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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO
MARIA LUANA ALVES DOS SANTOS FARIAS
A INTERVENÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA ÁREA SÓCIOJURÍDICA
FRENTE A ALIENAÇÃO PARENTAL EM NATAL/RN
NATAL/RN 2016
MARIA LUANA ALVES DOS SANTOS FARIAS
A INTERVENÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA ÁREA SÓCIOJURÍDICA
FRENTE A ALIENAÇÃO PARENTAL EM NATAL/RN
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Prof. M.e Tibério Lima Oliveira
NATAL/RN 2016
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Farias, Maria Luana Alves dos Santos.
A intervenção dos assistentes sociais da área sóciojurídica frente a alienação parental em
Natal/RN/ Maria Luana Alves dos Santos Farias. - Natal, RN, 2016.
56f.
Orientador: Prof. Me. Tibério Lima Oliveira.
Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço Social.
1. Serviço Social - Monografia. 2. Alienação Parental - Monografia. 3. Intervenção Profissional -
Monografia. I. Oliveira, Tibério Lima. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 364-787.24
AGRADECIMENTOS
Primeiro, quero agradecer Àquele que é o propósito da minha vida, que me
guiou e continua me guiando, que foi e é a minha fortaleza e em quem eu deposito a
minha fé, à Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Como também à Nossa Senhora, que
passou na frente nos momentos de aflições e me ensinou a caminhar com
serenidade.
Quero agradecer à minha família. Aos meus pais: José Crisaudo de Farias e
Luzia Alves dos Santos Farias. Aos meus irmãos: Alexandre Alves dos Santos
Farias, Alisson José Alves dos Santos Farias e Larissa Alves dos Santos Farias. E
cunhada: Danielle de Carvalho Alves. Eles que me deram forças, me ajudaram a ter
perseverança e estiveram sempre ao meu lado nos momentos difíceis da minha
graduação, sem me deixar perder o ânimo. Vocês são exemplos para mim!
Devo ressaltar, meu pai, que desde os 7 anos teve que ajudar a sua família,
trabalhando e tendo responsabilidades de adulto, e até hoje se dedica
constantemente ao trabalho. Painho, você me ensinou o valor da educação, do
trabalho, da honestidade e da luta!
E minha mãe, professora, que sempre prezou pela educação, com um olhar
para cada aluno como raramente vemos, com amor. Com esse amor aprendi a
importância de se olhar para o outro e às suas reais necessidades, sem
julgamentos. Meus pais, vocês são incríveis, amo muito vocês!
Às minhas amigas da graduação, que me auxiliaram nos trabalhos, provas e
seminários integrados, as quais também me ensinaram muito. À minha dupla,
Mariana da Silva Bezerra, pelos dias, e noites, fazendo trabalhos juntas; pelos dias
de cenário de estágio, diários de campo, projeto de intervenção e, simplesmente,
pelos dias do seu apoio!
Aos meus amigos de viagem: Ana Paula, Jéssica, Suzérica e Rodrigo, que,
juntos comigo, viveram uma grande experiência na nossa graduação. Percebemos
que a capacitação pode nos levar longe e nos fazer realizar sonhos!
À todos os meus professores da graduação, que estiveram durante todo esse
percurso me formando e me dando aparatos para o conhecimento e para uma
análise crítica sobre a realidade social.
À minha supervisora de campo, Lúcia de Fátima Carvalho Alves, que me
inspirou como profissional intriga e comprometida, que sempre estava à disposição
para dúvidas e esclarecimentos, dentro e fora do estágio, sobre a nossa atuação
enquanto assistentes sociais.
Ao meu orientador de TCC, Tibério Lima Oliveira, que me orientou com o
senso crítico, com leituras, com o olhar próprio de um profissional de Serviço Social
que eu tomo como exemplo.
Ao meu namorado, Pedro Paulo Paiva Silveira, que esteve sempre
compreensivo e ao meu lado. Que me apoiou e me motivou a ser perseverante em
alcançar os meus sonhos. Muito obrigada, meu bem!
À minha equipe das EJNS, à cada um. Que me inspiraram, que partilharam
comigo seus momentos e desafios na caminhada profissional, mas também, que me
deixaram partilhar, me escutando e trazendo sempre a luz de Deus nos momentos
difíceis.
A todos os meus amigos e amigas, que mesmo não citando, sabem o quanto
são importantes para mim, sabem o quanto essa minha conquista também é de
vocês!
Enfim, obrigada a cada pessoa que me ajudou e me mostrou o quanto é
necessário que tenhamos conhecimento, não apenas para conseguir um emprego e
se sustentar, mas para se emancipar enquanto pessoa, para ter suas próprias
opiniões e defende-las.
Maria Luana
“Quem tem medo das suas lágrimas
nunca ensinará seus filhos a chorar.
Quem tem medo das suas falhas nunca
ensinará seus alunos a assumi-las. ”
(Augusto Cury).
RESUMO
A presente monografia buscar expor a intervenção dos assistentes sociais da área sóciojurídica frente a demanda da alienação parental, em Natal/RN, que se caracteriza como uma expressão da questão social, objeto de trabalho dos profissionais de serviço social, enquanto violência psicológica e violação dos direitos previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Expõe uma análise sócio histórica sobre o contexto da Segunda Revolução Industrial e quais as suas implicações na dinâmica familiar, as relações oriundas da família patriarcal e os desafios das novas configurações familiares na contemporaneidade. Outrossim, trata do termo “Síndrome de Alienação Parental”, de forma a patologizar a expressão da questão social e a estigmatizar as mães que possuem a guarda de seus filhos. Aborda, também, a Lei 12.318/10 como forma de punição para os alienadores e de garantir um bom desenvolvimento mental e psicológico para a criança e/ou adolescente. Ademais, discorre acerca do histórico da inserção dos assistentes sociais na área sóciojurídica. A monografia possui como objetivo geral: analisar a atuação dos assistentes sociais em meio à demanda de Alienação Parental, inseridos na área sóciojurídica na cidade do Natal/RN. Como objetivos específicos: Identificar a demanda de Alienação Parental e caracterizá-la; aproximar-se da prática profissional de assistentes sociais e da experiência com o tema em questão; reconhecer o papel dos assistentes sociais, dentro da equipe interdisciplinar, para a identificação da alienação; contribuir com a divulgação da Alienação Parental e, consequentemente, possibilitar uma melhor análise das questões relacionadas a ela. Além disso, pude ter acesso a duas assistentes sociais da área sóciojurídica em Natal/RN, as quais foram participaram de entrevistas semi-estruturadas e foram denominadas como “AS1” e “AS2”, para possibilitar a compreensão da intervenção a partir da realidade concreta expressa no cotidiano profissional e na dinâmica com os usuários. Ademais, foi observada a importância e a necessidade da construção dos estudos e pareceres sociais para que a compreensão e interpretação seja para além do aparente, analisando a totalidade do que é posto, como também, as particularidades dos indivíduos.
Palavras-Chaves: Alienação Parental. Serviço Social. Intervenção Profissional.
ABSTRACT
This monograph seeks to expose the intervention of social workers in the social and legal area in relation to the demand for parental alienation in Natal/RN, which is characterized as an expression of the social issue, object of work of social service professionals, as psychological violence and violation of rights provided by the Statute of the Child and Adolescent. It presents a sociohistorical analysis of the context of the Second Industrial Revolution and its implications for family dynamics, the relationships originating from the patriarchal family, and the challenges of the new familiar configurations in contemporary times. It also deals with the term "Parental Alienation Syndrome" in order to pathologize the expression of the social question and to stigmatize the mothers who have custody of their children. It also addresses Law 12.318/10 as a form of punishment for the alienators and assurance of a good mental and psychological development for the child and/or adolescent. In addition, it discusses the history of the insertion of the social workers in the social-legal area. The main objective of the monograph is to analyze the performance of social workers in the midst of the demand for Parental Alienation, inserted in the social-legal area in the city of Natal/RN. As specific objectives: Identify the demand for Parental Alienation and characterize it; Approaching the professional practice of social workers and experience with the topic in question; Recognize the role of social workers within the interdisciplinary team to identify alienation; Contribute to the scientific divulgation of Parental Alienation and, consequently, enable a better analysis of the issues related to it. In addition, access to two social workers from the social-legal area in Natal/RN, as they were heard from semi-structured interviews and referred to as "AS1" and "AS2", to enable an understanding of intervention from reality express concrete non-professional daily and in the dynamic with the users. In addition, it was observed the importance and the understanding of the construction of studies and social opinions for the understanding and interpretation beyond the set, analyzing the totality of what is put, as well as the particularities of the individuals.
Keywords: Parental Alienation. Social Worker. Professional Intervention.
LISTA DE SIGLAS
APASE – Associação de Pais e Mães Separados
CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais
DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (edição 5ª)
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
RN – Rio Grande do Norte
SAP – Síndrome de Alienação Parental
SP – São Paulo
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
TJ/RN – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
TPB - Transtorno de Personalidade Borderline
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13
2 ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA CONCEPÇÃO SÓCIO HISTÓRICA.................. 19
2.1 ALIENAÇÃO PARENTAL COMO VIOLÊNCIA E QUESTÃO SOCIAL................ 19
2.2 O QUE SERIA “SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – SAP”? .................. 27
2.3 PREVISÃO LEGAL DE ALIENAÇÃO PARENTAL: LEI 12.318/10 ...................... 29
3 ALIENAÇÃO PARENTAL: DESAFIOS POSTOS PARA OS/AS ASSISTENTES
SOCIAIS .................................................................................................................. 35
3.1 BREVE HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA SÓCIOJURÍDICA ........ 35
3.2 A INTERVENÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE À EXPRESSÃO DA
QUESTÃO SOCIAL NA ALIENAÇÃO PARENTAL ................................................... 39
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 50
APÊNDICE A – Roteiro Para Entrevistas .............................................................. 54
APÊNDICE B – Termo de Consentimento do Entrevistado ................................. 55
13
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso tem por temática a intervenção
do/da Assistente Social em face da demanda sobre o fenômeno de Alienação
Parental na cidade do Natal/RN. Perpassa a compreensão de alienação parental
como violência e como uma expressão da questão social, além disso, foi levantada a
necessidade de compreensão dos processos de trabalho que são inseridos frente a
essa demanda.
Nesse sentido, a Alienação Parental não é uma temática nova, entretanto, só
recentemente vem sendo analisada, por decorrência de estudos das áreas de
psicologia, jurídica e social e pelo aumento no número de genitores os quais
desejam exercer a função de pai, apesar da separação entre os cônjuges. Embora
haja esse aumento, não é proporcional a conscientização de que a função paterna
ou materna não se dissolve com a separação conjugal, que o vínculo com o filho não
poderá se romper.
Apesar disso, pela não aceitação da separação, por mágoa, frustração ou por
medo de perder o amor de seus filhos, por vezes, o genitor que, geralmente, possui
a guarda da criança ou do adolescente passa a desvalorizar o outro genitor. Cria
situações para dificultar a visitação, oculta informações sobre os filhos, o
desqualifica e o coloca como ameaça, sem reais justificativas, criando uma falsa
imagem para a criança ou adolescente e, por consequência, elementos que se
constituem em uma realidade que tende a coisificar as relações sociais, inclusive, as
relações afetivas, tendo muitas vezes como configuração a alienação parental.
