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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO TÂNIA ELIZETTE BARATA PEREIRA PERCORRENDO CAMINHOS DA INCLUSÃO DIGITAL: O PROJETO UM COMPUTADOR POR ALUNO UCA EM SÃO JOÃO DA PONTA (PA) FORTALEZA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TÂNIA ELIZETTE BARATA PEREIRA

PERCORRENDO CAMINHOS DA INCLUSÃO DIGITAL:

O PROJETO UM COMPUTADOR POR ALUNO – UCA EM SÃO JOÃO DA PONTA

(PA)

FORTALEZA

2013

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TÂNIA ELIZETTE BARATA PEREIRA

PERCORRENDO CAMINHOS DA INCLUSÃO DIGITAL:

O PROJETO UM COMPUTADOR POR ALUNO – UCA EM SÃO JOÃO DA PONTA (PA)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação Brasileira da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em

Educação. Área de concentração: Educação,

Currículo e Ensino.

Orientador: Prof. Dr. Alcides Fernando Gussi.

FORTALEZA

2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências Humanas

___________________________________________________________________________

P496p Pereira, Tânia Elizette Barata.

Percorrendo caminhos da inclusão digital: o Projeto um Computador por Aluno – UCA em São

João da Ponta (PA) / Tânia Elizette Barata Pereira. – 2013.

136 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de

Pós-Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza, 2013.

Área de Concentração: Educação.

Orientação: Prof. Dr. Alcides Fernando Gussi.

1.Inclusão digital – Aspectos sociais – São João da Ponta(PA). 2.Comunidade e escola – São

João da Ponta(PA). 3.Projeto Um Computador por Aluno. I. Título.

CDD 303.4833098115

___________________________________________________________________________

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TÂNIA ELIZETTE BARATA PEREIRA

PERCORRENDO CAMINHOS DA INCLUSÃO DIGITAL:

O PROJETO UM COMPUTADOR POR ALUNO – UCA EM SÃO JOÃO DA PONTA (PA)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação Brasileira da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em

Educação. Área de concentração: Educação,

Currículo e Ensino.

Orientador: Prof. Dr. Alcides Fernando Gussi.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Dr. Alcides Fernando Gussi (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Prof. Prof. Dr. José Aires de Castro Filho

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Prof. Prof. Dr. Cátia Regina Muniz

Universidade de Campinas (UNICAMP)

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Dedico este trabalho a minha família, em

especial ao meu filho Amir Sauma por todo

amor que sinto.

.

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AGRADECIMENTO

Obrigada a Deus por ter possibilitado estar nesta jornada com saúde, paz e

felicidade sempre. Obrigada a Nossa Senhora de Nazaré por tudo que tenho e sou e também

por me possibilitar vê-la todos os anos no Círio, onde recarrego as forças necessárias ao ano

seguinte.

Esta dissertação é fruto da participação de várias pessoas que cruzei ao longo da

vida seja em casa, escola, universidade e trabalho. Então vamos começar.

Primeiro gostaria de agradecer ao professor Alcides Gussi, meu orientador, por

todo o suporte oferecido, seja de estrutura física para trabalho e, principalmente, aquilo que é

mais valioso em um orientador que é a orientação. Com você, professor, aprendi que um texto

se constrói com idas e vindas, com a indicação de caminhos possíveis, com o debate de ideias,

enfim, por tudo o que o senhor fez. Obrigada pela confiança em mim depositada: sei que por

toda a vida vou levar seus ensinamentos.

Gostaria também de Agradecer a comunidade do Município de São João da Ponta,

no Estado do Pará, que tão bem me acolheram durante o período desta pesquisa.

Agradeço aos meus pais, César e Fátima Pereira, por todo esforço dedicado a

nossa educação e principalmente pelos exemplos na infância, que hoje repasso ao meu filho.

Com vocês aprendi a importância do livro e o valor da educação. Em especial, a minha Mãe

por todo carinho, amor e cuidado ao meu filho e principalmente pela orientação dos que

cuidavam do Amir.

Ao Michel pelo amor, carinho, amizade e por cuidar tão bem do que nos é mais

precioso, nosso filho, o pequeno Amir Sauma. Sempre lhe serei grata por estimular meu

crescimento profissional e por ter organizado todo um suporte que sempre me deixou

tranquila para produzir e nos momentos necessários me ausentar.

Às minhas amadas e queridas irmãs Tatiany, Tays, Tanizy, Tayza, Tayna e ao

meu irmão Taygo que me conhecem provavelmente mais que eu mesma e por cooperarem,

cada uma de um jeito, para que eu seguisse e finalizasse este texto.

A minha comadre e irmã Tayza Ferreira e o meu compadre César Leal Ferreira

por no início deste estudo ser tão presentes na vida do meu filho.

A dona Conceição, que cuidou do Amir desde os seis meses de vida, e a dona

Débora por protegerem e guardarem o que me é mais precioso na vida: sem vocês não

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conseguiria produzir nas disciplinas e nos momentos finais dessa dissertação. Obrigado por

tudo.

Aos amigos do mestrado, Jaiane Ramos e Cícero Bandeira, e demais colegas

Débora, Naiola e Iraci, pelas trocas pessoais e acadêmicas e também por participaram de um

momento tão especial da minha vida.

Ao professor José Aires por ter permitido participar do grupo UCA/CE em

Fortaleza, o que certamente cooperou para que eu pudesse entender a importância de

elementos como profissionalismo e dedicação na execução de ações de forma ao UCA dar

frutos e resultados.

A minha amiga Elisa Cunha pelas conversas sempre produtivas e pelo apoio

quando me sentia triste por estar longe dos que amava. Obrigada também por me dar o maior

e melhor exemplo superação o meu lindo e amado afilhado Eduardo Cunha.

Ao Núcleo de Políticas Publicas do MAPP na UFC, meu local de trabalho nos

últimos meses, na pessoa da Katiane, sempre tão gentil, e da Vânia: a vocês meu obrigado.

Ao governo do Estado do Pará, pela licença para estudo, sem a qual seria muito

difícil realizar esta pesquisa.

Por fim, agradeço ao meu filho Amir Sauma, criança amorosa, adorável e

inteligente: obrigada por me fazer sentir que entendestes minhas ausências e por perceber que

estas, de certa forma, fizeram-te mais forte e melhor, saiba que tudo será sempre para ti, meu

amor.

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“Palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e

assim se faz um livro, um governo, ou uma

revolução, alguns dizem mesmo que assim é

que a natureza compôs as suas espécies...”

Machado de Assis

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RESUMO

As novas tecnologias de informação e comunicação têm originado modificações nas

estruturas produtivas e nas relações sociais da atualidade com o surgimento de um novo

paradigma o da “sociedade da informação”. É nesse contexto de mudanças que se insere o

projeto UCA, política pública de inclusão digital de forma a inserir o Brasil aos contornos da

sociedade da informação. Esta pesquisa de dissertação tem por temática a implementação do

projeto Um Computador por Aluno – UCA no município de São João da Ponta – SJP, no

estado do Pará – PA, tendo por problemática saber em que medida o projeto UCA, nesse

município, promove a inclusão digital preconizada em seus objetivos. De forma atingir os

objetivos da pesquisa foi realizada uma pesquisa de campo de cunho etnográfico, com o

intuito de realizar uma descrição narrativa do projeto UCA em SJP, considerando o contexto,

a cultura e os significados a ele atribuídos na localidade. Para tanto, foi tomada como

categoria analítica norteadora desta dissertação, a noção de inclusão sócio-digital

(WARSCHAUER, 2006; BECKER, 2009; CYSNE 2007; DEMO, 2005; SORJ, 2003). Os

resultados indicam que o projeto UCA se aproxima da abordagem de inclusão sócio digital;

foi observado que o UCA não modificou a estrutura física das escolas beneficiadas com o

projeto, nem impregnou neste espaço, mas foi potencialmente absorvido pela comunidade da

sede de SJP onde percebemos indícios de letramento digital e também o desenvolvimento de

comunidades práticas (WARCHAUER, 2006). O projeto UCA em SJP atingiu objetivos

econômicos, sociais, mas não os educacionais dentro do espaço escolar com a perspectiva de

melhoria da qualidade da educação e com a imersão de estudantes e professores numa cultura

digital. Porém, possibilitou outras aprendizagens nos vários espaços da sede de SJP aos

estudantes, ex-estudantes envolvidos e seus familiares. Assim, considerando a análise das

dimensões que constroem os processos de inclusão digital do projeto em SJP, que são as

aprendizagens, sociabilidades em rede e mudanças pelo UCA, pode-se colocar que no espaço

além escola, na comunidade da sede de SJP, há indícios de uma tímida, mas presente inclusão

sócio-digital dos participantes.

Palavras-Chave: Um computador por Aluno, Projeto UCA, Brasil, Amazônia, Sociedade da

Informação, Inclusão sócio digital, Pesquisa etnográfica.

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ABSTRACT

New information and communication technologies have given rise to modifications in modern

social relations, with the arrival of the “information society”. In this context the One

Computador per Student - UCA project has been initiated to promote digital inclusion and to

bring Brazil into the information society. This research treats the implementation of the UCA

project in the rural municipality of São João da Ponta in the northern Brazilian state of Pará,

examining the promotion of digital inclusion among students. Ethnographic field research was

undertaken in order to describe the UCA project in terms of local culture and conditions. The

notion of socio-digital inclusion was central to this research (WARSCHAUER, 2006;

BECKER, 2009; CYSNE 2007; DEMO, 2005; SORJ, 2003). Results indicate that the UCA

Project promoted digital inclusion, did not modify the physical structure of participating

schools nor took over their spaces. The project promoted digital literacy and community

development (WARCHAUER, 2006). The UCA Project obtained its economic and social

objectives, but not its educational goals of improving educational quality by immersion of

both students and teachers in digital culture. On the other hand, the project opened up new

educational opportunities for current and former students and their families in various places

in the municipality. Considering the expected educational, social and transformational

possibilities of the project, both within schools and communities, a timid but nevertheless

evident promotion of socio-digital inclusion was found among project participants.

Key words: One computer per student, UCA project, Brazil, Amazon region, Information

society, Digital inclusion, Ethnographic research.

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LISTA DE FIGURAS

Figura - 1 Linhas de Ação do programa Sociedade da Informação no Brasil:

construído a partir do Livro Verde.

26

Figura - 2 Recursos que contribuem para acesso ao TIC 32

Figura - 3 Escolas do pré-projeto do Programa UCA 53

Figura - 4 Cronograma de implantação do Programa UCA 55

Figura - 5 Estrutura de formação do Programa UCA (Fonte: BRASIL, 2009). 58

Figura - 6 Estrutura UCA/UNICAMP. 59

Figura - 7 Locais de uso do Laptop UCA pelos estudantes e ex-estudantes em SJP 91

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LISTA DE IMAGENS

Imagem - 1 Torre do Programa Navega Pará na sede do Município de SJP. 61

Imagem - 2 São João da Ponta e o UCA 64

Imagem - 3 Praça central da sede de SJP 67

Imagem - 4 Recorte do Mapa do Estado do Pará destacando São João a Ponta. 68

Imagem - 5 Espaços de SPJ 70

Imagem - 6 Vilas de SJP 71

Imagem - 7 Mapas com as vilas de SPJ e sedes do município 72

Imagem - 8 Escola Municipal Rosa S. Almeida 74

Imagem - 9 Escola Municipal Raul Lagoia 75

Imagem - 10 Escola Municipal Brígido Coelho 75

Imagem - 11 Escola Municipal Rômulo Almeida 76

Imagem - 12 Escola Municipal Guarumã Pacu 77

Imagem - 13 Escola Municipal Teodoro Gurjão 78

Imagem - 14 Escola Municipal Tenente Cipriano Chagas 78

Imagem - 15 Escola Estadual Antonia Rosa 79

Imagem - 16 Escola Estadual Antonia Rosa 81

Imagem - 17 Escola Municipal do Açu 82

Imagem - 18 Escola Municipal Clarinda Rodrigues 83

Imagem - 19 /Escola Municipal Feliciano Rodrigues 84

Imagem - 20 Sujeitos e Espaços do UCA em SJP 87

Imagem - 21 Aluna na Escola Estadual Antonia Rosa 95

Imagem - 22 Aluno na praça central de SJP. 98

Imagem – 23 Família de Aluno na residência 99

Imagem – 24 Estudantes a Praça em SJP. 102

Imagem – 25 Artesanato produzido por família de estudante a partir do UCA. 106

Imagem - 26 Estudantes reunidos em SJP. 108

Imagem - 27 Alunos no espaço escolar 111

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LISTA DE QUADROS

Quadro - 1 Projetos e programas de inclusão digital do Governo Federal 41

Quadro - 2 Objetivos do Programa UCA 50

Quadro - 3 Concepções do Projeto UCA. 50

Quadro - 4 Fatores e finalidades do programa UCA 51

Quadro - 5 Critérios de seleção de escolas para o UCA Total 56

Quadro - 6 Etapas e Critérios de implementação do projeto UCA nas escolas. 56

Quadro - 7 Eventos da pesquisa. 67

Quadro - 7 Situação de infraestrutura das Escolas das Vilas de SJP/2013 84

Quadro - 8 Estudantes e ex-estudantes e famílias em SJP. 90

Quadro - 9 Aprendizagens pelo UCA. 101

Quadro - 10 Sociabilidades em rede pelo UCA. 104

Quadro - 11 Mudanças pelo UCA 113

Quadro - 12 Indicadores de inclusão sócio-digital em SJP. 115

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LISTA DE TABELAS

Tabela - 1 Característica Computador UCA em SJP. 60

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica

ID Inclusão Digital

ISD Inclusão Sócio Digital

NTE Núcleo de Tecnologia Educacional

PROINFO Programa Nacional de Informática na Educação

PROINFO

INTEGRADO

Programa Nacional de Tecnologia na Educação

SEDUC/PA Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará - PA

SJP São João da Ponta

SI Sociedade da Informação

UCA Um Computador por Aluno

TIC Tecnologias de Informação e Comunicação

TI Tecnologia de Informação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16

2 UMA DISCUSSÃO DA INCLUSÃO DIGITAL 21

2.1 Contexto: a Sociedade da Informação 21

2.2 Entre Inclusão Digital e Inclusão Social 27

3 TRAJETÓRIAS DO PROGRAMA UCA 34

3.1 Políticas Públicas e Tecnologias de Informação e Comunicação na

Educação Brasileira.

34

3.2 Projetos e programas de inclusão digital do Governo Federal do Brasil na

atualidade

41

3.3 A discussão da literatura sobre o UCA 45

3.4 Contextos e objetivos do Programa UCA 47

3.5 As fases do Programa UCA 53

3.5.1 Projeto Pré-piloto 53

3.5.2 Projeto Piloto 54

4 O PROJETO UCA DE SJP 63

4.1 O percurso da pesquisa sobre o UCA em SJP 63

4.2 O contexto: São João da Ponta 67

4.3 Um mapeamento das escolas do Projeto UCA do em SJP 71

4.4 Sujeitos e espaços do UCA em SJP 87

4.5 Aprendizagens, sociabilidades e mudanças 93

4.5.1 Dimensão - 1: aprendizagens pelo Laptop do UCA em diferentes espaços. 95

4.5.2 Dimensão - 2: a construção de novas sociabilidades na rede 102

4.5.3 Dimensão - 3: mudanças e o UCA 106

4.6 O UCA e a inclusão sócio digital em SJP 114

CONSIDERAÇÕES FINAIS 118

REFERÊNCIAS 122

APÊNDICES 126

ANEXOS

133

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1 INTRODUÇÃO

Vivemos num período de transformação das estruturas produtivas, da

internacionalização financeira, da integração de mercados e da revolução tecnológica, que

permite a comunicação instantânea, tornando menos tênues as distâncias espaciais, entre os

autores que discorrem sobre as transformações nas estruturas produtivas e sociais, devido as

TICs, na atualidade podemos citar: Castells (2008); Mattelart (2003); Schaff (2001); Werthein

(2000). Estas transformações, oriundas deste mundo globalizado, têm as tecnologias digitais

como ferramenta e vêm possibilitando mudanças em várias dimensões em que diversos atores

sociais se orientam em expectativas, vontades, desejos e informações a partir dessas

tecnologias.

Como vemos, essas tecnologias revolucionaram a maneira como lidamos com a

informação, o conhecimento e o mundo. Nessa nova sociedade, denominada de sociedade da

informação (CASTELLS, 2008), a informação tem um papel predominante no

desenvolvimento econômico e social.

A “sociedade da informação” alude à emergência de um novo paradigma

informacional que, de acordo com Castells (2008), tem como características estruturais a

informação como matéria-prima, a penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias, o

predomínio da lógica de redes, a flexibilidade e, por fim, a crescente convergência de

tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, provocando mudanças formais e

institucionais nas formas de pensar, sentir e agir das novas gerações.

Aos países do mundo parece ser importante a inserção na SI de forma a se integrar

a nova dinâmica da economia mundial e, para essa inserção, faz-se necessário estratégias de

inclusão digital, no sentido de que a inserção da população na sociedade da informação requer

o acesso, além de outras questões, da população às TICs.

Nesse contexto, da sociedade a informação e da inclusão digital, é que surge o

projeto UCA1, objeto desta dissertação, ação conjunta da Presidência da República e do

Ministério da Educação, que está “em sintonia com Plano de Desenvolvimento da Educação –

PDE e com os propósitos do Programa Nacional de Tecnologia Educacional - ProInfo, que

segundo seus próprios termos “visa criar e socializar novas formas de utilização das

1 O Programa Um Computador por Aluno – UCA é composto por fase pré-piloto e fase piloto também conhecido

por projeto UCA, neste projeto alguns municípios foram selecionados e receberam o laptop UCA em todas as

suas escolas, contemplando todos os alunos e professores, a exemplo do município de São João da Ponta, objeto

desta pesquisa, no Estado do Pará.

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tecnologias digitais nas escolas públicas brasileiras, para ampliar o processo de inclusão

digital escolar e promover o uso pedagógico das Tecnologias de Informação e Comunicação”

(BRASIL, 2009, p.01). A fase piloto do UCA está sendo desenvolvida em vários estados

brasileiros e, em alguns estados, fez-se a seleção de um município para fazerem parte do

projeto UCA, em que todas as escolas da localidade recebem o laptop para todos os alunos e

professores.

Um dos estados contemplados foi o estado do Pará, com 10 (dez) municípios

participantes do projeto UCA. Destes, 09 com apenas 01 escola participante por município e

um município, São João da Ponta, onde todas as escolas - tanto estaduais quanto municipais -

foram beneficiadas pelo projeto UCA, onde todos professores e alunos recebem um

computador. A implantação do projeto em todo o estado se deu a partir do segundo semestre

de 2010.

Esta pesquisa tem por temática a implementação do Projeto UCA no município

SJP no contexto das políticas públicas contemporâneas de inclusão digital na educação básica.

Do exposto, problematizamos a seguinte pergunta de partida: em que medida o projeto UCA

nesse município, promove a inclusão digital preconizada em seus objetivos? Se

desdobrando em questões auxiliares: o que, de fato, essa inclusão digital preconizada pelo

UCA proporcionou aos diversos atores envolvidos, sobretudo os estudantes, em SJP? Como

eles próprios (re) significam o UCA e seus resultados?

Para responder essas questões, esta dissertação tem por objetivo geral analisar a

inclusão digital proporcionada pelo projeto UCA aos seus participantes no município de São

João da Ponta - PA. E os objetivos específicos são analisar qual abordagem de inclusão

digital esta presente nos marcos legais do programa UCA; verificar a existência de

infraestrutura física, de conexão de acesso e a disponibilidade de laptop, na escola e na

comunidade de SJP para inclusão digital dos participantes; compreender como estudantes e

famílias (re) significam o projeto UCA e seus resultados em SJP; e, por fim, analisar em que

medida o UCA leva a inclusão sócio-digital dos participantes do projeto em SJP.

Para tanto, tomamos como categoria analítica norteadora desta dissertação a noção

de inclusão sócio-digital, considerando que esta não se limita ao uso e manuseio do artefato

tecnológico, possuindo a perspectiva de ir além, na medida em que possibilita o indivíduo

compreender melhor a sua realidade e, a partir deste entendimento, exercer a cidadania, uma

abordagem pautada na idéia da inclusão social por meio da inclusão digital. Os autores de

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referencia para a inclusão sócio-digital, nesta pesquisa, são: Warschauer (2006); Becker

(2009); Cysne (2007); Demo (2005); Sorj (2003).

E, de forma a atingir os objetivos propostos, realizamos uma pesquisa de campo

de cunho etnográfico, com o intuito de realizar uma descrição narrativa do projeto UCA em

SJP, considerando o contexto, a cultura e os significados a ele atribuídos na localidade.

Sobre a etnografia, Pfaff (2010, p.256) coloca que a “etnografia tem sempre haver

com a investigação de mundo da vida de estranhos ou desconhecidos”. Neste sentido, o

pesquisador deve estranhar o campo a ser investigado. Para esta autora, a etnografia visa

também reconstruir a perspectiva dos sujeitos do campo; no entanto, devendo ressaltar que a

pesquisa etnográfica atual “apenas descreve a partir da perspectiva dos sujeitos e, na medida

do possível, utiliza as próprias palavras dos sujeitos investigados, ao passo que a análise

representa o ponto de vista do investigador” (PFAFF, 2010, p..256).

Em SJP a pesquisa etnográfica aconteceu no período de agosto de 2012 a maio de

2013. Foram feitas fotografias, observações, anotações em diário de campo sobre a realidade

local e das questões da pesquisa e também foram realizadas conversas e entrevistas com ex-

estudantes, estudantes, gestores e famílias nos vários espaços do município. As conversas

foram gravadas e anotadas no diário de campo da pesquisadora, assim como as entrevistas que

foram transcritas e analisadas e alguns trechos, de ambas, estão presentes no corpo desta

dissertação.

As motivações que suscitam a realização deste estudo se iniciaram a partir da

prática da autora desta pesquisa, como professora multiplicadora do Núcleo de Tecnologia

Educacional – NTE de Belém do Pará, onde atuei na implantação do projeto UCA na região,

mais especificamente em Belém, como professora formadora dos módulos de formação de

professores do projeto UCA.

A pesquisadora é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do

Pará - UFPA, onde desde a graduação passou a se interessar pela educação, neste período,

com especial atenção a educação informal, já que durante um tempo de sua formação

acadêmica estagiou num espaço de educação informal o “Planetário do Pará” da Universidade

do Estado do Pará – UEPA. Após a graduação foi chamada pela SEDUC para inicialmente

compor o quadro da Coordenação de Tecnologia Aplicada a Educação – CTAE e

posteriormente para atuar na formação de professores para o uso das Tecnologias de

Informação e Comunicação – TICs no NTE de Belém, de onde está licenciada para estudo.

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A partir desta prática e das discussões sobre o projeto, vivenciadas na Secretária

de Estado de Educação – SEDUC/PA e como colaboradora na Universidade Federal do Pará

que é a instituição de ensino superior local responsável pela execução do projeto no Pará, foi

o que motivou esta pesquisa.

Assim, sobre a implantação do UCA total em São João da Ponta foram suscitadas

questões a serem respondidas a partir deste estudo sobre o UCA: como o projeto UCA está

sendo desenvolvido no município de São João da Ponta? Que modificações podem ser

percebidas pelos sujeitos envolvidos a partir da implantação do projeto? E, por fim, quais as

necessidades e potencialidades deste projeto no município estudado.

De forma a responder aos objetivos desta pesquisa, estruturamos este texto

dissertativo em cinco capítulos. Inicio com a introdução, capítulo um, onde expomos o tema,

a pergunta de partida, os objetivos gerais e específicos desta pesquisa, além da justificativa

para o estudo e, por fim, a estrutura da dissertação. No segundo capítulo discorremos sobre a

sociedade da informação da qual o programa UCA é oriundo como forma a inserir o Brasil

aos contornos deste modelo de sociedade. No tópico seguinte discutimos sobre inclusão

digital e suas abordagens, tomando por referência para a pesquisa à abordagem de inclusão

sócio-digital a partir de Warschauer (2006) e outros autores, que coadunam a ideia de inclusão

social por meio da digital.

No terceiro capítulo, faço uma trajetória do programa UCA, localizando-o no

contexto das políticas públicas de tecnologias na educação desde a década de 70, onde ao

longo do tempo vemos mudanças de nomenclatura nos projetos, políticas e programas - como

a passagem do termo informática na educação para tecnologias na educação - e também a

inserção da inclusão digital nas políticas públicas na área, a partir do ano 2000. Neste capítulo

também vamos discorrer sobre os contextos, objetivos e fases do programa UCA a partir de

seus marcos legais, onde vamos chegar a conclusão que o programa UCA se aproxima da

abordagem de inclusão sócio-digital.

No quarto capítulo, ainda consideramos os dados da pesquisa de campo a inclusão

digital que, de fato, foi construída em SJP no contexto do UCA Total. Neste sentido, inicio

apresentando o percurso da pesquisa em SJP, em seguida o contexto do município que

possibilita seguir para outra etapa, que é o mapeamento de todas as escolas do município

participantes do projeto UCA Total. Dando continuidade a este trajeto, apresenta-se os

sujeitos e espaços do UCA em SJP e, por fim, apresentamos as três dimensões, deste estudo,

para analisar os processos de inclusão digital em SJP, que são aprendizagens, sociabilidades e

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mudanças pelo UCA, que junto aos outros tópicos deste capítulo possibilitam compreender a

inclusão digital vivenciada pelo UCA no município. No tópico final deste quarto capítulo faz-

se uma discussão sobre a inclusão sócio-digital experiênciada em SJP. Por fim, o quinto é

último capítulo, onde são apresentadas as considerações finais desta pesquisa de dissertação.

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2 UMA DISCUSSÃO DA INCLUSÃO DIGITAL

Iniciamos este capítulo discorrendo sobre a sociedade da informação onde

expomos suas características e expansão, que culminam com a inserção do Brasil neste

modelo de sociedade. No tópico seguinte, discorremos sobre o conceito de inclusão digital,

orientada pelo pressuposto de que o programa UCA é uma política de inclusão digital, entre

tantas outras, alinhadas aos pressupostos da inserção do Brasil2 aos contornos da sociedade da

informação, que alude à emergência de um novo paradigma informacional a ser seguido pelos

países.

Em seguida, discorremos sobre as relações entre os conceitos de inclusão digital e

de inclusão social e, tomando Warschauer (2006) como referência, apresentamos uma matriz

de análise de projetos e programas de inclusão sócio-digital, que será norteadora da pesquisa

sobre o projeto UCA em SJP.

2.1 Contexto: a Sociedade da Informação

Consideramos que não se pode pensar em inclusão digital como um elemento

desconectado das transformações do mundo e do sistema capitalista, mas pelo contrário: este

tema faz parte do contexto da Sociedade da Informação em curso no Brasil, como veremos

mais adiante.

Neste sentido, parte-se do pressuposto de que o programa de inclusão digital do

Governo Federal, UCA, objeto desta pesquisa, é oriundo das transformações da sociedade

rumo a SI.

Hoje vivemos num mundo permeado por tecnologia e a usamos nas transações

bancárias, no supermercado, na escola, no trabalho, nos contatos sociais, entre outras. O

domínio de uso das TCIs faz-se importante no acesso à informação e ao conhecimento, onde o

acesso à informação se apresenta como fonte de exclusão social e pobreza numa espécie de

divisão entre ricos e pobres de informação (MATTELART, 2003). Como forma de diminuir

as exclusões inerentes à sociedade da informação é que se insere o projeto UCA, que em seus

documentos oficiais diz:

2 No Brasil, as articulações políticas que se coadunam a esse paradigma iniciaram-se com o lançamento do

Programa Sociedade da Informação em 1999 e, posteriormente, com o lançamento do Livro Verde da Sociedade

da Informação, como abordaremos adiante (TAKAHASHI, 2000).

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A popularização do uso do laptop entre as crianças por meio do UCA trará, a médio

e longo prazo, impacto não apenas no nível de qualidade do ensino, mas também na

economia, no setor produtivo, na saúde e na prestação de serviços públicos. Irá

acelerar o processo de inserção do Brasil na Sociedade do Conhecimento, que já

caminha em ritmo acelerado (BRASIL, 2008, p.10).

Esta sociedade da informação caracterizar-se-ia por uma transformação da

sociedade iniciada a partir do século XVIII. A Primeira Revolução Científica e Tecnológica,

originada inicialmente na Inglaterra, estava atrelada ao processo de industrialização; a

Segunda Revolução, na segunda metade do século XIX, forneceu condições objetivas para um

sistema de produção em massa e pelo desenvolvimento dos meios de transporte e de

comunicação da atualidade. (LIBÂNEO et al., 2011).

Adam Schaff (2001) expõe que a primeira revolução técnica científica pode ser

situada entre o final do século XVIII e o início do século XIX, tendo como característica a

substituição, na produção, da força do homem pela máquina. A segunda, a qual estamos

assistindo agora, se caracteriza pela ampliação das capacidades intelectuais dos homens,

sendo possível até a sua substituição na produção e nos serviços. E a terceira, que se trata da

revolução da microeletrônica, da cibernética, da microbiologia, da engenharia genética, da

energia nuclear, da informática, dos chips. O autor nos coloca que “a primeira revolução

conduziu a diversas facilidades e a um incremento no rendimento do trabalho humano, a

segunda por suas conseqüências, aspira à eliminação total deste” (SCHAFF, 2001, p.22)

Este autor nos faz refletir que os elementos dessa terceira revolução técnico-

científica, tais como microeletrônica, microbiologia e energia nuclear, permitem abrir

“amplos caminhos do nosso conhecimento a respeito do mundo e também do

desenvolvimento da humanidade. Como vimos, as possibilidades de desenvolvimento são

enormes, como também são enormes os perigos inerentes a elas, especialmente na esfera

social” (SCHAFF, 2001, p.25).

