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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO QUÍMICA LICENCIATURA Os desafios do ensino de química na educação inclusiva ALUNA: Ana Cláudia Carvalho de Almeida ORIENTADORA: Thalita Rodrigues Ouro Preto, 5 de Setembro de 2017.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

QUÍMICA LICENCIATURA

Os desafios do ensino de química na educação inclusiva

ALUNA: Ana Cláudia Carvalho de Almeida

ORIENTADORA: Thalita Rodrigues

Ouro Preto, 5 de Setembro de 2017.

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

QUÍMICA LICENCIATURA

Os desafios do ensino de química na educação inclusiva

TrabalhodeConclusãodeCurso(TCC)apresentadocomo requisito parcial à conclusão da disciplinaEstágio Supervisionado IV do Departamento deQuímicadoInstitutodeCiênciasExataseBiológicasdaUniversidadeFederaldeOuroPreto.

ALUNA: Ana Cláudia Carvalho de Almeida

ORIENTADORA: Thalita Rodrigues

Ouro Preto, 5 de setembro de 2017.

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“Aeducaçãoéumprocessosocial,édesenvolvimento.Nãoéapreparaçãoparaavida,éaprópriavida.”

(JohnDewey)

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AGRADECIMENTOS

A caminhada foi longa e com muitos obstáculos vencidos graças a força da

minha fé em Deus.

Agradeço primeiramente aos meus pais, Sávio e Cláudia, por serem meu

apoio, minha base, minha inspiração, por confiarem e acreditarem na minha

capacidade e por estarem sempre presente em todos os momentos.

Agradeço aos meus irmãos, Victor e Maria Laura, meus melhores amigos,

pelos momentos de diversão, de conselhos e acima de tudo de muito agradeço

por jamais me desampararem.

Agradeço de uma forma muito especial a minha Tia Izolina e Tio Juca, que me

recebem como uma filha, deles vem as palavras de conforto e de fé que

movem os meus dias com muita segurança. Agradeço as minhas irmãs de

alma, Fabrícia e Fabiana, que torceram, confiaram e apoiaram minuto a minuto

desta trajetória.

Agradeço ao meu avô pelos ensinamentos e a Bia pelos agrados de sempre.

Agradeço a minha madrinha Márcia por sempre me receber com um sorriso no

rosto e falando que eu conseguiria.

Agradeço as professoras Clarissa, Nilmara e Paula pelos ensinamentos que

levarei comigo pelo resto da minha vida profissional. Agradeço a professora

Thalita pela paciência, atenção, ensinamentos e pela confiança em me orientar

neste trabalho.

Aos amigos, presentes que Ouro Preto me deu, que amenizam a saudade de

casa e fazem com que meus dias sejam mais tranquilos, Luciana, Fernando,

Daniela, Sulusmon e Carol. Em especial a Paola, que além de me aturar todos

os dias, sempre torna os dias mais alegres e mais tranquilos.

Enfim, a todos os amigos, familiares e profissionais que estiveram presentes e

me ajudaram durante este percurso.

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RESUMO

Este trabalho constitui um estudo de caso de uma professora de Química de

um aluno surdo. Objetivou-se investigar a visão de uma professora, de uma

escola pública de Ouro Preto, sobre a educação inclusiva em Química. Os

objetivos específicos são conhecer o planejamento da professora de química

para o aluno surdo, conhecer as técnicas elaboradas para o trabalho com o

aluno em questão e compreender as dificuldades da professora para a

realização do seu trabalho. Foi seguido um roteiro de entrevista com perguntas

que nos levassem a atingir os objetivos. Após, foi realizada uma entrevista com

a professora e posterior análise das respostas as perguntas. De um modo

geral, podemos analisar a situação e opinião desta professora acerca da

educação inclusiva. Algumas dificuldades que deveriam ser enfrentadas e

desafios superados não foram visto no trabalho da professora com aluno. Com

base nas respostas, acredita-se que a professora seja mais partidária da

educação especial e não da educação inclusiva.

Palavras Chaves: Educação inclusiva, Educação inclusiva na Química, alunos

surdos, educação especial, histórico da educação especial, políticas públicas

de inclusão escola no Brasil.

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INDICE

1. Introdução.................................................................................6

2. Objetivos...................................................................................8 2.1 Objetivo geral......................................................................................8

2.2 Objetivos específicos..........................................................................8

3. Fundamentos teóricos..............................................................9

3.1 Histórico da educação especial no Brasil...........................................9

3.2 Educação inclusiva...........................................................................12

3.3 Política pública de inclusão escolar no Brasil...................................17

3.4 A Química e a educação inclusiva....................................................19

4. Metodologia............................................................................24

5. Análise dos

resultados............................................................25 5.1Caracterização da professora entrevistada........................................25

5.2 Planejamento de aulas para o aluno surdo.......................................25

5.3Caracterização do aluno....................................................................27

5.4 Caracterização do ensino e aprendizagem de Química em Libras...29

5.5 Desafios enfrentados........................................................................30

5.6 Concepções sobre a inclusão...........................................................30 6. Considerações finais..............................................................33

7. Referências bibliográficas......................................................35

8. Anexo.....................................................................................38

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1 – Introdução

A partir do momento que comecei a trabalhar na área da educação, passei a

valorizá-la mais e perceber as dificuldades que enfrentamos diante da

responsabilidade de educar os alunos. Em busca de melhorar meus

ensinamentos e a aprendizagem dos estudantes, comecei a ler sobre a

educação inclusiva e o que me chamou a atenção no início foi a dificuldade que

nós, professores, poderíamos enfrentar ao trabalharmos com alunos de

educação inclusiva.

Uma das disciplinas da graduação, a LIBRAS, me motivou de maneira

diferente. Em uma das aulas, a professora falava sobre as dificuldades de se

saber os termos técnicos das disciplinas. Falava sobre a dificuldade de um

intérprete, acompanhante de alunos surdos em salas de aula, de saber termos

técnicos de todas as disciplinas do ensino médio. Neste momento, enquanto

professora em formação, pensei pelo lado do professor: existem muitos alunos

de educação inclusiva aqui em Ouro Preto? Quantos? Quais as suas

deficiências? E as perguntas ficavam cada vez mais frequentes no meu dia a

dia.

A partir daí, resolvi pesquisar sobre a demanda de alunos que tinham alguma

deficiência nas escolas estaduais e municipais de Ouro Preto. Fui à

superintendência regional de ensino, fiz um requerimento para que pudessem

liberar os dados referentes à cidade como, por exemplo, a quantidade destes

alunos e os seus tipos de deficiências bem como em quais escolas estavam

estudando. O pedido foi feito em dezembro de 2016, porém, em fevereiro de

2017, ainda não tinha obtido respostas e resolvi focar o trabalho em um estudo

de caso. Como tinha despertado o meu interesse pela história dos surdos na

aula de LIBRAS, resolvi fazer um estudo sobre o trabalho de uma professora

com o seu aluno surdo. Novamente fui a superintendência regional de ensino e

restringi os dados em um novo requerimento. Pedi que me informassem uma

escola que tinha um aluno surdo. Novamente não obtive sucesso com resposta

ao requerimento.