Vale salientar, também, que essa campanha de descrédito não acontece tão
claramente, sendo um processo de difícil identificação e de desconstrução.
Geralmente, a difamação de um dos genitores ao outro, na frente dos filhos, se torna
naturalizada e não são levadas em conta as suas consequências para a criança, a
qual é induzida a se afastar de um dos genitores para não “trair” o outro que possui
a sua guarda, caracterizando assim uma relação de poder a qual diminui os desejos
da criança e do adolescente e o colocam como posse de seus genitores.
O interesse pela temática iniciou durante as disciplinas de Pesquisa em
Serviço Social I e II, a qual elaborei um artigo científico sobre “Assistentes Sociais
nas Varas de Família em Natal/RN: As competências e as atribuições”. Por ter
sentido a necessidade de um estudo e aperfeiçoamento do fazer profissional,
14
sobretudo, acerca das competências e atribuições privativas do serviço social. Além
de considerar, particularmente, a área sóciojurídica, seus instrumentos utilizados e a
materialização do Projeto Ético-Político realizada pelos assistentes sociais das
Varas de Família.
Dessa forma, foram feitas entrevistas semi-estruturadas, durante o período de
2015.1, com as duas Assistentes Sociais do Setor Psicossocial das Varas de Família
e pesquisa bibliográfica, dando visibilidade aos serviços prestados aos usuários e
identificando a concretude dos Art. 4º e 5º da Lei 8.662/93, que tratam sobre as
competências e atribuições do profissional em questão. Tivemos como objetivo,
também, identificar as dificuldades e desafios na aplicação dessa lei no cotidiano
profissional.
Já durante o desenvolvimento do trabalho, notei que as questões
relacionadas às atribuições e competências não são consideradas desafios para os
profissionais inseridos nas Varas de Família da Comarca de Natal/RN. Entretanto, foi
mais perceptível a falta de efetivação das leis relacionadas a nomeação de
profissionais do Serviço Social, que são inseridos por desvio de função. Isto é, por
não serem os profissionais que exercem a “atividade-fim”1, apesar de ser um espaço
judiciário, os direitos que são previstos aos assistentes sociais não eram
considerados, sendo o trabalho precarizado como condição do processo de
reestruturação produtiva que, também afeta, essa categoria profissional, por meio da
regressão dos direitos.
Havia uma falta de visualização da administração do TJ/RN quanto as
necessidades do Setor Psicossocial, como estrutura adequada aos atendimentos,
espaço físico e segurança durante as visitas domiciliares que garantisse um
atendimento ético e com sigilo. Tudo isso, necessário para a boa realização de
estudos sociais, para que os profissionais tenham seus direitos trabalhistas
garantidos e colocados em prática. Com isso, estabeleci meu primeiro contato e tive
as minhas primeiras inquietações acerca da área sóciojurídica.
Realizei, também, meu período de estágio obrigatório no mesmo espaço
sócio-ocupacional o qual formulei a minha pesquisa, no Setor Psicossocial das
Varas de Família do Tribunal de Justiça/RN. Lugar em que me possibilitou notar o
pouco acervo intelectual sobre alienação parental na área social, o pouco
1 Atividades que definem a finalidade da instituição, sendo desenvolvidos processos de trabalho que caracterizam o objetivo principal dela.
15
conhecimento dessa temática tanto da população, a qual naturaliza a alienação
parental como “brigas de família”, quanto dos próprios profissionais, que
ligeiramente conhecem sobre o assunto, principalmente se não fizer parte de um
espaço sócio-ocupacional o qual lide com essa demanda.
Durante esse período de estágio, pude ter a experiência de realizar estudos
sociais e, através de entrevistas e visitas domiciliares, perceber que haviam fortes
indícios de Alienação Parental, a também chamada “Síndrome de Alienação
Parental” (SAP) por Richard Gardner em 19852, como: falsa acusações de abusos à
criança, mudança de escola com ocultação ao outro genitor, nomear como pai ou
mãe o/a novo/a companheiro/a, dentre outras questões. Sendo necessária, por fim,
a realização de um estudo psicológico para a constatação da alienação.
Assim, com essa experiência, percebi o quanto é naturalizada a prática de
colocar a criança ou o adolescente contra o outro genitor e tratada como “comum”
nos conflitos entre pais separados, por exemplo. Sem que seja analisada a
conjuntura contemporânea das famílias, suas novas ramificações em uma sociedade
que interpreta a família nuclear como o único modelo apropriado e aceito.
Também formulei, juntamente com a minha colega de estágio, um projeto de
intervenção extensivo à Escola Estadual Professor João Tibúrcio, onde os pais ou
responsáveis dos alunos são moradores de bairros periféricos, com pouca
escolaridade e têm pouco acesso às informações acerca da justiça gratuita, como
também, às demandas recorrentes no Setor Psicossocial, tais como: guarda,
alimentos, regulamentação de convivência, violência doméstica e alienação parental.
Dessa forma, realizamos uma roda de conversa que, consequentemente, me
possibilitou enxergar melhor como se dá o contexto das famílias e da própria
alienação parental, a partir dos relatos. O que fez, ainda mais, me interessar sobre a
Alienação Parental, entender como é identificada, como é o trabalho dos
profissionais de Serviço Social e como se dá esse trabalho junto à equipe
interdisciplinar.
Outrossim, o estudo dessa temática é importante para que o fazer
profissional dentro da área sóciojurídica seja exercido na perspectiva da garantia de
direitos, analisando os processos sociais que daí surgem, a partir de publicações,
2 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? 2002. Disponível em:
<http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente>. Acesso em: 24 set. 2016.
16
tanto dos acadêmicos quanto dos profissionais de serviço social, e de uma formação
continuada. Ademais, ao realizar um estudo social sobre determinado conflito
familiar, o parecer pode influenciar grandemente no futuro e na dinâmica daquela
família.
Nesse sentido, é necessário que os assistentes sociais, não só da área
sóciojurídica mas também de todas as áreas que trabalham com família, tomem
conhecimento desse tipo de violação dos direitos da criança e do adolescente, para
que, assim, não seja naturalizada e que seja possível ir além do aparente no estudo
das relações familiares, até mesmo analisando as relações de poder que são postas
em relação a essa expressão.
Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo geral analisar a atuação dos
assistentes sociais, inseridos na área sóciojurídica na cidade do Natal/RN, em meio
à demanda de Alienação Parental. Dessa forma, temos como objetivos específicos:
1) Identificar a demanda de Alienação Parental e caracterizá-la; 2) Aproximar-se da
prática profissional de assistentes sociais e da experiência com o tema em questão;
3) Reconhecer o papel dos assistentes sociais, dentro da equipe interdisciplinar,
para a identificação da alienação; e, por fim, 4) Contribuir com a divulgação da
Alienação Parental e, consequentemente, possibilitar uma melhor análise das
questões relacionadas a ela.
Neste trabalho de conclusão de curso (TCC) explanaremos o tema “Alienação
Parental e Serviço Social”, visto que esse tipo de alienação vai contra o direito das
crianças e dos adolescentes à convivência familiar, previsto pelo artigo 19º do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), e que é caracterizada como
uma violência psicológica que prejudica o pleno desenvolvimento das crianças e dos
adolescentes. Isto é, temos como título e problemática “A intervenção dos
assistentes sociais da área sóciojurídica frente a alienação parental em Natal/RN”.
Durante o primeiro capítulo “Alienação Parental: Uma Concepção Sócio
Histórica”, será exposto acerca da Alienação Parental, seu conceito, conjuntura das
famílias e como uma forma de violência psicológica para as crianças e adolescentes,
que contradiz o que está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
como também, como uma expressão da Questão Social. Será discutido sobre o
termo “Síndrome de Alienação Parental”, como uma forma de patologização e de
análise micro sobre os fenômenos sociais, a partir de conceitos do psiquiatra
Richard Gardner que tende, muitas vezes, a entender tal expressão de forma
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isolada, sem uma contextualização dessas relações articuladas com o movimento do
real.
Posteriormente, teremos a explanação da lei 12.318/10 a qual dispõe acerca
da alienação parental, que exemplifica formas de alienação e estabelece possíveis
penas para os alienadores, tais como: advertência, perda do poder familiar, multa,
intervenção psicológica e alteração da guarda.
Dessa forma, como uma maneira de melhor situar a demanda em questão,
sem que sejam estabelecidos prejulgamentos sobre as novas ramificações
familiares ou de gênero, teremos como subtítulos: “Alienação Parental Como
Violência E Questão Social”; “O que seria a ‘síndrome de alienação parental’”; e a
“Previsão Legal de Alienação Parental: Lei 12.318/10.
Como segundo capítulo desse trabalho, voltaremos para a atuação dos
assistentes sociais ao tratar da demanda de alienação parental. Por esse motivo,
primeiro enfatizamos aspectos em torno do histórico dos assistentes sociais na área
sóciojurídica, quais os seus desafios e conquistas. Além disso, iremos tratar sobre a
instrumentalidade no serviço social em relação à demanda falada, baseando-se na
autora Yolanda Guerra (2000), ressaltando seus instrumentos e a relação intrínseca
entre as dimensões para a nossa atuação: teórico-metodológica; técnico-operativa;
ético-política.
Logo após, nos deteremos à “Intervenção dos Assistentes Sociais na Questão
Social da Alienação Parental”, a qual necessita ser realizada juntamente com uma
equipe interdisciplinar e é de grande importância para que sejam identificadas
situações de alienação parental, sem que se detenham a preconceitos de gênero
vinculados à noção de família patriarcal. Para compor essa pesquisa qualitativa,
foram utilizadas de entrevistas semi-estruturadas com as duas assistentes sociais de
uma instituição da área sóciojurídica de Natal/RN, as quais responderam acerca da
sua experiência com casos de Alienação Parental, sua caracterização e formas de
identificação da demanda em questão. De forma a preservar o anonimato das
entrevistadas, iremos chama-las ao longo dessa monografia de: “AS1” e “AS2”
Por fim, para enxergar o objeto de estudo desse trabalho em sua concretude,
além das entrevistas com assistentes sociais, realizamos uma pesquisa bibliográfica
com trabalhos científicos sobre a demanda e livros, como também com a minha
experiência, já que cumpri meu estágio curricular nas Varas de Família de Tribunal
18
de Justiça/RN. Assim, pretendemos analisar os desafios dos/as profissionais de
Serviço Social possuem em relação a esse tipo de alienação.
Com isso, pretendemos chamar a atenção ao estudo e à pesquisa sobre a
alienação parental enquanto demanda do Serviço Social, a qual é pouco tratada
pelos assistentes sociais. A alienação parental se caracteriza como de difícil
identificação a uma análise superficial, sendo passada despercebida caso o
profissional não possua um estudo crítico sobre esse tipo de violência, que expõe as
crianças e os adolescentes a uma situação conflituosa, os priva do convívio com
ambos os pais, provoca a regressão dos direitos humanos das crianças e
adolescentes, assim como, impede o genitor alienado de exercer sua parentalidade.
19
2 ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA CONCEPÇÃO SÓCIO HISTÓRICA
Para alcançar o objetivo desse trabalho, é necessário analisar da demanda
em questão, a alienação parental, com relação ao seu contexto sócio histórico.