Castells (2008) considera que houve pelo menos duas revoluções industriais: a

primeira, iniciada pouco antes dos últimos trinta anos do século XVIII, caracterizada pela

máquina a vapor e a substituição das ferramentas manuais pelas máquinas e, a segunda,

aproximadamente cem anos depois, que se destacou pelo desenvolvimento da eletricidade, do

motor de combustão interna e pelo início das tecnologias de comunicação. Para o autor, estas

duas revoluções difundiram-se por todo o sistema econômico e penetraram em todo o sistema

social, ressaltando que “entre as duas há continuidades fundamentais, assim como algumas

diferenças cruciais” (p.71).

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Para Casttels, a revolução tecnológica concentrada nas Tecnologias de Informação

e Comunicação remodela a sociedade em um ritmo acelerado e está originando uma nova

estrutura social. O autor considera que este novo paradigma possui as seguintes características

estruturais:

Primeiro, a informação como matéria-prima: são tecnologias para agir sobre a

informação, as tecnologias se desenvolvem para permitir ao homem atuar sobre a

informação propriamente dita; segundo, a penetrabilidade dos efeitos das novas

tecnologias, a informação é parte integrante de toda atividade humana, desta forma

todos os processos de nossa existência individual e coletiva tendem a ser afetadas

diretamente pelas novas tecnologias; terceiro, o predomínio da lógica de redes em

qualquer sistema ou conjunto de relações, esta lógica, característica de todo tipo de

relação complexa e necessária para estruturar o não estruturado, preservando, porém,

a flexibilidade, e graças às novas tecnologias pode ser implementada em qualquer

tipo de processo; quarto, a flexibilidade, não apenas os processos são irreversíveis,

mas as organizações e instituições podem ser modificadas, a tecnologia favorece

processos reversíveis e tem alta capacidade de reconfiguração e por fim a crescente

convergência de tecnologias especificas para um sistema altamente integrado, principalmente a microeletrônica, telecomunicações, optoeletrônica, computadores,

mas também e crescentemente, a biologia. Neste novo paradigma, as diversas áreas

do saber tornam-se interligadas pelo desenvolvimento tecnológico. (CASTTELS,

2008, p. 108-109).

Esta Era da Informação em larga escala surge com o advento da internet, a partir

de 1960, ou, mais especificamente, em 1969, através da ARPANET da Agência de Defesa dos

Estados Unidos da América (CASTELLS, 2008). Esta nova sociedade requer uma nova visão

de mundo e da relação entre as pessoas e essas necessidades irão se refletir não apenas no

mundo do trabalho, mas também em todas as esferas de nossa vida.

Estas transformações, tendo como ferramentas as novas tecnologias, dão suporte

ao que Sorj (2003, p.12) definiu como a “globalização da vida social”, isto é, “uma nova

realidade política e cultural, na qual os diversos atores sociais – indivíduos, grupos,

instituições, empresas – se orientam em função de informações, expectativas e desejos

inspirados em referenciais globais”.

Neste sentido, a sociedade da informação faria parte de uma ideologia dominante

de inclusão das TICs, fator que não é contestado por teóricos como Castells (2008). Este

coloca que “A sociedade da informação não evolui de maneira neutra, isenta de juízo de valor.

A TI, como todas as tecnologias, foi escolhida e moldada de conformidade com certos e

determinados interesses sociais e políticos” (CASTELLS, 2008, p.73). Em outro momento

citando Slack coloca que

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O discurso da revolução da informação tem um forte apelo para o senso comum,

qualquer que seja a classe, raça, sexo ou etnicidade do indivíduo. Não é um simples

instrumento usado pelos capitalistas para nos iludir. Ela é aceita de braços abertos e

promovida – não raro por seus caluniadores. É no mínimo, o mundo na qual estamos

sobrevivendo... (CASTELLS, 2008, p.74).

As novas tecnologias mudaram a maneira como lidamos com a informação, o

conhecimento e o mundo. Nessa nova sociedade, a informação tem um papel predominante no

desenvolvimento econômico e social. Werthein (2000) nos coloca que as transformações em

direção à sociedade da informação estão avançadas nos países mais desenvolvidos e

industrializados, apresentando-se como tendência dominante nas economias menos

industrializadas, constituindo um novo paradigma: o da tecnologia da informação, que

expressa a essência da presente transformação tecnológica nas relações da economia e a

sociedade.

Segundo Castells (2008), a corrida em direção à sociedade da informação esta

avançada nos países mais desenvolvidos. Neste contexto, os que não aderem a esta corrida,

sejam por não dispor de recursos tecnológicos para uso e apropriação das Tecnologias de

Informação e Comunicação – TICs e/ou acesso a internet, seriam os novos excluídos sociais,

agora denominados, também, excluídos digitais.

Esta corrida em direção à sociedade da informação acaba por gerar a articulação

de organismos nacionais e internacionais como a Organização das Nações Unidas - ONU,

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO,

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, Banco Mundial,

Fundo Monetário Internacional – FMI, entre outras, que orientam e impõem, isto

principalmente a partir da década de 90, aos países membros, políticas governamentais de

orientação às políticas de educação a nova agenda mundial, rumo a sociedade da informação

(LIBÂNEO et al., 2011). Estas organizações, citadas anteriormente, trabalham na elaboração

de ações e técnicas que sejam capazes de aferir o acesso, o uso e a apropriação das

Tecnologias de Informação e Comunicação.

A ONU tem entre seus Objetivos de Desenvolvimento do Milênio3, de 2005,

garantir a universalização do acesso à educação e, as Tecnologias de Informação e

Comunicação, apresentando um papel fundamental para possibilitá-la. Um dos princípios da

3 Compromisso assumido em 2005, por todos os 191 Estados – Membros das Nações Unidas. Fonte de acesso

<http://www.pnud.org.br/odm/index.php>. Acesso: abril.2012.

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educação defendidos pela UNESCO é a educação ao longo de toda a vida4, onde expõe que as

tecnologias digitais aumentam as possibilidades de acesso à informação e à comunicação, se

apresentando como um instrumento poderoso de forma a viabilizar este objetivo.

Outra organização mundial que estabelece diretrizes para os países é a OCDE, que

reúne os países mais industrializados do mundo e embora o Brasil não faça parte, coopera

com a OCDE desde a década passada e já integra diversos de seus comitês além seguir suas

orientações. Esta organização tem por objetivo “essencialmente, ajudar os decisores políticos

dos países da OCDE e da União Européia a desenvolver políticas eficientes de orientação no

âmbito da educação, da formação e do emprego” (OCDE, 2005, p.08). Em resposta às

modificações políticas em diversos setores, em vários países integrantes, foi desenvolvida

pela Comissão Européia e pela OCDE uma pauta conhecida como agenda de Lisboa no ano

2000, direcionada a possibilitar, em 2010, uma sociedade caracterizada pela coesão social e

detentora de uma economia mais competitiva, baseada no conhecimento. Em 2005, esta

organização disponibilizou um guia chamado de “orientações de decisões” (OCDE, 2005),

contendo orientação escolar e profissional aos países atrelados de forma a chegar aos fins por

eles almejados e as tecnologias de informação e comunicação que são um dos principais

elementos desta agenda.

No Brasil, as articulações em direção a Sociedade da Informação se iniciaram com

o lançamento do Programa Sociedade da Informação em 1999, e posteriormente com o

lançamento do Livro Verde da Sociedade da Informação (TAKAHASHI, 2000), que possui

um conjunto de ações objetivando não apenas disseminar a adoção e o uso das tecnologias de

informação e comunicação no País, mas também permitir que este processo não aumente as

desigualdades, já existentes, nas diversas regiões do Brasil.

Abaixo, apresento um mapa com as linhas de ação do programa construído a

partir do Livro Verde (TAKAHASHI, 2000).

4 Um dos pilares da Educação da UNESCO, extraído do Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação

para o Século XXI. Educação: Um Tesouro a Descobrir. Coordenação: Jacques Delors. Unesco, 1998.

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Figura 01: Linhas de Ação do programa Sociedade da Informação no Brasil

construído a partir do Livro Verde (TAKAHASHI, 2000).

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Takahashi (2000)

O Livro Verde contém as metas de implementação do Programa Sociedade da

Informação e constitui uma súmula consolidada de possíveis aplicações das tecnologias da

informação, contemplando um:

Conjunto e ações para impulsionarmos a sociedade da informação no Brasil em

todos os seus aspectos: ampliação do acesso, meios de conectividade, formação de

recursos humanos, incentivo à pesquisa e desenvolvimento, comércio eletrônico,

desenvolvimento de novas aplicações.” (TAKAHASHI, 2000, p.5).

No tocante à educação, o livro coloca que.

A educação na sociedade da informação exige considerar um leque de aspectos

relativos às tecnologias de informação e comunicação, a começar pelo papel que elas

desempenham na construção de uma sociedade que tenha a inclusão e a justiça

social como uma das prioridades (TAKAHASHI, 2000, p.45).

Assim, formar o cidadão iria além de preparar o consumidor, pois implica em:

Capacitar as pessoas para a tomada de decisões e para a escolha informada acerca de

todos os aspectos na vida em sociedade que às afetam, o que exige acesso à

informação e ao conhecimento, e capacidade de processá-los judiciosamente, sem se

deixar levar cegamente pelo poder econômico ou político (TAKAHASHI, 2000,

p.45).

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Entre as ações na área de educação, o Livro Verde expõe a necessidade de

ampliação do Programa Nacional de Informática Educativa - Proinfo para “capacitar

professores no uso efetivo das tecnologias de informação e comunicação na prática de ensino”

(TAKAHASHI, 2000, p.56). Como vemos, a partir desse período os programas e projetos de

Governo Federal no Brasil sobre informática educativa se voltam sobre a inclusão digital

como forma de inserção do Brasil na sociedade da informação.

Neste tópico, após a discussão sobre a sociedade da informação procuramos

entendê-la como pressuposto da inclusão digital, mostrando também as pressões de

organismos internacionais para sua implantação nos países e, por fim, apresentamos o Brasil

como um dos países que procura se adequar a essa nova realidade mundial, caminhamos para

o tópico seguinte onde discutiremos sobre inclusão digital. Esta discussão é importante para

situar o leitor de que a inclusão digital, umas das categorias analíticas desta pesquisa, é um

dos pilares para inserção das sociedades na SI.

Essa nova sociedade caracterizada pela criação, geração e disseminação do

conhecimento exigindo, pela globalização, novas fontes de produtividade onde o

desenvolvimento intelectual do indivíduo é de extrema importância para a realização de

tarefas que vão agregando novos conhecimentos e capacidades contribuindo, assim, para a

inovação tecnológica que é hoje o principal motor do desenvolvimento mundial.

Nessa sociedade marcada pela tecnologia existe a ideia recorrente de que o

aprendizado e a disseminação das TICs pode diminuir a pobreza e o analfabetismo, onde a

inclusão digital poderia diminuir a exclusão social e é neste contexto que se inseri o programa

UCA como uma busca da sociedade via governo de minimizar as exclusões sociais por meio

da inclusão digital.

No tópico seguinte, discorremos as relações entre a inclusão digital e a inclusão

social, apresentando aspectos que podem aumentar a exclusão digital em nosso País.

2.2 Entre Inclusão Digital e Inclusão Social

O Programa UCA possui entre seus objetivos diminuir a exclusão digital das

populações favorecidas. Neste sentido, distribuir os laptops UCA aos alunos em São João da

Ponta e possibilitar o acesso à internet já seriam fatores suficientes para analisar a inclusão

digital do projeto, mas como analisar as implicações sócio-digitais do UCA em SJP? Para tal

análise devemos considerar além do uso do computar e acesso a internet (SILVEIRA, 2001;

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NERI, 2003) outros fatores, como aprendizagem para uso do computador e da internet de

modo socialmente válido (WARSCHAUER, 2006). Assim, neste tópico, baseada nos

apontamentos de Warschauer (2006), discutiremos inclusão digital tomando por referência a

abordagem de inclusão sócio-digital, norteadora da pesquisa em SJP.

A abordagem de inclusão sócio-digital é aqui entendida como muito mais que

“fornecer o acesso ao computador e conexões à internet necessitando de um complexo

conjunto de fatores, abrangendo recursos e relacionamentos físicos, digitais, humanos e

sociais” (WARSCHAUER, 2006, p.21) de modo que as pessoas utilizem à tecnologia de

forma satisfatória e sejam verdadeiramente incluídas, pois “a capacidade de acessar, adaptar e

criar novo conhecimento por meio do uso da nova tecnologia de informação e comunicação é

decisivo para a inclusão social na época atual” (WARSCHAUER, 2006, p.25).

Para definir inclusão digital é importante pensar no seu oposto, a exclusão digital,

termo cunhado na década de 90 inicialmente sob o conceito de digital divide, que seria o fosso

existente entre os indivíduos que tem ou não acesso ao computador, internet e a informação

na rede (SORJ, 2003). Conceito limitado, para autores como, Becker (2009), Cysne (2007),

Demo (2005), Sorj (2003; 2005) e Waschauer (2006) por considerar apenas acesso a

computador e internet como parâmetro para desenvolvimento e analise de projetos em

programas de inclusão digital.

E mesmo aqueles que fazem questão de usar o termo “exclusão digital” o

entendem como a retirada de direitos que já eram previamente adquiridos por conta da

disseminação das TICs a milhões de pessoas. Entre estes direitos estariam: a) direito à

informação; b) o direito à comunicação; c) o direito ao trabalho e d) o direito à cidadania

(BACKER, 2009). Assim, vemos que não se trata verdadeiramente de uma “exclusão digital”

e sim de uma exclusão social instalada como conseqüência da disseminação das TCIs.

Outra questão é que a inclusão digital, mesmo quando simplesmente entendida

como acesso ao computador e a internet, possui pré-requisitos e implicações difíceis de

alcançar. Nesta perspectiva, sua viabilização se dá em cinco grandes blocos que são: 1)

infraestrutura e equipamentos; 2) instrumental cognitivo; 3) constituição de tele-existência; 4)

acesso público e gratuito dentro da rede e 5) transformação/desenvolvimento dentro da rede

(BECKER, 2009).

Sobre a inclusão sócio-digital e o UCA verificamos que este programa em sua

concepção contempla não apenas o acesso ao Laptop UCA e a internet: este programa tem em

seus objetivos e finalidades a união de aspectos educacionais, sociais e tecnológicos

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(VALENTE, 2011) com princípios orientadores formulados a partir de uma proposta com

concepção pedagógica inovadora. No próximo capítulo sobre a trajetória do programa UCA

será possível ver, a partir de seus objetivos presentes em seus documentos legais, que o UCA

se aproxima da abordagem de inclusão sócio-digital.

Entre os fatores que contribuem para as desigualdades digitais temos:

O analfabetismo digital que vai se tornando, possivelmente, o pior de todos.

Enquanto outras alfabetizações são já mero pressuposto, a alfabetização digital

significa habilidade imprescindível para ler a realidade e dela dar minimamente

conta, para ganhar a vida e, acima de tudo, ser alguma coisa na vida. Em especial, é

fundamental que o incluído controle sua inclusão” (DEMO, 2005, p.38).

Este autor aponta direções para as políticas de inclusão digital nas escolas

expondo, que primeiro é necessário “enfrentar o atraso tecnológico, para não ficar para trás

definitivamente, e, segundo, enfrentar a precariedade da escola pública, para não permitir que

a população seja incluída na margem” (p.38).

Assim, é importante que as políticas de inclusão digital não se dessem de qualquer

maneira, com “equipamentos sucatados, cursos precários, ambientes improvisados,

treinamentos encurtados, programas baratos” (DEMO, 2005, p.38), de forma desorganizada e

sem recursos, apenas para torná-los incluídos, fazendo parte do sistema, da nova conjuntura

mundial. Onde de acordo com Demo (2005), os pobres estariam dentro da inclusão digital

“mas lá na margem, quase caindo fora do sistema” (p.36).

Neste contexto, dos fatores que contribuem para a exclusão sócio-digital, Cysne et

al (2007) aponta que os níveis de instrução e renda dos indivíduos constituem fatores

importantes para a exclusão digital. Desta forma, a educação seria meio eficaz para a

diminuição das desigualdades sócio-digitais e diz que:

A inclusão digital e o acesso às tecnologias da informação e comunicação, em

particular a Internet, podem permitir maior compromisso democrático entre governo

e cidadão, ampliando a cidadania e motivando as comunidades e os indivíduos a

exigirem seus direitos básicos” (CYSNE et al., 2007, p. 48).

Estudos deste autor apontam que os níveis de instrução e renda dos indivíduos

constituem fatores importantes para a exclusão digital. Desta forma, a educação seria meio

eficaz para a diminuição das desigualdades sócio-digitais.

Warschauer (2006) coloca que é preciso mudar o foco da exclusão digital para a

inclusão social baseado,

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Em três premissas principais: 1) a nova economia da informação e a nova sociedade

em rede emergiram. 2) a TIC desempenha um papel decisivo em todos os aspectos

dessa nova economia e nova sociedade; 3) o acesso a TIC, definido de modo amplo,

pode ajudar a determinar a diferença entre marginalização e inclusão nessa nova

socioeconômica” (WARSCHAUER, 2006, p.31).

E considerando o que foi exposto por Warschauer (2006), Demo (2005) e Cysne

et al (2007), colocam que não faz sentido pensar a exclusão digital como uma divisão dos que

têm ou não acesso ao computador e internet, conceito limitado, por entendê-los extremamente

simplista por tomar que o mero fornecimento do computador e do acesso a internet são meios

de tratar problemas sociais, havendo para os autores a necessidade de se repensar a exclusão

digital.

Nesta perspectiva, Sorj (2003, p.59) diz que a exclusão digital “possui forte

correlação com outras formas de desigualdade social, e, em geral, as taxas mais altas de

exclusão digital encontram-se nos setores de menor renda”. Este autor considera que a

desigualdade social no campo das comunicações na sociedade moderna, não se expressa

somente no acesso ao bem material como computador, internet, tv, telefone, mas também na

capacidade, isso a partir da capacitação intelectual e profissional, de o sujeito tirar proveito

das potencialidades oferecidas pelo instrumento material, posição coadunada por Warschauer

(2006, p.55), que diz que a posse de um equipamento e internet faz parte do acesso as TICs,

mas não é um acesso completo, pois é necessário que o usuário desenvolva “habilidades e

entendimentos para utilizar o computador e a internet de modo socialmente valido”.

Como vemos a ilusão da superação da exclusão digital tendo por base a errônea

ideia de ser fruto apenas do acesso ao não ao computador e internet é um erro muitas vezes

presente em projetos e programas de inclusão digital, que não consideram os contextos sociais

em seu escopo.

Quanto à análise e categorização de projetos e programas de inclusão digital,

Lemos e Costa (2005) propõe uma matriz de análise que contempla três categorias de inclusão

digital induzida que é a categoria técnica5, a cognitiva6 e a econômica7, podendo a inclusão

digital ser compreendida a partir de quatro tipos de capital: cultural, social, político e

intelectual.

5 Técnica: “Destreza no manuseio do computador, dos principais softwares e do acesso à Internet. Estímulo do

capital técnico.” (LEMOS; COSTA, 2005, p. 10). 6 Cognitiva: “Autonomia e independência no uso complexo das TICs. Visão crítica dos meios, estímulo dos

capitais cultural, social e intelectual. Prática social transformadora e consciente. Capacidade de compreender os

desafios da sociedade contemporânea”. (LEMOS; COSTA, 2005, p. 10). 7 Econômica: “Capacidade financeira em adquirir e manter computadores e custeio para acesso à rede e

softwares básicos”. (LEMOS; COSTA, 2005, p. 10).

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Já Warschauer (2006, p.64) que considera anacrônico os tipos mais comuns de

modelos de acesso às TICs em programas de inclusão digital baseados em equipamentos e

conectividade diz que estes são insuficientes para se pensar a inclusão social na era da

informação, propondo um modelo mais plausível que seria baseado no letramento que

consideraria “a capacidade pessoal do usuário fazer uso desse equipamento e dessa rede,

envolvendo-se em práticas sociais significativas”.

O autor apresenta, a partir de seus estudos e pesquisas, um modelo para análise de

projetos de inclusão digital baseados em quatro eixos que são infraestrutura, conectividade,

letramento e sistemas sociais e comunidades prática. A seguir apresento detalhadamente cada

um desses indicadores:

a) Infraestrutura: entendida em termos de acesso físico ao equipamento

compreendendo o hardware/software, manutenção de equipamentos, suporte para o

funcionamento dos Laptops bem como a formação dos envolvidos;

b) Conectividade: considerada pelo fato de que não basta apenas ter o

equipamento tecnológico, é necessário a conexão à internet para se ter um acesso completo as

ferramentas tecnológicas.

c) Letramento: ao disponibilizar o acesso ao equipamento e a conectividade temos

a necessidade de outro elemento que vai dar sentido as utilizações dos computadores, que é o

letramento. Este não é meramente saber usar o computador, mais do que o conhecimento

técnico de saber usar o computador: é uma prática que requer o desenvolvimento de diferentes

habilidades, conhecimento e atitudes. Para tanto não basta que o sujeito tenha acesso as TIC,

mas que avance da mera utilização instrumental para a apropriação das tecnologias com

ampliação do potencial discursivo.

d) Sistemas sociais e comunidade prática: os sistemas sociais estão relacionados

às estruturas comunitárias da sociedade de apoio as Tecnologias de Comunicação e

Informação. Já as comunidades de prática são o principal local de aprendizado, nela os

sujeitos se encontram em atividade semelhante, aprendendo uns com os outros, construindo

conhecimento. As comunidades práticas podem se dar tanto no espaço on-line como no off-

line, como também em estruturas formais de ensino mais principalmente em redes informais

como família, amigos, círculos sociais, e é nas redes informais entre pares que se

potencializam as oportunidades de aprendizado das pessoas.

Sobre os indicadores de análise propostos por Warschauer (2006) como

(infraestrutura; conectividade; letramento e sistemas sociais e comunidade prática) alguns

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deste serão mais bem explorados na discussão dos resultados desta dissertação. Warchauer

(2006) também sistematiza os recursos que seriam importantes no desenvolvimento de

políticas de inclusão digital para uso efetivo das TICs que são: recursos físicos, recursos

digitais, recursos humanos e recursos sociais. Abaixo citamos um esquema proposto por

Warschauer (p.76) sobre esses recursos.

Os recursos físicos incluem o acesso ao computador e internet; os recursos digitais

dizem respeito ao material digital, tornando-o disponível on-line; os recursos humanos estão

relacionados ao letramento e educação; e os recursos sociais, que estão relacionados às

estruturas comunitárias, institucional e da sociedade, apoiam o uso e acesso as Tecnologias de

Informação e Comunicação.

Esses quatros recursos possuem uma relação interativa entre si, onde cada recurso

é contribuinte para um uso mais eficaz das TCIs, permitindo que essa seja mais bem usada e

explorada. Warschauer (2006) considera que se esses recursos forem bem utilizados ajudam

em sua ampliação, e bem manejados, podem fomentar um circulo virtuoso, promovendo

desenvolvimento e inclusão social. Mas se pelo contrário não forem bem manejados poderão

aumentar o subdesenvolvimento e exclusão social. Do exposto, esta pesquisa sobre o UCA

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Total em SJP, realizada nesta dissertação, vai se inspirar no conceito de inclusão sócio-digital

de Warschauer (2006).

Este capítulo teve o intuito discutir a sociedade da informação, permeada por

contradições com inclusões e exclusões, o que demanda, por conta disso, ações que

viabilizem inclusões. É nesse contexto que se insere o UCA, um programa de inclusão digital

que vem tentar suprir esta demanda, trabalhando, em sua formulação, questões tecnológicas,

econômicas, sociais e educacionais como forma de diminuir a exclusão digital existente.

Para problematizar o UCA, nesse texto, consideramos uma abordagem de inclusão

digital não apenas atrelada ao acesso ao computador e a internet, mas sim numa abordagem de

inclusão sócio-digital na qual a inclusão digital permitiria a inclusão social das populações

beneficiadas, abordagem teórica que será norteadora de nosso trabalho. No próximo capítulo,

faremos à construção da trajetória do programa UCA.

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3 TRAJETÓRIAS DO PROGRAMA UCA

Neste capítulo analisamos, tomando por base os marcos legais do programa UCA,

a abordagem de inclusão digital que está presente nesse programa. Para tanto, no primeiro

tópico expomos uma trajetória preliminar, descrevendo as principais políticas públicas de

inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação na educação Brasileira, de forma a

situar que o UCA está inserida em um contexto anterior de inserção das TICs na educação.

Podemos observar, a partir dos marcos legais, que há nessa trajetória, por exemplo, a inserção

de outras tecnologias além do computador em projetos e programas na área educativa, ficando

limitado o termo “informática educativa” substituído por “tecnologias na educação”. Outra

mudança é a de foco nas políticas públicas de tecnologias na educação com a inserção da

inclusão digital entre seus objetivos. Em seguida, apresentamos os principais projetos e

programas de inclusão digital do Governo Federal na atualidade.

No tópico posterior, realizamos uma revisão da literatura sobre o UCA, e por fim

discorremos, especificamente, sobre a trajetória do programa, expondo seus marcos legais,

objetivos, conceitos e finalidades de forma a compreender a abordagem de inclusão digital

pretendida pelo projeto. Nesse item, apresentamos também as fases do programa UCA,

constituídas pelo projeto pré-piloto e pelo projeto piloto.

3.1 Políticas Públicas e Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação

Brasileira.

Nas últimas décadas algumas políticas educacionais e de acesso à informação

(PRONINFE, 1989; PROINFO8, 1997; SOCINFO9, 1999; PROJETO UCA, 2007) se

voltaram sobre a necessidade de se trazer para a escola as novas tecnologias no sentido,

inclusive, de atualizar as práticas escolares com as demandas sociais vigentes.

Nesse sentido, os primeiros projetos de informática na educação10 brasileira,

tinham por concepção a visão do computador como capaz de provocar mudanças profundas

8 Para maiores aprofundamentos sobre PROINFO ver: Almeida (2000); Holanda (2001); Marcelino (2003); UnB

(2002). 9 Sociedade da Informação - SOCINFO é um programa do governo federal lançado em 1999, pelo Ministério de

Ciência e Tecnologia - MCT, este programa organizou no ano 2000 o Livro Verde da Sociedade da Informação. 10 A Informática na Educação tem apresentado diversos sentidos e significados dependendo da visão educacional

e da condição pedagógica em que o computador é utilizado. Para Valente (2009) o “termo ‘Informática na

Educação’ significa a inserção do computador no processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos

os níveis e modalidades de educação (p.01)”.

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na pedagogia escolar (VALENTE, 2009). Já as políticas públicas, principalmente a partir do

ano 2000, trazem em seu bojo uma visão alicerçada na concepção da informática na educação,

como possibilidade de melhorar a educação e permitir a inclusão digital da população

favorecida, promovendo a inclusão digital dos alunos. Assim, a concepção da informática na

educação brasileira a partir do século XXI está alicerçada na ideia de inserir o Brasil na

Sociedade da Informação, onde a educação seria um dos pilares dessa ideia. É neste cenário

de mudança de foco da informática educativa, abarcando a ideia de inclusão digital, que o

governo brasileiro desenvolve políticas públicas nessa linha como o programa UCA.

Na educação brasileira, a inserção da informática na educação remonta aos anos

70, onde podemos destacar quatro programas de maior expressão quanto ao uso das TICs na

educação, que foram: o Projeto EDUCOM, Programa Nacional de Informática Educativa -

PRONINFE, o Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO (e

posteriormente a sua mudança para o Programa Nacional de Tecnologia Educacional -

PROINFO INTEGRADO) e o Programa Um Computador por aluno – UCA.

Havia desde essa época a preocupação com que os alunos tivessem acesso às

novas tecnologias, já que em diversos paises do mundo e no Brasil vários autores

(ALMEIDA, 2000a, 2000b; ALMEIDA, PRADO, 2011; ALMEIDA, VALENTE, 2011;

VALENTE, ALMEIDA, 1997; DAMASIO, 2007; PAPERT, 1995, 1985; VALENTE, 1998,

2009, 2011) coadunam a ideia de que a tecnologia poderia ser uma forma eficaz de se ter

acesso a informações e, quiçá, proporcionar e melhorar a construção de conhecimentos no

ambiente escolar.

Assim, a inserção dos computadores na educação brasileira se inicia nas

universidades na década de 70, mais especificamente em 1971, quando se discutiu pela

primeira vez no País o uso de computadores no ensino de Física, no I Seminário sobre o Uso

dos Computadores no Ensino de Física, promovido pela Universidade Federal de São Carlos -

UFSCAR em parceria com a University of Dartmouth dos Estados Unidos da America - USA.

Ainda nessa década, o governo brasileiro cria a Secretaria Especial de Informática – SEI, que

era um órgão executivo do Conselho de Segurança Nacional da Presidência da Republica, no

período militar, responsável pela coordenação e execução da Política Nacional de Informática,

tendo por objetivo:

Fomentar e estimular a informatização da sociedade brasileira, voltada para a

capacitação científica e tecnológica capaz de promover a autonomia nacional,

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baseada em princípios e diretrizes fundamentados na realidade brasileira e

decorrentes das atividades de pesquisas e da consolidação da indústria nacional

(MORAES, 1997, p.02).

