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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS LUCIANA BEATRIZ BASTOS ÁVILA Modalidade em perspectiva: estudo baseado em corpus oral do Português Brasileiro BELO HORIZONTE 2014

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS LUCIANA BEATRIZ ... · Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Linha de Pesquisa: Estudos Lingüísticos Baseados Em Corpora

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA

Modalidade em perspectiva

estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro

BELO HORIZONTE

2014

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA

Modalidade em perspectiva

estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos Linguisticos da Faculdade de Letras da

Universidade Federal de Minas Gerais como

requisito parcial para a obtenccedilatildeo do titulo de Doutor

em Estudos Linguiacutesticos

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguistica Teoacuterica e

Descritiva

Linha de Pesquisa Estudos Linguisticos baseados

em Corpora

Orientador Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello

Belo Horizonte

Faculdade de Letras da UFMG

2014

Ficha catalograacutefica elaborada pelos Bibliotecaacuterios da Biblioteca FALEUFMG

Aacutevila Luciana Beatriz Bastos A958m Modalidade em perspectiva [manuscrito] estudo baseado em

corpus oral do portuguecircs brasileiro Luciana Beatriz Bastos Aacutevila ndash 2014

253 f enc il grafs (color) tabs (pampb) + 1 CD-ROM

Orientadora Heliana Ribeiro de Mello

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguiacutestica Teoacuterica e Descritiva

Linha de Pesquisa Estudos Linguumliacutesticos Baseados Em Corpora

Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Minas

Gerais Faculdade de Letras

Inclui CD-ROM com arquivos de aacuteudio guia do usuaacuterio MMAX2

demonstraccedilatildeo de arquivo anotado

Bibliografia f 206-218

Anexo f 219-253

1 Modalidade (Linguiacutestica) ndash Teses 2 Linguiacutestica de corpus ndash Teses 3 Liacutengua portuguesa ndash Portuguecircs falado ndash Brasil ndash Teses 4 Atos de fala (Linguiacutestica) ndash Teses 5 Linguiacutestica ndash Processamento de dados ndash Teses I Mello Heliana Ribeiro de II Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras III Tiacutetulo CDD 418

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LlNGuiacuteSTICOS

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus oral doportuguecircsbrasileiro

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AVILA

Tese submetida agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS como requisito para obtenccedilatildeo do grau de Doutorem ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS aacuterea de concentraccedilatildeo LINGUIacuteSTICA TEOacuteRICA EDESCRITIVA linha de pesquisa Linha G-Estudos Inter-Relaccedilatildeo Linguagem Cogniccedilatildeo e

Aprovada em 30 de abril de 2014 pela banca constituiacuteda pelos membros

~~Prof(a) Heliana Ribeiro de Mello - Orientador

UFMG

C4-vJl c eO~~c~ -

PIJ~a) Giulia Bossaglia lUFMG

PWf(l o A g sto de Souza

~-~OvlProf(a) Lilian Vieira Ferrari

UFRJ

LLa tampirdWv oa 2M-~Prof(a) ~ampariaClaacuteudia de Freitas

PUC-RJ

Belo Horizonte 30 de abril de 2014

agrave memoacuteria do meu pai Joseacute Walter

que me ensinou a assimetria do tempo-espaccedilo

AGRADECIMENTOS

Natildeo se engana quem pensa que um doutorado eacute um osso duro de roer No entanto seria ainda

mais duro se natildeo estiveacutessemos cercados de um sem nuacutemero de pessoas que nos apoiam

encorajam datildeo colo provocam motivam

Agrave Prof Heliana Mello minha orientadora e amiga parceira e cuacutemplice nessa jornada que me

guiou pela matildeo para a terceira margem e se empenhou de forma delicada gentil e generosa

para eu me tornar uma doutora Por sua contribuiccedilatildeo intelectual e por sua compreensatildeo

paciecircncia e carinho desde sempre

Agrave Amaacutelia Mendes que me acolheu em Lisboa em meu periacuteodo de Estaacutegio Doutoral e natildeo

mediu esforccedilos para que me integrasse agrave vida de trabalho no Centro de Linguiacutestica da

Universidade de Lisboa Pela nossa histoacuteria de afeto e ―muita amizade Torcendo por

parcerias futuras

Ao Prof Tommaso Raso e Profordf Liacutelian Ferrari pelos valiosos comentaacuterios em minha sessatildeo

de qualificaccedilatildeo

Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem prontamente o convite para leitura e

discussatildeo deste trabalho

Aos colegas do LEEL grandes companheiros Priscila Adriana e Raiacutessa com quem dividi a

peleja para aprender sobre a modalidade Luiacutes pelas oacutetimas trocas Bruno Rocha Elisa Helocirc

Maryualecirc Andressa Carol Bruna e Bruno Alberto pelos bons momentos passados juntos

Ao Pedro Perini com quem venho construindo um produtivo diaacutelogo sobre linguiacutestica e uma

bela amizade Ao Fred por nossa histoacuteria comprida de carinho

Aos colegas do CLUL Liliana Raiumlssa Aida Sandra Antunes Sandra Pereira Fernando aos

professores Luiacutesa Alice Gabriela e Joatildeo pelos almoccedilos cafeacutes da tarde solzinho na esplanada

e toblerones compartilhados Ao Seacutergio da informaacutetica pelo suporte teacutecnico no meu

momento de desespero quando o programa natildeo rodava Meu agradecimento especial ao

Agostinho que jaacute no primeiro dia de trabalho me ensinou pacientemente a operar o software

de anotaccedilatildeo e me provocou um lindo insight para a soluccedilatildeo de uma questatildeo que me perseguia

Agrave minha matildee Celeste a quem natildeo cabe adjetivos Ela eacute superlativa

Agrave minha famiacutelia porque sim Agrave Clara grande companheira de viagem e a todos os sobrinhos

plenos de sonhos e esperanccedilas

Agrave Fernanda que estava laacute na hora certa

Ao Nando e agrave Angeacutelica amigos obrigatoacuterios nos meus agradecimentos na alegria e na

tristeza na sauacutede e na doenccedila Meu amor sempre

Ao Francisco e agrave Antonieta pela amizade carinho almoccedilos de domingo sabores

maravilhosos e um bom vinho

Ao Eduardo amigo queridiacutessimo pelo apoio incondicional e por tornar a vida mais faacutecil

todos os dias Cafeacute preto sem accediluacutecar fruta picada e CBN

Agrave Isabel Mariana e Laurent pelas portas e braccedilos sempre abertos do lado de caacute e de laacute do

Atlacircntico

Agrave Chris que foi chegando devagarinho e veio pra ficar Risos laacutegrimas conversas matinais

Agrave Corita Evandro e Fernandinho reencontro maravilhoso pelo carinho e a sensaccedilatildeo de

abraccedilo apertado em Viccedilosa

Aos amigos de sempre espalhados pelo mundo Viccedilosa Juiz de Fora Rio Belo Horizonte

Lisboa Ouro Preto Satildeo Paulo Campinas Niteroacutei Nicosia Madrid Paris Genegraveve Basel

Berna Berlim Vocecircs formam o mapa do meu afeto

Ao Nuno tatildeo diferente e tatildeo surpreendente pelo apoio paciecircncia carinho solampmar comida

preparada Vocecirc segurou a minha onda no momento mais barra pesada da vida

Ao Francisco Carlos e agrave Miuacutecha que abriram suas casas para me acolherem Aos

companheiros de casa em Belo Horizonte e Lisboa por me ensinarem a enxergar o outro

Agraves funcionaacuterias que cuidaram de meu pai e cuidam de minha matildee a ajuda de Vocecircs nos cerca

de tranquilidade

Ao Thiago e ao Ronaldo que aleacutem de amigos maravilhosos me ajudaram com abstracts

papers ―uma traduccedilatildeo rapidinha

Ao Prof Kleos pela ajuda com as imagens e a maacutegica da formataccedilatildeo

Aos meus colegas de departamento

Agraves funcionaacuterias da PPG Suely e Margarida pelo apoio na burocracia

Aos funcionaacuterios do PosLin prestativos e soliacutecitos a nossas demandas

Agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) pela bolsa de

estudos concedida para Estaacutegio Doutoral em Portugal no acircmbito do Programa de Doutorado

Sanduiacuteche no Exterior (PDSE) e agrave UFV pela bolsa de estudos no Brasil

A todos os muacutesicos de samba chorinho jazz fado soul reggae rock amp blues A vida eacute mais

leve assim

A todas as pessoas que passaram pela minha vida que natildeo estatildeo aqui nomeadas mas que

certamente deram cor e graccedila a esta minha aventura

ldquoEacute preciso que as pessoas entrem e saiam

Que vivam por toda a parterdquo

(Herberto Heacutelder)

RESUMO

Este estudo trata da descriccedilatildeo da modalidade em um corpus de fala espontacircnea da

variedade mineira do portuguecircs brasileiro Modalidade em uma definiccedilatildeo mais enxuta eacute a

avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o material locutoacuterio que enuncia em

termos do grau de certeza possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo No entanto natildeo

existe consenso sobre a definiccedilatildeo precisa desta categoria por diferentes razotildees (a) a

modalidade eacute campo de estudo para a loacutegica e a linguiacutestica que aplicam para este fim

metodologias diversas (b) a categoria se diferencia e estaacute interrelacionada com outras como

as de tempo aspecto modo (c) esta noccedilatildeo se confunde e se sobrepotildee agraves de ilocuccedilatildeo atitude e

emoccedilatildeo Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato na metodologia da Linguiacutestica

de Corpus e Linguiacutestica Computacional o trabalho tem como objetivo descrever o

comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade e propor um esquema de

anotaccedilatildeo da modalidade para um minicorpus do C-ORAL-BRASIL O C-ORAL-BRASIL eacute

um corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro o quinto braccedilo do C-ORAL-ROM um

corpus comparaacutevel representativo das quatro principais liacutenguas romacircnicas europeias (italiano

espanhol francecircs e portuguecircs) segmentado prosodicamente em enunciados e suas

subunidades informacionais O enunciado eacute a unidade miacutenima de referecircncia pragmaticamente

interpretaacutevel Para fins desta pesquisa utilizo uma amostra da parte informal do corpus C-

ORAL-BRASIL um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias interacionais

divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 6 privados e 1 puacuteblico mdash 7 diaacutelogos mdash 5

privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas Para o tratamento nesta

tese foram selecionados 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046 enunciados codificados

e posteriormente anotados semanticamente atraveacutes do software MMAX2 Apoacutes a anaacutelise

quantitativa e qualitativa podemos concluir que (i) a categoria da modalidade se comporta de

forma distinta da escrita na fala espontacircnea (ii) os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados

em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam puacuteblicas ou privadas (iii) apenas algumas unidades

informacionais podem ser modalizadas Comentaacuterio Parenteacutetico Toacutepico Introdutor

Locutivo (iv) a unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI (v) a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de

significado (vi) os verbos satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de modalidade

Palavras-chave modalidade corpus oral fala espontacircnea anotaccedilatildeo semacircntica portuguecircs

brasileiro

ABSTRACT

This study deals with the description of modality in a corpus of spontaneous Brazilian

Portuguese spoken language more specifically the Minas Gerais variety Modality in a more

concise definition is the evaluation of a conceptualizer which relativizes the uttered locutive

material in terms of degree of certainty possibility necessity capability and volition

However there is no consensus on a precise definition of such category explained by a

number of reasons (a) modality is a field of study for logics and linguistics that utilizes

various methodologies (b) the categories is both differentiated and interrelated to others such

as time aspect mode (c) this notion is mistaken and overlaps those of illocution attitude

and emotion Based on the principles of the Speech Act Theory in Corpus and

Computational Linguistics this work aims at describing the behavior of different modality

markers and proposing a modality annotation scheme for a C-ORAL-BRASIL minicorpus C-

ORAL-BRASIL is a corpus of Brazilian Portuguese spoken language the fifth branch of C-

ORAL-ROM a comparable corpus representative of the four main European Romance

Languages (Italian Spanish French and Portuguese) prosodically segmented in utterances

and their informational sub-units The utterance is the minimal reference unit pragmatically

interpretable To better fit the purposes of this research I utilized the informal part of the C-

ORAL-BRASIL corpus a minicorpus composed of 20 texts of three interactional typologies

divided into private and public 7 monologues ndash 6 private and 1 public ndash 7 dialogues ndash 5

private and 2 public ndash and 6 conversations ndash 4 private and 2 public ones For the treatment in

this thesis 1197 modal indexes distributed in 1046 utterances codified and later on

semantically annotated through the MMAX2 software were utilized After the quantitative

and qualitative analysis we can conclude that (i) the category of modality behaves

distinctively in written and spontaneous oral language (ii) the modal indexes are widely

utilized in dialogic situations be them public or private (iii) only a few informational units

can be modalized Comment Parenthetical Topic Locutive Introducer (iv) the Comment

unit is the most modalized and there is no realization restriction for this IU (v) the epistemic

modality is the most frequent one among the types of meaning (vi) verbs are the preferred

strategy for modality marking

Keywords modality oral corpus spontaneous speech semantic annotation Brazilian

Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 ndash Quadrado modal 25

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111) 44

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade 58

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo 66

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus 102

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional 104

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional 105

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra () 107

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices

modalizados 108

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus 109

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais () 110

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal 112

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal 113

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores 116

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade 117

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores 118

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra 124

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais 127

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2 155

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable 158

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables 159

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido 159

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal 160

Figura 56 ndash Remover o link 161

Figura 57 ndash Apagar um markable 161

Figura 58 ndash Adicionar uma sequecircncia ao markable 162

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable 162

Figura 510 ndash Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos 163

Figura 511 ndash Tela principal de anotaccedilatildeo 163

Figura 512 ndash Painel de controle 164

Figura 513 ndash Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo 164

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional 32

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees 42

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus 91

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados 94

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas 95

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais 95

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais 96

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos 97

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados 98

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais 99

Tabela 41 Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x contexto e tipologia interacional 103

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional 104

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras 106

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra 108

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade 109

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade 110

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais 112

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores no minicorpus 115

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores 118

Tabela 410 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional 124

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas 126

Tabela 412 - Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais 130

Tabela 413 - Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional 131

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais 131

Tabela 415 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional 136

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais 136

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional 137

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional 137

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu 150

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo

semacircntica 152

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo 153

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees 173

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais 182

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra 198

LISTA DE ABREVIATURAS

ALL - Alocutivo

APC - Apecircndice de Comentaacuterio

APT - Apecircndice de Toacutepico

b - Brasileiro (Portuguecircs)

fam - Familiar

pub - Puacuteblico

cv - Conversaccedilatildeo

dl - Diaacutelogo

mn - Monoacutelogo

CMM - Comentaacuterio Muacuteltiplo

CNT - Conativo

COB - Comentaacuterio Ligado

COM - Comentaacuterio

DCT - Conector Discursivo

EMP - Unidade informacionalmente vazia

EXP - Expressivo

F - Feminino

F0 - Frequecircncia fundamental

Hz - Hertz

i- - Unidade informacional interrompida

INP - Incipitaacuterio

INT - Introdutor Locutivo

IPO - Instituto de Pesquisa Perceptual

LABLITA - Laboratorio Linguistico do

Departamento de Italianistica

LEEL - Laboratoacuterio de Estudos Empiacutericos e

Experimentais da Linguagem

M - Masculino

PAR - Parenteacutetico

PB - Portuguecircs do Brasil

PE - Portuguecircs Europeu

PLN - Processamento de Linguagem Natural

PHA - Faacutetico

PRL - Lista de Parenteacuteticos

SCA - Unidade informacional escandida

TLA - Teoria da Liacutengua em Ato

TMT - Tomada de Tempo

TOP ndash Toacutepico

TPL - Lista de Toacutepicos

UI - Unidade de informaccedilatildeo

UNC - Unidade informacional irreconheciacutevel

XML - Linguagem de marcaccedilatildeo estendida

SUMAacuteRIO

Capiacutetulo 1 INTRODUCcedilAtildeO 17

11 Justificativa 18

12 Quadro hipoteacutetico 20

121 Hipoacuteteses 20

122 Objetivos 20

13 Organizaccedilatildeo do texto 21

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA 23

Capiacutetulo 2 MODALIDADE estado da arte 24

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica 24

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema 27

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis 28

222 Realis x Irrealis 31

223 Subjetividade 33

23 Tipos de significados modais 39

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas 40

232 A visatildeo tradicional 45

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades 47

232 Modalidade deocircntica 50

233 Modalidade dinacircmica 53

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias 55

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias 58

251 Modalidade e negaccedilatildeo 59

252 Modalidade e modo 61

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude 63

26 Modalidade na fala espontacircnea 67

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS

DADOS 74

Capiacutetulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 75

31 A Teoria da Liacutengua em Ato 75

311 O enunciado 76

312 Unidades Informacionais 79

3121 Comentaacuterio (COM) 79

3122 Toacutepico 80

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC) 81

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT) 81

3115 Parenteacutetico (PAR) 82

3116 Introdutor locutivo (INT) 83

322 Unidades Dialoacutegicas 83

3221 Incipitaacuterio (INP) 83

3222 Conativo (CNT) 84

3223 Faacutetico (PHA) 84

3224 Alocutivo (ALL) 84

3225 Expressivo (EXP) 85

3226 Conector Discursivo (DCT) 85

323 A perda do isomorfismo 85

3231 Unidade de escansatildeo (SCA) 86

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) 86

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB) 87

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL 88

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados 89

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I 89

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices 92

34 Anaacutelise dos dados 99

Capiacutetulo 4 A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise 101

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra 101

42 Enunciados e tipologia interacional 103

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade 105

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional 107

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais 109

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical 110

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais 111

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade 114

451 Os verbos modalizadores 114

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores 114

452 Os verbos epistecircmicos 117

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos 122

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas 125

453 Adveacuterbios e adjetivos modais 129

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais 129

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais 131

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q 135

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica 135

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE 141

Capiacutetulo 5 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL 142

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica 143

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc) 152

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech) 154

531 Metodologia 154

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2 154

5312 A preparaccedilatildeo dos textos 156

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar 158

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML 165

532 Escolha dos valores modais 168

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados 174

5331 Triggers 174

5332 Sources 180

53321 Source of the event mention 180

53322 Source of the modality 181

5333 Targets 185

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal 193

534 Polaridade 197

54 Resultados 198

541 Acordo entre anotadores 199

Capiacutetulo 6 Consideraccedilotildees finais 201

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 206

ANEXOS

Anexo 1 MASS 10 - Manual de anotaccedilatildeo

Anexo 2 Guia de uso MMAX2 (apenas na versatildeo eletrocircnica)

Anexo 3 Demonstraccedilatildeo de arquivo anotado (apenas na versatildeo eletrocircnica)

17

Capiacutetulo1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho se insere em um projeto sobre a modalidade desenvolvido desde o

ano de 2008 na Universidade Federal de Minas Gerais denominado ―Modalidade na fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro um estudo de corpus Este projeto tem como objetivo

investigar a modalidade em um corpus oral de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro por

diferentes motivos (1) pela dificuldade de compreensatildeo dessa categoria gramatical (2) pelo

nuacutemero ainda tiacutemido de estudos sobre o tema no portuguecircs brasileiro e (3) pela necessidade

de ―descriccedilotildees e estudos pontuais da manifestaccedilatildeo oral do portuguecircs brasileiro

Algumas das decisotildees teoacuterico-metodoloacutegicas aqui adotadas portanto satildeo fruto das

discussotildees realizadas pelo grupo de pesquisa ―Interfaces linguagem cogniccedilatildeo e cultura ndash

INCOGNITO certificado pelo CNPq e liderado pelos professores Heliana Mello e Tommaso

Raso Assim parti de estudos preliminares empreendidos dentro do projeto C-ORAL-

BRASIL que levantaram as principais estrateacutegias modalizadoras na fala espontacircnea do PB

(MELLO CARVALHO CORTES 2010 MELLO RAMOS AVILA 2011 CORTES

MELLO 2013 MELLO CAETANO 2012)

O trabalho que ora apresento pretende ser um passo agrave frente no que diz respeito agrave

descriccedilatildeo do comportamento de diferentes iacutendices marcadores do fenocircmeno semacircntico da

modalidade em um corpus oral da variante mineira do portuguecircs brasileiro

Desde o seacuteculo XVII segundo Arendt (19582010 p 310) ―todos os grandes autores

cientistas e filoacutesofos [] declaravam ver coisas jamais antes vistas e ter pensamentos jamais

antes pensados Como proposta de tese de doutoramento pretendo tratar de um tema que jaacute

foi bastante pensado e discutido desde a Antiguidade Claacutessica e por autores de diferentes

persuasotildees a categoria semacircntica da modalidade No entanto tal como os grandes nomes da

histoacuteria revolucionaacuterios ou natildeo sofremos insistentemente do ―pathoacutes da novidade e

portanto arrisco pensar a modalidade diferentemente da concepccedilatildeo claacutessica1 como uma

categoria menos estaacutetica e como uma noccedilatildeo que se realiza tambeacutem em um contexto

interacional Logo esse estudo pode ser realizado tatildeo somente pela anaacutelise da liacutengua em uso

e no caso da pesquisa em tela atraveacutes de um estudo empiacuterico

1 Trato da concepccedilatildeo claacutessica da modalidade e de outras definiccedilotildees da categoria no capiacutetulo 2

18

Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) e na

metodologia da Linguiacutestica de Corpus a pesquisa que proponho desenvolver tem como

objetivo descrever (e tentar explicar) o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de

modalidade mdash lexicais ou gramaticais mdash como por exemplo verbos modais adveacuterbios ou

locuccedilotildees modalizadoras verbos de crenccedila verbos de voliccedilatildeo construccedilotildees adjetivas

modalizadoras construccedilotildees condicionais e o futuro

A pesquisa teraacute como foco a diamesia oral da variante brasileira do portuguecircs a partir

da anaacutelise (qualitativa e quantitativa) da parte informal de um corpus oral representativo da

fala espontacircnea2 o C-ORAL-BRASIL (cf RASO MELLO 2012) a ser descrito mais

adiante Como exemplos desses iacutendices temos

(11) RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees uai

(12) JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai

13) CAR [12] e =TXC= e eu achei que ia me dar trabalho =COM=$

(14) [123] o Zeacute Carlos vai dar a televisatildeo =COM=$

(15) LUC [361] ltisso pode ser =SCA= potencialmentegt divertido =COM=$

11 Justificativa

Um estudo sobre a modalidade se justifica por diferentes razotildees Primeiro por ocupar

um lugar de destaque nos estudos da linguiacutestica nas uacuteltimas deacutecadas e ser um conceito ainda

controverso (e complexo) que se pode sobrepor a outros como os de atitude ilocuccedilatildeo ou

modo Mello e Raso (2011) propotildeem uma discussatildeo interessante sobre as categorias de

atitude ilocuccedilatildeo e modalidade a fim de facilitar a identificaccedilatildeo de traccedilos que possam

caracterizar esses diferentes conceitos De acordo com os autores essas trecircs definiccedilotildees muitas

vezes se sobrepotildeem o que leva a problemas metodoloacutegicos cruciais para a anaacutelise prosoacutedica

uma vez que a prosoacutedia codifica coisas diferentes ao mesmo tempo Os autores na tentativa

de separar os domiacutenios de aplicaccedilatildeo de cada um desses conceitos argumentam que eles

2 Para fala espontacircnea acompanho a proposta de Cresti e Scarano (1998 p 5) que entendem o espontacircneo

―como o cumprimento de atos linguiacutesticos nem programados nem programaacuteveis porque produzidos durante e

no desenvolvimento de uma interaccedilatildeo sempre nova e imprevisiacutevel entre locutores As autoras destacam o

caraacuteter dialoacutegico da fala considerada espontacircnea fundamentadas na Teoria dos Atos de Fala que relaciona o ato

de falar com o cumprimento de diversas accedilotildees linguiacutesticas (AUSTIN 1962) Tais accedilotildees linguiacutesticas em si

finitas e circunscritas natildeo satildeo o produto de um locutor ativo e isolado mas sim se relacionam a um locutor

engajado em uma situaccedilatildeo dinacircmica e interativa com vaacuterios interlocutores Segundo as autoras o princiacutepio que

rege os textos da fala espontacircnea repousa sobre um fundamento ilocutoacuterio ausente na escrita que conteacutem uma

articulaccedilatildeo informacional especifica

19

devem ser estabelecidos como instacircncias de diferentes fenocircmenos os quais satildeo aplicados a

diferentes niacuteveis do ato comunicativo e podem a princiacutepio ser composicionais

Em segundo lugar entendo que partir de corpora orais de fala espontacircnea para a

anaacutelise do fenocircmeno pode nos levar a caminhos de investigaccedilatildeo com foco em ―contextos

especiacuteficos de uso de expressotildees modais e como eles correspondem a necessidades

especiacuteficas de comunicaccedilatildeo (CORNILLIE PIETRANDREA 2012) e por consequecircncia agrave

importacircncia dos movimentos linguiacutesticos dos participantes na negociaccedilatildeo de sentidos no

curso de uma interaccedilatildeo De fato se o objetivo que aqui se delineia eacute trabalhar com a descriccedilatildeo

de construccedilotildees da liacutengua os estudos de corpora em termos metodoloacutegicos vecircm contribuir

para a manipulaccedilatildeo de um grande nuacutemero de dados representativos do uso com o recurso de

ferramentas computacionais sofisticadas Dar conta da distribuiccedilatildeo das expressotildees de uma

liacutengua se constitui como uma tarefa hercuacutelea A pesquisa de corpus dessa forma pode

determinar a frequecircncia com a qual uma determinada expressatildeo (ou construccedilatildeo) pode ser

usada em diferentes contextos Gries destaca em artigo sobre a polissemia do verbo to run

como ―os meacutetodos quantitativos da linguiacutestica de corpus podem fornecer evidecircncia empiacuterica

sugerindo respostas para alguns problemas notoriamente difiacuteceis da linguiacutestica cognitiva

(GRIES 2006 p 57)

Por uacuteltimo mas natildeo menos importante o tema da modalidade cobre diferentes

construtos de abordagens baseadas no uso ainda natildeo combinados Os estudos linguiacutesticos no

Brasil sobre a modalidade ainda carecem de anaacutelises que levem em conta as expressotildees em

contexto com dados da fala espontacircnea organizados sistematicamente ainda que haja

projetos que explorem o estudo da liacutengua falada (como o NURC e seus desdobramentos em

publicaccedilotildees)

Como consequecircncia o trabalho que ora se apresenta pode fomentar a discussatildeo sobre

semelhanccedilas e diferenccedilas em relaccedilatildeo a variedades da liacutengua portuguesa e em relaccedilatildeo a outras

liacutenguas de base romacircnica (o italiano o francecircs e o espanhol) Desse modo a pesquisa se

mostra relevante na medida em que a anaacutelise pode colaborar na reavaliaccedilatildeo de procedimentos

teoacuterico-metodoloacutegicos nesse campo e contribuir para uma melhor compreensatildeo da relaccedilatildeo da

cogniccedilatildeo humana e o comportamento social

Para aleacutem da proacutepria importacircncia do esforccedilo descritivo da modalidade na fala a tarefa

de se propor um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade para seu reconhecimento

automaacutetico se constitui como campo ainda inexplorado no portuguecircs brasileiro tanto para

dados escritos quanto dados orais Um projeto de anotaccedilatildeo para o PB inspirado em outros

desenvolvidos para a liacutengua inglesa e o portuguecircs europeu (PE) pretende portanto contribuir

20

para um nuacutemero de aplicaccedilotildees para o Processamento de Linguagem Natural (PLN) e

tambeacutem para o proacuteprio estudo linguiacutestico da modalidade

12 Quadro hipoteacutetico

121 Hipoacuteteses

(a) Haacute uma relaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade os perfis linguiacutesticos e a estrutura

informacional dos enunciados do Portuguecircs Brasileiro

(b) As construccedilotildees que carregam iacutendices de modalidade cumprem diferentes funccedilotildees

a depender do contexto de uso

(c) O uso de iacutendices de modalidade depende da tipologia do texto do gecircnero

discursivo do propoacutesito comunicativo e aleacutem disso da relaccedilatildeo entre os participantes da

interaccedilatildeo

122 Objetivos

Como objetivos pretendemos

Objetivo geral

reavaliar a partir de um estudo de um corpus de fala espontacircnea a definiccedilatildeo de

modalidade no sentido de delimitar a fronteira entre semacircntica e pragmaacutetica

e a partir disso definir e descrever os marcadores modais

Objetivos especiacuteficos

explorar o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade mdash

lexicais ou gramaticais mdash em um corpus oral da variante brasileira do

portuguecircs

sugerir uma correlaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade do Portuguecircs

Brasileiro com base nas unidades informacionais que compotildeem seus

enunciados

21

investigar os contextos de uso dos diferentes iacutendices de modalidade

elaborar um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a ser aplicado em uma

amostra de um corpus representativo da fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro

13 Organizaccedilatildeo do texto

Este trabalho estaacute organizado em trecircs grandes eixos uma parte teoacuterica que trata da

definiccedilatildeo de modalidade e da sua tipologia os procedimentos metodoloacutegicos e a descriccedilatildeo

dos itens modais de base empiacuterica em uma amostra de corpus oral do PB e a uacuteltima parte

em que apresento uma proposta de esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade A

narrativa assim se constroacutei desde uma discussatildeo teoacuterica passa pela descriccedilatildeo do fenocircmeno a

partir de consistente base empiacuterica e termina com sua aplicaccedilatildeo para fins de PLN com a

elaboraccedilatildeo do esquema de anotaccedilatildeo

O capiacutetulo 2 traz uma discussatildeo do conceito de modalidade corrente na literatura sobre

o tema os tipos de significados modais as fronteiras desta categoria semacircntica com as de

negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude a fronteira entre modalidade e evidencialidade a

modalidade na fala espontacircnea e a minha proposta de definiccedilatildeo que leva em conta a

modalidade ancorada em uma situaccedilatildeo comunicativa

Em seguida no capiacutetulo 3 satildeo detalhados os procedimentos metodoloacutegicos eacute

introduzido o quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato o projeto C-ORAL-BRASIL e o

minicorpus utilizado nesta pesquisa

O capiacutetulo 4 apresenta a descriccedilatildeo da modalidade na amostra de 20 textos da parte

informal do corpus C-ORAL-BRASIL Este minicorpus eacute representativo e estaacute definido

segundo criteacuterios de alta qualidade Apoacutes serem discutidos os resultados para a distribuiccedilatildeo e

frequecircncia dos iacutendices no que respeita a tipologia interacional as unidades informacionais e

os valores modais empreendo uma anaacutelise de trecircs estrateacutegias modalizadoras lexicais ndash verbos

modalizadores verbos epistecircmicos e adveacuterbios ndash e uma gramatical ndash as construccedilotildees

condicionais

O capiacutetulo 5 que constitui a terceira parte da tese introduz o projeto MASS ndash Modal

Annotation of Spontaneous Speech ndash que se trata de um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade

para a fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Parte desta pesquisa foi desenvolvida no

22

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa sob orientaccedilatildeo da Drordf Amaacutelia Mendes

dentro do Programa de Doutorado Sanduiacuteche no Exterior da Capes (PDSECapes)3

Por fim no capiacutetulo 6 apresento as consideraccedilotildees finais no sentido de apontar os

objetivos alcanccedilados e sinalizar para perspectivas futuras de trabalho

Em resumo

Esta introduccedilatildeo pretendeu explicitar o objeto de estudo os problemas a serem

enfrentados em relaccedilatildeo agrave categoria semacircntica da modalidade a justificativa da pesquisa o

quadro hipoteacutetico os objetivos a serem perseguidos e a estrutura do trabalho No capiacutetulo

seguinte pretendo situar o debate acerca do que vem sendo dito sobre modalidade o consenso

entre as definiccedilotildees e os problemas da conceituaccedilatildeo e da tipologia aplicadas aos dados da fala

Por fim avanccedilo para uma proposta de reformulaccedilatildeo do conceito

3 Processo nordm BEX 953712-0

23

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA

24

Capiacutetulo 2

MODALIDADE estado da arte

Este capiacutetulo pretende elucidar o caminho percorrido pelo conceito de modalidade

desde as abordagens loacutegicas passando pela sua apropriaccedilatildeo pelos semanticistas formais pelas

concepccedilotildees correntes na literatura linguiacutestica sejam formalistas ou funcionalistas para chegar

ao que nos interessa como debate a saber a modalidade aplicada a dados de fala espontacircnea

O objetivo eacute assumir um conceito que pressuponha a divisatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica no

que diz respeito a essa categoria atribuindo agrave semacircntica aquilo que estaacute relacionado agrave

conceptualizaccedilatildeo e ao significado do material locutoacuterio e agrave pragmaacutetica os aspectos referentes

agrave estrutura informacional agrave forccedila ilocucionaacuteria ao conjunto de informaccedilotildees contextuais e agraves

estrateacutegias adotadas pelos interlocutores no curso da interaccedilatildeo

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica

A noccedilatildeo de modalidade vem sendo debatida ao longo da histoacuteria por filoacutesofos

loacutegicos linguistas Autores de diferentes persuasotildees tratam o tema de maneira diversa

fundados principalmente na ideia comum de que a modalidade estaacute comprometida com a

noccedilatildeo de verdade e com a opiniatildeo do falante sobre o que enuncia uma determinada

proposiccedilatildeo No entanto a tarefa de definir o que eacute essa categoria eacute difiacutecil por uma seacuterie de

motivos elencados por Mello Carvalho e Cortes (2010 p 108)

(a) o de tal categoria haver sofrido em sua tradiccedilatildeo de estudo uma grande

influecircncia da Loacutegica havendo assim uma mescla entre estudos filosoacuteficos e

matemaacuteticos e aqueles da linguagem natural o que acarreta uma mistura

metodoloacutegica nem sempre produtiva para o estudo da liacutengua em uso (cf verificaccedilatildeo

de valores de verdade) (b) o de essa categoria existir em interrelaccedilatildeo no sistema

gramatical de uma liacutengua com vaacuterios fenocircmenos gramaticais como tempo aspecto

e modo prosoacutedia organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo dentre outros e (c) o fato de o

proacuteprio conceito de modalidade confundir-se com aqueles de atitude ilocuccedilatildeo e

emoccedilatildeo

Ou como coloca Bybee et al (1994 p 176) ―pode ser impossiacutevel chegar a uma

caracterizaccedilatildeo sucinta do domiacutenio nocional da modalidade4

4 Traduccedilatildeo do original ―it may be impossible to come up with a succinct characterization of the notional domain

of modality (BYBEE et al 1994 p 176)

25

Segundo a tradiccedilatildeo aristoteacutelica uma proposiccedilatildeo eacute uma sentenccedila declarativa que

conteacutem uma verdade ou uma falsidade natildeo podendo ocorrer as duas simultaneamente

Dessa forma Aristoacuteteles dedica um capiacutetulo do seu De Interpretatione agrave sua teoria da

modalidade e propotildee uma anaacutelise das declaraccedilotildees modais ou seja da relaccedilatildeo das proposiccedilotildees

―que satildeo possiacuteveis e aquelas que negam que seja possiacutevel entre aquelas que declaram que eacute

suscetiacutevel de se produzir e aquelas que o negam e entre aquelas que tratam do impossiacutevel e

do necessaacuterio (ARISTOTE 2007 p 309)5 Em dois capiacutetulos Aristoacuteteles trata das relaccedilotildees

entre as declaraccedilotildees que dizem respeito ao possiacutevel ao impossiacutevel ao contingente ao

necessaacuterio e suas respectivas negaccedilotildees (Capiacutetulo 12 As declaraccedilotildees modais e suas

contradiccedilotildeeslsquo) e na sequecircncia analisa as consequecircncias das declaraccedilotildees modais (Capiacutetulo 13

A consecuccedilatildeo loacutegica entre declaraccedilotildees modaislsquo)

A possibilidade e a necessidade estatildeo relacionadas por uma dupla negaccedilatildeo Eacute possiacutevel

que p = Natildeo eacute necessaacuterio que natildeo-plsquo e Eacute necessaacuterio que p = Natildeo eacute possiacutevel que natildeo-plsquo Estas

duas satildeo as noccedilotildees centrais da modalidade mas natildeo refletem a sua totalidade pois haacute uma

gama de significados modais que circulam na periferia formando o quadrado modal ndash

necessidadenatildeo-necessidadeimpossibilidadepossibilidade) como ilustrado na Figura 21

abaixo

Figura 21 - Quadrado modal

5 No original francecircs ―que clsquoest possible et celles qui nient que ce soit possible entre celles deacuteclarant que clsquoest

susceptible de se produire et celles qui le nient et entre celles qui traitent de llsquoimpossible et du neacutecessaire

(ARISTOTE 2007 p 309)

Possiacutevel Contingente

Contradiccedilatildeo

Necessaacuterio Impossiacutevel

26

O quadrado modal pode dar conta por exemplo de explicar que ―Ele pode subir 3

degraus de cada vez e ―Natildeo eacute impossiacutevel pra ele subir 3 degraus de cada vez se relacionam

semanticamente mas natildeo satildeo sinocircnimas

Como extensatildeo da loacutegica formal as loacutegicas modais identificam uma proposiccedilatildeo ―com

o conjunto de mundos possiacuteveis nos quais ela eacute verdadeira ou com uma funccedilatildeo de mundos

possiacuteveis em valores de verdade (HAAK 2002 p 116) Incorporam operadores que

modulam a verdade ou a falsidade para representar argumentos ligados agrave ideia de necessidade

e possibilidade Segundo Machado e Cunha (2005 p 75) ―um modal eacute uma expressatildeo

(necessariamente possivelmente) que eacute usada para qualificar a verdade de um julgamento

Dois operadores modais satildeo utilizados portanto ―eacute possiacutevele ―eacute necessaacuterio O primeiro

significa que uma sentenccedila eacute verdadeira em algum mundo possiacutevel jaacute o segundo significa que

a sentenccedila eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis Considere a proposiccedilatildeo em (21)

abaixo6 e suas modificaccedilotildees pelos operadores em (21a) e (21b)

(21) Joatildeo eacute solteiro

(21a) Possivelmente Joatildeo eacute solteiro

(21b) Com certeza Joatildeo eacute solteiro

A sentenccedila em (21) que representaria o ―real pode ser tomada como a modalidade

zero Em (21a) o operador ―possivelmente indica que haacute um mundo possiacutevel em que Joatildeo eacute

solteiro Jaacute em (21b) afirma-se que em todos os mundos possiacuteveis a proposiccedilatildeo ―Joatildeo eacute

solteiro eacute verdadeira

Haak (2002 p 229) nos esclarece sobre esse caraacuteter necessaacuterio e contingente

Haacute uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica de distinguir entre verdades necessaacuterias e verdades

contingentes A discussatildeo eacute frequentemente explicada da seguinte maneira uma

verdade necessaacuteria eacute uma verdade que natildeo poderia ser de outra forma uma verdade

contingente uma que poderia ou a negaccedilatildeo de uma verdade necessaacuteria eacute

impossiacutevel ou contraditoacuteria a negaccedilatildeo de uma verdade contingente eacute possiacutevel e

consistente ou uma verdade necessaacuteria eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis

uma verdade contingente eacute verdadeira no mundo real mas natildeo em todos os mundos

possiacuteveis

As loacutegicas modais sofreram criacuteticas principalmente porque sua interpretaccedilatildeo parece

cheia de dificuldades Segundo Kiefer (2009 p 179) ―os tratamentos loacutegicos da modalidade

6 Este exemplo foi adaptado de Lyons (1977 p 165) O exemplo original eacute ―John is a bachelor

27

satildeo restritos agraves propriedades das proposiccedilotildees e excluem todos os traccedilos natildeo-proposicionais

das sentenccedilas7

Estas ideias jaacute tinham surgido mesmo que de forma incipiente nos Primeiros

Analiacuteticos em que Aristoacuteteles anuncia ―Temos que dizer primeiro que se quando A eacute eacute

necessaacuterio que B seja entatildeo se A eacute possiacutevel eacute tambeacutem necessaacuterio que B seja possiacutevel (citado

por MACHADO CUNHA 2005 p 76) O tema continuou a ser desenvolvido em outros

acircmbitos sobretudo na linguiacutestica da qual passo a tratar agora

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema

As loacutegicas modais e a linguiacutestica utilizam os mesmos termos para tratar da

modalidade Entretanto a loacutegica a divide em objetiva e subjetiva e se ocupa

fundamentalmente do caraacuteter objetivo da modalidade Jaacute na tradiccedilatildeo linguiacutestica a leitura

subjetiva da modalidade parece ser a preferencial ou melhor dito a modalidade na linguagem

eacute essencialmente subjetiva uma vez que estaacute relacionada com as atitudes dos falantes8

De fato um dos primeiros estudos linguiacutesticos sobre a modalidade o de Jespersen em

1924 nos oferece a definiccedilatildeo ―expressar certas atitudes da mente do falante em relaccedilatildeo ao

conteuacutedo das sentenccedilas9 e aponta para uma diferenciaccedilatildeo de categorias modais dividindo-as

a partir da presenccedila ou ausecircncia de ―um elemento volitivo10

A primeira corresponderia ao

obrigativo jussivo e permissivo a uacuteltima ao necessitativo potencial hipoteacutetico dubitativo

Haacute no entanto aleacutem da abordagem relacionada agrave subjetividade agrave qual esta tese vai se

alinhar outras abordagens para o estudo da modalidade (a) uma mais formal sob a

perspectiva de uma semacircntica de mundos possiacuteveis e (b) outra que propotildee a distinccedilatildeo entre

realis e irrealis

Nas seccedilotildees seguintes apresento estas trecircs teorias semacircnticas que definem de diferentes

perspectivas o fenocircmeno da modalidade

7 No original ―Logical treatments of modality are restricted to properties of propositions and exclude all

nonpropositional features of sentences (KIEFER 2009 p 179) 8 Esta formulaccedilatildeo vai ser problematizada logo agrave frente

9 ―express[ing] certain attitudes of the mind of the speaker towards the content of the sentences (JESPERSEN

1924 p 313) 10

―element of will (JESPERSEN 19241992 p 320-1)

28

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis

De uma forma ou de outra observamos que as definiccedilotildees propostas por linguistas

sobre a modalidade estatildeo comprometidas com o valor de verdade de um determinado

conteuacutedo proposicional ou tambeacutem satildeo analisadas sob a perspectiva de uma semacircntica de

mundos possiacuteveis (KRATZER 1981)

Esta noccedilatildeo foi introduzida na filosofia loacutegica na deacutecada de 1960 por Hintikka (1962) e

Kripke (1963) com raiacutezes em Leibniz para quem as pessoas viviam em um mundo que eacute

apenas um entre infinitas possibilidades de mundos criados por Deus Para fins deste trabalho

natildeo ampliarei a discussatildeo da loacutegica modal e passo a apresentar a proposta de Kratzer em que

os mundos possiacuteveis servem a modelar determinadas relaccedilotildees semacircnticas entre expressotildees

linguiacutesticas Nas palavras de Rubinstein (2012 p 191) ―[hellip] os mundos possiacuteveis

representam todas as maneiras possiacuteveis de as coisas poderem ser (sem o compromisso de

estas possibilidades realmente existirem ou natildeo no mundo em que vivemos [hellip])11

Nesta perspectiva a modalidade seria ―o fenocircmeno linguiacutestico por meio do qual a

gramaacutetica permite que se diga coisas sobre ou na base de situaccedilotildees que natildeo necessitam ser

reais (PORTNER 2009 p 1)12

Os modais seriam pistas linguiacutesticas que lanccedilariam luz aos

conjuntos contextualmente relevantes de mundos possiacuteveis

Duas das ideias centrais da abordagem de Kratzer (1981 1991 2012) tomada como

uma ―encarnaccedilatildeo influente13

da loacutegica modal satildeo (i) os modais relativos natildeo satildeo ambiacuteguos

a distinccedilatildeo do valor de um determinado iacutendice modal eacute dada pelo contexto ou pelo que ela

denomina background conversacional Os modais de possibilidade corresponderiam a

quantificadores existenciais e os de necessidade a quantificadores universais estas forccedilas

modais que incidem sobre a base satildeo definidas pelo item lexical e (ii) ordenamento de

mundos as expressotildees modais satildeo quantificaccedilotildees sobre mundos possiacuteveis no entanto estes

mundos possiacuteveis satildeo tomados como um conjunto ordenado (ou parcialmente ordenado) de

mundos Este conjunto eacute criado atraveacutes da interaccedilatildeo de dois backgrounds conversacionais

A base modal formalmente eacute uma funccedilatildeo de mundos possiacuteveis para um conjunto de

proposiccedilotildees que servem para diferenciar as leituras dos significados modais A cada situaccedilatildeo

de uso a base modal eacute o conjunto dos mundos compatiacuteveis com o conhecimento a crenccedila os

11

Traduccedilatildeo para ―[hellip] possible worlds represent all the possible ways things could be (without committing to

whether or not these possibilities actually exist alongside the one world we live in) [hellip] (RUBINSTEIN 2012

p 191) 12

No original ―the linguistic phenomenon whereby grammar allows one to say things about or on the basis of

situations which need not be real (PORTNER 2009 p 1) 13

―influential incarnation (von FINTEL 2006 p 3)

29

desejos do falante as regras aplicaacuteveis e podem variar de mundo para mundo de acordo com

a sua avaliaccedilatildeo

Para o segundo paracircmetro o subconjunto relevante de mundos possiacuteveis para qualquer

modal eacute identificado primeiro pela descoberta de todos os mundos nos quais todas as

proposiccedilotildees na base modal satildeo verdadeiras e em seguida eacute feita a hierarquizaccedilatildeo (ou o

escalonamento) destes mundos de acordo com o quatildeo proacuteximo estatildeo do ideal determinado

pela fonte de ordenaccedilatildeo Nas palavras de Hara (2006 p 9) a fonte de ordenaccedilatildeo ―forccedila uma

ordenaccedilatildeo particular entre os mundos epistecircmicos da base modal em termos de sua

acessibilidade14

Para von Fintel (2006 p 1) disciacutepulo de Kratzer a modalidade eacute a categoria de

significado linguiacutestico que tem a ver com a expressatildeo de possibilidade e necessidade Uma

sentenccedila modalizada estabelece uma proposiccedilatildeo subjacente e prejacente (anaacutelise no niacutevel

proposicional) no espaccedilo das possibilidades Por exemplo

(24) Sandy might be home

Sandy pode estar em casa

diz que haacute uma possibilidade de Sandy estar em casa

(25) Sandy must be home

Sandy deve estar em casa

diz que entre todas as possibilidades Sandy estaacute em casa

von Fintel (2006) argumenta que a modalidade assim como a temporalidade estaacute no

centro da propriedade de deslocamento que permite agrave linguagem falar de coisas para aleacutem do

aqui-agora Aleacutem desta capacidade de projeccedilatildeo (prospectiva ou retrospectiva) Fintel aponta

para os diferentes tipos de significados dos itens modais15

e nos fornece exemplos com a

forma verbal to have tolsquo apresentados abaixo

(26) It has to be raining

Tem que estar chovendo

[depois de observar pessoas entrando com sombrinhas modalidade epistecircmica]

14

No original ―[The ordering source] forces a particular ordering among epistemic worlds of the modal base in

terms of their accessibility (HARA 2006 p 9) 15

No caso da liacutengua portuguesa comportam mais de um sentido os verbos poderlsquo deverlsquo e ter quelsquo que

carregam tanto o valor epistecircmico quanto o raizdeocircntico e dinacircmico Mais adiante discuto este ponto

30

(27) Visitors have to leave by six pm

Os visitantes tecircm que sair por volta de seis da tarde

[regulamento de hospital deocircntico]

(28) You have to go to bed in ten minutes

Vocecirc tem que ir pra cama em dez minutos

[um pai severo bulomaica ou buleacutetica]

(29) I have to sneeze

Tenho que espirrar

[dado o estado atual do nariz de algueacutem circunstancial]

(210) To get home in time you have to take a taxi

Para chegar em casa no horaacuterio Vocecirc tem que pegar um taacutexi

[modalidade teleoloacutegica]

Os exemplos entre (26) e (210) poderiam ser tomados como ocorrecircncias do tipo

deocircntico No entanto guardam entre si diferenccedilas sutis Em (27) o tipo buleacutetico ou

bulomaico indica a vontade ou intenccedilatildeo do falante O valor circunstancial em (28) expressa o

que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com determinadas circunstacircncias A modalidade

teleoloacutegica eacute orientada para um alvo isto eacute eacute o domiacutenio do necessaacuterio e do possiacutevel com a

finalidade de alcanccedilar um determinado objetivo (von FINTEL IATRIDOU 2005

HACQUARD 2006) no caso em (29) o objetivo seria ―chegar em casa no horaacuterio

Introduzi aqui algumas das ideias principais acerca da abordagem formal da

modalidade desenvolvida desde a deacutecada de 1960 e cuja contribuiccedilatildeo de Kratzer eacute

fundamental como o fato de as expressotildees modais serem usadas para descrever maneiras

alternativas de como pode ser o mundo e incidirem sobre um argumento proposicional

conhecido por ―prejacente Satildeo quantificadores sobre mundos possiacuteveis e esta quantificaccedilatildeo

em qualquer mundo avaliativo estaacute contextualmente localizada e eacute determinada por relaccedilotildees

de acessibilidade Foram apresentados tambeacutem os dois paracircmetros principais desta

abordagem quais sejam a base modal (epistecircmica deocircntica bulomaica circunstancial

teleoloacutegica) a ordenaccedilatildeo de mundos e a fonte de ordenaccedilatildeo definidos em um background

conversacional e a partir da interaccedilatildeo entre eles

31

222 Realis x Irrealis

Como dito haacute na literatura sobre modalidade abordagens que privilegiam em suas

anaacutelises uma divisatildeo binaacuteria entre modal e natildeo-modal e relacionam essa distinccedilatildeo ao

contraste factual natildeo-factual ou realis irrealis (CHUNG TIMBERLAKE 1985 GIVOacuteN

