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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
DOUTORADO EM ENFERMAGEM
GESILANI JLIA DA SILVA HONRIO
INTERVENO FISIOTERAPUTICA EM IDOSAS
SUBMETIDAS A TRATAMENTO CIRRGICO PARA CNCER
DE MAMA
FLORIANPOLIS
2014
GESILANI JLIA DA SILVA HONRIO
INTERVENO FISIOTERAPUTICA EM IDOSAS
SUBMETIDAS A TRATAMENTO CIRRGICO PARA CNCER
DE MAMA
Tese de doutorado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem do Centro de Cincias
da Sade, da Universidade Federal
de Santa Catarina, como requisito
para a obteno do Grau de Doutor
em Enfermagem.
Profa. Orientadora: Dra. Silvia
Maria Azevedo dos Santos
rea de concentrao: Filosofia e
Cuidado em Sade e Enfermagem
FLORIANPOLIS
2014
Dedico este trabalho a minha maior
incentivadora! Desde que eu era
muito pequena, dava-me fora e
garra para alcanar meus objetivos.
V Maria, sei que ests comigo e
que continuas a me cuidar. Este
trabalho e esta etapa de minha vida
dedico a voc. Obrigada por todo
o carinho e estmulo!
AGRADECIMENTOS
s minhas queridas participantes, mulheres guerreiras e que se
dispuseram a trilhar comigo este caminho de muito esforo, mas com
muitas conquistas. Obrigada pela confiana e carinho nesta trajetria,
vocs me fizeram crescer, alm de profissionalmente, pessoalmente.
por mulheres como vocs que cada vez tenho mais interesse e vontade
em estudar o universo feminino.
s minhas estimadas alunas Saionara, Keyla e Dbora, minhas
auxiliares e companheiras, que me ajudaram e foram essenciais nos
atendimentos.
s professoras, que compuseram a banca examinadora, Dra.
Denise Guerreiro, Dra. Anke Bergmann, Dra. ngela Alvarez, Dra.
Karina Hammerschmidt, assim como s professoras presentes na
qualificao, Dra. Silvia Nassar e Dra. Odala Brggmann. Agradeo
pela disponibilidade e contribuies. Vocs so exemplo de
profissionais, educadoras e mulheres, a quem tenho muita admirao.
Fico lisonjeada de t-las presentes neste momento especial de minha
vida. Agradeo especialmente minha coorientadora de corao,
professora Dra. Soraia Tonon da Luz, que alm de sempre me incentivar
uma pessoa que admiro e que tenho um carinho imenso.
Agradeo Professora Dra. Evanguelia Kotzias Atherino dos
Santos, que me apoiou na defesa como presidente da banca
examinadora, auxiliando-me neste momento importante, contribuindo
de forma to especial.
minha orientadora maravilhosa, Professora Dra. Silvia Maria
Azevedo dos Santos, que me auxiliou, guiou e me mostrou novos
caminhos e perspectivas, construindo, em conjunto comigo, esta
pesquisa. Agradeo tambm pelo apoio em todos os momentos, desde
que nos conhecemos, e pela possibilidade de ser sua orientanda, assim
como pela sua confiana em mim.
Aos membros do Grupo de Estudos sobre Cuidados em Sade de
Pessoas Idosas (GESPI), grupo acolhedor e no qual pude aprender cada
vez mais sobre o processo do envelhecimento. Agradeo pelas ajudas,
pelas experincias e discusses nos nossos encontros.
Aos colegas da Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC), em especial do Laboratrio de Biomecnica, local que iniciei
meus experimentos como pesquisadora, ainda na graduao como
bolsista de iniciao cientfica. Sem o estmulo de vocs com certeza
no estaria nesta fase de minha trajetria acadmica. Agradeo
especialmente: Professor Ms. Mrio Csar de Andrade, meu eterno
orientador, que sempre se mostra disposto a me auxiliar em todos os
momentos; Professor Dr. Aluisio Otavio Vargas Avila, orientador do
meu curso de mestrado e quem me apresentou pesquisa cientifica; e
Professora Dra. Deyse Borges Machado, pelos seus ensinamentos e
ajuda em todos os sentidos.
Aos queridos colegas da Maternidade Carmela Dutra da Secretaria de
Estado da Sade de Santa Catarina (SES/SC), pelos anos vivenciados,
pelas experincias adquiridas com vocs, pelo acolhimento que tiveram
comigo e o carinho que me transmitem. Agradeo especialmente s
minhas amigas da UTI Neonatal, pela nossa parceria, pelos momentos
de alegrias que passamos, por todo o apoio e incentivo que sempre me
deram. Especialmente s queridas Karine, Rosimary, Ceclia e Janete,
que alm de colegas de trabalho so amigas para todas as horas.
Aos amigos do Centro Universitrio Estcio de S, local que
iniciei minha vida profissional e que fiz muitas amizades. Agradeo a
todos que torceram por mim nesta construo de minha vida acadmica
e a todos que de uma forma ou de outra me ajudaram a conseguir passar
por esta fase. Agradeo, especialmente, minha chefinha e amiga
Professora Rita de Cssia Teodoroski, por me estimular e sempre se
mostrar disponvel a me ajudar. Tambm agradeo ao meu novo chefe
e amigo Professor Jackson Gullo, por toda a fora nesta etapa final do
doutorado.
Aos meus amigos de longa data e amigos que fiz recentemente,
mas que igualmente me fazem ser uma pessoa abenoada pelo carinho e
amor de todos vocs. Agradeo pelo alento, estmulo, palavras de
conforto, choros, risadas, cumplicidade, carinho. Vocs foram essenciais
nestes quatro anos de formao e so fundamentais em minha
existncia. Amo todos vocs!
minha amiga Janaina Medeiros de Souza, que desde que nos
conhecemos na Estcio construmos uma relao de parceria, carinho e
apoio. Obrigada querida amiga por estar sempre comigo!
Ao falar de amizade, quero agradecer minha grande amiga,
companheira, parceira, comadre e incentivadora Karina Brongholi.
Obrigada cumas por todos os momentos que trilhamos juntas e que
iremos trilhar. Obrigada pela parceria no trabalho, onde sempre me
apoiaste, e na vida. Obrigada por me deixar fazer parte de sua histria!
A todos os meus familiares, pelo apoio e amor, em especial ao
meu tio, amigo e compadre Gilzo da Silva, que em vrios momentos
desta trajetria e da minha vida soube me dizer palavras de conforto,
assim como por todos os momentos maravilhosos vivenciados ao seu
lado.
minha querida irm Maria Eduarda, pelo seu carinho e amor,
assim como minhas amadas cunhadas, Micheline e Melissa, que so
como irms para mim. Obrigada pela convivncia maravilhosa e pelo
cuidado que sempre tiveram comigo e com minha famlia. Agradeo s
minhas lindas sobrinhas Brenda e Valentina, por trazerem alegria s
nossas vidas. Tambm agradeo aos meus sogros, Luiz e Snia, que
sempre esto presentes, ajudando no que for necessrio.
Aos meus pais, Austregsilo e Rosani, pela ateno, amor,
carinho e por todos os estmulos e incentivos. Tenho muita gratido a
vocs, pela educao que me deram, mas especialmente pelos valores
que me ensinaram.
Ao meu marido Luiz Felippe, pelo companheirismo e por todos
os momentos que passamos juntos nestes quase 20 anos de convivncia.
Obrigada por acreditar em mim e ser o meu maior incentivador.
Agradeo pelo amor, compreenso e apoio! Te amo!
Ao amor maior de minha vida, Maria Fernanda, minha eterna
pequena. Obrigada querida filha por existir, dando-me tanto orgulho, e
por ser esta menina especial, carinhosa, amorosa, querida. Obrigada por
ser esta filha to companheira e que sempre que estava cansada ou
desanimada me fazia ter foras para lutar e para continuar os meus
objetivos. Tudo que fiz e tudo que fao pensando em voc. Te amo
demais!
E a Deus, fora que me ilumina, guiando-me e protegendo-me!
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da interveno
fisioteraputica a idosas submetidas a tratamento cirrgico para cncer
de mama. Caracterizado por abordagem quanti-qualitativa, sendo a
reviso integrativa outro mtodo de investigao utilizado. A abordagem
quantitativa volta-se a um estudo de carter srie de casos. O referencial
terico associado abordagem qualitativa baseia-se na antropologia da
sade. A pesquisa ocorreu junto a pacientes oriundas de tratamento
cirrgico realizado na Maternidade Carmela Dutra (MCD), sendo a
amostra inicial composta por nove mulheres, cinco finalizaram a
interveno. O laboratrio de Biomecnica da Universidade do Estado
de Santa Catarina (UDESC) foi o local para a realizao das avaliaes
fsicas, sendo feitas no primeiro encontro (AV1), aps 15 atendimentos
(AV2) e aps 30 atendimentos (AV3). Foram verificadas a condio
cutnea e linftica, amplitude de movimento, circunferncia dos
segmentos superiores, sensibilidade cutnea e aspectos de dor. A
interveno foi iniciada aps a AV1, ocorrendo de uma a duas vezes por
semana, com durao de uma hora, sendo feitos 30 atendimentos no
ambulatrio de fisioterapia da MCD. Foi realizada entrevista
semiestruturada ao final dos 30 encontros. A reviso integrativa ocorreu
atravs da seleo bibliogrfica nas bases: Literatura Latino-Americana
em Cincias da Sade (LILACS), Sistema Online de Busca e Anlise de
Literatura Mdica (MEDLINE), PUBMED, Scientific Electronic
Library Online (SCIELO), Cumulative Index to Nursing and Allied
Health Literature (CINAHL) e Scopus; atravs da combinao dos
descritores (DeCS): mastectomy, physiotherapy, aged; mastectoma, fisioterapia, anciano; mastectomia, fisioterapia, idoso. Foram includos
21 estudos para compor a reviso integrativa. Na anlise dos dados
quantitativos, utilizou-se estatstica descritiva. Para as comparaes das
variveis da avaliao fsica entre segmentos, assim como nos trs
momentos de avaliao, foi utilizada estatstica inferencial atravs do
teste U de Mann-Whitney, nvel de significncia de 0,05. Para os dados
qualitativos, a tcnica de anlise foi a proposta operativa de Minayo
(2004), tambm utilizada para a anlise dos dados da reviso integrativa.
