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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
EVELINE HOLANDA LIMA
PARA ALÉM DO SILÊNCIO: AVALIAÇÃO DOS
SABERES DA PESSOA COM SURDEZ PELO
VESTIBULAR DA UFC
FORTALEZA 2007
EVELINE HOLANDA LIMA
PARA ALÉM DO SILÊNCIO: AVALIAÇÃO DOS
SABERES DA PESSOA COM SURDEZ PELO
VESTIBULAR DA UFC
Monografia apresentada como requisito necessário para a
obtenção do Grau de Graduada em Psicologia. A citação de
qualquer trecho desta monografia é permitida desde que em
conformidade com as normas da ética científica.
Orientadora: Tania Vicente Viana
FORTALEZA 2007
EVELINE HOLANDA LIMA PARA ALÉM DO SILÊNCIO: AVALIAÇÃO DOS SABERES DA PESSOA
COM SURDEZ PELO VESTIBULAR DA UFC .
Monografia apresentada com exigência parcial para a obtenção do título de graduada, na área de Psicologia, à comissão julgadora da Universidade Federal do Ceará.
Aprovada em ____/____/____
Banca Examinadora
____________________________________________
Prof. Dra. Tania Vicente Viana Universidade Federal do Ceará
___________________________________________
Profa.Tereza Maria Monteiro Pereira Universidade Federal do Ceará
________________________________________
Profa. Luciana Lobo Universidade Federal do Ceará
“Mas eu, como um surdo, não ouço; eu sou qual um mudo que não abre a
boca. Assim eu sou como um homem que não ouve, e em cuja boca não há
com que replicar. Mas, por ti, Senhor, espero; tu Senhor meu Deus,
responderá.
Rogo, pois: Ouve-me.”
Salmos 38: 13-16.
AGRADECIMENTOS
Meu reconhecimento a todos que direta ou indiretamente
contribuíram para a realização desse trabalho;
A Deus por minha vida;
A minha família pelo apoio e compreensão;
Aos meus mestres pelo incentivo;
Aos meus amigos pelo encorajamento;
Em especial, às professoras Maristela Lage Alencar,
Teresa Maria Monteiro Pereira e Tania Vicente Viana pela
orientação e dedicação.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 07
1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E SURDEZ ............................................................... 11
1. 1. Histórico da Educação Especial............................................................ 11
1.2. Surdez...................................................................................................... 17
1.3. A aquisição da Linguagem em Crianças Surdas.................................. 19
2 AVALIAÇÃO EDUCACIONAL......................................................................... 23
2.1 O percurso da classificação à promoção da aprendizagem.................. 25
2.2 O ingresso no Ensino Superior................................................................ 30
2.3 O vestibular para o aluno surdo............................................................. 31
3 METODOLOGIA.................................................................................................. 35
3.1 A pesquisa qualitativa e o estudo de caso............................................... 35
3.2 A entrevista como instrumento de pesquisa........................................... 38
3.3 Amostra..................................................................................................... 40
3.4 Coleta dos dados....................................................................................... 40
3.5 Instrumento............................................................................................... 40
3.6 Análise dos Dados..................................................................................... 41
4 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................... 42
CONCLUSÃO........................................................................................................ 48
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 50
INTRODUÇÃO
A Educação Especial tem sido tema bastante discutido na Contemporaneidade.
Embora sua história seja marcada por preconceito e abandono, vista pelo prisma da
incapacidade, essa realidade vem se (re)configurando com o passar do tempo. Os estigmas da
inutilidade que corroboravam para a consolidação de rótulos vêm cedendo lugar a uma
política de valorização do diferente.
Na Antigüidade, por exemplo, as pessoas com Necessidade Educacionais
Especiais (NEEs) eram vistas como resultado do castigo divino, restando-as apenas o
reconhecimento resignado de sua punição. No entanto, a partir do século XX, discussões
referentes aos direitos dessa clientela começaram a adquirir mais consistência.
O movimento denominado Filosofia de Integração da Educação Especial,
desenvolvido a partir da década de 1970, fomentou a sistematização de políticas de inclusão
social e educacional. Com a Declaração de Salamanca (1994), foi reafirmado o direito à
cidadania e políticas públicas específicas para o alunado com NEEs, com a defesa de sua
inclusão no sistema regular de ensino. Ao governo, portanto, era imputada a responsabilidade
de assegurar o direito ao ensino de qualidade, proporcionando condições básicas de
aprendizagem e interação social.
Essas reflexões se encontram evidenciadas na versão mais recente da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) - lei 9.394/96 - que determina a inclusão das pessoas
com NEEs na rede regular de ensino. Desse modo, as instituições educacionais devem
adequar seu atendimento às especificidades desse alunado por meio das adaptações
necessárias, sejam físicas, curriculares, pedagógicas ou de outra natureza.
Apesar do respaldo legislativo, os direitos dessa população ainda não são
completamente respeitados, pois se observam, com freqüência, atos de preconceitos e
exclusão, inclusive no sistema educacional. O Ensino Superior, por exemplo, ainda não
oferece condições satisfatórias para o ingresso e permanência dos alunos com NEEs, em
especial do surdo, que apresenta peculiaridades na expressão lingüística.
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O candidato surdo representa, assim, um grande desafio para a Comissão
Coordenadora do Vestibular (CCV) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em virtude da
singularidade da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), que constitui uma forma de
comunicação viso-motora, o surdo demonstra dificuldades em estruturar sentenças na Língua
Portuguesa, notadamente no que se refere ao uso de tempos verbais e conectivos. Desse
modo, obtém raros êxitos na escrita literária exigida pelo exame vestibular, que, ao invés de
favorecer a entrada para a universidade, cerra suas portas para a inclusão educacional.
O interesse em compreender as particularidades da surdez, especificamente no que
diz respeito à linguagem e à avaliação como mecanismo inclusivo, foi decisivo para a
determinação do tema e o desenvolvimento deste trabalho monográfico. Seu objetivo,
portanto, convergiu para a investigação das especificidades do vestibular da UFC para os
alunos surdos, dada a recente implementação de uma política educacional inclusiva nessa
universidade. Além disso, intencionou analisar as adaptações da prova para esse candidato,
bem como os critérios adotados para a correção.
A pesquisa foi realizada no período de 2006.2 a 2007.1 na cidade de Fortaleza-
Ceará. A natureza da investigação é de cunho qualitativo, na forma de um estudo de caso. A
amostra foi constituída por um membro da CCV responsável pela correção das provas de
Língua Portuguesa, Literatura e Redação. O instrumento utilizado foi um roteiro de entrevista
semi-estruturado.
O primeiro capítulo deste trabalho aborda a Educação Especial, situando a
deficiência ao longo da história e sua repercussão no atendimento educacional a pessoas com
surdez. Nesse sentido, compreender os fatores históricos-culturais que consolidaram a
educação especial são preponderantes para a contextualização dos estatutos de lei e da política
de inclusão, principalmente, a Declaração de Salamanca e a LDB.
Por conseguinte, a investigação contemplou o estudo acerca da surdez,
salientando tanto os aspectos específicos de sua linguagem, especificamente a LIBRAS
quanto os processos avaliativos como instrumento de segregação. Logo, reconhecer as
limitações e investir nas potencialidades configura-se imprescindível para a concretude da tão
almejada igualdade social.
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O capítulo seguinte versa sobre a avaliação educacional, destacando o concurso
vestibular como meio de possibilitar o ingresso de pessoas com deficiência auditiva na
universidade pública, especificamente a UFC.
Nessa perspectiva, os processos seletivos são, em sua maioria, formados por
avaliações formativas e conteudistas que valorizam a memorização. Nessas circunstâncias, o
vestibular configura-se como um instrumento regulador que objetiva mensurar o
conhecimento mediante a uma nota classificatória. Em contrapartida, as avaliações
emancipatórias buscam atender o diálogo, o posicionamento crítico e a autonomia,
convergendo para o desenvolvimento das competências de maneira resiliente.
O terceiro capítulo trata da metodologia utilizada na investigação. O trabalho em
questão é resultado de uma pesquisa qualitativa de caráter natural, direto e amplo. Logo, a
espontaneidade configura-se elemento essencial. Nesse sentido, o estudo de caso apresenta-se
como um exemplo. Pois, a riqueza investigativa de sua estrutura possibilita entender o sujeito
de maneira peculiar e contextualizada.
Para a coleta dos dados, fora utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturado
devido ao caráter flexível com que é direcionada. Posteriormente, as informações foram
detalhadas mediante a análise de conteúdo que permite categorizar falas, palavras e texto
dividindo-as em contextos, o que facilita a compreensão e inferências de idéias.
O quarto capítulo relata acerca dos resultados obtidos. Mediante a entrevista semi-
estruturada realizada com um membro da Comissão Organizadora do Vestibular – CCV
subsidiada pela análise de conteúdo, algumas reflexões foram sistematizadas no referente à
inserção do aluno surdo no vestibular da UFC. A universidade tem sido alvo inalcançável para
aqueles que a escolhem. Passar no exame seletivo configura-se como um desafio, vistos as
inadequações avaliativas que segrega e exclui as pessoas com deficiência auditiva.
Embora a legislação garanta direitos de igualdade e a LDB consolide uma
educação para todos, infelizmente, o contexto prático é bastante contraditório, principalmente,
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no ensino superior. Logo, fazem-se imprescindíveis adaptações inclusivas para que as pessoas
com surdez possam adentrar o contexto universitário.
Assim intenciona-se que os resultados deste trabalho possam contribuir de forma
significativa no sentido de propiciar novas inquietações, auxiliando a promover um olhar
diferenciado, mais justo e digno, quanto à proposta de inclusão de pessoas com NEEs no
Ensino Superior, em especial do alunado com surdez.
1 EDUCAÇÃO ESPECIAL E SURDEZ
Antes de falarmos acerca da Educação Especial, faz-se importante apresentar um
recorte da Educação de modo geral. Assim, educar, durante décadas, fora responsabilidade
das famílias - Educação Patriarcal - que funcionavam como administradoras dos valores e
condutas repassados de geração a geração (CARVALHO, 2000; MAGALHÃES, 2003).
É importante esclarecer que a Educação Formal, literária, destinava-se apenas aos
filhos dos senhores, que eram ensinados a dominar; para os humildes, restava o trabalho
braçal. A divisão entre pensar e executar se consolidou no período da colonização brasileira,
quando a educação era religiosa e escravocrata. Assim, portugueses pensavam e os negros e
índios executavam. Em virtude de sua descendência, a pobreza e a servidão eram fins
categoricamente destinados aos afros. Posteriormente, com a industrialização, a necessidade
de conhecimento teórico e científico se tornou iminente. Essa etapa foi marcada pelo
surgimento de escolas técnicas e a educação se voltou para o realizar.
