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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
FERNANDA PERSUHN GONÇALVES
EUROCETICISMO BRITÂNICO: UM ESTUDO DE CASO
CURITIBA 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
FERNANDA PERSUHN GONÇALVES
EUROCETICISMO BRITÂNICO: UM ESTUDO DE CASO
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná, para conclusão do curso e obtenção do grau de Bacharel. Orientador: Prof. Dr. Alexsandro Eugenio Pereira
CURITIBA 2016
1
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos os professores que contribuíram para a minha
formação acadêmica. Em especial, ao meu orientador Alexsandro, sempre presente e
disposto me orientar da melhor maneira possível nos últimos dois anos e pelo constante
incentivo à pesquisa.
Agradeço também a minha família, principalmente Karina, Pedro e Daniele, que
sempre apoiaram as minhas escolhas, e meus amigos, especialmente Caio, Pedro e
Izuara, sem os quais este trabalho teria sido muito mais difícil.
E ao Miza, que permanecerá para sempre na memória, um agradecimento final.
2
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo analisar o euroceticismo no Reino Unido enquanto membro da União Europeia e como este está relacionado à forma como a população britânica avalia sua participação na UE, desde sua entrada em 1973 até o referendo de 2016. A hipótese é de que a opinião pública dos cidadãos britânicos em relação a assuntos domésticos tem grande poder de influência em seu nível de euroceticismo e percepção da União Europeia, escolhendo o estudo de caso para demonstrá-la. Para auxiliar a análise, dados encontrados em pesquisas de opinião pública realizadas pela Comissão Europeia (Eurobarômetro) e pela Ipso MORI também foram selecionados, e os resultados indicam que em virtude do baixo nível de conhecimento que a população britânica possui sobre a União Europeia e seu funcionamento, a situação econômica e política nacional guia suas percepções e seu nível de euroceticismo. Palavras-chave: Reino Unido; União Europeia; Euroceticismo; Opinião Pública.
3
ABSTRACT
This research aims to analyze British euroscepticism while a member of the European Union, and how it relates to way British people perceive their EU membership, since it became a Member State of the EU until the 2016 referendum. The hypothesis is that the public opinion of the British people in relation to domestic affairs has a great power of influence in their level of euroscepticism and perception of the European Union, and to demonstrate this the case study method was chosen. To support the analysis, data found in public opinion polls and surveys conducted by the European Commission (Eurobarometer) and Ipsos MORI were also selected, and the results indicate that because of the low level of knowledge that the British population has about the European Union and the way it works, their national political and economic situation guides their perceptions and their level of euroscepticism. Keywords: United Kingdom; European Union; Euroscepticism; Public Opinion.
4
Lista de Siglas
CE - Comissão Europeia.
EAEC - European Atomic Energy Community (Comunidade Europeia da Energia
Atômica).
EC - European Communities (Comunidades Europeias).
EEC - European Economic Community (Comunidade Econômica Europeia).
ECSC - European Coal and Steel Community (Comunidade Europeia do Carvão e Aço).
EMS - European Monetary System (Sistema Monetário Europeu).
EMU - Economic and Monetary Union (União Econômica e Monetária).
MEP - Membro do Parlamento Europeu.
MP - Membro do Parlamento britânico.
NHS - National Health Service (Serviço Nacional de Saúde).
NATO - North Atlantic Treaty Organization (Organização do Trabalho do Atlântico do
Norte)
UE - União Europeia.
UKIP - United Kingdom Independence Party (Partido da Independência do Reino
Unido).
5
Lista de gráficos e quadros
Gráfico 1. Popularidade de temas para a população britânica entre 1974-1983, p. 17. Gráfico 2. Posição da população sobre um possível referendo entre 1977-1987, p. 18. Gráfico 3. Popularidade de temas para a população britânica entre 1984-1994, p. 24. Gráfico 4. Posição da população sobre um possível referendo entre 1989-1997, p. 24. Gráfico 5. Popularidade de temas para a população britânica entre 1995-2005, p. 28. Gráfico 6. Posição da população sobre um possível referendo entre 1998-2007, pg. 29. Gráfico 7. Índice de confiança na União Europeia e no governo britânico, pg. 34. Gráfico 8. Posição da população sobre um possível referendo entre 2011-2016, pg. 35. Gráfico 9. Popularidade de temas para a população britânica entre 2006-2016, p. 41. Quadro 1. Afluência de Eleitores às Urnas, p. 42.
6
SUMÁRIO
1 Introdução…................................................................................................................8
2 Capítulo 1. Origens da União Europeia, adesão do Reino Unido Origens e
euroceticismo britânico……………………………………………………………...……......12
2.1 Contexto Histórico da União Europeia………………………………………….12
2.2 Reino Unido e sua adesão à União Europeia………………………………….13
2.3 Raízes do Euroceticismo Britânico……………………………………………...14
3 Capítulo 2. Reino Unido e opinião pública sobre a União Europeia…..………….…..19
3.1 Teorias de apoio à integração europeia…………………………………...…...19
3.2 Euroceticismo e a opinião pública da população britânica…….……………..22
4 Capítulo 3. Brexit e o Reino Unido…....……………………………...…………....……..37
5 Considerações Finais……………………………………………………………………..45
Referências…..……………………………………………………………………….……….48
7
1 Introdução
A adesão e participação do Reino Unido na União Europeia são marcadas por
fenômenos particulares. Um deles é o euroceticismo, que embora possa ser encontrado
em outros Estados-membros de formas e intensidades diferentes, resultou em
consequências especiais para o Reino Unido em 2016: com o segundo referendo desde
sua entrada à União Europeia e seu resultado, o Reino Unido torna-se o primeiro
Estado-membro a optar por se retirar do bloco. Analisar seu percurso durante seus 44
anos de participação é fundamental para compreender o resultado.
Aleks Szczerbiak e Paul Taggart (2008) oferecem o conceito de euroceticismo
em dois níveis: euroceticismo brando e euroceticismo duro. Segundo os autores,
euroceticismo brando encontra-se presente quando:
não existe uma objeção judiciosa à integração europeia
ou à adesão à União Europeia, mas quando as
preocupações sobre um (ou vários) domínios políticos
conduzem à expressão de uma oposição qualificada à
União Europeia, ou quando existe a sensação de que o
"interesse nacional" está em desacordo com a trajetória
da UE no momento (p. 8). 1
No Reino Unido, exemplos de partidos políticos que enquadram-se nesta
concepção de euroceticismo são o Green Party , Conservative Party , Scottish Socialist 2 3
Party , e o Democratic Unionist Party . 4 5
1Soft Euroscepticism is where there is not a principled objection to European integration or EU membership but where concerns on one (or a number) of policy areas lead to the expression of qualified opposition to the EU, or where there is a sense that ‘national interest’ is currently at odds with the EU’s trajectory. 2Partido Verde do Reino Unido. 3Partido Conservador do Reino Unido. 4Partido Socialista Escocês 5Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte.
8
A outra forma de euroceticismo, o duro, também é encontrada em partidos
britânicos, como o UKIP , Socialist Labour Party e British National Party . A definição 6 7 8
que Szczerbiak e Taggert (2008) oferecem para este modelo é quando:
existe uma oposição de princípios à União Europeia e à integração europeia, e por conseguinte, pode ser visto em partidos que pensam que os seus países devem retirar sua adesão, ou cujas políticas em relação à UE são equivalentes a serem opostos a todo o projeto de integração europeia como concebida atualmente (p.7). 9
Estes dois tipos de euroceticismo são essenciais para o estudo sobre como a
população britânica enxerga sua participação na União Europeia: é possível se opor a
ela sem desejar sua saída do bloco, e sendo estes dois posicionamentos tão distintos,
essa diferenciação torna-se muito útil.
Para o Reino Unido, ser membro da EEC (European Economic Community -
Comunidade Econômica Europeia) não teve as mesmas conotações positivas
presentes para os membros que a fundaram (George, 1998), pois quando finalmente
tornou-se membro da União Europeia, as condições econômicas mundiais da época
provocaram recessão. Assim, a relutância e desconfiança peculiar do Reino Unido em
sua participação na União Europeia conferem a ele o título de awkward partner . Ainda 10
de acordo com George, existem diferentes níveis de euroceticismo, que vão desde
dúvidas sobre o modo como a integração se dá, dúvidas sobre os benefícios da UE, até
uma hostilidade completa dirigida a UE (George, 2000), corroborando com a visão de
Szczerbiak e Taggert.
6Partido da Independência do Reino Unido. 7Partido Trabalhista Socialista do Reino Unido. 8Partido Nacional Britânico. 9Hard Euroscepticism is where there is a principled opposition to the EU and European integration and therefore can be seen in parties who think that their counties should withdraw from membership, or whose policies towards the EU are tantamount to being opposed to the whole project of European integration as it is currently conceived. 10Parceiro difícil.