1995 KIEFER 1994 MITHUN 1999) Para Mithun (1999 p 173) ―o realis retrata

situaccedilotildees como presentes ou tendo ocorrido ou atualmente ocorrendo reconheciacuteveis por

percepccedilatildeo direta O irrealis retrata situaccedilotildees como puramente dentro domiacutenio do pensamento

reconheciacutevel apenas atraveacutes da imaginaccedilatildeo16

Em outras palavras esta distinccedilatildeo separa o

mundo entre situaccedilotildees ou eventos reais ou irreais

Ferdinand de Haan (2005 p 41-45) argumenta que a distinccedilatildeo realis-irrealis talvez

natildeo seja suficiente para dar conta de uma tipologia da modalidade e uma definiccedilatildeo

interlinguiacutestica desta categoria uma vez que o termo irrealis eacute vago e pode se referir a

diferentes circunstacircncias aleacutem de o conteuacutedo semacircntico de morfemas irrealis variar de liacutengua

para liacutengua mesmo as liacutenguas intimamente relacionadas

A categoria de futuro eacute apresentada por de Haan como uma que pode ilustrar esta

inconsistecircncia apesar de ser uma categoria que pode ser tomada como prototipicamente

irrealis jaacute que indica eventos que ainda natildeo ocorreram e portanto satildeo irreais Nas liacutenguas

Amele e Muyuw (ambas liacutenguas da Papua Nova Guineacute mas de famiacutelias diferentes) o futuro eacute

uma categoria irrealis mas natildeo eacute o caso da liacutengua Caddo (CHAFE 1995 p 358)

exemplificada abaixo

(211) ciacuteiacutebaacutew-a ci-yi=bahw- a

1SGAGREAL-see-FUT

Irei olhaacute-lolsquo

No exemplo em (211) o morfema de futuro - a natildeo ocorre com o prefixo de

irrealis tlsquoa-tlsquoi- mas com o prefixo de realis ci-

Mithun (1995 p 378ndash80) pontua que haacute liacutenguas como o Pomo Central falado na

Califoacuternia em que o futuro pode ser usado tanto como realis ou irrealis a depender do

julgamento do falante sobre a probabilidade de um evento realmente acontecer

16

No original ―the realis portrays situations as actualized as having occurred or actually occurring knowable

through direct perception The irrealis portrays situations as purely within the realm of thought knowable only

through imagination (MITHUN 1999 p 173)

32

Givoacuten (1995) trata esta distinccedilatildeo a partir da afirmaccedilatildeo de que a modalidade eacute um

domiacutenio funcional complexo que abarca subdomiacutenios semacircnticos e pragmaacuteticos difiacuteceis de

serem separados uma vez que agrupam construccedilotildees que servem tanto a construccedilotildees

primariamente semacircnticas quanto primariamente pragmaacuteticas Seu objetivo eacute delinear alguns

princiacutepios coerentes pelos quais se pode predizer uma variaccedilatildeo de ambientes gramaticais em

que o modo subjuntivo provavelmente se gramaticaliza e podem representar um subconjunto

de irrealis O irrealis eacute tomado como uma categoria comunicativo-cognitiva (funcional) e

tipoloacutegica-gramatical (formal)

Abaixo um quadro que representa a modalidade epistecircmica na tradiccedilatildeo loacutegica e seu

equivalente comunicativo

tradiccedilatildeo loacutegica equivalente comunicativo

a verdade necessaacuteria pressuposiccedilatildeo

b verdade factual asserccedilatildeo realis

c verdade possiacutevel asserccedilatildeo irrealis

d natildeo-verdade asserccedilatildeo-NEG

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional

A tradiccedilatildeo loacutegica trata a modalidade desconectada de seu contexto comunicativo

natural Nas palavras de Givoacuten (1995 p 114) ―a interpretaccedilatildeo comunicativo-pragmaacutetica das

quatro modalidades [] as reelenca em termos dos estados epistecircmicos e objetivos

comunicativos dos dois participantes na negociaccedilatildeo comunicativa mdash falante e ouvinte17

A

redefiniccedilatildeo comunicativa da modalidade epistecircmica fica assim estabelecida

(a) pressuposiccedilatildeo assume-se uma pressuposiccedilatildeo como verdadeira por definiccedilatildeo por

acordo a priori por convenccedilatildeo geneacuterica culturalmente compartilhada por ser

oacutebvio para todos presentes numa situaccedilatildeo de fala ou por ter sido enunciada pelo

falante e natildeo contestada pelo ouvinte

17

Traduccedilatildeo minha para ―the communicative-pragmatic interpretation of the four modalities [hellip] recasts them

in terms of the epistemic states and communicative goals of the two participants of the communicative

transaction mdash speaker and hearer (GIVOacuteN 1995 p 114)

33

(b) asserccedilatildeo realis a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como verdadeira mas a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute considerada apropriada apesar de o falante ter evidecircncia

ou outras bases para defender sua firme crenccedila

(c) asserccedilatildeo irrealis a proposiccedilatildeo eacute fracamente afirmada por ser tanto possiacutevel

provaacutevel ou incerta (submodos epistecircmicos) ou necessaacuteria desejada ou indesejada

(submodos avaliativo-deocircntico) Mas o falante natildeo estaacute pronto para confirmar a

afirmaccedilatildeo com evidecircncia ou outras bases a contestaccedilatildeo do ouvinte eacute prontamente

considerada esperada ou ateacute mesmo solicitada

(d) asserccedilatildeo-NEG a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como falsa mais

comumente em contradiccedilatildeo agraves crenccedilas expliacutecitas ou assumidas do ouvinte a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute antecipada e o falante tem evidecircncia ou outras bases para

confirmar sua firme crenccedila

Mudar o foco das noccedilotildees de realis e irrealis para uma oacutetica cognitiva e comunicativa

implica cognitivamente deslocar de questotildees de verdade loacutegica para questotildees de certeza

subjetiva e comunicativamente deslocar do sentido (semacircntico) da orientaccedilatildeo pelo falante

para o sentido (pragmaacutetico) interativo socialmente negociado envolvendo tanto o falante

quanto o ouvinte

Independentemente da perspectiva que eacute tomada esta distinccedilatildeo parece difiacutecil tomar a

oposiccedilatildeo realis x irrealis e especificamente o irrealis como uma noccedilatildeo para a definiccedilatildeo de

modalidade ainda que em algumas liacutenguas esteja gramaticalmente marcada e que na literatura

sobre crioulos e pidgins esta seja a forma padratildeo para descrever as distinccedilotildees modais (de

HAAN 2005 p 45)

Passo portanto para a terceira abordagem sobre o fenocircmeno a modalidade como uma

categoria relacionada agrave subjetividade

223 Subjetividade

Lyons (1977 p 797-ss) em sua tentativa de siacutentese sobre a modalidade que guia

muitos outros autores em termos de relacionar a categoria com a expressatildeo da atitude de um

falante anuncia ao tratar dos adveacuterbios modais que a modalidade representa ―a opiniatildeo ou a

atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo que a sentenccedila expressa ou a situaccedilatildeo que a

34

proposiccedilatildeo descreve (LYONS 1977 p 452)18

Kiefer (1994 p 2516) se alinha a ele e

afirma que a modalidade eacute ―a atitude volitiva emotiva e cognitiva do falante em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas19

e tambeacutem Nitta (2000 p 81) que define o fenocircmeno ―como a expressatildeo

do ponto de vista do falante sobre os conteuacutedos da sentenccedila e a atitude comunicativa do

falante20

Palmer (1986) igualmente sugere uma definiccedilatildeo para modalidade baseada na

subjetividade ―Modalidade na linguagem estaacute [] relacionada agraves caracteriacutesticas subjetivas de

um enunciado [] [e] poderia ser definida como a gramaticalizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees

(subjetivas) de um falantersquo21

(PALMER 1986 p 16 grifos meus) O autor toma a

modalidade desde uma perspectiva tipoloacutegica e a divide em dois tipos proposicional e de

evento

A primeira eacute definida como o julgamento pelo falante do valor de verdade ou estatuto

factual de uma proposiccedilatildeo e eacute subdividida em epistecircmica e evidencial A epistecircmica expressa

o julgamento sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo e pode ser especulativa (expressa

incerteza) dedutiva (indica uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia observaacutevel) assumptiva

(indica inferecircncia a partir do que eacute geralmente conhecido) evidencial (os falantes indicam a

evidecircncia que tecircm sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo) reportada e sensoacuteria O segundo

tipo eacute a atitude do falante em relaccedilatildeo a um potencial evento futuro que ainda natildeo ocorreu Eacute

tambeacutem subdividida em deocircntica relacionada agrave obrigaccedilatildeo ou agrave permissatildeo e dinacircmica

relativa agrave habilidade ou voliccedilatildeo

Na mesma clave Bybee Perkins e Pagliuca (1994 p 178 grifo meu) conceituam a

modalidade como a ―gramatizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees (subjetivas) do falante22

e

propotildeem uma divisatildeo de modalidade em quatro tipos epistecircmica orientada-para-o-agente

(ie deocircntica) orientada-para-o-falante e subordinada23

Elas sublinham a importacircncia do

estudo diacrocircnico do desenvolvimento de elementos modais a fim de compreender a variaccedilatildeo

dos significados modais em uma liacutengua

18

No original ―the speakerlsquos opinion or attitude towards the preposition that the sentence expresses or the

situation that the proposition describes (LYONS 1977 p 452) 19

Traduccedilatildeo minha para ―the speakerlsquos cognitive emotive or volitive attitude towards a state of affairs

(KIEFER 1994 p 2516) 20

Traduccedilatildeo de ―as expressing the speakerlsquos point of view on the sentence contentes and the speakerlsquos

coomunicative atitude (NITTA 2000 p 81) 21

―Modality in language is [hellip] concerned with subjective characteristics of an utterance [hellip] [and] could be

defined as the grammaticalization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (PALMER 1986 p 16) 22

Traduccedilatildeo minha para ―grammaticization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (BYBEE et al

1994 p 178) 23

Esta tipologia seraacute apresentada na seccedilatildeo 231

35

A dimensatildeo subjetiva da modalidade eacute tratada de diferentes formas na literatura sobre

a modalidade epistecircmica A oposiccedilatildeo entre o traccedilo objetivo e subjetivo da modalidade eacute

apresentada em Lyons (1977) que define que a modalidade epistecircmica objetiva expressa a

chance objetivamente mensuraacutevel de que um estado de coisas seja verdade ou natildeo e por sua

vez um enunciado epistecircmico subjetivo indica uma suposiccedilatildeo subjetiva em relaccedilatildeo agrave sua

verdade A definiccedilatildeo de Lyons de subjetividade x objetividade recai sobre diferenccedilas na

qualidade da evidecircncia que leva ao julgamento (NUYTS 2005 p 14) Lyons (1977 p 797)

toma em consideraccedilatildeo os seguintes exemplos em (212) e (213)

(212) Alfred may be unmarried

Alfred pode ser descasado

Em uma interpretaccedilatildeo subjetiva do exemplo em (212) o falante baseado em suas

proacuteprias suposiccedilotildees subjetivamente se compromete com a possibilidade de Alfred ser

descasado Em uma leitura objetiva o falante tem a informaccedilatildeo por exemplo do nuacutemero de

pessoas casadas em uma determinada comunidade e baseado neste fato constroacutei a

possibilidade de Alfred ser descasado

(213) Alfred must be unmarried

Alfred deve ser descasado

Em (213) uma leitura subjetiva da ocorrecircncia seria mais natural segundo Lyons uma

vez que o falante subjetivamente qualifica seu comprometimento com a factualidade da

proposiccedilatildeo Jaacute uma interpretaccedilatildeo objetiva nasceria por exemplo se se considerasse a

porcentagem de pessoas descasadas numa determinada comunidade e que fosse identificado o

estado civil de todas estas pessoas solteiras exceto o de Alfred O falante portanto se

compromete com a informaccedilatildeo dada ao seu interlocutor e que a proposiccedilatildeo Alfred deve ser

descasado eacute de certa maneira verdadeira

Segundo Nuyts (2001) alguns autores consideram estas caracteriacutesticas como

diferentes significados da modalidade (epistecircmico para a subjetividade e deocircntico para a

objetividade cf HENGEVELD 1988) e outros problematizam o tema como Coates (1983)

que reivindica que tanto o valor epistecircmico quanto o valor deocircntico podem ter usos subjetivos

e objetivos

36

Narrog (2005 p 169-170) aponta que haacute dois problemas relacionados a esta questatildeo

O primeiro seria a dificuldade em definir o que eacute ―subjetivo ou ―a atitude do falante porque

ambos os conceitos levam uma carga de vaguidade O segundo ponto seria definir a fronteira

entre a ―subjetividade e a ―objetividade Na verdade Narrog argumenta que natildeo eacute possiacutevel

alcanccedilar um limite para o que eacute subjetivo ou objetivo uma vez que a subjetividade de um

falante pode estar expressa em diferentes elementos de uma sentenccedila seja na escolha do

vocabulaacuterio na perspectiva adotada para conceptualizar a situaccedilatildeo etc

Pelo vieacutes cognitivista do fenocircmeno tambeacutem eacute considerada a dimensatildeo subjetiva da

modalidade Mortelmans (2007 p 869-870) concorda que a noccedilatildeo de modalidade estaacute longe

de ser definida de forma mais ou menos unificada e destaca que os trabalhos na moldura

cognitiva focam em sua maioria os verbos modais mas haacute publicaccedilotildees que contemplam

outras expressotildees de modalidade como os adveacuterbios adjetivos modais e predicados mentais

(NUYTS 1994 2001 2002) os verbos semi-auxiliares (CORNILLIE 2007) e os

marcadores evidenciais (MATLOCK 1989 LEE 1993)

A ideia de forccedila como pontua Mortelmans tem papel fundamental na forma como a

modalidade eacute conceptualizada pelos cognitivistas A Hipoacutetese da Dinacircmica de Forccedilas de

Talmy (1988 2000) se caracteriza como um esquema imageacutetico baacutesico de causa como

imposiccedilatildeo de forccedila e suspensatildeo de barreiras Expressa ―como as entidades interagem no que

diz respeito agrave forccedila Incluiacutedo aqui estaacute a imposiccedilatildeo da forccedila resistecircncia a tal forccedila barreira agrave

expressatildeo de tal forccedila a superaccedilatildeo de tal resistecircncia a suspensatildeo de tal barreira e coisas do

gecircnero (TALMY 1988 p 49)24

Este modelo eacute uma generalizaccedilatildeo da noccedilatildeo de causaccedilatildeo em que processos satildeo

conceptualizados como resultado de uma interaccedilatildeo de forccedilas e relaccedilotildees causais agindo de

diversas maneiras sobre os participantes de um evento (cf CROFT CRUSE 2004 p 66)

Talmy (1988 2000) importa da fisiologia a terminologia que emprega a entidade de forccedila

focal eacute chamada Agonista e o elemento de forccedila oposto a ela eacute o Antagonista Tento ilustrar

este ponto com uma ocorrecircncia em nossa amostra25

(214) MAI [47] aiacute ele jogou [1] jogou a capaE1 ea estraccedilalhou toda a capaE2

a o tamanho do dente (bfammn01)

24

Traduccedilatildeo para ―how entities interact with respect to force Included here is the exertion of force resistance to

such a force the overcoming of such a resistance blockage of the expression of force removal of such blockage

and the like (TALMY 1988 p 49) 25

A notaccedilatildeo utilizada nestes exemplos seraacute explicitada na Parte II deste trabalho quando introduzo os

pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato No entanto adianto aqui que uma barra simples (―) corresponde a

uma quebra no enunciado percebida como natildeo-terminal e uma barra dupla (―) como uma quebra percebida

como terminal

37

O exemplo em (214) traz dois tipos de eventos causativos o Evento 1 (E1) ―ele jogou

[1] jogou a capa e o Evento 2 (E2) ―ea estraccedilalhou toda a capa Em E1 o Antagonista

(aquele que aplica a forccedila o causador ―ele) exerce uma forccedila sobre o Agonista (aquele em

que a forccedila eacute aplicada o causado ―a capa) que realiza um movimento A situaccedilatildeo em E2 eacute

diferente o Antagonista (―ea = a cobra) impotildee uma forccedila que impede o movimento do

causado ―a capa que resulta na sua destruiccedilatildeo

Dentre os trabalhos nessa linha sobressai-se o de Sweetser (1990) que argumenta que

haacute uma tendecircncia a usar um vocabulaacuterio de um domiacutenio externo (sociofiacutesico) para um

domiacutenio interno (emocional e psicoloacutegico) Diacronicamente o sistema metafoacuterico guia

numerosas mudanccedilas semacircnticas Sincronicamente eacute representado por vaacuterias palavras

polissecircmicas e extensotildees abstratas de sentido do vocabulaacuterio do mundo fiacutesico

A modalidade assim eacute uma categoria que estaacute em ambiguidade sincrocircnica entre

mundo externo e mundo interno quer dizer haacute uma ambiguidade de expressotildees modais entre

sentidos raiz26

ou deocircnticos e sentidos epistecircmicos

Os significados que denotam obrigaccedilatildeo permissatildeo ou habilidade a autora denomina-

os ―raiz Como exemplo temos

(215) John must be home by ten Mother wonlsquot let him stay out any later

John tem que estar em casa agraves dez a Matildee natildeo deixaraacute que ele fique fora ateacute

mais tarde

Epistecircmicos satildeo os significados que denotam necessidade probabilidade ou

possibilidade Como atestado abaixo

(216) John must be home already I see his coat

John jaacute deve estar em casa estou vendo seu casaco

A proposta portanto eacute de que significados ―raiz satildeo extensiacuteveis ao domiacutenio

epistecircmico justamente porque usamos geralmente a linguagem do mundo externo para

aplicar ao mundo mental interno o qual eacute metaforicamente estruturado como paralelo agravequele

mundo externo Sweetser argumenta que os verbos modais natildeo tecircm sentidos separados natildeo-

26

Sweetser prefere usar o termo raiz Natildeo soacute porque eacute um termo mais amplo mas tambeacutem porque como

veremos a seguir ela argumenta que a modalidade epistecircmica estaacute ―enraizada na modalidade sociofiacutesica

Segundo ela o termo deocircntico pode ser tomado algumas vezes meramente como uma obrigaccedilatildeo social ou

moral

38

relacionados mas sim mostram uma extensatildeo do sentido-raiz para o domiacutenio epistecircmico mdash

uma extensatildeo fortemente motivada pelo sistema linguiacutestico circundante

A autora considera que um dos obstaacuteculos para a evoluccedilatildeo de uma compreensatildeo

unificada de modalidade (que jaacute sabemos ser um conceito controverso) decorre do fato de que

anaacutelises semacircnticas da modalidade raiz natildeo foram sistematicamente relacionadas agrave

necessidade e agrave probabilidade loacutegicas

O objetivo de Sweetser eacute demonstrar que uma anaacutelise em termos de dinacircmica de

forccedilas para os modais raiz eacute possiacutevel e extensiacutevel ao domiacutenio epistecircmico A anaacutelise da

linguista avanccedila em relaccedilatildeo ao modelo de Talmy (1981 1988) no sentindo de considerar que

a modalidade se refere a forccedilas e barreiras intencionais e diretas Tomando como exemplo o

modal may temos que no domiacutenio sociofiacutesico o verbo representa em termos de dinacircmica de

forccedilas uma ausecircncia de barreira potencial e encontra no domiacutenio epistecircmico um sentido

correspondente quer dizer uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir

das premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo

Ex permissatildeo (may let allow) instacircncia de retirar uma barreira potencialmente

presente

(217) The crack in the stone let the water flow through (barreira fiacutesica)

A fenda na pedra deixou a aacutegua escorrer

(218) I begged Mary to let me have another cookie (barreira ―social)

Implorei agrave Maria para me deixar comer outro cookie

Gonzalveacutez-Garcia (2000) sob uma perspectiva discursiva ou seja uma perspectiva

mais dinacircmica (e sistemaacutetica) que pressupotildee a ―relaccedilatildeo entre modalidade o contexto de

enunciaccedilatildeo e a funccedilatildeo interpessoal da polidez [nos termos de Brown e Levinson 1987]27

(GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127) propotildee que a modalidade seja caracterizada como

expressatildeo do envolvimento do falante com o conteuacutedo proposicional de um dado enunciado

(agecircncia ou subjetividade) e que pode ser tomada como ramificadora atraveacutes de toda a

arquitetura leacutexico-gramatical da linguagem

O autor argumenta que muitos dos significados normalmente atribuiacutedos a verbos

modais individuais satildeo na verdade derivados tanto do ambiente sentencial do verbo quanto

27

No original ―[hellip] relationship between modality the context of utterance and the interpersonal function of

politeness (GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127)

39

de algum contexto de enunciaccedilatildeo mais amplo Assim o significado modal pode ser tomado

como emergente da interaccedilatildeo de duas camadas de significado estreitamente conectadas uma

abarcando o significado linguiacutestico do verbo modal herdado em conjunto com outros itens

modais vizinhos e outra que diz respeito aos princiacutepios ligados a polidez e estrateacutegias de

proteccedilatildeo de face

Para ilustrar seu ponto o autor lanccedila matildeo de exemplos com ―might selecionados do

International Corpus of English (ICE-GB) e de um excerto do ―Four Weddings and a

Funeral (―Quatro casamentos e um funeral no tiacutetulo brasileiro) Abaixo transcrevo o

primeiro exemplo apresentado pelo autor e sua respectiva anaacutelise (GONZALVEacuteS-GARCIA

2000 p128-129)

(219) ―Maybe I might miss something out because we are all human and Ilsquove

overlooked it and youlsquove remembered it (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Talvez eu pudesse deixar escapar algo porque somos todos humanos e eu o

tenha esquecido e vocecirc se lembrado (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Gonzalveacutes-Garcia considera este uso do modal ―might (―pudesse) como

―possibilidade remota com a leitura reforccedilada pelo adveacuterbio epistecircmico ―maybe (―talvez)

Entretanto outras formas linguiacutesticas (―are ―have overlooked e ―have remembered)

parecem indicar em contraste uma leitura mais factual do modal e aleacutem disso o uso da

forma ―might parece ser motivado pela necessidade do falante de salvar a sua face e

despertar a simpatia da audiecircncia

Em resumo o autor praticamente assume uma visatildeo pragmaacutetica da modalidade e este

estudo apresenta as fronteiras (tecircnues) entre semacircntica e pragmaacutetica

23 Tipos de significados modais

A tradiccedilatildeo loacutegica estabelece o estudo das modalidades aleacutetica epistecircmica e deocircntica

relacionadas respectivamente com as noccedilotildees de verdadefalsidade conhecimento e conduta

Seguindo a tradiccedilatildeo as noccedilotildees de necessidade possibilidade probabilidade e obrigaccedilatildeo satildeo

tomadas em consideraccedilatildeo para definiccedilatildeo dos significados modais

No entanto assim como natildeo haacute qualquer unanimidade na definiccedilatildeo da noccedilatildeo da

modalidade tambeacutem natildeo haacute entre os pesquisadores um consenso de quais categorias

poderiam estar englobadas sob o roacutetulo de ―modal Na literatura linguiacutestica tradicional sobre

a modalidade destacam-se trecircs valores semacircnticos o epistecircmico o deocircntico e o dinacircmico

40

mas muitos estudos organizam de formas distintas as dimensotildees relacionadas agrave categoria a

depender da perspectiva adotada para sua definiccedilatildeo Entre as diferentes abordagens manteacutem-

se a oposiccedilatildeo entre os significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos havendo uma maior

diferenciaccedilatildeo no que diz respeito aos uacuteltimos

Nas subseccedilotildees abaixo apresento primeiramente as visotildees natildeo-tradicionais da

tipologia dos iacutendices modais e em seguida a classificaccedilatildeo tradicional sendo que nesta

uacuteltima destaco as modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica que tomo como ponto de

partida para a descriccedilatildeo e anaacutelises que seratildeo empreendidas no escopo deste trabalho

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas

Uma das classificaccedilotildees mais conhecidas na tipologizaccedilatildeo dos modais eacute a de Bybee e

colaboradoras (BYBEE 1985 BYBEE et al 1994 BYBEE FLEISCHMAN 1995) O

objetivo do trabalho de Bybee e colegas (1985 1994) eacute propor caminhos para o

desenvolvimento das noccedilotildees de modo e modalidade buscando determinar como e por que

determinados significados gramaticais surgem neste domiacutenio As autoras distinguem quatro

tipos de modalidade (i) modalidade orientada-para-o-agente (MOA) (ii) modalidade

orientada-para-o-falante (MOF) (iii) modalidade epistecircmica (ME) e (iv) modalidade

subordinada

A modalidade orientada-para-o-agente ―compreende todos os significados modais que

indicam a existecircncia de condiccedilotildees sobre um agente com relaccedilatildeo agrave conclusatildeo de uma accedilatildeo

expressa no predicado principal por exemplo obrigaccedilatildeo desejo habilidade permissatildeo e

possibilidade raiz (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)28

As noccedilotildees semacircnticas especiacuteficas deste tipo satildeo

(a) obrigaccedilatildeo existecircncia de condiccedilotildees sociais externas que levam um agente a concluir

a accedilatildeo predicada expressa como uma obrigaccedilatildeo forte ou fraca Por exemplo

(220) All students must obtain the consent of the Dean of the faculty concerned

before entering for examination

Todos os estudantes devem obter o consentimento do Diretor da Faculdade

referida antes de entrar no exame

28

Traduccedilatildeo do original ―[]―encompasses all modal meanings that predicate conditions on an agent with regard

to the completion of an action referred to by the main predicate eg obligation desire ability permission and

root possibility (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

41

(221) I just insisted very firmly on calling her Miss Tillman but one should really

call her President

Insisti muito firmemente em chamaacute-la de Srta Tillman mas deve-se realmente

chamaacute-la de Presidente

Em (220) tem-se caracterizada uma obrigaccedilatildeo mais fraca Jaacute em (221) emos um

exemplo de obrigaccedilatildeo forte

(b) necessidade existecircncia de condiccedilotildees fiacutesicas que levam um agente a completar a

accedilatildeo predicada

(222) I need to hear a good loud alarm in the mornings to wake up

Eu preciso ouvir um despertador bem alto pelas manhatildes para acordar

(c) habilidade existecircncia de condiccedilotildees internas de habilidade no agente com relaccedilatildeo agrave

accedilatildeo predicada

(223) I can only type very slowly as I am a beginner

Como sou um iniciante eu soacute consigo digitar muito devagar

(d) desejo existecircncia de condiccedilotildees internas de voliccedilatildeo no agente com relaccedilatildeo agrave accedilatildeo

predicada

(224) Juan Ortiz called to them loudly in the Indian tongue bidding them come forth

if they would (= wanted to) save their lives

Juan Ortiz chamou-os bem alto na liacutengua indiana ordenando-lhes que

voltassem se eles quisessem salvar suas vidas

A modalidade orientada-para-o-falante abrange ―marcadores de diretivos tais como

imperativos optativos e permissivos que representam atos de fala atraveacutes dos quais um

falante tenta provocar o endereccedilado a agir (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)29

Este tipo

natildeo indica a existecircncia de condiccedilotildees sobre o agente mas permite ao falante impor tais

condiccedilotildees sobre o interlocutor O quadro abaixo mostra em resumo os termos gramaticais

usados para a MOF e suas respectivas funccedilotildees

29

No original ―[m]arkers of directives such as imperatives optatives or permissives which represent speech

acts through which a speaker attempts to move an addressee to action (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

42

Termos gramaticais Funccedilatildeo

Imperativo Comando direto a uma segunda pessoa

Proibitivo Comando negativo

Optativo Desejo ou expectativa do falante expresso

na oraccedilatildeo principal

Hortativo (exortativo) O falante encoraja ou incita algueacutem a agir

Admoestativo O falante emite um aviso

Permissivo O falante concede permissatildeo

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees

Bybee et al (1994) consideram os modos acima elencados como parte da modalidade

deocircntica No entanto eacute possiacutevel questionar a validade deste tipo ser uma categoria modal se

se exclui o ―modo do domiacutenio da modalidade

As autoras ainda distinguem a categoria de modalidade subordinada que se trata de

estabelecer uma categoria formal para dar conta das modalidades em claacuteusulas subordinadas

Uma segunda tipologia considerada alternativa dentro dos estudos da modalidade eacute a

proposta por van der Auwera e Plungian (1998) A modalidade para os autores estaria

relacionada com domiacutenios semacircnticos em que possibilidade e necessidade satildeo as variantes

paradigmaacuteticas (van der AUWERA PLUNGIAN 1998 p 80) Satildeo considerados quatro

domiacutenios modalidade interna ao participante modalidade externa ao participante

A modalidade interna ao participante se refere ao tipo de possibilidade ou necessidade

interna a um participante engajado no estado de coisas Veja os exemplos

(225a) Boris can get by with sleeping five hours a night

Boris pode passar bem dormindo cinco horas por noite

(225b) Boris needs to sleep ten hours every night for him to function properly

Boris precisa dormir dez horas toda noite para funcionar adequadamente

O exemplo (225a) em termos de possibilidade mostra uma capacidadehabilidade do

participante Borislsquo e o exemplo em (225b) eacute um caso de uma necessidade interna do

participante

O segundo domiacutenio de contraste entre possibilidade e necessidade eacute a modalidade

externa ao participante que se refere a circunstacircncias externas ao participante engajado no

estado de coisas o que torna este estado de coisas possiacutevel ou necessaacuterio Como atestado nos

exemplos (226a) e (226b)

43

(226a) To get to the Station you can take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc pode pegar o ocircnibus 66

(226b) To get to the Station you have to take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc tem que pegar o ocircnibus 66

Em (226a) o ocircnibus 66 eacute uma entre outras possibilidades para se chegar agrave estaccedilatildeo e

em (226b) pegar o ocircnibus 66 constitui-se como uma necessidade externa jaacute que eacute o uacutenico

meio de transporte para se chegar agrave estaccedilatildeo

O terceiro domiacutenio eacute a modalidade deocircntica caracterizado como um subdomiacutenio da

modalidade externa ao participante Este tipo identifica as circunstacircncias favorecedoras

externas ao participante como uma pessoa(s) normalmente o falante eou alguma norma

social ou eacutetica que permite ou obriga o participante a se engajar no estado de coisas Em

(227a) temos um caso de possibilidade deocircntica uma pessoa ou norma permite e torna

possiacutevel a partida de John A necessidade deocircntica estaacute expressa em (227b) em que uma

autoridade ou uma norma impotildee a partida de Joatildeo como necessaacuteria e obrigatoacuteria

(227a) John may leave now

John pode partir agora

(227b) John must leave now

John deve partir agora

O quarto e uacuteltimo domiacutenio eacute a modalidade epistecircmica que se refere a um julgamento

de uma proposiccedilatildeo pelo falante que pode ser considerada incerta ou provaacutevel

(228a) John may have arrived

John pode ter chegado

(228b) John must have arrived

John deve ter chegado

(228a) ilustra uma possibilidade baseada em julgamentos anteriores o falante trata a

chegada de John como incerta Em (228b) o falante se refere agrave chegada de John como

provaacutevel Dado um conjunto de evidecircncias anteriores o falante eacute levado a crer que

necessariamente John chegou

44

Assim os autores a partir dos passos de gramaticalizaccedilatildeo de Bybee et al (1994)

desenvolveram um mapa semacircntico da representaccedilatildeo da modalidade Como mostra a Figura

22 abaixo

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111)

Neste mapa estatildeo representados trecircs domiacutenios da esquerda para a direita preacute-modal

modal e poacutes-modal Os domiacutenios preacute e poacutes-modais satildeo representados abstratamente e os

passos de gramaticalizaccedilatildeo satildeo representados por setas

Por fim a modalidade raiz abarca os significados natildeo-epistecircmicos em oposiccedilatildeo agrave

modalidade epistecircmica Como visto ela pode estar relacionada com o significado deocircntico

(TALMY 1988 SWEETSER 1990) e tambeacutem incluir parte do tipo dinacircmico (COATES

1983)

Como dito anteriormente levarei em conta neste trabalho uma classificaccedilatildeo

tradicional na literatura linguiacutestica considerando os tipos mais centrais desde o ponto de vista

do uso das liacutenguas naturais Utilizo os significados epistecircmico (relacionado ao conhecimento

e crenccedila) deocircntico (relacionado a obrigaccedilatildeo e permissatildeo) e dinacircmico (relacionado a

capacidade habilidade fiacutesica e voliccedilatildeo) Na proacutexima seccedilatildeo apresento alguns sentidos modais

numa visatildeo tradicional aleacutem de descrever mais detidamente as categorias baacutesicas aplicadas

nesta pesquisa nas seccedilotildees 2321 2322 e 2323

premodal

meanings going

to possibility

premodal

meanings going

to what is vague between

possibility and

necessity

premodal

meanings going to necessity

(one is future)

postmodal

meanings coming

from possibility

postmodal

meanings coming

from either possibility or

necessity

(one is future)

postmodal meanings coming

from necessity

participant-internal

possibility

deontic possibility

D

deontic necessity

D participant-external

possibility

participant-internal

possibility

participant-internal

necessity

epistemic

possibility

epistemic

necessity

45

232 A visatildeo tradicional

Em uma visatildeo tradicional encontra-se normalmente aleacutem das trecircs categorias baacutesicas ndash

epistecircmica deocircntica e dinacircmica ndash as categorias aleacutetica bulomaica (ou buleacutetica)

circunstancial e teleoloacutegica

A modalidade aleacutetica por definiccedilatildeo refere-se agrave verdade contingente possiacutevel ou

necessaacuteria de uma proposiccedilatildeo von Wright (1951) em seu ―Um ensaio em loacutegica modal

afirma que haacute quatro tipos de modos o aleacutetico o epistecircmico o deocircntico e o existencial Os

modos aleacuteticos satildeo os modos da verdade e a preocupaccedilatildeo central para as anaacutelises da loacutegica

modal De acordo com von Wright (1951 p 8) ―[a]s modalidades aleacuteticas satildeo ditas de dicto

quando satildeo sobre o modo ou forma na qual uma proposiccedilatildeo eacute ou natildeo eacute verdadeira As

modalidades satildeo usadas de dicto em frases como Eacute necessaacuterio quelsquo ou Eacute impossiacutevel

quelsquo etc30

Nas abordagens da semacircntica formal (LYONS 1977) o valor aleacutetico se diferencia do

valor epistecircmico uma vez que o uacuteltimo estaacute relacionado aos modos de conhecimento Esta

diferenccedila se aproxima daquela jaacute discutida anteriormente do caraacuteter objetivo e subjetivo da

modalidade epistecircmica

Segundo Palmer (1986 p 11) ―natildeo haacute qualquer distinccedilatildeo entre [hellip] o que eacute

logicamente verdadeiro e o que o falante acredita ser verdade efetivamente e ―natildeo haacute

qualquer distinccedilatildeo gramatical formal em inglecircs e talvez tambeacutem em qualquer outra liacutengua

entre a modalidade aleacutetica e a epistecircmica31

Vejamos o exemplo

(229) Uma refinaria representa investimento de muitos milhotildees Aleacutem do mais o

refino do petroacuteleo pode ser feito em qualquer lugar do paiacutes (CP

19OrBrIntrv Com)

Na ocorrecircncia em (229) coletada no Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA

2006) o falante afirma uma possibilidade fiacutesica ou natural compatiacutevel com o que estaacute

estabelecido em um determinado universo

30

Traduccedilatildeo minha para ―The alethic modalities are said to be de dicto when they are about the mode or way in

which a proposition is or is not true The modalities are used de dicto in phrases such as ―it is necessary that

―it is impossible that etc (von WRIGHT 1951 p 8) 31

No original ―there is no distinction between [hellip] what is logically true and what the speaker believes as a

matter of fact to be true and ―there is no formal grammatical distinction in English and perhaps in no other

language either between alethic and epistemic modality (PALMER 1986 p 11)

46

Entretanto alinho-me a Palmer no sentido de que compreendo que em um

determinado enunciado em que um conhecimento eacute apresentado como dado e natildeo

especulativo (o que seria em loacutegica modal reconhecido como uma verdade aleacutetica)

considero que seja um conhecimento epistecircmico ou ainda como uma possibilidade dinacircmica

Portanto a diferenccedila colocada entre verdade no mundo e verdade na mente de um

determinado indiviacuteduo perde o sentido Portner (2009 p 135) propotildee inclusive o termo

―modalidade factual para abarcar os tipos epistecircmico aleacutetico e metafiacutesico

Conforme Portner (2009 p 10) haacute uma dificuldade em se classificar precisamente o

uso aleacutetico de um modal e que este tipo pode ser considerado o mais baacutesico a partir do qual

outros podem ser definidos

A modalidade bulomaica indica o grau de aprovaccedilatildeo ou desaprovaccedilatildeo do falante (ou

outra pessoa) em relaccedilatildeo a um determinado estado de coisas Este tipo assim como o

epistecircmico e o deocircntico (que podem ser considerados mais fortes ou mais fracos) podem ser

analisados de forma escalar com polos positivo e negativo

O tipo circunstancial se refere ao que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com

determinadas circunstacircncias por exemplo

(230) Eacute possiacutevel instalar uma internet a raacutedio na zona rural de Viccedilosa

A sentenccedila em (230) expressa a informaccedilatildeo de que haacute as condiccedilotildees necessaacuterias que

viabilizam a instalaccedilatildeo de um serviccedilo de internet na zona rural de uma cidade natildeo importa se

a instalaccedilatildeo vai ocorrer ou natildeo

Segundo Mello et al (2009 p 119) alguns autores natildeo consideram este tipo de forma

autocircnoma concebendo-os como enunciados modalizados ou aleticamente ou dinamicamente

A modalidade teleoloacutegica expressa o que eacute necessaacuterio para se atingir um determinado

objetivo

(231) Para entrar no Ministeacuterio Puacuteblico tenho que estudar com disciplina

Em (231) em que o objetivo eacute ser funcionaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e para alcanccedilar

tal objetivo eacute necessaacuterio um estudo disciplinado

47

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades

Lyons (1977 p 797-800) afirma que as interpretaccedilotildees epistecircmicas de iacutendices modais

satildeo frequentemente mais subjetivas e que essas interpretaccedilotildees satildeo mais baacutesicas que as

objetivas Kiefer confirma este caraacuteter subjetivo da modalidade De acordo com ele ―[a]

modalidade epistecircmica subjetiva expressa diferentes graus de comprometimento com a

factualidade32

(KIEFER 2009 p 183) e completa dizendo que dessa forma se relaciona

com a categoria de evidencialidade33

Bybee et al (1994 p 179) propotildeem que a modalidade epistecircmica marca ―a extensatildeo

ateacute a qual o falante estaacute comprometido com a verdade da proposiccedilatildeo34

ou como define

Palmer (1986 p 51) o ―grau de comprometimento do falante com a verdade do que ele

diz35

No mesmo sentido van der Auwera e Plungian (1998) argumentam que uma

proposiccedilatildeo eacute avaliada como certa ou provaacutevel em relaccedilatildeo a um conjunto de julgamentos

Coates (1983 p 41) por sua vez sustenta que a modalidade epistecircmica sempre indica ―a

confianccedila (ou falta de confianccedila) do falante na verdade da proposiccedilatildeo expressa36

e dessa

forma varia entre o limite da confianccedila e da duacutevida

Nuyts (2001) nos oferece a seguinte definiccedilatildeo

A modalidade epistecircmica eacute [] uma avaliaccedilatildeo das chances que um certo estado-de-

coisas hipoteacutetico tomado em consideraccedilatildeo (ou algum aspecto dele) vai ocorrer estaacute

ocorrendo ou ocorreu em um mundo possiacutevel o qual funciona como o universo de

interpretaccedilatildeo para a avaliaccedilatildeo do processo e o qual no caso default eacute o mundo real

(ou antes a interpretaccedilatildeo do avaliador desse mundo []37

(NUYTS 2001 p 21)

A avaliaccedilatildeo nesse caso iria da absoluta certeza de que um estado-de-coisas eacute real agrave

absoluta certeza de que natildeo eacute real Entre os dois extremos estaria um continuum que inclui a

possibilidade e a probabilidade Como os exemplos extraiacutedos de nossa amostra indicam

32

No original ―Subjective epistemic modality thus expresses different degrees of commitment to factuality and

it thus relates to evidentiality (KIEFER 2009 p 183) 33

Trato da relaccedilatildeo semacircntica entre modalidade epistecircmica e evidencialidade mais adiante na seccedilatildeo 24 34

― the extent to which the speaker is committed to the truth of the proposition (BYBEE PERKINS

PAGLIUCA 1994 p 179) 35

―the degree of commitment by the speaker to the truth of what he says (PALMER 1986 p 51) 36

―[speakerlsquos] confidence (or lack of confidence) in the truth of the proposition expressed (COATES 1983 p

41) 37

―Epistemic modality is [hellip] an evaluation of the chances that a certain hypothetical state of affairs under

consideration (or some aspect of it) will occur is occurring or has occurred in a possible world which serves as

the universe of interpretation for the evaluation process and which in the default case is the real world (or

rather the evaluatorlsquos interpretation of it [hellip] (NUYTS 2001 p 21)

48

(232) [141] os cara que satildeo bem mais boleiros eles com ltcertezagt vatildeo saber

alguma coisa (bfamcv01)

(233) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar uaigt (bfamcv01)

(234) [198] minha matildee sem chance (bfammn04)

(235) LUA [95] ltegt assim se cecirc tivesse uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

talvez adiantasse um pouco assim ou pelo menos ajudasse a organizar neacute

(bpubmn01)

O exemplo em (232) representa a certeza que um estado-de-coisas vai ocorrer (―saber

alguma coisa) ao contraacuterio de (233) e (234) que apontam para a certeza de que natildeo vatildeo

ocorrer Jaacute em (235) temos um exemplo da nuance de possibilidade que Nuyts fala de um

estado-de-coisas ocorrer ou natildeo dadas determinadas circunstacircncias no caso a hipoacutetese de

―uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

Sweetser (1990) considera a modalidade epistecircmica como extensatildeo da modalidade

raiz A partir da anaacutelise da modalidade raiz em termos de forccedilas e barreiras sociofiacutesicas ela

explora a transferecircncia dessa visatildeo para a modalidade epistecircmica para atingir uma anaacutelise

unificada sobre modalidade

A autora se alinha a Palmer (1986) no sentido de argumentar que os verbos modais

em inglecircs nos seus sentidos epistecircmicos expressam o julgamento do falante Assim pretende

encontrar uma conexatildeo semacircntica motivada entre o domiacutenio epistecircmico de raciociacutenio e

julgamento e o domiacutenio da modalidade sociofiacutesica

Por exemplo se o may sociofiacutesico representa em termos de dinacircmica de forccedilas uma

ausecircncia de barreira potencial o may epistecircmico tem um sentido paralelo no domiacutenio do

raciociacutenio isto eacute haacute uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir das

premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo Segundo

Sweetser nossa experiecircncia sobre os domiacutenios fiacutesico social e do raciociacutenio compartilham

alguma estrutura que nos permite um mapeamento metafoacuterico bem sucedido entre os

aspectos relevantes dos trecircs domiacutenios

Os fatores pragmaacuteticos (como as pistas contextuais e a prosoacutedia) vatildeo influenciar para

o ouvinte (ou para o indiviacuteduo endereccedilado) compreender se um modal corresponde a um

domiacutenio ou outro Veja os exemplos com os verbos deverlsquo e poderlsquo no portuguecircs brasileiro

49

(236) dever epistecircmico

(236a) necessidade

RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(236b) probabilidade

o diacircmetro dea deve dar uns [1] uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de [1]

de amps [2] de grossura o diacircmetro dela (bfammn01)

(237) poder epistecircmico

(237a) possibilidade

BAL [229] entatildeo isso aqui a gente pode ltinventar de colocar em qualquer

lugargt =COM=$ (bfamdl02)

(237b) impossibilidade

MAI ele nũ [2] ele nũ [2] ele nũ ltpode nemgt falar plsquo ocecirc ltque eacute verdade

(bfammn01)

Em recente trabalho sobre o significado epistecircmico Boye (2012) propotildee igualmente

que a modalidade epistecircmica estaacute definida em termos da noccedilatildeo do grau de certeza do grau de

comprometimento o que ele vai chamar de ―apoio epistecircmico38

Esta categoria assim como

a de evidencialidade estaria subordinada a outra categoria descritiva a epistemicidade que

seria uma generalizaccedilatildeo das noccedilotildees de justificativa epistecircmica e apoio epistecircmico ao que os

filoacutesofos chamam de ―apoio justificativo39

Kaumlrkkaumlinen (2003) destaca que ainda que as definiccedilotildees propostas para a modalidade

epistecircmica faccedilam referecircncia agrave verdade da proposiccedilatildeo os types relacionados a ela satildeo de

possibilidade probabilidade e certeza (inferida)

No PB a modalidade epistecircmica pode ser expressa por elementos de natureza lexical

como verbos modais adveacuterbios modais verbos de atitude proposicional construccedilotildees

adjetivas expressotildees modais e de natureza gramatical como o futuro perifraacutestico e as

condicionais Encerro a seccedilatildeo com mais alguns exemplos de nossa amostra

(238) TER [21] ocirc Jael [22] mas gente velha jaacute prometeu o [1] os presente ltjaacute

podegt garantir que ganhou (bfamcv02)

38

―epistemic support (BOYE 2012 p 2) 39

―justificatory support (BOYE 2012 p 2-3)

50

(239) [171] natildeo trinta reais aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1] eu fico imaginando que elsquo

fica pensando assim Nossa Sio agraves vezes laacute em casa taacute precisando de fazer

uma compra e tudo neacute (bpubmn01)

(240) [72] quela [1] quela aula igual se daacute no EDUCONLE que cecirc acha que eacute ampo

[1] eacute tudo de bom neacute (bpubmn01)

(241) foi verdade ltmesmogt (bfammn01)

(242) PAU [153] porque eacute capaz dlsquoeu subir uma parede laacute (bpubdl01)

(243) [59] porque ateacute aiacute essas crianccedila ateacute dez anos o [1] o mundo que noacutes tamo

vivendos hoje com dez ano jaacute daacute pa ver que daacute trabalho (bfammn05)

(244) [44] es vatildeo pegar os caras que tipo tavam reclamando e tal es vatildeo pegar

[3] es vatildeo pegar tentar fazer um negoacutecio desse e eu aposto que cecirc vai ver

os caras que jaacute conhecem a gente haacute mais tempo tipo Joseacute [1] Zeacute Mourinho

falando assim natildeo o campeonato dlsquoocecircs eacute bem melhor (bfamcv01)

(245) BRU [268] lte se for uma palavra composta cecirc faz assimgt (bfamcv04)

Em (238) temos uma ocorrecircncia com o verbo modal ―poder com valor epistecircmico

que denota possibilidade (239) traz um exemplo com a locuccedilatildeo adverbial ―agraves vezes

normalmente utilizada no sentido temporal de ―em algumas ocasiotildees ou circunstacircncias mas

que na diatopia mineira toma o sentido modal de possibilidade sendo sinocircnima de ―talvez

A ocorrecircncia em (240) traz um verbo de atitude proposicional (ou ainda verbo epistecircmico ou

verbo de crenccedila) ―acha que indica o grau de certeza sobre o que estaacute enunciado As

construccedilotildees adjetivas estatildeo representadas nos exemplos (241) e (242) com as expressotildees

―foi verdade e ―eacute capaz No primeiro caso temos um sentido de certeza e no segundo de

possibilidade O uso modal do verbo ―dar exemplificado em (243) eacute ainda pouco

reconhecido na literatura (cf SALOMAtildeO 2008) no entanto eacute recorrente na fala em sentidos

possibilitativos Os marcadores de modalidade de caraacuteter gramatical estatildeo ilustrados em

(244) e (245) o primeiro exemplo traz uma seacuterie de usos de futuro perifraacutestico que indicam

o grau de certeza ou comprometimento em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo de um evento futuro no

segundo exemplo temos uma construccedilatildeo condicional na forma canocircnica ―se p entatildeo q em

que o conectivo ―se eacute o marcador modal

232 Modalidade deocircntica

Segundo a tradiccedilatildeo loacutegica o valor deocircntico diz respeito agraves noccedilotildees da obrigaccedilatildeo e da

permissatildeo Este valor estaacute ligado a princiacutepios morais ou legais e de conduta social

51

Lyons (1977 p 792-793) afirma que a mesma distinccedilatildeo aplicada agrave modalidade

epistecircmica entre leitura subjetiva e objetiva pode ser estendida agrave modalidade deocircntica como

exemplifica a partir da proposiccedilatildeo ―Alfred is a bachelor (―Alfred eacute celibataacuterio)

