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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA ATITUDES FRENTE AO PACIENTE PSIQUIÁTRICO: UM ESTUDO COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO RJ Doutoranda Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira Linha de Pesquisa Epidemiologia Aplicada à Saúde Mental e às Violências Orientadora Prof. Dra. Lúcia Abelha RIO DE JANEIRO 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA

ATITUDES FRENTE AO PACIENTE PSIQUIÁTRICO: UM ESTUDO COM

PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO RJ

Doutoranda

Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira

Linha de Pesquisa

Epidemiologia Aplicada à Saúde Mental e às Violências

Orientadora

Prof. Dra. Lúcia Abelha

RIO DE JANEIRO

2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA

Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira

ATITUDES FRENTE AO PACIENTE PSIQUIÁTRICO: UM ESTUDO COM

PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO RJ

Tese apresentada ao Programa de pós-graduação

em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos

em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários a

obtenção do titulo de Doutor em Saúde Coletiva.

Orientadora

Prof. Dra. Lúcia Abelha

Rio de Janeiro

2013

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S618 Siqueira, Sylvia Rosa Gonçalves. Atitudes frente ao paciente psiquiátrico: um estudo com profissionais de saúde em um hospital universitário no RJ / Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira. – Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2013. 95 f.: il.; 30 cm. Orientadora: Lúcia Abelha Lima.

Tese (Doutorado) - UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2013. Inclui bibliografia. 1. Serviços de saúde mental. 2. Pessoal de saúde. 3. Comportamento. 4. Pessoas mentalmente doentes. 5. Estudos transversais. I. Lima, Lúcia Abelha. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. III. Título. CDD 362.2042

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Dedico este trabalho a todos os pacientes da Colônia Juliano Moreira.

À Lúcia Abelha, pela parceria de trabalho e pela amizade.

Às minhas filhas Julia e Bruna, minhas princesas.

Ao Sergio pelo apoio e cumplicidade.

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Agradecimentos

À minha orientadora, Profa. Dra. Lúcia Abelha, que com dedicada orientação, vem me

ensinando a ser pesquisadora.

Aos professores Profa. Dra. Leticia Legay , Profa. Dra. Jaqueline Cintra e Prof. Dr.

Giovanni Lovisi ,pelas importantes contribuições nesse trabalho.

Ao Diego Fonseca pela participação nas análises desse trabalho..

Aos pesquisadores de campo pela colaboração na coleta dos dados.

E, principalmente, a todos os profissionais do HUCFF/UFRJ que participaram desse

estudo, sem os quais nossa pesquisa não seria possível.

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RESUMO

Introdução: A desinstitucionalização dos pacientes psiquiatricos levou à

substituição dos hospitais psiquiátricos por serviços na comunidade e por Unidades

Psiquiátricas em Hospital eral (UPHG). Estes leitos são fundamentais, tendo em vista o

importante papel estratégico desses serviços na rede de cuidados. A avaliação das

atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais, é uma etapa importante na

elaboração de estratégias para a implementação de novos serviços, já que a reintegração

e reinserção do paciente com transtorno mental, muitos com uma rede social prejudicada,

dependem do acolhimento e da receptividade que encontram. O medo, a falta de

conhecimento sobre os serviços e o estigma continuam a ser obstáculos para a

efetividade do tratamento e para a reintegração social. No Brasil há uma carência de

estudos na avaliação das atitudes da comunidade em relação aos pacientes psiquiatricos.

Objetivo: Avaliar as atitudes dos profissionais de saúde de um hospital universitário em

relação aos pacientes psiquiatricos. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal em

uma amostra 246 profissionais de saúde utilizando a escala Community Atitudes toward

Mentally Ill (CAMI-BR). Resultados: O principal achado desse estudo foi que os

profissionais de algumas categorias ainda têm restrições nas atitudes em relação aos

pacientes que apresentam transtornos mentais. O escore nas subescalas foi de razoável

a bom, sendo que a subescala que apresentou a pontuação mais baixa foi Autoritarismo a

que apresentou o escore mais alto foi Benevolência. As variáveis sociodemográficas que

mantiveram associação com as atitudes positivas ou negativas após aplicação da

MANOVA foram: Estado civil, Categoria, Educação. Conclusão: Existe ainda uma atitude

preconceituosa em relação aos pacientes, mas por outro lado essa população já

incorporou a ideia de que os pacientes devem ser tratados e viver na comunidade.

Palavras chave: Atitude do pessoal de saúde, Estigma social, Desinstitucionalização

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ABSTRACT Background: Deinstitutionalization of psychiatric patients led to the replacement of

psychiatric hospitals to community services and psychiatric beds in general hospitals.

These beds are critical, given the important and strategic role of them in the care network.

The assessment of community attitudes towards mentally Ill is an important step in

developing strategies for the implementation of new facilities. The reintegration and

rehabilitation of mentally ill, many with an impaired social network depend on the

community host and receptivity. Fear, lack of knowledge about services and stigma

continue to be obstacles to the effectiveness of treatment and social reintegration. In Brazil

there is a lack of studies to assess the attitudes of the community towards the mentally

ill.Aim: To measure the attitudes of health professionals at a university hospital in relation

to the mentally ill. Metodology: It is a cross-sectional study in a sample of 246 health

works using the scale Community Atitudes toward Mentally Ill (CAMI-BR) Results: The

main finding of this study was that some professionals categories still have restrictions in

attitudes towards patients with mental disorders. The scores on the subscales were fair to

good, and the subscale that showed the lowest score was Authoritarianism and the one

with the highest score was Benevolence. The sociodemographic variables that remained

associated with positive or negative attitudes after application of MANOVA were: Marital

Status, Occupation and Education. Conclusion: There is also a discriminatory attitude

towards patients, but otherwise this population has already incorporated the idea that

patients should be treated and live in the community.

Keywords: Attitudes of health personnel; Social stigma, deinstitucionalization

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Distribuição de leitos psiquiátricos em hospital

geral……............................................................................................................18

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Lista de Quadros

Quadro 1 - Estudos em diversos países sobre as atitudes da comunidade em relação aos

doentes mentais e ao serviço de saúde

mental.......................................................................... ................................ 31

Quadro 2 – Profissionais do hospital …………........…………..........................40

Quadro 3 - Recodificação dos itens da escala CAMI .........……………..............42

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Lista de figuras

Figura 1. Distribuição de leitos psiquiátricos por hospital especializado .........17

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SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................ vi

Abstract ............................................................................................................... vii

Lista de Tabelas .................................................................................................. viii

Lista de Quadros …………………………………………………………… ....……….... ix

Lista de figuras ................................................................................................. ...x

Apresentação ............................................................................................................13

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................14

1.1. Os Serviços de Saúde Mental no Brasil ..........................................................16

1.1.1. Os Centros de Atenção Psicossocial . ..........................................................16

1.1.2. Ambulatórios.....................................................................................................17

1.1.3. ResidênciasTerapêuticas........................................................................... 18

1.2. Leitos psiquiátricos em hospital especializado.......................................... 19

1.2.1. Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral (UPGH) ..................................19

2. ATITUDES EM RELAÇÃO AOS PACIENTES PSIQUIÁTRICOS ................21

2.1. Estudos que Avaliaram as Atitudes em Relação aos Doentes Mentais. ....25

2.2. Estudos Internacionais.............................................................................. 25

2.3. Estudos Nacionais..................................................................................... 31

3. JUSTIFICATIVA......................................................................................... 39

4. OBJETIVOS ..............................................................................................40

4,1. Objetivo geral ..............................................................................................40

4.2 Objetivos específicos:................................................................................ 40

5. METODOLOGIA........................................................................................ 41

5.1. Local do estudo......................................................................................... 41

5.2. População do estudo................................................................................ 41

5.3. Amostra..................................................................................................... 42

5.4. Descrição do instrumento de pesquisa..................................................... 43

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5.5. Questionário sociodemográfico................................................................ 45

5.6. Treinamento dos pesquisadores.............................................................. 45

5.7. Análises estatísticas................................................................................ 45

5.8. Questões Éticas....................................................................................... 46

5.9. Limitações Do Estudo............................................................................ 47

6. REFERENCIAS................................................................................................ 48

7. Artigo 1 ..................................................................................................55

8. Artigo 2 ............................................................................................................71

9. Anexos .............................................................................................................. 90

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APRESENTAÇÃO

Esta tese discute as atitudes de profissionais de saúde em relação aos pacientes e

serviços de saúde mental em um Hospital Universitário. Para tanto foi utilizado o

instrumento Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais (CAMI-BR)

(Gonçalves et al., 2008), originalmente Community Attitudes towads Mentally Ill (CAMI)

(Taylor & Dear, 1986).

O modelo escolhido para a apresentação da tese foi através de uma parte

introdutória e 2 artigos.

Se configura da seguinte forma: 1. Introdução; 2. As Atitudes em Relação ao

Paciente Psiquiátrico; 3. Justificativa; 4. Objetivos; 5. Metodologia 6. Referências 7. Artigo

1; e 8. Artigo 2.

O primeiro artigo, Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais, é

um capítulo do livro – Avaliação de Serviços de Saúde mental: princípios metodológicos,

indicadores de qualidade e instrumento de medida. (Org: Bandeira, Abelha & Barroso – a

ser publicado pela Editora Vozes)

O segundo artigo, Atitudes frente ao paciente psiquiátrico: um estudo com

profissionais de saúde em um hospital universitário no Rio de Janeiro, ainda não

encaminhado para publicação , apresenta os resultados e a discussão do estudo.

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1. INTRODUÇÃO

A partir da década de 50 teve início nos países desenvolvidos o processo de

desintitucionalização psiquiátrica, caracterizado pela transferência da assistência do

hospital para a comunidade. Este processo se deu principalmente porque os hospitais se

encontravam em péssimas condições, os neurolépticos surgiram para ajudar na

permanência dos pacientes no ambiente extra-hospitalar e vários movimentos pelos

direitos humanos eclodiram em diferentes locais e países na década de 60. As

transformações ocorridas caracterizaram-se de forma diferenciada em consonância com

questões políticas, sociais e econômicas de cada país. (Hafner & Heidnen, 1989;

Mechanic, 1991; Bell, S. et al., 2005).

Desde então houve uma crescente preocupação em reduzir leitos psiquiátricos,

priorizando o tratamento em serviços substitutivos na comunidade. As internações

deveriam ser evitadas sempre que possível e mantidas pelo tempo estritamente

necessário. O cuidado na comunidade, como parte da estratégia para a reinserção dos

pacientes na sociedade, incluiria além do atendimento ambulatorial, os centros de

atendimentos diários, as residências terapêuticas e os programas de reabilitação

psicossocial.

A Organização Mundial de Saúde ressalta a importância de que os sistemas de

saúde mental nos diversos países tenham legislação específica e apropriada e que

incluam serviços e recursos que tenham como foco principal promover saúde mental.

Esses recursos incluem: serviços substitutivos na comunidade, cuidados na atenção

primária, recursos humanos, esclarecimentos e educação da população, interação com

outros setores, investimento em pesquisa e avaliação de serviços. (Jacob et al, 2007).

O processo de reforma psiquiátrica começou, no Brasil, a partir da década de 70, e

teve como base do movimento uma crítica ao modelo clássico da psiquiatria e suas

instituições, principalmente a forma de tratamento em que eram submetidos os pacientes,

e as péssimas condições de moradia nos asilos (Amarantes, 1997). A transferência do

cuidado para uma rede substitutiva na comunidade vem se caracterizando como uma

conjuntura de ações políticas, sociais e de mobilização através da participação dos

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profissionais de saúde mental, das associações de usuários e das associações de

familiares. (Sommer, 1990; Lougon & Andrade, 1995; Lima et al, 1999).

O tratamento do paciente crônico representa um dos maiores desafios para as

reformas no setor de saúde mental. Estes pacientes precisam de cuidados contínuos e de

serviços de reabilitação psicossocial, sendo que o suporte social e a aceitação da

comunidade em que vivem têm um papel fundamental na sua recuperação e equilíbrio.

(Wykes & Sturt, 1986; Leff & Trieman, 2000).

A reintegração social de pessoas com transtornos mentais graves, internados há

longos anos em hospitais psiquiátricos, afastados há tempos da sociedade e da família, é

uma questão primordial para a reforma da assistência à saúde mental. Para que esta

transição seja bem sucedida, é importante ter o conhecimento, dentre outros aspectos,

das atitudes da comunidade em relação aos pacientes e à doença mental (Trieman & Leff,

2002, Gonçalves et al., 2001). Muitas vezes a oposição por parte da vizinhança pode

inviabilizar a implantação dos novos serviços. Alguns estudos sugerem que a reintegração

dos doentes mentais depende estreitamente da aceitação que tenham por parte da

comunidade (Wolff et al, 1996b).

O processo de reforma da assistência em saúde mental vem se intensificando nos

últimos anos no Brasil. Em abril de 2001 é aprovada a Lei nº 10216, que dispõe sobre a

proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o

modelo assistencial em Saúde mental para o atendimento na comunidade. Assegura total

proteção contra qualquer forma de abuso e exploração e garante o tratamento adequado,

de preferência em serviços comunitários. Ao mesmo tempo em que prioriza este tipo de

assistência com reinserção social, garante a internação, quando necessária, com

assistência integral. Complementando essa Lei, a Portaria nº 52 de 20 de janeiro de 2004

atribui ao Ministério da Saúde a coordenação do processo de, como diz o texto,

substituição progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos por uma rede comunitária de

atenção psicossocial, explicitando a necessidade de uma transição segura, onde a

redução de leitos hospitalares possa ser planificada e acompanhada de construção

concomitante de alternativas no modelo comunitário. Entre outras garantias menciona que

os recursos financeiros que deixarem de ser gastos no componente hospitalar deve ser

direcionado às ações territoriais e comunitárias de saúde, também na mesma progressão.

Apesar dos esforços no sentido de transferir os cuidados aos pacientes

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psiquiátricos do hospital para a comunidade, até o momento o número de serviços de

saúde mental no Brasil ainda é insatisfatório para cobrir toda a demanda (Brasil, 2007).

Em muitos países o processo de desinstitucionalização levou à substituição dos

hospitais psiquiátricos para os serviços da comunidade e para a Unidadede Psiquiátrica

em Hospital Geral (UPHG). Estes leitos são fundamentais, tendo em vista o importante

papel estratégico desses serviços na rede de cuidados ao paciente psiquiátrico. Uma vez

que a questão da assistência ao indivíduo em sofrimento psíquico requer que se

construam outros espaços de atenção, a formação/capacitação dos profissionais há que

ser repensada, e os profissionais que já estão atuando na área deverão ser capacitados

(Mion & Schneider, 2003).

Botega e Dalgalarrondo (1997) pontuam que a internação em hospital geral

contribui para a diminuição do estigma em relação ao paciente psiquiátrico, pois ele seria

visto como outro doente qualquer. O investimento nas UPHG ainda é muito pequeno por

parte dos gestores e formuladores de politicas e enfrenta principalmente dois tipos de

obstáculos: preconceito e escassez de recursos financeiros. Entretanto, são serviços

fundamentais, pois os serviços de saúde mental na comunidade se tornam inoperantes quando

não podem contar com serviços hospitalares que sejam efetivos, bem estruturados e de fácil

acesso.

1.1 OS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL

1.1.2 Os Centros de Atenção Psicossocial

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços abertos, comunitários,

que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e

persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas

por meio do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos

laços familiares e sociais. Os CAPS são considerados os ordenadores da rede de

atendimento à saúde mental, os atendimentos são diários e de acordo com a necessidade

de cada paciente, procurando evitar internações e promover a reinserção social dos

portadores de transtornos mentais (Brasil, 2011). Existem hoje em funcionamento , no

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Brasil, 1620 CAPS, sendo: 761 CAPS I, 418 CAPS II, 55 CAPS III, 128 CAPSi, 257

CAPSad e 1 CAPSad III (Brasil, 2011).

Existem diferentes tipos de CAPS, dependendo de sua abrangência e função:

CAPS I – Têm menor porte e capacidade operacional para dar cobertura

assistencial a uma população entre 20.000 e 70.000 habitantes. Funciona em regime de 2

turnos.

CAPS II – Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma

população entre 70.000 e 200.000 habitantes. Funciona em regime de 2 turnos.

CAPS III - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma

população acima de 200.000 habitantes. Funciona 24 horas, diariamente, inclusive fins de

semana e feriado. Tem no máximo 5 leitos para observação e/ou repouso.

CAPSi - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma

população acima de 200.000 habitantes ou outro parâmetro populacional justificado pelo

gestor local. Funciona em regime de 2 turnos. Tem como público alvo crianças e

adolescentes com transtornos mentais.

CAPSad - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma

população acima de 100.000 habitantes ou outro parâmetro populacional justificado pelo

gestor local. Funciona em regime de 2 turnos, com 2 a 4 leitos para desintoxicação e

repouso. Seu público alvo são pacientes com transtornos decorrentes do uso e/ou

dependência de álcool e outras drogas.

