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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM ENFERMAGEM
ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM - ABESE:
A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER(2000 – 2001)
por
Flávia de Araújo Carreiro
Relatório final de Dissertação apresentado ao
Programa de Pós-graduação da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/UNIRIO.
Orientadora: Profª. Drª. Almerinda Moreira
Rio de Janeiro
2006
ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS
EM ENFERMAGEM - ABESE:
A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER
(2000 – 2001)por
Flávia de Araújo Carreiro
Banca examinadora de Defesa de Dissertação aprovada em 11/10/2006.
________________________________________
Profª. Drª. Almerinda MoreiraPresidente
________________________________________
Profª. Drª. Lúcia Helena Silva Correia Lourenço1º Examinador
________________________________________
Prof. Dr. Osnir Claudiano da Silva Júnior 2º Examinador
_______________________________________
Prof. Dr. Nilson Alves de Moraes1º Suplente
_______________________________________
Prof. Dr. Wellington Mendonça de Amorim2º Suplente
Rio de Janeiro
2006
AGRADECIMENTOS
Ao Criador e Arquiteto do Universo, pelo dom da Vida e a possibilidade de vivê-la
em sua plenitude;
A minha família, por ter me dado às oportunidades de construir a pessoa que sou;
A Drª. Almerinda Moreira, por ter apostado em mim, e, em minha visão de mundo,
estar sendo uma ORIENTADORA no seu sentido mais concreto, de simplesmente
guiar, informar e esclarecer, deixando que aprenda e apreenda o que é ser
mestranda em História da Enfermagem;
A Enfermeira Maria Helena Garcia Alvernaz, por “abrir mão” de meu trabalho na
rotina do serviço, e assim permitir que me matriculasse no Mestrado;
Aos meus colegas de turma, por cada palavra de estímulo a cada pedregulho que se
colocava no meu caminho;
Aos pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Histórica em Enfermagem – LAPHE,
pelas diferentes maneiras de ajudarem a construir a minha visão de mundo sobre a
História da Enfermagem, e assim, escrever meu estudo.
“Quanto mais se produz especialidades,
menos se consegue interconectá-las.”
(Basarab Nicolescu)
“Compreender a gênese social de um
campo, e apreender aquilo que faz a
necessidade específica que o sustenta, do
jogo de linguagem que nele se joga, das
coisas materiais e simbólicas em jogo que
nele se geram, é explicar, tornar
necessário, subtrair ao absurdo do arbitrário
e do não-motivado os atos dos produtores e
as obras por eles produzidas e não, como
geralmente se julga, reduzir ou destruir.”
(Pierre Bourdieu)
Carreiro, Flávia de Araújo. ACADEMIA BRASILEIRA DE ESPECIALISTAS EM ENFERMAGEM - ABESE: A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.].
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
RESUMO
O objeto deste estudo é o processo de criação da Academia Brasileira de Especialistas em
Enfermagem – ABESE, fundada em 2000, na cidade de São Paulo, que, em minha visão,
tem no seu processo de geração, organização e implementação, a concretude de um
processo de especialização ocorrido nas Ciências Médicas, e refletido na Enfermagem.
Identificar as circunstâncias de criação da ABESE, e examinar seu(s) significado(s), além de
discutir as perspectivas futuras dentro do processo de profissionalização da Enfermagem,
foram os objetivos do estudo. Teve como fundamentação teórica, a multireferencialidade, e
como metodologia, a pesquisa histórica. Os conceitos de Pierre Bourdieu sobre habitus,
capital e poder simbólico somado ao pensamento de Michel Foucault sobre o valor do
discurso, foram selecionados e aplicados ao estudo. Conclui que o processo de
especialização pelo qual a enfermagem passou, aponta para uma reatualização do habitus
do enfermeiro, o qual estará baseado em uma prática dominada pela tecnologia. Ao estudá-
lo, observei que a Enfermagem, representada pela ABESE, ensaia os primeiros passos para
conseguir o mesmo resultado que as Ciências Médicas obtiveram no que se refere as
conseqüências positivas sobre o reconhecimento social e critério de competência.
Representante forte de um paradigma político-econômico vigente, o estado de São Paulo
impulsiona mudanças na prática profissional, e sendo assim, a ABESE, enquanto forma de
organização política, é uma estratégia de afirmação e legitimação de um grupo que busca
produzir valor social fora dos modelos tradicionais de legitimação, centrados na academia. A
partir de ações concretas da ABESE, contestei a trajetória do movimento de valorização da
Enfermagem especializada, nascido, não por acaso, neste estado. A reflexão sobre as
trajetórias das sociedades de especialistas, indicou que acima das cisões ou acordos
havidos na história da Enfermagem, o mais importante é o próximo passo a ser dado, para
maiores e melhores conquistas. A História da Enfermagem é feita de pioneiras e pioneiros.
Palavras-chave: Enfermagem especializada. Espaço de poder. Pioneirismo.
Carreiro, Flávia de Araújo. BRAZILIAN ACADEMY OF SPECIALISTS IN NURSING - ABESE: THE CONSTRUCTION OF A SPACE OF BEING ABLE (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.].
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
ABSTRACT
The object of this study is the process of creation of the Brazilian Academy of Specialists in
Nursing - ABESE, established in 2000, in the city of São Paulo, that, in my vision, has in its
process of generation, organization and implementation, the realization of a process of
specialization occurred in Medical Sciences, and reflected in the Nursing. To identify the
circumstances of creation of the ABESE, and to examine its (s) meaning (s), beyond inside
arguing the future perspectives of the Nursing’s process of to be professional, had been the
objectives of the study. It had as theoretical recital, the multiple references, and as
methodology, the historical research. The concepts of Pierre Bourdieu on habitus, capital
and symbolic power added to the thought of Michel Foucault on the value of the speech, had
been selected and applied to the study. It concludes that the specialization process for which
the nursing passed, it points with respect to a update of habitus of the nurse, which will be
based on one practical one dominated for the technology. When studying it, I observed that
the Nursing, represented for the ABESE, assays the first steps to obtain the same resulted
that Medical Sciences had gotten in what it mentions to the positive consequences on the
social recognition and criterion of ability. Strong representative of an effective politician-
economic paradigm, the state of São Paulo stimulates changes in the practical professional,
and being thus, the ABESE, while organization form politics is an affirmation strategy and
legitimation of a group that it searches to produce value social is of the traditional models of
legitimation, centered in the academy. From concrete actions of the ABESE, I contested the
trajectory of the movement of valuation of the specialized Nursing, been born, not by chance,
in this state. The reflection on the trajectories of the societies of specialists, indicated that
above of the splits or agreements had in the history of the Nursing, most important it is the
next step to be given, for greatest and better conquests. The History of the Nursing is made
of pioneering pioneers and.
Key-words: Specialized nursing. Space of being able. To be pioneer.
Carreiro, Flávia de Araújo. ACADEMIA BRASILEÑA DE ESPECIALISTAS EN EL OFICIO DE ENFERMERA - ABESE: LA CONSTRUCCIÓN DE UN ESPACIO DE PODER (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.]. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
RESUMEN
El objeto de este estudio es el proceso de creación de la Academia Brasileña de
Especialistas en Enfermería - ABESE, fundada en 2000, en la ciudad de São Paulo, que, en
mi visión, ha en su proceso de generación, organización e realización, la formalización de un
proceso de especialización ocurrido en las Ciencias Médicas, y reflejado en la Enfermería.
Identificar las circunstancias de creación de la ABESE, y examinar suyo(s) significado(s),
además de discutir las perspectivas futuras dentro del proceso de profesionalización de la
Enfermería, fueron los objetivos del estudio. Tuvo como fundamento teórico, las referencias
diversas, y como camino metodológico, la investigación histórica. Los conceptos de Pierre
Bourdieu sobre habitus, capital y poder simbólico sumado al pensamiento de Michel
Foucault sobre el valor del discurso, fueron seleccionados y aplicados al estudio. Concluye
que el proceso de especialización por el cual la enfermería pasó, apunta para una
reactualización del habitus del enfermero, el cual estará basado en una práctica dominada
por la tecnología. Al estudiarlo, observé que la Enfermería, representada por la ABESE,
ensaya los primeros pasos para conseguir el mismo resultado que las Ciencias Médicas
obtuvieron en el que se refiere las consecuencias positivas sobre el reconocimiento social y
criterio de calificación. Representante fuerte de un paradigma político-económico vigente, el
estado de São Paulo impulsa cambios en la práctica profesional, y siendo así, la ABESE,
mientras forma de organización política, es una estrategia de afirmación y hacerse legal de
un grupo que busca producir valor social fuera de los modelos tradicionales de hacerse
legal, centrados en la academia. A partir de acciones concretas de la ABESE, contesté la
trayectoria del movimiento de valoración de la Enfermería especializada, nacido, no por
casualidad, en este estado. La reflexión sobre las trayectorias de las sociedades de
especialistas, indicó que por encima de las rupturas o acuerdos habidos en la historia de la
Enfermería, el más importante es el próximo paso a ser dado, para mayores y mejores
conquistas. La Historia de la Enfermería es hecha de pioneras y pioneros.
Palabras-claves: Enfermería especializada. Espacio de poder. Pioneirismo
Carreiro, Flávia de Araújo. ACADÉMIE BRÉSILIENNE DE SPÉCIALISTES DANS MÉTIER D'INFIRMIER - ABESE : LA CONSTRUCTION D'UN ESPACE DE POUVOIR (2000 – 2001). 2006. 64p. Dissertação [Mest. Enf.]. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
RESUMÉ
L'objet de cette étude est le processus de la création de l'académie brésilienne des
spécialistes dans les soins - ABESE, établie en 2000, dans la ville de São Paulo, qui, dans
ma vision, a dans son processus de génération, d'organisation et d'exécution, la action de
concréter un processus de spécialisation s'est produit en sciences médicales, et reflété dans
les soins. Pour identifier les circonstances de la création de l'ABESE, et pour examiner sa (s)
signification (s), là-bas l'intérieur discutant les futures perspectives du processus de la
professionnalisation des soins, avait été les objectifs de l'étude. Il a eu en tant que
considérant théorique, les références multiples, et comme méthodologie, la recherche
historique. Les concepts de Pierre Bourdieu sur la puissance de habitus, capitale et pouvoir
symbolique se sont ajoutés à la pensée de Michel Foucault sur la valeur du discours, avaient
été choisis et appliqués à l'étude. Je conclus que le processus de spécialisation pour lequel
les soins ont passé, il se dirige en ce qui concerne un reactualisation du habitus de
l'infirmière, qui sera basée sur une une pratique dominée pour la technologie. En l'étudiant,
j'ai observé que les soins, représentés pour l'ABESE, analysent les premières étapes pour
obtenir mêmes ont résulté que les sciences médicales avaient obtenu dans ce qu'il
mentionne aux conséquences positives sur l'identification et le critère sociaux de la capacité.
