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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PESQUISA Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) - CNPq/UFS Projeto de Pesquisa: Representações sociais dos índios em Sergipe: infra- humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade. Relatório Formas de expressão do racismo: Preconceito sutil e flagrante contra os índios Área de Concentração: Ciências Humanas/Psicologia Social Código CNPq: Ciências Humanas 7.07.00.00-1 / Psicologia Social 7.07.05.00-3 Bolsista: Priscila Ferreira Mendonça Departamento de Psicologia Matrícula: 05142707 Orientador: Prof. Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceitos e Racismo. Departamento de Psicologia /UFS –salas 115-117, Didática 1. http://gruponsepr.sites.uol.com.br/ RELATÓRIO Janeiro de 2007 a Julho de 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPEPRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

COORDENAÇÃO DE PESQUISA

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) - CNPq/UFS

Projeto de Pesquisa:Representações sociais dos índios em Sergipe: infra-humanização, racismo,

sentimentos de culpa e solidariedade.

Relatório

Formas de expressão do racismo: Preconceito sutil e flagrante contra os índios

Área de Concentração: Ciências Humanas/Psicologia SocialCódigo CNPq: Ciências Humanas 7.07.00.00-1 / Psicologia Social 7.07.05.00-3

Bolsista: Priscila Ferreira MendonçaDepartamento de Psicologia

Matrícula: 05142707

Orientador: Prof. Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima

Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceitos e Racismo.Departamento de Psicologia /UFS –salas 115-117, Didática 1.

http://gruponsepr.sites.uol.com.br/

RELATÓRIO Janeiro de 2007 a Julho de 2007

Este projeto foi desenvolvido com bolsa de iniciação científicaModalidade: PICVOL

São Cristóvão - SE2007

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Sumário

Resumo......................................................................................................................3

Apresentação............................................................................................................4

1. Preconceito e Racismo no Brasil.......................................................................5

1.1. Um breve histórico da história da discriminação contra os negros...............6

2. Velha e Novas expressões do racismo: Racismo Cordial ..............................8

2.1. Mito da democracia racial............................................................................8

2.2. Mudanças nas formas de expressão do racismo..........................................9

3. Método...............................................................................................................12

3.1. Participantes.................................................................................................12

3.2. Procedimentos e Instrumentos.....................................................................13

4. Resultados e Discussão.....................................................................................14

5. Considerações Finais........................................................................................22

6. Referências Bibliográficas...............................................................................22

7. Anexos...............................................................................................................24

8.1. Anexo A: Termo de Consentimento............................................................24

8.2. Anexo B: Roteiro de Entrevista...................................................................25

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Resumo

O grupo de pesquisa “Normas Sociais, Estereótipos, Preconceito e Racismo” desenvolve uma linha de pesquisa que investiga o racismo contra negros e índios. Neste sentido, este relatório apresenta um estudo sobre representação social dos índios, processo de infra-humanização, racismo e sentimentos de culpa e solidariedade. Para tanto, as antigas e novas formas de expressão do racismo, mais especificamente do racismo flagrante e sutil serão teorizadas e discutidas. Os resultados coletados e analisados mostraram que o índio é condenado à invisibilidade social, expressa na dificuldade das pessoas para pensarem sobre eles ou mesmo na expressão de estereótipos. Porém, os sergipanos reconhecem a existência de discriminação contra os índios no Brasil, mesmo esse fenômeno se dando de maneira disfarçada, mas não menos violenta.

Palavras-chave: índios, racismo, estereótipos.

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Apresentação

Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (Darcy Ribeiro, 1996a, p. 120)

Os índios estão no Brasil antes do seu surgimento enquanto país, eles estão nos nossos livros de história, estão na história da nossa formação cultural, política e geográfica, na nossa língua, na nossa culinária, os índios estão em todas as regiões do país e mais que tudo isto eles estão na composição genética do nosso povo. Uma pesquisa feita pela UFMG em 1997 analisando o DNA dos brasileiros, demonstrou que 45 milhões de nós temos ascendência indígena. Por que então para a maioria dos brasileiros os índios são invisíveis? Por que raramente ou mesmo nunca nos sentimos “a mão possessa que os supliciou”? Por que tão perto biológica e geograficamente e tão longe em termos de identidade nacional?

O fotógrafo e antropólogo Siloé Soares de Amorim, estudioso dos índios do Brasil, apresenta um quadro compreensivo das ambivalências nacionais em relação ao índio. Parece que amamos ou aprendemos a cultuar um índio genérico, estereotipado, que anda nu e vive nas matas da Amazônia, ou seja, amamos o índio distante e improvável, o “índio total”. Os índios particulares e reais, ainda segundo Amorim (s/d), que transitam nas periferias urbanas, semi-urbanas, rurais; entre suas aldeias, a selva e as bancadas parlamentares, estes têm a difícil missão de criar paralelos entre seus espaços étnicos e o mundo que os rodeia, entre a imagem demandada por esses espaços sócio-politicos e a imagem visual que tentam construir com a finalidade de se auto-identificar e serem identificados. Nesse embate de “ressurgência”, “transfiguração” e “aculturação” os povos autóctones têm duas alternativas impostas pelos dominantes: mantêm-se “índios” nas matas para desocuparem os espaços sociais nacionais ou ocupam os espaços sociais, mas deixam de ser “índios”.

É nesse cenário complexo que habitam e são construídas as representações sociais dos índios no Brasil. É sobre esta temática que nos interessa compreender como são percebidos os índios por pessoas que vivem próximas e por outras que vivem distante deles e o que é um “índio” no imaginário social nacional?

No caso específico deste sub-projeto de pesquisa procura-se analisar as formas de expressão de racismo contra os índios em Sergipe. Para tanto, coletamos dados nas cidades de Aracaju, Porto da Folha, Pão de Açúcar (AL)1, Estância, Itabaiana e Lagarto. Ainda que todos os bolsistas tenham participado de todas as fases da pesquisa, cada um deles ficou nas suas análises um elemento específico do objetivo geral. Neste relatório

1 Pão de Açúcar compôs a amostra por ser a cidade mais freqüentada pelos Xokós nas suas relações com os não índios.

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apresentamos uma análise das formas de expressão sutil e flagrante de racismo contra os índios.

1.Preconceito e Racismo no Brasil

Este breve panorama conceitual que será exposto a seguir até o tópico 2, foi escrito pela bolsista Beatriz Fonseca que participou do 1º semestre da pesquisa e o apresentou no relatório parcial, ao qual dei continuidade a fim de produzir este relatório final:

“Apenas pela nossa condição de membro de um grupo identificável, seja ele nacional, ético, religioso, sexual, etc., todos nós já fomos, somos ou podemos vir a ser alvos de preconceito, estereotipia ou discriminação (Aronson, 2002). Apesar disto, o fenômeno do preconceito ainda representa um processo pouco estudado pela psicologia. De acordo com Lima (2003), no Brasil, apenas a partir da década de 1990, os psicólogos sociais começaram a investigar o preconceito e o racismo e a identificar e compreender alguns processos psicológicos e sociais que estão envolvidos nestes fenômenos.

O preconceito, de maneira geral, é definido por vários psicólogos sociais como uma atividade racional que produz comportamentos estratégicos nas relações intergrupais para manter a posição social de determinados grupos; e que reflete muito mais as normas sociais do grupo de pertença do que a experiência social dos indivíduos. Assim sendo, o preconceito pode ser compreendido como um fenômeno que decorre das relações assimétricas de poder entre grupos sociais (Lima, 2003).

O racismo, por sua vez, é entendido como uma expressão mais específica do preconceito, como um processo que se baseia num padrão de referência estabelecido pelo grupo maioritário; e que constrói e naturaliza diferenças físicas e culturais, reais ou imaginárias para explicar uma condição social e cultural (Lima, 2003). Ou seja, como uma configuração multidimensional de crenças e emoções negativas dirigidas a um exogrupo (grupo do outro) ou a indivíduos membros deste (Vala, Brito e Lopes, 1999).

“Os preconceitos, sejam eles raciais, sociais, religiosos, econômicos, de gênero, etc., existem em todas as sociedades, em todas as culturas e civilizações” (Munanga, 1996, p. 213). O Brasil, graças ao modo como foi colonizado e à miscigenação tanto biológica quanto cultural de suas raízes, a indígena, a negra e a branca, gerou o mito da democracia racial e foi percebido como um país sem preconceito racial. Entretanto, nosso país apresenta evidências de desigualdades raciais e de discriminação em vários aspectos da vida social (Guimarães, 2002).

Aqui, de acordo com o censo demográfico do IBGE realizado em 2000, negros e mestiços constituem cerca de 45% da população total. Eles estão presentes culturalmente, todavia compõem a categoria mais ausente e invisível social, política e economicamente. Com base nisto, Munanga (1996, p. 217), indaga: “Proporcionalmente, onde estão os 45% dos negros e mestiços nas instituições públicas, no executivo, legislativo, judiciário, exército, na marinha, polícia, magistratura, nas universidades, etc.?”