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Expondo esta ideia para uma professora, ela me indicou uma outra professora

que, assim como eu, foi aluna do curso de licenciatura em Química da UFOP.

Esta ex-aluna trabalha em uma escola estadual em Ouro Preto e tinha um

aluno surdo em sala. Entrei em contato com a professora em abril de 2017,

quando ela concordou em contribuir com o trabalho. A escola, a intérprete do

aluno e a pedagoga, foram bem receptivas com relação ao trabalho e

concordaram prontamente em contribuir também, caso fosse necessário.

Trabalhei a parte teórica nos meses de maio e junho e agendamos a entrevista

para o dia 20 de julho de 2017. Planejou-se uma entrevista semiestruturada,

para que pudéssemos fazer perguntas que surgissem na hora, de forma a

atingir os objetivos sem comprometer a integridade do trabalho dos envolvidos.

Com este trabalho, planejamos contribuir com as referências de trabalho na

educação inclusiva em Química, visto que, são poucos os trabalhos na área.

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2 – Objetivos

2.1 Objetivo geral

A proposta inicial era fazer uma pesquisa com um maior número de dados

sobre a educação inclusiva e a Química. Porém, visto os empecilhos

enfrentados, optou-se por investigar a visão de uma professora, de uma escola

pública de Ouro Preto, sobre a educação inclusiva em Química.

2.2 Objetivos específicos

a)Conhecer o planejamento da professora de química para o aluno surdo.

b)Conhecer as técnicas elaboradas para o trabalho com o aluno em questão

c)Compreender as dificuldades da professora para a realização do trabalho.

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3 – Fundamentos teóricos

3.1 Histórico da educação especial no Brasil

A educação especial é uma modalidade de ensino voltada para atender as

diferenças individuais de cada educando. O próprio termo utilizado, pessoas

com deficiência, faz parte da história da educação especial e da luta pela

inclusão dos mesmos na sociedade (MEC, 2008).

As pessoas com deficiência tiveram uma longa trajetória antes de serem

aceitas e inseridas na comunidade. O desenvolvimento desta aceitação se deu

de forma demorada e somente hoje, conseguimos perceber avanços

significativos neste desenvolvimento.

Inicialmente, antes do século XVIII, havia uma ausência total de atendimento

para estas pessoas. Elas eram abandonadas, caçadas e muitas vezes

eliminadas por não apresentarem as mesmas características comuns ao

restante da sociedade (Miranda, 2003). No período colonial, prevaleceu o

descaso do poder público sobre a educação de um modo geral, não só com a

educação especial.

Entre os séculos XVIII e meados do século XIX, começou-se a criar uma outra

percepção com relação a estas pessoas. A partir deste momento, elas eram

segregadas da sociedade e permaneciam dentro de instituições residenciais,

não mais, em sua maioria, sofriam abusos da comunidade. Com relação a

educação dos mesmos, somente ao final do século XIX e início do século XX,

começaram a desenvolver classes especiais em escolas públicas. A intenção

seria fornecer educação para as pessoas com deficiência separadamente das

outras pessoas chamada educação especial (Miranda, 2003).

Durante esta época, no Brasil, inspirados na iniciativa europeia da construção

do Instituto dos meninos cegos, em 1854, sob a direção de Benjamin Constant

(Atual Instituto Benjamin Constant IBC) e Instituto dos surdos-mudos, em 1857,

sob a direção de Edouard Huet (Atual Instituto Nacional de Educação de

Surdos INES), a educação especial começa a surgir no final do século XIX. Em

1874 foi construído, na Bahia, um hospital para assistência às pessoas com

dificuldade intelectual, Hospital Juliano Moreira. Em 1887 é criada no Rio de

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Janeiro a Escola México para o atendimento de pessoas com deficiência física

e intelectual (JANNUZZI, 1985, 2004; MAZZOTTA, 2005, apud MENDES,

2009).

Nesta época, a educação era prevista para todos aqueles não escravizados

porém a maioria da população era escrava e a educação era restrita.

Após a proclamação da república, em 1889, profissionais voltaram dos estudos

na Europa interessados em modernizar o Brasil. Médicos começaram a se

especializar em crianças nomeadas, naquele momento, como especiais,

porém, até a primeira guerra mundial, ainda predominava o sistema dualista,

elite e classes populares, privilégios escolares para a elite e uma parte da

classe média e as classes populares ainda não tinham acesso à escola

(ARANHA, 2005 apud MENDES, 2009).

Mesmo com a industrialização, no século XX, a educação ainda era restrita.

Cresciam os centros urbanos e as crianças das classes operárias estavam

presentes nas indústrias e ausentes nas escolas (KASSAR, 2011).

Após a primeira guerra mundial, por volta de 1918, lentamente o modelo

econômico foi se modificando, e neste mesmo período surgiram reformas nos

sistemas de educação sob o ideário do movimento escolanovista. Os princípios

deste movimento eram o poder da educação, diminuição da desigualdade

social, interesse por pesquisas científicas e estímulo à liberdade individual da

criança. Crescia a implantação de escolas especiais comunitárias na primeira

metade do século XX, e crescimento de classes especiais para os vários tipos

de deficiência nas escolas públicas (ARANHA, 1989).

No final do século XX, começou a surgir uma integração social das pessoas

com deficiência. Este movimento social visava integrar estas pessoas em

ambientes escolares juntamente com todas as outras pessoas. Durante todo

este desenvolvimento histórico, as atenções eram voltadas principalmente,

para as pessoas com deficiências visuais e auditivas, pouca atenção era dada

aos deficientes físicos e os deficientes mentais eram deixados de lado

(Miranda, 2003).

As campanhas para educação de pessoas com deficiência surgiram a partir de

1958, por iniciativa do ministério da educação. A LDB 4.024 de 20 de dezembro

12

de 1961, criou o conselho federal de educação que continha a expressão da

“educação de excepcionais” (LDB, 1961, Título X, art. 88).

Esta lei foi o marco inicial das ações do poder público para com a educação

especial (Mazzotta 1990).

Várias instituições de cunho filantrópico surgiram a partir de então, como por

exemplo, a Federação Nacional das Associações de Pais e Amigos dos

Excepcionais, a APAE, que em 1962 já contava com 16 instituições. Outras

instituições privadas foram surgindo, grupos de apoios e grupos sociais que

lutam por melhorias e implantação de políticas públicas na área da educação

especial (MENDES, 2009).

Para Mendes (1995), descrever o histórico da educação especial no Brasil não

é uma tarefa fácil. No Brasil, o processo se deu de forma diferente do que nos

países europeus e norte-americanos, uma vez que em nosso país, o descaso e

negligências com a situação das pessoas com necessidades especiais se

estendeu até a década de 50.

A atenção voltada às pessoas com deficiência, pelas características da história

da educação especial, foi formulada em grande parte por instituições privadas,

e não por uma rede de ensino pública. Mas havia um esforço crescente para

expansão da educação pública. Na década de 70, um relatório feito pelo

Ministério da Educação e Cultura mostrou que "apenas 13,8% dos que

iniciaram a 1ª série em 1972 conseguiram terminar a 8ª serie em 1979"

(KASSAR, 2011).

