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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA MESTRADO PROFISISONAL EM POLÍTICAS PÚBLICAS RAQUEL BARROS ANDRADE MOTA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE: UMA AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO HC/UFPE A PARTIR DA INSERÇÃO DOS EGRESSOS NO MERCADO DE TRABALHO DE 2012 A 2015 Recife 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

MESTRADO PROFISISONAL EM POLÍTICAS PÚBLICAS

RAQUEL BARROS ANDRADE MOTA

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM

SAÚDE: UMA AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM

SAÚDE NO HC/UFPE A PARTIR DA INSERÇÃO DOS EGRESSOS NO

MERCADO DE TRABALHO DE 2012 A 2015

Recife

2016

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RAQUEL BARROS ANDRADE MOTA

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE:

UMA AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO

HC/UFPE A PARTIR DA INSERÇÃO DOS EGRESSOS NO MERCADO DE TRABALHO

DE 2012 A 2015

Dissertação apresentada ao Mestrado

Profissional em Políticas Públicas do

Departamento de Ciência Política da

Universidade Federal de Pernambuco para

obtenção do grau de Mestre em Políticas

Públicas, sendo objeto de defesa oral,

perante banca examinadora, em sessão

pública.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Borges Gama

Neto

Recife

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

MESTRADO PROFISISONAL EM POLÍTICAS PÚBLICAS

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE:

UMA AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO

HC/UFPE A PARTIR DA INSERÇÃO DOS EGRESSOS NO MERCADO DE TRABALHO

DE 2012 A 2015

RAQUEL BARROS ANDRADE MOTA

Aprovada em 07 de outubro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Borges Gama Neto (Orientador)

________________________________________________________________

Profa. Dra. Mariana Batista da Silva (Examinadora Interna)

________________________________________________________________

Profa.Dra. Cinthia Regina Campos Ricardo da Silva (Examinadora Externa)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, antes de tudo, a Deus pelo dom da vida, pela graça da saúde e pela

oportunidade de realizar este projeto pessoal e profissional;

À minha mãe Conceição que sempre me deu o suporte, incentivo e amor necessários

para que eu pudesse realizar todos os meus sonhos;

Ao meu pai Luiz Antonio, que partiu sem ver esse trabalho concluído, mas que, tenho

certeza, comemora no plano superior mais essa vitória em minha vida;

Ao meu marido José Henrique por todo amor, dedicação, compreensão e

companheirismo, não apenas ao longo desses últimos anos, mas em toda nossa história;

Ao meu filho Pedro Henrique que, ao nascer prematuramente durante a confecção

deste trabalho, ressignificou toda a minha vida;

Aos meus familiares e amigos, em especial Lêda e Renata, que tantas vezes estiveram

a postos para contribuir com este trabalho;

Aos meus colegas de turma pelas trocas de experiência e saberes, sobretudo à Danielle

Severien, amiga querida que este mestrado me revelou;

À Coordenação do MPPP que, de maneira visionária e pioneira, iniciou este curso e

não poupou esforços para o seu pleno desenvolvimento;

A todos os professores do curso, que compartilharam todo o seu conhecimento e nos

ampliaram os horizontes, contribuindo para nossa formação;

Ao meu orientador Prof. Ricardo que, além de toda competência e dedicação, soube

compreender e respeitar cada dificuldade enfrentada por mim nesses dois anos;

Aos residentes multiprofissionais do HC/UFPE, que participaram não apenas desta

pesquisa, mas também apostaram em uma nova maneira de cuidado em saúde.

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RESUMO

Um dos principais objetivos dos Programas de Residência é formar profissionais para atuarem

nas áreas consideradas prioritárias do SUS, em uma clara preocupação do legislador da

Política de Educação Permanente em Saúde em garantir para a saúde pública o

desenvolvimento de profissionais especializados nas clínicas de interesse para a população em

geral. Nesse sentido, a política em questão se importa com o retorno social da política pública

ao investir na qualificação de profissionais que possam, posteriormente, atuar nas áreas de

atenção à saúde de maior relevância pública e maior interesse social. Assim, a presente

pesquisa pretendeu avaliar como a inserção dos residentes egressos do Programa de

Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do HC/UFPE no mercado de trabalho

reflete o objetivo da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde em formar

profissionais especializados para o SUS. Metodologicamente, este trabalho constituiu-se de

três momentos: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e estudo de caso. Os dados foram

colhidos por meio de questionário eletrônico, respondido por residentes egressos que

concluíram o referido Programa de Residência entre 2012 e 2015. Concluiu-se que o

Programa em questão trouxe ganhos para seus egressos, expressos especialmente pela

possibilidade de inserção no mercado de trabalho, ao possibilitar rever os caminhos para a

formação profissional, na perspectiva de um trabalho mais integrado, com trocas de saberes,

e, sobretudo, com maiores possibilidades de inserção no mundo do trabalho de profissionais

aptos a oferecerem atenção à saúde qualificada. A atuação profissional dos residentes egressos

do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do HC/UFPE na

especialidade adquirida varia em função das demandas do mercado de trabalho, com os

egressos permanecendo em ambientes multiprofissionais, porém atuando em diversos tipos de

função, como, por exemplo, a gerência e a docência. Eles são absorvidos, em sua maioria,

pelas vagas ofertadas pelo SUS, que ainda se apresenta como o maior empregador na área de

saúde, mesmo que oferecendo vínculos de forma precária tendo em vista que a maioria dos

egressos encontra-se sob o regime celetista.

Palavras-chave: Política pública. Educação em saúde. Programa de residência.

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ABSTRACT

One of the main goals of the residency programs is to train professionals to work in the

priority areas of SUS in a clear concern of the legislature of Permanent Health Education

Policy to ensure public health professionals to develop their practice in clinics of interest to

the general population. In this sense, the policy in question cares about the social return of

public policy investment in the qualification of professionals who can later act in the health

care areas wich has most public relevance and greater social interest. Thus, the present study

intended to assess how the integration of graduated residents of the Integrated

Multidisciplinary Health Residency Program from HC/UFPE in the labor market reflects the

objective of the National Policy of Permanent Health Education to train professionals for the

SUS. Methodologically, this work is consisted of three stages: bibliographical research,

documentary research and study case. Data were collected through an electronic

questionnaire, answered by graduated residents who completed the Residency Program

between 2012 and 2015. It was concluded that the program in question brought gains for its

graduates, especially expressed by the possibility of insertion in the job market by enabling

review the avenues for vocational training with a view to a more integrated work, knowledge

exchange, and, above all, greater ability to enter the world of work professionals able to offer

attention to qualified health. The professional performance of graduated residents of

Integrated Multidisciplinary Health Residency Program HC/UFPE in the acquired specialty

varies depending on the demands of the job market with graduates remaining in

multidisciplinary environments, but acting on different types of function, for example,

management and teaching. They are absorbed mostly by the vacancies offered by the SUS,

which still presents itself as the largest employer in the healthy area, even offering

precariously bonds given that most of the graduates is under the CLT regime.

Key-words: Public policy. Health education. Residency program.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1 Descrição dos respondentes 38

Gráfico 1 Cursos realizados após Residência 40

Gráfico 2 Inserção no mercado de trabalho 41

Gráfico 3 Tempo para inserção no mercado 42

Gráfico 4 Vínculos empregatícios 42

Gráfico 5 Carga horária semanal 43

Gráfico 6 Renda mensal 44

Gráfico 7 Tipo de instituição onde trabalha 45

Gráfico 8 Vínculo profissional 45

Gráfico 9 Tipo de atividade 46

Gráfico 10 Clientela atendida 47

Gráfico 11 Outras atividades profissionais 48

Gráfico 12 Percepção sobre a preparação para o mercado de trabalho 49

Gráfico 13 Percepção sobre a influência da Residência na inserção no

mercado

50

Gráfico 14 Satisfação quanto às competências adquiridas 51

Gráfico 15 Competências utilizadas no trabalho 51

Gráfico 16 Continuidade da atuação multiprofissional 52

Gráfico 17 Motivação para atuar em outra área 53

Gráfico 18 Influência na aquisição do emprego 54

Gráfico 19 Dificuldades para inserção no mercado de trabalho 55

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAP Caixas de Aposentadoria e Pensões

CF Constituição Federal

EBSERH Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

GM Gabinete do Ministro

HC Hospital das Clínicas

HU Hospital Universitário

IAP Institutos de Aposentadoria e Pensões

IES Instituição de ensino superior

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica Previdência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

PLANFOR Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador

PROUNI Programa Universidade para Todos

PSF Programa Saúde da Família

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais

RMSF Residência Multiprofissional em Saúde da Família

SUS Sistema Único de Saúde

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 12

1.1 Políticas Públicas: breves considerações

12

1.2 Políticas Públicas de Saúde: do Movimento Sanitarista ao SUS

20

1.3 A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde 26

1.4 Os Programas de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde 31

2 METODOLOGIA 33

2.1 Desenho de estudo 33

2.2 Técnicas de pesquisa para levantamento de dados 34

2.3 Locus da pesquisa 35

2.4 Sujeitos da pesquisa 37

2.5 Interpretação e análise dos dados 37

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 38

CONCLUSÕES 56

REFERÊNCIAS 58

APÊNDICE 63

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9

INTRODUÇÃO

Esta dissertação teve como objeto o Programa de Residência Multiprofissional

Integrada em Saúde do HC/UFPE, o qual faz parte da Política Nacional de Educação

Permanente em Saúde, adotada pelos Ministérios da Saúde e da Educação para a formação em

serviço de profissionais especializados.

Como veremos mais adiante, um dos principais objetivos dos Programas de

Residência é formar profissionais para atuarem nas áreas consideradas prioritárias do SUS,

em uma clara preocupação do legislador em garantir para a saúde pública o desenvolvimento

de profissionais especializados nas áreas de interesse para a população em geral. Nesse

sentido, a política em questão se importa com o retorno social da política pública ao investir

na qualificação de profissionais que possam, posteriormente, atuar nas áreas de atenção à

saúde de maior relevância pública e maior interesse social.

Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a Política Nacional de Educação

Permanente em Saúde no HC/UFPE a partir da análise da inserção dos egressos do Programa

de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde no mercado de trabalho de 2012 a 2015.

Almejou-se com isso fornecer informações complementares que auxiliem no processo de

avaliação da política pública na Instituição, visando a proposição de melhorias à gestão

educacional do Programa de Residência.

Os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde oferecem um amplo campo

de estudo por constituírem-se em um processo ainda em formação, com uma Política

Nacional de Educação Permanente em Saúde recente, pouco estudada no país, que precisa ser

analisada para possibilitar uma melhor aplicação em benefício do profissional de saúde

residente, da comunidade universitária e do usuário do sistema público de saúde.

Por isso, fez-se necessário investir no processo de avaliação dos Programas de

Residência, com foco no egresso, para conhecer os resultados da política pública e permitir a

formulação de estratégias que possibilitem corrigir possíveis falhas de uma ação

governamental que investe milhões de reais por ano em uma política que reafirma a

compreensão e tratamento da gestão da educação na saúde não como uma questão

simplesmente técnica, mas também de natureza política, com fundamento nos princípios da

universalidade, integralidade, equidade, resolubilidade, intersetorialidade, humanização no

atendimento e participação social, todos formadores da base que sustenta o SUS.

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Considerando a implantação e o fortalecimento do SUS no hospital-escola que é o

Hospital das Clínicas, é de alta relevância o conhecimento da trajetória profissional dos

residentes egressos do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do

HC/UFPE no sentido de mensurar a influência da Política Nacional de Educação Permanente

em Saúde na formação de especialistas para o mercado de trabalho e, especificamente, para o

setor público, tendo em vista o objetivo de formação de profissionais para as áreas prioritárias

do SUS.

Assim, a presente pesquisa visa contribuir com a manutenção, o acompanhamento e a

avaliação do Programa de Residência Multiprofissional existente no HC/UFPE, trazendo

como benefício para a Instituição a sugestão de melhorias a partir dos resultados verificados

na pesquisa, cooperando com o crescimento dessa área no cenário universitário local.

Diante do exposto, é do nosso interesse pesquisar como a inserção dos residentes

egressos do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do HC/UFPE no

mercado de trabalho reflete o objetivo da Política Nacional de Educação Permanente em

Saúde em formar profissionais especializados para o SUS. Considerando a necessidade de um

processo reflexivo sobre o desenvolvimento e alcance dos objetivos pedagógicos propostos

pelos Programas de Residência Multiprofissional numa perspectiva formativa, torna-se

fundamental a análise do perfil dos egressos.

Nos dias atuais, a averiguação das características dos ex-alunos tem sido

recomendada nas políticas de recursos humanos das instituições de saúde. Os

egressos fornecem subsídios fundamentais para o estabelecimento do elo entre a

educação formal e a prática profissional, subsidiando a melhoria dos projetos

pedagógicos dos cursos, do modelo assistencial e dos cenários de práticas em que

atuam. (DIAS et al, 2008, p. 39)

Nessa perspectiva, este estudo poderá contribuir significativamente para a qualificação

dos processos educativos no trabalho em saúde na Instituição, bem como, ao desenvolver

pesquisas voltadas para o serviço, trabalhos como este tem a possibilidade de contribuir para

melhoria da qualidade das práticas profissionais no ambiente hospitalar e de ensino.

