universidade federal de santa catarina - rexlab.ufsc.br · 11 resumo o uso de tecnologias...

267
Aline Coêlho dos Santos INTEGRAÇÃO DE TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UM ESTUDO DE CASO NAS AULAS DE BIOLOGIA UTILIZANDO LABORATÓRIOS ON-LINE Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Tecnologias da Informação e Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obtenção do Grau de Mestrado em Tecnologias da Informação e Comunicação. Orientador: Prof. Dr. Juarez Bento da Silva Araranguá-SC 2018

Upload: dangnhi

Post on 17-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Aline Colho dos Santos

    INTEGRAO DE TECNOLOGIA NA EDUCAO BSICA:

    UM ESTUDO DE CASO NAS AULAS DE BIOLOGIA

    UTILIZANDO LABORATRIOS ON-LINE

    Dissertao submetida ao Programa de

    Ps-graduao em Tecnologias da

    Informao e Comunicao da

    Universidade Federal de Santa

    Catarina, para a obteno do Grau de

    Mestrado em Tecnologias da

    Informao e Comunicao.

    Orientador: Prof. Dr. Juarez Bento da

    Silva

    Ararangu-SC

    2018

  • 2

    Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor

    atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria

    da UFSC.

  • 3

  • 4

  • 5

    Dedico este trabalho ao meu esposo,

    minha filha, e aos meus pais pelo apoio

    incondicional, compreenso, amor e

    incentivo, durante essa jornada.

  • 6

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    A concluso desse projeto s se tornou possvel mediante a

    contribuio de diversas pessoas, que se tornaram imprescindveis nesse

    processo, e, portanto, merecem toda minha gratido. Sendo assim,

    gostaria de agradecer:

    Em primeiro lugar, a Deus, por toda sade que me foi concebida,

    e por toda energia e sabedoria depositada em momentos sinuosos e de

    cansao.

    Aos meus pais e irmos, pelo amor, afago, cuidado e estmulo

    confiado a mim e a minha filha durante todo o processo.

    Ao meu esposo, Rafael, que sempre esteve ao meu lado, no

    permitindo que eu perdesse o foco, e me incentivando incansavelmente

    para minha permanncia e xito. A ele minha imensa gratido por sempre

    estar presente, me motivando a prosseguir, e cuidando de nossa famlia.

    minha filha, Maria Eliza, pelos momentos de descontrao

    preenchidos com brincadeiras, risos e carinho.

    Aos professores membros da banca examinadora, por aceitarem o

    convite para defesa, e aos demais professores do programa de Ps-

    Graduao em Tecnologia da Informao e Comunicao, por seus

    conhecimentos compartilhados e por todo apoio prestado.

    Aos colaboradores do RExLab, por todo suporte proporcionado,

    em especial Andria Panchera Schneider e Carinna Nunes Tulha, agora

    j graduadas em TIC, pelo acompanhamento e apoio tcnico nos perodos

    de construo das sequncias didticas e nos momentos de aplicao da

    ferramenta em sala de aula.

    Ao Instituto Federal de Santa Catarina/ Campus Ararangu por

    permitir a ocorrncia da pesquisa, bem como incentiv-la, fornecendo

    todos os recursos necessrios para sua consolidao.

    uma grande amiga Priscila Cadorin Nicolete, que pode ser

    considerada a principal incentivadora para meu ingresso no mestrado,

    meu muito obrigado, de corao!

    Aos amigos, companheiros de mestrado por tornar essa caminhada

    mais leve.

    E por fim, gostaria de agradecer imensamente ao meu orientador,

    Juarez Bento da Silva, pela confiana em mim depositada e por todo o

    suporte fornecido para a concluso deste trabalho.

  • 8

  • 9

    O Homem est no mundo e com o mundo. Est na

    realidade e com a realidade, agindo e refletindo

    sobre a sua realidade, inserido nela. Estando no

    mundo, relaciona-se com ele.

    Paulo Freire

  • 10

  • 11

    RESUMO

    O uso de Tecnologias Educacionais no processo de ensino e

    aprendizagem tem proporcionado ao aluno novas formas de aprender. No

    ensino de cincias e biologia, por exemplo, estas ferramentas tm sido

    responsveis inclusive pela possibilidade da oferta de aulas experimentais

    em escolas que no provm de equipamentos fsicos de laboratrio.

    Dentro desse cenrio, este estudo investigou sobre o uso de laboratrios

    on-line (remoto e virtual) integrados Sequncias Didticas

    Investigativas (SDI), disponibilizados em Ambiente Virtual de

    Aprendizagem (AVA), em aulas de biologia para o ensino mdio.

    Procurou-se, dessa forma, identificar as percepes apresentadas pelos

    alunos aps o uso da ferramenta proposta, respondendo a seguinte

    questo: Como o uso de laboratrios virtuais e remotos, integrados s sequncias didticas investigativas, podem aumentar a qualidade no

    ensino de Biologia na formao bsica de alunos do Ensino Mdio, melhorando sua motivao e interesse dentro do contexto escolar?. Para

    isso, foram construdas trs SDI: (i) pigmentao foliar; (ii) impulsos

    nervosos; e (iii) histologia vegetal. Logo, realizou-se as aplicaes da

    ferramenta nas aulas de biologia e efetuou-se a coleta de dados por meio

    de questionrios que versavam sobre as percepes apresentadas pelos

    alunos quanto usabilidade, aprendizagem, satisfao e utilidade, e que

    tambm exploravam suas opinies sobre o uso da tecnologia educacional

    em questo. O tratamento dos dados deu-se por meio de escala likert de

    cinco pontos para as questes objetivas e anlise SWOT das questes

    discursivas. Nesse sentido, foram realizadas 5 aplicaes, totalizando

    uma amostra de 116 estudantes. Os resultados obtidos apontaram muitas

    opinies favorveis ao uso da ferramenta nas aulas de biologia,

    identificando uma tendncia expressivamente positiva em relao a todas

    as percepes analisadas. Identificou-se percentuais de concordncia

    muito superiores aos de discordncia, compreendendo os benefcios

    gerados pelo uso de laboratrios on-line integrados SDI no cotidiano

    escolar dos alunos.Dessa forma, esse estudo propem que a proposta

    investigativa utilizada na metodologia de ensino juntamente com o uso de

    laboratrios on-line integrados em AVA contribui para a motivao do

    estudo da biologia e proporciona melhor compreenso dos contedos,

    tornando a aprendizagem mais eficaz e significativa.

    Palavras-chave: Laboratrios On-line. Ensino de Cincias. Integrao da

    Tecnologia na Educao.

  • 12

  • 13

    ABSTRACT

    The use of Educational Technologies in the teaching and learning process

    has provided students with new ways of learning. In science and biology

    teaching, for example, these tools have been responsible even for the

    possibility of offering experimental classes in schools that do not have

    laboratory equipment. Within this scenario, this study investigated the use

    of Online Laboratories (remote and virtual) integrated into the

    Investigative Didactic Sequences (IDS) available in Virtual Learning

    Environment (VLE), in biology classes for high school. In this way, we

    sought to identify the perceptions presented by the students after the use

    of the proposed tool, answering the following question: "How can the use

    of virtual and remote laboratories, integrated to didactic sequences of

    research, increase the quality of Biology teaching in basic education of

    high school students, improving their motivation and interest within the

    school context? " For this, three SDI were constructed: (i) foliar

    pigmentation; (ii) nerve impulses; and (iii) plant histology. Therefore, the

    applications of the tool were carried out in biology classes and data were

    collected through questionnaires that dealt with the perceptions presented

    by students about usability, learning, satisfaction and usefulness, and also

    explored their opinions about the use of the educational technology in

    question. The treatment of the data occurred through a five-point likert

    scale for the objective questions and SWOT analysis of the discursive

    issues. In this sense, 5 applications were carried out, totaling a sample of

    116 students. The results obtained pointed out many opinions favorable

    to the use of the tool in Biology classes, identifying an expressive positive

    trend in relation to all the analyzed perceptions. Percentages of agreement

    that were much higher than those of discordance were identified,

    including the benefits generated by the use of online laboratories

    integrated with SDI in the school attendance of students. Thus, this study

    proposes that the research proposal used in teaching methodology

    together with the use of online laboratories integrated in AVA contributes

    to the motivation of the study of biology and provides a better

    understanding of the contents, making learning more effective and

    meaningful.

    Keywords: Online labs. Teaching science. Integration of technology in

    education.

  • 14

  • 15

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Comparao entre os nveis de proficincia apresentados pelos pases

    da OCDE e pelos estudantes brasileiros na avaliao PISA 2015. ....................31 Figura 2 - Evoluo da proficincia mdia dos estudantes brasileiros

    considerando os erros de ligao. PISA CINCIAS: 2006 2015 .................32 Figura 3 - Mdia geral dos estudantes brasileiros considerando as diferentes

    instituies de ensino. PISA CINCIAS: 2015 ..............................................33 Figura 4 - Nveis de Ensino que fizeram aplicao de LVR nos ltimos 5 anos.

    ...........................................................................................................................38 Figura 5 - Interseo entre as linhas de pesquisa do PPGTIC/UFSC.................40 Figura 6 - Infraestrutura das escolas de Educao Bsica brasileiras - 2016 .....55 Figura 7 Notas estatsticas que relacionam n de escolas pelo n de alunos e

    computadores. ....................................................................................................56 Figura 8 - Abrangncia de escolas que possuem acesso internet - 2016 .........56 Figura 9 - Modelo de Instruo proposto por Thaiposri e Wannapiroon (2015)71 Figura 10 - Modelo de Instruo proposto por Miranda et. al. (2011) ...............71 Figura 11 - Fases e subfases de investigao proposto por Pedaste et al. (2015)

    ...........................................................................................................................72 Figura 12 - Caracterizao de Sequncia Didtica proposta por Zabala (1998) 76 Figura 133 - Etapas de uma SDI construda pelo GT-MRE/ RexLab - UFSC ...79 Figura 14 - Funcionalidade do AVA proposta por Milligan (1999). .................81 Figura 15 - Interao entre sujeitos e recursos dentro do AVA. ........................82 Figura 16 - Conceitos que fundamentam o desenvolvimento do Moodle. .........84 Figura 17 - Caractersticas e recursos presentes no Moodle. .............................85 Figura 18 - Classificao de laboratrios ...........................................................87 Figura 19 - Representao geral da constituio de um laboratrio remoto. .....89 Figura 20 - Experimentao Remota Mvel ......................................................91 Figura 21 - Representao geral da constituio de um laboratrio virtual. ......93 Figura 22 - Captura de tela pgina inicial plataforma PhET ..............................93 Figura 23 - N de produo cientfica por rea territorial ..................................99 Figura 24 - Tipos de abordagens tratadas nas publicaes investigadas. ...........99 Figura 25 - Uso de laboratrios on-line no processo de ensino-aprendizagem.