Os negros que vivem aqui têm menos acesso à educação e à renda, possuem os piores empregos, lideram os registro das mais altas taxas de mortalidade e menor expectativa de vida, têm menos acesso às universidades, apresentam mais baixa mobilidade social, diferente relação com a distribuição de justiça penal. Esse quadro garante ao Brasil, um lugar no ranking dos países em que a população negra discriminada é a maior do mundo vivendo fora da África (Lima, 2003).

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Os índios que aqui residem, por sua vez, sequer são reconhecidos como integrantes da identidade nacional. Eles são como uma espécie de resíduo, aquele que forneceu a matriz para os primeiros habitantes e perdeu sua importância; ou são vistos de maneira estereotipada como "preguiçosos", "ladrões", "traiçoeiros" e "beberrões", como revela uma pesquisa sobre o Racismo, Preconceito e Imagens Sociais dos Índios realizada pelo grupo de pesquisa Normas sociais, estereótipos, preconceito e racismo da Universidade Federal de Sergipe (Silva, 2006). Assim sendo, a situação dos índios em nosso país é muito pior que a do negro, como bem atesta Azelene Kaingáng, representante dos povos indígenas na Conferência Mundial contra o Racismo, em carta dirigida a Isto É nº 1657 intitulada “Preconceito Oculto”:

“Pior do que discriminar um povo é não reconhecer a existência do mesmo. Eu sempre falo que somos invisíveis aos olhos do Estado brasileiro e, pelo jeito, aos da imprensa também. A impressão é de que existe um pacto de silêncio sobre a situação dos índios no Brasil. A discriminação contra os negros é séria, sim, mas na medida em que se reconhecem e se divulgam dados sobre essa questão está se admitindo, primeiro, a existência dos negros; segundo, que algo tem de ser feito. No nosso caso, somos sistematicamente ignorados, a não ser quando queimam algum de nós em praça pública, como aconteceu com o Galdino Pataxó” (Azelene Kaingáng).

Prova desta invisibilidade é que o IBGE desde 1950 aplicava as categorias de branco, preto, pardo e amarelo e incluiu a categoria indígena apenas em 1991 e 2000 (Telles, 2003). Outro dado que reforça a declaração acima é o ínfimo interesse científico no preconceito contra índios (Silva, 2006).

Apesar deste cenário, a tendência geral, mesmo do brasileiro esclarecido é negar a discriminação. Em 2003 o Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo em parceria com a fundação alemã Rosa Luxemburg Stiftungas realizou uma pesquisa para investigar a percepção da desigualdade racial e do racismo no país e revelou que na opinião de 89% dos brasileiros existe racismo no Brasil; e que 74% manifestaram indiretamente algum nível de preconceito, embora apenas 4% reconheçam que são preconceituosos. Estes dados mostram que apesar da tomada de consciência, o racista, em nosso país, é quase sempre o outro.

Como explicar então, esta negação contraditória da realidade da maioria dos negros e mestiços, que cotidianamente enfrentam a violência political, formas sutis e mesmo flagrantes de exclusão no mercado de trabalho, no sistema educativo, nos lugares de lazer, etc.? A explicação mais plausível dessa interiorização quase inconsciente da discriminação racial no Brasil, para Munanga (1996), estaria na forma da ideologia racista aqui desenvolvida pelo segmento dominante da sociedade.

Com base nestes pressupostos, este trabalho apresenta como objetivo geral estudar os preconceitos sutil e flagrante contra os índios e a relação destes preconceitos com esta ideologia ou norma racista.”

1.1 Um breve histórico da história da discriminação contra os negros

Os negros e os índios são grupos minoritários na sociedade brasileira, sendo constantemente alvos de discriminação por serem diferentes da maioria dos grupos dominantes e em grande parte dos casos, menos favorecidos. Porém, o

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desfavorecimento a que esses grupos são submetidos, em muitos casos, já é uma conseqüência do preconceito que os atinge.

Irei inicialmente fazer um breve histórico desse processo discriminatório que já ocorre há vários anos, mas que encontra maior apoio e aparato teórico no preconceito contra negros. Isto, contudo, pode indicar a situação ainda maior de invisibilidade social a que os índios estão submetidos quando comparados aos negros. Tal hipótese é ainda confirmada no decorrer da pesquisa quando pudemos perceber que na entrevista que fizemos sobre índios e negros, em geral, as pessoas tinham maior facilidade de responder sobre os negros do que sobre os índios; além disso, na entrevista aqui apresentada, os índios são muito associados a lugares distantes.

Ao longo da história do Brasil as imagens dos grupos sociais foram se alterando em função das mudanças que se davam em cada momento. As representações sociais sobre o negro transformaram-se nos diferentes momentos da fase final do sistema escravocrata, sendo estas representações reflexo, em parte, da situação social vivida na época e das normas sociais vigentes.

Obviamente, todas essas mudanças se deram como um processo; porém, para fins de uma melhor organização e entendimento, a antropóloga Lília Schwarcz, no livro Retrato em Branco e Negro (1987), divide esse momento em 3 períodos: de 1875 a 1885; de 1885 a 1888; e por fim de 1888 a 1900. Em cada um desses, o negro foi assumindo diferentes formas de identificação. Sendo a identidade entendida aqui como estando em permanente construção, que ocorre no momento em que uma pessoa ou grupo se entende como tal e essa construção e também é fortemente influenciada pelo seu contexto e imagens externas que se forma deles.

No 1º período, que se inicia por volta de 1875, a imagem que se tinha do negro era aquela de assassino, bárbaro, animal, assumindo papel de violento e traidor. Quando algum fato positivo era associado a ele “...o negro, segundo os artigos, parecia perder sua identidade, aproximando-se, ao invés disso, do branco, se não na aparência, pelo menos na alma”. (Schwarcz, 1987).

No período de 1885 a 1888, por estar se aproximando do momento de libertação dos escravos, os discursos nos jornais da época foram se alterando; os negros não mais eram vistos da maneira pejorativa como no período anterior, como se suas características negativas estivessem associadas geneticamente a sua cor. Agora, a libertação do negro, antes tida como impossível, passa a ser considerada, ainda que com muita resistência, visto que o argumento utilizado era que eles não estavam preparados para se adaptar à liberdade e à situação sócio-econômica do momento. Este momento fica claro nas palavras de Schwarcz (1987, p. 183):

“...o negro violento e imoral de outros momentos ganhava aos poucos uma nova representação: a de vítima que denunciava uma situação. ou seja, culpado ou inocente, o “negro infeliz” basicamente sofria as ações ou então era uma “conseqüência” da situação”

De 1888 a 1900, o Império começa a cair juntamente com toda sua estrutura sócio-política. A escravidão tinha sido abolida, pois não mais se adaptava à civilização e ao progresso econômico.

Assim, em 1889 era preciso constituir uma nação. O problema enfrentado agora era o de saber quais raças iriam compor essa nação? Dessa forma, mesmo com a escravidão abolida, a idéia do negro como raça inferior permanecia, pois alegavam que,

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devido a todas as desvantagens e maus tratos de que tinham sido vítimas ao longo dos anos, não tinham condições para se inserirem nessa nova nação que estava se formando.

Com isso, podemos perceber que já era utilizado como argumento há muito tempo o processo de vitimização a que os índios foram submetidos na história para justificar a sua exclusão.

2.Velhas e Novas formas de expressão do Racismo: o Racismo Cordial

2.1. Mito da democracia racialAs imagens sociais que os brasileiros têm dos índios e negros no Brasil são

influenciadas pelas normas sociais. Resultados de pesquisas que utilizavam metodologias tradicionais têm demonstrado que os estereótipos negativos ligados aos negros no Brasil vêm diminuindo (Lima & Vala, 2004), entretanto isso não quer dizer, necessariamente, que o preconceito tenha se reduzido, mas que as suas formas de expressão mudaram, tornando-se mais sutis, o que está relacionado à norma social que condena a manifestação explícita do preconceito e à existência de legislações anti-discriminação que têm tornado inaceitável expressar o preconceito abertamente. A respeito disto, Camino, Silva e Pereira afirmam que essa transformação não é quantitativa, ou seja, não houve redução da intensidade do preconceito, mas houve sim uma mudança qualitativa deste.

Dessa forma, gradativamente, as antigas formas de preconceito, de manifestação do preconceito, estão sendo substituídas por formas modernas, nas quais a antipatia para com o exogrupo é expressada indiretamente.