Neste contexto escolar, a educação especial foi sendo incorporada em ações

do poder público, e diversas classes especiais foram formadas pelo Brasil,

onde o setor público chegou a atender 97,8% dos alunos com necessidades

especiais em classes regulares de ensino no início da década de 80. Porém, ao

final da década de 80, foram atendidos apenas alunos com deficiências leves e

que repetiam muitas vezes de ano na escola. Aqueles alunos que precisavam

de um atendimento mais especializado, ainda eram atendidos somente pelo

setor privado. (KASSAR, 2011).

Durante todo o desenvolvimento histórico de aceitação das pessoas com

deficiência, é importante destacar também o desenvolvimento histórico dos

termos utilizados para nomeá-las e tratá-las.

13

Durante séculos, quando estas pessoas eram abandonadas, caçadas e muitas

vezes eliminadas, elas eram chamadas de inválidas. O termo significava

indivíduos sem valor e socialmente eles eram tidos como inúteis. Durante o

século XX, até mais ou menos durante a década de 1960, eram chamados de

incapacitados, que significava pessoas sem capacidade ou com capacidade

residual. Na época, foi um avanço a sociedade aceitar que estas pessoas

teriam algum tipo de capacidade (Sassaki, 2003).

Entre 1960 e 1980, o termo utilizado eram os defeituosos, para as pessoas que

tinham alguma deformidade, principalmente física. Ou chamavam de os

deficientes para pessoas que tinham alguma deficiência, ou seja, na época

algumas pessoas que faziam algo diferente do comum. Ou chamavam de os

excepcionais, utilizado principalmente para pessoas com alguma deficiência

mental (Sassaki, 2003).

No ano de 1981, a ONU chamou o ano de Ano Internacional das Pessoas

Deficientes. A partir deste ano, não eram mais chamados de excepcionais, e

sim de deficientes. Entre 1988 e 1993, alguns líderes de organizações de apoio

a pessoas com deficiência, criticaram o termo pessoas deficientes. Para eles, o

termo indicava que a pessoa inteira era deficiente, e acharam melhor o termo

ser pessoas portadoras de necessidades especiais. Mas para Sassaki (2003),

portar uma deficiência parece ser um valor agregado a pessoa, e por isso não

seria correto utilizá-lo.

Atualmente, após muitos movimentos e debates sociais que discutiam o termo

mais adequado de tratamento, as comunidades mundiais determinaram por

preferência que o termo adequado seria “pessoa com deficiência”, que foi

aprovado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) em 2006 (Fernandes,

2016).

3.2 Educação inclusiva

Especificamente para as pessoas com deficiência após anos de muita luta por

igualdade, existe uma educação atualmente chamada de educação inclusiva. A

ideia da educação inclusiva surgiu na década de 90, e como marco principal,

14

tem-se um documento de 1994, Política Nacional de Educação Especial, que

sistematiza e organiza ações e políticas voltadas a educação de pessoas com

deficiência. Este e outros documentos relacionados a política pública de

inclusão serão mencionados com maiores detalhes no item seguinte.

No sistema educacional brasileiro existiam dois tipos de escolas até o início do

século XXI, a escola regular e a escola especial. A proposta da educação

inclusiva vem para modificar este contexto, uma escola regular que receba

alunos vindos de escolas especiais (ALONSO, 2013).

O termo inclusão escolar é associado à inserção de pessoas com deficiência

na educação regular. A proposta de inclusão escolar consiste em atender a

todos os alunos com deficiência, propiciar a ampliação do acesso destes

alunos às classes regulares, oferecer suporte técnico aos professores,

trabalhar com todos independentemente de cor, classe social ou condições

físicas e psicológicas.

A educação inclusiva procura crescer e prevalecer em um país desigual e

complexo. Segundo Rodrigues (2006), há um contexto politicamente correto

quando se fala em incluir. Pessoas devem ser incluídas em comunidades

benignas, positivas, receptivas e prósperas. Na educação, o princípio da

inclusão seria primeiramente não excluir, não rejeitar qualquer aluno que queira

fazer parte da comunidade escolar.

O termo inclusão é mais abrangente do que somente incluir pessoas com

necessidades especiais em salas de aula regulares. Diferente de somente

promover integração de pessoas, o termo inclusão escolar vai além da sala de

aula e consiste em uma inclusão social também, receber estas pessoas em

qualquer ambiente social (RODRIGUES, 2006). Falando-se em inclusão

escolar, é necessário falar da formação de professores. Pois, são estes

profissionais que trabalharão diretamente na formação e educação das

pessoas com deficiência.

Na Proposta de Diretrizes Para a Formação de Professores da Educação

Básica elaborada pelo MEC em Maio de 2000, colocam o papel do professor

frente a mudanças da sociedade atual, e destaca que o professor deve saber

lidar com a diversidade existente entre os alunos, desenvolver hábitos e

colaboração de trabalho em equipe (MEC, 2000).

15

Todo o conhecimento das necessidades especiais deveria ser parte

fundamental da formação de professores. Este quadro é pouco visto

atualmente nas universidades e faculdades brasileiras, onde as disciplinas

ofertadas relacionadas a inclusão são restritas, precisando o professor se

preparar à parte caso necessite. É um desafio para o professor estabelecer

uma construção de saberes capaz de atender as demandas da convivência e

da aprendizagem na diversidade (RODRIGUES, 2006).

Entre os desafios enfrentados pelo professor, um deles é conciliar o seu

trabalho com o trabalho do profissional que acompanha um aluno da educação

inclusiva. Em alguns casos, o atendimento a estes alunos é feito com um

profissional exclusivo para cada uma dessas crianças que auxilia o professor

no desenvolvimento das atividades. O aprimoramento do currículo torna-se

uma tarefa do professor, uma vez que a falta de formação e despreparo

docente pode prejudicar o processo de inclusão.

No artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, e no artigo 208 da

constituição brasileira consta que “é dever do estado garantir atendimento

educacional especializado para portadores de deficiência preferencialmente na

rede regular de ensino” (ECA,1990).

Os alunos com deficiência devem exigir condições melhores de estudo e de

adaptação na escola a qual frequentam, sem ter que procurar uma escola

específica para isso, sendo dever do Estado garantir essa possibilidade. Como

por exemplo, um aluno surdo tem o direito de ter em sala um profissional

tradutor e intérprete de Libras para ajudá-lo na compreensão das disciplinas,

garante o decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005.

Este decreto considera uma pessoa surda aquela que tem uma perda auditiva,

e interage com o mundo através de experiências visuais e pela língua brasileira

de sinais, LIBRAS. Destaca a obrigatoriedade da inclusão da disciplina de

LIBRAS para a formação de professores para exercício do magistério, a

disciplina será obrigatória em todos os cursos de licenciatura e optativa para os

demais cursos normais superiores. O decreto garante, no capítulo VI:

“Escolas bilíngües ou escolas comuns da rede

regular de ensino, abertas a alunos surdos e

ouvintes, para os anos finais do ensino

fundamental, ensino médio ou educação

16

profissional, com docentes das diferentes

áreas do conhecimento, cientes da

singularidade lingüística dos alunos surdos,

bem como com a presença de tradutores e

intérpretes de Libras - Língua Portuguesa.

“ (BRASIL, 2005).