CAPSad III – À semelhança do CAPS III, têm capacidade operacional para dar

cobertura assistencial a uma população acima de 200.000 habitantes. Funciona 24 horas,

diariamente, inclusive fins de semana e feriado. Tem no máximo 5 leitos para observação

e/ou repouso.

1.1.3 Ambulatórios

Os dados sobre ambulatórios psiquiátricos no país são bastante precários. Faltam de

dados sobre capacidade instalada de ambulatórios nessa especialidade, pois nem todos

já estão cadastrados no sistema DATASUS. Os registros que existem não refletem a

realidade da assistência, pois na maioria das vezes apenas registram a existência do

especialista em um serviço, mesmo que esse serviço não tenha como característica o

atendimento ambulatorial em saúde mental (ex.: hospital de oncologia).

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O atendimento ambulatorial é de fundamental importância para o acompanhamento do

paciente e consequentemente para que as internações sejam evitadas. O paciente, ao

receber alta hospitalar deveria ser imediatamente referenciado para um ambulatório.

Os transtornos mentais comuns atingem mais de 25% da população do mundo,

afetando pessoas de todas as idades, sexo e grupos sociais (WHO, 2002). Costa (2005)

encontrou uma prevalência de 36% na Zona da Mata do estado de Pernambuco (24,5%

nos homens e 44,17% nas mulheres). Bandeira et al. (2007), estudando transtornos

mentais comuns em pessoas atendidas pelo Programa de Saúde da Família em uma

cidade do interior de Minas Gerais, encontraram uma prevalência de 37,8%. A alta

prevalência destes transtornos indica a necessidade de uma rede de ambulatórios ou

centros de saúde mental voltados para o atendimento desses indivíduos.

.

1.1.4 Residências Terapêuticas

A implementação dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surge em um

contexto de superação do modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico, para a

atenção na comunidade, como estratégia para reinserção e reintegração social dos

pacientes com transtornos mentais, egressos de hospitais psiquiátricos. As moradias,

casas localizadas no meio urbano, servem como espaços onde, além da humanização no

trato destes pacientes, busca-se uma vida social digna com direitos, no processo de

readaptação de cada pessoa à vida em sociedade.

Estudos mostram que essas experiências têm sido bem sucedidas no campo da

saúde mental. Entretanto, algumas dificuldades em relação à comunidade devem ser

consideradas, como: a resistência em algumas regiões em função da falta de

conhecimento sobre o serviço, o preconceito e o medo relacionados à doença mental

(Vidal, 2006).

Em relação à expansão dos Serviços Residenciais é importante traçar estratégias

quanto aos impasses identificados. A opinião pública é uma das questões que deve ser

considerada e incluída no debate acadêmico e nos projetos de intervenção (Furtado,

2006; Delgado, 2006).

A rede de Residências Terapêuticas (RT) conta hoje com 596 serviços em

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funcionamento, com aproximadamente 3236 moradores. A maior parte das RTs na cidade

do Rio de Janeiro está localizada em Jacarepaguá (Brasil, 2011).

1.1.5 Leitos psiquiátricos em hospital especializado

Os leitos psiquiátricos vêm sofrendo dramática redução em função de uma política

que privilegia a assistência na comunidade. Em 1941, a taxa de leitos psiquiátricos por

10.000 habitantes era de 5,8, atingindo o ápice de 8,8 em 1984, sendo que atualmente

temos a menor taxa já observada nos últimos 50 anos, com um valor de 1,8. Esta

distribuição não é uniforme em todo o Brasil, havendo uma acentuada concentração de

leitos na região sudeste. Esta taxa traduz um número baixo de leitos, se considerarmos

que 1% da população sofre de quadros psicóticos graves e que destes pelo menos 5%

necessitam de leitos psiquiátricos, sendo estimada a necessidade de, no mínimo, 5 leitos

para cada 10.000 habitantes (Andreoli, 2007) (fig. 1)

Fonte: Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil - CNES

Figura 1. Distribuição de leitos psiquiátricos em hospital especializado por regiões, Brasil,

2006-2011.

1.1.6 Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral (UPGH)

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As UPGHs são as mais antigas alternativas à internação em hospital psiquiátrico.

Nesse contexto, o hospital geral ganhou espaço e passou a ser considerado o local

adequado para a internação quando do recrudescimento dos sintomas da doença mental.

As primeiras UPHGs surgiram no Brasil na década de 50 ,com o objetivo de diminuir a

estigmatização dos pacientes psiquiátricos, diminuir o tempo de internação e melhorar o

atendimento às intercorrências clínicas (Tavares, 1997). Porém, o modelo de assistência

médica das décadas de 60 e 70, centrado fortemente no hospital psiquiátrico, o

preconceito relacionado aos doentes mentais e a preocupação da equipe relacionada ao

comportamento desses pacientes, dificultaram a implantação destas unidades.

(Dalgalarrondo & Gattaz, 1992; Botega, 1997).

Os Hospitais Gerais, por trabalharem na lógica de especialidades clínicas,

apresentam muitas barreiras para realizar a interface com a comunidade e a articulação

com a rede de saúde mental e os territórios. (BRASIL,2011)

Ainda hoje os leitos psiquiátricos em hospital geral são claramente insuficientes

para funcionar como alternativa à internação em hospitais psiquiátricos (Botega, 2002;

Gentil, 2007). Por outro lado, o número de leitos psiquiátricos em hospital geral vem

aumentando de forma muito lenta (tab.1)

Essa realidade é preocupante, pois, estes leitos tem um papel fundamental no

tratamento de pacientes com doença mental, sobretudo porque na lógica atual da reforma

da assistência em saúde mental, cada vez mais, o hospital geral deveria ser o local eleito

para a internação desse indivíduo. Neste sentido, uma atenção por parte dos gestores na

sensibilização e treinamento das equipes que atuam nos hospitais gerais é fundamental

para diminuir a resistência em receber pacientes psiquiátricos (Hildebrandt,2007)

Tabela1. Distribuição de leitos psiquiátricos em hospital geral por regiões, Brasil, 2006-

2011.

Regiões 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Norte 88 104 148 160 167 203

Nordeste 669 755 877 792 715 792

Sudeste 1208 1210 1125 1223 1130 1177

Sul 1147 1185 1461 1443 1647 1880

Centro-Oeste 300 290 216 213 280 297

Total 3412 3544 3827 3831 3939 4349 Fonte: Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil – CNES

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2. ATITUDES EM RELAÇÃO AOS PACIENTES PSIQUIÁTRICOS

Estigma Goffman (1963) definiu estigma como uma característica que desacredita e marca

a pessoa, reduzindo-a a uma categoria inferior. Esta conceituação foi amplamente

utilizada e divulgada por estudiosos de áreas distintas do conhecimento. O estigma se

manifesta diminuindo a autoestima do indivíduo, causando medo, estereótipos,

dificultando a socialização, as relações afetivas e a procura de tratamento e de emprego.

Jones et al. (1984) partiram da definição de Goffman para definir estigma como um

atributo que vincula o indivíduo a uma característica indesejável (estereótipo).

Link e Phelan (2001) conceitualizam o estigma a partir de quatro

componentes que se interrelacionam. Primeiro, as pessoas apontam e rotulam as

diferenças humanas. Depois, crenças culturais dominantes vinculam essas pessoas

rotuladas a características indesejáveis ou estereótipos negativos. Em seguida, as

pessoas rotuladas são colocadas em diferentes categorias que as separam das outras.

Finalmente, esta estigmatização tem como resultado um acesso desigual às forças e

benefícios políticos, sociais e econômicos. Grupos estigmatizados têm acesso desigual a

emprego, educação, saúde e bem estar social.

Um dos principais fatores que prejudica a adaptação dos pacientes com

transtornos mentais graves na comunidade é o estigma em relação à doença mental. O

destaque sobre o tema tem aumentado nas últimas décadas, particularmente no campo

da psicologia social. Estudos demonstraram a maneira como as pessoas constroem

categorias cognitivas e as relacionam às categorias de crenças estereotipadas. Ao definir

o estigma como uma marca, Link e Phelan (2004) destacam que ele vem acompanhado

dos seguintes componentes: rotulação, estereótipos, segregação, perda de status e

discriminação. A estigmatização é direcionada a determinados grupos e/ou indivíduos. As

questões a cerca de circunstâncias estigmatizantes devem ser elucidadas, pois além de

afetar vários aspectos da vida das pessoas, pode ter uma influência dramática sobre a

distribuição das chances na vida, em áreas como: salário, moradia, envolvimento criminal,

saúde, entre outras.

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22

O estigma então pode ocorrer em três diferentes níveis: público, estrutural e

internalizado. O estigma público ou social existe no nível do grupo, que assume

estereótipos sobre as pessoas estigmatizadas e atitudes hostis em relação a elas. O

estigma estrutural ou institucional acontece no nível macro e diz respeito a regras,

políticas e atitudes que restringem os direitos e oportunidade dos discriminados. O

estigma internalizado ou pessoal existe no nível do indivíduo e é um processo em que a

pessoa afetada antecipa a rejeição social, assume a inferioridade e se considera um

membro inferior da sociedade (Corrigan, Kerr & Knudsen, 2005; Herek, 2007).

Thornicroft et al. (2007), revisaram a definição acima, tendo acrescentado, além

dos elementos estereótipo, preconceito e discriminação, mais três componentes:

problemas de conhecimento (ignorância), problemas de atitudes (preconceito) e

problemas de comportamento (discriminação).

Em relação ao estigma internalizado ou pessoal, Brohan et al ( 2009) consideraram

três tipos: estigma percebido, estigma experimentado e autoestigma. O estigma

percebido diz respeito à maneira como o indivíduo percebe o pensamento das pessoas a

respeito do grupo estigmatizado e ao que ele pensa sobre a opinião da sociedade sobre

este grupo. O estigma experimentado relaciona-se à experiência real de discriminação por

parte do indivíduo, ou seja, à vivência de exclusão ou restrição à participação em grupos

e em eventos sociais, levando a um sentimento de inferioridade e não aceitação. O

conceito de autoestigma se refere principalmente à internalização do estigma público

(maneira como a sociedade estigmatiza as pessoas). Inclui sentimentos de vergonha,

inferioridade, culpa e medo, diminuindo a autoestima e favorecendo o afastamento social.

Este estudo tratará exclusivamente do estigma público ou social e, consequentemente, da

avaliação das atitudes da sociedade em relação aos doentes mentais.

Neste contexto, os pacientes psiquiátricos foram discriminados de várias maneiras

ao longo dos séculos. Expressões como: mentalmente doentes ou doentes mentais estão

ainda associados à violência, à periculosidade, à imprevisibilidade, e mesmo à

depravação moral. A esquizofrenia, mais do que outros transtornos psiquiátricos, tende a

ser vinculada a imagens públicas negativas. O medo e o estereótipo continuam a ser um

obstáculo para eficácia do tratamento e para a integração social do paciente. Os efeitos

da discriminação têm um impacto negativo, não só no relacionamento interpessoal, mas

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também no desempenho de papéis sociais e ascensão social do paciente. Estas

experiências constituem uma barreira à sua melhora clínica, limitando as oportunidades e

reduzindo sua autoestima (Gonzalez-Torres et al., 2007).

O modelo assistencial baseado na reintegração do paciente em áreas residenciais

ainda sofre alguns entraves, como o estigma atrelado aos pacientes psiquiátricos, a idéia

de que eles devem ser excluídos e tratados em instituições fechadas e a falta de

conhecimento sobre os serviços de saúde mental, o que reforça a rejeição em relação a

este grupo.

A atitude negativa da comunidade é um dos principais obstáculos para a

implantação de serviços de saúde mental em áreas residenciais. A segregação e a

exclusão desses pacientes geram um obstáculo para a melhora terapêutica do paciente

psiquiátrico e para um tratamento bem-sucedido (Rossler & Salize 1995).

A avaliação das atitudes da sociedade em relação aos doentes mentais ganhou

uma importância especial com a transferência da assistência do hospital para unidades

extra-hospitalares porque a oposição por parte da vizinhança pode inviabilizar os novos

projetos. Alguns estudos sugerem que a reintegração dos doentes mentais depende

estreitamente da aceitação que tenham por parte da comunidade (Wolff et al, 1996b).

Corrigan et al. (2001) avaliou a atitude de estudantes de medicina em relação a pacientes

com depressão e transtornos psicóticos. Seus achados corroboram a hipótese de que o

contato direto com o paciente é mais importante do que apenas conhecimento sobre a

doença, e sugere que familiaridade diminui o estigma social atrelado a pacientes com

transtornos psiquiátricos.

As residências terapêuticas com maior grau de aceitação parecem ser as que

estão localizadas em regiões centrais das cidades, com grande rotatividade de população.

A integração parece ser mais difícil em bairros estritamente residenciais, pois estes

tendem a ser uma sociedade mais fechada (Trute & Segal, 1976).

O processo de implantação e expansão dos serviços residenciais é relativamente

recente no Brasil. Exige uma articulação bem desenvolvida com a vida cotidiana, com a

vizinhança, com outros setores, agregando saberes que envolvem a dimensão humana. O

ritmo de expansão destes serviços deve obedecer esta articulação, e a aceitação da

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comunidade é o ponto crucial na dinâmica das relações entre usuários e a comunidade,

usuários e tratamento terapêutico, no processo de habitar os espaços da cidade,

diminuindo o estigma e possibilitando a ampliação da rede social.

A avaliação das atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais é uma

etapa importante na elaboração de estratégias para a implementação de novos serviços,

já que a reintegração e reinserção do paciente com transtorno mental, muitos com uma

rede social prejudicada, dependem do acolhimento e da receptividade que encontram

(Maclean, 1969; Taylor & Dear, 1981; Wolff et al, 1996a; Hannignan, 1999).

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2.1. ESTUDOS QUE AVALIARAM AS ATITUDES EM RELAÇÃO AOS DOENTES

MENTAIS.

Foi realizada uma extensa revisão bibliográfica dos principais estudos

internacionais e nacionais, no período entre 1980 e 2011, que avaliaram as atitudes da

comunidade em relação aos doentes mentais, bem como a opinião, e conhecimento

sobre os serviços de saúde mental. Em relação aos estudos nacionais, 4 estudos

foram encontrados, e abordavam especificamente a opinião dos profissionais e

estudantes de graduação da área da saúde. Os instrumentos utilizados nos estudos

foram: Opinions about Mental Illness (OMI) (Cohen e Struening,1962), Community

Attitudes Towards the Mentally Ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981), Opiniões sobre a

Doença Mental (ODM) (Rodrigues, 1983; Rodrigues, 1992) e Perceived Devaluation

Discrimination Scale (PDDS) (Link et al., 1987) e Psychiatric Disability Attribution

Questionnaire (PDAQ) (Corrigan et al., 2001).

2.2 Estudos Internacionais

Variáveis sociodemográficas, como classe social, nível de educação, idade e sexo,

são capazes de influenciar atitudes em relação aos doentes mentais. Crisp et al. (2000),

trabalhando para o Royal College of Psychiatrists, entrevistaram 1737 pacientes como

parte de uma campanha para reduzir o estigma atrelado aos pacientes com diferentes

transtornos mentais. Em seus resultados, 71,3% das pessoas achavam que doentes

mentais, em especial esquizofrênicos, era um perigo para a sociedade e 77,3% que eles

eram imprevisíveis. Ao contrário de Byrne (1997), Crisp não encontrou diferença entre

entrevistados que conheciam alguém com doença mental e aqueles que não conheciam

ninguém com transtorno mental. Dentre outros fatores que influenciam as atitudes em

relação a doentes mentais, os que já foram extensivamente estudados são: (1) fatores

sociodemográficos; (2) conhecimento sobre doença mental; e (3) experiência pessoal com

doentes mentais.

Em relação a fatores sócio-demográficos Hayward e Bright (1997) sugerem que

pessoas mais idosas e com menor nível educacional e social tendem a ter uma atitude

mais negativa em relação aos doentes mentais. Leff (1997) mostra que a atitude da

comunidade é essencial no sucesso a longo-prazo de políticas de saúde mental na

comunidade. Além disso, os próprios pacientes com transtorno mental tendem a ter

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atitudes negativas em relação à doença, o que pode levá-los a demorar a procurar ajuda

médica, comprometendo o diagnóstico precoce e conseqüentemente a um tratamento

mais efetivo.

Os fatores sócio-demográficos, sozinhos, podem não se suficientes para justificar

as atitudes públicas em relação à doença mental. Conceitos médicos e morais de

pessoas leigas a respeito de doença mental constituem uma base de conhecimentos a

partir da qual se desenvolve a tolerância. Um estudo realizado com uma amostra de 713

adultos da área rural do estado de Tennessee (USA) demonstrou a baixa tolerância entre

os que têem estes preconceitos. Sugere que um maior conhecimento e compreensão

levariam, necessariamente, a uma maior tolerância em relação a comportamentos

desviantes (Neff e Housaini 1985).