Assim, nesse capítulo faremos uma breve explanação sobre a inserção da mulher
no mercado de trabalho e as mudanças nas famílias contemporâneas para melhor
entender... o contexto o qual se expressa esse tipo de alienação.
Além disso, discutiremos acerca do termo “Síndrome de Alienação Parental”
como uma forma de patologizar essa expressão da questão social e de estigmatizar
da figura da mulher. Será exposto, também, acerca da Lei 12.318 que penaliza os
alienadores parentais, a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e casos
os quais se identificam essa demanda.
2.1 ALIENAÇÃO PARENTAL COMO VIOLÊNCIA E QUESTÃO SOCIAL
Por muito tempo, o único modelo de família aceito era o patriarcal, isto é, o
modelo em que o pai era o provedor dos bens materiais e da alimentação, sendo
aquele que sustentava e dava conforto à sua família. A mulher, por sua vez,
trabalhava em casa com as atividades domésticas e com o cuidado com os filhos,
não ganhava o seu próprio dinheiro, a não ser que fizesse parte das classes mais
desfavorecidas, as quais trabalhavam para sustentar seus filhos, em sua maioria, na
casa de outras pessoas com o trabalho doméstico. As relações patriarcais de gênero
materializam essas desigualdades com a perspectiva da divisão sexual do trabalho,
em que o homem exerce a função produtiva e a mulher a reprodutiva.
Com a Segunda Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, a
mulher passou a trabalhar fora de casa, pela necessidade de força de trabalho
precária para a produção capitalista. Pois, os donos dos meios de produção
passaram a empregar mulheres e crianças, por serem uma força de trabalho barata,
por trabalharem a mesma quantidade de tempo de que os homens e ganharem
menos, já que eram consideradas “biologicamente indefesas”, o que garantia uma
extração maior da mais-valia3.
3 “É com D (capital sob a forma dinheiro) que se inicia a produção capitalista. Seu possuidor,
o capitalista (que pode ser um sujeito individual/ uma pessoa ou coletivo/ uma sociedade constituída por várias pessoas), compra M, isto é, um conjunto de mercadorias, para dar
20
Ou seja, era mais viável ao sistema capitalista que, nesse modelo da
sociedade, as mulheres fizessem parte do proletariado, para assim garantir maiores
taxas de lucro aos capitalistas4. O que, por consequência, vem modificando a
dinâmica familiar atual das tarefas em casa, muitas vezes com as mulheres com
uma dupla jornada de trabalho – no meio doméstico e no trabalho fora de casa.
Além da inserção das mulheres com a chegada da maquinaria, tivemos
também a inserção das crianças nas indústrias. Porém, no mesmo período, houve
uma considerada elevação nos índices de mortalidade infantil que foram atribuídos
ao fato das mulheres, mães, estarem fora do meio doméstico e com pouco tempo
para os cuidados com os filhos, muitas vezes sem levar em consideração o trabalho
que eles desempenhavam (SOUZA, 2006)5. Trabalho esse que eram prejudiciais ao
desenvolvimento tanto físico quanto mental dessas crianças.
De acordo com Hobsbawm (2005, p.68 apud SANTOS, 2012, p.36):
E de todos os custos, os salários [...] eram os mais comprimíveis. Eles podiam ser comprimidos pela simples diminuição, pela substituição de trabalhadores qualificados, mais caros [predominantemente do sexo masculino por mulheres e crianças], e pela competição da máquina com a mão de obra. (HOBSBAWM, 2005, p.68 apud SANTOS, 2012, p.36).
Dessa maneira, as mulheres e crianças foram utilizadas como força de
trabalho com a intenção de controle das pequenas crises oriundas da queda da taxa
de lucro. Com a universalização e a lógica concorrencial, as vantagens da
produtividade passam a diminuir, como também, há constantes quedas de preços,
por esse motivo, os capitalistas passam a reduzir os gastos (SANTOS, 2012, p.36),
curso a um processo de produção (P) que se conclui quando está pronta a mercadoria que o capitalista pretende vender (M’); quando essa mercadoria é vendida (dizem os economistas: quando ela se realiza), o capitalista obtém D’ (recupera o dinheiro que investiu, acrescido da
mais-valia).” (NETTO; BRAZ, 2012, p.111, grifo do autor). 4 “Como a outra parte de D, o capitalista compra a mercadoria sem a qual os meios de produção são inúteis: compra a força de trabalho dos operários (proletários). Do ponto de vista do capitalista, essa compra identifica-se à anterior (ou seja: à compra das outras mercadorias de que necessita para implementar o processo de produção), porque em ambos os casos se trata, aos olhos do possuidor do capital, de uma despesa (um ‘custo’ igual a outro qualquer).” (NETTO; BRAZ, 2012, p.112, grifo do autor). 5 SOUZA, Ismael Francisco de. A exploração do trabalho de crianças na Revolução Industrial e no Brasil. 2006. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1561>. Acesso em: 30 set. 2016.
21
trocando a chamada “mão de obra qualificada”, os homens, por mulheres e crianças,
os quais receberiam menores salários.
Dessa forma, podemos observar a dinâmica do modo de produção capitalista
como desencadeadora da Questão Social, pela falta de políticas sociais para a
classe operária que estava em constante empobrecimento e, por consequência, pela
desigualdade social e doenças causadas pelo excesso de trabalho em condições
indignas. Conforme Iamamoto e Carvalho (1983, p.77):
A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p. 77).
A questão social tem como gênese a partir da Primeira Revolução Industrial,
porém se tornou mais perceptível a partir da Segunda Revolução Industrial, durante
século XIX, em que houver profundas contradições entre capital/trabalho com
repercussões na estrutura social, na dinâmica econômica e política da sociedade.
Sobretudo, a partir dos anos 1848, com o processo de revolução dos/das
trabalhadores/as organizados/as na luta contra todas as formas de exploração.
(NETTO, 1992). Posto isto, conforme Iamamoto (1998, p.27):
A Questão Social é apreendida como um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 1998, p.27).
Nesse sentido, como forma de produzir e reproduzir as contradições sociais,
isto é, como uma expressão da questão social, temos a violência como fenômeno
que assume diversas modalidades na contemporaneidade, fruto da questão social.
Que se expressa através das condições sociais e com a finalidade de exploração,
opressão e/ou dominação do outro.
22
De tal maneira, a violência contra mulher e/ou crianças e adolescentes, por
sua vez, pode ser ramificada em diversos tipos, presentes na Lei Maria da Penha6,
como: a violência física, sexual, moral, psicológica e patrimonial. Dessa forma,
devemos entender que a violência se instaura também na família, como instituição
base para a nossa sociedade, a partir das relações familiares de poder. Podemos
citar, como forma de hierarquia e de dominação do outro, a ideia de que o homem
seja o “dono” da mulher e das crianças, de forma a utilizar de violência para poder
reafirmar essa relação opressora. Conforme expõe Chauí (1985, p.37 apud PAVEZ;
OLIVEIRA, 2002, p.85):
A violência deseja a sujeição consentida ou a supressão mediatizada pela vontade do outro que consente em ser suprimido na sua diferença [...] a violência perfeita é aquela que resulta em alienação, identificação da vontade e da ação de alguém com a vontade e a ação contrária que a domina. (CHAUÍ, 1985, p.37 apud PAVEZ; OLIVEIRA, 2002, p.85).
Ademais, a criança, nesse meio de relações familiares, não é entendida como
um sujeito de direitos, que possui desejos distintos aos dos seus pais. Por
conseguinte, essa ideia pode se manifestar na violência psicológica, assim como foi
destacado na citação anterior, sendo uma forma de controlar suas ações, de
manipulação e isolamento do mesmo. O que podemos caracterizar como alienação
6 Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2006, p.24, grifo nosso).
23
parental, a interferência de um dos pais ou responsáveis, após a separação, nos
sentimentos e na convivência da criança ou do adolescente, como forma de controle
e de fazê-lo rejeitar ou odiar o outro responsável ou pai/mãe.
Dessa maneira, a alienação parental expressa na contemporaneidade uma
modalidade específica da questão social, ou seja, apresenta traços advindos dos
modelos de famílias que se constituem no modelo patriarcal e capitalista de
opressão. Sendo considerado o modelo nuclear como único aceito e estruturado,
excluindo as demais configurações, porém, podemos citar como formas de família
segundo Skymanski (2002, p.10 apud KASLOW, 2001, p.37):
1) família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos; 2) famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações; 3) famílias adotivas temporárias (Foster); 4) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais; 5) casais; 6) famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe; 7) casais homossexuais com ou sem crianças7; 8) famílias reconstituídas depois do divórcio; 9) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo. (SKYMANSKI, 2002, p.10 apud KASLOW, 2001, p.37).
No documentário dirigido por Alan Minas8 sobre casos de alienação parental,
“A Morte Inventada”, foi entrevistada uma assistente social, Maria Luiza Valente, a
qual explana um pouco sobre a relação entre separação, modelo das famílias
patriarcais e a difícil aceitação dos novos modelos da família:
Um momento crucial após a separação, é quando surge [...] quando uma das pessoas tem um relacionamento novo, arranja um namorado ou uma namorada, ou se casam. Isso é um sinal de quê? De que o divórcio ou separação veio pra [sic] ficar. Não tem mais a possibilidade de retorno, então, isso é duro pra [sic] a pessoa que ainda tem uma expectativa, e é duro pra [sic] a criança, porque a criança [...] se perguntar a uma criança o que quer [...] quase 100% das crianças queriam que os pais estivessem juntos. Hoje em dia, as pessoas casam e recasam, então a madrasta ou o padrasto é alguém que vem somar à vida dessa criança, vem trazer a ela outras referências, outras referências de família, outros avós. Essa família cresce, as referências afetivas e culturais dessa criança crescem.
7 Famílias constituídas por uniões homoafetivas 8 Produzido em 2009, em Niterói, um longa-metragem elaborado no formato de documentário, trazendo depoimentos de pais, filhos e profissionais envolvidos com o tema. O título faz referência ao ato de alienação parental o qual o alienador “mata” a imagem do outro para a criança ou adolescente.
24
Mas, na perspectiva daquele que está ressentido, e que tem uma ideia de família muito tradicional, essa outra família ou referência não é uma coisa legal para o filho dela, ainda tá [sic] presa aquela ideia de família nuclear que se rompeu. (A MORTE..., 2009.)
De acordo com a fala supramencionada da assistente social, mesmo após a
separação, é difícil a aceitação de que aquela família nuclear se rompeu e de que
essa família agora pode possuir novos arranjos. O que é tratado negativamente pela
nossa sociedade, que permanece idealizando o padrão nuclear conjugal.
Entretanto, devemos levar em consideração que entendemos como família:
“[...] uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume
um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças, adolescentes e
adultos.” (SKYMANSKI, 2002, p.9). Isto é, não há somente um tipo de estruturação
familiar, deve, primordialmente, haver o afeto e compromisso entre as pessoas que
constituem essa família, assim, com essa percepção, pais ou responsáveis que
possuem a guarda da criança e/ou adolescente abrangeriam seus conceitos de
família, considerando as diversas configurações familiares, para além da família
nuclear formada por um pai, mãe e, no caso, os filhos.