A primeira parte deste trabalho refere-se à introdução, objetivos e hipótese. Em

seguida, no capítulo 1, vamos apresentar a fundamentação teórica deste estudo, dividida em

cinco partes. Primeiramente, veremos um breve resumo sobre os conceitos de política pública

e, mais especificamente, sobre a fase do ciclo de políticas públicas correspondente à

avaliação, que consiste em avaliar o grau de eficiência e eficácia de uma ação governamental,

identificando seus efeitos, acertos e erros. Fase importante para que as instituições e o

governo legitimem a legalidade de suas decisões e dos seus resultados, esse processo mede a

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utilidade e o benefício da intervenção pública em um determinado problema através de

procedimentos de investigação social e técnicas de análise objetivas.

A segunda parte desse capítulo será voltada para a Política Pública de Saúde, fazendo

um percurso histórico do Movimento Sanitarista Brasileiro até a concepção do SUS, o qual

será mais detalhado em seus objetivos, princípios e diretrizes. Tendo este preconizado o

aperfeiçoamento dos profissionais de saúde, a terceira parte abordará a Política Nacional de

Educação em Saúde, que define as estratégias do Estado para a formação em serviço dos

profissionais da saúde, objetivando o aperfeiçoamento de mão de obra qualificada para o

próprio sistema. Por fim, neste capítulo, vamos concluir com as especificidades dos

Programas de Residência Multiprofissional e suas principais características.

O segundo capítulo descreve a metodologia utilizada no trabalho, relatando o desenho

de estudo, as técnicas de pesquisa para levantamento de dados, o locus da pesquisa, os

sujeitos pesquisados e a forma de interpretação e análise dos dados. No terceiro capítulo

vamos nos debruçar sobre a análise dos dados obtidos através dos questionários, embasados

pela literatura pertinente. Vamos observar como a inserção dos egressos no mercado de

trabalho se dá de forma prática e analisar esses achados sob a ótica do trabalho

multiprofissional.

Nossa hipótese pretende demonstrar que as demandas do mercado de trabalho

influenciam na atuação profissional dos residentes egressos. Dessa forma, acreditamos que a

Política Nacional de Educação Permanente em Saúde forma profissionais especializados que

trabalham em diferentes tipos de Instituições, não prioritariamente no SUS, podendo não

refletir na saúde pública o investimento ofertado pela política pública em questão.

Como conclusão, comprovou-se que a atuação profissional dos residentes egressos na

especialidade adquirida varia em função das demandas do mercado de trabalho e que

a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde trouxe ganhos para os egressos do

Programa, expressos especialmente pela possibilidade de inserção no ambiente profissional,

sendo os egressos absorvidos, em sua maioria, pelas vagas ofertadas pelo SUS, que ainda se

apresenta como o maior empregador na área de saúde.

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12

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 Políticas Públicas: breves considerações

A filosofia, mais precisamente Aristóteles, no século IV A.C., definiu política como

sendo uma ciência que categoriza as várias formas de se governar a polis (cidade). O filósofo

diferenciava política e poder com base no interesse de quem exerce este último; há uma

hierarquia clara entre quem exerce o poder e quem sofre sua influência, sendo claro que o

Estado era superior ao indivíduo.

A política definida por Aristóteles é unida à moral, tendo em vista que o alcance da

virtude é o fim primordial do Estado, cabendo ao mesmo disponibilizar os meios necessários

à formação moral dos cidadãos. A política, ainda segundo o filósofo, se distingue da moral,

tendo em vista que a primeira foca no indivíduo e a segunda no coletivo. O Estado é o sujeito

constante da política e do governo, pois tanto um quanto outro são exercidos sobre o mesmo

ente.

Dentro dos conceitos mais modernos do que é política, o de Norberto Bobbio ganha

destaque. Para o autor, política é uma prática humana onde o poder é um instrumento

utilizado para se obter vantagens ou impor vontades de uns homens sobre outros; seria o

governante exercendo sua autoridade frente aos seus governados. Não obstante, Bobbio

ressalta a importância da legitimidade do poder independente da forma que assuma: pode ser

paternalista, despótica ou consensual. O primeiro tipo vem da escola tradicionalista onde os

legados são passados de pai para filho sem que haja tanto poder de escolha; o déspota é o

poder autoritário, muitas vezes ditatorial. Já o modo de consenso é que está mais próximo dos

princípios democráticos, tendo em vista o fato deste representar o consenso de uma população

(por meio do voto, normalmente) em torno de um governante.

Pois bem, no jogo político democrático — e por sistema democrático entenda-se

justamente um sistema cuja legitimidade depende do consenso verificado

periodicamente através de eleições livres por sufrágio universal — os atores

principais estão dados, e são os partidos (no sistema italiano inclusive

constitucionalmente, cf. art. 49); também está dado o modo principal de fazer

política para a imensa maioria dos componentes da comunidade nacional: as

eleições. Disto não se pode fugir. Regras do jogo, atores e movimentos fazem um

todo único. Não se pode separar umas dos outros. (BOBBIO, 1986, p. 68).

Norberto Bobbio ainda frisa que o fluxo do poder só pode ir em duas direções; ou de

baixo para cima, ou de cima para baixo. O primeiro tipo é o poder político, cuja emanação

vem do povo, que direta ou indiretamente, elegem representantes para exercer o poder

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soberano, onde existe a prerrogativa exclusiva do uso da força. No segundo caso, se teria o

exemplo do poder burocrático, onde as autoridades impõem barreiras legais e formais para

realização de atos.

Neste trabalho, a concepção do termo “política” a ser utilizada será uma definição

mais operacional, baseada nas ações, práticas e diretrizes utilizadas pelo Governo para

resolver questões gerais ou específicas da sociedade, com o objetivo de regular, controlar e

organizar os fenômenos da coletividade. Dessa forma, o Estado exerce presença direta na

sociedade, “sobretudo por meio do uso do planejamento que pressupõe políticas previamente

definidas tanto de alcance geral ou “horizontal” (por exemplo, política econômica), como de

alcance ou impacto “setorial” (por exemplo, política de saúde)” (HEIDEMANN; SALM,

2009, p.29).

Sendo a política uma ciência macro, ela se subdivide em diversas áreas e uma delas é a

das políticas públicas, que são voltadas para o atendimento, como bem diz o próprio nome, ao

público. Estas políticas são ferramentas criadas de forma legal (em forma de lei) para

fortalecer a articulação de serviços prestados à população, como transporte público, coleta de

lixo, saneamento, saúde, educação, etc.

Dentro da organização político-administrativa no Brasil, estas políticas são de

responsabilidade do Estado1, que deve realizá-las seja de forma direta ou indireta, através de

concessões e permissões. A própria Constituição Federal elenca algumas dessas políticas

como sendo direitos sociais no seu artigo sexto: “são direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição”.

A parte da ciência política destinada a abarcar as políticas públicas é a que faz uso da

concentração de poder para criar mecanismos de estabilização e saneamento de conflitos,

desigualdades e a busca por uma ordem social que respeite os ditames sociais. As políticas

públicas na atualidade visam, além disso, o chamado Estado de bem-estar social2, onde o

Estado precisa garantir não apenas o básico para a sociedade, como meios suficientes. Cabe

1 “Quando utilizamos a palavra "Estado" estamos nos referindo à totalidade da sociedade política, ou seja, o

conjunto de pessoas e instituições que formam a sociedade juridicamente organizada sobre um determinado

território. A palavra "governo", por sua vez, se refere somente à organização específica de poder ao serviço do

Estado por um determinado período de tempo" (DIAS, MATOS, 2012, p.3). 2 "O Estado de bem-estar é um fenômeno histórico moderno, isto é, as instituições da política social

acompanharam o processo de desenvolvimento e modernização capitalistas em sentido preciso." (HOCHMAN,

ARRETCHE, MARQUES, 2007, p. 44).

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14

ao mesmo regular a vida social, de saúde, econômica e política e garantir que esses alicerces

possam ser desfrutados pela maior parte da população.

O Estado do bem-estar social eleva a um patamar acima as políticas públicas, pois as

mesmas deixam de ser uma atuação para consertar as disfunções da atividade estatal e passam

a ser, de fato, ferramenta de mudança social, na medida em que a todos os cidadãos é

garantido, não apenas o acesso a políticas de Estado, como também uma parte delas busca

oferecer uma melhora na qualidade de vida.

Para atingir este bem comum, o Estado pode atuar tanto por demanda da sociedade,

como por iniciativa própria. Demandas de organização, regulação ou controle, por exemplo,

tendem a sair pela via administrativa antes da demanda social, todavia vale destacar que todas

estas políticas envolvem, em certa medida, a produção de bens públicos ou que possam ser

desfrutados pela coletividade. A dimensão “pública” da política consiste no entendimento de

que as ações, práticas e diretrizes são realizadas por agentes governamentais, com base no

poder imperativo do Estado. Isso significa que uma de suas características centrais é o fato de

que a decisão está revestida do poder extroverso e da autoridade soberana do poder público

(RUA, 2009).

Sendo o Estado o ente com poder político para definir as políticas a serem obedecidas

e usufruidas pela sociedade, cabe destacar, então, que as políticas públicas são intervenções

do Estado, por meio de leis e ações administrativas, que buscam a resolução de conflitos com

vistas ao melhor para o interesse público.

As políticas públicas só passaram a ter status de ciência em meados do século XX,

quando, em 1936, Harold D. Lasswell quando publicou o livro Política: quem ganha o quê,

quando e como, sendo este título considerado como uma das definições clássicas de políticas

públicas; no Brasil, os primeiros estudos relativos ao tema datam do final dos anos 70 e

começo da década de 80.

"A expressão "políticas públicas" engloba vários ramos do pensamento humano,

sendo interdisciplinar, pois sua descrição e definição abrangem diversas áreas do

conhecimento como as Ciências Sociais Aplicadas, a Ciência Política, a Economia e

a Ciência da Administração Pública, tendo como objetivo o estudo do problema

central, ou seja, o processo decisório governamental." (DIAS, MATOS, 2012, p.25).

Apesar de o Estado brasileiro ser uma democracia representativa e o povo ser o titular

do poder, conforme consta na Constituição Federal, este não exerce o poder de decidir e

implementar as políticas públicas diretamente na maioria dos casos. Em termos gerais, os

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15

cidadãos, através da sociedade civil organizada ou através dos seus representantes no

legislativo conseguem implementar estas políticas.

"Esta vertente, denominada democracia participativa - ou deliberativa - advoga que a

legitimidade das decisões políticas advém de processos de discussão que, orientados

pelos princípios da inclusão, do pluralismo e da autonomia, conferem um novo

ordenamento na lógica de poder tradicional. Sugere ainda, que o poder político deve

organizar-se por meio de instituições que, construídas coletivamente, mediam as

relações entre os interesses individuais e os coletivos na formação do interesse

público, a ser atendido pelo Estado." (FERREIRA, ABRANTES, 2013, p.11).

Existem outros atores nesta equação como os empresários, cujo lobby é um dos fatores

utilizados para a escolha de que política utilizar, assim como existem grupos de interesse,

institutos de pesquisa e a mídia, cujas pautas influenciam os espectadores a ser favoráveis ou

contrários a certas práticas. Todavia, percebe-se, desde já, que os atores cuja responsabilidade

de implementar as políticas públicas são os agentes políticos. São eles que detêm o poder e os

recursos a serem alocados para realizá-las em prol do interesse público. Os atores privados

não tem o poder, apesar de terem, em alguns casos, os recursos, de executar essas políticas;

não obstante, conforme dito acima, podem influenciar os atores públicos a tomar partido de

certas políticas em detrimento de outras.

A execução das políticas públicas no ordenamento administrativo brasileiro está,

portanto, sob a responsabilidade dos gestores públicos, cuja atuação se expandem para além

da execução, passando pelas etapas de monitoramento, acompanhamento e avaliação. Quando

se fala de avaliação das políticas públicas, existem outros atores como os Tribunais de Contas,

responsáveis por auditar todos os recursos gastos com dinheiro público, as ouvidorias, que são

o canal entre o poder público e a população, dentre outros.

"Isto significa dizer que as políticas públicas podem ser estudadas tanto da

perspectiva da ação do governo (o que o governo faz) quanto da inação (o que o

governo não faz) diante de algum problema. Inspirado exatamente nessa ideia, (...),

(...) Thomas Dye define política pública como 'o que o governo escolhe fazer ou não

fazer.' Segundo este autor, caso o governo escolha fazer algo perante algum

problema (...), a política pública adquire característica positiva. Do contrário, se o

governo decide não agir diante de algum problema público, a política adquire

característica negativa." (RODRIGUES, 2011, p.43)

Reinaldo Dias e Fernanda Matos (2012) afirmam que políticas públicas possuem uma

outra definição. Segundo esses autores, elas podem ser classificadas como "ações

empreendidas ou não pelos governos que deveriam estabelecer condições de equidade no

convívio social, tendo por objetivo dar condições para que todos possam atingir uma melhoria

da qualidade de vida compatível com dignidade humana" (DIAS, MATOS, 2012, p. 12)

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16

Percebe-se desde logo que esta definição contempla vários fundamentos do Estado

brasileiro como sendo ele responsável pelas ações públicas, seja pela sua ação ou omissão,

que se traduzem em melhor conforto para os seus cidadãos em sua totalidade, ou o mais

próximo disso, algo almejado nas definições modernas do Estado de bem-estar social, assim

quando os autores falam de melhoria da qualidade de vida.

Há, ainda, princípios constitucionais ligados a esta definição, que são a equidade,

quando se fala em melhoria para todos, o que enseja algo realizado indistintamente, assim

como é de prerrogativa na Constituição da República. A definição ainda fala em dignidade da

pessoa humana, um dos preceitos mais importantes não apenas das políticas públicas, mas

também da razão de ser dos Estados.