Ressalta-se que, para o alcance dos objetivos supracitados, havia o entendimento

de ser necessário ampliar a informática aos diversos setores e atividades da sociedade e de

acordo com Moraes (1997). Portanto, a política nacional de informática já considerava área de

educação o setor mais importante de forma a atingir esses objetivos.

As instituições pioneiras na utilização da informática na educação no Brasil foram

as universidades. Inicialmente, a Universidade Federal Rio de Janeiro – UFRJ que, em 1966,

através do departamento de Calculo Científico, deu origem ao Núcleo de Computação

Eletrônica – NCE, onde o computador era usado como objeto de estudo e pesquisa. Em

seguida, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, a partir de 1973, e a

Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP a partir de 1975, onde um “grupo de

pesquisadores coordenados pelo professor Ubiratan D´Ambrósio, escreveu o documento

Introdução dos Computadores nas Escolas de 2º grau” (MORAES, 1997, p.02).

Em julho de 1975, a partir da visita de Seymour Papert e Marvin Minsky a

UNICAMP, e a ida de pesquisadores brasileiros da UNICAMP ao Massachusetts Institute

Technology- MIT, em 1976, as pesquisas avançaram cada vez mais dando origem as

primeiras investigações sobre o uso de computadores na educação, utilizando a linguagem

LOGO11 (MORAES, 1997).

No final da década de 70 e início dos anos 80 houve uma ampliação dos estudos e

pesquisas, sobre o uso de computadores na educação nas universidades, principalmente com

estudantes de escolas públicas. Nesse sentido podemos destacar a UFRGS, que institui o

Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia - LEC/UFRGS e a UNICAMP

criou o Núcleo Interdisciplinar de Informática Aplicada a Educação - NIED/UNICAMP.

Nos anos 1980 houve a realização do I Seminário Nacional de Informática na

Educação, realizado na Universidade de Brasília em 1981 e o II Seminário Nacional de

Informática na Educação, realizado na Universidade Federal da Bahia, em 1982, que

contaram com a participação de especialistas nacionais e internacionais.

11 Logo é uma linguagem de programação, um meio de comunicação entre o computador e a pessoa que irá usá-

lo. A principal diferença entre Logo e outras linguagens de programação está no fato de que foi desenvolvida

para ser usada por crianças e para que as crianças possam, com ela, aprender outras coisas. A linguagem Logo

vem embutida em uma filosofia da educação não diretiva, de inspiração piagetiana, em que a criança aprende

explorando o seu ambiente - no caso, também criando "micro-ambientes" ou "micro-mundos" com regras que ela

mesma impõe. (Fonte: http://projetologo.webs.com/texto1.html).

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Estes encontros foram extremamente importantes para demonstrar a importância

de se pesquisar e discutir a informática na educação brasileira. Foram nesses seminários que

surgiu à ideia de implantação de projetos – pilotos em universidades “cujas investigações

ocorreriam em caráter experimental e deveriam servir de subsídios a uma futura Política

Nacional de Informatização da Educação” (MORAES, 1997, p.04). Pode-se dizer que foi a

partir destes fóruns que nasceram, por exemplo, a concepção do projeto EDUCOM.

Após o I Seminário Nacional de Informática na Educação em 1981, foi criado um

grupo de trabalho com representantes do Ministério da Educação - MEC, SEI, Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ e Financiadora de Estudos e

Projetos - FINEP que elaboraram um documento denominado Subsídios para a Implantação

do Programa Nacional de Informática na Educação. Este documento orientava que:

As iniciativas nacionais deveriam estar centradas nas universidades e não

diretamente nas secretarias de educação, pois era necessário construir

conhecimentos técnico-científicos para depois discuti-los com a comunidade

nacional. Buscava-se a criação de centros formadores de recursos humanos

qualificados, capazes de superar os desafios presentes e futuros então vislumbrados

(MORAES, 1997, p. 06).

Com essas orientações, em 1983 foi apresentado o documento do Projeto

EDUCOM, que se apresentava como uma proposta interdisciplinar cujo objetivo era a criação

experimental de centros-piloto em universidades nas cinco regiões do País, interessadas no

desenvolvimento de pesquisas com ações integradas com escolas públicas. No mesmo ano a

SEI aprovou o projeto, estabelecendo inclusive critérios e formas de operacionalização do

mesmo. Porém, coube ao Centro de Informática – CENIFOR do MEC, a responsabilidade

pela implementação, coordenação e supervisão técnica do projeto EDUCOM, haja vista o

interesse do MEC em assumir a coordenação do projeto. Ressalta-se que a partir desse

momento o MEC passou a assumir a responsabilidade do processo de informatização da

educação brasileira.

O EDUCOM foi realizado em cinco universidades: Universidade Federal de

Pernambuco - UFPE, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Universidade Federal

do Rio de Janeiro - UFRJ, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e na

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, tendo como base considerar que “as

políticas a serem implantadas deveriam ser sempre fundamentadas em pesquisas pautadas em

experiências concretas, usando a escola pública, prioritariamente, o ensino de 2° grau”

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(VALENTE, ALMEIDA, 1997, p.14). Quanto à ação e atuação do projeto, Valente e Almeida

(1997, p.14) afirmam que este:

Contemplou ainda a diversidade de abordagens pedagógicas, como desenvolvimento

de software educativos e uso do computador como recurso para resolução de

problemas. Do ponto de vista metodológico, o trabalho deveria ser realizado por

uma equipe interdisciplinar formada pelos professores das escolas escolhidas e por

um grupo de profissionais da universidade. Os professores das escolas deveriam ser

os responsáveis pelo desenvolvimento do projeto na escola, e esse trabalho deveria

ter o suporte e o acompanhamento do grupo de pesquisa da universidade, formado

por pedagogos, psicólogos, sociólogos e cientistas da computação.

Com o final do governo militar e a redemocratização do País, ocorreram

profundas mudanças nas esferas administrativas do governo federal, mudanças na orientação

política e administrativa do governo e também no MEC que acabaram por afetar o projeto

EDUCOM. Essas inconstâncias prejudicaram o projeto, pois “os organismos governamentais

deixaram de cumprir parte de suas obrigações financeiras, apesar dos diversos protocolos

firmados e do interesse e iniciativa de implantação do Projeto partir do próprio Governo

Federal” (MORAES, 1997, p.08).

Percebemos que essas mudanças oriundas da nova estrutura política ocasionaram

a modificação e a extinção de projetos no contexto federal. Foi o que aconteceu com o projeto

EDUCOM, mas também ocorreu o desenvolvimento de outros projetos e programas, a

exemplo do projeto FORMAR e o Programa de Ação Imediata em Informática na Educação –

PAIE. Estes projetos e programas (FORMAR e PAIE) contavam com a colaboração dos

centros-piloto do projeto EDUCOM e visavam, entre outras, a formação e capacitação de

professores em informática na educação da rede pública. Podemos considerar que estas novas

políticas governamentais só foram possíveis graças aos conhecimentos acumulados no projeto

EDUCOM.

Assim, a partir dos projetos e programas desenvolvidos nas décadas de 70 e 80 foi

estruturado nos anos 90 o Programa Nacional de Informática Educativa – PRONINFE, com a

portaria ministerial nº 549/1989, que tinha por objetivo:

Desenvolver a informática educativa no Brasil, através de projetos e atividades,

articulados e convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica sólida e

atualizada, de modo a assegurar a unidade política, técnica e científica

imprescindível ao êxito dos esforços e investimentos envolvidos (MORAES, 1997,

p. 11).

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Este programa também objetivava apoiar a utilização da informática nos ensinos

de 1º, 2º e 3º graus e educação especial, promover a capacitação e formação de professores

além da criação de uma estrutura de núcleos distribuídos pelo País.

O PRONINFE direcionou as ações da informática na educação nos anos 90,

servindo de base para outros programas como o Programa Nacional de Informática na

Educação – PROINFO (BRASIL, 1997), criado a partir da portaria ministerial nº 522/97,

possuindo os seguintes objetivos:

Primeiro melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Para atingir

este objetivo foi evidenciada a necessidade de melhorar a qualidade das interações

entre professor e aluno, considerar as diferentes necessidades de aprendizagem dos

estudantes, possibilitar igualdade de acesso aos instrumentos tecnológicos e

diversificar os espaços do conhecimento, processos e metodologias. Neste sentido,

computadores serão utilizados como catalisadores deste processo, incentivando a

mudança no paradigma vigente; segundo possibilitar a criação de uma nova ecologia

cognitiva nos ambientes escolares mediante a incorporação adequada das novas

tecnologias da informação pelas escolas. Para tanto, pretende-se que a escola leve

em conta o ambiente externo a ela, integrando todos os elementos do contexto em

que está inserida, gerando uma rede de relações, que proporciona a elaboração dos

saberes; terceiro propiciar uma educação voltada para o desenvolvimento científico

e tecnológico. Assim, busca-se formar pessoas capazes de lidar com a ciência e a

tecnologia, de compreendê-la, dominar seus processos e utilizá-los de acordo com as

necessidades que surgem e não apenas consumir seus produtos; E por fim educar

para uma cidadania global numa sociedade tecnologicamente desenvolvida. Pois

com a presença cada maior vez maior, das redes de comunicação como a internet,

torna-se necessário formar cidadãos capazes de se comunicar e dialogar com

indivíduos de lugares e culturas diversificadas. (PEREIRA et al., 2012, p.82-83).

O PROINFO foi desenvolvido entre os anos de 1997 a 2007. No ano de 2007, na

gestão do então presidente Luis Inácio Lula da Silva, o programa sofreu algumas

modificações e passou a ser chamado de Programa Nacional de Tecnologia Educacional -

PROINFO INTEGRADO, decreto nº 6300/2007. Observamos nesse momento a mudança do

termo “informática na educação” para “tecnologias na educação” e também uma mudança de

foco nas políticas públicas da área para a inserção da inclusão digital entre seus objetivos.

Nota-se, a partir dos documentos oficiais, que mesmo tendo por base o

PROINFO, o PROINFO INTEGRADO possui mudanças substanciais em relação ao

programa anterior, que vão desde o fortalecimento da formação continuada dos professores

em conjunto com os NTEs dos estados e municípios; infraestrutura das TICs na escola;

aumento da abrangência do programa, incluindo as escolas públicas da zona rural, já que no

PROINFO apenas as escolas da zona urbana eram contempladas pelo programa; e também a

articulação da distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas a oferta de conteúdos e

recursos multimídia e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola e DVD

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Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais. Como

falamos anteriormente, observamos nesse momento a mudança de uso das TICs na educação

brasileira, que anteriormente tinha o computador como base das ações nos programas

anteriores para a idéia de uso das tecnologias na educação tendo, entre seus, objetivos a

inclusão digital dos participantes.

O PROINFO INTEGRADO é, sem dúvida, uma das importantes políticas

públicas para a inserção das TICs na educação brasileira, servindo de base, suporte e apoio

para outras políticas como o Programa Um Computador por Aluno – UCA que iniciou em

2007 e objetiva, entre outros, ser um projeto educacional de uso das TICs e promover a

inclusão digital, sendo visto como:

Ação que se insere nas demais políticas de governo voltadas aos processos de

inclusão digital, como o Programa Nacional de Informática na Educação – ProInfo,

cujo recurso tecnológico se apresenta como meio para o alcance de novas práticas

pedagógicas, do enriquecimento do processo de aprendizagem, da ampliação das

condições de formação do professor, do apoio à capacidade de gestão da escola e

mudanças na gestão de espaços e tempos escolares. (BRASIL, 2010).

O UCA surge em 2007 como uma política pública ambiciosa e de certa forma

cara, que procura introduzir o computador e o acesso à internet como ferramenta pedagógica

em favor do aprendizado. A concepção do projeto surge no Fórum Econômico de Davos na

Suíça em 2005, com a ideia de um laptop para cada criança. Após este fórum, vários países do

mundo e inclusive da América Latina, como Argentina, Paraguai, Peru, Bolívia, Nicarágua e

Uruguai, desenvolveram projetos semelhantes ao programa UCA no Brasil (LAVINAS,

2012). Este programa em sua concepção pedagógica possui a perspectiva de colocar o aluno

na centralidade do processo educativo não apenas como alguém passivo às informações do

professor: ele requer a substituição das tradicionais formas de difusão do conhecimento, sendo

necessário uma mudança de concepção na estrutura da escola e também do currículo escolar

como conhecemos (ALMEIDA et al., 2012).

O programa se apresenta inserido no contexto das políticas públicas

governamentais em nosso país e como possibilidade para a promoção da inclusão digital da

população, onde de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD,

2005), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o número de

indivíduos que tinham computador em suas residências nas regiões Norte, Nordeste, Centro

Oeste, Sudeste e Sul em 2005 eram respectivamente, 7,9%, 7,6%, 17,8%, 25,8% e 24,1%

percentuais. Quanto ao acesso a internet, nestas mesmas regiões Norte, Nordeste, Centro

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Oeste, Sudeste e Sul, tinham respectivamente, 4,3%, 5,3%, 15,2%, 19,5% e 17,6%. Os dados

nos mostram que num país grande e populoso como o Brasil, tais resultados são irrisórios. Por

isso podemos observar a partir destes dados que a maioria da população de nosso País é

excluída das primeiras etapas do processo de uma efetiva inclusão sócio-digital, que é o

acesso ao computador e internet.

Assim, após a apresentação das políticas públicas que antecederam o programa

UCA, expomos os principais projetos e programas de informática e tecnologias na educação

ao longo das décadas e as transformações nos objetivos das políticas públicas na área que hoje

contemplam inclusão digital. Dessa discussão, entende-se que o projeto UCA está inserido

neste contexto das políticas inicialmente de informática e depois de tecnologias na educação

sendo, portanto, produto de toda uma construção histórica que remonta desde a década de

1970, quando se iniciou a inserção das tecnologias na educação brasileira.

A partir desta construção histórica das políticas de tecnologias de informação e

comunicação em nosso País, no próximo tópico apresentamos os principais projetos e

programas de inclusão digital do Brasil na atualidade.

3.2 Projetos e programas de inclusão digital do Governo Federal do Brasil na atualidade

No Brasil, temos vários programas e políticas de inclusão digital, desenvolvidas

por ONGs, iniciativa privada e pelo Governo Federal. Entre as iniciativas do Governo Federal

podemos destacar algumas:

Quadro 01: Projetos e programas de inclusão digital do Governo Federal.

Programa do Governo Federal Descrição do Programa

Projeto Computadores para

Inclusão

Implantação de um sistema nacional de recondicionamento de

computadores usados, doados pelas iniciativas públicas e privada,

recondicionados por jovens de baixa renda em formação

profissionalizante, e distribuídos a telecentros, escolas e bibliotecas de

todo o território nacional.

Computador para Todos Voltado para a classe C, permite à indústria e ao varejo a oferta de

computador e acesso à Internet a preços subsidiados, e com linha de

financiamento específica, além da isenção de impostos PIS/COFINS.

GESAC O Programa GESAC provê conexão Internet banda larga,

predominantemente via satélite, para escolas e órgãos públicos,

sindicatos, aldeias indígenas, comunidades quilombolas e ribeirinhas,

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zonas rurais, periferias urbanas, telecentros comunitários e pontos

remotos de fronteira, sedes de organizações não-governamentais e/ou

onde já existam outros projetos de inclusão digital do Governo Federal.

Além da conexão, oferece ainda alguns serviços através de um portal

voltado diretamente ao uso pelas comunidades atendidas.

Casa Brasil Implantação de espaços multifuncionais de conhecimento e cidadania em

comunidades de baixo IDH, por meio de parcerias com instituições

locais.

Telecentros Banco do Brasil O Programa de Inclusão Digital do Banco do Brasil é uma ação que se

alinha com a política de responsabilidade socioambiental da empresa e

começou com o processo de modernização de seu parque tecnológico,

com a doação dos equipamentos susbtituídos para comunidades carentes,

visando a implantação de Telecentros Comunitários.

Programa Estação Digital Sempre com o apoio de um parceiro local, sendo a maioria organizações

não governamentais, desde 2004, a iniciativa busca aproximar o

computador da vida de estudantes, donas-de-casa, trabalhadores,

populações tradicionais e cooperativas, economizando tempo e dinheiro,

criando novas perspectivas e melhorando a qualidade de vida da

população.

TIN - Telecentros de Informação

e Negócios

Apoio à implantação de telecentros e salas de informática em

associações empresariais, prefeituras, entidades sem fins lucrativos e

instituições do terceiro setor, entre outras. Articula doação de

equipamentos, apóia sua implantação junto aos projetos cadastrados, e

disponibiliza conteúdos voltados a estes públicos por meio de portal na

web.

CVT - Centros Vocacionais

Tecnológicos

Os Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs) são unidades de ensino e

de profissionalização, voltados para a difusão do acesso ao conhecimento

científico e tecnológico, conhecimentos práticos na área de serviços

técnicos, além da transferência de conhecimentos tecnológicos na área de

processo produtivo.

Maré - Telecentros da Pesca Implantação de telecentros em comunidades de pescadores, fornecendo

equipamentos, conexão via Gesac, formação e manutenção de agentes

locais para monitoria e uso de software livre.

Quiosque do Cidadão O Projeto Quiosque do Cidadão instala computadores conectados à

internet banda larga em bibliotecas públicas, escolas ou em outros

espaços públicos.

Programa SERPRO de Inclusão

Digital - PSID

Programa SERPRO de Inclusão Digital - PSID promove a inclusão

digital e social das comunidades excluídas do universo das Tecnologias

da Comunicação e Informação - TIC.

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ProInfo - Programa Nacional de

Informática na Educação

O ProInfo é desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância

(SEED), por meio do Departamento de Infraestrutura Tecnológica

(DITEC), em parceria com as Secretarias de Educação Estaduais e

Municipais. O programa funciona de forma descentralizada, sendo que

em cada Unidade da Federação existe uma Coordenação Estadual do

ProInfo, cuja atribuição principal é a de introduzir o uso das tecnologias

de informação e comunicação nas escolas da rede pública, além de

articular as atividades desenvolvidas sob sua jurisdição, em especial as

ações dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs).

Observatório Nacional de

Inclusão Digital

Aglutina informações sobre todos os programas de inclusão digital do

Governo Federal no portal http://www.inclusaodigital.gov.br, com

notícias, links, eventos e materiais de referência.

UCA - Projeto Um Computador

Por Aluno

O Projeto Um Computador Por Aluno (UCA) tem a finalidade de

promover a inclusão digital, por meio da distribuição de 1

computador portátil (laptop) para cada estudante e professor de

educação básica em escolas públicas.

Centros de Inclusão Digital O Programa constitui-se em um instrumento de promoção da inclusão

social, cuja responsabilidade é da Secretaria de Ciência e Tecnologia

para Inclusão Social (SECIS) e tem como objetivo proporcionar à

população menos favorecida o acesso às tecnologias de informação,

capacitando-a na prática das técnicas computacionais, voltadas tanto para

o aperfeiçoamento da qualidade profissional quanto para a melhoria do

ensino.

Kits Telecentros A doação de kits telecentros para prefeituras brasileiras é uma iniciativa

do Programa de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações que

tem como meta instalar telecentros em todos os 5,5 mil municípios do

país. Cada kit possui: 01 servidor de informática; 10 computadores; 01

central de monitoramento com câmera de vídeo de segurança; 01

roteador wireless; 11 estabilizadores; 01 impressora a laser; 01 projetor

multimídia (data show); 21 cadeiras; 01 mesa do professor; 11 mesas

para computador; 01 mesa para impressora; 01 armário baixo.

Programa Computador Portátil

para Professores

O Programa visa criar condições para facilitar a aquisição de

computadores portáteis para professores da rede pública e privada da

educação básica, profissional e superior, credenciadas junto ao MEC, a

baixo custo e condições diferenciadas de empréstimo, com vistas a

contribuir com o aperfeiçoamento da capacidade de produção e formação

pedagógica dos mesmos, através da interação com a tecnologia da

informação e comunicação.

Territórios Digitais Com o objetivo de oferecer gratuitamente o acesso à informática e

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internet para populações rurais, por meio da implantação de Casas

Digitais, o Programa Territórios Digitais foi criado em 2008, e visa

contribuir para o desenvolvimento rural sustentável, o fortalecimento da

agricultura familiar e o reconhecimento do acesso legítimo à terra por

comunidades tradicionais.

Programa Banda Larga nas

Escolas

Programa Banda Larga nas Escolas vai beneficiar cerca de 55 mil

escolas até 2010, atendendo 84% dos estudantes do ensino básico do

país. As concessionárias de telefonia deverão levar, até dezembro de

2010, a rede de banda larga até a sede de todos os 5.565 municípios

brasileiros.

Programa Nacional de Apoio à

Inclusão Digital nas Comunidades

- Telecentros.BR

O apoio será em conexão, computadores, bolsas de auxílio financeiro a

jovens monitores, e formação de monitores bolsistas e não-bolsistas que

atuem nos telecentros. O objetivo é oferecer condições ao

aperfeiçoamento da qualidade e à continuidade das iniciativas em curso,

assim como à instalação de novos espaços.

Pontos de Cultura - Cultura

Digital

A ação Cultura Digital, permite a implantação de equipamentos e

formação de agentes locais para produção e intercâmbio de vídeo, áudio,

fotografia e multimídia digital com uso de software livre, e conexão à

Internet.

CDTC - Centro de Difusão de

Tecnologia e Conhecimento

Atualmente o projeto atende mais de 70.000 alunos distribuídos em

2.400 cidades brasileiras. São ofertados gratuitamente mais de 270

cursos, dos quais introdução à informática, utilização dos softwares

clientes mais comuns de e-mail, browser, comunicação etc, bem como

linguagens de programação, suporte de redes, administração de sistemas

livres e muito mais. Além dos cursos, também são providos serviços de

videoconferência, streaming de vídeo e áudio (tv e rádio web), servidor

de vídeos (tipo youtube) e o mapa do software livre latino americano.

Fonte: Elaboração própria, a partir do site <http://www.inclusaodigital.gov.br>, acesso Out/ 2012 (grifo nosso).

Como se vê estes projetos e programas de inclusão digital estão ancorados no

projeto nacional da Sociedade da Informação, Livro Verde, do Ministério da Ciência e

Tecnologia, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(TAKAHASHI, 2000). Essas políticas de inclusão digital são importantes, se apresentados

como possibilidades de, ao menos, diminuir a exclusão digital vigente em nosso país,

observados em estudos como o Mapa da Exclusão Digital (NERI, 2003) e Exclusão Digital: a

miséria na era da informação (SILVEIRA, 2001).

Para este trabalho, consideramos, contudo, que só será possível evoluir na

inclusão sócio-digital em nosso País se as políticas estiverem atreladas à ideia de inclusão

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social, pois o “acesso à TIC para a promoção da inclusão social não pode basear-se apenas no

suprimento de equipamentos ou conectividade”, como podemos observar na maioria das

políticas governamentais do quadro anterior. Porém, “pelo contrário, deve envolver uma série

de recursos, todos desenvolvidos e fomentados com a intenção de acentuar os poderes social,

econômico e político dos usuários e das comunidades visados”. (WARSCHAUER, 2006,

p.75).

Do exposto, iniciaremos uma revisão do programa UCA na literatura brasileira

para, em seguida, apresentarmos os contextos do UCA e seus objetivos, concepções

pedagógicas e finalidades, analisando seu conceito de inclusão digital quando, por fim,

descreveremos o programa por meio de suas fases que são projeto pré-piloto e a fase piloto

onde o UCA de SJP está inserido.

3.3 A discussão da literatura sobre o UCA

O UCA é um programa relativamente novo e, nesse sentido, também é recente sua

produção acadêmica. Para este estudo fizemos uma pesquisa em anais de eventos

considerados importantes na área, como os anais da Associação Nacional de Pós-graduação e

Pesquisa em Educação - ANPED, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Ciências Sociais – ANPOCS e nos anais dos eventos da Comissão Especial de Informática na

Educação – CEIE como os anais do Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE,

do Workshop de Informática na Escola – WIE e nos Wokshops Temáticos realizados no

Congresso Brasileiro de Informática na Educação - CBIE que, desde 2011, tem um Workshop

específico sobre formação e experiências educacionais no programa Um Computador por

Aluno.

Por fim, foram também analisados os artigos do livro intitulado Projeto Um

Computador por Aluno: pesquisas e perspectivas lançado no CBIE em 2012. A metodologia

empregada consistiu na escolha de pesquisas realizadas entre os anos de 2010 a 2012, nos

eventos citados anteriormente, onde se verificava nos títulos dos trabalhos as seguintes

palavras chaves UCA, PROUCA, política pública de inclusão digital, inclusão digital e TICs,

e a partir da presença dessas palavras analisavam-se os resumos para ver se estes tratavam

sobre o tema de principal interesse que é analise da inclusão digital pelo programa UCA.

Assim, na ANPED foram verificadas pesquisas entre os vários Grupos de

Trabalho – GT que compõe o evento (a exemplo GT – Didática, GT – Estado e Política

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Educacional, GT – Formação de Professores, GT - Currículo, GT - Educação Fundamental,

GT - Educação e Comunicação), observou-se que em 2010 não há trabalhos com referência às

palavras-chaves escolhidas. Porém, no ano de 2011 encontramos trabalhos sobre TICs no GT

- Educação e Comunicação e em 2012 neste mesmo GT verificou-se um trabalho que discorre

sobre o PROUCA, mas que não versa sobre a inclusão digital do programa.

Na ANPOCS em 2010 não há trabalhos com referência ao UCA existem alguns

poucos em 2011 sobre TICs na educação e em 2012 no GT – Políticas Públicas há um

importante trabalho sobre o UCA total (LAVINAS, 2012), que faz uma reflexão sobre o

desenho institucional do programa a partir dos resultados de avaliação de impacto e processo

do projeto UCA – Total onde a avaliação de impacto foi feita através de um survey12

domiciliar numa amostra representativa de alunos a familiares.

No SBIE, WIE e Wokshops Temáticos da CEIE são os eventos onde mais

aparecem trabalhos relativos ao UCA; no entanto, a maioria destes versa sobre processos de

aprendizagem, plataformas digitais, currículo, formação de professores entre outros temas

relacionados às TICs na educação foi observado. Contudo, poucos são os trabalhos que

analisam ou avaliam o UCA enquanto política de inclusão digital. Entre estes trabalhos

podemos destacar (JUNIOR et al., 2010; SCHNEIDER et al., 2011; MACIEL et al., 2011;

2012).

O primeiro apresenta um panorama sobre possibilidades e desafios na implantação

do projeto UCA Total em SJP no Pará. O segundo aborda a questão da inclusão de deficientes

em Tiradentes - MG no projeto UCA Total de inclusão digital. O terceiro faz uma analise da

implantação de um projeto de inclusão digital semelhante ao UCA no Uruguai chamado de

CEIBAL e o quarto, da mesma autora, discorre sobre mudanças na comunidade devido a

implantação do projeto CEIBAL no Uruguai..

Dos artigos encontrados os mais relevantes para este estudo são os de Lavinas

(2012) e Maciel (2012) respectivamente. O primeiro artigo procura fazer um panorama do

programa UCA total no Brasil tendo como resultados a questão da internet, que é limitada na

grande maioria das escolas, a infraestrutura física e lógica instalada nas escolas e nas cidades

que não atende ao propósito do projeto, o uso do UCA nas escolas que é tímido quando

comparado ao uso pelos alunos, a percepção dos professores se sentirem diminuídos frente a

novidade da qual não conseguem se apropriar e também que o laptop quando restrito a escola

12 É um método de coleta de dados feito diretamente às pessoas a respeito de suas ideias, sentimentos, crenças,

entre outros. Pode ser realizada através de um questionário podendo ser enviada pelo correio, por e-mail, por

telefone ou através de entrevistas pessoais.

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não gera grande impacto na intervenção. Este artigo se diferencia deste estudo pela

metodologia já que usa Survey e esta pesquisa optou pela etnografia e em resultados

encontrados no campo de observação em SJP, pois esta dissertação procura analisar a inclusão

digital não apenas em relação aos estudantes, mas também na família.

O segundo artigo trata da implantação de um projeto semelhante ao UCA no

Uruguai chamado CEIBAL e apresenta em seus resultados a família como local de pouco uso

do laptop, entre os fatores para tal situação estaria o pouco incentivo e orientação dos alunos

para estimular os pais e familiares quanto ao uso do laptop. É também exposto neste artigo a

necessidade de se trabalhar questões pedagógicas como a integração curricular das TICs no

projeto pedagógico da escola.

3.4 Contextos e objetivos do Programa UCA

Originariamente, a ideia de um laptop para cada criança (One Laptop per Child –

OLPC) foi apresentada ao governo brasileiro no Fórum Econômico Mundial em Davos -

Suíça, em janeiro de 2005. Nesse fórum,

O pesquisador americano Nicholas Negroponte desafiou os países do mundo a se

engajarem num esforço global de universalização do acesso às tecnologias da

informação e comunicação (TICs), a partir da meta de garantir a todas as crianças o

direito ao seu próprio computador, tomando como lema a idéia de um laptop para

cada criança (One Laptop per Child – OLPC) (BRASIL, 2008, p.15).

O projeto do professor Nicholas Negroponte, do Massachusetts Institute of

Technology – MIT, seria de fabricar laptops a um custo de U$ 100 dólares, e a partir desta

ideia fundou a organização One Laptop Per Child – OLPC, dando início ao projeto que então

assume proporções mundiais (BRASIL, 2008).

