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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS MESTRADO EM GESTÃO DE POLÍTICAS E ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS ALCINEIDE PEREIRA DA SILVA DESIGUALDADES NO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO NO MUNICÍPIO DE COTIA: ANÁLISE DAS AÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL OSASCO - SP AGOSTO/2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE POLTICA, ECONOMIA E NEGCIOS

MESTRADO EM GESTO DE POLTICAS E ORGANIZAES

PBLICAS

ALCINEIDE PEREIRA DA SILVA

DESIGUALDADES NO DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONMICO NO MUNICPIO DE COTIA: ANLISE DAS

AES DA ADMINISTRAO MUNICIPAL

OSASCO - SP

AGOSTO/2015

1

ALCINEIDE PEREIRA DA SILVA

DESIGUALDADES NO DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONMICO NO MUNICPIO DE COTIA: ANLISE DAS

AES DA ADMINISTRAO MUNICIPAL

Trabalho apresentado ao Programa de

Mestrado Profissional em Gesto de

Polticas e Organizaes Pblicas da

EPPEN-UNIFESP, como requisito para

obteno do ttulo de Mestre.

rea de Concentrao: Gesto Pblica

Linha de Pesquisa: Polticas Pblicas

Orientador: Prof. Dr. Julio Cesar Zorzenon

Costa.

OSASCO SP

AGOSTO/2015

2

ALCINEIDE PEREIRA DA SILVA

DESIGUALDADES NO DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONMICO NO MUNICPIO DE COTIA: ANLISE DAS

AES DA ADMINISTRAO MUNICIPAL

Dissertao apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Gesto de

Polticas e Organizaes Pblicas da

EPPEN-UNIFESP, como requisito para

obteno do ttulo de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Julio Cesar Zorzenon

Costa.

Aprovado em:

___________________________________________________________________

Profa. Dra Luciana Massaro Onusic

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Antnio Fernando Gomes Alves

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Marcello Simo Branco

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Julio Cesar Zorzenon Costa

3

DEDICATRIA

Dedico este trabalho a minha falecida me Ermnia, uma mulher simples, que

partiu um ano antes de me ver realizar o sonho de ser mestre, que teve poucas

oportunidades de estudos e muitas dificuldades na vida, mas que soube transmitir

bons princpios como, honestidade e pacincia aos seus filhos.

Ao meu falecido pai Geraldo, que sempre foi um exemplo de perseverana,

de alegria de viver, de luta e superao que sempre me incentivou a buscar meus

objetivos de vida.

Aos meus filhos Maria Eduarda e Lucas, que por vezes foram preteridos em

razo das noites de trabalho.

Ao meu esposo Sergio pela pacincia.

minha sogra Nair por toda a ajuda com meus filhos.

Ao meu querido amigo Washington Alves da Silva pela amizade incondicional

e por toda ajuda na obteno de dados para este estudo.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeo ao meu querido orientador Professor Doutor Julio Cesar Zorzenon

Costa por realmente fazer parte deste trabalho estando presente em todos os

momentos que precisei e por dividir comigo um pouco do seu conhecimento. Minha

gratido e meu carinho so infinitos diante de tanta generosidade.

No poderia me esquecer de um grande colega de trabalho, o Professor

Doutor Joo Carlos Barreto, que foi mais que um amigo quando se props a me

ajudar a compor o projeto para iniciar o mestrado.

Ao querido Professor Doutor Mauri Aparecido Oliveira pelas belas aulas sobre

metodologia e anlise multivariada.

Professora Doutora Luciana Massaro Onusic pelas excelentes aulas de

Teorias das Organizaes.

Aos queridos e amveis Professor Doutor Marcello Simo Branco e Professor

Doutor Antnio Fernando Gomes Alves pelas valiosas dicas durante a qualificao

desta dissertao.

Agradeo tambm Professora Mestre Elisangela Leandro Silva, amiga em

todos os momentos, e Professora Mestre Marcia Regina Konrad por revisar a

ortografia do trabalho, e minha querida amiga bibliotecria Neusa Marcelino.

Ao historiador granjeiro Joo Barcellos que rapidamente enviou-me suas

literaturas to ricas sobre o municpio de Cotia.

grande escritora e jornalista Cristina Maria Oka que muito me inspirou com

seus belssimos relatos sobre a histria de Cotia.

Ftima Alves do departamento de cadastro imobilirio da prefeitura de Cotia

pela orientao em busca dos dados.

Aos funcionrios da Secretaria de Educao e da Secretaria de Sade de

Cotia por todos os dados fornecidos.

5

O desenvolvimento, na realidade, diz respeito s metas da vida. Desenvolver para criar um mundo melhor, que responda s aspiraes do homem e amplie os horizontes de expectativas. S h desenvolvimento quando o homem se desenvolve.

(CELSO FURTADO)

6

RESUMO

Este trabalho analisa a questo de desenvolvimento socioeconmico do municpio, de Cotia, localizado ao oeste da Regio Metropolitana de So Paulo. Os indicadores foram baseados nos ndices de desenvolvimento humano, responsabilidade social e vulnerabilidades sociais. As reas envolvidas so educao, sade e condies habitacionais. O municpio de Cotia dividido em trs regies: Caucaia do Alto com maior concentrao de agricultura, Centro que mantm a administrao pblica municipal e diversos bairros no seu entorno e por ltimo a regio da Granja Viana que o primeiro acesso a Cotia por meio da Rodovia Raposo Tavares sentido Capital-interior Paulista, regio de alto poder aquisitivo com seus condomnios fechados e bolses com caractersticas paulistanas. Para tanto foram utilizados dados censitrios do IBGE e da Fundao Seade, bem como dados municipais para compor uma anlise das vulnerabilidades sociais do municpio de Cotia e a atuao ou omisso da municipalidade em relao s desigualdades de desenvolvimento.

Palavras-chave: Desigualdades, Vulnerabilidades Sociais, Desenvolvimento,

Administrao Municipal.

7

ABSTRACT

This dissertation examines the issue of socio-economic development of the municipality of Cotia, located west of the Greater So Paulo. The indicators were based on the indices of human development, social responsibility and social vulnerabilities. The areas involved are education, health and housing conditions. The municipality of Cotia is divided into three regions: Caucaia do Alto with the highest concentration of agriculture, Centro that keeps the municipal government and various districts in its surroundings and finally the Granja Viana region which is the first access to Cotia through Raposo Tavares Highway towards Capital-Interior of Sao Paulo, high-income region with its gated communities and pockets with Sao Paulo features.Therefore, we used census data from IBGE and Seade, and municipal data to compose an analysis of social vulnerability of the municipality of Cotia and the performance or omission of the municipality in relation to the development of inequalities.

Key-word: Inequality, Social Vulnerability, Development, Municipal Administration.

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LISTA DE GRFICOS

Grfico 1: Distribuio da populao - IPVS ............................................................ 41

Grfico 2: IPRS Dimenso Riqueza - 2008/2010/2012 .......................................... 49

Grfico 3: IPRS Dimenso Longevidade - 2008/2010/2012 .................................. 50

Grfico 4: IPRS Dimenso Escolaridade - 2008/2010/2012 .................................. 51

Grfico 5: Morbidades hospitalares ano 2005, 2009 e 2012 .................................. 69

Grfico 6: Morbidades hospitalares de Cotia por regio ano 2012 ........................ 69

Grfico 7: Arrecadao de IPTU do municpio de Cotia de 1999 a 2014 .................. 85

9

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Critrios do ndice De Desenvolvimento Humano - IDH .......................... 35

Quadro 2: IDH-M do municpio de Cotia ................................................................... 37

Quadro 3: Grupo do IPVS 2010 ............................................................................... 40

Quadro 4: Indicadores que compem o IPVS do Municpio de Cotia - 2010 ........... 43

Quadro 5: Sntese das variveis do IPRS. ............................................................... 46

Quadro 6: Critrios adotados para a formao dos grupos de municpios ............... 47

Quadro 7: Parmetros para a classificao dos municpios ..................................... 47

Quadro 8: Unidade de Sade do Muncipio de Cotia ............................................... 65

Quadro 9: Unidade de Sade do Muncipio de Cotia ............................................... 67

Quadro 10: Escolas municipais e alunos matriculados ............................................. 70

Quadro 11: Escolas particulares e alunos matriculados ........................................... 71

Quadro 12: Escolas estaduais e alunos matriculados - Cotia ................................... 72

Quadro 13: Nmero de alunos matriculados no ensino mdio - Cotia ...................... 72

Quadro 14: Indstrias antigas e recentes da regio da Granja Viana....................... 75

Quadro 15: Comrcio e servios antigos e recentes da regio da Granja Viana ...... 76

Quadro 16: Amostra de terrenos regio de Caucaia do Alto ................................. 79

Quadro 17: Amostra de terrenos regio do Centro e bairros ................................. 80

Quadro 18: Amostra de terrenos regio da Granja Viana ...................................... 81

Quadro 19: valor venal do m2 da construo por tipo e categoria ............................ 84

Quadro 20: Ramos industrial, comercial e servios da Granja Viana ....................... 89

Quadro 21: Secretarias Municipais de cotia (1997-2000) ......................................... 91

Quadro 22: Secretarias municipais de cotia (2001 a 2004) e (2005 a 2008) ............ 92

Quadro 23: Secretarias municipais de Cotia (a partir de 2009) ................................ 93

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1:Trs principais indicadores, dimenses avaliados pelo IDH. ...................... 35

Figura 2: Imagem da Regio da granja Viana .......................................................... 82

Figura 3: Imagem da Regio central e bairros no entorno ........................................ 82

Figura 4: Imagem da Regio de Caucaia do Alto ..................................................... 83

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LISTA DE SIGLAS

ALESP Assembleia Legislativa do Estado de So Paulo

ASSA Associao Santo Antnio

CAC Cooperativa Agrcola de Cotia

CEFOR Centro de Fisioterapia e Ortopedia

CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sade

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IDH ndice de Desenvolvimento Humano