"É importante compreender-se que o conceito de políticas públicas inclui tanto

temas de governo, como de Estado. Estes últimos são, na realidade, políticas de mais

de um governo, o que lhes confere uma particularidade política. Também é possível

considerar políticas de Estado aquelas que envolvem o conjunto dos poderes do

Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) em seu projeto e execução." (DIAS,

MATOS, 2012, p.13).

A política pública seria, então, todo o conjunto de ações, programas e outras atividades

que o Estado planeja, executa, monitora e avalia para assegurar e promover determinado

direito social, seja por iniciativa do próprio Governo ou por demanda da sociedade. Portanto,

“a formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que governos democráticos

traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações, que produzirão

resultados ou mudanças no mundo real” (SOUZA, 2008, p.69).

As políticas públicas podem, desta forma, ser consideradas um direito do cidadão e um

dever do Estado. No entanto, faz-se necessário esclarecer que as políticas públicas são um

direito, mas em uma concepção um pouco diferente. Existem direitos claros e objetivos como

o direito à vida, cuja aplicabilidade é imediata. As políticas públicas são o meio intermediário

para Outros direitos cuja aplicabilidade não pode ser direta, como o da saúde, por exemplo, ou

da educação. Para eles, cabe ao Estado criar mecanismos que vão garantir uma forma de mais

pessoas terem acesso a determinado serviço ou benefício com vistas a melhorar sua qualidade

de vida.

Todavia, é mister ressaltar que as políticas públicas não são universais, por mais que

se assemelhem; elas dependem da realidade local do Estado. Uma política colocada em

prática na Suécia não será, necessariamente, a mesma aplicada no Brasil mesmo que as duas

tratem do mesmo tema. Da mesma forma, cabe destacar o fato de não existir uma política

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pública ideal. O primeiro obstáculo para tanto é que o sentido de política ideal é

extremamente abstrato e impossível de haver um consenso. Há, por isso, dentro do conceito

de políticas públicas, que se destacar que são ações para "beneficiar o maior número de

pessoas em uma coletividade". Percebe-se não haver, por motivos lógicos, a assertiva

"beneficiar a todos", tendo em vista isto ser um idealismo com pouca condição de ser aplicado

na realidade, até mesmo porque, a depender do tipo de política, algumas categorias sociais

simplesmente não precisam ser contempladas; por isso, o dever é disponibilizar a todos e, a

partir daí, ser o mais efetiva e eficaz possível.

Não existe uma lista universal de políticas públicas “corretas”. As políticas são

respostas contingentes à situação de um país. O que pode funcionar em dado

momento da história, em um determinado país, pode não dar certo em outro lugar,

ou no mesmo lugar em outro momento. Em alguns casos, certas características

particulares das políticas ou os detalhes de sua implementação podem ser tão

importantes quanto a orientação geral dessa política. (BANCO

INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO, 2007, p.16).

As políticas públicas, ao serem planejadas, implementadas e executadas, detém como

baluarte que serão feitas continuamente por um período de tempo indeterminado. Elas são

desenvolvidas para serem úteis por um longo prazo, para poder alcançar o maior número de

beneficiários possíveis e poder atingir suas funções sociais com mais eficiência. O Banco

Interamericano de Desenvolvimento (2007) destaca algumas características fundamentais das

políticas públicas, que envolvem sua qualidade e, por conseguinte, sua eficácia e sua

efetividade:

Estabilidade: as políticas são estáveis no tempo; no entanto, podem durante o seu tempo de

duração sofrer alterações: elas não precisam ser imutáveis. Essas modificações devem ser

feitas de forma gradual e de acordo com a mudança de realidade dos seus beneficiários ou do

próprio governo que a implementa, sem contudo, a fazer perder o seu objeto principal.

Adaptabilidade: as políticas podem ser ajustadas quando falham ou quando as circunstâncias

mudam. Apesar de estáveis, as políticas precisam se readaptar a novas realidades que surjam

no decorrer de sua existência. Caso isso não seja possível, ele se perderá no tempo sem se

adequar à realidade.

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Coerência e coordenação: as políticas são compatíveis com outras políticas afins e resultam

de ações bem coordenadas entre os atores que participam de sua formulação e implementação.

As políticas não são implementadas de forma isolada na sociedade; elas fazem parte de um

contexto socio-econômico e devem se ajustar a ele de forma a garantir sua eficácia. A

cooperação entre agentes públicos e entre beneficiários é fundamental, pois cada item da

"cadeia produtiva" da política pública deve ser coordenado com os demais para seu melhor

funcionamento.

Qualidade da implementação e da aplicação efetiva: a implementação de uma política

pública é uma etapa tão importante quanto às demais. Não basta ter um bom projeto ou uma

boa coordenação se a implementação não seguir com a mesma qualidade. Para que esta

característica não se torne um problema, é necessário um corpo técnico (burocracia) com alta

qualidade que entenda a melhor forma de disponibilizar a política.

Consideração do interesse público: em que grau as políticas tendem ao interesse público. Se

essas políticas são chamadas de públicas justamente porque urgem da necessidade de atender

ao interesse público e o público que compõe o Estado, elas precisam estar sintonizadas com

os seus anseios e suas necessidades para que alcancem o mais próximo que puderem a

plenitude em sua realização.

Eficiência: as políticas refletem uma alocação de recursos escassos que assegure retornos

sociais elevados. Ser eficiente é conseguir fazer com que uma política pública atinja o maior

resultado com o menor custo em termos de recursos possível; significa ter produtividade

operacional, com pouco desperdício. Aliados a esta característica estão os conceitos de

eficácia, que se alinha à questão dos resultados obtidos condizentes com os planejados, e com

a efetividade, cuja gestão busca equacionar o resultado (social) concreto com os objetivos

pretendidos.

As políticas públicas, por demandarem uma ação do Estado para a sociedade, deve

seguir uma série de etapas desde sua concepção inicial até estar implementada. Este processo

é denominado de ciclo (ou processo) das políticas públicas, que se dividem em cinco etapas

lógicas, que envolve diversos tipos de cenários e agentes.

Muitos são os autores que estudaram o ciclo das políticas públicas e, por isso, a

literatura divide esse processo em fases diferentes e nem sempre coincidentes, mas que

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guardam entre si estágios comuns. Esse processo é composto por um conjunto de etapas que

visam atender às demandas e aos interesses da sociedade através da tomada de decisões e

execução de ações por parte das instituições governamentais. Podemos dizer, portanto, que

toda política pública é constituída pelo ciclo de identificação do problema, definição da

agenda, formulação, adoção, implementação e acompanhamento, monitoramento e avaliação.

Cada etapa constitui um conjunto de decisões e ações tomadas pelo Estado, ou por

quem o represente, onde são analisados aspectos técnicos, questões administrativas, políticas

e sociais. A separação por fases ajuda a analisar e compreender melhor cada etapa do

processo e a dividir responsáveis mais específicos e especializados em cada um dos

momentos. Como veremos, esta pesquisa trata da avaliação dos resultados alcançados por

uma política pública específica; portanto, vamos nos deter à parte do ciclo que trata desta

temática.

A avaliação dos resultados gerados é onde se mede a efetividade da política pública e

fornece os dados concretos sobre os resultados gerados pela mesma, a fim de se corrigirem as

distorções e disfunções. Portanto, a avaliação é, geralmente, a análise de resultados posterior à

implementação das políticas públicas.

Embora a avaliação seja apontada no ciclo da política como uma fase específica, ela

tem sido utilizada, dentro dos modelos que adotam esta perspectiva, como um

instrumento voltado para subsidiar a tomada de decisões nos mais variados

momentos que ocorrem ao longo das diversas fases do ciclo. Desta forma, não se

restringe à avaliação de resultados da política e nem à etapa final do processo.

(BAPTISTA, REZENDE, 2011, p.17)

Todavia, como vimos, não se pode resumir a avaliação apenas a fase posterior à

implementação, apesar de suas características indicarem isso. Dias e Matos (2012) afirmam

que a avaliação é um “processo transversal a toda política pública, implica a definição de

finalidade, metodologia e como processo de análise pode produzir informações válidas sobre

o desempenho da política e consequente tomada de decisão com relação a possíveis

modificações, continuidade ou exclusão de uma política ou programa público" (DIAS,

MATOS, 2012, p.84).

A avaliação de políticas públicas compreende um conjunto objetivo de critérios,

indicadores e padrões a serem seguidos. Economicidade, eficiência econômica e

administrativa, eficácia e equidade são alguns critérios analisados para avaliar uma política

pública. Os indicadores estabelecidos buscam dentro dos padrões estabelecidos analisar se

houve beneficio, se a política atingiu seus objetivos ou se está dentro do padrão desejado.

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Participar do processo de avaliação de uma política permite realizar diversas ações a

partir dos resultados obtidos, como, por exemplo, gerar informações úteis para futuras

políticas, prestar contas dos recursos investidos, corrigir e prevenir falhas, avaliar se os

recursos estão produzindo resultados esperados e eficientes, identificar as barreiras que

impedem o desenvolvimento do Programa, promover o diálogo entre os diversos atores

envolvidos e fomentar a coordenação e cooperação entre esses atores.

1.2 Políticas Públicas de Saúde: do Movimento Sanitarista ao SUS

As políticas públicas de saúde no Brasil fundamentam-se pelo modelo curativo, onde o

tratamento é para as consequências, centrado nos hospitais e, consequentemente, nas

especialidades médicas, e não para o modelo preventivo, onde busca-se resolver as causas

antes que elas atuem. O acesso à saúde e a disponibilidade dos seus serviços está diretamente

ligado à política econômica e à política de governo, por mais que isso contrarie o que está

expresso nas normas constitucionais e legais.

Assim, as políticas públicas de saúde são parte das políticas públicas sociais do

Estado. Elas têm como objetivo promover a saúde e reduzir os riscos de doenças e de outros

agravos, além de garantirem o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de saúde

pública, fomentando a interlocução dos propositores de políticas públicas de saúde com outros

setores sociais. O artigo 2° da Lei 8080/90 define sobre o direito à saúde no Brasil:

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado

prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução

de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de

outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e

igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e

da sociedade.

Segundo a carta da Organização Mundial da Saúde (OMS), aprovada em 1948, a

saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de

afecções e enfermidades. Ou seja, o conceito de saúde começa pelo conceito da “não

enfermidade”; saúde é, antes de tudo, um estado conjunto de bem-estar cuja abrangência é

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ampla e excede o limite corporal. A Constituição de 88 traz em seu texto o dever do Estado

sobre a questão da saúde pública com as devidas garantias àqueles que necessitem de sua

assistência.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e

ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação.

Historicamente, as políticas públicas de saúde no Brasil remetem a 1923 o seu início,

ao menos oficial, com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAP), por meio da

Lei Eloy Chaves. A Lei apenas legitimou a prática existente nas fábricas e fez nascer os

debates entre os setores público e privado que no futuro dariam origem ao Sistema Único de

Saúde.

Em 1932, foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), que são uma

resposta do Estado às revindicações dos trabalhadores, dentro do contexto de industrialização

do Brasil no Estado Novo. Em 1964, durante o regime militar, as IAPs foram unificadas e se

criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que fortalece o caráter

assistencialista da política de saúde pública no Brasil. Dentro do âmbito do INPS, percebeu-se

a crescente necessidade da assistência à saúde, que terminou por culminar na criação do

Instituto Nacional de Assistência Médica Previdência Social (INAMPS).

Em síntese, a história da ação do Estado nesta área social desenvolveu-se a partir de

duas trajetórias institucionais principais: a das ações e serviços de saúde

pública/saúde coletiva, dirigida à população em geral, sob responsabilidade das

esferas subnacionais de governo e do Ministério da Saúde; e as ações de assistência

médica ambulatorial e hospitalar, realizadas pela Previdência Social, dirigidas,

principalmente, aos trabalhadores empregados no mercado formal de trabalho

urbano. Cada uma com financiamento, administração, lógica e cultura institucional

própria.( LUCCHESE, 2004, p.17).

Mas foi o Movimento Sanitarista Brasileiro, iniciado na década de 70, que exerceu o

papel propositor de política pública: teve como objetivo, em linhas gerais, mobilizar a

sociedade a propor novas políticas, modelos e ações para a área da saúde. Nesse sentido, uma

atenção à saúde efetiva “dependia de um sistema de saúde democrático, viável somente em

um regime democrático. O movimento tem, assim, como princípio, o reconhecimento da

saúde como direito universal a ser garantido pelo Estado através de um sistema de saúde

universal e equânime” (LOBATO, 2000, p.17).

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O Movimento Sanitarista Brasileiro constituiu-se numa frente de oposição ao sistema

centralizado e desigual de saúde pública. À época, criticava-se o difícil, restrito e desigual

acesso aos serviços de saúde. Serviços concentrados em determinados territórios, sem

coordenação entre os tipos de serviços de saúde e desperdício de verbas eram problemas

comuns.

A ideia de criação de um sistema único de saúde, assim denominado, foi sendo

construída por este amplo movimento político, com o propósito de reorganizar a ação

do Estado no território nacional, visando assegurar o acesso universal e igualitário da

população a um cuidado integral a sua saúde, sem qualquer discriminação e

independentemente da oferta de serviços disponível em seu lugar de moradia, por

meio de uma rede nacional de ações e serviços descentralizada, hierarquizada e

regionalizada, com gestão política também descentralizada e participativa, capaz de

dar maior resolutividade, eficácia e qualidade à atenção à saúde de toda a população

brasileira. (LUCCHESE, 2004, p.18)

No Estado brasileiro, a saúde faz parte de um conjunto integrado de ações de iniciativa

dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à

previdência e à assistência social, com base nos seguintes objetivos expressos no Art. 194 da

Constituição Federal:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e

rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão

quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do

Governo nos órgãos colegiados.

