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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM ENFERMAGEM ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM - ABESE: A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER (2000 – 2001) por Flávia de Araújo Carreiro Relatório final de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/UNIRIO.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM ENFERMAGEM

ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM - ABESE:

A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER(2000 – 2001)

por

Flávia de Araújo Carreiro

Relatório final de Dissertação apresentado ao

Programa de Pós-graduação da

Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/UNIRIO.

Orientadora: Profª. Drª. Almerinda Moreira

Rio de Janeiro

2006

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ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS

EM ENFERMAGEM - ABESE:

A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER

(2000 – 2001)por

Flávia de Araújo Carreiro

Banca examinadora de Defesa de Dissertação aprovada em 11/10/2006.

________________________________________

Profª. Drª. Almerinda MoreiraPresidente

________________________________________

Profª. Drª. Lúcia Helena Silva Correia Lourenço1º Examinador

________________________________________

Prof. Dr. Osnir Claudiano da Silva Júnior 2º Examinador

_______________________________________

Prof. Dr. Nilson Alves de Moraes1º Suplente

_______________________________________

Prof. Dr. Wellington Mendonça de Amorim2º Suplente

Rio de Janeiro

2006

AGRADECIMENTOS

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Ao Criador e Arquiteto do Universo, pelo dom da Vida e a possibilidade de vivê-la

em sua plenitude;

A minha família, por ter me dado às oportunidades de construir a pessoa que sou;

A Drª. Almerinda Moreira, por ter apostado em mim, e, em minha visão de mundo,

estar sendo uma ORIENTADORA no seu sentido mais concreto, de simplesmente

guiar, informar e esclarecer, deixando que aprenda e apreenda o que é ser

mestranda em História da Enfermagem;

A Enfermeira Maria Helena Garcia Alvernaz, por “abrir mão” de meu trabalho na

rotina do serviço, e assim permitir que me matriculasse no Mestrado;

Aos meus colegas de turma, por cada palavra de estímulo a cada pedregulho que se

colocava no meu caminho;

Aos pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Histórica em Enfermagem – LAPHE,

pelas diferentes maneiras de ajudarem a construir a minha visão de mundo sobre a

História da Enfermagem, e assim, escrever meu estudo.

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“Quanto mais se produz especialidades,

menos se consegue interconectá-las.”

(Basarab Nicolescu)

“Compreender a gênese social de um

campo, e apreender aquilo que faz a

necessidade específica que o sustenta, do

jogo de linguagem que nele se joga, das

coisas materiais e simbólicas em jogo que

nele se geram, é explicar, tornar

necessário, subtrair ao absurdo do arbitrário

e do não-motivado os atos dos produtores e

as obras por eles produzidas e não, como

geralmente se julga, reduzir ou destruir.”

(Pierre Bourdieu)

Carreiro, Flávia de Araújo. ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM - ABESE: A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.].

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

RESUMO

O objeto deste estudo é o processo de criação da Academia Brasileira de Especialistas em

Enfermagem – ABESE, fundada em 2000, na cidade de São Paulo, que, em minha visão,

tem no seu processo de geração, organização e implementação, a concretude de um

processo de especialização ocorrido nas Ciências Médicas, e refletido na Enfermagem.

Identificar as circunstâncias de criação da ABESE, e examinar seu(s) significado(s), além de

discutir as perspectivas futuras dentro do processo de profissionalização da Enfermagem,

foram os objetivos do estudo. Teve como fundamentação teórica, a multireferencialidade, e

como metodologia, a pesquisa histórica. Os conceitos de Pierre Bourdieu sobre habitus,

capital e poder simbólico somado ao pensamento de Michel Foucault sobre o valor do

discurso, foram selecionados e aplicados ao estudo. Conclui que o processo de

especialização pelo qual a enfermagem passou, aponta para uma reatualização do habitus

do enfermeiro, o qual estará baseado em uma prática dominada pela tecnologia. Ao estudá-

lo, observei que a Enfermagem, representada pela ABESE, ensaia os primeiros passos para

conseguir o mesmo resultado que as Ciências Médicas obtiveram no que se refere as

conseqüências positivas sobre o reconhecimento social e critério de competência.

Representante forte de um paradigma político-econômico vigente, o estado de São Paulo

impulsiona mudanças na prática profissional, e sendo assim, a ABESE, enquanto forma de

organização política, é uma estratégia de afirmação e legitimação de um grupo que busca

produzir valor social fora dos modelos tradicionais de legitimação, centrados na academia. A

partir de ações concretas da ABESE, contestei a trajetória do movimento de valorização da

Enfermagem especializada, nascido, não por acaso, neste estado. A reflexão sobre as

trajetórias das sociedades de especialistas, indicou que acima das cisões ou acordos

havidos na história da Enfermagem, o mais importante é o próximo passo a ser dado, para

maiores e melhores conquistas. A História da Enfermagem é feita de pioneiras e pioneiros.

Palavras-chave: Enfermagem especializada. Espaço de poder. Pioneirismo.

Carreiro, Flávia de Araújo. BRAZILIAN ACADEMY OF SPECIALISTS IN NURSING - ABESE: THE CONSTRUCTION OF A SPACE OF BEING ABLE (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.].

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

ABSTRACT

The object of this study is the process of creation of the Brazilian Academy of Specialists in

Nursing - ABESE, established in 2000, in the city of São Paulo, that, in my vision, has in its

process of generation, organization and implementation, the realization of a process of

specialization occurred in Medical Sciences, and reflected in the Nursing. To identify the

circumstances of creation of the ABESE, and to examine its (s) meaning (s), beyond inside

arguing the future perspectives of the Nursing’s process of to be professional, had been the

objectives of the study. It had as theoretical recital, the multiple references, and as

methodology, the historical research. The concepts of Pierre Bourdieu on habitus, capital

and symbolic power added to the thought of Michel Foucault on the value of the speech, had

been selected and applied to the study. It concludes that the specialization process for which

the nursing passed, it points with respect to a update of habitus of the nurse, which will be

based on one practical one dominated for the technology. When studying it, I observed that

the Nursing, represented for the ABESE, assays the first steps to obtain the same resulted

that Medical Sciences had gotten in what it mentions to the positive consequences on the

social recognition and criterion of ability. Strong representative of an effective politician-

economic paradigm, the state of São Paulo stimulates changes in the practical professional,

and being thus, the ABESE, while organization form politics is an affirmation strategy and

legitimation of a group that it searches to produce value social is of the traditional models of

legitimation, centered in the academy. From concrete actions of the ABESE, I contested the

trajectory of the movement of valuation of the specialized Nursing, been born, not by chance,

in this state. The reflection on the trajectories of the societies of specialists, indicated that

above of the splits or agreements had in the history of the Nursing, most important it is the

next step to be given, for greatest and better conquests. The History of the Nursing is made

of pioneering pioneers and.

Key-words: Specialized nursing. Space of being able. To be pioneer.

Carreiro, Flávia de Araújo. ACADEMIA BRASILEÑA DE ESPECIALISTAS EN EL OFICIO DE ENFERMERA - ABESE: LA CONSTRUCCIÓN DE UN ESPACIO DE PODER (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.]. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

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RESUMEN

El objeto de este estudio es el proceso de creación de la Academia Brasileña de

Especialistas en Enfermería - ABESE, fundada en 2000, en la ciudad de São Paulo, que, en

mi visión, ha en su proceso de generación, organización e realización, la formalización de un

proceso de especialización ocurrido en las Ciencias Médicas, y reflejado en la Enfermería.

Identificar las circunstancias de creación de la ABESE, y examinar suyo(s) significado(s),

además de discutir las perspectivas futuras dentro del proceso de profesionalización de la

Enfermería, fueron los objetivos del estudio. Tuvo como fundamento teórico, las referencias

diversas, y como camino metodológico, la investigación histórica. Los conceptos de Pierre

Bourdieu sobre habitus, capital y poder simbólico sumado al pensamiento de Michel

Foucault sobre el valor del discurso, fueron seleccionados y aplicados al estudio. Concluye

que el proceso de especialización por el cual la enfermería pasó, apunta para una

reactualización del habitus del enfermero, el cual estará basado en una práctica dominada

por la tecnología. Al estudiarlo, observé que la Enfermería, representada por la ABESE,

ensaya los primeros pasos para conseguir el mismo resultado que las Ciencias Médicas

obtuvieron en el que se refiere las consecuencias positivas sobre el reconocimiento social y

criterio de calificación. Representante fuerte de un paradigma político-económico vigente, el

estado de São Paulo impulsa cambios en la práctica profesional, y siendo así, la ABESE,

mientras forma de organización política, es una estrategia de afirmación y hacerse legal de

un grupo que busca producir valor social fuera de los modelos tradicionales de hacerse

legal, centrados en la academia. A partir de acciones concretas de la ABESE, contesté la

trayectoria del movimiento de valoración de la Enfermería especializada, nacido, no por

casualidad, en este estado. La reflexión sobre las trayectorias de las sociedades de

especialistas, indicó que por encima de las rupturas o acuerdos habidos en la historia de la

Enfermería, el más importante es el próximo paso a ser dado, para mayores y mejores

conquistas. La Historia de la Enfermería es hecha de pioneras y pioneros.

Palabras-claves: Enfermería especializada. Espacio de poder. Pioneirismo

Carreiro, Flávia de Araújo. ACADÉMIE BRÉSILIENNE DE SPÉCIALISTES DANS MÉTIER D'INFIRMIER - ABESE : LA CONSTRUCTION D'UN ESPACE DE POUVOIR (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.]. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

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RESUMÉ

L'objet de cette étude est le processus de la création de l'académie brésilienne des

spécialistes dans les soins - ABESE, établie en 2000, dans la ville de São Paulo, qui, dans

ma vision, a dans son processus de génération, d'organisation et d'exécution, la action de

concréter un processus de spécialisation s'est produit en sciences médicales, et reflété dans

les soins. Pour identifier les circonstances de la création de l'ABESE, et pour examiner sa (s)

signification (s), là-bas l'intérieur discutant les futures perspectives du processus de la

professionnalisation des soins, avait été les objectifs de l'étude. Il a eu en tant que

considérant théorique, les références multiples, et comme méthodologie, la recherche

historique. Les concepts de Pierre Bourdieu sur la puissance de habitus, capitale et pouvoir

symbolique se sont ajoutés à la pensée de Michel Foucault sur la valeur du discours, avaient

été choisis et appliqués à l'étude. Je conclus que le processus de spécialisation pour lequel

les soins ont passé, il se dirige en ce qui concerne un reactualisation du habitus de

l'infirmière, qui sera basée sur une une pratique dominée pour la technologie. En l'étudiant,

j'ai observé que les soins, représentés pour l'ABESE, analysent les premières étapes pour

obtenir mêmes ont résulté que les sciences médicales avaient obtenu dans ce qu'il

mentionne aux conséquences positives sur l'identification et le critère sociaux de la capacité.

