Rosa Reis - PUC Minas

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo incentivo compreenso e contribuio em toda a minha

caminhada acadmica e em especial no mestrado

A Jsilva (Anjo) companheiro que esteve comigo nos momentos difceis e complicados

enfrentados nesse percurso

A minha irm Lourdinha pelas preocupaes e confiana demonstrada

Ao meu cunhado Roverlan (R) sempre disponvel pra me deixar e pegar nas idas e

vindas de Natal independentes de datas e horrios

A minha amada sobrinha Kauanny que com a sinceridade de uma criana contagia

os espaos com a alegria e a simplicidade da vida alm de ter a capacidade de me

provocar risos mesmo nos momentos em que me sentia pressionada pelas

obrigaes cotidianas e exigncias caractersticas do mestrado

A minha av Antonia e a tia Ftima pelo abrigo em Natal pelo incentivo dedicado e

pelas preocupaes ocasionadas

A Silvana Mara pelas orientaes qualificadas materiais emprestados e a confiana

de que tudo daria certo

A Smya Ramos que considero co-orientadora dessa pesquisa a sua contribuio foi

significativa desde a graduao teve momentos que no meu cantinho de estudo os

seus materiais eram superiores aos meus alm disso agradeo pelo tempo

disponibilizado para ouvir minhas inquietaes e nas leituras realizadas do projeto que

culminou nesta pesquisa Muito obrigada

Aos(as) dirigentes da ENESSO sensibilizados(as) em contribuir com esta dissertao

obrigada pelo material disponibilizado entrevistas concedidas e emails respondidos

As professoras Severina Garcia e Denise Cmara pelas indicaes durante a

disciplina ldquoSeminrio de Dissertaordquo

As professoras Ivanete Boschetti e Telma Gurgel pelas observaes processadas

sobre esse trabalho

As professoras Fernanda Marques e Regina vila pela aceitao em participarem na

banca de defesa desse trabalho

A querida turma do mestrado composta por pessoas batalhadoras comprometidas

com a profisso e sempre prontas a compartilhar informaes e a socializar

experincias que se tornaram importantes no desenvolvimento das investigaes de

todos(as) por isso meus agradecimentos a Ednara Erika Henrique Ilidiana Leila

Joilma Josiane Sussany e Tssia

As amigas Ilidiana Diniz(ilidi) Ednara (Ed) e Valmara companheiras nos momentos

de angustias e superaccedilotildees durante a elaboraccedilatildeo dessa dissertaccedilatildeo haacute e tambeacutem

pela acolhida no residecircncia durante as minhas idas a Natal sempre

compartilhandomesmo que um pequeno quarto

A amiga Janaiky pela ajuda na produccedilatildeo de dados para pesquisa

Ao amigo Henrique que desde o iniacutecio acreditou na viabilidade dessa pesquisa

agradeccedilo pelos emails repassados e pelo caminho disponibilizado que facilitou a

busca de informaccedilotildees sobre a ENESSO

A Larisse Rodrigues pela excelente monografia produzida sobre o MESS e pelas

trocas de informaccedilotildees

RESUMO

A dissertaccedilatildeo analisa a direccedilatildeo social do Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS)por meio da atuaccedilatildeo da Executiva Nacional dos(as) estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) no que se refere a sua posiccedilatildeo poliacutetica sobre Universidade e Formaccedilatildeo profissional no periacuteodo de 2003-2008 Do ponto de vista teoacuterico-metodoloacutegico o objeto de estudo foi apreendido em suas determinaccedilotildees estruturais conjunturais e geracionais considerando a crise contemporacircnea do capital e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo Estado e Sociedade com ecircnfase nas particularidades e mudanccedilas na Universidade e nas exigecircncias postas no acircmbito da Formaccedilatildeo profissional Para a coleta e produccedilatildeo dos dados foi realizada pesquisa documental e de campo Foram entrevistados(as) dirigentes da ENESSO um(a) de cada gestatildeo entre os anos de 2003-2008 aleacutem de representantes da Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) que destaca a relevacircncia da parceria construiacuteda com a entidade de representaccedilatildeo dos(as) estudantes na cena contemporacircnea Os resultados obtidos sugerem que a ENESSO desenvolve uma atuaccedilatildeo em defesa do projeto de universidade puacuteblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formaccedilatildeo fundado nas Diretrizes Curriculares de 1996 o tempo presente eacute marcado no MESS pelo acirramento de disputas pela direccedilatildeo social do movimento entre os grupos poliacuteticos os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre o governo Lula e do papel poliacutetico assumido pela UNE nesse contexto de contra-reforma do ensino superior A conjuntura atual de exaltaccedilatildeo extrema do individualismo tem se revelado desfavoraacutevel agrave organizaccedilatildeo coletiva da classe trabalhadora e em particular dos movimentos estudantil O MESS atravessa um momento de profunda instabilidade dimensatildeo que se expressa na ausecircncia de coordenadores nacionais para gestatildeo 20082009 da ENESSO Apesar das dificuldades enfrentadas destaca-se a parceria construiacuteda entre as entidades representativas do Serviccedilo Social em niacutevel nacional e a luta que desenvolvem em defesa do projeto profissional vinculado a construccedilatildeo de outra sociabilidade para aleacutem do capital

Palavras-chave Movimento Estudantil de Serviccedilo Social Capitalismo contemporacircneo Universidade e Formaccedilatildeo Profissional

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the social direction in which the Student Movement in Social Work in Brazil (ENESSO) has gone through This is done considering how the functioning of the National Executive the Brazilian Social Work Student union has operated The research analyzed their political position regarding the university as well as professional education in the period of 2003 to 2008 The studyrsquos theoretical and methodological object was obtained according to its structural juncture and time determinants All of the mentioned elements considered the contemporary capital crisis and its implications towards the State and Society emphasizing specifically the changes that occurred in the University regarding professional education For the purpose of data collection and production a documental and field research was realized Thus interviews were done considering one manager of each management period of the ENESSO group in the time span of 2003 to 2008 Some subjects that represented the Brazilian Social Work Teaching and Research Association (ABEPSS) as well as were also interviewed These subjects have had a relevant role in partnership with these entities and represented students in the contemporary scene Results suggest that ENESSO has developed work that defends a project of a public free and laic quality university This entity also defends a project that considers the 1996 Curricular Guidelines Currently there is internal dispute in the social direction of the MESS this is seen amongst political groups that diverge in opinions related to the analysis done by the Lula government regarding the political role that the National Student Union-UNE has taken in the counter-reform of higher education This current juncture is seen as extremely individualist and it results as in unfavorable for the collective organization of the working class especially regarding student movement MESS has been going through a moment of profound instability and this dimension is being expressed by the absence of national coordinator for the 20082009 management period at ENESSO Even though there are difficulties it is possible to point out partnership of the entities that represent the national Social Work in Brazil These partnerships are all related to a struggle and search for the development of a professional project that leads towards the sociability awareness that goes beyond capital

Key-Words Social Work Student Movement Contemporary Capitalism University and Professional Education

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

AGCS Acordo Geral sobre Comeacutercio e Serviccedilo

ANDES Associaccedilatildeo Nacional dos Docentes de Ensino Superior

AE Articulaccedilatildeo de Esquerda

ALEITS Associaccedilatildeo Latino-americana de Ensino e Investigaccedilatildeo em Trabalho Social

BM Banco Mundial

CA Centro Acadecircmico

CEDEPSS Centro de Documentaccedilatildeo e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social

UNIASSELVI Centro Universitaacuterio Leonardo da Vinci

CFESS Conselho Federal de Serviccedilo Social

CRESS Conselho Regional de Serviccedilo Social

CONLUTAS Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas

CONLUTE Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas dos Estudantes

CORETUR Conselho de Representantes de Turma

CUT Central Uacutenica dos Trabalhadores

DA Diretoacuterio Acadecircmico

DS Democracia Socialista

DCE Diretoacuterio Central dos Estudantes

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENE Encontro Nacional dos Estudantes

ENESS Encontro Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENEX Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviccedilo Social

ERESS Encontro Regional de Estudantes de Serviccedilo Social

EQM Eu Quero eacute Mais

FAETSFederaccedilatildeo Argentina de Estudantes de Trabalho Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LBA Legiatildeo Brasileira de Assistecircncia

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

ME Movimento Estudantil

MESS Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

MS Movimentos Sociais

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

MTL Movimento Terra Trabalho e Liberdade

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo-governamental

PDP Projeto Democraacutetico e Popular

PLP Partido da Libertaccedilatildeo Proletaacuteria

PROUNI Programa Universidade Para Todos

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados

PT Partido dos Trabalhadores

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das

Universidades Federais

SNFPMESS Seminaacuterio Nacional de Formaccedilatildeo Profissional e Movimento Estudantil de

Serviccedilo Social

SESSUNE Subsecretaria de Estudantes de Serviccedilo Social na UNE

SINAES Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UNITINS Universidade Estadual do Tocantins

UNE Uniatildeo Nacional dos Estudantes

LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1 Natureza das Instituies de Ensino Superior no Brasil ndash Censo de 2007

GRFICO 2 Tipo de Instituies de Ensino Superior Privadas- Censo de 2007

GRFICO 3 Tipo de Instituies de Ensino Superior Pblicas- Censo de 2007

GRFICO 4 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1930-1994

GRFICO 5 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1995-2002

GRFICO 6 Criao de Cursos de Servio Social no perodo de 2003- agosto de

2008

GRFICO 7 Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de

2003-2008

GRFICO 8 Participao em organizao coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO

antes da insero no MESS

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2002

QUADRO 2 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2008

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 4 Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 5 Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-

2008

QUADRO 6 Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes

de sua inserccedilatildeo no MESS

QUADRO 7 Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de

assumirem a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

SUMAacuteRIO

IINTRODUO------------------------------------------------------------------------------------------14

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social-----------------------------------------------------------------------------------------25

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA----------------------------------------------------------------------------25

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes---------------35

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO----------------------------------------------------------------------------------- ------42

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE ----------------------------------------------------------------------------------50

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE -----------------------------------54

3-1 A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal ----------------------------------------------------------------54

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades-

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------59

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais --------------68

IV UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE-75

4-1ldquoREFORMA UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA DO

ESTADO BRASILEIRO --------------------------------------------------------------------------------75

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico ---------------------------------------------------------84

4-3 REMANDO CONTRA MAR a formao profissional do assistente social no

mbito da contra-reforma do ensino superior-----------------------------------------------------98

V- UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL ---- --------------112

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO-------------112

5-2 UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO----

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------124

5-3 REFLEXES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO --------------------147

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies ----------------------161

5-5 SERVIO SOCIAL ABEPSS CFESS E A ENESSO no mbito da parceria

estratgica -----------------------------------------------------------------------------------------------165

CONSIDERAES FINAIS -------------------------------------------------------------------------171

REFERNCIAS-----------------------------------------------------------------------------------------175

ANEXOS -------------------------------------------------------------------------------------------------185

APNDICE----------------------------------------------------------------------------------------------190

Nada Eacute Impossiacutevel De Mudar

Desconfiai do mais trivial

na aparecircncia singelo

E examinai sobretudo o que parece habitual

Suplicamos expressamente

natildeo aceiteis o que eacute de haacutebito como coisa natural

pois em tempo de desordem sangrenta

de confusatildeo organizada de arbitrariedade consciente

de humanidade desumanizada

nada deve parecer natural nada deve parecer

impossiacutevel de mudar (Bertolt Brecht)

14

I INTRODUCcedilAtildeO

Nesta investigaccedilatildeo desenvolvemos um estudo sobre a accedilatildeo do Movimento

Estudantil(ME) tendo como objeto de pesquisa a anaacutelise da direccedilatildeo social do

Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS) e sua relaccedilatildeo com a universidade e

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais no contexto da contra-reforma1 do

ensino superior implementada no periacuteodo de 2003-2008

O interesse pelo estudo dessa temaacutetica iniciou durante o Curso de

Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

(UERN) de 2003 ao iniacutecio de 20072 por meio da minha vivecircncia no ME que

proporcionou momentos enriquecedores na formaccedilatildeo profissional e contribuiu com o

desenvolvimento de reflexotildees participaccedilatildeo em debate e accedilotildees voltadas para a defesa

do atual projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado pelas

Diretrizes Curriculares de 1996

Essa dissertaccedilatildeo representa a continuidade de estudos desenvolvidos

sobre o ME considerando que no trabalho de conclusatildeo de curso abordamos a

atuaccedilatildeo do MESS na (UERN) Os resultados desse estudo me permitem afirmar que

a partir da deacutecada de 1990 ocorreu agrave substancial influecircncia da ENESSO nas accedilotildees

locais dos(as) estudantes de Serviccedilo Social dentre as quais destacamos a efetivaccedilatildeo

de atividade em defesa do espaccedilo profissional do(a) assistente social no Instituto

Nacional de Seguro Social(INSS) a partir de orientaccedilotildees da executiva tivemos a

atuaccedilatildeo do Centro Acadecircmico(CA) nas discussotildees relativas a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares de 1996 mais recentemente podemos

citar o amplo boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(ENADE)

realizado pelos estudante de Serviccedilo Social da UERN em novembro de 20043 a

promoccedilatildeo de debates sobre o exame de proficiecircncia A monografia tambeacutem aponta a

existecircncia de dificuldades relacionadas agrave mobilizaccedilatildeo das bases e da renovaccedilatildeo de

1 Termo utilizado por Behring(2003) como forma de expressar que a reconfiguraccedilatildeo do Estado na realidade atual corrobora para a minimizaccedilatildeo e natildeo consolidaccedilatildeo de direitos2 Essa militacircncia permitiu a inserccedilatildeo em espaccedilos do Movimento Estudantil como representaccedilatildeo estudantil no departamento de Serviccedilo Social da UERN bem como a participaccedilatildeo na Coordenaccedilatildeo Regional da Executiva Nacional de Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) na gestatildeo 20052006 Tal vivecircncia despertou a curiosidade em torno da organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do MESS e da relevacircncia da sua accedilatildeo para profissatildeo bem como para construccedilatildeo de lutas que ultrapasse o universo profissional e contribua para a mobilizaccedilatildeo pela universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com qualidade Desse interesse resultou a produccedilatildeo monograacutefica intitulada Movimento Estudantil de Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte trajetoacuteria histoacuterica na luta por uma universidade puacuteblica e de qualidade defendida em janeiro de 20073 A partir dessa avaliaccedilatildeo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura(MEC) atribuiu nota inferior a 1 o que representou a menor nota dentre os cursos de Serviccedilo Social do Brasil

15

dirigentes estudantis para os espaccedilos como o Conselho de Representantes de

Turma(CORETUR) CA e Diretoacuterio Central dos Estudantes(DCE)

Revelou ainda o compromisso histoacuterico do movimento com a defesa da

universidade puacuteblica gratuita e de qualidade mediante a efetivaccedilatildeo de diversas lutas

e atividades como as mobilizaccedilotildees e greves em prol da estadualizaccedilatildeo da UERN na

deacutecada de 1980 atos contraacuterios ao pagamento de taxas no acircmbito das instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino em particular na UERN promoccedilatildeo de manifestaccedilotildees em 2004

durante as comemoraccedilotildees de 36 anos dessa instituiccedilatildeo O objetivo dessa accedilatildeo dentre

outros consistia em mostrar para a sociedade acadecircmica e mossoroense a

insatisfaccedilatildeo estudantil com as precaacuterias condiccedilotildees de funcionamento da universidade

Aleacutem disso a investigaccedilatildeo monograacutefica demonstrou preocupaccedilotildees do MESS da

UERN com a formaccedilatildeo profissional e com a defesa do projeto eacutetico-poliacutetico da

profissatildeo

A produccedilatildeo de dados referente a esta pesquisa na graduaccedilatildeo explicitou

tambeacutem a decepccedilatildeo de segmentos do MESS no acircmbito da UERN com a contra-

reforma do ensino superior materializada na primeira gestatildeo sob a presidecircncia de Luis

Inaacutecio Lula da Silva dimensatildeo que pode ser aprendida inclusive na fala de uma das

entrevistadas que contribuiu com a socializaccedilatildeo de informaccedilotildees para o trabalho

monograacutefico

Quando eu entrei na universidade em 2002 era justamente o ano da campanha eleitoral para presidente [] era todas as expectativas em cima do governo Lula [] mas as coisas natildeo funcionaram assim a gente imaginava que as reformas fossem acontecer mas natildeo da forma como ele fez apenas camuflou as reformas que FHC queria fazer (orquiacutedea)

A construccedilatildeo da monografia associada agrave militacircncia potencializou a

apreensatildeo de alguns desafios que perpassam a organizaccedilatildeo do MESS na

contemporaneidade Destacamos a realidade objetiva em que parte significativa

dos(as) dirigentes locais do CA desenvolvia estaacutegio remunerado eou outras atividades

de inserccedilatildeo no mercado de trabalho Esse contexto nos remete a refletir sobre o

compromisso majoritaacuterio desses sujeitos com a luta coletiva expresso no

envolvimento com a construccedilatildeo do MESS em meio agrave sobrecarga de atividades

desempenhadas Em decorrecircncia dessa realidade explicitam-se limitaccedilotildees

provocadas pelas condiccedilotildees objetivas e subjetivas de inserccedilatildeo desses militantes no

movimento e direccedilatildeo da entidade estudantil tais como minimizaccedilatildeo na participaccedilatildeo de

reuniotildees estudantis foacuteruns do ME e do MESS reduccedilatildeo na construccedilatildeo de atividades

entre outras

16

Outra vivecircncia importante para construccedilatildeo do objeto de estudo consistiu na

experiecircncia de estaacutegio4 no Conselho Regional de Serviccedilo Social (CRESS) Seccional

de Mossoroacute que possibilitou a participaccedilatildeo em discussotildees ciclos de debates entre

outras atividades sobre diferentes temaacuteticas relacionadas agrave profissatildeo em especial agrave

proacutepria formaccedilatildeo profissional O estaacutegio eacute considerado pela Associaccedilatildeo Brasileira de

Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) um elemento essencial na construccedilatildeo

de um perfil profissional criacutetico reflexivo e investigativo que contribui para formaccedilatildeo

de profissionais com competecircncias e habilidades capazes de desvendar as relaccedilotildees

sociais contraditoacuterias no cotidiano de trabalho dos(as) assistentes sociais O estaacutegio

no CRESS potencializou um aprofundamento de estudos e vivecircncias relacionadas ao

exerciacutecio e agrave formaccedilatildeo profissional em Serviccedilo Social aleacutem da aproximaccedilatildeo com a

dimensatildeo da organizaccedilatildeo poliacutetica da categoria profissional

Diante dessas constataccedilotildees no universo da UERN foi aguccedilada a nossa

inquietaccedilatildeo e curiosidade sobre accedilatildeo do MESS em niacutevel nacional de tal forma que

dando continuidade ao estudo iniciado no periacuteodo do Curso de Graduaccedilatildeo novos

questionamentos emergiram na perspectiva de analisar a atuaccedilatildeo e as implicaccedilotildees do

MESS na defesa de um determinado projeto de universidade e formaccedilatildeo profissional

Os resultados da pesquisa realizada na monografia ressaltados anteriormente satildeo

particularidades da organizaccedilatildeo e accedilatildeo poliacutetica do MESS local a partir sobretudo da

deacutecada de 1990 ou configura-se numa tendecircncia que pode ser generalizada a esse

sujeito coletivo em niacutevel nacional Como as determinaccedilotildees soacutecio-conjunturais do

periacuteodo de 2003-2008 inflexionam e caracterizam a accedilatildeo poliacutetica do MESS em acircmbito

nacional Quais satildeo as estrateacutegias e as formas de luta desenvolvidas Quem satildeo

seus principais aliados e opositores no cotidiano das lutas Diante dessas reflexotildees

essa pesquisa apresenta como objetivo analisar a direccedilatildeo social do MESS mediante a

atuaccedilatildeo da ENESSO em relaccedilatildeo agrave universidade e agrave formaccedilatildeo profissional no

interregno de 2003 a 2008

Portanto considerando agrave insuficiecircncia de tempo pela dinacircmica de duraccedilatildeo

do mestrado bem como devido a problemaacuteticas referentes a deslocamentos e as

proacuteprias condiccedilotildees objetivas torna-se imprescindiacutevel agrave instituiccedilatildeo de uma delimitaccedilatildeo

temporal para a realizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

Eacute nesse sentido que estabelecemos esse recorte temporal o qual tambeacutem

eacute demarcado pelo iniacutecio do governo Lula e engloba ainda parte do seu segundo

mandato (2003-2008) O processo que nos levou a efetivaccedilatildeo de tal delimitaccedilatildeo

consiste na possibilidade de potencializar algumas consideraccedilotildees e problematizaccedilotildees

4 Estagio curricular de caraacuteter obrigatoacuterio efetivado durante a graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social no periacuteodo letivo de 20042 a 20061

17

interessantes e enriquecedoras na investigaccedilatildeo tais como proporcionou a

contextualizaccedilatildeo da materializaccedilatildeo de uma contra-reforma do ensino superior

circunscrita no acircmbito de um governo cujo partido presidencial emergiu e consolidou-

se historicamente identificado com a luta por uma educaccedilatildeo puacuteblica e de qualidade

contudo age no executivo federal em conformidade com o ideaacuterio neoliberal de

destruiccedilatildeo daquela luta e ainda permitiu evidenciarmos algumas dimensotildees do

relacionamento deste governo com os movimentos sociais(MS) e em particular com

o ME

Aleacutem disso o ano de 2008 constitui-se um marco para o MESS Trata-se

da existecircncia de trinta anos de reorganizaccedilatildeo do movimento e vinte anos de criaccedilatildeo

da ENESSO entretanto neste importante ano tivemos no Encontro Nacional de

Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSS) realizado em julho de 2008 em Londrina-PR

a natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos da Coordenaccedilatildeo Nacional da executiva O que este fato

representa para o MESS Uma crise As diferentes vertentes que compotildeem o MESS

estatildeo preocupadas com os interesses reais do coletivo de estudantes de Serviccedilo

Social possuem uma agenda poliacutetica ou estatildeo submetidas agrave mera conquista da

entidade como expressatildeo de um tipo de poder poliacutetico desvinculado de uma direccedilatildeo

social criacutetica

A relevacircncia dessa pesquisa consiste na anaacutelise de um sujeito coletivo

historicamente protagonista na luta por uma universidade e formaccedilatildeo de qualidades

Destarte eacute relevante para o Serviccedilo Social por problematizar o processo de formaccedilatildeo

profissional dos(das) assistentes sociais ressaltando a ameaccedila vivenciada pelo atual

projeto educacional em decorrecircncia das medidas efetivadas pelo governo vigente

consubstanciadas nas orientaccedilotildees neoliberais

Aleacutem disso consideramos a pesquisa importante na medida em que

analisa um fenocircmeno ainda em curso podendo de tal forma contribuir na elaboraccedilatildeo

de investigaccedilotildees seguintes bem como pode subsidiar reflexotildees significativa para

proacutepria organizaccedilatildeo poliacutetica do MESS nessa conjuntura tatildeo adversa

Outro aspecto que explicita a relevacircncia acadecircmica dessa pesquisa

consiste na reduzida produccedilatildeo teoacuterica sobre a atuaccedilatildeo do ME em particular do MESS

Estudos que tem como temaacutetica o segmento estudantil em larga medida estaacute

circunscrita a accedilatildeo desse movimento no contexto da ditadura militar em virtude do

protagonismo que desenvolveu na luta contra o regime ditatorial Portanto elaborar

produccedilotildees teoacutericas sobre o ME em conjunturas recentes consistiu em um desafio

diante da bibliografia escassa o que por sua vez representa uma contribuiccedilatildeo no

estudo da accedilatildeo e particularidades desse MS

18

Do ponto de vista terico-metodolgico a pesquisa foi desenvolvida numa

perspectiva de totalidade com vista a apreender as determinaes estruturais e

conjunturais e suas implicaes no objeto investigado

Temos a compreenso que o conhecimento um saber provisrio e

ilimitado nesse sentido relevante o entendimento de que as teorias e seus mtodos

consistem em referenciais que potencializam a apreenso da realidade a partir do

desenvolvimento das investigaes cientficas Cardoso(1976) caracteriza o mtodo

como elemento que contribui na apreenso de possibilidades e limites inerentes a

prpria elaborao do conhecimento ainda o concebe como parte constitutiva de

determinada teoria social Portanto o referencial terico-metodolgico no deve ser

empregado nas pesquisas como receiturio infalvel e mecanicista As teorias so

construdas no mbito da historicidade ou seja refletem sobre problemticas

circunscritas no tempo e espao Alm disso na perspectiva marxiana constitui a

reproduo no plano ideal do movimento do real em que se busca apreender as

determinaes que conformam os fenmenos existentes na realidade histrica em

uma dimenso de totalidade

Totalidade na perspectiva de conhecer um determinado objeto levando-se

em considerao os seus determinantes a partir de um processo de abstrao

fundamentado no movimento do real e no a apreenso da realidade como factvel de

um conhecimento total e absoluto visto que ldquoas leis inerentes ao ser social so leis

histricas decorrentes das necessidades e conexes internas dos fenmenos dos

fatos e processos sociais por isso so tendenciaisrdquo (PONTES 2002 p76) Ou na

concepo de Lowy

O que define a cincia como tal a tentativa de conhecimento da verdade Nesse sentido h uma relao entre cincia e conhecimento da verdade Porm a verdade absoluta jamais ser conhecida todo o processo de conhecimento um processo de acercamento de aproximao verdade (2000 p110)

Ratificamos a necessidade de entendimento histrico da realidade na

medida em que temos a compreenso de ser a esfera estrutural a determinante na

constituio das relaes sociais e de tal modo decisiva na (re)configurao do

Estado capitalista e da organizao e atuao dos sujeitos nesta forma de

sociabilidade Como assinala Tonet

Na perspectiva metodolgica marxiana a produo terica nunca uma questo apenas terica- de modo diferente em momentos diferentes- uma relao estreita com o andamento do processo real

19

alm de terem reflexos na prpria vida cotidiana dos intelectuais( 2004 p207)

Para a coleta e produo dos dados utilizamos pesquisa bibliogrfica a

partir de fontes como livros artigos dissertaes teses entre outras que perpassou

toda investigao Todavia sabemos das dificuldades decorrentes sobretudo do

escasso registro de obras que tratam do ME na atualidade pois a maioria das anlises

sobre este segmento organizado se refere ao contexto da ditadura militar iniciada em

1964 Tal realidade resultante provavelmente do seu protagonismo na luta pela

liberdade e democracia naquele perodo pode expressar ainda o momento de influxo

vivenciado por diversos MS que se expressa tambm no mbito do segmento

estudantil no contexto contemporneo

Utilizamos tambm pesquisa documental na qual privilegiamos a anlise

de documentos construdos pelo prprio ME especialmente o MESS Os principais

documentos que subsidiaram a anlise foram as deliberaes aprovadas nos ENESS

no perodo que engloba o recorte temporal da pesquisa Estas deliberaes

estabelecem as lutas a serem desenvolvidas em cada ano de direo da ENESSO

alm de boletins jornais cadernos e estatutos produzidos pela entidade de 2003-

2008 documentos aprovados sobre a contra-reforma universitria como decreto lei

regulamentos alm de elaboraes oficiais sobre as atuais mudanas na educao

superior brasileira como exemplo podemos citar o prprio plano de reestruturao

das universidades federais de autoria do MEC

Consideramos significativo situar na discusso os documentos

apreendidos como os instrumentos normativos da profisso principalmente as

Diretrizes Curriculares para o Curso de Servio Social de 1996 Estas foram

analisadas sobretudo no captulo quatro da dissertao com o objetivo de

problematizar a relao -contra-reforma universitria ndash formao profissional- e

atuao do segmento estudantil nestas esferas

De modo complementar sinalizamos o propsito de realizarmos pesquisa

de campo atravs de entrevistas do tipo semi-estruturada com um(a) dirigente da

ENESSO em cada ano compreendido no perodo 2003-2008 num total de cinco

entrevistas que seriam utilizadas com a perspectiva de resgatar a atuao do MESS

a partir da fala dos seus(suas) militantes Para Neto mediante as entrevistas o

investigador procura apreender informaes expressas na fala dos sujeitos e de tal

forma

Ela no significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos autores

20

enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizada (1994 p57)

Devemos considerar que informaccedilotildees distorcidas ou irreais podem ser

transmitidas pelos entrevistados(as) contudo isso natildeo invalida a utilizaccedilatildeo da

entrevista como uma importante teacutecnica de produccedilatildeo de dados principalmente

quando o conteuacutedo expresso pelos informantes eacute analisado evidenciando a

conjuntura na qual a fala se reporta vislumbrando desse modo a apreensatildeo dos seus

determinantes

Elaboramos o roteiro de entrevista para ser realizado com cinco militantes

Um participante de cada diretoria compreendida no periacuteodo 2003-2008 portanto

entrevista com dirigente da diretoria 2003-2004 2004-2005 2005-2006 2006-2007 e

2007-2008 Esse correspondeu ao uacutenico criteacuterio estabelecido ou seja consideramos

preponderantemente a disponibilidade dos sujeitos sem elencar o cargo ocupado na

ENESSO regiatildeo e instituiccedilatildeo na qual se processou a graduaccedilatildeo

Assim sendo realizamos duas entrevistas durante o Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviccedilo Social(ENPESS) que ocorreu entre os dias 1 e 5 de

dezembro de 2008 na cidade de Satildeo Luiacutes-MA uma materializada no dia 02 com

um(a) dirigente da gestatildeo 2004-2005 a segunda iniciada tambeacutem dia 02 e concluiacuteda

no dia seguinte com dirigente da gestatildeo 2006-2007 A terceira entrevista foi realizada

no dia 9 de marccedilo de 2009 em Recife-PE esta com militante da gestatildeo 2005-2006

Diante da impossibilidade de efetivaccedilatildeo das demais entrevistas entramos em contato

via email com um(a) dirigente das gestatildeo 2003-2004 e 2007-2008 os(as) quais se

disponibilizaram a responder as questotildees que compunham o roteiro de entrevista

eles(as) responderam e enviaram mediante endereccedilo eletrocircnico Os sujeitos que

responderam o roteiro de forma presencial ou via email satildeo identificados nessa

pesquisa por nome de planetas assim caracterizados Vecircnus gestatildeo 2003-2004

Urano 2004-2005 Terra 2005-2006 Neturno 2006-2007 e Marte 2007-2008 Essa

estrateacutegia foi utilizada como meio de garantir a privacidade e preservar as fontes de

informaccedilotildees dessa investigaccedilatildeo

A obtenccedilatildeo de respostas via email consistiu em um procedimento

metodoloacutegico que viabilizou a complementaccedilatildeo de problematizaccedilotildees importantes por

dois(duas) dirigentes da ENESSO pertencentes ao universo da pesquisa Contudo eacute

salutar manifestar que o meio eletrocircnico reduziu a interferecircncia da pesquisadora no

processo de produccedilatildeo de dados visto que ficou impossibilitado o esclarecimento

imediato de duacutevidas durante a concessatildeo das respostas entretanto eacute importante

destacar que os sujeitos que responderam via email se disponibilizaram para

21

prestaccedilatildeo de quaisquer esclarecimentos e fornecimento de quaisquer informaccedilotildees

posteriores ao envio das respostas

Na pesquisa de campo ainda elaboramos um questionaacuterio com o objetivo

de traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO de julho de 2003 a julho de 2008

visto ser este o mecircs que ocorre o ENESS espaccedilo em que se elege a diretoria da

executiva e dessa maneira marca o inicio de uma determinada gestatildeo O perfil

evidenciou um conhecimento mais detalhado dos sujeitos que materializaram a accedilatildeo

poliacutetica do MESS no periacuteodo abordado pela pesquisa Assim potencializou o

entendimento de questotildees importantes pois expressou dados qualitativos e

quantitativos relacionados sobretudo aos aspectos geracionais dos(as) dirigentes do

movimento abordado

A entidade eacute composta de sete cargos nacionais de tal modo no periacuteodo

ressaltado tivemos cinco diferentes diretorias totalizando portanto trinta e cinco

dirigentes O questionaacuterio foi encaminhado via email para todos(as) esses sujeitos

conforme endereccedilo eletrocircnico disponibilizados nos documentos produzidos no

decorrer dessas cinco gestotildees Do total de trinta e cinco enviados para os(as)

coordenadores(as) nacionais obtivemos resposta de vinte e dois o que representa um

percentual de 63 desse universo

O natildeo recebimento de 37 dos questionaacuterios enviados pode ser reflexo

da mudanccedila de endereccedilos eletrocircnicos entretanto eacute importante evidenciar a nossa

tentativa de conseguir os endereccedilos atualizados por meio dos(as) dirigentes que

responderam o questionaacuterio

Tambeacutem enviamos o mesmo questionaacuterio para um(a) militante que

ocupou o cargo de coordenador(a) regional5 da ENESSO na gestatildeo 2006-2007 e que

na sua gestatildeo fez oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da entidade Este(a) ainda respondeu

e enviou eletronicamente um roteiro constituiacutedo de trecircs perguntas Essa accedilatildeo foi

materializada com o intuito de analisamos a apreensatildeo de um sujeito que atuou na

coordenaccedilatildeo regional da ENESSO e se colocou no campo de oposiccedilatildeo o que por sua

vez favorece a anaacutelise considerando divergecircncias e contradiccedilotildees que perpassam a

accedilatildeo desse MS e da entidade aqui estudada

Constituiacutea propoacutesito da pesquisa a realizaccedilatildeo de entrevistas com dois

membros da ABEPSS e do Conselho Federal de Serviccedilo Social(CFESS) A efetivaccedilatildeo

destas entrevistas com representantes da ABEPSS e CFESS proporcionaria um

enriquecimento do trabalho visto que as trecircs entidades nacionais da categoria se

articulam e promovem lutas conjuntas o que favoreceria a apreensatildeo da atuaccedilatildeo da

5 A regiatildeo a que pertence esse(a) dirigente eacute a II que engloba os estados do Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte Na dissertaccedilatildeo ele(a) eacute identificado pelo nome de Luz

22

ENESSO neste contexto da contra-reforma do ensino superior do governo de Lula O

conjunto dessas estrateacutegias possibilitaria a apreensatildeo do objeto de estudo em suas

contradiccedilotildees e densidade histoacuterica

Diante do exposto entramos em contato via email e de forma presencial

com as presidentes da ABEPSS das gestotildees 20052006 e 20072008 e obtivemos

ecircxito com a representante da gestatildeo20072008 que respondeu e enviou

eletronicamente os nossos questionamentos Em relaccedilatildeo aacutes entrevistas com

representantes do CFESS natildeo obtivemos ecircxito no estabelecimento dos contatos

A dissertaccedilatildeo apresenta-se estruturada em cinco capiacutetulos que se

subdividem em itens O primeiro capiacutetulo corresponde agrave introduccedilatildeo

Na segunda parte tecemos anaacutelise sobre o ME na qual o caracterizamos

como um MS que historicamente se constitui espaccedilo de atuaccedilatildeo da juventude

universitaacuteria no Brasil tendecircncia constatada na trajetoacuteria histoacuterica realizada no

segundo item dessa segunda parte Efetivamos algumas particularidades que

perpassa a organizaccedilatildeo do ME como a expansatildeo das Executivas de Cursos nos anos

de 1990 e as contradiccedilotildees que envolvem a UNE na conjuntura atual Aleacutem disso

abordamos sobre a reorganizaccedilatildeo do MESS no final dos anos de 1970 processo que

corroborou com a criaccedilatildeo da Subsecretaria dos Estudantes de Serviccedilo Social na

UNE(SESSUNE) em 1988 posteriormente transformada em ENESSO no ano de

1993 Entidade que desde a sua criaccedilatildeo se configura como espaccedilo sintonizado com a

defesa da universidade puacuteblica no Brasil e com a formaccedilatildeo profissional dos(as)

assistentes sociais perspectiva evidenciada tambeacutem nessa investigaccedilatildeo

O terceiro capiacutetulo direciona-se no sentido de apreendemos os limites e

possibilidade das poliacuteticas sociais e em particular da educaccedilatildeo no acircmbito da

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da sociabilidade capitalista Nessa dimensatildeo temos a

concepccedilatildeo que as contradiccedilotildees inerentes a esse modelo societal rebate nos diversos

complexos sociais incluindo a esfera educacional Pois entendemos a educaccedilatildeo

como uma esfera caracterizada pela disputa de projetos diferenciados perspectiva

que se vislumbra por exemplo na defesa da educaccedilatildeo como um direito social e

estrateacutegia importante na construccedilatildeo de mediaccedilotildees sintonizadas com outra

sociabilidade projeto defendido majoritariamente pelo MESS e a ENESSO e de

outro lado verificamos a luta de grupos privatistas que consideram o setor educacional

como mercadoria portanto vinculado aos interesses do capital associado agrave

concepccedilatildeo da educaccedilatildeo restringir-se a funcionalidade de atender meramente as

necessidades do mercado competitivo A anaacutelise foi potencializada com a construccedilatildeo

de mediaccedilotildees relacionadas ao capitalismo contemporacircneo para tal nos

fundamentamos em autores como Antunes e Harvey visto que consideramos

23

incoerente e inconsistente analisarmos a direccedilatildeo social da atuaccedilatildeo da ENESSO sem

contextualizarmos a sociedade na qual ela se processa

No quarto capitulo tratamos do processo de contra-reforma do ensino

superior durante os anos de governo Lula que tem se efetivado numa direccedilatildeo

preponderante de desqualificaccedilatildeo da perspectiva de universidade puacuteblica

caracterizada pela indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo aspecto que

se confirma com a crescente expansatildeo da Iniciativa privada com amplo apoio

governamental Assim abordamos no acircmbito da contradiccedilatildeo algumas das medidas jaacute

concretizadas como Programa Universidade Para Todos(PROUNI) Sistema Nacional

de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior(SINAES) Poliacutetica de Cotas Ensino a Distacircncia e

Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades

Federais(Reuni) O uacuteltimo item dessa parte apresenta como objetivo prioritaacuterio a

discussatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado

pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma em

que configuramos como um momento complexo e desfavoraacutevel para materializaccedilatildeo

dos princiacutepios norteadores da formaccedilatildeo defendida pelas entidades representativas da

profissatildeo incluindo a ENESSO

No quinto capiacutetulo traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO no

periacuteodo de 2003-2008 em que abordamos questotildees relacionadas agraves esferas poliacuteticas

sociais e econocircmicas desses sujeitos Embora subdividido didaticamente em cinco

itens privilegiamos em todo o capitulo a discussatildeo em torno da atuaccedilatildeo dessa

entidade nos acircmbitos da universidade e da formaccedilatildeo profissional enriquecidas com

as mediaccedilotildees realizadas nos capiacutetulos anteriores Destacamos tambeacutem desafios e

contradiccedilotildees que perpassam o MESS e a ENESSO na atualidade Para tal nos

baseamos nas informaccedilotildees fornecidas por ex-coordenadores(as) da ENESSO e nos

documentos elaborados e divulgados pela executiva durante o periacuteodo investigado

nessa pesquisa aleacutem da produccedilatildeo de dados obtida mediante as informaccedilotildees

concedidas por um(a) dirigente de oposiccedilatildeo e representantes da ABEPSS que

teceram reflexotildees sobre atuaccedilatildeo da ENESSO na contemporaneidade

24

Acredito na Rapaziada

Eu acredito eacute na rapaziada

Que segue em frente e segura o rojatildeo

Eu ponho feacute eacute na feacute da moccedilada

Que natildeo foge da fera e enfrenta o leatildeo

Eu vou agrave luta com essa juventude

Que natildeo corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que natildeo taacute na saudade e constroacutei

A manhatilde desejada

(gonzaguinha)

25

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA

No intuito de analisarmos a direo social do MESS mediante protagonismo

da ENESSO faz se necessrio uma abordagem do ME como expresso de um MS

em que concebermos tais sujeitos como esferas coletivas de organizao e atuao

poltica Temos o entendimento que a poltica no se reduz aos espaos

institucionais mas se faz presente nas mais variadas esferas societrias e que pode

ser instrumento de conservao da sociabilidade burguesa como pode ser utilizada

para sua superao a partir da anlise e conhecimento crtico do real que potencializa

uma ao orientada para negao da ordem vigente

Conceber o ME como MS nos remete ao entendimento de que uma

investigao sobre sua atuao deve considerar importantes dimenses tais quais o

atual momento histrico e suas determinaes para a luta dos(as) trabalhadores(as) e

para esfera educacional em especial a universidade brasileira Pois partimos da

perspectiva de que a luta dos(as) estudantes no se desenvolve desconectada da

discusso de um determinado projeto de universidade e dessa maneira to pouco de

uma viso societria

Portanto a discusso do ME no contexto dos MS visa ressaltar tambm a

importncia dos MS no mbito de uma sociabilidade marcada pela disputa de projetos

diferenciados e antagnicos que perpassa diversas esferas da totalidade social Desse

modo tal anlise torna-se relevante para melhor compreendemos a atuao do

MESS no cotidiano de lutas por uma universidade pblica gratuita democrtica laica

e de qualidade e de um projeto de formao profissional consubstanciadas nas

Diretrizes Curriculares de 1996 lutas inseridas numa conjuntura de disputa de projetos

educacionais nos marcos dessa sociabilidade Nesse aspecto relevante frisar que

historicamente o ME e em especial o MESS tem atuado em sintonia com a defesa de

construo de uma sociabilidade para alm do capital

Nesse cenrio de disputas e correlao de foras polticas e ideolgicas

segmentos dos MS identificados com um iderio emancipatrio assumem um papel

de destaque na implementao de lutas sintonizadas com o ideal de transformao

societal Nesse sentido os MS e entre eles o ME consistem em espaos de

26

organizaccedilatildeo participaccedilatildeo e accedilatildeo coletiva potencialmente favorecedores da

materializaccedilatildeo de uma accedilatildeo poliacutetica transformadora do status quo mediante o

desenvolvimento de lutas e atividades direcionadas para defesa de interesses que

exprimem os valores e princiacutepios que norteiam as accedilotildees desses sujeitos Valores que

majoritariamente se colocam no campo de negaccedilatildeo das relaccedilotildees mercantis

dominantes

A conjuntura atual eacute marcada pelo refluxo dos Movimentos Sociais(MS)

realidade influenciada dentre outros determinantes pela propagaccedilatildeo da

impossibilidade de ultrapassagem da ordem estabelecida e pela valorizaccedilatildeo de

relaccedilotildees mercantis

Luchmann e Souza(2005) sinalizam que a atuaccedilatildeo dos MS nas deacutecadas

de 1970 e 1980 caracterizava-se pelo caraacuteter combativo e contestatoacuterio

diferentemente dos anos 1990 nos quais se configura um direcionamento

particularizado por relaccedilotildees propositivas e participativas junto ao Estado em

detrimento de atuaccedilotildees mais reivindicativas

Para Montatildeno(2002) a inflexatildeo ocorrida na relaccedilatildeo entre as ONG e os MS

constitui uma expressatildeo dessa crise uma vez que nos anos 70 e 80 do seacuteculo XX

existia uma articulaccedilatildeo entre tais sujeitos coletivos na luta pela instituiccedilatildeo do Estado

democraacutetico e de direitos de cidadania para diferentes segmentos da sociedade

brasileira Jaacute nos 1990 explicita-se a profunda alteraccedilatildeo que acontece nessa relaccedilatildeo

visto que as ONG passaram a atuar natildeo mais em parceria mas a ocupar os lugares

dos MS Partindo do entendimento do autor eacute possiacutevel afirmar que essa inflexatildeo

contribui para o processo de reproduccedilatildeo da sociabilidade mercantil jaacute que

majoritariamente as ONG conformam espaccedilos mantidos financeira e ideologicamente

por instituiccedilotildees representantes do capital o que por sua vez potencializa uma atuaccedilatildeo

dessas organizaccedilotildees sintonizada com a manutenccedilatildeo dessa sociedade

Gonh(1992) ressalta que a fragilizaccedilatildeo dos MS eacute influenciada por

problemaacuteticas como o aumento do desemprego a aceitaccedilatildeo das diretrizes neoliberais

como fundamento da relaccedilatildeo Estado e sociedade e tambeacutem pela forte descrenccedila

em relaccedilatildeo a poliacutetica na contemporaneidade

Temos a apreensatildeo que os aspectos salientados por Gonh se apresentam

de modo radicalizado na atualidade Natildeo se pode mascarar a existecircncia de uma

conjuntura marcada cada vez mais pela expansatildeo do desemprego e de suas

consequumlecircncias para a desorganizaccedilatildeo dos segmentos do trabalho situaccedilatildeo que

potencialliza para o natildeo reconhecimento do pertencimento de classe de parte

significativa desses sujeitos

27

A descrena poltica se constitui um elemento particular da nossa histria

Perspectiva que se manifesta no estabelecimento de relaes fundamentadas na

lgica clientelista e na cultura do favor do famoso ldquojeitinho brasileirordquo na sobreposio

de interesses particulares em relao aos anseios da coletividade Aliado a isso

vivencia-se um contexto poltico complexo e difcil particularizado pela conquista da

presidncia por um partido historicamente identificado pelo iderio de transformao

social contudo atuando preponderantemente com fundamentao nos

ensinamentos e indicaes neoliberais de valorizao do privado desqualificao do

pblico e destruio dos direitos sociais Com base nessas reflexes pode-se afirmar

que o cenrio crtico para os MS identificados com a construo de outra

sociabilidade para alm do capital seno crtico o contexto contemporneo no

mnimo preocupante pois se intensifica a vivncia de desvalores sustentadores desta

ordem como egosmo competitividade individualismo associados s particularidades

da realidade brasileira

Entendemos ainda que as perspectivas ps-modernas contribuem para

esse cenrio de desmobilizao pois a negao da razo moderna favorece o

exacerbamento de vivncias efmeras em detrimento da construo de projetos

societrios alternativos para humanidade visto que a ps-modernidade se caracteriza

por concepes que ldquobuscam no isolamento do individuo (o sujeito localizado na

comunidade tecnolgica e informatizada do sculo XIX mas lsquodeslocadorsquo de sua

sociabilidade) a soluo para os problemas enfrentados pelo homem na sociedade

contemporneardquo (MAGALHES 2004 p83)

O isolamento e a atomizao dos sujeitos como caractersticas de

perspectivas situadas no campo da ps-modernidade contribuem para fragilizao de

aes e organizaes coletivas j que se verifica uma forte tendncia de exaltao da

subjetividade sem considerar entretanto o solo societal em que os indivduos esto

inseridos uma sociabilidade marcada pela explorao relaes competitivas

opressoras e egostas

Tais elementos corroboram para fragilizao das organizaes coletivas

identificadas com o iderio de transformao e construo de outra forma societria

inclusive o ME que historicamente levanta a bandeira em favor da universidade

pblica gratuita laica e de qualidade no Brasil

De fato o momento presente evidencia a retrao da organizao

poltica da classe trabalhadora Contexto scio-histrico de abandono das idias

anticapitalista por parte de importantes partidos situados no campo da esquerda

exemplar o caso do PT no Brasil Essa tendncia favorece a constituio de cenrios

nacionais nos quais a realizao de

28

Contra-reforma que sofreriam dura oposio se encaminhadas por governos originariamente neoliberais esto sendo aprovadas por coalizaes que contam com foras que outrora possuam uma imagem no neoliberal (LEHER 2005 p18)

Ou seja vivenciamos uma conjuntura desfavorvel aos segmentos do

trabalho Alicerando-nos em Fontes(2008) assinalamos que a radicalidade neoliberal

do tempo presente expressa o processo de intensificao da disponibilizao e

disciplinamento do trabalho em relao ao capital Disciplina na qual as foras

dominantes utilizam a violncia e a construo de consensos que rebatem fortemente

nos MS em particular no movimento sindical no a toa que ldquoassistimos destruio

dos sindicatos combativos ao desmonte de anteparos legais ao aguamento da

concorrncia internacional dos trabalhadoresrdquo (FONTES 2008 p31)

A autora ainda chama ateno para o explcito processo de metamorfose

que perpassam os MS nesse contexto de aprofundamento da explorao e

subalternizao dos segmentos do trabalho Dessa maneira organizaes populares

de cunho reivindicativo passaram a se configurar em espaos ldquomercantil-filantrpicordquo

Essa regressiva converso est articulada a marcante propagao no campo das

organizaes sociais da importncia das demandas especficas entretanto

desvinculadas da luta anticapital perspectiva que predominou sobretudo nos anos de

1980 imbricada a essa tendncia se verifica a disseminao de militantes que

embora preocupados com a melhoria de condies de existncia da populao

explorada e oprimida atuam de modo localizado pontual e fragmentado levando-os

ao abandono de lutas e reflexes sintonizadas com o ideal do fim da sociedade de

classes Realidade que corrobora com a transformao de militantes em assessoristas

de projetos sociais situados no campo da filantropia bem como para o aniquilamento

ldquodo horizonte da contradio entre fazer filantropia ser militante e ser remunerado

mercantil por essa atividaderdquo (FONTES 2008 p 35)

Sem dvidas essas ldquoconfusesrdquo ou mudanas de funes no interior das

organizaes de origem populares consistem em mais uma das estratgias de

convencimento empregada pela ideologia do capital na sua verso neoliberal com o

intuito de fragilizar as organizaes e os sujeitos contestadores e opositores da sua

dominncia Esse propsito de inflexo das lutas se expressa por exemplo na

tentativa desmesurada de satanizar o Estado e mascarar as contradies existentes

na sociedade civil

Em reflexo sobre os movimentos de classes no Brasil MOURA(2008)

assevera que na atual conjuntura o movimento sindical e os partidos de esquerda ldquo

29

parecem no dar conta de incorporar os diferentes sujeitos que se apresentamrdquo (p

52) Essa situao manifesta um momento de mxima complexidade no que diz

respeito organizao e atuao poltica dos segmentos do trabalho cada vez mais

a classe trabalhadora se torna diversificada e heterognea o que significa que a

tomada de conscincia e o pertencimento de classe uma necessidade real

importante e urgente por parte dos(as) desempregados dos(as) subcontratados

dos(as) inseridos(as) na informalidade e principalmente pelos movimentos de

trabalhadores(as) j organizados

Iamamoto(2006) sinaliza que essa tendncia de reduzida combatividade

do movimentos sindical e suas entidades deve ser entendida levando-se em

considerao os rebatimentos da reestruturao produtiva que acaba por gerar uma

diversificao nas relaes de trabalho no interior das fbricas a expanso de

trabalhos precarizados o acirramento da competitividade entre os trabalhadores(as)

dimenses que incidem na desorganizao poltica dos segmentos do trabalho

Para contribuir com nosso entendimento sobre a inflexo pelo qual passa

os MS na contemporaneidade em particular o movimento sindical j que temos o

entendimento que a organizao estudantil e suas entidades historicamente

apresentam vinculaes com esses sujeitos polticos realizaremos uma breve anlise

da recente trajetria da organizao da classe trabalhadora no Brasil

Segundo Moura(2008) o novo sindicalismo iniciado no final da dcada de

1970 com as manifestaes e greves sobretudo circunscritas ao ABC paulista se

fundamentava na defesa de direitos trabalhistas e sociais a participao da base

associada a luta pela democracia poltica no pas Foi o fortalecimento dessa vertente

que culminou com a criao da Central nica dos Trabalhadores(CUT) em 1983 e que

desde a sua fundao apresenta-se estritamente vinculada a criao do Partido dos

Trabalhadores em 1980 Conforme (MOURA 2008 p58)

Com bases sociais vinculadas diretamente ao movimento dos trabalhadores consolidou-se o projeto de fundao do PT Esse partido de formao originalmente operria foi determinante na formao da CUT Pode-se dizer que as fronteiras entre os militantes do PT e da CUT alm da ampla maioria dos movimentos sociais e populares que retomavam suas aes ou se constituam no pas ps-ditadura no estavam definidas Naquele quadro o PT expressava o movimento de massa o conjunto dos trabalhadores que em geral no estavam ligados aos partidos comunistas

A vitria de Fernando Collor de Mello e logo em seguida os oito anos de

gesto de Fernando Henrique Cardoso(FHC) colocaram o Brasil a plena disposio

da expanso neoliberal que j se processava mundo afora A vitria do PT em 2002

30

apoiado pela CUT at significou a contestao esmagadora da populao brasileira

com o rumo dado ao pas nas gestes anteriores entretanto o caminho adotado no

foi destoante do receiturio neoliberal Assim

Cada vez mais setores do movimento sindical brasileiro incorporam as teses gestadas pelos intelectuais orgnicos da burguesia O discurso de pretensa inexorabilidade do processo de ldquoglobalizao econmicardquo parece ter abarcado os setores dirigentes da CUT e do PT O projeto orientado pelo segmento especulativo do capital com o discurso de incorporao ordem e de parceria entre trabalhadores e patres Afirma a diluio das classes em prol de uma individualidade falaciosa (MOURA 2008 p59)

Como ser tratado nos captulos seguintes o governo de Lula tem sido

responsvel pela implementao de medidas que se pautam na perspectiva de

aprofundar a regulao neoliberal no pas Sendo esse posicionamento poltico

apoiado por entidades que historicamente tiveram suas aes voltadas para defesa

dos interesses da maioria da populao entre elas a CUT e a prpria Unio Nacional

dos Estudantes(UNE)

No mbito de negao da atuao poltica da CUT sobretudo no que diz

respeito relao de subordinao diante do governo Lula tivemos a criao em 15

de dezembro de 2005 da Coordenao Nacional de Lutas(CONLUTAS) formada por

sindicatos MS e organizaes de cunho popular comprometidas com o

desenvolvimento de lutas contrrias as contra-reformas que vem sendo materializadas

no Brasil Segundo essa entidade a CUT se transformou em uma organizao que

prefere apoiar o atual governo do que defender os interesses e direitos dos(as)

trabalhadores(as) nacionais

Acreditamos que seja necessrio destacar que a criao da CONLUTAS

recebeu influncia significativa de militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores

Unificados(PSTU)6 este considera o PT um partido reformista e que no cenrio atual

subsidia as aes da burguesia nacional

A criao de novas entidades no campo de organizao dos(as)

trabalhadores(as) e tambm do segmento estudantil evidencia o descontentamento

poltico de militantes com a conduo do pas que direcionada por um partido

construdo no mbito das lutas sociais todavia tem atuado em conformidade com a

hegemonia neoliberal adotada nos governos anteriores o que de certo modo

manifesta um expressivo divisionismo eou instabilidade existente no movimento

6 O PSTU foi fundado em 1994 sobretudo por militantes que romperam com o PT Mais recentemente em 2004 ocorreu uma nova dissenso no PT que culminou com a criao do Partido Socialista e Liberdade(PSOL)

31

organizado dos segmentos do trabalho e estudantil no Brasil e que rebate de maneira

significativa no MESS Tendncia evidenciada por exemplo nos conflitos que

envolvem a postura do segmento estudantil e da ENESSO diante do governo Lula e

da UNE aspectos amplamente debatidos pelos agrupamentos polticos que se

organizam no MESS7

Contudo a contradio inerente a sociedade do capital e desse modo

foras antagnicas a dominao burguesa se manifestam de modo combativo

inclusive nesse contexto de retrao poltica da classe trabalhadora

De maneira mais ampla temos a criao do denominado movimento

antimundializao que nos ltimos anos tem protagonizado relevantes lutas contra a

dominao capitalista O marco desse movimento consistiu os protestos durante a

reunio da Organizao Mundial do Comrcio(OMC) na cidade de Seatte em 1999

Apresentando posicionamento radicalmente contrrio ao receiturio neoliberal esse

movimento construiu e organiza o Frum Social Mundial espao que segundo

Wallertein( 2005) tem o objetivo de promover lutas contra os males provocados pelo

capital com postura de respeito as necessidades imediatas dos diversos segmentos

que compem o frum

Para Chesnais Serfati e Urdf(2005) o movimento antimundializao

apresentou como primeiros objetivos o combate a mercantilizao dos servios

pblicos efetivado mundialmente pela OMC mediante o Acordo Geral sobre Comrcio

e Servio(AGCS) mercantilizao que atinge diversas esferas entre elas a educao

O pensamento de Wood(2005) que a organizao dos(as)

trabalhadores(as) deve comear dentro de cada Estado dado seu entendimento que

o Estado no atual momento da globalizao apresenta funcionalidades imprescindveis

para a acumulao do capital Entre tais funes evidenciamos o seu papel de

ldquomanter a mo de obra imobilizada enquanto o capital se move atravs das fronteiras

nacionais ou nos capitalismos menos desenvolvidos atua como correia de

transmisso para outros Estados capitalistas mais avanados(WOOD 2005 p111)

A apreenso da autora situa o Estado como importante alvo das lutas de

classes em nvel local e nacional visto que no mbito da contradio como agente da

globalizao o Estado pode se constitui antagonicamente como ente bloqueador

desta

Em mbito nacional alguns sujeitos coletivos denominados por

Moura(2008) de ldquonovos movimentos de classerdquo tm assumido uma postura de

organizao combativa diante da perda de direitos e das precrias condies de

7 O aprofundamento dessa questo se encontra no capitulo cinco dessa dissertao

32

existncia seja na cidade eou campo Nessa dimenso temos a significativa atuao

poltica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) o Movimento dos

Trabalhadores Sem Teto(MTST) e o Movimento Terra Trabalho e Liberdade(MTL) que

segundo a autora implementam

Uma lgica e interveno inovadoras Organiza e aglutina segmentos distintos de trabalhadores sob uma mesma ldquobandeirardquo Essas novas organizaes buscam implementar alternativas econmicas para sobrevivncia e auto-susteno dos trabalhadores Experincias que se desenvolvem numa dinmica que busca o controle do processo de trabalho e forma no-capitalista de organizao econmica A organizao de massa priorizando a democracia e a ao direta a principal referncia desses movimentos(MOURA 2008 p60)

Diante do exposto seja a necessidade de luta circunscrita aos Estados

nacionais apontadas por Wood ou as lutas globais destacadas por Chesnais Serfati e

Urdf e ainda os movimentos existentes no Brasil que foram destacados por

MOURA(2008) constituem e expressam possveis e concretas respostas de

resistncia do trabalho contra o capital

Em se tratando especialmente do ME interessante ressaltar algumas

caractersticas peculiares desse MS entre elas um movimento formado

majoritariamente pela juventude8 que se depara na contemporaneidade com um

cenrio de crise em que o diploma universitrio no representa mais a garantia de um

futuro melhor Nesses termos Almeida (2004) destaca que a preocupao dos(as)

estudantes com a insero no mercado de trabalho to significativa que verificamos

seus rebatimentos inclusive no afastamento considervel de alunos(as) das

organizaes coletivas no mbito universitrio como o caso do ME

Os dados da pesquisa realizada em novembro de 1999 pelo Ncleo de

Opinio Pblica da Fundao Perseu Abramo com jovens de quinze a vinte quatro

anos nas noves regies metropolitanas e Distrito Federal revelam que do total de

entrevistados(as) 58 estudavam Entretanto s a condio de estudante no

suficiente para caracterizar de forma mais profunda a juventude brasileira pois tal

pesquisa tambm evidenciou que do universo investigado 78 trabalhavam eou

estavam na procura de emprego para adentrarem no mundo do trabalho

8 A dissertao no tem o propsito de confrontar teoricamente as diferentes concepes existentes sobre juventude Contudo temos o entendimento que no podemos tratar dessa temtica levando-se em considerao somente a idade em si mas as determinaes econmicas sociais polticas culturais que incidem na vida desses sujeitos que vivenciam entre outras dimenses situaes de confrontos de valores idias momentos de transio processos formativos e nveis de maturidade diferenciados

33

Relevante enfatizar que os dois principais motivos elencados pelos jovens

que abandonaram os estudos so de natureza econmica 34 deles apontaram

impossibilidade em conciliar trabalho e estudo e 16 evidenciaram a falta de recursos

financeiros como impedimento para continuidade da vida escolar9

Em dezembro de 2003 investigao do Projeto JuventudeInstituto

Cidadania em parceria com o Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE divulgaram

dados de uma pesquisa realizada com jovens entre 15 e 24 anos de todo o pas e que

tratou ainda de retomar e ampliar os temas destacados pela pesquisa da fundao

Perseu Abramo de 1999

Com base nos dados da pesquisa do Projeto Juventude trs em cada

quatro jovens entrevistados(as) esto inseridos(as) no mercado de trabalho ou

procurando uma ocupao O tema ldquotrabalhordquo se configura entre os(as) jovens como

aqueles de maior interesse e preocupao Visto que o trabalho se apresenta como

elemento fundamental de seu presente ou de seu futuro prximo concebido como necessidade pela maioria mas tambm como fator de crescimento de conquista de independncia e de auto-realizao para parcelas amplas da juventude( ProjetoJuventude 2003 p92)

A violncia e dificuldades de insero no mercado de trabalho so tidas

como os principais aspectos negativos da condio de ser jovem no Brasil

Em relao dimenso cultural a pesquisa evidencia que 85 dos

entrevistados(as) no participam de grupos de jovens e aqueles(as) que participam

atuam especialmente em organizaes vinculadas a Igreja

Recente pesquisa da Fundao Getulio Vargas10 destaca que falta aos

pais e jovens brasileiros tomarem conscincia do poder transformador da educao

em suas vidas como os altos impactos educacionais exercidos na esfera de

empregabilidade salrio e sade

O carter transformador da educao como salientado pela Fundao se

consubstancia notoriamente numa tendncia de proporcionar melhores conquistas e

desenvolvimento no interior do mercado de trabalho o que representa sobretudo

uma lgica de preservao dessa sociabilidade pois no se apreende incentivos a um

tipo de educao como mediao que possibilite o questionamento da sociedade

9 Conforme dados da pesquisa do percentual de 42 que pararam de estudar apenas 1 o fez por ter concludo o ensino superior10 A pesquisa foi divulgada no site da Fundao no dia 16 de abril de 2009 e patrocinada pela prpria fundao pelo Unibanco pelo Movimento Todos pela Educao e pela Educar Dpaschoal As principais fontes da pesquisa foram os microdados dos Suplementos da PNDA de 2004 e 2006 microdados da Pesquisa Mensal do Emprego(IBGE)

34

erguida pelo capital marcada pela dominao explorao e opresso que repercute

inclusive na esfera educacional como evidenciado no capitulo trs desse trabalho

Segundo dados disponibilizados pela Fundao Getulio Vargas no

universo da referida pesquisa os jovens entre 15 e 17 anos elencaram a ausncia de

interesse como principal responsvel pelo abandono escolar representando um

percentual de 403 enquanto que o abandono por questes de renda e trabalho

corresponderam ao patamar de 271 Os dados so realmente inquietantes levando-

nos a refletir o que na essncia representa a denominada ausncia de interesse No

seria um reflexo da profunda instabilidade vivenciada neste contexto de extrema crise

dessa sociabilidade em vez de se configurar como mera falta de apreenso dos pais e

jovens em relao ao impacto da educao nas suas vidas

Nessa dimenso a anlise da atuao do MESS um movimento

constitudo majoritariamente por jovens exige mediaes que reflitam sobre essas

problemticas enfrentadas pela juventude na atualidade

O afastamento de estudantes das organizaes coletivas no interior das

instituies de ensino superior configura tambm reflexo da ausncia de uma efetiva

poltica de assistncia estudantil que proporcione a permanncia dos(as)

universitrios(as) no cotidiano dessas instituies

Aliado a esses aspectos de ordem objetiva que contribuem para o

distanciamento de jovens do universo da educao formal e desse modo das

prprias organizaes coletivas peculiares a tais espaos como o ME ainda

vivenciamos um ntido processo de despolitizao que atinge vrios mbitos e

organizaes da sociedade O tempo presente reflete a radicalizao da barbrie

expressa por exemplo na agudizao das relaes competitivas e do individualismo

o que por sua vez fragiliza a construo de valores e prticas identificadas com a

construo de outro projeto societrio Outro elemento presente na realidade do ME

a tentativa de ocupao de entidades historicamente identificadas com a

transformao societal por foras tericas e polticas conservadoras Nas palavras de

Fontes(2009) ldquons estamos vivendo um momento de em que o capital hoje investe

fortemente em apassivar movimento sociais ainda que tenha que gastar algum recurso

para issordquo(2009 p04)

Outro aspecto importante consiste na transitoriedade do ME que aliada

fragilizao na formao poltica dos(as) militantes representa dificuldades no

processo de renovao de seus membros

Alm disso o carter pluriclassista do movimento contribui para a

apreenso e desenvolvimento de aes diferenciadas no contexto social nesse

sentido levando-se em considerao o grupo poltico pode existir concepes

35

diversas sobre a funcionalidade da universidade na sociabilidade capitalista Logo no

tocante a prpria contra-reforma do ensino superior e a formao profissional os

posicionamentos podem ser diversificados no interior do ME

Alm disso a conjuntura recente revela mudanas relativas s esferas

cultural e social dos jovens visto que verificamos a emergncia de novos espaos de

atuao juvenil so exemplos dessa tendncia os movimentos hip hop e rap os quais

segundo Mische (1996 p25) ldquosurgem como a voz de revolta e auto-afirmao Estes

constituem espaos de resistncia com criatividade ao desespero da violncia das

aspiraes bloqueadas e da falta de respeito por parte da cultura dominanterdquo

Portanto ao mesmo tempo que a atual conjuntura contribuiu no enfraquecimento de

determinados espaos polticos de organizao contraditoriamente proporciona o

fortalecimento da atuao dos (as) jovens em outras dinmicas de organizao

Consideramos desse modo que o ME brasileiro enfrenta na atualidade

contradies e desafios que podem contribuir ainda mais para o cenrio de

fragmentao de sua atuao poltica

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes

O resgate histrico do Movimento Estudantil(ME) brasileiro evidencia que a

defesa da universidade pblica gratuita e de qualidade social constitui em uma das

principais bandeiras de luta desse segmento organizado Permite ainda

apreendermos a ao poltica majoritariamente assumida ao longo de diferentes

conjunturas brasileiras em especial no atual cenrio de realizao de profundas

mudanas no mbito da educao superior lcus privilegiado de sua organizao e

atuao Assim faremos uma breve contextualizao do ME apresentando como

marco inicial de sua ao a criao da UNE por se tratar da entidade mxima dos(as)

discentes universitrios(as) no pas

Antes da criao da (UNE) no ano de 1937 a atuao do segmento

estudantil era caracterizada conforme Poerner (1979) pela transitoriedade e

regionalismo ou seja por aes focalistas e de carter local somente em 1937

com a criao e reconhecimento pelos (as) estudantes brasileiros(as) da UNE como

sua entidade mxima de representao que as lutas estudantis tornaram-se mais

expressivas e articuladas em nvel nacional

Segundo esse autor desde sua criao at a dcada de 1950 o ME

mediante atuao da UNE participou de lutas importantes no cenrio brasileiro dentre

36

das quais ressaltamos as mobilizaes contra o Estado Novo11 defesa do patrimnio

territorial e econmico do pas expressa por meio da campanha favorvel criao da

Petrobrs e pela proteo dos recursos naturais sobretudo das riquezas minerais os

protestos contra o aumento nas passagens dos bondes de So Paulo entre outras

aes

Diante do exposto evidencia-se que naquele momento o ME preocupava-

se com questes referenciadas na agenda poltica conjuntural do pas e prevalecia

tendncia de abstrair as singularidades do movimento secundarizando as

problemticas vivenciadas pelos(as) estudantes no cotidiano das instituies de

ensino superior brasileiras

Esta tendncia sofre alteraes na dcada de 1960 quando so realizados

dois seminrios sobre reforma universitria nos anos de 1961 e 1962

respectivamente na Bahia e no Paran O resultado dos seminrios foi expresso na

denncia por segmentos do ME quanto disseminao ideolgica pelos setores

dominantes da lgica que defende o ensino superior como privilgio de uma minoria e

a universidade como instrumento dos setores interessados na preservao da ordem

vigente Portanto desde a dcada de 1960 a defesa da universidade pblica gratuita

e de qualidade social bem como o desenvolvimento de processos formativos crticos

se tornaram mais expressivos nas reivindicaes e aes do ME

Em 1964 tivemos a instaurao da ditadura militar caracterizada na

realidade brasileira pela represso autoritarismo censura com destruio de canais e

espaos democrticos e morte de lideranas polticas Durante a ditadura uma das

metas principais dos governos autoritrios consistia na atrao de capitais

estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos Estados

Unidos No toa que durante esse perodo tivemos o chamado ldquomilagre

econmicordquo durante o qual os ndices de crescimento foram considerados

expressivos entretanto essa elevao no se converteu para toda sociedade sendo

os segmentos das classes trabalhadoras aviltados do processo que teve poucos

beneficiados alm disso vale ressaltar que foi proporcionado pela contnua poltica de

endividamento do Brasil

Desde a instaurao do regime militar as legislaes adotadas

demonstravam a preocupao em conter a atuao estudantil em novembro de 1964

foi aprovada a Lei Suplicy de Lacerda que tinha como principal objetivo eliminar a

autonomia do ME

importante destacar que em maio de 1968 acontece em diversos

11 O denominado Estado novo correspondeu aos anos de gesto de Getulio Vargas nos anos de 1937 a 1945

37

pases manifestaes de negao da sociabilidade capitalista e constitudas

significativamente por estudantes sendo que a maior expresso dessas

manifestaes ocorreu na Frana

Fontes(2009) considera que o maio de 1968 representa o epicentro de

um complexo processo de lutas que vinham se manifestando em diversas partes do

mundo como Mxico EUA Japo Europa e que caracteriza a ldquo a irrupo no plano

internacional de um certo tipo de lutas de novo tipo que no podem mais ser contidas

nem so solucionveis nos espaos nacionaisrdquo (p1) As lutas destacadas pela autora

so aquelas que denunciavam a crescente devastao internacional do capital e que

se expressavam por exemplo nas questes pacifistas anticoloniais racistas

sexistas entre outras as quais no poderiam ser enfrentadas no espao restrito dos

Estados nacionais

Para essa autora a represso militar configurou o maio de 1968 no Brasil

como manifestaes predominantemente estudantil e antiditatorial contudo

necessrio considerar que as manifestaes se processaram por diversos setores

urbanos do pas visto que aquela conjuntura marcada pelo

processo de diversificao industrial importante e impactante era um perodo de virada da estrutura demogrfica nacional e que portanto as manifestaes de 68 so fortemente antiditatoriais e com um cunho fortemente popular E contra elas e contra a possibilidade o temor que esse tipo de manifestao se estendesse que certamente o AI 5 inaugura a pior represso no caso brasileiro(2009 p02)

Nesta conjuntura contraditria e repressiva foi realizado o XXX Congresso

da (UNE) em outubro de 1968 que se constituiu num desafio para o ME pois a

violncia desencadeada contra os crticos do regime se intensificava alm disso as

reunies encontros estudantis e as mobilizaes de repdio as atrocidades cometidas

pela ditadura eram consideradas como aes subversivas e de ameaa a ordem

estabelecida Preocupados com a represso o lugar escolhido para realizao do

referido encontro foi Ibina pequena cidade no interior do estado de So Paulo

objetivando com tal medida no chamar ateno e assim evitar um confronto

policial No entanto a clandestinidade no se materializou e a realizao do congresso

chegou ao conhecimento das autoridades militares e praticamente todos os

congressistas foram presos entre eles os principais lderes do ME gerando um

grande abalo e marcando o incio de influxo do movimento

O refluxo do ME deve ser analisado levando-se em considerao a

instituio das medidas repressivas as quais se tornaram constantes naquele

contexto brasileiro Assim em dezembro de 1968 inicia-se o que Netto (2005 p38)

38

denominou de ldquogenuno momento da autocracia burguesardquo com a instalao do Ato

Institucional 5 considerado uma das legislaes mais autoritrias e violentas do

regime Em fevereiro de 1969 o Decreto lei 477 foi institudo e tratou de estabelecer

as infraes disciplinares cometidas por docentes discentes e funcionrios(as) das

instituies de ensino no pas concebendo greves e mobilizaes estudantis como

atos infracionais visando a fragilizao do ME

necessrio destacar que nas dcadas de 1960 e 1970 as aes

polticas do ME estavam voltadas para denncia do descaso dos governos ditatoriais

com a educao evidenciado a interferncia norte americana neste setor por

intermdio dos acordos MEC ndash USAID bem como procuravam fortalecer a luta contra

o regime militar

Este direcionamento de aes voltadas mais especificamente para o

mbito educacional bem como atividades de carter genrico consistia em motivo de

discordncia no tocante a forma de atuao a ser desenvolvida pelo ME Nessa

perspectiva Ramos referendada em Martins Filho (1987) ressalta a presena de

duas tendnciasA primeira atribua-lhe a funo de denunciar a ditadura militar atravs de grandes manifestaes pblicas que marcariam sua presena perante a sociedade [] a segunda posio defendia a ldquoluta especficardquo ou luta nas escolas [] nesta concepo a politizao dos (as) universitrios (as) surgiria das reivindicaes que lhes so especficas e seria no seu processo de organizao que eles (as) apoiariam o movimento dos (as) trabalhadoras (RAMOS 1996 p63)

Podemos considerar a tendncia defensora das grandes mobilizaes nas

ruas como hegemnica no mago do ME naquele momento Decorrente desta

posio necessrio enfatizar o protagonismo desse movimento na atuao contra o

regime repressor de 1964 Neste mbito a reconstruo da UNE conformou uma

caminhada rdua nesse processo

Neste contexto importante evidenciar que o XXXI Congresso da UNE

mais conhecido como ldquoCongresso da Reconstruordquo ocorrido em 1979 em Salvador

no Centro de Convenes da Bahia significou antes de tudo a expresso da

organizao e fortalecimento das bases estudantis que vinha ocorrendo em todo pas

Em 1972 alguns Centros Acadmicos retomam a iniciativa de denunciar as

barbaridades praticadas pela ditadura Esse ano e o seguinte so marcados pela

realizao dos primeiros encontros por rea de acordo com as diferentes profisses

Em 1975 a ocorrncia de greves em algumas universidades brasileiras como nos

estados do Rio Grande do Sul So Paulo Rio de Janeiro Bahia e Pernambuco

sinaliza que o ME encontrava-se em processo de reorganizao e recuperao do

39

carter poltico combativo das entidades estudantis Com tais propsitos no ano de

1976 aconteceram as primeiras eleies de Diretrios Acadmicos Livres como por

exemplo o da Universidade de So Paulo (USP) importante destacar tambm que

em 1976 foram realizados o I e II Encontro Nacional dos Estudantes (ENE) Estes

encontros consistiram nas primeiras medidas visando reorganizao do ME em nvel

nacional

O ano de 1977 ficou marcado pela volta dos(as) estudantes s ruas com

as grandes mobilizaes contra o ensino pago o aumento abusivo das mensalidades

nas universidades privadas e tambm contra o regime ditatorial

Outro fato relevante ocorrido no mesmo ano consistiu no III ENE no qual

foi formada a comisso Pr-UNE cuja responsabilidade correspondia em ldquocoordenar

as lutas estudantis em nvel nacional propagandear a histria da UNE e promover o

debate acerca da necessidade de sua reconstruordquo (ROMAGNOLI e ALVES 1988 p

32)

interessante salientar que as insatisfaes com a ditadura militar se

intensificaram e outros segmentos organizados da sociedade renasceram com

nfase para o ressurgimento das reivindicaes operrias expressas sobretudo

atravs dos movimentos grevistas no ABC paulista em 1978

Tal ano significativo para o ME devido o crescimento quantitativo de CAs

pela eleio da primeira diretoria livre para a Unio Estudantil de So Paulo e ainda

pela efetivao do IV ENE que tratou das discusses sobre a realizao do

Congresso de Reconstruo da UNE estabelecendo inclusive a data e local Como

podemos observar este congresso foi decorrncia de um processo de rearticulao do

ME que estava acontecendo em todo Brasil

Observamos na conjuntura brasileira do final da dcada de 1970 o

fortalecimento das lutas de diversos segmentos da sociedade na defesa pelo retorno

ao Estado de direito e o ME constituiu-se em um importante protagonista nesse

processo

Portanto o segmento estudantil organizado teve papel relevante na luta

contra a ditadura militar dessa maneira conforme Romagnoli e Alves (1988) no

Congresso da UNE de 1979 entre as lutas que deveriam ser implementadas por esta

entidade estavam a defesa da anistia ampla e irrestrita e a reivindicao por uma

Assemblia Nacional Constituinte Alm disso no podemos deixar de referenciar a

contribuio estudantil nas presses pelas ldquoDiretas jrdquo desencadeadas por

mobilizaes de vrios segmentos da sociedade favorveis realizao das eleies

diretas para Presidncia da Repblica no ano de 1985 Apesar de amplas

manifestaes em todo pas o processo eleitoral democrtico no se materializou

40

mesmo assim a articulao das foras polticas contrrias ao regime se fortaleceu

Na dcada de 1980 Ramos (1996) sinaliza a existncia de trs tendncias

polticas principais que atuavam no ME brasileiro A primeira tratava-se da tendncia

denominada ldquoViraordquo composta por estudantes com vnculos polticos com a Unio

da Juventude Socialista(UJS) vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) que

era hegemnica nos diretrios da UNE e defendia a necessidade da luta por liberdade

democracia e soberania nacional A segunda tendncia era composta principalmente

por militantes do PT e ressaltava a importncia de articulao com outros sujeitos

coletivos no intuito de estabelecer alianas no mbito universitrio na perspectiva de

contribuir para a construo de uma nova hegemonia social como primordial para o

segmento estudantil organizado J a terceira tendncia considerada minoritria

aglutinava tendncias ligadas tambm ao PT ao Partido da Libertao

Proletria(PLP) e ao PSTU que destacava a prioridade da luta contra o capital a partir

da aliana entre o ME e os trabalhadores (as) camponeses (as) e operrios (as)

Analisamos que a divergncia de tendncias no tocante ao papel social a

ser assumido pelo ME demonstra que no podemos atribuir prticas unitrias aos MS

pois eles comportam vrios grupos polticos com concepes diferenciadas possvel

observamos nas vertentes citadas uma postura progressista na dimenso de defesa

de lutas importantes que contriburam na elaborao da crtica e da ao poltica

contra a realidade instituda

Andrade afirma que as tendncias constituem-se no ldquoelo entre partido

poltico e universidade refere-se a grupos organizados que atuam no ME e elaboram

suas propostas e orientaes luz dos programas estratgias e tticas que os

partidos de esquerda elaboram em funo da conjuntura polticas e econmicas

vigentesrdquo (ANDRADE 1994 p31) Entretanto algumas ponderaes so necessrias

pois nem todos(as) militantes das tendncias so filiados(as) a partidos polticos uma

tendncia pode atuar sem contudo apresentar vnculo orgnico com partidos

polticos alm disso no difcil encontrarmos filiados(as) de partidos polticos sejam

eles considerados de esquerda ou de direita que militam no ME independente de

participarem de tendncias

Nos anos de 1990 uma das atividades que marcou a atuao do ME

consistiu na realizao do V Seminrio sobre reforma universitria em So Paulo o

evento contou com expressiva participao dos (as) estudantes que chegaram

concluso de que a universidade

Tem por objetivos o desenvolvimento da cincia da tecnologia da cultura pautando-se na liberdade de investigao e debate no

41

pluralismo metodolgico e terico na autonomia em relao aos diferentes governos e empresas privadas e cujas prioridades so definidas pela prpria comunidade universitria (BOLETIM DA UNE 1990)

Ainda durante a vigncia dos anos 1990 ressaltamos a participao

estudantil nas mobilizaes em defesa do impeachment do presidente Collor (1992)

os denominados ldquocaras pintadasrdquo entraram em cena contra este governo de cunho

neoliberal entendido pelo ME como um inimigo da universidade pblica12

No que concerne ao movimento dos ldquocaras pintadasrdquo Mische (1996)

chama ateno para sua heterogeneidade diferentemente das manifestaes dos

anos 19601980 cuja composio era basicamente de jovens oriundos da classe

mdia Esta alterao associa-se ao fato de que as ldquoredes de estudo trabalho cultura

e sociabilidade no esto mais centralizadas nas universidadesrdquo (MISCHE 1996

p24) provocando mudanas na prpria organizao da juventude brasileira

principalmente com a emergncia de novos espaos de atuao ou seja ldquode maneira

diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da dcada de 60 os

jovens atuais buscam novas formas de aglutinao participao e expressordquo

(RAMOS e BRITO 2005 p 3)

Alm disso Ramos(1996 p71) afirma que a participao poltica nas

reivindicaes de 1992 no foi ldquocanalizada pelos movimentos e entidades juvenis

para uma organizao mais crtica e comprometida nas diversas esferas coletivas do

ME em particularrdquo Tal perspectiva pode ser percebida dentre outras questes pelo

refluxo que atravessa o ME na atualidade percebido a partir de expresses tais

como na incapacidade de aglutinar a juventude no divisionismo nos debates e aes

travadas pelas suas organizaes na perda de combatividade que antes consistia

numa de suas caractersticas essenciais

Uma alternativa a estrutura do ME apresentada por Mische (1996) capaz

de potencializar a revitalizao da organizao poltica dos(as) estudantes

universitrios so as executivas de curso que ganharam expressividade no final dos

anos 1980 com a realizao dos Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

(ENEX) nos quais ldquodiscutia-se prioritariamente o papel social do ME e as propostas

para a interveno das executivasrdquo (RAMOS 1996 p82)

12 Collor presidiu o Brasil por dois anos de 1990 a 1992

42

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO

As executivas de curso so expresses do movimento estudantil por rea

que objetivam implementar aes relacionadas a determinada profisso essa atuao

pode ser desenvolvida de maneira endgena quanto pode ser direcionada para o

entendimento das demandas profissionais analisadas criticamente a partir das suas

determinaes histricas

Em 1992 tivemos a criao do Frum Nacional das Executivas de Curso

que conformou um espao privilegiado de discusso e troca de experincia entre as

diversas executivas Tal dimenso sinalizada na sua compreenso como um espao

de ldquoarticulao das executivas onde se possam construir lutas em conjunto aumentar

o contato entre executivas da mesma rea do conhecimento e socializar experincias

e acmulos em determinados assuntosrdquo (FRUM DAS EXECUTIVAS 2005)

Na reunio do frum ocorrida em setembro de 2005 ficou evidente a

preocupao das executivas em discutir a funo social que a universidade brasileira

tem cumprido dada apreenso desta instituio como um aparelho ideolgico que

em larga escala atua em conformidade com a supervalorizao da dimenso

tecnicista e seguidora da lgica do mercado priorizando desse modo a formao de

profissionais para atuarem conforme o modelo societrio dominante

Ainda foram ressaltadas questes relacionadas necessidade das

executivas travarem lutas conjuntas a partir de um calendrio de atividades unificado

ratificando tal entendimento nos encaminhamentos construdos alm de ter sido

aprovada a tarefa de elaborao de um documento consistente sobre educao e

universidade com nfase para aspectos como extenso abertura de cursos

avaliao e exame de proficincia para ser enviado s entidades estudantis13

Tais encaminhamentos expressam que as executivas no se preocupam

somente com problemticas referentes s particularidades dos seus respectivos

cursos Porm necessrio que as executivas como alternativas de organizao para

o ME no se tornem entidades burocratizadas e hierarquizadas a exemplo da UNE na

contemporaneidade dado o seu afastamento das bases estudantis e de suas

conseqentes reivindicaes

O Frum das Executivas e Federaes de Curso(FENEX) tem assumido

uma postura de negao no que se referem s principais medidas realizadas no

13 At o presente momento no temos conhecimento da elaborao desses documentos

43

campo da contra-reforma do ensino superior tais como ENADE PROUNI e mais

recentemente REUNI Essa perspectiva pode ser apreendida por exemplo no

relatrio elaborado em decorrncia da reunio do Frum ocorrida em fevereiro de

200814 o qual estabelece que ldquoas executivas auxiliem na construo de comits

locais contra o REUNI e insiram o debate do REUNI em seus fruns[] ampliando o

debate no conjunto dos estudantesrdquo (FENEX 2008 p01)

Interessante esclarecer que esse Frum vem se constituindo em um

espao de organizao estudantil desvinculado da direo da UNE e que tem

apresentado uma direo crtica em relao atuao poltica na entidade nacional

dos(as) estudantes brasileiros(as) desse modo o frum tem se destacado na

construo da Frente Contra a Reforma Universitria em curso no Brasil

Em relao a UNE no 49 Congresso ocorrido tambm em 2005

tendncia denominada de Unio de Juventude Socialista (UJS) conseguiu manter sua

hegemonia na entidade Sua postura de apoio a contra-reforma efetivada pelo

Governo Lula ficou evidente devido s propostas aprovadas neste congresso Para

justificar o posicionamento de entender as aes do Governo como ldquoreformardquo e desse

modo se colocar favorvel a poltica educacional que de fato orientada pelas

diretivas neoliberais um dos argumentos utilizados consistiu na defesa de que as

reivindicaes da UNE relacionadas assistncia estudantil foram incorporadas com

a destinao de 5 das verbas de custeio das instituies federais para essa rubrica

Nos congressos de 2007 e 2009 a mesma tendncia que se encontra

majoritariamente nas direes da UNE desde o seu congresso de Reconstruo em

1979 permanece na direo majoritria da entidade Conforme Santos(2007)

A direo da UNE hegemonizada por militantes do PC do B por meio de sua juventude a Unio da Juventude Socialista ndash UJS Vale ressaltar que desde a eleio do Governo Lula (2002) a Juventude do PT-JPT(pertencentes majoritariamente a tendncia interna do partido - Articulao Unidade na Luta) aliou-se a UJS imprimindo a direo da UNE uma prtica governista e ldquopelegardquo por se afastar das lutas estudantis(106)

A argumentao de Santos revela complexidades na atuao da UNE no

tempo presente e que reflete nos demais espaos de atuao e organizao

estudantil inclusive no MESS e na ENESSO conforme apontamento da nossa

pesquisa a executiva de Servio Social age de modo a negar e afirmar a UNE num

14 Na reunio do FENEX ocorrida em fevereiro de 2008 na cidade de Salvador estavam presente as entidades dos seguintes cursos Engenharia Florestal Geografia Fonoaudiologia Medicina Biologia computao Servio Social Comunicao Social Filosofia Farmcia Nutrio Enfermagem Educao Fsica Letras Histria Terapia Ocupacional Biblioteconomia Agronomia Artes e Economia

44

processo real e contraditrio que envolve as disputas e o direcionamento das lutas

estudantis Segundo o estudo de Santos(2007) a UNE se converteu em uma entidade

burocrtica e hierarquizada pelas suas tendncias majoritrias que processa uma

ao despolitizada tendncia verificada na transfigurao de uma entidade histrica

em uma instncia preocupada sobretudo com a arrecadao de dinheiro mediante

a venda de carteirinhas de estudantes15

Particularmente em relao ao MESSS o estudo de Ramos(1996)

expressa que sua organizao em nvel nacional se intensificou no contexto de lutas

pela redemocratizao do pas no final dos anos 197016 ou seja momento de

efervescncia das lutas em prol da conquista da democracia poltica e da garantia de

direitos sociais reclamados por diversos segmentos da sociedade brasileira

Exemplo dessa assertiva consistiu a realizao do primeiro ENESS em

197817 frum que desde a sua origem at os dias atuais se configura como espao

privilegiado de reflexes debates e deliberaes deste segmento estudantil e

conforme indica (RAMOS 1996 p101) logo ldquono incio da dcada de 1980 em meio ao

processo de discusso interna sobre a organizao do MESS j era analisada a

necessidade de criao de uma entidade nacional de estudantesrdquo

Nessa dcada ocorre tambm a expanso de centros acadmicos de

Servio Social o que por sua vez expressa o continuo processo de organizao pelo

qual perpassa esse segmento

Alm das discusses relativas criao de uma entidade nacional dos(as)

estudantes o MESS manifestava preocupaes em torno da formao profissional

em particular com atuao no mbito da reformulao curricular que culminou com a

criao do currculo mnimo de 1982 e que segundo MARTINS(1992) no I ENESS

ficou evidenciada a posio estudantil de

No fazer com que o estudo sobre o currculo se limitasse as discusses por matrias especificas mas que fosse possvel discutir-se[] ressaltando-se que as questes referentes ao currculo em Servio Social so apenas um item das questes relativas a educao em nossa sociedade(p36)

15Para o autor a UNE se remete na atualidade a uma fabrica de dinheiro com a produo de carteiras estudantis(P107)16 importante registrar que anterior a instaurao da ditadura militar no mbito de organizao segmento estudantil de Servio Social ocorreram alguns encontros nacionais e Silva(2006) destaca a criao da ENESS( Executiva Nacional de Estudantes de Servio Social) atuante at 1968 ano de instituio do AI 5 e que conforme o autor ldquo possua estrutura organizativa semelhante a da ENESSOrdquo(p21)17 O Encontro aconteceu na Universidade Estadual de Londrina com o tema ldquoO Servio Social e a Realidade Brasileirardquo entre os dias 29 e 31 de outubro de 1978

45

No ENESS de 197918 tivemos a criao da Secretria Executiva Nacional

formada pela escola sede do encontro e um representante de cada regio constituda

com o objetivo de potencializar a organizao do MESS alm disso so aprovadas a

realizao os Encontros Regionais de Estudantes de Servio Social(ERESS) e do

Conselho Nacional de Entidades Estudantis(CONESS)19

Pequeno(1990) ressalta que os anos de 1980 foram importantes para o

fortalecimento do MESS devido tambm a sua postura de reivindicar a ocupao de

espaos junto a organizao da categoria Esta que ldquoinserida numa conjuntura de luta

pelos direitos sociais comeou a se pensar e a buscar novos caminhos para sua

organizao encontrando no Movimento Estudantil um grande aliado para essa

mudanardquo(p51) A partir de ento o MESS procurou construir aliana com outras

entidades de representao estudantil MS e as entidades representativas do Servio

Social no caso a ABEPSS e o CFESS

Segundo essa autora tambm a partir de 1982 inicia-se o processo de

ascenso do PT no ME em particular no MESS que disputava a hegemonia do

Movimento sobretudo com militantes vinculados ao PC do B este que ldquoaliado com

algumas reitorias apresentava uma postura conservadorardquo (p59)

Importante ressaltar que no ENESS de 1985 um agrupamento de

estudantes defendeu da SESSUNE chegando a levar tal proposta para plenria final

Entretanto o encaminhamento tomado sinalizou a necessidade de aprofundar essa

questo levando esse debate para os(as) estudantes das diversas escolas de

Servio Social do pas Como podemos apreender o processo de criao da entidade

nacional foi resultante de um debate democrtico travado pelos estudantes

Em 198620 importante destacar mudanas na realizao do ENESS que

passa a ter a durao de cinco dias e no mais de trs como anteriormente

Aps dez anos de debates no ENESS de 1988 criada a SESSUNE com

o objetivo de contribuir com a organizao nacional dos estudantes A partir de ento

tem uma atuao embasada na perspectiva de situar e analisar as questes relativas

profisso no contexto scio-histrico das determinaes estruturais e conjunturais

No seu primeiro ano de existncia a entidade funcionou sem estatuto21 devido

insuficincia de tempo no referido encontro contudo a diretoria eleita atuou

considerando o seguinte parmetro

18 Este ocorreu na Universidade Catlica de Salvador ndashBA o qual no teve tema definido19 Essa estrutura organizativa permanece nos dias atuais no CONESS que se discute e se aprova as pautas das mesas e das oficinas a serem realizas no ENESS20 Este ENESS apresentou como tema ldquoSe muito vale o j feito mais vale o que serrdquo e foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ)21 O estatuto foi aprovado somente no ENESS seguinte

46

Articulao com o movimento estudantil geral articulao com o movimento da categoria representar os estudantes de Servio social em territrio nacional e internacional articular os estudantes de Servio Social no pas promover o debate sobre os problemasespecficos dos estudantes de Servio social e coordenar e organizar os encontros nacionais e regionais junto a escola sede dos eventos( PEQUENO 1990 p 70)

Para Santos(2007) a dcada que engloba os anos de 1978 a 1988

ocorreu no MESS um processo de reconstruo de sua ldquobase organizativa nacional e

de reaglutinao poltica dos estudantes principalmente pelos debates em torno da

conjuntura e da formao profissional reivindicando uma direo poltica filiada a

inteno de ruptura com o conservadorismordquo (p116)

No ano de 1991 acontece o primeiro Seminrio Nacional de Formao

Profissional e Movimento Estudantil de Servio Social(SNFPMESS) o que revela a

preocupao MESS com a Formao profissional mediante a criao de um espao

prioritrio para discusso dessa temtica o qual realizado a cada dois anos A

preocupao do movimento com a formao profissional se verifica desde a

reorganizao desse segmento no final da dcada de 1970 e como veremos essa

questo se mantm atualmente como uma esfera privilegiada na pauta dos(as)

estudantes e de sua entidade representativa

Em 1992 a SESSUNE promove o segundo Seminrio Nacional de Formao Profissional Nesse seminrio houve a elaborao do anteprojeto da ldquoCampanha Nacional pela Reestruturao da Formao Profissional do (a) Assistente Social no Brasilrdquo Um dos desdobramentos desta campanha foi a elaborao do Documento Pro Dia Nascer Feliz documento sistematizado pelo CArsquos e DArsquos de Servio Social engajados no movimento estudantil essa sistematizao serve como documento base para as discusses iniciais do processo de reviso curricular promovida pela ABESS na gesto 93-95 com sede na UFPE em Recife-PE(SANTOS 2007 119)

Hoje os fruns organizados pela ENESSO escola sede dos encontros e a

representao discente em ABEPSS so Conselho Nacional de Entidades Estudantis

de Servio Social(CONESS) formado pelos CAs e DAs cujo objetivo maior a

definio da pauta para o encontro nacional O Conselho Regional de Entidades

Estudantis em Servio Social(CORESS22) que apresenta a mesma funcionalidade s

que em mbito regional ERESS que consiste no maior frum de discusso de cada

22 neste encontro que acontece a eleio para as Coordenaes regionais da ENESSO portanto processo eleitoral desvinculado da eleio para direo nacional da entidade Cf ENESSO(2007)

47

regio que compem a ENESSO ENESS que se refere a mxima instncia de

deliberao do MESS e evento no qual se elege a diretoria nacional da entidade alm

dos SNFPMESS e dos Seminrios Regionais de Formao Profissional e Movimento

Estudantil de Servio Social no qual os(as) estudantes tem a oportunidade de

participar de mesas de discusso e apresentar trabalho sobre diversas temticas que

perpassa a profisso sendo os dois ltimos encontros no deliberativos

No ano de 1992 emergem no MESS agrupamentos polticos organizados

em teses que passaram a disputar a direo nacional da entidade perspectiva que

segundo Silva(2006) expressa ldquoo acumulo poltico j adquirido por este movimentordquo

A mudana de SESSUNE para ENESSO23 em 1993 representou

sobretudo a perspectiva de assumir autonomia em relao a UNE Alm disso esse

papel aglutinador assumido pela ENESSO est em consonncia com a tendncia

presente no ME na dcada de 1990 das executivas se apresentarem com uma

dinmica de organizao estudantil a partir do desenvolvimento de lutas abrangentes

bem como de atividades especficas de determinada profisso

Segundo estudo de Silva (2006) de 1994 a 1998 tem-se o acirramento pela

direo da entidade em que em 1995 duas chapas pleitearam os cargos nacionais da

ENESSO o grupo poltico Projeto Democrtico e Popular(PDP) e a candidatura ldquoNo

d mais pra segurarrdquo formada por estudantes no organizados em grupos e por

militantes vinculados ao PSTU sendo que a primeira saiu vencedora na disputa

eleitoral Em 1997 temos a criao de mais um grupo poltico no MESS o Eu Quero

Mais(EQM) que chegou a direo da entidade em 1998 marcando o fim da

hegemonia do PDP no MESS

O ano de 1998 significativo para o MESS pela conquista de garantia da

representao discente na ABEPSS entidade voltada prioritariamente para as

problematizaes e desenvolvimento de aes em torno da formao profissional o

que mais uma vez refora a preocupao do movimento com o processo formativo24

dos(as) assistentes sociais Segundo Rodrigues

23 A entidade mxima de representao de estudantes de Servio Social- no tocante a organizao do Movimento Estudantil- como forma de melhor atingir os objetivos de articulao e potencializao de lutas- est dividida organizacionalmente em sete regionais as quais englobam as escolas de Servio Social nelas localizadas so elas regio I-Acre Amazonas Roraima Rondnia Par Maranho e Piau II-Cear Rio Grande do Norte Paraba e Pernambuco III-Alagoas Sergipe e Bahia IV-Tocantins Gois Distrito federal Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (Uberlndia e Uberaba) V - Minas Gerais Esprito Santo e Rio de Janeiro VI - Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul e VII-So Paulo (cf ESTATUTO DA ENTIDADE 2007)24 Segundo as contribuies de Santos(2007) de 1993-1998 o MESS desenvolveu algumas ldquoaes que ratificam a prioridade da formao profissional como Realizao da Pesquisa sobre o perfil dos estudantes (1995) para contribuio com o debate das diretrizes curriculares de 1996154 a realizao de cursos de formao poltica ldquo O Capacitardquo (199697) a

48

A partir da legitimidade poltica adquirida historicamente pelo MESS que ao longo da sua trajetria se mostrou comprometida com a formao qualificada e com o projeto tico-poltico profissional a categoria estudantil conquistou espao de representao na ABEPSS H portanto representao discente na diretoria nacional e regional estreitando a relao poltica existente entre as duas entidades(2008p39)

A partir dos anos 2000 a entidade passa a empreender campanhas em

favor da reduo de mensalidades decorrente do expressivo nmero de Cursos de

Servio Social na iniciativa privada e tambm apresenta um postura crtica em

relao poltica educacional materializada na era FHC que se manifesta por

exemplo na contestao do Provo25

Hoje a ENESSO composta nacionalmente por cinco coordenaes a

geral de divulgao e imprensa relaes internacionais finanas e de movimentos

sociais e mais duas secretarias a geral e a de formao profissional26 Alm da

direo nacional existem os coordenadores regionais que so eleitos nos encontros

de cada regio que compem a ENESSO o que permite que sujeitos no

pertencentes ao mesmo agrupamento da direo nacional assumam a entidade em

mbitos regionalizados o que por sua vez pode reforar o fortalecimento da

democracia no interior da entidade ou por lado ocasionar prticas antidemocrticas

na tomada de decises e no desenvolvimento e abrangncia das lutas e atividades

em virtudes de disputas entre a coordenao nacional e determinadas coordenaes

regionais Conforme o seu Estatuto as principais funes da ENESSO constituem na

Elaborao e execuo das atividades referentes aos estudantes de Servio Social e as lutas do Movimento Estudantil com base nas diretrizes e polticas de ao aprovadas no ENESS Sistematizar e divulgar as informaes das escolas atravs de boletins informativos jornais e outros veculos de comunicao Acompanhar cotidianamente a organizao do Movimento Estudantil nas escolas atravs de visitas contatos telefnicos via internet etc (ENESSO 2007 p12)

contribuio dos estudantes organizados nas teses apresentadas nos ENESS disputando idias concepes e a hegemonia na direo poltica do MESS a conquista da representao estudantil em ABEPSS em 1998rdquo(p121)25 Cf (Silva 2006) que tambm evidncia no XXII realizado no ano 2000 na cidade de Lins SP quanto ao sistema de votao uma vez que o voto deixaria de ser por escola ( em que cada uma teria direito a trs votos) passando a ser universal26 Interessante registrar que no ltimo ENESS realizado em Londrina-PR as Coordenaes Nacionais da Executiva no foram ocupadas A Secretaria de Formaccedilatildeo profissional foi crida em 1993 no ENESS que ocorreu na cidade de So LeopoldoRS e demonstra a preocupao do MESS com as problemticas da Formao Profissional do Assistente Social

49

A funcionalidade evidencia a relevncia da entidade para a organizao do

MESS dado o seu carter de articular o movimento em nvel nacional

potencializando desse modo as atividades travadas pelo segmento

Atualmente um dos importantes instrumentos na interlocuo dos

estudantes e de disponibilizao de informaes e de produes da entidade se

refere ao grupo de discusso executivamess o qual conta com 1350 associados(as)

Ele surgiu a partir de uma deliberao do planejamento estratgico da executiva

sendo criado no ano de 2000 com o objetivo de contribuir na socializao e promoo

de debates que perpassa a organizao desse movimento

importante esclarecer que as aes desenvolvidas pela ENESSO devem

se pautar nas deliberaes aprovadas pelo coletivo de estudantes presentes no

ENESS realizado anualmente

As deliberaes expressam em certa medida a disputa entre os diferentes

grupos e tendncias que militam no MESS bem como potencializa o entendimento da

direo social expressa na ao poltica da ENESSO As deliberaes apresentam

diretivas relativas a cinco principais eixos ou campos de atuao Conjuntura

Movimento Estudantil Cultura e valores Universidade e Formao profissional

Desde a dcada de 1990 temos majoritariamente o reconhecimento no

campo profissional da relevncia da ENESSO nas reflexes e direcionamento do

Servio Social brasileiro visto que na sua ldquorecente trajetria acompanhou o

movimento de renovao profissional gerado nos anos 8090 e para ele contribuiurdquo

(RAMOS 1996 p 118) Dez anos depois essa autora reafirma a relevncia da ao

poltica da ENESSO ao expressar que ela

Tem se posicionado politicamente e lutado pela defesa de um projeto poltico da classe trabalhadora capaz de acumular foras para conquistar uma nova direo social poltica e cultural uma universidade democrtica gratuita e de qualidade social uma formao profissional que propicie a capacitao terico-metodolgica tcnico-operativo e tico-poltico de profissionais que venham a responder s demandas populares no sentido de reforar os direitos de cidadania dos segmentos majoritrios da populao (RAMOS 2006 p178)

