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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO TESE DE DOUTORADO MUDANÇAS NO CONTROLE GERENCIAL DE EMPRESAS BRASILEIRAS ESTATAIS E PRIVATIZADAS: ESTUDO DE CASOS. André Luís Martinewski Rio de Janeiro Outubro de 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

MUDANÇAS NO CONTROLE GERENCIAL DE EMPRESAS BRASILEIRASESTATAIS E PRIVATIZADAS: ESTUDO DE CASOS.

André Luís Martinewski

Rio de Janeiro

Outubro de 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

MUDANÇAS NO CONTROLE GERENCIAL DE EMPRESAS BRASILEIRASESTATAIS E PRIVATIZADAS: ESTUDO DE CASOS

Tese apresentada ao Curso de Doutorado doInstituto COPPEAD de Administração daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, comorequisito parcial para a obtenção do título deDoutor em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Josir Simeone Gomes

André Luís Martinewski

Rio de Janeiro

Outubro de 2003

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MUDANÇAS NO CONTROLE GERENCIAL DE EMPRESAS BRASILEIRASESTATAIS E PRIVATIZADAS: ESTUDO DE CASOS

André Luís Martinewski

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Instituto COPPEAD de Administração daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do títulode Doutor em Administração.

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2003.

Conceito:__________________

Banca Examinadora:

________________________________________Ângela da RochaCOPPEAD/Universidade Federal do Rio de Janeiro

_________________________________________Antonio de Araújo Freitas JrFaculdades IBMEC

________________________________________Donaldo de Souza DiasCOPPEAD/Universidade Federal do Rio de Janeiro

_______________________________________Josir Simeone Gomes - Orientador

________________________________________Marisa Ignez dos Santos RhodenUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

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FICHA CATALOGRÁFICA

MARTINEWSKI, André Luís.

Mudanças no controle gerencial de empresas brasileiras estatais e privatizadas:estudo de casos / André Luís Martinewski. – Rio de Janeiro, 2003.

xi, 246.

Tese (Doutorado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,Instituto COPPEAD de Administração, 2003.

Orientador: Josir Simeone Gomes

1. Controle Gerencial. 2. Controle de Gestão. 3. Empresas Estatais. 4. Privatização. 5.Administração - Teses. I. Gomes, Josir Simeone (Orient.). II. Universidade Federal do Rio deJaneiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

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Este trabalho é dedicado a:Gabriel, que me deu um novo ânimo paracompletar este trabalho;Clarissa, que sempre esteve ao meu lado;Meus pais, que sempre priorizaram aeducação dos filhos. Mãe, não conseguisteesperar o meu retorno, mas sei que, ondeestiveres, deves estar orgulhosa.

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AGRADECIMENTOS

São muitas as pessoas a quem tenho que agradecer por ter conseguido chegar ao final

dessa etapa. Correndo o risco de omitir alguém, dedico um agradecimento especial para:

- Clarissa, minha esposa, pelo amor, dedicação e irrestrito apoio durante os quatro anos

no Rio;

- Euchério e Renata, minha família no Rio. Com vocês foi muito mais fácil ficar longe

de casa;

- Josir, muito mais do que um orientador, mostrou o “caminho das pedras” na área

acadêmica; um verdadeiro guru. Também foi um ótimo companheiro de viagem;

- Meus colegas de doutorado: Estolano, Luis Fernando, Celso e Edson, que tornaram os

dias no COPPEAD muito agradáveis - sem contar os churrascos;

- Os professores do COPPEAD - em especial Ângela, César, Donaldo, Kléber -, não só

pelos conhecimentos proporcionados, mas por todo o apoio que me deram desde a

chegada no curso;

- Os funcionários do COPPEAD, em especial a Cida, pela ajuda para resolver os

“galhos”;

- Meus novos amigos - em especial Renato, Flávia, Silvia e Junior - que tornaram minha

estada no Rio uma experiência prazerosa;

- Meus colegas da Escola de Administração, pelo apoio e incentivo;

- Programa CAPES/PICDT - pela bolsa de estudos - e UFRGS - pela licença

remunerada - o que permitiu viver dignamente no Rio de Janeiro;

- Os funcionários das empresas que responderam a esta pesquisa e que por motivos de

sigilo não serão mencionados;

- O povo brasileiro que, na verdade, financiou este programa.

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Resumo

MARTINEWSKI, André Luís. Mudanças no controle gerencial de empresasbrasileiras estatais e privatizadas: estudo de casos. Orientador: Josir Simeone Gomes.Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD; CAPES/PICDT, 2003. Tese (Doutorado emAdministração).

O presente estudo procurou analisar o impacto que a reforma do Estado brasileiro tevesobre o sistema de controle gerencial de grandes empresas brasileiras. Para tanto, foramestudadas as mudanças ocorridas em nove grandes empresas que no início da década de80 enquadravam-se na categoria de empresas estatais. Assim, foi investigada aexistência e os componentes dos mecanismos de controle gerencial praticados por estasempresas comparando-se os resultados com os achados naquele estudo, assim comocomparando-os com aqueles sugeridos pelos autores estudados nesta pesquisa. Para oalcance do objetivo pretendido nesta pesquisa, inicialmente realizou-se uma revisão deliteratura onde, através de uma análise retrospectiva, foram estudadas a evolução dasempresas estatais no Brasil e a literatura sobre controle gerencial e definido um plano dereferência para nortear o estudo. Devido às características e propósitos desta pesquisaadotou-se o método de estudos de casos, por ser aquele que possibilita alcançar ummaior nível de profundidade sobre o assunto e permite maior poder de análise de umaou mais organizações, através da comparação destas com tipos ideais encontrados naliteratura. Os resultados obtidos nesta pesquisa sugerem que os sistemas de controlegerencial existentes nas empresas estudadas não atendem, em diversos aspectos, aosfundamentos teóricos que nortearam este estudo, embora tenham apresentado umasignificativa evolução, quando comparados ao estudo que deu origem a esta pesquisa.Foi observado que, mesmo naquelas empresas onde foram encontrados sistemas decontrole gerencial que, em alguns aspectos apresentavam pontos relacionados comaqueles vistos como relevantes na literatura estudada, quando examinados do ponto devista do sistema como um todo, demonstravam desconhecimento acerca da importânciade integração dos mecanismos de controle no alcance dos objetivos da organização.

Palavras-chaves: Controle gerencial; Controle de gestão; Empresas estatais;Privatização.

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Abstract

MARTINEWSKI, André Luís. Mudanças no controle gerencial de empresasbrasileiras estatais e privatizadas: estudo de casos. Orientador: Josir Simeone Gomes.Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD; CAPES/PICDT, 2003. Tese (Doutorado emAdministração).

The present study it looked for to analyze the impact that the reform of the BrazilianState had on the management control systems of great Brazilian companies. For in sucha way, the occured changes in nine great companies had been studied who in thebeginning of the decade of 80 were fit in the category of state-owned companies. Thus,it was investigated the existence and the components of the mechanisms of managementcontrol practised by these companies comparing itself the results with the findings inthat study, as well as comparing them with those suggested by the authors studied inthis research. Two aspects had been considered excellent in this analysis: themotivacional influence of the control mechanisms and the impact of external factors onthese instruments of administrative case. For the reach of the objective intended in thisresearch, initially a literature revision was become fullfilled where, through an analysisretrospect, they had been studied the evolution of the state-owned companies in Braziland literature on management control and, finally, defined a plane of reference to guidethe study. Due to the characteristics and intentions of this research the method of studiesof cases was adopted, for being that one that it makes possible to reach a bigger level ofdepth on the subject and allows greater to be able of one analysis or more organizations,through the comparison of these with found ideal types in literature. The results gottenin this research suggest that the existing systems of managemental control in the studiedcompanies - as much under the optics of flexibility, as how much to the importanceattributed to the influence of the motivation in the project of these systems - do not takecare of, in diverse aspects, to the theoretical beddings who had guided this study, evenso have presented a significant evolution, when compared with the study that gave toorigin the this research. It was observed that, even in those companies where systems ofmanagement control had been found that, in some aspects they presented points relatedwith those visas as excellent in studied literature, when examined of the point of view ofthe system as a whole, demonstrated unfamiliarity concerning the importance ofintegration of the mechanisms of control in the reach of the objectives of theorganization.

Key words: Management control; State owned companies; Privatization.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1

1.1 TEMA..................................................................................................................... 11.2 IMPORTÂNCIA DO TEMA ................................................................................. 21.3 ESCOPO................................................................................................................. 31.4 ESTATIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO NO BRASIL............................................. 3

2. REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................. 23

2.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 232.2 AS ABORDAGENS AO ESTUDO DOS SISTEMAS DE CONTROLEGERENCIAL.............................................................................................................. 23

2.2.1 Considerações iniciais ................................................................................... 232.2.2 O plano de referência de Anthony................................................................. 262.2.3 Outras contribuições relevantes..................................................................... 31

2.2.3.1 O plano de referência de Lorange e Morton........................................... 312.2.3.2 A abordagem de Hofstede ...................................................................... 322.2.3.3 A abordagem de Flamholtz .................................................................... 362.2.3.4 Outras abordagens de interesse............................................................... 38

2.3 A PESQUISA ATUAL EM SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL......... 422.3.1 As mudanças no contexto dos negócios contemporâneos ............................. 422.3.2 A evolução dos instrumentos de controle gerencial ...................................... 49

2.3.2.1 O Custeio Baseado na Atividade (ABC) ................................................ 502.3.2.2 Balanced Scorecard................................................................................ 522.3.2.3 Valor Econômico Agregado (EVA) ....................................................... 542.3.2.4 Capital Intelectual................................................................................... 582.3.2.5 Governança corporativa.......................................................................... 60

2.3.3 Contribuições nacionais ao estudo do controle gerencial.............................. 622.3.4 As tendências e sugestões de pesquisa em controle gerencial....................... 66

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 73

3. METODOLOGIA....................................................................................................... 75

3.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 753.2 MÉTODO DE PESQUISA EMPREGADO......................................................... 75

3.2.1 O desenho de pesquisa................................................................................... 763.2.2 Avaliação da qualidade do desenho de pesquisa ........................................... 783.2.3 Estudos de caso simples x estudos de casos múltiplos.................................. 793.2.4 Considerações finais ...................................................................................... 80

3.3 PERGUNTAS DA PESQUISA............................................................................ 813.3.1 As Perguntas de Pesquisa .............................................................................. 813.3.2 Plano de referência ........................................................................................ 823.3.3 Variáveis da pesquisa .................................................................................... 87

3.3.3.1 Definição das variáveis da pesquisa ....................................................... 873.3.3.2 Definições operacionais.......................................................................... 883.3.3.2.1 Componentes do sistema de controle gerencial................................... 883.3.3.2.2 Características organizacionais............................................................ 933.3.3.2.3 Variáveis ambientais externas ............................................................. 95

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3.4 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DAS EMPRESAS ESTUDADAS........................... 953.5 MÉTODO DE COLETA DE DADOS................................................................. 963.6 QUADRO DE REFERÊNCIA PARA A INTERPRETAÇÃO DOSRESULTADOS .......................................................................................................... 983.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ........................................................................... 98

4. OS SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL DAS EMPRESAS ESTUDADAS...................................................................................................................................... 100

4.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1004.2 CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS ESTUDADAS ................................ 1014.3 OS SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL DAS EMPRESASESTUDADAS .......................................................................................................... 107

4.3.1 Empresa A ................................................................................................... 1074.3.1.1 Características Gerais ........................................................................... 1074.3.1.2 Sistema de controle gerencial ............................................................... 108

4.3.2 Empresa B.................................................................................................... 1174.3.2.1 Características Gerais ........................................................................... 1174.3.2.2 Sistema de controle gerencial ............................................................... 118

4.3.3 Empresa C.................................................................................................... 1304.3.3.1 Características gerais ............................................................................ 1304.3.3.2 Sistema de controle gerencial ............................................................... 131

4.3.4 Empresa E.................................................................................................... 1434.3.4.1 Características gerais ............................................................................ 1434.3.4.2 Sistema de controle gerencial ............................................................... 144

4.3.5 Empresa F.................................................................................................... 1544.3.5.1 Características Gerais ........................................................................... 1544.3.5.2 Sistema de controle gerencial ............................................................... 156

4.3.6 Empresa G ................................................................................................... 1694.3.6.1 Características Gerais ........................................................................... 1694.3.6.2 Sistema de controle gerencial ............................................................... 171

5. ANÁLISE DOS COMPONENTES DO SISTEMA DE CONTROLE GERENCIAL...................................................................................................................................... 181

5.1 OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS................................................................. 1815.2 SISTEMA DE CONTABILIDADE GERENCIAL ........................................... 1855.3 PROCESSO ORÇAMENTÁRIO....................................................................... 1895.4 MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DAS UNIDADESORGANIZACIONAIS ............................................................................................. 194

6. SUMÁRIO, CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARAPESQUISAS FUTURAS.............................................................................................. 199

6.1 SUMÁRIO.......................................................................................................... 1996.2 CONCLUSÕES.................................................................................................. 2036.3 RECOMENDAÇÕES......................................................................................... 2066.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ................................................ 207

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 209

ANEXOS...................................................................................................................... 219

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ANEXO 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................. 220ANEXO 2 - MODELO DE CORRESPONDÊNCIA ENVIADA ÀS EMPRESAS 245

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LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1: As abordagens ao estudo do controle gerencial.........................................26

Quadro 5.1: Objetivos organizacionais........................................................................182

Quadro 5.2: Sistema de contabilidade gerencial..........................................................187

Quadro 5.3: Processo orçamentário.............................................................................190

Quadro 5.4: Medidas de avaliação de desempenho das unidades organizacionais.....196

Quadro 5.5: Resumo das características organizacionais............................................198

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1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA

O papel do Estado na economia foi tema de vigorosos debates no decorrer da

década de 90. A reforma das empresas estatais tornou-se parte integrante da maioria dos

programas de estabilização macroeconômica implementados em todo o mundo. Dentre

os instrumentos usados para a reforma dessas empresas destaca-se a privatização.

No Brasil, em especial, este movimento atingiu uma expressiva magnitude.

Conforme informações compiladas por Gomes (1983), em 1980 o cadastro da SEST

apresentava 560 empresas que empregavam mais de 1,4 milhões de pessoas e cujo ativo

total representava o dobro do PIB e o quíntuplo do orçamento da União em 1981. Já a

década de 90 presenciou a transferência, para a iniciativa privada, do controle acionário

de diversas empresas antes controladas pelo Estado. E deste processo não foram

poupadas sequer empresas que antes eram consideradas estratégicas, como por exemplo,

a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce, as empresas

distribuidoras de energia elétrica, entre outras. Como decorrência deste processo, o

número de empresas estatais que constam do cadastro do Ministério do Planejamento é

de 103 empresas, dados de 31 de dezembro de 2001 (BRASIL, 2002).

Diversos pesquisadores têm se dedicado a estudar os impactos da privatização

sobre o desempenho das empresas e sobre o comportamento do mercado. Entretanto,

são poucos os trabalhos que estudam os efeitos da privatização sobre os processos e

sistemas gerenciais das empresas.

Assim, o objetivo desta pesquisa é contribuir para a redução desta lacuna,

explorando o impacto que a reforma do estado, em geral, e a privatização, em particular,

tiveram sobre os mecanismos de controle gerencial de grandes empresas brasileiras.

Tal estudo foi oportunizado pela disponibilidade de informações acerca dos

sistemas de controle gerencial de nove empresas estatais brasileiras no início da década

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de 80, resultado de pesquisa feita no COPPEAD/UFRJ, por Gomes (1983). No processo

de reformulação do Estado brasileiro, levado a efeito no decorrer da década de 90, as

empresas estudadas nesta pesquisa sofreram profundas modificações; algumas foram

privatizadas, outras permaneceram estatais e outras, ainda, foram extintas fornecendo,

dessa maneira, um parâmetro de comparação valioso para o objetivo que se pretendeu

alcançar.

1.2 IMPORTÂNCIA DO TEMA

O tema tratado no presente estudo reveste-se de importância teórica e prática. Do

ponto de vista teórico, salienta-se o ineditismo do trabalho, no sentido de investigar o

impacto que a mudança de controle acionário, de estatal para privado, teve sobre os

sistemas de controle gerencial das empresas privatizadas. Não menos importante foi a

observação das mudanças introduzidas nas empresas que permaneceram estatais, a fim

de torná-las mais enxutas e prepará-las para a concorrência com o setor privado. Por

fim, também se destacam os achados referentes às empresas que foram extintas, no

sentido de reforçar a importância dos mecanismos de controle gerencial prescritos pela

literatura.

Além disso, o estudo tem por característica permitir a possibilidade de comparar

dois momentos distintos na evolução das empresas estudadas.

Do ponto de vista da importância prática, o estudo enfatiza as conseqüências

negativas decorrentes do não atendimento de procedimentos recomendados como

eficazes pela teoria de controle gerencial, apontando o grau de

distanciamento/proximidade entre a teoria e a prática, através da comparação entre os

mecanismos de controle gerencial praticados pelas empresas com os mecanismos

sugeridos pela literatura.

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1.3 ESCOPO

Este estudo investigou se ocorreram mudanças nos sistemas de controle

gerencial das empresas estudadas no período de cerca de 20 anos compreendido entre o

início da década de 80 e o momento atual, sendo estudadas as suas causas. Importante

notar que estas empresas foram estudadas anteriormente por outro pesquisador, dentro

de uma realidade - histórica e societária - distinta da atual; na época eram todas

empresas estatais.

O estudo compreendeu a comparação dos sistemas de controle gerencial das

empresas a um conjunto de conhecimentos que destaca a importância dos aspectos

motivacionais no projeto dos sistemas de controle gerencial. Neste sentido, controle

gerencial é visto como sendo o processo de influenciar o comportamento dos membros

da organização, através da utilização de mecanismos e procedimentos que aumentem a

probabilidade da ocorrência de comportamentos dirigidos ao alcance dos objetivos da

organização. Foi investigada a existência de mecanismos de controle que são

considerados básicos para o exercício da função de controle.

Foi investigada, também, a capacidade de adaptação dos sistemas de controle às

mudanças ambientais.

O plano de referência adotado baseia-se na consideração motivacional percebida

na análise do sistema de controle gerencial, segundo um enfoque contingencial. A

eficácia dos sistemas de controle foi mensurada levando-se em conta a ambigüidade dos

objetivos, a mensuração dos resultados, o conhecimento sobre os efeitos das

intervenções e as características das atividades realizadas pelas empresas, conforme

considerados por Hofstede (1981).

1.4 ESTATIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO NO BRASIL

A seguir é apresentada, de forma resumida, a evolução do processo de

estatização no Brasil e, de forma mais detalhada, o movimento de saída do Estado da

economia observado a partir de meados da década de 80. Não se vai, aqui, analisar -

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tampouco avaliar - em profundidade os motivos que levaram a esse movimento, nem a

forma como foram conduzidos; análises detalhadas do processo de privatização

observado a partir de 1984 podem ser obtidas em Pinheiro (1999), Pinheiro e Giambiagi

(1999) e Velasco Jr (1999, 1997a e 1997b).

De acordo com Pinheiro (1999), as empresas estatais estiveram presentes na

economia brasileira desde o período colonial. Entretanto, a intervenção na economia,

seja ou não através da criação de empresas estatais, foi pequena até a ascensão de

Getúlio Vargas ao poder. A partir do Estado Novo, o liberalismo da Velha República

daria lugar ao nacionalismo econômico, ao protecionismo, a elevados investimentos

públicos em infra-estrutura e insumos básicos e à criação de monopólios públicos para

produtos como açúcar, café, mate, entre outros.

Gomes (1983) aponta que data do século XIX a incursão estatal, em especial no

setor financeiro, além de uma participação efetiva nos setores editorial e gráfico, assim

como nos serviços postais. No início do século XX o estado começa a aumentar sua

participação no setor de transportes, através da aquisição de ferrovias, assim como passa

a intervir de maneira mais ativa no Comércio Exterior, estabelecendo o controle da

produção e uma política de preços mínimos para o café.

A ordem econômica dos anos 30, seguindo a influência política e econômica dos

regimes totalitários da Europa, se caracteriza pelo processo de industrialização através

da substituição de importação, despertando para um modelo de desenvolvimento

caracterizado por um forte conteúdo ideológico - o nacionalismo econômico.

O período que se seguiu à II Guerra Mundial assistiu ao debate sobre a forma de

financiar a industrialização do país; segundo Gomes (1983) a criação de indústrias

nacionais privadas amparadas por recursos provenientes de parceiros estrangeiros

preocupava os defensores da soberania nacional. Por outro lado, criar novas empresas

sob a égide do Estado não era do agrado dos que defendiam a livre iniciativa. De

qualquer forma, em virtude da falta de interesse e/ou de capacidade do setor privado

nacional para investir em infra-estrutura e outros setores industriais básicos fez com que

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o governo fosse levado a realizar o programa de industrialização do país de forma

compulsória, período em que foi criado um grande número de empresas estatais.

A década de 60 - em especial o período entre 64 e 69 - assistiu a uma ampliação

do poder regulamentador do Estado. São desse período, entre outras, a criação da

Eletrobrás, do BNH, da Embratel, do Conselho Interministerial de Preços, além da

aprovação da Lei Orçamentária e da Reforma Administrativa (Lei 4320/64 e Decreto

Lei 200/67, respectivamente).

A década de 70, por fim, foi o período em que foram criadas mais empresas

estatais do que em qualquer período anterior, analisado separadamente. Segundo Gomes

(1983), entre 1970 e 1980 foram criadas mais de 250 novas empresas - em comparação

com as 307 existentes até 1970. Este quadro, associado à crise financeira internacional,

levou o Governo a criar a Secretaria de Controle das Estatais - SEST - em 1979, com o

objetivo de adequar os gastos realizados por essas empresas à programação

governamental. Como conseqüência, verificou-se uma significativa redução no grau de

autonomia conferido a essas entidades ao longo de todo o período anterior.

Pinheiro (1999) relata que o crescimento do número de estatais na economia foi

fruto de diferentes processos dentre os quais: o desenvolvimentismo; o cuidado com a

segurança nacional - ambos já mencionados -; a nacionalização de empresas privadas

estrangeiras em setores cuja regulação não foi eficiente em promover os investimentos

de que o país necessitava (o que atendia também aos objetivos ligados à “soberania

nacional”); a verticalização e a diversificação das atividades de grandes empresas

estatais (ocupação de “espaços vazios”); e a estatização de empresas mal administradas

situadas em setores estranhos às atividades do setor público - hotéis, usinas de açúcar,

editoras.

Segundo Pinheiro (1999), não há concordância na literatura se o rápido

crescimento do setor estatal na economia brasileira foi resultado de uma ideologia de

intervenção do Estado ou se fruto da sobreposição de movimentos desconectados.

Independentemente disso, porém, esta rápida expansão não causava maior preocupação

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até, pelo menos, o fim do milagre econômico - 1973. Com a deterioração das condições

econômicas e a decisão do governo de reduzir a influência do setor privado na alocação

da poupança pública, tiveram início os primeiros protestos públicos contra a excessiva

participação do Estado na economia.

Entretanto, de acordo com Pinheiro (1999), a correta interpretação dos

argumentos empresariais desta época mostra que se tratava, antes de tudo, de um

movimento contra a desprivatização do Estado. A principal fonte de descontentamento

empresarial era a sua exclusão dos fóruns de decisão da economia nacional; a

privatização de empresas não era uma prioridade para o empresariado. A resposta do

governo foi a proposta de fortalecer a empresa privada nacional por meio de subsídios

fiscais e creditícios. A idéia de privatizar empresas ainda não era cogitada pelo fato de

que, simplesmente, a empresa privada nacional não estava apta a assumir a tarefa de

promover a industrialização urgente do país; da mesma forma, era visto como

indesejável que o capital estrangeiro o fizesse.

O agravamento da situação econômica no final da década de 70 começou a

tornar evidente a necessidade de priorizar o controle da inflação e o equilíbrio das

contas externas em detrimento do crescimento de curto prazo. A rápida expansão do

setor estatal se mostrava inconsistente, conforme Pinheiro (1999), com o objetivo de

estabilização e a idéia de privatizar começou a fazer parte do discurso governamental.

Entretanto, a crítica a atuação das estatais não se concentrava, ainda, na questão da

(in)eficiência do setor público empresarial; o principal objetivo então era desacelerar a

expansão do setor produtivo estatal, pois era percebido que tinham saído do controle das

autoridades federais. Como a prioridade, agora, era a estabilização da economia - e não

mais o crescimento e a substituição de importações - e sendo as empresas estatais

responsáveis por uma parcela considerável do investimento e do consumo domésticos,

seria quase impossível estabilizar a economia sem alguma forma de controle sobre o

ritmo de expansão dessas empresas e sem eliminar, ou pelo menos reduzir, seus déficits.

Com essa finalidade, uma série de tetos foram estabelecidos para os gastos correntes, de

capital e com importações das estatais, conforme se conclui da série de instrumentos

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acionados pela então Secretaria de Planejamento da Presidência da República

(SEPLAN), relacionados por Gomes (1983).

As empresas estatais foram, ainda, duramente afetadas pela crise cambial do

início da década de 80. Ocorre que tais empresas foram usadas, até 1982, para contrair

empréstimos externos além de suas necessidades, de forma a financiar os crescentes

déficits em conta corrente do país. O aumento das taxas de juros internacionais e a

significativa desvalorização cambial fez com que as despesas financeiras das empresas

crescessem bastante. Some-se a isso o fato de que, desde 1975, os preços dos bens e

serviços produzidos pelas estatais foram reduzidos em termos reais com a finalidade de

controlar a inflação e - a partir de 1982 - para subsidiar a exportação de bens

manufaturados. Dessa maneira, de acordo com Pinheiro (1999), o uso das empresas

estatais como instrumento de política macroeconômica levaria à gradual e contínua

deterioração do seu desempenho, com a expansão da demanda reprimida e a perda de

qualidade dos seus serviços.

Somente em 1981, entretanto, é que a privatização entrou efetivamente na

agenda da política econômica. Neste ano foi criada a Comissão Especial de

Desestatização a qual tinha como objetivos fortalecer o setor privado, limitar a criação

de novas empresas estatais e fechar ou transferir para o setor privado as empresas

estatais cujo controle pelo setor público não fosse mais necessário ou justificado.

Conforme Pinheiro (1999), inicialmente foram identificadas 140 estatais prontas para

serem privatizadas no curto prazo, das quais 50 foram listadas para venda. A primeira

tentativa de privatização, entretanto, teve como saldo efetivo a venda de 20 empresas -

em geral, empresas que estavam sendo reprivatizadas -, o aluguel de uma e a

incorporação de oito a outras instituições públicas. Entretanto, neste mesmo período,

seis empresas em situação falimentar passaram para o controle do BNDES.

No período referente ao governo Sarney - 1985-89 - foram concluídos mais 17

processos de desestatização, além da transferência de igual número sendo transferido

para os governos estaduais, duas incorporadas a outras instituições federais e quatro

desativadas; importante notar a inclusão, nesta lista, de três importantes empresas

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industriais: Eletrosiderúrgica Brasileira, maior produtora de ferro-ligas à época; Aracruz

Celulose, uma das mais importantes do setor; e Caraíba Metais, única metalúrgica de

cobre do país. Velasco Jr (1999) defende que as desestatizações ocorridas neste período

ocorreram muito mais por razões de ordem interna do BNDES e apesar do fato de que

ajustes de caráter mais reformista não comporem, de fato, a agenda pública à época1.

Dos 17 processos de privatização, 11 foram de empresas controladas pela BNDESPAR

e dois, relativos às vendas de subsidiárias da Siderbrás, conduzida pela BNDESPAR, na

qualidade de agente de privatização dessa holding.

A justificativa para a afirmação de que as privatizações do período se deram por

decisão do BNDES encontra-se no documento editado pelo banco em 1992,

Privatização: a experiência da BNDESPAR no período 1987-1989. Nesse documento

encontram-se os seguintes motivos determinantes:

• o elevado número de empresas controladas pela BNDESPAR concentrava

mais de 50% do volume de seus desembolsos no período 82-85 e se

voltavam, basicamente, para custear gastos decorrentes das controladas;

• o direcionamento de esforços no acompanhamento financeiro e operacional

dessas empresas, visto que, de modo geral, se encontravam em situação

crítica;

• os aportes de capital se revelavam ineficazes, em face do contexto que

envolvia as empresas estatais: dificuldade em garantir uma administração

profissional, reduzida flexibilidade gerencial para operar em mercados

competitivos e dificuldade em se manter um política estável de reajustes de

preços; e

• como conseqüência dos eventos acima, BNDESPAR passou a acusar

sucessivos prejuízos no período 82-87.

De maneira semelhante, nos processos nos quais o BNDES agiu como agente de

privatização da Siderbrás, as empresas privatizadas - Cofavi e Usiba - eram empresas

em situação difícil, nas quais o banco tinha interesses creditícios. A expectativa era

encontrar novos controladores que saneassem as empresas ou, pelo menos, mudar a

1 Para uma análise mais detalhada do processo de privatização no período 85-89, inclusive a justificativapara o modelo de venda adotado, ver Velasco Jr. 1999 e 1997a.

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qualidade dos créditos: substituir devedores não-executáveis, nos termos da legislação

brasileira, por devedores privados, executáveis (Velasco Jr., 1999). Em outras palavras,

a venda de companhias por parte do BNDES se inseria em um objetivo de recuperação

de sua capacidade de intervenção na economia.

Esta argumentação é endossada por Schneider (1991), o qual aponta que a

motivação primordial para a privatização durante o governo Sarney adveio de

funcionários de escalão intermediário - dirigentes do BNDES -, preocupados em

racionalizar o Estado desenvolvimentista. Para o autor, Sarney não tinha qualquer

compromisso ideológico com a privatização, mas parecia disposto a endossá-la desde

que esses burocratas fossem capazes de convencê-lo de que a crise financeira do Estado

era mais premente do que sua agenda política. Além disso, o setor privado exerceu

pouca influência no processo, chegando em alguns casos a atuar nos bastidores para

evitar a privatização de certas empresas estatais. Dessa forma, chega a surpreender o

alcance das privatizações neste período; a explicação seria que as empresas que foram

vendidas figuravam entre as mais fáceis de alienar, em termos de custo político.

Para Pinheiro (1999), a privatização alcançada na década de 80 foi a possível

dadas as circunstâncias; para tanto três razões teriam contribuído: o desempenho

operacional relativamente bom mantido até meados da década, o que limitava o escopo

para ganhos de produtividade com sua transferência para a iniciativa privada - o que

implicava que assim como o governo não tinha a intenção de vender suas principais

empresas, o setor privado não tinha interesse em comprá-las -; permaneceu sobre as

estatais, durante a maior parte da década, o “manto protetor da ‘segurança nacional’”, o

que tornava impossível a venda de grandes estatais enquanto os militares mantivessem

sua influência na administração federal; e um amplo segmento da sociedade brasileira -

incluindo militares e partidos de esquerda - continuavam a enxergar a privatização como

sinônimo para a desnacionalização da economia, visto que se entendia que apenas

empresas multinacionais estariam habilitadas a comprar as grandes estatais brasileiras.

Este último aspecto ficou evidente na elaboração da Constituição de 1988, a qual

estabeleceu monopólios públicos nos setores de telecomunicações, petróleo e

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distribuição de gás, além de colocar barreiras à participação estrangeira em mineração e

eletricidade.

Entretanto, menos de dois anos após a promulgação da nova Constituição, o

governo Collor lançou o Programa Nacional de Desestatização (PND), ampliando o

alcance da privatização no Brasil. Para Pinheiro (1999), a justificativa para tão

significativa reorientação na visão oficial sobre o papel do setor estatal pode ser

encontrada nas transformações ocorridas no cenário político doméstico (o processo de

democratização do país com o gradual afastamento dos militares do poder e as eleições

diretas para presidente) e internacional (fim da Guerra Fria, com a diminuição das

pressões dos militares para a manutenção do controle estatal-nacional dos setores

considerados estratégicos); na reorientação do modelo de desenvolvimento econômico

(passagem de uma estratégia de acumulação para outra em que a produtividade e a

eficiência passaram a ser prioritárias); na piora do desempenho das estatais e nas

necessidades da política macroeconômica (necessidade de controle do gasto público em

um momento em que as empresas estatais precisavam de massivos investimentos para

aumentar a eficiência e a produção).

No período Collor e Franco - 1990 a 1994 - foram privatizadas 33 empresas com

receitas totais de US$ 8,6 bilhões e a transferência de US$ 3,3 bilhões em dívidas para o

setor privado (compare-se aos 17 processos, com arrecadação de US$ 549 milhões e na

transferência de dívidas na ordem de US$ 620 milhões obtidos no período anterior); tais

valores dão uma idéia da mudança de patamar que significou o PND. Cabe ressaltar que

a maioria dessas empresas estava na indústria de transformação, em especial nos setores

siderúrgico, petroquímico e de fertilizantes. De acordo com Pinheiro (1999), as

empresas selecionadas para venda nesta fase da privatização tinham em comum o fato

de estarem situadas em setores competitivos ou para os quais o processo de

liberalização comercial iria criar um ambiente de competição. Entretanto, a privatização

dos monopólios estatais não chegou a ser cogitada.

Velasco Jr, (1997a) julga que, apesar do novo patamar atingido pelas

privatizações neste período, ainda não havia um consenso da sociedade em geral e de

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suas elites sobre os benefícios das privatizações; além disso, a simples vontade política

do Executivo - ou mesmo do gestor do programa de desestatização (BNDES) - não é

suficiente para explicar o sucesso da implementação do PND dadas as notórias

limitações de recursos de governance (entendido aqui como a capacidade do Estado em

formular e implementar suas políticas) detidos por aqueles governos. O autor defende

que as escolhas quanto ao desenho da legislação e à modelagem das vendas foram

cruciais para o fornecimento do apoio à sua implementação, tendo em vista o aumento

do número de beneficiários, ao mesmo tempo em que possibilitava a adesão dos

perdedores ao programa2; além disso, justificam a não adoção de características mais

marcantes de experiências internacionais conhecidas, a exemplo da britânica3.

A partir de 1995 - início do primeiro mandato do governo Fernando Henrique

Cardoso - o alcance da privatização foi ainda mais ampliado, através de dois

movimentos quase simultâneos: a decisão de acabar com os monopólios do setor

público na área de infra-estrutura e a decisão dos governos estaduais de, também,

desenvolver seus próprios programas de privatização. No total, de 1995 a 1998 foram

levadas a efeito 80 privatizações, as quais somaram US$ 60,1 bilhões e permitiram a

transferência de US$ 13,3 bilhões em dívidas.

Para Pinheiro (1999), vários fatores contribuíram para essa ampliação, dentre

eles:

• o repetido fracasso de seguidas tentativas em controlar a inflação pelas

administrações anteriores havia limitado a capacidade do governo perseguir

um programa mais ousado de privatização. A estabilidade obtida a partir de

1994 deu cacife político ao Executivo para aprovar as emendas

constitucionais necessárias para estender a privatização aos setores de

telecomunicações e gás e para facilitar sua aprovação nas áreas de mineração

e eletricidade;

2 Para análise detalhada deste processo ver Velasco Jr. (1997a).3 Descrição e análise detalhadas da experiência inglesa de privatização podem ser encontradas em Brito(1987) e Velasco Jr. (1997a e 1997b).

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• a estabilidade econômica, a necessidade de equilíbrio fiscal e a perspectiva de

retomada de crescimento, tornavam claro que o setor público não conseguiria

viabilizar diretamente os elevados investimentos necessários nesses setores.

Além disso, a política econômica limitava o acesso das estatais ao

financiamento doméstico e externo;

• os estados enxergaram na privatização importante fonte de recursos a curto

prazo, o que lhes permitiu saldar dívidas e expandir gastos;

• a estabilidade e a mudança na percepção do risco e potencial do mercado

brasileiro contribuiu para aumentar o valor dessa empresas, tornando a

privatização mais interessante para o setor público e para os investidores

privados; e

• o sucesso das privatizações do período anterior, ao aumentar a eficiência e o

investimento das empresas, contribuiu para ampliar o apoio político ao

programa.

Entretanto, de acordo com Pinheiro(1999), o fator mais importante na expansão

da privatização neste período foi o papel desempenhado pela privatização na

sustentação do Plano Real; graças às vendas de 97-98, o país foi capaz de atrair altos

montantes de investimento direto estrangeiro que ajudaram a financiar os altos déficits

em conta corrente, e de evitar a explosão da dívida pública a despeito dos crescentes

déficits públicos registrados desde 1995. Outro aspecto ressaltado pelo autor, é que,

além desses reflexos de curto prazo, o impacto macroeconômico de longo prazo deveria

proporcionar ganhos fiscais substanciais, resultantes da combinação da destinação da

arrecadação com as vendas para a redução da dívida pública (e conseqüente redução das

despesas com juros) e do fato de que se espera que as empresas privatizadas, sendo mais

eficientes, fiquem mais lucrativas aumentando a arrecadação de impostos.

Simulação efetuada por Giambiagi e Pinheiro (1996), apontava que a simples

troca das ações que a União detinha em quatro empresas do Setor Produtivo Estatal por

papéis da dívida pública poderia produzir uma redução das suas necessidades de

financiamento cujo valor era equivalente a 7% do PIB, crescendo significativamente

caso as empresas pivatizadas ficassem mais rentáveis. Alertavam, entretanto, que o

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tamanho do impacto fiscal da privatização dependeria fundamentalmente do valor da

parcela de lucros distribuída, caindo significativamente conforme esta crescesse.

Também alertavam que se a baixa rentabilidade estatal fosse resultado da política

tarifária do governo, e não de ineficiência, então o ganho fiscal estimado seria ilusório;

o mesmo se aplicaria se o aumento da rentabilidade após a privatização fosse resultado

da adoção de uma política tarifária mais favorável às empresas.

Ressalve-se, entretanto, que a esperada redução da dívida pública acabou não

ocorrendo; conforme apontam Pêgo Fº et al. (1999) isso ocorreu em razão do

reconhecimento de dívidas do passado, que superaram as receitas de privatização. De

acordo com os autores,

“Esse resultado contrasta com a maior parte das análises demeados dos anos 90, que esperavam que as receitas deprivatização garantissem a transição entre a situação dedificuldades fiscais de então e a implementação das reformasconstitucionais, sem permitir que a dívida pública, comoproporção do PIB, se elevasse muito. O que não se esperava,entretanto, era o aparecimento de tantos esqueletos, que mais quesuperaram as receitas de privatização, e com juros tão elevadospraticados no período para defender a política cambial vigente”(p.29).

Entretanto, ressaltam Pêgo et al. (1999), apesar da privatização não conseguir

conter o crescimento da dívida, sua ausência implicaria em uma relação nove pontos

percentuais superior em 2000, de acordo com as simulações realizadas.

Por outro lado, é importante enfatizar que, de acordo com Giambiagi e Pinheiro

(1996)

“por mais relevante que possa ser a privatização federal, o escopoda desestatização ... deveria ir além das empresas federais ...porque é nas empresas estaduais e municipais que se concentra odesequilíbrio das empresas estatais” (p.11).

Velasco Jr. (1997b) chama a atenção para o fato de que os processos de

privatização mais recentes envolveram a transferência para a esfera privada dos serviços

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de utilidade pública e que nestes casos o Estado não perde sua visibilidade perante a

sociedade, diferentemente do que ocorre na privatização de empresas industriais. Isso

decorre do fato de que na medida em que a natureza do serviço prestado continua

pública, o Estado, na qualidade de poder concedente, permanece como o responsável,

ainda que de forma indireta, pela satisfação do público consumidor. Em outras palavras,

trata-se de uma redefinição do papel do Estado “deixando de ser o responsável direto

pelo desenvolvimento econômico e social, pela produção de bens e serviços, para

fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento”, conforme

consta do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, elaborado pelo Ministério

da Administração Federal e da Reforma do Estado (BRASIL, 1995). De acordo com

Bresser Pereira (1996), o novo papel do Estado é o de facilitar para que a economia se

torne internacionalmente competitiva, sendo a regulação e a intervenção necessárias na

educação, na saúde, na cultura, no desenvolvimento tecnológico, nos investimentos em

infra-estrutura.

Neste sentido, o processo de privatização pode ser visto não apenas como um

mecanismo para a simples redução do papel do Estado na economia, mas parte de uma

reforma social-democrata feita para, conforme Bresser Pereira (1996, p.8), “aumentar a

governança do Estado, fornecendo os meios financeiros e administrativos para que

possa intervir efetivamente, sempre que o mercado não tiver condições de coordenar

adequadamente a economia”. É o Estado produtor cedendo a vez para o Estado

regulador. O perfil deste Estado regulador, entretanto, ainda é uma incógnita; conforme

Pinheiro (1999), o processo de regulação nos serviços públicos avançou menos do que a

privatização. Exceto no setor de telecomunicações, onde foi feita com grande

prioridade, a atuação nos demais setores é vista como pouco agressiva.

Na visão de Abranches (apud Velasco Jr, 1997b), o governo brasileiro não tem

uma concepção explícita da natureza operacional do novo Estado, nem qual modo de

regulação deverá caracterizá-lo, ou como essa regulação deverá ser exercida.

Paralelamente a este problema, Pinheiro (1999) levanta outras questões sobre a

eficiência do Estado regulador: a primeira diz respeito ao risco de se enfatizar o aspecto

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técnico em cada setor, deixando a regulação econômica em segundo plano; a segunda

questão se refere à necessidade de explicitar claramente no mandato das agências

reguladoras a ênfase a ser dada à competição e que neste mandato não se inclui a

implementação de políticas industriais no setor regulado; e, por fim, há dúvidas sobre

qual será o comportamento do Judiciário no caso de desacordo entre as posições de

agências reguladoras, concessionários e consumidores - além do pouco conhecimento

dos aspectos técnicos envolvidos, há o temor de que a possibilidade do recurso ao

Judiciário possa se constituir em uma oportunidade para postergar as decisões das

agências reguladoras, sob o risco de elevados prejuízos para as partes.

Também não pode ser desprezado o alerta de Lamounier (1999) quanto à

propalada participação do consumidor no processo de avaliação e fiscalização das

empresas prestadoras dos serviços públicos. Segundo o autor,

“...os grandes benefícios macrossociais e macroeconômicos que aprivatização das utilities pode trazer ao país não terãonecessariamente correspondência na esfera do comportamentosocial, no que diz respeito à participação e à capacidade defiscalização do usuário” (Lamounier, 1999, p. 335).4

Para o autor, essa preocupação se justifica pois a sociedade brasileira não atingiu

ainda os níveis de participação e politização, ao mesmo tempo em que as empresas e

instituições também não atingiram os níveis de transparência e accountability que se

deseja. O Brasil ainda tem pouca experiência com os mecanismos de avaliação,

fiscalização e pressão que se farão necessários; os embates usuário-provedor estão

apenas começando. Em vista disso, o autor propõe uma questão para reflexão: como

distinguir entre a avaliação séria a que o triângulo empresa/usuário/agência reguladora

dará ensejo e a simples manipulação do usuário pelo triângulo

empresa/publicidade/meios de comunicação?

Adotando uma postura crítica em relação à maneira como está sendo conduzida

a reforma do setor elétrico brasileiro, o qual prevê a venda maciça de ativos, Rosa e

Senra (1995) apontam a fragilidade empírica nas teorias econômicas dentro dos

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paradigmas liberais para fundamentar o Estado mínimo neoliberal. Para os autores,

“reina a confusão sobre o falso dilema entre a estatização por princípio e a privatização

por princípio” (p. 24). Ao se renegar o primeiro princípio cai-se no segundo, como

purgação de um pecado original do planejamento estatal.

“A redução mecânica do problema das estatais à vendapara fazer caixa, em função da dívida do governo, e para negociarcom os grandes credores do Estado, ignora a complexidadetécnica do setor de energia, bem como seu papel em umaestratégia de desenvolvimento do país” (Rosa e Senra, 1995, p.46).

Segundo os autores, tem havido grande confusão no uso de termos como

desregulamentação e privatização na avaliação dos processos de reforma do setor

elétrico ao redor do mundo. “Não é verdade que em toda parte estejam-se privatizando

as empresas elétricas, e nem os dados aqui reunidos mostram que os países que as

privatizaram estejam em melhor situação quanto a preços e qualidade do serviço”

(p.19).

Para ilustrar esta afirmação, são apresentados os resultados apurados na

experiência argentina. Dentre outros, foram observados: o aumento do preço da energia

(de US$ 29 por MWh em 1990 para US$ 49 em meados de 1992); o não

estabelecimento de concorrência efetiva entre as empresas geradoras de energia; a

ausência de planejamento energético, levando quase a uma depredação no uso de

recursos naturais.

Da mesma maneira, Rosa et alli (1998) apontam que a experiência inglesa,

considerada como paradigmática e radical (por vir acompanhada de privatização),

“mostrou que o mundo real requer um aparato regulatório significativo e crescente para

lidar com as assimetrias em todos os mercados e com os problemas de acesso

privilegiado à rede” (p.190). O esperado trade off entre concorrência e regulação não se

confirmou pois, mesmo nos segmentos onde se pretendia que o mercado funcionasse

livremente, a presença do regulador tem sido crescente para evitar abusos de poder de

monopólio e coibir os movimentos de reintegração vertical. De acordo com os autores,

4 Para uma análise de como o consumidor brasileiro insatisfeito se comporta, ver Chauvel (1999).

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“em linhas gerais, os elementos estudados apontariam para a frustração dos objetivos da

experiência britânica (eficiência, preços módicos e qualidade)...” (p.191). Os principais

elementos que evidenciam este insucesso seriam, entre outros:

a) a manutenção dos patamares tarifários para o consumidor final, existentes na

época estatal, apesar da queda de 30% no preço do carvão (um dos insumos

básicos para a geração de energia), com os ganhos de produtividade sendo

apropriados pelos investidores; e

b) a importância crescente da ação reguladora do Estado.

Rosa e Senra (1995) também apontam para a pressão de organismos mundiais -

em especial o Banco Mundial - no sentido de induzir o país a reformas de caráter

privatizante, sugerindo a existência de interesses outros que a estabilização e o

crescimento nacionais. Esta seria a razão de influenciar, por exemplo, a política

energética nacional para a utilização de fontes alternativas à hidreletricidade (segundo

os autores, um dos fatores que contribuem para o baixo custo da energia elétrica no

Brasil), dado que a construção de hidrelétricas demandam altos investimentos e exigem

longos prazos de maturação, o que não convém a uma política de privatização. Como

conseqüência, é incentivada a construção de termelétricas. Um aspecto, aparentemente,

ignorado por esses organismos, são os problemas ambientais de poluição atmosférica

causados pelas termelétricas. Não esquecendo dos efeitos ambientais causados pelas

hidrelétricas (cujas conseqüências ainda não são totalmente mensuráveis), os autores

apontam que a mitigação dos efeitos da poluição em nível local pode tornar muito alto o

custo da termeletricidade. Também é ressaltada a contribuição desta poluição para o

efeito estufa, o que poderá acarretar problemas políticos internacionais.

Outros pontos contrários ao modelo de reforma adotado para o setor elétrico

seriam (Rosa et alli, 1998) o fato de que as definições efetuadas até o momento serem

insuficientes para assegurar o funcionamento otimizado do setor e gerar os

investimentos, necessários para garantir a expansão da capacidade, previstos como

necessários até o ano 2008 ao menor custo para a sociedade. Outro aspecto é que o

planejamento da expansão passa a ser indicativo, não havendo obrigação de quem quer

que seja na realização dos investimentos definidos neste planejamento. Também é

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apontado (Rosa e Senra, 1995) que o fato de o sistema elétrico brasileiro estar baseado

na energia hidráulica cria um complicador, que é o problema de coordenação entre o

uso da água para fins de geração de energia e para abastecimento de água para cidades,

envolvendo interesses públicos e privados.

Outra crítica contundente é feita à questão tarifária, uma das responsáveis pela

deterioração financeira das empresas estatais. Rosa e Senra (1995) questionam porque

somente após a privatização se está garantindo um mecanismo de remuneração para as

empresas elétricas de uma forma que nunca foi feita quando eram estatais? Além disso,

é esperado que a remuneração do capital atinja 20% ao ano, enquanto antes era

legalmente de 10% a 12% e na realidade 5% ou menos.

No mesmo sentido é a acusação de que estariam sendo aplicadas elevadas (e

injustificadas) taxas de desconto nos fluxos de caixa futuros das empresas para fins de

avaliação fazendo com que seus valores mínimos estejam sensivelmente subavaliados

(Tolmasquim, 1999). Outro aspecto abordado na questão da avaliação (Rosa e Senra,

1995), é o de que as receitas futuras estariam sendo projetadas com base em uma receita

deprimida por tarifas presentes baixas, mas que serão fatalmente corrigidas após a

privatização, ocasionando, também, uma subvalorização da empresa. Além disso, não

estariam sendo consideradas receitas potenciais pela utilização dos ativos operacionais

das empresas em novos negócios (Tolmasquim, 1999).

Analisando os processos das privatizações da CERJ e da Light (Rosa et alli,

1998) e da parceria do Estado de Minas Gerais com investidores privados na CEMIG

(Rosa, 2000), observa-se que os resultados imediatos tem sido bastante diferenciados

para os acionistas, consumidores e trabalhadores do setor. Até o momento, os acionistas

podem ser vistos como os grandes beneficiários imediatos deste processo, tendo em

vista a generosa política de distribuição de lucros adotada pelos novos controladores.

Como conseqüência, reduz-se o volume de capital disponível para investimentos. Além

disso, conforme já mencionado, as cláusulas de indexação das tarifas, fizeram com que

as tarifas da CERJ e da Light tenham subido 16% acima da inflação em 1997 (Rosa et

alli, 1998).

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No caso da CEMIG (Rosa, 2000), uma série de projetos altamente prioritários

para o mercado da empresa e para o setor elétrico jamais saiu do papel, com o

descumprimento sistemático dos prazos de implantação definidos pelo poder

concedente. A justificativa apresentada pelos representantes do sócio estratégico

privado era a falta de financiamentos. Entretanto, a política de dividendos foi

diametralmente oposta ao tratamento reservado aos investimentos; por proposição da

Diretoria Executiva, em 1997 foram distribuídos a título de dividendos e de juros sobre

o capital próprio um total de R$ 273 milhões (88% do lucro do exercício) contra um

investimento líquido (além da depreciação) de R$ 316 milhões, sendo que para 1998 o

total alcançou R$ 558 milhões (116% do lucro líquido) contra um investimento líquido

de R$ 177 milhões. De acordo com o autor, o planejamento dos anos subseqüentes

previa um volume crescente de dividendos, mostrando uma clara orientação de reduzir o

tempo de retorno dos investimentos realizados pelos acionistas privados na compra de

sua participação acionária na empresa.

Outro aspecto relevante, segundo o autor, foi “o desdobramento prático da

aversão ao risco da iniciativa privada nos projetos de longo prazo de maturação” (p.30).

Além da postergação dos investimentos em hidrelétricas, fez parte das diretrizes da

gestão compartilhada a não realização de investimentos em transmissão enquanto não

ficassem efetivamente claras as regras referentes a sua valoração econômica. Isto aponta

para uma modificação da filosofia de atuação da empresa, tradicionalmente marcada

pela missão de serviço público, calcada no aumento da oferta de energia elétrica e no

desenvolvimento regional.

Por fim, são feitas advertências quanto à conveniência de colocar empresas que

atuam em setores estratégicos sob controle externo - o que pode ter conseqüências

indesejáveis para o processo de desenvolvimento soberano e sustentável do país -, além

de se agregar, do ponto de vista macroeconômico, mais uma possibilidade de remessa

de lucros e dividendos para o exterior por um setor de atividade que, de maneira geral,

não gera divisas para o país, agravando, assim, no médio e no longo prazos, o já elevado

comprometimento externo da economia brasileira (Tolmasquim, 1999).

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Quanto ao desempenho apresentado por empresas após serem privatizadas, os

resultados obtidos por Lima (1997) evidenciam uma melhor performance após a

privatização para a maioria das empresas estudadas; esta melhor performance superou,

inclusive, a melhoria de desempenho de empresas privadas no mesmo período. O autor

atribui um papel significativo à melhoria gerencial que teria sido observada nessas

empresas; ressalva, entretanto, que a liberalização dos preços e a reestruturação das

empresas antes da privatização também foram importantes para a melhoria do

desempenho.

Segundo os resultados obtidos por Pinheiro (1996), há claras indicações de uma

significativa melhoria do desempenho das empresas com a privatização. De acordo com

esses resultados, eles apontam que a privatização: a) levou a um aumento do nível de

produção das empresas; b) aumentou a eficiência das empresas; c) elevou a

lucratividade das empresas; d) levou a uma melhoria de indicadores financeiros; e)

estimulou um aumento dos investimentos e da propensão a investir; e f) levou a uma

redução do emprego. Para o autor, entretanto, para se extrair o máximo de benefícios da

privatização, é preciso entender que esta não se encerra na venda das empresas; é

necessário garantir os incentivos corretos para uma eficiente atuação das empresas - aí

incluídas a liberalização comercial, o estímulo à concorrência e mecanismos eficientes

de regulação.

Também Matos Fº e Oliveira (1996) apontam que algumas empresas

privatizadas apresentaram sensível melhoria nos desempenhos operacional e financeiro.

Tais melhorias seriam decorrentes, dentre outros, de um aumento da racionalidade

administrativa - que reduziu os níveis hierárquicos e permitiu um modelo de gestão

menos burocrático, reduzindo custos -, de uma maior racionalização dos serviços

administrativos e dos processos industriais, além da independência estratégica - que

oportunizou novos negócios.

Na visão de Carvalho (2001), a análise do programa de privatização brasileiro

revela efeitos bem positivos sobre as contas públicas e sobre as empresas que

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permanecem estatais, supondo-se que as empresas privatizadas manteriam seus padrões

de resultado. Conforme o autor:

“Um efeito indireto da privatização sobre a dívida e o déficitpúblicos consiste na melhoria do desempenho das empresasestatais. Isso ocorre por dois motivos: primeiro, porque as estatais- “candidatas” ou não à privatização - tendem a passar por ajustespatrimoniais e financeiros, que resultam na melhora de váriosindicadores financeiros, entre os quais seus índices derentabilidade; e segundo, porque uma vez privatizadas (ouliquidadas) as estatais deficitárias, o conjunto de empresas quepermanecem sob controle do governo apresenta resultadosmelhores do que na situação pré-privatização. Com o avanço doprograma, muitas variáveis melhoraram sensivelmente” (p. 71).