É importante frisar a diferença entre a relação conjugal e a parental. Apesar
de serem relações que muitas vezes estão entrelaçadas, mesmo após o momento
da separação do casal, a parentalidade entre os pais ou responsáveis pelas crianças
e adolescentes não se dissolve ou se anula, mas passa a se ressignificar para
melhor se adaptar a essa nova fase e estrutura familiar.
Todavia, na maioria dos casos, um dos cônjuges se nega a aceitar a
separação ou divórcio, se recusa a entrar em acordo, por não aceitar
emocionalmente o término ou não suportar a dor da separação, por exemplo. Assim,
o casal acaba por entrar em uma situação de conflitos e desqualificação do outro,
por mágoa ou frustação, a qual chega ao ponto de atingir a relação pais e filhos, a
deixando seriamente perturbada e confusa, principalmente para a criança e o
adolescente. Dessa forma, devemos estabelecer a diferença entre a conjugalidade e
parentalidade, em que se o casal vir a terminar, a relação com os filhos não se
rompe. Há, da mesma forma, o direito e o dever de exercer a autoridade, educar,
cuidar e ditar normas de comportamento aos filhos.
25
Com o advento do movimento feminista9, a mulher vem ocupando no mercado
de trabalho cargos e posições cada vez mais superiores, estando,
consequentemente, mais fora de casa e distante da imagem imposta de mãe
cuidadora. Em contrapartida, na nossa sociedade contemporânea, ainda é comum
falas sobre o “instinto materno” oriundos das mulheres naturalmente, porém tais
imposições acabam por gerar conflitos nos papéis desempenhados pela mãe ou
pelo pai. A mãe, muitas vezes, poderá precisar da ajuda do seu companheiro e se
recusa a aceitá-la, por se entender como a única cuidadora ou capaz de educar
seus filhos; e o pai, a partir de sua herança cultural e dos valores da nossa
sociabilidade capitalista e patriarcal10, nem sempre exerce a sua parentalidade,
deixando, muitas vezes, os seus filhos aos cuidados unicamente da mãe.
Conforme é dito por Szymanski (2002, p.14): “Pais e Mães compreendem sua
tarefa socializadora das mais diferentes maneiras e assumem essa incumbência
conforme os modos de ser que foram desenvolvendo ao longo de suas vidas.
Aqueles não ocorrem em um vazio, mas situados social e historicamente”. Isto é, as
funções desempenhadas pelas mães e pais são condicionadas pelo sócio histórico,
como também economicamente, assim, há um processo de redefinição dos laços
familiares a partir dos valores herdados, os partilhados e os novos valores.
Em vista disso, as mudanças sociais ocorridas em meados do século XIX vêm
redefinindo, progressivamente, os laços familiares. Entretanto, não são todas as
redefinições que ocorrem de forma pacífica, há casos de separações tanto
consensual11 quanto litigiosa12, e que, se houver filhos, os cônjuges devem entender
que a maneira com que isso é encarado pode refletir diretamente no
desenvolvimento emocional, escolar e psicológico da criança e/ou adolescente.
Assim entramos na discussão acerca da Alienação Parental, ou seja, a interferência
de um dos cônjuges na concepção que o filho tem sobre o outro cônjuge de forma
9 Movimento que defende a luta das mulheres pela igualdade de direitos em relação aos homens, sendo a igualdade jurídica, intelectual, econômica, política, como também, social. 10 “[...] o poder patriarcal é caracterizado por Max Weber (1947, p. 346) como sendo um sistema de normas baseado na tradição. Assim, as decisões são tomadas sempre de um mesmo modo. Outro elemento básico da autoridade patriarcal é a obediência ao senhor, além da que é devotada à tradição.” (AGUIAR, 2000). 11 A separação consensual é quando há o acordo entre as partes, marido e esposa, sendo permitida somente à casais com mais de um ano de casamento. (CEZAR-FERREIRA, 2011). 12 Já a separação litigiosa, ou judicial, é quando não há acordos e a alegação de culpa de um dos cônjuges. (CEZAR-FERREIRA, 2011).
26
alienadora, o colocando como perigoso ou fazendo com que a criança ou
adolescente questione o seu afeto por ela/ele.
A Alienação Parental é uma prática que sempre existiu, contudo, só agora
passou a receber a devida atenção.13 Uma situação complexa que ocorre dentro da
dinâmica familiar, geralmente a partir da separação entre os pais ou responsáveis,
em que um deles denigre a imagem do outro como forma, muitas vezes, de se
“vingar”, visando o afastamento entre ele e os filhos. A criança ou adolescente
vivencia um momento conflituoso, o qual, à medida que ocorre a alienação, passa a
desvalorizar, repudiar ou até odiar o alienado com que possuía laços afetivos, não
havendo justificativas reais para esse ato. Conforme é dito por Simão (2008):
Trata-se de um processo de alienação praticado pelo genitor guardião, com vistas a alijar da vida e do convívio da criança o outro genitor. Os motivos são inspirados por razões pessoais da parte do genitor guardião, normalmente relacionados a problemas de conjugalidade e interesses próprios, tais como egoísmo e visão distorcida do exercício da parentalidade (aproximando-a da ídéia de posse). (SIMÃO, 2008, p.22, grifo do autor).
Porém, os pais podem alienar seus filhos por diversos motivos, os quais não
podemos restringir por “egoísmo” ou “visão distorcida do exercício da parentalidade”.
Muitas vezes os responsáveis ou pais se condicionam à alienação para evitar que a
criança ou adolescente sofra algum tipo de abuso, estando em reais condições de
violência doméstica. Por esse motivo, iremos falar mais adiante sobre a importância
dos estudos sociais, e da equipe interdisciplinar, para melhor identificar os reais
casos de alienação parental, sem justificativas e prejudiciais ao desenvolvimento das
crianças e adolescentes submetidos a ela.
Vale salientar, também, que há o “alienador” e o “alienado”, os quais
normalmente são os pais da criança ou adolescente; estando, respectivamente, um
com a guarda e o outro com o direito e dever a visitas. Porém, esse exemplo não é
uma regra, o alienador poderá ser qualquer pessoa que seja responsável por aquela
criança ou adolescente, as levando a acreditar que alguém significativo, como: pais,
avós ou tios (sendo eles o alienado), podem as causar algum mal ou as
abandonarem.
13 DIAS, Maria Berenice et al. Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p.15.
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2.2 O QUE SERIA “SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – SAP”?
O termo “Síndrome de Alienação Parental – SAP” foi introduzido pelo
psiquiatra Richard Gardner, em 1985, e se mostra, normalmente, em um contexto de
disputa de guarda. É caracterizado como um distúrbio o qual há uma campanha de
desmoralização de um genitor quanto ao outro, bem como, contribuições da própria
criança ou adolescente para caluniar o genitor alienado sem justificativas. Isto é, a
doutrinação ou programação da criança ou adolescente pelo genitor alienador chega
a um nível o qual passa ele próprio a produzir o conflito, repudiando e odiando o
genitor alienado.
Para ser bem designada uma síndrome, é necessário que possua um
conjunto de sinais e sintomas que caracterizam determinada doença, condição ou
situação. Assim, conforme Gardner (2002), mesmo a expressão não sendo aceita na
atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a
alienação parental se caracteriza como uma síndrome por apresentar um conjunto
de sintomas os quais se manifestam juntos, possuindo uma “etiologia comum”14.
Entretanto, o termo “Síndrome de Alienação Parental” coloca essa violação
dos direitos da criança e do adolescente como uma doença, sem que sejam
analisados os seus determinantes sócio históricos. Essa lógica parte de uma análise
pontual e centrada no indivíduo, omitindo as relações sociais que são estabelecidas
por ele ou a dinâmica conjuntural a qual o envolve.
A Alienação Parental, por sua vez, é uma expressão da questão social
originada a partir de uma dinâmica familiar que é condicionada aos padrões da
família nuclear, imposta pelo capitalismo maduro. Dessa forma, ao analisar a
alienação apenas como uma “síndrome” tendemos por eliminar toda a análise
relacionada à construção social das relações de gênero e relações de poder sobre
as crianças e adolescentes, além da violação do seu direito à convivência familiar,
anulando assim uma convivência pautada no respeito entre os indivíduos. Conforme
Adorno e Horkheimer (1999, p.125):
14 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? 2002. Disponível em:
<http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente>. Acesso em: 24 set. 2016.
28
A diferença entre a visão dialética da totalidade, e a positivista, se aguça justamente porque o conceito dialético de totalidade pretende ser ‘objetivo’, isto é, ser aplicável a qualquer constatação social singular, enquanto as teorias de sistemas positivistas tencionam somente, pela escolha de categorias o mais gerais possível, reunir constatações sem contradição em um contínuo lógico, sem reconhecer os conceitos estruturais superiores como condição dos estados de coisas por eles subsumidos. Ao denegrir este conceito de totalidade como retrocesso mitológico e pré-científico, o positivismo, em infatigável luta contra a mitologia, mitodologiza a ciência.
(ADORNO; HORKHEIMER, 1999, p.125)
Destarte, a visão empregada por Gardner caracteriza a alienação parental
como síndrome, de forma a patologizar a análise em respostas apenas subjetivas,
no indivíduo como doentio. Porém, os mecanismos científicos, no que lhe concerne,
não são capazes de abranger uma interpretação da totalidade dos fenômenos
sociais característicos da sociedade capitalista.
Tendo em vista que, na maioria dos casos, é a mãe quem recebe a guarda
dos filhos, devemos considerar que os termos utilizados por Gardner (2002), como:
“Transtorno de personalidade paranoide”; “Transtorno de personalidade borderline
(TPB)”; “Transtorno de personalidade narcisista”, reforçam as estigmatizações sobre
a figura da mulher como transtornada, situação já vista no caso das “mulheres
histéricas”15.
Essas relações pautadas na centralidade do indivíduo são decorrentes de
uma perspectiva conservadora que não analisa todas as expressões postas pela
sociabilidade capitalista. De tal modo, quando pensamos na construção social que
as mulheres vivenciam, sobretudo na centralidade posta ao cuidado para com os
filhos, já mostra uma perspectiva de sociedade desigual, especialmente fundada em
relações da divisão sexual do trabalho que rebate nas relações familiares, inclusive
do cuidado estar atrelado somente na figura da mulher.
15 O termo histeria vem do grego “Husteriko”, de Hustera (útero), caracterizado como uma suposta doença causada por perturbações no útero das mulheres, sendo vinculadas a neuroses causadas pelo aparelho sexual feminino. Assim, as mulheres eram colocadas como instáveis emocionalmente e sem controle por, muitas vezes, supostamente terem um descontrole sexual, vinculado ou a frigidez ou ao grande desejo sexual.
29
2.3 PREVISÃO LEGAL DE ALIENAÇÃO PARENTAL: LEI 12.318/10
Nesse sentido, seguindo a argumentação sobre a temática estudada, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº 8.069, que foi aprovado no dia 13 de
julho de 1990, se baseou em diretrizes da Constituição Federal de 1988 e em
normativas internacionais. Essa lei é uma conquista sobre a imagem das crianças e
adolescentes vistas pela sociedade, hoje como sujeito de direitos que devem ser
vistos e ouvidos, que têm deveres e necessidades, isso em contraponto a imagem
retrógrada deles como seriam objetos. Na nossa Constituição Federal, temos o
artigo 227:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010). (BRASIL, 1988)16.