Além disso, o decreto menciona a formação do professor de LIBRAS e do

instrutor de Libras, deve ser realiza em nível superior, em cursos de graduação

de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa

como segunda língua. Nestes cursos mencionados, o decreto garante aos

surdos prioridade. As instituições federais, após o decreto, devem garantir

acesso a comunicação, informação e processos seletivos as pessoas surdas.

Para garantir isto, as instituições federais devem promover curso de formação

de professores, ofertar o ensino de LIBRAS como segunda língua para alunos

surdos, apoiar o uso e difusão da LIBRAS dentro de toda a comunidade escolar

(BRASIL, 2005).

Além da formação de professores, é importante falar também dos recursos

oferecidos pela escola para receber alunos de inclusão. Para Rodrigues (2006),

a inclusão não tem como ser promovida em uma escola sem recursos. E os

recursos são diferentes para cada tipo de deficiência apresentada pelo aluno.

Por exemplo, ao atender alunos com deficiências mentais, a escola deve ser

capaz de oferecer os mesmos recursos da escola especial, para que assim,

seja possível preferir a escola inclusiva à escola especial.

A Lei Brasileira de Inclusão considera como uma pessoa com deficiência

aquela que tem um impedimento a longo prazo em funções de natureza física,

mental, intelectual ou sensorial e assim, esta deficiência impede sua efetiva

participação na sociedade. A lei também garante que toda pessoa com

deficiência tem direito a oportunidades iguais a todos, e não devem sofrer

nenhum tipo de discriminação. A lei garante o atendimento prioritário e garante

que estas pessoas serão protegidas de qualquer tipo de violência, como

disposto no artigo 5° do segundo capítulo da lei (LBI, 2005).

Dentre os tipos de deficiências apresentados, se enquadra como pessoa com

deficiência aquela que possui limitação ou incapacidade para o desempenho

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de alguma atividade. Para diminuir as barreiras enfrentadas pelas pessoas com

deficiência para se inserir na sociedade, a lei 10.098 de 19 de dezembro de

2000 propõe supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços

públicos, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de

comunicação. Um dos caminhos para a inclusão social é a acessibilidade.

O decreto 5.296 de 22 de Dezembro de 2004, coloca que existem cinco tipos

de deficiência. Dentre os tipos de deficiências apresentadas, são considerados

deficientes visuais aqueles que apresentam cegueira: “na qual a acuidade

visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica;

a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho,

com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do

campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência

simultânea de quaisquer das condições anteriores”. (BRASIL, 2004).

São considerados deficientes auditivos aqueles que possuem perda bilateral,

parcial ou total de 41 decibéis ou mais. São considerados deficientes mentais

aqueles que tem funcionamento intelectual inferior à média com manifestação

antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de

habilidades adaptativas como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades

sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança,

habilidades acadêmicas, lazer e trabalho (BRASIL, 2004).

São considerados deficientes físicos aqueles que possuem: “ alteração

completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando

o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de

paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,

triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência

de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita

ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam

dificuldades para o desempenho de funções” (BRASIL, 2004).

Por último, existem as pessoas com deficiências múltiplas, que seria a

associação de mais de uma das deficiências descritas acima.

Ainda, no âmbito geral da inclusão que envolve formação de professores e

recursos mínimos necessários, enfrenta-se os desafios da educação como um

todo: Classes lotadas e recursos escassos até mesmo para a construção da

própria escola como um espaço físico, dificultam todo o processo de inclusão.

18

Falar de inovação nos processos de educação escolar, que foi planejada para

ser uma educação uniforme e tradicional, movimenta pensamentos e opiniões

divergentes. Uma vez que a adaptação da escola, porém, vai além de

adaptação do ambiente, do professor ou da contratação de profissionais. A

comunidade escolar deve estar preparada para receber estes alunos, dispostos

a ajudar e dispostos a diminuir os preconceitos. Sendo somente assim,

trabalhando em conjunto com a sociedade, possível a inclusão total destes

alunos no ambiente escolar regular.

3.3 Política pública de inclusão escolar no Brasil

Dentro do sistema geral de ensino, o direito dos “excepcionais” à educação foi

apontada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN, em

1961, na lei número 4.024/61. A lei 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961,

define um tratamento especial para alunos que tenham deficiências físicas ou

mentais, o que não atende as necessidades dos alunos, mas sim

encaminhando-os para as classes e escolas especiais (MEC, 2008).

Em 1973 foi criado no MEC, o Centro Nacional de Educação Especial, que

seria um órgão responsável pela gestão da educação especial no Brasil.

Somente em 1994, foi criada a Política Nacional de Educação Especial, que

orientava o processo de integração das pessoas portadoras de necessidades

especiais as classes comuns de ensino regular (MEC, 2008).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 9.394/96, garante em

seu artigo 59 que os sistemas de ensino devem assegurar aos estudantes todo

o suporte organizacional e recursos para atender a necessidades individuais.

Já em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº 7.853/89, define: “a

educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e

modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação

especial ao ensino regular” (MEC, 2008).

Em 2001, o plano nacional de educação estabelece objetivos e metas para

atendimento aos estudantes portadores de necessidades especiais. Em 2007,

é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação que tinha como eixos a

formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de

19

recursos multifuncionais, a acessibilidade física dos prédios escolares, acesso

e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior.

Propostas foram sendo incorporadas aos poucos, e efetivadas na Política

Nacional de Educação Especial proposta pelo MEC em 2013.

A proposta da inclusão escolar, que começou a ser falada no início dos anos

90, foi incluída na política nacional de educação especial proposta pelo

Ministério da Educação em 2013, que dizia no início:

“A atual política nacional de educação especial

na perspectiva da educação inclusiva, entende

educação especial como uma modalidade de

ensino que perpassa todos os níveis, etapas e

modalidades, realiza o atendimento educacional

especializado, disponibiliza os serviços e

recursos próprios deste atendimento e orienta os

alunos e seus professores quanto a sua

utilização nas turmas comuns do ensino regular

(MEC, 2013). “

Para implantação deste tipo de sistema no Brasil, são enfrentadas dificuldades

das mais variadas ordens: formação continuada de profissionais

especializados, aceitação da diversidade, relação família-escola, etc. Estas

novas políticas públicas do MEC, para Mendes (2006, pág. 14.):

Tem tentado impor uma concepção única da política de

inclusão, que sequer possui um senso comum;

deslocaram o debate de seu cerne, que seria como

melhorar a qualidade da educação brasileira para todos

os alunos indistintamente, para centralizar na questão de

onde os alunos com necessidades educacionais especiais

deverão estudar.

Independentemente do nível escolar que um país se encontra, melhorar a

educação como um todo é sempre um fator positivo. Bem como dar uma

20

atenção maior as pessoas com deficiência. É possível fazer os dois sem

menosprezar uma opção em detrimento de outra. Antes de abraçar as duas

causas, precisa-se definir a política de inclusão de forma consensual, que

englobe todos os seus princípios, causas e objetivos.

As leis existem e a política pública também, porém num país grande e com

tanta desigualdade, estas políticas não chegam às escolas e muito menos às

salas de aulas. A inclusão não será um processo fácil, nem barato e nem

inodoro, é necessário cobrar ações do nosso apático poder público e fazer a

diferença. O que me remete ao meu objetivo principal da escolha pelo tema.