    .........................................................................................................................101 Figura 26 Caracterizao e classificao da pesquisa ...................................105 Figura 27 - Procedimento metodolgicos de pesquisa .....................................107 Figura 28 Representao da matriz SWOT ...................................................110 Figura 29 Quadro docente IFSC Campus Ararangu .................................117 Figura 30 - Microscpio Remoto .....................................................................120 Figura 31 - Acesso ao Microscpio Remoto pela SDI .....................................121 Figura 32 - Integrao entre MRE, SDI e AVA. ..............................................122 Figura 33 - Simulador de Neurnio .................................................................122 Figura 34 - Captura de tela do Simulador Reflexos Nervosos ........................123 Figura 35 - Simulador Reflexo Nervoso explorando conceitos de Fsica ........124 Figura 36- Projeto GT-MRE e Repositrio de SDI. ........................................130

  • 16

    Figura 37 - Guia de planejamento para construo das SDI. ........................... 131 Figura 38 - Ciclo de aprendizagem por inqurito e duas fases. ....................... 132 Figura 39 - Imagem parcial da 1 etapa da SD - Orientao ............................ 134 Figura 40 Viso geral da Contextualizao de uma SDI .............................. 136 Figura 41 - Viso geral da fase Investigao .................................................. 138 Figura 42 Experimentao no Microscpio Remoto .................................... 139 Figura 43 Viso geral da discusso............................................................... 140 Figura 44 Viso geral da concluso .............................................................. 141 Figura 45 Viso geral SDI Orientao Histologia Vegetal ..................... 143 Figura 46 Contextualizao Histologia Vegetal ........................................ 144 Figura 47 Investigao Histologia Vegetal ................................................ 145 Figura 48 Discusso Histologia Vegetal .................................................... 146 Figura 49 Orientao Impulsos Nervosos .................................................. 147 Figura 50 Contextualizao Impulsos Nervosos ........................................ 149 Figura 51 Investigao 1 e 2: Impulsos Nervosos ........................................ 150 Figura 52 Discusso Impulsos Nervosos ................................................... 150 Figura 53 Concluso Impulsos Nervosos .................................................. 151 Figura 54 Faixa etria da amostra ................................................................. 153 Figura 55 Gnero da amostra ........................................................................ 154 Figura 56 Cor ou Raa da amostra ............................................................... 154 Figura 57 Quanto a algum tipo de deficincia .............................................. 155 Figura 58 Quanto ocupao profissional da amostra ................................. 155 Figura 59 Renda familiar da amostra ............................................................ 156 Figura 60 Tipo de escola frequentada pela amostra ...................................... 156 Figura 61 Quanto possuir computador e ter acesso a internet. ................... 157 Figura 62 Onde acessa a internet .................................................................. 157 Figura 63 Quanto ao aparelho que utiliza para acessar a internet ................. 158 Figura 64 Quanto ao tempo de uso dirio da internet ................................... 158 Figura 65 Quanto a frequncia que l os e-mails .......................................... 159 Figura 66 Quanto aos meios de comunicao mais explorados .................... 159 Figura 67 Anlise por questo da subescala Usabilidade na aplicao teste

    ......................................................................................................................... 162 Figura 68 Grfico sobre a percepo de usabilidade apontada na Aplicao

    Teste ................................................................................................................ 163 Figura 69 Anlise por questo da subescala Percepo de Aprendizagem na

    aplicao teste .................................................................................................. 165 Figura 70 Grfico sobre a percepo de aprendizagem apontada na Aplicao

    Teste ................................................................................................................ 166 Figura 71 - Anlise por questo da subescala Satisfao na aplicao teste . 168 Figura 72 - Grfico sobre a percepo de satisfao apontada na Aplicao

    Teste ................................................................................................................ 168 Figura 73 - Anlise por questo da subescala Utilidade na aplicao teste ... 170 Figura 74 - Grfico sobre a percepo de utilidade apontada na Aplicao Teste

    ......................................................................................................................... 171 Figura 75 Viso geral dos resultados por subescala na aplicao Teste. ...... 171

  • 17

    Figura 76 Matriz SWOT: Aplicao-Teste ...................................................174 Figura 77 Aes de reestruturao da SDI ....................................................178 Figura 78 Reestruturao da SDI ..................................................................179 Figura 79 - Anlise por questo da subescala Usabilidade............................182 Figura 80 - Grfico sobre a percepo de usabilidade apontada na Aplicao

    Ps-Teste .........................................................................................................183 Figura 81 - Anlise por questo da subescala Percepo da Aprendizagem na

    aplicao Ps-Teste .........................................................................................185 Figura 82 - Grfico sobre a percepo da aprendizagem apontada na Aplicao

    Ps-Teste .........................................................................................................185 Figura 83 - Anlise por questo da subescala Satisfao na aplicao Ps-

    Teste ................................................................................................................187 Figura 84 - Grfico sobre a percepo de satisfao apontada na Aplicao

    Teste ................................................................................................................188 Figura 85 - Anlise por questo da subescala Utilidade na aplicao Ps-Teste

    .........................................................................................................................190 Figura 86 - Grfico sobre a percepo de satisfao apontada na Aplicao

    Teste ................................................................................................................191 Figura 87 Escores Mdios apresentados em cada subescala .........................192 Figura 88 - Viso geral dos resultados por subescala nas aplicaes Ps-Teste

    .........................................................................................................................193 Figura 89 Matriz SWOT: Aplicaes Ps-Teste ...........................................199 Figura 90 Mapa mental sobre os encaminhamentos desse trabalho de pesquisa

    .........................................................................................................................208

  • 18

  • 19

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Linhas de Pesquisa do PPGTIC e objetivos. ....................... 41 Quadro 2 - Comparao entre Laboratrios Virtuais e Laboratrios

    Remotos................................................................................................. 94 Quadro 3 Nveis de concordncia e seus valores correspondentes... 109 Quadro 4 Interpretaes sobre resultados obtidos a partir do

    coeficiente alfa de Conbrach. .............................................................. 112 Quadro 5 - Quadro de infraestrutura fsica do IFSC Campus

    Ararangu ............................................................................................ 116 Quadro 6 Definio de Populao Amostral .................................... 117 Quadro 7: Organizao curricular e carga horria para disciplina de

    Biologia ............................................................................................... 118 Quadro 8 Guia de Construo para elaborao de Planos de Aula .. 126 Quadro 9 - Subescalas avaliadas e definies ..................................... 161 Quadro 10 Relatos de experincia nvel Insatisfatrio ................. 201 Quadro 11 - Relatos de experincia nvel Satisfatrio ..................... 202 Quadro 12 - Relatos de experincia nvel Bom ............................... 203 Quadro 13 - Relatos de experincia nvel timo ............................. 204

  • 20

  • 21

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Nveis de proficincia em cincias definidos pela OCDE com

    seus escores mnimos e percentuais atingidos pelos pases da OCDE e

    pelos alunos brasileiros. ........................................................................ 30

    Tabela 2 - Descrio resumida dos nveis 1b, 1a e 2, definida pela

    OCDE .................................................................................................... 32

    Tabela 3 - N de equipamentos, municpio atendidos e instituies

    beneficiadas pelo PROINFO, entre os anos de 1997 2006................. 50

    Tabela 4 - Tecnologias Educacionais para ensino e aprendizagem

    elencadas pelo Guia de Tecnologias Educacionais em 2008. ............ 52

    Tabela 5 - Tendncias para acelerar a aderncia de Tecnologia

    Educao. .............................................................................................. 59

    Tabela 6 - Desafios significativos identificados 2012 a 2017 pelo NMC,

    sendo os de 2017 vlidos para os prximos 5 anos. .............................. 61

    Tabela 7 - Importantes desenvolvimentos em Tecnologias Educacionais.

    ............................................................................................................... 62

    Tabela 8 - Ciclo de inqurito proposto por Pedastes et al. (2015) ......... 73

    Tabela 9 - Publicaes que definem a amostra final de anlise e coleta

    de dados. ................................................................................................ 96

    Tabela 10 Medio de confiabilidade por alfa de Conbach ............. 113

    Tabela 11 Organizao do trabalho pedaggico Aplicao 1

    Pigmentao Foliar TIEM04/2016 ................................................... 128

    Tabela 12 - Organizao do trabalho pedaggico Aplicao 2

    Impulsos Nervosos TIVES04/2016 .................................................. 129

    Tabela 13 Construo SDI ............................................................... 133

    Tabela 14 Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    usabilidade durante a aplicao teste. ............................................... 162

    Tabela 15 - Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Percepo de Aprendizagem durante a aplicao teste..................... 164

    Tabela 16- Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Satisfao durante a aplicao teste. ................................................. 167

    Tabela 17 - Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Utilidade durante a aplicao teste. .................................................. 169

    Tabela 18 - Avaliao das atividades propostas na aplicao 1:

    pigmentao foliar - TIEM 04/2016 .................................................... 173

    Tabela 19 Escores Mdios e Desvio Padro apresentados na subescala

    Usabilidade .......................................................................................... 181

    Tabela 20 - Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Usabilidade durante a aplicao Ps-Teste. ...................................... 182

  • 22

    Tabela 21 - Escores Mdios e Desvio Padro apresentados na subescala

    Percepo da Aprendizagem .............................................................184

    Tabela 22 - Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Percepo da Aprendizagem durante a aplicao Ps-Teste. ............184

    Tabela 23 - Escores Mdios e Desvio Padro apresentados na subescala

    Satisfao ..........................................................................................186