Como resultados, houve melhora do aspecto cicatricial e da condio
drmica. Sobre a circunferncia dos segmentos superiores, na avaliao
inicial, no houve diferena superior a 1,5 cm entre segmentos e
praticamente todos os valores do membro atribudo cirurgia foram
maiores que o membro contralateral, sem significncia estatstica. Para a
condio da sensibilidade cutnea, ao incio, os limiares percebidos
foram altos e na avaliao final foi evidente a melhora do padro da
sensibilidade cutnea, inclusive cicatricial. Para a amplitude de
movimento do ombro, na primeira avaliao, todos os valores do
membro homolateral cirurgia foram inferiores ao membro
contralateral, com diferena estatisticamente significativa. Na avaliao
final, os valores do segmento homolateral cirurgia, mesmo com
aumento em relao ao incio, permaneceram inferiores ao segmento
contralateral. Sobre a dor, na avaliao inicial, ocorreu o seu maior
relato, sendo atribuda, principalmente, ao fator sensitivo. Na avaliao
intermediria houve reduo expressiva (domnio sensitivo p=0,049 e
escore total p=0,036), e trs das cinco participantes que terminaram a interveno j no a apresentavam. Os resultados qualitativos foram
apresentados atravs de dois eixos temticos Enfrentamento do
diagnstico e tratamento do cncer de mama de mulheres idosas e O processo do tratamento fisioteraputico de mulheres idosas com cncer
de mama e suas repercusses. Considera-se, ao final do estudo, a importncia do atendimento a estas mulheres, com melhora de variveis
fsicas que destacam o efeito positivo da fisioterapia a este grupo. Um
fator que chamou ateno foram as desistncias (quatro participantes), o
que demonstrou que um suporte familiar e acompanhamento aos
atendimentos foi essencial na finalizao da interveno. Atravs dos
resultados quantitativos, assim como pelas percepes referenciadas
pelas mulheres, importante repensar a assistncia, focando a
interveno para possveis potencialidades destas mulheres, trabalhando
atravs de um atendimento integral, envolvendo fatores culturais que
demonstraram o que era primordial na assistncia, como a recuperao
funcional e a possibilidade do trabalho domstico. Outro ponto pensar
em atendimentos com tempo de acompanhamento mais curto, pois neste
grupo de mulheres, com 15 atendimentos houve melhora expressiva de
sua condio fsica inicial. Porm, este atendimento mais curto no deve
estar distante do acompanhamento sistemtico, e devem ser
considerados fatores essenciais para o sucesso da assistncia, como um
vnculo adequado.
Descritores: Neoplasia de mama; Mastectomia; Fisioterapia; Idoso.
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue evaluar los efectos de la intervencin de
la fisioterapia en mujeres de la tercera edad, bajo tratamiento quirrgico
contra el cncer de mama. Est caracterizado por abordaje
cuantitativo/cualitativo, siendo la revisin integradora otro mtodo de
investigacin utilizado. El abordaje cuantitativo se vuelca a un estudio
casi prctico. El referencial terico, asociado al abordaje cualitativo, se
basa en la antropologa de la salud. La investigacin se llev a cabo con
nueve pacientes que provenan de un tratamiento quirrgico, realizado
en la Maternidad Carmela Dutra (MCD). El laboratorio de Biomecnica
de la Universidad del Estado de Santa Catarina (UDESC) fue el lugar
donde se llev a cabo las evaluaciones fsicas que se realizaron en el
primer encuentro (AV1), luego de 15 atenciones (AV2) y despus de 30
atenciones (AV3). En todas las ocasiones se verificaron la condicin
cutnea, la amplitud de movimiento, la circunferencia de los segmentos
superiores, la sensibilidad cutnea y los aspectos del dolor. La
intervencin propuesta se inici luego de AV1, una o dos veces por
semana, con una duracin de una hora, siendo realizadas 30 atenciones
en el consultorio de fisioterapia de la MCD. Se realiz una entrevista
parcialmente estructurada al finalizar los 30 encuentros. La revisin
integradora se produjo a travs de la seleccin de una bibliografa,
basada en la Literatura Latinoamericana en Ciencias de la Salud
(LILACS), en el Sistema Online de Bsqueda y Anlisis de la Literatura
Mdica (MEDLINE), PUBMED, Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature
(CINAHL) y Scopus; a travs de la combinacin de los descriptores (DeCS): mastectoma, fisioterapia y ancianidad. Se incluyeron 21
estudios para componer la revisin integradora. En el anlisis de los
datos cuantitativos se utiliz la estadstica descriptiva. Para comparar las
variables de la evaluacin fsica entre segmentos, as como en las tres
etapas de la evaluacin, se utiliz la estadstica de inferencia a travs del
test U de Mann-Whitney, con un nivel de relevancia de 0,05. Para los
datos cualitativos la tcnica de anlisis se utiliz la propuesta operativa
de Minayo (2004), tambin usada para el anlisis de los datos de la
revisin integradora. Como resultado, hubo una mejora en el aspecto de
la cicatrizacin y de la condicin cutnea. Sobre la circunferencia de los
segmentos, en la evaluacin inicial, no hubo, en general, una diferencia
superior a 1,5cm entre los segmentos. Prcticamente todos los valores
del miembro atribuidos a la ciruga fueron mayores que el miembro
contralateral, sin resultados significativos. Respecto a la condicin de la
sensibilidad cutnea, al inicio, los umbrales observados fueron altos. En
la evaluacin final se evidenci una mejora del padrn atribuido a la
sensibilidad cutnea, incluso en la cicatriz. En relacin a la amplitud del
movimiento del hombro en la primera evaluacin, todos los valores del
miembro homolateral a la ciruga fueron inferiores al miembro
contralateral, marcando una diferencia significativa, estadsticamente.
En la evaluacin final, los valores del segmento homolateral a la ciruga
permanecieron inferiores al segmento contralateral, incluso con un
incremento en relacin al inicio. En la evaluacin inicial se produjo un
mayor relato respecto al dolor, siendo atribuido principalmente al factor
sensitivo. En la evaluacin intermedia hubo una reduccin expresiva
(dominio sensitivo p=0,049 y puntuacin total p=0,036), y 3 de las 5
participantes que finalizaron la intervencin ya no lo presentaban en ese
momento. Los resultados cualitativos se presentaron a travs de dos ejes
temticos Enfrentamiento del diagnstico y tratamiento del cncer de
mama en mujeres de la tercera edad y El proceso del tratamiento fisioteraputico en mujeres de la tercera edad con cncer de mama y su
impacto. Se considera, al final del estudio, la importancia de la
atencin a estas mujeres, con una mejora de las variables fsicas, que
destacan el efecto positivo de la fisioterapia a este grupo. Un factor que
llam la atencin fue la desercin, lo que demostr que la ayuda familiar
y el acompaamiento a las consultas fue esencial para completar las 30
atenciones. De esta forma, a travs de los resultados cuantitativos, as
como por las percepciones referenciadas por las mujeres, es importante
repensar en la asistencia, enfocndose en la intervencin para las
posibles potencialidades de estas mujeres, trabajando a travs de una
atencin integral, involucrando factores culturales, que demostraron que
era primordial en la asistencia, como la recuperacin funcional y la
posibilidad del trabajo domstico. Otra cuestin es pensar en atenciones
con tiempo de acompaamiento ms corto, pues en este grupo de
mujeres, con 15 atenciones hubo mejora considerable de su condicin
fsica inicial. Aunque esta atencin ms corta no deba estar distante del
acompaamiento sistemtico y deban considerarse factores esenciales
para el xito de la asistencia, como un vnculo adecuado.
Descriptores: neoplasia de mama; mastectoma; fisioterapia;
ancianidad.
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the effects of a
physiotherapeutic intervention for elderly women undergoing surgical
treatment for breast cancer. It is characterized by quanti qualitative
approach, being an integrative review, another research method used.
The quantitative approach returns to a study with multicase character.
The theoretical framework associated with the qualitative approach is
based on the Anthropology of Health. The study was conducted with
patients from surgical treatment performed in the Maternity Carmela
Dutra (MCD), being the sample composed of 9 women and 5 finilized
interventation. The Biomechanics laboratory of the State University of
Santa Catarina (UDESC) was the location for the implementation of
physical assessments, being made in the first meeting (AV1), after 15
visits (AV2) and after 30 visits (AV3). At all times, the skin condition,
range of motion, circumference of upper segments, skin sensitivity and
aspects of pain were checked. The proposed intervention was initiated
after the AV1, occurring 1 to 2 times per week, with a duration of 1
hour, being made 30 visits in outpatient physiotherapy at the MCD.
Semi-structured interviews were carried out at the end of the 30
meetings. The integrative review occurred through the selection in
bibliographic databases: Latin American Literature in Health Sciences
(LILACS), Online System of Search and Analysis of Medical Literature
(MEDLINE), PUBMED, Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature
(CINAHL) and Scopus; through the combination of the descriptors
(DeCS): mastectomy, physiotherapy, aged; mastectoma, physiotherapy, anciano; mastectomy, physiotherapy, elderly. There were 21 studies
included, which composed the integrative review. In the analysis of the
quantitative data, descriptive statistics were used. For the comparisons
of the variables of the data in the physical assessment between
segments, as well as at the three assessment points, was used inferential
statistics using the Mann-Whitney U-test, significance level of 0.05. For
qualitative data, the technique of analysis was the proposal operative
Minayo (2004), also used for the data analysis of the integrative review.
As a result, there was improvement of healing aspect and skin condition.
