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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química Março/2011 Recife R R a a p ph h a a e e l l C Cl l a a u ud d i i o o R R i i b ba a s s d d e e B B a a r r r r o o s s C Ca a l l d da a s s Biorefino Químico do Bagaço de Cana- de-açúcar em Reator de Leito de Lama com Produção de Sacarídeos e Lignina DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PPEQ - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. CEP. 50740-521 – Cidade Universitária Recife PE. Q E P P O Or r i i e e n nt t a a d do or r e es s : : P Pr r o o f f . . D Dr r . . C Ce es s a a r r A Au u g gu u s s t t o o M Mo o r r a a e e s s d d e e A Ab b r r e e u u Prof. Dr. Mohand Benachour

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química

Março/2011 Recife

RRaapphhaaeell CCllaauuddiioo RRiibbaass ddee BBaarrrrooss CCaallddaass

BBiioorreeffiinnoo QQuuíímmiiccoo ddoo BBaaggaaççoo ddee CCaannaa--

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PPrroodduuççããoo ddee SSaaccaarrííddeeooss ee LLiiggnniinnaa

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO

PPEQ - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química.

CEP. 50740-521 – Cidade Universitária – Recife – PE.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA

Biorefino Químico do Bagaço de Cana-de-açúcar em Reator de Leito de Lama com Produção de Sacarídeos e Lignina

RAPHAEL CLAUDIO RIBAS DE BARROS CALDAS

Dissertação apresentada como um dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal de Pernambuco.

Orientadores:

Prof. Dr. Cesar Augusto Moraes de Abreu

Prof. Dr. Mohand Benachour

RECIFE

Março/2011

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Catalogação na fonteBibliotecária Raquel Cortizo, CRB-4 664

C143b Caldas, Raphael Claudio Ribas de Barros.Biorefino químico do bagaço de cana-de-açucar em reator

de leito de lama com produção de sacarídeos e lignina / Raphael Claudio Ribas de Barros Caldas. - Recife: O Autor, 2011

X, 142 folhas, il., gráfs.

Orientador: Prof. Dr: Cesar Augusto Moraes de Abreu.Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, 2011.

Inclui Referências

1. Engenharia Química. 2.Hidrólise ácida de sacarídeos . 3.Bagaço de cana-de-açucar. 4.Lignina. I. Abreu, Cesar Augusto Moraes (orientador). II. Título.

660.2 CDD (22 ed.) UFPE –BCTG /2011- 049

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RESUMO

O aproveitamento integral da cana-de-açúcar na produção de etanol ou outros

combustíveis renováveis ou mesmo, através do conceito de biorrefinaria, agregar valor à

cadeia da cana, através da produção de novos produtos. No presente trabalho

desenvolveu-se o processamento das reações de hidrólise ácida dos sacarídeos presentes

no bagaço de cana-de-açúcar bem como do processo de deslignificação alcalina,

operando em reator de leito de lama. Forma realizadas etapas de preparação e

caracterização do material lignocelulosico, montagem do reator de leito de lama e

operações das reações, modelagem, simulação e validação dos processos. Reações de

hidrólise das frações hemicelulósicas, lignina e celulósica foram realizadas em

diferentes condições segundo planejamento experimental. No presente trabalho foram

desenvolvidos modelos lineares formados por equações diferencias e com taxas de

reações homogêneas. As equações dos modelos foram resolvidas analiticamente,

quando possível e por meio de rang kutta de quarta ordem, gerando perfis de

concentração dos sacarídeos ao longo do tempo. A validação com dados experimentais

confirmou-se para os processos de pré-hidrólise, deslignificação, hidrólise da

hemicelulose e hidrólise da celulose, tendo-se conversões de 56,04% em massa

equivalente a um conteúdo de lignina 23,00 para 10,11 g de lignina Klason/100 g

biomassa deslignificada a 90ºC durante 180 minutos com NaOH (1% em massa) e 1,68

g passaram para 0,58 g lignina solúvel/100 g biomassa deslignificada e conversão de

27% em massa em relação ao bagaço solubilizado para hidrólise das hemiceluloses e

conversão de 42% em massa na condição de 160ºC, agitação de 500 rpm, Concentração

de HCl 25% em massa e concentração de LiCl de 10g.L-.Prevendo-se a avaliação do

processo catalítico foram conduzidas experiências em reator de leito de lama

mecanicamente agitado, operando em batelada alimentada com relação sólido/liquido

1:25. Operou-se entre 120ºC e 160ºC, a uma pressão total de 20 bar utilizando N2 como

inerte para se trabalhar com as pressões de vapor dos componentes.

Palavras-Chaves: Hidrólise ácida de sacarídeos, Bagaço de cana-de-açúcar, Lignina.

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ABSTRACT

The full use of cane sugar to produce ethanol or other renewable fuels or even, through

the concept of biorefineries, add value to the chain of sugar cane, through the

production of new products. In the present work is the processing of acid hydrolysis

reactions of saccharides present in the bagasse-cane and the alkaline delignification

process, operating on sludge bed reactor. Been carried out stages of preparation and

characterization of lignocellulosic material, assembly of the reactor bed of mud and

operations of the reactions, modeling, simulation and validation processes. The

hydrolysis of hemicellulose fractions, lignin and cellulose were performed in different

conditions on experimental design. In this work we developed linear models consist of

differential equations and homogeneous reaction rates. The equations of the models

were solved analytically, where possible and by Runge Kutta fourth order, generating

concentration profiles of saccharides over time. Validation with experimental data was

confirmed for the pre-hydrolysis, delignification, hydrolysis of hemicellulose and

cellulose hydrolysis, and conversions to 56.04% em massa equivalent to a lignin content

of 23.00 to 10.11 g lignin Klason/100 g delignified biomass at 90 ° C for 180 minutes

with NaOH (1% em massa) and 1.68 g to 0.58 g lignin passed soluble/100 g delignified

biomass and conversion of 27% em massa compared to bagasse for hydrolysis of

hemicellulose solubilized and conversion of 42% em massa in the condition of 160 ° C,

agitation 500 rpm, 25% em massa concentration of HCl and LiCl concentration of 10

g.L-. Is expected to evaluate the catalytic process experiments have been conducted on

sludge bed reactor mechanically agitated PARR model, operating with fed-batch solid /

liquid ratio 1:25. It operated between 120 ° C and 160 ° C at a total pressure of 20 bar

using N2 as inert to work with the vapor pressures of the components.

Keywords: Acid hydrolysis of saccharides, Bagasse-Cane, Lignin.

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“Quem pensa sem riscos vive sem glória.”

Augusto Cury.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade da existência, pela saúde, pela capacidade de poder aprender os diversos conhecimentos e pela graça de poder a cada dia conhecer e viver com as mais intensidade.

Aos meus queridos familiares que de forma direta ou indireta sempre contribuíram para meu crescimento intelectual serei eternamente grata a vocês. Um muito obrigado mais que especial as pessoas que fizeram com que tudo isso se tornasse realidade, meus pais: Paulo Fernando Caldas e Gilda Ribas Caldas. A minha irmã Rosana Cecília que em momentos difíceis extras universidade sempre me deu apoio. A meu filho Yuri de Souza Caldas que tornou-se o grande idealizador de tudo que acontece em minha vida.

Ao professor e orientador Cesar Augusto Moraes de Abreu pela dedicação, confiança e orientação que só contribuíram significativamente para o meu crescimento e desenvolvimento profissional.

Ao professor Mohand Benachour que sempre se apresentou solícitos, pronto a auxiliar e esclarecer as dúvidas que surgiram durante este trabalho e nossas conversas nos bastidores.

A todos que fazem parte do LPC que contribuíram de modo direto ou indireto para a realização deste trabalho, em especial a Cristiane Moraes, Paula Barone, Ana Cássia, Isaias Barbosa, que por muitas vezes foram determinantes em meus experimentos; obrigada por tudo foi um prazer trabalhar com vocês.

Ao sempre “agregado” Rony Glauco, pelo apoio nos diversos momentos deste estudo, mesmo sempre sem saber nada sobre meu trabalho, como nas montagens dos modelos matemáticos.

Aos meus queridos amigos e companheiros de mestrado, pelas risadas e dores de cabeça que compartilhamos juntos durante todo esse período, os quais faço questão de citar cada um: Danielle Pires, Diego Carpintero, Flávia Miranda, Germana Queiroz, Luiz Carlos, Daniella Napoleão e Valéria Amorim. Sem vocês as provas e os debates não teriam sido as mesmas, não haveria graça nas soluções “sempre erradas”.

Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFPE pela oportunidade concedida. A CAPES pela bolsa concedida durante todo o curso.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................ VII

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................................... X

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1

2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................ 6

2.1. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR .............................................. 6

2.2. ASPECTOS GERAIS ......................................................................................................... 9

2.3. BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA ............................................................................... 10

2.3.1. A Celulose ................................................................................................................. 11

2.3.2. Hemicelulose ............................................................................................................. 12

2.3.3. Lignina ....................................................................................................................... 13

2.4. A ESTRUTURA DOS MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS ....................................... 15

2.5. BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COMO MATÉRIA-PRIMA ................................ 16

2.6. PRODUÇÃO DE CARBOIDRATOS .............................................................................. 20

2.6.1 Hidrólise no Brasil ...................................................................................................... 20

2.6.2 Obtenção de Carboidratos .......................................................................................... 21

2.6.3 Processos Hidróliticos ................................................................................................ 22

2.6.4 Pré-Tratamentos aplicados há matérias lignocelulosicos ........................................... 26

2.7. QUÍMICA DA LIGNINA ................................................................................................ 31

2.7.1. Processos de isolamento de ligninas .......................................................................... 34

2.7.1. Processo de Separação Lignina-Craboidrato ............................................................. 36

2.8. INTUMESCIMENTO E DISSOLUÇÃO DA CELULOSE ............................................ 38

3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................... 41

3.1. MATÉRIA-PRIMA LIGNOCELULÓSICA .................................................................... 41

3.2. PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA ........................................................................ 41

3.2.1. Tamisação e Classificação Granulométrica ............................................................... 41

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3.2.2. Remoção de Açúcares Provenientes da Moagem da Cana ........................................ 41

3.3.1. Pré-Hidrólise da Biomassa LignoCelulósica ............................................................. 44

3.3.2. Deslignificação parcial do bagaço de cana-de-açúcar ............................................... 46

3.3.4. Hidrólise ácido-diluido do bagaço de cana-de-açúcar ............................................... 48

3.3. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR ............... 54

3.3.1. Teor de Umidade ....................................................................................................... 55

3.3.2. Determinação de Cinzas ............................................................................................ 55

3.3.3. Determinação de Extrativos ....................................................................................... 56

3.3.4. Determinação de Lignina Insolúvel e Solúvel ........................................................... 57

3.3.5. Determinação de Cristalinidade ................................................................................. 59

3.4. DETERMINAÇÃO DA ÁREA SUPERFICIAL (BET) .................................................. 60

4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS E DISCUSSÃO .......................................................................... 61

4.1. DISPONIBILIZAÇÃO DE CARBOIDRATOS. .............................................................. 61

4.1.1 Determinação da área superficial, cristalinidade e microscopia eletrônica de varredura 62

4.1.1 Pré- Hidrólise do Bagaço de Cana-de-Açúcar ............................................................ 64

4.1.2 Deslignificação do Bagaço Pré-Hidrolisado ............................................................... 70

4.1.3 Hidrólise ácido-diluído da hemicelulose do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado 81

4.1.4 Hidrólise ácida da celulose utilizando catalisadores homogêneos ............................. 91

4.2. MODELAGEM MATEMÁTICA DAS OPERAÇÕES HIDRÓLITICAS E AVALIAÇÃO PARAMÉTRICAS ........................................................................................ 102

4.2.1 Modelagem da pré- hidrólise com ácido forte diluído .............................................. 102

4.2.2 Deslignificação Alcalina do Bagaço Pré-hidrólisado ............................................... 108

4.2.3 Modelagem de Hidrólise da Hemicelulose do Bagaço Deslignificado .................... 117

4.2.4 Modelagem da Hidrólise da Celulose ....................................................................... 124

5. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS ............................................................................................... 130

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 135

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VII

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Partes da cana-de-açúcar 07

Figura 2.2: Fórmula estereoquímica da celulose. 12

Figura 2.3: Fórmula estereoquímica da hemicelulose. 13

Figura 2.4: Precursores da biossintese da lignina. 14

Figura 2.5: Modelo da estrutura da parede celular e relação da lignina, hemicelulose e celulose na parede secundaria da celulose.

15

Figura 2.6: Potencial de transformação de bagaço em etanol pela hidrólise. 17

Figura 2.7: Mecanismo do processo de hidrólise enzimática da celulose. 19

Figura 2.8: Enumeração da cadeia fenilpropilica. 25

Figura 3.1: Operações unitárias da preparação da matéria-prima. 33

Figura 3.2: Etapas básicas do processo de disponibilização das frações da biomassa.

42

Figura 3.3: Reator PARR 3543. 44

Figura 3.4: Reator de vidro. 50

Figura 3.5: Exemplo de difração de raios X da madeira. 51

Figura 4.1: Micrografia eletrônica de varredura (MEV), referente as etapas realizadas.

60

Figura 4.2: Histograma de massa extraída, durante à pré-hidrólise. 64

Figura 4.3: Evolução da concentração de xilose. T=70ºC. 64

Figura 4.4: Evolução da concentração de arabinose. T=70ºC. 64

Figura 4.5: Evolução da concentração de xilose. T=80ºC. 65

Figura 4.6: Evolução da concentração de arabinose. T=80ºC. 65

Figura 4.7: Evolução do processamento alcalino da biomassa com NaOH. 70

Figura 4.8: Evolução do processamento alcalino da biomassa com NH4OH 70

Figura 4.9: Evolução do conteúdo de lignina Klason, influencia da temperatura. 71

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VIII

Figura 4.10: Evolução do conteúdo de lignina solúvel, influencia da temperatura.

71

Figura 4.11: Evolução do conteúdo de lignina Klason, influencia da temperatura.

72

Figura 4.12: Evolução do conteúdo de lignina solúvel, influencia da temperatura.

72

Figura 4.13: Degradação da lignina Klason em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 70ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

73

Figura 4.14: Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 70ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

75

Figura 4.15: Degradação da lignina Klason em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

75

Figura 4.16: Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

76

Figura 4.17: Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a

etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH

(1% em massa).

76

Figura 4.18: Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a

etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 90ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH

(1% em massa).

77

Figura 4.19: Conversão da Lignina removida em função da temperatura e tempo

durante a etapa de deslignificação com NaOH (1% em massa).

77

Figura 4.20: Conversão da Lignina removida em função da temperatura e tempo

durante a etapa de deslignificação com NH4OH (1% em massa

80

Figura 4.21: Conversão da Lignina removida em função do tempo e álcali, durante a

etapa de deslignificação. Condição: Temperatura 70ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH

(1% em massa).

80

Figura 4.22: Conversão da Lignina removida em função do tempo e álcali, durante a

etapa de deslignificação. Condição: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH

(1% em massa).

81

Figura 4.23: Conversão da Lignina removida em função do tempo e álcali, durante a 81

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IX

etapa de deslignificação. Condição: Temperatura 90ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH

(1% em massa)..

Figura 4.24: Histograma de massa extraída por hidrólise do bagaço. 82

Figura 4.25: Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de

cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 100°C, H2SO4 (1% em massa em

massa).

83

Figura 4.26: Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de

cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 900°C, H2SO4 (1% em massa em

massa).

83

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X

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Composição média da cana-de-açúcar. 8

Tabela 2.2: Principais constituintes da cana-de-açúcar. 8

Tabela 2.3: Composição química dos matérias lignocelulosicos 11

Tabela 2.4: Composição do bagaço e palha da cana-de-açúcar. 18

Tabela 2.5: Quadro comparativo das características atuais da produção de etanol.

19

Tabela 2.6: Grupos substituintes na cadeia fenilpropílica.. 33

Tabela 3.1: Condições do experimento. Deslignificação parcial do bagaço de cana hidrolisado.

53

Tabela 3.2: Condições do experimento. Hidrólise da fração hemiceluloseica de bagaço de cana deslgnificado.

53

Tabela 3.3: Níveis das variáveis empregadas no planejamento fatorial 23. 61

Tabela 3.4: Matriz experimentos. 62

Tabela 4.1: Caracterização do bagaço de cana in natura. 65

Tabela 4.2: Analise de BET e MEV para diversas etapas do bioferino. 71

Tabela 4.3: Perda de massa e principais paramentos operacionais da pré-hidrólise.

81

Tabela 4.4: Teores mássicos residuais no bagaço. 81

Tabela 4.5 : Matriz de ensaios de hidrólise. 91

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1

1. INTRODUÇÃO Situando-se em um contexto de incerteza quanto ao uso dos combustíveis

fósseis, constata-se um forte esforço internacional no sentido de desenvolver

tecnologias a partir de biomassas, para a produção de combustíveis e insumos químicos.

Constantemente, mudanças causadas por choques nos preços de petróleo se colocam

como extremamente danosas para a economia de vários países. Adicionalmente o uso

continuado de energia de derivados do petróleo causa sérios problemas ambientais, que

afetam diretamente a saúde de uma grande parte da população do planeta (FOODY e

FOODY, 1991). De modo a melhor explorar oportunidades econômicas, bem como

para adequar-se às pressões crescentes das organizações de defesa do meio ambiente e

às políticas governamentais, a utilização racional dos componentes das biomassas

adquire importância significativa. No caso do Brasil busca-se aumentar a produção de

energia sustentável, a partir de fontes renováveis, culminando com produtos como

etanol e o biodiesel.

A crescente demanda do setor alimentício, seja através de alimentos, bebidas ou

aditivos, bem como o aumento da produção agrícola de matérias-primas vegetais com

conteúdo sacarídico pressionam no sentido de se desenvolver processos químicos e\ou

bioquímicos que compatibilizam a disponibilidade e\ou tratamento dessas matérias-

primas para obtenção de derivados sucroquímicos.

A biomassa de caraterística lignocelulósica ou amilácea, abundante na natureza

como produto principal ou como resíduo industrial ou agrícola, caracteriza-se como

fonte economicamente viável de açúcares ou derivados destes. Faz-se necessário,

portanto, o conhecimento e uso de rotas químicas e\ou bioquímicas de modo a se

otimizar os mecanismos de conversão, facilitando a produção de adoçantes,

edulcorantes e derivados de carboidratos naturais que apresentem alto valor agregado.

O bagaço de cana-de-açúcar, resíduo proveniente da atividade sucro-alcooleira, é

um dos sub-produtos mais abundantes da indústria brasileira. Neste contexto ressalta-se

a possibilidade de processamento do referido material lignocelulósico, visto que o seu

processamento por hidrólise ácida catalítica de sacarídeos pode dar origem a produtos

com maior valor agregado.

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2

No presente trabalho essas matérias-primas foram pré-tratadas em laboratório, a

partir de rejeitos da indústria de transformação de biomassas, indicando potenciais para

o desenvolvimento de novas tecnologias que podem disponibilizar tais produtos de

maneira fracionada e assim se contextualizar segundo o conceito de biorefinaria.

Neste âmbito a substituição de combustíveis fósseis por bicombustíveis para a

geração de energia tem sido um alternativa cada vez mais adotada, o que tem levado à

uma série de perguntas sobre as conseqüências que isto poderia ocasionar. Dentro

destas, como exemplo, o aumento de preços e diminuição da disponibilidade de

alimentos, que poderia estar sendo causada pela produção de etanol a partir da cana de

açúcar e do milho. Por este motivo, a produção de biocombustíveis de segunda geração

via biomassasaparece como parte da solução deste problema.

O desenvolvimento das indústrias de processamento de madeira (papel e celulose) e

sucro-alcooleiras têm gerado grandes quantidades de biomassa vegetal como

subproduto, suscitando o interesse na química da mesma, segundo sua exploração

econômica através de processos químicos ou microbiológicos. Os resíduos de biomassa

disponíveis devido às atividades agrícolas e industriais constituem uma fonte potencial

para a produção de especialidades químicas de alto valor agregado, tais como polióis,

lignossulfonatos e ésteres de celulose ... etc, seja por via enzimática ou rota química.

A racionalização no aproveitamento de biomassa vegetal é um desafio permanente

e imediato para a humanidade, principalmente para os países tropicais em

desenvolvimentos que são os principais produtores de biomassas. Novos métodos de

utilização e transformação se fazem necessários diante do seu potencial inexplorado.

Esta tendência se reflete em esforços consideráveis de grupos de pesquisas em busca de

soluções mais aperfeiçoadas para seus aproveitamentos.

Um número considerável de trabalhos (LORA, 1989; LIMA, 1992; DEINEKO,

1995; MANCILHA, 1997; MIKKOLA, 1999) vem sendo publicado nos mais diversos

canais, bem como o nível de integração entre os pesquisadores torna-se cada vez maior,

em termos de desenvolvimentos conjuntos e integrados de experimentos. Entre as

geografias mais atuantes podem ser citados os eixos Canadá, Estados Unidos e Rússia-

Escandinávia, os quais utilizam madeira como matéria-prima. Países como o Brasil,

Austrália e Estados Unidos, se orientam com relação a tecnologias ligadas à utilização

de celulósicos provenientes de biomassas alternativas tais como bagaço de cana-de-

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açúcar, milho e trigo, tendo em vista a produção de especialidades químicas e

combustíveis.

O processamento da cana-de-açúcar para a fabricação de açúcar e álcool gera

quantidades massivas de bagaço, um material altamente fibroso, como resíduo

industrial. Tipicamente, cada 1000 ton de açúcar produzem aproximadamente 270 ton

de bagaço de cana. A produção nacional de bagaço de cana corresponde a

aproximadamente 40 MMton / ano e cerca de 50% em massa desta quantidade é

suficiente para suprir a necessidade de energia das unidades de produção. O restante tem

sido utilizado como matéria-prima na produção de ração animal, polpa de papel,

aglomerados prensados, dentre outros. Conseqüentemente, constata-se que não existe,

ainda, uma exploração econômica do bagaço de cana excedente para a produção de

produtos de valor agregado superior, embora existam grandes quantidades destas

biomassas disponíveis localmente, a baixo custo.

O Programa de etanol no Brasil tem substituído aproximadamente 1,5% de toda a

gasolina usada no mundo, e esse número irá provavelmente ser duplicado com a

expassçao em curso. Se a atual taxa de crescimento da produção de etanol no Brasil se

mantiver e se outros países produtores de açúcar seguirem a via aprovada pelo Brasil,

parece possível que mais que 10% em massa de toda a gasolina usada no mundo possa

ser substituída por biocombustíveis nos próximos 15-20 anos (GOLDEMBERG, 2008).

Esta substituição poderia acontecer em menor tempo com o aproveitamento do bagaço

de cana, sem a necessidade de aumentar a área de plantio de cana-de-açúcar. O bagaço

oferece outra grande vantagem por ter custo baixo, sendo processado em moendas, e

estar pronto para uso no local (SHITTLER, 2006).

A composição química típica do bagaço consiste em celulose, hemicelulose,

lignina, ceras e água, o que o torna uma fonte potencial de matérias-primas para

diversos setores de aplicação, como papel e celulose, alimentício, farmacêutico e de

especialidades químicas a partir de derivados ligno-celulósicos. Cerca de 80% em massa

da massa seca desta biomassa consistem em celulose e hemicelulose.

As hemiceluloses, que representam de 30% em massa a 35% em massa da

composição do bagaço de cana-de-açúcar, são basicamente constituídas por pentosanas

e hexosanas, cadeias poliméricas formadas por pentoses (moléculas sacarídicas com

cinco carbonos) e hexoses. As pentosanas representam aproximadamente 95% a 98%

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em massa do conteúdo hemicelulósico da biomassa vegetal bagaço de cana-de-açúcar.

Destas, as xilanas e as arabanas aparecem como principais componentes. As hexosanas

do bagaço de cana-de-açúcar são fundamentalmente compostas por glicanas.

Pelo fato de a matéria-prima (bagaço de cana-de-açúcar) ter seus constituintes

protegidos, constituindo assim uma forte estrutura, o processamento da mesma envolve

etapas de despolimerização de seus carboidratos, através de processamento físico-

químico e\ou enzimático. Assim, processa-se esta biomassa em etapas, cuja primeira

etapa (denominada pré-tratamento é de natureza físico-química) é capaz de remover a

hemicelulose e parte da lignina, disponibilizando a matriz celulósica da estrutura vegetal

para um ataque posterior (SENDELIUS, 2005; MARTÍN et al, 2002).

Utilizando-se um processo extrativo adequado, a hemicelulose do bagaço de

cana pode ser convertida a D-xilose e L-arabinose (MANCHILHA, 1997). A D-xilose,

por sua vez, pode ser convertida a xilitol, um produto de alto valor agregado, via

processos de hidrogenação. A celulose pode ser convertida a glicose e esta a derivados

sacarídicos tais como polióis (sorbitol e manitol), dióis (propanodiol-1,2 e etileno

glicol) e monoálcoois (metanol e etanol).

Reitera-se, portanto, o desenvolvimento de tecnologias de transformação da

biomassa em especialidades químicas de alto valor agregado, em particular, a

partir de bagaço de cana-de-açúcar, adotando-se processos químicos, e

apresentando-se tal opção como biorefino caracterizada, atrativa em virtude dos

seguintes benefícios:

- valorização da biomassa vegetal excedente gerada pelas indústrias da região

mediante utilização de matéria-prima local, abundante e de baixo custo;

- possibilidade de utilizar excedentes de bagaço de cana não utilizados pelas

indústrias sucro-alcooleira e de papel e celulose, proporcionando uma

ampliação da envoltória econômica destas atividades;

- minimização da quantidade de efluentes gerados, e, conseqüentemente, dos

danos potenciais ao meio ambiente;

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- introdução de uma atividade industrial nova na região com grande potencial

de expansão;

Diante do exposto, este trabalho visa o fracionamento e a disponibilização dos

macro constituintes da biomassa bagaço de cana-de-açúcar, identificados como lignina,

hemiceluloses e celulose na forma de mono e oligossacarídeos processamento químicos

hidroliticos alcalino e ácidos.Tem-se por objetivo último a dissolução da biomassa,

processando-a via química, produzindo em solução aquosa com possibilidades reais de

serem transformadas por hidrogenação e oxidação em polióis, aldeídos e ácidos

orgânicos.

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2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR

Ainda não se sabe com precisão a época ou local do inicio da cultura da cana-de-

açúcar no mundo. Para a maioria dos historiadores, isto ocorreu entre 10 e 12 mil anos

trás, e data em 3.000 a.C. o caminho percorrido da Península Malaia e Indochina até a

Baia de Bengala. Foi Introduzida na china por volta de 800 a.C. e o açúcar cru já era

produzido em 400 a.C., mas só a partir de 700 d.C. o produto começou a ser

comercializado. O primeiro processo de produção do açúcar de cana, que consiste em

esmagar e ferver o bastão para dar origem ao melaço foi registrado em 300 d.C. em um

documento religioso hindu (ÚNICA 2007).