9
Em Euroscepticism in the British Party System: ‘A Source of Fascination,
Perplexity, and Sometimes Frustration’ (2008), Baker et al. destacam quatro fases
distintas do euroceticismo britânico. A primeira ocorreu entre o fim da Segunda Guerra
Mundial e a entrada do Reino Unido na EEC. A segunda se encaixa entre sua entrada e
o referendo de 1975, que se tratava de sua permanência ou saída da EEC, a terceira
entre o período pós-referendo e 1988, quando o euroceticismo torna-se mais frequente
na política britânica. A quarta e última fase tem início no final da década de 1980 até o
presente.
Para analisar as atitudes da população britânica em relação à União Europeia,
as pesquisas de opinião pública são fundamentais. Desde 1974, a Comissão Europeia
conduz pesquisas de opinião pública, publicadas duas vezes por ano com seus
Estados-membros. Estas pesquisas, também conhecidas como Eurobarômetro,
possuem diversos tópicos relacionados à União Europeia, como a confiança que os
cidadãos de cada país têm na União Europeia, seu conhecimento de como a UE
funciona e seu sentimento em ser ou não um cidadão da UE. Outra organização que
conduz pesquisas de opinião pública é a Ipsos MORI, que trabalha extensivamente com
a opinião da população britânica em relação à UE. Com os dados do Eurobarômetro e
da Ipsos MORI, pode-se observar como a postura dos britânicos muda de acordo com
os diferentes desafios enfrentados pela União Europeia ao longo dos anos.
O presente trabalho tem como proposta analisar o euroceticismo britânico e sua
manifestação na população do Reino Unido, desde sua adesão à União Europeia até o
presente. A sua hipótese é de que embora existam teorias diversas para explicar o
euroceticismo e o apoio à União Europeia pelos cidadãos do Reino Unido, os
acontecimentos de sua própria política nacional são determinantes na forma como a
população britânica avalia sua participação no bloco. Para demonstrá-la, o método
escolhido foi o estudo de caso, através da bibliografia selecionada e das pesquisas de
opinião públicas realizadas durante o período estudado.
O trabalho foi dividido em quatro partes: três capítulos e uma parte adicional para
as considerações finais. O primeiro capítulo procura contextualizar a entrada do Reino
10
Unido na União Europeia, o próprio processo de criação da UE, e as origens do
euroceticismo britânico. O segundo capítulo busca analisar a população britânica e a
opinião pública a respeito da União Europeia do final de 1980 até 2016, levando em
consideração a importância de outros cinco assuntos em particular: criminalidade,
desemprego, imigração, saúde e economia, com a finalidade de relacionar o
euroceticismo à percepção que os cidadãos possuem da UE. O terceiro e último
capítulo analisa o referendo de 2016 e suas consequências não somente para o Reino
Unido, mas também para a União Europeia e, por fim, uma seção dedicada às
considerações finais.
11
2 Capítulo 1. Origens da União Europeia, adesão do Reino Unido e euroceticismo
britânico
2.1 Contexto Histórico da União Europeia
O início da União Europeia atual se dá com a criação de três organizações
internacionais: a Comunidade Europeia da Energia Atômica (European Atomic Energy
Community - EAEC), a Comunidade Econômica Europeia (European Economic
Community - EEC) e a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (European Coal and
Steel Community - ECSC), que formavam as Comunidades Europeias (European
Communities - EC).
A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço foi a primeira a ser estabelecida.
Oficialmente, tem sua origem pelo Tratado que institui a Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço, também conhecido como Tratado CECA ou ainda como Tratado de
Paris, assinado em 1951. Após a Segunda Guerra Mundial, a integração e a
cooperação entre países foram vistas como necessárias para estabelecer um período
de paz, e França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos passam a
negociar o tratado, que entrou em vigor em 23 de Julho de 1952, com um limite de 50
anos em sua vigência.
A Comunidade Econômica Europeia (EEC) e a Comunidade Europeia Europeia
da Energia Atômica (EAEC) são estabelecidas em 1957. A segunda, estabelecida pela
França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, é assinada em Roma e
seu principal objetivo é a criação de um mercado comum generalizado, a criação de
uma união aduaneira e a elaboração de políticas comuns. A segunda, embora iniciando
suas funções em julho de 1952, e é oficiada também em Roma, junto à EEC, e ambas
entram em vigor em 1 de janeiro de 1958. O principal objetivo da EAEC era "contribuir
com a criação e para o desenvolvimento de indústrias nucleares europeias, para que
12
seus Estados Membros pudessem não apenas se beneficiar de seu desenvolvimento
mas também para assegurar a segurança de seu abastecimento ". 11
2.2 Reino Unido e sua adesão à União Europeia
A primeira tentativa do Reino Unido de se tornar membro da EEC foi em 9 de
agosto de 1961 (para a ECSC e a EAEC, só em fevereiro de 1962). Na época, Harold
Macmillan era Primeiro Ministro e com a aprovação majoritária da House of Commons
para que o processo de adesão iniciasse: 313 votos a favor e apenas 4 contra, com
algumas abstenções.
O medo de perder seus privilégios com a Commonwealth torna as negociações
complicadas, principalmente pelas demandas de ser isento de diversas regulações da
parte do Reino Unido. Embora existisse um consenso de que os seis países fariam
concessões e aceitariam sua candidatura, em 14 de janeiro de 1963 Charles de Gaulle
veta sua participação. Em 11 de maio de 1967, com Harold Wilson como
Primeiro-ministro, outra tentativa é realizada e vetada novamente por de Gaulle.
As contribuições orçamentárias à União Europeia também são um tópico
delicado para o Reino Unido, aparecendo com frequência como um ponto negativo para
sua população, de sua adesão até o presente. Para os franceses, o Reino Unido
deveria pagar a sua parte desde o primeiro dia de sua adesão, enquanto os britânicos
desejavam uma transição longa e gradual até atingir o valor total de sua contribuição,
estimado em 21% do orçamento geral (George, 1998, p.54). A partir da década de
1970, o Reino Unido então começa a ganhar sua fama de awkward partner com os
assuntos ligados à União Econômica e Monetária (Economic and Monetary Union -
EMU), principalmente por estar frequentemente em desacordo com as opiniões de
outros Estados-membros e desconfiar abertamente do sucesso de certas propostas.
11To contribute to the formation and development of Europe's nuclear industries, so that all the Member States can benefit from the development of atomic energy, and to ensure security of supply.
13
Embora tenha iniciado o processo de adesão à EEC em 1961, apenas em 1973
o Reino Unido finalmente torna-se membro desta. O Partido Trabalhador vence as
eleições de 1974, mesmo que por uma margem pequena: 301 assentos no parlamento
contra os 297 do Partido Conservador. Harold Wilson, o então Primeiro Ministro, usa a
participação na União Europeia como um auxílio para resolver questões de política
doméstica, vendo que o Reino Unido encontrava-se muito dividido. Tony Benn, também
político do Partido Trabalhador, é reconhecido como um dos primeiros a sugerir um
referendo a respeito da participação do UK na União Europeia. Neste referendo, que
ocorreu em 5 de junho de 1975 e com índice de comparecimento às urnas de 64%, a
população britânica votou majoritariamente para permanecer na EC: 67% a favor, e
33% contra, demonstrando um alto nível de apoio da população britânica pós-adesão.
2.3 Raízes do Euroceticismo Britânico
Para explicar as origens do euroceticismo britânico, também é necessário
destacar o contexto histórico e geopolítico do Reino Unido:
O euroceticismo britânico leva a marca da distinta experiência geopolítica histórica do Reino Unido. Seu patrimônio insular e isolamento geográfico, do progresso de seu isolamento à vitória durante a Segunda Guerra Mundial e, inicialmente no período pós-guerra, seu legado imperial e sua relação com a Commonwealth, serviram como temas essenciais por trás do euroceticismo britânico. Mas a Grã-Bretanha também veio a exercer hegemonia na economia global do século XIX através de uma política enfatizando o livre comércio e a livre circulação. Este apego histórico da elite política britânica a uma política liberal de "mar aberto" persistiu. Tornou-se uma tradição política central na política britânica e tem levado muitos eurocéticos britânicos a identificar a Grã-Bretanha com uma iniciativa global em vez de europeia (Baker et al., 2008, 12
12British Euroscepticism bears the imprint of Britain’s distinctive historical geopolitical experiences. Britain’s island heritage and geographical seclusion, its progress from isolation to victory during the Second World War, and, initially in the post-war period, its imperial legacy and relationship with the Commonwealth, have all served as essential themes behind British Euroscepticism. But Britain also came to exercise hegemony in the global economy of the nineteenth century through an open seas policy emphasizing free trade and free movement. This historical attachment of the British political elite to a
14
p. 109).
Em Constructing Europe? The Evolution of Nation-State Identities, Marcussen et
al. ilustram as maneiras que as elites políticas no Reino Unido, Alemanha e França
construíram a sua identidade nacional desde 1950. Especificamente sobre o Reino
Unido:
A construção social do "excepcionalismo" como a base da identidade do Estado-nação britânico compreende significados ligados a instituições centradas em torno de uma compreensão particular da soberania nacional que é difícil de conciliar com uma visão de ordem política europeia que vai além da cooperação funcional além das fronteiras. "Europa" simplesmente não ressoa bem com construções identitárias profundamente enraizadas nas instituições políticas nacionais e na cultura política (BAKER ET AL, 2008, p. 113) ". 13
Enquanto o Primeiro-ministro Edward Heath é considerado um PM inteiramente
comprometido com a ideia da União Europeia, seu sucessor James Callaghan é o
primeiro a "expressar explicitamente euroceticismo no sentido de se opor ao aumento
de poderes da então Comunidade Europeia " (George, 2000, p. 16): Callaghan era 14
contra o acréscimo de poderes do Parlamento Europeu e recusou participar do Sistema
Monetário Europeu (EMS - European Monetary System).