Contudo, a filosofia difundida atualmente apregoa uma educação voltada à práxis,
em que os pilares educacionais são preponderantes para a autonomia e o desenvolvimento de
uma sociedade igualitária (FREIRE, 1996). Além dos problemas sócio-histórico-culturais, a
Educação Brasileira é marcada pela exclusão dos deficientes, sejam físicos ou mentais. Nesse
sentido, as pessoas com Necessidades Educativas Especiais (NEEs) se inserem no patamar da
omissão.
1. 1 Histórico da Educação Especial
A história da Educação Especial coincide com a história da humanidade, visto que
a deficiência sempre acompanhou o homem (MAZZOTTA, 1996; CARVALHO, 2000).
Antes de Cristo, a idéia de deficiência remetia à conseqüência do juízo divino, representando
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então uma punição aos pecadores. Nas sociedades egípcias, gregas e romanas, o corpo era um
ideal narcisista; logo, todos os que nasciam fora dos padrões de beleza e perfeição eram
imediatamente eliminados. Porém, na Idade Média, o corpo passou a ser reprimido e
escondido; na chamada Idade das Trevas, o belo era mascarado pela rigidez. Nessa época, as
pessoas com NEEs eram discriminadas porque sua deficiência revelaria a infidelidade dos
pais para com Deus.
De acordo com Magalhães (2003), os primeiros institutos brasileiros criados para
atender a demanda de crianças com NEEs datam do século XIX, os chamados Institutos
Imperiais. Dividiam-se em: Instituto dos Meninos Cegos, fundado em 1854, conhecido
atualmente como Instituto Benjamim Constant e o Instituto dos Surdos-Mudos, fundado em
1857. Contudo, nesse período, o atendimento era precário e insuficiente.
No século XX, com o avanço da Medicina, o estudo sobre as crianças com NEEs
se tornou iminente. Em contrapartida, o compromisso governamental com esse público
deixava a desejar, pois o Estado oferecia um atendimento de cunho assistencial, caritativo e
sem fins pedagógicos. Acreditava que as crianças com NEEs eram incapazes de um bom
desempenho cognitivo. Conforme essa perspectiva, ainda não existiam leis que assegurassem
o direito dessas crianças à educação de qualidade. Logo, o saber e a qualidade de vida
ficavam a critério das instituições particulares, no caso, os Institutos Pestalozzi e a Associação
de Pais e Amigos do Excepcional (APAE).
Na contemporaneidade, o culto ao corpo ainda é evidente e a beleza se tornou uma
prioridade na vida de muitos. Alcançar a perfeição tem sido alvo de uma população alienada e
padronizada, sem espaço para a singularidade. Nesse contexto, as pessoas com NEEs são
ignoradas e estigmatizadas, sendo definidas prioritariamente em função do déficit, ao invés de
suas potencialidades. Desse modo, Magalhães (2003) esclarece que: O status social de
deficiente faz recair sobre o indivíduo um olhar pejorativo que enfatiza suas dificuldades em
detrimento de suas possibilidades de desenvolvimento da aprendizagem (p. 22).
A autora relata que não havia uma educação voltada para esse público, por causa
justamente de sua expugnação. Contudo, por mais que sua existência tenha sido ignorada, a
necessidade de um atendimento educacional especializado era evidente. Em meados do século
XIX e início do século XX, houve algumas iniciativas no cuidado a esse alunado, porém de
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cunho assistencial e não pedagógico, objetivando habituar essas pessoas às práticas rotineiras,
como o ato de vestir e a higiene pessoal.
Nessa época, instaurou-se uma preocupação da classe médica com o tratamento
humano das doenças mentais. Dessa maneira, a sociedade testemunhou um interesse
significativo pela Educação Especial, não apenas com instituições de abrigo, mas com uma
intenção científica, pedagógica e social, afastando-se assim do âmbito caritativo. Contudo, as
preocupações iniciais com essa clientela se baseavam em condutas segregadoras, excluindo
aqueles considerados “inúteis” à sociedade capitalista de resultados imediatos.
Com vistas à produtividade, as escolas especializadas surgiram para atender os
deficientes, enquanto as escolas de ensino regular atendiam às crianças consideradas normais,
corroborando para sedimentar então uma classificação ou rótulo dual. Com o confinamento,
os estigmas acerca da deficiência se acentuaram. A ênfase recaiu nas limitações, cada vez
mais divulgadas, em detrimento do potencial dos educandos. O currículo negligenciava
aspectos de ordem pedagógica e profissional, revelando a crença na incapacidade dessas
pessoas para ocuparem lugares dignos no mercado de trabalho. Logo, os alunos com NEEs
ainda eram percebidos socialmente como impossibilitados (MITTLER, 2003).
Porém, a partir da década de 1970, Magalhães (2003) ressalta o advento do
movimento idealista denominado Filosofia de Integração da Educação Especial, que
objetivava a inclusão das pessoas com NEEs no sistema regular de ensino. Acreditava que a
socialização dos alunos, com e sem deficiência, promoveria o desenvolvimento e o respeito às
diferenças. A autora explicita que: A participação nas atividades educacionais devem buscar
um distanciamento, sempre que possível, das formas segregadas de ensino e deveriam ser
oferecidas alternativas de atendimento variadas (p. 37).
Com o intuito de amenizar as diferenças, criaram-se cinco dimensões de
atendimento à pessoa com NEEs (CARVALHO, 2000). A primeira consistia nas escolas
especiais, destinadas exclusivamente a pessoas com deficiência; posteriormente, o ensino foi
expandido aos hospitais ou domicílios para aqueles, que por alguma razão, não podiam
freqüentar as instituições de ensino; e, ainda, às classes especiais (específicas a cada
necessidade) instaladas nas escolas regulares. Vale acrescentar que a escola inclusiva deve
contar com salas de recurso que contenham equipamentos de apoio ao trabalho pedagógico
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do professor. Por fim, foi estabelecido o ensino itinerante, que se configurou como a
prestação de serviços do professor a escolas para alunos com NEEs.
Apesar da teorização de uma escola que priorizasse a igualdade, podia-se
constatar que as bases metodológicas do atendimento às crianças com NEEs continuaram as
mesmas, ou seja, persistiam de cunho assistencial. Na verdade, no processo de inclusão
sistematizado, os alunos especiais foram apenas colocados na instituição: condições mínimas
de infra-estrutura, material pedagógico e capacitação de professores foram ignoradas. Logo, a
inclusão não se configurou eficaz, por estar separada da integração.
Em 1970, a preocupação com a Educação Especial foi instituída, conceituada e
legitimada nos princípios da lei, com a finalidade de fiscalizar, orientar e educar. Na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação de 1971 (LDB 5.692/71), embora a Educação Especial seja
abordada de modo bastante limitado, há uma breve recomendação sobre a necessidade de
atendimento diferenciado para pessoas com NEEs (VASCONCELLOS, 1972).
Conforme o artigo 9º da LDB de nº 5.692 de 1971:
Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação (VASCONCELLOS, 1972, p. 72).
A partir de 1996, a versão mais recente dessa lei (LDB 9394/96) defende a idéia
de que os alunos com NEEs devem se beneficiar do convívio com os educandos considerados
normais. Para tanto, faz-se necessário um currículo adequado e condições facilitadoras para o
bom desempenho do processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 1996).
Dessa maneira o capítulo V, artigo 59 inciso II, confirma:
Currículos, métodos, técnicas recursos educativos e organização específica, para atender a cada necessidade (AGUIAR e MARTINS, 2003, p.126).
No intuito de firmar o compromisso social e político de uma educação para todos,
sistematizada em 2000, muitos embates teórico-filosóficos foram realizados entre os chefes de
Estado que representavam a Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Mittler (2003),
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1.500 delegações de 155 governos se reuniram para a discussão de uma política que
consolidasse o direito da pessoa com NEEs em várias conferências.
A Conferência de Salamanca, ocorrida em 1994, na Espanha, intermediada pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), foi um
momento marcante na história da Educação Especial. Contou com a representação de 94
entidades governamentais e não-governamentais que discutiram e formularam uma declaração
a respeito da inclusão das pessoas com NEEs na política de Educação para Todos. O
documento reafirma o direito à cidadania e políticas públicas para o alunado especial. Nesse
sentido, assinala que: As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as
crianças, inclusive as com deficiências (UNESCO, 1994, p.18); acrescenta, ainda, que: A
integração de criança com deficiência deverá fazer parte dos planos nacionais de “educação
para todos” (UNESCO, 1994, p.29).
O documento especifica a clientela da Educação Especial: O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. No contexto desta Estrutura, o termo necessidades educacionais especiais refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem (UNESCO, 1994, p. 3).
Convém assinalar que a Educação Especial se destina então a um grupo amplo,
formado por pessoas com NEEs, não sendo coincidente, desse modo, com uma educação
voltada somente para pessoas com deficiência.
Magalhães (2003) delimita a clientela da Educação Especial, esclarecendo que a
política de inclusão/integração inclui os alunos: com problemas de aprendizagem; deficiências
oriundas de causas orgânicas; deficiências sensórias (surdos, cegos e surdos-cegos);
deficiências motoras; deficiências mentais; deficiências múltiplas; acrescenta, ainda, altas
habilidades/superdotação e condutas típicas (autismo, transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade, transtorno de conduta). Para esse grupo, com necessidades especiais no campo
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da aprendizagem, o documento aponta a necessidade de um currículo diferenciado, no qual a
interdisciplinaridade entre os profissionais e a disposição de material pedagógico, bem como
uma flexibilidade metodológica, devem ser referendadas.
A autora relata que a fundamentação filosófica da Declaração de Salamanca
(UNESCO, 1994) possibilita uma desconstrução estigmática: dessa forma, a sociedade, que
outrora excluía o diferente, passa a vislumbrar a possibilidade de uma vivência grupal em que
a diversidade é valorizada. A inclusão, finalmente, amplia a noção de deficiência para o viés
das potencialidades, combatendo a rigidez e o preconceito dos estereótipos, que simplificam a
realidade, indevidamente generalizada, que outrora, refletia até na nomenclatura utilizada para
se referir as pessoas com NEEs. Para Magalhães (2003), a modificação terminológica:
portadores de deficiência, para pessoas com necessidades educativas especiais aconteceu em
virtude do significante que indicava o transporte do déficit pelo indivíduo. Nesse sentido,
pessoas com Necessidades Educativas Especiais (VERIFICAR)
De acordo os princípios dessa declaração:
A educação integrada e a reabilitação apoiada pela comunidade representam dois métodos complementares de ministrar o ensino a pessoas com necessidades educativas especiais. Ambas se baseiam no princípio da integração e participação e representam modelos bem comprovados e muito eficazes em termos de custo para fomentar a igualdade de acesso as pessoas com necessidades educativas especiais, que fazem parte de uma estratégia nacional cujo objetivo é conseguir a educação para todos (UNESCO, 1994, p. 29).