    Tabela 24 - Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Satisfao durante a aplicao Ps-Teste. ..........................................186

    Tabela 25 - Escores Mdios e Desvio Padro apresentados na subescala

    Utilidade ............................................................................................189

    Tabela 26 - Frequncia relativa e absoluta identificadas na subescala

    Satisfao durante a aplicao Ps-Teste. ..........................................189

    Tabela 27 Relatrio de notas das atividades propostas na SDI:

    TIVES04/2016 .....................................................................................194

    Tabela 28 - Relatrio de notas das atividades propostas na SDI:

    TIEM03/2016 .......................................................................................195

    Tabela 29 - Relatrio de notas das atividades propostas na SDI:

    TIEM04/2017 .......................................................................................196

    Tabela 30 - Relatrio de notas das atividades propostas na SDI:

    TIVES03/2017 .....................................................................................197

  • 23

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABI - Aprendizagem Baseada em Investigao

    ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem

    BNCC - Base Nacional Comum Curricular

    CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CNE - Conselho Nacional de Educao

    CNPq - Conselho Nacional de Pesquisas

    EDUCOM - Educao e Computador

    FIC - Formao Inicial Continuada

    FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    GT-MER - Grupo de Trabalho em Experimentao Remota Mvel

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatsticas

    IDEB - ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    IFRGS - Instituto Federal do Rio Grande do Sul

    IFSC - Instituto Federal de Santa Catarina

    LOE - Laboratrios On-line de Experimentao

    LVR - Laboratrios Virtuais e Remotos

    MEC - Ministrio de Educao e Cultura

    MOODLE - Modular Object Oriented Distance Learning MRE - Experimentao Remota Mvel

    NSES - National Science Education Standards

    OCDE - Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    PBL - Aprendizagem Baseada em Problemas

    PCNs - Parmetros Curriculares Nacionais

    PDE - Plano de Desenvolvimento da Educao

    PhET - Physics Education Technology

    PISA - Programa Internacional de Avaliao de Estudantes

    PPC - Plano Pedaggico de Curso

    PPGTIC - Programa de Ps-Graduao em Tecnologias da Comunicao

    e Informao

    PROEJA-FIC - Ensino fundamental integrado com um curso

    profissionalizante

    PROINFO - Programa de Ps-Graduao em Tecnologias da

    Comunicao e Informao

    RELLE - Remote Labs Learning Environment

    REXLAB - Laboratrio de Experimentao Remota

    SBIE - Simpsio Brasileiro de Informtica na Educao

    SD - Sequncias Didticas

    SDI - Sequncias Didticas Investigativas

  • 24

    SEB - Secretaria de Educao Bsica

    SEI - Secretaria Especial de Informtica

    STEM - Science, Technology, Engineering, and Mathematics SWOT - Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

    TDIC - Tecnologias Digitais da Informao e Comunicao

    TIC - Tecnologias da Informao e Comunicao

    UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

  • 25

    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................ 27 1.1 PROBLEMATIZAO .............................................................. 30

    1.1.1 Problema de Pesquisa ......................................................... 34 1.2 MOTIVAO ............................................................................. 35

    1.3 OBJETIVOS ................................................................................ 37

    1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................... 37

    1.3.2 Objetivos Especficos .......................................................... 37 1.4 JUSTIFICATIVA ........................................................................ 38

    1.5 ADERNCIA AO PPGTIC E LINHA DE PESQUISA ........... 39

    1.6 ESTRUTURA DO TEXTO ......................................................... 42

    2 REFERENCIAL TERICO ........................................................... 45 2.1 A INTEGRAO DE TECNOLOGIA NAS ESCOLAS

    BRASILEIRAS ................................................................................. 45

    2.2 O ENSINO DE CINCIAS BASEADO EM INVESTIGAO . 63

    2.2.1 Ensino de Cincias e Biologia no Brasil ............................ 64

    2.2.2 Aprendizagem Baseada em Investigao .......................... 68

    2.2.3 Sequncias Didticas Investigativa .................................... 75 2.3 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM ..................... 80

    2.3.1 Moodle .................................................................................. 83

    2.4 LABORATRIOS ON-LINE ...................................................... 86

    2.4.1 Laboratrios de Experimentao Remota ........................ 89

    2.4.2 Laboratrios Virtuais ......................................................... 91

    2.4.3 Laboratrios Virtuais X Laboratrios Remotos .............. 94

    2.4.4 Integrao entre Laboratrios Virtuais e Remotos

    integrados ...................................................................................... 95

    3 METODOLOGIA .......................................................................... 105 3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA ..................................... 105

    3.2 ETAPAS DA PESQUISA .......................................................... 106

    3.3 COLETA E TRATAMENTO DE DADOS ................................ 108

    3.4 VALIDADE E CONFIABILIDADE DA COLETA DE DADOS

    ......................................................................................................... 111

    4 APRESENTAO DOS RESULTADOS PR-APLICAO . 115 4.1 LOCAL E SUJEITOS DA PESQUISA ...................................... 115

    4.2 LABORATRIOS ON-LINE UTILIZADOS NA PESQUISA . 120

    4.2.1 Microscpio Remoto ......................................................... 120

    4.2.2 Simulador de Neurnio ..................................................... 122

    4.2.3 Simulador Reflexos Nervosos ........................................... 123 4.3 ELABORAO DOS PLANOS DE AULA ............................. 125

    4.4 CONSTRUO DAS SEQUNCIAS DIDTICAS ................ 129

  • 26

    4.4.1 Processo de Construo .....................................................131 4.4.1.1 SDI: Pigmentao Foliar ...............................................133

    4.4.1.2 SDI: Histologia Vegetal ..............................................142

    4.4.1.3 SDI: Impulsos Nervosos .............................................147

    4.4.2 Consideraes sobre a construo de SDI .......................151

    5 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS PS-

    APLICAO .....................................................................................153 5.1 PERFIL DA AMOSTRA TOTAL ..............................................153

    5.2 APLICAO TESTE.................................................................160

    5.2.1 Resultados referentes ao Questionrio de avaliao da

    utilizao de laboratrios on-line integrados SDI ...............160 5.2.1.1 Usabilidade .................................................................161

    5.2.1.2 Percepo da Aprendizagem .......................................164

    5.2.1.3 Satisfao ....................................................................166

    5.2.1.4 Utilidade .....................................................................168

    5.2.1.5 Viso Geral .................................................................171

    5.2.2 Resultados referentes ao Questionrio de Opinio .....173

    5.2.3 Reestruturaes realizadas aps anlise dos dados da

    aplicao teste ..............................................................................177 5.3 APLICAES PS-TESTE ......................................................179

    5.3.1 Resultados referentes ao Questionrio de avaliao da

    utilizao de laboratrios on-line integrados SDI ...............180 5.3.1.1 Usabilidade ....................................................................181

    5.3.1.2 Percepo da Aprendizagem .........................................183

    5.3.1.3 Satisfao ......................................................................186

    5.3.1.4 Utilidade ........................................................................188

    5.3.1.5 Viso Geral....................................................................191

    5.3.2 Resultados referentes ao Questionrio de Opinio .....197

    6 CONCLUSO .................................................................................207 REFERNCIAS ..................................................................211

    APNDICE A ......................................................................229

    APNDICE B .......................................................................235

    APNDICE C ......................................................................241

    APNDICE D ......................................................................237

    APNDICE E .......................................................................239

    APNDICE F .......................................................................243

  • 27

    1 INTRODUO

    A presente dissertao de mestrado apresenta um estudo sobre a

    integrao de tecnologia na educao bsica mediante o uso de

    laboratrios virtuais e remotos, que para fins de validao foram

    disponibilizados no Ambiente Virtual de Aprendizagem, Moodle, em forma de Sequncias Didticas Investigativas, em turmas do Ensino

    Mdio, na disciplina de biologia.

    Nesse sentido, essa pesquisa explora conceitos sobre o ensino de

    cincias por investigao, metodologias ativas de aprendizagem como a

    Aprendizagem Baseada em Investigao, ensino hbrido e tecnologias

    educacionais como a experimentao em laboratrios on-line e realizao

    de atividades em AVA.

    Dessa forma, esse estudo mostra maneiras de como esses conceitos

    integram-se entre si e como so possveis de serem aplicados em uma

    situao real em sala de aula. Rompendo, assim, obstculos presentes na

    realidade das escolas brasileiras, oferecendo aos professores novas

    formas de ensinar cincias e aos alunos outras possibilidades de aprender.

    Dentro desse contexto, importante ressaltar que o ensino de

    biologia fundamental para a formao bsica do cidado, j que tem

    como objeto de estudo os fenmenos naturais que esto intrnsecos vida

    em toda sua diversidade de manifestaes. Nesse sentido caracteriza-se

    por um conjunto de processos organizados e integrados que esto sujeitos

    transformaes ao mesmo tempo em que so capazes de ressignificar o

    ambiente (MINISTRIO DA EDUCAO, 2006).

    Sendo assim, importante ressaltar que o desenvolvimento do

    conhecimento cientfico, assim como o ensino de biologia no Brasil foi

    reconhecido tardiamente como disciplina obrigatria, sendo inserido aos

    poucos nas escolas, a partir do sc. XIX, por meio da traduo de projetos

    curriculares americanos, a fim de levar aos alunos os ltimos avanos da

    cincia (LINSINGEN, 2010).

    Seu incio foi marcado por um processo linear de ensino, sem

    quaisquer intervenes pessoais, polticas e ideolgicas, ou seja, sem

    questionamentos acerca do conhecimento estudado, apenas aulas

    expositivas com transmisso do conhecimento por parte do professor e

    recebimento por parte do aluno (LINSINGEN, 2010). Desde ento, o

    processo de ensinar biologia no Brasil, assim como todo o sistema de

    ensino, passou por muitas tendncias e mudanas, no entanto ainda

    possvel identificar essas caractersticas tradicionais, que se encontram

    muito.

  • 28

    Atualmente, o sistema de ensino brasileiro est em processo de

    transio, marcado por fortes mudanas que o direcionam tanto para uma

    possvel reestruturao de currculo como para insero de novas

    prticas-pedaggicas que atentem para formao integral do aluno,

    integrando Tecnologias Digitais da Informao e Comunicao (TDIC)

    no processo de ensino, e oportunizando a ele permanncia e xito no

    perodo escolar.