Wolff et al. (1996a), antes da abertura de mais duas residências terapêuticas para

doentes mentais em uma comunidade em Londres, realizaram um inquérito com 305

moradores próximos a esses serviços utilizando a escala Community Attitudes toward the

Mentally Ill (CAMI). A entrevista consistiu de questões que lidavam com: (a) dados

demográficos, (b) conhecimento sobre doença mental, (c) reações em relação a doentes

mentais, (d) conhecimento do tratamento psiquiátrico nos hospitais, (e) conhecimento

sobre a mudança no modelo assistencial (do hospital para a comunidade) de pacientes

psiquiátricos, (f) atitudes da comunidade em relação às políticas de saúde, e (g) opiniões

sobre a necessidade de educação da comunidade. Os entrevistados também

completaram um questionário de autoavaliação sobre o medo e atitudes comportamentais

em relação aos doentes mentais, feitas especialmente para este estudo.

Entre seus achados (Wolff et al., 1996a) encontraram associação entre classe

social e atitudes relacionadas ao controle de doentes mentais, com atitudes de maior

restrição e menos liberdade aos doentes mentais associadas a classes sociais mais

baixas, e um menor controle social associado às classes mais altas. Também

encontraram um efeito independente entre nível educacional mais alto e atitudes de

benevolência, com maior nível educacional associado a maior benevolência em relação

aos doentes mentais, mas sem associação com atitudes de restrição social. Levantam a

possibilidade de que a existência de uma relação entre atitudes negativas e classes

sociais mais baixas ou menor nível educacional, possa ser um reflexo da falta de

conhecimento nestes grupos sobre o tema nestes grupos. Sugerem ser possível que a

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relação entre atitudes negativas e variáveis sociodemográficas, como classe social e nível

educacional, sejam mediadas por falta de conhecimento sobre doença mental. Os

entrevistados que relataram sentir medo de doentes mentais, disseram que este medo se

devia a não terem conhecimento sobre doença mental e que não saberiam como reagir

em determinadas situações.

No estudo acima, o medo do desconhecido parece ter sido o fator decisivo na

geração de medo. Este resultado contrasta diretamente com achados de Taylor e Dear

(1981), onde educação teve o maior efeito em relação às atitudes de restrição social.

Outros estudos também relataram uma correlação direta entre maior nível educacional e

maior tolerância (Bockington et al, 1993). dade

Consoante com estes achados, Papadopoulos et al. (2002) também demonstraram,

estudando uma população de gregos e ciprianos na Inglaterra, que há uma relação entre

falta de conhecimento e atitudes preconceituosas em relação a doentes mentais.

Outro estudo de Wolff et al. (1996b) avaliou o sucesso de uma campanha

educacional em uma área residencial onde seria construído um serviço de saúde mental.

O programa educacional teve pouco efeito nos níveis de conhecimento sobre saúde

mental, mas houve uma melhora nas atitudes em relação aos doentes mentais. A

conclusão dos autores em seus dois estudos foi a de que o contato com doentes mentais

parece ser mais importante na formação de atitudes do que apenas a informação.

Entre outros estudos que defendem idéia da importância de contato pessoal com

doentes mentais e conhecimento sobre saúde mental é o estudo Chinês conduzido por

Gao e Philips (2001). Desde 1985, o Departamento de Saúde em Taiwan tem tido como

objetivo prioritário o fortalecimento dos sistemas de reabilitação psiquiátrica. Um de seus

principais obstáculos é o alto índice de estigma relacionado aos doentes mentais. Para

avaliar as atitudes da população geral em relação aos doentes mentais, examinaram a

associação do contato prévio com doentes mentais e as atitudes em relação a eles,

controlando por variáveis sócio-demográficas. Foram entrevistadas 1.203 pessoas e o

estudo concluiu que o contato direto e a idade foram as variáveis mais importantes.

Atitudes benevolentes não garantem, necessariamente, a aceitação da reabilitação

na comunidade. Porém, a aceitação e a compaixão podem se originar do pensamento

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benevolente, desde que as pessoas tenham a oportunidade de ter contato direto com os

pacientes. (Gao & Philips, 2001).

Ng et al. (1995) avaliaram 300 moradores de Dunedin (Nova Zelândia) a respeito

do conhecimento que a população tem sobre doença mental e sua experiência pessoal

com doentes mentais. Concluíram que ter conhecido alguém com distúrbio psiquiátrico

facilita relações mais próximas com outros doentes. Ressaltam que a comunidade precisa

e quer ter informações sobre os doentes mentais e demonstra uma opinião favorável

sobre a reabilitação de pacientes psiquiátricos.

Buizza et al. (2005) destacaram a importância de promover intervenções na

comunidade no intuito de melhorar as atitudes em relação aos doentes mentais e ações

específicas para prevenir ou eliminar preconceitos na população.

Um estudo conduzido na Nigéria, com objetivo de determinar as atitudes dessa

população em relação aos doentes mentais, revelou que a visão negativa sobre a doença

mental é predominante na população, pois 96,5% das pessoas acredita que os doentes

mentais são perigosos (Guruje et al., 2005).

Aydin et al. (2003) analisaram as atitudes dos funcionários do hospital em relação

à esquizofrenia e à depressão. Constatou que apesar do conhecimento dos acadêmicos,

médicos, residentes e enfermeiros sobre esquizofrenia e depressão, a frequência de

suas atitudes negativas em relação aos doentes mentais era maior do que as dos

funcionários do hospital que não tinham esse conhecimento especializado.

Madianos et al. (1999) estudaram duas amostras de moradores de dois bairros

próximos a um Centro de Saúde Mental em Atenas. O estudo foi conduzido em dois

momentos (1979/1980 e 1994), com o objetivo de detectar mudanças de atitude em

relação aos pacientes utilizando a escala OMI (Cohen e Struening,1962). Os autores

concluíram que houve um aumento da tolerância e das atitudes positivas em relação aos

doentes mentais, provavelmente em função dos programas educacionais e preventivos

implementados.

Sévigny et al. (1999) realizaram um estudo transversal em um grande hospital

psiquiátrico na China, comparando as atitudes dos médicos com a atitude dos

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enfermeiros em relação aos doentes mentais. O instrumento utilizado foi a escala CAMI,

em uma versão adaptada pelos autores para a população chinesa. Os médicos

mostraram atitudes mais liberais e positivas, principalmente em questões que envolviam o

tratamento na comunidade. Os enfermeiros atribuíram mais características negativas aos

pacientes com transtornos mentais, por exemplo: no item “A maior parte das mulheres que

foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser confiável como babá” tenderam a

discordar ou discordar fortemente da afirmativa.

Ng e Chan (2000) estudaram as diferenças de atitudes de rapazes e moças de

uma escola secundária na China em relação aos doentes mentais, utilizando a Opinion

about Mental Illness in Chinese Community (OMICC), adaptação chinesa da escala OMI

(Cohen & Struening, 1962). Os autores concluíram que os estudantes do sexo masculino

apresentavam opiniões mais estigmatizantes, restritivas e estereotipadas, enquanto as do

sexo feminino se mostraram mais benevolentes.

Song et al. (2005) fizeram um estudo, também em Taiwan (China), sobre as

atitudes da população em relação aos doentes mentais utilizando a escala CAMI. Os

resultados mostraram que, embora a população tenha uma boa aceitação dos pacientes

na comunidade, acredita que devam ser tratados de forma diferenciada, com mais

controle e disciplina.

Schomerus et al. (2006) compararam as atitudes da comunidade em relação aos

portadores de transtornos mentais a partir de um inquérito realizado em 3 países: Rússia

(n=745), República Eslovaca (1000) e Alemanha (453). O instrumento utilizado foi a

Discrimination-Devaluation Scale (Link,1987), na sua versão para avaliar o estigma

público ou social. Os três países, apesar de estarem em estágios diferentes da Reforma

Psiquiátrica, apresentaram uma atitude pouco favorável em relação aos pacientes

psiquiátricos.

Adewuya e Oguntade (2007) estudaram as atitudes de 315 médicos em relação à

doença mental na Nigéria. Para avaliar a aceitação social e o estigma, os autores

utilizaram a escala Discrimination-Devaluation Scale (Link, 1987) na sua versão para

avaliar o estigma público ou social. Os resultados mostraram que os doentes mentais

eram vistos pelos médicos como perigosos e com prognóstico reservado. Foi observada,

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também, uma grande distância social entre os médicos e pessoas portadoras de

transtornos mentais. Os autores ressaltaram a importância de modificações no currículo

médico e de campanhas antiestigma.

Vibha, Saddichha e Kumar (2008) estudaram, na Índia, as atitudes de atendentes

de enfermagem que trabalhavam em uma enfermaria psiquiátrica e atendentes que

acompanhavam pacientes na comunidade. Não foi observada diferença entre os grupos

em relação às duas primeiras subescalas (Autoritarismo e Benevolência) da escala CAMI,

mas sim em relação às demais subescalas (Restrição social e Ideologia Comunitária de

Saúde Mental Comunitária), sendo que os atendentes enfermagem que trabalhavam na

enfermaria foram os que apresentaram uma atitude mais favorável.

Mehta et al. (2009) fizeram dois estudos longitudinais na Inglaterra e na Escócia,

utilizando um inquérito para avaliar as atitudes da população destes dois países em

relação aos doentes mentais, um no período 1994-1997 (anual) e outro realizado no

período 2000-2003. O estudo utilizou 26 itens extraídos dos 40 itens da CAMI. Os

resultados mostraram que as atitudes na Inglaterra deterioraram bastante,

comparativamente às atitudes na Escócia, após 2000. Esta mudança para pior, na

Inglaterra, pode ter sido devido a publicações na mídia associando violência à doença

mental. As atitudes foram melhores na Escócia, provavelmente em função da Campanha

See me contra o estigma, lançada em 2000.

Chambers et al. (2010) estudaram as atitudes de enfermeiros psiquiátricos em

relação aos pacientes em cinco países da Europa: Finlândia, Lituânia, Islândia, Itália e

Portugal. Os enfermeiros demonstraram uma atitude mais favorável na subescala

Benevolência da escala CAMI, o que demonstra uma simpatia em relação às pessoas

com transtornos mentais. Na subescala autoritarismo, observou-se uma atitude mais

desfavorável aos pacientes (embora sem significar rejeição). Os resultados mostraram

diferenças entre os enfermeiros dos diversos países nas quatro subescalas, sendo que os

enfermeiros portugueses tiveram as atitudes mais positivas e os lituanos as mais

negativas. Os autores ressaltaram que o estudo reflete diferenças no nível de treinamento

e educacional, assim como diferenças culturais entre os enfermeiros.

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Guise et al. (2010) realizaram um estudo de avaliação das atitudes de enfermeiros

que trabalhavam com pacientes psiquiátricos agudos, utilizando a escala CAMI. A

metodologia inicial foi a disponibilização dos questionários para a população alvo via

internet. A seguir, após uma segunda chamada por e-mail, o questionário impresso era

enviado pelo correio aos não respondentes. O desenho misto utilizado foi considerado um

sucesso, pois diminuiu consideravelmente a taxa de não resposta. O uso de e-mails como

instrumento de lembrança para preenchimento do questionário via WEB teve um impacto

positivo no retorno dos questionários. Não houve diferença significativa no escore da

escala CAMI entre os questionários respondidos na internet e os questionários impressos.

Barke et al. (2011) realizaram um estudo sobre as atitudes da população de Gana

(África) em relação aos doentes mentais. Os autores encontraram um resultado

contraditório, pois embora os respondentes tenham considerado que os doentes mentais

não deveriam ser excluídos, consideraram perigoso viver próximo a eles. Os autores

alertaram que a interpretação da escala CAMI, neste estudo, deve levar em conta a

escassez de recursos na área de saúde mental no país. A dificuldade de acesso a

serviços, mais do que o autoritarismo, pode ter sido responsável por respostas positivas

ao item “Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de

distúrbio mental”.

Schafer et al. (2011) estudaram as atitudes de estudantes de enfermagem em

relação à doença mental de uma grande universidade inglesa. A escala utilizada no

estudo foi a CAMI. Os resultados mostraram que as variáveis conhecer alguém com

transtorno mental, a área da enfermagem que estavam cursando (saúde mental), a etnia

(ser branco) e conhecer algum paciente que tivesse sofrido discriminação se mostraram

importantes preditores de atitudes positivas em relação aos doentes mentais.

2.3 Estudos Nacionais

Avanci et al. (2002) fizeram um estudo comparativo entre ingressantes e formandos

de enfermagem, com o objetivo de verificar a influência da instrução acadêmica nas

atitudes em relação à doença e aos doentes mentais. Para verificar essa influência

traçaram um perfil das atitudes dos alunos quando entravam na faculdade e momentos

antes de receberem o grau de enfermeiros. Os resultados demonstraram que os

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formandos apresentaram-se menos autoritários e mais benevolentes, acreditando mais na

semelhança do paciente com uma pessoa normal. Destacaram a importância da

estruturação das disciplinas de ensino da área de enfermagem psiquiátrica como uma

estratégia de minimizar os fatores que podem influenciar nas atitudes negativas dos

alunos frente aos pacientes psiquiátricos.

Pedrão et al. (2005) traçaram um perfil de formandos em enfermagem brasileiros,

chilenos e peruanos. Os formandos brasileiros apresentaram atitudes mais positivas em

relação aos pacientes com transtornos mentais quando comparados aos outros dois

grupos.

Delevati e Palazzo (2001) estudaram a atitude de empresários do sul do País em

relação à doença mental, utilizando a escala ODM. Os resultados mostraram que os

sujeitos não acreditavam na recuperação dos pacientes, considerando-os perigosos, e

eram favoráveis à sua exclusão da sociedade, apesar de terem uma atitude protecionista

em relação aos mesmos.

Estereótipos e preconceitos podem influenciar de forma negativa as condutas que,

no futuro, os alunos no campo da saúde terão com o paciente psiquiátrico. A conduta

profissional quando trabalhada precocemente pode predizer ações menos

preconceituosas.

A grande maioria dos estudos sobre atitudes em relação aos doentes mentais foi

desenvolvida nos países do primeiro mundo como a Inglaterra e Alemanha. Prevaleceram

os estudos seccionais, com amostras variando de 68 a 7246 pessoas, sendo a CAMI o

principal instrumento utilizado. O grupo socioeconômico mais baixo, de menor nível

educacional, e as pessoas de minoria étnicas, são os que apresentaram atitudes mais

negativas em relação a este grupo. O contato direto é um importante fator para determinar

atitudes positivas em relação aos doentes mentais.

Os estudos mais recentes demonstraram que o contato com os doentes mentais é

capaz de produzir profundos efeitos na formação de atitudes em relação a eles, já que

inclui não apenas o aspecto cognitivo, mas também o aspecto afetivo e comportamental

das relações interpessoais. O estigma e o preconceito, favorecendo atitudes negativas,

continuam fortemente arraigados nas relações sociais das diferentes culturas.

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Quadro 1: Estudos em diversos países sobre as atitudes da comunidade em relação aos

doentes mentais e ao serviço de Saúde Mental

Taylor & Dear 1981 Estudo seccional

1.090 Toronto

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Desenvolvimento e aplicação da escala CAMI

O estudo demonstra a validade da escala e sua utilidade como variável explanatória e preditiva no estudo da reação da comunidade a serviços de Saúde Mental comunitários

Neff e Housaini 1985 Estudo seccional

713 Tenessee USA

Interpretações a partir de histórias curtas

Avaliar os conceitos médicos e morais de pessoas leigas a respeito de doença mental e sua relação com a tolerância.

Demonstrou a baixa tolerância entre os que têem estes preconceitos. Sugere que um maior conhecimento e compreensão, levaria, necessariamente, a uma maior tolerância em relação a comportamentos desviantes

Brockington et al

1993

Estudo seccional

2000

Malvern e Bromsgrove (UK)

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais em 2 regiões da Inglaterra

Os moradores Bromsgrove, onde existe um hospital psiquiátricol, foram mais tolerantes do que os da região de Malvern. Os fatores sócio-demográficos associados a maior tolerância foram: idade, nível educacional e familiaridade com doentes mentais.

Ng et al. 1995 Estudo seccional

300

Dunedin Nova Zelândia

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) e Social Distance Scale

Avaliar o conhecimento da população sobre doença mental e a experiência pessoal com doentes mentais.

Ter conhecido alguém com distúrbio psiquiátrico facilita relações mais próximas com outros doentes. A comunidade precisa e quer informações sobre os doentes mentais e tem uma opinião favorável sobre a reabilitação de pacientes psiquiátricos .

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Wolff & cols.,

1996a Estudo seccional

305 vizinhos próximos aos serviços

Tooting Bec Hospital (UK)

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Realizar a análise fatorial da escala CAMI e avaliar associação dos fatores com variáveis sócio-demográficas

O estudo demonstrou que a existência de relação entre atitudes negativas e classes sociais mais baixas ou menor nível educacional, possa ser um reflexo da falta de conhecimento sobre o tema nestes grupos.

Wolff & cols.,

1996b Estudo seccional.

305

Tooting Bec Hospital (UK)

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Medir as atitudes da comunidade em duas ruas antes da abertura de duas Residências Terapêuticas para doentes mentais.

O grupo sócio econômico mais baixo, o menor nível educacional , aqueles com crianças e as pessoas de minoria étnicas, são os que apresentaram atitudes mais negativas em relação aos doentes mentais.