Mais detalhadamente, a Constituição de 1988, nos seus artigos 196 a 200, estabelece

os princípios, diretrizes, bases de financiamento e competências gerais das políticas públicas

de saúde, que tem como principal pilar o Sistema Único de Saúde. Nela, está instituído que as

ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e

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constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I -

descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral,

com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III -

participação da comunidade. (CF, 1988, art. 198).

No tocante às diretrizes, a descentralização segue a lógica do financiamento da

Seguridade Social, que deve ser custeado por toda a sociedade; o atendimento integral denota

que o Sistema deverá cobrir não apenas alguns tipos de procedimentos médicos, mas todos os

relacionados à saúde e a participação da comunidade refere-se ao poder que esta detém de dar

o feedback nas necessidades de saúde para a realidade local.

O SUS em sua concepção surge como uma tentativa de trocar o foco da saúde para um

processo preventivo, proteção e recuperação da saúde ao invés de puramente assistencialista

e, por isso, a implementação do SUS foi considerada um avanço no tratamento das políticas

públicas no Brasil. O artigo 200 da CF define que suas principais atribuições consistem em:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde

e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e

outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do

trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; (grifo nosso)

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a

inovação;

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional,

bem como bebidas e águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de

substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Instituído formalmente pela Lei 8.080, em 19 de setembro de 1990, o SUS é o

programa de saúde pública que congrega ações e serviços prestados pelas instituições

públicas, sendo constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e

instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das

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fundações mantidas pelo Poder Público, demonstrando que todas as esferas públicas e quem

as representam tem o dever de prestar assistência à saúde. Isso, todavia, não afasta a

responsabilidade dos cidadãos de cuidarem da própria saúde, como preconiza o inciso 2º do

artigo segundo.

Se as diretrizes são importantes para nortear as ações e viabilizar as formulações da

política pública de saúde, o SUS obedece ainda aos seguintes princípios – apresentados no art.

7º da Lei 8080/90 – que, como veremos, são inerentes a todas às atividades desenvolvidas no

âmbito da saúde, inclusive na formulação da política de formação de recursos humanos para a

área da saúde:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das

ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em

todos os níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer

espécie;

V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua

utilização pelo usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de

recursos e a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de

governo:

a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento

básico;

XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à

saúde da população;

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

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XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins

idênticos.

Dentre esses princípios, destacamos o princípio da universalidade, que trata dos

titulares com direito à saúde e estabelece que todos os cidadãos possuem acesso gratuito aos

serviços de saúde, independente de quaisquer outros requisitos, implantados pelas políticas

públicas de saúde, sem distinção de classe social, renda ou crença, por exemplo, sendo uma

das responsabilidades do SUS tornar este dispositivo uma realidade no país.

Já o princípio da igualdade garante aos beneficiários das políticas públicas de saúde

a prestação do mesmo serviço com a mesma qualidade e disponibilidade. A igualdade é um

dos pilares da sociedade brasileira quando a Constituição expressa de forma contundente

que “todos são iguais perante a lei”. Porém, tal princípio não exclui a prática de critérios

para o acesso dos serviços, como prioridade, doenças de greve risco, tendo em vista que a

própria CF dita que os indivíduos devem ser tratados iguais nas suas igualdades e

desigualmente nas desigualdades. Para isso, a rede de serviços deve estar atenta às

necessidades reais da população a ser atendida, uma vez que a equidade é um princípio de

justiça social.

Um dos mais importantes, o princípio da integralidade trata do alcance dos serviços

públicos de saúde, sendo um atributo do modelo de atenção que contempla o conjunto de

ações de promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos, assistência e recuperação,

objetivando o cuidado do paciente de forma ampla e completa, considerando a pessoa como

um todo e atendendo a todas as suas necessidades. Ao mesmo tempo, esse princípio pressupõe

a articulação da saúde com outras políticas públicas, como forma de assegurar uma atuação

intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e na qualidade de vida

dos indivíduos.

A política de recursos humanos para o SUS também está prevista nesta legislação a qual

prevê que, na área da saúde, essa política será formalizada e executada, articuladamente, pelas

diferentes esferas de governo, em cumprimento do objetivo de organizar um sistema de

formação de recursos humanos em todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação,

além da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento de pessoal, o que se

coaduna com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, como veremos a seguir.

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1.3 A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

A política pública de educação superior brasileira apresenta uma tendência

expansionista voltada para a ampliação do acesso ao ensino superior por uma massa

anteriormente situada à margem desse processo3. Se em um primeiro momento a expansão

das IES passava pela estratégia da interiorização (criação de instituições fora dos grandes

centros) e de aumento de vagas nas capitais, numa segunda fase a expansão estende-se à pós-

graduação, tanto no sentido lato quanto stricto sensu, em resposta às exigências do sistema

econômico e das demandas do mercado de trabalho.

Segundo Lima Filho (2002), a adequação organizacional e curricular das IES, de

forma a responder satisfatoriamente às demandas de composição qualitativa e quantitativa da

força de trabalho em função do modelo de inserção do país no atual estágio das relações

sociais capitalistas e das transformações técnicas e de gestão dos processos produtivos, resulta

na “redefinição do papel do Estado, que deixaria a sua função de provedor de políticas

universais e de desenvolvimento e assumiria a função de gestor de políticas de eqüidade,

conforme a dinâmica determinada pelo mercado.” (LIMA FILHO, 2002, p. 271). Nesta

concepção, destacamos o papel do Ministério da Educação e do Trabalho e Emprego ao

conduzir ações para a aceleração do processo de implementação de políticas públicas

específicas dirigidas ao campo da educação e formação de trabalhadores, tendo por foco a

geração de emprego e renda4.

3 Para aumentar o acesso e a permanência das camadas populares ao ensino superior, o Governo Federal

fomentou a ampliação da oferta de vagas para alunos de baixa renda na rede pública via Reuni (Programa de

Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), instituído pelo Decreto nº 6.096, de

24 de abril de 2007. Outra iniciativa foi a Lei nº 12.711/2012, que garante a reserva de 50% das matrículas por

curso e turno nas universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos

integralmente do ensino médio público, a chamada Política de Cotas nas Instituições Federais de Ensino. Já na

esfera privada, foi ofertado o financiamento de vagas públicas a alunos de baixa renda no ensino superior

privado via ProUni (Programa Universidade para Todos, que tem como finalidade a concessão de bolsas de

estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições de

ensino superior privadas, criado pelo Governo Federal através da Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, que

oferece, em contrapartida, isenção de tributos às instituições que aderem ao Programa).

4 O Ministério da Educação, com vistas a promover o reordenamento estrutural e operacional do ensino técnico-

profissional, estabelece, através do Decreto nº 2.208, de abril de 1997, os objetivos, os níveis e as modalidades

da educação profissional no país e os seus mecanismos de articulação com o ensino regular, detalhando a nova

estrutura a ser implantada principalmente na rede federal, composta pelos Centros Federais de Educação

Tecnológica, Escolas Técnicas Federais e Escolas Agrotécnicas Federais. Por sua vez, o Ministério do Trabalho

e Emprego instituiu, em 1995, o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR), que objetivava

envolver as instituições de trabalhadores e patronais, organizações governamentais e não governamentais,

escolas técnicas, universidades e institutos de pesquisa, a fim de articular um amplo leque de instituições da

sociedade civil em um esforço voltado para a qualificação e formação dos trabalhadores. (LIMA FILHO, 2002).

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Como vimos, foi o Movimento Sanitarista Brasileiro, iniciado na década de 70, que

mobilizou a sociedade a propor novas políticas, modelos e ações para a área da saúde.

Segundo Rosa e Lopes (2011), esse movimento constituiu-se como arranjo organizacional do

Estado, definindo a efetivação da política de saúde no Brasil e instituindo a saúde como

direito de cidadania e dever do Estado ao reestruturar os mecanismos de gestão do sistema de

saúde através de uma reorganização do próprio Estado.

Apesar dos avanços, os reflexos do processo de privatização e mercantilização das

políticas sociais acabam se reproduzindo no cotidiano dos profissionais de saúde e tem

impedido a produção coletiva dos saberes, tornando o processo de trabalho fragmentado. Essa

fragmentação dos saberes em campos profissionais promove a divisão social do trabalho e a

dificuldade do trabalhador de saúde em compreender o seu papel como protagonista na

relação entre os serviços, seu processo de trabalho e as necessidades de saúde da população.

Os ideais do Movimento Sanitarista Brasileiro foram consolidados com a previsão do

SUS na Constituição Federal de 1988. Tendo o SUS como uma de suas atribuições

constitucionais a formação de recursos humanos na área de saúde, a viabilização de políticas

públicas de educação permanente para essa área fez-se um fértil campo de estudo e prática

profissional, fomentados pelo Estado.

A Educação Permanente é o conceito pedagógico, no setor da saúde, para efetuar

relações orgânicas entre ensino e ações e serviços, e entre docência e atenção à

saúde, sendo ampliado, na Reforma Sanitária Brasileira, para as relações entre

formação e gestão setorial, desenvolvimento institucional e controle social em

saúde. (BRASIL, 2007, p. 1).

A definição de uma política de formação e desenvolvimento para o SUS, em qualquer

esfera, deve considerar o conceito de Educação Permanente em Saúde e articular as

necessidades dos serviços de saúde, as possibilidades de desenvolvimento dos profissionais, a

capacidade resolutiva dos serviços de saúde e a gestão social sobre as políticas públicas de

saúde.

Assim, para aprofundar o debate sobre o processo de formação em saúde é necessário

colocar em questão as características do ensino e das práticas de saúde em sua micropolítica

no contexto atual. Essa contextualização possibilitará a compreensão dos novos paradigmas

da educação dos profissionais da saúde, tendo como norte a Política Nacional de Educação

Permanente em Saúde.

A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, adotada pelo Ministério da

Saúde a partir de 2003, prevê a formação profissional em serviço, tornando a rede pública de

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saúde em um campo de ensino-aprendizagem no exercício do trabalho e transformando a

política de desenvolvimento de profissionais para a saúde em uma política do próprio SUS,

que passa a assumir o papel de rede-escola, valorizando tanto a qualidade da assistência

quanto a eficiência e relevância do trabalho em equipe.

Em consonância com a Constituição Federal, art. 200, inciso III, que define que “ao

SUS compete ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde”, a Política Nacional

de Educação Permanente em Saúde prioriza a necessidade de qualificação de todas as

profissões da saúde e a importância para a reorganização do processo de trabalho seguindo os

princípios e diretrizes do SUS, afirmando ser fundamental o preparo de profissionais

qualificados para a atenção à saúde da população brasileira.

Essa ação, que se apresenta como uma nova estratégia para a implantação de

inovações políticas, pretende formar profissionais com perfil para modificar as práticas atuais

e criar uma nova cultura de intervenção e entendimento da saúde no âmbito da implantação do

SUS, pressupondo o desenvolvimento de ações para a atenção integral à saúde, em serviços

assistenciais da rede pública.

Esse rearranjo inclui a criação das residências integradas em saúde como inovação

que propicie formação especializada em serviço para a equipe de saúde; e inclui,

também, a instituição de mecanismos compensatórios que possibilitem equilibrar

regionalmente a distribuição dos programas de residência e dos recursos

especializados. (BRASIL, 2004, p. 26).

Conforme a Portaria Interministerial nº 45, de 12 de janeiro de 2007, a proposta de

treinamento em serviço orientado pelos princípios e diretrizes do SUS, a partir das

necessidades e realidades locais e regionais, teve como eixos norteadores:

I - cenários de educação em serviço representativos da realidade sócio-epidemiológica do

País;

II - concepção ampliada de saúde que respeite a diversidade, considere o sujeito enquanto ator

social responsável por seu processo de vida, inserido num ambiente social, político e cultural;

III - política nacional de educação e desenvolvimento no SUS aprovada pelo Conselho

Nacional de Saúde e pactuada entre as distintas esferas de governo;

IV - abordagem pedagógica que considere os atores envolvidos como sujeitos do processo de

ensino-aprendizagem-trabalho e protagonistas sociais;

V - estratégias pedagógicas capazes de utilizar e promover cenários de aprendizagem

configurada em itinerário de linhas de cuidado de forma a garantir a formação integral e

interdisciplinar;

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29

VI - integração ensino-serviço-comunidade por intermédio de parcerias dos programas com os

gestores, trabalhadores e usuários, promovendo articulação entre ensino, serviço e gestão;

VII - integração de saberes e práticas que permitam construir competências compartilhadas

para a consolidação do processo de formação em equipe, tendo em vista a necessidade de

mudanças no processo de formação, do trabalho e da gestão na saúde;

VIII - integração com diferentes níveis de formação dos Programas de Residência

Multiprofissional e em Área Profissional da Saúde com o ensino de educação profissional,

graduação e pós-graduação na área da saúde;

IX - articulação da Residência Multiprofissional e em Área Profissional da Saúde com a

Residência Médica;

X - descentralização e regionalização contemplando as necessidades locais, regionais e

nacionais de saúde;

XI - monitoramento e avaliação pactuados para garantir que o sistema de avaliação formativa

seja dialógico e envolva a participação das instituições formadoras, coordenadores de

programas, preceptores, tutores, docentes, residentes, gestores e gerentes do SUS e o controle

social do SUS, considerando a conformação da política, da execução e da avaliação dos

resultados; e

XII - integralidade que contemple todos os níveis da Atenção à Saúde e à Gestão do Sistema.