(246) Alfred is obliged to be unmarried

Alfred eacute obrigado a ser descasado

(247) ―I (hereby) oblige Alfred to be unmarried

ldquoEu obrigo Alfred ser descasadordquo

Em (246) teriacuteamos uma interpretaccedilatildeo deocircntica mais objetiva e em (232) uma mais

subjetiva Mais aleacutem no exemplo (247) temos um performativo Tento resgatar em nossa

amostra um exemplo que em minha opiniatildeo eacute ambiacuteguo no que diz respeito a uma leitura

subjetiva ou objetiva como coloca Lyons

(248) [132] po parar o carro hhh (bfamdl05)

Se levarmos em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia acima com o verbo modal ―poder

deocircntico em sua forma afereacutetica po‟lsquo desconectada de seu contexto de uso e da forma como

foi enunciada natildeo haveria duacutevida de que as seguintes interpretaccedilotildees seriam possiacuteveis

(248a) Eacute permitido parar o carro

(249b) Eu te permito parar o carro

No entanto natildeo eacute o caso quando a escutamos [ ] O contexto permite a interpretaccedilatildeo

de ―eacute o caso de ou ―eacute oportuno e percebemos uma ilocuccedilatildeo do tipo representativo do

subtipo ―conclusatildeo Natildeo estou colocando em duacutevida o caraacuteter deocircntico da ocorrecircncia mas

gostaria de pensar como (e se) a forccedila ilocucionaacuteria em sobreposiccedilatildeo agrave modalidade40

atenuaria ou reforccedilaria a ideia de permissatildeo

Kiefer (2009) argumenta que se deve fazer uma distinccedilatildeo entre o estabelecimento de

uma necessidade deocircntica ou de uma possibilidade deocircntica (entre proposiccedilotildees deocircnticas) e a

emissatildeo de uma ordem (impor uma obrigaccedilatildeo) ou dar permissatildeo As primeiras segundo ele

pertencem agrave semacircntica (e se proposicional satildeo descritas em termos de loacutegica formal) as

uacuteltimas satildeo parte da teoria dos atos de fala e devem assim ser tratadas na pragmaacutetica

40

Sobre a distinccedilatildeo entre modalidade e ilocuccedilatildeo ver seccedilatildeo 243

Other

15348568

52

A literatura identifica a modalidade deocircntica com os atos de fala diretivos (e com o

modo imperativo cf BYBEE et al 1994) uma vez que a obrigaccedilatildeo e permissatildeo derivariam

de uma fonte de autoridade As evidecircncias em corpora de fala espontacircnea com arquivos de

aacuteudio disponiacuteveis para checar os atos ilocucionaacuterios apontam para outro caminho Os

exemplos de Tucci (2007 p 62)41

do corpus de referecircncia do italiano problematizam a ideia

de comando nos usos de dovere e potere em enunciados assertivos que expressam

necessidade contingente em (250) impossibilidade condicionada em (251) e

esclarecimento de uma regra operativa em (252)

(250) LIA si doveva rigovernare COM

[ifamcv02]

(251) GAL un potevi falsquo cip COM

[ifamcv14]

(252) MAM ma te la devi fare a lei lte lei la fa a tegt COM

[ifamcv25]

Ou como atestado na amostra do corpus de fala espontacircnea do PB em que temos

diferentes classes de atos de fala a partir de Moneglia (2011 p 490)42

representativos

diretivos e expressivos

(253) dever gt necessidade obrigaccedilatildeo

(253a) LUI [213] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais

(bfamcv01)

ill asserccedilatildeo forte

(254) ter que gt necessidade obrigaccedilatildeo

(254a) [211] entatildeo tem que ser eu mesma (bfamcv02)

ill expressatildeo de obviedade

(255) poder

(255a) permissatildeo

[205] a porta taacute fechada mas cecirc pode abrir (bfamdl05)

ill autorizaccedilatildeo

41

Os exemplos em (250) (251) (252) correspondem respectivamente aos exemplos 20 21 e 22 de Tucci

(2007 p 62) transcritos aqui ipsis litteris 42

A tarefa de anotaccedilatildeo ilocucionaacuteria ainda estaacute por ser realizada no acircmbito do projeto C-ORAL-BRASIL Os

exemplos elencados foram anotados com a colaboraccedilatildeo do aluno de doutorado Bruno Rocha exclusivamente

para ilustrar nosso argumento

14186118

1358367

17600812

53

(255b) proibiccedilatildeo

BRU [177] cecirc nũ pode fazer ampa [1] nenhum som (bfamcv04)

ill ordem

(255c) restriccedilatildeo

[181] porque eu acho que no mesmo concurso cecirc nũ pode fazer duas

(bfamdl03)

ill asserccedilatildeo

No subcorpus analisado foram identificadas expressotildees de modalidade deocircntica com

os types poderlsquo (em grande nuacutemero com significado de permissatildeo) ter quelsquo (a ampla

maioria com significado de obrigaccedilatildeo) e deverlsquo (em nuacutemero reduzido)43

233 Modalidade dinacircmica

A modalidade dinacircmica de acordo com Palmer (1990) e Papafragou (2000) inclui

uma habilidade e a intenccedilatildeo (vontade) isto eacute a expressatildeo da capacidade do sujeito Salomatildeo

(1990) daacute os seguintes exemplos com o verbo poderlsquo

(256) Ele pode correr 4 km sem cansar (habilidade fiacutesica)

(257) Ele pode citar Virgiacutelio de cabeccedila (habilidade mental)

Os exemplos de Salomatildeo se sustentam dentro da definiccedilatildeo de Palmer e Papafragou no

entanto se realizada uma busca minuciosa em corpus dificilmente esses usos ocorreriam no

portuguecircs brasileiro ou mesmo na liacutengua falada Em uma busca no Corpus do Portuguecircs por

exemplo com a expressatildeo ―pode nadar encontrei apenas duas ocorrecircncias no portuguecircs

europeu

(258) A maioria dos caranguejos natildeo pode nadar podendo rastejar lentamente para a

frente e mais frequentemente movendo-se para o lado especialmente quando

rastejam a grande velocidade (CP 19Ac Pt Enc)

(259) Pode nadar mergulhar ou andar junto ao fundo usando a pressatildeo da aacutegua

sobre as asas e cauda para se manter em baixo enquanto procura larvas de

insectos e outros pequenos animais

43

Na anaacutelise dos verbos modais tratarei da substituiccedilatildeo do uso do deverlsquo deocircntico por ter quelsquo no PB

11493875

2977958

54

Os dois exemplos pertencem ao mesmo gecircnero verbete de enciclopeacutedia Pelo que foi

discutido anteriormente estas satildeo ocorrecircncias que ficam na fronteira entre a possibilidade

aleacutetica o conhecimento epistecircmico e a habilidade dinacircmica uma vez que o verbo modal

―poder carrega o sentido de um conhecimento estabelecido em um determinado universo

natildeo se constituindo como uma especulaccedilatildeo mas igualmente carrega o sentido da habilidade

dos seres em ―nadar (no caso tambeacutem ―rastejar ―mergulhar e ―andar junto ao fundo)

Ainda poderia colocar em discussatildeo o estatuto do verbo ―saber como um modal que

expressa conhecimento epistecircmico ou habilidade do sujeito em realizar uma determinada

atividade em contextos como em (260) e (261)

(260) Se a pessoa sabe fazer feijatildeo entatildeo ela deve ensinar isso porque tem muita

gente que natildeo sabe fazer feijatildeo

(261) Eacute um talento o homem Sabe falar e sabe escrever Se ele quiser escrever uma

carta para vocecirc chorar vocecirc chora Se quiser escrever uma carta para vocecirc rir

vocecirc ri

Palmer (1990 p 36) aponta que a modalidade dinacircmica diz respeito agrave habilidade ou agrave

voliccedilatildeo do sujeito da sentenccedila natildeo do falante e dessa forma natildeo eacute subjetiva como outras

modalidades

No PB a modalidade dinacircmica se diferencia igualmente da modalidade epistecircmica e

os verbos mais frequentes satildeo ―conseguir e ―aguentar para sentidos de capacidade e

―querer e a forma ―gostaria no sentido de voliccedilatildeo Na amostra encontramos ainda que em

nuacutemero bastante reduzido ocorrecircncias do tipo dinacircmico como ilustro abaixo

(262) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3] lttaacute de

ladinhogt (bfamcv03)

(263) [184] o papai nũ guumlenta carregar mais (bfammn05)

(264) [50] e eu ampa [3] e [1] e vou conseguir sabe vencer essas dificuldades aiacute

(bpubmn01)

(265) [168] taacute pensando em organizar um torneio e a gente quer que vocecircs

participem da organizaccedilatildeo ltmandando representantegt (bfamcv01)

55

Os exemplos em (262) e (263) apontam para a habilidade fiacutesica do sujeito jaacute o em

(264) indica habilidade soacutecio-afetiva ou disposiccedilatildeo interna do sujeito Em (265) finalmente

temos um exemplo com o verbo ―querer no sentido volitivo

Haacute quem argumente (LARREYA 2009) que a voliccedilatildeo estaacute incluiacuteda no significado

deocircntico de um enunciado como ―John must leave (―John deve sair) em dois sentidos no

primeiro a obrigaccedilatildeo expressa no enunciado incluiria uma vontade uma vez que haacute uma

exigecircncia imposta seja por princiacutepio moral ou por uma pessoa que explicita um desejo no

caso de que John saia no segundo o uso de ―must carrega em seu significado a implicaccedilatildeo

de que se John obedece agrave injunccedilatildeo contida no enunciado isso caracterizaria um ato

voluntaacuterio por parte do agente Johnlsquo A primeira seria uma vontade externa e a segunda uma

vontade interna

Sobre a compulsatildeo interna ou intenccedilatildeo o que me faz aninhar a voliccedilatildeo agrave categoria

dinacircmica e natildeo agrave deocircntica Larreya (2009) a considera como uma vontade natildeo-factual em

exemplos como ―I want to go (―Eu quero ir) em que o evento pode ou natildeo se realizar Seria

uma vontade que natildeo depende de uma forccedila externa mas unicamente da disposiccedilatildeo interna do

sujeito

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias

Os estudos sobre evidencialidade partem da anaacutelise de liacutenguas em que haacute um sistema

evidencial gramaticalizado como as liacutenguas nativas norte-americanas (CHAFE 1995

MITHUN 1995) o tibetano (VOKURKOVA 2011 MELAC 2012) ou o cuzco queacutechua

(FALLER 2002) Apesar de natildeo ser uma categoria gramatical em inglecircs ou portuguecircs ela

pode ser expressa por iacutendices lexicais como adveacuterbios ou verbos como parecer e dizer (na

expressatildeo ―diz que)

Justamente por natildeo ser uma categoria com marcaccedilatildeo gramatical e por alguns dos itens

lexicais poderem igualmente ser iacutendices que expressam modalidade a fronteira entre

evidencialidade e epistemicidade eacute difusa e a relaccedilatildeo entre as duas noccedilotildees ainda ocupa o

debate entre linguistas (CHAFE 1986 FITNEVA 2001 NUYTS 2001 PLUNGIAN 2001

entre outros) Dendale e Tasmowski (2001 p 341-342) levantam os problemas de

conceituaccedilatildeo e apontam trecircs caminhos encontrados em estudos recentes ―disjunccedilatildeo (em que

56

satildeo conceptualmente distinguidas) inclusatildeo (em que uma estaacute incluiacuteda no escopo semacircntico

da outra) e sobreposiccedilatildeo (em que elas parcialmente se interseccionam)44

Palmer (2001) por exemplo organiza a modalidade epistecircmica e a evidencial

subordinadas a uma categoria hierarquicamente superior da modalidade proposicional A

mesma decisatildeo de inclusatildeo da evidencialidade como uma categoria modal aparece em Bybee

(1985) Bybee et al (1994) e Frawley (1992) Na outra ponta a da exclusatildeo estatildeo os estudos

de de Haan (1999 2005)

Como visto anteriormente a modalidade epistecircmica expressa os diferentes graus de

comprometimento em relaccedilatildeo agrave validade do material enunciado Jaacute os evidenciais satildeo

marcadores que indicam a fonte e a confiabilidade do conhecimento do falante As duas

categorias lidam com a evidecircncia no entanto a noccedilatildeo de comprometimento no domiacutenio da

modalidade epistecircmica estaacute relacionada com a postura epistecircmica do falante isto eacute com a

probabilidade ou certeza que atribui agravequilo que estaacute dizendo Jaacute no domiacutenio evidencial esta

noccedilatildeo estaacute relacionada ao grau de confianccedila de onde parte a evidecircncia

Este grau de confianccedila segundo Cornillie (2009 p 58) pode ser explicado em termos

de status da evidecircncia compartilhado ou natildeo-compartilhado Como satildeo vaacuterias as fontes de

evidecircncia (o falante o falante e outros participantes da comunicaccedilatildeo ou exclusivamente os

outros) a confiabilidade pode variar mas natildeo envolve uma avaliaccedilatildeo ou probabilidade

epistecircmica Nas palavras de de Haan (2005 p 379) ―a evidencialidade assevera a evidecircncia

enquanto a modalidade epistecircmica avalia a evidecircncia45

Na mesma linha Pietrandrea (2005

p 33) afirma que ―enquanto a evidencialidade qualifica a fonte que justifica a asserccedilatildeo de

uma proposiccedilatildeo a modalidade qualifica a crenccedila genuiacutena do falante sobre a verdade da

proposiccedilatildeo 46

A evidencialidade pois lida com a fonte da evidecircncia que um falante tem sobre uma

dada informaccedilatildeo Os marcadores de evidecircncia expressam se um falante foi testemunha direta

do evento ou atividade que descreve ou se esta informaccedilatildeo chega de outra fonte Dessa forma

a categoria pode ser dividida em duas subcategorias evidecircncia direta e evidecircncia indireta (o

ouvi-dizer-que a citaccedilatildeo e a inferecircncia)

44

Traduccedilatildeo minha para ―disjunction (where they are conceptually distinguished from each other) inclusion

(where one is regarded as falling within the semantic scope of the other) and overlap (where they partly

intersect) 45

Traduccedilatildeo para ―[e]videntiality asserts the evidence while epistemic modality evaluates the evidence (de

HAAN 2005 p 379) 46

No original ―[w]hile evidentiality qualifies the source that justifies the assertion of a proposition modality

qualifies the genuine belief of the speaker about the truth of the proposition (PIETRANDREA 2005 p 33)

57

Em nossa amostra levanto alguns exemplos para ilustrar a questatildeo e sugerir de

alguma forma que as categorias de fato se distinguem Vou partir de trecircs exemplos para

evidenciar meu ponto

(266) LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais (bfamcv01)

(267) [65] se o brasileiro nũ lecirc os manuais hhh no mercado de reposiccedilatildeo ampauto [1]

de autopeccedila eles acham que abrir uma empresa eacute comprar um produto

por um real =COB= na base cem e vender por dois acha que taacute

ganhando o ampdo [2] o dobro (bfammn06)

(268) ROG [187] daacute [188] tem muita pedra ali uai [189] laacute embaixo ainda tem

pedra perto da [2] perto da garagem laacute tem [190] assim vai ficar uma

pracinha boa aqui

PAU [191] e a Isa tava achando que ela ali ia ficar pequena [192] falei

assim depois de feito eacute que a gente vecirc o tamanho neacute (bpubdl01)

No exemplo em (266) temos um julgamento epistecircmico de um conceptualizador47

primaacuterio (o falante) o mais frequente em nossa amostra Em (267) haacute a ocorrecircncia de uma

avaliaccedilatildeo por parte do falante de um julgamento epistecircmico de um conceptualizador em

terceira pessoa o que poderia ser textualizado como ―eu acho que eles acham O uso de um

pronome geneacuterico como ―eles pode indicar essa adesatildeo a uma avaliaccedilatildeo que parte do senso

comum Por fim em (268) o falante reporta um julgamento epistecircmico de uma terceira

pessoa porque partilha dessa informaccedilatildeo (eleela acha porque compartilhamos esse

conhecimento)

Parece que haacute em (267) e (268) dois niacuteveis de interpretaccedilatildeo o primeiro niacutevel estaria

relacionado ao falante e agrave confiabilidadefonte da informaccedilatildeo que seria evidencial uma vez

que eacute uma informaccedilatildeoavaliaccedilatildeo filtrada pelos olhos do falante no primeiro caso e no

segundo exemplo haacute uma avaliaccedilatildeo reportada pelo falante o outro niacutevel estaria relacionado a

um conceptualizador em terceira pessoa e agrave sua (suposta) avaliaccedilatildeo portanto uma

interpretaccedilatildeo epistecircmica

O seguinte continuum representa os graus de comprometimentoafastamento do

falante conceptualizador primeiro no que diz respeito ao material enunciado

47

O conceptualizador eacute a entidade que constroacutei um ponto de vista em uma determinada cena Esta noccedilatildeo estaacute

ligada agrave de construal que eacute a nossa capacidade de conceber e retratar a mesma situaccedilatildeo de maneiras diferentes

58

eu acho (eu acho que) ele acha parece que diz-que

ele acha (info partilhada)

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade

Nos exemplos observam-se trecircs diferentes graus de participaccedilatildeo do enunciador na

constituiccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sobre o que estaacute sendo dito o que me leva a tentar reformular o

conceito de modalidade e assumir a noccedilatildeo de conceptualizador48

nos termos langackerianos

para explicar este fenocircmeno semacircntico

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias

Nas seccedilotildees anteriores foram apresentadas diferentes abordagens e tipologias no que

diz respeito agrave modalidade As definiccedilotildees desta categoria podem ser mais amplas como a de

Palmer (2001) que diz que a modalidade se relaciona com o status da proposiccedilatildeo que descreve

o evento ou mais restritas como a de van der Auwera e Plungian (1998) para quem a

modalidade envolve os domiacutenios de possibilidade e necessidade como variantes

paradigmaacuteticas A primeira definiccedilatildeo natildeo deixa claro o que inclui ou exclui a modalidade na

segunda identificam-se termos reconhecidos como ―modais mas exclui por exemplo

habilidade e voliccedilatildeo

Bally (1942 p 3) apresenta uma definiccedilatildeo enunciativa da modalidade como o modus

do dictum em suas palavras ―a forma linguiacutestica [Modus on dictum] de um julgamento

intelectual de um julgamento afetivo ou de uma vontade que um sujeito pensante enuncia a

propoacutesito de uma percepccedilatildeo ou de uma representaccedilatildeo de sua alma49

Segundo ele uma frase

expliacutecita eacute composta por duas diferentes partes uma o dictum eacute a representaccedilatildeo percebida

pelos sentidos pela memoacuteria e a imaginaccedilatildeo a outra o modus eacute uma operaccedilatildeo psiacutequica de

um sujeito pensante

Ao modus eacute conferida mais importacircncia que ao dictum O autor oferece exemplos para

o que considera as operaccedilotildees do pensamento50

sobre o que se enuncia que indicam um

entendimento um sentimento e uma vontade ―algueacutem crecirc que vai chover ou ―natildeo crecirc ou

―duvida ―algueacutem se alegra porque chove ou ―algueacutem lamenta que chove ―algueacutem deseja

48

Desenvolvo este ponto na seccedilatildeo 25 49

No original ―la forme linguistique dlsquoun jugement intellectual dlsquoun jugement affectif ou dlsquoune volonteacute qulsquoun

sujet pensant eacutenonce agrave propos dlsquoune perception ou dlsquoune representation de son esprit (BALLY 1942 p 3) 50

Pensar para Bally (19321965 p 35) seria ―reagir a uma representaccedilatildeo constatando-a apreciando-a ou

desejando-a

59

que chova ou ―que natildeo chova

Esta parece ser entretanto uma definiccedilatildeo muito ampla mdash apesar de indiscutivelmente

nos inspirar a considerar a dimensatildeo do enunciado mdash e seguirei na tentativa de estreitaacute-la e

responder agrave pergunta que tipo de modificaccedilatildeo do dictum deve ser considerada sob o escopo

da modalidade ou em outras palavras como definir o que compreende o modus Como

definir (a) de que modificaccedilatildeo se trata (b) o que estaacute incluiacutedo no escopo da modalidade (c)

quais os domiacutenios semacircnticos envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes

categorias

A partir de agora portanto argumentarei no sentido de diferenciar as categorias que

podem modificar o que eacute dito e em particular apontar as nuances entre negaccedilatildeo modo

ilocuccedilatildeo e atitude

A pergunta que emerge ao me defrontar com dados orais em situaccedilotildees reais de uso da

liacutengua eacute ―por que seria insuficiente esse conceito de modalidade fundado na loacutegica

aristoteacutelica Dito de outra forma a definiccedilatildeo de modalidade e o seu campo de aplicaccedilatildeo ateacute

agora utilizados pela semacircntica como heranccedila da loacutegica formal para a anaacutelise de sentenccedilas

isoladas servem completamente ao estudo desse fenocircmeno na fala e na dinacircmica de uma

interaccedilatildeo

251 Modalidade e negaccedilatildeo

A categoria da negaccedilatildeo vem sendo estudada em uma perspectiva filosoacutefica desde

Aristoacuteteles A pergunta que se persegue responder em termos de valor de verdade eacute como o

valor de verdade de uma sentenccedila muda se for adicionado um elemento negativo Na loacutegica

a negaccedilatildeo eacute um operador que inverte as condiccedilotildees de verdade de um determinado conteuacutedo

proposicional

Lawler (2007) coloca que a negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cognitivo e

intelectual e que eacute fundamental para todo o pensamento humano Nas palavras de Kiefer

(2009 p 193) ―a negaccedilatildeo de um evento teria que ser caracterizada em termos da ocorrecircncia

do evento ser feita relativamente agrave sua natildeo-ocorrecircncia51

Nas liacutenguas naturais a negaccedilatildeo funciona como um operador associado a

quantificadores e modais sendo que a relaccedilatildeo entre estas categorias se daacute de forma complexa

Vejamos alguns casos ambiacuteguos

51

[hellip] the negation of an event would have to be characterized in terms of the occurrence of the event being

made relative to its nonoccurrence [hellip] (KIEFER 2009 p 193)

60

(269) Ele natildeo pode ir ao jogo

(269a) Natildeo eacute possiacutevel ele ir ao jogo

(269b) Natildeo eacute permitido ele ir ao jogo

Destaco de nossa amostra algumas ocorrecircncias em que temos o operador de negaccedilatildeo

associado a um iacutendice modal A partir deles discuto a relaccedilatildeo entre dois iacutendices modais (um

deles modificado pela negaccedilatildeo)

(270) GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em [2] e tambeacutem falando

em povo mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt (bfamcv01)

(271) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e desmanchar tudo o que

foi feito durante a semana neacute

ROG [248] pode natildeo [249] mas tem gente que desmancha socirc Paulo

(bpubdl01)

(272) [185] cecirc natildeo pode aprontar [1] apontar pra mesa (bfamcv04)

Os verbos ―dever e ―poder modificados pelo operador de negaccedilatildeo nos casos acima

expressam interdiccedilatildeoimpedimento restriccedilatildeo e proibiccedilatildeo respectivamente portanto estatildeo

inscritos no significado deocircntico da modalidade Quero destacar o exemplo (270) em que

temos dois iacutendices modais na mesma unidade informacional um verbo epistecircmico acharlsquo e o

verbo modal deverlsquo deocircntico Neste caso vai atuar o princiacutepio da composicionalidade o

valor epistecircmico ordena o valor deocircntico Em outras palavras o falante a partir de seu

conhecimento de mundo e de suas crenccedilas emite sua opiniatildeo que envolve uma avaliaccedilatildeo

relacionada agrave interdiccedilatildeo

Apresento mais dois exemplos do subcorpus em estudo para discutir o escopo da

negaccedilatildeo

(273) CES [391] acho que nũ tem ningueacutem aiacute natildeo (bfamdl03)

(274) LUI [232] lteu nũ acho que a gente [6] eu nũ acho que a gente deve chamar

soacute veteranos natildeogt (bfamcv01)

Na ocorrecircncia em (273) o verbo de atitude proposicional acharlsquo natildeo estaacute sob o

escopo da negaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo aqui apresentada eacute de que o falante considera que o material

61

locutoacuterio da encaixada natildeo ocorre Jaacute em (274) o verbo eacute posto no escopo da negaccedilatildeo o

falante enuncia uma sua opiniatildeo negativa

No PB haacute trecircs tipos de negaccedilatildeo a simples preposta a simples posposta e a dupla

negaccedilatildeo Neste trabalho investigarei ainda a relaccedilatildeo de modalidade e negaccedilatildeo para fins de

anotaccedilatildeo semacircntica Este ponto vai ser desenvolvido na Parte III desta tese

252 Modalidade e modo

O modo eacute uma categoria morfoloacutegica e se refere a um conjunto de tipos de enunciados

que indica a maneira de o verbo expressar um estado de coisas Esta categoria eacute apresentada

em sua relaccedilatildeo com a modalidade ou como a expressatildeo gramaticalizada da modalidade por

exemplo o modo imperativo se relaciona com a modalidade deocircntica e os outros modos com

a modalidade epistecircmica (OLIVEIRA 2003 p 254)

Bybee et al (1994) como jaacute visto incluem o modo no domiacutenio da modalidade

enquanto van der Auwera e Plungian (1998) no domiacutenio das ilocuccedilotildees Como Green (2009)

que afirma que ―o modo com o conteuacutedo subdetermina a forccedila Por outro lado eacute uma hipoacutetese

plausiacutevel que o modo gramatical eacute um dos dispositivos que usamos em conjunto com as

pistas contextuais entonaccedilatildeo e outros para indicar a forccedila com a qual estamos expressando

um dado conteuacutedo52

Palmer (1986) define o ―modo como uma categoria morfossintaacutetica de natureza

verbal no mesmo niacutevel de tempo e aspecto sendo caracterizado em relaccedilatildeo agrave modalidade

como um recurso linguiacutestico menos prototiacutepico Lyons (1977 p 848) tambeacutem caracteriza o

modo como uma categoria gramatical e portanto diferente da modalidade que estaria

associada ao domiacutenio semacircntico O que eacute corroborado por Narrog (2005 p 167) que afirma

que o termo modo ―se refere a formas linguiacutesticas especiacuteficas ou paradigmas de formas

tipicamente na inflexatildeo verbal cuja funccedilatildeo primeira eacute expressar modalidade53

Halliday (1970) distingue modalidade e modo relacionando a primeira agrave expressatildeo de

necessidade e possibilidade e o segundo agrave forccedila ilocucionaacuteria O modo estaria ligado a

noccedilotildees de realidade existecircncia factualidade e a modalidade a noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade e voliccedilatildeo

52

No original ―Mood together with content underdetermine force On the other hand it is a plausible hypothesis

that grammatical mood is one of the devices we use together with contextual clues intonation and so on to

indicate the force with which we are expressing a given content (GREEN 2009) 53

No original ―[] refers to specific linguistic forms or paradigms of forms typically in verb inflection whose

primary function is to express modality (NARROG 2005 p 167)

62

Na tradiccedilatildeo gramatical do portuguecircs do Brasil o modo verbal eacute classificado em trecircs

tipos indicativo (relacionado ao factual o subjuntivo (relacionado ao hipoteacutetico e

contrafactual) e o imperativo (relacionado a comandos ordens pedidos)

O modo indicativo de maneira mais geral eacute natildeo-marcado para a modalidade com

exceccedilatildeo para os usos modais do futuro do presente e futuro do preteacuterito conforme os

exemplos abaixo

(275) [33] eu vou olhar pr ocecirc se eu tenho trinta-e-nove dessa dessa (bpubdl02)

(276) [37] aiacute ea falou assim cecirc ia ter neneacutem aonde (bfammn04)

Jaacute o subjuntivo segundo Palmer (1986 p 39) eacute um marcador geneacuterico de

modalidade Morfossintaticamente ocorre em oraccedilotildees encaixadas (PALMER 1986 p 22) e

com frequecircncia eacute uma marca redundante de um elemento modal presente na oraccedilatildeo principal

No minicorpus analisado encontramos algumas dessas ocorrecircncias54

(277) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1] tenha perdido (bfamdl01)

(278) [39] queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho e tudo (bfammn05)

Podem aparecer tambeacutem em ocorrecircncias como as em (279) e (280) com valor de

hipoacutetese

(279) [148] porque esse aqui eacute quando for desenhar (bfamcv04)

(280) [239] pra que Deus venha ampri [1] contribuir pa sua sorte (bfamdl04)

O modo imperativo por sua vez poderia estar ligado agrave modalidade deocircntica como

reconhece Portner (2007 p 399) ―[a] ideia de que os imperativos devam ter alguma coisa a

ver com a interpretaccedilatildeo de modais deocircnticos eacute extremamente intuitiva55

De fato uma

enunciaccedilatildeo imperativa eacute uma tentativa de impor a um indiviacuteduo uma obrigaccedilatildeo No entanto a

opccedilatildeo neste trabalho dados seus pressupostos eacute de que os imperativos estatildeo ligados a atos de

fala do tipo diretivos e natildeo agrave expressatildeo da modalidade

54

Vale lembrar que no PB em contextos anteriormente tidos como tipicamente de uso do subjuntivo observa-se

uma variaccedilatildeo com o emprego de formas do indicativo No entanto natildeo estaacute no escopo deste trabalho a discussatildeo

desta flutuaccedilatildeo Para esta variaccedilatildeo no espanhol ver o trabalho de Mejiacuteas-Bikandi (1996) apoiado na Teoria dos

Espaccedilos Mentais de Fauconnier (1994) Nesta moldura teoacuterica o modo eacute visto como um mecanismo que regula o

compartilhamento de informaccedilotildees entre espaccedilos mentais 55

Traduccedilatildeo para ―The idea that imperatives should have something to do with the interpretation of deontic

modals is extremely intuitive (PORTNER 2007 p 339)

63

Na proacutexima seccedilatildeo trato da modalidade e sua relaccedilatildeo com a ilocuccedilatildeo e a atitude no

sentido de demonstrar que satildeo categorias diferentes poreacutem que se interrelacionam

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude

O conceito de ilocuccedilatildeo ou ato ilocucionaacuterio foi primeiramente formulado por Austin

(1962) em uma seacuterie de conferecircncias em que sustentava que ―falar alguma coisa eacute fazer

alguma coisa56

Austin distingue no ato linguiacutestico trecircs niacuteveis o locutoacuterio o ilocutoacuterio e o

perlocutoacuterio

Este conceito eacute retomado mais tarde por Searle (1969) que considera que um ato

ilocucionaacuterio eacute a unidade miacutenima da comunicaccedilatildeo linguiacutestica humana O filoacutesofo revecirc a

taxinomia austiniana e propotildee cinco categorias baacutesicas para como usamos a linguagem

(SEARLE 19792002 p 19-31) (a) assertivos (dizer agraves pessoas como as coisas satildeo) (b)

diretivos (levar as pessoas a fazer coisas) (c) compromissivos (nos comprometer a fazer

coisas) (d) expressivos (expressar nossos sentimentos) e (e) declaraccedilotildees (provocar mudanccedilas

no mundo atraveacutes das emissotildees linguiacutesticas)

Na mesma linha Cresti (2001) reconhece a divisatildeo em trecircs niacuteveis do ato linguiacutestico e

afirma que a ilocuccedilatildeo coocorre com o ato locutoacuterio e produz um efeito de caraacuteter afetivo-

pulsional Principalmente a partir de criteacuterios prosoacutedicos ela propotildee cinco classes de atos

ilocucionaacuterios

(a) Asserccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de autoconfianccedila por

parte do falante com base nas proacuteprias realizaccedilotildees de pensamento que permite

a manifestaccedilatildeo de julgamentos descobertas avaliaccedilotildees representaccedilotildees como

novos objetos no mundo

(b) Direccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de levar em

consideraccedilatildeo as habilidades possibilidades disponibilidade do ouvinte

enquanto se espera transformar o mundo atraveacutes de accedilotildees informaccedilotildees

movimentos ou que o ouvinte transforme a si mesmo com relaccedilatildeo a seu

horizonte de atenccedilatildeo seu conhecimento sua habilidade seu ponto de vista

56

―[hellip] to say something is to do something [hellip] (AUSTIN 1962 p 12)

64

(c) Expressatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de manifestaccedilatildeo

―esteacutetica de estados mentais sentimentos emoccedilotildees crenccedilas esperando que o

ouvinte se torne consciente disso e compartilhe disso

(d) Rito um comportamento externo de execuccedilatildeo de tarefas linguumliacutesticas que tecircm

valor e efeito legal e social e que pode ser realizado com o miacutenimo de

participaccedilatildeo afetiva apenas suficiente para a ativaccedilatildeo fisioloacutegica da fala

(e) Recusa uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de liberdade e separaccedilatildeo

por parte do falante com relaccedilatildeo ao seu interlocutor que permite um confronto

completo com esse uacuteltimo

Cresti assume que a ilocuccedilatildeo natildeo se opotildee agrave modalidade mas que as duas pertencem a

dois niacuteveis diferentes Tucci (2011) em anaacutelise de corpus de fala espontacircnea do italiano

afirma que haacute duas razotildees principais para se separar as duas noccedilotildees a primeira de caraacuteter

formal consiste em assumir que por definiccedilatildeo cada enunciado corresponde a uma e somente

uma forccedila ilocucionaacuteria enquanto que mais de um valor modal pode coexistir num

enunciado a segunda de um ponto de vista mais qualitativo consiste em atestar que natildeo haacute

uma correspondecircncia entre o valor modal e a forccedila ilocucionaacuteria apesar de os iacutendices modais

contribuiacuterem para a interpretaccedilatildeo ilocucionaacuteria de um enunciado

Outros autores igualmente assumem que a modalidade se circunscreve perfeitamente

no niacutevel da semacircntica e natildeo da pragmaacutetica (FRAWLEY 1992 KIEFER 1997 NARROG

2005) Kiefer (1997 p 247) afirma que ―os atos de asseverar permitir ordenar ou prometer

satildeo estranhos agrave modalidade Natildeo haacute como elaborar uma questatildeo significativa sobre como um

ato afeta a modalidade Isso vale para a ilocuccedilatildeo assim como para a perlocuccedilatildeo57

Desde um ponto de vista pragmaacutetico coerente natildeo se pode considerar a modalidade

como a mesma coisa que ilocuccedilatildeo Mello e Raso (2011 p 5-ss) em estudo experimental

fazem uma distinccedilatildeo entre as categorias de modalidade ilocuccedilatildeo e atitude58

Os autores pleiteiam que a modalidade pertence ao domiacutenio da semacircntica no qual a

postura do falante em relaccedilatildeo agrave expressatildeo do material locutoacuterio se manifesta de maneira que

a mesma ilocuccedilatildeo pode ser modalizada de diferentes formas sem afetar o niacutevel ilocucionaacuterio

A ilocuccedilatildeo por sua vez pertence ao domiacutenio pragmaacutetico no qual a postura do falante em

relaccedilatildeo ao seu interlocutor se manifesta

57

No original ―[t]he act of asserting permitting ordering or promising is alien to modality There is no way to

ask a meaningful question about how such an act affects modality This holds for illocution as well as for

perlocution (KIEFER 1997 p 247) 58

A distinccedilatildeo entre modalidade e atitude estaacute na proacutexima seccedilatildeo 244

65

Em relaccedilatildeo agrave atitude uma das dificuldades para se distinguir modalidade e esta

categoria reside justamente na proacutepria polissemia do termo atitude que pode ser definida

como uma posiccedilatildeopostura assumida ou como emoccedilatildeo (MOZZICONACCI 2001) ou como

comportamentomaneira de agir em relaccedilatildeo a uma outra pessoa Nos trabalhos de anotaccedilatildeo

semacircntica de opiniatildeo e sentimentos (cf WIEBE et al 2005) os conceitos de modalidade e

atitude tambeacutem se confundem

Mello e Raso (2011) constatam que a categoria de atitude comparada agraves de

modalidade e ilocuccedilatildeo ainda eacute pouco discutida na literatura Eles apresentam alguns estudos

como o de Local (2005) que menciona a importacircncia da categoria para os estudos de

entonaccedilatildeo ou a definiccedilatildeo de Moraes et al (2010) de que ―a atitude prosoacutedica geralmente se

refere agrave expressatildeo de afetos sociais voluntariamente controladas pelo falante59

Ainda

segundo Moraes et al (2010) existem algumas atitudes que afetam o conteuacutedo proposicional

de um enunciado como a ironia a incredulidade a surpresa e outras que estatildeo ligadas a

relaccedilotildees sociais estabelecidas entre os participantes de uma interaccedilatildeo como a polidez a

autoridade a arrogacircncia

Assim eacute reconhecida a dimensatildeo sociointeracional da atitude isto eacute o falante revela

seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica (com uma modalidade especiacutefica) A

mesma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras por exemplo triste contente

desafiadora envolvente surpresa irritada etc

Como experimento para a distinccedilatildeo das trecircs categorias os pesquisadores consideraram

trecircs ilocuccedilotildees diferentes pertencentes agrave classe dos diretivos (cf CRESTI 2000 MONEGLIA

2011) a saber sugestatildeorecomendaccedilatildeo convite e pergunta para materiais locutoacuterios com

diferentes modalidades o primeiro ―Vem pro Brasil o segundo ―Pode vir pro Brasil e o

terceiro ―Tem que vir pro Brasil Foram consideradas tambeacutem duas atitudes comprometida

e irritada

Comparando a mesma ilocuccedilatildeo produzida com diferentes atitudes observou-se que

enquanto a ilocuccedilatildeo tem um nuacutecleo a atitude estaacute distribuiacuteda por toda a unidade tonal Dessa

forma para se analisar a ilocuccedilatildeo eacute necessaacuterio olhar a posiccedilatildeo do nuacutecleo a forma do nuacutecleo e

o alinhamento do nuacutecleo isto eacute a relaccedilatildeo do nuacutecleo com o conteuacutedo segmental

Tambeacutem se observou que se se mantecircm a ilocuccedilatildeo e a atitude e se varia a modalidade

esta uacuteltima natildeo vai afetar os paracircmetros prosoacutedicos O uacutenico aspecto que parece mudar eacute a

parte de preparaccedilatildeo da curva devido a uma mudanccedila no material segmental

59

No original ―prosodic attitude generally refers to the expression of social affects voluntarily controlled by the

speaker (MORAES et al p 1)

66

Outro aspecto observado por Mello e Raso (2011 p 15) foi que a depender da

ilocuccedilatildeo um mesmo iacutendice modal pode ser interpretado com diferentes significados Por

exemplo para o material locutoacuterio ―eu devo passar na casa dele se enunciado como uma

asserccedilatildeo recebe uma leitura epistecircmica enunciado como uma pergunta uma interpretaccedilatildeo

deocircntica

Em resumo conforme o experimento de Mello e Raso (2011 p 16) as categorias da

modalidade ilocuccedilatildeo e atitude se diferenciam e ao mesmo tempo se interrelacionam Nas

suas palavras ―uma atitude especiacutefica preferelsquo algumas ilocuccedilotildees e uma ilocuccedilatildeo especiacutefica

preferelsquo algumas modalidades ao ponto de que o mesmo item lexical vai receber uma

interpretaccedilatildeo preferencial devido agrave ilocuccedilatildeo em que figura60

Um esquema possiacutevel para esta relaccedilatildeo seria o seguinte

Projeccedilatildeo ato comunicativo

atitude

ilocuccedilatildeo

modalidade

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo

A figura eacute um esforccedilo para representar a hierarquia no ato comunicativo o campo

atitudinal pode projetar uma espeacutecie de zona de sombra na camada da ilocuccedilatildeo que por sua

vez projeta uma zona de sombra na camada da modalidade A modalidade seria o ―Modus do

Dictum a ilocuccedilatildeo o ―Actum do Dictum e a atitude o ―Modus do Actum

Parto portanto para tentar a formulaccedilatildeo de uma definiccedilatildeo mais apropriada para que

abarque igualmente a modalidade na fala espontacircnea a partir de dados empiacutericos

60

―a specific attitude preferslsquo come illocution and a specific illocution preferslsquo some modalities to the point

that the same lexical index will receive a preferred interpretation due to the illocution it figures in (MELLO

RASO 2011 p 16)

67

26 Modalidade na fala espontacircnea

Tomarei para iniacutecio de conversa (e porque como explicitado nos objetivos pretendo

reavaliar a noccedilatildeo de modalidade) a posiccedilatildeo de Cresti (2002) e Tucci (2007 2008 2009) que

assumem que a modalidade eacute inerente a qualquer enunciado com ou sem a presenccedila de

iacutendices modais Para elas a modalidade estaacute sob o domiacutenio do niacutevel semacircntico natildeo do

pragmaacutetico uma vez que se constitui como um processo cognitivo natildeo uma accedilatildeo

Como a fala natildeo eacute organizada em proposiccedilotildees loacutegicas mas em unidades pragmaacuteticas

a incidecircncia do valor modal veiculado por um iacutendice de acordo com Tucci (2007) eacute uma

propriedade natildeo do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem

considerados

(i) se o enunciado eacute simples quer dizer se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente ao enunciado inteiro e agrave unidade informativa

(281) [31] trecircs eacute o carinho no um nũ daacute (bfamcv03)

(ii) se dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o

princiacutepio de composicionalidade em que um iacutendice domina o outro e determina a

modalidade

(282) EVN [148] acho ltque a gentegt tem que olhar direito (bfamcv01)

(iii) se um enunciado possui duas unidades informacionais se aplica um princiacutepio de

natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

(283) [397] vai arrumar laacute o dia todo =TOP= e de laacute que ea vai po [1] po coisa

=COM=$ (bfamcv02)

Dentre os valores modais trecircs primordiais satildeo utilizados por Cresti e Tucci o

aleacutetico61

o deocircntico e o epistecircmico A modalidade aleacutetica se restringe agrave avaliaccedilatildeo que o

61

A loacutegica modal diz respeito quase exclusivamente agrave modalidade aleacutetica isto eacute agravequela relacionada com a

verdade necessaacuteria ou contingente das proposiccedilotildees Na linguiacutestica este tipo de modalidade desempenha um

papel marginal por esta razatildeo natildeo seraacute levada em conta neste trabalho como explicitado na seccedilatildeo 231

68

falante faz do estado-de-coisas segundo noccedilotildees loacutegicas de verdade e agrave apresentaccedilatildeo do

estado-de-coisas como verdadeiro como nos seguintes exemplos62

(284) Um cisne pode ser negro

Um leopardo deve ser malhado

Como as noccedilotildees de capacidade e habilidade estatildeo ligadas agrave verdade do mundo satildeo

encaixadas nessa categoria63

A modalidade deocircntica estaacute relacionada agraves noccedilotildees de permissatildeo e de obrigaccedilatildeo com

as quais o falante avalia um estado-de-coisas referente a alguma accedilatildeo como nos exemplos

seguintes

(285) Natildeo se pode abandonar a pessoa sozinha

Marco deve partir hoje (~ ter que)

A expressatildeo de desejo em alguns casos tambeacutem se insere nessa categoria uma vez

que o falante posiciona-se perante uma accedilatildeo

A modalidade epistecircmica manifesta-se sempre que o falante imprime ao estado de

coisas uma avaliaccedilatildeo baseada em seus conhecimentos e crenccedilas sobre o mundo e denota graus

de possibilidade e de probabilidade com relaccedilatildeo aos estado-de-coisas

(286) Juacutelio pode ter partido

Devem ser os sete

No que se refere ao discurso oral o comprometimento com o conteuacutedo proposicional

natildeo se aplica uma vez que o escopo da modalidade natildeo pode estar limitado a proposiccedilotildees O

conteuacutedo linguiacutestico eacute organizado em enunciados64

revelando um determinado padratildeo

informacional (CRESTI 2000) A visatildeo de modalidade tomada pelas autoras italianas eacute a

62

Os exemplos que ilustram as categorias de modalidade satildeo de Tucci (2007) Traduccedilatildeo minha 63

Os sentidos de capacidade habilidade e voliccedilatildeo satildeo tratados de forma separada neste trabalho como visto na

seccedilatildeo 233 64

Na moldura da ―Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) como veremos em detalhes mais adiante o

enunciado eacute a unidade de referecircncia da liacutengua falada e eacute definido como qualquer expressatildeo linguiacutestica

interpretaacutevel pragmaticamente ligada a (a) uma condiccedilatildeo semacircntica de plena significaccedilatildeo da expressatildeo em

questatildeo e (b) uma realizaccedilatildeo entoada segundo um padratildeo meloacutedico de valor ilocutoacuterio

69

seguinte ―expressatildeo da avaliaccedilatildeo do falante sobre o material locutoacuterio e seu escopo eacute a

unidade informacional

Relembrando as perguntas que me motivaram ateacute aqui a saber (a) de que modificaccedilatildeo

se trata a modalidade (b) o que estaacute incluiacutedo no seu escopo (c) quais os domiacutenios semacircnticos

envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes categorias creio que eacute possiacutevel

ir um pouco aleacutem e entender a modalidade como uma nuancerelativizaccedilatildeo do material

locutoacuterio enunciado natildeo necessariamente uma proposiccedilatildeo ligada agrave dimensatildeo subjetiva e que

inclui os domiacutenios da possibilidade da necessidade da habilidade e da voliccedilatildeo Diferencia-se

de negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude entretanto estaacute estreitamente relacionada com estas

noccedilotildees

Na minha formulaccedilatildeo a partir do que foi discutido anteriormente a modalidade pode

ser tomada como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que

relativiza o que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da

interaccedilatildeo

Esta definiccedilatildeo proposta se aproxima e se afasta do conceito corrente na literatura ―a

opiniatildeo ou atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo ou agrave situaccedilatildeo contida na proposiccedilatildeo

(LYONS 1977 p 452-3) por alguns motivos os quais elenco a seguir

(a) opiniatildeo atitude gt julgamento avaliaccedilatildeo que relativiza

Como vimos a categoria da atitude estaacute relacionada a um niacutevel sociointeracional no

qual o falante demonstra seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica e com uma

modalidade especiacutefica Usar este roacutetulo portanto pode levar a interpretaccedilotildees equivocadas

sobre a categoria da modalidade

A modalidade eacute uma modificaccedilatildeo que cria uma nuance ou uma relativizaccedilatildeo do que

estaacute sendo enunciado Natildeo pode ser confundida com qualquer modificaccedilatildeo nem com

qualquer funccedilatildeo modalizadora nem com um quantificador (eg aproximadamentelsquo cerca

delsquo) nem com um angulador (eg tipolsquo uma espeacutecie delsquo) eacute uma modificaccedilatildeo que

pressupotildee o grau de comprometimento do sujeito da modalidade eou os domiacutenios da

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo

70

(b) falante gt sujeito conceptualizador

Utilizo uma noccedilatildeo semacircntico-cognitiva o conceptualizador nos termos de Langacker

(1987 1991 2001 2007 2008) em lugar do ―falante uma vez que a primeira noccedilatildeo eacute mais

abrangente do que a uacuteltima pois abarca aleacutem do falante o endereccedilado ou um terceiro

indiviacuteduo O conceptualizador seria o proacuteprio falante ou uma terceira pessoa para cujo ponto

de vista o falante se projeta Observe os exemplos abaixo

(287) [117] eu falei natildeo eu devo ter a conta ainda porque eu nũ + (bfammn03)

(288) LUC [361] ltisso pode ser potencialmentegt divertido (bfamcv04)

(289) DFL [58] aquilo que o o professor achava mais importante (bfammn02)

(290) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando (bfamdl04)

(291) [48] cecirc nũ consegue cem por cento de nada na sua vida entatildeo acho que tocirc

[1] tocirc caminhando (bpubmn01)

Em (287) e (288) temos um conceptualizador em primeira pessoa que coincide com

o falante e enuncia a sua avaliaccedilatildeo sobre o material locutoacuterio Em (287) o enunciador se

desloca para um momento anterior e reporta o que enunciou agravequela altura marcada

linguisticamente pela presenccedila do verbo dicendi falarlsquo A ocorrecircncia em (288) apresenta

inclusive uma redundacircncia da possibilidade epistecircmica com o uso do verbo modal poderlsquo e

do adveacuterbio modal potencialmentelsquo (ou conforme Halliday 1970 e Lunguinho 2010 o

fenocircmeno da concordacircncia modal65

) No exemplo em (289) o falante enuncia a avaliaccedilatildeo de

um conceptualizador em terceira pessoa O falante em (290) pede a confirmaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo

de um outro conceptualizador (―ela) Na ocorrecircncia do monoacutelogo puacuteblico em (291) a

falante no papel de professora se projeta para um ponto de vista impessoal representado pelo

decircitico ―cecirc o que aponta para um grau de afastamento em relaccedilatildeo ao que estaacute sendo

enunciado

Segundo Langacker (2008) a conceptualizaccedilatildeo metaforicamente eacute a forma como

vemos uma cena Em suas palavras ―Um arranjo de ponto de vista eacute a relaccedilatildeo global entre os

―observadores e a situaccedilatildeo sendo ―observada [] os observadores satildeo os

conceptualizadores que apreendem os significados de expressotildees linguiacutesticas o falante e o

65

A concordacircncia modal se caracteriza se caracteriza pela presenccedila sintaacutetica de dois itens modais que satildeo

interpretados como se houvesse apenas um (HALLIDAY 1970 LUNGUINHO 2010)

71

ouvinte66

(LANGACKER 2008 p 73)