Porém, para entendermos melhor como o processo discriminatório foi se desenvolvendo e como se dá essa mudança gradativa de expressão do preconceito, foi preciso que retornemos à época da escravidão e do Brasil Imperial, considerados momentos originários desse processo discriminatório, como fizemos no tópico anterior. Provavelmente, por ter sido colonizada por portugueses, o Brasil e seus habitantes foram fortemente massacrados pela cultura dos invasores portugueses – brancos – sendo, já a partir daí, submetidos como raças inferiores.

A fim de sobrepujar esta imagem negativa a que estes grupos estiveram ligados desde sempre e em busca de uma imagem social positiva de negros e índios (grupos minoritários, excluídos, estigmatizados) e da brasilidade, desenvolveu-se no Brasil o mito da democracia racial. Este refere-se à idéia de que no Brasil as pessoas vivem harmoniosamente e que não há discriminação, pelo fato de o país ser constituído por miscigenação de povos de diferentes etnias.

Os negros já chegaram ao Brasil, numa condição inferior, escravizados. Quando abolida a escravidão, a situação não se alterou muito; apesar de estarem livres, não mais serviam como mão-de-obra e, portanto, sem oferta de empregos, ficaram à margem da sociedade. Os índios, uma vez considerados diferentes, inferiores, sub-humanos, sempre estiveram excluídos das relações econômicas, culturais e políticas da sociedade brasileira. Dessa forma, negros e índios na história do Brasil sempre tiveram expostos a condições sócio-econômicas desfavoráveis, o que contribuiu para a formação da imagem negativa destes. Além disso, havia na época uma relação entre uma economia mais próspera e os brancos – nos países europeus; enquanto que os negros e índios – no Brasil e países da África – estavam associados a uma economia mais pobre. Isso poderia ter influenciado a determinação de simples características fenotípicas à condição de

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raças superiores ou inferiores, contribuindo assim para a formação dos estereótipos negativos associados a esses grupos minoritários.

Tendo em vista estes estereótipos relacionados à identidade social dos negros e índios, supõe-se que, de fato, a democracia racial é um mito, pois as relações sociais nesta nação são marcadas por fortes manifestações discriminatórias dos grupos dominantes.

Esse quadro começa a mudar após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, quando valores racistas e atitudes discriminatórias para com os grupos minoritários e não brancos passam a ser questionados e criticados, devido a mudanças históricas que ocorriam na época. Isto ganha ainda mais força após a assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem - documento que se tornaria um marco na defesa de determinados princípios que deveriam ser admitidos e aplicados indistintamente por todos os povos, culturas, sociedades e países.

2.2. Mudanças nas formas de expressão do racismo

A partir daí vão surgindo diversas novas formas de expressões do racismo nos vários países. A literatura nessa área da psicologia social cita um racismo específico do Brasil – Racismo Cordial (Turra & Venturi, 1995), que diz respeito à situação do racismo neste país e reflete o contexto citado acima. Esses mesmos autores tratando das novas formas de expressão do preconceito e do racismo, definem o racismo cordial como “uma forma de discriminação contra os cidadãos não brancos (negros e mulatos), que se caracteriza por uma polidez superficial que reveste atitudes e comportamentos discriminatórios, que se expressam ao nível das relações interpessoais através de piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho racial.”.

O que diferencia os demais tipos de racimos que se desenvolveram nos outros países para o do Brasil – racismo cordial – é o fato de que, nos primeiros – como Europa e EUA – as sociedades eram definidas como “bi-raciais” (Lima, 2003 )enquanto que no Brasil não se trata apenas de duas raças diferentes, mas sim de uma diversidade muito grande de raças e “cores”.

As imagens que as pessoas fazem dos índios e negros são bastante influenciadas por esse tipo de racismo. Conforme Rodrigues (1995), os brasileiros mostram estar conscientes da existência de preconceito no Brasil, porém negam ser preconceituosos e, no entanto, a maioria manifesta preconceito contra negros, mesmo que de forma indireta. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Datafolha, na qual 89% dos entrevistados afirmam haver preconceito de cor no Brasil, mas apenas 10% admitem ter algum preconceito. No entanto, numa medida indireta de preconceito, 87% manifestam algum tipo de preconceito.

Esse cenário de dados demonstra que as expressões de racismo no Brasil são, no mínimo, ambíguas. As pessoas, quando indagadas a respeito de ter ou não preconceito, preocupam-se em não ferir tanto a norma social quanto as sanções jurídicas que condenam a atitude preconceituosa, agindo “cordialmente” (de modo dissimulado), mesmo tendo uma imagem negativa do grupo. Como afirma Camino, Silva e Pereira, (2000), as pessoas estão inibindo expressões do preconceito mas conservando disposições negativas internas. Ou seja, as manifestações externas do preconceito mudaram, mas sua natureza básica continua intacta (Brown, 1995). Tal afirmação apóia a correlação que alguns autores afirmam existir entre os dois tipos de racismo – flagrante e sutil – colocando que tal separação não é completa, afinal, ambos

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compartilham uma origem comum em sentimentos negativos para com pessoas do exogrupo.

Apesar de o preconceito ser bem disfarçado, a discriminação existe e apresenta graves efeitos em termos econômicos e sociais. Por mais que não sejam manifestadas direta e abertamente as atitudes discriminatórias, consta que 45,6% da população negra do Brasil não tem acesso à educação, saúde e alimentação. Diante disso, como afirmar que está havendo uma diminuição do preconceito? Afinal, muitos anos já se passaram da escravidão, mas pouca coisa parece ter modificado.

Como demonstram os resultados do IBGE (2000), as pessoas de 15 a 65 anos de cor (negra ou parda), embora apresentem uma ligeiramente maior taxa de atividades2

(ver tabela 1) quando comparados a pessoas de cor branca, tendem a receber menores salários que esses últimos. Além disso, um agravante desta situação é o fato de que o racismo, uma vez disfarçado, torna-se mais difícil de detectar e de combater.

Tabela 1: Taxa de Atividades das pessoas de 15 a 65 anos de idade por cor sexo

Brasil e Grandes Regiões Total Homens Mulheres Branca Preta e PardaBrasil (1) 74,4 85,5 58,2 71,2 71,7Norte (2) 69,2 83,2 56,1 68,4 69,4Nordeste 71,4 85,6 58,1 70,1 71,9Sudeste 69,9 84,0 56,6 69,3 71,0Sul 75,9 88,7 63,6 76,2 74,8Centro-Oeste 73,2 88,4 58,8 72,0 74,3

Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999 [CD-ROM]. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

Visando analisar esse racismo disfarçado, diversos estudiosos da área realizaram estudos para verificar até que ponto as pessoas conseguem disfarçar esse preconceito, como o fazem e em que situações isso geralmente ocorre. Essas pesquisas nos trazem informações e resultados que remetem à discussão inicial à respeito da mudança nas manifestações externas do preconceito como conseqüência das alterações das normas institucionalizadas, sociais e do aumento de leis que fazem referência e julgam aqueles que agem de maneira racista. Além disso, também nos leva a procurar responder uma questão de extrema importância: O preconceito está realmente em declínio?

De maneira geral, os estudos realizados continham métodos explícitos para medição do preconceito – as pessoas tinham um maior conhecimento de que estavam analisando o seu grau de racismo para com exogrupos – e métodos mais indiretos. A hipótese – confirmada – era que as pessoas, quando diretamente interrogadas por seu nível de preconceito, tenderiam a negá-lo, e que diante de instrumentos de medidas discretos, que não deixavam claro o que objetivavam medir, esse preconceito era mais facilmente manifestado e percebido.

Um dos estudos que confirmou tal hipótese foi o realizado por Hendricks e Bootzim (1976, apud Brown, 1995) com sujeitos brancos no qual tentaram observar, de duas maneiras diferentes, se estes eram ou não preconceituosos. Primeiramente eles pediam para que estes sujeitos escolhessem um lugar para sentar. Dentre os locais para sentar, haviam dois que já estavam ocupados: um por um negro e outro por um branco.

2 O site do IBGE não especifica o tipo de atividade referida.

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Foi observado que os sujeitos brancos escolhiam sentar mais próximo do branco e mais distante do sujeito negro. Em outro momento do experimento, quando o sujeito branco era posicionado mais próximo do negro ou do outro branco, lhe era perguntado o nível de incômodo sentido pela proximidade. Neste momento, foi observado que a etnicidade do sujeito não influenciou o nível de incômodo.

Diante disto, diversos pesquisadores concluíram que as respostas obtidas de maneira controlada, quando os sujeitos sabiam que estavam sendo monitorados publicamente, tinham muito pouca semelhança com as respostas ou comportamentos espontâneos, obtidos em situações e/ou ambientes em que as pessoas não sentiam-se privadas a agir, por, talvez, acreditarem que ali não estariam sendo “julgadas” pelas normas sociais vigentes que recriminam tais atitudes preconceituosas.