Madianos et al 1999 Estudo seccional

400 Atenas OMI

Detectar mudanças de atitude em relação aos pacientes

Houve um aumento da tolerância e das atitudes positivas em relação aos doentes mentais, provavelmente em função dos programas educacionais e preventivos implementados.

Sévigny et al 1999 Estudo seccional

100 China CAMI

Comparar as atitudes dos médicos com as atitudes dos enfermeiros em relação aos doentes mentais

Os médicos mostraram atitudes mais liberais e positivas, principalmente em questões que envolviam o tratamento na comunidade. Os enfermeiros atribuíram mais características negativas aos pacientes com transtornos mentais

Crisp et al 2000 Estudo seccional

1737 Reino Unido

8 questões relativas à opinião a respeito de pessoas com diferentes transtornos mentais

Avaliar a opinião pública sobre pacientes com diferentes transtornos mentais

71,3% das pessoas achavam que doentes mentais, em especial esquizofrênicos, eram um perigo para a sociedade e 77,3% que eles eram imprevisíveis.

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NG & Chan 2000 Estudo seccional

China OMI

Avaliar diferenças de atitudes de rapazes e moças de uma escola secundária na China em relação aos doentes mentais

Concluíram que os estudantes do sexo masculino apresentavam opiniões mais estigmatizantes, restritivas e estereotipadas, enquanto as do sexo feminino se mostraram mais benevolentes.

Corrigan et al

2001

Estudo seccional – prevalência em 2 momentos

152

Chicago (USA)

Psychiatric Disability Attribution Questionnaire (PDAQ).

Avaliar 3 estratégias para diminuir o preconceito em relação a doentes mentais e deficientes físicos

O contato direto com pacientes psiquiátricos surtiu mais efeito em relação á diminuição do preconceito do que a educação

Gao & Philips

2001

Estudo seccional

1203

Taiwan

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliaram as atitudes da população de Taiwan em relação aos doentes mentais

O contato direto com doentes mentais e idade foram as variáveis mais importantes para determinar atitudes positivas em relação aos doentes mentais

Pedrão et al 2002 Estudo seccional

68 São Paulo Opinions about Mental Illness (OMI)

Traçar o perfil dos alunos de enfermagem frente à doença mental, antes da influência da instrução acadêmica

Os alunos demonstraram um perfil de atitudes de conteúdo de caráter autoritário, restritivo e discriminador

Papadopoulos 2002

Estudo seccional

79 ingleses e 91 greco-ciprianos

Norte de Londres

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Este estudo avaliou a população greco-cipriana (1º e 2º geração) conhecida pelas suas atitudes estigmatizantes em relação aos doentes mentais e comparou com a de ingleses.

Os entrevistados Greco-ciprianos tinham menos conhecimento sobre doentes mentais e, apresentaram atitudes mais estigmatizantes do que os ingleses. Pouca diferença foi encontrada entre descendentes de 1º e 2º geração. Conhecimento sobre doença mental foi associado à atitude mais positiva.

Gaebel et al. 2002 Estudo seccional

7246 Alemanha

Perceived Devaluation-Discrimination Scale

Investigar as atitudes da população urbana em relação à doença mental

É grande o preconceito em relação À doença mental, e campanhas educacionais devem ser implementadas.

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Avanci et al 2002 Eestudo seccional

68 São Paulo

Opinions about Mental Illness (OMI) Autoritarismo e Benevolência

Avaliar autoritarismo e a benevolência de Alunos iniciantes no curso de Enfermagem frente a paciente psiquiátricos

Atitude negativa, com conteúdo autoritário, prevaleceu nos alunos iniciantes, justificando o fato de não terem recebido ainda nenhuma instrução

Aydin et al 2003 Eestudo seccional

160 Turquia

Questionário sobre distância social, reconhecimento de doença mental, hospitalização, resultado do prognóstico e para quem e onde o paciente deve ser admitido.

Analisar as atitudes dos funcionários do hospital em relação as principais doenças mentais: esquizofrenia e depressão

Apesar do conhecimento dos acadêmicos, médicos, residentes e enfermeiros sobre a esquizofrenia e a depressão, a frequência de suas atitudes negativas em relação aos doentes mentais era maior do que os funcionários do hospital sem esse conhecimento

especializado.

Buizza et al. 2005 Estudo seccional

280 Itália

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) e Fear and Behavioural Intentions (FABI) inventory

Verificar a associação entre as características sócio-demográficas e as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais

É importante promover intervenções para melhorar as atitudes em relação aos doentes mentais e ações específicas para prevenir ou eliminar preconceitos em sub-grupos da população

Song et al 2005 Estudo seccional Taiwan

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliar as atitudes da população em relação aos doentes mentais

Os resultados mostraram que, embora a população tenha uma boa aceitação dos pacientes na comunidade, acredita que devam ser tratados de forma diferenciada, com mais controle e disciplina.

Guruje et al 2005 Estudo seccional

2040

Ogun, Oyo and Osun Nigéria

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Determinar as atitudes da população da Nigéria em relação aos doentes mentais

Uma visão negativa sobre a doença mental predomina na população da Nigéria. 96.5% acredita que os doentes mentais são perigosos

Pedrão et al 2005 Estudo seccional

154

São Paulo (Brasil), Chile e Peru

Opinions about Mental Illness (OMI)

Traçar um perfil de atitudes de formandos em enfermagem frente aos transtornos mentais em três culturas diferentes:

Os formandos brasileiros apresentaram atitudes mais positivas frente aos transtornos mentais, mostrando-se menos

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Brasil, Chile e Peru

autoritários, restritivos e discriminadores que os chilenos e peruanos.

Schomerus et al 2006 Estudo seccional

1745

Eslováquia (Bratislava), Rússia (Novosibirsk) e Alemanha

Perceived Devaluation-Discrimination Scale

Avaliação do estigma em relação aos doentes mentais em 3 diferentes países

Não houveram diferenças significativas nos achados

Adewuia Oguntade

2007 Estudo seccional

315 Nigéria Discrimination-Devaluation Scale

Estudaram as atitudes dos médicos em relação à doença mental

Os resultados mostraram que os doentes mentais eram vistos pelos médicos como perigosos e foi observada, uma grande distância social entre os médicos e pessoas portadoras de transtornos mentais

Vibha et al 2008 Estudo seccional

200 Índia

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Estudaram as atitudes dos atendentes de enfermagem em relação à doença mental

Os atendentes de enfermagem que trabalhavam na enfermaria foram os que apresentaram uma atitude mais

favorável.

Mehta et al 2009 Estudo longitudinal

2000 Inglaterra e Escócia

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliaram as atitudes da população destes dois países em relação aos doentes mentais

Os resultados mostraram que as atitudes na Inglaterra deterioraram bastante, comparativamente às atitudes na Escócia. provavelmente em função da Campanha See me contra o estigma, lançada em 2000.

Chambers et al 2010 Estudo seccional

810

Finlândia, Lituânia, Islândia, Itália e Portugal

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliaram as atitudes dos enfermeiros em 5 países

Os resultados mostraram diferenças entre os enfermeiros dos diversos países nas quatro subescalas, sendo que os enfermeiros.portu-gueses tiveram as atitudes mais positivas e os lituanos as mais negativas

Guise et al 2010 Estudo seccional

148 Inglaterra

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliação das atitudes de enfermeiros que trabalhavam com pacientes psiquiátricos

Não houve diferença significativa no escore da escala CAMI entre os questionários

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agudos respondidos na internet e os questionários impressos.

Barke, Nyarko & Klecha

2011 Estudo seccional

508 África

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliar as atitudes da população em relação aos doentes mentais

Os autores encontraram um resultado contraditório, pois embora os respondentes tenham considerado que os doentes mentais não deveriam ser excluídos, consideraram perigoso viver próximo a eles

Schafer, Wood e Williams

2011 Estudo seccional

288 Inglaterra

Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI)

Avaliar as atitudes da Enfermagem em relação aos doentes mentais

conhecer alguém com transtorno mental, a área da enfermagem que estavam cursando (saúde mental), a etnia (ser branco) e conhecer algum paciente que tivesse sofrido discriminação se mostraram importantes preditores de atitudes positivas em relação aos doentes mentais.

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3. JUSTIFICATIVA

As atitudes em relação aos doentes e à doença mental têm recebido considerável

atenção nos últimos 30 anos, em função do movimento de transformação da assistência

no campo da saúde mental que transfere o cuidado de base principalmente hospitalar

para alternativas de atendimento na comunidade.

O processo de reforma psiquiátrica que vem se desenvolvendo no Sistema Único

de Saúde necessita ter seus resultados bem avaliados. Os pacientes psiquiátricos,

principalmente os mais graves precisam de cuidados contínuos e de serviços de

reabilitação psicossocial, sendo que o suporte social e a aceitação da comunidade em

que vivem têm um papel fundamental na sua recuperação e equilíbrio. (Wykes & Sturt,

1986; Leff & Trieman, 2000).

A avaliação, de forma objetiva e criteriosa, tem levado à implantação de projetos

que utilizam escalas para medir a resolutividade dos serviços e a adequação dos

pacientes à nova realidade. Neste contexto, é importante que se estabeleça a prática na

utilização de instrumentos confiáveis na avaliação dos fatores que envolvem e afetam o

atendimento aos transtornos mentais (Lima et al, 2003b ,Bandeira et al., 2007). No Brasil

a quantidade de escalas validadas ainda é pequena, principalmente no que diz respeito a

instrumentos para aferir os resultados da política de desinstitucionalização psiquiátrica.

Em um sistema de saúde que disputa poucos recursos, é imprescindível tentar

determinar como os serviços beneficiam estes pacientes, seus familiares e se atendem

satisfatoriamente às suas demandas. Portanto, as disponibilidades de ferramentas que

possibilitam conhecer os serviços, sua clientela, identificam avanços e barreiras são de

fundamental importância para um planejamento adequado dos serviços e para a

qualificação das redes públicas de saúde. (Holloway et al, 1999 Gonçalves et al, 2001).

A implementação de estudos que avaliem as atitudes dos profissionais de saúde

deve ser encarada como um investimento positivo pelos serviços de saúde. Proporciona

uma medida objetiva da atitude e do conhecimento das pessoas em relação aos usuários

de saúde mental, podendo ser uma ferramenta importante para o hospital geral, no

planejamento da expansão dos seus serviços psquiátricos, criando projetos que

promovam o estabelecimento de relações mais estreitas e aumentem a capacidade do

manejo clínico especializado. Os profissionais de saúde ocupam posições essenciais no

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processo de reabilitação e atenção aos pacientes.

4. OBJETIVOS

4.1 Objetivo geral:

O objetivo desse estudo é avaliar as atitudes positivas e negativas dos profissionais de

saúde de um hospital universitário em relação aos doentes mentais.

4.2 Objetivos específicos:

1. Descrever as características sociodemográficas da população estudada

2. Avaliar a frequência de atitudes positivas e negativas em relação aos doentes mentais

3. Verificar a associação entre as variáveis sociodemográficas e as atitudes dos

profissionais em relação aos doentes mentais.

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5. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo seccional para avaliar as atitudes dos profissionais de saúde

em relação aos doentes mentais, no período de abril a junho de 2013 no Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

5.1 Local do estudo

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho pertence à Universidade Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ),é um hospital de alta complexidade, localizado na Ilha do

Fundão, que conta atualmente com 250 leitos de várias especialidades médica. Foi

inaugurado em 1978 e possuí uma área construída de aproximadamente 110,000 m2 É

vinculado ao Ministério da Educação e ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Neste momento está para ser inaugurada uma enfermaria psiquiátrica com 10 leitos.

Por reunir em um só local ensino, pesquisa científica e assistência à comunidade,

no HUCFF convivem diariamente profissionais diferentes formações e com variadas

funções, como pesquisadores, professores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais,

entre outros. A multidisciplinaridade é uma característica do hospital, que hoje conta com

3.513 servidores, além de médicos residentes, estudantes de medicina e estagiários de

diversos cursos.

5.2 População do estudo

O HUCFF reúne em um só local ensino, pesquisa científica e assistência à comunidade.

Lá convivem diariamente 3.513 profissionais de diferentes formações e com variadas

funções. A população fonte do estudo foram 2435 profissionais que trabalham na área

assistencial, diretamente com o paciente (quadro 2).

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Quadro 2. Profissionais do hospital

Pessoal assistencial 2435

Professores 283

Médicos 445

Enfermeiros 260

Outros prof. de saúde, nível superior 163

Outros prof. de enfermagem, nível médio 901

Outros prof. de saúde, nível médio 249

Outros prof. de saúde, nível apoio 134

5.3 Amostra

A técnica de amostragem foi probabilística, aleatória simples (Neto, 1977).

A amostra foi calculada segundo a fórmula:

Supondo que: A prevalência de atitudes negativas em relação aos doentes mentais seja: p’=20% O erro=5% IC=95%

Totalizou-se assim uma amostra 246 profissionais de saúde divididos entre

médicos, pessoal de enfermagem, outros profissionais de saúde de nível superior e

médio.

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5.4 Descrição do instrumento de pesquisa

A escala Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais (CAMI-BR) é

uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa, elaborada por Taylor e

Dear (1981) e validada por Gonçalves et al. (2009). Dois objetivos direcionaram seu

desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as características

das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes mentais na comunidade e poder

descrever e explicar as reações da comunidade em relação às unidades de atendimento

ao doente mental.

O instrumento consta de perguntas sobre:

Conhecimento sobre doença mental

Reações aos doentes mentais

Conhecimento sobre o tratamento hospitalar psiquiátrico

Conhecimento sobre a mudança do tratamento de base hospitalar para a

comunidade

Atitude em relação à política de atendimento na comunidade

A escala é composta de 40 itens distribuídos em quatro subescalas (cada uma com 10

variáveis). A escala likert de resposta varia de 0 a 4, onde:

0- concordo totalmente, 1- concordo, 2 - tanto faz, 3- discordo e 4- discordo

totalmente.

Quanto maior o escore da escala mais positiva a atitude em relação aos doentes

mentais.

As quatro subescalas são:

1)Autoritarismo: necessidade de hospitalização dos doentes mentais; diferença entre

doentes mentais e pessoas normais; importância do tratamento custodial; causas das

doenças mentais.

2). Restrições sociais: periculosidade dos doentes mentais; manutenção de distância

social; falta de responsabilidade; normalidade do doente mental.

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3) Benevolência: responsabilidade da sociedade em relação aos doentes mentais;

necessidade de atitudes gentis e simpáticas; desejo de se envolver pessoalmente;

sentimentos anti-hospitalização

4) Ideologia da saúde mental comunitária: impacto dos serviços de saúde mental na

vizinhança; perigo que o doente mental representa para os vizinhos; aceitação dos

princípios da desinstitucionalização psiquiátrica.

Nas subescalas Autoritarismo e Restrição social, as cinco primeiras afirmações têm

uma conotação negativa e as cinco últimas uma conotação positiva. Nas subescalas

Benevolência e Ideologia da Saúde Mental Comunitária os itens se apresentam em

disposição contrária. Em função disso, para calcular o escore final é necessário

recodificar os 5 últimos itens das duas primeiras subscalas e os 5 primeiros itens das

duas últimas (quadro 3).

Quadro 3. Recodificação dos itens da escala CAMI CT * C * TF * D * DT *

Autoritarismo negativa: 1,2,3,4 e 5 0 1 2 3 4 positiva: 6,7,8,9 e 10 4 3 2 1 0

Restrição Social negativa: 1,2,3,4 e 5 0 1 2 3 4 positiva: 6,7,8,9 e 10 4 3 2 1 0

Benevolência positiva: 1,2,3,4 e 5 0 1 2 3 4 negativa: 6,7,8,9 e 10 4 3 2 1 0

Ideologia da Saúde Mental Comunitária positiva: 1,2,3,4 e 5 0 1 2 3 4 negativa: 6,7,8,9 e 10 4 3 2 1 0

CT: Concordo Totalmente C: Concordo TF: Tanto Faz D: Discordo DT:Discordo Totalmente

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A escala original possui qualidades psicométricas adequadas de validade de construto,

estabelecida através da análise fatorial, correlação item-total e com consistência interna.

Para três das quatro subescalas os valores de alfa de Cronbach são elevados:

Ideologia da comunidade em relação à saúde mental ( = 0,88); Restrições sociais ( =

0,80); Benevolência ( = 0,76). O coeficiente para Autoritarismo ( = 0,68), embora mais

baixo ainda é satisfatório (Taylor & Dear, 1981).

5.5 Questionário sociodemográfico

O questionário sócio-demográfico foi construído a partir do questionário utilizado por Wolff

et al., (1996a). As variáveis utilizadas foram: idade; sexo; estado civil; número de filhos;

idade dos filhos; nível educacional do entrevistado; ocupação; moradia (própria ou

alugada); religião; utilização de serviços de saúde mental.