Ainda segundo Carvalho (2001), verificou-se aumento na rentabilidade do

conjunto de empresas que permaneceram estatais, e que as empresas tornaram-se mais

rentáveis no período pré-privatização, em função de eventuais reestruturações e

saneamentos financeiros que não poderiam mais ser postergados. Conforme o autor,

“No final de 1999, as necessidades de financiamento das estatais tornaram-se

superavitárias para o conjunto de empresas estatais, pela primeira vez. Com isso, as

estatais, que contribuíam negativamente na contabilização das NFSP [Necessidade de

Financiamento do Setor Público], passaram a contribuir positivamente” (p.71).

Entretanto, Carvalho (2001) alerta que “não se deve pensar que a privatização

resolve, por si, problemas fiscais de natureza estrutural e/ou que esta sinalize uma

mudança permanente na postura fiscal do governo” (p.70). O autor aponta que a

privatização afeta a restrição orçamentária intertemporal do governo, de tal forma que,

para garantir uma melhora duradoura da posição fiscal, é necessário que a privatização

seja acompanhada de políticas de estímulo à competição e mecanismos de regulação

eficazes. Assim, para que os eventuais resultados obtidos no presente possam ser

mantidos no futuro, são necessários incentivos à melhoria da eficiência, aumentos de

produção, lucratividade, investimentos e propensão a investir, além da promoção da

competição e do desenho de um eficiente aparato regulatório. Caso isso não ocorra,

dentro de pouco tempo verificar-se-á que os ganhos obtidos com as alienações de ativos

foram suficientes apenas para conter de forma provisória a trajetória da dívida pública;

nesse caso, todo o esforço realizado poderá ser perdido num futuro não muito distante.

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A presente seção fez um apanhado geral das mudanças do contexto nacional

ocorridas desde o estudo de Gomes (1983) até o presente, no que diz respeito à evolução

do processo de desestatização de empresas pertencentes à União. Assim, inicialmente

foram apresentadas algumas das causas que explicariam a forte presença estatal

observada até meados da década de 80; a seguir, foram explorados os motivos que

teriam levado os governos que sucederam o regime militar a privatizar empresas, tendo

sido verificado que tais motivos variaram de acordo com o governo. Também foram

apresentados os resultados obtidos ao longo desse processo. Por fim, foi apresentado um

debate quanto aos aspectos positivos e críticos da privatização.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste capítulo é apresentar o construto teórico utilizado na pesquisa

para fundamentar o estudo, através de uma revisão de literatura sobre Controle

Gerencial, em especial a evolução observada a partir do início da década de 80.

2.2 AS ABORDAGENS AO ESTUDO DOS SISTEMAS DE CONTROLE

GERENCIAL

2.2.1 Considerações iniciais

Segundo Otley et al. (1995), as raízes do controle gerencial encontram-se nos

primórdios do pensamento administrativo, sendo bastante reconhecida a influência dos

trabalhos de Weber, Durkheim e Pareto no desenvolvimento da administração. Além

disso, apontam para o trabalho de Mary Parker Follet como origem de muitas idéias da

moderna teoria de controle. De acordo com Follet, o gerente não controla elementos

isolados, mas complexas interrelações e propõe que a base para o controle deve

fundamentar-se na auto-regulação, auto-direção de indivíduos e grupos que

compartilhem interesses e objetivos comuns (Otley et al., 1995, p. S33). Além disso,

Follet via coordenação como o relacionamento recíproco de todos os fatores envolvendo

o contato direto de todas as pessoas. A aplicação destes princípios fundamentais de

organização era a atividade de controle em si, que significava assegurar um desempenho

previsível para a organização.

De acordo com Gomes (1983) e Spiller (1990), as primeiras referências na

literatura relacionadas a controle gerencial remontam ao início do século XX, sendo que

a preocupação básica era encontrar a melhor maneira de exercer o controle de forma

válida para qualquer tipo de organização. São exemplos destas abordagens as obras

clássicas de Taylor, Fayol, Emerson e Church, embora, conforme Otley et al.(1995),

contribuições anteriores possam ser identificadas. Nessas abordagens, conforme Gomes

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e Amat (1999), o homem era concebido como um apêndice de máquina ou ocupante do

cargo, sendo motivado apenas por recompensas e sanções salariais. O controle

gerencial, para esses autores, era considerado como controle financeiro, direcionado às

atividades e não às pessoas (p.29-30).

Para Otley et al. (1995), o que parece caracterizar os estudiosos daquela época é

uma atenção para problemas reais, uma abordagem científica centrada na compreensão

e na análise conceitual e um desejo de resolver problemas. Sua contribuição para o

controle gerencial reside na atenção que dispensaram à autoridade e ao accountability, a

consciência da necessidade de modelos analíticos e orçamentários para controle fazendo

a ligação entre custos e atividades operacionais, e separando a contabilidade de custos

da contabilidade financeira - tornando-se a primeira a precursora da contabilidade e

controle gerencial.

“Embora estes estudiosos tenham perseguido aracionalidade da ação econômica e procurado por soluçõesuniversais, suas idéias continuam presentes e formam abase de muitos trabalhos na área, várias delas refletidas notrabalho de Robert Anthony”. (Otley et.al. 1995, p. S34).

No decorrer do século XX, o termo controle assumiu diversos significados de

acordo com os contextos onde foram empregados. Resumindo esta diversidade, Gomes

(1983), citando Reeves e Woodward, aponta que:

“Na literatura relativa ao comportamento organizacionalhá uma ambigüidade no uso da palavra controle. Aconfusão torna-se muito grande porque controle podesignificar também dirigir. Precisamente definido controlerefere-se somente à tarefa de assegurar que as atividadesproduzam os resultados desejados, controle nesse sentido élimitado a monitorar o produto das atividades revendo ofeedback da informação a respeito deste produto e senecessário, tornando a ação corretiva”. (Reeves eWoodward apud Gomes, 1983, p. 29)

Berry et alii (1995) consideram que "o estudo do controle organizacional (...)

envolve considerável complexidade e está sujeito aos caprichos do comportamento

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humano. Contudo, está aberto a análises e tem sido abordado de diferentes maneiras" (p.

8).

No mesmo sentido, Gomes (1983) e Gomes & Amat (1999), após uma extensa

revisão da literatura produzida até então, mencionam que a partir do período

compreendido pelas décadas de 60 e 70 a literatura sobre controle de gestão

experimenta uma fase de grande expansão observando-se o surgimento de escolas de

pensamento que procuram abordar o assunto de forma sistemática,

"objetivando a construção de um corpo de princípios quepossam ser usados em trabalhos de pesquisa ou no designde sistemas de planejamento e controle, com predomíniodo uso de modelos quantitativos e ainda fortementeinfluenciados pelas idéias oriundas da escola deadministração científica do início do século" (Gomes eAmat, 1999, p.32).

Relatam, ainda, que durante a década de 70 e início de 80 ocorreram tentativas

de desenvolver planos de referência sobre controle de gestão que tiveram repercussão

nos meios acadêmicos e empresariais.

Macintosh (1994), por sua vez, em sua proposta de estudar os sistemas de

controle gerencial a partir de uma abordagem sociológico-organizacional, apresenta

cerca de vinte abordagens agrupadas em cinco paradigmas. Para o autor, nenhuma delas

apresenta a verdade absoluta; as questões e problemas encontrados na prática são

extremamente mais complexos do que as soluções, em geral, propostas, merecendo

formas sofisticadas de entendê-los e devendo ser olhados a partir de múltiplas

perspectivas.

Do exposto até o presente momento, depreende-se a dificuldade da tarefa de

sistematizar o estudo do controle gerencial. No quadro 2.1, é apresentado de forma

resumida as sistematizações apresentadas por Berry et alii (1995), Gomes e Amat

(1999), Drury e McWatters (1998) e Macintosh (1994).

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Berry et alii (1995) Gomes e Amat (1999) Drury e McWatters (1998) Macintosh (1994)

- cibernética e de sistemas;

- mainstream;

- social;

- organizacional.

- perspectiva racional;

- perspectiva psicossocial;

- perspectiva cultural;

- perspectiva estratégica.

- paradigma feedback;

- paradigma adaptativo;

- paradigma estratégico;

- paradigma da cadeia de

valor;

- paradigma cinético

- estrutural-funcionalista;

- estruturalista radical;

- interpretativista;

- humanista radical;

- pós-estruturalista

Quadro 2.1: As abordagens ao estudo do controle gerencial.

Para ilustrar a complexidade destas sistematizações, basta mencionar que o

trabalho de Anthony (1965), que será objeto de análise a seguir, é enquadrado na

abordagem mainstream de Berry et alii (1995), na perspectiva racional de Gomes e

Amat (1999), no paradigma feedback de Drury e McWatters (1998) e no paradigma

estrutural-funcionalista de Macintosh (1994).

Independentemente da forma como o estudo de controle gerencial é

sistematizado, parece, entretanto, incontestável que a primeira abordagem que,

efetivamente, se tornou referência na área de controle gerencial foi o trabalho de

Anthony (1965), o qual é analisado mais detalhadamente a seguir.

2.2.2 O plano de referência de Anthony

Na visão de Berry et alii (1995), a primeira tentativa de formalizar a área de

controle gerencial como objeto de estudo foi a obra de Anthony (1965) e suas

respectivas revisões e atualizações - atualmente em sua 10ª edição lançada em 2002. A

abordagem de Anthony - denominada por Berry et alii (1991) de mainstream -

estabeleceu uma estrutura (framework) de processos de controle dentro da organização

com o objetivo de limitar a noção de sistema de controle gerencial.

Para Otley (1994), o termo “controle gerencial” deve muito de sua atual

conotação ao estudo de Anthony (1965) no qual controle gerencial distingue-se de

planejamento estratégico e controle operacional, estando situado em uma posição

intermediária. O planejamento estratégico relaciona-se com a definição de metas e

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objetivos que englobam toda a organização no longo prazo. Em contrapartida, o

controle operacional relaciona-se com as atividades que asseguram que as tarefas

imediatas sejam realizadas. O controle gerencial faz a ligação entre esses dois níveis

(Otley et al., 1995, s32). Para Otley (1994), tal divisão apresentou duas vantagens:

colocou de lado a questão da determinação dos objetivos das organizações e os

processos utilizados para a formulação e redefinição de estratégias e evitou a variedade

de situações específicas que precisariam ser consideradas quando controles operacionais

específicos são observados. Isto permitiu que o controle gerencial pudesse ser estudado

sem deter-se em complicações desnecessárias (Otley, 1994). A definição clássica de

Anthony (1965):

“Controle gerencial é o processo pelo qual osadministradores se asseguram que os recursos são obtidose usados eficaz e eficientemente de acordo com osobjetivos da organização” (p.17).

Ao longo dos anos esta definição foi aperfeiçoada passando a incorporar

elementos comportamentais. Nas edições mais recentes de sua obra a definição de

controle gerencial passou a ser:

... o processo pelo qual os administradores influenciam osoutros membros da organização a implementar asestratégias da organização. (Anthony & Govindarajan,1998, p. 6).

Este processo envolve diversas atividades tais como: a) planejar o que a

organização fará, b) coordenar as atividades das diversas partes da organização, c)

comunicar as informações, d) avaliar informações, e) decidir qual a ação a ser tomada e

f) influenciar as pessoas a mudar seus comportamentos.

Anthony & Govindarajan (1998) apontam que, embora sistemático, o processo

de controle não é mecânico, pois envolve a interação entre pessoas. Segundo os autores,

os gerentes (e os funcionários, de modo geral) possuem objetivos pessoais e o problema

central do controle é induzi-los a agirem de tal maneira que, quando procurarem seus

objetivos pessoais, eles ajudem a alcançar os objetivos da organização. Isto é

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denominado de goal congruence, que significa que, tanto quanto possível, os objetivos

dos membros da organização devem ser consistentes com os da organização como um

todo. Alertam, contudo, que é impossível obter uma congruência perfeita.

A impossibilidade de obter a perfeita congruência entre os objetivos individuais

e os da organização decorreria da existência de processos informais, que concorreriam

com os sistemas formais, que influenciam o comportamento humano dentro da

organização. Estes processos informais têm origem externa e interna à organização. Os

fatores de origem externa seriam as normas de comportamento desejável que existem na

sociedade da qual a organização faz parte. Estes comportamentos podem ser específicos

de uma determinada localidade, região ou país ou então específicos de um determinado

ramo de negócios. Dentre os fatores de origem interna o mais importante é a cultura

organizacional. Por cultura organizacional é entendido o conjunto de crenças, atitudes,

normas, relações e valores que são explícita ou implicitamente aceitos dentro da

organização.

Embora Anthony & Govindarajan (1998) reconheçam as questões

comportamentais como importantes fatores a serem levados em consideração para fins

de controle, a sua obra é principalmente voltada para a discussão dos sistemas formais

de controle, baseando-se fortemente em instrumentos contábeis e financeiros. O foco da

sua atenção acerca da estrutura organizacional está fortemente baseado no conceito de

centros de responsabilidade. Assim, a eficácia de um sistema de controle decorre de

uma precisa definição de indicadores ou unidades de medida, relacionadas às principais

variáveis-chave e às responsabilidades de cada unidade organizacional. Pela definição e

comunicação clara dos objetivos e planos, seguidas de uma posterior análise dos

desvios, assegura-se que cada responsável oriente-se para o alcance dos objetivos

globais da organização.

Otley et al. (1995) apontam que, se por um lado, a separação do controle

gerencial dos demais processos de controle (planejamento estratégico e controle

operacional) apresentou algumas vantagens, por outro tornou a abordagem de Anthony

um tanto restritiva. O primeiro aspecto refere-se ao problema de definição de

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estratégias, metas e objetivos. Segundo Otley et al. (1995), tais procedimentos são

tipicamente complexos e pobremente definidos, sendo claro que Anthony estava

consciente dos problemas de ambigüidade e incerteza quando colocou tais tópicos sob o

domínio da estratégia, evitando maiores considerações. O segundo problema refere-se

aos métodos usados para controlar os processos de produção, que são altamente

dependentes da tecnologia específica utilizada. Anthony convenientemente relegou tais

considerações para o domínio do controle operacional. Por fim, o livro de Anthony se

concentrou em planejamento e controle a partir da ótica contábil, contendo pouca ou

nenhuma discussão dos aspectos socio-psicológicos e comportamentais, apesar de ter

destacado a importância deste último.

Para Otley (1994), a abordagem de Anthony, separando o controle gerencial de

outros processos de controle, teve dois efeitos imprevistos. Inicialmente, apesar de

Anthony ter sido específico em sugerir que a disciplina básica para o estudo de controle

deveria ter origem nas ciências comportamentais, isto rapidamente tornou-se restrito à

contabilidade, embora com um “tempero” comportamental. Em segundo lugar, ao evitar

abordar um tipo específico de atividade, os estudos concentraram-se em grandes e

hierarquizadas organizações, geralmente industriais. Por outro lado, a abordagem de

Anthony enfatizou as propriedades sistêmicas de sistemas de controle desenhados para

atingir um grau de coerência nas atividades organizacionais; isto proporcionou um

quadro de referência que orientou as atenções para aquelas atividades gerenciais

destinadas a atender os objetivos organizacionais (Otley, 1994, p.290).

De acordo com Gomes & Amat (1999), as principais implicações para o desenho

de sistemas de controle de gestão baseados em Anthony seriam: a) a função central do

sistema de controle é a motivação; b) o sistema deve ser desenhado de tal forma que

possa servir de guia para o administrador tomar decisões e agir de modo consistente

com os objetivos da organização; c) planejamento estratégico, controle gerencial e

controle operacional tendem a corresponder a uma hierarquia em qualquer das diversas

dimensões; d) controle de gestão é visto como uma função de linha; e) a moeda é o

denominador comum como medida de valor; e f) o sistema pode ser desenhado tanto

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para empresas privadas como para empresas públicas, não sendo indicado para

pequenas empresas.

O quadro de referência de Anthony pode ser visto como um exercício preliminar

com o objetivo de esclarecer conceitos e a área de estudos, razão pela qual foram

colocados limites. Em uma área complexa foi, provavelmente, um primeiro passo

significativo, contudo, estreitou grandemente o escopo do assunto (Otley et al., 1995, p

S32).

Ainda segundo Otley (1994), o quadro de referência proposto por Anthony

influenciou profundamente a prática norte-americana refletindo-se, ainda que em menor

escala, sobre a prática inglesa. A transição observada da grande organização unitária

para as formas multi-divisionais foi muito bem documentada e muitas das práticas de

controle gerencial observadas pareceram se adequar bem a este tipo de organização.

Esta ênfase pôde ser também observada nos livros-textos sobre controle gerencial, onde

uma proporção considerável dos textos era (e ainda é) dedicada a questões relacionadas

à mensuração de desempenho divisional. Ênfase especial é dedicada à montagem de

centros de responsabilidade cujo desempenho é responsabilidade de um gerente. A

ilusão de independência dos centros de responsabilidade é reforçada pela adoção de

práticas contábeis, tais como preços de transferência, que preserva a ficção de

independência, mesmo quando existe um considerável grau de interdependência (Otley,

1994, p. 290). O princípio fundamental é tornar os gerentes responsáveis apenas pelas

atividades que podem ser controladas por eles, levando ao desenvolvimento de

relatórios contábeis que façam a distinção entre o desempenho gerencial (controlável) e

o desempenho da unidade como um todo.

No mesmo sentido, Gomes e Amat (1999) afirmam que, embora seja alvo de

várias críticas relacionadas à falta de clareza entre as relações entre eficácia e controle,

grande parte das técnicas administrativas ainda em uso (custos, orçamentos) são

baseadas nesta perspectiva.

Na prática, entretanto, observou-se que as prescrições de Anthony não foram

totalmente atendidas. Otley (1994) menciona estudos de Merchant e de Otley mostrando

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que tanto nos Estados Unidos, quanto na Inglaterra, os gerentes costumavam ser

responsabilizados por desempenhos envolvendo eventos completamente fora de seu

controle. Outro aspecto apontado se refere ao fato de que as práticas genéricas prescritas

na literatura de controle gerencial jamais poderiam ser aplicadas completamente em

organizações pequenas, nem em organizações fora da tradição Anglo-Americana. Além

disso, conforme Otley (1994), independentemente da extensão em que as afirmações

anteriores estejam corretas, é importante notar que as organizações contemporâneas não

mais se ajustam ao padrão assumido pela literatura tradicional de controle gerencial. As

organizações atuais são menores, menos diversificadas, menos hierarquizadas e

apresentam muito mais interdependências internas que a teoria tradicional admite. Desta

maneira, as premissas e a linguagem usadas no paradigma tradicional de controle

gerencial está cada vez mais distante das questões e problemas enfrentados pelas

organizações atuais.

2.2.3 Outras contribuições relevantes

Segundo Gomes e Amat (1999), além do trabalho de Anthony alguns outros

estudos podem ser destacados pelo seu impacto no desenho de sistemas e construtos

teóricos sobre controle gerencial. Dentre estes, dada a importância de seus aportes, são

mencionados os trabalhos de Lorange e Morton (1974), Hofstede (1981) e Flamholtz

(1979). Berry et alii (1995) apontam uma série de outros estudos que trazem

contribuições relevantes ao campo de estudo. Alguns desses são apresentados a seguir.

2.2.3.1 O plano de referência de Lorange e Morton

Para Lorange e Morton (1974) o propósito fundamental de um sistema de

controle de gestão é ajudar a administração na consecução dos objetivos da organização

provendo-a de uma estrutura formalizada para: a) a identificação de variáveis de

controle pertinentes; b) o desenvolvimento de bons planos de curto prazo; c) o registro

do nível de desempenho dos planos de curto prazo em relação ao conjunto de variáveis

de controle; d) o diagnóstico dos desvios.

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Conforme Lorange e Morton (1974) as variáveis de controle formam o conteúdo

do plano de curto prazo, representando as metas da organização e determinando o que

deverá ser acompanhado. A escolha das variáveis de controle é feita com base na

estrutura organizacional, no pessoal, na tecnologia e no ambiente externo, o que confere

à organização a possibilidade de adaptar-se a mudanças ocorridas no contexto social

externo.

Nesta abordagem a preocupação é com: a) a evolução dos padrões

organizacionais – de estruturas divisionalizadas às estruturas multidimensionais; b) o

uso de variáveis não monetárias como uma parte regular do sistema de controle formal;

c) a ligação entre planejamento e controle e entre controle e operações.

De acordo com Gomes e Amat (1999), na visão de Lorange e Morton, não existe

uma melhor forma de controle, este dependendo das características ambientais

relevantes para a organização. Esta visão enfatiza as dificuldades que são enfrentadas no

projeto de sistemas de controle gerencial e que podem ser resumidas em: a) a crescente

instabilidade do ambiente externo, obrigando a uma ligação mais estreita entre o sistema

de controle gerencial e o sistema formal de planejamento, além de gerar a necessidade

de utilização de um maior conjunto de variáveis de controle não-monetárias; b) a

crescente diversificação das organizações, criando formas organizacionais cada vez

mais complexas que operam em ambientes turbulentos e em diferentes tipos de

negócios, exigindo sistemas de planejamento e controle flexíveis.

2.2.3.2 A abordagem de Hofstede

Conforme Gomes e Amat (1999), o trabalho de Hofstede pode ser dividido em

duas etapas: o estabelecimento de um modelo alternativo de controle em oposição ao

modelo cibernético e a proposta de um plano de referência para organizações sem fins

lucrativos.

Para Hofstede (1981), o modelo cibernético não é aplicável a organizações

prestadoras de serviços, assim como todas aquelas em que seja difícil o estabelecimento

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de padrões de desempenho, como por exemplo, escolas, hospitais, entre outras. O

modelo alternativo de controle, denominado de homeostático, requer mudanças na

filosofia de controle da empresa, pois se baseia em uma ampla visão de um processo

sociopsicológico bastante distinto dos sistemas tradicionais. O controle rígido é

substituído por um sistema de controle baseado em grupos semi-autônomos, onde são

realçados: a) os objetivos das pessoas e não da organização – considerando-se a

possibilidade de congruência; b) as medidas das realizações, as quais devem considerar

outros argumentos; e c) o feedback sobre a informação não é usado – procura-se corrigir

o processo visto que os resultados não são passíveis de modificação. A essência dessa

abordagem está centrada em variáveis políticas, como negociação, valores e aspectos

julgamentais.

Da mesma maneira, os sistemas de controle gerencial de organizações sem fins

lucrativos não podem ser os mesmos desenvolvidos para outras formas de organização.

Para tanto, Hofstede (1981) desenvolve um plano de referência específico para tal tipo

de organização. A fim de determinar o tipo de controle aplicável a tais atividades devem

ser analisados os seguintes aspectos inerentes à atividade objeto do controle: a) a

ambigüidade dos objetivos; b) a possibilidade de mensuração dos resultados; c) o

conhecimento sobre os efeitos das intervenções; d) a repetitividade das atividades.

Para Hofstede (1981), a determinação da ambigüidade ou não dos objetivos é o

critério mais crucial para o projeto do sistema de controle de gestão, pois controle

pressupõe a existência de um objetivo. A ambigüidade de um objetivo pode ser

explicada: a) pela existência de conflitos de interesses e/ou valores entre aqueles que

têm alguma coisa a ver com a atividade, uma vez que os indivíduos têm percepções

diferentes de uma mesma realidade; b) pela falta de conhecimento a respeito da relação

entre meios e fins, na qual a atividade representa o meio; c) pelas rápidas mudanças no

meio ambiente que forçam a definição de novos objetivos ou tornam os existentes

obsoletos, sem sugestão de novos objetivos. Desta maneira, somente não haveria

ambigüidade em atividades nas quais exista um consenso entre os membros da

organização quanto à atividade a ser desempenhada, consenso este baseado em uma

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tradição compartilhada ou em uma aceitação inquestionável da autoridade que fixa os

objetivos ou, ainda, quando a autoridade tem poder suficiente para impor os objetivos.

No que diz respeito à possibilidade de mensuração dos resultados, Hofstede

(1981) nota que controle gerencial pressupõe que os resultados de uma atividade podem

ser identificados e comparados com objetivos estabelecidos e que esta informação pode

ser usada para redirecionar os esforços aplicados na atividade, se necessário. Ocorre,

porém, que muitas atividades apresentam resultados que só podem ser definidos em

termos qualitativos e vagos. Nestes casos, somente os recursos alocados à atividade

podem ser medidos, mas não os resultados.

O conhecimento dos efeitos das intervenções administrativas implica em que a

“tecnologia” da atividade seja compreendida pelos administradores, tendo em vista que

um sistema de controle de gestão eficaz pressupõe que os recursos alocados a uma

atividade podem ser redirecionados, se o resultado não alcançar os objetivos

estabelecidos. De acordo com Hofstede (1981), há uma irredutível incerteza em muitas

políticas de decisão que não pode ser quantificada dentro de uma perspectiva de risco.

Por fim, a repetição das atividades provê um “efeito aprendizado” que

progressivamente facilita o controle. Isto se aplica não somente a atividades cíclicas,

mas também àquelas atividades em que haja mudança na configuração dos elementos

repetitivos.

Estes quatro critérios, conforme se encontrem combinados, ensejarão um

determinado tipo de controle qual seja: controle rotineiro, controle técnico, controle por

tentativa e erro, controle intuitivo, controle julgamental ou controle político.

De acordo com Hofstede (1981), a situação de controle mais simples é aquela

em que a análise dos quatro critérios acima comentados satisfaz os requisitos: os

objetivos não são ambíguos, os resultados são mensuráveis, os efeitos das intervenções

são conhecidos e a atividade é repetitiva. Neste caso, aplica-se o controle rotineiro, o

qual pode ser prescrito de maneira precisa, através de regras e normas e que pode ser

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conduzido pelo pessoal operacional. Quando as atividades não são repetitivas e as

demais condições permanecem, o controle pode ser confiado a alguém para quem

aquela atividade seja repetitiva, isto é, alguém que tenha experiência prévia com a

atividade; esta pessoa seria um especialista e o tipo de controle exercido é denominado

de técnico.

Quando os efeitos das intervenções não são conhecidos, mas a atividade é

repetitiva, a organização desenvolve seu processo de controle a partir da análise ex post

de seus sucessos e fracassos; o controle é por tentativa e erro. Entretanto, quando os

efeitos das intervenções não são conhecidos e as atividades não são repetitivas, não há

como aprender da experiência passada; assim, o controle intuitivo é recomendado,

embora este seja considerado muito mais uma arte do que uma ciência. A questão

crucial passa a ser encontrar pessoas com essa capacidade intuitiva. Quando os

resultados não podem ser medidos e não existem medidas indiretas que possam ser

usadas como substitutas, o controle passa a ser uma questão de julgamento subjetivo. O

controle julgamental é dependente da estrutura de poder e influência existente na

organização; se existe um juiz supremo cujo julgamento é a base para a intervenção. Se

os julgamentos têm que ser negociados antes da intervenção ou se nenhum julgamento é

possível antes da intervenção, então o controle só ocorre por acidente.

Finalmente, quando os objetivos são ambíguos tem-se o caso mais difícil de

controle. Neste caso, o controle é sempre político, dependente das estruturas de poder e

da capacidade do pessoal de topo em reduzir a ambigüidade. As organizações têm meios

de resolver as ambigüidades, transformando as incertezas externas em certezas internas

e, assim, proceder de uma das maneiras antes descritas. A solução das ambigüidades

pode ser alcançada das seguintes maneiras: a) uso da hierarquia, na qual os níveis mais

altos fixam os objetivos para os níveis mais baixos, tornando-os não ambíguos; b) uso

de regras e políticas fixas que, embora sejam escolhas arbitrárias, criam um cenário

quase não ambíguo; c) criar um processo de negociação a fim de reduzir os conflitos de

interesses e valores individuais; d) uso de técnicos e/ou consultores, a fim de reduzir a

falta de conhecimento acerca das relações entre meios e fins; e e) controlar por crises,

ou seja, deixar que uma situação de crise se instale levando a organização a um estado

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de stress. Nestas circunstâncias, as alternativas de solução se reduzem e esta redução faz

com que a situação se pareça menos ambígua.

De acordo com Spiller (1990), os três primeiros tipos de controle podem ser

representados por modelos informáticos; os demais exigem modelos mais complexos e

menos determinísticos.

De acordo com Gomes e Amat (1999), as conclusões práticas desta abordagem

conduzem a análise dos sistemas de controle de gestão aos seguintes pontos: a natureza

de uma situação de controle deve ser estudada e analisada profundamente antes de

prescrever o modelo de controle apropriado; e diferentes modelos podem ser aplicados a

diferentes atividades dentro de uma mesma organização. A não observação desses

pontos pode levar a empresa a incorrer em erros na implantação de seu sistema de

controle, quais sejam: erro tipo I - não usar modelos cibernéticos onde a situação assim

o requer; e erro tipo II - usar uma abordagem cibernética quando seu uso não é indicado.

Para Hofstede (1981), erros do tipo I são freqüentes em entidades públicas do

setor não produtivo e organizações sem fins lucrativos, visto que em suas subculturas

organizacionais a preocupação com custo e eficácia tem sido, tradicionalmente,

esquecida. Por outro lado, erros do tipo II, menos freqüentes, podem causar sérios

problemas. Estes erros, normalmente, ocorrem quando são introduzidas técnicas de

grande alcance que objetivam aperfeiçoar o processo de controle gerencial do tipo

julgamental ou político, através de programas baseados em modelos cibernéticos.

2.2.3.3 A abordagem de Flamholtz

Flamholtz (1979) considera controle de gestão como sendo o processo de

influenciar o comportamento dos membros de uma organização formal. Para tanto, o

sistema de controle é definido como um conjunto de mecanismos projetado para

aumentar a probabilidade de as pessoas se comportarem de modo a alcançar os

objetivos da organização. Não se trata de controlar o comportamento das pessoas de

maneira predeterminada, mas de influenciá-las a tomarem decisões e agirem de forma

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consistente com os objetivos da organização. Assim, o objetivo do sistema é aumentar o

grau de goal congruence.

Nesta abordagem, a motivação de indivíduos ou grupos é o elemento-chave;

desconsiderar este aspecto no projeto de um sistema de controle provavelmente fará

com que as pessoas tomem decisões que estejam relacionadas a seus objetivos e

necessidades pessoais, mas não necessariamente aos objetivos organizacionais. A

função primária de um sistema de controle é reduzir este conflito.

Uma segunda função gerencial de um sistema de controle é a coordenação dos

esforços das diversas partes de uma organização. Isto envolve a comunicação de

informações relevantes a cada unidade de modo a compreenderem o que é esperado

delas.

A terceira função de um sistema de controle é a de permitir a descentralização

das operações rotineiras da organização. Isto reduz o envolvimento da alta

administração nestas operações, criando, por outro lado, a necessidade de desenvolver

medidas de avaliação de desempenho das unidades, agora responsáveis diretas pelas

operações.

A quarta função de um sistema de controle é prover feedback na identificação de

problemas verificados nas operações realizadas nas unidades, de modo a possibilitar a

correção dos desvios e reforçar os resultados positivos.

Nesta abordagem, a avaliação da eficácia de um sistema de controle pode ser

feita observando-se se o seu projeto satisfaz aos seguintes critérios: a) validade

comportamental, que se refere ao modo pelo qual um sistema de controle conduz ao

comportamento a que ele se propõe conduzir; b) confiabilidade comportamental, que se

refere ao ponto até o qual um sistema de controle produz repetidamente o mesmo

comportamento independente do fato deste comportamento ser visado ou não; c)

relevância comportamental, que se refere à capacidade do sistema de controle identificar

todos os comportamentos ou objetivos relevantes que são requeridos pela organização.

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Se o sistema não os identifica a todos e os procura controlar, então as pessoas podem

tão somente não dirigir seus esforços no sentido de um comportamento desejado,

porque estes não são controlados.

A falta de consideração destes aspectos comportamentais no projeto do sistema

de controle resulta nos denominados “comportamentos disfuncionais”, os quais podem

se caracterizar por: a) deslocamento de metas, que se refere a uma falta de congruência

de metas criada pela motivação no sentido de atingir algumas metas da organização em

detrimento de outras; e b) mensurabilidade, que envolve a manipulação das medidas

usadas pelo sistema de controle de modo a parecerem boas aos olhos da administração.

2.2.3.4 Outras abordagens de interesse

Segundo Berry et alii (1995), além dos autores já mencionados, existem diversos

outros que abordaram o problema do controle usando diversas abordagens sociais e

organizacionais. Tais abordagens procuram situar controle em seu contexto e, assim, de

várias maneiras, levar em consideração as estruturas, as pessoas envolvidas e o

ambiente das organizações.

De acordo com Berry et alii (1995), Hopwood focou a noção de controle,

enfatizando que o controle de uma organização envolve controles administrativos,

sociais e auto-controle. Os controles contábeis - base da obra de Anthony - estariam

enquadrados na categoria administrativa. Desta maneira, a obra de Hopwood

providenciou uma "ponte" entre a abordagem clássica e as idéias da literatura

antropológica. Para Hopwood (apud Berry et alii (1995, p. 20), "controles sociais são

aqueles que estão refletidos nas perspectivas sociais e nos padrões de interação social".

Dito de outra forma, são os elementos que definem a maneira como as coisas são feitas

em um determinado lugar. Desta maneira, o controle organizacional não pode ser obtido

sem levar em conta estes padrões e normas de interação social.

Em sentido semelhante, Merchant (apud Berry et alii, 1995, p. 20), afirma que

"controle é visto como tendo uma função básica: ajudar a assegurar o comportamento

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apropriado das pessoas na organização.... envolve influenciar o comportamento

humano". Usando as noções de controle de resultados, controle de ações e controle

pessoal (que inclui controles sociais e auto controle), Merchant conclui que múltiplas

formas de controle são desejáveis, de acordo com a situação que se apresenta.

O tema "social" também é abordado nos trabalhos de Etzioni e Ouchi. Para

Etzioni (apud Berry et alii, 1995), existem três fontes de controle: coerção, econômica e

normativa. Todos existem nas organizações, porém alguns podem predominar em

determinados períodos ou em determinadas situações. O trabalho de Etzioni está

centrado na noção de poder e poder é o meio de fazer com que as pessoas cumpram com

o que foi determinado; e isto é um mecanismo de controle. O envolvimento que as

pessoas tem com as organizações tem diferentes bases e a maneira como o controle é

exercido vai depender do tipo de envolvimento. Isto sinaliza a natureza pluralista do

controle e levanta a possibilidade de que diferentes pessoas poderão responder

diferentemente às várias abordagens.

Na abordagem organizacional, uma área de interesse é a que liga a Teoria da

Contingência ao controle. Esta teoria sustenta que não há uma "melhor maneira" de

abordar as organizações e que o desenho organizacional deve refletir o ambiente na qual

ela se encontra inserida. Embora vários questionamentos sejam feitos a esta teoria, ela

aponta que os administradores e controllers devem levar em consideração variáveis do

ambiente da organização.

Por fim, de acordo com Berry et alii (1995), um grupo de autores focou seu

trabalho exclusivamente no aspecto social, trazendo a noção de "cultura" para a área da

administração. Para os autores, a literatura antropológica relevante para controle é

bastante diversa; embora todos concordem quanto a sua importância, alguns vêem a

cultura como uma ferramenta a ser usada pelos administradores. Outros a vêem como

uma influência restritiva, principalmente em situações de mudança. Isto significa que

uma determinada cultura pode ser um controle útil em situações em que não ocorram

mudanças; quando uma mudança é necessária, ela somente não será problemática

quando não afetar a cultura existente. Embora esta abordagem falhe em fornecer

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indicações quanto à estrutura de um sistema de controle, ela fornece boas indicações do

caminho a seguir para identificar controles particulares em situações particulares.

Neste mesmo sentido, Gomes e Amat (1999) apontam que a maior parte das

contribuições da perspectiva cultural do controle parece concordar que a contabilidade

de gestão está integrada dentro de um sistema organizacional mais amplo que o dos

aspectos formais e psicossociais, e que compreende os valores da organização. Assim, o

desenho e utilização de um sistema de controle devem incorporar uma maior

compreensão dos valores organizacionais.

De acordo com Smircich (apud Gomes e Amat, 1999), a cultura é considerada

de, pelo menos, duas maneiras: há os que consideram a cultura organizacional como

uma variável interna e há os que a estudam como uma metáfora que emerge da própria

organização. No primeiro caso, a cultura é integrada ao próprio conceito de controle,

permitindo a integração da organização e aumentando a probabilidade de que o

comportamento individual e organizacional se dirija ao alcance dos objetivos. Neste

caso, é necessário que o desenho e a implantação de uma contabilidade de gestão sejam

realizados em função dos aspectos técnicos e do contexto organizacional - dentro deste

a cultura organizacional.

Já de acordo com a segunda corrente, "a contabilidade de gestão não é

simplesmente um artefato técnico cuja introdução facilita o alcance da eficácia

organizacional, mas que também cria determinados significados subjetivos e percepções

que surgem da contínua interação social entre os indivíduos" (Gomes e Amat, 1999,

p.37). De acordo com esta corrente, o sistema de controle pode desempenhar papel

muito importante na criação de valores dentro da organização.

A partir dos trabalhos de Johnson e Kaplan (1987), uma perspectiva estratégica

de controle ganha espaço. Segundo estes autores, da forma como se encontram

estruturados, os sistemas de contabilidade de gestão não atendem aos imperativos

decorrentes da competição da economia global de nossos dias. As principais idéias

desses autores podem ser resumidas nos seguintes aspectos, conforme Gomes e Amat

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(1999, p.46): o desenho dos sistemas de controle deve levar em conta aspectos

motivacionais e o sistema de avaliação de desempenho. A pesquisa na área deve buscar

a interpretação do comportamento humano e do papel representado pelos sistemas de

controle, assim como buscar entender as dificuldades de adaptação às mudanças

ambientais. Percebe-se um forte interesse no papel social da contabilidade, procurando

entender o contexto político e social da contabilidade de gestão.

Para Drury e McWatters (1998), o paradigma estratégico, surgido do

reconhecimento de que os administradores deveriam incorporar técnicas estratégicas

para sobreviver no competitivo mercado que surgiu no início dos 80, enfatiza que o

sistema de controle depende da estratégia escolhida. De acordo com o modelo,

estratégia, estrutura, controle, incentivos e mensuração de desempenho devem ajustar-se

para que sejam efetivos; é necessário o ajuste do sistema de contabilidade gerencial a

fim de adequar a orientação estratégica da firma e permitir a manutenção de sua

vantagem competitiva.

Por fim, de acordo com Drury e McWatters (1998), as críticas à teoria e à prática

de custos existentes para atender às necessidades de informações em um ambiente

tecnológico e competitivo caracterizado: pela proliferação de produtos, serviços e

clientes; pelo crescimento dos custos indiretos, que não eram adequadamente tratados

pelos sistemas de custos tradicionais; e pela tecnologia de informação que aumentou a

velocidade das transações; ensejou o surgimento do paradigma da cadeia de valor (value

chain framework). Para estes autores, a cadeia de valor reflete as idéias de Drucker de

que os esforços devem ser direcionados para as atividades que geram receitas.

O raciocínio é de que, embora as atividades não ocorram necessariamente de

forma linear, é importante para a empresa levar em consideração as interações entre as

várias partes da cadeia e o impacto de cada ligação na performance da organização. O

principal benefício do paradigma é que muda a ênfase da produção para as funções e

atividades que propiciam o desenvolvimento de um produto e a sua colocação no

mercado. Também separa as atividades que adicionam valor ao produto da firma

daquelas que não adicionam. Por fim, introduz uma série de novas medidas de

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desempenho tais como prazo, qualidade, retrabalho e contribuição adicionada. Embora

providencie técnicas e formas de pensar sobre contabilidade gerencial e controle, o

paradigma tende a ignorar o contexto externo.

2.3 A PESQUISA ATUAL EM SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL

2.3.1 As mudanças no contexto dos negócios contemporâneos

As mudanças observadas nas organizações contemporâneas foram fortemente

orientadas pelas mudanças no contexto no qual elas passaram a operar na década de 90,

o que, inevitavelmente, trouxe profundas implicações sobre os sistemas de controle

gerencial. Para Otley (1994), as principais mudanças ambientais foram:

- o aumento da incerteza;

- o porte das organizações;

- concentração e alianças; e

- o declínio da manufatura.

A rapidez com que as mudanças têm ocorrido trouxe como conseqüência para as

empresas, dentre outras, uma crescente dificuldade em prever o futuro. Segundo Otley

(1994, p. 291), o cerne de qualquer sistema de controle consiste de um modelo

preditivo, o qual é usado para avaliar os efeitos potenciais de alternativas de ação;

qualquer redução na capacidade de prever as conseqüências de mudanças, reduz a

capacidade da organização controlar seu destino futuro.

Tais mudanças têm as mais diversas origens - tecnológica, social, política -,

entretanto, têm como característica comum afetar uma parcela cada vez maior da

população. Além disso, têm levado a mudanças na ética. As expectativas, agora, são

formadas em escala global; o ambiente local já não é a única - e em alguns casos, nem a

principal - influência do que é considerado desejado ou apropriado. As fontes

tradicionais de valores morais têm sido questionadas, sem serem, por outro lado,

substituídas por outras referências coerentes ou articuladas. O resultado é o que o

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mundo está se tornando cada vez menos previsível e o controle organizacional cada vez

mais complexo.

Na visão de Johnson et al. (2001), como decorrência de um ambiente cada vez

mais turbulento, as empresas necessitaram desenvolver novas estratégias de produção, o

que, por sua vez, demanda novas formas de controle gerencial. Entretanto, têm sido

observados problemas na implementação de tais estratégias, o que têm causado a

manutenção de sistemas de controle inapropriados aos novos sistemas de produção; o

resultado é a ocorrência de uma falta de alinhamento entre as novas estratégias da

empresa e os padrões de comportamento dos funcionários.

De acordo com Otley (1994), a conseqüência desta rápida taxa de mudança, para

as organizações, está expressa nas idéias de competição global e na necessidade das

empresas se tornarem empresas de “classe mundial” se quiserem sobreviver. Outra

conseqüência foram as formas de lidar com a mudança. Como as mudanças têm sido

cada vez mais rápidas, as organizações têm dedicado menos recursos para gerenciar

eficientemente suas operações correntes e cada vez mais recursos para adaptar suas

operações às novas circunstâncias. Em situações normais, a condução da adaptação

requer planejamento, o qual tem se tornado cada vez mais difícil pela dificuldade de

prever as conseqüências da mudança. Assim, a resposta mais apropriada é o

desenvolvimento da habilidade de reagir prontamente às conseqüências da mudança, tão

logo ela se torne aparente. A “administração da mudança” continua sendo uma

habilidade gerencial necessária, porém não é mais um evento discreto limitado por

períodos de estabilidade, mas se refere a um contexto de mudança contínua (Otley,

1994, p.292).

Como as mudanças desta natureza tendem a se tornar a regra, os mecanismos

para a adaptação da organização não podem mais ser deixados a cargo de poucos

gerentes sêniores responsáveis por desenvolver as estratégias que serão implementadas

por outros; ao contrário, o processo de mudança organizacional deve se tornar parte das

atividades operacionais normais da organização. Em resumo, a gerência sob condições

de incerteza requer o envolvimento ativo de mais participantes da organização e

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mecanismos de controle necessariamente deverão envolver crescentes níveis de auto-

controle e de responsabilidade do grupo (Otley, 1994, p.292).

A segunda grande mudança no contexto dos negócios, de acordo com Otley

(1994), é o significativo movimento na direção da redução do porte das unidades de

negócio, não somente no que diz respeito à redução no número de pessoas empregadas -

em parte explicado por mudanças tecnológicas -, mas também pela tendência das

empresas em se concentrar no seu “core business”, evitando desviar sua atenção para

atividades colaterais de menor importância. Assiste-se, assim, a uma simultânea redução

no número de gerentes intermediários e a um crescimento nas suas responsabilidades. A

separação entre planejamento estratégico, controle gerencial e controle operacional, que

sempre foi problemática, tornou-se inviável; uma integração muito maior entre estas

funções se tornou necessária.

O movimento em direção à concentração das empresas em torno de seu “core

business”, está sendo complementado por uma pressão cada vez maior por alianças.

Como os processos que não fazem parte do núcleo de competência de uma organização

estão sendo removidos, os produtos e serviços relacionados a estes precisam ser

substituídos. Desta maneira, precisam ser buscados em fontes externas de algum tipo

(terceirização, parceria), o que pode ser conseguido de maneira mais confiável através

de alianças de longo prazo. Tal tendência é enfatizada por sistemas de organização da

produção que incorporam a filosofia “just-in-time”. Assim, conforme Otley (1994), o

escopo de atividade do controle gerencial alargou-se, não estando mais confinado aos

limites legais da organização. Há uma crescente monitoração e controle entre empresas

ao longo da cadeia de suprimento (do inglês supply chain). “Onde a integração vertical

foi dominante nos 60’s e 70’s, colaboração e alianças estão se tornando dominante nos

90’s” (Otley, 1994, p.293). Isto deverá levar a estilos de administração mais

cooperativos e baseados em grupos, em contraste com os estilos competitivos e

individualistas. Evidentemente, isto irá requerer novas práticas em controle gerencial;

tais sistemas de controle muitas vezes terão que cruzar os limites legais da organização,

assim como as fronteiras nacionais, a fim de gerenciar eficazmente os processos que

transpõe tais limites.

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Por fim, Otley (1994) aponta para a transferência da produção de produtos de

baixo custo e baixa tecnologia para os países em desenvolvimento em busca de menores

custos de mão-de-obra, permanecendo nos países desenvolvidos apenas a produção de

produtos que requerem altos níveis de sofisticação tecnológica. Isto deverá levar a um

relativo declínio da manufatura e a um crescimento de organizações de serviços nos

países desenvolvidos. Para Otley (1994), o conhecimento e a habilidade em inovar e

entregar produtos e serviços relativamente sofisticados estão se tornando o recurso

econômico chave que propiciará a efetiva agregação de valor. As técnicas tradicionais

de controle gerencial precisaram e precisam ser adaptadas para lidar com a redução da

importância da mão-de-obra direta; tais técnicas foram desenvolvidas com base na

manufatura e pouca atenção foi dispensada ao setor de serviços. As novas técnicas de

controle deverão incluir o controle de trabalhadores baseados no conhecimento, onde o

recurso chave é o tempo e o produto chave inclui inovação e atendimento às demandas

dos clientes (Otley, 1994, p.293).

Com relação a este tema, Roberts (1998) aponta que o conhecimento tem sido

reconhecido como o principal e último recurso para a manutenção da vantagem

competitiva de organizações individuais. Como conseqüência, as atenções e o processo

decisório devem focar principalmente o conhecimento e as capacidades competitivas

dele derivadas. E, com o conhecimento se tornando o recurso dominante, as ferramentas

contábeis atuais, que são unilateralmente superdimensionadas em recursos financeiros,

são totalmente inadequadas para representar o estado competitivo da organização. A

contabilidade gerencial, de acordo com Roberts (1999), como uma expressão da

estrutura da organização, deverá se adaptar e encontrar formas de expressar estas novas

maneiras de organização e incorporar os novos conceitos.

No mesmo sentido, Stewart (1998) afirma que o conhecimento tornou-se a

principal matéria-prima e resultado da atividade econômica e a inteligência

organizacional (pessoas inteligentes trabalhando de formas inteligentes) deixou de ter

um papel coadjuvante, assumindo o papel principal. O autor aponta, porém, o problema

da extrema dificuldade de identificar e gerenciar os ativos baseados no conhecimento

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(por ele denominado Capital Intelectual). Uma das razões pelas quais as pessoas não

dariam atenção ao capital intelectual decorre, justamente, da impossibilidade de

quantificar os ganhos gerados por ele - o retorno sobre o investimento. E grande parte

desta dificuldade é atribuída ao fato de que os sistemas contábeis tradicionais não

podem ou sabem lidar com a capacidade intelectual. O sistema contábil tradicional, que

apura o custo do material e de mão-de-obra, não é mais aplicável visto que os principais

componentes de custo de um produto hoje são P&D, ativos intelectuais e serviços.

“Resumindo: a contabilidade mede o acúmulo e a concentração decapital de uma empresa e baseia-se em custos - ou seja, pressupõeque o custo de aquisição de um ativo diz razoavelmente quantovale o ativo (...). O modelo cai por terra quando os ativos emquestão são intangíveis” (Stewart, 1998, p. 54).

Para Stewart (1998), pode-se até argumentar contra a inclusão de medidas de

capital intelectual nos livros contábeis da empresa, mas não se pode, de forma alguma,

ignorá-lo sob pena de incorrer em perdas (ou deixar de obter ganhos) significativas. Esta

afirmação é ilustrada com o caso da Dow Chemical Corp. que, ao iniciar, em 1993, um

programa de gerenciamento de suas 29.000 patentes (parcela do ativo intelectual de uma

empresa) teria economizado mais de US$ 1 milhão em custos de manutenção nos

primeiros 18 meses de atividade e projetava uma economia de US$ 50 milhões ao longo

de um período de dez anos. Além disso, conforme o autor, o capital intelectual depende

de se encontrar alternativas rigorosas de acompanhá-lo, correlacionadas a resultados

financeiros. Os dados deveriam permitir que a gerência avaliasse o desempenho a cada

ano e, mais difícil ainda de atingir, permitir comparações entre empresas. À acusação de

que as medidas de acompanhamento e avaliação do capital intelectual disponíveis são

imprecisas, o autor aponta que o próprio processo de avaliação de tangíveis,

freqüentemente, é colocado em discussão.

Na visão de Johnson (1992), a verdadeira função da informação gerencial na

atualidade, deve ser ajudar as organizações a serem responsivas, construindo

relacionamentos com clientes satisfeitos, e flexíveis, pela redução de variações, atrasos

e excessos nos processos. Informação gerencial que vem dos clientes e dos processos

ajudam as organizações a alcançar tais imperativos através de funcionários com poder

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para resolver problemas e melhorar constantemente os processos focados no cliente; a

informação deve permitir que o funcionário pense e aja decisivamente, usando seu

próprio expertise e experiência. De acordo com Macintosh (1994), não é surpresa que

esta idéia tenha encontrado seu lugar no domínio contábil, visto que o empowerment é

uma iniciativa gerencial que procura obter um maior comprometimento, envolvimento,

esforço e resultado dos funcionários por toda a organização. Para o autor, um dos

principais proponentes da relação empowerment com a contabilidade é, justamente,

Johnson (1992).

De acordo com Johnson (1992), a partir da década de 60 apareceu uma nova

geração de altos gerentes - formados em finanças, contabilidade e direito - não

familiarizados com processos de produção e técnicas de marketing requeridas para

atender as necessidades do consumidor. A atenção se voltava especialmente para custos,

lucros, retorno sobre o investimento, alavancagem e outros resultados financeiros, não

sendo dada qualquer atenção para o “chão de fábrica” e satisfação do consumidor.

Como conseqüência, os gerentes passaram a manipular processos para atingir os

resultados contábeis impostos pela alta administração ao invés de monitorar o bom

andamento dos processos através dos resultados contábeis. O processo de gestão foi

rapidamente substituído pela gestão através de números, ou o que o autor chamou de

gerência “por controle remoto”. E o que é pior, tais gerentes desprezaram

completamente os valores e necessidades dos funcionários dos escalões mais baixos que

na realidade produzem e vendem os produtos.

De acordo com Johnson (1992), duas premissas guiaram a prática gerencial

neste período. A primeira era que apenas os gerentes conheciam o suficiente para

traduzir informações em ações competitivas; para a força de trabalho, informação

consistia de instruções e avaliações de performance vindas “de cima”. A segunda

premissa era a de que a informação que orienta as ações tem origem em um sistema

contábil centralizado; informações de custo e margem fornecem, simultaneamente,

metas e feedback para controlar as ações das pessoas. Para o autor, duas premissas bem

diferentes devem orientar o uso da informação para guiar as empresas em um contexto

de economia globalizada. A primeira é que toda a informação para o controle gerencial

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deve vir “de baixo”, dos clientes e dos processos, devendo ser fornecida em tempo real

para as pessoas que executam as ações; atrasar informações pela compilação e

transmissão pelos canais contábeis contraria o imperativo da agilidade de resposta. A

segunda premissa é que todos na organização devem saber traduzir informação em

ações competitivas; esperar por instruções vindas de superiores vai de encontro à

flexibilidade. Este é o significado de empowerment: dar ao pessoal informações que

permitam resolver problemas e solicitando-lhes que continuamente melhorem o

resultado dos processos. De acordo com Macintosh (1994), o empowerment resulta,

então, em fornecer aos funcionários a propriedade da informação contábil, o que lhes

possibilitará responder mais rapidamente aos clientes, aumentar a flexibilidade dos

processos, reduzir os prazos de produção e melhorar a moral.

Entretanto, argumenta Macintosh (1994), colocar em prática o empowerment

real - em oposição ao pseudo empowerment - significa colocar os funcionários em

condições de igualdade com os gerentes e acionistas, e isto pode exigir bem mais do que

a inversão do fluxo de definição das metas da organização proposta por Johnson (1992).

É necessário, também, algum tipo de mudança das estruturas de poder existentes nas

organizações atuais. E isto somente poderá ser alcançado privilegiando os funcionários

e estabelecendo uma ordem social na qual os funcionários estão legalmente, pelo

menos, em um mesmo nível com gerentes e acionistas. Até que esta questão seja

resolvida, a proposta de Johnson (1992) será percebida pelos funcionários como um

pseudo empowerment.

Para Macintosh (1994), empowerment quando examinado de perto, parece

similar a uma longa lista de iniciativas similares que apareceram e se foram nos últimos

sessenta anos, e que prescreviam que o modelo predominante burocrático,

despersonalizado e mecânico de práticas gerenciais deveria ser substituído por um

arranjo organizacional que apresente “uma orientação humanística existencial e um

novo conceito de poder baseado na colaboração e na razão” (Bennis, apud Macintosh,

1994, p.247). Dessa maneira, prossegue o autor a iniciativa de transferir poder para os

funcionários se parece mais com a história do “lobo em pele de ovelha”, com o gerente

fingindo ser apenas mais um funcionário.

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De acordo com Macintosh (1994), até que as corporações sejam

verdadeiramente democráticas e permitam que seus funcionários (que fazem o trabalho,

produzem os bens e fazem a organização possível) escolham livremente seus gerentes e

altos executivos, iniciativas como o empowerment permanecerão sendo apenas pseudo

empowerment. Tentativas de dar mais poder aos funcionários por meio dos sistemas

contábil e de informações parecem igualmente destinadas ao fracasso. As críticas ao

empowerment sugerem que a iniciativa de Johnson (1992), embora meritória e bem

intencionada no sentido da democratização do controle gerencial, não indica uma forma

satisfatória de como uma mudança tão radical no status quo organizacional pode ser

alcançada. Alguns estudos neste sentido serão abordados no item 2.4.4.