    Tal fato evidencia-se no atual documento normativo da Educao

    Bsica no Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este

    documento define um conjunto orgnico e progressivo de aprendizagens

    essenciais (competncias) que todos os alunos devem desenvolver ao

    longo das etapas e modalidades da Educao Bsica, entre elas a de

    utilizar tecnologias digitais de comunicao e informao de forma

    crtica, significativa, reflexiva e tica nas diversas prticas ao se

    comunicar, acessar e disseminar informaes, produzir conhecimentos e

    resolver problemas (BNCC, 2017, p. 18).

    Nesse sentido, possvel perceber que, ao mesmo tempo em que

    se percebem as deficincias existentes nos processos de ensino, entende-

    se que uma reestrutura em seus moldes precisa abranger atividades que

    aproximem os alunos a um contexto real. necessrio fazer uso de

    ferramentas digitais que esto disponveis, e so parte do cotidiano do

    aluno. Concomitante a isso, necessrio propor atividades que estimulem

    a reflexo e produo do conhecimento, ou seja, a escola precisa

    acompanhar as mudanas e avanos tecnolgicos que surgem juntamente

    com a nova gerao de estudantes.

    A BNCC (2017, p. 57) declara que todo esse quadro impe

    escola desafios ao cumprimento do seu papel em relao formao das

    novas geraes. A normativa esclarece que a escola precisa preservar o

    seu compromisso de estimular a reflexo e oportunizar ao aluno

    atividades que o faa desenvolver uma postura crtica em relao ao

    contedo e multiplicidade de ofertas miditicas e digitais (BNCC,

    2017, p. 57).

    O documento em questo considera que a cultura digital tem

    proporcionado mudanas sociais relevantes nas sociedades

    contemporneas, devido difuso das TDIC, mais especificamente, dos

    dispositivos mveis, e sugere:

    [...] essa cultura apresenta forte apelo emocional e

    induz ao imediatismo de respostas e efemeridade

    das informaes, privilegiando anlises

    superficiais e o uso de imagens e formas de

  • 29

    expresso mais sintticas, diferentes dos modos de

    dizer e argumentar caractersticos da vida escolar.

    Ao aproveitar o potencial de comunicao do

    universo digital, a escola pode instituir novos

    modos de promover a aprendizagem, a interao e

    o compartilhamento de significados entre

    professores e estudantes. (BNCC, 2017, pg. 57)

    Nesse sentindo a Aprendizagem Baseada em Investigao (ABI),

    definida como um dos tipos de metodologias ativas de aprendizagem, e

    tambm como uma abordagem mais profunda de aprendizagem, pelo

    NMC Horizon Report (2017), se enquadra como uma proposta de

    melhoria na qualidade de ensino, pois cria oportunidades para a

    integrao de tecnologia no ambiente escolar, explorando com magnitude

    seu potencial, atravs de atividades investigativas que estimulam a

    reflexo crtica, abrindo espaos para prticas experimentais, que podem

    ser viabilizadas por meio de laboratrios on-line (virtuais e remotos).

    Sobre as metodologias ativas de aprendizagem Valente (2014)

    esclarece que estas prticas no so novidades na rea educacional, e que

    no necessariamente implementam TDIC em sua prtica, mas que tm

    adaptado as mesmas para a gerao de novas modalidades de ensino como

    o PeerInstruction (PI), Aprendizado por pares e Flipped Classroom (Sala

    de Aula Invertida), ou ainda fortalecido o emprego, em sala de aula, de

    novas estratgias como Project Based Learning (PBL), aprendizagem baseada em projetos; o Game Based Learning (GBL), ensino e

    aprendizagem por meio de jogos; a Inquiry-based learning, aprendizagem baseada em investigao, entre outras que preocupam-se em focar no

    aprender e no no ensinar.

    Considerando tal cenrio, a presente pesquisa visou verificar a

    aceitao e viabilidade da utilizao de laboratrios on-line integrados

    Sequncias Didticas Investigativas, disponibilizadas em Ambiente

    Virtual de Aprendizagem, voltadas ao ensino de biologia para turmas de

    Ensino Mdio, por meio de aplicaes da ferramenta e avaliao feita

    pelos alunos aps as aplicaes.

    Sendo assim, este estudo versa sobre (i) integrao de tecnologia

    nas escolas brasileiras; (ii) ensino de cincias por investigao; (iii) o uso

    de sequncias didticas no processo de ensino e aprendizagem; e por fim,

    (iv) laboratrios on-line e AVA. Alm disso, o mesmo descreve sobre o

    processo de pesquisa e desenvolvimento da construo das SDI,

    disponibilizadas no AVA - Moodle, abordando os temas Pigmentao

    Foliar, Histologia Vegetal e Impulsos Nervosos. E por fim, explora

  • 30

    as percepes apresentadas pelos alunos quanto usabilidade, utilidade,

    satisfao e aprendizagem durante e aps a aplicao da ferramenta, por

    meio de questionrios de avaliao.

    1.1 PROBLEMATIZAO

    Este estudo, quanto sua problematizao, pautou-se sobre trs

    pilares, so eles: (i) baixo ndice de rendimento dos alunos brasileiros nas

    disciplinas referentes ao ensino de cincias; (ii) desmotivao e

    desinteresse no contexto escolar; e (iii) pouco uso de atividades que

    envolvem investigao e experimentao prtica nas aulas de biologia, no

    Ensino Mdio.

    Dados divulgados pelo Programa Internacional de Avaliao de

    Estudantes (PISA) em dezembro de 2016, referentes as avaliaes

    realizadas no ano de 2015, apontam que o Brasil decaiu no ranking

    mundial de educao, ocupando 63 lugar em cincias, entre os 70 pases

    pertencentes Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento

    Econmico (OCDE). Essa avaliao feita trienalmente, em diferentes

    instituies de ensino (institutos federais, escolas particulares e pblicas

    estaduais e municipais) e participam dela alunos com idade entre 15 e 16

    anos, que tenham cursando no mnimo at o 7 ano.

    No ano de 2015, especificamente, segundo a OCDE (2016), a rea

    de cincias foi o foco da prova, sendo os resultados analisados sob trs aspectos:

    (i) explicar fenmenos cientificamente; (ii) avaliar e planejar experimentos

    cientficos; e (iii) interpretar dados e evidncias cientificamente.

    Nesse sentido, a OCDE definiu sete nveis de proficincia em

    cincia para os alunos que realizaram a avaliao do PISA, sendo que para

    cada nvel estipulou-se um escore mnimo, como pode ser analisado na

    tabela 1, que aponta os nveis de proficincia com seus respectivos

    escores mnimos, percentual atingido pelos pases da OCDE e percentual

    atingido pelos estudantes brasileiros.

    Tabela 1 - Nveis de proficincia em cincias definidos pela OCDE com seus escores mnimos e percentuais atingidos pelos pases da OCDE e pelos alunos

    brasileiros. Nveis 1b 1a 2 3 4 5 6

    Escore mnimo 261 335 410 484 559 633 708

    % OCDE 4,91% 15,74% 24,80% 27,23% 19,01% 6,67% 0,65%

    % Brasil 19,85% 32,37% 25,36% 13,15% 4,22% 0,65% 0,02%

    Fonte: Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (2016)

  • 31

    Nesse sentido, possvel identificar que 52,2% dos estudantes

    brasileiros encontra-se no nvel 1 de proficincia, ou seja, possuem uma

    compreenso bsica sobre os contedos e procedimentos explorados, que

    so necessrios para identificar e reconhecer fenmenos naturais. Os

    resultados tambm evidenciaram que apenas 24,80% dos participantes da

    avaliao atingiram o nvel 2, com escore mnimo de 410 pontos. Nesse

    mbito, importante salientar que o nvel 2 pressuposto pela OCDE

    como fundamental, pois fornece a aprendizagem necessria para a plena

    participao na vida social de um mundo globalizado (ORGANIZAO

    PARA A COOPERAO E DESENVOLVIMENTO ECONMICO,

    2016).

    Seguindo a anlise possvel detectar um decrscimo significativo

    nos percentuais dos nveis mais elevados, identificando que menos de

    10% de estudantes brasileiros encontram-se entre os nveis 4 e 6. Toda

    essa anlise e comparao, pode ser claramente realizada na figura 1.

    Figura 1 - Comparao entre os nveis de proficincia apresentados pelos pases

    da OCDE e pelos estudantes brasileiros na avaliao PISA 2015.

    Fonte: Elaborado pela autora.

    Vale ressaltar, que para cada nvel de proficincia apontado pela

    OCDE no h apenas um escore mnimo, mas habilidades e competncias

    que devem ser desenvolvidas pelos alunos que atingem essa pontuao. Nesse sentido, como apontam os resultados apresentados pela figura 1,

    fica evidente que os maiores picos atingidos pelo Brasil esto

    concentrados nos nveis 1b, 1a e 2. A tabela 2 traz de forma clara e

    sintetizada as caractersticas que so apresentadas pelos alunos que

    atingem esses nveis.

    0,00%

    5,00%

    10,00%

    15,00%

    20,00%

    25,00%

    30,00%

    35,00%

    1b 1a 2 3 4 5 6

    Nveis de proficincia em cincias atingidos pelos pases da OCDE e

    Brasil na avaliao PISA 2015

    % OCDE % Brasil

  • 32

    Tabela 2 - Descrio resumida dos nveis 1b, 1a e 2, definida pela OCDE

    Nvel Caractersticas

    2

    Os estudantes conseguem recorrer a conhecimento cotidiano e a conhecimento

    procedimental bsico para identificar uma explicao cientfica adequada, interpretar dados

    e identificar a questo abordada em um projeto experimental simples. So capazes de usar

    conhecimento cientfico bsico ou cotidiano para identificar uma concluso vlida a partir

    de um conjunto simples de dados. Esses estudantes demonstram ter conhecimento

    epistemolgico bsico ao conseguir identificar questes que podem ser investigadas

    cientificamente.