Le représentant fort d'un paradigme politicien-économique efficace, l'état de São Paulo
stimule des changements du professionnel pratique, et d'être de ce fait, l'ABESE, alors que
la politique de forme d'organisation, est une stratégie d'affirmation et une légitimation d'un
groupe qu'il des searchs pour produire la valeur sociale est des modèles traditionnels de la
légitimation, centrés dans l'académie. Des actions concrètes de l'ABESE, j'ai contesté la
trajectoire du mouvement de l'évaluation des soins spécialisés, été né, pas par hasard, dans
cet état. La réflexion sur la trajectoire des sociétés des spécialistes, indiquées cela ci-dessus
des fentes ou des accords a eu dans l'histoire des soins, la plus importante il est la
prochaine étape à donner, pour des greaters et de meilleures conquêtes. L'histoire des soins
est faite en frayer un chemin des pionniers et.
Mots-clés : Soins spécialisés. L'espace de pouvoir en mesure. Être pionnier.
LISTA DE QUADROS
Quadro I – Sociedades Fundadoras da ABESE.................................................... 23
SUMÁRIO
PÁGINA
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA....................................................15
3. CIRCUNSTÂNCIAS DE CRIAÇÃO DA ABESE..........................................................24
3.1 EVENTOS ANTERIORES E POSTERIORES A CRIAÇÃO DA ABESE....................28
4. SURGINDO UM ESPAÇO DE PODER........................................................................34
4.1 SOCIEDADES DE ESPECIALISTAS FUNDADORAS DA ABESE............................37
4.2 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER..............................44
5. PERSPECTIVAS FUTURAS DA ABESE....................................................................48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................53
REFERÊNCIAS................................................................................................................57
1 INTRODUÇÃO
É objeto deste estudo, o processo de criação da Academia Brasileira
de Especialistas em Enfermagem – ABESE.
Fundada em 02 de outubro de 2000, na cidade de São Paulo, a
Academia tem no seu processo de geração, organização e implementação, a
concretude de um processo de especialização ocorrido nas Ciências Médicas, e em
minha visão, marcadamente refletido na Enfermagem.
Fazendo uso das palavras de Saviani (1985) sobre nosso existir no
mundo – uma existência que é agir, sentir e pensar, e que transcorre normalmente
até algo interromper o seu curso, senti necessidade de descobrir o que é a ABESE –
uma associação cujo objetivo é divulgar e valorizar as Especialidades em
Enfermagem, visando criar e ocupar espaços (ABESE, 2000b).
Como e porque se constituiu uma associação que pretende definir as
diretrizes da formação dos especialistas em enfermagem, seja em nível superior ou
nível médio (ABESE, 2000a), foram inquietações e questionamentos despertados
sobre o tema, além da(s) implicação(ões) deste fato sobre a profissionalização da
Enfermagem brasileira.
Considerei motivo para estudo, a razão pela qual esta Academia foi
inserida no sistema COFEN – Conselho Federal de Enfermagem / CORENs –
Conselhos Regionais de Enfermagem, pois, as Resoluções COFEN 259 e 261,
ambas do ano de 2001, fazem referência à sua criação, bem como, a exigência de
sua chancela quando o enfermeiro obtém a titulação de especialista através de
prova de título, naquelas especialidades privativas da Enfermagem, e estes
pretendam registrá-lo no COFEN, através do Conselho Regional de sua jurisdição.
Até que houvesse a fundação e inserção da ABESE na legislação
emitida pelo COFEN, o Conselho não havia se manifestado sobre o tema desta
forma: exigindo a validação de um determinado título por uma associação formada
pela livre iniciativa de enfermeiros, já representados em Sociedades de
Especialistas.
Registre-se que a Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN,
nascida em 1926, como Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas, primeira
entidade de classe da Enfermagem brasileira, realiza, com regularidade, provas para
titulação de especialista a enfermeiros que cumprirem os critérios exigidos. Ao longo
de sua história, a ABEN sempre atendeu a necessidade de oficialização de um
saber, através das provas de titulação, entendido aqui como o reconhecimento de
uma experiência adquirida no fazer diário das atividades de enfermagem.
Arone et al. (2001) citam que por ocasião do 51º Congresso Brasileiro
de Enfermagem - CBEn, na cidade de Florianópolis, seguindo decisão votada no 32º
Conselho Nacional de ABENs, as relações entre esta Associação e o sistema
COFEN/CORENs foram interrompidas em razão da falta de esclarecimentos
relativos às denúncias de improbidades administrativas feitas contra o COFEN,
desde o 45º CBEn, em 1993, agravadas em 1997, além de práticas antidemocráticas
instaladas no sistema COFEN/CORENs, segundo a mesma autora.
A saber, que a ABEN é associação de caráter cultural, científico e
político, com personalidade jurídica de direito privado (ABEN, 2005), e congrega
Enfermeiros(as), obstetrizes, técnicos(as) e auxiliares de enfermagem, além de
estudantes de graduação e de educação profissional habilitação técnico de
enfermagem que a ela se associam, individual e livremente, para fins não
econômicos.
Tendo havido, o rompimento das relações entre o sistema
COFEN/CORENs e a ABEN, este não interferiu no movimento de construção da
Academia, nascido no seio da Enfermagem paulista, pois atualmente existem duas
Sociedades de Especialistas que estão vinculadas a ABEN e a ABESE: SOBEST –
Associação Brasileira de Estomatoterapia e a ABENTO – Associação Brasileira de
Enfermeiros de Traumato-ortopedia.
Faço uso das palavras da Enf. Rita de Cássia Chamma, para descrever
o momento da Enfermagem paulista, prévio a criação da ABESE, segundo a visão
de mundo da própria. Esta foi Coordenadora da Câmara Técnica em Ética do
Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo – COREN-SP, durante o plenário
de 1999 a 2002.
Pensando na Enfermagem como um componente com conhecimentos científicos e técnicos próprios, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência e que realiza-se na prestação de serviços ao ser humano, no seu contexto e circunstância devida e tendo em vista as transformações sociais, culturais, científicas e legais que estão ocorrendo em nosso país é chegado o momento dos profissionais de enfermagem se posicionarem frente a essas questões, através do compromisso de participar, efetivamente, em discussões e divulgações dos princípios éticos que sustentam a profissão, normatizados no Código de Ética dos profissionais de Enfermagem (CHAMMA, 1999, p.5).
De 1999, ano anterior à fundação da ABESE, a reflexão supracitada
integra o preâmbulo de um ementário lançado pelo Conselho paulista. Tal
pensamento somado as aproximações entre o COREN-SP e as Sociedades de
Especialistas ocorridas neste período, prenunciavam a ocorrência de novos e
significativos passos no contínuo da História da Enfermagem.
Justifico como estudo na razão de tratar-se de fato recente da História
da Enfermagem Brasileira com peculiaridades pouco exploradas, cuja proximidade
ao momento do estudo “pode ser um instrumento de auxílio importante para um
maior entendimento da realidade” (FERREIRA, 2004, p.98).
Justifico também, por oferecer análises e considerações para o
processo de profissionalização da Enfermagem, e em particular do Enfermeiro,
provocando o repensar se nossa trajetória profissional deve seguir tão
proximamente a das Ciências Médicas, no que tange a fracionalização de um saber,
entendido aqui como sinônimo de especialidades.
Sobre isso, Ruth Leifert1, enfermeira, atual presidente da ABESE,
durante a abertura do 2º Encontro do COREN-SP e Sociedades de Especialistas em
Enfermagem em 1999, referiu que
na essência, nossa profissão continua a mesma, mas na forma, ela mudou muito nessas últimas décadas. Precisamos romper com o comodismo, mostrar o caminho a seguir – o como, o quando, o onde e o porquê das especialidades, passa necessariamente pelos cursos de aprimoramento profissional (COREN-SP, jan./fev. 2000, p.1).
Compor o banco de dados do Laboratório de Pesquisa Histórica em
Enfermagem – LAPHE, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/
UNIRIO, através de sua linha de pesquisa: O desenvolvimento da Enfermagem no
Brasil, considero outra justificativa do estudo.
Com o fito de responder a esses questionamentos, foram traçados os
seguintes objetivos para o estudo: identificar as circunstâncias de criação da
ABESE; examinar o(s) significado(s) da criação da ABESE dentro do processo de
profissionalização da Enfermagem; e, discutir as perspectivas futuras da ABESE
___________
¹ Ruth Miranda de Camargo Leifert é a atual presidente da Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho - ANENT, do COREN-SP e da Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem – ABESE, como também, era presidente do Conselho Regional a época do 2 º Encontro. Paulista de Santos, é enfermeira formada pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP, em 1973, e com habilitação em Saúde Pública. Em 1975, conclui a especialização em administração de saúde e hospitalar pela Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, e em 1982, faz especialização em Enfermagem do Trabalho na Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo (LEIFERT, [2002?]).dentro do processo de profissionalização da Enfermagem.
Registro que o estudo sobre as relações entre a ABESE e outras
instâncias, instituições ou campos de reconhecimento e produção de sentidos, não
constituíram objeto de investigação neste momento. Meu olhar volta-se para a
ABESE, possuidora de uma lógica interna, uma hierarquia e uma lógica de
recrutamento de seus pares. Ela é o objeto a ser investigado.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
Partilho do pensamento de Vainfas (1997) sobre a combinação de
abordagens distintas no estudo da história, onde este processo pode vir a ser o
ideal, resguardadas suas diferenças, e mesmo a oposição de paradigmas. Desta
forma, não me furtei à citação de diferentes referenciais teóricos os quais
respaldassem as considerações feitas no estudo.
Fleury (1996) fala sobre o valor da multidisciplinaridade no
levantamento e nas análises de dados, quando se pretende apreender o papel
ocupado pelos padrões culturais, na conformação e no fundamento de organizações
complexas. Considerei aplicável ao estudo, escolher a multireferencialidade como
substrato de minha visão de mundo sobre o objeto.
Fiz uso de algumas noções operatórias do pensamento analítico-
reflexivo de Pierre Bourdieu, sociólogo e filósofo francês, nascido em agosto de
1930 em Béarn, região rural do sudoeste da França, e falecido em janeiro de 2002,
no mesmo país. Neto e filho de agricultores, chegou ao ápice da pirâmide cultural
francesa, tornando-se o cientista social mais citado no mundo, além de pertencer a
uma categoria de pensador que causa a sua volta uma mudança no modo de
pensar, indagar e escrever (WACQUANT, 2002).
Identifiquei o conceito de habitus apropriado para designar o
comportamento inerente ao enfermeiro. Surgiu em 1963, no livro Trabalho e
trabalhadores na Argélia, todavia será discutido ao longo de toda a obra do
sociólogo. Bourdieu (1996, p.144) o conceitua como “(...)um corpo socializado, um
corpo estruturado, um corpo que incorporou as estruturas imanentes de um mundo
ou de um setor em particular desse mundo, (...), e que estrutura tanto a percepção
desse mundo como a ação nesse mundo”.
Considerei que o enfermeiro após adquirir um capital simbólico,
fazendo-o enfermeiro especialista, e uma vez reunido aos demais pares nas
sociedades científicas de sua especialidade, busca uma atualização desse habitus,
através de novas posturas profissionais. Este capital simbólico deve ser entendido
como “qualquer tipo de capital (econômico, cultural, escolar ou social) (...), produto
da incorporação das estruturas objetivas do campo considerado. (...) Um capital com
base cognitiva, apoiado sobre o conhecimento e o reconhecimento” (BOURDIEU,
1996, p. 149-150).