Na visão de Burns e Scapens (2000) a gestão da mudança em geral, e a mudança

da contabilidade de gestão em particular, requer uma ampla compreensão do contexto

atual da organização, especialmente de suas rotinas e instituições. Isto envolve muito

mais do que o conhecimento dos sistemas formais; requer uma compreensão dos hábitos

dos membros da organização e das suposições que são consideradas como dadas na

atividade diária. Requer um questionamento do “inquestionável” e como tal pode ser

bastante difícil para os envolvidos.

2.3.2 A evolução dos instrumentos de controle gerencial

No final dos anos 80, uma série de artigos apontava que um novo ambiente

surgia para os sistemas de controle financeiro. A abordagem tradicional enfatizava a

estabilidade, o controle e a eficiência e produtividade de máquinas, trabalhadores e

departamentos isolados. Orçamentos, padrões e análise de variações eram as

ferramentas principais para promover o controle de custos (Kaplan, 1994, p.256). O

novo ambiente exigia ligações entre as diversas funções a fim de promover um

desempenho eficaz e eficiente dos processos da organização e não somente das tarefas

individuais dentro de um processo. As iniciativas de Qualidade Total (TQM) e Just-in-

Time dos anos 80 foram indicativos da nova filosofia de melhoria contínua na qual os

trabalhadores exerceriam papel fundamental. “Os sistemas de controle gerencial

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sofreram alterações de tentar controlar os trabalhadores para tentar mantê-los

informados” (Kaplan, 1994, p.256). Os funcionários passaram a ter responsabilidade de

melhorar os processos e as informações sobre a qualidade, tempo e custos dos processos

passaram a ser informadas para ajudá-los nas suas tarefas e não mais para controlá-los.

Na continuação desta seção, serão apresentados alguns dos instrumentos

desenvolvidos nos últimos anos na tentativa de alcançar o objetivo de manter os

funcionários mais bem informados para a execução de seu trabalho.

2.3.2.1 O Custeio Baseado na Atividade (ABC)

De acordo com Kaplan (1994), o período 84-94 assistiu a uma revolução na

teoria e na prática da contabilidade de gestão e que a base desta revolução se encontra

nos trabalhos publicados do início à metade da década de 80 (ver no item 1.2 o

parágrafo referente à perspectiva estratégica de controle). Tais trabalhos

identificavam as falhas e obsolescência dos sistemas de custo e medição de desempenho

então existentes. Para Kaplan (1994), desde então ocorreram inovações notáveis na

contabilidade gerencial; mais notáveis ainda, segundo o autor, foram a velocidade com

que os novos conceitos se tornaram conhecidos, aceitos e implementados na prática.

Dentre as inovações, o autor destaca duas nas quais esteve pessoalmente envolvido:

1. Gestão de custos através do ABC (Custeio Baseado na

Atividade); e

2. Mensuração de desempenho através do “balanced scorecard”.

O avanço dos sistemas ABC é atribuído a dois desenvolvimentos conceituais que

fizeram com que a abordagem deixasse de ser um conjunto de afirmações dedutivas

alcançando o status de hipóteses cientificamente testáveis: (1) a descoberta da

hierarquia dos custos e despesas indiretos - que permitiu que todas as despesas

pudessem ser atribuídas a um nível hierárquico ou organizacional específico, onde

pudesse ser estabelecida uma relação de causa e efeito - e, (2) a distinção entre o custo

dos recursos fornecidos e o custo dos recursos usados - o qual é função da capacidade

não utilizada (Kaplan, 1994, p.249). Os sistemas de custo tradicionais medem as

despesas incorridas pela organização para colocar os recursos disponíveis para o uso

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produtivo; o ABC, o custo dos recursos usados por (ou, alternativamente, o custo das

atividades executadas para) determinado produto, serviço ou cliente. A diferença entre

os recursos fornecidos e os recursos realmente usados durante um período representa a

capacidade não usada do recurso para o período.

Para Kaplan (1994), esta interpretação esclarece e permite a operacionalização

da noção de “custo variável de longo prazo”. De acordo com o autor, os custos podem

se tornar variáveis de duas maneiras. Inicialmente a demanda por um recurso se altera -

ela pode crescer como resultado de um crescimento do volume de atividade ou como

resultado de um aumento na variedade ou na complexidade. Quando a capacidade dos

recursos existentes é excedida, a solução rápida consiste em aumentar os gastos para

atender a demanda pelo recurso, eliminando o “gargalo”. Entretanto, quando o

movimento se dá na direção contrária e a demanda por um recurso diminui - como

resultado de uma decisão que pode envolver desde a redução da variedade até a

otimização no uso dos recursos - geralmente é observada apenas uma pequena melhoria

(redução) nos gastos. De acordo com Kaplan (1994), isto ocorre porque a redução da

demanda pelos recursos da organização reduzirá o custo dos recursos usados (pelos

produtos, serviços ou pelos clientes), porém o custo da capacidade não usada crescerá

contrabalançando o menor custo dos recursos usados. Para se beneficiar da redução da

demanda pelos recursos, as organizações precisam excluir a capacidade não usada

destes recursos do sistema; somente a partir deste momento, os custos dos recursos

fornecidos começarão a diminuir. Assim, o que faz um recurso ser um custo variável

“para baixo” não é inerente à natureza do produto, mas é função de uma decisão

gerencial - primeiro reduzir a demanda pelo recurso e, depois, diminuir o gasto com o

recurso (Kaplan, 1994, p. 254).

Tais desenvolvimentos, além de fornecer as bases teóricas para o desenho e

implementação de sistemas ABC, também proporcionaram indicações - como

comentado acima - aos administradores de como agir, com base nas informações

fornecidas pelo sistema ABC, para incrementar a lucratividade. Kaplan (1994) aponta

que o desenvolvimento da teoria referente ao ABC foi indutivo e um caso claro de

“aprender fazendo”, pois se tratou de observar o que empresas estavam fazendo na

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prática, desenvolver uma teoria e aperfeiçoar o modelo, tudo isto trabalhando em

estreita conexão com as empresas que estavam implementando o ABC.

Macintosh (1994), após analisar alguns problemas teóricos do ABC, alerta que a

forma como o sistema foi popularizado em livros textos e artigos contrasta

profundamente com o modelo teórico, sendo uma [má] imitação deste, sem nenhuma

das elegantes e rigorosas análises quantitativas que o caracteriza. Para o autor,

“é importante reconhecer que os dados de custoproduzidos pela versão popular do ABC é simplesmente oresultado de um conjunto diferente de regras de alocaçãodos custos indiretos de fabricação ao produto (...) Estaversão é, na realidade, apenas uma outra maneira de alocarcustos indiretos aos produtos (...) Assim, os dados de custogerados não são, necessariamente, mais acurados oumelhores do que aqueles produzidos pelo sistematradicional de custeio por absorção. Tudo que pode serdito é que são diferentes.” (Macintosh, 1994, p.206)

2.3.2.2 Balanced Scorecard

Um processo semelhante de visita e redação de caso permitiu documentar a

utilização de um scorecard corporativo para avaliar o desempenho global da empresa

Analog Devices. Este scorecard incluía, além das tradicionais medidas financeiras,

indicadores de performance (relacionados a tempo de espera e entrega no prazo),

processos internos (rendimento, qualidade e custo) e desenvolvimento de novos

produtos. Segundo Kaplan (1994), o conceito logo atraiu a atenção de vários executivos

de várias empresas.

Para Kaplan (1994), o balanced scorecard - denominação pela qual passou a ser

conhecido - capturou alguns sinais simples, porém vitais, que não estavam claramente

articulados na literatura. Vários autores, com a intenção de eliminar o aspecto

disfuncional do excessivo foco em medidas financeiras, passaram a incentivar o uso de

medidas relacionadas à melhoria, treinamento, educação dos funcionários, satisfação

dos clientes; executivos foram levados a acreditar que estas ações por si só, gerariam

bons resultados financeiros no longo prazo, sem requerer o acompanhamento periódico

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da situação financeira. Muitos executivos, entretanto, resistiram em acreditar na

inutilidade de um sistema de relatório e controle existente há pelo menos um século.

Na visão de Kaplan (1994), o balanced scorecard estabeleceu um equilíbrio

entre estas duas visões. Partindo da premissa de que o objetivo geral de uma empresa é

gerar valor econômico no longo prazo, admite que as medidas financeiras periódicas são

importantes para prover informações sobre o desempenho corrente e não podem ser

desprezadas. Porém, devem ser complementadas com medidas que determinem a

performance financeira de longo prazo, especialmente medidas relacionadas com

oportunidades de crescimento. Os trabalhos de pesquisa efetuados junto a diversas

empresas definiram, então, quatro perspectivas: financeira (referente à criação de valor

para os acionistas), clientes (referente ao valor dos clientes para a empresa), interna

(referente aos processos em que a empresa precisa se destacar para atingir os objetivos

financeiros e de cliente) e inovação e aprendizado (referente à melhoria contínua

necessária para criar valor no futuro). A partir destas quatro perspectivas, cada empresa

especificará os objetivos que equilibrarão o desempenho financeiro de curto prazo com

ações que permitam o crescimento no longo prazo e o desempenho financeiro futuro.

Para Kaplan e Norton (1991):

“O scorecard coloca a estratégia e a visão, não o controle,no centro. Ele estabelece metas, mas assume que aspessoas vão adotar qualquer comportamento e qualqueração necessária para alcançar aquelas metas. As medidassão desenhadas para levar as pessoas em direção à visãoglobal. O gerente sênior pode saber qual deverá ser oresultado, mas não poderá dizer aos funcionários comoalcançar tal resultado, porque as condições nas quais osfuncionários operam estão se alterando constantemente”.(Kaplan e Norton, 1991, p. 79)

Na visão de Otley (1999), o balanced scorecard foi projetado para estar no

centro dos mecanismos de controle de uma organização, detalhando a estratégia e

ligando as práticas operacionais aos objetivos estratégicos. Dessa maneira, é,

potencialmente, um poderosa ferramenta que focaliza as ligações entre objetivos

estratégicos e medidas de desempenho; também dedica alguma atenção à medição do

grau de atingimento dos componentes do plano estratégico adotado. Entretanto, a

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literatura sobre o assunto é omissa em pontos importantes como: os procedimentos de

mapeamento das relações de causa-e-efeito não são explicados; o processo de definição

dos objetivos não é mencionado, apesar do seu papel central; as ligações com os planos

de incentivo e recompensa são negligenciadas; e assume que os resultados obtidos são

reportados (feedback), sem apresentar sugestões sobre a forma de reportar.

2.3.2.3 Valor Econômico Agregado (EVA)

De acordo com Bromwich e Walker (1998), diversos métodos de gestão baseada

no valor para fins de mensuração do valor agregado pelas organizações têm sido

propostos para avaliar o desempenho de empresas e suas divisões. Tais métodos são

geralmente baseados em comparações entre o valor de mercado e o valor contábil da

organização e na medição do lucro residual. Lucro residual é igual ao lucro contábil

anual deduzido de um encargo de juros calculado sobre o valor contábil dos ativos.

Estes métodos afirmam que outros tipos de medidas de performance tornam-se

desnecessários, tanto no nível da empresa como um todo, quanto de suas unidades de

negócio. Contrariam, desta forma, o antigo princípio das diferentes contabilidades para

diferentes propósitos.

Provavelmente o mais conhecido método de determinação do lucro residual é o

desenvolvido por Stern Stewart and Co, denominado de Valor Econômico Agregado e

cuja sigla (em inglês) EVA foi registrada como marca. De acordo com Stern et al.

(1995), o EVA é um prático e altamente flexível refinamento do conceito econômico de

lucro residual - o valor que resta após os acionistas (e outros fornecedores de capital)

terem sido adequadamente compensados. Para os autores, não é apenas uma medida de

desempenho, mas, quando implementada integralmente, a peça central de um sistema de

gerenciamento financeiro integrado, o qual engloba toda a gama de decisões financeiras

- orçamento de capital, determinação de preço de aquisição, determinação de metas para

informação dos proprietários e esquemas de compensação (Stern et al., 1995, p.33). Por

sistema de gerenciamento financeiro os autores entendem todas as políticas,

procedimentos, métodos e medidas financeiras que orientam as operações de uma

empresa e sua estratégia. Cabe alertar que o conceito de lucro residual nada tem de

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novo, sendo sua primeira proposição reconhecida na década de 30, de acordo com

Bromwich e Walker (1998). Os autores apontam, também, que a General Motors já

utilizava uma variante do conceito na década de 20.

O EVA é considerado superior ao lucro contábil como medida de criação de

valor porque reconhece o custo de capital e, desta forma, o risco das operações da firma.

Segundo Mouritsen (1998), o EVA é uma medida de performance que enfatiza o valor

agregado pelo resultado da firma acima do custo de capital; além disso, o valor presente

dos futuros EVA’s representa o Valor de Mercado Agregado (em inglês MVA - ou o

valor de mercado subtraído do caixa fornecido pelos financiadores da empresa). O EVA

é, desta forma, uma medida de performance que fornece um critério de decisão - o valor

acima, ou abaixo, do custo de capital.

De acordo com Stern et al. (1995), o EVA indica à alta gerência três formas para

aumentar o valor: 1) aumentar o retorno dos ativos já existentes, através de um uso mais

eficiente (aumentar o giro dos ativos); 2) investir recursos adicionais e atuar

agressivamente tão logo o retorno obtido exceda o custo do novo capital; e 3) parar de

investir em - e procurar desfazer-se de - atividades que gerem retornos abaixo do

estabelecido.

Para os criadores do método, o mecanismo de incentivos é a âncora do sistema

de gerência financeira EVA (Stern et al. 1995, p.43). Os autores argumentam que uma

nova estrutura gerencial é necessária, pois a revolução da informação - a par do ritmo

das mudanças tecnológicas de todo tipo e da ascensão da economia global - está levando

a grandes alterações na estrutura e nos sistemas de controle interno das grandes

organizações. O objetivo de tal mecanismo é incentivar os gerentes a se comportar

como se fossem os proprietários, seguindo a premissa de que os proprietários gerem

seus negócios com o senso de urgência do curto prazo, mas possuem uma visão de

longo prazo. Para tanto, aponta Mouritsen (1998), o EVA vai exigir uma estrutura

organizacional baseada em unidades de negócio.

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Evitando entrar no mérito da discussão sobre se é possível realmente o cálculo

do custo de capital - devido às dificuldades inerentes -, Mouritsen (1998) aponta três

características do método sujeitas à crítica. Conforme já mencionado, para o EVA

funcionar adequadamente, a organização deverá estruturar-se em unidades de negócios,

a fim de permitir o empowerment. A regra de que o gerente deve produzir e

implementar projetos com EVA positivo para gerar valor, embora possa ser atraente por

ressaltar as responsabilidades que o gerente terá que assumir, possui contradições. De

acordo com os sistemas de controle “convencionais”, as decisões financeiras exigiam a

intervenção da alta administração a fim de contextualizar as responsabilidades e

harmonizá-las com o planejamento estratégico e o planejamento operacional.

Comparado a isto, o EVA apresenta-se como uma tecnologia de gerência que se propõe

a levar em consideração todas as questões gerenciais de uma maneira unificada.

Zimmerman (apud Mouritsen, 1998) aponta que essa forma tão radical de empowerment

despreza a possibilidade de sinergia entre as diversas unidades de negócios. Embora

nenhuma outra medida convencional o faça, deve ser enfatizado que elas eram

contextualizadas por numerosas adaptações - nos planos estratégicos, operacionais, nos

procedimentos orçamentários - que tendiam a tornar as outras medidas relativas e

relacionadas; além disso, envolviam um número maior de agentes. Outro aspecto

sugerido por Simons (apud Mouritsen, 1998) é que as incertezas trazidas pela

tecnologia, mercados e competição, provavelmente podem ser melhor enfrentadas com

o uso de vários sistemas de informação e comunicação a fim de se obter alguma

compreensão de como as mudanças afetam a organização. Para este caso, um sistema de

informação baseado em uma única medida parece não ser adequado, principalmente

levando-se em conta se tratar de uma informação ex post. Embora a preocupação com a

simplicidade e a clareza das orientações seja louvável, a estrutura proposta pelo EVA

talvez exagere a racionalidade e simplicidade dos complexos sistemas corporativos

encontrados nas organizações. Em resumo, para o EVA funcionar as estruturas

organizacionais devem ser mudadas, as responsabilidades gerenciais devem ser

renegociadas e um conjunto de mecanismos de obtenção de informações deve ser

abandonado e substituído por um simples EVA.

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Outro aspecto abordado por Mouritsen (1998), relacionado com o anterior, é o

suposto incentivo aos gerentes a, não apenas criarem valor, mas também, criar uma

certa “consciência” de proprietário. Os mecanismos que levariam a tal comportamento

são os planos de bônus e os esquemas de compensação. Para o autor, a consciência de

propriedade incentivada pelo EVA é aquela do “agente abstrato movendo-se no

mercado de capital” (Mouritsen, 1998, p. 466), preocupando-se apenas com o fluxo de

caixa da empresa. Não é explicitado no EVA como a consciência de proprietário pode

gerar as atitudes necessárias para garantir o fluxo de caixa da organização. Assim, tal

consciência pode ou não ter algo a ver com o “bem estar” da organização, enquanto

organização, isto é, produtos, pessoas, inovação e todos os outros aspectos que,

conjuntamente, formam o cerne de uma organização de negócios. Para o autor, o EVA

assume uma versão idealizada de firma, baseada em mecanismos de administração

propostos pela teoria financeira, o que considera inapropriado para gerir uma

organização. Além disso, a consciência de proprietário, objetivada pelos planos de

incentivo e compensação, está inteiramente relacionada com os gerentes e apenas

marginalmente sugerem como os gerentes podem ou devem usar o EVA para obter o

comprometimento e engajamento dos “funcionários comuns”. Mouritsen (1998) aponta

que o papel dos funcionários é completamente marginal e que na realidade o único

agente encontrado são aqueles equipados com EVA; os demais não contam como

“ativos”, e para o autor, ativos relevantes - aqueles que geram crescimento - são todos

aqueles pelos quais a empresa pagou. Resumindo, para Mouritsen (1998) o “herói” do

EVA é o gerente que é visto como onisciente e capaz de obter toda a iniciativa

necessária para encontrar e implementar projetos com EVA positivo. Assume que o

gerente possui o insight que proporciona certeza quanto ao futuro. Daí porque é o único

a se beneficiar de esquemas de bônus, através da “propriedade simulada”.

O último aspecto referenciado por Mouritsen (1998), é que o EVA não guarda

qualquer relacionamento com a estratégia corporativa. As formas de criar valor, acima

apontadas - as estratégias EVA -, meramente dizem como certas mudanças em índices

financeiros podem ocorrer, entretanto não ajudam com uma teoria específica de como as

organizações devem agir face à revolução da informação e às rápidas mudanças

tecnológicas mencionadas pelos seus próprios criadores. Para o autor, o EVA preocupa-

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se com a questão “o efeito de nossas decisões são satisfatórias?” mais do que com

“como nós sabemos o que propor?”. Enfim, provê uma estrutura administrativa baseada

em empowerment onde os gerentes são colocados para pensar, sem, entretanto, indicar

aos gerentes sobre o que especificamente eles devem pensar.

Assim, o EVA se apresenta como uma ferramenta de avaliação da estratégia,

mas pouca ajuda oferece para a geração de estratégias (Mouritsen, 1998, p.467). O

espaço de tempo existente entre uma decisão estratégica e seus resultados financeiros é

ignorado, assim como nada é mencionado sobre que tipo de estratégia é relevante sob as

circunstâncias das mudanças. Portanto, a idéia de estratégia do EVA é inteiramente ex

post, e, embora proporcione um critério de decisão, pouco faz para indicar o que é

importante em condições de incerteza e rupturas, para o qual o EVA é tido como um

sistema de gerenciamento para obter um desempenho superior.

Segundo Otley (1999), a abordagem do EVA representa um dos mais coerentes

sistemas de administração do desempenho atualmente existente. Entretanto, mesmo

levando em conta suas próprias suposições a respeito dos objetivos organizacionais, ela

não é tão compreensiva quanto pretende, e é particularmente fraca em medir e monitorar

os meios adotados pelos gerentes para alcançar seus objetivos.

Para O’Hanlon e Peasnell (1998), o EVA parece ter sido amplamente aprovado

em seus testes iniciais no mercado, embora ainda não esteja claro se realmente é uma

valiosa adição à prática da administração ou se é apenas mais uma “panacéia” destinada

a desaparecer tão rápido quanto surgiu.

2.3.2.4 Capital Intelectual

O interesse no Capital Intelectual pode ser ilustrado conforme o comentário de

Robert Reich (apud Mouritsen, 1998, p.468):

Os integrantes da profissão contábil ... têm-se preocupadoabertamente sobre como informar investidores potenciaissobre o real valor dos empreendimentos cujo valor apóia-se nos cérebros de seus funcionários. Eles têm usado otermo goodwill para se referir à ambígua zona dos

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balanços patrimoniais situada entre os ativos tangíveis e ovalor de seus talentos. Mas, se o capital intelectualcontinuar excedendo o capital físico como ativo chave dasorganizações, os acionistas vão se descobrir em um terrenocada vez mais inseguro.

De acordo com Mouritsen (1998), diversas firmas estão começando a fazer

experimentações no campo da demonstração do Capital Intelectual. Estas firmas estão

desenvolvendo e estendendo os limites das demonstrações financeiras incluindo

elementos não-financeiros, tais como satisfação dos funcionários, satisfação dos

clientes, prazos e qualidade. Isto é, estão introduzindo elementos que não estão

baseados apenas nos dados financeiros da organização, porque parte substancial das

novas medidas “não-financeiras” embora expressas em termos monetários não integram

a base de dados financeiros, tais como market share, despesas de marketing por cliente

ou investimentos em informatização por funcionário.

Embora os autores divirjam sobre aspectos específicos da forma de demonstrar o

Capital Intelectual, Mouritsen (1998) aponta que, tipicamente, abrangem três

dimensões; geralmente se referem ao capital humano (que deixa a firma a noite e nos

fins-de-semana), ao capital organizacional (procedimentos, manuais e sistemas

administrativos) e ao capital cliente (lealdade do cliente, marcas dos produtos e imagem

corporativa). Também é comum a preocupação em tentar criar uma área para reportar e

para gerenciar que esteja além da administração financeira. Embora compartilhem com

o EVA a preocupação com a criação de valor, eles o fazem acrescentando complexidade

à representação e cálculo. Em direto contraste com o EVA, que olha para a “última

linha” em termos de fluxo de caixa, o Capital Intelectual procura por áreas de

representação que não podem ser (“facilmente”) construídos como uma cifra de “última

linha”. Entretanto, não existe um modelo definitivo, assim como não existe uma lista

exaustiva de quais medidas incluir, nem tampouco existe um modelo matemático que

integre todas as medidas. Apesar disto é importante que se compreenda o objetivo de tal

demonstração.

Mouritsen (1998) aponta que os estudos relacionados a demonstrações do

Capital Intelectual procuram compreender a diferença - muitas vezes significativa -

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observada entre o valor contábil e o valor de mercado das organizações e sugerem que

isto é mais acentuado no caso de empresas de conhecimento-intensivo. A demonstração

do Capital Intelectual está preocupada em registrar e visualizar a criação de

conhecimento, tendo em vista poder determinar prioridades. Assim, gerentes poderiam,

sob o regime do Capital Intelectual, concentrar-se em desenvolver os funcionários

(capital humano), desenvolver estruturas internas (capital organizacional) e desenvolver

relações com clientes (capital cliente). Enquanto a preocupação do EVA é o fluxo de

caixa, a preocupação do Capital Intelectual é a aprendizagem organizacional e o

aumento da competência.

Uma pesquisa feita por Mouritsen (1998) junto a dez empresas que trabalham

com Capital Intelectual, sugere que as demonstrações de Capital Intelectual servem a

vários fins. Entretanto, compartilham uma preocupação que é o papel do

“relacionamento” com funcionários e clientes. Dentre outros, preocupam-se com o

aumento da propensão das pessoas em dedicar-se à criação de certos valores que

derivam de uma relação particular entre a empresa e os clientes, especificamente,

funcionários motivados e com empowerment dedicam-se diretamente aos clientes,

resolvendo seus problemas e constituindo, assim, a base de um projeto de longo prazo

através das altas taxas de retenção de clientes. Para o autor, a mobilização do Capital

Intelectual serve para persuadir os funcionários e clientes a formar alianças onde eles

constantemente decidem alinhar sua conduta um com o outro. A alta administração,

neste contexto, é parcialmente removida do desenvolvimento da estratégia da firma vis-

à-vis seu ambiente; seu papel passa a ser estimular a disseminação da criatividade e do

conhecimento que promoverá uma maior produtividade do pessoal administrativo. A

pesquisa também revelou, conforme já comentado, que não existe uma lista de medidas

a serem usadas, e pouca ênfase em obter alguma informação que indique o crescimento

ou não do Capital Intelectual. Na maioria dos casos, as demonstrações foram

desenvolvidas especificamente para cada empresa em particular.

2.3.2.5 Governança corporativa

Embora não seja propriamente um instrumento de controle gerencial, muita

pesquisa tem sido conduzida na área no sentido de procurar entender que mecanismos

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de governança corporativa seriam os melhores. Para fins deste trabalho, governança

corporativa é definido como “o modo como os fornecedores de capital para as

organizações se asseguram de obter um retorno para o seu investimento” (Schleifer e

Vishny, 1997, p. 737). Colocado de outra forma, trata-se do controle exercido pelos

financiadores da organização sobre os administradores, no sentido de se assegurar de

que estes não desviarão os recursos para si próprios ou os aplicarão em projetos ruins,

comprometendo assim o seu retorno.

Em um extenso survey realizado, Schleifer e Vishny (1997) questionam as

razões normalmente usadas para justificar porque pessoas entregam recursos para serem

usados por organizações: a reputação dos administradores e as expectativas otimistas

dos investidores quanto à possibilidade de receber seu dinheiro de volta; e argumentam

que é improvável que tal financiamento ocorra sem algum tipo de controle

(governance). Apontam que um dos elementos essenciais do governança corporativa é a

existência de um aparato legal (não apenas as leis, propriamente ditas, mas, tão

importante, cortes dispostas a julgar estritamente de acordo com elas) que assegure a

proteção dos direitos de propriedade do investidor - entendido aqui em um sentido

amplo que abrange acionistas e credores. Outro elemento importante que auxilia os

investidores a obter o retorno de seus recursos é a propriedade concentrada - isto é

acionistas ou credores que detenham importante proporção do financiamento. Como

ilustração de estruturas de governança corporativa bem sucedidas, apontam os casos dos

Estados Unidos, Alemanha e Japão, os quais combinam uma significativa proteção a,

pelo menos, alguns investidores, com uma importante função para grandes investidores.

No caso dos Estados Unidos predomina o aparato legal, sendo desestimulada a

concentração de propriedade, e no caso da Alemanha, predomina o papel do grande

investidor, em geral bancos, assumindo o pequeno investidor um papel secundário

(inclusive perante a lei). Estas características diferenciam os sistemas de controle de tais

países dos demais países do mundo, os quais tem um aparato legal de proteção a

investidores extremamente limitado, o que faria com que predominem empresas com

controle familiar com reduzida capacidade de captar recursos externamente. Os autores

admitem, entretanto, que as evidências produzidas pelas pesquisas feitas até então não

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62

permitem que se determine qual, dentre os modelos de sistema de controle bem

sucedidos existentes, é o melhor.

2.3.3 Contribuições nacionais ao estudo do controle gerencial

O volume de pesquisas brasileiras na área de controle gerencial ainda é

relativamente pequeno; destaca-se o trabalho realizado pelo Instituto COPPEAD de

Administração. Assim, uma série de teses de doutorado e dissertações de mestrado tem

sido elaborada procurando explorar o estágio em que se encontram os sistemas de

controle gerencial de empresas brasileiras frente ao desenvolvimento teórico da área. As

conclusões de alguns desses trabalhos serão relatadas a seguir.

O trabalho que, praticamente, iniciou esta linha de pesquisa é, também, o que

inspira o presente estudo. Trata-se da pesquisa feita por Gomes (1983), o qual estudou

nove empresas estatais federais e a, então, Secretaria de Controle de Empresas Estatais

(SEST), com o objetivo de explorar a relação existente entre a literatura sobre controle

gerencial e os sistemas projetados pelas empresas estatais brasileiras.

Os resultados obtidos sugeriam que os sistemas usados pelas empresas não

atendiam aos fundamentos teóricos quanto às características dos sistemas considerados

como eficazes. Tal conclusão baseou-se no fato de que os sistemas existentes nas

empresas estudadas: não consideravam relevante a influência da motivação; baseavam-

se em medidas de avaliação incompletas; concentravam a atenção do controle nos

resultados apresentados no curto prazo; não demonstravam capacidade de adaptação às

mudanças ambientais; não eram capazes de reforçar comportamentos e corrigir desvios;

enfim, não eram direcionados para o alcance da congruência de objetivos.

Os sistemas usados apresentavam características de sistemas cibernéticos, os

quais, de acordo com Gomes (1983) não são indicados para empresas que operam em

ambientes de grande incerteza, têm objetivos ambíguos, apresentam resultados que, em

alguns casos, só podem ser mensurados em termos qualitativos, não se conhecem os

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efeitos das intervenções da administração e existam atividades não repetitivas, como é o

caso das estatais.

Foi detectada a ocorrência de problemas apontados por Flamholtz (1979), tais

como: atenção seletiva de objetivos; a inversão de meios e fins; e o amortecimento, o

que atestava a fragilidade dos mecanismos de controle utilizados.

Os achados na pesquisa de Gomes (1983) sugeriam, ainda, que os mecanismos

de controle utilizados pela SEST - considerada a primeira tentativa concreta por parte

do governo de estancar o processo de estatização -, na forma como foram projetados,

não estavam direcionados para o alcance da congruência de objetivos entre o governo e

as empresas.

Ávila (1983) estudou as características dos sistemas de controle gerencial em

Centros de Pesquisa e Desenvolvimento localizados no Rio de Janeiro. Dentre os

resultados obtidos, o autor concluiu que, embora existissem sistemas formais de

controle gerencial de projetos em todos os centros pesquisados, as gerências dos

mesmos não se apoiavam com muita freqüência nesses sistemas para o planejamento e

controle internos. Os sistemas encontrados eram limitados, se comparados com os

propostos na literatura.

Sancovschi (1986) procurou verificar a existência de relações sistemáticas

relevantes entre a função de controle gerencial e as características da tarefa, a estrutura e

o ambiente em instituições financeiras privadas no Brasil. A pesquisa parte do

pressuposto de que os sistemas de controle gerencial, para serem eficazes, devem se

ajustar ao contexto no qual se inserem. Os resultados obtidos forneceram as seguintes

indicações:

a) as empresas maiores, mais dispersas, mais descentralizadas, com atividades

mais estruturadas e alto nível de competição, adotam a estratégia

administrativa para o controle de suas operações. Por conseqüência, aquelas

instituições que não apresentam estas características adotam uma estratégia

interpessoal;

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b) as instituições que se defrontam com diferentes tipos de competição exibem

diferenças nas características da tarefa e na estrutura; essas diferenças talvez

expliquem as variações observadas no nível de utilização de técnicas de

controle e na complexidade da estrutura de relatórios;

c) a tarefa da função de controle gerencial nas instituições que se defrontam com

intensa competição de taxa e preço é, aparentemente, complexa pois o

controller se cerca de funcionários qualificados e recorre, com freqüência, a

consultores externos. Isso, possivelmente, se dá pelo envolvimento do

controller e seus subordinados em atividades de planejamento e em

negociações interdepartamentais;

d) a relação entre o uso de técnicas de controle e o tamanho é fortemente

influenciada pela dispersão geográfica, pelo nível de descentralização e pelo

nível de estruturação das atividades;

e) a relação entre o uso de técnicas de controle e a dispersão geográfica é

influenciada pelo tamanho e pelos níveis de descentralização e de

estruturação das atividades;

f) existe uma relação negativa relevante entre o nível de detalhe presente no

processo orçamentário e o nível de estruturação das atividades;

g) os resultados apresentados comprovaram a utilidade do quadro de referência

da pesquisa para o entendimento das variações encontradas na função de

controle gerencial das instituições financeiras privadas.

Spiller (1990) e Faria (1990), por outro lado, efetuaram pesquisas seguindo linha

semelhante à proposta por Gomes (1983), restringindo, entretanto, os estudos a uma

empresa. Os resultados, por sua vez, não se distanciam muito daqueles obtidos por

Gomes (1983). Spiller (1990), que estudou o caso da adequação do sistema de controle

gerencial da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) à literatura, concluiu que

o sistema de controle gerencial existente na empresa não apresenta as principais

características dos sistemas vistos com eficientes e eficazes na teoria que fundamentou o

estudo. O afastamento entre a prática e a teoria evidencia-se nos seguintes aspectos: a

falta de consideração adequada aos aspectos motivacionais no delineamento do sistema;

a não utilização de medidas de avaliação de desempenho das unidades organizacionais;

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a concentração do controle em resultados de curto prazo; a falta de capacidade em

reforçar comportamentos e corrigir desvios, inexistindo mecanismos de recompensas e

punições; a deficiência na comunicação dos objetivos aos membros da organização; a

falta de meios capazes de garantir a manutenção e execução de prioridades; a ausência

de distinção entre objetivos e metas; a falta de envolvimento efetivo da alta

administração no processo de controle gerencial; e a impossibilidade de se poder

considerar o orçamento como instrumento de controle gerencial.

No mesmo sentido, Faria (1990) investigou o enquadramento do sistema de

controle gerencial projetado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ao referencial

teórico, assim como o impacto dos agentes externos de controle sobre o processo de

tomada de decisão. Os resultados obtidos sugeriam que o sistema de controle existente

na CSN afastava-se consideravelmente das práticas referenciadas como eficazes no

referencial teórico que fundamentou o estudo. Em relação ao estudo de Gomes (1983),

verificou-se a evolução de algumas práticas de controle (relacionadas ao planejamento

empresarial, ao aperfeiçoamento da contabilidade gerencial, ao processo orçamentário e

às medidas de avaliação de desempenho), porém nos demais aspectos os resultados

conduziam na mesma direção daqueles obtidos anteriormente. Este estudo, também,

apresentou vários resultados em comum com o de Spiller (1990).

Fonseca (1997) procurou detectar o impacto de diferenças culturais em um

sistema de planejamento e controle; foi examinada a dimensão "Fuga à Incerteza" -

originalmente identificada por Hofstede em seu estudo a respeito de diferenças culturais

-, a qual consistiria no grau em que os membros de uma sociedade se sentem

confortáveis com a incerteza e a ambigüidade, aspectos estreitamente relacionados com

o sistema de planejamento e controle. Para tanto, foi feita uma pesquisa etnográfica na

subsidiária brasileira de uma firma multinacional inglesa, visando avaliar a aceitação,

por parte da subsidiária, do sistema de planejamento e controle elaborado pela matriz. A

principal conclusão da pesquisa foi no sentido de confirmar a influência das diferenças

culturais no sistema de planejamento e controle, mostrando que foram identificados no

sistema elaborado pela matriz alguns pontos que se chocaram e outros que se mostraram

congruentes com os valores ressaltados pelos informantes brasileiros. Esta constatação

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66

facilitou a compreensão das dificuldades encontradas por parte dos funcionários

brasileiros em lidar com determinadas características do sistema em vigor, bem como

evidenciar os aspectos que se mostraram compatíveis com os altos índices de "Fuga à

Incerteza" presentes na subsidiária. A consideração desses fatores parece fundamental

para que os esforços sejam direcionados no sentido dos objetivos pretendidos. Foi

verificado, também, que alguns desses pontos foram previstos pela literatura, enquanto

que outros apresentaram comportamentos opostos ao esperado, sugerindo a existência

de algumas características peculiares à cultura brasileira ou de outros fatores que

mereceriam um estudo mais aprofundado.

Por fim, devem ser destacados os estudos desenvolvidos no âmbito da linha de

pesquisa sobre o Processo de Internacionalização de Empresas Brasileiras - Sub-Projeto

8: Controle Gerencial em Empresas Internacionalizadas: Estudo de Casos - do Programa

de Apoio a Núcleos de Excelência (PRONEX) do COPPEAD/UFRJ. Tais estudos

procuram entender o impacto da internacionalização das operações de uma empresa

sobre o seu sistema de controle gerencial, e resultaram em uma série de artigos

apresentados em diversos congressos nacionais e internacionais. Dentre estes estudos

citam-se os produzidos por Martinewski e Gomes (1999, 2000a, 2000b, 2001a, 2001b e

2001c).

2.3.4 As tendências e sugestões de pesquisa em controle gerencial

Drury e McWatters (1998), apontam o surgimento de um novo paradigma

denominado de paradigma cinético (kinetic framework), em uma alusão ao ritmo das

mudanças que ocorrem em um ambiente dinâmico e complexo. Segundo os autores, o

paradigma expande o paradigma feedback horizontal e verticalmente, enfatizando a

extensão da estrutura de planejamento e controle. Também incorpora o conceito de

incentivos e de ambiente dinâmico do paradigma adaptativo. A busca de informação

deverá englobar toda a organização. Tecnologia deve ser amplamente usada para manter

a companhia a par das oportunidades e ameaças do mercado global. O paradigma

cinético enfatiza a relação entre as necessidades táticas da cadeia de valor com o

contexto estratégico. Enfim, o paradigma cinético olha para o futuro, constrói sobre a

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experiência do passado e reconhece as mudanças necessárias para adaptar o processo de

controle ao ambiente tecnológico presente.

Para Otley et al. (1995), as mudanças no ambiente de controle, a introdução de

mecanismos de controle que utilizam medidas não financeiras - como o balanced

scorecard, dentre outros -, e o aumento da amplitude do que é conhecido como controle

gerencial - formas de remuneração vinculadas a desempenho, controle de processo e

operacional e a questão da gestão da cultura organizacional -, têm sido bastante

estudadas. Entretanto, a seu ver, estudos da prática de controle como um todo,

integrando todos estes mecanismos de controle dentro de uma organização ainda são

raros.

A importância do ambiente leva, segundo os autores, à questão das relações

além dos limites do que tradicionalmente é chamado de empresa. A pesquisa tem se

concentrado ao nível de empresa ou de suas unidades; muito pouco foi explorado do

controle sob uma perspectiva social ou macro. O papel da competição como

instrumento de controle, os arranjos institucionais que estabelecem novos limites para a

ação gerencial e o papel da participação e consulta aos funcionários, são temas que

necessitam maior exploração. Da mesma forma, o desafio de controlar a integração de

operações de fornecimento e distribuição que transpõe os limites legais da empresa ou,

mesmo, as fronteiras nacionais requer um estudo mais aprofundado, assim como o

controle de organizações multinacionais e todas as complexas questões relacionadas,

tais como as diferentes estruturas legais e institucionais, as restrições financeiras e de

câmbio e o impacto das culturas nacionais e corporativas.

A questão ecológica - incluindo demografia, população, etnia e religião -,

segundo Otley et al. (1995), sugere que considerações mais amplas deverão ser trazidas

à conceitualização dos problemas de regulação e controle das organizações.

Shleifer e Vishny (1997) apontam uma série de questões em aberto no campo do

corporate governance que mereceriam estudos futuros. Primeiramente, sugerem

pesquisas para verificar as razões pelas quais contratos que prevêem alta remuneração a

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executivos não são usados de maneira mais ampla, dado o impacto da ação dos

executivos sobre o valor da firma. Também são sugeridos estudos quanto à natureza da

proteção legal a investidores em vários países: como as leis societárias diferem entre si e

como a sua aplicação varia de país para país.

Os custos e benefícios da concentração da propriedade; a sua atuação sobre os

administradores das organizações e o seu relacionamento com os outros investidores é

outra área de estudos sugerida. Os autores argumentam que a resistência a grande

concentração de propriedade tem orientado a evolução do corporate governance nos

Estados Unidos, embora seja o aspecto dominante em outros países com estruturas bem

sucedidas. Assim, a compreensão destas questões é fundamental para uma comparação

objetiva das diversas estruturas.

O exame das emissões de ações em países em desenvolvimento é uma outra

sugestão. Entender se elas têm sucesso, quem adquire, o grau de dispersão das

colocações; no caso de existirem pequenos investidores examinar as razões que os

levam a comprar ações a despeito da aparente falta de proteção a minoritários. Por fim,

examinar a dinâmica política da governança corporativa, se as forças políticas e

econômicas conduzem os sistemas de controle a uma maior eficiência, ou se os

interesses de grupos poderosos preservam sistemas ineficientes.

Na visão de Gomes e Amat (1999), a partir das décadas de 80 e 90 percebe-se

um interesse crescente por parte dos estudiosos em entender a estreita relação existente

entre o contexto social e organizacional e o funcionamento da organização. As rápidas

mudanças observadas neste período estimularam a atenção pela influência exercida pela

contabilidade de gestão e sua relação com o contexto sociocultural, econômico e

político. A literatura tradicional sobre controle de gestão passou a ser criticada, dentre

outros, pelos seguintes motivos: a consideração de que os objetivos organizacionais

representam a congruência dos diferentes interesses dos grupos e pessoas que compõem

a organização; ausência de uma perspectiva sócio-histórica e dinâmica sobre a origem e

evolução dos sistemas de controle; a consideração de que a contabilidade de gestão é

um instrumento técnico, objetivo e neutro no processo de decisão; a consideração de

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que as deficiências nos sistemas de controle estão centradas em disfunções formais,

ignorando os conflitos sociais que existem na organização; o uso de uma epistemologia

positivista na metodologia de pesquisa.

A fim de superar estas limitações é proposto que a contabilidade de gestão passe

a levar em conta os contextos ideológico, social e político; desde então autores

passaram, também, a investigar os sistemas de controle a partir de enfoques de autores

oriundos da Sociologia e Filosofia, com o objetivo de entender o funcionamento do

controle organizacional a partir de uma perspectiva macrossocial. Roslender (1995) cita

uma série de estudos que buscam relacionar os enfoques de Habermas, Foucault,

Giddens, Baudrillard, entre outros, com a contabilidade gerencial, formando a

denominada Contabilidade Gerencial Crítica - "forma de conceitualizar contabilidade

gerencial que explicitamente foca os aspectos não-técnicos deste ramo da contabilidade"

(Roslender, 1995, p.65). De acordo com Roslender, a Contabilidade Gerencial Crítica

explora os aspectos não técnicos da contabilidade de gestão usando uma ampla gama de

perspectivas sócio-científicas.

Para Macintosh (1994), o objetivo destes estudos já não é mais discutir se uma

mudança na ordem social hierárquica das organizações atuais deve ser feita, mas como

fazê-la de uma forma verdadeiramente democrática e que resulte em um verdadeiro

empowerment dos funcionários.

Roslender (1995) diz que atualmente já é possível falar-se de um movimento de

contabilidade crítica que se desenvolve dentro da disciplina contábil, especialmente na

pesquisa em contabilidade gerencial. Isto ocorre por diversas razões: a questão básica da

contabilidade geral permite que seja estudada sob diversas perspectivas; sua natureza

relativamente indefinida, qual seja, contabilidade para atender as necessidades de

informação da administração; a variada experiência e conhecimento das pessoas que

têm se associado à contabilidade gerencial. Isto não quer dizer que a contabilidade

crítica esteja se tornando um ramo da contabilidade, tal como a contabilidade financeira

ou a auditoria. O papel da contabilidade crítica é prover uma perspectiva crítica à

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contabilidade; o que define as abordagens como críticas é a rejeição ao paradigma do

positivismo.

Roslender (1995) aponta três linhas principais que orientam as pesquisas dentro

da perspectiva crítica: a sociologia interpretativa - baseada no trabalho de Max Weber -,

a perspectiva marxista - a qual abrange três orientações: economia política, processo de

trabalho (do inglês labour process) e a teoria crítica (baseada no trabalho de Habermas)

- e a perspectiva pós-modernista - baseada nos trabalhos de Foucault, Derrida,

Baudrillard, entre outros.

Na visão de Macintosh (1994), parece ser mais interessante focar a análise na

perspectiva pós-modernista, dado que as premissas que fundamentam a perspectiva

marxista - a tomada do poder pelo proletariado e a socialização da propriedade -

parecem improváveis de se realizar, assim como uma mudança na consciência social

que possa substituir o culto capitalista do progresso material, a falta de uma perspectiva

histórica (especialmente na sociologia interpretativa), além de uma série de outros

argumentos (subjetividade, excessivo idealismo, excessivo viés filosófico, entre outros).

Para Roslender (1995), enquanto o modernismo defende a crença de que a

humanidade tem a capacidade de progredir, de se melhorar com base na racionalidade, o

pós-modernismo propõe que não existem níveis mais elevados, um mundo melhor ou o

que se chama de progresso ou controle da natureza. Todo o projeto modernista é

rejeitado e no lugar das políticas totalizantes características do modernismo é mais

importante deter-se em políticas localizadas ou em um nível mais baixo. O pós-

modernismo enfatiza o processo, no sentido do que está acontecendo, dos eventos que

estão ocorrendo e que devem ser investigados. Para os pós-modernistas o discurso - a

informação, o conhecimento e a comunicação - é que possui um significado particular e

por isto uma metodologia deve ser desenvolvida - a análise do discurso.

De acordo com Macintosh (1994), o discurso da contabilidade gerencial pode ser

visto como intimamente relacionado ao discurso da contabilidade financeira para os

altos executivos. Dentro do mundo contábil, embora uma série de pagamentos seja feita

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a um heterogêneo grupo de stakeholders, sempre é dada prioridade aos objetivos dos

acionistas. Assim, o discurso e as práticas discursivas da contabilidade financeira

marginalizam os outros stakeholders. Entretanto, parece claro que o privilégio dos

acionistas sobre os outros stakeholders é meramente um disfarce para esconder a

realidade de que o discurso da maximização da riqueza dos acionistas é um discurso

estreito e espoliativo, servindo a um grupo de elite. Os altos executivos normalmente

recebem opções, elevados salários e outros planos de incentivos baseados nos lucros

declarados, suficientes para fazê-los bastante ricos caso alcancem um regular

crescimento dos lucros por ação. Na realidade, riqueza dos acionistas é um eufemismo

para a riqueza dos altos executivos.

Um outro exemplo do discurso da contabilidade gerencial, conforme Macintosh

(1994), é o que define o papel dos gerentes como responsáveis pela solução de

problemas, pelos registros, e pela tomada de decisões no interesse da eficiência

organizacional e da congruência dos objetivos a fim de alcançar a maximização da

riqueza dos acionistas. Como o discurso anterior, este também é estreito, exploratório e

a serviço de um grupo, visto que os gerentes têm oportunidade de chegar à alta

administração, tendo um trabalho interessante e recompensador.

A realidade é que para a maior parte, o trabalho do gerenteé de vigilância, observação, controle e avaliação dodesempenho dos demais empregados da empresa atravésdos mais diversos meios, dentre eles, orçamentos,detalhados sistemas de controle operacional, relatórios decusto-padrão e sistemas de custeio. Em resumo, o papel dogerente é verificar que os empregados entreguem o lucroesperado (Macintosh, 1994, p.254).

Para Macintosh (1994), enquanto o discurso contábil para os altos executivos e

gerentes circula livremente através da organização e da sociedade, nenhum discurso

contábil similar existe para o resto dos empregados. Como resultado, os empregados

não possuem qualquer voz dentro das organizações nas quais projetam, produzem e

comercializam os produtos e serviços que geram os lucros. Sem um discurso

equivalente aos dos altos executivos e gerentes, as necessidades e desejos dos

empregados permanecem em um segundo plano.

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Talvez esteja chegando o tempo em que os acadêmicos da contabilidade

gerencial dediquem-se a desenvolver um real sistema de contabilidade para os

funcionários ao invés de meramente reinventar sistemas de contabilidade usando

diferentes algoritmos de alocação de custos ou treinando os gerentes em ética. Para

Macintosh (1994), tal tarefa será um desafio e poderá ser gratificante; ela poderá

informar, por exemplo, o número de horas trabalhadas, os salários recebidos, o valor

agregado pelo trabalho, o número de novos empregos criados. E quem sabe, o real

empowerment dos funcionários combinado com um sistema contábil e um discurso

voltado para os funcionários possa levar a maiores lucros por ação do que os gerados no

estado atual de negócios. Para o autor esta experiência é inevitável:

As pessoas que trabalham, produzem os resultados edevotam suas vidas emocionais e espirituais às empresasdeveriam receber sua parte justa das recompensas, e nãoapenas uma minúscula minoria levar a parte do leão. Comtempo, e alguma sorte, as coisas poderão virar nestadireção (Macintosh, 1994, p.255).

Chenhall (2003), após extensa revisão da literatura produzida nos últimos 20

anos sob a abordagem contingencial, apresenta diversas sugestões para a pesquisa de

sistemas de controle gerencial. De acordo com o autor, visto que as muitas dimensões

dos sistemas de controle gerencial e seus contextos mudam, novos estudos serão sempre

necessários para lidar com as questões emergentes. Como exemplo, menciona que

somente agora começam a ser publicadas pesquisas identificando os fatores que

influenciam o desenho e a implementação do ABC/ABM. Da mesma maneira, somente

agora, uma série de desenvolvimentos recentes tais como operações globais,

administração estratégica do risco, balanço social, organizações baseadas no

conhecimento, capital intelectual, cadeia de valor, entre outros, começam a ser

compreendidos pelos pesquisadores. Da mesma forma, aponta que é necessária mais

pesquisa na área de serviços e em organizações sem fins lucrativos.

Apesar de existirem diversas oportunidades de pesquisa, Chenhall (2003) alerta

que é importante que o desenvolvimento do conhecimento deve ser feito de maneira a

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assegurar a coerência no estudo dos elementos dos sistemas de contabilidade gerencial e

das variáveis contextuais, assim como nos achados desses estudos. Esta confiança pode

ser conseguida através da replicação de estudos, o que aumentará a validade e a

confiabilidade dos achados, propiciando dessa forma uma base a partir do qual se

poderão desenvolver modelos.

Em que pese o exposto acima, Otley (2001) argumenta que, embora o contexto e

o uso da contabilidade e de outras técnicas de controle tenham mudado radicalmente na

última década, a pesquisa em contabilidade gerencial tem permanecido com uma

abordagem tradicional, tanto no que diz respeito às áreas que são estudadas, quanto aos

métodos empregados. O estudo da contabilidade de gestão tem se concentrado na

contabilidade; estaria na hora de mudar o foco e colocar a gestão de volta no centro das

atenções.

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente capítulo fez um apanhado geral das mudanças ocorridas desde o

estudo de Gomes (1983) até o presente, no que diz respeito à evolução da teoria

referente aos sistemas de controle gerencial.

Foi abordada a teoria relativa aos sistemas de controle gerencial; inicialmente,

foi efetuada uma breve discussão referente às tentativas de sistematizar o estudo do

controle gerencial. Após foram apresentadas as abordagens consideradas referenciais

para o campo de estudo, além de algumas abordagens inovadoras ao estudo do controle.

Na seqüência, foram discutidas as principais mudanças ocorridas no contexto

dos negócios atuais e apresentados alguns dos instrumentos de controle gerencial

desenvolvidos nos últimos anos. Foram, então, apresentadas algumas das contribuições

nacionais ao estudo do controle gerencial.

Por fim, foram apresentadas as tendências e sugestões de pesquisas na área de

controle gerencial de acordo com os principais autores relacionados à área.

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No próximo capítulo será discutida a metodologia aplicada ao trabalho de

pesquisa, sendo apresentadas a sua caracterização, as perguntas de pesquisa, o plano de

referência, as variáveis de pesquisa, o método de coleta de dados, o quadro de referência

para análise e as limitações do trabalho.

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75

3. METODOLOGIA

3.1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa se enquadra na categoria de estudo exploratório, subtipo

exploratório-descritivo combinado, conforme o sistema de classificação da pesquisa

proposto por Tripodi et alli (1975). Conforme estes autores, estudos exploratórios são

“... investigações de pesquisa empírica que tem comofinalidade a formulação de um problema ... aumentando afamiliaridade de um investigador com um fenômeno ouambiente para uma pesquisa futura mais precisa” (p. 65).

Por exploratórios-descritivos combinados são definidos

“... aqueles estudos exploratórios que procuram descrevercompletamente um determinado fenômeno. Apreocupação pode ser com uma unidade decomportamento, como no estudo de um caso, para a qualanálises empíricas e teóricas são feitas... Os procedimentosde amostragem são flexíveis e pouca atenção é geralmentedada ao caráter representativo sistemático” (p.65-6).

Vergara (1997), por sua vez, aponta que tal tipo de estudo é realizado em área na

qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, e que, por sua natureza, não

comporta hipóteses que, contudo, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa.

Nas seções seguintes será apresentado o método a ser empregado neste estudo,

assim como, serão definidas as perguntas da pesquisa, o plano de referência, o

fundamento teórico, as variáveis de pesquisa, os critérios de seleção das empresas

estudadas, o método de coleta de dados, o esquema para análise dos dados e as

limitações do estudo.

3.2 MÉTODO DE PESQUISA EMPREGADO

A presente pesquisa será conduzida sob a forma de estudo de casos. De acordo

com Yin (1989), a utilização do estudo de caso como estratégia de pesquisa justifica-se

quando uma pergunta do tipo "Como" ou "Por Que" está sendo feita sobre um conjunto

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de eventos contemporâneos, sobre os quais o investigador tem pouco ou nenhum

controle.

Para Zikmund (1997), a vantagem primária de um estudo de caso é permitir que

uma organização ou entidade seja investigada em profundidade, com profunda atenção

para detalhes. Esta atenção profunda pode permitir ao pesquisador estudar

cuidadosamente a ordem de acontecimento dos eventos e seu relacionamento com

indivíduos, entidades ou outros acontecimentos. Para Yin (1993), o estudo de caso é o

método a ser aplicado quando o fenômeno sob estudo não é facilmente distinguível de

seu contexto. Isto quer dizer que o estudo de caso é a estratégia de pesquisa que

investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto real, quando os limites entre o

fenômeno e o contexto não são evidentes e no qual múltiplas fontes de evidência são

usadas.

Neste sentido, Otley e Berry (1994) apontam que uma das razões para a adoção

de estudos de caso na pesquisa de controles contábeis é que a função da contabilidade e

de outros controles não pode ser inteiramente compreendida se examinada

isoladamente, sendo requerida uma abordagem mais contextual.