On the circumference of the segments, in the initial evaluation there was
no, in terms of average difference greater than 1.5 cm between
segments. Almost all the values of the member assigned to surgery were
larger than the contralateral limb, without significance. For the skin
sensitivity condition, at the beginning, the perceived thresholds were
high. In the final evaluation, there was a clear improvement in the
pattern assigned to skin sensitivity, including healing. For the range of
motion of the shoulder, at the first evaluation, all the values of the limb
ipsilateral to surgery were lower than the contralateral limb, with
statistically significant difference. In the final evaluation, the values of
the segment ipsilateral to surgery, even with an increase in relation to
the beginning, remained lower than the contralateral segment. Regarding
pain, in the initial evaluation, occurred the greatest report, being
attributed mostly to sensory factor. In the mid-term evaluation there was
a significant reduction of pain complaint (sensory domain (p= 0.049)
and total score (p= 0.035), and 3 of the 5 participants who completed the
intervention no longer had pain at this time. The qualitative results were
presented by two thematic axes "Coping with the diagnosis and
treatment of breast cancer in elderly women" and "The process of physiotherapeutic treatment of older women with breast cancer and its
effects". Is considered at the end of the study, the importance of attending to these women, with improvement of physical variables,
highlighting the positive effect of physical therapy for this group. A
factor that drew attention was the withdrawals, which demonstrated that
a family support and monitoring the care was essential in the completion
of 30 sessions. Thus, by means of the quantitative results, as well as the
perceptions referenced by women, focusing on intervention for possible
potential of these women, working through a comprehensive care,
involving cultural factors that showed what was of the utmost
importance in assisting in this older group, such as the functional
recovery and the possibility of domestic work. Another point is to think
about visits with a shorter follow-up time, because in this group of
women, with 15 visits there has been significant improvement in their
physical condition. However, this shorter service should not be far from
systematic monitoring, and should be considered essential factors for the
success of the assistance as an adequate bond.
Descriptors: Breast Cancer; Mastectomy; Physiotherapy; Elderly.
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Monofilamentos Semmes-Weinstein .................................... 61 Figura 2 - Esquema da demarcao para a avaliao da sensibilidade
cutnea................................................................................................... 65 Figura 3 - Organograma com as fases da coleta de dados, Florianpolis,
2014. ...................................................................................................... 68 Figura 4 - Fluxograma das etapas da reviso integrativa, Florianpolis,
2014. ...................................................................................................... 69 Figura 5 - Esquema indicativo dos eixos temticos e categorias
relacionadas anlise qualitativa. ......................................................... 73
MANUSCRITO 1
Figura 1 - Grfico dos tipos de estudo dos artigos selecionados na
pesquisa (2005-2013). ........................................................................... 87
MANUSCRITO 2
Figura 1 - Grfico da frequncia de alteraes drmicas e cicatriciais nos
3 momentos de avaliao da pesquisa ................................................. 114 Figura 2 - Grfico da frequncia dos relatos associados aos
monofilamentos por quadrantes da regio preservada e comprometida na
AV1. .................................................................................................... 117 Figura 3 - Grfico da frequncia dos relatos associados aos
monofilamentos por quadrantes da regio preservada e comprometida na
AV2. .................................................................................................... 118 Figura 4 - Grfico da frequncia dos relatos associados aos
monofilamentos por quadrantes da regio preservada e comprometida na
AV3. .................................................................................................... 119 Figura 5 - Grfico dos escores associados condio de dor, dos 4
dominios do questionrio, nos 3 momentos de avaliao. .................. 122
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Especificao dos Monofilamentos ..................................... 66
MANUSCRITO 1
Quadro 1 - Autores, anos, ttulos, objetivos principais e tipos de estudo
dos artigos selecionados na pesquisa (1 ao 5 artigo), 2005-2007. ...... 82 Quadro 2 - Autores, anos, ttulos, objetivos principais e tipos de estudo
dos artigos selecionados na pesquisa (6 ao 13 artigo), 2008-2010. .... 83 Quadro 3 - Autores, anos, ttulos, objetivos principais e tipos de estudo
dos artigos selecionados na pesquisa (14 ao 21 artigo), 2011-2013. .. 85
LISTA DE TABELAS
MANUSCRITO 2
Tabela 1 - Dados de identificao, histrico cirrgico e do
acompanhamento fisioteraputico ....................................................... 113 Tabela 2 - Valores mdios da circunferncia dos segmentos superiores,
para cada regio avaliada, nos trs momentos da avaliao ................ 115 Tabela 3 - Valores das amplitudes de movimento do ombro nos 3
momentos de avaliao ....................................................................... 120 Tabela 4 - Valores comparativos de amplitude de movimento entre as
avaliaes ............................................................................................ 121
MANUSCRITO 3
Tabela 1 - Caractersticas das participantes......................................... 144
MANUSCRITO 4
Tabela1 - Caractersticas das participantes da pesquisa. ..................... 168
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................ 27
2 SUSTENTAO TERICA .......................................................... 33
2.1 PROCESSO DE VIVER, TER SADE, ADOECER E CUIDAR-SE
NA PERSPECTIVA ANTROPOLGICA ........................................... 33
2.2 O CNCER DE MAMA E ASPECTOS ANTROPOLGICOS ..... 38
3 REVISO DE LITERATURA........................................................ 47
3.1 CNCER DE MAMA: FATORES DE RISCO E TRATAMENTO
CIRRGICO ......................................................................................... 47
3.2 PRINCIPAIS MORBIDADES FSICO-FUNCIONAIS
ASSOCIADAS AO TRATAMENTO CIRRGICO DO CNCER DE
MAMA .................................................................................................. 50
4 MTODO .......................................................................................... 57
4.1 TIPO DE ESTUDO ......................................................................... 57
4.1.1 Pesquisa de campo ...................................................................... 57
4.1.2 Pesquisa bibliogrfica ................................................................ 58
4.2 LOCAL DA PESQUISA ................................................................. 58
4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ................................................... 59
4.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................... 59
4.4.1 Abordagem quantitativa ............................................................ 59
4.4.2 Abordagem qualitativa .............................................................. 62
4.4.3 Reviso integrativa da literatura .............................................. 62
4.5 COLETA DE DADOS ..................................................................... 62
4.5.1 Abordagem quantitativa ............................................................ 62
4.5.2 Abordagem qualitativa .............................................................. 67
4.5.3 Reviso integrativa da literatura .............................................. 68
4.6 VARIVEIS ................................................................................... 70
4.6.1 Abordagem quantitativa ............................................................ 70 4.7 ANLISE DOS DADOS ................................................................. 71
4.7.1 Dados quantitativos .................................................................... 71
4.7.2 Dados qualitativos ...................................................................... 72
4.7.3 Reviso integrativa da literatura .............................................. 73
4.8 ASPECTOS TICOS ...................................................................... 73
5 RESULTADOS ................................................................................. 75
5.1 MANUSCRITO 01: MORBIDADES FSICAS E TENDNCIAS DE
TRATAMENTO FISIOTERAPUTICO PARA MULHERES IDOSAS
SUBMETIDAS CIRURGIA PARA CNCER DE MAMA: UMA
REVISO INTEGRATIVA ................................................................. 77
5.2 MANUSCRITO 02: O PROCESSO DE RECUPERAO FSICO-
FUNCIONAL DE MULHERES IDOSAS APS TRATAMENTO
CIRRGICO PARA CANCER DE MAMA ...................................... 105
5.3 MANUSCRITO 03: ESTOU COM CNCER: PERCEPO DAS
MULHERES IDOSAS SOBRE A DESCOBERTA DO CNCER DE
MAMA E SEU TRATAMENTO ........................................................ 139
5.4 MANUSCRITO 04: MULHERES IDOSAS E O PROCESSO DE
VIVER APS A CIRURGIA PARA TRATAMENTO DO CNCER
DE MAMA: CORPO, MOVIMENTO E FISIOTERAPIA ................. 163
6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................ 185
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................ 189
APNDICE A Ficha de avaliao ................................................ 206
APNDICE B Roteiro entrevista semiestruturada ..................... 209
APNDICE C Termo de consentimento livre e esclarecido....... 210
ANEXO A Interveno = protocolo fisioteraputico .................. 212
ANEXO B - Questionrio de dor mcgill ......................................... 214
ANEXO C - Parecer aprovao CEP - Universidade Federal de
Santa Catarina .................................................................................. 215
ANEXO D - Parecer aprovao Cep Maternidade Carmela
Dutra .................................................................................................. 218
27
1 INTRODUO
O cncer de mama, atualmente, tem demonstrado ser importante
questo de estudo em relao s condies relacionadas sade da
mulher. Para o Instituto Nacional do Cncer no Brasil (INCA), o cncer
de mama a neoplasia mais comum do sexo feminino. Estima-se que
ocorrero 57.120 novos casos no Brasil no ano de 2014 (INCA, 2014).
Salienta-se a causa multifatorial do cncer de mama, entendendo-
se como fatores de risco para seu desenvolvimento: idade, condio
socioeconmica, eventos reprodutivos (menarca precoce, menopausa
tardia, nuliparidade), terapia de reposio hormonal, estilo de vida de
risco (lcool, dieta, obesidade, sedentarismo), histria familiar de cncer
de mama, histria de disfuno benigna da mama, radiao ionizante
(DUMITRESCU; COTARLA, 2005; GUERRA; GALLO;
MENDONA, 2005; SCHNEIDER, DORSI, 2009; MATOS;
PELLOSO; CARVALHO, 2010).
Considerando o fator de risco idade, destaca-se que nos pases
desenvolvidos a taxa de mulheres com idade maior que 80 anos de
5%, sendo que mais de 500 novos casos de cncer de mama neste grupo
populacional so diagnosticados por ano, representando
aproximadamente 12% dos casos desta doena (BOURCHARDY et al.,
2003). Assim, pode-se dizer que o cncer de mama vem acompanhando
o envelhecimento da populao mundial. Nos pases que apresentam alta
expectativa de vida, observa-se maior incidncia. Populaes mais
velhas apresentam as taxas mais elevadas desta neoplasia (MIRANDA
et al., 2008). Desta forma, quanto maior a expectativa de vida, maior a
exposio a fatores de risco (SILLIMAN, 2003; MATOS; PELLOSO;
CARVALHO, 2010). Portanto, a idade continua sendo um dos mais
importantes fatores de risco para o cncer de mama (CORDEIRO et al.,
2009).
Aps o diagnstico, a principal forma de tratamento para as
neoplasias de mama a cirurgia. Existem possibilidades cirrgicas
relacionadas ao tamanho do tumor, acometimento de tecidos,
acometimento linftico, sendo que os procedimentos podem variar de
uma tcnica conservadora a uma tcnica radical. As cirurgias podem
levar a complicaes em mbito psicolgico, social e fsico. A
morbidade no membro homolateral cirurgia pode ocorrer no ps-
operatrio imediato, sendo comum neste perodo, e pode continuar por
todo o processo de teraputica clnica (HAYES et al., 2012).