Em 1532, a cana chega ao Brasil, por ordem do rei D. Manuel, e, é introduzida

na Capitania de São Vicente pelo governador-geral Martim Afonso de Souza, dando

inicio ao “Ciclo do Açúcar”. Em 1660, o Brasil era o maior produtor mundial de açúcar,

mas nos séculos seguintes houve um grande aumento da produção no Caribe, além do

desenvolvimento da tecnologia de obtenção de açúcar a partir da beterraba no século

XIX, na Europa.

A planta de cana-de-açúcar é composta essencialmente pelos Colmos (nos quais

se concentra a sacarose), pelas pontas e folhas (que constituem a palha da cana) e pelas

raízes, no subsolo (vide Figura 2). A composição média dos colmos é apresentada na

tabela 1, e o detalhe dos seus constituintes é dado na Tabela 2.

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Figura 2.1. Partes da cana-de-açúcar. Fonte: COPERSUCAR, 2007

Como a sacarose é a matéria-prima tanto do açúcar, quanto do álcool, seu teor é

o principal critério para a determinação da qualidade da variedade de cana. Por outro

lado, a fibra (bagaço) é considerada como uma das grandes razões para a enorme

competitividade dos produtos da cana, uma vez que o seu uso como energético garantiu

às usinas a auto-suficiência em energia e até a possibilidade da venda de excedentes. No

entanto variedades de cana com maiores teores de fibra não parecem apresentar

vantagem econômica ainda (HASSUANI et al, 2005), muito embora os custos

crescentes de energia possam modificar este conceito, com o material celulósico vindo a

se tornar mais valioso.

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Tabela 2.1. Composição média da cana-de-açúcar (colmos). Fonte: COPERSUCAR, 2007

Tabela 2.2. Principais constituintes da cana-de-açúcar (colmos). Fonte: COPERSUCAR, 2007

A ocorrência acirrada no mercado mundial de açúcar e a insegurança em relação

ao abastecimento mundial do petróleo, com duas crises graves nos anos 1970, levaram o

Brasil a ampliar a produção de álcool combustível, dando grande impulso à produção de

cana. Entre 1975 e 1985, a produção do Brasil aumentou de cerca de 120 para 240

milhões de toneladas, principalmente em função do PNA (Programa Nacional do

Álcool), estabilizando neste patamar entre 1985 e 1995. A partir desse ano iniciou-se

outro ciclo de expansão agrícola, basicamente movimentado pela exportação de açúcar.

Em 1990 a exportação de açúcar foi de 1,2Mt, ascendendo a 19Mt em 2006, mostrando

o extraordinário aumento da competitividade do produto brasileiro. A produção de

etanol voltou a crescer em 2003, e na safra 2006/07, cerca de metade da cana produzida

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(total de 425Mt) foi destinada à produção do etanol. Atualmente, o país é líder na

produção e exportação tanto de açúcar como de álcool, além da liderança na produção

de cana, com mais de 30% em massa da produção mundial (FAO, 2007).

2.2. ASPECTOS GERAIS

Uma das preocupações do mundo atual é com o suprimento de energia nas

próximas décadas, uma vez que a principal fonte de energia utilizada hoje é o petróleo,

e por se tratar de combustível fóssil não é renovável. O petróleo ainda representa 40%

em massa da energia utilizada no mundo, e até 2020 o consumo saltará dos atuais 85

milhões de barris/dia para 110 milhões de barris/dia, ou seja, 31 bilhões de barris/ano

para 40 bilhões de barris/ano.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de bioetanol. Na safra de

2005/2006 foram produzidos 26,055 milhões de toneladas de açúcar , 15,9 bilhões de

litros de etanol e 386,6 milhões de toneladas de cana de açúcar, conseqüentemente

104,4 milhões de toneladas de bagaço (considerando que 1 tonelada de cana de açúcar

rende 270 kg de bagaço, 50% em massa umidade) (Revista Exame, 2006). Estima-se

que o excedente anual de bagaço varie de 5 a 12 milhões de toneladas e de palha de

54,12 milhões de toneladas (considerando que cada tonelada de cana colhida sobra 140

kg de palha (base seca)). O desperdício de material celulósico corresponde a dois terços

da área plantada de cana (o bagaço e a palha hoje são usados na geração d energia,

queimados ou deixados no campo) e, atualmente, apenas um terço da biomassa contida

na planta é aproveitada para produção de etanol ou açúcar (BASTOS, 2007).

Nos últimos anos vem se observando no mundo um grande interesse pela

utilização de resíduos agrícolas na obtenção de combustíveis renováveis, tais como o

bioetanol. No Brasil, apesar da grande produção deste combustível a partir da sacarose

de cana de açúcar, a produção de álcool de fontes alternativas de substrato pode ser

interessante, principalmente se associado à indústria já existente. A utilização do bagaço

de cana como fonte alternativa de carboidratos para a produção de etanol vem sendo

estudado por vários pesquisadores (NEUREITER et al., 2002; BANERJEE &

PANDEY, 2002; KARR et al., 1998).

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A cana de açúcar é umas das mais ricas fontes de carboidratos na natureza. De

uma tonelada de cana de açúcar, obtém-se 150 kg de açúcar fermentescíveis e 140 kg de

bagaço seco contendo: kg de celulose (43% em massa); kg de xilanas (25% em massa);

kg de lignina (23% em massa).

É importante observar que esse balanço de material não leva em conta o

consumo de energia, que nas usinas é suprido com a queima do próprio bagaço. Para um

processo completamente auto-sustentável, sem o uso de combustíveis fósseis, é preciso

descontar a quantidade de bagaço de cana consumida para gerar energia para esse

processo.

Considerando que a quantidade de açúcares fermentescíveis encontrada no

bagaço pode ser recuperada, por exemplo, com 90% em massa de eficiência após 2

etapas de tratamento ácido, o rendimento teórico de açúcares fermentescíveis na cana de

açúcar em sua totalidade (caldo e bagaço) pode chegar a 227 kg/ton, com o bagaço

contribuindo com um aumento de 50% em massa no etanol produzido. Assim, se

promove o aumento da produção sem promover a expansão de párea plantada, de forma

a evitar a competição com as áreas produtoras de alimentos ou entrar em áreas

protegidas como florestas.

As iniciativas nacionais contemplam o desenvolvimento de novas tecnologias de

produção do etanol com base na biomassa lignocelulósica proveniente de resíduos da

produção de etanol da cana-de-açúcar e a instalação de biorefinarias, mas dentro de um

enfoque e de uma estratégia própria decorrente da especificidade da cana em termos de

custos e balanço energético positivo (BASTOS, 2007).

2.3. BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA

O uso da biomassa lignocelulósica como fonte de energia surgiu devido a este

ser o material mais abundante de nosso planeta, tendo origem em resíduos vegetais,

florestais, animais, resíduos sólidos urbanos e indústrias. A biomassa lignocelulósica,

geralmente contém 30-45% em massa de celulose, 20-30% em massa de lignina, 25-

30% em massa de hemicelulose, e uma pequena quantidade de cinzas e extrativos. Esta

composição varia em função do tipo do material, como se observa na Tabela 2.3.

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Tabela 2.3. Composição Química dos Matérias Lignocelulósicos Fonte: HON, D.N.S, 1996, EL-MASRY, 1983

n.d.= não determinado

2.3.1. A Celulose

A celulose é o componente principal na parede vegetal, sendo um homopolímero

linear de alto peso molecular que contém uma parte amorfa e outra altamente cristalina.

Este polímero é formado por moléculas de anidro-glicose ( D-glicose) unidas por

ligações do tipo β(1-4) glicosídicas, sendo sua fórmula geral (C6H10O5)n. Em sua

estrutura, duas unidades de glicose adjacentes são ligadas pela eliminação de uma

molécula de água entre seus grupos hidroxílicos, no carbono um e no carbono quatro,

dando origem à molécula de celobiose, a qual é a unidade repetitiva da celulose como se

mostra na Figura 2.2. (FENGEL E WEGENER, 1989).

As moléculas de celulose têm uma forte tendência a formar ligações por união

de hidrogênio, cada unidade de glicose forma ligações intramoleculares e

intermoleculares. A existência destas ligações tem um efeito importante na reatividade

que apresentam as fibras celulósicas. As ligações intermoleculares de hidrogênio

permitem uma estrutura fibrilar terciária de alta cristalinidade. As zonas que apresentam

elevada cristalinidade são difíceis de penetrar por solventes e reagentes. Por outro lado,

as zonas relativamente mais desordenadas (amorfas) são mais acessíveis e mais

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susceptíveis a todas as reações químicas (e favorecem o inchamento que se limita

unicamente à região amorfa da fibra – inchamento intercristalino – e não muda sua

estrutura cristalina). (OTT et al, 1963;SCALLAN, 1971; GACÉN e MAILLO, 1987;

GARCIA HORTAL, 1994).

O alto grau de cristalinidade da porção cristalina da celulose confere proteção à

célula e constitui um impedimento estérico (impossibilidade ou dificuldade de reagir de

uma molécula por seu tamanho e pelos ângulos de ligação de seus radicais) ao ataque de

reagentes. Isto não acontece com a celulose amorfa, que é mais fácil de ser degradada

pelos pré-tratamentos.

Figura 2.2. Fórmula estereoquímica da celulose Adaptada de: http:www.Isbu.ac.uk\water\hyara.html Acesso em: 05 de ago. 2009.

2.3.2. Hemicelulose

As hemiceluloses são heteropolissacarídeos com cadeias menores que as da

celulose e com uma estrutura linear ramificada. Os constituintes monoméricos das

hemiceluloses são pentoses (xilose, arabinose), galactose e ácidos urônicos

(HORLTZAPPLE, 1993). As hemiceluloses de folhosas e resinosas não só diferem em

percentagem, mas também, em composição química.

As xilanas são da família das hemiceluloses e são as mais abundantes na parede

celular das plantas. Representam entre 15-30% em massa, e são constituídas por uma

cadeia principal de unidades de β-D-xilopiranose unidas por ligações β(1-4), com

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ramificações de ácido 4-O-metilglucurónico, inidos à cadeia principal por ligações α(1-

2) (Figura 2.3.).

Figura 2.3. Fórmula estereoquímica da hemicelulose

As hemiceluloses são estruturalmente mais parecidas com a celulose do que com

a lignina e são depositadas na parede celular em um estágio anterior à lignificação. Sua

estrutura apresenta ramificação e cadeias laterais que interagem facilmente com a

celulose, dando a estabilidade e flexibilidade ao agregado (RAMOS, 2003).

Comparadas com a celulose, as hemiceluloses apresentam maior susceptibilidade à

hidrólise ácida, pois oferecem uma maior acessibilidade aos ácidos minerais comumente

utilizados como catalisadores. Esta reatividade é usualmente atribuída ao caráter amorfo

destes polissacarídeos (SCHUERCH, 1963; FENGEL e WEGENER, 1989). O principal

açúcar encontrado nas hemiceluloses do bagaço é a xilose (FENGEL e WEGENER,

1989).

2.3.3. Lignina

A lignina é, depois da celulose e hemicelulose, uma dos mais abundantes

macromoléculas vegetal e se encontra presente na parede celular. É um heteropolímero

amorfo que consiste em três diferentes unidades de fenilpropanos (álcool p-cumarílico,

álcool coferílico e álcool sinapílico) que são mantidos unidos por outro tipo de ligação.

O objetivo principal da lignina é dar á planta apoio estrutural, impermeabilidade,

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resistência contra o ataque microbiano e o estresse oxidativo. O heteropolímero amorfo

não é solúvel em água e opticamente inativo, o que faz com que a degradação da lignina

seja difícil (FENGEL e WEGENER, 1989).

A lignina, da mesma forma que a hemicelulose, começa a dissolver

aproximadamente a 180ºC em condições neutras (BOBLETER, 1994). A solubilidade

da lignina em ácido, ou meios neutros depende dos precursores da lignina (Figura 2.4)

(GRANNER, 2005).

Figura 2.4. Precursores da biossínteses da lignina: (I) álcool p-cumarílico; (II) álcool coniferílico; (III) álcool sinapílico. (FENGEL e wegener, 1989).

A estrutura da lignina não é homogênea, possui regiões amorfas e estruturas

globulares (BIDLACK et al, 1992). A composição e a organização dos constituintes da

lignina variam de uma espécie para outra, dependendo da matriz de celulose-

hemicelulose.

No processo da hidrólise enzimática dos matérias lignocelulósicos e na indústria

de papel e celulose, a lignina é um componente indesejável e geralmente é necessário

removê-la por meio de tratamentos químicos. Além de ser a barreira física para as

enzimas, as celulases podem ser irreversivelmente capturadas pela lignina e

conseqüentemente influenciar na quantidade de enzima requerida para a hidrólise, assim

como dificultar a recuperação da enzima após a hidrólise (LU et al, 2002).

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2.4. A ESTRUTURA DOS MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS

Geralmente, a estrutura da parede celular é subdividida em parede primaria,

parede secundaria e parede terciária, como pode ser observado na Figura 2.5. As

distribuições da celulose, da hemicelulose e da lignina variam consideravelmente entre

as camadas. A lamela média é uma camada fina localizada entre as células e nas

madeiras maduras esta quase inteiramente composta de lignina. Essa camada mantém as

células coesas e é a responsável pela integridade estrutural do tecido das plantas. A

parede primaria em uma célula madura também é altamente lignificada. Esta é a camada

mais fina da parede celular e a primeira a ser depositada nas células. As duas paredes

primarias adjacentes e a lamela média são freqüentemente chamadas lamela média

composta. Do lado de dentro da parede primaria, é formada a parede secundaria, em

uma seqüência de três lamelas, S1, S2, S3. A camada central dessa parede, S2, é

usulamente mais grossa que as outras. Cada camada da parede secundaria contem

microfibrilas de celulose que se encontram mais ou menos paralelas umas às outras.

Essa orientação resulta em uma disposição helicoidal, que pode ser caracterizada de

acordo com o ângulo que as microfibilas fazem com o eixo longitudinal da célula.

Como o ângulo das microfibilas varia entre as lamelas é formada uma estrutura

microfibrilar cruzada. (RAMOS, 1992).

Figura 2.5. Modelo da estrutura da parede celular e relação da lignina, hemicelulose, e celulose na parede secundária da célula. LM=lamela média, P=parede primaria, S1=parede secundaria 1, S2=parede secundária 2, T=parede terciária e W=camada de verrugas (KIK e CULLEN, 1998, FENGEL e WENEGER, 1989).

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2.5. BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR COMO MATÉRIA-PRIMA

O setor sucroalcooleiro identifica-se como aquele que apresenta o maior

potencial para implementação comercial da produção de etanol, a partir de hidrolisado

de material lignocelulósico. Uma vez introduzida no setor sucroalcooleiro, esta

tecnologia poderá ser estendida a outros setores industriais que, também, poderão gerar

grandes volumes de resíduos sólidos de origem vegetal.

Como o setor já produz etanol hidratado e anidro carburante, já possui as

utilidades e a infra-estrutura para produção e estocagem do produto final, podendo esta

estrutura ser partilhada com as novas unidades de hidrólise.

As matérias-primas disponíveis para hidrólise são: o bagaço da cana e os

resíduos da colheita, os quais estão disponíveis em grande volume e próximos das

instalações industriais, o que resulta em um baixo custo de oportunidade.

As usinas e destilarias são auto-suficientes na geração de energia térmica,

mecanica e elétrica, podendo ainda, gerar todas as utilidades e o excesso de bagaço que

serão utilizados no processo de hidrólise. Possuem também, a infra-estrutura para

tratamento de efluentes, líquidos, sólidos e gasosos, bem como os serviços de apoio à

produção e as facilidades para estocagem e movimentação, tanto da matéria-prima,

quanto do etanol final, assim como a preparação, movimentação e estocagem do

bagaço.

A grande maioria das usinas do setor já utiliza tecnologia avançada, tanto na

área agrícola como industrial, para a produção do etanol. Prova disto é que o custo de

produção do etanol no Brasil é o menor em nível mundial.

Como exemplo, pode-se citar os Estados Unidos, onde os custos variáveis do

etanol do milho estão em US$ 0,96/galão e os custos fixos entre US$ 1,05 e US$ 3,00,

enquanto no Brasil tem-se custos variáveis de US$ 0,89/galão e custos fixo de US$

0,21/galão, com custos totais de US$ 1,10/galão (MARTINES FILHO, et al, 2006).

Segundo a Única, os custos de produção do etanol no Brasil estariam em US$

0,90/galão e US$ 1,30/galão. Os números do USDA comparam o custo de produção do

etanol fabricado com base em diferentes matérias-primas (Figura 2.6). Informações de

quaisquer das fontes consultadas confirmam, entretanto, a vantagem comparativa de

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custos do etanol brasileiro. Segundo especialistas, mesmo aos seus patamares históricos

(US$ 30-35/barril), o etanol brasileiro não perderia sua competitividade.

Figura 2.6. Custo de Produção do Etanol. Fonte: USDA (2007).

A conjunção destes fatores, seguramente, resultará em uma elevada atratividade

para a conversão do bagaço em etanol, que dificilmente poderá ser suplantada por outra

matéria-prima de origem vegetal.

A profissionalização do setor e o emprego de tecnologias mais eficientes nas

usinas que produzem o etanol, a partir dos açúcares extraíveis da cana, estão gerando

grandes excedentes de bagaço, com potencial para que este excedente seja

transformando em etanol, o que irá permitir aumentar significativamente a oferta deste

combustível, sem exigir um aumento proporcional das áreas de plantio. Nesta nova

condição, o aproveitamento da cana será integral.

O bagaço da cana-de-açúcar é a fração de biomassa resultante após os

procedimentos de limpeza, preparo (redução através de jogos de facas rotativas

niveladoras e desfibramento através de jogos de martelo oscilante) e extração do caldo

de cana (através de ternos de moagem ou de difusores). Não é uma biomassa

homogênea, apresentando variações em sua composição, assim como na sua estrutura

morfológica, em função dos procedimentos de corte no campo e no processamento

industrial.

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A Tabela 2.4. Reproduz a composição característica do bagaço, segundo estudos

conduzidos no Instituto Cubano de Investigaciones de los Derivados de la Caña de

Azúcar (ICICDA).

Tabela 2.4. Composição do bagaço e da palha de cana-de-açúcar. Composição %

em massa

(base seca)

Bagaço Fibra Medula Palha

Celulose 46,6 47,7 41,2 45,1

Pentosanos 25,2 25,0 26,0 25,6

Lignina 20,7 19,5 21,7 14,1

Organosolúveis 2-3 - - 3,5

Aquosoluveis 2-3 - -

Cinzas 2-3 - - 8

Umidade 48-52 - - 9,7

Esse material celulósico é composto por polissacarídeos, que são a celulose (um

polímero da glicose que corresponde, em média, a 44% em massa da biomassa

lignocelulósica), a hemicelulose (um heteropolímero mais complexo, que representa

30% em massa da biomassa e é formado por pentoses, que são açúcares de cinco

carbonos) e a lignina (que é o material estrutural da planta, que hoje não pode ser

convertida em etanol por limitações quase intransponíveis, mas pode, ainda que de

tratamento mais complexo, ser fonte de outras matérias-primas). Os dois primeiros

podem ser transformados em açúcares que, fermentados permitirão expressiva produção

adicional de etanol.

A transformação estequiométrica do bagaço padrão, e seu potencial máximo de

produção de etanol, são apresentados na Figura 2.7. Para este cálculo, são considerados

unicamente os açúcares redutores potencialmente recuperáveis da hemicelulose e da

celulose.

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Etanol Total: 186 L

Etanol: 123 L

1 TON Bagaço

Celulose: 200Kg

Hemicelulose: 158Kg

Lignina: 100Kg

Proteínas: 17Kg

Hexoses: 209Kg

Hidrólise

Pentoses: 126Kg

Fermentação

Etanol: 63 L Fermentação

Figura 2.7. Potencial de Transformação de Bagaço em Etanol pela Hidrólise.

O processo de hidrólise destina-se a quebrar as (macro) moléculas de celulose ou

hemicelulose, por meio da adição de ácido sulfúrico aos resíduos, no caso da hidrolise

ácida, ou pela ação de enzimas (catalisadores orgânicos), no caso da hidrolise

enzimática. Apesar dos avanços dos processos biotecnologicos, existem algumas

limitações, principalmente no que se refere às questões de investimento, para ilustrar

algumas limitações no estagio atual da tecnologia de produção do etanol celulósico,

algumas indicadores são confrontados na Tabela 2.5, seja ele fabricado a partir do milho

ou da celulose, nos Estados unidos.

Tabela 2.5. Quadro comparativo das Características Atuais da Produção do Etanol. Fonte: (USDA, 2006)

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20

2.6. PRODUÇÃO DE CARBOIDRATOS

2.6.1 Hidrólise no Brasil

Para o Brasil, a importância de possuirmos diversos processos disponíveis é

grande, pois os custos de produção de biomassa (por exemplo: resíduos da cana como o

bagaço e a palha, resíduos agrícolas, madeira plantada, gramíneas etc.) são os menores

do mundo, portanto, a possibilidade de termos resultados viáveis é alta.

As pesquisas na área de produção de álcool de celulose por via ácida, tiveram

início em 1977, na Fundação de Tecnologia Industrial (FTI) – Lorena, tendo as

atividades abrangidas estudos em laboratórios, bancadas e escala-piloto. Os trabalhos

foram continuados pela Faenquil, atualmente USP – campus de Lorena, sendo este, o

mais antigo grupo atuante no Brasil.

Outra pesquisa em hidrólise foi desenvolvida no Brasil em 1979, pela

CODETEC – Companhia de Desenvolvimento Tecnológico, em conjunto com a Aços

Villares e com a Fundação Universidade Estadual de Campinas, quando realizaram

pesquisas visando o desenvolvimento do processo de hidrólise ácida (H2SO4) , contínua

do bagaço da cana-de-açúcar e de palha de arroz (Projeto HIDROCON).

Esses trabalhos foram descontinuados mesmo com o fato de os testes piloto

apresentarem resultados promissores. Atingindo a escala-piloto, com uma unidade tendo

operado desde outubro de 1981 até o final de 1983, foram atingidos rendimentos de

sacarificação na faixa de 57% em massa a 60% em massa.

O processo Scholler-Madison Soviético, também foi implantado em escala

indústria no Brasil à parir de 1980, através da COALBRA- Coque e álcool de madeira

S/A. Com a importação da tecnologia soviética, construiu uma fabrica com capacidade

de produção de 30.000 l/dia de etanol. Esta planta, não chegou a atingir a sua plena

capacidade operacional, devido a fatores econômicos desfavoráveis, tendo suas

atividades encerradas em meados de 1987, quando se dedicava à produção de furfural.

Um projeto utilizando solvente orgânico, para extração da lignina, e ácido

diluído, é desenvolvido pelo grupo Dedini desde 1980. As pesquisas iniciadas pela

Dedini em laboratório, contaram com a parceria da Rhodia e se estenderam até 1996. A

partir desta data, o desenvolvimento do processo teve continuidade pela Dedini e o CTC

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– Centro de Tecnologia Canavieira, contando com o apoio da Agência de Amparo a

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Originalmente o processo foi desenvolvido para um solvente orgânico baseado

na mistura de acetoba/água e depois, a partir de 1999, para etanol/água. O processo foi

totalmente reformulado para as condições Brasileiras e adaptado ao setor sucro-

alcooleiro, tornando-se um novo conceito de tecnologia Organosolv patenteada pela

Dedini, com o nome de Dedini Hidrólise Rápida DHR, tendo chegado á capacidade

equivalente de 5000 l/dia de etanol.

Hoje em dia diversas instituições realizam pesquisas, sendo que, algumas, ainda

continuam os estudos e as investigações sobre o processo de produção de etanol,

enquanto outras se ocupam com a produção (oxidação e hidrogenação) de ácidos

orgânicos derivados dos hidrolisados gerados pelas biomassas. Alguns estudos estão

sendo realizados com o intuito de introduzir processos de pré-tratamento físico-químico

ou químico, para facilitar a o ataque hidrolitico e atingir altas taxas de sacarificação.

Algumas das equipes de pesquisa mais relevantes: Instituto de Pesquisa

tecnológico de São Paulo (IPT); Universidade Federal de Pernambuco; Universidade de

São Paulo; Universidade Federal do Paraná; Fundação Universidade Estadual de

Maringá; Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidade Federal do Ceará;

Universidade de Caxias do Sul.

2.6.2 Obtenção de Carboidratos

Os carboidratos (em especial glicose e xilose) contidos nas biomassas

lignocelulósica, podem ser extraídos mediante processos de hidrólise ácida (com ácidos

orgânicos ou minerais), álcalis ou enzimas. No geral, se procede a uma lavagem e

peneiramento da biomassa lignocelulósica, com o intuito de melhorar esse processo de

extração dos sacarídeos para posterior oxidação de seus carboidratos. Deste modo, as

cadeias hemicelulósicas e celulósicas podem ser hidrolisadas, produzindo os respectivos

carboidratos (xilose e glicose) em sua forma monomérica. A xilose obtida ainda pode

ser convertida a xilitol (um produto de alto valor agregado), via hidrogenação

enzimática ou via catalítica (BAUDEL et al, 2005).

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Outra rota que pode ser utilizada é o processo hidrolítico com ácido diluído e

tratamento a vapor ("Steam Explosion" ou "Steam Treatment"). Esse processo consiste

em uma única etapa e pode ser feito com SO2 ou H2SO4 diluído (ou combinação de

ambos) a uma alta pressão. Consiste num reator de hidrólise (PARR) acoplado a um

tanque de expansão (Flash Tank) (BAUDEL, 2005).

2.6.3 Processos Hidróliticos

Os processos em desenvolvimento para conversão da biomassa de natureza

lignocelulósica em açúcares redutores e produção final de etanol, podem ser agrupados

em três categorias principais: Processos que empregam ácidos concentrados; Processos

catalisados por ácidos diluídos; Processos enzimáticos; Processos Utilizando Álcalis.

Hidrólise Ácida - Processos de hidrólise ácida podem ser realizados utilizando-se

diversos agentes químicos, tais como os ácidos sulfúrico, sulfuroso, clorídrico,

fluorídrico, fosfórico, nítrico e acético, concentrados ou diluídos (TENGBORG, 2000).