Diante disso reafirmamos o propsito de analisarmos a ao poltica da

ENESSO no cenrio da atual contra-reforma do ensino superior na perspectiva de

identificar a direo social que a entidade assume e como se caracterizam as suas

lutas atualmente nas esferas da universidade e da formao profissional dimenses

aprofundadas nos captulos seguintes

50

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE

A trajetria at aqui traada do ME nos possibilita afirmar que em

diferentes conjunturas nacionais a defesa da educao pblica gratuita e de

qualidade historicamente se configura como o projeto aglutinador de diversos

estudantes brasileiros(as) a perspectiva de materializao desse projeto que vem

sendo destrudo pela atual contra-reforma do ensino superior e que tem se constitudo

em foco de discordncia do ME nacional na conjuntura recente

O pice dessa discordncia ocorreu ainda em 2004 com a criao da

Coordenao Nacional de Lutas dos Estudantes(CONLUTE) que afirma ter como

objetivos essenciais a coordenao de lutas que se contraponham as medidas

situadas no campo da contra-reforma que desmorona a educao superior pblica no

pas Segundo concepo da entidade suas aes se remetem ainda para organizar

os(as) estudantes

que romperam com a UNE e que ainda esto nela para lutar contra a poltica de desmonte da educao pblica do governo Lula Uma vez que a UNE controlada pelos partidos do governo abandonou as lutas e que a democracia se tornou inexistente no interior dessa entidade a Conlute aparece como embrio de uma alternativa para o Movimento Estudantil(CONLUTE 2008)

A partir dessa ruptura em relao a UNE algumas indagaes tornam-se

importantes a criao de outra entidade de organizao estudantil em nvel

nacional o caminho para enfrentar as investidas do capital na educao e a atual

poltica para o ensino superior Essa entidade tem conseguido articular os(as)

estudantes na luta contra a reforma universitria independemente do seu

reconhecimento ou da UNE como entidade mxima de representao do segmento no

Brasil estratgica a desistncia de segmentos do ME contrrios reforma em

obter a direo e reorganizar a UNE uma entidade brasileira histrica e que contribuiu

para conquistas significativas no pas A criao de mais uma entidade fragmenta ou

revitaliza a atuao estudantil na atualidade Esses questionamentos so importantes

porque trata de problemticas estritamente relacionadas organizao e atuao

poltica do ME no tempo presente e que na contemporaneidade constituem-se em alvo

de debate e discordncias tambm no MESS e que rebate na atuao da ENESSO

visto que o reconhecimento ou no da UNE como principal entidade poltica dos(as)

51

estudantes constitui um dos principais pontos de divergncias dos grupos

organizados no MESS

O direcionamento da ENESSO nos ltimos ENESS tem se situado no

campo de defesa da UNE e de seu reconhecimento como entidade mxima de

representao do segmento estudantil no Brasil e desse modo reconhece que essa

entidade necessita voltar s aes para lutas identificadas com a defesa da educao

pblica gratuita de qualidade social e sintonizadas com o iderio de transformao

societal Dimenso explicitada na seguinte argumentao

Apesar das aes polticas da direo majoritria da UNE devemos reivindicar essa entidade que nossa(dos estudantes) que tem uma trajetria de luta e peso poltico Sempre foi um instrumento da luta pela educao pblica e pela transformao social do pas e ainda continua tendo fora respaldo e legitimidade na sociedade brasileira e possuindo grande potencial para retomar as lutas dos reais interesses coletivos dos estudantes no pas (ENESSO 2005 p03)27

A ressalva realizada pela ENESSO se consubstancia no fato de que a

UNE atua hegemonicamente em conformidade com a contra-reforma alm disso

os(as) estudantes corroboradores(as) com o direcionamento poltico da entidade

podem se tornar ainda mais efetivos no mbito do ME e em particular do MESS com

as medidas adotadas pelo governo como por exemplo o PROUNI e o ensino

distncia medidas que proporcionam a expanso do setor privado sem precedentes

na histria da educao brasileira e que sero refletidas mais adiante

Isto no significa que estudantes inseridos(as) na modalidade a distncia

ou ento aqueles(as) beneficiados(as) pelo PROUNI necessariamente constituem

sujeitos defensores da poltica educacional adotada pelo governo Lula Contudo o

prprio cenrio de enfraquecimento das lutas coletivas da deficincia na formao

poltica do segmento estudantil e a supervalorizao da esfera tecnicista na formao

de perfis profissionais voltados para o atendimento das demandas imediatas do

mercado contribuem para uma apreenso acrtica das medidas materializadas no

contexto da contra-reforma do ensino superior

27 Essa posio de defesa da UNE como entidade histrica e mxima de representao dos(as) estudantes universitrios(as) tambm foi ratificada no ENESS de 2007 ocorrido em Contagem-MG quando por ocasio da reviso do Estatuto da ENESSO ficou definido que esta entidade reconhece a UNE como ldquoinstncia de representao do movimento estudantil para que a mesma estimule unifique e fortalea a luta das (os) estudantes pela defesa da universidade pblica gratuita democrtica laica popular de qualidade com ensino presencial e juntamente com outros movimentos sociais lute por um novo projeto de sociedaderdquo (2007 p 01)

52

Entendemos que a apreensatildeo do objeto de estudo que consiste na anaacutelise

da atuaccedilatildeo do MESS na defesa da universidade puacuteblica gratuita e de qualidade e do

projeto de formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais no periacuteodo de 2003-2008 requer

abordagens relativas as modificaccedilotildees verificadas no acircmbito educacional em especial

no ensino superior brasileiro e desse modo consideraccedilotildees sobre as poliacuteticas sociais

em particular no contexto de domiacutenio neoliberal conjuntura que soacute pode ser entendida

se apreendemos o movimento geral da sociabilidade capitalista na

contemporaneidade Satildeo dessas mediaccedilotildees que trataremos a seguir

53

Privatizado

Privatizaram sua vida seu trabalho sua hora de amar e seu

direito de pensar

Eacute da empresa privada o seu passo em frente

seu patildeo e seu salaacuterio E agora natildeo contente querem

privatizar o conhecimento a sabedoria

o pensamento que soacute agrave humanidade pertence

(Bertolt Brecht)

54

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

3-1- A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal

Partimos da concepo que o desvelamento das relaes entre o Estado e

a sociedade nas ltimas trs dcadas baseadas na perspectiva de reduo da

interveno estatal nas problemticas sociais s podem ser entendidas criticamente

se considerarmos o movimento real da sociedade capitalista caracterizado pelo

aprofundamento da barbrie

Esse direcionamento de anlise significa afirmar que as alteraes

ocorridas no mundo do trabalho e por conseguinte no mago da produo

capitalista ou seja a produo da vida material repercute no desenvolvimento e

funcionamento das polticas sociais incluindo aqui a educao e na ao dos sujeitos

nesses espaos Desse modo o processo de contra-reformas desencadeadas nos

diversos setores -educao organizao sindical previdncia entre outros- em escala

mundial e com particularidades na realidade brasileira tem suas razes nessa

reconfigurao da produo e acumulao do capital ocasionada pela crise verificada

a partir dos anos 70 do sculo XX

No mundo do trabalho atual autores como Antunes (2000) Harvey (2006)

apontam a ocorrncia de profundas mudanas na base de produo capitalista o

fordismo28 taylorismo29 entra em declnio e emerge no final dos anos 1970 em nvel

mundial o denominado toyotismo ou modelo flexvel

A produo em srie e massificada com vista a atender o consumo em

massa a rigidez nos processos produtivos a segmentao entre planejadores e

executores que caracterizam o padro fordistataylorista no mais proporciona a

obteno de altas taxas de lucros necessidade precpua do capital

Assim o novo padro visa superao da crise provocada pela

concorrncia intercapitalista bem como objetiva manter sob controle a luta de classes

28Harvey(2006) aponta que o fordismo apresentou um pequeno desenvolvimento fora dos Estados Unidos antes do final da dcada de 1940 visto que se materializou de modo mais consistente tanto na Europa como no Japo aps este perodo e que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial 29 Taylor na obra ldquoos Princpios da Administrao Cientificardquo (1911) detalhava como se podia atingir altos nveis de produtividade a partir da ldquodecomposio de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organizao de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padres rigorosos de tempo e estudo do movimentordquo( Harvey2006 p124)

55

a partir de mudanas nas dimenses objetivas e subjetivas dos segmentos do

trabalho

O padro flexvel de produo e acumulao apresenta como elementos

constitutivos o just in time30 flexibilizao terceirizao31 controle de qualidade32

subcontratao eliminao de desperdcio de modo que modelos produtivos e

administrativos fundamentados na ldquogerencia participativa sindicalismo de empresa

[] propagam se intensamenterdquo (ANTUNES 2000 p27) Essa tendncia de

flexibilizao difere do disciplinamento das fbricas no perodo de emergncia da

industrializao na qual conforme MARX ldquono lugar do chicote do feitor de escravos

surge o manual de penalidades do supervisorrdquo (1975 p45) Agora identificamos a

substituio do manual de penalidades por um sistema de gesto cujo trabalhador

autovigilante no processo produtivo

Outra faceta trazida com a adoo do modelo flexvel a de processos

de trabalho caracterizados pela polivalncia nos quais o(a) trabalhador(a)

exigido(a) a executar diversas atividades o que por sua vez implica o desempenho

de diferentes habilidades e competncias Dessa forma a demanda do mercado de

trabalho por qualificao e formao tambm flexveis se torna uma necessidade

real s para exemplificar esse direcionamento hoje constitui-se praticamente uma

imposio tcita para se tornar competitivo no mercado conhecimentos de informtica

e de outras lnguas Entretanto importante ressaltar que ter tais conhecimentos e

uma formao que lhe possibilite competir no mercado no significa

necessariamente a garantia de insero no mercado de trabalho formal pois como

veremos adiante a conjuntura atual -seja nos pases de capitalismo avanado ou nos

denominados perifricos- marcada pelo notvel aumento do desemprego Essa

realidade nos leva a afirmar que o diploma universitrio e o que ele representa j no

consistem em segurana e perspectiva de futuro estvel como se vislumbrava em

dcadas passadas Esta realidade certamente tem implicaes nos espaos de

organizao universitria como se configura o ME

30 Importante tendncia do modelo flexvel que visa racionalizao no desempenho das atividades a partir do maior rendimento possvel do trabalho vivo Segundo Coriat(1994 p55) o jus in time se baseia especialmente ldquona manipulao ou na observao simultnea de vrias mquinas diferentesrdquo e no na repetio dos movimentos como se verificava no fordismotaylorismo Nas palavras de Antunes(2002 p54) o jus in time ldquotem como princpio melhorar o aproveitamento possvel do tempo de produordquo31 Fenmeno em que somente parte da produo realizada no mbito de determinada fbrica na qual se prioriza o que central em sua especialidade desse modo o restante da produo transferido para responsabilidade de terceiros Cf Antunes(2002)32 Controle de qualidade implementado sobretudo mediante a criao dos Crculos de Controle de qualidade(CCQ) os quais so formados por trabalhadores(as) e que incentivados pelo capital agem no sentido de analisar o desempenho de suas atividades com o objetivo de melhorar o rendimento e produtividade das empresas nas quais trabalham

56

Para Antunes(2000) possvel observar no mundo do trabalho

contemporneo diversas mudanas no sentido de uma crescente reduo do trabalho

industrial fabril em nvel internacional ao passo que se verifica o aumento de

assalariados(as) no ramo de servios bem como notvel a diversificao

heterogeneidade e complexificao dos segmentos do trabalho que se expressa

mediante ldquocrescente incorporao do contingente feminino no mundo operrio

vivencia-se tambm uma subproletarizao intensificada presente na expanso do

trabalho parcial temporrio subcontratato ldquoterceirizadordquo que marca a sociedade dual

no capitalismo avanadordquo (ANTUNES 2000 p 41)Nos termos de Harvey

A acumulao flexvel []na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de trabalho dos produtos e padres de consumo Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos novas maneiras de fornecimento de servios financeiros novos mercados e sobretudo taxas intensificadas de inovao comercial tecnolgica e organizacional (2006 p140)

A flexibilidade do mercado e dos processos de trabalho provoca

redimensionamentos na organizao dos sujeitos do trabalho visto que a

complexificao a heterogeneidade a crise objetiva contribui veementemente para o

enfraquecimento de aes polticas voltadas para defesa e conquistas de direitos

trabalhistas e sociais bem como lutas identificadas com o iderio de transformao

social

O produto dessas mudanas consiste no aumento radicalizado do

desemprego estrutural que afeta a classe trabalhadora em mbito planetrio A

reduo de postos de trabalho formal acaba por determinar a elevao do setor

informal no qual os sujeitos so totalmente desprovidos de garantias trabalhistas

caso no tenham condies de pagar previdncia privada ou seja vivencia uma

situao de insegurana em moldes radicalizados Outro aspecto pertinente a ser

considerado que muitas atividades situadas no universo da informalidade so

caracterizadas pela ilegalidade como por exemplo vendedores ambulantes no

legalizados o que leva a insero de parte desse segmento no mundo da

criminalidade a partir do desempenho de atividades ilcitas Uma perversa faceta

dessa realidade a dificuldade em termos de organizao dessas pessoas haja vista

as prprias peculiaridades na execuo do trabalho aliada a tentativa da classe

dominante em mascarar os conflitos e interesses antagnicos presentes na

sociabilidade do capital

Sinalizamos que a alienao se apresenta na atualidade de forma intensa

dentre suas expresses podemos citar a propagada gesto participativa que

57

dissemina entre os(as) trabalhadores a falsa noo de interesses iguais entre estes e

os capitalistas o que acaba por radicaliz-la j que a produo continua sendo

coletiva e sua apropriao privada sendo tal relao mascarada com o falacioso

discurso da valorizao participao e do ldquovestir a camisardquo da empresa e da

conseguinte identidades de projetos que na verdade so inconciliveis

Em relao discusso sobre a ampliao do desemprego importante

fundamentar este debate com os aspectos do desenvolvimento das foras produtivas

que se expressam mediante o avano da cincia e da tcnica Sobre esta questo

temos na obra O capital um profundo desvendamento relativo funcionalidade dessas

esferas para o modo de produo capitalista Assim com a expanso da

industrializao a partir do emprego da mquina-ferramenta - aquela que substitui o

trabalhador - Marx enfatiza que a maquinaria em vez de proporcionar o alvio da

labuta diria contraditoriamente sob a gide do capital visa to somente extrao

da mais valia relativa mediante o aumento da produtividade Isso independente das

conseqncias degradantes geradas para os segmentos do trabalho nas diversas

esferas da vida ou at mesmo eliminando as condies de existncia de parte

significativa da populao trabalhadora que no consegue vender a fora de trabalho

para garantir a sua subsistncia em decorrncia do constante processo de

substituio da fora de trabalho por mquinas

Nesses termos podemos constatar que o desenvolvimento da cincia

pode potencializar a elevao das condies de existncia de homens e mulheres se

pautado numa perspectiva de emancipao humana que contribua para a melhoria

das condies de vida da maioria da populao ou antagonicamente pode vislumbrar

apenas a obteno da pedra de toque do capital lucro exacerbado mediante a

obteno de mais valia

A argumentao aqui efetivada no est consubstanciada em uma

dimenso de ldquosatanizaordquo da cincia por conseguinte da tecnologia no estamos

responsabilizando-a pelo desemprego destruio da natureza e desigualdades

sociais Entretanto a utilizao da cincia com a mera finalidade de elevar a

produtividade e conseqentemente os lucros acarreta graves conseqncias para a

humanidade inclusive corroborando para perda de numerosos postos de trabalho nos

mais diversificados ramos de atividades Segundo MARX

Como mquina o meio de trabalho logo se torna um concorrente do prprio trabalhador A autovalorizao do capital por meio da maquina est na razo direta do numero de trabalhadores cujas condies de existncia ela destri (1975 p 48)

58

Na conjuntura contemporacircnea verificamos a agudizaccedilatildeo desse processo

contraditoacuterio expresso pela crescente taxa de desemprego acarretada tambeacutem pelo

aumento de trabalho morto e minimizaccedilatildeo de trabalho vivo em uma era de grandes

avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos

Essa relaccedilatildeo manifesta mais um antagonismo fundante desse modelo

societaacuterio Segundo contribuiccedilotildees marxianas a forccedila de trabalho eacute a uacutenica criadora de

valor e mais valor apresentando a maquinaria apenas a capacidade de transferir valor

ao produto por ela fabricado assim com a elevaccedilatildeo de investimento em trabalho

morto e sua substituiccedilatildeo pela forccedila de trabalho se constata o acirramento dessa

contradiccedilatildeo

Portanto eacute imprescindiacutevel evidenciarmos que o usufruto da propagada

revoluccedilatildeo informacional e tecnoloacutegica produzida nos dias atuais assim como a

utilizaccedilatildeo da racionalidade na produccedilatildeo a partir do uso da teacutecnica e da ciecircncia natildeo se

traduzem para todos(as) de maneira igualitaacuteria pois como analisa Marx a marca

central da sociabilidade capitalista eacute a contradiccedilatildeo que se manifesta na apropriaccedilatildeo de

modo desigual da riqueza coletivamente produzida

Procuramos assinalar que a produccedilatildeo capitalista se transforma assim

como a ciecircncia e a teacutecnica todavia os trabalhadores(as) continuam sendo

explorados(as) pois a base societal permanece esteada na contradiccedilatildeo entre

possuidores e natildeo dos meios de produccedilatildeo portanto uma sociabilidade pautada

majoritariamente por desvalores como competitividade individualismo egoiacutesmo

potencializando as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo dominaccedilatildeo e opressatildeo entre os seres

humanos

Esse cenaacuterio caracterizado pela introduccedilatildeo de novas tecnologias no

espaccedilo da produccedilatildeo exige reordenamento na esfera da qualificaccedilatildeo e formaccedilatildeo

profissional Associada a emergecircncia do neoliberalismo como regulaccedilatildeo majoritaacuteria

entre o Estado e sociedade nos dias contemporacircneos eacute que temos a materializaccedilatildeo

de significativas mudanccedilas nas diversas poliacuteticas sociais em particular na educaccedilatildeo

Um indicador dessa direccedilatildeo consiste na ampla reestruturaccedilatildeo que as instituiccedilotildees de

ensino superior atravessam situadas tambeacutem numa perspectiva de racionalizar e

flexibilizar os processos formativos o que por sua vez rebate diretamente no espaccedilo

de aglutinaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do ME Universitaacuterio ou seja nas instituiccedilotildees de ensino

superior

59

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades

O debate sobre a direo social da educao no contexto atual requisita

inicialmente uma abordagem que proporcione o desvendamento da funcionalidade do

Estado e das polticas sociais para a sociedade capitalista

Diante disso consideramos fundamentais as contribuies de Behring e

Boschetti(2007) pois explicitam que as polticas sociais apresentam como

determinantes o desenvolvimento da industrializao as lutas de classes e a

conseqente interveno do Estado neste embate

Em sintonia com tal entendimento Vieira afirma que indubitavelmente a

emergncia das polticas sociais est articulada a atuao operria ainda no perodo

inicial das revolues industriais pois segundo sua interpretao as polticas sociais

como ldquoestratgia governamental de interveno nas relaes sociais unicamente

pde existir com o surgimento dos movimentos populares do sculo XIXrdquo(1992 p19)

Para Faleiros(2000) a origem das polticas sociais se remete ao processo

de reproduo da fora de trabalho e desse modo expressa a correlao de foras

intrnseca a sociedade capitalista e tambm no prprio aparelho do Estado

Perpassada pelas contradies de classe as polticas sociais representam tambm

mecanismos de legitimao estatal e governamental

Assim torna-se evidente que as polticas sociais entre as quais a

educao origina-se no interior das relaes de classe e dessa maneira

perpassada eou crivada por antagonismos intrnsecos a esta processualidade

Expresso dessa afirmao consiste no fato delas contriburem efetivamente para a

reproduo da sociabilidade do capital ao passo que se configuram e como de fato

so conquistas dos segmentos do trabalho Dessa maneira significativo destacar a

luta travada por diferentes sujeitos coletivos em favor de uma educao de qualidade

promovida pelo Estado e que na realidade brasileira pas da periferia do capital

majoritariamente o ME universitrio no decorrer de sua histria apresenta um

protagonismo considervel no desencadeamento de lutas e atividade voltada para

defesa de uma educao superior pblica gratuita laica e de qualidade

Esse carter contraditrio das polticas sociais est iarticulado a prpria

natureza de seu ente materializador ou seja a lgica e funcionalidade do Estado

moderno

Tonet(2004) ao analisar a concepo de Estado segundo o pensamento

de Marx ressalta que o mesmo tem sua origem no antagonismo das classes sociais

diferentemente das abordagens liberais que concebem a sua criao como resultante

60

de um pacto social entre os indiviacuteduos que proporciona a convivecircncia entre os

humanos jaacute que a desigualdade seria decorrente do usufruto da proacutepria igualdade

existente entre os seres

Nessa perspectiva temos o entendimento que a esfera das relaccedilotildees

materiais consiste na dimensatildeo determinante para constituiccedilatildeo do Estado moderno e

portanto dos complexos sociais dele resultantes como eacute o caso da educaccedilatildeo formal

na sociabilidade capitalista e desse modo modificaccedilotildees no seu acircmbito como

analisadas anteriormente exigem alteraccedilotildees nos diferentes campos da sociedade

como acontece no atual cenaacuterio do sistema educacional

Tonet(2004) ainda chama atenccedilatildeo para a assertiva marxiana de que

sendo o Estado originaacuterio da relaccedilatildeo contraditoacuteria das classes sociais certamente ele

representa pela sua natureza um instrumento de reproduccedilatildeo dos ideais da classe

dominante

Temos o entendimento que a contradiccedilatildeo perpassa os diversos setores da

sociabilidade burguesa o que abrange inclusive o Estado moderno Dessa maneira

a depender das forccedilas poliacuteticas dirigente do Estado as suas accedilotildees podem contemplar

mais as reivindicaccedilotildees dos segmentos do trabalho e setores subalternizados ou

inversamente as requisiccedilotildees da classe dominante

Diante do exposto desenvolvemos o pensamento que na atual conjuntura

de radicalizaccedilatildeo da crise capitalista as accedilotildees efetivada pelo Estado estatildeo voltadas

predominantemente para atender as reclamaccedilotildees do capital o que de certo modo

manifesta o processo de enfraquecimento da organizaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

trabalhadores(as) em niacutevel mundial

A partir de tais constataccedilotildees temos a conclusatildeo do Estado ser impotente

para erradicar as desigualdades sociais visto que essa eliminaccedilatildeo significaria a sua

proacutepria destruiccedilatildeo pois tanto o Estado como as desigualdades tecircm origens nas

diferenccedilas e antagonismos de classes

Desse modo podemos enfatizar que as accedilotildees do Estado na viabilizaccedilatildeo

das poliacuteticas sociais podem amenizar eou administrar as desigualdades os conflitos

e a luta de classes mas de modo algum podem instituir a igualdade de condiccedilotildees

para os sujeitos nesta sociabilidade regida pela exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo

O que estamos afirmando eacute que as poliacuteticas sociais natildeo satildeo capazes de

por fim a exploraccedilatildeo e contradiccedilotildees existentes na sociabilidade capitalista Exemplo

disso eacute que mesmo em paiacuteses de capitalismo avanccedilado nos quais entre os anos de

1940 ateacute 1970 as poliacuteticas sociais tenderam a universalidade nem assim os

segmentos do trabalho deixaram de ser explorados e oprimidos pois os meios de

61

produo continuaram sendo de propriedade privada e de modo algum foram

socializados

Contudo isso no significa que as lutas por polticas sociais e portanto

por direitos no seja importante pois elas contribuem para a melhoria das condies

de existncia dos segmentos do trabalho e manifestam certamente a relevncia da

organizao dos sujeitos na obteno de significativas conquistas polticas sociais

econmicas e culturais Como argumenta Tonet( 2004 p178)

A luta pelos direitos do cidado sempre vlida para a classe trabalhadora Mais ainda porque estes direitos interessam muito mais aos trabalhadores do que burguesia sempre bom lembrar que a emancipao poltica no uma situao esttica mas um campo uma arena de luta um resultado de lutas sociais- ainda que em ultima instncia sob a regncia do capital- de modo que o seu abandono pela classe trabalhadora significaria ceder terreno para os interesses da burguesia Esta pois fora de cogitao a supresso dos direitos conquistados e isto vale tanto para os pases mais desenvolvidos como para os menos desenvolvidos

Consubstanciadas nesse entendimento em relao funcionalidade do

Estado e das polticas sociais Behring e Boschetti(2007) destacam que no ocorreu

um corte radical entre a perspectiva liberal predominante no sculo XIX e o Estado

social do sculo XX dado o fato que os dois apresentaram direcionamento comum e

central de reconhecer direitos sem todavia colocar em questionamento os pilares

sustentadores do capitalismo como a propriedade privada o trabalho assalariado a

luta de classes entre outros

Ainda segundo as autoras as polticas sociais foram institudas de modo

diferenciado e em ritmos distintos nos vrios pases entretanto existe uma

concordncia entre estudiosos(as) da temtica em ldquosituar o final do sculo XIX como o

perodo em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar aes sociais de

forma mais ampla planejada e sistematizada e com carter de obrigatoriedaderdquo

(BEHRING E BOSCHETTI 2007 p64)

Nos pases de capitalismo avanado como salientado as polticas sociais

se expandem de maneira gradativa do incio da primeira grande guerra mundial at os

anos de 1930 perodo de depresso econmica que teve como smbolo maior a

quebra da bolsa de valores de Nova Yorque e se generalizaram somente aps a

segunda grande guerra (1945) momento de crescimento e expanso da economia

Entretanto no manifestavam o abandono da sociabilidade capitalista nem tampouco

a defesa da socializao dos meios de produo

62

Conforme a abordagem liberal de Marshall (1967) os direitos civis

(necessrios liberdade individual) e polticos (participao no exerccio poltico)

juntamente com os direitos sociais que se afirmaram com o Estado interventor

constituem os elementos da cidadania burguesa Estes ratificam o direito a um mnimo

econmico que possibilite a existncia de uma vida civilizada entre tais direitos

encontra-se a educao e os servios sociais

Corroboramos com a perspectiva de TONET de situar as conquistas

referentes cidadania no solo da sociedade capitalista na tentativa de evidenciarmos

que a defesa por cidadania portanto por direitos no mbito dessa sociedade

importante mas no proporciona o fim das desigualdades pois o capitalismo se

sustenta tendo como fundamento a reproduo destas ou seja ldquoa condio de

cidadania exatamente expresso e instrumento da reproduo da ciso que se

opera e continua a operar-se no homem como resultado da sociabilidade do capitalrdquo

(TONET 1997 p172-173)

Portanto foi com a consolidao do modelo de produo baseado nos

princpios do fordismo-taylorismo que as polticas sociais se tornaram nos termos de

Behring e Boschetti(2007) abrangentes e universalizadas dada a influncia do

pensamento de Keynes que defendia uma ao estatal fundamentada na poltica do

pleno emprego e na elevao da igualdade social Essa tendncia de abrangncia e

universalidade das polticas sociais tambm foi resultante das reivindicaes dos

segmentos do trabalho por melhoria das condies materiais e espirituais de

existncia e ainda pela chegada ao poder de partidos da social-democracia e sua

ldquorespectiva defesa de elaborao e efetivao de reformas visando a criao de

direitosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p84) Para Harvey a atuao do Estado

no contexto de predominncia do fordismo-keynesianismo se pautou numa dimenso

de

controlar ciclos econmicos com uma combinao apropriada de polticas fiscais e monetrias no perodo ps-guerra Essas polticas eram dirigidas para reas de investimento pblico - em setores como o transporte os equipamentos pblicos etc - vitais para o crescimento da produo e do consumo de massa e que tambm buscava fornecer um forte complemento ao salrio social com gastos de seguridade social assistncia medica educao habitao etc Alm disso o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produo (HARVEY 2006 p129)

Constatamos que as orientaes keynesianas que predominaram no

perodo de vigncia fordista apresentavam preocupaes relativas melhoria de vida

63

dos(as) trabalhadores(as) como se verifica mediante a defesa e expanso dos

servios sociais nos pases de industrializao avanada e tardiamente expandida de

modo pfio para os Estados da periferia do capital contraditoriamente j no contexto

de retrao neoliberal

Relevante assinalar que a expanso das polticas sociais representava para

o capital a perspectiva de proporcionar condies econmicas para a populao

consumir as mercadorias produzidas em larga escala enquanto que para a classe

trabalhadora expressava a conquista de direitos significativos Essa processualidade

das polticas como mecanismo de manuteno da ordem estabelecida ao mesmo

tempo em que se configura como conquista para os segmentos explorados e

dominados evidencia o seu carter contraditrio nos marcos desse modelo societrio

A reestruturao produtiva em expanso desde a dcada de 1970 como

resposta a reduzida obteno de lucros acompanhada por outra concepo de

regulao social baseada em orientaes diferentes do Estado de bem estar social

vigente no ps-segunda guerra

nesse contexto de redefinio da relao Estado e sociedade que as

diretivas neoliberais ganham terreno em nvel mundial visto que ldquopara os liberais a

crise resultava do poder excessivo e nefasto dos sindicatos e do movimento operrio

que corroeram as bases de acumulao e do aumento dos gastos sociais do Estado o

que desencadearia processos inflacionriosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p126)

Essa argumentao utilizada pelos segmentos dominantes de reduzir

custos como meio de garantir estabilidade fiscal acarretou mudanas significativas no

desenvolvimento das polticas sociais que tem a focalizao e seletividade como

suas caractersticas singulares

Para Anderson(2005) as premissas neoliberais j estavam previstas no

livro ldquoo caminho da Servidordquo de Friedrick Haych publicado em 1944 Todavia o

apogeu capitalista no perodo de predominncia do fordismo-keynesianismo impediu a

sua execuo portanto na conjuntura de crise dos anos de 1970 que o

neoliberalismo encontra condies favorveis para sua expanso e consolidao em

diferentes realidades econmicas sociais polticas e culturais

Segundo Carcanholo(2002) o neoliberalismo se sustenta em quatro

premissas bsicas e que potencializam a supremacia do mercado a privatizao e a

abertura nacional ao capital estrangeiro so elas

[] os agentes individuais tomam decises motivadas unicamente pelo interesse prprio e todas as interaes econmicas polticas eou sociais entre esses indivduos s podem ser explicadas em

64

termos desse interesse proacuteprio Em segundo lugar essas interaccedilotildees baseadas no interesse proacuteprio natildeo levam ao caos social mas a harmonia jaacute que elas fazem parte de uma ordem natural Em terceiro lugar esta uacuteltima tem grande expressatildeo no mercado Eacute ele o responsaacutevel pela interaccedilatildeo entre todos os interesses individuais e portanto pela manutenccedilatildeo da ordem natural Finalmente [] qualquer intervenccedilatildeo nesse mercado eacute indesejaacutevel porque dificulta o estabelecimento da ordem natural (Carcanholo 2002 p17-18)

Com base nas premissas ressaltadas pelo autor se torna recorrente a

tendecircncia de reduccedilatildeo do Estado na aacuterea social pois o mesmo continua agindo

majoritariamente para oferecer as condiccedilotildees de manutenccedilatildeo da sociedade vigente e

desse modo efetivando medidas de privilegiamento do capital em detrimento do

trabalho como se manifesta na concretizaccedilatildeo de vaacuterias contra-reformas Diante dessa

constataccedilatildeo fazemos a seguinte reflexatildeo no atual estaacutegio do capital podemos

configurar o Estado como mero comitecirc organizativo da burguesia As mediaccedilotildees

elaboradas acima evidenciam que temos a compreensatildeo de analisarmos as

discussotildees e a atuaccedilatildeo do Estado no acircmbito da categoria da contradiccedilatildeo por isso

ressaltamos antagonismos que perpassam as poliacuteticas sociais todavia natildeo podemos

desconsiderar o forte direcionamento da accedilatildeo do Estado para o fortalecimento da

sociabilidade burguesa assim eacute recorrente entre outras medidas a realizaccedilatildeo de

contra-reformas voltadas para retirada de direitos jaacute adquiridos pelos

trabalhadores(as) bem como eacute visiacutevel a fragilidade do Estado sobretudo em paiacuteses

perifeacutericos como o Brasil de materializar direitos jaacute assegurados como a educaccedilatildeo

formal para todos(as)

Exemplo dessa direccedilatildeo satildeo as privatizaccedilotildees as quais corroboram para

transfigurar direitos em mercadorias aleacutem de contribuir ideologicamente para

reestruturaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos que tendem a se adaptar aos princiacutepios

norteadores do mercado Eacute nessa conjuntura que se desencadeiam as diversas

contra-reformas como na previdecircncia educaccedilatildeo dentre outros fortalecendo a loacutegica

de sobrepor os princiacutepios mercantis nos diferentes setores sociais

Diante disso outro ponto a ser problematizado a partir das premissas

elencadas por Carcanholo eacute a perspectiva de naturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais na

qual o mercado se apresenta como marco regulatoacuterio dessa ordem de tal maneira

que somente ele eacute capaz de proporcionar o desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos

indiviacuteduos Nesses termos a defesa e luta por outra sociedade antagocircnica a

capitalista se torna algo pernicioso e ateacute mesmo destrutivo para a humanidade

A ascensatildeo e hegemonia conquistada pelos representantes do capital na

sua versatildeo neoliberal natildeo pode ser desvinculada da direccedilatildeo e derrocada do

65

socialismo real no leste da Europa Dimenses que contriburam de maneira efetiva

para propagao falaciosa de ser o capitalismo a nica forma de sociabilidade

possvel para humanidade como se o mesmo fosse natural e no construdo

historicamente pelos sujeitos sociais ou seja

diz-se que no existe alternativa para o capitalismo que todaprocura por uma alternativa conduz ao totalitarismo ou ento uma iluso uma utopia um sonho romntico um anacronismo fora de moda (LOWY 2002 p36)

Anderson (2005 p23) ao realizar um balano sobre o neoliberalismo

assinala o seu xito ideolgico especialmente no tocante a disseminao ldquode que no

h alternativas para os seus princpios que todos sejam confessando ou negando

tm de adaptar-se as suas normasrdquo

O nosso intuito foi destacar processualidades contraditrias que

peculiarizam as polticas sociais e no evidenciar seu resgate histrico entretanto do

nosso ponto de vista a retomada ainda que de forma breve de sua trajetria na

realidade brasileira potencializa o entendimento da reconfigurao das polticas

sociais no contexto neoliberal como se verifica com a educao

Assim sendo Faleiros(2000) elenca quatro conjunturas importantes na

histria das polticas sociais no Brasil so elas o perodo que engloba os anos de

1930 a 1960 caracterizado pela implantao de seguro social para alguns segmentos

do trabalho o cenrio de vigncia da ditadura militar de predomnio do complexo

industrial-militar-assistencial o perodo da constituinte e por ltimo a conjuntura de

domnio neoliberal a partir dos anos de 1990

O primeiro momento destacado pelo autor consubstanciado na poltica

trabalhista de Getulio Vargas33 que visava mascarar as contradies mediante a falsa

concepo da possvel constituio de uma colaborao de classes Fundamentado

nesta concepo foram adotadas algumas medidas concernentes s polticas sociais

expressas em aes como a criao dos seguros sociais substitudos

gradativamente pelos institutos de previdncia social a criao da Legio Brasileira

de Assistncia(LBA) em 1942 no qual predominava o vis assistencialista mediante

a articulao de obras de caridade de cunho religioso atravs de aes realizadas

pelas primeiras-damas

Este contexto de expanso da urbanizao e industrializao do pas se

constituiu no momento de forte organizao dos operrios o que explica a

33 Vargas presidiu o pas de 1934 a 1945 Assumiu novamente a presidncia entre os anos de 1951 a 1954

66

preocupao do Estado em sistematizar a sua atuao no mbito da luta de classes a

partir do desenvolvimento de aes no campo social e trabalhista Com tal intento foi

criado o Ministrio do Trabalho em 1930 cujo objetivo consistia em amenizar as lutas

dos(as) trabalhadores(as) mediante atuao que procurou atrelar s entidades de

classe- como os sindicatos- esfera governamental

A ditadura militar instaurada em 1964 consistiu smbolo de opresso

autoritarismo e da utilizao das foras repressivas e coercitivas em detrimento das

experincias democrticas Momento caracterizado tambm pelo privilgio dos

interesses econmicos da elite brasileira associada aos anseios da burguesia

internacional Neste sentido uma das metas principais dos governos ditatoriais era

atrair capitais estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos

Estados Unidos

Marcado por autoritarismo e clientelismo a atuao do Estado tambm se

efetivara no enfrentamento das expresses da questo social Neste perodo foram

adotadas medidas como a centralizao dos institutos de previdncia social

ampliao de direitos previdencirios aos trabalhadores do campo criao do

Ministrio da Previdncia e Assistncia Social rgo que incorporou a LBA a

Fundao para o bem-estar do menor (FUNABEM) entre outros Para Behring e

Boschetti a poltica social no contexto da ditadura apesar de sua verificada ampliao

foi ldquoconduzida de forma tecnocrtica e conservadora reiterando uma dinmica singular

de expanso dos direitos sociais em meio restrio dos direitos civis e polticos

modernizando o aparato varguistardquo (2007 p135)

A crise do regime ditatorial j deflagrada no final dos anos 1970 com a

derrocada do milagre econmico foi impulsionada ainda pela (re)organizao de

diversos segmentos da sociedade brasileira na luta pelos seus interesses particulares

mas tambm pela defesa do Estado democrtico e de direito

esse contexto de crise econmica e efervescncia poltica que culmina

no terceiro momento identificado por Faleiros o da constituinte Conforme o autor a

Constituio de 1988 expressa a disputa entre segmentos populares organizados e

setores conservadores que se aglutinaram na ala tradicional do Congresso Nacional

denominada naquele perodo de centro e que tratou de defender os interesses

dominantes mediante postura de negao e oposio s presses por direitos sociais

Embora caracterizada de constituio cidad ela representa o conjunto de

foras contraditrias presentes na sociedade capitalista e na particularidade da

realidade brasileira Importante ressaltar tambm que nela se estabelece a

Seguridade Social constituda pelo direito universal a sade os direitos previdencirios

e a assistncia social como direito do cidado(a) e dever do Estado

67

Em relao seguridade social Boschetti(2008) salienta que um de seus

pilares consiste na estruturao com base na organizao social do trabalho e que

tanto nos pases europeus como na Amrica Latina e Caribe esto presente tanto a

lgica do seguro que predomina na esfera da Previdncia Social como a lgica da

assistncia esta que na realidade brasileira se expressa nas polticas de Sade e de

Assistncia Social

A Constituio ainda no seu artigo 205 ratifica a Educao como direito

de todos(as) e dever estatal bem como garante no artigo 207 a autonomia didtico-

cientfica administrativa de gesto financeira e patrimonial das universidades do

pas Tais instituies segundo o texto constitucional devem se pautar pelo princpio

bsico de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extenso

A garantia legal desses direitos significa inegavelmente uma grande

conquista de setores populares entre eles do ME entretanto isso no garante a sua

real operacionalizao ou seja no proporciona o seu usufruto para a grande maioria

da populao brasileira Essa discrepncia j tomava consistncia nos idos de 1985

com o inicio da gesto Sarney34 que governou baseado numa poltica de conteno

de gastos com reduo e cortes de investimentos em setores como sade e

educao

Essa no identidade entre legalidade e operacionalidade se torna mais

crtica no ltimo momento explicitado por Faleiros qual seja o de domnio neoliberal

Segundo Behring(2003) o que tem ocorrido no Brasil dos anos 1990 aos

dias atuais um processo de conta-reforma do Estado que dificulta eou reorienta as

garantias preconizadas na Constituio de 1988 Para Iamamoto(2008) essa

perspectiva tem continuidade nos anos de gesto Lula que ao manter a mesma

poltica econmica da era FHC

consagra a ortodoxia econmica monetarista recomendada pelos organismos internacionais como a nica possvel s h ldquogesto responsvelrdquo com a poltica neoliberal que mantenha o ajuste fiscal duro o juro real elevado a poltica monetarista concentracionista o cmbio flutuante e a livre movimentao de capitais Essa mesma poltica [] o pressuposto dos programas sociais na tentativa de compensar o que est sendo agravado pela poltica econmica e pela ausncia de efetivas reformas(p36)

Portanto vivenciamos uma tendncia do Estado em minimizar a sua

atuao no campo das polticas sociais expresso que se confirma mediante a

mercantilizao em diversificados setores sade previdncia educao segurana

34 Sarney assumiu a Presidncia da Repblica no perodo de maro de 1985 a maro de 1990

68

entre outros Mas como ratificamos acima o Estado continua agindo no sentido de

atender as requisies para manuteno da sociabilidade do capital sendo possvel

apreender essa dimenso nos mais diversificados pases sejam de centro ou da

periferia do capital Tendncia que se confirma nesse momento de aprofundamento da

crise capitalista exemplo disso acontece aqui no Brasil O que dizer por exemplo

diante da afirmao do governo brasileiro ao se prontificar a destinar recursos para o

FMI num cenrio em que milhares de trabalhadores(as) no pas perdem o emprego e

conseqentemente a sua condio de subsistncia Preocupaes com os segmentos

do trabalho ou em no colocar em questionamento o prprio ente gerador da crise o

sistema capitalista

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais

A educao como poltica social diretamente afetada pela concretizao

das diretrizes neoliberais j que elas sinalizam a minimizao de investimentos estatal

na rea social como meio de reduzir gastos e ainda mais nessa conjuntura de crise

em que montantes de recursos em escala mundial so destinados para amenizar os

seus efeitos Mas amenizar danos para os capitalistas ou para os segmentos do

trabalho Importante enfatizar que a sociabilidade capitalista permeada por

interesses contraditrios resultantes dos prprios antagonismos intrnsecos a esse

modelo societrio que objetiva a obteno de superlucros mediante explorao e

dominao mesmo no contexto de radicalizao da barbrie

Nessa dimenso a educao tambm se configura como um importante

campo de disputa entre projetos diferenciados Logo podemos sinalizar a existncia

de projetos identificados com a defesa da educao como direito social universal e

instrumento imprescindvel na desconstruo de valores mercantis o que por sua vez

contribui na construo de valores sintonizados com outro modelo societrio E

antagonicamente de outros projetos que buscam transfigurar a esfera educacional em

mais um ramo lucrativo para o capital alm de procurar restringir tal setor a um tipo de

funcionalidade voltada ao atendimento das necessidades do mercado competitivo

direo fortalecida na era hegemnica do neoliberalismo afinal de contas

69

O acesso ao conhecimento cientifico e tcnico sempre teve importncia na luta competitiva mas tambm aqui podemos ver uma renovao de interesses e de nfase j que num mundo de rpidas mudanas e de sistemas de produo flexvel [] o conhecimento da ultima tcnica do mais novo produto da mais recente descoberta cientfica implica a possibilidade de alcanar uma importante vantagem competitiva O prprio saber se torna uma mercadoria-chave a ser produzida e vendida a quem pagar mais sob condies que so elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVYE 2006 P151)

Portanto alm do esforo exercido para mercantilizar a educao como

bem retrata Harvye no podemos desconsiderar a utilizao da rede educacional

institucionalizada pelos representantes do grande capital com vistas tambm a

formao de consensos que potencializam a dominao e manuteno do poder

vigente como explicita Mszaros (2005) na sua abordagem

Segundo este autor a educao formal ou institucionalizada sobretudo

nos ltimos 150 anos apresentou como funcionalidade no somente produzir os

conhecimentos e mo-de-obra imprescindvel ao processo de reproduo do capital

mas contribuiu efetivamente para a transmisso de valores que servem de suporte

e legitimidade aos interesses dominantes

Concordamos com Mszaros (2005) quando ratifica o direcionamento de

adequao da educao aos interesses mercantis entretanto destacamos nesse

debate o fato da sociabilidade capitalista ser atravessada nos seus mais diversos

mbitos pela contradio por conseguinte o desenvolvimento de processos

formativos sintonizados com o iderio de transformao societal tambm se coloca

como uma possibilidade real

Diante dessa problematizao importante destacar o pensamento de

Tonet (2007) segundo o qual a funcionalidade central da educao constitui a

apropriao de conhecimentos habilidades e valores produzidos e construdos no

decorrer da histria pelos indivduos singulares De tal modo que o ldquoacesso de todos

educao sistematizada portanto formal uma necessidade para que as pessoas

possam se apropriar do patrimnio do gnero humanordquo (TONET 2007 p5)

contudo essa apropriao no est descolada dos antagonismos sociais e assim

sendo recorrente que em uma sociedade de classes os interesses que

predominantemente estruturam a educao sejam tambm os anseios da classe

dominante Porm como j enfatizamos a contradio intrnseca a sociabilidade

burguesa e dessa forma com base nas formulaes de Tonet (2004) afirmamos

que a educao na perspectiva do trabalho se remete a defesa da apropriao do

patrimnio humano - artes direito filosofia etc - de forma ampla por parte de

70

todos(as) sujeitos sociais e histricos Em contrapartida na ptica do capital a

tendncia de limitar o acesso e a qualidade da educao pois seu objetivo ldquono

a realizao plena de todos os indivduos e pois do gnero humano mas a sua

prpria realizaordquo (p224)

Na realidade especfica do Brasil cada vez mais recorrente a reduo de

investimentos na rea social o que atinge tambm a educao alm disso se

intensificou nas ultimas dcadas a disponibilidade de todos os nveis da educao

formal para a esfera privada o que configura o domnio do mercado sobre esse

setor e isso representa inclusive a predominncia dos valores mercantis nos

processos formativos

Neste sentido observamos a partir de anlises como as realizadas por

Tonet (1998 2007) e Mszaros (2005) a necessidade de construo de uma

perspectiva crtica para a educao que no se limite em atender aos anseios de

reproduo dessa ordem societria ao contrrio que seja sintonizada com a luta na

busca da derrocada da gide do capital portanto uma verdadeira mediao para a

conquista da emancipao humana

Dessa forma preciso considerar que na poca de predominncia do

padro fordista-taylorista a esfera educacional apresentava majoritariamente o vis

informativo e limitado pois no necessitava de trabalhador(a) com habilidades

criativas em decorrncia da ntida separao entre planejadores e executores

caracterstica desse modelo produtivo A emergncia da flexibilidade no mundo do

trabalho reclama outro tipo de formao na qual

O trabalhador precisa aprender a pensar a resolver problemas novos e imprevistos precisa ter uma formao polivalente ou seja uma formao que lhe permita realizar tarefas diversas e alm disso a transitar com mais facilidade de um emprego a outro pois a estabilidade j no faz parte desta nova forma de produo (TONET 2007 10)

Alicerando-nos nas contribuies do autor verificamos que a educao

passa por complexas processualidades na contemporaneidade Nesse cenrio de

crise e mudanas estruturais ela necessita se readequar e gerar alternativas diante

dos novos padres e relaes sociais Analisamos que a readequao em larga

medida tem se pautado na tendncia de submeter atividade educativa ao vis

mercantilista

Diante do exposto que Tonet (2007) chama ateno para a difcil situao

que peculiariza a educao no momento atual Segundo ele a educao se encontra

em uma verdadeira encruzilhada visto que contribui para reproduo da sociabilidade

71

capitalista que no presente marcada pela radicalidade da barbrie ou contribui

para construo de outro sistema societrio Essa encruzilhada expressa os interesses

contraditrios existentes na sociedade do capital com particularidades nos complexos

sociais e aqui em especial na educao

Tonet(2004) analisa requisitos sintonizados com o desenvolvimento de

atividades educativas que vislumbrem a transformao social Desse modo

elencaremos os requisitos defendidos pelo autor com o objetivo de destacar a

necessidade de seu fortalecimento com vistas a potencializar projetos educacionais

negadoras da ordem estabelecida

O primeiro requisito concerne perspectiva de empreender nas atividades

educativas conhecimentos profundos e slidos da finalidade pretendida ou seja da

emancipao humana dimenso balizadora das prticas educativas cotidianas O

segundo se refere real necessidade de uma anlise crtica e radical da sociabilidade

capitalista ou seja compreenso ldquodas caractersticas essenciais da crise por que

passa esta sociabilidade das conseqncias que da advm para o processo de

autoconstruo humana da maneira como esta crise se manifesta nos diversos

campos da atividade humana [](TONET 2004 p 232) Outro requisito consiste no

conhecimento aprofundado do prprio campo da educao visto que esse tem suas

especificidades A quarta requisio tratado por Tonet se remete ao domnio dos

contedos inerentes a cada rea do saber como por exemplo podemos citar a

importncia do educador(a) ter domnio da rea prioritria na qual atua seja na

filosofia na sociologia no direito entre outras O ultimo requisito constitui a relevncia

da articulao da atividade educativa com o desenvolvimento das lutas empreendidas

pelos segmentos subalternizados o que favorece na materializao de aes

negadoras do projeto societrio capitalista

Reflexes crticas como as realizadas por Tonet e pelo prprio Mszaros

so importantes tambm para contribuir com o desvendamento das determinaes

que impossibilitam a materializao de uma educao formal libertadora no marco da

sociabilidade sob a gide do capital pois tal sistema se reproduz tendo como

essncia a perpetuao e ampliao das contradies que lhe so intrnsecas

Entretanto como apontado acima isso no significa negar a possibilidade

real de direcionar a educao por princpios eou requisitos sintonizados com a

construo de outra ordem devido aos prprios antagonismos inerentes a

sociabilidade capitalista De tal modo uma compreenso abrangente de educao

conforme o pensamento de Mszaros(2005) significa o entendimento de que o

processo de aprendizagem no se restringe a esfera institucional majoritariamente

utilizada pelo capital mas engloba todos os aspectos da nossa vida tornando-se

72

imprescindvel a interconexo dessas vivncias com a esfera formal A perspectiva de

construo de outra concepo educacional tambm sinalizada por Tonet na

seguinte assertiva ldquo evidente que uma educao voltada para a construo de uma

sociedade que tenha como horizonte a emancipao humana ter que ser norteada

por princpios e dever encontrar formas profundamente diferentes daquelas voltadas

para a reproduo da sociabilidade regida pelo capitalrdquo (1998 p10)

Diante do exposto temos o entendimento que o domnio burgus tambm

se faz presente na educao pois esta esfera sofre os rebatimentos da diviso da

sociedade em classes sociais decorrente dessa constatao histrica do

antagonismo de classes que a construo de atividades educativas e portanto de

formao profissional questionadora dessa ordem tambm uma possibilidade real

Assim concebemos que o projeto profissional que hegemonicamente direciona a

formao dos(as) assistentes sociais no Brasil se fundamenta numa perspectiva que

sem dvidas contribui para a anlise crtica da atual sociabilidade bem como

preconiza a defesa de construo de uma outra sociedade alicerada na verdadeira

emancipao de homens e mulheres Projeto de formao profissional que cada vez

mais se depara com obstculos para sua materializao tais como a insuficincia

das condies objetivas que dificulta a efetivao das diretrizes curriculares uma

realidade em todo pas alm de vivenciarmos um perodo de fortalecimento de

valores mercantis associada fragilidade da teoria social crtica no mbito da

educao o que configura assim uma conjuntura no favorvel para universalizao

desse projeto Entretanto a luta empreendida pelas entidades representativas do

Servio Social englobando a ao de segmentos de docentes e discentes ratifica o

compromisso preponderante dessa profisso com a construo e realizao de

atividades educativas emancipadoras

Assim apreendermos nesse estudo a sociabilidade capitalista como

espao de disputa e luta de classes e por conseguinte de perspectivas educacionais

diferenciadas e at mesmo contraditrias Desse modo a subordinao de uma

classe em relao outra no exercida somente com o uso da fora mas tambm

mediante a utilizao de diversos mecanismos entre eles as polticas sociais como a

educao que contribuem para que a classe dominante garanta a reproduo da fora

de trabalho e de sua condio de classe como tal

Destarte as mudanas pelas quais passa a sociabilidade capitalista no

momento presente e suas implicaes na relao do Estado com a sociedade

consiste requisito essencial para apreenso das determinaes que incidem sobre a

necessidade de reconfigurao nos espaos formais de qualificao e aprendizagem

Dessa forma faz-se necessrio considerar as alteraes no mbito da formao dos

73

segmentos do trabalho incluindo os(as)assistentes sociais o que por usa vez

contribui no desvelamento da direo social da ao dos sujeitos coletivos nesta

realidade histrica entre os quais o segmento estudantil

Diante do exposto entendemos que refletir sobre a contra-reforma do

ensino superior e seus impactos para o projeto de formao dos(as) assistentes

sociais e da direo social da ao poltica dos(as) estudantes nesta conjuntura

reclama consideraes relativas ascenso neoliberal no pas com sua respectiva

diretiva de ldquoreformarrdquo o Estado A abordagem potencializa a apreenso das

determinaes que incidem na readequao das instituies de ensino e a educao

superior a lgica conjuntural do mercado

74

O Que Foi Feito Deveraacute

O que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou

O que foi feito da vida o que foi feito do amor

Quisera encontrar aquele verso meninoQue escrevi haacute tantos anos atraacutes

Falo assim com saudade falo assim por saber

Se muito vale o jaacute feito mas vale o que seraacuteMas vale o que seraacute

E o que foi feito eacute precisoconhecer para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza falo por acreditar

Que eacute cobrando o que fomosque noacutes iremos crescer

Noacutes iremos crescer outros outubros viratildeo

Outras manhatildes plenas de sol e de luzAlertem todos alarmas

que o homem que eu era voltouA tribo toda reunida raccedilatildeo dividida ao solE nossa Vera Cruz

quando o descanso era luta pelo patildeoE aventura sem par

Quando o cansaccedilo era rio e rio qualquer dava peacute

E a cabeccedila rolava num gira-girar de amorE ateacute mesmo a feacute natildeo era cega nem nada

Era soacute nuvem no ceacuteu e raizHoje essa vida soacute cabe

na palma da minha paixatildeoDevera nunca se acabe abelha fazendo o seu mel

No pranto que criei nem vaacute dormir como pedra e esquecer

O que foi feito de noacutes

(Milton Nascimento)

75

IV UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

4-1 ldquoREFORMArdquo UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA

DO ESTADO BRASILEIRO

Antes da discussatildeo sobre contra-reforma implementada pelo Estado

brasileiro tecemos algumas consideraccedilotildees sobre a constituiccedilatildeo da Universidade

nacional o que permitiu apreensatildeo da disputa de valores e projetos educacionais

diferenciados para esta instituiccedilatildeo tatildeo relevante para o desenvolvimento econocircmico

social poliacutetico e cultural do paiacutes

A universidade eacute recente no cenaacuterio nacional foi criada somente no final

dos anos 1920 e com processo de expansatildeo na deacutecada de 1930 em que recebeu

influecircncias do modelo de escolas superiores ateacute entatildeo majoritaacuterio no Brasil

Segundo Rocha(2004) as primeiras instituiccedilotildees de ensino superior no

Brasil foram criadas trecircs Seacuteculos apoacutes o descobrimento visto que o domiacutenio

portuguecircs se estendia tambeacutem nas esferas da educaccedilatildeo e cultura como forma de

manter o poder sob a colocircnia Foi com a chegada do reino portuguecircs em 1808 que

surgiram agraves primeiras escolas superiores inicialmente nos estados da Bahia e Rio de

Janeiro E tardiamente no periacuteodo republicano foram criadas as primeiras

universidades no Brasil em 1920 foi fundada a Universidade do Rio de Janeiro e em

1927 a Universidade de Minas Gerias ambas formadas a partir da aglutinaccedilatildeo de

escolas superiores jaacute existentes

Conforme as contribuiccedilotildees de Fernandes (1975) a universidade assumiu o

caraacuteter de um conglomerado de escolas superiores com suas respectivas fragilidades

quais sejam o pequeno nuacutemero de estudantes professores e funcionaacuterios a

supervalorizaccedilatildeo do ensino em detrimento da pesquisa quando defendemos que

ambas as atividades devem funcionar articuladamente aleacutem da centralizaccedilatildeo na

tomada de decisotildees sem levar em consideraccedilatildeo os (as) envolvidos (as) na construccedilatildeo

desse espaccedilo

Em 1930 eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede sinalizando a

preocupaccedilatildeo do Estado nacional com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra num

cenaacuterio de crescimento e expansatildeo da industrializaccedilatildeo no paiacutes

Em 1934 foi fundada a Universidade de Satildeo Paulo e em 1935 a

Universidade do Distrito Federal criadas jaacute sob a influecircncia do modelo germacircnico-

humboldtiano que preconiza a indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensatildeo e

76

concebe a universidade como espao privilegiado na produo do conhecimento e de

desenvolvimento cultural35

Como destacado no segundo captulo desse trabalho em 1937 foi criada

a UNE Diante do exposto sinalizamos que a sua criao se processou concomitante

a estruturao e consolidao da universidade no pas o que demonstra que desde o

princpio o ME se constitui locus privilegiado de organizao e atuao dos(as)

universitrios(as)

Nesse sentido na dcada de 1940 o aumento de professores e de

estudantes nas instituies de ensino superior e a incluso da pesquisa nessa esfera

configuraram-se aspectos fundamentais na deflagrao da crise do modelo brasileiro

de escolas superiores predominantes nos interior das universidades brasileiras A

partir de ento temos a construo de uma perspectiva de universidade apreendida

como espao primordial na criao e produo de conhecimento Importante destacar

que nessas dcadas temos a expanso da urbanizao e industrializao no pas o

que requisita o desenvolvimento da cincia e da tcnica

Contudo uma perspectiva crtica de universidade encontrou forte

resistncia inclusive por parte do Estado que sob a vigncia do Estado Novo de

Vargas procurou adequar as instituies aos interesses dominantes

Temos a concepo que a misso da universidade no pode ser reduzida

a dimenso do ensino e desse modo se configurar em mera funcionalidade de formar

sujeitos para atuar em determinadas profisses como ocorreu no processo de

constituio dessa instituio nem to pouco de se remeter a promoo do

desenvolvimento cientfico e tecnolgico visando to somente a reproduo dessa

sociabilidade ela deve se constituir em um espao de construo da cultura cincia

tecnologia investigao cientifica nas mais variadas reas do conhecimento com a

prerrogativa de proporcionar o desenvolvimento da humanidade e no do capital

A educao superior e por conseguinte a universidade pblica como

importante necessidade social deve ser mantida pelo Estado objetivando a sua

garantia como direito No entanto isso se constitui um desafio a ser perseguido e tem

sido alvo de luta dos segmentos do trabalho e dos setores identificados com esse

iderio como historicamente se configura os(as) estudantes e suas entidades Pois no

decorrer da breve histria da universidade no Brasil alicerada no trip de ensino

pesquisa e extenso ela ameaada constantemente tendo em vista o esforo da

35 Em 1932 foi lanado o ldquoManifesto dos pioneiros da educaordquo elaborado por intelectuais brasileiros que reivindicavam uma atuao do Estado na garantia da educao e requisitavam para o ensino superior a criao de universidades caracterizadas pelo desenvolvimento de investigaes cientficas culturais e formaes de profissionais nas mais diversificadas reas de atuao Cf Rocha(2004)

77

classe dominante em diferentes conjunturas de construir medidas visando a sua

privatizaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo do ensino superior numa mercadoria altamente

competitiva e lucrativa

Na deacutecada de 1950 Rocha(2004) aponta que sob a bandeira do

nacionalismo foi desencadeado o processo de federalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de

ensino superiores estaduais e privadas caminho rejeitado nos anos de 1960 quando

se verifica a expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo superior brasileira

Essa tendecircncia foi amplamente reforccedilada na ditadura militar instaurada

com o golpe de 1964 dado o compromisso dos governos ditatoriais com o capital

tanto em niacutevel interno como externo nesta dimensatildeo vaacuterias accedilotildees foram efetivadas

de forma autoritaacuteria buscando adaptar as instituiccedilotildees ao modelo poliacutetico desenvolvido

pelo regime ditatorial

Podemos destacar como medidas viabilizadoras do enquadramento da

universidade brasileira agraves regras ditatoriais e a exploraccedilatildeo do capital a elaboraccedilatildeo dos

Relatoacuterios Meira Mattos e Atcon estes documentos traziam recomendaccedilotildees que

procuravam adequar as instituiccedilotildees agrave loacutegica mercantilista de formaccedilatildeo de matildeo-de-obra

para o mercado e ainda visavam controlar as reivindicaccedilotildees e manifestaccedilotildees

estudantis tatildeo recorrentes naquele periacuteodo

O relatoacuterio Meira Mattos pregava a repressatildeo a quaisquer protestos

realizados principalmente pelo ME por serem compreendidos pela ditadura como

subversivos a ordem vigente enquanto o Relatoacuterio Atcon recomendava a efetivaccedilatildeo

de mudanccedilas na estrutura administrativa das universidades brasileiras as quais

deveriam se fundamentar na concepccedilatildeo empresarial de eficiecircncia e rentabilidade os

documentos assinalados constituiacuteram a base de fundamentaccedilatildeo da reforma

universitaacuteria de 1968 Cavalcante fundamentando-se em Faacuteveo(1991) assinala que

Esta reforma universitaacuteria introduziu mudanccedilas significativas na organizaccedilatildeo e funcionalidade das universidades no Brasil ao mesmo tempo em que incorporou algumas reivindicaccedilotildees da comunidade acadecircmica com o objetivo de abrandar as manifestaccedilotildees no seu interior como o regime integral para professores possibilitou o fortalecimento da loacutegica empresarial nas instituiccedilotildees de ensino superior ao estabelecer a garantia de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo universitaacuteria de pessoas como experiecircncia na aacuterea dos negoacutecios corroborando com a perspectiva de dicotomia entre planejadores e executores e de entrega da universidade a administraccedilatildeo em moldes empresariais( CAVALCANTE 2007 p6)

A reforma universitaacuteria de 1968 foi orientada tambeacutem pelos acordos MEC-

USAID estabelecido entre Brasil e Estados Unidos cujo objetivo era transformar a

78

universidade brasileira visando ldquoa eficincia modernizao a flexibilidade

administrativa e formao de recursos humanos de alto nvel para o

desenvolvimento do pasrdquo (LAMPERT 2004 p77)

O trmino da ditadura militar no representou o inicio de um compromisso

com a universidade pblica por parte do governo Sarney pois a sua gesto tratou de

preservar os interesses dominantes e como esclarece Ramos(1996 p57) ele

ldquoelaborou o documento ldquoEducao Para Todos - caminho para mudanardquo no qual se

denota a preocupao com o ensino bsico sem se analisar entretanto o ensino

superiorrdquo

A realidade de descaso com as universidades pblicas continuou nos

governos subseqentes estimulada pela ideologia neoliberal de transfigurao da

rea educacional em mais um ramo lucrativo para o mercado de negcios

culminando dessa forma no crescimento acelerado da iniciativa privada e na reduo

de investimentos no setor pblico o que contribui para um cenrio verdadeiramente

crtico como veremos adiante

A reforma do Estado se colocou como demanda real no final da dcada de

1980 para as diferentes foras sociais e polticas da sociedade brasileira Essa

necessidade se explica pela seguinte constatao ldquoao mesmo tempo em que

tnhamos no plano jurdico-poltico a constituio mais avanada [] o aparelho de

Estado continuava funcionando e mais do que isso continuava articulado ao projeto

poltico-econmico da ditadurardquo (NETTO 2004 p 12)

Trata-se portanto naquele perodo da tcita existncia de um consenso

entre distintas foras sociais e polticas em torno da real necessidade de reformar o

Estado nacional

Essa concepo se estabelece j no contexto de consolidao neoliberal

nos pases de capitalismo avanado o que demonstra o lapso entre o centro e a

periferia do capital

Entretanto enquanto as foras populares se colocaram na perspectiva de

reformar o Estado em seu real sentido ou seja com o objetivo de efetivar direitos a

partir da operacionalidade das conquistas estabelecidas na Constituio de 1988 a

burguesia nacional se colocou em sentido contrrio pois se pautou na defesa de

adequar as estruturas nacionais nova ordem do capital na sua verso neoliberal Foi

esta fora social e poltica que se tornou hegemnica e tomou a direo estatal nos

anos 1990 no Brasil

Assim sinalizamos o governo de Fernando Collor de Melo(1990-1992)

como precursor das primeiras medidas de reformar o Estado em sentido oposto ou

seja de materializar aes que se constituram como o incio de uma contra-reforma

79

caracterizada pela perda e natildeo pelo ganho de direitos Behring (2003 p) assinala que

este governo tratou de adequar o paiacutes ao reordenamento do capital mundial

Contudo foi na era FHC (1995-2002) que as concepccedilotildees neoliberais

comeccedilaram a ser efetivadas de forma mais intensa expressatildeo dessa assertiva satildeo as

reformas do Estado manifestadas na poliacutetica de privatizaccedilotildees aleacutem do verdadeiro

esfacelamento das poliacuteticas sociais

Netto(2004) identifica FHC como o governante dos banqueiros e que seu

primeiro mandato apresentou como objetivo preciacutepuo adequar a inserccedilatildeo nacional

aos anseios do capital mundial

A anaacutelise realizada por Behring(2003) demonstra que a formaccedilatildeo social

brasileira eacute caracterizada por traccedilos como paternalismo e heteronomia que

contribuem para intensificar a concentraccedilatildeo da riqueza produzida e da dependecircncia do

paiacutes em relaccedilatildeo agraves orientaccedilotildees que representam o capital internacional

Para garantir a inserccedilatildeo subordinada do paiacutes no circuito mundializado do

capital na deacutecada de 1990 FHC governou com o propoacutesito de executar segundo

concepccedilatildeo de Netto(2004) trecircs tarefas baacutesicas dirimir as resistecircncias contraacuterias ao

direcionamento adotado na sua gestatildeo utilizando para este fim tanto a forccedila como a

construccedilatildeo de consensos A formaccedilatildeo de consensos se deu na dimensatildeo de satanizar

o aparelho do Estado a defesa ideoloacutegica de globalizar o paiacutes aleacutem da tendecircncia de

privilegiar o privado e desqualificar o puacuteblico A segunda tarefa consistiu na

prerrogativa de sucumbir o aparato legal oposto ao receituaacuterio neoliberal nesse caso

o alvo principal constitui-se a Constituiccedilatildeo de 1988 como foi ressaltado esta carta

representou grande avanccedilo juriacutedico especialmente no tocante ao item que trata dos

direitos sociais A uacuteltima tarefa estreitamente articulada agraves demais se referiu a

demanda de promover accedilotildees que editadas a partir de medidas provisoacuterias

regulamentaccedilotildees entre outros aparatos promovessem mudanccedilas substanciais na

estrutura do Estado nacional Diante do exposto tem-se a poliacutetica de ajuste fiscal

materializada com um plano de estabilizaccedilatildeo da moeda e a continuidade da poliacutetica de

privatizaccedilatildeo

Nesses termos a contra-reforma do Estado delineada por FHC se

apresentou em total sintonia com a tendecircncia do capital mundial de promover um

verdadeiro enxugamento das suas accedilotildees no campo social e de valorizar o privado

como referecircncia na execuccedilatildeo de serviccedilos que na uacuteltima carta constitucional se

constituem em direitos Essa direccedilatildeo se manifestou de maneira niacutetida na educaccedilatildeo e

em especial no ensino superior Pois em sintonia com as recomendaccedilotildees das

agecircncias multilaterais a universidade puacuteblica oferece

80

ensino de melhor qualidade que as universidades privadas Todavia estas regidas por critrios empresariais so tidas como a referncia organizacional Consideradas mas geis eficientes financeiramente equilibradas apresentam maior diferenciao institucional e menor ndices de conflitos e tenses polticas (IAMAMOTO 2004 p40)

Considerando as anlises de Siqueira (2004) o Banco Mundial(BM) passou

a intervir na rea educacional na dcada de 1960 tendo como alvo preferencial as

modalidades de ensino tcnico-vocacional e superior visto que naquele perodo

esses nveis eram concebidos como prioritrios para o desenvolvimento das foras

produtivas

Nos anos 1980 o BM financiou diversas pesquisas sobretudo em pases

do continente africano com o intuito de intensificar sua interferncia na educao em

escala mundial Os estudos realizados pelo rgo enfatizavam o ensino superior como

oneroso para a administrao pblica alm de argumentar que ele privilegiava as

camadas mais favorecidas assim as recomendaes eram no sentido de priorizar os

investimentos pblicos majoritariamente no ensino fundamental

Ainda seguindo as contribuies de Siqueira com a derrubada do muro de

Berlim associado fragilidade do Estado de bem estar social ou provedor como por

ela denominado o BM passou a intervir de maneira mais incisiva no ensino superior

apresentando como objetivo instituir um modelo de gesto caracterizado pela

eficincia e procurando abrir tal espao para a iniciativa privada Logo no comeo do

novo sculo entendido como a ldquosociedade do conhecimentordquo a educao superior

compreendida pelo BM como uma ldquorea de negciosrdquo a qual deve ser dirigida ldquopelo

setor privado internacional e grandes firmas nacionais a ele associados que estariam

prontos para vender seus pacotes educacionais consultorias equipamentos etcrdquo

(SIQUEIRA 2004 p50)

Essa interveno no campo educacional revela o processo de expanso

da explorao e domnio do capital em setores diversificados na busca ilimitada por

lucros A educao como mercadoria e sua adequao vislumbrando somente a

formao de mo-de-obra ldquoqualificadardquo para o mercado significa mais do que a perda

de direitos pois minimiza processos formativos crticos o que por sua vez corrobora

com a formao de profissionais identificados(as) com a preservao do status quo

Orientados por tais argumentos os rebatimentos da poltica neoliberal no

ensino superior na vigncia de FHC no comando do executivo nacional podem ser

constatados a partir das problemticas levantadas na passagem seguinte

81

As universidades federais passaram a viver uma situao de indigncia com cortes de energia eltrica telefone gua despensa das empresas terceirizadas responsveis pela limpeza sem falar nos aspectos didticos-cientficos prejudicados pela deficincia de bibliotecas laboratrios salas de aula e falta de computadores e outros equipamentos necessrios para esse fim (MAUS 2004 p22)

Foi durante a gesto de FHC que em 1996 tivemos a aprovao da Lei de

Diretrizes e Bases (LDB) para educao que segundo Netto (2004) em sintonia com

as demandas do mercado consistiu em amparo legal para expanso do setor privado

e desqualificao da universidade pblica sobretudo a partir da apreenso da

autonomia universitria limitada a dimenso gerencial e financeira Alm disso

Iamamoto (2004) sinaliza mecanismos da referida lei que privilegiou a criao de

cursos de curta durao em nvel superior secundarizando a qualidade entre os quais

se encontram os seqenciais36 e os mestrados profissionalizantes37 Para o Sindicato

da Associao Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES) a situao da

universidade pblica na dcada de 1990 apresentava a progressiva tendncia de

desresponsabilizao do Estado com sua manuteno Descaso que se verificou na

submisso da

Universidade lgica imediatista empresarial seja pela gesto direta de uma rede de ensino responsvel hoje por um percentual irrisrio de aproximadamente 22 das matriculas dos cursos de graduao seja pelo controle e direcionamento de boa parte da pesquisa cientfica e tecnolgica produzida no pas a poltica governamental brasileira vem descaracterizando a universidade enquanto instituio de carter pblico e despojando-a portanto de sua condio de instituio a servio da populao brasileira (ANDES 1996 p20)

O quadro abordado preocupante pois ao mesmo tempo em que

incentiva a abertura indiscriminada de instituies privadas muitas das quais se

restringindo a autnticas fbricas de diplomas desqualifica as universidades pblicas

to necessrias para o desenvolvimento do pas a partir de sua democratizao e da

valorizao deste espao como referencial na produo e socializao do

conhecimento Assim os rebatimentos da destruio eou readequao da

36 Iamamoto 2004 classifica tais cursos como um processo de ldquoaligeiramento da formao- para responder de maneira mais imediata s demandas emergentes decorrentes das rpidas transformaes que vm se operando nesse mercadordquo (2004 p54) 37 Para Iamamoto (2004) so mestrados mais baratos e autofinanciados ldquocom retorno rpido uma vez que pode ser concludo em apenas um ano Favorece a integrao universidade e mercado reforando o papel que vem sendo atribudo a essa instituio enquanto formadorade mo-de-obra para atender s mutantes necessidades da produo no seu mais amplo espectrordquo (p59)

82

universidade pblica aos interesses mercantis atinge no somente o espao restrito

da academia mas a populao de forma abrangente pois esta instituio se

caracteriza pela produo cultural realizaes de investigaes cientficas que

contribuem para o desenvolvimento tecnolgico econmico poltico cultural e social

da nao alm de formar profissionais que atuam em diversificados ramos de

atividades requisitados nesta sociabilidade

Tal realidade no diferente no decorrer das duas gestes de Luis Incio

Lula da Silva com incio em 2003 e vigente at os dias atuais que se pautam numa

perspectiva de aceitao das orientaes do capital internacional na verso

neoliberal

Salles (2006) salienta que o PT foi fundado em 1980 com o intuito de se

constituir no representante partidrio dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)

configurando-se dessa maneira em um partido caracterizado poltica e

ideologicamente pela negao do sistema vigente portanto pela recusa das relaes

de explorao dominao autoritarismo e privilgios que marcam a trajetria histrica

do pas Entretanto segundo o seu pensamento o PT com o propsito de chegar

presidncia da repblica elaborou um projeto que foi negociado com polticos de

diversos matizes inclusive de centro esquerda e direita Assim um dos

desdobramentos dessa aliana que o ldquogoverno Lula [] optou por fazer as reformas

diante das quais o governo anterior recuou ou no teve a legitimidade suficiente para

faz-lasrdquo (SALLES 2006 p32)

Em consonncia com esse direcionamento de anlise Lima (2004) ratifica

o processo de aliana do PT com representantes do capital financeiro e sinaliza essa

expresso em quatro dimenses a extino das referncias do socialismo como

princpios do partido a burocratizao em decorrncia da ampliao de funcionrios

em substituio aos militantes de base minimizao das lutas dos trabalhadores(as)

com vistas obteno de cargos conseguida mediante construo de acordos com a

burguesia e ainda se manifesta pelo aprofundamento da concretizao das

concepes neoliberais no pas evidenciadas no favorecimento dos interesses dos

organismos do capital globalizado durante os anos do governo Lula

Dias(2006) assinala que o governo de Lula da Silva se caracteriza pela

materializao de uma poltica de continuidade do governo anterior Atua desse modo

em conformidade com as orientaes neoliberais aderidas por FHC Outro importante

aspecto consiste na sua prtica poltica de desqualificar as organizaes dos

segmentos do trabalho Nesse contexto de desqualificao que se potencializa

tambm a fragilidade das aes desses sujeitos coletivos passando a atuar muito

mais numa perspectiva de colaborar com a institucionalidade em vez de assumir

83

posturas de combatividade e reivindicaes Ao passo que contraditoriamente se

verifica a ampla valorizao do governo Lula em relao atuao das ONG que

embora denominadas de no governamentais sobrevivem com recursos oriundos das

diversas esferas do Estado alm dos montantes recebidos de instituies que

explicitamente representam os interesses do capital A explanao seguinte

demonstra a contradio vivenciada na poltica brasileira de hoje j que o ex-operrio

que ocupa a presidncia ldquodesempenha o papel articulador nos marcos do territrio

brasileiro do bloco de poder comandado pela burguesia financeira internacionalrdquo

(DIAS 2006 p 2000)

Nesse sentido constata-se que o governo petista do ex-operrio Lula se

caracteriza pela recusa do projeto de transformao societal e tenta criar um cenrio

que mostre que a continuidade econmica e poltica das diretivas do capitalismo

neoliberal mais do que necessrias so naturais uma tendncia de mascarar de

diversas formas a existncia de conflitos e interesses antagnicos Prtica poltica que

descaracteriza o protagonismo de sindicatos MS afinal seno existem interesses

contraditrios qual a funcionalidades desses sujeitos coletivos Corroborar com bom

desenvolvimento desta sociabilidade Tudo indica que esse o caminho at o

presente momento que vem sendo seguindo por alguns MS e suas entidades

organizativas

Essa direo poltica se apresenta por exemplo no uso indiscriminado de

medidas provisrias que dado o carter de urgncia das matrias votadas no

legislativo minimiza a possibilidade de debates e desenvolvimento de aes de

segmentos da sociedade que rejeitem e se contraponham s medidas encaminhadas

pelo governo sucumbindo dessa maneira a construo da democracia e o

protagonismo dos sujeitos coletivos

Sem dvida a chegada de Lula presidncia representou o

descontentamento da grande maioria da populao brasileira com a situao de

pauperizao e perdas de direitos reinante na era FHC contudo as suas gestes so

marcadas pela continuao da implementao das diretrizes neoliberais pautadas na

destruio das conquistas dos segmentos do trabalho Como aborda Carvalho entre

os condutores da reordenao do Brasil ao capital internacional na sua verso

neoliberal esto

O socilogo considerado referncia na construo de um pensamento progressista qui de esquerda nas anlises da sociologia poltica [] e um lder poltico de esquerda urdido nas lutas sindicais que ascende ao poder por proclamao popular encarnando a esperana de ruptura com os rumos neoliberais (CARVALHO 2006 p124)

84

Ainda nos baseando nas elaboraes de Carvalho (2006) entende-se que

o iderio neoliberal comea a materializar-se no Brasil no momento de construo do

Estado democrtico dessa maneira observamos um processo contraditrio de

instituio de um Estado ajustador e reducionista na rea social no cenrio da

democratizao poltica Portanto mais uma vez constata-se que a emancipao

poltica importante todavia somente a emancipao humana capaz de libertar os

homens e mulheres de sua condio de explorados(as) e dominado(as) pelo capital

nessa relao contraditria que se encontra a agudizao da educao

superior pblica no Brasil que respaldada na Carta Constitucional de 1988 como

direito de cidadania e dever estatal na atual conjuntura atravessa um forte processo

de privatizao e desqualificao Tendncia que se coloca para atender as demandas

da produo reestruturada e de obteno de lucros mediante sua mercantilizao

para o grande capital financeiro Expresso dessa assertiva constitui-se a atual contra-

reforma do ensino superior do governo Lula

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico

Na educao a continuidade da poltica neoliberal se materializa com a

contra-reforma do ensino superior que vem sendo concretizada de maneira

fragmentada visando a desresponsabilizao do Estado com este nvel da educao

A contra-reforma est em consonncia com as orientaes deliberadas pelos

organismos representantes do grande capital como o Fundo Monetrio Internacional

(FMI) e a OMC pois conforme a perspectiva de tais agentes o ensino superior

compreendido

Como uma mercadoria que deve ser suprida por entidades privadas que disputaro entre si o maior nmero de consumidores possvel o foco central e talvez nico da formao do aluno universitrio passa a ser a preparao para o mercado de trabalho desprezando-se a teoria e o ldquoaprender a aprenderrdquo e enfatizando o domnio de tcnicas transformando a universidade em um ensino de 3 grau [] situada dentro da proposta do neoliberalismo supe que o governo no deve ser o articulador da poltica educacional mas que deve deix-la a merc da regulao da competio entre os investidores privados(OLIVEIRA COSTA MALAFAIA 2004 p55)

85

Afinal de contas ainda em fevereiro de 2003 no incio do governo Lula o

ento ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central respectivamente Palocci

Filho e Henrique Meirelles enviaram conjuntamente documentos ao FMI agente do

grande capital internacional confirmando a realizao de esforos com o objetivo de

manuteno do ajuste fiscal e da materializao de reformas estruturais propostas por

tal organismo

Tambm em 2003 o primeiro ministro da educao do governo Lula o

senador Cristvo Buarque assinalou no texto ldquoa universidade numa encruzilhadardquo a

necessidade de mudanas substanciais para a universidade pblica no pas A

encruzilhada representa para ele a opo dessa instituio continuar se

fundamentando na modernidade tcnica ou direcionar sua funcionalidade para a

modernidade tica na qual o conhecimento seja submetido a valores ticos

identificados com a defesa de semelhana entre os indivduos e com a efetiva

perspectiva de proporcionar ao conjunto da sociedade os resultados do progresso

cientfico e tecnolgico possvel garantir essa socializao num contexto societrio

caracterizado pela apropriao privada inclusive do conhecimento produzido pela

humanidade

Concordamos com Buarque que a universidade vivencia uma situao de

crise Essa realidade se verifica no somente no campo restrito do ensino superior

mas perpassa todo o universo da educao Entretanto entendemos que o real dilema

da educao consiste no que evidencia Tonet(2007) contribuir para a reproduo da

sociabilidade capitalista marcada cada vez mais pela barbrie ou contribuir com a

construo de uma sociedade alternativa

Algumas reflexes surgem nesse mbito como podemos pensar que

mudanas endgenas ocorridas no espao universitrio garantiro o futuro de seus

estudantes Como refletir sobre a derrocada da desigualdade social sem considerar o

fim do modelo societrio capitalista que subjaz processos de desigualdades Afinal

como o prprio Buarque ratifica ldquoo produto dos avanos cientficos e tecnolgicos das

universidades foi posto a servio de minorias privilegiadas tambm em outras reas O

uso e consumo desses conhecimentos tambm ficaram restritos s elites minoritriasrdquo

(2003 p 13) Esse esclarecimento no expressa uma dimenso das diferenas e

antagonismos de classes inerentes ao capitalismo

Para o ento ministro da educao a universidade deveria ser refundada

como meio de atingir seus verdadeiros propsitos e deixar de se constituir em uma

instituio a servio de uma parcela reduzida da populao Entre as iniciativas

indicadas pelo governo Lula para o sistema universitrio brasileiro se encontravam

regulao de transferncia que permita ao estudante trocar de instituio com

86

agilidade ampliaccedilatildeo de vagas com a utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia criaccedilatildeo de cotas

para grupos eacutetnicos flexibilizaccedilatildeo dos cursos necessidade de outras fontes de

financiamentos seja de ordem puacuteblica eou privada estabelecimento de avaliaccedilatildeo para

todas as instituiccedilotildees voltada para identificaccedilatildeo de suas qualidades e fragilidades com

vistas a melhorar o desempenho na sociedade brasileira

Embora apresentando importantes anaacutelises sobre a universidade puacuteblica

entendemos que parte significativa das indicaccedilotildees observadas por Buarque constituiu

a base de fundamentaccedilatildeo para a contra-reforma que refunda eou reestrutura a

universidade em conformidade com as requisiccedilotildees das agecircncias que representam os

interesses do capital

Assim para melhor problematizarmos a atuaccedilatildeo do ME e em especial do

MESS no atual cenaacuterio de desmoronamento da educaccedilatildeo superior puacuteblica faz-se

necessaacuterio algumas consideraccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo do governo a partir de reflexotildees

sobre as medidas situadas no campo da contra-reforma do ensino superior com a

perspectiva de apreendermos os rebatimentos das medidas materializadas para a

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) bem como dos

desafios colocados para o segmento estudantil em tal cenaacuterio

Entre as iniciativas adotadas no contexto da contra-reforma destacamos

inicialmente o Programa Universidade para Todos (PROUNI) que estabelece a

destinaccedilatildeo de vagas para estudantes considerados de baixa renda em instituiccedilotildees

particulares mediante troca por isenccedilatildeo fiscal Os dados do MEC destacam que de

2005 a 200938 foram distribuiacutedas 887445 bolsas do PROUNI Desse total 520855 de

caraacuteter integral e 366590 parcial O dinheiro que deixou de ser arrecadado pela

isenccedilatildeo de fiscal em troca dessas vagas poderia ser investido nas instituiccedilotildees

puacuteblicas proporcionando desse modo melhorias nas condiccedilotildees de trabalho de

docentes e teacutecnicos-administrativos e de aprendizado para os(as) discentes aleacutem de

contribuir para a expansatildeo de vagas nos espaccedilos de formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo puacuteblica

ou seja o PROUNI constitui-se num excelente mecanismo de desvio de recursos de

origem puacuteblica para o setor privado fortalecendo ainda mais a dimensatildeo de

mercantilizaccedilatildeo do ensino

Essa tendecircncia gradual de mercantilizaccedilatildeo se torna expliacutecita quando

analisamos alguns dados do censo de 2007 do ensino superior Eles mostram como a

educaccedilatildeo tem se constituiacutedo em aacuterea de investimento e rentabilidade para o capital

38 Dados disponiacuteveis no site httpsiteprounimecgovbrimagesarquivospdfRepresentacoes_graficasbolsas_ofertadas_anopdf

87

Das 2281 instituiccedilotildees que oferecem essa modalidade de ensino 2032 satildeo privadas

ou seja se tem nesse universo o piacutefio nuacutemero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas

Graacutefico 1Natureza das Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil

249 11

203289

PuacuteblicaPrivada

Fonte INEP 2009

Os nuacutemeros socializados no graacutefico 1 natildeo deixam duacutevidas sobre a

acelerada busca de rentabilidade na educaccedilatildeo superior pois se tem a confirmaccedilatildeo

que aproximadamente 90 das instituiccedilotildees nesse niacutevel de ensino se concentram na

aacuterea privada Portanto natildeo eacute possiacutevel deslocar essa expressiva quantidade da

dimensatildeo de qualidade satildeo esferas distintas mais integrantes desse mesmo

processo Assim sendo sinalizamos preocupaccedilotildees com o ensino disponibilizado em

termos de qualidade e ainda por preponderantemente estarem sob domiacutenio direto

da administraccedilatildeo que visa o lucro imediato a propensatildeo de assimilaccedilatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica dos valores dominantes na sociabilidade capitalista se constitui uma

tendecircncia real Retomando as contribuiccedilotildees de Tonet(2004) a educaccedilatildeo sob a oacutetica

do capital tem a perspectiva de garantir condiccedilotildees para sua preservaccedilatildeo e natildeo

contribuir para o desenvolvimento pleno de todos os indiviacuteduos

Segundo o censo de 2007 das 2032 instituiccedilotildees privadas somente 87

consistem em universidades caracterizadas pela indissociabilidade entre ensino

pesquisa e extensatildeo os demais espaccedilos constituem-se em centros universitaacuterios

faculdades integradas faculdades escolas e institutos Entretanto desse reduzido

numero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas 96 satildeo universidades

88

Graacutefico 2Tipo de Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Privadas

1945 96

87 4

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP 2OO9

A partir dos dados do graacutefico de nordm2 assinalamos que a exploraccedilatildeo do

capital na educaccedilatildeo visa sobretudo o lucro imediato visto que de 96 das intuiccedilotildees

privadas natildeo satildeo universidade que requer investimentos em pesquisa e extensatildeo

Daiacute poderiacuteamos afirmar que o ensino se constitui o alvo prioritaacuterio das investidas do

capital na aacuterea da educaccedilatildeo Contudo cada vez mais eacute recorrente o desenvolvimento

de pesquisas nas universidades puacuteblicas sendo os seus resultados utilizados

diretamente pelos setores dominantes com objetivos de aumentar a competitividade e

rentabilidade de suas empresas demonstrando que os benefiacutecios adquiridos pelo

avanccedilo da ciecircncia satildeo socializados e usufruiacutedos de forma desigual pelos sujeitos

nesta forma de sociabilidade caracterizada pela divisatildeo de classes Para Castro(2008

p247)

A tendecircncia mundial de crescente privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo comeccedila gradualmente no Brasil a minar o caraacuteter puacuteblico das universidades federais e estaduais na medida em que os governos cortamou reduzem o repasse de verbas forccedilando-as a adotarem formas alternativas de captaccedilatildeo de recursos em parte articulada ao setor privado

89

Graacutefico 3

Instituiccedilotildees de Ensino Superior Puacuteblicas

15361

96 39

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP (2009)

Constatamos uma grande diferenccedila entre a quantidade de instituiccedilotildees

privadas e puacuteblicas como ficou evidenciado no graacutefico de nordm 1 Entretanto analisando

conjuntamente os dados dos graacuteficos 2 e 3 temos a conclusatildeo que apesar do grande

nuacutemero de instituiccedilotildees privadas as universidades estatildeo majoritariamente na aacuterea

puacuteblica levando-nos a ratificar a sua relevacircncia para o desenvolvimento do paiacutes

mediante a oferta de um ensino mais qualificado associando as esferas de pesquisa e

extensatildeo Desse modo a luta em favor da universidade puacuteblica no Brasil

historicamente protagonizada por estudantes se configura como uma defesa que

ultrapassa os proacuteprios limites e interesses institucionais

Menezes(2000) analisa que existe uma verdadeira intenccedilatildeo de se negar as

diferenccedilas entre as diversificadas instituiccedilotildees colocando-as todas no mesmo patamar

Essa falsa identidade conceitual potencializa a accedilatildeo daqueles que por motivaccedilotildees

econocircmicas eou poliacuteticas insistem na derrocada da universidade puacuteblica visto que

A equivocada identificaccedilatildeo entre universidade e ensino superior [] dificulta entre noacutes a compreensatildeo da dimensatildeo da questatildeo da universidade puacuteblica e de sua destruiccedilatildeo Para alguns a destruiccedilatildeo se restringe ao fim de determinados regimes funcionais para outros a preocupaccedilatildeo eacute a eliminaccedilatildeo da gratuidade do ensino superior por sua vez defendida por outros ainda para a completa liberaccedilatildeo de um mercado educacional bilionaacuterio (MENEZES 2000 p 10)

Nesses termos se verifica um pequeno nuacutemero de universidades em meio

agrave expressiva quantidade de outras instituiccedilotildees sobretudo no acircmbito privado

evidenciando que de modo abrangente as preocupaccedilotildees desse setor se voltam para

90

os lucros adquiridos com a venda do ensino pois de forma majoritaacuteria natildeo investem

no desenvolvimento de pesquisa e tampouco na materializaccedilatildeo de projetos de

extensatildeo Logo a confusatildeo intencionalmente promovida como foi destacado por

Menezes acaba por apresentar tais espaccedilos para a maioria da populaccedilatildeo com o

mesmo status e importacircncia das universidades quando na realidade desempenham

atividades e funcionalidades diferentes

Satildeo importantes as contribuiccedilotildees de Saviani (2005) relacionadas agrave

discussatildeo sobre o puacuteblico e privado como categorias de anaacutelise na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira O autor salienta alguns equiacutevocos que perpassam esse debate

como a defesa de manutenccedilatildeo da tutela educacional por parte do Estado pois

segundo ele eacute necessaacuterio libertaacute-la

Libertar a educaccedilatildeo da tutela estatal significa ratificar a concepccedilatildeo de

direcionamento de classe presente na atuaccedilatildeo do Estado cuja serventia contribui pra

preservaccedilatildeo do status quo entretanto como ressalta Saviani a retirada da tutela natildeo

Devia ser confundida com a liberaccedilatildeo do Estado dos encargos educacionais sobreonerando a populaccedilatildeo [] trata-se pois de inverter esta tendecircncia exigindo que o Estado assuma plenamente os encargos que garantam as melhores condiccedilotildees de funcionamentos da rede de escolas puacuteblicas E isto seraacute viaacutevel na medida em que as organizaccedilotildees populares exerccedilam severo controle sobre a educaccedilatildeo em geral e principalmente nas escolas mantidas pelo Estado (2005 p174)

A preocupaccedilatildeo do autor eacute significativa na perspectiva de que cada vez

mais o Estado controla a educaccedilatildeo no intuito de atender as necessidades do

mercado em detrimento dos interesses sociais da maioria da populaccedilatildeo explorada e

oprimida Vejamos a adoccedilatildeo do PROUNI representa a tendecircncia de reduzir

investimentos na esfera puacuteblica e o consequumlente fortalecimento da iniciativa privada

Mais do que isso garante a inserccedilatildeo de estudantes em instituiccedilotildees particulares

preocupadas majoritariamente com a obtenccedilatildeo de lucros e natildeo com a formaccedilatildeo

propriamente dita Reflitamos quantos estudantes deixam de frequumlentar as aulas nas

escolas privadas por falta de pagamentos A expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo

se processa por preocupaccedilotildees com o desenvolvimento espiritual da humanidade ou

majoritariamente por interesses rentaacuteveis

Nesse sentido eacute importante explicitar o pensamento de Sanfelice quando

o mesmo esclarece que

91

A escola estatal no necessariamente pblica quando tomamos o adjetivo pblico na forma de qualificao daquilo que pertence a um povo a uma coletividade que comum aberto a quaisquer pessoas que no tem carter secreto manifesto e transparente (2005 p179)

Nas condies ressaltadas pelo autor fica evidenciada mais uma vez a

impossibilidade de construo de uma rede educacional formal verdadeiramente

pblica nos marcos da sociedade capitalista pois a mesma apresenta como um dos

seus fundamentos a perpetuao das desigualdades e de interesses individuais e do

capital em detrimento das necessidades reais da populao Porm a escola pblica

contribui para atender em maior escala os anseios da coletividade nessa forma de

sociabilidade se levamos em considerao entre outras dimenses que a educao

dominada pelo setor privado visa especialmente formao de fora de trabalho

para o mercado secundarizando as verdadeiras necessidades humanas alm disso

transforma um direito em servio na procura excessiva por lucros Destarte podemos

perceber que a relao pblico-privado na esfera da educao perpassada por

intensas contradies que so vinculadas s relaes antagnicas que particularizam

o modelo societrio capitalista

Buff (2005) discorrendo sobre a relao pblico e privado na educao

afirma ser tal relao crivada por conflitos e dualidade A autora enfatiza ainda que a

esfera privada at a primeira metade do sculo passado se concentrou

especialmente no ensino mdio sendo defendido majoritariamente por

representantes da Igreja catlica j a partir dos anos 1980 verifica-se uma alterao

na relao dado que o protagonismo passa a ser assumido pelos denominados

ldquotubares do ensinordquo com prioridade para a educao superior Certamente essa

mudana no se efetiva por acaso pois esse redimensionamento est inserido nas

profundas modificaes vivenciadas pelo capital as quais atingem os diversos

complexos sociais

No mbito de efetivao de medidas para o ensino superior durante a

primeira gesto de Lula tivemos ainda em 2003 a institucionalizao do sistema de

cotas nas universidades pblicas destinada a estudantes oriundos de escolas

pblicas particularmente negros pardos e ndios Segundo estudo de Castro(2008)

atualmente este sistema implantado em 18 universidades brasileiras sendo alvo de

significativas discusses em que posicionamentos contrrios se apiam

principalmente na concepo de mrito alm de acreditarem que as reservas de

vagas pode corroborar com discriminao ao incentivar um ldquoracismo s avessasrdquo j os

defensores das cotas compreendem que elas so aes afirmativas que visam o

92

tratamento diferenciado para sujeitos historicamente alvo de preconceitos e que se

encontram em posiccedilatildeo desigual inclusive no que se refere agrave educaccedilatildeo em especial

no niacutevel universitaacuterio Levando-se em consideraccedilatildeo informaccedilotildees do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica(IBGE) as desigualdades entre brancos pretos e

pardos se manteve em 2004 Segundo dados divulgados pela Instituiccedilatildeo em 2006 no

que se refere ao analfabetismo funcional no paiacutes 18 dos(as) brancos(as) tinham

menos de quatro anos completos de estudos enquanto que na populaccedilatildeo de cor

preta e parda esse percentual ultrapassou os 3039 Outros dados revelam essa

desigualdade

em relaccedilatildeo a adequaccedilatildeo seacuterie-idade considerando os jovens de 18 a 24 anos verificou-se que 11 dos de cor branca e 27 dos de cor preta e parda ainda frequumlentavam o ensino fundamental enquanto 35 dos brancos e 51 dos pretos e pardos estavam no ensino meacutedio Nessa mesma faixa etaacuteria 47 dos estudantes de cor branca estavam no ensino superior um proporccedilatildeo quase trecircs vezes superior aacute dos estudantes de cor preta e parda(IBGE p10 2006)

Os nuacutemeros socializados pelo IBGE ratificam a necessidade de poliacuteticas

afirmativas para a populaccedilatildeo afro do Brasil tais como o proacuteprio sistema de cotas jaacute

implementado em 18 instituiccedilotildees de ensino superior mecanismo que contribui para o

arrefecimento dessas desigualdades tatildeo visiacuteveis e gritantes na realidade brasileira

Importante registrar que a ENESSO tem uma postura poliacutetica favoraacutevel ao sistema de

cotas tal como consta nas deliberaccedilotildees aprovadas no decorrer do periacuteodo aqui

investigado as quais seratildeo analisadas no proacuteximo capiacutetulo

Outra medida situada no campo de mudanccedilas do ensino superior consiste

a aprovaccedilatildeo por parte do MEC da abertura sem controle de cursos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia com o objetivo primordial de elevar o nuacutemero de estudantes no ensino

superior todavia secundarizando a qualidade e o direito a educaccedilatildeo

O aceleramento da poliacutetica privatista mediante utilizaccedilatildeo do ensino a

distancia eacute garantido legalmente no artigo 80 da LDB o qual estabelece que esse

meio seja incentivado pelo poder puacuteblico em todos os niacuteveis educacionais

Posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nordm 2494 de 10 de fevereiro de 1998 e

pela portaria nordm 301 de 07 de abril do mesmo ano Entretanto foi com o Decreto nordm

5622 de 19 de dezembro de 2005 que a modalidade agrave distacircncia se expandiu de

modo exacerbado por todo o paiacutes

39 Esses dados foram socializados na Siacutentese dos Indicadores Sociais elaborado pelo IBGE em 2005 e disponibilizados no site da instituiccedilatildeo wwwibgegovbr

93

A expanso de cursos distncia no governo Lula estava prevista nas

propostas do grupo de trabalho interministerial ainda no ano de 2003 na qual a

equipe de trabalho discorre sobre a crise das universidades federais e a necessidade

de elevar o nmero de estudantes na educao superior Siqueira esclarece que a

elevao se daria a partir ldquodo aumento da carga horria dos professores em sala de

aula o aumento da relao aluno-professor e o uso da educao distnciardquo (2004

p63) Para Lima importante destacar

Desde o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso a educao a distncia tem sido utilizada com mais uma estratgia de privatizao das universidades pblicas ldquomaquiadasrdquo com o discurso da democratizao do acesso a esse nvel de ensino (LIMA 2004 p41)

Alm disso interessante frisar que o ensino distncia em sintonia com

as mudanas no mundo do trabalho principalmente com o desenvolvimento da esfera

tecnolgica informacional potencializa o processo de substituio de trabalho vivo por

morto visto que o mtodo virtual secundariza eou at mesmo dispensa o(a)

professor(a) na sala de aula ou seja contraditoriamente ao mesmo tempo em que

coloca mais profissionais no cenrio competitivo entre os quais professores(as)

contribui para a elevao de desemprego pois a prioridade no com o ensino mas

com a rentabilidade adquirida pela utilizao da modalidade distncia

Nesse sentido temos o discernimento e convico terico-poltica que a

expanso sem nenhum controle de cursos de graduao distncia constitui mais

uma medida governamental que possibilita em larga medida o aprofundamento sem

precedentes na histria do Brasil da mercantilizao da educao em especial do

nvel superior Esse processo se materializa a partir da venda direta do ensino nas

instituies privadas ou mediante a utilizao da modalidade nas instituies pblicas

com o objetivo central de atender as requisies mercantis

Conforme dados socializados pelo secretrio de Educao a Distncia

Carlos Bielschowsky em abril de 2009 existia no Brasil 109 instituies que ofertam

cursos de graduao distncia sendo que oito40 delas so responsveis pelo total

de 416320 alunos o correspondente a um percentual de 547 dos(as) estudantes

matriculados(as) nessa modalidade

40 As instituies so Universidade do Norte do Paran (Unopar) a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) o Centro Universitrio Leonardo da Vinci (Uniasselvi) de Santa Catarina e a Faculdade Educacional da Lapa (Fael) do Paran Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) do Rio Grande do Sul a Faculdade de Tecnologia e Cincias (FTC) da Bahia a Universidade Castelo Branco (UCB) do Rio de Janeiro e a Universidade Cidade de So Paulo (Unicid)

94

Ainda segundo informaes publicizados no site do MEC desde o inicio

de 2009 se processa uma superviso nessas instituies com o objetivo de garantir a

qualidade e os direitos dos(as) estudantes Os resultados parciais da fiscalizao

apontam irregularidades nos espaos de atendimento presencial aos discentes que se

expressam na ausncia de coordenadores(as) na falta de laboratrios de informtica

e de bibliotecas requisitos bsicos para oferta do ensino As constatao das

irregularidades resultar de inicio na desativao de 1337 plos vinculados A Unitins

e a Fael que associadas ao Sistema Eadcon detm 1494 plos de oferta de ensino a

distncia dos quais 1278 sero desativados conforme informao do MEC visto

que a Eadcon no est credenciada pelo Ministrio a oferecer cursos de graduao

nessa modalidade estando autorizada a atuar somente na oferta de especializao

Alm disso A Uniasselvi tambm ter 60 de seus 93 plos desativados entretanto

ela ldquopromove reestruturao em comum acordo com o MEC e vai reformular o

processo de avaliao alm de aprimorar a infra-estrutura dos plos

remanescentesrdquo(MEC 2009)

Diante dessa realidade observamos que a preocupao do MEC com a

qualidade do ensino oferecido pela modalidade distncia se verifica depois da

abertura desenfreada de cursos de graduao em todo o pas processo que teve

incentivo e aval do prprio ministrio

Outra medida pertencente a ldquocontra-reformardquo o Sistema Nacional de

Avaliao do Ensino Superior(SINAES) o qual constitudo de trs eixos avaliao

dos cursos das instituies e o Exame Nacional de Desempenho dos estudantes

(ENADE) Apesar de incorporar elementos importantes no processo avaliativo desde

a sua implantao o mesmo tem privilegiado especialmente o resultado do ENADE

Este pautado numa perspectiva punitiva e de ranqueamento assim os(as)

estudantes selecionados(as) para realizar a prova e que porventura no

comparecerem na data estabelecida so impedidos(as) de receber o diploma alm

disso a divulgao de notas obtidas pelos cursos levando-se em considerao

somente o ENADE acaba culpabilizando o segmento estudantil pela realidade da

universidade pblica na atualidade sem uma devida anlise econmica social

histrica poltica e cultural O ranqueamento construdo a partir da avaliao gera

uma classificao entre as instituies boa e de m qualidade que incide

diretamente na distribuio de verbas o curioso o fato daquelas cujos resultados

no so satisfatrios para os analistas serem penalizadas mediante reduo de

investimentos podendo at mesmo ser descredenciadas

Para Mello(2007) a avaliao pode ser consubstanciada em trs

perspectivas diferentes porm no excludentes so elas avaliao como instrumento

95

de praacutetica gerencial em que satildeo considerados prioritariamente metas a serem

alcanccediladas avaliaccedilatildeo como controle social cuja preocupaccedilatildeo se remete a elaboraccedilatildeo

de objetivos preservando-se a autonomia institucional e finalmente a avaliaccedilatildeo como

possibilidade de regeneraccedilatildeo de autonomia poliacutetica e acadecircmica na qual a auto-

avaliaccedilatildeo possa proporcionar a incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees de naturezas diversas

como projetos para instituiccedilatildeo estrateacutegias de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos Entretanto segundo apreensatildeo do autor eacute fundamentado na primeira

abordagem que as avaliaccedilotildees vecircm se concretizando nos espaccedilos acadecircmicos pois