Mittler (2003) ressalta que a filosofia da Declaração de Salamanca (UNESCO,
1994) prioriza o exercício pleno dos direitos humanos. A escola regular deve estar
sedimentada no respeito à diferença, eliminando, portanto, qualquer processo discriminatório,
bem como oferecendo um ambiente afetivo e pedagogicamente motivador. É de
responsabilidade do Estado garantir a regulamentação e a obrigatoriedade da inclusão.
Nacionalmente, a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) é um
dos documentos que asseguram o direito fundamental à Educação como dever do Estado e
prioridade da família, no sentido de resguardar o pleno desenvolvimento do indivíduo, seja no
exercício da cidadania ou inserção no mercado de trabalho. Nesse sentido, o governo deve
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garantir um ensino pautado na igualdade, configurado no acesso e permanência na escola,
além da gratuidade do ensino público e sua obrigatoriedade. A Educação Especial é
legitimada pelo artigo 208, que prescreve, no inciso III, atendimento educacional
especializado as pessoas com NEEs, destacando que o atendimento a esses alunos deve ser
preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 2002).
Nesse sentido, as pessoas com deficiência auditiva têm direitos legislativos
assegurados. Logo, uma educação voltada, não para o assistencialismo como outrora, mas
para o desenvolvimento de competências é objetivo daqueles que lutam por igualdade
educacional e profissional de pessoas surdas em seus múltiplos contextos.
2. Surdez
É comum encontrar-se, nos livros de Ciências e Física, noções básicas acerca do
corpo humano e dos eventos físicos da natureza, porém de maneira dissociada. Ou seja, sabe-
se que o som é energia mecânica de vibração do ar, no entanto, pouco se conhece sobre o
mecanismo de escuta. O ouvido é, portanto, o órgão responsável por captar esses ruídos,
transformá-los em estímulos elétricos, enviá-los ao nervo auditivo, chegando, por fim, ao
cérebro para serem decodificados. Nesse sentido, a surdez é caracterizada quando esse
sistema apresenta falhas, que podem ter vários graus e culminar na surdez total (BRASIL,
1995).
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), surdez é a perda maior ou
menor da percepção normal dos sons (BRASIL, 1995). No Brasil, segundo dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% da população mundial tem algum déficit
auditivo seja leve, moderado, severo ou profundo (OMS, 2000).
Na surdez leve, encontram-se os indivíduos que apresentam perda auditiva de até
quarenta decibéis. Esse público, normalmente, é estigmatizado como desatento, devido à
necessidade da repetição de palavras por parte dos ouvintes. Seu comprometimento auditivo
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não impede a aquisição normal da linguagem, contudo apresenta dificuldades na articulação,
leitura e escrita.
A surdez moderada é compreendida pela perda auditiva entre quarenta a setenta
decibéis. Em geral, os indivíduos, nessa fase, identificam as palavras mais significativas, têm
dificuldades em compreender certos termos de relação ou frases gramaticais complexas. Suas
compreensão verbal está intimamente ligada a sua aptidão individual para a percepção visual.
A surdez severa, por sua vez, engloba os indivíduos que apresentam perda
auditiva entre setenta a noventa decibéis. Nessa faixa, existe apenas a percepção de ruídos
considerados familiares e a linguagem pode ser alcançada desde que haja estimulação
precoce. A compreensão verbal, todavia, só é alcançada mediante as impressões visuais.
Já a surdez profunda reúne indivíduos que possuem perda superior a noventa
decibéis. Logo, a construção da linguagem oral desse público configura um processo
demorado e complexo, que envolve aquisições de ordem do conhecimento do mundo sonoro,
bem como a comunicação e expressão da linguagem mediante sinais, denominada Linguagem
Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Importa destacar que a diminuição auditiva produz uma redução na percepção de
sons e dificulta a compreensão das palavras. Deste modo, o nível de comprometimento
auditivo indicará o uso da LIBRAS. Embora as pessoas com surdez leve à profunda utilizem a
LIBRAS para comunicação, o comprometimento auditivo da fase profunda requer a
essencialidade da linguagem visio-motora. Logo, as dificuldades lingüísticas são acentuadas
de acordo com o nível de surdez. A surdez severa, por sua vez, incide em uma a cada mil
pessoas nos países desenvolvidos e em quatro a cada mil nos países subdesenvolvidos. No
Brasil, calcula-se que 15 milhões de homens e mulheres tenham algum tipo de perda auditiva
e que 350 mil nada ouçam, segundo dados da OMS (OMS, 2000).
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2.1. A aquisição da Linguagem em Crianças Surdas
A linguagem permite ao homem estruturar seu pensamento, traduzir sentimentos,
registrar conhecimentos e comunicar-se com outros. Ela registra o ingresso do homem na
cultura, construindo-o como sujeito capaz de produzir transformações (CAGLIARI, 1990).
Por conseguinte, a comunicação verbal se estende desde a possibilidade do
indivíduo perceber e elaborar simbolicamente os sons até a de planejar e executar movimentos
articulatórios da fala. Nessa perspectiva, a linguagem pode ser definida como a comunicação
de experiências e idéias a outros. Assim, a compreensão e expressão envolvem uma
conceituação de formas simbólicas (as palavras) e sua combinação dentro de determinadas
normas gramaticais.
De acordo com Chomsky (1994) e Piaget (1959), as crianças não seriam capazes
de aprender a linguagem, se não fizessem determinadas suposições iniciais sobre como o
código lingüístico deve ou não operar: é diante dos conflitos lingüísticos que a criança
aprende a linguagem. A palavra, por sua vez, tem uma importância excepcional no sentido de
dar forma à atividade mental e é fator fundamental de formação da consciência. Ela é capaz
de assegurar o processo de abstração e generalização, além de ser veículo de transmissão do
saber.
Nesse contexto, os indivíduos "normais" parecem utilizar, em sua linguagem, dois
processos: verbal e não-verbal. A surdez pode bloquear o desenvolvimento da linguagem oral,
mas não impede o desenvolvimento dos processos não-verbais (expressão corporal ou
expressão de outros sentidos). Nesse sentido, pressupõe-se que, durante a formação psíquica,
a ativação das estruturas inatas da personalidade e a ausência do intercâmbio auditivo-verbal
trazem, para os surdos, prejuízos ao seu desenvolvimento cognitivo, daí a importância da
estimulação precoce.
Chomsky (1994) também discorreu acerca da teoria sobre as bases biológicas da
linguagem. Para ele, existe um substrato neuroanatômico, no cérebro, responsável pelo
sistema da fala. Esse mecanismo se organiza quando a presença de uma estrutura latente no
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interior desse substrato é ativada, resultando na palavra. Um exemplo comum é a linguagem
infantil. As crianças são capazes de deduzir as regras gramaticais gerais e regularizar os
mecanismos de uma conjugação verbal; por exemplo, utilizam as formas “eu fazi”, “eu pegui”
enquadrando-as nas desinências dos verbos regulares – “eu corri”, “eu comi”.
As crianças ditas normais e também um grande número de crianças com NEEs
aprendem a língua de uma forma semelhante e no mesmo espaço de tempo. No entanto, não
se podem esquecer as diferenças individuais, encontradas nos tipos de palavras que as
crianças pronunciam inicialmente. Algumas emitem nomes de coisas, enquanto outras,
evitando substantivos, preferem exclamações. Mas todas adquirem a linguagem ensinada pela
sociedade, segundo Vygotsky (1984).
Há crianças, contudo, que apresentam dificuldades na aquisição da linguagem. Às
vezes, a dificuldade aparece, principalmente, no que se refere à percepção e à discriminação
auditiva, o que traz transtornos à compreensão da linguagem. Outras vezes, a dificuldade é
relativa à articulação e à emissão da voz, o que produz transtornos na emissão da linguagem.
Tudo isso pode ou não ter relação com a surdez, visto que muitas crianças que apresentam
dificuldades lingüísticas não têm audição prejudicada. Por exemplo: A capacidade de
processar rapidamente mensagens lingüísticas - um pré-requisito para o entendimento da fala
- parece depender do lóbulo temporal esquerdo do cérebro. Danos a essa zona neural ou seu
desenvolvimento anormal geralmente são suficientes para produzir problemas de linguagem.
Segundo Luria (1986), os processos de desenvolvimento do pensamento e da
linguagem se constituem mediante as interações entre a criança e o ambiente de forma
positiva ou negativa. Assim, é imprescindível que as crianças com NEEs tenham alternativas
que as possibilitem desenvolver o seu potencial lingüístico, inclusive as pessoas surdas.
Segundo Magalhães (2003), o ser humano possui dois sistemas para a produção e
reconhecimento da linguagem: o sistema sensorial que engloba a anatomia visual/auditiva e
vocal, bem como o sistema motor com a anatomia visual e dos membros superiores (língua de
sinais). O sistema motor, por sua vez, é considerado a língua natural dos surdos, por causa da
LIBRAS, que propicia gestos com um contexto sintático.
22
Na aquisição da linguagem, as pessoas surdas utilizam o segundo sistema porque
apresentam o primeiro seriamente prejudicado. De acordo com Sanchez (1990 apud
MAGALHÃES 2003) e Stokoe (1960 apud MAGALHÃES 2003), as crianças surdas
procuram criar e desenvolver alguma forma de linguagem, mesmo não sendo expostas a
nenhuma língua de sinais. Essas crianças desenvolvem espontaneamente um sistema de
gesticulação manual que tem semelhança com outros sistemas desenvolvidos por surdos que
nunca tiveram contato entre si e nem com as línguas de sinais já conhecidas.
A capacidade de comunicação é um dos principais responsáveis pelo processo de
desenvolvimento da criança surda, assim como seu processo de integração social. Logo, faz-
se necessário o estudo da LIBRAS e a estimulação precoce para que as estruturas cerebrais
sejam ativadas e processo de fala seja desenvolvido.
Para Fernandes (1990), um dos grandes desafios para os educadores de surdos
consiste nas dificuldades que os alunos apresentam quanto ao uso de línguas orais, como é o
caso da Língua Portuguesa. Embora Magalhães (2003) ressalte a importância de um
diagnóstico imediato seguido de estimulação precoce, a negligência de uma educação direta
ainda é foco de atenção. É importante destacar que, quanto mais cedo a criança tenha sido
privada da audição, associada ao nível de comprometimento, maiores serão as dificuldades na
linguagem. No caso da Língua Portuguesa, a autora relata que a maioria das pessoas surdas
escolarizadas continua demonstrando dificuldades tanto nos níveis fonológico e
morfossintático, como nos níveis semântico e pragmático.