Le représentant fort d'un paradigme politicien-économique efficace, l'état de São Paulo

stimule des changements du professionnel pratique, et d'être de ce fait, l'ABESE, alors que

la politique de forme d'organisation, est une stratégie d'affirmation et une légitimation d'un

groupe qu'il des searchs pour produire la valeur sociale est des modèles traditionnels de la

légitimation, centrés dans l'académie. Des actions concrètes de l'ABESE, j'ai contesté la

trajectoire du mouvement de l'évaluation des soins spécialisés, été né, pas par hasard, dans

cet état. La réflexion sur la trajectoire des sociétés des spécialistes, indiquées cela ci-dessus

des fentes ou des accords a eu dans l'histoire des soins, la plus importante il est la

prochaine étape à donner, pour des greaters et de meilleures conquêtes. L'histoire des soins

est faite en frayer un chemin des pionniers et.

Mots-clés : Soins spécialisés. L'espace de pouvoir en mesure. Être pionnier.

LISTA DE QUADROS

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Quadro I – Sociedades Fundadoras da ABESE.................................................... 23

SUMÁRIO

PÁGINA

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1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................10

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA....................................................15

3. CIRCUNSTÂNCIAS DE CRIAÇÃO DA ABESE..........................................................24

3.1 EVENTOS ANTERIORES E POSTERIORES A CRIAÇÃO DA ABESE....................28

4. SURGINDO UM ESPAÇO DE PODER........................................................................34

4.1 SOCIEDADES DE ESPECIALISTAS FUNDADORAS DA ABESE............................37

4.2 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER..............................44

5. PERSPECTIVAS FUTURAS DA ABESE....................................................................48

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................53

REFERÊNCIAS................................................................................................................57

1 INTRODUÇÃO

É objeto deste estudo, o processo de criação da Academia Brasileira

de Especialistas em Enfermagem – ABESE.

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Fundada em 02 de outubro de 2000, na cidade de São Paulo, a

Academia tem no seu processo de geração, organização e implementação, a

concretude de um processo de especialização ocorrido nas Ciências Médicas, e em

minha visão, marcadamente refletido na Enfermagem.

Fazendo uso das palavras de Saviani (1985) sobre nosso existir no

mundo – uma existência que é agir, sentir e pensar, e que transcorre normalmente

até algo interromper o seu curso, senti necessidade de descobrir o que é a ABESE –

uma associação cujo objetivo é divulgar e valorizar as Especialidades em

Enfermagem, visando criar e ocupar espaços (ABESE, 2000b).

Como e porque se constituiu uma associação que pretende definir as

diretrizes da formação dos especialistas em enfermagem, seja em nível superior ou

nível médio (ABESE, 2000a), foram inquietações e questionamentos despertados

sobre o tema, além da(s) implicação(ões) deste fato sobre a profissionalização da

Enfermagem brasileira.

Considerei motivo para estudo, a razão pela qual esta Academia foi

inserida no sistema COFEN – Conselho Federal de Enfermagem / CORENs –

Conselhos Regionais de Enfermagem, pois, as Resoluções COFEN 259 e 261,

ambas do ano de 2001, fazem referência à sua criação, bem como, a exigência de

sua chancela quando o enfermeiro obtém a titulação de especialista através de

prova de título, naquelas especialidades privativas da Enfermagem, e estes

pretendam registrá-lo no COFEN, através do Conselho Regional de sua jurisdição.

Até que houvesse a fundação e inserção da ABESE na legislação

emitida pelo COFEN, o Conselho não havia se manifestado sobre o tema desta

forma: exigindo a validação de um determinado título por uma associação formada

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pela livre iniciativa de enfermeiros, já representados em Sociedades de

Especialistas.

Registre-se que a Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN,

nascida em 1926, como Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas, primeira

entidade de classe da Enfermagem brasileira, realiza, com regularidade, provas para

titulação de especialista a enfermeiros que cumprirem os critérios exigidos. Ao longo

de sua história, a ABEN sempre atendeu a necessidade de oficialização de um

saber, através das provas de titulação, entendido aqui como o reconhecimento de

uma experiência adquirida no fazer diário das atividades de enfermagem.

Arone et al. (2001) citam que por ocasião do 51º Congresso Brasileiro

de Enfermagem - CBEn, na cidade de Florianópolis, seguindo decisão votada no 32º

Conselho Nacional de ABENs, as relações entre esta Associação e o sistema

COFEN/CORENs foram interrompidas em razão da falta de esclarecimentos

relativos às denúncias de improbidades administrativas feitas contra o COFEN,

desde o 45º CBEn, em 1993, agravadas em 1997, além de práticas antidemocráticas

instaladas no sistema COFEN/CORENs, segundo a mesma autora.

A saber, que a ABEN é associação de caráter cultural, científico e

político, com personalidade jurídica de direito privado (ABEN, 2005), e congrega

Enfermeiros(as), obstetrizes, técnicos(as) e auxiliares de enfermagem, além de

estudantes de graduação e de educação profissional habilitação técnico de

enfermagem que a ela se associam, individual e livremente, para fins não

econômicos.

Tendo havido, o rompimento das relações entre o sistema

COFEN/CORENs e a ABEN, este não interferiu no movimento de construção da

Academia, nascido no seio da Enfermagem paulista, pois atualmente existem duas

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Sociedades de Especialistas que estão vinculadas a ABEN e a ABESE: SOBEST –

Associação Brasileira de Estomatoterapia e a ABENTO – Associação Brasileira de

Enfermeiros de Traumato-ortopedia.

Faço uso das palavras da Enf. Rita de Cássia Chamma, para descrever

o momento da Enfermagem paulista, prévio a criação da ABESE, segundo a visão

de mundo da própria. Esta foi Coordenadora da Câmara Técnica em Ética do

Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo – COREN-SP, durante o plenário

de 1999 a 2002.

Pensando na Enfermagem como um componente com conhecimentos científicos e técnicos próprios, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência e que realiza-se na prestação de serviços ao ser humano, no seu contexto e circunstância devida e tendo em vista as transformações sociais, culturais, científicas e legais que estão ocorrendo em nosso país é chegado o momento dos profissionais de enfermagem se posicionarem frente a essas questões, através do compromisso de participar, efetivamente, em discussões e divulgações dos princípios éticos que sustentam a profissão, normatizados no Código de Ética dos profissionais de Enfermagem (CHAMMA, 1999, p.5).

De 1999, ano anterior à fundação da ABESE, a reflexão supracitada

integra o preâmbulo de um ementário lançado pelo Conselho paulista. Tal

pensamento somado as aproximações entre o COREN-SP e as Sociedades de

Especialistas ocorridas neste período, prenunciavam a ocorrência de novos e

significativos passos no contínuo da História da Enfermagem.

Justifico como estudo na razão de tratar-se de fato recente da História

da Enfermagem Brasileira com peculiaridades pouco exploradas, cuja proximidade

ao momento do estudo “pode ser um instrumento de auxílio importante para um

maior entendimento da realidade” (FERREIRA, 2004, p.98).

Justifico também, por oferecer análises e considerações para o

processo de profissionalização da Enfermagem, e em particular do Enfermeiro,

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provocando o repensar se nossa trajetória profissional deve seguir tão

proximamente a das Ciências Médicas, no que tange a fracionalização de um saber,

entendido aqui como sinônimo de especialidades.

Sobre isso, Ruth Leifert1, enfermeira, atual presidente da ABESE,

durante a abertura do 2º Encontro do COREN-SP e Sociedades de Especialistas em

Enfermagem em 1999, referiu que

na essência, nossa profissão continua a mesma, mas na forma, ela mudou muito nessas últimas décadas. Precisamos romper com o comodismo, mostrar o caminho a seguir – o como, o quando, o onde e o porquê das especialidades, passa necessariamente pelos cursos de aprimoramento profissional (COREN-SP, jan./fev. 2000, p.1).

Compor o banco de dados do Laboratório de Pesquisa Histórica em

Enfermagem – LAPHE, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/

UNIRIO, através de sua linha de pesquisa: O desenvolvimento da Enfermagem no

Brasil, considero outra justificativa do estudo.

Com o fito de responder a esses questionamentos, foram traçados os

seguintes objetivos para o estudo: identificar as circunstâncias de criação da

ABESE; examinar o(s) significado(s) da criação da ABESE dentro do processo de

profissionalização da Enfermagem; e, discutir as perspectivas futuras da ABESE

___________

¹ Ruth Miranda de Camargo Leifert é a atual presidente da Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho - ANENT, do COREN-SP e da Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem – ABESE, como também, era presidente do Conselho Regional a época do 2 º Encontro. Paulista de Santos, é enfermeira formada pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP, em 1973, e com habilitação em Saúde Pública. Em 1975, conclui a especialização em administração de saúde e hospitalar pela Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, e em 1982, faz especialização em Enfermagem do Trabalho na Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo (LEIFERT, [2002?]).dentro do processo de profissionalização da Enfermagem.

Registro que o estudo sobre as relações entre a ABESE e outras

instâncias, instituições ou campos de reconhecimento e produção de sentidos, não

constituíram objeto de investigação neste momento. Meu olhar volta-se para a

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ABESE, possuidora de uma lógica interna, uma hierarquia e uma lógica de

recrutamento de seus pares. Ela é o objeto a ser investigado.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

Partilho do pensamento de Vainfas (1997) sobre a combinação de

abordagens distintas no estudo da história, onde este processo pode vir a ser o

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ideal, resguardadas suas diferenças, e mesmo a oposição de paradigmas. Desta

forma, não me furtei à citação de diferentes referenciais teóricos os quais

respaldassem as considerações feitas no estudo.

Fleury (1996) fala sobre o valor da multidisciplinaridade no

levantamento e nas análises de dados, quando se pretende apreender o papel

ocupado pelos padrões culturais, na conformação e no fundamento de organizações

complexas. Considerei aplicável ao estudo, escolher a multireferencialidade como

substrato de minha visão de mundo sobre o objeto.

Fiz uso de algumas noções operatórias do pensamento analítico-

reflexivo de Pierre Bourdieu, sociólogo e filósofo francês, nascido em agosto de

1930 em Béarn, região rural do sudoeste da França, e falecido em janeiro de 2002,

no mesmo país. Neto e filho de agricultores, chegou ao ápice da pirâmide cultural

francesa, tornando-se o cientista social mais citado no mundo, além de pertencer a

uma categoria de pensador que causa a sua volta uma mudança no modo de

pensar, indagar e escrever (WACQUANT, 2002).

Identifiquei o conceito de habitus apropriado para designar o

comportamento inerente ao enfermeiro. Surgiu em 1963, no livro Trabalho e

trabalhadores na Argélia, todavia será discutido ao longo de toda a obra do

sociólogo. Bourdieu (1996, p.144) o conceitua como “(...)um corpo socializado, um

corpo estruturado, um corpo que incorporou as estruturas imanentes de um mundo

ou de um setor em particular desse mundo, (...), e que estrutura tanto a percepção

desse mundo como a ação nesse mundo”.

Considerei que o enfermeiro após adquirir um capital simbólico,

fazendo-o enfermeiro especialista, e uma vez reunido aos demais pares nas

sociedades científicas de sua especialidade, busca uma atualização desse habitus,

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através de novas posturas profissionais. Este capital simbólico deve ser entendido

como “qualquer tipo de capital (econômico, cultural, escolar ou social) (...), produto

da incorporação das estruturas objetivas do campo considerado. (...) Um capital com

base cognitiva, apoiado sobre o conhecimento e o reconhecimento” (BOURDIEU,

1996, p. 149-150).