IDH-M ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

IDH-L ndice de Desenvolvimento Humano Longevidade

IDH-R ndice de Desenvolvimento Humano Renda

IDH-E ndice de Desenvolvimento Humano Educao

ILP Instituto Legislativo Paulista

IPRS ndice Paulista de Responsabilidade Social

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

IPVS ndice Paulista de Vulnerabilidade Social

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

ONG Organizao No governamental

PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento Humano

RMSP Regio Metropolitana de So Paulo

SEADE Sistema de Estadual de Anlise de Dados

SECONCI Servio Social da Construo Civil do Estado de So Paulo

SUS Sistema nico de Sade

UBS Unidade Bsica de Sade

UPA Unidade de Pronto Atendimento

12

SUMRIO

INTRODUO ......................................................................................................... 14

CAPTULO 1 ADMINISTRAO PBLICA E POLTICAS PBLICAS ................. 21

1.1 Panorama da Administrao Pblica no Brasil ................................................... 21

1.2 Entendendo as Polticas Pblicas ...................................................................... 22

1.2.2 Participao da populao nas politicas pblicas ................................. 25

2. UM OLHAR SOBRE A MUNICIPALIDADE: DESENVOLVIMENTO NO MBITO

MUNICIPAL ............................................................................................................. 30

2.1 Desenvolvimento e Crescimento nos Municpios ............................................... 30

2.1.2 ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) ........................................... 33

2.1.2.1 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) .................... 36

2.3 Vulnerabilidades sociais dos municpios ............................................................ 37

2.3.1 ndice Paulista de Vulnerabilidade Social - IPVS .................................. 39

2.3.2 ndice Paulista de Responsabilidade Social - IPRS .............................. 44

2.4 A municipalidade de Cotia e a regio da Granja Viana ...................................... 51

2.4.1 A regio da Granja Viana ...................................................................... 55

2.4.2 Granja Viana frente a Caucaia do Alto e Centro ................................... 60

3. AVALIAO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA GRANJA VIANA................... 64

3.1 Sade: aes da administrao pblica do municpio de Cotia .......................... 64

3.2 Educao: aes da administrao pblica do municpio de Cotia .................... 70

3.3 Setores atrados com o crescimento da Granja Viana ........................................ 73

3.4 Setor privado: interesses e principais aes .................................................. 86

3.5 Gesto pblica: investimento na regio da Granja Viana ................................... 90

3.6 Papel dos representantes: cmara dos vereadores e de outras instncias

municipais ................................................................................................................ 94

CONCLUSO .......................................................................................................... 96

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 100

13

APNDICES .......................................................................................................... 107

Apndice A Dados escolares do municpio de Cotia ........................................... 107

Apndice B Dados das Unidades Bsicas e Atendimento de Cotia ..................... 110

Apndice C Nmero de autorizao do Comit de tica para pesquisa .............. 111

ANEXOS ................................................................................................................ 112

Anexo A - Lei Complementar n 207, de 15 de dezembro de 2014. ....................... 112

Anexo B Composio da Cmara de Vereadores do Municpio de Cotia ............ 113

Anexo C Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sade .............................. 114

14

INTRODUO

Questes relativas ao crescimento e ao desenvolvimento socioeconmico dos

municpios tm sido alvo de discusses em vrias esferas da Gesto Pblica. Ao se

pensar em desenvolvimento de uma regio, as estratgias devem buscar

principalmente, a melhoria da qualidade dos servios prestados sociedade. Por um

lado, as aes passam pela captao de investimentos pblicos ou do setor privado,

benefcios fiscais e benfeitorias, por outro buscam formas de suprir as necessidades

de segurana, liberdade, justia social e a proteo ao meio ambiente. Essas aes

devem ser vistas como fatores necessrios para um avano equilibrado que visa

contribuir com o crescimento de uma regio e consequentemente de uma sociedade.

Os centros urbanos brasileiros so, para uma grande parte da sociedade, a

chance de buscar novas oportunidades de trabalho, de sobrevivncia e tambm de

crescimento pessoal. So motivados pela maior complexidade e aprofundamento da

diviso social do trabalho na economia e sociedade brasileira, o que explica o

surgimento cada vez mais rpido e o desenvolvimento acelerado desses centros

urbanos. Segundo dados do IBGE (2000) e IBGE (2004), em 1950 havia dois

grandes centros urbanos no Brasil, as capitais de So Paulo e Rio de Janeiro,

caracterizados por juntos atingirem mais de 4,5 milhes de habitantes, cinco

dcadas depois j atingiam 16,29 milhes de habitantes.

Os centros urbanos considerados metrpoles caracterizam-se por seu grande

porte e por fortes relacionamentos entre os municpios que os compem. So Paulo

o maior conjunto urbano do pas, chamada de Grande Metrpole Nacional e, junto

com suas cidades vizinhas tem cerca de 20 milhes de habitantes (FUNDAO

SEADE, 2015).

Essa aglomerao urbana uma das cinco maiores do mundo, se

equiparando a Tquio, Seul, Cidade do Mxico e Nova Iorque. O efetivo crescimento

do municpio de So Paulo no tem acompanhado o ritmo de crescimento de seus

vizinhos. Esse fato se deve ao envelhecimento populacional progressivo na capital,

onde segundo as projees populacionais realizadas pela Fundao Seade (2015),

havia 6 idosos para cada 10 jovens no ano de 2010, e estimativas apontam que esta

relao passar a ser 12 idosos para cada 10 jovens at o ano de 2030, e para o

15

ano de 2050 a previso de 21 idosos para cada 10 jovens. Ainda segundo a

Fundao Seade, os distritos mais envelhecidos encontram-se no centro expandido

de So Paulo, onde existem condies propcias para a vigncia de um novo regime

demogrfico caracterizado pelo decrscimo populacional (FUNDAO SEADE,

2015, P.1).

Tomando por base o perodo compreendido entre os anos 2000 a 2008, por

exemplo, o crescimento populacional de So Paulo foi de 0,56% ao ano, e este ritmo

baixo se comparado com 1,15% e 0,91% que foram as taxas da dcada de 1980 e

1990 respectivamente, e 4,5% ao ano entre as dcadas de 1930 a 1960.

A reduo no crescimento da populao tem como principais fatores a

diminuio da taxa de fecundidade entre 1980-2006, que passou de 3,17 para 1,92

filhos por mulher. Outro motivo a inverso do fluxo migratrio entre 1980-2000, que

com o maior volume de sada do que entrada tornou-se negativo. Apenas em

distritos mais afastados foram registradas taxas positivas de crescimento

populacional, como leste e sul da capital (Anhanguera, Cidade Tiradentes e

Parelheiros) com 7,9%, 4,6% e 4,1% respectivamente. No mesmo perodo, 55 dos

96 distritos, da rea contgua ao centro expandido da capital que vai de Santana ao

Jabaquara no sentido Norte-Sul e de Artur Alvim Lapa, apresentaram taxas

negativas de crescimento demogrfico. Esses que somavam 4,3 milhes de pessoas

tiveram uma reduo para 4,1 milhes.

O alto fluxo populacional da capital paulista tem levado a ideia de constante

crescimento, mas este fluxo explicado pelos chamados deslocamentos pendulares,

onde moradores de outros municpios se deslocam diariamente para o municpio de

So Paulo (FUNDAO SEADE, 2008).

Segundo o IBGE (2000) a Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP) tinha

uma mobilidade pendular de 1,1 milhes de pessoas e dez anos depois o IBGE

(2010) divulgou um nmero 1,9 milhes de pessoas, confirmando que o municpio

que mais recebe esta populao todos os dias So Paulo.

A evoluo da taxa populacional do municpio de Cotia, que faz parte da

RMSP, foi significativa, pois conforme dados do Censo do IBGE (2010), a populao,

que em 2000 era de 148.987 habitantes, saltou uma dcada depois para 201.150, ou

seja, um crescimento de 35%. Em julho de 2014, o IBGE divulgou a estimativa de

16

225.306 habitantes para o municpio. evidente, pois, que as caractersticas

recentes do municpio de Cotia tm a ver com as recentes transformaes ocorridas

na Regio Metropolitana de So Paulo.

Isso por que Cotia, alm de muito prxima ao Municpio de So Paulo, que

o municpio-polo da RMSP, encontra-se beira da rodovia que faz a interligao

entre a capital e a regio oeste do Estado de So Paulo. Tal localizao sugere que

boa parte do crescimento populacional, acima aduzido, esteja vinculada

mobilidade pendular crescente entre o municpio de So Paulo e os municpios

vizinhos da RMSP, principalmente em relao queles que possuem acesso por

importantes rodovias. Essa uma tendncia bastante observvel nas ltimas

dcadas, devido ao elevado custo dos terrenos, moradias e aluguis na capital

paulista e tambm, e por outro lado, ao surgimento de vrios condomnios fechados.

Em ambos os casos, o crescimento populacional de Cotia, pode estar relacionado (o

que discutiremos mais frente), mudana de pessoas, a esse municpio, que

permanecem, contudo, trabalhando em So Paulo-Capital.

Tais fatos implicam, por sua vez, novas preocupaes gesto pblica

municipal de Cotia. lcito imaginar que ela procure acompanhar tal crescimento

com aes de implantao de nova e maior estrutura viria e novos servios

pblicos, vinculados ao deslocamento. Por tratar-se de uma regio em que a

principal via de acesso uma Rodovia, a Raposo Tavares, gerenciada pelo

Departamento de Estradas e Rodagem (DER), o aumento da necessidade de

deslocamentos, vinculados ao movimento pendular com a capital vai,

necessariamente, induzir a alguns fatores que contribuem para fortes

estrangulamentos virios na regio cotiense. Um fator relevante, para tal, o

crescimento da frota de veculos, gerado pelo aumento da populao residente e,

em parte, de seu poder aquisitivo.

Segundo Denatran1 (2015), a frota de veculos de Cotia no ano de 2001 era

de 33.013 unidades automotoras. Dez anos depois, esse nmero subiu para 87.337

unidades. O ano de 2014 fechou com 125.400 veculos. Um dos motivos, bastante

associado ao aumento da frota de veculos, se deve ao boom imobilirio que trouxe

novos moradores para o municpio.

1 Departamento Nacional de Trnsito site www.denatran.gov.br

17

A Fundao Seade (2010) destacou que Cotia ficou em quarto lugar no

ranking municpio com maior aumento de frota, perdendo apenas para os municpios

de Osasco, Carapicuba e Barueri (todos da Regio Oeste da RMSP e beira,

tambm, de importante rodovia, no caso a Castelo Branco, que liga o estado de So

Paulo ao sul do Pas, que anda paralela Raposo Tavares). Segundo o IBGE

(2010), em nmero de habitantes por veculos, Cotia em 2010 apresentou 2,57,

Barueri (incluindo Santana do Parnaba) 2,24 e Carapicuba 3,30. Um estudo do

IBGE (2010) indicou que a mdia de carros por habitantes nas ruas brasileiras de

2,94. A mdia nacional em 2014 de 2,57 veculos por habitante.

