identidade profissional e planejamento de carreira...

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IDENTIDADE PROFISSIONAL E PLANEJAMENTO DE CARREIRA: DEFININDO TRAJETÓRIAS ACADÊMICAS E PROFISSIONAIS. RESUMO A globalização trouxe inúmeras mudanças no modo de produção, comunicação e qualificação profissional. A busca de uma garantia de emprego levou muitos a procurar os cursos universitários, acreditando que só o diploma faria o diferencial. Ao saírem da Universidade muitos formandos se vêem sem perspectivas, não conseguindo se colocar no mercado de trabalho, na profissão para a qual se graduaram, por não terem clareza de seu perfil profissional. Essa intervenção tem como objetivo identificar a validade do desenvolvimento de um trabalho psicoprofilático no processo de transição entre a formação acadêmica e uma atividade laboral, num contexto institucional. É uma pesquisa qualitativa, do tipo descritiva e exploratória, que foi realizada na Universidade Católica Dom Bosco, no Programa de Assistência à Saúde do Acadêmico (A.S.A). Os participantes foram acadêmicos das áreas de Exatas, Agrárias e Humanas que estavam respectivamente no início, no final e no meio, de seus cursos. Os instrumentos utilizados foram entrevistas, observação, Inventário Psicodramático de características Pessoais (IPCP) e o Questionário de Avaliação das Oficinas de Planejamento de Carreira. A metodologia utilizada foi oficinas de grupo, com três encontros em cada grupo, analisadas em todos os seus momentos. A análise dos resultados demonstrou que os acadêmicos não estão suficientemente maduros para delinear um perfil profissional, ainda buscam uma ocupação, não se preocupando com o planejamento da carreira, nem tomando iniciativas para sua futura empregabilidade. Para que esse seja um trabalho preventivo, há a necessidade de que essa proposta seja implantada e implementada nas políticas institucionais e/ou como disciplina curricular ou como curso extracurricular. Descritores: identidade profissional; planejamento de carreira; empregabilidade.

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IDENTIDADE PROFISSIONAL E PLANEJAMENTO DE

CARREIRA: DEFININDO TRAJETÓRIAS ACADÊMICAS E

PROFISSIONAIS.

RESUMO

A globalização trouxe inúmeras mudanças no modo de produção, comunicação e qualificação profissional. A busca de uma garantia de emprego levou muitos a procurar os cursos universitários, acreditando que só o diploma faria o diferencial. Ao saírem da Universidade muitos formandos se vêem sem perspectivas, não conseguindo se colocar no mercado de trabalho, na profissão para a qual se graduaram, por não terem clareza de seu perfil profissional. Essa intervenção tem como objetivo identificar a validade do desenvolvimento de um trabalho psicoprofilático no processo de transição entre a formação acadêmica e uma atividade laboral, num contexto institucional. É uma pesquisa qualitativa, do tipo descritiva e exploratória, que foi realizada na Universidade Católica Dom Bosco, no Programa de Assistência à Saúde do Acadêmico (A.S.A). Os participantes foram acadêmicos das áreas de Exatas, Agrárias e Humanas que estavam respectivamente no início, no final e no meio, de seus cursos. Os instrumentos utilizados foram entrevistas, observação, Inventário Psicodramático de características Pessoais (IPCP) e o Questionário de Avaliação das Oficinas de Planejamento de Carreira. A metodologia utilizada foi oficinas de grupo, com três encontros em cada grupo, analisadas em todos os seus momentos. A análise dos resultados demonstrou que os acadêmicos não estão suficientemente maduros para delinear um perfil profissional, ainda buscam uma ocupação, não se preocupando com o planejamento da carreira, nem tomando iniciativas para sua futura empregabilidade. Para que esse seja um trabalho preventivo, há a necessidade de que essa proposta seja implantada e implementada nas políticas institucionais e/ou como disciplina curricular ou como curso extracurricular.

Descritores: identidade profissional; planejamento de carreira; empregabilidade.

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Monografia apresentada à Banca Examinadora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), por TÂNIA APARECIDA PALHARES COUTINHO, intitulada “IDENTIDADE PROFISSIONAL E PLANEJAMENTO DE CARREIRA: DEFININDO TRAJETÓRIAS ACADÊMICAS E PROFISSIONAIS”, como exigência para obtenção do título de Psicólogo.

____________________________________ Profª Msc. Kátia Regina Bazzano da Silva Rosi (UCDB)

(Orientadora)

____________________________________ Profª Drª Lucy Nunes Ratier Martins (UCDB)

(Examinadora)

____________________________________ Proª Msc. Helen Paola Vieira (UCDB)

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(Examinadora)

1 INTRODUÇÃO

O interesse por esse tema surgiu no final de 2007 ao desenvolver um grupo

temático denominado Desenvolvimento Pessoal e Profissional, com acadêmicos da área

da saúde matriculados nesta instituição. Ao iniciar o Estágio Obrigatório no Programa

Atenção à Saúde do Acadêmico (ASA), resolvi ampliar o trabalho que já havia

realizado, adotando uma proposta para identificar o perfil e identidade profissional dos

acadêmicos. As razões que levaram a delimitar esse tema de pesquisa se relacionam às

dificuldades encontradas pelos recém graduados em ingressarem no mercado de

trabalho.

O grande desafio encontrado nessa proposta foi aplicar os conceitos da

Psicologia Organizacional e do Trabalho numa interface com a Psicologia Escolar ao

contexto do Ensino Superior.

Vivemos um momento caracterizado por incertezas onde se confundem

interesses econômicos, políticos e educacionais. A globalização trouxe consigo a era da

informação onde o conhecimento se torna cada vez mais volátil, exigindo do

profissional atualização constante, competências diversificadas e principalmente

empregabilidade.

A procura pelo ensino superior aumentou muito nas últimas décadas. Porém, o

que se observa é que os universitários estão despreparados para enfrentar o mercado de

trabalho e encontram dificuldades em desenvolverem suas carreiras. O diploma

universitário não é mais garantia de emprego, pois o mercado de trabalho exige

competências que não são ensinadas na Universidade. O que chama a atenção é que os

jovens não são preparados para o mercado de trabalho, e sim para uma profissão

específica.

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As Instituições de Ensino Superior do Brasil não oferecem uma formação que

dê suporte para que o acadêmico adquira competências básicas para o desenvolvimento

profissional. Muitos acadêmicos ao concluírem sua formação não sabem como se

apresentar numa entrevista, preparar um currículo, nem mesmo quais são as

competências exigidas na sua profissão. No Brasil essa preocupação começa a emergir.

Entretanto, muito ainda tem que ser pensado e realizado.

A pesquisa realizada serviu para aprimoramento em vários níveis, pessoal,

profissional e social. Principalmente para aperfeiçoar planos futuros de trabalho, e

também, é conveniente citar, para uma identidade profissional sólida e o planejamento

de carreira.

Os temas abordados neste trabalho estão dispostos em vários capítulos.

O capítulo dois – Fundamentação teórica – apresenta a evolução da educação e

o ensino universitário.

No capítulo três, são abordados o conceito de trabalho, as mudanças no

mercado de trabalho, competências e empregabilidade.

O capítulo quatro aborda a carreira, dentro de seus aspectos principais:

conceitos, evolução, planejamento, desenvolvimento e âncoras de carreira. Dentro desse

capítulo ainda estão inseridos os principais conceitos do Inventário Psicodramático de

Características Pessoais (IPCP), de Fabiana Silveira Martins.

No capítulo cinco, são apresentados os objetivos geral e específicos.

O capítulo seis descreve o método utilizado, especificando o tipo de pesquisa, o

local, participantes, procedimentos, os recursos, materiais e instrumentos.

No capítulo sete, são apresentados os resultados e discussão. É feita uma

descrição de alguns momentos de cada encontro realizado com os participantes das

áreas de Exatas, Agrárias e Humanas. A discussão se faz comparando o rendimento dos

grupos dessas áreas.

No capítulo oito, estão as considerações finais, nas quais se faz a proposta de

implementação desse trabalho. A seguir se encontram as referências bibliográficas que

fundamentaram essa pesquisa e os apêndices.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 EDUCAÇÃO

Saviani (apud GONDIM, 2002) lembra que historicamente a educação teve seu

início na antiguidade com o surgimento da propriedade privada. A educação era

privilégio dos donos das propriedades, e tinha como finalidade a formação de lideranças

políticas e militares. Com o surgimento das cidades, aparecem novas demandas de

produção e, com isso, a educação assumiu a função de formar cidadãos cientes de seus

direitos e deveres. Sendo assim, “os trabalhadores que dispusessem de uma

escolarização básica estariam mais habilitados intelectualmente a lidar com a

complexidade crescente do sistema produtivo” (p. 299).

No século XIX a industrialização modificou os processos de produção. A

subjetividade do trabalho passou a ser desconsiderada. O homem teve que produzir cada

vez mais, em tarefas repetitivas, ficando privado de uma educação melhor (FIOD, s/d).

A produção crescente levou à necessidade de uma mão de obra mais

especializada, o que requeria especificações técnicas. Os avanços tecnológicos, as

transformações científicas e econômicas exigiram que cada vez mais o trabalhador

buscasse conhecimentos que o capacitassem ao mercado de trabalho (GONDIM, 2002).

O que hoje se observa é um avanço tecnológico e científico acelerado, nunca

visto antes na história, exigindo do trabalhador atualização constante. A educação

básica e intermediária não garante mais uma colocação no mercado de trabalho, levando

às pessoas a buscarem graus de formação mais elevados (GONDIM, 2002).

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2.2 FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

A Universidade surge numa época de transição entre o feudalismo e o

renascimento, marcado pela busca da liberdade de agir e de pensar. Originalmente era

voltada a atender às necessidades do feudalismo. Nessa época, não apresentava interesse

em avançar no conhecimento científico (BARROS; LEHFELD, 2007).

A partir do Renascimento, a Universidade se reestrutura para atender às

exigências do liberalismo e da industrialização, e se guia pela pesquisa empírica,

satisfazendo os anseios da burguesia. França, Inglaterra e Alemanha implantam

pesquisas voltadas à superação de problemas, dentro de um paradigma de racionalidade

e experimentalismo (BARROS; LEHFELD, 2007).

No Brasil os cursos superiores foram criados para impulsionar o

desenvolvimento e formar elites. O primeiro curso superior surge em 1808,

reproduzindo o modelo europeu. Na década de 30 ocorre uma mudança nesse sistema e

a Universidade brasileira passa a ser vista como um centro livre de debates ou idéias

(LUCHESI, apud BARROS; LEHFELD, 2007).

Nos últimos anos houve um aumento da abertura de novos cursos, em

Universidades particulares em todo o Brasil. Esse é um reflexo mundial, denominado

ensino superior de massa. Com isso, adentra no mercado de trabalho um contingente

maior de futuros trabalhadores sem perspectivas de emprego, totalmente despreparados

(NUNES et al 2002).

Nunes (2006) critica o fato de no Brasil o ensino superior estar atrelado à

profissionalização, o que acarreta uma visão de mundo simplificada e leva à

profissionalização precoce. Jovens entre 15-16 anos, cursando o ensino médio, são

estimulados a escolher uma profissão futura, optar por um curso de graduação, quando a

escolha deveria ser pelo saber.

Conforme Oliveira (2007), o panorama que hoje se apresenta é que se por um

lado os universitários encontram dificuldades de desenvolverem suas carreiras, por

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outro lado as Universidades brasileiras não oferecem uma formação que dê suporte para

que o acadêmico adquira as competências básicas para o desenvolvimento profissional.

Os acadêmicos alegam que o ensino universitário está obsoleto, pois o

conteúdo ensinado não apresenta nexo com os processos educacionais, pessoais,

técnicos e científicos. Já as instituições afirmam que a massificação do ensino exige

uma gestão empresarial, pelos altos custos por aluno. A tendência nos próximos anos é

que o aprendizado se torne um processo longo, exigindo idas e vindas à Universidade.

Diante de um conhecimento que cresce e se multiplica, o conceito de Universidade

precisa ser revisto (NUNES et al, 2002).

A UNESCO, em documento resultante das discussões empreendidas durante a

Conferência Mundial sobre Ensino Superior do século XXI, destacou como missão da

Universidade a cooperação com o mundo do trabalho e a preocupação com as

necessidades sociais. O referido documento destaca os princípios que devem guiar a

Universidade: o ensino superior deve garantir a igualdade de acesso; ensino

diversificado que prepare os estudantes para a globalização e internacionalização; maior

comunicação entre o mundo do trabalho buscando qualificar os estudantes dentro das

competências requeridas, garantindo a integração entre a formação e a prática

profissional; atenção às qualificações sociais e desenvolvimento da personalidade;

preparar os estudantes para ter uma maior clareza do que esperar do mercado de

trabalho, respondendo às necessidades e novos desafios (VALORI, 2005).

Conforme Teixeira e Gomes (2004), muitos jovens ao terminarem o curso

universitário não conseguem ingressar no mercado de trabalho da profissão escolhida.