3.4 A Química e a educação inclusiva

Para mudar o quadro atual das escolas frente a educação inclusiva, precisa-se

de uma equipe preparada tecnicamente para receber estes alunos. Apoio

médico, psicológico, materiais didáticos adequados, espaço físico adequado e

tão relevante quanto isso, professores preparados para lidar com as diferentes

necessidades dos alunos dentro de sala de aula, principalmente os alunos com

deficiência (HOFFMAN, 2004).

Uma pesquisa investigou as percepções sobre educação inclusiva dos

professores formadores do curso de Química Licenciatura de uma Instituição

de ensino superior (IES) pública de Goiás. Conforme ressaltam Vilela-Ribeiro e

Benite (2010) nessa pesquisa, que dentre os sete professores pesquisados, os

que possuem visão adequada da educação inclusiva são os licenciados. A

licenciatura proporciona uma visão crítica da educação. Ele constatou também

em sua pesquisa, que a universidade não prepara esses profissionais para a

inclusão, eles saem aptos para lecionar, porém, se deparam com uma

realidade diferente em sala de aula.

Um artigo presente na revista Química Nova na Escola, descreve sobre

terminologias químicas: utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos.

Os pesquisadores, Sousa e Silveira (2011), acompanharam ao longo do ano de

2008 as atividades didáticas dos professores e o trabalho dos intérpretes de

uma escola de Uberlândia (MG) que possui alunos surdos. Acompanharam

aulas e fizeram entrevistas com alunos e com professores, sendo que somente

21

um professor tinha conhecimento de Libras. Concluíram que juntamente com o

despreparo dos docentes e desconhecimento dos intérpretes em relação ao

saber químico,

“Os alunos surdos têm dificuldades na aprendizagem em

química em função da especificidade da linguagem

química e da escassez de termos químicos na língua de

sinais.”.

Tais resultados nos mobilizam a pensar em como seria a nossa prática

docente, enquanto estudante de licenciatura, no futuro. Precisa-se preparar

para atender as diferentes demandas dentro de uma mesma sala de aula, o

que me remete mais uma vez aos objetivos específicos desta pesquisa.

Uma dissertação defendida em 2016 em Juiz de Fora, sobre propostas

alternativas para educação inclusiva a surdos, dá um enfoque nos conteúdos

de balanceamento de equações químicas e estequiometria para o ensino

médio. Neste trabalho a autora desenvolveu estratégias de ensino que

atendessem às especificidades da aprendizagem do aluno sem perder o foco

na inclusão. Ou seja, a estratégia deveria atender alunos surdos e ouvintes

dentro do mesmo espaço de ensino, pois, se não fosse assim, seria uma

proposta excludente e não inclusiva. Através de um questionário, a autora

selecionou os conteúdos mais complexos, de acordo com a resposta de alunos

e professores da rede pública de Juiz de Fora, e resolveu trabalhar com eles:

Balanceamento de equações químicas e estequiometria (Fernandes, 2016).

Nesta pesquisa, após definição do conteúdo a ser abordado, foi elaborado uma

proposta didática juntamente com quatro alunos surdos utilizando diferentes

estratégias visuais, experimentais, com desenhos e analogias. Sendo que, em

todo momento das aulas, a exploração visual se tornava a maior parte. Quando

a autora se deparava com a ausência de algum sinal em LIBRAS que

representasse certos conceitos químicos, ela abria espaço para discussão e

definia junto com os alunos uma terminologia, uma representação visual para o

conceito estudado (Fernandes, 2016).

22

O objetivo da proposta apresentada por Fernandes (2016), era auxiliar a prática

docente diante dos desafios apresentados por professores na educação de

alunos surdos. Na análise da proposta, os alunos precisaram fazer desenhos

que representassem o balanceamento de equações e reações químicas, e

assim, foi possível a autora perceber que os alunos interiorizaram o que foi

ensinado. O desenho tornou possível saber como eles aprenderam e como

aplicavam os conhecimentos. Ela concluiu que os surdos construíram uma

memória através de todo o procedimento visual utilizado. A aprendizagem e

avaliação dos conceitos são facilitados pelo uso de imagens, experiências e

materiais concretos (Fernandes, 2016).

Ao se falar na escassez de sinais específicos para conceitos químicos, a autora

Joana Saldanha, fez um glossário com 20 sinais de palavras e conceitos

trabalhados no ensino de Química no 1° ano do Ensino Médio. Saldanha

(2014) destaca que existe uma dificuldade dos professores em se trabalhar

conceitos tão abstratos como aqueles existentes na Química. Essa situação se

torna ainda maior com alunos surdos presentes em sala, por este motivo, a

ideia foi contribuir para aumentar o número de sinais específicos na Química

(Saldanha, 2014).

Em um estudo analisado por Almeida e Júnior (2011), acompanharam duas

semanas de aula no ensino médio em uma escola de Uberlândia. A escola

conta com o auxílio de dois intérpretes de Libras. Durante as semanas de

observação, os autores perceberam que os alunos surdos ficavam isolados em

seus respectivos grupos dentro de sala e durante o intervalo. Perceberam que

os professores e a comunidade escolar no geral, se sentem receosos de

conversar com esses alunos por não saberem LIBRAS (ALMEIDA; JÚNIOR;

2011).

Neste aspecto, os autores destacam a importância da família, como o primeiro

facilitador do processo de ensino aprendizagem do aluno. Quando a criança

surda tem uma boa relação com a família, que compreende a surdez apenas

como um atraso de aprendizagem e não como doença, é possível amenizar

possíveis transtornos de aprendizagem que poderão surgir posteriormente.

Neste estudo, os autores concluíram também que na maioria das vezes, o

intérprete assumia as responsabilidades das ações pedagógicas desenvolvidas

durante as aulas de Química. Desta forma, o interprete que se encarregava do

23

êxito ou fracasso do aluno. Este modelo de aprendizagem, afeta o ensino, os

alunos começam a apresentar dificuldades na compreensão de termos e

conceitos químicos (ALMEIDA; JÚNIOR; 2011).

Segundo Oliveira e Benite (2015), em um estudo sobre a relação do professor

de Ciências com o intérprete, fizeram entrevistas com estes dois sujeitos e os

resultados apontam que os professores de ciências sabem do seu papel diante

do aluno surdo, porém apesar de dominarem a matéria e de reconhecerem o

papel do intérprete, se sentem despreparados frente à proposta de inclusão.

Os intérpretes assumem funções dos professores da escola por reconhecerem

a falta de preparo dos professores. As autoras concluíram em sua pesquisa

que a relação entre intérprete e professor é feita de maneira contraditória, onde

o professor é mediador no processo de ensino aprendizagem e o intérprete o

intermediador deste processo (OLIVEIRA; BENITE; 2015).

Para Quadros (2004), o intérprete realiza um trabalho cognitivo-linguístico

altamente complexo, ele precisa ter conhecimentos do conteúdo que está

sendo trabalhado além do conhecido técnico dos termos e sinais em LIBRAS.