Essas dificuldades se respaldam na dualidade educacional que vigora até os dias
atuais: o manualismo e o oralismo. L’Epeé foi um dos idealizadores da linguagem manual,
priorizando o diálogo mediante signos. Criou o alfabeto concreto para classificar figuras
abstratas, além dos gestos que expressavam as demais palavras. Suas idéias valorizavam o
manual e desvalorizavam a oratória. Em contrapartida, Samuel Heinicke, educador alemão,
argumentou a importância do oralismo, assinalando que mediante o domínio da fala as
pessoas com surdez teriam maiores oportunidades seja, de educacional ou profissional. As
quais contribuiriam significativamente para a inclusão social. Desse impasse, surgiram
diversos congressos que objetivavam um ponto comum: identificar qual dos dois mecanismos
23
educacionais seriam mais apropriados no trabalho com surdos. Esse impasse persiste até hoje,
dificultando o processo educacional (MAGALHÃES, 2003).
Nesse sentido, é importante ressaltar, que embora alguns surdos sejam oralizados,
a dificuldade da fala e escrita da língua materna, ainda é realidade. Logo, é de fundamental
importância que os efeitos da língua oral portuguesa sobre a cognição não sejam
supervalorizados em relação ao desempenho do surdo, dificultando sua aprendizagem e
diminuindo suas oportunidades de integração social. Faz-se então necessária a utilização de
alternativas de comunicação que possam propiciar um melhor intercâmbio, em todas as áreas,
entre surdos e ouvintes. Essas alternativas devem se basear na substituição da audição por
outros canais, destacando-se a visão, o tato e movimento.
As crianças com surdez têm as mesmas possibilidades de desenvolvimento que a
pessoa ouvinte, nesse sentido, podem usufruir de seus direitos à escola, vida comunitária e
ascensão social. Nesse sentido, a relação de igualdade entre as pessoas ditas normais e com
NEEs deve ser uma premissa que rege o contexto social e educacional. No entanto, o que se
verifica é segregação em virtude do déficit. A inserção de pessoas com surdez no contexto
acadêmico tem sido cada vez mais árdua em virtude da dificuldade lingüística enfrentada pelo
aluno surdo.
2 AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
A avaliação educacional tem sido um tema bastante discutido por aqueles que se
dedicam à Educação. De acordo com Sobrinho (2003), sua trajetória se iniciou no século XIX,
quando as ações de selecionar e classificar constituíam o principio básico que regia o sistema
sócio-educacional. Nessa fase, denominada pré-Tyler, o desenvolvimento de testes
psicológicos alcançou grande espaço. Na Universidade de Columbia, por exemplo, estudiosos
como Binet, Rice e Thorndike desenvolveram estudos de mensuração das capacidades metais
e físicas dos candidatos inscritos a fim de classificá-los para o ingresso na instituição.
No início do século XX, Binet contribuiu para que surgissem testes que objetivava
de medir a capacidade intelectiva dos indivíduos, com resultado expresso em valor numérico,
na forma de um Quociente de Inteligência (QI). As escalas Binet se tornaram instrumentos
muito utilizados no contexto escolar. Mas foi com Thorndike que os testes psicológicos
alcançaram apogeu, através da publicação dos artigos Educational Psycology (1903) e Mental
and Social Measurement (1904), estabelecendo a chamada “gestão científica”, que
intencionava propiciar mais objetividade e eficiência aos campos da Psicologia e Educação.
Nesse contexto, os educadores utilizavam métodos sistematizados, psicométricos,
para avaliar a inteligência e/ou aprendizado de seus alunos. O resultado dessa experimentação
era apresentado numericamente por meio da nota, possibilitando, ao educador: inferir sobre o
desempenho dos discentes, classificando-os como inteligentes ou não inteligentes, aprovados
ou reprovados, sem, no entanto, atentar para a qualidade do ensino ministrado (SOBRINHO,
2003).
Essa realidade é derivada de uma educação colonial consolidada historicamente
na exclusão social e educacional, culminando numa sociedade de classes que privilegia
poucos. O operário, portanto, é efeito dessa realidade, sendo considerado uma ferramenta de
trabalho; para a nobreza, fica a regalia do saber. Com a Revolução Industrial e o progresso
tecnológico, a exigência especializada se tornou imprescindível, surgindo assim, as escolas
técnicas. A demanda por essa instituição fora significativa, por isso, critérios de seleção
classificatórios ou eliminatórios, como provas de conhecimento, foram eleitos.
A tecnologia se expandia e a necessidade de um ensino mais especializado se
efetivou: dessa maneira, surgiram as universidades. Embora a industrialização exigisse mão-
de-obra qualificada, a Educação Superior era privilégio de poucos. No embate demanda e
acesso, o vestibular foi o caminho seletivo encontrado para equilibrar o conflito.
Desde então, a avaliação tem sido ferramenta prioritária das escolas. E a prova,
por sua vez, foco da atenção de pais, professores e alunos. O Ensino Médio se concentrou na
preparação e treino de seus alunos para a resolução de testes, sendo, o vestibular, sua meta
principal. Para os que querem entrar, o vestíbulo da universidade parece estreito e inacessível:
um sonho inalcançável.
Acerca disso, Luckesi (2005) comenta:
O mais visível e explícito exemplo dessa pedagogia está na prática de ensino do 3º ano do segundo grau, em que todas as atividades docentes e discentes estão voltadas para um treinamento de ‘resolver provas’, tendo em vista a preparação para o vestibular, como porta socialmente apertada de entrada na universidade (p.17).
Nessa perspectiva, são imprescindíveis políticas públicas de ensino que favoreçam
o acesso, principalmente para as pessoas com NEEs, vítimas de discriminação social e
educacional devido às limitações associadas ao déficits que apresentam. As pessoas com
surdez, em especial, necessitam de avaliações adaptadas às suas singularidades, que atendam
à sua realidade lingüística, amenizando, portanto, a desigualdade.
2.1 O percurso da classificação à promoção da aprendizagem
Avaliar tem sido um procedimento com o objetivo de mensurar o nível de
aprendizagem, visando a um conceito final: reprovação ou aprovação. Para tanto, diferentes
variáveis, sejam filosóficas ou metodológicas, interagem, a fim de orientar a construção de
objetivos, planos e métodos que proporcionem a construção de uma avaliação global ou
integrada (PERRENOUD, 1999; GADOTTI, 1999; LUCKESI, 2005).
26
Para Perrenoud (1999):
Avaliar é – mais cedo ou mais tarde – criar hierarquias de excelência, em função das quais se decidirão as progressões ou curso seguido, a seleção no inicio do secundário, a orientação para diversos tipos de estudos, a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, freqüentemente, a contratação. Avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e no mundo, valorizar formas e normas de excelência, definir um aluno modelo, aplicado e dócil para alguns, imaginativo e autônomo para outros (p. 1).
De acordo com o autor, a estrutura filosófica de uma avaliação pode abranger
amplos conceitos, de ordem tradicional ou emancipatória, classificadas, respectivamente, em
concepções quantitativas e qualitativas. Enquanto o modelo quantitativo prioriza mensurar o
conhecimento através de uma escala de avaliação ou prova, enfatizando o produto ou
resultado final, a modalidade qualitativa se orienta para o processo de aprendizagem, a
construção gradual do saber, os mecanismos de aquisição dessas competências, pois a
avaliação [...] é sempre muito mais do que uma medida. É uma representação, construída por
alguém, do valor escolar ou intelectual de outro indivíduo (p.57).
Observa-se que a avaliação tradicional é resultado de uma educação bancária ou
depositária (FREIRE, 1975), na qual os alunos apenas repetem respostas sem o menor sentido
vivencial; sua missão é cumprir uma tarefa institucional, privando-se da reflexão acerca dos
processos que os circundam como seres biopsicossociais atuantes. A avaliação
emancipatória, por sua vez, tem finalidade diferenciada: objetiva resgatar a reflexão sobre o
meio circundante, pautando-se na realidade e promoção da autonomia nos indivíduos
mediante o desenvolvimento do senso crítico.
Assim, Perrenoud (1999) ressalta que: O sistema clássico de avaliação favorece
uma relação utilitarista com o saber. Os alunos trabalham “pela nota”: Todas as tentativas
de implantação de outras pedagogias se chocam com esse minimalismo (p.66). Complementa
ainda que: A avaliação tradicional é uma amarra importante, que impede ou atrasa todo tipo
de outras mudanças. Soltá-las é, portanto, abrir a porta a outras inovações (p.76).
No que se refere ao processo metodológico, o autor acrescenta que a avaliação
educacional se divide em cumulativa, formativa ou prognóstica. Na avaliação cumulativa ou
classificatória, a prova, programada pelo professor ao final de cada conteúdo, é objeto de
destaque. Sua escala mede o nível de desempenho retratado numa nota que varia entre zero a
27
dez, em que zero significa inadequação e dez, excelência. Esse modelo sequer cogita sobre os
mecanismos de aquisição desse saber, importando somente o resultado final, inserido num
modelo de educação denominado conteudista.
A avaliação continuada ou formativa, por sua vez, refere-se a uma atividade
progressiva e participativa, na qual professor e aluno são sujeitos atuantes do processo de
ensino-aprendizagem. Assim, eles se concebem como capazes de refletir sobre a realidade a
fim de transformá-la, diferentemente do processo anterior, fixado ao critério da nota.
Desse modo:
A idéia de avaliação formativa sistematiza esse funcionamento, levando o professor a observar mais metodicamente os alunos, a compreender melhor seus funcionamentos, de modo a ajustar de maneira mais sistemática e individualizada suas intenções pedagógicas e as situações didáticas que propõe, tudo isso na perspectiva de otimizar as aprendizagens (p.89).
De acordo com Luckesi (2005), um dos critérios da avaliação formativa é
dialogicidade, na qual professor e aluno constroem a aprendizagem, traçando metas e
objetivos em busca da autonomia e transformação social. Em contrapartida, o sistema
classificatório prioriza as relações sistematizadas, discursos decorativos e a construção do
saber sintetizado em um produto ou nota, promovendo condicionamentos mecânicos e
irrefletidos nos alunos.
Esse modelo incentiva a passividade do aprendiz, como esclarece Luckesi (2005).
Para formar um sujeito pensante e ativo, convém adotar avaliações de caráter diagnóstico.
Logo, a avaliação diagnóstica será, com certeza, um instrumento fundamental para auxiliar cada educando no seu processo de competência e crescimento para a autonomia, situação que garantirá sempre relação de reciprocidade. Nesse sentido, uma sociedade democrática funda-se na relação de reciprocidade e não de subalternidade e para que isso ocorra é preciso um conjunto de competências, sob pena de estar sendo conveniente com a domesticação e a opressão, característica de uma sociedade conservadora (p. 44).