Hoje o que se observa é que o diploma universitário não é mais garantia de emprego, as

exigências vão além de uma formação específica. A transição entre a formação e o

mercado de trabalho pode ser avaliada a partir do grau de comprometimento do

indivíduo com a profissão escolhida, o quanto houve de envolvimento com as atividades

da formação e preparação. O que caracteriza essa transição é que ela é um momento de

antecipação, e não a realização de um projeto. Para os autores citados, isso “faz com

que os jovens sintam-se um tanto sem referências para dar sustentação ao seu senso de

identidade: não mais estudantes, mas ao mesmo tempo não ainda profissionais” (p.58).

Valori e Ramos (2001) destacam que os fundamentos para a essência da

identidade profissional são consolidados na Universidade, em que o acadêmico deixa

um projeto idealizado de profissão para um projeto mais realista. Isso requer

amadurecimento e crescimento pessoal. A Universidade desempenha um importante

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papel nesse crescimento, cabendo-lhe incentivar a autonomia desse jovem, oferecer uma

formação capaz de transformá-lo em um adulto saudável e responsável, em condições

de transformar sua realidade.

Gondim (2002), em pesquisa realizada com estudantes universitários

graduandos de diversos cursos, identificou que no momento da escolha do curso muitos

desconhecem a realidade do mercado. Os estudantes não conseguem delimitar sua

identidade profissional por não terem claro quais as competências e habilidades que

foram adquiridas. Para a autora, a fragilidade em definir um perfil profissional contribui

para a insegurança profissional repercutindo no mercado de trabalho. A percepção dos

estudantes é de que há um descompasso entre a teoria e a prática quanto à preparação

para a profissão. Dessa forma, a formação universitária torna-se insuficiente para

atender a demanda exigida pelo mercado de trabalho. Diante dessa insegurança, muitos

estudantes buscam a pós-graduação tentando definir um perfil profissional, adiando a

entrada no mercado de trabalho.

3 TRABALHO

A palavra trabalho vem de tripalium, um instrumento romano formado por três

estacas cravadas no chão, que era utilizado para tortura. Dessa palavra derivou o verbo

tripaliare, que significava torturar.

No dicionário Michaelis on-line, o verbo trabalhar é definido como: exercer a

sua atividade para fazer ou executar alguma coisa; fatigar com trabalho; empenhar-se,

esforçar-se; lidar; desempenhar suas funções; exercer seu ofício; funcionar, mover-se;

lavrar; manipular; atuar; concorrer; cogitar, pensar; atormentar, inquietar. Trabalho é

definido como: exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa;

esforço, labutação, luta; aplicação da atividade humana a qualquer exercício de caráter

físico ou intelectual; incômodo, infortúnio, tormento; tipo de ação pelo qual o homem

atua de acordo com certas normas sociais, sobre uma matéria, a fim de transformá-la.

Para Dejours (2004), o trabalho tem significados diferenciados para cada

pessoa, podendo representar relação social, emprego, e ainda uma atividade de produção

social. Avaliado pelo olhar clínico, supõe um engajamento do corpo; atividade que

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mobiliza a inteligência, interpretação e reação diante de situações; capacidade de sentir

e ser criativo; investimento da personalidade em resposta a tarefa sob pressão, ou seja, o

que o sujeito deve acrescentar às prescrições, seja material ou pessoal, para cumprir o

que lhe foi determinado.

O trabalho não pode ser delimitado a um espaço físico e um tempo específico,

considerando que ultrapassa esses limites ao atingir a subjetividade, mobilizando a

personalidade integralmente. Dejours (2004) descreve que o trabalho não é só uma

atividade é também uma forma de relação social, se desdobra num mundo hierarquizado

em que a atividade não é somente um objetivo real, passa pelas relações de poder. Dessa

forma, “[...] trabalhar é fazer a experiência da resistência do mundo social; e, mais

precisamente, das relações sociais, no que se refere ao desenvolvimento da inteligência

e da subjetividade” (p. 31).

Nas palavras de Robbins (2005, p. 19), “os trabalhadores percebem que o

trabalho vem tomando cada vez mais espaço de suas vidas pessoais e não estão

satisfeitos com isso”. O equilíbrio entre vida pessoal e profissional tornou-se mais

importante que a segurança no emprego, não só dos que estão inseridos no mercado de

trabalho, mas para os futuros trabalhadores, que consideram ser esta a principal meta na

carreira profissional.

3.1 MERCADO DE TRABALHO

Ao final do século XX começamos a experimentar mudanças constantes na

economia mundial. Conforme Chanlat (1996), após a Segunda Guerra Mundial houve

uma expansão do mercado de produtivo que durou cerca de 30 anos, sendo marcado por

crescimento ininterrupto, enriquecimento e melhoria das condições de vida. Algumas

características se destacam nesse período: empregos abundantes e estáveis, carreiras

lineares e contínuas. Nos meados dos anos 70 inicia-se um período de mudança

destacado pelas tensões comunitárias e concorrência internacional acirrada.

Malvezzi (1999) considera que nossa sociedade foi testemunha de

transformações ocorridas em curto espaço de tempo, da transição de um esquema de

produção baseado na engenharia de tarefas ao fenômeno da globalização. O mesmo

autor denomina a produção baseada na engenharia de tarefas de tecnologia

eletromecânica e a globalização como tecnologia da informação.

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Com a globalização o mercado tornou-se mais competitivo, exigindo aumento

da produtividade e redução de custos, o que influenciou diretamente na oferta de

empregos, pois as empresas automatizaram seus sistemas de produção (GAMBERINI,

2001). Dessa forma, a sobrevivência das empresas depende do quanto são ágeis e

flexíveis. Isso modifica também a conduta dos funcionários, que passam a trabalhar em

um clima de temporalidade (ROBBINS, 2005).

Diante dessa realidade, surgiram novas atividades profissionais, alterando as

formas de emprego vigentes e levando aos novos modelos. As tarefas nas empresas são

constantemente redesenhadas, os funcionários passam por vários setores e trabalham

com diferentes equipes. O emprego de outrora, que poderia durar uma vida inteira,

deixa de existir, exigindo do profissional uma atualização permanente para atender às

novas exigências do trabalho (GAMBERINI, 2001; ROBBINS, 2005).

Malvezzi (1999, p.66) considera que essas mudanças trouxeram como novo

modelo de emprego o empreendedorismo, onde o empreendedor “é aquele trabalhador

que comprometido com os resultados, cria competências organizacionais, sociais e

econômicas para realizar a transformação que o negócio exige”. O mesmo autor

descreve esse trabalhador como agente econômico reflexivo, uma vez que produz um

valor econômico a partir de sua atividade, tendo a reflexão como principal instrumento

de trabalho.

Para o mesmo autor, na sociedade atual as pessoas sentem-se inseguras em

relação ao mercado de trabalho por não terem clareza quanto às novas regras exigidas

pelas constantes mudanças. O reflexo disso é uma atuação inadequada.

Diante de uma competitividade acirrada, o mercado passa a exigir dos

profissionais maior eficácia e qualidade nos serviços, que os trabalhadores criem

competências e administre sua empregabilidade. Nesse novo modo de produção não há

mais lugar para diretrizes fixas e nem autoridades hierárquicas, o que exige do

trabalhador uma capacidade de discriminar as contingências e tomar decisões, ser capaz

de diagnosticar a situação problema e propor soluções inovadoras. Trabalhadores

acostumados a serem guiados por uma rotina ou estar sob tutela de um supervisor, agem

com insegurança ficando resistentes as essas novas exigências do mercado de trabalho,

o que dificulta a manutenção dos empregos (MALVEZZI, 1999).

3.2 COMPETÊNCIAS E EMPREGABILIDADE

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No Brasil, a questão da empregabilidade começou a ser discutida nos meios

acadêmicos e empresariais a partir da década de 90. As políticas educacionais passaram

a ser norteadas pela noção de competências, culminando na reforma curricular da

educação básica e da educação profissional. No mundo empresarial a promessa de

empregabilidade indica a possibilidade de inserção, permanência ou reinserção num

mercado de trabalho em transformação (FURTADO; LIMA; BEZZERRA, 2008).

As noções de competência e empregabilidade formam um complexo, no qual

as competências sustentam a tese da empregabilidade. A partir dessa consideração, estes

termos serão apresentados separadamente, buscando maior clareza.

3.2.1 Competências

Noam Chomsky, na década de 60, introduziu o termo competência para

expressar a capacidade e disposição para o desempenho e para a interpretação. Esse

conceito passou a ser utilizado na área de gestão de pessoas a partir da década de 70,

propondo um modelo alternativo de seleção por competências (FURTADO; LIMA;

BEZZERRA, 2008).

Kilimnik, Castilho e Sant’Ana (2006, p. 265) descrevem competência como “a

capacidade para enfrentar e resolver problemas com sucesso em situações de incerteza,

novas ou irregulares, na vida do trabalho”. Os mesmos autores citam Le Boterf, que

vincula competência a um saber agir, relacionada à mobilização de recursos como

habilidades e conhecimentos, diante de situações concretas de trabalho. Sendo assim, a

competência é contingencial e pressupõe adaptabilidade. Kilimnik et al (2006)

acrescentam que ela sofre interferência da cultura da organização e depende das

relações pessoais e profissionais.

Dutra (2007) considera que as competências individuais devem estar alinhadas

aos interesses da organização, considerando que as exigências são diferenciadas

conforme a natureza das atribuições e responsabilidades requeridas. Embora as

competências mudem conforme o cargo ocupado devem estar alinhadas e se

harmonizarem.

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Nas palavras de Minarelli (1995, p. 52), “competência é sinônimo de

capacitação profissional. [...] Compreende os conhecimentos adquiridos, as habilidades

físicas e mentais, o jeito de atuar e a experiência.” O profissional deve estar em

atualização constante caso contrário não conseguirá acompanhar as constantes

mudanças do mercado de trabalho, ficando para trás e perdendo espaço. O mesmo autor

considera que o profissional deve comportar-se como seu próprio empresário, buscando

visibilidade, aperfeiçoamento, vendendo seu trabalho e investindo no marketing

pessoal.

Segundo Bastos Filho (2005), as empresas requisitam cinco tipos de

competências dos profissionais, independente da área do conhecimento, são elas:

capacidade de produzir em equipe, boa comunicação oral e escrita, administrar e

aproveitar o tempo, cuidar do próprio aprendizado através da educação continuada e

cultivar relacionamentos.

Rhinesmith (apud VERGARA, 2000), em sua discussão sobre o processo de

desenvolvimento de gerentes, considera a aprendizagem de competência global

relacionando mentalidade, característica pessoal e competência. As pessoas de

mentalidade global têm as seguintes características:

[...] investem na imagem mais ampla; aceitam a vida como um equilíbrio de forças contraditórias que devem ser apreciadas, ponderadas e geridas; confiam no processo, a fim de lidar com o inesperado, em vez de confiarem na estrutura; dão valor à diversidade e ao trabalho em equipes multiculturais como o forum básico dentro do qual realizam objetivos pessoais e organizacionais; vêem a mudança como oportunidades; sentem-se à vontade com surpresas e ambigüidades; buscam continuamente estar abertas a si mesmas e aos demais; repensam limites e encontram novos significados, mudando sua direção e conduta (p. 37).

Rhinesmith destaca seis características pessoais que devem estar associadas às

mentalidades: conhecimento sobre os aspectos técnicos e do negócio; conceituação,

capacidade de conciliar análise e síntese; flexibilidade diante das mudanças ambientais;

sensibilidade, que inclui estabilidade emocional para aceitar as diferenças individuais e

predisposição para questionar valores e convicções; capacidade de julgamento e decisão

em situações de incertezas; e capacidade reflexão, que se refere ao aprendizado

contínuo (VERGARA, 2000).

Mentalidade e característica não são competências. Para Rhinesmith (apud

VERGARA, 2000, p. 38), competência é “uma capacidade específica de executar a ação

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em um nível de habilidade que seja suficiente para alcançar o efeito desejado”. Uma

competência se concretiza pela associação entre mentalidade, prática e tarefa, ou seja,

quando a mentalidade se transforma em comportamento. Sendo assim, a competência

não pode ser desvinculada da ação.

Gramigna (2002) propõe um modelo de gestão de pessoas alicerçado na

cooperação mútua, em que a responsabilidade pelo desenvolvimento profissional se

divide proporcionalmente entre empresa e colaboradores. Nesse processo o esforço

pessoal, aliado aos conhecimentos adquiridos através das oportunidades dadas pela

organização, potencializa o domínio de novas competências.

Para Gramigna (2002), os componentes das competências são as atitudes, o

conhecimento e as habilidades. As competências podem ser desdobradas em: a)

Diferenciais: são as consideradas estratégicas por estabelecer vantagem competitiva; b)

Essenciais: são as consideradas como mais importantes para o sucesso do negócio e que

devem ser percebidas pelo ambiente externo; c) Básicas: percebidas no ambiente interno

e ligadas ao alicerce do clima de produtividade; e d) Tercerizáveis: não estão ligadas às

atividades fins da empresa e podem ser repassadas a terceiros aumentando a

competência e valor agregado.