Ele define o intérprete e tradutor em LIBRAS como: “é a pessoa que traduz e

interpreta a Língua de Sinais para a língua falada e vice-versa em quaisquer

modalidades que se apresentar (oral ou escrita)”.(QUADROS,2004).

Com o decreto 5.626/05 que reconhece a LIBRAS como língua oficial da

comunidade surda no Brasil e garante que é um direito de todo aluno ter um

intérprete como acompanhante dentro de sala de aulas, cresceu a demanda e

necessidade de intérpretes e tradutores de LIBRAS. Para que ocorra e se

efetive o processo de inclusão, é necessário e indispensável a presença do

intérprete em sala de aula. Porém, ele não deve atuar isoladamente, deve

possuir uma relação estreita com o professor (SOUSA; SILVEIRA; 2011).

Segundo Lacerda (2010), as distorções na interpretação de conceito científico

por parte dos alunos surdos, poderiam ser minimizadas se professor e

intérprete trabalhasse juntos. Não cabe ao intérprete se responsabilizar pelos

processos de ensino-aprendizagem dos alunos surdos, porém, é este o papel

que os tradutores e intérpretes de LIBRAS vem desempenhando dentro das

escolas (LACERDA, 2010).

24

Nesta realidade de distorção dos papéis entre professores e intérpretes, cabe

destacar e mencionar o trabalho de professores também. Em um estudo

realizado em uma escola pública do Distrito Federal, observou-se durante as

aulas que os professores ainda escolhem predominantemente a abordagem

expositiva dos conteúdos. Sendo assim, observou-se que os alunos surdos

pouco se concentravam e se envolviam nas aulas expositivas. Porém, em uma

aula dada com aspecto investigativo e argumentativo, os alunos surdos se

interessam em saber o que os outros alunos e os outros professores estavam

argumentando (RAZUCK, 2010).

Como mencionado por Fernandes (2016), os surdos são atraídos por imagens

visuais. As aulas sendo expositivas, tradicionais e sem imagens, não chamam

a atenção do aluno surdo e portanto, não efetivam a aprendizagem dos

mesmos.

25

4 – Metodologia

Para uma análise minuciosa de uma situação, decidiu-se realizar um estudo de

caso. Um estudo de caso é um estudo descritivo e detalhado de uma unidade.

Apesar da proposta inicial ter sido de uma pesquisa mais global, um estudo de

caso nos faria refletir sobre a inclusão na escola (MANZINI, 2006).

A proposta foi a de entrevistar uma professora de Química de uma escola

estadual de Ouro Preto. Optou-se pela entrevista semiestruturada, com um

roteiro previamente elaborado com uma sequência de perguntas principais que

podem ser complementadas conforme o momento. Segundo MANZINI (1986),

isso pode fazer emergir informações de forma mais livre sem condicionar

respostas a um padrão. As perguntas principais foram compostas por questões

que nos auxiliaram a compreender a visão da professora de Química sobre a

educação inclusiva.

Alguns cuidados devem ser tomados ao elaborar as perguntas, a linguagem

deve ser adequada, a forma como a pergunta é feita e cuidados com a

sequência de perguntas. Além disso, o tipo de pergunta apresentada deve ser

definido previamente. Neste caso, foi utilizado perguntas avaliativas. Perguntas

avaliativas servem para avaliar uma situação (Manzini, 1986).

Após roteiro inicial de entrevista ter sido elaborado, a entrevista foi realizada

com a professora no seu espaço de trabalho com o aluno, uma Escola

Estadual no dia 20 de julho de 2017.

A análise dos dados foi feita com base nas respostas, se elas se aproximaram

ou não do previsto na literatura e nas propostas das políticas públicas para a

educação inclusiva.

26

5 – Análise dos resultados

5.1 Caracterização da professora entrevistada.

A professora entrevistada, tem idade entre 20 e 30 anos, começou a dar aulas

há 1 ano e 7 meses e está em sua segunda designação. Trabalha somente na

escola em que foi feita a entrevista. Fez a graduação na Universidade Federal

de Ouro Preto e durante a graduação, a professora fez duas disciplinas

relacionadas à inclusão e diversidade, Libras e Gênero. Como previsto na

literatura, a formação de professores sendo específica na licenciatura,

proporciona uma visão mais ampla do processo de inclusão. Professores

formados em licenciatura tem uma visão mais crítica para lecionar, porém

quando chegam em sala de aula, a realidade encontrada é diferente. Segundo

a professora, a escola possui outros alunos de inclusão, mas a surdez somente

o seu aluno apresenta.

5.2 Planejamento de aulas para o aluno surdo.

O planejamento da aula é feito de maneira geral, nada planejado diretamente

para o aluno surdo, ou seja, a professora não possui planejamento ou técnicas

específicas para o aluno surdo. A pesquisadora Fernandes (2016),

desenvolveu técnicas para aulas de reações químicas e estequiometria para

alunos surdos na intenção de auxiliar a prática docente diante dos desafios

enfrentados no processo de inclusão. Nesta pesquisa, a autora percebeu que

os alunos surdos interiorizaram melhor o conteúdo quando este era passado

aos alunos utilizando diferentes estratégias visuais, experimentos, desenhos.

Portanto, um planejamento de aulas com utilização de desenhos, figuras,

modelos concretos e experimentos, facilitaria a compreensão dos alunos no

geral e especificamente do aluno surdo. Assim, o aluno surdo teria maiores

chances de compreender e se interessar pela disciplina.

27

O aluno em questão tem acompanhamento de uma intérprete durante as aulas,

como garantido no decreto 5.626/05. Para a professora, por ter a presença da

intérprete em sala, ela não apresenta dificuldades em trabalhar com o aluno

surdo: “ Como tem a intérprete dentro de sala, é facilitado né, porque o que eu

falo ela repete...”

A presença da intérprete dentro de sala de aula, como previsto na literatura,

seria como um recurso para facilitar a relação entre professor aluno. Diante do

despreparo docente frente a inclusão visto pelos intérpretes, estes acabam

assumindo o papel que deveria ser do professor (OLIVEIRA; BENITE; 2015).

“Ele não tem uma dificuldade maior porque ele é surdo, por causa da

intérprete. Se não tivesse a intérprete eu acredito que seria pior.”.

Como mencionado pela professora, sem a intérprete o processo de ensino

aprendizagem não seria eficaz. A presença do intérprete em sala de aula é

indispensável, ele traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e

vice-versa. Entretanto, não cabe ao intérprete assumir o papel de professor,

ambos devem ter uma relação estreita, trabalhar junto, mas cada um

desempenhando o seu papel.

Como um exemplo dos papeis que deveriam ser desempenhados por cada um,

a professora menciona em uma de suas falas que explicou um exercício e o

aluno não ouviu devido à falta de atenção:

“Igual teve uma aula semana passada que eu expliquei um exercício aí ele foi e

logo em seguida perguntou para intérprete: ela não vai explicar o número 4? E

a interprete falou: ela acabou de explicar. Por que ele estava olhando para trás

conversando. ”

Para este tipo de situação, cabe ao intérprete passar para a professora que o

aluno ainda tinha dúvida, apesar do aluno não ter prestado atenção na

explicação, como um facilitador do processo de ensino aprendizagem e como

tradutor da língua de sinais para a língua falada e vice-versa. à professora,

cabe reexplicar o exercício uma vez que o aluno mostrou interesse e precisava

de sua atenção.