Para que a criança e o adolescente cresçam saudavelmente e tenham um
bom desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, é necessário que a
família, a sociedade e o Governo garantam alguns direitos estabelecidos no Estatuto
da Criança e do Adolescente. Lá, podemos identificar como direitos inerentes a
pessoa humana, como é posto no art. 4º:
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2013, p.16, grifo nosso).
Dentre esses direitos fundamentais, para dar destaque na temática em
questão, temos o direito à convivência familiar. Toda criança ou adolescente
necessita de um ambiente familiar para ser cuidado e educado, excepcionalmente
16 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 29 set. 2016.
30
por uma família substituta, proporcionando o adequado desenvolvimento e sendo
essencial à humanização e socialização destes.
Para tanto, a alienação parental, já que seria uma forma de impedir uma
pessoa ou parte de uma família de ter o contato e participar da criação dos
meninos/as e adolescentes, contraria ao que é regido pelo artigo 19 do ECA:
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016). (BRASIL, 2013, p.20).
Além disso, é posto pela lei 12.318/2010, a qual dispõe sobre a Alienação
Parental e gerou muita expectativa pela sociedade e entidades como a APASE17,
que o ato desse tipo de alienação fere o direito à convivência familiar saudável,
sendo um abuso de poder e de autoridade parental, de tutela ou guarda. Conforme o
artigo 3º desta lei:
Art. 3º A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. (BRASIL, 2010, grifo nosso)18.
Em busca de garantir o convívio e o exercício da parentalidade mesmo após a
separação ou divórcio, mesmo que os responsáveis que não possuem a guarda não
tenham o direito da companhia constante dos filhos, o Judiciário estabeleceu o
direito a visitas. Assim, é previsto que, de acordo com o Código Civil, Art. 1.589: “O
pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em
17 “[...] Associação de Pais e Mães Separados, uma das entidades de maior referência no assunto, reconhecida internacionalmente - possui um intenso trabalho visando o desenvolvimento de atividades relacionadas à igualdade de direitos entre homens e mulheres nas relações filiais após a separação; difusão da idéia de que filhos de pais separados têm direito de serem criados por qualquer um de seus genitores sem discriminação de sexo e de promoção da participação efetiva de ambos genitores no desenvolvimento dos filhos.” (DIAS, A., 2010). 18 BRASIL. Lei nº 12318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre A Alienação Parental e Altera O Art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 30 set. 16.
31
sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz,
bem como fiscalizar sua manutenção e educação.”19.
Dessa maneira, o pai/mãe ou responsável poderá estar em presença física
com a criança e/ou adolescente nas datas estabelecidas e o outro, que possui a
guarda unilateral, cabe os cuidados e ensinamentos, como também, possibilitar que
as visitas sejam realizadas. Já que, o término da relação entre os cônjuges, não se
deve confundir com o término da parentalidade de nenhum dos responsáveis pelos
meninos/as e adolescentes.
A alienação parental tem seus principais indícios quando o genitor que possui
a guarda impede o convívio do outro genitor com o filho, dificultando o contato,
omitindo informações escolares, médicas e alterações de endereço. Tais atitudes
representam uma exclusão do outro na vida do filho que, por consequência, o fará
crescer sem a figura e representação deste, um órfão de pai/mãe vivo/a. Portanto,
deve-se evitar atitudes possivelmente alienadoras:
Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. (BRASIL, 2010, grifo nosso)20.
19 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 30 set. 2016. 20 BRASIL. Lei nº 12318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre A Alienação Parental e Altera O Art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília, 2010. Disponível em:
32
Quando constatada a prática da alienação parental, mediante estudos
psicossociais, o juiz com a causa determinará a pena adequada, podendo ser
determinada mediante gravidade da alienação multa, acompanhamento psicológico,
alteração da guarda ou até perda dela. Como é posto no art.6º da lei de Alienação
Parental:
Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. (BRASIL, 2010, grifo nosso)21.
Entretanto, para melhor entender as determinações de visitas, é necessário
entender a variedade de guardas, tais como: guarda unilateral22; guarda alternada; e
guarda compartilhada. A guarda unilateral é estabelecida quando um dos
responsáveis pela criança e/ou adolescente não seja apto para exercitar sua
parentalidade, porém, vale salientar que essa condição de “apto” não deve ser
entendida como em condições financeiras, podemos caracterizar como pessoas que
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 30 set. 16. 21 BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre A Alienação Parental e Altera O Art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 30 set. 16. 22 Guarda atribuída a só um genitor, ou alguém que o substitua.
33
não poderão condicionar os meninos/as e adolescentes a situações de riscos,
criminalidade, por exemplo.
Em se tratando de guarda alternada e compartilhada, há contínuas dúvidas e
equívocos em seu entendimento. A compartilhada é a que há a decisão em conjunto
entre os genitores sobre a criança ou adolescente, ambos dividem
responsabilidades quanto à educação e aos cuidados. Entretanto, é importante
mencionar que não há a alternância da moradia da criança, assim como é na
alternada, ela ficaria em uma das casas dos seus genitores e o outro genitor não
teria limitação de acesso a ela, isto é, não há regulamentação de visitas.
Tal modelo, da guarda compartilhada, hoje tornou a regra, ou seja, se
nenhum dos genitores forem considerados inaptos à parentalidade, esse modelo de
guarda será assumido. Sendo os dois genitores responsáveis pela criança ou
adolescente e com livre acesso, porém, o genitor que não tiver a constante
convivência com o filho, não morar na mesma moradia, ficará com o dever de
pensão alimentícia, assim como na guarda unilateral.
A pensão alimentícia, vale salientar, não é prevista como um dinheiro fixado
por lei, devemos observar, no nosso caso mediante estudo social, visitas
domiciliares e entrevistas, as condições financeiras do genitor que não “mora” com
o(s) filho(s) e as necessidades dele(s), designando assim a quantia que poderá ser
dada à criança, a qual o juiz estabelece.
Apesar de, aparentemente, a lei da guarda compartilhada ter a capacidade de
resolver os conflitos familiares e a ação da alienação parental, por si só não poderia
solucionar esse problema tão mais profundo e com significações sócio históricas.
Assim, a guarda compartilhada possui algumas controvérsias, conforme é tratado
por Tornquist:
[...] a complexidade envolvida na questão da guarda compartilhada: de um lado, representa a consolidação de um novo modelo de família, mais favorável ao desenvolvimento pessoal das mulheres; de outro, apesar desse igualitarismo ideológico, pode, muitas vezes, significar uma reestruturação patriarcal, sobretudo quando não foi feita em comum e livre acordo entre os ex-cônjuges, mas sim com a imposição da Justiça ou do juiz, em nome do bem-estar das crianças. Essa advertência parece ser fundamental no Brasil, já que a Lei 9.099/2008 justamente outorga esse direito ao juiz. (TORNQUIST, 2008, p.615).
34
Em casos em que a mulher estava em um relacionamento abusivo, por
exemplo, tal medida poderá submetê-la a exposição continuamente, novamente. O
ex-cônjuge poderá “fiscalizar” tanto a forma de educação e ensino quanto a própria
dinâmica da vida da mulher. Isto é, embora a mulher tenha conquistado o direito do
divórcio e, por consequência, sua autonomia enquanto mulher, é condicionada por
essa lei ao convívio e à presença do seu ex-cônjuge.
É preciso levar em conta os casos de violência doméstica que não possuem
hematomas físico, os quais são de mais favorável identificação, mas as violências
psicológicos e morais, que são levadas na vivência dessas mulheres e se tornam
doloridas com a presença do agressor. Assim, por um lado poderá ser benéfico para
que o homem exerça o seu papel de cuidador, mas por outro poderá anular a
emancipação da mulher e condiciona-la ao convívio com seu agressor. Além de que
esse convívio entre os genitores, por antecedentes de relacionamento abusivo, não
seria saudável ao desenvolvimento da criança e do adolescente.
Tendo isso em vista, é necessário, antes de tudo, analisar as peculiaridades
daquela dinâmica familiar, a lei deve se adequar as particularidades e realidade dela
e não o contrário. Ou seja, o judiciário, como também os/as assistentes sociais da
área sóciojurídica, deve considerar cada caso de maneira a serem contempladas as
suas necessidades e peculiaridades da família, como também, entender que a
guarda compartilhada como uma regra não abrangerá a todas as famílias.
Por esse motivo, a guarda compartilhada não poderia ser solução para a
complexidade da alienação parental e para o fim da conjugalidade com a
continuação da parentalidade. A mediação, por sua vez, podemos tomar como uma
alternativa a qual teríamos a possibilidade da escuta entre as partes, e da decisão
da futura dinâmica desse novo arranjo familiar entre ambas as partes em comum
acordo.
35
3 ALIENAÇÃO PARENTAL: DESAFIOS POSTOS PARA OS/AS ASSISTENTES
SOCIAIS
No presente capítulo, iremos analisar a demanda de alienação parental com o
exercício de trabalho dos/as assistentes sociais, identificando a intervenção, os
desafios e a importância desses profissionais para o reconhecimento desse tipo de
violência. Para tanto, fez se o uso como técnica de análise, entrevistas com duas
assistentes sociais da área sóciojurídica que trabalham com a demanda em questão.
Portanto, é necessário entendermos o espaço sócio-ocupacional o qual
essas profissionais estão inseridas, resgatando o histórico da inserção do serviço
social, a utilização dos instrumentos e a compreensão das bases teóricas utilizadas
no fazer profissional.
3.1 BREVE HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA SÓCIOJURÍDICA
Ao expor do início do Serviço Social na área sóciojurídica, devemos
considerar como gênese do Serviço Social no Brasil, a criação da Escola de Serviço
Social em 1936, em São Paulo (SP). Paralelo ao início do Serviço Social no Brasil
como profissão, tivemos também a inserção desses profissionais pioneiros no
judiciário, participando da implantação do Serviço Social no primeiro Juizado de
Menores de São Paulo (FÁVERO, 2006a, p.510-511).
Naquele período, o Serviço Social se direcionava ao Serviço de Colocação
Familiar, instituído pela Lei Estadual 500, o qual se tratava de um programa de
transferência de renda para auxiliar as famílias das crianças e dos adolescentes e,
assim, evitando a “internação de menores” (CORTEZ, 1999 apud FÁVERO, 2006a,
p.511), isto é, o acolhimento institucional para crianças e adolescentes.
A maior parte dos casos era de pobreza, que a gente tratando ou não tratando, continua pobre e que se eu não der comida não come. [...]. Era um dinheiro necessário para viver, mas não para tirar a condição de total dependência. Claro, a pessoa era estimulada a trabalhar [por meio do acompanhamento realizado pelo assistente social], mas dava-se o mínimo necessário, porque se não se desse isso, a criança ia para a rua ou para uma instituição e aí seria mais caro para o Estado e para a sociedade. (FÁVERO, 1999, p. 95 apud FÁVERO, 2006a, p. 511).