A autora supracitada utiliza uma ferramenta, denominada Árvore das

Competências, que possibilita definir planos para o autodesenvolvimento. A Árvore das

competências é dividida em três partes: 1) As raízes: nela estão inseridos os valores, as

crenças e princípios que comandam a atitude, sendo esta é a base das competências,

relacionando-se com o querer ser e o querer agir; 2) O tronco: representa o saber, por

isso se fortalece a medida que o profissional armazena conhecimentos, lançando mão

deles quando necessário. Portanto, quanto maior o conhecimento, maior é a capacidade

do profissional de ser flexível e aceitar os desafios diários; 3) A copa: são as

habilidades, que condizem com a utilização adequada dos conhecimentos. Dessa forma,

Gramigna (2002, p. 63) destaca a importância de que as informações teóricas sejam

demonstradas na prática, pois “de nada adianta colecionar cursos, leituras e informações em

geral, se estas não são úteis e não trazem algum benefício para a coletividade na qual o

profissional está inserido”.

Hamel e Prahalad (apud PANCERI, 2007) destacam a importância de se

distinguir competência de outras atribuições, como desempenho, traços de caráter,

capacidade de realizar ou motivação. O desempenho se diferencia da competência à

medida que essas não garantem a execução satisfatória do trabalho. Os traços de

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caráter, como honestidade, comprometimento ou flexibilidade, são características

adquiridas pelo indivíduo nas etapas iniciais de sua vida. A capacidade de realizar não

pode ser considerada competência, pois pressupõe uma possibilidade, uma ação futura.

As atitudes motivacionais como dedicação, ambição ou assertividade são intrínsecas e

não podem ser mensuradas.

3.2.2 Empregabilidade

Gamberini (2001) destaca que o emprego como o conhecemos tende a acabar.

Com essa mudança, o emprego será mais uma questão de qualidade que de quantidade

onde permanecerá o profissional que tiver empregabilidade.

Conforme Malschitzky (2005), o surgimento de novos modelos de gestão,

como o downsizing e rightsizing, fez com que o trabalhador tivesse que buscar sua

empregabilidade. Num mercado competitivo as empresas não oferecem mais segurança

no emprego em troca de um bom desempenho e fidelidade.

Mariotti, apud Malschitzky (2005), define empregabilidade como um conjunto

de atributos que leva a que os serviços prestados por uma pessoa sejam requisitados. O

mesmo autor considera que a empregabilidade está centrada em dez parâmetros:

pensamento sistêmico, autopercepção, automotivação, capital intelectual, capacidade

física e mental, integração razão-intuição, criatividade, capacidade de análise social,

visão pessoal de futuro e competências interpessoais.

Esses atributos se relacionam com a inteligência emocional. Para Golemam

(2001), a inteligência emocional é uma ação conjunta das inteligências inter e

intrapessoal. Para o autodesenvolvimento é essencial que o indivíduo controle suas

emoções. Isso não se refere a dizer que a emoção supera a razão. Temos tanto a

inteligência racional, quanto a emocional e são elas que determinam nosso desempenho

na vida. Razão e emoção devem estar equilibradas, pois a inteligência emocional

aumenta nossa capacidade intelectual.

As pessoas que sabem lidar com seus sentimentos são mais competentes,

empáticas, sentem-se mais eficientes e produtivas. As que ao contrário não conseguem

ter controle emocional não se harmonizam internamente e por isso não conseguem se

concentrar no trabalho, nem pensar com clareza. As pessoas com alta inteligência

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emocional são solidárias e gregárias, engajadas, capazes de assumir responsabilidades,

têm senso ético, sabem se comunicar, expressam seus sentimentos adequadamente, são

assertivas e conseguem controlar a ansiedade (GOLEMAM, 2001).

Minarelli (1995) considera que a empregabilidade se sustenta em seis pilares

que funcionam em conjunto e dão suporte e segurança ao profissional. São eles:

adequação vocacional, que competência profissional, idoneidade, saúde física e mental,

reserva financeira e fontes alternativas e relacionamentos.

A adequação vocacional proporciona a motivação e o prazer no trabalho. À

medida que a ocupação corresponde às aptidões e interesses profissionais, esse pilar da

empregabilidade fica fortalecido.

A competência profissional compreende os conhecimentos adquiridos,

habilidades físicas e mentais, experiência de vida. Competência, nesse contexto, é

sinônima de capacitação, e num mercado em constantes mudanças é necessário investir

em aprendizagem continuada.

A idoneidade como competência não é aceita por todos os autores. Para

Minarelli (1995), são os valores básicos como honestidade, respeito ao próximo,

princípios éticos e legais. O profissional idôneo tem a seu favor a consideração,

admiração, apreço e confiança das pessoas, o que pode garantir boas referências e

apresentações.

A saúde física e mental depende do equilíbrio entre as diversas áreas da vida de

uma pessoa. Os cuidados com a saúde incluem exercícios físicos e mentais, boa

alimentação e respeito aos limites. São eles que garantem a continuidade dos projetos.

O profissional deve programar uma poupança que lhe dê um suporte em

momentos de crise no emprego e investir em outras fontes fora do seu emprego. A

reserva financeira dá condições para que o profissional possa negociar junto à empresa,

caso não esteja satisfeito.

Os relacionamentos são o capital social. Este capital tem um valor e pode

solucionar problemas. Sua aquisição é gratuita e depende do cuidado e da valorização

que se dispensam às pessoas. O profissional deve registrar cuidadosamente seus

contatos, saber o que estão fazendo e como encontrá-los.

4 CARREIRA

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A idéia de carreira surge no século XIX com a sociedade capitalista liberal,

emergindo também a ideologia individual do êxito, em que a promoção social passa a

ser encorajada através dos modelos de sucesso. A partir do século XX os termos

carreirismo e carreirista começam a ser mencionados. Tradicionalmente, a carreira tinha

uma progressão linear e vertical, era estável, pertencia aos grupos socialmente

dominantes e havia uma divisão sexual do trabalho (CHANLAT, 1995).

A partir dos anos 80 o capital humano passa a ser enfatizado dentro da

empresa, o que propicia o investimento na gestão de carreira dos funcionários, buscando

um maior rendimento tanto da empresa quanto do pessoal. Na década de 70 um novo

modelo de carreira começa surgir, tendo como características a variedade social e

sexual, instabilidade, descontinuidade e horizontalidade (CHANLAT, 1995).

Super e Bohn Jr. (1972) alertam que carreira e ocupação costumam ser usados

como sinônimos. Esses autores consideram que são termos com significados diferentes.

Descrevem ocupação como uma atividade na qual a pessoa se empenha e é paga por

isso, e carreira como uma seqüência de ocupações, uma série de papéis desempenhados,

no qual a escolha e êxito são determinados pelo indivíduo a partir de suas aptidões,

valores, necessidades, experiências anteriores e perspectivas. Mesmo mantendo-se na

mesma ocupação uma pessoa pode mudar de emprego e posições. A partir do exposto

acima, ocupação se refere ao que uma pessoa faz, enquanto carreira está relacionada à

trajetória ocupacional durante algum tempo.

A carreira não começa com o emprego, sendo modelada já na infância pelo

ambiente familiar, educação recebida, aptidões e interesses. Super e Bohn Jr. (1972, p.

140) consideram que “as carreiras podem ser descritas como consistindo de uma

preparação para assumir determinados papéis e desempenhá-los”.

Para London e Stumph (apud DUTRA 1996), a carreira engloba a trajetória

ocupacional durante a vida de uma pessoa, envolvendo uma série de estágios e

expectativas pessoais, sociais e organizacionais. Dutra (1996) acrescenta que a carreira

não tem uma seqüência linear de experiências e trabalhos e sim estágios e mudanças que

variam conforme as pressões sofridas pelo indivíduo, sejam estas originadas por ele ou

pelo ambiente ao qual está inserido. A carreira pode ainda ser pensada como resultado

da interação entre a pessoa e a empresa, reunindo as perspectivas e podendo ser

elemento de conciliação das expectativas de ambas.

4.1 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE CARREIRA

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Luzzo (apud OLIVEIRA, 2007) considera que a maioria das pessoas percebe a

escolha da carreira como um evento importante na sua vida, desenvolvendo desde cedo

atribuições para explicar o sucesso ou fracasso na carreira. Algumas pessoas atribuem a

casualidade das decisões de carreira às forças internas, que estão sob seu controle e

podem mudar com o passar do tempo. A carreira é vista como conseqüência de um

esforço pessoal. Essas pessoas demonstram atitudes e comportamentos que se

relacionam ao planejamento e exploração da carreira, são mais decididas e

comprometidas com a carreira.

Em contrapartida, outras pessoas atribuem os eventos de sua carreira às

condições externas, fora de seu controle. Tendem a acreditar que as decisões de sua

carreira são estáveis e que não mudam com o passar do tempo. A partir dessa crença

ficam desestimuladas para o aprendizado, pois consideram que nada do que façam

poderá afetar os resultados da sua carreira, o que acaba interferindo em seu

desenvolvimento (LUZZO apud OLIVEIRA, 2007).

Conforme Chiavenato (1999), o desenvolvimento da carreira está vinculado ao

desenvolvimento pessoal, o que passa a ser um desafio para as empresas, uma vez que

exige desenvolver os funcionários para que os mesmos tenham condições de lidar com

mudanças e inovações.

Segundo Dutra (1996), a reflexão sobre a carreira é encarada pela maioria das

pessoas como oportunidades que podem ser aproveitadas. Dessa maneira, subordinam

suas carreiras ao ambiente externo e não atuam sobre essa realidade. A atuação e

transformação do ambiente para melhor adequação das características pessoais, “exige

que as pessoas, antes de refletirem sobre as oportunidades de carreira oferecidas pelo

ambiente, olhem para dentro de si, procurando identificar o que gostam, o que satisfaz e

o que as estimulam” (p. 23).

A preocupação com o planejamento da carreira surge em momentos de crise e

escassez de emprego, levando as pessoas a buscarem ajuda especializada para ajudá-las

nesse processo. As empresas, por outro lado, cada vez mais estimulam as pessoas a

planejarem suas carreiras. Existem dois motivos para isso: 1) as empresas buscam

pessoas com um perfil inovador e empreendedor, que possam colaborar aumentando sua

competitividade; e 2) ao planejarem suas carreiras as pessoas tornam-se mais

empreendedoras, se posicionando para negociarem com a empresa.

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London e Stumph, apud Dutra (1996), apresentam um modelo para o

planejamento de carreira, considerando três tarefas a serem desenvolvidas pela pessoa:

auto-avaliação e autoconhecimento; estabelecer objetivos de carreira; e implementar o

plano de carreira. A execução desse modelo depende do nível de autonomia e

independência que as pessoas tratam sua carreira.

Dutra (1996) destaca que as pessoas têm resistência ao planejamento da vida

profissional. A razão desse comportamento deve-se a dois fatores: por tratarem a

carreira como algo que devem receber e porque não foram estimuladas ao longo da vida

para isso. O mesmo autor acrescenta que no Brasil as pessoas ainda conduzem suas

carreiras deixando de lado preferências pessoais para se guiarem por apelos externos,

como remuneração, status, prestígio, etc.

Schein (2007) considera a existência de uma carreira interna e de uma carreira

externa. A primeira refere-se como a pessoa percebe seu desenvolvimento profissional,

qual a idéia que tem a respeito de seu trabalho e qual a dimensão deste na sua vida. Essa

imagem interna, o autor denomina de inclinações profissionais. A carreira externa

refere-se às etapas concretas que deverão ser desenvolvidas dentro de uma profissão

para que a mesma tenha sucesso. O autor dá como exemplo o médico, que para ter

sucesso em sua profissão deverá passar por várias etapas: formação acadêmica, estágio,

residência, especialização, etc.

Super e Bohn Jr. (1972), descrevem cinco estágios do desenvolvimento

vocacional: Estágio de Crescimento (do nascimento aos 14 anos) – em que se

desenvolve o autoconceito através da identificação com o ambiente familiar,

educacional e social; Estágio de Exploração (15-24) – ocorrência da auto-análise, a

exploração dos papéis ocupacionais começa a se delimitar, começando na imaginação e

seguindo até a entrada no mercado de trabalho; Estágio de Estabelecimento (25-44) –

preocupação no estabelecimento da vida profissional e continuidade dos planos

instituídos; Estágio de Permanência (45-64) – consolidação da carreira; e Estágio de

Declínio (de 65 anos em diante) – desenvolvimento de novos papéis, aposentadoria,

enfraquecimento e declínio.

Super (apud OLIVEIRA, 2007) considera que para avaliar o desenvolvimento

da carreira deve-se levar em consideração que as pessoas são diferentes e se qualificam

a partir de suas habilidades, personalidade, necessidades, valores, interesses, traços e

autoconceitos.