Após o Fórum, em junho de 2005, Nicholas Negroponte, Seymour Papert e Mary

Lou Jepsen vieram ao Brasil especialmente para conversar com o presidente Lula e expor a

ideia com detalhes, onde um computador por aluno com acesso a internet nas redes públicas

de educação foi entendida pelo Governo Federal não apenas como uma possibilidade de

melhoria na qualidade da educação, mas também como uma excelente ferramenta de inclusão

social no País. Assim, o “governo também enxergou nessa estratégia uma possibilidade de

inserção da indústria brasileira no processo e, para tanto, resolveu testá-la em algumas

unidades de ensino”. (BRASIL, 2008, p.15).

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A partir de reuniões com especialistas brasileiros para debates sobre a utilização

pedagógica intensiva das TICs nas escolas, foi formalizada uma parceria com a Fundação de

Apoio à Capacitação em Tecnologia da Informação - FacTI e FINEP para a validação da

solução da Organização OLPC, proposta originalmente pelo MIT (MEC/UCA, 2013). Desta

forma, em fevereiro de 2006, a FacTI chamou mais três instituições para integrar o grupo

técnico e fazer um estudo sobre a solução OLPC: Centro de Pesquisa Renato Archer -

CenPRA; Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras - CERTI e Laboratório

de Sistemas Integráveis Tecnológico - LSI. No ano seguinte, em junho de 2007, o programa

Um Computador por Aluno foi oficialmente lançado.

Neste período, considerado um programa estratégico para o Governo Federal do

presidente Lula, ficou alojado no gabinete da Presidência da República, de forma a dinamizar

a tomada de decisões e facilitar o processo de implementação ficou a cargo da Secretaria

Especial de Educação à Distância – SEED e do Ministério da Educação - MEC a

responsabilidade pelo programa, esta configuração se deu até 2010.

Podemos dizer que se o governo do ex-presidente Lula impulsionou o programa

UCA o governo da atual presidente Dilma foi capaz de dar a ele contornos alarmantes, visto

que no início de seu governo, no ano de 2011, a nova presidente primeiro extinguiu a SEED

para em seguida alojar o UCA no MEC, tendo como consequência seu engessamento nesse

período. Mudanças de governo implicam muitas vezes em mudanças de prioridade de

algumas políticas em detrimento de outras, ocasionando problemas gerenciais, estruturais e

financeiros em programas. Com o UCA não foi diferente. Isto se deve ao fato de este

programa não ser uma política de estado13 e sim de governo14.

Ressalta-se que os objetivos do UCA como adensamento da cadeia produtiva e

inclusão digital se fazem presentes no programa de governo do então candidato Luis Inácio

Lula da Silva, em 2002, que expõe:

Com a disseminação do computador, da internet e da comunicação móvel, as

sociedades ganharam grandes ferramentas para a massificação do conhecimento e

para o aumento de produtividade das Nações, de suas indústrias, de seus serviços e

13 São políticas que não conseguem ultrapassar o período de um governo, sendo fortemente institucionalizada na

sociedade. Políticas de Estado passam pelo parlamento ou por instâncias diversas de discussão envolvendo

estudos técnicos, simulações, análises de impacto horizontal e vertical, efeitos econômicos ou orçamentários

entre outros elementos para efetivação. Fonte: <http://www.crprj.org.br/publicacoes/jornal/jornal27-

geraldodigiovanni.pdf>. 14 São políticas que dura um determinado governo sendo pouco institucionalizadas na sociedade. As políticas de

governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elementar de formulação e implementação.

Fonte: <http://www.crprj.org.br/publicacoes/jornal/jornal27-geraldodigiovanni.pdf>.

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do conjunto de sua atividade econômica e cultural. (PARTIDO DOS

TRABALHADORES, 2002, p. 69).

Em outros pontos deste programa, cita incentivos à produção nacional de

softwares e componentes eletrônicos a fim de diminuir a necessidade de importações e

desenvolver a indústria nacional de informática e telecomunicações.

Assim, os objetivos do UCA já faziam parte da ideia de uma política de governo

desde 2002. Este programa de governo também coloca “que o desafio, na era do

Conhecimento, é evitar que a Tecnologia da Informação acabe criando um fosso entre os que

têm e os que não têm acesso aos bens e à habilidade requeridos na Era Digital” (PARTIDO

DOS TRABALHADORES, 2002, p. 69).

Sobre o UCA os aspectos diferenciais que poderiam proporcionar aos estudantes

inclusão digital, trabalho colaborativo, aprendizagem interativa, entre outros, trouxeram

também grandes questionamentos sobre aspectos tecnológicos; pedagógicos; econômicos;

gerencial e logístico do programa. Por conta destas questões o Governo Federal planejou o

programa UCA – PROUCA, convertido em lei em 2010 (ANEXO A), em duas fases: fase 1

(Projeto Pré-piloto) e fase 2 (Projeto Piloto). No tópico seguinte apresentamos mais detalhes

de cada uma dessas fases.

De acordo com o site BRASIL (2013), o programa UCA possui o objetivo de “ser

um projeto Educacional utilizando tecnologia, inclusão digital e adensamento da cadeia

produtiva comercial no Brasil”. Seu objetivo leva em conta fatores: econômicos, sociais e

educacionais que podem ser visualizados no quadro abaixo.

Quadro 02: Objetivos do Programa UCA.

FATORES OBJETIVOS

ECONÔMICOS

Adensamento da

cadeia produtiva

comercial no Brasil

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SOCIAIS Inclusão digital

EDUCIONAIS

Educação por meio

da Tecnologia

Fonte: Elaborado pela autora a partir do site BRASIL, 2013.

Este programa possui em seus princípios orientadores de uso do Laptop UCA

(BRASIL, 2007), um referencial teórico com concepções pedagógicas inovadoras, que podem

ser vistos no quadro 03 abaixo:

Quadro 03: Concepções do Programa UCA.

CONCEPÇÕES

PEDAGÓGICAS

DIREÇÕES

Concepção de Rede Propõe uma nova concepção da educação diferente da tradicional que

é linear, para uma “lógica reticular de “nós” que se interconectam,

permitindo múltiplos pontos de partida e de chegada. As relações na

rede não são hierárquicas e não são estratificadas.” (BRASIL, 2007,

p.13).

Exploração pedagógica da

mobilidade do laptop na

expansão dos espaços, das

fronteiras e tempos escolares

Diferente da escola tradicional que possui tempos e espaços físicos

limitados ao espaço escolar “Os laptops educacionais rompem com

essa concepção, uma vez que sua portabilidade permite o uso em

outros ambientes dentro e fora da escola. Além disso, essa

mobilidade flexibiliza os tempos escolares, pois a aprendizagem pode

se dar tanto no tempo formal da escola como em outros momentos do

dia-a-dia dos estudantes e educadores.” (BRASIL, 2007, p.14).

Formação de comunidades de

aprendizagem

Onde “As redes de parceiros podem constituir-se em comunidades de

aprendizagem, na medida em que favorecem a expressão, trocas de

idéias entre seus participantes e a mediação compartilhada que

propicia a reflexão e o aprofundamento das idéias” (BRASIL, 2007,

p.14).

Potencialização dos letramentos

– letramento alfabético, visual,

sonoro, digital – e das diferentes

linguagens – escrita, verbal,

gráfica, plástica, corporal.

Considerando que “As tecnologias digitais estão introduzindo novos

modos de comunicação como a criação e uso de imagens, de som, de

animação e a combinação dessas modalidades, tendo conseqüências

sociais, cognitivas e discursivas. Essas possibilidades passam a

exigir, além do letramento alfabético, o desenvolvimento de novas

habilidades de acordo com as modalidades e outros letramentos:

digital (uso das tecnologias digitais), visual (uso das imagens),

sonoro (uso de sons), informacional (busca crítica da informação).”

(BRASIL, 2007, p. 15).

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Integração do laptop com os

programas curriculares

Onde “A passagem da escola tradicional para uma escola aberta e

organizada em rede pressupõe uma mesma mudança dos programas

curriculares”. (BRASIL, 2007, p.15).

Apropriação dos softwares “A interação dos estudantes com os laptops educacionais deve ser

feita por intermédio de software que facilitem a explicitação de

processos mentais.” sendo importante “que os estudantes possam se

apropriar da lógica subjacente dos softwares dos sistemas de busca,

sistemas conversacionais, de base de dados e de organização da

informação, de modo a obter maior produtividade na utilização dos

mesmos.” (BRASIL, 2007, p. 16)

Escolha e qualificação da

informação

Implica “no desenvolvimento de competências para buscar,

selecionar, classificar e qualificar a informação de acordo com o

contexto do problema investigado. Significa (re)trabalhar a

informação de modo a criar relações de interdependência entre os

conceitos presentes na mesma, produzindo um novo e criativo

sistema de idéias que, ao ser expressado, torna-se fonte de

informação para os demais colegas ou internautas da rede.”

(BRASIL, 2007, p.17).

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos Princípios orientadores para uso pedagógico do laptop escolar

(BRASIL, 2007).

Segundo Valente (2011), os princípios orientadores do programa UCA na

educação objetivam promover as seguintes finalidades observadas a seguir:

Quadro 04: Fatores e finalidades do programa UCA.

FATORES FINALIDADES

ECONÔMICOS

Inserção da cadeia produtiva brasileira no processo de fabricação e

manutenção dos equipamentos;

SOCIAIS

Inclusão digital;

Contribuir na construção da sociedade sustentável mediante o

desenvolvimento de competências, habilidades, valores e

sensibilidades, considerando os diferentes grupamentos sociais e

saberes dos sujeitos da aprendizagem;

Ampliar o processo de inclusão digital das comunidades escolares;

Melhoria da qualidade da educação;

Inovação pedagógica;

Uso do laptop por todos os estudantes e educadores da escola pública

em um ambiente que permita a imersão numa cultura digital;

Mobilidade de uso do equipamento em outros ambientes dentro e

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EDUCACIONAIS fora da escola;

Conectividade, pela qual o processo de utilização do laptop e

interação entre estudantes e professores se dará por meio de redes

sem fio conectadas à Internet;

Uso pedagógico das diferentes mídias colocadas à disposição no

laptop educacional

Inovar os sistemas de ensino para melhorar a qualidade da educação

com equidade no País;

Possibilitar a cada estudante e educador da rede pública do ensino

básico o uso de um laptop para ampliar seu acesso à informação,

desenvolver habilidades de produção, adquirir novos saberes,

expandir a sua inteligência e participar da construção coletiva do

conhecimento;

Conceber, desenvolver e valorizar a formação de educadores

(gestores e professores) na utilização do laptop educacional com

estudantes;

Criar a rede nacional de desenvolvimento do projeto para

implantação, implementação, acompanhamento e avaliação do

processo de uso do laptop educacional;

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Valente (2011).

Como vemos, a partir dos objetivos, concepções pedagógicas e finalidades do

programa UCA, este se propõe não apenas a inserção da tecnologia na escola, o que é

relevante, mas possui a perspectiva de dar um passo adiante trabalhando questões

tecnológicas, econômicas e sociais se propondo, por exemplo, ao desenvolvimento de

competências, habilidades, valores e sensibilidades que culminam num efetivo exercício da

cidadania de modo a permitir ao participante usar a internet de modo socialmente válido.

Assim, observamos que o UCA esta atrelado a uma abordagem de inclusão sócio-digital dos

atores envolvidos. No tópico seguinte discorremos sobre as fases do programa UCA.

3.5 As fases do Programa UCA

O programa UCA é dividido em duas fases a Projeto Pré-piloto e a fase Projeto

Piloto, expostas a seguir.

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3.5.1 Projeto Pré-piloto

No ano de 2007, o governo brasileiro começou o experimento inicial Projeto Pré –

piloto (fase 1), onde foram selecionadas cinco escolas, em cinco estados, como experimentos

iniciais: em São Paulo-SP, Porto Alegre-RS, Palmas-TO, Piraí-RJ e Brasília-DF. Estas

unidades de ensino receberam protótipos doados pela OLPC, Intel e Encore. A Intel doou o

modelo Classmate para as escolas de Palmas/TO e Pirai/RJ. A OLPC o modelo XO para as

escolas de Porto Alegre/RS e São Paulo/SP. A Encore, indiana, o modelo Mobilis para escola

de Brasília/DF. A figura 03 (BRASIL, 2013) apresenta as escolas selecionadas para o projeto

pré-piloto do programa UCA, nas várias regiões do Brasil, além da localização e dos modelos

de Laptop usados.

A parte pedagógica, com portaria do Ministério da Educação – MEC ficou a cargo

de pesquisadores da área de informática educativa no Brasil como: José Armando Valente –

UNICAMP; Léa da Cruz Fagundes – UFRGS; Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida –

PUC- SP; Mauro Cavalcante Pequeno – UFC; Paulo Gileno Cysneiros – UFPE; e Roseli de

Deus Lopes – USP.

Durante a execução da fase pré-piloto o governo já havia percebido as grandes

dificuldades na execução um programa de tamanha dimensão, pois estavam diante de escolas

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diferentes, com maior ou menor infraestrutura, umas grandes outras pequenas, com realidades

diferentes, visto que as escolas desta fase se localizavam em diferentes regiões do País,

observamos isso em documentos oficiais que expõem:

Como conseqüência dessa variedade de situações, é interessante conhecer as

características de implementação dos projetos em cada uma das escolas porque elas

têm forte impacto sobre o tempo de maturação e os resultados das iniciativas. Para

tanto, foi necessário organizar as informações quanto à implementação do projeto

em quatro dimensões: I) infra-estrutura tecnológica – equipamentos e conectividade;

II) infra-estrutura física e logística; III) suporte técnico; e IV) suporte pedagógico.

(BRASIL, 2008, p. 95).

Após esta fase, e com todos os aprendizados deste momento inicial do programa

deu-se início a segunda etapa, a fase 2, chamada de Projeto Piloto.

3.5.2 Projeto Piloto

Em Janeiro de 2010, após alguns anos referentes ao andamento dos processos

burocráticos e licitativos para compra dos laptops, iniciou-se a fase piloto do programa por

meio da distribuição de laptops a 300 escolas brasileiras. Neste ano, também foi convertida

em lei nº 12.249/2010 a medida provisória de criação do UCA.

As escolas participantes foram selecionadas pelas Secretarias de Educação dos

Estados ou Municípios e também a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação –

UNDIME. Todos os Estados indicaram suas escolas da Rede Estadual e Municipal. E, destas

escolas, por iniciativa dos governos Federal, Estaduais e Municipais, alguns municípios

tiveram todas as suas escolas atendidas pelo projeto, os seguintes municípios foram

selecionados:

Barra dos Coqueiros/SE;

Caetés/PE; Santa Cecília do Pavão/PR;

São João da Ponta/PA;

Terenos/MS;

Tiradentes/MG.

Nesta fase de implementação a entrega dos equipamentos às escolas foi realizada

em três lotes diferentes, considerando, de acordo com o site do MEC/UCA (2013), um

cronograma de implantação, que levaria em conta a preparação da infraestrutura, formação

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(treinamentos realizados na escola) e avaliação. Na figura 04 (BRASIL, 2013) apresentamos

mapas com os três lotes de distribuição dos equipamentos UCA até 2013 e também os estados

que tiveram municípios selecionados para o Projeto UCA.

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Na união de todos os lotes, observamos que o UCA foi implantado em todos os

estados da Federação e em várias escolas, tendo como meta de acordo com o site do UCA em

2013, estar presente em toda as escolas brasileiras.

No que diz respeito aos critérios de seleção das escolas para participarem do

UCA, de acordo com o site do Governo Federal, são os expostos no quadro a seguir:

Quadro 05: Critérios de seleção de escolas para o UCA. CRITÉRIO OBJETIVO

1º Nº de Alunos e

de Professores

Cada escola deverá ter cerca de 500 (quinhentos) alunos e professores.

2º Estrutura das

escolas

Possuir, obrigatoriamente, energia elétrica para carregamento dos laptops e

armários para armazenamento dos equipamentos.

3º Localização das

escolas

Preferencialmente, deveriam ser pré-selecionadas escolas com proximidade a

Núcleos de Tecnologias Educacionais - NTE - ou similares, Instituições de

Educação Superior públicas ou Escolas Técnicas Federais. Pelo menos uma das

escolas deverá estar localizada na capital do estado e uma na zona rural.

4º Assinatura do

termo de adesão

As Secretarias de Educação Estaduais ou Municipais de cada uma das escolas

selecionadas deverão aderir ao projeto através do envio de ofício ao MEC

(Ministério da Educação) e assinatura de Termo de Adesão, no qual manifesta-se

solidariamente responsável e comprometida com o projeto.

5º Anuência do

corpo docente

Para cada escola indicada, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal

deverá enviar ao MEC um ofício, onde o(a) diretor(a) da escola, com a anuência

do corpo docente, aprova a participação da escola no projeto.

Fonte: Elaborado pela autora a partir do site BRASIL, 2013.

As escolas participantes, denominadas escolas piloto, fazem parte diretamente da

implementação do programa, sendo que a meta é inserir o UCA em todas as escolas públicas

brasileiras (BRASIL, 2013). No quadro abaixo apresentamos as etapas e os critérios para

implementação do projeto UCA nas escolas.

Quadro 06: Etapas e Critérios de implementação do projeto UCA nas escolas.

CRONOGRAMA

ETAPAS

CRITÉRIOS

INFRAESTRUTURA

Instalação de Rede Lógica e conectividade;

Transformação da infraestrutura física da escola e/ou

adequação escolar para receber o laptop UCA;

FORMAÇÃO

Capacitação de gestores e professores no uso da

tecnologia;

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ENTREGA DOS

LAPTOPS

Distribuição dos laptops UCA aos Alunos;

AVALIAÇÃO

Avaliar as etapas do projeto no processo.

Fonte: Elaborado pela autora a partir do site BRASIL, 2013.

A estrutura de formação de pessoal do programa UCA e a operacionalização do

processo de formação envolvem os seguintes grupos descritos abaixo:

“Grupo de Trabalho de Assessores Pedagógicos do Projeto Um

Computador por Aluno – GTUCA, constituído por 10 docentes: Divanizia Souza

– UFS; José Armando Valente – Unicamp; Léa Fagundes- UFRGS; Maria Elizabeth

B. de Almeida – PUC/SP; Maria Helena C. Horta Jardim – UFRJ; Mauro

Cavalcante Pequeno – UFC; Paulo Gileno Cysneiros – UFPE; Roseli de Deus Lopes

– USP; Simão Pedro P. Marinho – PUC Minas; Stela Piconez – USP.

Representantes de Instituições de Ensino Superior – IES, denominadas neste Projeto

de IES-Globais;

Grupo de Formação e Acompanhamento, constituído por seis consultores

especialistas da área e um representante do SEED/MEC;

Equipes de Formação e Pesquisa, compostas de professores/pesquisadores

das IES Globais para atuarem junto às IES Locais;

Equipes de Formação destinadas a atuarem junto às escolas piloto. Tais

equipes serão compostas por professores de IES Locais, representantes das SE e

multiplicadores dos NTE/NTM;

Professores e gestores das escolas beneficiárias UCA;

Alunos-monitores” (BRASIL, 2009, p.08).

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Figura 05: Estrutura de formação do Programa UCA (Fonte: BRASIL, 2009).

Fonte: Livreto BRASIL (2009, p.09).

O Grupo de Trabalho do Programa UCA – GTUCA foi criado com o objetivo de

pesquisar, avaliar e informar tanto o Ministério da Educação quanto a sociedade se o

programa UCA é um investimento viável como política pública nacional. Este grupo é

composto por especialistas na área de Tecnologias de Informação e Comunicação na

educação se dividindo em GT Formação, GT Avaliação e GT Pesquisa.

A partir da implantação do projeto iniciou-se a formação dos professores e

gestores por meio do design de formação de professores e gestores nas escolas do programa

UCA, chamado de “formação Brasil”, através de curso de 180 horas de formação presencial e

a distância, possuindo os seguintes objetivos:

“Estruturar uma rede de formação, de acompanhamento e apoio às práticas

pedagógicas, com o uso do laptop educacional nas escolas;

Contribuir com a inserção de uma prática inovadora do uso das tecnologias

educacionais nos cursos e programas de formação inicial e continuada de

professores;

Qualificar professores das escolas públicas participantes do piloto do Projeto

UCA para o uso do laptop educacional em práticas que privilegiem a aprendizagem

baseada na construção cooperativa do conhecimento, em consonância com as

especificidades das propostas curriculares de suas escolas;

Criar uma cultura de redes cooperativas, intra e inter escolas, com o uso de

tecnologias digitais, favorecendo a autonomia, o aprofundamento e a ampliação do

conhecimento sobre a realidade contemporânea;

Contribuir na construção da proposta político-pedagógica das escolas,

aproveitando as possibilidades do laptop educacional, as estratégias pedagógicas

inovadoras, respeitando a diversidade das comunidades e a consciência do papel da

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escola no desenvolvimento da inteligência dos seus membros, com conseqüentes

mudanças em sua participação crítica e ativa na sociedade” (BRASIL, 2009, p.04).

Nota-se que a segunda fase do programa, a partir do pré-piloto, passou a ter

melhor definição estrutural para o andamento das ações do programa UCA. Neste sentido,

estipulou-se critérios de escolha das escolas participantes, definiu-se bases metodológicas

para estrutura de formação de pessoal e implementação do projeto.

O município de SJP, no Estado do Pará, foi um dos escolhidos para fazer parte do

projeto UCA Total onde todas as escolas receberam um computador para cada aluno. Em SJP

a Instituição de Ensino Superior Global responsável pelo UCA Total na região é a

Universidade de Campinas – UNICAMP, que além do estado do Pará também ficou

responsável pelos estados do Acre, Rondônia e quatro escolas do Estado de São Paulo.

Abaixo apresentamos uma figura extraída de Valente (2011) que mostra esta estrutura.

Figura 06: Estrutura UCA/UNICAMP.

Fonte: Extraído de Valente (2011).

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Em SJP com a implantação do projeto houve a entrega dos laptops aos estudantes

do município. No tocante aos computadores distribuídos aos participantes, desenvolvido pela

empresa CCE, este possui, entre outras características, duas entradas USB compatíveis com

pen drive, saída de áudio e vídeo e, até julho de 2012, tinha o Metasys como sistema

operacional a partir deste período este sistema foi substituído pelo sistema operacional

regional Boto Mirim15. Abaixo apresentamos uma tabela 01 com as principais características

do laptop distribuído em SJP.

Tabela 01: Característica Computador UCA em SJP.

Computador Características do Computador UCA em SJP

Tipo de Computador Classmate PC

Processador (CPU) Intel(R) Atom(TM) CPU N270 @ 1.60GHz

Armazenamento 4 gigabites em cartão SD

Velocidade 1,600. 00 MHz

Peso 1,5 kg

Memória 495.08 MB de memória RAM

HD Não contém HD

Tela Cristal Liquido de 07 polegadas

Teclado + 70 Teclas

Mouse Touchpad

Rede Wireless e rede Ethernet

Áudio Entrada de para Microfone, microfone embutido e duas caixas acústicas.

Webcam 0.3 megapixels

Sistema Operacional Metasys Classmate PC

Linux 2.6.22.9-143-default i686

Bateria Autonomia mínima de 3 horas

Fonte: Elaborado pela autora a partir site BRASIL, 2013.

15 O sistema GNU/Linux Boto Mirim é um sistema regional com aplicativos educacionais, sendo uma

customização da distribuição GNU/Linux Lubuntu (Ubuntu com LXDE). O Boto mirim é baseado em três

idéias: Software Livre, Educação e Meio Ambiente. Fonte: http://botomirim.wordpress.com

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No estado do Pará, de forma a viabilizar a implementação do projeto UCA nos

municípios contemplados, estes passaram a receber o sinal do programa de inclusão digital

Navega Pará. Assim, o município de SJP passou a fazer parte das Cidades Digitais16 do

Navega Pará, passando a possuir uma torre para distribuição de sinal e um Infocentro17,

ambos implantados em 2010.

Imagem 1: Torre do Programa Navega Pará na sede do Município de SJP.

O Navega Pará é um programa de inclusão digital do Governo do Estado do Pará,

lançado em 2007, que tem a missão de levar a cidadania digital a populações desfavorecidas e

promover a integração territorial (NAVEGA PARÁ, 2012). De acordo com Castro et al.

(2012), o programa foi estruturado a partir de dois convênios o Metrobel, rede de fibra óptica

unindo instituições científicas da Região Metropolitana de Belém e outro com a Eletronorte,

por meio do qual a estatal cedeu, ao estado do Pará, os 1.800 km de sua rede de fibra óptica,

possuindo como estratégia tecnológica a utilização conjugada de fibra óptica com o sinal de

rádio. São três áreas essenciais da gestão pública diretamente beneficiadas pelo convênio:

saúde, segurança e educação.

O projeto UCA apresenta um desenho metodológico, estrutura de trabalho,

formação de pessoal, operacionalização e concepção coeso, estruturado e alinhavado. No

entanto, como veremos mais adiante, algumas razões como a implementação do projeto, por

vezes, sem considerar os critérios impostos para a participação das escolas ao projeto ou até

16 Uma das ações do Programa Navega Pará e consiste na construção de pequenas redes para que se baixe o sinal

da Eletronorte, interligando os principais órgãos públicos (federais, estaduais e municipais), como escolas,

hospitais e delegacias. (NAVEGA PARÁ, 2012) 17 Outra ação do Programa Navega Pará que consiste na construção de espaços públicos com computadores

conectados a rede mundial de computadores, disponibilizando internet de alta velocidade para dois milhões de

pessoas no interior. (NAVEGA PARÁ, 2012)

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uma posterior viabilização de adequação a estes critérios como formação de professores,

instalação de internet, estrutura física e lógica as escolas selecionadas são fatores que podem

vir a ser cruciais para o não desenvolvimento pleno do projeto. É o que será observado, mais

especificamente, no município de SJP onde, a partir da pesquisa, observamos esses fatores no

desenvolvimento do projeto.

No capítulo anterior, após uma discussão teórica sobre inclusão digital, a partir de

Warchauer (2006) e outros autores verificamos a importância de projetos de inclusão digital

não se preocuparem apenas com acesso ao computador e internet como possibilitadora de

inclusão digital, sendo necessário estes irem além, considerando também outros fatores para

uso efetivo e transformador das TICs na sociedade numa abordagem de inclusão sócio-digital.

Neste capitulo, após discorrermos sobre projetos e políticas públicas de

informática na educação, hoje tecnologias na educação, desde os anos 70 e a partir do ano

2000 observamos a inserção da inclusão digital como um dos objetivos das políticas públicas

no Brasil, hoje, presente em vários projetos e programas do Governo Federal na atualidade,

apresentados no trabalho. Em seguida, após a discussão da literatura e os contextos e

objetivos do programa UCA, concluímos a partir dos seus textos legais, pela análise de seus

objetivos, conceitos e finalidades, que este programa se aproxima da abordagem de inclusão

sócio-digital, possuindo a perspectiva de formar cidadãos críticos que atuem no mundo e

sejam vetores na diminuição das desigualdades sociais.

No próximo capítulo, contextualizamos o projeto UCA em SJP de forma a

responder aos objetivos desta dissertação, que é analisar a inclusão digital proporcionada pelo

projeto UCA aos seus participantes no município de São João da Ponta e mais

especificamente verificar a existência de infraestrutura física, de conexão de acesso e a

disponibilidade de laptop, na escola e na comunidade de SJP para inclusão digital dos

participantes; compreender como estudantes e famílias (re) significam o UCA e seus

resultados em SJP; e, por fim, analisar em que medida o UCA leva a inclusão sócio- digital

dos participantes do projeto em SJP.

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4 O PROJETO UCA DE SJP

Após o primeiro capítulo em que, entre outras questões, discorremos sobre

inclusão digital, apresentando diferentes perspectivas de inclusão digital entre uma abordagem

mais técnica (acesso ao computador e internet) e uma abordagem da inclusão digital para a

inclusão social (WARCHAUER, 2006), no capítulo seguinte desta dissertação, a partir dos

textos legais do UCA, analisamos a abordagem de inclusão digital presente no programa UCA

chegando à conclusão que este se aproxima da abordagem de inclusão sócio- digital.

Após essas considerações, neste capítulo, analisamos a partir dos dados da

pesquisa de campo, acerca da inclusão digital que, de fato, foi construída em SJP no contexto

do UCA. Para tanto, expomos o percurso da pesquisa em SJP e, posteriormente, discorremos

sobre o contexto do município que nos possibilita partir para outra etapa: o mapeamento de

todas as escolas do município participantes do projeto UCA Total.

Dando continuidade a este trajeto apresentamos os sujeitos e espaços do UCA no

local de pesquisa, finalizando e apresentando as três dimensões deste estudo, para analisar os

processos de inclusão digital em SJP, que são aprendizagens, sociabilidades e mudanças pelo

UCA que, junto aos outros tópicos deste capitulo, possibilitam-nos compreender a inclusão

digital vivenciada pelo UCA no município.

4.1 O percurso da pesquisa sobre o UCA em SJP

A pesquisa de campo em SJP deu-se a partir do mês de agosto de 2012, período

que coincide com o retorno dos alunos das férias escolares, tanto nas escolas municipais

quanto estaduais no estado do Pará. Nessa etapa inicial o objetivo era conhecer a cidade ver os

locais de maior aglomeração de estudantes com o laptop do UCA e, como havia ido a SJP um

ano antes no momento de implantação do projeto UCA e lembrava de ter visto vários alunos

nas ruas, praças e espaços públicos do município, acreditava poder encontrar a mesma

realidade observada no início de 2011 no ano de 2012. Como tinha a intenção de encontrar os

estudantes que usavam o UCA18 foi estabelecida uma rede de contatos de forma a encontrar

os informantes deste estudo.

18 A expressão “usavam o UCA” significa “usavam o laptop do UCA”, pois os estudantes ao falarem do laptop

do UCA ou computador do UCA se referiam a ele simplesmente por UCA.