Assim, percebe-se que o Estado chamou para si a responsabilidade de formar

profissionais qualificados para atender às necessidades do SUS através da implementação da

Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, que financia bolsas visando a formação

profissional com vistas ao desenvolvimento de competências.

Essa Política Nacional de Educação Permanente em Saúde pensada pelo Governo

Federal teve, como um de seus eixos estruturantes, a integração entre as instituições de ensino

e os serviços de saúde, caracterizada por ações que visaram à mudança das práticas de

formação e atenção, do processo de trabalho e da construção do conhecimento, a partir das

necessidades dos serviços.

Com a publicação da Portaria Nº 198/GM/MS, 13 de fevereiro de 2004, foi

oficialmente instituída a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como

estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor,

articulando os componentes de gestão, atenção e participação popular com o componente de

educação dos profissionais de saúde. A proposta era criar um modelo de Residência

Multiprofissional no qual, embora fossem preservadas as especialidades de cada profissão

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envolvida, seria criada uma área comum, acrescida de valores como a promoção da saúde, a

integralidade da atenção e o acolhimento (LIMA, 2012).

No entanto, apesar da clara necessidade de reformas políticas, pedagógicas e

estruturais nesse campo, apenas com a Lei 11.129, de 30 de junho de 2005, a Residência

Multiprofissional viu-se amparada por uma legislação específica que, embora ainda

incipiente, abriu caminho para a reflexão, discussão e regulamentação dos Programas de

Residência. Como política pública, os Programas de Residência Multiprofissional

apresentavam potencialidade pedagógica e política por “aproximar o ensino da gestão, o que

por si só já se constitui em inegável inovação na formulação de políticas para formação de

trabalhadores do e para o SUS” (BRASIL, 2006, p.13).

Nesse sentido, o Estado reafirma a compreensão e tratamento da gestão da educação

na saúde como uma questão de natureza tecnopolítica, uma vez que envolve mudanças nas

relações, nos processos, nos atos de saúde, nas organizações e nas pessoas, implicando,

portanto, na necessidade de articulação intra e interinstitucional que crie compromissos entre

as diferentes redes de gestão, de serviços de saúde e educação e do controle social.

Nesta legislação, o Estado assumiu o seu papel na consolidação da Reforma Sanitária

Brasileira por meio do fortalecimento da descentralização da gestão setorial, do

desenvolvimento de estratégias e processos para alcançar a integralidade da atenção à saúde

individual e coletiva e do incremento da participação da sociedade nas decisões políticas do

SUS.

Para Ceccim e Feuerwerker (2004), para dar continuidade e avanço à Reforma

Sanitária e concretizar os preceitos do SUS, tanto no campo das práticas de saúde como no

campo da formação profissional, revela-se necessário e urgente semelhante movimento social

por uma Reforma da Educação no setor do ensino que expresse o atendimento dos interesses

públicos no cumprimento das responsabilidades de formação acadêmico-científica, ética e

humanística para o desempenho tecnoprofissional.5

Para efetivar essa Política de Educação Permanente em Saúde, são necessários novos

mecanismos de planejamento e gestão para que os serviços possam ser espaços de

aprendizagem, com a formulação de novos pactos de trabalho, capazes de absorver as

demandas de cuidado à população, do ensino e da produção do conhecimento na rede de

5 “Uma proposta de ação estratégica para transformar a organização dos serviços e dos processos formativos, as

práticas de saúde e as práticas pedagógicas implicaria trabalho articulado entre o sistema de saúde (em suas

várias esferas de gestão) e as instituições formadoras. Colocaria em evidência a formação para a área da saúde

como construção da educação em serviço/ educação permanente em saúde: agregação entre desenvolvimento

individual e institucional, entre serviços e gestão setorial e entre atenção à saúde e controle social”. (CECCIM;

FEUERWERKER, 2004, p.45).

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atenção à saúde, realizando importantes iniciativas inovadoras na área do planejamento e da

gestão educacionais.

1.4 Os Programas de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde

Historicamente, o termo Residência no Brasil sempre esteve ligado à especialização

em serviço de médicos residentes. No entanto, face ao crescimento do ensino de pós-

graduação no país e à ampliação do mercado de trabalho, esse modelo tradicional de formação

em saúde “não se situa como referência para a organização da educação na saúde no país,

frente à instituição da política de educação permanente em saúde”. (SHIKASHO, 2013, p.56)

Os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde propõe um modelo de

política de formação e desenvolvimento de profissionais para a saúde ajustando o perfil

profissional frente às necessidades de mudanças de paradigmas no campo da saúde coletiva.

Têm o propósito de possibilitar tanto a formação profissional, quanto contribuir com a

mudança do desenho técnicoassistencial do SUS.

Financiados pelos Ministérios da Saúde e da Educação e submetidos à legislação

nacional específica para a área, os Programas de Residência Multiprofissional fazem parte

dessa política pública voltada para a educação permanente em saúde, cuja implantação nas

IES constituiu-se em experiência inovadora que contribuiu para a formação do corpo de

profissionais, aprofundando os conhecimentos teóricos, teórico-práticos e práticos dos

egressos da graduação e aperfeiçoando o atendimento ao paciente.

Na Lei 11.129, de 30 de junho de 2005, a Residência em área profissional da saúde é

definida como “modalidade de ensino de pós-graduação lato sensu, voltada para a educação

em serviço e destinada às categorias profissionais que integram a área de saúde, excetuada a

médica”, sob a forma de curso de especialização, caracterizado por ensino em serviço, em

regime de dedicação exclusiva e sob supervisão docente-assistencial. E, para deixar claro seu

objetivo político-pedagógico, já no parágrafo 1º, esclarece que se trata de um “programa de

cooperação intersetorial para favorecer a inserção qualificada dos jovens profissionais da

saúde no mercado de trabalho, particularmente em áreas prioritárias do Sistema Único de

Saúde” (grifo nosso).

A partir dessa lei, os Ministérios da Educação e da Saúde passaram a promover as

Residências Multiprofissionais nas Universidades, formando um arsenal de profissionais com

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perfil para modificar as práticas de saúde e criar uma nova cultura de intervenção e

entendimento da saúde no âmbito da rede pública. Assim, foi imprescindível manter ativo o

diálogo entre os vários atores envolvidos nesses Programas de Residência para constituir

equipes verdadeiramente integradas e desenvolver a assistência à saúde no contexto de uma

ação multiprofissional e interdisciplinar, compreendendo e tratando a gestão da educação na

saúde de forma mais ampla.

Nessa perspectiva, os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde se

configuram como alicerce para a formação qualificada dos profissionais de saúde, que

vivenciam a integralidade e a interdisciplinaridade como práticas cotidianas na construção do

conhecimento, formado a partir da especialização em serviço e contribuindo tanto para o

surgimento de novas práticas de ensino quanto para novos modelos de atenção à saúde. Dessa

forma, “de produto secundário, a implementação das diretrizes constitucionais do SUS

deveria passar a objetivo central e a educação em serviço ganhar estatuto de política pública

governamental” (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, p.45).

Portanto, não se pode negar que o programa da Residência Multiprofissional deve ser

considerado como uma tendência para a construção de políticas de formação de recursos

humanos na saúde. Em primeiro lugar, porque gerou micro rupturas na política hegemônica

da formação superior em saúde, na modalidade da residência, que, até então, era de

exclusividade da área médica. Depois, porque pretende ser uma estratégia para a implantação

do SUS, o que suscita perspectivas otimistas do Estado velar pelo cumprimento dessas

prescrições legais. (ROSA, VASCONCELOS, 2014)

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33

2 METODOLOGIA

Metodologia é o estudo de procedimentos e técnicas que permite a coleta e o

processamento de dados, visando à construção do conhecimento a partir da resolução de

problemas e/ou questões de investigação e com o propósito de comprovar sua validade e

utilidade nos diversos âmbitos da sociedade. Para Marconi e Lakatos (2010), “método é o

conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,

permite alcançar o objetivo, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando

as decisões do cientista” (p. 65).

Dessa forma, apresenta-se, nesta seção, o caminho metodológico utilizado, citando os

principais motivos que levaram a realizar tais escolhas. São detalhados o tipo de pesquisa, o

cenário, os sujeitos do estudo e as estratégias de coleta e análise dos dados.

2.1 Desenho de estudo

Esse estudo tratou-se de uma pesquisa do tipo exploratória-descritiva6, de corte

transversal e abordagem quantitativa. As pesquisas exploratórias têm o objetivo de

proporcionar mais informações acerca do assunto que vamos investigar, possibilitando sua

definição e delineamento. A pesquisa exploratória permite o estudo do tema sob diversos

ângulos e aspectos e envolve, em geral, levantamento bibliográfico, entrevistas e análise de

exemplos que estimulem a compreensão.

Já nas pesquisas descritivas, os fatos são observados, registrados, analisados,

classificados e interpretados, sem que o autor interfira sobre eles. Para coletar tais dados, o

pesquisador utiliza-se de técnicas específicas, dentre as quais se destacam entrevistas,

formulários e questionários, sendo este último a ferramenta utilizada neste trabalho, como

veremos adiante. Já o corte transversal diz respeito aos estudos que visualizam a situação de

uma população em um determinado momento, descrevendo um instante da realidade.

6 “As pesquisas descritivas são, juntamente com as pesquisas exploratórias, as que habitualmente realizam os

pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. Em sua forma mais simples, as pesquisas descritivas

aproximam-se das exploratórias, quando proporcionam uma nova visão do problema.” (PRODANOV,

FREITAS, 2013, p. 53).

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Sob o ponto de vista da forma de abordagem do problema, este trabalho é quantitativo,

uma vez que traduz em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las,

através de técnicas estatísticas. Essa forma de abordagem é empregada nas pesquisas

descritivas pela facilidade de poder descrever a complexidade de uma hipótese ou problema,

analisar a interação de variáveis, compreender processos dinâmicos de certos grupos sociais,

entre outros.

2.2 Técnicas de pesquisa para levantamento de dados

Este trabalho constituiu-se de três momentos: pesquisa bibliográfica, pesquisa

documental e estudo de caso. A pesquisa bibliográfica serviu para coletar informações já

publicadas sobre o tema que pudessem embasar a fundamentação teórica do trabalho. Como

fonte documental, utilizamos o banco de dados do Programa de Residência, relativo ao

período de formação das turmas pesquisadas, por meio do qual obtivemos acesso à relação

nominal dos egressos e seus dados para contato. Já o estudo de caso está relacionado à análise

do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do HC/UFPE, consistindo

no objeto a ser investigado.

Para atingir os objetivos propostos, os dados foram coletados através de questionário

composto por perguntas fechadas, de múltipla escolha e enviado por meio eletrônico para os

respondentes; tal ferramenta fez-se necessária porque muitos residentes são oriundos do

interior do Estado ou de outras regiões do país, sendo mais eficaz a utilização de coleta de

dados através do meio digital para abranger um maior número de participantes na pesquisa,

sendo desta forma uma demanda espontânea de coleta de dados. “Atualmente, os

pesquisadores têm utilizado meios eletrônicos para facilitar, agilizar e reduzir os custos

operacionais da pesquisa” (PRODANOV, FREITAS, 2013, p. 108).

O link do questionário foi enviado para o endereço eletrônico dos egressos a serem

pesquisados, obtidos conforme cadastro na Coordenação Geral do Programa. No corpo do e-

mail, os ex-residentes foram informados sobre os objetivos do trabalho e os direitos de sigilo

com relação aos seus dados pessoais. Ao final do texto, seguiu o link do questionário, o qual

era respondido online pelo ex-residente, e os dados armazenados para posterior tabulação e

análise.

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O questionário foi composto por 24 (vinte e quatro) perguntas de identificação sócio-

demográfica e de informações acadêmicas com relação à graduação e pós-graduação, além de

questões sobre a inserção no mercado de trabalho pelos residentes egressos e experiência

profissional, de forma a coletar os dados para a análise.

2.3 Locus da pesquisa

No Brasil, um dos cenários onde se desenvolve a política de educação permanente em

saúde são os Hospitais Universitários (HU). Segundo Medici (2001), os HU são aqueles

atrelados a uma IES que possuem as seguintes características: (1) são uma extensão de uma

instituição de ensino em saúde, por exemplo, uma faculdade; (2) são campo de prática de

treinamento universitário na área de saúde; (3) são credenciados como hospital-escola e (4)

oferecem atendimento de alta complexidade à população em geral.

Diante disso, percebemos que os HU são unidades de formação de profissionais de

saúde inseridos no contexto de demandas sócio-sanitárias. Assim, podemos dizer que são

centro de duas políticas de Estado: educação e saúde, que precisam ser articuladas de forma

conjunta para desenvolver tanto o aspecto educacional de formação e desenvolvimento de

recursos humanos para a área da saúde quanto o aspecto assistencial de provimento de

serviços de saúde especializados para a população, contribuindo para o desenvolvimento do

próprio SUS.

O Hospital das Clínicas (HC), inaugurado em 14 de setembro de 1979, é um dos órgãos

suplementares Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e se enquadra nessa definição de

hospital universitário. Atualmente, está sendo gerido pela Empresa Brasileira de Serviços

Hospitalares (Ebserh), empresa pública ligada ao Ministério da Educação responsável pela

gestão dos hospitais universitários federais. No âmbito do ensino, encontra-se vinculado ao

Ministério da Educação e Cultura, certificado como Hospital de Ensino, e, no plano da

assistência, integra o SUS através de contratualização com a Secretaria Estadual de Saúde.