Frente ao exposto, salienta-se a importncia da equipe
interdisciplinar para o cuidado das mulheres submetidas a cirurgias de
28
mama. Em relao a esta equipe, nota-se a ao do fisioterapeuta no
acompanhamento assistencial das mulheres que realizaram
procedimento cirrgico para tratamento do cncer de mama. Dentre as
complicaes fsico-funcionais em que a fisioterapia pode agir,
destacam-se: alteraes linfticas, diminuio de amplitude de
movimento de membro superior, aderncias torcicas, dor, alteraes
cicatriciais e disfunes posturais (PEREIRA; VIEIRA; ALCNTARA,
2005; BERGMANN et al., 2006; GOMIDE; MATHEUS; REIS, 2007).
O fisioterapeuta deve ser includo no plano de assistncia s mulheres
submetidas ao tratamento cirrgico para o cncer de mama, com intuito
de prevenir complicaes, promover adequada recuperao funcional e,
como resultado, promover melhora da qualidade de vida dessas
mulheres (BATISTON; SANTIAGO, 2005; GOMIDE; MATHEUS;
REIS, 2007).
O tratamento fisioteraputico importante para a recuperao
aps a cirurgia, no entanto, percebe-se a necessidade de mais estudos de
campo para entender o processo de recuperao de forma minuciosa
(PEREIRA; VIEIRA; ALCNTARA, 2005). Neste sentido, a evoluo
do tratamento pode ser acompanhada de forma apropriada por
instrumentos especficos, como mtodos de avaliao da amplitude de
movimento, sensibilidade cutnea, volume do membro, avaliao da
dor, podendo ratificar mais precisamente os efeitos da ao
fisioteraputica.
Outro ponto de interesse sobre as mulheres submetidas a
tratamento para cncer de mama a caracterstica do processo de
recuperao fsico-funcional de idosas, pois do ponto de vista clnico,
acredita-se que mulheres com faixa etria mais avanada tenham
processo de reabilitao mais difcil. A populao brasileira vem
envelhecendo, o que implica em novas condies de sade e
compreenso do processo de envelhecimento de grupos com
caractersticas especficas, como no caso de mulheres submetidas a
tratamento cirrgico do cncer de mama. As necessidades especficas de
mulheres idosas com cncer de mama so discutidas, com desafios
clnicos a serem enfrentados, incluindo falta de um mtodo adequado
para avali-las. Outro aspecto melhorar a compreenso das condies
teraputicas dessas mulheres (TRIPPLES; ROBINSON, 2009).
Apesar do avano das tcnicas de tratamento na rea da
mastologia, observa-se que mulheres em faixa etria mais avanada so
excludas de pesquisas clnicas, principalmente no que diz respeito a
estudos prospectivos (MIRANDA et al., 2008; TRIPPLES;
ROBINSON, 2009). Por conta das condies bastante heterogneas das
29
idosas, importante a realizao destes estudos, incluindo aspectos da
avaliao global, oferecendo melhor teraputica, respeitando suas
condies, pois intenes mais brandas de tratamento podem se tornar
subtratamento (CRIVELLARI et al., 2007; TRIPPLES; ROBINSON,
2009; PROTIRE et al., 2010). O subtratamento tambm foi
mencionado por Bourchardy et al. (2003) como um fator para o aumento
da mortalidade de idosas, visto que mulheres sem tratamento ou apenas
com tratamento hormonal apresentaram maiores ndices de mortalidade
quando comparadas a mulheres submetidas a cirurgias. Os idosos
precisam cada vez mais de uma equipe especializada, incorporando
fatores fsicos e psicolgicos para dar apoio e suporte na tentativa de
manter uma qualidade de vida adequada (TRIPPLES; ROBINSON,
2009).
Portanto, questes a respeito de mulheres submetidas cirurgia
para tratamento do cncer poderiam se expandir a percepes de suas
experincias e a histria de vida da mulher idosa diagnosticada com
cncer de mama. Entende-se que este caminho relaciona-se com prticas
socioculturais de cuidado adotadas ao longo de seu processo de viver,
sendo possvel que influenciem na maneira como essa mulher significa a
doena e se resignifica como doente. Assim, essa mulher ir definir,
junto com sua famlia e pessoas prximas, o itinerrio teraputico que
deve seguir e esses aspectos transcendem as questes clnicas/cirrgicas,
a aceitao e adeso aos tratamentos e as repercusses dos mesmos
(MENNDEZ, 2003).
Sabe-se que para as mulheres que enfrentam o cncer, a doena j
um importante fator de impacto emocional, pois pode envolver
alteraes das condies sexuais, sociais, fsicas, e a estes aspectos so
associados diversos sentimentos, como medo, culpa e rejeio social, o
que gera diferentes percepes e simbolismos (PINHEIRO et al.. 2008;
BINKLEY et al., 2012).
Em geral, as pesquisas identificam critrios em relao ao
diagnstico do cncer de mama, assim como durante o tratamento
clnico, como no estudo de Ganz et al. (2003), indicando que a
assistncia psicolgica levou a um melhor enfrentamento radioterapia
e quimioterapia, assim como menor ndice de tristeza e menor prejuzo
na vida social. Hurria et al. (2006), em seu estudo longitudinal,
perceberam que as pacientes idosas mantinham seu estado funcional e
qualidade de vida antes da quimioterapia e aps 6 meses de tratamento.
Kua (2005) relatou que as mulheres idosas apresentam desafios
especficos, como: dificuldade de relatar alteraes psicopatolgicas;
comorbidades associadas; alteraes cognitivas; diminuio do suporte
30
social; dificuldade de aporte financeiro; e, possivelmente, falta de
conhecimento envolvendo as opes de tratamento para o cncer.
Reviso sistemtica realizada por Fitzsimmons et al. (2009)
indica que grande parte dos artigos so voltados s percepes de
qualidade de vida no momento do diagnstico e formas de
enfrentamento das mulheres ao descobrir o cncer de mama. Esses
estudos tambm concluem que os instrumentos de avaliao, muitas
vezes, ignoram as necessidades especficas das pessoas idosas, assim
como os fatores sociais e culturais envolvidos com a doena e os
tratamentos subsequentes.
Ento, percebe-se lacuna em relao aos aspectos culturais
envolvidos no processo de viver destas idosas no momento do ps-
operatrio e durante o processo de reabilitao fsica. Makluf, Dias e
Barra (2006) concluram que incluir avaliaes das percepes dos
indivduos na prtica clnica parece ser desafiador, porm, de acordo
com o impacto pelo qual as mulheres sofrem, tanto fsico como social,
estas medidas so essenciais para determinar e avaliar intervenes e
consequncias da doena em todos os mbitos, como tambm podem se
expandir para avaliar a aderncia ao tratamento. Segundo Favoreto e
Cabral (2009), importante dar voz aos sofrimentos dos indivduos
para poder compreend-los e trat-los, indo alm dos pressupostos da
biomedicina. Destaca-se que o processo de sade e adoecer deve ser
enfrentado no somente no foco da doena (disease), mas tambm nas
experincias ocorridas (illness) pelo sujeito desde a sua descoberta e as fases que a acompanham (KLEINMAN, 1988).
Tambm h que se ressaltar que vrios estudos em oncologia tm
se direcionado nas investigaes do conhecimento pelo modelo
percebido pelo profissional, mas de extrema importncia perceber o
conhecimento do indivduo sobre o processo do adoecimento por
cncer, e esta compreenso importante para o direcionamento da
assistncia a estas mulheres (SKABA, 2003). Segundo Gomes (2012),
muito se discute sobre novos modelos de cuidado, porm, no pode
haver transformaes na forma de cuidado sem modificar a lgica deste
atendimento, assim como dos profissionais envolvidos nesse processo.
O conhecimento que considere as dimenses simblicas atribudas a esta
doena necessrio para que haja paradigmas diferenciados, pensando
em cuidados mais especficos e integrais (GOMES; SKABA; VIEIRA,
2002).
Assim, importante que os profissionais da rea da fisioterapia
percebam o que envolve, sob a perspectiva cultural destas mulheres, o
tratamento fisioteraputico e como as mesmas o representam, sendo uma
31
maneira de repens-lo e direcion-lo para um processo que articula, de
forma ampla, a mulher, sua condio fsica e seus anseios, visto que
estes aspectos podem influenciar o processo de enfrentamento do
cncer, assim como a possibilidade de acompanhamento, por aspectos
possivelmente no somente associados ao estar com cncer, como
tambm do fator idade influenciando estas interpretaes.
Com relao ao que foi mencionado anteriormente, ratifico,
atravs de minha experincia profissional como fisioterapeuta de uma
maternidade pblica que apresenta assistncia oncolgica na rea de
mastologia, a importncia da fisioterapia para esta clientela, sobretudo
no que se refere reabilitao fsica e o consequente retorno desta
mulher s atividades de vida diria. No entanto, algumas consideraes
puderam ser evidenciadas, como a dificuldade de avaliao e
acompanhamento da recuperao fsico-funcional de idosas submetidas
a tratamento cirrgico para cncer de mama. Saliento, portanto, que
tcnicas especficas de mensurao e acompanhamento fisioteraputico
sistemtico, assim como a compreenso da percepo destas mulheres
em relao a este tratamento e sobre seu processo de recuperao,
podem ser teis no melhor entendimento destas fases, criando novas
possibilidades a esta populao.
Frente ao exposto e tomando como referncia minhas
observaes clnicas quanto ao tratamento fisioteraputico a mulheres
submetidas cirurgia para tratamento do cncer de mama, defendo a
seguinte tese: o processo de reabilitao fsico-funcional de idosas
submetidas ao tratamento cirrgico para cncer de mama contribui para
recuperao no ps-operatrio, favorece o retorno ao desempenho das
atividades da vida diria mais precocemente, melhora a imagem
corporal, fatores que influenciam na percepo positiva do tratamento
realizado.
Diante disso, trabalhei com a seguinte pergunta de pesquisa:
Qual o efeito da interveno fisioteraputica realizada com idosas
submetidas ao tratamento cirrgico para cncer de mama?
Deste modo, para delineamento desta pesquisa, determinou-se
como objetivo geral: avaliar o efeito da interveno fisioteraputica
realizada com idosas submetidas ao tratamento cirrgico para cncer de
mama.