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Para tal empreitada realizamos uma pesquisa de cunho etnográfico. Sobre a

etnografia autores como Atkinson apud Pfaff (2010) a compreendem como uma abordagem

metodológica e usam este termo devido ao fato deste tipo de pesquisa incluir diferentes

formas de coleta de informações como: observação participante; entrevistas e, de uma forma

geral, estar aberta a todos os tipos de coleta de dados.

Nessa direção, André (2010, p.28), expõe técnicas “tradicionalmente são

associadas à etnografia, ou seja, a observação participante, a entrevista e análise de

documentos”. A análise de documentos é importante para contextualizar o fenômeno expor as

vinculações mais profundas deste e relacioná-la às informações coletadas de outras fontes da

pesquisa. Já a observação é considerada participante, partindo do pressuposto que o

pesquisador tem sempre uma relação com a situação estudada. Desta forma, ao mesmo tempo

em que ele a afeta é também afetado por ela. E as entrevistas constituem fontes importantes

para aprofundar e esclarecer as questões e os problemas observados (ANDRÉ, 2010).

No que concerne à observação, esta é uma das mais importantes fontes de

informação nas pesquisas qualitativas em educação, pois sem uma observação cuidadosa não

há Ciência. Para esta observação cuidadosa, anotações de qualidade são imprescindíveis no

trabalho do pesquisador. Estas anotações podem ser feitas num diário de campo que consiste

em um caderno onde são registradas as informações observadas. Neste sentido, concordo com

Vianna (2007, p.19) quando afirma que:

Anotações cuidadosas e detalhadas vão constituir os dados brutos das observações,

cuja qualidade vai depender, em grande parte, da maior ou menor habilidade do

observador e também da sua capacidade de observar, sendo ambas as características

desenvolvidas, predominantemente, por intermédio de intensa formação.

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Assim, buscamos informantes através das pessoas que conhecemos na cidade,

como a dona da pousada, o dono da lanchonete da praça e sua esposa, as pessoas que ia

conhecendo no restaurante da pousada na hora do almoço. Conversávamos com essas pessoas

com o intuito de saber onde encontrar esses estudantes utilizando o UCA. Desta forma,

passamos os meses de agosto e setembro conhecendo a cidade por meio desses novos

informantes para conhecer as pessoas, inserir-nos na comunidade e observarmos os estudantes

com o UCA. Todas as observações e conversas com os estudantes e ex-estudantes ocorreram

de agosto de 2012 a maio de 2013.

Pensamos que seria fácil encontrá-los, mas na maioria das vezes não foi assim que

se deu. No “início só observava, sentia que os poucos e possíveis participantes não queriam

conversar tinham receio de falar comigo, foi uma barreira difícil de ultrapassar”. Outra

questão era a presença de poucos estudantes encontrados nos espaços públicos da sede do

município.

Como não sabíamos o que acontecia, e tomando a chuva como razão para os

poucos estudantes encontrados com o UCA nos espaços públicos, apesar de saber que na

Amazônia, e o estado do Pará como parte integrante dela, tem apenas duas estações - a com

chuvas (primeiro semestre) e outra sem chuvas (segundo semestre). Porém, há alguns anos as

mudanças climáticas têm provocado modificações nesta norma climática em toda a região. O

ambiente começou a clarear após uma conversa com uma professora da sede onde

perguntamos “por que poucos alunos ficavam na praça com o laptop do UCA”, visto que já

tinha tido a oportunidade de ir antes a SJP e presenciáramos, antes, muitos estudantes na praça

com os equipamentos. A resposta dada pela professora foi que “as escolas tinham tomado o

UCA dos alunos e agora só era possível usar na escola, e os alunos que ficavam na praça não

tinham devolvido o UCA, mas era pra devolverem e o município tava fazendo vista grossa

com esses alunos”. Assim, os primeiros meses (agosto, setembro e dezembro de 2012) foram

importantes para conhecer o contexto, geografia, cultura e infraestrutura da sede de SJP e

encontrar participantes.

De forma a mapear as escolas do UCA e as localidades onde estão inseridas partir,

no mês de março de 2013, rumo às vilas mais longínquas e as mais próximas da sede de SJP

de modo a conhecer todas as escolas e vilas participantes do projeto. Aproveitamos essas

visitas para saber sobre a estrutura física das escolas para funcionamento do projeto UCA,

conversar com os gestores das escolas/diretores sobre o projeto e seu atual funcionamento e,

também, conhecer a localidade onde estas escolas estão inseridas. Posteriormente fomos à

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secretaria municipal de educação de SJP, conversar com a secretaria municipal de educação,

para saber mais informações sobre a implantação do projeto UCA e o andamento dele até o

presente momento e, principalmente, saber sobre as orientações da secretaria quanto a tomada

do laptops e a questão da manutenção dos UCAs no município.

As primeiras observações e conversas com os estudantes e ex-estudantes com o

UCA nos espaços de SJP e também a ida a todas as escolas do UCA em SJP foram

importantes para a escolha da escola onde faríamos a seleção de estudantes e suas famílias

para entrevista.

A escola selecionada foi a Estadual de Ensino Médio Antonia Rosa, por

considerar que nela a maioria dos alunos havia participado do projeto UCA deste a sua

implantação em 2010 e, portanto tinham tido a experiência de levar o UCA para casa. Outro

fator foi por considerar que dos alunos observados e com quem tinha conversado todos os que

ainda estudavam eram dessa escola, e por fim que os alunos desta escola não são moradores

apenas da sede de SJP, mas também de outras vilas que formam SJP, pois esta é a única

escola de Ensino Médio do município. Assim, no mês de maio de 2013, fizemos à seleção e

entrevista dos estudantes e famílias (Apêndice A e Apêndice B, respectivamente),

consideramos, para tanto, o questionário (Apêndice C) socioeconômico aplicado a todos os

estudantes da escola Antonia Rosa no mês de abril de 2013, que nos proporcionou selecionar

cerca de 55 estudantes: destes um total de cinco apresentaram interesse em participar das

entrevistas desta pesquisa. A todos os participantes foi entregue e assinado o termo de

consentimento para pesquisa (Apêndice D)

As entrevistas com os estudantes e suas famílias ocorreram no mês de maio de

2013. A seguir, um quadro com os eventos desta pesquisa.

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Quadro 07: Eventos da pesquisa.

EVENTOS PERÍODO

Conhecendo o contexto Agosto, setembro e dezembro de 2012

Observação de estudantes e ex-estudantes com o UCA

na sede de SJP

Agosto, setembro, dezembro de 2012 e março, abril

e maio de 2013

Visita a todas as escolas do UCA e conversa com os

Gestores Escolares*

Março de 2013

Questionário socioeconômico Abril 2013

Entrevista com estudantes e famílias Maio de 2013

Fonte: Elaborado pela autora.

* O mesmo que Diretor Escolar, nesta pesquisa.

Nos tópicos seguintes apresento os resultados que emergiram a partir da pesquisa

realizada em SJP.

4.2 O contexto: São João da Ponta

Imagem 03: Praça central da sede de SJP.

São João da Ponta – SJP é um município localizado na região nordeste do estado

do Pará, com aproximadamente 200 km de extensão, distante cerca de 3 horas da capital,

Belém. A ida até o município pode ser feita de ônibus, pela empresa rodoviária Viação

Excelsior ou de carro, pois sua localização no nordeste paraense facilita este tipo de viagem,

visto que a região nordeste do estado é a que possui mais rodovias, diferentes de outras áreas

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do Pará, com acesso apenas por rio ou avião. Mesmo ligada por uma rodovia estadual o

município possui as mesmas características biológicas e físicas das demais regiões do Estado

do Pará e da Amazônia, um verde exuberante cortado por furos de rios e igarapés.

Imagem 04: Recorte do Mapa do Estado do Pará destacando São João a Ponta.

Fonte: extraído do IBGE, 2009.

A viagem de Belém a SJP parte do terminal rodoviário em Belém do Pará, capital

do Estado. O trajeto pelo trecho da rodovia estadual é bom, mas a viagem no ramal, até

chegar à sede do município, não é uma caminhada das mais confortáveis. O “percurso de

Belém a localidade é feito de ônibus, viação Excelsior, partindo de Belém, sempre às 16 horas

em dias específicos (segunda, quinta e sexta) e retornando de SJP para Belém sempre às 07

horas da manhã (terça, sexta e sábado), com viagem de duração de aproximadamente 03

horas. Não é uma viagem fácil, a Rodovia Estadual – PA que leva a SJP é boa, mas o ramal

que liga a PA a SJP é bem ruim, porém, pior mesmo é o ônibus com pneu careca e sem cinto

de segurança...”.

Chegando ao município de SJP percebemos que sua sede é relativamente pequena

onde ficam todos os principais órgãos estaduais, municipais e federais além da única escola de

Ensino Médio da região. SJP é uma típica cidade do interior possuindo uma praça principal,

que é o ponto de encontro da população, principalmente nos finais de semana, e na frente dela

uma igreja. Ao andar pelo município notei “... que não há, em todo o município, lan house

para acessar computador e internet e o infocentro, instalado pelo Navega Pará, estava com

problemas”. Observei que a maioria das ruas da cidade é de terra batida, visitei no município

SÃO JOÃO DA PONTA

SÃO JOÃO DA PONTA

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um “centro de saúde grande, porém pouco equipado, sem remédios, médico ou enfermeira

diariamente...”.

Próximo a este posto de Saúde há o Centro de Referência de Assistência Social

(CRAS) que fica num prédio próprio e é responsável pelo programa do governo federal Bolsa

Família no município, quase na frente tem a câmara de vereadores, depois o posto policial e

andando mais pra baixo vemos um prédio que abriga a prefeitura e suas secretarias, há “um

pólo da EMATER que presta assistência agrícola na região e é responsável pelo Programa

Nacional de Agricultura Familiar – PRONAF...”.

Saneamento básico e asfalto existem apenas na rua principal, onde ficam os

principais órgãos públicos e na pequena região do entorno da praça. No que diz respeito à

economia do município esta “... gira em torno principalmente da agricultura familiar e apesar

de ser banhada pelo rio Mocajuba, a pesca é uma atividade pouco produtiva que não supre a

demanda da própria população local. Há alguns comércios e restaurantes na cidade...”.

SJP é um município pobre do estado do Pará e de acordo com dados do Instituto

de Pesquisa Econômica e Aplicada – IPEA de 2009, dos 5.038 habitantes do município 2.296

habitantes vivem em extrema pobreza.

Os habitantes do município estão concentrados em sua maior parte na área rural e

observamos isso nos dados do último censo realizado em que se verifica um total de 500

endereços urbanos contra 1.652 de endereços rurais, do total de 2.522 dos endereços do

município, segundo dados do IBGE (2009).

Mesmo com praticamente metade de sua população, vivendo abaixo da linha da

pobreza, durante o tempo de estadia no município não observamos violência, roubo ou

assalto. Era uma tranquilidade que nos permitia transitar sem receio, pois SJP “... é uma

cidade muito pacata...durante a noite ficava observando os estudantes na praça central que

logo percebi ser o local mais freqüentado e usado pelos participantes do projeto UCA...”.

Assim, após a primeira ida ao campo de estudo traçamos os rumos e continuamos os

percursos da pesquisa que apresentaremos no tópico a seguir.

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4.3 Um mapeamento das escolas do Projeto UCA do em SJP

Imagem 06: Vilas de SJP

Em São João da Ponta, as escolas públicas, municipais e estaduais, reúnem em

torno de 1.223 alunos e cerca de 80 professores. São 14 escolas atendidas pelo projeto, 13

municipais e 01 estadual.

O processo de implantação do projeto UCA em SJP deu-se a partir do dia 30 de

agosto de 2010. Nessa data, houve um encontro na UFPA em Belém/PA com os Formadores

do NTE/SEDUC/PA, representantes e formadores das Instituições de Ensino Superior – IES

Local, a Universidade Federal do Pará – UFPA e global, a Universidade de Campinas –

UNICAMP e representantes da SEDUC/PA, cujo objetivo foi esclarecer quanto à execução do

projeto e elaborar as propostas de ação para as escolas que receberam os laptops. Já, o

lançamento do projeto em SJP aconteceu no dia 14 de setembro de 2010, ressaltando-se que,

quinze dias após, todos os laptops já tinham sido entregues aos estudantes do município.

SJP é formada por 10 vilas, divididas entre urbanas e rurais, mais a sede. Para

conhecer os loci do UCA em SJP, realizamos visitas a todas as escolas do município no mês

de Março de 2013, com o objetivo de conhecer todas as vilas e escolas participantes do UCA

no município de SJP; observar a inclusão digital proporcionada pelo projeto; verificar a

infraestrutura física e de conexão lógica dessas escolas e também conversar com os gestores

das escolas visitadas sobre o projeto UCA. A seguir apresentamos uma figura, construída com

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o auxílio de informantes desta pesquisa, localizando as 10 vilas que compõem SJP além da

sede.

Nestas visitas, procuramos observar especificamente a infraestrutura física e

instalação lógica e se havia ocorrido adequação do espaço físico das escolas; presença de

armários do programa para guardar os laptops do UCA; presença de carteiras do programa; se

a escola possuía sala de informática; número de salas de aula na escola e biblioteca; se havia

instalação de rede lógica e conexão a internet. Com os gestores conversamos sobre como

havia sido a implantação do projeto UCA na escola e como estava, nos dias de hoje, o

andamento do programa procurando, entre outras questões, obter informações sobre o uso do

UCA pelos alunos e professores e também sobre a manutenção dos laptops.

A seguir descrevemos cada uma das escolas visitadas, com exceção das escolas de

educação infantil 15 de Agosto e Tia Biá.

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1) Escola Municipal Rosa S. Almeida (anexo da escola municipal Antonia Rosa)

A Escola S. Almeida está localizada em Vila Coqueiro, onde há pouquíssimos

comércios, sem posto de saúde. Não há praça principal, mas sim um espaço central onde a

maioria das casas foram construídas.

Esta escola de 1º a 4º série do Ensino Fundamental possui 3 salas e apenas uma

com tomadas para carregar o UCA, sem biblioteca ou sala de informática; 3 professores; 73

alunos. Conversamos com o responsável pela escola, já que ela é um anexo da Escola

Municipal Antônia Rosa, e este disse que todos os professores haviam recebido a formação do

UCA, mas que desde dezembro de 2011 a escola está sem sinal de internet – antes

proporcionado pelo sinal GESAC19, que está com problemas -, e mesmo assim procuravam

usar o UCA em sala de aula.

Quanto ao uso do UCA, no início os alunos levavam os computadores pra casa

mas agora ficam na escola. Foi relatada uma diminuição da intensidade de uso dos laptops por

parte dos professores e quando alguém quer usar em sala de aula eles carregam na sala que

tem tomada e em seguida levam pra sala de aula, o que dificultaria o trabalho. Outro ponto

relatado é terem poucos UCAs funcionando.

As atividades realizadas com o UCA pelos professores eram mais jogos do

computador e edição de texto em sala de aula. Foi relatado que os alunos, por gostarem de

usar o laptop, sabiam mexer às vezes melhor que os próprios professores na escola.

19 Programa do Governo Federal que oferece conexão de internet via satélite e terrestre à telecentros, com o

objetivo de promover a inclusão digital em todo o território brasileiro. O Programa é direcionado,

prioritariamente, para comunidades em estado de vulnerabilidade social, em todos os estados brasileiros,

privilegiando as cidades do interior, sem telefonia fixa e de difícil acesso. (fonte: gesac.gov.br)

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2) Escola Municipal de 1º a 8º serie do ensino fundamental Raul L Lagoia

Esta escola, localizada em Vila Deolândia, que é grande, tem praça e igreja, tem

também muitas crianças nas ruas se divertindo na beira do rio que corta a cidade. A escola

possui 2 salas e mais 1 sala no anexo que fica do lado da Igreja possuindo no total 9

professores.

Para o UCA a escola não passou por reformas: colocaram apenas instalação de

tomadas, possui antena GESAC com defeito desde 2012 e sinal de internet do programa

Navega Pará, mas que não está ativo para aceso a internet.

Todos os professores fizeram formação para o UCA, porém foi relatado que quase

nenhum estava usando o laptop na escola. Quanto à manutenção sempre que danificava era

enviado pra sede que não estava mais devolvendo o laptop: por isso está começando a faltar

laptop e carregadores para os alunos.

No começo do projeto os alunos levavam o computador pra casa, mas agora só

fica na escola, pois tinha dado muito problema sendo que uma grande quantidade de alunos

não haviam devolvido o UCA.

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3) Escola Municipal de 1º a 4º serie do ensino fundamental Brígido Teodoro Coelho

A escola está situada em Vila Guarajuba, vila extensa com poucos comércios e

uma igreja, além de um trapiche que serve de diversão para as crianças e a população local.

Sua estrutura é composta por 2 salas com 2 professores. Não foi feita reforma na escola por

conta do projeto, apenas colocaram tomadas nas salas de aula. Em 2012, por conta de uma

reforma no prédio, levaram todos os laptops da escola para a sede de SJP, restando 5 que eram

usados pelos os alunos da vila que fazem Ensino Médio na sede de SJP.

Apenas uma professora que começou a trabalhar na escola em 2013 não tinha

feito formação do UCA. A escola tem sinal de internet GESAC funcionando em 2013, porém

anteriormente estava inativo. No início os alunos levavam o laptop pra casa, mas agora só

usam na escola.

Imagem 10: Escola Municipal Brígido Coelho

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4) Escola Municipal de 1º a 4º serie do ensino fundamental Romualdo Ataíde Almeida

Esta escola está localizada em Vila São Francisco, que é pequena e muito carente

vila de SJP, sem rios e com muito verde ao seu redor. A estrutura física da escola tem 1 sala e

2 professores. Também não houve reforma na escola apenas a colocação de mais tomadas e

todos os professores haviam feito a formação do UCA.

De todas as escolas esta foi a que mais chocou pelas precárias condições. Sobre os

laptops estes eram armazenados na mesma estante da cozinha onde ficavam os alimentos, ao

lado do fogão a lenha da escola. Quando os UCAs apresentam defeito são enviados para a

sede de SJP e por isso só restam alguns que ficam na cozinha da escola.

A escola tem antena GESAC que na funcionou até o final de 2011. No início do

projeto a crianças levavam pra casa, mas agora só usam na escola. Foi relatado que “elas

sabem usar direitinho o UCA e às vezes melhor que eles mesmos” (GESTOR

ESCOLAR/ZONA RURAL, 2013).

. Imagem 11: Escola Municipal Rômulo Almeida

5) Escola Municipal de 1º a 4º serie do ensino fundamental Guarumã Pacu

Situada em Vila Santa Clara, pequena vila distante da sede de SJP, com poucos

comércios e quase sem infraestrutura. A escola possui 1 sala e 2 professores nela não houve

reforma penas foram colocadas tomadas e desde 2012 a internet GESSAC não está

funcionando.

Todos os professores fizeram formação para o UCA, porém nenhum professor

estava mais usando o laptop em sala de aula. Sobre a manutenção, quando o UCA danifica

agora ele é enviado para a sede. Os poucos laptops que restaram a maioria está sem

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carregador. No ano de 2012 a professora que mais usou o UCA foi uma de Português que

trabalhava muito com edição de texto pelos alunos.

Imagem 12: Escola Municipal Guarumã Pacu

6) Escola Municipal 1º a 4º série do Ensino Fundamental Teodoro Paranhos Gurjão

Esta escola está localizada em Vila Porto Grande, povoado populoso com

comércios, igreja e vários igarapés que servem de diversão local. A escola municipal possui 2

salas e 3 professores e devido a uma reforma geral iniciada em janeiro de 2013, estão sem

aulas.

Não houve reforma na escola: apenas colocaram tomadas. A internet, quando

funcionava, era GESAC que está inativo desde 2011. Todos os professores fizeram a

formação para o UCA. O diretor da escola também era formador de professores do projeto

UCA nas escolas rurais e disse saber das dificuldades do projeto principalmente sobre a

formação dos professores, pois ele tinha sido contratado em 2012 pela prefeitura de SJP para

atuar com os professores, e disse que a formação do MEC para o UCA tinha sido insuficiente.

Por ter sido formador, incentivava os professores a usarem o laptop UCA na sala de aula com

os alunos.

No início os alunos levavam o laptop pra casa, mas devido alguns problemas

relatados como venda, roubo e mau uso, agora só usam na escola: “eles tomavam banho no

igarapé com o computador e como a gente não tem assistência, foi melhor devolver à escola,

eles agora ficam na escola e são usados somente na escola” (GESTOR ESCOLAR/ZONA

RURAL, 2013).

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Imagem 13: Escola Municipal Teodoro Gurjão

7) Escola Municipal de 1º a 4º serie do ensino fundamental Tenente Cipriano Chagas

Situada em Vila Bonfim, que é bastante distante da sede de SJP, nela não há

praça, nem igreja e as pessoas normalmente se reúnem num campo de futebol. A escola

possui 1 sala e 1 professora que também é a diretora da escola possuindo o total de 21 alunos.

Não houve reforma na escola: apenas colocaram tomadas para o projeto os

laptops, que antes ficavam com os alunos hoje ficam guardados na secretaria junto de outros

materiais didáticos, não tendo armário próprio para guardá-los. No início do programa a

internet era GESAC que está com defeito desde 2012.

Imagem 14: Escola Municipal Tenente Cipriano Chagas

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8) Escola Municipal de 1º a 8º serie do ensino fundamental Antonia Rosa

Esta escola está situada na sede de SJP em frente à praça principal, possui 8 salas,

1 sala de Informática e 13 professores, sendo que todos fizeram formação do UCA. Para o

projeto não houve mudança estrutural, apenas a instalação de tomadas e pontos lógicos.

Antigamente os alunos levavam o UCA pra casa, mas agora fica na escola porque os alunos

“estavam extraviando o UCA” (GESTOR ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Quando os professores querem usar o laptop fazem um cronograma de uso e que

apenas quando o professor pede, diz que é pra pesquisa, eles dão o UCA para os alunos

levarem no final de semana, mas relataram evitar essa prática pois “eles são muito danados”.

A internet da escola é a disponibilizada pelo Navega Pará que tem um bom o

sinal, conforme a gestão, mas se “muita gente usa fica difícil trabalhar com a quantidade de

alunos que os professores têm por turma” (GESTOR ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Imagem 15: Escola Municipal Antonia Rosa

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9) Escola estadual de ensino fundamental e médio Antonia Rosa

Localizada próximo a praça, é a única escola estadual e de Ensino Médio em todo

o município, possuindo 1 sala que serve de secretaria; sala dos professores, que não tem

banheiro; 1 sala que está se preparando para ser sala de informática; 3 salas de aula; 1

refeitório; 1 banheiro masculino e feminino, que serve a todos na escola; e uma quadra de

esportes sem cobertura.

Em 2012 a escola tinha aproximadamente 272 alunos e 9 professores. Para o UCA

não foi feito reforma apenas instalação de tomadas. No início todos os professores tinham

feito a formação do UCA, que foi dada pelo NTE Benevides e depois pelo NTE de Castanhal

(Municípios com NTEs mais próximos a SJP). Mas agora apenas 3 professores tem a

formação do UCA, isso por conta da alta rotatividade dos docentes na escola e também da

dificuldade de lotação relatada pela direção escolar. Sobre isso diz: “as disciplinas específicas

do Ensino Médio, como Física e Química, não é tarefa fácil, pois quando consegue lotar, com

o tempo eles começam a reclamar da estrada que estraga os carros e, assim que conseguem

uma escola mais próxima, vão embora”. Disse também esperar que a estrada fique logo pronta

“pra amenizar essa situação” (GESTOR ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Existem na escola muitos laptops com defeito e de todos os UCAs entregues no

início do programa restavam apenas 20 funcionando; destes, ainda há os que não tem

carregador a direção informou que já tinham feito o pedido de manutenção e de carregadores

a SEDUC em Belém, mas até agora não tinha resposta.

No início os professores usavam muito o UCA, planejavam atividades, mas agora

eles não usavam mais. Hoje quem mais usa são os alunos para fazer pesquisa, pois não há

biblioteca na cidade. Desde maio de 2012 os alunos não levam mais o UCA pra casa eles

usam somente na escola.

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Imagem 16: Escola Estadual Antonia Rosa

10) Escola Municipal de 1º a 4º série do Ensino Fundamental do Açu

A escola está localizada em vila Açu, que é próxima da sede de SJP, sendo

pequena e localizada na beira da estrada que liga a sede a rodovia principal, ficando a escola

bem na rua principal, na parte que não tem asfalto da estrada. Possui 2 salas, 3 professores e

destes 2 tinham feito a formação do UCA e 1 era novo na escola, que tem 64 alunos.

Também não houve nesta escola mudança estrutural ou adequação física: apenas a

instalação de tomadas e ponto lógico para o projeto. Desde 2012 não há manutenção e por

isso os laptops danificados ficam na escola, pois quando ligam para a secretaria solicitando o

conserto eles dizem que vão pegar as peças, porém nunca retornam. A conexão a internet na

escola é GESAC há sinal do Navega Pará que está danificado desde 2011.

Os alunos não levam o UCA pra casa e a escola também não empresta o laptop

nos fins de semana, pois quando emprestavam “os alunos estavam usando pra brincar na praça

da sede”. O UCA ainda é usado na escola. Foi relatado que os “alunos gostavam muito de

usar o laptop, pois a aula ficava mais divertida, os professores usam pra trabalhar a escrita e

também fazer dinâmicas em sala de aula” disse também que o professores “planejam o tema e

depois dão o UCA aos alunos para pesquisar, trabalhar a partir dos jogos” (GESTOR

ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Ao chegar nesta escola encontramos uma professora usando o UCA com os

alunos. Ao final da aula conversamos com ela sobre o projeto e ela disse: “no início foi difícil

saber dominar a máquina, mas com o tempo foi ficando melhor e os alunos gostavam muito,

ainda mais criança, o único problema era a energia, pois tinha que carregar bem antes de usar”

outro problema relatado por ela foi “a internet, pois se todos em sala estiverem usando fica

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terrível, mas dava pra editar texto e fazer outras coisas”. Disse também que desde o início do

ano a internet estava funcionando, mas “um bom pedaço de 2012 a escola ficou sem sinal o

que atrapalhou bastante as ações” (PROFESSORA/ZONA URBANA, 2013).

Imagem 17: Escola Municipal do Açu

11) Escola Municipal de 1º a 4º série do Ensino Fundamental Clarinda Martins Rodrigues

Localizada em Vila Monte Alegre, também conhecida por Vila Quatro Bocas, fica

na beira da estrada mais próximo de Vila Nova.

A escola possui 2 salas e 2 professores e como ainda estavam aceitando

matrículas não tinham o total de alunos. Não houve reforma: apenas colocaram tomadas e

rede lógica. Não há sinal de internet, que funcionou com problemas até outubro de 2012 e

hoje está danificado.

Os alunos não levam mais o UCA pra casa e a escola também não empresta.

Quanto à manutenção, os laptops com defeito ficam na escola, pois a Secretaria de Educação

não manda mais consertar. Em relação à internet até outubro de 2012 eles tinham o sinal

GESSAC e devido a problemas técnicos estão sem sinal e sem previsão de retorno.

Todos os professores fizeram à formação e hoje praticamente nenhum usa o UCA.

Conversamos com uma professora e esta relatou que “no início eles usavam bastante o UCA,

até porque os meninos pediam muito e a gente via que eles gostavam, mas agora tinha dado

uma esfriada no uso e de verdade nem sabia onde andavam os UCAs”

(PROFESSORA/ZONA URBANA, 2013).

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Imagem 18: Escola Municipal Clarinda Rodrigues

12) Escola Municipal de 1º a 8º série do Ensino Fundamental Feliciano Rodrigues

Esta escola localizada em Vila Nova, vila grande e populosa de SJP, possui

praticamente a mesma estrutura da sede do município, sendo mais próximo da rodovia

estadual. A estrutura escolar é composta por 8 salas e 14 professores. É uma escola grande,

bastante numerosa. Não teve reforma: apenas tomadas e ponto lógico foram colocados. Todos

os professores fizeram à formação. Hoje não existe manutenção: quando os laptops

apresentam defeito, ficam de lado dentro de caixas na sala da direção da escola e os que estão

funcionando ficam em outras caixas na mesma sala.

A direção da escola relatou que muitos alunos não entregaram o UCA e que como

a escola não tem sinal do Navega Pará nem GESAC eles têm o costume de emprestar o UCA

nos finais de semana para alunos da escola e ex-alunos, que estão no Ensino Médio, mas que

moram na vila, para usarem, porque sabem que estes pegam sinal de internet na frente da

escola Tia Biá. Como não têm internet, os professores quando usam o UCA faziam atividades

de texto e a escola também dava curso de introdução à informática aos alunos.

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Imagem 19: Escola Municipal Feliciano Rodrigues

Abaixo apresentamos um quadro sintético da situação de infraestrutura física e

rede lógica encontrada em cada uma das escolas das Vilas de SJP.

Quadro 08: Situação de infraestrutura das Escolas das Vilas de SJP/2013.