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Para Schein (2007), o autoconceito se forma a partir da percepção da pessoa

sobre si e vai se firmando conforme ela progride em sua carreira, buscando conhecer

suas aptidões, habilidades e competências, motivações, necessidades, valores e

objetivos de vida. A maturidade do autoconceito se dá à medida que o tempo passa e as

pessoas buscam coerência e integração entre esses elementos.

Covey (2007) destaca a necessidade de mudanças de paradigmas para que

sejam desenvolvidos hábitos que levem à eficácia. Essas mudanças podem ocorrer

diante de uma crise, em que se faz necessário rever nosso modo de ser, ou quando

assumimos novos papéis. Consiste em dar novo foco nas atitudes e nos

comportamentos. Contudo, para que haja uma mudança significativa é preciso que as

pessoas trabalhem seus paradigmas básicos, que são as raízes que determinam a

conduta. A mudança de paradigma pode ser positiva ou negativa, mas de qualquer

maneira nos conduzem a outras visões de mundo. Independente de que sejam corretos

ou incorretos os paradigmas influenciam o relacionamento com os outros. Para Covey

(2007, p. 46), “a força de uma mudança de paradigmas impulsiona os saltos

qualitativos, seja essa mudança um processo lento e deliberado ou uma transformação

instantânea”. Os paradigmas podem bloquear nosso potencial e nossa habilidade de

solucionar problemas satisfatoriamente.

Num mercado competitivo torna-se essencial uma postura mais ativa para o

desenvolvimento da carreira. Dutra (2007) considera que as pessoas mais orientadas

para a ação definem prioridades, têm senso de urgência, são proativas, dão respostas

rápidas e precisas.

Covey (2007) indica que a proatividade é um dos principais hábitos que levam

à eficácia. Ser proativo vai além de tomar a iniciativa, implica em assumir as

responsabilidades pela própria vida, uma vez que o comportamento é o resultado das

decisões tomadas e não das condições externas. Isso implica em dizer que “possuímos

iniciativa e responsabilidade suficientes para fazer os fatos acontecerem” (p. 91).

O mesmo autor complementa que o ser humano é proativo por natureza, mas

algumas pessoas deixam que as condições externas ou condicionamentos controlem sua

mente, seja de forma consciente ou por omissão. Quando isso ocorre a pessoa se torna

reativa, apresentando atitudes em função do ambiente externo, seja ele físico ou social.

Sendo assim, quando as condições são agradáveis age positivamente, caso contrário,

assume uma postura defensiva ou protetora. O comportamento dessa pessoa está

relacionado ao dos outros, o que permite que as fraquezas alheias tenham controle sobre

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ela, ou seja, deixa se levar pelas circunstâncias, condições e ambiente externo (COVEY,

2007).

Para iniciar um processo de mudança a pessoa deve investir no

autoconhecimento. A consciência do modo de sentir, agir e pensar propiciam a

criatividade que passou a ser vista como uma importante característica profissional

(MARTINS, 2005). Não basta apenas ser eficiente na execução das tarefas, pois as

empresas buscam profissionais eficazes em suas ações (CHIAVENATO, 1999;

GRAMIGNA, 2002). Diversas áreas avaliam as performances pela capacidade de criar e

inovar. O profissional criativo é curioso, ousado, questionador, inconformado, tem visão

de futuro, persistência, flexibilidade, imaginação, ludicidade e visão sistêmica

(GRAMIGNA, 2002).

Martins (2005) salienta a importância de que a pessoa tome consciência de sua

atuação e verifique quais são seus aspectos favoráveis e desfavoráveis para que se

comprometa com a mudança pessoal. Ao reconhecer as características predominantes

no comportamento é possível avaliar se essas contribuem ou dificultam seu processo de

transformação. A pessoa só muda sua conduta a partir do reconhecimento de como seu

comportamento individual está vinculado ao comportamento grupal, e, do que precisa

ser alterado. A mudança de comportamento, seja individual ou grupal, não é algo fácil

ou rápido, pois necessita de uma re-estruturação dos valores pessoais e percepções do

mundo, que foram aprendidas ao longo da vida. Pensando nisso, Martins (2005)

elaborou um inventário psicológico que tem a finalidade de contribuir para

conscientização pessoal no modo de ser. A seguir descreve-se este inventário, que a

autora denominou Inventário Psicodramático de Características Pessoais (IPCP).

4.2 SOBRE O INVENTÁRIO PSICODRAMÁTICO DE CARACTERÍSTICAS

PESSOAIS (IPCP)

O IPCP foi elaborado tendo como fundamentação teórica a Teoria do Núcleo

do Eu, do psiquiatra Jaime Guillermo Rojas-Bermudez, um dos precursores do

Psicodrama na América Latina. É composto de 14 questões baseadas na teoria de

fundamentação, e inspiradas nos seus correspondentes psicológicos (MARTINS, 2005).

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A teoria do Núcleo do Eu define o desenvolvimento psicológico e o

funcionamento das pessoas considerando a integração de três diferentes áreas: corpo,

ambiente e mente. Rojaz-Bermudez considera a existência de três Modelos: Ingeridor,

Defecador e Urinador. Cada modelo se insere numa área, apresentando processos e

características específicas. Quando esses modelos não se formam adequadamente,

tendem a apresentar dificuldades a serem enfrentadas (MARTINS, 2005).

A autora modificou a nomenclatura dos Modelos, substituindo por categorias.

O Modelo Ingeridor foi substituído pela categoria Eu sou mais Emoção; O Modelo

Defecador pela categoria Eu sou mais Ação e o Modelo Urinador pela categoria Eu sou

mais Razão. As modificaçes feitas estão representadas no quadro 1.

QUADRO 1 – Categorias e critérios para elaboração das questões do IPCP

CATEGORIAS CRITÉRIOS

EU SOU MAIS EMOÇÃO Aceitação

Autoconfiança Justiça

Agradar pessoas

EU SOU MAIS AÇÃO Criação

Elaboração Expressão

Comunicação

EU SOU MAIS RAZÃO Planejamento

Controle Decisão

Execução Fonte: MARTINS, 2005, p.115

Martins (2005) acrescenta que cada categoria dispõe de uma tendência de

características comportamentais. As pessoas que se identificam mais com a categoria Eu

sou mais emoção tende às seguintes características: são acolhedoras e meigas, fazem

amigos facilmente, têm um discurso envolvente e são dedicadas; demonstram muita

fragilidade, agem mais pela emoção e choram com facilidade, têm necessidade

constante de agradar aos outros e tomam suas decisões baseados na opinião da maioria,

senso de justiça exagerado, sentem-se vítimas da situação e apresentam dificuldade de

impor limites. São pessoas que se orientam mais pela emoção que pela ação ou razão.

Os processos que precisam ser aperfeiçoados nessa categoria são os de percepção e de

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pensamento. Já nas pessoas da categoria Eu sou mais Ação encontram-se as seguintes

tendências: são ativas, conseguem expressar para o mundo externo os processos

criativos do seu interior, aceitam desafios, são determinadas e ambiciosas, fazem várias

coisas ao mesmo tempo e não se adaptam às tarefas rotineiras; apresentam dificuldades

em planejar as ações e organizar suas atividades, gosto pelo risco e impulsividade na

tomada de decisões. São pessoas mais orientadas pela ação que pela emoção ou razão,

que precisam ampliar os processos relacionados ao sentimento e pensamento. Nas

pessoas da categoria Eu sou mais razão são observadas as tendências como: avaliar os

vários aspectos de uma situação antes de tomar qualquer decisão, disciplina,

responsabilidade, planejamento, dedicação e busca de resultados; gostar de manter o

controle sobre a atividade das pessoas, serem metódicas, ritmo mais desacelerado,

preferir pensar a executar e perfeccionismo. As pessoas dessa categoria necessitam

melhorar os processos relacionados à percepção e ao sentimento.

Para Martins (2005, p. 136), “cada um de nós apresenta uma tendência que nos

diferencia quando reagimos a determinadas situações e quando nos relacionamos com

as outras pessoas. Uma dessas categorias predomina em nosso comportamento.” Por

não se conhecerem as pessoas ficam em dúvidas entre mais de uma categoria. Nesse

caso, é importante apresentar as características de todas elas para que seja feita a

escolha que mais se aproxima do modo de ser.

A categoria Eu sou mais Emoção envolve os processos de sentir e de perceber.

São pessoas que se orientam mais pela emoção que pela ação ou razão. Os processos

que precisam ser aperfeiçoados nessa categoria são os de percepção e de pensamento. A

categoria Eu sou mais Ação refere-se aos processos de perceber e pensar. São pessoas

mais orientadas pela ação que pela emoção ou razão, que precisam ampliar os processos

relacionados ao sentimento e pensamento. A categoria Eu sou mais Razão está

relacionada aos processos de pensar e sentir. As pessoas dessa categoria necessitam

melhorar os processos relacionados à percepção e ao sentimento.

O IPCP não deve ser utilizado como único instrumento na mobilização de

mudanças pessoais, considerando que seu objetivo é fazer um diagnóstico do

funcionamento das pessoas que “ajudará a esclarecer os papéis que precisam ser

desenvolvidos, ou seja, as categorias que precisam ser mais ampliadas [...]. Esse

processo que impulsionará cada participante para a tomada de consciência em relação às

mudanças pessoais” (MARTINS, 2005, p. 119).

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5 OBJETIVOS

5.1 GERAL

Identificar a validade de um trabalho psicoprofilático no processo de transição

entre a formação acadêmica e uma atividade laboral, num contexto institucional.

5.2 ESPECÍFICOS

• • Promover no acadêmico uma reflexão crítica sobre seus pontos fortes e

fracos para que ele promova as mudanças necessárias e adquirira as

competências individuais que o atual contexto de mercado exige;

• • Analisar os grupos perante o planejamento da carreira;

• • Verificar o perfil dos grupos conforme o Inventário Psicodramático de

Características Pessoais (IPCP).

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6 MÉTODO

Nesta sessão descreve-se o método adotado no presente estudo, que engloba o

tipo de pesquisa, a descrição do local, participantes, materiais e instrumentos utilizados.

6.1 TIPO DE PESQUISA

Neste estudo se adotou a pesquisa qualitativa, do tipo descritiva e exploratória.

A escolha por esse tipo de pesquisa foi em função dessa se adequar ao trabalho

proposto, considerando a necessidade de mensurar variáveis, posto que se abordou o

tema sob perspectivas diferenciadas.

Conforme Martins e Bicudo (2003), a pesquisa qualitativa é abrangente. Nela

teoria e técnica são concomitantes, pois busca sempre a compreensão e não a explicação

do fenômeno. Por isso não se prende às generalizações, princípios ou leis. Concentra-se

no específico, no peculiar e no individual. Oliveira (2005) acrescenta que esse tipo de

pesquisa é um processo de reflexão e análise da realidade, que utiliza métodos e

técnicas buscando compreender o objeto estudado em seu ambiente natural.

Godoy (apud OLIVEIRA, 2005, p. 43) apresenta quatro características da

pesquisa qualitativa: “1) ambiente natural como fonte direta de dados, e o pesquisador

como instrumento fundamental; 2) caráter descritivo; 3) significado que as pessoas dão

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às coisas e à sua vida, que deve ser uma preocupação do investigador; 4) enfoque

indutivo”.

Martins e Bicudo (2003) salientam que a descrição é de fundamental

importância na pesquisa qualitativa. A descrição nunca será certa ou errada. Deverá

possibilitar ao leitor o reconhecimento do objeto descrito. Seu mérito está na clareza

com que reproduz a informação sobre o objeto. Descrever, dessa forma, é diferenciar

um objeto dentre tantos outros.

Considerando que o tema proposto ainda é pouco estudado no Brasil, utilizou-

se a pesquisa exploratória. Segundo Oliveira (2005), o objetivo da pesquisa exploratória

é dar uma explicação sobre determinado fenômeno através de algumas etapas:

delimitação do estudo, pesquisa bibliográfica, leitura e análise de documentos. O estudo

exploratório é utilizado quando o tema escolhido é pouco explorado. O planejamento

em uma pesquisa exploratória deve ser mais flexível que o da pesquisa de campo.

6.2 LOCAL

As intervenções foram realizadas através do Programa de Atenção à Saúde do

Acadêmico (ASA) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

O Programa ASA foi oficializado em 1999, visando desenvolver programas de

intervenção em saúde dentro da realidade universitária com ações voltadas à prevenção

e promoção da saúde que proporcionem atendimento acadêmico - discente e docente. O

projeto para esse programa originou-se a partir de pesquisa exploratória e de

levantamento prévio com acadêmicos para verificar as dificuldades sentidas. Os

resultados apontados pela pesquisa indicavam a necessidade em se desenvolver ações

com a comunidade acadêmica, visando além da qualificação profissional, também o

desenvolvimento de habilidades e competências individuais (MARTINS, s/d).