Sua especialização como um investimento, só se justifica se um
mínimo de reversibilidade for objetivamente garantido (BOURDIEU, 1999), isto é,
proporcionar algum tipo de retorno a pessoa que o faz. Deve oferecer um status, um
poder – simbólico – que Bourdieu conceitua como um “poder quase mágico que
permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica),
graças ao efeito da mobilização” (BOURDIEU, 2005, p.14). Está diretamente
relacionado ao conhecimento e domínio do uso de uma tecnologia, e fica valorizado
um diploma que “é tanto mais precioso (caro) quanto mais raro é” (BOURDIEU,
1998, p.78-79).
Também me utilizei da aula inaugural de Michel Foucault no Collège de
France, ao assumir a cátedra vacante pela morte de seu antecessor, editada no
Brasil, como o livro A Ordem do Discurso, traduzido originalmente do francês. Neste
discurso, identifiquei falas as quais deram base teórica ao pensamento de alguns
dos atores sociais envolvidos no processo de criação da ABESE, pois “o discurso
não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas
aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos nos apoderar“
(FOUCAULT, 2005, p.10).
Como exemplo, cito Cesaretti e Dias (2002) que analisaram os fatores
contribuintes a evolução da estomatoterapia como especialidade, entre eles, o
surgimento e a existência de um órgão representativo dos enfermeiros
estomatoterapeutas. No Brasil, referem-se a fundação da SOBEST como um marco
na organização da classe de estomatoterapeutas, em prol do desenvolvimento,
ampliação e projeção da especialidade.
Neste contexto, reflexão apropriada sobre a fundação da ABESE seria
compreender que a reunião de sociedades de especialistas em torno do mesmo
objetivo, potencializa o discurso de cada sociedade, na medida em que estas optam
por dedicar-se a segmentos específicos do conhecimento científico. Muitas vezes,
cada segmento se aproxima, ou mesmo se traduz, em dominar uma determinada
tecnologia, como o grupo de enfermeiros que deu origem a Sociedade Brasileira de
Enfermagem em Nefrologia – SOBEN. A tarefa de dialisar os pacientes renais havia
passado às mãos dos enfermeiros os quais precisavam manipular corretamente as
máquinas.
Sobre o caminho metodológico, destaco que o olhar sobre o objeto do
estudo tem singularidades de acordo com a visão de mundo de seus pesquisadores.
Considerei a particularidade de estar falando de fora do cenário e das circunstâncias
que deram origem a criação da ABESE, na impressão de um olhar diferenciado de
quaisquer outros que vierem a falar de dentro do cenário e/ou das circunstâncias.
Explico a opção pelo objeto de estudo de outro cenário, fazendo uso
das palavras de Loiva Otero Félix (1998, p.81), porque “a história como ciência
social, está ancorada no coletivo. Logo, o fato histórico é, antes de tudo, coletivo na
medida em que a história não examina fatos individuais isolados, mas
encadeamentos e relações de fatos”.
Para Rosa (2005), pesquisa histórica é “concebida como uma prática
que busca as relações dos sujeitos no social. (...) Adquire vitalidade no movimento
tanto de retrospecção, quanto de prospecção, e coloca o próprio historiador como
sujeito dessa dinâmica histórica” (ROSA, 2005, p.1). Compreende que o historiador
fala a partir do presente, pois ele é um sujeito do seu tempo (ROSA, 2005).
É também, produzir um conhecimento resultante de diferentes
percepções do real, entendido a partir de um dado teórico, e a dimensão de
pertencimento social, criado por laços afetivos que mantém a vida e o vivido, é a
geradora de uma memória social (FÉLIX, 1998).
Colocar-me como sujeito do “meu” tempo foi referência nas análises e
discussões, posto que ao compreender as questões de saúde e doença como
processos históricos e sociais, a Enfermagem aproximou-se das Ciências Humanas
(ALMEIDA E ROCHA, 1989).
Considerei a metodologia da pesquisa histórica, ideal para responder
aos objetivos traçados, muita embora, o estudo da História Imediata não seja
consenso entre os historiadores, estudiosos por Natureza dos fatos sociais.
Barros (2004) falando sobre o campo da História e possíveis
abordagens, cita que uma delas é a História Imediata, que muito se assemelha ao
jornalismo, pois quando um historiador se propõe a produzir um trabalho
historiográfico, ele mesmo está inserido de alguma forma. O historiador não é
apenas um analista do discurso dos outros, mas também um produtor do próprio
testemunho. De certo modo, “o historiador da História Imediata é o único que produz
história nos dois sentidos, enquanto material e enquanto campo de conhecimento”
(BARROS, 2004, p.147).
Sendo assim, este relatório é produto do meu testemunho sobre fatos
da História Imediata da Enfermagem Brasileira, e também será simultaneamente
material e campo do conhecimento sobre o objeto por mim escolhido e desvelado,
dado a escassez de fontes documentais, dificuldade significativa encontrada no
transcorrer da coleta de dados.
Acredito no valor da pesquisa histórica como redescoberta de um
passado, pois em tempos de informações instantâneas, internet e memória
eletrônica, as gerações se sucedem e a ”falta de perspectiva histórica significa falta
de sentido em todos os níveis: social, cultural e principalmente ético” (DÚRAN
JÚNIOR, 2003, p.1), não se conseguindo entender a dimensão social e ética do
próprio trabalho, seja no campo que for.
O recorte temporal do estudo iniciou-se com a fundação da ABESE em
02 de outubro de 2000, conforme a Ata da Assembléia Geral de Constituição da
Academia. Findou com a Resolução COFEN 261 de 12 de julho de 2001, que f ixa
normas para registro de Enfermeiro, com pós-graduação, e em seu preâmbulo,
considera a importância de normatizar o registro do Enfermeiro com título de pós-
graduação dentro do Sistema COFEN/CORENs, além do artigo sexto, que exige a
chancela da ABESE nos diplomas obtidos através de prova de título, nas
especialidades privativas da Enfermagem.
Os locais de busca das fontes foram as bibliotecas do COFEN, da
Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, da
Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac/RJ, da Escola de Enfermagem Anna
Nery/UFRJ e da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/ UNIRIO, acrescido de
vastíssima documentação eletrônica.
Para Le Goff (1996), a memória eletrônica se impõe pela grande
estabilidade, facilidade de evocação, sendo um auxiliar que só age sob a ordem e o
programa do homem. Registro que a facilidade de evocação proporcionou
significativa agilidade na obtenção dos dados, entretanto, não dispensa rigorosos
critérios de seleção na aplicabilidade destes ao objeto do estudo.
Évora (2004, p.1) afirma que “o alto nível de conectividade da internet
apresenta oportunidades incomparáveis para o acesso e o compartilhamento da
informação”, destacando a velocidade e confiabilidade das informações
apresentadas. Refere que o acesso a bases de dados nacionais e internacionais,
com busca on line em tempo real, como fator positivo no uso da internet em
pesquisa em Enfermagem.
Com diversas sociedades de especialistas atualmente filiadas a
ABESE, incluo no estudo, como relevantes no processo de criação da academia, a
análise da documentação pertinente às doze sociedades fundadoras da ABESE,
conforme a Ata da Assembléia Geral de Constituição da Academia (ABESE, 2000a),
quais sejam:
• ANENT - Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho;
• SBEO - Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica;
• SBEPSAM - Sociedade Brasileira de Enfermagem Psiquiátrica e
Saúde Mental;
• SBNPE - Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral;
• SOBEAS - Sociedade Brasileira de Enfermeiros Auditores em Saúde;
• SOBECC - Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico,
Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização;
• SOBEN - Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia;
• SOBENC - Sociedade Brasileira de Enfermagem Cardiovascular;
• SOBENDE - Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia;
• SOBETI - Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva;
• SOBRAGEN - Sociedade Brasileira de Gerenciamento em
Enfermagem; e,
• SOCESP - Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, na
figura de seu departamento de Enfermagem.
Segundo o paradigma tradicional, a história deveria ser baseada em
documentos, no entanto, Peter Burke (1992) cita que o movimento da “história vista
de baixo” expôs as limitações desse tipo de documento. A “nova” história, descrita
por ele como uma reação deliberada contra o “paradigma” tradicional, que se
interessa pela atividade humana, embora não fosse excluída pelo paradigma
tradicional, era marginalizada no sentido de ser considerada periférica aos
interesses dos “verdadeiros” historiadores.
Para Burke (1992, p.13), “os registros oficiais em geral expressam o
ponto de vista oficial. Para reconstruir as atitudes dos hereges e dos rebeldes, tais
registros necessitam ser suplementados por outros tipos de fonte”.
Concordando com seu pensamento, foram utilizadas variadas fontes, e
estas, comparadas entre si, utilizando-se a técnica de triangulação de fontes, citada
em Alves-Mazzoti e Gewandsznajder (2001), a fim de dar maior confiabilidade aos
dados e credibilidade aos resultados. Novos tipos de perguntas ao passado, novos
objetos de pesquisa, novos tipos de fontes para suplementar os documentos oficiais,
bem como, novas leituras de registros oficiais (BURKE, 1992), as quais procurei
priorizar.
As fontes primárias utilizadas foram o estatuto, o regimento e a ata de
fundação da ABESE; as publicações oficiais bimestrais do COREN-SP que se
apresentam como revistas eletrônicas; além dos estatutos e/ou regimentos das
sociedades fundadoras da ABESE, os quais consegui localizar, e a Resolução
COFEN 261/2001.
Avaliei que as revistas são meios de comunicação formais escritos, e
estes possibilitam o desvendar das relações entre categorias, grupos e áreas da
organização (FLEURY, 1996).
Fontes secundárias: Legislação sobre Educação; literatura da história
da Enfermagem; teses, dissertações e artigos de aproximação com o objeto do
estudo, além das Resoluções COFEN 100/1988, 259/2001 e 290/2004.
Elaborei o Quadro I – Sociedades Fundadoras da ABESE, de cunho
comparativo, cujo objetivo foi analisar a influência do paradigma biomédico no
campo da Enfermagem, através da evolução do reconhecimento e denominação das
especialidades de Enfermagem pelo COFEN e suas áreas de atuação: ambulatorial
e/ou hospitalar, associando-se as datas de fundação e as sedes de cada sociedade
de especialista fundadora da ABESE.
Este quadro veio a evidenciar a influência de um modelo
hospitalocêntrico de assistência à saúde, ao percebermos a prevalência da atuação
hospitalar nas especialidades listadas.
SOCIEDADES FUNDADORAS
CAMPO DE ATUAÇÃO
SEDEANO DE
FUNDAÇÃOESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM
ATUAÇÃO AMBULATORIAL
ATUAÇÃO HOSPITALAR
Resolução 100/1988 Resolução 260/2001 Resolução 290/2004
SBEPSAMPSIQUIATRIA E
SAÚDE MENTALMAIRIPORÃ ? ENFERMAGEM
PSIQUIÁTRICA
PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL (2 especialidades)
PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL
(especialidade única)SIM SIM
SBNPENUTRIÇÃO
PARENTERAL E
ENTERAL
SÃO PAULO 1975 - NUTRIÇÃO PARENTERAL
NUTRIÇÃO PARENTERAL
SOMENTE
NUTRIÇÃO
ENTERAL
SIM
SOBEN NEFROLOGIA SÃO PAULO 1983 - NEFROLOGIA NEFROLOGIA SIM SIM
ANENT ENF. DO TRABALHO SÃO PAULO 1986 ENFERMAGEM DO TRABALHO TRABALHO TRABALHO SIM NÃO
SOCESP CARDIOLOGIA SÃO PAULO1987 (dept.