Para alcanar o objetivo geral, delimitou-se os seguintes
objetivos especficos:
- Verificar o estado da arte sobre as principais morbidades fsicas associadas s cirurgias para tratamento do cncer de mama e as
32
abordagens de fisioterapia para as mesmas, com nfase a pacientes
idosas;
- Caracterizar as mulheres submetidas interveno fisioteraputica, em relao a dados relacionados s caractersticas
pessoais (idade, estado civil, ndice de massa corporal) e cirurgia
realizada;
- Comparar variveis fsico-funcionais (condio drmica do trax, amplitude de movimento, circunferncia do segmento superior,
sensibilidade cutnea, dor) ao incio do tratamento, aps 15 e 30
atendimentos;
- Conhecer a percepo das participantes do estudo acerca do diagnstico de cncer de mama, tratamento cirrgico e fisioteraputico
no desenvolvimento do seu processo de viver, atravs de uma
abordagem baseada na antropologia da sade, no molde interpretativista.
33
2 SUSTENTAO TERICA
Este captulo traz como base a abordagem da antropologia da
sade, referencial escolhido para a composio do trabalho e para
aprofundar as percepes e referncias em relao s mulheres
estudadas. Ser feita explanao geral do tema, assim como, ao final
desse captulo, enfoque ser dado a estudos que adotaram este
referencial para compreender o indivduo com cncer, com nfase na
mulher com cncer de mama.
2.1 PROCESSO DE VIVER, TER SADE, ADOECER E CUIDAR-SE
NA PERSPECTIVA ANTROPOLGICA
A relao entre sade e cultura no tema novo na antropologia,
sendo Rivers o primeiro antroplogo a analisar a medicina como
categoria de pesquisa nas culturas fora da Europa, com estudos
publicados em 1922, preocupando-se com a caracterizao ou a
classificao da medicina primitiva de acordo com categorias de
pensamento, identificando, na poca, como pensamento mgico,
religioso ou naturalista (LANGDON, 1995).
Clements, em 1932, tambm foi pioneiro na antropologia da
sade, sendo responsvel por um estudo comparativo sobre conceitos da
doena na medicina primitiva, com base nas crenas etiolgicas
(LANGDON, 1995). Ao aprofundar o pensamento destes autores, de
que a medicina deveria se apresentar como modo de pensamento
diferente da biomedicina tradicional, Erwin Ackerknecht foi
considerado o fundador da antropologia mdica nos Estados Unidos, e
argumentava sobre a importncia de se entender aspectos mdicos de
forma a no se distanciar do resto da cultura da sociedade (LANGDON,
1995).
Assim, estes estudiosos foram homens da antropologia de sua
poca, e pioneiros no reconhecimento de que para entender o sistema de
sade de uma populao, deve-se examin-lo dentro do seu contexto
sociocultural (LANGDON, 1994; LANGDON, 1995).
A transio da etnomedicina para a antropologia da sade foi
ocorrendo nos anos de 1960 e 1970, onde vrios antroplogos
comearam a lanar perspectivas alternativas biomedicina sobre os
conceitos de sade e doena (KLEINMAN, 1988; LANGDON, 1995;
HELMAN, 2009; SANTOS, 2012). Foi havendo aproximao da
etnomedicina com a antropologia simblica, semitica, psicologia, e
foram desenvolvidas consideraes sobre cura e construo de
34
paradigmas articulados com a cultura, preocupando-se com dinmica da
doena e do processo teraputico (LANGDON 1995; LANGDON;
WIIK, 2010). No Brasil, estudos sobre sade interligados cultura e
fatores sociais vm aumentando nos ltimos 20 anos (LANGDON;
WIIK, 2010).
Segundo esta viso, a base do reconhecimento dos padres de
doena e seus tratamentos no devem ficar somente limitados a estudos
com foco quantitativo, mas sim, o emprego de outras abordagens como
a qualitativa que permite processo de anlise pautado na busca de
significados. Nessa perspectiva, a antropologia interpretativista permite
anlise mais aprofundada que possibilita a construo de representaes
do adoecimento por parte do sujeito (LANGDON; WIIK, 2010;
SANTOS, 2012).
A antropologia da sade se faz necessria para entender de forma
mais aprofundada o sentido da sade/doena e as interpretaes dos
diferentes atores envolvidos: sujeito, familiares e profissionais. com
base nessas que se indicam e/ou buscam os tratamentos. Nesse sentido, a
antropologia interpretativista nos permite analisar e interpretar melhor o
que nos dizem, atravs da comunicao verbal e no verbal, as pessoas
que assistimos ou cuidamos (GEERTZ, 2008). Desta forma, o homem
escolhe como vai desempenhar seu processo de viver atribuindo sentido
a suas escolhas, dentro de limites estreitos, dados de forma social e
cultural (SARTI, 1992).
Os indivduos so, de acordo com Langdon e Wiik (2010),
socializados pelos padres culturais vigorantes em seu ambiente, que
so edificados pelas relaes cotidianas, como tambm pelos processos
rituais e de filiaes institucionais, isto tambm percebido pelas
diferenas existentes no prprio grupo em relao idade, gnero,
relaes de poder, entre outras caractersticas especficas.
Ainda segundo Langdon e Wiik (2010), h uma relao
importante dos aspectos conceituais da Antropologia e profissionais de
sade, uma vez que h o trabalho dos mesmos com indivduos de
diferentes classes sociais, religies, regies, gneros, grupos tnicos,
entre outras caractersticas, que correspondem a diferentes formas de
encarar o processo de sade e doena. Assim, seus comportamentos e
pensamentos so diferenciados em relao doena e tratamento, no
em virtude do processo biolgico em si, mas em razo das influncias
socioculturais (LANGDON; WIIK, 2010).
O desenvolvimento da cincia mdica foi construdo no
considerando o sujeito, sua histria, condies sociais e culturais,
relaes com a morte, havendo o isolamento do corpo, com passividade
35
do doente em relao ao tratamento recebido e suas consequncias,
sendo reducionista, dando enfoque puramente biolgico (KLEINMAN,
1988; MAND, 2004).
Quando se trata da perspectiva do processo de sade, identifica-se
a importncia do olhar alm da ao isoladamente clnica, devendo
incorporar a vivncia, as percepes dos sujeitos em relao a todo o
percurso feito e suas expectativas frente a esta condio, assim como
confrontar estes fatores de acordo com situaes culturais e sociais, pois
desta forma, pode-se obter, de forma mais abrangente, o que h por traz
do adoecimento, como se percebem e como interpretam estes fatores
(DUARTE, 2003).
Percebe-se que os padres associados cultura transcendem
vises de crenas e valores estanques, mas sim esto em meio a
condies dinmicas e que a todo o momento so construdas,
reconstrudas e aprendidas pelos atores sociais (GEERTZ, 2008).
Isso se aplica compreenso da doena, em que seu significado
alicerado por paradigmas culturais e sociais, no sendo estanque, mas
sim condio relacionada a experincias. Desta forma, a viso
sociocultural interfere e modifica a manifestao e o comportamento dos
indivduos frente a esse processo (LANGDON, 1994). As pessoas, em
determinados contextos, tendem a construir representaes sobre
enfermidades a partir das suas vivncias e experincias adquiridas de
suas trajetrias existenciais (SKABA, 2003).
Puernell (2005) caracteriza que a cultura influencia as crenas
individuais, tradies e valores, e isto repercute na forma de encarar o
processo de sade e de adoecer, ocorrendo, neste sculo, processo de
multiculturalismo11, o que traz diversidades nos cuidados em sade.
O processo de sade e adoecer deve ser encarado no somente no
que a doena especificamente, sua carga biolgica (disease), mas tambm a experincia vivenciada (illness) desde sua descoberta e os
processos que acompanham as fases posteriores ao diagnstico,
associados s diferentes formas de tratamento (KLEINMAN, 1988).
importante a incorporao da perspectiva cultural no processo clnico e
do cuidado, pelo fato da doena no ser encarada de forma igualitria
por todas as pessoas, por suas experincias, seus valores, suas formas de
enfrentamento. Estes aspectos se observam na forma de encarar o
sofrimento e possveis modificaes de comportamento associados ao
1 Multiculturalismo, sob luz da Antropologia, refere-se quilo que se articula a elementos de muitas culturas, quando diversos elementos culturais se acoplam dentro de um mesmo espao
(GEERTZ, 2008).
36
processo sade-doena, assim como busca de auxlio ao cuidado
(KLEINMAN, 1988).
Pode-se associar a estes conceitos anteriormente expostos a viso
do sickness, que envolve a influncia de outras condies que podem se
unificar ao desenvolvimento de riscos em determinadas populaes,
como as caractersticas econmicas, polticas. Este aspecto envolve uma
viso globalizada do processo, abrangendo-o em todas as suas
dimenses (KLEINMAN, 1988).
Helman (2009) ainda expe que o poder muitas vezes atribudo
aos profissionais pode lhes dar o direito de moldar os modelos
explicativos dos indivduos, de modo que o sujeito se adapte ao modelo
mdico das enfermidades (diseases) ao invs de permitir que o prprio
expresse suas perspectivas em relao doena (illness).
Compreende-se, ento, que a experincia do adoecimento no
deve ser compreendida somente pelo aspecto biolgico em si, mas como
uma construo contnua, embasada pela sua cultura (MARTINS, 2012).
A doena vai alm dos sintomas e sinais relatados pelo sujeito, assim
como dos problemas clnicos, por ser um processo experiencial de cada
indivduo (LANGDON, 1994).
Pensando nestas concepes, Kleinman (1988) destaca que
diferentes grupos culturais apresentam formas diferenciadas de explicar
o processo da doena e as etapas que a seguem, como sua evoluo,
sintomatologias e tratamentos. Ainda segundo este autor, muitos
problemas de entendimento e de atrito entre setores populares e
profissionais vm do predomnio do disease sobre illnes.
Desta forma, de acordo com a Antropologia, os cuidados devem
ultrapassar a viso biomdica, articulando todo o processo envolvido
com o cuidado, desde a busca para prevenir, controlar, atenuar e curar
determinado estado de adoecimento e doena, assim como todas as
consequncias deste processo (MENNDEZ, 2003).