5.6 Treinamento dos pesquisadores

O treinamento foi realizado pelos coordenadores do projeto. Foram treinados, após

seleção, 6 alunos da graduação em saúde coletiva. Os pesquisadores de campo

passaram por um treinamento de 20 horas, que incluiu a leitura minuciosa da escala

individualmente e em conjunto, discussão de artigos relacionados ao estudo, simulação

de entrevista supervisionada pelos coordenadores e experimentação de aplicação da

escala em campo, com discussão dessa experiência. Estes procuravam os profissionais e

aguardavam o preenchimento do instrumento. As entrevistas foram de autopreenchimento

e duraram em torno de 15 minutos. Quando os profissionais não eram encontrados, os

entrevistadores foram orientados a deixarem os questionários nos setores com os

supervisores para posterior entrega.

5.7 Análises estatísticas

A entrada dos dados foi feita através de máscara criada no programa EPIINFO

versão3. 5.1

Os dados foram analisados usando a versão 16.0 do SPSS (SPSS Inc. Chicago, IL,

USA).

As variáveis idade e número de filhos foram divididas em grupos iguais de acordo

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com as respectivas medianas (44 para idade e 1 para número de filhos) como ponto de

corte.

Para analisar a proporção das respostas positivas e negativas em cada um dos

itens da

escala, as respostas foram recodificadas, utilizando os seguintes critérios: as respostas 0

e 1 ( concordo totalmente e concordo) foram transformados em 1, a resposta 2 ( tanto faz)

se manteve e as respostas 3 e 4 ( discordo e discordo totalmente) foram transformada

em 3.

Entretanto, para o cálculo das médias por subescala , mantiveram-se as respostas

originais, ou seja, os parâmetros oscilando entre 0 a 4.

Foram calculadas médias para todas as subescalas. Foi feita a análise univariada

das variáveis sociodemográficas e foram utilizadas as técnicas estatísticas descritivas tais

como: freqüência, média, e desvio padrão.

Para avaliar a relação entre diferentes subescalas e as características individuais da

amostra, foram utilizados Teste-t de Student, quando as variáveis eram dicotômicas e

Análise de Variância (ANOVA) quando não.

Foi realizado um teste de duas proporções para cada item da escala (Concordo

Fortemente/Concordo e Discordo Fortemente/Discordo) para detectar quais itens teriam

maior rejeição por parte dos entrevistados.

Para investigar o quanto as características individuais dos funcionários predizem suas

atitudes nas diferentes escalas da CAMI foi feito uma Análise Multivariada de Variância

(MANOVA). A MANOVA foi escolhida porque controla a intercorrelação entre as variáveis

dependentes (subscalas da CAMI) através de múltiplos testes de correlação entre elas

(Tabachnick & Fidell, 2001). O resultado será considerado estatisticamente significativo

quando o p-valor foi igual ou menor que 0,05.

5.8 Questões Éticas

O estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos

em Saúde Coletiva IESC, parecer n0 206.501 e Hospital Universitário Clementino Fraga

Filho (HUCFF) da UFRJ, parecer n0 214.181. (CAAE: 08029512.6.0000.5286)

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5.9. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

1. Por se tratar de um estudo transversal, os resultados estão sujeitos ao viés temporal

2. Como a população estudada tem características particulares, os resultados podem não

ser representativos para outras populações.

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6. REFERÊNCIAS

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7. Artigo 1

Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais

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Capítulo 9

Atitudes da Comunidade em relação aos doentes mentais

Sylvia Gonçalves

Lúcia Abelha

Letícia Legay

Giovanni Marcos Lovisi

O estigma em relação aos doentes mentais é um dos principais fatores que prejudica a

adaptação dos pacientes na comunidade. A preocupação com as atitudes da sociedade vem

aumentando nas últimas décadas e vários estudos demonstraram a maneira como as pessoas

constroem categorias cognitivas e as relacionam às categorias de crenças estereotipadas. Link e

Phelan (2001) destacaram que o estigma vem acompanhado dos seguintes componentes: rotulação,

estereótipos, segregação, perda de status e discriminação.

Dessa maneira, à medida que alguém é rotulado como doente mental passa automaticamente

a sofrer as consequências da discriminação. O estudo e o combate ao estigma são importantes, pois

este, além de afetar vários aspectos da vida das pessoas, pode ter uma influência dramática sobre a

distribuição de oportunidades em áreas como: salário, moradia, envolvimento criminal, saúde, entre

outras. Parker (2012) aborda a questão do estigma como um processo de perpetuação e reprodução

de poder e controle, onde um grupo é valorizado em detrimento de outro.

Historicamente, os pacientes psiquiátricos, principalmente os portadores de esquizofrenia,

tem sido discriminados, e sua imagem vem sendo associada à violência, à incapacidade e à falta de

confiança. O medo e o estereótipo continuam a ser um obstáculo para a eficácia do tratamento e

para a reintegração social dos pacientes. Os efeitos da discriminação têm um impacto negativo, não

só no relacionamento interpessoal, mas também no desempenho de papéis sociais e ascensão social

do paciente. Estas experiências constituem uma barreira à sua melhora clínica, limitando as

oportunidades e reduzindo sua autoestima (Gonzalez-Torres, Oraa, Aristeg, Fernández-Rivas &

Guimon, 2007). Este capítulo apresenta a conceituação de estigma, a avaliação deste construto,

alguns estudos internacionais e nacionais relacionados a esta temática, terminando com a descrição

da escala de Atitudes a Comunidade em Relação aos Doentes Mentais (CAMI-BR), validada para o

Brasil pelos autores.

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Conceituação e aplicações

Goffman (1963) definiu estigma como uma característica que desacredita e marca a pessoa,

reduzindo-a a uma categoria inferior. Esta conceituação foi amplamente utilizada e ampliada por

estudiosos de áreas distintas do conhecimento. O estigma se manifesta diminuindo a autoestima do

indivíduo, causando medo, estereótipos, dificultando a socialização, as relações afetivas, a procura

de tratamento e de emprego. Jones et al. (1984) partiram da definição de Goffman para definir

estigma como um atributo que vincula o indivíduo a uma característica indesejável (estereótipo).

Link e Phelan (2001) afirmam existir dois desafios principais para conceituar o estigma: o

primeiro seria o fato de que a maioria dos pesquisadores não pertence ao grupo dos estigmatizados,

o que levaria a um entendimento distorcido sobre a experiência destes indivíduos e também a

conclusões pouco fundamentadas. O segundo, o fato de que as pesquisas têm um foco

individualizado, ou seja, o estigma é visto como algo do próprio indivíduo e não como uma marca

colocada nele por outros. Sayce (1998) discute bem esta questão diferenciando estigma de

discriminação. Esta última diz mais respeito à exclusão (àqueles que discriminam) do que àqueles

que são estigmatizados.

Link e Phelan (2001) conceitualizam o estigma a partir de quatro componentes que se

interrelacionam. Primeiro, as pessoas apontam e rotulam as diferenças humanas. Depois, crenças

culturais dominantes vinculam essas pessoas rotuladas a características indesejáveis ou estereótipos

negativos. Em seguida, as pessoas rotuladas são colocadas em diferentes categorias que as separam

das outras. Finalmente, esta estigmatização tem como resultado um acesso desigual às forças e

benefícios políticos, sociais e econômicos. Grupos estigmatizados têm acesso desigual a emprego,

educação, saúde e bem estar social.

O estigma pode ocorrer em três diferentes níveis: público, estrutural e internalizado. O

estigma público ou social existe no nível do grupo, que assume estereótipos sobre as pessoas

estigmatizadas e atitudes hostis em relação a elas. O estigma estrutural ou institucional acontece no

nível macro e diz respeito a regras, políticas e atitudes que restringem os direitos e oportunidade dos

discriminados. O estigma internalizado ou pessoal existe no nível do indivíduo e é um processo em

que a pessoa afetada antecipa a rejeição social, assume a inferioridade e se considera um membro

inferior da sociedade (Corrigan, Kerr & Knudsen, 2005; Herek, 2007).

Thornicroft, Rose, Kassam e Sartorius (2007) revisaram a definição acima, tendo

acrescentado, além dos elementos estereótipo, preconceito e discriminação, mais três componentes:

problemas de conhecimento (ignorância), problemas de atitudes (preconceito) e problemas de

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comportamento (discriminação).

Em relação ao estigma internalizado ou pessoal, Brohan, Slade, Clement e Thornicroft

(2009) consideraram três tipos: estigma percebido, estigma experimentado e autoestigma. O

estigma percebido diz respeito à maneira como o indivíduo percebe o pensamento das pessoas a

respeito do grupo estigmatizado e ao que ele pensa sobre a opinião da sociedade sobre este grupo. O

estigma experimentado relaciona-se à experiência real de discriminação por parte do indivíduo, ou

seja, à vivência de exclusão ou restrição à participação em grupos e em eventos sociais, levando a

um sentimento de inferioridade e não aceitação. O conceito de autoestigma se refere principalmente

à internalização do estigma público (maneira como a sociedade estigmatiza as pessoas). Inclui

sentimentos de vergonha, inferioridade, culpa e medo, diminuindo a autoestima e favorecendo o

afastamento social. Este capítulo tratará exclusivamente do estigma público ou social e,

consequentemente, da avaliação das atitudes da sociedade em relação aos doentes mentais.

O estigma afeta profundamente a maneira como a comunidade responde às necessidades dos

doentes mentais. As escolas, os serviços de saúde, os empregadores têm diferentes atitudes em

relação aos portadores de transtornos mentais, de acordo com seus preconceitos. Estes últimos, por

outro lado, serão afetados de várias maneiras, muitas vezes evitando procurar ajuda com medo de

serem rotulados.

O modelo assistencial baseado na reintegração do doente mental em áreas residenciais ainda

sofre alguns entraves, e um dos principais obstáculos é a atitude negativa da comunidade. Ainda é

forte a idéia de que esses pacientes devem ser excluídos e tratados em instituições fechadas e a falta

de conhecimento sobre os serviços de Saúde Mental reforça a rejeição em relação a este grupo. A

segregação e a exclusão desses pacientes geram um obstáculo para a sua melhora terapêutica e para

um tratamento bem-sucedido (Rossler & Salize, 1995; Wolff, Pathare, Carig, & Leff, 1996b).

O processo de implantação e expansão dos serviços residenciais é relativamente recente no

Brasil. Exige uma articulação bem desenvolvida com a vida cotidiana, com a vizinhança, com

outros setores, agregando saberes que envolvem a dimensão humana. O ritmo de expansão destes

serviços deve obedecer a esta articulação, e a aceitação da comunidade é o ponto crucial na

dinâmica das relações entre os usuários e a comunidade e entre usuários e tratamento terapêutico,

no processo de habitar os espaços da cidade, diminuindo o estigma e possibilitando a ampliação da

rede social.

Entretanto, o cuidado com a escolha do local e o cuidado no processo de implantação destes

serviços é fundamental, pois as residências terapêuticas com maior grau de aceitação parecem ser as

que estão localizadas em regiões centrais das cidades, com grande rotatividade de população. A

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integração parece ser mais difícil em bairros estritamente residenciais, pois estes tendem a ser uma

sociedade mais fechada (Trute & Segal, 1976).

A avaliação das atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais é uma etapa

importante na elaboração de estratégias para a implantação de novos serviços, já que a reintegração

e reinserção dos pacientes, muitos com uma rede social prejudicada, dependem do acolhimento e da

receptividade que encontram (Hannignan, 1999; Maclean, 1969; Taylor & Dear, 1981; Schomerus

Matschinger, Kenzin, Breier, & Angermeyer, 2006; Wolff, Pathare, Carig, & Leffl, 1996a).

Estudos que avaliaram as atitudes da comunidade

Avaliar a opinião pública sobre os transtornos mentais é fundamental para entender e reduzir

o estigma. Inquéritos populacionais identificam níveis de consciência, crenças, medos e estereótipos

em relação aos pacientes. Porém, podem subestimar as atitudes negativas, pois aqueles

desinteressados ou não afetados podem se recusar a participar da pesquisa e muitos podem dar a

resposta que consideram mais socialmente adequada (Byrne, 2001).

A grande maioria dos estudos sobre atitudes em relação aos doentes mentais foi

desenvolvida nos países desenvolvidos, como a Inglaterra e Alemanha. Prevaleceram os estudos

seccionais, sendo a CAMI (Taylor & Dear, 1981) o principal instrumento utilizado. O grupo sócio

econômico mais baixo, de menor nível educacional, e as pessoas de minoria étnicas, foram os que

apresentaram atitudes mais negativas em relação aos pacientes. O contato direto é um importante

fator para determinar atitudes positivas em relação aos doentes mentais. Os estudos mais recentes

demonstraram que o contato com os doentes mentais é capaz de produzir profundos efeitos na

formação de atitudes em relação a estes pacientes, já que inclui não apenas o aspecto cognitivo, mas

também os aspectos afetivo e comportamental das relações interpessoais. O estigma e o

preconceito, favorecendo atitudes negativas, continuam fortemente arraigados nas relações sociais

das diferentes culturas.

Os principais instrumentos utilizados nos estudos foram: Opinions about Mental Illness

(OMI) (Cohen & Struening, 1962) e sua adaptação para o contexto brasileiro: Opiniões sobre a

Doença Mental (ODM) (Rodrigues, 1983; Rodrigues, 1992); Discrimination-Devaluation Scale

(Link, 1987) com duas versões: uma que avalia as atitudes da comunidade em relação aos doentes

mentais e outra que avalia a percepção dos pacientes em relação à discriminação e a escala

Community Attitudes Towards the Mentally Ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981).

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Estudos Internacionais

Wolff, Pathare, Carig e Leff (1996a) realizaram um inquérito, antes da abertura de duas

residências terapêuticas para doentes mentais em uma comunidade em Londres, com 305 moradores

próximos a esses serviços, utilizando a escala CAMI. A entrevista consistiu de questões que

incluíam: (a) dados demográficos, (b) conhecimento sobre doença mental, (c) reações em relação a

doentes mentais, (d) conhecimento do tratamento psiquiátrico nos hospitais, (e) conhecimento sobre

a mudança no modelo assistencial (do hospital para a comunidade) de pacientes psiquiátricos, (f)

atitudes da comunidade em relação às políticas de saúde, e (g) opiniões sobre a necessidade de

educação da comunidade. Os entrevistados também completaram um questionário de autoavaliação

sobre o medo e atitudes comportamentais em relação aos doentes mentais, elaboradas especialmente

para este estudo.

Os resultados do estudo de Wolff, Pathare, Carig e Leff (1996a) mostraram uma associação

entre classe social e atitudes relacionadas ao controle de doentes mentais. Atitudes de maior

restrição e menos liberdade em relação aos doentes mentais estavam associadas a classes sociais

mais baixas e um menor controle social estava associado às classes mais altas. Foi encontrada,

ainda, uma associação entre nível educacional mais alto e atitudes de benevolência em relação aos

doentes mentais. Os autores sugeriram ser possível que a relação entre atitudes negativas e variáveis

sociodemográficas, como classe social e nível educacional, fossem mediadas por falta de

conhecimento sobre o tema. Os entrevistados afirmaram sentir medo de doentes mentais porque não

tinham conhecimento sobre a doença mental e não saberiam como reagir em diferentes situações.

Nesse estudo, o medo do desconhecido parece ter sido o fator decisivo na geração de medo em

relação aos pacientes psiquiátricos. Este resultado contrasta diretamente com os achados de Taylor e

Dear (1981), onde a educação teve o maior efeito em relação a atitudes de restrição social. Outros

estudos relataram uma correlação direta entre maior nível educacional e maior tolerância

(Brockington, Hall, Levings, & Murphy, 1993).

Variáveis sociodemográficas, como classe social, nível educacional, idade e sexo, são

capazes de influenciar atitudes em relação aos doentes mentais. Crisp, Rix, Meltzer e Rowlands

(2000), trabalhando para o Royal College of Psychiatrists, entrevistaram 1737 pacientes utilizando a

escala CAMI, como parte de uma campanha para reduzir o estigma em relação aos pacientes com

diferentes transtornos mentais. Os resultados mostraram que 71,3% das pessoas achavam que os

doentes mentais, em especial os esquizofrênicos, eram um perigo para a sociedade e 77,3%

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consideraram que eles eram imprevisíveis. Ao contrário de Byrne (1997), não foi encontrada

diferença significativa entre entrevistados que conheciam e aqueles que não conheciam alguém com

transtorno mental. Dentre outros fatores que influenciam as atitudes em relação a doentes mentais,

os que já foram extensivamente estudados são: (1) fatores sociodemográficos; (2) conhecimento

sobre doença mental; e (3) experiência pessoal com doentes mentais.

Outro estudo de Wolff, Pathare, Carig e Leff (1996b), utilizando a CAMI, avaliou o sucesso

de uma campanha educacional em uma área residencial onde seria construído um serviço de Saúde

Mental. O programa educacional teve pouco efeito nos níveis de conhecimento sobre Saúde

Mental, mas houve uma melhora nas atitudes em relação aos doentes mentais. A conclusão dos

autores, nos seus dois estudos, foi a de que o contato com estes pacientes parece ser mais

importante na formação de atitudes do que apenas a informação.