[] as decisotildees de cunho eminentemente poliacutetico aparecem como uma questatildeo meramente gerencial que exige uma resposta imediata e inadiaacutevel do oacutergatildeo gestor Os problemas relativos ao ensino superior tanto com relaccedilatildeo agrave administraccedilatildeo quanto com relaccedilatildeo agraves questotildees de produccedilatildeo e veiculaccedilatildeo de conhecimento natildeo satildeo reconhecidos como determinaccedilotildees das formaccedilotildees sociais mas satildeo interpretados como decisotildees que tecircm que ser tomadas para resolver problemas e garantir a aplicaccedilatildeo dos recursos (MELLO 2007 p16)

A tendecircncia punitiva do ENADE se verifica na Lei nordm 10861 de 24 de

abril de 2004 que no seu inciso 5ordm do artigo 5ordm estabelece o exame como

componente curricular obrigatoacuterio para os cursos de graduaccedilatildeo O inciso 10ordm do

mesmo artigo explicita o reducionismo dessa avaliaccedilatildeo pois destaca a concessatildeo de

bolsas e outras formas de estiacutemulos a estudantes que obtiverem melhores

desempenhos Como analisar o rendimento acadecircmico de um(a) estudante

considerando somente o resultado da prova

O ANDES(1996) defende a realizaccedilatildeo de processos avaliativos que

englobem elementos internos e externos No primeiro caso requisita-se a

participaccedilatildeo democraacutetica de todos os segmentos acadecircmicos estudantes docentes e

teacutecnico-administrativos no segundo exige-se o envolvimento da comunidade na qual

a instituiccedilatildeo estaacute inserida com o intuito de a sociedade analisar e contribuir com o

desenvolvimento da funccedilatildeo social da instituiccedilatildeo

Aleacutem das accedilotildees jaacute assinaladas faz-se necessaacuterio evidenciarmos uma

das mais atuais que eacute o REUNI este vislumbra melhorar o rendimento dos atuais

recursos fiacutesicos e humanos das universidades federais sendo as principais metas

elevar a taxa de diplomaccedilatildeo dos cursos para 90 e aumentar para dezoito a relaccedilatildeo

aluno-professor

O preocupante nesta proposta como abordam Martinez e Tonegutti

(2007) eacute a natildeo contextualizaccedilatildeo das metas citadas com a dinacircmica vivenciada nas

instituiccedilotildees de ensino superior federais Nesses termos algumas das problemaacuteticas

96

salientadas pelos autores so como elevar o nvel de diplomao sem considerar a

situao econmica e social dos(as) estudantes brasileiros(as) como atingir a meta

estabelecida no tocante a relao professor-aluno em uma conjuntura de sobrecarga

vivida no cotidiano pela grande maioria dos(as) docentes Outras questes

significativas para serem refletidas so referentes prpria flexibilidade41 dos cursos

e alm disso por se tratar de um plano de governo como garantir a liberao de

verbas no decorrer da futura gesto presidencial pois as linhas traadas pelo

REUNI apresentam como horizonte o ano de 2012 Como observamos muitos so

os limites para a universidade pblica trazidas por mais uma ao integrante da

contra-reforma do ensino superior brasileiro

Para Boschetti(2008) o REUNI foi institudo nas universidades visando

atender as requisies do FMI que estabeleceu a meta de inserir 30 da populao

brasileira na faixa etria de 18-24 anos nesse nvel da educao Diante do exposto

fica evidenciado o direcionamento do Governo Lula em operacionalizar as

recomendaes daqueles que defendem os interesses do capital e desconsideram a

qualidade na formao profissional em prol da lucratividade

A anlise do ANDES sobre o REUNI ratifica o posicionamento de situar

essa ao como mais uma medida que expressa a perspectiva do atual governo de

ampliar o acesso na educao superior sem a devida elevao de recursos para

manuteno dessa expanso42 Desse modo as repercusses so no sentido de

ldquoprecarizao do trabalho docente e a transformao paulatina de universidade em

instituies com um ensino cada vez mais superficialrdquo (ANDES 2007 p08)

Diante dos primeiros passos no processo de institucionalizao do REUNI

nas Universidades Federais notria a aberturas de concursos sobretudo para

docentes e dessa maneira no podemos desconsiderar a importncia dessa ao

num contexto de intensa sobrecarga vivenciada por professores(as) nas instituies

pblicas sendo pois resultante de lutas do movimento da educao no Brasil e

especificamente no nvel superior dos segmentos universitrios organizados

Entretanto somente a abertura de concursos no suficiente para termos uma anlise

mais consistente do programa pois no nos permite apreendermos se os cursos

abertos nos mbito do REUNI garantem uma formao profissional com qualidade e

41 Flexibilidade no sentido que o plano se fundamenta nos processos flexibilizados de redefinio do ensino superior implantado nos EUA e tambm influenciado pelo modelo de bacharelado de Bolonha ldquoeste em virtude das necessidades decorrentes da comunidade europia o que se objetiva compatibilizar a formao profissional entre os vrios pases pela adequao do desenho curricular que varia bastante de pas para pasrdquo Cf Martinez e Tonegutti (2007)42O Plano Nacional de Educao estabelece a destinao de 10 do PIB para educao contudo o total empregado corresponde ao percentual de apenas 35Cf (ANDES 2007)

97

no caso do Servio Social tendo como pressuposto as Diretrizes Curriculares

elaboradas pelo ABEPSS

Durante a provao do REUNI pelos Conselhos Universitrios das

universidades federais no final de 2007 tivemos segundo dados da CONLUTE pelo

menos quinze reitorias ocupadas pelo ME porm as ocupaes e reivindicaes no

foram suficientes pois o Plano de Reestruturao foi aprovado em plenitude pelas

IFES Embora no tendo sucesso quanto ao objetivo de impedir a implementao de

tal proposta podemos afirmar que as atividades executadas pelo segmento estudantil

evidenciam o fortalecimento das mobilizaes do ME em nvel nacional

Em abril de 2009 socializada mais uma proposta do MEC para o ensino

superior que prev a adoo do Exame Nacional do Ensino Mdio(ENEM) como

principal mecanismo de acesso as instituies federais Documento elaborado e

disponibilizado pelo MEC esclarece que os resultados do ENEM sero utilizados de

duas maneiras

A primeira mediante simples informao pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira-Inep IES dos boletins de resultados dos candidatos que tiverem realizado o novo ENEM adotado como prova de seleo com base em Edital prprio publicado pela IES facultando-se sua utilizao como fase nica ou primeira fase do processo seletivo A segunda forma de utilizao do novo ENEM consiste na adeso ao Sistema de Seleo Unificada sistema informatizado do Ministrio da Educao apto a processar oregistro das vagas especificamente oferecidas pelas IES (ldquovagas ENEMrdquo) em confronto com as listas ordenadas de candidatos em ordem decrescente por curso segundo a pontuao no Exame O pressuposto da adeso ao Sistema de Seleo Unificado autilizao do novo ENEM como fase nica sem prejuzo de eventual realizao de exame de aptido para reas especficas (desde que esse se d em tempo compatvel com da primeira e segunda chamadas do Sistema de Seleo Unificado) (MEC 2009)

O fim do vestibular sempre esteve presente como bandeira de luta do

movimento por educao pblica no Brasil incluindo aqui o segmento estudantil

organizado O propsito de utilizao do ENEM como mecanismo de entrada nas

universidades no garante a efetiva democratizao do ensino superior visto que o

acesso continuar sendo determinando por outro processo seletivo que no mais o

vestibular Por se tratar de uma medida ainda incipiente no nos permite a realizao

de uma anlise mais consiste desse processo entretanto analisando esta medida no

campo da contradio temos a concepo que ela no resultar em ganhos

expressivos para os segmentos pauperizados se no for acompanhada de uma efetiva

98

ampliaccedilatildeo de vagas nas universidades federais e de melhorias consideraacuteveis nos

niacuteveis fundamental e meacutedio de ensino

4-3 REMANDO CONTRA MAREacute a formaccedilatildeo profissional do(a) assistente social no

acircmbito da contra-reforma do ensino superior

A contra-reforma do ensino superior orientada pelas concepccedilotildees

neoliberais efetivada na era FHC e com continuidade nas gestotildees de Lula traz

implicaccedilotildees substanciais para materializaccedilatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional

dos(as) assistentes sociais Projeto resultante da reformulaccedilatildeo curricular no iniacutecio da

deacutecada de 1990 em que a qualidade da formaccedilatildeo profissional consistia ao mesmo

tempo em objetivo e desafio para categoria

Assim sendo de 1994 a 1996 a entatildeo Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino

de Serviccedilo Social(ABESS) promoveu conjuntamente com o Centro de Documentaccedilatildeo

e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social(CEDEPSS) e com expressivo apoio

do CFESS e da ENESSO em torno de duzentas oficinas locais em unidade filiadas a

ABESS aleacutem de vinte e cinco oficinas regionais e duas nacionais

Essa ampla discussatildeo foi imprescindiacutevel para construccedilatildeo da Proposta

Nacional de Diretrizes Curriculares para o curso de Serviccedilo Social cuja aprovaccedilatildeo

ocorreu em assembleacuteia geral durante a II Oficina Nacional de Formaccedilatildeo Profissional

nos dias 07 e 08 de novembro de 1996 na cidade do Rio de Janeiro

Os pressupostos que nortearam a perspectiva de formaccedilatildeo profissional

presentes na referida proposta se expressam no entendimento de que o Serviccedilo

Social consiste em uma profissatildeo que se particulariza no acircmbito de intervenccedilatildeo da

questatildeo social esta portanto se configura como fundamento basilar de sua existecircncia

na sociabilidade regida pelo capital e que na deacutecada de 1990 a relaccedilatildeo capital-

trabalho apresenta uma tendecircncia de agravamento no contexto brasileiro diante das

particularidades da reestruturaccedilatildeo produtiva no contexto nacional fato que atinge a

profissatildeo nos acircmbitos da formaccedilatildeo e da intervenccedilatildeo dessa maneira tem-se a

apreensatildeo de que o Serviccedilo Social como parte integrante de um processo trabalho eacute

determinado estrutural e conjunturalmente pelas configuraccedilotildees da questatildeo social e

das consequumlentes formas de seu enfretamento

99

Portanto a institucionalizaccedilatildeo do Serviccedilo Social como profissatildeo constitui

um desdobramento da intensificaccedilatildeo das contradiccedilotildees inerentes ao modelo societaacuterio

capitalista de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Nesses termos as Diretrizes Curriculares enfatizam que os(as) assistentes

sociais tecircm nas diversas expressotildees da questatildeo social a mateacuteria essencial que

proporciona a inserccedilatildeo de tais profissionais em processos de trabalho

Temos a compreensatildeo de ser a questatildeo social fruto das desigualdades

geradas pelo antagonismo entre capital x trabalho Nessa sociabilidade auto-rotulada

de livre os capitalistas se apresentam no mercado competitivo como proprietaacuterios

dos meios-de-produccedilatildeo e os trabalhadores donos somente da sua forccedila de trabalho

Portanto relaccedilotildees opostas e desiguais com repercussotildees nefastas para a humanidade

e que se expressam na opressatildeo e domiacutenio de classes Consubstanciado no

pensamento marxiano Tonet ratifica

O capital cujas personas satildeo os burgueses eacute uma relaccedilatildeo essencialmente contraditoacuteria A apropriaccedilatildeo da riqueza socialmente produzida por um nuacutemero de pessoas que deste modo hegemonizam em seu benefiacutecio todo o processo social eacute inseparaacutevel de sua existecircncia (TONET 2004 p 14)

Eacute no seio desse profundo antagonismo que o (a) assistente social eacute

requisitado a trabalhar e nesse sentido os projetos de formaccedilatildeo profissional

consistem em instrumentos importantes na constituiccedilatildeo de um perfil profissional que

pode vislumbrar uma atuaccedilatildeo para manutenccedilatildeo dos privileacutegios sustentadores do

capital como antagonicamente podem ser construiacutedos ratificando um processo

formativo criacutetico no intuito de formar profissionais identificados com o

desenvolvimento de accedilotildees direcionadas para negaccedilatildeo e contestaccedilatildeo da ordem

estabelecida sendo esta uacuteltima a perspectiva ratificada nas Diretrizes Curriculares

para o curso de Serviccedilo Social em vigecircncia desde 1996 Como retrata Iamamoto

(2006) o traccedilo poliacutetico do trabalho do(a) assistente social reside no fato de que ele se

materializa numa sociabilidade na qual se encontram

Presentes interesses sociais distintos e antagocircnicos que se refratam no terreno institucional definindo forccedilas sociopoliacuteticas em luta para construir hegemonias definir consensos de classe e estabelecer formas de controle social a elas vinculadas (IAMAMOTO 2006 p 98)

Certamente o projeto de formaccedilatildeo profissional forjado pela categoria nas

uacuteltimas deacutecadas hegemonizado em torno da intenccedilatildeo de ruptura e que se expressa

100

por exemplo no Coacutedigo de Eacutetica de 1993 na Lei 86621993 que trata da

Regulamentaccedilatildeo da profissatildeo e as Diretrizes Curriculares de 1996 encontra-se em

sintonia com um processo formativo de qualidade e comprometido com a luta por

direitos bem como com a compreensatildeo de serem os usuaacuterios dos serviccedilos sociais

sujeitos construtores da histoacuteria Portanto uma perspectiva de formaccedilatildeo profissional

criacutetica e que requisita uma apreensatildeo da realidade com suas multifacetadas

contradiccedilotildees no intuito de materializar accedilotildees nos marcos do projeto eacutetico-poliacutetico

profissional hoje hegemocircnico no acircmbito do serviccedilo Social brasileiro

Nesse sentido a preocupaccedilatildeo com a qualidade na formaccedilatildeo profissional

se manifesta integralmente em toda proposta e de forma preponderante nos

princiacutepios que regem as Diretrizes Curriculares que satildeo a flexibilidade de

organizaccedilatildeo dos curriacuteculos plenos o que por sua vez favorece a apreensatildeo de

problemaacuteticas locais mediante a oferta de oficinas seminaacuterios temaacuteticos e atividades

complementares a tendecircncia de assegurar rigoroso trata teoacuterico histoacuterico e

metodoloacutegico da realidade bem como do Serviccedilo Social inserido nela

potencializando dessa forma uma intervenccedilatildeo qualificada dos(as) profissionais nos

processos de trabalho adoccedilatildeo de uma teoria social criacutetica com o intuito de

proporcionar a apreensatildeo dos fenocircmenos em sua totalidade histoacuterica a busca de

superaccedilatildeo da fragmentaccedilatildeo de conteuacutedos na organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo curricular o

estabelecimento das dimensotildees investigativa e interventiva o que corrobora para o

fortalecimento da relaccedilatildeo teoria e realidade defesa de qualidade para cursos diurnos

e noturnos tendecircncia de proporcionar interdisciplinaridade nas diversos acircmbito que

compotildeem a formaccedilatildeo profissional indissociabilidade entre ensino pesquisa e

extensatildeo o exerciacutecio do pluralismo que consiste em dimensatildeo inerente ao acircmbito

acadecircmico estabelecimento da eacutetica como principio fundamental e que perpassa toda

a formaccedilatildeo profissional a necessaacuteria indissociabilidade entre supervisatildeo de campo e

acadecircmica durante a realizaccedilatildeo do estaacutegio como forma de contribuir com a qualidade

no processo de aprendizagem dos sujeitos em formaccedilatildeo

Discorrendo sobre a formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais Iamamoto

(2006) enfatiza a necessidade na contemporaneidade de fortalecimento articulado

das esferas teoacuterico-metodoloacutegico eacutetico-poliacutetico e teacutecnico-operativo como

indispensaacuteveis para uma formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional criacutetica e capaz de apreender

o movimento contraditoacuterio da realidade capitalista compreendendo os limites e

possibilidades nela existentes no intento de que os(as) profissionais atuem em

conformidade com a legislaccedilatildeo profissional vigente o que significa o cumprimento e

fortalecimento do estabelecido na lei 866219993 e no Coacutedigo de Eacutetica tambeacutem de

1993 A ressalva realizada pela autora ratifica o perfil de assistentes sociais projetado

101

no decorrer da elaborao aprovao e implantao das Diretrizes Curriculares cuja

dimenso destaca a necessidade de

Um profissional que atua nas expresses da questo social formulando e implementando propostas para o seu enfretamento por meios de polticas sociais pblicas empresariais de organizaes da sociedade civil e movimentos sociais Profissional dotado de uma formao intelectual e cultural generalista crtica competente em sua rea de desempenho com capacidade de insero criativa e propositiva no conjunto das relaes e no mercado de trabalho Profissional comprometido com os valores norteadores do Cdigo de tica do Assistente Social (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL 1999)

Fundado nessa proposio a lgica curricular aprovada pela categoria em

1996 apresenta trs ncleos de fundamentao que se sustentam na perspectiva de

articulao de conhecimentos que possibilite a construo de um projeto assentado

na complexidade e dinamicidade do real e comprometido com a qualidade na

formao dos(as) assistente sociais No ncleo de fundamentos terico-metodolgicos

da vida social a principal preocupao direcionada para a compreenso do ser no

mbito da sociabilidade capitalista sendo o trabalho aprendido como o ato fundante

no processo de produo e reproduo social J o ncleo de fundamentos da

formao scio-histrica da sociedade brasileira tem o objetivo essencial de

aprofundar os conhecimentos relacionados formao brasileira considerando suas

determinaes econmicas sociais polticas e culturais o que implica a necessidade

de anlise da relao ldquoestadosociedade os projetos polticos em debate as polticas

sociais as classes sociais e suas representaes culturais os movimentos

organizados da sociedade civil entre outros aspectosrdquo (IAMAMOTO 2006 p 72) O

ncleo de fundamentos do trabalho profissional tem a proposio de discutir os

fundamentos do Servio Social em que este entendido como uma profisso

constituda no mago da diviso social e tcnica do trabalho Importante registrar que

os trs ncleos no foram elaborados de maneira hierrquica mas partindo da

concepo que se trata de conhecimentos articulados e necessrios a construo de

um perfil profissional crtico de postura interventiva e investigativa43

43Nesses termos as matrias consideradas bsicas para o curso de Servio Social fundamentadas nos ncleos da vida social da formao da sociedade brasileira e do trabalho profissional tendo o discernimento que essas matrias requisitam a abordagem de contedos que proporcionem uma devida capacitao terico-metodolgica e tico-poltica objetivando apreenso e interveno crtica na realidadeso Sociologia Cincia poltica Economia Poltica Psicologia Antropologia Formao scio-histrico do Brasil Direito Poltica Social Acumulao Capitalista e Desigualdades Sociais Fundamentos Histricos e Terico-metodolgicos do Servio Social Processo de Trabalho do Servio Social Administrao e Planejamento em Servio Social Pesquisa em Servio Social e tica Profissional Alm das atividades consideradas indispensveis Estgio Supervisionado e o Trabalho de Concluso de

102

Em 2006 Aps dez anos de aprovao a ABEPSS realizou pesquisa de

cunho avaliativo sobre a materializao das Diretrizes Curriculares esta contou com a

participao de estudantes de Servio Social de todo pas e de diferentes unidades de

ensino a anlise processada pela entidade evidencia o acelerado processo de

privatizao da educao e que por conseguinte atinge os espaos de formao

profissional do(a) assistente social

Nesse sentido o debate sobre a contra-reforma do ensino superior

relevante para o Servio Social por se tratar do lcus privilegiado da formao

profissional e que vem sendo duramente atacado pela verso neoliberal do capital

Nesse sentido segundo as contribuies de PINTO (2007 p16)

A formao decorrente da contra-reforma da educao no nos serve por ser uma formao que nos faz questionar a capacidade do aluno adquirir as habilidades necessrias para atender na ponta os usurios de uma instituio Os componentes ticos necessrios diante da agudizao da questo social e o desenvolvimento de habilidades para investigar a realidade social e conhecer a populao atendida para melhor traar as linhas e projetos de interveno alm da capacidade de reconhecer o trabalho do assistente social como parte da engrenagem da sociedade capitalista e no como uma prtica que ganha sentido por si mesma na imediaticidade de sua ao sero forte e profundamente inviabilizados pela contra-reforma da educao de interesse do capital

As preocupaes levantadas pela autora so significativas e se

consubstanciam na defesa de um perfil de formao profissional baseado nos

princpios defendidos pela ABEPSS e j ressaltados anteriormente s para

exemplificar destacamos o ldquoestabelecimento das dimenses investigativa e

interpretativa como princpios formativos e condio central da formao profissional e

da relao teoria e realidade indissociabilidade das dimenses de ensino pesquisa e

extensordquo (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL

1999)

Destarte a concretizao de tais princpios em instituies de ensino

presenciais j se constitui uma realidade problemtica decorrente das condies de

trabalho e aprendizagem que so disponibilizadas e em se tratando de graduao

distncia se tornam ainda mais problemticas pela prpria lgica de funcionalidade e

padres organizativos de tal modalidade o que coloca em xeque o projeto de

Curso Entretanto todos os tpicos referentes a todas as matrias elencadas anteriormente foram simplesmente suprimidos pela Comisso Nacional de Educao(CNE)

103

formaccedilatildeo construiacutedo nas ultimas deacutecadas pelos (as) assistentes sociais

brasileiros(as)

Desse modo a proliferaccedilatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social agrave

distacircncia jaacute eacute uma realidade em todo o paiacutes Nessas circunstacircncias as entidades

representativas da profissatildeo (ABEPSS CFESS E ENESSO) de maneira articulada

tecircm elaborado e executado estrateacutegias diante dessa situaccedilatildeo no intuito de defender o

atual projeto de formaccedilatildeo profissional construiacutedo no decorrer das uacuteltimas deacutecadas de

forma coletiva pela categoria e que se baseia numa perspectiva criacutetica de anaacutelise e

atuaccedilatildeo social Para Braz(2007) essa massificaccedilatildeo no acesso ao ensino superior da

forma como tem se materializado repercute em termos quantitativo e qualitativo na

formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) visto que em aproximadamente

dez anos o nuacutemero de profissionais ativos dobraraacute44 aleacutem da duvidosa qualidade na

formaccedilatildeo a distacircncia dessa maneira rebatimentos negativos pode se verificar

No acircmbito do exerciacutecio profissional que quando desqualificado vulnerabiliza a imagem da profissatildeo no sentido de sua desvalorizaccedilatildeo na sociedade aleacutem de pressionar para baixo as jaacute desfavoraacuteveis condiccedilotildees de trabalho [ainda] uma formaccedilatildeo profissional pouco qualificada tende a dificultar a formaccedilatildeo de novos quadros teoacutericos e poliacuteticos para o projeto profissional(BRAZ 2007 09)

Preocupaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees da difusatildeo de graduaccedilatildeo agrave distacircncia

para o projeto profissional do Serviccedilo Social tem se tornando imprescindiacutevel e

recorrente nos espaccedilos de discussatildeo da categoria que se expressa tanto no acircmbito

dos foacuteruns profissionais e estudantis como no campo da produccedilatildeo teoacuterica

Essa tendecircncia se verifica em larga medida pelo fato de que a poliacutetica

educacional na recente conjuntura nacional tem amplamente se adequado ao projeto

neoliberal privatizante como se manifesta na proliferaccedilatildeo da graduaccedilatildeo agrave distacircncia

Esta coloca em risco a formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do

Serviccedilo Social que conforme elucidativa explanaccedilatildeo de Boschetti natildeo oferece uma

formaccedilatildeo caracterizada pela

Indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo processo formativo baacutesico com perspectiva de totalidade e apreensatildeo criacutetica da realidade ensino do trabalho [] em vaacuterios momentos do processo formativo em vaacuterias disciplinas realizaccedilatildeo de estaacutegio presencial com articulaccedilatildeo estreita entre o acompanhamento do supervisor acadecircmico e de campo realizaccedilatildeo de pesquisa e investigaccedilatildeo como princiacutepio formativo que deve perpassa todo o curriacuteculo acesso aacute bibliografia de qualidade natildeo apenas a textos

44 Baseado em dados do CFESS o autor afirma que existem atualmente no Brasil um total de 74500 profissionais ativos

104

baacutesicos de sala de aula mas ao universo de possibilidades de leitura e conhecimento que se descortina no acesso as bibliotecas((2008 p09)

O entendimento das preocupaccedilotildees de Braz e Boschetti se torna

transparente quando se apreende as contradiccedilotildees de classe que fundam e

perpassam a atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social na sociabilidade capitalista

Boschetti (2007 2008) como assinalado anteriormente ao formular

reflexotildees sobre os rebatimentos da contra-reforma para a formaccedilatildeo e exerciacutecio

profissionais sinaliza preocupaccedilotildees relacionadas ao ensino agrave distacircncia tais como

ausecircncia de uma poliacutetica de estaacutegio sintonizada com as Diretrizes Curriculares

problemas de infra-estrutura falta de encontros presencias entre outros elementos

levantados pela autora e que satildeo fundamentais para uma formaccedilatildeo de qualidade

A recente pesquisa da ABEPSS indica que as principais dificuldades na

implementaccedilatildeo das Diretrizes por parte das unidades de ensino satildeo as de ordem

teoacuterico-metodologico que se remetem a transversalidade dos conteuacutedos o domiacutenio do

conteuacutedo do ementaacuterio e entendimento da nova loacutegica curricular A partir dos dados

obtidos a entidade indica desafios enfrentados na materializaccedilatildeo das diretrizes quais

sejam

garantia do tratamento transversal da questatildeo social nas disciplinas de FHTMSS garantia de unidade entre histoacuteria teoria e meacutetodo na grade curricular domiacutenio de categorias fundamentais das diferentes matrizes teoacutericas que subsidiam a praacutetica profissional apreensatildeo de categorias pertencentes ao quadro referencial de Marx e tradiccedilatildeo marxista aprofundamento do conhecimento histoacuterico do contexto social econocircmico e poliacutetico brasileiro por parte de docentes e discentes garantia da transversalidade de processos investigativos e interventivos na formaccedilatildeo profissional articulados aos componentes curriculares compreensatildeo histoacuterica da profissatildeo respaldada em uma concepccedilatildeo criacutetico-dialeacutetica (ABEPSS 2008 188)

Outra dado que nos chama a atenccedilatildeo eacute o fato da sobrecarga vivenciada

pelos docentes de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas ter sido apontada como uma real

dificuldade na implantaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares situaccedilatildeo que revela a tendecircncia

de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho no acircmbito universitaacuterio A insuficiecircncia de

recursos tambeacutem eacute indicada como uma barreira enfrentada no cotidiano das

instituiccedilotildees

Portanto eacute relevante (re)afirmar que a contra-reforma nos moldes como

vem sendo materializado no paiacutes contribui incisivamente para enfraquecer a

proposta de processo formativo comprometido com a construccedilatildeo de um perfil

105

profissional interpretativo crtico e investigativo perspectiva defendida e expressa nas

Diretrizes Curriculares de 1996

importante esclarecer que em 2002 ainda no governo FHC

modificaes legais foram aprovadas nas Diretrizes Curriculares para o curso de

Servio Social que retiram ganhos da proposta original elaborada pela ABEPSS Foi

instituda como uma das competncias e habilidades gerais para o(a) assistente

social a utilizao de recursos da informtica no que a utilizao de recursos

tecnolgicos no seja importante para o exerccio profissional mas a tendncia

verificada com esta medida de direcionar a formao para o vis tecnicista em

detrimento da capacitao terico-metodolgica e tico-poltica visto que se

processou o no estabelecimento do texto legitimado pela categoria uma vez que o

contedo original no estabelecia a necessidade da utilizao de recursos da

informtica preconizava o compromisso do(a) assistente social com os valores e

princpios norteadores do cdigo de tica outras regresses so abordadas por

Iamamoto(2002 p22)

Assim no projeto original encaminhado ao CNE que a formao profissional deve viabilizar uma capacitao terico-metodologico e tico-poltica como requisito fundamental para o exerccio de atividades tcnico-operativas com vistas apreenso crtica dos processos sociais na sua totalidade anlise do movimento histrico da realidade brasileira apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no pas Tais objetivos supra destacados foram eliminados do texto legal E os tpicos de estudos foram totalmente banidos do texto oficial para todas as especialidades Eles consubstanciavam o detalhamento dos contedos curriculares anunciados nos trs ncleos de fundamentao[] esse corte significa na prtica a impossibilidade de se garantir um contedo bsico comum formao profissional no pas mais alm dos trs ncleos organizadores da estrutura curricular O contedo da formao passa a ser submetido livre iniciativa das unidades de ensino pblicas e privadas desde que preservados os referidos ncleos

Para a ABEPSS(2008) as modificaes realizadas pelo CNE ldquotendem a

reducionismos terico-metodolgicos e desvios tico-polticos da formao

Profissionalrdquo(p05) O que por sua vez pode implicar na construo de cursos

destoantes da direo social defendida pelas diretrizes de 1996

Pereira(2007) ao discorrer sobre a mercantilizao do ensino superior na

era FHC evidencia dados importantes que expressam a crescente ofensiva do capital

nesse setor Especificamente em relao ao Servio Social a autora destaca que de

1930 a 1994 existiam 74 cursos sendo 47 privados e 27 pblicos evidenciado que

mesmo numa conjuntura no neoliberal a formao de assistentes sociais se dava

106

predominantemente em instituiccedilotildees privadas setor que abrangia aproximadamente

64 dos cursos no Brasil relaccedilatildeo expressa no graacutefico 4

Graacutefico 4

Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-1994)

Fonte Pereira (2007)

Durante as duas gestotildees de FHC(1995- 2002) foram criados 49 novos

cursos de Serviccedilo Social destes somente cinco em instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas o que demonstra o compromisso desse governo com o setor privado

conforme demonstraccedilatildeo abaixo

O relatoacuterio final da pesquisa da ABEPSS sugere que no periacuteodo de 1980

e 1994 houve uma reduccedilatildeo na criaccedilatildeo de cursos de Serviccedilo Social no paiacutes realidade

alterada na segunda metade da deacutecada de 1990 na qual se verificou uma expansatildeo

significativa de cursos inseridos sobretudo na iniciativa privada

107

Graacutefico 5 Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1995-2002)

Fonte Pereira(2007)

Os dados do graacutefico 5 indicam uma forte tendecircncia de crescimento de

cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1995-2002 uma expansatildeo sobretudo da

esfera privada responsaacutevel por praticamente 90 dos cursos criados Diante do

exposto se sustenta a concepccedilatildeo que FHC disponibilizou amplamente o ensino

superior para rentabilidade do capital No quadro1 temos um demonstrativo da

distribuiccedilatildeo dos cursos em relaccedilatildeo agrave natureza das instituiccedilotildees antes e durante a era

FHC na presidecircncia da repuacuteblica

A reduzida quantidade de cursos em instituiccedilotildees puacuteblicas eacute preocupante

tanto pelo niacutetido processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira como pela

questionada qualidade do ensino ofertado na maioria das instituiccedilotildees privadas Como

abordado anteriormente a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo formatada pela categoria subjaz

um processo qualificado com vistas ao exerciacutecio profissional sintonizado com o

desafiante projeto profissional que nos remete ao desvendamento das contradiccedilotildees

dessa sociabilidade o que por sua vez potencializa a apreensatildeo dos limites e

possibilidade existente no cotidiano de atuaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais

108

Quadro 1Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-2002)

Fonte Pereira (2007)

Partindo de dados apresentados por Pereira(2007) temos a conclusatildeo de

que ateacute o iniacutecio do governo Lula existiam no paiacutes 123 cursos de Serviccedilo Social num

total de 91 em instituiccedilotildees privadas e 32 cursos puacuteblicos Pois bem conforme os

dados do INEP em agosto de 2008 existem no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social

Daiacute conclui-se que soacute em parte desse periacuteodo de Lula na presidecircncia da repuacuteblica

foram criados 179 novos cursos e desses temos o alarmante nuacutemero de 169 na

iniciativa privada e a reduzida quantidade de 19 cursos na esfera puacuteblica

Demonstramos essa relaccedilatildeo nos graacuteficos 6

Graacutefico 6

Criaccedilatildeo de Cursos de Serviccedilo Social (2003 - agosto de 2008)

FonteINEP(2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

Total 91 74 32 26 123

109

Daiacute temos o percentual de 6375 de cursos privados e de 3725

puacuteblicos embora seja um percentual menor que o observado na era FHC o graacutefico 6

propotildee que eacute real a tendecircncia de continuidade da poliacutetica educacional do governo

Lula em relaccedilatildeo ao seu antecessor Isso significa a permanecircncia majoritaacuteria de cursos

de Serviccedilo Social na esfera privada No graacutefico 2 disponibilizado no item anterior

desse trabalho destacamos que a maioria das intuiccedilotildees privadas natildeo satildeo

universidades o que nos remete a reflexatildeo que parte significativa da formaccedilatildeo de

assistentes sociais natildeo se processa em universidade portanto em ambientes

caracterizados pela dissociaccedilatildeo entre ensino pesquisa e extensatildeo contrariando o

projeto de formaccedilatildeo pautado pela ABEPSS e defendido pelo CFESS e a ENESSO

Quadro 2

Cursos de Serviccedilo Social (1930-2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

2003-82008 160 6375 19 3725 179

Total 251 8394 51 1606 302

FONTE Pereira (2007) INEP(2008)

O quadro 2 apresenta uma siacutentese dos dados trabalhados ateacute o momento

e a partir dele constatamos que nos trecircs periacuteodos destacados eacute predominante a

existecircncia de cursos de Serviccedilo Social na esfera privada Levando-nos a refletir que

mesmo diante dessa realidade a categoria com ampla influencia dos profissionais que

atuam na academia foi protagonista na formulaccedilatildeo de um projeto profissional

indubitavelmente defensor de direitos estes que soacute podem ser materializados na

esfera puacuteblica caso contraacuterio perdem esse caraacuteter

110

Os dados expressam certamente o aumento consideraacutevel do ensino

superior no paiacutes entretanto natildeo se trata de democratizaccedilatildeo desse niacutevel educacional

antes se constitui um processo de massificaccedilatildeo voltado ao atendimento das

exigecircncias dos organismos que representam os interesses do capital Portanto a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute com a qualidade nem tampouco com a democratizaccedilatildeo do

conhecimento produzido como eacute possiacutevel de se observar a partir do crescimento

consideraacutevel da iniciativa privada Outra faceta revelada pelos dados eacute a tendecircncia

de continuidade por parte do governo Lula da poliacutetica educacional efetivada durante as

gestotildees de FHC de incentivos a sua mercantilizaccedilatildeo transfigurando direito em

mercadoria rentaacutevel Expressa sem duacutevidas o acelerado processo de criaccedilatildeo de

cursos de Serviccedilo Social no Brasil nos uacuteltimos anos e especialmente na esfera

privada o que certamente constitui implicaccedilotildees dos incentivos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia visto que parte significativa desta modalidade eacute ofertada no acircmbito privado

Do nosso ponto de vista reflexotildees que tenham como horizonte a atuaccedilatildeo

do ME e em particular o MESS devem considerar as profundas modificaccedilotildees em

processo de materializaccedilatildeo nos espaccedilos de formaccedilatildeo profissional entretanto natildeo de

maneira endoacutegena pois o entendimento dessas alteraccedilotildees soacute pode ser apreendido

situando-as no movimento mais abrangente da sociabilidade capitalista

111

ldquoA revoluo acontece atravs do homem mas o homem tem de forjar dia a dia o seu esprito revolucionriordquo (Che Guevara)

ldquoAlgo s impossvel at que algum duvide e acabe provando ao

contrriordquo (Albert Einstein)

A argila fundamental de nossa obra a juventude Nela depositamos todas as nossas esperanas e a preparamos para receber idias para moldar nosso

futuro (Che Guevara)

112

V UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

Analisamos o perfil dos(as) militantes que estiveram na direo nacional da

ENESSO no perodo de 2003-2008 com o objetivo de construmos mediaes

relacionadas dimenso geracional o que implica consideraes relativas a aspectos

sociais polticos econmicos e culturais desses(as) sujeitos45 Para elaborao do

perfil utilizamos informaes concedidas por 22 coordenadores(as) nacionais que

responderam o questionrio durante a produo de dados para esta pesquisa

Conforme o quadro 3 expressivo a presena de pessoas na faixa de 26

a 30 anos na direo da entidade com o percentual de 41 contudo os dados

sugerem que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO se situam na faixa

etria de 21 a 25 anos correspondendo a 50 Os nmeros ratificam que o MESS

consiste num movimento social composto sobretudo pela juventude brasileira que

enfrenta um contexto radicalizado por crises e instabilidades que geram incertezas no

presente e futuro Um cenrio no qual a concluso do curso universitrio no consiste

em garantia de entrada dos(as) jovens no mercado de trabalho com condies dignas

para desempenhar as atividades profissionais Vivenciamos um perodo de

radicalizao da crise do capital em que o desemprego se configura como uma de

suas manifestaes mais drstica e perversa para aqueles(as) que necessitam vender

sua fora de trabalho para sobreviver Assim deixado a margem do mercado formal

milhes de trabalhadores(as) antes empregados(as) o que por sua vez ocasiona

incertezas e desespero nas pessoas em processo de formao profissional e que

objetivam a sua insero na esfera formal do mercado de trabalho Segundo dados

socializados por Iamamoto no Brasil

O ndice dos empregados sem carteira assinada passa de 211 em 1995 para 242 do total de ocupados em 2003 somando os empregados sem carteira assinada e os trabalhadores por conta prpria a participao desses segmentos no total da ocupao eleva-se para 455 no mesmo ano perfazendo o contingente da populao economicamente ativa que se encontra na informalidade(2008 p37)

45 Como j ressaltado na introduo desse trabalho os dados concernentes ao perfil dos(as) dirigentes foram obtidos mediante o envio de questionrio para os sujeitos inseridos(as) no universo da pesquisa

113

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Faixa etaacuteria Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

15 a 20 1 4521 a 25 11 5026 a 30 9 41

Acima de 30 1 45Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Ramos(1996) na pesquisa efetivada sobre o MESS construiu o perfil

dos(as) dirigentes da SESSUNEENESSO nos anos de 1988 a 1995 Naquele

periacuteodo os(as) jovens na faixa etaacuteria de 21 a 25 anos tambeacutem predominavam na

direccedilatildeo da entidade com o percentual de 666 Essa autora analisa que o

protagonismo de jovens nessa entidade estudantil evidencia preocupaccedilotildees desse

segmento com as problemaacuteticas sociais e poliacuteticas do Brasil

No tocante a dimensatildeo de gecircnero a maioria dos(as) coordenadores(as)

que ocuparam a direccedilatildeo nacional da ENESSO satildeo do sexo feminino Baseando-nos

na quantidade de questionaacuterios respondidos 15 informaram ser do sexo feminino e 7

do masculino de tal forma que temos o percentual de 68 de mulheres e 32 de

homens

Esse percentual reflete o fato do Serviccedilo Social ser uma profissatildeo

constituiacuteda predominantemente por mulheres o que repercute certamente na

ocupaccedilatildeo das entidades que a representa Para Iamamoto

Uma categoria profissional predominantemente feminina uma profissatildeo tradicionalmente de mulheres e para mulheres A condiccedilatildeo feminina eacute um dos selos da identidade desse profissional o que natildeo implica desconhecer o contingente masculino de assistentes sociais com representaccedilatildeo nitidamente majoritaacuteria no conjunto da categoria profissional no paiacutes Com tal perfil o assistente social absorve tanto a imagem social da mulher quanto as discriminaccedilotildees a ela imposta no mercado de trabalho (p104 2006)

Essas discriminaccedilotildees satildeo apreendidas tambeacutem no acircmbito da poliacutetica Da

atuaccedilatildeo nos MS e aqui em particular no MESS Como eacute possiacutevel verificarmos essa

condiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo A nossa pesquisa natildeo tem o propoacutesito de responder a tais

questionamentos mas certamente essas satildeo inquietaccedilotildees que surgem com a

produccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo dos dados

114

A partir de documentos produzidos pela coordenao nacional da

entidade nos quais constam a relao de seus(suas) dirigentes foi possvel chegar

totalidade dessa relao Conforme esse levantamento dos(as) 35 Coordenadores(as)

que abrange o recorte temporal da pesquisa temos um total de 24( vinte e quatro)

mulheres e 11(onze) homens o equivalente a 69 e 31 respectivamente

No tocante a questo tnico-racial do total de dirigentes que responderam

o questionrio 9 afirmaram ser afro-brasileiros(as) 4 pardos(as) e 9 brancos(as)

dados demonstrados no grfico 7

Grfico 7Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de 2003-

2008

41

41

18

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

De tal modo somando-se a quantidade de afro-brasileiros(as) e

pardos(as) temos uma sobreposio em relao aos(as) militantes brancos(as)

Analisando as opes de resposta em separado verificamos que o percentual sugere

que a quantidade de estudantes afros e brancos(as) igualitria na direo da

ENESSO Aparentemente pode se pensar que os nmeros disponibilizados no

grfico 7 contrariam a realidade de opresso e discriminao pela qual passa a

populao afro-brasileira no pas e que certamente dificultam a sua entrada no ensino

superior Conforme Castro (2008 p248)

A partir das lutas dos movimentos tnicos afro-brasileiros a discriminao racial no Brasil camuflada sob o manto da dita ldquodemocracia racialrdquo comea a ser reconhecida Os debates em torno da desigualdade racial vm contribuindo para alertar a sociedade

115

sobre a necessidade das poliacuteticas afirmativas cujo objetivo eacute igualar a oportunidade atraveacutes de mecanismos reparadores de discriminaccedilatildeo e desigualdade social de raccedila de gecircnero de idade e de origem

Diante do exposto analisamos que os dados provenientes do questionaacuterio

podem representar o direcionamento de que os(as) estudantes de Serviccedilo Social

pertencem cada vez mais a segmentos oprimidos nesta sociabilidade o que requer

reflexotildees sobre a condiccedilatildeo de permanecircncia dos(as) estudantes no ensino superior e o

aprofundamento das complexas relaccedilotildees entre inserccedilatildeo de classe social educaccedilatildeo e

questatildeo eacutetnico-racial

O quadro 4 trata da religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO Aqui eacute

necessaacuterio fazermos uma observaccedilatildeo quanto agraves opccedilotildees colocadas no questionaacuterio

Inicialmente apoacutes recebimento dos dados consideramos um equiacutevoco a natildeo

colocaccedilatildeo da opccedilatildeo nenhuma religiatildeo no intuito de corrigimos o erro citado

reenviamos outro email para as pessoas que natildeo responderam a esta questatildeo e para

os(as) que indicaram a opccedilatildeo outra religiatildeo ainda assim apreendemos que o

percentual de 32correspondente a escolha de outra religiatildeo possa refletir esse

equivoco visto que nem todos(as) responderam ao segundo email que indagava

somente sobre a problemaacutetica da religiatildeo Mesmo diante dessa dificuldade a

obtenccedilatildeo dos dados nos possibilita sinalizar que no tocante a religiatildeo os(as) ex-

militantes da ENESSO tem uma postura de negaccedilatildeo das religiotildees dominantes como o

catolicismo e o protestantismo tendecircncia que se vislumbra nos percentuais de 14 e

4 respectivamente A questatildeo da religiatildeo eacute importante dada a apreensatildeo que

direcionamentos sobretudo da igreja catoacutelica e de igrejas situadas no campo do

protestantismo se contrapotildeem aos princiacutepios norteadores da profissatildeo

QUADRO 4Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Religiatildeo Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Catoacutelica 4 18

Espiacuterita 2 9

Nenhuma 5 23

Natildeo respondeu 3 14

Outra 7 32

Protestante 1 4

Umbanda 0 0

116

Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

A sexta questatildeo do questionaacuterio indagava em que tipo de instituiccedilatildeo os

ex-militantes da ENESSO realizaram o ensino meacutedio se predominantemente em

escola puacuteblica ou privada Mediante os dados obtidos 15 afirmaram ter estudado em

escolas puacuteblicas que se concretiza no percentual de 68 e em escolas particulares

representando um total de 32

Esses dados diferem um pouco dos nuacutemeros obtidos por Ramos(1996)

quando os mesmos sinalizaram que existia equiliacutebrio na natureza das instituiccedilotildees de

ensino nas quais foram realizado o ensino meacutedio dos(as) dirigentes da ENESSO do

periacuteodo de 1988-1995 Essa mudanccedila pode refletir mais uma vez a tendecircncia de

origem subalternizada de estudantes de Serviccedilo Social no paiacutes em que eles(as) natildeo

deteacutem condiccedilotildees de financiar seus estudos em escolas privadas nem tecirc-las mantidas

por seus familiares

Em contrapartida os dados sugerem o esforccedilo desses(as) estudantes em

ingressar no ensino superior apresentando uma trajetoacuteria de estudos na esfera

puacuteblica esta que enfrenta dificuldades na cena contemporacircnea de ordem objetiva e

subjetiva como por exemplo a sobrecarga dos(as) professores(as) a necessidades

de maiores investimentos incentivos a capacitaccedilatildeo dos(as) profissionais entre outras

Essa relaccedilatildeo de sobreposiccedilatildeo do puacuteblico em relaccedilatildeo ao privado se

confirma tambeacutem quando perguntamos sobre a instituiccedilatildeo na qual foi realizada a

graduaccedilatildeo de acordo com a obtenccedilatildeo de dados dos(as) 22 coordenadores(as)

nacionais que responderam o questionaacuterio 14 satildeo oriundos(as) de cursos de

universidades puacuteblicas o que implica um percentual de 64 e 8 da esfera privada o

equivalente a 36

Diante dessas constataccedilotildees fazemos o seguinte questionamento Embora

com a sobreposiccedilatildeo de cursos privados de Serviccedilo Social e por conseguinte de

estudantes nesse setor por que na executiva temos uma ocupaccedilatildeo maior de

militantes originaacuterios(as) de universidades puacuteblicas Essa perspectiva foi salientada

por um(a) entrevistado(a) como uma das dificuldades enfrentadas durante a sua

gestatildeo na ENESSO

A gente inicia os anos 90 com a grande privatizaccedilatildeo do ensino superior e isso eu acho que eacute uma dificuldade do Movimento Estudantil [] Que eacute chegar ateacute as instituiccedilotildees privadas neacutefazer com que o movimento estudantil exista nesses espaccedilos seja pela repressatildeo que tem seja porque neacute Noacutes temos dificuldades enquanto militantes de estaacute presente em todos os espaccedilos(Urano)

117

Essa dificuldade de atuaccedilatildeo do MESS em particular da Executiva

tambeacutem foi por salientada por Neturno na passagem em que explicita o

desenvolvimento de atividades voltadas para o enfrentamento dessa problemaacutetica

Entatildeo a gente relanccedila um documento que jaacute tinha lanccedilado anteriormente eacute que eacute uma cartilha construa Ca e Da principalmente para priorizar a construccedilatildeo de centro acadecircmico de diretoacuterio acadecircmico dentro das universidades particulares porque eacute um local onde tem uma restriccedilatildeo maior de acesso aos movimentos sociais a entrada da executiva em algumas universidades eacute questionada eacute barrada haacute empecilho para construccedilatildeo de mobilizaccedilatildeo interna dentro das universidades particulares(NETURNO)

Consideramos que os dados publicizados e a fala dos(as)

entrevistados(as) refletem a existecircncia de maior autonomia e liberdade de organizaccedilatildeo

dos(as) estudantes nas universidades puacuteblicas mesmo tendo a apreensatildeo que

existem tentativas dos setores dominantes em criminalizar os MS nos mais

diversificados espaccedilos e incluindo aqui o ME temos o entendimento que essas

iniciativas satildeo mais frequumlentes e fortes no acircmbito de organizaccedilotildees na esfera privada o

que por sua vez proporciona uma fragilizaccedilatildeo da atuaccedilatildeo estudantil nesse setor

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute que mesmo diante da expansatildeo de cursos de

Serviccedilo Social em diferentes tipos de Instituiccedilotildees de Ensino como Faculdades

Isoladas Centros entre outras de 2003-2008 podemos afirmar que os(as) militantes

que assumiram a coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO estudavam majoritariamente

em universidades puacuteblicas ou privadas do total de 35 coordenadores(as) somente

dois(duas) estavam inseridos(as) em centros universitaacuterios correspondendo a um

percentual de 94 e 6 respectivamente O que reafirma a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

universitaacuterio no sentido poliacutetico e pedagoacutegico presencial da formaccedilatildeo profissional

caracterizado pelo confronto de ideacuteias da troca de conhecimento da existecircncia de

ensino mas tambeacutem de pesquisa e extensatildeo para possibilidade da formaccedilatildeo critica

dos(as) estudantes

Analisando a totalidade de dados mediante apreensatildeo em documentos

desses(as)35 coordenadores(as) que significa o total de estudantes que ocuparam os

cargos nacionais da entidade no periacuteodo delimitado pela pesquisa temos o resultado

de 19 dirigentes de universidades puacuteblicas o que representa um percentual de 54 e

16 advindos(as) de instituiccedilotildees privadas ou seja 46 Dessa forma podemos admitir

que os nuacutemeros obtidos a partir do questionaacuterio apontam o real pois a afirma a

tendecircncia de uma porcentagem maior de graduandos(as) de universidades puacuteblicas

118

Entretanto levando-se em consideraccedilatildeo o numero total de militantes e natildeo soacute

aqueles(as) que responderam o questionaacuterio a diferenccedila entre os(as) estudantes de

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas descresse Essa perspectiva se diferencia dos dados

sinalizados na pesquisa de Ramos quando ela apontou uma expressiva dominacircncia

de militantes de universidades puacuteblicas na direccedilatildeo nacional da entidade nos anos de

1988 a 1995

Eacute interessante enfatizar ainda que apesar de parte significativa dos(as)

militantes serem provenientes de instituiccedilotildees puacuteblicas a accedilatildeo da Executiva deve

considerar os diferentes espaccedilos em que se encontram os(as) estudantes de Serviccedilo

Social visto que como salientado no capitulo 4 desse trabalho existe uma forte

predominacircncia de cursos na aacuterea privada o que pode explicar inclusive a gradativa

participaccedilatildeo de estudantes de instituiccedilotildees privadas nas coordenaccedilotildees nacionais da

ENESSO

Outro aspecto considerado nessa investigaccedilatildeo se remete a inserccedilatildeo

desses sujeitos no mercado de trabalho Nesse sentido os dados sinalizam que 17

dirigentes ou 77 dos(as) entrevistados(as) desenvolviam alguma atividade

remunerada De tal forma reafirmamos que cada vez mais os(as) estudantes

brasileiros(as) satildeo trabalhadores(as) e sujeitos preocupados(as) com a garantia de

suas condiccedilotildees objetivas durante a graduaccedilatildeo o que representa uma reduccedilatildeo de

tempo para o desempenho das atividades e vivecircncias acadecircmicas Essa dimensatildeo

pode tambeacutem ser apreendida em uma das falas de nossos(a) entrevistados(a)

quando comentava sobre as dificuldades enfrentadas durante a gestatildeo em que

participou da ENESSO

a questatildeo financeira pesa muito a maioria dos estudantes de serviccedilo social satildeo oriundos da classe trabalhadora e temos dificuldades de participar dos espaccedilos de ir para congresso ir para encontros de estudantes []eu acho que existe hoje uma grande numero de encontros no serviccedilo social tanto do ME quanto da categoria entatildeo os estudantes acabam priorizando algum encontro que ele vai participar(Terra)

Quanto agraves formas de inserccedilatildeo no mercado de trabalho temos a indicaccedilatildeo

de que os(as) 17 militantes que responderam positivamente todos(as) realizavam

estaacutegio remunerado nos mais diversificados espaccedilos e na atuaccedilatildeo das poliacuteticas

119

sociais sendo que trecircs aleacutem do estaacutegio trabalhavam em outras instituiccedilotildees46 e um(a)

militante informou que desenvolvia atividades autocircnomas

Quanto a renda mensal da famiacutelia as opccedilotildees mais indicadas pelos ex-

militantes foi entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos o que equivale a aproximadamente mil e

setecentos reais47 seguida da opccedilatildeo entre 5 e 6 salaacuterios o que corresponde a pouco

mais de dois mil e quinhentos reais As trecircs primeiras opccedilotildees que vai de 1 a 6

salaacuterios englobou portanto 73 dos sujeitos Dessa maneira acreditamos que os

dados do Quadro 5 demonstram que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO

satildeo provenientes dos segmentos do trabalho

A partir do cruzamento dos dados obtidos sinalizamos que os(as) dois

(duas) sujeitos que informaram ter um renda mensal entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos o

que remete a menos de mil reais mensal correspondem a dirigentes que aleacutem do

estaacutegio desempenhavam outras atividades remuneradas O que reforccedila cada vez

mais a tendecircncia dos(as) estudantes principalmente os(as) oriundos da classe

trabalhadora mais pauperizada de ao chegar no ensino superior assumirem a

responsabilidade pela sua manutenccedilatildeo acadecircmica Por outro lado dos(as) cinco

militantes estudantis que natildeo tiveram nenhuma forma de inserccedilatildeo no mercado de

trabalho dois(duas) deles(as) tem uma renda mensal acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

expressando a condiccedilatildeo financeira de seus familiares na manutenccedilatildeo de sua vida

acadecircmica Entretanto eacute importante frisar que esses mesmos sujeitos estudaram o

ensino meacutedio em instituiccedilatildeo privada e o ensino superior em universidades puacuteblicas

QUADRO 5Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Renda mensal Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos

8 36

Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos

6 27

Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 9 e 10 salaacuterios-miacutenimos

1 5

46Alguns dos espaccedilos de realizaccedilatildeo dos estaacutegios foram Empresa de saneamento baacutesico SESC instituiccedilatildeo de defesa dos direitos da crianccedila e do adolescente prefeituras Ministeacuterio Puacuteblico secretarias de habitaccedilatildeo Central Permanente de Acolhimento entre outros As pessoas que trabalharam em outras atividades aleacutem do estagio foram ministrando aulas47 Valores considerando o salaacuterio de R$ 415 00 que esteve vigente no Brasil ateacute fevereiro de 2008

120

Acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

3 14

Total 22 Total 100

Outra questatildeo respondida pelos dirigentes da ENESSO correspondeu a

sua inserccedilatildeo ou natildeo em organizaccedilatildeo coletiva antes de ser militante do MESS

Conforme demonstraccedilatildeo no graacutefico 8 dos(as) 22 dirigentes que contribuiacuteram nessa

pesquisa 15 deles(as) asseveraram ter experiecircncia no acircmbito da organizaccedilatildeo

coletiva anterior a militacircncia no ME universitaacuterio o que por sua vez representa um

percentual de 68 destacando que seis dirigentes que responderam positivamente

elencaram participaccedilatildeo em mais de um espaccedilo de atuaccedilatildeo

GRAacuteFICO 8Participaccedilatildeo em organizaccedilatildeo coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO antes da

inserccedilatildeo no MESS

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

No quadro abaixo expressamos todos os espaccedilos citados pelos sujeitos

com a perspectiva de sinalizar as vivecircncias de organizaccedilatildeo dos(as) dirigentes da

ENESSO antes de sua accedilatildeo no MESS Assim temos indicaccedilotildees em que espaccedilos

ocorreram essa atuaccedilatildeo

121

QUADRO 6Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes de

sua inserccedilatildeo no MESS

Organizaccedilatildeo citada pelos dirigentes Nuacutemero de dirigentes que citaram a organizaccedilatildeo

Movimento Estudantil Secundarista 9Partido Poltico 3Movimento de Mulheres 1Movimento da Economia Solidria 1Grupo de Jovens da Igreja Catlica (juventude Catlica)

2

Grupo Hora da Verdade 1Movimento Comunitrio 2Grupo de Adolescentes do Centro de Voluntariado (vinculado ao Movimento de Adolescentes Brasileiros)

1

Terceiro Setor 1

Grupos 1

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

Dos dados citados no Quadro 6 apreendemos que a vivncia no

Movimento Estudantil Secundarista constitui um espao relevante na formao

poltica dos(as) dirigentes da ENESSO visto ter sido a experincia mais destacada

por eles(as) antes de sua insero na universidade e por conseguinte no MESS Dos

nove estudantes que indicaram a participao no Movimento Secundarista seis

provenientes de escolas pblicas e trs oriundos(as) de escolas privadas Nesse

sentido os dados podem indicar que o Movimento Estudantil Secundarista apresenta-

se mais atuante nas escolas pblicas

Conforme a investigao de Ramos(1996) independente da natureza da

instituio na qual os(as) dirigentes estudaram no ensino mdio eles(as) tiveram

vivncias no ME secundarista bem como em outros espaos de organizao coletiva

o que ldquo possibilita a busca de formas polticas de participao na universidaderdquo (p90)

interessante considerarmos a diversidade e natureza de espaos

ocupados(as) pelos dirigentes entretanto diante da simples citao desses no

temos condies de analisar a direo social das entidades e movimentos sociais em

que iniciaram sua participao

122

Antes de chegar a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO todos(as) ex-

dirigentes ou seja o equivalente a 100 dos(as) que responderam o questionaacuterio

passaram por experiecircncia em espaccedilos e entidades do ME universitaacuterio

O quadro 7 tem o objetivo de socializar em que entidades os(as)

estudantes atuaram antes da ENESSO

Quadro 7Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de assumirem

a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

Entidades estudantis Quantidades de estudantes que indicaram a entidade

Conselho de Representantes de Turma (CORETUR)

5

Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico (CA ou DA)

20

Diretoacuterio Central dos Estudantes (DCE)

4

Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO

3

Outras 1

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Importante explicar que dos(as) 2248 ex-dirigentes da ENESSO que

enviaram as suas contribuiccedilotildees 13 tiveram vivecircncia em um uacutenico espaccedilo

predominantemente em CA ou DA 7 em duas entidades49 250 militante com vivecircncia

em trecircs espaccedilos

Diante dos dados estabelecidos anteriormente temos a indicaccedilatildeo que a

passagem do(a) estudante pelo CA ou DA constitui-se uma tendecircncia majoritaacuteria

pois somente dois sujeitos natildeo atuaram nessa entidade antes da experiecircncia na

Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO Acreditamos que essa dimensatildeo representa uma

trajetoacuteria de acumulo e vivecircncias que possibilitam uma atuaccedilatildeo mais qualificada

dos(as) estudantes ao assumirem a direccedilatildeo nacional da executiva Para Ramos(1996

p94)

48 Desses 11 em CA ou DA 1 como CORETUR e outro(a) como membro do DCE 49 As entidades foram 2 de CA ou DA e do DCE 2 atuou no CORETUR e no CA ou DA 2 estudante ocupou cargo no CA ou DA e na Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e finalmente 1 estudante ocupou cargo no CA e em outra entidade citada por ele(a)50 Os espaccedilos foram CORETUR CA OU DA e Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e outro(a) no CORETUR CA OU DA e no DCE

123

A experiecircncia de participaccedilatildeo anterior em outras instacircncias deliberativas e estudantis de base possibilita maior maturidade poliacutetica ao(a) dirigente da entidade nacional pois este(a) jaacute traz um acuacutemulo de vivecircncias coletivas que vatildeo se afirmando cada vez mais no processo de militacircncia

Outro dado relevante eacute que dos(as) 20 estudantes que evidenciaram ter

atuado em CA ou DA 12 desempenharam essa accedilatildeo em universidades puacuteblicas o

equivalente a 60 e 8 em instituiccedilotildees privadas destarte 40

Outro questionamento se referiu agrave filiaccedilatildeo partidaacuteria dos(as) dirigentes da

ENESSO no periacuteodo de 2003-2008 Conforme os dados a predominacircncia eacute de

sujeitos natildeo filiados(as) a partidos poliacuteticos um total de 14 dirigentes o

correspondente ao percentual de 64 Esse expressivo percentual de natildeo filiados(as)

pode corroborar para um processo de fragilizaccedilatildeo na formaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

militantes do MESS e consequumlentemente dos(as) dirigentes da ENESSO Ou reflete

autonomia do Movimente em relaccedilatildeo a partidos poliacuteticos Temos o entendimento que

seja importante a articulaccedilatildeo entre esses sujeitos coletivos e que o partido poliacutetico se

configura como relevante espaccedilo de formaccedilatildeo contudo eacute destruidora a transfiguraccedilatildeo

de Movimentos em correia de transmissatildeo deles seja de partidos situados no campo

da direita ou esquerda Um(a) dos(as) entrevistados(as) considera que

essa relaccedilatildeo movimento estudantil e partido poliacutetico que natildeo soacute tem no movimento estudantil[]eacute importante essa relaccedilatildeo[] o MS ele tem por natureza apenas uma pauta ele surge pra defender uma pauta poliacutetica no caso do MESS pra defender a formaccedilatildeo em serviccedilo social com qualidade e aiacute entra o debate de defender a universidade e defender a educaccedilatildeo publica gratuita de qualidade entatildeo soacute essa dimensatildeo partidaacuteria essa dimensatildeo com esses grupos poliacuteticos faz com que a gente perceba que a nossa pauta tem que ta vinculada haacute uma pauta maior geral de disputa e de um projeto de sociedade entatildeo acho que eacute importante a contribuiccedilatildeo agora fica a gente a compreender que natildeo satildeo momentos tatildeo distintos mais que cada um desses movimentos tem suas peculiaridades Movimento Estudantil Movimento Sociais tem uma peculiaridade assim como o partido cada um tem que conseguir compreender a dinacircmica e da mesma forma que o partido influecircncia o Movimento Estudantil o Movimento Estudantil influecircncia o partido(Urano)

Mediante o cruzamento de dados temos a indicaccedilatildeo que apenas dois ex-

militantes socializaram ter experiecircncia nesse tipo de organizaccedilatildeo antes de sua

entrada no MESS e desse modo anterior a sua gestatildeo na executiva Portanto

mediante os a produccedilatildeo de dados temos que dos(as) 8 que indicaram filiaccedilatildeo

partidaacuteria o equivalente a 36 seis delas ocorreram durante a vivecircncia universitaacuteria

124

o que sinaliza uma trajetoacuteria de articulaccedilatildeo entre essas duas formas de organizaccedilatildeo

coletiva O que explica essa tendecircncia A preocupaccedilatildeo dos(as) militantes com a

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica A procura de outros espaccedilos de militacircncia depois da

vivencia acadecircmica dada a caracteriacutestica de transitoriedade do ME Essas satildeo

questotildees que soacute poderatildeo ser aprofundadas e entendidas com a realizaccedilatildeo de outras

pesquisas e investigaccedilotildees

Um dirigente que manifestou participaccedilatildeo em partido poliacutetico antes de sua

militacircncia no MESS declarou ter se desfilado anterior a vivecircncia universitaacuteria

Ainda eacute importante destacar a seguinte apreensatildeo dos(as) 8 que

responderam positivamente durante a ocupaccedilatildeo de cargo na executiva todos(as)

foram filiados(as) ao PT natildeo sendo nenhum outro partido elencado pelos(as)

dirigentes Essa tendecircncia provoca curiosidades e inquietaccedilotildees sobretudo no sentido

de entendermos o porquecirc de mesmo durante forte investidas de um governo na

perspectiva de minimizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica e de fortalecimento da iniciativa

privada termos esse direcionamento de filiaccedilatildeo ao partido que representa os

interesses governamentais por militantes do MESS e coordenadores nacionais da

ENESSO que historicamente luta em favor da defesa da universidade puacuteblica

gratuita laica e de qualidade no Brasil Ainda eacute significativo salientar o fato de um

dirigente ter afirmado que atualmente se desfilou do PT e passou a atuar no PSTU

Essa hegemonia de filiaccedilatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO ao PT

repercutiu na atuaccedilatildeo da entidade nos acircmbitos de defesa da universidade puacuteblica

gratuita presencial laica e de qualidade e da formaccedilatildeo profissional fundada nas

diretrizes curriculares de 1996 neste contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma do

ensino superior no governo do petista Lula A pesquisa documental e o

aprofundamento de anaacutelises das entrevistas com ex-dirigentes da ENESSO

materializado no proacuteximo item contribuiraacute com o entendimento dessas

problematizaccedilotildees

5-2 UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO

A ENESSO desenvolve suas accedilotildees considerando as deliberaccedilotildees51

aprovadas no encontro nacional no qual eacute manifestado o posicionamento a ser

desenvolvido pela executiva relativa a cinco eixos prioritaacuterios de atuaccedilatildeo Conjuntura

Cultura e Valores Formaccedilatildeo Profissional Movimento Estudantil e Universidade

Importante destacar que essas esferas satildeo divididas em termos didaacuteticos com vista a

51 Atualmente as deliberaccedilotildees satildeo cumulativas e satildeo modificadas quando da necessidade do segmento estudantil

125

facilitar as discusses e aprovaes das deliberaes durante o encontro contudo

so dimenses imbricadas entre si

Nessa dimenso trataremos de evidenciar a partir das decises ratificadas

nos ENESS que engloba o perodo de 2003-2008 bem como nos documentos

produzidos pela ENESSO e na fala dos(as) dirigentes entrevistados(as) o

direcionamento da executiva especialmente nos mbitos da universidade formao

profissional e ME

Dessa maneira o XXV ENESS que ocorreu entre 03 e 08 de agosto de

2003 na cidade de Salvador-BA 52 marcou a existncia de 15 anos da ENESSO As

aprovaes da plenria expressaram o posicionamento contrrio dos(as) estudantes

de Servio Social diante das primeiras medidas pertencentes a contra-reforma do

ensino superior efetivada na gesto do governo petista Nessa perspectiva conforme

o deliberado a ENESSO deveria explicitar o compromisso com uma tendncia de

avaliao contraposta ao SINAES bem como apresentar uma postura crtica e de

negao ao PROUNI o qual estava em processo de discusso e aprovao por parte

do governo A preocupao do segmento estudantil com um processo avaliativo

qualificado se manifesta ao defender a necessidade de

Uma ampla avaliao institucional que se realize antes da avaliao dirigida ao corpo discente considerando as especificidades regionais de cada escola bem como a implementao e aplicao das diretrizes curriculares da ABEPSS Que avalie tambm as condies de acesso e permanncia dos estudantes nas universidades e as condies didticas pedaggicas e estruturais(ENESSO 2003 p03)

As deliberaes referentes ao eixo da formao profissional expressam o

compromisso da ENESSO com a defesa das Diretrizes Curriculares como forma de

potencializar uma formao qualificada e o fortalecimento do projeto tico-poltico do

Servio Social Para tal a plenria presente no XXV ENESS destacou a necessidade

de articulao com as demais entidades de representao e organizao da profisso

a ABEPSS e o CFESS

No eixo que trata especificamente do ME se registra a aprovao de que a

UNE no tocante a contra-reforma do ensino superior no representa os(as)

estudantes de Servio Social entretanto estatutariamente a ENESSO continua

reconhecendo-a como a entidade mxima de articulao e organizao do segmento

no Brasil

52 O tema do ENESS foi ldquoo Servio Social em busca de uma construo coletiva na atual conjuntura brasileirardquo

126

Nitidamente essa contradio poltica em relao a UNE se tornou

recorrente sobretudo nos anos de gesto de Lula na presidncia da repblica uma

vez que a tendncia UJS majoritria na entidade e articulada ao PC do B tem uma

posio de aceitao da contra-reforma do ensino superior levando ao

descontentamento para a base do movimento e provocando at mesmo severos

divisionismos no mbito da organizao estudantil nacional realidade expressa por

exemplo na criao da CONLUTE em 2004

Desse modo a gesto 20032004 ldquoENESSO na luta para fazer a sua

prpria histriardquo estava diante de um significativo desafio desenvolver lutas que

contemplasse as deliberaes contrrias dos(as) estudantes em relao s medidas

adotadas para educao pela gesto Lula um governo forjado no campo dos MS e

que chegou a presidncia amplamente apoiado pelo ME incluindo o MESS Alm

disso como mostraram os dados relacionados ao perfil dos(as) dirigentes da

ENESSO substancial a existncia de coordenadores(as) da entidade filiado(a) ao

PT sendo que em todas as gestes que engloba o perodo aqui estudado se confirma

a presena de pelo menos um(a) militante com essa filiao partidria

Na carta de apresentao da nova gesto confirmado o compromisso

com a efetivao das deliberaes estabelecidas pelo coletivo de estudantes

presentes no ENESS de Salvador a partir do desenvolvimento de aes que

possibilitem o fortalecimento das trs entidades da profisso e a posio de atuar

articuladamente com MS e organizaes sindicais que expressam os interesses da

classe trabalhadora

A ENESSO no perodo 2003-2004 desenvolveu a campanha ldquoAbaixo a

mercantilizao do ensinordquo Esta se desenvolveu a partir da produo de cartazes

textos divulgados em boletins e jornais elaborados pela prpria entidade Nesses

documentos verificamos a argumentao de que a tendncia de transfigurar a

educao em mercadoria consiste num desrespeito ao reconhecimento da educao

como direito e da responsabilidade do Estado na sua promoo tal qual

estabelecido nos artigos 206 e 207 da Carta Constitucional de 1988

importante evidenciar que a segunda edio do jornal produzido na

gesto ldquoENESSO na luta pra fazer a sua prpria histriardquo aborda criticamente os

principais pontos da proposta da reforma universitria que seria viabilizada pelo

recente governo federal Nessa dimenso a anlise apreende o PROUNI como um

caminho que potencializa a retirada de responsabilidade do Estado na manuteno do

ensino superior e fortalece a iniciativa privada como ressaltado no seguinte

entendimento

127

Se o governo quer criar mais vagas no ensino privado( que somos contra) inaceitvel a renuncia fiscal pois dinheiro pblico no arrecadado financiando os tubares do ensino alm disso com ensino de m qualidade sem pesquisa e extenso porque o governo no cria um fundo financiado pelas instituies privadas para financiar a demanda de vagas (ENESSO p01 2004)

Outra manifestao contrria da entidade s medidas propostas pelo

governo federal para serem implementadas na educao superior consistiu na

negao da utilizao do ensino a distncia Nessa abordagem a ENESSO

considerou que segundo dados do IBGE apenas 4 da populao brasileira teriam

acesso ao servio de internet o jornal ainda chama ateno para o fato dessa

modalidade est vinculada a corporaes financeiras o que expressa a preocupao

com a rentabilidade e no com uma educao de qualidade e comprometida com a

melhoria de vida dos sujeitos histricos A entidade finaliza a anlise das proposies

do governo para educao superior afirmando que elas

no atendem aos interesses dos setores que defendem o ensino pblico gratuito e de qualidade Sendo assim apoiando-se em nossas deliberaes que tem como principio a defesa intransigente do carter pblico e gratuito da universidade no podemos aceitar os elementos que vem configurando a chamada reforma universitria que representa o aprofundamento da mercantilizao do ensino(ENESSO p2 2004)

No terceiro e ltimo boletim elaborado na gesto 2003-2004 os seus

dirigentes chamam ateno para as dificuldades enfrentadas pela entidade as

ressalvas so direcionadas sobretudo para falta de recursos financeiros que fragiliza

as aes da ENESSO ao limitar a ida dos(as) coordenadores ao encontros e fruns

estudantis impossibilita ainda a maior produo dos materiais utilizados no

desenvolvimento das atividades e execuo das campanhas lanadas o que por sua

vez significa a no apropriao de estudantes das discusses e das aes efetivadas

pela entidade que os representam nos mais variados espaos

Apesar das dificuldades os(as) dirigentes da ENESSO da gesto 2003-

2004 atribuem ao ME um espao de aprendizado e que contribui para construo de

sujeitos histricos e militantes mais qualificados com apreenso crtica da realidade

social

De 25 a 30 de julho de 200453 aconteceu em Vitria-ES o XXVI ENESS54

em que as pautas aprovadas pelo coletivo de estudantes ratificaram o mesmo

53 A chapa Viver na Luta foi a nica concorrente a direo nacional da ENESSO54 Encontro teve como tema ldquoParticipar construir a histria Atuar tornar sonho ao ousar revolucionar o mundordquo

128

posicionamento do encontro passado uma postura majoritria dos(as) estudantes de

Servio Social de recusar a contra-reforma do ensino superior em curso no Brasil As

deliberaes sinalizam que a nova gesto da ENESSO dever se contrapor ao

SINAES e por conseguinte ao exame direcionado ao segmento estudantil previsto

por esse processo avaliativo no caso o ENADE E nesse sentido tem-se a posio

de que a executiva seja contrria a participao da ABEPSS na comisso de avaliao

preconizada pelo MEC inicialmente essa deciso gera uma relao conflituosa das

entidades quando se aborda a problemtica do SINAES

O compromisso majoritrio do MESS com a universidade pblica se

verificou tambm na realizao do ato pblico durante o ENESS O ato teve o seguinte

tema ldquoEnsino pblico gratuito laico e de qualidade para todos Educao No

mercadoria contra essa proposta de reforma universitriardquo

Diante das observaes sobre as deliberaes decorrentes do XXVI

ENESS constatamos que a atuao da ENESSO no perodo de 20042005

apresentar uma continuidade em relao s lutas e atividades travadas

anteriormente especialmente nos mbitos da universidade e da formao

profissional Nesses termos ainda em 2004 a ENESSO age com o objetivo de

promover o boicote ao ENADE tarefa a ser cumprida pela entidade e que ficou

estabelecida no prprio encontro nacional assim a gesto ldquoViver na Lutardquo realizou

uma campanha nacional destacando a posio da entidade e a necessria postura

poltica de convocar os(as) estudantes de Servio Social a apoiar o boicote ao exame

Segundo dados da prpria ENESSO a campanha obteve xito e o

boicote no dia 07 de novembro de 2004 foi efetivado com sucesso em diversos

cursos chegando adeso de at 90 em algumas instituies de ensino superior

no geral o nmero correspondeu a 60 dos(as) estudantes de Servio Social

selecionados(as) para fazer a avaliao O jornal da entidade divulgado em janeiro de

2005 afirma que o movimento sofreu perseguies em diversas escolas por todo pas

Essa postura evidencia a freqente tendncia de criminalizao dos MS e que entre

outros rebatimentos gera uma imagem distorcida desses sujeitos coletivos frente

maioria da populao brasileira tendo a mdia um participao considervel nesse

mascaramento da contraditria e desigual realidade na sociabilidade capitalista e no

Brasil No mbito especifico do Servio Social Urano da gesto 20042005 indica

tensionamentos com a ABEPSS no processo de boicote ao ENADE o(a) dirigente

ressalva

mas a diretoria da abepss seguia isso a risca que era eles tinha um assento na comisso de avaliao e ns ramos contrrios a essa participao que a abepss defendia naquele momento que os

129

estudantes deveriam fazer o enade ento ns travamos essa discusso dentro da abepss assim como no cfess de levar essa discusso da reforma universitria para dentro dessas outras entidades trazendo elas para luta para pareceria e colocando o que de fato a reforma universitria trazia de implicaes para vida profissional n Para formao profissional ento a gente conseguiu fazer n no foi muito fcil fazer essa articulao porque a abepss tinha um posicionamento contrrio e a de 2004 em diante ficou mais fcil porque foi a gesto do nordeste a gesto da UFPE e um dos compromissos da gesto da UFPE no enpess de 2004 que aconteceu no Rio Grande do Sul era sair da comisso de avaliao do enade e ter um posicionamento critico em relao ao enade

Diante desses resultados fazemos as seguintes reflexes a campanha

desenvolvida expressou o potencial organizativo que a entidade apresenta nesse

cenrio de refluxo dos movimentos sociais A ao foi materializada articuladamente

com outras entidades estudantis E no mbito especfico do Servio Social teve o

apoio da categoria e de suas entidades representativas A avaliao feita pela prpria

entidade favorece a concretizao de algumas reflexes Temos o entendimento que o

ME assim como outros MS atravessa um momento de inflexo e dessa maneira o

boicote ao ENADE tambm sofreu as implicaes dessa conjuntura isso se

manifesta por exemplo no total de 40 de estudantes que no atenderam a postura

poltica de assumir o boicote Isso aconteceu por qu Pelo forte individualismo que

vigora na sociabilidade capitalista Tambm alm disso no mbito do prprio Servio

Social a ABEPSS esteve presente na comisso de elaborao da prova o que de

certa maneira por parte do segmento estudantil contribuiu para uma apreenso de

legitimidade daquela entidade em relao ao ENADE outro aspecto a ser

considerado consistiu nas dificuldades de ordem objetiva que limitou o potencial da

campanha ainda destacamos o fato de que na poca mais de 70 das escolas de

Servio Social se encontravam na esfera privada que majoritariamente utiliza os

resultados obtidos para divulgao de propagandas no competitivo mercado da

educao o que por sua vez dificultou a organizao e mobilizao do segmento

inserido nessas instituies de ensino superior tambm relevante ressaltar que

essa atividade no foi desenvolvida majoritariamente com outras entidades estudantis

e MS portanto executada de modo fragmentado no prprio mbito de organizao do

ME

Os dados sugerem que a gesto ldquoviver na Lutardquo 20042005 atuou tendo

como foco central de suas aes a discusso sobre as Diretrizes Curriculares A

principal campanha da gesto ldquocontra essa reforma do ensino superior do governo

Lula em defesa das nossas diretrizes curriculares- a ENESSO somos todos nsrdquo No

mesmo jornal que analisa os resultados do ENADE a gesto plubiciza de maneira

130

sucinta o processo que culminou na elaborao das referidas diretrizes Ainda tratou

de destacar os rebatimentos da lgica mercadolgica para a fragilizao da formao

profissional do(a) assistente social

Em abril de 2005 a entidade produziu um boletim sobre a reforma

universitria e a formao profissional no qual argumentava que as medidas de

destruio da universidade pblica no Brasil j estavam em curso desde a dcada de

1990 Nessa dimenso a ENESSO problematiza a no aprovao por parte do MEC

da proposta de currculo elaboradas pela ABEPSS e aprovada pela categoria em

novembro de 1996 Diante do exposto tem se a concluso que aes do governo

Lula como o PROUNI e o SINAESENADE consistem em um processo de concluso

da poltica privatista iniciada nos governos anteriores e sobretudo na era FHC

O texto ainda faz referncia crtica ao posicionamento de aceitao da

contra-reforma do ensino superior por parte da UNE Contudo a postura de rejeio

da ENESSO no significa a negao da importncia dessa entidade estudantil na

trajetria brasileira Utilizando tal argumentao gesto ldquoviver na Lutardquo evidencia

preocupaes com a criao da CONLUTE outra organizao de carter nacional e

com uma ao poltica antagnica a desenvolvida pela UNE especialmente no que se

refere atuao de Lula na presidncia da repblica

Em maio de 2005 a ENESSO mais uma vez socializa no seu jornal a

importncia da campanha em favor da formao pautada nas Diretrizes de 1996 A

entidade chama ateno para a poltica privatizante que predominou na educao

durante a vigncia do governo FHC e que teve continuidade na gesto de Lula Ainda

preocupada com a formao profissional o jornal retrata a relevncia do estgio como

importante instrumento no fortalecimento da relao teoria-realidade entretanto a

entidade considera que dificuldades limitam o desempenho dessa atividade de forma

mais qualificada assim sendo so ressaltadas a tendncia de reduzi-lo a mo-de-

obra barata a necessidade de um acompanhamento por parte dos profissionais e das

instituies de ensino mais efetivo com vistas a potencializar essa vivncia e

contribuir para o futuro exerccio profissional dos(as) estudantes Essa perspectiva de

travar o debate da contra-reforma do ensino superior a partir da discusso das

Diretrizes Curriculares constituiu uma estratgia poltica dos(as) dirigentes da

executiva

Nos documentos produzidos pela entidade no perodo de 2004-2005

embora o foco prioritrio seja o debate e a conseqente defesa das Diretrizes

Curriculares importante evidenciar que as anlises constantes nessas produes

so realizadas numa perspectiva de totalidade visto que observamos uma reflexo

131

remetida ao contexto scio-histrico vigente Essa dimenso se explicita na seguinte

constatao

No podemos entender a atual proposta de reforma do ensino superior como algo isolado mas como um processo que teve incio em 1996 com a LDB com a reforma do ensino superior de 1998 que esta faz parte da reforma do Estado do governo federal implementada na dcada de 1990 e que o atual governo d continuidade Tais medidas so orientadas por uma perspectiva neoliberal de reduo da esfera estatal e de fortalecimento das iniciativas privada no financiamento formulao e execuo das polticas pblicas[]e a educao como um espao especifico porm no exclusivo da formao ao se configurar como poltica pblica e direito do cidado sofre igualmente das orientaes privatistas que vivenciam as outras polticas pblicas(ENESSO P 04 2005)

Concordamos com a concepo que a poltica para educao adotada

durantes as duas gestes de Lula configura ao mesmo tempo continuidade e

aprofundamento da lgica predominante nos anos de 1990 entretanto no podemos

apreender essa tendncia como um fenmeno natural ou seja segui as orientaes

neoliberais consistiria no nico caminho possvel a ser trilhado pelo governo do petista

Lula

Essa propenso presente nas elaboraes e posicionamento da entidade

pode ser reflexo da ligao de alguns de seus dirigentes com o PT que embora

desenvolva uma atuao crtica em relao contra-reforma do ensino superior

procura justificar a postura adotada pelo governo Lula

Entre os dias 24 e 29 de julho de 2005 aconteceu o XXVII ENESS55 na

cidade de Recife-PE nesse encontro duas candidaturas concorreram a direo da

ENESSO ldquoA luta no pode Pararrdquo constituda por militantes do agrupamento Viver na

Luta e ldquochega de inrcia a Sada pela Esquerdardquo por militantes do grupo de mesmo

nome a primeira ganhou a disputa eleitoral

As resolues aprovadas no ltimo dia do encontro direcionaram a

ENESSO a dar prosseguimento trajetria crtica nos mbitos da universidade e da

formao profissional Nesses termos a direo contrria a contra-reforma se afirma

na negao das medidas j implantadas no campo da educao superior como o

PROUNI e o ENADE

No eixo da formao profissional salientada a importncia da articulao

das trs entidades representativas da profisso como estratgia poltica de defesa de

55 Este encontro apresentou como tema ldquomuitos para poucos poucos para muitos nada para outros o desafio para o Servio Social na luta pela consolidao de direitosrdquo

132

uma formao referendada nas Diretrizes Curriculares de 1996 Essa dimenso se

expressa no desenvolvimento conjunto de lutas e atividades Assim sendo em

dezembro de 2005 a ABEPSS a ENESSO e o CFESS lanaram manifesto no qual

publicizava a preocupao das entidades com abertura de cursos de Servio Social a

distncia entendendo que essa modalidade de ensino evidencia o crescente processo

de aligeiramento da formao profissional o que por sua vez fortalece a entrada de

profissionais na sociedade e no mercado sem a devida preparao para o exerccio

da profisso Segundo Terra da gesto 20052006 da direo nacional da ENESSO

na verdade esse tema reforma universitria que era o que nos angustivamos n E o que ns pautvamos na poca um ano de gesto foi questo da reforma universitriaagora o posicionamento da entidade ele t bastante claro construdo dentro das deliberaes que foram construdas coletivamente com os estudantes a partir dos posicionamentos que tem das tendncias polticas que impulsionam elas formulam discutem com os estudantes constroem as deliberaes e a entidade encampa esse processo

A nova diretoria da ENESSO ldquoA Luta No Pode Pararrdquo na carta de

apresentao definiu como foco central de sua atuao para o perodo de 20052006

o fortalecimento do ME Assim a sua principal bandeira foi ldquoENESSO defesa da

articulao e fortalecimento do Movimento Estudantilrdquo essa temtica esteve presente

nos principais documentos produzido pela entidade no decorrer da referida gesto

O jornal de maro de 2006 teve amplo espao destinado reflexo do

protagonismo da juventude brasileira nos rumos do pas nessa oportunidade

enfatizada a campanha ldquoo petrleo nossordquo desencadeada pela UNE nos anos de

1950 e da combativa atuao do segmento estudantil durante os anos de vigncia da

ditadura militar iniciada com o golpe de 1964 Na produo se sobressai anlise que

a conjuntura recente desfavorvel para organizao dos MS em particular no

MESS este contexto se fortalece com

o desmonte da educao pblica gratuita e de qualidade Consoante com isso tem crescido o nmero de escolas privadas e curso a distncia que dificultam a participao dos estudantes no movimento devido o perfil dos estudantes que so da classe trabalhadora (precisam trabalhar para manter os estudos) da falta de democracia nestas instituies( ENESSO p 01 2006)

Certamente a diversidade de instituies pblicas e privadas mais

recentemente a proliferao da modalidade distncia requer o desenvolvimento de

atividades e estratgias diferenciadas nesses espaos e que possa contribuir para o

133

processo de articulao e organizao do MESS e de sua atuao consubstanciada

na defesa da educao pblica56 e de uma formao qualificada

Essa produo ainda traz uma abordagem sobre a formao profissional

em que o centro da discusso constituiu o processo de avaliao a ser desenvolvido

pela ABEPSS sobre os 10 anos de aprovao e implementao das Diretrizes

Curriculares nas unidades de formao acadmica investigao destacada no quatro

trs dessa dissertao O texto realiza uma breve trajetria do Servio Social no qual

privilegiado o processo que culminou na constituio das diretrizes em 1996 Aps

esse resgate histrico a coordenao nacional da ENESSO juntamente com a

representao discente em ABEPSS orientam os CA a promoverem pelo menos um

seminrio sobre a referida pesquisa no intuito de pensar em estratgias que

possibilitem a participao de todos(as) nas discusses que resultar no

preenchimento do instrumental da pesquisa ratifica a importncia de uma

representao estudantil de cada unidade acadmica nas oficinas promovidas pela

abepss para discutir a investigao e ainda incentiva a ida de discentes ao ENPESS

de dezembro de 2006 para participarem e se apropriarem dos debates relacionados a

esse processo avaliativo O incentivo da ENESSO demonstra o seu compromisso

com os rumos do Servio Social e com as questes debatidas pelas outra entidade da

profisso

Entretanto importante problematizarmos que embora a gesto 20052006

tenha apresentado com eixo estruturante de sua atuao o fortalecimento do ME no

tivemos a realizao de medidas mais consistente pra esse fim com exemplo a

realizao de cursos de formao poltica que potencializaria uma qualificao para

os(s) militantes do MESS e dirigentes da ENESSO

De 24 a 29 de julho de 2006 aconteceu o XXVIII ENESS na cidade de

Palmas-To57 Mais uma vez duas candidaturas disputam a direo da executiva Uma

chapa com membros e apoiada pelo grupo Viver na Luta e outra com apoio de

militantes de agrupamentos de oposio como PDP A sada pela Esquerda e um

grupo em processo de criao o ldquoCara e Coraes Novosrdquo A primeira saiu vencedora

no pleito

56 Inserida na luta em favor da Universidade pblica no Brasil a ENESSO divulga em outubro de 2005 nota de apoios aos (as) estudantes da Universidade Federal de Alagoas que desencadearam um movimento de greve reivindicando pautas do ME e se colocando contrrios(as) a contra-reforma educacional de Lula 57 O ENESS de Palma teve como tema Um outro mundo possvel ldquopara ver meu sonho teimoso se realizarrdquo

134

Nesse encontro as deliberaccedilotildees sancionadas manifestam a postura de

recusa dos(as) estudantes de Serviccedilo Social com o niacutetido processo de mercantilizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo presente na poliacutetica educacional de Lula

Diante disso observa-se a necessidade de se travar o debate da contra-

reforma articuladamente com a discussatildeo sobre formaccedilatildeo profissional tendecircncia jaacute

apreendidas nas gestotildees passadas Essa estrateacutegia eacute preconizada como meio de

facilitar a compreensatildeo por parte dos(as) estudantes dos negativos rebatimentos das

medidas efetivadas para seu cotidiano nas instituiccedilotildees de ensino e endogenamente

para profissatildeo Outra deliberaccedilatildeo referente ao ensino superior que explicita a direccedilatildeo

poliacutetica a ser seguida pela entidade trata-se da afirmaccedilatildeo que

a ENESSO natildeo dispute o anteprojeto no congresso se posicionando contrariamente agrave reforma universitaacuteria que expressa a mercantilizaccedilatildeo do ensino Combatendo por meio da formaccedilatildeo poliacutetica e do fortalecimento dos CAS e DAS e DCE`S e incentivando alianccedilas com CAS de outros cursos nas universidades nos municiacutepios e etc E com as entidades combativas que tambeacutem se colocam afetivamente contra a reforma neoliberal do ensino superior ( ENESSO p 03 2006)

Como destacado anteriormente as deliberaccedilotildees por englobarem o

consenso do coletivo de estudantes presentes no Encontro Nacional reflete de modo

mais amplo as contradiccedilotildees e disputas poliacuteticas no interior do MESS assim sendo

posturas nitidamente mais criacuteticas em relaccedilatildeo agrave gestatildeo e as accedilotildees de Lula podem ser

expressatildeo da forccedila de agrupamentos que fazem oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da

ENESSO

A partir da anaacutelise documental e aqui especialmente das deliberaccedilotildees

aprovadas no periacuteodo de 2003-2008 merece destaque o fato de ser constatada pelo

segmento estudantil a necessidade de construccedilatildeo de alianccedilas com outros sujeitos

histoacutericos no desenvolvimento de lutas e atividades seja no espaccedilo restrito da

universidade ou fora dele De tal forma salientamos a perspectiva de articulaccedilatildeo com

entidades como ABEPSS o Conjunto CFESS-CRESS o ANDES e outros

movimentos como O MST a defesa de participaccedilatildeo da ENESSO no grito dos

Excluiacutedos na luta em favor do territoacuterio indiacutegena quilombola dos direitos dos

trabalhadores rurais e urbanos

No ENESS de 2006 tanto no eixo de universidade como de formaccedilatildeo

profissional se confirma a posiccedilatildeo contraacuteria do MESS em relaccedilatildeo ao exame de

135

proficincia58 Esse apreendido como um mecanismo punitivo para os(as)

estudantes e que no contribui para melhorias de ensino e aprendizagem nas

instituies

No eixo de formao profissional reforada a relevncia da participao

dos(as) discentes e da prpria ENESSO na pesquisa promovida pela ABEPSS cujo

objetivo precpuo a analise do processo de implementao das Diretrizes

Curriculares no decorrer de seus 10 anos bem como se preocupa com o combate

conjuntamente com as outras entidades do Servio Social a abertura de cursos que

no sejam fundados nas diretrizes

Essa tendncia coloca a ENESSO definitivamente contra a poltica de

abertura de cursos de graduao distncia que como j ressaltado no captulo

anterior se proliferam por todo o pas e no segue o preconizado pelas legislaes da

profisso

A posio da ENESSO gera no mbito da organizao do MESS situaes

contraditrias e conflituosas Os(as) estudantes dessa modalidade se sentem

representados pela ENESSO Segundo dirigente da ENESSO no perodo de

20062007eu acho que cria uma crise ainda maior que vai pra alm disso a necessidade do estudante do ensino a distncia passa a sentir de criar uma prpria entidade que lhes represente porque se a gente for avaliar que o estudante ele acaba se sentindo retaliado em todo espao do movimento estudantil que vai(NETURNO)

Assim a gesto 20062007 da ENESSO ldquotodos(as) na lutardquo alm das

dificuldades de organizao provocadas por exemplo pelo contexto de refluxo dos

MS fragilidades na formao poltica dos(as)estudantes as condies objetivas do

segmento estudantil e da prpria ENESSO ainda enfrentou srios obstculos

decorrentes do aumento exagerado de estudantes provenientes de cursos distancia

que no concordam com a posio de negao da executiva referente a essa

modalidade

Para Neturno a principal estratgia para amenizar essa situao

conflitante foi o dilogo com os(as) estudantes inseridos(as) na graduao a distncia

A principal argumentao utilizada pela ENESSO nas reunies acontecidas durantes

os encontros regionais foi de pautar o debate da poltica educacional na

contemporaneidade nela incluindo a graduao a distancia e seus rebatimentos para

formao do(a) assistente social Essa dimenso elucidada na fala do(a)

entrevistado

58 No dia 28 de setembro de 2008 por ocasio do 37 Encontro Nacional CFESSCRESS a categoria aprova a no adoo do exame de proficincia para o Servio Social

136

principalmente natildeo ter uma regulamentaccedilatildeo para o estaacutegio como eacute que vai se daacute a questatildeo do aprendizado da pratica profissional como eacute que o estudante vai ter contato com a pratica profissional como vai ser essa orientaccedilatildeo Vai ser a distacircncia tambeacutem Pra um professor que natildeo conhece a realidade do local onde o estudante taacute executando a sua intervenccedilatildeo []Como eacute que a gente orienta intervenccedilatildeo num local que a gente natildeo conhece Esses foram os aspectos que facilitaram muito o diaacutelogo mostrar os pontos de fragilidades dessa metodologia e aiacute a gente conseguiu fazer com que eles se sentissem representados pela entidade durante aquele periacuteodo (NETURNO)

A preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas entidades esteve presente durante

a aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no eixo do ME durante o ENESS de Palmas Dessa

maneira naquele encontro asseverou-se que os estudantes ali presentes eram

contra o divisionismo do ME e dos espaccedilos que se constituem em criaccedilotildees de

entidades paralelas as jaacute existentes as quais natildeo fortalecem ao contrario

enfraquecem o movimento

Essa proposiccedilatildeo representa inquietaccedilotildees diante da modalidade a distacircncia

e ou tambeacutem representa uma criacutetica relativa agrave criaccedilatildeo da CONLUTE no ano de 2004

Jaacute que esta tem atuando em paralelo a UNE Esses questionamentos contribuem

para o processo de apreensatildeo das fragilidades que perpassa o ME na atualidade e

que repercutem na sua atuaccedilatildeo poliacutetica

Um fato significativo a ser registrado eacute que a 14ordf deliberaccedilatildeo do eixo

conjuntura previa para o final do encontro uma anaacutelise da gestatildeo de Lula no qual

resultaria em um documento com avaliaccedilatildeo e perspectivas do segmento diante desse

governo Entretanto as escolas59 que ficaram ateacute o final do encontro utilizaram o

argumento de esvaziamento da plenaacuteria para natildeo elaborar o documento A natildeo

materializaccedilatildeo dessa deliberaccedilatildeo representa uma contradiccedilatildeo poliacutetica da executiva

diante do governo Lula De negaccedilatildeo da poliacutetica educacional mas de afirmaccedilatildeo e

defesa de seu governo Mesmo com o total de 10 escolas presentes ateacute o final do

encontro o esvaziamento da plenaacuteria se constitui um argumento consistente

O jornal da executiva divulgado em abril de 2007 traz reflexotildees referentes

agrave formaccedilatildeo profissional Movimento Estudantil e Universidade A discussatildeo no campo

da formaccedilatildeo tem como cerne o posicionamento contraacuterio da entidade ao exame de

proficiecircncia No documento eacute exposto que a expansatildeo da esfera privada com a

utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia consistiu na principal determinaccedilatildeo para que

assistentes sociais assumissem a defesa de adoccedilatildeo desse mecanismo para a

59 As escolas foram PUC-RS UEPB UFPE UFPB UFAL ULBRA UFS UCSALUSF E PUC-BH

137

profisso Conforme anlise da ENESSO a aprovao do exame no remete

necessariamente a qualificao profissional de modo que

se quisermos realmente melhorar a nossa formao profissional e nos posicionarmos contrrios a tudo que venha de encontro s diretrizes curriculares da categoria teremos mais fora se pautarmos nossa bandeira histrica da implementao na integra das diretrizes curriculares teramos assim um aproveitamento melhor do rendimento dos estudantes e possivelmente uma melhor qualificao profissional( ENESSO p02 2007)

De 2003 a meados de 2008 recorte temporal da pesquisa constatamos

que a produo da ENESSO no que se refere ao debate da formao profissional

apresenta na sua totalidade uma ntida direo de defesa inconteste das Diretrizes

Curriculares contribuindo dessa maneira para o reconhecimento da importncia

dessa entidade perante a categoria nos diversos debates e espaos que perpassam o

Servio Social brasileiro

No mbito do ME a edio do jornal de abril de 2007 trouxe o debate em

torno da UNE como ponto prioritrio de sua reflexo A ENESSO analisa que ao se

colocar favorvel a poltica educacional do governo Lula a UNE provocou uma

fragmentao no ME Para a executiva necessrio unificar o Movimento e essa se

dar mediante a defesa de medidas como ldquodemocracia nas instituies de Ensino

regulamentao do ensino privado mais verbas para IFES para garantir expanso do

ensino pblico e acesso e permanecia rubrica especifica para assistncia estudantilrdquo

(ENESSO P02-03 2007)

Um processo de revitalizao no ME requer o fortalecimento de entidades

estudantis e o desenvolvimento de aes que possam contribuir verdadeiramente

para unificao de pautas de estudantes que hoje se encontram em diversificadas

instituies privadas e pblicas presenciais e no presenciais Mais alm disso

significa processualidades complexas e contraditrias vejamos a UNE atua em

defesa da contra-reforma do ensino mas age segundo as suas anlises em nome da

defesa da expanso da educao superior no pas Portanto vivenciamos uma

conjuntura difcil na qual entidades e movimentos antes considerados

majoritariamente como espaos de contestao do status quo hoje atuam em

consonncia com a ordem vigente embora se reclamando como defensores de

melhorias e preocupados com a transformao social

No ultimo eixo de discusso o jornal da executiva apresentou o texto

intitulado ldquopor uma Universidade Democrtica e Popularrdquo e que no seu princpio

destacava

138

Em 2002 com a eleiccedilatildeo do Governo Lula criou um clima de muitas expectativas para o movimento da educaccedilatildeo que viu em Lula a possibilidade de reverter os oitos anos de sucateamento do Ensino Superior Puacuteblico e de expansatildeo do mesmo No entanto tais expectativas natildeo foram correspondidas na integra o Governo iniciou seu governo apresentando uma proposta de Reforma Universitaacuteria que natildeo era suficiente para resolver os principais gargalhos do ensino superior como financiamento para IFES e a regulamentaccedilatildeo do setor privado (ENESSO P 03 2007)

Analisamos que mais que insuficiente a proposta do governo Lula se

colocou numa linha de continuidade a poliacutetica adotada na era FHC que se

manifestou por exemplo com o PROUNI e a Lei de Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica que

ratificaram firmemente o compromisso com a iniciativa privada deixando pra segundo

plano a educaccedilatildeo puacuteblica pois mesmo com a defesa de instituiccedilatildeo de cotas sociais e

raciais e posteriormente a concretizaccedilatildeo de alguns concursos puacuteblicos para docentes

nas Universidades Federais fruto das reivindicaccedilotildees dos segmentos dos

trabalhadores(as) em educaccedilatildeo o setor privado continuou intocaacutevel portanto

fazemos a anaacutelise que na verdade natildeo foi na iacutentegra que as expectativas natildeo foram

correspondidas elas foram substancialmente abaladas e negadas por este governo

O XXIX ENESS ocorreu de 14 a 19 de julho de 2007 na cidade de

Contagem-MG Nesse encontro duas chapas da regiatildeo V disputaram a coordenaccedilatildeo

nacional da entidade Uma composta por militantes do Rio de Janeiro vinculados(as)

aos agrupamentos A Saiacuteda eacute pela Esquerda e Cara e Coraccedilotildees Novos outra

constituiacuteda por estudantes do Espiacuterito Santo e Minas Gerais que publicizaram natildeo

pertencer a nenhum grupo organizado do MESS mas receberam o apoio de militantes

que se organizavam no Viver na Luta este que declarou no mesmo encontro o

teacutermino de suas contribuiccedilotildees no MESS a segunda candidatura venceu a disputa

Marte dirigente da gestatildeo 20072008 se referido aos agrupamentos que concorreram

a direccedilatildeo da ENESSO evidencia que

Noacutes dialogamos com todas as teses e estudantes sem perder a direccedilatildeo que queriacuteamos imprimir ao movimento No entanto natildeo conseguimos adesatildeo de algumas escolas do Rio pela forte influencia dessas duas correntes eacute importante destacar que essas duas correntes tecircm sua forccedila nesse estado e pouca influencia no restante do paiacutes

A partir das resoluccedilotildees desse encontro assinalamos que

majoritariamente o MESS constitui um segmento comprometido com a luta em favor

da universidade puacuteblica no Brasil e um sujeito que atua em defesa da formaccedilatildeo

subsidiada pelas Diretrizes Curriculares de 1996

139

Logo no eixo de conjuntura observamos a aprovao de deliberaes

mais crticas em relao ao governo Lula uma tendncia de negao de modo mais

abrangente e no limitadas as suas aes para o campo educacional

As deliberaes consistem expresso das diversas foras polticas que

militam no MESS e de certa maneira manifestam os posicionamentos diversificados

dessas foras inclusive sobre o governo Lula Dessa maneira a aprovao de

deliberaes que direcionam a ENESSO a desenvolver uma ao mais incisiva contra

as aes efetivadas durantes as gestes Lula pode certamente expressar o

fortalecimento de grupos polticos identificados como opositores a esse governo

No eixo de formao profissional o posicionamento contrrio ao exame de

proficincia se manteve a perspectiva de fortalecer a articulao com a ABEPSS e o

conjunto CFESS-CRESS no desenvolvimento de lutas e atividades voltadas para

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social o que por sua vez significa a

reafirmao e consolidao das Diretrizes Curriculares nesse contexto desfavorvel

para sua implementao

Especialmente no eixo universidade destacamos essa deliberao

Por uma poltica de universalizao do acesso universidade pblica que vise o fim do vestibular Expanso e ampliao das vagas nas universidades pblicas fim das taxas campanhas em defesa do ensino pblico gratuito laico de qualidade presencial para todas e todos em todos os nveis refutando a proposta do reuni e o atual processo de interiorizao das ifes por acreditamos que esse noatendem a essas reivindicaes (ENESSO 2007)