    1a

    Os estudantes conseguem usar conhecimento de contedo e procedimental bsico ou

    cotidiano para reconhecer ou identificar explicaes de fenmenos cientficos simples. Com

    apoio, eles conseguem realizar investigaes cientficas estruturadas com no mximo duas

    variveis. Conseguem identificar relaes causais ou correlaes simples e interpretar dados

    em grficos e em imagens que exigem baixo nvel de demanda cognitiva. Esses estudantes

    so capazes de selecionar a melhor explicao cientfica para um determinado dado em

    contextos global, local e pessoal.

    1b

    Os estudantes podem usar conhecimento cientfico bsico ou cotidiano para reconhecer

    aspectos de fenmenos simples e conhecidos. Conseguem identificar padres simples em

    fontes de dados, reconhecer termos cientficos bsicos e seguir instrues explcitas para

    executar um procedimento cientfico.

    Fonte: Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (2016)

    Verificando os resultados obtidos, nos ltimos anos, pelos alunos

    brasileiros com relao a disciplina de cincias, pode-se identificar um

    avano de seis pontos entre os anos 2006 e 2009. No entanto, a mdia

    manteve-se praticamente estagnada entre 2009 e 2015, como pode ser

    visto na figura 2, o que gera preocupaes e questionamentos sobre a

    eficcia do ensino ofertado atualmente nas escolas.

    Figura 2 - Evoluo da proficincia mdia dos estudantes brasileiros

    considerando os erros de ligao. PISA CINCIAS: 2006 2015

    Fonte: Programa Internacional de Avaliao de Estudantes (2015)

    390

    405

    402

    401

    380

    385

    390

    395

    400

    405

    410

    2006 2009 2012 2015

    Desempenho dos brasileiros em Cincias

    PISA - 2015

  • 33

    Diante desse cenrio, torna-se ainda importante destacar, que a

    OCDE, sobre a mdia de 2015, reporta que o desempenho dos jovens

    estudantes da rede municipal e estadual de ensino apresentam o menor

    ndice de desempenho (figura 3).

    Silva et al. (2013) explica que essa situao, aqui no Brasil, pode

    estar diretamente relacionada com as carncias no sistema de ensino

    brasileiro, que no oferece conceitos consistentes nas disciplinas que

    envolvem o ensino de cincias, e na falta de servios bsicos

    (infraestrutura) encontrada nas escolas da rede pblica. O autor ressalta

    que o atual cenrio da educao brasileira pode levar a diminuio

    significativa de profissionais atuantes nas reas de tecnologia e inovao.

    Viecheneski, Lorenzetti e Carletto (2012), complementam que

    alm das deficincias supracitadas, lidamos com o despreparo do

    professor para realizar aulas experimentais, e que o ensino de Cincias,

    na maioria das vezes, se reduz exposio oral do contedo e realizao

    de atividades em livros didticos.

    Figura 3 - Mdia geral dos estudantes brasileiros considerando as diferentes

    instituies de ensino. PISA CINCIAS: 2015

    Fonte: Programa Internacional de Avaliao de Estudantes (2015)

    Zancul (2008) afirma que os professores, quando indagados a

    respeito da pouca utilizao de experimentao em aula, justificaram no

    possuir os materiais necessrios para sua realizao, bem como

    dificuldades em manter a disciplina em sala de aula, j que estes espaos

    normalmente encontram-se lotados, com grande nmero de alunos por

    sala.

    487

    517

    394

    329

    Escolas Particulares

    Escolas Federais

    Escolas Estaduais

    Escolas Municipais

    Mdia em Cincias por escolas

  • 34

    Para autora, as justificativas apontadas so possveis de serem

    solucionadas. A mesma concorda que muitos professores no possuem

    preparo para tais atividades, e que esse despreparo reflexo da sua m

    formao profissional. Zancul (2008, p.67) salienta que se ele prprio (o

    professor) nunca realizou uma atividade de investigao ou envolveu-se

    na resoluo de problemas, ter poucos elementos para orientar os

    estudantes na explorao de procedimentos como este.

    A ausncia de aulas experimentais, principalmente nas etapas da

    Educao Bsica, tem resultado em pontos negativos para a formao de

    profissionais que marcam o desenvolvimento cientfico, tecnolgico e

    econmico de um pas, pois dessa forma os alunos no so estimulados a

    seguirem carreira nas reas de STEM (acrnico em ingls Science,

    Technology, Engineering, and Mathematics) (GUTL ET AL., 2012).

    Estudos realizados por Gutl et al. (2012) apontam que muitos

    alunos tm dificuldades com a apropriao do conhecimento cientfico e

    com o desenvolvimento de habilidades necessrias investigao. O

    autor ainda sugere que tal fato reflete em baixo interesse geral pelas

    carreiras cientficas (GUTL ET AL., 2012).

    Carvalho (2004), quando focaliza no ensino de cincias, sugere que

    todo empenho em investigao e experimentao que acarretou no avano

    cientfico dos ltimos sculos, no tem feito parte do ambiente escolar. O

    mesmo ainda reitera, que apesar de haver currculos e programas

    bastante atualizados, estes se encontram submetidos a tratamento didtico

    obsoleto, em desacordo com o processo de fazer e pensar cincias

    (CARVALHO, 2004, p. 2).

    Nesse sentido, Gutl et al. (2012) apontam que os alunos da gerao

    atual desejam ambientes de aprendizagem mais dinmicos, modernos e

    interativos, apoiados em tecnologias de ponta, que permitem que

    contedo possa ser explorado e experimentado, combinando assim,

    aprendizado, entretenimento e trabalho em equipe.

    Posto isso, possvel entender que a necessidade por inovao no

    sistema de ensino frente s atuais geraes e ao advento das TDIC torna-

    se latente. Nesse sentido, o uso de Tecnologias Educacionais aliadas s

    propostas de ensino que considerem a importncia de atividades

    investigativas e de experimentao, podem configurar-se como uma

    interveno positiva no processo de ensino.

    1.1.1 Problema de Pesquisa

    Considerando tal cenrio, esperou-se com essa pesquisa, responder

    seguinte questo: Como o uso de laboratrios virtuais e remotos,

  • 35

    integrados a sequncias didticas online investigativas, podem aumentar

    a qualidade no ensino de Biologia na formao bsica de alunos do Ensino

    Mdio, melhorando sua motivao e interesse dentro do contexto escolar?

    1.2 MOTIVAO

    O interesse e motivao por essa pesquisa vm sendo construdo j

    h alguns anos, e se renova a cada entrada e sada de uma sala de

    aula. No h mais como negar que a abordagem sistemtica e conteudista

    impregnada h anos nas aulas de Biologia no me faam refletir e

    questionar sobre o tipo de aluno que quero deixar para o mundo do

    trabalho e do desenvolvimento.

    A frustrao da maioria dos alunos evidente a cada contedo

    transmitido, fcil perceber que os conceitos no so apropriados por

    eles como deveriam, pois no carregam valor significativo. O aluno pode

    at aprender o que determinado conceito, mas dificilmente far ligao

    do para que serve, ou seja, esse conhecimento pouco provavelmente

    ser aplicado na prtica.

    Infelizmente, a maioria das aulas de Biologia planejadas por mim,

    at ento, foram carregadas de nomes tcnicos e cientficos, transmitidos

    aos alunos de forma linear e sistematizada como forma de cumprir o

    proposto nos currculos.

    Alm do mais, difcil encarar que os sistemas de avaliao e

    seleo para entrada nas universidades, na sua grande maioria, ainda

    empregam esse sistema de decoreba de conceitos, e pouco exigem do

    aluno o conhecimento aplicado, fazendo com que ns, professores, ainda

    fiquemos presos a essa situao, de ter que garantir ao aluno condies

    para que ele passe no vestibular atravs de ensino sistemtico e linear.

    No entanto, a m formao desse aluno acaba o desestimulando

    para carreira cientfica, ou ainda tornando sua formao deficiente, o

    transformando em um profissional pouco criativo e sem aptido para

    resoluo de problemas cotidianos e especficos de suas atribuies, ou

    seja, retiramos desse aluno o poder de reflexo e autonomia, necessrios

    para o bom desenvolvimento de qualquer funo no mercado de trabalho.

    Alm de perceber que essa abordagem conteudista s tem

    aumentado nos alunos o desinteresse pela vida escolar, nos ltimos trs

    anos, a prtica pedaggica em sala de aula tem sido marcada pela

    incessante corrida contra o smartphone, ou seja, esse dispositivo no

    apenas chegou ao mercado como se popularizou entre os alunos, sendo

    presena constante na vida de quase todos, inclusive dentro do espao

    escolar.

  • 36

    E diante desse cenrio surgiram diversos questionamentos, entre

    eles: Como tornar minhas aulas mais interessantes?; Como motivar meu

    aluno para seguir carreira cientfica?; Como tornar meu aluno mais ativo,

    reflexivo, questionador, crtico e criativo?; Como ensinar meu aluno a

    aprender?; Como fazer do smartphone um aliado em minhas aulas?; Entre

    tantos outros questionamentos que me fizeram buscar por suporte, ou seja,

    por pessoas que pudessem me orientar sobre como integrar a tecnologia

    nas minhas aulas, fazendo dela uma aliada.

    Foi nessa busca constante, que conheci o grupo de pesquisa

    RexLab, localizado na Universidade Federal de Santa Catarina, em

    Ararangu. Nesse momento pude conhecer o trabalho desenvolvido por

    essa equipe, passar por capacitaes e participar da construo de material

    de apoio-didtico para o experimento remoto conhecido como

    microscpio remoto.

    Fundado em 1997, o RexLab um laboratrio que desenvolve e

    disponibiliza gratuitamente experimentos remotos de baixo custo,

    estimula e d suporte para sua replicao, e capacita docentes com

    objetivo de atender a necessidade de apropriao social da cincia e da

    tecnologia. Dessa forma, acaba popularizando os conhecimentos

    cientficos e tecnolgicos, incentivando os jovens para carreira cientfica,

    e promovendo a melhoria do ensino por meio da

    atualizao/modernizao, enfatizando aes e atividades que valorizem

    e estimulem a criatividade, a experimentao e a interdisciplinaridade

    (REXLAB, 2017).