3.2.1 O desenho de pesquisa

Para Yin (1989), todo estudo empírico deve seguir um plano implícito ou

explícito - o desenho de pesquisa. Um desenho de pesquisa é a seqüência lógica que liga

os dados a serem coletados (e as conclusões a que se chegará) às questões iniciais do

estudo. Seu principal propósito é ajudar a evitar a situação em que a evidência não tem

relação com questão de pesquisa inicial. É, assim, muito mais que um simples plano de

trabalho, lidando muito mais com os aspectos da lógica da pesquisa do que com os

aspectos logísticos. Yin (1989) aponta cinco componentes no desenho de pesquisa que

são especialmente importantes. Os três primeiros indicam basicamente quais os dados

que deverão ser coletados, enquanto os demais indicam o que deverá ser feito com os

dados coletados. Os componentes são:

1. a questão de estudo;

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2. suas proposições;

3. sua(s) unidade(s) de análise;

4. a lógica que liga os dados às proposições; e

5. o critério para interpretar as descobertas.

As formas Como e Por Que parecem ser as mais adequadas ao estudo de caso.

Assim, a principal tarefa do pesquisador é clarificar precisamente a natureza da questão

de seu estudo. A coerência das questões apresentadas com o que é efetivamente

pesquisado deve ocorrer para que um estudo de caso seja bem sucedido. Entretanto,

alguns estudos de natureza exploratória podem não apresentar proposições.

O pesquisador não deve coletar "tudo" ou todos os dados que se lhe apresentam

pela frente. As unidades de análise devem ser circunscritas às proposições apresentadas

no escopo da pesquisa, e devem ter o conveniente foco que proporcione a sua execução.

A ligação entre dados e proposições significa que deve existir coerência entre os

dados e informações coletadas com a proposição inicial. Por fim, os critérios para

interpretação das descobertas devem ser clarificados para que não hajam dúvidas quanto

à validade do estudo e para que permita a replicação do mesmo sob as mesmas

condições. Yin (1989) ressalta que, embora o desenho de pesquisa deva fornecer as

bases para a correta ligação dos dados e proposições, assim como para a definição dos

critérios de interpretação, a teoria relacionada a estudos de caso não fornece informação

detalhada de como isto pode ser obtido.

Yin (1989) aponta que cobrir os cinco pontos precedentes no desenho de

pesquisa, força o pesquisador a começar a construir uma teoria preliminar referente ao

seu tópico de estudo. A construção desta teoria não apenas facilitará a fase de coleta de

dados, como também indicará o grau de generalização das conclusões que o estudo de

caso permitirá.

A generalização dos resultados obtidos a partir de um estudo de casos é um dos

aspectos mais polêmicos no que diz respeito à ampla aceitação da estratégia. De acordo

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com Yin (1989) a resposta à esta questão é que o estudo de caso, assim como os

experimentos, são generalizáveis para proposições teóricas e não para populações ou

universos. O estudo de caso, da mesma forma que um experimento, não representa uma

amostra e o objetivo do investigador é expandir e generalizar teorias (generalização

analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística). Dito de outra forma,

enquanto na generalização estatística uma inferência é feita sobre uma população com

base em dados empíricos coletados de uma amostra, na generalização analítica uma

teoria desenvolvida previamente é usada como um modelo contra a qual serão

comparados os resultados empíricos do estudo de caso. Se dois ou mais casos parecem

dar suporte à mesma teoria, pode se propor replicações; os resultados serão

considerados ainda mais consistentes se dois ou mais casos suportarem a mesma teoria,

mas não oferecerem base para a aceitação de uma igualmente plausível teoria rival.

Otley e Berry (1994), por sua vez, afirmam que o estudo de caso provê um

veículo pelo qual teorias podem ser geradas e modificadas à luz dos dados, sendo

particularmente valioso onde as teorias existentes são inadequadas ou incompletas ou

explicam apenas parte do fenômeno em estudo. Alertam, contudo, que o método do caso

não pode se desvincular de uma teoria, isto é, ele parte de uma posição teórica, explícita

ou implícita. Dito de outra forma, as observações feitas, o fenômeno percebido e a

interpretação dada são todos influenciados pelas pressuposições teóricas do observador.

3.2.2 Avaliação da qualidade do desenho de pesquisa

Yin (1989) considera que, sendo o desenho de pesquisa um conjunto lógico de

etapas a serem cumpridas, a qualidade de qualquer desenho pode ser atestada a partir de

um conjunto de testes lógicos. Para tanto, quatro testes são relevantes.

O primeiro refere-se à Validade do construto que estabelece as medidas

operacionais corretas para os conceitos em estudo. Este, segundo o autor, é um teste

especialmente problemático, pois diz respeito a eliminação do julgamento subjetivo do

investigador na coletade dados. As táticas recomendadas para aumentar a validade do

construto são a utilização de múltiplas fontes de evidência, o estabelecimento de uma

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cadeia de evidências e, finalmente, fazer os informantes-chave revisar o relatório

preliminar do estudo de caso.

A Validade interna que estabelece uma relação causal, demonstrando que a

ocorrência de certos eventos levam a outros eventos (válido somente para estudos

Explicativos e não para estudos Descritivos ou Exploratórios), pode ser incrementada

com a utilização das seguintes táticas analíticas: a comparação com padrões, a

construção de explicações sobre o caso e a análise de séries temporais.

Quanto à Validade externa, que estabelece o domínio ao qual pertencem os

resultados e descobertas da pesquisa e de que forma podem ser generalizados, esta pode

ser aumentada com o uso de replicações, isto é, fazendo-se um estudo de mais de um

caso.

Por fim, a Confiabilidade, que demonstra que procedimentos do estudo podem

ser repetidos (isto é, o mesmo caso ser feito novamente), com os mesmos resultados,

pode ser incrementada com o uso do protocolo estudo de caso - documento que contém,

entre outros, os objetivos, os procedimentos a serem seguidos, as questões do estudo, o

guia para o relatório sobre o estudo. Também deve ser desenvolvida pelo investigador a

base de dados do estudo de caso.

3.2.3 Estudos de caso simples x estudos de casos múltiplos

Neste ponto, uma questão se impõe: quando o estudo de caso pode ou deve se

restringir um único caso e quando podem/devem ser examinados mais casos? Para Yin

(1989) o estudo de caso simples é apropriado em várias circunstâncias; uma delas

quando se trata de um caso crítico (análogo a um experimento crítico), isto é, que se

destina a testar uma teoria. Uma teoria deve conter um conjunto claro de proposições,

assim como as circunstâncias nas quais se crê que as proposições sejam verdadeiras. O

estudo de um caso pode ser usado para determinar se as proposições da teoria são

corretas ou se pode existir um conjunto de proposições alternativas que possam ser mais

relevantes. Uma segunda razão que justifica um estudo de caso simples é quando o caso

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representa uma situação extrema ou única; nesta circunstância a raridade do caso faz

com que valha a pena documentá-lo e analisá-lo. Uma terceira razão para o estudo de

caso simples é o caso revelatório, isto é, a oportunidade que o investigador tem de

observar e analisar um fenômeno antes inacessível à investigação científica.

O estudo de caso múltiplo, por sua vez, deve ser usado quando o objetivo do

investigador é verificar se resultados similares aos obtidos em um caso podem ser

previstos em outros casos. A lógica presente neste caso é a da replicação, seja a

replicação literal - os mesmos procedimentos aplicados a casos diferentes produzem

resultados similares previsíveis - seja a replicação teórica - os resultados obtidos são

diferentes dos esperados, mas por razões previsíveis. Para tanto, é necessário que exista

um rico e sólido embasamento teórico que defina as condições nas quais um fenômeno

particular é provável de ser encontrado (replicação literal), assim como as condições nas

quais não é provável que seja encontrado (replicação teórica).

Qualquer que seja o tipo de estudo de caso, simples ou múltiplo, é importante

que esta definição seja feita antes de qualquer procedimento de coleta de dados,

devendo estar previsto no desenho da pesquisa.

3.2.4 Considerações finais

Conforme verificado, existem argumentos suficientes para justificar o emprego

do estudo de caso, como técnica de pesquisa. O que fica evidente é que a técnica é mal

compreendida, quanto às suas potencialidades, quanto aos seus procedimentos, assim

como quanto aos resultados que alcança.

A presente seção procurou demonstrar o lugar do estudo de caso dentre as

técnicas de pesquisa, a sua aplicação à pesquisa em Administração e os principais

cuidados a serem observados na sua aplicação.

Tendo em vista os objetivos a que se propôs esta pesquisa - investigar o impacto

da reforma do estado sobre os mecanismos de controle gerencial -, o estudo de caso

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apresentou-se como a técnica mais indicada, por ser aquela que possibilita alcançar um

maior nível de profundidade sobre o assunto e permite maior poder de análise de uma

ou mais organizações, através da comparação destas com tipos ideais encontrados na

literatura, além de permitir a comparação com pesquisa similar feita anteriormente nas

mesmas organizações.

3.3 PERGUNTAS DA PESQUISA

3.3.1 As Perguntas de Pesquisa

Esta pesquisa tem por objetivo responder às seguintes perguntas:

1. Ocorreram mudanças nos sistemas de controle gerencial das empresas

estudadas em 1983?

A resposta a esta questão deverá determinar o atual estágio de desenvolvimento

dos sistemas de controle gerencial projetados pelas empresas estudadas por Gomes

(1983).

2. As mudanças eventualmente observadas nos sistemas de controle gerencial

das empresas estudadas estão relacionadas com a evolução da Teoria de

Controle Gerencial?

A resposta a esta pergunta deverá determinar se as eventuais mudanças nos

sistemas de controle das empresas estudadas acompanharam a evolução do que é

considerado um sistema de controle eficaz pela Teoria de Controle Gerencial, ou foram

causadas por outras razões.

3. Que fatores influenciaram as mudanças eventualmente observadas nos

sistemas de controle gerencial das empresas estudadas?

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A resposta a esta questão deverá determinar quais fatores tiveram alguma

influência nas alterações observadas ou no desenvolvimento dos sistemas de controle

gerencial das empresas estudadas.

3.3.2 Plano de referência

Nesta seção delineia-se o plano de referência a partir do qual foram definidas as

perguntas da pesquisa a que este estudo se propõe.

O número relativamente pequeno de pesquisas sobre controle gerencial no Brasil

recomenda que sejam feitos estudos exploratórios que objetivem:

a. conhecer e comunicar a existência e o formato do sistema de controle

gerencial de empresas brasileiras, estatais e privadas;

b. analisar a evolução ocorrida nos sistemas de controle gerencial das empresas

estudadas;

c. analisar o impacto das mudanças do contexto ambiental e organizacional

sobre os sistemas de controle gerencial das empresas estudadas.

O ponto de partida para a pesquisa dessa natureza é o estudo realizado por

Gomes (1983), que pesquisou nove empresas estatais brasileiras (além da Secretaria de

Controle das Estatais - SEST). O objetivo principal do estudo foi o de investigar a

existência de mecanismos de controle gerencial praticados pelas empresas estatais,

comparando-os com os mecanismos sugeridos pela literatura da época.

Conforme já referido antes, a principal conclusão da pesquisa foi que os sistemas

de controle gerencial das empresas estudadas não atendiam aos fundamentos teóricos

que nortearam o estudo.

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Como mais de 20 anos se passaram e vários aspectos vigentes naquele estudo

mudaram, dentre eles a significativa redução no número de empresas do governo, a

evolução da teoria sobre controle gerencial e a própria situação atual das empresas

estudadas, justifica-se a importância e oportunidade do estudo que se propõe. Conhecer

o impacto que estes eventos tiveram sobre as empresas espera-se que possa contribuir

significativamente para o enriquecimento da literatura sobre controle gerencial, a qual

apresenta uma carência muito grande.

Para Gomes e Amat (1999), o controle é necessário para assegurar que as

atividades de uma organização se realizem da forma desejada pelos membros da

organização e contribuam para o atingimento de seus objetivos. Para tanto, a

administração deve se assegurar de obter informação e influenciar o comportamento das

pessoas para atuar sobre as variáveis internas e externas de que depende o

funcionamento da organização. Enquanto instrumento de reforço de comportamento

positivo e correção de rumo no caso de resultados não desejados, é necessário como

instrumento que possa auxiliar os membros da organização a desenvolverem ações

congruentes - goal congruence - com os interesses das partes (proprietários e

empregados). Tendo em vista que pode ser exercido de maneira mais ou menos formal,

o exercício e o resultado do controle são influenciados por aspectos que não estão,

necessariamente, desenhados e determinados pelos elementos que compõe a

administração. A influência da cultura organizacional ou do contexto social do país,

entre outros, são elementos fundamentais que devem ser considerados na compreensão

do comportamento individual e organizacional. Por fim, tendo em vista que as

alterações do contexto social e competitivo são cada vez mais contínuas, imprevisíveis e

ameaçadoras, mais necessário se torna promover a criação de mecanismos que facilitem

a antecipação e a adaptação às mudanças.

Do exposto, conclui-se pela impossibilidade de se modelar um processo de

controle gerencial que possa ser aplicado indistintamente a qualquer tipo de

organização, assim como pela necessidade de flexibilidade do sistema para se adaptar às

mudanças ambientais.

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Um modelo de sistema de controle adequado ao estágio atual de

desenvolvimento teórico deve, conforme Gomes e Amat (1999), considerar três

elementos: o sistema de controle, propriamente dito, o contexto organizacional e o

contexto social.

O sistema de controle, propriamente dito, compreende a estrutura e o processo

de controle. A estrutura refere-se às responsabilidades de cada gestor ou responsável por

centros de responsabilidade e compreende três elementos: o sistema de medidas, o

sistema de informações e o sistema de incentivos. O processo de controle, por sua vez,

compreende a formulação de objetivos, o orçamento (planejamento e previsão dos

meios e custos para o alcance dos objetivos) e a avaliação do desempenho. Integram o

sistema de controle a contabilidade financeira, a contabilidade de gestão (sistema de

custos, orçamentos), além de elementos menos formalizados, como a cultura

organizacional, o estilo de liderança, a ética, entre outros.

O contexto organizacional, por sua vez, compreende a estrutura da organização -

que pode facilitar ou não a coordenação e a eficiência -, a estratégia, as pessoas que

fazem parte da organização e as relações interpessoais - que favorece uma maior ou

menor motivação - e a cultura organizacional, que favorece uma maior ou menor

identificação dos membros da organização com ela.

O contexto social, por fim, compreende o mercado, o setor competitivo -

clientes, fornecedores e concorrência -, o país - valores, instituições, história, nível de

desenvolvimento - e a sociedade como um todo, em seus aspectos social, tecnológico,

cultural, político, demográfico, ecológico, entre outros. Comparado aos demais

elementos integrantes do sistema de controle, é o mais complexo e difícil de ser

controlado.

A preferência por um ou outro sistema de controle deverá decorrer, portanto, das

características da organização e do contexto social.

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Dados os objetivos do presente estudo, espera-se que a organização desenvolva

um processo de controle gerencial que:

a. utilize dados contábeis que possibilitem uma comunicação clara dos objetivos

da organização;

b. facilite a assimilação e aceitação dos objetivos pelos gerentes, de modo que

possam transformá-los em metas administrativas que motivem os empregados a

alcançarem os resultados esperados de forma eficiente e eficaz;

c. utilize medidas de avaliação de desempenho que, além de possibilitar uma

avaliação correta dos resultados, seja aceita como justa pelos empregados;

d. não deixe dúvidas quanto ao grau de envolvimento da alta direção da empresa

no processo, demonstrado através da participação efetiva nas atividades de

programação, avaliação de performance, implementação dos sistemas de

planejamento e controle, e a forma como, continuamente, efetuam revisões e

modificações no processo de controle gerencial;

e. possibilite a existência de centros de responsabilidade onde se perceba

independência do centro em relação aos outros centros e substancial autonomia

em relação à direção da empresa de modo que a medida de responsabilidade

pelos resultados alcançados pelo centro reflita o desempenho real do centro de

responsabilidade;

f. possibilite a realimentação do sistema de modo a permitir que a alta direção da

empresa utilize os relatórios gerados como inputs do próprio processo e do

processo orçamentário dos próximos anos;

g. permita à administração desenvolver um sistema de recompensas que

incentive os empregados para o alcance das metas gerais da organização.

Esse plano de referência é desenvolvido, em grande parte, baseado no trabalho

de Gomes (1983). Isto se deve em especial aos objetivos do presente estudo, que

pretende, entre outros, comparar os resultados obtidos naquela pesquisa com a situação

atual das empresas, procurando identificar as razões determinantes - mudanças do

contexto organizacional, do contexto social, evolução da área de conhecimento - das

mudanças encontradas. De acordo com Gomes e Amat (1999), durante a última década

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os mais diversos tipos de organizações efetuaram mudanças significativas em seus

sistemas de controle em decorrência de uma série de transformações que ocorreram no

contexto socioeconômico mundial e em seus ambientes internos. De acordo com os

autores:

“As mudanças no contexto social e, em particular, a crisedos mecanismos de controle social durante este período,associadas à crise econômica mundial e seu impacto naredução da rentabilidade, o desenvolvimento doneoliberalismo e as bruscas alterações verificadas nocenário internacional, deram origem à introdução desistemas de controle essencialmente financeiros, quepassaram a ser institucionalizados e legitimados comosistemas de controle por excelência.Em diversos países, os sistemas, antes fundamentados emampla regulação de toda a atividade econômica,começaram a ruir, dando margem à implantação de novosmodelos (principalmente aqueles importados dos EUA...)e novas tecnologias que ampliaram consideravelmente oescopo dos sistemas de controle de gestão com vistas aincorporarem as novas idéias.” (1999, p.55).

Percebe-se, desta maneira, que à medida que o contexto social é mais local, a

concorrência será menor e a organização estará mais protegida; contrariamente, quanto

mais internacional for o contexto social, maior deverá ser a concorrência. Da mesma

maneira, a dimensão da organização e a formalização do sistema de controle estão

estreitamente ligadas, pois é de se esperar que quanto maior for a organização, mais

formalizado deverá ser o seu controle para garantir que a delegação de autoridade,

necessária nestas circunstâncias, possa ser adequadamente avaliada. E, ainda, na medida

em que o contexto social é mais dinâmico e competitivo, tende-se a uma maior

descentralização e à utilização de sistemas de controle financeiro orientados à gestão de

resultados.

Conforme Gomes e Amat (1999), esses sistemas de controle podem ser mais

flexíveis e informais em empresas que possuam um elevado componente de criatividade

e inovação em que os custos são menos relevantes, ou podem ser mais formalizados,

mediante o desenho de sistemas de controle financeiro por centros de responsabilidade,

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quando os custos são mais críticos e a formalização e quantificação dos fatores críticos é

viável.

Em decorrência do exposto, diferentemente dos resultados obtidos por Gomes

(1983) em sua pesquisa, acredita-se agora que as empresas devem possuir instrumentos

de mensuração que se aproximam do processo encontrado na literatura sobre controle

gerencial, mesmo aquelas que permanecem estatais.

3.3.3 Variáveis da pesquisa

3.3.3.1 Definição das variáveis da pesquisa

Para responder às questões da pesquisa foram definidas as variáveis a serem

pesquisadas; cabe ressaltar que, tendo em vista os objetivos do estudo, grande parte das

variáveis serão as mesmas definidas na pesquisa de Gomes (1983). Estas variáveis

foram classificadas em categorias de modo a alcançar a sistematização dos dados

obtidos, reduzindo-se assim os problemas comuns encontrados em trabalhos que

utilizam o método de estudos de casos. A operacionalização das variáveis procura

delimitar os comportamentos anotados ao longo das entrevistas de forma a confrontar os

casos estudados com as categorias definidas no quadro de referência teórico. Assim as

variáveis foram classificadas em:

A- Variáveis componentes do sistema de controle gerencial

a. Objetivos organizacionais

b. Processo orçamentário

c. Sistema de contabilidade gerencial

d. Medidas de avaliação de desempenho

e. Evolução dos sistemas de controle gerencial

B- Variáveis explanatórias/características organizacionais

a. Controle acionário

b. Grau de autonomia financeira em relação ao controlador

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c. Lucratividade

d. Grau de diversificação de negócios

C- Variáveis ambientais externas

a. Impacto dos controladores externos

b. As mudanças do contexto ambiental e organizacional

3.3.3.2 Definições operacionais

3.3.3.2.1 Componentes do sistema de controle gerencial

Os componentes do sistema de controle gerencial serão operacionalizados da

seguinte forma:

a. Objetivos organizacionais: a verificação da estratégia adotada pela empresa

para o atendimento dos objetivos da organização dar-se-á através de:

1. Avaliação do processo de definição e comunicação dos objetivos à

organização.

2. Avaliação da dinâmica do processo de mudança e revisão dos objetivos com

base na percepção dos entrevistados.

3. Avaliação do tipo de integração entre os objetivos e metas.

4. Verificação do processo usado pela empresa na avaliação do atendimento dos

objetivos organizacionais em confronto com os resultados apresentados.

A análise deste primeiro componente de um sistema de controle gerencial

objetiva classificar as empresas em termos de proximidade ou afastamento em relação

aos sistemas de controle gerencial eficazes referenciados na literatura, onde se destacam

os seguintes pontos: na formulação de uma estratégia empresarial existe uma nítida

distinção entre objetivos e metas (Anthony & Gonvidarajan, 1998). A preocupação

principal é com a ligação entre objetivos e metas (Lorange & Morton, 1974). Procura-se

corrigir o processo e não os resultados, o que implica em revisão periódica dos objetivos

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(Hofstede, 1978). A turbulência ambiental força a existência de novos objetivos,

implicando em se ter que avaliar sistematicamente o atendimento dos objetivos

organizacionais (Hofstede, 1981). A coordenação de diversas partes da organização

envolve comunicação de modo a que compreendam o que se espera delas. Para isto o

sistema necessita ser formalizado de forma a facilitar a integração dos objetivos com as

metas (Flamholtz, 1979).

b. Processo orçamentário: a análise deste componente do sistema de controle

gerencial objetiva avaliar a adequação das metas organizacionais ao sistema de

planejamento e controle da empresa através de:

1. Verificação da importância atribuída pela empresa à participação das

pessoas no processo orçamentário;

2. Análise dos componentes básicos do orçamento (propósito, conteúdo,

horizonte temporal, processo de revisão formal, acompanhamento e fontes de

dados), quanto a sua adequação ao processo orçamentário da empresa;

3. Avaliação do processo orçamentário quanto a sua flexibilidade e capacidade

de adaptação a fatores externos (evolução, aperfeiçoamento, processo de

revisão);

4. Verificação da existência de programas de desenvolvimento de pessoal

ligados ao processo orçamentário (programas de educação contínua em

técnicas orçamentárias).

A análise do processo orçamentário objetivando classificar as empresas

estudadas em termos de proximidade ou afastamento, em relação aos sistemas de

controle gerencial referenciados como eficazes na literatura se baseia nos seguintes

fundamentos teóricos. Segundo Anthony e Govindarajan (1998), orçamentos são

importantes ferramentas para o planejamento e controle eficazes nas organizações,

tendo como principais características:

• é apresentado em termos monetários, embora possa ser complementado com

informações não-monetárias;

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• contém um elemento de comprometimento da administração, no sentido de

que os gerentes concordam em aceitar a responsabilidade por atingir os

objetivos orçados;

• a proposta orçamentária é revisada e aprovada por uma autoridade maior do

que a que elaborou o orçamento;

• uma vez aprovado, o orçamento somente pode ser alterado sob condições

específicas;

• periodicamente, a performance real é comparada com o orçamento e as

variações são analisadas e explicadas.

De acordo com Atkinson et alli (1997), pesquisas sugerem que os tipos de

orçamentos que despertam maior motivação são aqueles que apresentam objetivos

ambiciosos, porém alcançáveis. A interpretação desta afirmação significa, segundo

Merchant e Manzoni (1989), que os objetivos devem ser desafiadores, mas prováveis de

serem alcançados pelo centro de responsabilidade se seus integrantes exercerem um alto

nível de esforço de forma consistente. Além disso, concluem que as principais partes

envolvidas no processo de determinação dos objetivos - alta administração e gerentes -

têm incentivos (aumentar os bônus, proteger a credibilidade e autonomia, aumentar a

flexibilidade operacional, aumentar a previsibilidade dos lucros, proteger contra o

excessivo consumo dos recursos, reduzir o risco de falta de comprometimento, entre

outros) para estabelecer objetivos alcançáveis; neste sentido, o estabelecimento de

objetivos orçamentários pode ser “melhor descrito como um processo de barganha entre

partes cujos incentivos, na maioria das vezes, estão bem alinhados” (Merchant e

Manzoni, 1989, p. 547).

Segundo Atkinson et alli (1997), a participação dos funcionários no processo

provê-lhes uma oportunidade de usar suas informações privadas ou específicas para,

conjuntamente, determinar seus objetivos e negociar o nível de seus orçamentos. Dentre

os benefícios, os autores apontam um maior sentimento de comprometimento com o

orçamento e, desta forma, um maior nível de motivação em alcançar os objetivos e ficar

dentro do orçamento. De acordo com os autores, pesquisas mostram que em

organizações com este tipo de orçamento os funcionários geralmente apresentam uma

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alta satisfação com o trabalho, e alta moral, podendo gerar altos níveis de performance.

Um benefício adicional para a administração, é que a participação induz os funcionários

a revelar, o que se denomina, sua informação privativa sobre o quão bem eles podem

executar seus trabalhos ou, então, introduzir novas idéias que podem ajudar a melhorar

os processos existentes.

c. Sistema de contabilidade gerencial: a verificação deste componente do sistema

de controle gerencial objetiva avaliar o estado e a natureza do sistema e a estrutura de

responsabilidade através de:

1. Avaliação do conteúdo, importância e tipos de relatórios gerados pela

contabilidade gerencial.

2. Avaliação da velocidade de resposta (feedback) aos relatórios gerenciais.

3. Percepção dos gerentes quanto à adequação dos relatórios gerenciais às

necessidades de informação da empresa.

4. Percepção dos gerentes quanto a dificuldades na implantação de relatórios

gerenciais na empresa.

5. Análise da definição e compreensão do conceito de centro de

responsabilidade utilizado pela empresa.

6. Avaliação dos mecanismos de preços de transferência e sua revisão entre os

centros de responsabilidades.

7. Avaliação do processo de acompanhamento do centro de responsabilidade.

8. Avaliação do sistema de custeio utilizado

A classificação das empresas em termos de proximidade ou afastamento em

relação aos pontos vistos como importantes na literatura sobre controle gerencial, está

fundamentada no fato de que um sistema de controle exige um mecanismo formal para

regular a performance dos vários centros de responsabilidade. Um sistema de medidas é

necessário para avaliar o progresso em direção aos objetivos em cada um dos centros de

responsabilidade (Maciariello & Kirby, 1994). A necessidade dos sistemas serem

desenvolvidos a partir do estudo da estrutura organizacional, focalizada em centros de

responsabilidade (Anthony & Govindarajan, 1998), sendo flexíveis de maneira a

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permitir modificações para refletirem a evolução de novos padrões organizacionais

(Lorange & Morton, 1974). A atuação conjunta de dois ou mais centros de

responsabilidade obriga o compartilhamento da receita gerada pela venda final do

produto ou serviço da organização através da determinação de preço de transferência, o

qual não é apenas ferramenta contábil, mas também ferramenta comportamental que

ajuda os gerentes a tomar as decisões corretas (Anthony & Govindarajan, 1998). Um

sistema contábil coleta e analisa dados de custo para apoiar a tomada de decisões

gerenciais (Atkinson et al., 1997).

d. Medida de avaliação de desempenho: a análise deste componente do sistema

de controle gerencial tem por objetivo avaliar a existência e validade de instrumentos

formais de desempenho das unidades organizacionais, que são utilizados pela empresa

para reforçar comportamentos positivos e corrigir desvios no alcance dos objetivos da

organização. Isto será efetuado através de:

1. Verificação da abrangência dos propósitos e das medidas formais usados no

processo de avaliação de desempenho projetados pela empresa;

2. Verificação da existência e validade dos padrões e procedimentos formais

utilizados no processo de avaliação de desempenho;

3. Verificação da relevância do sistema formal de avaliação e recompensa

utilizado no processo de controle gerencial (promoções e incentivos

financeiros derivados do desempenho observado).

A análise deste componente de controle gerencial tem como objetivo a

classificação das empresas estudadas, em termos de proximidade ou afastamento em

relação aos sistemas de controle gerencial referenciados como eficazes na literatura,

leva em consideração que a instabilidade do meio ambiente faz com que as medidas

baseadas em unidades monetárias se tornem insuficientes como variáveis de controle

(Lorange e Morton, 1974). Muitas atividades apresentam resultados que só podem ser

medidos em termos qualitativos; se não existirem medidas indiretas para mensurar os

resultados, o controle das atividades torna-se uma questão de avaliação subjetiva

(Hofstede, 1981). Os padrões, planos e objetivos definidos durante o processo

orçamentário tornam-se pontos de referência para o sistema de controle (Maciariello &

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Kirby, 1994). O propósito de um sistema de controle eficaz é prover feedback como

uma base para o processo de avaliação de desempenho - função informacional da

medida. Além disso, o simples ato de medir pode influenciar o comportamento das

pessoas na organização, pela tendência de se concentrar mais atenção nos fatores

sujeitos à mensuração em detrimento daqueles não sujeitos - função processo

(Flamholtz, 1979).

e. Evolução dos sistemas de controle gerencial: a análise deste componente tem

por objetivo avaliar a evolução do sistema de controle gerencial da empresa, verificando

a adaptabilidade dos diversos mecanismos de controle ao meio ambiente externo.

Também tem por objetivo obter informações sobre as técnicas de gestão empregadas

pela empresa. Isto será feito através de

1. Avaliação do sistema de controle gerencial quanto a sua flexibilidade e

capacidade de adaptação a fatores externos (evolução, aperfeiçoamento,

processo de revisão).

2. Verificação dos instrumentos de controle gerencial utilizados pelas

empresas.

A classificação das empresas em termos de proximidade ou afastamento em

relação aos pontos vistos como importantes na literatura sobre controle gerencial, leva

em conta a necessidade dos sistemas serem modificados para refletirem a evolução de

novos padrões organizacionais e da turbulência ambiental (Lorange & Morton, 1974).

3.3.3.2.2 Características organizacionais

As variáveis explanatórias referentes às características organizacionais são

operacionalizadas da seguinte forma:

a. Controle acionário: é adotada a conceituação do Decreto-Lei 200 de 1967

(Reforma Administrativa), que classifica as empresas em Empresas Públicas e

Empresas de Economia Mista e do Código Comercial Brasileiro, complementado pela

Lei 6404 de 1976, que classifica as empresas em Sociedades Anônimas ou Companhias,

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abertas ou fechadas conforme tenham suas ações admitidas a negociação em bolsa de

valores ou não.

b. Grau de autonomia financeira em relação ao controlador: aplicável

especificamente às empresas públicas ou de economia mista. É obtida tomando-se por

base a dependência financeira da empresa aos recursos provenientes do Tesouro, no

fluxo de recursos totais, sendo consideradas autônomas as empresas onde os Recursos

Próprios (RP) são superiores aos Recursos do Tesouro (RTe) e dependentes as empresas

onde os Recursos Totais (RT) são inferiores aos Recursos do Tesouro (RTe). Define-se

Recursos Próprios o somatório da Receita Operacional, de Outras Receitas Próprias, da

diferença entre Outros Recursos e Valores de Terceiros e da Variação (redução) do

Disponível. Recursos do Tesouro são definidos no Programa de Dispêndios Globais do

Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais, a partir da Proposta

orçamentária da União. Recursos Totais são definidos como a soma dos Recursos

Próprios, dos Recursos do Tesouro e das Operações de Crédito, não se levando em

conta as transferências.

c. Lucratividade: medida pela lucratividade média dos últimos três anos, ano-

base de 1999, inflacionando-se os dois primeiros para valores de 2001, com base no

Índice Geral de Preços (IGP)/ Disponibilidade Interna, Fundação Getúlio Vargas.

d. Grau de diversificação de negócios: será usado como medida um esquema de

classificação adaptado do apresentado por Anthony & Govindarajan (1998), os quais

classificaram a estratégia de diversificação de negócios das empresas em negócios

únicos, negócios relacionados e negócios não relacionados. Negócios únicos são os que

operam em apenas uma linha de negócios, totalmente comprometido com um tipo de

indústria. O segundo grupo consiste de organizações que participam em um certo

número de indústrias, porém seus negócios estão conectados entre si por um conjunto de

competências essenciais (core competencies) comum que beneficiam suas unidades de

negócios. O terceiro grupo consiste de organizações que operam empresas que não

guardam relação nenhuma entre si no que diz respeito ao tipo de mercado; a conexão

entre os diversos negócios é puramente financeira. A classificação a ser usada segue a

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adaptação feita por Gomes (1983), o qual considerou não diversificadas as empresas

que por si, ou através de suas associadas, exploram uma única linha de produto/serviço,

ou que produzam uma grande variedade de produtos/serviços a partir de um único

insumo ou que explorem diferentes produtos/serviços em complementação às atividades

desenvolvidas nas linhas de produto/serviço. Por diversificadas serão consideradas as

empresas onde sejam encontradas linhas de produtos/serviços não relacionados com as

linhas de produtos/serviços principais, por si ou através de associadas.

3.3.3.2.3 Variáveis ambientais externas

O impacto das variáveis ambientais externas sobre os sistemas de controle

gerencial das empresas estudadas é operacionalizado da seguinte forma:

a. Impacto dos controladores: a forma como o controle externo realizado pelos

controladores - Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais, no

caso das empresas estatais, e acionista majoritário nas empresas privatizadas - afeta o

projeto e o processo de controle gerencial das empresas é avaliado com base na

percepção dos entrevistados e através da análise de dados secundários.

b. Mudanças do contexto ambiental e organizacional: a forma como o contexto

ambiental e organizacional afeta o projeto e o processo de controle gerencial das

empresas é avaliado com base na percepção dos entrevistados e através da análise de

dados secundários.

3.4 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DAS EMPRESAS ESTUDADAS

Dados os objetivos a que se propõe o estudo, as empresas estudadas são as

mesmas estudadas na pesquisa empreendida por Gomes (1983) em sua tese de

doutorado. Entretanto, é fundamental ressaltar que na época em que foram estudadas

por aquele autor as empresas eram todas estatais. Na atualidade, três das empresas

permanecem estatais, três foram transferidas para a iniciativa privada, uma foi extinta,

uma foi fundida com outros órgãos estatais dando origem a uma nova empresa e uma se

encontra em fase de liquidação após a venda de seus ativos.

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3.5 MÉTODO DE COLETA DE DADOS

Tendo em vista o grau de profundidade da análise que se pretende empreender e

o número limitado de empresas a serem estudadas, optou-se pela aplicação de

questionários através de entrevista pessoal conduzida pelo próprio pesquisador. A

escolha por este método de coleta de dados se justifica por várias razões, dentre as quais

podem ser destacadas:

1. A utilização exclusiva de um roteiro de entrevistas sem o auxílio de um

questionário impossibilitaria a sistematização das respostas, assim como,

poderia acarretar a perda de informações importantes sobre o assunto,

tornando mais difícil a análise posterior dos dados.

2. A utilização exclusiva do questionário sem a presença do entrevistador não

garantiria, ao nível desejado, a correta interpretação das questões por parte

dos entrevistados, com possível implicação na fidedignidade das respostas,

além de impossibilitar o controle exercido tanto sobre a apresentação dos

estímulos (perguntas) quanto no registro das reações (respostas).

O questionário elaborado foi organizado da seguinte forma: uma primeira parte,

composta na sua maioria de perguntas abertas, refere-se aos sistemas de controle

gerencial projetados pelas empresas e o processo por elas desenvolvido, com vistas à

descrição do sistema implantado. Neste momento, entrevista-se a pessoa indicada pela

Direção da empresa como sendo a responsável direta pelo sistema de controle gerencial

em uso. A segunda parte, composta em sua maioria por questões fechadas, buscou

investigar o nível de participação das pessoas no processo de controle gerencial.

Adicionalmente, possibilitou a checagem de pontos importantes da primeira parte. Foi

dirigido aos chefes dos principais centros de responsabilidade da empresa. Cabe, mais

uma vez, destacar que, dados os objetivos do presente estudo, uma significativa parte do

questionário usado tem origem no questionário aplicado na pesquisa de Gomes (1983).

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A execução desta parte da pesquisa apresentou algumas dificuldades de ordem

prática. Algumas das empresas alegaram não poder disponibilizar seu pessoal para

entrevistas pessoais, concordando, entretanto, em receber o questionário - impresso ou

por meio eletrônico - e devolvendo-o, posteriormente, devidamente respondido. Além

disso, mantiveram pessoal disponível para dirimir dúvidas surgidas quando da análise

das respostas. Assim, em uma das empresas o processo ocorreu totalmente através de

troca de correspondência eletrônica, a partir do questionário respondido; em três

empresas isso aconteceu parcialmente: parte - em geral a parte inicial - das entrevistas

foi conduzida pessoalmente e o restante através de correspondência eletrônica. Por fim,

em duas empresas o processo foi integralmente conduzido através de entrevistas

pessoais. No caso das entrevistas pessoais, foram entrevistadas no mínimo uma pessoa

por empresa e no máximo duas pessoas. A duração das entrevistas variou entre duas

horas (no caso das entrevistas parciais) até sete horas (neste caso, dividida em duas ou

mais visitas). As entrevistas pessoais (parciais e integrais) foram gravadas; entretanto,

não foi feita a transcrição das entrevistas.

Após a descrição dos casos ter sido efetuada a partir das entrevistas, o texto foi

submetido às empresas para revisão quanto à fidedignidade dos relatos, sendo

processadas as correções solicitadas. Além disso, em alguns casos, foram encaminhadas

questões visando esclarecer pontos das entrevistas que porventura não tivessem ficado

suficientemente claros.

Além disso, foram coletados, também, dados secundários, quer no âmbito destas

empresas, quando da realização das entrevistas, quer através de fontes externas, como

jornais, revistas, Internet, etc., de modo a se poder estudar as diferenças existentes entre

as características organizacionais e os sistemas de controle projetados por estas

entidades e avaliar algumas questões fornecidas pelos entrevistados.

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3.6 QUADRO DE REFERÊNCIA PARA A INTERPRETAÇÃO DOS

RESULTADOS

A análise consistiu da descrição dos casos estudados nas empresas. Tendo em

vista o pequeno número de casos estudados e, ainda, a natureza exploratória do trabalho,

não foram utilizados instrumentos auxiliares nas atividades de tabulação de dados.

A partir da descrição dos casos, foi feita uma análise qualitativa, na qual foram

relacionados os resultados obtidos no trabalho de campo ao quadro de referência teórica

apresentado no Capítulo 3.3.2.

A fim de se oferecer uma maior riqueza de detalhes sobre os sistemas de

controle gerencial das empresas estudadas, a descrição dos casos foi separada de sua

análise e interpretação. Assim, o próximo capítulo descreve, da forma mais aproximada

possível, o depoimento dos entrevistados.

No capítulo seguinte, os casos foram analisados à luz dos fundamentos teóricos

encontrados na literatura sobre Controle Gerencial, dirigindo-se a análise para a

adequação dos sistemas de controle gerencial às características organizacionais das

empresas. Foi analisada, também a adequação dos sistemas de controle gerencial ao

quadro de referência desenvolvido.

3.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Tendo em vista que se trata de um estudo exploratório no qual foi empregado o

método de pesquisa recomendado na literatura sobre pesquisa social, os resultados

encontrados limitam-se às empresas estudadas, não podendo ser generalizados para

outras empresas.

Dado o estágio em que se encontra a literatura, a diversidade de abordagens, os

aspectos subjetivos de alguns conceitos desenvolvidos, entre outros, não se pode

garantir que as observações realizadas tenham sido capazes de cobrir todos os pontos

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importantes requeridos por estudos desta natureza, por mais extenso que possa ser o

questionário.

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4. OS SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL DAS EMPRESAS

ESTUDADAS

4.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo são apresentadas as informações obtidas durante as entrevistas

realizadas junto às empresas pesquisadas, tendo em vista as perguntas de pesquisa

anteriormente formuladas.

O capítulo está dividido em duas partes. Na primeira parte são apresentadas as

características gerais das empresas de acordo com o contexto organizacional. Na

segunda parte são apresentados os sistemas de controle gerencial das empresas, segundo

o plano de referência desenvolvido.

Devido ao compromisso assumido com os entrevistados, procurou-se disfarçar

os dados apresentados, de modo a dificultar a identificação das empresas pesquisadas.

Assim, foi usada a mesma codificação usada por Gomes (1983), isto é, as empresas

foram apresentadas através de letras, de A a I e suas características principais foram

apresentadas sem especificações que possam facilitar a identificação das mesmas.

Os dados obtidos foram coletados através de entrevistas realizadas com

utilização de um roteiro estruturado e consulta a documentos fornecidos pelos

entrevistados ou obtidos nos sites das empresas na Internet.

Neste capítulo não foram feitas análises nem comentários sobre os resultados

obtidos. A organização dos sumários dos depoimentos visa facilitar a análise posterior,

além de tornar mais clara a apresentação dos resultados obtidos.

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4.2 CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS ESTUDADAS

Das nove empresas que faziam parte do universo estudado por Gomes (1983),

três deixaram de existir ao longo do período que separou os dois estudos. São elas as

empresas identificadas por D, H e I.

Conforme apurado, a empresa D foi fundida com outras duas empresas dando

origem a uma nova empresa. Esta empresa, segundo informava sua home page

“representou um passo importante na racionalização da estrutura do Governo Federal,

pois se originou da fusão de três empresas públicas..., que atuavam em áreas distintas e

complementares, quais sejam, fomento à produção agrícola, armazenagem e

abastecimento respectivamente. ... é a agência oficial do Governo Federal, encarregada

de gerir as políticas agrícolas e de abastecimento, visando assegurar o atendimento das

necessidades básicas da sociedade, preservando e estimulando os mecanismos de

mercado” (BRASIL, 2001).

Entretanto, de acordo com notícias veiculadas na imprensa, a nova empresa

“nasceu em 1991 como um ajuntamento de três das mais ruinosas estruturas do setor

público... é incontável o número de inquéritos, processos e auditorias realizadas por

suspeita de desvios, corrupção, suborno e falcatruas em geral nesses órgãos” (Casado,

1996). Segundo o articulista, em virtude dos constantes desvios e irregularidades

encontradas na empresa, o governo federal deveria extinguir a empresa.

A situação da empresa chegou a tal ponto que, de acordo com alguns usuários

dos serviços prestados pela nova empresa, o serviço da empresa D “era ruim, mas ficou

muito pior”, e que “o bem público está sendo sucatado (sic) e sumindo com a

conivência da [sucessora da empresa D]” (Profissionais, 1998).

Mais recentemente a empresa esteve envolvida em mais um escândalo, desta vez

relacionada à legalização dos bingos no país (Luiz & Marques, 2000). Além disso,

irregularidades no enquadramento à legislação, assim como um rombo atuarial de

milhões de reais atingiram o fundo de pensão da empresa, forçando uma intervenção

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direta (afastamento de toda a diretoria) do Ministério da Previdência (Mais, 2000). Em

2001 novas denúncias de irregularidades fizeram o presidente da empresa renunciar ao

cargo (Cavalcanti, 2001). A situação da empresa era tão complicada que no final de

2001 já se aventava a hipótese de uma nova reestruturação da empresa; conforme

Belmonte (2001) “o conselho de administração da [sucessora da empresa D]... deve

aprovar até a próxima semana o plano de reestruturação da empresa. O processo tem

como objetivo ajustar o foco de atividades da companhia e fazer com que a [sucessora

da empresa D] produza recursos para cobrir seus gastos”. Enfim, passados quase 20

anos desde o estudo de Gomes (1983), pouca coisa mudou, pelo menos no que diz

respeito à capacidade da empresa se autofinanciar.

A empresa H teve suas operações desmembradas em seis áreas, as quais foram

ofertadas à iniciativa privada, a partir de 1996, para exploração comercial mediante

concessão onerosa por 30 anos. Os ativos operacionais foram arrendados às empresas

que arremataram as concessões e o que restou - um patrimônio imobiliário formado por

cerca de 22.000 imóveis, conforme Luiz (1997) - entrou em processo de liquidação em

1999 (Aprovada, 1999), a qual deverá se encerrar em maio de 2003 (Brasil, 2002c).

Uma das conseqüências dessas medidas foi que a empresa apresentou lucro pela

primeira vez na sua história (Paul, 1998).

Nos três primeiros anos de operação privatizada, não foram notadas melhorias

no desempenho das concessionárias; os resultados estavam abaixo do esperado, as

concessionárias não estavam conseguindo cumprir as metas de produção previstas nos

contratos e não estavam conseguindo aumentar a participação de mercado na matriz do

serviço prestado (Hafez & Ferreira, 1999). Apesar disso, uma pesquisa feita pela

empresa H apontou que os grandes usuários dos serviços concedidos aprovavam com

ressalvas a gestão privada do setor (Pesquisa, 1999).

Entretanto, de acordo com especialistas, os resultados positivos das concessões

surgirão a médio prazo, pois a mudança ainda era muito recente para um setor que ficou

estagnado por muito tempo (Hafez & Ferreira, 1999).

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Na visão de certos segmentos da imprensa, a concessão dos serviços prestados

pela empresa H à iniciativa privada “tem sido um dos exemplos mais bem-sucedidos de

transferência e recuperação de um ativo público mal administrado” (Gomes, 2000);

entretanto, de acordo com o articulista, os resultados positivos não chegam à opinião

pública, que continua achando tais operações atrasadas, descumpridoras de metas e

candidatas a benesses governamentais.

Importante ressaltar que a empresa H também foi envolvida em denúncias de

irregularidades antes de se iniciar o processo de privatização e liquidação. Dentre outras

denúncias, foi noticiado que “existe dentro da [empresa H] ‘um esquema que vale tudo:

caixinhas, favorecimentos a empreiteiras, bancos, vendas de imóveis, pagamentos em

benefícios próprio (sic) e etc. Uma verdadeira enxurrada de falcatruas’” (Ornelas,

1992).

Coincidência ou não, vale ressaltar que Gomes (1983) apontava que as empresas

D e H, além de deficitárias, “se apresentam como as únicas empresas dependentes,

financeiramente do Governo, e ... são, justamente, aquelas onde foram encontrados o

maior número de aspectos negativos, no projeto do sistema de controle gerencial” (p.

262-63).

Por fim, o processo que levou a empresa I à extinção guarda semelhanças a uma

comédia de erros. Levada a leilão por três vezes, em nenhuma apareceu candidatos. Seu

fechamento teria custado à União cerca de R$ 240 milhões, valor gasto na tentativa de

tornar a companhia mais atraente para o comprador. Ainda assim, havia um débito

remanescente de R$ 60 milhões. De acordo com um ex-liquidante da empresa, a mesma

não foi privatizada por causa de seu passivo trabalhista. Segundo o liquidante, entre os

motivos que levaram a empresa estatal à crise que culminou no seu fim estão: má

gestão, ineficiência, corrupção, excesso de funcionários, custos trabalhistas altos, além

de uma falta de visão das lideranças sindicais que impuseram uma série de regalias, sem

a correspondência com a realidade do mercado (Magnavita, 1997).

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Em meio às tentativas de vender a empresa, uma decisão judicial passou a

administração da mesma ao sindicato dos empregados, por atraso no pagamento de

salários (Fernandes, 1995). Mesmo estando a empresa, por determinação judicial, sob a

administração dos funcionários, o governo federal emitiu uma Medida Provisória

liquidando a empresa (Governo, 1995). O governo pagou os salários em atraso,

entretanto uma nova liminar concedendo o direito de explorar a empresa em usufruto

pelas dívidas trabalhistas foi obtida pelos funcionários; ainda assim, o governo manteve

a liquidação (Funcionários, 1996).

Em outubro de 1997 a União assumiu a dívida trabalhista e extinguiu a empresa

(Paul & Santos, 1997). Entretanto, uma decisão judicial em favor de funcionários

demitidos durante o processo de liquidação derrubou a Medida Provisória que extinguia

a empresa e passou a administração da empresa aos funcionários em regime de usufruto

(TRT, 1997). No decorrer de 1998, uma proposta de compra do acervo da empresa por

parte de uma ONG começou a ser investigada pelo Banco Central por suspeita de

lavagem de dinheiro (Azevedo, 1998).

Atualmente, a empresa não consta mais da relação de empresas estatais

disponível no site do Ministério do Planejamento, permitindo supor que, finalmente,

tenha sido liquidada (BRASIL, 2002b).

É importante mencionar que a empresa I apresentava muitos problemas no seu

sistema de controle gerencial, conforme mostrou Gomes (1983). De acordo com o autor,

no que diz respeito à análise dos Objetivos Organizacionais, a empresa I “se encontrava

muito afastada dos sistemas vistos como eficazes (...) por não preencherem os requisitos

mínimos em termos das variáveis estudadas” (p.240). Quanto ao Sistema de

Contabilidade Gerencial, as conclusões de Gomes (1983) foram de que os sistemas “não

atendem aos requisitos mínimos (p.245). Quanto ao Processo Orçamentário, o autor

afirma que a empresa I e outras “não lograram êxito em nenhum dos aspectos

examinados na análise deste tópico” (p. 253). Por fim, no que diz respeito às Medidas

de Avaliação de Desempenho das Unidades Organizacionais o autor conclui que “nas

seis empresas restantes [empresa I incluída] não foi possível identificar-se

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procedimentos administrativos compatíveis com aqueles encontrados no plano de

referência utilizado neste estudo” (p.257).

Desta maneira, não causa surpresa o fato do governo ter decidido pela extinção

das empresas D, H e I.

Quanto às seis empresas restantes, três atuam no setor terciário da economia,

duas no setor secundário e uma no setor primário. As empresas extintas atuavam todas

no setor terciário.

Por localização, cinco empresas têm suas sedes na cidade do Rio de Janeiro e

uma em Brasília.

No que concerne ao controle acionário, das três empresas privatizadas duas são

sociedades anônimas de capital aberto e uma é de capital fechado (controlada por uma

holding de capital aberto), enquanto que, das demais, duas são empresas de economia

mista e uma é empresa pública. Cabe mencionar que até o início de 2001, os

controladores da empresa E detinham significativa participação na empresa C.

Quanto à percentagem de participação da União Federal no capital das empresas,

uma tem participação total, uma tem participação superior a 99% e outra cerca de 40%

(cerca de 58% das ações ordinárias). Nas empresas privatizadas, a União mantém

participação em uma empresa através do BNDESPAR e do Tesouro Nacional no

montante de cerca de 36% (24% do capital votante), além de uma ação preferencial de

classe especial (golden share) que lhe confere direito de veto quanto a mudanças em

uma série de aspectos relacionados à atividade da empresa, sua denominação, sede

social e outros assuntos determinados no Estatuto Social. Nas outras duas empresas

privatizadas não há participação do Estado.

Com relação à idade das empresas, todas elas operam há mais de 30 anos.

Quanto às privatizações, a mais antiga ocorreu em 1993 e a mais recente em 1998.

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Tomando-se o número de empregados como medida de tamanho da empresa,

todas as empresas estudadas são consideradas grandes. A empresa com menor número

de empregados tem mais de 3.000 funcionários, sendo que duas delas têm mais de

20.000 funcionários, cada uma. Na época do estudo de Gomes (1983) eram cinco as

empresas com mais de 20.000 funcionários.

Nenhuma das três empresas estatais estudadas é dependente, financeiramente, de

socorro governamental, através de recursos do Tesouro, conforme pode ser verificado

no Relatório Anual DEST - Programa de Dispêndios Globais - 2000 (último ano

disponível para consulta) (BRASIL, 2003).

Medidas pelo Patrimônio Líquido, em dezembro de 2001, cinco, das seis

empresas estudadas, encontram-se entre as vinte maiores empresas do Brasil - excluídas

as empresas do setor financeiro (EXAME, 2002).

Em termos de vendas, em dezembro de 2001, quatro das empresas estudadas

encontravam-se classificadas entre as vinte maiores empresas do País, enquanto as

outras duas estavam entre as 50 maiores (EXAME, 2002).

Com referência ao Lucro Líquido médio dos últimos 3 anos (99, 00, 01),

corrigidos para preços de 2001, todas as empresas apresentaram resultados positivos. Na

pesquisa de Gomes (1983), quatro das nove empresas estudadas então haviam apurado

resultados negativos. O lucro médio das seis empresas foi de 2,22 bilhões de reais,

variando de 254 milhões até 8,59 bilhões de reais. Os valores apurados por Gomes

(1983), corrigidos pela variação do IGP-DI são os seguintes: lucro médio das nove

empresas equivalente a 440 milhões de reais variando de 1,43 bilhões negativos até 3,48

bilhões.

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107

4.3 OS SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL DAS EMPRESAS

ESTUDADAS

Como mencionado na parte introdutória deste capítulo, serão apresentados a

seguir os sumários dos depoimentos dos entrevistados, obedecendo a classificação das

variáveis de pesquisa, segundo o plano de referência sobre controle gerencial.

As empresas estudadas foram codificadas seguindo o critério de Gomes (1983),

isto é, de A a G e nesta ordem serão apresentadas. Nesta parte não serão feitas análises

ou comentários sobre os depoimentos dos entrevistados, devendo este trabalho ser

realizado no capítulo seguinte.

4.3.1 Empresa A

4.3.1.1 Características Gerais

A empresa “A” tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro, atuando no setor

terciário da economia há mais de 40 anos. Encontra-se classificada entre as vinte

maiores empresas não financeiras do país, tanto no ranking de patrimônio líquido -

superior a R$ 3.700 milhões em 2001 (o valor apontado por Gomes (1983), corrigido

pelo IGP-DI, equivale a mais de R$ 3.300 milhões) -, quanto no ranking de vendas -

superior a R$ 6.600 milhões (EXAME, 2002).

Trata-se de uma empresa de economia mista de capital fechado, cuja

participação da União Federal no capital social é superior a 99%, sendo controlada por

uma “holding” administradora do setor.

Seus empregados, em número superior a 3.800 (eram mais de 9.000 no estudo de

Gomes (1983)), representavam uma folha de pagamento superior a R$ 340 milhões (o

valor relatado por Gomes (1983) para dezembro de 1981, corrigidos pelo IGP-FGV,

corresponde a cerca de R$ 434 milhões em dezembro de 2001).

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A empresa não possui diversificação de seus negócios, dedicando-se

exclusivamente ao fim para o qual foi criada, sendo que sua principal fonte de recursos

se origina da cobrança de tarifas sobre os serviços prestados.