Outro elemento considervel o aprofundamento da deficincia de transporte

pblico, devido a utilizao de apenas um modal, o rodovirio. O municpio de Cotia

conta apenas com uma empresa de transporte que oferece 40 linhas, porm, bairros

distantes do centro do municpio tm deficincia em relao a linhas de nibus. O

transporte alternativo tambm faz parte do cenrio de transporte, incluindo vans e

micro-nibus. Em 2014, aps licitao, a empresa de nibus que operava com

contrato provisrio h vinte anos, teve seu contrato renovado por 10 anos, aps

renovveis por mais 10 anos, o que a torna a empresa de transporte oficial do

municpio (MARQUES, 2014).

Como Cotia depende exclusivamente do transporte rodovirio, uma das suas

dificuldades expanso da Rodovia Raposo Tavares com novas pistas. A rodovia

corta o municpio com apenas trs pistas, em alguns trechos existem somente duas.

A dificuldade tambm causada principalmente pela proximidade de empresas com

a via. Em projetos antigos, a administrao pblica autorizou a construo de

grandes empreendimentos comerciais s margens da rodovia, alm de condomnios

residenciais. Para evitar problemas como estes so necessrias as devidas

correes para acompanhar o crescimento iminente de Cotia. Assim, para alm da

questo viria, prope-se o problema de pesquisa abordado a seguir, tambm

relacionado s novas caractersticas do municpio de Cotia que, por sua vez,

vinculam-se problemtica Regio Metropolitana de So Paulo.

Problema de Pesquisa

Os municpios da Regio Metropolitana de So Paulo, RMSP, foram

impulsionados pelo crescimento habitacional, principalmente pelas pessoas que

18

migraram do Grande Centro Urbano de So Paulo em direo a esses municpios. O

municpio de Cotia teve numa de suas regies, a Granja Viana, um crescimento

populacional mais acelerado e acentuado do que as outras duas regies Centro e

Caucaia do Alto. Segundo Marcos Martinez2, em meados da primeira dcada do

sculo XXI, a Granja Viana comeou a ter aquecimento econmico quando foi

entregue a obra pronta do trecho oeste do Rodoanel Mrio Covas3, fazendo com que

principalmente essa regio fosse alvo de investidores e atrasse novos moradores,

vindos de vrias partes da Regio Metropolitana de So Paulo (MARTINEZ, 2011).

Para Trivelato (2006), Caucaia do Alto tambm recebeu novos

empreendimentos e consequentemente moradores, mas com menos intensidade

que a Granja Viana.

Um dos motivos do crescimento maior da Granja Viana a sua proximidade

com o Municpio de So Paulo. Esta regio o primeiro acesso do municpio de

Cotia atravs da Rodovia Raposo Tavares no sentido Capital-Interior que inicia no

quilmetro 21 da Rodovia Raposo Tavares. A regio tem uma maior concentrao

de turistas de negcios e novos moradores em seus vrios condomnios

(TRIVELATO, 2006, p. 54).

No quilmetro 30 da rodovia, localiza-se a parte central do municpio, o

Centro, como chamado, onde tambm esto concentrados bairros e diferentes

comunidades. No Centro situa-se a administrao pblica com pao municipal,

cmara de vereadores, secretarias municipais, postos estaduais e federais de

atendimento.

A partir do quilmetro 37 comea o acesso Reserva Ambiental do Morro

Grande, tambm pertencente ao municpio de Cotia, nesta reserva tambm existem

nascentes dgua importantes para o abastecimento da regio e municpios vizinhos.

No quilmetro 39, inicia o acesso ao Bairro de Caucaia do Alto, pela estrada que

2 Marcos Martinez, professor e ex-secretrio da Educao de Cotia (2001-2008). Site

www.revistacircuito.info.

3 Tambm conhecido como Rodoanel Metropolitano de So Paulo ou simplesmente Rodoanel, uma

autoestrada de aproximadamente 180 quilmetros, duas pistas e seis faixas de rodagem que est sendo construda em torno do centro da Regio Metropolitana de So Paulo, com a finalidade de aliviar o intenso trfego de caminhes oriundos do interior do estado e das diversas regies do pas e que hoje cruzam as duas vias urbanas marginais da cidade (Pinheiros e Tiet), que provoca uma grave situao de congestionamento urbano. Disponvel em www.gvces.com.br.

http://www.revistacircuito.info/

19

leva o mesmo nome. Esta estrada com cerca de 8 quilmetros de extenso leva at

o centro de Caucaia do Alto onde situa-se a maior parte da zona agrcola deste

municpio, fazendo divisa com os municpios de Ibina e Vargem Grande Paulista.

A Granja Viana tem em sua regio parques industriais que sediam indstrias

de vrios segmentos como fabricao de lustres e luminrias, celulares e

computadores, cosmticos, medicamentos, equipamentos de som, autopeas entre

outros. Alm disso, a Granja Viana tem diversos condomnios residenciais e em sua

maioria so horizontais. Ao longo da Rodovia Raposo Tavares, que corta a regio

concentram-se comrcios, hipermercados, redes de fast-food e um shopping center.

Eixos secundrios interligam a Granja Viana a cidades vizinhas, como Carapicuba,

Embu das Artes, Osasco, Barueri, e So Paulo, eixos esses que so: Avenida So

Camilo, Rua Jos Flix, Jardim da Glria, Parque So Jorge, Estrada do Capuava,

Avenida Jos Giorgi, Estrada Fernando Nobre, e Estrada do Embu (OKA, 2013).

A regio tambm contm centros gastronmicos, locais para prticas de

esportes, clube de golfe, atelis de artistas, parques e um famoso templo budista, o

Zulai e Blia. Desta maneira, percebe-se que cada regio de Cotia tem um aspecto

diferente.

Diante do exposto, o problema que esta pesquisa se prope a analisar o

papel exercido pela administrao pblica, tanto do ponto de vista de sua ao

quanto de sua omisso, na cristalizao de graus diferenciados de desenvolvimento

socioeconmico no municpio. Com isto, pergunta-se: a administrao pblica do

Municpio de Cotia favoreceu o maior desenvolvimento da regio da Granja Viana?

Objetivo geral

O desenvolvimento socioeconmico de uma localidade depende de muitos

fatores, e um desses a atuao efetiva da administrao pblica municipal e suas

polticas pblicas. Com o crescimento visivelmente mais acelerado da Regio da

Granja Viana, evidenciado pelo crescimento de condomnios residenciais e

consequente aumento de comrcios e servios e frotas de veculos, o objetivo geral

deste trabalho verificar se a gesto pblica do municpio de Cotia atua(ou)

efetivamente para suprir as necessidades das diferentes regies que compem este

municpio, e que sero analisadas no decorrer desta dissertao, no sentido de

20

procurar equalizar as condies de vida de seus moradores ou, ao menos, minimizar

as desigualdades existentes, ou seja verificar a existncia e/ou a eficcia de polticas

pblicas gestadas no interior da gesto municipal, voltadas equalizao dos nveis

de desenvolvimento socioeconmico.

Objetivos especficos

Pretende-se com esta dissertao, em termos de objetivos especficos

estudar as seguintes situaes:

a.) Compreender as vinculaes entre Administrao Pblica e Polticas

Pblicas.

b.) Relacionar, por meio da literatura, aspectos da gesto pblica nos

municpios, particularmente do Municpio de Cotia localizado na poro

oeste da RMSP.

c.) Analisar o impacto do crescimento municipal versus gesto pblica na

regio da Granja Viana, Municpio de Cotia, So Paulo.

d.) Observar as aes da gesto pblica municipal de Cotia obedecem a

alguma forma de planejamento voltada a promover o seu desenvolvimento

socioeconmico.

Este trabalho est organizado em trs captulos. No primeiro captulo so

tratados os conceitos de Administrao Pblica e Polticas Pblicas. O segundo

captulo versa sobre de aspectos da municipalidade como as vulnerabilidades

sociais avaliadas atravs de ndices de desenvolvimento humano, e de

responsabilidade social. No terceiro realizada uma avaliao especfica sobre o

desenvolvimento da Regio da Granja Viana, confrontando as aes da

municipalidade atravs da educao, sade e renda.

21

CAPTULO 1 ADMINISTRAO PBLICA E POLTICAS PBLICAS

1.1 Panorama da Administrao Pblica no Brasil

A Administrao Pblica pode ser entendida como o conjunto de atividades

desenvolvidas pelo Estado, voltadas a consecuo do bem coletivo. De forma

subjetiva um conjunto de rgos e pessoas jurdicas a quem atribudo

legalmente o exerccio dessas atividades. Sob aspecto formal, segundo Oliveira

(1975), a Administrao Pblica a manifestao do Poder Pblico, decomposta em

atos jurdico-administrativos dotados da propriedade ainda que de carter provisrio.

Pela Constituio Federal brasileira de 1988 (CF/88, artigo 37), a

administrao pblica o conjunto de normas, leis e funes desempenhadas para

organizar a administrao do Estado em todas as suas instncias e tem como

principal objetivo o interesse pblico, seguindo princpios fundamentais e

constitucionais que so legalidade (onde qualquer ato ter validade se respaldado

pela lei), impessoalidade (a administrao pblica neutra em relao s pessoas

privadas, e em relao a si a responsabilidade imputada ao rgo/pessoa jurdica e

no ao agente pblico), moralidade (obedecer no s lei, mas tambm moral),

publicidade (transparncia da administrao pblica em todos os atos que praticar) e

por fim a eficincia (busca de resultados eficientes e atendimento de interesse

pblico).

Entende-se dessa maneira que as aes que contrariem esses princpios

sero invalidadas, j que a instituio, alterao e atribuio de competncia aos

rgos da administrao pblica devem ser norteadas por leis ou normas

regulamentadoras.

Segundo Meirelles (1994), a primeira vertente da administrao pblica

servir, e a segunda executar, o que imprime nos dois casos a relao de hierarquia

e subordinao, alm da ideia de governar e exercer a vontade com o objetivo de

obter um resultado til a toda coletividade.

Ainda segundo Meirelles (1994), administrar significa tambm planejar e

elaborar aes no sentido de enfrentar os problemas vividos diariamente pela

sociedade, ou seja, elaborar Polticas Pblicas que possam orientar as aes

22

governamentais. E, o estudo da Administrao Pblica em geral, compreendendo a

sua estrutura e as suas atividades, deve partir do conceito de Estado, sobre o qual

repousa toda a concepo moderna de organizao e funcionamento dos servios

pblicos a serem prestados aos administrados (MEIRELLES, 1994, p.55).