O arranjo de ponto de vista portanto seria uma espeacutecie de ajuste ou afinaccedilatildeo entre

quem vecirc e o que vecirc Este ajuste eacute tomado como default quando os interlocutores estatildeo juntos

em um local fixo a partir do qual observam e descrevem o que acontece no mundo em volta

deles e eacute ―uma parte essencial para o substrato conceptual que sustenta o significado de uma

expressatildeo e molda a sua forma67

As perspectivas default tendem a ser praticamente

invisiacuteveis e se explicitam quando se considera expressotildees que cumprem uma accedilatildeo como uma

pergunta ou ordem

O que a modalidade parece sugerir eacute que se trata da modificaccedilatildeo avaliadora de uma

perspectiva default ou seja aquela perspectiva expliacutecita marcada semanticamente Por

exemplo em ―O livro taacute sobre a mesa estamos diante de uma perspectiva default Jaacute em ―Eu

acho que o livro taacute sobre a mesa temos o grau de certeza modalizador como acreacutescimo ao

ponto de vantagem do arranjo default

Cresti (no prelo p 13) corroborando esta posiccedilatildeo afirma que ―[c]ada cena eacute uma

funccedilatildeo de uma perspectiva o ponto de vista do falante ou do endereccedilado ou de algueacutem

externo e pode ser marcada socialmente eou estilisticamente []68

Uma cena se caracteriza

por coordenadas nos eixos temporal e especial em um determinado universo possiacutevel

(c) proposiccedilatildeo gt material locutoacuterio enunciado

Como estamos tratando da modalidade na fala com um entendimento particular do

que eacute esta fala espontacircnea (CRESTI SCARANO 1998) e dentro do quadro teoacuterico da Liacutengua

em Ato (CRESTI 2000) haacute que se deslocar o alvo de incidecircncia da proposiccedilatildeo para o

material locutoacuterio enunciado no escopo de uma unidade informacional (cf TUCCI 2007)

Recuperando resumidamente a formulaccedilatildeo de Tucci a modalidade natildeo eacute uma

propriedade do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem levados em

conta (a) se o enunciado eacute simples isto eacute se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente a todo o enunciado e agrave unidade informacional (b) se

66

No original ―A viewing arrangement is the overall relationship between the ―viewers and the situation being

―viewed [For our purposes] the viewers are conceptualizers who apprehend the meanings of linguistic

expressions the speaker and the hearer (LANGACKER 2008 p 73) 67

Traduccedilatildeo para ―an essential part of the conceptual substrate that supports an expressionlsquos meaning and shapes

its form 68

No original ―Every scene is a function of a perspective the point of view of the speaker or the addressee or

someone external and can be marked socially andor stylistically [hellip] (CRESTI no prelo p 13)

72

dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o princiacutepio de

composicionalidade em que um iacutendice domina o outro hieraquicamente e determina a

modalidade e (c) se um enunciado possui duas unidades informacionais aplica-se o princiacutepio

de natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

Alguns dados da amostra no entanto me levam a considerar que a modalidade tem

uma incidecircncia local no acircmbito da unidade informacional mas tambeacutem eacute uma propriedade

dinacircmica que atua igualmente em uma cadeia referencial no domiacutenio textual

Segundo Cresti (no prelo p 12) cada chunk linguiacutestico de um ponto de vista

semacircntico corresponde a uma cena (cf BARWISE PERRY 1981 FAUCONNIER 1984) e

para permitir o desenvolvimento de uma funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem

estar na mesma cena

Segundo Simon-Venderbergen e Aijmer (2007) os marcadores modais podem evoluir

de uma funccedilatildeo puramente qualificacional para funccedilotildees textuais e retoacutericas Podem ser

marcadores de confirmaccedilatildeo adversidade continuidade e causalidade Vejamos este excerto de

uma conversaccedilatildeo familiar do tipo argumentativo predominantemente cujo tema eacute um

campeonato de futebol

(292) Excerto 1

LEO [1] o Juninho ltfoigt

GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em e tambeacutem falando em povo

mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt

LUI [3] ltnatildeogt

LEO [4] ltnatildeogt

LUI [5] lteu acho natildeogt

LEO [6] ltcom certezagt

LUI [7] ltcom certeza es nũ vatildeo participar uaigt

Destaco do excerto acima os enunciados [2] [5] [6] e [7] No enunciado [2] o

participante GIL expotildee sua opiniatildeo sobre o time Galaacuteticos (―eacute muito palha) e faz tambeacutem

um julgamento sobre a participaccedilatildeo desta equipe no campeonato que estatildeo organizando (―eu

73

acho que es nũ deviam mais participar e lttalgt) Os participantes LUI e LEO por sua vez

fazem eco a esse julgamento utilizando operadores modais de confirmaccedilatildeo como ―acho natildeo

e ―com certeza

Os enunciados satildeo diferentes com suas respectivas modalidades no entanto o que

parece eacute que podemos recuperar nos domiacutenios locais elementos referenciais pertencentes a

uma determinada cena anterior em uma coordenaccedilatildeo muacutetua de sistemas cognitivos quer

dizer os sistemas cognitivos dos participantes de uma interaccedilatildeo estatildeo alinhados o que

Verhagen (2005) chama ―intersubjetividade Segundo ele a liacutengua se presta natildeo soacute a

objetivos de informaccedilatildeo mas principalmente de argumentaccedilatildeo Assim desenvolve o conceito

de argumentatividade ou seja a capacidade das pessoas de accedilotildees cognitivamente coordenadas

no fluxo para induzir o interlocutor a realizar inferecircncias e criar um discurso coerente

Neste capiacutetulo apresentei o estado da arte dos estudos de modalidade as tipologias

tradicionais e as visotildees alternativas Ainda defini os valores modais que seratildeo utilizados na

pesquisa e a partir de uma perspectiva subjetiva tentei uma formulaccedilatildeo para o conceito de

modalidade que desse conta de explicar a que tipo de modificaccedilatildeo me refiro quando utilizo os

termos ―modalidade ―modal e ―modalizador e a que domiacutenios semacircnticos ela estaria

ligada

A partir de agora desde um ponto de vista empiacuterico introduzo os procedimentos

metodoloacutegicos e os resultados da descriccedilatildeo do fenocircmeno da modalidade em um corpus de fala

espontacircnea do portuguecircs brasileiro

74

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

75

Capiacutetulo 3

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

No capiacutetulo anterior me ocupei em apresentar alguns estudos sobre a categoria de

modalidade destacados de uma vasta literatura sobre o tema sejam eles vinculados a uma

abordagem mais objetiva ou subjetiva e tambeacutem descrevi os tipos de significados modais da

tradiccedilatildeo linguiacutestica e de abordagens alternativas e aqueles que utilizo na pesquisa Ainda

apontei a relaccedilatildeo da modalidade com outras categorias a ela associadas como a negaccedilatildeo o

modo a ilocuccedilatildeo e a atitude Por fim apresentei minha proacutepria proposta de definiccedilatildeo que se

conforma com o estudo da modalidade na fala que se diferencia em larga medida do estudo

da categoria na escrita

Neste capiacutetulo descrevo os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para empreender a

pesquisa Em primeiro lugar introduzo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato Em

seguida apresento o projeto C-ORAL-BRASIL e a amostra de estudo um minicorpus da

parte informal deste corpus (RASO MELLO 2012) A seguir apresento as outras etapas do

trabalho para fim de coleta preparaccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados

31 A Teoria da Liacutengua em Ato

A Teoria da Liacutengua em Ato para a anaacutelise da estrutura informacional proposta por

Cresti (2000) tem como hipoacutetese baacutesica a partir de Austin (1962) que eacute possiacutevel dizer que haacute

uma correspondecircncia entre unidade de accedilatildeo (os atos de fala) e unidade linguiacutestica (os

enunciados) atraveacutes de padrotildees entoacionais Nas palavras da proacutepria autora ―assumindo a

teoria dos atos linguiacutesticos de Austin (1962) como quadro teoacuterico de referecircncia possamos

descrever a verbalizaccedilatildeo oral como uma forma particular de comportamento humano do qual

cada instacircncia eacute um ato linguiacutestico constituiacutedo da ativaccedilatildeo simultacircnea de trecircs diversos tipos

de ato (locutoacuterio ilocutoacuterio e perlocutoacuterio)69

(CRESTI 2000 p 42)

69

No original ―assumendo la teoria degli atti linguistici di Austin (1962) come quadro teoacuterico di riferimento

possiamo descrivere La verbalizzazioneorale come uma particolare forma di comportamento umano di cui ogni

istanza egrave un atto linguiacutestico costituito dalllsquoattivazione simultanea di ter diversi tipi di atti (locutivo ilocutivo e

perlocutivo) (CRESTI 2000 p 42)

76

Essa teoria nasce no domiacutenio da oralidade especificamente da observaccedilatildeo e anaacutelise da

fala espontacircnea70

quer dizer de um texto falado concebido ao mesmo tempo em que eacute

executado e que natildeo realiza nenhum texto anterior mdash escrito lido ou script (fala roteirizada)

De uma perspectiva comunicativa a fala espontacircnea eacute um comportamento dinacircmico

de interaccedilatildeo entre interlocutores uma cadeia de accedilatildeo-reaccedilatildeo Os participantes de uma troca

conversacional realizam accedilotildees dirigidas a um ou mais interlocutores o que chamamos de

ilocuccedilotildees Uma ilocuccedilatildeo se define a partir de um conteuacutedo afetivo base de todas as relaccedilotildees

entre pessoas71

Cumprir uma ilocuccedilatildeo seria realizar um ato ao dizer algo Um ato de fala se realiza

simultaneamente em trecircs dimensotildees

a) ato locutoacuterio parte linguiacutestica ato de dizer algo

b) ato ilocutoacuterio intenccedilatildeo comunicativa ato ao dizer algo

c) ato perlocutoacuterio eacute a produccedilatildeo de um efeito sobre o interlocutor

A contraparte linguiacutestica de um ato de fala eacute um enunciado que carrega sempre uma

intenccedilatildeo comunicativa e eacute a unidade de referecircncia da diamesia falada Diferencia-se de

uma frase por ser um elemento compreendido em autonomia e analisaacutevel

pragmaticamente A prosoacutedia eacute o componente suprassegmental que nos permite identificar

esses enunciados

311 O enunciado

A anaacutelise da fala diferencia-se da anaacutelise da escrita uma vez que segundo Moneglia

(2011 p 481) ―a linguagem escrita pode ser propriamente segmentada de acordo com

princiacutepios sintaacuteticos e semacircnticos enquanto ―a identificaccedilatildeo de unidades de referecircncia em

um corpus de fala pode dificilmente ser feita atraveacutes dos mesmos dispositivos sintaacuteticos e

semacircnticos72

A primazia da escrita sobre a fala nos estudos linguiacutesticos aliaacutes leva-nos a

70

A base para este estudo foi o LABLITA Corpus principalmente o subcorpus LABLITA Corpus of Adult

Spontaneous Spoken Italian Disponiacutevel em httplablitaditunifiitcorporadescriptionslablita Uacuteltimo acesso

08 jan 2014 71

De acordo com Cresti (2000 p 84 e ss) um afeto eacute definido como ―uma pulsatildeo e representaccedilatildeo de um

esquema acional em relaccedilatildeo ao interlocutor que permite uma accedilatildeo concreta no mundo 72

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] written language can be properly parsed according to syntactic and semantic

principles (hellip) the identification of the units of reference in a spoken corpus can hardly be identified through the

same syntactic and semantic devices (Blanche-Benveniste 1997 Biber et al 1999 Cresti 2000 Miller amp Weinert

1998 Izreel 2005) (MONEGLIA 2011 p 481)

77

cometer o equiacutevoco de neglicenciar esta diamesia e trataacute-la como um texto escrito jaacute que o

que eacute estudado normalmente eacute a transcriccedilatildeo da fala segmentada de acordo com pausas

sintaacuteticas o que corresponde graficamente ao uso da viacutergula como pontuaccedilatildeo (MELLO

RASO 2013) No entanto ancorado em consistente base empiacuterica Moneglia (2011) afirma

que os dados de corpora orais apontam para a insuficiecircncia dos mesmos criteacuterios sintaacuteticos

aplicados agrave escrita para anaacutelise dos eventos de fala uma vez que muitos destes eventos natildeo

apresentam sequer um verbo

Ainda de acordo com Mello e Raso (2013 p 101) para o estudo efetivo da fala haacute

que se considerar os niacuteveis hieraacuterquicos definidos na expressatildeo comunicativa da fala o que

pressupotildee ―i que inicialmente se individualize a unidade ilocucionaacuteria ii que dentro dessa

unidade seja estabelecida a sua estrutura informacional e iii que somente dentro da unidade

informacional seja possiacutevel uma anaacutelise sintaacutetica

Como mencionado acima o enunciado eacute a entidade linguiacutestica que do ponto de vista

pragmaacutetico eacute autocircnoma o que significa que natildeo se define nem pela completude semacircntica

nem pela expressatildeo da predicaccedilatildeo O criteacuterio de identificaccedilatildeo de um enunciado parte de

caracteriacutesticas entoacionais dado que a forccedila ilocucionaacuteria de um enunciado eacute veiculada

atraveacutes dela A correspondecircncia entre ilocuccedilatildeo e um dado contorno prosoacutedico eacute denominada

―criteacuterio ilocutivo (CRESTI 2000) As funccedilotildees linguiacutesticas da entoaccedilatildeo seriam segundo

Cresti (2000) (a) indicar o tipo de ilocuccedilatildeo realizada no ato de fala (b) delimitar os

enunciados no contiacutenuo focircnico (c) segmentar o enunciado em unidades menores (d) assinalar

o tipo informacional de cada unidade dentro do enunciado

Assim a prosoacutedia pode ser considerada a interface formal entre os atos executados

simultaneamente em um ato de fala73

Podemos identificar como paracircmetros prosoacutedicos os

seguintes elementos movimento de F0 (hz) intensidade (db) duraccedilatildeo (s) alinhamento

velocidade de fala e ritmo Eacute importante destacar que o tipo de ilocuccedilatildeo natildeo estaacute subordinado

ao conteuacutedo locutoacuterio

No que diz respeito agrave segunda funccedilatildeo da entoaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo dos enunciados eacute

realizada atraveacutes da percepccedilatildeo das variaccedilotildees prosoacutedicas relevantes por um falante

―competente As variaccedilotildees que resultam na segmentaccedilatildeo do enunciado em unidades discretas

satildeo chamadas de quebras prosoacutedicas divididas em

73

Adiante veremos que a prosoacutedia eacute apenas um dos criteacuterios para identificaccedilatildeo da unidade entoacional ainda

contribuem para esta definiccedilatildeo do tipo informacional criteacuterios funcionais e distribucionais

78

(a) terminais quebras que satildeo percebidas como conclusivas e portanto indicam

a completude prosoacutedica do enunciado Graficamente satildeo representadas por duas

barras ( ―)

(b) natildeo-terminais percebidas como quebras natildeo-conclusivas Satildeo mais fracas e

cumprem a funccedilatildeo de delimitar as unidades internas ao enunciado Graficamente

satildeo representadas por uma barra (―)

As quebras prosoacutedicas satildeo utilizadas na transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo de textos orais

(MONEGLIA CRESTI 1997) Como exemplos dessas quebras terminal e natildeo-terminal

respectivamente temos

(31) REN [116] eu gosto de maccedilatilde

(32) REN [145] desinfetante a gente precisa

Os enunciados podem ter um padratildeo simples ou complexo No padratildeo simples o

enunciado eacute composto apenas pelo nuacutecleo do ato de fala e eacute executado em uma uacutenica unidade

tonal necessaacuteria e suficiente porque carrega a forccedila ilocucionaacuteria denominada Comentaacuterio

no padratildeo complexo o enunciado corresponde ao nuacutecleo mais um conjunto de unidades com

distintas funccedilotildees informacionais eacute executado em duas ou mais unidades tonais Uma dessas

unidades eacute obrigatoriamente o Comentaacuterio as outras unidades cumprem funccedilotildees

informacionais textuais ou dialoacutegicas

As unidades tonais satildeo marcadas pelas quebras prosoacutedicas (terminais ou natildeo-

terminais) e em princiacutepio realizam uma unidade informacional A relaccedilatildeo entre as unidades

de um enunciado eacute de natureza funcional e apenas dentro de uma mesma unidade podem ser

estabelecidas relaccedilotildees de ordem sintaacutetica

Os criteacuterios de individualizaccedilatildeo das unidades aplicados simultaneamente satildeo de

caraacuteter (a) funcional a funccedilatildeo desempenhada pela unidade no padratildeo informacional (b)

entoacional perfil prosoacutedico74

tipo e direccedilatildeo do movimento de F0 velocidade de elocuccedilatildeo e

intensidade presenccedila ou natildeo de foco entoacional e (c) distribucional a posiccedilatildeo da unidade

74

O perfil prosoacutedico eacute identificado com base na fonologia entoacional desenvolvida pelo grupo IPO (Instituut

voor Perceptie Onderzoek em holandecircs) ou Instituto para Pesquisa em Percepccedilatildeo (HART COLLIER COHEN

1990) Satildeo definidas trecircs classes de configuraccedilatildeo root perfix suffix que se combinam em um contorno

prosoacutedico

10448977

19330605

79

opcional em relaccedilatildeo agrave unidade nuclear (o Comentaacuterio) que tem distribuiccedilatildeo livre dentro do

enunciado

Haacute unidades com funccedilatildeo textual que compotildeem e agem diretamente sobre o texto do

enunciado e unidades com funccedilotildees dialoacutegicas tambeacutem chamadas auxiacutelios dialoacutegicos que

satildeo instrumentos para regular o diaacutelogo e a interaccedilatildeo agem sobre a situaccedilatildeo comunicativa

eou o interlocutor

As unidades textuais satildeo o Comentaacuterio que em um padratildeo complexo pode ser

realizado na forma de Comentaacuterios Muacuteltiplos ou Comentaacuterios Ligados o Apecircndice de

Comentaacuterio o Toacutepico o Apecircndice de Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo As

unidades dialoacutegicas satildeo o Incipitaacuterio o Conativo o Faacutetico o Alocutivo o Expressivo e o

Conector Discursivo Haacute outras unidades que natildeo possuem valor informacional e sinalizam

disfluecircncias da fala ou escansatildeo a Unidade de Escansatildeo a Tomada de Tempo e a Unidade

Vazia

A partir de agora apresento a definiccedilatildeo de cada uma destas unidades tornadas

discretas atraveacutes dos criteacuterios mencionados anteriormente funcional entoacional e

distribucional

312 Unidades Informacionais

3121 Comentaacuterio (COM)

A unidade de Comentaacuterio (COM) eacute a unidade nuclear primaacuteria de um padratildeo

informacional e tem a funccedilatildeo de veicular a forccedila ilocucionaacuteria do enunciado Eacute a uacutenica que

pode figurar sozinha no enunciado uma vez que representa a unidade informacional

necessaacuteria e suficiente para a sua realizaccedilatildeo e interpretabilidade

Em termos de propriedades prosoacutedicas esta unidade corresponde ao perfil do tipo raiz

e seu foco varia de acordo com os tipos de ilocuccedilatildeo (recusa asserccedilatildeo direccedilatildeo expressatildeo rito)

e condiccedilotildees contextuais

Quanto ao criteacuterio distribucional o Comentaacuterio tem distribuiccedilatildeo livre e estabelece

restriccedilotildees nas propriedades distribucionais de outras (possiacuteveis) unidades informacionais isto

eacute as demais unidades se organizam em funccedilatildeo dele Esta unidade pode ser segmentada por

Unidades de Escansatildeo

Vejamos os exemplos

80

(33) BRU [360] nũ tem nada que pode ser aproveitado =COM=$ (bpubcv01)

(34) CAR se for mais gente numa situaccedilatildeo pior =TOP= noacutes vamo ter que pensar

=COM=$ (bpubcv02)

O enunciado em (33) eacute do tipo simples porque possui apenas a unidade de

Comentaacuterio suficiente e necessaacuteria Em (34) temos um exemplo de enunciado do tipo

complexo com duas unidades informacionais o Toacutepico e o Comentaacuterio

3122 Toacutepico (TOP)

O Toacutepico (TOP) eacute uma das principais unidades informacionais e tem como funccedilatildeo

delimitar semanticamente o campo de aplicaccedilatildeo da forccedila ilocucionaacuteria Esta unidade

seleciona o domiacutenio de relevacircncia em relaccedilatildeo ao qual o ato de fala deve ser interpretado

Prosodicamente a unidade eacute marcada por um perfil do tipo prefixo e apresenta foco

entoacional agrave direita Assim como o Comentaacuterio a unidade informacional de Toacutepico tambeacutem

tem um foco o que permite distingui-la de outras unidades que antecedem o Comentaacuterio No

portuguecircs foram identificadas quatro formas entoacionais diferentes para o Toacutepico (cf

ROCHA 2012 MITTMAN 2012)

Em termos de distribuiccedilatildeo antecede o Comentaacuterio ainda que natildeo seja adjacente a ele

A unidade tambeacutem pode ser segmentada em Unidades de Escansatildeo

Um Toacutepico pode ser recursivo e tambeacutem pode ser formado por subpadrotildees de

unidades informacionais normalmente do tipo referencial o que se constitui como uma Lista

de Toacutepicos Todos os Toacutepicos de uma lista juntos fornecem um uacutenico domiacutenio de aplicaccedilatildeo

da forccedila do Comentaacuterio e todos eles pertencem ao mesmo domiacutenio ontoloacutegico ou no miacutenimo

eles devem ser semanticamente coerentes

Como exemplos

(35) FLA aiacute o caderno =TOP= eacute um negoacutecio meio atrasado =COM= assim =

PHA=$ (bpubcv01)

(36) FLA o [1]=EMP= o ceagaeme =TPL(1)= o plasma =TPL(2)= e a plaqueta

=TPL(3)= a gente armazena ate o dia seguinte =COM= (bpubcv01)

1681224

34460394

25983393

37703385

81

Em (35) temos um SN que realiza um Toacutepico simples e a ocorrecircncia em (36)

representa uma Lista de Toacutepicos um dos tipos de Toacutepico complexo

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC)

O Apecircndice de Comentaacuterio (APC) integra textualmente o Comentaacuterio e eacute dependente

desta unidade Varia informacionalmente atraveacutes de (a) repeticcedilatildeo repeticcedilatildeo ou eco (parcial

ou natildeo) de uma informaccedilatildeo jaacute conhecida ou uma paraacutefrase de um material locutivo no mesmo

enunciado ou em um enunciado diferente do mesmo falante ou mesmo do interlocutor (b)

preenchedor natildeo apresenta repeticcedilatildeo de um conteuacutedo anterior e se constitui como uma

expressatildeo formulaica que natildeo apresenta quase nenhuma informaccedilatildeo e (c) informaccedilatildeo

retardada o conteuacutedo semacircntico adiciona informaccedilatildeo para fins sociais quer dizer oferece

informaccedilatildeo mais especiacutefica ou alteraccedilotildees que facilitam a compreensatildeo do enunciado para o

interlocutor

Apresenta perfil entoacional do tipo sufixo nivelado ou descendente sem foco Estaacute

distribuiacutedo agrave direita do Comentaacuterio e em alguns casos pode estar separado do Comentaacuterio

por uma unidade de Faacutetico ou Parenteacutetico No entanto nunca pode ser interrompido por um

Parenteacutetico e algumas vezes eacute seguido por um Faacutetico ou Conativo

(37) CAR queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho =COM= e tudo =APC=$

(bfammn05)

(38) CAR [177] cecirc nũ entendeu =COM= cecirc nũ =APC=$ (bfamcv03)

(39) FLA [358] tem que lembrar ela =COM= comprar acetona =APC=$

(bfamdl01)

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT)

O Apecircndice de Toacutepico (APT) integra o texto do Toacutepico e se constitui

informacionalmente por integraccedilotildees lexicais ou alteraccedilotildees e muito raramente por repeticcedilotildees

exclusivamente do material locutoacuterio do Toacutepico

Esta eacute uma unidade de tipo sufixo com perfil que pode ser nivelado descendente ou

mesmo reproduzir a curva de F0 do Toacutepico a que se refere Diferentemente do Toacutepico natildeo

possui foco Distribui-se agrave direita da unidade de Toacutepico e o segue podendo estar intercalado

32391825

15673465

18808156

82

por uma unidade dialoacutegica (Faacutetico ou Alocutivo no PB) Natildeo pode ser interrompido por uma

unidade de Parenteacutetico

(310) BAL um cuidado =TOP= que cecircs tecircm que tomar =APT= lt Bel gt +

=ALL=$ (bfamdl02)

3115 Parenteacutetico (PAR)

A unidade de Parenteacutetico (PAR) expressa uma integraccedilatildeo metalinguiacutestica do

enunciado em alguns casos com funccedilatildeo modalizadora apresentando um ponto de vista

externo agravequele do Comentaacuterio A funccedilatildeo metalinguiacutestica encontra sua relevacircncia em relaccedilatildeo a

todo o enunciado ou pode se referir a uma unidade textual para traacutes ou para frente na maioria

das vezes um Comentaacuterio ou um Toacutepico e mais raramente a outro Parenteacutetico ou uma palavra

especiacutefica dentro de qualquer unidade informacional Informacionalmente cinco tipos de

integraccedilatildeo metalinguiacutestica foram encontrados avaliaccedilatildeo modal simples adiccedilatildeo de informaccedilatildeo

(com avaliaccedilatildeo positiva ou negativa) comentaacuterios sobre a atividade natildeo-linguiacutestica do falante

simultacircneo ao enunciado instruccedilotildees para o interlocutor que diz respeito agrave atividade dialoacutegica

glosa terminoloacutegica glosa locutiva de discurso reportado ou exemplificaccedilatildeo

O perfil prosoacutedico do tipo parecircntese eacute caracterizado por um abaixamento da F0 e

velocidade de execuccedilatildeo mais alta que o resto do enunciado Pode ocorrer em qualquer posiccedilatildeo

no enunciado exceto na inicial (VALE 2010)

(311) BAL [30] porque =DCT= lt se eu for gt empregado =TOP= por exemplo

=PAR= algueacutem vecirc que eu sou muito foda =TOP= lt medo gt de perder

=TOP= lt o posto gt lt deles =APT= es vatildeo [2] =EMP= es vatildeo gt me dizar

=COM= lt neacute gt =PHA=$ (bfamdl02)

Foi identificada ainda no minicorpus do C-ORAL-BRASIL a unidade de Lista de

Parenteacuteticos

(312) LUZ [68] aquele dia a Lilisa tava discutindo com a Deise =COB= ela ja tava

[3]=EMP= jaacute [1]=EMP= a Deise =SCA= jaacute ampf [1]=SCA= tinha falado de

quem que era =PAR= eu achei ate que ia ser do Ronan =COB= mas =DCT=

elas tava falando que nao =COB= falando de um outro ai =COM= nũ sei se eacute

Marco Tuacutelio =PRL= sei laacute quem =PRL= nũ sei quem =PRL=

(bfamdl03)

18285708

71817803

1071023

83

3116 Introdutor locutivo (INT)

O Introdutor Locutivo (INT) sinaliza a suspensatildeo pragmaacutetica do hic et nunc e introduz

uma metailocuccedilatildeo por exemplo um discurso reportado uma exemplificaccedilatildeo e um

pensamento falado um elenco e tambeacutem um parenteacutetico O perfil do tipo introdutor apresenta

alta velocidade de execuccedilatildeo e F0 mais baixa do que a do Comentaacuterio subsequente Sua

posiccedilatildeo eacute anterior ao Comentaacuterio que introduz

(313) FLA [324] como diz vocecirc =INT= natildeo precisa =COM_r=$ (bfamdl01)

322 Unidades Dialoacutegicas

As unidades dialoacutegicas compartilham algumas propriedades que as distinguem das

unidades textuais como por exemplo desenvolver uma funccedilatildeo que natildeo contribui para a

construccedilatildeo do conteuacutedo semacircntico do enunciado e por outro lado contribuir para o

desempenho feliz do ato de fala no contexto comunicativo e podem ocorrer em discurso

reportado Aleacutem disso em sua maioria satildeo realizadas com apenas uma palavra ou expressatildeo

natildeo podem ser escandidas natildeo carregam foco natildeo podem ser modalizadas possuem

restriccedilotildees de seleccedilatildeo lexical e natildeo contribuem para a composicionalidade sintaacutetico-semacircntica

do enunciado

3221 Incipitaacuterio (INP)

O Incipitaacuterio (INP) eacute uma unidade dialoacutegica que marca a abertura do turno dialoacutegico e

regula o fluxo da interaccedilatildeo Ele abre o canal comunicativo e indica um valor de contraste ou

uma oposiccedilatildeo ao enunciado anterior

Apresenta perfil prosoacutedico de auxiacutelio com F0 alta caracterizada por um movimento de

raacutepida subida seguida de descida Distribucionalmente ocorre em iniacutecio de enunciado ou

turno e frequentemente eacute seguido de uma unidade de Faacutetico

(314) bom =INP= ali tambeacutem pode fazer o seguinte o =COM=$ (bpubdl01)

16718361

2256

84

3222 Conativo (CNT)

A unidade de Conativo (CNT) tem a funccedilatildeo de provocar o interlocutor a se engajar na

interaccedilatildeo ou interromper o seu comportamento natildeo-cooperativo O perfil prosoacutedico se

caracteriza por intensidade alta perfil descendente e duraccedilatildeo curta Na maioria das vezes

ocupa posiccedilatildeo inicial ou final e algumas vezes posiccedilatildeo intermediaacuteria Haacute a possibilidade

ainda que pouco frequente de ocorrer mais de uma unidade de CNT no enunciado

(315) ltpera aiacute = CNT= pera pera aiacutegt =CNT= soacute um segundo =CNT= soacute vatildeo

esperar o [1] =SCA= a ampulheta = COB= aiacute lt desnegoccedilar gt = COM=$

(bfamcv04)

3223 Faacutetico (PHA)

A unidade dialoacutegica de Faacutetico (PHA) tem a funccedilatildeo de controlar o canal comunicativo

de modo a assegurar a manutenccedilatildeo de sua abertura Ele estimula o ouvinte a manter a coesatildeo

social necessaacuteria numa troca conversacional ou tenta se certificar de que o enunciado foi

recebido Em posiccedilatildeo final no enunciado serve para marcar o acordo com o interlocutor e

pode ser empregado para pedir uma confirmaccedilatildeo Por uacuteltimo funciona como uma tomada de

tempo para uma melhor programaccedilatildeo do enunciado

Apresenta perfil entoacional nivelado e duraccedilatildeo muito curta Sua posiccedilatildeo no

enunciado eacute livre

(316) eu contei o caso lt pra ele =COM= neacute gt =PHA= (bfammn01)

3224 Alocutivo (ALL)

O Alocutivo (ALL) opera no controle da comunicaccedilatildeo especifica a quem a mensagem

eacute dirigida e manteacutem a atenccedilatildeo do interlocutor desempenhando tambeacutem uma funccedilatildeo de coesatildeo

social Tem duraccedilatildeo curta baixa intensidade e movimento descendente Pode ocorrer em

qualquer posiccedilatildeo dentro do enunciado

(317) lt nũ tem perigo natildeo =COM= socirc gt =ALL= (bpubcv02)

30824478

18365709

10448977

85

3225 Expressivo (EXP)

O Expressivo (EXP) eacute suporte emocional do ato ilocutoacuterio cumprido pelo Comentaacuterio

assinala o compartilhamento de uma identidade de grupo com o interlocutor Apresenta F0

modulada ascendente com aumento da velocidade em relaccedilatildeo agrave meacutedia do enunciado Pode

ocorrer em qualquer posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao comentaacuterio

(318) eacute um [2] =EMP= eacute um pacote laacute com a Oi =COM= uai =EXP= (bpubcv01)

3226 Conector Discursivo (DCT)

O Conector Discursivo (DCT) tem como funccedilatildeo marcar a continuidade do discurso

indicando ao interlocutor que o processo de construccedilatildeo textual vai prosseguir Ocorre sempre

em iniacutecio de enunciado ou de um subpadratildeo de estrofe Eacute uma unidade com duraccedilatildeo longa

perfil nivelado ou modulado baixa velocidade e intensidade alta

O DCT funciona de modo oposto ao Incipitaacuterio Enquanto o uacuteltimo marca

descontinuidade no discurso o primeiro marca a continuidade O INP muitas vezes eacute usado

para tomar o turno de outro falante enquanto o DCT funciona mais internamente ao turno de

um mesmo falante

(319) entatildeo =DCT= dia de sexta e saacutebado ele nũ trabalha =COM=$ (bpubdl01)

323 A perda do isomorfismo

De acordo com Cresti (2000) haacute um princiacutepio de isomorfismo entre enunciado e

ilocuccedilatildeo e entre unidade tonal e unidade informacional Em alguns casos no entanto este

princiacutepio eacute quebrado como nos seguintes (i) quando uma unidade informacional se realizada

em mais de uma unidade entoacional fenocircmeno denominado escansatildeo (ii) quando mais de

uma ilocuccedilatildeo eacute realizada com determinado padratildeo dentro de uma uacutenica entidade linguiacutestica

concluiacuteda e (iii) quando varias ilocuccedilotildees fracas e homogecircneas satildeo realizadas

processualmente em uma situaccedilatildeo pouco acional ao que eacute chamado de Estrofe

3460162

3648

86

3231 Unidade de escansatildeo (SCA)

O fenocircmeno da escansatildeo ocorre apenas em unidades informacionais textuais Estas

unidades podem ser realizadas em mais de uma unidade entoacional Assim a Unidade de

Escansatildeo (SCA) natildeo apresenta funccedilatildeo informacional mas eacute parte de uma unidade

informacional maior A SCA indica disfluecircncias na fala que podem ocorrer por dificuldades

relativas agrave execuccedilatildeo do programa meloacutedico de uma unidade longa ou agrave expressividade da

unidade informacional Natildeo possui foco Uma caracteriacutestica deste fenocircmeno eacute a

composicionalidade sintaacutetica entre as unidades tonais escandidas

(320) com medo =INT= que se ea entrasse dentro de casa =TOP= ea ia matar

=SCA= os filho =SCA= com ea e tudo =COM=$ (bfammn01)

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) se constituem como dois ou mais comentaacuterios

dentro do mesmo enunciado ou seja separados por quebra natildeo-terminal e estruturados em

um padratildeo retoacuterico Estes padrotildees podem ser de tipos variados e ateacute agora foram

identificados as seguintes possibilidades de uma lista aberta elenco reforccedilo

alternativapedido de confirmaccedilatildeo comparaccedilatildeo relaccedilatildeo necessaacuteria chamamento cliacutemax e

consequecircncia

(321) SIL ou eacute vinho bom caro =CMM= ou eacute cerveja =CMM= (bfamdl04)

(322) ocirc Heliana =CMM= o vinho tava bom =CMM= (bfamdl04)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos satildeo contiacuteguos e como propriedades prosoacutedicas apresentam

o formato da unidade tonal eacute do tipo raiz + raiz (+ raiz) formando um padratildeo prosoacutedico e

seus perfil prosoacutedico e nuacutecleo variam de acordo com o tipo ilocucionaacuterio

37093863

37491415

22465298

87

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB)

Uma Estrofe eacute uma entidade linguiacutestica concluiacuteda que natildeo corresponde ao

cumprimento de um ato de fala mas sim a uma atividade de fala geneacuterica As Estrofes satildeo

unidades maiores que desenvolvem duas ou mais ilocuccedilotildees antes da quebra prosoacutedica

percebida como tendo valor terminal Contrariamente aos Comentaacuterios Muacuteltiplos natildeo satildeo

unidades programadas mas uma sequecircncia processual de Comentaacuterios Ligados (COB) nelas

o princiacutepio ilocucionaacuterio se enfraquece em favor de uma dimensatildeo menos pragmaacutetica e mais

textual

Nos Comentaacuterios Muacuteltiplos haacute um programa que requer mais de um Comentaacuterio para

ser realizado no caso das Estrofes agrave medida que ocorre a enunciaccedilatildeo outros Comentaacuterios vatildeo

sendo acrescentados porque o falante os percebe como importantes no momento sem que se

tenha programado anteriormente

Cada Comentaacuterio Ligado (COB) eacute caracterizado por uma forccedila ilocucionaacuteria fraca e

devem ser homogecircneos Aparentemente as estrofes cumprem somente atos com baixa

afetividade (descriccedilatildeo narraccedilatildeo pergunta retoacuterica instruccedilatildeo conselho expressatildeo de estado

psicoloacutegico)

O objetivo primaacuterio da Estrofe parece ser a expressatildeo de um pensamento em

andamento que induz a realizaccedilatildeo de um texto oral O texto da Estrofe eacute organizado como

uma sequecircncia de focos semacircnticos cada um dos quais pode registrar um valor modal

diferente A homogeneidade ilocucionaacuteria dos COB junto com a liberdade na variaccedilatildeo modal

implica que a Estrofe eacute concebida atraveacutes de uma relaccedilatildeo atitudinal uacutenica com o destinataacuterio

Em siacutentese a Estrofe se realiza quando a fala tende para uma dimensatildeo menos

pragmaacutetica e mais semacircntica O texto como conteuacutedo semacircntico se torna mais evidente e o

ato linguiacutestico como operaccedilatildeo pragmaacutetica se enfraquece As estrofes em princiacutepio podem ser

encontradas em todos os tipos de texto mas satildeo muito mais presentes no monoloacutegico e no

contexto puacuteblico Podemos ver portanto a estrofe como a dimensatildeo da acionalidade

enfraquecida em favor de uma elaboraccedilatildeo semacircntico-textual

(323) nos temos vinte-e-cinco funcionaacuterios =COB= dentro de Minas Gerais

=COB=atuando =COB= com a base nossa aqui em [1]=SCA= na capital

=COB= e hoje noacutes tamos =SCA= numa media de ampfature [1]=SCA=

faturamento de um-milhatildeo-e-meio a um-milhatildeo-e-setecentos-mil reais =SCA=

mecircs =COM= (bfammn06)

13926106

88

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL

O C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro eacute um projeto

em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais especificamente no

Laboratoacuterio de Estudos Experimentais e Empiacutericos da Linguagem (LEEL) coordenado pelos

professores Tommaso Raso e Heliana Mello

O corpus foi originalmente estruturado para o estudo da estrutura informacional do

portuguecircs brasileiro e suas ilocuccedilotildees com base nos pressupostos da Teoria do Padratildeo

Informacional (CRESTI 2000) e eacute construiacutedo aos moldes do C-ORAL-ROM (CRESTI

MONEGLIA 2005) projeto que reuacutene os corpora comparaacuteveis das quatro principais liacutenguas

romacircnicas europeacuteias italiano francecircs espanhol e portuguecircs Na arquitetura desses corpora

privilegia-se uma maior variaccedilatildeo diafaacutesica a fim de se obter uma diversidade de ilocuccedilotildees e

de estruturas informacionais da fala

O corpus se constitui de textos de fala espontacircnea isto eacute textos produzidos ao mesmo

tempo em que satildeo executados e sua realizaccedilatildeo natildeo pressupotildee um texto anterior (escrito ou

roteirizado) Estaacute dividido em uma metade formal (em fase de coleta transcriccedilatildeo e revisatildeo) e

em uma metade informal (concluiacuteda e jaacute publicada RASO MELLO 2012) A parte informal

eacute composta de 139 textos (de aproximadamente 1500 palavras) e 208130 palavras em um

total de 21h8min de gravaccedilatildeo organizada em duas seccedilotildees privadofamiliar e puacuteblico Do

total de textos 80 pertencem ao domiacutenio familiar (105 gravaccedilotildees) e 20 ao domiacutenio

puacuteblico (34 gravaccedilotildees) distribuiacutedos igualmente em trecircs diferentes tipologias interacionais 13

de monoacutelogos 13 de diaacutelogos e 13 de conversaccedilotildees

A classificaccedilatildeo da tipologia interacional natildeo estaacute relacionada somente ao nuacutemero de

participantes na cena comunicativa mas agrave dinacircmica da situaccedilatildeo e ao peso relativo de cada

participante na produccedilatildeo linguiacutestica resultante Aleacutem de se privilegiar a diversidade de

situaccedilotildees o corpus eacute balanceado em termos de variaccedilatildeo diastraacutetica As gravaccedilotildees satildeo

realizadas em contexto natural enquanto os falantes realizam atividades

Como nos corpora do C-ORAL-ROM os textos satildeo transcritos no formato

CHILDES-CLAN e procede-se agrave segmentaccedilatildeo da fala em enunciados e unidades tonais e agrave

anotaccedilatildeo da estrutura informacional

Escolheu-se representar de maneira sistemaacutetica uma uacutenica diatopia no caso a do

estado de Minas Gerais e em particular a aacuterea urbana da capital Belo Horizonte Tal escolha

se deve agrave limitada dimensatildeo do corpus que natildeo poderia ser representativo de mais diatopias

Assim pelo menos 50 dos falantes satildeo mineiros Tradicionalmente a fala mineira eacute dividida

89

em pelo menos trecircs grandes aacutereas Sul e Triacircngulo (falar paulista) Norte (falar baiano) e

regiatildeo constituiacuteda pela Zona da Mata Zona Metaluacutergica Vertentes e Belo Horizonte e

arredores (falar mineiro) Estas regiotildees estatildeo representadas mas a grande aacuterea metropolitana

de Belo Horizonte tem a maior representaccedilatildeo

O corpus busca representar a variaccedilatildeo diastraacutetica especialmente importante na fala

brasileira mas tambeacutem nesse caso natildeo se pretende alcanccedilar uma representatividade

sistemaacutetica Haacute entretanto um esforccedilo no sentido de que vaacuterias faixas socioculturais estejam

presentes em todas as ramificaccedilotildees do corpus constam interaccedilotildees com falantes de vaacuterias

diastratias interagindo tanto com falantes da mesma faixa quanto com falantes de faixas

diferentes o que se mostraraacute produtivo para a anaacutelise da modalidade

Nesse aspecto com relaccedilatildeo aos criteacuterios adotados para o C-ORAL-ROM optou-se por

adequar a indicaccedilatildeo das faixas de escolaridade a uma distribuiccedilatildeo que melhor refletisse a

realidade brasileira levando-se em conta as significativas diferenccedilas em relaccedilatildeo agrave realidade

europeia

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I

Para fins desta pesquisa utilizarei uma amostra da parte informal do corpus C-ORAL-

BRASIL Dentre os 139 textos com meacutedia de 1500 palavras cada um num total de 208130

palavras seraacute analisado um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias

interacionais divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash 7

diaacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas

Este minicorpus busca preservar a mesma estrutura da parte informal do C-ORAL-

BRASIL e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica Os seguintes criteacuterios ―de

maacutexima qualidade foram utilizados para a escolha dos 20 textos da amostra (RASO

MELLO 2009 p 32)

(i) Representatividade de ramificaccedilatildeo (monoacutelogos diaacutelogos conversaccedilotildees privados e

puacuteblicos)

(ii) Maior variaccedilatildeo de atividade maior nuacutemero possiacutevel de situaccedilotildees comunicativas

diferentes

90

(iii) Alta qualidade acuacutestica de acordo com a qualidade do espectrograma pouco ou

nenhum ruiacutedo de fundo pouco ou nenhum retorno do sinal claridade da voz

ganho bom caacutelculo confiaacutevel da F0 baixa porcentagem de sobreposiccedilatildeo de vozes

(iv) Diversidade de locutores representatividade equilibrada entre vozes masculinas e

femininas e de faixas etaacuterias Um informante natildeo aparece mais de uma vez a natildeo

ser que seja como interlocutor em atividade monoloacutegica

(v) Natildeo marcaccedilatildeo no que diz respeito agrave diastratia a meacutedia dos informantes natildeo eacute de

diastratia nem muito alta nem muito baixa

(vi) Interesse do conteuacutedo aumenta a atenccedilatildeo de transcritores e segmentadores

aumenta o niacutevel de informatividade pois garante uma fala mais espontacircnea

Abaixo segue a Tabela 31 que descreve as caracteriacutesticas dos textos do minicorpus75

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

Conversaccedilotildees 15 9 010728 9774

bfamcv01 Amigos avaliam um campeonato de futebol organizado por eles e planejam o

proacuteximo

4 0 000700 1467

bfamcv02 Senhoras conversam sobre os preparativos do casamento de uma parente 0 3 000751 1725

bfamcv03 Amigos jogam sinuca 5 0 000650 1390

bfamcv04 Amigos jogam ―Imagem e Accedilatildeo apoacutes explicar as regras do jogo para uma das

participantes

2 2 000730 1766

bpubcv01 Funcionaacuterios de banco de sangue explicam como o sangue coletado eacute

armazenado

1 3 000830 1798

bpubcv02 Reuniatildeo ordinaacuteria em uma sede regional de partido poliacutetico 3 1 002947 1628

Diaacutelogos 6 8 014528 11331

bfamdl01 Colegas de apartamento fazem as compras do mecircs 0 2 001439 2131

bfamdl02 Colegas de faculdade batem papo enquanto organizam o material de gravaccedilatildeo 1 1 000726 1572

bfamdl03 Casal faz uma viagem de carro 1 1 001030 1637

bfamdl04 Domeacutesticas matildee e filha fazem a limpeza da cozinha apoacutes o almoccedilo 0 2 001932 1249

bfamdl05 Corretor de imoacuteveis leva a irmatilde para visitar apartamento 1 1 001128 1736

bpubdl01 Engenheiro e pedreiro trabalham em uma obra 2 0 002608 1568

bfamdl02 Cliente e vendedor interagem durante a compra de calccedilados 1 1 001545 1438

Monoacutelogos 7 10 010540 10213

bfammn01 Senhor narra histoacuteria fantaacutestica sobre uma cobra 2 0 000502 1086

bfammn02 Sobrinha de Carlos Drummond de Andrade conta histoacuteria da famiacutelia ao neto 1 1 000723 1677

bfammn03 Narrativa de ―causos divertidos para a famiacutelia 3 3 000708 1206

75

Fonte Raso e Mittman (2012 p 220-221)

91

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

bfammn04 Senhora conta sua experiecircncia no hospital apoacutes ter dado agrave luz no carro 0 1 000657 1450

bfammn05 Senhora fala sobre a adoccedilatildeo da filha apoacutes a morte de sua filha bioloacutegica 0 2 000952 1580

bfammn06 Pai conta seu percurso profissional agrave sua filha 1 1 001002 1600

bpubmn01 Entrevista de avaliaccedilatildeo sobre aulas de inglecircs na rede puacuteblica de ensino 0 2 001916 1614

Total 28 27 035836 31318

presenccedila de pequenas intervenccedilotildees de um ou mais informantes que estavam fora da situaccedilatildeo

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus

Os nomes dos arquivos satildeo construiacutedos da seguinte forma a primeira letra representa

a liacutengua do corpus (―b) o grupo de trecircs letras seguintes o contexto da interaccedilatildeo (―fam para

contextos privados e ―pub para contextos puacuteblicos) as duas letras finais correspondem agrave

tipologia interacional (―mn para monoacutelogos ―dl para diaacutelogos e ―cv para conversaccedilotildees)

os numerais em sequecircncia correspondem agrave sua identificaccedilatildeo na seccedilatildeo a que pertencem

A tabela aponta que o minicorpus eacute composto de um total de 31318 palavras em 3h

58min e 36s de gravaccedilatildeo totalizando de 55 informantes (28 do sexo masculino e 27 do

feminino) As conversaccedilotildees tecircm 1h 7min e 28s de gravaccedilatildeo com 24 informantes (15 homens

e 9 mulheres) os diaacutelogos 1h 45min e 28s de gravaccedilatildeo com 14 informantes (6 homens e 8

mulheres) e os monoacutelogos 1h 5min e 40s de duraccedilatildeo e 17 informantes (7 homens e 10

mulheres)

Com relaccedilatildeo ao nuacutemero de informantes nos monoacutelogos ainda que haja mais de um

participante na situaccedilatildeo comunicativa apenas um dos participantes eacute o informante central

para a contagem do nuacutemero de palavras do texto Os eventuais interlocutores satildeo os

endereccedilados e contribuem tatildeo-somente com pequenas interferecircncias normalmente para

manter o fluxo discursivo

Os nuacutemeros para o contexto e a tipologia interacional satildeo os seguintes 74 da

amostra pertencem ao contexto privadofamiliar e os arquivos em contexto puacuteblico

representam 26 do total de palavras da amostra Assim como em toda a parte informal do

corpus a divisatildeo do minicorpus eacute balanceada 31 satildeo conversaccedilotildees 36 diaacutelogos e 33

monoacutelogos

Deve-se observar que neste subcorpus a representatividade para o contexto puacuteblico

natildeo eacute suficiente para efeitos de comparaccedilatildeo com as situaccedilotildees familiares O nuacutemero de

92

palavras neste contexto equivale a 13 das palavras das conversaccedilotildees 14 das dos diaacutelogos e

16 das palavras produzidas em monoacutelogos

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices

A busca pelos iacutendices modais no minicorpus foi feita manualmente por trecircs

anotadores Os anotadores duas estudantes de graduaccedilatildeo e uma de poacutes-graduaccedilatildeo cumpriram

duas tarefas a partir do que jaacute havia sido investigado na literatura e discutido sobre o conceito

de modalidade e a tipologia a primeira buscar os iacutendices nos textos e a segunda tarefa a de

classificaacute-los de acordo com os tipos epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Ainda que um objetivo futuro seja a comparaccedilatildeo com dados de modalidade para a fala

espontacircnea do italiano que utilizam os valores aleacutetico epistecircmico e deocircntico decidiu-se natildeo

individualizar a modalidade aleacutetica76

e proceder agrave classificaccedilatildeo apenas dos dois uacuteltimos tipos

A partir da observaccedilatildeo direta dos dados e nas discussotildees do grupo sobre os significados

modais a serem aplicados optou-se por uma abordagem subjetiva da modalidade De fato

alguns estudiosos (von WRIGHT 1951 LYONS 197777

CRESTI 2000 TUCCI 2007)

reconhecem o tipo aleacutetico e consideram-no em sua tipologizaccedilatildeo poreacutem como Portner (2009

p 10) argumenta ―[p]ode ser difiacutecil determinar precisamente quais os usos de modais

supostamente contados como aleacuteticos como em eacute necessariamente verdade que a leitura

aleacutetica tende a se destacar A motivaccedilatildeo para a concepccedilatildeo estrita pode ser a assunccedilatildeo de que a

modalidade aleacutetica eacute o tipo mais baacutesico de modalidade em termos do qual as outras

variedades podem ser definidas mais do que um tipo entre muitos78

o que corrobora nossa

posiccedilatildeo

A cada texto anotado os resultados eram discutidos em reuniatildeo com a coordenadora

do projeto A busca e a classificaccedilatildeo eram checadas e validadas e apesar de natildeo computado

estatisticamente foi apontado alto grau de acordo entre os anotadores Agrave medida que o

processo de codificaccedilatildeo avanccedilava foi decidido que o valor dinacircmico seria incluiacutedo na

tipologia para cobrir os casos de habilidadecapacidade e os de voliccedilatildeointenccedilatildeo