O grau de autonomia financeira em relação a terceiros apresenta um percentual

superior a 99% (era 53%) se utilizada a relação Recursos Próprios/Recursos Totais. A

empresa não é dependente de recursos governamentais, pois não são encontrados

recursos provenientes do Tesouro Nacional no Relatório Anual DEST - Programa de

Dispêndios Globais - 2000 (BRASIL, 2003). Apresenta um grau de endividamento total

de 40% (era de 80% em 1981, conforme Gomes (1983)), sendo que deste, apenas 16,7%

(ou 6,7% do total do patrimônio) representam empréstimos e financiamentos,

integralmente garantidos pelo Governo Federal e/ou controladora, o que denota um

certo tipo de dependência.

O lucro líquido médio dos últimos 3 anos (base dezembro de 2001) foi de R$

663,5 milhões (o valor lucro médio apontado por Gomes (1983) atualizado para

dezembro de 2001 pelo IGP-FGV, corresponde a R$ 662 milhões); entretanto, ao

contrário do relatado por Gomes (1983), a empresa apresentou lucro operacional nos

últimos 3 anos - média de R$ 727 milhões. Esta comparação, entretanto, fica

prejudicada tendo em vista o critério de correção monetária adotado na época, o qual

não permitia a visualização do resultado operacional considerando os efeitos

inflacionários, o que não ocorria com o lucro líquido.

4.3.1.2 Sistema de controle gerencial

Objetivos Organizacionais

Os objetivos gerais da empresa são estabelecidos pelo planejamento estratégico,

processo do qual participam todas a microfunções. Os objetivos gerais da empresa são

“gerar e transmitir energia elétrica”, sendo que são os mesmos perseguidos pela

empresa nos últimos três anos.

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Os objetivos são comunicados para a organização através do Planejamento

Estratégico, o qual é usado para orientar as decisões estratégicas. Os executivos da

organização tomam conhecimento destes objetivos através de divulgação interna.

Segundo os entrevistados, não é possível ordenar os objetivos por ordem de

importância. A empresa não adota a prática de desdobrar os objetivos gerais em

objetivos específicos. Da mesma maneira, não existe processo formal que avalie se os

resultados obtidos pela empresa estão de acordo com os objetivos fixados. Também não

existe processo formal que integre os objetivos específicos com as metas, tampouco

existe processo formal de revisão nos objetivos específicos estabelecidos pela empresa.

Processo Orçamentário

I - Filosofia orçamentária

Segundo os entrevistados, de acordo com a filosofia orçamentária da empresa, o

sistema orçamentário da empresa: serve como mecanismo inibidor de gastos; introduz

em todos os níveis da administração o hábito de consideração adequada cuidadosa e

oportuna de todos os fatores importantes antes de serem tomadas decisões; e requer

dados contábeis apropriados e adequados às necessidades orçamentárias.

Como conseqüência dessa filosofia, o sistema orçamentário é usado como

instrumento de planejamento, de controle financeiro e como meio de comunicação das

metas a serem alcançadas.

II - Função orçamentária

A empresa possui um executivo com responsabilidade integral pelo orçamento

da empresa, executivo este que ocupa cargo de 3º escalão no organograma da empresa

no nível de Chefe de Departamento.

Em linhas gerais, o papel desempenhado pelo pessoal da área orçamentária no

tocante à preparação da proposta orçamentária inclui: prover diretrizes, prover

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assessoria aos executivos, projetar dados e distribuir formulários padronizados e prover

informações detalhadas.

Às unidades operacionais compete a apresentação das metas físicas a serem

alcançadas.

A alta direção da empresa participa das fases de planejamento e aprovação do

orçamento, sendo responsável por eventuais cortes orçamentários.

Uma vez aprovado o orçamento, a área orçamentária tem a responsabilidade pela

sua divulgação. Também é responsável, durante a execução orçamentária, pela análise

das variações ocorridas - em conjunto com as áreas operacionais - e pela elaboração de

relatórios referentes a essas análises. Estes relatórios são disponibilizados para toda a

empresa.

III - Características básicas do orçamento

A empresa desenvolve um sistema orçamentário baseado em orçamentos

operacionais (despesas), orçamentos financeiros (orçamento de caixa) e orçamento de

investimentos.

O atual sistema orçamentário foi introduzido na empresa há mais de 10 anos.

Existe na empresa um processo de planejamento a longo prazo, o qual é elaborado

concomitantemente com o orçamento, porém como atividades separadas.

O planejamento de longo prazo é formalizado através de um documento

denominado “Plano Geral de Obras”, enquanto que o sistema orçamentário da empresa

é formalizado através do “Programa de Dispêndios Globais”.

O horizonte temporal do planejamento de longo prazo é de 5 anos.

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São realizados ajustes nos valores orçados durante o período orçamentário,

sendo as necessidades de ajustes analisadas anualmente. As datas mais importantes para

as atividades orçamentárias são 31 de agosto e 15 de dezembro.

A execução orçamentária é examinada mensalmente, sendo de 10 horas/mês o

tempo médio gasto nas atividades de análise e elaboração de relatórios sobre as

variações orçamentárias observadas. Mensalmente a alta direção da empresa recebe os

relatórios elaborados, enquanto as unidades operacionais os recebem diariamente, via

Internet.

As principais informações usadas no processo de planejamento orçamentário são

estimativas econômicas, o orçamento do último ano, informações de mercado e os

planos do governo. No processo de discussão e aprovação do orçamento são levadas em

consideração as diretrizes da alta direção, as estimativas elaboradas pelas unidades

operacionais e a conjuntura econômica. Por fim, na análise da execução são observados

os dados históricos fornecidos pela contabilidade, os efeitos inflacionários/cambiais e as

mudanças na política econômica do governo.

IV - Funcionamento do sistema orçamentário

Como já referido, o sistema orçamentário atual foi criado há mais de 10 anos. As

mudanças implementadas desde então foram executadas através da organização de

grupos de trabalho constituídos por pessoas da própria empresa, sem recorrer a serviços

de consultorias externas. Tais grupos de trabalhos foram constituídos por pessoas das

áreas orçamentária e regionais.

De acordo com os entrevistados, não existe, atualmente, na empresa qualquer

pessoa com a incumbência permanente de estudar e implementar aperfeiçoamentos no

sistema orçamentário.

A empresa costuma fazer revisões no orçamento antes da aprovação final, sendo

a não aceitação do resultado projetado pela alta direção a razão mais comum para a

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revisão. O procedimento usado nestas situações consiste em o executivo responsável

pelo orçamento efetuar as revisões e apresentá-las à alta direção.

Também são efetuadas revisões durante o período de execução orçamentária,

sendo essas revisões executadas pelo pessoal da área orçamentária e pelas unidades

operacionais.

Segundo os entrevistados, não é comum iniciar-se o período orçamentário sem

que esteja concluído o orçamento.

V - Controle orçamentário

a. Controle interno

O controle orçamentário interno tem como características básicas o

acompanhamento diário da execução [orçamentária] e do comprometimento [de

recursos]. São produzidos relatórios de controle os quais são disponibilizados para toda

empresa através da Intranet.

Em linhas gerais, os relatórios de controle orçamentário abordam os seguintes

aspectos:

- quanto à natureza e magnitude das variações orçamentárias, são examinadas

tanto as variações negativas quanto as positivas, cuja magnitude exceda a 10%;

- quanto ao nível de detalhes para a identificação de responsabilidades, as

responsabilidades são claramente identificadas;

- quanto à análise de variações, não são considerados fatores que possam estar

fora do controle direto dos responsáveis pelas mesmas.

Os executivos responsáveis pelas variações têm a possibilidade de explicar as

diferenças observadas em reuniões, tanto periódicas, quanto extraordinárias.

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b. Controle externo

O controle exercido pelo Departamento de Coordenação e Controle das

Empresas Estatais consiste no envio de informações mensais através do sistema SIDOR,

além de visitas periódicas de pessoal do DEST.

Para atender esse requerimento, a empresa dispõe de três pessoas, as quais

empregam cerca de 10 horas por mês para cumprir essa função. Em média são

preparados 12 relatórios anuais.

Na ótica dos entrevistados, o controle orçamentário externo afeta sensivelmente

a autonomia financeira da empresa, no tocante à execução orçamentária.

Na percepção dos entrevistados, existe um compromisso real por parte dos

executivos da empresa no tocante ao alcance de suas metas orçamentárias. Isto se dá

pelo envolvimento proporcionado pela participação no processo orçamentário e pelo

sentimento de trabalho em grupo.

VI - Recrutamento e Treinamento de Pessoal Orçamentário

O recrutamento de pessoal para a área orçamentária é feito através de concursos.

A empresa não dispõe de programas de educação continuada em técnicas orçamentárias,

sendo que a política da empresa para aperfeiçoar os executivos orçamentários consiste

em proporcionar a participação em cursos, seminários e palestras. Tal política de

aperfeiçoamento não sofreu mudanças nos últimos anos.

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Sistema de contabilidade gerencial

I - Sistema contábil

O sistema contábil usado pela empresa foi implantado há 19 anos - desta

maneira é o mesmo referido por Gomes (1983). Neste período, o sistema sofreu três

revisões com a finalidade de adaptá-lo a alterações ocorridas na legislação e em

regulamentos dos órgãos reguladores. O sistema contábil integra somente a

contabilidade financeira com a contabilidade de custos.

Os entrevistados consideram que o atual sistema contábil da empresa é

descentralizado, tendo em vista que pode ser “alimentado” pelas diversas áreas da

empresa através de um sistema próprio.

O sistema produz vários relatórios financeiros intermediários em bases mensais;

dentre os relatórios produzidos foram mencionados: Fluxo de Caixa, Balanço

Patrimonial, Origens e Aplicações de Recursos, Custos de Funcionamento da Empresa,

Mutações do Patrimônio Líquido, Prestação de Contas ao Órgão Regulador. Esses

relatórios atendem os requerimentos externos de informação exigidos pela holding,

investidores, agentes financeiros nacionais e internacionais, fornecedores e governo.

Entretanto, o sistema contábil é visto como pouco ágil tendo em vista que não é

possível produzir os relatórios financeiros diretamente a partir do sistema contábil.

II - Contabilidade por Responsabilidade

Os principais centros de responsabilidade da empresa encontram-se organizados

sob a forma de centros de custos. As funções dos chefes dos principais centros de custo

estão formalmente descritas no Manual de Organização da Estrutura. No processo de

definição das funções dos responsáveis pelos centros de custos participam os

Superintendentes e os Gerentes de Departamento. Tal processo passa pela aprovação da

Diretoria.

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De acordo com os entrevistados, a estrutura dos centros de responsabilidade

sofreu mudanças significativas nos últimos anos, como decorrência de várias reformas

administrativas ocorridas. Foi relatado que não existe qualquer processo formal de

acompanhamento das atividades realizadas pelos principais centros de responsabilidade.

A empresa não possui mecanismo formal que regule o fluxo interno de bens e

serviços entre os principais centros de responsabilidade.

III Sistema de custeio

Para fins gerenciais a empresa se vale do sistema de custo por absorção. As

principais características do sistema são as seguintes:

1.1.1 - Custeio Direto – Aplicação direta nas ordens, em curso e nos Centros de

Custeio, através dos Sistemas Fonte.

1.1.2 - Custo Estrutural Dirigido – É o custo, originalmente, alocado no Centro

de Custo (Estrutura de Funcionamento) e dirigido para Ordens em Curso,

quando identificadas.

1.2 - Rateio da Administração Central

1.2.1 - Ordens em Curso: É a distribuição mensal da Administração Central para

ordens em curso, correspondente a 10% sobre os custos de pessoal e Serviços de

terceiros em cada Ordem.

1.2.2 - Unidades Operativas: é a distribuição mensal do remanescente da

Administração Central para as Unidades Operativas, com base nos custos de

pessoal, serviços de terceiros e nos parâmetros físicos de cada unidade.

O sistema de custo foi implantado há 19 anos, tendo sido projetado pela própria

empresa, com base na experiência acumulada pela empresa no desenvolvimento de

sistemas anteriores. O fator determinante para implantação do atual sistema de custeio

foi o Plano de Contas do Setor de atividade da empresa e trouxe como principais

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inovações, em comparação com o anterior a informatização, a agilidade nas

informações e a eliminação de trabalhos manuais.

Medidas de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade

A empresa não dispõe de um sistema de avaliação de desempenho formalizado.

Participação dos chefes das unidades organizacionais no processo de controle

gerencial

Na percepção do entrevistado, existe um processo de consulta - pelos superiores

hierárquicos - sobre as diretrizes orçamentárias concernentes às áreas de

responsabilidade, sendo que os subordinados podem questionar as metas orçamentárias

vistas como irreais ou inalcançáveis, sendo que o seu superior freqüentemente

recomenda, com detalhes, o melhor modo de alcançar um objetivo orçamentário

específico. Da mesma maneira, são feitas consultas com referência ao estabelecimento

de novos padrões para os departamentos, sendo que estas modificações são sempre

discutidas com seus superiores.

O responsável pela unidade se sente adequadamente informado acerca do

processo orçamentário da empresa através de discussões com seus superiores e

documentos formais sobre as diretrizes e procedimentos. Com referência ao seu

desempenho individual na companhia, o entrevistado considera que recebe algum

feedback (em uma escala de muito a nenhum feedback). Entretanto, o entrevistado

revelou desconhecer que informações os superiores usualmente recebem quando da

avaliação de desempenho.

O entrevistado considera que sabe como a sua função está harmonizada com as

funções totais da organização e que seu superior demonstra interesse pelos seus

objetivos pessoais, muito embora esses objetivos pessoais não sejam considerados no

estabelecimento dos objetivos da organização. A percepção do entrevistado é de que ele

pode alcançar seus objetivos pessoais esforçando-se para alcançar os objetivos da

organização.

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O desempenho do centro de responsabilidade não se encontra relacionado a

programas de recompensas ou punições financeiras, entretanto, o entrevistado considera

que existem implicações na hipótese de apresentar um desempenho pior. O entrevistado

entende, também, que o desempenho é o critério usado pela empresa no processo de

progressão funcional dos empregados.

Quanto à satisfação no trabalho, o entrevistado revelou que a motivação, a

autonomia, a participação, a remuneração e a carga de trabalho pioraram nos últimos

anos, enquanto que a estabilidade no emprego, o relacionamento superior/subordinado e

a avaliação de seu desempenho não se alteraram. Quanto às causas das alterações

observadas, o entrevistado apontou a falta de definição política a respeito do destino da

organização como o fator preponderante na piora das condições.

4.3.2 Empresa B

4.3.2.1 Características Gerais

A empresa B tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro, atuando no setor

terciário da economia há mais de 35 anos. Encontra-se classificada entre as vinte

maiores empresas não financeiras do país, tanto no ranking de patrimônio líquido -

superior a R$ 3.700 milhões em 2001 (o valor apontado por Gomes (1983), corrigido

pelo IGP-DI, equivale a mais de R$ 3.300 milhões) -, quanto no ranking de vendas -

superior a R$ 6.600 milhões (EXAME, 2002).

É uma empresa S.A. de capital fechado, controlada (98,8%) por uma holding de

capital aberto, a qual foi adquirida à União no processo de privatização das empresas

originárias da cisão da empresa estatal que controlava o setor.

O número de empregados da empresa em 2001 era superior a 7.200 (eram mais

de 9.000 em 1981, segundo Gomes (1983)), representando uma despesa de pessoal de

mais de R$ 537 milhões (o valor relatado por Gomes (1983) para dezembro de 1981,

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corrigidos pelo IGP-FGV, corresponde a cerca de R$ 434 milhões em dezembro de

2001).

A empresa B não é diversificada e sua principal fonte de recursos, provém da

cobrança de tarifas sobre os serviços prestados.

Possui um grau de endividamento de 54%. O lucro médio dos últimos 3 anos

estudados, ano-base 2001, foi de R$ 254,1 milhões (o valor lucro médio apontado por

Gomes (1983) atualizado para dezembro de 2001 pelo IGP-FGV, corresponde a R$

571,8 milhões), entretanto, a média atual foi prejudicada por um significativo prejuízo

no ano de 2001, sendo que a média dos dois primeiros anos equivale a R$ 658,2

milhões. Da mesma forma que ocorreu com a empresa A, ao contrário do relatado por

Gomes (1983), a empresa apresentou lucro operacional nos últimos 3 anos - média de

R$ 285,5 milhões. Esta comparação, entretanto, fica prejudicada tendo em vista o

critério de correção monetária adotado na época, o qual não permitia a visualização do

resultado operacional considerando os efeitos inflacionários, o que não ocorria com o

lucro líquido.

4.3.2.2 Sistema de controle gerencial

Objetivos Organizacionais

O objetivo da organização é prover serviços de telecomunicações no âmbito

nacional e internacional. Na visão do entrevistado o processo de planejamento

estratégico evoluiu muito, existindo planejamento nos três níveis (estratégico, tático e

operacional). Esta evolução estaria ligada à filosofia dos novos controladores da

empresa, oriundos de um país com forte cultura na área do planejamento estratégico.

Existe uma Diretoria de Planejamento Estratégico que faz a avaliação do negócio da

empresa e cada Diretoria Executiva possui seus próprios planejamentos táticos e

operacionais. Entretanto, não há possibilidade de informar dados sobre o planejamento

estratégico da Empresa.

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A Alta Diretoria Executiva é responsável pelo estabelecimento dos objetivos

gerais da empresa. De acordo com o entrevistado, não é elaborado qualquer documento

para comunicar os objetivos para a organização, sendo a distribuição da informação

feita eletronicamente. A quantidade e o grau de detalhamento da informação divulgada

obedece a uma ordenação hierárquica dentro da empresa.

Os objetivos gerais da empresa não podem ser classificados por ordem de

importância e foram alterados nos últimos 3 anos em virtude das radicais mudanças

ocorridas no cenário das telecomunicações no Brasil. O desdobramento dos objetivos

gerais em objetivos específicos é feito através de um processo de interação com a Alta

Direção e os principais Executivos da Companhia com a utilização de ferramentas de

Tecnologia de Informação que registram o desdobramento dos objetivos e permitem o

acompanhamento.

A avaliação dos resultados obtidos pela empresa em relação aos objetivos

fixados é formal e feita periodicamente através do Programa de Gestão de Desempenho

Empresarial (PGD) e reuniões mensais de Controle (RECON).

A integração das metas com os objetivos específicos é feita através do

desdobramento do Plano de 3 anos no Plano do próximo exercício, o qual é utilizado

como referência para o acompanhamento orçamentário. Não existe, entretanto, qualquer

processo formal que efetue revisões nos objetivos específicos estabelecidos pela

empresa.

O entrevistado considera que a empresa tem conseguido alcançar os objetivos

específicos traçados nos últimos três anos.

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Processo Orçamentário

I - Filosofia Orçamentária

Conforme relatado pelo entrevistado, de acordo com a filosofia orçamentária da

empresa, o sistema orçamentário da empresa: serve de mecanismo inibidor de gastos

supérfluos; introduz em todos os níveis da administração o hábito de consideração

adequada cuidadosa e oportuna de todos os fatores importantes antes de serem tomadas

decisões; e requer dados contábeis apropriados e adequados às necessidades

orçamentárias.

Em função desta filosofia, o sistema orçamentário é usado como instrumento de

controle financeiro, instrumento de planejamento, como meio de comunicação das

metas a serem alcançadas, e como medida de desempenho individual.

Um aspecto positivo do atual sistema orçamentário, destacado pelo entrevistado,

é o envolvimento, tanto da Alta Direção, quanto das Áreas Operacionais na elaboração

do orçamento.

II - Função Orçamentária

A função orçamentária é exercida por um executivo com responsabilidade por

diversas funções administrativas, sendo uma delas o orçamento da empresa. Este

executivo é o Diretor de Controladoria, cargo localizado no 2º nível hierárquico. A

empresa não dispõe de um comitê com a responsabilidade de supervisão do orçamento.

Um total de 7 pessoas dedicam-se exclusivamente a funções orçamentárias, em

nível de staff. Na fase de preparação da proposta orçamentária, o papel do pessoal da

área de orçamento é prover diretrizes, projetar dados e distribuir formulários

padronizados, e prover informações detalhadas.

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Na discussão da proposta orçamentária, o papel dos responsáveis pelas unidades

operacionais da empresa consiste, em geral, em prover os dados e as argumentações

correspondentes às despesas de suas respectivas áreas.

Os cortes orçamentários, assim como a aprovação final do orçamento e

divulgação do orçamento aprovado, são atribuições da Alta direção da empresa. As

análises das variações orçamentárias, por sua vez, são responsabilidades das Unidades

operacionais e da Área orçamentária. No processo de análise das variações

orçamentárias, a Diretoria de Controladoria elabora relatórios das variações, os quais

são encaminhados para cada Executivo responsável pelas Áreas Organizacionais.

A Alta Direção da empresa participa das fases de planejamento e aprovação do

orçamento.

III - Características básicas do orçamento

A empresa utiliza os seguintes tipos de orçamento:

• Orçamentos operacionais: orçamento de despesas, orçamento de vendas,

orçamento de mão-de-obra, e orçamento de custo de produtos vendidos;

• Orçamentos financeiros: balanço projetado, orçamento de caixa e orçamento

de resultados; e

• Orçamento de investimentos.

De acordo com o entrevistado, o sistema orçamentário atual foi introduzido há

dois anos.

A empresa desenvolve um processo de planejamento a longo prazo com um

horizonte temporal de três anos, sendo que o orçamento anual é o primeiro ano do

planejamento de longo prazo.

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Ao longo do período orçamentário são realizados ajustes nos valores orçados,

sendo as necessidades de ajuste analisadas trimestralmente.

As datas mais importantes para as atividades orçamentárias da empresa são a

data limite para informar o orçamento para a Controladora e o início de um exercício,

que exige o fechamento do orçamento.

De acordo com o entrevistado, são gastos quatro meses (aproximadamente de

setembro a dezembro) desde a fase de preparação até a aprovação final do orçamento da

empresa. Mensalmente, a execução orçamentária é examinada, sendo três dias o tempo

gasto entre as atividades de análise e de elaboração de relatórios sobre as variações

encontradas.

Relatórios sobre as variações orçamentárias são enviados mensalmente para a

Alta Direção e para as unidades operacionais responsáveis pelas variações.

O planejamento de longo prazo não é formalizado em documento escrito,

enquanto que o sistema orçamentário é formalizado através de um plano contendo

valores globais para cada Área Organizacional para o exercício implementado no SAP.

No que diz respeito às fontes de dados para o orçamento, na primeira estimativa

do processo de planejamento orçamentário as informações mais comumente usadas são:

dados históricos fornecidos pela contabilidade; estimativas econômicas; orçamento do

último ano; e informações de mercado.

No processo de discussão e aprovação final do orçamento, são usadas diretrizes

da Alta Direção da empresa e estimativas elaboradas pelas unidades operacionais. Por

fim, na análise das variações orçamentárias encontradas são usadas como fontes de

informações dados históricos fornecidos pela contabilidade, e efeitos

inflacionários/cambiais.

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IV – Funcionamento do sistema orçamentário

O sistema orçamentário da empresa foi projetado por pessoal da própria empresa

e tem evoluído para uma filosofia mista, onde os “grandes números”, definidos pela

Alta Direção espelham a intenção quanto ao resultado desejado (Meta Empresarial).

A empresa não mantém pessoal com incumbência permanente de estudar e

implementar aperfeiçoamentos no sistema orçamentário.

Embora não seja um procedimento comum, podem ocorrer revisões no

orçamento antes de sua aprovação. Estas revisões ocorrem quando o resultado projetado

não é aceito pela Alta Direção da empresa e são efetuadas pelos executivos responsáveis

pelo orçamento que apresentam-nas à Alta Direção. As principais razões para as

revisões do orçamento durante o período de execução orçamentária são: o não

atingimento das metas globais - geralmente o não atingimento das metas de receita

implica na necessidade de “ajustes” nas despesas - e o redirecionamento nos Planos

Operacionais (retenção de grandes clientes, ganhos de oportunidade).

Também durante o período de execução orçamentária podem ser efetuadas

revisões, as quais são executadas pelo pessoal da área orçamentária. A empresa não

inicia um período orçamentário sem que esteja concluído o orçamento.

V - Controle Orçamentário

a) Controle Interno

A característica básica do processo de controle orçamentário desenvolvido pela

empresa é o envolvimento de todas as Áreas Organizacionais.

No acompanhamento e controle das atividades orçamentárias a empresa se utiliza de

vários relatórios, os quais são definidos por cada Área. Dentre os mais comuns

encontram-se:

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• Receitas dos serviços

• Custos

• Despesas correntes incluindo vários insumos (mão-de-obra, serviço de

terceiros, etc)

• Receitas e despesas financeiras

• Receitas e despesas não operacionais

Estes relatórios foram introduzidos na empresa há dois anos.

Quanto à natureza das variações orçamentárias, são incluídas nos relatórios de

controle orçamentário tanto as variações positivas, quanto as variações negativas, não

sendo determinado a priori a magnitude das variações que devem ser analisadas e

incluídas nos relatórios. O nível de detalhamento das variações orçamentárias

apresentado nos relatórios de controle orçamentário é suficiente para que as

responsabilidades sejam claramente identificadas.

No processo de análise das variações orçamentárias é comum notar-se fatores

que possam ter afetado os resultados mas que não estejam sob controle direto dos

responsáveis pela variação observada. São considerados como itens não controláveis

pelos responsáveis: efeitos inflacionários/cambiais em percentuais diferentes dos

valores previstos no orçamento; e cortes orçamentários, devido a restrições financeiras

impostas à empresa, implicando em descontinuidade ou redução de programas previstos

no orçamento pelas funções responsáveis pelas variações analisadas.

A empresa se utiliza de relatórios padronizados e reuniões periódicas para

permitir aos executivos responsáveis por variações explicar a diferença entre o previsto

e o realizado.

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b. Controle Externo

Os controladores da empresa exercem mensalmente um certo controle

orçamentário sobre a empresa. Para tanto são exigidos à empresa os seguintes relatórios:

Demonstração de Resultados, Balanço e Fluxo de Caixa. A preparação e a divulgação

desses relatórios aos controladores envolve sete pessoas as quais dedicam cerca de 20

horas/mês cada. São elaborados, aproximadamente, 60 relatórios por ano.

A empresa é visitada por pessoal do controlador quatro vezes por ano, uma

freqüência aproximadamente trimestral. Nestas visitas são feitas análises das

demonstrações e solicitados esclarecimentos. Segundo o entrevistado, as atividades

desenvolvidas pelo pessoal do controlador não interferem com o processo orçamentário

de modo a causar interrupções nas rotinas internas da empresa, embora o controle

orçamentário externo reduza um pouco a autonomia da empresa.

De acordo com o entrevistado, desde que as metas sejam cumpridas o grau de

autonomia é elevado.

VI - Compromisso com o Orçamento

É percebida pela empresa a existência de um compromisso real por parte dos

executivos da empresa, no tocante ao alcance de suas metas orçamentárias. A principal

razão para o estabelecimento deste compromisso é o envolvimento das pessoas, a

participação no processo orçamentário, o sentimento de trabalho em grupo.

VII - Recrutamento e Treinamento do Pessoal Orçamentário

Os requisitos formulados pela empresa para o recrutamento de pessoal para a

área orçamentária são os seguintes: exigência de nível superior em área de

conhecimento afim (Economia, Administração, Contábeis), possuir uma boa base

contábil, ter até 30 anos, dominar o idioma inglês, possuir um MBA, estar familiarizado

com o pacote Office e ter o domínio de planilha eletrônica Excel.

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A empresa não possui programas de educação contínua em técnicas

orçamentárias, tampouco possui uma política de aperfeiçoamento definida para os

executivos orçamentários. A política de aperfeiçoamento de executivos são definidas

pelas próprias áreas, as quais têm autonomia para definir tais políticas. Esta política de

aperfeiçoamento vêm sendo adotada pela empresa há três anos.

Sistema de Contabilidade Gerencial

I – Sistema Contábil

O plano de contas da empresa integra a Contabilidade, Custos e o Orçamento. O

atual sistema contábil da empresa foi implantado em setembro de 2001 quando da

implantação do sistema SAP R/3. Na opinião do entrevistado, o sistema de contábil da

empresa é centralizado.

A empresa não prepara relatórios financeiros intermediários, sendo o volume de

relatórios elaborados considerado adequado às necessidades de informação da empresa.

Externamente, os principais usuários dos relatórios financeiro produzidos pela empresa

são os órgãos reguladores do mercado de capitais, CVM e SEC (Estados Unidos), além

do Conselho de Administração. No atendimento aos requerimentos externos de

informação financeira não são utilizados os próprios relatórios produzidos internamente.

Isto se dá pelo fato de que os relatórios externos exigirem certa padronização, enquanto

que os relatórios usados internamente tem um foco gerencial.

No momento, existem certas dificuldades referentes ao sistema de informações

contábeis, pelo fato de que o atual sistema (SAP R/3) ainda é bastante recente na

empresa.

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II – Contabilidade por Responsabilidade

Na organização dos principais centros de responsabilidade, a empresa tem usado

o conceito de centros de custos ou despesas. A estrutura organizacional da empresa têm

sofrido freqüentes alterações, ocasionando impactos no formato de representação dos

centros de custos.

A definição das funções dos chefes dos principais centros de responsabilidade é

feita pela Alta Direção da empresa em conjunto com a Diretoria de RH, embora não

exista qualquer processo formal nesta definição, tampouco exista um processo formal de

acompanhamento das atividades realizadas pelos principais centros de responsabilidade.

A empresa não dispõe de mecanismo formal que regule o fluxo interno de bens e

serviços entre os principais centros de responsabilidade; serviços prestados para outras

empresas do grupo são cobrados sobre uma base de preços negociada entre as partes.

III - Sistema de Custo

O sistema de custeio usado pela empresa para fins gerenciais é o ABC - Custeio

baseado na atividade. O sistema de custeio baseado em atividades atualmente

implantado na empresa possui uma interface direta com a contabilidade da empresa

(SAP) sendo carregado mensalmente com os valores contábeis.

Atualmente, a distribuição dos recursos para as diversas atividades da empresa é

feita diretamente no lançamento contábil, ou seja, o registro contábil básico da empresa

contém a informação da atividade. A distribuição entre atividades e objetos de custeio

(serviços) é feita, na maioria dos casos, através de indicadores físicos fornecidos pela

Engenharia da empresa. Tipicamente podem ser citados como indicadores físicos o

número de circuitos ou portas nas centrais telefônicas.

O atual sistema de custeio da empresa foi implantado há quatro anos. A

implantação do ABC foi motivada pela necessidade de dotar a empresa de técnicas mais

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atualizadas disponíveis no mercado. Outro fator que motivou a implantação de um novo

sistema decorreu da descontinuação do ambiente de programação utilizado para

desenvolver o sistema anterior.

Dentre as inovações do atual sistema de custeio, em relação ao sistema anterior,

três fatores podem ser destacados:

• A incorporação de novos conceitos associados à moderna administração de

custos

• O desenvolvimento de relatórios para atender as demandas da empresa

• Elaboração de modelos específicos para atender a estudos especiais

Este sistema foi projetado por consultores externos contratados pela empresa,

usando os modelos teóricos encontrados na literatura, além da experiência acumulada

pela empresa no desenvolvimento dos sistemas de custeio anteriores.

Medidas de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade

O principal propósito do sistema de avaliação de desempenho dos centros de

responsabilidade mais importantes da empresa é o controle dos gastos compatível com

os valores do plano orçamentário. Este sistema foi desenvolvido pela própria empresa e

pode ser resumido da seguinte forma: a partir do Plano Corporativo, mensalmente, são

avaliados os desempenhos orçamentários dos centros de custos da Empresa. As revisões

no Plano são feitas, quando necessário, a cada trimestre.

O ponto mais relevante no processo de avaliação de desempenho dos principais

centros de responsabilidade é o alcance das metas orçamentárias anuais do centro.

Os principais relatórios de avaliação de desempenho são: receita por serviços,

custos dos serviços, controle de headcount - controle físico de pessoal por Área

Organizacional - e despesas SG&A (vendas, gerais e administrativas). Estes relatórios

têm uma freqüência mensal e uma velocidade de resposta de aproximadamente três dias.

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Quando julgado necessário, são agendadas, pela Controladoria, reuniões com as Áreas

Organizacionais.

A empresa não dispõe de programa de incentivo financeiro associado ao

processo de avaliação de desempenho dos principais centros de responsabilidade,

embora esteja em estudos um programa para implementação em 2002. Na progressão

funcional do pessoal são usados critérios variáveis em função da orientação de cada

Área Organizacional, desde que atendidas as regras estabelecidas pela Diretoria de RH.

Evolução dos sistemas de controle

O sistema de controle gerencial da empresa foi implantado há dois anos com

objetivo de garantir o cumprimento do Plano empresarial. A principal razão que

determinou a implantação do atual sistema foi o cumprimento das metas globais sob a

ótica financeira.

As principais inovações do atual sistema de controle gerencial, quando

comparado com o sistema anterior, é a maior participação das Áreas Organizacionais e

o uso de novas ferramentas, tais como o ERP e o SAP R/3.

O atual sistema de controle gerencial foi projetado pela própria empresa, tendo

sido usados no seu projeto, sistemas usados com sucesso em outros países, além da

experiência acumulada pela empresa no desenvolvimento de sistemas anteriores. A

característica básica do sistema é a flexibilidade frente às mudanças organizacionais

ocorridas e o forte apoio em ferramentas de Tecnologia de Informação, incluindo SAP

R/3.

De acordo com o entrevistado, nos últimos 15 anos foram efetuadas duas

mudanças nos projetos dos sistemas. O fato mais relevante causador das mudanças foi

que o sistema passou, sob a ótica de planejamento, da visão “intenção/responsabilidade

do gasto” para “natureza/responsabilidade do gasto”.

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O entrevistado enfatizou que na mudança do sistema foram preservados

conceitos referentes às apropriações econômicas (contabilização) identificadas pela:

responsabilidade (refere-se ao quem), natureza (refere-se ao o quê) e intenção (refere-se

ao para quê?) dos fatos geradores de receitas e despesas.

II Instrumentos de controle gerencial

A empresa utiliza as seguintes instrumentos de controle gerencial: ABC (já

referido anteriormente) e o conceito de Target Cost.

4.3.3 Empresa C

4.3.3.1 Características gerais

A empresa C tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro, atuando no setor

primário da economia há mais de 60 anos. Encontra-se classificada entre as vinte

maiores empresas não financeiras do país, tanto no ranking de patrimônio líquido -

superior a R$ 3.700 milhões em 2001 (o valor apontado por Gomes (1983), corrigido

pelo IGP-DI, equivale a mais de R$ 3.300 milhões) -, quanto no ranking de vendas -

superior a R$ 6.600 milhões (EXAME, 2002).

É uma empresa S.A. de capital aberto, cujo controle foi adquirido à União em

1997. A União mantém uma participação (em conjunto com o BNDES/BNDESPar) de

36.2% do capital votante (24,9% do capital total) em 31 de dezembro de 2001. Além

disso, pertence ao governo brasileiro uma ação preferencial de classe especial (golden

share) criada por ocasião da privatização, e que lhe confere o direito permanente de

veto quanto a mudanças na Companhia relativas à razão social, localização de sua sede,

finalidade da empresa, operação contínua de seus sistemas integrados e outros assuntos

determinados no Estatuto Social

O número de empregados da empresa em 2001 era superior a 13.600 (eram mais

de 20.000 em 1981, segundo Gomes (1983)), representando uma folha de pagamento de

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mais de R$ 375 milhões (o valor relatado por Gomes (1983) para dezembro de 1981,

corrigidos pelo IGP-FGV, corresponde a cerca de R$ 936 milhões em dezembro de

2001).

A empresa C é holding de um grupo de mais de 38 empresas com negócios

diversificados, cuja principal fonte de recursos provém da venda de produtos nos

mercados interno e externo com ampla predominância deste último.

Possui um grau de endividamento de 54%. O lucro médio dos últimos 3 anos

estudados, ano-base 2001, foi de R$ 2.511,5 milhões (o valor lucro médio apontado por

Gomes (1983) atualizado para dezembro de 2001 pelo IGP-FGV, corresponde a R$ 749

milhões). Da mesma forma que o relatado por Gomes (1983), a empresa apresentou

lucro operacional nos últimos 3 anos - média de R$ 1.679 milhões. Esta comparação,

entretanto, fica prejudicada tendo em vista o critério de correção monetária adotado na

época, o qual não permitia a visualização do resultado operacional considerando os

efeitos inflacionários, o que não ocorria com o lucro líquido.

4.3.3.2 Sistema de controle gerencial

Objetivos Organizacionais

Inicialmente, é importante ressaltar que a empresa foi privatizada em 1997. Até a

privatização existia um processo formalizado de Planejamento Estratégico (PE) que

antecedia a elaboração do Orçamento.

O ciclo de PE tinha a duração de aproximadamente 3 meses e antecedia a

elaboração do Orçamento. A coordenação do ciclo ficava a cargo de uma assessoria

ligada diretamente ao CEO e que era encarregada de difundir as diretrizes estratégicas

definidas pela direção da empresa. Todas as propostas de investimento de capital tinham

que ser analisadas durante o ciclo de PE para serem priorizadas e fazerem parte da

proposta orçamentária.

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Após a privatização, o processo de PE tal qual era realizado anteriormente, com

todas as unidades participando do ciclo ao mesmo tempo e sob a coordenação de um

órgão centralizador, foi descontinuado. A partir de então, diversas áreas contrataram

consultorias externas para realizar o planejamento e discutir as diretrizes estratégicas

com o Conselho de Administração. Desde então, o processo de inclusão de projetos no

orçamento tem sido discutido caso a caso com Conselho de Administração.

Nesse momento, a companhia está se estruturando para retomar o processo de

PE. Além disso, um novo modelo de acompanhamento de performance baseado em

indicadores chaves de desempenho está sendo implantado.

Os objetivos gerais da empresa, estabelecidos pelo Conselho de Administração

(CA) com auxílio de consultoria externa, definem o foco de atuação da empresa nas

áreas consideradas como “Core Business”: mineração, logística e energia. Além do

Conselho de Administração, participa do processo de estabelecimento dos objetivos

gerais a Diretoria Executiva. Os executivos da organização tomam conhecimento dos

objetivos da empresa através de reuniões da Diretoria Executiva com os subordinados

imediatos. Os objetivos gerais perseguidos pela empresa são os mesmos nos últimos três

anos.

A empresa faz o desdobramento dos objetivos gerais em objetivos específicos. O

detalhamento dos objetivos específicos em objetivos de curto prazo (metas) se dá

através da “transformação” dos dois primeiros anos do PE em orçamento, processo do

qual participam todos os níveis gerenciais.

No momento a empresa não possui um processo formal que avalie se os

resultados obtidos pela empresa estão de acordo com os objetivos fixados, entretanto,

encontra-se em processo de implantação piloto uma metodologia (GVA) para

acompanhar os resultados através de indicadores chaves de desempenho. Da mesma

maneira, não existe um processo formal que efetue revisões nos objetivos específicos

estabelecidos pela empresa, porém os objetivos podem ser revistos de acordo com

alterações nas conjunturas nacional e mundial.

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Segundo o entrevistado, a empresa tem conseguido atingir os objetivos específicos

traçados nos últimos três anos.

Processo Orçamentário

I - Filosofia orçamentária

No âmbito da filosofia orçamentária seguida pela empresa é percebido que o

sistema orçamentário da empresa; força a administração a dedicar atenção oportuna ao

efeito da tendência esperada das condições econômicas; serve de mecanismo inibidor de

gastos supérfluos; e possibilita um maior conhecimento aos superiores dos problemas

dos seus subordinados.

Dessa maneira, o sistema orçamentário atende aos propósitos de servir como:

meio de comunicação das metas a serem alcançadas; instrumento de controle financeiro;

e medida de avaliação de desempenho individual.

II - Função orçamentária

A função orçamentária da empresa possui um executivo com responsabilidade

integral pelo orçamento da empresa. Este executivo ocupa o cargo de Gerente Geral,

cargo posicionado no 3º escalão da empresa e subordinado ao Diretor Executivo e ao

Diretor Estatutário.

A empresa não dispõe de um comitê com responsabilidade de supervisão do

orçamento. A proposta orçamentária, após ser aprovada pela Diretoria Executiva, é

submetida ao Comitê Financeiro - órgão de assessoramento do Conselho de

Administração -, sendo então apresentada ao Conselho de Administração para

aprovação.

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No âmbito da corporação, a função orçamentária possui 6 pessoas que

coordenam o processo orçamentário, analisam e consolidam as propostas das unidades.

O papel desenvolvido por este pessoal na preparação da proposta orçamentária consiste

em prover diretrizes, assessoria aos executivos e analisar, consolidar e comentar as

propostas e apresentá-las à Diretoria.

Aos responsáveis das unidades operacionais, no processo de discussão do

orçamento, cabe a elaboração da proposta orçamentária, de acordo com as diretrizes

orçamentárias. A Alta Direção tem a responsabilidade pelos cortes orçamentários, assim

como pela aprovação final do orçamento. A divulgação do orçamento aprovado é

incumbência da área orçamentária da empresa.

Durante o processo de acompanhamento orçamentário, a análise das variações

orçamentárias é responsabilidade das unidades operacionais e do pessoal da área

orçamentária. Neste processo, a área orçamentária elabora relatórios que são enviados

para os diretores das unidades operacionais e para a Alta Direção.

De acordo com o entrevistado, a Alta Direção participa das fases de

planejamento e aprovação do orçamento.

III - Características básicas do orçamento

A empresa adota os seguintes tipos de orçamentos:

a) Orçamentos operacionais: Orçamento de despesas; de vendas; de produção; de

mão-de-obra; e de custo de produtos vendidos.

b) Orçamentos financeiros: Balanço projetado; Orçamento de caixa; Orçamento

de resultados.

c) Orçamento de investimentos

O atual sistema orçamentário da empresa já é usado há muitos anos, sendo que o

entrevistado não sabe precisar a data de sua introdução.

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A empresa tem um processo de planejamento a longo prazo (PLP); os orçamentos

são elaborados após o planejamento de longo prazo, constituindo-se no primeiro ano do

PLP. O planejamento de longo prazo tem um horizonte temporal de cinco anos. No

decorrer do período orçamentário podem ser realizados ajustes nos valores orçados, em

especial na ocorrência de forte desvalorização cambial.

A fase de preparação até a aprovação final do orçamento dura 3 meses. A

execução orçamentária é examinada mensalmente, sendo de cinco dias o tempo gasto

entre as atividades de análise e de elaboração de relatórios sobre as variações

orçamentárias encontradas. Mensalmente, a Alta Direção recebe os relatórios sobre as

variações orçamentárias elaborados internamente. Esta também é a freqüência com que

as unidades operacionais responsáveis pelas variações orçamentárias recebem os

relatórios.

O Plano de Negócios é o documento que formaliza o planejamento de longo

prazo, enquanto que o sistema orçamentário é formalizado através do Orçamento

aprovado e da avaliação de desempenho.

No processo de planejamento orçamentário, as fontes de informações mais

comumente usadas na primeira estimativa são as estimativas econômicas, o orçamento

do último ano, as informações de mercado e o orçamento executado até a data. As

diretrizes da Alta Direção, as estimativas elaboradas pelas unidades operacionais e a

conjuntura econômica, são as informações observadas no processo de discussão e

aprovação final do orçamento. Os efeitos inflacionários/cambiais, as mudanças

ocorridas no mercado e as mudanças na política econômica do governo são as

informações levadas em consideração no processo de análise e elaboração dos relatórios

sobre as variações orçamentárias observadas.

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IV - Funcionamento do sistema orçamentário

O sistema orçamentário usado atualmente pela empresa foi projetado pelo

pessoal da própria empresa. O Gerente Geral de Planejamento e Orçamento tem a

incumbência permanente de estudar e implementar aperfeiçoamentos no sistema

orçamentário.

O sistema orçamentário atual dispõe de um processo de revisão antes da

aprovação final. Em geral, a revisão é efetuada pela Alta Direção da empresa e

informada às unidades operacionais. As razões mais comuns que levam à necessidade

de revisão antes da aprovação final do orçamento são o resultado projetado não ser

aceito pela Alta Direção ou pelas unidades operacionais.

Durante o período de execução orçamentária também são realizadas revisões

sempre que ocorrer uma variação cambial significativa, visto que 90% das receitas e

30% dos custos estão atrelados ao câmbio. Estas revisões são executadas pelas unidades

operacionais e pelo pessoal da área orçamentária.

Embora não seja comum, pode ocasionalmente ocorrer de iniciar-se o período

orçamentário sem que esteja concluído o orçamento; as principais razões apontadas para

tanto são eventuais atrasos no processo e a falta de datas para a reunião do Conselho de

Administração que aprova o orçamento.

V - Controle Orçamentário

a. Controle interno

No processo de controle orçamentário, tanto as variações positivas quanto as

negativas merecem inclusão nos relatórios de controle. O detalhamento das variações

orçamentárias nos relatórios de controle é suficiente para que as responsabilidades sobre

as variações sejam claramente identificadas.

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No processo de análise das variações orçamentárias é comum notar-se fatores

que possam ter afetado os resultados mas que não estejam sob controle direto dos

responsáveis pela variação observada. Os seguintes fatores são considerados como itens

não controláveis pelos responsáveis pelas variações observadas: efeitos

inflacionários/cambiais em percentuais diferentes dos valores previstos no orçamento; e

alteração no programa de vendas elaborado pela área comercial e que define o programa

de produção a ser executado pelas áreas operacionais.

Reuniões periódicas são realizadas para que os executivos responsáveis por

variações possam explicar as diferenças entre o previsto e o realizado.

b. Controle externo

Os controladores da empresa exercem o controle orçamentário sobre a mesma

através das reuniões do Conselho de Administração. Mensalmente são encaminhados

relatórios aos controladores. Para tanto, cerca de 10 pessoas dedicam-se integralmente à

função de preparação e divulgação dessas informações.

Segundo o entrevistado, as atividades desenvolvidas pelo pessoal do controlador

não interferem com o processo orçamentário de modo a causar interrupções nas rotinas

internas da empresa. Além disso, a autonomia financeira da empresa não é afetada pelo

controle orçamentário externo no que diz respeito à execução orçamentária.

VI - Compromisso com o Orçamento

De acordo com o entrevistado, é percebida pela empresa a existência de um

compromisso real por parte dos executivos da empresa no tocante ao alcance de suas

metas orçamentárias. As principais razões para o estabelecimento deste compromisso

são: o esquema de recompensas (incentivos financeiros, promoções, aumentos

salariais); o envolvimento (participação no processo orçamentário, o sentimento de

trabalho em grupo); e a cobrança da direção da empresa.

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VII - Recrutamento e Treinamento de Pessoal Orçamentário

A empresa não possui uma política de recrutamento de pessoal para a área

orçamentária. Tampouco, desenvolve programas de educação continuada em técnicas

orçamentárias para o pessoal da área de orçamento.

Sistema de contabilidade gerencial

I - Sistema contábil

O sistema contábil da empresa integra Contabilidade, Custos e Orçamento. Este

sistema foi implantado na década de 60, sendo, portanto, basicamente o mesmo descrito

por Gomes (1983), revisado ao longo dos anos sempre que necessário.

A contabilidade da empresa é descentralizada, entretanto, os sistemas

corporativos, tais como, Material, Pessoal e Ativo Fixo são centralizados.

De acordo com o entrevistado, os relatórios financeiros elaborados encontram-se

adequados às necessidades de informação da empresa.

Sendo uma empresa aberta, os principais usuários externos dos relatórios

financeiros produzidos pela empresa são o Mercado de Capitais, a Comissão de Valores

Mobiliários, a SEC (norte-americana), além de instituições financeiras, credores, entre

outros. No atendimento dos requerimentos externos de informação são usados os

próprios relatórios produzidos internamente.

Para o entrevistado, o principal problema do sistema de informações contábeis é

que o sistema não permite uma integração total, razão pela qual deverá ser implantado

um ERP.

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II - Contabilidade por Responsabilidade

A contabilidade da empresa está estruturada segundo o conceito de centros de

investimento. esta estrutura sofreu mudanças nos últimos anos a fim de atender os

processos de reorganizações operacionais sofridos pela empresa.

As funções dos chefes dos principais centros de responsabilidade são definidas

pela área de RH que define os escopo de todos os cargos na companhia. Na definição

destas funções participam o Diretor e Gerentes de RH em conjunto com os Diretores e

Gerentes das áreas envolvidas.

As atividades dos centros de responsabilidades são alvo de acompanhamento

pelo superior imediato e pela área de orçamento.

A empresa não possui mecanismo formal que regule o fluxo interno de bens e

serviços entre os principais centros de responsabilidade. De acordo com o entrevistado,

já houve no passado e em breve deverá retornar em função da nova estrutura

organizacional em implantação.

III Sistema de custeio

Para fins gerenciais, a empresa adota o sistema de custeio integral. As principais

características do sistema são as seguintes: o sistema é constituído de 3 fases. Na

primeira fase são apurados os custos diretos. Na segunda fase são feitos rateios para

apuração do custo do produto e na terceira fase é apurado o CPV.

O sistema foi projetado pela própria empresa, com base em sistemas usados com

sucesso em outros países e em modelos teóricos encontrados na literatura. Foi

implantado na década de 60 e suas características seguem o padrão da indústria usado

nos Estados Unidos.

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Medidas de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade

O sistema de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade usado

pela empresa tem como principal propósito medir o retorno sobre o capital empregado

(ROCE), além de servir como parâmetro para a remuneração variável. O sistema foi

desenvolvido pela própria empresa com apoio da Fundação Instituto de Pesquisas

Contábeis, Atuariais e Econômicas da Universidade de São Paulo - FIPECAFI. A partir

do próximo ano, novos indicadores estarão sendo implantados, baseados na metodologia

de Gerenciamento do Valor para o Acionista (GVA).

Os pontos mais relevantes no processo de avaliação de desempenho dos

principais centros de responsabilidade da empresa são, em ordem de importância: o

alcance do ROCE projetado; o lucro obtido pelo centro; o alcance das metas

orçamentárias anuais do centro; e o volume de vendas e de gastos anuais do centro.

A avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade da empresa é

acompanhada por relatórios mensais de desempenho. Reuniões mensais, com a

participação do presidente e de todos os diretores, são realizadas para discutir os

resultados apresentados nos relatórios.

A empresa possui um programa de incentivo financeiro associado ao processo de

avaliação de desempenho, que apresenta as seguintes características: a distribuição de

resultados obedece uma fórmula paramétrica que é função do lucro operacional, do

lucro líquido e do percentual de distribuição de dividendos. Existe um gatilho para que

ocorra a distribuição de PR que é o alcance de um ROCE mínimo. Uma vez alcançado o

ROCE mínimo a distribuição entre as unidades é função do ROCE da Cia, do ROCE da

área e de 5 métricas específicas para cada unidade.

Os critérios para progressão funcional do pessoal, entretanto, estão mais

relacionados com a experiência adquirida e com as exigências de competência exigidas

em cada função.

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Evolução dos sistemas de controle

I - Evolução dos sistemas de controle

O atual sistema de controle gerencial da empresa foi implantado em 1992. A

razão que levou à implantação do sistema atual foi que a partir da divisão da empresa

em áreas de negócio houve a necessidade de avaliar os resultados de cada uma delas.

Anteriormente as unidades eram avaliadas apenas pelo custo de produção.

O propósito básico do atual sistema de controle gerencial é avaliar o retorno do

capital empregado (ROCE) de cada unidade de negócio. A principal inovação do atual

sistema de controle foi correlacionar o resultado com o capital empregado. Conforme já

mencionado, o sistema foi projetado pela empresa com a ajuda de técnicos da

FIPECAFI. O sistema foi projetado com base em sistemas usados com sucesso em

outros países e em modelos teóricos encontrados na literatura.

A principal característica do modelo adotado é o reconhecimento que o capital

empregado deve ser remunerado.

II - Instrumentos de controle gerencial

A empresa já calcula o WACC (sigla inglesa para Custo Médio Ponderado de

Capital) e utiliza o ROCE há cerca de 10 anos, sendo imediato o cálculo do EVA. Para

o cálculo do custo de capital, a empresa utiliza o seguinte procedimento: o custo de

capital é determinado a partir do CAPM (sigla inglesa para Modelo de Precificação de

Ativos de Capital)5. O cálculo é efetuado em Dólar constante e utiliza betas de empresas

similares comercializadas na bolsa de New York. Consideram-se os títulos do tesouro

americano de 10 anos como livre de risco e o prêmio de mercado histórico da bolsa de

New York. Além disso, adiciona-se uma parcela relativa ao risco Brasil.

5 O CAPM é um modelo que explicita a relação entre o risco e o retorno esperado de um ativo; de acordocom o modelo, o retorno esperado de um título varia direta e linearmente com o beta do título, sendo betauma medida da sensibilidade do retorno de um título à taxa de retorno do mercado (Ross et al, 2002, p.233).

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Entretanto, algumas particularidades da empresa fazem com que tanto o ROCE

quanto o EVA tenham que ser interpretados com muito cuidado, o que não estimula a

empresa a ter o EVA como métrica.

Por ter a maior parte de suas receitas atreladas a dólar e a maior parte dos custos

atrelados a reais, o ROCE/EVA da empresa calculado em Reais apresenta forte

crescimento sempre que há desvalorização cambial, independentemente da ação do

gestor. Uma solução seria fazer o cálculo em dólar para o que seria necessário ter o

Imobilizado a dólar histórico. Entretanto, desde o advento do plano Real a empresa

deixou de contabilizar os ativos em dólar histórico.

Outra característica da empresa que distorce a comparação entre empresas, e

entre unidades internas da própria empresa, é o fato de ser intensiva em capital de longa

vida útil. Isso faz com que os ativos das unidades mais antigas possam apresentar

ROCE/EVA muito superior ao das unidades mais novas por conta da elevada

depreciação, apesar de operacionalmente serem semelhantes.

Procurando formas de minimizar esses problemas, a empresa partiu para a

identificação de indicadores mais adequados à sua realidade, chegando à metodologia

do GVA - Gerenciamento de Valor para o Acionista - do Boston Consulting Group.

O projeto está em fase de implantação piloto da metodologia em uma das

unidades da empresa, e baseia-se em indicadores que privilegiam o fluxo de caixa e

apresenta alternativas para o tratamento da depreciação. A seleção dos indicadores

chave de cada unidade deverá permitir um aperfeiçoamento do acompanhamento de

performance e do sistema de remuneração variável.

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4.3.4 Empresa E

4.3.4.1 Características gerais

A empresa E tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro, atuando no setor

secundário da economia há mais de 60 anos. Encontra-se classificada entre as vinte

maiores empresas não financeiras do país no ranking de patrimônio líquido - superior a

R$ 3.700 milhões em 2001 (EXAME, 2002) - o valor apontado por Gomes (1983),

corrigido pelo IGP-DI, equivale a mais de R$ 3.300 milhões.