Outro experimento foi o realizado por Kleck (1966, apud Brown, 1995) , que objetivava analisar a reação das pessoas quando interagiam com alguém que tivesse alguma inabilidade. O resultado foi o seguinte: as interações com as pessoas que tinham alguma inabilidade mais óbvia eram mais curtas e os sujeitos se mostravam mais ansiosos do que quando interagiam com aquelas que não apresentavam nenhuma inabilidade ou a apresentavam de maneira mais discreta. Com isso a gente percebe que por mais que não ocorra uma manifestação explícita, ofensa ou discriminação à essas pessoas consideradas “diferentes”, indiretamente elas estarão sendo discriminadas e diferentemente tratadas.

Assim, o que muitas pesquisas mostram é que realmente muitas atitudes explícitas sexistas e racistas têm diminuído, com destaque para a América do Norte e para a Europa Ocidental, e que está sendo registrado um maior apoio em favor da igualdade de gênero nos locais de trabalho, além de alguns grupos desprivilegiados estarem apresentando avanços nas áreas de habitação, educação e emprego. Porém, evidências – inclusive as citadas anteriormente – mostram que isto não é um indicativo do declínio do preconceito e que muito dessa diminuição é mais aparente do que real.

McConahay (1986) porém, coloca que atualmente, como os brancos e negros compartilham de iguais oportunidades, ganhos ou vantagens para estes últimos – como cotas de acesso às universidades– seriam injustos; além do que, tal atitude poderia se encaixar entre as novas formas de manifestações de racismo aqui discutidas. Ou seja, seria um tratamento diferenciado ao grupo, por considerá-lo diferente, menos capaz, mesmo que privilegiando-o. Isto seria o que poderíamos chamar de discriminação positiva.

Em suma, estudar as novas formas de expressão do racismo permite a identificação das mesmas em nossas relações e isto representa um certo progresso, uma abertura no caminho para a transformação da sociedade, pois não há como mobilizar esforços para lutar contra um problema considerado inexistente ou um problema do outro. (Fonseca, Beatriz, 2007)

Com esse propósito, por meio de nossa pesquisa, também buscamos investigar como é expresso o racismo contra os índios entre os sergipanos.

Segundo Silva (2006) os valores culturais de uma sociedade concretizam-se no modo pelo qual esta se organiza. Desta forma, esses valores refletem a imagem do e no pensamento dos homens. Mas quais as implicações disto? De acordo com pressupostos da Psicologia Social a sociedade transforma as idéias formadas a respeito de um grupo em expectativas normativas e estas se apresentam no momento em que a questão se objetiva. Assim, ao nível das percepções sociais, tanto os negros quanto os índios permanecem sendo vítimas de preconceitos e discriminação na sociedade brasileira.

Para entender este processo e investigar quais as imagens sociais que os Aracajuanos possuem sobre os índios, o grupo de pesquisa Normas sociais, estereótipos,

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preconceito e racismo da Universidade Federal de Sergipe realizou em 2005/20063 um estudo e observou que, de maneira geral:

os aracajuanos associam os índios a espaços sociais ou físicos isolados como florestas, matas, aldeias;

as características, traços de personalidade ou modos de ser que segundo eles a sociedade brasileira considera mais típicas do grupo dos índios são os que se referem à selvageria, preguiça, inocência e abandono;

a maioria dos entrevistados acha que existe preconceito contra os índios no Brasil e responsabilizam, respectivamente, a sociedade e sua mentalidade, o governo, a colonização, os próprios índios, os brancos, a falta de informação, a escola, a formação cultural, as condições sociais, entre outros;

Estes resultados, como pondera Silva (2006), confirmam a visão mítica da figura indígena no Brasil; a invisibilidade social a qual os índios estão submetidos; e os estereótipos difundidos ao longo destes cinco séculos de colonização e exclusão.

No mesmo estudo, ela destaca ainda que de maneira semelhante aos dados referidos acima, os entrevistados também acham que no Brasil há preconceito contra os negros; e o atribuem, respectivamente, a questão histórica, a humanidade, aos próprios negros, ao governo e os brancos.

Assim sendo, esta pesquisa deixa evidente que estes dois grupos sociais (índios e negros) são vítimas da visão concebida a partir de uma norma social que é construída através das imagens idealizadas segundo os interesses políticos e econômicos, isto é, do preconceito.

Sobre isto cabe ressaltar a dupla função que uma norma social exerce sobre a percepção que construímos a respeito dos índios: por um lado ela os torna invisíveis à sociedade; por outro, quando eles são lembrados, o que na maioria das vezes acontece de forma estereotipada, ela motiva tanto o racismo sutil quanto o racismo flagrante.

Este quadro nos faz indagar qual a representação social dos índios em Sergipe e como se expressa o preconceito ou racismo contra eles em cidades próximas e distantes da única tribo indígena encontrada no estado, a dos Xokós. Para tanto, demos início a um estudo sobre as representações sociais dos índios em algumas destas regiões e também buscamos investigar como é expresso o racismo contra os índios entre os sergipanos.

3. Método3.1. Participantes:

Nosso estudo foi constituído a partir de um roteiro de entrevista semi-estruturada aplicado com 378 moradores das cidades de: Aracaju, onde entrevistamos 129 pessoas; Lagarto, com 53; Itabaiana, com 34; Estância, com 58; Porto da Folha, com 50 e Pão de açúcar, com 54. Destas últimas 5 cidades, quatro são do interior sergipano e uma fica no estado de Alagoas – Pão de Açúcar; porém, na divisa com uma comunidade indígena do sertão sergipano, a saber, a tribo Xokó da Ilha de São Pedro em Porto da Folha/SE. A maioria dos entrevistados é do sexo feminino, correspondendo a 52,3% do total, com idades que variaram dos 16 aos 83 anos, sendo a média 34,6 anos. O grau de escolaridade compreendeu desde analfabetos, pessoas que informaram ter 0(zero) anos de estudo, até os que tinham 17 anos de estudo, ou seja, já haviam concluído o ensino

3 Com apoio do CNPq e do PIBIC/UFS

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superior, tendo assim, o nível de escolaridade dos entrevistados uma média de 9,53 anos. A renda variou de menos de um salário mínimo (9,8% dos entrevistados) a mais de 9 salários (12% do entrevistados). Porém, a maior concentração dos entrevistados ficou na faixa entre 1 e 2 salários mínimos, com 43,5%.

Entre os nossos 378 entrevistados, apenas 22,5% afirmou ter algum parente indígena, enquanto 74,3% disse não ter, sendo que 3,2% não respondeu à pergunta. Dentre eles, 38,4% eram brancos, 44,2 pardos e apenas 13,8% eram negros. Este levantamento a respeito do parentesco e da cor da pele do respondente foi realizado com o intuito de analisarmos se há influência nas respostas o fato de possuir parentes indígenas e a cor de pele do indivíduo. Porém, cabe destacar que a definição da cor do indivíduo coube ao entrevistador.

3.2. Procedimentos e Instrumentos:

Os pesquisadores do NSEPR foram à campo nas cidades acima mencionadas, onde realizaram entrevistas individuais, escolhendo os entrevistados aleatoriamente. A estes era disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ver termo de consentimento no Anexo A) e em seguida os apresentávamos nosso roteiro de entrevista (ver Anexo B), explicávamos os objetivos da pesquisa e as instruções necessárias das questões. Estas instruções diziam respeito, basicamente, ao caráter da entrevista, esclarecendo que eles deveriam responder as perguntas com as suas opiniões sobre os questionamentos.

O roteiro de entrevista era composto de perguntas abertas e fechadas, onde primeiramente pedíamos para que os entrevistados tentassem dizer quais as palavras, idéias ou coisas lhes vinham à mente quando ouviam a palavra “Índios”. Quando o entrevistado sentia dificuldade em fazer a associação mental, sugeríamos que ele fizesse associações de palavras com algum termo familiar do seu cotidiano. Por exemplo: às mães era sugerido que elas fizessem associações com a palavra “Filho” ou com o nome da cidade onde moram, etc. Esse procedimento era usado como forma de aquecimento mental das pessoas. Porém, se mesmo depois disso a pessoa não conseguisse fazer associações com a palavra “Índios”, pulávamos à 2ª questão e daí para adiante.

Além de questões abertas para os entrevistados fazerem associações livremente, tínhamos questões abertas com um certo direcionamento para que algumas temáticas fossem abordadas como, por exemplo, sobre fatos históricos que envolviam índios, e a fim de investigarmos a opinião e/ou conhecimento do entrevistado a respeito do que lhe foi perguntado. Pedíamos ainda, depois de enunciarmos algumas sentenças, que as pessoas dessem as suas opiniões sobre o que lembravam a respeito do que dissemos, o porquê daquelas coisas acontecerem e quais os sentimentos que tinham a respeito do tal enunciado.