Logo a gesto 20072008 da ENESSO ldquoousar e unir todos(as) juntos

para construirrdquo teve pela frente a necessidade de desenvolver atividades contrrias a

mais uma das aes aprovadas no campo da contra-reforma do ensino superior o

REUNI A contra-reforma vem sendo efetivada de modo parcelado de incio foram

adotadas aes como o PROUNI a substituio do Provo pela ENADE depois

tivemos a proliferao dos cursos distncia entre outras medidas e mais

recentemente o REUNI Essa fragmentao reclama atuaes diferentes da ENESSO

assim por exemplo a estratgia de boicotar o ENADE obteve xito no mbito do

Servio Social em 2004 entretanto atividades contra o PROUNI eou REUNI requer

outras estratgias cada vez mais articuladas com outros segmentos dentro e fora do

espao universitrio Portanto no perodo estudado nessa pesquisa as gestes da

ENESSO nele includo tiveram que dar prosseguimento as aes voltadas para as

medidas j efetivadas bem como canalizar energias para as novas medidas

direcionadas para o ensino superior

140

O planejamento estratgico da nova gesto ocorreu nos dias 08 e 09 de

setembro de 2007 alguns dos planos forjados foram a necessidade de criao do

site da executiva o qual foi criado contudo so reduzidas as informaes

proveniente das limitadas atualizaes o desenvolvimento de seminrios regionais

juntamente com os CRESS sobre o exame de proficincia na ida dos coordenadores

da ENESSO as escolas ficou previsto a distribuio de materiais produzidos pelas

outras entidades da profisso como forma de potencializar a articulao das mesmas

realizar debates sobre a contra-reforma do ensino superior entre outras Outra

importante meta traada por ocasio do planejamento estratgico se referiu

promoo de um curso de formao poltica para os(as) militantes do MESS O estudo

de Santos(2007) afirma que essa gesto atuou apresentado como foco central de

suas aes o eixo da formao profissional com a reafirmao da direo social

consubstanciada no projeto profissional fundado na perspectiva crtica da inteno de

ruptura

A ENESSO em 22 de outubro de 2007 elaborou moo de apoio60 ldquos

universidades em luta para Barrar o REUNIrdquo na qual publiciza preocupaes com a

possibilidade de flexibilizao curricular prevista pelo programa registrada tambm

a indignao da executiva com qualquer tipo de represso direcionada aqueles(as)

que se manifestam politicamente contra essa medida do governo

Em 15 de maio de 2008 por ocasio das comemoraes do dia do(a)

assistente social a ENESSO conjuntamente com o Conjunto CFESSCRESS e a

ABEPSS socializaram manifesto contra cursos de graduao distncia em Servio

Social por entenderem que essa modalidade se confronta radicalmente com a

formao preconizada pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no documento

reafirmada a posio das entidades de continuarem lutando contra a abertura de

curso inseridos nessa modalidade o que por sua vez representa o compromisso com

a formao e exerccio profissional com qualidade

A gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo produziu uma

cartilha intitulada ldquo20 anos ENESSOrdquo em que apresentava didaticamente os

60 A gesto 2007-2008 ainda lanou em 09 de abril de 2008 moo de apoio ldquoAos estudantes da UNB para Barrar as Fundaes Privadas nas IFESrdquo A moo fazia referncia ocupao da reitoria da UNB por estudantes que reivindicam a retirada do reitor e a transparncia na administrao da instituio Em 08 de fevereiro de 2008 a executiva produziu moo de repdio contra a atitude do governo federal em no disponibilizar vagas para assistente social para concurso no Instituto Nacional de Seguro Social(INSS) Em 05 de maro de 2008 outra moo de apoio lanada em favor da luta das mulheres da via Campesina que ocuparam a Fazenda Tarum no RS em protesto contra a compra de terras ilegais pela empresa Stora Enso sendo a ao duramente reprimida pelo aparato policial conforme a moo a ocupao das mulheres camponesas legitima pois luta pela soberania alimentar e contra o Deserto Verde que destri a cada dia a biodiversidade das terras brasileiras forando milhares de camponeses a migrarem do campo para as periferias das cidadesrdquo ( ENESSO 2008)

141

diferentes espaos e entidades estudantis tais como CORETUR CA DCE

ENESSO e suas respectivas funcionalidades A cartilha foi elaborada com o objetivo

principal de fomentar a discusso sobre a organizao dos(as) estudantes com vistas

a criao de CA e DA vislumbrando dessa modo o fortalecimento do movimento

A cartilha ainda trouxe reflexes sobre a articulao da ENESSO com as

entidades internacionais a Federao Argentina de Estudantes de Trabalho

Social(FAETS) e a Associao Latino-americana de Ensino e Investigao em

Trabalho Social(ALEITS)61 Para executiva essa articulao representa esforos

voltados para o fortalecimento e ampliao das ldquoplataformas de lutas unificando

estudantes e trabalhadores contra a expanso de dominao do grande capital e em

defesa de um projeto societrio socialistardquo(ENESSO p 18 2007) Embora no seja o

objetivo precpuo dessa pesquisa o estudo das alianas da ENESSO com outras

entidades e movimentos torna-se necessrio destacar que a mesma procura

construir articulaes com sujeitos coletivos historicamente sintonizados com a luta

por direitos sociais bem como organizaes que vislumbra uma transformao

societal

Em junho de 2008 a ENESSO participou do Seminrio Nacional

ldquoPrecarizao da Formao e Implicaes no Exerccio Profissional Em debate

Metodologia do Depoimento Sem Danos e Exame de Proficinciardquo promovido pelo

CFESS62 Nesta oportunidade as trs entidades da categoria se posicionaram

contrria a realizao do exame de proficincia no Servio Social

Em julho de 2008 a gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo

divulga jornal no qual sintetiza as principais aes desenvolvidas pela direo entre

elas destacamos a materializao do curso de formao poltica previsto durante o

planejamento estratgico da Coordenao Nacional ainda em 2007 O Curso de

Formao Poltica do Movimento Estudantil em Servio Social(CFPMESS) ocorreu

de 22 a 25 de maio de 2008 durante o XXX CONESS no estado de Sergipe

promovido pela ENESSO Centro Acadmico de Servio Social da Universidade

Federal do Sergipe (UFS) e da representao discente em ABEPSS e com apoio do

conjunto CFESSCRESS e do MST visto que o evento se processou em um de seus

Assentamentos no caso particular o Quissam Consideramos a efetivao desse

curso necessrio e importante para o MESS dada a conjuntura de fragmentao do

ME e arrefecimento das lutas sociais alm disso por ter acontecido durante o

CONESS possibilitou a participao de representante de CA e DA de Servio Social

61 Essa entidade foi fundada em agosto de 2006 e o estatuto aprovado no XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais(CBAS) ocorrido em 2007 na cidade de Foz do Iguau ndash PR Nela os(as) estudantes tem direito a voz62 Este ocorreu nos dias 12 e 13 de junho de 2008 em Braslia-DF

142

de diferentes universidades potencializando a articulao dessas entidades e ainda

a sua realizao em um dos espaos do MST evidencia a perspectiva de construo

de alianas do MESS com segmentos do trabalho identificados com a transformao

social

O jornal publicizado em julho de 2008 traz um texto intitulado ldquopela

Revogao Imediata do REUNIrdquo Em que ratificada a direo assumida nas

deliberaes do XXIX ENESS pelo MESS O texto assevera que o Programa

possibilita uma flexibilizao curricular que desqualifica nossos diplomas e prejudica nossa formao profissional ou seja a total destruio dos diplomados profissionais em cursos bsicos genricos formando diplomados em nada Mas o resultado ser depois no mercado de trabalho com sub-remunerao destes diplomados em nada com salrios miserveis e a reduo do custo do trabalho em beneficio capitalista Essa poltica de destruio da educao ataca brutalmente as conquistas na rea da educao como no caso do ensino superior o seu trip de ensino-pesquisa-extenso que colocam a produo de conhecimentos para os interesses da nao e sua soberania ameaadas(ENESSO 2008 p06)

Podemos observar que anlise da ENESSO assume um carter

generalista em relao s aes do REUNI sem sinalizar possibilidade de formao

com qualidade no mbito desse programa Diante da realidade de total aprovao dos

programas pelas universidades federais acreditamos que a correlao de foras no

interior das instituies seja importante para que mesmo com recursos

disponibilizados por esse programa possam ser implementadas melhorias para a

comunidade acadmica bem como potencializar a construo de cursos

fundamentados nos projetos pedaggicos de suas profisses essa ressalva se torna

relevante sobretudo entretanto voltamos a afirmar que a abertura de concursos no

significa no Servio Social em particular a garantia dos princpios formativos

defendidos pela profisso

De 13 a 17 de julho de 2008 ocorreu o XXX ENESS na Universidade

Estadual de Londrina (UEL) com o ttulo ldquoo sonho no envelhece 30 anos de

reorganizao do MESSrdquo em referncia a realizao do ENESS de 1978 considerado

marco na reorganizao do MESS o qual foi realizado na mesma universidade A

escolha da UEL para sediar o XXX ENESS ao se configurar com um ato de

homenagem para alm disso consistiu em resgate histrico da trajetria de

organizao e atuao desse movimento no Brasil

Neste encontro inicialmente trs chapas se propuseram a disputar a

direo da ENESSO visto que uma das chapas antes de comear o processo de

votao fomentou o debate em torno do anarquismo e solicitou aos(as) estudantes

143

simpatizantes da chapa que se abstivessem da eleio de tal modo que somente

duas candidaturas concorreram de fato a direo da executiva

A chapa ldquoMaria Bonitardquo constituda de estudantes de So Paulo e contava

com o apoio de militantes que se organizavam no recente extinto grupo Viver na Luta

que esteve frente da coordenao nacional da entidade nas gestes anteriores

A outra candidatura consista a ldquoFrente de Esquerda no MESSrdquo composta

por estudantes da regio V e majoritariamente da Universidade Federal do Rio de

Janeiro e vinculados aos agrupamentos ldquoA Sada Pela Esquerdardquo e pelo coletivo em

processo de formao ldquoRompendo Amarrasrdquo

Segundo militante de oposio que nos concedeu informaes durante a

produo de dados para essa pesquisa logo aps as escolas terem votado dois

estudantes de diferentes instituies argumentaram que suas escolas no foram

chamadas para votao63 contudo no tinha o registro de participao dessas

escolas que estavam representadas somente por um estudante nos outros

momentos de discusso e deliberao do encontro o que remete ao entendimento

que tais sujeitos estavam preocupados somente com a disputa dos cargos da

ENESSO Ainda com base nas argumentaes de Luz64 esses dois estudantes

votaram65 na chapa ldquoMaria Bonitardquo e que segundo o resultado da votao tal chapa

venceu a disputa com a diferena de trs votos portanto a quantidade de votos que

uma escola tem direito

Entretanto depois de anunciado o resultado propagou-se a denuncia que

um dos estudantes que havia reclamado de ltima hora a participao no processo de

votao no era estudante de Servio Social o que gerou impasse diante dessa

atitude fraudulenta e antidemocrtica pois ao se retirar os trs votos que o mesmo

creditou na chapa ldquoMaria Bonitardquo o pleito ficou empatado

63 Nesse encontro o voto foi por escola conforme o qual cada escola tem direitos a trs votos independentes da quantidade de estudantes presentes o que garante a paridade entre as instituies contudo importante destacar que esse sistema de votao alvo de discordncia e de consistentes conflitos nos fruns do MESS64 Militante de oposio que contribuiu nessa investigao mediante a resposta de questionamentos relacionados atuao das tendncias e da ENESSO nessa conjuntura de concretizao da contra-reforma do ensino superior dimenses aprofundadas no item 4 desse capitulo65 possvel ter conhecimento em que chapa se votou pois a votao se processa de modo aberto para plenria a comisso chama nominalmente as escolas e as mesmas declaram seus votos que sendo por escola a depender de divergncias interna dos alunos(os) essa diferena se manifesta e assim uma mesma escola pode votar em diferentes chapas assim por exemplo os trs votos a que uma escola tem direito pode se destinar um pra uma determinada chapa e dois para outra o que no acontece quando um escola est representada poder um(a) estudante visto que ele(a) direciona os trs votos sem a existncia de posicionamento interno contrrio no ato da votao

144

Portanto o processo foi anulado diante dessas praacuteticas antidemocraacuteticas

que corroboram para o natildeo fortalecimento do MESS e de suas entidades Dimensatildeo

explicitada tambeacutem pelo(o) dirigente da ENESSO da gestatildeo 20072008 que esteve

na constituiccedilatildeo da comissatildeo eleitoral que confirmou o fato de que um estudante do

curso de histoacuteria votou como se fosse estudante de Serviccedilo Social o que justificaria a

ato de anulaccedilatildeo Conforme explicitado a seguir

Verifiquei com o estudante a denuacutencia e relatou que realmente natildeo era estudante de Serviccedilo Social e sim de histoacuteria e que tinha sido convidado por um amigo estudante de Serviccedilo Social membro do PT e que havia solicitado para que votasse Diante dos fatos declaramos o processo anulado conforme rege o estatuto e observamos as condiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de novo pleito O que foi impossiacutevel por algumas escolas terem viajado de volta para seus estados apoacutes a votaccedilatildeo e outras estarem de saiacuteda Tentamos um acordo entre as chapas para que existisse uma gestatildeo compartilhada entre elas mas natildeo obteve ecircxito A chapa de Satildeo Paulo propocircs que a nossa gestatildeo continuasse ateacute encontrar outra data para uma nova eleiccedilatildeo apesar de natildeo querermos achamos melhor do que deixar sem Coordenaccedilatildeo Nacional Num primeiro momento de discussatildeo a ideacuteia teve boa aceitaccedilatildeo mas a chapa do Rio de Janeiro rebateu a proposta e por fim os estudantes se retiraram pouco a pouco inviabilizando qualquer tipo de eleiccedilatildeo por natildeo ser legiacutetimo um processo sem todas as escolas

O preocupante eacute que o estudante de histoacuteria enganou parte significativa da

plenaacuteria entretanto como demonstrado na fala anterior militantes do MESS tinham

conhecimento da situaccedilatildeo fraudulenta que se processava na disputa pela

coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO e mesmo assim foram incapazes de denunciar

essa fraude o que revela a real existecircncia de militantes nesse movimento que se

utilizam de qualquer artifiacutecio sem considerar princiacutepios como a socializaccedilatildeo de

informaccedilatildeo a recusa de praacutetica autoritaacuterias e enganosas que desrespeitam o

posicionamento diferenciado de seus colegas e os interesses da maioria

Embora sem coordenaccedilatildeo nacional as deliberaccedilotildees aprovadas nesse

encontro para a gestatildeo 20082009 da executiva posicionam essa entidade a encampar

lutas que ratifiquem a direccedilatildeo contraacuteria da entidade em relaccedilatildeo agraves medidas para

educaccedilatildeo superior do governo Lula Em espacial no eixo de universidade66 foram

mantidas as mesmas deliberaccedilotildees ratificadas no ENESS passado Dessa maneira se

mantecircm a posiccedilatildeo de negaccedilatildeo ao SINAES PROUNI REUNI educaccedilatildeo a distacircncia

entre outras

66 Esta decisatildeo foi tomada devido ao atraso na programaccedilatildeo do evento que minimizou o tempo destinado a revisatildeo das deliberaccedilotildees

145

No campo especifico da formao profissional se vislumbra a

preocupao do segmento estudantil na apropriao dos dados obtidos com a

pesquisa avaliativa das Diretrizes Curriculares realizada pela ABEPSS Nesse sentido

tem-se o encaminhamento de que tanto no Seminrio Regional como Nacional de

Formao Profissional e Movimento Estudantil em Servio Social se garanta espaos

destinados para divulgao dos resultados da pesquisa Alm disso tem a indicao

de que

A ENESSO e a representao discente em ABEPSS fortaleam a luta contra o exame de proficincia nas escolas e no encontro do conjunto CFESSCRESS garantindo a sua participao em todo momento no encontro E fomentar o debate sobre uma nova avaliao que envolva os trs segmentos da categoria(discente docentes e profissionais) e que amplie a construo dessa ferramenta para que seja uma avaliao continuada( ENESSO 2008)

Nessa perspectiva apreendemos a preocupao do segmento estudantil

com a construo de processos avaliativos que corroborem no entendimento dos

limites e potencialidades da formao profissional portanto a negao em relao ao

ENADE significa um posicionamento poltico de negao a um sistema de avaliao

majoritariamente punitivo para os(as) estudantes ou seja no representa a rejeio a

avaliao mas aos interesses que ela representa

No eixo de ME a complexa processualidade de afirmaonegao da

UNE se confirma mais uma vez Tendncia que se manifesta tambm em relao

CONLUTE ldquoque a ENESSO fomente debate da CONLUTE e outras organizaes de

luta na medida em que esta se apresenta como espao de luta contra a reforma

universitriardquo (ENESSO 2008) A promoo de articulao em relao CONLUTE se

pauta de modo restrito no campo de negao da contra-reforma do ensino superior

no sendo considerada a possibilidade de vinculao com esta organizao no

desenvolvimento de outras atividades e lutas

Diante das deliberaes analisadas corroboramos com Santos quando

ele afirma que elas se estruturam em grandes blocos de discusso decorrente

certamente da prpria organizao em eixos entretanto essa tendncia no significa

que esse segmento ldquono atualize e aperfeioe suas bandeiras e instrumentos de luta

mas pelo contrrio revela que os estudantes organizados no movimento imprimem

uma prxis poltica que possibilita a continuidade de suas lutas e resistncia

reafirmada a cada encontrordquo (p124)

Entretanto no ano de comemoraes relativas aos 30 anos de

reorganizao do MESS e de 20 anos de criao da ENESSO no tivemos para

implementao das deliberaes a ocupao dos cargos nacionais dessa entidade

146

como explicitado acima As prticas antidemocrticas a acirrada disputa entre duas

candidaturas e a no previso estatutria diante do impasse estabelecido aliada a

indisponibilidade poltica que possibilitassem a construo de um consenso

concorreram para o estabelecimento dessa lamentvel ausncia de coordenadores

nacionais ficando a incumbncia de materializao das deliberaes para as

coordenaes regionais O fortalecimento das coordenaes regionais legitimo e

necessria contudo o esvaziamento das coordenaes nacionais da ENESSO

dificulta a prpria potencializao dessas instncias visto que se minimiza ou at

mesmo fica impossibilitada o desenvolvimento de campanhas nacionais seja nos

mbitos da universidade eou formao profissional alm disso a responsabilidade na

produo de material a serem socializadas com a base estudantil fica fortemente

comprometida a representao da entidade em eventos fica sem referncia entre

outras

Em setembro de 2008 ex-militantes do MESS e reunidos(as) em Braslia

durante o 37 Encontro Nacional CFESSCRESS construram e divulgaram carta

intitulada ldquoaos estudantes de Servio Social coordenadores regionais da enesso e

diretorias de CAs e DAs do pasrdquo sinalizando preocupaes com o fato acontecido

Dela extramos o seguinte fragmento

A ENESSO patrimnio poltico do Servio Social brasileiro e foi construda por muitas mos e foras polticas desde 1979 tendo sido Executiva Nacional SESSUNE e ENESSO Em seu mbito se formaram geraes de assistentes sociais no campo do projeto tico-poltico muitos hoje militantes do Conjunto CFESSCRESS da ABEPSS da ALAEITS e dos movimentos de resistncia barbrie capitalista Nesse momento de contra-reforma do ensino superior mais do que nunca fundamental que a ENESSO esteja forte representativa e estruturada

O trecho apesar de suscito evidencia com propriedades a importncia da

ENESSO na trajetria de construo e defesa do projeto profissional do Servio Social

e aborda ainda a relevncia de se ter uma entidade comprometida com a defesa de

uma educao e uma formao de qualidades neste contexto de tentativa de

esfacelamento desse ideal Diante do exposto que desafios apreendemos nessa

conjuntura complexa para o ME particularizada no mbito do MESS com as

fragilidades que hoje enfrenta o MESS e a ENESSO

147

5-3 REFLEXOtildeES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO

Com a anaacutelise do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO e da pesquisa

documental associada agraves informaccedilotildees concedidas nas entrevistas pelos(as) ex-

Coordenadores(as) da entidade trataremos de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre sua

accedilatildeo nessa conjuntura de materializaccedilatildeo da contra-reforma do ensino superior

procurando abordar tambeacutem as possibilidades e limites dessa atuaccedilatildeo

Dessa maneira os dados sugerem que a vivecircncia dos(as) estudantes

ainda nos primeiros periacuteodos do curso de Serviccedilo Social nos foacuteruns estudantis como

ERESS seminaacuterios estudantis de formaccedilatildeo profissional e encontros locais satildeo

fundamentais para instigar a participaccedilatildeo desses(as) na construccedilatildeo da entidade

os(as) levando a disputa de sua direccedilatildeo

Satildeo nesses espaccedilos que se materializam discussotildees se constroem

deliberaccedilotildees e se direciona a atuaccedilatildeo da ENESSO potencializando a articulaccedilatildeo e

aproximaccedilatildeo dos(as) estudantes com o ME e suas entidades Essa perspectiva

requer dos CA e DA o desenvolvimento de atividades sistemaacuteticas dada a

transitoriedade do movimento voltadas para o incentivo de participaccedilatildeo dos(as)

estudantes ainda nos primeiros periacuteodos do curso nos diferentes espaccedilos de

organizaccedilatildeo do segmento estudantil nesse contexto de retraccedilatildeo poliacutetica

comprometida com a transformaccedilatildeo societal e de difiacuteceis condiccedilotildees objetivas de

militantes e das proacuteprias entidades que os(as) representam

Em pesquisa empiacuterica realizada com os(as) estudantes presentes no

XXIX ENESS na cidade de ContagemBH Santos (2007) diante dos dados

produzidos afirma que a maioria se encontravam no terceiro e quarto periacuteodo do

Curso de Serviccedilo Social com o percentual de 33 dos entrevistados(as)67 A referida

pesquisa ainda indicou que 65 dos(as) estudantes que participaram da

investigaccedilatildeo estavam no encontro na condiccedilatildeo de natildeo ocupantes de cargos em

entidade estudantil como CA ou DA

No acircmbito do ME e em particular no MESS eacute expressivo a presenccedila de

estudantes organizados(as) em grupos entretanto nem todos elaboram teses ou

seja documentos que manifestam o direcionamento do agrupamento sobre as

questotildees discutidas pelo movimento tais como conjuntura formaccedilatildeo profissional

cultura e valores ME e universidade Na esfera do Serviccedilo Social e no periacuteodo

delimitado pela pesquisa o Projeto Democraacutetico Popular(PDP) Viver na Luta A saiacuteda

67 Esses dados foram obtidos mediante a utilizaccedilatildeo de questionaacuterios respondidos por cinquumlenta e quatro estudantes de Serviccedilo Social que estiveram no ENESS realizado em julho de 2007 no qual esteve presente mais de quinhentos discentes de todo paiacutes

148

Pela Esquerda68 e o Cara e Coraes Novos se constituam os principais grupos

polticos presentes na organizao do MESS Segundo Rodrigues

Em junho de 2008 existem dois grupos organizados em teses no MESS dentre os diversos grupos que organizam-se em ldquopr-tesesrdquo ou apenas como grupos polticos organizados Os grupos organizados em teses so Projeto Democrtico e Popular ndash PDP e A Sada pela Esquerda No XXIX ENESS em 2007 o Viver na Luta - VNLapresentou para os estudantes o fim da tese mesmo assim alguns de seus militantes ainda se organizam em grupos polticos no MESS (2008 p 43)

O PDP69 esteve na direo da ENESSO por um perodo bastante

expressivo do inicio a segunda metade da dcada de 1990 quando perde a

hegemonia para o grupo Eu Quero Mais(EQM)70 todavia segundo Ramos(2005) ldquoa

mudana de direo no comprometeu o acumulo de discusso no processo de

construo da organizao estudantil e da defesa do projeto tico-poltico

profissionalrdquo(p103)

No processo de produo de dados para esta pesquisa dos(as) cinco

entrevistados(as) um(a) de cada gesto que compreende o perodo de 2003-2008

quatro deles(as) eram membros do agrupamento poltico Viver na Luta Sendo que

dois desses(as) militantes tambm se organizavam na tendncias partidria a

Articulao de Esquerda(AE) e outro(a) dirigente construa o agrupamento partidrio a

Democracia Socialista(DS) Tanto a AE como a DS so vinculadas ao PT Para

esses(as) quatros dirigentes os grupos so importantes espaos de organizao e de

construo poltica e que contribui para o desenvolvimento de aes mais

qualificadas o que por sua vez corrobora com o fortalecimento do MESS e da

ENESSO Podemos apreender essa perspectiva na fala do(a) entrevistado(a)

O acumulo das organizaes dentro do Movimento Estudantil so extremamente importantes principalmente quando essas organizaes constroem teses que apresentam nos encontros nacionais a concepo poltica que se tem do movimento extremamente importante no s para o militante que t nesse processo de organizao mas como tambm para os estudantes

68 A sada pela Esquerda surgiu no ENESS de 2004 realizado em vitria-ES Cf Rodrigues(2008) Para Silva esse grupo surgiu j no ENESS de 2003 realizado em Salvador-BA 69 O PDP surge nos anos de 1980 e se constituiu o primeiro agrupamento organizado em tese no mbito do MESS sendo vigente at os dias atuais70 O EQM encerrou suas contribuies no ano de 2003 com o trmino desse grupo muitos de seus militantes acabaram por contribuir na constituio do agrupamento Viver na Luta no ano de 2004 este que predominou na direo da ENESSO no perodo ora abordado nesta pesquisa

149

que acabam percebendo quais satildeo as vertentes poliacuteticas que norteiam cada organizaccedilatildeo em termos do mess (NETURNO)

De 2003 a 2007 eacute importante registrar a predominacircncia na direccedilatildeo da

ENESSO de estudantes pertencentes ou simpatizantes ao grupo poliacutetico Viver na

Luta que socializou no ENESS de 2007 o fim de sua atuaccedilatildeo no MESS Para Marte

da gestatildeo 20052006 que afirma ter sido um dos(as) fundadores(as) do Viver na Luta

elenca como diferencial do agrupamento a preocupaccedilatildeo com o eixo da formaccedilatildeo

profissional e a defesa do voto universal nos processo de votaccedilatildeo nos ENESS

Diante do exposto apreendemos que eacute recorrente a construccedilatildeo e

desconstruccedilatildeo de agrupamentos no MESS e que algum deles mesmo chegando agrave

direccedilatildeo da entidade natildeo apresenta uma atuaccedilatildeo duradoura na organizaccedilatildeo do

movimento exemplo dessa perspectiva o proacuteprio fim do EQM e posteriormente do

Viver na Luta e por outro lado embora o PDP que impulsionou a poliacutetica da ENESSO

por um periacuteodo consideraacutevel e que continua em vigecircncia na contemporaneidade

apresenta fragilidades e natildeo consegue construir alianccedilas para assumir a direccedilatildeo

nacional da entidade aleacutem disso tivemos a criaccedilatildeo do grupo A Saiacuteda eacute Pela Esquerda

e mais recentemente por volta de 2006 o Cara e Coraccedilotildees Novos Segundo

concepccedilatildeo de Rodrigues

As teses e grupos presentes no MESS divergem principalmente na leitura que fazem de conjuntura da sociedade brasileira essencialmente sobre anaacutelise governamental em relaccedilatildeo ao governo Lula como tambeacutem as estrateacutegias as accedilotildees e organizaccedilatildeo do MESS o que por muitas vezes acabam por limitar o debate no interior do movimento estudantil sectarizando o movimento e dificultando o fortalecimento das lutas(45)

Diante do exposto eacute possiacutevel apreendermos o quanto processual eacute a

organizaccedilatildeo no MESS e que os agrupamentos expressam as divergecircncias disputas e

a heterogeneidade caracteriacutestica desse movimento Analisamos ainda que a

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de agrupamentos em curto espaccedilo de tempo revelam

instabilidades poliacuteticas pela qual perpassa o MESS na atualidade e que imbuiacuteda nessa

conjuntura de instabilidade e retraccedilatildeo poliacutetica da classe trabalhadora se expressam

em posicionamentos diferenciados em relaccedilatildeo ao governo Lula bem como no tocante

as entidades sindicais e estudantis criadas depois da ascensatildeo do PT ao governo

federal como a CONLUTAS e a CONLUTE

150

Direcionamento desfavorvel a atuao dos grupos polticos foi sinalizada

por um(a) das dirigentes entrevistados(a) pertencente a gesto 20072008 e que se

declarou no pertencer a nenhum agrupamento existentes no MESS segundo o qual

As correntes dentro do MESS sempre tiveram como pano de fundouma influncia partidria velada O que do meu ponto de vista engessa os debates empobrece os espaos de participao dos estudantes fragiliza e fragmenta o movimento estudantil A atuao das tendncias tem se limitado a disputa por cargos de direo da ENESSO e no percebo contribuies de nenhuma corrente para a abertura e consolidao de novos DAs CAs entre outros aspectos relevantes para o movimento Sua participao se limita praticamente aos Encontros utilizando de uma poltica panfletria para adeso de novos militantes No entanto isso no significa que no possuam influncia na escolha dos dirigentes da ENESSO Apesar das limitaes apresentadas e das incoerncias apontadas conseguem articular no momento dos encontros as faculdades para a eleio dos novos representantes(Marte)

Como demonstrado na construo do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

a maioria de militantes no filiados(as) a partidos polticos entretanto no podemos

desconsiderar a vinculao existentes entre esses dois sujeitos coletivos que se

manifesta tambm na filiao partidria de estudantes organizados em

agrupamentos no MESS Dessa maneira significativa a presena na construo do

MESS de sujeitos inseridos(as) no PSOL PSTU e PT este que teve militantes

filiados(as) na direo nacional da ENESSO em todas as gestes abordadas no

perodo aqui analisado No mbito de discusso dessa problematizao Santos

assinala uma perspectiva polmica que se processa nos debates do MESS

presente nos debates[] a preocupao com as influncias das correntes polticas partidrias no movimento Esse debate polariza-se fundamentalmente sob as tentativas de aparelhamento do movimento estudantil pelos partidos polticos que buscam fazer da ENESSO uma correia de transmisso das lutas e das pautas partidrias ndash no caso dos ltimos encontros (2004-2007) trata-se da prtica poltica dos sujeitos ligados a tendncia interna do PT Articulao de Esquerda AEPT (chegou a hegemonizar o ex-Coletivo ldquoViver Na Lutardquo ndash findou sua contribuio no XXIX ENESS2007) pelos militantes do [] PSTU (mantm hegemonia sob o coletivo ldquoA sada pela Esquerdardquo e busca dentre outras pautas impor o rompimento poltico da ENESSO com a UNE de forma sectria e a construo da CONLUTE Tal prtica muitas vezes se afasta das discusses especficas do MESS especialmente no eixo de formao profissional) pelos militantes ligados [] PSOL (Mantm hegemonia no recente coletivocriado em 2006 ldquoPor um MESS de Caras e Coraes Novosrdquo e na Tese ldquoProjeto Democrtico e Popular- PDPrdquo Esse coletivo se inscreve como uma alternativa frente a crise instaurada no movimento a partir

151

das disputas pela direo da ENESSO no entanto no conseguiu efetivamente fazer sua poltica e acabam por seguir as orientao polticas do coletivo ldquoA sada Pela Esquerdardquo(SANTOS71 2007 p122)

Temos a compreenso que o aparelhamento se expressa por exemplo

na ausncia de espaos democrticos o que no ocorre no MESS pois existe um

variedade de fruns estudantis que possibilita a participao dos(as) estudantes nas

tomadas de deciso o que se confirma no processo de aprovao das deliberaes

que norteiam a direo poltica a ser assumida pela ENESSO entretanto no

podemos deixar de considerar que o MESS passa atualmente por momentos de

instabilidades e que repercute na sua entidade mxima Sem dvidas se processa

um contexto de acirramento entres os grupos polticos atuantes no MESS mas isso

reflete a conjuntura na qual estamos imbudos(as) no remetendo necessariamente a

uma tendncia de busca de aparelhamento da executiva pois se assim fosse no

perodo aqui investigado no qual tivemos a predominncia de militantes do

agrupamento viver na luta hegemonizado pela AEPT como afirmado por

Santos(2007) nos documentos produzidos pela entidade no se apresentaria uma

negao da contra-reforma do ensino superior do governo Lula pois estaria se

contrapondo as recomendaes do Partido e uma entidade aparelhada desconsidera

as demandas do movimento para atender as requisies partidrias o que no se

verificou nessa pesquisa no que concerne a atuao da ENESSO no mbito da

universidade

Dessa maneira temos a concepo que a existncia de partidrios(as) do

PT na direo da ENESSO no significa necessariamente e de modo mecanizado a

aceitao da contra-reforma do ensino superior implementada pelo governo do PT

tendncia evidenciada nos documentos produzidos pelas gestes da entidade e

analisados no item anterior Essa perspectiva tambm reforada nas entrevistas

concedidas pelos(as) militantes e sintetizada na fala de Vnus

No ano em que era membro da Executiva ramos contrrios a reforma universitria pelo fato da reforma se constituir em uma estratgia superficial de enfrentamento da educao brasileira que legitima o processo de precarizao massificao e mercantilizao do ensino transformando os direitos sociais em mercadorias e servios

71 O autor tambm explcita que nos ENESS que compreendem o perodo de 2004-2007 as teses em sua totalidade privilegiaram as discusses em torno do eixo de conjuntura trabalhando de modo superficial as demais esferas universidade formao profissional movimento estudantil e Cultura e Valores

152

O posicionamento contraacuterio da ENESSO foi ressaltada por todos(as) os

entrevistados(as) sendo que em cada gestatildeo as discussotildees produccedilatildeo de material

desenvolvimento de atividades como oficinas divulgaccedilatildeo de textos entre outros

consideravam a complexidade e processualidade do real Nesse sentido podemos

afirmar que nas gestotildees 20032004 e 20042005 a aproximaccedilatildeo entendimento e

direcionamento contraacuterios as medidas iniciais propostas e executadas pelo governo

como o SINAES e o PROUNI consistiam no alvo prioritaacuterio dessas atividades

Conforme Urano da gestatildeo 20042005

Noacutes desencadeamos uma campanha que foi contra a reforma universitaacuteria do governo lula em defesa das diretrizes curricularesHouveram varias accedilotildees primeira accedilatildeo e aiacute saiu como deliberaccedilatildeo no eness que noacutes divulgamos foi o boicote ao enade[]e aiacute a gente jaacute saiu do eness com essas deliberaccedilatildeo de boicotar o enade Aprovamos como seria a nossa taacutetica no planejamento que foi em agosto e aiacute a partir daiacute noacutes elaboramos boletins elaboramos planfetos com dez motivos para boicotar o enade entramos em contato com as coordenaccedilotildees regionais com os centros acadecircmicos e fizemos toda a campanha a primeira accedilatildeo de boicote ao enadeApoacutes o boicote noacutes fizemos que aiacute ta no jornal[]avaliaccedilatildeo desse boicote eacute aleacutem disso[]que foi esse debate mais amplo sobre a reforma universitaacuteria[]fizemos vaacuterias palestras fizemos adesivos fizemos oficinas passadas nas universidades Nesse sentido orientamos para que nos encontros tanto nos coress nos eress houvessem discussotildees nesse sentido e aiacute tambeacutem aconteceu que em todos esses encontros tinham esse debate debater o mote da campanha e levando as especificidades de cada regiatildeo[]mas sempre presentes nos debates nos encontros nas oficinas orientando as universidades a fazerem debates palestras seminaacuterios para que fosse esclarecendo aos estudantes neacute Do que se tratava a reforma universitaacuteria

Nas gestotildees seguintes 20052006 20062007 e 20072008 o

posicionamento de negaccedilatildeo a contra-reforma se manifesta tambeacutem nas criacuteticas

direcionas a aberturas e proliferaccedilatildeo dos cursos em Serviccedilo Social agrave distacircncia nas

discussotildees e negaccedilatildeo do exame de proficiecircncia na profissatildeo nas criacuteticas feitas ao

REUNI Dimensatildeo sintetizada na argumentaccedilatildeo de Neturno da gestatildeo 20062007

O REUNI[] eacute um debate que vai contra a tudo que gente defendeprincipalmente por que a nossa defesa do projeto pedagoacutegico jaacute imbrica na disputa de espaccedilo com esse projeto do REUNI entatildeo isso eacute algo que jaacute foi constituiacutedo no final no termino da nossa gestatildeo mas que ficou claro[] natildeo dava pra ser a favor daquilo que batia direto nas nossas diretrizes curriculares batia em tudo que a gente havia deliberado ao longo do ano no encontro nacional em tudo que tinha sido construiacutedo ateacute do plano de accedilatildeo da proacutepria gestatildeo

153

Os(as) dirigentes da ENESSO apreendem a contra-reforma como um

processo desencadeado principalmente na era FHC e dessa maneira natildeo deve ser

entendido sem essa anaacutelise histoacuterica mais ampla Corroboramos com a anaacutelise feita

pelos(as) militantes entrevistados(as) contudo temos a concepccedilatildeo que por se tratar

de um governo de um partido forjado no campo dos MS as suas accedilotildees deveriam ser

de resistecircncia aos ditames do capital e natildeo de entrega da educaccedilatildeo a plena

exploraccedilatildeo capitalista sem o esboccedilo de nenhum confronto conflito ou desobediecircncia

aos organismos internacionais

No tocante a formaccedilatildeo profissional os dados destacam o compromisso do

MESS e de sua entidade nacional com a defesa do projeto pautado nas Diretrizes

Curriculares elaboradas pela ABEPSS em 1996 e que desde o processo de

aprovaccedilatildeo pelo CNE sofre os rebatimentos da poliacutetica privatizante que atinge a

educaccedilatildeo superior brasileira Conforme argumentaccedilatildeo de Ramos(2005 p102)

a formaccedilatildeo profissional eacute um acircmbito que vem tendo um investimento prioritaacuterio do MESS a partir da compreensatildeo de que o debate em torno do projeto de formaccedilatildeo profissional eacute um campo de disputa ideoloacutegica e poliacutetica para a defesa de uma outra direccedilatildeo para universidade bem como de uma outra hegemonia para a sociedade

A direccedilatildeo social criacutetica da formaccedilatildeo defendida pela ENESSO e expressa

tanto nos documentos produzidos como na fala de seus(as) dirigentes apresenta

sintonia com a afirmaccedilatildeo da autora

A formaccedilatildeo profissional consiste um dos eixos prioritaacuterios de debate no

MESS No ENESS satildeo formados grupos de discussatildeo voltados para o debate dessa

temaacutetica resultando nas deliberaccedilotildees aprovadas na plenaacuteria final e que constitui o

norte para a accedilatildeo da ENESSO como tratado no item anterior

A defesa do projeto de formaccedilatildeo profissional se manifesta tambeacutem na

articulaccedilatildeo da ENESSO com a ABEPSS e o CFESS no desenvolvimento de

encontros e atividades voltados para discussatildeo da formaccedilatildeo e do exerciacutecio

profissional Temos o entendimento que universidade formaccedilatildeo e o exerciacutecio

profissional satildeo dimensotildees distintas e interdependes entre si e que constituem

esferas privilegiadas de discussatildeo no acircmbito da organizaccedilatildeo estudantil Essa

tendecircncia se verifica de modo majoritaacuterio pelos sujeitos entrevistados(as)

Eacute o mess ele sempre teve pautado na defesa das diretrizescurriculares e a efetivaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do serviccedilo social entatildeo assim eacute natildeo haacute uma dissociaccedilatildeo a militacircncia a construccedilatildeo poliacutetica a defesa de uma universidade puacuteblica gratuita e de qualidade dentro dos princiacutepios do projeto eacutetico poliacutetico profissional e das diretrizes curriculares( Terra)

154

A investigaccedilatildeo realizada por Santos(2007) sugere que a esfera da

formaccedilatildeo profissional se configurou como o eixo que provocou maior interesse

dos(as) estudantes que estiveram presente no ENESS de 2007 com o percentual de

38 da amostragem produzida por ele72 Entretanto as discussotildees sobre a formaccedilatildeo

profissional natildeo podem ser entendidas sem contextualizaacute-las na atual dinacircmica da

sociabilidade capitalista e suas particularidades na realidade nacional

Quanto agraves limitaccedilotildees foram salientadas pelos dirigentes nacionais

questotildees financeiras que dificultam a materializaccedilatildeo das atividades planejadas para

objetivaccedilatildeo das deliberaccedilotildees

A dimensatildeo geograacutefica do paiacutes que mesmo com a existecircncia das

coordenaccedilotildees regionais inviabiliza a atuaccedilatildeo da executiva na totalidade das escolas

de Serviccedilo Social realidade que se tornou mais complexa com a intensificaccedilatildeo da

privatizaccedilatildeo no ensino superior que ampliou de modo expressivo os cursos na

iniciativa privada Entretanto eacute interessante destacar que pode existir profundos

tensionamentos entre coordenaccedilatildeo nacional e regional pois a eleiccedilatildeo para as

regionais satildeo realizadas nos ERESS e desvinculadas da eleiccedilatildeo nacional o que por

sua vez e permite ainda a ocupaccedilatildeo dessas instacircncias por militantes com

posicionamentos poliacuteticos divergentes da direccedilatildeo nacional Essa perspectiva foi

salientadas por dois(duas) dirigentes que sinalizaram dificuldades da ENESSO em

desenvolver atividades em determinadas regiotildees

A mercantilizaccedilatildeo tambeacutem traz dificuldades para a atuaccedilatildeo da ENESSO

pois a fala majoritaacuteria dos(as) entrevistados(as) indicam maior autonomia de

organizaccedilatildeo na esfera puacuteblica

A fraacutegil formaccedilatildeo poliacutetica dos(as) estudantes que corroboram para uma

negaccedilatildeo da organizaccedilatildeo estudantil por parte do proacuteprio segmento que imbuiacutedos na

loacutegica dominante nega as vivecircncias coletivas Essa tendecircncia requisita dos(as)

militantes principalmente daqueles(as) que assumem as entidades estudantis como

a ENESSO uma formaccedilatildeo poliacutetica consistente e qualificada com vista ao

enfrentamento dessas barreiras no cotidiano de sua accedilatildeo Eacute relevante frisar que

conforme definiu Fontes(2009) vivenciamos um contexto de fragilidade dos MS em

que a classe dominante se utiliza da coerccedilatildeo e do convencimento para amenizar as

accedilotildees de contestaccedilatildeo dessa ordem Ainda assim a autora acredita que

72 Conjuntura obteve o percentual de 29 Cultura 6 Universidade 12 e Movimento Estudantil 15

155

Essa juventude tem limites para aturar goela abaixo a privatizao do ensino superior a fragmentao do ensino superior numa hierarquizao alucinada segundo a qual alguns vo ter cursos superiores de boa qualidade e uma grande massa ser de tecnlogos de 2 anos ou cursos distncia de pssima qualidade Durante algum tempo isso pode funcionar mas no por muito tempo A nossa juventude no idiota e a populao tambm no boba Se a grande imprensa atua tratando essa populao como bicho de zoolgico no pior sentido essa populao reage(FONTES73 2009 p10)

Foi citado ainda que a ldquotenso com alguns grupos polticos dentro do

MESS dificulta a organizao de alguns encontros campanhas socializao de

informaes estratgias de lutas nacionaisrdquo(Marte) Alm dessas sinalizaes

consideramos relevante a apreenso realizada pelo(a) entrevistado(a) quanto ele(a)

explicitava outros limites no decorrer da sua gesto

tem o limite conjuntural que n Na poca que participei fazendo um recorte gente j t dentro do recuo dos MS n Tem a dificuldade da organizao coletiva isso a principal limitao n De militncia mesmo no que eu estou colocando a questo financeira a questo outra mas a questo conjunturalmente dificulta que o limite maior da implementao da luta pela universidade pblica gratuita e de qualidade n Para implementao do projeto tico poltico profissional a gente est numa conjuntura adversa onde os MS passam por um refluxo enorme n E onde o individualismo a questo do individualismo da falta de interesse coletivo a principal barreira do militante dentro da executiva ento essa a avaliao que eu fao do ponto de vista das limitaes

A fala do(a) militante expressa os valores predominante nesta

sociabilidade e que fragiliza as organizaes coletivas como MS que

majoritariamente apresentam uma atuao de recusa da ordem societal estabelecida

No tocante as potencialidades apreendidas pelos dirigentes no

desenvolvimento das aes efetivadas pela ENESSO so destacas o papel da

entidade na apreenso das inquietaes estudantis a partir dos debates travados nos

fruns74 do MESS contribuindo para que a executiva seja um importante sujeito na

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social em articulao com a ABEPSS e o

CFESS A discusso da entidade com a base estudantil que corrobora para uma

atuao democrtica mediante a materializao de atividades discutidas

73 Em entrevista concedida pela autora ao observatrio Barlavento e disponibilizada no sitehttpwwwbarlaventoorga3indexphpoption=com_contentampview=articleampid=70entrevistacom-virginia-fontesampcatid=47brasilampItemid=65 acesso 30 de abril de 200974 Santos destaca os dados de sua pesquisa sugere que a principal motivao que levou os(as) estudantes a participar do ENESS de 2007 se remete ao interesse de acompanhar os debates contemporneos que afetam e influenciam a profisso

156

preponderantemente com o coletivo de estudantes O debate constante com as

coordenaes regionais respeitando as especificidades de cada regio A autonomia

do ME e em particular da ENESSO frente ldquoao movimento dos professores da

prpria categoria de Servio Social sempre uma postura de autonomia de

independnciardquo(URANO) tambm foi salientada pelos(as) dirigentes

As estratgias citadas pelos entrevistados(as) foram a descentralizao

poltica na qual cada coordenador(a) nacional fica responsvel pela cobertura das

escolas de uma determinada regio quando se trata da realizao de oficinas

seminrios visitas as escolas e tambm a participao e construo dos fruns

estudantis locais e regionais O incentivo a construo de CA e DA em escolas nas

quais essas instncias inexistiam seja na iniciativa pblica ou privada Articulao

com as representaes discentes em ABEPSS com o objetivo de fortalecer a luta em

favor das Diretrizes Curriculares O desenvolvimento de campanhas de quitao de

dbitos das escolas visto que a ENESSO mantida pelo pagamento de anuidades75

por parte dos CAs e DAs dos cursos de Servio Social como forma de potencializar

a autonomia da entidade

Os(as) entrevistados(as) apontam como principais aliados do MESS e por

conseguinte da ENESSO as demais entidades representativa da profisso a

ABEPSS e o CFESS e os CRESS que compartilham princpios lutas e atividades

nessa conjuntura desfavorvel a organizao e articulao poltica de segmentos

negadores dessa ordem Entretanto Marte referindo aos CRESS evidencia que ldquocabe

ressaltar que em alguns estados o dilogo com essa instncia difcilrdquo

As entidades estudantis que tem uma postura de defesa da universidade

e de um ensino superior com qualidade tambm foram ressaltadas direes de

faculdades especialmente pblicas alm do ANDES que tido como um importante

aliado na defesa por uma educao qualificada e na prpria luta contraria a atual

contra-reforma do ensino superior A direo minoritria da UNE tambm foi citada

por dois militantes que salientam as contradies existentes naquela entidade J que

a eleio da mesma proporcional e isso possibilita a ocupao de alguns cargos por

dirigentes no pertencentes corrente majoritria no caso a UJS vinculada ao PC do

B foram salientados ainda o MST e a CUT como importantes aliados da entidade

Mediante as entidades e movimentos citados apreendemos que a

executiva procurar construir alianas com sujeitos que predominantemente no

decorrer da histria apresentou eou apresenta uma postura de defesa de direitos e

situada no campo da esquerda nacional Entretanto isso no significa a inexistncia

75 A anuidade equivale ao valor do salrio mnimo vigente no pas As escolas que sediaram encontros no decorrer do ano so isentas do pagamento

157

de contradies em que citamos a UNE e a CUT como entidades que tem

apresentando uma atuao acrtica na atual conjuntura nacional tendncia que

culminou inclusive com a desfiliao do ANDES da referida entidade sindical

Quanto aos opositores os(as) dirigentes da ENESSO destacam as

mantenedoras e coordenaes de cursos de universidades privadas que impediam o

acesso dos(as) dirigentes aos(as) estudantes como demonstrado na seguinte

passagem aqueles(as) ldquoque fazem a defesa intransigente da instituio no campo de

defesa do campo de trabalho eu trabalho aqui como que eu vou bater e se perde

dentro do campo contraditrio da atuao profissionalrdquo (Neturno) Foi ressaltado

ainda rgo de represso do Estado especialmente a polcia que procura reprimir as

mobilizaes estudantis

No ENESS 2007 alguns estudantes foram ameaados pela polcia outros foram atingidos por spray de pimenta Na luta pelo passe-livre foi utilizado cavalaria contra os estudantes tropa de choque seguranas de universidades usando de fora fsica excessiva pararetirar estudantes de reitorias etc(Marte)

Para Terra o grande opositor o prprio sistema vigente uma conjuntura

que dificulta a efetivao das lutas dos MS e em particular do MESS e de sua

entidade nacional Certamente estamos numa sociabilidade negadora de vivncias

coletivas pois o que predomina a imediaticidade e a busca pelos anseios individuais

entretanto no podemos negar que a burguesia tem entidades e organismos que

defendem seus interesses em detrimentos das demandas dos segmentos

subalternizados Exemplo disso consiste a investida do capital na educao superior e

que atualmente conta expressivamente com o aparelho do Estado com a grande

mdia com corporaes financeiras entre outras

No campo de dificuldades em termos da organizao poltica do MESS

os(as) dirigentes evidenciaram a expanso da privatizao do ensino superior visto

que segundo suas contribuies recorrente a represso nesses espaos O reduzido

registro histrico sobre o ME reflexo da prpria transitoriedade desse movimento

Dificuldades dos(as) estudantes incluindo os(as) coordenadores(as) da ENESSO em

participar de todos os eventos expresso das prprias condies objetivas dos(as)

militantes e de seus compromissos cotidianos Conseguir maior adeso dos(as)

estudantes e fazer com que eles(as) se percebam nos fruns estudantisrdquo fazer com

que o estudante perceba que o seu problema cotidiano est ali sendo discutidordquo

(Urano) Ainda foi citada os tensionamentos de atuar em um espao to heterogneo

com a existncia de posicionamentos diversos e s vezes antagnicos Marte traz uma

reflexo polmica sobre as dificuldades enfrentadas na gesto 20072008 e que se

158

remete aos agrupamentos polticos atuantes no movimento e que consistem numa

expresso dessa diversidade caracterstica do ME e especial do MESS Para ele(a)

as tendncias

O debate sobre a contribuio das ldquotesesrdquo polmico e meu posicionamento contrrio a qualquer forma de aparelhamento ou ingerncia partidria no MESS No foram raras s vezes em que os encontros foram implodidos por tais correntes As teses tm em minha opinio contribudo para a fragmentao desarticulao e sectarizao dos estudantes Os Encontros tm sido permeados por embates entre as teses perdendo o debate das mesas desmotivando os estudantes e enfraquecendo o movimento Esse talvez nesse momento possa ser um dos fatores de maior fragilizao do MESS Observadas com mais ateno percebe-se um carter denuncista e quase nulo em proposies para superao dos problemas do MESS A contribuio poltica que segundo alguns defensores poderiam ser utilizados seriam os debates macro societrios mas que so apresentados como leitura de cartilha e no como um estudo de fato de uma situao O que em minha opinio empobrece a discusso e no traz benefcios para o pensamento crtico(Marte)

Afirmandonegando a argumentao acima Terra da gesto 20052006

explicita que apesar da

necessidade e da legitimao que eu fao dos agrupamentos polticos mas na poca que eu estava na executiva j existiam um enfraquecimento desses agrupamentos polticos a organizao ela j estava se tornando frgil ns no tnhamos mais as grandes plenrias dos movimentos o movimento poltico partidrio ele comea a ficar mais latente e a as brigas internas do movimento elas se tornam mais visveis mas no do ponto de vista estratgico mas do ponto de vista poltico partidrio ento eram as principais dificuldades e a questo da organizao poltica ela vem n

Analisando a fala dos(as) entrevistados(as) apreendemos que so

posicionamentos diferentes em relao aos grupos polticos enquanto um(a) defende

e legitima atuao dos mesmos outro(a) coordenador(a) da ENESSO a nega

entretanto ambos concordam no sentido de atribuir a esses grupos ampla ao

nesse processo de fragilizao pela qual perpassa o MESS na contemporaneidade

que se expressa por exemplo na no ocupao das coordenaes nacionais para

gesto 20082009 da ENESSO

No nosso entendimento para Marte da gesto 20072008 os

agrupamentos se constituem em correia de transmisso dos partidos polticos para

com o MESS o que por sua vez fragiliza e desmobiliza esse movimento mediante o

159

enfraquecimento ou anulao de sua autonomia Enquanto que para Terra da gesto

20052006 os agrupamentos historicamente constituem os principais impulsionadores

da poltica da ENESSO e o que acontece hoje que eles no esto mais formulando

organizando e propondo ldquode voc realizar plenria produzir material fortalecer a

entidaderdquo (Terra) e quando essas dimenses deixam de ser pautadas o que mais

reflete so as vinculaes partidrias deixando o precpuo ou seja o fortalecimento

do MESS para segundo plano

Analisamos que a existncia de agrupamentos polticos inclusive no ME

e aqui especificamente do MESS reflete uma tendncia de discusso organizao e

atuao com posicionamentos divergentes que a vivncia no campo da democracia

poltica possibilita e que os(as) estudantes tiveram importante atuao nessa

conquista

Destarte no fazemos defesa da utilizao das organizaes estudantis

por sujeitos com mera pretenso partidria que procuram aparelhar as entidades o

que por sua vez representa a reduo ou anulao de espaos democrticos nos

debates e tomadas de decises visto que a principal pretenso colocar a entidade

prioritariamente a disposio do partido Temos o entendimento que as organizaes

estudantis se configuram como espaos de referncia dos(as) estudantes na sua luta

cotidiana em instituies pblicas e privadas O que no significa a negao de

vinculao com outros sujeitos coletivos como MS e Partidos polticos na construo

de alianas com o objetivo de realizar aes que ultrapassem as demandas

especficas do segmento ou seja necessria a articulao quando se visa

ultrapassagem de conquistas corporativas e se busca a negao da sociabilidade

capitalista objetivo histrico e majoritrio no MESS

A anlise realizada pelos (as) dirigentes sobre a atuao do ME na

contemporaneidade no sentido de que no se pode pensar a atuao desse

segmento sem contextualiz-la nessa conjuntura neoliberal de no ascenso dos MS

em que cada vez mais predomina o individualismo e a negao de prticas coletivas

Dimenso que sintetizamos na fala de Urano ldquoacho que os anos 1990 foram muito

perversos como estvamos num processo de reorganizao ele veio com muita fora

para desarticular esses MSrdquo

um contexto de refluxo que corrobora para o enfraquecimento das lutas

sociais alm disso na realidade brasileira historicamente a principal entidade

dos(as) estudantes passam por um processo de cooptao por parte do governo

federal em que nitidamente so efetivadas medidas que fragilizam a perspectiva de

universidade pblica e potencializam a esfera privada com amplo apoio da UNE No

caso especfico do MESS a principal entidade passou o perodo de gesto 2008-2009

160

sem dirigentes para impulsionar a poltica da entidade o que rebate negativamente na

organizao e mobilizao estudantil

Embora com tantas dificuldades militantes apontam que ainda assim o

ME tem sido importante na luta em favor da universidade pblica gratuita laica e de

qualidade no Brasil Conforme Marte

Infelizmente concordo com alguns autores que apontam o refluxo dos movimentos sociais e no caso do MESS Existe uma crise de quadros no MESS que tem atingido a estrutura de nossa organizao Apesar disso identifico no movimento estudantil um enorme potencial transformador da sociedade [] Fica mais evidente o movimento estudantil na luta pela universidade pblica Que no meu entender ainda no foi extinta pela intensa luta dos estudantes dessas instituies Em algumas faculdades privadas como as PUCrsquos percebemos uma organizao estudantil capaz de barrar aumentos de mensalidades denncia de falta de investimento em corpo docente materiais livros etc

Na apreenso de todos(as) os(as) entrevistados(as) a atuao dos(as)

estudantes fundamental para preservao e conquista de direitos na esfera

educacional dimenso privilegiada no Servio Social pelo prprio perfil de formao

profissional que mediante a anlise crtica da sociabilidade capitalista e da formao

econmica social e poltica do Brasil corrobora para uma interveno crtica dos(as)

estudantes

Diante do exposto os(as) militantes entrevistados(as) apreendem a

ENESSO como uma entidade combativa e comprometida com a universidade pblica

e com o projeto profissional do Servio Social e fundamental na articulao nacional

dos(as) estudantes e que no decorrer de sua histria tem contribudo politicamente

com as lutas dos(as) assistentes sociais brasileiros(as)

voltando pra importncia da entidade s a gente remontar a nossa histria ns participamos diretamente da reformulao das diretrizes curriculares ns participamos diretamente na construo do cdigo de tica ns participamos ativamente dentro do debate de construo da lei orgnica da assistncia ns participamos atualmente dentro dos debates mais importantes dentro da categoria o debate sobre construo ou no do exame de proficincia[]ns temos sim grande importncia essa uma instituio uma entidade que tem importncia concreta na luta real dos estudantes de servio social no Brasil e dos assistentes socais de uma forma mais geral (Neturno)

Alm disso recorrente na fala dos(as) militantes a participao no ME

em particular no MESS e na coordenao da ENESSO como relevante na construo

161

de um pensamento e da ao crtica que se procura manter aps a concluso do

curso mediante a militncia em outros espaos como entidades da profisso outros

MS e partidos polticos Essa perspectiva j havia sido sinalizada por

Ramos(2005)ldquoEnquanto movimento social com base transitria o ME um locus

muitas vezes de iniciao de parcela da juventude na militncia poltica se

configurando como um espao de formao poltico-ideolgica de militantes que

depois iro atuar em outras esferas organizativasrdquo(p105) Essa perspectiva tambm

sinaliza em Silva(2008) que concebe o MESS como importante espao na formao

profissional e poltica dos(as) estudantes

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies

Como j foi relatado no perodo investigado nesta pesquisa ocuparam

majoritariamente a coordenao nacional da ENESSO sujeitos organizados

simpatizantes eou apoiados pelo agrupamento e militantes do ldquoViver na Lutardquo Embora

no se constitua objetivo principal dessa pesquisa o estudo sobre os agrupamentos

que atuam no MESS consideramos ser importante destacar a apreenso de um(a)

militante que atuou no MESS de 20042008 e esteve como coordenador(a)76 regional

da ENESSO na condio de oposio a coordenao nacional

As contribuies do(a) dirigente regional se estrutura a partir de trs

questionamentos anlise em relao atuao das tendncias no MESS atuao da

ENESSO nos mbitos da universidade e da formao profissional objetivo precpuo

desse trabalho e finalmente atuao da executiva no processo de organizao e

mobilizao dos(as) estudantes na contemporaneidade

Em relao primeira discusso o(a) dirigente regional defende que as

tendncias foram fundamentais na construo do MESS pois contribuiu na

organizao estrutural dos encontros bem como no amadurecimento poltico dos(as)

militantes mediante a elaborao de documentos fomentao de debates e

corroborou ainda na aproximao do MESS com partidos polticos e outros MS

permitindo que o movimento apresente atualmente uma atuao no restrita ao

espao universitrio

Como observado essa concepo no se difere da maioria dos(as)

dirigentes nacionais entrevistados(as) nesta investigao que tambm sinalizam a

76 A(o) militante receber o nome fictcio de Luz Estudante de universidade pblica que atuou em instncias como CORETUR e CA A dirigente no filiado(a) a partido poltico

162

relevacircncia dos agrupamentos na construccedilatildeo do MESS a partir do desenvolvimento de

debates na construccedilatildeo dos foacuteruns estudantis na elaboraccedilatildeo de documentos que

abordam questotildees fundamentais como conjuntura universidade cultura formaccedilatildeo

profissional e sobre o proacuteprio movimento Luz reflete tambeacutem a articulaccedilatildeo dos grupos

presentes no MESS com os partidos poliacuteticos que na sua concepccedilatildeo

Todas as tendecircncias que existiram no MESS tiveram em algum momento militantes filiados a partidos poliacuteticos o que muitas vezes permitiu uma correlaccedilatildeo de forccedilas entre os partidos poliacuteticos e as tendecircncias Quando na histoacuteria brasileira se acirram as disputas entre os partidos de esquerda se acirram tambeacutem as disputas entre as tendecircncias no MESS havendo entatildeo uma pluralidade de direcionamentos poliacuteticos e ideoloacutegicos Esse processo refletia diretamente na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo do MESS trazendo em alguns momentos fortalecimento e em outros desmobilizaccedilatildeo dos estudantes para as lutas(Luz)

Para Marte da gestatildeo 20072008 que se colocou contraacuterio a accedilatildeo dos

grupos acredita que a real disputa pela ENESSO por militantes filiados(as) a partidos

poliacuteticos em especial do PSTU eacute decorrente da forte atuaccedilatildeo da ENESSO que se

configura como uma das executivas de cursos mais combativas e com poder de

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo estudantil o que no seu entendimento chama atenccedilatildeo dos

partidos77

A combatividade da executiva pode chamar a atenccedilatildeo de diferentes

correntes partidaacuterias entretanto o fato em si de militantes do MESS atuarem tambeacutem

em partidos entre os quais o PSTU natildeo significa que a intenccedilatildeo preponderante

desses militantes seja ocupar os espaccedilos da ENESSO com vista a atender

meramente os interesses partidaacuterios Expressatildeo disso eacute que como registrado no item

que tratou do perfil dos(as) dirigentes nacionais da entidades nas gestotildees entre os

anos de 2003-2008 em relaccedilatildeo a filiaccedilatildeo partidaacuteria existiu uma total predominacircncia

de coordenadoras filiados ao PT e na maioria dos casos essa se deu apoacutes a inserccedilatildeo

no MESS e mesmo assim nos documentos produzidos pela entidade fica explicito a

sua direccedilatildeo de recusa da contra-reforma do ensino superior do governo Lula inclusive

encampando accedilotildees de repercussotildees significativas como foi o boicote ao ENADE em

2004 o que natildeo representa a inexistecircncia de limitaccedilotildees e contradiccedilotildees

especialmente nesse cenaacuterio de fragilizaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo dos MS e de

desconfianccedila e descreacutedito em relaccedilatildeo aos partidos poliacuteticos

77 Eacute importante destacar que natildeo soacute militantes de partidos poliacuteticos forjado no campo da esquerda atuam no MESS ainda que de forma tiacutemida se faz presente militante identificados com partidos historicamente situados no campo de direita e comprometidos com os privileacutegios da burguesia Nos congressos da UNE eacute recorrente a articulaccedilatildeo da juventude de partidos como o PMDB e os DEMOCRATAS estes anteriormente chamados de PFL jovem

163

Segundo as contribuies de Luz avanos e retrocessos perpassam a

atuao dos agrupamentos existentes no MESS Essa perspectiva se verifica por

exemplo quando os(as)

estudantes no conseguem nos encontros tirar deliberaes em comum para a luta da ENESSO e quando como ocorreu em muitos ENESSrsquos a fragilizao nos atos pblicos porque as teses se dividiram no ato porque tinham divergncias nas bandeiras de lutas Em alguns encontros os estudantes que no faziam parte das tendncias demonstravam claramente empatia e rejeio s teses e a partidos polticos e colocavam que as disputas tinham apenas o objetivo de conseguir a diretoria da ENESSO

A fala do(a) entrevistado(a) nos remete a reflexo em torno da ao dos

agrupamentos polticos nessa conjuntura de acirramento das disputas entre as

vertentes que se organizam no MESS Analisamos que essa efervescncia seja

reflexo sobretudo da conjuntura nacional visto que um dos pontos prioritrios que

distinguem os grupos que existiram eou existem no perodo dessa investigao se

refere prioritariamente a uma posio de rejeio ou no em relao ao governo Lula e

ao reconhecimento ou no da UNE como entidade mxima de organizao e na

mobilizao e direcionamento das lutas e demandas estudantis no pas Portanto a

existncia de diviso em atos pblicos revela prticas sectrias e que certamente

fragilizam o movimento Agrupamentos como o recm acabado Viver na Luta tese que

esteve majoritariamente na direo nacional da ENESSO no perodo aqui analisado

apresentava uma atuao de defesa em relao a UNE e desse modo de

possibilidade de reorganizao e retomada combativa dessa entidade j o grupo A

Sada pela Esquerda majoritariamente faz a defesa de que ldquopermanecer nos

marcos da UNE gastar energia numa luta intilrdquo (2005)

No que se refere atuao da ENESSO nos mbitos da universidade e da

formao profissional o(a) militante enfatiza que historicamente a defesa da

universidade pblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formao

profissional fundado no projeto tico poltico do Servio Social constituem esferas

defendidas pelo MESS e dessa maneira ele(a) sinaliza a necessidade da atuao da

ENESSO independente da chapa eleita seguir as orientaes previstas nas

deliberaes aprovadas pelo conjunto de estudantes presentes no Encontro Nacional

do segmento

Nesse sentido assinalamos anteriormente que as deliberaes ratificadas

nos ENESS que compreendem o interregno de 2003-2008 apresentaram uma

postura de afirmao de processos formativos fundamentados nas Diretrizes

Curriculares de 1996 bem como direcionaram a entidade a assumir uma direo de

164

defesa da universidade puacuteblica e socialmente referenciada o que por sua vez implica

a luta em oposiccedilatildeo a contra-reforma do ensino superior efetivada nas gestotildees de

Lula Diante do exposto Luz reflete sobre possiacuteveis limitaccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS e

da ENESSO no acircmbito da universidade decorrentes das polecircmicas que envolvem a

forma de articulaccedilatildeo com o ME geral

isto porque nas ultimas gestotildees da diretoria da ENESSO essa articulaccedilatildeo ocorre atraveacutes da UNE e muitosas estudantes apesar dela ser a entidade maacutexima de representaccedilatildeo dos estudantes natildeo acredita em seu poder de enfrentamento pois ela tem sido a favor de todas as propostas do governo com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria Essa polemica se estende haacute alguns anos e nos ENESS se colocam como ponto central na discussatildeo sobre articulaccedilatildeo com o ME geral Os estudantes se dividem uns acreditam que a articulaccedilatildeo deve continuar sendo atraveacutes da UNE outros defendem que seja atraveacutes de outras entidades como a CONLUTE e movimentos de aacuterea Eacute importante ressaltar o interesse poliacutetico nessas discussotildees e articulaccedilotildees essas disputas poliacuteticas em alguns momentos acabam por limitar a articulaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da ENESSO com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria

A CONLUTE eacute uma entidade jovem criada recentemente mas que pauta

e fomenta o debate de questotildees diferentemente da UNE esta que embora apresente

uma frente de esquerda devido a proporcionalidade que marca o processo eleitoral da

entidade mas a forccedila poliacutetica maior eacute de aceitaccedilatildeo predominante das accedilotildees

governamentais sem esboccedilo de negaccedilatildeo O que nos leva a refletir que seja

importante a articulaccedilatildeo da ENESSO com as entidades e movimentos que partilham

princiacutepios e lutas conjuntas

Um dimensatildeo sinalizada pelo(a) coordenadora regional bem como

pelos(as) coordenadores(as) nacionais eacute reconhecer a importacircncia da alianccedila com o

conjunto CFESS-CRESS e a ABEPSS como potencialidade no fortalecimento de lutas

contra a precarizaccedilatildeo do ensino e em favor da formaccedilatildeo qualificada

No tocante a esfera de atuaccedilatildeo da ENESSO na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

dos(as) estudantes na cena contemporacircnea o(a) militante socializa significativas

criacuteticas Essas satildeo direcionadas no sentido de fortalecer a representatividade da

entidade que segundo Luz

Eacute necessaacuterio que a diretoria da ENESSO tenha representatividade perante osas estudantes para uma maior identificaccedilatildeo com as lutas travadas pela entidade Para que se consiga representatividade eacute necessaacuterio trabalho de base o contato e formaccedilatildeo poliacutetica criacutetica deve ser priorizado em suas atividades o que as uacuteltimas gestotildees da coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO deixam a desejar Atraveacutes do trabalho de base e da formaccedilatildeo criacutetica osas estudantes constroem as pautas das lutas gerando identificaccedilatildeo organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

165

Como observamos no item anterior os(as) dirigentes nacionais da

ENESSO sinalizam a articulaccedilatildeo com as bases estudantis como uma relevante

potencialidade na construccedilatildeo do MESS e na atuaccedilatildeo da ENESSO o que agora eacute

apontado por Luz como fragilidade no processo de mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes

Entretanto majoritariamente os(as) dirigentes entrevistados(as) aqui

incluindo nacionais e regionais chama a atenccedilatildeo para a conjuntura desfavoraacutevel para

organizaccedilatildeo coletiva que tem fortes rebatimentos nos MS em particular no MESS

5-5 SERVICcedilO SOCIAL ABEPSS CFESS e A ENESSO no acircmbito da parceria

estrateacutegica

A pesquisa tratou de explicitar a atuaccedilatildeo da ENESSO nas esferas da

universidade e da formaccedilatildeo profissional na qual procuramos apontar potencialidades

limites e contradiccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS mediante a accedilatildeo de sua entidade

nacional Diante disso a parceria entre as entidades da profissatildeo se confirma como

uma significativa tendecircncia no acircmbito organizativo do Serviccedilo Social sobretudo a

partir da deacutecada de 1990 perspectiva amplamente apontadas pelos dirigentes da

ENESSO entrevistados(as) nessa investigaccedilatildeo e nos documentos produzidos pela

entidade que define a parceria com a ABEPSS e com o conjunto CFESS-CRESS

como essencial na efetivaccedilatildeo de lutas que tenham como horizonte a defesa da

formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social

Dessa maneira apontaremos algumas mediaccedilotildees relacionadas a essa

articulaccedilatildeo em que nos baseamos no seguinte fio condutor para o desenvolvimento

da anaacutelise apreensatildeo em relaccedilatildeo a parceria das entidades as estrateacutegias

desenvolvidas pelas entidades no acircmbito da universidade e da formaccedilatildeo profissional e

dificuldades enfrentadas nesse processo de articulaccedilatildeo Para tal levamos em

consideraccedilatildeo a fala de representante de outra entidade da categoria particularmente

da ABEPSS Em que chamamos a atenccedilatildeo para as particularidades que perpassa a

articulaccedilatildeo com a ENESSO voltada para defesa do projeto que direciona a formaccedilatildeo

e o exerciacutecio profissional no paiacutes

Nesse sentido esboccedilaremos uma breve contextualizaccedilatildeo relativa ao

projeto profissional hegemocircnico no Serviccedilo Social e que fundamenta a formaccedilatildeo

pautada nas Diretrizes Curriculares jaacute evidenciadas no capitulo quarto desse trabalho

O final da deacutecada de 1970 se configura para profissatildeo como um periacuteodo

de intensa discussatildeo e inquietaccedilatildeo decorrentes entre outros aspectos da

166

aproximaccedilatildeo de segmentos da profissatildeo com uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

criacutetica contribuindo para construccedilatildeo de um projeto eacutetico-poliacutetico sintonizado com os

ideais da vertente de ruptura78 e portanto com os interesses da classe trabalhadora e

de sujeitos sociais historicamente subalternizados

Natildeo podemos desvincular esse processo do cenaacuterio brasileiro marcado

naquele momento pela crise do sistema ditatorial fragilidade do milagre econocircmico

a reorganizaccedilatildeo de setores importantes entre os quais diversos MS que

transformaram a liberdade e a democracia nas principais bandeiras de luta ou seja

uma conjuntura de efervescecircncia nos marcos da redemocratizaccedilatildeo poliacutetica

caracterizada na sua essencialidade por accedilotildees combativas e contestatoacuterias

direcionadas por vaacuterios setores da sociedade civil contra a ditadura instalada em abril

de 1964 Assim Netto (1999 p 100) destaca

A luta pela democracia na sociedade brasileira fazendo-se ecoar na categoria profissional criou o quadro necessaacuterio para quebrar o quase monopoacutelio do conservadorismo no Serviccedilo Social no processo de derrota da ditadura militar inscreveu-se a primeira condiccedilatildeo a condiccedilatildeo poliacutetica para a constituiccedilatildeo de um projeto profissional

Outra dimensatildeo tambeacutem sinalizada por Netto (1999) Iamamoto (2006)

constitui a elevaccedilatildeo na produccedilatildeo teoacuterica dos (as) assistentes sociais vinculada a uma

perspectiva de anaacutelise e intervenccedilatildeo criacutetica dana realidade social influenciada pela

aproximaccedilatildeo de profissionais do Serviccedilo Social com a matriz marxiana e com os

pensadores(as) marxistas Nesse sentido eacute interessante chamarmos a atenccedilatildeo para a

contribuiccedilatildeo do meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico na construccedilatildeo do

conhecimento e portanto na apreensatildeo da realidade visto que permite a elaboraccedilatildeo

de anaacutelises levando-se em consideraccedilatildeo as muacuteltiplas determinaccedilotildees das

problemaacuteticas sociais proporcionando uma compreensatildeo cuja centralidade consiste

na desnaturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees histoacutericas

78 No processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional trecircs correntes se destacaram 1ordf a modernizaccedilatildeo conservadora que procurou adequar agrave profissatildeo as estrateacutegias de expansatildeo do capitalismo no Brasil os seminaacuterios de Araxaacute (1967) e Teresoacutepolis (1970) expressam a afirmaccedilatildeo dessa perspectiva baseada sobretudo no estrutural funcionalismo norte-americano a 2ordf vertente consistiu na reatualizaccedilatildeo do conservadorismo influenciada pelas concepccedilotildees fenomenoloacutegicas a qual privilegiava o vieacutes psicologista na atuaccedilatildeo do (a) assistente social a 3ordf vertente denominada de intenccedilatildeo de ruptura baseada especialmente na tradiccedilatildeo marxista cujo siacutembolo dessa aproximaccedilatildeo correspondeu o famoso meacutetodo de BH ainda nos primeiros anos da deacutecada de 1970 Todavia pelo proacuteprio contexto de repressatildeo vivenciado durante a ditadura militar a influecircncia do marxismo no acircmbito do Serviccedilo Social soacute ganhou expressividade no final dos anos 1970 e conforme Netto eacute a intenccedilatildeo de ruptura que daacute o tom da polecircmica profissional na 1ordf metade dos anos 1980 ( cf NETTO 2005)

167

Pereira(2007) elenca alguns momentos considerados emblemticos nesse

processo de negao do Servio Social tradicional e afirmao de um projeto

profissional sintonizado com perspectiva de transformao social visando a

emancipao humana Entre eles destacamos o denominado congresso da virada em

1979 a construo do cdigo de tica de 1986 o qual evidencia a ruptura com as

bases tericas conservadoras e a tica da neutralidade passando a situar a atuao

do(a) assistente social no mbitos das relaes histricas e contraditrias que

caracterizam a sociabilidade capitalista a constituio do Centro de Documentao

Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social(CEDEPSS) que impulsionou os

debates e o desenvolvimento de aes que destacavam a importncia da pesquisa no

cotidiano da profisso para alm da academia o reconhecimento nos anos de 1980

por parte das agncias de incentivos a pesquisa de ser o Servio Social uma rea de

conhecimento o que contribui fundamentalmente na criao e expanso da ps-

graduao no pas o fortalecimento organizativos das entidades em nvel profissional

e estudantil e ainda os debates promovidos pela antiga ABESS hoje ABEPSS que

culminou na formulao do Currculo Mnimo de 1982 o qual passou a conceber a

ldquoprofisso inserida na diviso scio-tcnica do trabalho no processo de produo e

reproduo das relaes sociais capitalistasrdquo(2007 p14)

relevante evidenciarmos que essa redefinio no mbito do Servio

Social foi resultado de intensos debates coletivos envolvendo os diversos sujeitos

dessa profisso entre estes os (as) estudantes e de suas entidades poltico-

organizativas

Pensar a profisso requer considerarmos o constante movimento da

sociedade capitalista a partir da anlise das prprias transformaes histricas Nessa

perspectiva a reviso dos instrumentos normativos constitui uma necessidade real no

intuito de responder as demandas colocadas no cotidiano da formao e atuao

profissionais mudanas contudo preservando-se a postura crtica alcanada

hegemonicamente no mbito da profisso

Portanto nessa caminhada temos a reformulao do Cdigo de tica de

1986 redundando no Cdigo em vigncia de 1993 As alteraes efetivadas visaram

superao de limites de natureza terico-prtica o que permitiu a construo de

mediaes no sentido de melhor apreender as particularidades resultantes por

exemplo das relaes de gnero etnia entre outras alm disso procurou-se

retraduzir os seus valores norteadores no ldquorelacionamento entre assistentes sociais

instituies e populao preservando os direitos e deveres profissionais a qualidade

dos servios e a responsabilidade do usurio (CDIGO DE TICA DE 1993)

168

Assim nos anos 1990 percebemos a retomada da discusso da tica nas

diversas esferas do Servio Social incluindo a formao profissional aliado a essa

reflexo ocorre aprovao da Lei de Regulamentao Profissional n 866293 a

qual estabelece as competncias e atribuies privativas do (a) assistente social

conformando um documento indispensvel na defesa da profisso e dos servios

prestados aos usurios nos espaos de interveno desta profisso

significativo apontar que essa trajetria de redefinio e consolidao do

atual projeto tico-poltico tambm foi protagonizada pelos estudantes como

destacado no capitulo dois dessa pesquisa em que consubstanciamos esta afirmativa

a partir da anlise realizada por Ramos (1996) cuja abordagem sobre o MESS em

nvel nacional ratifica a contribuio desse segmento na construo do novo projeto

profissional Esta atuao do MESS em relao s problemticas debates desafios

que perpassa o Servio Social se expressa por exemplo pelo reconhecimento da

ENESSO como uma das entidades representativas da profisso manifestada tal

apreenso na fecunda articulao desta com a ABEPSS e o CFESS

Nessa dimenso ressaltamos que tal projeto se materializa nos

instrumentos aqui citados cdigo de tica lei de regulamentao e diretrizes

curriculares contudo a eles no se reduzem dada compreenso do mesmo se

expressar nas deliberaes dos encontros profissionais e estudantis nas campanhas

elaboradas pelas entidades na interveno cotidiana dos (as) assistentes sociais

voltada para a garantia de direitos e do ser humano como sujeito construtor dos

processos histricos bem como atravs da formao de alianas com outros

segmentos voltadas para construo de um movimento verdadeiramente contra-

hegemnico a sociabilidade do capital

Nesse sentido a anlise da fala da representante da ABPSS evidencia

que a parceria existente entre as trs entidades se sustenta na unidade em torno da

defesa do projeto profissional o qual teve suas bases de constituio nos anos 1980

com sua firmao na dcada seguinte dimenso sintetizada na fala abaixo

numa ampla articulao de foras predominantes na direo das entidades as quais se identificam nos princpios fundamentais norteadores do projeto tico-poltico-profissional do Servio Social Refiro-me ao projeto que ganha visibilidade a partir de 1979 em contraposio ao projeto profissional tradicional na busca de vinculao s lutas e conquistas democrticas e ao iderio emancipatrio da classe trabalhadora ndash referncia de luta de vastos segmentos dessa classe no Brasil e em todo o mundo( representante ABEPSS)

169

Unidade que como ressaltado pela representante da ABEPSS natildeo

significa a inexistecircncia de contradiccedilotildees divergecircncias e polecircmicas internamente nas

entidades e entre elas Dimensatildeo sinalizada em algumas passagens pelos dirigentes

da ENESSO que evidenciaram momentos conflitantes que envolvem a articulaccedilatildeo no

acircmbito da parceria entre a ABEPSS e conjunto CFESS-CRESS Destacamos ainda a

articulaccedilatildeo das entidades em defesa do projeto hoje hegemocircnico no Serviccedilo Social eacute

construiacuteda entre sujeitos que representam os interesses da mesma profissatildeo

vinculada a uma visatildeo societaacuteria mas com organizaccedilatildeo estruturaccedilatildeo manutenccedilatildeo

dinacircmicas e funcionalidades diferentes

No que se refere agrave atuaccedilatildeo das trecircs entidades nas esferas da universidade

e da formaccedilatildeo profissional tem-se a confirmaccedilatildeo que a formaccedilatildeo pautada nas

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui a principal referecircncia na luta por um processo

formativo de qualidade e sintonizado com a perspectiva de educaccedilatildeo emancipatoacuteria

Nessa dimensatildeo as trecircs entidades concretizam atividades que explicitam o

posicionamento contraacuterio a qualquer forma de privatizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo tais como produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de notas que evidenciam esse

posicionamento de defesa da universidade puacuteblica gratuita laica presencial e de

qualidade aleacutem disso eacute importante destacar que nos eventos promovidos pela

ABEPSS e pelo Conjunto CFESS-CRESS eacute garantida a participaccedilatildeo da ENESSO nos

debates e polecircmicas que envolvem a profissatildeo o que potencializa essa articulaccedilatildeo e

dessa maneira as accedilotildees voltadas para defesa do projeto profissional do Serviccedilo

Social nessa conjuntura tatildeo adversa para sua concretizaccedilatildeo

Quanto a possiacuteveis dificuldades vivenciadas nesse processo de articulaccedilatildeo

entre as trecircs entidades e em particular com a ENESSO a representante da ABEPSS

argumenta queEm relaccedilatildeo ao ENESSO pode-se supor que a atual estrutura da entidade sem uma coordenaccedilatildeo nacional tenha implicaccedilotildees e venha dificultar a articulaccedilatildeo nacional na medida em que as decisotildees satildeo inicialmente discutidas e tomadas nas bases regionais com possiacuteveis prejuiacutezos para a agilidade dos processos conjuntos

Com a ausecircncia de coordenadores(as) nacionais a responsabilidade na

concretizaccedilatildeo das deliberaccedilotildees aprovadas no ENESS de Londrina em 2008 ficaram

na incumbecircncia das coordenaccedilotildees regionais o que por sua vez representa uma

fragilizaccedilatildeo em termos de articulaccedilatildeo em niacutevel nacional como se processa entre as

ABEPSS CFESS-CRESS e a ENESSO

Desse modo analisamos que a defesa do projeto profissional que por sua

vez remete a luta em prol da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo fundamentada nas

170

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui-se a principal determinaccedilatildeo no

estabelecimento e fortalecimento da articulaccedilatildeo existente ente as entidades

representativas do Serviccedilo Social

Parceria que se torna ainda mais necessaacuteria nesse contexto neoliberal de

exacerbaccedilatildeo do privado expansatildeo de cursos sem considerar os princiacutepios formativos

defendidos pelas entidades que representam o Serviccedilo Social no paiacutes fragilidade dos

MS e organizaccedilotildees coletivas que apresentam uma praacutetica de recusa da sociabilidade

do capital entre outras dimensotildees jaacute abordadas nessa pesquisa Entretanto para que

essa articulaccedilatildeo se mantenha e mais que isso seja potencializada ateacute mesmo em

decorrecircncia do cenaacuterio sinalizado anteriormente eacute preciso que a ABEPSS o conjunto

CFESS-CRESS e a ENESSO estejam firmes atuantes e combativas em suas

particularidades o que revela um desafio coletivo das entidades e ao mesmo tempo

de cada uma dentro de suas possibilidades e limitaccedilotildees no tempo presente Nesse

sentido entendemos que ao MESS se evidencia a necessidade de fortalecer e

revitalizar suas accedilotildees e entidades como a ENESSO nessa luta em favor do projeto

profissional vinculado a construccedilatildeo de outra ordem societaacuteria

171

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apreendemos o ME como um importante movimento social que articula a

juventude universitaacuteria em niacutevel nacional desde a criaccedilatildeo da UNE no ano de 1937

Ao construiacutemos essa caracterizaccedilatildeo analisamos que a accedilatildeo desse segmento natildeo se

processa de forma desvinculada de uma concepccedilatildeo de sociedade o que por sua vez

nos possibilitou investigarmos a direccedilatildeo social de sua atuaccedilatildeo no campo da

historicidade e da contradiccedilatildeo que particulariza a sociabilidade burguesa

Mediante o estudo da atuaccedilatildeo da ENESSO enfatizamos que desde a sua

criaccedilatildeo no ano de 1988 ela se configura como espaccedilo privilegiado de aglutinaccedilatildeo e

protagonismo dos(as) estudantes de Serviccedilo Social no Brasil legitimada e

reconhecida pelas demais entidade da profissatildeo

Durante as gestotildees que compreende os anos de 2003-2008 sinalizamos

que a direccedilatildeo social das accedilotildees efetivadas pela ENESSO se consubstancia na defesa

da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo profissional fundada nas Diretrizes

Curriculares de 1996 tendecircncia confirmada pelos(as) dirigentes e pelos documentos

produzidos pela entidade uma perspectiva de universidade e de formaccedilatildeo sintonizada

com a negaccedilatildeo da sociabilidade capitalista e comprometida com a construccedilatildeo de outro

projeto societaacuterio

Entretanto a conjuntura neoliberal que minimiza a organizaccedilatildeo poliacutetica

dos MS tambeacutem repercute no acircmbito de atuaccedilatildeo da ENESSO dada a valorizaccedilatildeo do

individualismo e de negaccedilatildeo de vivecircncias coletivas aliada a um contexto de crise

objetiva em que cada vez mais os (as) estudantes se preocupam com sua

manutenccedilatildeo e inserccedilatildeo no mundo do trabalho ainda durante a graduaccedilatildeo Portanto

temos um cenaacuterio caracterizado pela fragilidade de accedilotildees coletivas combativas de

contestaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e de lutas mais consistentes e articuladas ateacute mesmo com

outras entidades estudantis

A realizaccedilatildeo de atividades fragmentadas reduz a capacidade de barrar

eou ateacute mesmo amenizar as investidas do capital na educaccedilatildeo brasileira tendecircncia

fortalecida nos anos de 1990 e mantida nos anos 2000 com a concretizaccedilatildeo da

contra-reforma do ensino superior no governo Lula que se sustenta numa loacutegica de

privilegiamento do privado e reconfiguraccedilatildeo das instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de

atender sobretudo as demandas do capital Realidade que gera disputas e

contradiccedilotildees no ME que se manifesta inclusive com a criaccedilatildeo de outra entidade

nacional de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes no caso a CONLUTE situaccedilatildeo

conflitante vivenciada tambeacutem pelo MESS

172

A pesquisa sugere um contexto de acirramento entre os agrupamentos

poliacuteticos atuantes no MESS os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre

o governo Lula e do posicionamento poliacutetico em relaccedilatildeo a UNE Os tensionamentos

em torno dessas questotildees perpassam na maior parte das discussotildees e geram grandes

debates e conflitos especialmente no processo de aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no

final de cada ENESS que se constituem o norte a ser seguido pela nova direccedilatildeo da

ENESSO

Temos a concepccedilatildeo que as polecircmicas atuais que provocam divergecircncias

nos partidos poliacuteticos forjados no campo da esquerda como PT PSTU e PSOL e as

organizaccedilotildees sindicais como CUT e CONLUTAS rebatem no MESS em virtude do

posicionamento histoacuterico desse movimento de pautar a discussatildeo e as lutas dos

segmentos do trabalho e de se colocar numa direccedilatildeo de recusa da sociabilidade

capitalista e de defesa da construccedilatildeo de outra sociedade o que contribui no

estabelecimento de relaccedilotildees com movimento e entidades que travam debates e

desenvolve atividades em torno das questotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho

e as disputas poliacuteticas partidaacuterias em determinado momento histoacuterico

Diante disso a investigaccedilatildeo aponta que o MESS e a ENESSO vivecircncia

uma relaccedilatildeo de negaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo em relaccedilatildeo a UNE e a CONLUTE No tocante a

primeira as deliberaccedilotildees que abrangem os anos de 2003-2008 e o proacuteprio estatuto da

executiva a reconhece como entidade maior de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes

brasileiros(as) entretanto a nega quando se trata do posicionamento assumido diante

da contra-reforma do ensino superior Por outro lado a ENESSO esboccedila uma accedilatildeo de

negaccedilatildeo da CONLUTE como uma entidade paralela a UNE que no seu

entendimento pode dividir e sectarizar ainda mais o ME no Brasil contudo as

deliberaccedilotildees ainda que timidamente apontam a necessidade de discussatildeo e

fomentaccedilatildeo do debate em torno dessa entidade que reage negativamente agraves accedilotildees

do governo Lula para educaccedilatildeo superior direccedilatildeo que potencializa essa aproximaccedilatildeo

com a ENESSO

Todavia a disputa entre os grupamentos existentes no MESS natildeo pode

ser reduzida a conquista dos cargos da ENESSO dimensatildeo timidamente sinalizada

por alguns(mas) dos(as) entrevistados(as) nem atuar de modo sectarista perspectiva

que deixa os interesses estudantis para segundo plano Atuando dessa forma os

grupos poliacuteticos presentes no MESS tendem a se enfraquecer e a fragilizar o proacuteprio

momento e a ENESSO

A natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos nacionais da ENESSO para a gestatildeo

20082009 em meio a um conturbado processo de fraude eleitoral revela o contexto

de fragilidade pela qual passa o MESS na atualidade e que revela instabilidades na

173

organizaccedilatildeo desse segmento e que atingiu profundamente a executiva Os dados

produzidos nessa investigaccedilatildeo sugere que majoritariamente a organizaccedilatildeo dos(as)

militantes em grupos tendem a fortalecer as lutas do movimento visto que seus(as)

militantes tambeacutem ocupam outros espaccedilos de atuaccedilatildeo como partidos e movimentos

o que contribui na construccedilatildeo de uma consciecircncia poliacutetica mais abrangente e criacutetica

entretanto o momento atual revela que os agrupamentos jaacute natildeo mais impulsionam a

atuaccedilatildeo da ENESSO como em periacuteodos anteriores e desse modo as divergecircncias

partidaacuterias se tornam mais recorrentes e visiacuteveis o que pode expressar uma das

determinaccedilotildees geradoras dessa forte instabilidade pela qual passa o MESS e a

ENESSO

E mesmo nessa conjuntura de instabilidades e fragilidade poliacutetica do

MESS e da ENESSO a construccedilatildeo de medidas voltadas para uma atuaccedilatildeo mais

qualificada dos(s) militantes e consequumlentemente dos(as) dirigentes das entidades

estudantis de base satildeo sucumbidas diante da falta de recurso das vaacuterias atividades

e obrigaccedilotildees cotidianas dos(as) militantes No decorrer do periacuteodo aqui analisado foi

realizado em abrangecircncia nacional somente um curso de formaccedilatildeo poliacutetica voltado

para os(as) militantes do MESS

Contradiccedilotildees satildeo apontadas no sentido de que embora a ENESSO se

posicione contraacuterio a contra-reforma do ensino superior as elaboraccedilotildees sobre essa

problemaacutetica sinalizam uma tendecircncia de que as medidas aprovadas pelo governo

Lula satildeo de certo modo justificaacuteveis devido ao processo de adoccedilatildeo das diretivas

neoliberais ainda durante a era FHC

Dentre as dificuldades apreendidas nessa pesquisa se encontram as de

ordem objetiva diante da realidade de falta de recursos da ENESSO que repercute

diretamente na atuaccedilatildeo poliacutetica da entidade pois a falta de condiccedilotildees limita a atuaccedilatildeo

da entidade em espaccedilos como cursos de Serviccedilo Social presenccedila em eventos como

seminaacuterio oficinas e entre outros Dificuldades resultantes da crescente privatizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo superior que se manifesta por exemplo na apreensatildeo de que ateacute

agosto de 2008 existiam no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social sendo 51 na esfera

puacuteblica e 251 no setor privado visto que a pesquisa sugere a existecircncia de maior

autonomia de organizaccedilatildeo do MESS nas instituiccedilotildees puacuteblicas

A investigaccedilatildeo sinaliza possibilidades na atuaccedilatildeo da ENESSO no sentido

de que mesmo em uma conjuntura limitada da atuaccedilatildeo dos MS a entidade consegue

pautar importantes debates que ultrapassa a esfera restrita dos(as) estudantes e

nessa perspectiva a executiva procura se articular com outros sujeitos MS e

entidades como a ABEPSS e o conjunto CFESS-CRESS

174

A unidade em torno da defesa do projeto profissional consiste em uma

determinaccedilatildeo significativa na articulaccedilatildeo entre as entidades representativas do Serviccedilo

Social entretanto essa unidade natildeo representa a ausecircncia de discordacircncias

diferenccedilas e contradiccedilotildees nessa relaccedilatildeo

175

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ANEXO I

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM EX COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO

1- Comente sobre a sua trajetoacuteria no movimento estudantil ateacute chegar a coordenaccedilatildeo da enesso

2- Era membro de alguma tendecircncia no movimento estudantil Quais as principais bandeiras de lutas Que analise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no movimento estudantil

3- Qual o posicionamento da entidade em relaccedilatildeo a reforma universitaacuteria do governolula

4- Quais as principais atividades e lutas realizadas no tocante a defesa da universidade puacuteblica no Brasil

5- Quais as principais atividades e lutas efetivadas em relaccedilatildeo a defesa do atual projeto de formaccedilatildeo profissional fundado nas diretrizes curriculares

6- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo da executiva tanto em relaccedilatildeo agrave universidade como a formaccedilatildeo profissional levando em consideraccedilatildeo limites estrateacutegias e potencialidades a partir das atividades e lutas travadas

7- Quais os principais aliados e opositores do movimento estudantil e em particular no acircmbito do movimento estudantil de serviccedilo social

8- Comente sobre possiacuteveis dificuldades em termos da organizaccedilatildeo-poliacutetica do mess no seu periacuteodo de militacircncia

9- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo do movimento estudantil na sociedade e em particular no atual cenaacuterio neoliberal

10- Teria algo relevante a acrescentar sobre a enesso como entidade representativa dos(as) estudantes de serviccedilo social em niacutevel nacional

186

ANEXO II

ROTEIRO UTILIZADO NA ELABORACcedilAtildeO DE PERFIL DOS(AS) DIRIGENTESNACIONAIS DA ENESSO NO PERIacuteODO DE 20032008

1 - ANO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO

R ___________________________________

2 - FAIXA ETAacuteRIA

Entre 15-20 ( )Entre 21-25 ( )Entre 26-30 ( )Acima de 30 ( )

3 - SEXO

Masculino ( ) Feminino ( )

4 - COR Negra ( ) Branca ( ) Parda ( )

5 - RELIGIAtildeO

Catoacutelica ( ) protestante( ) espiacuterita( ) umbanda ( ) outra ( ) Especificar________________

6 - ENSINO MEacuteDIO REALIZADO PREDOMINATEMENTE EM ESCOLA

Puacuteblica ( )Privada ( )

7 - GRADUACcedilAtildeO REALIZADA EM INSTITUICcedilAtildeO

Puacuteblica ( ) privada ( )Instituiccedilatildeo ______________________________

8 - DURANTE O PERIacuteODO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO DESEMPENHAVA ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA

Trabalho ( ) especificar __________________________________________________ Quantas horas diaacuterias ____________________

Estagio ( ) especificar _______________________________________________________Quantas horas diaacuterias____________________________

9 - RENDA MENSAL DA FAMIacuteLIA

187

Entre 1 e 2 salaacuterios- miacutenimos ( ) Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 9 e 10 salaacuterios- miacutenimo ( )Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos ( ) Acima de dez salaacuterios ( )

10 - ANTES DE MILITAR NO MESS PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ORGANIZACcedilAtildeO COLETIVA

Natildeo ( ) sim ( ) Especificar_______________________________________________

11 - ANTES DE SER DIRIGENTE DA ENESSO OCUPOU ALGUM CARGO EM ENTIDADE DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

( ) CORETUR( ) Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico( ) Diretoacuterio Central dos Estudantes( ) Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO( ) Outra _____________________________________________________________

12 - NO PERIODO EM QUE FOI DIRIGENTE DA ENESSO ERA FILIADO A ALGUM PARTIDO POLIacuteTICO

( ) Natildeo ( ) sim Especificar____________________________________________

188

ANEXO III

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM MENBRO DA ABEPSS

1 COMO VOC ANALISA A ldquoPARCERIA ESTRATGICArdquo ENTRE AS TRS ENTIDADES NACIONAIS DA CATEGORIA

2 QUAIS AS PRINCIPAIS ESTRATGIAS E AES DESENVOLVIDAS PELAS TRS ENTIDADES NA DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA GRATUITA PRESENCIAL LAICA E DE QUALIDADE E DO PROJETO DE FORMAO PROFISSIONAL FUNDADO NAS DIRETRIZES CURRICULARES

3 QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELO CFESSABEPSS NO PROCESSO DE ARTICULAO ENTRE AS TRS ENTIDADES E PARTICULARMENTE EM RELAO A ENESSO

189

ANEXO IV

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM COORDENADOR(A) REGIONAL DA ENESSO (MEMBRO DE OPOSICcedilAtildeO A DIRECcedilAtildeO NACIONAL DA ENESSO)

1 Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

2 Comente sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO nos acircmbitos da Universidade e da Formaccedilatildeo profissional considerando estrateacutegias limites e potencialidades

3 Teria algo relevante a acrescentar sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO no processo de organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes na contemporaneidade

190

APEcircNDICE I

RELAO DOS COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO NO PERODO

DE 2003-2008

GESTAtildeO 20032004

Coordenao Geral Adriana Oliveira ndash PUCSPSecretaria Geral Wagner Hosokawa ndash PUCSP Coordenao de Finanas Lucilene Gomes PUCCampinasCoordenao de Divulgao e Impressa Graziela Sue ndash UNISALCoordenao Movimentos Sociais Julia Benedini ndash UNESPCoordenao Relaes Internacionais Anita Martins ndash UNESPCoordenao de Formao Profissional Michele Marx- Centro Universitrio Baro de Mau Ribeiro Preto(SP)

GESTAtildeO 20042005

Coordenao Geral Ana Carolina trindade dos santos UFS-SESecretaria Geral Daniele Rebouas UCSAL-BACoordenao de Finanas Amanda Bastos UFS-SECoordenao de Divulgao e ImpressaAline Arajo- UCCSAL-BACoordenao Movimentos Sociais Itanamara Cavalcante UFS-SECoordenao Relaes InternacionaisFernanda mantelli-UCSAL-BAcoordenao de Formao Profissionaljacklene mirne UNIT-SE

GESTAtildeO 20052006

Coordenao Geral Celso Severo UFPE-PESecretaria Geral Natalia Teixeira UFPE-PECoordenao de Finanas Juliana Nunes UEPBCoordenao de Divulgao e Impressa Evandro Gomes Correia jr UFPBCoordenao Movimentos Sociais Raquel Mazuele de p Arajo UERNCoordenao Relaes Internacionais Alison Cleiton UEPBCoordenao de Formao Profissional Albertina Felix da Cuz-UEPB

GESTAtildeO 20062007

Coordenao Geral Fabiano SantosSecretaria Geral Roberto AlvesCoordenao de Finanas Emanuela BritoCoordenao de Divulgao e Impressa Aline CerqueiraCoordenao Movimentos Sociais Aline TapiocaCoordenao Relaes Internacionais Andr NovaisCoordenao de Formao Profissional Deyse Morais

191

GESTAtildeO 20072008

Coordenao Geral Shanti Mairananda de Oliveira Braga ndash UFJFSecretaria Geral Samantha Catarina de Andrade Santos - PUC MinasCoordenao de FinanasAline Felipe Barreto - UFESCoordenao de Divulgao e Impressa Ernandes Jos - UFVJMCoordenao Movimentos Sociais Haimon Verly - UFESCoordenao Relaes Internacionais Cristovo de Oliveira Braga - UFJFCoordenao de Formao Profissional Leonardo David Rosa Reis - PUC Minas

As amigas Ilidiana Diniz(ilidi) Ednara (Ed) e Valmara companheiras nos momentos

de angustias e superaccedilotildees durante a elaboraccedilatildeo dessa dissertaccedilatildeo haacute e tambeacutem

pela acolhida no residecircncia durante as minhas idas a Natal sempre

compartilhandomesmo que um pequeno quarto

A amiga Janaiky pela ajuda na produccedilatildeo de dados para pesquisa

Ao amigo Henrique que desde o iniacutecio acreditou na viabilidade dessa pesquisa

agradeccedilo pelos emails repassados e pelo caminho disponibilizado que facilitou a

busca de informaccedilotildees sobre a ENESSO

A Larisse Rodrigues pela excelente monografia produzida sobre o MESS e pelas

trocas de informaccedilotildees

RESUMO

A dissertaccedilatildeo analisa a direccedilatildeo social do Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS)por meio da atuaccedilatildeo da Executiva Nacional dos(as) estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) no que se refere a sua posiccedilatildeo poliacutetica sobre Universidade e Formaccedilatildeo profissional no periacuteodo de 2003-2008 Do ponto de vista teoacuterico-metodoloacutegico o objeto de estudo foi apreendido em suas determinaccedilotildees estruturais conjunturais e geracionais considerando a crise contemporacircnea do capital e suas implicaccedilotildees na relaccedilatildeo Estado e Sociedade com ecircnfase nas particularidades e mudanccedilas na Universidade e nas exigecircncias postas no acircmbito da Formaccedilatildeo profissional Para a coleta e produccedilatildeo dos dados foi realizada pesquisa documental e de campo Foram entrevistados(as) dirigentes da ENESSO um(a) de cada gestatildeo entre os anos de 2003-2008 aleacutem de representantes da Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) que destaca a relevacircncia da parceria construiacuteda com a entidade de representaccedilatildeo dos(as) estudantes na cena contemporacircnea Os resultados obtidos sugerem que a ENESSO desenvolve uma atuaccedilatildeo em defesa do projeto de universidade puacuteblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formaccedilatildeo fundado nas Diretrizes Curriculares de 1996 o tempo presente eacute marcado no MESS pelo acirramento de disputas pela direccedilatildeo social do movimento entre os grupos poliacuteticos os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre o governo Lula e do papel poliacutetico assumido pela UNE nesse contexto de contra-reforma do ensino superior A conjuntura atual de exaltaccedilatildeo extrema do individualismo tem se revelado desfavoraacutevel agrave organizaccedilatildeo coletiva da classe trabalhadora e em particular dos movimentos estudantil O MESS atravessa um momento de profunda instabilidade dimensatildeo que se expressa na ausecircncia de coordenadores nacionais para gestatildeo 20082009 da ENESSO Apesar das dificuldades enfrentadas destaca-se a parceria construiacuteda entre as entidades representativas do Serviccedilo Social em niacutevel nacional e a luta que desenvolvem em defesa do projeto profissional vinculado a construccedilatildeo de outra sociabilidade para aleacutem do capital