Tem como pilares os campos do ensino, assistência e pesquisa através da prestação de

assistência médica-hospitalar por meio de atendimento ambulatorial, internamento e

procedimentos diagnósticos e terapêuticos aos usuários, nos níveis de referência de média e

alta complexidade, como, por exemplo, nas áreas de cardiologia intervencionista,

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neurocirurgia, transplante renal, obesidade grave e oncologia, com atendimento à população

de Pernambuco e de outros Estados da Região Nordeste.

Na área do ensino, mais especificamente no âmbito da pós-graduação “lato sensu”,

oferece, além de diversos cursos de especialização, os Programas de Residência Médica, de

Enfermagem, em Nutrição e Multiprofissional. Dos quatro Programas de Residência do

HC/UFPE, o pioneiro foi o Programa de Residência Médica, que teve início na instituição em

1958. Em seguida, no ano de 1993, foi implantado o Programa de Residência em Enfermagem

e em 1996, o Programa de Residência em Nutrição, ambos destinados, respectivamente, aos

graduandos egressos dos cursos de Enfermagem e Nutrição.

No entanto, na área de ensino da especialização em serviço, apesar de ter um histórico

de valorização da formação em serviço, foi com a criação do Programa de Residência

Multiprofissional Integrada em Saúde do HC/UFPE que o hospital abriu as portas para o

cuidado integrado do paciente. O programa foi implantado em 2010 por uma equipe

multiprofissional do hospital e estruturado para preencher uma lacuna na Instituição com

relação ao trabalho multiprofissional, integral, interdisciplinar e intersetorial, abarcando,

inicialmente, as categorias profissionais de Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Terapia

Ocupacional, Psicologia, Farmácia e Serviço Social.

Nessas categorias, o Programa oferece duas áreas de especialidade, a saber Saúde da

Mulher e Nefrologia, que foram consideradas, de acordo com o Projeto do Programa enviado

para análise do MEC no final de 2009, os campos de maior prioridade e projeção dentro e fora

do cenário local. Diante dessas temáticas foi que o Programa de Residência Multiprofissional

se preocupou em pensar em uma assistência ampla de saúde que visou não somente a

prevenção, reabilitação e a cura da doença, mas também o real entendimento por parte dos

profissionais da saúde a respeito das políticas públicas e do gerenciamento dessas políticas e

do funcionamento do SUS.

Assim, percebemos que o referido Programa está em consonância com a Portaria nº

1.996, de 20 de agosto de 2007, que dispõe sobre as diretrizes para a implementação da

Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, a qual determina que o objetivo da

política é recolocar a questão de que as demandas para a formação e desenvolvimento dos

trabalhadores no SUS não sejam definidas somente a partir de uma lista de necessidades

individuais de atualização e da capacidade de oferta e expertise de uma instituição de ensino,

mas considerem, prioritariamente, os problemas cotidianos referentes à atenção à saúde e à

organização do trabalho.

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Dentre os três Programas de Residência Multiprofissional existentes na UFPE7, este

Programa é o único de caráter hospitalar, que presta assistência aos usuários de uma unidade

de saúde de alta complexidade, tendo como contra-referência os rodízios na Unidade Básica

de Saúde da Família, constituindo-se em uma forma de ensino mais completa do ponto de

vista das experiências em rotinas de trabalho.

2.4 Sujeitos da pesquisa

Levando em conta os objetivos do trabalho, a população foi constituída pelos

residentes egressos de quatro turmas deste Programa, que concluíram a sua especialização em

serviço nos anos de 2012 a 2015. Dessa forma, os dados foram coletados através de

questionário eletrônico que foi enviado aos 54 (cinquenta e quatro) ex-residentes que

concluíram os Programas nos anos supracitados, constituindo-se em sujeitos do estudo. Desse

grupo, 24 ex-residentes, ou seja, 44,44% do total, participaram da pesquisa respondendo o

questionário eletrônico no mês de Março de 2016.

2.5 Interpretação e análise dos dados

Os resultados foram analisados a partir da formulação de planilhas e tabelas,

considerando o cálculo dos valores relativos obtidos através do Excel. Os dados foram

apresentados em forma de gráficos, que são figuras que servem para a representação dos

dados, permitindo a descrição imediata do fenômeno através de elementos geométricos que

representam dados estatísticos (MARCONI E LAKATOS, 2010).

7 Existem ainda na UFPE o Programa de Residência Multiprofissional em Saúda da Família do CCS e o

Programa de Residência de Interiorização de Atenção à Saúde do CAV.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise do perfil dos 24 egressos que responderam ao questionário nos permitiu

identificar alguns dados gerais como sexo, idade, naturalidade, categoria profissional, área de

concentração e ano de conclusão, objetivando traçar um perfil dos ex-residentes sujeitos dessa

pesquisa. Conforme tabela abaixo, percebemos que quase a totalidade dos residentes é do

sexo feminino (20), tem em média 30 anos e 58,3% são naturais da Região Metropolitana do

Recife. Além disso, 54,1% são da categoria profissional de Enfermagem ou Nutrição, 70,8%

são oriundos da área de concentração em Saúde da Mulher e são um retrato das quatro turmas

pesquisas, visto que os respondentes se dividem quase de forma homogênea entre os anos

pesquisados.

Tabela 1 – Descrição dos respondentes

Sexo Data de

Nascimento Naturalidade Categoria

Profissional Área de

Concentração Ano de

Conclusão

Feminino 24/09/1988 João Pessoa/PB Nutrição Nefrologia 2012

Feminino 26/08/1975 Mamanguape/PB Psicologia Saúde da Mulher 2015

Feminino 09/08/1986 Recife/PE Nutrição Nefrologia 2013

Feminino 23/05/1988 Olinda/PE Enfermagem Saúde da Mulher 2014

Feminino 06/01/1985 Recife/PE Psicologia Nefrologia 2015

Feminino 14/07/1988 Recife/PE Nutrição Saúde da Mulher 2015

Feminino 02/09/1986 Recife/PE Fisioterapia Saúde da Mulher 2014

Feminino 02/09/1986 Recife/PE Fisioterapia Saúde da Mulher 2014

Feminino 15/07/1985 Venturosa/PE Enfermagem Saúde da Mulher 2013

Feminino 12/10/1984 Olinda/PE Terapia Ocupacional Saúde da Mulher 2012

Masculino 27/08/1985 Limoeiro/PE Enfermagem Saúde da Mulher 2012

Feminino 01/07/1988 Recife/PE Nutrição Saúde da Mulher 2014

Feminino 21/04/1982 Recife/PE Fisioterapia Saúde da Mulher 2012

Masculino 14/06/1985 Recife/PE Fisioterapia Nefrologia 2013

Feminino 05/08/1984 Olinda/PE Enfermagem Nefrologia 2013

Feminino 29/05/1985 Orobó/PE Enfermagem Saúde da Mulher 2012

Feminino 11/08/1987 Bom Conselho/PE Psicologia Saúde da Mulher 2014

Feminino 02/05/1985 Recife/PE Terapia Ocupacional Saúde da Mulher 2014

Feminino 02/05/1983 Natal/RN Psicologia Saúde da Mulher 2012

Feminino 22/04/1987 Recife/PE Enfermagem Saúde da Mulher 2013

Feminino 28/07/1989 Timbaúba/PE Nutrição Saúde da Mulher 2013

Feminino 06/10/1989 Recife/PE Psicologia Nefrologia 2015

Masculino 19/08/1988 João Pessoa/PB Nutrição Nefrologia 2012

Masculino 17/10/1989 Lajedo/PE Enfermagem Saúde da Mulher 2014

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Resultado análogo foi encontrado no estudo de Melo et al (2012), cujos autores

ressaltaram o processo de feminilização do trabalho em saúde. No entanto, esse estudo

destacou que “não significa que, concretamente, tenha havido alteração significativa na

dinâmica interna da organização, nas necessidades específicas e do desejo, determinando

papéis sociais diferenciados e associados ao gênero masculino e feminino” (MELO et al,

2012, p. 21). Também no estudo de Gil (2005), foi constatada a predominância da

participação do sexo feminino nas especializações, sendo os dados do seu estudo são

“compatíveis com outros que vêm revelando, entre algumas tendências do mercado de

trabalho em saúde, a feminilização das profissões, como os estudos de Girardi & Carvalho;

Machado e Escorel sobre os profissionais inseridos nas equipes de saúde da família”. (GIL,

2005, p. 494).

Assim como no estudo de Dias et al (2008), que estudaram essa relação no Estado do

Ceará, a maioria dos egressos pesquisados atuam na região onde foi cursado o Programa de

Residência, sendo “importante destacar a presença expressiva dos egressos da RMSF na

Região Nordeste (em mais de dois terços dos estados nordestinos)” (DIAS et al, 2008, p. 41),

indicando a contribuição para o processo de consolidação local dos Programas de Residência,

bem como da especialização dos profissionais para o mercado de trabalho regional.

Outro ponto que gostaríamos de destacar é a idade média de conclusão do Programa

de Residência. Embora a idade não seja um fator excludente no processo seletivo dos

Programas de Residência em todo o país, conforme prevê a legislação sobre o tema estudada

acima, percebe-se uma forte concentração de idade em torno dos 30 anos neste tipo de

especialização em serviço, com residentes oriundos diretamente da graduação. Tal resultado

também foi corroborado pelo estudo de Melo et al (2012), onde “constatou-se que 18 alunos

encontravam-se na faixa etária de 20 a 30 anos no ano da conclusão da RMSF, caracterizando

a população estudada como de adultos jovens” (MELO et al, 2012, p. 21), prontos para se

inserirem no mercado de trabalho.

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Gráfico 1 – Cursos realizados após Residência

Após a conclusão do Programa de Residência, 81% dos egressos deram continuidade

aos estudos acadêmicos. Cinquenta e quatro por cento ingressaram no curso de Mestrado,

apontando uma forte influência do conteúdo teórico do Programa na formação do residente.

Além disso, podemos afirmar também que o peso do certificado de conclusão de uma

Residência em Saúde no processo seletivo do curso de Mestrado é relevante na aprovação do

candidato. Muitos editais de programas de pós-graduação strictu sensu na área de saúde

conferem pontuação elevada no processo seletivo aos candidatos que concluíram a Residência

em Saúde. Dezenove por cento ingressaram em um curso de especialização, outros 8% em

cursos teóricos diversos e apenas 19% não realizaram nenhuma outra qualificação. Outros

estudos, como o de Verdi et al (2006) e Melo et al (2012), também confirmaram esse achado,

ratificando uma forte tendência na continuidade dos estudos nas profissões ligadas à saúde.

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Gráfico 2 – Inserção no mercado de trabalho

Em nosso estudo, 17% dos egressos estão apenas estudando e não se inseriram ainda

no mercado de trabalho. Quarenta e seis por cento dos que estão trabalhando permaneceram

ligados à área de formação na Residência, seguindo na mesma especialidade escolhida para

aperfeiçoamento, enquanto 37% mudaram de área após a conclusão do curso e estão atuando

em um campo de atuação diferente da especialização em serviço. Embora esses números

sejam muito próximos, constatamos que a política pública em questão no HC/UFPE tem

cumprido seu objetivo de formar profissionais que estendem para além da especialização os

conhecimentos adquiridos, dando continuidade à formação recebida através da ação estatal.

Para Dias et al (2008), podemos inferir que os Programas de Residência têm atuado

como uma ferramenta de educação permanente e não apenas como qualificação profissional

desarticulada do processo de trabalho. “Essa afirmação é subsidiada pelo fato de que, uma vez

qualificados em um curso de pós-graduação, os profissionais permanecem inseridos em sua

área específica de atuação”. (DIAS et al, 2008, p. 42).

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Gráfico 3 – Tempo para inserção no mercado

O tempo de inserção no mercado de trabalho após a conclusão do Programa de

Residência foi bem rápido dentre aqueles que responderam ao questionário: 67% ingressaram

no mercado de trabalho em até três meses após a conclusão do curso. Da mesma forma, no

estudo realizado por Melo et al (2012) no Ceará, “a maior parte dos egressos da RMSF levou

menos de três meses para inserir-se no mercado de trabalho. Dos 22 egressos que

responderam ao formulário, 12 já estavam empregados antes de concluir a RMSF” (MELO et

al, 2012, p. 22).

Gráfico 4 – Vínculos empregatícios

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Cinquenta e oito por cento dos entrevistados possuem um vínculo empregatício,

enquanto 21% possuem dois ou mais vínculos de trabalho, este último fato bem característico

das profissões de saúde as quais, por lei, permitem o acúmulo de cargos.8 Além dessa

possibilidade jurídica de acúmulo de cargos, para Feuerwerker (1998), o processo de

deterioração salarial dos profissionais de saúde em nosso país é patente e causador da

multiplicidade de empregos simultâneos desses profissionais, o que, no entanto, não foi

verificado em nosso estudo, tendo em vista que a maioria dos entrevistados se dedica a apenas

um emprego.

Destacamos que os 21% dos entrevistados que declararam não possuir vínculo

empregatício englobam tanto os ex-residentes que se encontravam desempregados quanto os

profissionais liberais que trabalham de forma autônoma. Embora o segundo grupo perceba

algum tipo de rendimento, na relação de trabalho do profissional autônomo não há que se

falar em vínculo empregatício.