Das raízes históricas do euroceticismo britânico, alguns fatores destacam-se:
favorecimento a Commonwealth e a sua parceria com os Estados Unidos, medo de
perda de soberania parlamentar nacional e a percepção da União Europeia como
não-democrática e excessivamente burocrática. A elite política também compartilhava
liberal open seas policy has endured. It has become a central policy tradition in the British polity and has led many British Eurosceptics to identify Britain with a global rather than European volition. 13The social construction of ‘exceptionalism’ as the core of British nation state identity comprises meanings attached to institutions centring around a particular understanding of national sovereignty which is hard to reconcile with a vision of a European political order going beyond functional co-operation over borders. ‘Europe’ simply does not resonate well with identity constructions deeply embedded in national political institutions and in political culture. 14Who first explicitly expressed Euroscepticism in the sense of opposition to increasing the powers of what was then the EC.
15
dos mesmos medos sobre a União Europeia que a população e, como consequência,
surgem grupos contra uma maior integração do Reino Unido com a UE: o partido UKIP
foi um destes grupos (George, 2000).
Baker et. al também compartilham deste ponto de vista:
Com as dinâmicas para uma maior integração política em aceleramento, as
questões de soberania e de identidade nacional tornaram-se fundamentais para
as preocupações eurocéticas, catalisando o crescimento do euroceticismo no
Partido Conservador e a criação de novos partidos eurocéticos minoritários. Além
disso, à medida que união monetária ganhou impulso, abriu-se então uma nova
frente para os eurocéticos britânicos, sobre a qual foram reforçados por uma
nova geração de eurocéticos brandos que se declaram pró-europeus, mas se
opõem vigorosamente à moeda única. (p. 94) . 15
Entre 1974 e 1983, é possível ver como a preocupação com assuntos
relacionados à União Europeia era baixo para a população quando comparados com os
outros temas, principalmente o desemprego: a taxa da população britânica
desempregada em 1977 era de 6,2% e, em 1983, subiu para 12,2% (Gráfico 1).
15With the dynamics for closer political integration accelerating, issues of sovereignty and national identity have become central to Eurosceptic concerns, catalysing the growth of Euroscepticism within the Conservative Party and the creation of new Eurosceptic minor parties. Moreover, as monetary union has gained momentum so a new front for British Eurosceptics has opened, one upon which they have been reinforced by a new breed of Soft Eurosceptics who profess themselves to be pro-European but nevertheless vigorously oppose the single currency.
16
Gráfico 1 - Popularidade de temas para a população britânica entre 1974-1983 . 16
Fonte: Ipsos MORI.
Através do Gráfico 2, é possível observar que, entre 1977 e 1983, existe um
grande aumento na porcentagem da população que optaria por sair das Comunidades
Europeias se houvesse um referendo naquele período. Se comparado ao gráfico 1 e a
crescente taxa de desemprego no Reino Unido, a mudança de opinião a respeito da
União Europeia torna-se compreensível, mesmo em poucos anos após seu primeiro
referendo.
16Não existem dados para o tema União Europeia em 1977. 17
Gráfico 2 - Posição da população sobre um possível referendo entre 1977-1987.
Fonte: Ipsos MORI.
A integração europeia é estudada através de diversas teorias, das quais foram
selecionadas três para demonstrar o campo de estudo e uma delas em que se baseia a
hipótese desta pesquisa. Com o referendo de 2016, o euroceticismo britânico atinge
seu auge com 52% dos cidadãos do Reino Unido que votaram e optaram por encerrar
sua participação na União Europeia. Busca-se, então, relacionar o apoio à participação
no bloco por parte dos britânicos e o nível de popularidade dos assuntos e selecionados
(como visto nos últimos dois gráficos e nos próximos capítulos) com o objetivo de
verificar se a teoria da aproximação à política doméstica é capaz de explicar os
resultados do referendo.
18
3 Capítulo 2. Reino Unido e a integração com a União Europeia
Cada Estado-membro tem sua própria percepção e aceitação em relação à
União Europeia. Para compreender como cidadãos da UE apoiam a integração
europeia, três teorias são frequentemente utilizadas neste domínio acadêmico: a que
foca em análises econômicas de custo/benefício para a população; a que trabalha com
teorias de identidade social; e a que trabalha com a aproximação do contexto político
nacional dos Estados-membros com o desempenho da União Europeia.
3.1 Teorias de apoio à integração europeia
Das três teorias selecionadas, a primeira é a teoria de benefícios econômicos e
análise de custo-benefício, trabalhadas e desenvolvidas por Anderson e Reichart
(1995), Hooghe e Marks (2004), e McLaren (2002), que dedicam-se a uma análise
econômica e de custo-benefício para o apoio da União Europeia, não apenas da
população britânica como de outros membros da UE. A partir dessa análise, pode-se
verificar que cidadãos em diferentes situações socioeconômicas experimentam
diferentes benefícios que podem advir de uma política de integração.
A abordagem econômica, na esteira da teoria do custo/benefício, segundo
acadêmicos, não pode ser negligenciada. Isso porque, em muitos casos, a relação
entre política e economia pode estar conectada. No entanto, como será explicado
posteriormente, tal abordagem depende de uma mínima informatização direcionada aos
favorecidos dos benefícios trazidos pela integração.
Os estudos comparativos da abordagem do custo/benefício e da identidade
19
nacional ainda revelam que ambas as abordagens possuem um efeito similar quando
contrastados seus posicionamentos em relação à UE (McLaren, 2002).
Nesse contexto, a percepção dos impactos será explicada na medida em que os
indivíduos percebam diferentes montantes dos benefícios, baseado em seu nível social,
de tal forma que o nível de escolaridade será diretamente proporcional à compreensão
acerca dos impactos. Ou seja, para os trabalhadores que possuem um baixo nível de
escolaridade, as consequências serão notadamente negativas. Por outro lado,
indivíduos que vivem em áreas fronteiriças serão os maiores beneficiários e tendem a
abraçar sobremaneira a integração europeia (Anderson & Reichert, 1995).
Em suma, o apoio à integração baseado na teoria do custo/benefício pressupõe,
em primeiro lugar, um entendimento acerca dos reais privilégios e, em segundo, o nível
social de que gozam os indivíduos. Assim, os fatores a serem considerados fragilizam
uma análise baseada unicamente no fator econômico, notadamente em função da falta
de informação e da instrução formal dos cidadãos.
A segunda é a teoria da identidade nacional. Alguns autores argumentam que a
melhor maneira de compreender o euroceticismo e o apoio à União Europeia é através
do estudo da questão identitária, por considerarem incompleta uma explicação para o
fenômeno apenas através de fatores econômicos. Sentimentos de identidade nacional e
percepção de ameaças ao Estado e seus interesses são fatores que precisam ser
levados em conta quando se analisa apoio e aceitação à União Europeia
(Boomgaarden & de Vreese, 2005). No caso específico do Reino Unido, em sua
maioria, os britânicos não se consideram europeus (George, 2000; Curtice, 2012).
Carey (2002), Deflem e Pampel (1996), e Eichenberg e Dalton (1993) relacionam
identidade (não apenas britânica) com o apoio à integração europeia. Por vezes vista
como obstáculo, em Hooghe e Marks (2004) também é visto que a aprovação ou
desaprovação com base na identidade dependerá de diversos fatores.
Enquanto a União Europeia proporciona um sistema de governabilidade entre os
Estados nacionais europeus, essa integração dificulta a persecução de preferências
nacionais específicas, minando a autodeterminação nacional e ofuscando as fronteiras
20
entre os países, acentuando o multiculturalismo (Marks e Hooghes, 2005). Outros
fatores, como o sentimento de apego nacional e de ameaça ao Estado-nação e à
integridade cultural, segundo estudos recentes, são argumentos relevantes ao
demonstrar apoio à UE (Boomgaarden, de Vreese, 2005).
Assim, o fato de a União Europeia caracterizar um sistema de governabilidade
baseado na multiculturalidade leva muitos cidadãos a considerarem essa integração
como uma ameaça, porque, em tese, resultaria numa “perda de identidade” que estaria
contra preferências políticas nacionais.
A terceira é a teoria da aproximação à política doméstica (proxies), que será
testada nesta pesquisa. Em European Integration and Political Conflict, Leonard Ray
demonstra que o apoio à União Europeia não está ligado apenas à ideologia política
direita/esquerda, mas principalmente pelas políticas nacionais que uma população
apoia: "os grupos que mais beneficiam-se do status quo nacional são relutantes em
ceder poder ao nível supranacional " (Ray, 2004, p. 58). Também se percebe que em 17
países onde a elite política encontra-se dividida sobre o tema, a UE é vista de maneira
mais negativa (Hooghe e Marks, 2004).