O serviço de atendimento ao acadêmico dispõe de profissionais da área de

Psicologia, que oferecem ajuda pessoal, profissional, educacional e vocacional, e

também, com professores de outras áreas para desenvolver propostas onde necessite de

uma intervenção interdisciplinar (MARTINS, s/d).

A sala de aula foi o local escolhido para os encontros por oferecer ambiente

com espaço suficiente, serem arejadas e não haver a necessidade de deslocar os

participantes, evitando dispersões.

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6.3 PARTICIPANTES

Os participantes foram acadêmicos das áreas de Exatas, Agrárias e Humanas,

formando três grupos. O grupo das Exatas estava no início do curso, o das Agrárias no

final e o das Humanas no meio.

O critério de escolha dos cursos participantes da pesquisa foi realizado por

meio das áreas de conhecimento, com anuência da coordenação desses cursos que

solicitaram esse tipo de trabalho. A escolha das salas que participaram da pesquisa foi

feita através de contato com as coordenações de cursos, para averiguar a demanda e o

perfil do curso e da turma.

6.4 INSTRUMENTOS, MATERIAIS E RECURSOS UTILIZADOS

Os instrumentos utilizados foram entrevistas, observação, Inventário

Psicodramático de Características Pessoais (IPCP), de Fabiana Silveira Martins e o

Questionário de avaliação das Oficinas de Planejamento de Carreira.

Os materiais utilizados durante os encontros foram: aparelho de som, Cd de

músicas para relaxamento, Kit Flor de Lótus, cinco jogos de quebra-cabeças,

embalagens vazias e descartáveis de leite, ovos e achocolatado; papéis e canetas para

anotação.

Os recursos tecnológicos utilizados foram: computador, notebook, o vídeo

Planejamento de Carreira (APÊNDICE A) e datashow.

As dinâmicas utilizadas foram: Jogo Flor de Lótus (MARTINS, 2005), Jogo

Peças das relações (APÊNDICE B) e a dinâmica O produto é você (APÊNDICE C).

6.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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A metodologia adotada foi a de oficinas de grupo, realizadas em sala de aula. A

metodologia de oficinas utiliza teorias e técnicas de grupo, podendo ser utilizada dentro

das áreas da saúde, educação e ações comunitárias. É um instrumento de intervenção

psicossocial. Afonso (2006, p. 9) define oficina como “um trabalho estruturado com

grupos, independentemente do número de encontros, sendo focalizado em torno de uma

questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto social.” Numa oficina

se busca o envolvimento integral dos sujeitos, que não se limita a uma reflexão racional

e sim afeta a forma de sentir, agir e pensar. Nela, o coordenador tem a função de

facilitador das tarefas, não podendo assumir um papel intrusivo e sim de acolhimento e

incentivo para que o grupo realize suas tarefas interna e externa e consiga atingir seus

objetivos.

A proposta da oficina é focal e relacionada ao tema a ser discutido, trabalhando

com os significados afetivos e as vivências ligadas à questão problematizada. Deve

sempre ser um trabalho aceito pelo grupo, nunca imposto. Quando a proposta vier de

uma instituição, para que haja êxito, são necessárias a aceitação e apropriação dela pelo

grupo (AFONSO, 2006).

Afonso (2006) destaca algumas características presentes na realização de uma

oficina: o planejamento é flexível, permitindo acompanhar as mudanças do grupo; a

comunicação é realizada através da interação, onde os sujeitos participam do seu

próprio processo de mudança; devem ser considerados os fatores sociais, a identidade

social do sujeito e os papéis assumidos por cada um, além da forma de comunicação do

grupo. Para Afonso (2006, p. 54), é essencial que o trabalho de intervenção na oficina

considere “a relação entre o vínculo afetivo e o vínculo social [...] no processo de

sistematização, desconstrução e reconstrução de significados no grupo”.

6.5.1 Oficinas de Planejamento de Carreira

O trabalho em sala de aula foi denominado de Oficinas de Planejamento de

Carreira. Ao todo foram três encontros por turma escolhida.

O primeiro encontro foi de apresentação da proposta, facilitada pela exibição

do vídeo Planejamento de Carreira e averiguação das expectativas em relação ao

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mercado de trabalho. Após essa introdução, prossegui-se com a aplicação do IPCP e a

discussão dos resultados.

No segundo encontro os acadêmicos foram distribuídos em grupos e

participaram de uma dinâmica utilizando quebra-cabeças. A partir dos resultados

apresentados pelos grupos fizeram-se as discussões sobre os temas mais relevantes para

o grupo. Após as discussões apresentaram-se alguns conceitos sobre os fatores que

influenciam no planejamento de carreira e na empregabilidade.

O terceiro encontro consistiu no fechamento da proposta junto aos acadêmicos.

Em cada turma foi realizado de uma maneira diferente, considerando que nem todos

tiveram o mesmo rendimento durante as atividades. Além disso, cada turma tinha

necessidades específicas a serem trabalhadas. Ao final da atividade os acadêmicos

receberam o Questionário de avaliação das Oficinas de Planejamento de Carreira.

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Descreveremos a seguir as atividades que foram realizadas em três cursos de

três áreas do conhecimento: Exatas, Agrárias e Humanas.

A coordenação do curso da área de Exatas solicitou ao Programa ASA que

fizesse a mediação de conflito entre os acadêmicos e um professor. A solicitação do

trabalho de Planejamento de Carreira estava vinculada à tentativa de amenizar a

situação de tensão que o conflito gerou. Em função dessa característica, o primeiro

encontro nesse grupo foi diferenciado em relação aos demais grupos. Outro ponto a ser

destacado foi a dificuldade em finalizar a proposta devido a contratempos impostos

pelos professores e Coordenação de Curso. Dessa forma, o trabalho foi iniciado

primeiro com esse grupo, mas ele foi o último a fechar os três encontros. Apesar dos

contratempos, o grupo da área de Exatas foi receptivo ao trabalho proposto,

demonstrando isso através de participação ativa e indicação dos temas que mais gostaria

que fossem aprofundados.

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A coordenação do curso da área de Agrárias solicitou ao Programa ASA o

trabalho de preparação de acadêmicos do quarto ano para enfrentamento do mercado de

trabalho em função da falta de motivação apresentada por eles, frente a sua formação

profissional. A queixa principal foi em relação à delimitação de um perfil profissional.

De um modo geral os rapazes tinham hábitos de mascar fumo e tomar tererê1[1] nos

corredores da Universidade. As oficinas nesse grupo foram realizadas conforme a

programação prevista, de um encontro por semana. O grupo da área de Agrárias foi se

inteirando da proposta aos poucos, mas ao final elogiaram o trabalho.

A coordenação do curso da área de Humanas solicitou o trabalho para que

esses acadêmicos começassem a delinear um perfil profissional. O grupo da área de

Humanas apresentou-se mais crítico aos temas e a forma como foram conduzidas as

oficinas. Não houve interesse do grupo em fazer perguntas ou sugerir temas a serem

aprofundados, nem responder ao questionário de avaliação.

Para maior clareza os resultados serão apresentados considerando a seqüência

dos encontros.

7.1 PRIMEIRO ENCONTRO

O primeiro encontro foi planejado para que cada participante pudesse perceber

melhor a dinâmica de sua personalidade. A coordenadora chegou mais cedo ao local do

encontro em todos os grupos participantes. Percebeu-se que a receptividade dos grupos

foi diferente.

O grupo das Exatas foi o mais receptivo à presença da coordenadora. Estavam

em sala de aula, trinta acadêmicos que se apresentaram, perguntaram o que seria feito e

se precisava de ajuda. Prontamente, a maioria dos acadêmicos se organizou para a

arrumação das cadeiras. Apenas três não se interaram das atividades desde o início.

Participaram depois que perceberam a adesão da maioria.

No grupo das Agrárias, dos 26 acadêmicos presentes, a maioria estava do lado

de fora da sala, tomando tererê, sendo necessário que o Professor os chamasse para

entrar. Solicitou-se aos acadêmicos que afastassem as carteiras e formassem um círculo,

no meio da sala, com as cadeiras e se sentassem nelas. Apenas dois deles seguiram as

1- 1- Tererê: bebida gelada a base de erva mate, típica da região.

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instruções, os demais formaram o círculo com as carteiras e se sentaram em cima delas.

Receberam novamente instruções para que retirassem as carteiras e formassem o círculo

com as cadeiras. Dez sentaram-se ao fundo da sala. Foram convidados a se juntarem aos

demais. Eles atenderam à solicitação, mas não se levantaram das cadeiras, começaram a

arrastá-las. A coordenadora pediu para que se levantassem e trouxessem as cadeiras

para o centro sem arrastá-las. Desta vez atenderam ao pedido. Depois que as atividades

foram iniciadas o grupo participou ativamente.

O encontro com o grupo das Humanas aconteceu fora da sala de aula. A

escolha por outro local foi devido à indisponibilidade do equipamento de áudio no local.

As cadeiras foram colocadas em círculo antes da chegada do grupo. Dos 40

matriculados na disciplina ministrada no horário utilizado para o encontro, 16

compareceram ao local do encontro, com 15 minutos de atraso. Sentaram-se formando

pequenas ilhas, sempre mantendo pequenos grupos. Ao serem convidados a ficarem

mais próximos recusaram e permaneceram onde estavam.

As diferentes reações apresentadas nos diversos grupos indicam que cada qual

tem uma dinâmica que precisa ser entendida e respeitada. Conforme Afonso (2006),

numa oficina o planejamento é flexível, pois acompanha as mudanças do grupo e os

sujeitos participam do seu processo de mudança. Além disso, devem ser observados os

fatores sociais, a identidade social do sujeito, a forma de comunicação do grupo e os

papéis que cada um assume. Super (apud OLIVEIRA, 2007) considera que para avaliar

o desenvolvimento da carreira deve-se levar em consideração que as pessoas

apresentam diferenças nas habilidades, competências, valores, necessidades, traços e

autoconceitos.

Nos grupos das Agrárias e Humanas as seqüências das atividades foram:

apresentação do vídeo Planejamento de Carreira e das propostas das Oficinas;

averiguação das expectativas e de como visualizavam a carreira; Jogo Flor de Lótus e

aplicação do IPCP. No grupo das Exatas o vídeo foi apresentado no segundo encontro.

Contudo, os resultados serão apresentados nessa sessão.

A exibição do vídeo provocou reação maior no grupo das Agrárias, que nos das

Exatas e Humanas. As cenas relacionadas à entrega do currículo chamaram a atenção na

maioria dos integrantes do grupo das Agrárias. Alguns deles se referiram às

competências exigidas pelo mercado de trabalho como algo difícil de conseguir

desenvolver.

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O grupo das Humanas indicou que o que mais chamou a atenção foi o fato de

ter que buscar educação continuada, além de todas as competências necessárias. Na

opinião desses acadêmicos, são exigências aparentemente simples, mas que no conjunto

parece ser difícil de conseguir desenvolver.

As reações dos grupos de Agrárias e Humanas podem ser entendidas pela

análise de Gondim (2002), de que os estudantes não conseguem delimitar a identidade

profissional por não terem claras as competências e habilidades adquiridas, além de

desconhecerem a realidade do mercado. Bastos Filho (2005) nos mostra que a educação

continuada é uma das competências mais requerida pelo mercado de trabalho, em que o

profissional deve cuidar do seu próprio aprendizado.

A resistência do grupo das Humanas impediu que o aproveitamento do

encontro fosse maior.

No grupo das Exatas as reações estiveram relacionadas às cenas da formatura,

autodesenvolvimento e perfil profissional. Relataram serem, estes dois últimos, temas

que gostariam que fossem mais abordados. As reações diante desses aspectos indicam a

preocupação desse grupo em delimitar um perfil profissional, desenvolvendo tanto a

carreira interna como a externa. Schein (2007) confirma o exposto acima ao considerar

que para planejar bem a carreira e fazer escolhas acertadas, o profissional deve ter

consciência de seu perfil profissional.

Os grupos das três áreas participaram do Jogo Flor de Lótus e preencheram o

IPCP nesse primeiro encontro. No grupo da área de Exatas as orientações tiveram que

ser repetidas várias vezes. Mesmo assim, oito participantes tiveram seus resultados

invalidados pelo preenchimento incorreto. Os grupos das Exatas e Humanas levaram em

torno de 20 minutos para responder às questões do IPCP. Já o grupo das Agrárias levou

mais de 30 minutos, e ainda assim, apresentaram dificuldades no preenchimento e na

soma dos resultados.

No grupo de Exatas, conforme relatado anteriormente, as atividades foram

diferenciadas. O encontro foi iniciado com a apresentação da proposta e depois o grupo

participou de uma dinâmica de apresentação aos pares, em que deveriam se reunir em

duplas e falar algo sobre si, que não fosse pessoal, para não causar constrangimentos.

Foram reservados dez minutos para essa conversa entre os pares. O grupo ficou

animado com a proposta e colaborou prontamente. Dez duplas fizeram suas

apresentações. Encerrada essa etapa iniciou-se o Jogo Flor de Lótus. A seguir receberam

o formulário do IPCP.