Palavras-chave Movimento Estudantil de Serviccedilo Social Capitalismo contemporacircneo Universidade e Formaccedilatildeo Profissional

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the social direction in which the Student Movement in Social Work in Brazil (ENESSO) has gone through This is done considering how the functioning of the National Executive the Brazilian Social Work Student union has operated The research analyzed their political position regarding the university as well as professional education in the period of 2003 to 2008 The studyrsquos theoretical and methodological object was obtained according to its structural juncture and time determinants All of the mentioned elements considered the contemporary capital crisis and its implications towards the State and Society emphasizing specifically the changes that occurred in the University regarding professional education For the purpose of data collection and production a documental and field research was realized Thus interviews were done considering one manager of each management period of the ENESSO group in the time span of 2003 to 2008 Some subjects that represented the Brazilian Social Work Teaching and Research Association (ABEPSS) as well as were also interviewed These subjects have had a relevant role in partnership with these entities and represented students in the contemporary scene Results suggest that ENESSO has developed work that defends a project of a public free and laic quality university This entity also defends a project that considers the 1996 Curricular Guidelines Currently there is internal dispute in the social direction of the MESS this is seen amongst political groups that diverge in opinions related to the analysis done by the Lula government regarding the political role that the National Student Union-UNE has taken in the counter-reform of higher education This current juncture is seen as extremely individualist and it results as in unfavorable for the collective organization of the working class especially regarding student movement MESS has been going through a moment of profound instability and this dimension is being expressed by the absence of national coordinator for the 20082009 management period at ENESSO Even though there are difficulties it is possible to point out partnership of the entities that represent the national Social Work in Brazil These partnerships are all related to a struggle and search for the development of a professional project that leads towards the sociability awareness that goes beyond capital

Key-Words Social Work Student Movement Contemporary Capitalism University and Professional Education

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

AGCS Acordo Geral sobre Comeacutercio e Serviccedilo

ANDES Associaccedilatildeo Nacional dos Docentes de Ensino Superior

AE Articulaccedilatildeo de Esquerda

ALEITS Associaccedilatildeo Latino-americana de Ensino e Investigaccedilatildeo em Trabalho Social

BM Banco Mundial

CA Centro Acadecircmico

CEDEPSS Centro de Documentaccedilatildeo e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social

UNIASSELVI Centro Universitaacuterio Leonardo da Vinci

CFESS Conselho Federal de Serviccedilo Social

CRESS Conselho Regional de Serviccedilo Social

CONLUTAS Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas

CONLUTE Coordenaccedilatildeo Nacional de Lutas dos Estudantes

CORETUR Conselho de Representantes de Turma

CUT Central Uacutenica dos Trabalhadores

DA Diretoacuterio Acadecircmico

DS Democracia Socialista

DCE Diretoacuterio Central dos Estudantes

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENE Encontro Nacional dos Estudantes

ENESS Encontro Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviccedilo Social

ENEX Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

ENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviccedilo Social

ERESS Encontro Regional de Estudantes de Serviccedilo Social

EQM Eu Quero eacute Mais

FAETSFederaccedilatildeo Argentina de Estudantes de Trabalho Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LBA Legiatildeo Brasileira de Assistecircncia

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

ME Movimento Estudantil

MESS Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

MS Movimentos Sociais

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

MTL Movimento Terra Trabalho e Liberdade

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo-governamental

PDP Projeto Democraacutetico e Popular

PLP Partido da Libertaccedilatildeo Proletaacuteria

PROUNI Programa Universidade Para Todos

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados

PT Partido dos Trabalhadores

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das

Universidades Federais

SNFPMESS Seminaacuterio Nacional de Formaccedilatildeo Profissional e Movimento Estudantil de

Serviccedilo Social

SESSUNE Subsecretaria de Estudantes de Serviccedilo Social na UNE

SINAES Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior

UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

UNITINS Universidade Estadual do Tocantins

UNE Uniatildeo Nacional dos Estudantes

LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1 Natureza das Instituies de Ensino Superior no Brasil ndash Censo de 2007

GRFICO 2 Tipo de Instituies de Ensino Superior Privadas- Censo de 2007

GRFICO 3 Tipo de Instituies de Ensino Superior Pblicas- Censo de 2007

GRFICO 4 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1930-1994

GRFICO 5 Cursos de Servio Social no Brasil no perodo de 1995-2002

GRFICO 6 Criao de Cursos de Servio Social no perodo de 2003- agosto de

2008

GRFICO 7 Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de

2003-2008

GRFICO 8 Participao em organizao coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO

antes da insero no MESS

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2002

QUADRO 2 Cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1930-2008

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 4 Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

QUADRO 5 Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-

2008

QUADRO 6 Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes

de sua inserccedilatildeo no MESS

QUADRO 7 Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de

assumirem a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

SUMAacuteRIO

IINTRODUO------------------------------------------------------------------------------------------14

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social-----------------------------------------------------------------------------------------25

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA----------------------------------------------------------------------------25

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes---------------35

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO----------------------------------------------------------------------------------- ------42

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE ----------------------------------------------------------------------------------50

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE -----------------------------------54

3-1 A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal ----------------------------------------------------------------54

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades-

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------59

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais --------------68

IV UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE-75

4-1ldquoREFORMA UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA DO

ESTADO BRASILEIRO --------------------------------------------------------------------------------75

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico ---------------------------------------------------------84

4-3 REMANDO CONTRA MAR a formao profissional do assistente social no

mbito da contra-reforma do ensino superior-----------------------------------------------------98

V- UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL ---- --------------112

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO-------------112

5-2 UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO----

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------124

5-3 REFLEXES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO --------------------147

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies ----------------------161

5-5 SERVIO SOCIAL ABEPSS CFESS E A ENESSO no mbito da parceria

estratgica -----------------------------------------------------------------------------------------------165

CONSIDERAES FINAIS -------------------------------------------------------------------------171

REFERNCIAS-----------------------------------------------------------------------------------------175

ANEXOS -------------------------------------------------------------------------------------------------185

APNDICE----------------------------------------------------------------------------------------------190

Nada Eacute Impossiacutevel De Mudar

Desconfiai do mais trivial

na aparecircncia singelo

E examinai sobretudo o que parece habitual

Suplicamos expressamente

natildeo aceiteis o que eacute de haacutebito como coisa natural

pois em tempo de desordem sangrenta

de confusatildeo organizada de arbitrariedade consciente

de humanidade desumanizada

nada deve parecer natural nada deve parecer

impossiacutevel de mudar (Bertolt Brecht)

14

I INTRODUCcedilAtildeO

Nesta investigaccedilatildeo desenvolvemos um estudo sobre a accedilatildeo do Movimento

Estudantil(ME) tendo como objeto de pesquisa a anaacutelise da direccedilatildeo social do

Movimento Estudantil de Serviccedilo Social(MESS) e sua relaccedilatildeo com a universidade e

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais no contexto da contra-reforma1 do

ensino superior implementada no periacuteodo de 2003-2008

O interesse pelo estudo dessa temaacutetica iniciou durante o Curso de

Graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

(UERN) de 2003 ao iniacutecio de 20072 por meio da minha vivecircncia no ME que

proporcionou momentos enriquecedores na formaccedilatildeo profissional e contribuiu com o

desenvolvimento de reflexotildees participaccedilatildeo em debate e accedilotildees voltadas para a defesa

do atual projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado pelas

Diretrizes Curriculares de 1996

Essa dissertaccedilatildeo representa a continuidade de estudos desenvolvidos

sobre o ME considerando que no trabalho de conclusatildeo de curso abordamos a

atuaccedilatildeo do MESS na (UERN) Os resultados desse estudo me permitem afirmar que

a partir da deacutecada de 1990 ocorreu agrave substancial influecircncia da ENESSO nas accedilotildees

locais dos(as) estudantes de Serviccedilo Social dentre as quais destacamos a efetivaccedilatildeo

de atividade em defesa do espaccedilo profissional do(a) assistente social no Instituto

Nacional de Seguro Social(INSS) a partir de orientaccedilotildees da executiva tivemos a

atuaccedilatildeo do Centro Acadecircmico(CA) nas discussotildees relativas a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares de 1996 mais recentemente podemos

citar o amplo boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes(ENADE)

realizado pelos estudante de Serviccedilo Social da UERN em novembro de 20043 a

promoccedilatildeo de debates sobre o exame de proficiecircncia A monografia tambeacutem aponta a

existecircncia de dificuldades relacionadas agrave mobilizaccedilatildeo das bases e da renovaccedilatildeo de

1 Termo utilizado por Behring(2003) como forma de expressar que a reconfiguraccedilatildeo do Estado na realidade atual corrobora para a minimizaccedilatildeo e natildeo consolidaccedilatildeo de direitos2 Essa militacircncia permitiu a inserccedilatildeo em espaccedilos do Movimento Estudantil como representaccedilatildeo estudantil no departamento de Serviccedilo Social da UERN bem como a participaccedilatildeo na Coordenaccedilatildeo Regional da Executiva Nacional de Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSO) na gestatildeo 20052006 Tal vivecircncia despertou a curiosidade em torno da organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do MESS e da relevacircncia da sua accedilatildeo para profissatildeo bem como para construccedilatildeo de lutas que ultrapasse o universo profissional e contribua para a mobilizaccedilatildeo pela universalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com qualidade Desse interesse resultou a produccedilatildeo monograacutefica intitulada Movimento Estudantil de Serviccedilo Social na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte trajetoacuteria histoacuterica na luta por uma universidade puacuteblica e de qualidade defendida em janeiro de 20073 A partir dessa avaliaccedilatildeo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura(MEC) atribuiu nota inferior a 1 o que representou a menor nota dentre os cursos de Serviccedilo Social do Brasil

15

dirigentes estudantis para os espaccedilos como o Conselho de Representantes de

Turma(CORETUR) CA e Diretoacuterio Central dos Estudantes(DCE)

Revelou ainda o compromisso histoacuterico do movimento com a defesa da

universidade puacuteblica gratuita e de qualidade mediante a efetivaccedilatildeo de diversas lutas

e atividades como as mobilizaccedilotildees e greves em prol da estadualizaccedilatildeo da UERN na

deacutecada de 1980 atos contraacuterios ao pagamento de taxas no acircmbito das instituiccedilotildees

puacuteblicas de ensino em particular na UERN promoccedilatildeo de manifestaccedilotildees em 2004

durante as comemoraccedilotildees de 36 anos dessa instituiccedilatildeo O objetivo dessa accedilatildeo dentre

outros consistia em mostrar para a sociedade acadecircmica e mossoroense a

insatisfaccedilatildeo estudantil com as precaacuterias condiccedilotildees de funcionamento da universidade

Aleacutem disso a investigaccedilatildeo monograacutefica demonstrou preocupaccedilotildees do MESS da

UERN com a formaccedilatildeo profissional e com a defesa do projeto eacutetico-poliacutetico da

profissatildeo

A produccedilatildeo de dados referente a esta pesquisa na graduaccedilatildeo explicitou

tambeacutem a decepccedilatildeo de segmentos do MESS no acircmbito da UERN com a contra-

reforma do ensino superior materializada na primeira gestatildeo sob a presidecircncia de Luis

Inaacutecio Lula da Silva dimensatildeo que pode ser aprendida inclusive na fala de uma das

entrevistadas que contribuiu com a socializaccedilatildeo de informaccedilotildees para o trabalho

monograacutefico

Quando eu entrei na universidade em 2002 era justamente o ano da campanha eleitoral para presidente [] era todas as expectativas em cima do governo Lula [] mas as coisas natildeo funcionaram assim a gente imaginava que as reformas fossem acontecer mas natildeo da forma como ele fez apenas camuflou as reformas que FHC queria fazer (orquiacutedea)

A construccedilatildeo da monografia associada agrave militacircncia potencializou a

apreensatildeo de alguns desafios que perpassam a organizaccedilatildeo do MESS na

contemporaneidade Destacamos a realidade objetiva em que parte significativa

dos(as) dirigentes locais do CA desenvolvia estaacutegio remunerado eou outras atividades

de inserccedilatildeo no mercado de trabalho Esse contexto nos remete a refletir sobre o

compromisso majoritaacuterio desses sujeitos com a luta coletiva expresso no

envolvimento com a construccedilatildeo do MESS em meio agrave sobrecarga de atividades

desempenhadas Em decorrecircncia dessa realidade explicitam-se limitaccedilotildees

provocadas pelas condiccedilotildees objetivas e subjetivas de inserccedilatildeo desses militantes no

movimento e direccedilatildeo da entidade estudantil tais como minimizaccedilatildeo na participaccedilatildeo de

reuniotildees estudantis foacuteruns do ME e do MESS reduccedilatildeo na construccedilatildeo de atividades

entre outras

16

Outra vivecircncia importante para construccedilatildeo do objeto de estudo consistiu na

experiecircncia de estaacutegio4 no Conselho Regional de Serviccedilo Social (CRESS) Seccional

de Mossoroacute que possibilitou a participaccedilatildeo em discussotildees ciclos de debates entre

outras atividades sobre diferentes temaacuteticas relacionadas agrave profissatildeo em especial agrave

proacutepria formaccedilatildeo profissional O estaacutegio eacute considerado pela Associaccedilatildeo Brasileira de

Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social(ABEPSS) um elemento essencial na construccedilatildeo

de um perfil profissional criacutetico reflexivo e investigativo que contribui para formaccedilatildeo

de profissionais com competecircncias e habilidades capazes de desvendar as relaccedilotildees

sociais contraditoacuterias no cotidiano de trabalho dos(as) assistentes sociais O estaacutegio

no CRESS potencializou um aprofundamento de estudos e vivecircncias relacionadas ao

exerciacutecio e agrave formaccedilatildeo profissional em Serviccedilo Social aleacutem da aproximaccedilatildeo com a

dimensatildeo da organizaccedilatildeo poliacutetica da categoria profissional

Diante dessas constataccedilotildees no universo da UERN foi aguccedilada a nossa

inquietaccedilatildeo e curiosidade sobre accedilatildeo do MESS em niacutevel nacional de tal forma que

dando continuidade ao estudo iniciado no periacuteodo do Curso de Graduaccedilatildeo novos

questionamentos emergiram na perspectiva de analisar a atuaccedilatildeo e as implicaccedilotildees do

MESS na defesa de um determinado projeto de universidade e formaccedilatildeo profissional

Os resultados da pesquisa realizada na monografia ressaltados anteriormente satildeo

particularidades da organizaccedilatildeo e accedilatildeo poliacutetica do MESS local a partir sobretudo da

deacutecada de 1990 ou configura-se numa tendecircncia que pode ser generalizada a esse

sujeito coletivo em niacutevel nacional Como as determinaccedilotildees soacutecio-conjunturais do

periacuteodo de 2003-2008 inflexionam e caracterizam a accedilatildeo poliacutetica do MESS em acircmbito

nacional Quais satildeo as estrateacutegias e as formas de luta desenvolvidas Quem satildeo

seus principais aliados e opositores no cotidiano das lutas Diante dessas reflexotildees

essa pesquisa apresenta como objetivo analisar a direccedilatildeo social do MESS mediante a

atuaccedilatildeo da ENESSO em relaccedilatildeo agrave universidade e agrave formaccedilatildeo profissional no

interregno de 2003 a 2008

Portanto considerando agrave insuficiecircncia de tempo pela dinacircmica de duraccedilatildeo

do mestrado bem como devido a problemaacuteticas referentes a deslocamentos e as

proacuteprias condiccedilotildees objetivas torna-se imprescindiacutevel agrave instituiccedilatildeo de uma delimitaccedilatildeo

temporal para a realizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

Eacute nesse sentido que estabelecemos esse recorte temporal o qual tambeacutem

eacute demarcado pelo iniacutecio do governo Lula e engloba ainda parte do seu segundo

mandato (2003-2008) O processo que nos levou a efetivaccedilatildeo de tal delimitaccedilatildeo

consiste na possibilidade de potencializar algumas consideraccedilotildees e problematizaccedilotildees

4 Estagio curricular de caraacuteter obrigatoacuterio efetivado durante a graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social no periacuteodo letivo de 20042 a 20061

17

interessantes e enriquecedoras na investigaccedilatildeo tais como proporcionou a

contextualizaccedilatildeo da materializaccedilatildeo de uma contra-reforma do ensino superior

circunscrita no acircmbito de um governo cujo partido presidencial emergiu e consolidou-

se historicamente identificado com a luta por uma educaccedilatildeo puacuteblica e de qualidade

contudo age no executivo federal em conformidade com o ideaacuterio neoliberal de

destruiccedilatildeo daquela luta e ainda permitiu evidenciarmos algumas dimensotildees do

relacionamento deste governo com os movimentos sociais(MS) e em particular com

o ME

Aleacutem disso o ano de 2008 constitui-se um marco para o MESS Trata-se

da existecircncia de trinta anos de reorganizaccedilatildeo do movimento e vinte anos de criaccedilatildeo

da ENESSO entretanto neste importante ano tivemos no Encontro Nacional de

Estudantes de Serviccedilo Social(ENESSS) realizado em julho de 2008 em Londrina-PR

a natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos da Coordenaccedilatildeo Nacional da executiva O que este fato

representa para o MESS Uma crise As diferentes vertentes que compotildeem o MESS

estatildeo preocupadas com os interesses reais do coletivo de estudantes de Serviccedilo

Social possuem uma agenda poliacutetica ou estatildeo submetidas agrave mera conquista da

entidade como expressatildeo de um tipo de poder poliacutetico desvinculado de uma direccedilatildeo

social criacutetica

A relevacircncia dessa pesquisa consiste na anaacutelise de um sujeito coletivo

historicamente protagonista na luta por uma universidade e formaccedilatildeo de qualidades

Destarte eacute relevante para o Serviccedilo Social por problematizar o processo de formaccedilatildeo

profissional dos(das) assistentes sociais ressaltando a ameaccedila vivenciada pelo atual

projeto educacional em decorrecircncia das medidas efetivadas pelo governo vigente

consubstanciadas nas orientaccedilotildees neoliberais

Aleacutem disso consideramos a pesquisa importante na medida em que

analisa um fenocircmeno ainda em curso podendo de tal forma contribuir na elaboraccedilatildeo

de investigaccedilotildees seguintes bem como pode subsidiar reflexotildees significativa para

proacutepria organizaccedilatildeo poliacutetica do MESS nessa conjuntura tatildeo adversa

Outro aspecto que explicita a relevacircncia acadecircmica dessa pesquisa

consiste na reduzida produccedilatildeo teoacuterica sobre a atuaccedilatildeo do ME em particular do MESS

Estudos que tem como temaacutetica o segmento estudantil em larga medida estaacute

circunscrita a accedilatildeo desse movimento no contexto da ditadura militar em virtude do

protagonismo que desenvolveu na luta contra o regime ditatorial Portanto elaborar

produccedilotildees teoacutericas sobre o ME em conjunturas recentes consistiu em um desafio

diante da bibliografia escassa o que por sua vez representa uma contribuiccedilatildeo no

estudo da accedilatildeo e particularidades desse MS

18

Do ponto de vista terico-metodolgico a pesquisa foi desenvolvida numa

perspectiva de totalidade com vista a apreender as determinaes estruturais e

conjunturais e suas implicaes no objeto investigado

Temos a compreenso que o conhecimento um saber provisrio e

ilimitado nesse sentido relevante o entendimento de que as teorias e seus mtodos

consistem em referenciais que potencializam a apreenso da realidade a partir do

desenvolvimento das investigaes cientficas Cardoso(1976) caracteriza o mtodo

como elemento que contribui na apreenso de possibilidades e limites inerentes a

prpria elaborao do conhecimento ainda o concebe como parte constitutiva de

determinada teoria social Portanto o referencial terico-metodolgico no deve ser

empregado nas pesquisas como receiturio infalvel e mecanicista As teorias so

construdas no mbito da historicidade ou seja refletem sobre problemticas

circunscritas no tempo e espao Alm disso na perspectiva marxiana constitui a

reproduo no plano ideal do movimento do real em que se busca apreender as

determinaes que conformam os fenmenos existentes na realidade histrica em

uma dimenso de totalidade

Totalidade na perspectiva de conhecer um determinado objeto levando-se

em considerao os seus determinantes a partir de um processo de abstrao

fundamentado no movimento do real e no a apreenso da realidade como factvel de

um conhecimento total e absoluto visto que ldquoas leis inerentes ao ser social so leis

histricas decorrentes das necessidades e conexes internas dos fenmenos dos

fatos e processos sociais por isso so tendenciaisrdquo (PONTES 2002 p76) Ou na

concepo de Lowy

O que define a cincia como tal a tentativa de conhecimento da verdade Nesse sentido h uma relao entre cincia e conhecimento da verdade Porm a verdade absoluta jamais ser conhecida todo o processo de conhecimento um processo de acercamento de aproximao verdade (2000 p110)

Ratificamos a necessidade de entendimento histrico da realidade na

medida em que temos a compreenso de ser a esfera estrutural a determinante na

constituio das relaes sociais e de tal modo decisiva na (re)configurao do

Estado capitalista e da organizao e atuao dos sujeitos nesta forma de

sociabilidade Como assinala Tonet

Na perspectiva metodolgica marxiana a produo terica nunca uma questo apenas terica- de modo diferente em momentos diferentes- uma relao estreita com o andamento do processo real

19

alm de terem reflexos na prpria vida cotidiana dos intelectuais( 2004 p207)

Para a coleta e produo dos dados utilizamos pesquisa bibliogrfica a

partir de fontes como livros artigos dissertaes teses entre outras que perpassou

toda investigao Todavia sabemos das dificuldades decorrentes sobretudo do

escasso registro de obras que tratam do ME na atualidade pois a maioria das anlises

sobre este segmento organizado se refere ao contexto da ditadura militar iniciada em

1964 Tal realidade resultante provavelmente do seu protagonismo na luta pela

liberdade e democracia naquele perodo pode expressar ainda o momento de influxo

vivenciado por diversos MS que se expressa tambm no mbito do segmento

estudantil no contexto contemporneo

Utilizamos tambm pesquisa documental na qual privilegiamos a anlise

de documentos construdos pelo prprio ME especialmente o MESS Os principais

documentos que subsidiaram a anlise foram as deliberaes aprovadas nos ENESS

no perodo que engloba o recorte temporal da pesquisa Estas deliberaes

estabelecem as lutas a serem desenvolvidas em cada ano de direo da ENESSO

alm de boletins jornais cadernos e estatutos produzidos pela entidade de 2003-

2008 documentos aprovados sobre a contra-reforma universitria como decreto lei

regulamentos alm de elaboraes oficiais sobre as atuais mudanas na educao

superior brasileira como exemplo podemos citar o prprio plano de reestruturao

das universidades federais de autoria do MEC

Consideramos significativo situar na discusso os documentos

apreendidos como os instrumentos normativos da profisso principalmente as

Diretrizes Curriculares para o Curso de Servio Social de 1996 Estas foram

analisadas sobretudo no captulo quatro da dissertao com o objetivo de

problematizar a relao -contra-reforma universitria ndash formao profissional- e

atuao do segmento estudantil nestas esferas

De modo complementar sinalizamos o propsito de realizarmos pesquisa

de campo atravs de entrevistas do tipo semi-estruturada com um(a) dirigente da

ENESSO em cada ano compreendido no perodo 2003-2008 num total de cinco

entrevistas que seriam utilizadas com a perspectiva de resgatar a atuao do MESS

a partir da fala dos seus(suas) militantes Para Neto mediante as entrevistas o

investigador procura apreender informaes expressas na fala dos sujeitos e de tal

forma

Ela no significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos autores

20

enquanto sujeito-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizada (1994 p57)

Devemos considerar que informaccedilotildees distorcidas ou irreais podem ser

transmitidas pelos entrevistados(as) contudo isso natildeo invalida a utilizaccedilatildeo da

entrevista como uma importante teacutecnica de produccedilatildeo de dados principalmente

quando o conteuacutedo expresso pelos informantes eacute analisado evidenciando a

conjuntura na qual a fala se reporta vislumbrando desse modo a apreensatildeo dos seus

determinantes

Elaboramos o roteiro de entrevista para ser realizado com cinco militantes

Um participante de cada diretoria compreendida no periacuteodo 2003-2008 portanto

entrevista com dirigente da diretoria 2003-2004 2004-2005 2005-2006 2006-2007 e

2007-2008 Esse correspondeu ao uacutenico criteacuterio estabelecido ou seja consideramos

preponderantemente a disponibilidade dos sujeitos sem elencar o cargo ocupado na

ENESSO regiatildeo e instituiccedilatildeo na qual se processou a graduaccedilatildeo

Assim sendo realizamos duas entrevistas durante o Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviccedilo Social(ENPESS) que ocorreu entre os dias 1 e 5 de

dezembro de 2008 na cidade de Satildeo Luiacutes-MA uma materializada no dia 02 com

um(a) dirigente da gestatildeo 2004-2005 a segunda iniciada tambeacutem dia 02 e concluiacuteda

no dia seguinte com dirigente da gestatildeo 2006-2007 A terceira entrevista foi realizada

no dia 9 de marccedilo de 2009 em Recife-PE esta com militante da gestatildeo 2005-2006

Diante da impossibilidade de efetivaccedilatildeo das demais entrevistas entramos em contato

via email com um(a) dirigente das gestatildeo 2003-2004 e 2007-2008 os(as) quais se

disponibilizaram a responder as questotildees que compunham o roteiro de entrevista

eles(as) responderam e enviaram mediante endereccedilo eletrocircnico Os sujeitos que

responderam o roteiro de forma presencial ou via email satildeo identificados nessa

pesquisa por nome de planetas assim caracterizados Vecircnus gestatildeo 2003-2004

Urano 2004-2005 Terra 2005-2006 Neturno 2006-2007 e Marte 2007-2008 Essa

estrateacutegia foi utilizada como meio de garantir a privacidade e preservar as fontes de

informaccedilotildees dessa investigaccedilatildeo

A obtenccedilatildeo de respostas via email consistiu em um procedimento

metodoloacutegico que viabilizou a complementaccedilatildeo de problematizaccedilotildees importantes por

dois(duas) dirigentes da ENESSO pertencentes ao universo da pesquisa Contudo eacute

salutar manifestar que o meio eletrocircnico reduziu a interferecircncia da pesquisadora no

processo de produccedilatildeo de dados visto que ficou impossibilitado o esclarecimento

imediato de duacutevidas durante a concessatildeo das respostas entretanto eacute importante

destacar que os sujeitos que responderam via email se disponibilizaram para

21

prestaccedilatildeo de quaisquer esclarecimentos e fornecimento de quaisquer informaccedilotildees

posteriores ao envio das respostas

Na pesquisa de campo ainda elaboramos um questionaacuterio com o objetivo

de traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO de julho de 2003 a julho de 2008

visto ser este o mecircs que ocorre o ENESS espaccedilo em que se elege a diretoria da

executiva e dessa maneira marca o inicio de uma determinada gestatildeo O perfil

evidenciou um conhecimento mais detalhado dos sujeitos que materializaram a accedilatildeo

poliacutetica do MESS no periacuteodo abordado pela pesquisa Assim potencializou o

entendimento de questotildees importantes pois expressou dados qualitativos e

quantitativos relacionados sobretudo aos aspectos geracionais dos(as) dirigentes do

movimento abordado

A entidade eacute composta de sete cargos nacionais de tal modo no periacuteodo

ressaltado tivemos cinco diferentes diretorias totalizando portanto trinta e cinco

dirigentes O questionaacuterio foi encaminhado via email para todos(as) esses sujeitos

conforme endereccedilo eletrocircnico disponibilizados nos documentos produzidos no

decorrer dessas cinco gestotildees Do total de trinta e cinco enviados para os(as)

coordenadores(as) nacionais obtivemos resposta de vinte e dois o que representa um

percentual de 63 desse universo

O natildeo recebimento de 37 dos questionaacuterios enviados pode ser reflexo

da mudanccedila de endereccedilos eletrocircnicos entretanto eacute importante evidenciar a nossa

tentativa de conseguir os endereccedilos atualizados por meio dos(as) dirigentes que

responderam o questionaacuterio

Tambeacutem enviamos o mesmo questionaacuterio para um(a) militante que

ocupou o cargo de coordenador(a) regional5 da ENESSO na gestatildeo 2006-2007 e que

na sua gestatildeo fez oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da entidade Este(a) ainda respondeu

e enviou eletronicamente um roteiro constituiacutedo de trecircs perguntas Essa accedilatildeo foi

materializada com o intuito de analisamos a apreensatildeo de um sujeito que atuou na

coordenaccedilatildeo regional da ENESSO e se colocou no campo de oposiccedilatildeo o que por sua

vez favorece a anaacutelise considerando divergecircncias e contradiccedilotildees que perpassam a

accedilatildeo desse MS e da entidade aqui estudada

Constituiacutea propoacutesito da pesquisa a realizaccedilatildeo de entrevistas com dois

membros da ABEPSS e do Conselho Federal de Serviccedilo Social(CFESS) A efetivaccedilatildeo

destas entrevistas com representantes da ABEPSS e CFESS proporcionaria um

enriquecimento do trabalho visto que as trecircs entidades nacionais da categoria se

articulam e promovem lutas conjuntas o que favoreceria a apreensatildeo da atuaccedilatildeo da

5 A regiatildeo a que pertence esse(a) dirigente eacute a II que engloba os estados do Cearaacute Paraiacuteba Pernambuco e Rio Grande do Norte Na dissertaccedilatildeo ele(a) eacute identificado pelo nome de Luz

22

ENESSO neste contexto da contra-reforma do ensino superior do governo de Lula O

conjunto dessas estrateacutegias possibilitaria a apreensatildeo do objeto de estudo em suas

contradiccedilotildees e densidade histoacuterica

Diante do exposto entramos em contato via email e de forma presencial

com as presidentes da ABEPSS das gestotildees 20052006 e 20072008 e obtivemos

ecircxito com a representante da gestatildeo20072008 que respondeu e enviou

eletronicamente os nossos questionamentos Em relaccedilatildeo aacutes entrevistas com

representantes do CFESS natildeo obtivemos ecircxito no estabelecimento dos contatos

A dissertaccedilatildeo apresenta-se estruturada em cinco capiacutetulos que se

subdividem em itens O primeiro capiacutetulo corresponde agrave introduccedilatildeo

Na segunda parte tecemos anaacutelise sobre o ME na qual o caracterizamos

como um MS que historicamente se constitui espaccedilo de atuaccedilatildeo da juventude

universitaacuteria no Brasil tendecircncia constatada na trajetoacuteria histoacuterica realizada no

segundo item dessa segunda parte Efetivamos algumas particularidades que

perpassa a organizaccedilatildeo do ME como a expansatildeo das Executivas de Cursos nos anos

de 1990 e as contradiccedilotildees que envolvem a UNE na conjuntura atual Aleacutem disso

abordamos sobre a reorganizaccedilatildeo do MESS no final dos anos de 1970 processo que

corroborou com a criaccedilatildeo da Subsecretaria dos Estudantes de Serviccedilo Social na

UNE(SESSUNE) em 1988 posteriormente transformada em ENESSO no ano de

1993 Entidade que desde a sua criaccedilatildeo se configura como espaccedilo sintonizado com a

defesa da universidade puacuteblica no Brasil e com a formaccedilatildeo profissional dos(as)

assistentes sociais perspectiva evidenciada tambeacutem nessa investigaccedilatildeo

O terceiro capiacutetulo direciona-se no sentido de apreendemos os limites e

possibilidade das poliacuteticas sociais e em particular da educaccedilatildeo no acircmbito da

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da sociabilidade capitalista Nessa dimensatildeo temos a

concepccedilatildeo que as contradiccedilotildees inerentes a esse modelo societal rebate nos diversos

complexos sociais incluindo a esfera educacional Pois entendemos a educaccedilatildeo

como uma esfera caracterizada pela disputa de projetos diferenciados perspectiva

que se vislumbra por exemplo na defesa da educaccedilatildeo como um direito social e

estrateacutegia importante na construccedilatildeo de mediaccedilotildees sintonizadas com outra

sociabilidade projeto defendido majoritariamente pelo MESS e a ENESSO e de

outro lado verificamos a luta de grupos privatistas que consideram o setor educacional

como mercadoria portanto vinculado aos interesses do capital associado agrave

concepccedilatildeo da educaccedilatildeo restringir-se a funcionalidade de atender meramente as

necessidades do mercado competitivo A anaacutelise foi potencializada com a construccedilatildeo

de mediaccedilotildees relacionadas ao capitalismo contemporacircneo para tal nos

fundamentamos em autores como Antunes e Harvey visto que consideramos

23

incoerente e inconsistente analisarmos a direccedilatildeo social da atuaccedilatildeo da ENESSO sem

contextualizarmos a sociedade na qual ela se processa

No quarto capitulo tratamos do processo de contra-reforma do ensino

superior durante os anos de governo Lula que tem se efetivado numa direccedilatildeo

preponderante de desqualificaccedilatildeo da perspectiva de universidade puacuteblica

caracterizada pela indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo aspecto que

se confirma com a crescente expansatildeo da Iniciativa privada com amplo apoio

governamental Assim abordamos no acircmbito da contradiccedilatildeo algumas das medidas jaacute

concretizadas como Programa Universidade Para Todos(PROUNI) Sistema Nacional

de Avaliaccedilatildeo do Ensino Superior(SINAES) Poliacutetica de Cotas Ensino a Distacircncia e

Programa de Apoio a Planos de Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades

Federais(Reuni) O uacuteltimo item dessa parte apresenta como objetivo prioritaacuterio a

discussatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais orientado

pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma em

que configuramos como um momento complexo e desfavoraacutevel para materializaccedilatildeo

dos princiacutepios norteadores da formaccedilatildeo defendida pelas entidades representativas da

profissatildeo incluindo a ENESSO

No quinto capiacutetulo traccedilamos o perfil dos(as) dirigentes da ENESSO no

periacuteodo de 2003-2008 em que abordamos questotildees relacionadas agraves esferas poliacuteticas

sociais e econocircmicas desses sujeitos Embora subdividido didaticamente em cinco

itens privilegiamos em todo o capitulo a discussatildeo em torno da atuaccedilatildeo dessa

entidade nos acircmbitos da universidade e da formaccedilatildeo profissional enriquecidas com

as mediaccedilotildees realizadas nos capiacutetulos anteriores Destacamos tambeacutem desafios e

contradiccedilotildees que perpassam o MESS e a ENESSO na atualidade Para tal nos

baseamos nas informaccedilotildees fornecidas por ex-coordenadores(as) da ENESSO e nos

documentos elaborados e divulgados pela executiva durante o periacuteodo investigado

nessa pesquisa aleacutem da produccedilatildeo de dados obtida mediante as informaccedilotildees

concedidas por um(a) dirigente de oposiccedilatildeo e representantes da ABEPSS que

teceram reflexotildees sobre atuaccedilatildeo da ENESSO na contemporaneidade

24

Acredito na Rapaziada

Eu acredito eacute na rapaziada

Que segue em frente e segura o rojatildeo

Eu ponho feacute eacute na feacute da moccedilada

Que natildeo foge da fera e enfrenta o leatildeo

Eu vou agrave luta com essa juventude

Que natildeo corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que natildeo taacute na saudade e constroacutei

A manhatilde desejada

(gonzaguinha)

25

II ldquoSONHA E SERS LIVRE DE ESPRITO LUTA E SERS LIVRE NA VIDArdquo a

ao poltica do Movimento Estudantil e as particularidades do Movimento Estudantil

de Servio Social

2-1 ME COMO EXPRESSO DE UM MOVIMENTO SOCIAL QUE AGLUTINA A

JUVENTUDE BRASILEIRA

No intuito de analisarmos a direo social do MESS mediante protagonismo

da ENESSO faz se necessrio uma abordagem do ME como expresso de um MS

em que concebermos tais sujeitos como esferas coletivas de organizao e atuao

poltica Temos o entendimento que a poltica no se reduz aos espaos

institucionais mas se faz presente nas mais variadas esferas societrias e que pode

ser instrumento de conservao da sociabilidade burguesa como pode ser utilizada

para sua superao a partir da anlise e conhecimento crtico do real que potencializa

uma ao orientada para negao da ordem vigente

Conceber o ME como MS nos remete ao entendimento de que uma

investigao sobre sua atuao deve considerar importantes dimenses tais quais o

atual momento histrico e suas determinaes para a luta dos(as) trabalhadores(as) e

para esfera educacional em especial a universidade brasileira Pois partimos da

perspectiva de que a luta dos(as) estudantes no se desenvolve desconectada da

discusso de um determinado projeto de universidade e dessa maneira to pouco de

uma viso societria

Portanto a discusso do ME no contexto dos MS visa ressaltar tambm a

importncia dos MS no mbito de uma sociabilidade marcada pela disputa de projetos

diferenciados e antagnicos que perpassa diversas esferas da totalidade social Desse

modo tal anlise torna-se relevante para melhor compreendemos a atuao do

MESS no cotidiano de lutas por uma universidade pblica gratuita democrtica laica

e de qualidade e de um projeto de formao profissional consubstanciadas nas

Diretrizes Curriculares de 1996 lutas inseridas numa conjuntura de disputa de projetos

educacionais nos marcos dessa sociabilidade Nesse aspecto relevante frisar que

historicamente o ME e em especial o MESS tem atuado em sintonia com a defesa de

construo de uma sociabilidade para alm do capital

Nesse cenrio de disputas e correlao de foras polticas e ideolgicas

segmentos dos MS identificados com um iderio emancipatrio assumem um papel

de destaque na implementao de lutas sintonizadas com o ideal de transformao

societal Nesse sentido os MS e entre eles o ME consistem em espaos de

26

organizaccedilatildeo participaccedilatildeo e accedilatildeo coletiva potencialmente favorecedores da

materializaccedilatildeo de uma accedilatildeo poliacutetica transformadora do status quo mediante o

desenvolvimento de lutas e atividades direcionadas para defesa de interesses que

exprimem os valores e princiacutepios que norteiam as accedilotildees desses sujeitos Valores que

majoritariamente se colocam no campo de negaccedilatildeo das relaccedilotildees mercantis

dominantes

A conjuntura atual eacute marcada pelo refluxo dos Movimentos Sociais(MS)

realidade influenciada dentre outros determinantes pela propagaccedilatildeo da

impossibilidade de ultrapassagem da ordem estabelecida e pela valorizaccedilatildeo de

relaccedilotildees mercantis

Luchmann e Souza(2005) sinalizam que a atuaccedilatildeo dos MS nas deacutecadas

de 1970 e 1980 caracterizava-se pelo caraacuteter combativo e contestatoacuterio

diferentemente dos anos 1990 nos quais se configura um direcionamento

particularizado por relaccedilotildees propositivas e participativas junto ao Estado em

detrimento de atuaccedilotildees mais reivindicativas

Para Montatildeno(2002) a inflexatildeo ocorrida na relaccedilatildeo entre as ONG e os MS

constitui uma expressatildeo dessa crise uma vez que nos anos 70 e 80 do seacuteculo XX

existia uma articulaccedilatildeo entre tais sujeitos coletivos na luta pela instituiccedilatildeo do Estado

democraacutetico e de direitos de cidadania para diferentes segmentos da sociedade

brasileira Jaacute nos 1990 explicita-se a profunda alteraccedilatildeo que acontece nessa relaccedilatildeo

visto que as ONG passaram a atuar natildeo mais em parceria mas a ocupar os lugares

dos MS Partindo do entendimento do autor eacute possiacutevel afirmar que essa inflexatildeo

contribui para o processo de reproduccedilatildeo da sociabilidade mercantil jaacute que

majoritariamente as ONG conformam espaccedilos mantidos financeira e ideologicamente

por instituiccedilotildees representantes do capital o que por sua vez potencializa uma atuaccedilatildeo

dessas organizaccedilotildees sintonizada com a manutenccedilatildeo dessa sociedade

Gonh(1992) ressalta que a fragilizaccedilatildeo dos MS eacute influenciada por

problemaacuteticas como o aumento do desemprego a aceitaccedilatildeo das diretrizes neoliberais

como fundamento da relaccedilatildeo Estado e sociedade e tambeacutem pela forte descrenccedila

em relaccedilatildeo a poliacutetica na contemporaneidade

Temos a apreensatildeo que os aspectos salientados por Gonh se apresentam

de modo radicalizado na atualidade Natildeo se pode mascarar a existecircncia de uma

conjuntura marcada cada vez mais pela expansatildeo do desemprego e de suas

consequumlecircncias para a desorganizaccedilatildeo dos segmentos do trabalho situaccedilatildeo que

potencialliza para o natildeo reconhecimento do pertencimento de classe de parte

significativa desses sujeitos

27

A descrena poltica se constitui um elemento particular da nossa histria

Perspectiva que se manifesta no estabelecimento de relaes fundamentadas na

lgica clientelista e na cultura do favor do famoso ldquojeitinho brasileirordquo na sobreposio

de interesses particulares em relao aos anseios da coletividade Aliado a isso

vivencia-se um contexto poltico complexo e difcil particularizado pela conquista da

presidncia por um partido historicamente identificado pelo iderio de transformao

social contudo atuando preponderantemente com fundamentao nos

ensinamentos e indicaes neoliberais de valorizao do privado desqualificao do

pblico e destruio dos direitos sociais Com base nessas reflexes pode-se afirmar

que o cenrio crtico para os MS identificados com a construo de outra

sociabilidade para alm do capital seno crtico o contexto contemporneo no

mnimo preocupante pois se intensifica a vivncia de desvalores sustentadores desta

ordem como egosmo competitividade individualismo associados s particularidades

da realidade brasileira

Entendemos ainda que as perspectivas ps-modernas contribuem para

esse cenrio de desmobilizao pois a negao da razo moderna favorece o

exacerbamento de vivncias efmeras em detrimento da construo de projetos

societrios alternativos para humanidade visto que a ps-modernidade se caracteriza

por concepes que ldquobuscam no isolamento do individuo (o sujeito localizado na

comunidade tecnolgica e informatizada do sculo XIX mas lsquodeslocadorsquo de sua

sociabilidade) a soluo para os problemas enfrentados pelo homem na sociedade

contemporneardquo (MAGALHES 2004 p83)

O isolamento e a atomizao dos sujeitos como caractersticas de

perspectivas situadas no campo da ps-modernidade contribuem para fragilizao de

aes e organizaes coletivas j que se verifica uma forte tendncia de exaltao da

subjetividade sem considerar entretanto o solo societal em que os indivduos esto

inseridos uma sociabilidade marcada pela explorao relaes competitivas

opressoras e egostas

Tais elementos corroboram para fragilizao das organizaes coletivas

identificadas com o iderio de transformao e construo de outra forma societria

inclusive o ME que historicamente levanta a bandeira em favor da universidade

pblica gratuita laica e de qualidade no Brasil

De fato o momento presente evidencia a retrao da organizao

poltica da classe trabalhadora Contexto scio-histrico de abandono das idias

anticapitalista por parte de importantes partidos situados no campo da esquerda

exemplar o caso do PT no Brasil Essa tendncia favorece a constituio de cenrios

nacionais nos quais a realizao de

28

Contra-reforma que sofreriam dura oposio se encaminhadas por governos originariamente neoliberais esto sendo aprovadas por coalizaes que contam com foras que outrora possuam uma imagem no neoliberal (LEHER 2005 p18)

Ou seja vivenciamos uma conjuntura desfavorvel aos segmentos do

trabalho Alicerando-nos em Fontes(2008) assinalamos que a radicalidade neoliberal

do tempo presente expressa o processo de intensificao da disponibilizao e

disciplinamento do trabalho em relao ao capital Disciplina na qual as foras

dominantes utilizam a violncia e a construo de consensos que rebatem fortemente

nos MS em particular no movimento sindical no a toa que ldquoassistimos destruio

dos sindicatos combativos ao desmonte de anteparos legais ao aguamento da

concorrncia internacional dos trabalhadoresrdquo (FONTES 2008 p31)

A autora ainda chama ateno para o explcito processo de metamorfose

que perpassam os MS nesse contexto de aprofundamento da explorao e

subalternizao dos segmentos do trabalho Dessa maneira organizaes populares

de cunho reivindicativo passaram a se configurar em espaos ldquomercantil-filantrpicordquo

Essa regressiva converso est articulada a marcante propagao no campo das

organizaes sociais da importncia das demandas especficas entretanto

desvinculadas da luta anticapital perspectiva que predominou sobretudo nos anos de

1980 imbricada a essa tendncia se verifica a disseminao de militantes que

embora preocupados com a melhoria de condies de existncia da populao

explorada e oprimida atuam de modo localizado pontual e fragmentado levando-os

ao abandono de lutas e reflexes sintonizadas com o ideal do fim da sociedade de

classes Realidade que corrobora com a transformao de militantes em assessoristas

de projetos sociais situados no campo da filantropia bem como para o aniquilamento

ldquodo horizonte da contradio entre fazer filantropia ser militante e ser remunerado

mercantil por essa atividaderdquo (FONTES 2008 p 35)

Sem dvidas essas ldquoconfusesrdquo ou mudanas de funes no interior das

organizaes de origem populares consistem em mais uma das estratgias de

convencimento empregada pela ideologia do capital na sua verso neoliberal com o

intuito de fragilizar as organizaes e os sujeitos contestadores e opositores da sua

dominncia Esse propsito de inflexo das lutas se expressa por exemplo na

tentativa desmesurada de satanizar o Estado e mascarar as contradies existentes

na sociedade civil

Em reflexo sobre os movimentos de classes no Brasil MOURA(2008)

assevera que na atual conjuntura o movimento sindical e os partidos de esquerda ldquo

29

parecem no dar conta de incorporar os diferentes sujeitos que se apresentamrdquo (p

52) Essa situao manifesta um momento de mxima complexidade no que diz

respeito organizao e atuao poltica dos segmentos do trabalho cada vez mais

a classe trabalhadora se torna diversificada e heterognea o que significa que a

tomada de conscincia e o pertencimento de classe uma necessidade real

importante e urgente por parte dos(as) desempregados dos(as) subcontratados

dos(as) inseridos(as) na informalidade e principalmente pelos movimentos de

trabalhadores(as) j organizados

Iamamoto(2006) sinaliza que essa tendncia de reduzida combatividade

do movimentos sindical e suas entidades deve ser entendida levando-se em

considerao os rebatimentos da reestruturao produtiva que acaba por gerar uma

diversificao nas relaes de trabalho no interior das fbricas a expanso de

trabalhos precarizados o acirramento da competitividade entre os trabalhadores(as)

dimenses que incidem na desorganizao poltica dos segmentos do trabalho

Para contribuir com nosso entendimento sobre a inflexo pelo qual passa

os MS na contemporaneidade em particular o movimento sindical j que temos o

entendimento que a organizao estudantil e suas entidades historicamente

apresentam vinculaes com esses sujeitos polticos realizaremos uma breve anlise

da recente trajetria da organizao da classe trabalhadora no Brasil

Segundo Moura(2008) o novo sindicalismo iniciado no final da dcada de

1970 com as manifestaes e greves sobretudo circunscritas ao ABC paulista se

fundamentava na defesa de direitos trabalhistas e sociais a participao da base

associada a luta pela democracia poltica no pas Foi o fortalecimento dessa vertente

que culminou com a criao da Central nica dos Trabalhadores(CUT) em 1983 e que

desde a sua fundao apresenta-se estritamente vinculada a criao do Partido dos

Trabalhadores em 1980 Conforme (MOURA 2008 p58)

Com bases sociais vinculadas diretamente ao movimento dos trabalhadores consolidou-se o projeto de fundao do PT Esse partido de formao originalmente operria foi determinante na formao da CUT Pode-se dizer que as fronteiras entre os militantes do PT e da CUT alm da ampla maioria dos movimentos sociais e populares que retomavam suas aes ou se constituam no pas ps-ditadura no estavam definidas Naquele quadro o PT expressava o movimento de massa o conjunto dos trabalhadores que em geral no estavam ligados aos partidos comunistas

A vitria de Fernando Collor de Mello e logo em seguida os oito anos de

gesto de Fernando Henrique Cardoso(FHC) colocaram o Brasil a plena disposio

da expanso neoliberal que j se processava mundo afora A vitria do PT em 2002

30

apoiado pela CUT at significou a contestao esmagadora da populao brasileira

com o rumo dado ao pas nas gestes anteriores entretanto o caminho adotado no

foi destoante do receiturio neoliberal Assim

Cada vez mais setores do movimento sindical brasileiro incorporam as teses gestadas pelos intelectuais orgnicos da burguesia O discurso de pretensa inexorabilidade do processo de ldquoglobalizao econmicardquo parece ter abarcado os setores dirigentes da CUT e do PT O projeto orientado pelo segmento especulativo do capital com o discurso de incorporao ordem e de parceria entre trabalhadores e patres Afirma a diluio das classes em prol de uma individualidade falaciosa (MOURA 2008 p59)

Como ser tratado nos captulos seguintes o governo de Lula tem sido

responsvel pela implementao de medidas que se pautam na perspectiva de

aprofundar a regulao neoliberal no pas Sendo esse posicionamento poltico

apoiado por entidades que historicamente tiveram suas aes voltadas para defesa

dos interesses da maioria da populao entre elas a CUT e a prpria Unio Nacional

dos Estudantes(UNE)

No mbito de negao da atuao poltica da CUT sobretudo no que diz

respeito relao de subordinao diante do governo Lula tivemos a criao em 15

de dezembro de 2005 da Coordenao Nacional de Lutas(CONLUTAS) formada por

sindicatos MS e organizaes de cunho popular comprometidas com o

desenvolvimento de lutas contrrias as contra-reformas que vem sendo materializadas

no Brasil Segundo essa entidade a CUT se transformou em uma organizao que

prefere apoiar o atual governo do que defender os interesses e direitos dos(as)

trabalhadores(as) nacionais

Acreditamos que seja necessrio destacar que a criao da CONLUTAS

recebeu influncia significativa de militantes do Partido Socialista dos Trabalhadores

Unificados(PSTU)6 este considera o PT um partido reformista e que no cenrio atual

subsidia as aes da burguesia nacional

A criao de novas entidades no campo de organizao dos(as)

trabalhadores(as) e tambm do segmento estudantil evidencia o descontentamento

poltico de militantes com a conduo do pas que direcionada por um partido

construdo no mbito das lutas sociais todavia tem atuado em conformidade com a

hegemonia neoliberal adotada nos governos anteriores o que de certo modo

manifesta um expressivo divisionismo eou instabilidade existente no movimento

6 O PSTU foi fundado em 1994 sobretudo por militantes que romperam com o PT Mais recentemente em 2004 ocorreu uma nova dissenso no PT que culminou com a criao do Partido Socialista e Liberdade(PSOL)

31

organizado dos segmentos do trabalho e estudantil no Brasil e que rebate de maneira

significativa no MESS Tendncia evidenciada por exemplo nos conflitos que

envolvem a postura do segmento estudantil e da ENESSO diante do governo Lula e

da UNE aspectos amplamente debatidos pelos agrupamentos polticos que se

organizam no MESS7

Contudo a contradio inerente a sociedade do capital e desse modo

foras antagnicas a dominao burguesa se manifestam de modo combativo

inclusive nesse contexto de retrao poltica da classe trabalhadora

De maneira mais ampla temos a criao do denominado movimento

antimundializao que nos ltimos anos tem protagonizado relevantes lutas contra a

dominao capitalista O marco desse movimento consistiu os protestos durante a

reunio da Organizao Mundial do Comrcio(OMC) na cidade de Seatte em 1999

Apresentando posicionamento radicalmente contrrio ao receiturio neoliberal esse

movimento construiu e organiza o Frum Social Mundial espao que segundo

Wallertein( 2005) tem o objetivo de promover lutas contra os males provocados pelo

capital com postura de respeito as necessidades imediatas dos diversos segmentos

que compem o frum

Para Chesnais Serfati e Urdf(2005) o movimento antimundializao

apresentou como primeiros objetivos o combate a mercantilizao dos servios

pblicos efetivado mundialmente pela OMC mediante o Acordo Geral sobre Comrcio

e Servio(AGCS) mercantilizao que atinge diversas esferas entre elas a educao

O pensamento de Wood(2005) que a organizao dos(as)

trabalhadores(as) deve comear dentro de cada Estado dado seu entendimento que

o Estado no atual momento da globalizao apresenta funcionalidades imprescindveis

para a acumulao do capital Entre tais funes evidenciamos o seu papel de

ldquomanter a mo de obra imobilizada enquanto o capital se move atravs das fronteiras

nacionais ou nos capitalismos menos desenvolvidos atua como correia de

transmisso para outros Estados capitalistas mais avanados(WOOD 2005 p111)

A apreenso da autora situa o Estado como importante alvo das lutas de

classes em nvel local e nacional visto que no mbito da contradio como agente da

globalizao o Estado pode se constitui antagonicamente como ente bloqueador

desta

Em mbito nacional alguns sujeitos coletivos denominados por

Moura(2008) de ldquonovos movimentos de classerdquo tm assumido uma postura de

organizao combativa diante da perda de direitos e das precrias condies de

7 O aprofundamento dessa questo se encontra no capitulo cinco dessa dissertao

32

existncia seja na cidade eou campo Nessa dimenso temos a significativa atuao

poltica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) o Movimento dos

Trabalhadores Sem Teto(MTST) e o Movimento Terra Trabalho e Liberdade(MTL) que

segundo a autora implementam

Uma lgica e interveno inovadoras Organiza e aglutina segmentos distintos de trabalhadores sob uma mesma ldquobandeirardquo Essas novas organizaes buscam implementar alternativas econmicas para sobrevivncia e auto-susteno dos trabalhadores Experincias que se desenvolvem numa dinmica que busca o controle do processo de trabalho e forma no-capitalista de organizao econmica A organizao de massa priorizando a democracia e a ao direta a principal referncia desses movimentos(MOURA 2008 p60)

Diante do exposto seja a necessidade de luta circunscrita aos Estados

nacionais apontadas por Wood ou as lutas globais destacadas por Chesnais Serfati e

Urdf e ainda os movimentos existentes no Brasil que foram destacados por

MOURA(2008) constituem e expressam possveis e concretas respostas de

resistncia do trabalho contra o capital

Em se tratando especialmente do ME interessante ressaltar algumas

caractersticas peculiares desse MS entre elas um movimento formado

majoritariamente pela juventude8 que se depara na contemporaneidade com um

cenrio de crise em que o diploma universitrio no representa mais a garantia de um

futuro melhor Nesses termos Almeida (2004) destaca que a preocupao dos(as)

estudantes com a insero no mercado de trabalho to significativa que verificamos

seus rebatimentos inclusive no afastamento considervel de alunos(as) das

organizaes coletivas no mbito universitrio como o caso do ME

Os dados da pesquisa realizada em novembro de 1999 pelo Ncleo de

Opinio Pblica da Fundao Perseu Abramo com jovens de quinze a vinte quatro

anos nas noves regies metropolitanas e Distrito Federal revelam que do total de

entrevistados(as) 58 estudavam Entretanto s a condio de estudante no

suficiente para caracterizar de forma mais profunda a juventude brasileira pois tal

pesquisa tambm evidenciou que do universo investigado 78 trabalhavam eou

estavam na procura de emprego para adentrarem no mundo do trabalho

8 A dissertao no tem o propsito de confrontar teoricamente as diferentes concepes existentes sobre juventude Contudo temos o entendimento que no podemos tratar dessa temtica levando-se em considerao somente a idade em si mas as determinaes econmicas sociais polticas culturais que incidem na vida desses sujeitos que vivenciam entre outras dimenses situaes de confrontos de valores idias momentos de transio processos formativos e nveis de maturidade diferenciados

33

Relevante enfatizar que os dois principais motivos elencados pelos jovens

que abandonaram os estudos so de natureza econmica 34 deles apontaram

impossibilidade em conciliar trabalho e estudo e 16 evidenciaram a falta de recursos

financeiros como impedimento para continuidade da vida escolar9

Em dezembro de 2003 investigao do Projeto JuventudeInstituto

Cidadania em parceria com o Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE divulgaram

dados de uma pesquisa realizada com jovens entre 15 e 24 anos de todo o pas e que

tratou ainda de retomar e ampliar os temas destacados pela pesquisa da fundao

Perseu Abramo de 1999

Com base nos dados da pesquisa do Projeto Juventude trs em cada

quatro jovens entrevistados(as) esto inseridos(as) no mercado de trabalho ou

procurando uma ocupao O tema ldquotrabalhordquo se configura entre os(as) jovens como

aqueles de maior interesse e preocupao Visto que o trabalho se apresenta como

elemento fundamental de seu presente ou de seu futuro prximo concebido como necessidade pela maioria mas tambm como fator de crescimento de conquista de independncia e de auto-realizao para parcelas amplas da juventude( ProjetoJuventude 2003 p92)

A violncia e dificuldades de insero no mercado de trabalho so tidas

como os principais aspectos negativos da condio de ser jovem no Brasil

Em relao dimenso cultural a pesquisa evidencia que 85 dos

entrevistados(as) no participam de grupos de jovens e aqueles(as) que participam

atuam especialmente em organizaes vinculadas a Igreja

Recente pesquisa da Fundao Getulio Vargas10 destaca que falta aos

pais e jovens brasileiros tomarem conscincia do poder transformador da educao

em suas vidas como os altos impactos educacionais exercidos na esfera de

empregabilidade salrio e sade

O carter transformador da educao como salientado pela Fundao se

consubstancia notoriamente numa tendncia de proporcionar melhores conquistas e

desenvolvimento no interior do mercado de trabalho o que representa sobretudo

uma lgica de preservao dessa sociabilidade pois no se apreende incentivos a um

tipo de educao como mediao que possibilite o questionamento da sociedade

9 Conforme dados da pesquisa do percentual de 42 que pararam de estudar apenas 1 o fez por ter concludo o ensino superior10 A pesquisa foi divulgada no site da Fundao no dia 16 de abril de 2009 e patrocinada pela prpria fundao pelo Unibanco pelo Movimento Todos pela Educao e pela Educar Dpaschoal As principais fontes da pesquisa foram os microdados dos Suplementos da PNDA de 2004 e 2006 microdados da Pesquisa Mensal do Emprego(IBGE)

34

erguida pelo capital marcada pela dominao explorao e opresso que repercute

inclusive na esfera educacional como evidenciado no capitulo trs desse trabalho

Segundo dados disponibilizados pela Fundao Getulio Vargas no

universo da referida pesquisa os jovens entre 15 e 17 anos elencaram a ausncia de

interesse como principal responsvel pelo abandono escolar representando um

percentual de 403 enquanto que o abandono por questes de renda e trabalho

corresponderam ao patamar de 271 Os dados so realmente inquietantes levando-

nos a refletir o que na essncia representa a denominada ausncia de interesse No

seria um reflexo da profunda instabilidade vivenciada neste contexto de extrema crise

dessa sociabilidade em vez de se configurar como mera falta de apreenso dos pais e

jovens em relao ao impacto da educao nas suas vidas

Nessa dimenso a anlise da atuao do MESS um movimento

constitudo majoritariamente por jovens exige mediaes que reflitam sobre essas

problemticas enfrentadas pela juventude na atualidade

O afastamento de estudantes das organizaes coletivas no interior das

instituies de ensino superior configura tambm reflexo da ausncia de uma efetiva

poltica de assistncia estudantil que proporcione a permanncia dos(as)

universitrios(as) no cotidiano dessas instituies

Aliado a esses aspectos de ordem objetiva que contribuem para o

distanciamento de jovens do universo da educao formal e desse modo das

prprias organizaes coletivas peculiares a tais espaos como o ME ainda

vivenciamos um ntido processo de despolitizao que atinge vrios mbitos e

organizaes da sociedade O tempo presente reflete a radicalizao da barbrie

expressa por exemplo na agudizao das relaes competitivas e do individualismo

o que por sua vez fragiliza a construo de valores e prticas identificadas com a

construo de outro projeto societrio Outro elemento presente na realidade do ME

a tentativa de ocupao de entidades historicamente identificadas com a

transformao societal por foras tericas e polticas conservadoras Nas palavras de

Fontes(2009) ldquons estamos vivendo um momento de em que o capital hoje investe

fortemente em apassivar movimento sociais ainda que tenha que gastar algum recurso

para issordquo(2009 p04)

Outro aspecto importante consiste na transitoriedade do ME que aliada

fragilizao na formao poltica dos(as) militantes representa dificuldades no

processo de renovao de seus membros

Alm disso o carter pluriclassista do movimento contribui para a

apreenso e desenvolvimento de aes diferenciadas no contexto social nesse

sentido levando-se em considerao o grupo poltico pode existir concepes

35

diversas sobre a funcionalidade da universidade na sociabilidade capitalista Logo no

tocante a prpria contra-reforma do ensino superior e a formao profissional os

posicionamentos podem ser diversificados no interior do ME

Alm disso a conjuntura recente revela mudanas relativas s esferas

cultural e social dos jovens visto que verificamos a emergncia de novos espaos de

atuao juvenil so exemplos dessa tendncia os movimentos hip hop e rap os quais

segundo Mische (1996 p25) ldquosurgem como a voz de revolta e auto-afirmao Estes

constituem espaos de resistncia com criatividade ao desespero da violncia das

aspiraes bloqueadas e da falta de respeito por parte da cultura dominanterdquo

Portanto ao mesmo tempo que a atual conjuntura contribuiu no enfraquecimento de

determinados espaos polticos de organizao contraditoriamente proporciona o

fortalecimento da atuao dos (as) jovens em outras dinmicas de organizao

Consideramos desse modo que o ME brasileiro enfrenta na atualidade

contradies e desafios que podem contribuir ainda mais para o cenrio de

fragmentao de sua atuao poltica

2-2 MOVIMENTO ESTUDANTIL resgate histrico e tendncias recentes

O resgate histrico do Movimento Estudantil(ME) brasileiro evidencia que a

defesa da universidade pblica gratuita e de qualidade social constitui em uma das

principais bandeiras de luta desse segmento organizado Permite ainda

apreendermos a ao poltica majoritariamente assumida ao longo de diferentes

conjunturas brasileiras em especial no atual cenrio de realizao de profundas

mudanas no mbito da educao superior lcus privilegiado de sua organizao e

atuao Assim faremos uma breve contextualizao do ME apresentando como

marco inicial de sua ao a criao da UNE por se tratar da entidade mxima dos(as)

discentes universitrios(as) no pas

Antes da criao da (UNE) no ano de 1937 a atuao do segmento

estudantil era caracterizada conforme Poerner (1979) pela transitoriedade e

regionalismo ou seja por aes focalistas e de carter local somente em 1937

com a criao e reconhecimento pelos (as) estudantes brasileiros(as) da UNE como

sua entidade mxima de representao que as lutas estudantis tornaram-se mais

expressivas e articuladas em nvel nacional

Segundo esse autor desde sua criao at a dcada de 1950 o ME

mediante atuao da UNE participou de lutas importantes no cenrio brasileiro dentre

36

das quais ressaltamos as mobilizaes contra o Estado Novo11 defesa do patrimnio

territorial e econmico do pas expressa por meio da campanha favorvel criao da

Petrobrs e pela proteo dos recursos naturais sobretudo das riquezas minerais os

protestos contra o aumento nas passagens dos bondes de So Paulo entre outras

aes

Diante do exposto evidencia-se que naquele momento o ME preocupava-

se com questes referenciadas na agenda poltica conjuntural do pas e prevalecia

tendncia de abstrair as singularidades do movimento secundarizando as

problemticas vivenciadas pelos(as) estudantes no cotidiano das instituies de

ensino superior brasileiras

Esta tendncia sofre alteraes na dcada de 1960 quando so realizados

dois seminrios sobre reforma universitria nos anos de 1961 e 1962

respectivamente na Bahia e no Paran O resultado dos seminrios foi expresso na

denncia por segmentos do ME quanto disseminao ideolgica pelos setores

dominantes da lgica que defende o ensino superior como privilgio de uma minoria e

a universidade como instrumento dos setores interessados na preservao da ordem

vigente Portanto desde a dcada de 1960 a defesa da universidade pblica gratuita

e de qualidade social bem como o desenvolvimento de processos formativos crticos

se tornaram mais expressivos nas reivindicaes e aes do ME

Em 1964 tivemos a instaurao da ditadura militar caracterizada na

realidade brasileira pela represso autoritarismo censura com destruio de canais e

espaos democrticos e morte de lideranas polticas Durante a ditadura uma das

metas principais dos governos autoritrios consistia na atrao de capitais

estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos Estados

Unidos No toa que durante esse perodo tivemos o chamado ldquomilagre

econmicordquo durante o qual os ndices de crescimento foram considerados

expressivos entretanto essa elevao no se converteu para toda sociedade sendo

os segmentos das classes trabalhadoras aviltados do processo que teve poucos

beneficiados alm disso vale ressaltar que foi proporcionado pela contnua poltica de

endividamento do Brasil

Desde a instaurao do regime militar as legislaes adotadas

demonstravam a preocupao em conter a atuao estudantil em novembro de 1964

foi aprovada a Lei Suplicy de Lacerda que tinha como principal objetivo eliminar a

autonomia do ME

importante destacar que em maio de 1968 acontece em diversos

11 O denominado Estado novo correspondeu aos anos de gesto de Getulio Vargas nos anos de 1937 a 1945

37

pases manifestaes de negao da sociabilidade capitalista e constitudas

significativamente por estudantes sendo que a maior expresso dessas

manifestaes ocorreu na Frana

Fontes(2009) considera que o maio de 1968 representa o epicentro de

um complexo processo de lutas que vinham se manifestando em diversas partes do

mundo como Mxico EUA Japo Europa e que caracteriza a ldquo a irrupo no plano

internacional de um certo tipo de lutas de novo tipo que no podem mais ser contidas

nem so solucionveis nos espaos nacionaisrdquo (p1) As lutas destacadas pela autora

so aquelas que denunciavam a crescente devastao internacional do capital e que

se expressavam por exemplo nas questes pacifistas anticoloniais racistas

sexistas entre outras as quais no poderiam ser enfrentadas no espao restrito dos

Estados nacionais

Para essa autora a represso militar configurou o maio de 1968 no Brasil

como manifestaes predominantemente estudantil e antiditatorial contudo

necessrio considerar que as manifestaes se processaram por diversos setores

urbanos do pas visto que aquela conjuntura marcada pelo

processo de diversificao industrial importante e impactante era um perodo de virada da estrutura demogrfica nacional e que portanto as manifestaes de 68 so fortemente antiditatoriais e com um cunho fortemente popular E contra elas e contra a possibilidade o temor que esse tipo de manifestao se estendesse que certamente o AI 5 inaugura a pior represso no caso brasileiro(2009 p02)

Nesta conjuntura contraditria e repressiva foi realizado o XXX Congresso

da (UNE) em outubro de 1968 que se constituiu num desafio para o ME pois a

violncia desencadeada contra os crticos do regime se intensificava alm disso as

reunies encontros estudantis e as mobilizaes de repdio as atrocidades cometidas

pela ditadura eram consideradas como aes subversivas e de ameaa a ordem

estabelecida Preocupados com a represso o lugar escolhido para realizao do

referido encontro foi Ibina pequena cidade no interior do estado de So Paulo

objetivando com tal medida no chamar ateno e assim evitar um confronto

policial No entanto a clandestinidade no se materializou e a realizao do congresso

chegou ao conhecimento das autoridades militares e praticamente todos os

congressistas foram presos entre eles os principais lderes do ME gerando um

grande abalo e marcando o incio de influxo do movimento

O refluxo do ME deve ser analisado levando-se em considerao a

instituio das medidas repressivas as quais se tornaram constantes naquele

contexto brasileiro Assim em dezembro de 1968 inicia-se o que Netto (2005 p38)

38

denominou de ldquogenuno momento da autocracia burguesardquo com a instalao do Ato

Institucional 5 considerado uma das legislaes mais autoritrias e violentas do

regime Em fevereiro de 1969 o Decreto lei 477 foi institudo e tratou de estabelecer

as infraes disciplinares cometidas por docentes discentes e funcionrios(as) das

instituies de ensino no pas concebendo greves e mobilizaes estudantis como

atos infracionais visando a fragilizao do ME

necessrio destacar que nas dcadas de 1960 e 1970 as aes

polticas do ME estavam voltadas para denncia do descaso dos governos ditatoriais

com a educao evidenciado a interferncia norte americana neste setor por

intermdio dos acordos MEC ndash USAID bem como procuravam fortalecer a luta contra

o regime militar

Este direcionamento de aes voltadas mais especificamente para o

mbito educacional bem como atividades de carter genrico consistia em motivo de

discordncia no tocante a forma de atuao a ser desenvolvida pelo ME Nessa

perspectiva Ramos referendada em Martins Filho (1987) ressalta a presena de

duas tendnciasA primeira atribua-lhe a funo de denunciar a ditadura militar atravs de grandes manifestaes pblicas que marcariam sua presena perante a sociedade [] a segunda posio defendia a ldquoluta especficardquo ou luta nas escolas [] nesta concepo a politizao dos (as) universitrios (as) surgiria das reivindicaes que lhes so especficas e seria no seu processo de organizao que eles (as) apoiariam o movimento dos (as) trabalhadoras (RAMOS 1996 p63)

Podemos considerar a tendncia defensora das grandes mobilizaes nas

ruas como hegemnica no mago do ME naquele momento Decorrente desta

posio necessrio enfatizar o protagonismo desse movimento na atuao contra o

regime repressor de 1964 Neste mbito a reconstruo da UNE conformou uma

caminhada rdua nesse processo

Neste contexto importante evidenciar que o XXXI Congresso da UNE

mais conhecido como ldquoCongresso da Reconstruordquo ocorrido em 1979 em Salvador

no Centro de Convenes da Bahia significou antes de tudo a expresso da

organizao e fortalecimento das bases estudantis que vinha ocorrendo em todo pas

Em 1972 alguns Centros Acadmicos retomam a iniciativa de denunciar as

barbaridades praticadas pela ditadura Esse ano e o seguinte so marcados pela

realizao dos primeiros encontros por rea de acordo com as diferentes profisses

Em 1975 a ocorrncia de greves em algumas universidades brasileiras como nos

estados do Rio Grande do Sul So Paulo Rio de Janeiro Bahia e Pernambuco

sinaliza que o ME encontrava-se em processo de reorganizao e recuperao do

39

carter poltico combativo das entidades estudantis Com tais propsitos no ano de

1976 aconteceram as primeiras eleies de Diretrios Acadmicos Livres como por

exemplo o da Universidade de So Paulo (USP) importante destacar tambm que

em 1976 foram realizados o I e II Encontro Nacional dos Estudantes (ENE) Estes

encontros consistiram nas primeiras medidas visando reorganizao do ME em nvel

nacional

O ano de 1977 ficou marcado pela volta dos(as) estudantes s ruas com

as grandes mobilizaes contra o ensino pago o aumento abusivo das mensalidades

nas universidades privadas e tambm contra o regime ditatorial

Outro fato relevante ocorrido no mesmo ano consistiu no III ENE no qual

foi formada a comisso Pr-UNE cuja responsabilidade correspondia em ldquocoordenar

as lutas estudantis em nvel nacional propagandear a histria da UNE e promover o

debate acerca da necessidade de sua reconstruordquo (ROMAGNOLI e ALVES 1988 p

32)

interessante salientar que as insatisfaes com a ditadura militar se

intensificaram e outros segmentos organizados da sociedade renasceram com

nfase para o ressurgimento das reivindicaes operrias expressas sobretudo

atravs dos movimentos grevistas no ABC paulista em 1978

Tal ano significativo para o ME devido o crescimento quantitativo de CAs

pela eleio da primeira diretoria livre para a Unio Estudantil de So Paulo e ainda

pela efetivao do IV ENE que tratou das discusses sobre a realizao do

Congresso de Reconstruo da UNE estabelecendo inclusive a data e local Como

podemos observar este congresso foi decorrncia de um processo de rearticulao do

ME que estava acontecendo em todo Brasil

Observamos na conjuntura brasileira do final da dcada de 1970 o

fortalecimento das lutas de diversos segmentos da sociedade na defesa pelo retorno

ao Estado de direito e o ME constituiu-se em um importante protagonista nesse

processo

Portanto o segmento estudantil organizado teve papel relevante na luta

contra a ditadura militar dessa maneira conforme Romagnoli e Alves (1988) no

Congresso da UNE de 1979 entre as lutas que deveriam ser implementadas por esta

entidade estavam a defesa da anistia ampla e irrestrita e a reivindicao por uma

Assemblia Nacional Constituinte Alm disso no podemos deixar de referenciar a

contribuio estudantil nas presses pelas ldquoDiretas jrdquo desencadeadas por

mobilizaes de vrios segmentos da sociedade favorveis realizao das eleies

diretas para Presidncia da Repblica no ano de 1985 Apesar de amplas

manifestaes em todo pas o processo eleitoral democrtico no se materializou

40

mesmo assim a articulao das foras polticas contrrias ao regime se fortaleceu

Na dcada de 1980 Ramos (1996) sinaliza a existncia de trs tendncias

polticas principais que atuavam no ME brasileiro A primeira tratava-se da tendncia

denominada ldquoViraordquo composta por estudantes com vnculos polticos com a Unio

da Juventude Socialista(UJS) vinculada ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) que

era hegemnica nos diretrios da UNE e defendia a necessidade da luta por liberdade

democracia e soberania nacional A segunda tendncia era composta principalmente

por militantes do PT e ressaltava a importncia de articulao com outros sujeitos

coletivos no intuito de estabelecer alianas no mbito universitrio na perspectiva de

contribuir para a construo de uma nova hegemonia social como primordial para o

segmento estudantil organizado J a terceira tendncia considerada minoritria

aglutinava tendncias ligadas tambm ao PT ao Partido da Libertao

Proletria(PLP) e ao PSTU que destacava a prioridade da luta contra o capital a partir

da aliana entre o ME e os trabalhadores (as) camponeses (as) e operrios (as)

Analisamos que a divergncia de tendncias no tocante ao papel social a

ser assumido pelo ME demonstra que no podemos atribuir prticas unitrias aos MS

pois eles comportam vrios grupos polticos com concepes diferenciadas possvel

observamos nas vertentes citadas uma postura progressista na dimenso de defesa

de lutas importantes que contriburam na elaborao da crtica e da ao poltica

contra a realidade instituda

Andrade afirma que as tendncias constituem-se no ldquoelo entre partido

poltico e universidade refere-se a grupos organizados que atuam no ME e elaboram

suas propostas e orientaes luz dos programas estratgias e tticas que os

partidos de esquerda elaboram em funo da conjuntura polticas e econmicas

vigentesrdquo (ANDRADE 1994 p31) Entretanto algumas ponderaes so necessrias

pois nem todos(as) militantes das tendncias so filiados(as) a partidos polticos uma

tendncia pode atuar sem contudo apresentar vnculo orgnico com partidos

polticos alm disso no difcil encontrarmos filiados(as) de partidos polticos sejam

eles considerados de esquerda ou de direita que militam no ME independente de

participarem de tendncias

Nos anos de 1990 uma das atividades que marcou a atuao do ME

consistiu na realizao do V Seminrio sobre reforma universitria em So Paulo o

evento contou com expressiva participao dos (as) estudantes que chegaram

concluso de que a universidade

Tem por objetivos o desenvolvimento da cincia da tecnologia da cultura pautando-se na liberdade de investigao e debate no

41

pluralismo metodolgico e terico na autonomia em relao aos diferentes governos e empresas privadas e cujas prioridades so definidas pela prpria comunidade universitria (BOLETIM DA UNE 1990)

Ainda durante a vigncia dos anos 1990 ressaltamos a participao

estudantil nas mobilizaes em defesa do impeachment do presidente Collor (1992)

os denominados ldquocaras pintadasrdquo entraram em cena contra este governo de cunho

neoliberal entendido pelo ME como um inimigo da universidade pblica12

No que concerne ao movimento dos ldquocaras pintadasrdquo Mische (1996)

chama ateno para sua heterogeneidade diferentemente das manifestaes dos

anos 19601980 cuja composio era basicamente de jovens oriundos da classe

mdia Esta alterao associa-se ao fato de que as ldquoredes de estudo trabalho cultura

e sociabilidade no esto mais centralizadas nas universidadesrdquo (MISCHE 1996

p24) provocando mudanas na prpria organizao da juventude brasileira

principalmente com a emergncia de novos espaos de atuao ou seja ldquode maneira

diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da dcada de 60 os

jovens atuais buscam novas formas de aglutinao participao e expressordquo

(RAMOS e BRITO 2005 p 3)

Alm disso Ramos(1996 p71) afirma que a participao poltica nas

reivindicaes de 1992 no foi ldquocanalizada pelos movimentos e entidades juvenis

para uma organizao mais crtica e comprometida nas diversas esferas coletivas do

ME em particularrdquo Tal perspectiva pode ser percebida dentre outras questes pelo

refluxo que atravessa o ME na atualidade percebido a partir de expresses tais

como na incapacidade de aglutinar a juventude no divisionismo nos debates e aes

travadas pelas suas organizaes na perda de combatividade que antes consistia

numa de suas caractersticas essenciais

Uma alternativa a estrutura do ME apresentada por Mische (1996) capaz

de potencializar a revitalizao da organizao poltica dos(as) estudantes

universitrios so as executivas de curso que ganharam expressividade no final dos

anos 1980 com a realizao dos Encontros Nacionais das Executivas de Cursos

(ENEX) nos quais ldquodiscutia-se prioritariamente o papel social do ME e as propostas

para a interveno das executivasrdquo (RAMOS 1996 p82)

12 Collor presidiu o Brasil por dois anos de 1990 a 1992

42

2-3 AS EXECUTIVAS DE CURSO COMO ESTRATGIA DE REORGANIZAO DO

ME e a ENESSO

As executivas de curso so expresses do movimento estudantil por rea

que objetivam implementar aes relacionadas a determinada profisso essa atuao

pode ser desenvolvida de maneira endgena quanto pode ser direcionada para o

entendimento das demandas profissionais analisadas criticamente a partir das suas

determinaes histricas

Em 1992 tivemos a criao do Frum Nacional das Executivas de Curso

que conformou um espao privilegiado de discusso e troca de experincia entre as

diversas executivas Tal dimenso sinalizada na sua compreenso como um espao

de ldquoarticulao das executivas onde se possam construir lutas em conjunto aumentar

o contato entre executivas da mesma rea do conhecimento e socializar experincias

e acmulos em determinados assuntosrdquo (FRUM DAS EXECUTIVAS 2005)

Na reunio do frum ocorrida em setembro de 2005 ficou evidente a

preocupao das executivas em discutir a funo social que a universidade brasileira

tem cumprido dada apreenso desta instituio como um aparelho ideolgico que

em larga escala atua em conformidade com a supervalorizao da dimenso

tecnicista e seguidora da lgica do mercado priorizando desse modo a formao de

profissionais para atuarem conforme o modelo societrio dominante

Ainda foram ressaltadas questes relacionadas necessidade das

executivas travarem lutas conjuntas a partir de um calendrio de atividades unificado

ratificando tal entendimento nos encaminhamentos construdos alm de ter sido

aprovada a tarefa de elaborao de um documento consistente sobre educao e

universidade com nfase para aspectos como extenso abertura de cursos

avaliao e exame de proficincia para ser enviado s entidades estudantis13

Tais encaminhamentos expressam que as executivas no se preocupam

somente com problemticas referentes s particularidades dos seus respectivos

cursos Porm necessrio que as executivas como alternativas de organizao para

o ME no se tornem entidades burocratizadas e hierarquizadas a exemplo da UNE na

contemporaneidade dado o seu afastamento das bases estudantis e de suas

conseqentes reivindicaes

O Frum das Executivas e Federaes de Curso(FENEX) tem assumido

uma postura de negao no que se referem s principais medidas realizadas no

13 At o presente momento no temos conhecimento da elaborao desses documentos

43

campo da contra-reforma do ensino superior tais como ENADE PROUNI e mais

recentemente REUNI Essa perspectiva pode ser apreendida por exemplo no

relatrio elaborado em decorrncia da reunio do Frum ocorrida em fevereiro de

200814 o qual estabelece que ldquoas executivas auxiliem na construo de comits

locais contra o REUNI e insiram o debate do REUNI em seus fruns[] ampliando o

debate no conjunto dos estudantesrdquo (FENEX 2008 p01)

Interessante esclarecer que esse Frum vem se constituindo em um

espao de organizao estudantil desvinculado da direo da UNE e que tem

apresentado uma direo crtica em relao atuao poltica na entidade nacional

dos(as) estudantes brasileiros(as) desse modo o frum tem se destacado na

construo da Frente Contra a Reforma Universitria em curso no Brasil

Em relao a UNE no 49 Congresso ocorrido tambm em 2005

tendncia denominada de Unio de Juventude Socialista (UJS) conseguiu manter sua

hegemonia na entidade Sua postura de apoio a contra-reforma efetivada pelo

Governo Lula ficou evidente devido s propostas aprovadas neste congresso Para

justificar o posicionamento de entender as aes do Governo como ldquoreformardquo e desse

modo se colocar favorvel a poltica educacional que de fato orientada pelas

diretivas neoliberais um dos argumentos utilizados consistiu na defesa de que as

reivindicaes da UNE relacionadas assistncia estudantil foram incorporadas com

a destinao de 5 das verbas de custeio das instituies federais para essa rubrica

Nos congressos de 2007 e 2009 a mesma tendncia que se encontra

majoritariamente nas direes da UNE desde o seu congresso de Reconstruo em

1979 permanece na direo majoritria da entidade Conforme Santos(2007)

A direo da UNE hegemonizada por militantes do PC do B por meio de sua juventude a Unio da Juventude Socialista ndash UJS Vale ressaltar que desde a eleio do Governo Lula (2002) a Juventude do PT-JPT(pertencentes majoritariamente a tendncia interna do partido - Articulao Unidade na Luta) aliou-se a UJS imprimindo a direo da UNE uma prtica governista e ldquopelegardquo por se afastar das lutas estudantis(106)

A argumentao de Santos revela complexidades na atuao da UNE no

tempo presente e que reflete nos demais espaos de atuao e organizao

estudantil inclusive no MESS e na ENESSO conforme apontamento da nossa

pesquisa a executiva de Servio Social age de modo a negar e afirmar a UNE num

14 Na reunio do FENEX ocorrida em fevereiro de 2008 na cidade de Salvador estavam presente as entidades dos seguintes cursos Engenharia Florestal Geografia Fonoaudiologia Medicina Biologia computao Servio Social Comunicao Social Filosofia Farmcia Nutrio Enfermagem Educao Fsica Letras Histria Terapia Ocupacional Biblioteconomia Agronomia Artes e Economia

44

processo real e contraditrio que envolve as disputas e o direcionamento das lutas

estudantis Segundo o estudo de Santos(2007) a UNE se converteu em uma entidade

burocrtica e hierarquizada pelas suas tendncias majoritrias que processa uma

ao despolitizada tendncia verificada na transfigurao de uma entidade histrica

em uma instncia preocupada sobretudo com a arrecadao de dinheiro mediante

a venda de carteirinhas de estudantes15

Particularmente em relao ao MESSS o estudo de Ramos(1996)

expressa que sua organizao em nvel nacional se intensificou no contexto de lutas

pela redemocratizao do pas no final dos anos 197016 ou seja momento de

efervescncia das lutas em prol da conquista da democracia poltica e da garantia de

direitos sociais reclamados por diversos segmentos da sociedade brasileira

Exemplo dessa assertiva consistiu a realizao do primeiro ENESS em

197817 frum que desde a sua origem at os dias atuais se configura como espao

privilegiado de reflexes debates e deliberaes deste segmento estudantil e

conforme indica (RAMOS 1996 p101) logo ldquono incio da dcada de 1980 em meio ao

processo de discusso interna sobre a organizao do MESS j era analisada a

necessidade de criao de uma entidade nacional de estudantesrdquo

Nessa dcada ocorre tambm a expanso de centros acadmicos de

Servio Social o que por sua vez expressa o continuo processo de organizao pelo

qual perpassa esse segmento

Alm das discusses relativas criao de uma entidade nacional dos(as)

estudantes o MESS manifestava preocupaes em torno da formao profissional

em particular com atuao no mbito da reformulao curricular que culminou com a

criao do currculo mnimo de 1982 e que segundo MARTINS(1992) no I ENESS

ficou evidenciada a posio estudantil de

No fazer com que o estudo sobre o currculo se limitasse as discusses por matrias especificas mas que fosse possvel discutir-se[] ressaltando-se que as questes referentes ao currculo em Servio Social so apenas um item das questes relativas a educao em nossa sociedade(p36)

15Para o autor a UNE se remete na atualidade a uma fabrica de dinheiro com a produo de carteiras estudantis(P107)16 importante registrar que anterior a instaurao da ditadura militar no mbito de organizao segmento estudantil de Servio Social ocorreram alguns encontros nacionais e Silva(2006) destaca a criao da ENESS( Executiva Nacional de Estudantes de Servio Social) atuante at 1968 ano de instituio do AI 5 e que conforme o autor ldquo possua estrutura organizativa semelhante a da ENESSOrdquo(p21)17 O Encontro aconteceu na Universidade Estadual de Londrina com o tema ldquoO Servio Social e a Realidade Brasileirardquo entre os dias 29 e 31 de outubro de 1978

45

No ENESS de 197918 tivemos a criao da Secretria Executiva Nacional

formada pela escola sede do encontro e um representante de cada regio constituda

com o objetivo de potencializar a organizao do MESS alm disso so aprovadas a

realizao os Encontros Regionais de Estudantes de Servio Social(ERESS) e do

Conselho Nacional de Entidades Estudantis(CONESS)19

Pequeno(1990) ressalta que os anos de 1980 foram importantes para o

fortalecimento do MESS devido tambm a sua postura de reivindicar a ocupao de

espaos junto a organizao da categoria Esta que ldquoinserida numa conjuntura de luta

pelos direitos sociais comeou a se pensar e a buscar novos caminhos para sua

organizao encontrando no Movimento Estudantil um grande aliado para essa

mudanardquo(p51) A partir de ento o MESS procurou construir aliana com outras

entidades de representao estudantil MS e as entidades representativas do Servio

Social no caso a ABEPSS e o CFESS

Segundo essa autora tambm a partir de 1982 inicia-se o processo de

ascenso do PT no ME em particular no MESS que disputava a hegemonia do

Movimento sobretudo com militantes vinculados ao PC do B este que ldquoaliado com

algumas reitorias apresentava uma postura conservadorardquo (p59)

Importante ressaltar que no ENESS de 1985 um agrupamento de

estudantes defendeu da SESSUNE chegando a levar tal proposta para plenria final

Entretanto o encaminhamento tomado sinalizou a necessidade de aprofundar essa

questo levando esse debate para os(as) estudantes das diversas escolas de

Servio Social do pas Como podemos apreender o processo de criao da entidade

nacional foi resultante de um debate democrtico travado pelos estudantes

Em 198620 importante destacar mudanas na realizao do ENESS que

passa a ter a durao de cinco dias e no mais de trs como anteriormente

Aps dez anos de debates no ENESS de 1988 criada a SESSUNE com

o objetivo de contribuir com a organizao nacional dos estudantes A partir de ento

tem uma atuao embasada na perspectiva de situar e analisar as questes relativas

profisso no contexto scio-histrico das determinaes estruturais e conjunturais

No seu primeiro ano de existncia a entidade funcionou sem estatuto21 devido

insuficincia de tempo no referido encontro contudo a diretoria eleita atuou

considerando o seguinte parmetro

18 Este ocorreu na Universidade Catlica de Salvador ndashBA o qual no teve tema definido19 Essa estrutura organizativa permanece nos dias atuais no CONESS que se discute e se aprova as pautas das mesas e das oficinas a serem realizas no ENESS20 Este ENESS apresentou como tema ldquoSe muito vale o j feito mais vale o que serrdquo e foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ)21 O estatuto foi aprovado somente no ENESS seguinte

46

Articulao com o movimento estudantil geral articulao com o movimento da categoria representar os estudantes de Servio social em territrio nacional e internacional articular os estudantes de Servio Social no pas promover o debate sobre os problemasespecficos dos estudantes de Servio social e coordenar e organizar os encontros nacionais e regionais junto a escola sede dos eventos( PEQUENO 1990 p 70)

Para Santos(2007) a dcada que engloba os anos de 1978 a 1988

ocorreu no MESS um processo de reconstruo de sua ldquobase organizativa nacional e

de reaglutinao poltica dos estudantes principalmente pelos debates em torno da

conjuntura e da formao profissional reivindicando uma direo poltica filiada a

inteno de ruptura com o conservadorismordquo (p116)

No ano de 1991 acontece o primeiro Seminrio Nacional de Formao

Profissional e Movimento Estudantil de Servio Social(SNFPMESS) o que revela a

preocupao MESS com a Formao profissional mediante a criao de um espao

prioritrio para discusso dessa temtica o qual realizado a cada dois anos A

preocupao do movimento com a formao profissional se verifica desde a

reorganizao desse segmento no final da dcada de 1970 e como veremos essa

questo se mantm atualmente como uma esfera privilegiada na pauta dos(as)

estudantes e de sua entidade representativa

Em 1992 a SESSUNE promove o segundo Seminrio Nacional de Formao Profissional Nesse seminrio houve a elaborao do anteprojeto da ldquoCampanha Nacional pela Reestruturao da Formao Profissional do (a) Assistente Social no Brasilrdquo Um dos desdobramentos desta campanha foi a elaborao do Documento Pro Dia Nascer Feliz documento sistematizado pelo CArsquos e DArsquos de Servio Social engajados no movimento estudantil essa sistematizao serve como documento base para as discusses iniciais do processo de reviso curricular promovida pela ABESS na gesto 93-95 com sede na UFPE em Recife-PE(SANTOS 2007 119)

Hoje os fruns organizados pela ENESSO escola sede dos encontros e a

representao discente em ABEPSS so Conselho Nacional de Entidades Estudantis

de Servio Social(CONESS) formado pelos CAs e DAs cujo objetivo maior a

definio da pauta para o encontro nacional O Conselho Regional de Entidades

Estudantis em Servio Social(CORESS22) que apresenta a mesma funcionalidade s

que em mbito regional ERESS que consiste no maior frum de discusso de cada

22 neste encontro que acontece a eleio para as Coordenaes regionais da ENESSO portanto processo eleitoral desvinculado da eleio para direo nacional da entidade Cf ENESSO(2007)

47

regio que compem a ENESSO ENESS que se refere a mxima instncia de

deliberao do MESS e evento no qual se elege a diretoria nacional da entidade alm

dos SNFPMESS e dos Seminrios Regionais de Formao Profissional e Movimento

Estudantil de Servio Social no qual os(as) estudantes tem a oportunidade de

participar de mesas de discusso e apresentar trabalho sobre diversas temticas que

perpassa a profisso sendo os dois ltimos encontros no deliberativos

No ano de 1992 emergem no MESS agrupamentos polticos organizados

em teses que passaram a disputar a direo nacional da entidade perspectiva que

segundo Silva(2006) expressa ldquoo acumulo poltico j adquirido por este movimentordquo

A mudana de SESSUNE para ENESSO23 em 1993 representou

sobretudo a perspectiva de assumir autonomia em relao a UNE Alm disso esse

papel aglutinador assumido pela ENESSO est em consonncia com a tendncia

presente no ME na dcada de 1990 das executivas se apresentarem com uma

dinmica de organizao estudantil a partir do desenvolvimento de lutas abrangentes

bem como de atividades especficas de determinada profisso

Segundo estudo de Silva (2006) de 1994 a 1998 tem-se o acirramento pela

direo da entidade em que em 1995 duas chapas pleitearam os cargos nacionais da

ENESSO o grupo poltico Projeto Democrtico e Popular(PDP) e a candidatura ldquoNo

d mais pra segurarrdquo formada por estudantes no organizados em grupos e por

militantes vinculados ao PSTU sendo que a primeira saiu vencedora na disputa

eleitoral Em 1997 temos a criao de mais um grupo poltico no MESS o Eu Quero

Mais(EQM) que chegou a direo da entidade em 1998 marcando o fim da

hegemonia do PDP no MESS

O ano de 1998 significativo para o MESS pela conquista de garantia da

representao discente na ABEPSS entidade voltada prioritariamente para as

problematizaes e desenvolvimento de aes em torno da formao profissional o

que mais uma vez refora a preocupao do movimento com o processo formativo24

dos(as) assistentes sociais Segundo Rodrigues

23 A entidade mxima de representao de estudantes de Servio Social- no tocante a organizao do Movimento Estudantil- como forma de melhor atingir os objetivos de articulao e potencializao de lutas- est dividida organizacionalmente em sete regionais as quais englobam as escolas de Servio Social nelas localizadas so elas regio I-Acre Amazonas Roraima Rondnia Par Maranho e Piau II-Cear Rio Grande do Norte Paraba e Pernambuco III-Alagoas Sergipe e Bahia IV-Tocantins Gois Distrito federal Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (Uberlndia e Uberaba) V - Minas Gerais Esprito Santo e Rio de Janeiro VI - Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul e VII-So Paulo (cf ESTATUTO DA ENTIDADE 2007)24 Segundo as contribuies de Santos(2007) de 1993-1998 o MESS desenvolveu algumas ldquoaes que ratificam a prioridade da formao profissional como Realizao da Pesquisa sobre o perfil dos estudantes (1995) para contribuio com o debate das diretrizes curriculares de 1996154 a realizao de cursos de formao poltica ldquo O Capacitardquo (199697) a

48

A partir da legitimidade poltica adquirida historicamente pelo MESS que ao longo da sua trajetria se mostrou comprometida com a formao qualificada e com o projeto tico-poltico profissional a categoria estudantil conquistou espao de representao na ABEPSS H portanto representao discente na diretoria nacional e regional estreitando a relao poltica existente entre as duas entidades(2008p39)

A partir dos anos 2000 a entidade passa a empreender campanhas em

favor da reduo de mensalidades decorrente do expressivo nmero de Cursos de

Servio Social na iniciativa privada e tambm apresenta um postura crtica em

relao poltica educacional materializada na era FHC que se manifesta por

exemplo na contestao do Provo25

Hoje a ENESSO composta nacionalmente por cinco coordenaes a

geral de divulgao e imprensa relaes internacionais finanas e de movimentos

sociais e mais duas secretarias a geral e a de formao profissional26 Alm da

direo nacional existem os coordenadores regionais que so eleitos nos encontros

de cada regio que compem a ENESSO o que permite que sujeitos no

pertencentes ao mesmo agrupamento da direo nacional assumam a entidade em

mbitos regionalizados o que por sua vez pode reforar o fortalecimento da

democracia no interior da entidade ou por lado ocasionar prticas antidemocrticas

na tomada de decises e no desenvolvimento e abrangncia das lutas e atividades

em virtudes de disputas entre a coordenao nacional e determinadas coordenaes

regionais Conforme o seu Estatuto as principais funes da ENESSO constituem na

Elaborao e execuo das atividades referentes aos estudantes de Servio Social e as lutas do Movimento Estudantil com base nas diretrizes e polticas de ao aprovadas no ENESS Sistematizar e divulgar as informaes das escolas atravs de boletins informativos jornais e outros veculos de comunicao Acompanhar cotidianamente a organizao do Movimento Estudantil nas escolas atravs de visitas contatos telefnicos via internet etc (ENESSO 2007 p12)

contribuio dos estudantes organizados nas teses apresentadas nos ENESS disputando idias concepes e a hegemonia na direo poltica do MESS a conquista da representao estudantil em ABEPSS em 1998rdquo(p121)25 Cf (Silva 2006) que tambm evidncia no XXII realizado no ano 2000 na cidade de Lins SP quanto ao sistema de votao uma vez que o voto deixaria de ser por escola ( em que cada uma teria direito a trs votos) passando a ser universal26 Interessante registrar que no ltimo ENESS realizado em Londrina-PR as Coordenaes Nacionais da Executiva no foram ocupadas A Secretaria de Formaccedilatildeo profissional foi crida em 1993 no ENESS que ocorreu na cidade de So LeopoldoRS e demonstra a preocupao do MESS com as problemticas da Formao Profissional do Assistente Social

49

A funcionalidade evidencia a relevncia da entidade para a organizao do

MESS dado o seu carter de articular o movimento em nvel nacional

potencializando desse modo as atividades travadas pelo segmento

Atualmente um dos importantes instrumentos na interlocuo dos

estudantes e de disponibilizao de informaes e de produes da entidade se

refere ao grupo de discusso executivamess o qual conta com 1350 associados(as)

Ele surgiu a partir de uma deliberao do planejamento estratgico da executiva

sendo criado no ano de 2000 com o objetivo de contribuir na socializao e promoo

de debates que perpassa a organizao desse movimento

importante esclarecer que as aes desenvolvidas pela ENESSO devem

se pautar nas deliberaes aprovadas pelo coletivo de estudantes presentes no

ENESS realizado anualmente

As deliberaes expressam em certa medida a disputa entre os diferentes

grupos e tendncias que militam no MESS bem como potencializa o entendimento da

direo social expressa na ao poltica da ENESSO As deliberaes apresentam

diretivas relativas a cinco principais eixos ou campos de atuao Conjuntura

Movimento Estudantil Cultura e valores Universidade e Formao profissional

Desde a dcada de 1990 temos majoritariamente o reconhecimento no

campo profissional da relevncia da ENESSO nas reflexes e direcionamento do

Servio Social brasileiro visto que na sua ldquorecente trajetria acompanhou o

movimento de renovao profissional gerado nos anos 8090 e para ele contribuiurdquo

(RAMOS 1996 p 118) Dez anos depois essa autora reafirma a relevncia da ao

poltica da ENESSO ao expressar que ela

Tem se posicionado politicamente e lutado pela defesa de um projeto poltico da classe trabalhadora capaz de acumular foras para conquistar uma nova direo social poltica e cultural uma universidade democrtica gratuita e de qualidade social uma formao profissional que propicie a capacitao terico-metodolgica tcnico-operativo e tico-poltico de profissionais que venham a responder s demandas populares no sentido de reforar os direitos de cidadania dos segmentos majoritrios da populao (RAMOS 2006 p178)

Diante disso reafirmamos o propsito de analisarmos a ao poltica da

ENESSO no cenrio da atual contra-reforma do ensino superior na perspectiva de

identificar a direo social que a entidade assume e como se caracterizam as suas

lutas atualmente nas esferas da universidade e da formao profissional dimenses

aprofundadas nos captulos seguintes

50

2-4 ldquoSE O PRESENTE DE LUTA O FUTURO NOS PERTENCErdquo a ENESSO e as

polmicas com a UNE

A trajetria at aqui traada do ME nos possibilita afirmar que em

diferentes conjunturas nacionais a defesa da educao pblica gratuita e de

qualidade historicamente se configura como o projeto aglutinador de diversos

estudantes brasileiros(as) a perspectiva de materializao desse projeto que vem

sendo destrudo pela atual contra-reforma do ensino superior e que tem se constitudo

em foco de discordncia do ME nacional na conjuntura recente

O pice dessa discordncia ocorreu ainda em 2004 com a criao da

Coordenao Nacional de Lutas dos Estudantes(CONLUTE) que afirma ter como

objetivos essenciais a coordenao de lutas que se contraponham as medidas

situadas no campo da contra-reforma que desmorona a educao superior pblica no

pas Segundo concepo da entidade suas aes se remetem ainda para organizar

os(as) estudantes

que romperam com a UNE e que ainda esto nela para lutar contra a poltica de desmonte da educao pblica do governo Lula Uma vez que a UNE controlada pelos partidos do governo abandonou as lutas e que a democracia se tornou inexistente no interior dessa entidade a Conlute aparece como embrio de uma alternativa para o Movimento Estudantil(CONLUTE 2008)

A partir dessa ruptura em relao a UNE algumas indagaes tornam-se

importantes a criao de outra entidade de organizao estudantil em nvel

nacional o caminho para enfrentar as investidas do capital na educao e a atual

poltica para o ensino superior Essa entidade tem conseguido articular os(as)

estudantes na luta contra a reforma universitria independemente do seu

reconhecimento ou da UNE como entidade mxima de representao do segmento no

Brasil estratgica a desistncia de segmentos do ME contrrios reforma em

obter a direo e reorganizar a UNE uma entidade brasileira histrica e que contribuiu

para conquistas significativas no pas A criao de mais uma entidade fragmenta ou

revitaliza a atuao estudantil na atualidade Esses questionamentos so importantes

porque trata de problemticas estritamente relacionadas organizao e atuao

poltica do ME no tempo presente e que na contemporaneidade constituem-se em alvo

de debate e discordncias tambm no MESS e que rebate na atuao da ENESSO

visto que o reconhecimento ou no da UNE como principal entidade poltica dos(as)

51

estudantes constitui um dos principais pontos de divergncias dos grupos

organizados no MESS

O direcionamento da ENESSO nos ltimos ENESS tem se situado no

campo de defesa da UNE e de seu reconhecimento como entidade mxima de

representao do segmento estudantil no Brasil e desse modo reconhece que essa

entidade necessita voltar s aes para lutas identificadas com a defesa da educao

pblica gratuita de qualidade social e sintonizadas com o iderio de transformao

societal Dimenso explicitada na seguinte argumentao

Apesar das aes polticas da direo majoritria da UNE devemos reivindicar essa entidade que nossa(dos estudantes) que tem uma trajetria de luta e peso poltico Sempre foi um instrumento da luta pela educao pblica e pela transformao social do pas e ainda continua tendo fora respaldo e legitimidade na sociedade brasileira e possuindo grande potencial para retomar as lutas dos reais interesses coletivos dos estudantes no pas (ENESSO 2005 p03)27