36
Tal programa tinha como intenção o investimento nas famílias, por meio do
auxílio e do incentivo ao trabalho realizado pelos assistentes sociais, para que
futuramente não fossem necessários maiores investimentos para essas crianças e
adolescentes nas ruas ou em instituições. Dessa maneira, o Serviço Social no
judiciário teve início a partir de atividade voltadas para a Proteção Social, ainda que
fundamentada em doutrinas da Igreja Católica, um caráter positivista, de análise
individualizantes dos casos, além de baseados em um controle dos comportamentos
não considerados adequados para a classe dominante, um controle social.
Isto é, a atuação não se dava através de um enfrentamento da Questão
Social, mas sim como uma averiguação policial, a qual se trabalhava a partir da
investigação, tanto dos adolescentes quanto dos seus pais. A partir da positividade
da lei, a atuação se tornava intrínseca ao controle dos supostos “problemas sociais”.
(FÁVERO; MELÃO; JORGE, 2005).
Já em 1957, com o aumento da demanda social e a necessidade de
profissionais que detinham conhecimentos sobre as relações sociais e familiares, os
profissionais de Serviço Social ganham espaço e se voltam ao “Serviço Social de
Gabinete”, utilizando de “informes, relatórios ou laudos, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial”23. Como repercute até hoje, porém de acordo outras
bases teóricas, a partir da criticidade sobre à realidade concreta e da análise das
desigualdades sociais próprias do sistema capitalista vigente em nossa sociedade.
O Serviço Social expandiu-se no contexto da Justiça infanto-juvenil,
apoiado pela autoridade judiciária [...] Em face do aumento da
demanda social e pela competência inerente aos profissionais dessa
área, que detinham um saber específico sobre as relações
sociais e familiares, os assistentes sociais passaram também a
oferecer subsídios para as decisões judiciais. (FÁVERO; MELÃO;
JORGE, 2005, p.49, grifo nosso).
Como é dito por Fávero (2005), houve um aumento na demanda social dentro
do judiciário e, posteriormente, de casos que envolvem a demanda em questão
desta monografia, a alienação parental. Dessa forma, os assistentes sociais, a partir
do conhecimento acerca das relações familiares, de um entendimento da totalidade
e das relações de gênero e de poder, passou a ser um elemento fundamental para
23 FÁVERO, Eunice Teresinha. O serviço social e a psicologia no judiciário: construindo saberes, conquistando direitos. São Paulo: Cortez, 2006a, p.512.
37
as decisões judiciais, de forma a embasar e de analisar a conjuntura a qual aquela
família está inserida, sem que sejam colocadas em padrões fechados de análise,
mas observadas as suas particularidades e dando voz as partes dos processos.
Apesar da área sóciojurídica já possuir um longo percurso, tanto o seu termo
quanto a área em si, não era foco de muitas discussões ou reflexões, por esse
motivo não existia um termo para designar os profissionais que trabalhavam no
Sistema Penitenciário ou no Poder Judiciário. Como explica Fávero (2006b, p.10-
11):
Ainda que o meio sócio-jurídico, em especial o judiciário, tenha sido um dos primeiros espaços de trabalho do assistente social, só muito recentemente é que particularidades do fazer profissional nesse campo passaram a vir a público como objeto de preocupação investigativa. Tal fato se dá por um conjunto de razões, das quais se destacam: a ampliação significativa de demanda de atendimentos e de profissionais para a área, sobretudo após a promulgação do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente; a valorização da pesquisa dos componentes dessa realidade de trabalho, inclusive pelos próprios profissionais que estão na intervenção direta; e, em conseqüência, um maior conhecimento crítico e valorização, no meio da profissão, de um campo de intervenção historicamente visto como espaço tão somente para ações disciplinadoras e de controle social, no âmbito da regulação caso a caso. (FÁVERO, 2006b, p. 10-11).
Então, somente em 2001, a partir de diversas propostas recebidas por José
Xavier Cortez de que os periódicos da Revista Serviço Social & Sociedade24, como
também os seus livros, abrangessem temas que os assistentes sociais se
confrontavam em seu cotidiano, sendo grande parte dos assistentes sociais da atual
área sóciojurídica (BORGIANNI, 2013, p.409).
Destarte, foi produzida uma edição da Revista Serviço Social & Sociedade
número 67 (em setembro de 2001), que abarcou temas do sistema penitenciário e
do poder judiciário. Nesse contexto, Elisabete Borgianni (Doutora em Serviço Social
pela PUC/SP; Presidente da Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do
Tribunal de Justiça de São Paulo) diz que essa iniciativa atingiria os profissionais de
serviço social das Varas da Infância e Juventude, Vara de Família e Sucessões,
como também, aos do Sistema Prisional, ademais, na formulação da Revista número
67, ela relata que:
24 A revista Serviço Social & Sociedade é um periódico que expressa o movimento dos profissionais do Serviço Social de ruptura com o seu passado conservador, a partir de produções do que é mais avançado no Brasil e no resto da América Latina.
38
No momento da escolha para o melhor termo a compor o chamado
‘olho de capa’ do referido número, o Conselho Editorial fez várias
sugestões, e a opção foi pela expressão ‘Temas Sociojurídicos’. Foi
assim, portanto, a primeira vez que ocorreu a vinculação do termo
‘sociojurídico’ ao Serviço Social brasileiro. (BORGIANNI, 2013,
p.409).25
Durante o 10º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), no Rio de
Janeiro, foi criada uma seção temática direcionada aos profissionais do espaço
sócio-ocupacional já mencionado. Em busca de designa-la adequadamente,
Elisabete Borgianni foi consultada e, por sua vez, indicou o termo “sociojurídico”,
para chamar a atenção dos assistentes sociais vinculados ao jurídico. (BORGIANNI,
2013, p. 409).
Já aqui em Natal/RN, em 2002, ocorreu o evento “Serviço Social e
Assistência Sociojurídica na Área da Criança e do Adolescente: Demandas e Fazer
Profissional”, tendo como coordenadora a professora doutora Maria Célia Nicolau e
sendo promovido pela base de pesquisa Trabalho Profissional e Proteção
Profissional, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN.
(BORGIANNI, 2013, p.412).
Em tal evento, tivemos a presença de Marilda Iamamoto a qual realizou uma
conferência que, posteriormente, resultou no posfácio do livro “Política Social, família
e juventude: uma questão de direitos”, intitulado por “Questão Social, família e
juventude: desafios do assistente social na área sóciojurídica”, publicado em 2004
pela Editora Cortez. (BORGIANNI, 2013, p.412).
Ademais, cita Kosmann (2009, p.311):
é fundamental registrar que debates e reflexões em torno da prática do assistente social no campo sóciojurídico vêm-se fazendo presente com mais notoriedade nos últimos anos. A publicação de livros, dissertações e teses acerca do tema teve como incentivo principal o lançamento do primeiro número especial da revista Serviço Social e Sociedade, nº 67 publicada no de 2001, cuja edição foi intitulada ‘Temas SócioJurídicos’. A inclusão de tal assunto também ocorreu nas sessões temáticas do 10º e 11º Congresso Brasileiro de
25 “O Comitê Editorial do n. 67 era formado pelas professoras Andrea Almeida Torres, Eunice Teresinha Fávero, Gizelda Morato Franzino, Sílvia Helena Pinho Chuairi, com colaboração especial de Maria Rachel Tolosa Jorge. Todas com inserção e/ou experiência profissional na área.” (BORGIANNI, 2013, p.409).
39
Assistentes Sociais – CBAS em 2001 e 2004, respectivamente, e no 1º Encontro Nacional Sóciojurídico, ocorrido em setembro de 2004. (KOSMANN, 2009, p.311).
Com isso, mesmo após uma longa trajetória, o Serviço Social na área
sóciojurídica ainda tem poucas produções teóricas, para pensar a profissão e avalia-
la nesse espaço sócio-ocupacional e/ou para estabelecer uma formação profissional
continuada crítica26 dos assistentes sociais em pauta. Entretanto, recentemente, a
área sóciojurídica vem ganhando visibilidade e discussões em eventos e periódicos
(como já foi dito anteriormente).
Logo, somente nas últimas décadas, os profissionais dessa área, docentes,
além de estagiários, vêm aumentando o acervo de produções, com artigos, teses,
dissertações e livros. (RODRIGUES, 2012, p.18-19).
Dessa maneira, a exposição desse breve histórico da inserção do Serviço
Social na área Sóciojurídica tem como intenção contribuir para o entendimento do
fazer profissional dos assistentes sociais desse espaço sócio-ocupacional, para
assim, aproximar o leitor dessa realidade e, posteriormente, da atuação desses em
relação à alienação parental.
3.2 A INTERVENÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE À EXPRESSÃO DA
QUESTÃO SOCIAL NA ALIENAÇÃO PARENTAL
Diante do que analisamos no tópico anterior, neste item faremos uma
explanação acerca da intervenção dos/das Assistentes Sociais com a demanda da
alienação parental, considerando essa especificidade uma expressão da questão
social que se coloca na atualidade como um desafio para atuação dessa profissão –
o Serviço Social.
Dessa forma, compreendemos que a construção das atividades dos
assistentes sociais, em resposta às demandas recebidas, não pode ser restrita à
prática técnica sem um sentido e uma orientação para tal. Devemos, portanto, partir
26 “Podemos conceituar a formação continuada como sendo uma atitude frente aos desafios pedagógicos, políticos e sociais, que deve estar pautada em uma sólida teorização e reflexão. E formação continuada 'em serviço' implica em ser realizada no contexto educativo do tempo e espaço, numa contínua dinâmica de construção do desenvolvimento profissional.” (BRANCO, 2007, p.2 apud CARTAXO; MANFROI; SANTOS, 2012, p.243).
40
das três dimensões do exercício profissional, as quais são: dimensão técnico-
operativa; dimensão ético-política; dimensão teórico-metodológica.
Nesse sentido, como forma de apresentar a atuação do profissional do
Serviço Social frente a demanda da alienação parental, especificamente na cidade
do Natal, articularemos esse processo de trabalho a partir da explicação das três
dimensões baseadas em Guerra (2012) e na demanda específica da qual estamos
analisando, assim para fortalecer a análise do objeto estudado apresentamos,
também, as partes das entrevistas realizadas nesse estudo com assistentes sociais
que trabalham com a demanda de alienação parental.
De tal forma, compreendemos a dimensão técnico-operativa como a
visibilidade e reconhecimento da profissão (GUERRA, 2012). Nela, o assistente
social utiliza os instrumentos para realizar suas atividades, como os relatórios,
estudos e pareceres sociais, realiza visitas domiciliares ou institucionais e
entrevistas. Como foi citado pela entrevistada AS127, ao ser questionada acerca do
trabalho e procedimentos adotados em meio à alienação parental, apresenta como:
Em primeiro lugar, colocar a existência da alienação parental dentro do Parecer Social28, em um Estudo Social29; bem como, informações acerca das consequências sociais, emocionais [...] para os filhos e as consequências jurídicas para o genitor alienador. Além disso, discussões com a equipe técnica e com ambos os genitores sobre as consequências; e encaminhamento para ajuda profissional ((psicólogos)). (AS1).
Como foi posto, caso se evidencie a existência da Alienação Parental, junto à
equipe interdisciplinar, o/a assistente social deve colocar em seu Parecer Social, de
um Estudo Social, a partir de visitas domiciliares ou institucionais e entrevistas,
indícios da alienação, para dar subsídios ao juiz em sua decisão sobre o processo.