Processos utilizando ácidos concentrados são conduzidos à baixa temperatura, com altos

rendimentos. Entretanto, a elevada quantidade de ácido utilizada causa problemas

associados à corrosão dos equipamentos, além da necessidade de se utilizar sistemas de

recuperação de ácido, de elevado custo de capital e consumo energético (BAUDEL,

2005). Além disso, o processo de neutralização dos hidrolisados demanda uma elevada

quantidade de álcali e, nos casos em que se usa ácido sulfúrico, enormes quantidades de

gesso (sulfato de cálcio) são produzido (KELLER, 1996) como resíduo, acarretando

problemas de natureza econômica e ambiental.

A principal vantagem dos processos de hidrólise com ácidos diluídos reside no

reduzido consumo de ácido. Entretanto, tais processos demandam o uso de elevadas

temperaturas, necessárias à conversão de celulose, de modo que se verifica uma maior

degradação dos carboidratos provenientes das hemiceluloses, além da corrosão dos

equipamentos (KELLER, 1996). Separadamente, altas temperaturas tendem a

incrementar a formação de “produtos de degradação” dos carboidratos (e.g. furfural,

Hidróxi-metil-furfural) e da lignina (fenólicos), os quais atuam como inibidores das

etapas posteriores de conversão dos carboidratos produzidos (BAUDEL, 2003). O

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máximo rendimento de carboidratos (em glicose) geralmente se verifica sob alta

temperatura e curto tempo de processo.

Processos de hidrólise ácida em dois estágios têm sido experimentados com a

finalidade de reduzir a degradação sacarídica. No primeiro estágio, usualmente

denominado pré-hidrólise ou pré-tratamento, moderadas condições operacionais são

adotadas, com vistas à remoção seletiva das hemiceluloses facilmente hidrolisáveis

(cerca de 35% em massa do total). Deste modo, é possível proceder ao segundo estágio

sob condições mais severas de processo com mínima degradação das hemiceluloses

(Söderström, 2004). Utilizando-se um processo de hidrólise ácida em dois estágios,

existe a possibilidade de obter rendimentos da ordem de 70-98% em massa em xilose,

manose e arabinose (NGUYEN et al., 1999). Entretanto, baixos rendimentos de

conversão da celulose em glicose (cerca de 50% em massa) são obtidos na segunda

etapa do processo (TENGBORG, 2000).

Pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de implementar processos de

hidrólise de biomassas lignocelulósicos utilizando-se uma mescla de ácidos minerais e

solventes orgânicos (hidrólise ácida organossolve). Em termos gerais, a biomassa é

submetida a uma hidrólise rápida e total em presença de um solvente orgânico (metanol,

etanol, acetona, etileno glicol, trietileno glicol, fenol) associado a um ácido mineral

(H2SO4, HCl). Este promove a quebra das ligações entre a lignina e as hemiceluloses. O

solvente remove parcialmente a lignina do tecido vegetal, incrementando a

acessibilidade da matriz celulósica aos agentes de hidrólise (ácidos), produzindo

glicose. O solvente é recuperado. Produz-se uma fração líquida (licor sacarídico), rica

em derivados de celulose (glicose e oligômeros), pentoses (xilose e arabinose) e

compostos fenólicos oriundos da solubilização parcial da lignina. A fração sólida

(torta), rica em lignina, pode ser utilizada como combustível para a produção de vapor e

energia elétrica. (BAUDEL, 2005). No entanto, tal processo (hidrólise organossolve)

apresenta elevado custo e complexidade operacional. (TENGBORG, 2000). Isto se deve

ao fato de que os solventes orgânicos são potencialmente perigosos, tóxicos e

inflamáveis, demandando equipamentos e controles de processo mais complexos, de

maior custo, além de procedimentos mais elaborados de manejo seguro de substâncias e

resíduos perigosos (SÖDERSTRÖM, 2004).

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Hidrólise Alcalina - A hidrólise alcalina consiste na impregnação da biomassa em uma

solução de hidróxido de sódio ou amônio, por exemplo. A ação dos álcalis sobre a

ligno-celulose promove um “inchamento” (“swelling”) do material, aumentando a

superfície interna de contato enquanto reduz o grau de polimerização e a cristalinidade

da matriz celulósica. Além disso, a ação alcalina promove a ruptura (cisão homolítica)

das ligações lignina-carboidrato, além de fragmentar a lignina, com formação de

compostos fenólicos de menor peso molecular. Tais métodos ainda não têm sido

experimentados em escala piloto ou semi-industrial (SÖDERSTRÖM, 2004).

Outro pré-tratamento que vem sendo estudado é a oxidação alcalina úmida

(WAO) que consiste em tratar o bagaço com água e ar ou oxigênio a uma temperatura

acima de 120ºC (Martín, et al, 2006). Foi demonstrado que este tipo de pré-tratamento

fornece bons resultados, com uma boa solubilização de lignina e hemiceluloses, além de

ser um tratamento que reduz a quantidade de furaldeídos, o qual é altamente tóxico

(MARTÍN, et al, 2006).

Hidrólise Enzimática - A biodegradação de lignocelulósicos teve seu início na década

de 60 (KELLER, 1996; SÖDERSTRÖM, 2004). Este processo é realizado a baixas

temperaturas, utilizando enzimas como catalisador. Deste modo, se obtêm conversões

altamente seletivas e específicas da celulose em glicose. Por este motivo, os processos

de hidrólise enzimática da celulose têm sido considerados como potencialmente mais

promissores que os processos de hidrólise ácida em termos de eficiência (rendimento e

seletividade).

Uma característica inerente aos processos de hidrólise enzimática de

lignocelulósicos consiste no fato de que se pode dispor de uma pequena quantidade da

própria biomassa para o crescimento dos microorganismos que produzem as enzimas

utilizadas no processo. Isso possibilita a produção “in house” das enzimas. De uma

variedade ampla destes microorganismos capazes de sintetizar enzimas que hidrolisam a

celulose, os fungos do gênero Trichoderma têm emergido com especial destaque. Estes

fungos produzem uma mistura complexa de enzimas (“coquetel de celulases”) que

degradam as estruturas cristalinas da celulose, atuando especificamente através das

ligações β-1,4-glicosídicas. Dependendo do sítio de atuação na celulose, estas enzimas

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podem ser divididas em dois grupos principais: celobiohidrolases (CBH I e CBH II) e

endoglicanases (EG I, EG II e EG III) (BAUDEL, 2005).

A Figura 2.8 apresenta o mecanismo da hidrólise enzimática da celulose.

Inicialmente, as EG (endoglicanases), que são muito ativas na região amorfa da

celulose, promovem a cisão da molécula em cadeias mais curtas. As CBH

(celobiohidrolases) atuam especificamente nas extremidades das cadeias, produzindo

celobiose (dímeros) de glicose. A ação das enzimas é sinergística, de modo que a

atividade combinada das enzimas é superior à soma das ações de cada componente.

Finalmente, a celobiose é fracionada pela enzima α-glicosidase (BG) em duas moléculas

de glicose.

Figura 2.8. Mecanismo do processo de hidrólise enzimática da celulose

Geralmente, a máxima atividade das celulases e α-glicosidase ocorre a 50 + 5ºC

e pH entre 4,0 e 5,0 (SADDLER et al, 1998). Entretanto, as condições ótimas de

processo variam com o tempo de hidrólise, além de depender da fonte de enzimas

(TENGBORG, 2000). Diferentes micro-organismos produzem distintas quantidades e

proporções de enzimas.

Embora a α-glicosidase não apresente atividade de quebrar a celulose, tal enzima

exerce um papel importante no processo hidrolítico, visto que a celobiose atua como

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inibidor das celulases (TENGBORG et al., 2001). Por outro lado, a α-glicosidase é

inibida pela glicose (HOLTZAPPLE et al., 1990). Dessa forma, deve-se evitar a

acumulação da mesma durante a hidrólise enzimática da celulose.

Conforme dito anteriormente, as microfibrilas são circundadas pelas hemiceluloses e

lignina. Deste modo, caso as enzimas que quebram as ligações da celulose seja

adicionada diretamente à celulose nativa, a conversão desta em glicose é extremamente

lenta, em virtude da reduzida acessibilidade da matriz celulósica aos agentes

hidrolíticos. Dessa forma, os processos de hidrólise enzimática demandam uma etapa de

pré-tratamento da biomassa vegetal, com o objetivo de aumentar a exposição e

capilaridade do material celulósico, possibilitando a penetração das enzimas nas fibras e

subseqüente conversão da celulose em glicose (SÖDERSTRÖM, 2004). Vale ressaltar

também que a produção de compostos inibidores e as perdas de material (sacarídeos)

são fatores que devem ser minimizados para que se consigam processos de pré-

tratamento técnica e economicamente viável (SÖDESTRÖM, 2004).

2.6.4 Pré-Tratamentos aplicados há matérias lignocelulosicos

Entre os passos cruciais ma produção de etanol estão a hidrolise da celulose e a

fermentação das hemiceluloses para a produção d etanol. A presença de lignina e de

hemicelulose torna o acesso à celulose difícil, afetando a eficiência da hidrolise. O

objetivo do pré-tratamento é remover ou modificar a estrutura da lignina e das

hemiceluloses para facilitar o ataque do agente hidrolitico, evitando a degradação da

celulose.

A lenta degradação da lignina é regida por sua estrutura e pelas características

tais como: 1) alta cristalinidade da celulose presente na biomassa, 2) a lignina, a qual

forma um abarreira que envolve a celulose e dificulta o ataque de enzimas ou ácidos. 3)

e os sítios da reação, que são limitados por ter o s capilares demasiado pequenos para

permitir a entrada de grandes moléculas reativas como são as enzimas. (FAN et al.,

1987).

Um bom pré-tratamento é conhecido por alterar a estrutura da lignina,

conseguindo incrementar a acessibilidade à celulose, desarticulando a estrutura

altamente ordenada da celulose, aumentando o volume do poro e a área superficial.

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Certas características devem ser consideradas: Ser de custo mínimo e ambientalmente

amigável; Possibilitar o maior rendimento de açúcares na hidrolise, evitando perda de

carboidratos; Evitar a formação de co-produtos inibitórios para a hidrólise e

fermentação; Tornar a biomassa facilmente hidrolisável com baixas cargas e insumos.

Diferentes métodos de pré-tratamentos têm sido estudados, tais como os pré-

tratamentos físicos, químicos e biológicos ou combinados. Diversas dês vantagens têm-

se apresentados nos pré-tratamentos. Os físicos são relativamente ineficientes no

aumento da digestibilidade da biomassa (FAN et al., 1987), além de consumir grande

quantidade de energia (tratamento mecânico). Os tratamentos combinados raramente

apresentam boa digestibilidade comparada com os tratamentos simples (GHARPURAY

et al., 1983).

Pré-Tratamentos Físicos - Os pré-tratamentos físicos normalmente são

divididos em duas categorias: mecânicos e não mecânicos. Os primeiros, como a

moenda, as forças de impacto e o cisalhamento, reduzem o tamanho de partícula, a

cristalinidade, aumentando a superfície e a densidade aparente (FAN et al., 1987). Os

pré-tratamentos físicos não mecânicos submetem o substrato celulósico à ação de

agentes externos que promovem alterações diversas do material original.

Pré-Tratamentos Biológicos - Pré-tratamentos biológicos envolvem o uso de

microorganismos para a degradação da lignina, com o fim de facilitar a hidrólise da

celulose. As vantagens deste pré-tratamento é o baixo requerimento energético e, as

condições suaves do processo. Apesar de ser um tratamento efetivo, limpo e sem

produção de metabolitos indesejáveis, o processo é demasiado lento para aplicá-lo

industrialmente. Outra desvantagem é que estes tipos de microorganismos não são

seletivos e além de degradar hemicelulose e lignina também degradam a celulose

(SUNG e CHENG, 2002).

Pré-Tratamentos Físico-Químico - Nesta categoria incluem-se misturas de pré-

tratamentos físicos tais como a explosão a vapor com reagentes químicos. Um pré-

tratamento típico nesta categoria é o AFEX, que é também um pré-tratamento alcalino

onde ocorre incremento da reatividade da fração celulósica devido ao “inchamento” da

mesma, combinado com hidrólise das hemiceluloses e desintegração da fibra. A

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biomassa é tratada com amônia liquida por um período de 10-60 min a temperaturas

moderadas (100C) e altas pressões (3MPa) (DALE BE et al., 1982; TEYMOURI et al.,

2005). Uma das desvantagens deste é a pouca solubilização das hemiceluloses e da

lignina (GOLLAPALLI, 2002).

Pré-Tratamentos Químicos - Os pré-tratamentos químicos podem ser definidos

como técnicas que envolvem agentes químicos tais como ácidos, bases, solventes

orgânicos. Um tratamento químico tem como objetivo aumentar a superfície do

substrato por inchação das fibras e a modificação ou remoção da hemicelulose e\ou da

lignina para fazer a celulose mais accessível para hidrolise. (HSU, 1996; MOISER et

al., 2005).

Pré-Tratamentos Ácidos - Os pré-tratamentos ácidos consistem em tratar a

biomassa com ácidos diluídos ou concentrados para conseguir a solubilização da

hemicelulose, com o fim de obter uma celulose mais accessível. O pré-tratamento com

ácido diluído consiste na imersão do material em uma solução de ácido de

aproximadamente 4% em massa e em seguida aquecer até atingir temperaturas na faixa

de 140-200ºC por períodos de tempos curtos (10-60min). Diferentes reações ocorrem

durante os pré-tratamentos ácidos; uma delas é a hidrolise das hemiceluloses,

especialmente das xilanas e das glicanas, dando origem à produção de compostos

tóxicos para a fermentação como furfural e hidroximetilfurfural. (PALMQVIST et. al.,

2000).

Uma vantagem do pré-tratamento ácido é a solubilização de hemicelulose, aumentando

a acessibilidade da celulose. Entretanto, existe o risco de formação de produtos voláteis

de degradação do carbono e estes, em muitos casos, diminuem a conversão a etanol. No

entanto, produtos voláteis podem ser convertidos a metano. A condensação e a

precipitação de componentes de lignina solubilizada é uma reação indesejada, uma vez

que diminui a digestibilidade. Pré-tratamentos com ácidos concentrado para a produção

de etanol não são processos atrativos, devido ao grande risco de produção de

componentes inibidores pela degradação de carboidratos.

Pré-Tratamentos Alcalinos - Este tipo de pré-tratamento geralmente utiliza

soluções alcalinas diluídas em condições moderadas de operação, em termos de

temperaturas e pressões, em comparação aos sistemas ácidos. O principal efeito de tal

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tratamento consiste na remoção da lignina da biomassa. O álcali, geralmente soda,

álcalis fracos ou cal, tende a causar um inchamento da biomassa, levando a uma

diminuição na cristalinidade do grau de polimerização da celulose. Também provoca

uma quebra das ligações lignina-craboidratos, além de perturbações na estrutura da

lignina. (MC MILLAN, 1994).

Em alguns casos, o pré-tratamento pode ser conduzido à temperatura ambiente,

porém demanda tempos reacionais elevados, da ordem de horas, dias ou semanas. Ao

contrário dos pré-tratamentos ácidos, uma limitação ocorre porque algumas bases

podem ser convertidas em sais irrecuperáveis ou incorporadas como sais na biomassa

através das reações do pré-tratamento (CHANG e HOLTZAPPLE, 2000).

Pré-Tratamentos com Hidróxido de Cálcio - O hidróxido de cálcio tem sido

bastante usado como agente de pré-tratamento para aumentar a digestibilidade de

resíduos lignocelulósicos tais como bagaço de cana, palha de trigo, palha de milho,

entre outros resíduos agroindustriais. (CHANG et. al., 1997 e 1998, KAAR et al., 2000).

Várias pesquisas têm utilizado cal como um dos reagentes com grande potencial para o

pré-tratamento da biomassa por ser um reagente de baixo custo e segurança para

manipulação, apesar de apresentar menor solubilidade e ser mais fraca quando

comparada com outras bases (CHANG et al., 1998).

CHANG et al. (1997), usaram hidróxido de cálcio para aumentar a

digestabilidade de switchgrass. As melhores condições de pré-tratamento foram:

temperaturas entre 100 e 120 ºC durante duas horas com uma quantidade de hidróxido

de cálcio de 0,1g\g de biomassa e 9 mL de água\g biomassa. A hidrólise foi efetuado

durante três dias com um rendimento de glicose 5 vezes maior do que usando a

biomassa não tratada. Balanços de massa mostraram que uma pequena parte da celulose,

aproximadamente 10% em massa, foi solubilizada durante pré-tratamento e que 26% em

massa da hemicelulose e 29% em massa da lignina foram solubilizadas nessas

condições.

CHANG el at. (1998), estudaram a disgestibilidade do bagaço de cana-de-açúcar

e da palha de trigo utilizando hidróxido de cálcio como agente de pré-tratamento. O

estudo sistemático das condições do pré-tratamento sugeriu que em um pré-tratamento

com menor tempo (1-3 h), altas temperaturas (85-135ºC) são requeridas para conseguir

alto rendimento de açúcares, enquanto que para longos tempos (aproximadamente 24 h),

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30

baixas temperaturas (50-60ºC) são efetivas. A quantidade de hidróxido de cálcio

recomendada foi de 0,1 g Ca(OH)2/g de biomassa seca. A água apresenta pouco efeito

na digestibilidade. O rendimento em glicose aumentou de 153 para 659 mg glicose/g

biomassa seca, e para o pré-tratamento da palha de trigo aumentou de 65 para 650 mg

glicose/g biomassa.

Mosier et al. (2005), afirmaram que para materiais menos lignificados, tais

como a palha de milho, a adição do oxigênio aumenta muito pouco a digestibilidade da

biomassa durante o pré-tratamento utilizando uma relação de biomassa\cal de 1:0,075 a

120ºC por até 6 horas de reação. O pré-tratamento da palha de milho foi otimizado para

um tempo de 4 horas a 120ºC com uma remoção de 32% em massa da lignina. O

rendimento glicosídico foi de 88% em massa após 7 dias de hidrólise, com uma carga

enzimática de 25 FPU/g de biomassa.

Saha e Cotta (2008) estudaram o pré-tratamento da casca de arroz com hidróxido

de cálcio. O rendimento Maximo de açúcares foi de 154 ± 1mg/g casca (rendimento de

32% em massa), utilizando 100mg Ca(OH)2/g de biomassa seca a 121ºC por 1h com

sacarificação enzimática a 45ºC, pH 5,0, durante 72 h usando uma mistura de enzima

comerciais (celulase, β-glicosidase e hemicelulose). A presença de furfural e

hidroximetilfurfural não foi detectada no hidrolisado. A concentração de etanol

produzida foi de 138g/L, utilizando uma linhagem de Escherichia coli recombinação a

pH 6,5 e 35ºC em 19h, foi 9,8±0,5 g/L, com um rendimento de 0,49g/g açúcares livres.

Ainda segundo o autor, o pré-tratamento com hidróxido de cálcio apresenta um alto

efeito na acessibilidade da área superficial do substrato, além de alterar a estrutura e

remoção da hemicelulose comparado com outros pré-tratamentos (explosão a vapor,

ácido diluído água quente com pH controlado, etc.).

Formação de Produtos de Degradação - Componentes inibitórios podem ser

classificados em dois grupos: inibidores originalmente presentes na biomassa e

inibidores produzidos por condições severas na etapa do pré-tratamento. Os inibidores

presentes na biomassa são facilmente liberados durante a etapa de pré-tratamento.

Exemplos de pré-tratamentos que produzem inibidores devido às condições drásticas

são os que trabalham com reagentes ácidos combinados com latas temperaturas. Eles

levam à degradação dos açúcares e da lignina e à produção de ácidos orgânicos. Da

degradação da xilose resulta o furfural e da degradação das hexoses o 5-

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hidroximetilfurfutal (HMF), os quais são produtos inibitórios bastante conhecidos para a

etapa da fermentação (MUSATTO e ROBERTO, 2004). Quando é promovida a

degradação destes inibidores, o ácido fórmico e levulínico são formados. Compostos

fenólicos como o 4-hidroxibenzóico, vanilina, catecol e siringaldeido, podem ser

formados pela decomposição química parcial da lignina (PALMQVIST et al., 2000).

Uma variedade de métodos biológicos, físicos e químicos pode ser aplicada com o fim

de reduzir a concentração de inibidores antes de realizar uma hidrólise e uma

fermentação.

2.7. QUÍMICA DA LIGNINA

O uso de ligninas como fonte de produtos químicos tem sido extensivamente

estudado há mais de um século. A palavra lignina vem do latim “lignum”, que significa

madeira. Trata-se de um dos principais componentes dos tecidos de gimnospermas

(madeiras macias) e angiospermas (madeiras duras). As gramíneas (palmeiras, bambu, e

cana de açúcar), embora apresentem um significativo teor de lignina, não são

classificadas como madeiras. Sabe-se que a lignina tem um importante papel no

transporte de água, nutrientes e metabólitos, sendo responsável pela resistência

mecânica dos vegetais, além de proteger os tecidos lignificados contra o ataque de

microorganismos. Vegetais primitivos como fungos, algas e liquens não são lignificados

(SARKANEN, 1971; FENGEL, 1983).

Apesar de todos os estudos realizados sobre a lignina, muitos pontos continuam até hoje

obscuros, principalmente no que se refere à sua estrutura. A lignina é um polímero de

constituição difícil de ser estabelecido devido não somente à complexidade de sua

formação, baseada em unidades fenilpropílicas repetidas de forma irregular, como

também devido à ocorrência de modificações durante seu isolamento das paredes

celulares.

Em 1820, a literatura já reportava o interesse cientifico e econômico sobre a

lignina. Em 1821, Payen (FENGEL, 1983; FREUDENBERG, 1968) realizou

experimentos onde tratava diferentes amostras de madeira com ácido nítrico,

verificando que todas as amostras estudadas continham uma substancia com a mesma

composição do amido, a qual denominou de celulose. Entretanto, foi observado também

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32

que o conteúdo de carbono da madeira era bem maior que o da celulose. Payen

denominou então de ‘material incrustante’, a substância responsável por esta diferença.

Propôs ainda que esta substância rica em carbono encontrava-se envolvida com a

celulose na madeira. Schultz (FENGEL, 1983; FREUDENBERG, 1968) , em 1857,

introduziu o termo lignina para denominar tal material. Erdaman, em 1866, fez a

observação de que o catecol e o ácido protocatecúico podiam ser produzidos a partir da

fusão alcalina da madeira. Assim, concluiu que os constituintes não celulósicos

observados na madeira, eram de natureza aromática. Benedikt e Banberger, em 1890,

verificaram a presença de grupos metoxila na madeira. Como a celulose não possui tais

grupos, inferiram que estes estariam associados a outro constituinte, como {a lignina,

embora esta ainda não tivesse sido isolada. Klason, em 1907, desenvolveu o primeiro

método para o isolamento da lignina. Seu processo consistia na remoção dos

polissacarídeos com ácido sulfúrico a 70% em massa, obtendo um produto negro, que

ae denominou lignina de Klason. Observou também que o aquecimento do álcool

coniferílico com ácido sulfuroso produzia um ácido sulfônico muito parecido com a

lignina obtida nas mesmas condições. Dessa observação concluiu que a lignina poderia

estar relacionada estruturalmente com o álcool coniferílico. Posteriormente, já em 1917,

acreditava-se que a lignina era constituída de um polímero de alto peso molecular,

formado pela condensação entre os grupos hidroxílicos alcoólicos e fenólicos de seus

monômeros e que, alem do álcool coniferílico, o coniferaldeido também poderia

participar da construção da macromolécula.

A nomenclatura utilizada na química da lignina baseia-se na unidade básica

fenil-propílica C6C3, designando os carbonos da cadeia alifática, C3, como α, para o

carbono mais carbono mais próximo do anel benzílico, e β e γ para os subsequentes. Os

substituintes no anel aromático são localizados pela numeração dos carbonos ,

iniciando-se por aquele ligado à cadeia alifática (Sarkanen, 1971), de acordo com a

Figura 2.9.

cα cβ cγ1

23

R2

R3

R1

4

5 6

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Figura. 2.9. Enumeração da cadeia fenilpropílica

O anel aromático é denominado de acordo com seus substituintes como guaiacila, siringila ou p-hidróxifenila, de acordo com a Tabela 2.6.

Tabela 2.6. Grupos substituintes na cadeia fenilpropílica.

Substituintes Denominações

R1 = R2 = H e R3 = OCH3

R1 = R3 = OCH3 e R2 = H

R1 = R3 = H e R2 = OH

Guaiacila

Siringila

p-hidróxifenila

A primeira tentativa em propor uma estrutura para a lignina do abeto vermelho

foi feita por Freudenberg (SARKANEN, 1971) em 1964 , baseando-se nos resultados da

reação de polimerização desidrogenativa do álcool coniferílico e combinando-os com os

dados analíticos disponíveis até então. Em 1974, Nimz propôs a estrutura para a lignina

de madeiras duras (faia, Fagus silvatica). Posteriormente, em 1981, Glasser e Glasser

(FENGEL, 1983), propuseram uma estrutura para a lignina de madeiras macias, com

um peso molecular médio de 17.000 g/mol, computando dados relativos a noventa e

quatro monômeros, envolvendo: análise elementar, determinação de açúcares e cinzas;

determinação de grupos funcionais por espectroscopia de Ressonância Magnética

Nuclear do Próton e do carbono-13; reação de oxidação com permanganato seguida da

análise dos produtos formados por cromatografia gasosa acoplada com espectroscopia

de massa e cromatografia de permeação em gel. Estes resultados, juntamente com os

dados disponíveis na literatura e simulação em computador dos possíveis modos de

acoplamento dos radicais dos derivados do álcool cinamílico. A. Como pode ser

observado pela estrutura da Fagus silvatica a lignina possui ligações extremamente

estáveis, tais como, ligações de éteres e ligações carbono-carbono, que podem ser do

tipo bifenila, fenil-alifática e alifática-alifática. Possuem também sítios muito reativos

tais como hidroxilas alifáticas e fenólicas, átomos de carbono benzílico e carbonilas. Os

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vários tipos de ligações e grupos funcionais, uns estáveis e outros lábeis, propiciam um

alto nível de condensação das ligninas, principalmente durante a hidrólise ácida,

resultando em um polímero complexo, podendo chegar a um peso molecular de até

100.000 g/mol ou mais (FENGEL, 1983).

2.7.1. Processos de isolamento de ligninas

Dados analíticos têm mostrado que, dependendo da origem, há diferenças

marcantes entre as ligninas tanto na sua composição como nos produtos formados pela

sua oxidação (CREIGHTON et al., 1944). Um método adequado para isolar lignina

deve envolver o preparo de amostras livres de extrativos. Deve ser ainda o mais brando

possível para evitar alterações drásticas na sua natureza química durante o processo. Os

procedimentos de isolamento podem ser classificados em três tipos: isolamento por

extração, isolamento como resíduo e isolamento como derivados.