A ressalva realizada pela ENESSO se consubstancia no fato de que a

UNE atua hegemonicamente em conformidade com a contra-reforma alm disso

os(as) estudantes corroboradores(as) com o direcionamento poltico da entidade

podem se tornar ainda mais efetivos no mbito do ME e em particular do MESS com

as medidas adotadas pelo governo como por exemplo o PROUNI e o ensino

distncia medidas que proporcionam a expanso do setor privado sem precedentes

na histria da educao brasileira e que sero refletidas mais adiante

Isto no significa que estudantes inseridos(as) na modalidade a distncia

ou ento aqueles(as) beneficiados(as) pelo PROUNI necessariamente constituem

sujeitos defensores da poltica educacional adotada pelo governo Lula Contudo o

prprio cenrio de enfraquecimento das lutas coletivas da deficincia na formao

poltica do segmento estudantil e a supervalorizao da esfera tecnicista na formao

de perfis profissionais voltados para o atendimento das demandas imediatas do

mercado contribuem para uma apreenso acrtica das medidas materializadas no

contexto da contra-reforma do ensino superior

27 Essa posio de defesa da UNE como entidade histrica e mxima de representao dos(as) estudantes universitrios(as) tambm foi ratificada no ENESS de 2007 ocorrido em Contagem-MG quando por ocasio da reviso do Estatuto da ENESSO ficou definido que esta entidade reconhece a UNE como ldquoinstncia de representao do movimento estudantil para que a mesma estimule unifique e fortalea a luta das (os) estudantes pela defesa da universidade pblica gratuita democrtica laica popular de qualidade com ensino presencial e juntamente com outros movimentos sociais lute por um novo projeto de sociedaderdquo (2007 p 01)

52

Entendemos que a apreensatildeo do objeto de estudo que consiste na anaacutelise

da atuaccedilatildeo do MESS na defesa da universidade puacuteblica gratuita e de qualidade e do

projeto de formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais no periacuteodo de 2003-2008 requer

abordagens relativas as modificaccedilotildees verificadas no acircmbito educacional em especial

no ensino superior brasileiro e desse modo consideraccedilotildees sobre as poliacuteticas sociais

em particular no contexto de domiacutenio neoliberal conjuntura que soacute pode ser entendida

se apreendemos o movimento geral da sociabilidade capitalista na

contemporaneidade Satildeo dessas mediaccedilotildees que trataremos a seguir

53

Privatizado

Privatizaram sua vida seu trabalho sua hora de amar e seu

direito de pensar

Eacute da empresa privada o seu passo em frente

seu patildeo e seu salaacuterio E agora natildeo contente querem

privatizar o conhecimento a sabedoria

o pensamento que soacute agrave humanidade pertence

(Bertolt Brecht)

54

III- A POLTICA EDUCACIONAL NO CONTEXTO NEOLIBERAL E AS MUDANAS

NAS RELAES ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE

3-1- A DINMICA DO CAPITAL NA CENA CONTEMPORNEA reestruturao

produtiva e consolidao neoliberal

Partimos da concepo que o desvelamento das relaes entre o Estado e

a sociedade nas ltimas trs dcadas baseadas na perspectiva de reduo da

interveno estatal nas problemticas sociais s podem ser entendidas criticamente

se considerarmos o movimento real da sociedade capitalista caracterizado pelo

aprofundamento da barbrie

Esse direcionamento de anlise significa afirmar que as alteraes

ocorridas no mundo do trabalho e por conseguinte no mago da produo

capitalista ou seja a produo da vida material repercute no desenvolvimento e

funcionamento das polticas sociais incluindo aqui a educao e na ao dos sujeitos

nesses espaos Desse modo o processo de contra-reformas desencadeadas nos

diversos setores -educao organizao sindical previdncia entre outros- em escala

mundial e com particularidades na realidade brasileira tem suas razes nessa

reconfigurao da produo e acumulao do capital ocasionada pela crise verificada

a partir dos anos 70 do sculo XX

No mundo do trabalho atual autores como Antunes (2000) Harvey (2006)

apontam a ocorrncia de profundas mudanas na base de produo capitalista o

fordismo28 taylorismo29 entra em declnio e emerge no final dos anos 1970 em nvel

mundial o denominado toyotismo ou modelo flexvel

A produo em srie e massificada com vista a atender o consumo em

massa a rigidez nos processos produtivos a segmentao entre planejadores e

executores que caracterizam o padro fordistataylorista no mais proporciona a

obteno de altas taxas de lucros necessidade precpua do capital

Assim o novo padro visa superao da crise provocada pela

concorrncia intercapitalista bem como objetiva manter sob controle a luta de classes

28Harvey(2006) aponta que o fordismo apresentou um pequeno desenvolvimento fora dos Estados Unidos antes do final da dcada de 1940 visto que se materializou de modo mais consistente tanto na Europa como no Japo aps este perodo e que se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial 29 Taylor na obra ldquoos Princpios da Administrao Cientificardquo (1911) detalhava como se podia atingir altos nveis de produtividade a partir da ldquodecomposio de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organizao de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padres rigorosos de tempo e estudo do movimentordquo( Harvey2006 p124)

55

a partir de mudanas nas dimenses objetivas e subjetivas dos segmentos do

trabalho

O padro flexvel de produo e acumulao apresenta como elementos

constitutivos o just in time30 flexibilizao terceirizao31 controle de qualidade32

subcontratao eliminao de desperdcio de modo que modelos produtivos e

administrativos fundamentados na ldquogerencia participativa sindicalismo de empresa

[] propagam se intensamenterdquo (ANTUNES 2000 p27) Essa tendncia de

flexibilizao difere do disciplinamento das fbricas no perodo de emergncia da

industrializao na qual conforme MARX ldquono lugar do chicote do feitor de escravos

surge o manual de penalidades do supervisorrdquo (1975 p45) Agora identificamos a

substituio do manual de penalidades por um sistema de gesto cujo trabalhador

autovigilante no processo produtivo

Outra faceta trazida com a adoo do modelo flexvel a de processos

de trabalho caracterizados pela polivalncia nos quais o(a) trabalhador(a)

exigido(a) a executar diversas atividades o que por sua vez implica o desempenho

de diferentes habilidades e competncias Dessa forma a demanda do mercado de

trabalho por qualificao e formao tambm flexveis se torna uma necessidade

real s para exemplificar esse direcionamento hoje constitui-se praticamente uma

imposio tcita para se tornar competitivo no mercado conhecimentos de informtica

e de outras lnguas Entretanto importante ressaltar que ter tais conhecimentos e

uma formao que lhe possibilite competir no mercado no significa

necessariamente a garantia de insero no mercado de trabalho formal pois como

veremos adiante a conjuntura atual -seja nos pases de capitalismo avanado ou nos

denominados perifricos- marcada pelo notvel aumento do desemprego Essa

realidade nos leva a afirmar que o diploma universitrio e o que ele representa j no

consistem em segurana e perspectiva de futuro estvel como se vislumbrava em

dcadas passadas Esta realidade certamente tem implicaes nos espaos de

organizao universitria como se configura o ME

30 Importante tendncia do modelo flexvel que visa racionalizao no desempenho das atividades a partir do maior rendimento possvel do trabalho vivo Segundo Coriat(1994 p55) o jus in time se baseia especialmente ldquona manipulao ou na observao simultnea de vrias mquinas diferentesrdquo e no na repetio dos movimentos como se verificava no fordismotaylorismo Nas palavras de Antunes(2002 p54) o jus in time ldquotem como princpio melhorar o aproveitamento possvel do tempo de produordquo31 Fenmeno em que somente parte da produo realizada no mbito de determinada fbrica na qual se prioriza o que central em sua especialidade desse modo o restante da produo transferido para responsabilidade de terceiros Cf Antunes(2002)32 Controle de qualidade implementado sobretudo mediante a criao dos Crculos de Controle de qualidade(CCQ) os quais so formados por trabalhadores(as) e que incentivados pelo capital agem no sentido de analisar o desempenho de suas atividades com o objetivo de melhorar o rendimento e produtividade das empresas nas quais trabalham

56

Para Antunes(2000) possvel observar no mundo do trabalho

contemporneo diversas mudanas no sentido de uma crescente reduo do trabalho

industrial fabril em nvel internacional ao passo que se verifica o aumento de

assalariados(as) no ramo de servios bem como notvel a diversificao

heterogeneidade e complexificao dos segmentos do trabalho que se expressa

mediante ldquocrescente incorporao do contingente feminino no mundo operrio

vivencia-se tambm uma subproletarizao intensificada presente na expanso do

trabalho parcial temporrio subcontratato ldquoterceirizadordquo que marca a sociedade dual

no capitalismo avanadordquo (ANTUNES 2000 p 41)Nos termos de Harvey

A acumulao flexvel []na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de trabalho dos produtos e padres de consumo Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produo inteiramente novos novas maneiras de fornecimento de servios financeiros novos mercados e sobretudo taxas intensificadas de inovao comercial tecnolgica e organizacional (2006 p140)

A flexibilidade do mercado e dos processos de trabalho provoca

redimensionamentos na organizao dos sujeitos do trabalho visto que a

complexificao a heterogeneidade a crise objetiva contribui veementemente para o

enfraquecimento de aes polticas voltadas para defesa e conquistas de direitos

trabalhistas e sociais bem como lutas identificadas com o iderio de transformao

social

O produto dessas mudanas consiste no aumento radicalizado do

desemprego estrutural que afeta a classe trabalhadora em mbito planetrio A

reduo de postos de trabalho formal acaba por determinar a elevao do setor

informal no qual os sujeitos so totalmente desprovidos de garantias trabalhistas

caso no tenham condies de pagar previdncia privada ou seja vivencia uma

situao de insegurana em moldes radicalizados Outro aspecto pertinente a ser

considerado que muitas atividades situadas no universo da informalidade so

caracterizadas pela ilegalidade como por exemplo vendedores ambulantes no

legalizados o que leva a insero de parte desse segmento no mundo da

criminalidade a partir do desempenho de atividades ilcitas Uma perversa faceta

dessa realidade a dificuldade em termos de organizao dessas pessoas haja vista

as prprias peculiaridades na execuo do trabalho aliada a tentativa da classe

dominante em mascarar os conflitos e interesses antagnicos presentes na

sociabilidade do capital

Sinalizamos que a alienao se apresenta na atualidade de forma intensa

dentre suas expresses podemos citar a propagada gesto participativa que

57

dissemina entre os(as) trabalhadores a falsa noo de interesses iguais entre estes e

os capitalistas o que acaba por radicaliz-la j que a produo continua sendo

coletiva e sua apropriao privada sendo tal relao mascarada com o falacioso

discurso da valorizao participao e do ldquovestir a camisardquo da empresa e da

conseguinte identidades de projetos que na verdade so inconciliveis

Em relao discusso sobre a ampliao do desemprego importante

fundamentar este debate com os aspectos do desenvolvimento das foras produtivas

que se expressam mediante o avano da cincia e da tcnica Sobre esta questo

temos na obra O capital um profundo desvendamento relativo funcionalidade dessas

esferas para o modo de produo capitalista Assim com a expanso da

industrializao a partir do emprego da mquina-ferramenta - aquela que substitui o

trabalhador - Marx enfatiza que a maquinaria em vez de proporcionar o alvio da

labuta diria contraditoriamente sob a gide do capital visa to somente extrao

da mais valia relativa mediante o aumento da produtividade Isso independente das

conseqncias degradantes geradas para os segmentos do trabalho nas diversas

esferas da vida ou at mesmo eliminando as condies de existncia de parte

significativa da populao trabalhadora que no consegue vender a fora de trabalho

para garantir a sua subsistncia em decorrncia do constante processo de

substituio da fora de trabalho por mquinas

Nesses termos podemos constatar que o desenvolvimento da cincia

pode potencializar a elevao das condies de existncia de homens e mulheres se

pautado numa perspectiva de emancipao humana que contribua para a melhoria

das condies de vida da maioria da populao ou antagonicamente pode vislumbrar

apenas a obteno da pedra de toque do capital lucro exacerbado mediante a

obteno de mais valia

A argumentao aqui efetivada no est consubstanciada em uma

dimenso de ldquosatanizaordquo da cincia por conseguinte da tecnologia no estamos

responsabilizando-a pelo desemprego destruio da natureza e desigualdades

sociais Entretanto a utilizao da cincia com a mera finalidade de elevar a

produtividade e conseqentemente os lucros acarreta graves conseqncias para a

humanidade inclusive corroborando para perda de numerosos postos de trabalho nos

mais diversificados ramos de atividades Segundo MARX

Como mquina o meio de trabalho logo se torna um concorrente do prprio trabalhador A autovalorizao do capital por meio da maquina est na razo direta do numero de trabalhadores cujas condies de existncia ela destri (1975 p 48)

58

Na conjuntura contemporacircnea verificamos a agudizaccedilatildeo desse processo

contraditoacuterio expresso pela crescente taxa de desemprego acarretada tambeacutem pelo

aumento de trabalho morto e minimizaccedilatildeo de trabalho vivo em uma era de grandes

avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos

Essa relaccedilatildeo manifesta mais um antagonismo fundante desse modelo

societaacuterio Segundo contribuiccedilotildees marxianas a forccedila de trabalho eacute a uacutenica criadora de

valor e mais valor apresentando a maquinaria apenas a capacidade de transferir valor

ao produto por ela fabricado assim com a elevaccedilatildeo de investimento em trabalho

morto e sua substituiccedilatildeo pela forccedila de trabalho se constata o acirramento dessa

contradiccedilatildeo

Portanto eacute imprescindiacutevel evidenciarmos que o usufruto da propagada

revoluccedilatildeo informacional e tecnoloacutegica produzida nos dias atuais assim como a

utilizaccedilatildeo da racionalidade na produccedilatildeo a partir do uso da teacutecnica e da ciecircncia natildeo se

traduzem para todos(as) de maneira igualitaacuteria pois como analisa Marx a marca

central da sociabilidade capitalista eacute a contradiccedilatildeo que se manifesta na apropriaccedilatildeo de

modo desigual da riqueza coletivamente produzida

Procuramos assinalar que a produccedilatildeo capitalista se transforma assim

como a ciecircncia e a teacutecnica todavia os trabalhadores(as) continuam sendo

explorados(as) pois a base societal permanece esteada na contradiccedilatildeo entre

possuidores e natildeo dos meios de produccedilatildeo portanto uma sociabilidade pautada

majoritariamente por desvalores como competitividade individualismo egoiacutesmo

potencializando as relaccedilotildees de exploraccedilatildeo dominaccedilatildeo e opressatildeo entre os seres

humanos

Esse cenaacuterio caracterizado pela introduccedilatildeo de novas tecnologias no

espaccedilo da produccedilatildeo exige reordenamento na esfera da qualificaccedilatildeo e formaccedilatildeo

profissional Associada a emergecircncia do neoliberalismo como regulaccedilatildeo majoritaacuteria

entre o Estado e sociedade nos dias contemporacircneos eacute que temos a materializaccedilatildeo

de significativas mudanccedilas nas diversas poliacuteticas sociais em particular na educaccedilatildeo

Um indicador dessa direccedilatildeo consiste na ampla reestruturaccedilatildeo que as instituiccedilotildees de

ensino superior atravessam situadas tambeacutem numa perspectiva de racionalizar e

flexibilizar os processos formativos o que por sua vez rebate diretamente no espaccedilo

de aglutinaccedilatildeo e organizaccedilatildeo do ME Universitaacuterio ou seja nas instituiccedilotildees de ensino

superior

59

3-2 POLTICAS SOCIAS NA SOCIABILIDADE CAPITALISTA limites e possibilidades

O debate sobre a direo social da educao no contexto atual requisita

inicialmente uma abordagem que proporcione o desvendamento da funcionalidade do

Estado e das polticas sociais para a sociedade capitalista

Diante disso consideramos fundamentais as contribuies de Behring e

Boschetti(2007) pois explicitam que as polticas sociais apresentam como

determinantes o desenvolvimento da industrializao as lutas de classes e a

conseqente interveno do Estado neste embate

Em sintonia com tal entendimento Vieira afirma que indubitavelmente a

emergncia das polticas sociais est articulada a atuao operria ainda no perodo

inicial das revolues industriais pois segundo sua interpretao as polticas sociais

como ldquoestratgia governamental de interveno nas relaes sociais unicamente

pde existir com o surgimento dos movimentos populares do sculo XIXrdquo(1992 p19)

Para Faleiros(2000) a origem das polticas sociais se remete ao processo

de reproduo da fora de trabalho e desse modo expressa a correlao de foras

intrnseca a sociedade capitalista e tambm no prprio aparelho do Estado

Perpassada pelas contradies de classe as polticas sociais representam tambm

mecanismos de legitimao estatal e governamental

Assim torna-se evidente que as polticas sociais entre as quais a

educao origina-se no interior das relaes de classe e dessa maneira

perpassada eou crivada por antagonismos intrnsecos a esta processualidade

Expresso dessa afirmao consiste no fato delas contriburem efetivamente para a

reproduo da sociabilidade do capital ao passo que se configuram e como de fato

so conquistas dos segmentos do trabalho Dessa maneira significativo destacar a

luta travada por diferentes sujeitos coletivos em favor de uma educao de qualidade

promovida pelo Estado e que na realidade brasileira pas da periferia do capital

majoritariamente o ME universitrio no decorrer de sua histria apresenta um

protagonismo considervel no desencadeamento de lutas e atividade voltada para

defesa de uma educao superior pblica gratuita laica e de qualidade

Esse carter contraditrio das polticas sociais est iarticulado a prpria

natureza de seu ente materializador ou seja a lgica e funcionalidade do Estado

moderno

Tonet(2004) ao analisar a concepo de Estado segundo o pensamento

de Marx ressalta que o mesmo tem sua origem no antagonismo das classes sociais

diferentemente das abordagens liberais que concebem a sua criao como resultante

60

de um pacto social entre os indiviacuteduos que proporciona a convivecircncia entre os

humanos jaacute que a desigualdade seria decorrente do usufruto da proacutepria igualdade

existente entre os seres

Nessa perspectiva temos o entendimento que a esfera das relaccedilotildees

materiais consiste na dimensatildeo determinante para constituiccedilatildeo do Estado moderno e

portanto dos complexos sociais dele resultantes como eacute o caso da educaccedilatildeo formal

na sociabilidade capitalista e desse modo modificaccedilotildees no seu acircmbito como

analisadas anteriormente exigem alteraccedilotildees nos diferentes campos da sociedade

como acontece no atual cenaacuterio do sistema educacional

Tonet(2004) ainda chama atenccedilatildeo para a assertiva marxiana de que

sendo o Estado originaacuterio da relaccedilatildeo contraditoacuteria das classes sociais certamente ele

representa pela sua natureza um instrumento de reproduccedilatildeo dos ideais da classe

dominante

Temos o entendimento que a contradiccedilatildeo perpassa os diversos setores da

sociabilidade burguesa o que abrange inclusive o Estado moderno Dessa maneira

a depender das forccedilas poliacuteticas dirigente do Estado as suas accedilotildees podem contemplar

mais as reivindicaccedilotildees dos segmentos do trabalho e setores subalternizados ou

inversamente as requisiccedilotildees da classe dominante

Diante do exposto desenvolvemos o pensamento que na atual conjuntura

de radicalizaccedilatildeo da crise capitalista as accedilotildees efetivada pelo Estado estatildeo voltadas

predominantemente para atender as reclamaccedilotildees do capital o que de certo modo

manifesta o processo de enfraquecimento da organizaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

trabalhadores(as) em niacutevel mundial

A partir de tais constataccedilotildees temos a conclusatildeo do Estado ser impotente

para erradicar as desigualdades sociais visto que essa eliminaccedilatildeo significaria a sua

proacutepria destruiccedilatildeo pois tanto o Estado como as desigualdades tecircm origens nas

diferenccedilas e antagonismos de classes

Desse modo podemos enfatizar que as accedilotildees do Estado na viabilizaccedilatildeo

das poliacuteticas sociais podem amenizar eou administrar as desigualdades os conflitos

e a luta de classes mas de modo algum podem instituir a igualdade de condiccedilotildees

para os sujeitos nesta sociabilidade regida pela exploraccedilatildeo e dominaccedilatildeo

O que estamos afirmando eacute que as poliacuteticas sociais natildeo satildeo capazes de

por fim a exploraccedilatildeo e contradiccedilotildees existentes na sociabilidade capitalista Exemplo

disso eacute que mesmo em paiacuteses de capitalismo avanccedilado nos quais entre os anos de

1940 ateacute 1970 as poliacuteticas sociais tenderam a universalidade nem assim os

segmentos do trabalho deixaram de ser explorados e oprimidos pois os meios de

61

produo continuaram sendo de propriedade privada e de modo algum foram

socializados

Contudo isso no significa que as lutas por polticas sociais e portanto

por direitos no seja importante pois elas contribuem para a melhoria das condies

de existncia dos segmentos do trabalho e manifestam certamente a relevncia da

organizao dos sujeitos na obteno de significativas conquistas polticas sociais

econmicas e culturais Como argumenta Tonet( 2004 p178)

A luta pelos direitos do cidado sempre vlida para a classe trabalhadora Mais ainda porque estes direitos interessam muito mais aos trabalhadores do que burguesia sempre bom lembrar que a emancipao poltica no uma situao esttica mas um campo uma arena de luta um resultado de lutas sociais- ainda que em ultima instncia sob a regncia do capital- de modo que o seu abandono pela classe trabalhadora significaria ceder terreno para os interesses da burguesia Esta pois fora de cogitao a supresso dos direitos conquistados e isto vale tanto para os pases mais desenvolvidos como para os menos desenvolvidos

Consubstanciadas nesse entendimento em relao funcionalidade do

Estado e das polticas sociais Behring e Boschetti(2007) destacam que no ocorreu

um corte radical entre a perspectiva liberal predominante no sculo XIX e o Estado

social do sculo XX dado o fato que os dois apresentaram direcionamento comum e

central de reconhecer direitos sem todavia colocar em questionamento os pilares

sustentadores do capitalismo como a propriedade privada o trabalho assalariado a

luta de classes entre outros

Ainda segundo as autoras as polticas sociais foram institudas de modo

diferenciado e em ritmos distintos nos vrios pases entretanto existe uma

concordncia entre estudiosos(as) da temtica em ldquosituar o final do sculo XIX como o

perodo em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar aes sociais de

forma mais ampla planejada e sistematizada e com carter de obrigatoriedaderdquo

(BEHRING E BOSCHETTI 2007 p64)

Nos pases de capitalismo avanado como salientado as polticas sociais

se expandem de maneira gradativa do incio da primeira grande guerra mundial at os

anos de 1930 perodo de depresso econmica que teve como smbolo maior a

quebra da bolsa de valores de Nova Yorque e se generalizaram somente aps a

segunda grande guerra (1945) momento de crescimento e expanso da economia

Entretanto no manifestavam o abandono da sociabilidade capitalista nem tampouco

a defesa da socializao dos meios de produo

62

Conforme a abordagem liberal de Marshall (1967) os direitos civis

(necessrios liberdade individual) e polticos (participao no exerccio poltico)

juntamente com os direitos sociais que se afirmaram com o Estado interventor

constituem os elementos da cidadania burguesa Estes ratificam o direito a um mnimo

econmico que possibilite a existncia de uma vida civilizada entre tais direitos

encontra-se a educao e os servios sociais

Corroboramos com a perspectiva de TONET de situar as conquistas

referentes cidadania no solo da sociedade capitalista na tentativa de evidenciarmos

que a defesa por cidadania portanto por direitos no mbito dessa sociedade

importante mas no proporciona o fim das desigualdades pois o capitalismo se

sustenta tendo como fundamento a reproduo destas ou seja ldquoa condio de

cidadania exatamente expresso e instrumento da reproduo da ciso que se

opera e continua a operar-se no homem como resultado da sociabilidade do capitalrdquo

(TONET 1997 p172-173)

Portanto foi com a consolidao do modelo de produo baseado nos

princpios do fordismo-taylorismo que as polticas sociais se tornaram nos termos de

Behring e Boschetti(2007) abrangentes e universalizadas dada a influncia do

pensamento de Keynes que defendia uma ao estatal fundamentada na poltica do

pleno emprego e na elevao da igualdade social Essa tendncia de abrangncia e

universalidade das polticas sociais tambm foi resultante das reivindicaes dos

segmentos do trabalho por melhoria das condies materiais e espirituais de

existncia e ainda pela chegada ao poder de partidos da social-democracia e sua

ldquorespectiva defesa de elaborao e efetivao de reformas visando a criao de

direitosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p84) Para Harvey a atuao do Estado

no contexto de predominncia do fordismo-keynesianismo se pautou numa dimenso

de

controlar ciclos econmicos com uma combinao apropriada de polticas fiscais e monetrias no perodo ps-guerra Essas polticas eram dirigidas para reas de investimento pblico - em setores como o transporte os equipamentos pblicos etc - vitais para o crescimento da produo e do consumo de massa e que tambm buscava fornecer um forte complemento ao salrio social com gastos de seguridade social assistncia medica educao habitao etc Alm disso o poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produo (HARVEY 2006 p129)

Constatamos que as orientaes keynesianas que predominaram no

perodo de vigncia fordista apresentavam preocupaes relativas melhoria de vida

63

dos(as) trabalhadores(as) como se verifica mediante a defesa e expanso dos

servios sociais nos pases de industrializao avanada e tardiamente expandida de

modo pfio para os Estados da periferia do capital contraditoriamente j no contexto

de retrao neoliberal

Relevante assinalar que a expanso das polticas sociais representava para

o capital a perspectiva de proporcionar condies econmicas para a populao

consumir as mercadorias produzidas em larga escala enquanto que para a classe

trabalhadora expressava a conquista de direitos significativos Essa processualidade

das polticas como mecanismo de manuteno da ordem estabelecida ao mesmo

tempo em que se configura como conquista para os segmentos explorados e

dominados evidencia o seu carter contraditrio nos marcos desse modelo societrio

A reestruturao produtiva em expanso desde a dcada de 1970 como

resposta a reduzida obteno de lucros acompanhada por outra concepo de

regulao social baseada em orientaes diferentes do Estado de bem estar social

vigente no ps-segunda guerra

nesse contexto de redefinio da relao Estado e sociedade que as

diretivas neoliberais ganham terreno em nvel mundial visto que ldquopara os liberais a

crise resultava do poder excessivo e nefasto dos sindicatos e do movimento operrio

que corroeram as bases de acumulao e do aumento dos gastos sociais do Estado o

que desencadearia processos inflacionriosrdquo (BEHRING E BOSCHETTI 2007 p126)

Essa argumentao utilizada pelos segmentos dominantes de reduzir

custos como meio de garantir estabilidade fiscal acarretou mudanas significativas no

desenvolvimento das polticas sociais que tem a focalizao e seletividade como

suas caractersticas singulares

Para Anderson(2005) as premissas neoliberais j estavam previstas no

livro ldquoo caminho da Servidordquo de Friedrick Haych publicado em 1944 Todavia o

apogeu capitalista no perodo de predominncia do fordismo-keynesianismo impediu a

sua execuo portanto na conjuntura de crise dos anos de 1970 que o

neoliberalismo encontra condies favorveis para sua expanso e consolidao em

diferentes realidades econmicas sociais polticas e culturais

Segundo Carcanholo(2002) o neoliberalismo se sustenta em quatro

premissas bsicas e que potencializam a supremacia do mercado a privatizao e a

abertura nacional ao capital estrangeiro so elas

[] os agentes individuais tomam decises motivadas unicamente pelo interesse prprio e todas as interaes econmicas polticas eou sociais entre esses indivduos s podem ser explicadas em

64

termos desse interesse proacuteprio Em segundo lugar essas interaccedilotildees baseadas no interesse proacuteprio natildeo levam ao caos social mas a harmonia jaacute que elas fazem parte de uma ordem natural Em terceiro lugar esta uacuteltima tem grande expressatildeo no mercado Eacute ele o responsaacutevel pela interaccedilatildeo entre todos os interesses individuais e portanto pela manutenccedilatildeo da ordem natural Finalmente [] qualquer intervenccedilatildeo nesse mercado eacute indesejaacutevel porque dificulta o estabelecimento da ordem natural (Carcanholo 2002 p17-18)

Com base nas premissas ressaltadas pelo autor se torna recorrente a

tendecircncia de reduccedilatildeo do Estado na aacuterea social pois o mesmo continua agindo

majoritariamente para oferecer as condiccedilotildees de manutenccedilatildeo da sociedade vigente e

desse modo efetivando medidas de privilegiamento do capital em detrimento do

trabalho como se manifesta na concretizaccedilatildeo de vaacuterias contra-reformas Diante dessa

constataccedilatildeo fazemos a seguinte reflexatildeo no atual estaacutegio do capital podemos

configurar o Estado como mero comitecirc organizativo da burguesia As mediaccedilotildees

elaboradas acima evidenciam que temos a compreensatildeo de analisarmos as

discussotildees e a atuaccedilatildeo do Estado no acircmbito da categoria da contradiccedilatildeo por isso

ressaltamos antagonismos que perpassam as poliacuteticas sociais todavia natildeo podemos

desconsiderar o forte direcionamento da accedilatildeo do Estado para o fortalecimento da

sociabilidade burguesa assim eacute recorrente entre outras medidas a realizaccedilatildeo de

contra-reformas voltadas para retirada de direitos jaacute adquiridos pelos

trabalhadores(as) bem como eacute visiacutevel a fragilidade do Estado sobretudo em paiacuteses

perifeacutericos como o Brasil de materializar direitos jaacute assegurados como a educaccedilatildeo

formal para todos(as)

Exemplo dessa direccedilatildeo satildeo as privatizaccedilotildees as quais corroboram para

transfigurar direitos em mercadorias aleacutem de contribuir ideologicamente para

reestruturaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos que tendem a se adaptar aos princiacutepios

norteadores do mercado Eacute nessa conjuntura que se desencadeiam as diversas

contra-reformas como na previdecircncia educaccedilatildeo dentre outros fortalecendo a loacutegica

de sobrepor os princiacutepios mercantis nos diferentes setores sociais

Diante disso outro ponto a ser problematizado a partir das premissas

elencadas por Carcanholo eacute a perspectiva de naturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais na

qual o mercado se apresenta como marco regulatoacuterio dessa ordem de tal maneira

que somente ele eacute capaz de proporcionar o desenvolvimento e realizaccedilatildeo dos

indiviacuteduos Nesses termos a defesa e luta por outra sociedade antagocircnica a

capitalista se torna algo pernicioso e ateacute mesmo destrutivo para a humanidade

A ascensatildeo e hegemonia conquistada pelos representantes do capital na

sua versatildeo neoliberal natildeo pode ser desvinculada da direccedilatildeo e derrocada do

65

socialismo real no leste da Europa Dimenses que contriburam de maneira efetiva

para propagao falaciosa de ser o capitalismo a nica forma de sociabilidade

possvel para humanidade como se o mesmo fosse natural e no construdo

historicamente pelos sujeitos sociais ou seja

diz-se que no existe alternativa para o capitalismo que todaprocura por uma alternativa conduz ao totalitarismo ou ento uma iluso uma utopia um sonho romntico um anacronismo fora de moda (LOWY 2002 p36)

Anderson (2005 p23) ao realizar um balano sobre o neoliberalismo

assinala o seu xito ideolgico especialmente no tocante a disseminao ldquode que no

h alternativas para os seus princpios que todos sejam confessando ou negando

tm de adaptar-se as suas normasrdquo

O nosso intuito foi destacar processualidades contraditrias que

peculiarizam as polticas sociais e no evidenciar seu resgate histrico entretanto do

nosso ponto de vista a retomada ainda que de forma breve de sua trajetria na

realidade brasileira potencializa o entendimento da reconfigurao das polticas

sociais no contexto neoliberal como se verifica com a educao

Assim sendo Faleiros(2000) elenca quatro conjunturas importantes na

histria das polticas sociais no Brasil so elas o perodo que engloba os anos de

1930 a 1960 caracterizado pela implantao de seguro social para alguns segmentos

do trabalho o cenrio de vigncia da ditadura militar de predomnio do complexo

industrial-militar-assistencial o perodo da constituinte e por ltimo a conjuntura de

domnio neoliberal a partir dos anos de 1990

O primeiro momento destacado pelo autor consubstanciado na poltica

trabalhista de Getulio Vargas33 que visava mascarar as contradies mediante a falsa

concepo da possvel constituio de uma colaborao de classes Fundamentado

nesta concepo foram adotadas algumas medidas concernentes s polticas sociais

expressas em aes como a criao dos seguros sociais substitudos

gradativamente pelos institutos de previdncia social a criao da Legio Brasileira

de Assistncia(LBA) em 1942 no qual predominava o vis assistencialista mediante

a articulao de obras de caridade de cunho religioso atravs de aes realizadas

pelas primeiras-damas

Este contexto de expanso da urbanizao e industrializao do pas se

constituiu no momento de forte organizao dos operrios o que explica a

33 Vargas presidiu o pas de 1934 a 1945 Assumiu novamente a presidncia entre os anos de 1951 a 1954

66

preocupao do Estado em sistematizar a sua atuao no mbito da luta de classes a

partir do desenvolvimento de aes no campo social e trabalhista Com tal intento foi

criado o Ministrio do Trabalho em 1930 cujo objetivo consistia em amenizar as lutas

dos(as) trabalhadores(as) mediante atuao que procurou atrelar s entidades de

classe- como os sindicatos- esfera governamental

A ditadura militar instaurada em 1964 consistiu smbolo de opresso

autoritarismo e da utilizao das foras repressivas e coercitivas em detrimento das

experincias democrticas Momento caracterizado tambm pelo privilgio dos

interesses econmicos da elite brasileira associada aos anseios da burguesia

internacional Neste sentido uma das metas principais dos governos ditatoriais era

atrair capitais estrangeiros subordinando o pas aos ditames externos sobretudo dos

Estados Unidos

Marcado por autoritarismo e clientelismo a atuao do Estado tambm se

efetivara no enfrentamento das expresses da questo social Neste perodo foram

adotadas medidas como a centralizao dos institutos de previdncia social

ampliao de direitos previdencirios aos trabalhadores do campo criao do

Ministrio da Previdncia e Assistncia Social rgo que incorporou a LBA a

Fundao para o bem-estar do menor (FUNABEM) entre outros Para Behring e

Boschetti a poltica social no contexto da ditadura apesar de sua verificada ampliao

foi ldquoconduzida de forma tecnocrtica e conservadora reiterando uma dinmica singular

de expanso dos direitos sociais em meio restrio dos direitos civis e polticos

modernizando o aparato varguistardquo (2007 p135)

A crise do regime ditatorial j deflagrada no final dos anos 1970 com a

derrocada do milagre econmico foi impulsionada ainda pela (re)organizao de

diversos segmentos da sociedade brasileira na luta pelos seus interesses particulares

mas tambm pela defesa do Estado democrtico e de direito

esse contexto de crise econmica e efervescncia poltica que culmina

no terceiro momento identificado por Faleiros o da constituinte Conforme o autor a

Constituio de 1988 expressa a disputa entre segmentos populares organizados e

setores conservadores que se aglutinaram na ala tradicional do Congresso Nacional

denominada naquele perodo de centro e que tratou de defender os interesses

dominantes mediante postura de negao e oposio s presses por direitos sociais

Embora caracterizada de constituio cidad ela representa o conjunto de

foras contraditrias presentes na sociedade capitalista e na particularidade da

realidade brasileira Importante ressaltar tambm que nela se estabelece a

Seguridade Social constituda pelo direito universal a sade os direitos previdencirios

e a assistncia social como direito do cidado(a) e dever do Estado

67

Em relao seguridade social Boschetti(2008) salienta que um de seus

pilares consiste na estruturao com base na organizao social do trabalho e que

tanto nos pases europeus como na Amrica Latina e Caribe esto presente tanto a

lgica do seguro que predomina na esfera da Previdncia Social como a lgica da

assistncia esta que na realidade brasileira se expressa nas polticas de Sade e de

Assistncia Social

A Constituio ainda no seu artigo 205 ratifica a Educao como direito

de todos(as) e dever estatal bem como garante no artigo 207 a autonomia didtico-

cientfica administrativa de gesto financeira e patrimonial das universidades do

pas Tais instituies segundo o texto constitucional devem se pautar pelo princpio

bsico de indissociabilidade entre ensino pesquisa e extenso

A garantia legal desses direitos significa inegavelmente uma grande

conquista de setores populares entre eles do ME entretanto isso no garante a sua

real operacionalizao ou seja no proporciona o seu usufruto para a grande maioria

da populao brasileira Essa discrepncia j tomava consistncia nos idos de 1985

com o inicio da gesto Sarney34 que governou baseado numa poltica de conteno

de gastos com reduo e cortes de investimentos em setores como sade e

educao

Essa no identidade entre legalidade e operacionalidade se torna mais

crtica no ltimo momento explicitado por Faleiros qual seja o de domnio neoliberal

Segundo Behring(2003) o que tem ocorrido no Brasil dos anos 1990 aos

dias atuais um processo de conta-reforma do Estado que dificulta eou reorienta as

garantias preconizadas na Constituio de 1988 Para Iamamoto(2008) essa

perspectiva tem continuidade nos anos de gesto Lula que ao manter a mesma

poltica econmica da era FHC

consagra a ortodoxia econmica monetarista recomendada pelos organismos internacionais como a nica possvel s h ldquogesto responsvelrdquo com a poltica neoliberal que mantenha o ajuste fiscal duro o juro real elevado a poltica monetarista concentracionista o cmbio flutuante e a livre movimentao de capitais Essa mesma poltica [] o pressuposto dos programas sociais na tentativa de compensar o que est sendo agravado pela poltica econmica e pela ausncia de efetivas reformas(p36)

Portanto vivenciamos uma tendncia do Estado em minimizar a sua

atuao no campo das polticas sociais expresso que se confirma mediante a

mercantilizao em diversificados setores sade previdncia educao segurana

34 Sarney assumiu a Presidncia da Repblica no perodo de maro de 1985 a maro de 1990

68

entre outros Mas como ratificamos acima o Estado continua agindo no sentido de

atender as requisies para manuteno da sociabilidade do capital sendo possvel

apreender essa dimenso nos mais diversificados pases sejam de centro ou da

periferia do capital Tendncia que se confirma nesse momento de aprofundamento da

crise capitalista exemplo disso acontece aqui no Brasil O que dizer por exemplo

diante da afirmao do governo brasileiro ao se prontificar a destinar recursos para o

FMI num cenrio em que milhares de trabalhadores(as) no pas perdem o emprego e

conseqentemente a sua condio de subsistncia Preocupaes com os segmentos

do trabalho ou em no colocar em questionamento o prprio ente gerador da crise o

sistema capitalista

3-3 ldquoAS IDIAS DOMINANTES DE UMA POCA SEMPRE FORAM AS IDIAS DA

CLASSE DOMINANTErdquo perspectiva de educao em tempos neoliberais

A educao como poltica social diretamente afetada pela concretizao

das diretrizes neoliberais j que elas sinalizam a minimizao de investimentos estatal

na rea social como meio de reduzir gastos e ainda mais nessa conjuntura de crise

em que montantes de recursos em escala mundial so destinados para amenizar os

seus efeitos Mas amenizar danos para os capitalistas ou para os segmentos do

trabalho Importante enfatizar que a sociabilidade capitalista permeada por

interesses contraditrios resultantes dos prprios antagonismos intrnsecos a esse

modelo societrio que objetiva a obteno de superlucros mediante explorao e

dominao mesmo no contexto de radicalizao da barbrie

Nessa dimenso a educao tambm se configura como um importante

campo de disputa entre projetos diferenciados Logo podemos sinalizar a existncia

de projetos identificados com a defesa da educao como direito social universal e

instrumento imprescindvel na desconstruo de valores mercantis o que por sua vez

contribui na construo de valores sintonizados com outro modelo societrio E

antagonicamente de outros projetos que buscam transfigurar a esfera educacional em

mais um ramo lucrativo para o capital alm de procurar restringir tal setor a um tipo de

funcionalidade voltada ao atendimento das necessidades do mercado competitivo

direo fortalecida na era hegemnica do neoliberalismo afinal de contas

69

O acesso ao conhecimento cientifico e tcnico sempre teve importncia na luta competitiva mas tambm aqui podemos ver uma renovao de interesses e de nfase j que num mundo de rpidas mudanas e de sistemas de produo flexvel [] o conhecimento da ultima tcnica do mais novo produto da mais recente descoberta cientfica implica a possibilidade de alcanar uma importante vantagem competitiva O prprio saber se torna uma mercadoria-chave a ser produzida e vendida a quem pagar mais sob condies que so elas mesmas cada vez mais organizadas em bases competitivas (HARVYE 2006 P151)

Portanto alm do esforo exercido para mercantilizar a educao como

bem retrata Harvye no podemos desconsiderar a utilizao da rede educacional

institucionalizada pelos representantes do grande capital com vistas tambm a

formao de consensos que potencializam a dominao e manuteno do poder

vigente como explicita Mszaros (2005) na sua abordagem

Segundo este autor a educao formal ou institucionalizada sobretudo

nos ltimos 150 anos apresentou como funcionalidade no somente produzir os

conhecimentos e mo-de-obra imprescindvel ao processo de reproduo do capital

mas contribuiu efetivamente para a transmisso de valores que servem de suporte

e legitimidade aos interesses dominantes

Concordamos com Mszaros (2005) quando ratifica o direcionamento de

adequao da educao aos interesses mercantis entretanto destacamos nesse

debate o fato da sociabilidade capitalista ser atravessada nos seus mais diversos

mbitos pela contradio por conseguinte o desenvolvimento de processos

formativos sintonizados com o iderio de transformao societal tambm se coloca

como uma possibilidade real

Diante dessa problematizao importante destacar o pensamento de

Tonet (2007) segundo o qual a funcionalidade central da educao constitui a

apropriao de conhecimentos habilidades e valores produzidos e construdos no

decorrer da histria pelos indivduos singulares De tal modo que o ldquoacesso de todos

educao sistematizada portanto formal uma necessidade para que as pessoas

possam se apropriar do patrimnio do gnero humanordquo (TONET 2007 p5)

contudo essa apropriao no est descolada dos antagonismos sociais e assim

sendo recorrente que em uma sociedade de classes os interesses que

predominantemente estruturam a educao sejam tambm os anseios da classe

dominante Porm como j enfatizamos a contradio intrnseca a sociabilidade

burguesa e dessa forma com base nas formulaes de Tonet (2004) afirmamos

que a educao na perspectiva do trabalho se remete a defesa da apropriao do

patrimnio humano - artes direito filosofia etc - de forma ampla por parte de

70

todos(as) sujeitos sociais e histricos Em contrapartida na ptica do capital a

tendncia de limitar o acesso e a qualidade da educao pois seu objetivo ldquono

a realizao plena de todos os indivduos e pois do gnero humano mas a sua

prpria realizaordquo (p224)

Na realidade especfica do Brasil cada vez mais recorrente a reduo de

investimentos na rea social o que atinge tambm a educao alm disso se

intensificou nas ultimas dcadas a disponibilidade de todos os nveis da educao

formal para a esfera privada o que configura o domnio do mercado sobre esse

setor e isso representa inclusive a predominncia dos valores mercantis nos

processos formativos

Neste sentido observamos a partir de anlises como as realizadas por

Tonet (1998 2007) e Mszaros (2005) a necessidade de construo de uma

perspectiva crtica para a educao que no se limite em atender aos anseios de

reproduo dessa ordem societria ao contrrio que seja sintonizada com a luta na

busca da derrocada da gide do capital portanto uma verdadeira mediao para a

conquista da emancipao humana

Dessa forma preciso considerar que na poca de predominncia do

padro fordista-taylorista a esfera educacional apresentava majoritariamente o vis

informativo e limitado pois no necessitava de trabalhador(a) com habilidades

criativas em decorrncia da ntida separao entre planejadores e executores

caracterstica desse modelo produtivo A emergncia da flexibilidade no mundo do

trabalho reclama outro tipo de formao na qual

O trabalhador precisa aprender a pensar a resolver problemas novos e imprevistos precisa ter uma formao polivalente ou seja uma formao que lhe permita realizar tarefas diversas e alm disso a transitar com mais facilidade de um emprego a outro pois a estabilidade j no faz parte desta nova forma de produo (TONET 2007 10)

Alicerando-nos nas contribuies do autor verificamos que a educao

passa por complexas processualidades na contemporaneidade Nesse cenrio de

crise e mudanas estruturais ela necessita se readequar e gerar alternativas diante

dos novos padres e relaes sociais Analisamos que a readequao em larga

medida tem se pautado na tendncia de submeter atividade educativa ao vis

mercantilista

Diante do exposto que Tonet (2007) chama ateno para a difcil situao

que peculiariza a educao no momento atual Segundo ele a educao se encontra

em uma verdadeira encruzilhada visto que contribui para reproduo da sociabilidade

71

capitalista que no presente marcada pela radicalidade da barbrie ou contribui

para construo de outro sistema societrio Essa encruzilhada expressa os interesses

contraditrios existentes na sociedade do capital com particularidades nos complexos

sociais e aqui em especial na educao

Tonet(2004) analisa requisitos sintonizados com o desenvolvimento de

atividades educativas que vislumbrem a transformao social Desse modo

elencaremos os requisitos defendidos pelo autor com o objetivo de destacar a

necessidade de seu fortalecimento com vistas a potencializar projetos educacionais

negadoras da ordem estabelecida

O primeiro requisito concerne perspectiva de empreender nas atividades

educativas conhecimentos profundos e slidos da finalidade pretendida ou seja da

emancipao humana dimenso balizadora das prticas educativas cotidianas O

segundo se refere real necessidade de uma anlise crtica e radical da sociabilidade

capitalista ou seja compreenso ldquodas caractersticas essenciais da crise por que

passa esta sociabilidade das conseqncias que da advm para o processo de

autoconstruo humana da maneira como esta crise se manifesta nos diversos

campos da atividade humana [](TONET 2004 p 232) Outro requisito consiste no

conhecimento aprofundado do prprio campo da educao visto que esse tem suas

especificidades A quarta requisio tratado por Tonet se remete ao domnio dos

contedos inerentes a cada rea do saber como por exemplo podemos citar a

importncia do educador(a) ter domnio da rea prioritria na qual atua seja na

filosofia na sociologia no direito entre outras O ultimo requisito constitui a relevncia

da articulao da atividade educativa com o desenvolvimento das lutas empreendidas

pelos segmentos subalternizados o que favorece na materializao de aes

negadoras do projeto societrio capitalista

Reflexes crticas como as realizadas por Tonet e pelo prprio Mszaros

so importantes tambm para contribuir com o desvendamento das determinaes

que impossibilitam a materializao de uma educao formal libertadora no marco da

sociabilidade sob a gide do capital pois tal sistema se reproduz tendo como

essncia a perpetuao e ampliao das contradies que lhe so intrnsecas

Entretanto como apontado acima isso no significa negar a possibilidade

real de direcionar a educao por princpios eou requisitos sintonizados com a

construo de outra ordem devido aos prprios antagonismos inerentes a

sociabilidade capitalista De tal modo uma compreenso abrangente de educao

conforme o pensamento de Mszaros(2005) significa o entendimento de que o

processo de aprendizagem no se restringe a esfera institucional majoritariamente

utilizada pelo capital mas engloba todos os aspectos da nossa vida tornando-se

72

imprescindvel a interconexo dessas vivncias com a esfera formal A perspectiva de

construo de outra concepo educacional tambm sinalizada por Tonet na

seguinte assertiva ldquo evidente que uma educao voltada para a construo de uma

sociedade que tenha como horizonte a emancipao humana ter que ser norteada

por princpios e dever encontrar formas profundamente diferentes daquelas voltadas

para a reproduo da sociabilidade regida pelo capitalrdquo (1998 p10)

Diante do exposto temos o entendimento que o domnio burgus tambm

se faz presente na educao pois esta esfera sofre os rebatimentos da diviso da

sociedade em classes sociais decorrente dessa constatao histrica do

antagonismo de classes que a construo de atividades educativas e portanto de

formao profissional questionadora dessa ordem tambm uma possibilidade real

Assim concebemos que o projeto profissional que hegemonicamente direciona a

formao dos(as) assistentes sociais no Brasil se fundamenta numa perspectiva que

sem dvidas contribui para a anlise crtica da atual sociabilidade bem como

preconiza a defesa de construo de uma outra sociedade alicerada na verdadeira

emancipao de homens e mulheres Projeto de formao profissional que cada vez

mais se depara com obstculos para sua materializao tais como a insuficincia

das condies objetivas que dificulta a efetivao das diretrizes curriculares uma

realidade em todo pas alm de vivenciarmos um perodo de fortalecimento de

valores mercantis associada fragilidade da teoria social crtica no mbito da

educao o que configura assim uma conjuntura no favorvel para universalizao

desse projeto Entretanto a luta empreendida pelas entidades representativas do

Servio Social englobando a ao de segmentos de docentes e discentes ratifica o

compromisso preponderante dessa profisso com a construo e realizao de

atividades educativas emancipadoras

Assim apreendermos nesse estudo a sociabilidade capitalista como

espao de disputa e luta de classes e por conseguinte de perspectivas educacionais

diferenciadas e at mesmo contraditrias Desse modo a subordinao de uma

classe em relao outra no exercida somente com o uso da fora mas tambm

mediante a utilizao de diversos mecanismos entre eles as polticas sociais como a

educao que contribuem para que a classe dominante garanta a reproduo da fora

de trabalho e de sua condio de classe como tal

Destarte as mudanas pelas quais passa a sociabilidade capitalista no

momento presente e suas implicaes na relao do Estado com a sociedade

consiste requisito essencial para apreenso das determinaes que incidem sobre a

necessidade de reconfigurao nos espaos formais de qualificao e aprendizagem

Dessa forma faz-se necessrio considerar as alteraes no mbito da formao dos

73

segmentos do trabalho incluindo os(as)assistentes sociais o que por usa vez

contribui no desvelamento da direo social da ao dos sujeitos coletivos nesta

realidade histrica entre os quais o segmento estudantil

Diante do exposto entendemos que refletir sobre a contra-reforma do

ensino superior e seus impactos para o projeto de formao dos(as) assistentes

sociais e da direo social da ao poltica dos(as) estudantes nesta conjuntura

reclama consideraes relativas ascenso neoliberal no pas com sua respectiva

diretiva de ldquoreformarrdquo o Estado A abordagem potencializa a apreenso das

determinaes que incidem na readequao das instituies de ensino e a educao

superior a lgica conjuntural do mercado

74

O Que Foi Feito Deveraacute

O que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou

O que foi feito da vida o que foi feito do amor

Quisera encontrar aquele verso meninoQue escrevi haacute tantos anos atraacutes

Falo assim com saudade falo assim por saber

Se muito vale o jaacute feito mas vale o que seraacuteMas vale o que seraacute

E o que foi feito eacute precisoconhecer para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza falo por acreditar

Que eacute cobrando o que fomosque noacutes iremos crescer

Noacutes iremos crescer outros outubros viratildeo

Outras manhatildes plenas de sol e de luzAlertem todos alarmas

que o homem que eu era voltouA tribo toda reunida raccedilatildeo dividida ao solE nossa Vera Cruz

quando o descanso era luta pelo patildeoE aventura sem par

Quando o cansaccedilo era rio e rio qualquer dava peacute

E a cabeccedila rolava num gira-girar de amorE ateacute mesmo a feacute natildeo era cega nem nada

Era soacute nuvem no ceacuteu e raizHoje essa vida soacute cabe

na palma da minha paixatildeoDevera nunca se acabe abelha fazendo o seu mel

No pranto que criei nem vaacute dormir como pedra e esquecer

O que foi feito de noacutes

(Milton Nascimento)

75

IV UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

4-1 ldquoREFORMArdquo UNIVERSITRIA NO CONTEXTO DE CONTRA-REFORMA

DO ESTADO BRASILEIRO

Antes da discussatildeo sobre contra-reforma implementada pelo Estado

brasileiro tecemos algumas consideraccedilotildees sobre a constituiccedilatildeo da Universidade

nacional o que permitiu apreensatildeo da disputa de valores e projetos educacionais

diferenciados para esta instituiccedilatildeo tatildeo relevante para o desenvolvimento econocircmico

social poliacutetico e cultural do paiacutes

A universidade eacute recente no cenaacuterio nacional foi criada somente no final

dos anos 1920 e com processo de expansatildeo na deacutecada de 1930 em que recebeu

influecircncias do modelo de escolas superiores ateacute entatildeo majoritaacuterio no Brasil

Segundo Rocha(2004) as primeiras instituiccedilotildees de ensino superior no

Brasil foram criadas trecircs Seacuteculos apoacutes o descobrimento visto que o domiacutenio

portuguecircs se estendia tambeacutem nas esferas da educaccedilatildeo e cultura como forma de

manter o poder sob a colocircnia Foi com a chegada do reino portuguecircs em 1808 que

surgiram agraves primeiras escolas superiores inicialmente nos estados da Bahia e Rio de

Janeiro E tardiamente no periacuteodo republicano foram criadas as primeiras

universidades no Brasil em 1920 foi fundada a Universidade do Rio de Janeiro e em

1927 a Universidade de Minas Gerias ambas formadas a partir da aglutinaccedilatildeo de

escolas superiores jaacute existentes

Conforme as contribuiccedilotildees de Fernandes (1975) a universidade assumiu o

caraacuteter de um conglomerado de escolas superiores com suas respectivas fragilidades

quais sejam o pequeno nuacutemero de estudantes professores e funcionaacuterios a

supervalorizaccedilatildeo do ensino em detrimento da pesquisa quando defendemos que

ambas as atividades devem funcionar articuladamente aleacutem da centralizaccedilatildeo na

tomada de decisotildees sem levar em consideraccedilatildeo os (as) envolvidos (as) na construccedilatildeo

desse espaccedilo

Em 1930 eacute criado o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede sinalizando a

preocupaccedilatildeo do Estado nacional com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra num

cenaacuterio de crescimento e expansatildeo da industrializaccedilatildeo no paiacutes

Em 1934 foi fundada a Universidade de Satildeo Paulo e em 1935 a

Universidade do Distrito Federal criadas jaacute sob a influecircncia do modelo germacircnico-

humboldtiano que preconiza a indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensatildeo e

76

concebe a universidade como espao privilegiado na produo do conhecimento e de

desenvolvimento cultural35

Como destacado no segundo captulo desse trabalho em 1937 foi criada

a UNE Diante do exposto sinalizamos que a sua criao se processou concomitante

a estruturao e consolidao da universidade no pas o que demonstra que desde o

princpio o ME se constitui locus privilegiado de organizao e atuao dos(as)

universitrios(as)

Nesse sentido na dcada de 1940 o aumento de professores e de

estudantes nas instituies de ensino superior e a incluso da pesquisa nessa esfera

configuraram-se aspectos fundamentais na deflagrao da crise do modelo brasileiro

de escolas superiores predominantes nos interior das universidades brasileiras A

partir de ento temos a construo de uma perspectiva de universidade apreendida

como espao primordial na criao e produo de conhecimento Importante destacar

que nessas dcadas temos a expanso da urbanizao e industrializao no pas o

que requisita o desenvolvimento da cincia e da tcnica

Contudo uma perspectiva crtica de universidade encontrou forte

resistncia inclusive por parte do Estado que sob a vigncia do Estado Novo de

Vargas procurou adequar as instituies aos interesses dominantes

Temos a concepo que a misso da universidade no pode ser reduzida

a dimenso do ensino e desse modo se configurar em mera funcionalidade de formar

sujeitos para atuar em determinadas profisses como ocorreu no processo de

constituio dessa instituio nem to pouco de se remeter a promoo do

desenvolvimento cientfico e tecnolgico visando to somente a reproduo dessa

sociabilidade ela deve se constituir em um espao de construo da cultura cincia

tecnologia investigao cientifica nas mais variadas reas do conhecimento com a

prerrogativa de proporcionar o desenvolvimento da humanidade e no do capital

A educao superior e por conseguinte a universidade pblica como

importante necessidade social deve ser mantida pelo Estado objetivando a sua

garantia como direito No entanto isso se constitui um desafio a ser perseguido e tem

sido alvo de luta dos segmentos do trabalho e dos setores identificados com esse

iderio como historicamente se configura os(as) estudantes e suas entidades Pois no

decorrer da breve histria da universidade no Brasil alicerada no trip de ensino

pesquisa e extenso ela ameaada constantemente tendo em vista o esforo da

35 Em 1932 foi lanado o ldquoManifesto dos pioneiros da educaordquo elaborado por intelectuais brasileiros que reivindicavam uma atuao do Estado na garantia da educao e requisitavam para o ensino superior a criao de universidades caracterizadas pelo desenvolvimento de investigaes cientficas culturais e formaes de profissionais nas mais diversificadas reas de atuao Cf Rocha(2004)

77

classe dominante em diferentes conjunturas de construir medidas visando a sua

privatizaccedilatildeo com a transformaccedilatildeo do ensino superior numa mercadoria altamente

competitiva e lucrativa

Na deacutecada de 1950 Rocha(2004) aponta que sob a bandeira do

nacionalismo foi desencadeado o processo de federalizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de

ensino superiores estaduais e privadas caminho rejeitado nos anos de 1960 quando

se verifica a expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo superior brasileira

Essa tendecircncia foi amplamente reforccedilada na ditadura militar instaurada

com o golpe de 1964 dado o compromisso dos governos ditatoriais com o capital

tanto em niacutevel interno como externo nesta dimensatildeo vaacuterias accedilotildees foram efetivadas

de forma autoritaacuteria buscando adaptar as instituiccedilotildees ao modelo poliacutetico desenvolvido

pelo regime ditatorial

Podemos destacar como medidas viabilizadoras do enquadramento da

universidade brasileira agraves regras ditatoriais e a exploraccedilatildeo do capital a elaboraccedilatildeo dos

Relatoacuterios Meira Mattos e Atcon estes documentos traziam recomendaccedilotildees que

procuravam adequar as instituiccedilotildees agrave loacutegica mercantilista de formaccedilatildeo de matildeo-de-obra

para o mercado e ainda visavam controlar as reivindicaccedilotildees e manifestaccedilotildees

estudantis tatildeo recorrentes naquele periacuteodo

O relatoacuterio Meira Mattos pregava a repressatildeo a quaisquer protestos

realizados principalmente pelo ME por serem compreendidos pela ditadura como

subversivos a ordem vigente enquanto o Relatoacuterio Atcon recomendava a efetivaccedilatildeo

de mudanccedilas na estrutura administrativa das universidades brasileiras as quais

deveriam se fundamentar na concepccedilatildeo empresarial de eficiecircncia e rentabilidade os

documentos assinalados constituiacuteram a base de fundamentaccedilatildeo da reforma

universitaacuteria de 1968 Cavalcante fundamentando-se em Faacuteveo(1991) assinala que

Esta reforma universitaacuteria introduziu mudanccedilas significativas na organizaccedilatildeo e funcionalidade das universidades no Brasil ao mesmo tempo em que incorporou algumas reivindicaccedilotildees da comunidade acadecircmica com o objetivo de abrandar as manifestaccedilotildees no seu interior como o regime integral para professores possibilitou o fortalecimento da loacutegica empresarial nas instituiccedilotildees de ensino superior ao estabelecer a garantia de participaccedilatildeo na administraccedilatildeo universitaacuteria de pessoas como experiecircncia na aacuterea dos negoacutecios corroborando com a perspectiva de dicotomia entre planejadores e executores e de entrega da universidade a administraccedilatildeo em moldes empresariais( CAVALCANTE 2007 p6)

A reforma universitaacuteria de 1968 foi orientada tambeacutem pelos acordos MEC-

USAID estabelecido entre Brasil e Estados Unidos cujo objetivo era transformar a

78

universidade brasileira visando ldquoa eficincia modernizao a flexibilidade

administrativa e formao de recursos humanos de alto nvel para o

desenvolvimento do pasrdquo (LAMPERT 2004 p77)

O trmino da ditadura militar no representou o inicio de um compromisso

com a universidade pblica por parte do governo Sarney pois a sua gesto tratou de

preservar os interesses dominantes e como esclarece Ramos(1996 p57) ele

ldquoelaborou o documento ldquoEducao Para Todos - caminho para mudanardquo no qual se

denota a preocupao com o ensino bsico sem se analisar entretanto o ensino

superiorrdquo

A realidade de descaso com as universidades pblicas continuou nos

governos subseqentes estimulada pela ideologia neoliberal de transfigurao da

rea educacional em mais um ramo lucrativo para o mercado de negcios

culminando dessa forma no crescimento acelerado da iniciativa privada e na reduo

de investimentos no setor pblico o que contribui para um cenrio verdadeiramente

crtico como veremos adiante

A reforma do Estado se colocou como demanda real no final da dcada de

1980 para as diferentes foras sociais e polticas da sociedade brasileira Essa

necessidade se explica pela seguinte constatao ldquoao mesmo tempo em que

tnhamos no plano jurdico-poltico a constituio mais avanada [] o aparelho de

Estado continuava funcionando e mais do que isso continuava articulado ao projeto

poltico-econmico da ditadurardquo (NETTO 2004 p 12)

Trata-se portanto naquele perodo da tcita existncia de um consenso

entre distintas foras sociais e polticas em torno da real necessidade de reformar o

Estado nacional

Essa concepo se estabelece j no contexto de consolidao neoliberal

nos pases de capitalismo avanado o que demonstra o lapso entre o centro e a

periferia do capital

Entretanto enquanto as foras populares se colocaram na perspectiva de

reformar o Estado em seu real sentido ou seja com o objetivo de efetivar direitos a

partir da operacionalidade das conquistas estabelecidas na Constituio de 1988 a

burguesia nacional se colocou em sentido contrrio pois se pautou na defesa de

adequar as estruturas nacionais nova ordem do capital na sua verso neoliberal Foi

esta fora social e poltica que se tornou hegemnica e tomou a direo estatal nos

anos 1990 no Brasil

Assim sinalizamos o governo de Fernando Collor de Melo(1990-1992)

como precursor das primeiras medidas de reformar o Estado em sentido oposto ou

seja de materializar aes que se constituram como o incio de uma contra-reforma

79

caracterizada pela perda e natildeo pelo ganho de direitos Behring (2003 p) assinala que

este governo tratou de adequar o paiacutes ao reordenamento do capital mundial

Contudo foi na era FHC (1995-2002) que as concepccedilotildees neoliberais

comeccedilaram a ser efetivadas de forma mais intensa expressatildeo dessa assertiva satildeo as

reformas do Estado manifestadas na poliacutetica de privatizaccedilotildees aleacutem do verdadeiro

esfacelamento das poliacuteticas sociais

Netto(2004) identifica FHC como o governante dos banqueiros e que seu

primeiro mandato apresentou como objetivo preciacutepuo adequar a inserccedilatildeo nacional

aos anseios do capital mundial

A anaacutelise realizada por Behring(2003) demonstra que a formaccedilatildeo social

brasileira eacute caracterizada por traccedilos como paternalismo e heteronomia que

contribuem para intensificar a concentraccedilatildeo da riqueza produzida e da dependecircncia do

paiacutes em relaccedilatildeo agraves orientaccedilotildees que representam o capital internacional

Para garantir a inserccedilatildeo subordinada do paiacutes no circuito mundializado do

capital na deacutecada de 1990 FHC governou com o propoacutesito de executar segundo

concepccedilatildeo de Netto(2004) trecircs tarefas baacutesicas dirimir as resistecircncias contraacuterias ao

direcionamento adotado na sua gestatildeo utilizando para este fim tanto a forccedila como a

construccedilatildeo de consensos A formaccedilatildeo de consensos se deu na dimensatildeo de satanizar

o aparelho do Estado a defesa ideoloacutegica de globalizar o paiacutes aleacutem da tendecircncia de

privilegiar o privado e desqualificar o puacuteblico A segunda tarefa consistiu na

prerrogativa de sucumbir o aparato legal oposto ao receituaacuterio neoliberal nesse caso

o alvo principal constitui-se a Constituiccedilatildeo de 1988 como foi ressaltado esta carta

representou grande avanccedilo juriacutedico especialmente no tocante ao item que trata dos

direitos sociais A uacuteltima tarefa estreitamente articulada agraves demais se referiu a

demanda de promover accedilotildees que editadas a partir de medidas provisoacuterias

regulamentaccedilotildees entre outros aparatos promovessem mudanccedilas substanciais na

estrutura do Estado nacional Diante do exposto tem-se a poliacutetica de ajuste fiscal

materializada com um plano de estabilizaccedilatildeo da moeda e a continuidade da poliacutetica de

privatizaccedilatildeo

Nesses termos a contra-reforma do Estado delineada por FHC se

apresentou em total sintonia com a tendecircncia do capital mundial de promover um

verdadeiro enxugamento das suas accedilotildees no campo social e de valorizar o privado

como referecircncia na execuccedilatildeo de serviccedilos que na uacuteltima carta constitucional se

constituem em direitos Essa direccedilatildeo se manifestou de maneira niacutetida na educaccedilatildeo e

em especial no ensino superior Pois em sintonia com as recomendaccedilotildees das

agecircncias multilaterais a universidade puacuteblica oferece

80

ensino de melhor qualidade que as universidades privadas Todavia estas regidas por critrios empresariais so tidas como a referncia organizacional Consideradas mas geis eficientes financeiramente equilibradas apresentam maior diferenciao institucional e menor ndices de conflitos e tenses polticas (IAMAMOTO 2004 p40)

Considerando as anlises de Siqueira (2004) o Banco Mundial(BM) passou

a intervir na rea educacional na dcada de 1960 tendo como alvo preferencial as

modalidades de ensino tcnico-vocacional e superior visto que naquele perodo

esses nveis eram concebidos como prioritrios para o desenvolvimento das foras

produtivas

Nos anos 1980 o BM financiou diversas pesquisas sobretudo em pases

do continente africano com o intuito de intensificar sua interferncia na educao em

escala mundial Os estudos realizados pelo rgo enfatizavam o ensino superior como

oneroso para a administrao pblica alm de argumentar que ele privilegiava as

camadas mais favorecidas assim as recomendaes eram no sentido de priorizar os

investimentos pblicos majoritariamente no ensino fundamental

Ainda seguindo as contribuies de Siqueira com a derrubada do muro de

Berlim associado fragilidade do Estado de bem estar social ou provedor como por

ela denominado o BM passou a intervir de maneira mais incisiva no ensino superior

apresentando como objetivo instituir um modelo de gesto caracterizado pela

eficincia e procurando abrir tal espao para a iniciativa privada Logo no comeo do

novo sculo entendido como a ldquosociedade do conhecimentordquo a educao superior

compreendida pelo BM como uma ldquorea de negciosrdquo a qual deve ser dirigida ldquopelo

setor privado internacional e grandes firmas nacionais a ele associados que estariam

prontos para vender seus pacotes educacionais consultorias equipamentos etcrdquo

(SIQUEIRA 2004 p50)

Essa interveno no campo educacional revela o processo de expanso

da explorao e domnio do capital em setores diversificados na busca ilimitada por

lucros A educao como mercadoria e sua adequao vislumbrando somente a

formao de mo-de-obra ldquoqualificadardquo para o mercado significa mais do que a perda

de direitos pois minimiza processos formativos crticos o que por sua vez corrobora

com a formao de profissionais identificados(as) com a preservao do status quo

Orientados por tais argumentos os rebatimentos da poltica neoliberal no

ensino superior na vigncia de FHC no comando do executivo nacional podem ser

constatados a partir das problemticas levantadas na passagem seguinte

81

As universidades federais passaram a viver uma situao de indigncia com cortes de energia eltrica telefone gua despensa das empresas terceirizadas responsveis pela limpeza sem falar nos aspectos didticos-cientficos prejudicados pela deficincia de bibliotecas laboratrios salas de aula e falta de computadores e outros equipamentos necessrios para esse fim (MAUS 2004 p22)

Foi durante a gesto de FHC que em 1996 tivemos a aprovao da Lei de

Diretrizes e Bases (LDB) para educao que segundo Netto (2004) em sintonia com

as demandas do mercado consistiu em amparo legal para expanso do setor privado

e desqualificao da universidade pblica sobretudo a partir da apreenso da

autonomia universitria limitada a dimenso gerencial e financeira Alm disso

Iamamoto (2004) sinaliza mecanismos da referida lei que privilegiou a criao de

cursos de curta durao em nvel superior secundarizando a qualidade entre os quais

se encontram os seqenciais36 e os mestrados profissionalizantes37 Para o Sindicato

da Associao Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES) a situao da

universidade pblica na dcada de 1990 apresentava a progressiva tendncia de

desresponsabilizao do Estado com sua manuteno Descaso que se verificou na

submisso da

Universidade lgica imediatista empresarial seja pela gesto direta de uma rede de ensino responsvel hoje por um percentual irrisrio de aproximadamente 22 das matriculas dos cursos de graduao seja pelo controle e direcionamento de boa parte da pesquisa cientfica e tecnolgica produzida no pas a poltica governamental brasileira vem descaracterizando a universidade enquanto instituio de carter pblico e despojando-a portanto de sua condio de instituio a servio da populao brasileira (ANDES 1996 p20)

O quadro abordado preocupante pois ao mesmo tempo em que

incentiva a abertura indiscriminada de instituies privadas muitas das quais se

restringindo a autnticas fbricas de diplomas desqualifica as universidades pblicas

to necessrias para o desenvolvimento do pas a partir de sua democratizao e da

valorizao deste espao como referencial na produo e socializao do

conhecimento Assim os rebatimentos da destruio eou readequao da

36 Iamamoto 2004 classifica tais cursos como um processo de ldquoaligeiramento da formao- para responder de maneira mais imediata s demandas emergentes decorrentes das rpidas transformaes que vm se operando nesse mercadordquo (2004 p54) 37 Para Iamamoto (2004) so mestrados mais baratos e autofinanciados ldquocom retorno rpido uma vez que pode ser concludo em apenas um ano Favorece a integrao universidade e mercado reforando o papel que vem sendo atribudo a essa instituio enquanto formadorade mo-de-obra para atender s mutantes necessidades da produo no seu mais amplo espectrordquo (p59)

82

universidade pblica aos interesses mercantis atinge no somente o espao restrito

da academia mas a populao de forma abrangente pois esta instituio se

caracteriza pela produo cultural realizaes de investigaes cientficas que

contribuem para o desenvolvimento tecnolgico econmico poltico cultural e social

da nao alm de formar profissionais que atuam em diversificados ramos de

atividades requisitados nesta sociabilidade

Tal realidade no diferente no decorrer das duas gestes de Luis Incio

Lula da Silva com incio em 2003 e vigente at os dias atuais que se pautam numa

perspectiva de aceitao das orientaes do capital internacional na verso

neoliberal

Salles (2006) salienta que o PT foi fundado em 1980 com o intuito de se

constituir no representante partidrio dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as)

configurando-se dessa maneira em um partido caracterizado poltica e

ideologicamente pela negao do sistema vigente portanto pela recusa das relaes

de explorao dominao autoritarismo e privilgios que marcam a trajetria histrica

do pas Entretanto segundo o seu pensamento o PT com o propsito de chegar

presidncia da repblica elaborou um projeto que foi negociado com polticos de

diversos matizes inclusive de centro esquerda e direita Assim um dos

desdobramentos dessa aliana que o ldquogoverno Lula [] optou por fazer as reformas

diante das quais o governo anterior recuou ou no teve a legitimidade suficiente para

faz-lasrdquo (SALLES 2006 p32)

Em consonncia com esse direcionamento de anlise Lima (2004) ratifica

o processo de aliana do PT com representantes do capital financeiro e sinaliza essa

expresso em quatro dimenses a extino das referncias do socialismo como

princpios do partido a burocratizao em decorrncia da ampliao de funcionrios

em substituio aos militantes de base minimizao das lutas dos trabalhadores(as)

com vistas obteno de cargos conseguida mediante construo de acordos com a

burguesia e ainda se manifesta pelo aprofundamento da concretizao das

concepes neoliberais no pas evidenciadas no favorecimento dos interesses dos

organismos do capital globalizado durante os anos do governo Lula

Dias(2006) assinala que o governo de Lula da Silva se caracteriza pela

materializao de uma poltica de continuidade do governo anterior Atua desse modo

em conformidade com as orientaes neoliberais aderidas por FHC Outro importante

aspecto consiste na sua prtica poltica de desqualificar as organizaes dos

segmentos do trabalho Nesse contexto de desqualificao que se potencializa

tambm a fragilidade das aes desses sujeitos coletivos passando a atuar muito

mais numa perspectiva de colaborar com a institucionalidade em vez de assumir

83

posturas de combatividade e reivindicaes Ao passo que contraditoriamente se

verifica a ampla valorizao do governo Lula em relao atuao das ONG que

embora denominadas de no governamentais sobrevivem com recursos oriundos das

diversas esferas do Estado alm dos montantes recebidos de instituies que

explicitamente representam os interesses do capital A explanao seguinte

demonstra a contradio vivenciada na poltica brasileira de hoje j que o ex-operrio

que ocupa a presidncia ldquodesempenha o papel articulador nos marcos do territrio

brasileiro do bloco de poder comandado pela burguesia financeira internacionalrdquo

(DIAS 2006 p 2000)

Nesse sentido constata-se que o governo petista do ex-operrio Lula se

caracteriza pela recusa do projeto de transformao societal e tenta criar um cenrio

que mostre que a continuidade econmica e poltica das diretivas do capitalismo

neoliberal mais do que necessrias so naturais uma tendncia de mascarar de

diversas formas a existncia de conflitos e interesses antagnicos Prtica poltica que

descaracteriza o protagonismo de sindicatos MS afinal seno existem interesses

contraditrios qual a funcionalidades desses sujeitos coletivos Corroborar com bom

desenvolvimento desta sociabilidade Tudo indica que esse o caminho at o

presente momento que vem sendo seguindo por alguns MS e suas entidades

organizativas

Essa direo poltica se apresenta por exemplo no uso indiscriminado de

medidas provisrias que dado o carter de urgncia das matrias votadas no

legislativo minimiza a possibilidade de debates e desenvolvimento de aes de

segmentos da sociedade que rejeitem e se contraponham s medidas encaminhadas

pelo governo sucumbindo dessa maneira a construo da democracia e o

protagonismo dos sujeitos coletivos

Sem dvida a chegada de Lula presidncia representou o

descontentamento da grande maioria da populao brasileira com a situao de

pauperizao e perdas de direitos reinante na era FHC contudo as suas gestes so

marcadas pela continuao da implementao das diretrizes neoliberais pautadas na

destruio das conquistas dos segmentos do trabalho Como aborda Carvalho entre

os condutores da reordenao do Brasil ao capital internacional na sua verso

neoliberal esto

O socilogo considerado referncia na construo de um pensamento progressista qui de esquerda nas anlises da sociologia poltica [] e um lder poltico de esquerda urdido nas lutas sindicais que ascende ao poder por proclamao popular encarnando a esperana de ruptura com os rumos neoliberais (CARVALHO 2006 p124)

84

Ainda nos baseando nas elaboraes de Carvalho (2006) entende-se que

o iderio neoliberal comea a materializar-se no Brasil no momento de construo do

Estado democrtico dessa maneira observamos um processo contraditrio de

instituio de um Estado ajustador e reducionista na rea social no cenrio da

democratizao poltica Portanto mais uma vez constata-se que a emancipao

poltica importante todavia somente a emancipao humana capaz de libertar os

homens e mulheres de sua condio de explorados(as) e dominado(as) pelo capital

nessa relao contraditria que se encontra a agudizao da educao

superior pblica no Brasil que respaldada na Carta Constitucional de 1988 como

direito de cidadania e dever estatal na atual conjuntura atravessa um forte processo

de privatizao e desqualificao Tendncia que se coloca para atender as demandas

da produo reestruturada e de obteno de lucros mediante sua mercantilizao

para o grande capital financeiro Expresso dessa assertiva constitui-se a atual contra-

reforma do ensino superior do governo Lula

4-2 CONTRA-REFORMA DO ENSINO SUPERIOR DO GOVERNO LULA exaltao

do privado e desqualificao do pblico

Na educao a continuidade da poltica neoliberal se materializa com a

contra-reforma do ensino superior que vem sendo concretizada de maneira

fragmentada visando a desresponsabilizao do Estado com este nvel da educao

A contra-reforma est em consonncia com as orientaes deliberadas pelos

organismos representantes do grande capital como o Fundo Monetrio Internacional

(FMI) e a OMC pois conforme a perspectiva de tais agentes o ensino superior

compreendido

Como uma mercadoria que deve ser suprida por entidades privadas que disputaro entre si o maior nmero de consumidores possvel o foco central e talvez nico da formao do aluno universitrio passa a ser a preparao para o mercado de trabalho desprezando-se a teoria e o ldquoaprender a aprenderrdquo e enfatizando o domnio de tcnicas transformando a universidade em um ensino de 3 grau [] situada dentro da proposta do neoliberalismo supe que o governo no deve ser o articulador da poltica educacional mas que deve deix-la a merc da regulao da competio entre os investidores privados(OLIVEIRA COSTA MALAFAIA 2004 p55)

85

Afinal de contas ainda em fevereiro de 2003 no incio do governo Lula o

ento ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central respectivamente Palocci

Filho e Henrique Meirelles enviaram conjuntamente documentos ao FMI agente do

grande capital internacional confirmando a realizao de esforos com o objetivo de

manuteno do ajuste fiscal e da materializao de reformas estruturais propostas por

tal organismo

Tambm em 2003 o primeiro ministro da educao do governo Lula o

senador Cristvo Buarque assinalou no texto ldquoa universidade numa encruzilhadardquo a

necessidade de mudanas substanciais para a universidade pblica no pas A

encruzilhada representa para ele a opo dessa instituio continuar se

fundamentando na modernidade tcnica ou direcionar sua funcionalidade para a

modernidade tica na qual o conhecimento seja submetido a valores ticos

identificados com a defesa de semelhana entre os indivduos e com a efetiva

perspectiva de proporcionar ao conjunto da sociedade os resultados do progresso

cientfico e tecnolgico possvel garantir essa socializao num contexto societrio

caracterizado pela apropriao privada inclusive do conhecimento produzido pela

humanidade

Concordamos com Buarque que a universidade vivencia uma situao de

crise Essa realidade se verifica no somente no campo restrito do ensino superior

mas perpassa todo o universo da educao Entretanto entendemos que o real dilema

da educao consiste no que evidencia Tonet(2007) contribuir para a reproduo da

sociabilidade capitalista marcada cada vez mais pela barbrie ou contribuir com a

construo de uma sociedade alternativa

Algumas reflexes surgem nesse mbito como podemos pensar que

mudanas endgenas ocorridas no espao universitrio garantiro o futuro de seus

estudantes Como refletir sobre a derrocada da desigualdade social sem considerar o

fim do modelo societrio capitalista que subjaz processos de desigualdades Afinal

como o prprio Buarque ratifica ldquoo produto dos avanos cientficos e tecnolgicos das

universidades foi posto a servio de minorias privilegiadas tambm em outras reas O

uso e consumo desses conhecimentos tambm ficaram restritos s elites minoritriasrdquo

(2003 p 13) Esse esclarecimento no expressa uma dimenso das diferenas e

antagonismos de classes inerentes ao capitalismo

Para o ento ministro da educao a universidade deveria ser refundada

como meio de atingir seus verdadeiros propsitos e deixar de se constituir em uma

instituio a servio de uma parcela reduzida da populao Entre as iniciativas

indicadas pelo governo Lula para o sistema universitrio brasileiro se encontravam

regulao de transferncia que permita ao estudante trocar de instituio com

86

agilidade ampliaccedilatildeo de vagas com a utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia criaccedilatildeo de cotas

para grupos eacutetnicos flexibilizaccedilatildeo dos cursos necessidade de outras fontes de

financiamentos seja de ordem puacuteblica eou privada estabelecimento de avaliaccedilatildeo para

todas as instituiccedilotildees voltada para identificaccedilatildeo de suas qualidades e fragilidades com

vistas a melhorar o desempenho na sociedade brasileira

Embora apresentando importantes anaacutelises sobre a universidade puacuteblica

entendemos que parte significativa das indicaccedilotildees observadas por Buarque constituiu

a base de fundamentaccedilatildeo para a contra-reforma que refunda eou reestrutura a

universidade em conformidade com as requisiccedilotildees das agecircncias que representam os

interesses do capital

Assim para melhor problematizarmos a atuaccedilatildeo do ME e em especial do

MESS no atual cenaacuterio de desmoronamento da educaccedilatildeo superior puacuteblica faz-se

necessaacuterio algumas consideraccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo do governo a partir de reflexotildees

sobre as medidas situadas no campo da contra-reforma do ensino superior com a

perspectiva de apreendermos os rebatimentos das medidas materializadas para a

formaccedilatildeo profissional dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) bem como dos

desafios colocados para o segmento estudantil em tal cenaacuterio

Entre as iniciativas adotadas no contexto da contra-reforma destacamos

inicialmente o Programa Universidade para Todos (PROUNI) que estabelece a

destinaccedilatildeo de vagas para estudantes considerados de baixa renda em instituiccedilotildees

particulares mediante troca por isenccedilatildeo fiscal Os dados do MEC destacam que de

2005 a 200938 foram distribuiacutedas 887445 bolsas do PROUNI Desse total 520855 de

caraacuteter integral e 366590 parcial O dinheiro que deixou de ser arrecadado pela

isenccedilatildeo de fiscal em troca dessas vagas poderia ser investido nas instituiccedilotildees

puacuteblicas proporcionando desse modo melhorias nas condiccedilotildees de trabalho de

docentes e teacutecnicos-administrativos e de aprendizado para os(as) discentes aleacutem de

contribuir para a expansatildeo de vagas nos espaccedilos de formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo puacuteblica

ou seja o PROUNI constitui-se num excelente mecanismo de desvio de recursos de

origem puacuteblica para o setor privado fortalecendo ainda mais a dimensatildeo de

mercantilizaccedilatildeo do ensino

Essa tendecircncia gradual de mercantilizaccedilatildeo se torna expliacutecita quando

analisamos alguns dados do censo de 2007 do ensino superior Eles mostram como a

educaccedilatildeo tem se constituiacutedo em aacuterea de investimento e rentabilidade para o capital

38 Dados disponiacuteveis no site httpsiteprounimecgovbrimagesarquivospdfRepresentacoes_graficasbolsas_ofertadas_anopdf

87

Das 2281 instituiccedilotildees que oferecem essa modalidade de ensino 2032 satildeo privadas

ou seja se tem nesse universo o piacutefio nuacutemero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas

Graacutefico 1Natureza das Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil

249 11

203289

PuacuteblicaPrivada

Fonte INEP 2009

Os nuacutemeros socializados no graacutefico 1 natildeo deixam duacutevidas sobre a

acelerada busca de rentabilidade na educaccedilatildeo superior pois se tem a confirmaccedilatildeo

que aproximadamente 90 das instituiccedilotildees nesse niacutevel de ensino se concentram na

aacuterea privada Portanto natildeo eacute possiacutevel deslocar essa expressiva quantidade da

dimensatildeo de qualidade satildeo esferas distintas mais integrantes desse mesmo

processo Assim sendo sinalizamos preocupaccedilotildees com o ensino disponibilizado em

termos de qualidade e ainda por preponderantemente estarem sob domiacutenio direto

da administraccedilatildeo que visa o lucro imediato a propensatildeo de assimilaccedilatildeo poliacutetica e

ideoloacutegica dos valores dominantes na sociabilidade capitalista se constitui uma

tendecircncia real Retomando as contribuiccedilotildees de Tonet(2004) a educaccedilatildeo sob a oacutetica

do capital tem a perspectiva de garantir condiccedilotildees para sua preservaccedilatildeo e natildeo

contribuir para o desenvolvimento pleno de todos os indiviacuteduos

Segundo o censo de 2007 das 2032 instituiccedilotildees privadas somente 87

consistem em universidades caracterizadas pela indissociabilidade entre ensino

pesquisa e extensatildeo os demais espaccedilos constituem-se em centros universitaacuterios

faculdades integradas faculdades escolas e institutos Entretanto desse reduzido

numero de 249 instituiccedilotildees puacuteblicas 96 satildeo universidades

88

Graacutefico 2Tipo de Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Privadas

1945 96

87 4

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP 2OO9

A partir dos dados do graacutefico de nordm2 assinalamos que a exploraccedilatildeo do

capital na educaccedilatildeo visa sobretudo o lucro imediato visto que de 96 das intuiccedilotildees

privadas natildeo satildeo universidade que requer investimentos em pesquisa e extensatildeo

Daiacute poderiacuteamos afirmar que o ensino se constitui o alvo prioritaacuterio das investidas do

capital na aacuterea da educaccedilatildeo Contudo cada vez mais eacute recorrente o desenvolvimento

de pesquisas nas universidades puacuteblicas sendo os seus resultados utilizados

diretamente pelos setores dominantes com objetivos de aumentar a competitividade e

rentabilidade de suas empresas demonstrando que os benefiacutecios adquiridos pelo

avanccedilo da ciecircncia satildeo socializados e usufruiacutedos de forma desigual pelos sujeitos

nesta forma de sociabilidade caracterizada pela divisatildeo de classes Para Castro(2008

p247)

A tendecircncia mundial de crescente privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo comeccedila gradualmente no Brasil a minar o caraacuteter puacuteblico das universidades federais e estaduais na medida em que os governos cortamou reduzem o repasse de verbas forccedilando-as a adotarem formas alternativas de captaccedilatildeo de recursos em parte articulada ao setor privado

89

Graacutefico 3

Instituiccedilotildees de Ensino Superior Puacuteblicas

15361

96 39

IES natildeo universitaacuterias IES universitaacuterias

Fonte INEP (2009)

Constatamos uma grande diferenccedila entre a quantidade de instituiccedilotildees

privadas e puacuteblicas como ficou evidenciado no graacutefico de nordm 1 Entretanto analisando

conjuntamente os dados dos graacuteficos 2 e 3 temos a conclusatildeo que apesar do grande

nuacutemero de instituiccedilotildees privadas as universidades estatildeo majoritariamente na aacuterea

puacuteblica levando-nos a ratificar a sua relevacircncia para o desenvolvimento do paiacutes

mediante a oferta de um ensino mais qualificado associando as esferas de pesquisa e

extensatildeo Desse modo a luta em favor da universidade puacuteblica no Brasil

historicamente protagonizada por estudantes se configura como uma defesa que

ultrapassa os proacuteprios limites e interesses institucionais

Menezes(2000) analisa que existe uma verdadeira intenccedilatildeo de se negar as

diferenccedilas entre as diversificadas instituiccedilotildees colocando-as todas no mesmo patamar

Essa falsa identidade conceitual potencializa a accedilatildeo daqueles que por motivaccedilotildees

econocircmicas eou poliacuteticas insistem na derrocada da universidade puacuteblica visto que

A equivocada identificaccedilatildeo entre universidade e ensino superior [] dificulta entre noacutes a compreensatildeo da dimensatildeo da questatildeo da universidade puacuteblica e de sua destruiccedilatildeo Para alguns a destruiccedilatildeo se restringe ao fim de determinados regimes funcionais para outros a preocupaccedilatildeo eacute a eliminaccedilatildeo da gratuidade do ensino superior por sua vez defendida por outros ainda para a completa liberaccedilatildeo de um mercado educacional bilionaacuterio (MENEZES 2000 p 10)

Nesses termos se verifica um pequeno nuacutemero de universidades em meio

agrave expressiva quantidade de outras instituiccedilotildees sobretudo no acircmbito privado

evidenciando que de modo abrangente as preocupaccedilotildees desse setor se voltam para

90

os lucros adquiridos com a venda do ensino pois de forma majoritaacuteria natildeo investem

no desenvolvimento de pesquisa e tampouco na materializaccedilatildeo de projetos de

extensatildeo Logo a confusatildeo intencionalmente promovida como foi destacado por

Menezes acaba por apresentar tais espaccedilos para a maioria da populaccedilatildeo com o

mesmo status e importacircncia das universidades quando na realidade desempenham

atividades e funcionalidades diferentes

Satildeo importantes as contribuiccedilotildees de Saviani (2005) relacionadas agrave

discussatildeo sobre o puacuteblico e privado como categorias de anaacutelise na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira O autor salienta alguns equiacutevocos que perpassam esse debate

como a defesa de manutenccedilatildeo da tutela educacional por parte do Estado pois

segundo ele eacute necessaacuterio libertaacute-la

Libertar a educaccedilatildeo da tutela estatal significa ratificar a concepccedilatildeo de

direcionamento de classe presente na atuaccedilatildeo do Estado cuja serventia contribui pra

preservaccedilatildeo do status quo entretanto como ressalta Saviani a retirada da tutela natildeo

Devia ser confundida com a liberaccedilatildeo do Estado dos encargos educacionais sobreonerando a populaccedilatildeo [] trata-se pois de inverter esta tendecircncia exigindo que o Estado assuma plenamente os encargos que garantam as melhores condiccedilotildees de funcionamentos da rede de escolas puacuteblicas E isto seraacute viaacutevel na medida em que as organizaccedilotildees populares exerccedilam severo controle sobre a educaccedilatildeo em geral e principalmente nas escolas mantidas pelo Estado (2005 p174)

A preocupaccedilatildeo do autor eacute significativa na perspectiva de que cada vez

mais o Estado controla a educaccedilatildeo no intuito de atender as necessidades do

mercado em detrimento dos interesses sociais da maioria da populaccedilatildeo explorada e

oprimida Vejamos a adoccedilatildeo do PROUNI representa a tendecircncia de reduzir

investimentos na esfera puacuteblica e o consequumlente fortalecimento da iniciativa privada

Mais do que isso garante a inserccedilatildeo de estudantes em instituiccedilotildees particulares

preocupadas majoritariamente com a obtenccedilatildeo de lucros e natildeo com a formaccedilatildeo

propriamente dita Reflitamos quantos estudantes deixam de frequumlentar as aulas nas

escolas privadas por falta de pagamentos A expansatildeo do setor privado na educaccedilatildeo

se processa por preocupaccedilotildees com o desenvolvimento espiritual da humanidade ou

majoritariamente por interesses rentaacuteveis

Nesse sentido eacute importante explicitar o pensamento de Sanfelice quando

o mesmo esclarece que

91

A escola estatal no necessariamente pblica quando tomamos o adjetivo pblico na forma de qualificao daquilo que pertence a um povo a uma coletividade que comum aberto a quaisquer pessoas que no tem carter secreto manifesto e transparente (2005 p179)

Nas condies ressaltadas pelo autor fica evidenciada mais uma vez a

impossibilidade de construo de uma rede educacional formal verdadeiramente

pblica nos marcos da sociedade capitalista pois a mesma apresenta como um dos

seus fundamentos a perpetuao das desigualdades e de interesses individuais e do

capital em detrimento das necessidades reais da populao Porm a escola pblica

contribui para atender em maior escala os anseios da coletividade nessa forma de

sociabilidade se levamos em considerao entre outras dimenses que a educao

dominada pelo setor privado visa especialmente formao de fora de trabalho

para o mercado secundarizando as verdadeiras necessidades humanas alm disso

transforma um direito em servio na procura excessiva por lucros Destarte podemos

perceber que a relao pblico-privado na esfera da educao perpassada por

intensas contradies que so vinculadas s relaes antagnicas que particularizam

o modelo societrio capitalista

Buff (2005) discorrendo sobre a relao pblico e privado na educao

afirma ser tal relao crivada por conflitos e dualidade A autora enfatiza ainda que a

esfera privada at a primeira metade do sculo passado se concentrou

especialmente no ensino mdio sendo defendido majoritariamente por

representantes da Igreja catlica j a partir dos anos 1980 verifica-se uma alterao

na relao dado que o protagonismo passa a ser assumido pelos denominados

ldquotubares do ensinordquo com prioridade para a educao superior Certamente essa

mudana no se efetiva por acaso pois esse redimensionamento est inserido nas

profundas modificaes vivenciadas pelo capital as quais atingem os diversos

complexos sociais

No mbito de efetivao de medidas para o ensino superior durante a

primeira gesto de Lula tivemos ainda em 2003 a institucionalizao do sistema de

cotas nas universidades pblicas destinada a estudantes oriundos de escolas

pblicas particularmente negros pardos e ndios Segundo estudo de Castro(2008)

atualmente este sistema implantado em 18 universidades brasileiras sendo alvo de

significativas discusses em que posicionamentos contrrios se apiam

principalmente na concepo de mrito alm de acreditarem que as reservas de

vagas pode corroborar com discriminao ao incentivar um ldquoracismo s avessasrdquo j os

defensores das cotas compreendem que elas so aes afirmativas que visam o

92

tratamento diferenciado para sujeitos historicamente alvo de preconceitos e que se

encontram em posiccedilatildeo desigual inclusive no que se refere agrave educaccedilatildeo em especial

no niacutevel universitaacuterio Levando-se em consideraccedilatildeo informaccedilotildees do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica(IBGE) as desigualdades entre brancos pretos e

pardos se manteve em 2004 Segundo dados divulgados pela Instituiccedilatildeo em 2006 no

que se refere ao analfabetismo funcional no paiacutes 18 dos(as) brancos(as) tinham

menos de quatro anos completos de estudos enquanto que na populaccedilatildeo de cor

preta e parda esse percentual ultrapassou os 3039 Outros dados revelam essa

desigualdade

em relaccedilatildeo a adequaccedilatildeo seacuterie-idade considerando os jovens de 18 a 24 anos verificou-se que 11 dos de cor branca e 27 dos de cor preta e parda ainda frequumlentavam o ensino fundamental enquanto 35 dos brancos e 51 dos pretos e pardos estavam no ensino meacutedio Nessa mesma faixa etaacuteria 47 dos estudantes de cor branca estavam no ensino superior um proporccedilatildeo quase trecircs vezes superior aacute dos estudantes de cor preta e parda(IBGE p10 2006)

Os nuacutemeros socializados pelo IBGE ratificam a necessidade de poliacuteticas

afirmativas para a populaccedilatildeo afro do Brasil tais como o proacuteprio sistema de cotas jaacute

implementado em 18 instituiccedilotildees de ensino superior mecanismo que contribui para o

arrefecimento dessas desigualdades tatildeo visiacuteveis e gritantes na realidade brasileira

Importante registrar que a ENESSO tem uma postura poliacutetica favoraacutevel ao sistema de

cotas tal como consta nas deliberaccedilotildees aprovadas no decorrer do periacuteodo aqui

investigado as quais seratildeo analisadas no proacuteximo capiacutetulo

Outra medida situada no campo de mudanccedilas do ensino superior consiste

a aprovaccedilatildeo por parte do MEC da abertura sem controle de cursos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia com o objetivo primordial de elevar o nuacutemero de estudantes no ensino

superior todavia secundarizando a qualidade e o direito a educaccedilatildeo

O aceleramento da poliacutetica privatista mediante utilizaccedilatildeo do ensino a

distancia eacute garantido legalmente no artigo 80 da LDB o qual estabelece que esse

meio seja incentivado pelo poder puacuteblico em todos os niacuteveis educacionais

Posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nordm 2494 de 10 de fevereiro de 1998 e

pela portaria nordm 301 de 07 de abril do mesmo ano Entretanto foi com o Decreto nordm

5622 de 19 de dezembro de 2005 que a modalidade agrave distacircncia se expandiu de

modo exacerbado por todo o paiacutes

39 Esses dados foram socializados na Siacutentese dos Indicadores Sociais elaborado pelo IBGE em 2005 e disponibilizados no site da instituiccedilatildeo wwwibgegovbr

93

A expanso de cursos distncia no governo Lula estava prevista nas

propostas do grupo de trabalho interministerial ainda no ano de 2003 na qual a

equipe de trabalho discorre sobre a crise das universidades federais e a necessidade

de elevar o nmero de estudantes na educao superior Siqueira esclarece que a

elevao se daria a partir ldquodo aumento da carga horria dos professores em sala de

aula o aumento da relao aluno-professor e o uso da educao distnciardquo (2004

p63) Para Lima importante destacar

Desde o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso a educao a distncia tem sido utilizada com mais uma estratgia de privatizao das universidades pblicas ldquomaquiadasrdquo com o discurso da democratizao do acesso a esse nvel de ensino (LIMA 2004 p41)

Alm disso interessante frisar que o ensino distncia em sintonia com

as mudanas no mundo do trabalho principalmente com o desenvolvimento da esfera

tecnolgica informacional potencializa o processo de substituio de trabalho vivo por

morto visto que o mtodo virtual secundariza eou at mesmo dispensa o(a)

professor(a) na sala de aula ou seja contraditoriamente ao mesmo tempo em que

coloca mais profissionais no cenrio competitivo entre os quais professores(as)

contribui para a elevao de desemprego pois a prioridade no com o ensino mas

com a rentabilidade adquirida pela utilizao da modalidade distncia

Nesse sentido temos o discernimento e convico terico-poltica que a

expanso sem nenhum controle de cursos de graduao distncia constitui mais

uma medida governamental que possibilita em larga medida o aprofundamento sem

precedentes na histria do Brasil da mercantilizao da educao em especial do

nvel superior Esse processo se materializa a partir da venda direta do ensino nas

instituies privadas ou mediante a utilizao da modalidade nas instituies pblicas

com o objetivo central de atender as requisies mercantis

Conforme dados socializados pelo secretrio de Educao a Distncia

Carlos Bielschowsky em abril de 2009 existia no Brasil 109 instituies que ofertam

cursos de graduao distncia sendo que oito40 delas so responsveis pelo total

de 416320 alunos o correspondente a um percentual de 547 dos(as) estudantes

matriculados(as) nessa modalidade

40 As instituies so Universidade do Norte do Paran (Unopar) a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) o Centro Universitrio Leonardo da Vinci (Uniasselvi) de Santa Catarina e a Faculdade Educacional da Lapa (Fael) do Paran Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) do Rio Grande do Sul a Faculdade de Tecnologia e Cincias (FTC) da Bahia a Universidade Castelo Branco (UCB) do Rio de Janeiro e a Universidade Cidade de So Paulo (Unicid)

94

Ainda segundo informaes publicizados no site do MEC desde o inicio

de 2009 se processa uma superviso nessas instituies com o objetivo de garantir a

qualidade e os direitos dos(as) estudantes Os resultados parciais da fiscalizao

apontam irregularidades nos espaos de atendimento presencial aos discentes que se

expressam na ausncia de coordenadores(as) na falta de laboratrios de informtica

e de bibliotecas requisitos bsicos para oferta do ensino As constatao das

irregularidades resultar de inicio na desativao de 1337 plos vinculados A Unitins

e a Fael que associadas ao Sistema Eadcon detm 1494 plos de oferta de ensino a

distncia dos quais 1278 sero desativados conforme informao do MEC visto

que a Eadcon no est credenciada pelo Ministrio a oferecer cursos de graduao

nessa modalidade estando autorizada a atuar somente na oferta de especializao

Alm disso A Uniasselvi tambm ter 60 de seus 93 plos desativados entretanto

ela ldquopromove reestruturao em comum acordo com o MEC e vai reformular o

processo de avaliao alm de aprimorar a infra-estrutura dos plos

remanescentesrdquo(MEC 2009)

Diante dessa realidade observamos que a preocupao do MEC com a

qualidade do ensino oferecido pela modalidade distncia se verifica depois da

abertura desenfreada de cursos de graduao em todo o pas processo que teve

incentivo e aval do prprio ministrio

Outra medida pertencente a ldquocontra-reformardquo o Sistema Nacional de

Avaliao do Ensino Superior(SINAES) o qual constitudo de trs eixos avaliao

dos cursos das instituies e o Exame Nacional de Desempenho dos estudantes

(ENADE) Apesar de incorporar elementos importantes no processo avaliativo desde

a sua implantao o mesmo tem privilegiado especialmente o resultado do ENADE

Este pautado numa perspectiva punitiva e de ranqueamento assim os(as)

estudantes selecionados(as) para realizar a prova e que porventura no

comparecerem na data estabelecida so impedidos(as) de receber o diploma alm

disso a divulgao de notas obtidas pelos cursos levando-se em considerao

somente o ENADE acaba culpabilizando o segmento estudantil pela realidade da

universidade pblica na atualidade sem uma devida anlise econmica social

histrica poltica e cultural O ranqueamento construdo a partir da avaliao gera

uma classificao entre as instituies boa e de m qualidade que incide

diretamente na distribuio de verbas o curioso o fato daquelas cujos resultados

no so satisfatrios para os analistas serem penalizadas mediante reduo de

investimentos podendo at mesmo ser descredenciadas

Para Mello(2007) a avaliao pode ser consubstanciada em trs

perspectivas diferentes porm no excludentes so elas avaliao como instrumento

95

de praacutetica gerencial em que satildeo considerados prioritariamente metas a serem

alcanccediladas avaliaccedilatildeo como controle social cuja preocupaccedilatildeo se remete a elaboraccedilatildeo

de objetivos preservando-se a autonomia institucional e finalmente a avaliaccedilatildeo como

possibilidade de regeneraccedilatildeo de autonomia poliacutetica e acadecircmica na qual a auto-

avaliaccedilatildeo possa proporcionar a incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees de naturezas diversas

como projetos para instituiccedilatildeo estrateacutegias de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos Entretanto segundo apreensatildeo do autor eacute fundamentado na primeira

abordagem que as avaliaccedilotildees vecircm se concretizando nos espaccedilos acadecircmicos pois

[] as decisotildees de cunho eminentemente poliacutetico aparecem como uma questatildeo meramente gerencial que exige uma resposta imediata e inadiaacutevel do oacutergatildeo gestor Os problemas relativos ao ensino superior tanto com relaccedilatildeo agrave administraccedilatildeo quanto com relaccedilatildeo agraves questotildees de produccedilatildeo e veiculaccedilatildeo de conhecimento natildeo satildeo reconhecidos como determinaccedilotildees das formaccedilotildees sociais mas satildeo interpretados como decisotildees que tecircm que ser tomadas para resolver problemas e garantir a aplicaccedilatildeo dos recursos (MELLO 2007 p16)