Os indivduos, quando ocorre o adoecimento, envolvem-se na
busca por alternativas para alvio dos sofrimentos, e as experincias
vivenciadas se relacionam s avalies destas condies, o que
direcionam o enfrentamento (MENNDEZ, 2003). Os sujeitos entram
em processo intencional enredado com a manuteno, recuperao e
possvel aumento da sade e qualidade de vida, com representaes e
prticas que foram sendo absorvidas e desenvolvidas no processo de
viver a doena (MARTINS, 2012). Essa trajetria resultado de
processo histrico onde as representaes da doena apresentam um
papel decisivo, e esse trilhar construdo de diferentes formas
segundo concepes individuais (SKABA, 2003).
37
Quando se trabalha alicerado a este pensamento, no se pode
dar foco somente no que clnico, biomdico e quantitativo, em termos
da doena e seus desfechos, mas sim compreender que o processo do
adoecer e at mesmo a cura e recuperao esto interligados a condies
amplas que vo alm do entendimento do profissional, mas que devem
ser levadas em conta para se alcanar o objetivo da abordagem integral.
Nesse sentido, de acordo com Gomes (2012), no se pode apenas pensar
em novos modelos de cuidado sem mudar a lgica deste atendimento,
assim como dos profissionais envolvidos nesse processo.
A cultura gera variadas percepes de bem estar e doena, sendo
assim, os profissionais de sade devem reconhecer e lidar com essas
condies, com a finalidade de estabelecer relao teraputica
apropriada com o indivduo que necessita de seu cuidado (PUERNELL,
2005). Os prestadores de cuidado devem ser culturalmente conscientes e
sensveis, e atravs disto, integrar as crenas e prticas nos seus planos
de interveno (PUERNELL, 2005). necessrio considerar padres
subjetivos que envolvem o processo relacionado sade, doena e
ateno e seus diferentes significados (MENNDEZ, 2003).
Desta forma, quando se consideram aspectos presentes em uma
sociedade relacionados sade, incluindo origens, causas, tratamentos
das enfermidades, tcnicas teraputicas, praticantes, papis e padres
nesse cenrio, fala-se de sistema de ateno sade (LANGDON;
WIIK, 2010). Esse sistema se ampara por simbolismos que expressam a
prtica, interaes e instituies, que condizem com a cultura do grupo,
servindo para definir e explicar fenmenos classificados como doena,
no estando separado das vises e experincias vivenciadas pelo sujeito,
identificando que os valores, conhecimentos e comportamentos de um
povo formam um sistema sociocultural relacionado sade
(LANGDON; WIIK, 2010). Gomes (2012) indica que o sistema de
sade, para dar conta de atender s necessidades dos usurios, deve ser
integral, valorizando redes sociais e itinerrios percorridos, e para isso,
necessrio haver mudanas estruturais e organizacionais.
No cuidado em sade, as dimenses simblicas vivenciadas pelo
indivduo que adoece frente s suas construes culturais em relao
doena so pontos extremamente relevantes na interpretao da
experincia e organizao de cuidados a essa pessoa (MARUYAMA et
al., 2006). O indivduo sujeito ativo no processo do cuidado, sendo
assim, suas necessidades, desejos e percepes devem ser identificados,
interpretados e atendidos no processo do cuidado (GOMES, 2012).
Deste modo, ao trabalhar com cuidado, possvel reforar
sentidos positivos da experincia da doena, valorizando e reintegrando
38
o corpo prpria vida, com suas expectativas, viso do mundo, seus
valores e crenas. Assim, os indivduos que fazem escolhas no curso do
processo sade-doena, respeitando suas limitaes e perspectivas,
provavelmente tero comportamento mais positivo em relao doena,
tratamento e sua vida em si (MARUYAMA et al., 2006).
2.2 O CNCER DE MAMA E ASPECTOS ANTROPOLGICOS
Muitas doenas foram consideradas catastrficas ao passar dos
tempos, sendo associadas a castigos ou punies para certos povos,
definidas como doenas metforas. O cncer passou a ser considerado
uma dessas modalidades a partir do sculo XX, sendo identificado como
mal associado ao mundo moderno relacionado ao comportamento
catico, destruio do corpo e da sociedade (MARUYAMA et al., 2006;
COSTA; JIMENZ; RIBEIRO, 2012). Neste interim, receber o
diagnstico de cncer um marco na trajetria e no processo de viver de
qualquer pessoa (MARUYAMA et al., 2006; COSTA; JIMENZ;
RIBEIRO, 2012).
O cncer, na histria, associa-se a experincias malditas e serve
at mesmo como metfora para diversas condies adversas fsicas,
mentais e sociais (GOMES; SKABA; VIEIRA, 2002). O cncer, na
viso cultural, tem sido associado punio, castigos, e esses aspectos
se associam aos sinais e sintomas fsicos, o que traz ao sujeito tambm
carga emocional e moral associada a este adoecimento (GOMES;
SKABA; VIEIRA, 2002; MARUYAMA et al., 2006; SONTAG, 2007).
Essas crenas, de acordo com Gomes, Skaba e Vieira (2002), trazem
consequncias devastadoras emocionalmente, o que interfere na ao
prtica do enfrentamento do adoecer por cncer.
O cncer est adjunto a esses aspectos, pois so relativamente
recentes as descobertas de tratamento e combate a esta doena. Tambm
preocupam as grandes incidncias de morbidades e mortalidades
relacionadas ao cncer, assim como as formas de controle e cura do
mesmo ainda no ocorrerem em todos os casos (KOWALSI; SOUSA,
2006; MARUYAMA et al., 2006). Mesmo com o aumento atual da taxa
de sobrevida, o cncer continua a suscitar medo, estresse, angstia,
tristeza, dos indivduos e familiares, pela questo da letalidade ainda
associada a esta doena e pelo tratamento da mesma, muito relacionado
a processos longos e sofridos e/ou mutilaes (COSTA; JIMENZ;
RIBEIRO, 2012).
Desta forma, o indivduo identifica o cncer como algo temvel,
pois, a seu ver, de difcil tratamento, controle e cura, o que caracteriza
39
impacto negativo no processo de evoluo desta doena. Sontag (2007)
tambm indica que o medo associado ao cncer o faz inimigo
importante, no sendo relacionado somente como doena letal, mas
como molstia vergonhosa. Como o sofrimento de ter o cncer se
relacionam outros sentimentos como a preocupao pela sobrevivncia,
expectativa de dor e mudanas de aparncia (GOMES, 2012).
O cncer traz diferentes imagens e significados, como a
concepo de ser uma doena do esprito para algumas pessoas, outras o
encaram como processo de culpa por no assumir hbitos saudveis ou
comportamentos apropriados socialmente. Tambm alguns indivduos o
representam com a incurabilidade, como algo destrutor, tira vida de
quem o tem (MARUYAMA et al., 2006). Maruyama et al. (2006)
identificam o fato da liminaridade, ou seja, doena que causa sofrimento
e sobreviver a esta experincia traz perspectiva de viver entre vida e
morte. Ainda Skaba (2003) traduz o cncer como sendo um lado
sombrio da vida, sendo decifrado como doena ardilosa, transformando
por completo a vida das pessoas que o apresentam e de seus familiares.
Para Skaba, Gomes e Vieira (2002), alguns indivduos indicam a cura
como milagre, no a incorporando ao repertrio cultural.
Outros fatores que so impostos ao imaginrio que se associa
representao social do cncer se relacionam excluso do mercado de
trabalho, possibilidade de vida dependente e comprometimento da vida
sexual (SKABA, 2003).
Desta forma, alm dos conhecimentos de rastreamento e
tratamento relacionados ao cncer, importante identificar que h
fatores culturais que devem ser considerados quando se pensa na doena
em si, assim como nas formas de tratamento e teraputicas subsequentes
ao diagnstico, para que haja uma compresso completa desse processo
(MARUYAMA et al., 2006).
Muitas vezes, os sintomas iniciais so negligenciados pelo
sujeito, pois o medo faz com que muitos no queiram se defrontar com
esta doena e passam a se considerar realmente doentes quando h
comprometimento de atividades cotidianas, e a partir desse momento o
indivduo se compreende doente e observa que necessita de ajuda
(MARUYAMA et al., 2006; GOMES, 2012). Segundo Gomes (2012),
existe nas pessoas percepo que a doena s existir se buscar o servio
de sade, o que muitas vezes implica no processo de atraso do
diagnstico. Ao passo que vo ocorrendo diferenas corporais, os
indivduos vo as vivenciando, e as reflexes e experincias que essas
manifestaes trazem so processadas de acordo com os significados
40
sociais e culturais construdos por si e reforados na sua comunidade
(MARUYAMA et al., 2006).
H o mesmo processo associado ao profissional, visto que suas
interpretaes e experincias tambm revelam dimenses diferenciadas
em relao a esta doena. Muitas vezes, ocorre em funo deste
contraste, um desequilbrio de percepes entre o profissional de sade e
o indivduo a ser cuidado. Quando os profissionais compreendem a
doena apenas na perspectiva biologicista, no compreendendo a
totalidade do processo que deve ser entendido, e s direcionam o foco
do cuidado para o corpo, negligenciam o cuidado da pessoa. Dessa
forma, gera-se uma pluralidade de sentidos dissonantes entre
profissionais e a pessoa acometida pelo cncer (SKABA, 2003;
MARUYAMA et al., 2006).
O itinerrio do cncer, na viso de alguns profissionais, constitui-
se na sequncia de sinais/sintomas, diagnstico, tratamento, cura/morte
e controle/recidiva. Ao passo que, para o sujeito, esse percurso apresenta
outras dimenses, relacionadas aos seus anseios, percepes e
representaes, que esto diretamente ligadas s prticas socioculturais
aprendidas pela pessoa e compartilhadas pelo seu grupo social
(SKABA, 2003).
Estes fatos traduzem outro aspecto negativo do indivduo com
cncer, que a falta de incorporao de suas experincias e sentimentos,
havendo preocupao especfica com a lgica da racionalidade, em que
se sobressai a cronologia, a durao dos sintomas e as evidncias
clnicas (MARUYAMA et al., 2006). Isso destitui a subjetividade,
havendo nfase na doena fsica, o que ocasiona a passagem do ser
pessoa para o ser doente ou paciente, caracterizando a
despersonalizao (HELMAN, 2009).