76

No entanto eacute reconhecida a importacircncia da modalidade aleacutetica para o estudo das ontologias por exemplo 77

Segundo Portner (2009 p 122-123) ―A visatildeo de Lyons tambeacutem parece ser de que a modalidade na

linguagem natural eacute simplesmente uma versatildeo extremamente objetiva da modalidade epistecircmica 78

No original ―It can be hard to determine precisely which uses of modals are supposed to count as alethic but

if you put in the word true as in It is necessarily true that the alethic reading tends to stand out The

motivation for the narrow conception may be an assumption that alethic modality is the most basic type of

modality in terms of which the other varieties may be defined rather than just one type among many

(PORTNER 2009 p 10)

93

Para os casos de ambiguidade dos verbos modais como ―poder e ―dever que

permitem leituras tanto epistecircmicas quanto deocircnticas (e para o ―poder tambeacutem dinacircmicas) o

desempate foi feito pela anaacutelise do contexto e ainda pela utilizaccedilatildeo do software WinPitch

(MARTIN 2004) na oitiva uma vez que a anaacutelise perceptual e acuacutestica do sinal sonoro

permitem a desambiguaccedilatildeo do valor semacircntico de uma mesma forma lexical

O WinPitch Corpus eacute uma ferramenta fundamental para a anaacutelise de textos falados

porque permite o alinhamento preciso das informaccedilotildees linguiacutesticas contidas num texto com

seu correspondente sinal acuacutestico Assim permite a identificaccedilatildeo natildeo soacute de siacutelabas como de

enunciados inteiros inclusive dos segmentos de unidades informacionais Aleacutem do

alinhamento transcriccedilatildeo-fala o software possui outros recursos para a anaacutelise acuacutestica como

espectrograma identificaccedilatildeo da frequecircncia fundamental possibilidade de siacutentese da curva

prosoacutedica entre outros A anaacutelise dos arquivos de som se mostra fundamental para

reconhecer classificar e analisar os iacutendices de modalidade quando sugerem mais de um

sentido

Para o tratamento nesta tese foram selecionados apenas os enunciados com um iacutendice

modal expliacutecito e ao final destacamos 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046

enunciados excluiacutedos os enunciados interrompidos Apoacutes a seleccedilatildeo os dados foram

organizados em uma tabela com todas as ocorrecircncias por arquivo de texto Os enunciados

foram codificados da seguinte forma

(a) Metadados informaccedilotildees sobre cada arquivo o nome de cada um a tipologia

interativa (monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees) e os participantes Estes dados

foram colhidos nos cabeccedilalhos de cada arquivo que fornecem os dados estatiacutesticos

sobre as categorias de sexo idade niacutevel escolar ocupaccedilatildeo e papel comunicativo

exercido pelos falantes assim como informaccedilotildees relativas agraves atividades exercidas

durante a gravaccedilatildeo os assuntos e os locais de gravaccedilatildeo Esse cabeccedilalho traz

tambeacutem comentaacuterios que podem conter observaccedilotildees julgadas importantes sobre a

natureza situacional para a compreensatildeo do texto como um todo ou de parte(s)

dele e observaccedilotildees linguiacutesticas natildeo acolhidas nos criteacuterios de transcriccedilatildeo mas

consideradas relevantes em cada caso especiacutefico

94

A estes metadados fornecidos pelo corpus foram acrescentados a tipologia

textual79

o gecircnero textual e o assunto de cada interaccedilatildeo a fim de verificar a

relaccedilatildeo entre as escolhas dos itens modais e os tipos de texto em que estatildeo

inseridos Estas variaacuteveis natildeo satildeo paracircmetros controlados pelo C-ORAL-BRASIL

nem pelo C-ORAL-ROM Abaixo um instantacircneo das informaccedilotildees compiladas e

codificadas sobre os metadados

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados

(b) Lemas e lexemas identificaccedilatildeo do item modal de cada enunciado e suas

respectivas formas A Tabela 33 indica a forma de codificaccedilatildeo

79

A fim de classificar a tipologia textual utilizo as categorias de Dolz e Schneuwly (19962004) divididas em

NARRAR RELATAR EXPOR ARGUMENTAR e DESCREVER

Arquivo Tipologia in teracional Tipo textual Gecircnero Assunto Inform antes S

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento TER F

bfamcv03 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo variadosjogo de sinuca CEL M

bfamcv04 conversaccedilatildeo privada descritivo instruccedilatildeo de jogo Imagem e Accedilatildeo CEL M

bfamdl01 diaacutelogo privado narrativo seleccedilatildeo de alimentos compras do mecircs REN1 F

bfamdl02 diaacutelogo privado narrativodescritivobate-papoinstruccedilatildeo de uso

de equipamento

variados organizaccedilatildeo de

equipamentoBEL F

95

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas

(c) Organizaccedilatildeo informativa unidades informacionais em que se encontram o iacutendice

modal (Comentaacuterio Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Toacutepico Lista

de Toacutepico Parenteacutetico Lista de Parenteacuteticos Introdutor Locutivo Apecircndice de

Comentaacuterio e Apecircndice de Toacutepico)80

Abaixo segue a tabela com as etiquetas

utilizadas

Unidade informacional Etiqueta

Comentaacuterio COM

Comentaacuterios Muacuteltiplos CMM

Comentaacuterios Ligados COB

Toacutepico TOP

Lista de Toacutepicos TPL

Parenteacutetico PAR

Lista de Parenteacuteticos PRL

Introdutor Locutivo INT

Apecircndice APC

Apecircndice de Toacutepico APT

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais

80

Na etiquetagem informacional eacute utilizada a etiqueta CMB para Comentaacuterios Muacuteltiplos Ligados No entanto

para os propoacutesitos de meu trabalho assumo os CMBs como COBs pela opccedilatildeo de agrupar categorias semelhantes

funcionalmente

Lem a Lexem a

achar acho

dever deviam

achar acho

com certeza com certeza

com certeza com certeza

ir vatildeo

mesmo mesmo

querer queria

dar daacute

dever deve

querer querendo

esperar espero

96

(d) Valor modal correspondente epistecircmico deocircntico e dinacircmico e seus respectivos

subvalores modais Para os subvalores a nomenclatura estaacute em inglecircs tendo em

vista que nos projetos de anotaccedilatildeo da modalidade a liacutengua inglesa eacute a liacutengua

francalsquo

O valor epistecircmico o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de

certeza de um conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se

refere agraves noccedilotildees de possibilidade probabilidade e necessidade Por exemplo

O valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo

O valor dinacircmico relaciona-se agrave capacidade habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um

conceptualizador

A Tabela 33 indica os coacutedigos utilizados

Valores Subvalores Coacutedigo

Epistecircmicos epi

Conhecimento knowledge

Crenccedila belief

Possibilidade possibility

Probabilidade probability

Necessidade necessity

Verificaccedilatildeo verification

Deocircnticos deo

Obrigaccedilatildeo obligation

Permissatildeo permission

Proibiccedilatildeo prohibition

Necessidade necessity

Dinacircmicos dyn

Habilidade ability

Voliccedilatildeo volition

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais

97

(e) Part of speech (PoS) do iacutendice modal verbos modalizadores81

verbos epistecircmicos

verbos de compreensatildeo e percepccedilatildeo verbos de atitude proposicional adveacuterbio

modal e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais

construccedilotildees de futuro (futuro perifraacutestico vamos+infinitivo futuro do preteacuterito e

imperfeito com funccedilatildeo de retrospecccedilatildeo) A Tabela 34 indica as etiquetas

PoS Etiqueta

Verbos modalizadores Vm

Verbos epistecircmicos Vepi

Verbos de compreensatildeopercepccedilatildeo Vcomp

Verbos de atitude proposicional Vap

Adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais Adv

Adjetivos e construccedilotildees adjetivas Adj

Expressotildees modais Em

Morfologia

Futuro perifraacutestico futperif

vamos+infinitivo letlsquos

Futuro do preteacuterito futpret

Imperfeito imperf

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos

(f) Composicionalidade se haacute apenas um iacutendice modal em cada enunciado (―s para

simples) ou se haacute dois ou mais iacutendices na mesma unidade informacional e mesmo

enunciado (―me para mesmo enunciado) ou se haacute no mesmo enunciado e em

unidades informacionais diferentes (―meud para mesmo enunciado e unidades

diferentes)

A Tabela 37 traz um instantacircneo da maneira como os dados referentes a enunciados

padratildeo informacional composicionalidade valor modal PoS e subvalores modais estatildeo

organizados e codificados

81

Sob a etiqueta verbos modalizadores incluo natildeo apenas os verbos ―poder ―dever e ―ter que mas todos

aqueles que expressam modalidade epistecircmica deocircntica e dinacircmica mesmo que a rigor nem todos sejam

enquadrados na categoria ―verbos modais

98

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados

En

un

cia

do

UI

Pa

dratilde

oc

om

pV

alo

r m

od

al

Po

SS

ub

va

lor

mo

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l

GIL

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CN

T=

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o agrave

qu

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CO

B=

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do

em

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MP

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eacutem

fala

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ma

sca

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CO

B=

esse

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vo

do

Ga

laacutetico

s eacute

mu

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pa

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=

CO

B=

eu

ac

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qu

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ũ d

ev

iam

ma

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art

icip

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CO

Mm

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M=

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Ms

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CO

M=

$

CO

Ms

ep

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be

lie

f

LU

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ũ v

atildeo

pa

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CO

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[3

6] n

eacute e

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A=

co

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ga

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M=

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sd

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litio

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LE

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5] co

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B=

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atildeo

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B=

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Bm

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red

ictio

n

CO

Bm

eu

de

pi

futp

eri

fp

red

ictio

n

99

Em fase posterior foram acrescentados apenas por um anotador dados referentes aos

componentes utilizados para a anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade como o target a unidade

informacional que conteacutem o target a polaridade e a source of the modality ou holder

(BAKER et al 2010) A metodologia utilizada na anotaccedilatildeo dos dados seraacute explicitada no

capiacutetulo 5 da Parte III deste trabalho uma vez que para tal classifico apenas os iacutendices

lexicais utilizo uma classificaccedilatildeo mais refinada e um software especiacutefico para tarefas de

anotaccedilatildeo o MMAX2 (MULLER STRUBE 2006)

Da tabela ainda consta um campo para observaccedilotildees sobre sutilezas de cada ocorrecircncia

como por exemplo relaccedilotildees entre morfossintaxe e semacircntica estrateacutegias de polidez

envolvidas padrotildees modais etc

As construccedilotildees condicionais foram tabuladas em planilha especiacutefica devido agrave

particularidade dos dados a serem analisados Aleacutem dos metadados lemas e lexemas e valor

modal foram acrescentados o padratildeo de organizaccedilatildeo informativa da construccedilatildeo por exemplo

TOPCOM e a distribuiccedilatildeo da proacutetase e apoacutedose correspondente ao padratildeo de cada

enunciado

Abaixo uma amostra da tabela com as condicionais e suas variaacuteveis

Texto Falante Construccedilatildeo Est Info Estr Sint

bfamcv02 TER [21] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhou =COM=$ TOP-COM Pro-apo

bfamcv02 RUT [23] se nũ morrer antes ltdelesgt =COM=$ COM pro

bfamcv02 JAE [27] ltse for ogt filho e ganhou =TOP= lteacute questatildeo da matildeegt =COM=$ TOP-COM Pro-apo

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais

34 Anaacutelise dos dados

A partir da organizaccedilatildeo dos dados foi realizada a descriccedilatildeo da modalidade no

minicorpus etiquetado informacionalmente do C-ORAL-BRASIL Foram analisadas as

frequecircncias de enunciados modalizados encontrados na amostra bem como a sua distribuiccedilatildeo

por tipologia interacional Aleacutem disso foram descritas a frequecircncia dos iacutendices morfolexicais

inclusive em relaccedilatildeo agrave unidade informacional de que faziam parte e a frequecircncia dos tipos de

modalidade em relaccedilatildeo aos iacutendices e a cada unidade informacional

Em seguida foi feita a anaacutelise qualitativa e quantitativa para cada um dos iacutendices

modais encontrados em termos de ambientes sintaacuteticos relaccedilatildeo entre estrutura sintaacutetica e

estrutura informacional distribuiccedilatildeo nos contextos e tipologias interacionais tipologia textual

100

(narrativo relato expositivo argumentativo descritivo) Aleacutem disso foram analisadas as

variaacuteveis tipo de modalidade e seus subvalores padratildeo de estrutura informacional (qual

unidade informacional conteacutem o marcador modal) e a composicionalidade (enunciado

simples dois iacutendices na mesma unidade informacional dois ou mais iacutendices em unidades

informacionais diferentes mas no mesmo enunciado)

Neste capiacutetulo tratei dos procedimentos metodoloacutegicos que guiaram esta pesquisa Na

primeira seccedilatildeo expus os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato teoria esta corpus-driven

e corpus-based que define o enunciado como sua unidade miacutenima de referecircncia

pragmaticamente analisaacutevel Elenquei e defini as unidades informacionais textuais e

dialoacutegicas e os padrotildees complexos de organizaccedilatildeo informacional a saber as Unidades de

escansatildeo Comentaacuterios Muacuteltiplos Estrofes e Comentaacuterios Ligados Em seguida na segunda

seccedilatildeo apresentei a arquitetura do C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro especificamente em sua variedade mineira Da parte informal deste corpus foi

recortado um minicorpus a partir de criteacuterios de maacutexima qualidade com 20 textos

privadosfamiliares e puacuteblicos que tenta preservar a arquitetura do corpus Descrevo as

variaacuteveis utilizadas para a anaacutelise dos dados (metadados lemas e lexemas estrutura

informacional composicionalidade valores e subvalores modais e PoS) e por uacuteltimo

explicito o tipo de anaacutelise a ser empreendida

No proacuteximo capiacutetulo sigo com a descriccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL com

a apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados e posterior anaacutelise qualitativa de alguns dos iacutendices

lexicais que expressam o fenocircmeno em tela

101

Capiacutetulo 4

A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise

No capiacutetulo anterior apresentei a moldura teoacuterica da Teoria da Liacutengua em Ato o

projeto C-ORAL-BRASIL e os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para a anaacutelise da

modalidade no minicorpus extraiacutedo da parte informal do C-ORAL-BRASIL No presente

capiacutetulo descrevo os resultados para a modalidade na amostra de 20 textos deste minicorpus e

analiso o comportamento de alguns dos iacutendices lexicais que expressam modalidade a saber

verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais do tipo

―se p entatildeo q

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra

O minicorpus de anaacutelise possui um total de 31465 palavras e 5484 enunciados Foi

realizada uma busca manual em todos os enunciados para a extraccedilatildeo dos enunciados que

continham pelo menos um marcador de modalidade dentre os jaacute elencados na seccedilatildeo de

procedimentos metodoloacutegicos Foram encontrados 1197 iacutendices marcadores de modalidade

sendo 109 referentes a construccedilotildees condicionais82

e 1088 referentes aos outros itens modais

distribuiacutedos em 1044 enunciados o que corresponde a 1903 do total de todos os

enunciados da amostra Como mostra o graacutefico abaixo

82

Conforme destacado no capiacutetulo de procedimentos metodoloacutegicos as construccedilotildees condicionais recebem

tratamento diferenciado porque ―assumem uma estrutura textual que difere das estrateacutegias lexicais e possuem

uma distribuiccedilatildeo prosoacutedico-pragmaacutetica peculiar (CORTES MELLO 2013 p 1)

102

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus

Em termos de composicionalidade83

os iacutendices estatildeo assim organizados dos 1088

marcadores 825 aparecem em enunciados com apenas um iacutendice modal 202 estatildeo

combinados (dois ou mais iacutendices) em uma mesma unidade informacional e 61 deles

correspondem a mais de um iacutendice modal em um mesmo enunciado mas em unidades

informacionais diferentes A combinaccedilatildeo de um ou mais iacutendices em uma mesma unidade

informacional exige que seja analisado o valor global do enunciado respeitando a hierarquia

de valores de cada um dos modais

Na amostra haacute uma seacuterie de valores modais combinados (epi-epi epi-deo epi-dyn

epi-epi-epi epi-deo-epi epi-epi-dyn deo-deo- deo-epi dyn-epi etc) sendo que o valor

global predominante nestes enunciados eacute o epistecircmico Vejamos alguns exemplos

(41) SIL [92] ltsinceramentegt que eu nũ sei =COM=$ (bfamdl04)

(42) HEL [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt =COM=$ (bfamcv04)

(43) JOR [79] eles queriam me dar um dinheiro por fora mas =SCA= a gente

tambeacutem tem que ter o nossos momento de descanso =COM=$ (bfammn06)

(44) EVN [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

83

Apresento a composicionalidade dos 1088 marcadores de modalidade excluiacutedas as construccedilotildees condicionais

que como jaacute mencionado estatildeo organizadas de maneira particular

nordm de enunciados

nordm de enunciados modalizados

103

Em (41) temos dois iacutendices modais epistecircmicos ―sinceramente e ―sei com

subvalores de crenccedila e conhecimento e o valor global do enunciado eacute epistecircmico A

ocorrecircncia em (42) traz um enunciado com valor global deocircntico haacute uma combinaccedilatildeo de

dois itens modais deocircnticos com significado de permissatildeo e impedimento O exemplo (43)

combina um iacutendice dinacircmico ―queriam e um deocircntico ―tem que dada a hierarquia o valor

global eacute dinacircmico Por uacuteltimo em (44) a unidade informacional de Comentaacuterio conteacutem dois

marcadores modais um epistecircmico de crenccedila ―acho e uma obrigaccedilatildeo deocircntica ―tem que e

seu valor global eacute epistecircmico

42 Enunciados e tipologia interacional

Na amostra da parte informal do corpus a extraccedilatildeo automaacutetica dos enunciados nos daacute

um resultado de 5484 enunciados simples e complexos distribuiacutedos da seguinte forma 4126

enunciados privados (1404 conversaccedilotildees 1870 diaacutelogos e 852 monoacutelogos) e 1358

enunciados puacuteblicos (635 conversaccedilotildees 581 diaacutelogos e 142 monoacutelogos) A Tabela 42 mostra

os nuacutemeros para a distribuiccedilatildeo de enunciados em termos de tipologia interacional e contexto

familiar ou puacuteblico Destacam-se o nuacutemero total de enunciados por tipologia e contexto e a

frequecircncia deles comparados aos nuacutemeros totais do minicorpus

Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x tipologia e contexto interacional

O graacutefico abaixo daacute a perspectiva da distribuiccedilatildeo

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal

Total

amostra

Freq

()

Privados 174 332 291 797 4126 193

Puacuteblicos 46 111 90 247 1358 181

Total modal 220 443 381 1044 5484 1903

Total amostra 994 2451 2039 5484

Freq () 221 18 186

104

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional

Observa-se que a tipologia interacional tem influecircncia sobre o percentual de

enunciados modalizados comparados aos diaacutelogos e conversaccedilotildees (181 e 186

respectivamente) a tipologia monoloacutegica possui mais enunciados modalizados (222)

Na Tabela 42 estatildeo indicados o nuacutemero de iacutendice modais encontrados em cada

contexto e tipologia interacional e sua frequecircncia em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de iacutendices

modalizados

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional

Abaixo o graacutefico para ilustrar essa distribuiccedilatildeo

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal Freq ()

Privados 207 365 334 906 756

Puacuteblicos 64 130 97 291 243

Total modal 271 495 431 1197

Freq () 226 413 359

105

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional

A grande diferenccedila entre a frequecircncia dos iacutendices em contextos privados e puacuteblico

deve-se ao nuacutemero bastante superior de textos privados (15) em relaccedilatildeo ao puacuteblico (5) Esta

comparaccedilatildeo portanto eacute meramente ilustrativa No que diz respeito agrave tipologia interacional os

iacutendices estatildeo assim distribuiacutedos para os monoacutelogos 226 do total de iacutendices para os

diaacutelogos 413 e para as conversaccedilotildees 359

Assim vemos que ao serem apresentados apenas os nuacutemeros de iacutendices modais

deslocados do nuacutemero de enunciados e de uma base de referecircncia de toda a amostra inverte-

se o peso das tipologias os monoacutelogos apresentam menos modalizaccedilotildees em comparaccedilatildeo com

as trocas dialoacutegicas (diaacutelogos e conversaccedilotildees)

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade

Foram encontradas 1197 ocorrecircncias de itens lexicais e gramaticais que expressam

modalidade divididos em verbos modais verbos epistecircmicos e de atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais futuro

perifraacutestico futuro do preteacuterito imperfeito (com valor de futuro do preteacuterito) e construccedilotildees

condicionais A Tabela 43 abaixo mostra os nuacutemeros para cada estrateacutegia modalizadora

0

200

400

600

800

1000

1200

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Freq ()

106

Estrateacutegias modalizadoras nordm de enunciados

verbos modalizadores 414

verbos epistecircmicos atitude proposicional 223

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 92

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 22

expressotildees modais 30

futuro perifraacutestico 243

vamos+infinitivo (~letlsquos) 18

futuro do preteacuterito 37

imperfeito (~futuro do preteacuterito) 9

construccedilotildees condicionais 109

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras

O nuacutemero de ocorrecircncia de iacutendices lexicais eacute de 783 e corresponde a 654 da

amostra enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 O nuacutemero de

iacutendices gramaticais somados eacute idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A estrateacutegia modalizadora empregada mais frequententemente satildeo os verbos

modalizadores (aqui como jaacute explicitado incluo todos os verbos que expressam modalidade

epistecircmica deocircntica e dinacircmica) correspondendo a 346 do total de ocorrecircncias As duas

outras estrateacutegias mais frequentes satildeo o futuro perifraacutestico (202) e os verbos epistecircmicos e

de atitude proposicional (185) A Figura 44 demonstra a participaccedilatildeo de cada uma das

estrateacutegias utilizadas na amostra

107

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra ()

Importante destacar que na liacutengua portuguesa o futuro do preteacuterito apesar de ser uma

forma do modo indicativo representando um futuro retrospectivo funciona como uma forma

condicional exatamente como em outras liacutenguas romacircnicas como o francecircs e o italiano Dessa

forma as construccedilotildees condicionais (do tipo ―se p entatildeo q) e o futuro do preteacuterito (inclusive

na forma temporal do imperfeito) consistem em 129 do total de enunciados modalizados

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional

Nesta seccedilatildeo apresento a distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade em relaccedilatildeo agrave

articulaccedilatildeo informacional do enunciado

Segundo Tucci (2007) apenas algumas unidades podem conter um iacutendice modal o

Comentaacuterio o Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo No minicorpus em anaacutelise aleacutem

destas unidades informacionais centrais jaacute apontadas nos dados do italiano ainda aparecem

como modalizados as unidade de Lista de Toacutepicos Lista de Parenteacuteticos Comentaacuterios

Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados Destaco que apesar de termos quatro ocorrecircncias de

iacutendices na unidade de Apecircndice de Comentaacuterio e uma na de Apecircndice de Toacutepico os nuacutemeros

foram computados na unidade imediatamente anterior que integra na medida em que se

constituem como ecos ou informaccedilatildeo atrasada de itens contidos no Comentaacuterio ou Toacutepico A

Tabela 44 a seguir mostra a frequecircncia relativa das unidades informacionais centrais na

amostra

estrateacutegias modalizadorasverbos modais

verbos epistecircmicos atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais

adjetivos e construccedilotildees adjetivas

futuro perifraacutestico

vamos+infinitivo (~letrsquos)

108

Unidades textuais Amostra iacutendices modais

Comentaacuterio 5484 1027 187

Toacutepico 503 22 43

Parenteacutetico 124 17 137

Introdutor Locutivo 223 22 103

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra84

Do total de 1088 ocorrecircncias de iacutendices modais 1027 delas se realizam em unidade

de Comentaacuterio seja o Comentaacuterio-ele mesmo (820 ocorrecircncias) ou unidades de Comentaacuterio

Muacuteltiplo (94 ocorrecircncias) Comentaacuterios Ligados (109 ocorrecircncias) As trecircs outras unidades

que carregam o marcador modal mdash Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo mdash participam de

maneira semelhante na caracterizaccedilatildeo da modalidade na amostra em nuacutemeros absolutos com

22 17 e 22 ocorrecircncias respectivamente Os graacuteficos em 45 e 46 apontam o percentual

absoluto e relativo de unidades modalizadas respectivamente

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices modalizados

84

A tabela foi montada a partir da base IPIC plataforma de busca que fornece os dados comparativos do C-

ORAL-ROM italiano e seu minicorpus e o minicorpus (parte informal) do C-ORAL-BRASIL em relaccedilatildeo a

dados gerais tipos interacionais contextos comunicativos e unidades informacionais Disponiacutevel em

httplablitaditunifiitipic Uacuteltimo acesso em 16 mar 2014 Trago apenas os nuacutemeros que me interessam nesta

anaacutelise Para fins de anaacutelise nos nuacutemeros para Comentaacuterio estatildeo incluiacutedos enunciados e estrofes uma vez que

os nuacutemeros da unidade COM contecircm os CMMs e os COBs Computo igualmente para o Toacutepico e o Parenteacutetico

os nuacutemeros da Lista de Toacutepicos (3) e Lista de Parenteacuteticos (3) respectivamente

94

2 22

Frequecircncia absoluta - Unidade informacionais

COM TOP PAR INT

109

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus

Comparados os dois graacuteficos notamos que o Comentaacuterio tanto em termos absolutos

quanto em termos relativos eacute a unidade mais frequentemente modalizada As outras

unidades em nuacutemeros absolutos satildeo modalizadas em meacutedia em 2 dos enunciados jaacute em

termos relativos o quadro se modifica o Parenteacutetico figura como a segunda unidade mais

modalizada (137) seguida do Introdutor Locutivo (103) e em frequecircncia bem menor do

Toacutepico (43)

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais

Trato agora da distribuiccedilatildeo dos valores modais (epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos)

em relaccedilatildeo ao nuacutemero de enunciados agrave estrutura informacional e agrave ocorrecircncia das estrateacutegias

modalizadoras A distribuiccedilatildeo dos valores modais na nossa amostra eacute a seguinte

tipo de modalidade nordm de enunciados

epistecircmica 904

deocircntica 190

dinacircmica 103

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo

5484

503 124 223

1028

2217 23187 43 137 103

Frequecircncia relativa - Unidades informacionais

Minicorpus iacutendices modais

110

De um total de 1197 iacutendices que expressam a modalidade o epistecircmico eacute o valor

modal mais amplamente utilizado em 766 das ocorrecircncias As modalidades deocircntica e

dinacircmica satildeo realizadas em percentual bem menor com 149 e 84 das ocorrecircncias Como

mostra a figura a seguir

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais ()

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical

No que diz respeito agrave frequecircncia dos valores modais por iacutendice lexical temos

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

verbos epistecircmicos 210 0 0

verbos de atitude proposicional 26 0 0

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 94 0 0

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 19 1 0

expressotildees modais 28 1 1

futuro perifraacutestico 244 0 0

vamos + infinitivo (~ construccedilatildeo let) 0 0 17

futuro do preteacuterito 37 0 0

imperfeito 9 0 0

condicionais 109 0 0

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade

76

16

8

tipos de modalidade

epistecircmica deocircntica dinacircmica

111

O nuacutemero de iacutendices lexicais eacute de 781 e corresponde a 657 de todos os iacutendices

enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 dos modais O nuacutemero de

itens gramaticais modais eacute praticamente idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A tabela indica que independentemente do valor satildeo os verbos modalizadores a

estrateacutegia preferencial para a expressatildeo da modalidade num percentual correspondente a

335 do total de iacutendices com destaque para o tipo deocircntico em que esta estrateacutegia

predomina 469 do uso de verbos modais correspondem a este valor 319 ao valor

epistecircmico e 212 ao dinacircmico

A modalidade epistecircmica eacute a mais utilizada como jaacute visto e estaacute associada a todas as

estrateacutegias modalizadoras Mello e colaboradores (2013) em anaacutelise quantitativa da

distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro

construiacuteram um graacutefico em que quanto mais vetores estivessem associados a um determinado

noacute mais representativo seria este noacute em relaccedilatildeo ao paracircmetro analisado no caso a relaccedilatildeo

entre a tipologia modal e os lemas modais Desta forma demonstraram a tendecircncia para o

uso no portuguecircs brasileiro do tipo epistecircmico e apontaram que este valor tem uma taxa de

associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que os tipos deocircntico e

dinacircmico

Os valores deocircntico e dinacircmico satildeo realizados predominantemente pelos verbos

modalizadores com a ocorrecircncia de uma expressatildeo modal com valor deocircntico e uma para o

valor dinacircmico Construccedilotildees do tipo ―vamos+Vinf (tambeacutem chamada de construccedilatildeo let ou

construccedilotildees hortativas) com 17 ocorrecircncias representam o futuro como voliccedilatildeointenccedilatildeo

subvalores associados ao valor dinacircmico

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais

Nesta seccedilatildeo apresento os resultados para a frequecircncia do valor modal em relaccedilatildeo agraves

unidades informacionais Jaacute deixamos claro que o escopo da modalidade natildeo eacute o enunciado

mas a unidade informacional Em um mesmo enunciado pode ocorrer mais de um elemento

veiculador de modalidade e a modalidade soacute se estende ao enunciado inteiro se ele for do

tipo simples quer dizer soacute composto pela unidade de Comentaacuterio

A Tabela 47 traz os nuacutemeros para os valores modais nas unidades informacionais de

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo

112

Unidades informacionais epi deo dyn

COM 746 185 96

TOP 19 1 2

PAR 15 1 1

INT 16 3 3

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais

As unidades informacionais tecircm comportamento diverso e natildeo-uniforme no que diz

respeito agrave realizaccedilatildeo do valor modal Para o Comentaacuterio natildeo haacute restriccedilatildeo quanto ao valor

modal a unidade assume significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos O Toacutepico ao

contraacuterio realiza principalmente o tipo epistecircmico (863) e na amostra assumiu o valor

dinacircmico em duas ocorrecircncias e em uma ocorrecircncia do tipo deocircntico correspondente ao item

modal contido na unidade de Apecircndice de Toacutepico que a integra A unidade de Parenteacutetico tem

comportamento semelhante realiza em sua maioria significados epistecircmicos (882) e

assume em apenas uma ocorrecircncia o valor deocircntico e o dinacircmico Quanto ao Introdutor

Locutivo parece apresentar da mesma forma que o Comentaacuterio a possibilidade de maior

realizaccedilatildeo de todos os significados modais (739 para os epistecircmicos e 13 para os

deocircnticos e dinacircmicos) Abaixo o graacutefico representa a distribuiccedilatildeo absoluta das unidades

informacionais relativo a cada valor modal

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal

0

200

400

600

800

1000

1200

epi deo dyn total

INT

PAR

TOP

COM

113

Abaixo na Figura 49 a distribuiccedilatildeo relativa das unidades no que diz respeito a cada

valor modal com base no nuacutemero total de ocorrecircncias

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal

Segundo Tucci (2007 p 270) em anaacutelise dos dados da modalidade para o italiano o

fato de as unidades de Comentaacuterio e Introdutor Locutivo poderem realizar todos os valores

modais sem qualquer restriccedilatildeo natildeo eacute surpreendente O Comentaacuterio representa a unidade

suficiente e necessaacuteria para a interpretabilidade de um enunciado e da mesma forma o

Introdutor Locutivo que introduz um discurso reportado um elenco uma comparaccedilatildeo uma

exemplificaccedilatildeo (no portuguecircs brasileiro introduz uma opiniatildeo ou consideraccedilatildeo) assinalando

a modalidade e suspendendo a operaccedilatildeo ilocutiva

Sobre o Toacutepico e o Parenteacutetico Tucci (2007 p 271-273) faz consideraccedilotildees sobre as

duas unidades no que diz respeito agrave realizaccedilatildeo majoritariamente das modalidades epistecircmica e

aleacutetica e agrave restriccedilatildeo do uso do tipo deocircntico De acordo com a autora esta restriccedilatildeo estaacute

intimamente associada agrave sua funccedilatildeo informativa

Nas proacuteximas seccedilotildees passo a analisar os dados para alguns dos iacutendices lexicais

marcadores de modalidade

738 863 882739

71 45 59

13

92 9 59 13

COM TOP PAR INT

unidades informacionais x valor modal

epi deo dyn

114

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade

Os significados modais no portuguecircs brasileiro como jaacute apontado podem ser

expressos por vaacuterios meios lexicais morfoloacutegicos e sintaacuteticos Esta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise

de quatro categorias lexicais ndash verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios modais ndash

e uma categoria gramatical ndash as construccedilotildees condicionais

451 Os verbos modalizadores

A grande maioria dos estudos sobre a categoria da modalidade se dedica agrave anaacutelise dos

verbos modais auxiliares ou semi-auxiliares como os de Papafragou (1998 2000) Cornillie

(2005 2007) van der Auwera and Plungian (1998) Bybee et al (1994) Almeida (2010) para

nomear apenas uns poucos Para a liacutengua portuguesa destaco os trabalhos de Oliveira (2003)

Gonccedilalves (2004) Galvatildeo (2000) Gonccedilalves e Galvatildeo (2001) Salomatildeo (2008)

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores

Como apontado na seccedilatildeo 441 os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial

utilizada para a expressatildeo da modalidade Relembrando ilustro com um excerto da Tabela

46

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

Foram identificados na amostra portanto 401 verbos modalizadores isto eacute todos os

verbos modais auxiliares semimodais e verbos plenos que expressam modalidade Abaixo

elenco todos os lemas encontrados e suas respectivas ocorrecircncias

115

verbos

modalizadores ocorrecircncias

adiantar 3 08

aguentar 2 05

conseguir 11 27

dar 30 75

dever 31 77

esperar 3 08

gostar 1 03

parecer 10 24

poder 132 329

precisar 17 42

querer 65 162

ter que 93 232

valer 3 08

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores

Desta lista observa-se a grande ocorrecircncia de verbos que figuram em listas de vaacuterias

liacutenguas como ―poder ―dever ―ter que ―precisar ―querer e ―parecer No entanto haacute

formas outras que normalmente natildeo satildeo consideradas modais canocircnicos como os verbos

―dar ―adiantar ―valer e ―aguentar que parecem ser usos especializados do portuguecircs

brasileiro85

O graacutefico abaixo mostra a distribuiccedilatildeo dos itens

85

Restrinjo-me agrave variante brasileira do portuguecircs uma vez que natildeo tenho dados suficientes para fazer

afirmaccedilotildees sobre as outras variantes seja a europeia ou as africanas

116

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores

A seguir apresento alguns exemplos de verbos que por um vieacutes metafoacuterico permitem

a leitura como marcador modal

(41) Adiantar

(a) [217]aiacute natildeo adianta =CMM= nũ pode desmanchar =CMM=$ (bpubdl01)

(42) Conseguir

(b) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(c) KAT [32] conseguiu marcar =CMM= natildeo =CMM= neacute =CMM=$

(43) Dar (para)

(d) REN [266] daacute pa fechar o jogo =COM=$

(e) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(f) [168] dois filho =TOP_r= daacute pa rir e chorar =COM_r=$

(44) Esperar

(g) entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros times que

jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $ (bfamcv01)

(h) REN [518] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

11 3 7 8

1 02

33

4

16

23

1

Frequecircncia dos verbos modalizadores

adiantar aguentar conseguir dar dever

esperar gostar parecer poder precisar

querer ter que valer

117

(45) Parecer

(i) [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$ (bpubdl01)

(46) Valer

(j) FLA [444] natildeo vale mais chorar por ele=COM=$

Destaco na amostra os nuacutemeros para as ocorrecircncias dos principais verbos que dizem

respeito agraves modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica mdash ―poder ―dever ―ter que

―querer e ―conseguir

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade

Observamos que o verbo ―poder eacute mais usado que o verbo ―dever como estrateacutegia

de modalidade com 132 ocorrecircncias comparadas a 31 ocorrecircncias Necessaacuterio salientar que o

uso de ―ter que (93 ocorrecircncias 2 em sentido epistecircmico e 91 em sentido deocircntico) no PB

como veiculador de modalidade deocircntica indica que o sentido de obrigaccedilatildeo estaacute quase

totalmente vinculado a ele O verbo ―querer assume valor dinacircmico de voliccedilatildeo e o

―conseguir indica habilidadecapacidade dinacircmica em 9 casos e possibilidade epistecircmica em

2

Na Tabela 49 os nuacutemeros de ocorrecircncias de cada verbo e a frequecircncia relativa aos

verbos modalizadores e aos valores modais totais

poder (can)dever (must

should)ter que (have

to)querer

(wishwant)conseguir

(be able to)

epi 52 29 2 0 2

deo 78 2 91 0 0

dyn 2 0 0 65 9

0102030405060708090

100

Principais verbos modais

118

Verbos modais epi deo dyn

poder (can) 52 78 2

dever (must should) 29 2 0

ter que (have to) 2 94 0

querer (wishwant) 0 0 65

conseguir (be able to) 2 0 9

total 85 174 76

verbos modalizadores 205 421 184

valor modal 94 915 737

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores

Observa-se que a partir do caacutelculo da porcentagem para cada um dos valores modais

tomando em consideraccedilatildeo todos os enunciados estes verbos em destaque assumem o valor

deocircntico (915) e dinacircmico (737) contra 94 de epistecircmicos Em relaccedilatildeo aos verbos

modalizadores os deocircnticos continuam a predominar (421) seguido em nuacutemeros proacuteximos

dos epistecircmicos (205) e dos dinacircmicos (184) Conforme o graacutefico em 412

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores

A baixa ocorrecircncia de ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca e a sua maior ocorrecircncia com o valor epistecircmico indica que este verbo

conforme Mello et al (2010 p 119)

020406080

100120140160180

epi

deo

dyn

119

[d]e tiacutepico modalizador deocircntico (por conter a noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo associada agrave

diacutevida) o verbo passou a frequente modalizador epistecircmico veiculando menos a

noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo do que a de possibilidade ou a de probabilidade A noccedilatildeo de

obrigaccedilatildeo aparece fracamente na semacircntica do verbo porque a avaliaccedilatildeo de

probabilidade (epistecircmico) deriva de uma avaliaccedilatildeo baseada na necessidade

(deocircntica neste caso) das relaccedilotildees entre as coisas Eacute notaacutevel a ocorrecircncia dessa nova

acepccedilatildeo (epistecircmica) mais frequente que a acepccedilatildeo de raiz (deocircntica)

O espaccedilo deixado pelo verbo ―dever em usos de obrigaccedilatildeo deocircntica tem sido ocupado

pelo semimodal ―ter que como confirmam os nuacutemeros

Em termos de distribuiccedilatildeo dos verbos nas unidades informacionais como estrateacutegia

mais produtiva podem ocupar qualquer uma das UIs modalizaacuteveis com destaque mais uma

vez para o grande nuacutemero de ocorrecircncias na unidade de Comentaacuterio (315) o que corresponde

a 786 de todas as ocorrecircncias Se ao Comentaacuterio acrescentamos as ocorrecircncias para APC

CMM e COB este nuacutemero sobe para 390 973 do total de ocorrecircncias da amostra Eacute

importante notar que todos os significados epistecircmicos satildeo realizados nesta unidade Nas

unidades de Toacutepico Apecircndice de Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo temos a

realizaccedilatildeo de valores deocircnticos (tanto permissatildeo quanto obrigaccedilatildeo) e dinacircmicos (voliccedilatildeo)

452 Os verbos epistecircmicos

Os verbos de caraacuteter epistecircmico ou verbos de crenccedila funcionam segundo Venier

(1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) como ―sinais para manifestar no ouvinte o grau de

confiabilidade conferido pelo falante agrave proposiccedilatildeo e para manter uma funccedilatildeo sinalizadora

tambeacutem quando o enunciado que a conteacutem vem reportado86

Aleacutem disso desenvolvem

sentidos atitudinais e interacionais podem estar configurados sintaticamente de variadas

maneiras permitindo diferentes complementos a proacutepria omissatildeo de complemento e

informacionalmente a parentetizaccedilatildeo

Vejamos ocorrecircncias do Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA 2006) com o

verbo de crenccedila ―considerar a fim de apontar nuances de com conceptualizaccedilatildeo no uso deste

tipo de verbo87

86

Traduccedilatildeo minha para ―segnali di manifestare alllsquoascoltatore il grado di attendibilitagrave assegnato dal parlante

alla proposizione e di mantenete uma funzione segnaletica anche quando llsquoenunciato che li contiene viene

riportato (VENIER 1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) 87

Os exemplos foram coletados do Corpus do Portuguecircs esse eacute um corpus de referecircncia da liacutengua portuguesa

projeto desenvolvido pelos professores Mark Davies (BYU) e Michael J Ferreira (Georgetown University) com

mais 45000000 de palavras e um total de 57000 textos do seacutec XIV ao seacutec XX Esse corpus permite o

cruzamento de dados e distribuiccedilatildeo de palavras frases e construccedilotildees por registro (oral ficccedilatildeo jornaliacutestico e

120

(47) os direitos com facilidade ou tem ciuacuteme Joatildeo Ubaldo - Realmente natildeo gostei de

O Sorriso do Lagarto mas gostei da adaptaccedilatildeo de Sargento Getuacutelio para o cinema

Natildeo tenho ciuacuteme algum Trata-se mesmo de outra obra a obra do cineasta

iBEsp_242 15 de outubro de 1997 Nahas se considera ldquoum bode expiatoacuteriordquo

Estado - O sr esperava esta sentenccedila da Justiccedila Naji Nahas - Natildeo esperava de jeito

nenhum Eacute mais uma violecircncia uma discriminaccedilatildeo odiosa entre as muitas que tenho

sido viacutetima desde 89 Estado - Se o sr eacute a viacutetima quem (CDP19OrBrIntrvISP)

(48) Nahas - Confio na Justiccedila e sei que esta sentenccedila estaacute sujeita a revisatildeo

Terminando meu trabalho eu volto porque quero me apresentar para a apelaccedilao

aproveitando o momento para esclarecer todo esse assunto e mostrar definitivamente

quem satildeo os culpados Sou a viacutetima Estado - O sr se considera um bode

expiatoacuterio Nahas - Sou E o mais sofrido do BrasiliBEsp_244 18 de outubro de

1997 Manoel de Barros faz do absurdo sensatez Estado - Como surgiu seu amor pelas

coisas sem importacircncia Manoel de Barros - Quando eu era jovem fiz uma longa

viagem pela Boliacutevia (CDP19OrBrIntrvISP)

Em (47) confirmado por (48) tem-se um caso de discurso reportado e mostra-se a

separaccedilatildeo entre ―quem enuncia e nos termos tradicionais explicitados anteriormente ―o

falante que se compromete com a verdade da proposiccedilatildeo enunciada Em uacuteltima

consequecircncia haacute uma separaccedilatildeo a meu ver entre enunciado e proposiccedilatildeo enunciada

Observemos outro exemplo

(49) lugar (exceto Belo Horizonte) por mais de 2 anos Sebastiatildeo Nem no Rio de

Janeiro Prof Eduardo No Rio eu peguei uma vez mas minha mulher me gozou

tanto Comecei a puxar o ldquosrdquo igual ao pessoal de Juiz de Fora

que se considera carioca Dizem aqui em Belo Horizonte que o pessoal de laacute daacute o

endereccedilo tipo Avenida Brasil 9 milhotildees 582 mil etc (risos) Foi na eacutepoca em que

servi o Exeacutercito no Rio em Magalhatildees Bastos subuacuterbio Sebastiatildeo Natildeo entendi Com

17 anos o senhor

A partir de (49) temos duas possiacuteveis interpretaccedilotildees

acadecircmico) dialeto (portuguecircs brasileiro vs europeu no seacuteculo XX) periacuteodo histoacuterico (seacuteculos XIV ao XX)

Para acessaacute-lo httpwwwcorpusdoportuguesorg

121

(49a) Os juizforanos efetivamente dizem que satildeo cariocas (e aiacute se constituiria como

(xi) discurso reportado)

(49b) Os juizforanos se comportaram de uma determinada forma ou fizeram alguma

consideraccedilatildeo sobre serem cariocas que levam o falante a crer que o pessoal de Juiz de

Fora ―se considera carioca (inclusive enfatizado pelo enunciado seguinte em que

temos a presenccedila do evidencial ―Dizem que)

Dessa forma o que se pode depreender dos exemplos acima quando empregada a

terceira pessoa do discurso eacute que um dos usos dessas construccedilotildees eacute uma avaliaccedilatildeo do falante

sobre a avaliaccedilatildeo (ou perspectiva ou ainda ponto de vista) de uma pessoa outra (no papel

sintaacutetico de sujeito da claacuteusula principal)

Segundo Nuyts (2012) esta seria uma diferenccedila ente subjetividade e

intersubjetividade Uma avaliaccedilatildeo eacute tomada como subjetiva quando eacute responsabilidade

exclusiva do avaliador enquanto a intersubjetiva eacute compartilhada entre o avaliador e um

grupo de pessoas O autor sugere que satildeo principalmente os verbos de predicados mentais que

devem ser identificados com a subjetividade (NUYTS 2001 p 122-128) e pleiteia que a

subjetividade seja tratada como uma categoria diferenciada da modalidade epistecircmica

(NUYTS 2012) como por exemplo em (410) e (411)

(410) [94] achei aquele lugar incriacutevel =COM=$ (bfamcv01)

(411) [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

Na interpretaccedilatildeo de Nuyts exemplos como o apresentado em (410) parecem natildeo

carregar um sentido epistecircmico considerando que o verbo ―achar neste caso eacute um marcador

puramente de subjetividade jaacute que indica uma avaliaccedilatildeo esteacutetica ou moral e natildeo uma Em

(411) ao contraacuterio o verbo estaria empregado como um marcador epistecircmico com a

introduccedilatildeo de uma opiniatildeo baseada em evidecircncia ou na estimativa das possibilidades de

alguma coisa ser o caso

Sob outra perspectiva Almeida e Ferrari (2012) em artigo sobre a diferenccedila entre os

complementos de construccedilotildees epistecircmicas no inglecircs do tipo [X thinks that Y] e [X thinks Y]

levantam a questatildeo de qual seria a diferenccedila pragmaacutetica entre estas duas construccedilotildees baseado

no Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia (GOLDBERG 1995) As autoras a partir da anaacutelise de 382

construccedilotildees epistecircmicas de complementaccedilatildeo coletadas nas versotildees impressa e eletrocircnica da

revista Speak Up afirmam que estas construccedilotildees satildeo ―operadores de subjetividade que

122

apresentam o objeto de conceptualizaccedilatildeo (a claacuteusula complemento) tanto direta como

indiretamente desde a perspectiva do falante88

(ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

Ainda sustentam que as construccedilotildees sinalizam intersubjetividade uma vez que se referem

implicitamente agrave perspectiva do falante em relaccedilatildeo a outras perspectivas apresentadas em

discurso anterior as natildeo-completivas indicam conjunccedilatildeo cognitiva e as completivas

disjunccedilatildeo cognitiva entre a perspectiva do falante e outras perspectivas disponiacuteveis no fluxo

discursivo (ALMEIDA FERRARI 2012 p 124) Esta posiccedilatildeo que leva em conta uma

abordagem discursiva contraria outras propostas discutidas na literatura sobre o tema como a

jaacute mencionada de Nuyts (2012) e a de Verhagen (2005) justamente porque pleiteia que a

intersubjetividade vai envolver uma cena mais ampla que inclui a relaccedilatildeo entre falante e

ouvinte a claacuteusula complemento e as perspectivas anteriores disponiacuteveis no discurso

De fato os exemplos da amostra apontam para uma diferenccedila na qualidade da

avaliaccedilatildeo em construccedilotildees completivas e natildeo-completivas No entanto natildeo temos dados

suficientes para uma generalizaccedilatildeo que corrobore uma ou outra posiccedilatildeo apresentada Para fins

da pesquisa abarco crenccedila e opiniatildeo sob o guarda-chuva de crenccedila tomando uma opiniatildeo

como o resultado de uma determinada crenccedila

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos

Os types e tokens correlatos para os verbos epistecircmicos foram classificados

quantitativamente de acordo com a tipologia interacional (puacuteblico versus privado monoacutelogos

versus diaacutelogos versus conversaccedilotildees) e a tipologia textual (narrativo relato expositivo

argumentativo descritivo)