Sua especialização como um investimento, só se justifica se um

mínimo de reversibilidade for objetivamente garantido (BOURDIEU, 1999), isto é,

proporcionar algum tipo de retorno a pessoa que o faz. Deve oferecer um status, um

poder – simbólico – que Bourdieu conceitua como um “poder quase mágico que

permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica),

graças ao efeito da mobilização” (BOURDIEU, 2005, p.14). Está diretamente

relacionado ao conhecimento e domínio do uso de uma tecnologia, e fica valorizado

um diploma que “é tanto mais precioso (caro) quanto mais raro é” (BOURDIEU,

1998, p.78-79).

Também me utilizei da aula inaugural de Michel Foucault no Collège de

France, ao assumir a cátedra vacante pela morte de seu antecessor, editada no

Brasil, como o livro A Ordem do Discurso, traduzido originalmente do francês. Neste

discurso, identifiquei falas as quais deram base teórica ao pensamento de alguns

dos atores sociais envolvidos no processo de criação da ABESE, pois “o discurso

não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas

aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos nos apoderar“

(FOUCAULT, 2005, p.10).

Como exemplo, cito Cesaretti e Dias (2002) que analisaram os fatores

contribuintes a evolução da estomatoterapia como especialidade, entre eles, o

surgimento e a existência de um órgão representativo dos enfermeiros

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estomatoterapeutas. No Brasil, referem-se a fundação da SOBEST como um marco

na organização da classe de estomatoterapeutas, em prol do desenvolvimento,

ampliação e projeção da especialidade.

Neste contexto, reflexão apropriada sobre a fundação da ABESE seria

compreender que a reunião de sociedades de especialistas em torno do mesmo

objetivo, potencializa o discurso de cada sociedade, na medida em que estas optam

por dedicar-se a segmentos específicos do conhecimento científico. Muitas vezes,

cada segmento se aproxima, ou mesmo se traduz, em dominar uma determinada

tecnologia, como o grupo de enfermeiros que deu origem a Sociedade Brasileira de

Enfermagem em Nefrologia – SOBEN. A tarefa de dialisar os pacientes renais havia

passado às mãos dos enfermeiros os quais precisavam manipular corretamente as

máquinas.

Sobre o caminho metodológico, destaco que o olhar sobre o objeto do

estudo tem singularidades de acordo com a visão de mundo de seus pesquisadores.

Considerei a particularidade de estar falando de fora do cenário e das circunstâncias

que deram origem a criação da ABESE, na impressão de um olhar diferenciado de

quaisquer outros que vierem a falar de dentro do cenário e/ou das circunstâncias.

Explico a opção pelo objeto de estudo de outro cenário, fazendo uso

das palavras de Loiva Otero Félix (1998, p.81), porque “a história como ciência

social, está ancorada no coletivo. Logo, o fato histórico é, antes de tudo, coletivo na

medida em que a história não examina fatos individuais isolados, mas

encadeamentos e relações de fatos”.

Para Rosa (2005), pesquisa histórica é “concebida como uma prática

que busca as relações dos sujeitos no social. (...) Adquire vitalidade no movimento

tanto de retrospecção, quanto de prospecção, e coloca o próprio historiador como

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sujeito dessa dinâmica histórica” (ROSA, 2005, p.1). Compreende que o historiador

fala a partir do presente, pois ele é um sujeito do seu tempo (ROSA, 2005).

É também, produzir um conhecimento resultante de diferentes

percepções do real, entendido a partir de um dado teórico, e a dimensão de

pertencimento social, criado por laços afetivos que mantém a vida e o vivido, é a

geradora de uma memória social (FÉLIX, 1998).

Colocar-me como sujeito do “meu” tempo foi referência nas análises e

discussões, posto que ao compreender as questões de saúde e doença como

processos históricos e sociais, a Enfermagem aproximou-se das Ciências Humanas

(ALMEIDA E ROCHA, 1989).

Considerei a metodologia da pesquisa histórica, ideal para responder

aos objetivos traçados, muita embora, o estudo da História Imediata não seja

consenso entre os historiadores, estudiosos por Natureza dos fatos sociais.

Barros (2004) falando sobre o campo da História e possíveis

abordagens, cita que uma delas é a História Imediata, que muito se assemelha ao

jornalismo, pois quando um historiador se propõe a produzir um trabalho

historiográfico, ele mesmo está inserido de alguma forma. O historiador não é

apenas um analista do discurso dos outros, mas também um produtor do próprio

testemunho. De certo modo, “o historiador da História Imediata é o único que produz

história nos dois sentidos, enquanto material e enquanto campo de conhecimento”

(BARROS, 2004, p.147).

Sendo assim, este relatório é produto do meu testemunho sobre fatos

da História Imediata da Enfermagem Brasileira, e também será simultaneamente

material e campo do conhecimento sobre o objeto por mim escolhido e desvelado,

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dado a escassez de fontes documentais, dificuldade significativa encontrada no

transcorrer da coleta de dados.

Acredito no valor da pesquisa histórica como redescoberta de um

passado, pois em tempos de informações instantâneas, internet e memória

eletrônica, as gerações se sucedem e a ”falta de perspectiva histórica significa falta

de sentido em todos os níveis: social, cultural e principalmente ético” (DÚRAN

JÚNIOR, 2003, p.1), não se conseguindo entender a dimensão social e ética do

próprio trabalho, seja no campo que for.

O recorte temporal do estudo iniciou-se com a fundação da ABESE em

02 de outubro de 2000, conforme a Ata da Assembléia Geral de Constituição da

Academia. Findou com a Resolução COFEN 261 de 12 de julho de 2001, que f ixa

normas para registro de Enfermeiro, com pós-graduação, e em seu preâmbulo,

considera a importância de normatizar o registro do Enfermeiro com título de pós-

graduação dentro do Sistema COFEN/CORENs, além do artigo sexto, que exige a

chancela da ABESE nos diplomas obtidos através de prova de título, nas

especialidades privativas da Enfermagem.

Os locais de busca das fontes foram as bibliotecas do COFEN, da

Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, da

Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac/RJ, da Escola de Enfermagem Anna

Nery/UFRJ e da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/ UNIRIO, acrescido de

vastíssima documentação eletrônica.

Para Le Goff (1996), a memória eletrônica se impõe pela grande

estabilidade, facilidade de evocação, sendo um auxiliar que só age sob a ordem e o

programa do homem. Registro que a facilidade de evocação proporcionou

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significativa agilidade na obtenção dos dados, entretanto, não dispensa rigorosos

critérios de seleção na aplicabilidade destes ao objeto do estudo.

Évora (2004, p.1) afirma que “o alto nível de conectividade da internet

apresenta oportunidades incomparáveis para o acesso e o compartilhamento da

informação”, destacando a velocidade e confiabilidade das informações

apresentadas. Refere que o acesso a bases de dados nacionais e internacionais,

com busca on line em tempo real, como fator positivo no uso da internet em

pesquisa em Enfermagem.

Com diversas sociedades de especialistas atualmente filiadas a

ABESE, incluo no estudo, como relevantes no processo de criação da academia, a

análise da documentação pertinente às doze sociedades fundadoras da ABESE,

conforme a Ata da Assembléia Geral de Constituição da Academia (ABESE, 2000a),

quais sejam:

• ANENT - Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho;

• SBEO - Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica;

• SBEPSAM - Sociedade Brasileira de Enfermagem Psiquiátrica e

Saúde Mental;

• SBNPE - Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral;

• SOBEAS - Sociedade Brasileira de Enfermeiros Auditores em Saúde;

• SOBECC - Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico,

Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização;

• SOBEN - Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia;

• SOBENC - Sociedade Brasileira de Enfermagem Cardiovascular;

• SOBENDE - Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia;

• SOBETI - Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva;

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• SOBRAGEN - Sociedade Brasileira de Gerenciamento em

Enfermagem; e,

• SOCESP - Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, na

figura de seu departamento de Enfermagem.

Segundo o paradigma tradicional, a história deveria ser baseada em

documentos, no entanto, Peter Burke (1992) cita que o movimento da “história vista

de baixo” expôs as limitações desse tipo de documento. A “nova” história, descrita

por ele como uma reação deliberada contra o “paradigma” tradicional, que se

interessa pela atividade humana, embora não fosse excluída pelo paradigma

tradicional, era marginalizada no sentido de ser considerada periférica aos

interesses dos “verdadeiros” historiadores.

Para Burke (1992, p.13), “os registros oficiais em geral expressam o

ponto de vista oficial. Para reconstruir as atitudes dos hereges e dos rebeldes, tais

registros necessitam ser suplementados por outros tipos de fonte”.

Concordando com seu pensamento, foram utilizadas variadas fontes, e

estas, comparadas entre si, utilizando-se a técnica de triangulação de fontes, citada

em Alves-Mazzoti e Gewandsznajder (2001), a fim de dar maior confiabilidade aos

dados e credibilidade aos resultados. Novos tipos de perguntas ao passado, novos

objetos de pesquisa, novos tipos de fontes para suplementar os documentos oficiais,

bem como, novas leituras de registros oficiais (BURKE, 1992), as quais procurei

priorizar.

As fontes primárias utilizadas foram o estatuto, o regimento e a ata de

fundação da ABESE; as publicações oficiais bimestrais do COREN-SP que se

apresentam como revistas eletrônicas; além dos estatutos e/ou regimentos das

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sociedades fundadoras da ABESE, os quais consegui localizar, e a Resolução

COFEN 261/2001.

Avaliei que as revistas são meios de comunicação formais escritos, e

estes possibilitam o desvendar das relações entre categorias, grupos e áreas da

organização (FLEURY, 1996).

Fontes secundárias: Legislação sobre Educação; literatura da história

da Enfermagem; teses, dissertações e artigos de aproximação com o objeto do

estudo, além das Resoluções COFEN 100/1988, 259/2001 e 290/2004.

Elaborei o Quadro I – Sociedades Fundadoras da ABESE, de cunho

comparativo, cujo objetivo foi analisar a influência do paradigma biomédico no

campo da Enfermagem, através da evolução do reconhecimento e denominação das

especialidades de Enfermagem pelo COFEN e suas áreas de atuação: ambulatorial

e/ou hospitalar, associando-se as datas de fundação e as sedes de cada sociedade

de especialista fundadora da ABESE.

Este quadro veio a evidenciar a influência de um modelo

hospitalocêntrico de assistência à saúde, ao percebermos a prevalência da atuação

hospitalar nas especialidades listadas.

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SOCIEDADES FUNDADORAS

CAMPO DE ATUAÇÃO

SEDEANO DE

FUNDAÇÃOESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM

ATUAÇÃO AMBULATORIAL

ATUAÇÃO HOSPITALAR

Resolução 100/1988 Resolução 260/2001 Resolução 290/2004

SBEPSAMPSIQUIATRIA E

SAÚDE MENTALMAIRIPORÃ ? ENFERMAGEM

PSIQUIÁTRICA

PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL (2 especialidades)

PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL

(especialidade única)SIM SIM

SBNPENUTRIÇÃO

PARENTERAL E

ENTERAL

SÃO PAULO 1975 - NUTRIÇÃO PARENTERAL

NUTRIÇÃO PARENTERAL

SOMENTE

NUTRIÇÃO

ENTERAL

SIM

SOBEN NEFROLOGIA SÃO PAULO 1983 - NEFROLOGIA NEFROLOGIA SIM SIM

ANENT ENF. DO TRABALHO SÃO PAULO 1986 ENFERMAGEM DO TRABALHO TRABALHO TRABALHO SIM NÃO

SOCESP CARDIOLOGIA SÃO PAULO1987 (dept.