Madianos, Economou, Hatjiandreou, Papageorgiou e Rogakou (1999) estudaram duas

amostras de moradores de dois bairros próximos a um Centro de Saúde Mental em Atenas. O estudo

foi conduzido em dois momentos (1979/1980 e 1994), com o objetivo de detectar mudanças de

atitude em relação aos pacientes utilizando a escala OMI (Cohen e Struening,1962). Os autores

concluíram que houve um aumento da tolerância e das atitudes positivas em relação aos doentes

mentais, provavelmente em função dos programas educacionais e preventivos implementados.

Sévigny et al. (1999) realizaram um estudo transversal em um grande hospital psiquiátrico

na China, comparando as atitudes dos médicos com a atitude dos enfermeiros em relação aos

doentes mentais. O instrumento utilizado foi a escala CAMI, em uma versão adaptada pelos autores

para a população chinesa. Os médicos mostraram atitudes mais liberais e positivas, principalmente

em questões que envolviam o tratamento na comunidade. Os enfermeiros atribuíram mais

características negativas aos pacientes com transtornos mentais, por exemplo: no item “A maior

parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser confiável como babá”

tenderam a discordar da afirmativa forte ou muito fortemente.

Ng e Chan (2000) estudaram as diferenças de atitudes de rapazes e moças de uma escola

secundária na China em relação aos doentes mentais, utilizando a Opinion about Mental Illness in

Chinese Community (OMICC), adaptação chinesa da escala OMI (Cohen & Struening, 1960). Os

autores concluíram que os estudantes do sexo masculino apresentavam opiniões mais

estigmatizantes, restritivas e estereotipadas, enquanto as do sexo feminino se mostraram mais

benevolentes.

Papadopoulos, Leavey e Vincent (2002) também demonstraram, em estudo de uma

população de gregos e ciprianos na Inglaterra, que havia uma relação entre falta de conhecimento e

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atitudes preconceituosas em relação aos doentes mentais. O estudo, que utilizou a escala CAMI,

demonstrou que os gregos e ciprianos tinham menos contato com os pacientes, menos

conhecimento sobre transtornos mentais e opiniões mais estigmatizantes do que os ingleses.

Song, Chang, Shih, Lin e Yang (2005) fizeram um estudo, também em Taiwan (China),

sobre as atitudes da população em relação aos doentes mentais utilizando a escala CAMI. Os

resultados mostraram que, embora a população tenha uma boa aceitação dos pacientes na

comunidade, acredita que devam ser tratados de forma diferenciada, com mais controle e disciplina.

Buizza, Pioli, Vittorelli, Corradi e Rossi (2005), estudando o estigma em relação aos doentes

mentais na população italiana, destacaram a importância de promover intervenções na comunidade

no intuito de melhorar as atitudes em relação aos pacientes e ações específicas para prevenir ou

eliminar preconceitos em subgrupos da população. O instrumento utilizado no estudo foi a escala

CAMI.

Schomerus, Matschinger, Kenzin, Breier e Angermeyer (2006) compararam as atitudes da

comunidade em relação aos portadores de transtornos mentais a partir de um inquérito realizado em

3 países: Rússia (n=745), República Eslovaca (1000) e Alemanha (453). O instrumento utilizado foi

a Discrimination-Devaluation Scale (Link,1987), na sua versão para avaliar o estigma público ou

social. Os três países, apesar de estarem em estágios diferentes da Reforma Psiquiátrica,

apresentaram uma atitude pouco favorável em relação aos pacientes psiquiátricos.

Adewuia e Oguntade (2007) estudaram as atitudes de 315 médicos em relação à doença

mental na Nigéria. Para avaliar a aceitação social e o estigma, os autores utilizaram a escala

Discrimination-Devaluation Scale (Link, 1987) na sua versão para avaliar o estigma público ou

social. Os resultados mostraram que os doentes mentais eram vistos pelos médicos como perigosos

e com prognóstico reservado. Foi observada, também, uma grande distância social entre os médicos

e pessoas portadoras de transtornos mentais. Os autores ressaltaram a importância de modificações

no currículo médico e de campanhas antiestigma.

Vibha, Saddichha e Kumar (2008) estudaram, na Índia, as atitudes de atendentes de

enfermagem que trabalhavam em uma enfermaria psiquiátrica e atendentes que acompanhavam

pacientes na comunidade. Não foi observada diferença entre os grupos em relação às duas primeiras

subescalas (Autoritarismo e Benevolência) da escala CAMI, mas sim em relação às demais

subescalas (Restrição social e Ideologia Comunitária de Saúde Mental Comunitária), sendo que os

atendentes enfermagem que trabalhavam na enfermaria foram os que apresentaram uma atitude

mais favorável.

Högberg, Magnusson, Ewertzon e Lützén (2008) adaptaram a escala CAMI para o contexto

cultural sueco. A versão sueca apresentou um valor elevado do Coeficiente de Cronbach para o total

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da escala (α = 0,90). Após a análise fatorial, a escala passou a apresentar 3 subescalas e um total de

20 itens. A primeira subescala, denominada mente aberta e pró-integração, ficou com nove itens e

incluiu os sentimentos de simpatia, valor do tratamento na comunidade, aceitação dos princípios da

desinstitucionalização e integração. A segunda subescala, denominada medo e afastamento, ficou

com seis itens que incluem os sentimentos de periculosidade do paciente psiquiátrico. A terceira

subescala, denominada ideologia comunitária de saúde mental, ficou com cinco itens que incluem

os sentimentos de responsabilidade da sociedade pelas pessoas com transtornos mentais graves e de

manutenção da distância social.

Mehta, Kassam, Leese, Butler e Thornicroft (2009) fizeram dois estudos longitudinais na

Inglaterra e na Escócia, utilizando um inquérito para avaliar as atitudes da população destes dois

países em relação aos doentes mentais, um no período 1994-1997 (anual) e outro realizado no

período 2000-2003. O estudo utilizou 26 itens extraídos dos 40 itens da CAMI. Os resultados

mostraram que as atitudes na Inglaterra deterioraram bastante, comparativamente às atitudes na

Escócia, após 2000. Esta mudança para pior, na Inglaterra, pode ter sido devido a publicações na

mídia associando violência à doença mental. As atitudes foram melhores na Escócia, provavelmente

em função da Campanha See me contra o estigma, lançada em 2000.

Chambers et al. (2010) estudaram as atitudes de enfermeiros psiquiátricos em relação aos

pacientes em cinco países da Europa: Finlândia, Lituânia, Islândia, Itália e Portugal. Os enfermeiros

demonstraram uma atitude mais favorável na subescala Benevolência da escala CAMI, o que

demonstra uma simpatia em relação às pessoas com transtornos mentais. Na subescala

autoritarismo, observou-se uma atitude mais desfavorável aos pacientes (embora sem significar

rejeição). Os resultados mostraram diferenças entre os enfermeiros dos diversos países nas quatro

subescalas, sendo que os enfermeiros portugueses tiveram as atitudes mais positivas e os lituanos as

mais negativas. Os autores ressaltaram que o estudo reflete diferenças no nível de treinamento e

educacional, assim como diferenças culturais entre os enfermeiros.

Guise, Chambers, Välimaäki e Makkonen (2010) realizaram um estudo de avaliação das

atitudes de enfermeiros que trabalhavam com pacientes psiquiátricos agudos, utilizando a escala

CAMI. A metodologia inicial foi a disponibilização dos questionários para a população alvo via

internet. A seguir, após uma segunda chamada por e-mail, o questionário impresso era enviado pelo

correio aos não respondentes. O desenho misto utilizado foi considerado um sucesso, pois diminuiu

consideravelmente a taxa de não resposta. O uso de e-mails como instrumento de lembrança para

preenchimento do questionário via WEB teve um impacto positivo no retorno dos questionários.

Não houve diferença significativa no escore da escala CAMI entre os questionários respondidos na

internet e os questionários impressos.

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Barke, Nyarko e Klecha (2011) realizaram um estudo sobre as atitudes da população de

Gana (África) em relação aos doentes mentais. Os autores encontraram um resultado contraditório,

pois embora os respondentes tenham considerado que os doentes mentais não deveriam ser

excluídos, consideraram perigoso viver próximo a eles. Os autores alertaram que a interpretação da

escala CAMI, neste estudo, deve levar em conta a escassez de recursos na área de saúde mental no

país. A dificuldade de acesso a serviços, mais do que o autoritarismo, pode ter sido responsável por

respostas positivas ao item “Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais

de distúrbio mental”.

Schafer, Wood e Williams (2011) estudaram as atitudes de estudantes de enfermagem em

relação à doença mental de uma grande universidade inglesa. A escala utilizada no estudo foi a

CAMI. Os resultados mostraram que as variáveis conhecer alguém com transtorno mental, a área da

enfermagem que estavam cursando (saúde mental), a etnia (ser branco) e conhecer algum paciente

que tivesse sofrido discriminação se mostraram importantes preditores de atitudes positivas em

relação aos doentes mentais.

Estudos Nacionais

Pedrão, Avanci e Malaguti (2002) estudaram alunos iniciantes do curso de enfermagem, com

o objetivo de verificar as atitudes em relação aos transtornos mentais e aos pacientes psiquiátricos,

utilizando a escala ODM (Rodrigues, 1983; Rodrigues, 1992). Os resultados demonstraram que o

perfil dos estudantes tinha um caráter autoritário, restritivo e discriminador, além de apresentar

desconfiança em relação aos pacientes psiquiátricos. Os autores destacaram a importância da

estruturação das disciplinas de ensino da área de enfermagem psiquiátrica, como uma estratégia

para minimizar os fatores que podem influenciar nas atitudes negativas dos alunos frente aos

pacientes.

Pedrão et al. (2005) fizeram um estudo para comparar as atitudes dos formandos em

enfermagem brasileiros, chilenos e peruanos em relação à doença mental, utilizando a escala ODM.

Os formandos brasileiros apresentaram atitudes mais positivas em relação aos pacientes, quando

comparados aos outros dois grupos. Os autores concluíram que a conduta profissional, quando

trabalhada precocemente, pode predizer ações menos preconceituosas.

Delevati e Palazzo (2001) estudaram a atitude de empresários do sul do País em relação à

doença mental, utilizando a escala ODM. Os resultados mostraram que os sujeitos não acreditavam

na recuperação dos pacientes, considerando-os perigosos, e eram favoráveis à sua exclusão da

sociedade, apesar de terem uma atitude protecionista em relação aos mesmos.

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65

Descrição da escala CAMI

Desenvolvimento da escala original

A primeira escala desenvolvida com o objetivo de avaliar as atitudes da comunidade diante

dos pacientes psiquiátricos foi a escala Opinions about Mental Illness (OMI). Esta escala foi

desenvolvida em 1962, por Cohen e Struening, utilizando as respostas de 1.195 trabalhadores de

dois grandes hospitais psiquiátricos. Na sua construção, foram incluídos itens das seguintes escalas:

California F-scale (Adorno, Frenkel-Brunswick, Levinson, & Sanford, 1950), Custodial Mental

Illness Ideology Scale (Gilbert & Levinson, 1956), e Nunnally’s Scale of Popular Concepts of

Mental Health (Nunnally, 1961). A partir destas escalas, os autores construíram um instrumento

contendo setenta itens. Após a análise do questionário, os itens foram agrupados em cinco

dimensões e, em trabalho subseqüente, reduzidos para 51 itens.

As cinco dimensões identificadas foram: (1) autoritarismo – a obediência à autoridade é

importante e pessoas com doença mental são inferiores e não têm a capacidade de obedecer a

regras, necessitando tratamento coercivo; (2) benevolência – traduz uma visão paternalista em

relação aos doentes mentais; (3) ideologia de higiene mental – a doença mental é uma doença como

outra qualquer; (4) restrição social - alguns eventos devem ser restringidos para os doentes mentais,

como casamento, voto, capacidade de ter filhos etc.; e (5) etiologia interpessoal – a doença mental

se origina de experiências interpessoais (Link, Yang, Phelan, & Collins, 2004).

A política de desinstitucionalização e o destaque para fatores genéticos na etiologia dos

transtornos mentais são exemplos de questões que surgiram depois do desenvolvimento da OMI.

Para sanar esta defasagem, foi criada, em 1981, a escala Community attitudes towards the mentally

ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981). Dois objetivos direcionaram seu desenvolvimento: a construção

de um instrumento capaz de diferenciar as características das pessoas que aceitam das que rejeitam

os doentes mentais na comunidade e a descrição e explicação das reações da comunidade em

relação às unidades de atendimento ao doente mental.

A CAMI usa a OMI como base conceitual e procura reproduzir três de suas cinco dimensões

(autoritarismo, benevolência e restrição social). A quarta dimensão (Ideologia da Saúde Mental

comunitária) da CAMI foi desenvolvida a partir da escala Community Mental Health Ideology

(CMHI), elaborada por Baker e Schulberg (1967).

A CAMI é uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa, elaborada por

Taylor e Dear (1981). Foi adaptada para o Brasil por Gonçalves, Abelha, Legay e Lovisi (2008). A

escala original contém 40 itens, dez para cada uma das quatro dimensões propostas. Os valores

encontrados referentes à consistência interna das quatro subescalas, avaliada por meio dos escores

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66

de Alfa de Cronbach, foram: autoritarismo: 0,68; benevolência: 0,76; restrição social: 0,80; e

ideologia da Saúde Mental comunitária: 0,88. Foi encontrada uma alta correlação entre as

subescalas e algumas variáveis sócio-demográficas: sexo, idade, ocupação, renda. A CAMI inclui

perguntas sobre: conhecimento sobre doença mental, reações aos doentes mentais, conhecimento

sobre o tratamento hospitalar psiquiátrico, conhecimento sobre a mudança do tratamento de base

hospitalar para a comunidade e atitude em relação à política de atendimento na comunidade.

As quatro subescalas da CAMI são: Autoritarismo, Benevolência, Restrição social e

Ideologia da Saúde Mental comunitária. As respostas para cada uma das questões são distribuídas

em uma escala tipo Likert de 5 pontos (concordo totalmente, concordo, tanto faz, discordo, discordo

totalmente). A escala adota uma estratégia de variar a ordem da conotação positiva/negativa nas

subescalas, ora as afirmações sendo positivas, ora sendo negativas. Em função desta estruturação,

para calcular o escore final é necessário recodificar os 5 últimos itens das duas primeiras subescalas

e os 5 primeiros itens das duas últimas. Após a recodificação, quanto maior o escore (somatório dos

itens), mais positiva as atitudes em relação aos doentes mentais, variando de 0 a 40. Alguns estudos

trabalham com escores médios em vez de trabalhar com somatório. Neste caso, quanto mais

próxima de 4 estiver a média, mais positivas as atitudes.

Versão Brasileira da escala CAMI

A versão brasileira da escala foi denominada Atitudes da Comunidade em Relação aos

Doentes Mentais, com a sigla CAMI-BR. Esta escala apresentou alta consistência interna, avaliada

pelos escores de Alfa de Cronbach (α = 0,84). Três das quatro escalas também apresentaram alta

consistência interna: Ideologia da saúde mental comunitária (α=0,81), Restrição social (α=0,76) e

Benevolência (α= 0,69). O coeficiente para a subescala Autoritarismo (α=0,35), embora bem mais

baixo, é considerado ainda regular (Gonçalves, 2009).

Os resultados da análise de confiabilidade teste-reteste, determinados pelo Índice de

Correlação Intraclasse (ICC), no escore total e nas subescalas, oscilaram de regular a substancial.

Dentre as subescalas, a que mostrou maior estabilidade temporal foi a de Restrição social

(ICC=0,64 (IC95% = 0,45 – 0,78)), seguida de Benevolência (ICC=0,62 (IC95%=0,41 – 0,76)),

Ideologia Comunitária de Saúde Mental (ICC=0,54 (IC95%=0,31 – 0,71) e Autoritarismo (ICC=

0,37 (IC95%= 0,11 – 0,59)). A fidedignidade do resultado global da escala foi substancial

(ICC=0,69 (IC95% = 0,52 – 0,81)). Esse resultado é coerente com a da análise de consistência

interna da escala e das subescalas (Gonçalves, 2009).

A escala brasileira, após cumpridas todas as etapas exigidas internacionalmente, desde a

tradução até sua aplicação em população teste e análise psicométrica, resultou em uma escala de

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE … · No Brasil há uma carência de estudos na avaliação das atitudes da comunidade em relação aos pacientes psiquiatricos

67

linguagem clara, compreensível e fácil aplicabilidade. A escala pode ser obtida na íntegra no artigo

que se encontra no site: http://www.iesc.ufrj.br/cadernos/images/csc/2008_4/artigos/Art1_2008-

4%20_Sylvia.pdf

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8. Artigo 2

Atitudes frente ao paciente psiquiátrico: um estudo com profissionais de saúde em um hospital universitário no Rio de Janeiro

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72

Atitudes frente ao paciente psiquiátrico: um estudo com profissionais de saúde em um

hospital universitário no Rio de Janeiro

Attitudes towards the mentally ill: a study with health workers at a university hospital in Rio

de Janeiro

Sylvia Gonçalves, Diego Fonseca, Giovanni Lovisi, Leticia Legay, Lúcia Abelha

Resumo

Os profissionais de saúde ocupam posições essenciais no processo de tratamento

e reabilitação dos pacientes psiquiátricos, portanto avaliar as atitudes dos profissionais da

área de saúde em relação à doença mental e ao paciente é fundamental. O objetivo desse

estudo é avaliar as atitudes dos profissionais de saúde de um hospital universitário em

relação aos doentes mentais. Trata-se de um estudo transversal em uma amostra 246

profissionais de saúde utilizando a escala Community Atitudes toward Mentally Ill (CAMI-

BR). O principal achado desse estudo foi que os profissionais de algumas categorias

ainda têm restrições nas atitudes em relação aos pacientes que apresentam transtornos

mentais. O escore nas subescalas foi de razoável a bom, sendo que a subescala que

apresentou a pontuação mais baixa foi Autoritarismo a que apresentou o escore mais alto

foi Benevolência. As variáveis sociodemográficas que mantiveram associação com as

atitudes positivas ou negativas após aplicação da MANOVA foram: Estado civil, Categoria,

Educação. Existe ainda uma atitude preconceituosa em relação aos pacientes, mas por

outro lado essa população já incorporou a ideia de que os pacientes devem ser tratados e

viver na comunidade e.