Enf.) - - - SIM SIM
SBEO ONCOLOGIARIO DE
JANEIRO1988 - ONCOLOGIA ONCOLOGIA SIM SIM
SOBECCC. CIRÚRGICO,
RPA, CMESÃO PAULO 1991 -
CENTRO CIRÚRGICO E UNIDADE DE
ESTERILIZAÇÃO (2 especialidades)
CENTRO CIRÚRGICO, CENTRAL DE MATERIAL E
ESTERILIZAÇÃO(2 especialidades)
NÃO SIM
SOBETITERAPIA
INTENSIVASÃO PAULO 1996 -
UNIDADE DE TRATAMENTO
INTENSIVOTERAPIA INTENSIVA NÃO SIM
SOBRAGENGERENCIAMENTO
EM ENFERMAGEMSÃO PAULO 1996
ADMINISTRAÇÃO DE SERVIÇOS DE
ENFERMAGEMGERENCIAMENTO GERENCIAMENTO DE
SERVIÇOS DE SAÚDESIM SIM
SOBENDE DERMATOLOGIA SÃO PAULO 1998 - DERMATOLOGIA DERMATOLOGIA SIM SIM
SOBENCCIRURGIA
CARDIOVASCULARSÃO PAULO 1999 - CARDIOVASCULAR CARDIOVASCULAR NÃO SIM
SOBEASAUDITORIA EM
SAÚDESÃO PAULO 1999 - AUDITORIA PERÍCIA E AUDITORIA SIM SIM
FONTE: AUTORA (2005)
QUADRO I : SOCIEDADES FUNDADORAS DA ABESE
3 CIRCUNSTÂNCIAS DE CRIAÇÃO DA ABESE
A Enfermagem vem seguindo o modelo das Ciências Médicas,
pioneiras e há mais tempo aplicando o modelo da divisão e especialização do saber,
da intervenção e do mercado de trabalho. Estas buscam se organizar e defender
seus interesses corporativos, tanto através de associações e conselhos quanto de
ações no interior das instituições de ensino superior e do discurso sobre a
importância de sua tradição científica (VIANA, 2002).
De acordo com o Estudo sobre Sociedades de Especialistas em
Medicina no Brasil, elaborado a pedido do Ministério da Saúde em 2000, integrante
de um estudo feito na América Latina e Caribe, pela Organização Pan-americana de
Saúde – OPAS, há um movimento da categoria médica que se preocupa em não
perder definitivamente para agentes externos (indústria farmacêutica e de
equipamentos médicos), o controle sobre a definição de novas especialidades e dos
campos de trabalho médico, como também, impedir que estas super-
especializações venham a receber o status de especialidades em detrimento dos
interesses mais gerais da profissão.
Esta fragmentação das Ciências Médicas, principalmente vista depois
da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), advém de uma divisão de competências
e responsabilidades, caracterizando-se como especialização horizontal, baseada na
ciência e tecnologia (GRAÇA, 2000; SCHOELLER, 2002), além de uma
especialização vertical, surgida numa fase posterior, quando “a gestão rotineira das
inovações de ontem roubam tempo aos que querem continuar na linha de frente”
(GRAÇA, 2000, p.8). Da perspectiva do sociólogo, Hofoss (1986) explica este
processo de especialização como o reflexo do selfish interest, ou seja, os
profissionais lutam pelo monopólio da profissão.
O Estudo sobre Sociedades de Especialidades Médicas no Brasil
(BRASIL, 2000) é uma iniciativa sobre o aprofundar do conhecimento a respeito
deste processo de especialização médica e dos mecanismos existentes para sua
regulação, bem como dos papéis que jogam os diferentes atores envolvidos neste
processo.
Identificar e caracterizar as especialidades médicas existentes no país,
além de suas instituições representativas, e os organismos e mecanismos
reguladores do reconhecimento e exercício das especialidades, foram os objetivos
deste Estudo sobre Sociedades. Concluiu que “a reação à fragmentação representa
um esforço da corporação por manter no seu interior o controle sobre a
exclusividade e a definição dos seus campos de prática, e, portanto de sua própria
integridade enquanto profissão” (BRASIL, 2000, p.37).
Na Enfermagem, Paiva (1996, p.29) afirma que
a especialização do processo de trabalho nos dias atuais é um fato indiscutível, especialmente quando diz respeito às atividades que estão relacionadas a um maior grau de complexidade técnico-científico e, obviamente, ela é decorrente da divisão técnica do trabalho que o modelo capitalista de produção implantou após a revolução industrial, e que a torna uma tendência cada vez mais acentuada nas profissões.
Em 1988, “considerando que o aprimoramento profissional é um dos
principais objetivos do Sistema dos Conselhos de Enfermagem” (COFEN, 1988 apud
SANTOS, 2002, p.77), juntamente, com “a necessidade de definir os ramos (...)
objeto de especialização” (COFEN, 1988 apud SANTOS, 2002, p.77), o Conselho
Federal de Enfermagem publicou a primeira Resolução sobre o tema. Baixava
normas para a qualificação do enfermeiro como especialista, destacando a
responsabilidade dos Conselhos Federal e Regionais com a disciplina
organizacional e operacional do exercício de Enfermagem. Delimitou oito setores da
Enfermagem objeto de especialização.
Algumas das sociedades de especialistas fundadoras da ABESE já
existiam neste período, como a SOBEN, de 1983, e a ANENT, em 1986, além da
SBNPE, fundada em 1975, na figura do departamento de Enfermagem.
Em 2001, a Resolução COFEN 260 faz referência ao inciso XVIII do
artigo 13 do Regimento Interno da Autarquia, que afirma ser uma das competências
do COFEN, “estabelecer as especialidades na área da Enfermagem” (COFEN, 2000,
p.3). São fixadas 37 especialidades - destaque para a terminologia dada as
especialidades, característica do paradigma biomédico vigente. Já preve-se que
aquelas emergentes, serão objeto de novas apreciações e nenhuma delas traz em
sua denominação a palavra Enfermagem.
As demais sociedades fundadoras da ABESE são fundadas no período
delimitado por estas Resoluções, conforme mostra o Quadro I. Informações obtidas
no endereço eletrônico oficial do COFEN citam que a existência de uma sociedade
formalmente estruturada de enfermeiros especialistas, é uma das etapas do
reconhecimento da especialidade pelo órgão.
Em 2004, o Conselho, através da Resolução COFEN 290/2004, altera
algumas denominações, agrupa outras, mas amplia para quarenta e duas
especialidades, a constar: Aeroespacial, Assistência ao Adolescente, Atendimento
Pré-Hospitalar, Banco de Leite Humano, Cardiovascular, Central de Material e
Esterilização, Centro Cirúrgico, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica, Dermatologia,
Diagnóstico por Imagem, Doenças Infecciosas, Educação em Enfermagem,
Emergência, Endocrinologia, Endoscopia, Estomatoterapia, Ética e Bioética,
Gerenciamento de Serviços de Saúde, Gerontologia e Geriatria, Ginecologia,
Hemodinâmica, Homecare, Infecção Hospitalar, Informática, Nefrologia,
Neonatologia, Nutrição Parenteral, Obstetrícia, Oftalmologia, Oncologia,
Otorrinolaringologia, Pediatria, Perícia e Auditoria, Psiquiatria e Saúde Mental,
Saúde Coletiva, Saúde da Família, Sexologia Humana, Trabalho, Traumato-
Ortopedia, Terapia Intensiva e Terapias Naturais/ Tradicionais e Complementares/
Não Convencionais.
Foram encontrados dois anúncios de instituições privadas do estado de
São Paulo – Faculdades Santa Marcelina e Centro Universitário Hermínio Ometto
(UNIARARAS), inseridos na Revista COREN-SP nº. 58, os quais divulgam cursos de
especialização em áreas não reconhecidas pelo COFEN como especialidades de
competência do enfermeiro, quais sejam:
Enfermagem no Controle da Dor;
Cardiologia e Cuidados Intensivos, visando o atendimento de
pacientes com afecções cardíacas e que necessitem de cuidados intensivos;
Terapia Intensiva Neonatal, com o objetivo da assistência de
enfermagem ao recém-nascido grave assistido em Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal; e
Reabilitação Psicossocial e Saúde Mental, para oferecer
assistência a pessoas em crise ou suscetíveis a fatores psíquicos de risco, além de
gerenciar e coordenar equipes multiprofissionais de serviços de psiquiatria e saúde
mental, conforme descrição dos cursos no anúncio em questão.
A oferta destes cursos apontou para uma necessidade do mercado
paulista, premente às Resoluções emitidas pelo Conselho. Destaque para a área de
atuação hospitalar, reforçando a influência do paradigma biomédico e do modelo
hospitalocêntrico de atenção a saúde, no campo de ação da Enfermagem.
3.1 EVENTOS ANTERIORES E POSTERIORES A CRIAÇÃO DA ABESE
Ponto comum em várias falas dos enfermeiros nas publicações oficiais
do Conselho, a exigência da especialização pelo mercado de trabalho local como
forma de assistência mais qualificada, somou-se a visão do Conselho, na pessoa de
Ruth Leifert, presidente do órgão, a trabalhar pelo reconhecimento e valorização
deste profissional. Acreditando-se que o cadastramento dos enfermeiros
especialistas permitiria ao COREN-SP interagir com as instituições de ensino, e
estas pudessem oferecer cursos os quais efetivamente atendessem às carências do
mercado de trabalho, foi promovida a isenção de cobrança da taxa pelo Conselho
para que os enfermeiros fizessem o registro de sua especialidade (COREN-SP,
jan. /fev. 2000).
Marinho (2005, p.2), na Revista do COREN-SP de nº. 58, discorre
sobre a mudança de perfil dos graduandos em Enfermagem no estado de São Paulo
– particularmente acredito que seja uma mudança mais abrangente do que
exclusivamente em São Paulo – associada aos limites da universidade na formação
do enfermeiro, para justificar a necessidade da especialização, cujos resultados
permitem o aprofundamento de questões e contato do profissional com temas mais
específicos. Segundo os depoimentos dados nesta revista, o aluno não sai
preparado da universidade para lidar com a tecnologia disponível no mercado.
Para discutir o tema, o Conselho promoveu três encontros entre o
órgão e as Sociedades de Especialistas, antes da fundação da ABESE e da
realização de Congressos promovidos pela Academia.
O primeiro encontro ocorreu em 1998, sendo apenas citado nas
revistas. O segundo encontro foi nos dias 02 e 03 de dezembro de 1999, com o
tema O caminhar dos especialistas. Participaram representantes das seguintes
sociedades: Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras –
ABENFO, Associação Brasileira Enfermeiros Especialista em Traumato-Ortopedia –
ABENTO, Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho – ANENT, Sociedade
Brasileira de Enfermagem Oncológica – SBEO, Sociedade Brasileira de Nutrição
Parenteral e Enteral – SBNPE, Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro
Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterelização –
SOBECC, Sociedade Brasileira de Enfermagem Gastrointestinal – SOBEEG,
Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia – SOBEN, Sociedade Brasileira
de Enfermagem em Dermatologia – SOBENDE, Associação Brasileira de
Estomaterapia – SOBEST, Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Terapia
Intensiva – SOBETI, Sociedade Brasileira de Gerenciamento em Enfermagem –
SOBRAGEN, Sociedade Brasileira de Terapias Naturais em Enfermagem –
SOBRATEN, Sociedade Brasileira de Educação Continuada em Enfermagem –
SOBRECEN e Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP.