    Por meio do RexLab tive a oportunidade de conhecer um de seus

    projetos, o Grupo de Trabalho em Experimentao Remota Mvel (GT-

    MRE), que tem como objetivos o desenvolvimento e aplicao de

    proposta de estratgia para a integrao de tecnologias no ensino das

    disciplinas STEM (Cincia, Tecnologia, Engenharia e Matemtica),

    utilizando Experimentao Remota Mvel. Para isso o grupo desenvolveu

    uma plataforma capaz de integrar AVA atravs da disponibilizao de

    contedos didticos abertos online, acessados por dispositivos mveis ou

    convencionais, e complementados pela interao com experimentos

    remotos (GT-MRE, 2017).

    Dessa forma, fui capacitada pela equipe para o uso das ferramentas

    disponibilizadas, como tambm tive acesso a inmeros estudos que tratam

    sobre o potencial da ferramenta em questo. Esses recursos

    disponibilizados pelos GT-MRE configuram-se no somente como uma

    incluso da tecnologia na educao, como tambm propem

    interferncias nas prticas-pedaggicas de sala de aula, proporcionando

    assim uma melhoria completa no atual cenrio de ensino que encontramos

  • 37

    nas escolas. Para as aulas de Biologia, em especfico, a proposta coube

    perfeitamente, pois alm do AVA disponibilizado para a construo de

    atividades investigativas, ainda houve a possibilidade de acesso a

    experimento remoto, sendo possvel o desenvolvimento de aulas prticas.

    Diante do cenrio exposto, a motivao e interesse pelo

    desenvolvimento dessa pesquisa consolidaram-se, pois, a execuo da

    mesma foi uma forma de confrontar as prticas-pedaggicas por mim

    executadas em sala de aula, bem como incorporar a ela o desafio de fazer

    da tecnologia uma aliada, uma facilitadora dentro do processo de ensino

    e aprendizagem.

    1.3 OBJETIVOS

    A partir do exposto nas sees anteriores a seguir sero

    apresentados os objetivos gerais e especficos desse trabalho de pesquisa.

    1.3.1 Objetivo Geral

    Propor um ambiente virtual de investigao que possibilite ao

    aluno acesso atividades de experimentao prtica por meio de

    laboratrios on-line, nas aulas de biologia em turmas do Ensino Mdio,

    demonstrando como o uso de tecnologias educacionais, atreladas

    metodologias de aprendizagem ativa, podem aumentar a qualidade de

    ensino de Biologia.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    Visando atingir ao objetivo geral deste projeto tem-se os seguintes

    objetivos especficos:

    OE.1 Verificar, atravs de revises bibliogrficas sobre Integrao de

    Tecnologia na Educao, Laboratrios Virtuais e Remotos, Ensino de

    Cincias e Aprendizagem Baseada em Investigao, o estado da arte dos

    temas abordados.

    OE.2 Disponibilizar Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem para

    classe piloto.

    OE.3 Construir Sequncias Didticas inspiradas em investigao

    utilizando Laboratrios Virtuais e Remotos.

    OE.4 Realizar aplicao das sequncias didticas nas aulas de Biologia

    no Ensino Mdio.

  • 38

    OE.5 Desenvolver e aplicar questionrios para validao, aceitao e

    viabilidade da utilizao do ambiente proposto aplicando-o em turmas do

    Ensino Mdio, nas disciplinas de Biologia.

    1.4 JUSTIFICATIVA

    Diante do quadro exposto, a presente pesquisa justifica-se pela

    necessidade de se encontrar ferramentas para o ensino de cincias e

    Biologia que estimulem a motivao dos alunos no contexto escolar,

    aumente seu interesse pela disciplina, e melhore a qualidade de seus

    estudos e aprendizado, principalmente no mbito da Educao Bsica.

    Sobre essas questes, foi possvel, por meio de uma reviso

    sistemtica da literatura sobre o uso de Laboratrios Virtuais e Remotos

    (LVR) na Educao, realizada nas bases de dados Scopus, Web of Science e Proquest, identificar que essas ferramentas tm estado presentes em

    diferentes contextos de ensino, como tambm tm ganhado espao no

    meio educacional, caracterizando-se como potencializadoras no processo

    de ensino e aprendizagem. No entanto, essas aplicaes encontram-se

    ainda muito restritas ao Ensino Superior, como pode ser identificado na

    figura 4.

    Figura 4 - Nveis de Ensino que fizeram aplicao de LVR nos ltimos 5 anos.

    Fonte: Santos, Fernandes e Silva (2017)

    Contudo, apesar de poucas aplicaes realizadas na Educao

    Bsica, evidenciadas na reviso sistemtica O uso de laboratrios online

    no ensino de cincias de Santos; Fernandes & Silva (2017), estes estudos

    traam pontos muito positivos com relao aos resultados obtidos,

    14%

    86%

    Nveis de Ensino que fizeram aplicao de LVR

    Educao Bsica Ensino Superior

  • 39

    relatando melhor apropriao de conceitos e aumento na motivao e

    interesse em estudar, mostrando, dessa forma, que esse um nvel de

    ensino em potencial para o recebimento de LVR.

    Todavia, cabe ressaltar que esses estudos realizados no mbito da

    Educao Bsica tambm apontam para a importncia de integrar

    tecnologias educacionais novas prticas de ensino. Nesse sentido,

    autores sugerem que novas abordagens devem ser fomentadas a fim de

    encaminharem o aluno para um aprendizado mais consistente, condizente

    com a realidade atual (ABDULWAHED; NAGY, 2013; ANTONIO;

    MARCELINO; DA SILVA, 2015; GARDEL et al., 2012; LOWE;

    NEWCOMBE; STUMPERS, 2013; MACKAY; FISHER, 2012;

    TUMKOR et al., 2012).

    Vale salientar tambm, que os estudos que relatam sobre

    aplicaes didticas utilizando experimentos remotos e virtuais,

    demonstram a carncia de suporte didtico-pedaggico do qual esses

    laboratrios poderiam estar inseridos, como a escolha de uma

    metodologia que permite a personalizao do ensino, ou ainda a falta de

    materiais de apoio para que o professor possa colocar essa ferramenta em

    prtica.

    Sendo assim, diante do problema exposto e das oportunidades e

    desafios apresentados em pesquisas relacionadas ao tema, esse estudo se

    consolida atravs da aplicao de laboratrios on-line integrados SDI

    na Educao Bsica, em turmas do Ensino Mdio, nas aulas de Biologia.

    Em sntese essa pesquisa integra tecnologia ao processo de ensino

    por meio da aplicao de LVR e uso de AVA, promovendo novas formas

    de aprender, modificando a abordagem comumente utilizada em sala de

    aula e fornecendo material de apoio didtico-pedaggico para o uso dos

    LVR, mediante da construo de SDI.

    Ademais, dos trabalhos encontrados sobre aplicao de LVR no

    processo de ensino na Educao Bsica, no foi encontrado qualquer

    projeto que verificasse a percepo dos alunos frente ao uso dessas

    ferramentas no ensino de Biologia.

    1.5 ADERNCIA AO PPGTIC E LINHA DE PESQUISA

    O Programa de Ps-Graduao em Tecnologia da Informao e

    Comunicao (PPGTIC) da Universidade Federal de Santa Catarina

    (UFSC) Campus Ararangu um programa interdisciplinar, constitudo

    por trs linhas de pesquisa que se correlacionam na rea de concentrao,

    denominada Tecnologia e Inovao", conforme evidencia a figura 5.

  • 40

    O PPGTIC procura fomentar inovao com suporte de tecnologias

    computacionais para o desenvolvimento social. Nesse sentido, as

    tecnologias computacionais so estudadas com o intuito de subsidiar o

    desenvolvimento de solues que atentam para o desenvolvimento nos

    processos de ensino e aprendizagem ou para o progresso da gesto de

    forma ampla (PPGTIC, 2017).

    Figura 5 - Interseo entre as linhas de pesquisa do PPGTIC/UFSC

    Fonte: Elaborado pela autora.

    Consequentemente, as inovaes tecnolgicas estudadas podero

    configurar-se em pesquisas bsicas ou aplicadas, desde que a inovao se

    apresente como ponto de destaque. Sendo assim, suas linhas apresentam-

    se assim estruturas (quadro 1).

    Pode-se identificar, analisando o quadro 1, o quanto as trs linhas

    de pesquisa esto relacionadas entre si, e articuladas diretamente com o

    eixo norteador, tecnologia e inovao. Esto to vinculadas que

    dificilmente consegue-se, em uma pesquisa, restringir-se a apenas uma

    delas. No entanto, torna-se importante perceber as suas particularidades.

    O PPGTIC, como mencionado anteriormente, um programa

    interdisciplinar, pois integra diversas reas do conhecimento, permite o

    compartilhamento de diferentes saberes, e oportuniza a construo de

    diferentes solues para o mundo real.

    Tecnologia Computacional

    Tecnologia Educacional

    Tecnologia, Gesto e Inovao

    T&I

  • 41

    Quadro 1 - Linhas de Pesquisa do PPGTIC e objetivos. Linha de Pesquisa Descrio

    Tecnologia Educacional

    Estuda e trabalha no desenvolvimento e na construo de materiais de

    apoio ao ensino e aprendizagem para diferentes nveis de educao,

    com objetivo de fomentar o desenvolvimento de habilidades e

    competncias para uso de tecnologias como apoio a inovaes

    educacionais.

    Tecnologia Computacional

    Desenvolve modelos, tcnicas e ferramentas computacionais auxiliando

    na resoluo de problemas de natureza interdisciplinar.

    Especificamente, esta linha de pesquisa procura desenvolver novas

    tecnologias computacionais para aplicao nas reas de educao e

    gesto.

    Tecnologia, Gesto e Inovao

    Estuda e trabalha novas tecnologias da informao e comunicao para

    o desenvolvimento de novas metodologias, tcnicas, processos para a

    gesto das organizaes.

    Fonte: Elaborado pela autora.

    De acordo com Almeida (2012):

    A interdisciplinaridade supe como ponto de

    partida a unio e como meta uma possibilidade de

    projeto integrador das cincias. Este projeto s

    pode acontecer no caso de se visar a integrao de

    vrias dimenses da sociedade que, em sua

    essncia, produz um saber e um poder de

    fragmentos. A integrao interdisciplinar do

    conhecimento que mais que o saber, pois supe

    deciso, reflexo, criao e descoberta s

    possvel numa sociedade aberta participao de

    todos (ALMEIDA, 2012, p. 49).