Enf.) - - - SIM SIM

SBEO ONCOLOGIARIO DE

JANEIRO1988 - ONCOLOGIA ONCOLOGIA SIM SIM

SOBECCC. CIRÚRGICO,

RPA, CMESÃO PAULO 1991 -

CENTRO CIRÚRGICO E UNIDADE DE

ESTERILIZAÇÃO (2 especialidades)

CENTRO CIRÚRGICO, CENTRAL DE MATERIAL E

ESTERILIZAÇÃO(2 especialidades)

NÃO SIM

SOBETITERAPIA

INTENSIVASÃO PAULO 1996 -

UNIDADE DE TRATAMENTO

INTENSIVOTERAPIA INTENSIVA NÃO SIM

SOBRAGENGERENCIAMENTO

EM ENFERMAGEMSÃO PAULO 1996

ADMINISTRAÇÃO DE SERVIÇOS DE

ENFERMAGEMGERENCIAMENTO GERENCIAMENTO DE

SERVIÇOS DE SAÚDESIM SIM

SOBENDE DERMATOLOGIA SÃO PAULO 1998 - DERMATOLOGIA DERMATOLOGIA SIM SIM

SOBENCCIRURGIA

CARDIOVASCULARSÃO PAULO 1999 - CARDIOVASCULAR CARDIOVASCULAR NÃO SIM

SOBEASAUDITORIA EM

SAÚDESÃO PAULO 1999 - AUDITORIA PERÍCIA E AUDITORIA SIM SIM

FONTE: AUTORA (2005)

QUADRO I : SOCIEDADES FUNDADORAS DA ABESE

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3 CIRCUNSTÂNCIAS DE CRIAÇÃO DA ABESE

A Enfermagem vem seguindo o modelo das Ciências Médicas,

pioneiras e há mais tempo aplicando o modelo da divisão e especialização do saber,

da intervenção e do mercado de trabalho. Estas buscam se organizar e defender

seus interesses corporativos, tanto através de associações e conselhos quanto de

ações no interior das instituições de ensino superior e do discurso sobre a

importância de sua tradição científica (VIANA, 2002).

De acordo com o Estudo sobre Sociedades de Especialistas em

Medicina no Brasil, elaborado a pedido do Ministério da Saúde em 2000, integrante

de um estudo feito na América Latina e Caribe, pela Organização Pan-americana de

Saúde – OPAS, há um movimento da categoria médica que se preocupa em não

perder definitivamente para agentes externos (indústria farmacêutica e de

equipamentos médicos), o controle sobre a definição de novas especialidades e dos

campos de trabalho médico, como também, impedir que estas super-

especializações venham a receber o status de especialidades em detrimento dos

interesses mais gerais da profissão.

Esta fragmentação das Ciências Médicas, principalmente vista depois

da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), advém de uma divisão de competências

e responsabilidades, caracterizando-se como especialização horizontal, baseada na

ciência e tecnologia (GRAÇA, 2000; SCHOELLER, 2002), além de uma

especialização vertical, surgida numa fase posterior, quando “a gestão rotineira das

inovações de ontem roubam tempo aos que querem continuar na linha de frente”

(GRAÇA, 2000, p.8). Da perspectiva do sociólogo, Hofoss (1986) explica este

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processo de especialização como o reflexo do selfish interest, ou seja, os

profissionais lutam pelo monopólio da profissão.

O Estudo sobre Sociedades de Especialidades Médicas no Brasil

(BRASIL, 2000) é uma iniciativa sobre o aprofundar do conhecimento a respeito

deste processo de especialização médica e dos mecanismos existentes para sua

regulação, bem como dos papéis que jogam os diferentes atores envolvidos neste

processo.

Identificar e caracterizar as especialidades médicas existentes no país,

além de suas instituições representativas, e os organismos e mecanismos

reguladores do reconhecimento e exercício das especialidades, foram os objetivos

deste Estudo sobre Sociedades. Concluiu que “a reação à fragmentação representa

um esforço da corporação por manter no seu interior o controle sobre a

exclusividade e a definição dos seus campos de prática, e, portanto de sua própria

integridade enquanto profissão” (BRASIL, 2000, p.37).

Na Enfermagem, Paiva (1996, p.29) afirma que

a especialização do processo de trabalho nos dias atuais é um fato indiscutível, especialmente quando diz respeito às atividades que estão relacionadas a um maior grau de complexidade técnico-científico e, obviamente, ela é decorrente da divisão técnica do trabalho que o modelo capitalista de produção implantou após a revolução industrial, e que a torna uma tendência cada vez mais acentuada nas profissões.

Em 1988, “considerando que o aprimoramento profissional é um dos

principais objetivos do Sistema dos Conselhos de Enfermagem” (COFEN, 1988 apud

SANTOS, 2002, p.77), juntamente, com “a necessidade de definir os ramos (...)

objeto de especialização” (COFEN, 1988 apud SANTOS, 2002, p.77), o Conselho

Federal de Enfermagem publicou a primeira Resolução sobre o tema. Baixava

normas para a qualificação do enfermeiro como especialista, destacando a

responsabilidade dos Conselhos Federal e Regionais com a disciplina

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organizacional e operacional do exercício de Enfermagem. Delimitou oito setores da

Enfermagem objeto de especialização.

Algumas das sociedades de especialistas fundadoras da ABESE já

existiam neste período, como a SOBEN, de 1983, e a ANENT, em 1986, além da

SBNPE, fundada em 1975, na figura do departamento de Enfermagem.

Em 2001, a Resolução COFEN 260 faz referência ao inciso XVIII do

artigo 13 do Regimento Interno da Autarquia, que afirma ser uma das competências

do COFEN, “estabelecer as especialidades na área da Enfermagem” (COFEN, 2000,

p.3). São fixadas 37 especialidades - destaque para a terminologia dada as

especialidades, característica do paradigma biomédico vigente. Já preve-se que

aquelas emergentes, serão objeto de novas apreciações e nenhuma delas traz em

sua denominação a palavra Enfermagem.

As demais sociedades fundadoras da ABESE são fundadas no período

delimitado por estas Resoluções, conforme mostra o Quadro I. Informações obtidas

no endereço eletrônico oficial do COFEN citam que a existência de uma sociedade

formalmente estruturada de enfermeiros especialistas, é uma das etapas do

reconhecimento da especialidade pelo órgão.

Em 2004, o Conselho, através da Resolução COFEN 290/2004, altera

algumas denominações, agrupa outras, mas amplia para quarenta e duas

especialidades, a constar: Aeroespacial, Assistência ao Adolescente, Atendimento

Pré-Hospitalar, Banco de Leite Humano, Cardiovascular, Central de Material e

Esterilização, Centro Cirúrgico, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica, Dermatologia,

Diagnóstico por Imagem, Doenças Infecciosas, Educação em Enfermagem,

Emergência, Endocrinologia, Endoscopia, Estomatoterapia, Ética e Bioética,

Gerenciamento de Serviços de Saúde, Gerontologia e Geriatria, Ginecologia,

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Hemodinâmica, Homecare, Infecção Hospitalar, Informática, Nefrologia,

Neonatologia, Nutrição Parenteral, Obstetrícia, Oftalmologia, Oncologia,

Otorrinolaringologia, Pediatria, Perícia e Auditoria, Psiquiatria e Saúde Mental,

Saúde Coletiva, Saúde da Família, Sexologia Humana, Trabalho, Traumato-

Ortopedia, Terapia Intensiva e Terapias Naturais/ Tradicionais e Complementares/

Não Convencionais.

Foram encontrados dois anúncios de instituições privadas do estado de

São Paulo – Faculdades Santa Marcelina e Centro Universitário Hermínio Ometto

(UNIARARAS), inseridos na Revista COREN-SP nº. 58, os quais divulgam cursos de

especialização em áreas não reconhecidas pelo COFEN como especialidades de

competência do enfermeiro, quais sejam:

Enfermagem no Controle da Dor;

Cardiologia e Cuidados Intensivos, visando o atendimento de

pacientes com afecções cardíacas e que necessitem de cuidados intensivos;

Terapia Intensiva Neonatal, com o objetivo da assistência de

enfermagem ao recém-nascido grave assistido em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal; e

Reabilitação Psicossocial e Saúde Mental, para oferecer

assistência a pessoas em crise ou suscetíveis a fatores psíquicos de risco, além de

gerenciar e coordenar equipes multiprofissionais de serviços de psiquiatria e saúde

mental, conforme descrição dos cursos no anúncio em questão.

A oferta destes cursos apontou para uma necessidade do mercado

paulista, premente às Resoluções emitidas pelo Conselho. Destaque para a área de

atuação hospitalar, reforçando a influência do paradigma biomédico e do modelo

hospitalocêntrico de atenção a saúde, no campo de ação da Enfermagem.

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3.1 EVENTOS ANTERIORES E POSTERIORES A CRIAÇÃO DA ABESE

Ponto comum em várias falas dos enfermeiros nas publicações oficiais

do Conselho, a exigência da especialização pelo mercado de trabalho local como

forma de assistência mais qualificada, somou-se a visão do Conselho, na pessoa de

Ruth Leifert, presidente do órgão, a trabalhar pelo reconhecimento e valorização

deste profissional. Acreditando-se que o cadastramento dos enfermeiros

especialistas permitiria ao COREN-SP interagir com as instituições de ensino, e

estas pudessem oferecer cursos os quais efetivamente atendessem às carências do

mercado de trabalho, foi promovida a isenção de cobrança da taxa pelo Conselho

para que os enfermeiros fizessem o registro de sua especialidade (COREN-SP,

jan. /fev. 2000).

Marinho (2005, p.2), na Revista do COREN-SP de nº. 58, discorre

sobre a mudança de perfil dos graduandos em Enfermagem no estado de São Paulo

– particularmente acredito que seja uma mudança mais abrangente do que

exclusivamente em São Paulo – associada aos limites da universidade na formação

do enfermeiro, para justificar a necessidade da especialização, cujos resultados

permitem o aprofundamento de questões e contato do profissional com temas mais

específicos. Segundo os depoimentos dados nesta revista, o aluno não sai

preparado da universidade para lidar com a tecnologia disponível no mercado.

Para discutir o tema, o Conselho promoveu três encontros entre o

órgão e as Sociedades de Especialistas, antes da fundação da ABESE e da

realização de Congressos promovidos pela Academia.

O primeiro encontro ocorreu em 1998, sendo apenas citado nas

revistas. O segundo encontro foi nos dias 02 e 03 de dezembro de 1999, com o

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tema O caminhar dos especialistas. Participaram representantes das seguintes

sociedades: Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras –

ABENFO, Associação Brasileira Enfermeiros Especialista em Traumato-Ortopedia –

ABENTO, Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho – ANENT, Sociedade

Brasileira de Enfermagem Oncológica – SBEO, Sociedade Brasileira de Nutrição

Parenteral e Enteral – SBNPE, Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro

Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterelização –

SOBECC, Sociedade Brasileira de Enfermagem Gastrointestinal – SOBEEG,

Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia – SOBEN, Sociedade Brasileira

de Enfermagem em Dermatologia – SOBENDE, Associação Brasileira de

Estomaterapia – SOBEST, Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Terapia

Intensiva – SOBETI, Sociedade Brasileira de Gerenciamento em Enfermagem –

SOBRAGEN, Sociedade Brasileira de Terapias Naturais em Enfermagem –

SOBRATEN, Sociedade Brasileira de Educação Continuada em Enfermagem –

SOBRECEN e Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP.