Perguntávamos sobre a consideração da existência de índios no Brasil e em Sergipe, se já tinham visto algum pessoalmente e se já tinham mantido contato interpessoal com algum. Propúnhamos algumas situações hipotéticas, como se tornar índio e ter um índio na família, por exemplo, e perguntávamos o que as pessoas fariam se a hipótese apresentada acontecesse de verdade.

Continuando, ainda apresentávamos uma lista de sentimentos e pedíamos que os entrevistados dessem nota de 0(zero) a 5(cinco) sobre o quanto o sentimento apresentado correspondia ao que ele sentia em relação aos índios.

Por fim, perguntávamos sobre a questão das cotas para índios em universidades e concursos públicos e pedíamos para as pessoas justificarem suas opiniões e agradecíamos a colaboração.

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Para a produção mais especificamente deste relatório, para abordagem do tema em questão – expressão sutil e flagrante do racismo – concentrei-me na análise de 4 questões do questionário que aplicamos. Uma questão equivalia a três, visto que era composta por 3 frases para que os entrevistados as completassem. Nela, colocávamos situações hipotéticas para que os sujeitos considerassem e respondessem o que fariam se tal situação ocorresse de verdade (ver Tabelas 1, 2 e 3). Uma outra questão por mim enfatizada neste relatório foi a que busca investigar se os indivíduos têm ciência da existência do racismo contra os índios no Brasil e por que eles acham que acontece (ver Tabela 1). Por meio das repostas obtidas podemos perceber, entre outras, a que ou a quem as pessoas costumam atribuir a culpa da existência do preconceito e se se isentam da mesma.

E ainda, para conclusão da nossa análise, investigamos o que os indivíduos consideram como a maior semelhança entre índios e negros e índios e brancos, para dessa forma podermos observar pra qual dos dois grupos comparados – negros ou brancos – as pessoas têm maior facilidade de encontrar semelhança com os índios. Diante disso, sugeriria a hipótese de que, por não se tratar de um grupo dominante, assim como os índios, seria mais fácil observância de semelhança entre negros e índios.

Para análise das respostas às perguntas fizemos análise de conteúdo seguindo Bardin (1977) e Bauer (2004). Em seguida os dados foram tabulados e analisados no SPSS.

4. Resultados e discussão

Para pesquisar a opinião dos entrevistados a respeito da discriminação ou racismo contra índios, perguntamos aos sujeitos: “Na sua opinião, existe discriminação ou racismo contra os índios no Brasil?”. 86,2% dos entrevistados afirmam existir, enquanto 4,2% disseram não saber. Aos que afirmaram que existe preconceito ou racismo no Brasil, perguntamos “Por que acha que acontece?”, e os motivos foram classificados por nós, na etapa de análise dos dados em 24 categorias (ver tabela 2). A maioria das respostas (23,5%) afirma que acontece porque a cultura dos índios não é aceita, porque as pessoas são racistas e não gostam dos índios.

Apesar de com essa percentagem nós percebermos que alguns dos entrevistados demonstram estar conscientes da existência do preconceito entre as pessoas, apenas 4,4% alegam que a desigualdade existente entre eles gera a discriminação de que são vítimas, o que pode ser preocupante à medida que dessa forma e observando os demais motivos dados, percebe-se que pouco se sabe sobre a construção social do preconceito.

Tabela 2: Freqüências e percentagens das respostas à questão “Por que acha que existe preconceito e discriminação contra os índios?”

Categorias Freqüência PercentualNão aceitação da cultura dos índios (não gostam dos índios; as pessoas são racistas)

75 23,5%

Não responde/tautológico 45 14,1%

Egoísmo/Ganância 41 12,9%

Falta de conhecimento (ignorância do brasileiro,estereótipo) 27 8,5%

Cor/aparência 21 6,6%

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Cultura atrasada (por causa do modo de vida deles) 19 6,0%

Por serem minoria (separação grupal) 14 4,4%

Desigualdade (gera discriminação; situação sócio-econômica inferior)

14 4,4%

Isolamento 12 3,8%

Pela forma de governo (sistema; a culpa é do estado) 10 3,1%

Dificuldade de integrar à sociedade 7 2,2%

Falta de Deus/Falta de consideração/Falta de amor 6 1,9%

Porque os índios são puros (abusam da simplicidade deles) 6 1,9%

O índio é desprotegido 4 1,3%

Formação cultural brasileira 3 0,9%

Devido ao país ser subdesenvolvido 3 0,9%

Porque os índios são excluídos (esquecidos) 2 0,6%

Outras (a mídia é culpada, falta de qualificação do índio, a culpa é do índio, vingança, os índios de hoje são ilegítimos, falta de consciência das pessoas, luta por terras

10 3,0%

Total 319 100%

Ainda sobre a discriminação ou racismo contra índios no Brasil questionamos o que os entrevistados sentiam em relação a isto. 13 categorias de respostas foram formadas (ver tabela 3). Os sentimentos que mais foram descritos foram de repúdio, indignação e decepção, aparecendo com 31,8% das respostas. Em seguida, sentimentos de pesar apareceram com 27,5%, onde as pessoas alegaram sentir tristeza e sofrimento devido a essa situação de preconceito e racismo vivida pelos índios. Apenas uma parcela de 1,5% dos entrevistados afirmou sentir-se culpado por esse preconceito, o que pode indicar que a maioria das pessoas, por mais que admitam a existência do preconceito, se desresponsabilizam pelo mesmo. Isso pode ser explicado pelo Modelo Dissociativo que afirma a existência de crenças pessoais diferenciadas das crenças coletivas na percepção dos grupos (ver Vilanova Manuela, 2007). Outros autores chamam a esta dissociação de “formação reativa” (Camino, Silva & Pereira, 2000). A aparente ambivalência entre aquilo que pessoalmente acreditamos em relação aquilo que socialmente é dito ou proposto é uma marca fundamental dos novos racismos.

Uma única resposta, porém, chamou bastante atenção, pois o entrevistado afirmou sentir alegria em relação a essa situação discriminatória. E ainda, 17 pessoas disseram ser indiferentes a tal situação ou não sentir nada, talvez pela condição de distância que isto se encontra da sua realidade.

Tabela 3: Freqüências e percentagens das respostas à questão “O quê sente em relação a isto?”

Categorias Freqüência PercentualSentimentos de repúdio/ indignação/ decepção (desprezo, raiva, indignação, revolta,injustiça/inconformismo, maldade, vontade de justiça, nojo)

103 31,8%

Sentimentos de pesar (tristeza, dor, sofrimento, desgosto, amargura, comoção, desconforto)

89 27,5%

Não responde/ tautológico 53 16,4%Sem sentimento 17 5,3%

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Sentimentos direcionados a quem praticou o ato (preconceito, frieza, falta de amor ao próximo, pobreza de espírito) 12 3,7%

Sentimento de medo/ insegurança (Choque, Medo (do futuro), Horror, preocupação) 11 3,4%

Sentimento de vergonha 9 2,8%Sentimentos de apoio/ respeito ao índio (carinho, afeto, solidariedade) 9 2,8%

Sentimento de pena (dó, piedade) 9 2,8%Sentimento de culpa (remorso) 5 1,5%Sentimento de aflição 4 1,2%Sentimento de alegria 1 0,3%Respostas que não referem sentimento (abuso, inadequação, mudança) 1 0,3%

Total 323 100%

Posteriormente, indagamos qual a maior semelhança entre um índio e um negro no Brasil. 21 categorias diferentes de respostas surgiram, dentre as quais, a que fazia referência à discriminação/exclusão como a maior semelhança entre eles foi a que apareceu com maior porcentagem, 32,4%. Associado a esse número, que demonstra que essas pessoas têm consciência do preconceito a que esses dois grupos são vítimas, está a categoria que engloba respostas que atribuem como maior semelhança entre índios e negros a violência sofrida por eles ao longo da história (5,8%). Isto pode ser considerado significativo, visto que a posição de não reconhecer a existência de discriminação para com esses grupos dificultaria ainda mais o processo de extermínio da mesma. Em seguida, a cor aparece como maior semelhança com 24,7%. Apenas 13,5% afirmaram não existir nenhuma semelhança entre os dois grupos.

Tabela 4: Freqüências e percentagens das respostas à questão “Qual, na sua opinião a maior semelhança entre um índio e um negro no Brasil?”