Aleacutem disso foi utilizado um nuacutemero de variaacuteveis na tabulaccedilatildeo dos dados que levam

em conta o padratildeo de estrutura informacional (qual unidade informacional conteacutem o

marcador modal) composicionalidade (enunciado simples dois iacutendices no mesmo enunciado

dois ou mais iacutendices em enunciados diferentes referecircncia contextual) tipo de modalidade e

seus subvalores o padratildeo sintaacutetico a projeccedilatildeo pragmaacutetica dos iacutendices e o conceptualizador

Os tipos encontrados foram acharlsquo acreditarlsquo crerlsquo imaginarlsquo pensarlsquo e saberlsquo

como exemplificado abaixo

88

No original ―[hellip] subjectivity operators which present the object of conceptualization (complement clause)

either direct or indirectly from the speakerlsquos perspective (ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

123

(412) Achar

(k) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do Galaacuteticos eacute

muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar =COM= e lttalgt

=UNC=$ (bfamcv01)

(l) [44] aiacute =PHA= passou um pouquim =COB= o filho =i-COB= achando que tava

errado aquele negoacutecio =PAR= voltou laacute outra vez =COM=$ (bfammn03)

(m) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando =COM=$

(bfamdl04)

(413) Acreditar

(n) [46] tipo =INT= eu [1]=EMP= eu acredito =i-COM= tipo =PAR= cem =SCA=

por cento =SCA= nisso =COM=$ (bfamcv01)

(o) [87] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfamdl01)

(p) [49] e eu acredito que depois que eu terminar o EDUCONLE =COB= eu acho

que aiacute eu vou tar mais madura ainda =COB= acho que mais preparada =COM=$

(bpubmn01)

(414) Crer

(q) ENC [208] eu creio que sim =COM (bfamdl05)

(415) Imaginar

(r) [171] natildeo =PHA= trinta reais =TOP= aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1]=EMP= eu fico

imaginando que elsquo fica pensando assim =INT= Nossa Sio =EXP_r= agraves vezes laacute em

casa taacute precisando de fazer uma compra e tudo =COM_r= neacute =PHA=$

(bpubmn01)

(416) Pensar

(s) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

(417) Saber

(t) TER [69] sei o tanto natildeo =COM=$ (bfamcv02)

(u) BAL [45] cecirc sabe que aquelas caxinhas ali =TOP= ela [1]=EMP= eu descobri

ontem =COB=$ (bfamdl02)

124

(v) ANE [19] rua Joaquim Nabuco =TOP= socirc sabe me informar =COM=$

(bfamdl03)

Como mencionado anteriormente o nuacutemero total de tokens de verbos epistecircmicos

encontrado no subcorpus foi de 210 distribuiacutedos em 6 types como a seguir 105 para acharlsquo

(50) 3 para acreditarlsquo 1 para crerlsquo 1 para imaginarlsquo 2 para pensarlsquo e 98 para saberlsquo

(47) A Figura 413 mostra esta distribuiccedilatildeo

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra

Analisando os nuacutemeros para tipologia interacional os resultados satildeo 60 exemplares

para monoacutelogos 21 em monoacutelogos puacuteblicos e 39 em privados 99 exemplares para diaacutelogos

16 para puacuteblicos versus 83 para diaacutelogos privados e 51 exemplares para conversaccedilotildees 14 em

puacuteblicas versus 37 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os dados na Tabela 410

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 39 21 60

Diaacutelogos 83 16 99

Conversaccedilotildees 37 14 51

TOTAL 159 (757) 32 (243) 210

Tabela 410 Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional

50

11

0

1

47

verbos epistecircmicos - ocorrecircncias

achar acreditar crer imaginar pensar saber

125

Esta tabela aponta para uma alta taxa de tokens em interaccedilotildees dialoacutegicas

principalmente em diaacutelogos privados Isso se deve a caracteriacutesticas especiacuteficas desses tipos de

texto e agrave relaccedilatildeo dos participantes na situaccedilatildeo comunicativa Se levarmos em conta a tipologia

textual nota-se que 319 destes verbos satildeo usados em textos argumentativos ou expositivos

o que coincide com a sua proacutepria definiccedilatildeo sinalizar o comprometimento do conceptualizador

em relaccedilatildeo ao que se enuncia As outras ocorrecircncias distribuiacutedas em textos narrativos

descritivos e relatos mostram os momentos em que os participantes expressam suas opiniotildees

ou crenccedilas ou requerem a opiniatildeo de seu interlocutor Devo destacar que as ocorrecircncias em

monoacutelogos puacuteblicos correspondem a apenas um texto a participante uma professora da

escola baacutesica relata sua atividade profissional e daacute sua opiniatildeo sobre o processo de ensino-

aprendizagem Eacute tambeacutem necessaacuterio destacar que a diferenccedila entre os nuacutemeros de textos

privados e puacuteblicos eacute minimizada em termos de frequecircncia relativa

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas

Vaacuterios padrotildees sintaacuteticos satildeo utilizados principalmente

(i) os verbos epistecircmicos introduzem oraccedilotildees encaixadas Em nossa amostra 571

de todas as ocorrecircncias seguem este padratildeo

(ii) eles podem ocupar diferentes posiccedilotildees no enunciado nos casos em que natildeo

introduzem uma encaixada

(iii) [SN]SUBJ V [SN]OBJ [SAdv] [SAdj]ATR Os casos em que natildeo haacute a realizaccedilatildeo do

objeto correspondem a 229 do total de ocorrecircncias principalmente com os verbos

―achar e ―saber

Alguns exemplos

(418) SNSUJ V comp S

LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais =COM=$ (bfamcv01)

(419) SNSUJ V SAdv S

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer =TOP= ele

paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

(420) SNSUJ V SNOBJ SAdv SAdjATR

[77] entatildeo eu achava aquilo muito interessante =COM=$ (bfammn06)

126

(421) SNSUJ SAdvNEGV SAdjATR SAdvNEG

[283] eu nũ achei ruim natildeo =COM= Jael =ALL=$ (bfamcv02)

Semanticamente estes verbos expressam o grau de comprometimento do

conceptualizador em relaccedilatildeo ao material locutivo enunciado Estas unidades lexicais estatildeo

ligadas a diferentes frames descritos para o inglecircs Opinion Certainty Awareness Assessing

andor Cogitation89

Em termos da distribuiccedilatildeo dos verbos por unidades informacionais podemos ver na

Tabela 411 como o subcorpus estaacute caracterizado

Unidades informacionais ocorrecircncias

epistecircmicos amostra

COM 182 866 177

INT 3 14 1363

PAR 11 53 647

TOP 14 67 636

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas

A primeira coisa a se observar eacute qual a unidade informacional que conteacutem o iacutendice

modal apenas o Comentaacuterio (incluindo as unidades Comentaacuterio Muacuteltiplo e Comentaacuterio

Ligado) o Toacutepico (inclusive a Lista de Toacutepico) o Parenteacutetico (inclusive a Lista de

Parenteacutetico) e o Introdutor Locutivo podem ser modalizados No caso dos verbos epistecircmicos

a unidade de Comentaacuterio eacute modalizada em 866 de todas as ocorrecircncias (182 para COM 11

para CMM e 20 para COB) seguida pelo Toacutepico (67 das ocorrecircncias sendo em nuacutemeros

absolutos 12 para o TOP e 2 para TPL) o Parenteacutetico (53 das ocorrecircncias 8 para PAR e 3

para PRL) Em nuacutemero bastante reduzido o Introdutor Locutivo com apenas 3 ocorrecircncias

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de ocorrecircncias das unidades informacionais o que se destaca satildeo

os nuacutemeros para o Toacutepico e o Parenteacutetico As duas unidades tecircm como estrateacutegia preferencial

de modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 de todas as ocorrecircncias do

minicorpus Quanto ao Comentaacuterio e o Introdutor Locutivo como visto anteriormente a

estrateacutegia principal satildeo os verbos modalizadores sendo os epistecircmicos responsaacuteveis por

89

A descriccedilatildeo para o frame de Opinion por exemplo eacute a seguinte ―Cognizer holds a particular Opinion which

may be portrayed as being about a particular Topic (John THINKS that it looks better back) Disponiacutevel em

httpsframeneticsiberkeleyedufndrupal

127

menos de 20 das ocorrecircncias O graacutefico na Figura 414 ilustra a distribuiccedilatildeo dos epistecircmicos

nas unidades informacionais e a frequecircncia desta estrateacutegia no conjunto das unidades

informacionais

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais

Abaixo alguns exemplos

(422) COM

DFL [56] aquilo que o =SCA= professor achava mais importante

=COM=$ (bfammn02)

(423) TOP

ANE [324] eu acho que quando eu vim =TOP= tinha esse =CMM= tinha

o outro =CMM=$ (bfamdl05)

(424) PAR

[41] soacute que eacute de microondas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl01)

(425) INT

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer

=TOP= ele paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

Mello e Raso (2013) discutem a necessidade de ampliaccedilatildeo do enunciado e das

unidades tonais como construtos analiacuteticos baacutesicos no tratamento da fala espontacircnea via

frames Como segundo a Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) ao enunciado

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

COM INT PAR TOP

ocorrecircncias

epistecircmicos

amostra

128

corresponde uma ilocuccedilatildeo mesmo que esses verbos epistecircmicos objeto de nossa

investigaccedilatildeo estejam de alguma forma representados em frames ligados por heranccedila

metafoacuterica e no uso de atividade mental ao falarmos estamos cumprindo diferentes accedilotildees

Dessa forma ―a anaacutelise da linguagem pautada por frames necessariamente deve levar em

conta pelo menos dois niacuteveis adicionais agravequeles construcional e semacircntico quais sejam os

niacuteveis informacional e ilocucionaacuterio (MELLO RASO 2013 p 106)

Transponho um princiacutepio talhado ateacute agora para a anaacutelise da escrita para a anaacutelise

da fala o Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia para discutir brevemente essa questatildeo Segundo esse

Princiacutepio (GOLDBERG 1995 2006)

Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas elas devem ser

semacircntica ou pragmaticamente distintas

Corolaacuterio A Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

semanticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

pragmaticamente sinocircnimas

Corolaacuterio B Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

pragmaticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

semanticamente sinocircnimas

Os verbos proacuteximos semanticamente se organizam sintaticamente de vaacuterias maneiras

como vimos Dessa forma pelo PNS o seu comportamento pragmaacutetico deve ser diferente E

de fato o eacute Vejamos as possiacuteveis funccedilotildees e os seus respectivos exemplos com a mesma

unidade lexical acharlsquo

(i) Estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior

Contexto casal conversa sobre a distribuiccedilatildeo de vagas em uma universidade

puacuteblica

LAU [51] natildeo tem um de ensino de arte +

LUZ [52] satildeo duas vagas eu acho [53] natildeo [54] de ensino de artes (bfamdl03)

(ii) Marcadores de concordacircncia discordacircncia indica um (possiacutevel) padratildeo

lexical Corresponde a um fenocircmeno de gradiecircncia de iacutendice modal para um

marcador discursivo

Contexto amigas no supermercado

129

REN [413] ltpodegt [414] tanto faz [415] pode

FLA [416] ou cecirc acha muito

REN [417] uhn [418] acho que natildeo [419] taacute [420] papel lthigiecircnico eu

nuncagt + (bfamdl01)

Dessa forma damos conta de que uma descriccedilatildeo de frames em termos exclusivamente

sintaacuteticos e semacircnticos pode ser de fato enriquecida com desdobramentos pragmaacuteticos de

diversas ordens

453 Adveacuterbios modais

Os adveacuterbios assim como os verbos receberam atenccedilatildeo especial como iacutendice

marcador de modalidade principalmente na liacutengua inglesa (GREENBAUM 1969 PERKINS

1983 SWAN 1988 BIBER FINEGAN 1988 HOYE 1997 SIMON-VANDERBERGEN

AIJMER 2007 SIMON-VANDERBERGEN 2008) No portuguecircs brasileiro destacam-se os

trabalhos de Castilho (1993 2010) e para a fala espontacircnea os de Mello Couto e Aacutevila

(2010) e Mello e Caetano (2012)

A classe de adveacuterbios eacute uma classe flexiacutevel em termos sintaacuteticos uma vez que pode

aparecer em diferentes posiccedilotildees nos enunciados Na fala como aponta Mello et al (2010)

esta complexidade de escopo se amplifica dado que devem ser levados em consideraccedilatildeo os

traccedilos prosoacutedicos Jaacute foi salientado que a anaacutelise da prosoacutedia eacute importante para a

desambiguizaccedilatildeo de itens modais e no caso especiacutefico dos adveacuterbios modais se estes satildeo de

fato itens modalizadores ou se cumprem outra funccedilatildeo no enunciado como a de intensificador

ou marcador discursivo

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais

Nesta seccedilatildeo forneccedilo os resultados para os adveacuterbios modais em relaccedilatildeo agrave sua

frequecircncia na amostra Os types e tokens tambeacutem foram classificados quantitativamente de

acordo com a tipologia interacional (puacuteblico vs privado monoacutelogos vs diaacutelogos vs

conversaccedilotildees) Foram encontrados 16 types em 94 ocorrecircncias na amostra o que corresponde

130

no universo dos iacutendices modais a 79 das ocorrecircncias90

A Tabela 412 e 413 trazem os

nuacutemeros para o nuacutemero de ocorrecircncias deste iacutendice no minicorpus e sua distribuiccedilatildeo em

termos de tipologia interacional respectivamente

adveacuterbios ocorrecircncias

com certeza 7 75

mesmo 45 479

realmente 3 32

exatamente 4 44

talvez 8 85

sem duacutevida 2 22

agraves vezes 5 53

na verdade 7 75

sinceramente 2 22

claro 5 53

potencialmente 1 1

oacutebvio 1 1

sem chance 1 1

logicamente 1 1

justamente 1 1

certamente 1 1

Total 94 100

Tabela 412 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais

90

Mello e Caetano (2012) investigaram a distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos adveacuterbios modais em toda a parte

informal do C-ORAL-BRASIL Atraveacutes da busca pelo parser PALAVRAS de todos os adveacuterbios foram

identificados 28000 adveacuterbios no corpus correspondendo a 1345 das palavras na amostra Dentre os

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 763 foram destacados como modais que representa 037 do total de palavras

da parte informal do corpus No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre adveacuterbiosadveacuterbios modais aproximadamente

272 do total de adveacuterbios assume funccedilatildeo modal O estudo revela dessa forma que a frequecircncia de adveacuterbios

modais eacute expressiva mas as autoras sublinham que ao olhar com lentes de aumento para a amostra um uacutenico

item o adveacuterbio ―mesmo contribui com uma frequecircncia de 557 de todas as ocorrecircncias O que coincide com

os nuacutemeros para o minicorpus

131

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 14 5 19

Diaacutelogos 33 12 45

Conversaccedilotildees 25 5 30

TOTAL 72 22 94

Tabela 413 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional

Em termos absolutos o nuacutemero de ocorrecircncias em contexto privadofamiliar eacute

bastante maior do que no contexto puacuteblico No entanto como jaacute observado para as outras

estrateacutegias eacute possiacutevel um balanceamento na frequecircncia dos itens que apontam para um uso

proporcional nos dois contextos interacionais No que diz respeito agrave tipologia interacional

tambeacutem como esperado os adveacuterbios ocorrem mais em trocas dialoacutegicas (45 para diaacutelogos e

30 para conversaccedilotildees) do que em monoacutelogos (19) Estes nuacutemeros acompanham os

encontrados por Mello e Caetano (2012) na anaacutelise de todos os adveacuterbios modais da parte

informal do C-ORAL-BRASIL

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais

Em termos de distribuiccedilatildeo pelas unidades informacionais satildeo estes os nuacutemeros

Unidades informacionais ocorrecircncias

adveacuterbios

COM 87 926

INT 2 21

PAR 3 32

TOP 2 21

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais

No que tange aos valores modais todas as ocorrecircncias da amostra satildeo do tipo

epistecircmico com o subvalor de possibilidade como ―agraves vezes e ―talvez ou de crenccedila

indicando graus de certeza em sua maioria o que corrobora a posiccedilatildeo de Perkins (1983 p

89) para os adveacuterbios modais em inglecircs O autor afirma que estes marcadores satildeo

fundamentalmente de natureza epistecircmica

132

Vejamos agora os exemplos para cada um dos 16 itens aqui encontrados e seu

comportamento em relaccedilatildeo a outros elementos co-textuais

(426) Mesmo

(w) REN lttem que ser ogt Knorr mesmo

FLA eacute ampva [1] vai esse neacute Rena (bfamdl01)

O item ―mesmo eacute o adveacuterbio modal mais frequente na amostra com quase a metade

das ocorrecircncias Este item tem um comportamento particular porque muitas das vezes pode

funcionar como intensificador como um operador que regula o fluxo da interaccedilatildeo ou como

pronome adjetivo Para o desempate utilizamos a regra de substituiccedilatildeo observamos o co-

texto e ainda fazemos a oitiva do arquivo de som Vejamos os exemplos em que o adveacuterbio

natildeo possui funccedilatildeo modal

(x) TON tinha que matar o cinco socirc

REN natildeo aiacute e laacute

CAR eacute o quatro mesmo Jacareacute

TON ltpeneigt

CAR ltquatro mesmo socircgt purra ele se ele nũ morrer nũ tem problema natildeo

ltaiacute ogt

(y) CES vatildeo laacute eacute e ele [2] e eacute ele mesmo que taacute ainda viu eacute o trezentos-e-trecircs

viu Anete

ANE eacute ele mesmo

CES eacute ele mesmo entatildeo uhn (bfamdl05)

(427) Na verdade e com certeza

(z) EUG cecirc jaacute escolheu moccedila

JAN hum hum eu acho que eu vou + na verdade eu queria levar as duas neacute

mas eu vou levar essa aqui (bpubdl02)

(aa) FLA colorido eacute mais caro

REN com certeza deve ser (bfamdl01)

133

(428) Talvez e agraves vezes indicadores de possibilidade

(bb) MAI no norte de Mina tinha esse [2] antigamente tinha esse tipo de cobra

tudo neacute talvez agora jaacute acabou porque jaacute desmataram muito neacute

(bfammn01)

(cc) ANE [297] eacute olha se tem gente aiacute

CES [298] xxx [1] pode passar aqui

ENC [299] oi

ANE [300] ltagraves vezesgt [2] agraves vezes fica ltgentegt

CES [301] ltpode entrargt [302] ltpo po vimgt Anete (bfamdl05)

―Agraves vezes eacute uma locuccedilatildeo que tanto pode exercer uma funccedilatildeo temporal quanto pode

exercer uma funccedilatildeo modal91

A desambiguizaccedilatildeo tambeacutem eacute feita pela anaacutelise do contexto do

co-texto e da prosoacutedia Por exemplo

(dd) PAU cecirc tem que aprender a olhar planta porque a hora que cecirc pegar um

projeto maior aiacute pa fazer que o dono nũ tiver perto aiacute cecirc tem que tocar agraves

vezes o engenheiro tambeacutem nũ tem muito tempo taacute mexendo com outra coisa

soacute vem no final de semana (bpubdl01)

No exemplo o adverbial ―agraves vezes pode indicar uma situaccedilatildeo possiacutevel portanto um

uso modal ou pode indicar a frequecircncia com que o engenheiro visita a obra um uso temporal

no caso

(429) Certamente e potencialmente

(ee) MAI a cobra tavaampen[2] continuou enrolada nele certamente eatava

querendo fazer o seguinte eu eu matei esse eu vou matar o resto tudo da

[1] amphe dentro da casa nũ sei neacute a imaginaccedilatildeo hhh dum [1] dum animal

o que que pode ser neacute (bfammn01)

(ff) HEL lteacute tipogt cecircs ficamltfalando tambeacutemgt

LUC ltisso pode ser potencialmentegt divertido

BRU ltnatildeogt

LUC ltmas enfim yyyyhhhgt

BRU ltnũ achogt (bfamcv04)

91

Natildeo eacute do escopo deste trabalho investigar a gramaticalizaccedilatildeo dos itens modais Parece-me no entanto que o

caminho de adverbial de tempo para um adverbial modal eacute uma hipoacutetese consistente Como exemplo similar

temos o caso da locuccedilatildeo ―de repente (―De repente ele chegou uso temporal ―De repente a gente toma um

copo assim que cecirc acabar a tese uso modal indicando possibilidade)

7056

134

(430) Sinceramente

(gg) TER ltoh adoreigt

RUT o eu nũ achei ruim natildeo Jael ltsinceramentegt

JAE ltnũ gosteigt de jeito nenhum (bfamcv02)

(431) Logicamente

(hh) JOR e laacute eu fiquei um periacuteodo desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho

logicamente com um salaacuterio melhor hhh e por amizade eu fui cair em uma

multinacional que eu dei uma virada no produto (bfammn06)

(432) Exatamente e justamente

(ii) CEL ltfazer uma jogadagt melhor

CAR eacute que aiacute cecirc rola lto seis fica atraacutes do quatrogt

CEL lteacutegt ltissogt ltexatamentegt (bfamcv03)

(jj) ANE ltque nuacutemerogt que eacute

CES setecentos-e-quatro

ANE aqui eacute exatamente po parar o carro hhh

CES eacute setecentos-e-quatro (bfamdl05)

(433) Claro e oacutebvio

(kk) LUI [151] natildeo [152] e [1] e [1] e [1] e principalmente convocando a galera

falar assim o galera negoacutecio seguinte taacute pensando em organizar um torneio

e a gente quer que vocecircs participem da organizaccedilatildeo ltmandando

representantegt +

LEO [153] lte acima de tudo eu acho que a gente temgt que chamar os times

que tipo o [1] realmente os times que merecem a [1] a nossa +

EVN [154] eacute a ltgente tem quegt ltrestringir tambeacutem issogt

GIL [155] ltnatildeo clarogt (bfamcv01)

(ll) ROG [222] eacute [223] o projeto eacute bom por isso uai [224] a gente faz jeito que

a pessoa pede uai [225] aquele carinha ltdo ampAlexagt +

PAU [226] ltmas temgt que saber ler projeto tambeacutem neacute

ROG [227] aquele ltcarinhagt do Alexandre laacute ele me deu o desenho dele

PAU [228] ltclarogt (bpubdl01)

(mm) BRU taacute falando do meu peacute neacute

CEL oacutebvio (bfamcv04)

135

Os iacutendices modais ―claro e ―oacutebvio92

apesar de pertencerem formalmente agrave

categoria dos adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos sem a

presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo Quando este eacute o caso satildeo analisados como adjetivos

em posiccedilatildeo predicativa

Estes itens tendem a cumprir um papel de confirmaccedilatildeo quer dizer um falante

normalmente os utiliza para confirmar o que foi enunciado pelo falante anterior

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q

O caraacuteter epistecircmico das construccedilotildees condicionais na variante brasileira do portuguecircs

eacute apontado em um nuacutemero de trabalhos relevantes para o tema entre eles os de Hirata-Vale

(2001 2008) Ferrari (2007 2008) Bezerra e Meireles (2009) Hirata-Vale afirma que ―as

condicionais relacionam-se a mundos concebiacuteveis sejam eles reais eventuais e

contrafactuais e se tornam mais abstratas agrave medida que passam por um processo de

subjetivizaccedilatildeo por isso estatildeo situadas no eixo do conhecimento e da avaliaccedilatildeo subjetiva

Nas condicionais de forma canocircnica ―se p entatildeo q em que p eacute a proacutetase e q a

apoacutedose ―o evento p eacute uma condiccedilatildeo suficiente (e em alguns casos necessaacuteria) para a

ocorrecircncia do evento q (SWEETESER 1990) As condicionais satildeo pois projeccedilotildees

hipoteacuteticas de manifestaccedilotildees causais diretas

A sua hipoteticidade estaacute ligada ao grau de probabilidade de realizaccedilatildeo das situaccedilotildees

referidas na proacutetase (cf COMRIE 1986)

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica

As construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato

constituem-se como um desafio uma vez que como apontado anteriormente o escopo da

modalidade eacute a unidade informacional No caso deste tipo de construccedilatildeo como afirmam

Cocircrtes e Mello (2013 p 2) ela ―pode ultrapassar os limites de um enunciado ou estar

completamente acomodada nele dividida ou natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

92

Poderiam estar incluiacutedos os adjetivos ―loacutegico e exato que tecircm comportamento similar ao dos adveacuterbios

―logicamente e ―exatamente

136

A frequecircncia das construccedilotildees condicionais no minicorpus foi considerada de acordo

com a tipologia interacional a estrutura informacional a distribuiccedilatildeo de proacutetaseapoacutedose e a

relaccedilatildeo entre a estrutura sintaacutetica e informacional

Como jaacute dito ao todo foram analisados 5484 enunciados sendo que 1046 deles estatildeo

modalizados Foram encontradas 109 ocorrecircncias de construccedilotildees condicionais entre as de

forma canocircnica O percentual de condicionais na amostra eacute de 909 entre todos os iacutendices

modais

Passando agrave anaacutelise para a tipologia interacional temos os seguintes resultados 24

exemplares para monoacutelogos 8 em monoacutelogos puacuteblicos e 16 em privados 40 exemplares para

diaacutelogos 9 para puacuteblicos versus 25 para diaacutelogos privados e 50 exemplares para

conversaccedilotildees 12 em puacuteblicas versus 38 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os

dados na Tabela 415

Tipologia Contexto Frequecircncia

Monoacutelogo Privado 16

Puacuteblico 8

Diaacutelogo Privado 25

Puacuteblico 10

Conversaccedilatildeo Privado 38

Puacuteblico 12

Tabela 415 - Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional

No que diz respeito agrave tipologia interacional ainda natildeo temos dados suficientes para

verificar quais as variaacuteveis em jogo e como as condicionais se comportam em cada contexto

Com relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sintaacutetica encontramos trecircs tipos de padrotildees

proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase e proacutetase somente Abaixo as frequecircncias para cada um dos

tipos

Organizaccedilatildeo sintaacutetica Frequecircncia

Proacutetase-apoacutedose 76

Apoacutedose-proacutetase 10

Proacutetase 23

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais

137

Os nuacutemeros para cada tipo de organizaccedilatildeo natildeo surpreendem exatamente Em

frequecircncia absoluta o padratildeo proacutetaseapoacutedose eacute o mais recorrente jaacute o apoacutedoseproacutetase

apresenta ocorrecircncia bem reduzida Sobre a proacutetase sozinha parece-me um nuacutemero

interessante pois natildeo segue o padratildeo estabelecido na escrita e corresponde a 211 do total

de ocorrecircncias e se dividem na amostra em trecircs tipos (a) proacutetases cuja apoacutedose natildeo satildeo

realizadas com efeito suspensivo mas possiacutevel de ser compreendida entre os interlocutores

(em termos de ilocuccedilatildeo parecem cumprir um ato do tipo expressivo do subtipo expressatildeo de

obviedade) (b) proacutetases que satildeo perguntas parciais (em termos de ato satildeo do tipo diretivo do

subtipo pedido de explicaccedilatildeo) (c) proacutetases cuja apoacutedose foi realizada anteriormente diluiacuteda

no contexto ou realizada por outro falante

Antes de apresentar os exemplos das condicionais mostro os nuacutemeros referentes agrave

distribuiccedilatildeo dos iacutendices em termos de estrutura informacional na Tabela 417 e a relaccedilatildeo

entre padrotildees sintaacuteticos e organizaccedilatildeo informacional na Tabela 418

Estrutura

informacional Frequecircncia

Enunciados diferentes 10

Mesma unidade de COM 30

TOPCOM 51

CMMCMM 11

Outros 7

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional

Estrutura

informacional TOPCOM

Mesmo

COM CMMCMM

Enunciados

diferentes Outros Total

Estrutura

sintaacutetica

Proacute - apoacute 49 7 9 8 3 76

Apoacute - proacute 2 2 2 2 2 10

Proacute --- 21 --- --- 2 23

Total

109

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional

138

Seguem exemplos das possiacuteveis combinaccedilotildees sintaacuteticas das condicionais e de sua

distribuiccedilatildeo em termos de estrutura informacional

(a) Proacutetase apoacutedose

(a1) proacutetase =TOP= apoacutedose =COM=

(434) BRU [268] lte se for uma palavra compostaPRO =TOP= cecirc faz assimAPOgt

=COM=$ (bfamcv04)

(a2) proacutetase e apoacutedose na mesma unidade de COM proacutetase apoacutedose =COM=

(435) PAU [72] esse tipo de muro =TOP= se ficar baixo demaisPRO ele fica

feioAPO =COM=$ (bpubdl01)

(a3) proacutetase apoacutedose em enunciados diferentes

(436) SIL [233] se ocecirc natildeo tem reloacutegio dentro do quartoPRO =COM=$

[234] cecirc vai comprar um reloacutegioAPO =CMM= pocircr laacute pa despertar =CMM=$

(bfamdl04)

(a4) proacutetase =CMM= apoacutedose =CMM=

(437) CAR [75] se ele nũ morrerPRO =CMM= nũ tem problema natildeoAPO

=CMM=$ (bfamcv03)

(b) Apoacutedose proacutetase

(b1) apoacutedose e proacutetase em enunciados diferentes apoacutedose proacutetase

(438) ANE [120] como eacute que a gente vai adivinharAPO =COM=$

[121] se for issoPRO =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl05)

(b2) apoacutedose proacutetase =COM=

(439) RUT [191] ltlaacute em casagt =TOP= ltavisoAPO se cecirc for laacutePROgt =COM=$

(bfamcv02)

(b3) apoacutedose =TOP= proacutetase =COM=

(440) BAL [58] ltdaacutegt ltproblemaAPO =TOP= se vocecirc ligar o aparelho degt ampduz

[1]=SCA= cento-e-dez na tomada de duzentos-e-vintePRO =COM=$

(bfamdl02)

139

(c) Proacutetase

(c1) expressatildeo de obviedade

(441) ANE [38] eh =PHA= se cecirc nũ tiver um carrinho que [1]=SCA= que sobe

aquiPRO =COM=$ (bfamdl05)

(c2) pergunta parcial pedido de explicaccedilatildeo

(442) [318] lte se precisar de um esclarecimentoPROgt =COM= ltassim =PAR= nogt

meio do negoacutecio hhh =APC=$ (bfamcv04)

(c3) conjugaccedilatildeo entre turnos

(443) TER [22] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhouAPO =COM=$

RUT [23] ltah =CMM= eacutegt =CMM=$ [24] se nũ morrer antes ltdelesPRO

=COM=$ (bfamcv02)

Observa-se que a estrutura mais frequente eacute o perfil proacutetase no Toacutepico e apoacutedose no

Comentaacuterio o que coincide com a funccedilatildeo informacional das unidades Em termos discursivos

a proacutetase de uma condicional atua como um angulador que estabelece as condiccedilotildees de

validaccedilatildeo do discurso subsequente Conforme Ferrari (2008 p 121) desde uma perspectiva

cognitiva

no domiacutenio epistecircmico as condicionais expressam a ideia de que o conhecimento do

evento ou do estado de coisas expresso na proacutetase seria uma condiccedilatildeo suficiente

para o estabelecimento da conclusatildeo na apoacutedose

Os exemplos tambeacutem nos mostram que eacute possiacutevel a combinaccedilatildeo de outros perfis com

as estruturas proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase distribuiacutedas em unidades informacionais

diferentes como Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Apecircndices de Toacutepico e

tambeacutem em enunciados diferentes neste caso a estrutura se completa em atos de fala

diferentes cada um veiculando sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Podem ser encontradas ainda ocorrecircncias em que a proacutetase tenha como acircncora o

contexto interacional sem a realizaccedilatildeo necessaacuteria da apoacutedose como no caso em (441) o que

denota um comportamento peculiar destas construccedilotildees na fala espontacircnea

Os dados apontam para o fato de que a proacutetase carrega o natildeo-factual da construccedilatildeo

condicional (cf COMRIE 1986) e nos casos em que ocorre a ordem inversa ―o foco da

44923267

3761631

140

construccedilatildeo estaacute no conteuacutedo veiculado pela apoacutedose isto eacute a parte mais saliente

informativamente eacute a accedilatildeo presente na apoacutedose (CORTES MELLO 2013 p 4)

Por uacuteltimo gostaria de retomar que as condicionais como iacutendices que expressam de

modalidade desafiam a premissa posta pela Teoria da Liacutengua em Ato de que o marcador

modal incide dentro da unidade informacional Como vimos este tipo de construccedilatildeo

ultrapassa as fronteiras da unidade informacional e inclusive em alguns casos do enunciado

Uma das hipoacuteteses que levanto eacute que a estrutura condicional poderia ser tratada como uma

construccedilatildeo padronizada nos termos de Cresti (no prelo p 17) estas satildeo ―construccedilotildees

realizadas atraveacutes de UTs cada uma desenvolve uma funccedilatildeo informacional diferente93

A

autora ainda completa que incluem tambeacutem construccedilotildees que satildeo realizadas em diferentes

enunciados com cada uma cumprindo sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei a descriccedilatildeo da modalidade no minicorpus da parte informal

do C-ORAL-BRASIL Apresentei e discuti os resultados em termos de frequecircncia por

tipologia interacional por distribuiccedilatildeo dos iacutendices nas unidades informacionais a distribuiccedilatildeo

e frequecircncia dos valores modais epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos e a relaccedilatildeo de cada valor

com as unidades informacionais Em seguida empreendi a anaacutelise para os verbos

modalizadores os verbos epistecircmicos os adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais de forma

canocircnica

Passo agora agrave Parte III deste trabalho que traz a proposta de esquema de anotaccedilatildeo para

a modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro que como afirmam Aacutevila e Mello

(2013 p 1) vai fornecer

um ponto de partida confiaacutevel para pesquisadores interessados em desenvolver

metodologias associadas a PLN que resulta na extraccedilatildeo no discurso oral de

marcadores de confiabilidade certeza e factualidade ou proceder agrave anaacutelise de

sentimentos modelagem da modalidade e objetivos afins 94

93

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] constructions performed across TUs with each developing a different information

function [hellip] (CRESTI no prelo p 17) 94

No original ―[hellip] reliable starting point for researchers that might be interested in developing methodologies

associated to NLP that ensue the extraction of oral discourse reliability certainty and factuality markers or

carrying sentiment analysis modeling modality and similar objectives (AacuteVILA MELLO 2013 p1)

141

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE

142

Capiacutetulo 5

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL95

O presente capiacutetulo apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous

Speech) um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

A anotaccedilatildeo linguiacutestica de corpora nas palavras de Leech (1993 p 275) pode ser

definida como ―a praacutetica de adicionar informaccedilatildeo interpretativa (especialmente linguiacutestica) a

um corpus eletrocircnico de dados linguiacutesticos falados eou escritos por algum tipo de coacutedigo

anexado a ou intercalados com a representaccedilatildeo eletrocircnica do proacuteprio material linguiacutestico96

E tambeacutem pode se referir ao produto final deste processo

A Linguiacutestica Computacional fornece meios para o desenvolvimento de softwares para

o processamento de linguagem natural escrita e falada Os corpora anotados natildeo satildeo um fim

em si mesmo a resoluccedilatildeo de tarefas especiacuteficas bem definidas e limitadas como a

etiquetagem morfossintaacutetica (cf o parser PALAVRAS BICK 2000) eacute preacute-requisito para a

construccedilatildeo de sistemas complexos como os de traduccedilatildeo automaacutetica e de sumarizaccedilatildeo

Especificamente o interesse por se distinguir uma informaccedilatildeo que eacute real e certa de

uma informaccedilatildeo especulativa e modal resulta do fato de esta ser tarefa necessaacuteria para

aplicaccedilotildees em PLN como a extraccedilatildeo de informaccedilatildeo (KARTUNNEN ZAENNEN 2005)

modelagem de incerteza em textos cliacutenicos (MOWERY et al 2012) resposta a perguntas

(SAURIacute et al 2006) classificaccedilatildeo de hedges (MEDLOCK BRISCOE 2007 MORANTE

DAELEMANS 2009) e anaacutelise de sentimentos (WIEBE et al 2005)

Anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu reconhecimento automaacutetico

inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma determinada tipologia (por

exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a sua fonte e o seu escopo

semacircntico Vaacuterios tecircm sido os projetos desenvolvidos para a anotaccedilatildeo de expressotildees modais

95

Parte da pesquisa sobre a anotaccedilatildeo semacircntica foi desenvolvida em meu Estaacutegio Doutoral no Centro de

Linguiacutestica da Universidade de Lisboa no periacuteodo de janeiro a agosto de 2013 sob a supervisatildeo da Dra Amaacutelia

Mendes e financiada pela Capes Proc nordm BEX 9537-12-0 96

No original ―[hellip] the practice of adding interpretative (especially linguistic) information to an existing corpus

of spoken andor written language by some kind of coding attached to or interspersed with the electronic

representation of the language material itself (LEECH 1993 p 275)

143

em sua grande maioria para a liacutengua inglesa e focados nos auxiliares modais com destaque

para a relaccedilatildeo entre modalidade e negaccedilatildeo (MORANTE SPORLEDER 2012 BAKER et al

2012) a anotaccedilatildeo de sentido de verbos modais (RUPPENHOFER REHBEIN 2012) o

desenvolvimento de um leacutexico para a modalidade e a construccedilatildeo de etiquetadores automaacuteticos

(BAKER et al 2010) Haacute ainda esforccedilos de anotaccedilatildeo sendo empreendidos em outras liacutenguas

como os trabalhos para o chinecircs (CUI CHI 2013) e para o portuguecircs europeu (HENDRICKX

et al 2012 MENDES et al 2013)

A anotaccedilatildeo da modalidade para dados do portuguecircs brasileiro eacute terreno a ser explorado

tanto para corpora escritos quanto para corpora de fala Segundo Nurmi (2007 p1) a

anotaccedilatildeo linguiacutestica contribui para a recuperaccedilatildeo de diferentes elementos linguiacutesticos no

entanto a natureza multifacetada da modalidade ―eacute ainda um obstaacuteculo para a pesquisa

assistida por computador97

Na mesma clave Baker et al (2010 p 1403) afirmam que o

desafio para a criaccedilatildeo de um esquema de anotaccedilatildeo de modalidade reside em ―lidar com o

complexo escopo das modalidades entre cada uma delas e com a negaccedilatildeo e ao mesmo tempo

criar um procedimento operacional simplificado que possa ser seguido por um especialista da

linguagem sem treinamento especial98

Como jaacute discutido na parte I desta tese estaacute longe de

haver um consenso sobre como definir e caracterizar a modalidade ela pode ser tomada como

expressatildeo da subjetividade como uma distinccedilatildeo entre realis e irrealis ou ainda como uma

quantificaccedilatildeo sobre mundos possiacuteveis restringidas por uma relaccedilatildeo de acessibilidade Dessa

forma o entendimento do que eacute essa categoria semacircntica eacute fundamental bem como ter claro

quais satildeo os elementos que podem veicular a modalidade

Na seccedilatildeo seguinte contextualizo o nosso projeto dentro dos estudos anteriores de

anotaccedilatildeo semacircntica das expressotildees modais

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica

Os trabalhos desenvolvidos em anotaccedilatildeo semacircntica centram-se nos fenocircmenos da

factualidade e da modalidade uma vez que como foi dito para um bom nuacutemero de

aplicaccedilotildees em PLN eacute necessaacuterio distinguir uma informaccedilatildeo factual de uma natildeo-factual e

tambeacutem as certezas das incertezas

97

Traduccedilatildeo minha para ―[] is still a hurdle in computer assisted-research 98

No original ―[t]he challenge of creating a modality annotation scheme was to deal with the complex scopig of

modalities with each other and with negation while at the same time creating a simplified operational procedure

that could be followed by language experts without special training

144

Do ponto de vista computacional a definiccedilatildeo de modalidade envolve um nuacutemero de

conceitos diferentes relacionados a ela a depender da tarefa que se deve cumprir e de

fenocircmenos especiacuteficos que satildeo levantados como por exemplo subjetividade factualidade

certezaincerteza hedging como jaacute explicitado

O trabalho de Sauriacute Verhagen e Pustejovsky (2006) objetiva identificar o escopo da

modalidade e propor uma sua soluccedilatildeo para sua identificaccedilatildeo automaacutetica Os autores utilizam a

linguagem TimeML (PUSTEJOVSKY et al 2005) para sua anotaccedilatildeo que codifica com

diferentes etiquetas (tags) nos niacuteveis lexical e sintaacutetico vaacuterios tipos de modalidade Os

eventos satildeo identificados no TimeML como as expressotildees que participam de uma narrativa

em um dado documento que podem ser ordenados temporalmente No niacutevel sintaacutetico os

seguintes valores satildeo levados em conta factive (para eventos implicados ou pressupostos)

counterfative (para um evento que pressupotildee a natildeo-veracidade de seu argumento) evidential

(introduzido por eventos reportados ou perceptuais) negative evidential (introduzido por

eventos reportados ou perceptuais que expressam polaridade negativa) modal (para eventos

que introduzem uma referecircncia a mundo possiacutevel) e conditional (para construccedilotildees

condicionais)

Tendo em vista a tarefa de reconhecer implicaturas textuais Sauriacute e Pustejovski

(2009) apresentam uma ferramenta que fornece eventos com os seus valores de factualidade

Os autores identificam os valores de factualidade baseados na anaacutelise de Horn (1989) para a

modalidade epistecircmica em que o valor factual eacute apresentado pelo par ltmod polgt contendo

um valor modal (certo provaacutevel possiacutevel e desconhecido) e um valor de polaridade (positivo

ou negativo) Haacute ainda a possibilidade do participante estar completamente descomprometida

com a factualidade de um determinado evento (ltUNUNgt)

No entanto os autores destacam que o valor assinalado para os eventos estatildeo

diretamente relacionados com os participantes (fontes da modalidade) em jogo quer dizer haacute

um ato de comprometimento em relaccedilatildeo agrave factualidade de um evento desempenhado por um

determinado participante O conjunto de valores factuais que diferentes participantes

assinalam para um evento eacute denominado perfil de factualidade (factuality profile)

Sauriacute (2008) e Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) adicionaram ao TimeBank corpus

(PUSTEJOVISKY et al 2005) uma nova camada de informaccedilatildeo semacircntica o FactBank Este

corpus de eventos constituiacutedo por 208 documentos com 9488 eventos eacute anotado para a

factualidade de eventos (ou factividade) definida por Sauriacute e Pustejovsky (2012 p 263)

como ―[] o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa a natureza factual de eventualidades

mencionadas em um texto Isto eacute expressar se elas correspondem a um fato () a uma

145

possibilidade () ou a uma situaccedilatildeo que natildeo ocorre no mundo () []99

Segundo os

autores a factualidade eacute resultado da interaccedilatildeo entre polaridade e certeza e se relacionam com

outras categorias como a modalidade epistecircmica a evidencialidade a postura epistecircmica e

hedging

A anotaccedilatildeo de modalidade para a caracterizaccedilatildeo de eventos pode tambeacutem ser utilizada

em processos analiacuteticos automaacuteticos Baker et al (2010) desenvolveram um esquema de

anotaccedilatildeo de modalidade um leacutexico da modalidade e dois etiquetadores automatizados

construiacutedos a partir do leacutexico e do esquema de anotaccedilatildeo O esquema eacute aplicado a exemplos do

inglecircs com mapeamentos possiacuteveis para o Urdu Os autores consideram a modalidade como

um componente extra-proposicional do significado e argumentam que pode ser tomada de

forma mais ampla para incluir vaacuterios tipos de atitude (no sentido de ―posiccedilatildeo) Assim

segundo eles a modalidade eacute definida como ―uma atitude por parte do falante em relaccedilatildeo a

uma accedilatildeo [] ou um estado100

(BAKER et al 2010 p 1) e pode indicar factividade

(relacionada ao fato de um evento um estado ou uma proposiccedilatildeo acontecer ou natildeo acontecer)

evidencialidade (relacionada agrave fonte da informaccedilatildeo cf seccedilatildeo 24 do segundo capiacutetulo deste

trabalho) ou sentimento (relacionado aos sentimentos negativos ou positivos do falante em

relaccedilatildeo ao evento estado ou proposiccedilatildeo)

O esquema de anotaccedilatildeo reconhece trecircs elementos o trigger (a palavra ou sequecircncia de

palavras que expressam modalidade) o target (eacute a unidade de anotaccedilatildeo - o evento estado ou

relaccedilatildeo no escopo do trigger) e o holder (o experienciador ou o cognoscente da modalidade)

O anotador seleciona apenas o target e a modalidade relacionada a ele nenhuma anotaccedilatildeo eacute

feita no holder ou no trigger Esta unidade de anotaccedilatildeo estaacute contida em uma oraccedilatildeo e o verbo

principal da oraccedilatildeo eacute o uacutenico a ser marcado

Para fins de etiquetagem satildeo consideradas oito modalidades relacionadas estritamente

agrave factividade que podem no entanto se sobrepor agraves categorias de evidencialidade e

sentimento Requirement Permissive Success Effort Intention Ability Want Belief

Da mesma forma Ruppenhofer e Rehbein (2012) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo

para os verbos modais em inglecircs aplicados a documentos do MPQA Opinion Corpus101

(WIEBE et al 2005) Em seu esquema tambeacutem levam em conta trecircs elementos de

99

No original ldquo[hellip] level of information expressing the factual nature of eventualities mentioned in text That is

expressing whether they correspond to a fact in the world (hellip) a possibility (hellip) or a situation that does not hold

(hellip) [hellip] (SAURIacute e PUSTEJOVSKY 2012 p 263) 100

No original ―an attitude on the part of the speaker toward an action [hellip] or state (BAKER et al 2010 p 1) 101

Disponiacutevel em httpmpqacspittedu Uacuteltimo acesso em 28 out 2013 O corpus conteacutem notiacutecias e outros

documentos anotados manualmente para opiniotildees e outros estados privados como crenccedilas especulaccedilotildees

sentimentos Sua mais nova versatildeo inclui a anotaccedilatildeo de atitudes e targets (WILSON 2008)

146

significado modal a expressatildeo modal a source e o target Para a tarefa de anotaccedilatildeo utilizam

a ferramenta SALTO102

(BURCHARDT et al 2006) e identificam seis categorias

(epistecircmico deocircntico dinacircmico optativo concessivo e condicional) para a anotaccedilatildeo de cinco

verbos modais (cancould maymight must ought shallshould)

Como o trabalho estaacute restrito aos verbos modais do inglecircs eacute utilizado um nuacutemero

menor de categorias comparado a Baker et al (2010) Importante destacar que na descriccedilatildeo

das instruccedilotildees de anotaccedilatildeo os autores distinguem para os verbos bdquomust‟ bdquoshould‟ e bdquoought‟

dois sentidos ndash o epistecircmico e o deocircntico ndash nestes casos para os epistecircmicos natildeo distinguem

entre as inferecircncias subjetivas (bdquoThe light is on He must be home‟) e as objetivas (John is 35

and Peter is only a year or two older than John so he must be under 40 still‟) (cf

HUDDLESTON PULLUM 2002) No primeiro exemplo natildeo haacute uma inferecircncia loacutegica que

leve agrave conclusatildeo de que John estaacute em casa e no segundo chega-se agrave conclusatildeo sobre a idade

de Peter por meio de operaccedilotildees matemaacuteticas Para o valor deocircntico natildeo fazem qualquer

subcategorizaccedilatildeo no que diz respeito agrave forccedila imposta sobre os atores se externa (bdquoDogs must

be leashed here A city ordinance requires it‟) ou interna (I really must call him He will be

worried‟) e tambeacutem natildeo fazem distinccedilatildeo entre uma obrigaccedilatildeo reportada (bdquoMom says you must

go home now It‟s past 10 pm‟) e uma obrigaccedilatildeo imposta pelo ato de fala (You must go home

now I want you gone‟)

Ainda para o verbo bdquomay‟ identificam trecircs sentidos epistecircmico deocircntico (relacionado

agrave permissatildeo) e optativo (relacionado a um desejo) Para o verbo bdquocan‟ trecircs satildeo os valores

dinacircmico (relacionado agrave habilidade e ao potencial de envolvimento em eventos ou

comportamento) deocircntico (relacionado agrave permissatildeo) e epistecircmico (relacionado agrave

possibilidade)

Jaacute Matsuyoshi et al (2010) a partir de estudos sobre modalidade e trabalhos em PLN

apresentam um esquema para a anotaccedilatildeo da modalidade estendida de eventos modais para um

corpus do japonecircs constituiacutedo de 50018 eventos recolhidos em diferentes recursos como

blogs documentos da web o corpus de Murakami et al (2009) e posts de sites de perguntas e

respostas Um evento eacute definido como ―consistindo de um predicado central e seus

argumentos (complementos e adjuntos) em uma sentenccedila103

(MATSUYOSHI et al 2010 p

1458)

102

Esta ferramenta de anotaccedilatildeo foi originalmente concebida para a anotaccedilatildeo manual de papeacuteis semacircnticos na

moldura teoacuterica da semacircntica de frames no contexto do projeto Salsa (ERK et al 2003) 103

No original ―(hellip) consisting of a core predicate and its arguments (complements and adjuncts) in the

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1458)

147

Para a construccedilatildeo do esquema com vistas para aplicaccedilatildeo em PLN satildeo colocadas

quatro condiccedilotildees necessaacuterias 1) a informaccedilatildeo da modalidade deve estar reunida em um uacutenico

elemento especificamente o predicado central 2) o sistema deve ser independente de liacutengua

3) a polaridade deve comportar duas classes a polaridade da realidade e a polaridade do ponto

de vista da avaliaccedilatildeo da fonte para capturar explicitamente a factualidade do evento 4) as

etiquetas em cada componente natildeo podem ser muito refinadas porque segundo os autores