O apoio à União Européia também varia de acordo com políticas específicas.
Políticas que envolvem imigração e o Estado-Providência têm baixos níveis de apoio
por parte da população britânica, enquanto os que envolvem proteção digital, mudança
climática e meio-ambiente são vistas de maneira mais favorável (Vasilopoulou, 2015).
Cidadãos compensam a falta de conhecimento acerca da UE construindo uma realidade que se enquadra em sua compreensão sobre o universo político. Para a maioria das pessoas, significa dizer que eles confiam no que eles sabem e pensam sobre a política doméstica (Anderson, 1998, p. 576) . 18
17Groups who benefit most from the national status quo are reluctant to cede power to the supranational level. 18Citizens compensate for a gap in knowledge about the EU by construing a reality about it that fits their understanding of the political world. For most people, this means that they rely on what they know and think about domestic politics.
21
Portanto, os reflexos na política doméstica percebidos pela população guiarão,
em grande medida, a confiança que os cidadãos depositam na União Europeia,
especialmente em relação a políticas específicas.
3.2 Euroceticismo e a opinião pública da população britânica
Um elemento é essencial para qualquer uma das teorias mencionadas: a opinião
pública. Nesta pesquisa, foram selecionados quatorze relatórios eurobarômetro, com
um intervalo de 28 anos, e também pesquisas publicadas pela organização Ipsos
MORI, para que fosse possível acompanhar a opinião pública do Reino Unido sobre a
União Europeia e para avaliar o comportamento de seu euroceticismo.
No Eurobarômetro 30 , publicado em 1988, embora a maioria dos cidadãos de 19
Estados-membros entrevistados estivesse mais otimista com o futuro do que visto em
pesquisas anteriores, Portugal e o Reino Unido foram os únicos que apresentaram
pessimismo, e quando comparado com os dados de 1987, o Reino Unido esperava
mais conflitos domésticos sociais em 1988 do que no ano anterior. Entretanto, houve
um progresso notável na maneira como o Reino Unido via a Comissão e o Parlamento
Europeu, e embora permanecesse contrário a um governo europeu, comparado às
últimas três pesquisas houve uma queda de 8%: antes, 45% dos entrevistados
declaravam-se contra um governo europeu, comparado com 37% em 1988. Ainda nesta
publicação, o Reino Unido também encontrava-se como um dos Estados-membros que
possuía uma visão favorável quanto à presença de cidadãos que não eram da União
Europeia em seu país, embora fossem favoráveis à restrições aos direitos desses
cidadãos.
O Eurobarômetro 34 , publicado em dezembro de 1990 e com 1300 britânicos 20
entrevistados, mostra como a população britânica teve um ano difícil: 71% acreditavam
que sua situação econômica tinha piorado. Comparado com os outros
Estados-membros, o Reino Unido apresenta a menor porcentagem de cidadãos que
19Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb30/eb30_en.pdf>. 20Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb34/eb34_en.pdf>.
22
vêem sua participação como boa (53%) e a segunda maior que a vê como algo ruim
(16%). Comparado com o início do ano, a impressão que a população tinha da
Comissão Europeia caiu de 53% para 44%. Em 9 de dezembro de 1989, a Community
Charter of the Fundamental Social Rights of Workers é adotada por todos os 21
Estados-membros da União Europeia exceto pelo Reino Unido, embora em 1997 o
governo britânico a adote também. A população do Reino Unido é a favor da medida
com 71% de aprovação, mesmo com o governo britânico se opondo a Charter. Sobre o
Parlamento Europeu, 52% dos entrevistados o consideram importante, e 42%
gostariam que fosse ainda mais importante.
No Eurobarômetro 38 , publicado em dezembro de 1992, houve um aumento 22
significativo de entrevistados que diziam ter lido ou escutado algo recentemente sobre a
Comunidade Europeia e a Comunidade Econômica Europeia (aumento de 21%). Ao
mesmo tempo, percebe-se uma grande queda do apoio à unificação europeia neste
período no Estado. Sobre assuntos como imigração e segurança, os entrevistados
britânicos também adotaram uma postura contrária a um maior envolvimento da UE
nestas áreas. Nesta publicação, o Reino Unido é diretamente referido como eurocético
(p. 23) e é importante ressaltar que o Estado estava na presidência do Conselho da
União Europeia no final de 1992.
Para que fosse possível comparar a importância que a população britânica dá a
assuntos relacionados à União Europeia, outros cinco temas foram selecionados:
criminalidade, saúde, imigração, desemprego e economia. Entre o período de
1984-1994, em comparação com os outros cinco temas, vemos que União Europeia
apresenta uma baixa popularidade (gráfico 3).
21Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores. 22Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb38/eb38_en.pdf>.
23
Gráfico 3. Popularidade de temas para a população britânica entre 1984-1994
Fonte: Ipsos MORI.
Gráfico 4. Posição da população sobre um possível referendo entre 1989-1997
24
Fonte: Ipsos MORI.
No gráfico 4, entre junho de 1991 e 1994, período que a preocupação com saúde
pública, desemprego e economia aumentam no Reino Unido, seu apoio à participação
na União Europeia cai e o número de cidadãos que votaria para sair, caso um novo
referendo fosse possível, aumenta.
O Eurobarômetro 42 , publicado em março de 1995, também tem 1300 23
britânicos entrevistados. Reino Unido é o segundo Estado-membro mais oposto à
moeda única e um dos quatro menos interessados em assuntos europeus: 37%
acredita que precisa de muito mais informações sobre os Estados-membros da UE,
enquanto 38% gostaria de saber mais e, quando perguntados diretamente sobre
informações gerais da UE, 85% se considerou não suficientemente informado, a
porcentagem mais baixa entre os Estados-membros. 85% dos entrevistados
responderam errado ou não sabiam a data das eleições para o Parlamento Europeu e
apenas 37% votaram. Sua posição contra um governo europeu também caiu em 10%
(ficando em 37%). É encontrada uma satisfação 22% maior com sua própria
23Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb42/eb42_en.pdf>. 25
democracia quando comparada com a democracia da União Europeia da parte dos
britânicos entrevistados e 26% considerava o Tratado de Maastricht como algo ruim em
relação aos poderes do Parlamento Europeu, enquanto 40% não confiava nele. Dos
Estados-membros da UE na época da pesquisa, o Reino Unido apresentou o maior
índice de identificação nacional: 49% dos entrevistados se identificaram apenas como
britânicos.
O Eurobarômetro 46 , publicado em maio de 1997, revela um aumento no 24
otimismo com o futuro do Reino Unido, fenômeno que neste relatório só ocorre também
com a França e a Finlândia. Não coincidentemente, a taxa de desemprego no Reino
Unido tinha caído de 8,6% para 7,5%. Quando comparado com o Eurobarômetro
anterior, não apenas a porcentagem de entrevistados que apoiam a participação na
União Europeia aumentou, como a porcentagem dos que a viam como algo ruim
diminuiu. Mesmo assim, o Reino Unido continua o Estado-membro "mais eurocético" (p.
29), e dos entrevistados britânicos, 26% sentia que mais conhecimento sobre a União
Europeia era necessário.
No Eurobarômetro 50 , publicado em Março de 1999, 1300 britânicos foram 25
entrevistados (mantendo a média de 1000 cidadãos da Grã-Bretanha e 300 da Irlanda
do Norte). Quando perguntados se se sentiriam tristes se a União Europeia fosse
desmantelada, os britânicos foram os que menos sentiriam tristeza: apenas 19% afirma
que se sentiriam muito tristes, enquanto 24% sentiria muito alívio. Sobre apoio a
Estados que desejam se tornar membros da UE, 44% dos britânicos se mostrou
favorável, índice mais alto que a média dos outros Estados-membros. Sobre a
Integração Europeia, enquanto 42% acredita que muito foi feito, 43% acredita que foi
feito muito pouco ou nada. A porcentagem de entrevistados que acredita que a
participação do Reino Unido na União Europeia trouxe benefícios aumentou de 32% em
1983 a 37% em 1998, mas dentro deste período ela oscilou e não existe uma tendência
clara ao longo do tempo para nenhuma direção. 37% dos entrevistados viam sua
participação na UE como algo bom, contra 22% que a considerava ruim, sendo o
24Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb46/eb46_en.pdf>. 25Disponível em: < http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb50/eb50_en.pdf>.
26
segundo Estado-membro com o menor nível de apoio à União Europeia neste período.