Categorias Freqüência

Percentual

Discriminação/exclusão (tratados com diferença, são minorias)

119 32,7%

Cor 90 24,7%

Nenhuma 49 13,5%

Violência sofrida (exploração, aculturação,maltrato físico)

21 5,8%

Não responde/não categorizável 19 5,2%

Características físicas (cabelo,fisionomia, porte, corpo)

17 4,7%

Cultura (as falas, cultura religiosa bem forte,danças, costumes, sua história, a origem)

12 3,3%

Característica de personalidade (bravura, orgulho, humildade, personalidade forte, boa índole, vontade de trabalhar)

8 2,2%

Tudo (são iguais, a mesma coisa, são parentes) 8 2,2%

Ser humano (são seres humanos) 6 1,6%

Condições de vida (pessoas humildes, baixo nível de vida)

6 1,6%

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Miscigenação 3 0,8%

Despreparados 2 0,5%

Luta por igualdade social 2 0,5%

Beleza 1 0,3%

Não discriminarem 1 0,3%

Total 364 100%

Em seguida, a fim de perceber com qual grupo (negro ou branco) as pessoas encontram maiores semelhanças com os índios, indagamos “Qual a maior semelhança entre um índio e um branco?”. O maior percentual, 30,1%, refere-se à categoria que acopla as respostas dadas pelos indivíduos que não enxergam semelhança alguma entre os índios e brancos. Em contrapartida, apenas 29 sujeitos disseram que os índios e os brancos são iguais, “a mesma coisa”. Isto corrobora com nossa hipótese de que é mais difícil as pessoas reconhecerem semelhanças entre índios e brancos do que entre índios e negros, visto a condição de desfavorecimento a que ambos são submetidos.

Com 17,9% das repostas, as características físicas e genéticas aparecem como a maior semelhança entre eles, sendo citado constantemente o cabelo liso, o que mais uma vez deixa claro a forte marca da estereotipia.

Em valor bem menor, porém trazendo um dado interessante, 1,3% dos indivíduos afirmaram que a semelhança que existe entre os índios e brancos na verdade não se dá exatamente com toda a classe dos brancos, mas sim com a classe mais baixa, menos privilegiada. Com isso, podemos atentar para a clara separação por status social dentro de uma mesma raça, o que leva a igualá-la a outra tida como inferior. Isso pode levar até mesmo a uma perda da identidade de branco, como acontece com negros ou índios que progridem e acabam por não serem mais considerados índios, ou os negros se tornam os “morenos”.

Vale destacar ainda, apesar de não registrado no questionário, que o tempo para o sujeito responder à essa pergunta era maior do que o tempo para responder qual a maior semelhança com um negro;pensavam muito mais e chegavam muito menos a uma semelhança, como já explicitado anteriormente.

Tabela 5: Freqüências e percentagens das respostas à questão “E qual a maior semelhança entre um índio e um branco?”

Categorias Freqüência PercentualNenhuma (nada haver; nem o sangue eu acho; só vejo diferenças.)

113 30,1%

Igualdade (tudo é uma coisa só; somos filhos do mesmo pai.)

29 7,7%

Características físicas/genéticas (estatura; cabelo; dentes; aparência; beleza, origem, parentesco,sangue)

67 17,9%

Cor 22 5,9%

Não responde/Não sei 55 14,6%Inteligência 6 1,6%Atividades (trabalho) 2 0,5%

Coragem e bravura (forma de lutar pelo que é seu; os dois são muito valentes e guerreiros)

5 1,3%

Conflitos (fazem muitas guerras; eles lutam 1 0,3%

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para ter uma terra.)Cultura (gostam de dançar e de pintura; culinária; gostam de futebol, forma de se vestir, adereços)

13 3,5%

Esperteza 1 0,3%Capacidade de evoluir, criar 1 0,3%Comportamento/ Conhecimento e crenças (formas de agir, maneiras de pensar, fé)

7 1,8%

Falta de oportunidade (semelhança com as classes mais baixas dos brancos)

5 1,3%

Vida (maneira de sobreviver) 7 1,9%

Preconceito (racismo) 1 0,3%

Preguiça 1 0,3%Pouca coisa 2 0,5%Violência 2 0,5%Semelhanças de caráter econômico (conta em banco)

3 0,8%

Orgulhosos 25 6,6%Civilização 2 0,5%Necessidades 4 1,1%Humanidade (caráter humano; humanidade; só a humanidade; são humanos.)

1 0,3%

Brasileiros 1 0,3%Total 376 100%

A fim de investigarmos as expressões do racismo contra os índios, pedimos aos sujeitos que, da maneira que mais lhes parecesse apropriada, completassem três frases. A primeira delas era: “Os índios são...”. Por meio de uma análise de conteúdo organizamos as respostas dadas em 19 categorias (ver tabela 6), dentre as quais, a de maior percentagem, com 25,3%, foi a que compreende atribuições de características positivas aos índios. Em seguida, respostas que expressam os índios como seres humanos aparecem com 19,7%.

Categorias de respostas que denotam uma imagem negativa dos índios não apareceram de forma muito freqüente, sendo representadas por praticamente duas categorias: Traços morais negativos (3,2%) e Feios (sendo citado por apenas 2 pessoas da amostra). Em contrapartida, respostas que fazem referência a uma visão estereotipada do índio, como aquele que é puro, primitivo, natural, selvagem, pescador, simples (sem ambição), somam 13,4%. Além disso, 5,9% vêem os índios como uma raça diferente, que vive de forma diferenciada e outras 2 pessoas lembraram da tribo Xocó, existente no Estado.

Estes resultados, de modo geral, parecem refletir a distância e a condição de invisibilidade social em que esse grupo se encontra na sociedade brasileira, visto que são raras as pessoas que têm conhecimento do novo modo de vida que muitos índios levam hoje em dia, ainda mantendo-se presas às idéias estereotipadas de índio como aquele que usa cócar, anda nu e vive na mata sem acesso ao estudo. E quando não é isso que ocorre, as pessoas têm consciência que hoje em dia eles já estão mais civilizados, com acesso à escola, morando em casas ao invés de ocas, mas em contrapartida alegam que devido a essas mudanças deixaram de ser índios.

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Juntamente com Fonseca (2006), podemos observar que contrária à visão do índio como trabalhador, encontra-se a visão do índio como preguiçoso, porém em uma parcela menor. Essa contradição pode ser conseqüência da visão eurocentrista de mundo difundida entre os séculos XVI e XIX para afirmar ao mundo a idéia de supremacia racial, geográfica e técnica do homem europeu, branco e cristão, como destaca Borges e colaboradores (2002).

Tabela 6: Freqüências e percentagens das respostas à questão de complementação

de frase “Os índios são...................”

Categorias Freqüência PercentualAtribuição de características positivas (inteligentes, guerreiros, bonitos, felizes, organizados)

95 25,3%

Humanos 74 19,7%

Naturais/selvagens (nativos, primeiros habitantes, puros, vivem como vieram ao mundo, primitivos, carentes de cultura)

46 12,3%

Referência positiva à história/cultura (patrimônios da humanidade, pessoas importantes para nossa cultura, retrato do nosso país, identidade do Brasil)

30 8,0%

Diferentes (uma raça diferentes, vivem de maneira diferente)

22 5,9%

Explorados (desassistidos, sofridos, discriminados, usados, pobres)

20 5,3%

Livres/Excluídos/Minoria (independentes, pobres) 15 4,0%

Traços Físicos (cabelos pretos, escorridos, morenos) 15 4,0%

Não responde/não categorizável 12 3,2%

Traços morais negativos (fechados, oportunistas, rígidos, autoritários, grosseiros, muito ignorantes, preguiçosos)

12 3,2%

Unidos/companheiros 11 2,9%

Brasileiros 8 2,1%

Isolados 4 1,1%

Caçadores/pescadores 3 0,8%

Xocós 2 0,5%

Outras (uma raça, simples, sem ambição, feios) 6 1,6%

Total 375 100%

Para a segunda frase “Se eu fosse um índio eu................” encontramos a partir da análise de conteúdo 18 categorias (ver tabela 7). Dentre elas, a de maior percentagem (28,1%) é a que engloba as repostas dos entrevistados que dizem respeito ao modo de vida dos índios, alegando que viveria como eles. Aqui vale destacar que “viver como eles” faz menção a formas estereotipadas do modo de vida do índio que as pessoas costumam ter, como aquele que anda nu, na selva, é guerreiro e corajoso, tem muitos filhos, etc.

É importante observar que atitudes relacionadas à manutenção da maneira de viver e preservação da cultura indígena como “viveria como os índios”, “preservaria as origens” e “lutava pelos meus direitos” foram mais evidenciadas do que aquelas que indicaram desejo de mudança cultural (“procurava me civilizar”). Enquanto aquelas somam 49,3%, estas últimas representam 6,8% das respostas coletadas.

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Mais uma vez, um número mínimo, neste caso apenas um, fez referência aos xokós, apesar de ser uma tribo do estado.

Tabela 7: Freqüências e percentagens das respostas à questão de complementação de frase “Se eu fosse um índio eu................”