Este encontro concluiu que “só a especialização na Enfermagem

poderá patrocinar as conquistas do novo e complexo milênio que se inicia” (COREN-

SP, jan. /fev. 2000, p.1).

O terceiro encontro aconteceu nos dias 20 a 22 de setembro de 2000,

e teve como tema: Formação do especialista: a visão das Sociedades. Três

Sociedades que participaram do encontro anterior, não participaram deste, quais

sejam, ABENFO, ABENTO e SOBEEG. Todavia participaram deste encontro e não

estiveram no anterior: Sociedade Brasileira de Enfermagem em Home Care –

SOBEHC, Organização Brasileira de Enfermeiros em Unidades de Esterilização –

OBEUNE, Sociedade Brasileira de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental –

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SBEPSAM, Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Auditoria em Saúde –

SOBEAS, Sociedade Brasileira de Enfermagem Cardiovascular – SOBENC, e

Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras – SOBEP.

Excetuando a SBEPSAM, por ausência de informação, e a SOBEP,

fundada em 1996, as demais sociedades foram fundadas posteriormente ao

segundo encontro, sendo impossível a participação naquele momento.

O tema proposto permitiu que as Sociedades explicassem seu papel

político e social. As discussões apontaram que a especialização está cada vez mais

atrelada a realidade, porque o cuidar está se tornando uma atividade complexa em

razão dos muitos avanços da cibernética, conforme ressaltou a Enfª. Ruth Leifert em

seu pronunciamento na mesa de abertura (COREN-SP, set. /out. 2000).

Das sociedades supracitadas, não se filiaram a ABESE até o presente

momento, a ABENFO e a SOBEP. Ambas encontram-se atualmente vinculadas a

Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN.

Registre-se que consta no seu Estatuto (ABEN, 2005), capítulo V,

artigo 31, inciso II, o seguinte requisito para as Sociedades as quais pretendam

vinculação a ABEN: “ter, no seu quadro associados(as) efetivos(as) da ABEn, de

acordo com o que dispõe este Estatuto” (ABEN, 2005, p.8), sem especificar se a

toda a diretoria da Sociedade precisa ser associada efetiva da associação. Por se

tratar de filiação facultativa, percebi este, ser um fato que restringe a vinculação das

Sociedades a ABEN, pois o presidente da Sociedade e/ou sua diretoria não podem

exigir que o profissional de Enfermagem associe-se a ABEN.

Acontecida a fundação da ABESE em 02 de outubro de 2000, três

Congressos Brasileiros de Especialistas em Enfermagem ocorreram sob a égide

desta Academia, e todos na cidade de São Paulo. A fundação ocorre cerca de

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quinze dias após o 3º Encontro do Conselho com as Sociedades, corroborando o

interesse na valorização da figura do enfermeiro especialista.

Com este espírito, a ABESE surge no cenário da enfermagem paulista,

apoiada na força política do maior Conselho Regional de Enfermagem do país. A

Academia responde pelo cunho científico das ações empregadas pelo Conselho

paulista, em prol da qualificação da assistência de enfermagem. Reúne os

enfermeiros dotados de capital – científico, cultural, social, em torno da

personalidade jurídica da instituição. É o reconhecimento social da figura do

enfermeiro, calcado no perfil do profundo conhecedor de tecnologias, o objetivo

desta associação.

O primeiro Congresso ocorreu entre os dias 06 a 08 de março de 2002

e teve como tema: Desafios e Conquistas para a Qualidade na Gestão de Pessoas:

atendimento de enfermagem especializada. A revisão do projeto das Autarquias da

cidade de São Paulo permitiria aos enfermeiros ocuparem o cargo de

superintendente destes órgãos. A promessa que esta revisão acontecesse, foi um

dos resultados do I Congresso de Especialistas (COREN-SP, mar. /abr. 2002).

Outras conclusões foram: a intenção da ABESE, em parceria com os

CORENs, de criação e divulgação de novas seções das sociedades de especialistas

em todos os estados, e também junto aos órgãos governamentais, aproximando a

Enfermagem das questões municipais, estaduais e federal; como também, solicitar

aos coordenadores dos cursos de graduação, espaço para divulgação das

especialidades e da importância de ser um enfermeiro especialista (COREN-SP,

mar. /abr. 2002).

O segundo aconteceu nos dias 20 a 24 de outubro de 2003 e seu tema

foi O Ser especialista em Enfermagem. Neste Congresso ocorreu o lançamento da

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Revista Academia de Enfermagem, revista oficial da ABESE. Na ocasião, seu título

foi considerado um resumo da proposta da entidade, porque indicava a soma de

todos os saberes da enfermagem em convergência, e o estímulo ao reavivamento

do espírito inquisitivo dos profissionais de enfermagem especialistas, mais a busca

pela produção científica dos talentos da profissão (COREN-SP, jan. /fev. 2004).

Fleury (1996, p.24) refere que “a comunicação constitui um dos

elementos essenciais no processo de criação, transmissão e cristalização do

universo simbólico de uma organização”. A Revista passa a ser então, um meio de

comunicação formal escrito para solidificar o pensamento da Academia.

Bourdieu, no capítulo 05 – É possível um ato desinteressado? do livro

Razões Práticas: sobre a teoria da ação, apresenta um postulado da sociologia onde

sempre existe uma razão para os agentes fazerem o que fazem, “(...) razão que se

deve descobrir para transformar uma série de condutas aparentemente incoerentes,

(...) em algo que se possa compreender a partir de um princípio único ou de um

conjunto coerente de princípios” (BOURDIEU, 1996, p.138).

Concluiu que se pode identificar “a busca da razão de ser de uma

conduta à explicação desta conduta pela busca de fins econômicos” (BOURDIEU,

1996, p.139). A meu ver, a Revista funciona como coadjuvante nesta busca, pois

firma o pensamento da Academia, além de potencializar o pensamento científico do

grupo.

O terceiro deu-se nos dias 21 a 23 de setembro de 2005 e intitulou-se

Do Sacerdócio a Especialização sem perder o Humanismo. Ruth Leifert declarou na

Revista COREN-SP nº. 59 (set./out. 2005) que a escolha do tema se justificou pelo

temor de que a especialização possa “virar do avesso o conceito histórico da

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enfermagem como sacerdócio, empurrando-o ao extremo oposto da frieza, da

mecanicidade, da impessoalidade” (FARIAS, 2005, p.15).

Em minha visão, a especialização da Enfermagem, representada pela

figura do enfermeiro, do modo como foi e está sendo copiada e introjetada no seu

campo de ação, sinaliza o avançar de etapas dentro do processo de

profissionalização da Enfermagem brasileira, pois “reter o conhecimento, torná-lo

específico e suficientemente misterioso é o eixo central que move o

profissionalismo” (MACHADO, 1995, p.21).

Penso que é compreensível e justificável que estes enfermeiros

paulistas, liderados por um determinado agente social num determinado contexto

histórico-regional, queiram atualizar um habitus o qual não mais corresponde as

ações desempenhadas por eles.

A existência de uma liderança forte, aliada a um desejo de voz de um

determinado grupo, quiçá mal inserido no mercado de trabalho, acrescido a uma

organização política, promoveu a movimentação destas pessoas em prol de outros

tipo de ganhos, como o reconhecimento social do enfermeiro frente a sociedade,

ainda que este o seja quem vai dominar as novíssimas tecnologias, absorvidas por

esta sociedade quase que instantaneamente.

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4 SURGINDO UM ESPAÇO DE PODER

A ABESE foi fundada no Plenário do COREN-SP, como uma entidade

sem fins lucrativos, de caráter científico cultural, com sede e foro na cidade de São

Paulo, e regida na forma de Estatuto (ABESE, 2000a).

Trata-se de uma associação de sociedades de especialistas em

Enfermagem já formalmente estruturadas e atuantes, onde se destaca a figura da

enfermeira Ruth Miranda de Camargo Leifert, na presidência dos trabalhos durante a

Assembléia Geral de Constituição da Academia, e da enfermeira Akiko Kanazawa

(ABESE, 2000a). Ambas, pertencentes a ANENT, sendo que Ruth Leifert ocupava a

presidência desta associação, bem como, a presidência do COREN-SP a época, e a

enfermeira Akiko era a segunda secretária da ANENT.

Há necessidade de se considerar neste momento, o acúmulo de

cargos políticos como fator significativo na estratégia de obtenção de “benefícios”.

Ruth Leifert acumulava a presidência da ANENT, do COREN-SP, e viria a ocupar a

presidência da ABESE. Como reconhecimento das demais sociedades à dedicação

da ANENT à valorização e preservação da saúde do trabalhador, a presidência da

ABESE está diretamente vinculada a presidência da ANENT (ANENT, 2001).

Interpretando o artigo 2º do Regimento da Academia, letras a e b, cuja

redação explicita que são suas finalidades: estimular a formação de especialistas

nas várias áreas de atuação da enfermagem, e definir as diretrizes da formação dos

especialistas em enfermagem no que se refere à grade curricular mínima, do nível

superior e do nível médio (ABESE, 2000c), estas representam a intenção de um

grupo de profissionais representados nas suas sociedades, e estas, pela ABESE, de

atender as necessidades locais de mão-de-obra especializada.

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São Paulo tem indiscutivelmente um peso significativo na economia

brasileira, pois, as sacas de grãos exportadas pelo porto de Santos durante o século

XIX, deixaram como herança a mais importante metrópole da América Latina.

O estado de São Paulo – liderado pela capital e região metropolitana -

é hoje o maior pólo de negócios da América Latina, concentrando 30% de todos os

investimentos privados realizados em território nacional. São 155 mil indústrias que

representam 34% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro, segundo dados

da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP (SÃO PAULO, 2005).

É o Estado com a maior população, o maior parque industrial, a maior produção

econômica, o maior registro de imigrantes.

Paiva (1996, p.29-30) escreveu que pensar sobre o processo de

especialização conduz a alguns questionamentos, entre eles, “o paradigma político-

econômico como impulsionador de mudanças na prática profissional, levando a uma

redefinição de parâmetros e critérios tanto na formação, quanto na inserção do

trabalho”. Em São Paulo, a influência do paradigma político-econômico está mais

próxima do cotidiano da Enfermagem. A inclusão tecnológica na assistência de

Enfermagem, faz com que estes profissionais sejam impulsionados a conhecer e

dominar estas tecnologias, para utilizá-la em benefício do doente.