    Dessa forma, tendo como base o estudo e desenvolvimento de

    tecnologia e inovao, integrado ao fator da interdisciplinaridade, o

    programa consegue atingir na ntegra o seu objetivo, pois trabalha para o

    desenvolvimento global, ou seja, desenvolve solues para diferentes

    problemas presentes e pertinentes em nossa sociedade.

    Ademais, ao se tratar da linha de pesquisa Tecnologia Educacional,

    as TIC apresentam-se tambm como facilitadoras no processo de

    oportunizar a interdisciplinaridade no ensino. Amem & Nunes (2006)

    relacionam tal fato com as vantagens que estas tecnologias apresentam se

    comparadas aos mtodos convencionais de ensino. As autoras afirmam

    que as TIC facilitam a troca imediata de informaes, a adaptao de

    informao aos estilos individuais de aprendizagem, a maior e melhor

    organizao das ideias, maior integrao e interao, agilidade na

    recuperao da informao entre outros proveitos, que contribuem para

    desfragmentar o ensino e integrar os saberes (AMEM; NUNES, 2006).

  • 42

    A pesquisa aqui desenvolvida trata-se da integrao de tecnologia

    dentro do contexto escolar, utilizando Tecnologias Digitais da

    Informao e Comunicao, por meio de aplicao de laboratrios online

    integrado sequncias didticas virtuais disponibilizadas em AVA.

    A pesquisa em questo no faz apenas uso de TDIC como tambm

    traz uma nova abordagem didtico-pedaggica para o contexto de sala de

    aula, apontando mudanas no atual cenrio escolar, ou seja, inovando em

    seus mtodos, propondo solues para algumas defasagens existentes.

    Sendo assim, este estudo adere ao programa em questo, pois est

    sustentado pelos dois pilares que o norteiam, Tecnologia e Inovao, e

    ainda percorre pelas trs linhas de pesquisa quando trabalha no

    desenvolvimento e na construo de materiais de apoio ao ensino e

    aprendizagem, desenvolve novas tecnologias computacionais para

    aplicao nas reas de educao, e empenha-se no desenvolvimento de

    novas metodologias e processos.

    1.6 ESTRUTURA DO TEXTO

    A fim de atender aos objetivos propostos para esse trabalho, o

    mesmo foi estruturado em 5 captulos, descritos a seguir:

    Captulo 1: Constitui-se da parte introdutria do trabalho, pois

    preocupa-se com a focalizao temtica, direcionando o leitor para desde

    as problemticas iniciais que instigaram a elaborao do projeto at aos

    objetivos traados para sua execuo. Sendo assim, ele est constitudo

    pela problematizao seguido do problema de pesquisa, logo apresenta-

    se as motivaes que levaram a construo desse estudo, os objetivos

    definidos para seu desenvolvimento, e as justificativas apontando sobre a

    relevncia dessa pesquisa. Por fim, esse captulo relata sobre a aderncia

    dessa pesquisa ao Programa de Ps-graduao em Tecnologia da

    Informao e Comunicao, seguido de como esta est estruturada.

    Captulo 2: Apresenta o embasamento terico utilizado para

    elucidar sobre a temtica em questo, bem como para a construo das

    sequncias didticas virtuais, aplicao da ferramenta, coleta, anlise e

    tratamento de dados. Logo, o mesmo versa sobre a Integrao de

    Tecnologias na Educao, Ensino de Cincias Baseado em

    Investigao, AVA e Laboratrios Online de Experimentao.

    Captulo 3: Aborda sobre a Metodologia utilizada para o

    desenvolvimento dessa pesquisa, iniciando pela sua caracterizao e

    elucidando sobre as etapas traadas para sua execuo. As etapas se

    iniciam com a construo das sequncias didticas investigativas em

  • 43

    ambiente virtual de aprendizagem, relatam sobre as aplicaes e por fim

    demonstram como ocorreu a coleta de dados.

    Captulo 4: Apresenta os resultados obtidos com essa pesquisa na

    fase de pr-aplicao, caracterizando os sujeitos envolvidos, bem como o

    local de aplicao. Logo so apresentados os laboratrios on-line

    explorados nesses estudos, as sequncias didticas produzidas e os planos

    de aula planejados para sua aplicao.

    Captulo 5: Evidencia os resultados gerados com a aplicao da

    ferramenta em estudo, dividindo-se em duas partes, uma que apresenta os

    resultados da aplicao teste e outra que apresenta e discute os resultados

    das demais aplicaes, ponto forte dessa pesquisa.

    Captulo 6: Trata sobre as consideraes finais, apontando os

    pontos mais significativos da pesquisa, as contribuies geradas com sua

    concretizao, bem como sugestes para futuros estudos na rea. Por fim,

    esto organizados os anexos, apndices e referncias utilizadas.

  • 44

  • 45

    2 REFERENCIAL TERICO

    Esse captulo apresenta o quadro terico de referncias que tratam

    sobre integrao de tecnologia no processo educacional, bem como

    discusses acerca do modelo de aprendizagem baseado em investigao

    (inqurito), AVA e Laboratrios On-line de Experimentao (LOE). Os

    trs ltimos itens apresentam-se nessa dissertao de forma integrada,

    caracterizando-se como um exemplo de metodologia ativa de

    aprendizagem, uma tendncia educacional identificada no relatrio de

    2017, edio para Educao Bsica, do NMC HORIZON Report1.

    Em sntese, essa sequncia do trabalho preocupa-se em discutir

    sobre a integrao de tecnologia na educao, principalmente no Brasil,

    apresentar metodologias ativas de aprendizagem que contribuem

    fortemente para essa integrao, e logo explorar sobre o modelo de

    Aprendizagem Baseada em Investigao, e os conceitos que envolvem

    Ambiente Virtuais de Ensino e Aprendizagem e Laboratrios Online de

    Experimentao, como forma de subsidiar o desenvolvimento da pesquisa

    no que se refere ao desenvolvimento da ferramenta utilizada nas

    aplicaes, como tambm o tratamento dos dados coletados com essas

    aplicaes.

    2.1 A INTEGRAO DE TECNOLOGIA NAS ESCOLAS

    BRASILEIRAS

    fato consolidado que as tecnologias digitais presentes na

    contemporaneidade do sc. XXI alteraram as formas de comunicao e

    consequentemente transformaram a vida de grande parte da humanidade.

    Esse segmento do trabalho preocupa-se em entender como estes recursos

    tem estado presente no mbito educacional e como tem ocorrido sua

    integrao no Brasil, ou seja, como esto sendo utilizados no processo de

    ensino e aprendizagem. Pois claramente percebido que, ao mesmo

    tempo em que se vive a Era Digital, nosso pas passa por uma forte crise

    no cenrio educacional, no que diz respeito a sua eficcia (MORAN,

    2007).

    A lentido com que esses recursos foram e ainda esto sendo

    1 um projeto de pesquisa, de iniciativa global sobre tecnologias emergentes,

    conta com mais de 200 universidades e museus extraordinrios, em todo o

    mundo, que trabalham em conjunto para expandir os limites do ensino,

    aprendizagem e expresso criativa.

    https://www.nmc.org/members/organizationshttps://www.nmc.org/members/organizations

  • 46

    integrados aos processos de ensino e aprendizagem est diretamente

    relacionada a sua incorporao no contexto escolar. A presena dos

    computadores nas escolas, assim como posteriormente o surgimento e

    popularizao da internet marcaram a necessidade de mudana no sistema

    de ensino. Era evidente que se os recursos no eram mais os mesmos, a

    prtica-pedaggica em sala tambm no poderia ser, no entanto no foi

    sob essa tica que esse processo se desenvolveu.

    As discusses acerca da informtica na escola tornaram-se fortes,

    aqui no Brasil a partir da dcada de 80, com a estruturao da Secretaria

    Especial de Informtica, setor responsvel pela elaborao, gesto e

    aplicao da Poltica Nacional de Informtica, e posteriormente com o

    surgimento e difuso de seminrios, debates, conferncias, entre outros

    movimentos que tinham o objetivo de debater sobre sua implementao

    (ALMEIDA, 2012).

    Vale destacar, diante desse quadro, que o primeiro seminrio sobre

    a temtica em questo, no Brasil, foi realizado em Braslia no ano de

    1981, intitulado I Seminrio Nacional de Informtica na Educao,

    promovido pelo antigo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) em

    conjunto com a Secretaria Especial de Informtica (SEI) e o Conselho

    Nacional de Pesquisas (CNPq). De acordo com Almeida (2012, p. 35),

    nesse seminrio reuniram-se quarenta especialistas de inmeras

    instituies de ensino e informtica para falarem da convenincia ou no

    de utilizar o computador como instrumento auxiliar no processo de ensino

    e aprendizagem (ALMEIDA, 2012).

    Desse seminrio juntamente com o posterior a ele originou-se o

    EDUCOM (Educao e Computador) em 1983. A EDUCOM, conforme

    Almeida (2012), consistia na elaborao de pequenos projetos elaborados

    nas universidades e aplicados no antigo 2 grau da Educao Bsica,

    correspondente hoje ao Ensino Mdio. Esses projetos se encarregavam de

    produzir materiais programados para serem testados nas escolas e

    validados por equipes multidisciplinares.

    Realizado em cinco universidades, Universidade

    Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade

    Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade

    Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e

    Unicamp. Esse projeto contemplou a diversidade

    de uso do computador em diferentes abordagens

    pedaggicas, como o desenvolvimento de

    softwares educacionais e o uso do computador

    como recurso para resoluo de problemas. E, do

  • 47

    ponto de vista metodolgico, o trabalho de

    pesquisa foi realizado por equipes

    interdisciplinares, formadas por professores das

    escolas escolhidas e por um grupo de profissionais

    da universidade. (VALENTE, 1999, p. 20)

    Ainda sobre a implementao da informtica na educao,

    Almeida (2012), afirma que esta foi marcada pelo uso indevido do recurso

    tecnolgico e pela falta de preparo dos professores e gestores das escolas.