A experincia do adoecimento deve apresentar referncias que
serviro para refletir e explicar o passado, visando dar sentido para o
projeto de vida individual do sujeito (MARUYAMA et al., 2006). Com
isso, a pessoa se reconhece doente, mas suas experincias, seus grupos
de suporte, o prprio tratamento possibilitam reaes positivas ao
sofrimento causado pela doena, com ressignificao de seus valores
(MARUYAMA et al., 2006). Estes aspectos vem ao encontro do que
Gomes (2012) traz em seu estudo, indicando que o imaginrio se
relaciona ao conhecimento que se forma a partir do senso comum, com
influncia da mdia, convivncia familiar, amigos e redes sociais, e que
envolve sentimentos variados como medo, vergonha, fatalismo, que so
dificilmente administrados pelas mulheres. Ocorre, tambm, a
41
associao da doena dor e sofrimento, especialmente conexo ideia
do tratamento (KWOK; WHITE; 2011; MOSHER et al., 2013).
Para Nizamli e Mohammadi (2011), o diagnstico e o tratamento
do cncer de mama traz um dilvio de emoes complexas, como a
incerteza, o medo do sofrimento e da morte, a ansiedade em relao ao
tratamento cirrgico e os adjuvantes. As mulheres, muitas vezes,
tambm se sentem vistas como pessoas condenadas, em virtude das
representaes sociais associadas ao mesmo pela populao (SKABA,
2003). Esta percepo de severidade, do mesmo modo, identificada
nas mulheres que creem que o resultado da doena a morte ou a
inexistncia de cura, em virtude de suas crenas, de informaes da rede
social ou por vivenciar esta experincia com pessoas prximas
(FUGITA; GUALDA, 2006). Tambm h, por parte de algumas
mulheres, a sensao de abandono e de que no ir voltar a ter sua
liberdade e felicidade (MOSHER et al., 2013).
Um aspecto levantado por Vries et al. (2014) foi a condio do
medo da recidiva, sendo que 74% das mulheres relaram estar ansiosas
em relao recidiva, e a maioria das mulheres indicou estratgias de
enfrentamento focalizadas na emoo. Tiedtke et al. (2012) tambm
indicam que o medo est presente em todo o percurso das etapas de
vivncia com o cncer, desde diagnstico at o ps-cirrgico, e que o
medo da recidiva o que causa maior ansiedade a estas mulheres.
Iskandarsyah et al. (2014) relatam em seu estudo, abordando a
demora em procurar ajuda e no adeso ao tratamento, que vrios
fatores psicossociais e culturais modificveis se relacionam a estas
condies, dentre elas as crenas relacionadas ao tratamento de cncer,
problemas financeiros, carga emocional, o estilo paternalista de
comunicao e informaes fornecidas pelos profissionais de sade de
forma imprecisa.
O cncer de mama gera uma teia de representaes complexas
que impede a identificao de qual aspecto amedronta mais as mulheres,
os simblicos ou a gravidade objetiva de comprometimentos gerados
pela doena (SKABA, 2003). As representaes do cncer de mama se
voltam ao produto das relaes entre significados socialmente
construdos em torno do cncer de forma geral, do corpo feminino e da
experincia de ser portador de uma doena (GOMES; SKABA;
VIEIRA, 2002).
Quando se fala em cncer de mama, Skaba (2003) acrescenta
outros fatores em relao ao cncer em geral, pertinentes funo social
do corpo da mulher. O smbolo mama elemento fundamental, que se
articula a papeis de identidade feminina, como a sexualidade e a
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42
amamentao, sendo que desenvolver uma doena na mama
compromete esta construo da existncia feminina, por isso a cirurgia
to temida e gera uma condio de ansiedade, insegurana e medo
(GOMES; SKABA; VIEIRA, 2002; SKABA 2003; FUGITA;
GUALDA, 2006).
Wang et al. (2013) complementam que as alteraes na imagem
corporal e insatisfao com a aparncia aps a cirurgia tambm
comprometem a sexualidade para algumas mulheres, sendo que em
muitos casos, o tratamento associado ao cncer o causador de
cicatrizes emocionais, e no somente a doena em si. Este aspecto foi
identificado por Nizamli, Anoosheh e Mohammadi (2011), quando em
seu estudo verificaram que para as mulheres pesquisadas no somente o
diagnstico gerou trauma emocional, mas tambm as mudanas fsicas e
de autoimagem vivenciadas.
Apesar disso, ainda em relao condio da mama, Skaba
(2003) salienta em seu estudo que as mulheres, por entenderem que a
mama externa ao corpo, relacionam o cncer de mama como sendo
menos deletrio, no encarando-o como possibilidade de doena
sistmica, o que pode ser um elemento facilitador no enfrentamento
desta enfermidade, identificando-o como um mal que no vem de
dentro.
Costa, Jimenz e Ribeiro (2012) identificam outro olhar sobre o
cncer de mama, em que o mesmo acarreta mudanas de papeis at
ento desempenhados, podendo comprometer sentimentos de
identidade, como no caso das mulheres, passagem de cuidadora e
organizadora da famlia para dependente de cuidados. O cncer de
mama no afeta somente percepes de corpo, mas relaes femininas
culturalmente construdas, assim, a sexualidade e o comprometimento
de funes laborais so condies marcantes associadas a esta condio
(SAKABA, 2003; AURELIANO, 2007). Nessa perspectiva, tambm se
relaciona o bem estar sexual da mulher e convvio com parceiros, bem
como os mesmos enfrentam esta enfermidade e o tratamento associado.
Tais condies influenciam sobremaneira a recuperao da mulher,
sendo que a reorganizao que ocorre se expande para alm dos
companheiros, incluindo toda a sua rede de relaes (SKABA, 2003;
WANG et al., 2013).
Outro fator o papel de me, sendo que muitas mulheres referem
dificuldade em desempenhar esta funo, principalmente quando
associado cirurgia e quimioterapia, e esta disfuno transtorno
emocional importante evidenciado pelas mesmas (NIZAMLI;
ANOOSHEH; MOHAMMADI, 2011).
43
O entendimento dos aspectos culturais relativos condio das
mulheres, seus papeis na sociedade e na famlia permite aos
profissionais repensarem seus cuidados de forma a auxili-las e, de certa
maneira, minimizar as consequncias do tratamento, o que
fundamental para a possibilidade de adeso e sucesso (FRAZO;
SKABA, 2013).
Ratificando esses princpios, Helman (2009) indica que a maior
parte das mulheres cada vez mais objeto de influncias, muitas vezes,
contraditrias de sua cultura de gnero, ocorrendo ao mesmo tempo
cobrana em relao ao papel domstico e papel profissional. Assim,
Skaba (2003) considera o cncer de mama uma doena intimamente
ligada situao do gnero feminino.
Vrios fatores atingem e fragilizam as mulheres neste perodo do
seu estado de viver, em especial quando enfrentam tratamentos mais
agressivos, limitando possibilidades de independncia e autonomia
(FRAZO; SKABA, 2013). Esse ponto destacado por Skaba (2003) e
Nizamli, Anoosheh e Mohammadi (2011) ao mencionarem a
quimioterapia, pois algumas mulheres se referem ao procedimento como
a segunda doena, uma vez que atribuem efeitos colaterais intensos e
sensao de fragilidade. Os autores ainda observaram que o relato dos
sentimentos negativos em relao ao cncer de mama est muito
associado aos resultados da quimioterapia, em virtude dos efeitos
colaterais, como tambm pelo o que pode ocasionar socialmente, como
isolamento social e alteraes na organizao matrimonial. Outro
aspecto relevante para essas mulheres foram as mudanas corporais
importantes, que tornam a doena aparente, passando ao domnio
pblico.
Muitas mulheres tambm apresentam dificuldade em refletir
acerca das repercusses dos acontecimentos desta doena,
principalmente nas esferas sociais e familiares. Isso talvez ocorra em
funo da pouca abertura que os profissionais ofeream para que elas
possam falar sobre o impacto do cncer e do seu tratamento em sua vida
diria. Parece que no contexto da ateno sade so priorizadas as
queixas fsicas, as percepes e sentimentos no so pesquisados. Por
outro lado, quando a mulher informa no terem ocorrido mudanas, no
percebe que essa narrativa pode indicar negao da situao (COSTA;
JIMENZ; RIBEIRO, 2012).
A mulher, ao se perceber portadora de uma doena socialmente
representada e aliada dor, ao sofrimento e desfechos desfavorveis,
apresenta os reflexos dessas construes, podendo lev-las negao.
Nesta perspectiva, precisam enfrentar a condio de falar para elas
44
mesmas sobre a doena, conseguindo um autoconvencimento, e partir
disso, falar a outras pessoas sobre sua situao, tornando-se uma
condio muito particular (SKABA, 2003).
A isto pode ser somada a percepo de suscetibilidade, como
levantada por Fugita e Gualda (2006), em que a mulher no busca ajuda
profissional em virtude de antecedentes familiares, por exemplo, com
medo da confirmao do diagnstico. A percepo de suscetibilidade e
severidade da doena apresenta componente cognitivo intenso, sendo
condicionado ao conhecimento, mesmo que parcialmente, de tal modo o
conhecimento sobre o cncer de mama e sua casualidade influencia sua
percepo quanto a estarem mais aptas a adquirir ou quanto aos efeitos
de sua presena (FUGITA; GUALDA, 2006).
Frazo e Skaba (2013) identificam que uma das preocupaes da
mulher com cncer de mama o impacto sobre sua vida social, o que
corrobora com os conceitos atuais de sade, que deve compreender o
sujeito em um contexto amplo. Ento, desde os aspectos de promoo e
preveno do cncer, h importncia de considerar valores, atitudes e
crenas a quem as aes se destinam (CESTARI; ZAGO, 2012). Em
conformidade com essa abordagem, conhecer os acontecimentos de vida
e percepes associados ao cncer de mama pelas mulheres de
fundamental importncia para compreender como elas elaboram o
processo de significao em seu processo de viver (COSTA; JIMENZ;
RIBEIRO, 2012).
No estudo de Fugita e Gualda (2006), as mulheres indicaram que
a vivncia do cncer de mama ultrapassou limites fsicos, pois envolveu
sofrimento em plano espiritual, psicolgico, comportamental, emocional
e social, no considerando, deste modo, a doena apenas como um
evento biolgico, mas um evento humano. As mulheres tambm referem
condio de incerteza, de sentirem-se perdidas no processo de cuidado
do cncer, e este sentimento est presente especialmente quando passam
pela transio do tratamento especializado e retornam para o cuidado
primrio de sade, assim, h necessidade de que informaes sejam
vivenciadas nesta jornada (HAQ et al., 2013).