SEDE E

VILAS DE

SJP

ESCOLAS Instala

ção

Lógica

Adequ

ação

do

Espaço

Físico

Conex

ão a

Intern

et

Ativa

em

2013

Armár

ios e

Cartei

ras

Manut

enção

dos

compu

tadore

s

Situaç

ão

Forma

ção dos

profess

ores

em

2013

Nº de

Salas

de

Aula

Biblioteca

1

Sede de

SJP

(Urbana)

E.E.E.M

Antonia

Rosa

S N Navega

Pará

S/Maio

de

2013

Até/20

12 NT 03 N

2

Sede de

SJP

(Urbana)

E.M.E.F

Antonia

Rosa

S N Navega

Pará N

Até/20

12 S 08 N

3

Sede de

SJP

(Urbana)

E.M.E.I 15

de Agosto S N

Navega

Pará N

Até/20

12 S 02 N

4 Vila Nova

(Urbana)

E.M.E.F

Feliciano

Rodrigues

S N N N Até/20

12 S 08 N

5 Vila Nova

(Urbana)

E.M.E.I Tia

Biá S N

GESA

C N

Até/20

12 S 01 N

6

Vila Monte

Alegre

(Urbana)

E.M.E.F

Clarinda

Rodrigues

S N N N Até/20

12 S 02 N

7 Vila Açu

(Urbana) E.M.E.F Açú S N

GESA

C N

Até/20

12 NT 02 N

8

Vila

Bonfím

(Rural)

E.M.E.F

Cipriano

Chagas

S N N N Até/20

12 S 01 N

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Fonte: Elaborado pela autora. S para SIM e N para NÃO e NT para Nem Todos.

Os resultados sintetizados no quadro, sobre as visitas às escolas, nos mostram que

em nenhuma escola foi realizada a adequação de espaço físico, sendo que apenas foram

colocadas tomadas nas salas de aula. Muitas escolas não receberam carteiras específicas para

o projeto; porém, algumas anteriormente já possuíam escrivaninhas e apenas uma escola, a

estadual Antonia Rosa, recebeu armário específico do programa em Abril de 2013, mas que

não estava funcionando devido à diferença de voltagem do armário e da rede elétrica da

escola. Todas as escolas visitadas tinham instalação de rede lógica (mesmo as escolas de

Educação Infantil) e das 14 escolas visitadas, 06 possuíam conexão a internet, sendo 05 da

zona urbana e apenas 01 da zona rural. Os gestores também informaram que no início do

projeto todos os alunos a partir da terceira série receberam o UCA .

Na área urbana, as escolas da sede possuem conexão a internet disponibilizada

pelo programa do governo estadual Navega Pará, no entanto, alguns gestores relataram, sobre

o Navega Pará, que “o sinal era bom dava pra fazer muita coisa, mas se todo mundo usa o

sinal começa a cair e os professores reclamam muito desse problema”. Disse também que eles

usam o UCA, mas que “dá muito problema, pois imagina uma sala com 30 alunos todos

usando o UCA? O sinal fica ruim, a energia fica fraca e já teve vez que caiu mas é assim

mesmo, tem que tentar.” (GESTOR ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013)

Como vimos, além do sinal de internet outro problema apresentado foi o suporte

de energia para uso dos computadores, que também foi colocado por outro diretor: “o único

9

Vila

Coqueiro

(Rural)

E.M.E.F

Rosa

Almeida

S N N N Até/20

12 S 03 N

10

Vila

Deolándia

(Rural)

E.M.E.F

Raul Lagoia S N N N

Até/20

12 S 02 N

11

Vila

Guarajuba

(Rural)

E.M.E.F

Brígido

Coelho

S N GESA

C N

Até/20

12 NT 02 N

12

Vila São

Francisco

(Rural)

E.M.E.F

Romualdo

Almeida

S N N N Até/20

12 S 01 N

13

Vila Santa

Clara

(Rural)

E.M.E.F

Guarumã

Pucu

S N N N Até/20

12 S 01 N

14

Vila Porto

Grande

(Rural)

E.M.E.F

Teodoro

Gurjão

S N N N Até/20

12 S 02 N

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problema era a energia, pois tinha que carregar bem antes de usar, e a internet, pois se todos

em sala estiverem usando fica terrível, mas dava pra editar texto e fazer outras coisas”. Nas

outras escolas urbanas o sinal de internet, quando disponibilizado, era o GESAC.

Na zona rural apenas 01 escola possui conexão - a internet feita pelo programa do

governo federal de inclusão digital GESAC, porém, de acordo com o gestor, o sinal é de baixa

qualidade, apresentando frequentemente problemas técnicos que deixam a escola sem internet

por um longo período de tempo, o que dificulta o desenvolvimento de ações de uso da internet

com o laptop UCA pelos professores e alunos em sala de aula, como exposto na fala a seguir:

“a internet era um problema para o trabalho com o UCA, pois era muito ruim, mas eles faziam

o possível tentavam pelo menos uma vez, dia de quarta ou quinta, mas era muito difícil”

(GESTOR ESCOLAR/ZONA RURAL, 2013).

Esses problemas de infraestrutura, adequação de espaço físico, internet, entre

outros, observados nesta pesquisa em 2013, são os mesmos encontrados em 2010 por Junior

et al., (2010) que pesquisou a implantação do projeto UCA no município de SJP em 2010,

onde expõe:

Dentre os desafios da implantação do UCA total em São João da Ponta, podemos

destacar, além das questões gerais inerentes a qualquer projeto pedagógico

(bibliotecas, salas de aula e carteiras adequadas, dentre outros), a infra-estrutura de

provimento de acesso à internet (o que poderá ser objeto de parceria nas diferentes

esferas governamentais). (JUNIOR et al., 2010)

Já em relação à manutenção dos computadores de acordo com relado dos gestores

era feito, até 2012, por técnico contratado pela prefeitura. Porém, para 2013 ninguém havia

sido contratado. Ainda de acordo com os gestores a grande maioria dos professores havia

terminado o curso de formação do UCA. Os professores que não tinham feito o curso eram

novos no município. Sobre isso é importante expor que em SJP as escolas de Ensino

Fundamental apresentam pouca rotatividade; já as de Ensino Médio ocorre uma alta

rotatividade dos professores. A diretora da escola de Ensino Médio relatou que tem

dificuldade para conseguir professores para muitas disciplinas e que, quando consegue, estes

professores não se fixam no município, pois como dão aulas em escolas de outras regiões,

pouco vivem o ambiente escolar no qual estão inseridos, gerando problemas para direção.

Sobre a retirada dos laptops dos alunos, as falas dos gestores variava, por

exemplo, entre mau uso do UCA pelos alunos e também a questão de falta de manutenção

como podemos observar na fala a seguir:

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No início levavam mais que havia sido uma negação, a diretora disse que até caldo

de feijão deixaram cair no laptop e devido a problemas, pois os meninos estavam

viciados e comiam com o UCA do lado e deixavam cair coisas e como tinha dito, até

caldo de feijão caiu no UCA. Aí a secretaria sugeriu que os laptops ficassem na

escola e eles não usam nem no final de semana, pois perceberam que os alunos,

quando levavam o UCA nos fins de semana não estavam usando pra escola estavam

indo pra praça da sede pra brincar então a gente não deixa... (GESTOR

ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Outra diretora expôs que

Desde 2012 ales não levavam mais, eles ficam na escola e só usam aqui, disse que

assim era melhor, pois tinha aluno matando aula pra ficar na praça, tinha professor

que reclamava deles ficarem na internet e não prestarem atenção na aula sabe como

é jovem né?...(GESTOR ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Na zona rural os motivos para a tomada de laptops dos alunos também não foi

diferente.

Os alunos levavam o laptop pra casa, mas agora só usavam na escola. Ela informou

que havia muitos laptops com problemas e que quase todos os UCAs foram pra SJP

com defeito e colocou que, se o município tivesse feito como fizeram agora, de só

usar na escola, todos os computadores estariam bons, mas não, deram tudo pros

meninos, sabe como é menino não tem cuidado mesmo, daí de todos os

computadores que a escola recebeu tem apenas cinco funcionando...(GESTOR

ESCOLAR/ZONA RURAL, 2013).

Em outra conversa um diretor da zona rural colocou que

Logo no início os alunos levavam pra casa, mas devido a alguns problemas, como

venda, roubo e mau uso, pois eles tomavam banho no igarapé com o computador e

como a gente não tem assistência, foi melhor devolver à escola, eles agora ficam na

escola e são usados somente na escola (GESTOR ESCOLAR/ZONA RURAL,

2013).

4.4 Sujeitos e espaços do UCA em SJP

Imagem 20: Sujeitos e Espaços do UCA em SJP

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Neste tópico, apresentamos os sujeitos, no município de SJP, encontrados nos

diversos espaços. São ex-estudantes, estudantes e famílias, onde aqui traçamos um perfil

descritivo de quatro estudantes.

O estudante EN é natural de Curuçá, município maior que SJP localizado na

região nordeste do estado do Pará. Tem 21 anos, é casado e pai de um filho. Veio para SJP

aos 4 anos de idade, começando a estudar aos 5 anos na escola de educação infantil 15 de

Agosto. Suas lembranças da escola estão sempre marcadas pela falta de estrutura escolar onde

logo no início da vida estudantil sua escola apresentava estrutura física precária e hoje no

Ensino Médio lembra que quando tem professor este falta demais. Para este, SJP tem poucas

possibilidades de emprego e o UCA se apresenta como uma ferramenta importante na busca

por colocação no mercado de trabalho. Este estudante relatou que pelo UCA se inscreveu para

um emprego no município de Curuça e já tinha ido depois disso pessoalmente a empresa e

assinado um contrato, começando a trabalhar em junho de 2013.

O estudante CS apenas nasceu em Belém do Pará, visto que em SJP não há

maternidade, voltando para SJP ainda recém nascido. Tem 17 anos, sua família é constituída

por pai, mãe e 2 irmãos. Iniciou os estudos com 5 anos (numa creche que não existe mais)

para em seguida ir para a escola 15 de Agosto. Tem boas lembranças do início de sua vida

escolar, relatando brincadeiras com os colegas no terreno grande da escola. Sobre a escola

atual diz que ela tem umas irregularidades20, mas dá pra estudar. Para o estudante o UCA

representa ficar mais informado do que acontece em SJP, e no mundo serve também para

pesquisar cursos de interesse, como informática e mecânica. A família deste estudante - após

a entrega dos UCAs para a escola - comprou um laptop para casa, mas desde o início de 2013

estava com defeito. Este estudante não devolveu o UCA para a escola: fica com ele em casa.

20 Esta fala se deve ao fato da escola, que mesmo sendo construída pela Secretaria de Educação do Estado do

Pará – SEDUC/PA, receba recursos financeiros desta Secretaria e com a folha de pagamento custeada pelo

Estado não era regularizada até junho de 2013, perante ao Conselho Estadual de Educação – CEE, e por isso não

podia emitir certificados de conclusão do Ensino Médio e histórico escolar aos alunos.

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O estudante NS nasceu em Belém do Pará, voltando para SJP ainda bebê. Tem 17

anos, e a família é constituída por pai, mãe e 1 irmã mais nova. Iniciou os estudos aos 4 anos

na escola 15 de Agosto, de onde tem boas lembranças. Na escola atual diz que esta não

apresenta rivalidade entre professor e aluno, o que tem em outras escolas no estado, mas que

lá eles respeitavam o professor. Porém, o problema é a constante falta de professores que faz

com que as pessoas já vejam a escola de forma diferente.

Para este estudante o UCA foi importante por permitir conhecer coisas novas,

apresentar novas possibilidades para a vida e permitir sonhar com uma vida melhor,

acendendo o desejo de ir pra Belém fazer uma universidade usa o computador para pesquisas,

redes sociais e baixar material para o ENEM, pois algumas disciplinas da escola estavam sem

professores, como química. A família, após a entrega do UCA juntou dinheiro durante vários

meses para comprar um laptop para a casa, que acessa a internet pelo sinal do Navega Pará.

Outro estudante JR nasceu em SJP, tem 16 anos a família é constituída pelo pai,

mãe e 2 irmãos. Sua primeira escola foi a 15 de agosto que para a aluna era uma boa escola; já

a escola atual diz que apesar de ter uma boa estrutura falta muito professor. O UCA despertou

na aluna a vontade de sair de SJP e fazer uma faculdade na capital do estado do Pará e de ter

uma vida diferente da mãe que vive para cuidar da casa, do marido e dos filhos. A família não

entregou o UCA para a escola, que hoje é usado por todos os integrantes do grupo familiar.

Já o estudante DM tem 16 anos, nasceu em Vila Deolandia, em SJP, onde morou

lá até 2011. Sua família reside na sede de SJP e é composta por pelo vó, pai, e 2 irmãos; já a

mãe mora em Vila Açú. Iniciou os estudos com 6 anos na vila rural. Lembra-se da escola ter

uma área muito grande e sobre a escola atual diz que deveria ser melhor ter mais professores e

mais merenda, pois às vezes falta professor e os alunos que são das vilas rurais tem que ficar

esperando o ônibus escolar até às 12 horas da manhã. Para este estudante o UCA permitiu

conhecer novas pessoas e se manter informado. O estudante devolveu o UCA para a escola.

O quadro abaixo apresenta, de forma sintética, todos os sujeitos da pesquisa,

sejam ex-estudantes e estudantes, encontrados em vários espaços de SJP e os estudantes e

famílias entrevistadas, nele expondo o local da conversa, ocupação, série, atividade que

realizava no momento da conversa e entrevista, principal atividade com o UCA e local de

moradia.

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Quadro 09: Estudantes e Ex-estudantes e famílias em SJP.

SUJEITOS

LOCAL

DA

CONVER

SA/ENTR

EVISTA

OCUPAÇÃ

O

SÉRI

E DO

ALUN

O

ATIVIDAD

E NO

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O DA

CONVERS

A

PRINCIPAL

ATIVIDADE

COM

COMPUTADO

R

LOCAL DA

CASA

ESTUDANTE

YO

PRAÇA ESTUDAN

TE

ENSINO

MÉDIO

SERIE

TRABALH

ANDO EM

FOTOS

REDE SOCIAL E

PESQUISA

SEDE DE SJP

EX

ESTUDANTE

RL

PRAÇA EX-

ESTUDAN

TE

ENSINO

MÉDIO

- NA REDE

SOCIAL

REDE SOCIAL E

PESQUISA

VILA AÇÚ

EX-

ESTUDANTE

CN

PRAÇA EX-

ESTUDAN

TE DO

ENSINO

MÉDIO

- NA REDE

SOCIAL

REDE SOCIAL E

PESQUISA

VILA AÇÚ

ESTUDANTE

* EN/

FAMÍLIA

EN**

EM CASA

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ESCOLA/

RESIDÊN

CIA

ESTUDAN

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ENSINO

MÉDIO

SERIE

NA REDE

SOCIAL

REDE SOCIAL E

PESQUISA

SEDE DE SJP

ESTUDANTE

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NA ÁREA

DA

ESCOLA

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ESTUDAN

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PESQUISA REDE SOCIAL E

PESQUISA

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ESTUDAN

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SOCIAL

REDE SOCIAL E

PESQUISA

SEDE DE SJP

ESTUDANTE

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ESTUDAN

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PESQUISA

SEDE DE SJP

ESTUDANTE

* JR/

FAMÍLIA

JR**

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ESTUDAN

TE

ENSINO

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SERIE

- REDE SOCIAL E

PESQUISA

SEDE DE SJP

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91

ESTUDANTE

* DM

FAMÍLIA/

DM**

RESIDEN

CIA

ESTUDAN

TE

ENSINO

MÉDIO

SERIE

- REDE SOCIAL E

PESQUISA

SEDE DE SJP

* Estudantes que participaram da entrevista para a pesquisa.

** Família dos estudantes participantes da entrevista para a pesquisa.

As conversas com os estudantes e ex-estudantes foram realizadas sempre que

encontrava um aluno usando o UCA e aconteceram em diversos espaços onde encontrava

participantes. Os estudantes e ex-estudantes encontrados nos locais além-escola foram

encontrados na praça, próximo à escola, casa ou em outro espaço como algum comercio,

como se vê na figura a seguir.

Esses locais de usos do computador do UCA expostos na figura anterior davam-se

principalmente por serem locais de bom acesso a internet. Neste contexto, ressaltamos que a

internet é vista pelos sujeitos como parte de sua realidade e seu uso adquire forma de acordo

com as aspirações e/ou utilidades do sujeito.

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Ao observar os usos do UCA21 nos espaços públicos, vimos que os estudantes e

ex-estudantes encontrados a maioria não havia entregue o UCA para a escola e alguns não

eram da sede, pois vinham de vilas próximas principalmente captar o sinal de internet.

No próximo tópico, discorremos sobre aprendizagens e sociabilidade nos diversos

espaços da sede do município de SJP e as mudanças pelo UCA, neste contexto, com os

participantes da pesquisa.

21 Sobre os usos foi verificado que apenas um ex-estudante, de todos os participantes da pesquisa (estudantes, ex-

estudantes e famílias), havia utilizado computador antes do projeto UCA a maioria como vemos, teve sua

primeira experiência com o computador por meio do laptop do projeto.

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4.5 Aprendizagens, sociabilidades e mudanças

No sentido observar processos de inclusão digital experienciados pelo projeto

UCA em SJP, analisamos as informações coletadas no campo em três dimensões que são: 1)

aprendizagens pelo UCA; 2) sociabilidades em rede 3) e as mudanças econômicas, sociais e

educacionais propiciadas pelo projeto em SJP. Sobre elas entendemos:

1) Aprendizagens pelo UCA

Nessa dimensão, verificamos os diferentes tipos de aprendizagens propiciados

pelo UCA em diferentes espaços, como escola - praça – casa, com estudantes e ex-

estudantes, observando como este aprendeu? Se sozinho, com o professor ou em grupo? O

que, de fato, aprendeu? E se ocorreram segundo Warchauer (2006, p.166) comunidades

práticas “que são rede de pessoas dedicadas a atividades similares, aprendendo umas com as

outras no processo”. A formação dessas comunidades pode ser face a face ou à distância,

podendo ser encontradas na educação formal como a escola, mas sua maior frequência está

nas relações informais, como a família, grupos de amigos, entre outros, sendo que a

aprendizagem nesse tipo de comunidade se dá na interação com o outro.

De acordo com Silva (2009) três elementos são importantes para entender a noção

de comunidades de prática que seriam o domínio de conhecimento, prática e comunidade.

Sendo o Domínio de Conhecimento a noção de que numa comunidade de prática, os

participantes devem procurar se aperfeiçoar num domínio de conhecimento através da

negociação de significados e da partilha de experiências variadas. Já a Prática se refere à

idéia de que ela seria capaz de criar varias situações de experiências gerando assim,

aprendizado e por fim a Comunidade na idéia de que a socialização de conhecimento

aconteceria num grupo social com perspectivas de mundo semelhantes.

2) Sociabilidades em rede

Em relação às novas sociabilidades, verificamos com todos os participantes da

pesquisa a presença de sociabilidades on-line, propiciadas pelo UCA e a internet, que podem

emergir do campo de pesquisa, observando também questões como isolamento social do

indivíduo, ruptura da comunicação social e da vida familiar, entre outros pontos, que são

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apresentadas como perigos da internet pelos que a criticam. Sobre isso Castells (2003) coloca

que essas questões podem existir pontualmente, mas não são generalizáveis e diz ainda que

isto significa que, a sociabilidade através do lugar, tenha desaparecido, mas há uma transição

do predomínio das relações primárias (família, lugar de residência, emprego) para o um novo

sistema de relações sociais mais centradas no indivíduo. São essas sociabilidades e seus

desdobramentos que vamos procuramos observar em campo.

Assim, a internet gera modificações nas relações e interações sociais, originando

novas formas de sociabilidades. E essas novas relações estão inserido em um novo espaço,

também conhecido por ciberespaço, que é resultado da ação dos sujeitos. Estes desenvolvem o

que Castells (2003) chama de “cultura da internet”, que tem fundamento basilar na realidade

social e é constituída pelas interações estabelecidas nos espaços da rede, promovendo novas

sociabilidades. O autor coloca que este espaço é constituído de fluxos contínuos sendo sempre

reflexo das práticas sociais.

Essas novas sociabilidades ocorreriam na relação dos sujeitos no ciberespaço por

meio da internet, seja usando o e-mail, facebook, twiter, chats, MSN, entre outros

dispositivos, originando novos padrões seletivos e de interação.

Assim, verificamos a presença a partir de alguns aspectos, dos meios digitais de

sociabilidades dos participantes, fatores tais como: meios de sociabilidade facebook, twitter,

chats, MSN entre outros; o tempo médio gasto em sociabilidades na rede, considerando a

média de todos os participantes da pesquisa; a construção de laços em rede e pela rede; se

esses laços construídos na rede internet são apenas virtuais ou se mesclam em momentos on-

line e off-line; mudança de comportamento, se as sociabilidades on-line propiciadas pelo

UCA ocasionaram mudanças no comportamento dos participantes; e por fim os efeitos das

novas sociabilidades, considerando as novas formas de comunicação e interação que são

possibilitadas pelas tecnologias.

3) Mudanças pelo UCA

Analisamos as mudanças proporcionadas pelo UCA com os estudantes, ex-

estudantes, famílias e gestores, a partir dos aspectos educacionais, sociais e econômicos do

projeto UCA, considerando para tanto os objetivos, finalidades e concepções do programa

(VALENTE, 2011).

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As mudanças econômicas serão consideradas a partir do uso UCA para melhorar a

renda dos participantes da pesquisa e da comunidade do município. Para as mudanças sociais

verificaremos indícios de transformações na realidade sociocultural da comunidade de SJP e

também mudanças de comportamento, atitudes e valores dos envolvidos. Por fim, as

mudanças educacionais serão consideradas, bem como as expectativas e se houve

modificações, transformações nos espaços e tempos escolares, e na prática escolar dos

professores pelos sujeitos da pesquisa.

Nos próximos itens deste capítulo, expomos os resultados da pesquisa de campo

em que analisamos as aprendizagens em diferentes espaços como escola, praça e casa em SJP

com os estudantes e ex-estudantes da pesquisa no espaço da casa. Além destes participantes

recorremos também às famílias dos estudantes selecionados para entrevista. Em seguida,

apresentamos as sociabilidades propiciadas pelo UCA na internet, com os todos os sujeitos da

pesquisa. Finalmente, analisamos as mudanças pelo projeto UCA no município com os

estudantes, ex-estudantes, famílias e gestores.

4.5.1 Dimensão - 1: aprendizagens pelo Laptop do UCA em diferentes espaços.

Neste momento apresentamos os resultados das aprendizagens proporcionadas

pelo UCA em diferentes espaços escola, praça e casa no início do programa, antes de

tomarem o laptop UCA, e atualmente.

a) Aprendizagens na escola.

Imagem 21: Aluna da Escola Estadual Antonia Rosa

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As primeiras experiências com o UCA se deram, para a grande maioria na escola,

com o professor de informática e na relação com os amigos neste espaço, como exposto pelo

estudante EM: “Lá na escola com os professores de informática, mas depois um foi ensinando

o outro e a gente aprendeu a mexer...”. Outro diz: “no início os alunos não tinham muita

facilidade pra usar o UCA, mas com o tempo foi melhorando”. Falou também que a escola

tinha dado aulas de informática para os alunos e que ele havia ensinado muitos colegas a usar

o UCA logo no inicio do projeto, e que depois ensinou a mãe e a esposa. (EX- ESTUDANTE

JV).

Ainda sobre esta questão um estudante coloca “com todos um pouco! A gente ia

com o professor, depois ia com o colega, mexia só um pouquinho, com os amigos”

(ESTUDANTE CS). Um estudante colocou que aprendeu mais sozinho e em grupo que na

própria escola “na escola o professor que ensinava era ruim daí no início eu fui aprendendo

sozinha... Só eu mesma, mas depois o que um colega sabia aí passando pro outro”

(ESTUDANTE DM).

As aprendizagens neste espaço estavam relacionadas principalmente a pesquisa

escolar como exposto pelo aluno

Tinha um professor de informática na escola, ele ensinou muita coisa tipo fazer

texto, ligar e desligar, entrar na net, mas depois foi pra pesquisa de trabalho

mesmo... Mais pesquisa mesmo... Antes tinha mais trabalho da escola, trabalho de

Matemática, Física, Biologia... os meus amigos da escola ainda vinham aqui pra

casa pra pesquisar comigo porque eles não sabiam usar” (ESTUDANTE CS).

Para outro aluno o uso seria pra jogos “pesquisa, às vezes jogos” (ESTUDANTE

JR) e também edição de texto. Outro expõe “trabalhos escolares e pesquisa na internet sobre o

que os professores passavam na sala de aula pra aprender mais.” (EX- ESTUDANTE JV).

Já na zona rural os usos eram diferentes: “a gente digitava texto, quando dava pra

pesquisar a gente pesquisava, mas era mais edição do texto mesmo e jogos” (ESTUDANTE

DM). Este estudante iniciou no UCA numa das vilas rurais de SJP. Outro da zona rural diz:

“no início a gente fazia muita edição e pouca pesquisa na internet, pois como estudava na

escola da vila e a internet era meio ruim, principalmente quando todos usavam então os

professores usavam mais jogos e edição de texto” (ESTUDANTE RO).

De acordo com os estudantes e também conforme observado pela pesquisadora,

hoje o laptop UCA não é mais usado pelos professores na Escola Estadual Antônia Rosa,

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justificado por integrantes da gestão escolar por diversos fatores como a existência de poucos

computadores funcionando aliado a falta de manutenção das máquinas, falta de carregadores,

e também a alta rotatividade de professores.

Quanto ao sistema operacional, os estudantes ficaram divididos entre o Metasys -

primeiro sistema operacional do UCA em SJP - e o Boto Mirim, sistema operacional regional

de código aberto, que ocupa menos espaço da memória do laptop UCA e substituiu o sistema

anterior no meio de 2012.

Uns gostavam do Metasys e outros do Boto Mirim e, sobre isso, os participantes

diziam: “Sei usar... Mas o sistema antigo era melhor, porque pegava melhor internet, dava pra

fazer mais coisas esse novo é muito enjoado de mexer” (ESTUDANTE EN). Enquanto outro

diz: “Eu achei fácil usar o UCA, aprendi rápido e o boto mirim é melhor mais rápido! O

‘metasys’ trava muito” (ESTUDANTE CS).

Outro ex-estudante era conhecido na praça por suas habilidades com o UCA.

Sobre isso ele diz:

É que quando estudava tinha sido monitor na escola e por isso ajudava a consertar os

computadores com defeito, e também tinha feito junto do técnico da SEDUC/PA a

troca do sistema operacional Metasys para o Boto Mirim, que achava melhor por

deixar a maquina mais leve dos computadores de varias escolas (ESTUDANTE RL).

Como vemos, o projeto UCA pode ter funcionalidade por um sistema operacional

de código aberto, seja inicialmente o Metasys ou posteriormente o Boto Mirim, que permite

ser alterado pelo desenvolvedor e possibilita que as tecnologias de controle sejam contrariadas

pelas tecnologias da liberdade (CASTELLS, 2003) como os sistemas de código aberto.

Assim, para a grande maioria dos estudantes a aprendizagem de uso do UCA se

deu primeiramente na escola, com o professor de informática, sendo que após esse primeiro

momento a interação com os colegas foi extremamente importante para o desenvolvimento de

outras aprendizagens de uso do UCA. Na escola, o principal ensinamento era a pesquisa

escolar na internet onde os formadores, de acordo com os estudantes, procuravam orientar os

alunos sobre onde e como pesquisar na internet.

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b) Aprendizagens na Praça

Imagem 22: Alunos na praça central de SJP.

A praça é lembrada como o principal local de acesso à internet no início do

programa, como relatado: “lá na praça ficava cheio de gente, o sinal ficava meio ruim é

verdade, mas era muito legal, a gente ficava até tarde, tinha pai buscando filho e tudo mais,

égua era muito legal ficar lá no computador conversando com o pessoal da escola”

(ESTUDANTE EN). Outro diz: “Mais na praça, porque na escola era mais pras aulas, mas eu

usava mais na praça mesmo... No início todo mundo se ajudava, descobria muita coisa”

(ESTUDANTE NS). A aprendizagem se dava principalmente na relação com o outro onde um

procurava ensinar ao outro o que havia aprendido.

Inicialmente no espaço da praça os principais usos do UCA pelos participantes era

para entrar na internet, principalmente por conta da antena do Navega Pará ficar bem na

frente. Quando conectados a internet, o uso era variado, sendo pra baixar e trabalhar em

arquivos e principalmente ficar numa rede social a exemplo do Facebook, Twitter e também

You Tube, como exposto pelo estudante EM: “Era só no Facebook... Não participo de

nenhum grupo por lá, mas tenho amigos lá”. Nesse sentido outro coloca: “ficar na internet

principalmente nas redes sociais” (ESTUDANTE CN). Outros, além de acessar redes sociais

iam à praça no início do programa e ficavam nos jogos: “eu gostava era de ficar jogando com

o pessoal e ver as redes sociais mesmo, antes era Orkut, MSN, mas agora é Facebook”

(ESTUDANTE NS). Hoje poucos vão à praça e quando o fazem é mais para entrar em rede

social e tirar dúvidas sobre a manutenção dos laptops.

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De acordo com os entrevistados pode-se dizer que a praça no início era um local

de grande aprendizagem e troca de experiências de uso do UCA, onde eles aprendiam em

grupo, servindo também para fazer novos amigos, como podemos observar:

Na praça era mais divertido... Lembro que um amigo meu, o Marcos, me ajudou a

fazer o Facebook: é que eu tava travado, não conseguia colocar a foto e ele é fera

nisso... Aprendi muita coisa, os chats, YOU TUBE e tudo rapidinho... Depois

ensinei um monte e gente lá... Um ia ensinando o outro (ESTUDANTE CS).

Já outro coloca: “Era ruim porque tinha que andar até lá, mas era legal ficar lá,

quando não sabia sempre tinha alguém que mostrava tudo, ficava muita gente eu fiquei amigo

de uma galera que adicionei no face” (ESTUDANTE DM).