No Eurobarômetro 54 , publicado em abril de 2001, 1300 britânicos foram 26
entrevistados. 47% destes afirmam conhecer as instituições da União Europeia e
avaliam a importância destas instituições com uma média de 35%, sendo o
Estado-membro com o menor nível apresentado nos dois casos. Mesmo apresentando
uma porcentagem de apoio à participação na UE aproximadamente 20% menor do que
em 1981, quando comparada aos dois últimos eurobarômetros, há um leve acréscimo
de apoio. Das três instituições europeias que mais confiam, o Parlamento Europeu está
em primeiro com 28%, seguido pela Corte de Justiça com 27% e a Comissão Europeia,
com 24%, sendo novamente o Estado-membro mais eurocético: o Parlamento Europeu,
única instituição comum nas escolhas de todos os Estados-membros, possui uma
média de confiança de 57% nestes, mais do que o dobro apresentada pela população
do Reino Unido em relação à instituição (28%). Neste relatório, as três maiores
preocupações dos britânicos são o fim da moeda nacional, dificuldades para
agricultores e perda da identidade nacional. Embora dificuldades para os agricultores
apareça nas escolhas de outros 9 países, o Reino Unido é o único que elenca a perda
da identidade nacional como um de seus três medos mais importantes. Ainda sobre
apoio à participação na União Europeia, o Reino Unido tem a menor porcentagem de
percepção da UE como algo bom (28%) e a terceira maior como algo ruim (23%).
No Eurobarômetro 58 , publicado em março de 2003, a amostra padrão de 1300 27
britânicos foi selecionada. Dos entrevistados, 34% afirmou nunca buscar informações
sobre a União Europeia ou não estar interessado neste tipo de informações. Reino
Unido apresenta novamente o mais alto índice de cidadãos que só se identificam com
sua identidade nacional: 65% (a média para o mesmo índice entre os outros
Estados-membros era de 38%). Os britânicos também apresentam o menor índice de
cidadãos que já viu a bandeira da União Europeia: enquanto a média entre os
Estados-membros é de 89%, apenas 73% afirma te-la visto, mas quando perguntados
se são capazes de identificar o símbolo da bandeira, a porcentagem cai para 56%.
26Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb54/eb54_en.pdf>. 27Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb58/eb58_en.pdf>.
27
Neste relatório, 40% dos britânicos não pensa que sua participação na União Europeia
trouxe benefícios, contra 30% dos que pensam que trouxe: o único Estado-membro
onde os cidadãos pensam que sua participação trouxe mais desvantagens do que
vantagens. 75% dos britânicos entrevistados era favorável ao ensino do funcionamento
das instituições da União Europeia em escolas. Sobre decisões a respeito de políticas
de defesa europeias, 26% dos entrevistados pensam que deveria ser responsabilidade
do governo nacional, 33% da NATO e 20% da União Europeia.
Gráfico 5. Popularidade de temas para a população britânica entre 1995-2005
Fonte: Ipsos MORI
28
No gráfico 5, é visto que a maior preocupação para a população britânica entre
1995-2005 é a questão da saúde pública. Porém, quando comparado com a década
anterior, 1992 é o ano que temas relacionados à União Europeia apresentam a maior
porcentagem (13,5%), enquanto em 1997, sua popularidade é de 29,5%.
De acordo com uma pesquisa publicada pela Ipsos MORI em 20 de setembro de
2004, de 1036 adultos entrevistados sobre em quem eles confiavam para tomar
decisões em prol dos interesses da população britânica, em primeiro lugar
encontravam-se Membros do Parlamento (MPs) em Westminster com 29%, e em
segundo britânicos que eram Membros do Parlamento Europeu (MEPs) com 20%. Ao
mesmo tempo, quando perguntados em quem eles não confiavam, o Parlamento
Europeu e a Comissão Europeia como um todo ficaram em primeiro e em segundo
lugar (com 36% e 34%, respectivamente), mas os MPs de Westminster aparecem em
terceiro lugar com 21%, enquantos MEPs britânicos ficam apenas na oitava posição,
com 15%. 80% dos entrevistados não sabia o nome do MEP que representava sua
região e 82% não sentia possuir informações suficientes sobre a constituição da União
Europeia para fazer uma decisão informada . 28
Entre 1998 e 2005, há uma oscilação entre a popularidade dos temas de
desemprego, imigração e saúde pública: desemprego tende a diminuir, imigração a
aumentar e saúde pública varia anualmente (gráfico 5). Durante este período, a posição
da população britânica sobre um possível referendo também apresenta variações
anuais, principalmente depois de 1999, onde as porcentagens majoritárias para se
manter na UE ou sair alternam-se anualmente (gráfico 6).
Gráfico 6. Posição da população sobre um possível referendo entre 1998-2007
28Pesquisa disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/researchpublications/researcharchive/650/UK-On-Europe-Low-On-Knowledge-Low-On-Trust.aspx>.
29
Fonte: Ipsos MORI.
Publicado em maio de 2005, o Eurobarômetro 62 é o primeiro a ser feito após a 29
inclusão de novos 10 Estados-Membros em 2004. Dos entrevistados britânicos, 63%
demonstram satisfação com o modo como a democracia funciona no Reino Unido,
enquanto apenas 39% se diz satisfeito com o funcionamento da democracia na União
Europeia, sendo o Estado-membro menos satisfeito. A imigração apresenta
preocupações para outros países, mas Reino Unido é o mais preocupado, com 28%, e
se manifesta a favor da limitação do processo de decisões apenas a governos
nacionais e tem o menor índice de conhecimento sobre a União Europeia (3,8 de 10),
embora ache que a mídia nacional fale demais sobre a UE. Reino Unido ocupa a última
posição em termos de apoio à participação na União Europeia, e a penúltima quando se
trata de benefícios que provém da sua participação. Apenas 32% têm uma imagem
positiva da UE, é o Estado-membro que mais associa a União Europeia com a perda da
identidade nacional (31%), e 27% dizem que houve um sentimento de alívio com o fim
29Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb62/eb_62_en.pdf>. 30
da UE. Também é o Estado-membro que menos deseja que a União Europeia adquira
um papel ainda maior em suas vidas: 47% acredita que isso acontecerá, mas apenas
33% querem que aconteça.
O Eurobarômetro 68 , conduzido entre setembro e outubro de 2007, teve 1340 30
cidadãos britânicos entrevistados em suas casas. Dos entrevistados, 63% pensa que a
situação da economia nacional é boa, enquanto apenas 47% pensa que a situação da
economia europeia é boa também (embora 31% não soube opinar). Nesta pesquisa,
entre os quatro desafios mais importantes para o Reino Unido estavam criminalidade,
imigração, saúde pública e terrorismo, enquanto para a União Europeia os assuntos
eram desemprego, inflação, criminalidade e saúde pública. Sobre imigração, há uma
diferença entre os níveis de educação dos entrevistados e suas respostas: enquanto o
índice para os que foram educados até os 15 anos ou menos é de 43%, ele cai para
27% entre os que foram educados até os 20 anos ou mais. 37% dos entrevistados diz
entender o funcionamento da União Europeia, porém apenas 25% confia na UE,
enquanto 30% confia em seu governo nacional. Apenas 21% dos entrevistados diz
acreditar na mídia. 48% pensam que existem muito poucas reportagens sobre a União
Europeia na televisão e 27% pensam que são muito negativas. Quando se trata de
rádio, 43% acreditam que há muito pouca cobertura sobre assuntos Europeus, 39%
classificavam essas reportagens de forma objetiva.
No Eurobarômetro 72 , realizado entre 30 de outubro e 17 de novembro de 31
2009, 1322 cidadãos britânicos foram entrevistados. Nele, 60% admite não entender
como a União Europeia funciona. Neste período, o desemprego era o assunto que mais
preocupava os britânicos, com a situação econômica em segundo lugar e imigração em
terceiro. Em 2009, 23% destes entrevistados relataram confiar na UE e, em
contrapartida, apenas 19% confiavam no governo e parlamento britânico, e só 9% em
partidos políticos britânicos. 53% acreditam que a União Europeia tem um papel
importante e efetivo em combater a crise financeira, embora apenas 30% veja a
participação do Reino Unido na UE como algo bom e apenas 36% acredita que sua
30Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb68/eb68_uk_nat.pdf>. 31Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb72/eb72_uk_uk_nat.pdf>.
31
participação trouxe benefícios.
No Eurobarômetro 76 , conduzido entre 3 e 20 de novembro de 2011, 1312 32
britânicos foram entrevistados. 62% dos entrevistados não acreditam que estão bem
informados sobre assuntos europeus. 36% acreditam também que a mídia britânica fala
sobre a União Europeia de uma maneira muito negativa: 24% dos cidadãos britânicos
acredita que a televisão dá uma visão negativa da UE, embora estações de rádio são
vistas de um modo mais imparcial, com apenas 15% dos entrevistados acreditando que
eram muito negativas.
No Eurobarômetro 80 , conduzido entre 2 e 17 de novembro de 2013, apenas 33
50% dos entrevistados britânicos afirmou saber como a União Europeia funciona. Sobre
o grau de confiança na União Europeia, de todos os cidadãos da UE entrevistados
apenas 31% confiava na UE e esse número cai para 19% quando trata-se
especificamente do Reino Unido. Dois fatores que demonstraram influenciar bastante a
resposta desta questão foram idade e educação: quanto mais velho e menos educado,
menor o índice de confiança. Reino Unido se sobressai em mais um aspecto desta
pesquisa: embora o nível de confiança na União Europeia não fosse muito alto, em
outros países membros, quando comparados à confiança em governos de seus
próprios países, a confiança na UE era mais alta - somente 23% do total dos
entrevistados confiava no seu governo (comparado com 31% para a UE). O oposto
acontece no Reino Unido: a porcentagem dos britânicos que confia em seu governo é
de 24% (comparado com 19% da UE).