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Ao final do encontro foi conduzido um relaxamento. Eram 22 horas e nem

todos os presentes participaram, pois são acadêmicos que residem em outras cidades do

Estado e dependem de transporte intermunicipal. Seis se ausentaram, os outros

permaneceram em seus lugares. Colocou-se uma música suave com duração de quatro

minutos. Durante o relaxamento, deveriam lembrar-se de uma situação ou problema que

tiveram que solucionar e como fizeram isso, se utilizaram a razão, a emoção ou ação.

Em seguida deveriam imaginar a resolução do problema de outra forma.

O procedimento em todos os grupos, assim que tinham os resultados do IPCP

em mãos, foi o de discutir sobre cada uma das características do inventário. Eles

puderam comparar se o que escolheram inicialmente condizia com o resultado

apresentado pelo inventário. Explicou-se que cada um de nós tem um pouco de cada

categoria, mas que se deve buscar um equilíbrio entre elas sem desconsiderar a que rege

o comportamento.

Depois de responderem às questões do IPCP, eles deveriam fazer a soma para

ver qual seria a sua categoria. Observou-se que os grupos das áreas de Exatas e Agrárias

demonstraram dificuldades em preencher o IPCP. Essas dificuldades se localizam na

atenção dispensada no momento da explicação do instrumento, como também na adição

simples que deveria ser realizada.

Conforme tabela 1, os resultados do IPCP nos mostram que no grupo das

Exatas, cinco acadêmicos se identificaram com a categoria Eu sou mais Emoção,

dezessete na categoria Eu sou mais Razão e oito tiveram os resultados invalidados por

não preencherem adequadamente o documento. No grupo das Agrárias, sete se

identificaram com a categoria Eu sou mais Emoção, sete na categoria Eu sou mais Ação

e doze na categoria Eu sou mais Razão. No grupo de Humanas dois se identificaram na

categoria Eu sou mais Emoção, dois na Eu sou mais Ação e doze na Eu sou mais Razão.

Tabela 1 – Resultados do IPCC nos grupos de Exatas, Agrárias e Humanas.

CATEGORIAS EXATAS AGRÁRIAS HUMANAS Eu sou mais Emoção 5 7 2 Eu sou mais Ação 0 7 2 Eu sou mais Razão 17 12 12 Resultados Invalidados 8 0 0 Total de acadêmicos 30 26 16

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Os grupos apresentaram uma pontuação maior na categoria Eu sou mais Razão.

O grupo das Agrárias foi o que apresentou um maior índice nas categorias Eu sou mais

Ação e Eu sou mais Emoção. Isso pode ser explicado pelo fato deles estarem no último

ano do curso, próximos de enfrentar o mercado de trabalho, o que exige a transformação

de idéias em ações práticas, processos de comunicação aprimorados e bom

relacionamento interpessoal. Essa preocupação foi observada pelo impacto diante das

cenas do vídeo Planejamento de Carreira.

Comparando a escolha inicial e os resultados apresentados no IPCP, nos grupos

de Exatas e Humanas cinco participantes, de cada grupo, não apresentaram resultados

compatíveis com a escolha inicial. Dentre os que apresentaram coerência entre a escolha

inicial e o resultado do inventário, temos: no grupo de Exatas 18 participantes - 60%; no

grupo de Agrárias 8 - 30,8%; e no grupo de humanas 10 - 62,5%. Os resultados

apresentados demonstram que muitos ainda não conhecem profundamente seu modo de

ser, idealizando seu eu. Martins (2005) indica a importância de que cada pessoa perceba

quais são os papéis que desempenham, ou características que precisam desenvolver para

impulsionar o processo de mudança pessoal.

Relacionando o descrito acima e o alto índice na categoria Eu sou mais Razão,

pode-se considerar que, nesse momento, os acadêmicos ainda estão mais no plano das

idéias, não delimitaram as ações necessárias para planejar e desenvolver sua carreira.

Dutra (1996) nos lembra que as pessoas apresentam resistência em planejar sua vida

profissional, tratam a carreira como algo que deve ser recebido e deixam para se

preocuparem nos momentos de crise.

Ao final do encontro a coordenadora recolheu o IPCP, em todos os grupos. Os

interessados em saber dos resultados e ter uma devolutiva mais detalhada deveriam

entrar em contato com a coordenadora, via e-mail, para agendar um horário. Com

relação ao interesse demonstrado pela proposta do trabalho, entre os vários grupos,

observou-se que o grupo das Exatas foi o que mais se empenhou e fez perguntas. O

grupo das Agrárias, inicialmente não se interou da proposta, ficaram dispersos a maior

parte do tempo, interagindo somente no meio da atividade, quando se fizeram as

discussões sobre os resultados do IPCP. O grupo das Humanas não se interessou. Seus

integrantes não fizeram perguntas relativas aos temas, nem sugestões do que gostariam

que fosse abordado. Mostraram-se apáticos o tempo todo, saindo logo que as discussões

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sobre o IPCP se finalizaram. Nenhum participante, dos diversos grupos, manifestou

intenção em saber quais categorias poderiam ser aperfeiçoadas.

7.2 SEGUNDO ENCONTRO

Neste encontro, os grupos das três áreas do conhecimento participaram do Jogo

Peças das relações e receberam informações sobre as etapas do Planejamento de

Carreira e as competências que o mercado exige. Em todas, foram destacados quatro

integrantes para desempenhar os papéis de encarregados pelas negociações, que serão

indicados pelas letras correspondentes às respectivas áreas do conhecimento - E1-E4,

A1-A4 e H1-H4, outros quatro foram incumbidos de montar pequenos grupos entre os

demais integrantes e uma pessoa que ficou como a fiel depositária, ou fornecedor para o

grupo das Agrárias. Cada pequeno grupo deveria montar um quebra-cabeça. Para

finalizar o encontro foram apresentados temas relativos ao Planejamento de Carreira e

empregabilidade.

As atividades nas Exatas foram iniciadas com vinte minutos de atraso, pois

nem todos estavam presentes, devido a atrasos no transporte. Assim que o jogo foi

iniciado, os pequenos grupos logo perceberam a necessidade de trocar as peças entre

eles, o que fizeram rápida e harmonicamente. Apenas um pequeno grupo não se

mobilizou para trocar as peças, tendo inclusive escondido uma para levar vantagem e

prejudicar os demais. Como não havia mais peças para trocar entre os pequenos grupos,

deduziram que deveriam estar aos cuidados da fiel depositária. Os encarregados foram

criativos nas formas de comunicação na negociação das peças faltantes.

Os resultados apresentados por esse grupo indicam que seus integrantes

conseguem soluções criativas nas resoluções de problemas. As características

apresentadas por eles se inserem dentro dos aspectos positivos da categoria Eu sou mais

Ação. Dessa forma, a invalidação dos resultados estaria relacionada aos aspectos

negativos dessa categoria, que são a impulsividade e dificuldade de organização.

No grupo das Agrárias todos os negociadores foram ao fornecedor, sem antes

verificar a possibilidade de troca com os pequenos grupos. A3 “assaltou” o fornecedor,

que ficou chateado num canto, sem mais nenhuma peça. A3 ainda foi até os diversos

grupos pegando um número grande de peças e dando em troca um número menor. O

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grupo dele conseguiu montar quase dois quebra-cabeças. Os grupos de A1 e A2 não

conseguiram montar os quebra-cabeças, pois tinham sumido as peças. Dois quebra-

cabeças ficaram incompletos ao final dessa atividade. Quando questionados sobre a falta

de ética e planejamento nas atividades, alegaram que a coordenadora “jogou sujo, não

falou que as peças estavam misturadas” (sic). A resposta a essa crítica foi que no

mercado de trabalho a empresa que contrata não precisa necessariamente fornecer o

material, cabendo à empresa prestadora do serviço arcar com essa responsabilidade. Se

fosse fácil, rápido e de baixo custo a montagem de um produto, nenhuma empresa iria

terceirizar. O grupo de A3 considerou correta a atitude tomada, alegando que “no

mundo dos negócios vale tudo para ganhar” (sic).

O comportamento desse grupo indica que seus membros não estão

amadurecidos o suficiente para enfrentar o mercado de trabalho e trabalhar em equipe,

pois interpretam a competitividade como algo que deve ser conduzido apenas em função

de resultados momentâneos e a partir de interesses individuais. Desconsideram que um

atributo como o da idoneidade pode refletir positivamente em suas carreiras. Minareli

(1995) destaca que o profissional idôneo tem o apreço e confiança das pessoas e isso

pode garantir boas referências.

No grupo das humanas, após cinco minutos todos os pequenos grupos já

tinham trocado as peças e perceberam que não tinham mais como continuar. Ficaram

parados sem apresentar nenhuma solução. A coordenadora perguntou o que poderia ser

feito. Um dos integrantes chegou à conclusão de que as peças deveriam estar com a fiel

depositária. H1 estava com uma peça que não era do seu grupo e continuou segurando-a

até o final do jogo. Os que não conseguissem se comunicar deveriam ir para o final da

fila. H1 não conseguiu e foi. Os demais levaram as peças aos respectivos grupos e

retornaram para a próxima etapa de negociação, em que deveriam utilizar recursos

diferentes. Num primeiro momento ficaram se olhando sem se mobilizarem. A

coordenadora enfatizou que eles estavam apenas pensando no que não poderiam fazer,

esquecendo de outras possibilidades. H3 perguntou se poderia escrever. A resposta foi

sim. Logo H2 e H4 começaram escrever nas mãos. H1 permaneceu em seu lugar sem

fazer nada. Indagada sobre o motivo de não se mobilizar, sua resposta foi “se todos

escolherem suas peças a que sobrar será a minha” (sic).

Ao final, dois pequenos grupos, das Humanas, não conseguiram terminar os

seus quebra-cabeças, pois estavam faltando peças, que foram escondidas por dois outros

grupos. H1 foi questionada sobre o motivo de reter a peça de outro grupo, sua resposta

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foi “se eles não conseguissem montar o quebra-cabeça, o meu grupo teria maior

chance de vencer” (sic).

Durante as atividades os integrantes de um pequeno grupo verbalizaram que

não dariam as peças aos outros grupos, só pegariam as que fossem suas. Questionados

sobre esse posicionamento, uma integrante respondeu que o que valia era o individual e

não o interesse coletivo. Nesse ponto, todos os pequenos grupos, começaram a se

exaltar. A coordenadora intervém lembrando-os que aquilo era só um jogo, que não

deveriam ficar irritados.

A integrante que indicou o individual como mais importante tentou explicar

seu posicionamento colocando a culpa na coordenadora, acusando-a de não ter

conduzido a atividade adequadamente. Um dos participantes respondeu que não houve

problemas nesse sentido, pois a atividade fora devidamente conduzida. Assim que todos

recobraram a calma, a coordenadora prosseguiu com as atividades. Os acadêmicos

permaneceram sentados em seus lugares. Não houve conversas paralelas. Ao final do

encontro, a participante que causou o tumulto procurou a coordenadora e disse, sem

nenhuma razão aparente, “você é preconceituosa e não sabe lidar com as pessoas”

(sic).

Relacionando a posição na qual o grupo se encontra e as fases do

desenvolvimento de carreira descritas por Super e Bohn Jr. (1972) pode-se considerar

que há um descompasso. O grupo das Humanas deveria se encontrar no estágio de

exploração descrito por Super e Bohn Jr.. Contudo, até o momento não desenvolveram a

auto-análise, exploração dos papéis ocupacionais, os pré-requisitos e as aptidões

necessárias para ingresso no mercado de trabalho, na profissão escolhida.

Essas características nos remetem a Luzzo (apud OLIVEIRA, 2007) que

considera que as pessoas desenvolvem atribuições para explicar o sucesso ou fracasso

na carreira. Quando as atribuições são às forças internas, a carreira é vista como a

conseqüência de um esforço pessoal, há um maior comprometimento, em que as

atitudes e comportamentos estão relacionados ao planejamento e exploração de carreira.

Ao contrário, quando os resultados são atribuídos às forças externas, emerge a crença de

que a carreira é algo estável e vinculada aos acontecimentos que fogem do controle, o

que ocasiona desestímulo para o aprendizado, pois consideram que nada do que façam

poderá afetar os resultados de suas carreiras. Nesse momento esse grupo se encontra na

posição em que os resultados são atribuídos às forças externas, ausentando-se do

compromisso pessoal em desenvolver sua carreira.

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A postura desse grupo foi de passividade e racionalização, indicando que a

mesma deve desenvolver sua inteligência emocional. Podemos nos remeter a Golemam

(2001) para argumentar sobre essa análise a partir de seu conceito de inteligência

emocional que engloba uma ação conjunta das inteligências inter e intrapessoal. O

autodesenvolvimento, para esse autor, está relacionado ao controle das emoções, uma

vez que somos seres emocionais e nossas decisões são influenciadas pelo fator

emocional. Razão e emoção devem estar em equilíbrio, posto que a emoção não supera

a razão, mas exerce influência sobre ela. Dessa forma, a inteligência emocional

contribui para aumentar a capacidade intelectual.