Palavras chave: Atitude do pessoal de saúde, Estigma social, Desinstitucionalização

Abstract Health workers have key positions on treatment and rehabilitation of psychiatric patients,

therefore assess the attitudes of health professionals towards mental illness and the

patient is essential. The aim of this study is to assess the attitudes of health professionals

at a university hospital towards the mentally ill. It is a cross-sectional study in a sample of

246 health professionals using the scale Community Atitudes toward Mentally Ill (CAMI-

BR). The main finding of this study was that some professionals categories still have

restrictions in attitudes towards patients with mental disorders. The scores on the

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subscales were fair to good, and the subscale that showed the lowest score was

Authoritarianism and the one with the highest score was Benevolence. The

sociodemographic variables that remained associated with positive or negative attitudes

after application of MANOVA were: Marital Status, Occupation and Education. There is

also a discriminatory attitude towards patients, but otherwise this population has already

incorporated the idea that patients should be treated and live in the community.

Keywords: Attitudes of health personnel; Social stigma, deinstitucionalization

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74

INTRODUÇÃO

As atitudes de cunho discriminatório, direcionada as pessoas com transtorno

mental, representam uma grande preocupação, não apenas de âmbito nacional, mas

também internacional, causadas muitas vezes por comportamentos estigmatizantes

(STUART et al., 2005). Tais comportamentos apresentam um impacto extremamente

negativo, tanto para os pacientes quanto para seus familiares que precisam lidar com

determinadas situações, ora nos atendimentos de saúde ora em outras ocasiões, nos

vínculos sociais. (PERLICK et al., 2001; CORRIGAN, 2004).

O processo da reforma psiquiátrica vem se intensificando nos últimos anos no

Brasil. Apesar dos esforços no sentido de transferir os cuidados aos pacientes

psiquiátricos do hospital para a comunidade, até o momento o número de serviços de

saúde mental no Brasil ainda é insatisfatório para cobrir toda a demanda (Brasil, 2011).

Dados na literatura, cada vez mais apontam para as atitudes negativas em relação

aos pacientes psiquiátricos e comportamentos dos profissionais de saúde buscando

alertar para o reconhecimento de que tais atitudes são negativas afetando a qualidade de

vida do paciente (LINK et al., 1987). Em virtude dessa crescente preocupação, vários

estudos sugerem que um maior contato com pessoas portadoras de doença mental reduz

o estigma discriminatório (PENN et al., 1994; ARGERMEYER et al., 2005).

Em muitos países o processo de desinstitucionalização levou à substituição dos

hospitais psiquiátricos para os serviços da comunidade e para a Unidade Psiquiatrica em

Hospital Geral (UPHG). Estes leitos são fundamentais, tendo em vista o importante papel

estratégico desses serviços na rede de cuidados ao doente mental. Uma vez que a

questão da assistência ao indivíduo em sofrimento psíquico precisa de diferentes espaços

de atenção, tem que ser dispensado um esforço especial para qualificar e informar os

profissionais que já estão atuando na área ( Mion & Schneider, 2003).

Botega e Dalgalarrondo (1997) pontuam que a internação em hospital geral

contribui para a diminuição do estigma em relação ao paciente psiquiátrico, pois ele seria

visto como outro doente qualquer. O investimento nas UPHG ainda é muito pequeno e

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enfrenta principalmente dois tipos de problemas: preconceito e escassez de recursos

financeiros. Por outro lado os pacientes muitas vezes são tratadas em Hospital Geral por

uma equipe de funcionários que não tem formação nem capacitação em saúde mental.

Estudos que buscam apresentar o perfil dos profissionais da área de saúde acerca

de suas atitudes frente à doença mental e ao seu paciente, têm sido de grande valia. O

cuidado com a preparação na formação dos profissionais de saúde no campo da saúde

mental tem uma enorme importância para que os mesmos possam desenvolver

capacidades que os tornem capazes de contribuir na melhora e qualidade de vida dos

pacientes, assim como seu desenvolvimento e convívio, tanto familiar quanto social

(Adewuia & Oguntade, 2007; Vibha et al., 2008; Chambers et al., 2010).

Os profissionais de saúde ocupam posições essenciais no processo de tratamento e

reabilitação de seus pacientes. Eles devem ter ou desenvolver atitudes que lhes permitam

gerir com competência seu papel no tratamento de seus pacientes.

Neste sentido, o objetivo desse estudo é avaliar as atitudes dos profissionais de

saúde de um hospital universitário, onde será inaugurada uma enfermaria psiquiátrica, em

relação a esses pacientes.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo seccional para avaliar as atitudes dos profissionais de saúde

em relação aos doentes mentais, no período de abril a junho de 2013 no Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

Local do Estudo

O HUCFF pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é um

hospital de alta complexidade, que conta atualmente com 250 leitos de várias

especialidades médica e 3.513 profissionais de diferentes formações.

População do estudo

A população fonte do estudo foram 2435 profissionais que trabalham na área

assistencial, diretamente com o paciente (quadro 1).

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Quadro 1. Profissionais que trabalham na área assistencial

Pessoal assistencial 2435

Professores 283

Médicos 445

Enfermeiros 260

Outros prof. de saúde, nível superior 163

Outros prof. de enfermagem, nível médio 901

Outros prof. de saúde, nível médio 249

Outros prof. de saúde, nível apoio 134

Amostra

A técnica de amostragem foi probabilística, aleatória simples (Costa Neto, 1977).

Totalizou-se, assim, uma amostra 246 profissionais de saúde divididos entre médicos,

pessoal de enfermagem, outros profissionais de saúde de nível superior e médio.

Descrição do instrumento de pesquisa

A escala Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais (CAMI-BR) é

uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa, elaborada por Taylor e

Dear (1981) e validada por Gonçalves et al. (2009). Dois objetivos direcionaram seu

desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as características

das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes mentais na comunidade e poder

descrever e explicar as reações da comunidade em relação às unidades de atendimento

ao doente mental.

A escala é composta de 40 itens distribuídos em quatro subescalas (cada uma com

10 variáveis). A escala likert de resposta varia de 0 a 4, onde 0- concordo totalmente, 1-

concordo, 2 - tanto faz, 3- discordo e 4- discordo totalmente.

Quanto maior o escore mais positiva a atitude em relação aos doentes mentais

As quatro subescalas são:

1)Autoritarismo (AUT): necessidade de hospitalização dos doentes mentais; diferença

entre doentes mentais e pessoas normais; importância do tratamento custodial; causas

das doenças mentais.

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2) Restrição social (RESTSOC): periculosidade dos doentes mentais; manutenção de

distância social; falta de responsabilidade; normalidade do doente mental.

3) Benevolência (BEN): responsabilidade da sociedade em relação aos doentes mentais;

necessidade de atitudes gentis e simpáticas; desejo de se envolver pessoalmente;

sentimentos anti-hospitalização.

4) Ideologia comunitária da saúde mental (ICSM): impacto dos serviços de saúde mental

na vizinhança; perigo que o doente mental representa para os vizinhos; aceitação dos

princípios da desinstitucionalização psiquiátrica.

A escala não teve seus subtítulos identificados no corpo do instrumento, no intuito de

minimizar possíveis viéses no estudo.

A escala original possui qualidades psicométricas adequadas de validade de

construto, estabelecida através da análise fatorial, correlação item-total e como

consistência interna. Para três das quatro subescalas os valores de alfa de Cronbach são

elevados: Ideologia da comunidade em relação à saúde mental (α = 0,88); Restrições

sociais (α = 0,80); Benevolência (α = 0,76). O coeficiente para Autoritarismo (α = 0,68),

embora mais baixo ainda é satisfatório (Taylor & Dear, 1981).

Questionário sociodemográfico

O questionário sócio-demográfico foi construído a partir do questionário utilizado

por Wolff et al., (1996a). As variáveis utilizadas foram: idade; sexo; estado civil; número de

filhos; idade dos filhos; nível educacional do entrevistado; nível educacional do provedor;

ocupação; moradia (própria ou alugada); religião; utilização de serviços de saúde mental.

Treinamento e aplicação do instrumento

Foram treinados seis alunos graduandos em saúde coletiva. As entrevistas foram

de autopreenchimento e duraram em torno de 15 minutos.

Análises estatísticas

A entrada dos dados foi feita através de máscara criada no programa EPIINFO versão

3.5.1. Os dados foram analisados usando o programa Spss versão 16.0 do SPSS

As variáveis Idade e Número de filhos foram divididas em grupos iguais de acordo

com as respectivas medianas (44 para idade e 1 para número de filhos) como ponto de

corte. Para analisar a proporção das respostas positivas e negativas em cada um dos

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itens da escala, as respostas foram recodificadas, utilizando os seguintes critérios: as

respostas 0 e 1 ( concordo totalmente e concordo) foram transformados em 1, a resposta

2 ( tanto faz ) se manteve e as respostas 3 e 4 ( discordo e discordo totalmente) foram

transformada em 3. Entretanto, para o cálculo das médias por subescala , mantiveram-se

as respostas originais, ou seja, os parâmetros oscilando entre 0 a 4. Foram calculadas

médias para todas as subescalas.

Para avaliar a relação entre diferentes subescalas e as características individuais da

amostra, foram utilizados Teste-t de Student, quando as variáveis eram dicotômicas e

Análise de Variância (ANOVA) quando não eram.

Para investigar o quanto as características individuais dos funcionários predizem suas

atitudes nas diferentes escalas da CAMI foi feito uma Análise Multivariada de Variância

(MANOVA). A MANOVA foi escolhida porque controla a intercorrelação entre as variáveis

dependentes (subscalas da CAMI) através de múltiplos testes de correlação entre elas

(Tabachnich & Fidell, 2001). O resultado será considerado estatisticamente significativo

quando o p-valor foi igual ou menor que 0,05.

Questões éticas,

O estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos

em Saúde Coletiva IESC, parecer n0 206.501 e Hospital Universitário Clementino Fraga

Filho (HUCFF) da UFRJ, parecer n0 214.181. (CAAE: 08029512.6.0000.5286)

Resultados

Dos 246 indivíduos da amostra inicial, conseguiu-se o retorno de 226 questionários

preenchidos, o que representa uma perda de vinte entrevistas (8,1%). Esta perda se

distribuiu da seguinte forma: cinco estavam de licença médica, três estavam aposentados,

dois em férias, e dez se recusaram em participar do estudo. Não houve nenhuma

especificidade na recusa.

A idade média dos entrevistados foi 42,9 anos (dp:11,5), a maioria do gênero

feminino 170 (75,2%) e casados 108 (47,8%). No nível educacional, 74 (33%) possuem

pós-graduação e 55 (24%) nível superior. A média de filhos por família foi 1,1 (dp=1,3),

sendo que 58 (25,7%) das famílias têm filhos na faixa etária acima de 18 anos e 93

(41,1%) não tem filhos. A religião preponderante no grupo foi a Católica e 94 (41,5%) já

frequentou ou conhece alguém que frequenta serviços de saúde mental. Em relação às

categorias profissionais, 90 (39,8%) são auxiliares, atendentes ou técnicos de

enfermagem, 68 (30,1%) enfermeiros, 36 (15,9%) médicos, 19 (8,4%) outros profissionais

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de saúde nível superior e 13 (5,8%) técnicos de laboratório e radiologia (tabela 1).

O escore Total da escala CAMI foi 2,83 (dp=0,37). A subscala Benevolência

apresentou a maior pontuação (3,16 dp=0.44) seguida das subescalas: Restrição Social

(2,98 dp= 0,50), ideologia comunitária (2,69 dp:0,52) e autoritarismo (2,51 dp= 0,47).

Quanto maior o escore mais positiva as atitudes em relação aos pacientes.

Na análise bivariada, as variáveis: sexo, categoria profissional, educação, ter

imóvel próprio, conhecer alguém ou utilizar serviços de saúde mental apresentaram

associação significativa com alguma das subescalas ou com o escore total da CAMI.

Em relação ao sexo, a única subescala em que houve uma diferença significativa

foi na subscala ICSM (t=2,00 p=0,46) onde os homens apresentaram uma atitude mais

positiva do que as mulheres.

Em relação à variável Estado civil, ser separado mostrou uma atitude mais negativa

em relação às subescalas BEN (F=3,28 p=0,01), ICSM (F=3.08 p=0,01) e escore Total

(F=2,72 p=0,03).

Na variável educação foi observada uma associação significativa em todas nas

subescalas: Autoritarismo (F=6,08 p=0,001), Restrição Social (F=2,96 p=0,33),

Benevolência (F=4,41 p=0,005), Ideologia Comunitária da Saúde Mental (F=9,30 p=0,000)

e no escore total (F= 9,30 p=0,000). Ser pós-graduado está associado a uma atitude mais

positiva em relação aos doentes mentais em todas as subescalas. A categoria profissional

teve associação significativa em relação à subescala AUT (F=3,19 p=0,008) e ICSM (F-

4,05 p= 0,002) assim como em relação ao escore Total. As categorias que tiveram uma

atitude mais negativa foram os auxililares e atendentes de enfermagem e os técnicos de

laboratório.

Conhecer alguém que frequenta ou frequentar serviços de saúde mental se

mostrou positivamente associado com as subescalas BENEV (t=-2,42 p=0,16), ICSM (t=-

2,69 p=0,008) e escore Total (t=-2,60 p=0,01). Idade, Religião a que o indivíduo pertence,

morar em um Imóvel próprio ou alugado, Número de filhos e Faixa etária dos filhos não

apresentaram nenhuma associação nem com as subescalas nem com o escore total.

Em relação ao percentual de respostas que denotam atitudes negativas e atitudes

positivas a cada item da escala, apenas 3 itens apresentaram um percentual acima de

45% das respostas negativas (tabela 2). Duas subescalas apresentaram itens com mais

de 40% das respostas negativas. Na subescala AUT os itens foram: 3. Algumas

características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais (75,9%) e 6. Doença

mental é uma doença como outra qualquer ( 49,1%). Na subscala Restso o item foi: 10. A

maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser

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confiável como babá (65,2%) (tabela 3).

As variáveis sociodemográficas que possivelmente influenciaram as atitudes dos

funcionários do hospital em relação aos portadores de transtorno mental, mantendo

associação, foram: Estado civil, Categoria, Educação e Utilização de serviços (tabela 3).

Limitações do estudo

1. Por se tratar de um estudo transversal, os resultados estão sujeitos ao viés temporal.

2. Como a população estudada tem características particulares, os resultados podem não

ser representativos para outras populações

Discussão

O principal achado desse estudo foi que, apesar de se tratar de um hospital

universitário, os profissionais de algumas categorias ainda têm restrições nas atitudes em

relação aos pacientes que apresentam transtornos mentais. O escore nas subescalas foi

de razoável a bom, sendo que a subescala que apresentou a pontuação mais baixa foi

Autoritarismo a que apresentou o escore mais alto foi Benevolência. Chambers et al.

(2010) estudando as atitudes de enfermeiros psiquiátricos em relação aos pacientes em

cinco países da Europa: Finlândia, Lituânia, Islândia, Itália e Portugal encontrou o mesmo

resultado. Indica uma atitude compreensiva em relação aos pacientes mas em relação às

atitudes autoritárias ou de coerção as respostas foram mais negativas.

Apesar de encontrarmos estudos em vários países que abordam as atitudes dos

profissionais em relação aos doentes mentais, estes estudos ainda são raros no Brasil

(Delevati & Paluzzo, 2001; Pedrão et al., 2002; Pedrão et al., 2005). Por outro lado,

observamos a lentidão com que os leitos em hospital geral crescem no Brasil, e a

gravidade dessa situação no cuidado aos doentes mentais em momentos de crise. O

estigma em relação aos transtornos mentais e os estereótipos criados em torno do tema

certamente têm um papel importante nessa dificuldade. Neste cenário este estudo tem

sua relevância em tentar entender como se comportam esses profissionais e o que

pensam em relação a esses pacientes.