Outra pesquisa publicada pela Ipsos MORI em outubro de 2014 demonstra como
os britânicos percebem as questões de imigração, muçulmanos e desemprego:
enquanto pensam que 24% da população é composta de imigrantes, na realidade
apenas 13% é. O mesmo ocorre com muçulmanos, em uma escala ainda maior: a
população britânica estima que 21% é muçulmana, quando apenas 5% é. E para o
desemprego, enquanto acredita-se que 24% da população está desempregada, o
32Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb76/eb76_uk_uk_nat.pdf>. 33Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb80/eb80_uk_uk_nat.pdf>.
32
número real é menor do que 7% . 34
No Eurobarômetro 84 , conduzido entre 7 e 17 de novembro de 2015, 1314 35
britânicos foram entrevistados (do total de 27681 cidadãos de Estados Membros da
União Europeia). Nele, a livre circulação tem uma aprovação de 64% dos entrevistados
britânicos, 51% vêem a imigração de pessoas de outros Estados Membros como algo
positivo (comparado com 55% do total dos entrevistados), enquanto essa porcentagem
cai para 39% quando os imigrantes são de fora da União Europeia (permanecendo
mais alta que a porcentagem de todos os entrevistados de 34%). 50% dos britânicos
entrevistados acreditam não estarem bem informados sobre assuntos e problemas
europeus.
Em European Opinion About Immigration: The Role of Identities, Interests and
Informations (2007), John Sides e Jack Citrin demonstram como cidadãos de 20 países
membros da União Europeia superestimam o número real de imigrantes que existe em
seu país e como essa percepção está associada com uma avaliação negativa sobre a
imigração. O Migration Observatory da Universidade de Oxford (2011) faz pesquisas da
opinião pública britânica sobre a imigração e os impactos causados sobre o Reino
Unido pelos imigrantes europeus.
Em pesquisa sobre as percepções sobre a União Europeia, publicada em 9 de
junho de 2016 pela Ipsos MORI com 1000 entrevistados, foram analisados os seguintes
aspectos: quantidade de imigrantes de outros estados membros da UE, proporção de
imigrantes que nasceram em outro país da UE, regulações da UE, quanto o Reino
Unido gasta com sua participação, quanto o Reino Unido recebe em retorno,
democracia na UE e conhecimento sobre os MEPs, o orçamento da administração da
UE, subsídios de apoio às crianças e investimento interno da UE no Reino Unido.
Em média, os entrevistados acreditavam que cidadãos de outros países da
União Europeia formavam 15% da população total do Reino Unido quando, na
34Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/researchpublications/researcharchive/3466/perceptions-are-not-reality-10-things-the-world-gets-wrong.aspx>. 35Disponível em: <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb84/eb84_uk_uk_nat.pdf>.
33
realidade, formavam apenas 5%. Entretanto, a proporção de imigrantes que nasceu em
outros países da UE é subestimada: enquanto em média se pensa que é 25%, na
verdade é 37%. De acordo com esta e outras pesquisas, isso sugere que não é a
imigração especificamente de cidadãos da UE que é superestimada e sim imigração
como um todo. O conhecimento sobre o funcionamento da União Europeia também
apresenta baixos índices na pesquisa: apenas 60% dos entrevistados sabia que os
MEPs são eleitos pela população de cada estado membro, mas apenas 5% sabia
nomear corretamente o MEP que representava sua região. Embora a maioria dos
entrevistados (67%) estivesse correta em afirmar que o Reino Unido tem mais gastos
do que recebe em retorno diretamente, 84% pensava que o Reino Unido estivesse
entre um dos 3 principais contribuidores, quando em 2014, por exemplo, Alemanha,
França e Itália estavam em frente . 36
Em outra pesquisa, de maio de 1978, dos 532 entrevistados, 48% respondeu
que se existisse um referendo para sair do European Single Market , votariam para 37
sair, contra 43% que votaria para ficar. Nesta mesma pesquisa, 64% dos entrevistados
não acreditam que o Mercado Único Europeu tornou o Reino Unido mais próspero,
enquanto 72% acredita que o controle do Estado sobre seu próprio destino foi reduzido
após sua adesão . 38
Gráfico 7. Índice de confiança na União Europeia e no governo britânico.
36Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/researchpublications/researcharchive/3742/the-perils-of-perception-and-the-eu.aspx>. 37Mercado Único Europeu, também chamado de European Common Market antes do Tratado de Maastricht. 38Disponível em:
<https://www.ipsos-mori.com/researchpublications/researcharchive/2483/Common-Market-Poll-May-1978.
aspx>.
34
Fonte: Ipsos MORI.
Este gráfico demonstra o nível de confiança que a população britânica possui em
seu próprio governo e também em relação à União Europeia. Embora em alguns
períodos as duas variáveis se aproximem, é possível notar que em momentos onde o
índice de confiança no governo nacional é alto, a confiança na UE é baixa e vice-versa.
Comparado com outros Estados-membros, o Reino Unido demonstra constantemente
pouca confiança na União Europeia.
Embora no final de 2011, a maioria da população britânica demonstrasse maior
apoio à saída do Reino Unido do bloco do que a permanência, a partir de 2012 até
fevereiro de 2016 a tendência muda e até 2016 a maioria da população adotou uma
postura favorável à sua permanência na União Europeia (gráfico 8).
Gráfico 8. Posição da população sobre um possível referendo entre 2011-2016
35
Fonte: Ipsos MORI
Os dados dos quatorze relatórios do Eurobarômetro analisados, junto ao dados
da Ipsos MORI, demonstram como a confiança da população britânica na União
Europeia e suas instituições é baixa. Além disso, durante todo o período analisado é
possível constatar que não apenas seu nível de conhecimento sobre o assunto é
extremamente pequeno, principalmente quando comparado com os níveis de outros
Estados-membros. Também não são encontrados índices altos expressando vontade
de tornar-se mais informado.
Outro fator que torna a situação delicada é a maneira como a população
britânica avalia os meios de comunicação: embora, quando comparado à televisão, o
rádio se mostre um meio mais confiável de acordo com os entrevistados, existe a
percepção de que a mídia britânica retrata a União Europeia muito negativamente. Nos
gráficos de posicionamento da população britânica sobre um possível referendo entre
1974-2016 (gráficos 2, 3, 6, 8 e 9), pôde-se constatar a volatilidade da opinião pública
36
do Reino Unido em relação à União Europeia.
Com os gráficos e dados apresentados do período de 1974 até 2007, a teoria da
aproximação à política doméstica consegue demonstrar as diferenças e níveis de apoio
à integração. Embora a população do Reino Unido demonstre um nível de desconfiança
muito mais elevado do que de outros Estados-membros, durante este período seu
apoio à integração acompanhava os índices de preocupação com problemas
domésticos. Entretanto, ao analisar o período de novembro de 2012 a fevereiro de
2016, pode-se observar que em um possível referendo a maioria da população votaria
para a sua permanência na União Europeia durante todo esse intervalo de tempo.
Dos temas que mais preocupavam a população neste período, economia,
imigração e desemprego apresentavam altos índices (gráfico 9), e ainda assim, de
acordo com as pesquisas realizadas pela Ipsos MORI, a população manifestava apoio à
integração, contrariando, pela primeira vez até então, o padrão de comportamento
explicado através da teoria da aproximação à política doméstica. Os meses que
antecederam o referendo de 2016 sobre a permanência do Reino Unido na União
Europeia tornam-se indispensáveis para a compreensão da mudança da opinião
pública, um longo período de campanha que dividiu a nação.
4 Capítulo 3. Brexit e o Reino Unido
O Brexit, como ficou conhecido o referendo sobre a permanência do Reino Unido
na União Europeia de 23 de junho de 2016, é extremamente importante para o estudo
não apenas do euroceticismo britânico, mas do euroceticismo em si: é a primeira
manifestação definitiva do euroceticismo duro na política.
Em janeiro de 2013, o então Primeiro-ministro do Reino Unido David Cameron
também líder do Partido Conservador britânico à época, anuncia seus planos de fazer
um referendo caso o Partido Conservador ganhasse as eleições de 2015. Em seu
discurso, Cameron diz:
37
Em algum momento dos próximos anos a União Europeia terá que entrar em acordo em uma mudança de Tratado para realizar as mudanças necessárias para o futuro a longo prazo do euro e para consolidar a Europa diversa, competitiva e democraticamente accountable que procuramos. Eu acredito que a melhor maneira de fazer isso será com um novo Tratado, então eu adiciono a minha voz àqueles que já estão pedindo por isso. A minha forte preferência é promulgar estas alterações para toda a UE, não apenas para a Grã-Bretanha (...) e quando tivermos negociado esse novo acordo, daremos ao povo britânico um referendo com uma escolha muito simples: dentro ou fora. Permanecer na UE nestes novos termos; ou sair completamente. Será um referendo dentro-fora. A legislação será elaborada antes da próxima eleição. E se um governo Conservador for eleito, nós introduziremos imediatamente a legislação facilitadora e a aprovaremos até o final deste ano. E vamos concluir esta negociação e realizar este referendo dentro da primeira metade de próximo parlamento. É hora do povo britânico dar a sua palavra. É hora de resolver esta questão entre a Grã-Bretanha e a Europa. Digo ao povo britânico: esta será a sua decisão. E quando essa decisão chegar, você terá uma escolha importante a fazer sobre o destino do nosso país. 39
Em 2015, o Partido Conservador vence a eleição geral, e começa a negociar
novos termos de sua participação com a União Europeia e o referendo para que a
população britânica decidisse se continuaria sendo membro da UE ganhou o apelido de
Brexit . O modo como partidos políticos percebe a participação de seu país na União 40
Europeia tem um grande poder de influência em sua população, principalmente quando
se trata de referendos sobre integração europeia, como demonstrado por Hobolt
(2006).