Categorias Freqüência PercentualViveria como os índios (seguia a tradição; andava nu; seria livre; seria guerreiro; andava na selva; estaria nadando; atirava flechas; caçaria; teria muitos filhos, aproveitaria a natureza, seria autêntica, seria mais corajosa, era comunitária)

104 28,2%

Lutava Pelos meus direitos (lutaria pela terra; lutaria pela liberdade; batalhava muito; lutava pela minha aldeia, lutava para ser valorizado, lutaria por respeito, acabaria com a discriminação)

57 15,4%

Sentimentos Positivos (seria feliz; seria orgulhoso; me amaria; achava bom; me honraria; seria bonito; seria forte, me sentiria melhor, seria bom, integraria melhor com a sociedade, teria uma vida tranquila, viveria melhor, seria manso, estava numa boa)

54 14,6%

Não responde/ tautológica/não categorizável 34 9,2%

Sentimentos negativos (seria feia; sofreria; me matava; deixaria de ser índio; aceitava por não ter jeito; não queria, não ía gostar, seria folgado)

32 8,7%

Procurava me civilizar (procurava manter contato, me abria a novas culturas; estudaria; viria visitar a cidade; deixaria de ser índio; procurava melhorar; procurava manter contato; me aperfeiçoava, tentava entrar no mercado)

25 6,8%

Preservaria as origens (manteria as tradições, não queria perder a cultura, fugiria da cidade, tentaria preservar a espécie, ficaria longe dos brancos).

21 5,7%

Vivia pacificamente/normalmente (na paz; em harmonia, tentava levar uma vida normal, seria normal, tratava todos igualmente)

11 3,0%

Traços físicos (cor; cabelo; dentadura boa, alto, ) 6 1,6%

Seria respeitado pelo povo (faria mudanças para ser lembrado) 6 1,6%

Seria Trabalhador 5 1,4%

Era um ser humano 4 1,1%

Brasileiro 3 0,8%

Seria saudável 3 0,8%

Outras (ajudaria a nação, não sei se me sentiria livre, seria rebelde, faria uma revolução na tribo)

3 0,9%

Era um Xokó 1 0,3%

Total 369 100%

Quanto à terceira frase “Se um filho ou uma filha meu (minha) se cassasse com um índio eu....” obtivemos 11 categorias de respostas diferentes (ver tabela 8), onde a maioria, 61,1%, alega de alguma forma que aceitaria que seu filho ou filha casasse com

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um índio(a) e não faria nada contra isto. Uma parcela não muito grande, 8,2%, se levada em consideração o tamanho da amostra, porém significativa, expôs fortemente sua discriminação para com os índios, pois alegaram que se tal hipótese proposta ocorresse, tomariam atitudes drásticas, como rejeitá-lo e até matá-lo. Tiveram ainda, em parcela bem menor também (3,2%), aqueles que diziam aceitar mas impunham condições. Dentre estas, as mais referidas diziam respeito à questão da civilização, como se a “problemática” de ser índio poderia ser amenizada trazendo este para o mundo mais próximo do seu, o que pode nos levar a induzir que tal atitude tenha o propósito de que esses índios abandonem cada vez mais suas origens e quem sabe um dia abandonem de vez sua identidade indígena. Dessa forma, as diferenças teriam sido bem mais amenizadas e a convivência talvez não fosse mais tão difícil.

É claramente perceptível como negações mais explícitas da raça aparecem em número muito menor, ou ainda aparecem por trás de aceitações condicionais como exemplificado no parágrafo anterior. Essas atitudes são decorrentes das normas sociais, já explicadas no início deste relatório, que proíbem manifestações explícitas de preconceito.

Tabela 8: Freqüências e percentagens das respostas à questão de complementação de frase “Se um filho ou uma filha meu (minha) se cassasse com um índio

eu................”

Categorias Freqüência PercentualAceitaria/Concordaria (apoiaria, agia normalmente; aceitava numa boa; aceitava com prazer; acharia normal, respeitava, não faria nada, não me importaria, questão de gosto, problema dele)

239 63,4%

Não responde (descendente; depende; iria ter filho; ia ter muitos mestiços; seria uma índia; eu teria parentesco /seria parente/faria parte dos índios)

44 11,6%

Não aceitação ativa (mandava morar longe; rejeitaria; matava ele; dava uma surra)

31 8,2%

Tinha Que Aceitar (“se ela quisesse o que eu ia fazer?”; aceitava a vontade; respeitava a vontade; “é o jeito né?”; não julgaria; acataria; tinha que entender a opinião dele; ”tinha que ajudar né?”, tentaria me adaptar)

18 4,8%

Aceitação condicional (se fosse do cabelo bom, se tivesse condições de se manter, se fosse civilizado; aceitaria, mas lutaria para ele se civilizar desde que eles morem na cidade; depende da pessoa)

12 3,2%

Ficaria feliz (acharia lindo, seria ótimo) 11 2,9%

Acharia estranho/Ficaria surpreso (por falta de contato)

9 2,4%

Aceitaria e procurava conhecer a cultura deles 7 1,9%

Não aceitação passiva (ia ter pena dele; teria grande resistência; ia dar problema)

3 0,8%

Não responde 3 0,8%Convidaria para conhecer nossa cultura 1 0,3%

Total 378 100%

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5.Considerações Finais

Após fazermos uma retrospectiva histórica, citando algumas mudanças significativas que foram ocorrendo com o passar dos anos, pudemos contextualizar o surgimento e desenvolvimento do racismo, assim como as mudanças pelas quais este passou. Esta etapa de contextualização e narrativa histórica se faz indispensável para análise dos dados coletados em nossa pesquisa.

Como o enfoque dado neste relatório diz respeito aos novos modos de expressão do preconceito pelas pessoas, cabe considerarmos aqui que pudemos observar que apesar de hoje ainda manter-se forte a discriminação nos mais diversos países, esta aparece de forma mais mascarada, tendo em vista o maior conhecimento adquirido no decorrer dos anos, comprovando que cor de pele não determina superioridade da raça. Ainda assim, essa consciência não consegue superar o preconceito que a maioria das pessoas possuem, mesmo que veladamente.

Seguindo esse material teórico, fomos investigar se essa discriminação também está se encaminhando, em Sergipe, pelos mesmos caminhos, nas relações interpessoais com os índios; isto, quando estas relações acontecem.

Quando não são registradas respostas que expressam claramente uma imagem negativa dos índios, aparecem aquelas que expõem uma visão estereotipada do índio, às vezes positiva, como aquele que ainda vive na selva, que é forte e corajoso; às vezes negativa, como aquele que não estuda, vive afastado da civilização, entre outros. Essa estereotipia pode ser resultado da distância, pouco conhecimento e até falta de interesse dessas pessoas, o que resulta da condição de invisibilidade social a que o índio está submetido em nossa sociedade.

Durante o processo de entrevistas, na busca por pessoas para responder ao questionário, as expressões e comentários refletiram muito dessa invisibilidade social do índio. Diversas pessoas, quando falávamos que se tratava de uma pesquisa sobre índios, faziam uma expressão de estranhamento, como se não vissem sentido em tal estudo. Outras ainda, porém em menor quantidade (como os dados da questão “Existe preconceito/racismo contra os índios no Brasil?” mostram) afirmaram que não existe preconceito contra índio, mas sim contra negros.

O que vemos, se compararmos a situação atual de discriminação a que o índio e o negro são submetidos hoje com a situação de alguns anos atrás, parece que pouca coisa mudou, e de forma geral foi essa mudança que este relatório abordou, analisando as alterações na forma do preconceito se manifestar, investigando se essa mudança teria sido resultado ou não de uma redução quantitativa do preconceito, concluindo, que não foi este o caso.

Todo esse referencial teórico que buscamos para procurar entender esse processo tão complexo que é o racismo, nos leva a refletir se, assim como foi até agora, permaneceremos mascarando uma realidade ao invés de encará-la e mudá-la. Porém, esta é uma questão bastante complicada, visto que de certa forma houve alguma tentativa de mudança, com o surgimento das várias normas sociais exigentes que impedem a expressão explicita e declarada do preconceito. Mas, essa ainda não foi uma solução adequada, ou se foi, não foi suficiente para colocarmos um fim nessas discriminações.

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Assim, cada vez mais se faz urgente a necessidade de se estudar estes processos, suas mudanças no decorrer do tempo, e principalmente, divulgar para todos esses conhecimentos e dados obtidos por meio de pesquisas como a que apresentei aqui, pois não adianta limitarmos essa informação a um número reduzido de pessoas e grupos de estudiosos, quando a manifestação ocorre em todos os espaços sociais independente do status e acesso educacional.

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6.Referências BibliográficasAgüero, O.A. (2002). Sociedades indígenas, racismo y discriminción. Horizontes

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Freyre, G. (1933/1983). Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Lisboa: Edição Livros do Brasil.

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Lima, M. E. O.; Vala, J. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estud. psicol. (Natal). [online]. 2004, vol. 9, no. 3 [citado 2007-01-21], pp. 401-411.

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negras e indígenas em Sergipe: Efeitos do racismo e da estigmatização nas percepções de si e do outro. Relatório Final não Publicado de Iniciação Científica. PIBIC/UFS.