Para orientar e organizar o trabalho administrativo pblico, a Teoria da

Burocracia de Max Weber (1864-1920), surgiu com uma forma de organizao

humana que se baseava na racionalidade a fim de garantir a mxima eficincia

possvel no alcance de objetivos. A Burocracia perdeu a sua funo inicial por conta

das anomalias e imperfeies de seu funcionamento, como lentido na resoluo de

problemas, desperdcios de materiais, apego de funcionrios s suas funes e

cargos, alm da falta de eficincia da organizao (CHIAVENATO, 2000). Com o

excessivo apego s disfunes da Burocracia, a Administrao Pblica demonstrou

no ter mudanas substanciais ao longo dos anos, ao contrrio da administrao

empresarial que absorveu melhor a teoria focando na melhoria de processos

administrativos.

No Brasil, a Emenda Constitucional n 19/1998, procurou modificar os

princpios e normas da Administrao Pblica envolvendo servidores e agentes

pblicos, o controle de despesas, das finanas pblicas e do custeio de atividades.

Tal fato pode demonstrar uma intencionalidade da Administrao Pblica, na busca

de sua modernizao, visando solucionar as disfunes da Burocracia. Na base de

tais objetivos encontram-se, pelo menos em sua formulao terica, os princpios da

impessoalidade, da legalidade, da moralidade, da publicidade e da eficincia.

Segundo Harada (2008), a estrutura da administrao pblica tem finalidade

de satisfazer necessidades que so de interesse geral, sob o regime de direito

pblico, em contraposio aos interesses particulares ou coletivos. Para isso so

necessrias as polticas pblicas discutidas a seguir.

1.2 Entendendo as Polticas Pblicas

Segundo Oliveira (2005), atravs das polticas pblicas que h a atuao do

Estado, em seus diferentes nveis, e esta ao estabelece-se a partir de programas

governamentais que tm por objetivos coordenar os meios sua disposio e as

23

atividades privadas, para a realizao de objetivos relevantes e determinados, tanto

sociais, econmicos, como polticos.

Para Vieira (2007, p.4), as polticas pblicas so consideradas atividades

tpicas do Estado Social de direito e consequncia direta da necessidade de

participao social em sua efetivao. Compreende-se dessa maneira que as

polticas pblicas procuram sistematizar os motivos fundamentais e os objetivos que

orientam os programas de governo relacionados resoluo de problemas sociais.

Entre a Sociedade e a Administrao Pblica, segundo Vieira (2007) existem

barreiras e, com as polticas pblicas que estas podem ser rompidas, fazendo com

que a sociedade possa passar a participar da concepo, da deciso e da

implementao do que se julgar necessrio para o desenvolvimento comum.

De acordo com Boneti (2006) apud Vieira (2007), entende-se que a relao

entre o Estado, as classes sociais e a sociedade civil leva ao surgimento de agentes

definidores das polticas pblicas. As polticas pblicas tambm podem ser algo

relacionado com pblico, arte ou a cincia de governar, de administrar e de

organizar.

A expresso polticas pblicas, segundo Vieira (2007) so aes voltadas ao

pblico e que envolvem recursos tambm pblicos. Se pensar numa poltica

governamental, esta pode ser vista como um processo sujeito a presses e

articulaes polticas, ou seja, uma ao intencional de Governo onde o impacto

est dirigido a um segmento majoritrio da populao, ou como um conjunto de

aes ou omisses que manifestam determinada modalidade na interveno do

Estado, em relao a uma questo que seja de interesse para outros atores da

sociedade civil.

Uma poltica pblica tambm pode ser entendida como uma ao do governo

para melhorar o bem-estar ou a qualidade de vida dos cidados. Neste caso a

poltica tem um cunho social que objetiva permitir s pessoas a satisfao de

necessidades que no so levadas em conta pelo mercado, como a

responsabilidade do Estado em atender setores mais pobres que no tm condies

mnimas de custear necessidades mais bsicas.

As polticas pblicas podem ser divididas em distributivas, aquelas que se

acumulam ao longo do tempo e envolvem todos os setores institucionais; em

24

redistributivas, que so as que tm sentido mais amplo e consideram a sociedade

dividida em diferentes classes e setores sociais, e por fim as regulatrias que

envolvem uma deciso de curto prazo a respeito de quem sero os beneficiados

diretos de uma determinada poltica.

Para Boneti (2006) apud Vieira (2007, p.7):

No Brasil, as polticas pblicas muitas vezes beneficiam grupos sociais especficos, regies, municpios, ou seja, so sempre beneficiados os segmentos sociais com maior fora poltica no poder legislativo e com maior fora financeira nos meandros da sociedade civil. Uma poltica pblica aps sair da instncia legislativa e passar pelo setor burocrtico segue em direo a sua operacionalidade, comandada por agentes do partido poltico que se diz autor do projeto. Significa dizer que uma poltica pblica, da elaborao a sua operacionalizao, envolve uma rede de micro poderes contribuindo com o fortalecimento e interesses especficos de cada instncia do poder. As pessoas que entram em contato com as polticas pblicas no decorrer de suas longas trajetrias, no pensam de modo uniforme, no tem a mesma interpretao de interveno na realidade, etc. As polticas pblicas, ao longo de seus percursos, so contaminadas por interesses, inocncias e sabedorias.

Dessa forma, prope-se analisar especificamente uma esfera menor de

atuao das polticas pblicas, como as municipais discutidas a seguir.

1.2.1 Polticas Pblicas Municipais

A CF4/88 trouxe autonomia poltica aos municpios com a elaborao de sua

prpria Lei Orgnica5 e houve uma ampliao da competncia municipal em reas

como poltica urbana e de transportes coletivos.

De acordo com Teixeira (2002, p.6), muitos municpios brasileiros sofrem com

ineficincia administrativa e, a base econmica dos municpios por conta de seus

recursos prprios, no passarem da margem de 5% do total da receita. Com isso a

autonomia para realizar polticas prprias sem a efetiva ajuda do governo federal e

estadual mnima. Para o autor, os prefeitos no assumem os riscos de uma poltica

tributria mais realista, pelo fato de estarem numa base poltico-eleitoral nas elites

4 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988.

5 A Lei Orgnica pode ser considerada como uma espcie de Constituio municipal. Contm regras

de comportamento para o governo e a sociedade do municpio, e no pode contrariar as constituies Federal e Estadual. Ao prefeito, como chefe executivo, cabe fazer cumprir a Lei Orgnica do municpio, sempre observada e fiscalizada pela Cmara de Vereadores. A Lei Orgnica de Cotia contm 232 artigos e sua ltima reviso foi aprovada e publicada em 16/12/2011, disponvel no site www.leismunicipais.com.br.

http://www.leismunicipais.com.br/

25

proprietrias. O que se pode analisar que os municpios tm ampla autonomia para

definir suas polticas e aplicar seus recursos, amparados pelo artigo 30 da CF/88 e

pelas Leis Orgnicas, onde detalhada a responsabilidade do municpio de instituir,

arrecadar impostos sobre servios, predial urbano, transmisso intervivos de bens

imveis e varejo de combustveis lquidos. Ao municpio ainda permitido regular as

matrias conforme peculiaridades locais.

As reas que se colocam como principais objetos de polticas pblicas

municipais so a assistncia social, meio ambiente, habitao, saneamento,

produo, agropecuria, abastecimento alimentar, educao e sade. O municpio

tem competncia comum com o Estado e a Unio para exercer com a cooperao

dessas esferas de poder pela transferncia de recursos, ou cooperao tcnica.

Os municpios sofrem com a transferncia de recursos quando por conta de

um processo de descentralizao desordenado, dependem das chamadas

transferncias negociadas, que por vezes consideram a vinculao partidria dos

prefeitos, vereadores ou deputados ligados aos municpios, entre outros fatores

como posio poltica e prestgio. Conforme Teixeira (2002), as alianas se pautam

mais pelos interesses eleitoreiros e clientelistas. Com isso defende-se que a

descentralizao importante porque significa a transferncia de responsabilidade

da execuo e custeio das polticas para a famlia e a sociedade.

De acordo com Teixeira (2002, p.7), em paralelo mantm-se a transferncia

de subvenes sociais para entidades indicadas, com critrios poltico-eleitorais, por

parlamentares ou outras instncias do poder, pulverizando recursos sem priorizar as

necessidades da populao. Com isso o caminho participar da gesto de

alternativas de polticas pblicas, mesmo sendo um grande desafio para toda a

sociedade, conforme discutido a seguir.

1.2.2 Participao da populao nas politicas pblicas

Ao longo do processo de redemocratizao do Estado percebeu-se um

incremento na participao da sociedade civil, principalmente no campo poltico. As

entidades sem fins lucrativos, criadas especialmente para fiscalizar as polticas

pblicas, e o crescimento do nmero de organizaes so reflexos da democracia

26

brasileira. Assim, a sociedade conseguiu se aproximar do Estado, possibilitando ao

cidado contribuir com a Administrao Pblica por meio de Audincias Pblicas e

Conselhos.

Uma Audincia Pblica, por exemplo, est intimamente ligada s prticas

democrticas, pois a participao da sociedade civil no processo administrativo foi

aprovada pela Lei n 9.784/1999. Trata-se de instrumento de conscientizao

comunitria, funcionando como meio para uma legtima participao das pessoas

nos temas de interesse pblico, e um mecanismo de participao e controle popular.

Para Sales (2001, p. 95), participar ter poder de definir os fins de uma

prtica social, poder que pode ser exercido diretamente ou atravs de mandatos,

delegaes ou representaes. A participao pode ser considerada como a

aprendizagem do poder em todos os lugares e momentos em que as pessoas esto

vivendo e atuando.

Segundo Soares (2002), uma Audincia Pblica, na administrao pblica

funciona como um meio para uma participao legtima dos particulares nos temas

que tm interesse pblico. Uma convocao para uma Audincia Pblica pode

ocorrer por diversos motivos e dentro de diversos segmentos como licitaes,

contratos administrativos, meio ambiente entre outros.

A Audincia obrigatria quando for solicitada pelo Ministrio Pblico, por

entidade civil, ou quando solicitada por cinquenta ou mais cidados. Nesta

solicitao publicado um edital de convocao que pode se transformar em

correspondncia aos que tiverem solicitado e s pessoas necessrias. Todo o

pblico pode participar, tambm um representante legal da equipe da comisso

solicitante e um representante pblico. As manifestaes podem ocorrer oralmente

ou na forma escrita, por pequenos ou grandes grupos de discusso. Ao final so

encaminhadas as propostas aos rgos responsveis aos quais caber aprovao.