Este encontro concluiu que “só a especialização na Enfermagem
poderá patrocinar as conquistas do novo e complexo milênio que se inicia” (COREN-
SP, jan. /fev. 2000, p.1).
O terceiro encontro aconteceu nos dias 20 a 22 de setembro de 2000,
e teve como tema: Formação do especialista: a visão das Sociedades. Três
Sociedades que participaram do encontro anterior, não participaram deste, quais
sejam, ABENFO, ABENTO e SOBEEG. Todavia participaram deste encontro e não
estiveram no anterior: Sociedade Brasileira de Enfermagem em Home Care –
SOBEHC, Organização Brasileira de Enfermeiros em Unidades de Esterilização –
OBEUNE, Sociedade Brasileira de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental –
SBEPSAM, Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Auditoria em Saúde –
SOBEAS, Sociedade Brasileira de Enfermagem Cardiovascular – SOBENC, e
Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras – SOBEP.
Excetuando a SBEPSAM, por ausência de informação, e a SOBEP,
fundada em 1996, as demais sociedades foram fundadas posteriormente ao
segundo encontro, sendo impossível a participação naquele momento.
O tema proposto permitiu que as Sociedades explicassem seu papel
político e social. As discussões apontaram que a especialização está cada vez mais
atrelada a realidade, porque o cuidar está se tornando uma atividade complexa em
razão dos muitos avanços da cibernética, conforme ressaltou a Enfª. Ruth Leifert em
seu pronunciamento na mesa de abertura (COREN-SP, set. /out. 2000).
Das sociedades supracitadas, não se filiaram a ABESE até o presente
momento, a ABENFO e a SOBEP. Ambas encontram-se atualmente vinculadas a
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN.
Registre-se que consta no seu Estatuto (ABEN, 2005), capítulo V,
artigo 31, inciso II, o seguinte requisito para as Sociedades as quais pretendam
vinculação a ABEN: “ter, no seu quadro associados(as) efetivos(as) da ABEn, de
acordo com o que dispõe este Estatuto” (ABEN, 2005, p.8), sem especificar se a
toda a diretoria da Sociedade precisa ser associada efetiva da associação. Por se
tratar de filiação facultativa, percebi este, ser um fato que restringe a vinculação das
Sociedades a ABEN, pois o presidente da Sociedade e/ou sua diretoria não podem
exigir que o profissional de Enfermagem associe-se a ABEN.
Acontecida a fundação da ABESE em 02 de outubro de 2000, três
Congressos Brasileiros de Especialistas em Enfermagem ocorreram sob a égide
desta Academia, e todos na cidade de São Paulo. A fundação ocorre cerca de
quinze dias após o 3º Encontro do Conselho com as Sociedades, corroborando o
interesse na valorização da figura do enfermeiro especialista.
Com este espírito, a ABESE surge no cenário da enfermagem paulista,
apoiada na força política do maior Conselho Regional de Enfermagem do país. A
Academia responde pelo cunho científico das ações empregadas pelo Conselho
paulista, em prol da qualificação da assistência de enfermagem. Reúne os
enfermeiros dotados de capital – científico, cultural, social, em torno da
personalidade jurídica da instituição. É o reconhecimento social da figura do
enfermeiro, calcado no perfil do profundo conhecedor de tecnologias, o objetivo
desta associação.
O primeiro Congresso ocorreu entre os dias 06 a 08 de março de 2002
e teve como tema: Desafios e Conquistas para a Qualidade na Gestão de Pessoas:
atendimento de enfermagem especializada. A revisão do projeto das Autarquias da
cidade de São Paulo permitiria aos enfermeiros ocuparem o cargo de
superintendente destes órgãos. A promessa que esta revisão acontecesse, foi um
dos resultados do I Congresso de Especialistas (COREN-SP, mar. /abr. 2002).
Outras conclusões foram: a intenção da ABESE, em parceria com os
CORENs, de criação e divulgação de novas seções das sociedades de especialistas
em todos os estados, e também junto aos órgãos governamentais, aproximando a
Enfermagem das questões municipais, estaduais e federal; como também, solicitar
aos coordenadores dos cursos de graduação, espaço para divulgação das
especialidades e da importância de ser um enfermeiro especialista (COREN-SP,
mar. /abr. 2002).
O segundo aconteceu nos dias 20 a 24 de outubro de 2003 e seu tema
foi O Ser especialista em Enfermagem. Neste Congresso ocorreu o lançamento da
Revista Academia de Enfermagem, revista oficial da ABESE. Na ocasião, seu título
foi considerado um resumo da proposta da entidade, porque indicava a soma de
todos os saberes da enfermagem em convergência, e o estímulo ao reavivamento
do espírito inquisitivo dos profissionais de enfermagem especialistas, mais a busca
pela produção científica dos talentos da profissão (COREN-SP, jan. /fev. 2004).
Fleury (1996, p.24) refere que “a comunicação constitui um dos
elementos essenciais no processo de criação, transmissão e cristalização do
universo simbólico de uma organização”. A Revista passa a ser então, um meio de
comunicação formal escrito para solidificar o pensamento da Academia.
Bourdieu, no capítulo 05 – É possível um ato desinteressado? do livro
Razões Práticas: sobre a teoria da ação, apresenta um postulado da sociologia onde
sempre existe uma razão para os agentes fazerem o que fazem, “(...) razão que se
deve descobrir para transformar uma série de condutas aparentemente incoerentes,
(...) em algo que se possa compreender a partir de um princípio único ou de um
conjunto coerente de princípios” (BOURDIEU, 1996, p.138).
Concluiu que se pode identificar “a busca da razão de ser de uma
conduta à explicação desta conduta pela busca de fins econômicos” (BOURDIEU,
1996, p.139). A meu ver, a Revista funciona como coadjuvante nesta busca, pois
firma o pensamento da Academia, além de potencializar o pensamento científico do
grupo.
O terceiro deu-se nos dias 21 a 23 de setembro de 2005 e intitulou-se
Do Sacerdócio a Especialização sem perder o Humanismo. Ruth Leifert declarou na
Revista COREN-SP nº. 59 (set./out. 2005) que a escolha do tema se justificou pelo
temor de que a especialização possa “virar do avesso o conceito histórico da
enfermagem como sacerdócio, empurrando-o ao extremo oposto da frieza, da
mecanicidade, da impessoalidade” (FARIAS, 2005, p.15).
Em minha visão, a especialização da Enfermagem, representada pela
figura do enfermeiro, do modo como foi e está sendo copiada e introjetada no seu
campo de ação, sinaliza o avançar de etapas dentro do processo de
profissionalização da Enfermagem brasileira, pois “reter o conhecimento, torná-lo
específico e suficientemente misterioso é o eixo central que move o
profissionalismo” (MACHADO, 1995, p.21).
Penso que é compreensível e justificável que estes enfermeiros
paulistas, liderados por um determinado agente social num determinado contexto
histórico-regional, queiram atualizar um habitus o qual não mais corresponde as
ações desempenhadas por eles.
A existência de uma liderança forte, aliada a um desejo de voz de um
determinado grupo, quiçá mal inserido no mercado de trabalho, acrescido a uma
organização política, promoveu a movimentação destas pessoas em prol de outros
tipo de ganhos, como o reconhecimento social do enfermeiro frente a sociedade,
ainda que este o seja quem vai dominar as novíssimas tecnologias, absorvidas por
esta sociedade quase que instantaneamente.
4 SURGINDO UM ESPAÇO DE PODER
A ABESE foi fundada no Plenário do COREN-SP, como uma entidade
sem fins lucrativos, de caráter científico cultural, com sede e foro na cidade de São
Paulo, e regida na forma de Estatuto (ABESE, 2000a).
Trata-se de uma associação de sociedades de especialistas em
Enfermagem já formalmente estruturadas e atuantes, onde se destaca a figura da
enfermeira Ruth Miranda de Camargo Leifert, na presidência dos trabalhos durante a
Assembléia Geral de Constituição da Academia, e da enfermeira Akiko Kanazawa
(ABESE, 2000a). Ambas, pertencentes a ANENT, sendo que Ruth Leifert ocupava a
presidência desta associação, bem como, a presidência do COREN-SP a época, e a
enfermeira Akiko era a segunda secretária da ANENT.
Há necessidade de se considerar neste momento, o acúmulo de
cargos políticos como fator significativo na estratégia de obtenção de “benefícios”.
Ruth Leifert acumulava a presidência da ANENT, do COREN-SP, e viria a ocupar a
presidência da ABESE. Como reconhecimento das demais sociedades à dedicação
da ANENT à valorização e preservação da saúde do trabalhador, a presidência da
ABESE está diretamente vinculada a presidência da ANENT (ANENT, 2001).
Interpretando o artigo 2º do Regimento da Academia, letras a e b, cuja
redação explicita que são suas finalidades: estimular a formação de especialistas
nas várias áreas de atuação da enfermagem, e definir as diretrizes da formação dos
especialistas em enfermagem no que se refere à grade curricular mínima, do nível
superior e do nível médio (ABESE, 2000c), estas representam a intenção de um
grupo de profissionais representados nas suas sociedades, e estas, pela ABESE, de
atender as necessidades locais de mão-de-obra especializada.
São Paulo tem indiscutivelmente um peso significativo na economia
brasileira, pois, as sacas de grãos exportadas pelo porto de Santos durante o século
XIX, deixaram como herança a mais importante metrópole da América Latina.
O estado de São Paulo – liderado pela capital e região metropolitana -
é hoje o maior pólo de negócios da América Latina, concentrando 30% de todos os
investimentos privados realizados em território nacional. São 155 mil indústrias que
representam 34% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro, segundo dados
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP (SÃO PAULO, 2005).
É o Estado com a maior população, o maior parque industrial, a maior produção
econômica, o maior registro de imigrantes.
Paiva (1996, p.29-30) escreveu que pensar sobre o processo de
especialização conduz a alguns questionamentos, entre eles, “o paradigma político-
econômico como impulsionador de mudanças na prática profissional, levando a uma
redefinição de parâmetros e critérios tanto na formação, quanto na inserção do
trabalho”. Em São Paulo, a influência do paradigma político-econômico está mais
próxima do cotidiano da Enfermagem. A inclusão tecnológica na assistência de
Enfermagem, faz com que estes profissionais sejam impulsionados a conhecer e
dominar estas tecnologias, para utilizá-la em benefício do doente.