A amostra estudada não apresentou diferença em relação no que diz respeito à

idade, número de filhos ou idade destes em nenhuma das subscalas. Embora isto não

esteja de acordo com dados de outros estudos internacionais pode ser entendido pelo

fato de estarmos lidando com uma população mais velha (m=43 anos dp=12), sendo que

43% não tem filhos e 25,7% têm filhos com mais de 18 anos. Alguns artigos demonstram

que ter filhos com menos de 6 anos é um fator que influencia negativamente nas atitudes

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(Barke, 2011; Vibha et al., 1012; Wolff et al. 1996b; Papadoulos et al, 2002).

Em relação ao nível educacional foi observada uma correlação positiva em todas

as subescalas e no escore total, o que demonstra que a informação tem um papel

fundamental na melhora das atitudes em relação aos doentes mentais. Esse achado é

consistente com os de outros estudos (Vibha et al., 2012; Brugha, 1989; Brockington et al,

1993). A categoria também foi um fator importante. Os técnicos de laboratório e radiologia

e os auxiliares e atendentes de enfermagem tiveram atitudes mais negativas do que os

demais profissionais. Os auxiliares e atendentes de enfermagem são os profissionais que

lidam diretamente com o paciente durante uma internação e isto pode ter influenciado as

respostas mais negativas.

Vários estudos encontraram associação significativa entre a utilização de serviços

de saúde mental, ou conhecer alguém que os tenha utilizado, e uma atitude mais positiva

em relação aos pacientes psiquiátricos, pois a falta de informação sobre o assunto e a

convivência com os pacientes são fatores importantes na formação de opinião (Wolff et

al., 1996a; Chambers, 2012). Entretanto no nosso estudo esta variável não manteve a

associação.

Em relação às variáveis sociodemográficas da amostra, ser separado,

auxiliar/atendente de enfermagem ou técnico em radiologia e ter um nível educacional

mais baixo estiveram associados a atitudes mais negativas. O que mostra a importância

do esclarecimento e de campanhas educacionais sobre a questão da saúde mental.

Barke (2011) em um estudo sobre as atitudes da população urbana de Gana também

encontrou associação significativa entre o nível educacional mais baixo e atitudes

negativas.

Quando observamos o percentual de respostas negativas em cada item da escala,

três se destacam: 75,9% da amostra acha que os doentes mentais têm características

diferentes das pessoas normais e 49,1% acham que doença mental não é uma doença

como outra qualquer. É interessante notar, entretanto, que 75,2% acham o hospital

psiquiátrico é um modelo de assistência ultrapassado e 82,7% acham que qualquer um

pode se tornar um doente mental. Essa contradição nas opiniões é ressaltada também em

vários estudos (Barke, 2011; Mehta et al., 2009)

Os entrevistados mostraram maior reticência em achar que mulheres que foram

pacientes em hospital psiquiátrico sejam confiáveis como babá (65,2%), mas 93,4% acha

que ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança. A maioria da

amostra se mostrou tolerante e simpática (89,8%) achando que mais recursos deveriam

ser investidos na área de saúde mental (92,9%) e que a sociedade precisa ser mais

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tolerante com ele (96,4%).

Em relação aos serviços de saúde mental, 93,8% acha que os serviços deveriam

ser oferecidos na comunidade e 91,2% acha que a melhor terapia para os portadores de

transtornos mentais é fazer parte da comunidade. De uma maneira geral os professionais

demonstraram uma atitude positiva em relação aos serviços de base comunitária, mas

uma atitude menos tolerante em relação aos pacientes.

Conclusão

Este estudo apresenta as atitudes dos profissionais de um hospital universitário em

relação aos pacientes psiquiátricos. Demonstra que existe ainda uma atitude

preconceituosa em relação aos pacientes, mas que por outro lado essa população já

incorporou a ideia de que os pacientes devem ser tratados na comunidade e conviver com

ela.

O estudo encontrou uma associação significativa entre ser pós-graduado e uma

atitude mais tolerante em relação aos pacientes. A instrução se mostrou um fator

determinante em relação às atitudes também em outros estudos, demonstrando a

importância de campanhas anti-estigma e esclarecedoras sobre a questão da saúde

mental e dos serviços comunitários.

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Tabela 1. Distribuição das características sócio-demográficas da amostra estudada

(n=226)

Variáveis

N %

Sexo

Masc 56 24,8

Fem 170 75,2

Estado Civil

Solteiro 81 35,8

Casado 108 47,8

Viúvo 04 1,8

Separado/divorciado 33 14,6

Idade dos filhos

Sem filhos 93 41,1

< 6 anos 29 12,8

de 6 a 18anos 46 20,4

> 18 anos 58 25,7

Educação

Fundamental 17 7,5

Médio 78 34,5

Superior 55 24,3

Pósgraduação 74 32,8

S/inf 2 0,9

Categoria profissional

Aux. e atend. de enfermagem 46 20,3

Téc. de enfermagem 44 19,5

Téc. de laborat. e radiologia 13 5,8

Enfermeiros 68 30,1

Médicos 36 15,9

Outros prof. nível superior 19 8,4

Religião

Sem religião 44 19,5

Católico 87 38,5

Kardecista 24 10,6

Assembléia de Deus 21 9,3

Batista 26 11,5

Outras 23 10,3

S/inf 1 0,3

Utiliza ou conhece alguém

que utiliza serviços de saúde

mental

Sim 94 41,5

Não 132 58,5

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86

Tabela 2. Distribuição das frequências de atitudes negativas e positivas na população

(n=226)

Autoritarismo Negativa indiferente Positiva

1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina e auto

controle

21,5 12,6 65,9

2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados 1,8 12,0 86,2

3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais 75,9 6,3 17,9

4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio

mental

18,2 19,1 62,7

5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças

pequenas

27,2 16,5 56,3

6. Doença mental é uma doença como outra qualquer 49,1 10,7 40,2

7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade

11,5 3,5 85,0

8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes mentais

14,2

49,8 36,0

9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os

doentes mentais

20,3 4,5 75,2

10. Qualquer um pode se tornar um doente mental 13,6 3,6 82,7

Restrição social

1. Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental 21,6 3,6 82,7

2. Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade 4,4 8,9 86,7

3. Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido de doença

mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado

23,1 17,8 59,1

4. Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental

13,8 22,7 63,6

5. Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir

qualquer emprego público

23,1 12,0 64,9

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87

6. Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais 16,9 4,9 78,2

7. Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidades de vida normal 10,2 4,4 85,4

8. Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança 3,5

3,1 93,4

9. Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensa 20,4 10,2 69,3

10. A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser

confiável como babá

65,2 15,2 19,6

Benevolência

1. Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização 5,8 3,5 92,9

2. Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais 3,5 3,5 92,9

3. Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade 1,3 2,2 96,4

4. Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar dos

doentes mentais

12,6 4,9 82,5

5. A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos doentes

mentais

17,3 2,2 80,5

6. Os doentes mentais não merecem nossa simpatia 6,7 3,6 89,8

7. Os doentes mentais são um peso para a sociedade 14,6 7,5 77,9

8. Aumentar as despesas com Saúde Mental é um desperdício de recursos públicos 3,6 6,2 90,2

9. Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais 4,0 7,6 88,4

10. É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais 13,7 15,5 70,8

Ideologia comunitária

1. Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à Saúde Mental fossem instalados na sua

vizinhança

9,7 8,4 81,9

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88

2. A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade normal 3,5 5,3 91,2

3. A assistência em Saúde Mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços

localizados na comunidade

1,3 4,9 93,8

4. A localização de serviços de Saúde Mental em bairro residencial não coloca em perigo os

moradores

15,5 6,2 78,3

5. Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para receber

atendimento em Saúde Mental

12,8 6,6 80,5

6. Serviços de Saúde Mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais 8,4 11,5 80,1

7. Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de Saúde Mental na sua

vizinhança

9,9 9,4 80,7

8. Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os

moradores é muito grande

13,8 17,0 69,2

9.É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais 4,0 12,5 83,5

10. Localizar serviços de Saúde Mental em área residencial desvaloriza o bairro 9,0 16,1 74,9

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89

Tabela 3. Relação entre os escores da escala CAMI e dados Sociodemográficos (MANOVA).

Variável Autoritarismo Restrição social Benevolência Ideologia da

comunidade

F p-

valor

N Média (dp) N Média (dp) N Média

(dp)

N Média (dp)

Sexo

Fem 170 2.50 (0,45) 170 2,96 (0,50) 170 3,13 (0,45) 170 2,64 (0,50) 1,203 0,31

Masc 56 2,51 (0,54) 56 3,03 (0,49) 56 3,23 (0,42) 56 2,80 (0,55)

Estado civil

Solt 81 2,52 (0,40) 81 2,96 (0,46) 81 3,12 (0,43) 81 2,67 (0,51) 1,633 0,05

Casado 108 2,50 (0,52) 108 3,00 (0,50) 108 3,20 (0,44) 108 2,67 (0,51)

Viúvo 4 2,25 (0,13) 4 2,87 (0,22) 4 3,40 (0,14) 4 2,84 (0,94)

Separado 12 2,31 (0,39) 12 2,70 (0,50) 12 2,76 (0,33) 12 2,21 (0,44)

Divorciado 21 2,46 (0,51) 21 3,07 (0,57) 21 3,26 (0,48) 21 2,64 (0,58)

Categoria 2,195 <0,01

Superior 19 2,64 (0,33) 19 3,09 (0,49) 19 3,30 (0,40) 19 2,88 (0.29)

Medico 36 2,65 (0,49) 36 3,03 (0,59) 36 3,19 (0,44) 36 2,95 (0,41)

Enfermeiro 68 2,54 (0,45) 68 2,96 (0,46) 68 3,13 (0,41) 68 2,66 (0,50)

Aux e atend 46 2,30 (0,44) 46 2,91 (0,46) 46 3,20 (0,42) 46 2,50 (0,57)

Téc de enf 44 2,54 (0,52) 44 3,02 (0,52) 44 3,09 (0,55) 44 2,65 (0,54)

Téc lab e

radiologia

13 2,37 (0,46) 13 2,81 (0,39) 13 3,00 (0,32) 13 2,69 (0.32)

Educação 3,306 <0,01

Fundamental 17 2,27 (0,44) 17 2,85 (0,35) 17 3,15 (0,42) 17 2,65 (0,28)

Médio 78 2,40 (0,47) 78 2,96 (0,44) 78 3,11 (0,39) 78 2,58 (0,54)

Superior 55 2,48 (0,47) 55 2,86 (0,46) 55 3,02 (0,44) 55 2,60 (0,47)

Pós-

graduação

74 2,69 (0,44) 74 3,09 (0,56) 74 3,30 (0,47) 74 2,92 (0,42)

Faixa etária

dos filhos

1,106 0,36

Pelo menos

1 filho menor

que 6 anos

29 2,38 (0,50) 29 3,06 (0,55) 29 3,27 (0,50) 29 2,74 (0,56)

Somente

filhos entre 6

e 18 anos

46 2,48 (0,49) 46 2,90 (0,41) 46 3,06 (0,46) 46 2,53 (0,52)

Somente

filhos acima

de 18 anos

58 2,52 (0,48) 58 3,00 (0,51) 58 3,21 (0,38) 58 2,65 (0,54)

Utilização

Serviço

Sim 93 2,56 (0,48) 93 3,04 (0,50) 93 3,24 (0,42) 93 2,80 (0,51) 2,219 0,07

Não 131 2,47 (0,47) 131 2,94 (0,49) 131 3,10 (0,45) 131 2,60 (0,52)

Imóvel

Próprio 174 2,50 (0,47) 174 2,95 (0,48) 174 3,13 (0,44) 174 2,65 (0,52) 0,755 0,56

Alugado 40 2,53 (0,45) 40 3,06 (0,51) 40 3,18 (0,44) 40 2,79 (0,48)

Faixa Etária

20 a 35 71 2,55 (0,46) 71 3,02 (0,53) 71 3,16 (0,44) 71 2,77 (0,45) 1,249 0,27

36 a 50 87 2,55 (0,48) 87 2,94 (0,48) 87 3,13 (0,50) 87 2,65 (0,57)

>51 68 2,41 (0,47) 68 2,98 (0,47) 68 3,20 (0,35) 68 2,64 (0,52)

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ANEXOS

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Título da pesquisa : Atitudes frente ao doente mental: Um estudo com os

profissionais de saúde em um Hospital Universitário no RJ.

Pesquisadores responsáveis Sylvia Gonçalves Lúcia Abellha Lima

Prezado (a) Senhor (a):

Você está sendo convidado (a) a responder às perguntas deste questionário de forma

totalmente voluntária. Antes de concordar em participar desta pesquisa e responder este

questionário, é muito importante que você compreenda as informações e as instruções

contidas neste documento.

Os pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas antes da sua decisão em

participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento

sem nenhuma penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito.

Objetivo do estudo é avaliar as atitudes dos profissionais de saúde em relação aos

doentes mentais no atendimento no Hospital Universitário.

Procedimentos. Sua participação nesta pesquisa consistirá no preenchimento deste

questionário, CAMI-BR, respondendo às perguntas formuladas. Sua participação será

isenta de qualquer custo para você.

Benefícios. Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado ajudando no

planejamento de futuras ações na área de saúde mental e do atendimento aos pacientes.

Minimização de riscos. Para minimizar os possíveis riscos de sua participação não

serão identificados os questionários preenchidos, assim como serão mantidos em sigilo e

guardados com segurança os dados da pesquisa. A divulgação dos resultados será feita

apenas com os dados agrupados de forma a não ser possível identificar nenhum

participante. Se você por qualquer razão se sentir prejudicado poderá imediatamente

procurar os pesquisadores responsáveis e/ou o CEP-IESC para solicitar esclarecimentos

ou para se retirar da pesquisa sem nenhum prejuízo de qualquer ordem.

Após os esclarecimentos sobre a pesquisa descritos acima concordo em participar deste

estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo e os procedimentos a

serem realizados. Concordo voluntariamente em participar da pesquisa e poderei retirar o

meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Eu receberei

uma cópia desse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a outra ficará

com o pesquisador responsável.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE … · No Brasil há uma carência de estudos na avaliação das atitudes da comunidade em relação aos pacientes psiquiatricos

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Laboratório de Pesquisas Epidemiológicas em Saúde Mental

Atitudes dos profissionais de saúde em Relação aos Doentes Mentais

CAMI-BR

Questionário sócio demográfico

Pesquisador:

1. Entrevistado n°:

2. Idade

3. Sexo

1) masc 2) fem

4. Estado civil

1) solteiro 2) casado/companheiro 3) viúvo

4) separado 5) divorciado 9) s/ inf

5. Número de filhos

6. Faixa etária dos filhos

1) < 6 anos 4) respostas: 1 e 2 7) respostas: 1, 2 e 3

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2) 6 a 18 anos 5) respostas: 2 e 3 9) s/ inf

3) > 18 anos 6) respostas: 1 e 3

7. Nível educacional

0) analfabeto 1) alfabetizado 2) fundamental incompl 3)

fundamental compl 4) médio incompleto 5) médio completo

6) superior incompleto 7) superior completo 8) pós-graduação 9) s/ inf

7a. Cursando

0) não 1) sim 9) s/ inf

9. Ocupação ___________________________________________

11. Imóvel

1) próprio 2) alugado 3) s/ inf

12. Religião

0) sem religião 1) católico 2) judeu 3) batista 4) universal

5) cardecista 6) umbanda 7) candomblé 8) adventista 9) budista

10) santo D’Aime 11) assembléia de Deus 12) Outras __________________

99) s/ inf

13. O entrevistado, seus amigos ou familiares alguma vez já utilizaram serviços de saúde

mental?

0) não 1) sim 9) s/ inf

1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de autodisciplina e autocontrole.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( )

2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados.

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Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio mental.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças pequenas.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

6. Doença mental é uma doença como outra qualquer.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes mentais.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os doentes mentais.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

10. Qualquer um pode se tornar um doente mental.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

11. Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

12. Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

13. Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido de doença mental,

mesmo que ele parecesse completamente recuperado.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

14. Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

15. Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir qualquer

emprego público.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

16. Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

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17. Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidades de vida normal.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

18. Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

19. Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensa.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

20. A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser confiável

como babá.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente

21. Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

22. Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

23. Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

24. Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar dos doentes

mentais.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

25. A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos doentes

mentais

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

26. Os doentes mentais não merecem nossa simpatia

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

27. Os doentes mentais são um peso para a sociedade

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

28. Aumentar as despesas com saúde mental é um desperdício de recursos públicos

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

29. Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

30. É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

31. Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à saúde mental fossem instalados na sua

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96

vizinhança

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

32. A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade normal

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( )

33. A assistência em saúde mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços

localizados na comunidade.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

34. A localização de serviços de saúde mental em bairro residencial não coloca em perigo os

moradores.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

35. Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para receber

atendimento em saúde mental

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

36. Serviços de saúde mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

37. Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de saúde mental na

sua vizinhança

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

38. Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os

moradores é muito grande.

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

39. É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).

40. Localizar serviços de saúde mental em área residencial desvaloriza o bairro

Concordo totalmente ( ); Concordo ( ); Tanto faz ( ); Discordo ( ); Discordo totalmente ( ).