Goleman (2001) considera que as pessoas com a inteligência emocional

desenvolvida conseguem se integrar melhor ao ambiente, pois são competentes,

eficientes, têm controle emocional, concentração, clareza de idéias, engajamento,

solidariedade, sabem se comunicar, são assertivas e controlam a ansiedade.

Para que possam desenvolver um Planejamento de Carreira, esses grupos

deveriam se conscientizar de que a carreira é de responsabilidade do profissional e não

algo que deve ser recebido. Conforme Dutra (1996), a maioria das pessoas vê a carreira

como oportunidades que podem ser aproveitadas, subordinando a carreira ao ambiente

externo e não agindo no sentido de transformá-lo. Uma melhor adequação das

características pessoais exige que as pessoas olhem para dentro de si e identifiquem o

que gostam de fazer, o que as estimulam e satisfaz.

Os grupos demonstraram a necessidade de se discutir sobre as questões éticas

que devem permear as relações interpessoais e as atividades profissionais. Nas Exatas,

discutiu-se também a diferença entre trabalhar em equipe e trabalhar em grupo, as

constantes inovações do mercado que exigem soluções inovadoras a cada momento e a

necessidade de planejamento. O grupo participou ativamente das discussões,

demonstrando interesse pelo tema. Nas Agrárias discutiu-se sobre o companheirismo e

o mercado de trabalho. Eles mantiveram uma postura defensiva em relação às

discussões realizadas.

Os resultados apresentados nesse segundo encontro indicam que os grupos das

Agrárias e das Humanas não percebem a necessidade de mudanças pessoais que a nova

realidade do mercado exige. Muitos não se comprometem com os resultados e se negam

a uma reflexão crítica sobre suas atitudes e valores. Malvezzi (1999) alerta que

atualmente o mercado de trabalho exige trabalhadores com perfil empreendedor, cujas

características são: comprometimento com os resultados, capacidade de reflexão e de

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criar competências organizacionais, sociais e econômicas para realizar as

transformações necessárias. Para Minarelli (1995), o profissional que não se atualizar e

acompanhar as mudanças no mercado de trabalho perderá espaço.

O resultado diferenciado das Exatas possivelmente está relacionado ao fato dos

mesmos terem um conhecimento mais amplo do mercado de trabalho, considerando que

a maioria já está inserida nele e buscou o curso para impulsionar a carreira.

7.3 TERCEIRO ENCONTRO

Nesse encontro os participantes deveriam receber as orientações sobre

entrevista de seleção, além de poderem discutir algum tema que tivessem indicado

anteriormente. Ao final do encontro avaliaram a proposta através de um questionário. A

avaliação foi quanto aos seguintes fatores: local, horário, recursos utilizados, temas

apresentados, coordenação, carga horária, aquisição de novos conhecimentos, relevância

da proposta e auto-avaliação. Poderiam também dar sugestões e fazer críticas. O grupo

das Humanas não respondeu ao questionário no dia, pois eram 22 horas e seus

integrantes queriam ir embora. Ficaram de preencher e entregar no dia seguinte. Durante

toda semana a coordenadora foi até a sala de aula buscar os questionários preenchidos.

Contudo, apenas cinco foram entregues.

Os que quisessem uma avaliação mais aprofundada do IPCP e informações

sobre o como montar um currículo deveriam entrar em contato com a coordenadora, que

estaria agendando um horário para orientações específicas. Uma participante das

Humanas e uma das Agrárias se interessaram em aprofundar os temas, mesmo assim,

não quiseram agendar um horário.

O grupo das Exatas foi o único que sugeriu algum tema para ser discutido,

sendo que o escolhido foi autodesenvolvimento. Nos outros grupos trabalhou-se apenas

a entrevista de emprego.

Os integrantes do grupo das Exatas receberam uma folha de papel em branco

onde deveriam listar seus pontos fracos e fortes, além de dar uma nota de zero a dez em

como estavam nas seguintes competências: criar e consolidar relacionamentos,

liderança, comunicação, tomar decisões, ter iniciativa, saber ouvir e ser empreendedor.

Ao final deveriam definir metas a curto, médio e longo prazo. Para cada uma dessas

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metas deveriam fazer os seguintes questionamentos: É um plano realista? Disponho dos

recursos necessários para isso (financeiro, pessoal e social)? Caso não disponha, o que

tenho que fazer para conseguir isso?

A estratégia indicada para esse grupo encontra suporte na proposta apresentada

por Dutra (1996), na qual afirma que as pessoas precisam desenvolver uma reflexão

crítica de seu comportamento diante do planejamento de carreira através da auto-

avaliação, definição de objetivos de carreira e planos de ação.

A parte de entrevista de emprego deveria ser trabalhada através da dinâmica O

produto é você. Os integrantes do grupo não quiseram sair de seus lugares e participar.

Respeitando o perfil desse grupo, optou-se para que escolhessem as embalagens de seus

lugares, e as mesmas seriam entregues onde estavam. Um dos deles foi olhar as

embalagens e escolheu a da “Promosão”2[2]. Os integrantes que receberam as

embalagens em seus lugares demonstraram decepção quanto ao que tinham escolhido.

O fato de ficarem em seus lugares esperando que as embalagens lhes fossem

entregues indica que apesar de estarem interessados no autodesenvolvimento e

planejamento de carreira devem rever algumas posturas pessoais relativas à

acomodação. Dutra (1996) sugere que a maioria das pessoas percebe sua carreira como

oportunidades que podem ser aproveitadas, subordinando seu desenvolvimento ao

ambiente externo, não atuando sobre esse contexto.

Nesse grupo, apenas nove integrantes avaliaram a proposta, pois como a

Coordenação de curso decidiu pela presença coletiva, a maioria dos presentes se

ausentou antes do final para assistir a uma apresentação musical próxima à sala de aula.

As sugestões feitas por esse grupo foi que os temas sejam mais aprofundados, as

palestras mais dinâmicas e animadas, seja feita chamada tornando a presença dos

acadêmicos obrigatória e os professores também participem da palestra; que esses

trabalhos sejam feitos mais vezes durante o curso com uma carga horária maior para que

se explorem mais assuntos. As críticas foram quanto à falta de interesse de alguns

acadêmicos e a falta de vivência prática da teoria em que os mesmos pudessem avaliar

seu desempenho.

O grupo das Exatas apresentou um forte envolvimento com a proposta e os

acadêmicos reconhecem a importância desta para as suas carreiras. Porém, apresentam

2[2] Algumas embalagens do jogo tinham os rótulos escritos propositalmente com erros para testar a percepção e a atenção dos participantes.

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atitudes de passividade, não se preocupando quanto à empregabilidade. Cognitivamente

eles sabem que precisam mudar, mas existe uma dicotomia entre o discurso e a prática,

evidenciada pelo fato de não terem feito a auto-avaliação e criticarem por não vivenciar

uma situação prática em que pudessem avaliar seus desempenhos, e também, por

sugerirem palestras mais dinâmicas, sendo que, ao serem solicitados a participar

preferiram permanecer em seus lugares esperando receber as embalagens.

Outro ponto que foi observado é que ao mesmo tempo em que solicitam o tema

autodesenvolvimento e sugerem que haja uma carga horária maior, que se explorem

mais assuntos e que tenham outros momentos como esse durante o curso, eles não

buscam o aprimoramento espontaneamente. Requisitam o serviço, mas quando esse é

oferecido individualmente não se disponibilizam para tal. Esperam receber

passivamente, como se a Universidade fosse responsável pelo seu autodesenvolvimento.

Conforme Chiavenato (1999), para que a carreira seja desenvolvida é necessário que

haja primeiro o desenvolvimento pessoal.

No grupo das Agrárias, os participantes foram chegando aos poucos ao local do

encontro. Foram convidados a ver de perto os “produtos” e escolherem o que achassem

melhor. Quatro deles se levantaram e foram olhar as embalagens. Escolheram as da

“Promosão”, a de achocolatado e a caixa de ovos em bom estado. Um participante, que

não quis se levantar escolheu a embalagem para 18 ovos. A discussão sobre essa

dinâmica foi que aquelas embalagens representavam os candidatos ao emprego e eles

eram os contratantes. Um aluno disse “eu não vou contratar aquela amassada”. Outro

respondeu: “é porque ele teve que ir de ônibus”.

O grupo das Agrárias fez muitas perguntas relacionadas aos temas e no final

mencionou que as orientações auxiliaram a perceber o motivo pelo qual muitos não

foram bem em algumas entrevistas que tinham participado.

A avaliação da proposta foi entregue a eles. As sugestões dadas por eles foram:

“Realizar o trabalho em outro horário”; “Implantar essa proposta sempre nos

primeiros tempos, pois os alunos estarão mais receptivos e participantes”; “Utilizar

dinâmicas em todos os encontros”; “Que mudem o horário e seja em local diferente”;

“O local poderia ser maior e com recursos de som”; “Poderia haver um exercício de

entrevista em que os participantes da turma seriam avaliados para admissão ao

emprego”; “Mais tempo para desenvolver a proposta e mais dinâmicas, assim é

possível que possamos tirar ainda mais proveito”.

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A sugestão de outro horário surgiu em função de que os encontros foram

realizados das 11:00 as 12:40, o que gerou desconforto, pois os mesmos estavam

cansados e com fome. A solicitação de mais dinâmicas indica que os mesmos, assim

como o grupo das Exatas, têm necessidade de um estímulo externo.

As críticas foram expressas como: “Apesar de todo conteúdo ministrado

chega-se a conclusão que os caros colegas não se portaram de forma adequada, já que

as aulas foram para mostrar como devemos agir perante pessoas diferentes do nosso

cotidiano”; “A coordenadora foi boa, só tem que ter mais firmeza com as palavras e

com o pessoal”; “Poderia ter sido melhor se a turma da sala se empenhasse mais em

aprender. Algumas pessoas acham que sabem tudo”.

A participante que solicitou da coordenadora mais firmeza com a turma

demonstra o quanto os acadêmicos apresentam dificuldades em se adequar às novas

exigências do mercado de trabalho, que solicita pessoas críticas, flexíveis e proativas

(MALVEZZI, 1999).

Outra questão observada foi que, embora IPCP tenha apontado alguns

resultados para a categoria Eu sou mais Ação, eles ainda estão fantasiando o futuro. Isso

fica evidente na reação dos mesmos diante a cena do dinheiro, em que vibraram, e

depois diante a cena da pessoa desempregada ficaram chocados. Eles não percebem que

estarão vivenciando em poucos meses as situações apresentadas no vídeo, o que indica

imaturidade.

Assim como o grupo das Exatas, o das Agrárias não procurou o serviço

disponibilizado, no qual seria feito um trabalho mais aprofundado.

No grupo das Humanas o encontro teve início com 20 minutos de atraso, pois

os acadêmicos não estavam em sala de aula. Depois de iniciado o encontro, uma

acadêmica que chegou atrasada falou: “De novo isso?!”(sic). Os demais acadêmicos

foram convidados a ver de perto as embalagens. Apenas quatro atenderam, sendo que

um deles pegou a embalagem de ovo em bom estado. A coordenadora reiterou a

proposta para que eles escolhessem algum produto. Dessa vez, sentados, escolheram as

duas caixas de leite da “Promosão”, a embalagem de ovo danificada, a caixa de leite

encapada com uma figura de capim. Duas embalagens não foram escolhidas pelo grupo:

a enfeitada com os trevos da sorte e a de achocolatado.

O grupo não fez perguntas e nem deu opinião. Ao final do encontro alguns

acadêmicos pediram para que a coordenadora disponibilizasse as apresentações e o

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material do IPCP. Esse pedido não foi atendido, considerando que a proposta era

despertar o interesse dos participantes em buscar o autodesenvolvimento.

Dos três grupos que participaram da proposta esse foi o menos reflexivo.

Esse resultado é preocupante, pois conforme Malvezzi (1999), as mudanças no contexto

produtivo exigem que o trabalhador tenha a reflexão como o principal instrumento de

trabalho.

Apenas cinco participantes das Humanas responderam ao Questionário de

Avaliação. As sugestões feitas foram: “Não focar muito na parte da entrevista, um dia

somente para esse tema ficou desgastante”; “Que esse trabalho seja o início de um

futuro incentivo a outros, aos acadêmicos que se interessam pela área buscar

especializações”; “Temas mais interessantes voltados à área específica de formação

com suas tendências e atualidades”; “Talvez pudesse haver pelo menos mais um

encontro”. “Gostaria que tivesse mais tempo para todos os assuntos”.

As críticas feitas foram as seguintes: “Esta proposta pode ser importante em

colégios, no 3º ano, para aqueles que ainda não tiveram contato com o mercado. Nesse

momento pouco pode ser aproveitado”; “Considero ser desnecessário este tema para

os alunos desta Universidade, principalmente do período noturno, onde a maioria dos

alunos trabalha para pagar a faculdade. Pelo menos eu, não preciso vir para a

Universidade aprender a fazer um currículo, prefiro participar das aulas e assim

adquirir conhecimento. Acredito que se essas oficinas fossem realizadas em escolas,

para alunos do ensino médio, seria bem útil”. Essas críticas confirmam as observações

feitas durante os encontros com esse grupo, em função de que os mesmos não aderiram

à proposta.