28

5.3 Caracterização do aluno

O aluno é um estudante do terceiro ano do ensino médio de uma escola da

rede pública de Ouro Preto, Minas Gerais. Ele tem uma boa relação com os

demais alunos da escola e com relação a participação do aluno em sala, a

professora menciona que ele participa da mesma maneira que os outros

alunos: “Sim, ele é participativo igual os outros alunos. No máximo pergunta

coisas que ele não entendeu mas, responder ele não é de responder não”.

Entra-se em duas questões que podem ser apontadas quando se fala que o

aluno não é de responder questões relacionadas a aula. A primeira envolve

questões pessoais, o aluno não responde por não querer ou por ter vergonha.

A segunda indagação envolve questões relacionadas ao processo de ensino-

aprendizagem, o aluno não responde por não saber o conteúdo ou o que está

se passando dentro de sala de aula. Caberia ao professor, estreitar a relação

com o aluno e avaliar como está a interiorização do conteúdo para o seu aluno.

Quando o intérprete assume as responsabilidades das ações pedagógicas

desenvolvidas durante as aulas de Química, o modelo de aprendizagem se

torna controverso. Sendo assim, o aluno pode desenvolver dificuldades na

compreensão de termo e conceitos químicos, o que levaria a não entendimento

do conteúdo e possível não participação nas aulas (ALMEIDA; JÚNIOR; 2011).

Para a professora: “Ele tem as mesmas capacidades de outros alunos, ele tem

as mesmas dificuldades de outros alunos.”. A capacidade intelectual é a

mesma, porém, os surdos são atraídos por imagens visuais, e como afirma

Razuck (2010), as aulas são expositivas são as mais escolhidas ainda pelos

professores. Nas aulas expositivas e tradicionais, o aspecto visual é deixado de

lado, o que muitas vezes deixa o conteúdo desinteressante para o aluno surdo

(RAZUCK, 2010).

Segundo a professora, ele é um aluno disperso, e para ele, se dispersar

dificulta mais o processo de ensino aprendizagem. Uma vez que, se ele virar

para trás na sala de aula para conversar, ele não vê a tradução da intérprete e

ele também não escuta o que a professora está falando.

29

“Para ele é pior né, um aluno que não tem nenhum tipo de deficiência que olha

para trás por uns segundos para conversar não perde tanto quanto ele porque

ele não escuta nada do que eu falo.”.

Durante a entrevista, falamos sobre o rendimento escolar do aluno. Neste

momento, levantou-se uma problemática recorrente no ensino regular atual.

Muito comum nos ambientes escolares, os alunos preferem copiar as listas de

exercícios dadas pelo professor ao invés de fazê-la, tirar as dúvidas e estudar

para as provas. Portanto, este aluno, segundo a professora, tem notas

excelentes nas listas de exercícios e notas baixas na prova.

Para a professora, devido a esta divergência de notas, é possível perceber

claramente que o aluno faz a cópia das listas com outros alunos e quando

chega na prova não se encontra preparado para a mesma: “o esquema das

escolas é assim, três, quatro alunos da sala fazem a lista de exercícios e

divulgam no whatsapp e aí todos os outros copiam, e ele é um desses. Então

ele tirou nove em dez nas listas de exercícios e um na prova valendo dez.”.

Voltamos nas duas questões apontadas quando foi falado que o aluno não

responde questões relacionadas ao conteúdo durante as aulas. O aluno ao

copiar as listas de exercícios pode fazê-lo por questões pessoais, ou por

questões que envolva os processos de ensino aprendizagem.

Facilitaria o entendimento ao conteúdo específico da Química, caso a

professora fizesse um planejamento específico para este aluno, como propõe

Fernandes (2016). Porém, para a professora, a solução plausível para o melhor

desempenho escolar do aluno seria o aluno fazer as listas e tirar as dúvidas

com a professora: “Se ele fizesse a lista de exercício e me perguntasse...é

porque o grande problema dos jovens hoje em dia é que eles não perguntam,

ficam com dúvida e vão embora para casa com a dúvida.”.

A professora se prontifica a ajudar os alunos, sempre reforçando a ideia de que

não é necessário ir embora com dúvidas: “Mas eu tento deixar claro. Todos os

bimestres eu falo, todo mês eu falo: gente, se está com dúvida me interrompe,

não precisa ter medo de perguntar. A gente está aqui para tirar sua dúvida.”.

Ao perguntar se a professora acredita que o aluno está aprendendo o

conteúdo, a professora menciona a afeição do aluno pela leitura e que

30

portanto, o aluno provavelmente tem afinidade com a área de humanas: “Tem

coisa que ele sabe e tem coisa que ele não faz ideia do que se passa. Por

causa da dificuldade da matéria, da afinidade dele, acho que ele não tem

afinidade com exatas.” “...provavelmente ele tem afinidade com humanas.”.

A professora relaciona a dificuldade do aluno em aprender Química com

questões pessoais: “não somente pela deficiência, claro que a deficiência

atrapalha um pouco né, porque aí teria uma aula extra, por exemplo com

reforço já ajudaria. Mas, não são assim dúvidas muito diferentes dos outros

alunos.” “a surdez não atrapalha tanto ele quanto o desinteresse.”

5.4 Caracterização do ensino e aprendizagem de Química em LIBRAS

A Química, como uma ciência abstrata, precisa ser trabalhada de uma forma

mais dinâmica dentro de sala de aula. É necessário trabalhar com modelagem,

vídeos, imagens, e todos os recursos ao alcance para evitar concepções

erradas sobre os conceitos. Os estudantes surdos, possuem uma dificuldade

na aprendizagem de conceitos químicos devido a especificidade da linguagem

da matéria e a escassez de simbologia em LIBRAS sobre Química (SOUZA;

SILVEIRA; 2011).

Portanto, a relação de afinidade estabelecida com a leitura, com a área de

humanas pode possuir ligação com o fato das concepções que o aluno

apresenta sobre os conteúdos da Química. Sem aprender de fato toda a

abstração e conceitos da Química, o aluno não teria como compreender e

apresentar interesse na matéria.

Durante a entrevista, surgiu o assunto sobre a escassez de simbologia em

LIBRAS sobre Química. Acredito que, uma proposta eficiência neste caso,

seria como foi feito por Fernandes (2016), a medida que faltavam simbologias

para determinadas palavras e conceitos, era criado uma terminologia em

conjunto com alunos, professores e intérpretes dentro da sala de aula e assim

facilitar a compreensão dos conceitos (FERNANDES,2016).

31

Outra opção para esta escassez de simbologia, está no glossário feito por

Joana Saldanha, que contem 20 sinais de palavras e conceitos para serem

utilizados durante as aulas de Química (SALDANHA, 2014).

Devido ao distanciamento da professora com o aluno surdo, fica difícil dizer

que as dificuldades do aluno se dão somente devido as especificidades da

química em si.

5.5 Desafios enfrentados

Ao se trabalhar com alunos de educação inclusiva, devemos levar em conta a

especificidade de cada caso para tentar superar os desafios. Neste caso em

questão, esta especificidade não foi demonstrada. Para a professora, o desafio

enfrentado é com a disciplina e não com o aluno surdo, uma vez que ele

apresenta capacidade e dúvidas como os outros alunos da sala.