Outra forma de participao das organizaes da sociedade civil so os

Conselhos que no Brasil tiveram vrias origens e vrios significados polticos. No fim

da dcada de 1970, alguns governos estaduais como So Paulo, Rio de Janeiro e

Esprito Santo criaram os Conselhos Comunitrios de diferentes categorias e grupos

sociais bem como de moradores de periferia das grandes cidades. No mesmo

27

perodo surgiram os Conselhos Populares com objetivo de pressionar os rgos

governamentais para a realizao de suas reinvindicaes.

A fora desses conselhos conseguiu que na CF/88 fosse oficializada a

Constituio do princpio da Gesto Democrtica no artigo 194, inciso VI. Em

decorrncia desta, foram criados os Sistema nico de Sade (SUS) e o Estatuto da

Criana e do Adolescente (ECA) em 1990. A Lei Orgnica da Assistncia Social

(LOAS) em 1993 prescreveu a criao de Conselhos de Sade, Conselho das

Crianas e dos Adolescentes e o Conselho de Assistncia Social, alm dos

Conselhos exigidos pelas leis orgnicas dos municpios.

Segundo Sales (2001), uma das finalidades dos Conselhos era substituir a

democracia parlamentar representativa por uma democracia mais ampliada. No

Brasil a gesto compartilhada por representantes governamentais e civis, onde h

os representantes do poder executivo, legislativo e judicirio; e os representantes da

sociedade civil. No primeiro so representantes dos interesses gerais da sociedade

e nos segundo o interesse defender e realizar interesses especficos.

Para Sales (2001), admite-se que os Conselhos no deveriam definir

diretrizes de polticas numa concepo mais ampliada, e sim encaminhar as

deliberaes das conferncias para os rgos que devem execut-las, desta

maneira, no atuariam diretamente na definio de prioridades das polticas pblicas,

mas ao nvel de planejamento e fiscalizao das atividades que garantiriam a

eficcia das deliberaes das conferncias e plenrias.

No nvel municipal, os Conselhos so formados por representantes da

sociedade civil e por representantes da prefeitura local tm o intuito de contribuir na

definio de planos de ao das cidades por meio de reunies e discusses. Cada

conselho atua de maneira distinta devido a adaptao realidade de cada municpio

ou regio, mas todos devem defender os direitos dos cidados. Alm das reunies

os conselhos podem realizar conferncias periodicamente no propsito de avaliar e

apresentar novas diretrizes e solues para o funcionamento pleno da poltica de

seu municpio. Os Conselhos so instrumentos importantes de polticas pblicas e

alguns destes possuem carter fiscalizador sobre as contas pblicas e tm a

incumbncia de emitir parecer conclusivo. H tambm aqueles deliberativos, que lhe

compete o carter decisrio sobre as suas funes. Como consultivos, os conselhos

28

tm a responsabilidade de julgar um determinado assunto que lhe for apresentado.

Como normativos reinterpretam as normas em vigor e tambm tm a funo de criar

novas normas. Os propositivos propem aes ao poder executivo.

O grande desafio uma criao de espaos pblicos governamentais e civis

que sejam geridos por representantes governamentais e representantes da

sociedade civil que busquem formas de conviver com interesses muitas vezes

antagnicos, mas ceder outras vezes entendendo que recuos e perdas so tticas

para fazer avanar em momentos apropriados a perspectiva de um projeto de real

democracia para a sociedade, pois de acordo com Rocha (2012), os Conselhos

municipais enfrentam obstculos para cumprir suas propostas devido a resistncia

do poder executivo em expor suas decises ao debate aberto com a opinio pblica.

Com isso os Conselhos correm o risco de serem alvos de tentativas de

instrumentalizao por parte de governantes que podem torn-los meros veculos de

legitimao de suas polticas.

Como poltica pblica, os conselhos so uma conquista popular que podem

perecer por conta da ineficincia de governantes. Os espaos criados com os

Conselhos tm o intuito de se tornarem efetivos no planejamento, controle social e

execuo de polticas pblicas comprometidas com a construo da cidadania.

Os problemas se tornam mais graves quando em municpios menores a

sociedade pouco ou nada organizada, pois as pessoas tm uma participao

menos qualificada e meramente formal. Para solucionar esses problemas preciso o

funcionamento de plenrias que agreguem tema e movimentos com a realizao de

aes conjuntas e um fluxo contnuo de informaes.

Aos conselhos tambm cabe a discusso de gerao de receitas prprias por

conta da ineficincia de tributos arrecadados em geral. A sociedade e os conselhos

enfrentam problemas complexos necessitando de maior qualificao dos seus

participantes e priorizao de espaos que ofeream maiores potencialidades de

transformao das relaes entre sociedade e Estado.

Alm das Audincias Pblicas e Conselhos Municipais como instrumentos de

polticas pblicas no se pode esquecer ou ignorar a atuao das Organizaes No

Governamentais (ONGs) que podem ser componentes dos conselhos no papel de

29

assessoria, capacitao e sistematizao de dados e experincias bem sucedidas

os movimentos e entidades na formulao de alternativas de polticas pblicas.

Com todos esses instrumentos aliados ao controle do Estado o desafio

fortalecer a sociedade civil e a democratizao do Estado.

Tais consideraes estabelecidas at aqui, acerca da relao entre polticas,

polticas pblicas e participao popular na definio das polticas pblicas, possuem

uma funo instrumental para esse trabalho, na medida em que serviro como

elemento de avaliao da ao da administrao municipal cotiense, em suas aes,

no sentido da equalizao das condies de desenvolvimento entre as partes

constituintes do municpio.

Na prxima seo, deste trabalho, procurar-se- definir as relaes entre

Desenvolvimento e Crescimento com um olhar voltado para a municipalidade.

Procurando observar, entre outros elementos, o papel, bem como a capacidade, do

municpio em gestar e aplicar polticas de desenvolvimento e, tambm, de construir

formas mais equitativas entre os seus setores (regionais, sociais, institucionais)

constituintes.

30

2. UM OLHAR SOBRE A MUNICIPALIDADE: DESENVOLVIMENTO NO MBITO

MUNICIPAL

2.1 Desenvolvimento e Crescimento nos Municpios

Antes de analisar os processos de desenvolvimento e crescimento dos

municpios preciso entender os significados de cada um desses termos. O termo

desenvolvimento possui diferentes significados e a etimologia da palavra se vincula

s expresses des + envolver, ou seja, tirar o que envolve ou oculta. Nesse sentido,

entende-se por desenvolvimento o processo de abrimento ou desembrulhamento,

isto , o fato de dar a conhecer alguma coisa at ento ignorada (PIZZI, 2005, P.1).

O desenvolvimento em geral um processo dinmico de melhoria que implica

crescimento quantitativo e avano qualitativo, que traz mudanas e transformaes

na economia de um pas ou regio. Um pas ou regio com rendas baixa e mdia

so considerados em desenvolvimento se estiver passando por um incremento em

sua atividade industrial e possuir um IDH (ndice de Desenvolvimento Humano) entre

mdio e elevado (OLIVEIRA e LIMA, 2003. P.31).

Por outro lado, preciso se atentar para a diferena existente entre

desenvolvimento e crescimento. O desenvolvimento envolve assuntos polticos,

humanos e sociais, a gerao de riquezas e melhorias sociais com o intuito de

distribu-las da melhor forma para ampliar a qualidade de vida de toda a sociedade.

O crescimento um fator isolado, pode refletir apenas em determinadas

camadas sociais, no conduz automaticamente justia e igualdade sociais, se

relaciona ao crescimento de renda nacional per capita, mas no haver

desenvolvimento se no houver a correta distribuio dos recursos.

Em pases, ou regies, economicamente perifricos6, a economia geralmente

no se baseia na industrializao, baseada em atividades primrias. So

considerados subdesenvolvidos, pois tm baixa taxa de sobrevivncia na natalidade

6 Pases que tm economias pouco desenvolvidas, possuem pouca influncia no cenrio internacional.

So os chamados subdesenvolvimento, nos quais a maioria da populao continua lutando pela obteno de condies mnimas de sobrevivncia e dignidade, e, principalmente em que o poder e a renda concentram-se nas mos de um nmero cada vez menos representativo de pessoas (GARRAFA e PESSINI, 2004).

31

de sua populao, bem como baixa expectativa de vida. A moradia, infraestrutura e

educao so ruins, a renda concentrada em minoria da populao. A qualidade

de vida baixa e os jovens tm baixa escolaridade (OLIVEIRA e LIMA, 2003).

O crescimento pode ser condio necessria, embora no suficiente, para o

desenvolvimento humano, para o combate pobreza e para a construo de

melhores condies de vida, j que conforme Sandroni (2007), a pobreza um

estado de carncia em que vivem indivduos ou grupos populacionais

impossibilitados, por insuficincia de rendas ou de bens de consumo, de satisfazer

as necessidades bsicas de alimentao, moradia, vesturio, educao e sade.

Para Sen (2000, p.18) o Brasil marcado por desigualdades sociais e

regionais, como a perpetuao da misria, da ignorncia e de enfermidades

facilmente superveis pelo acesso a servios pblicos de saneamento e

abastecimento. Tais problemas se espalham diferentemente pelo territrio brasileiro,

concentrando-se mais diretamente em algumas regies.

O desenvolvimento, assim, pode ser visto como um processo de

aperfeioamento relativo a um conjunto de valores. Tal processo, no entanto, leva,

necessariamente, a controvrsias acerca do efetivo significado do conceito de

desenvolvimento socioeconmico. Tais controvrsias originam-se justamente no

balizamento e seleo desses valores. Isso porque, a economia uma cincia social

que lida com valores, que podem mudar de sociedade para sociedade e de acordo

com os interesses de diferentes grupos sociais, alm das consideraes culturais.

Por isso, possvel considerar que desenvolvimento no deve ser confundido ou

identificado apenas com crescimento econmico (OLIVEIRA e LIMA, 2003).

O desenvolvimento possui dimenses tanto econmicas quanto sociais,

polticas e culturais. O termo desenvolvimento socioeconmico aquele que se

dirige qualidade de vida das pessoas atravs de melhorias tanto na economia

quanto na sociedade. aquele que permite a identificao quantitativa e qualitativa

da melhoria econmica e social. O desenvolvimento socioeconmico , pois,

desejado pela sociedade, e crescente a aplicao de polticas pblicas no sentido

de combater a pobreza e estabelecer a promoo de melhorias para a populao

mais carente.