Em relação às críticas relacionados a orientação de elaboração do currículo,

cabe destacar que devido ao atraso em iniciar o encontro essas orientações não foram

passadas, motivo pelo qual a coordenadora disponibilizou seu e-mail para que os

mesmos pudessem solicitar orientações específicas ou agendar um horário para

orientações individuais mais detalhadas.

Isso leva-nos a considerar que esse grupo não entendeu a proposta e por isso

não aderiu. Contudo, independente do fato de não entender a proposta, valores como

educação, sociabilidade, empatia e ética são requisitos primordiais nas relações. Antes

de desenvolverem a carreira externa esses acadêmicos devem pensar em como estão

suas carreiras internas. Conforme Schein (2007), a carreira interna, ou inclinação

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profissional, está relacionada à percepção do desenvolvimento profissional, englobando

os significados do trabalho e sua dimensão na vida da pessoa.

A discussão acima também encontra embasamento em Gramigna (2002) que

observa que algumas pessoas acumulam informações, mas não sabem fazer o devido

uso delas. Não basta ter habilidades, essas têm que ser demonstradas na prática e não

teoricamente. De nada adianta reter conhecimento quando se carece da base, que são os

valores, crenças e princípios que comandam as atitudes. Almejar habilidade sem

desenvolver os outros aspectos anteriores a ela é ser ingênuo.

O grupo das Humanas enfocou mais o emprego, se preocupando menos com as

questões relativas à empregabilidade, ou seja, mais à ocupação que à carreira. As

perspectivas que apresentaram se referem às posições imediatistas, o que em longo

prazo pode ser prejudicial para a carreira. Super e Bohn Jr. (1972) consideram essencial

diferenciar carreira e ocupação, uma vez que muitos usam os dois termos como

similares. A ocupação se refere ao que a pessoa faz e recebe por isso. Já a carreira é a

trajetória ocupacional durante algum tempo, requer planejamento, uma vez que exige

preparo para assumir determinados papéis.

Esse grupo precisa amadurecer seu autoconceito. Schein (2007) nos lembra que

o autoconceito é formado a partir da percepção da pessoa sobre si e se firma quando ela

busca, além de conhecer, ter coerência e integrar suas aptidões, competências,

motivações, necessidades, valores e objetivos de vida.

Conforme dito anteriormente, há uma indicação de que esse grupo precisa

desenvolver a inteligência emocional, considerando que, mais do que as outras áreas, a

de Humanas lida diretamente com pessoas, o que demanda empatia. Para que essa

mudança ocorra se faz necessária uma mudança de paradigma. Para Covey (2007), essa

mudança pode ocorrer diante de uma crise, em que é preciso rever posturas. Contudo,

uma mudança significativa só ocorre quando alteramos nossa percepção e o modo de

agir e pensar.

Em todos os grupos pesquisados, observou-se a necessidade de aprimorar

aspectos relativos à proatividade, uma vez que eles não se engajaram totalmente nas

atividades. Ficaram esperando receber, sem atuar sobre o ambiente. Covey (2007)

considera que a proatividade leva à eficácia. Ser proativo é ir além de tomar a iniciativa,

exige que a pessoa assuma a responsabilidade pela sua vida e faça as coisas

acontecerem. As pessoas são naturalmente voltadas à proatividade, porém, quando se

deixam influenciar por fatores externos essa não se desenvolve. Quando isso ocorre a

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pessoa se torna reativa, em que as atitudes ficam vinculadas às condições recebidas pelo

ambiente externo, ou seja, se recebem algo que percebem como agradável suas atitudes

são positivas, caso contrário, assumem uma postura defensiva ou protetora.

A partir das contribuições de Covey (2007), podemos inferir que o grupo da

área de Humanas se posicionou reativamente à proposta de planejamento de carreira e o

delineamento do perfil profissional. Dutra (1996) alerta que as empresas cada vez mais

buscam pessoas com um perfil empreendedor, que possam colaborar e aumentar a

produtividade. As pessoas que planejam a carreira se enquadram nesse perfil. O mesmo

autor destaca que no Brasil as pessoas guiam suas carreiras por apelos externos, como

remuneração, status e prestígio, ignorando preferências pessoais.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar a série de oficinas de Planejamento de Carreira, percebe-se que os

grupos pesquisados estão aquém do segundo estágio do desenvolvimento de carreira,

propostos por Schein (2007), Super e Bohn Jr. (1972). Nessa etapa da formação, eles já

deveriam estar desenvolvendo os pré-requisitos necessários ao exercício da profissão,

assim como explorar e delimitar os papéis ocupacionais, se direcionando para o

mercado de trabalho. Outra característica dessa segunda fase, indicada pelos autores

supracitados, é que a pessoa consegue fazer a auto-análise, o que não foi observado

entre eles.

De um modo geral, nota-se a falta de amadurecimento dos acadêmicos no que

diz respeito à atuação profissional. Muitos ainda estão esperando o acaso e a sorte para

inserção no mercado de trabalho. Os participantes das Exatas têm cognitivamente essa

visão, mas faltam-lhes atitudes mais direcionadas ao planejamento de carreira.

É preocupante a passividade dos grupos trabalhados. Eles se posicionam

distantes da visão realística de um perfil profissional. Se prendem ao papel de

universitário e, nesse sentido, se concentram apenas no conteúdo ministrado durante as

aulas e se angustiam nos dias de avaliação. Não perceberam que devem se projetar para

o mercado de trabalho, mudar os paradigmas arraigados, ao invés de ficarem alheios, ou

negando a realidade apresentada.

O trabalho realizado levou o acadêmico a uma reflexão sobre suas

potencialidades e fragilidades diante das competências individuais que o mercado exige.

A proposta despertou o interesse dos acadêmicos em planejarem suas carreiras e

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aumentar a empregabilidade. Cabendo a eles agora buscar os meios necessários para

isso.

As oficinas serviram para lançar uma semente. A evolução dos participantes

dependerá do quanto ficaram sensibilizados para a importância da aprendizagem

continuada e qualificação profissional. Diante das reações de alguns participantes, pode-

se destacar que a consciência plena deverá ser um processo mais demorado,

considerando a imaturidade com que se portaram nos encontros.

O IPCP possibilitou estabelecer um perfil desses acadêmicos, indicando que

precisam ampliar mais ações voltadas ao planejamento de carreira e à empregabilidade.

A intervenção realizada indica que há necessidade de implantar e implementar

essa proposta de ação nas políticas institucionais, por meio de ações de

acompanhamento do acadêmico do início do seu curso ao término, avaliando em qual

estágio ele se encontra e o que ainda tem que desenvolver. Essas ações poderiam ser

feitas por setores específicos, como o Programa A.S.A e/ou como disciplina curricular

ou como curso extracurricular que prepara o acadêmico para a empregabilidade.

Algumas universidades brasileiras já adotaram políticas institucionais para essa

questão, dentre as quais se destacam a Universidade Federal de Santa Catarina, que

criou um Núcleo de Empregabilidade que assessora os acadêmicos na formação de sua

carreira, e também como disciplina curricular, como é o caso da Universidade

Presbiteriana Mackenzie.

A proposta de um serviço que prepare o acadêmico para o mercado de trabalho

é altamente relevante, pois além de contribuir para que os jovens recém graduados

tenham maiores chances no mercado de trabalho, faz cumprir importantes missões da

Universidade, que são a cooperação com o mundo do trabalho e a preocupação com as

necessidades sociais.

Essa indicação se faz pertinente em vista dos resultados obtidos, e também por

ser uma proposta preventiva. Essas observações encontram suporte em Valori e Ramos

(2001) que destacam que a identidade profissional se consolida na Universidade,

período no qual o acadêmico deixa um projeto idealizado de profissão para um mais

realista, o que requer amadurecimento e crescimento pessoal.

Quanto aos futuros profissionais, a clareza sobre a identidade profissional

permite a preparação necessária para a aquisição das competências requeridas para a

empregabilidade.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – VÍDEO PLANEJAMENTO DE CARREIRA

Título: Planejamento de Carreira

Criação: Tânia Aparecida Palhares Coutinho

Desenvolvimento: Vinicius Palhares Coutinho

Duração: 4 min e 38 segundos

Música: Losing my religion – Rem

Ano: 2008

Descrição: esse vídeo mostra a trajetória feita da entrada na universidade à inserção no

mercado de trabalho, através de cenas marcantes dos momentos principais. Os anos na

universidade são representados pela entrada, a aprendizagem, os amigos, as festas, os

sonhos e a formatura. A inserção no mercado de trabalho se faz presente através do

contato com a realidade do que se exige, desde a entrega do currículo até as

competências necessárias. Outros pontos abordados pelo vídeo são importância da

educação continuada, da adequação e da identidade profissional. O tema principal –

Planejamento de Carreira, é representado pelas etapas dentro de um projeto maior, que

incluem projeto de vida, objetivos e autoconhecimento.

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APÊNDICE B - JOGO PEÇAS DAS RELAÇÕES Objetivo: proporcionar aos participantes uma reflexão ou uma auto-avaliação em

relação à conduta adotada no trabalho em equipe, em que poderão ser suscitadas

questões relativas ao mercado de trabalho, ética nas relações, comunicação, criatividade

e resolução de problemas.

Material: cinco jogos de quebra-cabeças e uma caixa pequena.

Desenvolvimento do jogo

O coordenador do jogo escolhe dez participantes, que serão separados em dois

grupos. No grupo 1 estarão os responsáveis pela troca das peças. No grupo dois estarão

os responsáveis em formar cinco novos grupos. Todos os participantes deverão escolher

uma pessoa que deverá guardar a caixa, passando a ser designada de “fiel depositária”.

O jogo funciona da seguinte forma: as peças dos quebra-cabeças são

embaralhadas e divididas em seis partes. Cada grupo formado receberá uma parte e a

escolhida para guardar a caixa receberá outra parte, que estará dentro da caixa. Os cinco

participantes que foram escolhidos no início do jogo serão destacados para auxiliar os

grupos nas trocas das peças, e somente eles poderão se movimentar entre os grupos.

Para o reconhecimento das peças cada grupo terá dois minutos. O tempo para montagem

poderá ser negociado com os grupos, conforme a dinâmica e o número de participantes.

Assim que os grupos chegarem à conclusão de que não poderão completar o quebra-

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cabeça, pois faltam peças, os encarregados pelas trocas deverão “negociar” com a

pessoa que ficou responsável pela caixa com as peças restantes. As peças restantes

deverão ser dispostas em cima de uma mesa, ou similar, com a parte da figura para

cima. Os “negociadores” não poderão falar, indicar a peça com dedo, tocar nas peças e

na “fiel depositária”. Cada negociador deverá escolher apenas uma peça por vez.

Deverão utilizar formas de comunicação que não seja falada. A cada escolha deverão

mudar a tática utilizada. Também não poderão copiar a solução do outro. Se a “fiel

depositária” der uma peça errada, por não ter entendido a mensagem, o “negociador”

não poderá devolver a peça, devendo dá-la a outro grupo. Se o “negociador” não se fizer

entender, deverá voltar ao final da fila, dando vantagem aos outros. Ao final todos

deverão ter montado os quebra-cabeças.

APÊNDICE C - DINÂMICA - O PRODUTO É VOCÊ

Objetivo: proporcionar aos participantes uma reflexão ou uma auto-avaliação em

relação à importância da apresentação e do marketing pessoal, e possibilitar discussões

sobre aspectos relacionados à entrevista de emprego.

Material: uma embalagem amassada de leite longa vida semi-desnatado; duas

embalagens de leite integral, em que a data de validade foi propositalmente camuflada

por uma fita adesiva, colocadas dentro de um saco plástico com uma folha com a

palavra “Promosão” em destaque e em letras menores escrito “Não aceitamos

reclamasões e nem devolusões”; uma embalagem de leite longa vida encapada com uma

gravura de capim; uma embalagem de leite longa vida encapada com papel vermelho e

sobre este pregadas flores, folhas e trevos da sorte como brinde pela compra; uma

embalagem de para doze ovos em perfeitas condições; uma embalagem para dezoito

ovos com a frente suja de ovo quebrado e erva-mate; duas embalagens de achocolatado

de marcas diferentes.

Disposição do grupo: os participantes deverão se sentar em cadeiras disposta em

circulo ou semicírculo.

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Desenvolvimento

As embalagens deverão ser dispostas em uma superfície plana, podendo ser

uma mesa ou prateleira. Os participantes serão convidados a encolher um produto,

podendo se levantar ou permanecer em seu lugar. Depois cada um justifica a escolha

feita. A partir das justificativas serão feitas as discussões mais relevantes sobre o tema

abordado.