Isolamento por extração - Neste caso a lignina é obtida pela extração com

solventes orgânicos a partir da madeira finamente moída. Estes solventes devem ser

inertes, não reagindo com a lignina. Os principais tipos de lignina obtidos por extração

são: lignina nativa ou de Brauns, lignina liberada enzimaticamente, e lignina de madeira

moída.

Lignina nativa ou de Brauns - Brauns Freudenberg (1968) foi o primeiro a

isolar diretamente da madeira uma fração purificada da lignina e demonstrar que esta

era essencialmente pura. No seu procedimento original, a madeira finamente triturada é

extraída inicialmente com éter etílico, seguindo-se uma extração com água e finalmente

com etanol a 95% em massa. Neste último extrato a lignina era precipitada pela adição

de água. A purificação final consiste na dissolução do precipitado com dioxano e

reprecipitação por adição de éter etílico. O rendimento do processo é muito baixo,

representando de 2 a 4% em massa da lignina total presente na madeira.

Lignina liberada enzimaticamente - A madeira triturada é sucessivamente

extraída com éter, água e, posteriormente, submetida a uma cultura de fungos

específicos, geralmente por 13 a 15 meses. Estes atacam somente os polissacarídeos,

propiciando uma hidrólise enzimática e liberando a lignina intacta.

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Lignina de madeira moída - A lignina de madeira moída é uma das mais

estudadas para fins de análise estrutural, uma vez que, por este método a lignina não

sofre grandes transformações químicas e representa a composição média da lignina na

madeira.

Para obtê-la, a madeira livre de extrativos é finamente triturada em moinho de

bolas pôr dois a três dias, obtendo-se assim um pó finamente dividido. Em seguida

procede-se a extração com uma mistura dioxano-água ou acetona-água, resultando

numa solução contendo a lignina. O solvente é então removido e o extrato purificado

pela solubilização em ácido acético e precipitação pela adição de água. Por este método

é possível recuperar até 50% em massa da lignina presente na madeira (SARKANEN,

1971; FENGEL, 1983).

Isolamento como resíduo - Na indústria de etanol de madeira, a mesma sofre

um processo de hidrólise ácida, a uma temperatura de 180ºC e pressão de 12 atm.

Nestas condições ocorre uma transformação na madeira, onde os polissacarídeos são

convertidos a monossacarídeos (pentoses e hexoses), restando um produto insolúvel

denominado de lignina técnica bruta, com rendimento entre 25 e 40% em massa.

O total de polissacarídeos presentes é da ordem de 50% em massa a 70% em

massa, sendo que destes, de 7% em massa a 9% em massa são pentosanas, quando se

usa madeiras macias, e de 18% em massa a 25% em massa quando se usa madeiras

duras. A partir da fermentação das pentoses pode-se obter ração animal e das hexoses,

etanol. O furfural é obtido das pentosanas, durante o processo de hidrólise ácida.

Isolamento como derivados - Neste processo, a madeira ao ser tratada com

reagentes adequados, forma produtos solúveis, que podem ser separados.

Processo organosolve - Processo incluído no âmbito dos principais métodos

utilizados para o isolamento da lignina como derivado. Dentre os processos organosolv

ácidos, o Acetosolv (93% em massa de ácido acético, 0,3% em massa de ácido

clorídrico, 383K, 2 h) e o Formacell (ácido acético/ácido fórmico/água na proporção

75/10/15, 438K, 2 h). São os mais estudados nos sistemas de polpação. O rendimento de

ambos os processos na polpação do bagaço de cana é de aproximadamente 93% em

massa em lignina Klason (Benar, 1995). As fórmulas C900 para a lignina isolada por

ambos os processos são C900H584O147(OCH3)58(OH)101(OAc)23 para o Acetosolv e

C900H616O121(OCH3)70(OH)98(OAc)18 para o Formacell. Com a aplicação do segundo

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processo obtem-se uma lignina com maior relação H/C indicando um menor nível de

condensação. Ambos os métodos resultam numa acetilação da lignina, sendo mais

acentuada no processo Acetosolv. Neste trabalho utilizamos uma lignina cedida pela

indústria DEDINE (Piracicaba, SP), obtida por este último processo.

Derivada da indústria do papel e celulose - A fonte mais importante de lignina

técnica, em termos mundiais, é a indústria de papel e celulose. A produção é de cerca de

30 milhões de toneladas anualmente. Dois terços desta lignina são oriundos do processo

Kraft (processo sulfato) e o restante, na forma de lignosulfonatos, do processo sulfito.

2.7.1. Processo de Separação Lignina-Craboidrato

Visando obter seletividade carboidratos a partir de materiais lignocelulósicos,

pare-se para o estudo dos parâmetros físico-químicos e de transporte que influenciam a

solubilidade destes componentes, de modo que são desenvolvidos processos de extração

seletiva dos mesmos.

Estando os carboidratos associados à lignina na célula vegetal, os processos de

separação destes componentes da biomassa fundamentam-se em particularidades

pertinentes à solubilidade de cada fração da mesma. Neste sentido, pesquisas

conduzidas por instituições governamentais tais como NREL (National Research for

Energy Laboratories, Estados Unidos), acadêmicas (Universidade de São Petersburgo,

Rússia) e associações acadêmico-governamentais (Texas A&M University) têm sido

focadas em identificar os fatores que influenciam a dissolução dos carboidratos e da

lignina dos tecidos lignocelulósicos, de modo a desenvolver processos eficientes de

disponibilização de sacarídeos da biomassa vegetal a serem convertidos seja através de

processos catalíticos ou fermentativos.

A presença de catalisadores exerce influência na dissolução dos tecidos

lignocelulósicos. Especificamente, a adição de sais metálicos incrementa a quantidade

de biomassa solubilizada. Sulfato férrico e sulfato de cobre aparecem como agentes

efetivos na solubilização de matérias à base de madeira em processos aquoso-oxidativos

(MCGINNIS, 1983).

Dentre os diversos processos de deslignificação (polpação) utilizados pela indústria

nacional, o processo Kraft merece especial destaque, sendo empregado para a produção

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37

de mais de 92% em massa da celulose química do Brasil (ROBLES, 1997). A

denominação Kraft, aqui utilizada, abrange todos os processos de polpação à base de

agentes inorgânicos de caráter ácido (Kraft sulfato ou sulfito) ou alcalino (Kraft soda).

Basicamente, este processo objetiva a dissolução da lamela média do tecido vegetal,

com conseqüente remoção de lignina e individualização das fibras.

O comportamento do processo de polpação Kraft é determinado pela eficiência

na remoção da lignina sem, contudo, promover ataque excessivo à fração de

carboidratos existente n amadeira (DURÁN, 1998). Em particular, as hemiceluloses têm

importância fundamental sobre a resistência do papel, bem como influencia

significativamente a qualidade de processamento da polpa.

De forma geral, a cinética de polpação Kraft pode ser assim esquematizada:

• Transporte dos íons (hidroxilas, sulfatos ou sulfitos) da fase líquida (licor de cozimento) para a superfície da biomassa vegetal;

• Difusão dos íons para o interior do tecido vegetal;

• Reações químicas entre os íons e os componentes da biomassa (lignina e carboidratos) no interior da célula;

• Solubilização da lignina e de alguns carboidratos da biomassa;

• Difusão dos produtos de reação (ligninatos de sódio, ácidos sacarídeos, oligossacarídeos, etc.) para o exterior da biomassa;

• Transporte dos produtos de reação para o seio do liquido.

A presença de bases fortes tais como hidróxido de sódio ou de potássio nos

processos de deslignificação alcalina promove o “inchamento” dos carboidratos e

posterior dissolução e remoção dos mesmos, acarretando perda de rendimento. Este

fenômeno ocorre devido à reação das hidroxilas dos álcalis com as hidroxilas da

molécula sacarídea, formando sítios eletrofilicos, os quais se combinam com a água

existente no meio reacional, promovendo a solvatação da molécula sacarídica. Este

fenômeno ocorre em maior intensidade nos oligo e polissacarídeos, devido à menor

dispersabilidade destes no meio. A utilização de aminas e demais derivados na amônia

como agente de deslignificação alcalina pode alterar a estrutura dos carboidratos, com

formação de oximas e hidrazonas, reduzindo-se, portanto, o rendimento global, bem

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38

como a seletividade do processo de extração de hemicelulose seguinte à etapa de

deslignificação.

Com tudo o emprego de hidróxido de amônio como agente deslignificante

alcalino, apresenta algumas vantagens particulares uma vez que:

• O hidróxido de amônio é uma base fraca, de modo que o “inchamento” das moléculas de carboidratos é negligenciável;

• Não ocorre formação de oximas ou hidrazonas devido à reação do hidróxido de amônio com as moléculas de carboidratos;

• O cátion amônio pode ser eliminado do meio reacional mediante simples aquecimento.

Experimentos realizados na Unidade Química de Processo do DEQ/UFPE mediante

uma série de ensaios de deslignificação combinada utilizando solução etanol-água-

hidróxido de sódio e etanol-água-hidróxido de amônio na proporção de 0,5-0,5-1,0 a

temperaturas de 70°C e 80°C durante 1,5h evidenciaram uma significativa perda de

massa do material, provocando pela elevada solubilização e conseqüente arraste

excessivo de carboidratos para a fase liquida.

2.8. INTUMESCIMENTO E DISSOLUÇÃO DA CELULOSE

Quando fibras de celulose seca são expostas à umidade, absorvem água

aumentando sua seção cruzada. A uma umidade de 100% em massa, o aumento no

diâmetro da fibra pode corresponder a 25% em massa. Um aumento adicional de 25%

em massa ocorre com imersão em água. Na direção longitudinal, a variação dimensional

é muito pequena. Este processo, chamado de intumescência, ocorre em maiores

extensões com determinados agentes que podem ser divididos em quatro categorias:

ácidos minerais concentrados, bases de amônio quaternário, reagentes apróticos e

complexos de metais de transição (Hamilron, 1984). A ação destes agentes leva à

redução da cristalinidade da celulose e ao rompimento do invólucro de lignina na

biomassa (JAYME e LANG, 1963).

A intensidade da intumescência depende tanto do agente específico quanto da

natureza e composição química da amostra de celulose. No caso de celulose nativa com

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39

estrutura fibrosa, variações morfológicas ocorrerão dependendo de a intumescência ser

interfibrilar ou intrafibrilar (SJOATROM, 1981). Os efeitos são diferenciados em

termos de expansão intercristalina ou intracristalina. No primeiro caso, o agente penetra

somente nas regiões desordenadas (amorfas) das microfibrilas e combina-se com a

celulose ordenada (cristalina) em proporções determinadas, sem destruir a ligação

interfibrilar. No segundo caso, ambas as regiões amorfa e cristalina são penetradas pelo

agente caracteristicamente volumoso que forma complexos com a celulose, provocando

quebra de ligações adjacentes e, por consequência, a separação de cadeias. Desse modo,

ocorre dissolução gradual da celulose.

A habilidade de soluções de sais inorgânicos de intumescer a até mesmo

dissolver celulose parece estar relacionada à solvatação dos íons que os torna mais

volumosos, requerendo mais espaço para a penetração. O mecanismo exato ainda não é

conhecido, mas a habilidade de dissolução resulta fundamentalmente da formação de

um complexo com os dois grupos hidroxílicos secundários na celulose, com interações

tipo ácido-base de Lewis com quebra de ligações hidrogênio.

O principio básico da hidrólise com ácido concentrado está no rompimento da

estrutura cristalina da celulose por dissolução ou intumescimento. Subsequente hidrólise

da celulose pode então ser a temperaturas suficientemente baixas para evitar

degradação, possibilitando assim rendimento de glicose quase quantitativo.

As concentrações ácidas mínimas necessárias para dissolver a celulose são

criticas, e por causa da formação de vários complexos celulose-ácido a cinética pode

varias significativamente com pequenas variações na concentração do ácido. Por

exemplo, em 16 horas à temperatura ambiente celulose é hidrolisada em 100% em

massa com HCl 41% em massa, em 73% em massa com HCl 40% em massa, em 45

com HCl 39% em massa e em apenas 22% em massa com HCl 38% em massa. Na

concentração de 41% em massa, a velocidade de reação aumenta com o tempo, nas

concentrações de 38 e 39% em massa a velocidade de reação diminui com o tempo,

enquanto que a 40% em massa a reação obedece cinética de primeira ordem

(PETKEVICH, 1960).

Hidrólise mínima de celulose ocorre em 4 horas com HCl 35% em massa. Com

HCl 40% em massa obtém-se hidrólise quantitativa em 4 horas a 40°C e em apenas 10

minutos a 60°C (LEBEDEV, et al., 1961). Até 30°C a celulose é hidrolisada somente

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40

em oligossacarídeos. Apenas a temperaturas mais altas, os oligossacarídeos são

hidrolisados à glicose por uma areação de primeira ordem, cuja constante de velocidade

aumenta rapidamente com a temperatura.

Álcali não tem capacidade de dissolução de celulose nativa. Somente fragmentos

de celulose com um baixo grau de polimerização são solúveis em álcali. Certos

compostos de amônio quaternário são mais efetivos, resultando em dissolução

completa. Uma mistura de dimetil-sulfóxido e paraformaldeído tem propriedades

interessantes como solvente de celulose. Entretanto, seu efeito depende parcialmente da

formação de um derivado hidroximetilcelulose. Os solventes de celulose mais

importantes são soluções de complexos metálicos de bases orgânicas, tais como

cuprietilenodiamina (CED) e cádmio etilenodiamina (cadoxeno), soluções aquosas de

tartarato de sódio, cloreto férrico, hidróxido de sódio e sulfito de sódio (JAYME, 1963).

A utilização de sais inorgânicos foi estudada por Ulf (1986), que utilizou ácido

clorídrico comercial 37,5% em massa e varias concentrações de cloreto de lítio. Em tal

estudo a concentração ótima de cloreto de lítio que possibilitou a conversão máxima (

68,5% em massa) em 20 minutos a 50°C foi de 16 mmol/g de bph, chegando a

conclusão que para essa concentração de LiCl, o tempo de reação tem efeito muito

reduzido, com a reação praticamente completa já em 10 minutos. A redução da

temperatura para 40°C, não traz prejuízo á conversão, mantendo seu máximo após 25

minutos, mas a 30°C há uma significativa redução para 52% em massa. O parâmetro

mais crítico é a concentração do ácido. Com concentrações de 30% em massa a

conversão só chegou a 20% em massa. Aumentando-se a concentração de 16 para 24

mmol de LiCl/g de bph, a conversão aumenta 5% em massa. Mesmo elevando-se a

concentração de LiCl ainda mais a conversão limita-se a reduzidos valores. Assim, com

16 mmol de LiCl/d de bph, torna-se possível a utilização de HCl comercial, com

vantagens operacionais e de segurança sobre o ácido superconcentrado.

O cloreto de lítio promove, não só a conversão, como também o rendimento de açúcares

redutores. Porem com o advento da reoligomerização e decomposição há redução no

rendimento de açúcares. A constante de degradação da glicose, em HCl 37% em massa

na presença de cloreto de lítio, a 50°C, é 0,366 x10-3 min-1, mil vezes mais lenta que a

correspondente para a hidrólise da celulose.

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41

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. MATÉRIA-PRIMA LIGNOCELULÓSICA

Tendo em vista a valorização catalítica dos materiais lignocelulósicos, em

especial, do bagaço de cana-de-açúcar, procedeu-se seu processamento em laboratório

envolvendo aplicações de métodos de preparação de matéria-prima, disponibilização

das hemiceluloses, deslignificação e dissolução dos oligômeros de celulose oriundos das

etapas de pré-tartamento.

3.2. PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA

Inicialmente, a matéria-prima bagaço de cana-de-açúcar foi granulada, sendo,

em seguida exposta à secagem. A biomassa utilizada neste trabalho foi originaria de três

unidades de produção de açúcares e derivados, Usina Santa Tereza (CAIG), Destilaria

JB e Usina Olho D’água, todas localizadas do estado de Pernambuco. Vale salientar que

todos os resíduos foram captados do terceiro conjunto de ternos de moenda, garantindo

um padrão de amostragem visto que em tal localização tem-se uma menor quantidade

de sacarose presentes na biomassa.

3.2.1. Tamisação e Classificação Granulométrica

Foi realizada uma tamisação do bagaço de cana e subseqüente separação

granulométrica de modo a obter um tamanho de partícula variando entre 690 e 1180

µm. Singh (1984) afirma que esta faixa de granulometria favorece os processos

hidrolíticos que seriam conduzidos posteriormente.

3.2.2. Remoção de Açúcares Provenientes da Moagem da Cana

A presença de sacarose e açúcares invertidos (glicose e frutose) no bagaço pode

acarretar erros quando da quantificação dos sacarídeos oriundos dos processos de

hidrólise, conduzindo a resultados irreais. Neste sentido, o bagaço de cana-de-açúcar foi

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42

submetido a uma lavagem com água quente (70oC) de modo a retirar toda a sacarose e

os açúcares invertidos provenientes da moagem da cana. Temperaturas superiores a

70ºC foram evitadas devido a possíveis degradações das hemiceluloses presentes na

biomassa. O material foi seco ao ar à temperatura ambiente durante cerca de 6 horas,

tendo-se completado a secagem em estufa a 70ºC durante um tempo médio de 12 horas

por ciclo.

A etapa de extração, que tem como objetivo eliminar ceras e outros extrativos da

biomassa vegetal, realizada por Macedo (1999), foi descartada deste trabalho, já que foi

observado em estudos preliminares que esta etapa não apresenta influencia significativa

sobre as etapas subseqüentes.

O fluxograma apresentado na Figura 3.1 ilustra as principais etapas de

preparação da matéria-prima.

Figura 3.1 - Operações Unitárias da Preparação de Matéria-Prima

3.3. PROCESSOS DE DISPONIBILIZAÇÃO DAS HEMICELULOSES

Conforme visto anteriormente, devido à variedade estrutural das hemiceluloses,

sua localização em diferentes regiões da célula, aliada à complexidade das suas ligações

com a lignina e a celulose, os processos de extração e disponibilização destas devem ser

concebidos em função dos seguintes aspectos:

• As hemiceluloses são heterogêneas, compreendendo dois grupos distintos, sendo

Hemiceluloses Facilmente Hidrolisáveis (HFH), as quais encontram-se

fracamente associadas à lignina e à celulose, apresentando uma estrutura não

orientada (amorfa). Podem ser removidas através do emprego de condições

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suaves de hidrólise. Correspondem a cerca de 25 a 35% em massa do material

hemicelulósico da célula vegetal; Hemiceluloses Dificilmente Hidrolisáveis

(HDH), as quais apresentam estrutura orientada, fortemente associadas à lignina

e à celulose, neste caso os seguintes aspectos devem ser consideradas:

- a remoção das hemiceluloses dificilmente hidrolisáveis contidas no interior da

célula vegetal é significativamente inibida pela presença de lignina no tecido

vegetal;

- as hemiceluloses são sensíveis à ação dos ácidos, dos álcalis e dos agentes

oxidantes, sofrendo profundas alterações na sua estrutura molecular quando

interagem com os mesmos.

Assim sendo, objetivando-se obter seletividade e garantir o fracionamento das

diversas unidades existentes na biomassa, foram realizadas etapas de extração reativas

obtendo soluções sacarídicas e resíduos com altas quantidades de oligômeros de

celulose.

O processo de extração reativa das frações do bagaço de cana adotado nesta

pesquisa compreendeu o estudo das seguintes operações unitárias de refino: Pré-

hidrólise seletiva das hemiceluloses facilmente hidrolisáveis; Delignificação alcalina

seletiva do tecido lignocelulósico; Hidrólise seletiva das hemiceluloses dificilmente

hidrolisáveis e Hidrólise da celulose utilizando catalisadores homogêneos. A Figura 3.2

apresenta as principais etapas do processo de disponibilização de hemiceluloses e seus

fatores de mérito.

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44

Figura 3.2 - Etapas Básicas do Processo de Disponibilização das Frações da Biomassa.

3.3.1. Pré-Hidrólise da Biomassa LignoCelulósica

Este processo objetiva a remoção seletiva das hemiceluloses facilmente

hidrolisáveis, as quais podem ser posteriormente reincorporadas ao processo de

hidrólise, para maximização do rendimento sacarídico. Estas hemiceluloses são

transferidas à fase líquida (licor de pré-hidrólise), ficando a fase sólida composta de

lignina, hemiceluloses dificilmente hidrolisáveis e celulose. Deste modo, o critério de

desempenho do processo de pré-hidrólise seletiva consiste na máxima remoção de

carboidratos com a mínima remoção de lignina.

Uma vez que as hemiceluloses (HFH) encontram-se fracamente ligadas à β-

celulose e à γ-celulose, optou-se pelo emprego de condições suaves de processo,

visando-se minimizar a degradação dos açúcares obtidos, bem como a solubilização (e

conseqüente arraste) de lignina.

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As reaçães de hidrólise ácida de hemiceluloses são fundamentalmente

influenciada pela combinação entre a concentração e o tipo de ácido utilizado, a

temperatura de processo e a presença de catalisador.

O emprego de soluções diluídas de ácido com alta atividade hidrolítica (THA)

promove a clivagem da ligação lignina-carboidrato sem, contudo solubilizar a lignina.

As ligações éter entre a lignina e os carboidratos são protonadas e, conseqüentemente,

ocorre dissociação das mesmas pela ação da molécula de água. Visto que ocorre

abertura do anel aromático da lignina (e conseqüente solubilização da mesma) a

temperaturas elevadas, recorre-se à adoção de níveis de temperatura inferiores a 80ºC,

visando-se minimizar a remoção de lignina para a fase líquida (licor de pré-hidrólise),

com conseqüente redução da seletividade em hemicelulose.

Os cloretos de metais alcalinos e alcalinos terrosos (e.g. NaCl e MgCl2)

promovem a clivagem das ligações glicosídicas dos carboidratos, de modo que estas

espécies podem ser empregadas como catalisador de hidrólise de polissacarídeos.

Entretanto, no caso das hemiceluloses do bagaço de cana, as quais são constituídas

predominantemente por xilanas, a presença dos íons metálicos no meio sacarídico

favorece a decomposição da xilose formando o furfural (mesmo sob pressão

atmosférica), reduzindo-se consideravelmente o rendimento sacarídico. Assim sendo,

optou-se por não utilizar catalisadores no processo de pré-hidrólise.

Com base no exposto, para a etapa de pré-hidrólise, foram utilizadas soluções

diluídas de ácido com alta atividade hidrolítica a temperaturas moderadas, sem emprego

de catalisadores. Recorrendo-se a experimentos anteriores (LIMA, 1992), optou-se pela

utilização de soluções de ácido clorídrico 1% em massa a temperatura de 70ºC.

Aparelhagem e Modo Operatório da Pré-Hidrólise do Bagaço de Cana- de-

Açúcar - Os processos de pré-hidrólise foram realizados em reator leito de lama de

vidro, com capacidade de 3000 mL, sob agitação magnética e massa de bagalo em base

seca de 50 gramas. A matéria-prima (bagaço de cana extraído seco) foi introduzida pela

boca central do reator, mantendo-se uma relação sólido-líquido de 1:25. Após a carga

do material sólido, deixou-se a mistura sob agitação sem aquecimento até verificar-se

completa homogeneização do material. Em seguida, promoveu-se o aquecimento da

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mistura sob condensação até a temperatura de processo, permanecendo-se nesta durante

o tempo desejado.

Após o término da operação, o material foi filtrado sob vácuo e quantificado em

massa residual. A fase líquida (filtrado ou licor de hidrólise) foi analisada quanto ao teor

de açúcares redutores totais. A fase sólida (resíduo ou bagaço pré-hidrolisado) foi

analisada quanto ao teor de pentosanas e produtos de degradação (Furfural). Como o

objetivo de realizar o estudo da modelagem e evolução cinética, a reação foi conduzida

em um tempo de operação de 3 horas e retiradas alíquotas de 10 mL a cada 20 minutos,

com posterior análise em cromatografia líquida.

3.3.2. Deslignificação parcial do bagaço de cana-de-açúcar

Uma vez que a lignina atua como uma barreira física dentro da célula vegetal,

dificultando o processo de hidrólise (CHORNET, 1997), optou-se por realizar uma

delignificação prévia do material. Para isto, foram realizados ensaios de solubilização

da lignina e sua conseqüente remoção do bagaço sob forma de licor negro. Rotas

extrativas tradicionais foram estudadas utilizando álcalis na remoção da lignina. O

resíduo sólido de cada operação unitária realizada foi analisado de modo a quantificar

os teores de lignina solúvel e insolúvel.

Evidentemente, objetiva-se que o processo reativo de deslignificação seja uma

etapa do biorefino e apresenta-se como eficaz em termos de extração reativa seletiva da

lignina. Deve-se, portanto, promovera a ocorrência de um mínimo de “arraste” das

hemiceluloses contidas no bagaço de cana (o que reduziria consideravelmente o

rendimento global do processo). Assim sendo, o critério de desempenho do processo de

pré-hidrólise consiste na máxima remoção de lignina com a mínima remoção de

carboidratos.

Uma vez que é impossível remover totalmente a lignina sem “arrastar”

hemiceluloses, optou-se por realizar uma deslignificação parcial, de modo a ser

possível acessar as hemiceluloses dificilmente hidrolisáveis, mantendo-se, contudo, os

máximos teores de hemiceluloses poliurônicas e monoméricas, na fase sólida a ser

hidrolisada. Deste modo, objetivou-se inserir “malhas” ou “cavidades” na “parede de

lignina”, de modo a criar “canais” na estrutura da célula vegetal para transportar os

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agentes hidrolisantes para o interior da célula, bem como as hemiceluloses hidrolisadas,

para a fase líquida.

Processos de deslignificação alcalina caracterizam-se por promoverem reduzida

transformação estrutural nas moléculas sacarídicas, diferentemente dos processos ácidos

e oxidativos. Assim sendo, adotaram-se sistemas alcalinos para os processos de

deslignificação do bagaço de cana extraído. Foram utilizadas soluções de bases fortes

(NaOH) e fracas (NH4OH), de modo a se obter diferentes graus de deslignificação e

conseqüente maior ou menor solubilização de carboidratos. Objetivando-se avaliar a

influência de catalisador na extração da lignina, foram realizados ensaios com solução

de teor 1% em massa em massa do álcali. A matriz de experimentos encontra-se

apresentada na Tabela 3.1.