32

Segundo Oliveira e Najberg (2000), os ndices so necessrios, pois inovam

ao avaliar o nvel de atendimento das necessidades humanas, consideram aspectos

importantes como vida saudvel e longevidade, acesso educao, bem como a

quantificao de desigualdades de desenvolvimento humano existentes entre pases,

estados, municpios ou mesmo entre bairros.

No ano de 2000, a ONU (Organizaes das Naes Unidas), em assembleia

geral adotou medidas que, segundo Rezende, Slomski e Corrar (2005) ficaram

conhecidas como Metas de Desenvolvimento do Milnio com objetivo de buscar

entre tantas outras metas criar uma parceira global para o desenvolvimento, embora

no indicando quais seriam os meios para cumprimento das metas estabelecidas.

At ento tamanho do PIB era a prtica de avaliar o bem-estar de uma populao,

mas o progresso humano e evoluo das condies de vida no poderiam ser

mensurados apenas por dados econmicos, eram necessrias formas que

buscassem medidas socioeconmicas mais abrangentes que pudessem incluir

outras dimenses fundamentais da vida e condio humana.

O ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem sido uma das formas de se

medir dimenses importantes de uma maneira padronizada de avaliao e medida

do bem-estar de uma populao combinando componentes bsicos do

desenvolvimento humano como educao, longevidade e renda. Antes do IDH j

existiam indicadores como PIB e PIB per capita, mas eram de natureza restrita e

simplria, chamados de Indicadores de Primeira Gerao, j que estavam voltados

para quantificaes de natureza econmica. O PIB per capita, por exemplo, foi

indicador utilizado, a partir da dcada de 1950 em nvel internacional e combinava

crescimento econmico com dinmica demogrfica (GUIMARES E JANUZZI, 2005).

Com o PIB per capita ao longo do tempo constatou-se que o crescimento

econmico no provocava por si s uma evoluo no nvel de qualidade de vida da

populao, e isso levou a busca de novas informaes e indicadores que fossem

capazes de melhor refletir a melhoria do bem-estar da populao. Uma de suas

desvantagens era a incapacidade de refletir a distribuio de renda interna em cada

unidade territorial no captando aspectos essenciais como a educao, sade, meio

ambiente entre outros.

33

Nos anos 1960 o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento das Naes Unidas

(Unrisd) realizou estudos para a construo de um indicador quantitativo com nvel

de vida que mais tarde viria influenciar a definio do IDH. Desta forma surgiram os

Indicadores de Segunda Gerao onde o IDH despontou como o ndice que tinha

mais potencial para indicar o bem bem-estar de uma populao, e com maiores

chances de substituir de vez o PIB per capita.

Na prxima seo ser possvel entender os mecanismos iniciais do ndice de

Desenvolvimento Humano at chegar a mensurao das condies humanas da

populao dos municpios brasileiros.

2.1.2 ndice de Desenvolvimento Humano (IDH)

O desenvolvimento humano um processo de ampliao das escolhas das

pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que

elas desejam ser (PNUD7, 2013).

A abordagem do desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as

pessoas, suas oportunidades e capacidades. A renda um fator importante, mas

como um dos meios, no como seu fim, o foco o ser humano, com suas

caractersticas sociais, culturais e polticas que influenciam em sua qualidade de vida

(PNUD, 2013).

De acordo com Guimares e Jannuzzi (2005), desde 1990 o PNUD vem

publicando relatrios anuais sobre as diversas dimenses do desenvolvimento

humano, sob a liderana do economista paquistans Mahbub ul Haq, e do

economista indiano Amartya Sen8. O Relatrio de Desenvolvimento Humano traz

anualmente o clculo do IDH Global revelando a situao relativa dos pases

segundo as trs dimenses: longevidade, educao e renda.

Para o PNUD (2013) o IDH se diferencia de outros enfoques existentes

porque no compartilha a Teoria do Capital Humano9 que considera as pessoas

7 Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento Humano. Extrado do site www.pnud.org.br.

8 Amartya Sem ganhou o Prmio Nobel de Cincias Econmicas de 1998.

9 A origem da Teoria do Capital Humano est ligada ao surgimento da disciplina Economia da

Educao, nos Estados Unidos, em meados dos anos 1950. Theodore W. Schultz, professor do departamento de economia da Universidade de Chicago poca, considerado o principal

34

como meio de produo, e tambm dos que consideram as pessoas como

beneficirias do desenvolvimento e no como participantes.

O desenvolvimento humano vai alm das necessidades bsicas, envolve

participao social, gnero, direitos humanos, segurana, globalizao, novas

tecnologias, crescimento econmico, democratizao, pobreza e padro de

consumo. O IDH permite a comparao entre diferentes regies ou diferentes

momentos no tempo.

No plano de polticas pblicas, o IDH tem uma importante limitao

relacionada ao superdimensionamento do ndice num processo de negligenciamento

do entendimento que, um indicador nada mais do que a medida operacional do

conceito (GUIMARES E JANUZZI, 2005, P.79).

Desta forma, a avaliao da melhoria das condies de vida ou

desenvolvimento humano reduz-se a uma apreciao da variao do indicador

construdo, j que no havendo modificao do indicador, no haveria eventuais

avanos ou retrocessos das condies de vida ou desenvolvimento humano, ainda

que fossem realizados ou no esforos de polticas para mudana social em uma

dimenso no contemplada pela medida.

Para Rezende, Slomski e Corrar (2005) o IDH uma contribuio que

combina componentes bsicos do desenvolvimento humano, onde um dos pilares, a

Longevidade, reflete as condies de sade da populao e mensura a esperana

de vida ao nascer. J na Educao, outro pilar, considerada a taxa de

alfabetizao de adultos com a taxa de matrcula nos nveis de ensino fundamental,

mdio e superior.

O poder de compra da populao baseado no PIB per capita ajustado ao

custo de vida local compem outro pilar do IDH que a Renda. Essas trs

dimenses so envolvidas e transformadas numa combinao onde varia de 0 a 1, e

quanto mais prximo de 1 o valor do indicador, maior ser o desenvolvimento

humano naquele local, o que leva a suposio de que quanto maiores os

investimentos da administrao pblica nesses segmentos, maior ser o

formulador dessa disciplina e da ideia de capital humano. Surgiu da preocupao em explicar os ganhos de produtividade gerados pelo fator humano na produo. Em 1968, Schultz recebeu o prmio Nobel de Economia pelo desenvolvimento da teoria do capital humano. Disponvel no site

www.histedbr.fe.unicamp.br.

35

desenvolvimento humano do municpio, estado, regio ou pas. Na figura 1 so

demonstrados os pilares mencionados que compem o IDH.

Figura 1: Trs principais indicadores, dimenses avaliados pelo IDH. Fonte: ONU (2009).

Alm dos fatores mencionados h que se lembrar de outros itens que tambm

devem ser considerados para o desenvolvimento humano, que no so abrangidos

pelo IDH, como democracia, participao, equidade e sustentabilidade.

Quadro 1: Critrios do ndice De Desenvolvimento Humano - IDH

De 0,800 a 1 Muito Alto

De 0,700 a 0,799 Alto

De 0,600 a 0,699 Mdio

De 0,500 a 0,599 Baixo

De 0,000 a 0,499 Muito Baixo

Fonte: Atlas Brasil 2013 Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

O governo federal brasileiro utiliza o IDH-M que o ndice de

Desenvolvimento Humano Municipal que tambm foca a Longevidade, Educao e

Renda, porm, voltado realidade de cada municpio. Foi publicado em 1998 e

ajustado ao IDH Global (PNUD, 2013). No quadro 1 so apresentados os critrios do

ndice.

36

2.1.2.1 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)

O Brasil um pas composto por um Distrito Federal e 26 estados, dos quais

fazem parte 5.570 municpios. Dada a extenso e as diferenas regionais, o IDH foi

reajustado para IDH-M (ndice de Desenvolvimento Humano Municipal) que reflete a

realidade dos municpios e as especificidades regionais do desenvolvimento humano

no pas. O IDH-M composto de trs dimenses do desenvolvimento humano:

Longevidade, Educao e Renda. Este segue as mesmas dimenses do IDH Global,

mas adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e disponibilidade dos

indicadores nacionais.

O IDH-M leva em conta a oportunidade de viver uma vida longa e saudvel

medida pela expectativa de vida ao nascer, calculadas a partir do Censo

Demogrfico do IBGE10; de ter acesso ao conhecimento medido pela composio de

indicadores de escolaridade da populao adulta (18 anos ou mais com fundamental

completo) e do fluxo escolar da populao jovem (crianas entre 5 e 7 anos

frequentando a escola, jovens entre 11 e 13 anos frequentando os anos finais do

fundamental, jovens entre 15 e 17 anos com ensino fundamental completo e entre

18 e 20 anos com ensino mdio completo), e ter um padro de vida (medido pela

renda municipal per capita, que a renda mdia de cada residente de determinado

municpio) que garanta as necessidades bsicas representadas pela sade,

educao e renda (PNUD, 2013).

Com relao ao municpio de Cotia, objeto deste estudo, localizado na Regio

Metropolitana de So Paulo (RMSP), este ocupa a 128 posio no ranking do IDH-

M de todos os municpios brasileiros com 0,780 de acordo com o ltimo

levantamento oficial divulgado pelo PNUD (2013).

Perante os municpios paulistas, Cotia ocupa a 66 posio. Conforme

detalhado no Quadro 2, o IDH-M do municpio foi considerado alto com 0,780. H

que se observar que no levantamento referente Longevidade (IDH-L) e Educao

(IDH-E) o resultado foi respectivamente de 0,851 e 0,807, ndices considerados

como muito alto. O pilar representado pela renda (IDH-R) teve o resultado de 0,789,

10 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatsticas.

37

considerado alto. De acordo com publicaes do PNUD (2013), o pilar que tem

mais crescido no municpio de Cotia, comparando os dados do ano 2010 em relao

ao ano 2000, a Educao (IDH-E) com 45,67%, na Longevidade (IDH-L) o

crescimento foi de 6,64% e na Renda (IDH-R) o aumento foi de 4,64%. No ndice

geral (IDH-M) o crescimento de 12,55%.

Quadro 2: IDH-M do municpio de Cotia

Critrios 2010 2000

IDHM: ndice Geral 0,780 (alto) 0,693

IDH-R: Renda 0,789 (alto) 0,754

IDH L: Longevidade 0,851 (muito alto) 0,798

IDH E: Educao 0,807 (muito alto) 0,554

(baixo)

Fonte: Atlas Brasil 2013 Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O IDH-M atualizado a cada dez anos, as verses disponibilizadas pelo

PNUD so dos anos 2000 e 2010, pois o ndice se baseia em dados do Censo

Demogrfico, e tambm depende de indicadores de movimentao lenta e que

apresentam modificaes notveis aps mudanas de geraes como educao da

populao adulta e expectativa de vida.