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Villalta, L. (1997). O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In F.A. Novais e L. de M. Souza (Orgs.), História da Vida Privada no Brasil / Cotidiano e vida privada na América portuguesa (Vol. 1, pp. 331-386). São Paulo: Companhia das Letras.

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Camino,Leôncio; SILVA, Patrícia; MACHADO, Aline; PEREIRA (2000). A face oculta do Racismo no Brasil: uma análise psicossociológica. Revista Psicológica Política.

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http://www.portaldovoluntario.org.br/site/pagina.php?idclipping=6645&idmenu=62 visitado em 23 de Jan 2007 às 23:21

http://www.terra.com.br/istoe/1658/1658cartas.htm visitado em 19 de Jan 2007 às 20:07

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7. AnexosANEXO A: Termo de Consentimento

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

PROJETO DE PESQUISA: Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra-humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade

OBJETIVO DA PESQUISAAnalisar as representações sociais que os sergipanos constroem sobre os índios, tentando entender se elementos de racismo e de infra-humanização estão presentes nessas representações e que papel os sentimentos de solidariedade e de culpa coletiva podem ter na construção dessas imagens.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS NA PESQUISASerão realizadas entrevistas individuais com duração média de 20 minutos, nas

quais as pessoas responderão a perguntas sobre identidade social e auto-categorização étnica.

COORDENADORES DA PESQUISA: Dr. Marcus Eugênio Lima (UFS-SE) assinatura _______________

Dra. Ana Raquel Rosas Torres (UCG-GO) assinatura _______________Dr. Rupert J. Brown (University of Sussex – UK) assinatura _____________

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO Pelo presente documento, declaro ter conhecimento dos objetivos da pesquisa, que me foram

apresentados pelo responsável pela aplicação do questionário, e conduzida pelo Mestrado e o Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe.

Estou informado(a) de que, se houver qualquer dúvida a respeito dos procedimentos adotados durante a condução da pesquisa, terei total liberdade para questionar ou mesmo me recusar a continuar participando da investigação.

Meu consentimento, fundamentado na garantia de que as informações apresentadas serão respeitadas, assenta-se nas seguintes restrições:

a) Não serei obrigada a realizar nenhuma atividade para a qual não me sinta disposto e capaz;b) Não participarei de qualquer atividade que possa vir a trazer qualquer prejuízo;c) O meu nome e dos demais participantes da pesquisa não serão divulgados;d) Todas as informações individuais terão o caráter estritamente confidencial;e) Os pesquisadores estão obrigados a me fornecer, quando solicitados, as informações

coletadas;f) Posso, a qualquer momento, solicitar aos pesquisadores que os meus dados sejam excluídos

da pesquisa. g) A pesquisa será suspensa imediatamente caso venha a gerar conflitos ou qualquer mal-estar dentro do local onde ocorre.Ao assinar este termo, passo a concordar com a utilização das informações para os fins a que se

destina, salvaguardando as diretrizes das Resoluções 196/96 e 304/2000 do Conselho Nacional de Saúde, desde que sejam respeitadas as restrições acima enumeradas.

O pesquisador responsável por este projeto de pesquisa é o Professor Marcus Eugênio Lima, que poderá ser contatado pelo e-mail [email protected] , telefone: 3243 1063. Endereço: Rua A, casa 10, Cond. San Diego, Aruana, Aracaju -Se. Nome: ______________________________________________________Assinatura:_______________________________________________________

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Assinatura do responsável pela pesquisa:_______________________________

Aracaju................ de .............................. de 2006................

ANEXO B: Roteiro de Entrevista

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPEDEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA – NSEPR

Coloque as letras N (negro) P (Pardo) ou B (Branco) para classificar a cor da pele da pessoa________Projeto Representações sociais dos índios em Sergipe

Apresentação: Somos um grupo de pesquisa do DPS da UFS e estamos realizando uma pesquisa cujo objetivo é analisar as imagens que os sergipanos têm sobre os índios do Brasil. Para fazer este estudo pedimos a sua colaboração, respondendo a algumas perguntas. Não se preocupe que não existem respostas erradas ou certas. Nos importa apenas a sua opinião sobre o assunto. O(a) sr(a) não precisa se identificar. E pode ter acesso aos dados do estudo, basta nos contatar pelo telefone 079 3212 6748. Pode colaborar? Obrigado(a)!

1) Quando você ouve a palavra “Índios”, quais são as três primeiras coisas que você pensa? (caso o entrevistado não consiga, use uma palavra próxima do contexto da pessoa: almoço, futebol, Brasil).______________________________________________________________________________________________________

2) Quando você pensa nos acontecimentos do Brasil, o que lembra em relação aos índios?____________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) Para você, existem índios no Brasil? sim ( ) não ( ) não sei ( )4) E em Sergipe, existem índios? sim ( ) não ( ) não sei ( )5) Você já viu um índio, pessoalmente? sim ( ) não ( ) (em caso negativo salte a questão n. 7)- Em caso afirmativo, foi aqui na sua cidade? sim ( ) não ( )- Viu muitas vezes ( ) Viu Poucas vezes ( ) 6) E pela TV já viu índios? sim ( ) não ( )7) Já manteve algum contato com índios (conversas, amizade, negócios, etc.)? sim( ) não( )8) Como você descreveria um índio? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________9) Onde os índios vivem? _________________________________________________

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______________________________________________________________________10) Na sua opinião, o que nos índios fazem no seu dia-a-dia? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________11) Na sua opinião, qual a coisa mais típica ou mais característica em um índio (o que mais chama a atenção)?___________________________________________________

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12) Agora eu vou ler algumas frases incompletas, gostaria que você tentasse completar as frases do jeito que achar melhor.a) Os índios são...................................................................................................................b) Se eu fosse um índio eu .................................................................................................c) Se um filho ou uma filha meu(minha) se cassasse com um índio eu.............................

13. Como os brasileiros vêm os índios, qual o jeito de ser dos índios na visão da sociedade brasileira?

14. E você pessoalmente como Vê os índios?

Depois de finalizar as duas listas, releia cada uma das características e pergunte: “........é, na sua opinião, uma coisa positiva, negativa ou neutra. Sinalize as características com um “+”, “-“ ou “+ -“.

15. Vou então ler algumas frases e preciso que indique se concorda ou discorda e que sentimentos ou emoções essas frases lhe despertam. a) Na sua opinião, na história do Brasil houve violência contra os índios? ( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso afirmativo, perguntar:- O que se lembra a este respeito?___________________________________________- Por que acha que aconteceu? ___________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?_________________________________________

b) Na sua opinião, existe discriminação ou racismo contra os índios no Brasil?( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso afirmativo, perguntar:- Por que acha que acontece? ____________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?_________________________________________

c) Em 20 de abril de 97, cinco jovens de classe média queimaram o índio Galdino Jesus dos Santos, que dormia em um ponto de ônibus em Brasília. O índio morreu. Os jovens foram libertados e estão soltos.- Por que acha que acontece? ____________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?_________________________________________

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d) Em várias regiões do Brasil os índios vivem em pé de guerra com os fazendeiros pela posse da terra. Nesta lutas, às vezes morrem índios, às vezes morrem fazendeiros. - Por que acha que acontece? ____________________________________________________________________________________________________________________

e) Para você, a cultura dos índios é respeitada no Brasil?( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso negativo, perguntar:- Por que acha que acontece? ____________________________________________________________________________________________________________________

f) Qual, na sua opinião a maior semelhança entre um índio e um negro no Brasil?______________________________________________________________________

g) E qual a maior semelhança entre um índio e um branco? ______________________________________________________________________

16. Vou ler uma lista de sentimentos. Dê para cada um deles uma nota de 0 (zero) a 5, em função do quanto eles expressam o que você sente em relação aos índios do Brasil. Quanto maior a nota mais forte o sentimento. Admiração ( )Culpa ( )Simpatia ( )Desprezo ( )

Orgulho ( )Pena ( )Respeito ( ) Outra _________________

Raiva ( ) Indiferença ( )Solidariedade ( )

17) Qual a sua opinião sobre reserva de vagas ou cotas de acesso para os índios a empregos e as universidades públicas?Discordo ( ) Concordo ( ) Não sei responder ( ) Por que? (Justifique)___________________________________________________________________________________________________________________________________

Qual a sua idade____________Nível de escolaridade (estudou até que série/ano)?_____________Sexo: fem. ( ) masc. ( )Renda familiar aproximada: ( ) Menos de 1salário ( ) 1-2 ( ) 3-4 ( ) 5-6 ( ) 7-8 ( ) 8-9 ( ) mais de 9 salários.Qual sua profissão?_____________________________ Cidade da entrevista_________Tem algum parente indígena? ( ) Sim . Qual?_____________ ( ) Não

Obrigado pela colaboração!

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