Informação interessante sobre o pioneirismo paulista na Enfermagem,

e precedente a criação da ABESE, foi a realização do I Congresso Nacional de

Enfermagem, em 1947, tendo como sede a Escola de Enfermagem da Universidade

de São Paulo – USP. Edith de Magalhães Fraenkel1 e Madre Domineuc1 foram as

__________

1 Edith de Magalhães Fraenkel diplomou-se enfermeira em 1925 pela Escola de Enfermagem do Philadelphia General Hospital – EUA. Ao retornar ao Brasil, contribuiu para a criação da ABEN, tendo sido sua primeira presidente. Foi convidada pela Fundação Rockfeller para organizar e dirigir a atual Escola de Enfermagem da Universidade Estadual de São Paulo – USP. Madre Domineuc titulou-se pela Escola de Enfermagem de Paris, chegando ao país em 1935, como religiosa da Congregação das Franciscanas Missionárias de Maria. Participou da ABEN, partindo dela a idéia da realização do primeiro Congresso Nacional de Enfermagem.

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inspiradoras deste movimento na enfermagem brasileira, tornado instituição, e do

qual colhemos frutos até o presente (ARONE et al, 2001).

Outra iniciativa foi a sugestão de incluir os estudantes de graduação no

quadro associativo da ABEN, dada pela representação paulista no XXIV Congresso

Brasileiro de Enfermagem, realizado em Belo Horizonte/MG, em 1972. Registre-se

que muito da história da Enfermagem paulista se confunde com a história da ABEN,

pois os ícones da Enfermagem paulista sempre fizeram parte desta entidade

(ARONE et al, 2001).

Escrever para tentar “recuperar o momento de criação de uma

organização e sua inserção no contexto político e econômico da época propicia o

pano de fundo necessário para compreensão da natureza da organização”

(FLEURY, 1996, p.23). Auxilia a compreensão do interesse de que houvesse um

espaço de poder como a Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem,

conforme suas conquistas se apresentam ao grupo e a sociedade, e as finalidades

descritas em seu Estatuto, se concretizam.

As diferenças associadas a posições diferentes, isto é; os bens, as práticas e sobretudo as maneiras, funcionam, em cada sociedade, como as diferenças constitutivas de sistemas simbólicos, como o conjunto de traços distintivos e separações diferenciais constitutivas de mítico, isto é, como signos distintivos (BOURDIEU, 1996, p.22).

Durante os trabalhos de constituição da Academia, a presidente do

COREN-SP explica “as finalidades da Academia que se estava fundando, tecendo

considerações acerca de uma programação a ser executada dentro das finalidades

da entidade” (ABESE, 2000a, p.1), embora já fosse de conhecimento das pessoas

que ali se encontravam, as quais viriam a ser os sócios-fundadores desta entidade.

Tal registro na Ata da Assembléia de Constituição da Academia aponta

para a existência de uma rede de relações sociais entre estas pessoas, e o interesse

de que houvesse uma entidade que as representasse.

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Na qualidade de presidente do COREN-SP, rosto da enfermagem

paulista, e também sua líder, Ruth Leifert acredita que é de sua responsabilidade

“influenciar pessoas para alcançarem objetivos comuns” (DIAS, 2003, p.16), e o “ser

enfermeiro implica na vivência diária e não ocasional – do processo de enfermagem;

exige o conhecimento dos seus pacientes, das suas patologias, das suas

intercorrências” (LEIFERT, 2003, p.29).

4.1 SOCIEDADES DE ESPECIALISTAS FUNDADORAS DA ABESE

Sociedade é o “grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob

normas comuns; (...) parceria ou associação” (FERREIRA, 1986, p.1602). No âmbito

científico, os profissionais quase sempre se juntam com o objetivo de divulgarem

informações atualizadas de seus estudos, porque dada à dimensão incomensurável

do conhecimento, não é possível a uma pessoa, todo o conhecimento sobre algo. As

sociedades fundadoras têm trajetórias históricas de reforço a tal princípio de

interesse em determinada área e intercâmbio desses saberes.

As sociedades de especialistas em Enfermagem basearam-se nas

organizações médicas, com mais tempo de funcionamento e processo de

especialização mais consolidado no âmbito da categoria, inclusive com

reconhecimento social.

Viana (1995) registrou que até a década de 80, enfermeiros e

enfermeiras participavam exclusivamente da ABEN, mas já em meados da década

de 90, profissionais que atuam em áreas específicas, como Centro de Terapia

Intensiva, Pediatria, Nefrologia e Hemoterapia, tendem a participar das Associações

médicas correspondentes a sua especialidade.

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A ABEN-SP incentivou e teve participação decisiva na criação de

várias sociedades de Enfermagem, advindas em sua maioria de Grupos de

Interesse Clínico em Enfermagem, que após 1985, passaram a Grupos de Interesse

em Enfermagem (ARONE et al, 2001), cedendo suas salas para reuniões das

Sociedades de Especialistas, sempre que necessário.

Os anos 90 marcaram o intenso surgimento de grupos de interesse em

áreas e especialidades da Enfermagem, levando a ABEN-SP a estimular o ideal de

seus sócios atuantes, e a assumirem o desenvolvimento dos enfermeiros em seus

locais de trabalho. Progressivamente, estes grupos se transformaram em

Sociedades de Especialistas, ainda vinculadas a ABEN, pela dependência estrutural

inicial, e desligando-se à medida que obtinham recursos financeiros próprios

(ARONE et al, 2001).

A Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral – SBNPE,

também registrada como Sociedade Brasileira de Nutrição Clínica, foi fundada na

cidade Petrópolis, RJ, em 1975, mas tem sua sede e foro na cidade de São Paulo

(SBNPE, 2003). Nesta data, ocorreu o I Simpósio Brasileiro de Nutrição Parenteral,

onde todos os associados que estiveram presentes ao evento, receberam o título de

sócio-fundador (SBNPE, 2003). É uma sociedade de caráter multidisciplinar,

atuando institucionalmente na área de nutrição clínica, enteral e parenteral. Com

cursos de atualização e formação, realiza congressos nacionais, estando presente

nas diversas regiões do país. Está dividida em Comitês de Enfermagem, de

Nutrição, de Farmácia, de Pediatria, Educacional e Profissional (SBNPE, 2006).

Registra em seu endereço eletrônico oficial um crescimento

progressivo do número de membros e participantes, destacando a importância da

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Terapia Nutricional no contexto hospitalar. Cita filiação à Associação Médica

Brasileira – AMB (SBNPE, 2006).

Começando em 1976, quando um pequeno grupo de enfermeiros da

área de diálise e transplante renal do Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade São Paulo - HC/FMUSP se reunia para trocar

informações, a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia – SOBEN foi

fundada oficialmente em 1983, durante o I Seminário de Enfermagem em Diálise,

realizado no Rio de Janeiro, RJ. Somente em 1988, a SOBEN passou a ter sede

própria, com a aquisição de um imóvel na cidade de São Paulo, porém segundo seu

Estatuto, a sede e o foro da Sociedade se fixará no Estado que tiver o maior de

associados (SOBEN, 1998). Tem como principal objetivo aperfeiçoar a assistência

de enfermagem prestada aos pacientes portadores de insuficiência renal.

O grupo de enfermeiros se dedicava ao estudo de temas científicos e

fundamentos técnicos, mas já existia a intenção de fundar um centro de

especialistas como os já existentes na Europa (European Dialysis and Transplant

Nurses Association - EDTNA) e USA (American Nefrology Nursing Association -

ANNA) (SOBEN, 2006).

Fundada em 29 de agosto de 1986, em São Paulo, durante o II

Encontro Nacional de Enfermeiros do Trabalho, a Associação Nacional de

Enfermagem de Trabalho – ANENT se chamava Associação Nacional dos

Enfermeiros do Trabalho, tendo seu nome mudado para o atual, em 1998, em razão

da agregação dos técnicos e auxiliares. Trata-se de entidade de classe de caráter

científico e cultural, sem finalidades lucrativas e validade em todo o território

nacional, contando com representações em diversos estados (ANENT, 2005).

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Segundo informações divulgadas no endereço eletrônico oficial da

Enfermeira Ruth Miranda (LEIFERT, [2002?]), em 1983, durante o Congresso

Brasileiro de Enfermagem realizado em São Paulo pela ABEN, foi criado o Grupo de

Interesse Clínico em Enfermagem do Trabalho – GICET, que mais tarde teve sua

denominação alterada para Grupo de Enfermagem do Trabalho – GET, embrião da

ANENT.

Em 1983, enfermeiros ligados à Cardiologia começaram a atuar em

conjunto com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP,

porém, só em 1987, foi fundado o Departamento de Enfermagem. Sua diretoria visa

desenvolver um trabalho de excelência na área, tendo em vista a complexidade da

assistência à pessoa cardíaca. É meta do departamento, estimular o relacionamento

com associações congêneres nacionais e internacionais, visando ao aprimoramento

técnico e científico dos profissionais da área. Contribui com o Suplemento da

Revista da SOCESP e participa de atividades dirigidas ao público em geral

(SOCESP, 2006).

A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo é uma entidade

sem fins lucrativos, fundada em 1976, regional da Sociedade Brasileira de

Cardiologia, Departamento de Cardiologia da Associação Paulista de Medicina, com

cerca de 6 mil sócios. Os principais objetivos são contribuir para a atualização dos

cardiologistas do estado e difundir o conhecimento científico gerado pela própria

Sociedade para Cardiologistas, profissionais da saúde que atuam na Cardiologia e

para a população em geral.

A SBEO - Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica –

fundada em 13 de novembro de 1988, é uma entidade civil, cultural e científica, sem

fins lucrativos. Segundo seu estatuto, a sede da Sociedade será designada pela

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presidência, podendo mudar de acordo com a mesma (SBEO, 2000). A época da

fundação da ABESE, a sede estava em São Paulo, e quem representou a sociedade

foi a Enfermeira Sylvia R.B.S. Diegues, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (COREN-

SP, jan. /fev. 2000).

A SBEO denomina-se como um órgão de luta contra o câncer e de

representação dos interesses científicos, culturais e profissionais de seus

associados. Destacam-se como finalidades: representar os interesses científicos,

culturais e profissionais de seus associados perante os poderes constituídos, além

de representar a Enfermagem Oncológica do Brasil junto às entidades de

Enfermagem nacionais e internacionais (SBEO, 2000).

A Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação

Anestésica e Centro de Material e Esterilização – SOBECC começa, em 1982, quando um

grupo de enfermeiros de Centro Cirúrgico, integrantes da ABEN-SP, entende que

era preciso haver discussões focadas na prática de enfermagem sobre a assistência

prestada no Bloco Operatório. Com base nessa demanda, estes resolveram criar o

Grupo de Estudo em Centro Cirúrgico e Centro de Material (GECC). Em 1991, o

GECC transforma-se em associação, porém, inicialmente apenas como Sociedade

Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico. Nessa ocasião, constituiu sua

primeira diretoria, a enfermeira Ana Maria Ferreira de Miranda, uma das precursoras

do GECC.

Segundo Arone et al. (2001), no ano seguinte a fundação da ABESE, a

SOBECC utilizava-se do espaço físico da ABEN-SP para sua sede. As relações

interrompidas em 1999, entre o sistema COFEN/CORENs e a ABEN, não foram

impeditivas a manutenção da sede da SOBECC na ABEN-SP no decorrer do ano de

2001.

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A SOBECC tem como missão as intervenções de enfermagem sobre

os pacientes cirúrgicos, além de preparar técnica e cientificamente o profissional de

enfermagem, criar normatizações referentes ao funcionamento do Centro Cirúrgico,

Centro de Material e Esterilização e Recuperação Anestésica, divulgando por meio

de cursos, simpósios, congressos e certificações, informações que visem melhorias

na qualidade da assistência perioperatória (SOBECC, [2006?]).

A Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva –

SOBETI é uma sociedade civil sem fins lucrativos de caráter exclusivamente

científico-cultural, fundada em 1996, e tem por finalidade o desenvolvimento técnico

e científico de seus associados, da comunidade de enfermagem e de profissionais

de saúde em geral, voltados para a Terapia Intensiva e Semi-Intensiva, Adulto,

Pediátrico e de Neonatologia (SOBETI, 2006).

Segundo informação em seu endereço eletrônico oficial, a SOBETI

procura trabalhar de uma maneira uniforme, sem tendências regionalistas, de forma

unificada para dar continuidade às conquistas já realizadas e as novas conquistas.

Também a SOBETI, em 2001, utilizava-se do espaço físico da ABEN-SP para sua

sede (ARONE et al., 2001).

Segundo o artigo 1º do Estatuto da Sociedade Brasileira de

Gerenciamento em Enfermagem – SOBRAGEN, esta foi “constituída na reunião

ocorrida a 16 de março de 1996, nas dependências da Gerência de Enfermagem da

Santa Casa de São Paulo” (SOBRAGEN, [1996?]) e está organizada “como uma

sociedade civil, de direito privado, de caráter científico e cultural, sem quaisquer fins

lucrativos, tem o funcionamento regulado pelo presente Estatuto e pelas disposições

legais que lhes forem aplicáveis” (SOBRAGEN, [1996?]). O Grupo de Interesse em

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Gerenciamento, constituído pela ABEN-SP, em 1991, foi o embrião da SOBRAGEN

(ARONE et al, 2001).

A semente da Sociedade Brasileira de Enfermagem em

Dermatologia – SOBENDE foi lançada em outubro de 1994, com um grupo de

enfermeiras ligadas aos cuidados de pacientes com lesões de pele. O objetivo inicial

era de ampliar a integração entre as instituições de saúde e de ensino, por meio da

troca de experiências e do desenvolvimento de pesquisas. Em 1996, surgiu o Grupo

de Enfermagem em Dermatologia – GEDE, composto por enfermeiros de instituições

hospitalares e de ensino da cidade de São Paulo (SOBENDE, 2006).

Em 1997, no Congresso Brasileiro de Enfermagem, realizado em Belo

Horizonte, enfermeiros de todas as regiões do país reuniram-se para afirmar sua

intenção de fundar a SOBENDE. Em 1998, no auditório do Hospital Sírio Libanês,

em São Paulo, funda-se a SOBENDE, com uma diretoria composta  por enfermeiros

de vários estados brasileiros.

Com o objetivo de sedimentar a atividade do enfermeiro auditor,

através da união de todos que militam nessa área, foi fundada em 01 de dezembro

de 1999, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros Auditores em Saúde – SOBEAS

(COREN-SP, mai. /jun. 2000). É sociedade civil sem fim lucrativo, de natureza

científica e cultural (SOBEAS, [2005?]). O crescimento de suas atividades é dado

como certo a época de fundação, porque as instituições assistenciais e seguradoras

precisam rearrumar seus custos, sem perder qualidade na assistência, cumprindo a

lei dos convênios, o Código de Defesa do Consumidor, e mantendo a satisfação do

cliente (COREN-SP, mai. /jun. 2000).

Sobre a SBEPSAM e a SOBENC, não foi conseguido nenhum material

que permitisse a análise das participações no processo de criação da ABESE.

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4.2 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER

Ao congregar profissionais especializados em Sociedades, a ABESE é

potencializadora do poder do discurso de enfermeiros que desejam fazer de seus

serviços, ações exclusivamente confiáveis, ter uma autoridade profissional baseada

em técnicas, reinvidicando tanto as técnicas como a jurisdição, de acordo com

padrões de treinamento (WILENSKY apud MACHADO, 1995, p.19).

Foucault chama a atenção para o fato de que o próprio discurso pode

ser aquilo por que se luta (FOUCAULT, 2005), ter o direito legal de falar a verdade.

É necessário ser político e fazer política para que a Enfermagem especializada

adquira visibilidade.

A associação das sociedades na ABESE é a soma de interesses em

prol de um mesmo objetivo: valorização e reconhecimento da figura da Enfermagem

especializada dentro do contexto do mercado de trabalho paulista.

Ruth Leifert, chegando a presidência do COREN-SP, contactou as

sociedades de especialistas (pessoa jurídica) para discussões sobre o papel do

especialista na assistência e sua formação. Manifestava interesse em dar

visibilidade a Enfermagem. No entanto, constam no Estatuto da ABESE, os nomes

de pessoas físicas, as quais compõem a Comissão Consultiva Permanente, por

estas pessoas terem sido as idealizadoras da Academia.

Considerei que este grupo partilhava uma visão de ausência de espaço

no campo de ação, e dotadas de um capital científico, ocupavam cargos de

significado político dentro do campo da Enfermagem, espalhadas nas diferentes

sociedades que vieram a fundar a Academia, e algumas delas, no COREN-SP.

Tinham também um capital político que repousava

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sobre o reconhecimento de uma competência que, para além dos efeitos que ela produz e em parte mediante esses efeitos, proporciona autoridade e contribui para definir não somente as regras do jogo, mas também suas regularidades, (...), as leis que fazem que seja ou não importante escrever sobre tal tema, (...), e o que é mais compensador publicar no American Journal de tal e tal do que na Revue Française disso e daquilo (BOURDIEU, 2003, p.27).

Neste momento, compõem uma estrutura de relações objetivas entre

si, que determina o que eles podem e não podem fazer (BOURDIEU, 2003).

Na luta para imporem o veredicto “imparcial”, reconhecendo a sua

visão como objetiva, estas pessoas dispõem de forças que dependem da sua

pertença a campos objetivamente hierarquizados e da sua posição nos campos

respectivos (BOURDIEU, 1989).

A constar:

Akiko Kanazawa – ANENT e 1ª secretária do COREN-SP a

época da fundação da ABESE

Berenice Nunes – SOBETI

Fernanda Anajas Farias – SOBENC

Francinete de Lima Oliveira – SOBEAS e conselheira do

COREN-SP a época da fundação da ABESE

Joana Lech – SOBECC

Juvenal Tadeu Canas Prado – SBNPE

Magdália Pereira de Sousa – SOBEAS e 1ª tesoureira do

COREN-SP a época da fundação da ABESE, além de

Coordenadora da Câmara Técnica em Enfermagem na área

jurídica

Maria Antônia de Andrade Dias – SOBRAGEN e conselheira do

COREN-SP a época da fundação da ABESE, além de

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Coordenadora da Câmara Técnica em Enfermagem na área

gerencial

Maria Helena Caetano Franco – SOBEN

Maria Keiko Asakura – SOCESP

Paula Andréa Shinzato Ferreira Martins – SBEPSAM

Regina Maria Silva Fortes – SOBEN

Rita de Cássia Chamma – SBEPSAM e Coordenadora da

Câmara Técnica em Enfermagem na área ética

Ruth Miranda de Carvalho Leifert – presidente da ANENT e do

COREN-SP a época da fundação da ABESE

Sérgio Martins Lopes – SBNPE e SOBETI

Sílvia Regina Zomer – SOBENDE

Valéria Brazoloto – SOBENDE

Ao reunirem-se em sociedades de especialistas as quais definem em

seus estatutos pela valorização da especialização, e através dessas organizações

estruturadas, pretendem definir a formação dos especialistas em nível médio e/ou

superior, usam estratégias para ”levarem a melhor na luta simbólica pelo monopólio

da imposição do veredicto, pela capacidade de dizer a verdade a respeito do que

está em jogo” (BOURDIEU, 1989, p.54-55).

Desejam aumentar o seu grau de profissionalização que “é regido não

só pelo grau de êxito na reivindação por competência técnica exclusiva, mas

também pelo grau de apelo ao ideal de trabalho, e pelas normas de apoio à conduta

profissional” (WILENSKY apud MACHADO, 1995, p.19).

Estas pessoas acreditam que “não é o valor relativo do trabalho que

determina o valor do nome, mas o valor institucionalizado do título que serve de

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investimento o qual permite que se defenda e se mantenha o valor do trabalho”

(BOURDIEU, 1989, p.149).

O parágrafo único do artigo segundo do Regimento da Academia cita

que “para a consecução de suas finalidades, a Academia Brasileira de Especialistas

em Enfermagem, poderá recorrer à cooperação de instituições congêneres e afins,

inclusive com a filiação de âmbito nacional e internacional” (ABESE, 2000c, p.1). Eis

que a inserção no sistema COFEN/CORENs, fato explicitado na Resolução COFEN

260 de 12 de julho de 2001, confirma a intenção da ABESE de atingir seus objetivos.

Paiva (1996, p.32) afirma que “fortalecer as Sociedades de

Especialistas, passa por fortalecer as demais entidades de enfermagem, para que

sejamos uma categoria forte”, e possamos garantir as conquistas alcançadas até

aquela data.

Creio que acima das lutas políticas internas na Enfermagem, a

existência da ABESE sinalize para a autonomia profissional do enfermeiro, porque “a

posse do título conferido traz às pessoas autoridade considerável em relação aos

clientes” (FGV, 1987).

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5 PERSPECTIVAS FUTURAS DA ABESE

Compartilho da opinião de Fernández Abellán (2002) sobre a

enfermagem do século XXI ter grandes objetivos, e entre eles, a coordenação dos

avanços científicos aplicados aos cuidados de Enfermagem, a efetiva melhora da

saúde e do bem estar do paciente. Faz-se preciso a especialização do enfermeiro,

como forma de dominar os princípios científicos que fundamentam a utilização

destes avanços, e ao mesmo tempo, selecionar corretamente as soluções

disponíveis.

Considero que a vigência do modelo hospitalocêntrico de atenção a

saúde, associado a um ensino de graduação com diretrizes generalistas, impulsiona

o surgimento de novos cursos de especialização no mercado. É uma conjuntura

onde as instituições privadas de ensino conseguem responder mais rapidamente as

demandas do mercado. Rodrigues e Zanetti (2000, p.105) referem que “ao

deixarmos de ministrar o conteúdo técnico do ensino, abriríamos uma lacuna na

formação profissional que inviabilizaria a inserção do enfermeiro no processo de

trabalho da enfermagem”.

Os autores acima citados acreditam, outrossim, uma vez que a força de

trabalho esteja “(...) melhor preparada, pode inserir-se com maior facilidade no

mercado de trabalho e ao comprovar isso, tem maior poder de barganha”

(RODRIGUES E ZANETTI, 2000, p.105).

Considerando-se a criação da ABESE como um mecanismo de

estratégia política, de fazer valer o discurso de uma Enfermagem especializada,

onde a personalidade jurídica do grupo tem seguramente mais representação, mais

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poder simbólico que cada sociedade isoladamente, trabalha-se em instituir uma

imagem baseada no tecnicismo.

A ABESE ocupou e está ocupando um espaço na profissionalização da

enfermagem, em grande parte, pelas ações ousadas de Ruth Leifert, enquanto

presidente do COREN-SP, por ter vislumbrado dar visibilidade a Enfermagem, e

mais especificamente aos enfermeiros, através da organização política.