2.3 Vulnerabilidades sociais dos municpios

Tentar mensurar o ndice de Desenvolvimento Humano por municpios foi

uma tentativa do governo federal brasileiro de detectar e criar formas para diminuir

as desigualdades locais, levando em conta as culturas e aspectos diferentes de cada

regio. Com isso surgiram indicadores de vulnerabilidades sociais, com um olhar

sobre os municpios brasileiros levando em conta os recursos acumulados ou

ausentes por indivduos, famlias e comunidades de forma simultnea s

oportunidades acessveis para empreg-los.

As possibilidades de superao ou minimizao das vulnerabilidades partem

da compreenso que essa condio vem de causas e consequncias distintas

38

inerentes s condies de vida e dos riscos sociais que atingem vrios segmentos

populacionais.

Para se definir as efetivas condies de vida e possibilidades de mobilidade

social deve-se confrontar as caractersticas individuais e familiares com as

possibilidades de desfrute dos bens e servios ofertados pelo Estado e a sociedade.

Conforme Sen (1998) preciso saber no s a quantidade de dinheiro que as

pessoas possuem ou que carecem, mas se tambm se tm capacidade de conduzir

as suas vidas. Os indicadores que devem ser analisados para verificar o grau de

vulnerabilidade de certa populao e o risco social das famlias precisam passar pelo

crivo de dados pertinentes a constituio e relaes familiares, a estrutura

econmica, nvel de escolaridade, questes como sade da famlia, caracterizao

do domicilio, antecedentes criminais do indivduo ou de algum membro da famlia,

violncia famlia, prostituio entre outros aspectos que se julgarem importantes.

A infraestrutura e os servios urbanos oferecidos devem ser analisados, como

a condio da habitao onde reside a famlia, o saneamento bsico, iluminao,

coleta de lixo e acesso ao domiclio.

A educao envolve informaes como o nvel de escolaridade do chefe de

famlia, atraso escolar, crianas que no frequentam a escola e o ndice de

analfabetismo.

Na sade os principais indicadores podem ser a existncia de deficientes,

gravidez de pr-adolescentes e adolescentes, dependentes de lcool e drogas e

necessidade de atendimento psiquitrico.

Com relao renda e o mercado de trabalho, aspectos importantes so o

rendimento familiar per capita, a taxa de dependncia envolvendo idoso sem

rendimento ou jovens e adultos desempregados, trabalho infanto-juvenil de jovens

com menos de 16 anos, despesas com as necessidades bsicas como habitao,

alimentao e medicamentos (SOUZA, OLIVEIRA, e MINERVINO, 2013).

Outros dados no so desprezados como, por exemplo, a existncia de

membros da famlia cumprindo pena na justia (recluso), situaes de violncia

domstica como maus tratos, negligncia ou mesmo abandono.

39

Diante da necessidade de mensurar melhor as vulnerabilidades, alm do IDH-

M, foi criado um ndice que pudesse mensurar as vulnerabilidades dos municpios de

cada estado. No caso do Estado de So Paulo, foi desenvolvido o ndice Paulista de

Vulnerabilidade Social, que tratado na prxima seo.

2.3.1 ndice Paulista de Vulnerabilidade Social - IPVS

O ndice de vulnerabilidade social em cada estado brasileiro permite aos

governos um detalhamento sobre as condies de vida de sua populao,

especialmente a deteco das camadas mais pobres de cada local, identificando e

localizando as pessoas com maiores necessidades a fim de criar e inclu-las em

programas que as levem ao convvio em sociedade de forma digna.

No Estado de So Paulo, o Sistema de Estadual de Anlise de Dados,

tambm chamado de Fundao Seade, um rgo vinculado Secretaria de

Planejamento e Gesto do Estado de So Paulo, que tem a incumbncia de

disseminar as anlises e estatsticas socioeconmicas e demogrficas do estado,

utilizando de diversas fontes, como o IBGE, disponibilizando um grande acervo que

permite a caracterizao de diferentes aspectos da realidade socioeconmica do

estado de Estado de So Paulo em suas regies e municpios. Os gestores pblicos

podem monitorar e avaliar as polticas pblicas de seus municpios por meio das

metodologias empregadas pela Fundao Seade.

A grande contribuio da Fundao Seade o desenvolvimento do ndice que

tem a tarefa de mapear as condies do territrio e mensurar as suas

vulnerabilidades sociais. Trata-se do ndice Paulista de Vulnerabilidade Social, o

IPVS, que vem auxiliando o governo estadual na aplicao mais precisa das suas

polticas pblicas.

O IPVS um ndice, atualizado a cada dez anos, que orienta de forma mais

precisa as possveis intervenes do governo nos municpios numa abordagem que

envolve a pobreza tratada como condio multidimensional, como o nvel de

escolaridade, acesso aos servios pblicos, vida familiar, o territrio e privao

econmica.

De acordo com Souza, Oliveira, e Minervino (2013) a expanso das grandes

cidades brasileiras manchada pela expanso perifrica com assentamentos de

40

baixas condies, distantes dos servios pblicos e da oferta de trabalho, alm de

provocar prejuzos ao meio ambiente devido os assentamentos desordenados. A

desigualdade persiste mesmo com avanos nas polticas pblicas para o combate

pobreza e intensas transformaes sociais. O IPVS divide os municpios paulistas

em 7 grupos, conforme o Quadro 3, levando em conta dimenses socioeconmicas,

o ciclo de vida familiar, e a situao e tipo de setores por grupos. Na dimenso

socioeconmica, separa em: baixa, mdia, e muito alta. No ciclo familar separa

famlias jovens, adultas e idosas em setores urbanos, em aglomerados subnormais e

em setores rurais.

O ltimo levantamento para o IPVS foi baseado no ano de 2010, no qual o

Estado de So Paulo que, dos 40,6 milhes de habitantes, cerca de 6,7 milhes

viviam em reas habitadas por famlias identificadas nos grupos com alta ou muito

alta vulnerabilidade, tanto no espao urbano como no rural (SEADE, 2013).

Quadro 3: Grupo do IPVS 2010 setores censitrios com mais de 50 domiclios

Estado de So Paulo 2010

Grupos

Dimenses

IPVS 2010 Situao e tipo de setores

por grupo Socioeconmica Ciclo de vida familiar

1 Muito alta Famlias jovens, adultas e idosas

Baixssima vulnerabilidade

Urbanos e rurais no especiais e subnormais

2 Mdia Famlias adultas e idosas

Vulnerabilidade muito baixa

Urbanos e rurais no especiais e subnormais

3 Mdia Famlias jovens

Vulnerabilidade baixa

Urbanos e rurais no especiais e subnormais

4 Baixa Famlias adultas e idosas

Vulnerabilidade mdia

Urbanos no especiais e subnormais

5 Baixa Famlias Jovens em setores urbanos

Vulnerabilidade alta

Urbanos no especiais

6 Baixa Famlias jovens residentes em aglomerados subnormais

Vulnerabilidade muito alta

Urbanos subnormais

7 Baixa Famlias idosas, adultas e jovens em

setores rurais

Vulnerabilidade alta

Rurais

Fonte: Fundao Seade (2012)

41

Segundo IPVS11 (2010), o municpio de Cotia, que integra a RMSP, em 2010,

neste mesmo levantamento possua 200.243 habitantes, e analisando as condies

de vida destes, a renda mdia domiciliar era de R$ 2.999,00. Dentre os habitantes,

15,9% dos domiclios no ultrapassavam meio salrio mnimo per capita e a idade

mdia dos chefes de domiclios era de 44 anos. Os chefes de domiclios com menos

30 anos representava 15% do total. Dentre as mulheres responsveis pelo domiclio

15,4% tinham at 30 anos de idade, e a parcela com crianas com menos de 6 anos

equivalia a 9% do total da populao.

A situao apresentada grfico 1 e dados do quadro 3 resumem as situaes

de menor ou maior vulnerabilidade s quais a populao pode estar exposta.

Grfico 1: Distribuio da populao - IPVS

Fonte: IBGE. Censo Demogrfico; Fundao Seade

O grupo 1 representa a baixssima vulnerabilidade, que era a situao de 5,9%

(11.771) da populao de Cotia, o rendimento mdio dessa populao era de

R$ 10.233,00. Com relao aos indicadores demogrficos, a idade mdia dos

responsveis pelos domiclios era de 47 anos, e aqueles com menos de 30 anos

representavam 7,2%. Dentre as mulheres chefes de domiclios com at 30 anos

eram 9,5% e a parcela de crianas com idade at 6 anos equivalia a 7,6% da

populao do grupo 1.

11 Disponvel no site indices-ilp.al.sp.gov.br.

42

O grupo 2 composto por pessoas consideradas em faixa de vulnerabilidade

muito baixa. Cotia nesse grupo tinha at o ltimo levantamento 47.351 pessoas,

totalizando 23,6%. O rendimento mdio desse grupo era de R$ 3.871,00, a idade

mdia era de 47 anos, e aqueles com menos de 30 anos representavam 10,1%,

mulheres chefes de domiclios com 9,7% com at 30 anos de idade, e crianas com

at 6 anos representando 7,6% do total da populao desse grupo.

O grupo 3, onde considerado o fator vulnerabilidade baixa, representava

60.358 pessoas do municpio de Cotia, onde a renda mdia dos domiclios era de

R$ 2.489,00. Demograficamente a idade mdia dos chefes de domiclios era de 42

nos, 19% dos responsveis tinham menos de 30 anos, dentre as mulheres 19,7% de

chefes de domiclios com at 30 anos e 9,4% eram crianas at 6 anos de idade.

No grupo 4, a vulnerabilidade foi considerada baixa (setores urbanos), a

populao desse grupo era composta por 33.693 pessoas, a renda mdia era de

R$ 1.814,00. A mdia de idade dos responsveis pelos domiclios era de 46 anos,

aqueles com menos de 30 anos representavam 12,4%. Dentre as mulheres chefes

de domiclios com at 30 anos o percentual era de 8,9% do total da populao desse

grupo.

O grupo 5, onde a vulnerabilidade foi considerada alta (setores urbanos),

composto por 45.800 pessoas, representando 22,9% do total. Dos chefes de

domiclios a renda mdia era de R$ 1.580,00, idade mdia de 43 anos, com menos

de 30 anos representavam 18,8%, e dentre as mulheres 18,9% e crianas de at

anos com 10,3%.