Enquanto partidos políticos são capazes de influenciar como a população
percebe as suas opções para os referendos, Hobolt (2006, p. 641) destaca que a
lealdade partidária não é sempre suficiente para levar o eleitor a fazer sua escolha
39"At some stage in the next few years the EU will need to agree on Treaty change to make the changes needed for the long term future of the Euro and to entrench the diverse, competitive, democratically accountable Europe that we seek. I believe the best way to do this will be in a new Treaty so I add my voice to those who are already calling for this. My strong preference is to enact these changes for the entire EU, not just for Britain (...) and when we have negotiated that new settlement, we will give the British people a referendum with a very simple in or out choice. To stay in the EU on these new terms; or come out altogether. It will be an in-out referendum. Legislation will be drafted before the next election. And if a Conservative Government is elected we will introduce the enabling legislation immediately and pass it by the end of that year. And we will complete this negotiation and hold this referendum within the first half of the next parliament. It is time for the British people to have their say. It is time to settle this question about Britain and Europe. I say to the British people: this will be your decision. And when that choice comes, you will have an important choice to make about our country’s destiny". Discurso transcrito do vídeo disponível em: <http://www.bbc.com/news/uk-politics-21148282>. 40British Exit, ou "Saída Britânica".
38
embasada nas convicções do partido. No referendo de 2016, a relação entre os
partidos e suas opiniões era extremamente delicada, pois políticos tanto do Partido
Conservador e do Partido Trabalhador eram encontrados em campanhas para
permanecer e em campanhas para sair da União Europeia. Mesmo assim, o papel que
os políticos mais influentes desempenharam na campanha foi muito importante,
especialmente os fatos e dados que apresentavam a respeito do que aconteceria caso
optassem por sair ou por permanecer membro da UE, fundamentais para a escolha dos
cidadãos.
Um dos partidos britânicos que mais se destacou durante a campanha para o
referendo foi o partido de extrema-direita UKIP que, enquanto nas eleições de 2010
obteve 3,1% dos votos, tem um aumento considerável de apoio nas eleições de 2015,
quando consegue 12,7% dos votos. De acordo com o manifesto de 2015 do United
Kingdom Independence Party (2015), intitulado Believe in Britain , a saída da União 41
Europeia economizaria 9 bilhões de libras por ano em contribuições diretas ao
orçamento da UE, e o controle de imigração nunca seria possível caso permaneçam na
União Europeia. Entretanto, para o partido, todo cidadão da UE que residisse no Reino
Unido na época do referendo poderia permanecer habitando e trabalhando sem
precisar deixar o Estado, tendo a possibilidade de pedir a cidadania britânica após 5
anos: o manifesto reforça que os empregos da população britânica e dos europeus que
trabalham no Reino Unido não dependem da participação do Estado na UE e que
estariam assegurados mesmo quando saíssem do bloco.
Em A race apart or no different from the rest of us? MPs and the European Union
(2015), Tim Bale, Philip Cowley e Anand Menon entrevistaram 129 Membros do
Parlamento britânico sobre o seu posicionamento no referendo e assuntos pertinentes à
União Europeia. Destes assuntos, foram considerados os mais importantes para
determinar a forma como votaria: o controle de imigração com 52%, controle ao
Estado-Providência com 43% e controle de sua soberania (não ser controlado por 42
Bruxelas), com 29%. Na época da pesquisa, 70% de todos os MPs entrevistados
41Acredite na Grã-Bretanha 42Welfare State.
39
acreditavam que o Reino Unido votaria para permanecer na União Europeia, e das
razões para essa opinião, as três mais populares foram que as pessoas não gostam de
mudanças/temem o desconhecido, segurança e estabilidade econômica e o risco de
desemprego e instabilidade de trabalhos.
Entretanto, o baixo índice de conhecimento sobre a União Europeia e seu
funcionamento não é limitado à população britânica. Com os dados do Eurobarômetro,
foi possível observar que a população britânica não se sente bem-informada a respeito
da União Europeia, mas quando os próprios MPs foram entrevistados com perguntas
básicas sobre a UE, como que país presidia o Conselho da União Europeia no
momento, 60% dos MPs admitiram não saber.
De acordo com a Ipsos MORI, em janeiro de 2016, os três principais desafios
enfrentados pelo Reino Unido de acordo com sua população eram: imigração (46%),
saúde pública (NHS - National Health Service ) (38%) e economia (27%). Em junho, 43
mês do referendo, embora imigração e NHS permanecessem em suas posições (agora
com 48% e 37% respectivamente), a economia (27%) é substituída por desafios
relacionados à União Europeia (32%). Estes três continuaram considerados os mais
importantes até agosto de 2016 , porém suas porcentagens mudam: enquanto 44
imigração cai para 34% e NHS para 31%, desafios relacionados à UE sobem para 31%
. 45
Já em uma pesquisa conduzida entre 11 e 14 de junho de 2016 pela mesma
organização, dos fatores que eram considerados importantes para os 1257
entrevistados, embora a questão dos imigrantes ocupasse o primeiro lugar novamente,
outros aparecem: o impacto na economia do Reino Unido, sua capacidade de fazer
suas próprias leis, o impacto nos serviços públicos/housing, impacto nas oportunidades
de trabalhos para britânicos, o custo da imigração da União Europeia no
Estado-Providência britânico e a habilidade de viajar para países da UE. 78% dos
43Serviço Nacional de Saúde. 44Período com os últimos dados disponíveis. 45Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/researchpublications/researcharchive/2905/Issues-Index-2012-onwards.aspx?view=wide>.
40
entrevistados confirmou ouvir a afirmação de que o Reino Unido mandava 350 milhões
por semana para a União Europeia e 47% acreditava que fosse verdade - embora as 46
contribuições não sejam fixas e variem anualmente: as contribuições brutas feitas pelo
Reino Unido nos últimos anos foram de 14,1 bilhões de libras em 2009; £15,2 bilhões
em 2010; £15,4 bilhões em 2011; £15,7 bilhões em 2012; £18,1 bilhões em 2013; £18,8
bilhões em 2014 e £17,8 bilhões em 2015 . 47
Em outra pesquisa realizada pelo Ipsos MORI entre 3 e 13 de junho de 2016,
985 britânicos foram entrevistados a respeito dos principais desafios enfrentados pelo
Reino Unido no presente. Entre os tópicos, os quatro mais mencionados foram:
imigrantes; NHS/hospitais/saúde; Common Market/União Europeia; e Economia,
respectivamente . 48
A NHS simboliza algo muito importante para a população britânica: de 1086
entrevistados pela Ipsos MORI em setembro de 2016 , quando perguntados 3 dos 49
fatores que os deixavam mais orgulhosos de serem britânicos, a NHS ficou em primeiro
lugar, com 49%. Durante a campanha do Brexit, um dos pontos mais mencionados era
que parte dos 350 milhões gastos semanalmente com a União Europeia iriam para o
NHS - fato reconhecido como incorreto no dia seguinte ao referendo.
Gráfico 9. Popularidade de temas para a população britânica entre 2006-2016.
46Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/Assets/Docs/Polls/pm-16-june-2016-topline.pdf>. 47Disponível em: <http://researchbriefings.files.parliament.uk/documents/SN06455/SN06455.pdf>. 48Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/Assets/Docs/Polls/issues-index-june-2016-topline.pdf>. 49Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/Assets/Docs/Polls/british-influence-topline-2016.pdf>.
41
Fonte: Ipsos MORI.
Como visto no gráfico 9, entre 2006-2015, a União Europeia foi um assunto que
não recebia muita atenção comparado aos outros selecionados. Com o referendo de
2016, porém, sua relevância triplica, enquanto os outros 4 diminuem.
É importante lembrar que não importa se a UE os ajuda ou mesmo que
atrapalhe, que sua saída prejudicaria mais do que a situação atual: o que realmente
importa é como a população percebe a UE. Durante a campanha, Michael Gove disse:
"eu acho que as pessoas deste país estão fartas de especialistas ". 50
Não se tratava de estar informado, ou saber dos benefícios, o importante era
retomar o controle . Entretanto, aqui começamos a perceber as questões regionais. 51
Comparando os resultados do referendo, o único país do Estado que optou
50I think people in this country have had enough of experts. Disponível em: <http://www.telegraph.co.uk/news/2016/06/10/michael-goves-guide-to-britains-greatest-enemy-the-experts/>. 51Take back control, slogan usado pela campanha que apoiava a saída do Reino Unido da União Europeia.