Tabela 3.1. Condições do Experimento. Deslignificação Parcial de Bagaço de Cana Pré-Hidrolisado

Aparelhagem e Modo Operatório da Delignificação - Os processos de

deslignificação foram realizados em reator leito de lama de vidro, com capacidade de

3000 mL, sob agitação magnética. A matéria-prima (bagaço de cana extraído seco),

proveniente do processo de pré-hidrólise, foi introduzida pela boca central do reator.

Após a carga do material sólido, deixou-se a mistura sob agitação sem aquecimento até

verificar-se sua completa homogeneização. Em seguida, promoveu-se o aquecimento da

mistura sob condensação até a temperatura de processo, permanecendo-se nesta durante

o tempo desejado (180minutos). Após o término da operação, o material foi filtrado sob

vácuo e quantificado em massa residual. A fase líquida (filtrado ou licor negro) foi

analisada quanto ao teor de sólidos totais e ligninas solúveis. A fase sólida (resíduo ou

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bagaço deslignificado) foi analisada quanto ao teor de lignina insolúvel. Foi conduzido

o estudo da evolução cinética durante um período de 2 horas, com coletas de amostras a

cada 20 minutos. As alíquotas foram submetidas a tratamento com ácido clorídrico

(37% em massa) para precipitar e posterior quantificação da lignina solubilizada. Para

tanto, prelinarmente tais amostras foram centrifugadas para separação das fases liquida

e sólida.

3.3.4. Hidrólise ácido-diluido do bagaço de cana-de-açúcar

Este processo tem como objetivo principal a remoção seletiva das hemiceluloses

dificilmente hidrolisáveis (HDH), as quais se encontram localizadas no interior da

célula vegetal, fortemente associadas à celulose, em regiões de difícil acesso dos

agentes hidrolisantes. Embora as hemiceluloses encontram-se fortemente ligadas à β-

celulose e γ-celulose, optou-se pelo emprego de condições moderadas de processo, no

sentido de minimizar a degradação dos açúcares obtidos bem como a solubilização (e

conseqüente arraste) da lignina residual.

A reação de hidrólise ácida de hemiceluloses é fundamentalmente influenciada

pela combinação entre a concentração e o tipo de ácido utilizado, a temperatura de

processo e o tipo de biomassa utilizada. O emprego de soluções diluídas de ácido com

alta atividade hidrolítica (THA) ou de soluções concentradas de ácido com reduzida

atividade hidrolítica promove a clivagem da ligação lignina-carboidrato. As ligações

éter entre a lignina e os carboidratos são protonadas e, conseqüentemente, ocorre

dissociação das mesmas pela ação da molécula de água. Visto que ocorre abertura do

anel aromático da lignina (e conseqüente solubilização da mesma) a temperaturas

elevadas, recorre-se à adoção de níveis de temperatura adequadas à extração sacarídica,

considerando-se, entretanto, a necessidade de se minimizar a remoção de lignina para a

fase líquida (licor de pré-hidrólise), com conseqüente redução da seletividade em

sacarídeos.

Assim, o principal desafio deste processo consiste em determinar a combinação

entre os diversos fatores (temperatura, concentração e atividade hidrolítica do ácido) de

modo a se atingir o máximo rendimento sacarídico (o qual é caracterizado por uma

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elevada massa extraída e reduzida degradação de carboidratos) e alta seletividade, na

qual a solubilização e arraste de lignina para a fase líquida são minimizados. Seguindo

estudos anteriores conduzidos e otimizados por LIMA (1992) e BAUDEL (1999),

optou-se por fixar a concentração dos ácidos utilizados e as temperaturas de operação.

Uma vez identificados os principais fatores influenciadores do processo, optou-

se por utilizar diferentes alternativas de operação reativa, quais sejam:

− ácido forte diluído (H2SO4 a 1% em massa) a temperaturas moderadas

(100ºC); a escolha do H2SO4 para tal etapa como agente hidrolisante deve-se ao fato do

mesmo não solubilizar a lignina, ao contrário do HCl, cujos íons cloreto liberados

promovem a deslignificação do material;

− ácido fraco concentrado (HOAc a 35% em massa) a temperatura moderada

(120ºC); a escolha do HOAc como agente hidrolisante deve-se ao fato do mesmo não

representar riscos em termos de envenenamento (e conseqüente perda de atividade) dos

catalisadores a serem utilizados em processos oxidativos ou de hidrogenação

posteriores. Outro fato também pode ser considerado, o citado ácido orgânico pode ser

obtido nas próprias unidades produtoras de bagaço de cana. Seguem na Tabela 3.2

condições experimentais empregadas.

Tabela 3.2. Condições do Experimento. Hidrólise da Fração hemicelulócisa de Bagaço de Cana

Aparelhagem e Modo Operatório - Os experimentos foram realizados em dois

tipos de reatores, o primeiro de vidro com capacidade de 3000 mL, onde foi processada

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a hidrolise com ácido sulfúrico e o segundo um reator de aço inox modelo PARR 3543,

do tipo leito de lama, de capacidade 500 mL, dotado de agitação mecânica por palhetas

planas com inclinação de 27,5º em relação ao eixo (Figura 3.3). Em tal reator foi

utilizado nitrogênio como atmosfera inerte para garantir condições de amostragem em

sistema fechado sob pressão. A matéria-prima (bagaço de cana seco) foi introduzida

pela parte superior do reator, em ambos os reatores.

Após a carga do material sólido, deixou-se a mistura sob agitação de 500 RPM

sem aquecimento até verificar-se completa homogeneização da mesma, de modo a

garantir a máxima impregnação da biomassa pelos agentes hidrolíticos.

Figura 3.3 - Reator PARR 3543. 1-Controlador e programados do reator; 2-Agitador de hélice dupla e pás inclinadas; 3- Válvula de entrada de gás; 4- Válvula de saída de gás; 5- Válvula solenóide; 6- Termopar; 7- Transdutor; 8- Reator com sistema de aquecimento.

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Figura 3.4 - Reator de Vidro. 1-Banho termostático; 2- Reator encamisado; 3- Agitador com dupla hélice e pás inclinadas; 4- Motor; 5- Display de temperatura; 6- Válvula de saída de material; 7- Termopar.

Uma vez procedida à carga do reator, promoveu-se o aquecimento da mistura até

a temperatura de processo, permanecendo-se nesta durante o tempo desejado. Após o

término da operação, o material foi filtrado sob vácuo e quantificado. A fase sólida

(resíduo ou bagaço deslignificado) foi analisada quanto ao teor de pentosanas e furfural.

A fase líquida foi analisada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) quanto

ao teor de monossacarídeos (xilose e arabinose) e produtos de decomposição (furfural).

Utilizou-se uma coluna AMINEX HPX – 87H, da BioRad, específica para análise de

carboidratos, tendo-se H2SO4-0,001N como fase móvel, conduzida por uma bomba CG

480-E com fluxo de 0,6mL/min. O sistema injetor consiste numa válvula Rheodyne,

operando com volumes de injeção de 80µL. A fase líquida proveniente da coluna é

conduzida a um detector de índice de refração e um detector UV. Como fase móvel

utilizada foi acetonitrila(1:5) e ácido fosfórico 30% em massa para detecção dos

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produtos de degradação. A temperatura da coluna foi mantida a 50ºC ± 1,0ºC. Os

resultados das análises foram obtidos através de um sistema de aquisição e tratamento

de dados com programa específico acoplado a um microcomputador.

3.3.5. HIDRÓLISE DA CELULOSE UTILIZANDO CATALISADORES

HOMOGÊNEOS

Este processo tem como objetivo principal hidrólise dos oligômeros

provenientes das etapas anteriores, obtendo frações de glicose disponíveis na fase

liquida as quais encontram-se localizadas no interior da célula vegetal, fortemente

associadas à celulose, em regiões de difícil acesso dos agentes hidrolisantes. Na

hidrólise ácida homogênea da celulose, parte da amostra reage muito mais rapidamente

que o restante. A velocidade inicialmente rápida não é constante, mas cresce por um

período, que depende do tipo de material, até então finalmente atingir uma constante de

velocidade consideravelmente menor. Com o objetivo de disponibilizar a glicose

presente na celulose, optou-se pelo emprego de catalisadores homogêneos como cloreto

de lítio e cloreto de zinco como agentes capazes de promover o intumescimento e

dissolução da celulose.

Para o referido estudo foi criado um planejamento fatorial no sentido de se obter

condições otimizadas do experimento. A matriz de experimentos e os níveis das

variáveis encontram-se descritas nas Tabelas 3.3 e 3.4, seguindo um planejamento

fatorial 23.

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Tabela 3.3: Níveis das Variáveis Empregadas no Planejamento Fatorial 23.

Tabela 3.4: Matriz de Experimentos.

Experimento Temperatura (ºC)

Massa de

Catalisador (g)

Concentração de Àcido (% em massa)

1 (-) (-) (-)

2 (+) (-) (-)

3 (-) (+) (-)

4 (+) (+) (-)

5 (-) (-) (+)

6 (+) (-) (+)

7 (-) (+) (+)

8 (+) (+) (+)

9 (0) (0) (0)

Variáveis

Níveis

Inferior

(-)

Central

(0)

Superior

(+)

Massa de catalisador (g) 6 8 10

Temperatura (ºC) 140 160 180

Concentração de Ácido (% em massa)

15 20 25

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Aparelhagem e Modo Operatório da Hidrólise da Celulose - Os processos de

hidrólise da celulose foram conduzidos em reator leito de lama de vidro, com

capacidade de 500 mL, sob agitação magnética. A matéria-prima (bagaço de cana seco),

proveniente dos procedimentos anteriores, foi introduzida pela boca central do reator.

Após a carga do material sólido, deixou-se a mistura sob agitação sem aquecimento até

verificar-se completa homogeneização do material. Em seguida, promoveu-se a

introdução da solução contendo as massas de catalisadores conforme o planejamento

fatorial, em seguida foi realizado o aquecimento da mistura sob condensação até a

temperatura de processo, permanecendo-se nesta durante o tempo desejado. Após o

término da operação, o material foi filtrado sob vácuo e quantificado. A fase líquida

(filtrado ou licor negro) foi analisada e quantificado via cromatografia liquida de alta

eficiência em relação aos carboidratos extraídos (glicose e resíduos de xilose). A fase

sólida foi analisada quanto ao teor de sólidos, para posterior realização do balanço de

massa. Foi conduzido o estudo da modelagem cinética durante um período de 3 horas de

reação, com coletas de amostras a cada 20 minutos.

Utilizou-se uma coluna AMINEX HPX – 87H, da BioRad, específica para

análise de carboidratos, tendo-se H2SO4-0,001N como fase móvel, conduzida por uma

bomba CG 480-E com fluxo de 0,6 mL.min-1. O sistema injetor consiste numa válvula

Rheodyne, operando com volumes de injeção de 60µL. A fase líquida proveniente da

coluna é conduzida a um detector de índice de refração e assim por meio de curvas de

calibração, determinou-se as quantidades de carboidratos existente em tal etapa.

3.3. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

Foram realizados analises de composição química para o bagaço de cana antes e

apos cada etapa, e medidas das características seguintes: teor de umidade, cinzas,

extrativos, analise de carboidratos, lignina solúvel e insolúvel e cristalinidade. Estas

metodologias são apresentadas a seguir.

O bagaço para todos as análises composicionais foi moído e peneirado. As

frações retidas mas peneiras de 32 a 100 mesh foram misturadas, homogeneizadas e

utilizadas para todos os procedimentos de caracterização.

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3.3.1. Teor de Umidade

A determinação de umidade nas amostras é importante para apresentar os

resultados em termos de biomassa seca. Esta analise foi baseada na norma do NREL

“Deternation of Total Solids in Biomass” (SLUITER et al., 2005). Foram pesados

béqueres de 50mL (M1) previamente secos em estufa a 105ºC durante quatro horas e

inseridos em um dessecador até temperatura ambiente. Amostras de 2g de bagaço foram

pesadas nos béqueres (M2), e levados à estufa a 105ºC para secagem até peso constante

com variação em ± 0,001g na umidade atual apos de 1h de reaquecimento da amostra.

Após este período, as amostras foram retiradas da estufa e colocadas num dessecador e

pesadas novamente (M3).

Para o cálculo de teor de umidade se tem a equação 3.1

3.1

M1= massa do béquer vazio (g)

M2= massa da amostra úmida com béquer (g)

M3= amostra absolutamente seca com béquer (g)

3.3.2. Determinação de Cinzas

Para a determinação do teor de cinzas no bagaço de cana, pesou-se amostras de

1,0 ± 0,1 mg do material, com teor de umidade conhecido, em três cadinhos de

porcelana previamente tarados. Em seguida, as amostras foram inicialmente calcinadas

em uma mufla a 300 ºC até total digestão do material (aproximadamente 10min) e em

seguida, a 800ºC por duas horas. Após a calcinação, os cadinhos foram resfriados em

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dessecadores e pesados. A calcinação foi repetida por mais 10 min para atingir massa

constante. O teor de cinzas foi calculado pela equação 3.2.

3.2.

M1= massa do cadinho + massa do bagaço seco (g)

M2= massa do cadinho calcinado vazio (g)

M3= massa do cadinho com cinzas (g)

3.3.3. Determinação de Extrativos

A determinação de extrativos foi baseada na norma NREL nº10 (SLUITER et

al., 2005). Pesaram-se amostras de 4 g de bagaço previamente moído e seco em

cartuchos de extração e colocados para ser extraídos em um aparelho soxhlet. Foram

introduzidos 190 mL de álcool etílico 98% em massa a cada balão do extrator junto com

uma quantidade de pérolas de vidro. A extração termina quando o solvente que se

encontra ao redor do cartucho de extração torna-se incolor. Em seguida foram retirados

os cartuchos com as amostras do soxhlet, lavados com 100 mL de etanol, e seco em

estufa a 105ºC até massa constante. As análises foram realizadas em triplicata. A

quantificação do conteúdo de extrativos é calculada conforme equação 3.3.

3.3.

Mb= massa do bagaço seco (g)

Mf= massa do bagaço livre de extrativos (g)

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3.3.4. Determinação de Lignina Insolúvel e Solúvel

Hidrólise Ácida - Para a determinação de lignina insolúvel (lignina Klason) e

lignina solúvel foram usadas as normas NREL nº 003 (HYMAN et al., 2007), e nº 004

(TEMPLETON e EHRMAN, 1996), as quais exigem que o bagaço tenha umidade

menor que 10% em massa, e esteja livre de extrativos.

Amostras de 0,3 g de bagaço moído e peneirado foram pesados (Mb) e

transferidas a tubos de ensaio. Os tubos foram colocados em banho Maria a 30ºC e 3

mL de H2SO4 72% em massa (p:p) foram adicionados a cada tudo de ensaio. Os tubos

foram agitados a cada 10 minutos com bastão de vidro durante 1 hora sem removê-lo do

banho com o fim de garantir uma hidrólise homogênea. Após este tempo, interrompeu-

se a reação em um banho de gelo fundente adicionando-se 84 mL de água destilada e

trasnferindo-se quantitativamente para erlenmeyers de 250 ml. As amostras foram

fechadas e autoclavadas a 121ºC durante 1 hora para a total hidrólise dos oligômeros

formados. Após a descompressão, os erlenmeyers foram retirados, resfriados e filtrados

em um funil com papel filtro previamente tarado e pesado. O hidrolisado foi filtrado e

transferido para um balão volumétrico de 100 mL, para posterior análise de lignina

solúvel e carboidratos.

Determinação de Lignina Klason (insolúvel) - O material retido no papel de

filtro foi lavado com 1 L de água destilada e colocada a secar em uma estufa a 105ºC até

massa constante (Mkla). Parte deste material insolúvel é constituída de cinzas, uma vez

que estas não são solúveis em ácido. Assim, para que não haja uma superestimação dos

valores de lignina insolúvel, a metodologia de determinação do teor de cinzas é

realizada como descrito no item 3.3.2. O teor de lignina Klason foi calculado pela

equação 3.4.

3.4

Mb= massa do bagaço seco (g)

M2= massa do papel de filtro tarado (g)

M3= massa do papel de filtro + Lignina insolúvel seca (g)

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Determinação de Lignina Solúvel - Transferiu-se 1,0 mL do hidrolisado ácido

para balões volumétricos de 25 mL, completando-se com água destilada. Realizaram-se

as leituras em um espectrofotômetro UV- visível a 205 nm. As leituras foram feitas

antes de completar 6 horas de hidrólise. O calculo da concentração da lignina solúvel é

realizada pela equação 3.5.

3.5

Abs = absorbância da amostra a 205 nm;

Vf = volume final do hidrolisado 0,087 L;

df = fator de diluição;

B = comprimento do caminho óptico, 1 cm

tlig = absortividade da lignina solúvel a 205 nm, 105 L.g-1.cm-1(FERRAZ, 2000);

Mb = massa do bagaço seco (g).

Determinação de carboidratos por CLAE (Cromatografia líquida de alta

eficiência)- Os teores de glicose, xilose e arabinose presentes no filtrado da hidrólise

com ácido sulfúrico 72% em massa do material lignocelulósico, foram analisados por

CLAE. Uma pequena alíquota de aproximadamente 2 mL da solução foi eluída em um

cartucho de extração seringa de poros 0,45 µm da marca Whatman e injetadas em uma

coluna aminex 87H, utilizando como fase móvel ácido sulfúrico 0,001N com fluxo de

0,6 mL.min-, à temperatura de 50ºC. Os compostos separados na fase estacionaria foram

monitorados com um detector de índice de refração (IR). As concentrações de cada

componente foram obtidas pela correlação entre as áreas dos cromatogramas e as curvas

padrão (previamente determinadas por padões de D-glicose, D-xilose e D-arabinose).

A massa de glicose foi convertida em celulose, com o fator 0,90, como também

as massas de xilose e arabinose foram convertidas para hemicelulose, empregando-se o

fator de 0,88. O calculo do teor de carboidratos realizou-se com a equação 3.6.

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59

3.6

CCLAE = concentração do açúcar quantificado por CLAE, (g.L-);

Ft = fator de correção para calcular a concentração polimérica dos açúcares dada

concentração monomérica dos açúcares (glicose=0,9, xilose=0,88);

Vfiltrado = volume do hidrolisado filtrado, 0.087 L;

Mb = massa de bagaço seco, (g).

3.3.5. Determinação de Cristalinidade

A cristalinidade da celulose foi medida com difração de raios X. Este

equipamento usa radiação eletromagnética para determinar os espaços interplanares e

estrutura cristalina do material. Os substratos celulósicos apresentam um pico intenso a

22,6º que é devido à sua estrutura cristalina. Além disso, mostram um ruído na linha de

base, o qual é causado fundamentalmente pela parte cristalina ou pela zona amorfa. O

índece de crsitalinidade é calculado usando a equação 3.7, a qual emprega as

intensidades de difração da estrutura cristalina (plano 022, 2t ≈ 22,5º) e da fração

amorfa( 2t ≈ 18,7º ). O Crl será determinado com a porcentagem de material cristalino

e amorfa na biomassa (SEGAL et al., 1959) como é mostrado da Figura 3.5.

3.7.

Sendo:

I002 = intensidade de difração da parte cristalina a uma posição de 002, aproximadamente 2t ≈ 22,5º.

Iam = intensidade de difração da estrutura amorfa a 2t ≈ 18,7º.

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60

Figura 3.5: Exemplo de difração de raios X da madeira. Fonte: SEGAL et al., 1959.

3.4. DETERMINAÇÃO DA ÁREA SUPERFICIAL (BET)

O método padrão de medição da área superficial é baseado na adsorção física de

um gás (usualmente nitrogênio) na superfície do sólido. Geralmente, a quantidade de

nitrogênio adsorvido no equilíbrio ao ponto de ebulição normal é medida sobre uma

faixa de pressão abaixo de 1 atm. Sob essas condições, muitas camadas de moléculas

devem ser adsorvidas umas sobre as outras na superfície. A quantidade adsorvida

quando uma camada de moléculas é atingida deve ser identificada para determinar a

área. Esse método é conhecido como Método Brunauer-Emmet-Teller (ou BET).

Nesse método clássico, um aparato é utilizado para medir o volume do gás adsorvido

numa amostra sólida do material. O aparato opera a baixas pressões, variando de um

valor próximo de zero até um valor aproximado a 1 atm. Os valores dos volumes são

normalmente corrigidos para centímetros cúbicos (cm3 ou cc) a 0ºC e 1 atm (condições

padrão de temperatura e pressão). A temperatura de operação se encontra na faixa do

ponto de ebulição normal do N2 (-195,8ºC ou 77,35K).

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61

4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS E DISCUSSÃO

Seguindo a metodologia experimental, descrita, foram avaliadas as etapas

envolvidas no fracionamento reativo químico da biomassa versus condições de

processo, na busca da otimização operacional do processo de refino do bagaço visando

os melhores rendimentos em termos de disponibilização de carboidratos e lignina.

4.1. DISPONIBILIZAÇÃO DE CARBOIDRATOS.

Inicialmente uma caracterização do material lignocelulósico foi realizada para

determinar as frações existentes no bagaço de cana-de-açúcar. Na Tabela 4.1 estão

apresentados os resultados de composição macro do bagaço de cana.

Tabela 4.1: Caracterização do bagaço de cana in natura.

Componentes Composição (% em massa em massa)

Desvio Padrão

Celulose 43,46

0,50

Hemicelulose 25,03

0,81

Lignina 26,80

0,43

Extrativos 3,18

0,20

Cinzas 1,34

0,50

Dados experimentais, segundo abordagem cinética, foram coletados a fim de se

avaliar a contribuição e a interferência dos parâmetros operacionais temperatura e tipo

econcentração de ácidos. Para tanto, o bagaço foi submetido a quatro etapas de

processamento com quantificação de suas frações extraídas ao longo do tempo de

operação.

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62

4.1.1 Determinação da área superficial, cristalinidade e microscopia eletrônica de

varredura

Conforme métodos já citado anteriormente, foram realizadas analises para a

determinação da área superficial do bagaço de cana-de-açúcar natural e do material

obtido ao longo dos diversos tratamentos utilizados.

De maneira paralela foram retiradas amostras dos diversos materiais (polpas)

obtidas ao longo das etapas de hidrólise e deslignificação para serem analisados por

meio da microscopia eletrônica de varredura com objetivo, qualitativo, evidencia de

forma física o comportamento da fibra vegetal frente às diversas etapas empregadas.

Segue na Tabela 4.2 os valores de BET e as imagens de MEV obtidas para

algumas condições utilizadas no processamento do bagaço.

Tabela 4.2 Analise de BET e MEV para as diversas etapas do biorefino.

Etapa Espécie Conc. Temperaura Cristalinidade BET

(% em massa) (◦C) (% em massa) (m2/g)

In natura ### ### ### 54,4 48,9

Pré-

Hid

rólis

e

HCl

1

80

54,3

48,9 3 54,3

5 54,3

Des

ligni

fica

ção

NaOH 1

90

51,3

47,5

NH4OH 1 52,7

Hid

rólis

e H

emic

elul

ose

HCl 25 120 51,1 38,56 160 50,8 36,74

H2SO4 1 100 50,7 33,42 5 100 50,2 32,81

Hid

rólis

e C

elul

ose

HCl 15 140 46,8 25,56 20 160 44,6 25,43 25 180 35,4 25,46

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63

Conforme dados analítico referente às diversas condições experimentais

é notória a influencia do efeito da temperatura e concentração das espécies química

utilizadas. Durante a etapa de pré-hidrólise pode-se observar que tanto para a analise de

área superficial como para a cristalinidade tal etapa não é preponderante, obtido valores

próximos aos encontrados para o bagaço in natura. Na deslignificação observasse uma

discreta diminuição da área superficial e cristalinidade. A etapa de hidrólise da

hemicelulose é de suma importância para o aumento da porcentagem de material amorfo

na biomassa. Durante a hidrólise da celulose foi observada a maior e mais significativa

diminuição nos valores de área superficial e cristalinidade, mostrado como condição

primordial para a conversão da celulose amorfa em glicose.

a) b)

c) d)

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64

e)

Figura 4.1. Micrografia eletrônica de varredura (MEV), referente às etapas realizadas. a) Bagaço natural, b) Pré-hidrólisado, c) Deslignificado, d) Hidrólise da Hemicelulose e e) Hidrólise da celulose.

4.1.1 Pré- Hidrólise do Bagaço de Cana-de-Açúcar

Os resultados precedentes (LIMA, 1992), relativos à pré-hidrólise do bagaço,

indicaram que os processos de hidrólise dos sacarídeos de uma biomassa são

basicamente influenciados pelas variáveis de processo tais como temperatura e tempo

de reação, as quais, por sua vez, têm influência direta sobre a cinética do processo. Tais

procedimentos têm como principal objetivo o amolecimento da fibra vegetal na

tentativa de facilitar etapas posteriores de deslignificação e hidrolise das diversas

frações remanescentes.

Tem-se observado que a pré-hidrolise provoca significativa perda de massa de

pentosanas (9% em massa em massa) e pequena perda de massa de lignina e do bagaço

total (14% em massa em massa). Estas perdas de massa são majoritariamente devida à

dissolução e subseqüente remoção dos carboidratos por ocasião do processo hidrolítico.

Uma vez que não ocorre rompimento da estrutura aromática das moléculas de lignina,

seu grau de polimerização é preservado e, conseqüentemente, sua solubilização e

remoção da biomassa durante a etapa de pré-hidrolise é minimizada.

Para avaliar o rendimento e a eficiência da pré-hidrolise foi contabilizada a

perda de massa para os diversos experimentos realizados, tais resultados encontram-se

na Tabela 4.3.

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65

Tabela 4.3 – Perda de massa e principais parâmetros operacionais da pré-hidrólise. E X P

Ácido Concentração

(% em massa)

Tempe ratura (ºC)

Tipo de Bagaço

Massa Extraída (% em massa)

Lignina na Fase Líquida

Produtos de Decom

posição

1 HCl 1 70 In Natura 15,0 Baixo Baixo 2 HCl 3 70 In Natura 11,6 Baixo Baixo 3 HCl 5 70 In Natura 13,9 Baixo Baixo 4 HCl 1 80 In Natura 17,3 Baixo Baixo 5 HCl 3 80 In Natura 16,2 Baixo Baixo 6 HCl 5 80 In Natura 32,0 Baixo Baixo

Favorável Desfavorável

A Tabela 4.3 evidencia as perdas de massa ao longo da matriz de experimentos

realizados, bem como em termos dos principais parâmetros de processo que

influenciaram direta ou indiretamente a etapa em questão. De forma geral a extração

ocorreu conforme esperado, porém o experimento 6 mostrou-se discrepante em relação

aos demais, fato este que pode ser justificado pelas condições mais severas, revelando

uma extração de pentosanas desfavorável. Na Figura 4.2 as perdas de massa para cada

experimento estão destacadas em forma de histograma.