Por fim o grupo 6, onde a vulnerabilidade foi considerada muito alta

(aglomerados subnormais), com 1.450 pessoas representando 0,7% do total. O

rendimento mdio dos domiclios era de R$ 1.052,00, idade mdia dos responsveis

era de 40 anos, os com menos de 30 anos representavam 22,7%, e dentre as

mulheres chefes 23,9% com at 30 anos, e crianas at 6 anos com 14,3% do total

da populao desse grupo. O municpio de Cotia no foi enquadrado no grupo 7.

O que se pode analisar sobre os dados apresentados que 47,2% da

populao do municpio de Cotia, at os dados oficiais levantados pelo IPVS em

2010, viviam em alta ou muito alta vulnerabilidade social e que 36% viviam em baixa

ou baixssima vulnerabilidade e 16,85% em mdia vulnerabilidade. Esses dados so

43

importantes para analisar dentro do municpio quais os locais em que predominam

os maiores problemas sociais enfrentados pela populao, e quais devem ser as

medidas cabveis administrao pblica para minimizar esses problemas.

Quadro 4: Indicadores que compem o IPVS do Municpio de Cotia - 2010

Indicadores

Total

ndice Paulista de Vulnerabilidade Social

1. Baixssima

2. Muito Alta

3. Baixa

4. Mdia (urbanos)

5. Alta (Urbanos)

6. Muito Alta (aglomerados Subnormais)

7. Alta (rurais)

Populao (n.o abs.)

200.423 11.771 47.351 60.358 33.693 45.800 1450 -

Populao (%) 100,0 5,9 23,6 30,1 16,8 22,9 0,7 -

Domiclios particulares 58.960 3.774 1.097 18.035 9.571 12.861 352 -

Domiclios particulares permanentes 58.924 3.771 14.089 18.289 9.565 12.858 352 -

Nmero mdio de pessoas por domiclios 3,4 3,1 3,3 3,3 3,5 3,6 4,1 -

Renda domiciliar nominal mdia (em reais de agosto de 2010) 2.999 10.233 3.871 3.871 1814 1580 1052 -

Renda domiciliar per capita (em reais de agosto de 2010) 885 3.287 1.159 1.159 518 444 255 -

Domiclios com renda per capita de at um quarto do salrio mnimo (%) 3,7 0,8 2,1 2 4,8 6,9 17,6 -

Domiclios com renda per capita de at meio salrio mnimo (%) 15,9 2,4 10,0 10,0 21,2 25,8 45,5 -

Renda mdia das mulheres responsveis pelo domiclio (em reais de agosto de 2010) 1.083 3.674 1.447 1.447 667 583 418 -

Mulheres responsveis com menos de 30 anos (%) 15,4 9,5 9,7 9,7 10,6 18,9 23,9 -

Responsveis pelo domiclio (em anos) 15,0 7,2 10,1 10 12,4 18,8 22,7 -

Responsveis pelo domiclio alfabetizados 94,6 99,3 96,4 96 92,6 91,4 84,9 -

Idade mdia do responsvel pelo domiclio (em anos) 44,0 47,0 47,0 42,0 46,0 43,0 40,0 -

Crianas com menos de 6 anos no total de residentes (%) 9,0 7,6 7,6 9 8,9 10,3 14,3 -

Fonte: IBGE. Censo Demogrfico; Fundao Seade

Diferente do IPVS que atualizado a cada dez anos, foi criado o IPRS (ndice

Paulista de Responsabilidade Social), um indicador atualizado a cada dois anos,

capaz de mensurar as condies que impactam na qualidade de vida da populao

paulista. Esse ndice foi apresentado pela Fundao Seade juntamente com a

44

Assembleia Legislativa do Estado de So Paulo (ALESP) e o ILP (Instituto

Legislativo Paulista), e baseado nos parmetros do IDH-M, conforme detalhado na

prxima seo.

2.3.2 ndice Paulista de Responsabilidade Social - IPRS

No ano 2000, precisamente na realizao do Frum So Paulo Sculo XXI12,

a Assembleia Legislativa do Estado de So Paulo props o ndice Paulista de

Responsabilidade Social (IPRS) em parceria com a Fundao Seade.

O intuito do IPRS foi permitir pensar o desenvolvimento do Estado de So

Paulo levando em considerao os dados sobre o desenvolvimento humano dos

municpios, objetivando a melhoria da qualidade de vida das pessoas por meio de

aes da administrao pblica. A atualizao do IPRS atualmente est na sua

oitava edio. A primeira ocorreu no ano 2000 apresentando os resultados dos anos

de 1992 e 1997. As edies dos anos 2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012

divulgaram os dados respectivamente dos anos 2000, 2002, 2004, 2006, 2008 e

2010. A cada dois anos seus dados so divulgados para fornecer subsdios para

definio de prioridades e auxiliar na formulao e implementao de polticas

pblicas.

Para a Assembleia Legislativa, o IPRS direcionado aos administradores

pblicos para que se utilizem deste ndice como instrumento para poderem melhor

fiscalizar a eficincia dos gastos de recursos pblicos e as condies de vida da

populao de seus municpios.

O IPRS atualiza os dados num espao de tempo bem menor que o IDH-M e o

IPVS, conforme mencionado anteriormente, pois esses estes dependem de

informaes censitrias.

12 Foi instalado em agosto de 1999 e funcionou at dezembro de 2000 por meio do Projeto do Projeto

de Resoluo 3/99. Na cerimnia de instalao foram empossados os 58 conselheiros representantes da sociedade civil, pertencentes a diversos setores sociais, com diferentes tendncias polticas e credos religiosos. O propsito foi construir um frum com um carter plural do ponto de vista social, poltico, ideolgico, tnico e religioso. Disponvel no site da Assembleia Legislativa de So Paulo (www.al.sp.gov.br).

45

Na edio de 2004 foram incorporadas algumas mudanas como a gerao

do indicador escolaridade baseado em registros administrativos. Antes s

consideravam as informaes do Censo Demogrfico divulgado pelo IBGE. Isto

impossibilitava a sua reproduo para os anos intercensitrios.

Outra alterao foi nas faixas etrias consideradas em seus componentes

com a finalidade de garantir a adequao dos indicadores realidade dos

municpios paulistas.

Para a edio de 2008 o IPRS sofreu pequenas modificaes no clculo do

indicador escolaridade adequando implantao do ensino fundamental de durao

de 9 anos, propores de adolescentes de 15 a 17 anos com ensino fundamental

completo, e de jovens de 18 a 19 anos com ensino mdio completo.

A edio de 2012 tambm trouxe alteraes como o destaque nova

estrutura de ponderao no cmputo do indicador de riqueza municipal e a

substituio de um dos componentes do indicador de longevidade. As modificaes

de certa forma impedem a comparao de uma edio com a outra, devido os

ajustes mencionados.

Para possibilitar uma anlise comparativa de uma edio com a anterior, os

dados de 2008 foram recalculados, utilizando a taxa de mortalidade de pessoas

entre 60 e 69 anos, substituindo a taxa de mortalidade de pessoas maiores de 60

anos das edies anteriores. Essa alterao possibilita medir o risco de morte na

primeira dcada da terceira idade, interpretada como mortalidade precoce de idosos.

Na edio atual, de 2014, foi mantida a mesma forma de clculo da edio de 2012.

Com o IPRS, a ALESP e o ILP procuram fortalecer a participao popular e

de controle social dos gastos pblicos, fornecendo assim a ampliao e da

compreenso sobre as aes governamentais pela populao.

O IPRS sintetiza a situao de cada municpio nessas trs dimenses

riqueza, escolaridade e longevidade - mas tambm a combinao de indicadores

classifica 645 municpios do Estado de So Paulo dividindo-os em 5 grupos onde os

critrios para a construo dos grupos foi baseado em tcnicas de estatstica

multivariada considerando os padres similares em termos de condies de vida.

Para o indicador riqueza so utilizados registros administrativos fornecidos pelas

46

Secretarias de Estado dos Negcios da Fazenda e da Energia do Estado de So

Paulo e do Ministrio do Trabalho e Emprego.

A longevidade baseada em projees populacionais e dados do Registro

Civil produzidos pela Fundao Seade. J a escolaridade resulta de dados

censitrios produzidos pelo IBGE e censos escolares realizados pelo INEP13. Os

Quadro 5 e 6 e indicam a formao de cada um desses grupos.

Quadro 5: Sntese das variveis selecionadas e estrutura de pesos adotados,

segundo dimenses do IPRS.

Dimenses Componentes Contribuio para

o indicador sinttico

Riqueza

Municipal

Consumo residencial de energia eltrica, por ligao 25%

Consumo de energia eltrica na agricultura, no comrcio e nos servios, por regio

25%

Remunerao mdia dos empregados com carteira assinada e do setor pblico

25%

Valor adicionado fiscal per capita 25%

Longevidade

Taxa de mortalidade perinatal 30%

Taxa de mortalidade infantil 30%

Taxa de mortalidade de pessoas de 15 a 39 anos 20%

Taxa de mortalidade de pessoas de 60 a 69 anos 20%

Escolaridade

Mdia da proporo de alunos da rede pblica que atingiram o nvel adequado nas provas de portugus e matemtica (5.o ano do ensino fundamental)

31%

Mdia da proporo de alunos da rede pblica que atingiram o nvel adequado nas provas de portugus e matemtica (9.o ano do ensino fundamental)

31%

Taxa de atendimento escolar na faixa de 4 a 5 anos 19%

Taxa de distoro idade-srie no ensino mdio 19%

Fonte: Fundao Seade. ndice Paulista de Responsabilidade Social

13 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

47

Conforme o Quadro 6, para mensurar o IPRS, os municpios paulistas foram

divididos em 5 grupos e cada um desses tem suas caractersticas. O Grupo 1

formado por municpios com o nvel de riqueza elevado e bons indicadores sociais,

onde a maioria destes esto localizados aos longo dos principais eixos rodovirios

do Estado como a Rodovia Anhanguera e Rodovia Presidente Dutra, ambas

interceptam o municpio de So Paulo. So 70 municpios que formam o Grupo 1,

abrigando 9,9 milhes de pessoas, ou 23,6% da populao estadual. Os municpios

de So Bernardo do Campo, Santo Andr, So Jos dos Campos e Sorocaba so os

4 municpios paulistas mais populosos que fazem parte desse grupo.

Quadro 6: Critrios adotados para a formao dos gr