―as classificaccedilotildees de modalidade restrita em Linguiacutestica por exemplo (Palmer 2001) e

sistemas de loacutegica modal (Portner 2009) satildeo muito sofisticadas e eacute muito difiacutecil executar

analisadores de modalidade estendida nelas baseados no atual estaacutegio de tecnologia em

PNL104

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1458) O esquema de modalidade proposto eacute

constituiacutedo de sete componentes Source Time Conditional Primary modality type

(assertion volition wish imperative permission interrogative) Actuality Evaluation e

Focus

Este sistema encontrou alguns desafios como a representaccedilatildeo de adveacuterbios de

frequecircncia de construccedilotildees de dificuldade e de potencial No entanto apresentou um acordo

entre dois anotadores razoavelmente aceitaacutevel (em meacutedia um κ=071 para os componentes)

Comparado aos projetos de Sauriacute et al (2006) Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) e ao

de Baker (2010) o sistema proposto por Matsuyoshi et al (2010) apesar de tambeacutem anotar

eventos eacute mais rico em termos de elementos a serem anotados Isso se deve ao fato de que os

sistemas construiacutedos tanto por Sauriacute e seus colegas quanto por Baker e colegas atendem a um

propoacutesito especiacutefico e dessa forma a escolha dos componentes a serem marcados fica

condicionada a este objetivo final

Em uma perspectiva mais ampla do que seja modalidade Wiebe e suas colaboradoras

(2005) exploram um esquema de anotaccedilatildeo de opiniotildees e emoccedilotildees baseado em estudo de um

corpus de artigos da imprensa internacional o MPQA Opinion Corpus (WIEBE WILSON

CARDIE 2005) composto de 10657 sentenccedilas em 535 documentos em liacutengua inglesa

Segundo as autoras (2005 p 1) a motivaccedilatildeo para a identificaccedilatildeo e extraccedilatildeo de opiniotildees

reconhecimento de emoccedilotildees e anaacutelise de sentimentos nasce do ―desejo de fornecer

ferramentas para analistas da informaccedilatildeo nos domiacutenios governamental comercial e poliacutetico

que querem rastrear automaticamente atitudes e sentimentos em notiacutecias e em foacuteruns on-line

104

Nas palavras dos autores ―[] classifications of restricted modality in Linguistics eg (Palmer 2001) and

systems of modal logic (Portner 2009) are too sophisticated and it is very difficult to implement analyzers of

extended modality based on them with the current level of technology in NLP (MATSUYOSHI 2010 p 1458)

148

As pesquisadoras propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo refinado para a etiquetagem de

componentes e propriedades de opiniotildees sentimentos emoccedilotildees estados privados

especulaccedilotildees que abriga sob o roacutetulo de estados privados (private stateslsquo)

Os estados privados satildeo definidos como ―estados internos que natildeo podem ser

diretamente observados pelos outros105

(WIEBE et al 2005 p 2) Para cada expressatildeo de

estado privado eacute definido um frame de estado privado que se constitui pelos seguintes

elementos a source106

(cujo estado privado estaacute sendo expresso) o target (sobre o quecirc eacute o

estado privado) as propriedades que envolvem intensity significance e type of attitude

Haacute dois tipos de frames de estado privado (a) elementos subjetivos expressivos

(expressive subjective elementslsquo) representam elementos subjetivos expressivos (b)

subjetivos diretos representam menccedilotildees expliacutecitas a estados privados (explicit mentions of

private stateslsquo) e eventos de fala que expressam estados privados (speech events expressing

private stateslsquo)

O esquema proposto por Wiebe Wilson e Cardie eacute bastante detalhado assim como o

de Matsuyoshi et al (2010) e aplicado a um grande corpus Como se pode observar a noccedilatildeo

de modalidade nos esquemas apresentados acima natildeo segue a noccedilatildeo corrente na literatura

sobre o tema (cf PALMER 1986 ou PORTNER 2009) Os trabalhos que apresento em

seguida ao contraacuterio se apoacuteiam na ideia de modalidade restrita e na definiccedilatildeo se assim posso

dizer mais tradicional da categoria qual seja ―a atitude do falante aleacutem de considerar

geralmente em sua tipologia a oposiccedilatildeo entre significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos e

natildeo entre informaccedilatildeo factual e natildeo-factual (o que evidentemente natildeo exclui a anaacutelise destas

caracteriacutesticas) Estes proacuteximos projetos natildeo foram desenvolvidos com um objetivo especiacutefico

e definido de aplicaccedilatildeo em PLN no entanto reconhecem que satildeo pontos de partida para

cumprir as tarefas de extraccedilatildeo de informaccedilatildeo mineraccedilatildeo de opiniatildeo resposta a perguntas por

exemplo

Nirenburg e McShane (2008) anotaram um corpus com informaccedilatildeo sobre a

modalidade no acircmbito do projeto OntoSem107

(NIRENBURG RASKIN 2004) e

desenvolveram um analisador alimentado com textos natildeo-tratados e realizaram vaacuterias tarefas

105

Traduccedilatildeo para ―[] internal states that cannot be directly observed by others (WIEBE et al 2005 p 2) 106

Uma propriedade importante das sources eacute que elas podem estar encaixadas isto eacute eventos privados e

eventos de fala podem estar frequentemente encaixados um no outro 107

Este projeto foi desenvolvido para o tratamento computacional da representaccedilatildeo do significado de um texto

Nas palavras dos autores ―[o]ntological semantics is a theory of meaning in natural language and an approach to

natural language processing (NLP) which uses a constructed world model or ontology as the central resource

for extracting and representing meaning of natural language texts reasoning about knowledge derived from texts

as well as generating natural language texts based on representations of their meaning (NIRENBURG

RASKIN 2004 p 10)

149

de anaacutelise linguiacutestica a modalidade incluiacuteda Para a codificaccedilatildeo da modalidade quatro

propriedades satildeo consideradas o tipo de modalidade (MODALITY TYPE) o valor escalar

(SCALAR VALUE) o escopo (SCOPE) e a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TO)

Os tipos de modalidade centrais incluem (i) factividade-epistecircmica (epistemic-

factivitylsquo) (ii) crenccedila (belieflsquo) (iii) obrigaccedilatildeo (obligativelsquo) (iv) permissatildeo (permissivelsquo)

(v) potencial (potentiallsquo) (vi) avaliativo (evaluative‟) (vii) intencional (intentionallsquo) (viii)

epitecircutico - grau de sucesso (epiteuctic ndash degree of success‟) (ix) esforccedilo (effortlsquo) (x)

voliccedilatildeo (volitivelsquo)

A cada um destes significados modais estatildeo distribuiacutedos valores que variam em uma

escala de zero a um considerados qualquer valor decimal vaacutelido neste intervalo Por exemplo

para a factividade-epistecircmica o valor 0lsquo corresponde a ―natildeo aconteceu (didn‟t happenlsquo) e o

valor 1lsquo a ―definitivamente aconteceu (definitely happenlsquo) ou para o epitecircutico - grau de

sucesso o zerolsquo equivale ao ―fracasso (faillsquo) e o ―um ao ―completamente bem-sucedido

ou ―sucesso absoluto (succeed fullylsquo)

Assim como nos outros projetos o escopo (SCOPElsquo) eacute o predicado afetado pela

modalidade e a propriedade a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TOlsquo) aponta para a quem a

modalidade eacute atribuiacuteda sendo o falante o valor padratildeo Eacute importante notar que as

propriedades da modalidade estatildeo explicitamente presentes no texto

O sistema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et al 2012a

2012b) baseia-se no esquema de anotaccedilatildeo proposta por Nirenburg e McShane (2008)

Enquanto no OntoSem a informaccedilatildeo sobre a modalidade eacute um moacutedulo semacircntico nas entradas

lexicais que expressam modalidade o modelo para o PE centra-se na anotaccedilatildeo de eventos e

natildeo de entidades Satildeo anotadas as expressotildees modais que incluem verbos adveacuterbios nomes

adjetivos sintagmas preposicionais e oraccedilotildees entretanto a tarefa eacute restrita agrave anotaccedilatildeo de

sentenccedilas

Entre os componentes anotados estatildeo o trigger o elemento que expressa o valor

modal108

o target a expressatildeo no escopo do trigger (corresponde ao atributo SCOPElsquo) a

source of the modality um agente ou experienciador (correspondente agrave propriedade

ATTRIBUTED-TOlsquo) e a source of the event mention que pode ser o falante ou o escritor109

108

Para o trigger satildeo assinalados dois atributos os valores modais e a polaridade (positiva ou negativa) 109

A decisatildeo de anotar duas sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e

aquele que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes mas natildeo

necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de 180 contos por mecircs para a

manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os portugueses eacute a entidade com a

necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se

que eacute o produtor da frase

150

Para os significados modais satildeo considerados sete valores e alguns subvalores

correspondentes a saber

Valores Subvalores

Epistemic knowledge

belief

doubt

possibility

interrogative

Deontic obligation

permission

Participant-internal necessity personal needs

capacity personal capacity

Evaluation evaluation of the proposition

Volition hopes and wishes

Effort attempt of the participant to make sth happen

Success results of the commitment of the participant

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu

Se comparado aos tipos de modalidade selecionados no OntoSem eacute possiacutevel observar

grande semelhanccedila entre os dois esquemas O tipo ―intentional foi incluiacutedo no valor ―effort

e o subvalor ―doubt do PE incluiacutedo nos epistecircmicos eacute parte do tipo ―belief no OntoSem

A tarefa de anotaccedilatildeo foi empreendida primeiramente por um anotador (em papel) e

em um segundo momento foi revisada por um segundo anotador utilizando o software

MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006)110

em uma amostra de aproximadamente 2000

sentenccedilas da parte escrita do Corpus de Referecircncia do Portuguecircs Contemporacircneo ndash CRPC

(GEacuteNEacuteREUX et al 2012)111

Os anotadores utilizam a estrateacutegia min-max (cf FARKAS et al 2010) Para o

trigger eacute anotada a menor unidade possiacutevel jaacute para o target o maacuteximo de unidades eacute

110

Disponiacutevel para download em httpmmax2net Esta ferramenta de anotaccedilatildeo seraacute detalhada na seccedilatildeo 5311

deste capiacutetulo 111

Este eacute um corpus de aproximadamente 312 milhotildees de palavras entre textos e escritos e registros orais

constituiacutedo por uma ampla gama de textos de diferentes gecircneros textuais em todas as variedades da liacutengua

portuguesa Disponiacutevel em httpwwwclululptptrecursos183-reference-corpus-of-contemporary-portuguese-

crpc Uacuteltimo acesso em 13 nov 2013

151

considerado e este elemento tambeacutem pode ser anotado em descontinuidade No que diz

respeito agraves sources satildeo marcados sintagmas nominais inteiros ou verbos No esquema

proposto ainda haacute um campo adicional para comentaacuterios (Commentlsquo) para que quaisquer

dificuldades sejam registradas principalmente casos de ambiguidade

Em trabalho mais recente (MENDES et al 2013) foi integrada a este esquema de

anotaccedilatildeo a interaccedilatildeo entre o foco e a modalidade especialmente o foco envolvendo partiacuteculas

exclusivas como ―soacute Os autores extraiacuteram os contextos e aplicaram o esquema a 100

sentenccedilas de documentos escritos do CRPC

Dois projetos desenvolvidos na Georgetown University os trabalhos de Rubinstein e

colegas (2013) para a anotaccedilatildeo da modalidade no inglecircs e o de Cui e Chi (2013) para a

anotaccedilatildeo de dados do chinecircs seguem a mesma orientaccedilatildeo teoacuterica (cf PORTNER 2009) e

utilizam um quadro bastante similar de elementos a serem anotados

Rubinstein et al (2013) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo de sentidos modais

construiacutedo a partir de trabalhos anteriores e acrescentado de novos traccedilos para a anotaccedilatildeo do

MPQA Corpus No esquema os anotadores em primeiro lugar codificavam cada modal em

trecircs categorias mais amplas Epistecircmica ou Circunstancial (Epistemiclsquo ou Circumstantiallsquo)

Habilidade ou Circunstancial (Abilitylsquo ou Circumstantiallsquo) e Prioridade (Prioritylsquo) Em

seguida sete tipos modais mais refinados foram individualizados Epistecircmica (Epistemiclsquo)

Circunstancial (Circumstantiallsquo) Habilidade (Abilitylsquo) Deocircntica (Deontic‟) Bouleacutetica

(Bouleticlsquo) Teleoloacutegica (Teleologicallsquo) e BuleacuteticaTeleoloacutegica (BouleticTeleologicallsquo)

Cui e Chi (2013) descrevem em seu trabalho a tentativa de refinar a anotaccedilatildeo de

alguns aspectos dos modais para o Penn Chinese Treebank e apontam seus primeiros

resultados para a primeira fase de anotaccedilatildeo Para a tarefa de anotaccedilatildeo realizada por dois

anotadores tambeacutem foi utilizado o software MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) com um

esquema de dez traccedilos e uma lista de inicial com onze iacutendices modais que agrave medida que o

projeto avanccedila pode crescer Como contribuiccedilatildeo os autores argumentam que o projeto

demonstrou que ―eacute possiacutevel usar um esquema e um conjunto de instruccedilotildees para a anotaccedilatildeo

translinguiacutestica112

(CUI CHI 2013 p 8)

112

No original ―() it is possible to use one scheme and set of guidelines for cross-linguistic annotation (CUI

e CHI 2013 p 8)

152

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc)

Em resumo os componentes identificados eou anotados nos projetos apresentados na

seccedilatildeo anterior

Autores Trigger Target Source Factuality Certainty Transition

of certainty Focus Time Conditional

Sauriacute et al

2006 2007

2009 2012

x x x x x

Baker et al

2010 x x x x

Matsuyoshi et

al 2010 x x x x x x x x

Wiebe et al

2005 x x x x x

Niremburg

McShane 2008 x x x

Hendrikx et al

2012

Mendes et al

2013

x x x x

Rubinstein et al

2013 x x x

Cui Chi 2013 x x x

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo semacircntica

Entre os diferentes projetos apesar de a terminologia usada para a categorizaccedilatildeo dos

significados modais diferirem eacute possiacutevel encontrar correspondecircncias entre os valores modais

correntes na literatura linguiacutestica e aqueles valores denominados natildeo-padratildeo Abaixo

resumidamente elenco na Tabela 52 todos os valores assinalados nos esquemas de anotaccedilatildeo

apresentados Na coluna da esquerda listo os valores modais utilizados na tradiccedilatildeo linguiacutestica

(cf PALMER 2001) e na coluna da esquerda os valores correspondentes encontrados nos

esquemas aqui apresentados e seus respectivos autores

153

Valores modais

tradiccedilatildeo linguiacutestica esquemas de anotaccedilatildeo

Epistemic factuality (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010)

actuality (MATSUYOSHI et al 2010)

evidentiality (SAURIacute et al 2006)

assertion (MATSUYOSHI et al 2010)

transition of certainty (MATSUYOSHI e al 2010)

degrees of possibility (SAURIacute et al 2006)

potential (NIREMBURG McSHANE 2008)

belief (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010 NIREMBURG

McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

interrogative (MATSUYOSHI et al 2010)

evaluation (HENDRICKX et al 2012b NIREMBURG McSHANE

2008)

Deontic modality command (SAURIacute et al 2006)

requirement (BAKER et al 2010)

imperative (MATSUYOSHI et al 2010)

obligative (NIREMBURG McSHANE 2008)

permissive (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

permission (MATSUYOSHI et al 2010)

Dynamic modality

Participant-internal modality

ability (BAKER et al 2010)

success (BAKER et al 2010)

epiteuctic (NIREMBURG McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

volition (MATSUYOSHI et al 2010 McSHANE amp NIREMBURG

2008 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG McSHANE 2008)

expectation (SAURIacute et al 2006)

want (BAKER et al 2010)

wish (MATSUYOSHI et al 2010)

intention (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

attempting (SAURIacute et al 2006)

effort (BAKER et al 2010 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG

McSHANE 2008)

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo

154

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs (CUI

CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000 v capiacutetulo 3 seccedilatildeo 31) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez

que natildeo centra a sua anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no

domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento a metodologia empregada para a anotaccedilatildeo no que

diz respeito agrave preparaccedilatildeo dos textos o corpus utilizado e a ferramenta para anotaccedilatildeo mdash o

software livre MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais

e os elementos a serem anotados a marcaccedilatildeo da polaridade aplicada ao elemento Trigger

exemplos de anotaccedilatildeo os resultados e finalmente algumas consideraccedilotildees sobre o processo

de anotaccedilatildeo

531 Metodologia

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

Abaixo na Figura 51 um exemplo da tela principal do programa que se refere a um

dos arquivos anotados (bfamcvo4) deste projeto de anotaccedilatildeo de modalidade no corpus C-

ORAL-BRASIL

155

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2

Na tela as linhas azuis satildeo as sequecircncias que contecircm os elementos anotados (trigger

target source of the modality source of the event)113

Em amarelo temos marcado um dos

componentes anotados (no caso o trigger) em cinza os outros elementos da sequecircncia modal

e por uacuteltimo em verde os links entre os elementos que compotildeem um set modal

Segundo Muumlller e Strube (2006) satildeo cinco os passos cruciais de um projeto de

anotaccedilatildeo o que chamam de ―ciclo de vida da anotaccedilatildeo a saber

(i) preparaccedilatildeo do corpus

(ii) definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotaccedilatildeo

(iii) manual de anotaccedilatildeo

(iv) checagem da viabilidade da anotaccedilatildeo

(v) utilizaccedilatildeo da anotaccedilatildeo completa

Apresento nas proacuteximas seccedilotildees alguns passos do ciclo de vida do projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

113

Estes elementos seratildeo descritos em detalhes nas seccedilotildees subsequumlentes deste capiacutetulo

156

5312 A preparaccedilatildeo dos textos

Para fins de preacute-processamento e utilizaccedilatildeo do software MMAX2 foi necessaacuteria a

limpeza dos arquivos em extensatildeo ―txt Os elementos a serem eliminados foram detectados

atraveacutes da proacutepria ferramenta de busca do editor de texto e os textos foram limpos

manualmente O corpus C-ORAL-BRASIL eacute transcrito segundo o sistema CHAT

(MAcWHINNEY 2000) que fornece um formato padronizado para produzir transcriccedilotildees

computadorizadas de interaccedilotildees conversacionais face a face implementado para a anotaccedilatildeo

prosoacutedica (MONEGLIA CRESTI 1997) e eacute segmentado em enunciados e unidades tonais

Algumas das convenccedilotildees da segmentaccedilatildeo prosoacutedica e tambeacutem notaccedilotildees da transcriccedilatildeo

tiveram que ser removidas tais como interrupccedilotildees retractings sobreposiccedilotildees fragmentos

fonoloacutegicos nuacutemeros de enunciados e os asteriscos que precedem os nomes de cada

participante Abaixo segue um resumo dos elementos eliminados

(a) nuacutemeros dos enunciados [xxx] os arquivos satildeo transcritos por enunciados e a cada

enunciado corresponde um nuacutemero

Ex LUA [72] taacute parecendo aqueas histoacuteria daquele livro que cecirc tava contando

=COM=$

(b) asterisco () o asterisco indica a ―linha principal isto eacute a linha que codifica um

uacutenico enunciado produzido por um determinado falante Este sinal antecede o

coacutedigo em trecircs letras maiuacutesculas que indicam o participante produtor daquele

enunciado

Ex CES [104] uhn =PHA= tocirc achando que natildeo =COM=$

(c) ampersand ou e-comercial (amp) este siacutembolo eacute usado para indicar que o material

seguinte eacute apenas um fragmento fonoloacutegico ou um pedaccedilo de palavra Esta forma

de notaccedilatildeo eacute usada quando o falante gagueja ou para de falar antes de completar

uma palavra reconheciacutevel (falsos comeccedilos)

Ex ANE [224] amphe =TMT= essa localizaccedilatildeo aqui eu nũ acho ruim =COM=$

157

(d) anguladores (lt gt) sinalizam que o material locutivo de um falante em um

determinado turno contido entre os anguladores estaacute sendo produzido ao mesmo

tempo que o material angulado do seu interlocutor no turno seguinte

Ex ANE [298] ltagraves vezesgt [2]=EMP= agraves vezes fica ltgentegt =COM=$

CES [299] ltpode entrargt =COM=$

(e) sinal de adiccedilatildeo (+) indica uma interrupccedilatildeo seja por tomada de turno pelo

interlocutor ou por decisatildeo do proacuteprio falante

Ex [99] entatildeo =INP= eu =TOP= eu sei =COB= Mara =ALL= que =DCT= ela me

tirou =i-COB= assim + =PAR=$

(f) [n] indica retracting O numeral ―n ao lado da barra indica o nuacutemero de palavras

envolvidas no retracting e canceladas pelo falante Eacute usado quando o falante

comeccedila a dizer alguma coisa para repete o sintagma baacutesico muda a sintaxe mas

manteacutem a mesma ideia pode envolver tambeacutem a completa reformulaccedilatildeo da

mensagem sem quaisquer correccedilotildees especiacuteficas ou ainda indicar que o falante

comeccedilou a dizer alguma coisa parou e repetiu o material anterior sem qualquer

mudanccedila

Ex [147] essa histoacuteria ampde [1]=SCA= da menina =TOP= eu tenho certeza que e

nũ te conta natildeo =COM=$

Apresento abaixo em (a) um exemplo de enunciado antes da limpeza com alguns dos

elementos eliminados e a seguir em (b) o resultado da limpeza deste mesmo enunciado114

(a) JOR [17] e aiacute =TOP= eu consegui =i-COB= amphe =TMP= com a experiecircncia

que eu tinha dentro da multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e ampf [1]=SCA=

isso me facilitou e eu passei pra aacuterea comercial da empresa pra vender =COB_s=

disjuntores =CMB= transformadores =CMB= motores de =INT= corrente

contiacutenua =CMB= corrente alternada =CMB= isoladores =CMB= e =TXC=

releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria =CMB= e assim foi iniciando a minha vida

comercial =COM

(b) JOR e aiacute eu consegui he com a experiecircncia que eu tinha dentro da

multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e f isso me facilitou e eu passei pra aacuterea

comercial da empresa pra vender disjuntores transformadores motores de

corrente contiacutenua corrente alternada isoladores e releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria

e assim foi iniciando a minha vida comercial

114

As unidades informacionais jaacute natildeo constavam na versatildeo dos arquivos de texto utilizada para o preacute-

processamento

158

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar

(a) Os markables (marcadores)

Um markable eacute o componente baacutesico de anotaccedilatildeo no MMAX2 Eacute uma porccedilatildeo de texto

que eacute marcada normalmente uma sequecircncia de texto ou partes descontiacutenuas de um texto

Estes marcadores podem se expandir em diferentes sentenccedilas podem se sobrepor

podem corresponder a exatamente a mesma porccedilatildeo de texto e podem estar anotados em

descontinuidade isto eacute duas partes do texto podem estar divididas e serem anotadas como um

uacutenico marcador

Em nosso projeto defino quatro tipos de markables os quais descreverei em detalhes

mais adiante que satildeo o trigger o target a source of the event mention e a source of the

modality Estes componentes em conjunto formam um ―set modal Os componentes trigger

e target possuem traccedilos que os distinguem O primeiro carrega os traccedilos modal_value

polarity information unit e comment o segundo os traccedilos information unit (ie a unidade

informacional em que o componente estaacute contido) e polarity

Para a criaccedilatildeo de um ―set modal eacute necessaacuterio em primeiro lugar criar cada um dos

markables e em seguida estabelecer os links entre eles Para a criaccedilatildeo dos markables (Figura

52) arraste com o mouse sobre o elemento que se deseja marcar clique com o botatildeo

direito sobre o texto selecionado selecione ―Create Markable at level bdquomodal‟ por uacuteltimo

na caixa de anotaccedilatildeo faccedila a escolha dos atributos apropriados para cada markable

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable

159

Os passos para estabelecer os links entre os markables satildeo os seguintes (Figuras 53 e

54) clique sobre o componente marcado como o trigger que ganha destaque em amarelo

em seguida clique com o botatildeo direito sobre um dos componentes por exemplo a source of

the modality e selecione ―Mark as link Repita o mesmo procedimento para os outros

componentes Uma linha verde vai surgir entre os markables e o set modal estaacute constituiacutedo

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido

160

No campo ―modal_class da caixa de anotaccedilatildeo (Figura 55) apareceraacute ―set_x em que

―x corresponde ao nuacutemero do set criado

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal

No caso de haver uma mesma sequecircncia de texto com dois ou mais papeacuteis diferentes

isto eacute uma sequecircncia de texto correspondente a dois ou mais markables basta proceder da

forma indicada acima Para selecionar os links apropriados clique em cada uma das porccedilotildees

de texto disponiacuteveis para criar o set modal

(b) Regras baacutesicas de anotaccedilatildeo

(b1) Criar como explicitado acima para um novo markable ser criado (Figura 52) eacute

necessaacuterio selecionar uma porccedilatildeo de texto arrastando o mouse com o botatildeo esquerdo e

clicando com o botatildeo direito na seleccedilatildeo Outros elementos natildeo devem estar selecionados do

contraacuterio este material seraacute adicionado ao markable em amarelo

(b2) Remover um link pode ser removido (Figura 56) primeiro selecionando o componente

com o botatildeo esquerdo do mouse depois com o botatildeo direito sobre a seleccedilatildeo escolher

―Unmark as link

161

Figura 56 - Remover o link

(b3) Apagar para apagar completamente um markable (Figura 57) basta clicar em cima do

elemento a ser apagado O elemento natildeo pode estar em amarelo

Figura 57 - Apagar um markable

(b4) Markable descontiacutenuo a partir de um markable existente eacute possiacutevel adicionar a ele uma

porccedilatildeo de texto natildeo-contiacutenua Eacute necessaacuterio clicar sobre o markable criado que fica em

amarelo entatildeo selecionar com o botatildeo esquerdo a segunda porccedilatildeo de texto a ser adicionada

(Figura 58) clicar com o botatildeo direito sobre esta seleccedilatildeo e escolher ―Add to this markable

Para o caso de toda a porccedilatildeo de texto adicionada ser removida ou apenas parte dela (Figura

162

59) basta selecionar o elemento que deseja desvincular do markable clicar com o botatildeo

direito em cima dele e escolher ―Remove from this markable

Figura 58 - Adicionar uma sequecircncia ao markable

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable

(c) Interface visual do MMAX2 e configuraccedilotildees baacutesicas iniciais

O MMAX2 possui uma apresentaccedilatildeo visual bastante amigaacutevel e algumas

configuraccedilotildees baacutesicas devem ser aplicadas para se iniciar a tarefa de anotaccedilatildeo Ao carregar o

software (―mmaxbat) vatildeo surgir quatro caixas na tela (a) uma diz respeito ao que estaacute

sendo rodado no sistema (b) a caixa de anotaccedilatildeo dos valores e atributos dos markables (c) a

tela principal com o texto a ser anotado e (d) o painel de controle do niacutevel do markable

163

Tambeacutem surgiraacute uma janela em ―pop-up perguntando se o anotador deseja validar as

anotaccedilotildees

Abaixo apresento instantacircneos das quatro principais telas a serem configuradas como e

quando necessaacuterio pelos anotadores

(a1) Snapshot da tela de anotaccedilatildeo dos valores e atributos

Figura 510- Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos

Nesta tela em ―Settings selecione ―Auto-apply on para evitar a accedilatildeo de ―Apply a

cada modificaccedilatildeo Quando os campos ―comment ou ―polarity_cue forem modificados o

―Apply deve ser feito manualmente

(a2) Snapshot da tela principal de anotaccedilatildeo

Figura 511 - Tela principal de anotaccedilatildeo

164

No caso de os anotadores considerarem o espaccedilamento entre as linhas de anotaccedilatildeo

pequeno eacute possiacutevel utilizar a opccedilatildeo ―Font gt ―Line spacing para a configuraccedilatildeo desejada

Na parte esquerda superior desta tela no menu ―File haacute a opccedilatildeo ―Auto-save onde o

intervalo para salvar as modificaccedilotildees realizadas pode ser controlado O ideal eacute configuraacute-lo

para 5 ou 10 minutos

(a3) Snapshot do painel de controle do niacutevel do markable

Figura 512 - Painel de controle

Nesta caixa temos dois niacuteveis ―modal e ―sentence Este uacuteltimo niacutevel deve estar

configurado como ―visible e natildeo ―active uma vez que nenhuma anotaccedilatildeo no niacutevel da

sentenccedila seraacute realizada

(a4) Snapshot da tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

Figura 513 - Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

O anotador deve clicar em ―Do not validate nesta fase inicial

165

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML

No MMAX2 qualquer tipo de anotaccedilatildeo pode ser representada pela associaccedilatildeo de

elementos individuais com atributos e pela conexatildeo dos vaacuterios markables por meio de

relaccedilotildees (MUumlLLER STRUBE 2006 p 202) Abaixo apresento os atributos e as relaccedilotildees

definidos no esquema de anotaccedilatildeo de modalidade para a fala espontacircnea em sua versatildeo XML

No primeiro niacutevel estaacute definido o atributo Type e os seus respectivos valores (none

target1 target_dependent trigger source of the event source of the modality) que

apareceram como ―nominal_buttons (bototildees nominais) A cada valor corresponde um

conjunto de propriedades e estas dependecircncias satildeo expressas pelo atributo ―next Isso

significa que ao ser selecionado um determinado valor o seu conjunto de propriedades estaraacute

disponiacutevel Para o target1 temos as propriedades ―polaridade e ―unidade informacional

para o trigger as propriedades ―valor modal ―polaridade ―iacutendice de polaridade e ―unidade

informacional

ltxml version=10 encoding=ISO-8859-1gt

ltannotationschemegt

ltattribute id=level_type name=Type type=nominal_button text=Choose type of expressiongt

ltvalue id=value_type_none name=nonegt

ltvalue id=value_type_target1 name=target1 next=level_polarity_target1level_info_unit_target1gt

ltvalue id=value_type_target_dependent name=target_dep next=level_polarity_target_dependent

level_info_unit_target_dependentgt

ltvalue id=value_type_trigger name=trigger next=level_modal_valuelevel_polarity level_polarity_cue

level_info_unit_triggergt

ltvalue id=value_type_source_modality name=source_modalitygt

ltvalue id=value_type_event name=source_eventgt

ltattributegt

No segundo niacutevel estaacute definido o atributo ―valor modal e seus respectivos valores

em uma lista nominal

ltattribute id=level_modal_value name=modal_value type=nominal_list text=gt

ltvalue id=value_modal_value_none name=nonegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_knowledge name=epistemic_knowledgegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_belief name=epistemic_beliefgt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_possibility name=epistemic_possibilitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_probability name=epistemic_probabilitygt

166

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_necessity name=epistemic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_verification name=epistemic_verificationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_necessity name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_permission name=deontic_permissiongt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_obligation name=deontic_obligationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_prohibition name=deontic_prohibitiongt

ltvalue id=value_modal_deontic_restriction name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_volition name=dynamic_volitiongt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_ability name=dynamic_abilitygt

ltattributegt

No terceiro quarto quinto e sexto niacuteveis estatildeo definidos os atributos ―polaridade do

trigger ―polaridade do target1 ―polaridade do target_dependent com os valores

―positivo e ―negativo (em bototildees nominais) e o ―iacutendice de polaridade o qual eacute um atributo

―freetext

ltattribute id=level_polarity name=polarity type=nominal_button text=Choose the polarity of the

triggergt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target1 name=polarity_target1 type=nominal_button text=Choose the

polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target_dependent name=polarity_target_dep type=nominal_button

text=Choose the polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_cue type=freetext name=polarity_cuegt

ltvalue id=value_polarity_cue name=polarity_cuegt

ltattributegt

167

Os seacutetimo oitavo e nono niacuteveis definem os atributos para a ―unidade informacional do

trigger a ―unidade informacional do target1 e a ―unidade informacional do

target_dependent em bototildees nominais

ltattribute id=level_info_unit_trigger type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target1 type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target_dependent type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

O deacutecimo niacutevel descreve o atributo ―modal_class que define o set modal e suas

propriedades

168

ltattribute id=level_modalclass name=modal_class color=green width=2 type=markable_set

add_to_markableset_text=Mark as link style=lcurve remove_from_markableset_text=Unmark as link

adopt_into_markableset_text=Move this into current modal set merge_into_markableset_text=Merge both

modal sets into onegt

ltvalue id=value_modalclass name=modal_classgt

ltattributegt

O uacuteltimo niacutevel define o atributo ―comment do tipo ―freetext

ltattribute id=level_comment type=freetext name=commentgt

ltvalue id=value_comment name=commentgt

ltattributegt

ltannotationschemegt

532 Escolha dos valores modais

Este trabalho como explicitado anteriormente na parte teoacuterica filia-se agrave tradiccedilatildeo

linguiacutestica sobre modalidade que apresenta a depender da orientaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica

diferentes tipologias para o estudo dos modais O repertoacuterio de significados modais estaacute longe

de ser estaacutevel entre as liacutenguas no entanto observamos que haacute consenso entre todas as

abordagens em relaccedilatildeo ao significado epistecircmico e o que as difere satildeo as nuances nos

significados natildeo-epistecircmicos (cf seccedilatildeo 23 do capiacutetulo 2)

Retomo brevemente aqui os valores modais que seratildeo utilizados para fins de anotaccedilatildeo

a saber os valores epistecircmico deocircntico e dinacircmico115

Para o estabelecimento dos subvalores

de cada tipo de modalidade partiu-se da definiccedilatildeo de modalidade discutida neste trabalho e

dos valores apresentados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo como descrito na seccedilatildeo 52 deste

capiacutetulo aleacutem de os proacuteprios dados analisados revelarem pelo contexto sutilezas de

interpretaccedilatildeo que aqui foram consideradas

115

Os termos que se referem ao esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a saber os valores e subvalores modais o

iacutendice modal disparador a expressatildeo no escopo do item modal e a fonte (do evento e da modalidade) seratildeo

mantidos em liacutengua inglesa uma vez que no domiacutenio da anotaccedilatildeo semacircntica eacute consenso o uso do inglecircs nos

sistemas de anotaccedilatildeo Desta forma quando necessaacuterio seraacute apresentada em nota de peacute de paacutegina uma legenda

com a traduccedilatildeo dos roacutetulos para o portuguecircs e das suas definiccedilotildees

169

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (51) (52) (53) e (54)

(51) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(52) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ

posso esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(53) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(54) REN [223] oito =COM=$ [224] mas olha o preccedilo =COM=$ [225] quatorze

e oitenta-e-nove =COM=$ [226] esse daqui eacute quatro e noventa-e-oito

=COM=$

FLA [227] eacute =COM=$ [228] oh =COM=$ [229] natildeo =CMM= mas aiacute tem

[2]=SCA= aqui tem o [1]=SCA= lto dobrogt =CMM=$

REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$

(bfamdl01)

Em (51) o falante ―LAU descreve uma situaccedilatildeo que eacute apresentada como uma crenccedila

ou opiniatildeo com nenhum (ou baixo) grau de certeza O exemplo seguinte (52) dada

determinada evidecircncia ―BAL apresenta a impossibilidade (―nũ posso) de que ―esperar

crescer dentro disso seja o caso O verbo ―dever em (53) carrega o significado de que a

partir de um conhecimento preacutevio sobre ―es chega-se agrave conclusatildeo de que eacute provaacutevel que um

grupo (―es) critique uma determinada situaccedilatildeo em outras palavras o exemplo expressa um

julgamento epistecircmico da probabilidade de uma determinada situaccedilatildeo ocorrer No excerto em

(54) os participantes comparam o preccedilo de dois produtos A participante ―REN chega

entatildeo agrave conclusatildeo de que haacute a necessidade (disparada pelo semimodal ―ter que) do preccedilo do

produto ser ―uns dez reais para que fosse coerente a quantidade do produto com o seu preccedilo

Para este tipo foram identificados seis subvalores conhecimento crenccedila

possibilidade probabilidade necessidade e verificaccedilatildeo Segundo Palmer (2001 p 24)

existem trecircs tipos de julgamento epistecircmico possiacuteveis o especulativo (que expressa

incerteza) o dedutivo (que expressa uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia) e o

assumptivo (que indica uma inferecircncia no senso comum) Assim os subvalores que seratildeo

descritos abaixo foram definidos a partir destes trecircs tipos de julgamento

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

170

(55) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(56) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(57) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(58) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta

=COM= neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(59) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(510) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$

(bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(511) e (512) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(511) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(512) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

171

Na ocorrecircncia em (511) o falante impotildee a obrigaccedilatildeo ao sujeito ―cecirc de ―ir chique a

um determinado evento Jaacute em (512) excerto de um diaacutelogo em que um participante daacute

instruccedilotildees para uma outra pessoa de como utilizar um equipamento eacute o falante ―BAL que

garante a permissatildeo para que o sujeito da sentenccedila ―cecirc esteja autorizado a realizar uma

determinada accedilatildeo no caso ―deixar o cabo bater no chatildeo

Como subvalores os deocircnticos abrangem obrigaccedilatildeo permissatildeo proibiccedilatildeo e

necessidade Apesar de a literatura sobre os deocircnticos normalmente classificarem tais modais

como uma necessidade que gera uma obrigaccedilatildeo (imposta pelo falante ou por uma autoridade

mas tambeacutem uma mera obrigaccedilatildeo a ser cumprida por um conceptualizador) ou uma

permissatildeo a partir dos dados em contexto foram identificados significados que sugeriam

proibiccedilatildeo (uma permissatildeo mais fortemente negada) e necessidade (pessoal ou de um grupo)

que natildeo gera necessariamente uma obrigaccedilatildeo ou permissatildeo Estes subvalores estatildeo descritos

abaixo

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(513) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(514) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(515) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(516) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

172

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em

(517) (518) e (519)

(517) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(518) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(519) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um

lugar =COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

No exemplo (517) o verbo ―conseguir se refere agrave capacidade do experienciador de

realizar uma atividade no caso a capacidade de ―ser pior dentre os participantes de um

grupo expressa pelo falante ―BRU Em (518) o mesmo verbo indica que o falante expressa

a falta de habilidade (generalizada) de um conjunto de pessoas (marcado pelo uso impessoal

do pronome ―vocecirc) de cumprir uma determinada tarefa (―usar o celular) Por uacuteltimo em

(519) ―GIL reporta a necessidade de se consultar um grupo para que expressem sua

vontade A perspectiva levada em conta aqui eacute a do endereccedilado ―cecircs

O tipo dinacircmico expressa dois subvalores habilidadecapacidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo

Palmer (2001 p 76) define duas categorias para a modalidade dinacircmica habilitativo e

volitivo De acordo com Palmer (2001 p 10) a categoria da habilidade ―tem que ser

interpretada mais amplamente do que em termos dos poderes fiacutesico e mental dos sujeitos para

incluir circunstacircncias que imediatamente os afetam (mas natildeo claro a permissatildeo

deocircntica)116

Abaixo a descriccedilatildeo de cada um dos subvalores

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(520) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute

de ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

116

No original ―has to be interpreted rather more widely than in terms of the subjectlsquos physical and mental

powers to include circumstances that immediately affect them (but not of course deontic permission

(PALMER 2001 p 10)

173

(521) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(522) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na tabela abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

174

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados

5331 Triggers

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

modais os verbos epistecircmicos os adveacuterbios modais as expressotildees adjetivas as expressotildees

lexicais que carregam modalidade Para este esquema que proponho seratildeo anotados apenas os

iacutendices lexicais deixando de lado por ora os gramaticais

Como descrito no capiacutetulo 3 deste trabalho os iacutendices modais mais frequentes satildeo os

verbos auxiliares e semi-auxiliares (―poder ―dever ―ter que ―parecer ―precisar ―dar

―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar) bem como os verbos de crenccedila ou

espietecircmicos (―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar) verbos de

conhecimento e compreensatildeo (―saber ―ver ―perceber) Na nossa amostra ainda

encontramos os seguintes types para os adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente

―com certeza ―exatamente ―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio

―potencialmente ―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves

vezes e para os adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―claro ―eacute claro ―eacute

loacutegico ―eacute verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade Ainda as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute

que ―tem certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

Para fins de anotaccedilatildeo levo em conta aqui apenas os iacutendices lexicais Natildeo seratildeo

anotados os marcadores morfoloacutegicos e gramaticais nem os itens que expressam

evidencialidade (cf definiccedilatildeo no capiacutetulo 2 desta tese) Desta forma natildeo estatildeo codificados os

marcadores de futuro perifraacutestico futuro do presente futuro do preteacuterito (com significado

condicional) o subjuntivo e as construccedilotildees condicionais117

A partir de agora apresento as regras para anotaccedilatildeo do trigger

117

Avalio que para a anotaccedilatildeo das construccedilotildees condicionais do tipo factual e contrafactual por exemplo um

sistema de anotaccedilatildeo deveria levar em conta natildeo apenas a sua epistemicidade mas tambeacutem um conjunto de

valores distintivos da factualidade dos eventos nos moldes do FactBank (cf SAURIacute PUSTEJOVSKY 2009)

que definem a factualidade de um evento como ―o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa o comprometimento de

fontes relevantes em relaccedilatildeo agrave natureza factual de eventos mencionados no discurso (SAURIacute PUSTEJOVSKY

2009 p 231) O termo evento eacute tratado em termos amplos para designar tanto processos como estados bem

como outros objetos abstratos como proposiccedilotildees fatos e possibilidades Adicionar uma segunda camada de

anotaccedilatildeo de factualidade para a interpretaccedilatildeo de eventos eacute um dos objetivos para trabalhos futuros

175

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(523) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(524) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(525) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(526) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(527) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(528) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser porque eacute parte do predicado nominal Apenas os adjetivos

com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos118

118

O esquema de anotaccedilatildeo para o portuguecircs europeu considera o valor ―Evaluation definido como ―[t]he

speaker expresses his or someone elselsquos evaluation of facts and propositions (HENDRICKX et al 2012a)

176

(529) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(530) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo inclusive se for o caso o verbo

suporte

(531) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade

de umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(532) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ eu tive certeza absoluta que

eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas119

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(533) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(534) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi

[1]=EMP= foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(535) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

119

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

177

(536) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

(537) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como120

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(538) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(539) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades121

120

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas Como proceder agrave anotaccedilatildeo de sequecircncias

descontiacutenuas com o software MMAX2 ver a seccedilatildeo 5313 deste capiacutetulo item (b4) 121

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

178

(540) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

(541) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(542) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(543) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(b) polaridade (polarity‟)

(c) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(d) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

179

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

agindo sobre o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext isto eacute um campo em que se

pode digitar qualquer informaccedilatildeo desejada neste caso identificar a palavra ou palavras que

expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)122

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)123

uma plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente composta de

(i) um corpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 124735

palavras e 74 sessotildees gravadas

(ii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 32589

palavras e 20 sessotildees para comparaccedilatildeo interlinguiacutestica com o minicorpus

brasileiro

(iii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-BRASIL com 31464 palavras

e 20 sessotildees

Os arquivos estatildeo divididos por enunciados e para cada enunciado aleacutem da

transcriccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis o arquivo de som a anotaccedilatildeo da estrutura informacional e a

anotaccedilatildeo de PoS

122

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 123

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013

180

5332 Sources

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila124

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459) Vaacuterios estudos levam em consideraccedilatildeo este componente em suas anaacutelises tais

como Bethard et al (2004) Breck amp Cardie (2004) Choi et al (2005) Wiebe et al (2005)

Rubin et al (2005) Prasad et al (2007) Sauriacute e Pustejovsky (2007) Inui et al (2008) Baker

et al (2010) Wiebe et al (2005) em seu trabalho sobre a anotaccedilatildeo de opiniotildees emoccedilotildees e

outros estados privados consideram a source do evento de fala isto eacute o falante ou escritor a

source do estado privado isto eacute a source cujo estado privado estaacute sendo expresso e apontam

o aninhamento de sources uma propriedade que reflete o fato de que eventos e estados

privados podem estar encaixados um no outro

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitor a julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila125

O esquema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICX et al 2012a 2012b)

anota a source of the event mention (o falante ou o produtor do evento) e a source of the

modality (a quem a modalidade eacute atribuiacuteda) Segundo os autores a decisatildeo de anotar duas

sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e aquele

que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes

mas natildeo necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de

180 contos por mecircs para a manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os

portugueses eacute a entidade com a necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O

produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se que eacute o produtor da sentenccedila

Inspirada neste uacuteltimo trabalho e ciente dos diferentes niacuteveis de concepualizaccedilatildeo na

expressatildeo da modalidade utilizo as mesmas categorias para o esquema proposto aqui

53321 Source of the event mention

A source of the event mention eacute o produtor do evento

124

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 125

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

181

A O produtor eacute normalmente o falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

B A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(544) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(545) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(546) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP= ele

=TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

53322 Source of the modality

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade

As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

182

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

que expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo

sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade

O conceptualizador que apresenta o material enunciado

como uma necessidade baseado em conhecimento

anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a

um estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado

ou obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo

a fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou

a necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(547) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

183

(548) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(549) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(550) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(551) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

184

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(552) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(553) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(554) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

HEL [89] ltham hamgt =COM=$ [90] a pessoa ampfa +=COM=$

LUC [91] lteacutegt =COM=$

HEL [92] ltahgt =COM=$

LUC [93] lteacutegt =COM=$

HEL [94] pessoa faz que natildeo =COM=$

LUC [95] eacute =COM=$

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

LUC [98] ltxxxgt =UNC=$

BRU [99] ltmas aiacute =TOP= agt gente escolhe =SCA= qual =COM=$ [100]

o laranja =CMM= ou o amarelo =CMM=$

HEL [101] lttaacutegt $

(bfamcv04)

185

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(555) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(556) GIL [54] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

5333 Targets

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo126

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

126

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

186

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(557) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(558) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(559) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(560) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

187

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(561) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(562) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(563) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

188

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo e negaccedilatildeo posposta simples natildeo incluir a segunda partiacutecula de

negaccedilatildeo no target

(564) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting127

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(565) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui

orsquo =COM=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(566) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd

[1]=EMP= desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

127

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza das barras invertidas e colchetes sinais

indicativos de retractings o material linguiacutestico que fica como vestiacutegio eacute reconhecido pela repeticcedilatildeo de chunks

eou mudanccedila de planejamento

189

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(567) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(568) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$

(bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

190

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena128

(569) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target_dep quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(570) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

128

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

191

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente A linguagem natural possui muitos recursos e a anotaccedilatildeo linguiacutestica tem como

funccedilatildeo permitir a melhor compreensatildeo da linguagem natural pela maacutequina A maacutequina natildeo

dispotildee dos recursos do humano para a interaccedilatildeo acional da linguagem dessa forma satildeo

necessaacuterias categorias que a ajudem a recuperar a referencialidade da linguagem natural

Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou correferecircncias para o

qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(571) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

192

Nesta ocorrecircncia em (571) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo

esclarecendo e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos

participantes LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos

precisar a expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que

poderia ser qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)129

e anota-se a expressatildeo

afetada contida na unidade informacional subsequente e seu valor

(572) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(573) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc

=CMB130

= se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

129

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18) 130

O CMB eacute uma categoria a ser revisada e estaacute sendo considerada como COB

193

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(a) polaridade (polarity‟)

(b) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(c) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(574) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(575) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(576) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

194

(d) epistemic_probability

(577) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(578) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(579) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

195

(g) deontic_obligation

(580) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(581) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA=

desmanchar tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(582) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(583) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

196

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(584) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(585) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

197

534 Polaridade

O traccedilo da polaridade como explicitado nas seccedilotildees sobre os componentes trigger e o

target eacute marcado para o trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o

valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(586) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(587) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

198

54 Resultados

Em nossa amostra encontramos 1088 marcadores modais (lexicais e gramaticais

excluiacutedas as condicionais e as construccedilotildees de subjuntivo) e destes foram anotados 781

triggers A Tabela 56 mostra a distribuiccedilatildeo dos valores modais e respectivos subvalores no

minicorpus

Valores Subvalores Freq

Epistecircmicos 506 647

conhecimento 108 213

crenccedila 223 44

possibilidade 122 241

probabilidade 24 47

necessidade 10 19

verificaccedilatildeo 19 37

Deocircnticos 189

obrigaccedilatildeo 96 508

permissatildeo 70 37

proibiccedilatildeo 6 32

necessidade 17 9

Dinacircmicos 86

habilidade 17 198

voliccedilatildeo 69 802

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra

A modalidade epistecircmica eacute o valor mais frequente (647) e o valor ―crenccedila que

compreende os verbos epistecircmicos e adveacuterbios modais eacute o mais numeroso representando

44 de todos os iacutendices epistecircmicos Dentre os itens deocircnticos o seu maior uso eacute o de

―obrigaccedilatildeo metade de todos os itens e a proibiccedilatildeo deocircntica tem o nuacutemero menor de

ocorrecircncias possivelmente por se tratar de uma nuance mais forte da permissatildeo deocircntica

(37 dos deocircnticos) Os casos de voliccedilatildeo correspondem a 802 da modalidade do tipo

dinacircmico e em nuacutemero menor os casos de habilidadecapacidade o que pode confirmar o

caraacuteter menos central desta categoria como jaacute mencionado anteriormente

Os triggers satildeo em um sua maioria verbos modais 815 de todos os iacutendices (65

auxiliares e semi-auxiliares 31 modais epistecircmicos) seguido pelos adveacuterbios (118) Em

nuacutemero bastante menor os adjetivos (28) e expressotildees modais (39)