É uma empresa S.A. de capital aberto, cujo controle foi adquirido à União em

1993. Atualmente, a União não mantém mais qualquer participação da empresa.

O número de empregados da empresa em 2001 era superior a 9.100 (eram mais

de 20.000 em 1981, segundo Gomes (1983)), representando uma folha de pagamento de

mais de R$ 274 milhões (o valor relatado por Gomes (1983) para dezembro de 1981,

corrigidos pelo IGP-FGV, corresponde a cerca de R$ 802,5 milhões em dezembro de

2001).

A empresa E é controladora de um grupo de mais de 20 empresas. Sua principal

fonte de faturamento provém da venda de produtos no mercado interno e externo, com

ampla predominância do primeiro - mais de 80% do faturamento total em 2001 (mesmo

percentual apontado por Gomes (1983)).

Possui um grau de endividamento de 64%, o mais alto entre as empresas

estudadas. Apesar disso, é uma situação bem distinta da relatada por Gomes (1983),

visto que na época a empresa possuía uma considerável dependência de recursos

provenientes do Tesouro Nacional.

A situação relatada por Gomes (1983) indicava uma empresa “vivendo um

período de extrema incerteza, marcado por forte retração de mercados, forte incremento

nos custos e aumento de estoques implicando em redução sensível de sua autonomia

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financeira, em conseqüência de sua baixa rentabilidade” (p.164). Assim, o resultado

médio apontado por Gomes (1983) atualizado para dezembro de 2001 pelo IGP-FGV,

correspondia a R$ 137,8 milhões negativos. Atualmente, o lucro médio dos últimos 3

anos estudados, ano-base 2001, foi de R$ 952,3 milhões, resultado este fortemente

influenciado pelo resultado do ano 2000, quando a empresa obteve um ganho de R$ 1,2

bilhão na alienação de participações societárias. Excluindo-se esse efeito, o resultado

médio fica em R$ 441,6 milhões.

4.3.4.2 Sistema de controle gerencial

Objetivos Organizacionais

A empresa, após a privatização, iniciou um processo de investimentos em

modernização e em atividades dentro de sua cadeia produtiva. Nos últimos 2 anos a

companhia concentrou seu foco na atividade original e na busca de solução para o

cliente.

Estas mudanças de foco são resultado do processo de planejamento estratégico

que começou a ser implantado na empresa há dois anos. O modelo desenhado parte do

planejamento estratégico, passa pelo planejamento operacional e se desdobra no

orçamento. A implementação efetiva de todo o processo, conforme enfatizou a

entrevistada, é um processo de aprendizado e, como tal, leva algum tempo para ser

absorvido.

Todas as funções da empresa - Operações, Comercial e Administrativo -

participam do processo de estabelecimento dos objetivos gerais. Não existe um

documento formal que comunique os objetivos dentro da empresa; para tanto são usados

os recursos de comunicação interna. O corpo gerencial, por sua vez, toma conhecimento

dos objetivos da empresa participando das discussões e workshops com os principais

executivos dentro da companhia.

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É possível estabelecer uma classificação por ordem de importância dos objetivos

da empresa. Entretanto, por serem confidenciais, não é possível relacioná-los.

Os objetivos gerais da empresa são desdobrados em objetivos específicos para

cada unidade da cia. Ainda não está implantado um processo formal de avaliação dos

resultados obtidos pela empresa em relação aos objetivos fixados, mas está em estudo

um sistema de avaliação a ser implementado em breve.

A entrevistada acredita que, pelo menos nos últimos dois anos, os objetivos

traçados foram alcançados.

Processo Orçamentário

I. Filosofia orçamentária

Segundo a filosofia orçamentária da empresa, o sistema orçamentário: força a

administração a dedicar atenção oportuna ao efeito da tendência esperada das condições

econômicas; serve de mecanismo inibidor de gastos supérfluos; requer dados contábeis

apropriados e adequados às necessidades orçamentárias; e é usado como principal

instrumento de gestão da empresa.

Como conseqüência desta filosofia, o sistema orçamentário da empresa é usado

como: instrumento de controle financeiro e instrumento de planejamento. Também é

usado como meio de comunicação das metas, embora não em todo o seu potencial; além

disso, é usado como medida de avaliação de desempenho de área.

O principal aspecto positivo do atual sistema orçamentário é que ele envolve a

empresa toda, é um sistema descentralizado que proporciona um grande envolvimento

das pessoas; a responsabilidade pela entrada de dados no sistema é das áreas

operacionais. O papel da área de orçamento é analisar, questionar e consolidar as

informações que vem da empresa toda e projetar as demonstrações financeiras -

demonstração de resultados, fluxo de caixa e balanço.

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II Função orçamentária

A empresa dispõe de um executivo com responsabilidade integral pelo

orçamento da empresa, desde sua elaboração e o seu acompanhamento e elaboração dos

relatórios orçamentários. Este executivo ocupa uma gerência de 2º escalão; a estrutura

adotada pela empresa é a seguinte: existe uma Diretoria de Controladoria e Informática,

a qual possui uma Gerência Geral de Controladoria e uma Gerência Geral de

Informática. A Gerência de Controladoria, por sua vez, é dividida em várias gerências,

dentre elas a Gerência de Controle e Gestão, responsável pelo orçamento.

Um total de oito pessoas dedica-se com exclusividade a funções orçamentárias,

sendo um quadro em revisão. Na preparação da proposta orçamentária, o papel deste

pessoal é prover assessoria aos executivos, divulgar premissas e diretrizes, projetar

alguns dados, prover informações e consolidar as informações.

As unidades operacionais, conforme já mencionado, são responsáveis pelos seus

orçamentos.

A responsabilidade por cortes orçamentários é da Alta Direção da companhia -

que provê as diretrizes - e das unidades operacionais. A responsabilidade pela

aprovação final do orçamento - apresentado pela Diretoria - é do Conselho de

Administração da empresa.

Na realidade não existe uma divulgação formal do orçamento aprovado; as áreas

têm acesso ao sistema. Entretanto, se for solicitado, é a área orçamentária que fará a

divulgação.

A análise das variações orçamentárias é responsabilidade da Área Orçamentária.

No processo de análise são elaborados dois relatórios mensais: o Relatório de

Acompanhamento Orçamentário - onde o foco é o custo das áreas - e o Relatório de

Acompanhamento da Companhia como um todo - onde são acompanhados a receita, os

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custos e as despesas em uma base de demonstração de resultados. Tais relatórios são

encaminhados para as Diretorias Executivas.

A Alta Direção da empresa se envolve em todas as fases do processo

orçamentário.

III Características básicas do orçamento

O sistema orçamentário da empresa utiliza os seguintes tipos de orçamento:

• Orçamentos operacionais: orçamento de despesas, orçamento de vendas,

orçamento de produção, orçamento de mão-de-obra, orçamento de compras,

orçamento de custo de produtos vendidos e orçamento de equivalência

patrimonial.

• Orçamentos financeiros: balanço projetado, orçamento de caixa, e orçamento

de resultados.

• Orçamento de investimentos.

O sistema orçamentário atual foi introduzido há dois anos e faz parte do sistema

que se inicia com o planejamento estratégico, anteriormente mencionado. O processo

orçamentário como desdobramento do planejamento estratégico ainda está em

implementação, sendo aprimorado a cada ciclo orçamentário.

O planejamento de longo prazo (PLP) também está em implantação na empresa,

sendo que o orçamento é o primeiro ano do PLP, isto é, ele parte do sistema

orçamentário. O horizonte temporal do PLP é de 10 anos, com uma abordagem de

valuation6. Paralelamente, existe um sistema de planejamento com horizonte de dois

anos, criado anteriormente à implantação do atual sistema orçamentário, que tem por

objetivo fazer simulações diversas.

6 O termo valuation é usado em finanças para caracterizar a ação de determinar o valor de alguma coisa,com o uso de diversas técnicas, sendo a mais comum a avaliação através de Fluxos de CaixaDescontados. Para maiores detalhes, ver Copeland et al. (2000).

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Durante o período orçamentário, quando se verifica que os resultados obtidos

estão em desacordo com os objetivos previamente traçados, há necessidade de revisão e

ajustes dos valores orçados. O mesmo ocorre, durante o ciclo do orçamento, caso sejam

observadas mudanças de premissas ou diretrizes.

A atividade orçamentária da empresa se estende de setembro a novembro.

Embora em alguns anos a aprovação tenha ocorrido em dezembro, o objetivo é que ele

seja aprovado pelo Conselho de Administração em novembro.

A execução orçamentária é examinada mensalmente; as atividades de análise e

de elaboração de relatórios sobre as variações orçamentárias encontradas levam cerca de

duas semanas. Mensal, também é a freqüência que a Alta Direção recebe os relatórios

sobre as variações orçamentárias. As unidades operacionais não recebem os mesmos

relatórios; conforme mencionado, eles podem acompanhar seu orçamento via sistema, a

qualquer momento.

O planejamento de longo prazo não obedece a um procedimento periódico a ser

seguido, havendo mudança de cenário, são feitas atualizações que são apresentadas para

a alta direção.

O sistema orçamentário, por sua vez, é formalizado em um caderno de

apresentação entregue na Reunião do Conselho de Administração. Este caderno é

composto das principais informações do orçamento – receitas, custos, investimentos,

fluxo de caixa e demonstrações de resultados, destacando as premissas utilizadas.

As informações mais usadas na primeira estimativa do processo de planejamento

orçamentário são: dados históricos fornecidos pela contabilidade; estimativas

econômicas; o orçamento (realizado) do último ano; informações de mercado. No

processo de discussão e aprovação final do orçamento, as projeções elaboradas pelas

unidades operacionais são analisadas considerando a conjuntura econômica e as

diretrizes estabelecidas.

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Por fim, para análise das variações orçamentárias são feitas comparações com o

realizado de anos anteriores analisando-se as variações e considerando efeitos cambiais

e inflacionários (os efeitos cambiais são muito importantes dentro da empresa) e

mudanças no mercado.

IV Funcionamento do sistema orçamentário

A própria área de orçamento está permanentemente estudando formas de

aperfeiçoar o processo orçamentário, a sua operacionalização.

São feitas revisões no orçamento antes da sua aprovação final. O processo é

interativo: os resultados parciais da consolidação vão sendo apresentados ao corpo

diretivo. Caso seja necessário, é solicitado às áreas operacionais que revejam suas

projeções. Estas revisões são feitas, como já vimos, quando os resultados não estão de

acordo com as diretrizes estabelecidas pela alta direção.

Durante o ano podem ser realizadas revisões no orçamento. Nos últimos anos

tem sido observada a realização de uma revisão por mudanças significativas no cenário

econômico ou nas premissas utilizadas (mudança no cenário empresarial). O objetivo

das revisões é manter o orçamento como instrumento de gestão e planejamento.

De acordo com a entrevistada, nos últimos anos a empresa não iniciou o período

orçamentário sem que o orçamento estivesse concluído.

O sistema orçamentário tem evoluído no sentido de aproximar o planejamento

estratégico do planejamento operacional, como já foi visto antes. Partiu-se de um

sistema que se concentrava no controle de despesas (ainda tem este objetivo, mas não só

este), para um sistema que procura alinhar os objetivos estratégicos à operação da

companhia. O ciclo caracteriza-se por:

Planejamento estratégico – onde são definidos os objetivos da companhia para

um determinado período;

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Planejamento operacional – ações que deverão ser adotadas para atingimento do

objetivo estratégico;

Orçamento – valoração do planejamento operacional.

VI Controle Orçamentário

a. Controle interno

Partindo da demonstração de resultado, é feita a comparação entre o previsto e o

realizado detalhando até o nível que for necessário para explicar as variações. O

relatório elaborado se denomina Relatório de Desempenho e apresenta de forma gráfica

e descritiva as variações. Este relatório é destinado à alta direção e alguns Diretores

Operacionais.

O formato atual do relatório tem dois anos; anteriormente, o relatório

apresentava características de tabelas e o atual é mais analítico, mais gráfico. São

incluídas nos relatórios, tanto as variações positivas, quanto as negativas. A magnitude

das variações incluídas vai depender da relevância do item; podendo chegar a 5%.

O nível de detalhes sobre as variações orçamentárias apresentado nos relatórios

de controle orçamentário é suficiente para identificar os motivos da variação.

No processo de análise das variações orçamentárias podem ser notados fatores

que possam ter afetado os resultados mas que não estejam sob controle direto dos

responsáveis pela variação observada. Dentre os itens considerados como não

controláveis pelos responsáveis pelas variações observadas são destacados os efeitos

inflacionários/cambiais em percentuais diferentes dos valores previstos no orçamento.

Em uma escala menor, a imputação de gastos realizados por outras funções dentro da

empresa.

No próprio processo de acompanhamento orçamentário, os gastos de cada centro

de custos são analisados e os gestores responsáveis pelas variações devem justificar as

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diferenças entre o previsto e o realizado. A área orçamentária vai analisar as

justificativas, questioná-las - quando necessário -, consolidá-las e elaborar um relatório

para divulgação.

b. Controle externo

É exercido controle orçamentário sobre a empresa por seus controladores, a

medida em que a Alta direção apresenta a realização do orçamento nas reuniões

mensais do Conselho de Administração. Entretanto, não é percebida, pela entrevistada,

pressão do controlador sobre a empresa durante o acompanhamento orçamentário. A

pressão do controlador é exercida quando da elaboração das projeções. A presença do

controlador é sentida como sendo um papel de orientação e diretrizes e, posteriormente,

acompanhamento; praticamente, não há a presença física do controlador na empresa.

A preparação de relatórios externos está inserida nos procedimentos normais da

área orçamentária, na preparação de relatórios. Os documentos apresentados são os

relatórios contábeis e o acompanhamento orçamentário, com uma freqüência mensal.

No que diz respeito à execução orçamentária, a autonomia financeira não é

afetada pelo controle orçamentário externo.

A empresa percebe a existência de um compromisso real por parte dos

executivos da empresa, no tocante ao alcance de suas metas orçamentárias. A principal

razão para o estabelecimento deste compromisso é o esquema de recompensas adotado

pela empresa (PLR - Participação nos Lucros e Resultados).

VII Recrutamento e Treinamento de Pessoal Orçamentário

A área de orçamento não tem uma política própria de treinamento de pessoal; em

geral, se insere em cursos mais gerais, como contabilidade. Os requisitos para o

recrutamento de pessoal para a área não prevêem restrição de idade, mas exigem

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formação superior (economia, administração ou contabilidade), sendo todos analistas

sêniores.

Sistema de contabilidade gerencial

I - Sistema contábil

O plano de contas da empresa integra os três sistemas: Contabilidade,

Orçamento e Custos. O sistema contábil atual da empresa - o R/3 - tem três anos.

A principal dificuldade que prejudica a agilidade das informações é o fluxo de

informações externas, referentes aos investimentos externos da empresa. Um outro

problema, que está sendo analisado, é o tempo de processamento das informações de

custo.

O sistema contábil é descentralizado, praticamente 90% das operações são

contabilizados automaticamente. Não são elaborados relatórios intermediários, somente

os de fechamento mensal que são divulgados na primeira semana após o fechamento do

período.

Os relatórios atendem às necessidades de informação da empresa, mas sempre estão

sendo aprimorados para atender à dinâmica do negócio.

Os relatórios externos têm por objetivo atender o mercado, principalmente, CVM e

SEC.

II - Contabilidade por Responsabilidade

A contabilidade por áreas de responsabilidade encontra-se estruturada em

centros de custo. Nos últimos anos ocorreram mudanças significativas na estrutura dos

centros de responsabilidade para atender as mudanças organizacionais ocorridas na

empresa para adaptá-la às mudanças ambientais e estratégicas.

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Os centros de responsabilidade são definidos de acordo com o tamanho e a

necessidade de controle de cada área. A Controladoria avalia e aprova a criação de

centro de custos que sempre possui um responsável de nível hierárquico não

especificado formalmente.

Quanto ao acompanhamento das atividades realizadas, o único processo formal é

o acompanhamento orçamentário.

A empresa não trabalha com preços de transferência.

III Sistema de custeio

O sistema de custeio atual foi adotado em meados de 2001 e utiliza o sistema de

custeio padrão. A empresa se encontra em uma fase de adaptação ao novo sistema. As

principais características do sistema são: a absorção com base no volume; a alocação

direta do consumo, serviços e utilidades; e custos administrativos rateados com base na

mão-de-obra. É importante referir que a empresa já usava o custo-padrão à época da

pesquisa de Gomes (1983, p.166).

A principal razão para a implantação do atual sistema de custeio foi a

possibilidade de se apurar os custos por ordem de venda, que é o sistema usado pela

empresa.

O desenvolvimento do sistema foi resultado de um trabalho conjunto entre

consultores externos e pessoal da própria empresa.

IV Medidas de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade

O sistema de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade se

restringe ao acompanhamento da execução orçamentária. Desta maneira, os pontos mais

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relevantes no processo de avaliação dos centros de responsabilidade são: o alcance das

metas orçamentárias anuais do centro; e o volume de gastos anuais.

O programa de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que estabelece

algumas metas constantes do orçamento a serem cumpridas pelas áreas. Todas as

unidades da cia. têm metas vinculadas ao seu desempenho.

Evolução dos sistemas de controle

I Evolução dos sistemas de controle

Conforme já comentado anteriormente, a entrevistada entende que o sistema de

controle gerencial da empresa está fortemente baseado na contabilidade formal da

empresa. O principal mecanismo de controle é o controle orçamentário e o

acompanhamento mensal da execução orçamentária.

O sistema de controle foi projetado pela própria empresa usando como principal

base a experiência acumulada - pela empresa e por pessoas que vieram de outras

empresas - no desenvolvimento dos sistemas anteriores.

II Instrumentos de controle gerencial

A empresa tem estudado a eventual implantação do EVA e do Balanced

Scorecard, entretanto não há, até o momento, nenhuma decisão quanto à efetiva adoção

de qualquer um dos dois instrumentos.

4.3.5 Empresa F

4.3.5.1 Características Gerais

A empresa F tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro, atuando no setor

secundário da economia há mais de 45 anos. Encontra-se classificada entre as vinte

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maiores empresas não financeiras do país, tanto no ranking de patrimônio líquido -

superior a R$ 3.700 milhões em 2001 (o valor apontado por Gomes (1983), corrigido

pelo IGP-DI, equivale a mais de R$ 3.300 milhões) -, quanto no ranking de vendas -

superior a R$ 6.600 milhões (EXAME, 2002). Entre as empresas estudadas, ocupa o

primeiro lugar por patrimônio líquido, por faturamento e por lucro líquido e, finalmente,

o segundo lugar, por número de funcionários.

Trata-se de uma empresa de economia mista de capital aberto, cuja participação

da União Federal no capital social é da ordem de 32,5% (55,7% do capital votante),

além de participação através do BNDESPar na ordem de 7,9% do capital total (2,0% do

capital votante.

Seus empregados, em número superior a 32.500 (eram mais de 45.000 no estudo

de Gomes (1983)), representavam uma folha de pagamento superior a R$ 2,2 bilhões (o

valor relatado por Gomes (1983) para dezembro de 1981, corrigidos pelo IGP-FGV,

corresponde a mais de R$ 3,4 bilhões em dezembro de 2001).

A empresa F é “holding” de um grupo de sete empresas, com negócios

diversificados, porém atuando de forma integrada e especializada em seu ramo de

negócios. Sua principal fonte de recursos provém da venda de produtos no mercado

interno e externo, com ampla predominância do primeiro sobre o segundo.

O grau de autonomia financeira em relação a terceiros apresenta um percentual

superior a 90% (era 96%) se utilizada a relação Recursos Próprios/Recursos Totais. A

empresa não é dependente de recursos governamentais, pois não são encontrados

recursos provenientes do Tesouro Nacional no Relatório Anual DEST - Programa de

Dispêndios Globais - 2000 (BRASIL, 2003). Apresenta um grau de endividamento total

de 59%, sendo que deste, apenas 18% (ou 10,6% do total do patrimônio) representam

empréstimos e financiamentos.

O lucro líquido médio dos últimos 3 anos foi de R$ 8,6 bilhões (o valor lucro

médio apontado por Gomes (1983) atualizado para dezembro de 2000 pelo IGP-FGV,

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corresponde a R$ 3,5 bilhões), sendo que os resultados da empresa sofreram um

significativo crescimento a partir de 2000.

4.3.5.2 Sistema de controle gerencial

Objetivos Organizacionais

Os objetivos gerais da empresa são estabelecidos pelo Comitê de Negócios,

órgão que tem representantes de toda a Administração Superior da empresa -

presidência, diretores, gerências executivas -, coordenados pela Gerência de Estratégia

Corporativa, órgão ligado diretamente à Presidência da empresa. Tais objetivos são

definidos pelo Planejamento Estratégico.

Os objetivos são comunicados para a organização e para a sociedade através do

Planejamento Estratégico, documento que toma a forma de uma publicação, além de

poder ser acessado, publicamente, via Internet.

Segundo os entrevistados, não é possível ordenar os objetivos por ordem de

importância. Entretanto, é percebida uma mudança substancial na postura da empresa e,

por conseqüência, nos seus objetivos, a partir da promulgação da legislação que quebrou

o monopólio no qual a empresa atua. Esta mudança está consubstanciada na

apresentação do Plano Estratégico, na qual é afirmado que “...o processo de mudança ...

reafirma a necessidade de uma presença forte no mercado internacional e de busca de

rentabilidade, que deverá estar sempre acompanhada do compromisso com a

responsabilidade social.”

Os objetivos gerais são desdobrados através do Plano Plurianual de Negócios

(PPN), onde são detalhados os objetivos estratégicos de cada Área de Negócios na qual

a empresa e suas subsidiárias foram estruturadas.

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Os objetivos específicos, por sua vez são desdobrados em metas (físicas e

financeiras) através do Plano Anual de Negócios (PAN). O PAN é o primeiro ano do

PPN.

A avaliação do atingimento dos objetivos e metas encontra-se dividido em dois

estágios: existem instrumentos que verificam o desempenho em termos físicos com

grande grau de detalhamento (em alguns casos até o nível de ativo); no que diz respeito

à avaliação financeira, está sendo implantado processo de avaliação por Área de

Negócio.

Cada nível de gerência (de Área, Unidade) tem suas respectivas

responsabilidades no acompanhamento de sua performance, ficando a Gerência de

Planejamento e Orçamento responsável pela consolidação das informações.

Existe processo formal de revisão dos objetivos.

Na percepção dos entrevistados, a empresa tem conseguido atingir e até superar

os objetivos traçados nos últimos anos.

Processo Orçamentário

I - Filosofia orçamentária

O sistema orçamentário usado pela empresa atende, em ordem de importância,

aos propósitos de: servir como meio de comunicação das metas a serem alcançadas,

servir como instrumento de planejamento e controle financeiro e, está se encaminhando

- em virtude de estar sendo modificado em função da reestruturação da empresa - para

servir como medida de avaliação de desempenho individual.

Os entrevistados entendem que a filosofia orçamentária da empresa introduz em

todos os níveis da organização, o hábito de consideração adequada, cuidadosa e

oportuna de todos os fatores importantes, antes de serem tomadas decisões, além de

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libertar muitos executivos de problemas internos rotineiros graças ao uso de políticas

predeterminadas e de relações de autoridade bem definidas. O sistema orçamentário

requer dados contábeis apropriados e adequados às necessidades orçamentárias. Dentro

do processo de reestruturação da empresa, os entrevistados acreditam que o sistema

orçamentário forçará a administração a dedicar atenção oportuna ao efeito da tendência

esperada das condições econômicas, tendo em vista que o sistema usado até o ano 2000

focava, basicamente, apenas a dimensão custo; a partir do orçamento de 2001 a empresa

passou a considerar a dimensão resultado. Com isso, os responsáveis por cada unidade

de negócio (assim como os executivos acima deles) terão que se preocupar com o

ambiente externo à empresa.

O fato de que o sistema que está em implantação busca antecipar o resultado da

empresa é visto como um aspecto positivo pelos entrevistados, no sentido em que

introduz uma disciplina muito maior para a companhia. Esta disciplina provém da

compreensão que cada gerente passa a ter da sua parcela de responsabilidade no

resultado total da empresa, criando um comprometimento crescente com o orçamento.

II - Função orçamentária

Na atual estrutura da empresa, cada área de negócios, unidade e ativo - de acordo

com a unidade - possui seu núcleo ou setor ou pessoa preocupados com a elaboração

dos seus orçamentos, assim como a empresa tem um núcleo de orçamento que tem

como preocupação principal a consolidação dos orçamentos de todas as áreas da

empresa. Tais núcleos e setores são responsabilidade de executivos que ocupam cargos

de gerentes - de 1ª linha - em suas respectivas áreas e unidades de negócios

(coordenadores, no caso de ativos).

A Gerência de Planejamento e Orçamento, área responsável pela consolidação

dos orçamentos de todas as áreas da empresa e que está vinculada à Gestão de

Desempenho Empresarial, possui cerca de 30 funcionários.

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Em linhas gerais, o papel desempenhado pelo pessoal da área orçamentária no

tocante à preparação da proposta orçamentária inclui: prover diretrizes, prover

assessoria e informações aos executivos, além de ser responsável pela consolidação das

informações e verificar a aderência do orçamento ao Planejamento Estratégico.

Na percepção dos entrevistados, o orçamento da empresa “nasce” nas unidades

operacionais, isto é, é um processo que vai de “baixo para cima” possibilitando uma

participação efetiva e total das unidades na discussão da proposta orçamentária. No

último ano não houve cortes orçamentários, entretanto, quando ocorrem, normalmente,

tem origem governamental.

A responsabilidade pela aprovação final do orçamento compete à alta direção da

empresa a qual se envolve em todas as fases do processo orçamentário. Cabe à Gerência

de Planejamento e Orçamento a divulgação do mesmo.

Na fase de acompanhamento, as variações orçamentárias são analisadas desde os

níveis mais baixos da hierarquia, conforme a sua origem; tais análises são repassadas

aos níveis superiores, cabendo à Gerência de Planejamento e Orçamento a consolidação

destas análises. As análises e respectivas justificativas são comunicadas sempre à

gerência imediatamente superior, sendo que estas comunicações não necessitam tomar a

forma de um relatório formal. Caso o desvio orçamentário não possa ser absorvido pelo

orçamento da área envolvida, cabe comunicação às instâncias superiores, podendo

chegar à alta direção (Presidência, Diretoria Executiva e Conselho de Administração).

III - Características básicas do orçamento

É importante apontar que a empresa sempre dispôs de um sistema orçamentário

desde os seus primórdios. O atual sistema começou a ser introduzido em 2000 e

continua em implantação.

A empresa, conforme já comentado, possui um processo de Planejamento de

Longo Prazo, o qual pode ser dividido nos níveis estratégico e tático plurianual. O nível

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estratégico tem um horizonte temporal de 10 anos, enquanto que o tático plurianual

alcança 5 anos, o que a empresa considera médio prazo. O plano tático anual (ou

orçamento) representa o primeiro ano do plano tático plurianual.

De acordo com os entrevistados, dentro da forma de trabalho atual, as

necessidades de ajuste são permanentemente analisadas.

O processo orçamentário se inicia no mês de setembro de cada ano com o

estabelecimento dos objetivos e metas do Plano Estratégico e dos Planos de Negócios,

sendo que a elaboração do Plano Anual de Negócios do ano seguinte se inicia em

outubro, devendo ser aprovado em dezembro. Ou seja, o processo de preparação do

orçamento dura quatro meses. Entretanto, ao longo do ano, ocorrem vários eventos

relacionados ao processo orçamentário. No mês de julho é feito o balanço de resultados

dos Planos de Negócios (Plano Anual x Plano Estratégico); também neste mês é feita a

avaliação dos ambientes externo e interno para a discussão das premissas da revisão do

Plano Estratégico e Planos de Negócios. Em agosto estas premissas são aprovadas e se

inicia a revisão do Plano Estratégico e dos Planos de Negócios.

A execução orçamentária é examinada, pelo menos, mensalmente. A freqüência

com que a alta direção recebe relatórios sobre variações orçamentárias, varia de acordo

com a magnitude das variações; variações significativas devem ser informadas

imediatamente, enquanto as demais são reportadas, pelo menos, mensalmente. Da

mesma forma, pelo menos mensalmente, as unidades operacionais recebem relatórios

sobre as variações orçamentárias. O tempo de preparação destes relatórios é variado e

também está relacionado com a magnitude das variações.

O planejamento de longo prazo é formalizado no Plano Estratégico e no Plano

Plurianual de Negócios.

As fontes de dados mais utilizados no processo orçamentário são:

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- na fase de elaboração: dados históricos fornecidos pela contabilidade, as

estimativas econômicas, o orçamento do último ano, informações de mercado e

os planos do governo;

- na fase de discussão e aprovação do orçamento anual: é verificada a sua

aderência ao Plano Plurianual de Negócios e ao Plano Estratégico;

- na fase de execução orçamentária: os efeitos inflacionários/cambiais, as

mudanças ocorridas no mercado e as mudanças na política econômica do

governo.

IV - Funcionamento do sistema orçamentário

A linha de trabalho de orçamentação da empresa mudou de maneira significativa

nas últimas duas décadas. Segundo os entrevistados, na década de 70 sequer era feito

controle de custos; a preocupação da empresa era com o volume de produção (e seu

aumento), com o crescimento físico da empresa. Na década de 80, começou a

preocupação com custos, sendo que no final da década foi montado um sistema contábil

que permitiu registrar e apurar os custos “em qualquer recanto do país”. Este sistema

(SCG - Sistema Contábil Gerencial) passou a operar em 1990.

No decorrer da década de 90, a empresa começou a dar ênfase ao problema de

orçar custos, acompanhar custos, comparar previsto e realizado, custo unitário, e reduzir

custos. Na atualidade, a empresa entrou em uma fase de apurar resultados por área de

negócio, por unidade de negócio e por ativo; a ênfase passa a ser a geração de riqueza

pela empresa. A empresa passou por uma profunda reestruturação: de uma estrutura

composta por duas áreas de negócios e três de apoio, a empresa passou para cinco áreas

de negócio e duas de apoio (serviços e financeiro). Cada uma dessas áreas deve

contribuir para o resultado da companhia; cada área foi dividida em unidades de

negócio e estas unidades têm que ser rentáveis para que a área seja rentável. O sistema

de controle foi desenhado para permitir a apuração do resultado da unidade, a

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consolidação das unidades obtendo o resultado da área, a consolidação das áreas e a

obtenção do resultado da empresa.

Estas mudanças são atribuídas às alterações observadas no ambiente na qual a

empresa opera: a quebra do monopólio de atuação, a exposição da empresa à

competição. No ambiente anterior não havia a preocupação com a obtenção de

resultados, mas sim em atender à finalidade para a qual a empresa havia sido criada:

suprir o país com seu produto. Não havia a preocupação com a rentabilidade.

Nas mudanças implementadas no sistema orçamentário a empresa não recorreu a

serviços de firmas de consultoria externa. Nestas mudanças, foram organizados grupos

de trabalho internos reunindo funcionários de diversos setores da empresa.

Na reestruturação que se encontra em andamento na empresa, está prevista a

existência de um setor com a incumbência permanente de estudar e propor

aperfeiçoamentos no sistema orçamentário, entretanto, de acordo com os entrevistados,

esta função ainda não está completamente delineada.

Na visão dos entrevistados, não se pode dizer que seja comum efetuar revisões

no orçamento antes da aprovação final em virtude das próprias características do

processo de elaboração do orçamento, que é marcado pela intensa e constante discussão

e debate.

Por outro lado, conforme já apontado anteriormente, são realizadas revisões

formais durante o período de execução orçamentária, a qual se inicia em agosto e é

aprovada em outubro. Da mesma maneira, os orçamentos enviados ao governo são

revisados no período de maio a agosto. No modelo que está em implantação, pretende-

se que a execução orçamentária esteja em permanente revisão. A responsabilidade pelas

revisões orçamentárias é da Gerência de Planejamento e Orçamento.

Nos anos recentes, não tem ocorrido de iniciar-se o ano orçamentário sem que

esteja concluído o orçamento; no entender do entrevistado, isso seria o caos.

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V Controle Orçamentário

a. Controle interno

O processo de controle interno da empresa está passando por uma significativa

reestruturação. Até alguns anos atrás o foco do controle orçamentário da empresa era o

custo, ou a redução de custos. Mais recentemente - cerca de um ano -, o foco passou a

ser o controle do resultado; na visão do entrevistado, esta mudança trás alguns

problemas. Por um lado, por ser uma empresa do Estado, uma empresa pública, há o

desejo de informar da forma mais completa e transparente possível; por outro lado, por

estar exposta à competição, existe a dúvida sobre a quantidade de informação que

deve/pode ser disponibilizada.

Internamente, são produzidos vários tipos de relatórios. A começar pelo próprio

orçamento - visto como um instrumento de controle prévio - até os relatórios financeiros

comumente encontrados, como demonstração de resultados, balanços. Tais relatórios

são disponibilizados aos “decisores”, isto é, às gerências e diretorias.

No processo de controle das variações orçamentárias, tanto as variações

positivas quanto as negativas são incluídas nos relatórios de controle. Todas as

variações, independentemente da magnitude, são incluídas nos relatórios. O grau de

detalhamento das variações orçamentárias apresentado nos relatórios de controle é

suficiente para identificar claramente as responsabilidades.

Os fatores que afetam os resultados da empresa mas que não estão sob controle

direto dos responsáveis pela variações orçamentárias estão claramente identificados já

no próprio processo de planejamento estratégico. São considerados fatores não

controláveis pela empresa os efeitos inflacionários/cambiais em percentuais diferentes

dos valores previstos no orçamento e o preço internacional do petróleo - embora o

orçamento já preveja faixas de variações que poderão ocorrer. Além disso, também tem

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influência a contribuição da empresa no resultado primário determinada pelo Governo

Federal, a qual poderá ter impacto sobre o Programa de Dispêndios Globais da empresa.

Segundo o entrevistado, dentro da reformulação que está em curso nos sistemas

gerenciais da empresa, os procedimentos adotados para que os executivos responsáveis

pelas variações orçamentárias verificadas possam explicá-las, ainda não estão bem

definidos. Relatórios padronizados e não padronizados, reuniões periódicas e

extraordinárias tem sido usados no processo de exame dos desvios orçamentários.

Entretanto, é importante enfatizar que, relatórios de controle estão sendo implantados, a

informação está sendo disponibilizada quase que instantaneamente, não deixando

margem de dúvidas quanto ao que deve ser feito, de tal forma que as ações corretivas

são tomadas imediatamente. O entrevistado também apontou para o fato de que o termo

“relatório” tal como entendido na atualidade, está perdendo seu significado, visto que o

sistema está se tornando apto a produzir informações no formato desejado por aquele

que a necessita.

b. Controle externo

A União mantém controle orçamentário sobre a empresa. Os principais

instrumentos de controle são o Programa de Dispêndios Globais e relatórios bimensais.

Entretanto, a empresa mantém contato diário quase permanente com o DEST -

Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais. Nas palavras do

entrevistado, “não existe mais um contato; existe uma convivência, aliás, pacífica e

harmônica” com o DEST. Quando se amplia o termo “controle pelo Governo” (por

exemplo, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Tribunal de Contas da União), o

universo de documentos exigidos da empresa atinge um número quase impossível de

determinar. Na verdade, os sistemas da empresa são colocados a disposição dos órgãos

de fiscalização e controle do Governo.

As visitas do pessoal do DEST (ou as visitas que o pessoal da empresa faz ao

DEST), em geral, ocorrem em uma freqüência quase mensal e não tem um modelo

estruturado. Normalmente, são visitas de orientação, discussão ou consulta que visam

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aprimorar o sistema de acompanhamento; não tem o caráter de auditoria. As visitas do

pessoal do TCU, por outro lado, se caracterizam claramente como ações de auditoria.

Salvo as ações de auditoria, não é percebida muita interferência nas rotinas internas da

empresa como resultado da ação dos órgãos de controle do Governo.

Na percepção dos entrevistados, o controle orçamentário externo, nos últimos

dois anos, não afetou a autonomia financeira da empresa; o que foi proposto, foi aceito

e, de maneira geral, realizado. Esta é uma situação nova para a empresa, acostumada a

ter seus planos de investimentos afetados como conseqüência de limites orçamentários

impostos pelo Governo a fim de “fechar” suas contas.

É percebido que nos últimos anos tem havido um comprometimento cada vez

maior por parte dos executivos da empresa no que diz respeito ao alcance de suas metas

orçamentárias. Uma das razões apontadas é a mudança de foco na forma como o

orçamento é enxergado na empresa; passou a ser enfocado o resultado da companhia e

não mais os custos. Além disso, como é percebida uma interferência menor por parte do

Governo, tanto na elaboração quanto na execução do orçamento, a empresa passou a ser

responsável por obter os resultados que projetou. Também, o envolvimento das pessoas

no processo orçamentário é apontado como mais uma razão para que as pessoas se

comprometam com o orçamento. É certo que esse graus de comprometimento não é

linear em todos os segmentos da empresa: é maior em alguns setores, menor em outros,

mas tem aumentado com o passar do tempo.

VI - Recrutamento e Treinamento de Pessoal Orçamentário

Os entrevistados não percebem uma política de recrutamento de pessoal para a

área orçamentária por parte da empresa. Na medida do necessário, são buscadas pessoas

na própria empresa.

Com o advento da reestruturação dos sistemas de controle da empresa,

recentemente houve um amplo treinamento envolvendo mais de 700 pessoas no novo

modelo de orçamento em implantação. Entretanto, não existe na empresa programas de

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educação continuada em técnicas orçamentárias. A companhia oferece aos seus

funcionários cursos internos e externos com programas mais abrangentes do que apenas

orçamento, como por exemplo, um MBA em Controladoria.

Sistema de contabilidade gerencial

I - Sistema contábil

Embora o sistema orçamentário esteja calcado no sistema de informações da

Contabilidade, os sistemas não são integrados. A realização do orçamento utiliza um

sistema paralelo independente ao da Contabilidade (que utiliza o SCG - Sistema

Contábil Gerencial) e permeia toda a empresa (mas não todas as empresas integrantes

do Sistema). Quando se considera o grupo de empresas da qual a companhia é

“holding”, mais de um sistema contábil é usado; a empresa (e o grupo) está em fase de

migração para um novo sistema - o R/3. Assim, somente Contabilidade e Custos são

integrados.

O atual sistema contábil (SCG) foi implantado em 1990, tendo sido adaptado

toda vez que o modelo de gestão da empresa sofreu alterações. Na visão dos

entrevistados, o sistema contábil reflete (e refletiu) as estruturas da empresa, além de

atender ao governo, porém nunca foi um sistema gerencial na acepção estrita do termo.

O sistema é centralizado em termos de plano de contas e procedimentos contábeis,

embora a operacionalização da contabilidade seja feita diretamente pelas unidades -

cada unidade possui seu setor de contabilidade.

As premissas que nortearam o desenho do atual sistema contábil foram duas: o

centro de responsabilidade e as atividades exercidas. O centro de responsabilidade foca

o “quem” (gerente) gastou e a atividade foca o “em que” gastou, sendo que estão

previstas mais de 600 atividades, algumas específicas a certos centros. Uma

característica marcante do sistema contábil é a forma de codificação dos custos; assim,

um custo recebe cinco códigos os quais representam as cinco dimensões do custo:

ordem de trabalho (ou projeto), unidade (local: sede, escritório, bacia), responsabilidade

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(ou gerência), atividade (exploração, transporte, etc.) e elemento de conta (ou natureza

do gasto: materiais, pessoal, equipamento, serviços de terceiros, etc.).

O sistema contábil gera, mensalmente, um relatório de gastos mensais -

investimentos, custeio, atividades, etc. -; entretanto, é importante salientar que tal

relatório não é emitido fisicamente. O que existe é um banco de dados que permite que

os interessados na informação contábil formatem esta informação da maneira que

melhor atenda sua necessidade. Também, são emitidos relatórios mensais de resultado

por segmento de atividade com base nos princípios contábeis americanos e brasileiros,

balancetes; além dos relatórios legais de encerramento de exercício. Enfim, o sistema

permite estruturar relatórios nos mais diferentes formatos; esta flexibilidade deverá

aumentar mais ainda com a operação efetiva do SAP R/3. Desta maneira, é considerado

que o volume de relatórios financeiros é adequado às necessidades de informação da

empresa.

Os principais usuários externos das informações financeiras da empresa são o

Governo, a CVM e o mercado financeiro. Dada a flexibilidade do sistema contábil, estes

requerimentos externos de informação são, com raras exceções, atendidos com os

relatórios gerados internamente.

Interessante citar que a empresa passou a adotar, a partir de 2001, de forma

parcial e gradativa, os indicadores do Global Reporting Initiative (GRI). O GRI é um

acordo internacional, criado com uma visão de longo prazo, multi-stakeholder, cuja

função é elaborar e difundir o guia para elaboração de relatórios de sustentabilidade

aplicáveis globalmente e voluntariamente, pelas organizações que desejam dar

informações sobre os aspectos econômicos, ambientais e sociais de suas atividades,

produtos e serviços.

II - Contabilidade por Responsabilidade

Do ponto de vista do modelo de gestão atualmente adotado, os centros de

responsabilidade da empresa se encontram estruturados da seguinte maneira: as áreas de

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negócios são centros de resultado e as áreas corporativas são centros de custo.

Entretanto, esta distinção não é muito direta dentro da contabilidade atual, a qual

privilegia apenas o controle de gastos; desta maneira, para conhecer o resultado das

áreas, a informação precisa ser trabalhada.

As atribuições dos chefes dos principais centros de responsabilidade estão

previstas no próprio Modelo de Gestão. Estas definições, geralmente, são discutidas

quando das reformas estruturais por grupos de trabalho formados pelos gerentes

envolvidos e submetido à aprovação da Alta Direção. O mesmo ocorre no caso de

mudanças de atribuições.

Uma característica do sistema contábil é que ele atrela as atribuições do setor às

atividades que podem ser contabilizadas. Por exemplo, o sistema impede que uma área

administrativa aproprie gastos típicos de uma área fim, como pesquisa.

A política de preços de transferência da empresa procura identificar a

contribuição efetiva de cada centro de responsabilidade ao resultado global da empresa

e está sendo orientada no sentido de coordenar as atividades desenvolvidas pelos centros

de responsabilidade de modo a que não se afastem das metas traçadas pela alta direção

da empresa.

O fluxo interno de bens entre os centros de responsabilidade é definido por

grupos de trabalho integrados por pessoas dos centros envolvidos. Isto atinge,

principalmente, duas áreas de negócios: as que possuem produto. A premissa usada é a

de que o preço de transferência deve se basear no preço de oportunidade, isto é, o centro

de responsabilidade fornecedor entrega o seu produto ao centro consumidor pelo preço

que obteria em uma venda externa, enquanto que o centro consumidor procuraria obter

o preço mais baixo, interna ou externamente. Em outras palavras, a política de preço de

transferência da empresa prevê que: na hipótese de existirem fornecedores internos e

externos que possam atender às necessidades de recursos dos centros de

responsabilidade, em tese, o centro de responsabilidade é livre para escolher o

fornecedor que minimizar os custos. Na prática, porém, o fornecedor interno tem

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preferência. Por outro lado, existindo mercado interno e externo para produtos

produzidos por centros de responsabilidade, somente após terem sido atendidas as

necessidades internas, o excedente pode ser vendido externamente.

O problema é que, na prática, quando destas definições, nem o centro fornecedor

nem o comprador não possuíam alternativas externas; então um grupo de trabalho

procurou chegar a um ponto comum capaz de atender às áreas de negócios afetadas.

Assim, para os 27 tipos de produto envolvidos, foram definidas oito variáveis a serem

consideradas na determinação do preço de transferência entre as duas áreas de negócios,

entre elas: a qualidade, o teor de enxofre, tempo de decantação, capacidade de geração

de derivados, quantidade de água, localização, transporte. Eventualmente as áreas são

reunidas para discutir alterações no preço, usando como referencial a cotação

internacional da matéria-prima usada pela empresa.

A prestação de serviços internamente é transferida à base do custo; entretanto,

são alocados apenas os custos diretamente relacionados ao serviço prestado. Os custos

administrativos envolvidos não são transferidos.

III Sistema de custeio

Segundo os entrevistados, o sistema de custeio que mais se aproxima do sistema

empregado pela empresa é o custeio por absorção, apesar das dificuldades de classificar

adequadamente os custos. Dadas as características do sistema contábil, conforme já

comentado, o que é apurado é quanto custaram as atividades desempenhadas pela

empresa.

4.3.6 Empresa G

4.3.6.1 Características Gerais

A empresa G tem sua sede em Brasília, atuando no setor terciário da economia a

mais de 30 anos. Encontra-se classificada entre as cinqüenta maiores empresas não

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financeiras do país no ranking de vendas - superior a R$ 3.200 milhões em 2001

(Exame, 2002).

Trata-se de uma empresa pública de direito privado, totalmente controlada pelo

governo, condição assumida a partir de 1969, após quase um século de prestação de

serviços como autarquia federal.

Seus empregados, em número superior a noventa mil - quadro permanente -

(eram mais de sessenta e quatro mil no estudo de Gomes (1983)), representavam uma

folha de pagamento superior a R$ 1,5 bilhão, excluindo encargos e benefícios sociais

em 2000 (o valor relatado por Gomes (1983) para dezembro de 1981, corrigidos pelo

IGP-FGV, corresponde a cerca de R$ 1 bilhão em dezembro de 2001).

Esta empresa detém o monopólio dos serviços públicos que presta à

coletividade, de onde obtém os recursos financeiros através de cobrança de tarifas.

O grau de autonomia financeira em relação a terceiros apresenta um percentual

superior a 99% (era 62%) se utilizada a relação Recursos Próprios/Recursos Totais. A

empresa não é dependente de recursos governamentais, pois não são encontrados

recursos provenientes do Tesouro Nacional no Relatório Anual DEST - Programa de

Dispêndios Globais - 2000 (BRASIL, 2003). Apresenta um grau de endividamento total

de 54%, sendo que deste, apenas 10% (ou 5,5% do total do patrimônio) representam

empréstimos e financiamentos; destes 66,7% são empréstimos externos, garantidos pelo

Banco do Brasil.

O lucro líquido médio dos últimos 3 anos (base dezembro de 2001) foi de R$

374 milhões (o valor do resultado médio apontado por Gomes (1983) atualizado para

dezembro de 2001 pelo IGP-FGV, corresponde a R$ 9,7 milhões negativos); entretanto,

ao contrário do relatado por Gomes (1983), a empresa apresentou lucro operacional nos

últimos 3 anos - média de R$ 596,6 milhões. Esta comparação, entretanto, fica

prejudicada tendo em vista o critério de correção monetária adotado na época, o qual

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não permitia a visualização do resultado operacional considerando os efeitos

inflacionários, o que não ocorria com o lucro líquido.

4.3.6.2 Sistema de controle gerencial

Objetivos Organizacionais

Os objetivos gerais da empresa são traçados de forma participativa pela alta

direção da Empresa, Chefias de Departamento e Diretorias Regionais (DRs) e são

transmitidos por meio do Plano Estratégico da Empresa e da Publicação às Diretorias

Regionais dos Objetivos, Indicadores e Metas Corporativas da Gestão das DRs.

O Planejamento Estratégico é divulgado na Administração Central e todas as

Diretorias Regionais e todos têm acesso ao Manual de Planejamento.

Segundo os entrevistados, não é possível ordenar os objetivos por ordem de

importância, sendo que os objetivos perseguidos pela empresa nos últimos 3 anos não se

alteraram. Dentre os objetivos estabelecidos pela empresas se encontram: o alcance de

índices mínimos de Receita/Despesa; índices de produtividade (objetos/empregado); o

provimento de serviços a um índice mínimo da população e localidades; o alcance de

índice mínimo de satisfação geral dos clientes; o alcance de um índice mínimo de

Qualidade Operacional; um índice mínimo de crescimento para o conjunto de receitas

dos negócios da Empresa; o atingimento de uma rentabilidade mínima ao ano para o

conjunto dos negócios da Empresa; e o alcance de determinada pontuação na avaliação

segundo os critérios do Prêmio Nacional da Qualidade. Os objetivos específicos estão

formalmente integrados com os objetivos de curto prazo (metas).

Na percepção dos entrevistados, a empresa tem conseguido atingir os objetivos

traçados nos últimos anos.

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172

A empresa adota processo formal de avaliação dos resultados obtidos em relação

aos objetivos fixados, assim como os objetivos são formalmente revisados através de

revisões anuais do Planejamento Estratégico.

Processo Orçamentário

I - Filosofia orçamentária

O sistema orçamentário usado pela empresa atende, em ordem de importância,

aos propósitos de: servir como instrumento de controle e planejamento financeiro, servir

como meio de comunicação das metas a serem alcançadas, e servir como medida de

avaliação de desempenho individual.

Os entrevistados entendem que a filosofia orçamentária da empresa introduz em

todos os níveis da organização, o hábito de consideração adequada, cuidadosa e

oportuna de todos os fatores importantes, antes de serem tomadas decisões, além de

servir como mecanismo inibidor de gastos supérfluos. O sistema orçamentário requer

dados contábeis apropriados e adequados às necessidades orçamentárias.

II - Função orçamentária

A empresa dispõe de um executivo com responsabilidade integral pelo

orçamento da empresa. A posição ocupada por este executivo é a de Chefe de

Departamento de Gestão Financeira e Departamento de Orçamento e Custos. A empresa

também dispõe de um comitê com responsabilidade de supervisão do orçamento, comitê

este composto por Assessores Executivos dos Diretores de Área que têm como uma de

suas responsabilidades a aprovação do orçamento dentro de sua área de competência e a

negociação do mesmo com as Diretorias Regionais.

Todo o efetivo do Departamento de Gestão Financeira dedica-se a funções

orçamentárias, competindo a este pessoal prover diretrizes e assessoria aos executivos, e

prover informações detalhadas.

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173

No processo de discussão da proposta orçamentária, cabe aos responsáveis pelas

unidades operacionais levantar suas necessidades, informá-las à Assessoria de

Planejamento e Gestão, que junto com a Gerência Financeira elaborarão proposta

orçamentária da Diretoria Regional para Debate com as autoridades competentes na

Administração Central.

Os Assessores Executivos dos Diretores de Áreas são os responsáveis pelos

cortes orçamentários, cabendo a aprovação final do orçamento e sua divulgação à Alta

Direção da Empresa, a qual se envolve nas fases de planejamento e aprovação do

orçamento.

Na fase de acompanhamento, as variações orçamentárias são analisadas pelo

pessoal de área orçamentária. Esta área elabora relatórios sobre as variações, os quais

são enviados para os Diretores Regionais.

III - Características básicas do orçamento

São os seguintes os tipos de orçamentos usados pela empresa: orçamento

operacional: despesas e vendas; financeiro: orçamento de custeio; e orçamento de

investimentos. O processo de planejamento de longo prazo tem um horizonte temporal

de quatro anos e é desenvolvido concomitantemente com o planejamento de curto

prazo. O Plano Estratégico e o Manual de Planejamento e Orçamento são os

documentos que formalizam o Planejamento de Longo Prazo de empresa, sendo que o

segundo documento também formaliza o sistema orçamentário.

Mensalmente são analisadas as necessidades de ajuste, sendo o início e o final

do exercício considerados os momentos mais importantes para a atividade orçamentária.

O prazo entre a fase de preparação e a aprovação final do orçamento é de três meses.

A execução orçamentária é examinada semanalmente, em nível regional, e

mensalmente no que diz respeito à Administração Central. Os relatórios sobre as

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variações orçamentárias encontradas são elaborados em 15 dias. Mensal é a freqüência

que a Alta Direção da empresa e as unidades operacionais recebem os relatórios sobre

variações orçamentárias

As fontes de dados mais utilizados no processo orçamentário são:

- na fase de elaboração: dados históricos fornecidos pela contabilidade, as

estimativas econômicas, o orçamento do último ano, os planos do governo e

informações judiciais para provisão com precatórios;

- na fase de discussão e aprovação do orçamento final são observadas as

diretrizes da Alta Direção da empresa, as estimativas elaboradas pelas unidades

operacionais e a conjuntura econômica;

- na fase de execução orçamentária: os dados históricos fornecidos pela

contabilidade, os efeitos inflacionários/cambiais, as mudanças ocorridas no

mercado e as mudanças na política econômica do governo.

IV - Funcionamento do sistema orçamentário

A linha de trabalho de orçamentação da empresa mudou de maneira significativa

nas últimas décadas. Em um primeiro momento, o orçamento era definido pela

Administração Central com pouca participação das Diretorias Regionais. Atualmente, o

orçamento é formulado com a participação das Regionais e se caracteriza por ser um

processo negociado. Os resultados são acompanhados com base nos resultados

econômico-financeiros das Diretorias Regionais

Nas mudanças implementadas no sistema orçamentário a empresa não recorreu a

serviços de firmas de consultoria externa, tampouco foram organizados grupos de

trabalho internos reunindo funcionários da própria empresa.

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175

A empresa possui um departamento com atribuições básicas de gestão do

processo de orçamento.

Segundo os entrevistados, costumam ocorrer revisões no orçamento antes da

aprovação final, podendo estas revisões ser feitas pelas Diretorias Regionais e pelos

executivos responsáveis pelo orçamento. Estas revisões são, então apresentadas à Alta

Direção. Também podem ser feitas revisões a partir de negociações dos executivos

responsáveis pelo orçamento com os executivos das Diretorias Regionais. A razão mais

comum para a necessidade de revisão antes da aprovação final do orçamento é o

resultado projetado não ser aceito pela Alta Direção ou pelas unidades operacionais.

Os reajustes de contratos e o surgimento de despesas não constantes na previsão

orçamentária motivam a realização de revisões durante o período de execução

orçamentária. Tais revisões são executadas pelo pessoal da área orçamentária e pelo

pessoal das Diretorias.

Nos anos recentes, não tem ocorrido de iniciar-se o ano orçamentário sem que

esteja concluído o orçamento.

V - Controle Orçamentário

a. Controle interno

A característica básica do processo de controle orçamentário desenvolvido pela

empresa é vincular a disponibilização de créditos orçamentários para as Diretorias

Regionais ao atingimento das metas econômico-financeiras.

No processo de controle é elaborado o Relatório de Avaliação Empresarial, o

qual é distribuído para a Direção da Empresa, para as Direções Regionais e para o

Corpo Gerencial das Diretorias Regionais. Segundo os entrevistados, este relatório foi

introduzido na empresa na década de 70. Merecem inclusão no relatório todas as

variações orçamentárias, tanto as de natureza positiva quanto as de natureza negativa. O

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176

nível de detalhamento apresentado no relatório permite indicar algumas

responsabilidades.