Gráfico 5 – Carga horária semanal

A maioria dos profissionais entrevistados, 31%, tem carga horária de trabalho semanal

de 30 horas; 22% trabalham até 20 horas e 17% dedicam 40 horas semanais ao trabalho. Já no

estudo de Melo et al (2012), a maioria dos egressos entrevistados trabalhava 40h, seguido dos

que trabalhavam 50h, 30h e 20h, demonstrando que o quesito carga horária de trabalho

semanal é bastante variável nas profissões de saúde e sofrem mudanças de acordo com a

demanda de mercado.

8 Constituição Federal, art. 37, inciso XVI, alínea c.

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Gráfico 6 – Renda mensal

Quarenta e dois por cento dos ex-residentes ganham de 1 a 3 salários mínimos, 29%

recebem entre 3 e 6 salários mínimos, 12% de 6 a 9 salários mínimos e 17% ganham de 9 a 12

salários mínimos. Melo et al (2012) descreveu que, com relação à remuneração, “05 dos

egressos afirmaram possuir salário entre R$ 1.000,00 e R$ 1.500 reais; 09 afirmaram receber

entre R$ 1.500 e R$ 2.000 reais; 02 se posicionaram que recebiam mais que 2.000 reais por

mês e 01 egressos não informou o valor da remuneração”. (MELO et al, 2012, p. 22).

Percebe-se que, comparativamente, nos dois estudos, a maioria dos entrevistados

declararam receber menos que R$2.640. Destaca-se que esse valor é menor do que a bolsa

paga mensalmente pelo Ministério da Educação ao residente da área de saúde em atuação, que

corresponde a R$3.330,43 (valor nacional unificado para todos os residentes em saúde),

mostrando uma desvalorização da mão de obra, mesmo especializada, na área de saúde.

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Gráfico 7 – Tipo de instituição onde trabalha

Em nosso estudo, 58% dos profissionais entrevistados trabalham em uma instituição

pública e 25% em uma empresa privada. Como vimos, uma das premissas da Política

Nacional de Educação em Saúde é formar profissionais para o SUS, que possam atuar no

Sistema Público de Saúde compartilhando os conhecimentos adquiridos através da política

pública, devolvendo em serviço para a sociedade o conhecimento adquirido gratuitamente

através da Residência.

Gráfico 8 – Vínculo profissional

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Os tipos de vínculo empregatícios encontrados foram bastante variados, onde

destacamos: 37% disseram estar sob o regime celetista por tempo indeterminado, 21% se

declararam funcionários estatutários efetivos, 13% são profissionais de dedicação exclusiva e

apenas 4% trabalham de forma autônoma. Este resultado é semelhante ao encontrado por

Melo et al (2012). Para esses autores, no setor saúde, observa-se uma “grande precarização

das relações de trabalho, aspecto que parece ser afim aos modernos movimentos do

capitalismo tardio, especialmente considerando o estabelecimento de novos ordenamentos

sociais” (MELO et al, 2012, p. 22).

Gráfico 9 – Tipo de atividade

Boa parte dos entrevistados estão ocupando funções de cunho assistencial, lidando

diretamente com o cuidado do paciente (65%), 22% estão se dedicando à docência e 4% estão

exercendo atividades gerenciais. Esse achado é semelhante ao verificado por Verdi et al

(2006) em Santa Catarina, onde, em termos de inserção no mercado de trabalho, verificou-se

que os primeiros egressos do Programa de Residência pesquisado no seu estudo “estão

inseridos no Sistema Único de Saúde em diferentes setores e níveis de gestão e atenção à

saúde, colaborando inclusive com a formação de novos profissionais em nível de graduação e

pós-graduação” (VERDI et al, 2006, p. 302).

O trabalho de Dias et al (2008) no Ceará encontrou o mesmo resultado. Lá, 51% dos

egressos atuam na atenção à saúde, “fato pode estar associado à maior disponibilidade de

vagas neste segmento, como também evidencia que os egressos da RMSF estão

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desenvolvendo processos de trabalho semelhantes aos que vivenciaram na formação da

RMSF” (DIAS et al, 2008, p. 41).

Gráfico 10 – Clientela atendida

Com relação à clientela atendida, quase metade dos entrevistados declararam prestar

assistência aos pacientes do SUS. Lembramos que a Lei 11.129/05, em seu artigo 13,

parágrafo primeiro, afirma que a Residência “constitui-se em um programa de cooperação

intersetorial para favorecer a inserção qualificada dos jovens profissionais da saúde no

mercado de trabalho, particularmente em áreas prioritárias do Sistema Único de Saúde”.

Nessa medida, percebe-se o caráter social da política pública analisada, a qual se preocupa

com o retorno da força de trabalho para o próprio SUS, revertendo para os pacientes os

saberes adquiridos na formação especializada.

A necessidade de construir novos saberes integrados a partir do cuidado e dos

cuidadores, aproveitando inteiramente as competências adquiridas por esses

trabalhadores em benefício dos usuários do SUS, é de fundamental importância para

a correção do atual modelo de atenção à saúde. Se a população brasileira foi

‘audaciosa’ para construir um arcabouço legal baseado nos princípios da

universalidade e integralidade da assistência à saúde, torna-se necessário liberar as

amarras da formação da saúde voltada, exclusivamente, para o mercado, buscando

uma nova formação, de modo que os cidadãos cuidados e os cidadãos cuidadores

tenham a liberdade de buscar os melhores caminhos e, neste sentido, a Residência

Multiprofissional, certamente é um deles. (BELCHIOR, SILVA. HYGINO, 2006, p.

394).

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Gráfico 11 – Outras atividades profissionais

Além da função assistencial, 35% dos entrevistados declararam de alguma forma

estarem ligados à docência e 22% afirmaram ocupar posição de Gerência ou Coordenação de

Serviço. Segundo Dias et al (2008), a presença dos egressos no segmento da docência indica o

potencial multiplicador dos Programas de Residência, o que consideramos importante face à

necessidade de que a formação em saúde esteja articulada a um processo teórico-prático

qualificado. “Isso os coloca num espaço mais amplo, permitindo-lhes desenvolver uma

análise articulada com a realidade, o que pode ser um fator potencializador da aprendizagem

significativa dos educandos envolvidos nos processos de formação em saúde” (DIAS et al,

2008, p. 41).

Em contrapartida, alguns autores consideram que esse movimento dos egressos dos

Programas de Residência para o ensino em saúde é um retrato da precarização da docência,

ocasionado, sobretudo, pela mercantilização da educação superior, tendo como causa

principal o crescimento da força de trabalho docente ocorrido, principalmente, no setor

privado e em novas universidades estaduais, em que as relações de trabalho e de contrato

existentes geralmente são precárias (BOSI, 2007). “E há ainda outros expedientes menos

ortodoxos de flexibilização da contratação e do regime de trabalho nas IES públicas, como a

utilização de alunos de pós-graduação como professores substitutos” (BOSI, 2007, p. 1508).

Já o fato dos egressos estarem assumindo cargos de Gerência ou Coordenação de

serviços é outro aspecto importante a destacar por ser uma evidência da contribuição do

Programa de Residência Integrada para a consolidação das premissas de formação de pessoal

do SUS, ao mostrar que profissionais que experenciaram um processo teórico-prático

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problematizador, crítico e reflexivo estão ocupando cargos destinados à organização,

estruturação e gestão da saúde pública. (DIAS et al, 2008).

Gráfico 12 – Percepção sobre a preparação para o mercado de trabalho

Após a conclusão da Residência, 65% dos entrevistados declararam sentir-se muito

preparados para o mercado de trabalho, apontando, assim, a qualidade do Programa

Multiprofissional ofertado aos profissionais da saúde pelo HC. Além disso, Rosa e

Vasconcelos (2014) destacaram em seu estudo que, com relação à opção do profissional em

participar do Programa de Residência, a maioria dos depoimentos ressaltou a importância

dessa capacitação, uma vez que o entendimento é de que, durante a formação acadêmica, o

modelo de graduação esteve voltado para o conhecimento técnico, com pouca vivência da

realidade da atenção em saúde no país. De acordo com Shikasho, a Residência é vista

como uma oportunidade privilegiada de complementação da formação, face ao

grande despreparo e insegurança enfrentados pelos recém-formados para atuarem no

mercado de trabalho. A realização da Residência, desse modo, aparece como uma

forma de suprir lacunas oriundas da formação profissional. (SHIKASHO, 2013, p.

86)

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Gráfico 13 – Percepção sobre a influência da Residência na inserção no mercado

Com relação à influência de cursar um Programa de Residência na inserção no

mercado de trabalho, quase a totalidade dos ex-residentes (96%) acredita que o fato de ter

concluído o Programa influenciou na aquisição do emprego. Como dissemos anteriormente,

nos processos seletivos da área da saúde, a conclusão de Programas de Residência possui

pontuação elevada nos editais tanto da área acadêmica quanto assistencial.

Similarmente, em estudo realizado na Bahia, Vilasbôas (2006) relata que os egressos

têm sido contratados por secretarias municipais de saúde da Bahia e de outros estados da

Região Nordeste, bem como pela Secretaria de Saúde daquele Estado para executarem

funções de coordenação da implantação do PSF, além de inserção de egressos no Ministério

da Saúde e na Fiocruz e outros egressos atuando como membros de equipes de saúde da

família. Segundo a autora, esses dados “parecem indicar o acerto da decisão político-

institucional (...) em investir nesse tipo de especialização, com vistas a apoiar a reorganização

da atenção básica no estado” (VILASBÔAS, 2006, p. 56).

Também Brito e Santos (2006), em seu artigo sobre a experiência multiprofissional em

um Programa de Residência em Aracaju/SE, realizou uma “avaliação qualitativa de que o

processo formativo facilitou a inserção de profissionais no mercado de trabalho, com um

acúmulo de saberes diferenciado”. (BRITO, SANTOS, 2006, p. 74).

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Gráfico 14 – Satisfação quanto às competências adquiridas

Especificamente sobre à satisfação com relação às competências adquiridas, metade

dos egressos afirmaram estar em parte satisfeitos, 41% totalmente satisfeitos e apenas 9%

pouco satisfeitos, apontando, assim, para a qualidade do Programa ofertado. Dados

semelhantes foram achados por Melo et al (2012): sobre a satisfação das competências

adquiridas para o exercício da profissão/emprego, 59% dos egressos julgaram ser totalmente

relevantes as competências adquiridas no Programa de Residência, enquanto 41% avaliaram

parcialmente importante as competências obtidas durante a especialização em serviço.

Gráfico 15 – Competências utilizadas no trabalho

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As competências adquiridas na Residência e utilizadas no mercado de trabalho foram

bastante equivalentes: 29% afirmaram que a competência humana foi a mais

predominantemente adquirida no Programa, outros 29% destacaram a competência técnica,

24% apontaram os conceitos éticos e 18% os conhecimentos didáticos-pedagógicos. Esse

perfil de competências revela a potencialidade pedagógica e política do Programa de

Residência para a transformação das práticas de cuidado em saúde e a necessidade de pensar a

formação a partir de uma perspectiva ampliada do processo saúde-doença, uma vez que

é a partir da vivência prática nos serviços, permeada por um suporte pedagógico

específico e voltado para as necessidades da população, que se concretiza uma

formação técnica e humanística do profissional de saúde, uma vez que as situações-

problema vivenciadas no cotidiano desses profissionais exigem ações que

extrapolem o âmbito puramente científico/clínico. (MELO et al, 2012, p. 23)

Gráfico 16 – Continuidade da atuação multiprofissional

Nesse estudo, foi impossível não preocupar-se com a continuidade da atuação

multiprofissional no ambiente profissional. Oitenta e dois por cento dos entrevistados

afirmaram ainda atuar de forma multiprofissional no trabalho enquanto apenas 18% trabalha

de forma individual na prestação dos serviços de saúde, mostrando, assim, uma tendência de

trabalho integrado entre as profissões de saúde, o que ratifica os investimentos do Ministério

da Educação nesta forma de trabalho.

Com a criação do SUS na CF, não só a formação, mas, sobretudo, a atuação dos

profissionais de saúde no Brasil sofre uma profunda mudança de conceito. Se antes a

especialização médica era a predominante, com a formulação da Política Nacional de

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Educação Permanente em Saúde baseada, entre outros, no princípio da integralidade do SUS,

os Programas de Residência Multiprofissional ganham espaço nas ações inovadoras do

Estado.

De acordo com Stephan-Souza, Oliveira e Castro (2011), torna-se imperativo um

processo de formação para o trabalho em saúde que tenha como norte o trabalho coletivo e a

construção de uma atenção à saúde pautada no cuidado

uma vez que os trabalhadores de saúde podem ser importantes e potentes

dispositivos para a modificação dos serviços de assistência à saúde através do

reconhecimento de que os serviços de saúde possuem uma natureza pública, da

necessidade do desenvolvimento do trabalho a partir de valores humanitários e da

solidariedade e do reconhecimento dos direitos de cidadania. (Stephan-Souza,

Oliveira e Castro, 2011, p. 106).

Gráfico 17 – Motivação para atuar em outra área

Sobre as motivações para atuar em uma área diversa daquela adquirida na

especialização em serviço, os egressos destacaram a motivação intelectual, ou seja, o desejo

de continuar aprendendo por razões de aprimoramento (26%). Já dezesseis por cento

responderam que a falta de oportunidade no mercado de trabalho para a especialização

escolhida foi o fator que levou a atuação em área diversa da formação em serviço. Infere-se,

assim que a permanência ou não na especialidade cursada pode, dentre outros fatores, ser

determinada pela própria conformação do mercado de trabalho, ou seja, pela empregabilidade,

remuneração e possibilidade de crescimento profissional.