A tendecircncia punitiva do ENADE se verifica na Lei nordm 10861 de 24 de

abril de 2004 que no seu inciso 5ordm do artigo 5ordm estabelece o exame como

componente curricular obrigatoacuterio para os cursos de graduaccedilatildeo O inciso 10ordm do

mesmo artigo explicita o reducionismo dessa avaliaccedilatildeo pois destaca a concessatildeo de

bolsas e outras formas de estiacutemulos a estudantes que obtiverem melhores

desempenhos Como analisar o rendimento acadecircmico de um(a) estudante

considerando somente o resultado da prova

O ANDES(1996) defende a realizaccedilatildeo de processos avaliativos que

englobem elementos internos e externos No primeiro caso requisita-se a

participaccedilatildeo democraacutetica de todos os segmentos acadecircmicos estudantes docentes e

teacutecnico-administrativos no segundo exige-se o envolvimento da comunidade na qual

a instituiccedilatildeo estaacute inserida com o intuito de a sociedade analisar e contribuir com o

desenvolvimento da funccedilatildeo social da instituiccedilatildeo

Aleacutem das accedilotildees jaacute assinaladas faz-se necessaacuterio evidenciarmos uma

das mais atuais que eacute o REUNI este vislumbra melhorar o rendimento dos atuais

recursos fiacutesicos e humanos das universidades federais sendo as principais metas

elevar a taxa de diplomaccedilatildeo dos cursos para 90 e aumentar para dezoito a relaccedilatildeo

aluno-professor

O preocupante nesta proposta como abordam Martinez e Tonegutti

(2007) eacute a natildeo contextualizaccedilatildeo das metas citadas com a dinacircmica vivenciada nas

instituiccedilotildees de ensino superior federais Nesses termos algumas das problemaacuteticas

96

salientadas pelos autores so como elevar o nvel de diplomao sem considerar a

situao econmica e social dos(as) estudantes brasileiros(as) como atingir a meta

estabelecida no tocante a relao professor-aluno em uma conjuntura de sobrecarga

vivida no cotidiano pela grande maioria dos(as) docentes Outras questes

significativas para serem refletidas so referentes prpria flexibilidade41 dos cursos

e alm disso por se tratar de um plano de governo como garantir a liberao de

verbas no decorrer da futura gesto presidencial pois as linhas traadas pelo

REUNI apresentam como horizonte o ano de 2012 Como observamos muitos so

os limites para a universidade pblica trazidas por mais uma ao integrante da

contra-reforma do ensino superior brasileiro

Para Boschetti(2008) o REUNI foi institudo nas universidades visando

atender as requisies do FMI que estabeleceu a meta de inserir 30 da populao

brasileira na faixa etria de 18-24 anos nesse nvel da educao Diante do exposto

fica evidenciado o direcionamento do Governo Lula em operacionalizar as

recomendaes daqueles que defendem os interesses do capital e desconsideram a

qualidade na formao profissional em prol da lucratividade

A anlise do ANDES sobre o REUNI ratifica o posicionamento de situar

essa ao como mais uma medida que expressa a perspectiva do atual governo de

ampliar o acesso na educao superior sem a devida elevao de recursos para

manuteno dessa expanso42 Desse modo as repercusses so no sentido de

ldquoprecarizao do trabalho docente e a transformao paulatina de universidade em

instituies com um ensino cada vez mais superficialrdquo (ANDES 2007 p08)

Diante dos primeiros passos no processo de institucionalizao do REUNI

nas Universidades Federais notria a aberturas de concursos sobretudo para

docentes e dessa maneira no podemos desconsiderar a importncia dessa ao

num contexto de intensa sobrecarga vivenciada por professores(as) nas instituies

pblicas sendo pois resultante de lutas do movimento da educao no Brasil e

especificamente no nvel superior dos segmentos universitrios organizados

Entretanto somente a abertura de concursos no suficiente para termos uma anlise

mais consistente do programa pois no nos permite apreendermos se os cursos

abertos nos mbito do REUNI garantem uma formao profissional com qualidade e

41 Flexibilidade no sentido que o plano se fundamenta nos processos flexibilizados de redefinio do ensino superior implantado nos EUA e tambm influenciado pelo modelo de bacharelado de Bolonha ldquoeste em virtude das necessidades decorrentes da comunidade europia o que se objetiva compatibilizar a formao profissional entre os vrios pases pela adequao do desenho curricular que varia bastante de pas para pasrdquo Cf Martinez e Tonegutti (2007)42O Plano Nacional de Educao estabelece a destinao de 10 do PIB para educao contudo o total empregado corresponde ao percentual de apenas 35Cf (ANDES 2007)

97

no caso do Servio Social tendo como pressuposto as Diretrizes Curriculares

elaboradas pelo ABEPSS

Durante a provao do REUNI pelos Conselhos Universitrios das

universidades federais no final de 2007 tivemos segundo dados da CONLUTE pelo

menos quinze reitorias ocupadas pelo ME porm as ocupaes e reivindicaes no

foram suficientes pois o Plano de Reestruturao foi aprovado em plenitude pelas

IFES Embora no tendo sucesso quanto ao objetivo de impedir a implementao de

tal proposta podemos afirmar que as atividades executadas pelo segmento estudantil

evidenciam o fortalecimento das mobilizaes do ME em nvel nacional

Em abril de 2009 socializada mais uma proposta do MEC para o ensino

superior que prev a adoo do Exame Nacional do Ensino Mdio(ENEM) como

principal mecanismo de acesso as instituies federais Documento elaborado e

disponibilizado pelo MEC esclarece que os resultados do ENEM sero utilizados de

duas maneiras

A primeira mediante simples informao pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira-Inep IES dos boletins de resultados dos candidatos que tiverem realizado o novo ENEM adotado como prova de seleo com base em Edital prprio publicado pela IES facultando-se sua utilizao como fase nica ou primeira fase do processo seletivo A segunda forma de utilizao do novo ENEM consiste na adeso ao Sistema de Seleo Unificada sistema informatizado do Ministrio da Educao apto a processar oregistro das vagas especificamente oferecidas pelas IES (ldquovagas ENEMrdquo) em confronto com as listas ordenadas de candidatos em ordem decrescente por curso segundo a pontuao no Exame O pressuposto da adeso ao Sistema de Seleo Unificado autilizao do novo ENEM como fase nica sem prejuzo de eventual realizao de exame de aptido para reas especficas (desde que esse se d em tempo compatvel com da primeira e segunda chamadas do Sistema de Seleo Unificado) (MEC 2009)

O fim do vestibular sempre esteve presente como bandeira de luta do

movimento por educao pblica no Brasil incluindo aqui o segmento estudantil

organizado O propsito de utilizao do ENEM como mecanismo de entrada nas

universidades no garante a efetiva democratizao do ensino superior visto que o

acesso continuar sendo determinando por outro processo seletivo que no mais o

vestibular Por se tratar de uma medida ainda incipiente no nos permite a realizao

de uma anlise mais consiste desse processo entretanto analisando esta medida no

campo da contradio temos a concepo que ela no resultar em ganhos

expressivos para os segmentos pauperizados se no for acompanhada de uma efetiva

98

ampliaccedilatildeo de vagas nas universidades federais e de melhorias consideraacuteveis nos

niacuteveis fundamental e meacutedio de ensino

4-3 REMANDO CONTRA MAREacute a formaccedilatildeo profissional do(a) assistente social no

acircmbito da contra-reforma do ensino superior

A contra-reforma do ensino superior orientada pelas concepccedilotildees

neoliberais efetivada na era FHC e com continuidade nas gestotildees de Lula traz

implicaccedilotildees substanciais para materializaccedilatildeo do projeto de formaccedilatildeo profissional

dos(as) assistentes sociais Projeto resultante da reformulaccedilatildeo curricular no iniacutecio da

deacutecada de 1990 em que a qualidade da formaccedilatildeo profissional consistia ao mesmo

tempo em objetivo e desafio para categoria

Assim sendo de 1994 a 1996 a entatildeo Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino

de Serviccedilo Social(ABESS) promoveu conjuntamente com o Centro de Documentaccedilatildeo

e Pesquisa em Poliacuteticas Sociais e Serviccedilo Social(CEDEPSS) e com expressivo apoio

do CFESS e da ENESSO em torno de duzentas oficinas locais em unidade filiadas a

ABESS aleacutem de vinte e cinco oficinas regionais e duas nacionais

Essa ampla discussatildeo foi imprescindiacutevel para construccedilatildeo da Proposta

Nacional de Diretrizes Curriculares para o curso de Serviccedilo Social cuja aprovaccedilatildeo

ocorreu em assembleacuteia geral durante a II Oficina Nacional de Formaccedilatildeo Profissional

nos dias 07 e 08 de novembro de 1996 na cidade do Rio de Janeiro

Os pressupostos que nortearam a perspectiva de formaccedilatildeo profissional

presentes na referida proposta se expressam no entendimento de que o Serviccedilo

Social consiste em uma profissatildeo que se particulariza no acircmbito de intervenccedilatildeo da

questatildeo social esta portanto se configura como fundamento basilar de sua existecircncia

na sociabilidade regida pelo capital e que na deacutecada de 1990 a relaccedilatildeo capital-

trabalho apresenta uma tendecircncia de agravamento no contexto brasileiro diante das

particularidades da reestruturaccedilatildeo produtiva no contexto nacional fato que atinge a

profissatildeo nos acircmbitos da formaccedilatildeo e da intervenccedilatildeo dessa maneira tem-se a

apreensatildeo de que o Serviccedilo Social como parte integrante de um processo trabalho eacute

determinado estrutural e conjunturalmente pelas configuraccedilotildees da questatildeo social e

das consequumlentes formas de seu enfretamento

99

Portanto a institucionalizaccedilatildeo do Serviccedilo Social como profissatildeo constitui

um desdobramento da intensificaccedilatildeo das contradiccedilotildees inerentes ao modelo societaacuterio

capitalista de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Nesses termos as Diretrizes Curriculares enfatizam que os(as) assistentes

sociais tecircm nas diversas expressotildees da questatildeo social a mateacuteria essencial que

proporciona a inserccedilatildeo de tais profissionais em processos de trabalho

Temos a compreensatildeo de ser a questatildeo social fruto das desigualdades

geradas pelo antagonismo entre capital x trabalho Nessa sociabilidade auto-rotulada

de livre os capitalistas se apresentam no mercado competitivo como proprietaacuterios

dos meios-de-produccedilatildeo e os trabalhadores donos somente da sua forccedila de trabalho

Portanto relaccedilotildees opostas e desiguais com repercussotildees nefastas para a humanidade

e que se expressam na opressatildeo e domiacutenio de classes Consubstanciado no

pensamento marxiano Tonet ratifica

O capital cujas personas satildeo os burgueses eacute uma relaccedilatildeo essencialmente contraditoacuteria A apropriaccedilatildeo da riqueza socialmente produzida por um nuacutemero de pessoas que deste modo hegemonizam em seu benefiacutecio todo o processo social eacute inseparaacutevel de sua existecircncia (TONET 2004 p 14)

Eacute no seio desse profundo antagonismo que o (a) assistente social eacute

requisitado a trabalhar e nesse sentido os projetos de formaccedilatildeo profissional

consistem em instrumentos importantes na constituiccedilatildeo de um perfil profissional que

pode vislumbrar uma atuaccedilatildeo para manutenccedilatildeo dos privileacutegios sustentadores do

capital como antagonicamente podem ser construiacutedos ratificando um processo

formativo criacutetico no intuito de formar profissionais identificados com o

desenvolvimento de accedilotildees direcionadas para negaccedilatildeo e contestaccedilatildeo da ordem

estabelecida sendo esta uacuteltima a perspectiva ratificada nas Diretrizes Curriculares

para o curso de Serviccedilo Social em vigecircncia desde 1996 Como retrata Iamamoto

(2006) o traccedilo poliacutetico do trabalho do(a) assistente social reside no fato de que ele se

materializa numa sociabilidade na qual se encontram

Presentes interesses sociais distintos e antagocircnicos que se refratam no terreno institucional definindo forccedilas sociopoliacuteticas em luta para construir hegemonias definir consensos de classe e estabelecer formas de controle social a elas vinculadas (IAMAMOTO 2006 p 98)

Certamente o projeto de formaccedilatildeo profissional forjado pela categoria nas

uacuteltimas deacutecadas hegemonizado em torno da intenccedilatildeo de ruptura e que se expressa

100

por exemplo no Coacutedigo de Eacutetica de 1993 na Lei 86621993 que trata da

Regulamentaccedilatildeo da profissatildeo e as Diretrizes Curriculares de 1996 encontra-se em

sintonia com um processo formativo de qualidade e comprometido com a luta por

direitos bem como com a compreensatildeo de serem os usuaacuterios dos serviccedilos sociais

sujeitos construtores da histoacuteria Portanto uma perspectiva de formaccedilatildeo profissional

criacutetica e que requisita uma apreensatildeo da realidade com suas multifacetadas

contradiccedilotildees no intuito de materializar accedilotildees nos marcos do projeto eacutetico-poliacutetico

profissional hoje hegemocircnico no acircmbito do serviccedilo Social brasileiro

Nesse sentido a preocupaccedilatildeo com a qualidade na formaccedilatildeo profissional

se manifesta integralmente em toda proposta e de forma preponderante nos

princiacutepios que regem as Diretrizes Curriculares que satildeo a flexibilidade de

organizaccedilatildeo dos curriacuteculos plenos o que por sua vez favorece a apreensatildeo de

problemaacuteticas locais mediante a oferta de oficinas seminaacuterios temaacuteticos e atividades

complementares a tendecircncia de assegurar rigoroso trata teoacuterico histoacuterico e

metodoloacutegico da realidade bem como do Serviccedilo Social inserido nela

potencializando dessa forma uma intervenccedilatildeo qualificada dos(as) profissionais nos

processos de trabalho adoccedilatildeo de uma teoria social criacutetica com o intuito de

proporcionar a apreensatildeo dos fenocircmenos em sua totalidade histoacuterica a busca de

superaccedilatildeo da fragmentaccedilatildeo de conteuacutedos na organizaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo curricular o

estabelecimento das dimensotildees investigativa e interventiva o que corrobora para o

fortalecimento da relaccedilatildeo teoria e realidade defesa de qualidade para cursos diurnos

e noturnos tendecircncia de proporcionar interdisciplinaridade nas diversos acircmbito que

compotildeem a formaccedilatildeo profissional indissociabilidade entre ensino pesquisa e

extensatildeo o exerciacutecio do pluralismo que consiste em dimensatildeo inerente ao acircmbito

acadecircmico estabelecimento da eacutetica como principio fundamental e que perpassa toda

a formaccedilatildeo profissional a necessaacuteria indissociabilidade entre supervisatildeo de campo e

acadecircmica durante a realizaccedilatildeo do estaacutegio como forma de contribuir com a qualidade

no processo de aprendizagem dos sujeitos em formaccedilatildeo

Discorrendo sobre a formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais Iamamoto

(2006) enfatiza a necessidade na contemporaneidade de fortalecimento articulado

das esferas teoacuterico-metodoloacutegico eacutetico-poliacutetico e teacutecnico-operativo como

indispensaacuteveis para uma formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional criacutetica e capaz de apreender

o movimento contraditoacuterio da realidade capitalista compreendendo os limites e

possibilidades nela existentes no intento de que os(as) profissionais atuem em

conformidade com a legislaccedilatildeo profissional vigente o que significa o cumprimento e

fortalecimento do estabelecido na lei 866219993 e no Coacutedigo de Eacutetica tambeacutem de

1993 A ressalva realizada pela autora ratifica o perfil de assistentes sociais projetado

101

no decorrer da elaborao aprovao e implantao das Diretrizes Curriculares cuja

dimenso destaca a necessidade de

Um profissional que atua nas expresses da questo social formulando e implementando propostas para o seu enfretamento por meios de polticas sociais pblicas empresariais de organizaes da sociedade civil e movimentos sociais Profissional dotado de uma formao intelectual e cultural generalista crtica competente em sua rea de desempenho com capacidade de insero criativa e propositiva no conjunto das relaes e no mercado de trabalho Profissional comprometido com os valores norteadores do Cdigo de tica do Assistente Social (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL 1999)

Fundado nessa proposio a lgica curricular aprovada pela categoria em

1996 apresenta trs ncleos de fundamentao que se sustentam na perspectiva de

articulao de conhecimentos que possibilite a construo de um projeto assentado

na complexidade e dinamicidade do real e comprometido com a qualidade na

formao dos(as) assistente sociais No ncleo de fundamentos terico-metodolgicos

da vida social a principal preocupao direcionada para a compreenso do ser no

mbito da sociabilidade capitalista sendo o trabalho aprendido como o ato fundante

no processo de produo e reproduo social J o ncleo de fundamentos da

formao scio-histrica da sociedade brasileira tem o objetivo essencial de

aprofundar os conhecimentos relacionados formao brasileira considerando suas

determinaes econmicas sociais polticas e culturais o que implica a necessidade

de anlise da relao ldquoestadosociedade os projetos polticos em debate as polticas

sociais as classes sociais e suas representaes culturais os movimentos

organizados da sociedade civil entre outros aspectosrdquo (IAMAMOTO 2006 p 72) O

ncleo de fundamentos do trabalho profissional tem a proposio de discutir os

fundamentos do Servio Social em que este entendido como uma profisso

constituda no mago da diviso social e tcnica do trabalho Importante registrar que

os trs ncleos no foram elaborados de maneira hierrquica mas partindo da

concepo que se trata de conhecimentos articulados e necessrios a construo de

um perfil profissional crtico de postura interventiva e investigativa43

43Nesses termos as matrias consideradas bsicas para o curso de Servio Social fundamentadas nos ncleos da vida social da formao da sociedade brasileira e do trabalho profissional tendo o discernimento que essas matrias requisitam a abordagem de contedos que proporcionem uma devida capacitao terico-metodolgica e tico-poltica objetivando apreenso e interveno crtica na realidadeso Sociologia Cincia poltica Economia Poltica Psicologia Antropologia Formao scio-histrico do Brasil Direito Poltica Social Acumulao Capitalista e Desigualdades Sociais Fundamentos Histricos e Terico-metodolgicos do Servio Social Processo de Trabalho do Servio Social Administrao e Planejamento em Servio Social Pesquisa em Servio Social e tica Profissional Alm das atividades consideradas indispensveis Estgio Supervisionado e o Trabalho de Concluso de

102

Em 2006 Aps dez anos de aprovao a ABEPSS realizou pesquisa de

cunho avaliativo sobre a materializao das Diretrizes Curriculares esta contou com a

participao de estudantes de Servio Social de todo pas e de diferentes unidades de

ensino a anlise processada pela entidade evidencia o acelerado processo de

privatizao da educao e que por conseguinte atinge os espaos de formao

profissional do(a) assistente social

Nesse sentido o debate sobre a contra-reforma do ensino superior

relevante para o Servio Social por se tratar do lcus privilegiado da formao

profissional e que vem sendo duramente atacado pela verso neoliberal do capital

Nesse sentido segundo as contribuies de PINTO (2007 p16)

A formao decorrente da contra-reforma da educao no nos serve por ser uma formao que nos faz questionar a capacidade do aluno adquirir as habilidades necessrias para atender na ponta os usurios de uma instituio Os componentes ticos necessrios diante da agudizao da questo social e o desenvolvimento de habilidades para investigar a realidade social e conhecer a populao atendida para melhor traar as linhas e projetos de interveno alm da capacidade de reconhecer o trabalho do assistente social como parte da engrenagem da sociedade capitalista e no como uma prtica que ganha sentido por si mesma na imediaticidade de sua ao sero forte e profundamente inviabilizados pela contra-reforma da educao de interesse do capital

As preocupaes levantadas pela autora so significativas e se

consubstanciam na defesa de um perfil de formao profissional baseado nos

princpios defendidos pela ABEPSS e j ressaltados anteriormente s para

exemplificar destacamos o ldquoestabelecimento das dimenses investigativa e

interpretativa como princpios formativos e condio central da formao profissional e

da relao teoria e realidade indissociabilidade das dimenses de ensino pesquisa e

extensordquo (COMISSO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO EM SERVIO SOCIAL

1999)

Destarte a concretizao de tais princpios em instituies de ensino

presenciais j se constitui uma realidade problemtica decorrente das condies de

trabalho e aprendizagem que so disponibilizadas e em se tratando de graduao

distncia se tornam ainda mais problemticas pela prpria lgica de funcionalidade e

padres organizativos de tal modalidade o que coloca em xeque o projeto de

Curso Entretanto todos os tpicos referentes a todas as matrias elencadas anteriormente foram simplesmente suprimidos pela Comisso Nacional de Educao(CNE)

103

formaccedilatildeo construiacutedo nas ultimas deacutecadas pelos (as) assistentes sociais

brasileiros(as)

Desse modo a proliferaccedilatildeo de cursos de graduaccedilatildeo em Serviccedilo Social agrave

distacircncia jaacute eacute uma realidade em todo o paiacutes Nessas circunstacircncias as entidades

representativas da profissatildeo (ABEPSS CFESS E ENESSO) de maneira articulada

tecircm elaborado e executado estrateacutegias diante dessa situaccedilatildeo no intuito de defender o

atual projeto de formaccedilatildeo profissional construiacutedo no decorrer das uacuteltimas deacutecadas de

forma coletiva pela categoria e que se baseia numa perspectiva criacutetica de anaacutelise e

atuaccedilatildeo social Para Braz(2007) essa massificaccedilatildeo no acesso ao ensino superior da

forma como tem se materializado repercute em termos quantitativo e qualitativo na

formaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais brasileiros(as) visto que em aproximadamente

dez anos o nuacutemero de profissionais ativos dobraraacute44 aleacutem da duvidosa qualidade na

formaccedilatildeo a distacircncia dessa maneira rebatimentos negativos pode se verificar

No acircmbito do exerciacutecio profissional que quando desqualificado vulnerabiliza a imagem da profissatildeo no sentido de sua desvalorizaccedilatildeo na sociedade aleacutem de pressionar para baixo as jaacute desfavoraacuteveis condiccedilotildees de trabalho [ainda] uma formaccedilatildeo profissional pouco qualificada tende a dificultar a formaccedilatildeo de novos quadros teoacutericos e poliacuteticos para o projeto profissional(BRAZ 2007 09)

Preocupaccedilotildees sobre as implicaccedilotildees da difusatildeo de graduaccedilatildeo agrave distacircncia

para o projeto profissional do Serviccedilo Social tem se tornando imprescindiacutevel e

recorrente nos espaccedilos de discussatildeo da categoria que se expressa tanto no acircmbito

dos foacuteruns profissionais e estudantis como no campo da produccedilatildeo teoacuterica

Essa tendecircncia se verifica em larga medida pelo fato de que a poliacutetica

educacional na recente conjuntura nacional tem amplamente se adequado ao projeto

neoliberal privatizante como se manifesta na proliferaccedilatildeo da graduaccedilatildeo agrave distacircncia

Esta coloca em risco a formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do

Serviccedilo Social que conforme elucidativa explanaccedilatildeo de Boschetti natildeo oferece uma

formaccedilatildeo caracterizada pela

Indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensatildeo processo formativo baacutesico com perspectiva de totalidade e apreensatildeo criacutetica da realidade ensino do trabalho [] em vaacuterios momentos do processo formativo em vaacuterias disciplinas realizaccedilatildeo de estaacutegio presencial com articulaccedilatildeo estreita entre o acompanhamento do supervisor acadecircmico e de campo realizaccedilatildeo de pesquisa e investigaccedilatildeo como princiacutepio formativo que deve perpassa todo o curriacuteculo acesso aacute bibliografia de qualidade natildeo apenas a textos

44 Baseado em dados do CFESS o autor afirma que existem atualmente no Brasil um total de 74500 profissionais ativos

104

baacutesicos de sala de aula mas ao universo de possibilidades de leitura e conhecimento que se descortina no acesso as bibliotecas((2008 p09)

O entendimento das preocupaccedilotildees de Braz e Boschetti se torna

transparente quando se apreende as contradiccedilotildees de classe que fundam e

perpassam a atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social na sociabilidade capitalista

Boschetti (2007 2008) como assinalado anteriormente ao formular

reflexotildees sobre os rebatimentos da contra-reforma para a formaccedilatildeo e exerciacutecio

profissionais sinaliza preocupaccedilotildees relacionadas ao ensino agrave distacircncia tais como

ausecircncia de uma poliacutetica de estaacutegio sintonizada com as Diretrizes Curriculares

problemas de infra-estrutura falta de encontros presencias entre outros elementos

levantados pela autora e que satildeo fundamentais para uma formaccedilatildeo de qualidade

A recente pesquisa da ABEPSS indica que as principais dificuldades na

implementaccedilatildeo das Diretrizes por parte das unidades de ensino satildeo as de ordem

teoacuterico-metodologico que se remetem a transversalidade dos conteuacutedos o domiacutenio do

conteuacutedo do ementaacuterio e entendimento da nova loacutegica curricular A partir dos dados

obtidos a entidade indica desafios enfrentados na materializaccedilatildeo das diretrizes quais

sejam

garantia do tratamento transversal da questatildeo social nas disciplinas de FHTMSS garantia de unidade entre histoacuteria teoria e meacutetodo na grade curricular domiacutenio de categorias fundamentais das diferentes matrizes teoacutericas que subsidiam a praacutetica profissional apreensatildeo de categorias pertencentes ao quadro referencial de Marx e tradiccedilatildeo marxista aprofundamento do conhecimento histoacuterico do contexto social econocircmico e poliacutetico brasileiro por parte de docentes e discentes garantia da transversalidade de processos investigativos e interventivos na formaccedilatildeo profissional articulados aos componentes curriculares compreensatildeo histoacuterica da profissatildeo respaldada em uma concepccedilatildeo criacutetico-dialeacutetica (ABEPSS 2008 188)

Outra dado que nos chama a atenccedilatildeo eacute o fato da sobrecarga vivenciada

pelos docentes de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas ter sido apontada como uma real

dificuldade na implantaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares situaccedilatildeo que revela a tendecircncia

de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho no acircmbito universitaacuterio A insuficiecircncia de

recursos tambeacutem eacute indicada como uma barreira enfrentada no cotidiano das

instituiccedilotildees

Portanto eacute relevante (re)afirmar que a contra-reforma nos moldes como

vem sendo materializado no paiacutes contribui incisivamente para enfraquecer a

proposta de processo formativo comprometido com a construccedilatildeo de um perfil

105

profissional interpretativo crtico e investigativo perspectiva defendida e expressa nas

Diretrizes Curriculares de 1996

importante esclarecer que em 2002 ainda no governo FHC

modificaes legais foram aprovadas nas Diretrizes Curriculares para o curso de

Servio Social que retiram ganhos da proposta original elaborada pela ABEPSS Foi

instituda como uma das competncias e habilidades gerais para o(a) assistente

social a utilizao de recursos da informtica no que a utilizao de recursos

tecnolgicos no seja importante para o exerccio profissional mas a tendncia

verificada com esta medida de direcionar a formao para o vis tecnicista em

detrimento da capacitao terico-metodolgica e tico-poltica visto que se

processou o no estabelecimento do texto legitimado pela categoria uma vez que o

contedo original no estabelecia a necessidade da utilizao de recursos da

informtica preconizava o compromisso do(a) assistente social com os valores e

princpios norteadores do cdigo de tica outras regresses so abordadas por

Iamamoto(2002 p22)

Assim no projeto original encaminhado ao CNE que a formao profissional deve viabilizar uma capacitao terico-metodologico e tico-poltica como requisito fundamental para o exerccio de atividades tcnico-operativas com vistas apreenso crtica dos processos sociais na sua totalidade anlise do movimento histrico da realidade brasileira apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no pas Tais objetivos supra destacados foram eliminados do texto legal E os tpicos de estudos foram totalmente banidos do texto oficial para todas as especialidades Eles consubstanciavam o detalhamento dos contedos curriculares anunciados nos trs ncleos de fundamentao[] esse corte significa na prtica a impossibilidade de se garantir um contedo bsico comum formao profissional no pas mais alm dos trs ncleos organizadores da estrutura curricular O contedo da formao passa a ser submetido livre iniciativa das unidades de ensino pblicas e privadas desde que preservados os referidos ncleos

Para a ABEPSS(2008) as modificaes realizadas pelo CNE ldquotendem a

reducionismos terico-metodolgicos e desvios tico-polticos da formao

Profissionalrdquo(p05) O que por sua vez pode implicar na construo de cursos

destoantes da direo social defendida pelas diretrizes de 1996

Pereira(2007) ao discorrer sobre a mercantilizao do ensino superior na

era FHC evidencia dados importantes que expressam a crescente ofensiva do capital

nesse setor Especificamente em relao ao Servio Social a autora destaca que de

1930 a 1994 existiam 74 cursos sendo 47 privados e 27 pblicos evidenciado que

mesmo numa conjuntura no neoliberal a formao de assistentes sociais se dava

106

predominantemente em instituiccedilotildees privadas setor que abrangia aproximadamente

64 dos cursos no Brasil relaccedilatildeo expressa no graacutefico 4

Graacutefico 4

Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-1994)

Fonte Pereira (2007)

Durante as duas gestotildees de FHC(1995- 2002) foram criados 49 novos

cursos de Serviccedilo Social destes somente cinco em instituiccedilotildees de ensino superior

puacuteblicas o que demonstra o compromisso desse governo com o setor privado

conforme demonstraccedilatildeo abaixo

O relatoacuterio final da pesquisa da ABEPSS sugere que no periacuteodo de 1980

e 1994 houve uma reduccedilatildeo na criaccedilatildeo de cursos de Serviccedilo Social no paiacutes realidade

alterada na segunda metade da deacutecada de 1990 na qual se verificou uma expansatildeo

significativa de cursos inseridos sobretudo na iniciativa privada

107

Graacutefico 5 Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1995-2002)

Fonte Pereira(2007)

Os dados do graacutefico 5 indicam uma forte tendecircncia de crescimento de

cursos de Serviccedilo Social no periacuteodo de 1995-2002 uma expansatildeo sobretudo da

esfera privada responsaacutevel por praticamente 90 dos cursos criados Diante do

exposto se sustenta a concepccedilatildeo que FHC disponibilizou amplamente o ensino

superior para rentabilidade do capital No quadro1 temos um demonstrativo da

distribuiccedilatildeo dos cursos em relaccedilatildeo agrave natureza das instituiccedilotildees antes e durante a era

FHC na presidecircncia da repuacuteblica

A reduzida quantidade de cursos em instituiccedilotildees puacuteblicas eacute preocupante

tanto pelo niacutetido processo de privatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira como pela

questionada qualidade do ensino ofertado na maioria das instituiccedilotildees privadas Como

abordado anteriormente a concepccedilatildeo de formaccedilatildeo formatada pela categoria subjaz

um processo qualificado com vistas ao exerciacutecio profissional sintonizado com o

desafiante projeto profissional que nos remete ao desvendamento das contradiccedilotildees

dessa sociabilidade o que por sua vez potencializa a apreensatildeo dos limites e

possibilidade existente no cotidiano de atuaccedilatildeo dos(as) assistentes sociais

108

Quadro 1Cursos de Serviccedilo Social no Brasil (1930-2002)

Fonte Pereira (2007)

Partindo de dados apresentados por Pereira(2007) temos a conclusatildeo de

que ateacute o iniacutecio do governo Lula existiam no paiacutes 123 cursos de Serviccedilo Social num

total de 91 em instituiccedilotildees privadas e 32 cursos puacuteblicos Pois bem conforme os

dados do INEP em agosto de 2008 existem no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social

Daiacute conclui-se que soacute em parte desse periacuteodo de Lula na presidecircncia da repuacuteblica

foram criados 179 novos cursos e desses temos o alarmante nuacutemero de 169 na

iniciativa privada e a reduzida quantidade de 19 cursos na esfera puacuteblica

Demonstramos essa relaccedilatildeo nos graacuteficos 6

Graacutefico 6

Criaccedilatildeo de Cursos de Serviccedilo Social (2003 - agosto de 2008)

FonteINEP(2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

Total 91 74 32 26 123

109

Daiacute temos o percentual de 6375 de cursos privados e de 3725

puacuteblicos embora seja um percentual menor que o observado na era FHC o graacutefico 6

propotildee que eacute real a tendecircncia de continuidade da poliacutetica educacional do governo

Lula em relaccedilatildeo ao seu antecessor Isso significa a permanecircncia majoritaacuteria de cursos

de Serviccedilo Social na esfera privada No graacutefico 2 disponibilizado no item anterior

desse trabalho destacamos que a maioria das intuiccedilotildees privadas natildeo satildeo

universidades o que nos remete a reflexatildeo que parte significativa da formaccedilatildeo de

assistentes sociais natildeo se processa em universidade portanto em ambientes

caracterizados pela dissociaccedilatildeo entre ensino pesquisa e extensatildeo contrariando o

projeto de formaccedilatildeo pautado pela ABEPSS e defendido pelo CFESS e a ENESSO

Quadro 2

Cursos de Serviccedilo Social (1930-2008)

Periacuteodo Privado Puacuteblico Total

1930-1994 47 6351 27 3649 74

1995-2002 44 8980 05 102 49

2003-82008 160 6375 19 3725 179

Total 251 8394 51 1606 302

FONTE Pereira (2007) INEP(2008)

O quadro 2 apresenta uma siacutentese dos dados trabalhados ateacute o momento

e a partir dele constatamos que nos trecircs periacuteodos destacados eacute predominante a

existecircncia de cursos de Serviccedilo Social na esfera privada Levando-nos a refletir que

mesmo diante dessa realidade a categoria com ampla influencia dos profissionais que

atuam na academia foi protagonista na formulaccedilatildeo de um projeto profissional

indubitavelmente defensor de direitos estes que soacute podem ser materializados na

esfera puacuteblica caso contraacuterio perdem esse caraacuteter

110

Os dados expressam certamente o aumento consideraacutevel do ensino

superior no paiacutes entretanto natildeo se trata de democratizaccedilatildeo desse niacutevel educacional

antes se constitui um processo de massificaccedilatildeo voltado ao atendimento das

exigecircncias dos organismos que representam os interesses do capital Portanto a

preocupaccedilatildeo natildeo eacute com a qualidade nem tampouco com a democratizaccedilatildeo do

conhecimento produzido como eacute possiacutevel de se observar a partir do crescimento

consideraacutevel da iniciativa privada Outra faceta revelada pelos dados eacute a tendecircncia

de continuidade por parte do governo Lula da poliacutetica educacional efetivada durante as

gestotildees de FHC de incentivos a sua mercantilizaccedilatildeo transfigurando direito em

mercadoria rentaacutevel Expressa sem duacutevidas o acelerado processo de criaccedilatildeo de

cursos de Serviccedilo Social no Brasil nos uacuteltimos anos e especialmente na esfera

privada o que certamente constitui implicaccedilotildees dos incentivos de graduaccedilatildeo agrave

distacircncia visto que parte significativa desta modalidade eacute ofertada no acircmbito privado

Do nosso ponto de vista reflexotildees que tenham como horizonte a atuaccedilatildeo

do ME e em particular o MESS devem considerar as profundas modificaccedilotildees em

processo de materializaccedilatildeo nos espaccedilos de formaccedilatildeo profissional entretanto natildeo de

maneira endoacutegena pois o entendimento dessas alteraccedilotildees soacute pode ser apreendido

situando-as no movimento mais abrangente da sociabilidade capitalista

111

ldquoA revoluo acontece atravs do homem mas o homem tem de forjar dia a dia o seu esprito revolucionriordquo (Che Guevara)

ldquoAlgo s impossvel at que algum duvide e acabe provando ao

contrriordquo (Albert Einstein)

A argila fundamental de nossa obra a juventude Nela depositamos todas as nossas esperanas e a preparamos para receber idias para moldar nosso

futuro (Che Guevara)

112

V UNIVERSIDADE E FORMAO PROFISSIONAL INTERFACES E DESAFIOS NA

ATUAO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIO SOCIAL

5-1 ldquoPENSEI GRITEI NO CALEIrdquo perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

Analisamos o perfil dos(as) militantes que estiveram na direo nacional da

ENESSO no perodo de 2003-2008 com o objetivo de construmos mediaes

relacionadas dimenso geracional o que implica consideraes relativas a aspectos

sociais polticos econmicos e culturais desses(as) sujeitos45 Para elaborao do

perfil utilizamos informaes concedidas por 22 coordenadores(as) nacionais que

responderam o questionrio durante a produo de dados para esta pesquisa

Conforme o quadro 3 expressivo a presena de pessoas na faixa de 26

a 30 anos na direo da entidade com o percentual de 41 contudo os dados

sugerem que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO se situam na faixa

etria de 21 a 25 anos correspondendo a 50 Os nmeros ratificam que o MESS

consiste num movimento social composto sobretudo pela juventude brasileira que

enfrenta um contexto radicalizado por crises e instabilidades que geram incertezas no

presente e futuro Um cenrio no qual a concluso do curso universitrio no consiste

em garantia de entrada dos(as) jovens no mercado de trabalho com condies dignas

para desempenhar as atividades profissionais Vivenciamos um perodo de

radicalizao da crise do capital em que o desemprego se configura como uma de

suas manifestaes mais drstica e perversa para aqueles(as) que necessitam vender

sua fora de trabalho para sobreviver Assim deixado a margem do mercado formal

milhes de trabalhadores(as) antes empregados(as) o que por sua vez ocasiona

incertezas e desespero nas pessoas em processo de formao profissional e que

objetivam a sua insero na esfera formal do mercado de trabalho Segundo dados

socializados por Iamamoto no Brasil

O ndice dos empregados sem carteira assinada passa de 211 em 1995 para 242 do total de ocupados em 2003 somando os empregados sem carteira assinada e os trabalhadores por conta prpria a participao desses segmentos no total da ocupao eleva-se para 455 no mesmo ano perfazendo o contingente da populao economicamente ativa que se encontra na informalidade(2008 p37)

45 Como j ressaltado na introduo desse trabalho os dados concernentes ao perfil dos(as) dirigentes foram obtidos mediante o envio de questionrio para os sujeitos inseridos(as) no universo da pesquisa

113

QUADRO 3 Faixa etaacuteria dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Faixa etaacuteria Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

15 a 20 1 4521 a 25 11 5026 a 30 9 41

Acima de 30 1 45Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Ramos(1996) na pesquisa efetivada sobre o MESS construiu o perfil

dos(as) dirigentes da SESSUNEENESSO nos anos de 1988 a 1995 Naquele

periacuteodo os(as) jovens na faixa etaacuteria de 21 a 25 anos tambeacutem predominavam na

direccedilatildeo da entidade com o percentual de 666 Essa autora analisa que o

protagonismo de jovens nessa entidade estudantil evidencia preocupaccedilotildees desse

segmento com as problemaacuteticas sociais e poliacuteticas do Brasil

No tocante a dimensatildeo de gecircnero a maioria dos(as) coordenadores(as)

que ocuparam a direccedilatildeo nacional da ENESSO satildeo do sexo feminino Baseando-nos

na quantidade de questionaacuterios respondidos 15 informaram ser do sexo feminino e 7

do masculino de tal forma que temos o percentual de 68 de mulheres e 32 de

homens

Esse percentual reflete o fato do Serviccedilo Social ser uma profissatildeo

constituiacuteda predominantemente por mulheres o que repercute certamente na

ocupaccedilatildeo das entidades que a representa Para Iamamoto

Uma categoria profissional predominantemente feminina uma profissatildeo tradicionalmente de mulheres e para mulheres A condiccedilatildeo feminina eacute um dos selos da identidade desse profissional o que natildeo implica desconhecer o contingente masculino de assistentes sociais com representaccedilatildeo nitidamente majoritaacuteria no conjunto da categoria profissional no paiacutes Com tal perfil o assistente social absorve tanto a imagem social da mulher quanto as discriminaccedilotildees a ela imposta no mercado de trabalho (p104 2006)

Essas discriminaccedilotildees satildeo apreendidas tambeacutem no acircmbito da poliacutetica Da

atuaccedilatildeo nos MS e aqui em particular no MESS Como eacute possiacutevel verificarmos essa

condiccedilatildeo de discriminaccedilatildeo A nossa pesquisa natildeo tem o propoacutesito de responder a tais

questionamentos mas certamente essas satildeo inquietaccedilotildees que surgem com a

produccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo dos dados

114

A partir de documentos produzidos pela coordenao nacional da

entidade nos quais constam a relao de seus(suas) dirigentes foi possvel chegar

totalidade dessa relao Conforme esse levantamento dos(as) 35 Coordenadores(as)

que abrange o recorte temporal da pesquisa temos um total de 24( vinte e quatro)

mulheres e 11(onze) homens o equivalente a 69 e 31 respectivamente

No tocante a questo tnico-racial do total de dirigentes que responderam

o questionrio 9 afirmaram ser afro-brasileiros(as) 4 pardos(as) e 9 brancos(as)

dados demonstrados no grfico 7

Grfico 7Dimenso tnico-racial dos(as) dirigentes da ENESSO do perodo de 2003-

2008

41

41

18

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

De tal modo somando-se a quantidade de afro-brasileiros(as) e

pardos(as) temos uma sobreposio em relao aos(as) militantes brancos(as)

Analisando as opes de resposta em separado verificamos que o percentual sugere

que a quantidade de estudantes afros e brancos(as) igualitria na direo da

ENESSO Aparentemente pode se pensar que os nmeros disponibilizados no

grfico 7 contrariam a realidade de opresso e discriminao pela qual passa a

populao afro-brasileira no pas e que certamente dificultam a sua entrada no ensino

superior Conforme Castro (2008 p248)

A partir das lutas dos movimentos tnicos afro-brasileiros a discriminao racial no Brasil camuflada sob o manto da dita ldquodemocracia racialrdquo comea a ser reconhecida Os debates em torno da desigualdade racial vm contribuindo para alertar a sociedade

115

sobre a necessidade das poliacuteticas afirmativas cujo objetivo eacute igualar a oportunidade atraveacutes de mecanismos reparadores de discriminaccedilatildeo e desigualdade social de raccedila de gecircnero de idade e de origem

Diante do exposto analisamos que os dados provenientes do questionaacuterio

podem representar o direcionamento de que os(as) estudantes de Serviccedilo Social

pertencem cada vez mais a segmentos oprimidos nesta sociabilidade o que requer

reflexotildees sobre a condiccedilatildeo de permanecircncia dos(as) estudantes no ensino superior e o

aprofundamento das complexas relaccedilotildees entre inserccedilatildeo de classe social educaccedilatildeo e

questatildeo eacutetnico-racial

O quadro 4 trata da religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO Aqui eacute

necessaacuterio fazermos uma observaccedilatildeo quanto agraves opccedilotildees colocadas no questionaacuterio

Inicialmente apoacutes recebimento dos dados consideramos um equiacutevoco a natildeo

colocaccedilatildeo da opccedilatildeo nenhuma religiatildeo no intuito de corrigimos o erro citado

reenviamos outro email para as pessoas que natildeo responderam a esta questatildeo e para

os(as) que indicaram a opccedilatildeo outra religiatildeo ainda assim apreendemos que o

percentual de 32correspondente a escolha de outra religiatildeo possa refletir esse

equivoco visto que nem todos(as) responderam ao segundo email que indagava

somente sobre a problemaacutetica da religiatildeo Mesmo diante dessa dificuldade a

obtenccedilatildeo dos dados nos possibilita sinalizar que no tocante a religiatildeo os(as) ex-

militantes da ENESSO tem uma postura de negaccedilatildeo das religiotildees dominantes como o

catolicismo e o protestantismo tendecircncia que se vislumbra nos percentuais de 14 e

4 respectivamente A questatildeo da religiatildeo eacute importante dada a apreensatildeo que

direcionamentos sobretudo da igreja catoacutelica e de igrejas situadas no campo do

protestantismo se contrapotildeem aos princiacutepios norteadores da profissatildeo

QUADRO 4Religiatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Religiatildeo Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Catoacutelica 4 18

Espiacuterita 2 9

Nenhuma 5 23

Natildeo respondeu 3 14

Outra 7 32

Protestante 1 4

Umbanda 0 0

116

Total 22 Total 100

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

A sexta questatildeo do questionaacuterio indagava em que tipo de instituiccedilatildeo os

ex-militantes da ENESSO realizaram o ensino meacutedio se predominantemente em

escola puacuteblica ou privada Mediante os dados obtidos 15 afirmaram ter estudado em

escolas puacuteblicas que se concretiza no percentual de 68 e em escolas particulares

representando um total de 32

Esses dados diferem um pouco dos nuacutemeros obtidos por Ramos(1996)

quando os mesmos sinalizaram que existia equiliacutebrio na natureza das instituiccedilotildees de

ensino nas quais foram realizado o ensino meacutedio dos(as) dirigentes da ENESSO do

periacuteodo de 1988-1995 Essa mudanccedila pode refletir mais uma vez a tendecircncia de

origem subalternizada de estudantes de Serviccedilo Social no paiacutes em que eles(as) natildeo

deteacutem condiccedilotildees de financiar seus estudos em escolas privadas nem tecirc-las mantidas

por seus familiares

Em contrapartida os dados sugerem o esforccedilo desses(as) estudantes em

ingressar no ensino superior apresentando uma trajetoacuteria de estudos na esfera

puacuteblica esta que enfrenta dificuldades na cena contemporacircnea de ordem objetiva e

subjetiva como por exemplo a sobrecarga dos(as) professores(as) a necessidades

de maiores investimentos incentivos a capacitaccedilatildeo dos(as) profissionais entre outras

Essa relaccedilatildeo de sobreposiccedilatildeo do puacuteblico em relaccedilatildeo ao privado se

confirma tambeacutem quando perguntamos sobre a instituiccedilatildeo na qual foi realizada a

graduaccedilatildeo de acordo com a obtenccedilatildeo de dados dos(as) 22 coordenadores(as)

nacionais que responderam o questionaacuterio 14 satildeo oriundos(as) de cursos de

universidades puacuteblicas o que implica um percentual de 64 e 8 da esfera privada o

equivalente a 36

Diante dessas constataccedilotildees fazemos o seguinte questionamento Embora

com a sobreposiccedilatildeo de cursos privados de Serviccedilo Social e por conseguinte de

estudantes nesse setor por que na executiva temos uma ocupaccedilatildeo maior de

militantes originaacuterios(as) de universidades puacuteblicas Essa perspectiva foi salientada

por um(a) entrevistado(a) como uma das dificuldades enfrentadas durante a sua

gestatildeo na ENESSO

A gente inicia os anos 90 com a grande privatizaccedilatildeo do ensino superior e isso eu acho que eacute uma dificuldade do Movimento Estudantil [] Que eacute chegar ateacute as instituiccedilotildees privadas neacutefazer com que o movimento estudantil exista nesses espaccedilos seja pela repressatildeo que tem seja porque neacute Noacutes temos dificuldades enquanto militantes de estaacute presente em todos os espaccedilos(Urano)

117

Essa dificuldade de atuaccedilatildeo do MESS em particular da Executiva

tambeacutem foi por salientada por Neturno na passagem em que explicita o

desenvolvimento de atividades voltadas para o enfrentamento dessa problemaacutetica

Entatildeo a gente relanccedila um documento que jaacute tinha lanccedilado anteriormente eacute que eacute uma cartilha construa Ca e Da principalmente para priorizar a construccedilatildeo de centro acadecircmico de diretoacuterio acadecircmico dentro das universidades particulares porque eacute um local onde tem uma restriccedilatildeo maior de acesso aos movimentos sociais a entrada da executiva em algumas universidades eacute questionada eacute barrada haacute empecilho para construccedilatildeo de mobilizaccedilatildeo interna dentro das universidades particulares(NETURNO)

Consideramos que os dados publicizados e a fala dos(as)

entrevistados(as) refletem a existecircncia de maior autonomia e liberdade de organizaccedilatildeo

dos(as) estudantes nas universidades puacuteblicas mesmo tendo a apreensatildeo que

existem tentativas dos setores dominantes em criminalizar os MS nos mais

diversificados espaccedilos e incluindo aqui o ME temos o entendimento que essas

iniciativas satildeo mais frequumlentes e fortes no acircmbito de organizaccedilotildees na esfera privada o

que por sua vez proporciona uma fragilizaccedilatildeo da atuaccedilatildeo estudantil nesse setor

Outro fato que chama atenccedilatildeo eacute que mesmo diante da expansatildeo de cursos de

Serviccedilo Social em diferentes tipos de Instituiccedilotildees de Ensino como Faculdades

Isoladas Centros entre outras de 2003-2008 podemos afirmar que os(as) militantes

que assumiram a coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO estudavam majoritariamente

em universidades puacuteblicas ou privadas do total de 35 coordenadores(as) somente

dois(duas) estavam inseridos(as) em centros universitaacuterios correspondendo a um

percentual de 94 e 6 respectivamente O que reafirma a valorizaccedilatildeo do espaccedilo

universitaacuterio no sentido poliacutetico e pedagoacutegico presencial da formaccedilatildeo profissional

caracterizado pelo confronto de ideacuteias da troca de conhecimento da existecircncia de

ensino mas tambeacutem de pesquisa e extensatildeo para possibilidade da formaccedilatildeo critica

dos(as) estudantes

Analisando a totalidade de dados mediante apreensatildeo em documentos

desses(as)35 coordenadores(as) que significa o total de estudantes que ocuparam os

cargos nacionais da entidade no periacuteodo delimitado pela pesquisa temos o resultado

de 19 dirigentes de universidades puacuteblicas o que representa um percentual de 54 e

16 advindos(as) de instituiccedilotildees privadas ou seja 46 Dessa forma podemos admitir

que os nuacutemeros obtidos a partir do questionaacuterio apontam o real pois a afirma a

tendecircncia de uma porcentagem maior de graduandos(as) de universidades puacuteblicas

118

Entretanto levando-se em consideraccedilatildeo o numero total de militantes e natildeo soacute

aqueles(as) que responderam o questionaacuterio a diferenccedila entre os(as) estudantes de

instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas descresse Essa perspectiva se diferencia dos dados

sinalizados na pesquisa de Ramos quando ela apontou uma expressiva dominacircncia

de militantes de universidades puacuteblicas na direccedilatildeo nacional da entidade nos anos de

1988 a 1995

Eacute interessante enfatizar ainda que apesar de parte significativa dos(as)

militantes serem provenientes de instituiccedilotildees puacuteblicas a accedilatildeo da Executiva deve

considerar os diferentes espaccedilos em que se encontram os(as) estudantes de Serviccedilo

Social visto que como salientado no capitulo 4 desse trabalho existe uma forte

predominacircncia de cursos na aacuterea privada o que pode explicar inclusive a gradativa

participaccedilatildeo de estudantes de instituiccedilotildees privadas nas coordenaccedilotildees nacionais da

ENESSO

Outro aspecto considerado nessa investigaccedilatildeo se remete a inserccedilatildeo

desses sujeitos no mercado de trabalho Nesse sentido os dados sinalizam que 17

dirigentes ou 77 dos(as) entrevistados(as) desenvolviam alguma atividade

remunerada De tal forma reafirmamos que cada vez mais os(as) estudantes

brasileiros(as) satildeo trabalhadores(as) e sujeitos preocupados(as) com a garantia de

suas condiccedilotildees objetivas durante a graduaccedilatildeo o que representa uma reduccedilatildeo de

tempo para o desempenho das atividades e vivecircncias acadecircmicas Essa dimensatildeo

pode tambeacutem ser apreendida em uma das falas de nossos(a) entrevistados(a)

quando comentava sobre as dificuldades enfrentadas durante a gestatildeo em que

participou da ENESSO

a questatildeo financeira pesa muito a maioria dos estudantes de serviccedilo social satildeo oriundos da classe trabalhadora e temos dificuldades de participar dos espaccedilos de ir para congresso ir para encontros de estudantes []eu acho que existe hoje uma grande numero de encontros no serviccedilo social tanto do ME quanto da categoria entatildeo os estudantes acabam priorizando algum encontro que ele vai participar(Terra)

Quanto agraves formas de inserccedilatildeo no mercado de trabalho temos a indicaccedilatildeo

de que os(as) 17 militantes que responderam positivamente todos(as) realizavam

estaacutegio remunerado nos mais diversificados espaccedilos e na atuaccedilatildeo das poliacuteticas

119

sociais sendo que trecircs aleacutem do estaacutegio trabalhavam em outras instituiccedilotildees46 e um(a)

militante informou que desenvolvia atividades autocircnomas

Quanto a renda mensal da famiacutelia as opccedilotildees mais indicadas pelos ex-

militantes foi entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos o que equivale a aproximadamente mil e

setecentos reais47 seguida da opccedilatildeo entre 5 e 6 salaacuterios o que corresponde a pouco

mais de dois mil e quinhentos reais As trecircs primeiras opccedilotildees que vai de 1 a 6

salaacuterios englobou portanto 73 dos sujeitos Dessa maneira acreditamos que os

dados do Quadro 5 demonstram que majoritariamente os(as) dirigentes da ENESSO

satildeo provenientes dos segmentos do trabalho

A partir do cruzamento dos dados obtidos sinalizamos que os(as) dois

(duas) sujeitos que informaram ter um renda mensal entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos o

que remete a menos de mil reais mensal correspondem a dirigentes que aleacutem do

estaacutegio desempenhavam outras atividades remuneradas O que reforccedila cada vez

mais a tendecircncia dos(as) estudantes principalmente os(as) oriundos da classe

trabalhadora mais pauperizada de ao chegar no ensino superior assumirem a

responsabilidade pela sua manutenccedilatildeo acadecircmica Por outro lado dos(as) cinco

militantes estudantis que natildeo tiveram nenhuma forma de inserccedilatildeo no mercado de

trabalho dois(duas) deles(as) tem uma renda mensal acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

expressando a condiccedilatildeo financeira de seus familiares na manutenccedilatildeo de sua vida

acadecircmica Entretanto eacute importante frisar que esses mesmos sujeitos estudaram o

ensino meacutedio em instituiccedilatildeo privada e o ensino superior em universidades puacuteblicas

QUADRO 5Renda mensal da famiacutelia dos dirigentes da ENESSO do periacuteodo de 2003-2008

Renda mensal Quantidade de dirigentes que assinalaram a opccedilatildeo

Valor em

Entre 1 e 2 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos

8 36

Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos

6 27

Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos

2 9

Entre 9 e 10 salaacuterios-miacutenimos

1 5

46Alguns dos espaccedilos de realizaccedilatildeo dos estaacutegios foram Empresa de saneamento baacutesico SESC instituiccedilatildeo de defesa dos direitos da crianccedila e do adolescente prefeituras Ministeacuterio Puacuteblico secretarias de habitaccedilatildeo Central Permanente de Acolhimento entre outros As pessoas que trabalharam em outras atividades aleacutem do estagio foram ministrando aulas47 Valores considerando o salaacuterio de R$ 415 00 que esteve vigente no Brasil ateacute fevereiro de 2008

120

Acima de 10 salaacuterios-miacutenimos

3 14

Total 22 Total 100

Outra questatildeo respondida pelos dirigentes da ENESSO correspondeu a

sua inserccedilatildeo ou natildeo em organizaccedilatildeo coletiva antes de ser militante do MESS

Conforme demonstraccedilatildeo no graacutefico 8 dos(as) 22 dirigentes que contribuiacuteram nessa

pesquisa 15 deles(as) asseveraram ter experiecircncia no acircmbito da organizaccedilatildeo

coletiva anterior a militacircncia no ME universitaacuterio o que por sua vez representa um

percentual de 68 destacando que seis dirigentes que responderam positivamente

elencaram participaccedilatildeo em mais de um espaccedilo de atuaccedilatildeo

GRAacuteFICO 8Participaccedilatildeo em organizaccedilatildeo coletiva dos(as) dirigentes da ENESSO antes da

inserccedilatildeo no MESS

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

No quadro abaixo expressamos todos os espaccedilos citados pelos sujeitos

com a perspectiva de sinalizar as vivecircncias de organizaccedilatildeo dos(as) dirigentes da

ENESSO antes de sua accedilatildeo no MESS Assim temos indicaccedilotildees em que espaccedilos

ocorreram essa atuaccedilatildeo

121

QUADRO 6Espaccedilos de atuaccedilatildeo poliacutetica citadas pelos dirigentes da ENESSO antes de

sua inserccedilatildeo no MESS

Organizaccedilatildeo citada pelos dirigentes Nuacutemero de dirigentes que citaram a organizaccedilatildeo

Movimento Estudantil Secundarista 9Partido Poltico 3Movimento de Mulheres 1Movimento da Economia Solidria 1Grupo de Jovens da Igreja Catlica (juventude Catlica)

2

Grupo Hora da Verdade 1Movimento Comunitrio 2Grupo de Adolescentes do Centro de Voluntariado (vinculado ao Movimento de Adolescentes Brasileiros)

1

Terceiro Setor 1

Grupos 1

Fonte Pesquisa emprica realizada pela autora

Dos dados citados no Quadro 6 apreendemos que a vivncia no

Movimento Estudantil Secundarista constitui um espao relevante na formao

poltica dos(as) dirigentes da ENESSO visto ter sido a experincia mais destacada

por eles(as) antes de sua insero na universidade e por conseguinte no MESS Dos

nove estudantes que indicaram a participao no Movimento Secundarista seis

provenientes de escolas pblicas e trs oriundos(as) de escolas privadas Nesse

sentido os dados podem indicar que o Movimento Estudantil Secundarista apresenta-

se mais atuante nas escolas pblicas

Conforme a investigao de Ramos(1996) independente da natureza da

instituio na qual os(as) dirigentes estudaram no ensino mdio eles(as) tiveram

vivncias no ME secundarista bem como em outros espaos de organizao coletiva

o que ldquo possibilita a busca de formas polticas de participao na universidaderdquo (p90)

interessante considerarmos a diversidade e natureza de espaos

ocupados(as) pelos dirigentes entretanto diante da simples citao desses no

temos condies de analisar a direo social das entidades e movimentos sociais em

que iniciaram sua participao

122

Antes de chegar a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO todos(as) ex-

dirigentes ou seja o equivalente a 100 dos(as) que responderam o questionaacuterio

passaram por experiecircncia em espaccedilos e entidades do ME universitaacuterio

O quadro 7 tem o objetivo de socializar em que entidades os(as)

estudantes atuaram antes da ENESSO

Quadro 7Lista das entidades estudantis em que atuaram os(as) militantes antes de assumirem

a Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO

Entidades estudantis Quantidades de estudantes que indicaram a entidade

Conselho de Representantes de Turma (CORETUR)

5

Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico (CA ou DA)

20

Diretoacuterio Central dos Estudantes (DCE)

4

Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO

3

Outras 1

Fonte Pesquisa empiacuterica realizada pela autora

Importante explicar que dos(as) 2248 ex-dirigentes da ENESSO que

enviaram as suas contribuiccedilotildees 13 tiveram vivecircncia em um uacutenico espaccedilo

predominantemente em CA ou DA 7 em duas entidades49 250 militante com vivecircncia

em trecircs espaccedilos

Diante dos dados estabelecidos anteriormente temos a indicaccedilatildeo que a

passagem do(a) estudante pelo CA ou DA constitui-se uma tendecircncia majoritaacuteria

pois somente dois sujeitos natildeo atuaram nessa entidade antes da experiecircncia na

Coordenaccedilatildeo Nacional da ENESSO Acreditamos que essa dimensatildeo representa uma

trajetoacuteria de acumulo e vivecircncias que possibilitam uma atuaccedilatildeo mais qualificada

dos(as) estudantes ao assumirem a direccedilatildeo nacional da executiva Para Ramos(1996

p94)

48 Desses 11 em CA ou DA 1 como CORETUR e outro(a) como membro do DCE 49 As entidades foram 2 de CA ou DA e do DCE 2 atuou no CORETUR e no CA ou DA 2 estudante ocupou cargo no CA ou DA e na Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e finalmente 1 estudante ocupou cargo no CA e em outra entidade citada por ele(a)50 Os espaccedilos foram CORETUR CA OU DA e Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO e outro(a) no CORETUR CA OU DA e no DCE

123

A experiecircncia de participaccedilatildeo anterior em outras instacircncias deliberativas e estudantis de base possibilita maior maturidade poliacutetica ao(a) dirigente da entidade nacional pois este(a) jaacute traz um acuacutemulo de vivecircncias coletivas que vatildeo se afirmando cada vez mais no processo de militacircncia

Outro dado relevante eacute que dos(as) 20 estudantes que evidenciaram ter

atuado em CA ou DA 12 desempenharam essa accedilatildeo em universidades puacuteblicas o

equivalente a 60 e 8 em instituiccedilotildees privadas destarte 40

Outro questionamento se referiu agrave filiaccedilatildeo partidaacuteria dos(as) dirigentes da

ENESSO no periacuteodo de 2003-2008 Conforme os dados a predominacircncia eacute de

sujeitos natildeo filiados(as) a partidos poliacuteticos um total de 14 dirigentes o

correspondente ao percentual de 64 Esse expressivo percentual de natildeo filiados(as)

pode corroborar para um processo de fragilizaccedilatildeo na formaccedilatildeo poliacutetica dos(as)

militantes do MESS e consequumlentemente dos(as) dirigentes da ENESSO Ou reflete

autonomia do Movimente em relaccedilatildeo a partidos poliacuteticos Temos o entendimento que

seja importante a articulaccedilatildeo entre esses sujeitos coletivos e que o partido poliacutetico se

configura como relevante espaccedilo de formaccedilatildeo contudo eacute destruidora a transfiguraccedilatildeo

de Movimentos em correia de transmissatildeo deles seja de partidos situados no campo

da direita ou esquerda Um(a) dos(as) entrevistados(as) considera que

essa relaccedilatildeo movimento estudantil e partido poliacutetico que natildeo soacute tem no movimento estudantil[]eacute importante essa relaccedilatildeo[] o MS ele tem por natureza apenas uma pauta ele surge pra defender uma pauta poliacutetica no caso do MESS pra defender a formaccedilatildeo em serviccedilo social com qualidade e aiacute entra o debate de defender a universidade e defender a educaccedilatildeo publica gratuita de qualidade entatildeo soacute essa dimensatildeo partidaacuteria essa dimensatildeo com esses grupos poliacuteticos faz com que a gente perceba que a nossa pauta tem que ta vinculada haacute uma pauta maior geral de disputa e de um projeto de sociedade entatildeo acho que eacute importante a contribuiccedilatildeo agora fica a gente a compreender que natildeo satildeo momentos tatildeo distintos mais que cada um desses movimentos tem suas peculiaridades Movimento Estudantil Movimento Sociais tem uma peculiaridade assim como o partido cada um tem que conseguir compreender a dinacircmica e da mesma forma que o partido influecircncia o Movimento Estudantil o Movimento Estudantil influecircncia o partido(Urano)

Mediante o cruzamento de dados temos a indicaccedilatildeo que apenas dois ex-

militantes socializaram ter experiecircncia nesse tipo de organizaccedilatildeo antes de sua

entrada no MESS e desse modo anterior a sua gestatildeo na executiva Portanto

mediante os a produccedilatildeo de dados temos que dos(as) 8 que indicaram filiaccedilatildeo

partidaacuteria o equivalente a 36 seis delas ocorreram durante a vivecircncia universitaacuteria

124

o que sinaliza uma trajetoacuteria de articulaccedilatildeo entre essas duas formas de organizaccedilatildeo

coletiva O que explica essa tendecircncia A preocupaccedilatildeo dos(as) militantes com a

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica A procura de outros espaccedilos de militacircncia depois da

vivencia acadecircmica dada a caracteriacutestica de transitoriedade do ME Essas satildeo

questotildees que soacute poderatildeo ser aprofundadas e entendidas com a realizaccedilatildeo de outras

pesquisas e investigaccedilotildees

Um dirigente que manifestou participaccedilatildeo em partido poliacutetico antes de sua

militacircncia no MESS declarou ter se desfilado anterior a vivecircncia universitaacuteria

Ainda eacute importante destacar a seguinte apreensatildeo dos(as) 8 que

responderam positivamente durante a ocupaccedilatildeo de cargo na executiva todos(as)

foram filiados(as) ao PT natildeo sendo nenhum outro partido elencado pelos(as)

dirigentes Essa tendecircncia provoca curiosidades e inquietaccedilotildees sobretudo no sentido

de entendermos o porquecirc de mesmo durante forte investidas de um governo na

perspectiva de minimizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica e de fortalecimento da iniciativa

privada termos esse direcionamento de filiaccedilatildeo ao partido que representa os

interesses governamentais por militantes do MESS e coordenadores nacionais da

ENESSO que historicamente luta em favor da defesa da universidade puacuteblica

gratuita laica e de qualidade no Brasil Ainda eacute significativo salientar o fato de um

dirigente ter afirmado que atualmente se desfilou do PT e passou a atuar no PSTU

Essa hegemonia de filiaccedilatildeo dos(as) dirigentes da ENESSO ao PT

repercutiu na atuaccedilatildeo da entidade nos acircmbitos de defesa da universidade puacuteblica

gratuita presencial laica e de qualidade e da formaccedilatildeo profissional fundada nas

diretrizes curriculares de 1996 neste contexto de efetivaccedilatildeo da contra-reforma do

ensino superior no governo do petista Lula A pesquisa documental e o

aprofundamento de anaacutelises das entrevistas com ex-dirigentes da ENESSO

materializado no proacuteximo item contribuiraacute com o entendimento dessas

problematizaccedilotildees

5-2 UNIVERSIDADE E FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL o protagonismo da ENESSO

A ENESSO desenvolve suas accedilotildees considerando as deliberaccedilotildees51

aprovadas no encontro nacional no qual eacute manifestado o posicionamento a ser

desenvolvido pela executiva relativa a cinco eixos prioritaacuterios de atuaccedilatildeo Conjuntura

Cultura e Valores Formaccedilatildeo Profissional Movimento Estudantil e Universidade

Importante destacar que essas esferas satildeo divididas em termos didaacuteticos com vista a

51 Atualmente as deliberaccedilotildees satildeo cumulativas e satildeo modificadas quando da necessidade do segmento estudantil

125

facilitar as discusses e aprovaes das deliberaes durante o encontro contudo

so dimenses imbricadas entre si

Nessa dimenso trataremos de evidenciar a partir das decises ratificadas

nos ENESS que engloba o perodo de 2003-2008 bem como nos documentos

produzidos pela ENESSO e na fala dos(as) dirigentes entrevistados(as) o

direcionamento da executiva especialmente nos mbitos da universidade formao

profissional e ME

Dessa maneira o XXV ENESS que ocorreu entre 03 e 08 de agosto de

2003 na cidade de Salvador-BA 52 marcou a existncia de 15 anos da ENESSO As

aprovaes da plenria expressaram o posicionamento contrrio dos(as) estudantes

de Servio Social diante das primeiras medidas pertencentes a contra-reforma do

ensino superior efetivada na gesto do governo petista Nessa perspectiva conforme

o deliberado a ENESSO deveria explicitar o compromisso com uma tendncia de

avaliao contraposta ao SINAES bem como apresentar uma postura crtica e de

negao ao PROUNI o qual estava em processo de discusso e aprovao por parte

do governo A preocupao do segmento estudantil com um processo avaliativo

qualificado se manifesta ao defender a necessidade de

Uma ampla avaliao institucional que se realize antes da avaliao dirigida ao corpo discente considerando as especificidades regionais de cada escola bem como a implementao e aplicao das diretrizes curriculares da ABEPSS Que avalie tambm as condies de acesso e permanncia dos estudantes nas universidades e as condies didticas pedaggicas e estruturais(ENESSO 2003 p03)

As deliberaes referentes ao eixo da formao profissional expressam o

compromisso da ENESSO com a defesa das Diretrizes Curriculares como forma de

potencializar uma formao qualificada e o fortalecimento do projeto tico-poltico do

Servio Social Para tal a plenria presente no XXV ENESS destacou a necessidade

de articulao com as demais entidades de representao e organizao da profisso

a ABEPSS e o CFESS

No eixo que trata especificamente do ME se registra a aprovao de que a

UNE no tocante a contra-reforma do ensino superior no representa os(as)

estudantes de Servio Social entretanto estatutariamente a ENESSO continua

reconhecendo-a como a entidade mxima de articulao e organizao do segmento

no Brasil

52 O tema do ENESS foi ldquoo Servio Social em busca de uma construo coletiva na atual conjuntura brasileirardquo

126

Nitidamente essa contradio poltica em relao a UNE se tornou

recorrente sobretudo nos anos de gesto de Lula na presidncia da repblica uma

vez que a tendncia UJS majoritria na entidade e articulada ao PC do B tem uma

posio de aceitao da contra-reforma do ensino superior levando ao

descontentamento para a base do movimento e provocando at mesmo severos

divisionismos no mbito da organizao estudantil nacional realidade expressa por

exemplo na criao da CONLUTE em 2004

Desse modo a gesto 20032004 ldquoENESSO na luta para fazer a sua

prpria histriardquo estava diante de um significativo desafio desenvolver lutas que

contemplasse as deliberaes contrrias dos(as) estudantes em relao s medidas

adotadas para educao pela gesto Lula um governo forjado no campo dos MS e

que chegou a presidncia amplamente apoiado pelo ME incluindo o MESS Alm

disso como mostraram os dados relacionados ao perfil dos(as) dirigentes da

ENESSO substancial a existncia de coordenadores(as) da entidade filiado(a) ao

PT sendo que em todas as gestes que engloba o perodo aqui estudado se confirma

a presena de pelo menos um(a) militante com essa filiao partidria

Na carta de apresentao da nova gesto confirmado o compromisso

com a efetivao das deliberaes estabelecidas pelo coletivo de estudantes

presentes no ENESS de Salvador a partir do desenvolvimento de aes que

possibilitem o fortalecimento das trs entidades da profisso e a posio de atuar

articuladamente com MS e organizaes sindicais que expressam os interesses da

classe trabalhadora

A ENESSO no perodo 2003-2004 desenvolveu a campanha ldquoAbaixo a

mercantilizao do ensinordquo Esta se desenvolveu a partir da produo de cartazes

textos divulgados em boletins e jornais elaborados pela prpria entidade Nesses

documentos verificamos a argumentao de que a tendncia de transfigurar a

educao em mercadoria consiste num desrespeito ao reconhecimento da educao

como direito e da responsabilidade do Estado na sua promoo tal qual

estabelecido nos artigos 206 e 207 da Carta Constitucional de 1988

importante evidenciar que a segunda edio do jornal produzido na

gesto ldquoENESSO na luta pra fazer a sua prpria histriardquo aborda criticamente os

principais pontos da proposta da reforma universitria que seria viabilizada pelo

recente governo federal Nessa dimenso a anlise apreende o PROUNI como um

caminho que potencializa a retirada de responsabilidade do Estado na manuteno do

ensino superior e fortalece a iniciativa privada como ressaltado no seguinte

entendimento

127

Se o governo quer criar mais vagas no ensino privado( que somos contra) inaceitvel a renuncia fiscal pois dinheiro pblico no arrecadado financiando os tubares do ensino alm disso com ensino de m qualidade sem pesquisa e extenso porque o governo no cria um fundo financiado pelas instituies privadas para financiar a demanda de vagas (ENESSO p01 2004)

Outra manifestao contrria da entidade s medidas propostas pelo

governo federal para serem implementadas na educao superior consistiu na

negao da utilizao do ensino a distncia Nessa abordagem a ENESSO

considerou que segundo dados do IBGE apenas 4 da populao brasileira teriam

acesso ao servio de internet o jornal ainda chama ateno para o fato dessa

modalidade est vinculada a corporaes financeiras o que expressa a preocupao

com a rentabilidade e no com uma educao de qualidade e comprometida com a

melhoria de vida dos sujeitos histricos A entidade finaliza a anlise das proposies

do governo para educao superior afirmando que elas

no atendem aos interesses dos setores que defendem o ensino pblico gratuito e de qualidade Sendo assim apoiando-se em nossas deliberaes que tem como principio a defesa intransigente do carter pblico e gratuito da universidade no podemos aceitar os elementos que vem configurando a chamada reforma universitria que representa o aprofundamento da mercantilizao do ensino(ENESSO p2 2004)

No terceiro e ltimo boletim elaborado na gesto 2003-2004 os seus

dirigentes chamam ateno para as dificuldades enfrentadas pela entidade as

ressalvas so direcionadas sobretudo para falta de recursos financeiros que fragiliza

as aes da ENESSO ao limitar a ida dos(as) coordenadores ao encontros e fruns

estudantis impossibilita ainda a maior produo dos materiais utilizados no

desenvolvimento das atividades e execuo das campanhas lanadas o que por sua

vez significa a no apropriao de estudantes das discusses e das aes efetivadas

pela entidade que os representam nos mais variados espaos

Apesar das dificuldades os(as) dirigentes da ENESSO da gesto 2003-

2004 atribuem ao ME um espao de aprendizado e que contribui para construo de

sujeitos histricos e militantes mais qualificados com apreenso crtica da realidade

social

De 25 a 30 de julho de 200453 aconteceu em Vitria-ES o XXVI ENESS54

em que as pautas aprovadas pelo coletivo de estudantes ratificaram o mesmo

53 A chapa Viver na Luta foi a nica concorrente a direo nacional da ENESSO54 Encontro teve como tema ldquoParticipar construir a histria Atuar tornar sonho ao ousar revolucionar o mundordquo

128

posicionamento do encontro passado uma postura majoritria dos(as) estudantes de

Servio Social de recusar a contra-reforma do ensino superior em curso no Brasil As

deliberaes sinalizam que a nova gesto da ENESSO dever se contrapor ao

SINAES e por conseguinte ao exame direcionado ao segmento estudantil previsto

por esse processo avaliativo no caso o ENADE E nesse sentido tem-se a posio

de que a executiva seja contrria a participao da ABEPSS na comisso de avaliao

preconizada pelo MEC inicialmente essa deciso gera uma relao conflituosa das

entidades quando se aborda a problemtica do SINAES

O compromisso majoritrio do MESS com a universidade pblica se

verificou tambm na realizao do ato pblico durante o ENESS O ato teve o seguinte

tema ldquoEnsino pblico gratuito laico e de qualidade para todos Educao No

mercadoria contra essa proposta de reforma universitriardquo

Diante das observaes sobre as deliberaes decorrentes do XXVI

ENESS constatamos que a atuao da ENESSO no perodo de 20042005

apresentar uma continuidade em relao s lutas e atividades travadas

anteriormente especialmente nos mbitos da universidade e da formao

profissional Nesses termos ainda em 2004 a ENESSO age com o objetivo de

promover o boicote ao ENADE tarefa a ser cumprida pela entidade e que ficou

estabelecida no prprio encontro nacional assim a gesto ldquoViver na Lutardquo realizou

uma campanha nacional destacando a posio da entidade e a necessria postura

poltica de convocar os(as) estudantes de Servio Social a apoiar o boicote ao exame

Segundo dados da prpria ENESSO a campanha obteve xito e o

boicote no dia 07 de novembro de 2004 foi efetivado com sucesso em diversos

cursos chegando adeso de at 90 em algumas instituies de ensino superior

no geral o nmero correspondeu a 60 dos(as) estudantes de Servio Social

selecionados(as) para fazer a avaliao O jornal da entidade divulgado em janeiro de

2005 afirma que o movimento sofreu perseguies em diversas escolas por todo pas

Essa postura evidencia a freqente tendncia de criminalizao dos MS e que entre

outros rebatimentos gera uma imagem distorcida desses sujeitos coletivos frente

maioria da populao brasileira tendo a mdia um participao considervel nesse

mascaramento da contraditria e desigual realidade na sociabilidade capitalista e no

Brasil No mbito especifico do Servio Social Urano da gesto 20042005 indica

tensionamentos com a ABEPSS no processo de boicote ao ENADE o(a) dirigente

ressalva

mas a diretoria da abepss seguia isso a risca que era eles tinha um assento na comisso de avaliao e ns ramos contrrios a essa participao que a abepss defendia naquele momento que os

129

estudantes deveriam fazer o enade ento ns travamos essa discusso dentro da abepss assim como no cfess de levar essa discusso da reforma universitria para dentro dessas outras entidades trazendo elas para luta para pareceria e colocando o que de fato a reforma universitria trazia de implicaes para vida profissional n Para formao profissional ento a gente conseguiu fazer n no foi muito fcil fazer essa articulao porque a abepss tinha um posicionamento contrrio e a de 2004 em diante ficou mais fcil porque foi a gesto do nordeste a gesto da UFPE e um dos compromissos da gesto da UFPE no enpess de 2004 que aconteceu no Rio Grande do Sul era sair da comisso de avaliao do enade e ter um posicionamento critico em relao ao enade

Diante desses resultados fazemos as seguintes reflexes a campanha

desenvolvida expressou o potencial organizativo que a entidade apresenta nesse

cenrio de refluxo dos movimentos sociais A ao foi materializada articuladamente

com outras entidades estudantis E no mbito especfico do Servio Social teve o

apoio da categoria e de suas entidades representativas A avaliao feita pela prpria

entidade favorece a concretizao de algumas reflexes Temos o entendimento que o

ME assim como outros MS atravessa um momento de inflexo e dessa maneira o

boicote ao ENADE tambm sofreu as implicaes dessa conjuntura isso se

manifesta por exemplo no total de 40 de estudantes que no atenderam a postura

poltica de assumir o boicote Isso aconteceu por qu Pelo forte individualismo que

vigora na sociabilidade capitalista Tambm alm disso no mbito do prprio Servio

Social a ABEPSS esteve presente na comisso de elaborao da prova o que de

certa maneira por parte do segmento estudantil contribuiu para uma apreenso de

legitimidade daquela entidade em relao ao ENADE outro aspecto a ser

considerado consistiu nas dificuldades de ordem objetiva que limitou o potencial da

campanha ainda destacamos o fato de que na poca mais de 70 das escolas de

Servio Social se encontravam na esfera privada que majoritariamente utiliza os

resultados obtidos para divulgao de propagandas no competitivo mercado da

educao o que por sua vez dificultou a organizao e mobilizao do segmento

inserido nessas instituies de ensino superior tambm relevante ressaltar que

essa atividade no foi desenvolvida majoritariamente com outras entidades estudantis

e MS portanto executada de modo fragmentado no prprio mbito de organizao do

ME

Os dados sugerem que a gesto ldquoviver na Lutardquo 20042005 atuou tendo

como foco central de suas aes a discusso sobre as Diretrizes Curriculares A

principal campanha da gesto ldquocontra essa reforma do ensino superior do governo

Lula em defesa das nossas diretrizes curriculares- a ENESSO somos todos nsrdquo No

mesmo jornal que analisa os resultados do ENADE a gesto plubiciza de maneira

130

sucinta o processo que culminou na elaborao das referidas diretrizes Ainda tratou

de destacar os rebatimentos da lgica mercadolgica para a fragilizao da formao

profissional do(a) assistente social

Em abril de 2005 a entidade produziu um boletim sobre a reforma

universitria e a formao profissional no qual argumentava que as medidas de

destruio da universidade pblica no Brasil j estavam em curso desde a dcada de

1990 Nessa dimenso a ENESSO problematiza a no aprovao por parte do MEC

da proposta de currculo elaboradas pela ABEPSS e aprovada pela categoria em

novembro de 1996 Diante do exposto tem se a concluso que aes do governo

Lula como o PROUNI e o SINAESENADE consistem em um processo de concluso

da poltica privatista iniciada nos governos anteriores e sobretudo na era FHC

O texto ainda faz referncia crtica ao posicionamento de aceitao da

contra-reforma do ensino superior por parte da UNE Contudo a postura de rejeio

da ENESSO no significa a negao da importncia dessa entidade estudantil na

trajetria brasileira Utilizando tal argumentao gesto ldquoviver na Lutardquo evidencia

preocupaes com a criao da CONLUTE outra organizao de carter nacional e

com uma ao poltica antagnica a desenvolvida pela UNE especialmente no que se

refere atuao de Lula na presidncia da repblica

Em maio de 2005 a ENESSO mais uma vez socializa no seu jornal a

importncia da campanha em favor da formao pautada nas Diretrizes de 1996 A

entidade chama ateno para a poltica privatizante que predominou na educao

durante a vigncia do governo FHC e que teve continuidade na gesto de Lula Ainda

preocupada com a formao profissional o jornal retrata a relevncia do estgio como

importante instrumento no fortalecimento da relao teoria-realidade entretanto a

entidade considera que dificuldades limitam o desempenho dessa atividade de forma

mais qualificada assim sendo so ressaltadas a tendncia de reduzi-lo a mo-de-

obra barata a necessidade de um acompanhamento por parte dos profissionais e das

instituies de ensino mais efetivo com vistas a potencializar essa vivncia e

contribuir para o futuro exerccio profissional dos(as) estudantes Essa perspectiva de

travar o debate da contra-reforma do ensino superior a partir da discusso das

Diretrizes Curriculares constituiu uma estratgia poltica dos(as) dirigentes da

executiva

Nos documentos produzidos pela entidade no perodo de 2004-2005

embora o foco prioritrio seja o debate e a conseqente defesa das Diretrizes

Curriculares importante evidenciar que as anlises constantes nessas produes

so realizadas numa perspectiva de totalidade visto que observamos uma reflexo

131

remetida ao contexto scio-histrico vigente Essa dimenso se explicita na seguinte

constatao

No podemos entender a atual proposta de reforma do ensino superior como algo isolado mas como um processo que teve incio em 1996 com a LDB com a reforma do ensino superior de 1998 que esta faz parte da reforma do Estado do governo federal implementada na dcada de 1990 e que o atual governo d continuidade Tais medidas so orientadas por uma perspectiva neoliberal de reduo da esfera estatal e de fortalecimento das iniciativas privada no financiamento formulao e execuo das polticas pblicas[]e a educao como um espao especifico porm no exclusivo da formao ao se configurar como poltica pblica e direito do cidado sofre igualmente das orientaes privatistas que vivenciam as outras polticas pblicas(ENESSO P 04 2005)

Concordamos com a concepo que a poltica para educao adotada

durantes as duas gestes de Lula configura ao mesmo tempo continuidade e

aprofundamento da lgica predominante nos anos de 1990 entretanto no podemos

apreender essa tendncia como um fenmeno natural ou seja segui as orientaes

neoliberais consistiria no nico caminho possvel a ser trilhado pelo governo do petista

Lula

Essa propenso presente nas elaboraes e posicionamento da entidade

pode ser reflexo da ligao de alguns de seus dirigentes com o PT que embora

desenvolva uma atuao crtica em relao contra-reforma do ensino superior

procura justificar a postura adotada pelo governo Lula

Entre os dias 24 e 29 de julho de 2005 aconteceu o XXVII ENESS55 na

cidade de Recife-PE nesse encontro duas candidaturas concorreram a direo da

ENESSO ldquoA luta no pode Pararrdquo constituda por militantes do agrupamento Viver na

Luta e ldquochega de inrcia a Sada pela Esquerdardquo por militantes do grupo de mesmo

nome a primeira ganhou a disputa eleitoral

As resolues aprovadas no ltimo dia do encontro direcionaram a

ENESSO a dar prosseguimento trajetria crtica nos mbitos da universidade e da

formao profissional Nesses termos a direo contrria a contra-reforma se afirma

na negao das medidas j implantadas no campo da educao superior como o

PROUNI e o ENADE

No eixo da formao profissional salientada a importncia da articulao

das trs entidades representativas da profisso como estratgia poltica de defesa de

55 Este encontro apresentou como tema ldquomuitos para poucos poucos para muitos nada para outros o desafio para o Servio Social na luta pela consolidao de direitosrdquo

132

uma formao referendada nas Diretrizes Curriculares de 1996 Essa dimenso se

expressa no desenvolvimento conjunto de lutas e atividades Assim sendo em

dezembro de 2005 a ABEPSS a ENESSO e o CFESS lanaram manifesto no qual

publicizava a preocupao das entidades com abertura de cursos de Servio Social a

distncia entendendo que essa modalidade de ensino evidencia o crescente processo

de aligeiramento da formao profissional o que por sua vez fortalece a entrada de

profissionais na sociedade e no mercado sem a devida preparao para o exerccio

da profisso Segundo Terra da gesto 20052006 da direo nacional da ENESSO

na verdade esse tema reforma universitria que era o que nos angustivamos n E o que ns pautvamos na poca um ano de gesto foi questo da reforma universitriaagora o posicionamento da entidade ele t bastante claro construdo dentro das deliberaes que foram construdas coletivamente com os estudantes a partir dos posicionamentos que tem das tendncias polticas que impulsionam elas formulam discutem com os estudantes constroem as deliberaes e a entidade encampa esse processo

A nova diretoria da ENESSO ldquoA Luta No Pode Pararrdquo na carta de

apresentao definiu como foco central de sua atuao para o perodo de 20052006

o fortalecimento do ME Assim a sua principal bandeira foi ldquoENESSO defesa da

articulao e fortalecimento do Movimento Estudantilrdquo essa temtica esteve presente

nos principais documentos produzido pela entidade no decorrer da referida gesto

O jornal de maro de 2006 teve amplo espao destinado reflexo do

protagonismo da juventude brasileira nos rumos do pas nessa oportunidade

enfatizada a campanha ldquoo petrleo nossordquo desencadeada pela UNE nos anos de

1950 e da combativa atuao do segmento estudantil durante os anos de vigncia da

ditadura militar iniciada com o golpe de 1964 Na produo se sobressai anlise que

a conjuntura recente desfavorvel para organizao dos MS em particular no

MESS este contexto se fortalece com

o desmonte da educao pblica gratuita e de qualidade Consoante com isso tem crescido o nmero de escolas privadas e curso a distncia que dificultam a participao dos estudantes no movimento devido o perfil dos estudantes que so da classe trabalhadora (precisam trabalhar para manter os estudos) da falta de democracia nestas instituies( ENESSO p 01 2006)

Certamente a diversidade de instituies pblicas e privadas mais

recentemente a proliferao da modalidade distncia requer o desenvolvimento de

atividades e estratgias diferenciadas nesses espaos e que possa contribuir para o

133

processo de articulao e organizao do MESS e de sua atuao consubstanciada

na defesa da educao pblica56 e de uma formao qualificada

Essa produo ainda traz uma abordagem sobre a formao profissional

em que o centro da discusso constituiu o processo de avaliao a ser desenvolvido

pela ABEPSS sobre os 10 anos de aprovao e implementao das Diretrizes

Curriculares nas unidades de formao acadmica investigao destacada no quatro

trs dessa dissertao O texto realiza uma breve trajetria do Servio Social no qual

privilegiado o processo que culminou na constituio das diretrizes em 1996 Aps

esse resgate histrico a coordenao nacional da ENESSO juntamente com a

representao discente em ABEPSS orientam os CA a promoverem pelo menos um

seminrio sobre a referida pesquisa no intuito de pensar em estratgias que

possibilitem a participao de todos(as) nas discusses que resultar no

preenchimento do instrumental da pesquisa ratifica a importncia de uma

representao estudantil de cada unidade acadmica nas oficinas promovidas pela

abepss para discutir a investigao e ainda incentiva a ida de discentes ao ENPESS

de dezembro de 2006 para participarem e se apropriarem dos debates relacionados a

esse processo avaliativo O incentivo da ENESSO demonstra o seu compromisso

com os rumos do Servio Social e com as questes debatidas pelas outra entidade da

profisso

Entretanto importante problematizarmos que embora a gesto 20052006

tenha apresentado com eixo estruturante de sua atuao o fortalecimento do ME no

tivemos a realizao de medidas mais consistente pra esse fim com exemplo a

realizao de cursos de formao poltica que potencializaria uma qualificao para

os(s) militantes do MESS e dirigentes da ENESSO

De 24 a 29 de julho de 2006 aconteceu o XXVIII ENESS na cidade de

Palmas-To57 Mais uma vez duas candidaturas disputam a direo da executiva Uma

chapa com membros e apoiada pelo grupo Viver na Luta e outra com apoio de

militantes de agrupamentos de oposio como PDP A sada pela Esquerda e um

grupo em processo de criao o ldquoCara e Coraes Novosrdquo A primeira saiu vencedora

no pleito

56 Inserida na luta em favor da Universidade pblica no Brasil a ENESSO divulga em outubro de 2005 nota de apoios aos (as) estudantes da Universidade Federal de Alagoas que desencadearam um movimento de greve reivindicando pautas do ME e se colocando contrrios(as) a contra-reforma educacional de Lula 57 O ENESS de Palma teve como tema Um outro mundo possvel ldquopara ver meu sonho teimoso se realizarrdquo

134

Nesse encontro as deliberaccedilotildees sancionadas manifestam a postura de

recusa dos(as) estudantes de Serviccedilo Social com o niacutetido processo de mercantilizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo presente na poliacutetica educacional de Lula

Diante disso observa-se a necessidade de se travar o debate da contra-

reforma articuladamente com a discussatildeo sobre formaccedilatildeo profissional tendecircncia jaacute

apreendidas nas gestotildees passadas Essa estrateacutegia eacute preconizada como meio de

facilitar a compreensatildeo por parte dos(as) estudantes dos negativos rebatimentos das

medidas efetivadas para seu cotidiano nas instituiccedilotildees de ensino e endogenamente

para profissatildeo Outra deliberaccedilatildeo referente ao ensino superior que explicita a direccedilatildeo

poliacutetica a ser seguida pela entidade trata-se da afirmaccedilatildeo que

a ENESSO natildeo dispute o anteprojeto no congresso se posicionando contrariamente agrave reforma universitaacuteria que expressa a mercantilizaccedilatildeo do ensino Combatendo por meio da formaccedilatildeo poliacutetica e do fortalecimento dos CAS e DAS e DCE`S e incentivando alianccedilas com CAS de outros cursos nas universidades nos municiacutepios e etc E com as entidades combativas que tambeacutem se colocam afetivamente contra a reforma neoliberal do ensino superior ( ENESSO p 03 2006)

Como destacado anteriormente as deliberaccedilotildees por englobarem o

consenso do coletivo de estudantes presentes no Encontro Nacional reflete de modo

mais amplo as contradiccedilotildees e disputas poliacuteticas no interior do MESS assim sendo

posturas nitidamente mais criacuteticas em relaccedilatildeo agrave gestatildeo e as accedilotildees de Lula podem ser

expressatildeo da forccedila de agrupamentos que fazem oposiccedilatildeo a direccedilatildeo nacional da

ENESSO

A partir da anaacutelise documental e aqui especialmente das deliberaccedilotildees

aprovadas no periacuteodo de 2003-2008 merece destaque o fato de ser constatada pelo

segmento estudantil a necessidade de construccedilatildeo de alianccedilas com outros sujeitos

histoacutericos no desenvolvimento de lutas e atividades seja no espaccedilo restrito da

universidade ou fora dele De tal forma salientamos a perspectiva de articulaccedilatildeo com

entidades como ABEPSS o Conjunto CFESS-CRESS o ANDES e outros

movimentos como O MST a defesa de participaccedilatildeo da ENESSO no grito dos

Excluiacutedos na luta em favor do territoacuterio indiacutegena quilombola dos direitos dos

trabalhadores rurais e urbanos

No ENESS de 2006 tanto no eixo de universidade como de formaccedilatildeo

profissional se confirma a posiccedilatildeo contraacuteria do MESS em relaccedilatildeo ao exame de

135

proficincia58 Esse apreendido como um mecanismo punitivo para os(as)

estudantes e que no contribui para melhorias de ensino e aprendizagem nas

instituies

No eixo de formao profissional reforada a relevncia da participao

dos(as) discentes e da prpria ENESSO na pesquisa promovida pela ABEPSS cujo

objetivo precpuo a analise do processo de implementao das Diretrizes

Curriculares no decorrer de seus 10 anos bem como se preocupa com o combate

conjuntamente com as outras entidades do Servio Social a abertura de cursos que

no sejam fundados nas diretrizes

Essa tendncia coloca a ENESSO definitivamente contra a poltica de

abertura de cursos de graduao distncia que como j ressaltado no captulo

anterior se proliferam por todo o pas e no segue o preconizado pelas legislaes da

profisso

A posio da ENESSO gera no mbito da organizao do MESS situaes

contraditrias e conflituosas Os(as) estudantes dessa modalidade se sentem

representados pela ENESSO Segundo dirigente da ENESSO no perodo de

20062007eu acho que cria uma crise ainda maior que vai pra alm disso a necessidade do estudante do ensino a distncia passa a sentir de criar uma prpria entidade que lhes represente porque se a gente for avaliar que o estudante ele acaba se sentindo retaliado em todo espao do movimento estudantil que vai(NETURNO)

Assim a gesto 20062007 da ENESSO ldquotodos(as) na lutardquo alm das

dificuldades de organizao provocadas por exemplo pelo contexto de refluxo dos

MS fragilidades na formao poltica dos(as)estudantes as condies objetivas do

segmento estudantil e da prpria ENESSO ainda enfrentou srios obstculos

decorrentes do aumento exagerado de estudantes provenientes de cursos distancia

que no concordam com a posio de negao da executiva referente a essa

modalidade

Para Neturno a principal estratgia para amenizar essa situao

conflitante foi o dilogo com os(as) estudantes inseridos(as) na graduao a distncia

A principal argumentao utilizada pela ENESSO nas reunies acontecidas durantes

os encontros regionais foi de pautar o debate da poltica educacional na

contemporaneidade nela incluindo a graduao a distancia e seus rebatimentos para

formao do(a) assistente social Essa dimenso elucidada na fala do(a)

entrevistado

58 No dia 28 de setembro de 2008 por ocasio do 37 Encontro Nacional CFESSCRESS a categoria aprova a no adoo do exame de proficincia para o Servio Social

136

principalmente natildeo ter uma regulamentaccedilatildeo para o estaacutegio como eacute que vai se daacute a questatildeo do aprendizado da pratica profissional como eacute que o estudante vai ter contato com a pratica profissional como vai ser essa orientaccedilatildeo Vai ser a distacircncia tambeacutem Pra um professor que natildeo conhece a realidade do local onde o estudante taacute executando a sua intervenccedilatildeo []Como eacute que a gente orienta intervenccedilatildeo num local que a gente natildeo conhece Esses foram os aspectos que facilitaram muito o diaacutelogo mostrar os pontos de fragilidades dessa metodologia e aiacute a gente conseguiu fazer com que eles se sentissem representados pela entidade durante aquele periacuteodo (NETURNO)

A preocupaccedilatildeo com a criaccedilatildeo de novas entidades esteve presente durante

a aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no eixo do ME durante o ENESS de Palmas Dessa

maneira naquele encontro asseverou-se que os estudantes ali presentes eram

contra o divisionismo do ME e dos espaccedilos que se constituem em criaccedilotildees de

entidades paralelas as jaacute existentes as quais natildeo fortalecem ao contrario

enfraquecem o movimento

Essa proposiccedilatildeo representa inquietaccedilotildees diante da modalidade a distacircncia

e ou tambeacutem representa uma criacutetica relativa agrave criaccedilatildeo da CONLUTE no ano de 2004

Jaacute que esta tem atuando em paralelo a UNE Esses questionamentos contribuem

para o processo de apreensatildeo das fragilidades que perpassa o ME na atualidade e

que repercutem na sua atuaccedilatildeo poliacutetica

Um fato significativo a ser registrado eacute que a 14ordf deliberaccedilatildeo do eixo

conjuntura previa para o final do encontro uma anaacutelise da gestatildeo de Lula no qual

resultaria em um documento com avaliaccedilatildeo e perspectivas do segmento diante desse

governo Entretanto as escolas59 que ficaram ateacute o final do encontro utilizaram o

argumento de esvaziamento da plenaacuteria para natildeo elaborar o documento A natildeo

materializaccedilatildeo dessa deliberaccedilatildeo representa uma contradiccedilatildeo poliacutetica da executiva

diante do governo Lula De negaccedilatildeo da poliacutetica educacional mas de afirmaccedilatildeo e

defesa de seu governo Mesmo com o total de 10 escolas presentes ateacute o final do

encontro o esvaziamento da plenaacuteria se constitui um argumento consistente

O jornal da executiva divulgado em abril de 2007 traz reflexotildees referentes

agrave formaccedilatildeo profissional Movimento Estudantil e Universidade A discussatildeo no campo

da formaccedilatildeo tem como cerne o posicionamento contraacuterio da entidade ao exame de

proficiecircncia No documento eacute exposto que a expansatildeo da esfera privada com a

utilizaccedilatildeo do ensino a distacircncia consistiu na principal determinaccedilatildeo para que

assistentes sociais assumissem a defesa de adoccedilatildeo desse mecanismo para a

59 As escolas foram PUC-RS UEPB UFPE UFPB UFAL ULBRA UFS UCSALUSF E PUC-BH

137

profisso Conforme anlise da ENESSO a aprovao do exame no remete

necessariamente a qualificao profissional de modo que

se quisermos realmente melhorar a nossa formao profissional e nos posicionarmos contrrios a tudo que venha de encontro s diretrizes curriculares da categoria teremos mais fora se pautarmos nossa bandeira histrica da implementao na integra das diretrizes curriculares teramos assim um aproveitamento melhor do rendimento dos estudantes e possivelmente uma melhor qualificao profissional( ENESSO p02 2007)

De 2003 a meados de 2008 recorte temporal da pesquisa constatamos

que a produo da ENESSO no que se refere ao debate da formao profissional

apresenta na sua totalidade uma ntida direo de defesa inconteste das Diretrizes

Curriculares contribuindo dessa maneira para o reconhecimento da importncia

dessa entidade perante a categoria nos diversos debates e espaos que perpassam o

Servio Social brasileiro

No mbito do ME a edio do jornal de abril de 2007 trouxe o debate em

torno da UNE como ponto prioritrio de sua reflexo A ENESSO analisa que ao se

colocar favorvel a poltica educacional do governo Lula a UNE provocou uma

fragmentao no ME Para a executiva necessrio unificar o Movimento e essa se

dar mediante a defesa de medidas como ldquodemocracia nas instituies de Ensino

regulamentao do ensino privado mais verbas para IFES para garantir expanso do

ensino pblico e acesso e permanecia rubrica especifica para assistncia estudantilrdquo

(ENESSO P02-03 2007)

Um processo de revitalizao no ME requer o fortalecimento de entidades

estudantis e o desenvolvimento de aes que possam contribuir verdadeiramente

para unificao de pautas de estudantes que hoje se encontram em diversificadas

instituies privadas e pblicas presenciais e no presenciais Mais alm disso

significa processualidades complexas e contraditrias vejamos a UNE atua em

defesa da contra-reforma do ensino mas age segundo as suas anlises em nome da

defesa da expanso da educao superior no pas Portanto vivenciamos uma

conjuntura difcil na qual entidades e movimentos antes considerados

majoritariamente como espaos de contestao do status quo hoje atuam em

consonncia com a ordem vigente embora se reclamando como defensores de

melhorias e preocupados com a transformao social

No ultimo eixo de discusso o jornal da executiva apresentou o texto

intitulado ldquopor uma Universidade Democrtica e Popularrdquo e que no seu princpio

destacava

138

Em 2002 com a eleiccedilatildeo do Governo Lula criou um clima de muitas expectativas para o movimento da educaccedilatildeo que viu em Lula a possibilidade de reverter os oitos anos de sucateamento do Ensino Superior Puacuteblico e de expansatildeo do mesmo No entanto tais expectativas natildeo foram correspondidas na integra o Governo iniciou seu governo apresentando uma proposta de Reforma Universitaacuteria que natildeo era suficiente para resolver os principais gargalhos do ensino superior como financiamento para IFES e a regulamentaccedilatildeo do setor privado (ENESSO P 03 2007)

Analisamos que mais que insuficiente a proposta do governo Lula se

colocou numa linha de continuidade a poliacutetica adotada na era FHC que se

manifestou por exemplo com o PROUNI e a Lei de Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica que

ratificaram firmemente o compromisso com a iniciativa privada deixando pra segundo

plano a educaccedilatildeo puacuteblica pois mesmo com a defesa de instituiccedilatildeo de cotas sociais e

raciais e posteriormente a concretizaccedilatildeo de alguns concursos puacuteblicos para docentes

nas Universidades Federais fruto das reivindicaccedilotildees dos segmentos dos

trabalhadores(as) em educaccedilatildeo o setor privado continuou intocaacutevel portanto

fazemos a anaacutelise que na verdade natildeo foi na iacutentegra que as expectativas natildeo foram

correspondidas elas foram substancialmente abaladas e negadas por este governo

O XXIX ENESS ocorreu de 14 a 19 de julho de 2007 na cidade de

Contagem-MG Nesse encontro duas chapas da regiatildeo V disputaram a coordenaccedilatildeo

nacional da entidade Uma composta por militantes do Rio de Janeiro vinculados(as)

aos agrupamentos A Saiacuteda eacute pela Esquerda e Cara e Coraccedilotildees Novos outra

constituiacuteda por estudantes do Espiacuterito Santo e Minas Gerais que publicizaram natildeo

pertencer a nenhum grupo organizado do MESS mas receberam o apoio de militantes

que se organizavam no Viver na Luta este que declarou no mesmo encontro o

teacutermino de suas contribuiccedilotildees no MESS a segunda candidatura venceu a disputa

Marte dirigente da gestatildeo 20072008 se referido aos agrupamentos que concorreram

a direccedilatildeo da ENESSO evidencia que

Noacutes dialogamos com todas as teses e estudantes sem perder a direccedilatildeo que queriacuteamos imprimir ao movimento No entanto natildeo conseguimos adesatildeo de algumas escolas do Rio pela forte influencia dessas duas correntes eacute importante destacar que essas duas correntes tecircm sua forccedila nesse estado e pouca influencia no restante do paiacutes

A partir das resoluccedilotildees desse encontro assinalamos que

majoritariamente o MESS constitui um segmento comprometido com a luta em favor

da universidade puacuteblica no Brasil e um sujeito que atua em defesa da formaccedilatildeo

subsidiada pelas Diretrizes Curriculares de 1996

139

Logo no eixo de conjuntura observamos a aprovao de deliberaes

mais crticas em relao ao governo Lula uma tendncia de negao de modo mais

abrangente e no limitadas as suas aes para o campo educacional

As deliberaes consistem expresso das diversas foras polticas que

militam no MESS e de certa maneira manifestam os posicionamentos diversificados

dessas foras inclusive sobre o governo Lula Dessa maneira a aprovao de

deliberaes que direcionam a ENESSO a desenvolver uma ao mais incisiva contra

as aes efetivadas durantes as gestes Lula pode certamente expressar o

fortalecimento de grupos polticos identificados como opositores a esse governo

No eixo de formao profissional o posicionamento contrrio ao exame de

proficincia se manteve a perspectiva de fortalecer a articulao com a ABEPSS e o

conjunto CFESS-CRESS no desenvolvimento de lutas e atividades voltadas para

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social o que por sua vez significa a

reafirmao e consolidao das Diretrizes Curriculares nesse contexto desfavorvel

para sua implementao

Especialmente no eixo universidade destacamos essa deliberao

Por uma poltica de universalizao do acesso universidade pblica que vise o fim do vestibular Expanso e ampliao das vagas nas universidades pblicas fim das taxas campanhas em defesa do ensino pblico gratuito laico de qualidade presencial para todas e todos em todos os nveis refutando a proposta do reuni e o atual processo de interiorizao das ifes por acreditamos que esse noatendem a essas reivindicaes (ENESSO 2007)