Figura 4.2. Histograma da massa extraída. Pré- hidrólise de bagaço.

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Con

cent

raçã

o (g

/L)

Tempo(min)

1% 3% 5%

Figura 4.3. – Evolução da concentração de xilose. Influência da concentração de HCl.Condições: 70ºC, mb=50g, VL= 1,5L.

Nas condições brandas de operação adotadas, as degradações da xilose e da

arabinose foram minimizadas ao longo do período de hidrólise, logo não foram

contabilizadas as perdas com relação às degradações dos sacarídeos possivelmente

degradados. A Figura 4.3. representa a evolução da concentração de xilose para uma

temperatura de processo de 70ºC, operando-se com três diferentes concentrações de

ácido clorídrico. Considerando que tal espécie apresenta-se no tecido vegetal disposta

de duas diferentes formas, como pentosana de fácil hidrolise e como pentosana de difícil

hidrolise, na etapa de pré-hidrólise apenas a parcela de fácil hidrólise foi verificada,

como pode ser observada. A variação da concentração do ácido não tem um efeito tão

significativo sobre a liberação da xilose da pentosana de fácil hidrolise.

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

1% 3% 5%

Figura 4.4. – Evolução da concentração de arabinose. Influência da concentração de HCl.Condições: 70ºC, mb=50g, VL= 1,5L.

Nos resultados destacados na analise da Figura 4.4 referente à pré-hidrólise a 70º

C, pode-se observar uma tendência a estabilização da concentração, nos tempos mais

longos, favorecendo a extração adicional de arabinose. Neste caso já não se pode

desconsiderar a influência da concentração do HCl para a formação de isômeros de

xilose. Na Operação a 80ºC (Figura 4.5) observam-se máximas produções de xilose e

arabinose, ocorrendo com uma concentração de HCl de 5% em massa em massa,

próximo a 80 minutos de processamento.

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

1% 3% 5%

Figura 4.5 – Evolução da concentração de xilose. Influência da concentração de HCl.Condições: 80ºC, mb=50g, VL= 1,5L.

O resultado representado na Figura 4.4 descreve um comportamento análogo ao

verificado para a operação na temperatura de 70ºC, merecendo destaque apenas o efeito

incrementador da temperatura sobre uma maior extração dos monossacarídeos,

confirmando a hipótese da existência de duas frações hidrolisáveis referente à xilose.

Para tal condição o máximo de produção em xilose ocorreu após um tempo de processo

em torno 150 minutos. Caso as condições de processos fossem mais severas, em

temperaturas acima de 110ºC, esse tempo de processo seria determinante, implicando

em uma degradação sacarídica.

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

1% 3% 5%

Figura 4.6. Evolução da concentração de arabinose. Influência da oncentração de HCl.Condições: 80ºC, mb=50g, VL= 1,5L.

Na Figura 4.6 estão evidenciadas as evoluções de concentração da arabinose

produzidas na pré-hidrólise a 80ºC. Pode-se observar a evolução do processo de

extração de arabinose em diferentes níveis de concentração de HCl, ficando claro o

efeito do aumento da temperatura sobre a conversão do bagaço em arabinose. Nestas

condições o tempo de processo para se obter um estado de estabilização de

concentração do sacarídeo é menor quando comparado aquele das operações a

temperaturas inferiores (70ºC). A máxima concentração de extração de arabinose

ocorreu com a concentração de 5% em massa de HCl e tempo de processo de 60

minutos. Porém, como o principal objetivo do presente estudo é avaliar a etapa de pré-

hidrólise em termos de perdas de hemicelulose, pode-se indicar que na referida etapa a

extração da arabinose contribuiu para tal fim. No contexto global do biorefino do

bagaço tal etapa tem um valor mais qualitativo, considerando que a pré-hidrólise tem

como principal objetivo promover interferência sobre a estrutura da biomassa,

particularmente sobre a lignina tornando-a mais suscetível ao ataque dos agentes

alcalinos no processo de deslignificação, incrementando a eficiência do mesmo.

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70

4.1.2 Deslignificação do Bagaço Pré-Hidrolisado

Na seqüência de processamento o bagaço de cana-de-açúcar proveniente da

etapa de pré-hidrólise com HCl submeteu-se a biomassa ao tratamento com hidróxido

de sódio e hidróxido de amônio em diferentes condições de temperatura 70ºC, 80ºC e

90ºC. Para cada uma destas isotermas foram realizados experimentos desde o tempo

zero de reação até 180 minutos.

Dados cinéticos foram coletados em torno do ponto intermediário de operação

da deslignificação (80ºC). As evoluções das frações mássicas de bagaço solubilizado,

holocelulose e lignina foram medidas em função do tempo durante o processo de

deslignificação com os hidróxidos de sódio e de amônio pode-se observar, com o

transcorrer do tempo, as remoções da holocelulose (xilanas+glicanas) e da lignina

(solúvel+insolúvel Klason). Como mostrado na Figura 4.7, a perda de massa do bagaço

foi favorecida com o aumento da temperatura e em função do tempo. O máximo valor

solubilizado do material foi obtido com hidróxido de sódio na temperatura de 90ºC,

atingindo-se aproximadamente 30% em massa em massa do valor inicial posto em

contato com a solução alcalina durante 180 minutos.

a) b) c)

Figura 4.7. Evolução do processamento alcalino da biomassa. Efeito da temperatura: (a) 70º, (b) 80ºC, (c) 90ºC, NaOH (1% em massa). Massa inicial de bagaço 50g.

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71

d) e) f)

Figura 4.8. Evolução do processamento alcalino da biomassa. Efeito da temperatura: (d) 70º, (e) 80ºC, (e) 90ºC, NH4OH (1% em massa). Massa inicial de bagaço 50g.

Tabela 4.4. Teores mássicos residuais no bagaço. Processamento alcalino do bagaço de

cana-de-açúcar. Condições NaOH (1% em massa em massa), NH4OH (1% em massa em

massa), massa inicial de bagaço = 50 g, tempo = 180 minutos.

Biomassa NaOH NH4OH

70◦C 80◦C 90◦C 70◦C 80◦C 90◦C Bagaço Residual (% em

massa) 70 68 73 75 73 73 Holocelulose (% em

massa) 33 28 37 40 30 42 Lignina Total (% em

massa) 16 15 18 16 15 18

Na Tabela 4.4 estão destacados os efeitos, da temperatura e do tipo de base

utilizada durante a deslignificação em termos das frações do bagaço de cana: bagaço

residual, holocelulose e lignina total. Tomou-se o tempo de operação de 180 minutos

como base para as citadas comparações. Observar-se uma maior perda de holocelulose a

80ºC com NaOH, e uma maior solubilização da lignina a temperaturas maiores que

80ºC.

Por outro lado, as menores perdas de massa ocorreram com a utilização de

NH4OH e a temperaturas inferiores a 80ºC. Nas condições mais brandas ocorreram

menores degradações da lignina, como está visualizado nas Figuras 4.9 e 4.12, as quais

mostram redução gradativa dos conteúdos da lignina Klason e da lignina solúvel. Em

suma, pôde-se observar que a degradação da lignina foi favorecida em operações com

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

5

10

15

20

25

30

Lign

ina

Kla

son

(g/1

00 g

Bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

70 C 80 C 90 C

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Lign

ina

solu

vel

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

70 C 80 C 90 C

do tempos mais longos, na temperatura de 90ºC e utilizando-se de NaOH como agente

deslignificante.

Nos perfis das Figuras 4.9 a 4.12 nota-se que o aumento de temperatura favorece

bastante a deslignificação, mas influencia menos a perda de xilana e glicana, ao

contrario do aumento tempo de pré-hidrólise, que influencia as três variáveis (lignina,

glicana e xilana). Isto indica que talvez seja interessante avaliar a possibilidade realizar

a pré-hidrólise em temperaturas mais altas e por menores tempos.

Figura 4.9. Evolução do conteúdo de lignina Klason influência da temperatura. Condições: NaOH (1% em massa massa), mb = 50g, VL=1,5L.

Figura 4.10. Evolução do conteúdo de lignina solúvel influência da temperatura. Condições: NaOH (1% em massa massa), mb = 50g, VL=1,5L.

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

5

10

15

20

25

30

Lign

ina

Kla

son

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

70 C 80 C 90 C

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Lign

ina

solu

vel

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

70 C 80 C 90 C

Figura 4.11. Evolução do conteúdo de lignina Klason influência da temperatura. Condições: NH4OH (1% em massa massa), mb = 50g, VL=1,5L.

Figura 4.13 – Evolução do conteúdo de lignina solúvel influência da temperatura. Condições: NH4OH (1% em massa massa), mb = 50g, VL=1,5L.

O conteúdo de lignina no bagaço deslignificado a 90ºC durante 180 minutos

com NaOH diminuiu de 23,00 g para 10,11 g de lignina Klason/100 g da biomassa

deslignificada, equivalente a uma remoção de 56,04% em massa da lignina Klason

inicial. De 1,68 g para 0,58 g lignina /100 g da biomassa foi a redução da lignina

solúvel.

A Equação 4.1 foi utilizada para o calculo das conversões de lignina durante a

etapa de deslignificação para cada isoterma. A Figura 4.20 e 4.21 mostra os perfis da

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

5

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20

25

30

Lign

ina

Kla

son

(g/1

00 g

Bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

conversão de lignina total em função do tempo, temperatura e agente deslignificante. A

maior conversão obtido foi de 56,04% em massa e % em massa para as temperaturas de

80 e 90ºC com NaOH, respectivamente. A menor conversão de lignina atingiu 35,04%

em massa para a deslignificação com NH4OH e temperatura de 70ºC.

As Figuras 4.13 a 4.16 mostram a ação do álcali empregado no processo de

deslignificação. Para maior extração ocorreu na temperatura de 90º C no tempo Maximo

de processo 180 minutos, evidenciando assim o efeito do aumento da temperatura sobre

o aumento na extração da lignina. Quanto à ação do álcali empregado o hidróxido de

sódio se mostrou mais eficaz na extração da lignina frente ao hidróxido de amônio,

tendo em vista o efeito mais seletivo deste ultimo na extração da fração holocelulósica.

Figura 4.13. Degradação da lignina Klason em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 70ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Lign

ina

solu

vel

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

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15

20

25

30

Lign

ina

Kla

son

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

Figura 4.14. Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 70ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

Figura 4.15. Degradação da lignina Klason em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

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76

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Lign

ina

solu

vel

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

5

10

15

20

25

30

Lign

ina

Kla

son

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

Figura 4.16. Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

Figura 4.17. Degradação da lignina Klason em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 90ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

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77

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Lign

ina

Sol

uvel

(g/1

00 g

bio

mas

sa p

ré-t

rata

da)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

Figura 4.18. Degradação da lignina solúvel em função do álcali e tempo durante a etapa de deslignificação. Condições: Temperatura 90ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

LC=(LT0–LT)/LT0x100(%emmassa) 4.1

Sendo:

LC = Conversão de lignina total no tempo t, g de lignina removida no tempo t/g

lignina inicial t=0.

LT0 = conteúdo de lignina total no t=0, g de lignina total no tempo t=0/g

biomassa deslignificada.

LT = Conteúdo de lignina total no t, g de lignina total no tempo t/g biomassa

deslignificada.

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78

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Con

vesa

o de

Lig

nina

(g

de

Lign

ina

rem

ovid

a/g

Lign

ina

brut

a)

Tempo(min)

70 C 80 C 90 C

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Con

vers

ao d

e Li

gnin

a(g

de

Lign

ina

rem

ovid

a/g

Lign

ina

brut

a)

Tempo(min)

70 C 80 C 90 C

Figura 4.19. Conversão da Lignina removida em função da temperatura e tempo durante a etapa de deslignificação com NaOH (1% em massa).

Figura 4.20. Conversão da Lignina removida em função da temperatura e tempo durante a etapa de deslignificação com NH4OH (1% em massa).

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79

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Con

vesa

o de

Lig

nina

(g

de

Lign

ina

rem

ovid

a/g

Lign

ina

brut

a)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Con

vesa

o de

Lig

nina

(g

de

Lign

ina

rem

ovid

a/g

Lign

ina

brut

a)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

Figura 4.21. Conversão da Lignina removida em função do tempo e álcali, durante a etapa de deslignificação. Condição: Temperatura 70ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

Figura 4.22. Conversão da Lignina removida em função do tempo e álcali, durante a etapa de deslignificação. Condição: Temperatura 80ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

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80

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Con

vers

ao d

e Li

gnin

a(g

de

Lign

ina

rem

ovid

a/g

Lign

ina

brut

a)

Tempo(min)

NaOH NH

4OH

Figura 4.23. Conversão da Lignina removida em função do tempo e álcali, durante a etapa de deslignificação. Condição: Temperatura 90ºC, NH4OH (1% em massa), NaOH (1% em massa).

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81

4.1.3 Hidrólise ácido-diluído da hemicelulose do bagaço de cana-de-açúcar

deslignificado

O bagaço deslignificado foi submetido a uma etapa de hidrólise utilizando-se

ácidos diluídos. Nesta operação avaliou-se o comportamento cinético do processo

considerando a variação da concentração do ácido, o tipo de ácido e a temperatura.

Tem-se como finalidade de obter máxima produção de hemicelulose, principal

componente extraído na referida etapa, envolvendo uma mínima degradação dos

açucares produzidos, Com base nas faixas de operação utilizadas em estudos anteriores

(LIMA, 1992; BAUDEL, 1995) foi proposto o estudo segundo a matriz de ensaios

descrita na Tabela 4.5.

Tabela 4.5 - Matriz de Ensaios de Hidrólise. Influência dos Parâmetros Operacionais.

Ácido Concentração

% em massa

Tempe ratura (ºC)

Tipo de Bagaço

Massa Extraída (% em massa)

Lignina na Fase Líquida

Produtos de Decom

posição

1 HOAc 25 160 Deslignificado 35,4 Alta Baixo 2 HOAc 25 120 Deslignificado 24,3 Alta Baixo 3 HOAc 25 160 Deslignificado 33,9 Alta Baixo

4 HOAc 25 120 Deslignificado 34,1 Alta Baixo

5 H2SO4 1 90 Deslignificado 27,8 Baixo Baixo

6 H2SO4 5 90 Deslignificado 25,4 Baixo Baixo 7 H2SO4. 1 100 Deslignificado 38,9 Alta Baixo 8 H2SO4 5 100 Deslignificado 41,2 Média Baixo

Valor Recomendado para a Massa Extraída: 25-35% em massa Favorável Desfavorável

Na Figura 4.24, estão representadas em forma de histograma as porcentagens em

massa extraída obtidas nos experimentos com o ácido acético e sulfúrico indicados na

matriz de ensaios. Os limites superior (35% em massa) e inferior (25% em massa),

representam a faixa ótima de operação com relação a extração em massa. Neste caso

leva-se em consideração os valores máximos de massa que podem ser extraídos sem que

gerem degradação sacarídica elevada, e da mesma forma, a quantidade mínima de

massa extraída que signifique conversão satisfatória de bagaço em hemicelulose. No

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - … · no bagaço de cana-de-açúcar bem como do processo de deslignificação alcalina, ... Partes da cana-de-açúcar 07 Figura 2.2: Fórmula

82

presente estudo os experimentos 3, 4 e 5 mostraram-se adequados obtendo valores

máximos em extração de xilose e arabinose com baixa taxa de degradação sacarídea.

Figura 4.24. Histograma de massa extraída por hidrólise do bagaço.

Os agentes hidrolisantes utilizados se caracterizaram como um ácido orgânico

fraco de baixa atividade (ácido acético) e um ácido inorgânico forte de alta atividade

(ácido sulfúrico). Para o sistema com ácido acético, testaram-se opções de altas e baixas

temperaturas e uma concentração. Para o sistema com ácido sulfúrico, testou-se apenas

o sistema diluído, prevenindo-se intensa degradação sacarídica, bem como corrosão do

equipamento utilizado. Na Tabela 4.5 estão relacionadas às condições operacionais do

processo de hidrólise, com as correspondentes perdas de massa e teores de lignina.

Adicionalmente, são apresentados os níveis de extração de lignina. Separadamente, na

Figura 4.24, se expressa o teor de massa extraída por experimento.

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83

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200-1

0

1

2

3

4

5

6

7

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose Furfural

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

1

2

3

4

5

6

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose Furfural

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200-1

0

1

2

3

4

5

6

7

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose Furfural

Figura 4.25. Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 100°C, H2SO4 (1% em massa em massa).

Figura 4.26. Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 90°C, H2SO4 (1% em massa em massa).

Figura 4.27. Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 90°C, H2SO4 (5% em massa em massa).

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84

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Con

cent

raçã

o (g

/L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose Furfural

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Con

cent

raçã

o (g

/L)

Tempo(min)

5% 1%

Figura 4.28 Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 100°C, H2SO4 (5% em massa em massa).

Figura 4.29 Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 100°C, xilose.

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85

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

1

2

3

4

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

5% 1%

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

1

2

3

4

5

6

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

5% 1%

Figura 4.30. Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 90°C, xilose.

Figura 4.31. Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 100°C, arabinose.

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86

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

1

2

3

4

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

5% 1%

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

1

2

3

4

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

5% 1%

Figura 4.32 Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 90°C, arabinose.

Figura 4.33. Evolução da Concentração do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb= 50g, 100°C, furfural.

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Con

cent

raçã

o (g

/L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

1

2

3

4

5

6

7

8

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose

Figura 4.34. Evolução do processamento hidrolitico do bagaço de cana-deaçúcar deslignificado. Condições: mb=50g , 160°C, HOAc (25% em massa em massa).

Figura 4.35. Evolução do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb=50g , 160°C, HOAc (25% em massa em massa).

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-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

1

2

3

4

5

6

7

8

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Xilose Arabinose

Figura 4.36 Evolução do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb=50g , 120°C, HOAc (25% em massa em massa).

Figura 4.37. Evolução do processamento hidrolitico do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado. Condições: mb=50g , 120°C, HOAc (25% em massa em massa).

As operações com HOAc concentrado, mesmo a alta temperatura (160º C) e

utilizando bagaço deslignificado, apresentaram desempenho inferior em termos de

extração de massa (experimento 1). Neste sistema, ocorreu solubilização e significativa

extração de lignina no início do processo (tempo zero). Os experimentos 2, 3 e 4, nos

níveis de temperatura indicados, promoveram intensas solubilizações e excessivas

extrações de lignina para a fase líquida, bem como degradação sacarídica, evidenciada,

possivelmente, pelo elevado teor de produtos de decomposição. Experimentos

realizados por BENAR (1995) evidenciaram a ação do ácido acético na solubilização da

lignina e conseqüente extração da mesma.

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - … · no bagaço de cana-de-açúcar bem como do processo de deslignificação alcalina, ... Partes da cana-de-açúcar 07 Figura 2.2: Fórmula

89

As operações com H2SO4 diluído a temperatura branda (90ºC), segundo os nos

experimentos 5 e 6 da Tabela 4.3, evidenciam significativas diferenças de massa em

função da concentração de ácido utilizada. Ao se hidrolisar bagaço deslignificado,

verificaram-se significantes perdas de massa e extrações de lignina para a fase líquida,

bem como elevadas degradações sacarídicsa. Este comportamento consiste na ação da

base sobre, a lignina “virgem” que atua como uma barreira protetora da fração

sacarídica, evitando arraste excessivo e degradação da mesma. Procedendo-se a

deslignificação do bagaço, a resistência desta barreira é substancialmente reduzida.

Deste modo, os agentes hidrolisantes atingem a fração sacarídica do interior da célula,

promovendo um elevado arraste e decomposição das hemiceluloses, bem como

presença de lignina solubilizada na fase líquida..

Nas operações a 100ºC, ocorre uma excessiva extração de massa conforme se

verifica nos experimentos 7 e 8. Neste patamar, ocorre a abertura do anel aromático das

moléculas da estrutura da lignina, promovendo a sua solubilização. Por conseguinte, a

resistência da “barreira” à penetração do ácido é consideravelmente reduzida,

independente de se proceder ou não a uma deslignificação alcalina prévia do bagaço.

Assim sendo, a temperaturas mais elevadas, ocorre elevado arraste e degradação

sacarídica, com solubilização da lignina.

De um modo geral, em termos da evolução do processo ácido, observa-se uma

adequada extração de massa com teores reduzidos de lignina solubilizada e produtos de

decomposição ao se atingir a temperatura de processo (tempo zero). Entretanto, ao se

processar a hidrólise em elevados períodos de tempo (a partir de 140 minutos)

verificam-se níveis ligeiramente crescentes de lignina solubilizada na fase líquida e

presenças significantes de produtos oriundos de degradação sacarídica. Este

comportamento ocorre devido ao mecanismo de reações consecutivas de

despolimerização dos polissacarídeos a monossacarídeos e posterior conversão deste a

produtos de decomposição.

Quando utilizado o ácido a 5% em massa observasse uma tendência a

estabilização mais rápida frente a utilização na concentração de 1% em massa.

O comportamento das frações pentosanas frente às condições de processo

ocorreu de forma diferenciada. Para a xilose sua extração foi mais acentuada na

temperatura de 100º C e concentração de ácido de 5% em massa, tendo sua

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - … · no bagaço de cana-de-açúcar bem como do processo de deslignificação alcalina, ... Partes da cana-de-açúcar 07 Figura 2.2: Fórmula

90

estabilização próxima a 100 minutos de reação, já a arabinose em todos os níveis foi

possível observar a mesma tendência durante seu processo de extração.

Com relação aos produtos de degradação formados, em especial o furfural,

mesmo em condições brandas foi observado uma maior degradação em condições de

maior temperatura (100º C) e maior concentração de ácido sulfúrico (5% em massa),

caracterizado assim um processo seletivo em termos de extração de hemicelulose com

baixos teores de produtos de degradação.

Com base no exposto, verifica-se a influência do tipo de bagaço utilizado, do

tipo de ácido (orgânico ou inorgânico), dos níveis de temperatura de processo e da

interação temperatura versus tempo sobre a quantidade de sacarídeos extraídos, na

decomposição sacarídica e na solubilização da lignina.

Separadamente, em níveis elevados de concentração de ácido acético a baixa

temperatura (experimentos 2 e 4), verifica-se uma significativa influência do tempo de

processo sobre a massa extraída, e reduzida influência do mesmo sobre a solubilização

da lignina e degradação sacarídica. Isto decorre do fato de que a elevada acidez do meio

promove degradação sacarídica mesmo ao nível de temperaturas de 120ºC, ocorrendo já

no início do processo (tempo zero). Conforme visto anteriormente, a solubilização da

lignina é majoritariamente influenciada pelo tipo do ácido empregado no processo.

Com base nos resultados obtidos foram selecionados os regimes de operação

(condições 4 e 5) com os seguintes fatores:

- temperaturas de processo; 90ºC e 100ºC;

- tempos de reação; zero, 120 e 180 minutos.

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91

4.1.4 Hidrólise ácida da celulose utilizando catalisadores homogêneos

Compondo a quarta etapa do processo de refino do bagaço de cana-de-açúcar

procedeu-se a hidrólise da celulose, fração obtida após as etapas de pré-hidrolise,

deslignificação alcalina e hidrólise da hemicelulose. Adotou-se a hidrólise ácido

moderada sabendo-se que a concentração do ácido é um ponto crítico para o

processamento com efeitos sobre os equipamentos. A sacarificação da celulose com

moderadas ou baixas concentrações de ácido forte recorre no presente trabalho as ações

de cátions metálicos que possam promover o intumescimento da fibra vegetal e

conseqüente disposição das frações oligosacarídicas a reação de hidrólise. Estudos

precedentes (ULF, 1983) descreveram de forma satisfatória a utilização de dois sais,

cloreto de lítio e cloreto de zinco para estes fins. No presente estudo foi proposta a

utilização das referidas espécies químicas em condições suaves, em relação a

concentração de ácido clorídrico. Para tanto, buscando localizar as citadas condições

efetuou-se um planejamento fatorial 23 (Tabelas 3.3 e 3.4), que considerou as

influências da massa de catalisador, da temperatura e da concentração de ácido

clorídrico.

Tabela 3.3. Níveis das variáveis empregadas no planejamento fatorial 23.

Variáveis

Níveis

Inferior

(-)

Central

(0)

Superior

(+)

Massa de catalisador (g) 6 8 10

Temperatura (ºC) 140 160 180

Concentração de Ácido (% em massa)

15 20 25

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92

Tabela 3.4: Matriz de experimentos empregada no planejamento fatorial 23.

Experimento Temperatura

(ºC)

Massa de

Catalisador (g)

Concentração de Àcido (% em

massa)

1 (-) (-) (-)

2 (+) (-) (-)

3 (-) (+) (-)

4 (+) (+) (-)

5 (-) (-) (+)

6 (+) (-) (+)

7 (-) (+) (+)

8 (+) (+) (+)

9 (0) (0) (0)

Referindo-se ao processo de hidrólise da celulose com ácido clorídrico,estudos

precedentes indicaram que o ponto crítico das operações foi in identificado como

reacional à concentração do ácido, que deve ser no mínimo de 41% em massa em massa

para o carboidrato puro sem pré-hidrólise segundo ULF (1983). Em material

lignocelulósico, a pré-hidrólise remove a hemicelulose, rompe as ligações celulose-

hemicelulose-lignina, diminuindo a cristalinidade da celulose, originando novos sítios

amorfos. Estes aspectos são primordiais, facilitam a hidrólise e permitem a redução da

concentração crítica do ácido.

Os valores representados nas Figuras 4.38 e 4.39 comprovam a influencia

significativa da concentração do ácido sobre a evolução do processo. Para valores de

concentração do ácido acima de 20% em massa, o rendimento em monossacarídeos

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93

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

tende a cair, contrariando a tendência de estabilização destes rendimentos, o que se pode

atribuir à decomposição dos açúcares.

No decorrer do processo, para tempo inferiores a 100 minutos a reação ocorre de

forma lenta, enquanto para tempos superiores a 180 minutos, acrescenta-se muito pouco

aos resultados já obtidos até 120 minutos ( Figuras 4.41, 4.42 e 4.43).

Figura 4.38. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (15% em massa), 140ºC, mLiCl = 6g. (Experimento 1).

Figura 4.39. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (15% em massa), 180ºC, mLiCl = 6g. (Experimento 2).

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-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

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Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

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18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

Figura 4.40. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (15% em massa), 140ºC, mLiCl = 10g. (Experimento 3).

Figura 4.41. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (15% em massa), 180ºC, mLiCl = 10g. (Experimento 4).

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0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

Figura 4.42. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (15% em massa), 140ºC, mLiCl = 10g. (Experimento 5).

Figura 4.43. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (25% em massa), 180ºC, mLiCl = 6g. (Experimento 6).