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Para Feuerwerker (1998), grande parte dos egressos dos programas de Residência

exercem atividades profissionais em outras áreas que não a de sua especialização. Para a

autora, esse fato era esperado, “considerando que não estão operando mecanismos eficientes

de concatenação entre a formação de especialistas e as necessidades do mercado público e

privado, mas esse fato desqualifica em parte essa “inserção privilegiada” no mercado”

(FEUERWERKER, 1998, p. 58).

Gráfico 18 – Influência na aquisição do emprego

Considerando que o Programa de Residência influencia ou influenciou na conquista do

seu vínculo profissional, 30% dos egressos afirmaram que a titulação de especialista fornecida

pelo Programa de Residência foi decisiva para uma maior pontuação em processos seletivos,

maior, inclusive, que outros cursos ou mesmo tempo de serviço. Em seguida, com 27%, a

experiência prática adquirida durante os dois anos de especialização em serviço foi o fator que

mais influenciou na aquisição do emprego.

Para Feuerwerker (1998), os Programas de Residência possuem um duplo papel na

formação dos profissionais de saúde:

complementar o processo de graduação, tendo em vista as deficiências amplamente

reconhecidas desse processo. E também oferecer a especialização como uma

possibilidade de melhor inserção no mercado de trabalho, constituindo uma forma

específica de ingresso no mercado. (FEUERWERKER, 1998, p. 58).

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Gráfico 19 – Dificuldades para inserção no mercado de trabalho

Com relação às dificuldades para inserção no mercado de trabalho, os motivos foram

bastante diversificados, mas destaca-se a baixa remuneração ofertada pelos empregadores

(26%). Em seguida, 16% referiram que os concorrentes ao mesmo posto de trabalho eram

mais bem qualificados que os egressos dos Programas de Residência e 13% disseram que

vislumbravam melhor oportunidade de trabalho em área diversa da escolhida para

especialização.

Para Shikasho (2013), medidas liberal/privatistas, a exemplo do Estado mínimo,

privatização acelerada e incentivo a mecanismos de regulação mercadológica, têm trazido

implicações diretas no mundo do trabalho, com desdobramentos no setor da saúde, através do

sucateamento dos serviços públicos, a precarização das formas de trabalho, a má remuneração

dos profissionais de saúde e as dificuldades no processo de contratação e gestão da força de

trabalho, o que dificulta, segundo a autora, a inserção dos egressos no mercado de trabalho.

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CONCLUSÕES

Após a análise dos resultados, é indiscutível a importância da implantação de políticas

para a formação dos profissionais da saúde, especialmente para as categorias “não médicas”,

que eram, antes da implantação da Política Nacional de Educação em Saúde, pouco

priorizadas no sentido da formação profissional continuada. Essa formulação de uma política

específica para o campo de recursos humanos na área da saúde representa pauta de

reivindicação histórica no âmbito do Movimento da Reforma Sanitária, que só foi possível

graças à aproximação entre as políticas de educação e saúde.

A compreensão dos processos de formação profissional no âmbito da saúde pública

como possibilidade de produzir novas práticas dá destaque às Residências Multiprofissionais

em Saúde, que, por terem uma metodologia de ensino pautada na intercessão ensino/serviço,

tornam-se uma das ações estratégicas no processo de consolidação do SUS.

Observando os dados coletados, podemos traçar o perfil dos egressos do Programa: a

maioria é do sexo feminino, formada por jovens adultos de, em média, 30 anos, naturais da

Região Metropolitana do Recife e enfermeiros ou nutricionistas por formação. São

profissionais que valorizam o processo formativo das profissões da área de saúde, por isso

deram continuidade aos estudos acadêmicos mesmo após a conclusão da especialização em

serviço. Esses egressos permaneceram ligados à área de formação na Residência e

ingressaram no mercado de trabalho em até três meses após a conclusão do curso.

No âmbito do trabalho, os ex-residentes possuem apenas um vínculo empregatício,

carga horária de trabalho semanal de 30 horas, trabalham em uma instituição pública, sob o

regime celetista por tempo indeterminado e ocupam funções de cunho assistencial, prestando

assistência aos pacientes do SUS. Normalmente ganham de 1 a 3 salários mínimos, valor

menor do que a bolsa paga mensalmente pelo Ministério da Educação ao residente da área de

saúde. Além da função assistencial, estão também ligados à docência ou à posição de

Gerência ou Coordenação de Serviço. Concluem a Residência sentindo-se muito preparados

para o mercado de trabalho por conseguir suprir as lacunas oriundas da formação profissional

na graduação, demonstrando-se satisfeitos com relação às competências adquiridas na

especialização. Acreditam que o fato de terem concluído o Programa influenciou na aquisição

do emprego e afirmaram ainda atuar de forma multiprofissional no trabalho.

Diante do exposto, podemos afirmar que, em nossa pesquisa, comprovamos

parcialmente nossa hipótese, verificando que a atuação profissional dos residentes egressos

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do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do HC/UFPE na

especialidade adquirida varia em função das demandas do mercado de trabalho, com os

egressos permanecendo em ambientes multiprofissionais, porém atuando em diversos tipos de

função, como, por exemplo, a gerência e a docência.

No entanto, constatamos que – diferente da nossa suposição inicial de que a Política

Nacional de Educação Permanente em Saúde não forma profissionais especializados que

trabalham prioritariamente no SUS, não refletindo na saúde pública o investimento ofertado

pela política pública em questão – os egressos estão sendo absorvidos, em sua maioria, pelas

vagas ofertadas pelo SUS, que ainda se apresenta como o maior empregador na área de saúde,

mesmo que oferecendo vínculos de forma precária tendo em vista que a maioria dos egressos

encontra-se sob o regime celetista.

Mesmo a Residência sendo uma formação em serviço, não se pode perder o foco de

que se trata de um curso de especialização lato sensu. Assim, mesmo estando obrigada por lei

a dividir sua carga horária entre 20% teórica e 80% prática, sugere-se à gestão do Programa

que, baseado no fato de que os egressos dão continuidade aos estudos após a conclusão do

Programa e atuam, muitas vezes, como professores, ofereça um maior aporte teórico durante o

processo de formação do residente, fazendo uma ponte mais estreita com os Departamentos

respectivos a cada categoria profissional participante do Programa.

Estendendo um olhar macro sobre o tema, entende-se que as dificuldades no processo

de contratação e gestão da força de trabalho podem ser minimizadas com a realização de mais

concursos públicos, tendo em vista o alcance do fim último da política pública em questão

que é formar profissionais que trabalhem, prioritariamente, no SUS. Espera-se que haja, em

consonância com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, no qual as

Residências constituem-se como aposta estratégica, uma política que privilegie a abertura de

concursos públicos de modo que este novo perfil de profissional formado seja valorizado por

meio de sua inserção efetiva nas instituições de saúde.

Em que pesem as dificuldades relatadas pelos egressos para a aquisição do emprego,

podemos afirmar que o Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde do

HC/UFPE trouxe ganhos para seus egressos, expressos especialmente pela possibilidade de

inserção no mercado de trabalho, ao possibilitar rever os caminhos para a formação

profissional, na perspectiva de um trabalho mais integrado, com trocas de saberes, e,

sobretudo, com maiores possibilidades de inserção no mundo do trabalho de profissionais

aptos a oferecerem atenção à saúde qualificada.

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APÊNDICE – QUESTIONÁRIO PARA RESIDENTES EGRESSOS DO PROGRAMA DE

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE DO HC/UFPE

1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

2. Idade: _____

3. Naturalidade: ______________________

4. Informe as características de seu Programa de Residência Multiprofissional Integrada em

Saúde do HC/UFPE (PRMIS):

Categoria profissional: ______________________

Área de concentração: ______________________

Ano de conclusão (4 dígitos): __________

5. Informe os outros cursos (apenas os mais importantes) que você cursou ou está cursando

APÓS a conclusão do PRMIS:

Outra Residência: ______________________

Especialização: ______________________

Mestrado: ______________________

Doutorado: ______________________

Outra graduação: ______________________

Não fez nenhum curso após a conclusão do PRMIS: ______________________

Outros: ______________________

6. Você está exercendo atividade profissional atualmente?

( ) Sim, na área de minha especialidade do Programa de Residência

( ) Sim, fora da área de minha especialidade do Programa de Residência

( ) Apenas estudando

( ) Não estou trabalhando nem estudando

7.Quanto tempo houve entre a conclusão do PRMIS e o início de sua atividade profissional?

( ) Até 03 meses

( ) De 03 meses a 01 ano

( ) De 01 a 02 anos

( ) De 02 a 03 anos

( ) Mais de 03 anos

( ) Outros: ______________________

8. Quanto ao(s) seu(s) emprego(s) remunerado(s), quantos vínculos empregatícios você possui

atualmente?

( ) 01

( ) 02

( ) Mais de 02

( ) Não possuo vínculo empregatício

9. No que diz respeito à carga horária de trabalho semanal, quanto tempo você trabalha

atualmente?

( ) Até 20 horas

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( ) 30 horas

( ) 40 horas

( ) 50 horas

( ) 60 horas ( ) Mais de 60 horas

10. Qual a sua renda mensal aproximadamente:

( ) Nenhuma renda

( ) De 1 a 3 salários mínimos

( ) De 3 a 6 salários mínimos

( ) De 6 a 9 salários mínimos

( ) De 9 a 12 salários mínimos

( ) De 12 a 15 salários mínimos

( ) Mais de 15 salários mínimos

11. Considerando o vínculo empregatício que lhe proporciona maior rendimento mensal,

informe as características da instituição onde você trabalha:

( ) Pública

( ) Privada

( ) Outros: ______________________

12. Considerando o vínculo empregatício que lhe proporciona maior rendimento mensal,

informe as características do seu vínculo profissional:

( ) Autônomo – pessoa física

( ) Cooperado

( ) CLT tempo indeterminado

( ) CLT tempo determinado

( )Estatutário efetivo

( ) Cargo comissionado

( ) Pessoa jurídica

( ) Dedicação exclusiva

( ) Outros: ______________________

13. Considerando o vínculo empregatício que lhe proporciona maior rendimento mensal,

informe as características do tipo de atividade que você desempenha:

( ) Gerencial

( ) Assistencial

( ) Docência

( ) Auditoria

( ) Consultoria

( )Outros: ______________________

14. Considerando o vínculo empregatício que lhe proporciona maior rendimento mensal, para

que tipo de clientela você presta assistência:

( ) SUS

( ) Convênios

( ) Particular

( ) Não trabalho na área assistencial

( ) Outros: ______________________

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15. Que outras funções/atividades relacionadas à sua especialidade você exerce (docência,

gerência, auditoria, consultora, etc) além da assistencial:

( ) Docência

( ) Gerência/Coordenação

( ) Auditoria

( ) Consultoria

( ) Não exerço outras funções/atividades além da assistencial

( ) Outro: ______________________

16. Informe as razões pelas quais você dedica (ou precisa dedicar) parte de suas horas

semanais de trabalho a outras atividades/funções em especialidades diferentes daquela que

você adquiriu no seu Programa de Residência. Marque quantas julgar necessário.

( ) Falta de oportunidade no mercado de trabalho para a especialidade adquirida

( ) Necessidade em diversificar, objetivando incorporação de novas tecnologias

( ) Motivação intelectual (desejo continuar aprendendo por razões de aprimoramento)

( ) Remuneração baixa na especialidade adquirida

( ) Não dedico tempo algum para atividades fora da minha especialidade

( ) Outras razões: ______________________

17. Do conjunto de atividades/funções que você exerce, qual é a que lhe proporciona maior

rendimento mensal?

( ) É a mesma da especialidade adquirida no meu Programa de Residência

( ) É diferente da especialidade adquirida no meu Programa de Residência

18. Você se sentiu melhor preparado para o mercado de trabalho quando concluiu o Programa

de Residência?

( ) Muito

( ) Razoavelmente

( ) Pouco

( ) Nada

19. Você acredita que o Programa de Residência influencia ou influenciou na conquista do

seu vínculo profissional

( ) Sim

( ) Não

20. Considerando que o Programa de Residência influencia ou influenciou na conquista do

seu vínculo profissional, qual o motivo? Marque quantas julgar necessário.

( ) Forneceu maior experiência prática na área de especialidade escolhida

( ) Forneceu maior conteúdo teórico na área de especialidade escolhida

( ) Forneceu maior habilidade nas relações interpessoais vivenciadas no ambiente

profissional

( ) A titulação forneceu mais pontos na seleção/concurso para aquisição da vaga no

mercado de trabalho que outras especializações ou tempo de serviço

( ) Outras razões: ______________________

21. Como você mede a sua satisfação com relação às competências adquiridas no Programa

de Residência para o exercício da profissão/emprego.

( ) Totalmente satisfeito

( ) Em parte satisfeito

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( ) Pouco satisfeito

( ) De forma alguma satisfeito

22. Quais as principais competências adquiridas no PRMIS e utilizadas no exercício diário do

seu emprego? Marque quantas julgar necessário.

( ) Humana

( ) Técnica

( ) Ética

( ) Didático-pedagógica

( ) Outra: ______________________

23. No seu ambiente de trabalho, você continua atuando de forma multiprofissional?

( ) Sim

( ) Não

24. Na sua opinião, que fatores dificultaram ou dificultam a sua inserção no mercado de

trabalho. Marque quantas julgar necessário.

( ) Inexperiência

( ) Melhor oportunidade em outra área

( ) Motivos particulares

( ) As pessoas com formação superior a sua eram candidatas a emprego correspondente a

sua formação

( ) Não era a especialidade que gostaria de trabalhar a princípio

( ) Baixa remuneração

( ) Outras razões: ______________________