No processo de análise, é comum notar-se fatores que possam afetar os

resultados mas que não estejam sob controle direto dos responsáveis pela variação

observada. Dentre esses fatores são considerados como não controláveis pelos

responsáveis pelas variações: efeitos inflacionários/cambiais em percentuais diferentes

dos valores previstos no orçamento; resultados diferentes dos previstos em função de

técnicas de previsão incorretas; cortes orçamentários, devido a restrições financeiras

impostas à empresa, implicando em descontinuidade ou redução de programas previstos

no orçamento pelas funções responsáveis pelas variações analisadas.

Dentre os procedimentos usados pela empresa para permitir aos executivos

responsáveis pelas variações explicar a diferença entre o previsto e o realizado estão

reuniões periódicas, reuniões extraordinárias e a elaboração de relatórios não

padronizados.

b. Controle externo

A União mantém controle orçamentário sobre a empresa. Os documentos

exigidos da empresa são a Previsão Orçamentária e o Resultado Financeiro da

Organização. Envolvem-se na preparação de informações ao controlador a Diretoria de

Finanças, o Assessor Executivo e a Assessoria de Planejamento e Gestão.

Na percepção dos entrevistados, a atuação do controlador reduz sensivelmente a

autonomia financeira da empresa.

É percebida pela empresa a existência de um compromisso real por parte dos

executivos da empresa, no tocante ao alcance de suas metas orçamentárias. Dentre as

razões apontadas para tal comprometimento citam-se a reciprocidade – ou a garantia de

recebimento dos recursos desejados - e o envolvimento das pessoas no processo

orçamentário.

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VI Recrutamento e Treinamento de Pessoal Orçamentário

De acordo com os entrevistados, os requisitos para o exercício de funções na

área orçamentária são a exigência de formação de nível superior, o conhecimento

técnico e experiência na área, não havendo qualquer restrição à idade.

A empresa possui programas de educação continuada em técnicas orçamentárias.

O aperfeiçoamento dos executivos da área orçamentária é executado através de

programas de Treinamento de Gestores e de cursos especializados.

Sistema de contabilidade gerencial

I - Sistema contábil

Conforme os entrevistados, o sistema contábil da empresa é centralizado sendo

que todos os procedimentos e orientações emanam da Administração Central.

Os entrevistados entendem que os relatórios financeiros elaborados pela empresa

não têm um caráter estritamente gerencial. Os mesmos relatórios produzidos

internamente são usados para atender os requerimentos externos de informação.

Na visão deles, a falta de um sistema de informações informatizado (o qual está

sendo implantado) é o principal fator que dificulta o aperfeiçoamento do sistema de

informações contábeis.

II - Contabilidade por Responsabilidade

Do ponto de vista do modelo de gestão atualmente adotado, os centros de

responsabilidade da empresa se encontram estruturados em centros de custos ou de

despesas.

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As atribuições dos chefes dos principais centros de responsabilidade estão

previstas no Manual de Pessoal, o qual define os requisitos para as funções gratificadas

da Organização. No processo de definição destas funções participam a Diretoria de

Empresa, os Assessores e os Chefes de Departamento.

O acompanhamento das atividades realizadas pelos principais centros de

responsabilidade é efetuado pelo Plano de Trabalho Setorial e pelo Gerenciamento de

Resultados e Competências, o qual é feito pelos Chefes de Departamento.

A área financeira é a responsável pelo rateio das despesas entre as Diretorias

Regionais. Tais informações são passadas para a Assessoria de Planejamento e Gestão

para formação do Resultado Financeiro das Diretorias Regionais. A área financeira tem

a incumbência de: reajustar os preços de transferência; certificar-se de que a informação

correta é avaliável como uma base para o preço de transferência; revisar periodicamente

o sistema; e agir como árbitro nos casos de disputas acerca de preços de transferência.

Os procedimentos sobre preços de transferência são padronizados através dos

diversos setores da empresa, sendo os rateios efetuados com o uso de matrizes “de/para”

em cada segmento.

Os objetivos da política de preços de transferência da empresa são: identificar a

contribuição efetiva de cada centro de responsabilidade ao resultado global da empresa;

e coordenar as atividades desenvolvidas pelos centros de responsabilidade de modo a

que não se afastem das metas traçadas pela alta direção da empresa.

Medidas de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade

O sistema de avaliação de desempenho dos centros de responsabilidade foi

desenvolvido pela própria empresa, sendo que os pontos mais relevantes na avaliação de

desempenho são: o alcance das metas orçamentárias anuais do centro; e o fator de

cobertura “Receita sobre Despesas”.

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Os padrões de desempenho são fixados a partir de discussões de cunho técnico

com a participação dos responsáveis pelos centros. Os relatórios a serem emitidos ainda

se encontram em fase de implantação. Cabe observar que a progressão funcional do

pessoal não depende do desempenho observado, visto que isto se dá através de concurso

público.

Evolução dos sistemas de controle

I - Evolução dos sistemas de controle

De acordo com os entrevistados, o atual sistema de controle gerencial da

empresa foi implantado em 1969, tendo como objetivo principal medir o desempenho

global da Empresa. Para tanto, é mensurada uma série de indicadores corporativos de

gestão das Diretorias Regionais. A definição de objetivos e indicadores estratégicos é

considerada a principal inovação do sistema de controle.

No projeto do sistema de controle foi usada a experiência acumulada pela

empresa no desenvolvimento de sistemas anteriores. O sistema sofreu alguns

aperfeiçoamentos ao longo do tempo; a principal causa de tais aperfeiçoamentos foram

a validação dos indicadores em revisões do Planejamento Estratégico.

II - Instrumentos de controle gerencial

A empresa se encontra em fase de implantação do Balanced Scorecard, o qual

está sendo implantado com a finalidade de efetuar uma mensuração eficaz do alcance

dos objetivos da Organização. O sistema foi projetado pela própria empresa.

A empresa também implantou um sistema de controle do Capital Intelectual. A

principal razão para tanto é a necessidade de ter na Empresa um órgão responsável pelo

gerenciamento da forma de aquisição, retenção e divulgação dos conhecimentos

adquiridos. O sistema foi projetado pela própria empresa, tendo sido usado como base

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180

sistemas usados com sucesso em outros países, além da própria experiência da empresa

na sua área de atuação.

O sistema de controle do Capital Intelectual segue a seguinte rotina:

Periodicamente, em reuniões setoriais, são analisados os aspectos que interferem na

formação e manutenção do capital intelectual da Regional. Nessas reuniões, são

avaliadas as oportunidades de melhorias e identificados empregados que possuam perfis

para atuar como multiplicadores de conhecimento. A partir de então é decidido quais

farão parte das próximas viagens ou visitas visando a busca de novos conhecimentos e

tecnologias.

A verificação do cumprimento das práticas e padrões de trabalho referentes à

gestão do capital intelectual é feita por meio de monitoramento dos indicadores:

• quantidade de empregados alocados na logística postal que detém

conhecimentos críticos;

• percentual de processos e conhecimentos armazenados sob forma de

manuais;

• relato dado pelos técnicos ao retorno de suas visitas técnicas. A partir desses

relatos é possível avaliar as defasagens existentes sejam em processos sejam

em tecnologia ou em capacitação profissional.

Os ativos classificados como Capital Intelectual são: duas marcas (re)conhecidas

nacionalmente e a tecnologia desenvolvida para a prestação dos serviços da empresa. É

importante mencionar que a empresa foi a única, entre as empresas estudadas, que

declarou possuir um sistema de controle do Capital Intelectual.

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181

5. ANÁLISE DOS COMPONENTES DO SISTEMA DE CONTROLE

GERENCIAL

5.1 OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS

O Quadro 5.1 apresenta um sumário das variáveis utilizadas na análise deste

primeiro componente do sistema de controle gerencial. Observando-se os dados

contidos nesse quadro, pode-se perceber que o Planejamento Estratégico desenvolvido

por todas as empresas refletem os objetivos específicos de cada empresa, sendo

definidos pelas próprias organizações. Tal constatação representa uma mudança

significativa para as empresas A, E e G, em relação ao estudo de Gomes (1983);

naquela ocasião, o autor constatou que os objetivos destas empresas eram definidos

externamente, refletindo a estratégia traçada pelo Governo para o alcance de suas metas

globais. No que diz respeito à empresa E, isto é explicado pelo fato da mesma ter sido

privatizada; para as demais, reflete uma mudança de postura do Governo.

Com relação à forma como os objetivos são comunicados à organização,

novamente, todas se valem de procedimentos formais de comunicação. As empresas A,

F e G se utilizam do próprio Planejamento Estratégico; as empresa C e E se utilizam de

reuniões específicas para a divulgação; e a empresa B faz a divulgação através de meio

eletrônico. As mudanças em relação à pesquisa de Gomes (1983) ocorreram exatamente

nas três empresas que foram privatizadas. É importante notar que, tanto a empresa C,

quanto a empresa E relataram que seus modelos atuais de Planejamento Estratégico

ainda se encontram em implantação, e vários processos ainda não estão completamente

definidos, o que pode explicar a falta de documentos formais. Na empresa B, o papel foi

substituído por documentos eletrônicos.

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QUADRO 5.1

OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS

A B C E F G1. Avaliação do processode definição e comunica-ção dos objetivos organi-zacionais

Definição internaComunicação formalatravés do PlanejamentoEstratégico

Definição interna.Comunicação formal pormeio eletrônico

Definição interna comauxílio de consultoriaexterna.Comunicação formalatravés de reuniões.Modelo atual de Plane-jamento Estratégico emimplantação

Definição interna.Comunicação através dereuniões e workshops.Modelo atual de PE emimplantação

Definição interna.Comunicação formalatravés do PE - tantopublicado quanto pormeio eletrônico

Definição interna.Comunicação formalatravés do PlanejamentoEstratégico

2. Avaliação da dinâmicano processo de mudança eprocesso de revisão formaldos objetivos

Sem mudanças nos ob-jetivos. Sem processo derevisão formal

Mudança nos objetivosem virtude de mudançasno cenário nacional. Nãopossui processo formalde revisão.

Sem mudanças nos ob-jetivos. Sem processo derevisão formal dos obje-tivos.

Mudanças nos objetivospara focar na atividadeoriginal.Sem processo de revisãoformal.

Ampliação dos objeti-vos.Processo de revisãoformal.

Sem mudança nos obje-tivos.Processo de revisãoformal.

3. Avaliação da ligação(integração) entre objeti-vos e metas

Não integrados Integrados no PlanoAnual

Integrados através doorçamento

Integrados no processode planejamento queestá em implantação

Integrados através doPlano Anual de Negó-cios.

Integrados

4. Verificação das medidasusadas para avaliar o aten-dimento dos objetivosorganizacionais

Não avaliam Avaliam através deprograma específico ereuniões mensais

Em implantação meto-dologia para avaliaçãodos resultados.

Não possui processoformal de avaliação; estáem estudo.

Avaliação em termosfísicos com grande graude detalhamento.Avaliação em termosfinanceiros em implan-tação um novo modelo

Avaliam

5. Percepção dos entrevis-tados sobre o efeito deintervenções externas noprocesso de planejamentoestratégico

Não percebido ou rela-tado

Não existe Não existe Não percebido Não percebido ou rela-tado.

Não percebido ou rela-tado.

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183

Analisando-se a dinâmica do processo de mudança nos objetivos nos últimos

anos, verifica-se que as empresas A, C e G não relataram mudanças em seus objetivos.

A empresa F considera que teve que ampliar seus objetivos como resultado da

promulgação da legislação que quebrou o monopólio no qual a empresa atua; esta

mudança está consubstanciada na apresentação do Plano Estratégico. As empresas B e

E relataram mudanças nos objetivos gerais: a primeira como conseqüência de mudanças

no cenário nacional e a segunda, como conseqüência de um processo de reestruturação

da empresa que a levou a focar sua atividade original.

Apenas as empresas F e G relataram possuir um processo formal de revisão de

objetivos, a fim de adaptarem seus planos às mudanças ambientais.

Com relação à ligação dos objetivos com as metas organizacionais, apenas a

empresa A relatou não existir tal integração, o que representa uma mudança em relação

à pesquisa de Gomes (1983). Nas demais, os planos anuais procuram ligar os planos de

longo prazo com o orçamento, de modo a facilitar o processo de assimilação dos

objetivos organizacionais a serem perseguidos. Tal constatação representa uma

mudança para as empresas E e F: a primeira relatou que o processo de planejamento

que está sendo implantado na empresa, o qual parte do planejamento estratégico, passa

pelo planejamento operacional e desdobra no orçamento. No que diz respeito à segunda

empresa, trata-se de uma evolução do processo de planejamento da empresa.

No que diz respeito à avaliação pelas empresas do atendimento aos objetivos

organizacionais, em confronto com os resultados alcançados pela organização, somente

as empresas B, F e G relataram possuir processos formais de avaliação. A empresa C

relatou estar implantando uma metodologia de avaliação e a E relatou que estava

procedendo estudos para a sua implantação. Apenas a empresa A informou não avaliar o

atendimento dos objetivos organizacionais. Comparado ao que relatou Gomes (1983),

percebe-se uma maior preocupação com este aspecto, visto que à época, apenas as

empresas B e F faziam tal análise.

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184

Finalmente, analisando-se a percepção dos entrevistados sobre o efeito de

intervenções externas no processo de planejamento estratégico realizado nas empresas,

nenhuma delas relatou a existência de tal interferência, o que se constitui numa

significativa mudança em relação à pesquisa anterior, tendo em vista que a maioria (a

exceção foi a empresa G) relatou que esta interferência dificultava consideravelmente o

processo.

As conclusões a serem tiradas sobre este primeiro componente de um sistema de

controle gerencial são que somente as empresas F e G desenvolvem uma estratégia

empresarial que se aproxima dos modelos eficazes encontrados na literatura estudada.

Das demais empresas, B estaria em um patamar um pouco inferior às empresas citadas

anteriormente pelo fato de não apresentar um processo formal de revisão dos objetivos;

as empresas C e E estariam classificadas a seguir. Estas empresas, além de não

possuírem um processo formal de revisão dos objetivos, tampouco possuem processos

formalizados de avaliação de resultados que permitam acompanhar o atendimento dos

objetivos organizacionais; ambas também relataram que não possuem um processo de

Planejamento Estratégico em vigor. Os modelos usados foram classificados como “em

implantação”. Finalmente, a empresa A é a que se encontra mais afastada dos sistemas

vistos como eficazes na literatura sobre controle gerencial; a empresa não possui um

processo de revisão formal dos objetivos organizacionais, não há integração entre

objetivos e metas e não existe um processo de avaliação do aalcance dos objetivos

organizacionais.

Com relação à pesquisa de Gomes (1983) percebe-se que: a empresa B foi

considerada, na época, a que mais se aproximava dos modelos eficazes propostos na

literatura e agora situa-se em posição intermediária, o que pode ser conseqüência da

troca de controle da empresa, visto que nenhuma das empresas privatizadas estudadas

apresentou um processo formal de revisão de objetivos. A empresa F permaneceu como

uma das “melhores” no quesito Objetivos Organizacionais. A empresa G apresentou

uma evolução, tendo em vista que segundo Gomes (1983) a empresa confundia

objetivos e metas, tendo em vista que a formalização ocorria através do próprio

orçamento; atualmente, a empresa relatou a existência e formalização de objetivos

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185

através do Planejamento Estratégico. A empresa C situava-se no mesmo patamar da

empresa G; depois de privatizada, se encontra em um processo de reestruturação, o que

abrange o processo de planejamento. A empresa E que foi considerada, na época, muito

afastada dos sistemas vistos como eficazes na literatura - juntamente com as empresas

que foram extintas - também está em um processo de reorganização que atinge o

processo de planejamento estratégico, assim como o processo de avaliação dos

resultados. Por fim, a empresa A é o destaque negativo, tendo em vista que foi

considerada por Gomes (1983) neste quesito como a melhor do grupo intermediário e

agora é a que menos requisitos preenche em termos das variáveis estudadas.

5.2 SISTEMA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

O Quadro 5.2 apresenta um sumário das variáveis utilizadas na análise deste

segundo componente do sistema de controle gerencial.

Analisando-se os dados contidos nesse quadro, verifica-se que, com relação ao

conteúdo, importância e tipos de relatórios gerados pelo Sistema de Contabilidade

Gerencial, as empresas B e E relataram a elaboração de relatórios direcionados para os

aspectos de planejamento e controle. Coincidentemente, ambas utilizam o sistema SAP

R/3 na integração dos sistemas de informação. A empresa F possui um sistema baseado

na contabilidade financeira com alguns aspectos físicos e os sistemas não estão

integrados; entretanto, relatou estar implantando o sistema SAP R/3. As demais utilizam

predominantemente a contabilidade financeira e as demonstrações financeiras normais,

sendo que a empresa C tem seus sistemas contábeis integrados, o que não acontece com

as demais. Comparado com o estudo de Gomes (1983), percebe-se uma grande evolução

da empresa E que naquela ocasião integrava o grupo das empresas cujo Sistema de

Contabilidade Gerencial restringia-se apenas a dados históricos, voltados para aspectos

de registro, custódia e relatórios externos. A empresa B, na época, foi considerada como

a única que possuía um sistema voltado para planejamento e controle. As empresas F e

C permanecem como empresas em uma situação intermediária neste quesito, e nas

demais, conforme já referido, o Sistema de Contabilidade Gerencial restringia-se a

elementos da contabilidade financeira.

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186

Em termos de utilização satisfatória dos relatórios gerados pela gerência, para o

reforço de pontos fortes e correção de desvios, as empresas E e F relataram que o

feedback é fornecido em tempo hábil para realimentar o processo. A empresa A relatou

que o acompanhamento mensal não é satisfatório. As demais empresas não se

manifestaram sobre a questão. Na pesquisa de Gomes (1983), apenas a empresa B, se

preocupava em fornecer feedback em tempo hábil para realimentar o processo; nas

demais, a utilização dos relatórios não foi considerada satisfatória.

Quanto a adequação dos relatórios gerenciais às necessidades de informação da

empresa, segundo a percepção dos gerentes, as empresas B, C, E e F reportaram

relatórios adequados. Para a empresa G o principal problema é a excessiva ênfase

contábil, enquanto para a empresa A relatou a dificuldade - falta de agilidade e

integração - de geração de relatórios gerenciais a partir do sistema contábil.

Comparando-se os resultados obtidos por Gomes (1983), observa-se que as mesmas

empresas reportaram que seus relatórios eram adequados; a principal diferença foi a

inclusão da empresa E neste grupo. Na época foi relatado que seus relatórios tinham um

enfoque meramente legal; o mesmo ocorria - e continua ocorrendo - com a empresa G.

Também a empresa A continua apresentando uma situação semelhante à descrita por

Gomes (1983).

Mesmo as empresas que disseram que os relatórios gerenciais são adequados,

informaram existir algumas dificuldades com tais relatórios. De acordo com os

entrevistados, os fatores que mais dificultam a implantação de relatórios adequados são:

na empresa A - inexistência de um sistema de informações ágil; na empresa B - o

sistema de informações é recente, apresentando algumas dificuldades; na empresa C - a

integração entre os sistemas não é total; na empresa E - o tempo de processamento das

informações de custo e as informações referentes aos investimentos externos; na

empresa F - os sistemas não integrados e os diferentes sistemas usados por outras

empresas do grupo; e na empresa G - a falta de integração e informatização dos

sistemas.

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QUADRO 5.2 - SISTEMA DE CONTABILIDADE GERENCIAL

A B C E F G1. Avaliação do conteú-do, importância e tiposde relatórios geradospela contabilidade ge-rencial

Contabilidade financeira.Demonstrações contábeis

Contabilidade gerencial.Sistemas integrados atra-vés do sistema SAP R/3

Contabilidade financeira.Sistemas integrados.

Contabilidade gerencial.sistemas integrados atra-vés do sistema SAP R/3

Contabilidade financeiracom aspectos físicos.Foco no resultado.Sistemas não integrados.SAP R/3 em implantação

Contabilidade financeira.Demonstrações contábeis

2. Avaliação da veloci-dade de resposta dosrelatórios gerenciais

Acompanhamento men-sal. Insatisfatório

Não avaliado Não avaliado Relatórios mensais di-vulgados na primeirasemana após o fecha-mento. Satisfatório.

Relatórios mensais - online. Satisfatório

Não avaliado

3. Percepção dos ge-rentes quanto à adequa-ção dos relatórios àsnecessidades de infor-mação da empresa

Não são adequados, poisnão podem ser produzi-dos diretamente do sis-tema contábil; falta agi-lidade

Adequados. Adequados Adequados, mas emconstante aperfeiçoa-mento.

Adequados. Sistemacontábil permite amplaflexibilidade na formata-ção dos relatórios.

Não são adequados;ênfase contábil

4. Percepção dos ge-rentes quanto à dificul-dade na implantação derelatórios gerenciais

Inexiste um sistema deinformações ágil.

Sistema de informações érecente. Ainda há difi-culdades.

Integração não é total. Tempo de processamentodas informações de custoe o fluxo de informaçõesreferentes aos investi-mentos externos

Sistemas não integrados.Empresas do grupo usamsistemas diferentes.

Sistema de informaçõesnão é informatizado.

5. Definição e compre-ensão do conceito decentro de responsabili-dade utilizado

Centro de Custos. Defi-nição das funções atravésdo Manual de Organiza-ção da Estrutura.

Centro de Custos.Funções não são for-malmente definidas

Centros de InvestimentoFunções formalmentedefinidas pela área deRH

Centros de Custos Centros de Resultado eCentros de Custos. Dis-tinção não é clara nosistema contábil.Funções definidas peloModelo de Gestão

Centros de Custos.Funções formalmentedefinidas no Manual dePessoal

6. Avaliação dos meca-nismos de preços detransferência e seuprocesso de revisão

Não relatou a existênciade preços de transferên-cia.

Não dispõe de mecanis-mos de preços de transfe-rência.

Não dispõe de mecanis-mos de preços de transfe-rência. Deverá ser im-plantado.

Não dispõe de mecanis-mos de preços de transfe-rência.

Procura identificar acontribuição de cadacentro ao resultado glo-bal. Mecanismo definidopor grupo de trabalhoformado por pessoas doscentros envolvidos.

Decisões centralizadaspela área financeira, quedefine o critério de rateiode despesas.

7. Verificação da exis-tência de processo deacompanhamento dodesempenho dos centrosde responsabilidade

Não dispõe de processoformal de avaliação

Não dispõe de processoformal de avaliação.

Avaliação feita pela áreade orçamento e pelosuperior imediato.

Avaliação feita peloacompanhamento orça-mentário.

Acompanhamento orça-mentário

Processo formal deacompanhamento exe-cutado pelas chefias deDepartamento.

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Com referência à definição e compreensão do conceito de centro de

responsabilidade utilizado pelas empresas, verificou-se que as empresas A, B, E e G

adotam centros de custos, a empresa F adicionalmente define centros de resultado e a

empresa C utiliza centros de investimento. A empresa B, porém, não define

formalmente as funções dos diferentes centros. Aqui, as principais mudanças em relação

à pesquisa de Gomes (1983): a empresa B se utilizava - indevidamente - do conceito de

centro de investimento; a empresa G não relacionava a estrutura organizacional aos

centros de responsabilidade; e a empresa F adotava apenas o conceito de centro de

custos.

No que diz respeito aos mecanismos de preços de transferência utilizados pelas

organizações, somente as empresas F e G relataram dispor de tais mecanismos.

Entretanto, no que diz respeito à empresa G, a política de preços de transferência diz

respeito apenas a critérios de rateio de custos aos departamentos. Dessa forma, apenas a

empresa F desenvolveu um mecanismo que foi definido por um grupo de trabalho

formado por pessoas de todos os centros envolvidos. Das demais empresas, apenas a

empresa C relatou a existência de estudos para a implantação de preços de transferência.

Segundo o trabalho de Gomes (1983), as empresas A, B, C e E dispunham de

mecanismos de preços de transferência, ainda que tais mecanismos estivessem bastante

distantes daqueles considerados eficazes pela literatura. As demais empresas não

possuíam políticas de preços de transferência.

Finalmente, no que diz respeito ao acompanhamento das atividades realizadas

pelas unidades organizacionais, as empresas C, E, F e G relataram possuir processos

formais de acompanhamento do desempenho dos centros de responsabilidade, sendo o

mecanismo básico de tal processo o acompanhamento orçamentário. As empresas A e B

relataram não possuir processos de avaliação formais. A situação relatada difere

significativamente daquela encontrada por Gomes (1983), visto que naquela ocasião

nenhuma das empresas dispunha de processo formal de acompanhamento.

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189

5.3 PROCESSO ORÇAMENTÁRIO

O Quadro 5.3 apresenta um sumário das variáveis utilizadas na análise deste

terceiro componente do sistema de controle gerencial.

Analisando-se as informações contidas no referido quadro, pode-se perceber que

no tocante à importância atribuída pela empresa à participação das pessoas no processo

orçamentário, destaca-se, inicialmente, a empresa F tendo em vista que os gerentes são

responsáveis por todos os aspectos do orçamento de suas respectivas áreas, bem como

pela análise das variações ocorridas, recebendo o apoio da diretoria, que participa de

todas as fases do processo orçamentário. Como conseqüência de tal procedimento, tem

sido notado um comprometimento cada vez maior das pessoas com o alcance das metas

orçamentárias (é importante notar que o processo orçamentário sofreu significativa

reestruturação nos últimos anos, passando de um ênfase em custos para uma ênfase em

resultado).

A seguir aponta-se a empresa E, na qual os gerentes, também, são responsáveis

por todo o seu orçamento, porém a análise das variações cabe à área orçamentária. A

diretoria também participa de todas as fases do processo. Já na empresa C, os gerentes

têm a função de elaborar a proposta orçamentária a partir das diretrizes orçamentárias e

de proceder a análise das variações; entretanto, a diretoria se limita a participar das fases

de planejamento e aprovação do orçamento. Nas empresas A, B e G, o papel dos

gerentes se restringe, de maneira geral, à apresentação das metas e justificar as

necessidades de recursos. Na empresa G, entretanto, os gerentes não participam do

processo da análise das variações orçamentárias. Em todas as três empresas, a

participação da diretoria está restrita às fases de planejamento e aprovação. De todas as

empresas, apenas a empresa G relatou possuir um Comitê de Assessores Executivos, o

qual supervisiona o processo.

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QUADRO 5.3 - PROCESSO ORÇAMENTÁRIO

A B C E F G1. Avaliação da impor-tância atribuída pelaempresa à participaçãodas pessoas no processoorçamentário

Sem comitêPapel dos gerentes éapresentar as metasfísicas a serem alcança-das; revisões do orça-mento; e análise dasvariações orçamentáriasParticipação da diretorianas fases de planeja-mento e aprovaçãoRelatórios sobre varia-ções disponíveis paratoda a empresa

Sem comitêPapel dos gerentes:prover dados e argu-mentações sobre asdespesas; e análise dasvariações.Participação da diretorianas fases de planeja-mento e aprovação

Sem comitêPapel dos gerentes:elaborar a propostaorçamentária de acordocom as diretrizes orça-mentárias; análise dasvariações.Participação da direto-ria: fases de planeja-mento e aprovação.

Sem comitê.Papel dos gerentes:responsáveis pelos seusorçamentos.Participação da direto-ria: todas as fases doprocesso orçamentário.

Sem comitê.Papel dos gerentes:responsáveis pelos seusorçamentos e análise devariações.Participação da direto-ria: todas as fases doprocesso orçamentário.

Comitê de assessoresexecutivos de diretores.Papel dos gerentes:levantar necessidadesde recursos.Participação da direto-ria: fases de planeja-mento e aprovação.

2. Análise dos compo-nentes básicos do orça-mento

Propósitos: Instrumentode planejamento, decontrole financeiro emeio de comunicaçãodas metas a serem al-cançadas.Processo de revisãoformalizado.Análise de variações:dados contábeis históri-cos, efeitos inflacioná-rios; mudanças na polí-tica econômicaFonte de dados: estima-tivas econômicas; or-çamento anterior; in-formações do mercado;planos do governo

Propósitos: instrumentode controle financeiro,de planejamento, comomeio de comunicaçãodas metas a serem al-cançadas, e como me-dida de desempenhoindividual.Processo de revisãoformalizado.Análise de variações:dados contábeis históri-cos e efeitos inflacioná-rios/cambiais.Fontes de dados: dadoshistóricos da contabili-dade; estimativas eco-nômicas; orçamentoanterior; e informaçõesde mercado

Propósitos: meio decomunicação das metasa serem alcançadas;instrumento de controlefinanceiro; e medida deavaliação de desempe-nho individual.Processo de revisãoformalizado.Análise de variações:efeitos inflacionários oucambiais; mudanças nomercado e na políticaeconômica.Fontes de dados: esti-mativas econômicas,orçamento anterior;informações de mer-cado; e o orçamentoexecutado até a data.

Propósitos: instrumentode controle financeiro ede planejamento; me-dida de avaliação dedesempenho de área.Processo de revisãoformalizado.Análise de variações:efeitos cambiais e mu-danças ocorridas nomercado.Fontes de dados: dadoshistóricos da contabili-dade; estimativas eco-nômicas; o orçamentorealizado do último ano;e informações de mer-cado.

Propósitos: meio decomunicação de metas aserem alcançadas; ins-trumento de planeja-mento e controle finan-ceiro; e medida de ava-liação de desempenhoindividual.Processo de revisãoformalizado.Análise de variações:efeitos inflacionários ecambiais; mudanças nomercado; e mudançasna política econômica.Fontes de dados: dadoshistóricos da contabili-dade; estimativas eco-nômicas; orçamento doano anterior; informa-ções de mercado; eplanos do governo.

Propósitos: meio decomunicação das metasa serem alcançadas;instrumento de plane-jamento e controlefinanceiro; medida deavaliação de desempe-nho individual.Processo de revisãoformalizado.Análise de variações:dados históricos dacontabilidade; efeitosinflacionários; mudan-ças no mercado; mu-danças na política eco-nômica.Fontes de dados: dadoshistóricos da contabili-dade; estimativas eco-nômicas; orçamento doúltimo ano; planos dogoverno; e informaçõesjudiciais

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191

QUADRO 5.3 - PROCESSO ORÇAMENTÁRIO - continuação

3. Avaliação do pro-cesso orçamentárioquanto à sua flexibili-dade e capacidade deadaptação a fatoresexternos

Reuniões periódicas;Forte compromisso;Envolvimento;Orçamento flexível;Acompanhamento diá-rio da execução;Relatórios mensais

Reuniões periódicas;Relatórios padroniza-dos;Forte compromisso;Envolvimento;Orçamento flexível;Relatórios mensais

Reuniões periódicas;Forte compromisso;Envolvimento;Orçamento flexível;Relatórios mensais.

Relatórios padroniza-dos;Forte compromisso;Orçamento flexível;Relatórios mensais

Reuniões periódicas eextraordinárias;Relatórios padroniza-dos;Informação “quase”instantânea;Compromisso;Orçamento flexível;Relatórios mensais

Reuniões periódicas eextraordinárias;Relatórios não padroni-zados;Forte compromisso:envolvimento e recipro-cidade;NegociaçãoOrçamento flexível;Acompanhamento se-manal;Relatórios mensais.

4.Verificação da exis-tência de programas dedesenvolvimento depessoal ligados ao pro-cesso orçamentário eprogramas de educaçãocontinuada

Não possui programa deeducação continuadaem técnicas orçamentá-rias.Proporciona cursos,seminários e palestrasde aperfeiçoamento

Não possui programa deeducação continuadaem técnicas orçamentá-rias, nem política deaperfeiçoamento defi-nida.

Não possui programa deeducação continuadaem técnicas orçamentá-rias, nem política deaperfeiçoamento defi-nida.

Não possui programa deeducação continuadaem técnicas orçamentá-rias, nem política deaperfeiçoamento defi-nida

Não possui programa deeducação continuadaem técnicas orçamentá-rias, nem política deaperfeiçoamento defi-nida

Possui programa deeducação continuada,através de programas detreinamento para gesto-res

5. Avaliação da capaci-dade de ajustamento doprocesso orçamentárioàs restrições impostaspor controlador externo

É percebida uma redu-ção na autonomia finan-ceira da empresa.

Desde que as metassejam cumpridas, o graude autonomia financeirada empresa é elevado

A autonomia da empre-sa não é afetada pelocontrole externo no quediz respeito à execuçãoorçamentária

Não é percebida influ-ência do controlador naexecução orçamentária.

Nos dois últimos anosnão foi percebida inter-ferência, nem na fase deelaboração, nem naexecução do orçamento.

A autonomia financeiraé sensivelmente redu-zida.

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Segundo o trabalho de Gomes (1983), naquele momento, as empresas E e F

ocupavam apenas uma posição intermediária no que diz respeito à participação das

pessoas no processo orçamentário; também, ao contrário do que se observa agora, a

empresa B era a que mais se destacava neste item. E de maneira semelhante àquela

pesquisa, nas empresas A e G a participação dos gerentes continua sendo menos

significativa.

A análise dos componentes básicos do orçamento quanto a sua adequação ao

processo orçamentário, não possibilitou uma correta interpretação desse item, devido à

diversidade de respostas fornecidas pelos entrevistados, quanto aos procedimentos

adotados pelas empresas na utilização de seus instrumentos de ação. Embora tenham

sido percebidas diferenças na utilização e na prioridade atribuída a alguns desses

componentes entre as empresas estudadas, essas não foram consideradas suficientes

para efeito de classificação das empresas.

Assim, por exemplo, todas as empresas declararam que o orçamento é usado

como instrumento de controle financeiro; apenas a empresa C não o utiliza como

instrumento de planejamento. Apenas a empresa E não utiliza o orçamento como meio

de comunicação das metas a serem alcançadas; e apenas a empresa A não o utiliza como

medida de desempenho individual. Entretanto, a prioridade atribuída por cada empresa a

cada um desses itens é diferente.

Com respeito à avaliação do processo orçamentário quanto à flexibilidade e

capacidade de adaptação a fatores externos, pode-se constatar que todas as empresas

apresentam processos flexíveis, onde se nota a preocupação com a adaptação do

processo às mudanças ambientais. Todas as empresas declararam que seus processos

orçamentários são continuamente revisados, que existe um processo de negociação, que

os relatórios gerenciais são atualizados, havendo um forte compromisso dos executivos

para com o orçamento (na empresa F, esse comprometimento vem crescendo ao longo

do tempo).

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193

A verificação da existência de programas de desenvolvimento de pessoal ligado

ao processo orçamentário mostrou que somente a empresa G, se preocupa com esse

aspecto, com programas de treinamento para gestores. As demais empresas declararam

não possuir programas de educação continuada, nem política de aperfeiçoamento

definida, embora todas ofereçam oportunidades de treinamento e aperfeiçoamento a

seus funcionários à medida que seja percebida tal necessidade. Esta situação não difere

da relatada por Gomes (1983).

Na avaliação da capacidade de ajustamento do processo orçamentário

desenvolvido pelas empresas às restrições impostas pelos controladores, apenas as

empresas A e G (ambas estatais) relataram perceber um impacto negativo sobre a sua

autonomia financeira, o que é um indício de incapacidade de ajustamento às restrições.

Isto já não ocorre com a outra empresa estatal - empresa F - que declarou que, nos

últimos anos, não foi percebida interferência nem na fase de elaboração, nem na

execução do orçamento. Esta situação é semelhante à relatada por Gomes (1983).

Quanto às empresas que foram privatizadas, nenhuma relatou perceber

influência do controlador na execução orçamentária (embora a empresa B tenha

ressalvado que isso acontece “desde que as metas sejam cumpridas”). Comparada à

situação relatada por Gomes (1983), não houve alterações significativas para as empresa

B e C que, mesmo estatais, haviam desenvolvido mecanismos de adaptação que lhes

possibilitavam ajustar seus processos orçamentários às restrições impostas pelo órgão

controlador; a empresa E, entretanto, apresentava total incapacidade de ajustamento.

As conclusões que podem ser tiradas da análise do processo orçamentário são

que as empresas F e E desenvolvem processos que se aproximam do plano de referência

apresentado nesta pesquisa. A seguir, encontra-se a empresa C e, num patamar inferior,

as demais empresas. Nestas, a participação das pessoas no processo é mais restrita,

assim como a participação da diretoria, embora a empresa G tenha sido a única a relatar

a existência de programas de educação continuada. Entretanto, quando comparadas com

a pesquisa de Gomes (1983), percebe-se um significativo avanço, na medida em que em

todas as empresas se percebe uma maior participação das pessoas e, principalmente,

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uma maior flexibilidade e capacidade de adaptação a fatores externos. Naquela

pesquisa, apenas a empresa B havia logrado apresentar um processo orçamentário

próximo do plano de referência, ainda que com várias restrições, sendo seguida pelas

empresas F e C; As demais se encontravam distantes. A empresa A, por sua vez, não

lograva êxito em nenhum dos aspectos examinados.

5.4 MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DAS UNIDADES

ORGANIZACIONAIS

O quadro 5.4 apresenta um sumário das variáveis utilizadas na análise deste

último componente do sistema de controle gerencial.

Analisando-se as informações contidas no referido quadro, quanto à abrangência

dos propósitos e das medidas formais utilizadas pelas empresas estudadas, no

desenvolvimento do processo de avaliação de desempenho das unidades

organizacionais, foi constatado que a empresa A não dispõe de mecanismo de controle

para avaliar o desempenho de suas unidades. Quanto às demais - que relataram a

existência de propósitos e medidas formais - pode ser notado que formalização ocorre

via orçamento nas empresas B, E, F e G. A empresa C utiliza o Retorno sobre o Capital

Empregado (ROCE) como medida de avaliação, além de estar pesquisando a utilização

de outros indicadores. Em relação à pesquisa de Gomes (1983), observa-se uma

mudança na empresa G, que naquela época não dispunha de mecanismos de controle de

avaliação de desempenho.

Com referência à existência de padrões e procedimentos formais utilizados no

processo de controle gerencial, pode ser verificado que as empresas A e B não utilizam

padrões formais na avaliação de desempenho. As empresas E, F e G relataram que as

metas orçamentárias servem como padrão no processo de controle gerencial. E a

empresa C relatou utilizar uma série de medidas como padrão, entre elas o ROCE

projetado, o lucro do centro de responsabilidade, o volume de vendas, os gastos anuais,

entre outras. Também neste componente, há uma mudança significativa em relação ao

trabalho de Gomes (1983), visto que na época, nenhuma das empresas (com exceção da

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195

E e F) utilizava padrões formais na avaliação de desempenho; e mesmo as duas que

utilizavam, o faziam exclusivamente para comparação de custos dos setores de

produção, não sendo estendidos às demais unidades organizacionais.

Finalmente, a análise da relevância do sistema formal de avaliação e

recompensas, em função de promoções e incentivos financeiros, derivados do

desempenho observado, revelou que nas empresas A, B e G estes tipos de recompensas

extrínsecas não se encontram relacionadas com o desempenho das pessoas na função.

As empresas C, E e F, por sua vez, relataram possuir programas de participação nos

resultados que incluem o alcance de metas estabelecidas. Anteriormente, segundo

Gomes (1983), nenhuma das empresas possuía qualquer programa de incentivo.

As conclusões a serem tiradas da análise de medidas de avaliação de

desempenho, utilizadas pelas empresas estudadas, são que os sistemas de planejamento

e controle desenvolvidos por essas organizações não se encontram relacionados, em sua

totalidade, com os sistemas de controle gerencial considerados eficazes referenciados na

literatura. Estas conclusões se baseiam no fato de que um sistema de controle

organizacional é essencialmente um sistema de medidas que objetiva orientar, reforçar e

corrigir comportamentos. Implícita nesta definição, percebe-se a necessidade de

formalização dos instrumentos usados, de modo a serem atendidos não somente a

função “informacional” da medida - fornecimento de feedback - como também, e

principalmente, a função do “processo de medir” - a existência do processo de avaliação

de desempenho por si próprio.

Assim, mesmo nas empresas que relataram a existência de medidas e padrões

formais, estes esbarraram no aspecto de relevância do processo de avaliação de

desempenho, por não serem utilizados como reforçadores de comportamentos, já que as

recompensas extrínsecas - promoções e incentivos financeiros - não se encontram

relacionados com o desempenho observado em três das empresas estudadas, e nas

outras três esta relação é apenas parcial.

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QUADRO 5.4

MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DAS UNIDADES ORGANIZACIONAIS

A B C E F G1. Abrangência dospropósitos e de medidasformais no processo deavaliação dedesempenho

- Não dispõe de processode avaliação dedesempenho.

- Controle de gastos.- Baseia-se no alcancedas metas orçamentárias

- Medição do Retornosobre o CapitalEmpregado.- Em implantação novosindicadores.

- Pouco abrangente, serestringindo ao acompa-nhamento da execuçãoorçamentária.

- Acompanhamento dasmetas estabelecidas noPlanejamento Estratégicoe execução orçamentária.

- Baseado no orçamentoe no fator de coberturadas despesas pelas re-ceitas.

2. Existência de padrõese procedimentos for-mais no processo decontrole gerencial

- Inexistente. - ROCE projetado;- lucro do centro;- metas orçamentárias;- volume de vendas;- gastos anuais

- Metas orçamentárias;- volume de gastos.

- Metas estabelecidas noPlanejamento Estratégico

- Metas orçamentárias.- Os padrões são fixadosem discussões com osgerentes.

3. Relevância do sis-tema de avaliação erecompensas em funçãode promoções e incenti-vos financeiros deriva-dos do desempenhoobservado

- Promoções não se ba-seiam no desempenhoobservado.- Não existem incentivosfinanceiros associados aodesempenho.

- Não dispõe de pro-grama de incentivo fi-nanceiro associado àavaliação de desempe-nho.- Promoções utilizamcritérios variados.

- Participação nos resul-tados vinculada ao al-cance de um ROCEmínimo.- Progressão funcionalnão está vinculada aodesempenho.

- Participação nos lucrosinclui metas orçamentá-rias a serem cumpridas.- Progressão funcionalnão está vinculada aodesempenho.

- Participação nos lucros;- Progressão funcionalnão está vinculada aodesempenho.

- Progressão funcionalnão depende do desem-penho observado.- Não existem incentivosfinanceiros associados aodesempenho.

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Resumindo-se a análise dos componentes dos sistemas de controle gerencial,

observa-se que a empresa F é a que desenvolve um processo de controle que, em vários

aspectos, se aproxima do conceito de controle gerencial encontrado na literatura. Nas

demais empresas, percebem-se vários aspectos positivos, entretanto, de maneira geral,

guardam certa distância com os procedimentos administrativos compatíveis com

aqueles encontrados no plano de referência utilizado neste estudo. De um lado, observa-

se que as empresas que foram privatizadas abandonaram certas técnicas e

procedimentos usados anteriormente (de acordo com Gomes (1983)) e que, pelo menos

do ponto de vista teórico, qualificavam seus sistemas de controles gerenciais, e até o

momento continuam procurando as melhores maneiras de realizar tais controles. De

outro lado, observa-se que uma das empresas que permanecem estatais (G) apresentou

uma significativa evolução nos seus mecanismos de controle. A empresa A, por fim,

permanece sendo uma das empresas que mais se distancia dos procedimentos

considerados eficazes.

Finalmente, relacionando-se estes achados com os dados contidos no quadro 5.5,

a seguir, pode-se notar que a empresa onde foram encontrados sistemas de controle mais

próximos daqueles considerados eficazes, é de economia mista, a participação da União

no seu capital social é inferior à das demais empresas, é uma empresa diversificada,

autônoma financeiramente em relação ao Tesouro Nacional e têm reportado os maiores

lucros em suas demonstrações contábeis.

Na análise destas variáveis explanatórias, um dos aspectos que parece explicar as

diferenças em relação às demais empresas estatais, em termos de proximidade em

relação aos sistemas de controle gerencial considerados eficazes, é a participação da

União no capital social. Enquanto a empresa F apresenta um controle acionário

governamental em torno de 55%, as demais empresas estatais têm seu controle

acionário totalmente, ou quase, nas mãos da União. Um aspecto não abordado nas

variáveis explanatórias, mas que, provavelmente, tem influência no grau de

desenvolvimento dos sistemas de controle gerencial (em relação às demais estatais) é o

elevado grau de exposição da empresa à concorrência - inclusive internacional -, em

virtude da desregulamentação ocorrida no seu setor de atividade.

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QUADRO 5.5

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS - DEZEMBRO DE 2001

A B C E F GControle Acionário Economia mista de

capital fechadoS.A. de capitalfechado

S.A de capitalaberto

S.A. de capitalaberto

Economia mista decapital aberto

Empresa pública dedireito privado

Participação da Uniãono Capital Social(31/12/2001)

99,5% - através deholding do setor

- O TesouroNacional/ BNDES eBNDESPAR detêm36,2% Capitalvotante e 24,9%Capital Total. Alémdisso, existe umaação preferencial declasse especialcriada em 1997,pertencente aogoverno brasileiro.

- A União detémdiretamente 32,5%do capital total e55,7% do capitalvotante e oBNDESPar 7,9% docapital total e 2,0%do capital votante(além de 16,3% docapital preferencial)

100%

Grau de diversificação Não diversificada Não diversificada Diversificada Diversificada Diversificada Não diversificadaAutonomia financeira Autônoma - - - Autônoma AutônomaLucro líquido - Médiados últimos três anos -R$ milhões - anobase: 2001

663,45 254,12 2.511,45 441,63 8.585,00 374,07

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6. SUMÁRIO, CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES

PARA PESQUISAS FUTURAS

6.1 SUMÁRIO

O presente estudo procurou explorar o impacto que a reforma do estado, de

maneira geral, e a privatização, em particular, tiveram sobre os mecanismos de controle

gerencial de grandes empresas brasileiras. Para tanto, foram analisadas as mudanças

ocorridas em nove grandes empresas que no início da década de 80 enquadravam-se na

categoria de empresas estatais.

O objetivo deste estudo foi investigar a existência e os componentes dos

mecanismos de controle gerencial praticados por nove empresas que foram estudadas

originalmente no início da década de 80, comparando com os achados naquele estudo,

assim como comparando-os com aqueles sugeridos pelos autores estudados nesta

pesquisa. Dois aspectos foram considerados relevantes nesta análise: a influência

motivacional dos mecanismos de controle e o impacto de fatores externos sobre estes

instrumentos de ação administrativa.

Para o alcance do objetivo pretendido nesta pesquisa, inicialmente realizou-se

uma revisão de literatura onde, através de uma análise retrospectiva, foram estudadas a

evolução das empresas estatais no Brasil e a literatura sobre controle gerencial e, por

último, definido um plano de referência para nortear o estudo.

Devido às características e propósitos desta pesquisa adotou-se o método de

estudos de casos, por ser aquele que possibilita alcançar um maior nível de

profundidade sobre o assunto e permite maior poder de análise de uma ou mais

organizações, através da comparação destas com tipos ideais encontrados na literatura.

Os métodos de coleta de dados consistiram de: aplicação de entrevista, contendo

em grande parte questões abertas através de entrevista pessoal conduzida pelo próprio

pesquisador ou, por solicitação das empresas, do envio do roteiro de entrevista para ser

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200

respondido previamente; consulta a documentos fornecidos pelos entrevistados;

consulta a documentos obtidos de outras fontes como jornais, revistas, Internet, etc. e

informações coletadas de forma não estruturada com os próprios executivos

entrevistados.

O esquema analítico constou da descrição dos casos estudados com base nos

depoimentos dos entrevistados e informações contidas nos documentos disponíveis,

seguida de uma análise qualitativa, onde se procurou relacionar os resultados obtidos no

trabalho de campo ao plano de referência desenvolvido.

Restringido-se o campo de observação aos casos estudados e às limitações do

estudo, os resultados obtidos são apresentados a seguir para um melhor conhecimento

do processo de controle gerencial nas empresas estudadas.

Os resultados obtidos nesta pesquisa sugerem que os sistemas de controle

gerencial existentes nas empresas estudadas - tanto sob a ótica de flexibilidade, como

quanto à importância atribuída à influência da motivação no projeto desses sistemas -

não atendem, em diversos aspectos, aos fundamentos teóricos que nortearam este

estudo, embora tenham apresentado uma significativa evolução, quando comparados ao

estudo que deu origem a esta pesquisa.

Foi observado que, mesmo naquelas empresas onde foram encontrados sistemas

de controle gerencial que, em alguns aspectos apresentavam pontos relacionados com

aqueles vistos como relevantes na literatura estudada, quando examinados do ponto de

vista do sistema como um todo, demonstravam desconhecimento acerca da importância

de integração dos mecanismos de controle no alcance dos objetivos da organização.

Resumindo-se os principais resultados, foi visto que:

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201

Objetivos Organizacionais

Somente duas empresas desenvolvem um processo de planejamento estratégico

direcionado para o desenvolvimento e crescimento da organização, denotando

preocupação com a definição, comunicação e revisão dos objetivos, integração dos

objetivos com metas, avaliação dos resultados alcançados em confronto com os

objetivos determinados e, principalmente, com a adaptação às mudanças ambientais.

Nas demais é encontrado um processo de planejamento voltado para o curto prazo,

sendo o orçamento financeiro considerado o instrumento principal.

Sistema de Contabilidade Gerencial

Este ponto apresentou significativa diferença em relação ao estudo de Gomes

(1983), tendo em vista que três empresas possuem ou estão implantando modernos

sistemas de contabilidade gerencial, voltados para aspectos de planejamento e controle.

Além disso, quatro das empresas estudadas relataram possuir processos formais de

acompanhamento do desempenho dos seus centros de responsabilidade, o que não

ocorria anteriormente.

Processo Orçamentário

Também neste aspecto percebe-se uma significativa diferença em relação ao

estudo de Gomes (1983). Conforme menciona o autor “O processo orçamentário

desenvolvido pelas empresas não considera os efeitos motivacionais do orçamento no

comportamento das pessoas” (p.269). No estudo atual, três empresas destacaram a

participação dos gerentes no processo de elaboração do orçamento, o que tem

propiciado um comprometimento significativo com o alcance das metas orçamentárias,

o que vai ao encontro dos fundamentos teóricos contidos no plano de referência. Mesmo

nas demais empresas, embora mais restrita, percebe-se uma maior participação das

pessoas e, principalmente, uma maior flexibilidade e capacidade de adaptação a fatores

externos.

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202

No mesmo sentido, observa-se uma redução substantiva na influência do

controlador quanto a restrições. Anteriormente, havia “uma forte dependência do

sistema orçamentário a influências externas” (Gomes, 1983, p. 270); atualmente, apenas

duas empresas relataram perceber algum impacto negativo sobre sua autonomia

financeira.

Medidas de Avaliação de Desempenho das Unidades Organizacionais

Embora tenha sido observado um avanço em relação ao estudo de Gomes (1983)

no que diz respeito à utilização de medidas formais de avaliação de desempenho, os

resultados obtidos sugerem que os mecanismos de controle usados pelas empresas

estudadas são incapazes de identificar todos os objetivos ou comportamentos relevantes

que permeiam as organizações, tendo em vista que se utilizam, principalmente, do

orçamento anual.

Dependência dos Sistemas de Controle às Características Organizacionais

Os resultados sugerem que, independentemente das características

organizacionais consideradas neste estudo, os sistemas de controle gerencial existentes

nessas empresas ainda não se aproximam daqueles vistos na literatura, embora tenham

sido percebidos avanços significativos em relação ao estudo que inspirou este trabalho.

Contudo, uma das empresas se distancia das demais, porque em vários aspectos

importantes, seus sistemas de controle gerencial se apresentam próximos daqueles

vistos como relevantes na literatura estudada. É uma das empresas estatais, de economia

mista, autônoma financeiramente e altamente lucrativa. O que realmente a diferencia

das demais estatais é o percentual de participação acionária da União no capital, que é

de 55% versus 99,5% e 100% das demais. Por outro lado, verificou-se que a

privatização das empresas não causou a esperada evolução nos sistemas de controle;

pelo contrário, em vários aspectos, as empresas privatizadas apresentaram um retrocesso

em termos de técnicas e procedimentos que, pelo menos do ponto de vista teórico,

qualificavam seus sistemas de controle.

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203

6.2 CONCLUSÕES

Conforme definido na introdução deste trabalho, a presente pesquisa procurou

estudar o impacto que a reforma do estado e a privatização tiveram sobre os

mecanismos de controle gerencial de grandes empresas brasileiras. Para atingir tal

objetivo foram pesquisadas nove empresas estudadas anteriormente no início da década

de 80, tendo sido formuladas três questões, quais sejam:

1. Ocorreram mudanças nos sistemas de controle gerencial das empresas

estudadas em 1983?

2. As mudanças eventualmente observadas nos sistemas de controle gerencial

das empresas estudadas estão relacionadas com a evolução da Teoria de

Controle Gerencial?

3. Que fatores influenciaram as mudanças eventualmente observadas nos

sistemas de controle gerencial das empresas estudadas?

No que diz respeito à primeira pergunta, as evidências coletadas pela pesquisa

indicam que ocorreram mudanças nos sistemas de controle gerencial das empresas

estudadas. Dentre os avanços notados em relação ao estudo anterior estão a maior

ênfase na participação das pessoas; maior capacidade de adaptação às mudanças

ambientais. Foi percebida, também, a tentativa de introduzir, ainda que parcialmente,

mecanismos de reforço de comportamento e correção de desvios. Desta maneira,

quando comparados os achados deste estudo com estudo feito anteriormente percebem-

se significativos avanços: anteriormente, nenhuma das características mencionadas foi

encontrada nas empresas estudadas. Estes avanços, entretanto, são bastante tímidos

quando comparados às mudanças tidas por Macintosh (1994) como fundamentais para

que se alcance o verdadeiro empowerment.

Foi observado que, de maneira geral, as empresas estudadas têm usado - ou pelo

menos, estão analisando a viabilidade de uso de - modernas ferramentas de controle

gerencial, tais como o sistema SAP/R3, bem como incluindo indicadores de

desempenho não financeiros em seus sistemas de controle. Entretanto, ao contrário do

que recomenda Otley (1994) quando menciona que as novas técnicas de controle

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deverão incluir o controle do conhecimento, verificou-se uma omissão geral no que diz

respeito ao controle do Capital Intelectual.

Também foi observado que, apesar de todas as empresas relatarem a existência

de centros de responsabilidade em suas estruturas, apenas uma delas mencionou possuir

mecanismos de preços de transferência entre seus centros. Desta forma, a mensuração

da performance dos vários centros de responsabilidade fica prejudicada, assim como

prejudicada fica a atuação dos próprios gestores, pois conforme Anthony &

Govindarajan (1998), o preço de transferência, mais do que uma ferramenta contábil, é

uma ferramenta comportamental que ajuda os gerentes a tomar as decisões corretas.