Segundo Gadotti (1999), a escola ainda é considerada um sistema excludente,
burocrático e quantitativista, pois reflete uma educação academicamente ineficiente. De
acordo com pesquisas realizadas pelo Ministério da Educação e Instituto Nacional de
28
Educação e Pesquisa (MEC/INEP), 13% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental e
10,7% do Ensino Médio do Ensino Público repetiram o ano em 2004. Essa estatística retrata
um descaso no tocante à qualidade do ensino ministrado. Os educadores têm a possibilidade
de transformar essa realidade, desenvolvendo novas atividades avaliativas ou metodológicas.
Entretanto, muitos se escondem por trás de instituições ou de argumentos salariais para
renegar seu papel de formador, dedicando-se apenas a transmitir informações.
Nesse sentido, observa-se que as principais preocupações do professor se referem
à construção da escala (prova) e a execução do currículo escolar, que devem resultar em uma
nota, simbolizando o desempenho. Desse modo, o docente acaba desprivilegiando o processo
de aprendizagem e centrando-se exclusivamente no resultado. Perrenoud (1999) relata que a
eficácia da avaliação depende do investimento metodológico de ensino e da tolerância às
interferências externas configuradas nos problemas familiares ou em dificuldades de outra
natureza vivenciadas pelos alunos.
Uma avaliação continuada, contudo, pressupõe linearidade, na qual o indivíduo é
avaliado em todas as tarefas e não em uma única prova. Dessa maneira, ele é chamado a
participar do processo de regulação de sua aprendizagem. A esse respeito, Gadotti (1999)
observa que: A avaliação é essencialmente contínua, cada professor pode de modo mais fácil – sem, aliás, tomar consciência disso – adotar sua própria definição de excelência, apropriando-se e especificando, a sua maneira, as normas de excelência estabelecidas pela instituição, nela investindo sua própria concepção de cultura e do domínio. A ele cabe fixar, mais ainda, segundo o que lhe parece ao mesmo tempo justo e razoável, o nível de exigência na ou nas disciplinas que ensina (p.31).
Embora muitos educadores ainda utilizem a avaliação formal como ferramenta,
uma parcela vem se sensibilizado no intuito de desvincular a avaliação da punição, para então
reorientar a educação no sentido igualitário e progressista. Nessa perspectiva, a avaliação
objetiva repensar a metodologia do professor e sinalizar as responsabilidades da instituição no
sentido de proporcionar recursos para contornar seus pontos frágeis e esclarecer o aluno
quanto ao seu nível de aprendizagem. Ainda segundo Gadotti (1999), a avaliação [...] deverá
ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se
encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa
avançar no seu processo de aprendizagem (p. 81).
29
De modo semelhante, Luckesi (2005) afirma que a avaliação formativa permite,
ao discente, controlar sua aprendizagem, concebendo-o portanto como sujeito ativo. Em
relação aos resultados dos exames, devem atuar como um mecanismo regulador do processo
de aquisição do conhecimento, ao invés de gerar medo ou punições. Quanto ao docente, é
considerado um facilitador desse saber.
Nesse contexto, podem ser encontradas, na avaliação formativa, as ferramentas
dialógicas para o desenvolvimento das competências mediante as quais os atores pedagógicos
- professor e aluno - possam criar métodos de trabalho favoráveis à aprendizagem. Se, nesse
processo, orientações corretivas forem adotadas, fala-se em avaliação prognóstica.
A avaliação não pode então se reduzir a um processo técnico, mas deve ampliar-se
num instrumento que propicie autonomia e aprendizagem, como sustenta Vasconcellos
(1998), e que favoreça uma “práxis transformadora” como um “compromisso com a
aprendizagem de todos”. A avaliação deve se propor a aproximar escola e universidade com a
sociedade, a fim de assegurar que a cultura e o conhecimento técnico-científico se tornem
bens de qualidade adquiridos por todos, por meio de instituições de ensino comprometidas
com a formação.
Com a finalidade de traçar novos caminhos, a avaliação deve incorporar a
dimensão diagnóstica:
Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento de identificação de novos rumos. Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos (LUCKESI, 1995 apud GADOTTI, 1999, p. 89).
Logo, faz-se necessária uma avaliação que não se fixe apenas no mecanismo da
prova, mas que se amplie de maneira a conceber a vivência de sala de aula, o cotidiano, a
realidade e não apenas teoremas e algoritmos vazios, que pouco acrescentam quando
desvinculados do contexto escolar. É imprescindível uma avaliação que possibilite o exercício
do conhecimento global, em que alunos não se centrem no objetivo da nota, mas no
crescimento pessoal mediante a aprendizagem.
30
A herança classificatória denuncia uma educação ainda com base na memorização
e reprodução de informações, em que o professor assume o papel de regulador do
aprendizado, enquanto o aluno permanece passivo e acrítico. Esse perfil, com efeito, se
mostra incompatível com as necessidades da sociedade contemporânea, que possui o
conhecimento como fonte de riqueza e crescimento das nações. O aluno do Ensino Superior
deve se mostrar ativo, criativo e reflexivo para enfrentar os desafios do mercado de trabalho;
antes, porém, deve enfrentar mais uma avaliação classificatória para ultrapassar o vestíbulo da
universidade, muitas vezes ainda com a exigência de memorizar e reproduzir, ao invés de
pensar e criticar.
2.2 O ingresso no Ensino Superior
O vestibular é uma avaliação classificatória com o objetivo de mensurar o
conhecimento dos alunos para propiciar seu ingresso no Ensino Superior. Nesse sentido, sua
elaboração é realizada por educadores especializados em determinadas áreas do saber, ou seja,
uma junta de professores para cada disciplina avaliada (MENEZES, 1995).
O vestibular fora, durante muito tempo, espelho de uma educação que priorizava a
memorização e a repetição. Hoje, o processo avaliativo da UFC se propõe a uma filosofia
diferenciada, baseada na correlação estabelecida entre o cotidiano e a ciência, em que
habilidades gerais são essenciais para o bom desempenho acadêmico e vivencial. Muitos
alunos, porém, não atingem o nível da prova formulada, o que os impossibilita ultrapassar o
vestíbulo da universidade (MOURA, 2006).
Na Universidade Federal do Ceará (UFC), a metodologia utilizada abrange uma
prova de conhecimentos gerais (1ª fase) e específicos (2ª fase) de acordo com a área de
escolha. É importante considerar que, para ser aprovado, o indivíduo deve desempenhar-se
quantitativamente bem nos seguintes aspectos: conhecimento acadêmico, desenvolvimento da
capacidade de expressão, raciocínio, leitura, escrita e articulação de idéias. Dessa forma, o
exame tem sido, muitas vezes, reflexo de uma educação deficitária, de um Ensino Básico
31
simplista, que repercute nos demais níveis educacionais, formando, por sua vez, alunos que
sequer desenvolvem a leitura ou coerência de idéias.
Investir numa proposta pedagógica voltada para o desenvolvimento de
competências (PERRENOUD, 1999), na qual professor e aluno possam discutir os métodos
de aprendizagem, seria então uma das formas de promover a cidadania. Com a intenção de
amenizar as disparidades, o governo estabelece medidas paliativas, como as políticas de cotas.
O discurso governamental diz promover a igualdade, porém, sem efetividade. O ensino ainda
é marcado pelo descaso, acirrando, cada vez mais, a dualidade entre os que são aprovados
porque podem pagar escolas do Ensino Particular e os que não alcançam sequer o Ensino
Médio em escolas públicas, devido às necessidades de emprego e auxílio na renda familiar
(ANDRIOLA, 2006).
Nesse sentido, medidas que promovam oportunidades de justiça social são
fundamentais, visto o desrespeito aos direitos de igualdade tão apregoados pela legislação e
ressaltados pela mídia. O sistema de cotas para a universidade foi proposto com base nessas
idéias, compreendido como uma ramificação dos Direitos Civis para garantir a participação
democrática de todos, especialmente as pessoas que sofrem algum tipo de discriminação, seja
física, étnica, social ou de outra natureza.
A década de 1990 foi marcada pela legitimação de decretos-leis, que asseguram a
inserção de pessoas com NEEs no mercado de trabalho, não no âmbito caritativo, mas pela
competência atribuída. No entanto, no que se refere à educação, nada é relatado. Os estatutos
ressaltam:
• Lei 8.112/90, art. 5°, § 2°, que prescreve cotas de até 20% para os portadores de
deficiências no serviço público civil da União;
• Lei 8.213/91, art. 93, que fixa cotas para deficientes no setor privado;
• Lei 8.666/93, art. 24, inc. XX, que preceitua a inexigibilidade de licitação para a
contratação de associações filantrópicas de portadores de deficiências.
32
Embora as pessoas com NEEs tenham seu direitos de trabalho assegurados, ainda
é necessária sua efetiva inclusão em todos os níveis de ensino para que sua condição de
cidadania e igualdade seja respeitada.
2.3 O vestibular para o aluno surdo
A estrutura social e econômica que rege o país é marcada pelo imediatismo e pela
globalização de informações. A formação superior tem sido assim o objetivo de muitos, dada
à exigência do mercado de trabalho. Muitas universidades públicas, contudo, não atendem a
essa demanda, por fatores como a falta de recursos humanos ou de infra-estrutura. Essa
situação colaborou para a proliferação de inúmeras faculdades privadas.
A UFC, porém, ainda conta com o respeito e a confiança da sociedade cearense
em seu ensino de qualidade, apresentando um número extenso de candidatos que lutam por
vaga. Seu critério de seleção é padronizado e sua correção, sigilada. Passar no vestibular tem
sido o objetivo central de muitos que se dedicam exclusivamente ao teste, acarretando um
empreendimento exaustivo, reforçado pelo possível êxito e oportunidades diferenciadas de
trabalho.
Há, no entanto, bastante seletividade e poucos conseguem adentrar as portas da
instituição. O fator econômico, por exemplo, é decisivo no momento da concorrência, visto
que os candidatos em condição financeira superior investem em escolas preparatórias para
esse tipo de exame. Andriola (2006) comparou essa realidade e constatou que os candidatos
inscritos e aprovados no vestibular são majoritariamente pertencentes a classes sociais
favorecidas, restando, paradoxalmente, aos desfavorecidos, as universidades particulares. Os
alunos de classe média baixa que conseguem adentrar a universidade muitas vezes a
abandonam devido à dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos. Esses fatores
corroboram para que o ensino superior se torne inatingível para essa população, sendo a
universidade pública uma instituição elitista. Desafios também são observados em relação aos
alunos com NEEs, mesmo com seus direitos assegurados por legislação específica.