Sendo esses os principais procedimentos tomados em relação à essa demanda em
questão, a partir da dimensão técnico-operativa.
27 Assistente Social com 18 anos de trabalho na área sóciojurídica. Contratada pelo Tribunal de Justiça/RN como técnica judiciária, mas, por desvio de função, exerce função de assistente social. 28 “[...] a opinião profissional do assistente social, com base na observação e estudo de uma dada situação, fornecendo elementos para a concessão de um benefício, recurso material e decisão médico-pericial” (MPAS/INSS, 1994, p. 25-26).
29 “O estudo social é um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto da intervenção profissional – especialmente nos seus aspectos sócio-econômicos e culturais” (FÁVERO, 2006b, p.42-43).
41
Por conseguinte, Guerra (2012) apresenta que em relação à dimensão ético-
política no Serviço Social, ela se fortaleceu em meio ao Movimento de
Reconceituação30 da profissão, sendo fundamentado que os profissionais em
questão se posicionem, isto é, não se limitem a se denominarem “apolíticos” e
neutros. Os profissionais de Serviço Social, a partir da luta por uma sociedade mais
igualitária como uma das questões do nosso Projeto Ético-Político, devem exercer a
dimensão política, não necessariamente alicerçados nos posicionamentos
partidários – mesmo que sejam instituições indispensáveis para a organização
democrática no sistema societário vigente -, mas na compreensão de que tal
dimensão determinará, diretamente, na cultura, nas relações de gênero, étnicas e
etc. (NETTO, 2006). Ou seja, essa dimensão se constitui em se posicionar
politicamente diante da realidade, para nela intervir e, assim, ter consciência de qual
a direção da defesa intransigente da emancipação e defesa dos direitos sociais da
classe trabalhadora.
De tal forma, no que concerne essa dimensão ético-política em relação a
demanda de alienação parental, observamos como desafio para os assistentes
sociais o fortalecimento de uma visão crítica sobre a realidade, ou seja, não ter um
olhar preconceituoso sobre aquelas famílias, como com a responsabilização da
mulher em relação a tal demanda ou o julgamento da separação e/ou divórcio dos
ex-cônjuges, como é próprio do conservadorismo, do Serviço Social tradicional. No
entanto, se o profissional é bem capacitado e está em aperfeiçoamento intelectual,
ele poderá ir além da judicialização e criminalização das pessoas envolvidas na
alienação parental, poderá observar a dinâmica e necessidades para melhores
encaminhamentos posteriores.
Nesse sentido, a dimensão teórico-metodológica, orienta os assistentes
sociais à compreensão mais abrangente das demandas, a partir do entendimento do
contexto histórico e da totalidade que se depara na realidade concreta e suas
condições objetivas31, respeitando as especificidades da demanda de cada usuário
30 “O movimento de reconceituação contribuiu fundamentalmente para deslocar o eixo de preocupação do Serviço Social da situação particular para uma relação geral [...] e de uma visão psicologizante e puramente interpessoal para uma visão política da interação e intervenção. ” (FALEIROS, 2007 apud SILVA, 2009). 31 “Condições objetivas são aquelas relativas à produção material da sociedade, são condições postas na realidade material. Por exemplo: a divisão do trabalho, a propriedade dos meios de produção, a conjuntura, os objetos e os campos de intervenção, os espaços sócio-ocupacionais, as relações e condições materiais de trabalho. ” (GUERRA, 2000, p.1).
42
(GUERRA, 2014), ou, no caso em questão, nas especificidades de cada família as
quais sofrem com a Alienação Parental, podendo ser de diversos segmentos sociais.
Assim, com o embasamento teórico pressuposto por essa dimensão, o profissional
passa a enxergar para além do senso comum, através das aparências e criando
formas efetivas de contribuir com a transformação da realidade desse usuário. Mas
também, conforme Guerra (2000, p.10-11):
[...] reduzir o fazer profissional à sua dimensão técnico-instrumental significa tornar o Serviço Social meio para o alcance de qualquer finalidade. Significa também limitar as demandas profissionais às exigências do mercado de trabalho. É também equivocado pensar que para realizá-las o profissional possa prescindir de referências teóricas e ético-políticas. (GUERRA, 2000, p.10-11).
Vale salientar, portanto, que as três dimensões que orientam o exercício dos
assistentes sociais são intrínsecas entre si, sendo necessária para a intervenção a
associação contínua entre elas.
Ao partir desses pressupostos, entendemos a atuação dos assistentes sociais
frente à demanda de Alienação Parental como um conjunto de práticas as quais
possuem um sentido mais amplo e um direcionamento político, para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária. Mas, também, possui como fundamento a
não violação dos direitos, no caso, das crianças e dos adolescentes. Mas vale
ressaltar, também, que esses estudos referentes à alienação parental necessitam de
aprofundamento, sobretudo, quando pensam a relação do direito de família e guarda
compartilhada que, em muitas vezes, coloca toda responsabilização em torno da
mulher.
Diante do exposto, a partir das particularidades da área sóciojurídica, Lima
(2016) ressalta:
O assistente social, por sua vez, passa a avaliar os processos a fundo e começar sua trajetória de visitação domiciliar ou institucional, atendimentos para fins de orientação as famílias e longos e necessários acompanhamentos. Os psicólogos, por sua vez, empregam inúmeras sessões de tratamento. (LIMA, 2016).32
32 LIMA, Carmem Tassiany Alves de. A Síndrome De Alienação Parental: Um Novo Enfrentamento Para O Assistente Social Do Poder Judiciário. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11079>. Acesso em: 8 jun. 2016.
43
A atuação dos profissionais de Serviço Social, entretanto, não deve se limitar
à formulação de estudos sociais e pareceres para o cumprimento do seu trabalho.
Isto é, apesar da dinâmica, muitas vezes, repetitivas e padronizadas oriundas do
cotidiano, é nele em que há a reprodução social por meio dos indivíduos, é nesse
espaço em que o profissional em questão poderá exercer a sua instrumentalidade,
responder as demandas não de forma imediatista, mas com o intuito de contribuir
com mudanças de hábitos, comportamentos e valores de indivíduos e/ou grupo
social (NETTO, 1987). Especialmente, em relação a demanda de alienação parental,
que requer uma maior abstração da realidade por estar lidando diretamente com a
diversidade posta pelo cotidiano das famílias, para não reproduzir uma atitude
punitiva.
Esses profissionais em questão são essenciais para a aproximação com as
famílias contribuir para a garantia de direitos dos prejudicados pela alienação
parental, não somente com a objetividade das leis, mas pautados “[...] na garantia
dos direitos e no respeito às individualidades dos sujeitos, considerando o que
preconiza o Código de Ética do Serviço Social”, como foi dito pela entrevistada
AS233 em relação aos valores ético-morais que orientam o seu fazer profissional.
Dessa forma, os estudos sociais contribuem para enxergar a alienação parental para
além do modelo mais típico, em que o alienador é o genitor que possui a guarda e o
alienado o outro genitor o qual possui o direito a visitas, ou à convivência.
Como foi exemplificado por AS2:
Já houve várias situações em que a suspeita de alienação parental não se confirmou. Inclusive já se observou casos em que um genitor ao tentar alienar o filho acusa o outro genitor de cometer atos de alienação parental com o intuito de reverter a guarda. Nesse caso é importante destacar a responsabilidade do profissional ao elaborar o seu parecer técnico no sentido de evitar maiores danos a criança.
Assim, o profissional deve permanecer atento através da observação e da
escuta para a sua análise. O alienador, como foi citado na fala da entrevistada, usa
de artifícios para alienar, inclusive o/a assistente social que está responsável pelo
processo, com falsas acusações de alienação oriundas do outro genitor, como
33 Inserida por meio de concurso público para cargo de auxiliar técnico, no Tribunal de Justiça/RN. Em 2005, foi convidada, por meio de desvio de função, a exercer a função de Assistente Social do Setor Psicossocial da mesma instituição, possuindo 11 anos na área sóciojurídica.
44
também, falsas acusações de abuso com a criança e/ou adolescente. Por
conseguinte, o profissional deve estar muito bem preparado, a partir da formação
continuada34, estando constantemente se atualizando por meio de congressos,
seminários e livros os quais tratem das demandas próprias do seu espaço sócio-
ocupacional, como também discussões da nossa categoria.
Como exemplo das formas de alienação possíveis e da necessidade de
preparo dos profissionais que tratam com essa demanda, não só os assistentes
sociais, mas também psicólogos e juristas, temos a fala da entrevistada AS1, ao ser
questionada acerca de um caso de alienação parental que a marcou:
O de um pai que, após a separação, denegriu a imagem da mãe para a criança, vizinhos, escola, igreja em que a família frequentava e Conselho Tutelar, inclusive com acusações de que a criança sofria maus tratos e riscos de vida por parte da mãe. Todas as decisões judiciais em favor da mãe, ele conseguia reverter, inclusive com suspensão de visitas. Ele se utilizava de estratégias, inclusive preventivas/antecipadas para evitar os contatos entre mãe e filha. Quando proposto, durante o estudo psicossocial, um contato entre a criança e a mãe, com a presença da psicóloga [estagiária], ele alegou que a criança não ia querer participar; que ele não poderia mais faltar ao trabalho; que a criança idem em razão da escola; e passou a acusar a estagiária de descumprir o código de ética e ameaçá-la com um processo junto ao Conselho Regional de Psicologia. (Grifo nosso).
Destarte, há uma grande preocupação entre os profissionais da área
sóciojurídica em relação a redação clara, concisa e precisa dos estudos e perícias
sociais. Pois, caso a redação não esteja clara, a parte poderá interpretar a decisão
de maneira errônea, prejudicando o andamento do processo. Além disso, como foi o
caso da estagiária de psicologia citada acima, as partes poderão entrar com um
processo contra o profissional, perante o Conselho de Ética, e recorrer da decisão
proferida, prolongando e tardando a decisão para o conflito.
Comumente, nos casos de alienação parental, as mães sofrem com a
culpabilização, sendo, na maioria dos casos, atribuída a elas a imagem de genitora
alienadora. Entretanto, como já foi discutido no capítulo passado, a interpretação
iluminada por uma relação de poder e posse sobre as mulheres e os filhos, esconde
34 A formação continuada é a capacitação do profissional de Serviço Social mesmo após a conclusão do curso de graduação, é a partir dela que o profissional se qualifica e se atualiza para o exercício profissional mais completo, tomando como base do Projeto Ético-Político do Serviço Social.
45
o real contexto daquela família, ignorando sua análise sócio histórica, como também,
a análise pautada nas novas ramificações e significações concedidas às famílias.
Com isso, ao ser questionada sobre esse contexto e sobre, de acordo com a
sua experiência, quais outras formas de alienação pôde identificar, a entrevistada
AS2 tratou que:
Há um maior percentual de mães alienadoras, sobretudo por ainda ser [sic] elas a maioria que detém a guarda. Entretanto há, em menor número, casos de alienação por parte do genitor que não detém a guarda. Destaque-se que a alienação também envolve avós, tios, padrastos, madrastas entre outros familiares. (Grifo nosso).