Informação interessante sobre o pioneirismo paulista na Enfermagem,
e precedente a criação da ABESE, foi a realização do I Congresso Nacional de
Enfermagem, em 1947, tendo como sede a Escola de Enfermagem da Universidade
de São Paulo – USP. Edith de Magalhães Fraenkel1 e Madre Domineuc1 foram as
__________
1 Edith de Magalhães Fraenkel diplomou-se enfermeira em 1925 pela Escola de Enfermagem do Philadelphia General Hospital – EUA. Ao retornar ao Brasil, contribuiu para a criação da ABEN, tendo sido sua primeira presidente. Foi convidada pela Fundação Rockfeller para organizar e dirigir a atual Escola de Enfermagem da Universidade Estadual de São Paulo – USP. Madre Domineuc titulou-se pela Escola de Enfermagem de Paris, chegando ao país em 1935, como religiosa da Congregação das Franciscanas Missionárias de Maria. Participou da ABEN, partindo dela a idéia da realização do primeiro Congresso Nacional de Enfermagem.
inspiradoras deste movimento na enfermagem brasileira, tornado instituição, e do
qual colhemos frutos até o presente (ARONE et al, 2001).
Outra iniciativa foi a sugestão de incluir os estudantes de graduação no
quadro associativo da ABEN, dada pela representação paulista no XXIV Congresso
Brasileiro de Enfermagem, realizado em Belo Horizonte/MG, em 1972. Registre-se
que muito da história da Enfermagem paulista se confunde com a história da ABEN,
pois os ícones da Enfermagem paulista sempre fizeram parte desta entidade
(ARONE et al, 2001).
Escrever para tentar “recuperar o momento de criação de uma
organização e sua inserção no contexto político e econômico da época propicia o
pano de fundo necessário para compreensão da natureza da organização”
(FLEURY, 1996, p.23). Auxilia a compreensão do interesse de que houvesse um
espaço de poder como a Academia Brasileira de Especialistas em Enfermagem,
conforme suas conquistas se apresentam ao grupo e a sociedade, e as finalidades
descritas em seu Estatuto, se concretizam.
As diferenças associadas a posições diferentes, isto é; os bens, as práticas e sobretudo as maneiras, funcionam, em cada sociedade, como as diferenças constitutivas de sistemas simbólicos, como o conjunto de traços distintivos e separações diferenciais constitutivas de mítico, isto é, como signos distintivos (BOURDIEU, 1996, p.22).
Durante os trabalhos de constituição da Academia, a presidente do
COREN-SP explica “as finalidades da Academia que se estava fundando, tecendo
considerações acerca de uma programação a ser executada dentro das finalidades
da entidade” (ABESE, 2000a, p.1), embora já fosse de conhecimento das pessoas
que ali se encontravam, as quais viriam a ser os sócios-fundadores desta entidade.
Tal registro na Ata da Assembléia de Constituição da Academia aponta
para a existência de uma rede de relações sociais entre estas pessoas, e o interesse
de que houvesse uma entidade que as representasse.
Na qualidade de presidente do COREN-SP, rosto da enfermagem
paulista, e também sua líder, Ruth Leifert acredita que é de sua responsabilidade
“influenciar pessoas para alcançarem objetivos comuns” (DIAS, 2003, p.16), e o “ser
enfermeiro implica na vivência diária e não ocasional – do processo de enfermagem;
exige o conhecimento dos seus pacientes, das suas patologias, das suas
intercorrências” (LEIFERT, 2003, p.29).
4.1 SOCIEDADES DE ESPECIALISTAS FUNDADORAS DA ABESE
Sociedade é o “grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob
normas comuns; (...) parceria ou associação” (FERREIRA, 1986, p.1602). No âmbito
científico, os profissionais quase sempre se juntam com o objetivo de divulgarem
informações atualizadas de seus estudos, porque dada à dimensão incomensurável
do conhecimento, não é possível a uma pessoa, todo o conhecimento sobre algo. As
sociedades fundadoras têm trajetórias históricas de reforço a tal princípio de
interesse em determinada área e intercâmbio desses saberes.
As sociedades de especialistas em Enfermagem basearam-se nas
organizações médicas, com mais tempo de funcionamento e processo de
especialização mais consolidado no âmbito da categoria, inclusive com
reconhecimento social.
Viana (1995) registrou que até a década de 80, enfermeiros e
enfermeiras participavam exclusivamente da ABEN, mas já em meados da década
de 90, profissionais que atuam em áreas específicas, como Centro de Terapia
Intensiva, Pediatria, Nefrologia e Hemoterapia, tendem a participar das Associações
médicas correspondentes a sua especialidade.
A ABEN-SP incentivou e teve participação decisiva na criação de
várias sociedades de Enfermagem, advindas em sua maioria de Grupos de
Interesse Clínico em Enfermagem, que após 1985, passaram a Grupos de Interesse
em Enfermagem (ARONE et al, 2001), cedendo suas salas para reuniões das
Sociedades de Especialistas, sempre que necessário.
Os anos 90 marcaram o intenso surgimento de grupos de interesse em
áreas e especialidades da Enfermagem, levando a ABEN-SP a estimular o ideal de
seus sócios atuantes, e a assumirem o desenvolvimento dos enfermeiros em seus
locais de trabalho. Progressivamente, estes grupos se transformaram em
Sociedades de Especialistas, ainda vinculadas a ABEN, pela dependência estrutural
inicial, e desligando-se à medida que obtinham recursos financeiros próprios
(ARONE et al, 2001).
A Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral – SBNPE,
também registrada como Sociedade Brasileira de Nutrição Clínica, foi fundada na
cidade Petrópolis, RJ, em 1975, mas tem sua sede e foro na cidade de São Paulo
(SBNPE, 2003). Nesta data, ocorreu o I Simpósio Brasileiro de Nutrição Parenteral,
onde todos os associados que estiveram presentes ao evento, receberam o título de
sócio-fundador (SBNPE, 2003). É uma sociedade de caráter multidisciplinar,
atuando institucionalmente na área de nutrição clínica, enteral e parenteral. Com
cursos de atualização e formação, realiza congressos nacionais, estando presente
nas diversas regiões do país. Está dividida em Comitês de Enfermagem, de
Nutrição, de Farmácia, de Pediatria, Educacional e Profissional (SBNPE, 2006).
Registra em seu endereço eletrônico oficial um crescimento
progressivo do número de membros e participantes, destacando a importância da
Terapia Nutricional no contexto hospitalar. Cita filiação à Associação Médica
Brasileira – AMB (SBNPE, 2006).
Começando em 1976, quando um pequeno grupo de enfermeiros da
área de diálise e transplante renal do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade São Paulo - HC/FMUSP se reunia para trocar
informações, a Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia – SOBEN foi
fundada oficialmente em 1983, durante o I Seminário de Enfermagem em Diálise,
realizado no Rio de Janeiro, RJ. Somente em 1988, a SOBEN passou a ter sede
própria, com a aquisição de um imóvel na cidade de São Paulo, porém segundo seu
Estatuto, a sede e o foro da Sociedade se fixará no Estado que tiver o maior de
associados (SOBEN, 1998). Tem como principal objetivo aperfeiçoar a assistência
de enfermagem prestada aos pacientes portadores de insuficiência renal.
O grupo de enfermeiros se dedicava ao estudo de temas científicos e
fundamentos técnicos, mas já existia a intenção de fundar um centro de
especialistas como os já existentes na Europa (European Dialysis and Transplant
Nurses Association - EDTNA) e USA (American Nefrology Nursing Association -
ANNA) (SOBEN, 2006).
Fundada em 29 de agosto de 1986, em São Paulo, durante o II
Encontro Nacional de Enfermeiros do Trabalho, a Associação Nacional de
Enfermagem de Trabalho – ANENT se chamava Associação Nacional dos
Enfermeiros do Trabalho, tendo seu nome mudado para o atual, em 1998, em razão
da agregação dos técnicos e auxiliares. Trata-se de entidade de classe de caráter
científico e cultural, sem finalidades lucrativas e validade em todo o território
nacional, contando com representações em diversos estados (ANENT, 2005).
Segundo informações divulgadas no endereço eletrônico oficial da
Enfermeira Ruth Miranda (LEIFERT, [2002?]), em 1983, durante o Congresso
Brasileiro de Enfermagem realizado em São Paulo pela ABEN, foi criado o Grupo de
Interesse Clínico em Enfermagem do Trabalho – GICET, que mais tarde teve sua
denominação alterada para Grupo de Enfermagem do Trabalho – GET, embrião da
ANENT.
Em 1983, enfermeiros ligados à Cardiologia começaram a atuar em
conjunto com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP,
porém, só em 1987, foi fundado o Departamento de Enfermagem. Sua diretoria visa
desenvolver um trabalho de excelência na área, tendo em vista a complexidade da
assistência à pessoa cardíaca. É meta do departamento, estimular o relacionamento
com associações congêneres nacionais e internacionais, visando ao aprimoramento
técnico e científico dos profissionais da área. Contribui com o Suplemento da
Revista da SOCESP e participa de atividades dirigidas ao público em geral
(SOCESP, 2006).
A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo é uma entidade
sem fins lucrativos, fundada em 1976, regional da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, Departamento de Cardiologia da Associação Paulista de Medicina, com
cerca de 6 mil sócios. Os principais objetivos são contribuir para a atualização dos
cardiologistas do estado e difundir o conhecimento científico gerado pela própria
Sociedade para Cardiologistas, profissionais da saúde que atuam na Cardiologia e
para a população em geral.
A SBEO - Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica –
fundada em 13 de novembro de 1988, é uma entidade civil, cultural e científica, sem
fins lucrativos. Segundo seu estatuto, a sede da Sociedade será designada pela
presidência, podendo mudar de acordo com a mesma (SBEO, 2000). A época da
fundação da ABESE, a sede estava em São Paulo, e quem representou a sociedade
foi a Enfermeira Sylvia R.B.S. Diegues, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (COREN-
SP, jan. /fev. 2000).
A SBEO denomina-se como um órgão de luta contra o câncer e de
representação dos interesses científicos, culturais e profissionais de seus
associados. Destacam-se como finalidades: representar os interesses científicos,
culturais e profissionais de seus associados perante os poderes constituídos, além
de representar a Enfermagem Oncológica do Brasil junto às entidades de
Enfermagem nacionais e internacionais (SBEO, 2000).
A Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação
Anestésica e Centro de Material e Esterilização – SOBECC começa, em 1982, quando um
grupo de enfermeiros de Centro Cirúrgico, integrantes da ABEN-SP, entende que
era preciso haver discussões focadas na prática de enfermagem sobre a assistência
prestada no Bloco Operatório. Com base nessa demanda, estes resolveram criar o
Grupo de Estudo em Centro Cirúrgico e Centro de Material (GECC). Em 1991, o
GECC transforma-se em associação, porém, inicialmente apenas como Sociedade
Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico. Nessa ocasião, constituiu sua
primeira diretoria, a enfermeira Ana Maria Ferreira de Miranda, uma das precursoras
do GECC.
Segundo Arone et al. (2001), no ano seguinte a fundação da ABESE, a
SOBECC utilizava-se do espaço físico da ABEN-SP para sua sede. As relações
interrompidas em 1999, entre o sistema COFEN/CORENs e a ABEN, não foram
impeditivas a manutenção da sede da SOBECC na ABEN-SP no decorrer do ano de
2001.
A SOBECC tem como missão as intervenções de enfermagem sobre
os pacientes cirúrgicos, além de preparar técnica e cientificamente o profissional de
enfermagem, criar normatizações referentes ao funcionamento do Centro Cirúrgico,
Centro de Material e Esterilização e Recuperação Anestésica, divulgando por meio
de cursos, simpósios, congressos e certificações, informações que visem melhorias
na qualidade da assistência perioperatória (SOBECC, [2006?]).
A Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva –
SOBETI é uma sociedade civil sem fins lucrativos de caráter exclusivamente
científico-cultural, fundada em 1996, e tem por finalidade o desenvolvimento técnico
e científico de seus associados, da comunidade de enfermagem e de profissionais
de saúde em geral, voltados para a Terapia Intensiva e Semi-Intensiva, Adulto,
Pediátrico e de Neonatologia (SOBETI, 2006).
Segundo informação em seu endereço eletrônico oficial, a SOBETI
procura trabalhar de uma maneira uniforme, sem tendências regionalistas, de forma
unificada para dar continuidade às conquistas já realizadas e as novas conquistas.
Também a SOBETI, em 2001, utilizava-se do espaço físico da ABEN-SP para sua
sede (ARONE et al., 2001).
Segundo o artigo 1º do Estatuto da Sociedade Brasileira de
Gerenciamento em Enfermagem – SOBRAGEN, esta foi “constituída na reunião
ocorrida a 16 de março de 1996, nas dependências da Gerência de Enfermagem da
Santa Casa de São Paulo” (SOBRAGEN, [1996?]) e está organizada “como uma
sociedade civil, de direito privado, de caráter científico e cultural, sem quaisquer fins
lucrativos, tem o funcionamento regulado pelo presente Estatuto e pelas disposições
legais que lhes forem aplicáveis” (SOBRAGEN, [1996?]). O Grupo de Interesse em
Gerenciamento, constituído pela ABEN-SP, em 1991, foi o embrião da SOBRAGEN
(ARONE et al, 2001).
A semente da Sociedade Brasileira de Enfermagem em
Dermatologia – SOBENDE foi lançada em outubro de 1994, com um grupo de
enfermeiras ligadas aos cuidados de pacientes com lesões de pele. O objetivo inicial
era de ampliar a integração entre as instituições de saúde e de ensino, por meio da
troca de experiências e do desenvolvimento de pesquisas. Em 1996, surgiu o Grupo
de Enfermagem em Dermatologia – GEDE, composto por enfermeiros de instituições
hospitalares e de ensino da cidade de São Paulo (SOBENDE, 2006).
Em 1997, no Congresso Brasileiro de Enfermagem, realizado em Belo
Horizonte, enfermeiros de todas as regiões do país reuniram-se para afirmar sua
intenção de fundar a SOBENDE. Em 1998, no auditório do Hospital Sírio Libanês,
em São Paulo, funda-se a SOBENDE, com uma diretoria composta por enfermeiros
de vários estados brasileiros.
Com o objetivo de sedimentar a atividade do enfermeiro auditor,
através da união de todos que militam nessa área, foi fundada em 01 de dezembro
de 1999, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros Auditores em Saúde – SOBEAS
(COREN-SP, mai. /jun. 2000). É sociedade civil sem fim lucrativo, de natureza
científica e cultural (SOBEAS, [2005?]). O crescimento de suas atividades é dado
como certo a época de fundação, porque as instituições assistenciais e seguradoras
precisam rearrumar seus custos, sem perder qualidade na assistência, cumprindo a
lei dos convênios, o Código de Defesa do Consumidor, e mantendo a satisfação do
cliente (COREN-SP, mai. /jun. 2000).
Sobre a SBEPSAM e a SOBENC, não foi conseguido nenhum material
que permitisse a análise das participações no processo de criação da ABESE.
4.2 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE PODER
Ao congregar profissionais especializados em Sociedades, a ABESE é
potencializadora do poder do discurso de enfermeiros que desejam fazer de seus
serviços, ações exclusivamente confiáveis, ter uma autoridade profissional baseada
em técnicas, reinvidicando tanto as técnicas como a jurisdição, de acordo com
padrões de treinamento (WILENSKY apud MACHADO, 1995, p.19).
Foucault chama a atenção para o fato de que o próprio discurso pode
ser aquilo por que se luta (FOUCAULT, 2005), ter o direito legal de falar a verdade.
É necessário ser político e fazer política para que a Enfermagem especializada
adquira visibilidade.
A associação das sociedades na ABESE é a soma de interesses em
prol de um mesmo objetivo: valorização e reconhecimento da figura da Enfermagem
especializada dentro do contexto do mercado de trabalho paulista.
Ruth Leifert, chegando a presidência do COREN-SP, contactou as
sociedades de especialistas (pessoa jurídica) para discussões sobre o papel do
especialista na assistência e sua formação. Manifestava interesse em dar
visibilidade a Enfermagem. No entanto, constam no Estatuto da ABESE, os nomes
de pessoas físicas, as quais compõem a Comissão Consultiva Permanente, por
estas pessoas terem sido as idealizadoras da Academia.
Considerei que este grupo partilhava uma visão de ausência de espaço
no campo de ação, e dotadas de um capital científico, ocupavam cargos de
significado político dentro do campo da Enfermagem, espalhadas nas diferentes
sociedades que vieram a fundar a Academia, e algumas delas, no COREN-SP.
Tinham também um capital político que repousava
sobre o reconhecimento de uma competência que, para além dos efeitos que ela produz e em parte mediante esses efeitos, proporciona autoridade e contribui para definir não somente as regras do jogo, mas também suas regularidades, (...), as leis que fazem que seja ou não importante escrever sobre tal tema, (...), e o que é mais compensador publicar no American Journal de tal e tal do que na Revue Française disso e daquilo (BOURDIEU, 2003, p.27).
Neste momento, compõem uma estrutura de relações objetivas entre
si, que determina o que eles podem e não podem fazer (BOURDIEU, 2003).
Na luta para imporem o veredicto “imparcial”, reconhecendo a sua
visão como objetiva, estas pessoas dispõem de forças que dependem da sua
pertença a campos objetivamente hierarquizados e da sua posição nos campos
respectivos (BOURDIEU, 1989).
A constar:
Akiko Kanazawa – ANENT e 1ª secretária do COREN-SP a
época da fundação da ABESE
Berenice Nunes – SOBETI
Fernanda Anajas Farias – SOBENC
Francinete de Lima Oliveira – SOBEAS e conselheira do
COREN-SP a época da fundação da ABESE
Joana Lech – SOBECC
Juvenal Tadeu Canas Prado – SBNPE
Magdália Pereira de Sousa – SOBEAS e 1ª tesoureira do
COREN-SP a época da fundação da ABESE, além de
Coordenadora da Câmara Técnica em Enfermagem na área
jurídica
Maria Antônia de Andrade Dias – SOBRAGEN e conselheira do
COREN-SP a época da fundação da ABESE, além de
Coordenadora da Câmara Técnica em Enfermagem na área
gerencial
Maria Helena Caetano Franco – SOBEN
Maria Keiko Asakura – SOCESP
Paula Andréa Shinzato Ferreira Martins – SBEPSAM
Regina Maria Silva Fortes – SOBEN
Rita de Cássia Chamma – SBEPSAM e Coordenadora da
Câmara Técnica em Enfermagem na área ética
Ruth Miranda de Carvalho Leifert – presidente da ANENT e do
COREN-SP a época da fundação da ABESE
Sérgio Martins Lopes – SBNPE e SOBETI
Sílvia Regina Zomer – SOBENDE
Valéria Brazoloto – SOBENDE
Ao reunirem-se em sociedades de especialistas as quais definem em
seus estatutos pela valorização da especialização, e através dessas organizações
estruturadas, pretendem definir a formação dos especialistas em nível médio e/ou
superior, usam estratégias para ”levarem a melhor na luta simbólica pelo monopólio
da imposição do veredicto, pela capacidade de dizer a verdade a respeito do que
está em jogo” (BOURDIEU, 1989, p.54-55).
Desejam aumentar o seu grau de profissionalização que “é regido não
só pelo grau de êxito na reivindação por competência técnica exclusiva, mas
também pelo grau de apelo ao ideal de trabalho, e pelas normas de apoio à conduta
profissional” (WILENSKY apud MACHADO, 1995, p.19).
Estas pessoas acreditam que “não é o valor relativo do trabalho que
determina o valor do nome, mas o valor institucionalizado do título que serve de
investimento o qual permite que se defenda e se mantenha o valor do trabalho”
(BOURDIEU, 1989, p.149).
O parágrafo único do artigo segundo do Regimento da Academia cita
que “para a consecução de suas finalidades, a Academia Brasileira de Especialistas
em Enfermagem, poderá recorrer à cooperação de instituições congêneres e afins,
inclusive com a filiação de âmbito nacional e internacional” (ABESE, 2000c, p.1). Eis
que a inserção no sistema COFEN/CORENs, fato explicitado na Resolução COFEN
260 de 12 de julho de 2001, confirma a intenção da ABESE de atingir seus objetivos.
Paiva (1996, p.32) afirma que “fortalecer as Sociedades de
Especialistas, passa por fortalecer as demais entidades de enfermagem, para que
sejamos uma categoria forte”, e possamos garantir as conquistas alcançadas até
aquela data.
Creio que acima das lutas políticas internas na Enfermagem, a
existência da ABESE sinalize para a autonomia profissional do enfermeiro, porque “a
posse do título conferido traz às pessoas autoridade considerável em relação aos
clientes” (FGV, 1987).
5 PERSPECTIVAS FUTURAS DA ABESE
Compartilho da opinião de Fernández Abellán (2002) sobre a
enfermagem do século XXI ter grandes objetivos, e entre eles, a coordenação dos
avanços científicos aplicados aos cuidados de Enfermagem, a efetiva melhora da
saúde e do bem estar do paciente. Faz-se preciso a especialização do enfermeiro,
como forma de dominar os princípios científicos que fundamentam a utilização
destes avanços, e ao mesmo tempo, selecionar corretamente as soluções
disponíveis.
Considero que a vigência do modelo hospitalocêntrico de atenção a
saúde, associado a um ensino de graduação com diretrizes generalistas, impulsiona
o surgimento de novos cursos de especialização no mercado. É uma conjuntura
onde as instituições privadas de ensino conseguem responder mais rapidamente as
demandas do mercado. Rodrigues e Zanetti (2000, p.105) referem que “ao
deixarmos de ministrar o conteúdo técnico do ensino, abriríamos uma lacuna na
formação profissional que inviabilizaria a inserção do enfermeiro no processo de
trabalho da enfermagem”.
Os autores acima citados acreditam, outrossim, uma vez que a força de
trabalho esteja “(...) melhor preparada, pode inserir-se com maior facilidade no
mercado de trabalho e ao comprovar isso, tem maior poder de barganha”
(RODRIGUES E ZANETTI, 2000, p.105).
Considerando-se a criação da ABESE como um mecanismo de
estratégia política, de fazer valer o discurso de uma Enfermagem especializada,
onde a personalidade jurídica do grupo tem seguramente mais representação, mais
poder simbólico que cada sociedade isoladamente, trabalha-se em instituir uma
imagem baseada no tecnicismo.
A ABESE ocupou e está ocupando um espaço na profissionalização da
enfermagem, em grande parte, pelas ações ousadas de Ruth Leifert, enquanto
presidente do COREN-SP, por ter vislumbrado dar visibilidade a Enfermagem, e
mais especificamente aos enfermeiros, através da organização política.
Dra. Victoria Secaf, docente da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, afirma que se faz necessário inovar e ousar na área da
Enfermagem, pois “ainda somos relativamente caladas (...) É preciso uma
manifestação maior em relação ao grande público” (COREN-SP, mar./abr. 2004,
p.11). Hoje, “você é reconhecido pelo que sabe (...). Digo que os profissionais se
reciclem, busquem conhecimentos para serem reconhecidos enquanto tais”
(COREN-SP, mar./abr. 2004, p.11).
Marinho (2006) escreveu uma matéria para a Revista COREN-SP nº.
62, citando profissionais os quais exemplificam o crescer da profissão através dos
paradigmas sendo questionados. Aborda a questão do gênero na história da
Enfermagem e seus desdobramentos, somado a capacitação profissional e pesquisa
científica, permitindo que o enfermeiro questione o paradigma vigente, e
paralelamente promovendo uma reconstrução do próprio conhecimento em
enfermagem. Cita profissionais ousados e pioneiros na enfermagem, como aqueles
que se dedicaram à saúde do idoso e tratamento a dependência química. Conclui o
texto, com o pensamento da Dra. Vânia Declair Cohen, enfermeira especialista em
UTI, dermatologia e feridas, pioneira nas pesquisas com os ácidos graxos essenciais
e prevenção das úlceras de pressão: “Eu sempre acreditei na enfermagem e sempre
pensei em encontrar, cada vez mais, meios para valorizar a profissão” (MARINHO,
2006, p.13).
É uma conquista relevante quando o Ministério da Saúde, órgão
máximo de deliberação sobre a saúde no país, através da emissão de parecer
técnico, inclui representantes das sociedades de especialistas em Enfermagem, nas
Câmaras Técnicas de Nefrologia, de Assistência Cardiovascular e de Assistência
Traumato-Ortopédica, em resposta a uma solicitação emitida pelo COREN-SP, na
pessoa de sua presidente, conforme informação veiculada na Revista nº.59 do
Conselho. De acordo com o órgão, estas áreas podem apresentar grande
dificuldade de atuação para um enfermeiro generalista.
Destaca-se a enfermagem paulista e a pessoa da presidente do
COREN-SP, que solicitou ao Ministério a revisão das portarias, utilizando como
respaldo técnico-científico, a otimização da assistência de enfermagem quando ela é
executada pelo enfermeiro especialista, fazendo uso da função ocupada – de
presidente da ABESE e do Conselho. Uma conquista deste porte representa para a
Enfermagem, um status social diferenciado.
Compartilhando com Bourdieu, acredito que
cada vez mais serão necessárias justificativas técnicas, racionais, para dominar, e nos quais os próprios dominados poderão e deverão, (...), utilizar-se da razão para defender-se contra a dominação, já que os dominantes, (...), invocarão a razão e a ciência para exercer sua dominação (BOURDIEU, 1996, p.156).
O involuntário status do cargo de presidente do Conselho Regional de
Enfermagem de São Paulo se justifica pela alta complexidade de administrar um
órgão que em agosto de 2005, congregava mais de 260 mil profissionais de
enfermagem e uma estrutura compatível com esta população. Uma exposição que
submete seu ocupante igualmente a elogios e a críticas (COREN-SP, jul./ago. 2005).
Ao longo dos anos, o COREN-SP entendeu que precisava fazer algo
mais que as funções determinadas em lei para os Conselhos. Várias iniciativas para
a promoção dos níveis de qualidade da atuação profissional aconteceram,
culminando com o pensamento de valorização da especialização, seja para o nível
superior ou nível médio. Todos aqueles os quais compartilhavam esse pensamento
reuniram-se em prol dessa meta comum.
No mundo globalizado, dos negócios, da economia, das informações
instantâneas, na visão de Maria Antonia de Andrade Dias, atual presidente da
SOBRAGEN, é colocado da seguinte forma: “os enfermeiros mais qualificados, não
podem aceitar mais não serem ouvidos. Eles precisam assumir uma série de
comportamentos essenciais ao trabalho (...)” (DIAS, 2003, p.17).
Ainda que a interpenetração dos campos de conhecimento seja uma
das tendências mais vigorosas da economia, “as habilidades e os conhecimentos
específicos são cada vez mais exigidos e aprofundados sobre um determinado
assunto ou tema em todas as áreas profissionais” (FERREIRA E MORETTI, 2005,
p.1).
No movimento da Enfermagem especializada que gerou a ABESE, o
discurso da especialidade é o esforço em produzir uma situação de reconhecimento
e de atribuição de competência junto a população e ao Estado, fazendo crer que a
médio e longo prazo, substitua-se o modelo de representação e de critério de
competência.
Há de se considerar que a falta de um conhecimento sobre a
Enfermagem como profissão e prática social, sendo uma “(...) atividade humana que
atravessou os tempos a partir de uma prática doméstica informal” (MACHADO,
2002, p.327), enfraquece qualquer organização política que pretenda representar o
grupo da Enfermagem.
Eis que “tomar plena consciência da prática permite conhecê-la e, por
tanto, transformá-la se necessário (tradução nossa)” (MEDINA, 2003, p.3), todavia
não se mudará a prática, se não houver modificação das crenças e dos modelos que
a sustentam.
No ponto de vista do Conselho Regional de Enfermagem de São
Paulo, é fator importante para o reconhecimento das autoridades de saúde nacionais
e internacionais, o enraizamento das especializações em Enfermagem. A estratégia
traçada pelo Conselho demonstra a necessidade de sustentar o movimento nas
instituições que respondem pelo ensino, pelo exercício e pela legislação de
Enfermagem.
Interpreto as perspectivas futuras da ABESE como uma representação
política de enfermeiros que pretendem uma possível autonomia profissional do
enfermeiro dada a aquisição de um capital científico, e este, ser substrato na luta
constante destes atores sociais na ocupação de um espaço.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de criação da ABESE, eleito para objeto deste estudo, se
apresenta, é descrito, analisado e contextualizado no decorrer deste relatório.
Ao me debruçar sobre as leituras dos materiais aqui referendados, e
mesmo os não referendados, mas que precisaram ser lidos, compreendidos e
entendidos, concluo que o processo de especialização pelo qual a enfermagem
passou, aponta para uma reatualização do habitus do enfermeiro. Basear-se-á em
uma prática dominada pela tecnologia.
É pensamento do Conselho Regional de Enfermagem paulista neste
momento, que a formação universitária é insuficiente para que o profissional consiga
competir no mercado de trabalho, sendo imprescindível à complementação do
conhecimento (COREN-SP, set. /out. 2000). Em minha visão, a valorização dos
cursos de pós-graduação lato sensu – especialização, é para eles, a
complementação de uma formação universitária deficiente no que se refere ao
conhecimento técnico.
No entanto, penso como Rodrigues e Zanetti (2000) que evidenciaram
a distância entre o ensino e a prática assistencial, pois “existe uma defasagem entre
o que se ensina na graduação e a incorporação de novas tecnologias, práticas e
saberes” (RODRIGUES E ZANETTI, 2000, p.102). Na conjuntura de São Paulo,
estado brasileiro de maior produção econômica, as novas tecnologias precisam ser
dominadas por quem pretenda sua inserção no mercado de trabalho, seja na
Enfermagem ou fora dela.
Considerei que a pesquisa histórica como metodologia de trabalho,
permitiu compreender todos os níveis do trabalho da Enfermagem: social, cultural e
principalmente ético, não se conseguindo entender sua dimensão social e ética, bem
como, trabalhar para conquistas futuras, se não houver um mínimo de historicidade.
Mesmo este tipo de pesquisa pode e deve incorporar o uso da busca de dados e
informações, através da internet, conforme afirma Évora (2004).
Outrossim, esta tecnologia que foi capaz de revolucionar padrões de
comportamento, também “destruiu” outros. O uso indiscriminado da rede mundial de
computadores facilitou e incrementou a coleta de informações pela sua agilidade,
porém põe em questionamento a perpetuação dessas informações às próximas
gerações, em razão da impossibilidade de se arquivar dados sem correr riscos;
excetuando-se a boa e velha forma impressa de um texto.
O primeiro objetivo traçado para o estudo foi atingido, porque ao
“determinar a identidade” (FERREIRA, 1986, p.913) das circunstâncias de criação
da ABESE, procurei o contexto histórico de um determinado espaço geográfico onde
ocorreram os encontros e as alianças de atores sociais relevantes no processo de
geração da Academia.
Ao estudar o processo de especialização da Enfermagem, conclui ter
sido este, reflexo do processo ocorrido nas Ciências Médicas o qual arregimentou
conseqüências positivas sobre o reconhecimento social e critério de competência do
profissional médico. A Enfermagem ensaia os primeiros passos para conseguir o
mesmo resultado, na figura da Enfermagem paulista, representada pela ABESE.
O segundo objetivo: examinar o(s) significado(s) da criação da
ABESE dentro do processo de profissionalização da Enfermagem, significou analisar
o processo de geração de uma instituição, numa dada conjuntura e momento
histórico, e considerar a aplicação disto a Enfermagem brasileira.
Fundada no plenário do COREN-SP, era contumaz descrever as
especificidades da história recente da Enfermagem paulista e seu Conselho
Regional. Representante forte de um paradigma político-econômico vigente, o
estado de São Paulo impulsiona mudanças na prática profissional. Todavia, com
este estudo, não me abstive de questioná-las.
A ABESE, enquanto forma de organização política, é uma estratégia de
afirmação e legitimação de um grupo que busca produzir valor social fora dos
modelos tradicionais de legitimação, centrados na academia.
Em concordância com Werneck, penso que as pessoas idealizadoras
da ABESE quiseram fazer diferente. “Existe uma febre, em nossos dias,
correspondente ao desejo de novidades e de coisas diferentes. Isto é inerente ao ser
humano e pode ser constatado ao longo da história” (WERNECK, 2003, p.83).
Fizeram o que não existia, pois “o conhecido não desperta interesse. Mesmo que
você fale sobre o óbvio, faça um show sobre o óbvio. Se alguém reclamar, procure
saber se ele faz, pelo menos o óbvio” (WERNECK, 2003, p.131-132).
Pressupondo o conceito de discutir como “debater, examinar,
investigar, questionando” (FERREIRA, 1986, p.596), o terceiro objetivo: discutir as
perspectivas futuras da ABESE dentro do processo de profissionalização da
Enfermagem, permitiu contestar o assunto. A partir de ações concretas da ABESE,
questionar e contestar a trajetória do movimento de valorização da Enfermagem
especializada, nascido, não por acaso, no estado de maior produção econômica.
A reflexão sobre as trajetórias das sociedades de especialistas, indica
que acima das cisões ou acordos havidos na história da Enfermagem, o mais
importante é o próximo passo a ser dado, para maiores e melhores conquistas. Do
mesmo modo como falamos dos pioneiros do passado, para que estivéssemos
neste momento, hoje somos pioneiros do futuro. A História da Enfermagem é feita
de pioneiras e pioneiros.
Os enfermeiros paulistas detentores de um poder simbólico, oriundo de
um capital científico – a pós-graduação do tipo especialização, já reunidos nas
sociedades de especialistas existentes, fazem a reunião de doze sociedades e
fundam a ABESE. Em minha visão, uma iniciativa pioneira do estado de São Paulo.
REFERÊNCIAS
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