33
O vestibular é uniforme para todos os candidatos, incluindo as pessoas com NEEs.
Conforme a Lei Nº. 7.853 de 24 de Outubro de 1989 e o Art. 27 inciso I e II do Decreto 3.298
de dezembro de 1999 (BRASIL, 1995), o alunado com NEEs tem direito a 1 hora a mais de
duração para resolução do exame e a um intérprete ou ledor, em conformidade com as
necessidades de sua deficiência. Essa equipe de apoio é acionada no momento da inscrição do
candidato. Com base nessas informações, explicitadas pelo próprio aluno, a comissão do
vestibular irá alocá-lo e destinar o serviço de apoio exigido para cada especificidade.
No caso dos alunos surdos, Moura (2006), em seu artigo Inclusão de Surdos no
Ensino Superior: Desafio faz uma reflexão acerca do vestibular da UFC no período entre
2004 a 2006. Segundo a autora, em 2004, inscreveram-se 4 surdos para o processo seletivo,
sem, contudo, haver aprovação. Em 2005, essa estatística se intensificou, pois dos 36.586
inscritos para a avaliação, 25 candidatos (11,6%) eram surdos; novamente, nenhum foi
aprovado. Em 2006, a participação dos surdos foi equivalente, com 24 candidatos, mas sem
aprovação. Logo, a participação de alunos com surdez tem aumentado, porém o índice de
aprovação ainda é inexistente.
Diante de uma realidade excludente, a Universidade Federal do Ceará mediante ao
projeto UFC Inclui vem desenvolvendo seminário, debates, palestra com profissionais e
comunidade acadêmica objetivando o estudo e a sensibilização das pessoas com necessidades
educativas especiais para o ingresso na universidade pública. A proposta do projeto constrói-
se na perspectiva da igualdade de oportunidade e ampliação do direito ao saber mediado
através de um ingresso autônomo e uma avaliação / correção adaptada.
Faz-se necessária uma política de inclusão para essa clientela, seja mediante
adaptações na elaboração e/ou correção do vestibular ou mecanismos que amenizem a
disparidade entre o desempenho de indivíduos com e sem NEEs, como cursos preparatórios
para o exame delineados conforme suas necessidades. Com esse propósito, foi fundado o
curso pré-vestibular Ludwig Van Beethoven, em 2005, projeto realizado em parceria
estabelecida entre o Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às
Pessoas com Surdez (CAS) e a UFC (FERNANDES et al., 2006).
34
O cursinho é oferecido a jovens e adultos surdos - ou com diferentes níveis de
deficiência auditiva - provenientes de escolas públicas. As disciplinas são apresentadas aos
alunos por meio da LIBRAS. A proposta da instituição é preparar os alunos para o exame
vestibular, com destaque para a fase exclusivamente dissertativa, visto que a linguagem de
sinais difere significativamente da língua portuguesa, exigida em sua norma culta.
A instituição tem apenas 1 ano e 7 meses de existência, no entanto, já recebeu 33
alunos para a preparação avaliativa. Desses estudantes, 4 ingressaram no vestibular de
universidades particulares nos cursos de Estilismo e Moda, Terapia Ocupacional e Gestão de
Recursos Humanos. Os demais, que se direcionaram para as universidades públicas, não
obtiveram aprovação.
Numa sociedade onde as desigualdades são acentuadas, a avaliação tem caráter de
regulação dessas desigualdades (AFONSO, 2000). Nesse sentido, o vestibular tem sido
instrumento de regulação devido a seu caráter sistematizado, padronizado e controlador,
enquadramento que exclui a muitos. Assim, é importante que os docentes que sonham com
uma Educação Inclusiva abracem uma avaliação mais justa para com os saberes e a
capacidade da pessoa com surdez, atenta para suas limitações lingüísticas. O vestíbulo da
universidade pública, já estreito, se mostra quase intransponível, destruindo seu almejado
sonho de cursar o Ensino Superior e acentuando, dessa forma, a disparidade social.
3 METODOLOGIA
A revisão bibliográfica dos capítulos anteriores se reporta à história da Educação
Especial, no seu contexto sócio-político-cultural, e à avaliação educacional, com destaque
para a participação de pessoas com NEEs no vestibular da UFC. Essa reflexão foi
fundamentada na filosofia da inclusão, que almeja igualdade de oportunidades para as pessoas
com NEEs, seja no acesso aos diversos níveis de ensino, seja na atuação no mercado de
trabalho.
A determinação pela temática se configurou no interesse pelas particularidades da
surdez, principalmente no que se refere à linguagem e à natureza dos procedimentos seletivos
conforme uma perspectiva educacional inclusiva. Espera-se que esse trabalho ofereça uma
contribuição social, no sentido de favorecer reflexões acerca da integração de pessoas com
NEEs na universidade, em especial o surdo.
Para a realização desse estudo, procedeu-se a uma pesquisa de natureza
qualitativa, na forma de estudo de caso, no período de 2006.2, na cidade de Fortaleza-Ceará-
Brasil. Esse trabalho objetivou investigar as especificidades do vestibular da UFC para os
alunos surdos, dada a implementação de uma política educacional inclusiva nessa
universidade. Especificamente, intencionou analisar as adaptações da prova para o candidato
surdo, bem como os critérios adotados para a correção.
3.1 A pesquisa qualitativa e o estudo de caso
Ludke & André (1986) assinalam, na pesquisa qualitativa, a naturalidade
ambiental como fonte direta de dados e o pesquisador como principal instrumento de
investigação. Visto possuir caráter natural, direto e amplo, a pesquisa qualitativa tem sido a
principal abordagem de estudo nas ciências humanas, com crescente número de estudiosos.
Apesar de sua popularização, ainda há confusões referentes aos conceitos básicos e estrutura.
Na visão dos autores supracitados, esse tipo de investigação se caracteriza fundamentalmente
por apresentar: i) o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
instrumento principal; ii) serem os dados essencialmente descritivos; iii) possuir perspectiva
processual; iv) expressar a subjetividade dos sujeitos de pesquisa.
No que se refere ao ambiente, o pesquisador estabelece um contato direto com o
que busca investigar, compreendendo sua relação junto ao contexto. Nesse caso, o estudo
também se denomina naturalístico, devido a seu caráter espontâneo: a pesquisa ocorre sem
qualquer manipulação ou interferência do pesquisador. Os dados descritivos consistem em
detalhamento de informações coletadas no momento da entrevista; são considerados um
suporte valioso devido à riqueza de dados e a singularidade com que transcrevem a
comunicação, por meio de desenhos, situações ou acontecimentos.
O pesquisador prioriza o processo ao invés do produto final, com o intuito de
compreender como as atividades se desenvolvem e os problemas se instauram, buscando
correlacionar sua complexidade. De maneira peculiar, o pesquisador suscita, no sujeito
analisado, a expressão dos seus pontos de vista sobre o que está sendo estudado, método que
proporciona dinamismo e riqueza de dados.
Bogdan e Biklen (1994) relatam que um dos critérios primordiais da pesquisa
qualitativa é a análise indutiva dos dados. Para os autores, a pesquisa é apriorística e suas
hipóteses são formuladas e reformuladas de acordo com o transcorrer da investigação. Desse
modo, ela se desenvolve no sentido de “baixo para cima”, à medida que as informações são
agrupadas e inter-relacionadas, novos questionamentos são inferidos. A exemplo desse
pensamento, o estudo de caso configura referência, por se constituir como instrumento
científico que propicia a compreensão de critérios peculiares do objeto, possibilitando novas
interpretações de modo significativo.
O estudo de caso se respalda em particularidades, como a coleta sistemática de
dados acerca do objeto, seja pessoa, família, organização, dentre outros. Seu intuito é
conhecer o contexto social do analisado visando à tomada de decisão, justificativas ou
esclarecimentos (CHIZZOTTI, 2006).
37
A respeito da singularidade dessa ferramenta científica, Chizzotti (2006) ressalta
que:
Os estudos de caso visam explorar, desse modo, um caso singular situado na vida real contemporânea, bem delimitado e contextualizado em tempo e lugar para realizar uma busca circunstanciada de informações sobre o caso específico. O caso pode ser único e singular ou pode abranger uma coleção de casos, especificados por um aspecto corrente nos diversos casos individuais como, por exemplo, o estudo de particularidades ocorrentes em diversos casos individualizados (p. 136).
Para Good e Hatt (1968, apud Ludke & André, 1986):
O estudo de caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo. O interesse, portanto, incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente venha a ficar evidentes certas semelhanças com outros casos ou situações. Quando queremos estudar algo similar, que tenha um valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso (p.17).
Sua intenção é então conhecer particularmente o objeto de estudo. Dessa maneira,
a compreensão dos aspectos circundantes possibilita um olhar mais detalhado para a realidade
que se objetiva estudar, multidimensional e historicamente situado.
Ludke & André (1986) advertem que o estudo de caso, embora seja uma
conhecida ferramenta da pesquisa qualitativa, nem sempre se comporta dessa forma. Há
estudos de caso que não se subsidiam na flexibilidade, no ambiente natural e na riqueza de
informações; ao contrário, apresentam enfoques mais delimitados e objetivos. No entanto,
para este trabalho foi definido o estudo de caso especificamente qualitativo, pois: i) visa à
descoberta; ii) enfatiza a interpretação em contexto; iii) retrata a realidade; iv) baseia-se em
mais de uma fonte de informação; v) revela experiências específicas; vi) representa os
diferentes pontos de conflito presentes num determinado contexto social.
O estudo de caso qualitativo busca novos elementos para sua pergunta de partida,
atentando para componentes que apareçam durante o processo, mediadores de novos
questionamentos. Nesse sentido, [...] fundamenta-se no pressuposto de que o conhecimento
não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente. Assim, o
pesquisador estará sempre buscando novas respostas e novas indagações no desenvolvimento
do seu trabalho (LUDKE & ANDRÉ 1986, p.19). A interpretação contextualizada vincula o
estudo a um meio sócio-histórico-cultural, sendo compreendida como resultado dessas
38
condições. Logo, a situação problema deve ser estudada mediante a realidade vivenciada,
retratando-a, a fim de contemplar a multidimensionalidade dessas aquisições.
O pesquisador deve verificar diversas fontes: sejam bibliográficas, de campo,
dentre outras, para embasar seu estudo, abordando a situação-problema através de vários
aspectos. Nesse caso, a pluralidade de informações proporciona ao trabalho um banco rico de
dados. O investigador busca, ainda, atender as divergentes opiniões sobre o objeto de estudo
correlacionando-as entre si, bem como em relação às suas próprias opiniões. Embora a
experiência estudada seja pontual, o conteúdo da pesquisa pode ser generalizado a outras
situações semelhantes.