Isto é, o dado correto seria diz que o alienador, em sua maioria, se caracteriza
como o guardião da criança, o qual possui mais tempo para o convívio e,
infelizmente na demanda em questão, também para a alienar a criança ou
adolescente. Ademais, como foi bem destacado pela assistente social entrevistada e
tratado anteriormente nesta monografia, não somente um dos pais podem ser o
alienador, a alienação pode ser por um parente – avós, tios e etc. - ou um amigo da
família que tenha convívio com a criança e/ou adolescente.
46
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi posto durante essa monografia, tivemos como objetivo analisar a
atuação dos assistentes sociais em meio à demanda de Alienação Parental,
inseridos na área sóciojurídica, perpassando pela identificação e caracterização da
demanda de alienação parental e aproximando-nos da prática de assistentes sociais
com experiência com essa demanda, o que possibilitou a constatação da realidade
que atravessa a dinâmica das famílias que sofrem com esse tipo de alienação.
Contudo, ainda foi posta a intervenção e o papel dos assistentes sociais, em meio à
equipe interdisciplinar, frente à alienação parental, contribuindo para a divulgação
dessa violação de direitos para a população e, consequentemente, possibilitando
uma melhor análise sobre as questões relacionadas a ela.
Destarte, foi observado que desde a Segunda Revolução Industrial, na
segunda metade do século XIX, como forma de controle das pequenas crises
oriundas da queda da taxa de lucro, foi conveniente aos donos de meios de
produção o emprego de mulheres e crianças, as quais eram uma mão de obra
barata, mesmo trabalhando o equivalente aos homens adultos. Dessa forma, as
mulheres foram inseridas no mercado, mesmo que de forma de precária, entretanto,
continuou a responsabilização – pautados na lógica da família patriarcal - dos filhos
somente à mulher, o que resultou na dupla jornada de trabalho, fora e dentro de
suas casas. À mulher era – e é – imposta a imagem de “cuidadora”, sem que sejam
atribuídos ao homem responsabilidades e/ou atribuições vinculadas ao “cuidado”.
Ainda nesse contexto, houve uma elevação nos índices de mortalidade
infantil, que logo foi incumbida as mães de não estarem cuidando adequadamente
dos seus filhos, por motivo dos seus empregos. Todavia, a agregação da imagem de
única cuidadora intrínseca à da mulher não considerou o trabalho exaustivo e
prejudicial ao pleno desenvolvimento físico e mental dessas crianças. Em vista
disso, como também, pela falta de políticas sociais para a classe operária, pelo
agravamento da desigualdade social e pelas doenças causadas pelo excesso de
trabalho, o modo de produção capitalista desencadeia a Questão Social, objeto de
trabalho dos assistentes sociais.
Uma das expressões da Questão Social é a violência, que se instaura na
instituição familiar por meio das relações de poder originadas da sociedade
patriarcal, com a finalidade de exploração, opressão e/ou dominação do outro.
47
Assim, como forma de hierarquia e de dominação do outro, há a ideia de que o
homem seja o “dono” da mulher e das crianças, de forma a utilizar de violência para
poder reafirmar essa relação opressora, que se repercute em toda a sociedade.
Nesses termos, as crianças e os adolescentes, em meio as suas relações
familiares, não são entendidos como sujeitos de direitos, que possuem desejos
inerentes aos dos pais ou responsáveis. O que podemos relacionar com a alienação
parental, em que há a interferência de um dos responsáveis, mesmo após a
separação ou divórcio, nos interesses e nas vontades da criança ou adolescente,
por meio da manipulação e alienação para que repudiem o outro responsável por
eles. Logo, a alienação parental se manifesta como uma violência psicológica, que
se expressa como uma modalidade da questão social.
Portanto, percebemos que pautados pela herança e cultura somente do
modelo das famílias patriarcais, nucleares, os ex-cônjuges passam a não aceitar a
separação com o seu antigo companheiro, por não aceitar novas ramificações ou
novas configurações familiares. Assim, com a recusa de acordos, os ex-cônjuges
entram em uma situação conflituosa e de desqualificação do outro, que chega a
atingir também a relação entre pais e filhos. Tal situação nos levanta à diferenciação
entre conjugalidade e parentalidade, que poucas famílias conseguem ou têm a
consciência de que, por mais que haja a separação, a relação com os filhos não
poderá se romper.
A alienação parental, por vezes, é denominada por “Síndrome de Alienação
Parental”, sendo um distúrbio associado a “desmoralização” de um dos genitores
quanto ao outro, sem justificativas. Porém, o termo desqualifica a violação do direito,
encontrado no Estatuto da Criança e do Adolescente, à convivência familiar e os
determinantes sócio históricos, sendo uma análise pontual e centrada na
patologização do indivíduo.
Vale salientar que a alienação parental se qualifica como uma expressão da
questão social e, ao reduzi-la como uma patologia, iremos, também, excluir a crítica
e o reconhecimento da construção social das relações de gênero e de poder sobre
as crianças e os adolescentes, prejudicando a convivência familiar pautada no
respeito entre os indivíduos. Além de que, tomando como base que há uma maior
porcentagem de mães como genitor alienador, o termo e os sintomas caracterizados
estigmatizam a figura da mulher como uma transtornada, assim como o caso das
“mulheres histéricas”.
48
Em busca de punir os genitores alienadores, foi criada, em 2010, a lei 12.318,
a qual dispõe acerca da alienação parental. A partir da constatação do ato de
alienação por meio de estudos psicossociais e pela adesão do juiz responsável pelo
processo, poderá ser posto ao alienador multa, acompanhamento psicológico,
alteração da guarda ou até a perda dela, de acordo com a gravidade da alienação
parental.
Foi, também, identificado que as respostas às demandas recebidas pelos
assistentes sociais devem possuir um sentido e uma orientação, isto é, deve haver o
cuidado para que a sua atuação não caia no pragmatismo. Para isso, é necessário
que a intervenção desses profissionais seja pautada, intrinsecamente, nas
dimensões do exercício profissional, dimensão técnico-operativa; dimensão ético-
política; dimensão teórico-metodológica. Portanto, a atuação dos assistentes sociais
frente a alienação parental deve se basear em uma prática que possui um sentido
mais amplo, um direcionamento político, que, como faz parte do nosso Projeto Ético-
Político, contribuirá para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária;
além de prezar pelo acesso aos direitos da população e, como é o caso da demanda
pautada, os direitos da criança e do adolescente à uma convivência familiar e o
dever dos pais ou responsáveis com o cuidados desses.
Ademais, notamos que os estudos sociais e pareceres desses profissionais
de Serviço Social não devem restringir apenas no cumprimento de prazos e de dar
respostas à correlação de forças da instituição. Devemos considerar que apesar da
repetitividade do cotidiano profissional, é nele que poderemos contribuir para a
garantia de direitos, mudanças de hábitos e intervir na realidade da população. Ou
seja, através da observação, da escuta, do respeito as particularidades dos sujeitos,
como também, da formação continuada, os estudos sociais contribuem para uma
análise para além do superficial, para que seja possível a percepção da alienação
parental.
Portanto, os assistentes sociais em meio à alienação parental, como também
as outras demandas, deve romper que os posicionamentos conservadores e
contribuir com uma compreensão mais abrangente sobre os processos, contando
com o entendimento do contexto sócio histórico e da conjuntura a qual as famílias
que sofrem com a alienação parental possuem, respeitando sua realidade concreta
e suas condições objetivas. Além do mais, os profissionais de Serviço Social
possuem atribuições necessárias para dar respaldo às decisões judiciais, acerca de
49
uma modelo familiar que não se limita à alienação parental, mas a um caso de
violência doméstica, por exemplo. Sendo, assim, um profissional capacitado para
dar grandes contribuições à essa demanda e à equipe interdisciplinar que recebem
tais processos judiciais.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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54
APÊNDICE A – Roteiro Para Entrevistas
ROTEIRO DE ENTREVISTAS:
Como você conceitua a Alienação Parental?
De acordo com a sua experiência, como se configura o trabalho dos
assistentes sociais frente a essa demanda, quais procedimentos devem ser
adotados?
Quais os valores éticos-morais, as bases teóricas que fundamentam esses
procedimentos, ou instrumentos?
Como você realiza a identificação da alienação parental? Que formas de
identificação você utiliza?
Quais os casos de alienação parental mais comuns, quais as suas
características?
Há uma maior porcentagem de casos em que a mãe é o genitor alienador. Na
sua experiência, quais outras formas você se deparou?
Já houveram suspeitas de um processo ser de alienação parental e na
realidade não ser? Como foi?
Qual caso de alienação parental que você lembra, que mais te marcou?
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APÊNDICE B – Termo de Consentimento do Entrevistado
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
Este é um convite para você participar da pesquisa intitulada: “A Intervenção
Dos Assistentes Sociais Da Área Sóciojurídica Frente A Alienação Parental Em
Natal/RN”, que tem como pesquisador responsável a discente: Maria Luana Alves
dos Santos Farias.
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a atuação dos assistentes
sociais em meio à demanda de Alienação Parental, inseridos na área sóciojurídica.
O motivo que nos leva a fazer este estudo é contribuir com a acumulação
teórica sobre o tema, bem como cumprir os requisitos da Monografia para conclusão
de curso, orientada pelo Prof. Ms. Tibério Lima Oliveira no curso de Serviço Social
da UFRN.
Caso você decida participar dessa pesquisa, será submetido(a) a uma
entrevista que será registrada com o auxílio de um gravador de voz para viabilizar a
integridade das respostas durante a transcrição, respeitando a privacidade e
anonimato dos entrevistados.
Durante a realização da entrevista, você estará livre para interromper a sua
participação a qualquer momento e/ou solicitar a posse da gravação e transcrição da
entrevista. Logo, identificamos mínimos riscos e/ou danos físicos, psíquicos, moral
intelectual, social, cultural ou espiritual, considerando que os participantes não serão
diretamente identificados e a sua dignidade e autonomia respeitadas.
Assim, caso aconteça um desconforto ou risco do constrangimento em
alguma das etapas da entrevista, o participante poderá solicitar, imediatamente, a
interrupção da entrevista e/ou o não uso de alguns trechos da sua fala. Para
minimizar as possibilidades de constrangimento, as entrevistas deverão ser
realizadas em locais que permitam garantir o sigilo das informações.
Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando
para a discente Maria Luana Alves dos Santos Farias pelo telefone (84) 99907-6136/
56
(84) 98110-6136 ou para o Centro de Ciências Sociais Aplicadas no telefone: (84)
3215-3466 End. Av. Sen. Salgado Filho, 3000, Lagoa Nova, Natal/RN, CEP: 59.072-
970 UFRN/CCSA.
Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em
qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.
Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados
apenas em congressos ou publicações científicas, não havendo nenhuma
divulgação que possa lhe identificar. Esses dados serão guardados pelo
pesquisador responsável por essa pesquisa em local seguro e por um período de 5
anos.
Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será
assumido pelo pesquisador responsável e reembolsado para você.
Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra
com o pesquisador responsável.
Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os
dados serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e
benefícios que ela trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos,
concordo em participar da pesquisa “A Intervenção Dos Assistentes Sociais Da Área
Sóciojurídica Frente A Alienação Parental Em Natal/RN”, e autorizo a divulgação das
informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde
que nenhum dado possa me identificar.
Natal, ___/___/___.
_________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
________________________________
Assinatura do pesquisador responsável
Impressão datiloscópica do
participante