42
majoritariamente pela saída foi a Inglaterra. Isso causou uma forte revolta na população
escocesa e na norte-irlandesa, onde o voto majoritário foi pela permanência no bloco
econômico.
A porcentagem de eleitores votantes no referendo de 2016 foi sensivelmente
mais elevada do que aquela das três últimas eleições gerais no Reino Unido, como
demonstra o quadro 1. 51,9% da população britânica votou para sair da União
Europeia, com mais de 17 milhões de votos.
Quadro 1. Afluência de eleitores às urnas
ANO PORCENTAGEM DE ELEITORES VOTANTES
REFERENDO 2016 72,2%
ELEIÇÕES GERAIS 2015 66,1%
ELEIÇÕES GERAIS 2010 65,1%
ELEIÇÕES GERAIS 2005 61,4%
Fonte: BBC.
Em 24 de junho de 2016, após os resultados do referendo, David Cameron
renunciou a seu cargo de Primeiro-ministro. Em 11 de julho, Theresa May tornou-se a
líder do Partido Conservador e no dia 13 foi designada a nova Primeira-ministra pela
Rainha Elizabeth II. Durante a campanha do referendo, May apoiava a permanência do
Reino Unido na União Europeia. Em seu primeiro discurso como Primeira-ministra, May
comenta sobre o referendo:
Após o referendo, enfrentamos uma época de grande mudança nacional. E eu sei porque somos a Grã-Bretanha, que vai conseguir enfrentar o desafio. À medida que saímos da União Europeia, vamos forjar um papel corajoso, novo, e positivo para nós mesmos no mundo, e faremos da Grã-Bretanha um país que
43
trabalha não apenas para alguns privilegiados, mas para cada um de nós. 52
Para que o processo formal de saída da União Europeia entre em ação, é
necessário acionar o artigo 50 do Tratado da União Europeia , com um prazo de dois 53
anos para que as negociações sejam concluídas.
Em outubro de 2016, May anuncia seus planos de acionar o artigo 50 até o final
de março de 2017, dando ao Reino Unido o prazo de retirar-se do bloco até 2019.
Todavia, a High Court of Justice of England and Wales decidiu, em 3 de novembro de
2016, que apenas o Parlamento tem o poder de acioná-lo.
Em uma pesquisa realizada pela Ipsos MORI entre 11 e 14 de novembro de
2016, 43% se demonstram satisfeitos com a forma como o governo dirige o Reino
Unido. Dos entrevistados, 87% acredita que Theresa May está fazendo um bom
trabalho como Primeira-ministra, enquanto 48% acredita que o governo de May está
fazendo um péssimo trabalho em relação à saída do Reino Unido da União Europeia.
47% da população britânica entrevistada também acredita que a situação econômica do
Reino Unido piorará nos próximos 12 meses e 44% acreditam que o Parlamento
deveria apenas votar no acionamento do artigo 50, mas deixar o governo negociar o
futuro relacionamento do Reino Unido com a União Europeia . 54
Com o resultado do referendo britânico de 2016, partidos de outros países que
possuem um alinhamento eurocético duro passaram a dar mais atenção para possíveis
referendos sobre sua participação na União Europeia, como o partido francês Front
National. Dados do European Council on Foreign Relations apontam que os partidos
anti-UE estão propensos a iniciar 33 processos de referendos populares em seus
52"Following the referendum, we face a time of great national change. And I know because we’re Great Britain that we will rise to the challenge. As we leave the European Union, we will forge a bold, new, positive role for ourselves in the world, and we will make Britain a country that works not for a privileged few, but for every one of us". Discurso extraído da revista The Spectator, disponível em: <http://blogs.spectator.co.uk/2016/07/theresa-mays-first-speech-prime-minister/>. 53Disponível em: <www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/BRIE/2016/577971/EPRS_BRI(2016)577971_EN.pdf>. 54Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/Assets/Docs/Polls/pm-november-2016-topline.pdf>.
44
respectivos países já no próximo ano . 55
O euroceticismo britânico, como visto ao longo da pesquisa, é constante na
política do Reino Unido e para sua população. Seu apoio à integração, entretanto,
variou com frequência. Embora o modelo de aproximação à política doméstica possa
ser observado na maioria do período de sua participação, ele não é suficiente para
compreender os resultados do referendo e a mudança da opinião pública. Sejam as
informações divulgadas pelos dois lados durante a campanha verdadeiras ou falsas, a
questão da identidade nacional e de análises de custo-benefício também
encontravam-se presentes nelas. O Reino Unido, conhecido como awkward partner
durante quatro décadas, manifesta em 2016 o maior efeito possível de seu
euroceticismo até então, optando por sair da União Europeia.
5 Considerações Finais
55Disponível em: <http://www.ecfr.eu/publications/summary/the_world_according_to_europes_insurgent_parties7055>.
45
O contexto histórico e geopolítico do Reino Unido, aliados ao cenário
internacional quando da sua adesão à União Europeia, são capazes de explicar a
relutância e desconfiança de sua população à sua participação na UE.
Ao longo dos anos, o assunto apresentou níveis completamente diversos de
popularidade, mas quando comparado a outros países, o Reino Unido apresenta
continuamente baixas taxas de confiança na União Europeia, acentuadas
principalmente pelas condições do cenário internacional na época em que se torna um
Estado-membro. O medo em relação ao euro, perda de soberania e controle e
imigração são constantes para a população, assim como a falta de informações e
conhecimento sobre o modo de funcionamento da UE.
O nível de euroceticismo e apoio à UE também varia entre os países que
integram o Reino Unido. Como visto nos gráficos, a opinião pública é volátil. Para
explicá-la, existe mais do que uma categoria, cada uma se aplicando melhor em casos
específicos. Nesta pesquisa, a que melhor se enquadrou foi a de comparação com a
política nacional, especialmente pelo baixo nível de conhecimento a respeito da UE e
seu funcionamento. Como pode ser visto anteriormente, mesmo as cidades que
recebiam contribuições econômicas significativas da UE, foram também aquelas nas
quais o leave foi o voto vencedor . 56
Os partidos políticos também foram essenciais durante o referendo: no caso do
Reino Unido, como a elite política encontrava-se dividida, consequentemente a
população se fragmentou. As duas campanhas espalharam fatos incorretos, mas o voto
em favor da desintegração foi encarado pela população como uma atitude contra o
status quo.
O partido de extrema direita UKIP merece atenção especial: seu crescimento
desde 2010 tem sido considerável e seu então líder Nigel Farage era um dos políticos
mais relevantes para a Leave Campaign.
Pós-referendo, o Reino Unido passa por um momento de grande instabilidade e
56https://www.theguardian.com/uk-news/2016/jun/25/view-wales-town-showered-eu-cash-votes-leave-ebbw-vale
46
divisão, pois, embora a Leave Campaign tenha se logrado vencedora, mesmo nas
regiões em que, em tese, a campanha pela desintegração obteve maior aderência,
ainda havia uma clara divisão entre as pessoas, com as taxas de crimes de ódio em
ascendência.
Na própria política britânica atual há incertezas: mesmo Theresa May afirmando
que o acionamento do artigo 50 será feito até o final de março de 2017, a
primeira-ministra já não possui uma aderência majoritária do Parlamento e tampouco da
população. Ainda, existe a possibilidade da realização de um segundo referendo sobre
a independência da Escócia e uma nova Border Poll na Irlanda do Norte, embora
pesquisas conduzidas pela Ipsos MORI demonstrem que a população escocesa em sua
maioria não votaria para deixar o Reino Unido . 57
A União Europeia também se encontra em uma posição delicada, pois o
euroceticismo tem aumentado em outros Estados-membros como a França e a Itália,
aumentando o risco de que outros Estados-membros procedam para a realização de
referendos próprios, seguindo o exemplo britânico.
A população do Reino Unido, que por quase 40 décadas pendia para o
euroceticismo brando, atinge o extremo do euroceticismo duro, e meses após o
resultado do referendo e já passando pelas primeiras consequências, não demonstra
arrependimentos na sua escolha, pelo menos majoritariamente. É o ínício de uma nova
era tanto para o Reino Unido quanto para a União Europeia.
Esse euroceticismo, portanto, relaciona-se com a política doméstica, de tal forma
que o custo/benefício da integração se mostra uma teoria insuficiente nesse contexto.
Outros fatores que colocam em risco a soberania do país, como imigração e,
principalmente elevação de taxas de criminalidade por conta da imigração, mudam a
percepção, assim como a tendência em superestimar o real número de imigrantes e o
impacto dessa aparente “crise migratória”.
Assim, o Reino Unido entra para a história como o primeiro Estado-membro a
57Disponível em: <https://www.ipsos-mori.com/researchpublications/researcharchive/3781/Brexit-does-not-trigger-significant-increase-in-support-for-independence.aspx>.
47
decidir se retirar da União Europeia, porém encontra-se em uma situação delicada
internamente e externamente.
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48
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