Figura 4.44. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (25% em massa), 140ºC, mLiCl = 10g. (Experimento 7).

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-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

Figura 4.45. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (25% em massa), 180ºC, mLiCl = 10g. (Experimento 8).

Figura 4.46. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (20% em massa), 160ºC, mLiCl = 8g. (Experimento 9).

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97

Tabela 4.6: Conversão de bagaço pré-hidrólisado, deslignificado em função da concentração do ácido, do cloreto de lítio e da temperatura (reação efetuada sob agitação de 500 RPM).

LiCl HCl(% em

massa) Temperatura Conversão

(g) (% em massa) (◦C) (% em massa)

6 15 140 23,2

6 15 180 28,8

10 15 140 26,5

10 15 180 28,3

6 25 140 34,7

6 25 180 36,4

10 25 140 38,0

10 25 180 42,0

8 20 160 38,0

Operando-se com o ácido a concentração de 25% em massa em massa, a

concentração ótima de cloreto de lítio que possibilita máxima conversão da celulose

(42% em massa) em 180 minutos a 180ºC é de 10 g. Para esta concentração do LiCl, a

reação de hidrólise praticamente para de evoluir em 120 minutos. A redução da

temperatura para 140ºC, não traz prejuízo significativo à conversão, mantendo seu

máximo após 120 minutos. O parâmetro mais crítico é a concentração do ácido. Com a

concentração do ácido de 15% em massa, a conversão atinge apenas 28,8% em massa.

Aumentando-se a concentração de 6 g para 10 g, a conversão se eleva a

aproximadamente 2% em massa.

A presença do cloreto de lítio no meio promove a conversão da celulose,

elevando o rendimento em açúcares redutores. Na Tabela 4.7 estão apresentados os

valores da conversão e dos rendimentos em glicose e xilose, na operação com HCl 25%

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - … · no bagaço de cana-de-açúcar bem como do processo de deslignificação alcalina, ... Partes da cana-de-açúcar 07 Figura 2.2: Fórmula

98

em massa em massa, considerando duas concentrações de LiCl, tempo e duas

temperaturas de reação.

Tabela 4.7: Conversão de bagaço pré-hidrólisado e deslignificado e rendimento em glicose e xilose. Condições: HCl (25% em massa em massa).

LiCl Temperatura Conversão Rendimento

Xilose (% em massa

em massa)

Glicose (% em massa

em massa)

(g) (◦C) (% em massa) (mg g-1 bph) (mg g-1 bph)

6 140 34,7 386,0 506,0

6 180 36,4 474,0 533,0

10 140 38,0 443,0 614,0

10 180 42,0 482,0 653,0

A massa de 10 g de LiCl que possibilita a conversão máxima, permite altos

rendimentos em xilose e glicose a 180ºC. O mais alto, 653 mg g-1 de bgh, é obtido após

140 minutos, com o prolongamento do tempo de reação para 180 minutos não se

observa aumento significativo e sim uma leve diminuição na concentração. Esta redução

pode ser devido à reoligomerização dos açucares e em pequena extensão a

decomposição.

A redução da temperatura para 140 e 160ºC, torna a reação mais suave, a

conversão e o rendimento em glicose e xilose aumenta com o tempo, alcançando com

180 minutos a 140ºC os valores de respectivos de 36,8% em massa , 474 mg g- bph de

xilose e 533 mg g- bph de glicose. Nestas condições a reoligomerização não é tão

evidente, uma vez que o rendimento de açucares não diminui com o tempo.

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99

Para a hidrólise utilizando cloreto de zinco (ZnCl) nas condições de melhor

rendimento e conversão obtidas para o cloreto de lítio, foi encontrado um resultado

abaixo do esperado.

O cloreto de zinco também tem propriedades interessantes, e em combinação

com ácido clorídrico, dissolve celulose sem formação de gel ou agregação (CLAUSEN,

1982). Os efeitos de ZnCl2 podem ser apreciados na Tabela 4.8, que apresenta as

conversões do bagaço pre-hidrolisado em função da concentração do sal e do tempo

com HCl 25% em massa.

Frente ao cloreto de lítio o cloreto de zinco apresenta discreta promoção com 6 g

em 160 minutos de reação, mas com 8g, a promoção é mais significativa. É evidente

que em termos de rendimentos sacarídeos o cloreto de zinco requer tempos mais

prolongados para solubilizar mais oligômeros. A origem dos oligômeros é atribuída à

hidrólise parcial da celulose, e não aos produtos de reversão, por que o rendimento de

açúcares aumenta com o prolongamento do tempo, por ser o íon de zinco promotor mais

suave, com ação mais lenta.

Tabela 4.8: Conversão de bagaço pré-hidrólisado, deslignificado e rendimento em

glicose e xilose, com ácido clorídrico 25% em massa, em função da concentração de cloreto de

lítio e da temperatura (reação efetuada sob agitação de 500RPM).

ZnCl Temperatura Conversão Rendimento

Xilose Glicose

(g) (◦C) (% em massa) (mg g- bph) (mg g- bph)

6 140 24,7 264,0 173,0

6 180 26,8 364,0 283,0

10 140 33,4 352,0 408,0

10 180 37,4 393,0 472,0

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100

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

Figura 4.47. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (25% em massa), 180ºC, mZnCl2 = 10g. (Experimento 8).

Figura 4.48. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (25% em massa), 140ºC, mZnCl2 = 10g. (Experimento 7).

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101

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

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14

16

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Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Con

cent

raçã

o(g/

L)

Tempo(min)

Glicose Xilose Celulose

Figura 4.49. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (25% em massa), 180ºC, mZnCl2 = 6g. (Experimento 6).

Figura 4.50. Evolução do processamento hidrólitico da celulose do bagaço de cana-de-açúcar. Condições: mb = 50g, HCl (15% em massa), 140ºC, mZnCl2 = 6g. (Experimento 5).

Em comparação de resultados, mostra que o íon de lítio é promotor mais efetivo

em termos de massa, enquanto que o íon zinco é mais efetivo em termos molar. Há uma

reserva quanto a utilização posterior do hidrolisado, referente à fermentação por causa

da toxidade do metal para as leveduras, por exemplo. Este problema deve ser estudado

com a utilização de resinas ou membranas de troca iônica para a separação, permitindo

a obtenção de hidrolisados livres de promotores salinos.

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4.2. MODELAGEM MATEMÁTICA DAS OPERAÇÕES HIDRÓLITICAS E

AVALIAÇÃO PARAMÉTRICAS

Observadas as evoluções dos processos de hidrólise (frações sacarídeas) e

deslignificação do bagaço em reator batelada sob agitação mecânica foram conduzidas

elaborações de matemáticos modelos que possam representar o comportamento

evolutivo de reagentes e produtos, caracterizando as cinéticas dos processos. Visando

reproduzir de forma esquemática os comportamentos das etapas intrínsecas do processo

foram propostos esquemas reacionais, concebidos à luz dos mecanismos que

caracterizam as reações químicas envolvidas na transformações das diferentes frações

da biomassa processada. Estes mecanismos abrangem o processo global, a partir da

matéria prima passando pelas etapas de formação de intermediários e atingindo os

produtos finais sacarídeos e lignina.

4.2.1 Modelagem da pré- hidrólise com ácido forte diluído

Referindo-se à primeira etapa do biorefino, no caso específico da hidrólise do

bagaço de cana extraído com HCl nas concentrações e 1% em massa, 3% em massa e

5% em massa em massa, a 70ºC e 80ºC, operando-se até 180 minutos em reator batelada

de mistura, propõe-se o seguinte esquema reacional:

Hemicelulose Monossacarídeos Produtos de Decomposição

Deste modo, o seguinte esquema de reações consecutivas pode ser adotado:

HE MO

H+

H

H+

-

H2O - H

H H

+ +

DE

2O

H2O

2O

102

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No qual HE representa os oligossacarídeos ou polissacarídeos MO identifica

os monossacarídeos (xilose e arabinose) e DE indica os produtos de decomposição (

furfural).

O mecanismo reacional proposto pode ser detalhado nas seguintes etapas individuais:

nH2SO4 + nH2O nH3O+ + nHSO4- i. Formação do Íon Hidroxônio

OL + nH3O+ OL 2O ii. Protonação do Oligo

OL+ nMO+ iii. Redução do DP do Oligo

nMO+ + nH2O nMO + nH+ iv. Estabilização do Mono

nMO+ + nH3O+

nH+ + nHSO4-

OL + nH2O

Busca-se mostrar a

diversas frações hidrolisá

Ao mesmo tempo, procu

para as etapas posteriores.

k1

kk3

k4

K

5

nF v. Desidratação do Mono

nH2SO4 vi. Recuperação do Catalisador

nMO

través das pr

veis, indicand

ra-se identific

k

2

+ + nH

103

+ nF Mecanismo Global

edições do modelo as evoluções dos teores das

o os efeitos sobre os rendimentos sacarídicos.

ar a pré-hidrólise como uma etapa facilitadora

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104

O esuqema reacional proosto para a pré-hidrólise foi objeto de estudo relatado

por LARARACHETAL (2002), que indicaram o mecanismo representado na Figura

4.60.

Figura 4.60. Esquema reacional do processo de hidrólise das frações hidrolisáveis da xilose.

Fonte: Lavarack et al, 2002.

Com base nas evoluções experimentais obtidas na seqüência das avaliações

cinéticas da etapa de pré-hidrólise foram formuladas as seguintes expressões das taxas

de reações (rJi g/gbagaço.min), propostas como de primeira ordens:

γHE'

e1, Ck=HFHr (4.1)

( )γ−= 1Ck HEf1,DFHr (4.2)

( ) 032HE,1e1,0 C)k( MfM Ckkkr +−+= (4.3)

( ) 032 MDE Ckkr += (4.4)

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105

Nas quais k1,e, k1,f, k2 e k3 são as constantes de velocidades e CJ as concentrações

dos componentes.

Tendo:

CM0S = Concentração de monossacarídeos na fase liquida (g/g sólido);

CHES = Concentração de hemicelulose que converte para xilose (g/g sólido);

γ = Fração de hemicelulose de fácil hidrólise;

φ = Relação sólido/liquido (g/g);

k1,e = Constante cinética relativa a fração da xilose de fácil hidrólise (min-);

k1,h = Constante cinética relativa a fração da xilose de difícil hidrólise (min-);

k2 = Constante cinética relativa a formação de furfural;

k3 = Constante cinética relativa a produção de produtos de decomposição;

t = tempo de reação (min.).

Os balanços de massa das operações em batelada no reator de msitura assim se

escrevem:

������ �� ���� � � 4.5

Tendo-se mb e VL, a massa do bagaço e o volume de liquido do reator, respectivamente.

As equações de balanço, incluindo as taxas de reação assim se apresentam:

��� � ����� ������� � ����� (4.6)

��� � ���� (4.7)

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106

��� � ���� (4.8)

De forma detalhada as equações se expressam como:

��� � ������� � ��� � � ���! � ��� � "# � $� (4.9)

��� � �%���� � ��� � � ���! � ��� � "# � $& � "�' � �($� ��� (4.10)

���� � �"�' � �($� ��� (4.11)

A solução analítica do sistema de equações diferenciais (Equação 4.12) está expressa

em termos da concentração dos monossacarídeos (CXL), tendo em vista que estas foram

medidas com melhor precisão, podendo servir ao ajuste do modelo.

A Equação 4.12 foi ajustada aos resultados experimentais, obtidos em termos das

concentrações dos monossacarídeos xilose e arabinose (Figura 4.30), que conduziu às

estimativas dos parâmetros cinéticos, conforme valores listados na Tabela 561. O ajuste dos

�)* �)�+ ,- �����"�' � �($����. /0123�45 � 016"27829$5:� - "# � $���;�"�' � �($���;. /0123�<5 � 016"27829$5:=

(4.12)

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107

quatro parâmetros utilizou como valores de inicialização aqueles obtidos por Lavarack et al.

(2002).

Tabela 5.6. Parâmetros cinéticos para avaliação do modelo de pré-hidrólise. Condições: mb=50g, 500RPM.

Condições Parâmetros (min-1)

Concentração Temperatura k1,e k1,h k2 k3 R2 (% em massa) (◦C)

1 70

15,66 x 10-2 2,7 x 10-4 - - 0.9342 3 17,40 x 10-2 3,0 x 10-4 4,3 x 10-5 6,8 x 10-6 0.9650 5 17,40 x 10-2 3,1 x 10-4 5,3 x 10 -5 6,8 x 10-6 0.9254 1

80 13,70 x 10-2 1,8 x 10-4 - - 0.9023

3 14,50 x 10-2 2,9 x 10-4 5,5 x 10-5 5,6 x 10-6 0.9874

5 15,66 x 10-2 4,9 x 10-4 - 3,5 x 10-6 0.9958

A Tabela 5.6 mostra os resultados relativos aos parâmetros cinéticos obtidos a

partir dos experimentos conduzidos durante a etapa de pré-hidrólise a ácido clorídrico.

O ajuste foi de boa precisão conforme os valores dos coeficientes de correlação para

cada condição experimental utilizada. As ordens de grandeza dos parâmetros foram

identificadas como similares àqueles conseguidas por Lavarack et al. (2002). Com relação

aos resultados cinéticos obtidos na condição de maior temperatura (80ºC) e maior

concentração (5% em massa) pode ser observada a melhor condição experimental tanto

com relação a rendimentos em açucares como em formação de produtos de degradação.

A ordem de grandeza destas constantes de velocidade são compatíveis com os

valores obtidos por BUSTOS (2003) para a hidrólise de hemiceluloses de bagaço de

cana-de-açúcar com HCl 4% em massa a 122ºC (k122ºC = 12,7 x 10-3 min-1). A

diferença entre os valores obtidos pode ser atribuída ao fato de que os experimentos

conduzidos por BUSTOS (2003) utilizaram processos de tratamento prévio da biomassa

utilizada. Deste modo, é possível que as resistências difusionais à ação hidrolítica do

ácido sobre a fração sacarídica tenham sido significativamente reduzidas, conduzindo a

uma constante de velocidade aparente mais elevada.

Dispondo-se dos valores da constante de velocidade k para os níveis de

temperatura de 70ºC e 80ºC, é possível determinar a ordem de grandeza da energia de

ativação para o processo hidrolítico através da equação de Arrhenius. No presente caso,

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108

partindo-se dos valores das constantes de velocidade k70ºC e k80ºC, obtém-se Ea = 30,84

kJ/mol, onde Ea é a energia de ativação para a pré-hidrólise do bagaço de cana com HCl

(5% em massa).

Figura 4.61. Perfil de concentração da xilose do processo de pré-hidrólise do bagaço de

cana com validação do modelo proposto em reator de vidro a T=80ºC, mb=50g, VL= 1,5L, HCl

(5% em massa).

4.2.2 Deslignificação Alcalina do Bagaço Pré-hidrólisado

A remoção da lignina do bgaço pré-hidrloisado ocorreu em razão da ação do

NaOH cujos mecanismo de deslignificação pode ser descrito em tres etapas seguintes: a

inicial, a dominante (“bulk”) e a residual (AURELL, 1964, DE GROOT, 1994) como

mostrado no esquema da Figura 4.62. Na etapa inicial, alguns compostos fenolicos com

α-O-4 tem estas ligações quebradas (GIERER et al, 1985). Na etapa dominante, a

principal reação que ocorre é a ruptura das ligações não fenólicas com estrutura β-O-4

(GIEREN e NÒREN 1980). Durante a etapa residual da deslignificação as ligações C-C

na lignina são rompidas e os carboidratos são degradados (DE GROOT, 1995).

0 20 40 60 80 100 120 140 160 1800

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

CalcExp

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109

De maneira global o processo de deslignificação ocorre numa seqüência, devido a ação

de íons hidróxido envolvendo as etapas seguintes:

- Transporte dos íons (hidroxila) para a superfície da biomassa vegetal;

- Reação dos íons para o interior do tecido;

- Reação química entre os íons e os componentes da biomassa no interior da

célula;

- Solubulização da lignina e de carboidratos da biomassa;

- Difusão dos produtos de reação para o exterior da biomassa;

- Transporte dos produtos de reação para o seio do liquido.

DOLK et al (1989) consideraram a possibilidade de que a fase inicial, devido a

sua rapidez, pode não ser controlada pela ação química, e sim pela difusão. LI e MUI

(1999) confirmaram esta proposição e sugere a diminuição do tamanho da partícula e da

temperatura para medir a cinética química desta etapa.

DE GROOT et al (1995) consideraram que a etapa inicial remove uma grande

quantidade de hemicelulose e pouca lignina. Na etapa dominante ocorre a maior

remoção de lignina e hemicelulose e finalmente na fase residual a celulose e o restante

da hemicelulose são decompostos, enquanto a remoção da lignina ocorre lentamente.

Figura 4.62. Etapas de deslignificação no processo de transformação da madeira (Kim,

2004).

FERNANDEZ et al (1985) mostraram que a lignina do bagaço de cana é mais

reativa e acessível do que a lignina da madeira. No caso do pré-tratamento com soda

a altas temperaturas (100 – 165ºC), SEBATIER et al (1993) mostraram que o bagaço

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não apresenta a etapa inicial na deslignificação, motivo pelo qual o autor considera

no modelo apenas as etapa

mostrando que o processo de deslignificação alcalina do bagaço tem inicio com uma

alta remoção de lignina comparada com a pouca remoção de hemicelulose, o que na

madeira não é característico da etapa inicial e sim da etapa dominante

COTLEAR (2004) estudou a deslignificação do bagaço pré

hidróxido de sódio, com e sem adição de oxigênio. Ele mostrou que em períodos

logos de pré-tratamento, em temperaturas inferiores a 60ºC, o b

diminuição no conteúdo de lignina rapidamente e pouca remoção de hemicelulose

durante a primeira semana, o que o autor conclui ser devido a carência da etapa

inicial. Além disso, observou

na qual a deslignificação se caracteriza por ocorrer muito lentamente.

Portanto, conforme deslignificação re

hidróxido de amônio, e admitindo, do ponto de vista cinético, que a lignina pode ser

classificada em três diferentes c

KIM e HOLTZAPPLE (2005)

reagente utilizado no pré

deslignificação.

No presente estudo foram consideradas as seguintes possibilidades:

Lignina do Bagaço Pré

A ausência da etapa residual de

curtos (≤160 min) foi observada a partir de resultados de remoç

principal característica da fase residual é que a remoção da lignina proce

lentamente, enquanto há possibilidade dos carboidratos serem

GROOT et al., 1995). Este

não apresenta a etapa inicial na deslignificação, motivo pelo qual o autor considera

etapas dominante e residual. Eles sustentaram

mostrando que o processo de deslignificação alcalina do bagaço tem inicio com uma

alta remoção de lignina comparada com a pouca remoção de hemicelulose, o que na

tico da etapa inicial e sim da etapa dominante

COTLEAR (2004) estudou a deslignificação do bagaço pré

hidróxido de sódio, com e sem adição de oxigênio. Ele mostrou que em períodos

tratamento, em temperaturas inferiores a 60ºC, o bagaço apresenta uma

diminuição no conteúdo de lignina rapidamente e pouca remoção de hemicelulose

durante a primeira semana, o que o autor conclui ser devido a carência da etapa

so, observou-se o começo da etapa residual após a primeira se

na qual a deslignificação se caracteriza por ocorrer muito lentamente.

tanto, conforme deslignificação realizada com hidróxido de sódio ou

e admitindo, do ponto de vista cinético, que a lignina pode ser

ferentes classes de acordo com a fase em que é degradada.

KIM e HOLTZAPPLE (2005) mostraram que, dependendo do substrato e do

reagente utilizado no pré-tratamento, algumas fases podem não estar presentes na

presente estudo foram consideradas as seguintes possibilidades:

Lignina fase inicial

Lignina do Bagaço Pré-Hidrolisado Lignina Dominante

Lignina Fase residual

A ausência da etapa residual de deslignificação realizada para tempos

≤160 min) foi observada a partir de resultados de remoção

stica da fase residual é que a remoção da lignina proce

lentamente, enquanto há possibilidade dos carboidratos serem degradados (DE

GROOT et al., 1995). Este fato não foi observado no estudo de deslignificação para

110

não apresenta a etapa inicial na deslignificação, motivo pelo qual o autor considera

e residual. Eles sustentaram esta afirmação

mostrando que o processo de deslignificação alcalina do bagaço tem inicio com uma

alta remoção de lignina comparada com a pouca remoção de hemicelulose, o que na

tico da etapa inicial e sim da etapa dominante.

COTLEAR (2004) estudou a deslignificação do bagaço pré-tratado com

hidróxido de sódio, com e sem adição de oxigênio. Ele mostrou que em períodos

agaço apresenta uma

diminuição no conteúdo de lignina rapidamente e pouca remoção de hemicelulose

durante a primeira semana, o que o autor conclui ser devido a carência da etapa

o começo da etapa residual após a primeira semana,

na qual a deslignificação se caracteriza por ocorrer muito lentamente.

alizada com hidróxido de sódio ou

e admitindo, do ponto de vista cinético, que a lignina pode ser

lasses de acordo com a fase em que é degradada.

mostraram que, dependendo do substrato e do

tratamento, algumas fases podem não estar presentes na

presente estudo foram consideradas as seguintes possibilidades:

Lignina fase inicial

Lignina Dominante

Lignina Fase residual

deslignificação realizada para tempos

ão de lignina. A

stica da fase residual é que a remoção da lignina procede muito

degradados (DE

fato não foi observado no estudo de deslignificação para

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111

as condições deste trabalho. Em todos os casos a remoção da lignina foi significativa

durante todo o processo.

Portanto, mediante as condições de trabalho segundo observações, admite-

se que a deslignificação do bagaço de cana, utilizando álcalis (NaOH), não utiliza as

etapa inicial e residual para tempos curtos e temperaturas entre 60-90ºC. Este

resultado está de acordo com os obtidos por COTLEAR, (2004), que verifica o

surgimento de tal etapa somente após a primeira semana de pré-tratamento.

Em estudos realizados por SEBATIER et al. (1995) mostram que o

processamento do bagaço submetido à deslignificação com soda não opera com a

etapa inicial. Os autores confirmaram este fato mostrando que processos de

deslignificação alcalinos para bagaço começam com altas degradações de lignina,

comparada com às possíveis degradações dos carboidratos, o que não é característico

da fase inicial e sim da fase residual.

As taxas de reação de primeira ordem correspondentes aos componentes do

processo de deslignificação se expressam por:

�*>?� "�@ � �A � �B$� �>?� (4.13)

�* "�@ � �A � �B$� �*>?� (4.14)

Os balanços de massa dos componentes nas operações em batelada no reator de

mistura se escrevem assim:

CADE� �F G* � ���* � H I JKLM� J (4.15)

Aplicados aos componentes, temos as seguintes equações:

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112

�*>?� � �CADEG* "�@ � �A � �B$� �*>?� (4.16)

�* � CADEG* "�@ � �A � �B$� �*>?� (4.17)

A condição inicial de operação indica que no inicio do processo, t=0, CLBPH = ai +

ab + ar = 1. Aplicando essa condição expressa-se a solução em termos da concentração

da lignina no líquido, cujos valores foram medidos com melhor precisão (Equação 4.3).

�2�2� N@012O5 � NA012P5 � NB012Q5 (4.18)

Tendo-se:

Ck = Conteúdo total de lignina no tempo t, g lignina no tempo t/ g total de sólido seco.

Ck0 = Conteúdo total de lignina no tempo t=0, g lignina no tempo 0/ g biomassa bruta seca.

a = Fração de lignina que pode ser removida em uma etapa especificada, g lignina na etapa especificada no tempo t=0/ g lignina no tempo t=0.

k = Constante cinética para a etapa especificada, min-1.

Considerando como etapa controladora a fase dominante, o modelo apresentado

na Equação 4.18 foi resumido à Equação 4.19, na forma logarítmica:

RS"�2$ ��A � � � RS�"�2�$ (4.19)

Plotando ln(Ck) contra o tempo (Figuras 4.4 a 4.9), foi possível determinar, a

partir da inclinação da reta, as constantes de velocidade, “kb”, para as temperaturas

de 70, 80 e 90ºC, considerando os álcalis utilizados na referida etapa. A Tabela 5.7

apresenta as condições de operação e as constantes de velocidades referentes ao

processo de deslignificação nas condições citadas, com os respectivos coeficientes de

correlação.

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113

Tabela 5.7. Constantes de velocidade referente ao processo de deslignificação do bagaço

pré-hidrólisado. Condições: mb=50g, concentração (1% em massa), 500RPM.

Temperatura Constante de velocidade

ºC NaOH R2 NH4OH R2 (min-1) (min-1)

70 27,0x10-3 0,9479 27,6x10-3 0,9541

80 43,6x10-3 0,9517 32,5x10-3 0,9181

90 48,2x10-3 0,9887 35,4x10-3 0,8821

Os valores dos parâmetros cinéticos indicam a possibilidade de representação do

processo via um modelo matemático para a cinética da deslignificação do bagaço de

cana tratado com hidróxido de sódio e amônio. Ficou estabelecida empiricamente uma

relação de primeira ordem, correspondente a etapa residual da evolução cinética, para

tempos menores ou iguais a 180 min. Os aumentos das constantes de velocidade são

proporcionais aos aumentos da temperatura e mostraram ter melhores ajustes para a

temperatura de 90◦C com NaOH (1% em massa em massa). Nestas condições, foram

obtidas as maiores remoções de lignina, logo confirmando a influencia da temperatura

sobre o processo de deslignificação.

Figura 4.63. Evolução da lignina Klason versus Tempo para a temperatura de

70◦C com NaOH(1% em massa). Condições: mb=50g, 500 RPM.

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114

Figura 4.64. Evolução da lignina Klason versus Tempo para a temperatura de 80◦C com

NaOH(1% em massa). Condições: mb=50g, 500 RPM.

Figura 4.65. Evolução da lignina Klason versus Tempo para a temperatura de 90◦C com

NaOH(1% em massa). Condições: mb=50g, 500 RPM.

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115

Figura 4.66. Evolução da lignina Klason versus Tempo para a temperatura de 70◦C com

NH4OH(1% em massa). Condições: mb=50g, 500 RPM.

Figura 4.67. Evolução da lignina Klason versus Tempo para a temperatura de 80◦C com

NH4OH(1% em massa). Condições: mb=50g, 500 RPM

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116

Figura 4.67. Evolução da lignina Klason versus Tempo para a temperatura de 90◦C com

NH4OH(1% em massa). Condições: mb=50g, 500 RPM

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2008

10

12

14

16

18

20

22

24

26

Con

teúd

o de

Lig

nina

Kla

son

(g/1

00g

de b

iom

ssa

pré-

trat

ada)

Tempo (min)

Modelo Experimental Modelo Experimental Modelo Experimental

Figura 4.68. Evolução do conteúto em lignina Klason no bagaço. Influência da temperatura.