Dra. Victoria Secaf, docente da Escola de Enfermagem da

Universidade de São Paulo, afirma que se faz necessário inovar e ousar na área da

Enfermagem, pois “ainda somos relativamente caladas (...) É preciso uma

manifestação maior em relação ao grande público” (COREN-SP, mar./abr. 2004,

p.11). Hoje, “você é reconhecido pelo que sabe (...). Digo que os profissionais se

reciclem, busquem conhecimentos para serem reconhecidos enquanto tais”

(COREN-SP, mar./abr. 2004, p.11).

Marinho (2006) escreveu uma matéria para a Revista COREN-SP nº.

62, citando profissionais os quais exemplificam o crescer da profissão através dos

paradigmas sendo questionados. Aborda a questão do gênero na história da

Enfermagem e seus desdobramentos, somado a capacitação profissional e pesquisa

científica, permitindo que o enfermeiro questione o paradigma vigente, e

paralelamente promovendo uma reconstrução do próprio conhecimento em

enfermagem. Cita profissionais ousados e pioneiros na enfermagem, como aqueles

que se dedicaram à saúde do idoso e tratamento a dependência química. Conclui o

texto, com o pensamento da Dra. Vânia Declair Cohen, enfermeira especialista em

UTI, dermatologia e feridas, pioneira nas pesquisas com os ácidos graxos essenciais

e prevenção das úlceras de pressão: “Eu sempre acreditei na enfermagem e sempre

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pensei em encontrar, cada vez mais, meios para valorizar a profissão” (MARINHO,

2006, p.13).

É uma conquista relevante quando o Ministério da Saúde, órgão

máximo de deliberação sobre a saúde no país, através da emissão de parecer

técnico, inclui representantes das sociedades de especialistas em Enfermagem, nas

Câmaras Técnicas de Nefrologia, de Assistência Cardiovascular e de Assistência

Traumato-Ortopédica, em resposta a uma solicitação emitida pelo COREN-SP, na

pessoa de sua presidente, conforme informação veiculada na Revista nº.59 do

Conselho. De acordo com o órgão, estas áreas podem apresentar grande

dificuldade de atuação para um enfermeiro generalista.

Destaca-se a enfermagem paulista e a pessoa da presidente do

COREN-SP, que solicitou ao Ministério a revisão das portarias, utilizando como

respaldo técnico-científico, a otimização da assistência de enfermagem quando ela é

executada pelo enfermeiro especialista, fazendo uso da função ocupada – de

presidente da ABESE e do Conselho. Uma conquista deste porte representa para a

Enfermagem, um status social diferenciado.

Compartilhando com Bourdieu, acredito que

cada vez mais serão necessárias justificativas técnicas, racionais, para dominar, e nos quais os próprios dominados poderão e deverão, (...), utilizar-se da razão para defender-se contra a dominação, já que os dominantes, (...), invocarão a razão e a ciência para exercer sua dominação (BOURDIEU, 1996, p.156).

O involuntário status do cargo de presidente do Conselho Regional de

Enfermagem de São Paulo se justifica pela alta complexidade de administrar um

órgão que em agosto de 2005, congregava mais de 260 mil profissionais de

enfermagem e uma estrutura compatível com esta população. Uma exposição que

submete seu ocupante igualmente a elogios e a críticas (COREN-SP, jul./ago. 2005).

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Ao longo dos anos, o COREN-SP entendeu que precisava fazer algo

mais que as funções determinadas em lei para os Conselhos. Várias iniciativas para

a promoção dos níveis de qualidade da atuação profissional aconteceram,

culminando com o pensamento de valorização da especialização, seja para o nível

superior ou nível médio. Todos aqueles os quais compartilhavam esse pensamento

reuniram-se em prol dessa meta comum.

No mundo globalizado, dos negócios, da economia, das informações

instantâneas, na visão de Maria Antonia de Andrade Dias, atual presidente da

SOBRAGEN, é colocado da seguinte forma: “os enfermeiros mais qualificados, não

podem aceitar mais não serem ouvidos. Eles precisam assumir uma série de

comportamentos essenciais ao trabalho (...)” (DIAS, 2003, p.17).

Ainda que a interpenetração dos campos de conhecimento seja uma

das tendências mais vigorosas da economia, “as habilidades e os conhecimentos

específicos são cada vez mais exigidos e aprofundados sobre um determinado

assunto ou tema em todas as áreas profissionais” (FERREIRA E MORETTI, 2005,

p.1).

No movimento da Enfermagem especializada que gerou a ABESE, o

discurso da especialidade é o esforço em produzir uma situação de reconhecimento

e de atribuição de competência junto a população e ao Estado, fazendo crer que a

médio e longo prazo, substitua-se o modelo de representação e de critério de

competência.

Há de se considerar que a falta de um conhecimento sobre a

Enfermagem como profissão e prática social, sendo uma “(...) atividade humana que

atravessou os tempos a partir de uma prática doméstica informal” (MACHADO,

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2002, p.327), enfraquece qualquer organização política que pretenda representar o

grupo da Enfermagem.

Eis que “tomar plena consciência da prática permite conhecê-la e, por

tanto, transformá-la se necessário (tradução nossa)” (MEDINA, 2003, p.3), todavia

não se mudará a prática, se não houver modificação das crenças e dos modelos que

a sustentam.

No ponto de vista do Conselho Regional de Enfermagem de São

Paulo, é fator importante para o reconhecimento das autoridades de saúde nacionais

e internacionais, o enraizamento das especializações em Enfermagem. A estratégia

traçada pelo Conselho demonstra a necessidade de sustentar o movimento nas

instituições que respondem pelo ensino, pelo exercício e pela legislação de

Enfermagem.

Interpreto as perspectivas futuras da ABESE como uma representação

política de enfermeiros que pretendem uma possível autonomia profissional do

enfermeiro dada a aquisição de um capital científico, e este, ser substrato na luta

constante destes atores sociais na ocupação de um espaço.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de criação da ABESE, eleito para objeto deste estudo, se

apresenta, é descrito, analisado e contextualizado no decorrer deste relatório.

Ao me debruçar sobre as leituras dos materiais aqui referendados, e

mesmo os não referendados, mas que precisaram ser lidos, compreendidos e

entendidos, concluo que o processo de especialização pelo qual a enfermagem

passou, aponta para uma reatualização do habitus do enfermeiro. Basear-se-á em

uma prática dominada pela tecnologia.

É pensamento do Conselho Regional de Enfermagem paulista neste

momento, que a formação universitária é insuficiente para que o profissional consiga

competir no mercado de trabalho, sendo imprescindível à complementação do

conhecimento (COREN-SP, set. /out. 2000). Em minha visão, a valorização dos

cursos de pós-graduação lato sensu – especialização, é para eles, a

complementação de uma formação universitária deficiente no que se refere ao

conhecimento técnico.

No entanto, penso como Rodrigues e Zanetti (2000) que evidenciaram

a distância entre o ensino e a prática assistencial, pois “existe uma defasagem entre

o que se ensina na graduação e a incorporação de novas tecnologias, práticas e

saberes” (RODRIGUES E ZANETTI, 2000, p.102). Na conjuntura de São Paulo,

estado brasileiro de maior produção econômica, as novas tecnologias precisam ser

dominadas por quem pretenda sua inserção no mercado de trabalho, seja na

Enfermagem ou fora dela.

Considerei que a pesquisa histórica como metodologia de trabalho,

permitiu compreender todos os níveis do trabalho da Enfermagem: social, cultural e

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principalmente ético, não se conseguindo entender sua dimensão social e ética, bem

como, trabalhar para conquistas futuras, se não houver um mínimo de historicidade.

Mesmo este tipo de pesquisa pode e deve incorporar o uso da busca de dados e

informações, através da internet, conforme afirma Évora (2004).

Outrossim, esta tecnologia que foi capaz de revolucionar padrões de

comportamento, também “destruiu” outros. O uso indiscriminado da rede mundial de

computadores facilitou e incrementou a coleta de informações pela sua agilidade,

porém põe em questionamento a perpetuação dessas informações às próximas

gerações, em razão da impossibilidade de se arquivar dados sem correr riscos;

excetuando-se a boa e velha forma impressa de um texto.

O primeiro objetivo traçado para o estudo foi atingido, porque ao

“determinar a identidade” (FERREIRA, 1986, p.913) das circunstâncias de criação

da ABESE, procurei o contexto histórico de um determinado espaço geográfico onde

ocorreram os encontros e as alianças de atores sociais relevantes no processo de

geração da Academia.

Ao estudar o processo de especialização da Enfermagem, conclui ter

sido este, reflexo do processo ocorrido nas Ciências Médicas o qual arregimentou

conseqüências positivas sobre o reconhecimento social e critério de competência do

profissional médico. A Enfermagem ensaia os primeiros passos para conseguir o

mesmo resultado, na figura da Enfermagem paulista, representada pela ABESE.

O segundo objetivo: examinar o(s) significado(s) da criação da

ABESE dentro do processo de profissionalização da Enfermagem, significou analisar

o processo de geração de uma instituição, numa dada conjuntura e momento

histórico, e considerar a aplicação disto a Enfermagem brasileira.

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Fundada no plenário do COREN-SP, era contumaz descrever as

especificidades da história recente da Enfermagem paulista e seu Conselho

Regional. Representante forte de um paradigma político-econômico vigente, o

estado de São Paulo impulsiona mudanças na prática profissional. Todavia, com

este estudo, não me abstive de questioná-las.

A ABESE, enquanto forma de organização política, é uma estratégia de

afirmação e legitimação de um grupo que busca produzir valor social fora dos

modelos tradicionais de legitimação, centrados na academia.

Em concordância com Werneck, penso que as pessoas idealizadoras

da ABESE quiseram fazer diferente. “Existe uma febre, em nossos dias,

correspondente ao desejo de novidades e de coisas diferentes. Isto é inerente ao ser

humano e pode ser constatado ao longo da história” (WERNECK, 2003, p.83).

Fizeram o que não existia, pois “o conhecido não desperta interesse. Mesmo que

você fale sobre o óbvio, faça um show sobre o óbvio. Se alguém reclamar, procure

saber se ele faz, pelo menos o óbvio” (WERNECK, 2003, p.131-132).

Pressupondo o conceito de discutir como “debater, examinar,

investigar, questionando” (FERREIRA, 1986, p.596), o terceiro objetivo: discutir as

perspectivas futuras da ABESE dentro do processo de profissionalização da

Enfermagem, permitiu contestar o assunto. A partir de ações concretas da ABESE,

questionar e contestar a trajetória do movimento de valorização da Enfermagem

especializada, nascido, não por acaso, no estado de maior produção econômica.

A reflexão sobre as trajetórias das sociedades de especialistas, indica

que acima das cisões ou acordos havidos na história da Enfermagem, o mais

importante é o próximo passo a ser dado, para maiores e melhores conquistas. Do

mesmo modo como falamos dos pioneiros do passado, para que estivéssemos

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neste momento, hoje somos pioneiros do futuro. A História da Enfermagem é feita

de pioneiras e pioneiros.

Os enfermeiros paulistas detentores de um poder simbólico, oriundo de

um capital científico – a pós-graduação do tipo especialização, já reunidos nas

sociedades de especialistas existentes, fazem a reunião de doze sociedades e

fundam a ABESE. Em minha visão, uma iniciativa pioneira do estado de São Paulo.

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