Skaba (2003) ainda refora que a compreenso das teias de
significados pode culminar para processo de sade que invista nessas
desconstrues de pontos negativos, de acordo com as caractersticas de
cada mulher, pela busca de se lidar com a doena assegurando melhor
percepo da qualidade de vida que ainda podero desfrutar.
O cncer de mama, por apresentar alta incidncia na populao
feminina, gera processos de fragilizao das mulheres, e para que os
profissionais de sade possam lidar de forma integral com essa
45
problemtica de extrema importncia esta compreenso social e
antropolgica (GOMES; SKABA; VIEIRA, 2002). Portanto, o
atendimento mulher com cncer deve ser embasado em vrios
domnios, do aspecto clnico-cirrgico combinado com conhecimentos,
crenas e valores relacionados doena (FUGITA; GUALDA, 2006).
46
47
3 REVISO DE LITERATURA
A proposta de apresentao desta reviso se faz por meio de
dados relacionados ao cncer de mama, direcionando para as condies
fsicas associadas ao tratamento cirrgico, foco da presente pesquisa.
3.1 CNCER DE MAMA: FATORES DE RISCO E TRATAMENTO
CIRRGICO
Nos dias atuais o cncer uma doena de grande relevncia em
estudos, devido seu carter de alta incidncia e associao com taxas
importantes de morbimortalidade (LEAL et al., 2009). O cncer de
mama destaca-se como sendo a neoplasia de maior incidncia entre as
mulheres no cenrio mundial, e no Brasil, relaciona-se principal causa
de morte da populao feminina (SILVA; HORTALE, 2012;
HOLSBACH; FOGLIATTO; ANZANELLO, 2014).
estimado pelo Instituto Nacional do Cncer (INCA), em 2014,
aproximadamente 57.120 novos casos, sendo o segundo lugar em
ocorrncia mundial (INCA, 2014). A incidncia e mortalidade de cncer
de mama aumentaram nos ltimos 30 anos, sendo estimado anualmente
propores de 3,1% e 1,8%, respectivamente (LUCIANI et al., 2013).
Em 2007, aproximadamente 107.000 registros de morte no continente
americano foram atribudos ao cncer de mama feminino, sendo tambm
considerado o cncer de maior relao com morte em muitos pases
neste continente, e o Brasil tem mantido uma alta taxa de mortalidade
(LUCIANI et al., 2013).
As condies de risco mais associadas ao cncer de mama esto
relacionadas vida reprodutiva da mulher (menarca precoce, menopausa
tardia, nuliparidade, idade da primeira gestao aps 30 anos, terapia de
reposio hormonal). Outros fatores podem se relacionar a esta doena,
como a idade, histria de cncer de mama em familiares de primeiro
grau, alm de outros aspectos como raa, doenas benignas prvias,
estilo de vida com alimentao inadequada, hbitos de risco, como
etilismo, e exposio radiao ionizante (DUMITRESCU;
COTARLA, 2005; GUERRA; GALLO; MENDONA, 2005;
SCHNEIDER; DORSI, 2009; MATOS; PELLOSO; CARVALHO,
2010; TAPETY et al., 2013).
Stuckey (2011) complementa, em relao ao fator da histria
familiar, que em 10% dos casos h esta associao, relacionando-se a
mutaes nas linhagens germinativas. Este dado tambm ratificado por
48
Tiezzi (2009), considerando que o cncer espordico (sem associao
com fator hereditrio) representa mais de 90% dos casos.
Silva (2012) relata que o aumento da incidncia do cncer de
mama que ocorreu nos anos 1980 e 1990 foi a representao das
alteraes advindas do padro reprodutivo e estilo de vida do mundo
industrializado.
Dumitrescu e Cotarla (2005) indicam raridade desse diagnstico
antes dos 25 anos, sendo assim a idade, como j constatado, um
importante fator de risco, pois a incidncia tende a acrescer com o seu
aumento. A probabilidade de desenvolvimento de cncer de mama para
uma mulher que vive alm dos 90 anos de 12,5% (BOTELL;
BERMDE, 2009).
Na pesquisa de Tapety et al. (2013), feita com 197 mulheres no
Piau (Brasil), a mdia de idade das participantes foi de 55 anos. Dados
semelhantes foram encontrados por Cordero et al. (2013), em pesquisa
com 72 mulheres, constatando mdia de idade de 54 anos. Reforando
estes dados, Holsbach, Fogliatto e Anzanello (2014) indicam que este
cncer no comum antes dos 35 anos, aumentando progressivamente
acima desta faixa de idade.
Tapety et al. (2013) verificaram que 70% das mulheres avaliadas
apresentavam-se como donas de casa, sendo positiva a correlao entre
tipo de trabalho e cncer de mama. Os autores ainda enfatizam que a
ocupao de limpar a casa gera exposio a vrios produtos qumicos,
que podem se associar mutao gentica, e reforam que os agentes
qumicos que iniciam a carcinognese so extremante diversos. H
indicao que muitos produtos, como desodorantes, protetores solares,
cosmticos e certos produtos qumicos tm mostrado ampliar e alterar os
efeitos do estrognio (WHO, 2013).
Outra considerao o nvel de escolaridade, que traduz um
aspecto abordado por Azevedo et al. (2004), em que h tendncia
diminuio do risco de cncer de mama com o aumento do nvel de
escolaridade. No estudo de Tapety et al. (2013), a maioria das mulheres
apresentava o ensino fundamental completo, encontrando 10% de
mulheres com nvel superior, por outro lado, a taxa de analfabetismo foi
maior que 10%.
Sobre os aspectos obsttricos, a idade de gestao inferior a 20
anos condio associada proteo do cncer de mama (WHO, 2013).
Tambm relacionado ao histrico obsttrico, demonstra-se o fator da
amamentao, sendo considerada como condio associada preveno
(KNAUL et al., 2009; TIEZZI, 2009; WHO, 2013; TAPETY et al.,
2013).
49
interessante notar que os autores reconhecem a exposio
prolongada ao estrognio como fator de risco para o cncer de mama,
especialmente em mulheres no momento da ps-menopausa (BAND;
FANG, 2002; DUMITRESCU; COTARLA, 2005; GUERRA; GALLO;
MENDONA, 2005; SCHNEIDER; DORSI, 2009; MATOS;
PELLOSO; CARVALHO, 2010; TAPETY et al., 2013; WHO, 2013).
Tiezzi (2009) informa que o cncer de mama est fortemente
relacionado produo de esteroides sexuais.
Fuhrman et al. (2012) indicam que a idade demonstra o impacto
das alteraes hormonais, em virtude das modificaes importantes que
ocorrem em toda vida reprodutiva da mulher, e isto poderia explicar o
fator de risco idade como desencadeador do cncer de mama,
prevalecendo a menarca precoce como fator significativo.
Ainda Vogel (2009) refora que a idade avanada do primeiro
parto, poucos filhos, idade tardia da menopausa e administrao de
terapia de reposio hormonal so fatores de risco bem estabelecidos
para o cncer de mama. Knaul et al. (2009) tambm abordam que a
idade precoce da menarca, a nuliparidade ou idade tardia da primeira
gestao, a falta da amamentao e a idade tardia da menopausa so
caractersticas reprodutivas que aumentam o risco de desenvolvimento
do cncer de mama.
A conduta cirrgica ainda prevalece como forma de controle da
progresso da doena. Os tratamentos cirrgicos vo desde as cirurgias
mais conservadoras, como tumorectomia e quadrantectomia, at as
radicais, podendo acompanhar a tcnica de remoo de linfonodos
axilares (linfadenectomia axilar), assim como apresentar remoo do
linfonodo sentinela. Tambm se ressalta o acompanhamento clnico com
a quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia (LAHOZ et al., 2010;
SILVA; HORTALE, 2012; RETT et al., 2012).
Mesmo havendo progressos importantes em relao ao
diagnstico e tratamento, o cncer acaba desenvolvendo-se como
condio crnica em muitos pases (HOLSBACH; FOGLIATTO;
ANZANELLO, 2014). De tal modo, importante reforar que, mesmo
com o maior nmero de casos diagnosticados e possibilidades de
tratamento, h uma carncia na compreenso de resultados
exclusivamente relacionados s mulheres idosas, sendo isso um
contrassenso com o panorama atual da populao, em relao s
transies epidemiolgicas que ocorrem, assim como a prpria condio
da doena, que se associa de forma expressiva faixa etria desta
populao (MIRANDA et al., 2008; TRIPPLES; ROBINSON, 2009;
MRQUEZ-ACOSTA, 2012).
50
3.2 PRINCIPAIS MORBIDADES FSICO-FUNCIONAIS
ASSOCIADAS AO TRATAMENTO CIRRGICO DO CNCER DE
MAMA
Com a realizao das cirurgias, podem ocorrer alteraes fsico-
funcionais importantes, e este captulo destaca fatores associados a estas
caractersticas, trazendo aspectos relacionados ao presente estudo.
Iniciando a discusso sobre a mobilidade e funcionalidade de
ombro aps a cirurgia, h reduo destas, principalmente nos
movimentos de flexo e abduo.
Caban et al. (2006) suscitam algumas condies que influenciam
na amplitude de movimento do ombro, como a idade, constatando que
mulheres com 70 anos ou mais apresentavam predisposio para a
amplitude de movimento (ADM) completa do ombro em 12 meses de
ps-cirrgico. Mulheres que no receberam radioterapia e que
apresentavam menos sintomas depressivos foram mais propensas
amplitude de movimento completa. Estado mental, tipo de cirurgia e
linfadenectomia no afetaram de forma significativa a ADM completa
aps um ano de cirurgia.
Merchant et al. (2008) tambm indicam que a tcnica cirrgica
no foi responsvel pela reduo de movimento. J no estudo de
Nesvold et al. (2008), os resultados demonstraram que ocorreu
associao significativa da cirurgia radical e estgio mais avanado do
cncer com deficincia nos movimentos de abduo e flexo, assim
como no estudo de Lauridsen, Christiansen e Hessov (2005),
percebendo associao de mobilidade diminuda com a tcnica cirrgica
radical. Scaffiddi et al. (2012) tambm