Foi observado a partir das entrevistas que a praça era o local de maior interação e

trocas de experiências para além de uso meramente instrumental do UCA, ou seja, neste

espaço há indícios de desenvolvimento de comunidades práticas (WARCHAUER, 2006).

Observamos que a praça era o local onde os estudantes se encontravam e compartilhavam os

mesmos interesses sobre os usos do UCA.

c) Aprendizagens na casa

Imagem 23: Família de Aluno

No início do programa a casa era um local pouco usado pelos estudantes para

acessar a internet pelo UCA, devido ao sinal se concentrar principalmente nos arredores da

praça na sede SJP. Porém, no meio de 2011 houve uma ampliação do sinal de internet que

cooperou para este espaço se tornar o principal de uso do UCA pelos participantes, como

relatado pelo estudante EM: “Em casa... Em casa é bom! Não tenho que ir pra rua! Fico

dentro de casa”. Outro diz: “É lá em casa mesmo, que já pega” (ESTUDANTE CS).

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Inicialmente quem usava o UCA na residência usava este pra fazer pesquisa

escolar e também para entrar na rede social: “Ah! Eu olhava meu Orkut, Facebook e Twiter e

também pesquisa quando eu queria saber alguma coisa da escola” (ESTUDANTE JR).

Quando o sinal de internet foi ampliado aumentou o uso do UCA: “Ah! Era

frequente! Todo dia eu usava, falhava um ou dois dias, no máximo... Mas agora tomaram da

gente. Por isso que eu fico direto no celular” (ESTUDANTE CS). Alguns alunos ainda usam

o UCA em casa, seja por não terem devolvido ou quando pegam emprestado de algum colega

que ainda tem: “É pouco, às vezes uso de algum amigo que ainda tem” (ESTUDANTE DM).

Outros dizem: “Sempre uso, pois tem um em casa” (ESTUDANTE JR). Foi verificado que

neste espaço o uso do laptop fica dividido entre fazer pesquisa escolar e entrar em rede social.

Pode-se dizer a partir das entrevistas que a residência foi o local principal de

contato da família com o UCA. Neste espaço, os estudantes faziam a transposição dos

conhecimentos adquiridos com o UCA, aprendidos em outros espaços, como escola e praça, a

membros da família como vemos no relato: “A minha esposa ela queria por que queria

aprender, mas não tava mais estudando, aí ensinei... Ela é curiosa, usa o UCA pra pesquisar

na internet, ela procura pinturas por que ela pinta, ela vê desenhos e faz os guardanapos”

(ESTUDANTE EN). Outro aluno diz: “Ensinei minha mãe” (ESTUDANTE NS), enquanto

outro fala: “A mãe ficou tão curiosa que ele teve de ensinar ela a usar o UCA e depois ela

ficava vigiando ele na rede, ela tem até Face...” (ESTUDANTE CS).

Assim, pode-se dizer que a entrega dos laptops aos alunos - permitindo que estes

os levassem as suas residências – contribuiu para a inserção não só do aluno no programa,

mas também de toda a família. Desta forma, a aprendizagem neste espaço se dava

principalmente na relação com o outro (pais) e estes pais faziam uso do computador

principalmente para entrar na internet e ir a redes sociais e também fazer pesquisa sobre

questões de trabalho. E a maioria destes pais hoje possui conta em rede social principalmente

o Facebook.

Esses resultados, referentes às aprendizagens pelo UCA em diferentes espaços

escola, praça e casa no início do programa, antes de tomarem o UCA, podem ser melhor

observados no quadro abaixo.

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Quadro 10: Aprendizagens pelo UCA.

DIMENSÃO 1

ESPAÇOS

ESCOLA PRAÇA CASA

APRENDIZA

GENS

PELO

UCA

COMO

APRENDEU?

- Com o professor

(principalmente nas

atividades

instrumentais de

uso do UCA).

- Com outro aluno

- Em grupo com

outros alunos.

- Sozinho (poucos

disseram aprender

assim).

- No grupo na

interação com o

outro formaram

comunidades de

aprendizagem.

- Na relação com a

família

(o aluno assume o

papel de educador de

uso do UCA as pessoas

que compõem a

família. Neste espaço

há transposição dos

conhecimentos

adquiridos em outros

espaços).

O QUE

APRENDEU?

- Digitar e editar

texto.

- Pesquisa escolar

na internet.

- Jogos.

-Entrar na

internet para

varios usos.

-Baixar

arquivos.

- Trabalhar em

arquivos

- Ficar em rede

social (principal

local de uso no

início) .

- Pesquisa escolar.

- Pesquisa para

trabalho.

- Redes sociais.

Fonte: Elaborado pela autora.

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Numa síntese, podemos dizer que na escola os alunos aprenderam com o

professor, com o colega e com o grupo. Na praça, sem dúvida foi um dos locais mais ricos em

aprendizagens na sede de SJP. Em casa, o aluno conseguiu difundir os conhecimentos

aprendidos na escola e na praça aos pais e familiares, sendo o principal elemento de inclusão

digital da comunidade extra-escolar.

As aprendizagens na escola foram principalmente para aprender a usar o UCA e

seus recursos tecnológicos e de software, que também se deu em outros espaços e também

para pesquisa escolar. Na praça a aprendizagem se deu na relação com colegas, apresentando

indícios de formação de comunidades práticas, havendo também neste espaço uma

potencialização de letramentos. Em casa, por conta da mobilidade do UCA, permitiu a

“expansão dos espaços” de uso do laptop atingindo as famílias (Princípios Orientadores UCA,

2013, p.14), expansão esta que promoveu uma nova cultura tecnológica na maioria das

famílias entrevistadas com o reconhecimento do potencial do UCA para aprendizagens dos

alunos.

4.5.2 Dimensão 2: a construção de novas sociabilidades na rede

Imagem 24: Estudantes a Praça em SJP.

Quanto aos meios de sociabilidades pelo UCA na internet, observamos que todos

os estudantes entrevistados participam de alguma rede social, onde a principal é o Facebook

seguido pelo Twitter. As famílias também desenvolveram novas sociabilidades: “eu uso o

Facebook é mais moderno (risos) e cada vez mais modernizado, eu falo com gente de todo

lugar de Belém, e até do exterior...” (FAMÍLIA JR). Outro diz: “Tenho Facebook, ele é bom

pra tudo, aqui no trabalho uso muito pra igreja também, outro dia organizei a vinda do pastor

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de Belém pra cá tudo pelo Facebook...” (FAMÍLIA NS). Quanto ao tempo de permanência na

internet verificou-se que eles ficam em média umas 3 horas por dia.

Os entrevistados colocaram que o UCA permitiu fazer novo amigos: “Conheci

umas pessoas pelos chat´s, de algumas cidades. É, deixa eu ver se eu lembro de alguma aqui...

Não me lembro, mas eram cidades fora de São João da Ponta, que tinham projetos do tipo do

UCA, só que eram diferentes os modelos do UCA, diferente dos da gente” (ESTUDANTE

CS). O estudante NS diz: “Fiz novos, e mantive os daqui mesmo”. Outro coloca: “Dava pra

manter contato com outras pessoas pelo Facebook, além dos amigos da escola, dava pra

conversar com os familiares lá em Belém” (EX- ESTUDANTE RL).

Em alguns casos primeiro o estudante se comunicava pelo UCA e depois se

encontrava pessoalmente: “Conheci... Alguns daqui a gente se comunica e depois marca de se

encontrar” (ESTUDANTE DM). Estes resultados que mostram as sociabilidades em rede

como possibilitadora de maior interação social, sendo corroborado por Castells (2003) quando

diz que os usuários da internet tendem a ter redes sociais maiores que os não usuários, e que a

internet parece ter um efeito positivo sobre interação social. O autor apresenta estudos que

mostrariam que a internet aumenta a sociabilidade, não excluindo outros tipos de interação.

Nas conversas com as famílias sobre o comportamento dos estudantes no uso do

UCA a maioria percebeu mudanças principalmente sobre o que eles chamaram de vício do

UCA como exposto a seguir: “É... Um pouco... Porque ele ficava muito no computador, se ele

pudesse passar o dia todo mexendo ele ficava, e antes não... Isso mexe na cabeça das

pessoas... As pessoas se viciam naquilo... Quando não tá pegando o sinal ele fala, fala, fala...”

(FÁMILIA EN).

Outra mudança de comportamento é que com a ampliação do sinal de internet

alguns alunos ficaram mais caseiros: “Eu vi que ele ficava mais em casa, ele saiu mais da rua”

(FAMILIA CS). Outra família colocou: “Ela sempre foi de ficar aqui em casa mais no início

(do programa) vivia querendo ir pra praça, minha filha era uma preocupação aí depois de um

tempo ele (sinal da internet) já pegava aqui e ela aquieto mais em casa” (FAMILIA JR).

Sobre essas mudanças de comportamento Castells (2003) coloca que são apenas

para os mais assíduos e com alta frequência de uso da rede. Haveria, então, um limiar de uso

da internet onde acima do qual a interação on-line prejudicaria a off-line, ocasionando uma

perda de sociabilidade com família, amigos e afazeres domésticos.

A alta frequência dos entrevistados se deu principalmente no início do projeto em

SJP, talvez pela curiosidade e principalmente novidade que o UCA representava. Desta forma,

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“embora os usuários da internet não mostrem sociabilidade declinante, após certo limiar de

atividade on-line eles de fato substituem outras atividades, como serviços domésticos, o

cuidado da família ou o sono, pelo uso da internet.” (CASTELLS, 2003, p.104).

Outra questão presente são as facilidades de comunicação que a tecnologia pode

proporcionar. Uma família relatou

Eles faziam muitas coisas aí, que eu num entendia... Aí meu pequeno trouxe uma

vez aqui pra fora, porque ele, o UCA, não pegava aqui dentro só fora... Aí ele

chegou pro pai dele e disse assim: ‘pai, o senhor quer conversar com tio Laurinho

em Belém, a tia Edilene?’, aí o pai dele disse que sim, então ele começou a falar

com o tio dele, em Belém! Aí a gente via bem! Aí a gente ficou feliz de ter visto

aquilo né! A gente nunca tinha visto aí ele. (O pai dele) pensou: ‘É... Computador e

telefone a gente resolve as coisas muito fácil...(FAMÍLIA CS, 2013).

Como vimos no relato anterior, em SJP os moradores perceberam que a internet

propicia novas formas de sociabilidades que substituem as formas tradicionais de interação

territorialmente limitadas. Porém, isso não quer dizer que a “sociabilidade baseada em lugar

não exista mais”. (CASTELLS, 2003, p.108).

No quadro sintético apresentamos esses resultados referentes às sociabilidades em

rede proporcionadas pelo UCA com os participantes da pesquisa, como veremos a seguir:

Quadro 11: Sociabilidades em rede pelo UCA.

DIMENSÃO 2 ACHADOS DO CAMPO

SOCIABILIDADE

EM REDE

MEIOS DE

SOCIABILIDADE

Estudantes

-Facebook

- Twitter

- Chats

- Orkut

- MSN

- Skype

Família

Facebook

TEMPO EM

SOCIABILIDADE NA

REDE

- 3 horas em média

TIPOS DE LAÇOS -Laços off-line que depois vão

para on-line

- Laços exclusivamente off-line

-Laços on-line que depois

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105

migram para off-line

MUDANÇA DE

COMPORTAMENTO

PELA REDE

-No início muitos ficaram

viciados, mas em seguida a

grande maioria destes

estabilizou o tempo de acesso a

internet.

EFEITOS DAS NOVA

SOCIABILIDADES

- Novas formas de

comunicação

- Diminuição das distancias

geográficas

- Construção de laços na rede

Fonte: Elaborado pela autora.

Do quadro podemos extrair que os estudantes, ex-estudantes usam vários

dispositivos disponíveis para comunicação, como Facebook, Twitter, Skype, MSN, Orkut e

Chats; já os representantes das famílias relataram usar apenas um dispositivo o mais usual de

comunicação on-line, que é o Facebook.

Os participantes relataram terem feito amigos na rede. Sobre isso percebemos que

esses laços foram construídos de diversas formas: conhecidos que migraram para o ambiente

on-line; ou então faziam amigos na rede e depois estreitaram esses laços no ambiente off-line;

ou ainda amigos exclusivamente da internet. A mudança de comportamento dos sujeitos

iniciou com o chamado de “vício do UCA” quando da chegada do projeto. E, após a

ampliação do sinal de internet, os estudantes ficarem mais caseiros.

Os efeitos na construção de sociabilidades para os participantes foram a

diminuição das distâncias geográficas, construção de laços na rede e a percepção de novas

formas de comunicação além das conhecidas por eles, como telefone.

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4.5.3 Dimensão 3: mudanças e o UCA

1) Mudanças Econômicas em SJP

Imagem 25: Artesanato produzido por família de estudante a partir do UCA.

SJP é um município pobre do estado do Pará, vivendo principalmente de repasses

da União e com economia “girando em torno principalmente da agricultura familiar e apesar

de ser banhada pelo rio Mocajuba, a pesca é uma atividade pouco produtiva que não supre a

demanda local”. Neste sentido, a partir do questionário foi verificado que a maioria dos

estudantes da Escola Estadual Antonia Rosa são da zona rural 56%, a maioria dos alunos 85%

vivem com renda inferior a um salário mínimo e 58% dos alunos tem família beneficiada pelo

programa Federal Bolsa Família22. Na Sede de SJP há alguns comércios e todos os serviços

públicos do Município, do Estado e da Federação.

Da primeira vez que fomos ao município, em 2010, até as últimas vezes para

pesquisa, em 2012 e 2013, não vimos grandes diferenças na estrutura econômica na sede do

município, que apresentava praticamente as mesmas lojas e comércios do período anterior. A

diferença, na atualidade, foi a presença de um banco particular na sede e também a abertura

de umas duas pequenas e novas lojas com serviços de impressão, xerox, recarga de cartucho

de impressora e serviços relacionados ao uso do computador.

22 “O Programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação

de pobreza e de extrema pobreza em todo o país. O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem

como foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e está

baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos.” Fonte:

<www.mds.gov.br/bolsafamilia>. Acesso: novembro.2013.

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A partir do projeto UCA alguns participantes conseguiram desenvolver soluções

de problemas no mundo do trabalho por meio do uso da tecnologia:

A minha mãe, ela é responsável por uma loja, aí depois que aprendeu a usar o UCA,

eu ensinei também, mas ela fez curso lá na escola assistindo aula comigo, ela

informatizou a loja pra não perder cliente, acho que se não fosse o projeto não seria

assim, daí depois que tiraram o UCA da gente, minha mãe guardou durante vários

meses dinheiro pra comprar um laptop pra casa (ESTUDANTE NS).

Na conversa com a família desta estudante, que aconteceu na loja onde a

responsável trabalhava, pudemos observar in loco e também testar o uso das soluções

tecnológicas que haviam sido proporcionadas pelo UCA, onde o responsável diz:

Pra melhorar as vendas eu mudei umas coisas aqui na loja... Antes era tudo no papel

agora depois do UCA eu fiz uma planilha com todas as informações dos clientes

nome, RG e CPF dos clientes que vem com frequência, daí quando eles chegam é só

ir lá no computador e puxar, daí não perco mais a venda, antes não como não tinha

essas informações acabava que às vezes perdia a venda, pois tinha que ter pra fazer o

crédito, e sem documento não dava, aqui tem que aproveitar a hora pois o pessoal

das vilas não vem sempre pra cá (FAMÍLIA NS).

Alguns participantes usam o UCA para trabalhar: “O UCA era trabalho, pois era

de lá que sustentava a família produzindo adesivos” (ex-ESTUDANTE JV). Este participante

“trabalhava com desenhos, desenhos de adesivos” e pra ter mais ideia ele “baixava imagens

pela internet pra depois trabalhar na imagem pra mostrar pro cliente”. Disse que também

usava pra baixar músicas e passear pela net e entrar no Facebook”. Para melhorar seu negócio,

afirmou: “Eu uso pra pesquisar essas coisas de artesanato... Eu vendo porta-guardanapo daí

eu vejo os modelos pra ter ideia... Tem muitas coisas aí que a gente vê e aprende... Tudo a

gente encontra ali...” (FAMÍLIA EM).

Outros veem o UCA como fonte na busca de trabalho:

Era muito importante pois ele ficava sabendo das coisas da cidade e do estado pelo

UCA, conversava com os parentes e amigos do município de Curuçá, onde os

parentes moravam, pra saber de novidades e trabalho, pois em SJP era mais difícil e

pra lá era mais fácil de conseguir uma vaga” (ESTUDANTE EM).

Este estudante tinha conseguido um emprego em outro município por meio do

UCA.

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2) Mudanças Sociais em SJP

Imagem 26: Estudantes reunidos em SJP.

Possibilitou aos estudantes e família novas formas de lidar com o mundo real e

abrir portas para novos sonhos, novas possibilidades: “Modificou, depois do UCA a gente

consegue ficar aqui mas ir em outros locais, eu tô estudando mas quero ir pra Belém fazer

uma universidade, não quero ter a vida igual a da mamãe...” (ESTUDANTE JR). Outro aluno

diz: “Demais! São João da Ponta ficou, digamos assim, mais ‘digital’, mais interado dos

assuntos...” (ESTUDANTE CS). Assim, o UCA e a internet possibilitaram aos estudantes o

acesso a informação: “Antes a gente não tinha conhecimento do mundo lá fora, aí começamos

a entrar em contato com outras pessoas através do laptop do UCA, a gente conheceu pessoas

pela internet” (ESTUDANTE NS).

Possibilitou, também, uma sensação de nivelamento frente a outras regiões do

Estado:

Com o UCA posso me inscrever em coisas, fazer cursos, a gente que mora aqui não

tem muita coisa, a teve quase não pega por causa do sinal, e com o UCA a gente fica

sabendo de tudo pras bandas de Castanhal, Santa Isabel, Belém, fica do mesmo nível

do pessoal de Belém” (ESTUDANTE CS).

Os participantes relataram que o projeto foi uma ferramenta importante por

proporcionar aos estudantes e toda a comunidade o acesso ao computador, internet e a

informação, facilitando ações como pesquisa escolar, pois no município de SJP não há

biblioteca, conforme relato a seguir:

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Olha, pra ela foi bom, porque ela não tinha como pesquisar aqui não tem

biblioteca... E depois dele ela conseguiu muitas coisas pesquisando... Eu achei que

ela tinha vontade de estudar... Ela pesquisava conteúdos... Coisas que ela não

encontrava nos livros, ela ia lá e pesquisava...(FAMÍLIA JR).

Questão essa lembrada por um indivíduo que diz:

Nunca havia utilizado um computador antes do programa UCA e que isso foi

importante pra ele no sentido de permitir que ele fizesse as pesquisas escolares de

forma mais rápida, pois na cidade não tem biblioteca e às vezes os livros que se tem

em casa não tem o conteúdo que se quer (EX ESTUDANTE RL).

O mesmo para o acesso a informações da própria comunidade:

A gente fica sabendo das coisas, tem aluno que fica olhando aí nele pra saber das

coisas do prefeito... Sabe como é né... Tem site que eles colocam informações

quando tem um evento, colocam na internet ai todo mundo fica sabendo

(ESTUDANTE EM).

O UCA e a internet possibilitou maior autonomia aos participantes na busca da

informação, que foi observado pelos gestores:

Era tudo novo e pra maioria deles era a primeira vez que tinham contado com um

computador, a internet muda muita coisa eu sei que os alunos daqui mudaram muito,

pra se ter uma ideia eles já nem ficam perguntando tanta coisa como antes, por

exemplo quando querem informações do Exame Nacional do Ensino Médio –

ENEM eles vão atrás, sabem as vezes mais que a gente, tem aluno daqui que se

inscreve pelo UCA pra fazer curso em Castanhal (município mais desenvolvido por

dessa região), arruma emprego pela internet, disse sentir que anda tudo parado e

sente principalmente pela manutenção dos UCAs (GESTOR ESCOLAR/ZONA

URBANA, 2013).

Para a gestora, os alunos tinham ficado mais independentes e procuravam ir atrás

das coisas que lhes interessavam.

Outra questão foi à inserção de segmentos da população que não eram diretamente

o público-alvo do programa, mas que foram beneficiados como as crianças,

Através desse laptop... Hoje você vê crianças com 4 anos daqui, que eles já sabem

manusear um laptop, por conta do programa, aprendeu com os irmãos, os parentes

que já vão ensinando. Eu por exemplo tenho um sobrinho que tem 7 anos, mas se

você de um laptop pra ele, ele já vai mexendo pesquisando, tudo por conta desse

laptop aí que ele aprendeu (FAMÍLIA NS).

Essas novas possibilidades despertaram nos estudantes aspirações e desejos além

de SJP, como podemos observar:

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Teve uma melhora, uma avanço, porque conhecimentos dá vontade de ir mais

além... Fiquei mais curiosa, não sou mais como era antes do computador e da

internet... Tipo, antes a gente não tinha conhecimento do mundo lá fora, aí

começamos a entrar em contato com outras pessoas através do laptop do UCA, a

gente conheceu pessoas pela internet passou a saber das coisas (ESTUDANTE NS).

Ou então: “Ele mudou algumas coisas... Mas num foram tantas. Eu aprendi muitas

coisas que nunca tinha pensado, em fazer uma universidade, se inscrever no ENEM sabe, isso

era distante pra mim, mas hoje não é mais o UCA me fez saber e conhecer as coisas”

(ESTUDANTE JR).

Também apresentou novas formas de comunicação aos moradores da sede,

abrindo aos estudantes e familiares uma nova dimensão da vida social. Diminuiu distâncias

geográficas, possibilitando também outras formas de comunicação diferente das que eles

conheciam: “Ah! O que ficou uma coisa boa, isso facilitou a nossa interação, comunicação,

mas agora ficamos sem...” (ESTUDANTE CS). Um representante de família diz:

Mudou... Mudou assim, porque ela descobriu coisas diferentes, Orkut, Facebook, ela

sabe criar... Ela descobriu novidades, trabalhos da escola, jogava pro pen drive e

levava pra escola... Foi uma novidade, aprendemos acessar a internet... Agora meu

celular pega internet...(FAMÍLIA NS).

Para os pais os principais problemas foram que no início os alunos ficavam

grudados no computador e esqueciam da vida. Eles também expõem a falta de orientação aos

pais e estudantes para que tivessem mais cuidado com o uso do laptop: “É... Porque isso aí

eles fizeram a entrega pra cada pessoa... Aí depois começou a quebrar, darem fim... Então se

eles fizeram a entrega pra eles tinham que dizer pra ter cuidado...” (FAMÍLIA CS).

Questionaram também a tomada dos laptops: “...Ou então não entregavam pra depois

tomar...” (FAMÍLIA CS).

Outra questão relatada foi a falta de orientação da escola aos responsáveis sobre o

que seria permitido ver na internet em cada idade:

...É que tem muitas coisas que não se deve ver... As crianças às vezes elas ficam

olhando filmes pornográficos, de sexo... Eu acho que elas não deveriam... Não

deveriam mostrar pras crianças, mas esses programas são abertos... E deveriam ter

proibido... Só a partir dos 18...(FAMÍLIA NS).

Por fim uma questão presente pelos participantes foi a percepção de que está em

curso um desmonte do projeto.

O Navega Pará tava dando problemas em outras localidades e não tinha ninguém pra

consertar, disse sentir que o programa tava morrendo aos poucos, pois antes ele

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conseguia acessar a internet na vila nova na frente de uma escola, dava pra fazer

inscrição no ENEM, enviar currículo, mas agora só aqui na praça mesmo” (EX

ESTUDANTE CN).

Esta visão, por sua vez, é corroborada por um gestor: “Eu acho assim, o governo

propôs, mas não deu suporte, manutenção, e com isso vai ficando mais difícil trabalhar...”.

3) Mudanças Educacionais em SJP

Imagem 27: Aluno no espaço escolar

No início do projeto UCA havia pelos estudantes, pais e gestores a expectativa

pelo novo, as impressões e sensações dos participantes eram no geral de que o UCA seria uma

experiência boa e que traria mudanças na escola com a possibilidade de aprender mais, como

podemos ver: “Ah... Pra mim foi uma coisa nova, porque antes do programa eu num tinha

acesso à internet, ela veio com o programa. Lembro bem de receber o computador mais ainda

de entrar na internet... Mas eu fiquei bem feliz... A gente ia aprender mais coisas na escola”

(ESTUDANTE CS). Outro diz: “Eu gostei né... Ainda mais que eu soube que podia levar pra

casa. Em casa não tinha, mas foi legal né... Todo mundo acessava” (ESTUDANTE RL).

Ainda sobre essa questão outro fala: “Fiquei feliz né, porque era a minha primeira vez usando

o computador...(risos) Colocaram logo agente pra fazer texto... A primeira vez foi pra fazer

texto” (ESTUDANTE JR). E outro diz que havia sido bom “principalmente por terem dado o

UCA pra eles” (EX - ESTUDANTE JV).

A família também assumiu essa expectativa tiveram curiosidade, medo do novo e

a ideia de que a educação em SJP iria melhorar como vemos:

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Em primeiro lugar veio logo à expectativa e preocupação ao mesmo tempo, falaram

tanta coisa na praça, veio tanta gente pra cá na inauguração eu achei que tudo ia

melhorar, a educação a escola ia mudar que tudo ia ficar diferente... Pois não que

seja minha filha mais eu tô sempre na escola, participo mesmo...(FAMÍLIA JR).

Após esta fase muitos quiseram aprender a usar o UCA e a maioria chegou a fazer

e ainda faz uso dele como exposto: “...daí eu fiquei curiosa e procurei aprender pra não ficar

pra traz... Tudo que criava pra ela eu pedia pra ela criar pra mim, hoje tenho tudo Twitter,

Facebook isso tudo e ela me ajudou... Eu foi pra escola dela fazer curso...” (FAMÍLIA NS).

Este aprendizado se deu principalmente na relação com os filhos. Outra forma de aprender a

usar o UCA, ainda, foi por meio de cursos de informática disponibilizados por algumas

escolas.

A expectativa de melhora da educação e da escola também foi assumida pelos

gestores: “No início ela achava que tudo ia mudar e como a escola era recém-inaugurada não

tinha quase nada, daí eles trouxeram armários de metal (não os do UCA) e colocaram também

as tomadas, mas ficou por aí”. Outro diretor expõe:

O projeto foi colocado, mas não houve um estudo para ver se o município tinha

capacidade de receber este projeto. O projeto aqui no município foi muito

importante, não quer dizer que não desenvolveu! Desenvolveu sim! Deu uma

oportunidade de trabalho muito útil aos alunos, mas eu acho que o município e o

alunado não estavam preparados para receber o projeto... (GESTOR

ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Durante a conversa ele disse que os alunos tinham avançado bastante no uso do

computador, mas que os professores não tinham sido “capacitados como devia”.

Quanto às mudanças na escola e na prática escolar, por conta do UCA, alguns

estudantes expuseram que a principal mudança na prática escolar foi a troca dos livros

didáticos ou jornais pelo laptop como principal ferramenta para pesquisa escolar como

podemos ver nas falas a seguir: “Nada não a escola ficou na mesma, só os professores que

mudaram pois antes a gente usava livros pra pesquisar os trabalhos da escola, aí depois do

projeto UCA agente passou a usar o laptop” (ESTUDANTE JR). Outro diz: “Principalmente

com os trabalhos, os professores passavam os trabalhos, e a gente pesquisava, e como veio o

projeto pra nós, veio mais trabalho ainda, por conta do computador... A gente pesquisava

muito trabalho, muito assunto” (ESTUDANTE CS).

Os estudantes em sua maioria disseram não haver mudança na prática dos

professores - “Eles quase nem usavam na sala de aula” (ESTUDANTE YO) -, no modo de dar

aulas e nem mudanças no espaço escolar: “Não... A escola ficou do mesmo jeito”

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(ESTUDANTE NS). Apenas foi observado a mudança de uso dos livros pelo computador

“...Os professores passavam os trabalhos, e a gente pesquisava, e como veio o projeto pra nós,

veio mais trabalho ainda, por conta do computador... Os professores usavam assim, mais ou

menos o UCA quem mais usava era na aula de C.F.B agente pesquisava muito”

(ESTUDANTE CS).

Sobre essa questão das mudanças na educação um diretor coloca:

...Achava que deveriam primeiro ter capacitado os professores para depois colocar

em prática o projeto... O projeto teve um impacto muito grande para os alunos, pois

a maioria deles não sabia manusear o computador e aí no decorrer do tempo eles

foram aprendendo, mas ainda falta muito pra melhorar, mas agente acredita, pois é

um projeto que está aqui, ameaçado, mas a gente vai ver o que podemos fazer para

resgatar o projeto em São João da Ponta, vejo que precisa melhorar a formação do

professor e a estrutura, mas a gente faz o que pode, porém é difícil o professor

querer usar a tecnologia se a energia pros computadores ficarem ligados não é

suficiente, a internet dá problema, daí chega um momento que cansa, mas alguns

professores tentam (GESTOR ESCOLAR/ZONA URBANA, 2013).

Sobre essa lacuna, no que diz respeito à formação dos professores, no início do

programa - onde primeiro se entregou o UCAs aos alunos e depois iniciou a formação do

professor - foi relatado por estudantes que no começo alguns professores não sabiam mexer

direito no UCA: “Tinha uns que não sabia mexer muito” (ESTUDANTE DM). Isso pode ter

cooperado para não impregnação do projeto no espaço escolar.

A seguir apresentamos um quadro sintético da mudança pelo UCA considerando

os aspectos educacionais, sociais e econômicos achados no campo de pesquisa em SJP.

Quadro 12: Mudanças pelo UCA.