Nessa perspectiva, o olhar diferenciado e a ética profissional devem subsidiar todo
o processo de investigação científica, propiciando, ao estudo, confiabilidade. Para tanto, faz-
se necessário que o investigador amplie o conhecimento acerca da pesquisa e de suas
ferramentas de trabalho, como os instrumentos para coleta de dados.
3.2 A entrevista como instrumento de pesquisa
A entrevista assume um papel importante na pesquisa qualitativa devido a sua
natureza detalhada. Por meio dela, os sujeitos podem estabelecer uma relação participante, na
qual o discurso do entrevistado é espontâneo e o entrevistador, mediador da dialogicidade.
Segundo Rosa & Arnoldi (2006), esse instrumento de pesquisa qualitativa
possibilita uma interação entre os sujeitos da pesquisa, propiciando uma atmosfera de
confluência. Sua classificação está organizada em três dimensões: i) livre, ii) estruturada e iii)
semi-estruturada.
Nas entrevistas livres, o entrevistador não segue nenhum roteiro de perguntas.
Nesse caso, o respondente discursa livremente sobre o assunto abordado. Noutro sentido, as
entrevistas estruturadas, já se submetem a indicações pelo pesquisador de maneira rígida e
uniforme. Quanto à semi-estruturada, esta é considerada um instrumento flexível, pois se
39
utiliza tanto de materiais prévios quanto de discurso aberto. Para Bogdan e Biklen (1994),
essa modalidade de entrevista propicia a obtenção de dados comparáveis entre os sujeitos,
possibilitando a inferência de questionamentos de maneira clara, objetiva e detalhada.
Diante dessas reflexões, pode-se concluir que o instrumento que melhor se
coaduna ao caráter flexível e espontâneo dessa pesquisa monográfica é a entrevista semi-
estruturada. Para Rosa & Arnoldi (2006), as entrevistas possibilitam uma riqueza de
informações; proporcionam indagações no decorrer das perguntas e respostas; promovem
acesso a informações de difícil observação; destacam-se pela intimidade e confiabilidade do
processo. Ludke & André (1986) confirmam essa concepção, ao afirmarem que: [...] a grande
vantagem da entrevista sobre outras técnicas é de que ela permite a capacitação imediata e
corrente de informações desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os
mais variados tópicos (p.34).
Sobre a entrevista semi-estruturada, Bogdan e Biklen (1994) destacam o caráter
flexível, observando que o investigador deve se utilizar da maleabilidade no momento do
diálogo. Caso haja incompreensão da temática pelo respondente, cabe ao entrevistador agir
com neutralidade e objetividade nos esclarecimentos para que as respostas não sejam
direcionadas. Nessa perspectiva, os autores esclarecem: [...] Ser flexível significa responder à
situação imediata, ao entrevistado sentado à sua frente e não há um conjunto de
procedimentos ou estereótipos predeterminados (p.137).
Dessa forma, a entrevista constitui um subsídio que proporciona, ao pesquisador,
aprendizagem sobre o objeto de estudo, além de respaldo científico. Através dela, múltiplos
olhares podem ser direcionados ao que se propõe estudar, propiciando questionamentos
significativos e competência experimental.
40
3.3 Amostra
Foi consultado um membro da Comissão Coordenadora do Vestibular (CCV) da
UFC, do sexo feminino, responsável pela correção das provas de Português e Literatura há
três anos.
3.4 Coleta dos dados
A coleta dos dados foi realizada na UFC, no gabinete da referida professora,
mediante ofício emitido pela orientadora dessa pesquisa. As entrevistas foram realizadas em
dia e horários agendados antecipadamente no período de dezembro de 2006 a janeiro de 2007.
O relato foi registrado com auxílio de um gravador Mini Cassete Recorder RQ-L11
Panasonic. No contato inicial com o sujeito, informaram-se os objetivos e a importância da
pesquisa e foi assegurado o sigilo dos dados obtidos através da assinatura de termo de
consentimento livre e esclarecido.
3.5 Instrumento
Para a coleta de dados, foi empregado um roteiro de entrevista semi-estruturado,
construído com base na literatura especializada. Os seguintes questionamentos foram
realizados: i) Qual a sistemática do vestibular para as pessoas surdas? ii) Há adaptações para o
aluno surdo? Como são? iii) Quais os critérios adotados para esses candidatos? iv) O concurso
vestibular respeita cotas para pessoas deficientes? v) O que a CCV tem feito em relação ao
vestibular desse alunado e, na sua visão, o que pode fazer? A finalidade dessas perguntas
consiste em compreender a sistemática do processo de seleção para o ingresso de alunos
surdos no concurso vestibular, de acordo com a filosofia da educação inclusiva.
41
3.6 Análise dos Dados
Os dados obtidos na entrevista foram tratados a partir da técnica de análise de
conteúdo. De acordo com Krippendorff (1980 apud Ludke & André 1986), [...] caracteriza-se
como uma técnica de pesquisa utilizada para fazer inferências válidas e aplicáveis de dados
no determinado contexto (p.41). Nesse sentido, o método investiga simbolicamente as
mensagens coletadas, seja na forma de palavras, frases, sentenças ou textos categorizando-as
em subdivisões. O intuito é agrupar o semelhante a fim de decodificações mais legítimas e
interpretações mais claras.
Logo, o pesquisador deve atentar para a recorrência do assunto investigado no
discurso do entrevistado. A regularidade de falas deve ser agrupada e categorizada de acordo
com o propósito da pesquisa. Para assegurar confiabilidade, a análise deve ser subsidiada nos
critérios de homogeneidade, coerência, inclusividade, imparcialidade e plausibilidade,
conforme os princípios estabelecidos pela ética. Dessa forma, os objetivos da pesquisa serão
alcançados e as interrogações compreendidas, porém novos questionamentos e inferências
surgirão, fomentando novas investigações.
4 ANÁLISE DOS DADOS
Mediante o relato do sujeito entrevistado, podê-se melhor compreender acerca da
sistematização do vestibular para pessoas com NEEs, em especial o surdo, além de
possibilitar a construção de questionamentos críticos e consistentes acerca do que a UFC vem
promovendo para adaptação do aluno com NEEs, dada a política de inclusão educacional. A
análise de conteúdo realizada nessa investigação categorizou os seguintes elementos ou
sentidos como os mais relevantes do discurso: a) especificidades da LIBRAS; b) adaptações
no vestibular; c) legislação e d) correção e aprovação.
No que se refere a LIBRAS, a língua se originou a exemplo do modelo francês de
Michel de I'Epée, que apresentava uma linguagem manual. Embora sua contextualização no
Brasil seja oriunda da década de 1960, seu respaldo legislativo foi oficializado apenas em 24
de abril de 2002 mediante a Lei Federal N° 10.436, no seu artigo 4º, que dispõe:
O sistema educacional federal e sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente (BRASIL, 2002).
Nesse sentido, compreende-se a importância da LIBRAS para as pessoas com
deficiência auditiva e de suas peculiaridades como linguagem complexa, mas que viabiliza a
comunicação em suas diversas dimensões. No que concerne às suas singularidade, é relevante
ressaltar ser composta de elementos pertinentes às línguas orais, como fonologia, morfologia,
sintaxe e semântica. No entanto, a atemporalidade verbal e a ausência de conectivos são
aspectos específicos que a diferenciam da Língua Portuguesa tradicional.
Em virtude dessas especificidades, o concurso vestibular se configura como um
mecanismo avaliativo inadaptado à realidade dos alunos com deficiência auditiva. Dada a
exigência da Língua Portuguesa em sua forma culta, os candidatos surdos apresentam muitas
dificuldades, terminando por não obter aprovação no exame. Logo, diante de uma política de
43
direitos iguais, urgem adaptações que eliminem as disparidades entre candidatos com e sem
NEEs.
Para Magalhães (2003), a linguagem tem papel importante na constituição do ser
social, principalmente porque identifica os indivíduos como seres racionais, socializando-os
em comunidades. Nesse sentido, a LIBRAS apresenta singular importância na comunicação e
identificação das pessoas com surdez, visto o seu caráter viso-motor distintivo. No entanto,
esses alunos estabelecem uma relação de dificuldades quanto ao desenvolvimento da Língua
Portuguesa, exigida em avaliações e concursos, o que cerra, em diversas situações, a inserção
no espaço acadêmico.
Essa realidade é evidenciada no relato da entrevistada, quando ressalta:
Quando ele tem problemas na leitura, porque, às vezes, a língua tem as suas especificidades, cada língua tem suas dificuldades. A LIBRAS tem as suas especificidades, a Língua Portuguesa tem as suas. O que acontece? Ele tem o intérprete à disposição dele, que lê as questões, as alternativas. Mas isso varia de surdo para surdo, porque existem aqueles que dominam a Língua Portuguesa, a leitura. Ele compreende o que lê. Os oralizados principalmente.
Reafirma ainda que: Quando ele vai escrever algo na língua portuguesa, que ele
vai ter a influência da LIBRAS e tal. Mas ele não escreve, ele só marca. Então, ele lê e
marca.
Diante da avaliação, os alunos surdos encontram grandes barreiras referentes à
interpretação e resolução do exame. A amplitude da língua vernácula é obstáculo para aqueles
que se aventuram ao vestibular, pois esbarram no desafio de associar os vocábulos maternos a
LIBRAS. Assim, a complexidade lingüística dificulta o processo de sistematização e
coerência de idéias acarretando a reprovação. A depoente então declara: Não existe nenhum
surdo efetivamente que tenha passado na segunda fase, infelizmente.
Nesse contexto, Sobrinho (2003) ressalta a avaliação como um instrumento
classificatório e segregador, no qual o conceito de inteligência remete ao êxito, e este, a uma
nota ou pontuação. Perrenoud (1999) acrescenta ainda que o exame se configura como uma
ponte de acesso à universidade pública, mas que, em diversas circunstâncias, torna-se
44
instransponível devido ao seu caráter formal e quantitativo. Logo, o processo de
aprendizagem se torna acumulativo e desvinculado, propiciando uma educação voltada para a
acomodação e o engessamento.
A disparidade de condições para uma justa concorrência, entre pessoas com e sem
NEEs, é realçada quando os discentes com surdez são submetidos aos mesmos critérios de
avaliação dos ouvintes, quanto ao uso da Língua Portuguesa. Nesse caso, Chomsky (1994)
salienta que os alunos ouvintes por utilizarem, em sua linguagem, os processos verbais e não-
verbais, usufruem vantagens sobre os alunos surdos, com exceção dos que são oralizados e
possuem certo domínio do Português.
Diante do déficit, o desenvolvimento da fala é prejudicado. Logo, a ausência dos
efeitos da linguagem verbal sobre a cognição acarreta na dificuldade de aprendizagem e
diminui as oportunidades de integração social, convergindo para a exclusão de oportunidades.
O vestibular, portanto, configura-se como uma avaliação que privilegia a adequação do
conhecimento pela via da oralidade, o que exclui a muitos. Por conseguinte, faz-se necessária
a utilização de alternativas que reduzam a disparidade entre surdos e ouvintes. Quanto à
dificuldade lingüística, a entrevistada relata: [...] é na segunda fase que esse problema,
digamos assim, apareceria. Porque é nas provas específicas que eles têm que escrever e a
prova de redação que ele tem que produzir um texto. Mas, na primeira, ele só faz marcar.
Nessa perspectiva, são imprescindíveis metodologias de apoio que colaborem para
a inserção desses alunos no patamar acadêmico. No caso da UFC, por exemplo, as estatísticas
revelam que o índice de surdos aprovados nos vestibulares de 2004 a 2006 foi nulos, com
exceção de 01 aluno oralizado (MOURA, 2006). Desse modo, mecanismos adaptativos
devem ser, portanto, sistematizados para que a inclusão seja uma realidade de fato. No
entanto, o que se verificou foi a inexistência desses aspectos, embora a entrevistada tenha
apregoado que: [...] um dos objetivos da comissão é o de analisar essas provas.
Ainda que o número de candidatos surdos tenha aumentado, a CCV ainda não
tomou nenhuma providência no intuito de harmonizar a disparidade entre o teste e a realidade
desse alunado, referentes a adaptações do exame, conforme esclarece a entrevistada: Quanto
às adaptações, nós já pensamos, já conversamos, já fizemos várias reuniões com várias
45
instituições dos surdos em termos de adaptação de correção da segunda etapa, mas ainda
não tivemos nenhum aprovado na segunda etapa. Oferta-se, ao candidato, apenas o
respaldado por lei: uma hora a mais de duração do exame e a presença do intérprete. Nesse
sentido, esclarece: Quando o candidato surdo se inscreve no vestibular [...] ele próprio faz o
requerimento, informa que é surdo e pede um intérprete em LIBRAS. É um direito que ele
tem. Isso é feito para todos os surdos. Eles têm direito na prova geral a isso, assim como uma
hora a mais.
Compreender o processo de adequação do vestibular para os alunos surdos é
imprescindível para a concretização de uma política educacional que valorize as diferenças,
propiciando igualdade de acesso ao Ensino Superior. Afonso (2000), portanto, acrescenta que
diante de uma sociedade das desigualdades, a avaliação funciona como filtro dessas
desigualdades, que de forma autorizada segrega o diferente. Nesse aspecto, o vestibular tem
se configurado instrumento tanto de regulação devido a seu caráter sistematizado,
padronizado e controlador, quanto de enquadramento, pois exclui a muitos. Logo, que a
Educação Inclusiva possa de fato ser compreendida e legitimada como uma política do direito
ao saber.
A legislação assegura atendimento especificado para o alunado com NEEs,
resguardando o direito a um profissional de apoio na hora do exame, contratado conforme a
dificuldade do candidato, seja de leitura ou interpretação, além do acréscimo de uma hora à
duração do teste. Esses estatutos são rigorosamente atendidos pela CCV, a qual salienta a
importância do cumprimento da lei Nº. 7.853 de 24 de Outubro de 1989 e o Art. 27 inciso I e
II do Decreto 3.298 de dezembro de 1999 (BRASIL, 1995) em suas diversas dimensões.
Moura (2006) relata que atender a legislação tem sido objetivo da universidade que tem
repensado em métodos que contribuam de maneira específica para o processo de inclusão.
Acerca disso, a entrevistada comenta:
Eles têm ambientes separados. Os surdos, os cegos, as gestantes todos eles têm atendimento especial. Eles não ficam na sala de aula com todos os alunos. Eles têm atendimento especial. Em geral, é no próprio PICI que funciona o atendimento especial, tem salas específicas para eles, principalmente para os surdos, para os cegos.
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Para a entrevistada, a CCV se respalda no cumprimento da seguinte lei: A única
lei que eu conheço é a que diz que eles têm direito a uma hora a mais e eles já têm, na CCV,
uma hora a mais. Tanto o surdo como o cego têm direito a atendimento especial como a uma
hora a mais garantida por lei. Esses alunos recebem atendimento diferenciado em virtude do
déficit que apresentam, observadas no maior período de tempo oferecido no momento da
avaliação. Apesar das políticas inclusivas e do respaldo legislativo de integração, as portas da
universidade ainda estão praticamente cerradas para a classe de alunos surdos que almejam o
Ensino Superior.
Nessa perspectiva, são imprescindíveis políticas educacionais significativas que
contribuam para o processo de inserção desse alunado, seja a exemplo da área profissional -
que delimita cotas de acesso em concursos públicos - ou outras medidas a serem dialogadas.
Sobre as cotas, a entrevistada esclarece: Não conheço nenhuma lei nesse aspecto. Cota para
surdo, não tem não. [...] e mais, a universidade ainda não adotou o sistema de cotas.
Na UFC, o exame vestibular segue uma padronização cujo objetivo é a
imparcialidade: nesse caso, o teste é sigilado e corrigido de forma computadorizada. Logo, os
alunos que se submetem à avaliação, sejam pessoas com NEEs ou não, estão sob os mesmo
critérios de concorrência, na qual o conhecimento é considerado de acordo com o número de
questões acertadas. Nesse caso, a correção é realizada: [...] no computador. Então, não tem o
que fazer. Porque não existe nenhum que passou na segunda fase, infelizmente.
Assim, a universidade representa, para muitos, um ideal inalcançável visto a
disparidade observada entre o número de inscritos e aprovados no vestibular. Em face dessa
problemática, é importante a existência de reflexões que suscitem questionamentos a fim de
garantir reais oportunidades às pessoas com NEEs, em especial ao surdo, no ingresso ao
Ensino Superior.
Como ressalta a entrevistada:
[...] o objetivo da comissão é analisar essa provas. Não pensamos ainda, já que não passou ninguém, mas a gente pensa uma forma de correção, obedecendo obviamente os demais critérios, pois é um concurso, então tem que ser os mesmos critérios. Mas a gente pensa como analisar o conteúdo deles, como eles se saíram.
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Logo, a ausência de adaptações e a impossibilidade de acesso ao Ensino Superior,
em contradição a uma política educacional inclusiva revelam a exclusão do diferente,
sobretudo o surdo, no contexto acadêmico. Diante do explicitado, fica claro que a legislação
não garante a igualdade de direitos, visto o estigma da incapacidade ainda ser predominante.
Desse modo, urge a desconstrução de rótulos da inutilidade para uma política de valorização
de potencialidades e diferenças.
CONCLUSÃO
A deficiência tem, com o passar do tempo, encontrado lugar de destaque entre
pesquisadores biomédicos e educadores que intencionam, de forma geral, o desenvolvimento
de tecnologias e métodos que minimizem o preconceito e os estigmas provenientes do déficit
(CARVALHO, 2000).
Para equilibrar as diferenças, em 1994, na Cidade de Salamanca, na Espanha,
chefes de estado se reuniram com o intuito de validar leis que assegurassem os direitos
daqueles tão excluídos socialmente, no caso, as pessoas com NEEs. O estatuto determinava
direitos iguais referentes à educação e ao desporto. Logo, o Estado deveria responder quanto à
garantia dessas resoluções mediante fiscalizações e decretos-leis (MAZZOTA,1996).
A LDB (1996), por exemplo, ampliou a noção de deficiência para um patamar de
aprendizagem interativa, quando investiu na inclusão. Embora a inadequação cedesse lugar à
competência instituída na relação com o outro, o que se constata, ainda, é a exclusão do
diferente, principalmente no contexto educacional. Nesse sentido, verifica-se a existência de
instituições estruturalmente inadequadas e profissionais despreparados para lidar com essa
clientela.
Apesar do direito a uma educação de qualidade, os alunos com NEEs, em especial as
pessoas com deficiência auditiva, esbarram em obstáculos muitas vezes instransponíveis, que
acirram a desigualdade social e frustram o direito ao Ensino Superior e à profissionalização.
Dentre as dificuldades, destaca-se então o vestibular.
Como concurso, o vestibular da UFC estabelece normas padronizadas, a que
todos os candidatos se submetem, inexistindo adaptações de questões que atendam às NEEs
do aluno surdo. Esse procedimento visa garantir a imparcialidade e validade do exame, mas
termina por prejudicar o surdo, que apresenta dificuldades significativas no domínio da
Língua Portuguesa, especialmente no uso de conectivos e tempos verbais, com decorrentes
obstáculos para a redação e interpretação de texto.
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Mesmo que a UFC esteja cumprindo as determinações exigidas por lei,
oferecendo intérpretes para a leitura no momento de aplicação do exame (MOURA, 2006),
são necessárias adaptações na elaboração e correção dos testes a fim de promover a efetiva
igualdade de concorrência entre surdos e ouvinte. Para esse propósito, debates e estudos
acerca da temática vêm sendo levantados, juntamente a instituições como CAS e ICES, a fim
de constituir uma verdadeira política educacional inclusiva. Por enquanto, a inadequação do
exame torna o êxito quase impossível, colaborando para segregar ainda mais as pessoas com
NEEs.
Constata-se, desse modo, a premência de adaptações, no vestibular da UFC, para
avaliar de forma apropriada os saberes do candidato surdo, considerando suas NEEs. Caso
contrário, o processo seletivo se tornará cada vez mais inacessível, cerrando-se por fim o já
estreito pórtico de acesso, para essa clientela, ao Ensino Superior. Urge romper o silêncio no
sentido de promover discussões amplas e abertas, com a comunidade acadêmica, de modo a
delimitar uma seleção justa para esse alunado. Uma avaliação que atenda as sua
singularidades é uma forma de inclusão social e cumprimento da lei.
Nessa perspectiva, o vestibular ainda configura um pórtico semicerrado,
praticamente inacessível para o aluno surdo. Transpor o vestíbulo da universidade, em
especial a pública, constitui mais uma barreira a diminuir suas oportunidades no mercado de
trabalho, ratificando assim a exclusão em detrimento da almejada inclusão educacional. A
realidade universitária, por conseguinte, é pautada na segregação, sendo o surdo ainda
considerado socialmente incapaz ou improdutivo, com o conseqüente desperdício de seu
potencial.
Nessas circunstâncias, faz-se imprescindível uma reestruturação avaliativa, na
qual a estratificação ceda lugar à emancipação. Desse modo, ao implementar uma política
legitimamente inclusiva, com uma avaliação direcionada para a promoção dos alunos surdos,
os pilares da solidariedade, justiça e igualdade social serão efetivamente alcançados.
50
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