Logo a gesto 20072008 da ENESSO ldquoousar e unir todos(as) juntos

para construirrdquo teve pela frente a necessidade de desenvolver atividades contrrias a

mais uma das aes aprovadas no campo da contra-reforma do ensino superior o

REUNI A contra-reforma vem sendo efetivada de modo parcelado de incio foram

adotadas aes como o PROUNI a substituio do Provo pela ENADE depois

tivemos a proliferao dos cursos distncia entre outras medidas e mais

recentemente o REUNI Essa fragmentao reclama atuaes diferentes da ENESSO

assim por exemplo a estratgia de boicotar o ENADE obteve xito no mbito do

Servio Social em 2004 entretanto atividades contra o PROUNI eou REUNI requer

outras estratgias cada vez mais articuladas com outros segmentos dentro e fora do

espao universitrio Portanto no perodo estudado nessa pesquisa as gestes da

ENESSO nele includo tiveram que dar prosseguimento as aes voltadas para as

medidas j efetivadas bem como canalizar energias para as novas medidas

direcionadas para o ensino superior

140

O planejamento estratgico da nova gesto ocorreu nos dias 08 e 09 de

setembro de 2007 alguns dos planos forjados foram a necessidade de criao do

site da executiva o qual foi criado contudo so reduzidas as informaes

proveniente das limitadas atualizaes o desenvolvimento de seminrios regionais

juntamente com os CRESS sobre o exame de proficincia na ida dos coordenadores

da ENESSO as escolas ficou previsto a distribuio de materiais produzidos pelas

outras entidades da profisso como forma de potencializar a articulao das mesmas

realizar debates sobre a contra-reforma do ensino superior entre outras Outra

importante meta traada por ocasio do planejamento estratgico se referiu

promoo de um curso de formao poltica para os(as) militantes do MESS O estudo

de Santos(2007) afirma que essa gesto atuou apresentado como foco central de

suas aes o eixo da formao profissional com a reafirmao da direo social

consubstanciada no projeto profissional fundado na perspectiva crtica da inteno de

ruptura

A ENESSO em 22 de outubro de 2007 elaborou moo de apoio60 ldquos

universidades em luta para Barrar o REUNIrdquo na qual publiciza preocupaes com a

possibilidade de flexibilizao curricular prevista pelo programa registrada tambm

a indignao da executiva com qualquer tipo de represso direcionada aqueles(as)

que se manifestam politicamente contra essa medida do governo

Em 15 de maio de 2008 por ocasio das comemoraes do dia do(a)

assistente social a ENESSO conjuntamente com o Conjunto CFESSCRESS e a

ABEPSS socializaram manifesto contra cursos de graduao distncia em Servio

Social por entenderem que essa modalidade se confronta radicalmente com a

formao preconizada pelas Diretrizes Curriculares de 1996 no documento

reafirmada a posio das entidades de continuarem lutando contra a abertura de

curso inseridos nessa modalidade o que por sua vez representa o compromisso com

a formao e exerccio profissional com qualidade

A gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo produziu uma

cartilha intitulada ldquo20 anos ENESSOrdquo em que apresentava didaticamente os

60 A gesto 2007-2008 ainda lanou em 09 de abril de 2008 moo de apoio ldquoAos estudantes da UNB para Barrar as Fundaes Privadas nas IFESrdquo A moo fazia referncia ocupao da reitoria da UNB por estudantes que reivindicam a retirada do reitor e a transparncia na administrao da instituio Em 08 de fevereiro de 2008 a executiva produziu moo de repdio contra a atitude do governo federal em no disponibilizar vagas para assistente social para concurso no Instituto Nacional de Seguro Social(INSS) Em 05 de maro de 2008 outra moo de apoio lanada em favor da luta das mulheres da via Campesina que ocuparam a Fazenda Tarum no RS em protesto contra a compra de terras ilegais pela empresa Stora Enso sendo a ao duramente reprimida pelo aparato policial conforme a moo a ocupao das mulheres camponesas legitima pois luta pela soberania alimentar e contra o Deserto Verde que destri a cada dia a biodiversidade das terras brasileiras forando milhares de camponeses a migrarem do campo para as periferias das cidadesrdquo ( ENESSO 2008)

141

diferentes espaos e entidades estudantis tais como CORETUR CA DCE

ENESSO e suas respectivas funcionalidades A cartilha foi elaborada com o objetivo

principal de fomentar a discusso sobre a organizao dos(as) estudantes com vistas

a criao de CA e DA vislumbrando dessa modo o fortalecimento do movimento

A cartilha ainda trouxe reflexes sobre a articulao da ENESSO com as

entidades internacionais a Federao Argentina de Estudantes de Trabalho

Social(FAETS) e a Associao Latino-americana de Ensino e Investigao em

Trabalho Social(ALEITS)61 Para executiva essa articulao representa esforos

voltados para o fortalecimento e ampliao das ldquoplataformas de lutas unificando

estudantes e trabalhadores contra a expanso de dominao do grande capital e em

defesa de um projeto societrio socialistardquo(ENESSO p 18 2007) Embora no seja o

objetivo precpuo dessa pesquisa o estudo das alianas da ENESSO com outras

entidades e movimentos torna-se necessrio destacar que a mesma procura

construir articulaes com sujeitos coletivos historicamente sintonizados com a luta

por direitos sociais bem como organizaes que vislumbra uma transformao

societal

Em junho de 2008 a ENESSO participou do Seminrio Nacional

ldquoPrecarizao da Formao e Implicaes no Exerccio Profissional Em debate

Metodologia do Depoimento Sem Danos e Exame de Proficinciardquo promovido pelo

CFESS62 Nesta oportunidade as trs entidades da categoria se posicionaram

contrria a realizao do exame de proficincia no Servio Social

Em julho de 2008 a gesto ldquoousar e Unir todos(as) juntos para construirrdquo

divulga jornal no qual sintetiza as principais aes desenvolvidas pela direo entre

elas destacamos a materializao do curso de formao poltica previsto durante o

planejamento estratgico da Coordenao Nacional ainda em 2007 O Curso de

Formao Poltica do Movimento Estudantil em Servio Social(CFPMESS) ocorreu

de 22 a 25 de maio de 2008 durante o XXX CONESS no estado de Sergipe

promovido pela ENESSO Centro Acadmico de Servio Social da Universidade

Federal do Sergipe (UFS) e da representao discente em ABEPSS e com apoio do

conjunto CFESSCRESS e do MST visto que o evento se processou em um de seus

Assentamentos no caso particular o Quissam Consideramos a efetivao desse

curso necessrio e importante para o MESS dada a conjuntura de fragmentao do

ME e arrefecimento das lutas sociais alm disso por ter acontecido durante o

CONESS possibilitou a participao de representante de CA e DA de Servio Social

61 Essa entidade foi fundada em agosto de 2006 e o estatuto aprovado no XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais(CBAS) ocorrido em 2007 na cidade de Foz do Iguau ndash PR Nela os(as) estudantes tem direito a voz62 Este ocorreu nos dias 12 e 13 de junho de 2008 em Braslia-DF

142

de diferentes universidades potencializando a articulao dessas entidades e ainda

a sua realizao em um dos espaos do MST evidencia a perspectiva de construo

de alianas do MESS com segmentos do trabalho identificados com a transformao

social

O jornal publicizado em julho de 2008 traz um texto intitulado ldquopela

Revogao Imediata do REUNIrdquo Em que ratificada a direo assumida nas

deliberaes do XXIX ENESS pelo MESS O texto assevera que o Programa

possibilita uma flexibilizao curricular que desqualifica nossos diplomas e prejudica nossa formao profissional ou seja a total destruio dos diplomados profissionais em cursos bsicos genricos formando diplomados em nada Mas o resultado ser depois no mercado de trabalho com sub-remunerao destes diplomados em nada com salrios miserveis e a reduo do custo do trabalho em beneficio capitalista Essa poltica de destruio da educao ataca brutalmente as conquistas na rea da educao como no caso do ensino superior o seu trip de ensino-pesquisa-extenso que colocam a produo de conhecimentos para os interesses da nao e sua soberania ameaadas(ENESSO 2008 p06)

Podemos observar que anlise da ENESSO assume um carter

generalista em relao s aes do REUNI sem sinalizar possibilidade de formao

com qualidade no mbito desse programa Diante da realidade de total aprovao dos

programas pelas universidades federais acreditamos que a correlao de foras no

interior das instituies seja importante para que mesmo com recursos

disponibilizados por esse programa possam ser implementadas melhorias para a

comunidade acadmica bem como potencializar a construo de cursos

fundamentados nos projetos pedaggicos de suas profisses essa ressalva se torna

relevante sobretudo entretanto voltamos a afirmar que a abertura de concursos no

significa no Servio Social em particular a garantia dos princpios formativos

defendidos pela profisso

De 13 a 17 de julho de 2008 ocorreu o XXX ENESS na Universidade

Estadual de Londrina (UEL) com o ttulo ldquoo sonho no envelhece 30 anos de

reorganizao do MESSrdquo em referncia a realizao do ENESS de 1978 considerado

marco na reorganizao do MESS o qual foi realizado na mesma universidade A

escolha da UEL para sediar o XXX ENESS ao se configurar com um ato de

homenagem para alm disso consistiu em resgate histrico da trajetria de

organizao e atuao desse movimento no Brasil

Neste encontro inicialmente trs chapas se propuseram a disputar a

direo da ENESSO visto que uma das chapas antes de comear o processo de

votao fomentou o debate em torno do anarquismo e solicitou aos(as) estudantes

143

simpatizantes da chapa que se abstivessem da eleio de tal modo que somente

duas candidaturas concorreram de fato a direo da executiva

A chapa ldquoMaria Bonitardquo constituda de estudantes de So Paulo e contava

com o apoio de militantes que se organizavam no recente extinto grupo Viver na Luta

que esteve frente da coordenao nacional da entidade nas gestes anteriores

A outra candidatura consista a ldquoFrente de Esquerda no MESSrdquo composta

por estudantes da regio V e majoritariamente da Universidade Federal do Rio de

Janeiro e vinculados aos agrupamentos ldquoA Sada Pela Esquerdardquo e pelo coletivo em

processo de formao ldquoRompendo Amarrasrdquo

Segundo militante de oposio que nos concedeu informaes durante a

produo de dados para essa pesquisa logo aps as escolas terem votado dois

estudantes de diferentes instituies argumentaram que suas escolas no foram

chamadas para votao63 contudo no tinha o registro de participao dessas

escolas que estavam representadas somente por um estudante nos outros

momentos de discusso e deliberao do encontro o que remete ao entendimento

que tais sujeitos estavam preocupados somente com a disputa dos cargos da

ENESSO Ainda com base nas argumentaes de Luz64 esses dois estudantes

votaram65 na chapa ldquoMaria Bonitardquo e que segundo o resultado da votao tal chapa

venceu a disputa com a diferena de trs votos portanto a quantidade de votos que

uma escola tem direito

Entretanto depois de anunciado o resultado propagou-se a denuncia que

um dos estudantes que havia reclamado de ltima hora a participao no processo de

votao no era estudante de Servio Social o que gerou impasse diante dessa

atitude fraudulenta e antidemocrtica pois ao se retirar os trs votos que o mesmo

creditou na chapa ldquoMaria Bonitardquo o pleito ficou empatado

63 Nesse encontro o voto foi por escola conforme o qual cada escola tem direitos a trs votos independentes da quantidade de estudantes presentes o que garante a paridade entre as instituies contudo importante destacar que esse sistema de votao alvo de discordncia e de consistentes conflitos nos fruns do MESS64 Militante de oposio que contribuiu nessa investigao mediante a resposta de questionamentos relacionados atuao das tendncias e da ENESSO nessa conjuntura de concretizao da contra-reforma do ensino superior dimenses aprofundadas no item 4 desse capitulo65 possvel ter conhecimento em que chapa se votou pois a votao se processa de modo aberto para plenria a comisso chama nominalmente as escolas e as mesmas declaram seus votos que sendo por escola a depender de divergncias interna dos alunos(os) essa diferena se manifesta e assim uma mesma escola pode votar em diferentes chapas assim por exemplo os trs votos a que uma escola tem direito pode se destinar um pra uma determinada chapa e dois para outra o que no acontece quando um escola est representada poder um(a) estudante visto que ele(a) direciona os trs votos sem a existncia de posicionamento interno contrrio no ato da votao

144

Portanto o processo foi anulado diante dessas praacuteticas antidemocraacuteticas

que corroboram para o natildeo fortalecimento do MESS e de suas entidades Dimensatildeo

explicitada tambeacutem pelo(o) dirigente da ENESSO da gestatildeo 20072008 que esteve

na constituiccedilatildeo da comissatildeo eleitoral que confirmou o fato de que um estudante do

curso de histoacuteria votou como se fosse estudante de Serviccedilo Social o que justificaria a

ato de anulaccedilatildeo Conforme explicitado a seguir

Verifiquei com o estudante a denuacutencia e relatou que realmente natildeo era estudante de Serviccedilo Social e sim de histoacuteria e que tinha sido convidado por um amigo estudante de Serviccedilo Social membro do PT e que havia solicitado para que votasse Diante dos fatos declaramos o processo anulado conforme rege o estatuto e observamos as condiccedilotildees para a realizaccedilatildeo de novo pleito O que foi impossiacutevel por algumas escolas terem viajado de volta para seus estados apoacutes a votaccedilatildeo e outras estarem de saiacuteda Tentamos um acordo entre as chapas para que existisse uma gestatildeo compartilhada entre elas mas natildeo obteve ecircxito A chapa de Satildeo Paulo propocircs que a nossa gestatildeo continuasse ateacute encontrar outra data para uma nova eleiccedilatildeo apesar de natildeo querermos achamos melhor do que deixar sem Coordenaccedilatildeo Nacional Num primeiro momento de discussatildeo a ideacuteia teve boa aceitaccedilatildeo mas a chapa do Rio de Janeiro rebateu a proposta e por fim os estudantes se retiraram pouco a pouco inviabilizando qualquer tipo de eleiccedilatildeo por natildeo ser legiacutetimo um processo sem todas as escolas

O preocupante eacute que o estudante de histoacuteria enganou parte significativa da

plenaacuteria entretanto como demonstrado na fala anterior militantes do MESS tinham

conhecimento da situaccedilatildeo fraudulenta que se processava na disputa pela

coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO e mesmo assim foram incapazes de denunciar

essa fraude o que revela a real existecircncia de militantes nesse movimento que se

utilizam de qualquer artifiacutecio sem considerar princiacutepios como a socializaccedilatildeo de

informaccedilatildeo a recusa de praacutetica autoritaacuterias e enganosas que desrespeitam o

posicionamento diferenciado de seus colegas e os interesses da maioria

Embora sem coordenaccedilatildeo nacional as deliberaccedilotildees aprovadas nesse

encontro para a gestatildeo 20082009 da executiva posicionam essa entidade a encampar

lutas que ratifiquem a direccedilatildeo contraacuteria da entidade em relaccedilatildeo agraves medidas para

educaccedilatildeo superior do governo Lula Em espacial no eixo de universidade66 foram

mantidas as mesmas deliberaccedilotildees ratificadas no ENESS passado Dessa maneira se

mantecircm a posiccedilatildeo de negaccedilatildeo ao SINAES PROUNI REUNI educaccedilatildeo a distacircncia

entre outras

66 Esta decisatildeo foi tomada devido ao atraso na programaccedilatildeo do evento que minimizou o tempo destinado a revisatildeo das deliberaccedilotildees

145

No campo especifico da formao profissional se vislumbra a

preocupao do segmento estudantil na apropriao dos dados obtidos com a

pesquisa avaliativa das Diretrizes Curriculares realizada pela ABEPSS Nesse sentido

tem-se o encaminhamento de que tanto no Seminrio Regional como Nacional de

Formao Profissional e Movimento Estudantil em Servio Social se garanta espaos

destinados para divulgao dos resultados da pesquisa Alm disso tem a indicao

de que

A ENESSO e a representao discente em ABEPSS fortaleam a luta contra o exame de proficincia nas escolas e no encontro do conjunto CFESSCRESS garantindo a sua participao em todo momento no encontro E fomentar o debate sobre uma nova avaliao que envolva os trs segmentos da categoria(discente docentes e profissionais) e que amplie a construo dessa ferramenta para que seja uma avaliao continuada( ENESSO 2008)

Nessa perspectiva apreendemos a preocupao do segmento estudantil

com a construo de processos avaliativos que corroborem no entendimento dos

limites e potencialidades da formao profissional portanto a negao em relao ao

ENADE significa um posicionamento poltico de negao a um sistema de avaliao

majoritariamente punitivo para os(as) estudantes ou seja no representa a rejeio a

avaliao mas aos interesses que ela representa

No eixo de ME a complexa processualidade de afirmaonegao da

UNE se confirma mais uma vez Tendncia que se manifesta tambm em relao

CONLUTE ldquoque a ENESSO fomente debate da CONLUTE e outras organizaes de

luta na medida em que esta se apresenta como espao de luta contra a reforma

universitriardquo (ENESSO 2008) A promoo de articulao em relao CONLUTE se

pauta de modo restrito no campo de negao da contra-reforma do ensino superior

no sendo considerada a possibilidade de vinculao com esta organizao no

desenvolvimento de outras atividades e lutas

Diante das deliberaes analisadas corroboramos com Santos quando

ele afirma que elas se estruturam em grandes blocos de discusso decorrente

certamente da prpria organizao em eixos entretanto essa tendncia no significa

que esse segmento ldquono atualize e aperfeioe suas bandeiras e instrumentos de luta

mas pelo contrrio revela que os estudantes organizados no movimento imprimem

uma prxis poltica que possibilita a continuidade de suas lutas e resistncia

reafirmada a cada encontrordquo (p124)

Entretanto no ano de comemoraes relativas aos 30 anos de

reorganizao do MESS e de 20 anos de criao da ENESSO no tivemos para

implementao das deliberaes a ocupao dos cargos nacionais dessa entidade

146

como explicitado acima As prticas antidemocrticas a acirrada disputa entre duas

candidaturas e a no previso estatutria diante do impasse estabelecido aliada a

indisponibilidade poltica que possibilitassem a construo de um consenso

concorreram para o estabelecimento dessa lamentvel ausncia de coordenadores

nacionais ficando a incumbncia de materializao das deliberaes para as

coordenaes regionais O fortalecimento das coordenaes regionais legitimo e

necessria contudo o esvaziamento das coordenaes nacionais da ENESSO

dificulta a prpria potencializao dessas instncias visto que se minimiza ou at

mesmo fica impossibilitada o desenvolvimento de campanhas nacionais seja nos

mbitos da universidade eou formao profissional alm disso a responsabilidade na

produo de material a serem socializadas com a base estudantil fica fortemente

comprometida a representao da entidade em eventos fica sem referncia entre

outras

Em setembro de 2008 ex-militantes do MESS e reunidos(as) em Braslia

durante o 37 Encontro Nacional CFESSCRESS construram e divulgaram carta

intitulada ldquoaos estudantes de Servio Social coordenadores regionais da enesso e

diretorias de CAs e DAs do pasrdquo sinalizando preocupaes com o fato acontecido

Dela extramos o seguinte fragmento

A ENESSO patrimnio poltico do Servio Social brasileiro e foi construda por muitas mos e foras polticas desde 1979 tendo sido Executiva Nacional SESSUNE e ENESSO Em seu mbito se formaram geraes de assistentes sociais no campo do projeto tico-poltico muitos hoje militantes do Conjunto CFESSCRESS da ABEPSS da ALAEITS e dos movimentos de resistncia barbrie capitalista Nesse momento de contra-reforma do ensino superior mais do que nunca fundamental que a ENESSO esteja forte representativa e estruturada

O trecho apesar de suscito evidencia com propriedades a importncia da

ENESSO na trajetria de construo e defesa do projeto profissional do Servio Social

e aborda ainda a relevncia de se ter uma entidade comprometida com a defesa de

uma educao e uma formao de qualidades neste contexto de tentativa de

esfacelamento desse ideal Diante do exposto que desafios apreendemos nessa

conjuntura complexa para o ME particularizada no mbito do MESS com as

fragilidades que hoje enfrenta o MESS e a ENESSO

147

5-3 REFLEXOtildeES SOBRE AS PARTICULARIDADES DA ENESSO

Com a anaacutelise do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO e da pesquisa

documental associada agraves informaccedilotildees concedidas nas entrevistas pelos(as) ex-

Coordenadores(as) da entidade trataremos de aprofundar a investigaccedilatildeo sobre sua

accedilatildeo nessa conjuntura de materializaccedilatildeo da contra-reforma do ensino superior

procurando abordar tambeacutem as possibilidades e limites dessa atuaccedilatildeo

Dessa maneira os dados sugerem que a vivecircncia dos(as) estudantes

ainda nos primeiros periacuteodos do curso de Serviccedilo Social nos foacuteruns estudantis como

ERESS seminaacuterios estudantis de formaccedilatildeo profissional e encontros locais satildeo

fundamentais para instigar a participaccedilatildeo desses(as) na construccedilatildeo da entidade

os(as) levando a disputa de sua direccedilatildeo

Satildeo nesses espaccedilos que se materializam discussotildees se constroem

deliberaccedilotildees e se direciona a atuaccedilatildeo da ENESSO potencializando a articulaccedilatildeo e

aproximaccedilatildeo dos(as) estudantes com o ME e suas entidades Essa perspectiva

requer dos CA e DA o desenvolvimento de atividades sistemaacuteticas dada a

transitoriedade do movimento voltadas para o incentivo de participaccedilatildeo dos(as)

estudantes ainda nos primeiros periacuteodos do curso nos diferentes espaccedilos de

organizaccedilatildeo do segmento estudantil nesse contexto de retraccedilatildeo poliacutetica

comprometida com a transformaccedilatildeo societal e de difiacuteceis condiccedilotildees objetivas de

militantes e das proacuteprias entidades que os(as) representam

Em pesquisa empiacuterica realizada com os(as) estudantes presentes no

XXIX ENESS na cidade de ContagemBH Santos (2007) diante dos dados

produzidos afirma que a maioria se encontravam no terceiro e quarto periacuteodo do

Curso de Serviccedilo Social com o percentual de 33 dos entrevistados(as)67 A referida

pesquisa ainda indicou que 65 dos(as) estudantes que participaram da

investigaccedilatildeo estavam no encontro na condiccedilatildeo de natildeo ocupantes de cargos em

entidade estudantil como CA ou DA

No acircmbito do ME e em particular no MESS eacute expressivo a presenccedila de

estudantes organizados(as) em grupos entretanto nem todos elaboram teses ou

seja documentos que manifestam o direcionamento do agrupamento sobre as

questotildees discutidas pelo movimento tais como conjuntura formaccedilatildeo profissional

cultura e valores ME e universidade Na esfera do Serviccedilo Social e no periacuteodo

delimitado pela pesquisa o Projeto Democraacutetico Popular(PDP) Viver na Luta A saiacuteda

67 Esses dados foram obtidos mediante a utilizaccedilatildeo de questionaacuterios respondidos por cinquumlenta e quatro estudantes de Serviccedilo Social que estiveram no ENESS realizado em julho de 2007 no qual esteve presente mais de quinhentos discentes de todo paiacutes

148

Pela Esquerda68 e o Cara e Coraes Novos se constituam os principais grupos

polticos presentes na organizao do MESS Segundo Rodrigues

Em junho de 2008 existem dois grupos organizados em teses no MESS dentre os diversos grupos que organizam-se em ldquopr-tesesrdquo ou apenas como grupos polticos organizados Os grupos organizados em teses so Projeto Democrtico e Popular ndash PDP e A Sada pela Esquerda No XXIX ENESS em 2007 o Viver na Luta - VNLapresentou para os estudantes o fim da tese mesmo assim alguns de seus militantes ainda se organizam em grupos polticos no MESS (2008 p 43)

O PDP69 esteve na direo da ENESSO por um perodo bastante

expressivo do inicio a segunda metade da dcada de 1990 quando perde a

hegemonia para o grupo Eu Quero Mais(EQM)70 todavia segundo Ramos(2005) ldquoa

mudana de direo no comprometeu o acumulo de discusso no processo de

construo da organizao estudantil e da defesa do projeto tico-poltico

profissionalrdquo(p103)

No processo de produo de dados para esta pesquisa dos(as) cinco

entrevistados(as) um(a) de cada gesto que compreende o perodo de 2003-2008

quatro deles(as) eram membros do agrupamento poltico Viver na Luta Sendo que

dois desses(as) militantes tambm se organizavam na tendncias partidria a

Articulao de Esquerda(AE) e outro(a) dirigente construa o agrupamento partidrio a

Democracia Socialista(DS) Tanto a AE como a DS so vinculadas ao PT Para

esses(as) quatros dirigentes os grupos so importantes espaos de organizao e de

construo poltica e que contribui para o desenvolvimento de aes mais

qualificadas o que por sua vez corrobora com o fortalecimento do MESS e da

ENESSO Podemos apreender essa perspectiva na fala do(a) entrevistado(a)

O acumulo das organizaes dentro do Movimento Estudantil so extremamente importantes principalmente quando essas organizaes constroem teses que apresentam nos encontros nacionais a concepo poltica que se tem do movimento extremamente importante no s para o militante que t nesse processo de organizao mas como tambm para os estudantes

68 A sada pela Esquerda surgiu no ENESS de 2004 realizado em vitria-ES Cf Rodrigues(2008) Para Silva esse grupo surgiu j no ENESS de 2003 realizado em Salvador-BA 69 O PDP surge nos anos de 1980 e se constituiu o primeiro agrupamento organizado em tese no mbito do MESS sendo vigente at os dias atuais70 O EQM encerrou suas contribuies no ano de 2003 com o trmino desse grupo muitos de seus militantes acabaram por contribuir na constituio do agrupamento Viver na Luta no ano de 2004 este que predominou na direo da ENESSO no perodo ora abordado nesta pesquisa

149

que acabam percebendo quais satildeo as vertentes poliacuteticas que norteiam cada organizaccedilatildeo em termos do mess (NETURNO)

De 2003 a 2007 eacute importante registrar a predominacircncia na direccedilatildeo da

ENESSO de estudantes pertencentes ou simpatizantes ao grupo poliacutetico Viver na

Luta que socializou no ENESS de 2007 o fim de sua atuaccedilatildeo no MESS Para Marte

da gestatildeo 20052006 que afirma ter sido um dos(as) fundadores(as) do Viver na Luta

elenca como diferencial do agrupamento a preocupaccedilatildeo com o eixo da formaccedilatildeo

profissional e a defesa do voto universal nos processo de votaccedilatildeo nos ENESS

Diante do exposto apreendemos que eacute recorrente a construccedilatildeo e

desconstruccedilatildeo de agrupamentos no MESS e que algum deles mesmo chegando agrave

direccedilatildeo da entidade natildeo apresenta uma atuaccedilatildeo duradoura na organizaccedilatildeo do

movimento exemplo dessa perspectiva o proacuteprio fim do EQM e posteriormente do

Viver na Luta e por outro lado embora o PDP que impulsionou a poliacutetica da ENESSO

por um periacuteodo consideraacutevel e que continua em vigecircncia na contemporaneidade

apresenta fragilidades e natildeo consegue construir alianccedilas para assumir a direccedilatildeo

nacional da entidade aleacutem disso tivemos a criaccedilatildeo do grupo A Saiacuteda eacute Pela Esquerda

e mais recentemente por volta de 2006 o Cara e Coraccedilotildees Novos Segundo

concepccedilatildeo de Rodrigues

As teses e grupos presentes no MESS divergem principalmente na leitura que fazem de conjuntura da sociedade brasileira essencialmente sobre anaacutelise governamental em relaccedilatildeo ao governo Lula como tambeacutem as estrateacutegias as accedilotildees e organizaccedilatildeo do MESS o que por muitas vezes acabam por limitar o debate no interior do movimento estudantil sectarizando o movimento e dificultando o fortalecimento das lutas(45)

Diante do exposto eacute possiacutevel apreendermos o quanto processual eacute a

organizaccedilatildeo no MESS e que os agrupamentos expressam as divergecircncias disputas e

a heterogeneidade caracteriacutestica desse movimento Analisamos ainda que a

construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo de agrupamentos em curto espaccedilo de tempo revelam

instabilidades poliacuteticas pela qual perpassa o MESS na atualidade e que imbuiacuteda nessa

conjuntura de instabilidade e retraccedilatildeo poliacutetica da classe trabalhadora se expressam

em posicionamentos diferenciados em relaccedilatildeo ao governo Lula bem como no tocante

as entidades sindicais e estudantis criadas depois da ascensatildeo do PT ao governo

federal como a CONLUTAS e a CONLUTE

150

Direcionamento desfavorvel a atuao dos grupos polticos foi sinalizada

por um(a) das dirigentes entrevistados(a) pertencente a gesto 20072008 e que se

declarou no pertencer a nenhum agrupamento existentes no MESS segundo o qual

As correntes dentro do MESS sempre tiveram como pano de fundouma influncia partidria velada O que do meu ponto de vista engessa os debates empobrece os espaos de participao dos estudantes fragiliza e fragmenta o movimento estudantil A atuao das tendncias tem se limitado a disputa por cargos de direo da ENESSO e no percebo contribuies de nenhuma corrente para a abertura e consolidao de novos DAs CAs entre outros aspectos relevantes para o movimento Sua participao se limita praticamente aos Encontros utilizando de uma poltica panfletria para adeso de novos militantes No entanto isso no significa que no possuam influncia na escolha dos dirigentes da ENESSO Apesar das limitaes apresentadas e das incoerncias apontadas conseguem articular no momento dos encontros as faculdades para a eleio dos novos representantes(Marte)

Como demonstrado na construo do perfil dos(as) dirigentes da ENESSO

a maioria de militantes no filiados(as) a partidos polticos entretanto no podemos

desconsiderar a vinculao existentes entre esses dois sujeitos coletivos que se

manifesta tambm na filiao partidria de estudantes organizados em

agrupamentos no MESS Dessa maneira significativa a presena na construo do

MESS de sujeitos inseridos(as) no PSOL PSTU e PT este que teve militantes

filiados(as) na direo nacional da ENESSO em todas as gestes abordadas no

perodo aqui analisado No mbito de discusso dessa problematizao Santos

assinala uma perspectiva polmica que se processa nos debates do MESS

presente nos debates[] a preocupao com as influncias das correntes polticas partidrias no movimento Esse debate polariza-se fundamentalmente sob as tentativas de aparelhamento do movimento estudantil pelos partidos polticos que buscam fazer da ENESSO uma correia de transmisso das lutas e das pautas partidrias ndash no caso dos ltimos encontros (2004-2007) trata-se da prtica poltica dos sujeitos ligados a tendncia interna do PT Articulao de Esquerda AEPT (chegou a hegemonizar o ex-Coletivo ldquoViver Na Lutardquo ndash findou sua contribuio no XXIX ENESS2007) pelos militantes do [] PSTU (mantm hegemonia sob o coletivo ldquoA sada pela Esquerdardquo e busca dentre outras pautas impor o rompimento poltico da ENESSO com a UNE de forma sectria e a construo da CONLUTE Tal prtica muitas vezes se afasta das discusses especficas do MESS especialmente no eixo de formao profissional) pelos militantes ligados [] PSOL (Mantm hegemonia no recente coletivocriado em 2006 ldquoPor um MESS de Caras e Coraes Novosrdquo e na Tese ldquoProjeto Democrtico e Popular- PDPrdquo Esse coletivo se inscreve como uma alternativa frente a crise instaurada no movimento a partir

151

das disputas pela direo da ENESSO no entanto no conseguiu efetivamente fazer sua poltica e acabam por seguir as orientao polticas do coletivo ldquoA sada Pela Esquerdardquo(SANTOS71 2007 p122)

Temos a compreenso que o aparelhamento se expressa por exemplo

na ausncia de espaos democrticos o que no ocorre no MESS pois existe um

variedade de fruns estudantis que possibilita a participao dos(as) estudantes nas

tomadas de deciso o que se confirma no processo de aprovao das deliberaes

que norteiam a direo poltica a ser assumida pela ENESSO entretanto no

podemos deixar de considerar que o MESS passa atualmente por momentos de

instabilidades e que repercute na sua entidade mxima Sem dvidas se processa

um contexto de acirramento entres os grupos polticos atuantes no MESS mas isso

reflete a conjuntura na qual estamos imbudos(as) no remetendo necessariamente a

uma tendncia de busca de aparelhamento da executiva pois se assim fosse no

perodo aqui investigado no qual tivemos a predominncia de militantes do

agrupamento viver na luta hegemonizado pela AEPT como afirmado por

Santos(2007) nos documentos produzidos pela entidade no se apresentaria uma

negao da contra-reforma do ensino superior do governo Lula pois estaria se

contrapondo as recomendaes do Partido e uma entidade aparelhada desconsidera

as demandas do movimento para atender as requisies partidrias o que no se

verificou nessa pesquisa no que concerne a atuao da ENESSO no mbito da

universidade

Dessa maneira temos a concepo que a existncia de partidrios(as) do

PT na direo da ENESSO no significa necessariamente e de modo mecanizado a

aceitao da contra-reforma do ensino superior implementada pelo governo do PT

tendncia evidenciada nos documentos produzidos pelas gestes da entidade e

analisados no item anterior Essa perspectiva tambm reforada nas entrevistas

concedidas pelos(as) militantes e sintetizada na fala de Vnus

No ano em que era membro da Executiva ramos contrrios a reforma universitria pelo fato da reforma se constituir em uma estratgia superficial de enfrentamento da educao brasileira que legitima o processo de precarizao massificao e mercantilizao do ensino transformando os direitos sociais em mercadorias e servios

71 O autor tambm explcita que nos ENESS que compreendem o perodo de 2004-2007 as teses em sua totalidade privilegiaram as discusses em torno do eixo de conjuntura trabalhando de modo superficial as demais esferas universidade formao profissional movimento estudantil e Cultura e Valores

152

O posicionamento contraacuterio da ENESSO foi ressaltada por todos(as) os

entrevistados(as) sendo que em cada gestatildeo as discussotildees produccedilatildeo de material

desenvolvimento de atividades como oficinas divulgaccedilatildeo de textos entre outros

consideravam a complexidade e processualidade do real Nesse sentido podemos

afirmar que nas gestotildees 20032004 e 20042005 a aproximaccedilatildeo entendimento e

direcionamento contraacuterios as medidas iniciais propostas e executadas pelo governo

como o SINAES e o PROUNI consistiam no alvo prioritaacuterio dessas atividades

Conforme Urano da gestatildeo 20042005

Noacutes desencadeamos uma campanha que foi contra a reforma universitaacuteria do governo lula em defesa das diretrizes curricularesHouveram varias accedilotildees primeira accedilatildeo e aiacute saiu como deliberaccedilatildeo no eness que noacutes divulgamos foi o boicote ao enade[]e aiacute a gente jaacute saiu do eness com essas deliberaccedilatildeo de boicotar o enade Aprovamos como seria a nossa taacutetica no planejamento que foi em agosto e aiacute a partir daiacute noacutes elaboramos boletins elaboramos planfetos com dez motivos para boicotar o enade entramos em contato com as coordenaccedilotildees regionais com os centros acadecircmicos e fizemos toda a campanha a primeira accedilatildeo de boicote ao enadeApoacutes o boicote noacutes fizemos que aiacute ta no jornal[]avaliaccedilatildeo desse boicote eacute aleacutem disso[]que foi esse debate mais amplo sobre a reforma universitaacuteria[]fizemos vaacuterias palestras fizemos adesivos fizemos oficinas passadas nas universidades Nesse sentido orientamos para que nos encontros tanto nos coress nos eress houvessem discussotildees nesse sentido e aiacute tambeacutem aconteceu que em todos esses encontros tinham esse debate debater o mote da campanha e levando as especificidades de cada regiatildeo[]mas sempre presentes nos debates nos encontros nas oficinas orientando as universidades a fazerem debates palestras seminaacuterios para que fosse esclarecendo aos estudantes neacute Do que se tratava a reforma universitaacuteria

Nas gestotildees seguintes 20052006 20062007 e 20072008 o

posicionamento de negaccedilatildeo a contra-reforma se manifesta tambeacutem nas criacuteticas

direcionas a aberturas e proliferaccedilatildeo dos cursos em Serviccedilo Social agrave distacircncia nas

discussotildees e negaccedilatildeo do exame de proficiecircncia na profissatildeo nas criacuteticas feitas ao

REUNI Dimensatildeo sintetizada na argumentaccedilatildeo de Neturno da gestatildeo 20062007

O REUNI[] eacute um debate que vai contra a tudo que gente defendeprincipalmente por que a nossa defesa do projeto pedagoacutegico jaacute imbrica na disputa de espaccedilo com esse projeto do REUNI entatildeo isso eacute algo que jaacute foi constituiacutedo no final no termino da nossa gestatildeo mas que ficou claro[] natildeo dava pra ser a favor daquilo que batia direto nas nossas diretrizes curriculares batia em tudo que a gente havia deliberado ao longo do ano no encontro nacional em tudo que tinha sido construiacutedo ateacute do plano de accedilatildeo da proacutepria gestatildeo

153

Os(as) dirigentes da ENESSO apreendem a contra-reforma como um

processo desencadeado principalmente na era FHC e dessa maneira natildeo deve ser

entendido sem essa anaacutelise histoacuterica mais ampla Corroboramos com a anaacutelise feita

pelos(as) militantes entrevistados(as) contudo temos a concepccedilatildeo que por se tratar

de um governo de um partido forjado no campo dos MS as suas accedilotildees deveriam ser

de resistecircncia aos ditames do capital e natildeo de entrega da educaccedilatildeo a plena

exploraccedilatildeo capitalista sem o esboccedilo de nenhum confronto conflito ou desobediecircncia

aos organismos internacionais

No tocante a formaccedilatildeo profissional os dados destacam o compromisso do

MESS e de sua entidade nacional com a defesa do projeto pautado nas Diretrizes

Curriculares elaboradas pela ABEPSS em 1996 e que desde o processo de

aprovaccedilatildeo pelo CNE sofre os rebatimentos da poliacutetica privatizante que atinge a

educaccedilatildeo superior brasileira Conforme argumentaccedilatildeo de Ramos(2005 p102)

a formaccedilatildeo profissional eacute um acircmbito que vem tendo um investimento prioritaacuterio do MESS a partir da compreensatildeo de que o debate em torno do projeto de formaccedilatildeo profissional eacute um campo de disputa ideoloacutegica e poliacutetica para a defesa de uma outra direccedilatildeo para universidade bem como de uma outra hegemonia para a sociedade

A direccedilatildeo social criacutetica da formaccedilatildeo defendida pela ENESSO e expressa

tanto nos documentos produzidos como na fala de seus(as) dirigentes apresenta

sintonia com a afirmaccedilatildeo da autora

A formaccedilatildeo profissional consiste um dos eixos prioritaacuterios de debate no

MESS No ENESS satildeo formados grupos de discussatildeo voltados para o debate dessa

temaacutetica resultando nas deliberaccedilotildees aprovadas na plenaacuteria final e que constitui o

norte para a accedilatildeo da ENESSO como tratado no item anterior

A defesa do projeto de formaccedilatildeo profissional se manifesta tambeacutem na

articulaccedilatildeo da ENESSO com a ABEPSS e o CFESS no desenvolvimento de

encontros e atividades voltados para discussatildeo da formaccedilatildeo e do exerciacutecio

profissional Temos o entendimento que universidade formaccedilatildeo e o exerciacutecio

profissional satildeo dimensotildees distintas e interdependes entre si e que constituem

esferas privilegiadas de discussatildeo no acircmbito da organizaccedilatildeo estudantil Essa

tendecircncia se verifica de modo majoritaacuterio pelos sujeitos entrevistados(as)

Eacute o mess ele sempre teve pautado na defesa das diretrizescurriculares e a efetivaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do serviccedilo social entatildeo assim eacute natildeo haacute uma dissociaccedilatildeo a militacircncia a construccedilatildeo poliacutetica a defesa de uma universidade puacuteblica gratuita e de qualidade dentro dos princiacutepios do projeto eacutetico poliacutetico profissional e das diretrizes curriculares( Terra)

154

A investigaccedilatildeo realizada por Santos(2007) sugere que a esfera da

formaccedilatildeo profissional se configurou como o eixo que provocou maior interesse

dos(as) estudantes que estiveram presente no ENESS de 2007 com o percentual de

38 da amostragem produzida por ele72 Entretanto as discussotildees sobre a formaccedilatildeo

profissional natildeo podem ser entendidas sem contextualizaacute-las na atual dinacircmica da

sociabilidade capitalista e suas particularidades na realidade nacional

Quanto agraves limitaccedilotildees foram salientadas pelos dirigentes nacionais

questotildees financeiras que dificultam a materializaccedilatildeo das atividades planejadas para

objetivaccedilatildeo das deliberaccedilotildees

A dimensatildeo geograacutefica do paiacutes que mesmo com a existecircncia das

coordenaccedilotildees regionais inviabiliza a atuaccedilatildeo da executiva na totalidade das escolas

de Serviccedilo Social realidade que se tornou mais complexa com a intensificaccedilatildeo da

privatizaccedilatildeo no ensino superior que ampliou de modo expressivo os cursos na

iniciativa privada Entretanto eacute interessante destacar que pode existir profundos

tensionamentos entre coordenaccedilatildeo nacional e regional pois a eleiccedilatildeo para as

regionais satildeo realizadas nos ERESS e desvinculadas da eleiccedilatildeo nacional o que por

sua vez e permite ainda a ocupaccedilatildeo dessas instacircncias por militantes com

posicionamentos poliacuteticos divergentes da direccedilatildeo nacional Essa perspectiva foi

salientadas por dois(duas) dirigentes que sinalizaram dificuldades da ENESSO em

desenvolver atividades em determinadas regiotildees

A mercantilizaccedilatildeo tambeacutem traz dificuldades para a atuaccedilatildeo da ENESSO

pois a fala majoritaacuteria dos(as) entrevistados(as) indicam maior autonomia de

organizaccedilatildeo na esfera puacuteblica

A fraacutegil formaccedilatildeo poliacutetica dos(as) estudantes que corroboram para uma

negaccedilatildeo da organizaccedilatildeo estudantil por parte do proacuteprio segmento que imbuiacutedos na

loacutegica dominante nega as vivecircncias coletivas Essa tendecircncia requisita dos(as)

militantes principalmente daqueles(as) que assumem as entidades estudantis como

a ENESSO uma formaccedilatildeo poliacutetica consistente e qualificada com vista ao

enfrentamento dessas barreiras no cotidiano de sua accedilatildeo Eacute relevante frisar que

conforme definiu Fontes(2009) vivenciamos um contexto de fragilidade dos MS em

que a classe dominante se utiliza da coerccedilatildeo e do convencimento para amenizar as

accedilotildees de contestaccedilatildeo dessa ordem Ainda assim a autora acredita que

72 Conjuntura obteve o percentual de 29 Cultura 6 Universidade 12 e Movimento Estudantil 15

155

Essa juventude tem limites para aturar goela abaixo a privatizao do ensino superior a fragmentao do ensino superior numa hierarquizao alucinada segundo a qual alguns vo ter cursos superiores de boa qualidade e uma grande massa ser de tecnlogos de 2 anos ou cursos distncia de pssima qualidade Durante algum tempo isso pode funcionar mas no por muito tempo A nossa juventude no idiota e a populao tambm no boba Se a grande imprensa atua tratando essa populao como bicho de zoolgico no pior sentido essa populao reage(FONTES73 2009 p10)

Foi citado ainda que a ldquotenso com alguns grupos polticos dentro do

MESS dificulta a organizao de alguns encontros campanhas socializao de

informaes estratgias de lutas nacionaisrdquo(Marte) Alm dessas sinalizaes

consideramos relevante a apreenso realizada pelo(a) entrevistado(a) quanto ele(a)

explicitava outros limites no decorrer da sua gesto

tem o limite conjuntural que n Na poca que participei fazendo um recorte gente j t dentro do recuo dos MS n Tem a dificuldade da organizao coletiva isso a principal limitao n De militncia mesmo no que eu estou colocando a questo financeira a questo outra mas a questo conjunturalmente dificulta que o limite maior da implementao da luta pela universidade pblica gratuita e de qualidade n Para implementao do projeto tico poltico profissional a gente est numa conjuntura adversa onde os MS passam por um refluxo enorme n E onde o individualismo a questo do individualismo da falta de interesse coletivo a principal barreira do militante dentro da executiva ento essa a avaliao que eu fao do ponto de vista das limitaes

A fala do(a) militante expressa os valores predominante nesta

sociabilidade e que fragiliza as organizaes coletivas como MS que

majoritariamente apresentam uma atuao de recusa da ordem societal estabelecida

No tocante as potencialidades apreendidas pelos dirigentes no

desenvolvimento das aes efetivadas pela ENESSO so destacas o papel da

entidade na apreenso das inquietaes estudantis a partir dos debates travados nos

fruns74 do MESS contribuindo para que a executiva seja um importante sujeito na

defesa do projeto tico-poltico do Servio Social em articulao com a ABEPSS e o

CFESS A discusso da entidade com a base estudantil que corrobora para uma

atuao democrtica mediante a materializao de atividades discutidas

73 Em entrevista concedida pela autora ao observatrio Barlavento e disponibilizada no sitehttpwwwbarlaventoorga3indexphpoption=com_contentampview=articleampid=70entrevistacom-virginia-fontesampcatid=47brasilampItemid=65 acesso 30 de abril de 200974 Santos destaca os dados de sua pesquisa sugere que a principal motivao que levou os(as) estudantes a participar do ENESS de 2007 se remete ao interesse de acompanhar os debates contemporneos que afetam e influenciam a profisso

156

preponderantemente com o coletivo de estudantes O debate constante com as

coordenaes regionais respeitando as especificidades de cada regio A autonomia

do ME e em particular da ENESSO frente ldquoao movimento dos professores da

prpria categoria de Servio Social sempre uma postura de autonomia de

independnciardquo(URANO) tambm foi salientada pelos(as) dirigentes

As estratgias citadas pelos entrevistados(as) foram a descentralizao

poltica na qual cada coordenador(a) nacional fica responsvel pela cobertura das

escolas de uma determinada regio quando se trata da realizao de oficinas

seminrios visitas as escolas e tambm a participao e construo dos fruns

estudantis locais e regionais O incentivo a construo de CA e DA em escolas nas

quais essas instncias inexistiam seja na iniciativa pblica ou privada Articulao

com as representaes discentes em ABEPSS com o objetivo de fortalecer a luta em

favor das Diretrizes Curriculares O desenvolvimento de campanhas de quitao de

dbitos das escolas visto que a ENESSO mantida pelo pagamento de anuidades75

por parte dos CAs e DAs dos cursos de Servio Social como forma de potencializar

a autonomia da entidade

Os(as) entrevistados(as) apontam como principais aliados do MESS e por

conseguinte da ENESSO as demais entidades representativa da profisso a

ABEPSS e o CFESS e os CRESS que compartilham princpios lutas e atividades

nessa conjuntura desfavorvel a organizao e articulao poltica de segmentos

negadores dessa ordem Entretanto Marte referindo aos CRESS evidencia que ldquocabe

ressaltar que em alguns estados o dilogo com essa instncia difcilrdquo

As entidades estudantis que tem uma postura de defesa da universidade

e de um ensino superior com qualidade tambm foram ressaltadas direes de

faculdades especialmente pblicas alm do ANDES que tido como um importante

aliado na defesa por uma educao qualificada e na prpria luta contraria a atual

contra-reforma do ensino superior A direo minoritria da UNE tambm foi citada

por dois militantes que salientam as contradies existentes naquela entidade J que

a eleio da mesma proporcional e isso possibilita a ocupao de alguns cargos por

dirigentes no pertencentes corrente majoritria no caso a UJS vinculada ao PC do

B foram salientados ainda o MST e a CUT como importantes aliados da entidade

Mediante as entidades e movimentos citados apreendemos que a

executiva procurar construir alianas com sujeitos que predominantemente no

decorrer da histria apresentou eou apresenta uma postura de defesa de direitos e

situada no campo da esquerda nacional Entretanto isso no significa a inexistncia

75 A anuidade equivale ao valor do salrio mnimo vigente no pas As escolas que sediaram encontros no decorrer do ano so isentas do pagamento

157

de contradies em que citamos a UNE e a CUT como entidades que tem

apresentando uma atuao acrtica na atual conjuntura nacional tendncia que

culminou inclusive com a desfiliao do ANDES da referida entidade sindical

Quanto aos opositores os(as) dirigentes da ENESSO destacam as

mantenedoras e coordenaes de cursos de universidades privadas que impediam o

acesso dos(as) dirigentes aos(as) estudantes como demonstrado na seguinte

passagem aqueles(as) ldquoque fazem a defesa intransigente da instituio no campo de

defesa do campo de trabalho eu trabalho aqui como que eu vou bater e se perde

dentro do campo contraditrio da atuao profissionalrdquo (Neturno) Foi ressaltado

ainda rgo de represso do Estado especialmente a polcia que procura reprimir as

mobilizaes estudantis

No ENESS 2007 alguns estudantes foram ameaados pela polcia outros foram atingidos por spray de pimenta Na luta pelo passe-livre foi utilizado cavalaria contra os estudantes tropa de choque seguranas de universidades usando de fora fsica excessiva pararetirar estudantes de reitorias etc(Marte)

Para Terra o grande opositor o prprio sistema vigente uma conjuntura

que dificulta a efetivao das lutas dos MS e em particular do MESS e de sua

entidade nacional Certamente estamos numa sociabilidade negadora de vivncias

coletivas pois o que predomina a imediaticidade e a busca pelos anseios individuais

entretanto no podemos negar que a burguesia tem entidades e organismos que

defendem seus interesses em detrimentos das demandas dos segmentos

subalternizados Exemplo disso consiste a investida do capital na educao superior e

que atualmente conta expressivamente com o aparelho do Estado com a grande

mdia com corporaes financeiras entre outras

No campo de dificuldades em termos da organizao poltica do MESS

os(as) dirigentes evidenciaram a expanso da privatizao do ensino superior visto

que segundo suas contribuies recorrente a represso nesses espaos O reduzido

registro histrico sobre o ME reflexo da prpria transitoriedade desse movimento

Dificuldades dos(as) estudantes incluindo os(as) coordenadores(as) da ENESSO em

participar de todos os eventos expresso das prprias condies objetivas dos(as)

militantes e de seus compromissos cotidianos Conseguir maior adeso dos(as)

estudantes e fazer com que eles(as) se percebam nos fruns estudantisrdquo fazer com

que o estudante perceba que o seu problema cotidiano est ali sendo discutidordquo

(Urano) Ainda foi citada os tensionamentos de atuar em um espao to heterogneo

com a existncia de posicionamentos diversos e s vezes antagnicos Marte traz uma

reflexo polmica sobre as dificuldades enfrentadas na gesto 20072008 e que se

158

remete aos agrupamentos polticos atuantes no movimento e que consistem numa

expresso dessa diversidade caracterstica do ME e especial do MESS Para ele(a)

as tendncias

O debate sobre a contribuio das ldquotesesrdquo polmico e meu posicionamento contrrio a qualquer forma de aparelhamento ou ingerncia partidria no MESS No foram raras s vezes em que os encontros foram implodidos por tais correntes As teses tm em minha opinio contribudo para a fragmentao desarticulao e sectarizao dos estudantes Os Encontros tm sido permeados por embates entre as teses perdendo o debate das mesas desmotivando os estudantes e enfraquecendo o movimento Esse talvez nesse momento possa ser um dos fatores de maior fragilizao do MESS Observadas com mais ateno percebe-se um carter denuncista e quase nulo em proposies para superao dos problemas do MESS A contribuio poltica que segundo alguns defensores poderiam ser utilizados seriam os debates macro societrios mas que so apresentados como leitura de cartilha e no como um estudo de fato de uma situao O que em minha opinio empobrece a discusso e no traz benefcios para o pensamento crtico(Marte)

Afirmandonegando a argumentao acima Terra da gesto 20052006

explicita que apesar da

necessidade e da legitimao que eu fao dos agrupamentos polticos mas na poca que eu estava na executiva j existiam um enfraquecimento desses agrupamentos polticos a organizao ela j estava se tornando frgil ns no tnhamos mais as grandes plenrias dos movimentos o movimento poltico partidrio ele comea a ficar mais latente e a as brigas internas do movimento elas se tornam mais visveis mas no do ponto de vista estratgico mas do ponto de vista poltico partidrio ento eram as principais dificuldades e a questo da organizao poltica ela vem n

Analisando a fala dos(as) entrevistados(as) apreendemos que so

posicionamentos diferentes em relao aos grupos polticos enquanto um(a) defende

e legitima atuao dos mesmos outro(a) coordenador(a) da ENESSO a nega

entretanto ambos concordam no sentido de atribuir a esses grupos ampla ao

nesse processo de fragilizao pela qual perpassa o MESS na contemporaneidade

que se expressa por exemplo na no ocupao das coordenaes nacionais para

gesto 20082009 da ENESSO

No nosso entendimento para Marte da gesto 20072008 os

agrupamentos se constituem em correia de transmisso dos partidos polticos para

com o MESS o que por sua vez fragiliza e desmobiliza esse movimento mediante o

159

enfraquecimento ou anulao de sua autonomia Enquanto que para Terra da gesto

20052006 os agrupamentos historicamente constituem os principais impulsionadores

da poltica da ENESSO e o que acontece hoje que eles no esto mais formulando

organizando e propondo ldquode voc realizar plenria produzir material fortalecer a

entidaderdquo (Terra) e quando essas dimenses deixam de ser pautadas o que mais

reflete so as vinculaes partidrias deixando o precpuo ou seja o fortalecimento

do MESS para segundo plano

Analisamos que a existncia de agrupamentos polticos inclusive no ME

e aqui especificamente do MESS reflete uma tendncia de discusso organizao e

atuao com posicionamentos divergentes que a vivncia no campo da democracia

poltica possibilita e que os(as) estudantes tiveram importante atuao nessa

conquista

Destarte no fazemos defesa da utilizao das organizaes estudantis

por sujeitos com mera pretenso partidria que procuram aparelhar as entidades o

que por sua vez representa a reduo ou anulao de espaos democrticos nos

debates e tomadas de decises visto que a principal pretenso colocar a entidade

prioritariamente a disposio do partido Temos o entendimento que as organizaes

estudantis se configuram como espaos de referncia dos(as) estudantes na sua luta

cotidiana em instituies pblicas e privadas O que no significa a negao de

vinculao com outros sujeitos coletivos como MS e Partidos polticos na construo

de alianas com o objetivo de realizar aes que ultrapassem as demandas

especficas do segmento ou seja necessria a articulao quando se visa

ultrapassagem de conquistas corporativas e se busca a negao da sociabilidade

capitalista objetivo histrico e majoritrio no MESS

A anlise realizada pelos (as) dirigentes sobre a atuao do ME na

contemporaneidade no sentido de que no se pode pensar a atuao desse

segmento sem contextualiz-la nessa conjuntura neoliberal de no ascenso dos MS

em que cada vez mais predomina o individualismo e a negao de prticas coletivas

Dimenso que sintetizamos na fala de Urano ldquoacho que os anos 1990 foram muito

perversos como estvamos num processo de reorganizao ele veio com muita fora

para desarticular esses MSrdquo

um contexto de refluxo que corrobora para o enfraquecimento das lutas

sociais alm disso na realidade brasileira historicamente a principal entidade

dos(as) estudantes passam por um processo de cooptao por parte do governo

federal em que nitidamente so efetivadas medidas que fragilizam a perspectiva de

universidade pblica e potencializam a esfera privada com amplo apoio da UNE No

caso especfico do MESS a principal entidade passou o perodo de gesto 2008-2009

160

sem dirigentes para impulsionar a poltica da entidade o que rebate negativamente na

organizao e mobilizao estudantil

Embora com tantas dificuldades militantes apontam que ainda assim o

ME tem sido importante na luta em favor da universidade pblica gratuita laica e de

qualidade no Brasil Conforme Marte

Infelizmente concordo com alguns autores que apontam o refluxo dos movimentos sociais e no caso do MESS Existe uma crise de quadros no MESS que tem atingido a estrutura de nossa organizao Apesar disso identifico no movimento estudantil um enorme potencial transformador da sociedade [] Fica mais evidente o movimento estudantil na luta pela universidade pblica Que no meu entender ainda no foi extinta pela intensa luta dos estudantes dessas instituies Em algumas faculdades privadas como as PUCrsquos percebemos uma organizao estudantil capaz de barrar aumentos de mensalidades denncia de falta de investimento em corpo docente materiais livros etc

Na apreenso de todos(as) os(as) entrevistados(as) a atuao dos(as)

estudantes fundamental para preservao e conquista de direitos na esfera

educacional dimenso privilegiada no Servio Social pelo prprio perfil de formao

profissional que mediante a anlise crtica da sociabilidade capitalista e da formao

econmica social e poltica do Brasil corrobora para uma interveno crtica dos(as)

estudantes

Diante do exposto os(as) militantes entrevistados(as) apreendem a

ENESSO como uma entidade combativa e comprometida com a universidade pblica

e com o projeto profissional do Servio Social e fundamental na articulao nacional

dos(as) estudantes e que no decorrer de sua histria tem contribudo politicamente

com as lutas dos(as) assistentes sociais brasileiros(as)

voltando pra importncia da entidade s a gente remontar a nossa histria ns participamos diretamente da reformulao das diretrizes curriculares ns participamos diretamente na construo do cdigo de tica ns participamos ativamente dentro do debate de construo da lei orgnica da assistncia ns participamos atualmente dentro dos debates mais importantes dentro da categoria o debate sobre construo ou no do exame de proficincia[]ns temos sim grande importncia essa uma instituio uma entidade que tem importncia concreta na luta real dos estudantes de servio social no Brasil e dos assistentes socais de uma forma mais geral (Neturno)

Alm disso recorrente na fala dos(as) militantes a participao no ME

em particular no MESS e na coordenao da ENESSO como relevante na construo

161

de um pensamento e da ao crtica que se procura manter aps a concluso do

curso mediante a militncia em outros espaos como entidades da profisso outros

MS e partidos polticos Essa perspectiva j havia sido sinalizada por

Ramos(2005)ldquoEnquanto movimento social com base transitria o ME um locus

muitas vezes de iniciao de parcela da juventude na militncia poltica se

configurando como um espao de formao poltico-ideolgica de militantes que

depois iro atuar em outras esferas organizativasrdquo(p105) Essa perspectiva tambm

sinaliza em Silva(2008) que concebe o MESS como importante espao na formao

profissional e poltica dos(as) estudantes

5-4 A ENESSO NO TEMPO PRESENTE desafios e contradies

Como j foi relatado no perodo investigado nesta pesquisa ocuparam

majoritariamente a coordenao nacional da ENESSO sujeitos organizados

simpatizantes eou apoiados pelo agrupamento e militantes do ldquoViver na Lutardquo Embora

no se constitua objetivo principal dessa pesquisa o estudo sobre os agrupamentos

que atuam no MESS consideramos ser importante destacar a apreenso de um(a)

militante que atuou no MESS de 20042008 e esteve como coordenador(a)76 regional

da ENESSO na condio de oposio a coordenao nacional

As contribuies do(a) dirigente regional se estrutura a partir de trs

questionamentos anlise em relao atuao das tendncias no MESS atuao da

ENESSO nos mbitos da universidade e da formao profissional objetivo precpuo

desse trabalho e finalmente atuao da executiva no processo de organizao e

mobilizao dos(as) estudantes na contemporaneidade

Em relao primeira discusso o(a) dirigente regional defende que as

tendncias foram fundamentais na construo do MESS pois contribuiu na

organizao estrutural dos encontros bem como no amadurecimento poltico dos(as)

militantes mediante a elaborao de documentos fomentao de debates e

corroborou ainda na aproximao do MESS com partidos polticos e outros MS

permitindo que o movimento apresente atualmente uma atuao no restrita ao

espao universitrio

Como observado essa concepo no se difere da maioria dos(as)

dirigentes nacionais entrevistados(as) nesta investigao que tambm sinalizam a

76 A(o) militante receber o nome fictcio de Luz Estudante de universidade pblica que atuou em instncias como CORETUR e CA A dirigente no filiado(a) a partido poltico

162

relevacircncia dos agrupamentos na construccedilatildeo do MESS a partir do desenvolvimento de

debates na construccedilatildeo dos foacuteruns estudantis na elaboraccedilatildeo de documentos que

abordam questotildees fundamentais como conjuntura universidade cultura formaccedilatildeo

profissional e sobre o proacuteprio movimento Luz reflete tambeacutem a articulaccedilatildeo dos grupos

presentes no MESS com os partidos poliacuteticos que na sua concepccedilatildeo

Todas as tendecircncias que existiram no MESS tiveram em algum momento militantes filiados a partidos poliacuteticos o que muitas vezes permitiu uma correlaccedilatildeo de forccedilas entre os partidos poliacuteticos e as tendecircncias Quando na histoacuteria brasileira se acirram as disputas entre os partidos de esquerda se acirram tambeacutem as disputas entre as tendecircncias no MESS havendo entatildeo uma pluralidade de direcionamentos poliacuteticos e ideoloacutegicos Esse processo refletia diretamente na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo do MESS trazendo em alguns momentos fortalecimento e em outros desmobilizaccedilatildeo dos estudantes para as lutas(Luz)

Para Marte da gestatildeo 20072008 que se colocou contraacuterio a accedilatildeo dos

grupos acredita que a real disputa pela ENESSO por militantes filiados(as) a partidos

poliacuteticos em especial do PSTU eacute decorrente da forte atuaccedilatildeo da ENESSO que se

configura como uma das executivas de cursos mais combativas e com poder de

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo estudantil o que no seu entendimento chama atenccedilatildeo dos

partidos77

A combatividade da executiva pode chamar a atenccedilatildeo de diferentes

correntes partidaacuterias entretanto o fato em si de militantes do MESS atuarem tambeacutem

em partidos entre os quais o PSTU natildeo significa que a intenccedilatildeo preponderante

desses militantes seja ocupar os espaccedilos da ENESSO com vista a atender

meramente os interesses partidaacuterios Expressatildeo disso eacute que como registrado no item

que tratou do perfil dos(as) dirigentes nacionais da entidades nas gestotildees entre os

anos de 2003-2008 em relaccedilatildeo a filiaccedilatildeo partidaacuteria existiu uma total predominacircncia

de coordenadoras filiados ao PT e na maioria dos casos essa se deu apoacutes a inserccedilatildeo

no MESS e mesmo assim nos documentos produzidos pela entidade fica explicito a

sua direccedilatildeo de recusa da contra-reforma do ensino superior do governo Lula inclusive

encampando accedilotildees de repercussotildees significativas como foi o boicote ao ENADE em

2004 o que natildeo representa a inexistecircncia de limitaccedilotildees e contradiccedilotildees

especialmente nesse cenaacuterio de fragilizaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo dos MS e de

desconfianccedila e descreacutedito em relaccedilatildeo aos partidos poliacuteticos

77 Eacute importante destacar que natildeo soacute militantes de partidos poliacuteticos forjado no campo da esquerda atuam no MESS ainda que de forma tiacutemida se faz presente militante identificados com partidos historicamente situados no campo de direita e comprometidos com os privileacutegios da burguesia Nos congressos da UNE eacute recorrente a articulaccedilatildeo da juventude de partidos como o PMDB e os DEMOCRATAS estes anteriormente chamados de PFL jovem

163

Segundo as contribuies de Luz avanos e retrocessos perpassam a

atuao dos agrupamentos existentes no MESS Essa perspectiva se verifica por

exemplo quando os(as)

estudantes no conseguem nos encontros tirar deliberaes em comum para a luta da ENESSO e quando como ocorreu em muitos ENESSrsquos a fragilizao nos atos pblicos porque as teses se dividiram no ato porque tinham divergncias nas bandeiras de lutas Em alguns encontros os estudantes que no faziam parte das tendncias demonstravam claramente empatia e rejeio s teses e a partidos polticos e colocavam que as disputas tinham apenas o objetivo de conseguir a diretoria da ENESSO

A fala do(a) entrevistado(a) nos remete a reflexo em torno da ao dos

agrupamentos polticos nessa conjuntura de acirramento das disputas entre as

vertentes que se organizam no MESS Analisamos que essa efervescncia seja

reflexo sobretudo da conjuntura nacional visto que um dos pontos prioritrios que

distinguem os grupos que existiram eou existem no perodo dessa investigao se

refere prioritariamente a uma posio de rejeio ou no em relao ao governo Lula e

ao reconhecimento ou no da UNE como entidade mxima de organizao e na

mobilizao e direcionamento das lutas e demandas estudantis no pas Portanto a

existncia de diviso em atos pblicos revela prticas sectrias e que certamente

fragilizam o movimento Agrupamentos como o recm acabado Viver na Luta tese que

esteve majoritariamente na direo nacional da ENESSO no perodo aqui analisado

apresentava uma atuao de defesa em relao a UNE e desse modo de

possibilidade de reorganizao e retomada combativa dessa entidade j o grupo A

Sada pela Esquerda majoritariamente faz a defesa de que ldquopermanecer nos

marcos da UNE gastar energia numa luta intilrdquo (2005)

No que se refere atuao da ENESSO nos mbitos da universidade e da

formao profissional o(a) militante enfatiza que historicamente a defesa da

universidade pblica gratuita laica e de qualidade e do projeto de formao

profissional fundado no projeto tico poltico do Servio Social constituem esferas

defendidas pelo MESS e dessa maneira ele(a) sinaliza a necessidade da atuao da

ENESSO independente da chapa eleita seguir as orientaes previstas nas

deliberaes aprovadas pelo conjunto de estudantes presentes no Encontro Nacional

do segmento

Nesse sentido assinalamos anteriormente que as deliberaes ratificadas

nos ENESS que compreendem o interregno de 2003-2008 apresentaram uma

postura de afirmao de processos formativos fundamentados nas Diretrizes

Curriculares de 1996 bem como direcionaram a entidade a assumir uma direo de

164

defesa da universidade puacuteblica e socialmente referenciada o que por sua vez implica

a luta em oposiccedilatildeo a contra-reforma do ensino superior efetivada nas gestotildees de

Lula Diante do exposto Luz reflete sobre possiacuteveis limitaccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS e

da ENESSO no acircmbito da universidade decorrentes das polecircmicas que envolvem a

forma de articulaccedilatildeo com o ME geral

isto porque nas ultimas gestotildees da diretoria da ENESSO essa articulaccedilatildeo ocorre atraveacutes da UNE e muitosas estudantes apesar dela ser a entidade maacutexima de representaccedilatildeo dos estudantes natildeo acredita em seu poder de enfrentamento pois ela tem sido a favor de todas as propostas do governo com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria Essa polemica se estende haacute alguns anos e nos ENESS se colocam como ponto central na discussatildeo sobre articulaccedilatildeo com o ME geral Os estudantes se dividem uns acreditam que a articulaccedilatildeo deve continuar sendo atraveacutes da UNE outros defendem que seja atraveacutes de outras entidades como a CONLUTE e movimentos de aacuterea Eacute importante ressaltar o interesse poliacutetico nessas discussotildees e articulaccedilotildees essas disputas poliacuteticas em alguns momentos acabam por limitar a articulaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da ENESSO com relaccedilatildeo agrave reforma universitaacuteria

A CONLUTE eacute uma entidade jovem criada recentemente mas que pauta

e fomenta o debate de questotildees diferentemente da UNE esta que embora apresente

uma frente de esquerda devido a proporcionalidade que marca o processo eleitoral da

entidade mas a forccedila poliacutetica maior eacute de aceitaccedilatildeo predominante das accedilotildees

governamentais sem esboccedilo de negaccedilatildeo O que nos leva a refletir que seja

importante a articulaccedilatildeo da ENESSO com as entidades e movimentos que partilham

princiacutepios e lutas conjuntas

Um dimensatildeo sinalizada pelo(a) coordenadora regional bem como

pelos(as) coordenadores(as) nacionais eacute reconhecer a importacircncia da alianccedila com o

conjunto CFESS-CRESS e a ABEPSS como potencialidade no fortalecimento de lutas

contra a precarizaccedilatildeo do ensino e em favor da formaccedilatildeo qualificada

No tocante a esfera de atuaccedilatildeo da ENESSO na organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

dos(as) estudantes na cena contemporacircnea o(a) militante socializa significativas

criacuteticas Essas satildeo direcionadas no sentido de fortalecer a representatividade da

entidade que segundo Luz

Eacute necessaacuterio que a diretoria da ENESSO tenha representatividade perante osas estudantes para uma maior identificaccedilatildeo com as lutas travadas pela entidade Para que se consiga representatividade eacute necessaacuterio trabalho de base o contato e formaccedilatildeo poliacutetica criacutetica deve ser priorizado em suas atividades o que as uacuteltimas gestotildees da coordenaccedilatildeo nacional da ENESSO deixam a desejar Atraveacutes do trabalho de base e da formaccedilatildeo criacutetica osas estudantes constroem as pautas das lutas gerando identificaccedilatildeo organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

165

Como observamos no item anterior os(as) dirigentes nacionais da

ENESSO sinalizam a articulaccedilatildeo com as bases estudantis como uma relevante

potencialidade na construccedilatildeo do MESS e na atuaccedilatildeo da ENESSO o que agora eacute

apontado por Luz como fragilidade no processo de mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes

Entretanto majoritariamente os(as) dirigentes entrevistados(as) aqui

incluindo nacionais e regionais chama a atenccedilatildeo para a conjuntura desfavoraacutevel para

organizaccedilatildeo coletiva que tem fortes rebatimentos nos MS em particular no MESS

5-5 SERVICcedilO SOCIAL ABEPSS CFESS e A ENESSO no acircmbito da parceria

estrateacutegica

A pesquisa tratou de explicitar a atuaccedilatildeo da ENESSO nas esferas da

universidade e da formaccedilatildeo profissional na qual procuramos apontar potencialidades

limites e contradiccedilotildees na atuaccedilatildeo do MESS mediante a accedilatildeo de sua entidade

nacional Diante disso a parceria entre as entidades da profissatildeo se confirma como

uma significativa tendecircncia no acircmbito organizativo do Serviccedilo Social sobretudo a

partir da deacutecada de 1990 perspectiva amplamente apontadas pelos dirigentes da

ENESSO entrevistados(as) nessa investigaccedilatildeo e nos documentos produzidos pela

entidade que define a parceria com a ABEPSS e com o conjunto CFESS-CRESS

como essencial na efetivaccedilatildeo de lutas que tenham como horizonte a defesa da

formaccedilatildeo profissional orientada pelo projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social

Dessa maneira apontaremos algumas mediaccedilotildees relacionadas a essa

articulaccedilatildeo em que nos baseamos no seguinte fio condutor para o desenvolvimento

da anaacutelise apreensatildeo em relaccedilatildeo a parceria das entidades as estrateacutegias

desenvolvidas pelas entidades no acircmbito da universidade e da formaccedilatildeo profissional e

dificuldades enfrentadas nesse processo de articulaccedilatildeo Para tal levamos em

consideraccedilatildeo a fala de representante de outra entidade da categoria particularmente

da ABEPSS Em que chamamos a atenccedilatildeo para as particularidades que perpassa a

articulaccedilatildeo com a ENESSO voltada para defesa do projeto que direciona a formaccedilatildeo

e o exerciacutecio profissional no paiacutes

Nesse sentido esboccedilaremos uma breve contextualizaccedilatildeo relativa ao

projeto profissional hegemocircnico no Serviccedilo Social e que fundamenta a formaccedilatildeo

pautada nas Diretrizes Curriculares jaacute evidenciadas no capitulo quarto desse trabalho

O final da deacutecada de 1970 se configura para profissatildeo como um periacuteodo

de intensa discussatildeo e inquietaccedilatildeo decorrentes entre outros aspectos da

166

aproximaccedilatildeo de segmentos da profissatildeo com uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica

criacutetica contribuindo para construccedilatildeo de um projeto eacutetico-poliacutetico sintonizado com os

ideais da vertente de ruptura78 e portanto com os interesses da classe trabalhadora e

de sujeitos sociais historicamente subalternizados

Natildeo podemos desvincular esse processo do cenaacuterio brasileiro marcado

naquele momento pela crise do sistema ditatorial fragilidade do milagre econocircmico

a reorganizaccedilatildeo de setores importantes entre os quais diversos MS que

transformaram a liberdade e a democracia nas principais bandeiras de luta ou seja

uma conjuntura de efervescecircncia nos marcos da redemocratizaccedilatildeo poliacutetica

caracterizada na sua essencialidade por accedilotildees combativas e contestatoacuterias

direcionadas por vaacuterios setores da sociedade civil contra a ditadura instalada em abril

de 1964 Assim Netto (1999 p 100) destaca

A luta pela democracia na sociedade brasileira fazendo-se ecoar na categoria profissional criou o quadro necessaacuterio para quebrar o quase monopoacutelio do conservadorismo no Serviccedilo Social no processo de derrota da ditadura militar inscreveu-se a primeira condiccedilatildeo a condiccedilatildeo poliacutetica para a constituiccedilatildeo de um projeto profissional

Outra dimensatildeo tambeacutem sinalizada por Netto (1999) Iamamoto (2006)

constitui a elevaccedilatildeo na produccedilatildeo teoacuterica dos (as) assistentes sociais vinculada a uma

perspectiva de anaacutelise e intervenccedilatildeo criacutetica dana realidade social influenciada pela

aproximaccedilatildeo de profissionais do Serviccedilo Social com a matriz marxiana e com os

pensadores(as) marxistas Nesse sentido eacute interessante chamarmos a atenccedilatildeo para a

contribuiccedilatildeo do meacutetodo do materialismo histoacuterico e dialeacutetico na construccedilatildeo do

conhecimento e portanto na apreensatildeo da realidade visto que permite a elaboraccedilatildeo

de anaacutelises levando-se em consideraccedilatildeo as muacuteltiplas determinaccedilotildees das

problemaacuteticas sociais proporcionando uma compreensatildeo cuja centralidade consiste

na desnaturalizaccedilatildeo das relaccedilotildees histoacutericas

78 No processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional trecircs correntes se destacaram 1ordf a modernizaccedilatildeo conservadora que procurou adequar agrave profissatildeo as estrateacutegias de expansatildeo do capitalismo no Brasil os seminaacuterios de Araxaacute (1967) e Teresoacutepolis (1970) expressam a afirmaccedilatildeo dessa perspectiva baseada sobretudo no estrutural funcionalismo norte-americano a 2ordf vertente consistiu na reatualizaccedilatildeo do conservadorismo influenciada pelas concepccedilotildees fenomenoloacutegicas a qual privilegiava o vieacutes psicologista na atuaccedilatildeo do (a) assistente social a 3ordf vertente denominada de intenccedilatildeo de ruptura baseada especialmente na tradiccedilatildeo marxista cujo siacutembolo dessa aproximaccedilatildeo correspondeu o famoso meacutetodo de BH ainda nos primeiros anos da deacutecada de 1970 Todavia pelo proacuteprio contexto de repressatildeo vivenciado durante a ditadura militar a influecircncia do marxismo no acircmbito do Serviccedilo Social soacute ganhou expressividade no final dos anos 1970 e conforme Netto eacute a intenccedilatildeo de ruptura que daacute o tom da polecircmica profissional na 1ordf metade dos anos 1980 ( cf NETTO 2005)

167

Pereira(2007) elenca alguns momentos considerados emblemticos nesse

processo de negao do Servio Social tradicional e afirmao de um projeto

profissional sintonizado com perspectiva de transformao social visando a

emancipao humana Entre eles destacamos o denominado congresso da virada em

1979 a construo do cdigo de tica de 1986 o qual evidencia a ruptura com as

bases tericas conservadoras e a tica da neutralidade passando a situar a atuao

do(a) assistente social no mbitos das relaes histricas e contraditrias que

caracterizam a sociabilidade capitalista a constituio do Centro de Documentao

Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social(CEDEPSS) que impulsionou os

debates e o desenvolvimento de aes que destacavam a importncia da pesquisa no

cotidiano da profisso para alm da academia o reconhecimento nos anos de 1980

por parte das agncias de incentivos a pesquisa de ser o Servio Social uma rea de

conhecimento o que contribui fundamentalmente na criao e expanso da ps-

graduao no pas o fortalecimento organizativos das entidades em nvel profissional

e estudantil e ainda os debates promovidos pela antiga ABESS hoje ABEPSS que

culminou na formulao do Currculo Mnimo de 1982 o qual passou a conceber a

ldquoprofisso inserida na diviso scio-tcnica do trabalho no processo de produo e

reproduo das relaes sociais capitalistasrdquo(2007 p14)

relevante evidenciarmos que essa redefinio no mbito do Servio

Social foi resultado de intensos debates coletivos envolvendo os diversos sujeitos

dessa profisso entre estes os (as) estudantes e de suas entidades poltico-

organizativas

Pensar a profisso requer considerarmos o constante movimento da

sociedade capitalista a partir da anlise das prprias transformaes histricas Nessa

perspectiva a reviso dos instrumentos normativos constitui uma necessidade real no

intuito de responder as demandas colocadas no cotidiano da formao e atuao

profissionais mudanas contudo preservando-se a postura crtica alcanada

hegemonicamente no mbito da profisso

Portanto nessa caminhada temos a reformulao do Cdigo de tica de

1986 redundando no Cdigo em vigncia de 1993 As alteraes efetivadas visaram

superao de limites de natureza terico-prtica o que permitiu a construo de

mediaes no sentido de melhor apreender as particularidades resultantes por

exemplo das relaes de gnero etnia entre outras alm disso procurou-se

retraduzir os seus valores norteadores no ldquorelacionamento entre assistentes sociais

instituies e populao preservando os direitos e deveres profissionais a qualidade

dos servios e a responsabilidade do usurio (CDIGO DE TICA DE 1993)

168

Assim nos anos 1990 percebemos a retomada da discusso da tica nas

diversas esferas do Servio Social incluindo a formao profissional aliado a essa

reflexo ocorre aprovao da Lei de Regulamentao Profissional n 866293 a

qual estabelece as competncias e atribuies privativas do (a) assistente social

conformando um documento indispensvel na defesa da profisso e dos servios

prestados aos usurios nos espaos de interveno desta profisso

significativo apontar que essa trajetria de redefinio e consolidao do

atual projeto tico-poltico tambm foi protagonizada pelos estudantes como

destacado no capitulo dois dessa pesquisa em que consubstanciamos esta afirmativa

a partir da anlise realizada por Ramos (1996) cuja abordagem sobre o MESS em

nvel nacional ratifica a contribuio desse segmento na construo do novo projeto

profissional Esta atuao do MESS em relao s problemticas debates desafios

que perpassa o Servio Social se expressa por exemplo pelo reconhecimento da

ENESSO como uma das entidades representativas da profisso manifestada tal

apreenso na fecunda articulao desta com a ABEPSS e o CFESS

Nessa dimenso ressaltamos que tal projeto se materializa nos

instrumentos aqui citados cdigo de tica lei de regulamentao e diretrizes

curriculares contudo a eles no se reduzem dada compreenso do mesmo se

expressar nas deliberaes dos encontros profissionais e estudantis nas campanhas

elaboradas pelas entidades na interveno cotidiana dos (as) assistentes sociais

voltada para a garantia de direitos e do ser humano como sujeito construtor dos

processos histricos bem como atravs da formao de alianas com outros

segmentos voltadas para construo de um movimento verdadeiramente contra-

hegemnico a sociabilidade do capital

Nesse sentido a anlise da fala da representante da ABPSS evidencia

que a parceria existente entre as trs entidades se sustenta na unidade em torno da

defesa do projeto profissional o qual teve suas bases de constituio nos anos 1980

com sua firmao na dcada seguinte dimenso sintetizada na fala abaixo

numa ampla articulao de foras predominantes na direo das entidades as quais se identificam nos princpios fundamentais norteadores do projeto tico-poltico-profissional do Servio Social Refiro-me ao projeto que ganha visibilidade a partir de 1979 em contraposio ao projeto profissional tradicional na busca de vinculao s lutas e conquistas democrticas e ao iderio emancipatrio da classe trabalhadora ndash referncia de luta de vastos segmentos dessa classe no Brasil e em todo o mundo( representante ABEPSS)

169

Unidade que como ressaltado pela representante da ABEPSS natildeo

significa a inexistecircncia de contradiccedilotildees divergecircncias e polecircmicas internamente nas

entidades e entre elas Dimensatildeo sinalizada em algumas passagens pelos dirigentes

da ENESSO que evidenciaram momentos conflitantes que envolvem a articulaccedilatildeo no

acircmbito da parceria entre a ABEPSS e conjunto CFESS-CRESS Destacamos ainda a

articulaccedilatildeo das entidades em defesa do projeto hoje hegemocircnico no Serviccedilo Social eacute

construiacuteda entre sujeitos que representam os interesses da mesma profissatildeo

vinculada a uma visatildeo societaacuteria mas com organizaccedilatildeo estruturaccedilatildeo manutenccedilatildeo

dinacircmicas e funcionalidades diferentes

No que se refere agrave atuaccedilatildeo das trecircs entidades nas esferas da universidade

e da formaccedilatildeo profissional tem-se a confirmaccedilatildeo que a formaccedilatildeo pautada nas

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui a principal referecircncia na luta por um processo

formativo de qualidade e sintonizado com a perspectiva de educaccedilatildeo emancipatoacuteria

Nessa dimensatildeo as trecircs entidades concretizam atividades que explicitam o

posicionamento contraacuterio a qualquer forma de privatizaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo da

educaccedilatildeo tais como produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de notas que evidenciam esse

posicionamento de defesa da universidade puacuteblica gratuita laica presencial e de

qualidade aleacutem disso eacute importante destacar que nos eventos promovidos pela

ABEPSS e pelo Conjunto CFESS-CRESS eacute garantida a participaccedilatildeo da ENESSO nos

debates e polecircmicas que envolvem a profissatildeo o que potencializa essa articulaccedilatildeo e

dessa maneira as accedilotildees voltadas para defesa do projeto profissional do Serviccedilo

Social nessa conjuntura tatildeo adversa para sua concretizaccedilatildeo

Quanto a possiacuteveis dificuldades vivenciadas nesse processo de articulaccedilatildeo

entre as trecircs entidades e em particular com a ENESSO a representante da ABEPSS

argumenta queEm relaccedilatildeo ao ENESSO pode-se supor que a atual estrutura da entidade sem uma coordenaccedilatildeo nacional tenha implicaccedilotildees e venha dificultar a articulaccedilatildeo nacional na medida em que as decisotildees satildeo inicialmente discutidas e tomadas nas bases regionais com possiacuteveis prejuiacutezos para a agilidade dos processos conjuntos

Com a ausecircncia de coordenadores(as) nacionais a responsabilidade na

concretizaccedilatildeo das deliberaccedilotildees aprovadas no ENESS de Londrina em 2008 ficaram

na incumbecircncia das coordenaccedilotildees regionais o que por sua vez representa uma

fragilizaccedilatildeo em termos de articulaccedilatildeo em niacutevel nacional como se processa entre as

ABEPSS CFESS-CRESS e a ENESSO

Desse modo analisamos que a defesa do projeto profissional que por sua

vez remete a luta em prol da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo fundamentada nas

170

Diretrizes Curriculares de 1996 constitui-se a principal determinaccedilatildeo no

estabelecimento e fortalecimento da articulaccedilatildeo existente ente as entidades

representativas do Serviccedilo Social

Parceria que se torna ainda mais necessaacuteria nesse contexto neoliberal de

exacerbaccedilatildeo do privado expansatildeo de cursos sem considerar os princiacutepios formativos

defendidos pelas entidades que representam o Serviccedilo Social no paiacutes fragilidade dos

MS e organizaccedilotildees coletivas que apresentam uma praacutetica de recusa da sociabilidade

do capital entre outras dimensotildees jaacute abordadas nessa pesquisa Entretanto para que

essa articulaccedilatildeo se mantenha e mais que isso seja potencializada ateacute mesmo em

decorrecircncia do cenaacuterio sinalizado anteriormente eacute preciso que a ABEPSS o conjunto

CFESS-CRESS e a ENESSO estejam firmes atuantes e combativas em suas

particularidades o que revela um desafio coletivo das entidades e ao mesmo tempo

de cada uma dentro de suas possibilidades e limitaccedilotildees no tempo presente Nesse

sentido entendemos que ao MESS se evidencia a necessidade de fortalecer e

revitalizar suas accedilotildees e entidades como a ENESSO nessa luta em favor do projeto

profissional vinculado a construccedilatildeo de outra ordem societaacuteria

171

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apreendemos o ME como um importante movimento social que articula a

juventude universitaacuteria em niacutevel nacional desde a criaccedilatildeo da UNE no ano de 1937

Ao construiacutemos essa caracterizaccedilatildeo analisamos que a accedilatildeo desse segmento natildeo se

processa de forma desvinculada de uma concepccedilatildeo de sociedade o que por sua vez

nos possibilitou investigarmos a direccedilatildeo social de sua atuaccedilatildeo no campo da

historicidade e da contradiccedilatildeo que particulariza a sociabilidade burguesa

Mediante o estudo da atuaccedilatildeo da ENESSO enfatizamos que desde a sua

criaccedilatildeo no ano de 1988 ela se configura como espaccedilo privilegiado de aglutinaccedilatildeo e

protagonismo dos(as) estudantes de Serviccedilo Social no Brasil legitimada e

reconhecida pelas demais entidade da profissatildeo

Durante as gestotildees que compreende os anos de 2003-2008 sinalizamos

que a direccedilatildeo social das accedilotildees efetivadas pela ENESSO se consubstancia na defesa

da universidade puacuteblica e da formaccedilatildeo profissional fundada nas Diretrizes

Curriculares de 1996 tendecircncia confirmada pelos(as) dirigentes e pelos documentos

produzidos pela entidade uma perspectiva de universidade e de formaccedilatildeo sintonizada

com a negaccedilatildeo da sociabilidade capitalista e comprometida com a construccedilatildeo de outro

projeto societaacuterio

Entretanto a conjuntura neoliberal que minimiza a organizaccedilatildeo poliacutetica

dos MS tambeacutem repercute no acircmbito de atuaccedilatildeo da ENESSO dada a valorizaccedilatildeo do

individualismo e de negaccedilatildeo de vivecircncias coletivas aliada a um contexto de crise

objetiva em que cada vez mais os (as) estudantes se preocupam com sua

manutenccedilatildeo e inserccedilatildeo no mundo do trabalho ainda durante a graduaccedilatildeo Portanto

temos um cenaacuterio caracterizado pela fragilidade de accedilotildees coletivas combativas de

contestaccedilatildeo reivindicaccedilatildeo e de lutas mais consistentes e articuladas ateacute mesmo com

outras entidades estudantis

A realizaccedilatildeo de atividades fragmentadas reduz a capacidade de barrar

eou ateacute mesmo amenizar as investidas do capital na educaccedilatildeo brasileira tendecircncia

fortalecida nos anos de 1990 e mantida nos anos 2000 com a concretizaccedilatildeo da

contra-reforma do ensino superior no governo Lula que se sustenta numa loacutegica de

privilegiamento do privado e reconfiguraccedilatildeo das instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de

atender sobretudo as demandas do capital Realidade que gera disputas e

contradiccedilotildees no ME que se manifesta inclusive com a criaccedilatildeo de outra entidade

nacional de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes no caso a CONLUTE situaccedilatildeo

conflitante vivenciada tambeacutem pelo MESS

172

A pesquisa sugere um contexto de acirramento entre os agrupamentos

poliacuteticos atuantes no MESS os quais divergem sobretudo da anaacutelise realizada sobre

o governo Lula e do posicionamento poliacutetico em relaccedilatildeo a UNE Os tensionamentos

em torno dessas questotildees perpassam na maior parte das discussotildees e geram grandes

debates e conflitos especialmente no processo de aprovaccedilatildeo das deliberaccedilotildees no

final de cada ENESS que se constituem o norte a ser seguido pela nova direccedilatildeo da

ENESSO

Temos a concepccedilatildeo que as polecircmicas atuais que provocam divergecircncias

nos partidos poliacuteticos forjados no campo da esquerda como PT PSTU e PSOL e as

organizaccedilotildees sindicais como CUT e CONLUTAS rebatem no MESS em virtude do

posicionamento histoacuterico desse movimento de pautar a discussatildeo e as lutas dos

segmentos do trabalho e de se colocar numa direccedilatildeo de recusa da sociabilidade

capitalista e de defesa da construccedilatildeo de outra sociedade o que contribui no

estabelecimento de relaccedilotildees com movimento e entidades que travam debates e

desenvolve atividades em torno das questotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho

e as disputas poliacuteticas partidaacuterias em determinado momento histoacuterico

Diante disso a investigaccedilatildeo aponta que o MESS e a ENESSO vivecircncia

uma relaccedilatildeo de negaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo em relaccedilatildeo a UNE e a CONLUTE No tocante a

primeira as deliberaccedilotildees que abrangem os anos de 2003-2008 e o proacuteprio estatuto da

executiva a reconhece como entidade maior de organizaccedilatildeo dos(as) estudantes

brasileiros(as) entretanto a nega quando se trata do posicionamento assumido diante

da contra-reforma do ensino superior Por outro lado a ENESSO esboccedila uma accedilatildeo de

negaccedilatildeo da CONLUTE como uma entidade paralela a UNE que no seu

entendimento pode dividir e sectarizar ainda mais o ME no Brasil contudo as

deliberaccedilotildees ainda que timidamente apontam a necessidade de discussatildeo e

fomentaccedilatildeo do debate em torno dessa entidade que reage negativamente agraves accedilotildees

do governo Lula para educaccedilatildeo superior direccedilatildeo que potencializa essa aproximaccedilatildeo

com a ENESSO

Todavia a disputa entre os grupamentos existentes no MESS natildeo pode

ser reduzida a conquista dos cargos da ENESSO dimensatildeo timidamente sinalizada

por alguns(mas) dos(as) entrevistados(as) nem atuar de modo sectarista perspectiva

que deixa os interesses estudantis para segundo plano Atuando dessa forma os

grupos poliacuteticos presentes no MESS tendem a se enfraquecer e a fragilizar o proacuteprio

momento e a ENESSO

A natildeo ocupaccedilatildeo dos cargos nacionais da ENESSO para a gestatildeo

20082009 em meio a um conturbado processo de fraude eleitoral revela o contexto

de fragilidade pela qual passa o MESS na atualidade e que revela instabilidades na

173

organizaccedilatildeo desse segmento e que atingiu profundamente a executiva Os dados

produzidos nessa investigaccedilatildeo sugere que majoritariamente a organizaccedilatildeo dos(as)

militantes em grupos tendem a fortalecer as lutas do movimento visto que seus(as)

militantes tambeacutem ocupam outros espaccedilos de atuaccedilatildeo como partidos e movimentos

o que contribui na construccedilatildeo de uma consciecircncia poliacutetica mais abrangente e criacutetica

entretanto o momento atual revela que os agrupamentos jaacute natildeo mais impulsionam a

atuaccedilatildeo da ENESSO como em periacuteodos anteriores e desse modo as divergecircncias

partidaacuterias se tornam mais recorrentes e visiacuteveis o que pode expressar uma das

determinaccedilotildees geradoras dessa forte instabilidade pela qual passa o MESS e a

ENESSO

E mesmo nessa conjuntura de instabilidades e fragilidade poliacutetica do

MESS e da ENESSO a construccedilatildeo de medidas voltadas para uma atuaccedilatildeo mais

qualificada dos(s) militantes e consequumlentemente dos(as) dirigentes das entidades

estudantis de base satildeo sucumbidas diante da falta de recurso das vaacuterias atividades

e obrigaccedilotildees cotidianas dos(as) militantes No decorrer do periacuteodo aqui analisado foi

realizado em abrangecircncia nacional somente um curso de formaccedilatildeo poliacutetica voltado

para os(as) militantes do MESS

Contradiccedilotildees satildeo apontadas no sentido de que embora a ENESSO se

posicione contraacuterio a contra-reforma do ensino superior as elaboraccedilotildees sobre essa

problemaacutetica sinalizam uma tendecircncia de que as medidas aprovadas pelo governo

Lula satildeo de certo modo justificaacuteveis devido ao processo de adoccedilatildeo das diretivas

neoliberais ainda durante a era FHC

Dentre as dificuldades apreendidas nessa pesquisa se encontram as de

ordem objetiva diante da realidade de falta de recursos da ENESSO que repercute

diretamente na atuaccedilatildeo poliacutetica da entidade pois a falta de condiccedilotildees limita a atuaccedilatildeo

da entidade em espaccedilos como cursos de Serviccedilo Social presenccedila em eventos como

seminaacuterio oficinas e entre outros Dificuldades resultantes da crescente privatizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo superior que se manifesta por exemplo na apreensatildeo de que ateacute

agosto de 2008 existiam no Brasil 302 cursos de Serviccedilo Social sendo 51 na esfera

puacuteblica e 251 no setor privado visto que a pesquisa sugere a existecircncia de maior

autonomia de organizaccedilatildeo do MESS nas instituiccedilotildees puacuteblicas

A investigaccedilatildeo sinaliza possibilidades na atuaccedilatildeo da ENESSO no sentido

de que mesmo em uma conjuntura limitada da atuaccedilatildeo dos MS a entidade consegue

pautar importantes debates que ultrapassa a esfera restrita dos(as) estudantes e

nessa perspectiva a executiva procura se articular com outros sujeitos MS e

entidades como a ABEPSS e o conjunto CFESS-CRESS

174

A unidade em torno da defesa do projeto profissional consiste em uma

determinaccedilatildeo significativa na articulaccedilatildeo entre as entidades representativas do Serviccedilo

Social entretanto essa unidade natildeo representa a ausecircncia de discordacircncias

diferenccedilas e contradiccedilotildees nessa relaccedilatildeo

175

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ANEXO I

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM EX COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO

1- Comente sobre a sua trajetoacuteria no movimento estudantil ateacute chegar a coordenaccedilatildeo da enesso

2- Era membro de alguma tendecircncia no movimento estudantil Quais as principais bandeiras de lutas Que analise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no movimento estudantil

3- Qual o posicionamento da entidade em relaccedilatildeo a reforma universitaacuteria do governolula

4- Quais as principais atividades e lutas realizadas no tocante a defesa da universidade puacuteblica no Brasil

5- Quais as principais atividades e lutas efetivadas em relaccedilatildeo a defesa do atual projeto de formaccedilatildeo profissional fundado nas diretrizes curriculares

6- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo da executiva tanto em relaccedilatildeo agrave universidade como a formaccedilatildeo profissional levando em consideraccedilatildeo limites estrateacutegias e potencialidades a partir das atividades e lutas travadas

7- Quais os principais aliados e opositores do movimento estudantil e em particular no acircmbito do movimento estudantil de serviccedilo social

8- Comente sobre possiacuteveis dificuldades em termos da organizaccedilatildeo-poliacutetica do mess no seu periacuteodo de militacircncia

9- Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo do movimento estudantil na sociedade e em particular no atual cenaacuterio neoliberal

10- Teria algo relevante a acrescentar sobre a enesso como entidade representativa dos(as) estudantes de serviccedilo social em niacutevel nacional

186

ANEXO II

ROTEIRO UTILIZADO NA ELABORACcedilAtildeO DE PERFIL DOS(AS) DIRIGENTESNACIONAIS DA ENESSO NO PERIacuteODO DE 20032008

1 - ANO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO

R ___________________________________

2 - FAIXA ETAacuteRIA

Entre 15-20 ( )Entre 21-25 ( )Entre 26-30 ( )Acima de 30 ( )

3 - SEXO

Masculino ( ) Feminino ( )

4 - COR Negra ( ) Branca ( ) Parda ( )

5 - RELIGIAtildeO

Catoacutelica ( ) protestante( ) espiacuterita( ) umbanda ( ) outra ( ) Especificar________________

6 - ENSINO MEacuteDIO REALIZADO PREDOMINATEMENTE EM ESCOLA

Puacuteblica ( )Privada ( )

7 - GRADUACcedilAtildeO REALIZADA EM INSTITUICcedilAtildeO

Puacuteblica ( ) privada ( )Instituiccedilatildeo ______________________________

8 - DURANTE O PERIacuteODO DE MILITAcircNCIA NA ENESSO DESEMPENHAVA ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA

Trabalho ( ) especificar __________________________________________________ Quantas horas diaacuterias ____________________

Estagio ( ) especificar _______________________________________________________Quantas horas diaacuterias____________________________

9 - RENDA MENSAL DA FAMIacuteLIA

187

Entre 1 e 2 salaacuterios- miacutenimos ( ) Entre 7 e 8 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 3 e 4 salaacuterios-miacutenimos ( ) Entre 9 e 10 salaacuterios- miacutenimo ( )Entre 5 e 6 salaacuterios-miacutenimos ( ) Acima de dez salaacuterios ( )

10 - ANTES DE MILITAR NO MESS PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ORGANIZACcedilAtildeO COLETIVA

Natildeo ( ) sim ( ) Especificar_______________________________________________

11 - ANTES DE SER DIRIGENTE DA ENESSO OCUPOU ALGUM CARGO EM ENTIDADE DO MOVIMENTO ESTUDANTIL

( ) CORETUR( ) Centro ou Diretoacuterio Acadecircmico( ) Diretoacuterio Central dos Estudantes( ) Coordenaccedilatildeo Regional da ENESSO( ) Outra _____________________________________________________________

12 - NO PERIODO EM QUE FOI DIRIGENTE DA ENESSO ERA FILIADO A ALGUM PARTIDO POLIacuteTICO

( ) Natildeo ( ) sim Especificar____________________________________________

188

ANEXO III

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM MENBRO DA ABEPSS

1 COMO VOC ANALISA A ldquoPARCERIA ESTRATGICArdquo ENTRE AS TRS ENTIDADES NACIONAIS DA CATEGORIA

2 QUAIS AS PRINCIPAIS ESTRATGIAS E AES DESENVOLVIDAS PELAS TRS ENTIDADES NA DEFESA DA UNIVERSIDADE PBLICA GRATUITA PRESENCIAL LAICA E DE QUALIDADE E DO PROJETO DE FORMAO PROFISSIONAL FUNDADO NAS DIRETRIZES CURRICULARES

3 QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELO CFESSABEPSS NO PROCESSO DE ARTICULAO ENTRE AS TRS ENTIDADES E PARTICULARMENTE EM RELAO A ENESSO

189

ANEXO IV

ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM COORDENADOR(A) REGIONAL DA ENESSO (MEMBRO DE OPOSICcedilAtildeO A DIRECcedilAtildeO NACIONAL DA ENESSO)

1 Que anaacutelise vocecirc faz sobre a atuaccedilatildeo das tendecircncias no Movimento Estudantil de Serviccedilo Social

2 Comente sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO nos acircmbitos da Universidade e da Formaccedilatildeo profissional considerando estrateacutegias limites e potencialidades

3 Teria algo relevante a acrescentar sobre a atuaccedilatildeo da ENESSO no processo de organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo dos(as) estudantes na contemporaneidade

190

APEcircNDICE I

RELAO DOS COORDENADORES(AS) NACIONAIS DA ENESSO NO PERODO

DE 2003-2008

GESTAtildeO 20032004

Coordenao Geral Adriana Oliveira ndash PUCSPSecretaria Geral Wagner Hosokawa ndash PUCSP Coordenao de Finanas Lucilene Gomes PUCCampinasCoordenao de Divulgao e Impressa Graziela Sue ndash UNISALCoordenao Movimentos Sociais Julia Benedini ndash UNESPCoordenao Relaes Internacionais Anita Martins ndash UNESPCoordenao de Formao Profissional Michele Marx- Centro Universitrio Baro de Mau Ribeiro Preto(SP)

GESTAtildeO 20042005

Coordenao Geral Ana Carolina trindade dos santos UFS-SESecretaria Geral Daniele Rebouas UCSAL-BACoordenao de Finanas Amanda Bastos UFS-SECoordenao de Divulgao e ImpressaAline Arajo- UCCSAL-BACoordenao Movimentos Sociais Itanamara Cavalcante UFS-SECoordenao Relaes InternacionaisFernanda mantelli-UCSAL-BAcoordenao de Formao Profissionaljacklene mirne UNIT-SE

GESTAtildeO 20052006

Coordenao Geral Celso Severo UFPE-PESecretaria Geral Natalia Teixeira UFPE-PECoordenao de Finanas Juliana Nunes UEPBCoordenao de Divulgao e Impressa Evandro Gomes Correia jr UFPBCoordenao Movimentos Sociais Raquel Mazuele de p Arajo UERNCoordenao Relaes Internacionais Alison Cleiton UEPBCoordenao de Formao Profissional Albertina Felix da Cuz-UEPB

GESTAtildeO 20062007

Coordenao Geral Fabiano SantosSecretaria Geral Roberto AlvesCoordenao de Finanas Emanuela BritoCoordenao de Divulgao e Impressa Aline CerqueiraCoordenao Movimentos Sociais Aline TapiocaCoordenao Relaes Internacionais Andr NovaisCoordenao de Formao Profissional Deyse Morais

191

GESTAtildeO 20072008

Coordenao Geral Shanti Mairananda de Oliveira Braga ndash UFJFSecretaria Geral Samantha Catarina de Andrade Santos - PUC MinasCoordenao de FinanasAline Felipe Barreto - UFESCoordenao de Divulgao e Impressa Ernandes Jos - UFVJMCoordenao Movimentos Sociais Haimon Verly - UFESCoordenao Relaes Internacionais Cristovo de Oliveira Braga - UFJFCoordenao de Formao Profissional Leonardo David Rosa Reis - PUC Minas