“...desafios com a Química em si né. Química é o desafio a ser trabalhado”

Para a professora: “Ele só é surdo, mas é um menino igual aos outros meninos

da sala.”. Intelectualmente ele é como os outros alunos da sala, porém, pelo

fato de ser surdo, o processo de ensino aprendizagem se dá de maneira

diferente. Portanto este aluno, precisa de aulas planejadas especificamente

para ele e que este planejamento atinja também os outros alunos da sala. A

estratégia de ensino deve levar em conta a presença de um aluno surdo em

sala, mas deve ser uma proposta que atenda aluno surdo e alunos ouvintes

dentro de um mesmo espaço de ensino, para que assim seja uma estratégia

inclusiva e não excludente.

5.6 Concepções sobre a inclusão

Com relação às concepções sobre a inclusão, a professora considera que a

escola inclusiva segrega ainda mais. Os jovens que possuem alguma

deficiência, segundo ela, mereceriam uma escola especializada para eles de

32

modo que pudessem ter acesso a recursos e preparação específica para sua

deficiência.

“Bom, não é o que acontece primeiro. Eu acho que a educação inclusiva é você

conseguir inserir aquela pessoa na sociedade de uma maneira igualitária.

Porque você inserir um aluno surdo numa escola de ouvintes, só segrega mais

ainda, porque ou ele vai tentar se adequar aos pré-requisitos dos ouvintes ou

então ele vai ser deixado de lado. ”

Uma hipótese levantada sobre as razões pelas quais a professora não tem

nenhum planejamento bem como atividades específicas para o aluno surdo se

deve ao fato de ela não acreditar na perspectiva da educação inclusiva.

Algumas falas dela nos fazem acreditar que ela tende a ser mais partidária da

educação especial.

“Talvez uma escola, eu já conversei isso com a intérprete, e eu acabei

concordando com ela que, talvez uma escola para cá por exemplo que é uma

cidade pequena, uma escola para este tipo de deficiência, já seria uma solução

mais plausível. ”

O aluno só começou a aprender Libras aos 12 anos, e existe a dificuldade da

família em aceitar a deficiência “o pai dele já tem uma resistência em definir

que ele é surdo”. A família é o primeiro facilitador no processo do ensino

aprendizagem do aluno e primeiramente a surdez não deve ser tratada com

doença, devido a todas as problemáticas citadas que fazem com que o

processo de inclusão não aconteça de fato: despreparo docente, inversão dos

papeis do intérprete e dinâmica das aulas. Quando a relação familiar é boa, é

possível amenizar possíveis transtornos de aprendizagem (ALMEIDA; JÚNIOR;

2011).

Quando a família demonstra uma resistência em defini-lo como surdo, este fato

contribui para o desenvolvimento e desempenho escolar do aluno que não é

satisfatório na Química.

A professora não desempenha atividades específicas para este aluno, portanto

não possui planejamento nem técnicas direcionadas ao aluno em questão. As

dificuldades expostas são o jovem como um sujeito que ainda está em fase de

33

desenvolvimento de concepções, formação de opiniões e de prioridades e o

desafio é fazer com que este jovem, em meio a nossa sociedade, se interesse

pela Química como um todo, o aluno surdo não proporciona dificuldades uma

vez que, a intérprete facilita o vínculo professora aluno.

34

6 – Considerações finais

A educação inclusiva veio como uma inclusão escolar e social, para

proporcionar uma inserção de pessoas com deficiência na sociedade. Neste

processo de adaptação, pode-se pensar na eficiência da educação inclusiva de

fato.

Não acredito que a proposta veio para segregar, mas os meios que ela tem

sido feita pode levar a esta conclusão. Incluir requer um ambiente físico

adaptado, profissionais preparados, equipe pedagógica capacitada, e, amparo

psicológico para que as famílias possam se adaptar a um ambiente inclusivo.

Inicialmente, eu veria a questão da professora de Química, suas dificuldades,

porém a questão é mais complexa e envolve mais do que um sujeito. Entraria a

visão do aluno, da intérprete e da comunidade escolar como um todo.

A professora não planeja atividades específicas para o aluno surdo, e não

possui técnicas para o trabalho com este aluno em questão. Como o seu

trabalho é baseado no apoio da intérprete, a professora relata não possuir

dificuldades em trabalhar com o aluno surdo. Pela visão da professora sobre

educação inclusiva, acredita-se que ela seja mais partidária da educação

especial. Devido ao seu afastamento do aluno, não é possível afirmarmos que

as dificuldades atribuídas a ele sejam, de fato, especificamente, devido à

disciplina de química. Percebe-se dificuldades mais amplas da professora no

trato com seu aluno surdo, como conhecer de fato sua história, conversar com

o mesmo sobre seu desempenho, elaborar aulas levando em consideração

suas necessidades específicas, etc.

A forma como a educação inclusiva vem sendo feito, não se torna efetiva

dentro das escolas, e portanto, faz alguns acreditarem somente na eficácia da

educação especial para as pessoas com deficiência.

Com este estudo de caso, percebemos a relação professor e intérprete como

ela deveria ser e como está sendo feita. A intérprete é indispensável no

processo de inclusão, porém, seu papel não é ser professor do aluno e sim

35

tradutor e intérprete da LIBRAS. Percebemos também a importância da família

como primeiro facilitador do processo de ensino aprendizagem.

Os desafios enfrentados com a Química em si dentro de sala de aula e os

estudos crescentes para superar estes desafios foram vistos durante a

elaboração deste trabalho. A importância do mesmo, consiste em mostrar a

história da inclusão e contribuir com as referências nos estudos da mesma.

Inclusão é um projeto político que diz respeito a conviver e respeitar as

diferenças. Essa não é uma proposta fácil, mas, pouco a pouco, percebemos

avanços.

36

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FLORENTINO, Carla Patrícia Araújo; JUNIOR, Pedro Miranda; MARQUES, Amanda Cristina Teagno Lopes. Ensino de Ciências na Educação de Surdos nos Anais do ENPEC: 1997-2013.

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8 – Anexo

Entrevista – Professora de Química de uma escola estadual de Ouro Preto

• Onde você se formou? • Você dá aulas há quanto tempo? • Em quais/quantas escola você já deu aula? • A escola tem outros alunos de inclusão? • Já teve alunos de inclusão em turmas anteriores? Como foram as

experiências? • Como tem sido a experiência atual com este aluno? • Ele é um estudante participativo? • Você desenvolve atividades especificamente para ele? (Planejamento

de aulas) • Há desafios em trabalhar química com um estudante surdo? Se sim,

quais? Se não, por quê? • Durante sua graduação, você teve alguma disciplina relativa a educação

inclusiva? E específica para alunos surdos? • Como são as notas de seu estudante? • Você considera que seu estudante surdo está aprendendo o conteúdo?

Quais indícios você poderia nos dar sobre? (Dê um exemplo da participação dele dentro de sala de aula)

• Você percebe dificuldades de seu estudante surdo em aprender química? Se sim, quais?

• O que é educação inclusiva para você?