Condições: mb, NaOH (1% em massa). 70◦C, 80◦C, 90◦C.

Embora o modelo apresentado seja semi-empírico, uma das suas importâncias é

que com as constantes cinéticas obtidas anteriormente pode ser calculada a energia de

ativação do processo de deslignificação utilizando a equação de Arrhenius:

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117

A energia de ativação foi determinada plotando o Ln(kb) versus T-1, e os valores

obtidos para a operação com NaOH e NH4OH foram, respectivamente, 29,45 kJ/mol e

33,26 kJ/mol. Estes valores foram menores que a energia de ativação para a madeira e

para a palha de trigo (130 kJ/mol, 50 kJ/mol, respectivamente) na fase dominante (KIM,

2005), quando estas matérias-primas foram deslignificadas com cal em condições

oxidativas. O bagaço parece ter uma estrutura mais suscetível que a madeira e o milho

para remoção de lignina nas condições alcalinas estudadas, apresentando uma menor

energia de ativação na deslignificação. O NaOH é relativamente mais eficiente frente ao

NH4OH para a remoção da lignina, tendo indicado uma menor energia de ativação. Com

o resultado anterior poderíamos interpretar que seria necessária uma energia de ativação

mínima de 29,45 kJ/mol para o NaOH garantindo a obtenção da remoção de lignina do

bagaço pré-hidrólisado.

4.2.3 Modelagem de Hidrólise da Hemicelulose do Bagaço Deslignificado

Conforme mecanismo de reação que demonstram as etapas de despolimerização

e formação de oligômeros e por conseqüência os monômeros foi proposto um modelo

para predizer o processo de hidrólise ácida do bagaço de cana-de-açúcar deslignificado

em fase homogênea, onde co-existem etapas de degradação das frações hemicelulosicas

e sucessivas produções de oligômeros e açúcares (principalmente a xilose).

O ataque dos íons H+ provenientes da solução ácida dá origem a complexos

acidificados, estes são formados a partir da protonação do oligossacarídeo por meio dos

elétrons livres presentes na molécula de oxigênio existente no oligômero.

Representando por Hm as hemiceluloses, sob reação de hidrólise em fase líquida

aquosa, em presença de ácido (H2SO4), a qual fornece oligômeros (GPn) e xilose (XL)

em etapas consecutivas, propõe-se o seguinte mecanismo de despolimerização seguinte:

TUV � W'XYZ [\TUVW � WXY1 (4.20)

TUVW � W'Y [\TUV1� � ]� (4.21)

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118

TUV1� �M'^_Z 2`a3bcd TUV1�W � WXYZ1 (4.22)

TUV1� � W'Y 2`a3bcd UV1' � ]� (4.23)

.......................................................................................

TU(M � W'Y 2e7bd TU' � ]� (4.24)

TU' �M'^_Z 27\TU'W � WXYZ1 (4.25)

TU'M � W'Y 27\ f]� (4.26)

Onde: os grupos GPnH (n=1,2,3.....) são os intermediários oligômeros

acidificados. Expressando a taxa de reação de extração em xilose rHM(gxilose / gbiomassa.t) ,

tem-se:

�g� hVi jklk � hV1�i jmnoa3k � hV1'i jmnoa7k �p� h'i jmn7k (4.27)

Assumindo-se que os intermediários de transição rápida, CHmH, CGPn-1H, CGPn-

2H,..., CGP2H, estão sujeitos à aproximação do estado estacionário, escreve-se:

qjklkqr qjmnoa3kqr p qjmn7kqr s t (4.28)

Aplicando-se estas condições as etapas de despolimerização obtêm-se:

qjklkqr hV jkljk7uvw � hVi jklk s tx jklk hVhVi jkljk7uvw (4.29)

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119

qjmnoa3kqr hV1�jmnoa3jk7uvw � hV1�i jmnoa3k s tx jmnoa3k hV1�hV1�i jmnoa3jk7uvw (4.30)

qjmnoa7kqr hV1'jmnoa7jk7uvw � hV1'i jmnoa7k s tx jmnoa7k hV1'hV1'i jmnoa7jk7uvw (4.31)

...............................................................................................................................

qjmn7qr h' jmn7jk7uvw � h'i jmn7k s tx jmn7k h'h'i jmn7jk7uvw (4.32)

Propondo-se que as etapas de acidificação (kn) e despolimerização (k’n)

ocorram em dois níveis de mesma ordem de grandeza tem-se:

hVi hV1�i p h'i h (4.33)

hVi hV1�i p h'i hi (4.34)

Em decorrência, podemos substituir as relações (4.15) à (4.17) na expressão

(4.12), resulta para a taxa de produção de xilose:

�g� hjk7uvw�jkl � jmnoa3 � jmnoa7 �p� jmn7� (4.35)

Efetuando-se um balanço de massa das pentosanas consegue-se a expressão

seguinte:

jkl� jkl � jmnoa3 �p� jmn7 � jg� (4.36)

jkl� � jg� jkl � jmnoa3 �p� jmn7 (4.37)

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120

Sendo C0Hm(g/L) a massa extraída de hemicelulose no hidrolisado/ Litro de

solução, substituindo na equação 4.35 resulta:

�g� hjk7uvw�jkl� � jg�� (4.38)

Detalhando-se a distribuição do ácido sulfúrico, através de um balanço de massa,

obtem-se:

jk7uvw� jk7uvw � jklk �yjmnok (4.39)

jk7uvw� � jk7uvw jklk �yjmnok (4.40)

Recorrendo-se ao balanço da concentração das hemiceluloses:

jkl� jkl �yjmno � jg� (4.41)

jkl� � jg� jkl �yjmno (4.42)

Para as concentrações dos intermediários acidificados:

jmnok hhi jmno � jk7uvw (4.43)

yjmnok hhiyjmno � jk7uvw (4.44)

Substituindo a equação 4.41 na equação 4.37, escreve-se:

yjklk �yjmnok hhi � /jkl � jmno:� jk7uvw (4.45)

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121

E agora, substituindo a equação 4.41 na equação 4.42:

jklk �yjmnok hhi � /jkl� � jg�:� jk7uvw (4.46)

Na seqüência introduzindo equação 4.36 na 4.43, consegue-se a relação;

jk7uvw� jk7uvw � hhi � /jkl� � jg�:� jk7uvw (4.47)

Evidenciado CH2SO4 na equação 4.47, tem-se:

jk7uvw jk7uvw�# � hhi � /jkl� � jg�:

(4.48)

Finalmente, substituindo a equação 4.48 na equação 4.25, representado a taxa

de extração de xilose em função de variáveis obtidas experimentalmente:

�g� h� /jkl� � jg�:# � hhi � /jkl� � jg�: � jk7uvw�

(4.49)

A fim de representar o comportamento experimental do processo hidrolítico de despolimerização das hemiceluloses do bagaço de cana-de-açúcar foram elaboradas balanços macros para a extração de xilose em fase líquida em reator de leito de lama mecanicamente agitado.

G*� �z* � CADE� �z* (4.50)

Substituindo a equação 4.49 na equação de balanço do reator (4.50), temos a equação diferencial que regi o processo de hidrólise ácida da hemicelulose.

�z* � CADEG* � h� /jkl� � jg�:# � hhi � /jkl� � jg�: � jk7uvw�

(4.51)

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122

Para predizer o comportamento dos produtos de decomposição foram

elaborados os seguintes balanços de massa incluindo as taxas de reação seguintes de

decomposição dos monossacarídeos e de formação de furfural a partir deles:

�� "�' � �($� ��� (4.52)

�CADE� �{ G*� �� � H | } (4.53)

�� � "�' � �($� ��� (4.54)

Nos tempos iniciais (t =0) não foram observados teores de xilose, arabinose e

furfural.

Resolvendo a equação diferencial teremos como solução:

~ ~�"# � �1[�$ (4.55)

Dispondo-se dos valores da constante de velocidade k para os níveis de

temperatura de 90ºC e 100ºC (k90ºC = 9,87 x10-3 min-1, k100ºC = 10,23 x 10-3 min-1), é

possível determinar a ordem de grandeza da energia de ativação para o processo

hidrolítico através da equação de Arrhenius. No presente caso, partindo-se dos valores

das constantes de velocidade k90ºC e k100ºC, obtém-se EAH = 47,32,65 kJ/mol, onde EAH

é a energia de ativação para a hidrólise das hemiceluloses do bagaço de cana (extraído)

com H2SO4 5%.

Tabela 5.8. Constantes de velocidade referente ao processo de hidrólise do bagaço

deslignificado, Furfural como produto.. Condições: mb=50g, 500RPM

Condições Conc. Furfural Constante Temperatura Concnetração F0 k

R2 ºC (%) (g/L) min-1

100 5 0,94 24,1x10-3 0,8814 90 1 0,423 24,8x10-3 0,8746

100 1 0,438 17,0x10-3 0,9232 90 5 0,962 7,9x10-3 0,9673

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123

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

2

4

6

8

10

12

14C

once

ntra

ção

(g.L

-1)

tempo (min)

Modelo Experimental Modelo Experimental

Figura 4.69. Perfil de concentração das hemicelulose e xilose do processo de hidrólise

do bagaço de cana deslignificado com validação do modelo proposto em reator de vidro a

T=80ºC, mb=50g, VL= 1,5L, HCl (5% em massa).

Figura 4.70. Perfil de concentração do furfural do processo de hidrólise do bagaço de

cana deslignificado com validação do modelo proposto em reator de vidro a T=100ºC, mb=50g,

VL= 1,5L, HCl (5% em massa).

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

Con

cent

raçã

o (g

.L-1

)

Tempo (min)

Modelo Experimental Modelo Experimental

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124

4.2.4 Modelagem da Hidrólise da Celulose

Conforme mecanismo de reação realizado para as etapas de despolimerização e

formação de oligômeros e por conseqüência os monômeros foi proposto um modelo

para predizer o processo de hidrólise da celulose em fase homogênea, onde co-existem

etapas de degradação das frações celulosica e sucessivas produções de oligômeros e

açúcares (Glicose e frações residuais de xilose).

O ataque dos íons H+ provenientes da solução ácida dá origem a complexos

acidificados, estes são formados a partir da protonação do oligossacarídeo por meio dos

elétrons livres presentes na molécula de oxigênio existente no oligômero.

Representando por Cel a celulose, sob reação de hidrólise em fase líquida aquosa,

em presença de ácido (HCl), a qual fornece oligômeros (GPn) e xilose (GL) em etapas

consecutivas, propõe-se o seguinte mecanismo de despolimerização seguinte:

TUV � WjR [\ TUVW� jR1 (4.56)

TUVW � W'Y [\TUV1� � T� (4.57)

TUV1� �M�� 2`a3bcd TUV1�W � jR1 (4.58)

TUV1� � W'Y 2`a3bcd UV1' � T� (4.59)

.......................................................................................

TU(M � W'Y 2e7bd TU' � T� (4.60)

TU' �M�� 27\TU'W � jR1 (4.61)

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125

TU'M � W'Y 27\ fT� (4.62)

Onde: os grupos GPnH (n=1,2,3.....) são os intermediários oligômeros

acidificados. Expressando a taxa de reação de extração em xilose rXL(gglicose / gbiomassa.t) ,

tem-se:

�m� hVi j�� � hV1�i jmnoa3k � hV1'i jmnoa7k �p� h'i jmn7k (4.63)

Assumindo-se que os intermediários de transição rápida, Cel, CGPn-1H, CGPn-2H,...,

CGP2H, estão sujeitos à aproximação do estado estacionário, escreve-se:

qj��qr qjmnoa3kqr p qjmn7kqr s t (4.64)

Aplicando-se estas condições as etapas de despolimerização obtêm-se:

qj��qr hVi jkljk7uvw � hVi jklk s tx jklk hVhVi jkljk7uvw (4.65)

qjmnoa3kqr hV1�jmnoa3jk�� � hV1�i jmnoa3k s tx jmnoa3k hV1�hV1�i jmnoa3jk�� (4.66)

qjmnoa7kqr hV1'jmnoa7jk�� � hV1'i jmnoa7k s tx jmnoa7k hV1'hV1'i jmnoa7jk�� (4.67)

...............................................................................................................................

qjmn7qr h' jmn7jk�� � h'i jmn7k s t x jmn7k h'h'i jmn7jk�� (4.68)

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126

Propondo-se que as etapas de acidificação (kn) e despolimerização (k’n)

ocorram em dois níveis de mesma ordem de grandeza tem-se:

hV hV1� p h' h (4.69)

hVi hV1�i p h'i hi (4.70)

Em decorrência, podemos substituir as relações (4.64) à (4.68) na expressão

(4.12), resulta para a taxa de produção de glicose:

�m� hjk���j�� � jmnoa3 � jmnoa7 �p� jmn7 (4.71)

Efetuando-se um balanço de massa das glicanas consegue-se a expressão

seguinte:

j��� j�� � jmnoa3 �p� jmn7 � jm� (4.72)

j��� � jm� j�� � jmnoa3 �p� jmn7 (4.73)

Sendo C0el(g/L) a massa extraída de celulose no hidrolisado/ Litro de solução,

substituindo na equação 4.71 resulta:

�g� hjk���j��� � jm�� (4.74)

Detalhando-se a distribuição do ácido clorídrico, através de um balanço de

massa, obtem-se:

jk��� jk�� � j�� �yjmnok (4.75)

jk��� � jk�� j�� �yjmnok (4.76)

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127

Recorrendo-se ao balanço da concentração da celulose:

jk��� j�� �yjmno � jm� (4.77)

j��� � jm� j�� �yjmno (4.78)

Para as concentrações dos intermediários acidificados:

jmnok hhi jmno � jk�� (4.79)

yjmnok hhiyjmno � jk�� (4.80)

Substituindo a equação 4.77 na equação 4.76, escreve-se:

yj�� �yjmnok hhi � /j�� � jmno:� jk�� (4.81)

E agora, substituindo a equação 4.78 na equação 4.81:

j�� �yjmnok hhi � /j��� � jm�:� jk�� (4.82)

Na seqüência introduzindo equação 4.77 na 4.81, consegue-se a relação;

jk��� jk�� � hhi � /j��� � jm�:� jk�� (4.83)

Evidenciado CHCl na equação 4.83, tem-se:

jk�� jk���# � hhi � /j��� � jm�:

(4.84)

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128

Finalmente, substituindo a equação 4.84 na equação 4.74, representado a taxa

de extração de glicose em função de variáveis obtidas experimentalmente:

�m� h� /j��� � jm�:# � hhi � /j��� � jm�: � jk��

� (4.85)

A fim de representar o comportamento experimental do processo hidrolítico de despolimerização da celulose do bagaço de cana-de-açúcar foram elaboradas balanços macros para a extração de glicose em fase líquida em reator de leito de lama mecanicamente agitado.

G*� ��* � CADE� ��*�� �*@�� (4.86)

Substituindo a equação 4.85 na equação de balanço do reator (4.86), temos a equação diferencial que regi o processo de hidrólise ácida da celulose.

��* � CADEG* � h� /j��� � jm�:# � hhi � /j��� � jm�: � j����� jk���

� (4.87)

Onde temos CLiCl (%), como a concentração dos sais utilizados como agente

intumescedor na etapa de hidrólise da fração glicosídica.

Dispondo-se dos valores da constante de velocidade k para os níveis de

temperatura de 140ºC, 160ºC e 180ºC(k140ºC = 18,44 x 10-4 min-1, k160ºC = 22,31 x 10-4

min-1 e k180ºC = 36, 87 x 10-4 min-1), é possível determinar a ordem de grandeza da

energia de ativação para o processo hidrólise da celulsoe através da equação de

Arrhenius. No presente caso, partindo-se dos valores das constantes de velocidade k140ºC

e k180ºC, obtém-se EAH = 50,65 kJ/mol, onde EAH é a energia de ativação para a

hidrólise das hemiceluloses do bagaço de cana (extraído) com HCl 25%.

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129

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Con

cnet

raçã

o (g

/L)

tempo (min)

Modelo Experimental Modelo Experimental

Figura 4.69. Perfil de concentração da celulose e glicose do processo de hidrólise do bagaço de cana deslignificado com validação do modelo proposto em reator de vidro a T=180ºC, mb=50g,

VL= 500 mL, HCl (25% em massa), CLiCl=10g/L.

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130

5. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS

O direcionamento das pesquisas e a condução dos experimentos neste trabalho

orientaram-se no sentido da valorização química da biomassa vegetal lignocelulósica

bagaço de cana-de-açúcar, matéria-prima de custo reduzido e grande disponibilidade a

nível local. As etapas fundamentais deste desenvolvimento consistiram na

disponibilização otimizada de sacarídeos através de um conjunto de processos extrativos

e subseqüente transformação destes sacarídeos a polióis, especialidades químicas de alto

valor agregado, mediante processos de hidrogenação catalítica. Os resultados obtidos a

partir dos diversos experimentos realizados servem como base para o estabelecimento

de algumas considerações e recomendações apresentadas a seguir:

Partindo-se de bagaço de cana-de-açúcar lavado, extraído e seco, com granulométrica

variando entre 690mm e 1180mm, obtém-se aproximadamente 200 kg de pentosanas por

tonelada de biomassa, representando um rendimento extrativo de aproximadamente 70% em

massa em relação à pentosana total. Através da hidrólise ácida das hemiceluloses

disponibilizadas, são obtidos cerca de 150 kg de xilose/ton bagaço, representando um

rendimento extrativo de 60% em massa em relação à xilose total (teórico) existente no bagaço.

O processo de disponibilização de sacarídeos consistindo na hidrólise (com a

existência da pré-hidrólise e deslignificação) de bagaço extraído utilizando-se H2SO4

1% em massa e 5% em massa a 100ºC a tempo zero é indicado em termos de

rendimento e seletividade. Para estas condições, a quantidade de xilose e sacarídeos

extraídos totais é considerável. Separadamente, a quantidade de lignina solubilizada na

fase líquida e o teor de produtos de decomposição são minimizados.

A utilização de ácido acético concentrado não é recomendada para a hidrólise do

bagaço de cana, visto que provoca a dissolução da lignina, com arraste da mesma para a

fase líquida, resultando em perda de seletividade de processo, bem como degradação da

hemicelulose em tempos curtos de processo.

A adoção de etapas de pré-hidrólise e/ou deslignificação anteriormente à etapa

de hidrólise só é recomendada em casos em que exista a necessidade de fracionamento

do resíduo lignocelulosico, uma vez que acarreta uma perda acentuada de pentosanas

(reduzindo o rendimento sacarídico), bem como um “amolecimento” da estrutura da

lignina do bagaço. Este fenômeno favorece a solubilização (e conseqüente arraste para a

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131

fase líquida) da mesma durante o processo de hidrólise, comprometendo a seletividade

do processo.

A concentração mínima de ácido clorídrico para hidrólise da celulose com bons

rendimentos em açucares e conversão do bagaço pré-hidrolisado foi de 25% em massa.

Mesmo a agitação sendo fixada a mesma tem importância elevada sobre a solubilização

dos sacarídeos. Com tempos de reação mais prolongados, ocorre dissolução de parte de

da lignina remanescente, o que deve ser evitado para uma futura etapa de fermentação.

Dentre os dois sais inorgânicos utilizados, o cloreto de lítio é o promotor mais

efetivo para a hidrólise da celulose, na presença de 10 g de LiCl, o ácido a 25% em

massa converte 42% em massa do bagaço pré-hidrólisado, com moderados rendimentos

em xilose e glicose. Tempos mais prolongados (>140 minutos) levam à

reoligomerização e decomposição dos açucares. Redução nas concentrações de cloreto

de lítio ou de ácido faz com que a conversão seja incompleta. O cloreto de zinco é um

promotor suave, nos valores de massa mais baixos, são necessários tempos de reação

mais longos para dissolução da fração holocelulocica, não promovendo a hidrólise dos

oligômeros, mas em compensação, não decompõe os açucares formados possibilitando

rendimentos maiores após tempos de reação prolongados.

O estudo mostra que o sistema mais apropriado para a hidrólise de materiais

lignocelulosicos é a combinação de cloreto de lítio com ácido clorídrico a 25% em

massa, que leva à rápida descristalização e hidrólise da celulose em oligômeros que são

em seguida hidrolisados aos monômeros sem diluição e aquecimento.

Com base no exposto, tendo-se em perspectiva o aprofundamento e a

incorporação de melhorias ao trabalho ora apresentado, as seguintes sugestões podem

ser consideradas em termos de desenvolvimentos potenciais a serem adotados quando

da realização de trabalhos futuros:

- Adoção de processos contínuos ou semi-continuo de hidrolise;

- Realização de hidrólise com ácidos orgânicos (outros);

- Utilização de aditivos salinos (combinados);

- Realização de dessulfurização com carbonato e bicarbonato de cálcio;

- Realizar estudos no sentido de purificar o hidrolisado obtido;

- Análise de custos e balanços de massa para avaliar a viabilidade do pré-tratamento, para realizar a comparação com diversos pré-tratamentos;

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132

- Quantificação dos compostos, potenciais inibidores para a fermentação e catalisadores, como ácido acético, furfural e hidroximetilfurfural.

Situando-se no âmbito do desenvolvimento de novos processos químicos,

envolvendo transformações de biomassas, e evoluindo segundo o enfoque do refino

químico destas matérias complexas, aplicou-se na presente pesquisa metodologia

incluindo processamentos hidrolíticos ácido e alcalino.

Objetivando-se em uma primeira ação fracionou-se a biomassa bagaço de cana-

de-açúcar em suas partes constituídas de macro componentes, conseguiu-se liberar da

estrutura complexa os polímeros naturais lignina, hemicelulose e celulose.

A adoção dos procedimentos da engenharia da reação química considerou a

biomassa e os agentes hidrolíticos (HCl, H2SO4, NaOH) como reagentes e as frações

extraídas e seus derivados produzidos (sacarídeos, lignina, outros constituintes) como

produtos, compondo no todo as reações químicas do processo. Estas reações tiveram

suas evoluções acompanhadas, e segundo abordagens cinéticas, tiveram suas avaliações

estabelecidas, convergindo para a análise, e as quantificações das operações em reatores

de mistura.

As etapas do biorrefino do bagaço de cana-de-açúcar desenvolvidas e realizadas

estão a seguir identificadas e foram submetidas a operações nas seguintes condições:

- pré-hidrólise ácida, 50,0 g bagaço, HCl ( 5 % em massa), 1,5 litros de solução, 80°C, 3 horas, perda de massa de 9%, produtos obtidos: bagaço pré-hidrolisado, xilose e arabinose.;

- extração alcalina, 50,0 g de bagaço pré-hidrolisado, NaOH ( 1 % em massa) , produtos obtidos: lignina alcalina, bagaço extraído, sacarídeos solubilizado;

- hidrólise ácido-diluída, 50,0 g de bagaço extraído, H2SO4 (5% em massa em massa), perda em massa de 27% produtos obtidos: xilose, arabinose, bagaço extraído.

- hidrólise ácido-moderada, 50,0 g de bagaço acidificado, HCl ( 25 % em massa em massa), rendimentos em termos dos sais LiCl2, ZnCl2,65% e 47%, respectivamente, produtos obtidos: xilose residual, glicose e bagaço residual (celulose).

Os resultados das avaliações cinéticas das etapas de biorrefino do bagaço de

cana-de-açúcar, decorrentes de experiências realizadas em tempos de 180 minutos, sob

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133

operações em reator de mistura mecanicamente agitado (500 rpm), evidenciam as

seguintes conclusões:

Observadas as evoluções da biomassa e dos conteúdos produzidos devidos os

processamentos aplicados, modelos matemáticos foram elaborados segundo a

abordagem da metodologia da cinética das reações foram ajustados, emitindo-se valores

para os parâmetros representativos neles contidos. Em conseqüência, na linha das quatro

etapas avaliadas, os parâmetros, o que significam, e as suas ordens de grandeza assim se

apresentam:

- para a pré-hidrólise ácida, as constantes que caracterizam as etapas de fácil e difícil hidrolise estão identificadas onde: k1,e = 15,66 x10-2 min-1, k1,h = 4,9 x 10-

4 min-1, sendo a primeira 100 vezes maior que a segunda, as demais constantes apresentadas no modelo possuem valores menor, em comparação são até 1000 vezes menores que as constantes que representam a extração dos sacarídeos(k2 = 5,5 x 10-5 min-1 e k3 = 3,5 x 10-6 min-1). Esses valores indicam o baixo grau de degradação da pré-hidrólise;

- extração alcalina, deslignificação, comparando os valores das constantes cinéticas dos álcalis utilizados foi obtido a mesma ordem de grandeza, kNaOH = 48,2 x 10-3 min-1 e kNh4OH = 35,4 x 10-3 min-1, nas condições de concentração de 1% em massa de alcalis e Temperatura de 90ºC ;

- hidrólise ácido-diluída, 50,0 g de bagaço extraído, H2SO4 (5% em massa), temperaturas de 90ºC e 100ºC as constantes cinéticas para os oligômeros acidificados obtidas forma: k90ºC = 9,87 x10-3 min-1, k100ºC = 10,23 x 10-3 min-1;

- hidrólise ácido-moderada, 50,0 g de bagaço acidificado, HCl ( 25 % em massa em massa), valores das constantes cinéticas para o LiCl: k140ºC = 18,44 x 10-4 min-1, k160ºC = 22,31 x 10-4 min-1 e k180ºC = 36, 87 x 10-4 min-1.

Balanços materiais resultantes mostram que alimentando-se o processamento, na

etapa de pré-hidrólise, com 50g de bagaço de cana-de açúcar, produz-se lignina e

sacarídeos, com rendimentos de 60 % em massa em lignina, 45 % em massa em

pentoses (xilose, arabinose) e 65% em massa em hexoses (glicose).

De forma conclusiva, os resultados obtidos indicam uma base concreta para a

realização de uma versão de biorrefinaria química do bagaço de cana-de-açúcar,

orientando o processo para etapas posteriores de hidrogenação e oxidação das soluções

aquosas de carboidratos e lignina produzidos, sem se desviar da possibilidade de

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134

conduzir processamentos bioquímicos dos sacarídeos produzidos, com vistas à

fermentação para produção adicional de etanol.

A evolução dos processos de biorrefino segundo as concepções desenvolvidas

no LPC da UFPE indicam perspectivas reais de escalonamentos das operações em

batelada para operações contínuas. Tem-se em vista nestas direções, os potencias de

produções de biomassas em larga escala, seja via seleção de vasta gama de matérias

primas disponíveis, seja a partir de resultados de produções significantes de

subprodutos, efluentes e rejeitos das diferentes indústrias.

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135

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