Com relação à segunda pergunta de pesquisa, quando se comparam os achados

do presente estudo com as características relacionadas anteriormente no plano de

referência deste trabalho quanto ao modelo de sistema de controle adequado ao estágio

atual de desenvolvimento teórico, conclui-se que os sistemas de controle gerencial

existentes nas seis empresas estudadas não apresentam todas as características dos

sistemas vistos como eficazes no plano de referência que fundamentou este estudo. Este

afastamento em relação aos sistemas considerados eficazes, entretanto, não é

homogêneo para todas as empresas.

Os principais pontos de afastamento da literatura comuns a todas as empresas

referem-se à utilização de medidas de avaliação incompletas, ao fato de concentrarem a

atenção do controle nos resultados apresentados a curto prazo e por não possuírem um

sistema de recompensas derivados do desempenho observado. Conforme Gomes e Amat

(1999), um modelo de sistema de controle que integre as diferentes abordagens da

literatura deveria abranger em sua estrutura, um sistema de indicadores (possibilitando o

controle por exceção e a mensuração da atuação das unidades) e um sistema de

incentivos (como o desempenho é premiado ou penalizado). Além disso, segundo os

autores, a informação de controle voltada para o processo estratégico deve estar

orientada para o longo prazo a fim de facilitar as decisões estratégicas e seu controle a

posteriori.

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As evidências obtidas nesta pesquisa levam a concluir pela importância e

utilidade do plano de referência desenvolvido, quando se constata que muitos dos

problemas verificados na análise dos sistemas de controle existentes nestas organizações

talvez não existissem, caso os projetistas desses sistemas se preocupassem em consultar

o conjunto de conhecimentos sobre controle gerencial que se encontra disponível, fora

do âmbito de suas empresas. Esta conclusão é corroborada na prática pela constatação

de que três das empresas estudadas por Gomes (1983) foram extintas e que essas

empresas eram as que apresentavam o maior número de aspectos negativos no projeto

de seus sistemas de controle gerencial. Estes achados talvez contribuam para a quebra

de algumas crenças acerca do distanciamento existente entre teoria e prática.

Por fim, quanto à terceira pergunta de pesquisa, embora não seja possível fazer

afirmações categóricas, um aspecto a ser ressaltado a partir dos achados deste estudo, é

que não foi possível estabelecer uma relação entre o grau de proximidade/afastamento

dos sistemas de controle existentes com os modelos tidos como eficientes na literatura, e

o controle acionário das empresas. Com efeito, a empresa que mais se aproximou dos

modelos teóricos foi uma empresa controlada pelo Estado; por outro lado, verificou-se

que as empresas privatizadas abandonaram técnicas e procedimentos que qualificavam -

teoricamente - seus sistemas de controle. Dessa maneira, a privatização, por si só, não

pode ser apontada como fator preponderante na qualificação dos sistemas de controle

das empresas.

Por outro lado, é importante mencionar que dentre as recomendações “ao

Governo” feitas no estudo anterior com o objetivo de aprimorar a eficiência das

empresas estatais, constava a necessidade de “repensar as decisões concernentes à

centralização administrativa ... nos casos de empresas com capacidade de geração de

recursos próprios” (p.284). A reduzida interferência percebida, atualmente, pelas

empresas estatais estudadas indica claramente que houve uma substantiva mudança na

postura do governo, o que, sem dúvida, contribuiu para a evolução observada no

presente trabalho.

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Além da maior autonomia administrativa percebida pela pesquisa, o processo de

privatização pelo qual passou o sistema estatal provocou um grande ajustamento,

patrimonial e financeiro, em todas as empresas - privatizáveis ou não -, o que resultou

na melhoria de vários indicadores de desempenho, dentre os quais a rentabilidade.

Tendo em vista o que foi constatado nas três empresas deste estudo que permaneceram

estatais, pode-se supor que ao final deste processo - que envolveu a venda e a extinção

de estatais deficitárias -, as empresas que permaneceram sob o controle estatal passaram

a apresentar resultados melhores do que na situação anterior à privatização. Esta

conclusão é corroborada pelo estudo de Carvalho (2001).

Em síntese, os achados do presente trabalho parecem indicar que as mudanças

ocorridas nos sistemas de controle gerencial das empresas brasileiras foram muito mais

influenciadas por mudanças ambientais do que por mudanças no contexto

organizacional - especificamente, a troca do controle societário estatal pelo privado.

6.3 RECOMENDAÇÕES

Embora tenha sido percebido um significativo avanço nos sistemas de controle

gerencial usados pelas empresas objeto deste estudo, permanece válida a recomendação

feita por Gomes (1983) no sentido de que o projeto de tais sistemas deve estar calcado

em um sistema de contabilidade por responsabilidade e, em decorrência, na utilização

de processos de avaliação de desempenho das unidades organizacionais, o que,

conforme se constatou, não está ocorrendo.

Importante mencionar, também, que sugestão feita por Gomes (1983) para a

abertura e pulverização do capital de empresas rentáveis através do mercado de ações,

como forma de elevar o nível de disclosure, pressionando à administração das empresas

a serem mais eficazes, aperfeiçoando, dessa forma, o seu sistema de controle gerencial,

foi levada a efeito, recentemente, nas empresas C e F, utilizando recursos do FGTS. Os

resultados foram considerados positivos; no caso da empresa C de acordo com o

BNDES - responsável pela operação: “A Oferta Pública das ações ordinárias da

[empresa C], realizada pelo BNDES, constitui-se, em número de compradores, na maior

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operação de venda de ações feita no Brasil”(Oferta, 2002). No que diz respeito à

empresa F, estima-se que possua mais de 460 mil acionistas (BNDES, 2001). A venda

de ações que ainda pertenciam à União agregou cerca de 350.000 novos sócios à

empresa F (Cordeiro, 2000) e cerca de 728 mil trabalhadores aplicaram recursos do

FGTS na compra de títulos da Empresa C (Sucesso, 2002). Dessa maneira, continua

válida a recomendação para que esta estratégia continue a ser seguida pelo Governo no

que diz respeito às participações que ainda mantém em diversas empresas. Tal

recomendação é corroborada por segmentos da sociedade, conforme se depreende do

editorial de influente jornal brasileiro o qual afirma que “A operação revelou uma

demanda até então insuspeitada por ações de boas empresas, abrindo caminho para que

o governo venda outras participações e arrecade mais recursos...” (Sucesso, 2002).

Foi constatado que as empresas estudadas, com exceção da empresa G, não

demonstraram preocupar-se com o acompanhamento e controle do Capital Intelectual.

Em função disso, e dada a importância que o assunto têm adquirido nos anos mais

recentes, conforme mencionado na revisão de literatura desta pesquisa, recomenda-se

que as empresas desenvolvam instrumentos adequados para o acompanhamento e

controle de seu Capital Intelectual.

6.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Espera-se que os resultados desta pesquisa despertem a atenção de pesquisadores

para a importância da aplicação dos conhecimentos disponíveis na literatura sobre

controle gerencial a estudos sobre as empresas brasileiras.

Devido a uma série de limitações, muitas questões não puderam ser

adequadamente respondidas e outras surgiram ao longo da realização deste estudo.

Sugere-se a replicação deste estudo em outras entidades estatais, assim como

empresas estaduais e municipais, pois muito pouco se conhece acerca dessas

organizações, além do fato destacado por Giambiagi e Pinheiro (1996) quanto à

relevância das empresas estaduais e municipais no desequilíbrio das empresas estatais.

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Da mesma forma, sugere-se que o estudo seja realizado em outras empresas

privatizadas.

Também seria interessante que, na realização de novas pesquisas sobre empresas

estatais, sejam utilizadas outras variáveis, além das consideradas neste estudo, tais

como, variáveis econômicas, tecnologia, cultura organizacional, etc.

Além disso, a pesquisa em controle gerencial oferece uma ampla gama de

tópicos ainda carente de estudos mais aprofundados, não só em nível internacional -

conforme apontado anteriormente -, mas, principalmente, nacional. Dentre outros,

citam-se o papel da competição como instrumento de controle, os arranjos institucionais

que estabelecem novos limites para a ação gerencial e o papel da participação e consulta

aos funcionários, o desafio de controlar a integração de operações que transpõe as

fronteiras nacionais, assim como o controle de organizações multinacionais e todas as

complexas questões relacionadas, tais como as diferentes estruturas legais e

institucionais, as restrições financeiras e de câmbio e o impacto das culturas nacionais e

corporativas.

No que diz respeito aos estudos sobre o controle de operações internacionais,

destacam-se os trabalhos realizados na linha de pesquisa sobre o impacto da

internacionalização de empresas brasileiras nos seus sistemas de controle gerencial, os

quais, inclusive, já abordaram duas das empresas aqui estudadas.

Acredita-se que, por se tratar de uma área de conhecimento emergente, os

esforços despendidos em futuras pesquisas sobre os problemas levantados neste estudo

serão recebidos com amplo interesse por todos aqueles que se preocupam em entender a

forma como são administradas as empresas brasileiras.

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ANEXOS

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ANEXO 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Este roteiro tem como objetivo coletar dados sobre as características de

empresas, como parte de um projeto de pesquisa na área de Controle Gerencial

desenvolvido pelo Programa de Doutorado em Administração da COPPEAD/UFRJ.

Todas as informações prestadas nesta entrevista serão consideradas estritamente

confidenciais. Com relação à análise das respostas, os resultados serão apresentados de

forma agregada, de maneira a tornar impossível a identificação de respostas individuais.

Data:

Razão social da Empresa:

Nome do entrevistado:

Cargo:

Nome do entrevistado:

Cargo:

Nome do entrevistado:

Cargo:

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Primeira Parte - Objetivos Organizacionais

Nesta primeira parte do questionário deseja-se obter informações sobre osobjetivos da empresa e como são transmitidos. Para os propósitos da pesquisa define-seestes objetivos da seguinte forma:

a. Objetivos Gerais: traduzem o planejamento estratégico da empresa emconformidade com os programas elaborados pelos acionistas controladores;

b. Objetivos Específicos: são desdobramentos dos objetivos gerais e dizemrespeito à política da empresa a longo prazo (superior a um ano); e

c. Metas: são os objetivos de curto prazo da empresa.

Dadas estas definições, gostaríamos que respondesse às seguintes questões:

1. Quais os objetivos gerais de sua empresa e de que forma são estabelecidos?

2. Que funções dentro da empresa participam do processo de estabelecimento dosobjetivos gerais?

3. Existe algum documento elaborado pela empresa que comunique estes objetivosdentro da organização?

( ) NÃO (passar para a pergunta 5)( ) SIM. Por favor, descreva o documento e a forma como é usado na empresa.

4. De que maneira os executivos, na organização, tomam conhecimento destesobjetivos?

5. É possível classificar-se estes objetivos por ordem de importância?( ) NÃO( ) SIM. Por favor, classifique os objetivos gerais de sua empresa.

6. Os objetivos mencionados nas questões anteriores são os mesmos perseguidos pelaempresa nos últimos 3 anos ou não?

( ) SIM, são os mesmos( ) NÃO, houve mudanças. Por favor, especifique as mudanças ocorridas nos

objetivos e as razões que originaram tais mudanças.

7. Algumas empresas costumam desdobrar os objetivos gerais em objetivos específicosde modo a formalizar o planejamento estratégico da empresa. Esta prática é seguidapor sua empresa ou não?

( ) NÃO é seguida.( ) SIM. Por favor, descreva este processo e as funções, dentro da empresa, que

participem desta atividade.

8. Existe na empresa algum processo formal que avalie se os resultados obtidos pelaempresa estão de acordo com os objetivos fixados?

( ) NÃO existe.( ) SIM, existe. Por favor, descreva este processo no que se refere ao grau de

interação e participação dos níveis gerenciais.

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9. Existe na empresa algum processo formal que integre os objetivos específicos com asmetas (objetivos de curto prazo)?

( ) NÃO existe( ) SIM, existe. Por favor, descreva este processo no que se refere ao grau de

interação e participação dos níveis gerenciais.

10.Existe na empresa algum processo formal que efetue revisões nos objetivosespecíficos estabelecidos pela empresa?

( ) NÃO existe.( ) SIM, existe. Por favor, descreva o processo de revisão.

11.Nos últimos 3 anos a empresa tem conseguido alcançar os objetivos específicostraçados?

( ) SIM.( ) NÃO. Por favor, comente os principais fatores que têm dificultado o alcance

desses objetivos.

Segunda parte - Processo Orçamentário

I - Filosofia orçamentária

1. Classifique, por ordem de importância, os principais propósitos do sistemaorçamentário de sua empresa.

( ) usado como instrumento de planejamento;( ) usado como instrumento de controle financeiro;( ) usado como meio de comunicação das metas a serem alcançadas;( ) usado como medida de avaliação de desempenho individual;( ) outros. Por favor, especifique.

2. Dentro da filosofia orçamentária seguida por sua empresa, quais as premissasprincipais que podem ser destacadas como sendo as responsáveis pelos aspectospositivos do atual sistema orçamentário?

3. Quais dos itens abaixo relacionados integram a filosofia orçamentária de suaempresa? O sistema orçamentário de sua empresa...

( ) força a administração a dedicar atenção oportuna ao efeito da tendênciaesperada das condições econômicas.

( ) serve de mecanismo inibidor de gastos supérfluos.( ) possibilita um maior conhecimento aos superiores dos problemas dos seus

subordinados.( ) liberta muitos executivos de problemas internos rotineiros graças ao uso de

políticas predeterminadas e de relações de autoridade bem definidas.( ) introduz em todos os níveis da administração o hábito de consideração

adequada cuidadosa e oportuna de todos os fatores importantes antes deserem tomadas decisões.

( ) requer dados contábeis apropriados e adequados às necessidadesorçamentárias.

( ) outros. Por favor, especifique.

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II - Função orçamentária

1. Como se encontra organizada a função orçamentária em sua empresa?( ) Um executivo com responsabilidade integral pelo orçamento da empresa.( ) Um executivo com responsabilidade por diversas funções administrativas,

sendo uma delas a responsabilidade pelo orçamento da empresa.

1a. Qual o cargo ocupado por este executivo e sua posição no organograma da empresa?

2. Dispõe a empresa de um comitê com a responsabilidade de supervisão do orçamento?( ) Não.( ) Sim. Por favor, descreva as funções deste comitê, especificando se as

responsabilidades limitam-se ao orçamento ou se o orçamento é somenteuma de suas responsabilidades.

3. Quantas pessoas a nível de staff na empresa, dedicam-se exclusivamente a funçõesorçamentárias?

4. Qual o papel do pessoal da área orçamentária na preparação da propostaorçamentária?

( ) Prover diretrizes.( ) Prover assessoria aos executivos.( ) Projetar dados e distribuir formulários padronizados.( ) Prover informações detalhadas.( ) Outras. Por favor, especifique.

5. Qual o papel dos responsáveis pelas unidades operacionais da empresa, na discussãoda proposta orçamentária?

6. Quem tem a responsabilidade pelos cortes orçamentários?( ) Alta direção da empresa.( ) Unidades operacionais.( ) Área orçamentária( ) Pessoal de staff.( ) Outros. Por favor, especifique.

7. Quem é o responsável pela aprovação final do orçamento?( ) Alta direção da empresa.( ) Unidades operacionais.( ) Área orçamentária( ) Pessoal de staff.( ) Outros. Por favor, especifique.

8. Quem é o responsável pela divulgação do orçamento aprovado?( ) Alta direção da empresa.( ) Unidades operacionais.( ) Área orçamentária( ) Pessoal de staff.

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( ) Outros. Por favor, especifique.

9. Quem tem a responsabilidade pela análise das variações orçamentárias?( ) Alta direção da empresa.( ) Unidades operacionais.( ) Área orçamentária( ) Pessoal de staff.( ) Outros. Por favor, especifique.

10. No processo de análise das variações orçamentárias são elaborados relatórios?( ) Não. (passar para questão 11)( ) Sim. Quem é o responsável pela elaboração desses relatórios?

10a. Para quem são enviados os relatórios sobre as variações orçamentárias? Por favor,especifique cargo e posição no organograma.

11. Qual o envolvimento da Alta Direção da empresa no processo orçamentário?( ) Participam de todas as fases do processo orçamentário.( ) Participam das fases de planejamento e aprovação do orçamento.( ) Participam da fase de aprovação do orçamento.( ) Outros. Por favor especifique.

III - Características básicas do orçamento

A - Tipos de Orçamentos

1. Quais dos seguintes tipos de orçamentos são usados em sua empresa?

a) Orçamentos operacionais

( ) Orçamento de despesas.( ) Orçamento de vendas.( ) Orçamento de produção( ) Orçamento de mão-de-obra.( ) Orçamento de compras.( ) Orçamento de custo de produtos vendidos( ) Orçamento de estoques.( ) Outros. Por favor, especifique.

b) Orçamentos financeiros

( ) Balanço projetado.( ) Orçamento de caixa.( ) Orçamento de resultados.( ) Projeção de origem e aplicação de recursos.( ) Outros. Por favor, especifique.

c) ( ) Orçamento de investimentos

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B - Horizonte Temporal

1. Quando foi introduzido na empresa o atual sistema orçamentário?

2. Sua empresa tem um processo de planejamento a longo prazo (PLP)?( ) Não. (passar para a questão 3)( ) Sim.

2a. Qual a relação existente entre o PLP e o orçamento?( ) Os orçamentos são elaborados antes do PLP.( ) Os orçamentos são elaborados após o PLP.( ) Os orçamentos são elaborados concomitantemente com o PLP.( ) Os orçamentos são elaborados concomitantemente com o PLP, mas como

uma atividade separada.( ) Os orçamentos são o primeiro ano do PLP.( ) Outras. Por favor, especifique.

2b. Qual o horizonte temporal do PLP?

3. Durante o período orçamentário são realizados ajustes nos valores orçados?( ) Não. (passar para a questão 4)( ) Sim.

3a. Com que freqüência são analisadas as necessidades de ajuste?( ) Mensalmente.( ) Trimestralmente.( ) Semestralmente.( ) Anualmente.( ) Outras. Por favor, especifique.

4. Quais as datas mais importantes para as atividades orçamentárias de sua empresa?

5. Quanto tempo é gasto desde a fase de preparação até a aprovação final do orçamentoem sua empresa?

6. Com que freqüência a execução orçamentária é examinada?

7. Quanto tempo é gasto entre as atividades de análise e de elaboração de relatóriossobre as variações orçamentárias encontradas?

8. Com que freqüência a Alta Direção da empresa recebe os relatórios sobre asvariações orçamentárias elaborados internamente?

9. Com que freqüência as unidades operacionais responsáveis pelas variaçõesorçamentárias recebem os relatórios elaborados internamente?

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C - Documentos Orçamentários

1. A empresa dispõe de documento(s) para formalizar o PLP?( ) Não.( ) Sim. Por favor especifique o(s) documento(s).

2. Que documento(s) formaliza(m) o sistema orçamentário de sua empresa?

D - Fontes de Dados do Orçamento

1. Que informações são mais comumente usadas na primeira estimativa do processo deplanejamento orçamentário?

( ) Dados históricos fornecidos pela contabilidade.( ) Estimativas econômicas.( ) Orçamento do último ano.( ) Informações de mercado.( ) Planos do governo.( ) Outras. Por favor, especifique.

2. Que informações são mais comumente usadas no processo de discussão e aprovaçãofinal do orçamento?

( ) Diretrizes da Alta Direção da empresa.( ) Estimativas elaboradas pelas unidades operacionais.( ) Conjuntura econômica.( ) Outras. Por favor, especifique.

3. Que informações são mais comumente usadas na elaboração de relatórios sobrevariações orçamentárias analisadas?

( ) Dados históricos fornecidos pela contabilidade.( ) Efeitos inflacionários/cambiais.( ) Mudanças ocorridas no mercado.( ) Mudanças na política econômica do governo.( ) Outras. Por favor, especifique.

IV - Funcionamento do sistema orçamentário

A - Evolução do Sistema Orçamentário

1. Como o Sr(a). resumiria a evolução do sistema orçamentário de sua empresa? Porfavor, especifique os ciclos que caracterizam esse processo e os fundamentos teóricosusados.

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2. Nas mudanças implementadas no sistema orçamentário foram utilizados os serviçosde firma(s) de consultoria externa?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, especifique os principais serviços executados por essas

empresas.

3. Foram organizados grupos de trabalho constituídos de pessoas da própria empresa naimplantação de mudanças no sistema orçamentário ao longo do tempo?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, especifique a forma como foram organizados esses grupos

de trabalho.

4. Existe na empresa alguma(s) pessoa(s) com a incumbência permanente de estudar eimplementar aperfeiçoamentos no sistema orçamentário?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, especifique a forma como está organizada esta função e as

principais atividades desenvolvidas.

B - Processo de Revisão do Orçamento

1. É comum em sua empresa serem efetuadas revisões no orçamento antes da aprovaçãofinal?

( ) Não. (passar para a questão 2)( ) Sim.

1a. Quais os procedimentos utilizados pela empresa nestas revisões?( ) A revisão é efetuada pela Alta Direção da empresa e informada às unidades

operacionais.( ) A revisão é efetuada pelas unidades operacionais e informada à Alta

Direção da empresa.( ) Os executivos responsáveis pelo orçamento efetuam as revisões e

apresentam-nas à Alta Direção.( ) O pessoal de staff é que efetua as revisões e informa à Alta Direção da

empresa.( ) Outros. Por favor, especifique.

1b. Quais as razões mais comuns para a necessidade de revisão antes da aprovação finaldo orçamento?

( ) O resultado projetado não é aceito pela Alta Direção.( ) O resultado projetado não é aceito pelas unidades operacionais.( ) O resultado projetado não é aceito pelo pessoal de staff.( ) Outras. Por favor, especifique.

2. São realizadas revisões durante o período de execução orçamentária?( ) Não. (passar para a Parte C)( ) Sim. Por favor, comente as razões principais destas revisões.

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3. Quem executa estas revisões no orçamento?( ) Alta direção da empresa.( ) As unidades operacionais.( ) O pessoal da área orçamentária( ) O pessoal de staff.( ) Outros. Por favor, especifique.

4. É comum iniciar-se o período orçamentário sem que esteja concluído o orçamento?Quais as principais razões para isso?

C - Controle Orçamentário

a. Controle interno

1. Quais as características básicas do processo de controle orçamentário desenvolvidopor sua empresa?

2. Que tipo de relatórios de controle são produzidos internamente e quais os principaisusuários?

3. Há quanto tempo foram estes relatórios introduzidos na empresa?

4. Com relação à natureza das variações orçamentárias, quais as que merecem inclusãonos relatórios de controle orçamentário?

( ) Somente as variações positivas.( ) Somente as variações negativas.( ) Ambas.( ) Outras. Por favor, especifique.

5. Com relação à magnitude das variações orçamentárias, qual a percentagem que indicanecessidade de análise e inclusão no relatório de controle orçamentário?

6. O nível de detalhes sobre as variações orçamentárias apresentado nos relatórios decontrole orçamentário é suficiente para identificar responsabilidades?

( ) As responsabilidades são claramente identificadas.( ) Os relatórios indicam algumas responsabilidades.( ) As responsabilidades podem ser apuradas com alguma dificuldade.( ) É muito difícil se apurar responsabilidades nos relatórios.( ) Não é possível se apurar responsabilidades nos relatórios.( ) Outros. Por favor, especifique.

7. No processo de análise das variações orçamentárias é comum notar-se fatores quepossam ter afetado os resultados mas que não estejam sob controle direto dosresponsáveis pela variação observada?

( ) Não. (passar para a questão 9)( ) Sim.

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8. Em caso afirmativo, especifique quais dos seguintes fatores são considerados, noprocesso de análise das variações orçamentárias, como itens não controláveis pelosresponsáveis pelas variações observadas.

( ) Efeitos inflacionários/cambiais em percentuais diferentes dos valoresprevistos no orçamento.

( ) Resultados diferentes dos previstos no orçamento, em função de técnicas deprevisão incorretas, quando utilizadas por outras funções que não asresponsáveis pela variação incorrida.

( ) Cortes orçamentários, devido a restrições financeiras impostas à empresa,implicando em descontinuidade ou redução de programas previstos noorçamento pelas funções responsáveis pelas variações analisadas.

( ) Imputação de gastos realizados por outras funções dentro da empresa,quando aos responsáveis pelas variações orçamentárias analisadas é negadoo direito de discutir as bases de rateio dos gastos.

( ) Outros. Por favor, especifique.

9. Existem procedimentos na empresa que permitam aos executivos responsáveis pelasvariações explicar a diferença entre o previsto e o realizado?

( ) Não. (Passar para a seção b)( ) Sim.

10. Em caso afirmativo, quais os procedimentos usuais na empresa?( ) Relatórios padronizados.( ) Relatórios não padronizados.( ) Reuniões periódicas.( ) Reuniões extraordinárias.( ) Outros. Por favor, especifique.

b. Controle externo

Para fins desta seção do questionário, o termo controlador deve ser entendido como oDepartamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais, no caso das empresasestatais, e o(s) acionista(s) controlador(es) nas empresas privatizadas.

1. É exercido controle orçamentário sobre a empresa por seus controladores?( ) Não. (encerrar esta seção do questionário).( ) Sim. Por favor, descreva como é exercido este controle.

2. Que tipos de informação (documentos) são exigidos à empresa por seuscontroladores?

3. Quantas pessoas na empresa têm como função específica a preparação e divulgaçãodessas informações aos controladores?

4. Essas pessoas dedicam-se a essas funções em tempo integral durante o ano?( ) Não. Por favor, especifique, em termos médios, quanto do tempo dessas

pessoas é gasto nessas atividades.( ) Sim.

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5. Quantos relatórios externos, em média, são elaborados por essas pessoas durante oano?

6. A empresa é visitada por pessoal do controlador durante o ano?( ) Sim. Por favor, quantas visitas, em média, são feitas.( ) Não. (passar para a questão 9).

7. De que consta o trabalho desenvolvido pelo pessoal do controlador, quando em visitaà empresa?

8. As atividades desenvolvidas por essas pessoas interferem com o processoorçamentário de modo a causar interrupções nas rotinas internas da empresa?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, explique como essa interferência afeta as rotinas internas da

empresa.

9. De que forma o controle orçamentário externo afeta a autonomia financeira daempresa, no tocante à execução orçamentária?

( ) A autonomia financeira é sensivelmente reduzida.( ) A autonomia financeira é razoavelmente reduzida.( ) A autonomia financeira é pouco reduzida.( ) A autonomia financeira não é afetada.

D - Compromisso com o Orçamento

1. É percebida pela empresa a existência de um compromisso real por parte dosexecutivos da empresa, no tocante ao alcance de suas metas orçamentárias?

( ) Não. (Passar para a questão 2)( ) Sim.

1a. Em caso positivo, quais as razões para o estabelecimento deste compromisso?( ) Reciprocidade - garantia de recebimento dos recursos desejados.( ) Esquema de recompensas - incentivos financeiros, promoções, aumentos

salariais.( ) Envolvimento - participação no processo orçamentário, sentimento de

trabalho em grupo.( ) Outros. Por favor, especifique.

2. Em caso negativo, quais as razões para a não existência deste compromisso?( ) Irrealidade orçamentária - as estimativas são irreais.( ) Inflexibilidade orçamentária - o orçamento é rígido não levando em conta as

mudanças ambientais.( ) Ausência de participação - os orçamentos são impostos pela Alta Direção da

empresa.( ) Pelo fato de o orçamento não estar relacionado a esquemas de incentivos.( ) Outros. Por favor, especifique.

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E - Recrutamento e Treinamento de Pessoal Orçamentário

1. Qual a política adotada pela empresa no processo de recrutamento de pessoal para aárea orçamentária? Por favor, comente os requerimentos exigidos dos candidatos,quanto à idade, instrução, experiência anterior, etc.

2. Existem na empresa programas de educação contínua em técnicas orçamentárias?( ) Não.( ) Sim. Por favor, descreva estes programas e a experiência acumulada pela

empresa no desenvolvimento destes programas.

3. Qual a política adotada pela empresa para aperfeiçoar os executivos orçamentários?

4. A política de aperfeiçoamento de pessoal orçamentário sofreu alguma modificaçãonos últimos 3 anos?

( ) Não. Por favor, informe há quanto tempo vem sendo adotada esta política.( ) Sim. Por favor, especifique as modificações e seus motivos.

5. Em caso afirmativo, quais as implicações dessas mudanças nos programas detreinamento de pessoal orçamentário?

Terceira parte - Sistema de contabilidade gerencial

I - Sistema contábil

1. Qual a integração existente no plano de contas da empresa entre a Contabilidade,Custos e o Orçamento?

( ) Funcionam como sistemas independentes.( ) Somente Contabilidade e Custos são integrados.( ) Somente Contabilidade e Orçamento são integrados.( ) Somente Custos e Orçamento são integrados.( ) Sistema integrado de Contabilidade, Custos e Orçamento.

2. Há quanto tempo foi implantado o atual sistema contábil na empresa?

3. São efetuadas revisões no sistema contábil da empresa?( ) NÃO são efetuadas revisões.( ) SIM. Por favor, descreva o processo de revisão e a freqüência com que são

feitas as revisões.

4. Considerando o atual sistema contábil de sua empresa o Sr.(a) diria que ele écentralizado ou descentralizado? Comente.

5. São preparados relatórios financeiros intermediários?( ) NÃO. (Passar para a questão 7)( ) SIM. Informe os principais relatórios.

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6. Para cada relatório financeiro mencionado na questão 6, informe a sua periodicidadee o intervalo de tempo entre a conclusão dos relatórios e a divulgação interna(velocidade interna).

7. Com relação ao volume de relatórios financeiros elaborados, encontram-se osmesmos adequados às necessidades de informação da empresa? Comente.

( ) NÃO.( ) SIM.

8. Quais os principais usuários externos dos relatórios financeiros produzidos pelaempresa?

9. No atendimento dos requerimentos externos de informação financeira são utilizadosos próprios relatórios produzidos internamente? Comente.

( ) NÃO.( ) SIM.

10. De um modo geral, que fatores podem estar dificultando o aperfeiçoamento dosistema de informações contábeis de sua empresa?

II - Contabilidade por Responsabilidade

A - Centros de Responsabilidade

O objetivo desta seção do questionário é obter informações sobre o fluxo interno debens e serviços e a forma como se encontram estruturadas as responsabilidades dasdiversas funções dentro da empresa na administração das unidades operacionais.

Para os propósitos do estudo, são usadas as seguintes definições:

Centro de responsabilidade é uma unidade da organização chefiada por uma pessoaresponsável. Admite os seguintes tipos:

• Centros de custos ou despesas quando o sistema de controle mede somente osinsumos (custos ou despesas) usados por uma unidade da organização, nãomedindo o valor monetário de sua produção;

• Centros de lucros quando o desempenho dos centros de responsabilidade émedido em termos de insumos e receitas obtidas (lucro obtido pelo centro);

• Centros de investimento quando o desempenho dos centros de responsabilidade émedido pelo lucro obtido e pelos bens que ele usa.

1. Com base nas definições acima, como se encontram organizados os principais centrosde responsabilidade de sua empresa?

( ) Centros de custos ou despesas( ) Centros de lucro( ) Centros de investimento

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2. Existindo centros de responsabilidade de mais de um tipo (questão 1), quais os maispredominantes na empresa?

3. Ocorreram mudanças significativas na estrutura dos centros de responsabilidade nosúltimos anos? Tome por base os últimos 15 anos.

( ) Não.( ) Sim. Por favor comente sobre os fatores que causaram estas mudanças,

assim como sobre as conseqüências das mudanças

4. Existe na empresa algum processo formal que defina as funções dos chefes dosprincipais centros de responsabilidade?

( ) Não existe (passar para a questão 5).( ) Sim, existe. Por favor, descreva o processo.

5. Que pessoas participam do processo de definição destas funções, e qual a posiçãodestes no organograma da empresa?

6. Existe na empresa algum processo formal de acompanhamento das atividadesrealizadas pelos principais centros de responsabilidade?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, descreva este processo e informe às pessoas que participam

e a posição destas no organograma da empresa.

B - Preços de Transferência

“Uma das maiores dificuldades na mensuração do desempenho dos centros deresponsabilidade refere-se à determinação dos preços dos bens e serviços que sãotransferidos entre eles. Isto é referido como o problema do preço de transferência”.Trecho extraído do livro “Management Control Systems: using adaptive systems toattain control” de Joseph A. Maciariello e Calvin J. Kirby - Prentice Hall, 1994.

“O princípio fundamental é que o preço de transferência deve ser similar ao preço quepoderia ser cobrado se o produto tivesse sido vendido para clientes externos oucomprado de fornecedores externos ... Se um preço de mercado existir ou forconseguida uma aproximação, use-o. Se não houver maneira de estabelecer um preçocompetitivo aproximado, a outra opção é desenvolver um preço de transferênciabaseado no custo”. Trecho extraído do livro “Management Control Systems” de RobertAnthony e Vijay Govindarajan - Irwin, 1998.

Com base no trecho solicita-se que responda às seguintes questões:

1. Existe em sua empresa algum mecanismo formal que regule o fluxo interno de bens eserviços entre os principais centros de responsabilidade?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, descreva este mecanismo.

2. Existe na empresa algum(ns) executivo(s) com responsabilidade(s) específica(s)sobre preços de transferência?

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( ) Não (passar para a questão 4)( ) Sim. Por favor, especifique o(s) cargo(s) e a posição destes no organograma

da empresa.

3. Quais as principais responsabilidades deste(s) executivo(s)?( ) Reajustar os preços de transferência( ) Certificar-se de que a informação correta é avaliável como uma base para o

preço de transferência( ) Efetuar revisões periódicas no sistema de preços de transferência( ) Agir como árbitro nos casos de disputas acerca de preços de transferência( ) Outras. Por favor, especifique.

4 Qual a política adotada por sua empresa quanto à centralização ou descentralização dedecisões sobre preços de transferência entre as principais unidades operacionais, e entreas unidades de serviço central (serviços gerais e serviços técnicos) e as principaisunidades operacionais?

Transferências entreas unidadesoperacionais

Transferências entre as unidadesde serviço central e as unidades

operacionais

Grau de Centralização das Decisões

( ) ( )Totalmente centralizada - os preços sãoestabelecidos pela alta administração semparticipação das unidades de serviço central e dasunidades operacionais

( ) ( )Parcialmente centralizada - os preços sãoestabelecidos pela alta administração e pelasunidades de serviço central

( ) ( )Totalmente descentralizadas - os preços sãoestabelecidos através de negociação entre asunidades de serviço central e as unidadeoperacionais e as unidade operacionais entre si.

5. Os métodos e procedimentos sobre preços de transferência são padronizados atravésdos diversos setores da empresa?

( ) Não são padronizados.( ) Sim. Por favor, descreva o processo de padronização.

6. A política de preços de transferência da empresa sofre revisões freqüentes?( ) Não (passar para a questão 8).( ) Sim. Qual a freqüência destas revisões?

7. A freqüência de revisão é padronizada?( ) Não.( ) Sim. A padronização contempla todos os setores da empresa? Por favor,

comente.

8. Existe algum método de padronização usado na otimização de preços de transferênciaem sua empresa?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, descreva o método usado.

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9. Qual das afirmações abaixo melhor expressa os objetivos da política de preços detransferência nesta empresa? (Caso seja necessário, marque mais de uma resposta).

( ) Identificar a contribuição efetiva de cada centro de responsabilidade aoresultado global da empresa;

( ) Identificar os fatores que possam estar fora de controle dos centros deresponsabilidade no processo de avaliação de desempenho, avaliando osresultados possíveis de serem alcançados em vista das circunstâncias;

( ) Desenvolver um espírito de competição entre os centros de responsabilidadede modo a maximizar o resultado global da empresa;

( ) Coordenar as atividades desenvolvidas pelos centros de responsabilidade demodo a que não se afastem das metas traçadas pela alta direção da empresa;

( ) Outras. Por favor, especifique.

10. Na hipótese de existirem fornecedores internos e externos que possam atender àsnecessidades de recursos (bens e serviços) dos centros de responsabilidade, qual apolítica adotada por sua empresa?

( ) As necessidades totais do centro de responsabilidade só podem ser obtidasinternamente.

( ) Os fornecedores internos têm sempre preferência, mas além e acima dacapacidade de fornecimento interno, os suprimentos podem ser obtidosexternamente.

( ) O centro de responsabilidade é livre para escolher o fornecedor queminimizar os seus custos.

( ) Outros. Por favor, especifique.

11. Quando existe um mercado interno e externo para produtos e serviços produzidospelos centros de responsabilidade, qual a política adotada por sua empresa?

( ) O produto ou serviço total deve ser vendido dentro da empresa.( ) Somente após terem sido atendidas as necessidades internas, o excedente

pode ser vendido externamente.( ) O centro de responsabilidade é livre para escolher o melhor mercado de

modo a maximizar sua lucratividade.( ) Outros. Por favor, especifique.

12. Na política de preços de transferência desenvolvida pela empresa são definidoscritérios de alocação de custos para os serviços prestados às unidades operacionais poroutras unidades da organização?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, relacione as 5 principais unidades prestadoras de serviço e

os critérios usados para cada uma delas.

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13. Quais os critérios usados pela empresa na transferência de produtos ou serviçosentre as unidades operacionais?

Critérios de transferênciaa. Produtos

Matéria-prima ___________________________Partes Fabricadas ___________________________Produtos Acabados ___________________________

b. EquipamentosUsados ___________________________Novos (comprados) ___________________________Novos (feitos na empresa) ___________________________

c. Manutenção ___________________________d. Cessão de pessoal ___________________________e. Assistência Técnica ___________________________f. Assistência Financeira ___________________________g. Outros. Por favor, especifique ___________________________

14. Com relação a atual política de preços de transferência em vigor na empresa sãopercebidos fatores internos ou externos que possam estar afetando, de forma negativa, odesempenho dos centros de responsabilidade?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, especifique os fatores principais.

III Sistema de custeio

1. Qual o sistema de custeio usado pela empresa, para fins gerenciais?( ) Custeio integral (ou uma de suas variações)( ) Custeio direto( ) Custeio padrão( ) ABC - Custeio baseado na atividade( ) Outro. Por favor especifique.

2. Descreva as principais características do sistema de custeio usado pela empresa(bases de rateio, cost drivers, etc).

3. Há quanto tempo foi implantado o atual sistema de custeio?

4. Quais as razões principais que determinaram a implantação do atual sistema decusteio?

5. Quais as principais inovações do atual sistema de custeio em comparação com osistema anterior?

6. De que forma foi desenvolvido o projeto do sistema de custeio atual?( ) Foi projetado por consultores externos contratados pela empresa.( ) Foi projetado pela própria empresa.( ) Outros. Por favor, especifique.

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7. Que tipos de conhecimentos foram utilizados no projeto do sistema de custeio atual?( ) Sistemas usados, com sucesso, em outros países.( ) Modelos teóricos encontrados na literatura.( ) Modelos usados por empresas estrangeiras, localizadas no Brasil.( ) Experiência acumulada pela empresa no desenvolvimento dos sistemas

anteriores.( ) Outros. Por favor, especifique.

8. O sr (a) deseja fazer algum comentário adicional sobre a evolução do sistema decusteio da empresa?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, faça os comentários que julgar necessários.

Quarta parte - Medidas de avaliação de desempenho dos centros deresponsabilidade

1. Quais os principais propósitos do sistema de avaliação de desempenho dos centros deresponsabilidade mais importantes de sua empresa?

2. O atual sistema de avaliação de desempenho dos principais centros deresponsabilidade foi desenvolvido pela própria empresa?

( ) Sim.( ) Não. Quem desenvolveu o sistema atualmente em uso?

3. Por favor, descreva o sistema e sua evolução nos últimos 3 anos.

4. Classifique, por ordem de importância, os pontos mais relevantes no processo deavaliação de desempenho dos principais centros de responsabilidade, mencionados aseguir (marque “NA” para os itens não aplicáveis):

( ) O lucro obtido pelo centro( ) A contribuição do centro ao resultado global da empresa( ) O alcance das metas orçamentárias anuais do centro( ) O progresso na função, relatado pelo pessoal de staff à Alta direção da

empresa( ) O volume de gastos anuais do centro( ) O volume de vendas anuais do centro( ) O alcance do EVA projetado para o centro( ) Outros. Por favor, especifique.

5. No processo de avaliação de desempenho dos principais centros de responsabilidadesão usados padrões?

( ) Não (passar para a questão 7).( ) Sim. Por favor, descreva os principais padrões utilizados pela empresa.

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6. Quais os critérios utilizados pela empresa no processo de fixação dos padrões?( ) São considerados os fatores controláveis e não controláveis pelos centros.( ) Os padrões são fixados a partir de discussões de cunho técnico com a

participação dos responsáveis pelos centros.( ) Os padrões são fixados a partir de análises sobre o desempenho passado do

centro.( ) Outros. Por favor, especifique.

7. São elaborados relatórios de avaliação de desempenho dos principais centros deresponsabilidade em sua empresa?

( ) Não (passar para a questão 11).( ) Sim. Por favor, especifique os principais relatórios elaborados pela empresa.

8. Com que freqüência são elaborados estes relatórios? Por favor, especifique asfreqüências de cada tipo de relatório mencionado na questão 7.

9. Qual a velocidade de resposta (feedback) destes relatórios? Por favor, especifique asvelocidades de resposta de cada tipo de relatório.

10. São realizadas reuniões onde se procura discutir os resultados apresentados nosrelatórios?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, especifique como se desenvolvem essas reuniões e quais as

funções, dentro da empresa, que participam das mesmas.

11. Existe na empresa algum(ns) programa(s) de incentivos financeiros associado(s) aoprocesso de avaliação de desempenho dos principais centros de responsabilidade?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, descreva o(s) programa(s) existente(s).

12. O progresso funcional do pessoal dos principais centros de responsabilidade édependente do desempenho observado?

( ) Não. Por favor, explique os critérios usados para progressão funcional.( ) Sim. Por favor, explique como isto ocorre na empresa.

Quinta parte - Evolução dos sistemas de controle

O objetivo desta seção do questionário é obter informações sobre a evolução do sistemade controle gerencial da empresa, ou seja, a adaptabilidade dos diversos mecanismos decontrole ao meio ambiente externo. Também tem por objetivo obter informações sobreas técnicas de gestão empregadas pela empresa. Desta forma, solicita-se que sejamrespondidas as seguintes questões:

I - Evolução dos sistemas de controle

1. Há quanto tempo foi implantado o atual sistema de controle gerencial da empresa?

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2. Quais as razões principais que determinaram a implantação do atual controlegerencial?

3. Quais os propósitos básicos do atual sistema de controle gerencial da empresa?

4. Quais as principais inovações do atual sistema de controle gerencial em comparaçãocom o sistema anterior?

5. De que forma foi desenvolvido o projeto do sistema de controle gerencial atual?( ) Foi projetado por consultores externos contratados pela empresa.( ) Foi projetado pela própria empresa.( ) Outros. Por favor, especifique.

6. Que tipos de conhecimentos foram utilizados no projeto do sistema de controlegerencial atual?

( ) Sistemas usados, com sucesso, em outros países.( ) Modelos teóricos encontrados na literatura.( ) Modelos usados por empresas estrangeiras, localizadas no Brasil.( ) Experiência acumulada pela empresa no desenvolvimento dos sistemas

anteriores.( ) Outros. Por favor, especifique.

7. Quais as características básicas do(s) modelo(s) mencionado(s) na questão anterior?

8. Anteriormente ao atual sistema de controle gerencial, quantas vezes foram efetuadasmudanças nos projetos dos sistemas? Tome como base os últimos 15 anos.

9. Quais os fatos mais relevantes causadores das mudanças nos sistemas mencionadasna questão anterior?

10. O sr (a) deseja fazer algum comentário adicional sobre a evolução do sistema decontrole gerencial da empresa?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, faça os comentários que julgar necessários.

II - Instrumentos de controle gerencial

1. Qual (is) do(s) instrumentos de controle gerencial, abaixo relacionados, a empresautiliza? Nos casos em que a empresa adota ou está implantando, seguir para as questõesindicadas após cada instrumento.

Instrumento Adota Estáimplantando

Nãoadota

a. EVA (Valor Econômico Agregado) ou similar - questão 2 ( ) ( ) ( )b. Balanced Scorecard - questão 8 ( ) ( ) ( )c. ABC (Custeio Baseado na Atividade) ( ) ( ) ( )d. Target Cost ( ) ( ) ( )e. Demonstração do Capital Intelectual - questão 12 ( ) ( ) ( )

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f. Outros: Por favor, especifique:_______________ ( ) ( ) ( ) _______________________________________ ( ) ( ) ( ) _______________________________________ ( ) ( ) ( )

2. Há quanto tempo a empresa utiliza o EVA?

3. Quais as razões principais que determinaram a implantação do EVA?

4. De que forma foi (ou está sendo) desenvolvido o projeto do EVA?( ) Foi projetado por consultores externos contratados pela empresa.( ) Foi projetado pela própria empresa.( ) Outros. Por favor, especifique.

5. Para o cálculo do EVA são efetuados ajustes na contabilidade da empresa?( ) Não. Nenhum ajuste é efetuado.( ) Sim. Por favor, especifique os ajustes efetuados.

6. Como é determinado o custo de capital?

7. Qual (is) a(s) principal(is) utilização(ões) do EVA?( ) Aumentar o retorno obtido com os ativos possuídos pela empresa( ) Indicar em quais unidades a empresa deve concentrar seus investimentos( ) Indicar os ativos que devem ser desimobilizados( ) Determinar o plano de remuneração de executivos( ) Outras. Por favor, especifique.

8. Há quanto tempo foi implantado o balanced scorecard?

9. Quais as razões principais que determinaram a implantação do balanced scorecard?

10. De que forma foi (ou está sendo) desenvolvido o balanced scorecard?

( ) Foi projetado por consultores externos contratados pela empresa.( ) Foi projetado pela própria empresa.( ) Outros. Por favor, especifique.

11. Que medidas a empresa selecionou para acompanhamento, dentro de cadaperspectiva do balanced scorecard?

Perspectiva MedidaFinanceira ______________________________

__________________________________________________________________________________________

Clientes ________________________________________________________________________________________________________________________

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Interna ________________________________________________________________________________________________________________________

Inovação e aprendizado ________________________________________________________________________________________________________________________

12. Há quanto tempo foi implantado o sistema de controle do Capital Intelectual?

13. Quais as razões principais que determinaram a implantação do sistema de controledo Capital Intelectual?

14. De que forma foi (ou está sendo) desenvolvido o projeto do sistema de controle doCapital Intelectual?

( ) Foi projetado por consultores externos contratados pela empresa.( ) Foi projetado pela própria empresa.( ) Outros. Por favor, especifique.

15. Que tipos de conhecimentos foram utilizados no projeto do sistema de controle doCapital Intelectual?

( ) Sistemas usados, com sucesso, em outros países.( ) Modelos teóricos encontrados na literatura.( ) Modelos usados por empresas estrangeiras, localizadas no Brasil.( ) Outros. Por favor, especifique.

16. Por favor, descreva as principais características do sistema de controle do CapitalIntelectual.

17. Quais ativos a empresa classifica como Capital Intelectual?

18. Caso sua empresa utilize outro(s) instrumento(s) de controle gerencial não referidoanteriormente, por favor descreva suas principais características, há quanto tempo aempresa o está utilizando, as razões que levaram à sua utilização, a forma deimplantação.

19. O sr (a) deseja fazer algum comentário adicional sobre os instrumentos de controlegerencial utilizados pela empresa?

( ) Não.( ) Sim. Por favor, faça os comentários que julgar necessários.

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QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS SOMENTE PELOS SUPERVISORESE/OU CHEFES DE CENTROS DE RESPONSABILIDADE,DEPARTAMENTOS, DIVISÕES, ETC.

1. É a primeira vez que V. elabora orçamento da área sob sua responsabilidade?a) Sim ( )b) Não ( )

2. O sr (a) sempre teve um orçamento para a sua área de responsabilidade?a) Sim ( )b) Não ( )

3. O sr (a) é consultado sobre as diretrizes orçamentárias concernentes à sua área deresponsabilidade pelas pessoas acima do nível hierárquico do superior imediato?

a) Sim ( )b) Não ( )

4. Os subordinados em seu departamento podem questionar metas orçamentárias vistascomo irreais ou inalcançáveis?

a) Sim ( )b) Não ( )

5. Vocês são consultados com referência ao estabelecimento de novos padrões para oseu departamento?

a) Sim ( )b) Não ( )

6. O seu superior ou alguém situado acima dele sempre recomenda, com detalhes, omelhor modo de alcançar um objetivo orçamentário específico?

a) Sempre ( )b) Freqüentemente ( )c) Ocasionalmente ( )d) Nunca ( )

7. O sr (a) discute com seus superiores as modificações nos padrões orçamentários queo sr (a) acredita serem irreais?

a) Sempre ( )b) Freqüentemente ( )c) Ocasionalmente ( )d) Nunca ( )

8. O sr (a) se sente adequadamente informado acerca do processo orçamentário de suaempresa através de discussões com seus superiores e documentos formais sobre asdiretrizes e procedimentos?

a) Sim ( )b) Não ( )

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9. Qual o total de feedback (avaliação de sua performance) que o sr (a) recebe comreferência ao seu desempenho individual na sua companhia?

a) Muito feedback ( )b) Feedback suficiente ( )c) Algum feedback ( )d) Nenhum feedback ( )

10. Na avaliação de sua performance pelos seus superiores, eles são informadosusualmente sobre:

a) Somente suas deficiências ( )b) Seus pontos fortes e fracos ( )c) Somente seus pontos fortes ( )d) Não são informados sobre sua performance ( )e) Não sei ( )

11. O sr (a) sabe como sua função está harmonizada com as funções totais daorganização?

a) Sim ( )b) Não ( )

12. O seu superior se interessa pelos seus objetivos pessoais?a) Sim ( )b) Não ( )

13. São os seus objetivos pessoais considerados no estabelecimento dos objetivos daorganização?

a) Sim ( )b) Não ( )

14. O sr (a) sente que pode alcançar seus objetivos pessoais esforçando-se para alcançaros objetivos da organização?

a) Sim ( )b) Não ( )

15. O fato de o sr (a) ter um desempenho melhor ou pior, tem alguma implicação com:a) Recompensas ou punições financeiras ( )b) Recompensas ou punições não financeiras ( )c) Só tem implicações no caso de melhor desempenho ( )d) Só tem implicações no caso de desempenho pior ( )e) Não tem nenhuma implicação ( )

16. Existe em sua empresa um programa definido de incentivos financeiros?a) Não ( ) - passar para a próxima perguntab) Sim ( ). Por favor, descreva este programa.

17. Quais os critérios utilizados por sua empresa no processo de progressão funcionaldos empregados?

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18. Ocorreram mudanças significativas nos programas de incentivo nos últimos 5 anos?a) Não ( ) - passar para a próxima perguntab) Sim ( ). Por favor, descreva as mudanças e as suas implicações no seu bemestar na companhia.

19. Com relação aos itens abaixo, gostaríamos que V. fizesse uma comparação, levandoem conta a sua satisfação no trabalho, entre o passado e o presente da empresa.

Melhorou Piorou Não se alteroua) Motivação ( ) ( ) ( )b) Autonomia ( ) ( ) ( )c) Participação ( ) ( ) ( )d) Remuneração ( ) ( ) ( )e) Carga de trabalho ( ) ( ) ( )f) Estabilidade no emprego ( ) ( ) ( )g) Relacionamento superior/subordinado ( ) ( ) ( )h) Avaliação do seu desempenho ( ) ( ) ( )

20. Com relação aos itens da questão anterior que sofreram alterações (para melhor oupior), a que o sr (a) atribui tais alterações?

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ANEXO 2 - MODELO DE CORRESPONDÊNCIA ENVIADA ÀS EMPRESAS

Prezado Senhor

A Área de Pesquisa em Contabilidade e Controle Gerencial do Instituto COPPEAD deAdministração da Universidade Federal do Rio de Janeiro está desenvolvendo umprograma de pesquisas sobre empresas brasileiras, sendo um de seus objetivos o estudode Sistemas de Controle Gerencial.

O nosso aluno do Programa de Doutorado, André Luís Martinewski, professorassistente da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,após ter concluído todas as etapas do referido curso, está engajado em projeto depesquisa para a elaboração de sua tese de doutorado, pesquisa esta que procura estudar oSistema de Controle Gerencial existente em empresas brasileiras e o impacto do meioambiente externo nestes sistemas.

Para a realização desse estudo foram selecionadas as empresas estudadas por nossoProf. Josir Simeone Gomes em sua tese de doutorado no início da década de 80, dentreas quais se encontrava a [nome da empresa].

O objetivo do trabalho é conhecer como algumas grandes empresas lidam com aquestão controle gerencial. O que se procura conhecer são os procedimentos einstrumentos de controle usados pelas empresas, o seu grau de evolução nos últimos 20anos e o seu grau de proximidade com a teoria de controle gerencial. Enfatizamos o fatode que não serão solicitadas ou utilizadas informações de caráter financeiro (além dasque constam em demonstrações de acesso público) ou que possam expor aspectosconsiderados estratégicos pela empresa.

Os tópicos principais abordados na entrevista são:

A - Componentes do sistema de controle gerencial:a. Objetivos organizacionaisb. Processo orçamentárioc. Sistema de contabilidade gerenciald. Medidas de avaliação de desempenhoe. Evolução dos sistemas de controle gerencial

B - Características organizacionais (em grande parte, este item já foi coberto cominformações públicas contidas nos site da empresa):

a. Controle acionáriob. Grau de autonomia financeira em relação ao controladorc. Lucratividaded. Grau de diversificação de negócios

C - Variáveis ambientais externas:a. Impacto dos controladores externos

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b. As mudanças do contexto ambiental e organizacional.

Solicitamos, assim, a colaboração de V.Sa. para esse estudo, no sentido de conceder-nosacesso às informações necessárias para a elaboração da referida tese, através de umaentrevista pessoal. Esta entrevista tem a duração prevista de quatro horas, podendotranscorrer em mais de um encontro, se assim for desejado.

Tal estudo se reveste da maior importância para o nosso Programa de Pesquisa, tendoem vista o pouco conhecimento sobre assunto de tal magnitude, notado no cenárioacadêmico brasileiro.

Informamos, outrossim, que todas as informações prestadas por V.Sa. serãoconsideradas estritamente confidenciais. Com relação à análise das respostas, osresultados serão apresentados de forma agregada, de maneira a tornar impossívelidentificar as respostas individuais.

Agradecendo desde já sua colaboração, subscrevemo-nos.

Atenciosamente

Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal, D.Sc.Diretor