DIMENSÃO 3 ASPECTOS ACHADOS NO

CAMPO

MUDANÇAS

PELO UCA

EDUCACIONAIS

- Uso da tecnologia

para resolução de

problemas

- Troca dos livros

didaticos pelo uca

- Uso da internet

para pesquisa escolar

SOCIAIS

- Novas aspirações e

desejos pelos

participantes

- Acesso a

informação pela

comunidade

- População mais

informada das

questões locais e

globais

- Novas formas de

interação e

comunicação

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ECONÔMICOS

- Uca possibilitando

soluções no trabalho

- Uca como fonte de

renda

- Uca para colocação

no mercado de

trabalho

Fonte: Elaborado pela autora.

Os resultados do campo apontam na direção que apenas a população da sede do

município teve acesso à internet com sinal mais constante e de relativa qualidade e o restante

da população foi alijado das primeiras fases para uma efetiva inclusão digital, que é o acesso

ao computador e internet.

Podemos dizer que os objetivos educacionais foram atingidos em parte onde a

educação formal não foi potencialmente beneficiada em SJP; porém, a educação informal foi

de certa forma bem sucedida. Notamos que o uso do UCA pelos participantes, nos vários

espaços além-escola, permitiu o desenvolvimento de outras habilidades além do mero uso

técnico do computador e internet. Observamos também que a população da sede foi

potencialmente incluída no mundo digital desenvolvendo hábitos, atitudes e valores em

relação ao computador e internet.

4.6 O UCA e a inclusão sócio digital em SJP

Em SJP notamos que as etapas e os critérios de implementação do projeto UCA

não foram considerados no município, onde primeiro ocorreu a entrega dos laptops aos

estudantes para em seguida se dar a formação os professores. Some-se a isso a não adequação

da infraestrutura física para receber o projeto em todas as escolas. Outro fator limitante foi a

questão da conectividade onde a de boa qualidade ficou restrita exclusivamente a sede do

município.

Neste sentido, em campo observamos a seguinte situação: na área rural não houve

adequação da estrutura física das escolas, sendo realizada entrega dos laptops aos estudantes,

infraestrutura lógica e tomadas, formação presencial dos professores e gestores para o uso do

UCA e a manutenção dos computadores se deu até o meio do ano de 2012. Porém, não houve

conectividade dos laptops UCAs a internet e, na grande maioria das escolas, apenas 1 recebe o

sinal GESAC.

Na área urbana há uma divisão entre as escolas da sede de SJP e as demais vilas

urbanas do município. Em ambas não houve adequação do espaço físico da escola para o

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projeto; no entanto, foram entregues os computadores aos estudantes, realizada a

infraestrutura lógica e tomadas, a formação presencial de professores e gestores para o uso do

UCA e a manutenção dos computadores que se deu até o ano meio do ano de 2012. Nas vilas

urbanas apenas duas escolas recebem sinal da internet do GESAC e na Sede de SJP a

conectividade foi disponibilizada a todas as escolas e também a comunidade local pelo sinal

do programa Navega Pará.

Assim, das 7 escolas da área urbana do município, 5 possuem acesso a internet,

duas têm internet GESAC e as três escolas da sede tem internet disponibilizada pelo programa

Navega Pará. Já as sete escolas da área rural, apenas uma tem internet via GESAC que em

2013 estava funcionando, porém, anteriormente estava com defeito.

Tomando os indicadores de Warschauer (2006), acerca da Inclusão Sócio Digital

– ISD, temos o seguinte quadro em SJP:

Quadro 13: Indicadores de ISD em SJP.

INDICADORES DE

INCLUSÃO SÓCIO

DIGITAL

ÁREA URBANA SJP

ÁREA RURAL SJP

SEDE

VILAS

INFRAESTRUTURA* SIM SIM SIM

CONECTIVIDADE SIM NT** NÃO

LETRAMENTO SIM NÃO NÃO

SISTEMAS SOCIAIS E

COMUNIDADE PRÁTICA

SIM NÃO NÃO

Fonte: Elaborado pela autora

*Não confundir com infraestrutura física da escola.

**NT – Nem Todas.

Desta forma, podemos considerar que as escolas rurais e a grande maioria das

vilas urbanas de SJP não tiveram acesso nem mesmo a inclusão digital baseada no acesso ao

computador e internet.

As escolas e a comunidade da sede foram potencialmente beneficiadas pelo

projeto UCA, onde percebemos indícios de letramento digital pelos participantes e também o

desenvolvimento de comunidades práticas (WARCHAUER, 2006). Porém, o projeto não

impregnou na escola sendo potencialmente absolvido pela comunidade.

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De forma a verificar a inclusão digital construída pelos diversos atores no

contexto urbano no município de SJP, e como estes (re)significam o UCA e seus resultados,

faz-se necessário analisar os processos de inclusão digital dos sujeitos envolvidos. Para tanto

tomamos três dimensões como referência para análises que são as aprendizagens no espaço da

escola – praça – casa; sociabilidades em rede e mudanças pelo projeto UCA.

Quanto às aprendizagens verificamos que na escola os alunos aprenderam

principalmente com o professor, colega e em grupo. O espaço da praça foi um dos locais mais

ricos de aprendizagens pelos alunos; já a casa era o local onde os estudantes faziam a

transposição dos conhecimentos adquiridos em outros espaços aos familiares. A praça

também foi principal local de letramento dos estudantes com o desenvolvimento de

comunidades prática.

Assim, podemos colocar que os estudantes foram importantes vetores no processo

de inclusão digital da comunidade de SJP. Sobre as novas sociabilidades o UCA permitiu a

diminuição das distâncias geográficas, construção de laços na rede e novas formas de

comunicação pelos participantes.

Já as mudanças pelo UCA, no aspecto educacional, a principal foi a troca dos

livros didáticos pelo UCA para pesquisa escolar. Não houve mudança nos espaços e tempos

escolares, além do relato de certa rejeição do UCA pelos professores.

As mudanças sociais estão relacionadas a novas aspirações e desejos a partir das

informações em rede mediadas pelo UCA, também a sensação relatada pelos participantes de

pelo UCA estarem hoje no mesmo nível das pessoas da capital do estado do Pará, do Brasil e

do mundo como se estivessem a partir do UCA inseridos no sistema. No início do programa

os responsáveis perceberam certo exagero dos estudantes quanto ao uso do UCA que com o

tempo foi normalizado. As mudanças econômicas foram o UCA como possibilitador na

solução de problemas relacionados ao trabalho, como fonte de renda para alguns usuários e

como importante instrumento na busca pela colocação no mercado de trabalho fatores que

contribuem para o ganho de renda dos beneficiados.

No UCA a questão da portabilidade do computador é um elemento central

pensado de forma a romper com a estrutura da escola tradicional, mas esta ruptura estaria

relacionada, de acordo com as concepções pedagógicas do projeto, a questões pedagógicas de

ensino e aprendizagem para a flexibilização dos tempos escolares, não que a inclusão digital

da família não fosse algo esperado com esta mobilidade. Porém, o que temos em SJP é que o

que era para ser apenas uma consequência se tornou um dos principais resultados do projeto

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UCA no município que foi a inclusão digital da família dos estudantes beneficiados pelo

projeto.

Em síntese o UCA Total é um projeto educacional com objetivos econômicos,

sociais e educacionais tendo a escola como lócus principal de atuação. Neste sentido, o

projeto considerando seus os objetivos, concepções pedagógicas e finalidades do projeto, em

SJP, atingiu seus objetivos econômicos, sociais, mas não os educacionais dentro do espaço

escolar com a perspectiva de melhoria da qualidade da educação com a imersão de estudantes

e professores numa cultura digital. Entretanto, possibilitou outras aprendizagens nos vários

espaços da sede de SJP aos estudantes, ex-estudantes envolvidos e seus familiares.

Assim, considerando a análise das dimensões que constroem os processos de

inclusão digital do projeto em SJP que são as aprendizagens, sociabilidades em rede e

mudanças na comunidade pelo UCA, podemos colocar que no espaço além-escola, na

comunidade da sede de SJP, há indícios de uma tímida mais presente inclusão sócio-digital

dos participantes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do problema da pesquisa o de identificar em que medida o projeto Um

Computador por Aluno - UCA promove a inclusão digital preconizada em seus objetivos,

realizamos uma pesquisa de cunho etnográfico no município de São João da Ponta.

E de forma a analisar a inclusão digital presente nos marcos legais do projeto

UCA, entendi ser necessário discorrer sobre o conceito de inclusão digital, considerando o

entendimento de que o UCA é um projeto de inclusão digital inserido no contexto da

sociedade da informação e suas contradições. Neste sentido, chegamos à conclusão de que o

projeto UCA se apresenta como uma possibilidade de inserção do Brasil na SI. Em seguida,

partimos para os conceitos de inclusão digital, de forma a entender o UCA, onde

apresentamos um conceito de inclusão num viés mais técnico pautado na ideia de acesso do

computador e internet (NERI, 2003; SILVEIRA, 2001) e outro conceito tomando Warschauer

(2006) por referência com uma abordagem de inclusão sócio-digital, que entende a inclusão

digital como possibilitadora da inclusão social.

Em outro capítulo, de forma entender o projeto UCA e toda sua complexidade

estrutural, logística e pedagógica, que é reflexo de toda uma construção sócio histórica das

políticas públicas na área de tecnologias na educação, fizemos uma análise dos projetos e

políticas nesta área desde a década de 70, onde notamos que todos os aprendizados, e por que

não erros, das experiências já realizadas em nosso País, sobre tecnologias na educação, estão

de certa forma inseridas no UCA.

Localizar o UCA no contexto dos projetos e políticas públicas das TICs foi

importante, pois permitiu observar evoluções de termos como a mudança de informática

educativa para tecnologias na educação, usado na atualidade, e também observar a inserção a

partir do PROINFO INTEGRADO da inclusão digital, como objetivos a serem alcançados

nas políticas públicas do Governo Federal de forma a possibilitar a inserção do Brasil na

sociedade da informação.

Recuperando os dois primeiros capítulos desta dissertação, considerando também

os marcos legais do programa UCA onde estão seus objetivos, finalidades e concepções

pedagógicas, concluímos que o UCA se aproxima da abordagem de inclusão sócio-digital.

Este caminho, o das discussões levantadas sobre sociedade da informação,

inclusão digital, políticas públicas de inclusão digital e o projeto UCA, foi importante para

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continuar percorrendo outro percurso: o de como se deu, de fato, a inclusão digital

proporcionada pelo UCA aos participantes em SJP.

Assim, considerando que em SJP todas as escolas tiveram acesso ao computador,

mesmo as de educação infantil, e o acesso à internet foi deficitário na grande maioria destas,

onde apenas as escolas e comunidade da sede do município tiveram acesso a internet de boa

qualidade, possibilitando a estes moradores outras aprendizagens além do mero uso

instrumental do UCA e da rede internet com indícios de certa inclusão sócio-digital destes

participantes.

O projeto UCA não conseguiu impregnar na escola, lócus primeiro de atuação do

projeto, neste sentido concordamos com Lavinas (2012) quando diz que o “uso pedagógico

das TICs em sala de aula é ainda tímido frete as descobertas que crianças e jovens fazem fora

dos muros escolares” (p.29). Podemos incluir neste universo, além de crianças e jovens, as

famílias que em SJP foram fortemente impactadas com a inclusão digital do projeto UCA. De

fato o projeto começou na escola, mas não adentrou profundamente em seu espaço, pois para

os participantes do espaço além-escola o laptop UCA se apresentou como ferramenta de

mediação para inclusão no mundo digital e nesse processo de mediação o mais importante é

como estas ferramentas se incorporam as atividades humanas (WARCHAUER, 2006) e

principalmente às alteram, transformações que foram verificadas no campo de pesquisa.

O projeto UCA possibilitou a inserção de parte da população de SJP na era da

informação, mas essa inserção, pelo menos observado pela pesquisadora no início do projeto

em 2010 durante a pesquisa - nos anos de 2012 e 2013 - não trouxe mudanças significativas

nas condições de estrutura física e de pessoal da educação formal, saúde, habitação,

saneamento da população em geral. O posto de saúde continuou sem médico, a maioria das

ruas continuou sem saneamento e a escola continuou sem biblioteca e com as mesmas práticas

educacionais de antes do programa.

Assim, podemos dizer que a inclusão digital do UCA permite sim a inclusão dos

participantes na sociedade da informação; porém, esta é uma inclusão desigual e que não leva

a pensar a igualdade nessa sociedade quiçá no contexto de SJP. Pelo contrário: trata-se de

inclusão que vai manter as mesmas condições de vida dos beneficiados, porém despertando

novos desejos, sonhos e aspirações - que nem sempre serão realizados - a partir de referências

globais que foram observadas nos estudantes nesta pesquisa.

Isso nos leva à outra questão central para o UCA: o laptop UCA se apresenta, aos

participantes, como capaz de melhorar as condições de vida das pessoas em SJP? Da mesma

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120

forma que aludimos acima, melhora em termos, mas não altera de fato, as condições de vida

daquela vila.

Em nosso entendimento, essas considerações nos colocam a pensar que a

sociedade da informação do qual o UCA advém é, simultaneamente, includente e excludente.

Sobre isso é válido expor que a inserção na sociedade da informação não significa

necessariamente a curto e médio prazo a diminuição das mazelas e exclusões sociais

existentes, pois a estrutura da SI “é permeada por contradições que são próprias a lógica

capitalista” onde “as tecnologias de informação estão sendo aplicadas em uma estrutura

política e econômica que, nesse momento histórico, confirma, reforça e aprimora os padrões

capitalistas de acumulação em uma escala sem precedentes” (GUSSI; WOLFF, 2001, p.154),

sendo inerente a este novo modelo de sociedade inclusões e exclusões.

Não estamos aqui a dizer que não se faz desejável promover a inserção na

sociedade da informação, pelo contrário, consideramos que:

O novo paradigma oferece a perspectiva de avanços significativos para a vida

individual e coletiva, elevando o patamar dos conhecimentos gerados e utilizados na

sociedade, oferecendo o estímulo para constante aprendizagem e mudança,

facilitando a salvaguarda da diversidade e deslocando o eixo da atividade econômica

em direção mais condizente com o respeito ao meio ambiente. (WERTHEIN, p.75,

2000).

Porém, não desejamos cair na visão ingênua segundo a qual as modificações em

direção à sociedade da informação seguem uma norma técnica, já que seriam advindas apenas

pelo vetor da tecnologia, constituindo-se, por isso, como neutra e sem a interferência de

fatores econômicos, políticos e sociais.

Neste sentido, acredito que, potencialmente, políticas de inclusão digital para a

inclusão social, possibilitariam a melhoria nas condições de vida das populações beneficiadas

no sentido do exercício pleno da cidadania que poderia possibilitar a transformação das

realidades socialmente excludentes.

Observamos em SJP que o projeto UCA, inicialmente inserido com objetivos

educacionais, não vingou na escola, local primeiro de atuação, e foi para a comunidade que

estabeleceu um conceito de inclusão digital para as práticas e usos na vida cotidiana,

possibilitando não só conhecer outras realidades pela internet, mas também buscar na rede

informações realmente válidas em suas vidas, como: emprego, estudos e cursos com indícios

de uma inclusão sócio digital aos participantes.

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Em SJP o projeto UCA precisa ser repensado principalmente no âmbito da escola

com a interlocução de seus atores numa real perspectiva de se inserir o projeto neste espaço.

Outra questão é a dos laptops que foram retirados dos estudantes no meio do ano de 2012,

esta dissertação e outros estudos como Lavínas (2012) indicam que quando o laptop UCA tem

seu uso restrito na escola “permanecendo armazenado na escola, a intervenção não registraria

impacto” (p. 29). Desta forma, neste presente momento, faz-se necessário a devolução dos

laptops aos estudantes em SJP, pois, nos termos das conclusões expostas desta dissertação, a

retirada do UCA significa reforçar ainda mais a exclusão social de pessoas que tinham a

expectativa que fossem incluídas. Em decorrência disso, há outra questão: a necessidade de se

pensar na modificação da lei sobre a responsabilidade do laptop UCA, de maneira que o

estudante, ou seu responsável imediato, tivesse de fato a posse do laptop UCA.

Por fim, considero importante ressaltar a contribuição metodológica deste estudo

que levou a conclusões bastante peculiares para pensar o projeto UCA e, amplamente, o

campo das tecnologias na educação. Acredito que a abordagem etnográfica utilizada se

apresenta como possibilidade metodológica para aprofundar as análises de políticas e projetos

educativos neste campo educacional.

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126

APÊNDICE A - ROTEIRO DA ENTREVISTA REALIZADA COM OS ALUNOS

Introdução

Qual o seu nome?

Onde nasceu?

Onde mora?

Quando você começou a ir pra escola? Como foi? Como era?(estrutura,

professores, gestores)

Como é a sua escola atual?

Como é a sua família?

Entrevista

Quando você entrou em contato com um computador pela primeira vez? Foi

com o laptop do UCA? Como foi? Onde foi?

Você lembra como recebeu o laptop do projeto UCA? (impressões, sensações

e expectativas)

Em que escola você entrou em contato pela primeira vez com o laptop do

projeto UCA? Você consegue lembrar se o UCA modificou de alguma forma

aquela escola? (estrutura física, atuação dos professores, horário das aulas).

Sua família sabe usar o UCA? Alguém da sua família (avó (ô), pai, mãe, irmã

(o), tia (o), prima (o) teve curiosidade para aprender usar o laptop do projeto

UCA? Sim/Não? Como foi? Ainda hoje usam?

Você consegue lembrar o que seus pais falavam sobre o laptop da UCA?

Você sabe usar o laptop do UCA? Ele é fácil de usar? E o sistema

operacional? Para o que usa?

Como você aprendeu a usar o UCA? Alguém lhe ensinou? (foi na escola ou

fora dela, sozinho ou em grupo?)

Você percebia dificuldade, para usar o laptop, por parte de seus

colegas/amigos e professores na escola?

Você consegue acessar a internet com o UCA sem dificuldade (na escola ou

fora dela)? E qual local da cidade tem o melhor sinal?

No início do projeto em quais locais você mais usava o laptop do UCA?

(escola, casa, praça). E hoje?

Qual era ou é o seu local preferido para usar o laptop do UCA? Por quê?

Quais atividades você realiza ou realiza(va) quando utiliza o laptop UCA na

escola? E quais atividades realiza(va) fora da escola?

Qual era ou é a sua freqüência de uso do laptop UCA? E a sua freqüência de

uso da Internet?

Você ensinou alguém a usar o laptop do UCA? (na escola, família ou

comunidade).

Você participa de alguma rede social? Qual? Quanto tempo fica nessa rede?

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Conheceu colegas participantes do projeto UCA pela internet?

Alguém de sua família utiliza o laptop do UCA? Quem? Para que?

Qual é o significado deste laptop pra você?

Você percebeu mudança em sua vida devido ao UCA? E na de seus colegas?

E para SJP?

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APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM OS

RESPONSÁVEIS DOS ALUNOS

- Quais foram as suas expectativas quando os computadores do projeto UCA foram

distribuídos aos seus filhos?

- Você usa o laptop do projeto UCA? Para quê? Quem ensinou?

- Você participa de alguma rede social?

- Você consegue observar mudanças nas ações e atitudes de seu filho devido ao

uso do laptop UCA e da internet?

- Para você quais seriam os pontos positivos da utilização do laptop UCA pelo seu

filho?

- E quais seriam os pontos negativos da utilização do laptop UCA pelo seu filho?

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ESTUDANES DA ESCOLA

ESTADUAL ANTONIA ROSA

Resultados do Questionário23 aplicado aos estudantes da Escola Estadual de

Ensino Médio Antonia Rosa.

23 Responderam ao questionário 147 alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio dos turnos da

Manhã, Tarde e Noite, de um total de 192 alunos regularmente matriculados na escola estadual no ano de 2013.

1) Você reside na Zona Urbana ou Zona Rural de SJP?

44%

56%

a)      Zona Urbana

b)     Zona Rural

2) Quantas pessoas moram com você?

4%

50%36%

10%

a)      1 pessoa

b)      2 a 4 pessoas

c)      5 a 7 pessoas

d)      M ais de 7 pessoas

3) Qual a sua renda familiar?

85%

13%

2% 0%

0%

a)      M enos que 1 salário mínimo

b)      1 salário mínimo

c)      De 2 a 3 salários

d)      De 4 a 5 salários

e)      Acima de 6 salários

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4) Sua Família recebe benefício do programa Bolsa Família

58%

42%

a)      Sim

b)      Não

5)      Você já havia usado algum computador antes do

programa UCA?

14%

86%

a)      Sim

b)      Não

6)      Você tem endereço de e-mail?

64%

36%

a)      Sim

b)      Não

7)      Depois que você aprendeu a usar o Laptop do programa

UCA e a internet você ensinou alguém a usá-la?

71%

29%

a)      Sim

b)      Não

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8) Caso a resposta seja positiva (sim) na questão anterior

quem você ensinou?

23%

1%

33%

35%

8%

a)      Pai/ Mãe ou out ro adult o da f amí lia

b)      Prof essor da escola

c)      Amigo ou Colega da escola

d)      Irmão/ Irmã/ primo (a)

e) Out ra pessoa.

9)      Por qual equipamento você se conecta mais a internet?

43%

11%

46%a)      Lapt op do UCA

b)      Out ro comput ador

c)      Celular

10) Você participa de alguma rede social como facebook,

orkut ou twitter

81%

19%

a)      Sim

b)      Não

11) Você tem interesse em participar de uma pesquisa sobre

o proeto UCA

38%

62%

a)      Sim

b)      Não

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APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO PARA PESQUISA

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), da linha

pesquisa de mestrado sobre o projeto UCA. Meu nome é Tânia Elizete Barata

Pereira, sou a pesquisadora responsável e minha área de atuação é Educação

Brasileira na linha Educação, Currículo e ensino no eixo Tecnologias Digitais na

Educação do programa de pos graduação stricto senso da Universidade Federal do

Ceara – UFC (ver declaração de matrícula em anexo). Em caso de dúvida sobre a

pesquisa, você poderá entrar em contato com os pesquisadores responsáveis,

Tânia Pereira e/ou seu orientador Professor Alcides Fernando Gussi - UFC, nos

telefones: 85- 33667435 ou 91 – 8284085.

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO DA

PESQUISA

EU,_____________________________________________________RG/CPF_____

_______________, concordo em participar da pesquisa PECORRENDO

CAMINHOS DA INCLUSÃO DIGITAL: O PROJETO UM COMPUTADOR POR

ALUNO – UCA EM SÃO JOÃO DA PONTA (PA) como sujeito por meio de

entrevista e/ou fotos. Fui devidamente informado(a) e esclarecido(a) pelo

pesquisadora Tânia Elizette Barata Pereira, sobre a pesquisa, os procedimentos

nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha

participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer

momento, sem que isto leve a qualquer penalidade (ou interrupção de meu

acompanhamento/ assistência/tratamento, se for o caso).

Local e data:________________________________________________

Nome e Assinatura do aluno: ____________________________________

Nome e Assinatura do responsável:___________________________________

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133

ANEXO A - CONVERTIDA EM LEI A MEDIDA PROVISÓRIA QUE CRIA O

PROJETO PROUCA

Lei nº 12.249, de 10 de junho de 2010, trata, entre outros assuntos, da criação do Programa

Um Computador por Aluno - PROUCA e institui o Regime Especial de Aquisição de

Computadores para Uso Educacional – RECOMPE.

O Capítulo II da referida lei, relacionada ao PROUCA e ao RECOMPE, está reproduzida

abaixo. A íntegra da lei pode ser acessada na página do Senado Federal.

CAPÍTULO II

DO PROGRAMA UM COMPUTADOR POR ALUNO – PROUCA E DO REGIME

ESPECIAL DE AQUISIÇÃO DE COMPUTADORES PARA USO EDUCACIONAL –

RECOMPE

Art. 6o Fica criado o Programa Um Computador por Aluno - PROUCA e instituído o Regime

Especial para Aquisição de Computadores para Uso Educacional - RECOMPE, nos termos e

condições estabelecidos nos arts. 7o a 14 desta Lei.

Art. 7o O Prouca tem o objetivo de promover a inclusão digital nas escolas das redes públicas

de ensino federal, estadual, distrital, municipal ou nas escolas sem fins lucrativos de

atendimento a pessoas com deficiência, mediante a aquisição e a utilização de soluções de

informática, constituídas de equipamentos de informática, de programas de computador

(software) neles instalados e de suporte e assistência técnica necessários ao seu

funcionamento.

§ 1o Ato conjunto dos Ministros de Estado da Educação e da Fazenda estabelecerá definições,

especificações e características técnicas mínimas dos equipamentos referidos no caput,

podendo inclusive determinar os valores mínimos e máximos alcançados pelo Prouca.

§ 2o Incumbe ao Poder Executivo:

I - relacionar os equipamentos de informática de que trata o caput; e II - estabelecer processo

produtivo básico específico, definindo etapas mínimas e condicionantes de fabricação dos

equipamentos de que trata o caput.

§ 3o Os equipamentos mencionados no caput deste artigo destinam-se ao uso educacional por

alunos e professores das escolas das redes públicas de ensino federal, estadual, distrital,

municipal ou das escolas sem fins lucrativos de atendimento a pessoas com deficiência,

exclusivamente como instrumento de aprendizagem.

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§ 4o A aquisição a que se refere o caput será realizada por meio de licitação pública,

observados termos e legislação vigentes.

Art. 8o É beneficiária do Recompe a pessoa jurídica habilitada que exerça atividade de

fabricação dos equipamentos mencionados no art. 7o e que seja vencedora do processo de

licitação de que trata o § 4o daquele artigo.

§ 1o Também será considerada beneficiária do Recompe a pessoa jurídica que exerça a

atividade de manufatura terceirizada para a vencedora do processo de licitação referido no §

4o do art. 7o. 34

§ 2o As pessoas jurídicas optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de

Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte -

Simples Nacional, de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, e as

pessoas jurídicas de que tratam o inciso II do art. 8o da Lei no 10.637, de 30 de dezembro de

2002, e o inciso II do art. 10 da Lei no 10.833, de 29 de dezembro de 2003, não podem aderir

ao Recompe.

§ 3o O Poder Executivo regulamentará o regime de que trata o caput.

Art. 9o O Recompe suspende, conforme o caso, a exigência:

I - do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI incidente sobre a saída do

estabelecimento industrial de matérias-primas e produtos intermediários destinados à

industrialização dos equipamentos mencionados no art. 7o quando adquiridos por pessoa

jurídica habilitada ao regime;

II - da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade

Social - COFINS incidentes sobre a receita decorrente da:

a) venda de matérias-primas e produtos intermediários destinados à industrialização dos

equipamentos mencionados no art. 7o quando adquiridos por pessoa jurídica habilitada ao

regime;

b) prestação de serviços por pessoa jurídica estabelecida no País a pessoa jurídica habilitada

ao regime quando destinados aos equipamentos mencionados no art. 7º;

III - do IPI, da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação, da Cofins-Importação, do Imposto

de Importação e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico destinada a financiar

o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação

incidentes sobre:

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a) matérias-primas e produtos intermediários destinados à industrialização dos equipamentos

mencionados no art. 7o quando importados diretamente por pessoa jurídica habilitada ao

regime;

b) o pagamento de serviços importados diretamente por pessoa jurídica habilitada ao regime

quando destinados aos equipamentos mencionados no art. 7º.

Art. 10. Ficam isentos de IPI os equipamentos de informática saídos da pessoa jurídica

beneficiária do Recompe diretamente para as escolas referidas no art. 7o.

Art. 11.As operações de importação efetuadas com os benefícios previstos no Recompe

dependem de anuência prévia do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Parágrafo único. As notas fiscais relativas às operações de venda no mercado interno de bens

e serviços adquiridos com os benefícios previstos no Recompe devem: I - estar acompanhadas

de documento emitido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, atestando que a operação é

destinada ao Prouca;

II - conter a expressão "Venda efetuada com suspensão da exigência do IPI, da Contribuição

para o PIS/Pasep e da Cofins", com a especificação do dispositivo legal correspondente e do

número do atestado emitido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Art. 12. A fruição dos

benefícios do Recompe fica condicionada à regularidade fiscal da pessoa jurídica em relação

aos tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Art. 13. A pessoa jurídica beneficiária do Recompe terá a habilitação cancelada: I - na

hipótese de não atender ou deixar de atender ao processo produtivo básico específico referido

no inciso II do § 2o do art. 7o desta Lei;

II - sempre que se apure que não satisfazia ou deixou de satisfazer, não cumpria ou deixou de

cumprir os requisitos para habilitação ao regime; ou III - a pedido.

Art. 14. Após a incorporação ou utilização dos bens ou dos serviços adquiridos ou importados

com os benefícios do Recompe nos equipamentos mencionados no art. 7o, a suspensão de que

trata o art. 9º converte-se em alíquota zero.

I – em isenção, quanto ao Imposto de Importação;

II – em alíquota zero, quanto aos demais tributos.

Parágrafo único. Na hipótese de não se efetuar a incorporação ou utilização de que trata o

caput, a pessoa jurídica beneficiária do Recompe fica obrigada a recolher os tributos não

pagos em função da suspensão de que trata o art. 9o, acrescidos de juros e multa, de mora ou

de ofício, na forma da lei, contados a partir da data de aquisição ou do registro da Declaração

de Importação - DI, na condição de:

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I - contribuinte, em relação ao IPI vinculado à importação, à Contribuição para o PIS/Pasep-

Importação e à Cofins-Importação;

II - responsável, em relação ao IPI, à Contribuição para o PIS/Pasep, à Cofins e à

Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico destinada a financiar o Programa de

Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação.