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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE DESIGN WILTON CÉSAR DE AZEVÊDO DESIGN GRÁFICO E FOTOGRAFIA: FUNDAMENTOS DO DESIGN E IMAGEM FOTOGRÁFICA CARUARU 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE DESIGN

WILTON CÉSAR DE AZEVÊDO

DESIGN GRÁFICO E FOTOGRAFIA: FUNDAMENTOS DO DESIGN E IMAGEM FOTOGRÁFICA

CARUARU

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE DESIGN

WILTON CÉSAR DE AZEVÊDO

DESIGN GRÁFICO E FOTOGRAFIA: FUNDAMENTOS DO DESIGN E IMAGEM FOTOGRÁFICA

Monografia apresentada ao Curso de Design da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, para obtenção do grau de Bacharel em Design.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Romero Lopes Barbosa.

CARUARU

2016

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Catalogação na fonte:

Bibliotecária - Simone Xavier CRB/4-1242

A994d Azevêdo, Wilton César de.

Design gráfico e fotografia: fundamentos do design e imagem fotográfica. / Wilton César de Azevêdo. - Caruaru: O Autor, 2016.

109f. il. ; 30 cm. Orientador: Eduardo Romero Lopes Barbosa. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de

Pernambuco, CAA, Design, 2016. Inclui referências bibliográficas 1. Desenho (Projetos). 2. Artes gráficas. 3. Fotografia. I. Barbosa, Eduardo Romero

Lopes. (Orientador). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2016-018)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE DESIGN

PARECER DE COMISSÃO EXAMINADORA

DE DEFESA DE PROJETO DE

GRADUAÇÃO EM DESIGN DE

WILTON CÉSAR

“Design Gráfico e Fotografia: Fundamentos de Design e Imagem

Fotográfica”

A comissão examinadora, composta pelos membros abaixo, sob a presidência

do primeiro, considera o aluno WILTON CÉSAR

APROVADO

Caruaru, 13 de janeiro de 2016.

Professor EDUARDO ROMERO LOPES BARBOSA

Professora SOPHIA COSTA

Professora DANIELA BRACCHI

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Ao Prof. Eduardo Romero; meus pais Antônio Bezerra e Maria Adelina

e minha esposa Mirtes Azevêdo.

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"Não fazemos uma foto apenas com a câmera; ao ato de

fotografar trazemos todos os livros que lemos, os filmes

que vimos, a música que ouvimos e as pessoas que

amamos".

Ansel Adams

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RESUMO

O presente trabalho propõe debater sobre a relevância das aplicações dos Novos

Fundamentos do Design de Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips (2008) no processo

fotográfico, pressupondo que os processos de pré-produção e pós-produção

fotográfica podem ser percebidos como um projeto de Design Gráfico, pois a

imagem fotográfica, enquanto representação visual, nem sempre é entendida como

possibilidade de projeto gráfico, tendo o Design como referência. Portanto, esta

pesquisa está estruturada da seguinte maneira: É realizado um diálogo entre as

disciplinas Design Gráfico e Fotografia; dentre vários autores das áreas citadas,

Lupton (2008); Freeman (2012); Hedgecoe (2007); e Dondis (2007) conduzirão os

temas pesquisados. A pesquisa dá ênfase aos Fundamentos do Design passíveis de

serem aplicáveis aos processos fotográficos, quais sejam: enquadramento;

figura/fundo; escala; tempo e movimento; cor; textura; camadas e transparência.

Dentre os vários Fundamentos do Design apresentados na obra de Lupton, a

pesquisa pressupõe que os fundamentos citados acima podem ser os principais a

serem trabalhados também em processos de composição fotográfica.

Palavras-chave: Design Gráfico. Fotografia. Fundamentos do Design.

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ABSTRACT

This paper proposes debate on the relevance of applications of the new Ellen Design

Basics Lupton and Jennifer Cole Phillips (2008) in the photographic process,

assuming that pre-production processes and post-production photography can be

perceived as a project Graphic design, because the photographic image as a visual

representation is not always understood as a possibility for graphic design with the

design by reference. Therefore this research is structured as follows: It is conducted

a dialogue between disciplines Graphic Design and Photography; Among several

authors of the aforementioned areas, Lupton (2008), Freeman (2012), Hedgecoe

(2007) and Dondis (2007) will lead the researched topics; The research will focus on

design basics that can be applied to photographic processes: framework; figure /

ground; scale; time and motion; color; texture; layers and transparency. Among the

various Fundamentals of Design presented the work of Lupton, research assumes

that the grounds cited the above may be the main reasons to be also worked in

photographic composition processes.

Keywords: Graphic Design. Photography. Fundamentals of Design.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 10

1. FOTOGRAFIA E DESIGN GRÁFICO .................................................................................................. 15

1.1. A origem da imagem fotográfica .......................................................................................... 15

1.2. A fotografia como produto industrial .................................................................................... 19

1.3. A influência das Vanguardas ................................................................................................ 21

1.4. O ingresso da fotografia nos movimentos de vanguarda ................................................. 22

1.5. O ingresso da fotografia no design gráfico ..................................................................... 22

1.6. O impacto da imagem fotográfica na era digital: O último grande evento da fotografia.

........................................................................................................................................................... 26

1.7. Fotografia e pós-produção .................................................................................................... 26

1.8. Design gráfico: Um breve percurso histórico e suas principais funções........................ 29

1.8.1. As funções do design gráfico ........................................................................................ 30

2. FUNDAMENTOS DE DESIGN GRÁFICO ............................................................................................... 33

2.1. O design gráfico como referência na composição fotográfica ......................................... 33

2.1.1. A Importância dos Fundamentos .................................................................................. 35

3. Fundamentos de Design Gráfico e os processos fotográficos .......................................................... 38

3.1. Enquadramento ....................................................................................................................... 38

3.1.1. A Dinâmica do Quadro ................................................................................................... 38

3.1.2. Orientações - Vertical e Horizontal ............................................................................... 40

3.1.3. O Quadrado ...................................................................................................................... 43

3.1.4. Quadros Dentro de Quadros ......................................................................................... 44

3.1.5. Recorte .............................................................................................................................. 45

3.1.6. Regra dos Terços ............................................................................................................ 46

3.2. Figura/Fundo ........................................................................................................................... 47

3.2.1. Primeiro e segundo plano .............................................................................................. 47

3.2.2. O Primeiro Plano, a figura. ............................................................................................. 49

3.2.3. O Segundo Plano, o fundo. ............................................................................................ 50

3.2.4. Foco Seletivo e a Profundidade de Campo................................................................. 52

3.2.5. Fusões ............................................................................................................................... 54

3.3. Escala ....................................................................................................................................... 55

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3.3.1. Representando escalas por meio da imagem ............................................................ 55

3.3.2. Relatividade, Ambiguidade e Ponto de Vista. ............................................................. 57

3.3.3. Grandes objetos em pequenas imagens ..................................................................... 58

3.3.4. Numa escala menor ........................................................................................................ 60

3.4. Tempo e movimento ............................................................................................................... 61

3.4.1. Temporalidades ............................................................................................................... 61

3.4.2 Velocidade ......................................................................................................................... 63

3.4.3. Ritmo ................................................................................................................................. 65

3.4.4. Momento ........................................................................................................................... 66

3.4.5. Fotografia: Memória, Indícios, Traços, Vestígios. ...................................................... 68

3.5. Cor............................................................................................................................................. 72

3.5.1. Princípios e conceitos da cor. ........................................................................................ 72

3.5.2. O círculo cromático ......................................................................................................... 75

3.5.3. Sistemas Cromáticos. Teoria básica das cores.......................................................... 76

3.5.4. As relações entre as cores ............................................................................................ 79

3.5.5. Compondo com luz e cor ............................................................................................... 81

3.5.5.1. A Direção da luz ........................................................................................................... 81

3.5.5.2. A Qualidade da luz ....................................................................................................... 83

3.5.6. Filtros Cromáticos ............................................................................................................ 85

3.5.7. O Preto e Branco ............................................................................................................. 86

3.6. Textura ..................................................................................................................................... 89

3.6.1. O aspecto das superfícies .............................................................................................. 89

3.6.2. Padrões como texturas ................................................................................................... 91

3.6.3. Pontos, Grãos, Pixels ..................................................................................................... 94

3.6.4. Resolução e textura ........................................................................................................ 94

3.7. Camadas e Transparências .................................................................................................. 96

3.7.1. Formas sob outras formas ............................................................................................. 96

3.7.2. Camadas Digitais ............................................................................................................ 98

3.7.3. Múltiplas Exposições ...................................................................................................... 98

3.7.4. Formas e objetos translúcidos .................................................................................... 100

3.7.5. O Fotograma .................................................................................................................. 101

3.7.6. Colagem .......................................................................................................................... 103

Considerações finais ............................................................................................................................ 105

Referências .......................................................................................................................................... 108

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INTRODUÇÃO

A humanidade sempre buscou registrar aquilo que vê por meio das Imagens.

As formas de expressão, criadas pelo homem, as técnicas e meios de produção

variam radicalmente em tempos, lugares e circunstâncias diferentes. Por séculos,

coube aos artistas esta tarefa: a capacidade de desenhar e reproduzir o mundo tal

como lhe é apresentado por meio de tintas, carvão e outros materiais, porém, todo

talento especial - até então exclusivo dos artistas - sofreu um forte impacto quando,

em janeiro de 1839, o mundo recebeu a notícia de que era possível capturar as

imagens vistas pelo olho humano por meio de uma câmera (HACKING, 2012).

A partir de então, o desenvolvimento da Fotografia representou uma

revolução para os campos das Artes Visuais. O status dos artistas visuais e sua

relação com a sociedade sofrem uma drástica transformação e sua singularidade

insubstituível viu-se ameaçada por esse novo método de obter imagens. Agora é

possível registrar mecanicamente - e de forma rápida - uma infinidade de detalhes,

questionando a própria função da Arte. O talento especial que era adquirido e os

anos de aprendizado necessários que modelavam e proporcionavam as habilidades

artísticas passaram a ser desafiados por um aparelho que, depois de um breve

período de aprendizado, poderia ser utilizado pela grande maioria da população

(DONDIS, 2007).

Durante o século XX, ocorre outra importante fase para a Fotografia, pois, é

neste período que surge uma avassaladora revolução mecânico-eletrônica, que

proporcionou infinitos avanços tecnológicos que tornaram possíveis a popularização

da Fotografia (DONDIS, 2007). Ainda no século XX, percebe-se o impacto da

Fotografia na Comunicação Visual, impulsionado por necessidades sociais e

comerciais. Essa percepção é constatada tanto no âmbito familiar como nos meios

da produção cultural, artística e no Design Gráfico. A Fotografia marca presença de

destaque no Cinema, nos meios de comunicação de massa, na mídia impressa, nas

embalagens, capas de disco, entre outros.

Assim como a Fotografia, o Design Gráfico teve sua consolidação durante o

século XX. Durante as décadas de 1920 e 1930, assim como os artistas, os

designers enfrentaram o desafio representado pelo surgimento da Fotografia,

passando a explorar e a se utilizar desse novo veículo de comunicação,

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particularmente durante o período modernista, sob a influência dos artistas das

Vanguardas Históricas e da Bauhaus.

Apesar de algumas limitações técnicas, diversos experimentos e inovações

foram feitas a partir do uso da Fotografia. Os designers cortavam e justapunham

fotos, compunham com fotomontagens, utilizavam técnicas como os fotogramas,

dentre outras (HOLLIS, 2000). Rapidamente, essa nova ferramenta se popularizou e

trouxe um maior potencial de persuasão nas peças de Design Gráfico,

proporcionando novas ações comunicativas por sua qualidade de credibilidade. Os

designers seguem utilizando a Fotografia durante as décadas seguintes até a

contemporaneidade.

“Seja trabalhando com fotografias, tipos, desenhos, ilustrações e outras

formas de representação gráfica, a visão mais vigorosa torna-se inútil sem a

habilidade de inseri-la num contexto palpável” (LUPTON, 2008, p.10). Desenvolver

uma composição gráfica eficaz e, com isso, solucionar problemas visuais é o que se

imagina ser o grande objetivo dos designers e dos artistas gráficos. Tomar decisões

compositivas determina o significado e a mensagem visual pretendida, e é nessa

etapa do processo criativo que o comunicador exerce o controle sobre sua criação.

Na obra Novos Fundamentos do Design (Título original: Graphic Design: The

New Basics, 2008), Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips refletem sobre essa

necessidade vital do exercício do Design Gráfico, apresentando uma proposta que

visa suprir as necessidades de estudantes, projetistas e designers que buscam

explorar os elementos de composição, mostrando como proporcionar riqueza visual

e complexidade, com base em relações simples.

Em resumo, a obra se propõe ser um guia conciso e visualmente inspirador

para o Design Gráfico. A mesma foi escolhida como o principal referencial teórico

por conter importantes fundamentos que dão origem à criação de impressos como

cartazes, embalagens, editoriais, além de páginas de internet, etc. Mostrando a

importância do equilíbrio entre habilidades técnicas, criatividade e o planejamento

visual crítico. É importante frisar no contexto dessa pesquisa que inúmeros

exemplos apresentados na obra Novos Fundamentos do Design são imagens

fotográficas.

No livro, são apresentados dezesseis Fundamentos do Design Gráfico, dos

quais sete deles foram aqui pensados como os fundamentos que poderão vir a ser

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aplicáveis nos processos de pré-produção e pós-produção fotográfica, são eles:

enquadramento; figura/fundo; escala; tempo e movimento; cor; textura; camadas e

transparência. Assim, este trabalho consiste em debater esses fundamentos do

design, seus efeitos conotativos, a linguagem do Design Gráfico e da Fotografia e a

inter-relação dessas duas disciplinas.

Nesse viés, o objetivo geral desta pesquisa é debater a importância da

aplicação dos Novos Fundamentos do Design de Ellen Lupton e Jennifer Cole

Phillips (2008) e a linguagem fotográfica, pressupondo que os processos de pré-

produção e pós-produção fotográfica podem ser percebidos como um projeto de

Design Gráfico. Portanto, os objetivos específicos são:

1. Apresentar a história e alguns conceitos da Fotografia e do Design gráfico;

2. Debater acerca dos fundamentos do Design Gráfico;

3. Análise dos fundamentos do design aplicados aos processos de pré e pós-

produção fotográfica.

Partindo do pressuposto de que o Design pode ser uma ferramenta auxiliar na

elaboração de uma imagem fotográfica, esta pesquisa coloca a possibilidade da

construção de uma imagem fotográfica organizada a partir dos fundamentos gráficos

do Design. Por outro lado, a concepção da Fotografia Digital no campo do Design

Gráfico trouxe aspectos motivadores, como a rápida resposta das câmeras digitais,

permitindo avaliações e melhorias imediatas na composição. Outro aspecto diz

respeito às ferramentas de edição de imagem que possibilitam intervenções e

aprimoramentos por parte do designer após o disparo do obturador.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa serão utilizados princípios do

método Estruturalista de Lévi-Strauss. Sendo uma corrente de pensamento das

ciências humanas, inspirada no modelo da linguística (Cours de Linguistique

Générale de Ferdinand de Saussure de 1916) e que apreende a realidade social

como um conjunto formal de relações, o Estruturalismo é um método que parte da

investigação de um fenômeno (A Imagem Fotográfica) que é elevado ao nível

abstrato, por intermédio da constituição de um modelo (Os Fundamentos de Design

Gráfico) que representa o objeto de estudo, retornando, por fim, ao concreto, agora

como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social

(LAKATOS, 2004).

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O Estruturalismo é um método de pesquisa que veio a se tornar um dos mais

utilizados para analisar a linguagem, a cultura, a filosofia e a sociedade na segunda

metade do século XX. De um modo geral, o Estruturalismo pretende explorar as

inter-relações (as estruturas) através das quais o significado é produzido dentro de

uma cultura. Na teoria estrutural, os significados dentro de uma cultura são criados e

reproduzidos através de várias práticas, fenômenos e atividades que servem como

um sistema de significação.

Na pesquisa, serão debatidos sete fundamentos de Design Gráfico, bem

como quais as suas inter-relações de equivalência ou de oposição com os

fundamentos da Fotografia. Esse conjunto de relações é o que fundamenta o

pensamento estruturalista.

Ao analisar a bibliografia utilizada para esta pesquisa, foram examinadas as

relações subjacentes dos elementos/fundamentos (a estrutura) presentes nas

literaturas de Design Gráfico e Fotografia. Desse modo, foram analisadas algumas

similaridades entre as duas disciplinas, por exemplo, o Tempo e Movimento, de

Lupton (2008), com Velocidade do Obturador, de Hedgecoe (2007). Mesmo que

ambos os fundamentos ocorram em ciências e ofícios distintos, é possível debater

que esses são princípios análogos, devido à sua estrutura similar. Em ambos os

casos, estão presentes os conceitos visuais que buscam representar, de forma

imagética, a conotação de Movimento.

Debater Fotografia e Design Gráfico não é uma questão inédita ou tão pouco

inovadora. Outros autores já trataram do assunto em questão como o próprio

Michael Freeman em “O Olho do Fotógrafo – Composição e Design Para Fotografias

Digitais Incríveis de 2012”, todavia, como diz a citação de Schopenhauer em Lakatos

(2004), o intuito dessa pesquisa não é contemplar o que ninguém ainda contemplou,

mas meditar o tema, de um modo que ninguém ainda meditou, meditar de um modo

singular sobre algo que todos nós temos diante dos olhos (LAKATOS, 2004).

Nesse sentido, a pesquisa está estruturada da seguinte maneira:

No capítulo 1, foram realizados debates, com base em repertórios históricos e

teóricos, nos campos da Fotografia e do Design Gráfico; A influência das

Vanguardas em ambas as ciências; fatos relevantes como o advento da tecnologia

digital e as funções do Design Gráfico; entre outros. Para tanto, são debatidos os

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referenciais teóricos de autores como Juliet Hacking (2012); Richard Hollis (2000);

Philip Meggs (2009); e Rafael Cardoso (2008).

No capítulo 2, apresenta-se uma pesquisa sobre Fundamentos de Design,

sua importância no processo criativo, bem como sua possível utilização nos

processos fotográficos, com o pressuposto de que o Design Gráfico pode vir a ser

referência na composição fotográfica. Para o debate foram utilizados, entre outros,

Lupton (2008); Donis A. Dondis (2007); e Michael Freeman (2012).

O capítulo 3 discorre a respeito de como os Fundamentos do Design podem

ser trabalhados nos processos de pré-produção e pós-produção fotográficas. Nesta

última fase do trabalho, a pesquisa continua sendo de cunho bibliográfico, citando

autores com referencial prático no campo da Fotografia, como Michael Freeman

(2012); John Hedgecoe (2007); Lupton (2008); Dondis (2007); além de edições de

revistas especializadas em fotografia como, por exemplo, a Digital Photografer

Brasil, entre outros materiais. A partir deste referencial bibliográfico, acredita-se estar

pronta a encruzilhada para os debates da aplicação dos Fundamentos do Design

Gráfico no processo pré e pós-fotográfico. Esta pesquisa classifica-se como um

trabalho de caráter bibliográfico, pois está apoiada, principalmente, em autores que

tratam da história e dos conceitos do Design Gráfico, da Fotografia e das Artes

Visuais.

Por fim, o referido estudo pretende contribuir como referencial que trata da

ligação entre o Design Gráfico e a Fotografia; uma oportunidade para a confluência

do Design Gráfico como uma ferramenta auxiliar no exercício da Fotografia. Serão

abordados temas como história e conceitos do Design Gráfico; composição;

linguagem; e processos de pré-produção e pós-produção fotográfica, considerando

que o processo de composição é o mais crucial na solução dos problemas visuais

(DONDIS, 2007).

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1. FOTOGRAFIA E DESIGN GRÁFICO

1.1. A origem da imagem fotográfica

Esse capítulo traz um breve contexto histórico da fotografia, seus principais

processos, experimentos, sua relevância no campo da representação visual e seu

ingresso no design gráfico.

A partir do momento em que o mundo recebeu a notícia de que era possível

registrar as imagens vistas por meio da câmara escura – uma caixa que projetava

para dentro de si uma imagem a partir da luz externa, onde o artista via numa

superfície a partir da qual ele podia copiar a cena – A engenhosidade humana

parecia não ter limites, era a concretização de um desejo que, por milênios, o

homem buscava realizar (HACKING, 2012).

A fotografia não tem um único inventor. Trata-se de uma síntese de diversas

observações, inventos e experiências ocorridas em momentos distintos da história. A

câmara obscura foi a primeira e importante descoberta, na qual seus princípios

óticos foram citados pelo filósofo grego Aristóteles (384a.C.-322a.C). Essas câmaras

eram nada mais que uma caixa à prova de luz com um orifício por onde entrava

apenas a imagem desejada, onde um espelho projetava essa imagem invertida

sobre um vidro polido, nela os artistas desenhavam sobre a imagem projetada

(REIMERINK, 2001).

Durante o século XVI, os pouco eficientes orifícios foram substituídos por

lentes que ofereceram melhoras na nitidez da projeção da imagem. No mesmo

século, foi introduzido um diafragma, melhorando a nitidez e proporcionando um

controle sobre a entrada de luz na câmara. Durante o século XVII, foi acoplado na

câmara uma espécie de tenda ou liteira para que a mesma pudesse ser

transportada. Posteriormente, esta teve seu tamanho reduzido ao de uma urna.

No decorrer do século XVIII, alguns artistas passaram a utilizar a câmara

obscura de forma regular. O grande anseio dos que faziam uso dessa ferramenta

era possibilitar a fixação dessas imagens projetadas de forma permanente

(HACKING, 2012). A humanidade, já há algum tempo, sabia que a luz é capaz de

produzir alguns efeitos em certos objetos físicos. Um bom exemplo é a capacidade

da luz do sol em bronzear a pele.

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Desde o século XVII, já se observava que alguns compostos de prata

escureciam quando expostos à luz. No final do século XVIII, Thomas Wedgwood

(1771-1805) começou a utilizar nitrato de prata fotossensível em papel e couro. Com

a dificuldade de fazer com que uma quantidade de luz suficiente para expor entrasse

pela lente da câmera obscura, começou a utilizar Fotogramas, técnica que consiste

em colocar objetos bidimensionais ou tridimensionais sobre uma superfície

fotossensível. Para Hacking (2012), Wedgwood havia concebido o conceito da

Fotografia e teria criado imagens fotográficas, mas ainda não era capaz de preservar

essas imagens, que com o tempo desapareciam.

Posteriormente, o processo fotográfico seguiu por dois importantes caminhos

distintos, que foram decisivos para o futuro da fotografia. Por volta de 1816, Joseph

Nicéphore Niépce (1765-1833), motivado por seu interesse em Litografia, passou a

realizar suas primeiras experiências com a câmara obscura, substituindo os sais de

prata por betume, “(...) um revestimento (camada protetora) para placas de

impressão que endurecia sob a ação da luz” (HACKING, 2012, p.19).

Por volta de 1826-27, Niépce obteve sucesso ao conseguir fixar uma imagem

sobre uma placa de estanho revestida com betume branco; Vista da Janela em Le

Gras (16,5 x 20 cm), localizada, atualmente, no Harry Ransom Center, Universidade

do Texas, é a fotografia mais antiga preservada até os dias atuais (Figura 1). Essa

imagem granulada e desfocada representa um divisor de águas na história da

fotografia. Passada, praticamente, despercebida em sua época, essa fotografia

somente foi revelada ao mundo de forma dramática em 1839. Este processo foi

chamado de Heliografia, que significa “desenhar com o Sol”.

Em 1829, Niépce se associa ao parisiense Louis-Jacques-Mandé Daguerre

(1787-1851) que, há tempos, vinha - sem êxito - tentando descobrir uma forma de

produzir fotografias. Niépce faleceu em 1833 sem que o público conhecesse o seu

processo heliográfico (HACKING, 2012).

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Figura 1 - Fotografia de Joseph Nicéphore Niépce, Vista da janela em Le Gras, 1826. Fonte:

2.bp.blogspot.com. Acessado em: 26/02/14.

Dando continuidade às experiências de Niépce, Louis Daguerre aprimorou

seu processo fotoquímico, conseguindo revelar uma imagem fotográfica sobre uma

placa de prata, utilizando vapor de mercúrio e fixando-a com sal. Posteriormente,

substituiu o sal por tiossulfato de sódio. Daguerre batizou esse novo processo com o

nome de Daguerreotipia (HACKING, 2012).

Meses depois, desconhecendo o trabalho de Niépce e Daguerre, o inglês

William Henry Fox Talbot (1800-1877) empenhava-se na sua busca pessoal pela

Fotografia. Em 1833, em uma viajem à Itália, durante as horas livres e enquanto

seus familiares praticavam o desenho nas paisagens locais, Talbot, um exímio

cientista e linguista - porém, péssimo desenhista - buscava a ajuda da câmara

clara1. Talbot, então, se lembrou da existência da câmara obscura e a somou aos

estudos que já havia realizado com compostos de prata em papel.

Assim, sem conhecer o trabalho de Wedgwood, Talbot encontrou uma

maneira de estabilizar e fixar a imagem. O desenho fotogênico Bryonia dioica – a

norça-branca, de 1839 (Figura 2), é um exemplo de imagem que ele teria

conseguido produzir. Talbot continuou trabalhando em seu projeto chamado

1 Aparelho portátil dotado de um prisma na ponta de uma haste para projetar uma imagem em uma

superfície. Ao contrário da câmara obscura, não necessitava de uma fonte de luz intensa. Quando o artista posiciona o olho sobre o prisma, é possível visualizar a imagem sobre a superfície a ser desenhada, o que permite fazer os traços de seu contorno (HACKING, 2012).

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Talbotipo, que foi o primeiro processo a produzir imagens em negativo e positivo

(HACKING, 2012).

Figura 2 - Desenho fotogênico, Fox Talbot, Bryonia dioica – a norça-branca, 1839. Fonte:

www.scienceandsociety.co.uk. Acessado em: 16/02/14

Embora outras experiências com registros de imagens utilizando a exposição

de chapas quimicamente preparadas sob a luz datem do final do século XVIII e início

do XIX, esses experimentos atingiram o ápice durante a década de 1830, com Louis

Daguerre e Fox-Talbot, quando divulgaram para o mundo suas descobertas, como

afirma Rafael Cardoso (2008) em seu livro Uma Introdução à História do Design.

Daguerre havia desenvolvido um processo de exposição positiva de uma chapa fotossensível que uma imagem bastante detalhada, porém única. O método de Fox Talbot, por sua vez, baseava-se no princípio do uso do negativo, o qual poderia ser utilizado para gerar inúmeras imagens positivas (CARDOSO, 2008, p.58).

A Fotografia seguiu sua história, por décadas, como uma fonte de

experimentos e realizações. Todos esses processos eram, no entanto, compostos

por placas úmidas, ou seja, precisavam ser cobertas com soluções químicas no ato

de fotografar, o que tornava o processo difícil e limitado.

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1.2. A fotografia como produto industrial

O processo fotográfico continuou por anos sendo aperfeiçoado. Na segunda

metade do século XIX, o norte-americano George Eastman fazia experiências com o

processo fotográfico, aperfeiçoando uma fórmula de placas secas. Na mesma

época, abriu uma empresa para produzir e vender essas placas, suprindo a

necessidade dos fotógrafos em carregar enormes aparatos fotográficos que tinham

que carregar quando iam fotografar. Eastman, então, se dedicou totalmente ao

aperfeiçoamento dos processos de simplificação da fotografia, inventando a base de

papel em porta-rolo. Assim, em 1888, lançou sua primeira câmera fotográfica Kodak,

destinada ao público em geral.

A fotografia estava agora à disposição de qualquer pessoa, que poderia fazer

suas próprias fotografias, mesmo sem dispor de técnicas e pensamento estético,

dos quais gozavam os fotógrafos. A câmera era leve, pequena e com filme para 100

fotografias. Foi uma grande revolução para a fotografia e um grande avanço para os

meios de comunicação da época. Ao final do rolo de filme, o usuário apenas enviava

o mesmo para a fábrica da Kodak em Rochester, que revelava as fotografias e

devolvia a câmera com um novo filme (REIMERINK, 2001).

Após sua popularização, o que veio a acontecer somente a partir do século

XX, a fotografia ganhou maturidade e tornou-se aceita como mídia nas Belas Artes.

Um fato que trouxe claras implicações na prática da Pintura, questionando seus

próprios objetivos. De repente, o que era representado por horas de trabalho com

um pincel, poderia ser representado mais rapidamente, e facilmente, com uma

câmera fotográfica. Os artistas foram obrigados a se envolver com a ideia e

redirecionar seus métodos de trabalho (FARTHING, 2011).

A época do movimento de vanguarda chamado Pictorialismo, que aplicava na

fotografia princípios das belas artes, em meados da década de 1880 até 1910, foi

uma época que promoveu uma maior maturidade à fotografia. Embora a fotografia

pictorialista já existisse antes desse período (HACKING, 2012), o pictorialismo é

considerado um dos primeiros estilos fotográficos elevados ao nível de arte.

O termo “pictorialismo” surgiu para conceituar um estilo fotográfico que

simulava as estéticas das pinturas, esse estilo era caracterizado pelo uso do foco

brando e tonalidades em sépia. “Fotógrafos americanos e europeus criavam

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sociedades para exibir suas obras e divulgar a fotografia como uma forma de arte

que retratava a verdade e empregava o naturalismo” (FARTHING, 2011, p. 356).

Exposições fotográficas já eram realizadas naquele período, contudo, o fato

de as exposições serem julgadas por pintores não deixava os fotógrafos satisfeitos

(FARTHING, 2011). Um grupo chamado Photo-Secession, fundado pelo fotógrafo

pioneiro Alfred Stieglitz (1864-1946), exibiram suas obras numa exposição no

NationalArts Club, em nova York, sendo aclamado pela crítica. Numa atitude

revolucionária, eles demonstravam suas obras ao lado de pinturas e esculturas

modernistas. Stieglitz rompeu barreias artísticas com sua fotografia The Ateerage

(Figura 3), em 1907. A obra retrata passageiros da primeira e segunda classe em

um navio a vapor que seguiria de Nova York para a Alemanha (FARTHING, 2011).

Figura 3 - Fotografia de Alfred Stieglitz: The Ateerage, 1907. Fonte: upload.wikimedia.org. Acessado

em: 04/02/2014

A composição desta fotografia mostra um conflito urbano da divisão entre

ricos e pobres e uma disposição de formas angulares, marcando uma mudança do

naturalismo, do pictorialismo para o cubismo (FARTHING, 2011).

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1.3. A influência das Vanguardas

Após a Primeira Guerra Mundial, iniciou-se o espírito prevalecente de

celebração da mecanização e da velocidade. A influência do modernismo passou a

ser evidente nas obras dos fotógrafos europeus, norte americanos e japoneses. Em

1932, uma sociedade de poucos fotógrafos, com o objetivo de desafiar o predomínio

do pictorialismo, fundou o grupo f/64. Entre os membros estavam Paul Strand (1890-

1976), Ansel Adams (1902-1984) e Edward Weston (1886-1958).

O grupo defendia a fotografia pura e buscava registrar as imagens em seu

modo mais realístico possível, sem o uso de manipulações fotográficas (Figura 4).

Suas obras davam ênfase ao foco perfeito e a profundidade de campo revolucionou

a fotografia de paisagem e de objetos, com detalhes sensíveis e belas formas

(FARTHING, 2011).

Figura 4 - Ansel Adams, fotografia de paisagem com ênfase no realismo, na beleza das formas e foco perfeito. Fonte: vilaseca.com.br. Acessado em: 20/12/15

Neste momento, a fotografia era o meio ideal de representação da realidade,

fato que trouxe fortes impactos no campo da arte. É o que afirma Dondis (2007),

quando diz que “o último baluarte da exclusividade do artista é aquele talento

especial que o caracteriza: a capacidade de desenhar e reproduzir o ambiente tal

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como este lhe aparece. Em todas as suas formas, a câmera acabou com isso”

(DONDIS, 2007, p.12).

1.4. O ingresso da fotografia nos movimentos de vanguarda

A fotografia, por tempos, manteve a função de documentar a realidade, por

ser mais precisa que a arte da pintura. Com o movimento das vanguardas

modernistas, a fotografia passou a retratar um mundo da abstração, como também

passou a habitar no mundo do design gráfico.

Em suas manipulações, utilizando a câmera escura, Man Ray (1890-1976)

trouxe o surrealismo e o dadaísmo para a fotografia, sendo um dos primeiros a

explorar o potencial criativo da solarização. As impressões sem câmera que ele

chamou de rayografias, e as técnicas de distorção e impressões através de telas e

exposições múltiplas, criaram imagens oníricas e novas interpretações entre o

tempo e o espaço, criando analogias entre o movimento surrealista e o Design

Gráfico (SCHNAIDER, 2010).

Foi durante o período das Vanguardas Modernistas, no início do século XIX,

na Europa, que houve efervescentes transformações que se desdobraram em

diversos aspectos da atividade social humana, a Fotografia passou a ser

influenciada pelos movimentos artísticos de Vanguarda, como o Dadaísmo,

Cubismo, Futurismo e o Construtivismo. Com tais influências, a fotografia passou a

rejeitar sua principal função, que era representar a realidade de forma fiel, e passou

a ser objeto de experiências com o objetivo de gerar incomuns imagens abstratas e

surreais, típicas das Vanguardas. Havia agora uma tendência a encarar os

problemas visuais sob novas perspectivas, baseadas em ideias e técnicas da época.

1.5. O ingresso da fotografia no design gráfico

O processo de industrialização, iniciado no fim do século XVIII e tendo

continuidade durante o século XIX, trouxe mudanças profundas nos bens de

consumo, principalmente na Europa e América do Norte. O avanço do

desenvolvimento tecnológico, como, por exemplo, a evolução das máquinas a vapor,

invadia cada vez mais os campos de atuação das atividades humanas.

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Como consequência, houve um crescimento cada vez maior da economia,

impulsionado pela Indústria. Assim, o que antes era produzido manualmente, agora

passava a ser produzido em série. Esse novo meio de produção industrial mudou,

fundamentalmente, os aspectos econômicos e sociais da população.

A mecanização dos meios de produção industrial veio acompanhada por uma

divisão distinta do trabalho. “A criação dos objetos (trabalho mental) e sua produção

(trabalho mecânico) tornaram-se atividades distintas” (SCHNEIDER, 2010, p.16).

Com essa divisão do trabalho, surge a jovem atividade de projeto de produtos, ou

melhor, o designer. Já não eram os artesãos quem desenvolviam os bens de

consumo, as indústrias encarregavam os projetistas de desenvolver os artefatos

que, posteriormente, seriam produzidos pelas máquinas. O designer adquiria sua

capacitação por meio das escolas de arte e de desenho, aonde, mais tarde, esta

atividade viria a se tornar uma profissão independente (SCHNEIDER, 2010).

Dentre essas profundas mudanças provocadas pela revolução industrial,

ocorridas em várias áreas da sociedade, está a necessidade de novas maneiras de

se comunicar. Até o momento, o meio de comunicação que predominava era o livro,

que foi, por muito tempo, o principal meio de comunicação impresso, sendo

considerado um dos primeiros artigos de design gráfico, por tratar-se de um produto

seriado, concretizado mecanicamente por meio de um projeto. Para a realização

dessa tarefa, já existiam projetistas e impressores (MEGGS, 2009).

De acordo com Meggs (2009). O design gráfico está intimamente ligado ao

período do Renascimento, por meio dos humanistas que produziam literatura

clássica, com uma abordagem inovadora do Design de livros, design de tipos, layout

de páginas, ornamentos e ilustrações. Por outro lado, autores como Richard Hollis

(2000), abordam o nascimento do Design Gráfico após o advento da revolução

industrial, devido à necessidade de uma comunicação em massa mecanizada, com

o objetivo de divulgar os bens produzidos pela indústria.

Com a crescente oferta de produtos e a forte concorrência entre as empresas,

surge a necessidade de uma comunicação cada vez mais presente, vigorosa e

eficaz. O advento das máquinas de impressão movidas a vapor e máquinas de

produção de papel proporcionou a produção de impressos como cartazes, jornais,

propagandas e embalagens (SCHNEIDER, 2010).

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Mais adiante, entre as décadas de 1920 e 1930, os designers passaram a

utilizar em seus projetos gráficos uma nova ferramenta de comunicação, a fotografia

(Figura 5). A fotografia trazia consigo uma característica impar, que não

compartilhava com nenhuma outra forma de expressão visual, a credibilidade, fruto

da descrição visual detalhada do referente real (DONDIS, 2007).

Foi inevitável e, de certa forma, interessante, que essa nova linguagem visual,

fundada pelos modernistas, preocupados com fundamentos visuais formais, tais

como o ponto, a linha, o plano e a textura e a relação entre eles, começassem a

influenciar o Design Gráfico e a Fotografia (MEGGS, 2009). A influência das

vanguardas trouxe um impacto direto sobre a evolução do Design e da fotografia,

tendo diversos arquitetos e designers ligados ao movimento modernista, que se

mobilizaram para executar projetos diversos (CARDOSO, 2008).

Figura 5 - Pôster de Jan Tschichold. Obra que demostra o uso da fotografia em peças de design no período das Vanguardas. Fonte: lisathatcher.files.wordpress.com. Acessado em: 21/12/15

As vanguardas contribuíram amplamente para a atividade do design gráfico e

para a fotografia, sobretudo, em torno da pesquisa visual do Construtivismo russo,

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do movimento De Stijl holandês e da escola Bauhaus alemã. Dessa relação,

surgiram importantes nomes fundadores do Design Gráfico moderno, entre os quais

estão El Lissitzky, Laszlo Moholy-Nagy, Jan Tschichold, Alexander

Rodchenko(Figura 6), Herbert Bayer e Theo van Doesburg (CARDOSO apud

MEGGS,2009).

Figura 6 - Rodchenko, capa para o livro Sobre Isso de Vladimir Mayakovski, 1923. Fonte:

sala17.files.wordpress.com. Acessado em: 16/12/15

O impacto direto desses designers foi sentido, principalmente, através de uma

vasta produção de cartazes e outros impressos privilegiados por uma informação

visual, constituída com base em sistemas ortogonais (CARDOSO, 2008). De forma

geral, as peças gráficas desenvolvidas por esses designers seguiam um estilo que

dava preferência aos usos de formas simples e despojadas, como figuras

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geométricas, uma paleta de cores resumidas basicamente ao azul, vermelho,

amarelo e preto, tipografias sem serifa, e o uso da fotografia (CARDOSO, 2008).

1.6. O impacto da imagem fotográfica na era digital: O último grande evento da

fotografia.

O último grande evento do percurso histórico da fotografia foi o advento da

tecnologia digital, por volta de 1975, quando a primeira câmera digital da história foi

desenvolvida pelo engenheiro elétrico da Kodak, Steve Sasson. Fotografia digital

trata-se de imagens fotográficas obtidas por meio de câmeras digitais dotadas de um

sensor óptico chamado CCD (charge-coupled device ou dispositivo de carga

acoplada), associado a um processador eletrônico que converte a imagem visível

em um arquivo de computador. Posteriormente, esse arquivo pode ser armazenado,

editado, manipulado e impresso, por meio da computação gráfica.

Comercialmente, a primeira câmera digital foi a Kodak DCS 100, lançada no

ano de 1990. Após dez anos, a fotografia digital ganhou maior força e aceitação no

mercado. Atualmente, a fotografia digital é extremamente comum, muito popular em

câmeras, computadores e celulares (PORTO, 2015). O mecanismo que capta a

imagem é praticamente o mesmo da fotografia analógica, contudo, em vez de um

filme fotossensível, existe o CCD, que capta a informação luminosa e a converte em

código digital. A fotografia analógica vem perdendo mercado para a fotografia digital,

devido a sua versatilidade e baixa limitação técnica.

Com o digital, a visualização da imagem pode ser feita de forma instantânea,

através de uma tela de LCD (liquid crystal display ou visor de cristal líquido), e a

manipulação da imagem pode ser feita por profissionais de design gráfico, fotógrafos

e artistas em um computador, usando softwares de edição de imagem como o

Photoshop, em um processo comumente chamado de pós-produção fotográfica.

1.7. Fotografia e pós-produção

Manipulações de imagens com múltiplas exposições e combinações de mais

de um negativo remontam ao século XIX, é a chamada “impressão combinada”,

associada a O. G. Rejlander (1813-1875), em trabalhos como Dois Modos de Vida,

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de 1857 (Figura 7). Até mesmo formas de manipulação mais simples, como realçar

ou limpar partes da imagem, ou ré enquadrar, clarear ou escurecer foram processos

de pós-produção praticados durante todo o percurso histórico da fotografia.

Figura 7 - Impressão combinada de múltiplas exposições, de O. G. Rejlander, Dois Modos de Vida,

1857. Fonte: luzfocoememoria.files.wordpress.com. Acessado em: 16/12/2015

Na atual era digital, a manipulação de imagens e as operações de edição de

imagem tiveram um aumento brutal. A pós-produção é o “processo criativo

deliberado que ocorre depois de uma imagem ser clicada e antes dela ser impressa”

(HACKING, 2012, p. 530).

Alguns profissionais de manipulação se destacaram durante a história da

fotografia digital, por seu pioneirismo. Os artistas plásticos holandeses Inez Van

Lams weerde e Vinoodh Matadin praticaram essa técnica no início dos anos 1990.

Eles usaram a manipulação de imagem para enxertar digitalmente, na pele de seus

modelos, levantando questões de gênero, sexualidade e as relações entre corpo e

tecnologia (Figura 8).

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Figura 8 - Obra contemporânea de Van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, pós-produção surrealista. Fonte: www.tomorrowstarted.com. Acessado em: 16/9/15

Anthony Aziz e Sammy Cucher também fizeram parte do grupo de artistas

pioneiros que colaboraram para o desenvolvimento de manipulações de imagens

fotográficas, pois trabalharam a possibilidade de produzir imagens que

subvertessem a relação entre fotografia e realidade, resultando em trabalhos

surreais e perturbadores (HACKING, 2012).

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Figura 9 - O Construtor de El Lessitzky. Auto-retrato de 1924. Fonte: s-media-cache-ak0.pinimg.com.

Acessado em: 21/12/15

A pós-produção da imagem fotográfica é uma das técnicas que une as

disciplinas do Design Gráfico e a Fotografia. Praticada em, praticamente, todo o

percurso histórico da fotografia, a “impressão combinada” de a O. G. Rejlander, no

século XIX, as manipulações de imagem feitas por Lissitzky (Figura 9), Moholy-Nagy

e Rodchenko durante a era das vanguardas e as atuais manipulações digitais dão

conta da íntima relação entre Fotografia e Design Gráfico.

1.8. Design gráfico: Um breve percurso histórico e suas principais funções

Fazer uma definição precisa acerca do design e do próprio design gráfico nem

sempre resulta em um debate satisfatório. Uma boa parte dos designers e

interessados no assunto debate sobre o tema buscando respostas para esse

questionamento. No entanto, por mais que surjam definições insatisfatórias, é

importante suprir a necessidade de estabelecer definições acerca do que se trata a

atividade do designer gráfico (VILLAS-BOAS, 2007).

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Existem vários conceitos na bibliografia corrente. Para Villas-Boas (2007),

“design gráfico refere-se à área de conhecimento e à prática profissional específica

relativa ao ordenamento estético-formal de elementos textuais e não textuais que

compõem peças gráficas destinadas à reprodução com objetivo expressamente

comunicativo” (VILLAS-BOAS, 2007, p. 27).

Em resumo, para Villas-Boas, a atividade do design gráfico consiste em

ordenar, de forma estética e formal, os elementos/fundamentos disponíveis para a

produção da peça gráfica. Sendo assim, é indispensável para o design ter o

conhecimento da existência desses fundamentos e como trabalhá-los.

Para Schneider (2010), design gráfico abrange o projeto e a execução de uma

ideia que resulta em superfícies bidimensionais (cartazes, livros, anúncios

publicitários, embalagens, entre outros). Para o autor, o design gráfico tem uma

tradição mais longa que o design de produtos, que surgiu somente durante o

processo da revolução industrial.

1.8.1. As funções do design gráfico

A princípio, qualquer objeto industrial, pelas mais diversas razões, pode ser

significativo para seus usuários, e ter algum tipo de função para os mesmos, além

de que esses objetos podem ter diferentes funções. De acordo com Schneider

(2010), os produtos de design atendem não apenas às funções práticas, mas

também toda uma gama de funções estéticas e simbólicas.

Função prática – refere-se à manuseabilidade, durabilidade, qualidade

técnica, ergonomia. Na linguagem comum, trata-se de um objeto funcional;

Função simbólica – está relacionada aos significados dos objetos que são

transmitidos com o uso do produto pelo usuário. Ao fazer uso ou consumir

determinado produto, o usuário fornece ao seu meio social, sinais que são

decodificados por outras pessoas;

Função estética – comumente abordada como a segunda das três funções,

a função estética será aqui apresentada por último, por se tratar da função

que aborda alguns dos fundamentos debatidos na presente pesquisa. As

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funções estéticas referem-se à forma, figura, cor, textura, material etc.

Consiste na configuração formal das peças de design. Esses fundamentos

são os ²signos, que tornam as peças de uso “legíveis” e dão indicações

visuais para o uso. “Se um desses signos não agradar ao usuário, por mais

prático que seja o objeto, dificilmente terá uma chance. As funções estéticas

são emocionais e subjetivas, portanto, dependentes do gosto dos usuários”

(SCHNEIDER, 2010, p. 198).

A função estética trata-se de algo individual ou pessoal, podendo ter

diferentes efeitos conotativos, dependendo da idade, sexo, classe social, cultura e

hábitos dos usuários. A estética das peças de design oferece uma ampla margem de

interpretações em diferentes situações. Por essa razão, elas não devem ser

desprezadas na composição, como também não podem ser indicadas nem

avaliadas de forma precisa (SCHNEIDER, 2010).

É preciso conhecer também quais as principais funções dessas peças

gráficas e onde utilizá-las. Para Hollis (2000), existem três funções básicas para o

design gráfico que, segundo ele, foram utilizadas por vários séculos. Essas três

funções básicas das artes gráficas permaneceram, praticamente, inalteradas até os

dias de hoje. Para o autor, essas três funções são:

Identificar: dizer o que é determinada coisa, obra ou produto e apontar de

onde ela veio (marcas, símbolos, embalagens);

Informar: indicar relação de uma coisa com outra (sinalização, mapas,

diagramas);

Promover: tornar a mensagem algo especial (cartazes, anúncios,

publicidades).

______________________________

²Qualquer coisa de qualquer espécie que representa outra coisa, chamada de objeto de signo; Que produz um efeito interpretativo numa mente real ou potencial (SANTAELLA, 2002).

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Os fundamentos gráficos são, sem dúvidas, elementos importantes para a

composição. Formas, cores e texturas ou algo tão despretensioso como as linhas de

desenhos ou pontos/pixels que formam uma imagem fotográfica. Para Hollis (2000),

o design gráfico é o ofício de criar ou escolher tais elementos, combinando-os numa

superfície com o objetivo de transmitir uma mensagem. As peças gráficas,

normalmente, são compostas de imagens, textos ou ambos; um desses elementos

pode vir a predominar na composição ou reforçar o sentido do outro.

Podemos notar que, quando uma mensagem é simplesmente impressa, ou

seja, quando o texto é apenas digitado no espaço em branco do papel, substituindo

o efeito da voz, esta pode perder uma extensa variedade de expressões. Seja

fazendo o uso da imagem ou do texto, existe um anseio dos designers gráficos em

não só transmitir a mensagem, mas dar a esta, por meio de uma composição

adequada, transmitir mensagens carregadas de expressões por meio do

ordenamento estético-formal de elementos gráficos mencionados (HOLLIS, 2000).

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2. FUNDAMENTOS DE DESIGN GRÁFICO

2.1. O design gráfico como referência na composição fotográfica

Lançado, originalmente, com o título de “Graphic Design: The New Basics“,

Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips definem, já nas primeiras duas páginas da

apresentação, o real propósito da obra, que é uma proposta de re-conceituar e

atualizar os principais fundamentos do Design Gráfico, devido a todas as mudanças

metodológicas e tecnológicas e, visto que, grande parte do referencial desses

fundamentos teria sido escrita há décadas atrás no programa da escola da Bauhaus.

Para defender sua proposta, as autoras se baseiam em trabalhos realizados

por alunos de graduação e pós-graduação da escola Maryland Institute College of

Art (MICA) e outras faculdades e grupos de alunos, rumo à definição dos

fundamentos ponto, linha e plano; ritmo e equilíbrio; escala; textura; cor;

figura/fundo; enquadramento; hierarquia; camadas; transparência; modularidade;

grid; padronagem; diagrama; tempo e movimento; e regras e acasos, que são

tratados separadamente.

A atividade de conhecer, trabalhar e ordenar de forma estética e formal esses

fundamentos é atividade de interesse compartilhada por diversas disciplinas das

Artes Visuais e do Design, pois, desenvolver composições gráficas eficazes e, com

isso, solucionar problemas visuais é o que se imagina ser o grande objetivo dos

designers, fotógrafos e dos artistas gráficos em geral. O ato de tomar decisões

compositivas pode determinar o significado e a mensagem visual pretendida. É

nessa etapa crucial do processo criativo que o comunicador exerce o controle sobre

sua criação.

Durante a revisão bibliográfica, que tem como objetivo encontrar as

recorrências entre Design Gráfico e Fotografia, sobre a aplicação dos fundamentos

do Design Gráfico no processo fotográfico, pode-se destacar a obra de Michael

Freeman: O Olho do Fotógrafo (The Photographer’s Eye), de 2012. Um livro que foi

escrito por um fotógrafo que utiliza um vasto conteúdo sobre Fotografia e Design

Gráfico. Nele, Freeman parte de um princípio diferenciado, em que utiliza conceitos

de Design Gráfico como a base de sustentação para o processo de composição

fotográfica. Assim, temos um livro que foge às tradicionais regras fotográficas

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convencionais, até então, o que se via na maioria das bibliografias correntes

destinadas a fotógrafos.

Nos casos onde se buscou uma fundamentação teórica no campo da

Fotografia, a pesquisa foi fundamentada na obra de John Hedgecoe: O Novo Manual

de Fotografia, de 2007, um completo manual de Fotografia, no qual o autor a trata

em sua forma mais tradicional, com temas tais como: a Câmera; Objetivas; tipos de

Iluminação; Exposição e um vasto campo de estudo e prática das principais regras

de composição fotográfica.

Ao contrário de Hedgecoe, a obra de Freeman é um livro sobre técnicas de

Design. Nele, não são tratados temas como a fotometria ou como calcular a

intensidade da luz de um flash. Temos aqui uma discussão sobre a harmonia, a

composição e a estética fotográfica.

O Olho do Fotógrafo aborda assuntos relacionados aos Fundamentos do

Design, baseado em ideias de Johannes Itten (1888-1967), um nome de destaque

na primeira fase e no desenvolvimento dos cursos da origem do Design na escola da

Bauhaus. Fundamentos como enquadramento, figura/fundo, ritmo, equilíbrio, textura,

movimento, momento, cor, são assuntos análogos ao livro já citado - Novos

Fundamentos do Design, de Lupton e Phillips.

Já a obra Sintaxe da Linguagem Visual, de autora de Donis A. Dondis,

lançado em 1991, é utilizada na pesquisa por ser considerada um manual básico de

Comunicação Visual, destinado a várias disciplinas, onde se dispõe a proporcionar

ao leitor um alfabetismo visual. A autora trata de fundamentos em comum a Lupton,

Freeman e Hedgecoe. Por isso, trata-se de uma obra essencial para esta pesquisa.

Realizando o debate entre esses autores e outros não menos importantes,

que contribuíram de maneira positiva para a pesquisa, foram percebidas algumas

semelhanças entre o Design Gráfico e a Fotografia, principalmente, ao inter-

relacionar os Novos Fundamentos do Design de Lupton e O Olho do Fotógrafo, de

Freeman, em que é possível pressupor que os processos fotográficos podem ser

percebidos como um projeto de Design Gráfico, visto que a imagem fotográfica,

enquanto representação visual, nem sempre é compreendida como um projeto

gráfico, tendo o Design como referência.

A partir das pesquisas bibliográficas, foram eleitos e debatidos os principais

fundamentos do Design Gráfico aplicáveis no processo fotográfico: enquadramento;

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figura/fundo; escala; tempo e movimento; cor; textura; camadas e transparência.

Sendo esses, eleitos pelo motivo de estarem presentes de forma direta ou indireta

na bibliografia de Design e Fotografia que pesquisada. O debate tentará propor

como esses fundamentos se comportam na imagem fotográfica, seus efeitos

conotativos e suas concepções na pré-produção e/ou pós-produção fotográfica. É

importante destacar que outros fundamentos propostos por Lupton serão aqui

debatidos como subtemas, tendo como exemplos: ritmo será um subtema de tempo

e movimento; padrão e ponto serão subtemas de textura.

2.1.1. A Importância dos Fundamentos

É possível afirmar que em trabalhos nos campos do Design, da Fotografia e

até mesmo das Arte Visuais, podem ocorrer resultados espontâneos, à medida que

exploramos instrumentos, meios ou materiais com o objetivo de resolver problemas

pictóricos. Existem etapas do processo de composição em que decidimos o que é

“Belo” ou relevante em termos práticos, muitas vezes, agindo intuitivamente, sem

saber como e por que os resultados foram realizados. Podemos denotar sentimentos

e emoções durante o processo criativo, criando um tipo de expressão que reflita

nossa personalidade, gosto e repertório. Tudo isso se trata de uma forma de

abordagem intuitiva da criação visual (WONG, 2010, p.13).

Embora resultados espontâneos aconteçam no processo de composição

visual, existem metodologias para a criação de artefatos de Design Gráfico, bem

como para a concepção de imagens fotográficas. Para isso, se supõe que é

essencial o conhecimento prévio dos Fundamentos do Design, como eles são

trabalhados e seus efeitos conotativos.

A herança da Bauhaus e outras instituições de ensino analisavam a forma sob

o aspecto de elementos geométricos básicos, cuja forma seria compreensível para

todos, apoiados pelo simples fato de que o olho humano é um instrumento universal

(LUPTON, 2008). Os designers da Bauhaus consideravam não apenas que existisse

uma maneira universal de descrever a forma, mas também seu significado universal.

Na busca de um retorno ao pensamento da Bauhaus, diversas bibliografias vêm

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recorrendo a temas que abordam elementos como a Linha; Plano; Cor; Textura;

organizando-os em princípios como Escala, Equilíbrio e Enquadramento.

Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips, educadoras com décadas de experiência

no ensino de graduação e pós-graduação, afirmam na obra Os Novos Fundamentos

do Design (2008), ter testemunhado mudanças cada vez maiores no mundo do

Design, fato que já ocorria, pelo menos, desde os anos 1920.

Albers e Moholy-Nagy moldaram o uso de novas mídias e novos materiais. Eles viram que a arte e o design estavam sendo transformados pela tecnologia – a fotografia, o cinema e a produção em massa. No entanto, suas ideias permaneceram profundamente humanistas, sempre o papel do indivíduo em face da autoridade absoluta de qualquer sistema ou método (LUPTON, 2008, p.08).

Lupton e Phillips, após perceberem que seus alunos não estavam à vontade

construindo conceitos de maneira abstrata, recuaram ao uso desses métodos, e

como solução, iniciaram o projeto Novos Fundamentos do Design. Nele, as autoras

retomam a tradição da Bauhaus e o trabalho pioneiro dos grandes educadores do

Design formal, buscando estabelecer novos parâmetros de composição visual, com

base nos fundamentos visuais a seguir apresentados (LUPTON, 2008).

Nessa perspectiva, o referido estudo tem como Objetivo Geral pesquisar e

debater a importância da aplicação dos Novos Fundamentos do Design de Ellen

Lupton e Jennifer Cole Phillips (2008) na linguagem fotográfica. A pesquisa

pressupõe que os processos de pré-produção e pós-produção fotográfica podem ser

percebidos como um projeto de Design Gráfico.

Foram eleitos ainda objetivos específicos, que auxiliaram no desenvolvimento

da pesquisa, a saber:

1. Discutir sobre história e conceitos da Fotografia e Design gráfico;

2. Debater acerca dos fundamentos do Design Gráfico;

3. Analisar os fundamentos do design aplicados aos processos de pré e pós-

produção fotográfica.

Para a realização do referido estudo, foram utilizados os princípios

metodológicos Estruturalistas de Lévi-Strauss; um método que parte da investigação

de um fenômeno (a Imagem Fotográfica) que é elevado ao nível abstrato, por

intermédio da constituição de um modelo (Fundamentos de Design Gráfico) que

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representa o objeto de estudo, retornando, por fim, ao concreto, agora como uma

realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social (LAKATOS,

2004). De um modo geral, o método estruturalista foi usado na pesquisa com a

finalidade de explorar as inter-relações das estruturas de Design Gráfico e da

Fotografia.

Na pesquisa, são debatidos os sete fundamentos de Design Gráfico

selecionados, bem como quais as inter-relações de equivalência ou de oposição que

os mesmos mantém com os fundamentos da Fotografia, sendo esse conjunto de

relações o que fundamenta o pensamento estruturalista.

A pesquisa conta ainda com fotografias icônicas de vários períodos da história

e com importantes peças de Design gráfico que contribuíram para o entendimento

dos temas debatidos, exemplificando casos nos quais são destacados os

Fundamentos de Design, discutidos no referente estudo.

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3. FUNDAMENTOS DE DESIGN GRÁFICO E OS PROCESSOS FOTOGRÁFICOS

3.1. Enquadramento

3.1.1. A Dinâmica do Quadro

Os limites estão por toda parte. Molduras definem os limites entre as obras de

arte (Pinturas) como também as destacam do ambiente em que estão inseridas,

chamando a atenção e dando destaque às mesmas. Prateleiras, pedestais e vitrines

oferecem “palcos” para que os objetos sejam exibidos. Um pires emoldura uma

xícara e um jogo americano contorna louças e talheres. Fronteiras e cercas

delimitam uma propriedade privada e um outdoor tem seus limites marcados pela

paisagem em seu redor (LUPTON, 2008).

Fundamental para a Fotografia, o Vídeo e o Cinema, o Enquadramento pode

ser entendido como o ato de selecionar determinada porção do cenário, dando

origem a uma nova representação visual.

Áreas externas utilizadas como tipos de quadros, as molduras realizam

interações com o enquadramento, pois definem os limites das imagens. Com relação

às molduras, Lupton (2008) conta que os designers modernos estão,

frequentemente, buscando eliminar o uso de molduras. A autora também observa

que um interior (ambiente) minimalista evita o uso de portas e rodapés, confrontando

diretamente os limites.

Lupton (2008) discorre ainda que uma legenda em uma imagem também é

uma forma de moldura que direciona a interpretação. Os recortes, contornos,

margens e legendas também são recursos essenciais para o Design Gráfico.

Enfatizado ou apagado, o enquadramento afeta o modo como percebemos a

informação.

Com relação à Fotografia, a autora cita um exemplo da utilização do

enquadramento: “A fotografia de página inteira, no layout de uma revista de moda e

arte contemporânea, elimina a zona formal e protetora da margem branca,

permitindo que a imagem sangre e invada a realidade” (LUPTON, 2008).

Enquadramento na Fotografia pode ser percebido como o simples ato de

selecionar determinada porção do mundo visível, originando uma composição

fotográfica. Assim, a depender do Enquadramento, uma paisagem pode ser

representada com mais céu, ou mais árvores, mais água, etc. Durante a ação de

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enquadrar, um determinado modelo pode aparecer em uma fotografia inteiro, ou

pode-se optar por mostrar apenas seu rosto. O Enquadramento é capaz de criar

condições para compreendermos uma imagem ou um objeto, e faz parte da

arquitetura fundamental do Design Gráfico. Trata-se de um dos atos mais

persistentes, inevitáveis e infinitamente variáveis efetuados pelo designer (LUPTON,

2008).

O Enquadramento é o Fundamento de Design Gráfico que mostra como o

sentido e o impacto de uma imagem podem variar, dependendo de como ela é

delimitada ou recortada.

O olho mecânico da câmera delimita o campo de visão de modo diverso do olho humano. Cada vez que tira uma foto com uma câmera, você faz um recorte. Contrariamente, o olho encontra-se em constante movimento, focando, o tempo todo, diversos estímulos do ambiente (LUPTON, 2008, p. 102).

Na pós-produção, recortando uma fotografia ou enquadrando-a, o designer

e/ou fotógrafo redesenha seus limites, altera sua forma ou muda a escala de seus

elementos em relação à totalidade da imagem. Uma imagem vertical pode vir tornar-

se um quadrado, uma faixa estrita ou até mesmo um círculo. Com o recorte, é

possível ainda nos aproximar de um detalhe ou mudar o foco (atenção) da

Fotografia, conferindo-lhe um novo sentido e ênfase (LUPTON, 2008).

Para Michael Freeman (2012), o quadro da Fotografia é o local onde a

imagem se apresenta. O formato desse enquadramento é fixado no momento em

que o obturador é disparado. Para o autor, o momento ideal para definir a imagem

no quadro é no momento do click. Para Freeman (2012), a prática de recortes

durante a pós-produção fotográfica aponta que é possível reajustar, posteriormente,

o enquadramento inicial, mas, apesar disso, sejam quais forem as oportunidades

que surjam de alterar o Enquadramento no futuro, a influência que o visor exerce no

ato fotográfico sobre a composição não deve ser subestimada.

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3.1.2. Orientações - Vertical e Horizontal

Boa parte das fotografias produzidas atualmente segue alguns poucos

formatos rigidamente definidos (razão de aspecto³), diferentemente de outras Artes

Gráficas. Antes da Fotografia Digital, o formato mais comum era, de longe, o 3:2 –

formato padrão das câmeras 35mm, com as dimensões de 36x24mm – mas, agora

que as dimensões físicas do filme não são mais uma limitação, outros formatos

sugiram com as câmeras digitais. O 4:3, por exemplo, é um formato menos alongado

e um pouco mais natural que o 3:2, que se ajusta com maior comodidade aos

formatos de papéis de impressão e os monitores atuais (FREEMAN, 2012).

Para Hedgecoe (2007), na época do filme fotográfico, as dimensões do seu

formato era o fator responsável pelo aspecto da imagem fotográfica. O autor destaca

cinco formatos de filmes fotográficos com as seguintes dimensões:

Tabela 1 – principais formatos dos filmes fotográficos.

Nome do formato Nome alternativo Tamanho real Ampliação

8mm Subminiatura 11x8mm 25.3x

APS IX240 30.2x16,7mm 12.2x

35mm 135 36x24mm 8.5x

6x4,5 Formato médio

120/220

56x42mm 4.8x

6x6 Formato médio

120/220

56x56mm 4.5x

6x7 Formato médio

120/220

69.5x56 3.7x

5x4pol. Grande formato 120x90mm 2.3x

10x8pol. Grande formato 240x180 1.1x

Fonte: Hedgecoe (2007, p.116)

__________________________

³Razão de aspecto é a proporção entre a altura e a largura de uma fotografia. O quadro padrão de uma câmera SLR (single-lens-reflex) é de 3:2, mas quando a câmera é posicionada verticalmente temos uma fotografia no formato 2:3 (FREEMAN, 2012, p.12).

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De acordo com Freeman (2012), a visão humana de ver o mundo é binocular

e horizontal, portanto, uma imagem horizontal nos parece mais natural. Desse modo,

o quadro horizontal naturaliza a imagem e não chama a atenção (Figura 10); ele tem

sua influência na composição de uma imagem e representa bem o que está sendo

fotografado, mas não de modo invasivo, chamativo. Destina-se ao enquadramento

horizontal - na maioria das vezes - das fotografias de paisagem e cenas em geral,

estimulando, de forma natural, um arranjo dos elementos.

Figura 10 - Exemplo de fotografia de paisagem enquadrada horizontalmente, Ansel Adams. Fonte:atelliefotografia.com.br. Acessado em: 26/11/15.

O fotógrafo norte americano Ansel Adams era um adepto da fotografia de

paisagens e relacionava suas imagens com o Pictorialismo, em que as fotos se

pareciam com pinturas, principalmente impressionistas, sendo os formatos

horizontais os mais utilizados em composições dessa natureza.

Já nos enquadramentos naturalmente verticais (Figura 11), o alongamento do

quadro é uma vantagem em algumas situações, nas quais figuras humanas em pé

ou meio corpo, são os assuntos verticais mais comumente encontrados – de fato,

isso vem a ser uma curiosidade, já que os enquadramentos verticais raramente

satisfazem nossa visão por completo (FREEMAN, 2012).

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De fato, há uma leve resistência natural em fotografar verticalmente, ainda

que a mídia impressa (revistas e livros) favoreça esse formato, onde fotógrafos

costumam se esforçar para fotografar verticalmente tão bem como horizontalmente,

às vezes, por conta de pedidos de clientes (FREEMAN, 2012).

Figura 11 - Alexander Rodchenko. Exemplo de fotografia de retrato enquadrada verticalmente. Fonte: juliamargaretcameronsecession.wordpress.com. Acessado em: 26/11/15

Retratos são enquadrados comumente no formato vertical. As obras

fotográficas iniciais de Alexander Rodchenko são retratos de seus colegas

vanguardistas, como vemos na obra OsipBrik (1924), que retrata o crítico literário

com o mesmo nome. Enquadrado de maneira vertical, a obra conta ainda com um

logotipo criado por Rodchenko na lente direita de OsipBrik, denotando a relação

entre Design e Fotografia que havia na época.

Existem ainda casos em que é possível fugir das regras em que assuntos

verticais são enquadrados de forma vertical e os horizontais de modo horizontal. É

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possível perceber, em fotografias, assuntos verticais em enquadramentos

horizontais e vice-versa (Figura 12).

Figura 12 - Exemplo incomum de fotografia com enquadramento de uma modelo vertical com uma orientação horizontal. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em: 29/12/2015

Segundo Freeman (2012), ainda que enquadramentos horizontais não sejam

os mais apropriados para assuntos como figuras humanas de pé e arquiteturas

altas, a inércia estimula os fotógrafos a praticá-lo e a fazê-lo funcionar tão bem

quanto possível. Uma técnica é descentralizar o assunto, de modo a persuadir o

olhar a percorrer, horizontalmente, a composição, ao longo do quadro.

3.1.3. O Quadrado

Enquanto os formatos até aqui citados são constituídos por formas

retangulares, variando proporções e orientações, existe o Quadrado. Poucas

câmeras de filme têm esse formato, incomum pelo motivo de que poucas imagens

se ajustam bem a composições quadradas (Figura 13). Em geral, trata-se de um

formato difícil de trabalhar e a maioria das estratégias de Design usadas no formato

quadrado procuram evitar o seu equilíbrio perfeito. Os quadrados não têm,

absolutamente, nenhuma tendência, sua proporção perfeita de 1:1 nos causa

influência e uma divisão muito precisa e estável do espaço (FREEMAN, 2012).

Atualmente, esse vem sendo um formato popular entre os aplicativos

fotográficos para celular e em fotografias postadas nas redes sociais, como o

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Instagram®, motivados pelo estilo retrô que simula as fotografias das câmeras

Hipstamatic de décadas passadas (PHOTOSHOP CREATIVE, Nº44, p. 18).

Figura 13 - Fotografia de composição quadrada, com as perfeitas dimensões do enquadramento 1:1. Fonte: Alterado de: thepretty-vintage.tumblr.com. Acessado em: 26/11/15

3.1.4. Quadros Dentro de Quadros

Uma das técnicas de design fotográfico das quais podemos esperar

resultados bem-sucedidos é o quadro interno. Por outro lado, assim como pode

acontecer com qualquer fórmula de design já estabelecida, essa é uma técnica que

corre riscos de ser superutilizada; e é um clichê em potencial, todavia, tais riscos

servem como evidência de que esta técnica, de fato, realmente funciona; precisa

apenas de um pouco mais de cuidado e criatividade para que seja bem utilizada

(FREEMAN, 2012).

Para Hedgecoe (2007), é possível criar quadros dentro de quadros

enquadrando formas naturais presentes na cena e fotografando através dele, sendo

possível criar composições fortes e atrativas nas quais o observador tem seu olhar

guiado em direção à imagem principal (Figura 14). Arcadas, colunas, árvores,

batentes de portas, janelas entre outros, são comumente utilizadas como recurso

artístico que se lança mão para limitar e evidenciar o assunto principal da fotografia.

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Quadros dentro de quadros também desempenham outra finalidade, por

exemplo, esta técnica pode ser uma forma de ocultar algum elemento indesejado na

cena, que pode distrair a atenção. É também um meio de dar profundidade a cena,

pois os quadros acrescentam camadas às imagens.

Figura 14 – Fotografia de quadro dentro de quadro. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em: 28/12/2015

3.1.5. Recorte

Recortando uma fotografia, o designer desenha suas dimensões, altera sua

forma e muda a escala de seus elementos em relação à totalidade da cena. Uma

imagem horizontal pode vir a tornar-se um quadrado, uma panorâmica ou até

mesmo uma forma circular. Com o recorte, podemos ainda aproximar detalhes da

imagem, mudar seu foco (área de atenção) e conferir-lhe um novo sentido ou

ênfase. O modo como uma fotografia é recortada pode proporcionar uma mudança

radical em seu sentido (LUPTON, 2008).

Segundo Freeman (2012), o recorte é uma técnica de edição fotográfica que

foi muito utilizada na era da fotografia em preto e branco. Tornou-se um método

pouco utilizado nos tempos do slide colorido e agora é revitalizado como parte

integrante no processo de pós-produção. O autor cita ainda um detalhe importante

com relação ao recorte; alerta que o recorte reduz o tamanho da imagem e,

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consequentemente, reduz a quantidade de pixels, técnica que exige imagens em

alta resolução.

Não podemos pensar no recorte como um remédio para todos os males

aplicados pelo designer na edição final da fotografia.

O perigo de ter a oportunidade de alterar e manipular um quadro após ter sido fotografado é de que ela pode levar à acomodação de se imaginar que uma quantidade significativa do trabalho de fotografia pode ser realizada no computador. Recortar introduz uma interrupção no processo de realização de uma fotografia, e a maioria das imagens é beneficiada pela continuidade da visão (FREEMAN, 2012, p.20).

3.1.6. Regra dos Terços

Podemos observar o uso da Regra dos Terços e sua eficácia na

representação visual em obras dos grandes mestres da Pintura, presentes nas

ideias clássicas de composição da Grécia Antiga e resgatada por artistas da

Renascença. Essa regra diz que a imagem deve ser dividida em terços horizontais e

verticais e o assunto a ser destacado deverá ocupar dois terços dessa divisão

(Figura 15). Também presente na Fotografia, trata-se de uma técnica básica e

bastante conhecida de Enquadramento, que divide o quadro em nove retângulos

iguais, formando uma grade com três colunas e três linhas. Os assuntos principais

da composição devem ser colocados nas interseções dessas linhas (HEDGECOE,

2007).

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Figura 15 - Exemplo de composição que explora a regra dos terços. Fonte: www.socameradigital.com.br. Acessado em: 26/11/2015

Trata-se de uma regra de Enquadramento simples de ser entendida e

executada, porém, é importante perceber que cada cena tem suas características

próprias e nem sempre é fácil definir o que será posicionado nas interseções da

Regra dos Terços.

3.2. Figura/Fundo

3.2.1. Primeiro e segundo plano

Geralmente, percebemos que a maior parte das imagens a nossa volta

possuem uma ou mais figuras definidas, sendo esta o assunto principal da imagem,

que se sobrepõe sobre um fundo, seja ele definido ou indefinido. As figuras se

distinguem dos fundos por despertarem algum valor para o observador. Na maioria

dos casos, a figura é o elemento da imagem que tem mais significado para o

observador, enquanto o fundo tem pouco de significativo.

É assim com os retratos de pessoas, cartazes, embalagens e até mesmo em

páginas de texto, onde há palavras em preto sobre um fundo branco. Quando bem

definidos, é possível a segregação da figura e do fundo, e as qualidades formais dos

mesmos podem ser vistas e analisadas separadamente. Em outros casos, quando

há o uso criativo da relação figura e fundo – ou forma e contra forma, como definem

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alguns autores – ocorrem fusões, continuidades, unificações e semelhanças entre os

dois. Em alguns casos, o fundo pode passar a ocupar o papel principal na imagem.

Algumas características formais entre figura e fundo são responsáveis pela

segregação entre eles; podem ser contornos diferentes, cores, texturas, entre

outros. O simples olhar do observador pode segregar figura e fundo, somando-se a

sua bagagem cultural que influencia essa separação.

H. Lupton (2008), explica que as relações entre figura/fundo estabelecem

nossa percepção visual em relação às imagens. Uma figura (forma) sempre é vista

em relação ao que há em seu entorno (fundo), por exemplo, o texto sobre a página

branca; uma obra de arquitetura e seu terreno; uma escultura e o espaço em torno

dela; o assunto de uma fotografia e o cenário por trás do mesmo, entre outros.

Como vimos, alguns observadores estão acostumados a perceber o fundo

como algo passivo e pouco importante na composição visual em relação ao seu

assunto principal, porém, os designers reconhecem a importância do fundo e seu

poder de moldar a forma, tornando-a algo ativo (LUPTON, 2008).

Designers gráficos, constantemente, procuram compor suas peças

estabelecendo a relação ideal entre figura e fundo, utilizando essa relação para

proporcionar harmonia ou contraste entre forma e contra forma, a fim de criar peças

gráficas que estimulem o olhar (LUPTON, 2008). Dondis (2007) conta que figura e

fundo são também conhecidos como positivo/negativo, e sua importância está

relacionada ao fato de que, nos fenômenos visuais, embora positivo e negativo

estejam separados, de certa maneira, estão também unificados em um todo.

Outro ponto citado por Lupton (2008) é a existência de algumas relações

entre figura e fundo. Uma delas é a relação estável, onde ocorre um claro destaque

entre ambos, no qual figura e fundo apresentam-se de forma clara e distinta. A

fotografia opera de acordo com este princípio, pois algo ou alguém é representado

ante um cenário. Outro fenômeno é a relação reversível, em que figura e fundo

atraem nossa atenção igualmente e alternadamente, à medida que nossos olhos

percorrem a composição.

Existe ainda a relação de ambiguidade entre figura e fundo. Esta relação

desafia o observador a encontrar um ponto focal. A figura encontra-se imbricada ao

fundo, levando o olhar a dar voltas sobre a superfície na condição de distinguir sobre

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sua predominância, sendo que, nesta relação, existem dois pontos de vista: um

quando olhamos para a forma e o outro ao olharmos para o fundo.

3.2.2. O Primeiro Plano, a figura.

Figuras estendem-se em largura, altura e profundidade. Lupton (2008),

explica que figuras são compostas pelo fechamento do trajeto de uma linha em

movimento e pela composição de pontos gráficos de diferentes tamanhos e espaços

entre eles. Em fotografias, as formas são compostas pelos grãos do filme e por

pixels - caso da fotografia digital -, que criam variações tonais, devido à captura da

luz refletida, dando origem à imagem. Essas figuras podem ter formas sólidas ou

vasadas, opacas ou translúcidas, lisas ou ásperas.

Para Freeman (2012), o assunto principal das fotografias é definido com base

em nossa vivência cotidiana, onde assumimos que há algo para o qual olhamos(a

figura), que é aquilo que se apresenta sobre algo contra o qual se sobrepõe ou

repousa (o fundo). A princípio, a figura é mais importante, pois é a razão pela qual a

fotografia é feita. O fundo, muitas vezes, está lá simplesmente pelo fato de que

alguma coisa deve ocupar o restante do quadro ou porque faz parte do contexto da

imagem (Figura 16).

Figura 16 - Fotografia de Martin Tremblay, figura de corpos como forma tipográfica. Fonte: croove.com.br. Acessado em: 28/12/15

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Em grande parte dos processos fotográficos isto vem a ser verdade.

Escolhemos algo a ser fotografado, podendo ser alguma coisa ou um conjunto de

coisas. Pode ser uma ou várias pessoas, um produto, uma edificação ou parte de

uma ação/acontecimento (FREEMAN, 2012). Este assunto principal a ser

fotografado, na maioria das vezes, já está definido previamente pelo fotógrafo, antes

do ato fotográfico. Sua hierarquia superior em relação ao fundo já é previamente

estabelecida.

O grande desafio do designer, assim como o do fotógrafo, é se deparar com

um espaço em branco e saber como preenchê-lo. A presença de uma forma, mesmo

a mais simples, mudará o aspecto de um espaço em branco. É preciso que haja um

processo de seleção das formas adequadas para que se relacionem com o fundo. O

modo como a relação de figura/fundo será determinado dependerá do objetivo que

se quer alcançar. Por exemplo, figuras que contrastam com seus fundos destacam-

se dos mesmos, dando ênfase à forma. Logo, figuras que não contrastam com seus

fundos passam a ter menos ênfase na composição.

3.2.3. O Segundo Plano, o fundo.

Uma importante tarefa para o fotógrafo, durante o processo de composição, é

a escolha do plano de fundo adequado. Na maioria dos casos, o critério mais

importante neste processo é a simplicidade, pois fundos simples dão ênfase à figura

principal. Para Hedgecoe (2007), bons planos de fundo são aqueles que

desaparecem gradualmente na composição. Quando domina o cenário, o fundo

torna-se o centro das atenções na composição, o objeto principal da fotografia. Por

isso, se o objetivo for mostrar a figura com clareza, o fundo não deve ser complexo

ou rico em detalhes.

No entanto, ainda segundo Hedgecoe (2007), fundos mais elaborados podem

e devem ser utilizados, com a intenção de acrescentar algo a narrativa do fotógrafo.

O fotografo tem controle quase que total na composição. Em retratos, por exemplo,

é possível colocar modelos sobre paredes, cercas, cortinas, áreas externas e fundos

de estúdios.

Existem ainda situações em que o fundo não só deve ter maior hierarquia na

composição, mas pode dominar toda a composição sem a presença de uma forma

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em primeiro plano (Figura 17). São os casos das fotografias de texturas, que são

para Hedgecoe (2007), formas em pequena escala onde padrões são repetições de

um determinado elemento.

Figura 17 - Fotografia abstrata de um fundo, sem a presença de uma forma. Fonte:www.1000imagens.com. Acessado em: 28/12/2015

Existem também situações em que o fotógrafo pode escolher qual entre os

dois componentes de uma cena será a figura e qual será o fundo, com o qual essa

figura será vista. Essa situação ocorre quando há algum tipo de ambiguidade na

cena a ser fotografada (Figura 18). Para que essa técnica ocorra é interessante que

haja uma minimização de detalhes realísticos. Há casos em que a ambiguidade

acontece de forma tão intensificada que ocorrem alternâncias na percepção e a

cena passa a ter duas figuras disputando o olhar do observador.

Para que isso ocorra, deve haver dois tons na imagem que devem contrastar

tanto quanto possível; essas duas áreas precisam ser tão iguais em proporção

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quanto possível, e deve haver um número de pistas no conteúdo da figura com

respeito ao que esteja à frente (FREEMAN, 2012).

Figura 18 - Fotografia de paisagem arquitetônica que explora o uso criativo de figura e fundo ou forma e contra forma. Fonte:www.1000imagens.com. Acessado em: 28/12/2015

3.2.4. Foco Seletivo e a Profundidade de Campo

Na hora de decidir qual será o assunto principal de uma fotografia, ou seja, a

figura/objeto, decidimos também qual é o ponto a ser focado. O foco é um

fundamento tão importante na fotografia que não deve ser ignorado, pois é o fator

que garante a nitidez da figura/objeto principal. Hedgecoe (2007) afirma que

O sucesso da maioria dos fotógrafos depende do fato de a imagem estar em foco ou não. A composição e outros aspectos criativos não vão contar muito se as principais partes da fotografia aparecerem borradas devido ao fato de a objetiva não ter sido apropriadamente ajustada (HEDGECOE, 2007, p. 68).

A partir da focagem é possível definir qual a área ficará nítida ou desfocada.

Isso ocorre por conta do sistema ótico das objetivas, pois elas só conseguem

focalizar apenas uma distância de cada vez, o que significa que apenas um único

plano se apresentará focado (Figura 19), e os planos que estiverem fora dessa

distância, tanto os planos mais próximos da câmera quanto os mais distantes,

estarão fora de foco. Quanto maior a distância entre a figura e o fundo, maior será a

relação de foco e de desfoque.

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Trabalhando os fundamentos óticos, além da distância entre a figura e o

fundo, o fotógrafo pode manipular técnicas da profundidade de campo para atribuir

relações de foco e desfoque no plano de fundo. A profundidade de campo é utilizada

para disfarçar e suavizar o plano de fundo ou fazer com que o mesmo pareça tão

nítido quanto o assunto principal. Hedgecoe (2007) nos apresenta três maneiras de

trabalhar a profundidade de campo, quais sejam:

1 – O tamanho da abertura da objetiva é para Hedgecoe, o fator mais

importante no controle da profundidade de campo, por ser o mais manipulável

pelo fotógrafo. Tornando menor a abertura da objetiva aumenta-se a

profundidade de campo, ou melhor, mais áreas da imagem estarão nítidas. Por

outro lado, tornando-a maior, limita-se a profundidade de campo, onde apenas

algumas áreas da imagem estarão nítidas;

2 – A distância focal da objetiva ou do ajuste de zoom afeta a variação de

planos da imagem que aparecerão nítidos na imagem. A profundidade de

campo diminui na medida em que a distância focal aumenta. O contrário ocorre

enquanto a distância focal diminui e a profundidade de campo passa a

aumentar;

3 – Por fim, a relação da distância entre a figura e o fundo. Quanto mais

próximas as figuras estiverem dos planos de fundo, maior será a profundidade

de campo do que quando as figuras estão distantes dos fundos. Isso ocorre

para todos os tipos de lentes.

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Figura 19 - Fotografia com efeitos de profundidade de campo. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em: 28/12/2015

3.2.5. Fusões

Sempre que planejarmos fazer uma fotografia, ao enquadrar uma cena no

visor, devemos nos lembrar de que vemos as coisas em três dimensões. Portanto, é

muito comum que, no ato fotográfico, nos concentremos apenas na figura principal

da cena, ou melhor, na figura, e não percebemos bem o que há no fundo. Muitas

vezes, pode haver no fundo algo que interfira na figura, criando uma fusão entre

figura e fundo. Reimerink (2001) nos apresenta três principais tipos de fusões:

1 – De fundo: Ocorre quando somos surpreendidos por um poste, árvore ou

algum outro objeto saindo da cabeça de alguém que fotografamos;

2 – De bordas: Ocorre quando alguma parte da figura se confunde com as

bordas da fotografia;

3 – De cor: Ocorre quando objetos da figura e do fundo possuem a mesma

cor, criando uma unidade entre ambos.

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Figura 20 - Fotografia de fusão criativa entre figura e fundo. Fonte:plugcitarios.com. Acessado em: 28/12/2015

Fusões ocorridas de forma indesejadas e que não acrescentam algo positivo

para a composição devem ser evitadas, porém, é possível realizar efeitos visuais

interessantes com o uso de fusões de forma proposital (Figura 20), como também é

possível que possam ocorrer acidentes que causem um resultado final interessante.

3.3. Escala

3.3.1. Representando escalas por meio da imagem

As peças impressas podem ser pequenas como um selo ou grandes como um

outdoor. Isso também ocorre na Fotografia. Algumas dessas peças são criadas para

terem grandes formatos, outras são pequenas, como as fotografias para

documentos. Alguns projetos são desenvolvidos para serem reproduzidos em

escalas múltiplas; não importa o tamanho que o projeto terá no final, o que importa é

que ele terá um sentido próprio de escala.

As Escalas podem ser consideradas tanto de forma objetiva quanto subjetiva.

Para Lupton (2008), em termos objetivos, escala se refere às dimensões reais e

exatas da peça em relação ao objeto representado. São os casos dos mapas,

maquetes e modelos. Já em termos subjetivos, a Escala alude à impressão que o

observador tem do tamanho real do objeto representado. Dependendo de como são

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organizados em uma cena a ser fotografada, um livro pode ter o tamanho de uma

casa, se colocarmos o livro bem perto da câmera e a casa estiver distante de

ambos.

Em uma fotografia em que todos os elementos estejam representados - todos

no mesmo tamanho - dizemos que está faltando escala. Isso pode conotar uma

sensação estática ou sem graça pela falta de contraste de tamanhos (LUPTON,

2008).

A Escala pode depender do contexto. Dimensões pequenas de papel podem

conter elementos que pareçam demasiadamente grandes para serem contidas em

um pequeno pedaço de papel, denotando que esses elementos pareçam extrapolar

seus limites, criando, com isso, o sentido de escala ampliação. Igualmente, se

colocarmos um elemento isolado, ocupando apenas uma pequena parte da

superfície do mesmo pedaço de papel, fazemos com que ele se pareça menor, e

seu entorno se apresentará como uma superfície maior, criando um efeito de escala

de redução (LUPTON, 2008).

Em uma imagem, às vezes, é difícil calcular o tamanho de um objeto quando

ele está enquadrado de forma isolada, ou seja, sem outro elemento ao seu lado para

que possamos fazer uma comparação. Segundo Hedgecoe (2007), isso ocorre

porque, na maioria dos casos, imaginamos as dimensões de objetos desconhecidos

comparativamente ao tamanho dos objetos conhecidos à nossa volta.

Ao fotografarmos uma estrutura particularmente grande, como arquiteturas e

formações rochosas, e queremos dar ênfase às grandes dimensões dessas

estruturas, podemos usar técnicas de Escala, colocando na cena elementos

pequenos e normalmente conhecidos como referência, que podem ser pessoas,

carros animais, entre outros (Figura 21). Posicionando de forma planejada objetos

na cena, esses servirão como escala comparativa, sendo possível exagerar,

minimizar ou mesmo neutralizar a conotação do tamanho do objeto principal da

imagem (HEDGECOE, 2007).

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Figura 21 – Fotografia que explora os efeitos de Escala. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em: 28/12/15

3.3.2. Relatividade, Ambiguidade e Ponto de Vista.

Em uma fotografia composta por um pequeno objeto, fotografado de perto e

de forma isolada, ou seja, sem outro objeto que possamos comparar seu tamanho,

serão criadas expectativas de escala no observador com relação ao tamanho do

artefato (Figura 22). Por outro lado, se incluirmos na cena outros objetos

conhecidos, seus indícios espaciais revelarão o tamanho real do objeto em questão,

porém, caso continuem suprimidos, será mantida a ilusão de escala.

Outra técnica capaz de proporcionar uma ilusão de escala de ampliação do

tamanho dos objetos é a mudança do ponto de vista ao fotografar formas pequenas.

Fotografar pequenos objetos bem de perto e de um ângulo baixo, ou seja, de baixo

para cima, cria a sensação de monumentalidade (LUPTON, 2008, p.146-147).

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Figura 22 - Fotografia de objeto fotografado de perto e de forma isolada. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em: 28/12/2015

Quando compreendemos bem os conceitos de Enquadramento e de Escala,

passamos a nos permitir realizar fotografias de diferentes proporções, utilizando a

mesma cena. É o que afirma Hedgecoe:

Ao fotografar um motivo, sobretudo um motivo grande como um prédio, tente olhar para ele de todos os ângulos acessíveis. Isso não significa apenas contorná-lo, mas vê-lo através de várias objetivas e, se possível, de diferentes alturas. Na maioria dos casos, você verá que existe um número quase infinito de possibilidades fotográficas – e o que você tem a fazer é decidir quais prefere (HEDGECOE, 2007, p.188).

3.3.3. Grandes objetos em pequenas imagens

A Fotografia Macro tem a função de aproximar e ampliar objetos pequenos.

Geralmente, uma fotografia é considerada macro quando ampliamos seu tamanho

real em pelo menos cinco vezes, porém, essas ampliações podem chegar a níveis

onde passamos a ser capazes de ver o mundo de outra maneira, vendo detalhes,

antes impossíveis, a olho nu.

A revista Digital Photographer Brasil trouxe, em sua edição nº 24, uma

matéria de capa dedicada à Fotografia Macro. A revista conta que as imagens deste

gênero têm o poder de cativar o espectador e prender seu olhar de uma maneira

inacessível a outros gêneros fotográficos, pois o efeito de dar vida em grande escala

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a mundos pequenos e antes impossíveis, visualmente, de serem observados a olho

nu, prende a atenção do observador. A revista apresenta algumas decisões a tomar

antes de capturar uma imagem Macro, a saber:

1 – De que distância se pretende fotografar?

2 – Qual será o tamanho que o objeto deverá ocupar no quadro?

3 – Quanta profundidade de campo se pretende atingir?

4 – Como será feita a escolha do fundo?

5 – Quais configurações da câmera serão utilizadas?

6 – Como o assunto será iluminado?

A Macro Fotografia é, de fato, um gênero bastante acessível e existem muitas

oportunidades a explorar no Design, sendo necessário que se preste atenção aos

espaços em miniatura que nos rodeiam. Com a utilização de formas simples, como

flores, insetos (Figura 23), joias ou peças mecânicas, pode-se atingir os mais

diversos resultados como imagens simples, complexas, abstratas, espirais ou

texturas.

Figura 23 - Fotografia macro de um inseto. Fonte:a5.mzstatic.com. Acessado em: 28/12/2015

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3.3.4. Numa escala menor

Por outro lado, quando o objetivo é retratar um objeto dando ênfase na

redução de seu tamanho, devemos observar algumas técnicas fotográficas

existentes, sendo uma delas a tilt shift (Figura 24), que é uma prática que muda

totalmente as percepções de profundidade de campo, usando lentes específicas (as

objetivas PC), que são destinadas ao uso de controle de perspectiva, passando a

ser utilizadas para este fim (HEDGECOE, 2007). Com o uso de uma objetiva PC é

possível conseguir profundidades de campo muito pequenas. O resultado é

conhecido popularmente como falsa miniatura. Em fotografias de paisagem, por

exemplo, a imagem parece ser de uma maquete e pessoas se assemelham a

bonequinhos. Tal técnica também pode ser conseguida na pós-produção fotográfica

com o uso de aplicativos, como o Adobe Photoshop.

Figura 24 - Fotografia Tilt Shift. Fonte: www.sickchirpse.com. Acessado em: 28/12/2015

Existem também técnicas de perspectiva destinadas a proporcionar efeitos de

redução. Quando um carro é fotografado a um quilometro de distância numa estrada

deserta, o mesmo parecerá menor do que se fosse fotografado a apenas alguns

passos de distância, considerando o uso da mesma lente em ambos os casos. Para

Hedgecoe, técnicas de redução ocorrem por conta da ação da perspectiva.

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Essa forma de perspectiva é conhecida pelos artistas como redução de tamanho, e é um dos recursos mais úteis a serem utilizados na fotografia. Mesmo que você esteja fotografando cenários que não contenham uma perspectiva linear – linhas convergentes visíveis –, muitas vezes, irá fotografar objetos cujo tamanho tanto você quanto o observador conhecem. Para um fotógrafo de paisagem, fotografar um campo repleto de carneiros irá produzir uma foto em que os carneiros mais próximos da câmera parecem significantemente maiores do que os que se encontram mais perto da linha do horizonte (HEDGECOE, 2007, p.198).

A Escala é fundamento presente em praticamente todas as imagens

fotográficas. Sendo, por muitas vezes, um elemento desapreciado. Estamos

acostumados a ver pessoas, objetos e arquiteturas reduzidas às dimensões de um

pequeno impresso. Às vezes, ampliamos outras, reduzimos o que queremos

representar. Em outras situações, não se sabe quais as relações de tamanho entre a

imagem e o objeto representado. Por outras vezes, até sabemos qual o tamanho do

objeto representado por já o conhecer previamente em outras experiências visuais.

3.4. Tempo e movimento

3.4.1. Temporalidades

Sendo princípios estreitamente relacionados, podemos afirmar que Tempo e

Movimento operam de forma simultânea, pois qualquer coisa que se move se

desloca tanto espacial como podendo ele ser subentendido ou literal. Tempo e

Movimento são fundamentos relevantes para qualquer trabalho no campo das Artes

Visuais; em um livro, as páginas seguem umas às outras; as animações possuem

sua duração literal e; na fotografia, podemos congelar ou prolongar o tempo e o

espaço de uma cena.

Com isso, podemos alegar que “[...] qualquer imagem estática possui um

movimento implícito (ou uma estagnação implícita)” (LUPTON, 2008, p. 215). O

Movimento é um tipo de mudança, e toda mudança ocorre no Tempo. Derivada da

fotografia, o Cinema é, na verdade, uma arte visual composta por sequências de

imagens estáticas que, uma vez organizadas de forma continuada e seriada em um

determinado tempo, passam a ganhar movimento.

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Como o Cinema, a Animação também faz uso de imagens estáticas para criar

a sensação de movimento. A menor unidade da animação é o quadro, uma figura

estática. Portanto, a técnica da Animação se baseia na organização quadro a

quadro, que passam a mover-se, quando organizadas, sucessivamente, de forma

temporal (Figura 25) (LUPTON, 2008).

Figura 25 – Fotografia de Eadweard Muybridge, 1878. Movimento de um cavalo galopando. Fonte: images.slideplayer.com.br. Acessado em: 29/12/15

Na Fotografia, a principal ferramenta utilizada para determinar Tempo e

Movimento é o obturador da câmera. A velocidade do obturador desempenha um

papel fundamental na transposição de sensação de movimento de uma cena, assim,

quanto menor o tempo que o obturador ficar aberto no momento do “click”, menor

será o movimento do objeto na imagem, ou melhor, quanto mais rápido o movimento

do obturador, mais estático e nítido o objeto se apresentará no quadro. O oposto

ocorre quando a velocidade do obturador é programada para velocidades mais

lentas, fazendo com que o objeto se apresente menos nítido e sugerindo estar em

movimento, caso o objeto esteja em movimento (HEDGECOE, 2007).

Apesar de ser a forma de retratar o que vemos de maneira mais semelhante à

realidade e com quase perfeição nos detalhes, nem sempre foi possível controlar o

tempo de exposição das fotografias, como é feito atualmente. Nos seus primórdios,

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a fotografia tinha muitas limitações técnicas. Seu mecanismo e sua composição

química eram limitados para a captura de objetos em movimento. Mesmo paisagens,

um tema relativamente estático, eram difíceis de representar, pois ocorriam

desfoques de movimentos nas cenas, como o balançar de folhas pelo vento, por

exemplo. Limitações essas que foram se aperfeiçoando e desaparecendo com o

passar do tempo.

3.4.2 Velocidade

Sendo um dos principais fundamentos da Fotografia, a Velocidade está

relacionada ao tempo de abertura do obturador da câmera. O tempo de abertura do

obturador determina por quanto tempo a luz entrará na câmera, sensibilizando o

CCD na Fotografia Digital ou o filme, no caso das câmeras analógicas. Ao controlar

a velocidade do obturador, o fotógrafo irá dominar não só o tempo de exposição,

mas também diversos tipos de efeitos, como o congelamento, sugestão e impressão

de movimentos em objetos em ação. Por outro lado, também é possível prolongar a

sensação de movimento em algumas cenas, onde é possível fazer fotografias em

ambientes com pouca luz, realizar fotografias com múltiplas exposições e até

mesmo praticar a técnica da Light Painting (Figura 26).

Figura 26 - Fotografia de longa exposição, Light Painting.Fonte:farm4.static.flickr.com. Acessado em:

29/12/2015

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Como visto anteriormente, o obturador da câmera é o dispositivo responsável

por controlar o tempo durante o qual a luz deve entrar na câmera e, com isso,

sensibilizar o filme ou o sensor. As velocidades do obturador são indicadas por um

sistema numérico. Por exemplo, se o obturador estiver indicando a velocidade 1, a

luz entrará na câmera por um segundo, se mudarmos para indicação 2, iremos

reduzir o tempo de exposição para meio segundo. Sendo assim, ao regularmos a

velocidade do obturador para 60 (1/60 seg.) a luz entrará por um tempo

correspondente à metade do tempo em que entra na velocidade 30 (1/30 seg.) e,

assim, suscetivelmente (REIMERINK, 2001).

Os indicadores 250, 500, 1000, 2000 e 4000 são os números que

representam as maiores velocidades de obturador e são dedicados à fotografias de

objetos em movimento, ou seja, destinados a congelar a ação. Além de todas as

velocidades tidas como intermediárias, como a 1/30 e 1/60, temos as longas

exposições, onde o obturador fica aberto por segundos, minutos ou até mesmo por

horas. Há, ainda, a velocidade B (bulb) — que mantém o obturador aberto enquanto

o botão disparador estiver pressionado. O uso dessas velocidades de obturador

provoca efeitos de movimento em assuntos móveis e promovem a realização de

fotografias em ambientes de pouquíssima luz. Com o domínio dessa técnica, o

fotógrafo é capaz de compor uma fotografia de uma cena que teve um tempo de

duração de alguns segundos, em um único quadro, englobando todo aquele tempo

em apenas um instante (Figura 27).

Figura 27 – Fotografia de Étienne Jules Marey, um estudo do movimento do atleta. Fonte:veja.abril.com.br. Acessado em: 29/12/2015

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A fotografia de longa exposição registra Movimentos no Tempo sobre uma

superfície estática e bidimensional. Traços de luz produzem linhas rítmicas de

intensidade variável, dando origem a desenhos admiráveis (LUPTON, 2008, p.34).

3.4.3. Ritmo

O Ritmo consiste em uma forma de padrão, forte, constante e repetitivo: o

soar dos tambores; o cair da chuva; o voo dos pássaros, tudo isso emprega o Ritmo

como uma forma de expressão no tempo.

Os designers usam o ritmo na construção de imagens estáticas, bem como em livros, revistas e imagens animadas que possuam uma duração contínua, a maioria das formas no design gráfico buscam ritmos que são pontuados por mudanças e variações (LUPTON, 2008, p.29).

Um bom exemplo do uso do Ritmo na Fotografia são as fotos aéreas. Os

vários padrões, texturas e cores apresentadas pelas formas naturais ou criadas pelo

homem, revelam imagens fascinantes e surpreendentes, pelo fato de que nós não

estamos familiarizados a ver paisagens de cima. O Ritmo não está associado

apenas a elementos de caráter repetitivo, mas também a elementos dotados de

variação (Figura 28). “Das sinuosas curvas de nível dos campos de uma fazenda a

um mar de carros ordenados em fileiras num estacionamento, a repetição é uma

característica inesgotável do ambiente humano” (LUPTON, 2008, p.32). Para

Lupton, repetição e variação estimulam justaposições visuais essenciais, em que a

beleza emerge dessa mistura.

Figura 28 - Fotografia que sugere ritmo e movimento. Fonte: i.blogs.es. Acessado em: 29/12/2015

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A fotografia de um veículo em movimento representa a sensação do ritmo de

sua corrida. Fazendo o uso da velocidade do obturador e uma tomada de

acompanhamento em outro veículo, o fotógrafo é capaz de congelar o movimento do

carro, deixando-o nítido e permitindo que as margens da rodovia, pessoas e objetos

ao fundo apareçam borradas, compondo o ritmo de sua velocidade (Figura 29).

Figura 29 - Grand Prix do Automobile Club da França, Corrida de Dieppe, 1912, de Jacques Henri

Lartigue Fonte:imguol.com. Acessado em:29/12/2015

3.4.4. Momento

O momento exato de fazer uma fotografia não é apenas uma qualidade

fundamental do ato fotográfico, é também um fator determinante que influencia, de

forma direta, o design de uma imagem. Uma das expressões mais famosas da

Fotografia, o Momento Decisivo, invoca a relevância deste tema. Henri Cartier-

Bresson, fotojornalista por excelência, tornou famosa essa expressão na Fotografia.

Ele pregava que não há no mundo quem não tenha um momento decisivo e, assim,

definiu: “No movimento, há um momento quando os elementos em movimento estão

em equilíbrio. A fotografia deve capturar esse momento e manter imóvel seu

equilíbrio” (CARTIER-BRESSON apud FREEMAN, 2012, p. 98).

O Momento Decisivo fotográfico faz tanto sentido que tem perseguido muitos

fotógrafos desde então. Entretanto, alguns chegaram a tentar argumentar contra

isso. O fotógrafo norte americano Arnold Newman, por exemplo, fez uma crítica

bastante convincente. Ele afirmou que “(...) todo momento é um momento decisivo,

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mesmo se você tenha que aguardar uma semana por ele” (NEWMAN apud

FREEMAN, 2012, p.98).

Isso significa dizer que o momento decisivo é aquele que tanto pode

acontecer à nossa frente, de forma simultânea, como também pode ser aquele

momento em que estamos procurando ou interferindo para que ele aconteça. O que

interessa, realmente, para o fotógrafo é procurar a fotografia e não o momento, pois

o momento decisivo pode levar uma ou duas horas, uma semana, dois minutos ou

um milionésimo de segundo para acontecer (Figura 30). Contudo, sendo um fator

determinante na maioria das fotografias, o momento afeta o design da imagem.

As fotografias de todos os assuntos, exceto dos completamente estáticos – portanto, a maioria das fotografias – precisam levar em conta o tempo. Fazer uma fotografia é criar a imagem de um evento. O evento pode ser breve – uma questão de milissegundos – ou pode ser suficientemente longo, como na mudança de luz do dia sobre a paisagem, quando o momento é escolhido em termos de horas (FREEMAN, 2012, p. 98).

Figura 30 - Suzanne Lenglen, Nice, maio de 1921, de Jacques Henri Lartigue. Fotografia de momento decisivo. Fonte: www.ims.com.br. Acessado em: 29/12/2015

Isso demonstra que o momento fotográfico tem forte influência na

composição. A hora certa de acionar o obturador faz toda a diferença entre capturar

o momento “certo” e o momento “errado” da cena. Nestes dois casos, a fotografia

pode tanto ganhar como perder em qualidade estética e funcional. É o caso, por

exemplo, em que se captura o momento em que um corredor cruza a linha de

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chegada. Em casos como este, temos que contar também com a sorte, pois todos

os preparativos para aquele momento esperado, e toda a experiência e técnica do

fotógrafo para esse tipo de imagem contam com o desdobramento feliz do

acontecimento.

3.4.5. Fotografia: Memória, Indícios, Traços, Vestígios.

Por se tratar de um processo que registra, de forma imediata, tudo o que nos

é visível, a fotografia passou a satisfazer a necessidade de políticos, cientistas,

historiadores e desbravadores. Logo que passou a ser acessível a essas áreas das

atividades, a Fotografia começou a ser aplicada com o objetivo de mapear,

catalogar, retratar e categorizar, tanto o mundo natural quanto os indícios dos feitos

na humanidade.

Uma vez que a Fotografia é sempre associada a um lugar exato e a um

momento específico, ela passa a ser compreendida como uma forma de expressão

visual de alta credibilidade daquilo que testemunha. Hacking (2012) apresenta

alguns tipos de emprego da Fotografia, aplicadas como formas de registrar as ações

humanas e do mundo natural.

Nos anos 1840, houve uma proliferação dos estúdios fotográficos comerciais,

o que contribuiu para que a Fotografia passasse a ser compreendida, de forma

geral, como um registro inestimável da aparência e da identidade pessoal (Figura

31). Em meados dos anos 1850, os estúdios fotográficos passaram a marcar

presença nas principais ruas da Europa, Estados Unidos e outras partes do mundo.

A classe média da época, com seu recente poder de consumo, procuravam ser

amplamente retratada, algo que era antes privilégio apenas da aristocracia. Porém,

nem todas as fotografias eram feitas em estúdios, pois os fotógrafos também

realizavam fotos externas, tendo como fundos: paisagens, construções, máquinas,

entre outros.

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Figura 31 - Fotografia As senhoritas Booths, 1861, Camille Silvy. Fonte: Franglaise.com. Acessado

em:29-12-2015

Outro gênero fotográfico surgido no final do século XIX foram as fotografias

de natureza-morta. Esse gênero é caracterizado por criar composições elaboradas,

baseadas em composições das Belas Artes, tendo explorado novos princípios e

experimentos de imagens que demonstravam novos avanços tecnológicos, como a

fotografia colorida, por exemplo.

A natureza-morta, geralmente, representa objetos cotidianos tanto do mundo doméstico quanto do mundo natural. A grande vantagem da natureza-morta fotográfica é que ela permite ao fotógrafo exercer total controle sobre a estética e os aspectos técnicos do tema, experimentar com a iluminação e praticar com um modelo que não se move, reclama ou muda de posição sem necessidade. Em suma, o fotógrafo pode criar a imagem antes mesmo de registrá-la (HAKING, 2012, p.120).

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Figura 32 - Fotografia As Areias do Tempo, 1855. Natureza Morta de Thomas Richard. Fonte: s-media-cache-ak0.pinimg.com. Acessado em 29-12-2015

A Fotografia Etnográfica foi uma vertente da Fotografia usada pelos

antropólogos como uma ferramenta em seus estudos científicos da humanidade. No

final do século XIX, Etnografia e Fotografia estavam intimamente ligadas, e esse

segmento da Fotografia sintetiza a fascinação do Ocidente por povos considerados

primitivos e exóticos (Figura 33). Naquela época, o interesse do Ocidente pelo

Oriente Médio e pela Ásia havia chegado ao seu auge. Fotógrafos chegavam a

comercializar fotos exóticas e apelativas de não europeus, enquadradas no gênero

da Etnografia. Esses fotógrafos vinham de várias regiões e tinham interesses

distintos, como Ciências, Medicina e Botânica. Inclusive, um número considerável de

cientistas se voltou para a Fotografia com o objetivo de documentar fenômenos

naturais, animais e humanos.

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Figura 33 - Fotografia etnográfica de Felice Beato que retrata samurais do Clã Satsuma, entre 1868 a 1869. Fonte: australianmuseum.net.au. Acessado em: 29/12/2015

No início do século XX, a fotografia foi capaz de registrar as consequências

devastadoras das duas grandes guerras, protestos e revoluções no mundo inteiro,

bem como, todas as mudanças culturais, sociais e políticas ocorridas (Figura 34).

Figura 34 – Fotografia Morte de Um Miliciano Legalista de 1936, Robert Capa. Fonte:weweh.com. Acessado em: 29/12/2015

Desde sua criação, a fotografia vem sendo utilizada como uma ferramenta

com a função de registrar as atividades humanas. No jornalismo, na publicidade e na

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moda, a fotografia segue sua função de preservar memórias e documentar indícios,

traços e vestígios e práticas da humanidade.

3.5. Cor

3.5.1. Princípios e conceitos da cor.

A Cor é um elemento estético fundamental e presente nas Artes durante

todos os seus períodos. Ao fazermos uma simples observação nos movimentos

artísticos da Pintura, é possível constatar que a Cor está presente na Arte desde a

pré-história. Embora, algumas vezes, essas representações sejam monocromáticas

ou com uma paleta de cor resumida, a Cor na Arte nunca foi comtemplada como

uma inovação.

No Design Gráfico, a Cor começou a ser utilizada por meio de processos

gráficos como a Litografia, Ilustrações Tipográficas, Xilogravuras, Serigrafia e mais

tarde, o Offset, onde as peças gráficas ganharam automação e escala industrial de

produção.

No caso da Fotografia, a Cor teve sua origem por meio de Louis Lumière e

seu irmão Auguste M. Nicolas, que criaram, em 1907, o primeiro processo colorido

com disponibilidade de uso. A Autocromia arrebatou a representação de um mundo

ativo em cores (HACKING, 2012). Em termos de uso em massa, a Cor chegou

relativamente tarde, ou seja, apenas nos anos 1960, além de não ser, segundo

Freeman, uma inovação bem-vinda mundialmente.

[...] não foram apenas os fotógrafos tradicionais que ficaram desconfiados (naturalmente, por que ela desafiava suas habilidades adquiridas com tanto custo e seus modos de ver), mas também críticos e alguns filósofos, muitos dos quais a consideravam marcada pelo comercialismo da propaganda e dos produtos de consumo. (FREEMAN, 2012, p.109).

Contudo, o autor finaliza que a fotografia colorida veio a ser, mesmo sofrendo

algumas críticas, largamente adotada por profissionais, artistas e, claro, pelo público.

O influente fotografo suíço Ernst Haas, que mudou-se para os Estados unidos em 1951, identificou seu amor pela cor em tempos de guerra: “eu desejava que ela viesse, precisava dela, estava pronto para ela. Queria celebrar em cores os novos tempos, repletos de novas esperanças.” Como veremos, a interpretação da cor vem sendo, desde então, o assunto de experimentos e debates ainda em andamento (FREEMAN, 2012, p.109).

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Novos compostos químicos e processos possibilitaram a entrada da fotografia

colorida no meio fotográfico. Quebrando algumas limitações técnicas e possibilitando

uma nova maneira de experimentar, compor, e interpretar a imagem fotográfica.

Ao contrário de outros fundamentos, a Cor não tem uma existência material,

pois se trata de um fenômeno que é tão somente uma percepção visual provocada

pela ação de feixes de luz atuando sobre as células especializadas da retina (os

cones que compõem a fóvea e a mácula da retina no fundo do olho), que transmitem

através de informação pré-processada no nervo óptico, impressões para o sistema

nervoso. Segundo Pedrosa (2009), os efeitos luminosos são constituídos por

radiação eletromagnética, responsáveis por provocar as sensações que

denominamos como Cor.

Outro ponto importante sobre os efeitos cromáticos é como a luz incide sobre

os objetos e como a cor desses objetos nos é apresentado. O que entendemos por

Cor, na verdade, é uma quantidade de luz que eles refletem. Por exemplo, quando

observarmos uma maçã vermelha, o que está ocorrendo é, na verdade, uma

reflexão da luz que incide sobre a maçã; a superfície desse objeto absorve todos os

raios luminosos que compõem a luz branca e reflete apenas os raios luminosos

percebidos como vermelho.

Ainda com relação a isso, Epíruco, filósofo grego do período helenístico,

desenvolveu, há mais de 2.300 anos, um raciocínio de que “[...] a cor guarda íntima

relação com a luz, uma vez que, quando falta luz, não há cor”, afirmando que a

coloração dos objetos varia conforme a luz que os ilumina, concluindo que “[...] os

corpos não têm cor em si mesmos” (PEDROSA, 2009, p.19).

Assim, como não há cor sem que haja luz, também não é possível que haja

Fotografia sem a luz. Embora seja possível fazer Fotografia sem Cor. Com isso, é

possível afirmar que, dentre todos os elementos fotográficos, a Cor é, de longe, um

dos mais poderosos, sendo fundamental no processo de criação. A Cor desperta

sentimentos e reações emocionais. Para Hedgecoe (2007), as cores podem ter

efeitos relaxantes, excitam, estimulam. Segundo ele, as relações que temos com as

cores se intensificam quando se juntam com outras cores, quando se completam ou

quando se chocam umas com as outras.

Sendo a luz o principal elemento da Cor - a luz solar - denominada luz branca

ou cor luz, considera-se as cores em sobreposição das cores primárias compostas

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pelas cores vermelho, verde e azul, com a sigla em inglês (RGB). O homem

manipula inúmeras outras fontes de luz produzidas por ele e que, por sua vez,

fornecem diferentes resultados cromáticos. O que é bastante comum em estúdios de

Fotografia e no Cinema (PEDROSA, 2009). Seja pelo uso do filme fotográfico ou do

sensor digital das câmeras contemporâneas, a luz será a matéria prima para criar a

imagem fotográfica. Porém, nem sempre a luz é a mesma. Hedgecoe (2007) diz que

a luz pode ser mais clara em algumas situações do que em outras ou ter variações

cromáticas, dependendo do dia e do ambiente, bem como ainda dos objetos que

estamos fotografando.

Com relação às sensações e feitos criados pela Cor, Lupton (2008) afirma

que as cores podem denotar uma atmosfera, descrever uma realidade ou decodificar

uma informação. Adjetivos como “sombrio”, “pardo”, “alegre” e “brilhante” trazem à

nossa mente um clima de cores e uma paleta de relações. Ainda segundo a autora,

os designers utilizam a cor para fazer com que algo se destaque ou seja atenuado

(Figura 35). Fazendo o uso da cor é possível diferenciar, conectar, ressaltar e

esconder (IDEM).

Como visto, a Cor é um fundamento com grande afinidade em relação às

emoções. Em termos práticos, essa qualidade da Cor pode vir a ser entendida por

alguns como um elemento não essencial. Segundo Dondis (2007), “[...] a cor está,

de fato, impregnada de informação, e é uma das mais penetrantes experiências

visuais que temos todos em comum. Constitui, portanto, uma fonte inesgotável para

os consumidores visuais” (DONDIS, 2007, p.64).

Figura 35 – Fotografias da mesma imagem em cores e com ausência de cor. Fonte:universodasflores.files.wordpress.com. Acessado em: 29/12/2015

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3.5.2. O círculo cromático

Isaac Newton, em 1665, descobriu um prisma capaz de decompor a luz em

um espectro de sete cores visíveis: vermelho; laranja; amarelo; verde; azul; índigo e

violeta. Essas cores eram visíveis quando a luz branca atravessava o corpo do

prisma. Newton organizou essas cores dispostas em um disco cromático semelhante

aos discos utilizados hoje em dia por artistas gráficos para descreverem a relação

entre as cores. Os círculos cromáticos (Figura 36) são ferramentas úteis e versáteis

para designers e artistas gráficos, pois, com eles, podemos encontrar as cores

análogas (semelhantes) e complementares (contrastantes) e, com isso, decidir qual

harmonia ou atmosfera cromática irá compor o projeto gráfico.

De acordo com Lupton (2008), os discos cromáticos têm sua relevância pelo

fato de que:

As cores vizinhas – que se encontram próximas no espectro ou no disco cromático – são análogas. Utilizá-las, juntas, produz um contraste mínimo e uma harmonia natural, pois cada cor tem elemento em comum com as outras da sequência. Cores análogas também têm uma temperatura de cor equivalente. Duas cores diametralmente no disco são complementares. Uma cor não contém nenhum elemento da outra e elas têm temperaturas opostas (quente x fria). A decisão de utilizar cores análogas ou contrastantes afeta a energia visual e a atmosfera de qualquer composição (LUPTON, 2008, p.72).

Figura 36 - Gráfico de um círculo cromático onde são dispostos dois sistemas cromáticos RGB cores luz e CMYK. Fonte: estampaweb.com. Acessado em:29/12/2015

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3.5.3. Sistemas Cromáticos. Teoria básica das cores

Existem muitos sistemas cromáticos. Esses sistemas podem ser analisados

tanto do ponto de vista da cor luz, quanto do pigmento; cada um desses têm um

comportamento único, pois não há um sistema cromático único e definitivo de como

os matizes se relacionam. A teoria básica das cores define dois grandes sistemas

cromáticos: o sistema aditivo e o subtrativo das cores.

O sistema aditivo é aquele formado pelas três cores primárias da luz

(vermelho, verde e azul), também comumente conhecido como RGB (Red, Green e

Blue). Essas três cores se tornam visíveis quando decompostas a partir da luz

branca solar que é a fonte natural de luz no planeta terra, dentro da faixa

eletromagnética visível (Figura 41). Lâmpadas elétricas, velas e outros aparatos

luminosos, fornecem iluminação sintética. Esse sistema é chamado assim porque a

adição das três cores primárias formam a luz branca. Pedrosa (2009) explica que:

Cores-luz são as que provêm de uma fonte luminosa direta, estudadas mais detidamente na área da Física. Com vasto emprego na sociedade contemporânea, são elas que iluminam as nossas vidas, como a luz solar, a de uma vela, a de uma lâmpada ou a de uma descarga elétrica. Sua tríade primária é constituída pelo vermelho, verde e azul-violetado. Em mistura óptica equilibrada, tomadas duas a duas, essas cores produzem as secundárias: magenta, produzida pela mistura do vermelho com o azul-violetado. O amarelo, mistura do vermelho com o verde. O ciano, mistura do verde com o azul-violetado (PEDROSA, 2009, p. 28-30).

O sistema RGB é o sistema utilizado para o desenvolvimento de projetos na

tela do computador, presente também em TVs, telas de celulares, projetores

(Datashow), telas de LCDs das câmeras fotográficas, entre outras. Em todos esses

casos, porcentagens diferentes de luz vermelha, verde e azul se combinam e, com

isso, geram todas as outras cores da gama cromática visível. O branco surge

quando as três cores estão em forma máxima e em equilíbrio perfeito. Já o preto,

surge quando todas elas não estão emitindo nenhuma luz, portando, não há cor

(LUPTON, 2008).

Já o sistema subtrativo das cores ou cor pigmento, como o próprio nome

sugere, são aquelas originadas por processos que envolvem pigmentação, sendo

eles elementos naturais ou sintéticos. Tintas, toners, corantes, cores encontradas na

natureza, entre outros. Esses pigmentos, em contato com as cores-luz, vão absorver

determinadas faixas de onda cromática e refletir outras, que serão captadas pelo

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olho humano. As cores subtrativas existem em duas categorias: translúcidas ou

opacas.

Utilizado na maioria dos processos de impressão por meio de impressoras, o

sistema subtrativo translúcido ou CMYK (Ciano, Magenta, Amarelo e Preto), ou

sistema de Quadricromia, é obtido pelo processo de mistura de tintas, sobrepostas

umas às outras, obtendo, com isso, um diverso conjunto de cores, inclusive, as

cores primárias do sistema aditivo (vermelho, verde e azul). O CMYK é utilizado por

impressoras à jato de tinta ou à laser, bem como por equipamentos de impressão

offset comercial. Quando somadas, essas três cores (Ciano, Magenta e Amarelo),

deveriam produzir a cor Preta, mas o resultado da mistura não é rico o bastante para

a produção de imagens coloridas com uma gama tonal plena (Figura37). Por isso, o

acréscimo do Preto é necessário para complementar o processo da Quadricromia

(LUPTON, 2008).

Figura 37 - Gráfico com as relações entre os sistemas cromáticos. Fonte: Lupton (2008, p.76)

Existe ainda o processo subtrativo opaco. Semelhante ao CMYK, porém, com

suas particularidades, esse sistema ocorre por meio de pigmentação opaca, que é a

mistura de tintas não translúcidas, como as utilizadas por pintores. Esses pigmentos,

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conforme sua natureza, também absorvem, refratam e refletem raios luminosos,

componentes da luz que se incide sobre ela. Os pintores trabalham essas cores

primárias de pigmento opaco (tinta), sendo elas o Vermelho, Amarelo e o Azul, ou

RYB (Figura 38). A combinação dessas cores resulta em uma grande diversidade de

outras. A mistura das três em iguais proporções atingem tons de cinza-neutro, por

síntese subtrativa (LUPTON, 2008).

Com relação ao sistema subtrativo opaco, Pedrosa (2009), define que:

Cores-pigmentos opacas são as cores de superfície de determinadas matérias químicas, produzidas pela propriedade dessas matérias em absorver, refletir ou refratar os raios luminosos incidentes. Sua tríade primária é composta pelo vermelho, amarelo e azul, cores que, em mistura proporcional, produzem um cinza neutro escuro, o preto (...).

[...] Cores pigmento transparentes são as cores de superfície produzidas pela propriedade de alguns corpos químicos de filtrar os raios luminosos incidentes, por efeito de absorção, reflexão e transparência, tal como ocorre nas aquarelas, nas películas fotográficas e nos processos de impressão gráfica em que as imagens são produzidas por retícula e por pontos nos processos computadorizados (PEDROSA, 2009, p.30).

Figura 38 - Gráfico do sistema subtrativo opaco (Vermelho, Amarelo e Azul). Fonte:2.bp.blogspot.com. Acessado em 29/12/2015

Com isso, é possível notar a harmonia natural que há entre os sistemas

cromáticos que, embora estudados separadamente, não existem sem o outro. As

cores secundárias do sistema aditivo são as cores primárias do sistema subtrativo e

as cores secundárias do sistema subtrativo são as cores primárias do sistema

aditivo. Nota-se também que, cientificamente, até certo ponto, o preto e o branco

não são entendidos como cores. O branco é o resultado da soma de todas as cores,

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a adição de todos os comprimentos de onda, e o preto é a ausência completa da luz,

portanto, não há cor.

3.5.4. As relações entre as cores

Cada cor, separadamente, tem seu efeito visual, sua conotação e sua

associação física e psíquica, e possuem influências sobre nossa percepção visual.

No entanto, são raras as ocasiões onde uma imagem tem uma predominância

monocromática, ou seja, é composta por uma única cor. Na maioria dos casos, as

imagens possuem uma gama de cores, principalmente, as imagens fotográficas que

possuem milhões de cores.

As cores se relacionam umas com as outras e essas inter-relações são

percebidas de diferentes modos e causam diferentes efeitos visuais. É o que

chamamos de harmonia cromática ou, simplesmente, a combinação de cores.

Denomina-se combinação de cores a propriedade que têm certos pares de cores de formar acordes – cores que se ajustam umas às outras, em duplas. Por efeito de ação de contraste simultâneo, todas as duplas tendem, em maior ou menor grau, a formar acordes consonantes ou dissonantes”. Segundo o autor, toda cor se harmoniza com qualquer outra. O que não significa que todos os grupos de cores formem uma harmonia. Como também, não existem, em termos absolutos, harmonias cromáticas belas ou feias. As cores se relacionam por meio do contraste, divergência, semelhança ou oposição (PEDROSA, 2009, p.123).

Na busca por um mapeamento das cores e suas possíveis inter-relações,

Pedrosa (idem), utilizando-se de um círculo cromático, define três tipos de

harmonias cromáticas, são elas: Harmonia consonante; Harmonia dissonante e

Harmonia assoante.

1 – Harmonia Consonante: é a harmonia cromática originada a partir de cores

semelhantes e próximas umas das outras no círculo cromático. Vermelho,

laranja e amarelo ou ciano, azul e verde são cores análogas e, quando se

relacionam, criam uma harmonia consonante. Trata-se de uma combinação

cromática que, na maioria das vezes, conota equilíbrio e sobriedade.

2- Harmonia Dissonante: é a harmonia cromática originada a partir de cores

complementares ou opostas no círculo cromático. Também é possível

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combinar duas cores análogas e uma cor oposta no círculo cromático. Azul e

amarelo; magenta e verde; ciano, verde e vermelho são casos onde ocorrem

harmonias dissonantes - são harmonias criadas a partir de contrastes -.

3- Harmonia Assonante: por harmonia assonante entende-se uma larga gama

de cores (acordes múltiplos), onde várias cores se equivalem em nível de

saturação, dependendo de como as cores estão organizadas na cena. As

harmonias assonantes encontram sua melhor expressão nos dois acordes

constituídos pelas seis cores primárias: Ciano, Magenta e Amarelo – Vermelho,

Verde e Azul. Quando essas cores encontram-se próximas umas das outras e

em iguais quantidades e volume, formam composições equilibradas e

dinâmicas (Figura 39).

Figura 39 - Da esquerda para direita, fotografias exemplos de harmonias Consonante, Dissonante e Assonante. Fonte: Google Imagens. Acessado em: 29/12/2015

Outra forma de relacionar as cores é a composição por proporção.

Visualmente, as cores possuem volumes diferentes, assim como pesos diferentes.

Freeman (2012) propõe uma forma de inter-relacionar as cores por meio de

proporções, dispondo as mesmas de forma a ocupar partes da composição de

maneiras pré-definidas, segundo os volumes dos objetos da cena.

Utilizando a teoria básica das cores, o autor define que as cores se

harmonizam umas com as outras, de modo eficaz, quando suas áreas estão em

proporções inversas ao seu brilho relativo. No caso do vermelho e do verde, ocorre

um equilíbrio no brilho dessas duas cores, sendo a proporção 1:1; já o laranja é duas

vezes mais claro que o azul e, portanto, a combinação dessas duas cores seria de

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1:2; enquanto o amarelo e o azul/violeta estão no extremo da escala do brilho, na

proporção de 1:3. Para combinações entre três vias, segue-se o mesmo princípio.

3.5.5. Compondo com luz e cor

As condições da luz ambiente, seja ela natural ou artificial, influenciam nas

tonalidades de cor na Fotografia. Como foi visto, não há cor sem luz, e a qualidade e

quantidade de luz interferem fortemente no cromatismo da imagem fotográfica.

Portanto, é preciso observar as condições de luz antes de cada exposição. De modo

geral, os períodos compreendidos entre duas horas depois do nascer do sol e duas

horas antes do pôr-do-sol são as mais indicadas para fazer boas fotografias. De

modo específico, todos os outros períodos do dia são passíveis de gerarem boas

fotografias, com resultados previsíveis ou até imprevisíveis, como no caso da

fotografia noturna, por exemplo. É o que afirma Hedgecoe:

Como a intensidade da cor depende da iluminação, a aparência das cores numa cena pode mudar de minuto a minuto. Frequentemente, uma foto fica boa porque a luz do Sol incide sobre o motivo de um modo particular – e a combinação de elementos pode nunca se repetir. Fachos de solar podem destacar uma determinada cor da cena – um efeito que se torna acentuado contra um fundo escuro. Outras condições como forte neblina ou tempestade, podem criar um efeito passageiro, que se esvai em segundos (HEDGECOE, 2007, p. 236).

De acordo com o presente contexto, é preciso que o fotógrafo execute um

planejamento da iluminação que será utilizada, seja ela natural ou artificial, fazendo

uso de algumas técnicas e conceitos básicos de iluminação.

A principal referência da luz para a Fotografia é o sol, mas os mesmos

princípios se aplicam à fotografia de estúdio, com o uso de flashes. Uma vez que a

luz torna os objetos visíveis, é fundamental conhecer três de seus aspectos que

influenciam na percepção do assunto: Direção, qualidade e temperatura.

3.5.5.1. A Direção da luz

Assim como a luz, as sombras são vitais na Fotografia. O modo como elas se

apresentam, nos mostra aspectos que, de outro modo, não seriam percebidos em

uma imagem chapada (sem sombras com luz frontal). O ângulo em que a luz está

atuando irá determinar onde estão as sobras. Enquanto que a intensidade dessa luz

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irá depender da quantidade, difusão ou reflexão dos raios luminosos. Esses fatores

irão contribuir para outros elementos essenciais da Fotografia, revelando, nos

objetos, qualidades como texturas, contornos e tridimensionalidade e,

principalmente, sua cor (HEDGECOE, 2007).

Nos casos da luz natural, sua direção irá depender de onde o Sol se encontra

em relação ao objeto a ser fotografado. Nesse caso, as áreas de sombra nunca

ficam completamente sem iluminação. Uma vez que recebe luz refletida de outros

objetos como edificação, vegetações, etc. Na iluminação artificial, o efeito causado

pela direção à luz é maior em ambientes fechados, como os estúdios. As luzes

podem ser posicionadas, manualmente, em qualquer direção, podendo ser postas

de modo que nenhuma luz incida em uma determinada área, criando ausência total

de luz naquela região. Mas, sendo o sol a referência em iluminação, geralmente, a

iluminação artificial é disposta para reproduzir os efeitos de luz natural do Sol

(HEDGECOE, 2007).

O gráfico a seguir (Figura 40) mostra as principais direções de iluminação,

artificiais ou naturais. As mesmas podem ser consideradas como iluminação frontal,

laterais, de contorno, superior e contraluz. Em alguns casos, a luz pode ocorrer de

baixo para cima e cada uma dessas iluminações afeta, de maneira distinta, a

composição.

Figura 40 - Gráfico proposto por Hedgecoe (2007), com as principais direções das fontes de

iluminação. Fonte: Hedgecoe(2007, p.162).

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É possível perceber que as sombras ajudam a conferir profundidade aos

objetos. A luz frontal elimina sombras e oferece a sensação de imagem achatada,

sem tridimensionalidade. A luz lateral ou de contorno enfatiza texturas e formas, e é

a luz mais utilizada por fotógrafos profissionais. A iluminação superior causa fortes

sombras por ser uma luz dura, não difusa. Por fim, a contraluz é apropriada para

indicar distâncias e gerar perfis ou silhuetas, formas duras compostas apenas por

contornos.

3.5.5.2. A Qualidade da luz

Para a Fotografia, a qualidade da luz se refere à dureza ou à suavidade da

iluminação. Fontes de luz direta como o Sol ou o flash direto, produzem o efeito de

luz dura, que resulta em imagens com alto contraste tonal, ou seja, de fortes áreas

de luz e sombra. Por sua vez, a luz difusa ou suave, como as dos dias nublados ou

no uso do flash rebatido, produzem iluminação suave de baixos contrastes e luzes e

sombras amenas.

Para Hedgecoe (2007), as condições de iluminação desempenham um papel

crucial na Fotografia. As condições atmosféricas, por exemplo, podem variar de

minuto a minuto. As nuvens podem obscurecer os céus suavizando o efeito do Sol,

fazendo o efeito de filtros e difusores de luz. Do amanhecer ao anoitecer, a luz

natural muda constantemente suas cores, direção e dureza. Tudo isso, produz um

efeito significativo na imagem fotográfica. Ainda de acordo com Hedgecoe (2007),

De todos os fatores que controlam a qualidade da luz ao ar livre, as nuvens são os que têm maior efeito. Costumamos imaginar que as nuvens tapam a luz do Sol – mas o que elas realmente fazem é torná-la difusa. Cada gotícula de água da nuvem muda, ligeiramente, a direção da luz, de modo que não parece que a luz vem diretamente do sol, mas de muitos ângulos diferentes (HEDGECOE, 2007, p.144).

No caso do uso do flash, em ambientes de luz controlada, como nos estúdios,

o uso de difusores de luz reproduz o efeito das nuvens sob o Sol. Os difusores são

elementos concebidos para propiciar, quando desejado, uma iluminação homogênea

e suave.

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3.5.5.3 Temperatura da Luz

A teoria básica da cor afirma que existem as cores quentes e frias. Utilizando

o círculo cromático, é possível distinguir entre quentes e frias e constatar que as

mesmas se encontram dispostas de forma contrária umas das outras. O vermelho, o

laranja e o amarelo são as cores consideradas mais quentes; já o azul, o violeta e o

ciano são, por sua vez, as cores mais frias.

De acordo com Reimerink (2001), isso se dá pelo fato de que a cor visível faz

parte do espectro eletromagnético, que engloba, desde os raios-X, até as ondas de

rádio. Apenas uma parte do espectro eletromagnético é visível ao olho humano, é o

caso da Cor.

Figura 41 - Gráfica do espectro eletromagnético e a escala da luz visível, a Cor. Fonte:www.infoescola.com. Acessado em: 29/12/2015

O gráfico mostra que a luz visível é a faixa do espectro com comprimentos

diferentes que afetam, fisiologicamente, o olho humano, causando sensações

diferentes. Uma extremidade é composta pela luz vermelha (mais baixo número de

vibrações por segundo), consequentemente, a onda de maior comprimento e mais

quente. No outro extremo, a luz Azul/Violeta, de mais alta frequência e, portanto,

ondas de menor comprimento e mais fria.

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3.5.6. Filtros Cromáticos

Seja retratando paisagens, retratos ou arquitetura, o uso dos filtros cromáticos

aprimora os resultados da Fotografia Preto e Branco. Os filtros físicos, aqueles que

são acoplados na frente da objetiva das câmeras, vem perdendo o espaço desde o

advento da manipulação digital das imagens, dando lugar aos filtros digitais, porém,

o conceito permanece o mesmo.

Hedgecoe (2007) afirma que, com o uso dos filtros, é possível alterar o balaço

tonal da imagem. Por exemplo, ao usar o filtro verde, os objetos da cena na escala

de tons verde aparecerão mais claros. No entanto, os objetos na escala de tons

opostos aparecerão mais escuros. Um filtro vermelho age do modo a tornar um céu

azul num céu negro. Em via de regra, filtros de determinadas cores clareiam os

objetos da mesma cor. Ao passo que os objetos na cor oposta ao filtro tornam-se

escuros. A tabela proposta por Hedgecoe (2007) aponta os efeitos dos filtros na

Fotografia Preto e Branco.

Tabela 2 – Efeitos dos filtros na Fotografia em Preto e Branco

Cor do filtro Wrattern nº Tons clareados Tons

escurecidos

Uso principal

Vermelho 25 Vermelho,

laranja e

amarelo

Azul e verde Para céus

escuros

dramáticos

Laranja 16 Vermelho,

laranja e

amarelo

Azul e verde Para céus

contrastantes,

oculta saradas

de pele

Amarelo 8 Vermelho,

laranja e

amarelo

Azul Para céus

naturais, pele

mais branca,

oculta

manchas

Amarelo-verde 11 Verde Azul, roxo Dá as

folhagens um

tom mais leve

e natural

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Verde 58 Verde Azul laranja,

vermelho

Clareia

folhagens

Azul 47 Azul Amarelo,

laranja e

vermelho

Clareia céus e

realça neblinas

Fonte: Hedgecoe (2007, p.63)

De modo geral, a tecnologia digital trouxe grandes transformações para a

Fotografia. No seu início, devido a limitações técnicas, a Fotografia era concebida

apenas de modo Preto e Branco, e seu uso era quase uma exclusividade de

profissionais. Contudo, a Fotografia Digital abriu as portas para que uma grande

parcela de usuários possa ter a versatilidade de capturar a cena também em Preto e

Branco, assim como a conversão da imagem colorida em Preto e Branco durante a

pós-produção.

A Fotografia em Preto e Branco sobreviveu e prospera, graças a sua

credibilidade adquirida ao longo da história e por seu caráter emocional na

representação. De certo modo, trata-se de um estilo fotográfico que conota emoções

profundas e expressividade de um modo geral. É um meio que denota uma ampla

explosão de sentimentos dentro da Fotografia.

3.5.7. O Preto e Branco

Sem a informação de Cor, a Fotografia Preto e Branco conta apenas com

elementos como contraste, formas e texturas para se descrever, onde os efeitos

conotativos desses elementos são fortemente reforçados. Algo bem diferente do

contexto visual humano. O Preto e Branco sempre esteve presente na história da

Fotografia, até a contemporaneidade.

Para Freeman (2012), o Preto e Branco foi, inicialmente, a norma na

Fotografia, por razões de limitação técnicas. Contudo, mesmo quando essas

limitações foram extintas pela invenção do filme colorido, o Preto e Branco continuou

presente na Fotografia, sendo a meio preferido para muitos fotógrafos. Freeman

afirma ainda que o que dá vigor à Fotografia Preto e Branco é o fato de que “[...] ela

tenta ser menos literal que a fotografia colorida. Em termos visuais, o preto e branco

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permite maior expressão na modulação de tom, na apresentação de textura, na

modelagem de definição da forma” (Figura 42) (FREEMAN, 2012, p.126).

Figura 42 - Pimentão nº30 de Edward Weston. Fotografia descrita como a Natureza Morta Modernista Americana Icônica. Fonte: focusfoto.com.br. Acessado em: 30/12/2015

Em termos de Composição, Hedgecoe (2007), destaca que a ausência de Cor

permite um aumento conotativo das texturas, formas e padrões (Figura 43) e que,

além disso, existem vantagens práticas de, na composição “[...] em retratos, as

manchas da pele são menos aparentes do que em cor. Não há problemas com a

temperatura da cor e com iluminação mista, o que faz com que o filme preto e

branco seja ideal para muitos tipos de fotografia com pouca luz” (HEDGECOE, 2007,

p.118).

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Figura 43 - Fotografia preto e branco, onde se destacam texturas e padrões. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em: 29/12/2015

Em uma abordagem filosófica sobre a fotografia preto e branco, o livro

Filosofia da Caixa Preta, de Vilém Flusser (2011), filósofo tcheco, naturalizado

brasileiro, questiona a relação entre Fotografia e o mundo que ela representa.

Não pode haver, no mundo lá fora, cenas em preto e branco. Isto porque o preto e branco são situações “ideais”, situações-limite. O branco é presença total de todas as vibrações luminosas; o preto é a ausência total. O preto e o branco são conceitos que fazem parte de uma determinada teoria da Ótica. De maneira que cenas em preto e branco não existem... O preto e branco não existem no mundo, o que é uma grande pena. Caso existissem, se o mundo lá fora pudesse ser captado em preto e branco, tudo passaria a ser logicamente explicável. Tudo no mundo seria então ou preto ou branco, ou intermediário entre os dois extremos. O desagradável é que tal intermediário não seria em cores, mas cinzento (FLUSSER, 2011, p. 59).

Nesse livro, o autor busca formular uma teoria filosófica que explique a

imagem fotográfica. Na obra, Flusser observa duas grandes revoluções na estrutura

histórica cultural da atividade humana. A primeira delas ocorreu, aproximadamente,

em meados do segundo milênio a.C. A invenção da escrita linear inaugura a História

propriamente dita; a segunda, bem mais recente, pode ser captada sob o rótulo

invenção das imagens técnicas e inaugura um modo de ser ainda dificilmente

definível, a fotografia.

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3.6. Textura

3.6.1. O aspecto das superfícies

Nas Artes Gráficas e Visuais, a Textura é o fundamento estético relacionado

ao aspecto exterior das superfícies, que permite identificar e distinguir alguns

adjetivos físicos dos objetos. Ao tocar ou visualizar determinado objeto ou superfície,

sentimos sua textura; se é lisa, rugosa, macia, áspera, entre outras. Textura é,

portanto, uma sensação visual ou tátil. Na Fotografia, a Textura pode ser

amplamente explorada pela alta resolução das imagens digitais.

Lupton (2008) coloca que a textura “(...) é o grão tátil das superfícies e

substâncias. As texturas, em nosso meio ambiente, ajudam a entender a natureza

das coisas” (LUPTON, 2008, p.53). A autora cita ainda que, em Design, a textura

dos elementos corresponde igualmente à sua função visual.

Uma superfície elegante, de delicada padronagem, poderia adornar o interior ou o livreto impresso de um spa; um pedaço de arame farpado poderia servir como metáfora de violência ou encarceramento” (LUPTON, 2008, p.53).

Um papel pode ter sua textura concreta áspera ou lisa; um tecido pode ser

grosso ou fino; o material de uma embalagem pode ser fosco ou brilhante. Esses

são alguns breves exemplos de textura tátil. Por sua vez, muitas as Texturas que os

designers manipulam, de forma gráfica, não são experimentáveis, fisicamente, pelo

observador, pois só ocorrem de forma ótica, como representação da textura

concreta (LUPTON, 2008).

Dondis (2007) também define as Texturas como sendo fundamentos visuais e

táteis, que podem ser apreciados de forma conjunta.

É possível que uma textura não apresente qualidades táteis, mas apenas óticas, como no caso das linhas de uma página impressa, dos padrões de um determinado tecido ou dos traços superpostos de um esboço. Onde há uma textura real, as qualidades táteis e óticas coexistem, não como tom e cor, que são unificados em um valor comparável e uniforme, mas de uma forma única e específica, que dá à mão e ao olho uma sensação individual. O aspecto da lixa e a sensação por ela provocada têm o mesmo significado intelectual, mas não o mesmo valor. São experiências singulares, que podem ou não sugerir-se mutuamente em determinadas circunstâncias. O julgamento do olho costuma ser confirmado pela mão através da objetividade do tato. É realmente suave ou apenas parece ser? Será um entalhe ou uma imagem em realce? Não é de admirar que sejam tantos os letreiros onde se lê “favor não tocar”! (DONDIS, 2007, p. 70).

Em planos bidimensionais, como peças gráficas e fotográficas, a citação da

autora se refere às relações que podem ocorrer entre a textura tátil do suporte de

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impressão (papel, vinil, plástico) e a textura visual, sua representação ótica dos

objetos e suas texturas reais.

A casca de uma árvore tem uma textura áspera, tecidos finos possuem uma

textura macia e os plásticos podem ser foscos ou brilhantes. A imagem gráfica ou

fotográfica representa a textura de cada um desses materiais de forma visual, e o

suporte em que essa imagem vai ser impressa pode intensificar ou atenuar a

sensação da textura. Porém, também é possível criar novas texturas a partir da

imagem, sendo elas realistas; artísticas; surreais; abstratas; padrões, entre outras.

Munari (1997) explica que é possível criar texturas utilizando os mais variados

meios, desde os tradicionais, até os mecânicos. O autor levanta ainda um importante

ponto, que contribui na relação sobre Textura e Fotografia:

[...] podemos procurar no mundo à nossa volta, seja no mundo natural, seja no artificial, exemplares de diversas texturas, que poderão ser cascas de árvores, amostras de tecido (especialmente para homem, sem estampa), papel de parede, secções de matéria plástica expandida, papeis e papelões; poderemos fotografar (...) (MUNARI, 1997, p.74).

Esses exemplares, quando fotografados, resultam em imagens de texturas

abstratas, texturas expressionistas, texturas contrastantes, padrões regulares e/ou

padrões irregulares (Figura 44).

Enquadramentos em Close-up São capazes de conceber Texturas de,

praticamente, qualquer matéria ou objeto. Com relação a isso, Hedgecoe (2007)

conta que a Textura pode ser definida, simplesmente, pela escala da forma,

ampliando ou reduzindo a representação da matéria:

Pode-se considerar a textura, simplesmente, como uma forma em miniatura. Ela revela as pequeninas reentrâncias e saliências de uma superfície. A textura tem um papel importante na informação (HEDGECOE, 2007, p. 220).

O autor coloca ainda que a textura se revela pela presença e ausência de luz

e sombra nas superfícies, seja elas texturas isoladas ou padronagens.

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Figura 44 - Textura de madeira, representada de forma isolada. Fonte: www.1zoom.me. Acessado em: 30/12/2015

É importante ressaltar que, embora as Texturas sejam isoladas e concedam,

por si só, imagens abstratas que estimulam nossos sentidos, nas Artes Gráficas e

Visuais, essas Texturas aparecem, geralmente, como fundos e não como figuras,

agindo como elementos coadjuvantes para a forma principal a ser representada.

Contudo, mesmo nessas situações, as Texturas não são passivas, pois quando bem

empregadas como fundos, essas Textura dão suporte à imagem principal e reforçam

o conceito visual da imagem (LUPTON, 2008).

3.6.2. Padrões como texturas

O Padrão é um fundamento da linguagem visual que pode ocorrer na

Natureza quanto ser feito por um designer. Os elementos em um Padrão se repetem

de forma previsível. Podem ser percebidos de forma direta, tanto pela visão quanto

pelo tato. São discerníveis e regulares formas observadas, criadas e praticadas pela

Natureza e pelas Artes Gráficas e Visuais.

Para Lupton (2008), no campo do Design, os Padrões são formas

ornamentadas que são geradas e compartilhadas por diversas Culturas. Trata-se de

uma prática visual que segue princípios universais que se fundem em uma

diversidade de estilos e ícones que denotam características culturais, tradições e

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contextos históricos particulares. Os Padrões podem ocorrer como um misto de

estruturas formais e irregularidades orgânicas.

Sejam formas regulares ou irregulares, mecânicas ou orgânicas, os Padrões

são formas passíveis de gerar obras fotográficas, seja de forma isolada, como

planos de fundo ou fazendo parte da composição por meio de camadas,

sobreposições e transparências. Para alguns autores, os Padrões podem ser

entendidos como tipos de Texturas e, como acontece no Design, também podem ser

concebidos de forma natural ou por manipulação humana.

Hedgecoe (2007) destaca a importância dos Padrões no nosso meio natural.

Há inúmeros padrões na natureza – nos contornos das folhas de uma árvore, nos hexágonos de uma colmeia e nos gomos de uma laranja. Os seres humanos também recorrem a padrões: dos tijolos nas casas ao tecido das roupas. Em todo canto há padrões a serem fotografados (...).

Padrão nada mais é do que a repetição de determinado elemento – geralmente um contorno, mas, às vezes, uma forma, uma textura, uma cor. O ponto importante é que o padrão atrai e fixa o olhar, fato que acarreta consequências fundamentais para o fotógrafo. Primeiro, quando isolado numa fotografia, o padrão produz uma imagem poderosa, particularmente se o motivo é incomum. Segundo, o padrão pode permear toda a composição. Como o espectador tem dificuldade de olhar para qualquer outra coisa no quadro, o padrão pode toldar os outros elementos de uma foto. Ele tende a esconder informações sobre a forma e a profundidade do motivo, por exemplo, de sorte que as fotos de padrões podem parecer planas, como um papel de parede (HEDGECOE, 2007, p.222).

Hedgecoe (2007) cita a diversidade dos padrões no meio natural, sendo

abordado como repetidas formas regulares que atraem a atenção da visão. Quando

ocorrem de forma a suprir a profundidade e ocultar informações visuais, nesse caso,

os Padrões se parecem imagens planas, equivalentes às Texturas. Freeman (2012)

também acredita que existem equivalências entre as Texturas e os Padrões, por

questões de escala.

Um padrão visto em uma escala suficientemente grande assume a aparência de uma textura. A textura é a qualidade primordial de uma superfície. A estrutura de um objeto é sua forma, enquanto a estrutura do material de que é feito é sua textura. Assim como ocorre com o padrão, ela é determinada pela escala (FREEMAN, 2012, p. 50).

Freeman (2012) destaca três formas de Padrões na Fotografia: os padrões

Regulares, os Irregulares, Muitos e os Padrões Rompidos (Figura 45).

Padrões Regulares: São caracterizados por linhas ou outros princípios

geométricos ordenados, preenchidos por objetos idênticos ou semelhantes.

Sua atratividade depende, justamente, da natureza dos objetos dispostos. Um

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Padrão feito por tampinhas de garrafa pode ser menos atrativo que outro feito

por medalhinhas religiosas. O sentido de Padrão depende da escala e do

número de objetos. O enquadramento muito aproximado (fechado) em

padrões regulares pode suprir seu efeito e eliminar a ideia de Padrão;

Padrões Irregulares: Para serem irregulares e ainda sim terem o porte de um

Padrão, os objetos ainda precisam estar agrupados e próximos. A eficiência

dos Padrões Irregulares depende também da quantidade de área coberta

pelos objetos. Se objetos tocam as extremidades do enquadramento, por

todos os lados, nosso olhar os segue e a observação continua para além do

enquadramento;

Muitos: A noção de Muitos, tem sentido de multidão de pessoas, cardume de

peixes etc. e estes equivalem a Padrões. O apelo visual de uma numerosa

quantidade de objetos promove sensação de surpresa no espectador, ao ver

tantos objetos num mesmo lugar ao mesmo tempo;

Padrões Rompidos: É a quebra do Padrão, por um ou mais elementos

diferentes. Esses padrões tendem a não ter um direcionamento e, muitas

vezes, são melhores aplicados como planos de fundo do que como a forma

dominante da imagem. Não têm qualidades de assumir o papel de assunto

principal por si só, no entanto, objetos que quebram o Padrão conferem

contraste à imagem, rompem a regularidade e são enfatizados, assumindo

um papel de destaque no quadro (Figura 45) (FREEMAN, 2012, p. 50-51).

Figura 45 - Da esquerda para direita, de cima para baixo exemplo de padrões Regular, Irregular, Muitos e Rompido. Fonte: www.1000imagens.com. Acessado em 30/12/2015

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3.6.3. Pontos, Grãos, Pixels

O ponto é o menor elemento de uma imagem. Do ponto de vista gráfico,

quando vários pontos se agrupam, geram superfícies com largura e altura. Pontos

agrupados constroem Forma, Cor, as graduações tonais e Texturas. Durante

séculos, os processos de impressão utilizavam pontos para representar os efeitos de

luz e sombra, responsáveis por reproduzir a sensação visual da tridimensionalidade.

Novos processos de impressão, como a Fotografia, ao longo do tempo, utilizam este

fundamento. Com relação a isso, Lupton (2008) conta que:

A fotografia, inventada no início do século XIX, capta a luz refletida automaticamente. As variações tonais da fotografia eliminaram a trama intermediária de pontos e linhas.

Apesar disso, a reprodução dos tons de uma imagem fotográfica implica sua tradução em marcas meramente gráficas, pois, praticamente, todos os métodos de impressão mecânica – da litografia à impressão a laser – trabalham com tintas sólidas. A retícula, inventada por volta de 1880 e usada ainda hoje, converte uma fotografia em um padrão de pontos maiores ou menores, simulando a variação tonal com manchas sólidas de preto ou cores puras. O mesmo princípio é empregado na reprodução digital (LUPTON, 2008, p.14).

Com isso, observamos que, embora a Fotografia seja um processo gráfico

que elimina a presença dos pontos como elemento construtor da imagem, por usar

uma maior gama de variações tonais em relação a outros processos gráficos, ao

serem impressas, as fotografias apresentam uma composição baseada em um

sistema de pontos.

Outra importante questão a ser analisada é que, embora Lupton (2008)

destaque que as fotografias sejam dotadas de graduações tonais, sem a presença

de pontos, não devemos esquecer que, mesmo antes da impressão a imagem

fotográfica é também uma imagem construída por sistemas de pontos, pois tanto o

filme fotográfico quanto a imagem da Fotografia Digital são construídas por grãos de

prata sensíveis a luz ou de Pixels.

3.6.4. Resolução e textura

A resolução refere-se ao nível de detalhes que uma imagem comporta. O

termo se aplica às imagens originadas de filmes fotográficos e outros tipos de

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imagens, mas, atualmente, é um termo amplamente dirigido à Fotografia Digital.

Resoluções mais altas oferecem mais detalhes e fornecem ampliações maiores.

Os pixels constroem a estrutura da imagem digital; assim como os aletos de

prata constroem as imagens obtidas pelo filme fotográfico; assim como a granulação

do filme é, na maioria das vezes, algo indesejado, o mesmo ocorre com a

pixelização (Figura 46). Porém, do mesmo modo que o uso criativo da granulação

aparente do filme pode gerar criativos efeitos de textura, o uso da pixelização

também é capaz de gerar textura nas imagens, produzindo efeitos inusitados, de

forma positiva.

Figura 46 - Fotografia com resolução normal do lado esquerdo e com textura promovida pela

pixelização do lado direito. Fonte:fotodicasbrasil.com.br. Acessado em: 23/10/15

Nos casos em que o efeito de pixelização é criado no momento de captura da

imagem, teremos como resultado fotografias de baixa resolução. Uma textura

aparente ocorrerá, porém, e essas imagens serão incapazes de imprimir fotografias

em tamanhos grandes. Quando o objetivo for a criação de imagens com textura

pixelizada, o ideal é fotografar em resolução alta e aplicar filtros de pixelização na

pós-produção. Como vemos na imagem acima, no lado direito, foi aplicado um filtro

de pixelização. Enquanto o lado esquerdo demostra a imagem normal.

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Ao debater Textura, é importante comentar a questão tátil da fotografia. O

mercado gráfico e fotográfico dispõe de vários tipos de papeis com texturas

variadas, o que irá influenciar no resultado final, quando a Fotografia for impressa ou

revelada. Para isso, é importante escolher o tipo de papel mais adequado para cada

imagem.

É essencial também analisar o tipo de impressão ou revelação que será

usada. É possível pressupor que a qualidade e o tipo das impressoras podem

influenciar diretamente no resultado da fotografia, mesmo com a utilização do papel

escolhido. Outros pontos, como gramatura e tamanho do papel, são aspectos que

devem ser levados em consideração. As superfícies mais comuns que são utilizadas

em fotografia são os papeis brilhante; semibrilhante; fosco; acetinado e outras

texturas específicas.

3.7. Camadas e Transparências

3.7.1. Formas sob outras formas

No sentido mais amplo, entendemos que Camadas são porções de

determinada matéria, dispostas umas sobre as outras. São porções de superfícies

ou objetos sobrepostos. Às vezes, essas sobreposições são compostas de

elementos da mesma matéria, em outros casos, são compostas de elementos com

matérias diferentes ou mistas, porém, na maioria dos casos, essas sobreposições

estão sobre uma determinada superfície ou plano de fundo.

Cada uma das partes da atmosfera, as folhas de alguns vegetais, as bases

que compõem o globo terrestre e as demãos de tinta em uma superfície comportam

a ideia de Camadas. Nos campos de Design e da Fotografia, as Camadas são

entendidas de uma forma mais ampla, pois, além de serem a representação

bidimensional do mundo tridimensional, o fotógrafo e o designer têm,

respectivamente, as capacidades de manipular a ordem da sobreposição dos

objetos de uma cena e interferir na mesma, no momento da captura da imagem e

incluir camadas não presentes na cena, como formas, vetores, imagens, textos e

transparências, durante a pós-produção fotográfica (LUPTON, 2008).

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Com relação às transparências, as mesmas podem ser entendidas,

simplesmente, como camadas compostas por material translúcido, sem opacidade.

O vidro, materiais plásticos e alguns tecidos são alguns exemplos de materiais

translúcidos. São camadas onde a visão passa, onde é possível ver com diferentes

graus de nitidez o que está por trás desses objetos.

A obra Novos Fundamentos do Design (2008), aborda as Camadas e a

Transparência de forma separada, porém, Ellen Lupton considera esses dois

fundamentos, fenômenos correlatos. Sobre as Camadas, a autora aponta que:

As camadas (layers) são componentes simultâneos e sobrepostos de uma imagem ou sequência. Elas estão em ação em inúmeros programas de computador, do Photoshop e do Illustrator às ferramentas de áudio, vídeo e animação, nas quais múltiplas camadas de imagem e (pistas de) som se desdobram no tempo (LUPTON, 2008, p.127).

O conceito de Camadas está presente também nos processos de impressão.

Como nos conta Lupton (2008), a maioria dessas técnicas exige que a imagem seja

dividida em camadas para impressão: “Da impressão com jato de tinta à serigrafia e

à litografia comercial, cada cor requer sua própria chapa, filme, tela, cartucho de

tinta ou toner, dependendo do processo” (LUPTON, 2008, p.127).

No Design, a Transparência é, em vários casos, empregada não com o

objetivo de clareza, mas com objetivo de criar imagens densas e sedimentadas,

compostas como véus de Texturas e Cores. A relação entre Camadas e

Transparências torna-se um fator ativo no Design, quando o valor de opacidade

desses elementos encontra-se em algum lugar entre zero e cem por cento. Lupton

(2008) aponta que o uso criativo da transparência em imagens pode produzir

fascinantes e sedutores efeitos conotativos.

A transparência é um princípio fascinante e sedutor. Como pode ser usada para produzir imagens significativas? A transparência pode servir para enfatizar valores de honestidade e clareza através de ajustes e justaposições que mantêm a integridade ou legibilidade dos elementos. Também pode servir para adicionar complexidade ao permitir que as camadas se misturem e se confundam. Ela pode ser utilizada, matematicamente, para combinar ou contrastar ideias, conectando diferentes níveis de conteúdo. Quando usada de maneira consciente e deliberada, a transparência contribui para o sentido e a fascinação visual de um trabalho de design (LUPTON, 2008, p.147).

Assim como Lupton, Dondis (2007) considera que há uma correlação entre

Camadas e Transparência, logo, trata-se de uma relação de polaridades.

As polaridades técnicas entre transparência e opacidade definem-se, mutuamente, em termos físicos: a primeira, envolve detalhes visuais através dos quais se pode ver, de tal modo que o que lhes fica atrás também nos é

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revelado aos olhos; a segunda, é exatamente o contrário, ou seja, o bloqueio total, o ocultamento dos elementos que são visualmente substituídos (DONDIS, 2007, p.152).

Antes dos anos 1990, os designers criavam “artes-finais” feitas de camadas

de papel e acetato, precisamente alinhadas. O designer ou o arte-finalista montava

cada elemento na página, que podiam ser tipos, imagens, formas, ordenando esses

elementos e compondo superfícies diversas.

3.7.2. Camadas Digitais

Na Fotografia, a câmera é apenas o ponto de partida para uma imagem. A

câmera é o aparelho que criam imagens que podem ser manipuladas,

posteriormente, de inúmeras maneiras. Foi assim na era analógica, onde eram

utilizados métodos nasala escura do laboratório fotográfico e, atualmente, ocorre

utilizando técnicas digitais de computação gráfica. Nas Camadas Digitais são

utilizadas intervenções para promover a manipulação, os ajustes, os retoques e

novas composições nas imagens fotográficas.

De acordo com Hedgecoe (2007), as Camadas promovem outro benefício,

além da manipulação da imagem:

(...) embora seja de bom senso guardar uma cópia intocada de uma imagem digital, existe uma técnica que permite conservar o original de uma imagem e, ao mesmo tempo, alterá-la de muitas maneiras. Os bons softwares de manipulação oferecem o recurso das camadas, permitindo que as imagens sejam empilhadas umas sobre as outras no mesmo arquivo. A imagem original é copiada e fica debaixo da camada que contém a cópia. Desse modo, preserva-se o original, pode-se deletar a camada superior a qualquer momento e verifica-se, rapidamente, se a fotografia foi, de fato, melhorada, comparando-se a camada em que se trabalha com a camada de fundo (HEDGECOE, 2007, p.384).

Trabalhando as Camadas é possível acrescentar novas camadas a qualquer

momento, assim como remove-las. A praticidade do uso das Camadas Digitais

consiste na sua flexibilidade, pois sempre é possível retornar ao estágio anterior.

3.7.3. Múltiplas Exposições

Tanto na Fotografia Analógica como na Digital, as composições múltiplas são

práticas onde as sobreposições de temas, elementos e camadas produzem imagens

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criativas e incomuns (Figura 47). Após tirar uma foto, a câmera analógica avança

para a próxima chapa do negativo, a fim de criar uma nova imagem.

Para a produção de múltiplas composições é necessário desativar a função

de avanço do filme. A forma mais simples de executar essa técnica é fotografar

fazendo uma primeira exposição de um objeto sobre um fundo escuro e realizar

exposições subsequentes, posicionando outros objetos nas partes escuras da

primeira exposição, onde ainda não foi sensibilizada e não tem informação visual

(HEDGECOE, 2007).

Figura 47 - Fotografia de dupla (ou múltipla) exposição. Fonte: img.ibxk.com.br/2013/5/matérias. Acessado em: 30/12/2015

Imagens como essas podem se formar de maneira planejada ou espontânea,

criando metáforas entre realidade e ficção, entre o Imaginário e o mundo real.

Atualmente, técnicas como essas podem ser consideradas arcaicas, porém, são

passiveis de serem executadas na atualidade. No campo da Fotografia Digital, as

múltiplas exposições como essas podem ser simuladas digitalmente, ao trabalhar

conjuntos de imagens opacas e transparentes, sobrepondo as mesmas com as

técnicas das Camadas Digitais supracitadas.

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3.7.4. Formas e objetos translúcidos

Não se pode deixar de citar que, na Fotografia, a maneira mais simples de se

obter efeitos de Transparência é o simples ato de se fotografar motivos translúcidos.

Muitos objetos feitos pelo homem e muitos motivos naturais têm uma qualidade translúcida que rende boas fotos. Garrafas coloridas, por exemplo, são motivos interessantes para fotos de natureza-morta. Enquanto muitos motivos mostram melhor suas cores quando iluminados de frente, os motivos transparentes dão melhor resultado à contra luz, situação em que a transparência pode ser devidamente apreciada (HEDGECOE, 2007, p.166).

Figura 48 - Gloria Swanson retratada em 1924 por Edward Steichen, onde é utilizado um efeito de

transparência física. Fonte: c300221.r21.cf1.rackcdn.com. Acessado em: 30/12/2015

Assim como a maioria dos estilos fotográficos, as Transparências são

concebidas tanto nos estúdios como no meio natural. No estúdio, é possível um

maior controle e manipulação da cena, dos equipamentos e da iluminação, a fim de

atingir resultados específicos. No meio natural, os controles são um pouco mais

limitados, contudo, os resultados podem ser mais inusitados e interessantes (Figura

49).

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Figura 49 – Fotografia de Jodi Cobb, em um dos seus trabalhos com transparência. Fonte: magister.tistory.com. Acessado em: 19/11/15.

3.7.5. O Fotograma

A origem do fotograma remonta às origens da própria fotografia. Por volta de

1830, William Henry Fox Talbot iniciou algumas pesquisas fotográficas, buscando

produzir imagens sobrepondo objetos físicos e silhuetas como folhas, plumas,

rendas e outros sobre papel e placas fotossensíveis que eram mergulhadas em

nitrato e cloreto de prata e, depois de seco, obtendo-se imagens fotográficas das

silhuetas dos objetos modelo. Técnica batizada por Talbot como Desenho

fotogênico, um processo mediante o qual se pode conseguir que os objetos naturais

reproduzam-se por si só.

Durante as vanguardas, no início dos anos 1900, Moholy-Nagy, artista

gráfico, professor da Bauhaus e referência no design e na fotografia, praticou

diversos experimentos acerca da fotografia sem câmera. Quando se mudou para

Berlim, descobriu as marcantes fotomontagens dadaístas, as sólidas formas do

suprematismo e a abordagem composicional do construtivismo. Inspirado nesses

movimentos, Moholy-Nagy decidiu fazer experimentos com fotografias, em 1921

(HACKING, 2012).

Sobrepondo objetos, formas e transparências sobre papel fotossensível e

placas fotográficas, expondo a composição á luz e, posteriormente, revelando o

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material, conseguiu criar extraordinárias imagens. Moholy-Nagy descreveu sua

descoberta como fotograma – a fotografia sem câmera (Figura 50). Moholy-Nagy

realizou inúmeros estudos fotográficos que fazem referência às suas pinturas

construtivistas anteriores, nas quais, formas geométricas opacas e translúcidas se

sobrepõem em camadas para criar imagens com uma intensa sensação de

profundidade.

Figura 50 - Fotograma dos anos 1920, de László Moholy-Nagy.Fonte:s-media-cache-ak0.pinimg.com. Acessado em 30-12-2015

Outra técnica praticada por Moholy-Nagy, Alexandre Rodchenko e Raoul

Hausmann, que envolve o uso de camadas, foi a foto-colagem ou, simplesmente,

Colagem. Eles utilizavam a técnica para produzir cartazes, imagens para livros e

para propagandas políticas, sobretudo a comunista (FARTHING, 2011).

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3.7.6. Colagem

Presente em vários movimentos artísticos, as colagens são composições

feitas a partir de sobreposições de camadas de igual ou diferentes materiais,

superpostas umas sobre as outras, gerando uma imagem. Na arte, foi uma técnica

muito utilizada por Pablo Picasso, Georges Braque, entre outros. Nas áreas do

design e fotografia foi bastante explorada pelos já citados Moholy-Nagy, Alexandre

Rodchenko (Figura 51) e Raoul Hausmann.

É uma técnica que resulta em obras criativas, divertidas e, em alguns casos,

satíricas – como as obras Dadaístas, por exemplo – por unir, em uma mesma

imagem, várias outras imagens, de origens diferentes. É uma forma de gerar

imagens utilizando camadas físicas sem limitações técnicas e de fácil acesso aos

praticantes. Colagens são concebidas como uma espécie de construção sobre um

suporte, sendo, muitas vezes, obras tridimensionais que, de certa forma, dificulta o

estabelecimento das fronteiras entre pintura e escultura (FARTHING, 2011).

Figura 51 - Alexander Rodchenko, 1923, colagem, fotografia e guache. Fonte: 2.bp.blogspot.com. Acessado em:30/12/2015

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Chinen (2011) acrescenta que, utilizadas originalmente na pintura, as

colagens incorporaram imagens, fotografias e passaram a ser compreendidas como

fotomontagens ou foto colagens, sendo um método de ilustração muito popular na

década de 1920.

A colagem é uma estratégia ilustrativa extremamente intuitiva que apresenta não só a possibilidade de mostrar objetos díspares no mesmo espaço, como também a natureza dos elementos combinados e a exatidão com que foram realizados. Componentes desenhados ou pintados coexistem com pedaços de papel texturizados recortados ou rasgados, imagens em silhueta, retalhos de tecido, partes de objetos tridimensionais e outros materiais (CHINEN, 2011, p.112-113).

Outro ponto citado por Chinen (idem) são os casos onde as colagens também

são uma forma de composição de páginas no meio digital. A técnica prevê que a

imagem fotográfica é um suporte em que são combinadas outras imagens de

objetos, ilustrações e desenhos à mão, que são escaneados e sobrepostos sobre a

fotografia, sendo essas camadas passiveis de transparências, exposições múltiplas,

desfoques, entre outros.

Camadas e Transparências sejam elas fotografadas criadas ou manipuladas,

são hoje um fundamento intuitivo e universal para os profissionais do Design e da

Fotografia. Elas têm, atualmente, uma função crucial no modo como as imagens

gráficas são percebidas e produzidas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se propôs a debater sobre a significância das aplicações

dos Novos Fundamentos do Design de Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips (2008)

no processo fotográfico, pressupondo que os processos de pré-produção e pós-

produção fotográfica poderiam ser percebidos tal como um projeto de Design

Gráfico, visto que a imagem fotográfica, enquanto representação visual, nem sempre

é entendida como um projeto gráfico, tendo o Design Gráfico como referência.

Foram realizados debates entre autores do campo do Design Gráfico e da

Fotografia, dando ênfase aos Fundamentos do Design passíveis de serem aplicáveis

aos processos fotográficos, tais como: enquadramento; figura/fundo; escala; tempo e

movimento; cor; textura; camadas e transparência. Dentre os vários Fundamentos

do Design, apresentados na obra de Lupton, a pesquisa tentou justificar que os

fundamentos citados acima são os principais a serem trabalhados também em

processos de composição fotográfica. E verificou ainda que esses são fundamentos

existentes na bibliografia pesquisada, de forma ou indireta, e são objetos de

estudado de ambas as disciplinas.

Tendo como objetivo geral pesquisar e debater a importância da aplicação

dos Novos Fundamentos do Design de Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips (2008);

e os objetivos específicos de discutir sobre história e conceitos da Fotografia e

Design gráfico; debater acerca dos fundamentos do Design Gráfico e, para finalizar,

os fundamentos do design aplicáveis aos processos de pré e pós-produção

fotográfica.

A referente pesquisa, então, concluiu que, desde o seu surgimento, a

Fotografia representou uma revolução para os campos das Artes Visuais, afetando,

de forma considerável, o status dos artistas visuais que sentiram seu ofício e sua

habilidade de representação visual ameaçados por um aparelho, a câmera

fotográfica. Debateu acerca da forte influência das Vanguardas Modernistas na

Fotografia e no Design gráfico, em especial, a grande contribuição do Design Gráfico

russo em ambas as ciências, e apresentou outros fatos relevantes, como o advento

da tecnologia digital e as funções do Design Gráfico, entre outros.

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Durante a pesquisa sobre os Fundamentos de Design, foi destacada sua

relevância nos processos criativos e sua utilização no desenvolvimento de

composições fotográficas, tendo o Design Gráfico como referência.

A pesquisa verificou outras possíveis formas de classificar e abordar os sete

Fundamentos de Design selecionados, propostos por Lupton (2008), dentro dos

processos fotográficos. Entre outras constatações, compreendemos que:

1- A pesquisa verificou que Enquadramento trata-se de um fundamento

primordial, tanto para o Design Gráfico quanto para a fotografia, e algumas

técnicas desse fundamento são compartilhadas entre as duas disciplinas,

como o Recorte, por exemplo;

2- Com relação à Figura/Fundo, foi visto que a técnica fotográfica de

Seletivo e Profundidade de Campo são métodos de trabalhar as relações

entre Figura/Fundo que, às vezes, nem sempre são percebidas com tal

finalidade por quem às pratica;

3- Ao analisar Escala, foi observado o fato de que o mesmo trata-se de

um fundamento presente em, praticamente, todas as imagens fotográficas.

Sendo, por muitas vezes, um elemento desapreciado e que tem um grande

potencial de criatividade na representação visual como, por exemplo, a

técnica da Macro Fotografia;

4- Tratados de forma distinta (dois temas diferentes) por Lupton (2008), a

pesquisa verificou que, no campo da fotografia, Ritmo tem analogias com

Tempo e Movimento, e ambos os fundamentos podem ser incorporados;

5- A pesquisa examinou as relações entre Cor, fundamental em todas as

expressões visuais, com Luz, elemento imprescindível para a Fotografia, e

uniu os dois fenômenos, debatendo sua relevância na composição visual;

6- Em Textura, fundamentos como Pontos e Padrões, antes tratados de

forma distinta em Lupton (2008), foram classificados na pesquisa como tipos

de Texturas, bem como as relações entre Textura e pixelização das

fotografias digitais, que nem sempre são associadas;

7- Do mesmo modo, o debate abordou relações entre Camadas e

Transparência, duas técnicas também tratadas de forma separada por Lupton

(2008), embora considerados por ela dois fenômenos correlatos.

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Com isso, a pesquisa pretende contribuir como um referencial teórico para

aqueles que buscam tratar de Design Gráfico e Fotografia na teoria e na prática. O

presente material trata-se de uma confluência do Design Gráfico como uma

ferramenta auxiliar no exercício da Fotografia. Aqui, foram abordados temas como a

história e conceitos do Design Gráfico, composição fotográfica, linguagem visual, e

alguns processos de pré-produção e pós-produção fotográfica, recorrendo ao Design

Gráfico como referência.

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