    O autor ainda indaga, sobre pontos que marcaram o atraso nesse processo,

    entre eles

    a) Que pas esse?: A falta de levantamento dos problemas

    prioritrios da populao brasileira, ou seja, a implantao

    da tecnologia se deu em um terreno desconhecido, em

    uma populao que sofria ainda com fome e desnutrio.

    b) Esperana oportuna, Limites da Unidade e

    Racionalidade Irracional na Educao: Retratavam

    sobre toda desigualdade histrica do Brasil implantada por

    uma poltica explcita que poderia ser renovada pela

    implantao de tecnologias para poucos. O autor salienta

    que o aperfeioamento trazido pela tecnologia da

    informtica tende a trazer uma diferenciao social

    extremada (ALMEIDA, 2012).

    c) Interdisciplinaridade na educao valor poltico:

    Apontava o ensino da informtica na escola para os alunos,

    desconsiderando suas potencialidades (ALMEIDA, 2012).

    Um fato interessante nesse processo de integrao de tecnologias

    na educao, ocorreu em 1991, quando o MEC apresentou o programa

    Salto para o Futuro para estimular a integrao da informtica nas

    escolas. Conforme o Ministrio da Educao (1998), a informtica

    aplicada educao tem dimenses mais profundas, que no aparecem

    primeira vista. De acordo com o programa Salto para o Futuro:

    [...] no se trata apenas de informatizar a parte

    administrativa da escola (como o controle de notas ou dos

    registros acadmicos), ou de ensinar informtica para os

    jovens (eles aprendem sozinhos, fuando,

    experimentando, testando sua curiosidade, ou quando

    precisam usar esse ou aquele software ou jogo). O

    problema est em como estimular os jovens a buscar novas

    formas de pensar, de procurar e de selecionar informaes,

  • 48

    de construir seu jeito de trabalhar com o conhecimento e

    de reconstru-lo continuamente, atribuindo-lhe novos

    significados, ditados por seus interesses e necessidades

    (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO, 1998, p.

    49).

    Nesse contexto, interessante observar que h 19 anos atrs, j

    haviam publicaes de documentos oficiais pelo Ministrio da Educao

    sobre abertura de programas, como Salto para o Futuro, que visavam

    sanar essa resistncia e as deficincias encontradas com a chegada das

    tecnologias educacionais, ou seja, reportava-se sobre questes

    emergentes, que ainda esto presentes em nossa atualidade.

    O programa supracitado, por exemplo, j trazia a perspectiva para

    novas abordagens pedaggicas que poderiam, ou, deveriam subsidiar

    as tecnologias que tinham entrado nas escolas. O documento sustentava a

    ideia de que integrar tecnologias educao no significava ensinar os

    velhos contedos de forma eletrnica, por meio de telas iluminadas,

    animadas e coloridas, mas sim adotar medidas que contribussem com o

    desenvolvimento de cidados abertos e conscientes, que soubessem

    trabalhar em equipe e tomar decises (MINISTRIO DA EDUCAO,

    1998).

    Almeida (2012) aborda em seu livro Educao e Informtica,

    que aos poucos os governos estaduais e municipais foram sensibilizando-

    se com a nova realidade, construindo e implantando polticas de

    informatizao, unindo a obteno de equipamentos tecnolgicos com a

    formao continuada de professores. O Programa Nacional de Tecnologia

    Educacional (PROINFO), cabe, nesse contexto, como um exemplo de

    ao conjunta entre a Unio, Estados e Municpios, resultado dessa

    sensibilizao.

    O PROINFO foi criado pelo Ministrio da Educao, atravs da

    portaria n 522, de 09 de abril de 1997, com o intuito de disseminar o

    uso pedaggico das tecnologias de informtica e telecomunicaes nas

    escolas pblicas de ensino fundamental e mdio pertencentes s redes

    estadual e municipal (BRASIL, 1997). Seu desenvolvimento ocorria de

    forma descentralizada, em articulao com as Secretarias de Educao da

    Unio, dos Estados e dos Municpios.

    De acordo as diretrizes do projeto, os objetivos definidos para o

    funcionamento do PROINFO visavam o melhoramento na qualidade do

    processo de ensino e aprendizagem, bem como a incorporao adequadas

    das novas tecnologias da informao, atravs da criao de ambientes

    voltados para o desenvolvimento cientfico e tecnolgico (BRASIL,

  • 49

    1997).

    Em 2007, atravs do decreto n 6.300, de 12 de dezembro de 2007,

    o programa passou a funcionar com uma nova verso, agora denominava-

    se Programa Nacional de Tecnologia Educacional, e objetivava

    contribuir com a incluso digital, ampliando, dessa forma, o acesso a

    computadores e outras tecnologias educacionais, bem como aumentando

    a conexo rede.

    Vale ressaltar que essa nova nomenclatura do projeto traz a

    expresso Tecnologia Educacional, j utilizada mundialmente desde os

    anos 60-70, carregando consigo toda preocupao que se tinha com essa

    reforma, a de atender as necessidades pedaggicas dentro do contexto

    escolar (SILVA, 2006).

    Conforme Silva (2006, p. 77), essa nova nomenclatura denota

    a relao entre os recursos humanos e materiais, aplicados para

    conseguir uma melhor aprendizagem, como meio de promoo do ensino,

    agora com um enfoque educacional amplo e contextualizado.

    Silva (2006, p. 76), ainda refora que Tecnologia Educacional

    atende ao estudo dos meios nos processos didticos, pois analisa os

    equipamentos tecnolgicos que serviro de suporte no processo de ensino

    e aprendizagem. Nesse caso, essas ferramentas esto em funo dos

    objetivos a alcanar e das caractersticas dos alunos aos que vo

    destinados (SILVA, 2006, p. 74).

    No entanto, apesar da nova nomenclatura adotada pelo programa,

    os resultados encontrados no fazem jus a suas definies, tal fato

    evidencia-se tanto em publicaes cientficas a respeito do tema, como

    frente a atual situao das escolas brasileiras.

    Estudos apontam que o nmero de computadores fornecidos s

    escolas foi insatisfatrio, pois no atendia a demanda, alm disso

    constatam sobre a precariedade na conservao, e descaso com a

    manuteno tanto do maquinrio como dos softwares (RONSANI, 2005;

    DE PAULA & NUNES, 2011).

    Paula & Nunes (2011), relatam que mesmo quando as escolas

    possuam laboratrios equipados, os mesmos no eram devidamente

    utilizados, e ainda faz crticas quanto formao fornecida para os

    professores, pois das escolas investigadas em seu artigo, nenhuma delas

    havia recebido formao.

    Com relao essa realidade, outros estudos tambm apontam para

    a formao insuficiente ou inexistente para os professores, necessria para

    que eles aprendessem a fazer uso pedaggico da ferramenta, e no apenas

    aprendessem a manusear os equipamentos (DE PAULA & NUNES,

    2011; ANDAVALLI & PEDROSA, 2014).

  • 50

    Dos apontamentos realizados sobre a formao dos profissionais

    para a integrao de tecnologia nas escolas foram mencionados:

    a) Infrequncia na oferta; b) Cursos eventuais, com carga horria insuficiente; c) Formao exclusivamente tcnica, focada no pacote

    Windows;

    d) Sem abordagem pedaggica, ou seja, como demostrar mtodos que pudessem integrar a tecnologia num contexto

    de sala de aula;

    e) Indisponibilidade dos professores para frequentar os cursos; f) Relutncia dos professores em fazer uso do computador no

    processo pedaggico;

    g) Poucos professores-formadores; h) Falta de investimentos para o deslocamento dos

    professores-formadores ou para o deslocamento dos

    professores das escolas at os ncleos de formao.

    O portal do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    (FNDE) do MEC traz os indicativos do PROINFO, desde sua

    implementao at o ano de 2006, como pode ser analisado na tabela 3.

    Tabela 3 - N de equipamentos, municpio atendidos e instituies beneficiadas

    pelo PROINFO, entre os anos de 1997 2006. Ano N de equipamentos

    adquiridos

    N de Municpios

    atendidos

    N de instituies

    Beneficiadas

    1997 3.125 135 169

    1998 34.079 1.215 3.259

    1999 0 0 0

    2000 16.691 1.167 1.871

    2001 0 0 0

    2002 0 0 0

    2003 0 0 0

    2004 5.620 1.125 530

    2005 12.040 950 1.112

    2006 75.800 4.800 7.580

    TOTAL 147.355 9.392 14.521

    Fonte: Secretaria de Educao Distncia. Ministrio da Educao (MEC).

    Disponvel em: https://www.fnde.gov.br/sigetec/relatorios/indicadores_rel.html.

    Acesso em 18 de setembro de 2017.

    Diante desse cenrio, vale ressaltar que em 2006 o Brasil contava

    com 203,9 mil estabelecimentos educacionais, que ofertavam diferentes etapas e modalidades de ensino da educao bsica: educao infantil

    (creche e pr-escola), ensino fundamental, ensino mdio, educao

    especial, educao de jovens e adultos e educao profissional, e que

    nesse mesmo ano foram realizadas aproximadamente 55,9 milhes de

    https://www.fnde.gov.br/sigetec/relatorios/indicadores_rel.html

  • 51

    matrculas (INEP, 2006).

    Nesse sentido possvel identificar a distncia entre o total de

    instituies atendidas e as existentes, ou seja apenas 7% das instituies

    brasileiras foram atendidas pelo programa at o ano de 2006.

    Silva (2006), relata sobre essa rejeio e frustrao que ocorreu na

    chegada das TIC nas escolas quando comparadas ao seu recebimento em

    outros departamentos, como na medicina e segurana, por exemplo. O

    autor afirma que as escolas sempre dispuseram de vrios aparatos

    tecnolgicos, mas que foram apenas introduzidos e no incorporados. O

    autor salienta que: [...] incorporar tecnologia muito mais que

    introduzir aparatos de diversas ndoles. mudar

    atitudes e metodologias para dar-lhes um sentido

    superador. E fundamentalmente, compreender

    que essa mudana, como todas, provocam um

    realinhamento de nossas estruturas que muitas

    vezes custamos a assumir, porm que

    posteriormente torna-se benfica. O xito da escola

    depende de certa forma de nossa habilidade para

    fazer qu