A source of the event mention eacute normalmente o falante A source of modality coincide

com o falante em 883 das ocorrecircncias mas encontramos diferentes niacuteveis de

199

conceptualizaccedilatildeo envolvendo a perspectiva do endereccedilado ou outra entidade aleacutem da

perspectiva do falante No entanto haacute que se observar que estas perspectivas de

conceptualizadores diferentes da do enunciador satildeo normalmente filtradas pelos olhos do

falante principalmente em relaccedilatildeo ao uso dos verbos de crenccedila confirmando o argumento de

Wiebe e suas colaboradoras (2005 p 9) de que o aninhamento eacute uma propriedade importante

das sources

Quanto aos targets em 791 de todas as ocorrecircncias eles satildeo realizados dentro da

mesma unidade informacional Em onze ocorrecircncias ele natildeo foi marcado sendo que em uma

delas eacute inespeciacutefico (o caso em que poderia ser recuperado apenas se toda a cena estivesse

registrada em imagem) Por fim cinco satildeo os casos em que estatildeo em construccedilotildees

padronizadas (trecircs com unidades de INT contendo o trigger e duas em unidade de COB com

os targets realizados na unidade de Comentaacuterio)

Foram encontradas 108 ocorrecircncias com polaridade negativa do trigger e 27 para o

target disparada em sua maioria pela partiacutecula de negaccedilatildeo ―natildeo (ou em sua forma ―nũ)

541 Acordo entre anotadores

A anotaccedilatildeo dos textos do minicorpus nos termos descritos neste capiacutetulo foi realizada

por apenas um anotador ateacute o momento Entretanto para fins de validaccedilatildeo do esquema e

checagem de sua viabilidade em uma etapa posterior a este trabalho seratildeo realizados testes

com pelo menos mais dois anotadores estudantes de poacutes-graduaccedilatildeo

No primeiro teste um dos anotadores receberaacute um treinamento miacutenimo com diretrizes

gerais da anotaccedilatildeo para a anotaccedilatildeo de 3 textos (um texto de cada tipologia interacional) No

segundo experimento um anotador diferente do primeiro receberaacute instruccedilotildees detalhadas e

procederaacute agrave anotaccedilatildeo dos mesmos textos acompanhando o manual de anotaccedilatildeo Ambas as

anotaccedilotildees seratildeo revisadas pelo anotador original O acordo entre anotadores seraacute computado

utilizando a Estatiacutestica Kappa (COHEN 1960) para todos os componentes da anotaccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei as regras para a anotaccedilatildeo de um subcorpus de 20 textos de

fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Este esquema foi inspirado por outros jaacute elaborados

para a liacutengua inglesa e se aproxima do projeto proposto para o portuguecircs europeu No entanto

diferencia-se deste uacuteltimo pelas opccedilotildees teoacutericas adotadas aqui em termos de valores modais e

fundamentalmente em termos de conceber os targets natildeo como uma proposiccedilatildeo completa

200

mas chuncks linguiacutesticos dado que a modalidade se realiza dentro do escopo da unidade

informacional

Na primeira seccedilatildeo trago os trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica relevantes

para o projeto aqui apresentado e em seguida apresento um quadro resumptivo de quem anota

o quecirc e quais os valores satildeo utilizados por cada um deles Na seccedilatildeo 53 introduzo a proposta

descrevendo a metodologia utilizada (o software de anotaccedilatildeo a preparaccedilatildeo dos textos e regras

baacutesicas de anotaccedilatildeo) para entatildeo explicitar a escolha dos valores e subvalores modais e os

elementos a serem anotados (trigger target sources) e o detalhamento das regras para cada

um Por fim apresento e discuto os resultados aleacutem de mostrar os experimentos a serem

realizados para computar o acordo entre os anotadores

No capiacutetulo seguinte caminho para a conclusatildeo deste trabalho resumindo os

principais pontos discutidos os avanccedilos para o tema da modalidade e o horizonte futuro desta

pesquisa

201

Capiacutetulo 6

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A tiacutetulo de conclusatildeo deste trabalho gostaria de evidenciar alguns pontos centrais

para a discussatildeo do conceito de modalidade a partir de uma anaacutelise baseada em corpus Este

estudo seguiu um fio narrativo por assim dizer que compreende trecircs eixos que estatildeo

intrinsecamente relacionados o primeiro a discussatildeo do conceito de modalidade o segundo

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos itens modais e o terceiro a elaboraccedilatildeo de um esquema de

anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade

No capiacutetulo teoacuterico busquei apresentar e de certa maneira confrontar as diferentes

abordagens para o estudo da categoria da modalidade ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis a

distinccedilatildeo entre realis e irrealis e o caraacuteter subjetivo do fenocircmeno Esta noccedilatildeo eacute apresentada

na literatura linguiacutestica de variadas maneiras Claro estaacute no entanto que seja em uma

interpretaccedilatildeo mais ampla (e vaga) como a de Palmer (2001) que afirma que a modalidade se

preocupa com o estatuto da proposiccedilatildeo que descreve o evento seja em uma mais estrita como

a de van der Auwera e Plungian (1998) que a definem a partir dos domiacutenios da possibilidade

e da necessidade (e excluem outros domiacutenios) natildeo haacute um consenso sobre os limites da

categoria e que tipo de modificaccedilatildeo ela abarca

Coloquei-me portanto as seguintes questotildees de que qualidade eacute a modificaccedilatildeo

definida como modalidade Que criteacuterios para delimitar esta modificaccedilatildeo poderiam ser

propostos Na tentativa de alcanccedilar uma resposta o primeiro passo foi apresentar o seu

avesso ―o que natildeo eacute modalidade ou melhor explicando apresentei as categorias com as

quais a modalidade conversa e dela se diferenciam como a negaccedilatildeo o modo a ilocuccedilatildeo e a

atitude

Alinhando-me agrave proposta de Cresti (2000) e Tucci (2007) para quem a modalidade eacute

inerente a qualquer enunciado e pertence ao niacutevel semacircntico natildeo ao pragmaacutetico e seguindo a

tradiccedilatildeo ballyniana que leva em consideraccedilatildeo a dimensatildeo do enunciado e a noccedilatildeo de

subjetividade propus a modalidade como uma modificaccedilatildeo avaliativa operada por um

sujeito conceptualizador (o falante o endereccedilado ou uma terceira pessoa em cena) que

relativiza o material locutoacuterio enunciado de acordo com o grau de

certezacomprometimento e baseada em noccedilotildees de possibilidade necessidade

capacidade e voliccedilatildeo

202

A delimitaccedilatildeo da categoria pela subjetividade e pela inclusatildeo dos domiacutenios semacircnticos

da possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo levou-nos a uma opccedilatildeo teoacuterico-

metodoloacutegica de estudar o fenocircmeno a partir de uma tipologia jaacute bem definida na literatura e

que estaacute no centro de muitas anaacutelises os significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Esta escolha exclui a modalidade aleacutetica dado que segundo Palmer (1986) natildeo haacute distinccedilatildeo

entre o que eacute logicamente verdadeiro e aquilo que o falante considera como verdadeiro

Completando este raciociacutenio pergunto se a linguagem eacute per se argumentativa isto eacute se

sempre haacute uma perspectiva de um conceptualizador sobre uma determinada cena de que

maneira seria possiacutevel alcanccedilar uma objetividade tal que levaria a uma ―verdade

A seleccedilatildeo dos itens modais portanto foi baseada nos criteacuterios acima mencionados

com lemas que figuram em listas de modais em vaacuterias liacutenguas e outros que emergem por um

vieacutes metafoacuterico como uso especiacutefico da liacutengua portuguesa Como dito faccedilo esta afirmaccedilatildeo

desde os dados pesquisados na variante brasileira jaacute que natildeo possuo informaccedilatildeo suficiente

para generalizar para as outras variantes de Portugal e Aacutefrica

Definida a concepccedilatildeo de modalidade a tipologia a ser utilizada e os pressupostos da

Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) procedi agrave descriccedilatildeo da modalidade em uma

amostra de 20 textos da parte informal do C-ORAL-BRASIL corpus da fala espontacircnea do

portuguecircs brasileiro (especificamente da regiatildeo de Belo Horizonte MG) Este minicorpus

compilado a partir de criteacuterios de ―maacutexima qualidade tenta preservar a estrutura da parte

informal e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica

Esta descriccedilatildeo lanccedilou luz a pontos importantes como

a categoria semacircntica da modalidade se comporta de forma distinta da escrita

na fala espontacircnea uma vez que o seu escopo eacute a unidade informacional que

natildeo necessariamente abriga uma proposiccedilatildeo mas antes chunks linguiacutesticos que

natildeo obedecem aos criteacuterios sintaacuteticos propostos para a anaacutelise da escrita

os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam

puacuteblicas ou privadas

apenas algumas unidades informacionais podem ser modalizadas o

Comentaacuterio incluiacutedos os Comentaacuterios Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados) o

Parenteacutetico (e a Lista de Parenteacuteticos) o Toacutepico (e a Lista de Toacutepicos) e o

Introdutor Locutivo

A unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI

203

o Introdutor Locutivo no portuguecircs brasileiro tambeacutem pode marcar uma

introduccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo epistecircmica

as unidades de Toacutepico e Parenteacutetico abrigam como estrateacutegia preferencial de

modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 respectivamente de

todas as ocorrecircncias do minicorpus

a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de significado com

uma taxa de associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que

a dos tipos deocircntico e dinacircmico (cf MELLO et al 2013)

os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de

modalidade Sua distribuiccedilatildeo estaacute concentrada na unidade informacional de

Comentaacuterio com uma porcentagem de 973 de todas as ocorrecircncias

incluiacutedos o Comentaacuterio Muacuteltiplo o Comentaacuterio Ligado e o Apecircndice de

Comentaacuterio

o verbo ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca tem baixiacutessima ocorrecircncia O espaccedilo em usos de obrigaccedilatildeo

deocircntica tem sido ocupado pelo semimodal ―ter que

os verbos epistecircmicos que sinalizam a opiniatildeo ou grau de comprometimento

de um falante em relaccedilatildeo ao que estaacute enunciado e se organizam sintaticamente

de vaacuterias maneiras possuem funccedilotildees pragmaacuteticas distintas (a) em termos de

estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior e (b) podem ser marcadores de concordacircnciadiscordacircncia o

que indica um (possiacutevel) padratildeo lexical correspondente a um fenocircmeno de

gradiecircncia de iacutendice modal para um marcador discursivo

os itens ―claro e ―oacutebvio apesar de pertencerem formalmente agrave categoria dos

adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos

sem a presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo

as construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em

Ato constituem-se como um desafio uma vez que podem ultrapassar os

limites de um enunciado ou estar completamente acomodada nele dividida ou

natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

204

Por fim nasceu o MASS ndash Modal Annotation in Spontaneous Speech projeto de

anotaccedilatildeo da modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Os desafios para cumprir

esta tarefa foram muitos fundamentalmente relacionados ao fato de que todos os esquemas de

anotaccedilatildeo desenvolvidos ateacute agora satildeo aplicados a textos escritos normalmente a corpora de

textos jornaliacutesticos ou textos biomeacutedicos

Como jaacute visto anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu

reconhecimento automaacutetico inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma

determinada tipologia (por exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a

sua fonte e o seu escopo semacircntico Nosso esquema se inspirou no esquema proposto para o

portuguecircs europeu mas dele se diferencia na medida em que algumas decisotildees cruciais para

a anotaccedilatildeo foram baseadas na moldura teoacuterico-metodoloacutegica da TLA o que significa tomar o

enunciado como unidade analiacutetica de referecircncia e a unidade informacional o campo de

aplicaccedilatildeo da modalidade

Foram anotados 781 itens modais lexicais Como valores modais escolhemos o tipo

epistecircmico com seis subvalores conhecimento crenccedila possibilidade probabilidade

necessidade e verificaccedilatildeo o tipo deocircntico que abriga quatro subvalores obrigaccedilatildeo permissatildeo

proibiccedilatildeo e necessidade e por fim o tipo dinacircmico com dois subvalores habilidade e

voliccedilatildeo Como elementos a serem anotados o trigger a palavra ou sequecircncia de palavras que

carrega(m) a modalidade o target a expressatildeo que estaacute no escopo do trigger dentro da

unidade informacional a source of the modality o conceptualizador e a source of the event o

falante ou produtor

A anotaccedilatildeo foi realizada por um uacutenico anotador ateacute o momento com a ferramenta

(MUumlLLER STRUBE 2006) um software livre para a anotaccedilatildeo em muacuteltiplos niacuteveis valores

e subvalores modais e os elementos a serem anotados (trigger target sources) e o

detalhamento das regras para cada um

O estudo da modalidade como campo profiacutecuo pode inspirar futuras possibilidades e

projetos Tendo em vista que o C-ORAL-BRASIL eacute um corpus construiacutedo com a mesma

arquitetura dos corpora do C-ORAL-ROM eacute possiacutevel propor um estudo comparativo entre a

expressatildeo da modalidade no portuguecircs brasileiro e nas outras quatro liacutenguas romacircnicas que

compotildeem o C-ORAL-ROM Mais imediatamente faz sentido a comparaccedilatildeo com o trabalho

de Ida Tucci (2007) que descreveu a modalidade para a fala espontacircnea do italiano em uma

anaacutelise corpus-based

Uma segunda tarefa premente eacute a aplicaccedilatildeo dos experimentos para a computaccedilatildeo do

acordo entre anotadores o que vai indicar a viabilidade do esquema proposto A porcentagem

205

de itens anotados alcanccedilada na amostra leva-nos a crer na possibilidade tambeacutem de se buscar

algoritmos para o treinamento de maacutequinas para alguns dos iacutendices mais representativos

como os verbos modalizadores

Outras pesquisas sobre a modalidade e a sua relaccedilatildeo com outras categorias como

modo tempo e aspecto podem ser exploradas Assim como pode ser considerada a

possibilidade de inclusatildeo de construccedilotildees avaliativas do tipo ―eacute osso e ser estudada a

relaccedilatildeo entre a modalidade e as ilocuccedilotildees

No que concerne aos trabalhos em anotaccedilatildeo semacircntica como mencionado eacute terreno a

ser semeado e cultivado Trabalhos que envolvam a modalidade e outras categorias como o

foco e trabalhos comparativos por exemplo entre as diamesias oral e escrita e entre os

diferentes projetos propostos para outras liacutenguas

Entendo que o trabalho realizado contribui para uma melhor compreensatildeo da noccedilatildeo

semacircntica de modalidade e sua realizaccedilatildeo na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Aleacutem

disso o esquema de anotaccedilatildeo da modalidade eacute um passo importante e relevante para os

estudos em Processamento em Linguagem Natural e poderaacute contribuir com ferramentas para

anotaccedilatildeo automaacutetica da categoria no que diz respeito a textos falados e por que natildeo sua

ampliaccedilatildeo (e adaptaccedilatildeo) para textos escritos

206

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ANEXOS

MASS 10

MANUAL DE ANOTACcedilAtildeO

LUCIANA AacuteVILA

POSLIN ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CENTRO DE LINGUIacuteSTICA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

02 DE JANEIRO DE 2013

SUMAacuteRIO

1INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 1

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip2

21 MODALIDADE 2

22 VALORES MODAIS 2

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip5

31 O SOFTWARE MMAX2 6

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS 6

321 TRIGGERShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip6

322 SOURCES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3221 SOURCE OF THE EVENThelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3222 SOURCE OF THE MODALITY helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip12

33 TARGET helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip15

34 POLARIDADE helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip27

35 REFEREcircNCIAS helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip28

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este manual apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous Speech)

um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES

21 MODALIDADE

A definiccedilatildeo da modalidade estaacute longe de ser consensual Neste projeto defino este

fenocircmeno como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o

que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade obrigaccedilatildeo e permissatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da interaccedilatildeo

(AVILA amp MELLO 2013 AVILA 2014)

22 VALORES MODAIS

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (1) (2) (3) e (4)

(1) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(2) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ posso

esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(3) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(4) REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

(5) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(6) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(7) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(8) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta =COM=

neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(9) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(10) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$ (bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(11) e (12) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(11) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(12) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(13) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(14) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(15) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(16) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em (17)

(18) e (19)

(17) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(18) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(19) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um lugar

=COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(20) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute de

ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

(21) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(22) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na Tabela 1 abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 1 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

3 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 2009 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs

(CUI CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez que natildeo centra a sua

anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento o software livre MMAX2131

(MUumlLLER

STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais e os elementos a serem anotados

(trigger source of the event source of the modality target) e a marcaccedilatildeo da polaridade

aplicada ao elemento trigger

31 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS

321 TRIGGERS

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

131

httpmmax2sourceforgenet

modais os verbos epistecircmicos ou de atitude proposicional os adveacuterbios modais as

expressotildees adjetivas as expressotildees lexicais que carregam modalidade

Os iacutendices modais considerados satildeo

(a) verbos auxiliares e semi-auxiliares ―poder ―dever ―ter que ―parecer

―precisar ―dar ―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar

(b) verbos de crenccedila ―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar

(c) verbos de conhecimento e compreensatildeo ―saber ―ver ―perceber

(d) adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente ―com certeza ―exatamente

―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio ―potencialmente

―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves vezes

―claro

(e) adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―eacute claro ―eacute loacutegico ―eacute

verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade

(f) as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute que ―tem

certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(23) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(24) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(25) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(26) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(27) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(28) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser uma vez que eacute parte do predicado nominal Apenas os

adjetivos com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos

(29) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(30) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger agraves vezes

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo

(31) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade de

umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(32) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ [6]=EMP= eu tive certeza

absoluta que eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas132

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(33) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(34) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi [1]=EMP=

foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(35) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

(36) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

132

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

(37) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como133

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(38) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(39) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades134

(40) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

133

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas 134

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

(41) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(42) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(43) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(e) polaridade (polarity‟)

(f) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(g) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

escopando o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext em que estaacute identificado a

palavra ou palavras que expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)135

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)136

plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente

322 SOURCES

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila137

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459)

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitora julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila138

3221 SOURCE OF THE EVENT MENTION

A source of the event mention eacute o produtor do evento O produtor eacute normalmente o

falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

A A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(44) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

135

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 136

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013 137

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 138

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(45) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(46) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP=

ele =TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

3522 SOURCE OF THE MODALITY

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) que

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua opiniatildeo

sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade O conceptualizador que apresenta o material enunciado como

uma necessidade baseado em conhecimento anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado ou

obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a fazer

algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de uma

outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 2 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(47) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

(48) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(49) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

B1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(50) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(51) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(52) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(53) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(54) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

[]

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

(bfamcv04)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(55) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(56) GIL [64] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

323 TARGETS

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo139

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(57) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

139

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

(58) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(59) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(60) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(61) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(62) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(63) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo natildeo incluir a segunda partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(64) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting140

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(65) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui orsquo

=COM=$ (bfamcv01)

140

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza dos retractings os seus vestiacutegios satildeo

reconhecidos pela repeticcedilatildeo de chunks eou mudanccedila de planejamento

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(66) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(67) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(68) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$ (bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena141

141

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

(69) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(70) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou

correferecircncias para o qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) que poderiam ser recuperados apenas se disponiacuteveis

arquivos de imagem o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(71) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

Nesta ocorrecircncia em (71) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo esclarecendo

e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos participantes

LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos precisar a

expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que poderia ser

qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)142

e com modalidades

tambeacutem distintas e anota-se a expressatildeo afetada contida na unidade informacional

subsequente e seu valor

(72) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

142

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18)

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(73) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc =CMB143

=

se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(d) polaridade (polarity‟)

(e) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(f) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(74) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

143

As unidades de CMB natildeo descritas na literatura correspondem em sua grande maioria agrave unidade de COB e

foram portanto substituiacutedas por ela na anotaccedilatildeo

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(75) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(76) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

(d) epistemic_probability

(77) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(78) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(79) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

(g) deontic_obligation

(80) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(81) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(82) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(83) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(84) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(85) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

33 POLARIDADE

O traccedilo da polaridade como explicitado em seccedilotildees anteriores eacute marcado para o

trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(86) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(87) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

37 REFEREcircNCIAS

AVILA L MELLO H Challenges in modality annotation in a Brazilian Portuguese

spontaneous speech corpus In Proceedings of WAMM-IWCS2013 Potsdam Germany 2013

AVILA L Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus de fala espontacircnea do

Portuguecircs Brasileiro Tese (Doutorado em Estudos Lingiacutesticos) Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais 2014

BAKER K BLOODGOOD M DORR B J FILARDO N W LEVIN L PIATKO C

A modality lexicon and its use in automatic tagging In Proceedings of the Seventh Language

Resources and Evaluation Conference (LREC‟10) Valletta Malta ELRA 2010 p 1402-

1407

BARWISE K J PERRY J Situations and attitudes Cambridge MIT Press 1981

CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca 2000

CRESTI E Syntactic properties of spontaneous speech in The Language into Act Theory

data on Italian complements and relative clauses In Raso T amp Mello H (eds) Spoken

Corpora and Linguistic Studies AmsterdamPhiladelphia John Benjamins no prelo

CUI Y CHI T Annotating Modal Expressions in the Chinese Treebank In Proceedings of

WAMM-IWCS2013 Potsdam Germany 2013

FAUCONNIER G Espaces mentaux Paris Les eacuteditions de Minuit 1984

HENDRICKX I MENDES A MENCARELLI S SALGUEIRO A Modality Annotation

Manual version 10 Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa Lisboa Portugal

2012a

HENDRICKX I MENDES A MENCARELLI S Modality in Text a Proposal for

Corpus Annotation In Proceedings of the Eighth International Conference on Language

Resources and Evaluation - LREC 2012 Istanbul May 21-27 2012b

HUDDLESTON R PULLUM G The Cambridge Grammar of the English Language

Cambridge Cambridge University Press 2002

KIEFER F Modality In ASHER R E (ed) The Encyclopedia of language and linguistics

Oxford Pergamon Press 1994 p 2515ndash2520

MATSUYOSHI S EGUCHI M SAO C MURAKAMI K INUI K MATSUMOTO

Y (2010) Annotating Event Mentions in Text with Modality Focus and Source

Information in Proceedings of the Seventh conference on the International Language

Resources and Evaluation (LREClsquo10)

A HENDRICKX I SALGUEIRO A AacuteVILA L Annotating the interaction between

focus and modality the case of exclusive particles In Proceedings of the 7th Linguistic

Annotation Workshop amp Interoperability with Discourse Sofia Bulgaria 2013 p 228ndash237

MUumlLLER C STRUBE M Multi-level annotation of linguistic data with MMAX2 In

BRAUN S KOHN K MUKHERJEE J (eds) Corpus technology and language

pedagogy New Resources New Tools New Methods Frankfurt Peter Lang p 197-214

(English Corpus Linguistics Vol3 )

RUBINSTEIN A HARNER H KRAWCZYK E SIMONSON D KATZ G

PORTNER P Toward fine-grained annotation of modality in text In Proceedings of

WAMM-IWCS2013 Potsdam Germany 2013

SALKIE R Degrees of modality In SALKIE R BUSUTTIL P VAN DER AUWERA J

(eds) Modality in English theory and description Topics in English Linguistics 58 Berlim

Mouton de Gruyter 2009 p 79-103

SAURIacute R VERHAGEN M PUSTEJOVSKY J Annotating and recognizing event

modality in text in Proceedings of the 19th International FLAIRS Conference FLAIRS 2006

SAURIacute R PUSTEJOVSKY J FactBank a corpus annotated with event actuality Language

Resources amp Evaluation 43 227ndash268 2009

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS LUCIANA BEATRIZ ... · Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Linha de Pesquisa: Estudos Lingüísticos Baseados Em Corpora

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AacuteVILA

Modalidade em perspectiva

estudo baseado em corpus oral do Portuguecircs Brasileiro

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos Linguisticos da Faculdade de Letras da

Universidade Federal de Minas Gerais como

requisito parcial para a obtenccedilatildeo do titulo de Doutor

em Estudos Linguiacutesticos

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguistica Teoacuterica e

Descritiva

Linha de Pesquisa Estudos Linguisticos baseados

em Corpora

Orientador Profordf Drordf Heliana Ribeiro de Mello

Belo Horizonte

Faculdade de Letras da UFMG

2014

Ficha catalograacutefica elaborada pelos Bibliotecaacuterios da Biblioteca FALEUFMG

Aacutevila Luciana Beatriz Bastos A958m Modalidade em perspectiva [manuscrito] estudo baseado em

corpus oral do portuguecircs brasileiro Luciana Beatriz Bastos Aacutevila ndash 2014

253 f enc il grafs (color) tabs (pampb) + 1 CD-ROM

Orientadora Heliana Ribeiro de Mello

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguiacutestica Teoacuterica e Descritiva

Linha de Pesquisa Estudos Linguumliacutesticos Baseados Em Corpora

Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Minas

Gerais Faculdade de Letras

Inclui CD-ROM com arquivos de aacuteudio guia do usuaacuterio MMAX2

demonstraccedilatildeo de arquivo anotado

Bibliografia f 206-218

Anexo f 219-253

1 Modalidade (Linguiacutestica) ndash Teses 2 Linguiacutestica de corpus ndash Teses 3 Liacutengua portuguesa ndash Portuguecircs falado ndash Brasil ndash Teses 4 Atos de fala (Linguiacutestica) ndash Teses 5 Linguiacutestica ndash Processamento de dados ndash Teses I Mello Heliana Ribeiro de II Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras III Tiacutetulo CDD 418

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LlNGuiacuteSTICOS

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus oral doportuguecircsbrasileiro

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AVILA

Tese submetida agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS como requisito para obtenccedilatildeo do grau de Doutorem ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS aacuterea de concentraccedilatildeo LINGUIacuteSTICA TEOacuteRICA EDESCRITIVA linha de pesquisa Linha G-Estudos Inter-Relaccedilatildeo Linguagem Cogniccedilatildeo e

Aprovada em 30 de abril de 2014 pela banca constituiacuteda pelos membros

~~Prof(a) Heliana Ribeiro de Mello - Orientador

UFMG

C4-vJl c eO~~c~ -

PIJ~a) Giulia Bossaglia lUFMG

PWf(l o A g sto de Souza

~-~OvlProf(a) Lilian Vieira Ferrari

UFRJ

LLa tampirdWv oa 2M-~Prof(a) ~ampariaClaacuteudia de Freitas

PUC-RJ

Belo Horizonte 30 de abril de 2014

agrave memoacuteria do meu pai Joseacute Walter

que me ensinou a assimetria do tempo-espaccedilo

AGRADECIMENTOS

Natildeo se engana quem pensa que um doutorado eacute um osso duro de roer No entanto seria ainda

mais duro se natildeo estiveacutessemos cercados de um sem nuacutemero de pessoas que nos apoiam

encorajam datildeo colo provocam motivam

Agrave Prof Heliana Mello minha orientadora e amiga parceira e cuacutemplice nessa jornada que me

guiou pela matildeo para a terceira margem e se empenhou de forma delicada gentil e generosa

para eu me tornar uma doutora Por sua contribuiccedilatildeo intelectual e por sua compreensatildeo

paciecircncia e carinho desde sempre

Agrave Amaacutelia Mendes que me acolheu em Lisboa em meu periacuteodo de Estaacutegio Doutoral e natildeo

mediu esforccedilos para que me integrasse agrave vida de trabalho no Centro de Linguiacutestica da

Universidade de Lisboa Pela nossa histoacuteria de afeto e ―muita amizade Torcendo por

parcerias futuras

Ao Prof Tommaso Raso e Profordf Liacutelian Ferrari pelos valiosos comentaacuterios em minha sessatildeo

de qualificaccedilatildeo

Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem prontamente o convite para leitura e

discussatildeo deste trabalho

Aos colegas do LEEL grandes companheiros Priscila Adriana e Raiacutessa com quem dividi a

peleja para aprender sobre a modalidade Luiacutes pelas oacutetimas trocas Bruno Rocha Elisa Helocirc

Maryualecirc Andressa Carol Bruna e Bruno Alberto pelos bons momentos passados juntos

Ao Pedro Perini com quem venho construindo um produtivo diaacutelogo sobre linguiacutestica e uma

bela amizade Ao Fred por nossa histoacuteria comprida de carinho

Aos colegas do CLUL Liliana Raiumlssa Aida Sandra Antunes Sandra Pereira Fernando aos

professores Luiacutesa Alice Gabriela e Joatildeo pelos almoccedilos cafeacutes da tarde solzinho na esplanada

e toblerones compartilhados Ao Seacutergio da informaacutetica pelo suporte teacutecnico no meu

momento de desespero quando o programa natildeo rodava Meu agradecimento especial ao

Agostinho que jaacute no primeiro dia de trabalho me ensinou pacientemente a operar o software

de anotaccedilatildeo e me provocou um lindo insight para a soluccedilatildeo de uma questatildeo que me perseguia

Agrave minha matildee Celeste a quem natildeo cabe adjetivos Ela eacute superlativa

Agrave minha famiacutelia porque sim Agrave Clara grande companheira de viagem e a todos os sobrinhos

plenos de sonhos e esperanccedilas

Agrave Fernanda que estava laacute na hora certa

Ao Nando e agrave Angeacutelica amigos obrigatoacuterios nos meus agradecimentos na alegria e na

tristeza na sauacutede e na doenccedila Meu amor sempre

Ao Francisco e agrave Antonieta pela amizade carinho almoccedilos de domingo sabores

maravilhosos e um bom vinho

Ao Eduardo amigo queridiacutessimo pelo apoio incondicional e por tornar a vida mais faacutecil

todos os dias Cafeacute preto sem accediluacutecar fruta picada e CBN

Agrave Isabel Mariana e Laurent pelas portas e braccedilos sempre abertos do lado de caacute e de laacute do

Atlacircntico

Agrave Chris que foi chegando devagarinho e veio pra ficar Risos laacutegrimas conversas matinais

Agrave Corita Evandro e Fernandinho reencontro maravilhoso pelo carinho e a sensaccedilatildeo de

abraccedilo apertado em Viccedilosa

Aos amigos de sempre espalhados pelo mundo Viccedilosa Juiz de Fora Rio Belo Horizonte

Lisboa Ouro Preto Satildeo Paulo Campinas Niteroacutei Nicosia Madrid Paris Genegraveve Basel

Berna Berlim Vocecircs formam o mapa do meu afeto

Ao Nuno tatildeo diferente e tatildeo surpreendente pelo apoio paciecircncia carinho solampmar comida

preparada Vocecirc segurou a minha onda no momento mais barra pesada da vida

Ao Francisco Carlos e agrave Miuacutecha que abriram suas casas para me acolherem Aos

companheiros de casa em Belo Horizonte e Lisboa por me ensinarem a enxergar o outro

Agraves funcionaacuterias que cuidaram de meu pai e cuidam de minha matildee a ajuda de Vocecircs nos cerca

de tranquilidade

Ao Thiago e ao Ronaldo que aleacutem de amigos maravilhosos me ajudaram com abstracts

papers ―uma traduccedilatildeo rapidinha

Ao Prof Kleos pela ajuda com as imagens e a maacutegica da formataccedilatildeo

Aos meus colegas de departamento

Agraves funcionaacuterias da PPG Suely e Margarida pelo apoio na burocracia

Aos funcionaacuterios do PosLin prestativos e soliacutecitos a nossas demandas

Agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) pela bolsa de

estudos concedida para Estaacutegio Doutoral em Portugal no acircmbito do Programa de Doutorado

Sanduiacuteche no Exterior (PDSE) e agrave UFV pela bolsa de estudos no Brasil

A todos os muacutesicos de samba chorinho jazz fado soul reggae rock amp blues A vida eacute mais

leve assim

A todas as pessoas que passaram pela minha vida que natildeo estatildeo aqui nomeadas mas que

certamente deram cor e graccedila a esta minha aventura

ldquoEacute preciso que as pessoas entrem e saiam

Que vivam por toda a parterdquo

(Herberto Heacutelder)

RESUMO

Este estudo trata da descriccedilatildeo da modalidade em um corpus de fala espontacircnea da

variedade mineira do portuguecircs brasileiro Modalidade em uma definiccedilatildeo mais enxuta eacute a

avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o material locutoacuterio que enuncia em

termos do grau de certeza possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo No entanto natildeo

existe consenso sobre a definiccedilatildeo precisa desta categoria por diferentes razotildees (a) a

modalidade eacute campo de estudo para a loacutegica e a linguiacutestica que aplicam para este fim

metodologias diversas (b) a categoria se diferencia e estaacute interrelacionada com outras como

as de tempo aspecto modo (c) esta noccedilatildeo se confunde e se sobrepotildee agraves de ilocuccedilatildeo atitude e

emoccedilatildeo Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato na metodologia da Linguiacutestica

de Corpus e Linguiacutestica Computacional o trabalho tem como objetivo descrever o

comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade e propor um esquema de

anotaccedilatildeo da modalidade para um minicorpus do C-ORAL-BRASIL O C-ORAL-BRASIL eacute

um corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro o quinto braccedilo do C-ORAL-ROM um

corpus comparaacutevel representativo das quatro principais liacutenguas romacircnicas europeias (italiano

espanhol francecircs e portuguecircs) segmentado prosodicamente em enunciados e suas

subunidades informacionais O enunciado eacute a unidade miacutenima de referecircncia pragmaticamente

interpretaacutevel Para fins desta pesquisa utilizo uma amostra da parte informal do corpus C-

ORAL-BRASIL um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias interacionais

divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 6 privados e 1 puacuteblico mdash 7 diaacutelogos mdash 5

privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas Para o tratamento nesta

tese foram selecionados 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046 enunciados codificados

e posteriormente anotados semanticamente atraveacutes do software MMAX2 Apoacutes a anaacutelise

quantitativa e qualitativa podemos concluir que (i) a categoria da modalidade se comporta de

forma distinta da escrita na fala espontacircnea (ii) os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados

em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam puacuteblicas ou privadas (iii) apenas algumas unidades

informacionais podem ser modalizadas Comentaacuterio Parenteacutetico Toacutepico Introdutor

Locutivo (iv) a unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI (v) a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de

significado (vi) os verbos satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de modalidade

Palavras-chave modalidade corpus oral fala espontacircnea anotaccedilatildeo semacircntica portuguecircs

brasileiro

ABSTRACT

This study deals with the description of modality in a corpus of spontaneous Brazilian

Portuguese spoken language more specifically the Minas Gerais variety Modality in a more

concise definition is the evaluation of a conceptualizer which relativizes the uttered locutive

material in terms of degree of certainty possibility necessity capability and volition

However there is no consensus on a precise definition of such category explained by a

number of reasons (a) modality is a field of study for logics and linguistics that utilizes

various methodologies (b) the categories is both differentiated and interrelated to others such

as time aspect mode (c) this notion is mistaken and overlaps those of illocution attitude

and emotion Based on the principles of the Speech Act Theory in Corpus and

Computational Linguistics this work aims at describing the behavior of different modality

markers and proposing a modality annotation scheme for a C-ORAL-BRASIL minicorpus C-

ORAL-BRASIL is a corpus of Brazilian Portuguese spoken language the fifth branch of C-

ORAL-ROM a comparable corpus representative of the four main European Romance

Languages (Italian Spanish French and Portuguese) prosodically segmented in utterances

and their informational sub-units The utterance is the minimal reference unit pragmatically

interpretable To better fit the purposes of this research I utilized the informal part of the C-

ORAL-BRASIL corpus a minicorpus composed of 20 texts of three interactional typologies

divided into private and public 7 monologues ndash 6 private and 1 public ndash 7 dialogues ndash 5

private and 2 public ndash and 6 conversations ndash 4 private and 2 public ones For the treatment in

this thesis 1197 modal indexes distributed in 1046 utterances codified and later on

semantically annotated through the MMAX2 software were utilized After the quantitative

and qualitative analysis we can conclude that (i) the category of modality behaves

distinctively in written and spontaneous oral language (ii) the modal indexes are widely

utilized in dialogic situations be them public or private (iii) only a few informational units

can be modalized Comment Parenthetical Topic Locutive Introducer (iv) the Comment

unit is the most modalized and there is no realization restriction for this IU (v) the epistemic

modality is the most frequent one among the types of meaning (vi) verbs are the preferred

strategy for modality marking

Keywords modality oral corpus spontaneous speech semantic annotation Brazilian

Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 ndash Quadrado modal 25

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111) 44

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade 58

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo 66

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus 102

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional 104

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional 105

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra () 107

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices

modalizados 108

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus 109

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais () 110

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal 112

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal 113

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores 116

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade 117

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores 118

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra 124

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais 127

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2 155

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable 158

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables 159

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido 159

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal 160

Figura 56 ndash Remover o link 161

Figura 57 ndash Apagar um markable 161

Figura 58 ndash Adicionar uma sequecircncia ao markable 162

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable 162

Figura 510 ndash Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos 163

Figura 511 ndash Tela principal de anotaccedilatildeo 163

Figura 512 ndash Painel de controle 164

Figura 513 ndash Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo 164

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional 32

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees 42

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus 91

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados 94

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas 95

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais 95

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais 96

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos 97

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados 98

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais 99

Tabela 41 Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x contexto e tipologia interacional 103

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional 104

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras 106

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra 108

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade 109

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade 110

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais 112

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores no minicorpus 115

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores 118

Tabela 410 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional 124

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas 126

Tabela 412 - Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais 130

Tabela 413 - Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional 131

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais 131

Tabela 415 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional 136

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais 136

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional 137

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional 137

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu 150

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo

semacircntica 152

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo 153

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees 173

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais 182

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra 198

LISTA DE ABREVIATURAS

ALL - Alocutivo

APC - Apecircndice de Comentaacuterio

APT - Apecircndice de Toacutepico

b - Brasileiro (Portuguecircs)

fam - Familiar

pub - Puacuteblico

cv - Conversaccedilatildeo

dl - Diaacutelogo

mn - Monoacutelogo

CMM - Comentaacuterio Muacuteltiplo

CNT - Conativo

COB - Comentaacuterio Ligado

COM - Comentaacuterio

DCT - Conector Discursivo

EMP - Unidade informacionalmente vazia

EXP - Expressivo

F - Feminino

F0 - Frequecircncia fundamental

Hz - Hertz

i- - Unidade informacional interrompida

INP - Incipitaacuterio

INT - Introdutor Locutivo

IPO - Instituto de Pesquisa Perceptual

LABLITA - Laboratorio Linguistico do

Departamento de Italianistica

LEEL - Laboratoacuterio de Estudos Empiacutericos e

Experimentais da Linguagem

M - Masculino

PAR - Parenteacutetico

PB - Portuguecircs do Brasil

PE - Portuguecircs Europeu

PLN - Processamento de Linguagem Natural

PHA - Faacutetico

PRL - Lista de Parenteacuteticos

SCA - Unidade informacional escandida

TLA - Teoria da Liacutengua em Ato

TMT - Tomada de Tempo

TOP ndash Toacutepico

TPL - Lista de Toacutepicos

UI - Unidade de informaccedilatildeo

UNC - Unidade informacional irreconheciacutevel

XML - Linguagem de marcaccedilatildeo estendida

SUMAacuteRIO

Capiacutetulo 1 INTRODUCcedilAtildeO 17

11 Justificativa 18

12 Quadro hipoteacutetico 20

121 Hipoacuteteses 20

122 Objetivos 20

13 Organizaccedilatildeo do texto 21

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA 23

Capiacutetulo 2 MODALIDADE estado da arte 24

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica 24

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema 27

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis 28

222 Realis x Irrealis 31

223 Subjetividade 33

23 Tipos de significados modais 39

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas 40

232 A visatildeo tradicional 45

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades 47

232 Modalidade deocircntica 50

233 Modalidade dinacircmica 53

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias 55

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias 58

251 Modalidade e negaccedilatildeo 59

252 Modalidade e modo 61

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude 63

26 Modalidade na fala espontacircnea 67

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS

DADOS 74

Capiacutetulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 75

31 A Teoria da Liacutengua em Ato 75

311 O enunciado 76

312 Unidades Informacionais 79

3121 Comentaacuterio (COM) 79

3122 Toacutepico 80

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC) 81

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT) 81

3115 Parenteacutetico (PAR) 82

3116 Introdutor locutivo (INT) 83

322 Unidades Dialoacutegicas 83

3221 Incipitaacuterio (INP) 83

3222 Conativo (CNT) 84

3223 Faacutetico (PHA) 84

3224 Alocutivo (ALL) 84

3225 Expressivo (EXP) 85

3226 Conector Discursivo (DCT) 85

323 A perda do isomorfismo 85

3231 Unidade de escansatildeo (SCA) 86

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) 86

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB) 87

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL 88

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados 89

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I 89

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices 92

34 Anaacutelise dos dados 99

Capiacutetulo 4 A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise 101

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra 101

42 Enunciados e tipologia interacional 103

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade 105

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional 107

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais 109

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical 110

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais 111

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade 114

451 Os verbos modalizadores 114

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores 114

452 Os verbos epistecircmicos 117

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos 122

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas 125

453 Adveacuterbios e adjetivos modais 129

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais 129

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais 131

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q 135

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica 135

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE 141

Capiacutetulo 5 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL 142

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica 143

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc) 152

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech) 154

531 Metodologia 154

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2 154

5312 A preparaccedilatildeo dos textos 156

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar 158

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML 165

532 Escolha dos valores modais 168

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados 174

5331 Triggers 174

5332 Sources 180

53321 Source of the event mention 180

53322 Source of the modality 181

5333 Targets 185

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal 193

534 Polaridade 197

54 Resultados 198

541 Acordo entre anotadores 199

Capiacutetulo 6 Consideraccedilotildees finais 201

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 206

ANEXOS

Anexo 1 MASS 10 - Manual de anotaccedilatildeo

Anexo 2 Guia de uso MMAX2 (apenas na versatildeo eletrocircnica)

Anexo 3 Demonstraccedilatildeo de arquivo anotado (apenas na versatildeo eletrocircnica)

17

Capiacutetulo1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho se insere em um projeto sobre a modalidade desenvolvido desde o

ano de 2008 na Universidade Federal de Minas Gerais denominado ―Modalidade na fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro um estudo de corpus Este projeto tem como objetivo

investigar a modalidade em um corpus oral de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro por

diferentes motivos (1) pela dificuldade de compreensatildeo dessa categoria gramatical (2) pelo

nuacutemero ainda tiacutemido de estudos sobre o tema no portuguecircs brasileiro e (3) pela necessidade

de ―descriccedilotildees e estudos pontuais da manifestaccedilatildeo oral do portuguecircs brasileiro

Algumas das decisotildees teoacuterico-metodoloacutegicas aqui adotadas portanto satildeo fruto das

discussotildees realizadas pelo grupo de pesquisa ―Interfaces linguagem cogniccedilatildeo e cultura ndash

INCOGNITO certificado pelo CNPq e liderado pelos professores Heliana Mello e Tommaso

Raso Assim parti de estudos preliminares empreendidos dentro do projeto C-ORAL-

BRASIL que levantaram as principais estrateacutegias modalizadoras na fala espontacircnea do PB

(MELLO CARVALHO CORTES 2010 MELLO RAMOS AVILA 2011 CORTES

MELLO 2013 MELLO CAETANO 2012)

O trabalho que ora apresento pretende ser um passo agrave frente no que diz respeito agrave

descriccedilatildeo do comportamento de diferentes iacutendices marcadores do fenocircmeno semacircntico da

modalidade em um corpus oral da variante mineira do portuguecircs brasileiro

Desde o seacuteculo XVII segundo Arendt (19582010 p 310) ―todos os grandes autores

cientistas e filoacutesofos [] declaravam ver coisas jamais antes vistas e ter pensamentos jamais

antes pensados Como proposta de tese de doutoramento pretendo tratar de um tema que jaacute

foi bastante pensado e discutido desde a Antiguidade Claacutessica e por autores de diferentes

persuasotildees a categoria semacircntica da modalidade No entanto tal como os grandes nomes da

histoacuteria revolucionaacuterios ou natildeo sofremos insistentemente do ―pathoacutes da novidade e

portanto arrisco pensar a modalidade diferentemente da concepccedilatildeo claacutessica1 como uma

categoria menos estaacutetica e como uma noccedilatildeo que se realiza tambeacutem em um contexto

interacional Logo esse estudo pode ser realizado tatildeo somente pela anaacutelise da liacutengua em uso

e no caso da pesquisa em tela atraveacutes de um estudo empiacuterico

1 Trato da concepccedilatildeo claacutessica da modalidade e de outras definiccedilotildees da categoria no capiacutetulo 2

18

Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) e na

metodologia da Linguiacutestica de Corpus a pesquisa que proponho desenvolver tem como

objetivo descrever (e tentar explicar) o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de

modalidade mdash lexicais ou gramaticais mdash como por exemplo verbos modais adveacuterbios ou

locuccedilotildees modalizadoras verbos de crenccedila verbos de voliccedilatildeo construccedilotildees adjetivas

modalizadoras construccedilotildees condicionais e o futuro

A pesquisa teraacute como foco a diamesia oral da variante brasileira do portuguecircs a partir

da anaacutelise (qualitativa e quantitativa) da parte informal de um corpus oral representativo da

fala espontacircnea2 o C-ORAL-BRASIL (cf RASO MELLO 2012) a ser descrito mais

adiante Como exemplos desses iacutendices temos

(11) RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees uai

(12) JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai

13) CAR [12] e =TXC= e eu achei que ia me dar trabalho =COM=$

(14) [123] o Zeacute Carlos vai dar a televisatildeo =COM=$

(15) LUC [361] ltisso pode ser =SCA= potencialmentegt divertido =COM=$

11 Justificativa

Um estudo sobre a modalidade se justifica por diferentes razotildees Primeiro por ocupar

um lugar de destaque nos estudos da linguiacutestica nas uacuteltimas deacutecadas e ser um conceito ainda

controverso (e complexo) que se pode sobrepor a outros como os de atitude ilocuccedilatildeo ou

modo Mello e Raso (2011) propotildeem uma discussatildeo interessante sobre as categorias de

atitude ilocuccedilatildeo e modalidade a fim de facilitar a identificaccedilatildeo de traccedilos que possam

caracterizar esses diferentes conceitos De acordo com os autores essas trecircs definiccedilotildees muitas

vezes se sobrepotildeem o que leva a problemas metodoloacutegicos cruciais para a anaacutelise prosoacutedica

uma vez que a prosoacutedia codifica coisas diferentes ao mesmo tempo Os autores na tentativa

de separar os domiacutenios de aplicaccedilatildeo de cada um desses conceitos argumentam que eles

2 Para fala espontacircnea acompanho a proposta de Cresti e Scarano (1998 p 5) que entendem o espontacircneo

―como o cumprimento de atos linguiacutesticos nem programados nem programaacuteveis porque produzidos durante e

no desenvolvimento de uma interaccedilatildeo sempre nova e imprevisiacutevel entre locutores As autoras destacam o

caraacuteter dialoacutegico da fala considerada espontacircnea fundamentadas na Teoria dos Atos de Fala que relaciona o ato

de falar com o cumprimento de diversas accedilotildees linguiacutesticas (AUSTIN 1962) Tais accedilotildees linguiacutesticas em si

finitas e circunscritas natildeo satildeo o produto de um locutor ativo e isolado mas sim se relacionam a um locutor

engajado em uma situaccedilatildeo dinacircmica e interativa com vaacuterios interlocutores Segundo as autoras o princiacutepio que

rege os textos da fala espontacircnea repousa sobre um fundamento ilocutoacuterio ausente na escrita que conteacutem uma

articulaccedilatildeo informacional especifica

19

devem ser estabelecidos como instacircncias de diferentes fenocircmenos os quais satildeo aplicados a

diferentes niacuteveis do ato comunicativo e podem a princiacutepio ser composicionais

Em segundo lugar entendo que partir de corpora orais de fala espontacircnea para a

anaacutelise do fenocircmeno pode nos levar a caminhos de investigaccedilatildeo com foco em ―contextos

especiacuteficos de uso de expressotildees modais e como eles correspondem a necessidades

especiacuteficas de comunicaccedilatildeo (CORNILLIE PIETRANDREA 2012) e por consequecircncia agrave

importacircncia dos movimentos linguiacutesticos dos participantes na negociaccedilatildeo de sentidos no

curso de uma interaccedilatildeo De fato se o objetivo que aqui se delineia eacute trabalhar com a descriccedilatildeo

de construccedilotildees da liacutengua os estudos de corpora em termos metodoloacutegicos vecircm contribuir

para a manipulaccedilatildeo de um grande nuacutemero de dados representativos do uso com o recurso de

ferramentas computacionais sofisticadas Dar conta da distribuiccedilatildeo das expressotildees de uma

liacutengua se constitui como uma tarefa hercuacutelea A pesquisa de corpus dessa forma pode

determinar a frequecircncia com a qual uma determinada expressatildeo (ou construccedilatildeo) pode ser

usada em diferentes contextos Gries destaca em artigo sobre a polissemia do verbo to run

como ―os meacutetodos quantitativos da linguiacutestica de corpus podem fornecer evidecircncia empiacuterica

sugerindo respostas para alguns problemas notoriamente difiacuteceis da linguiacutestica cognitiva

(GRIES 2006 p 57)

Por uacuteltimo mas natildeo menos importante o tema da modalidade cobre diferentes

construtos de abordagens baseadas no uso ainda natildeo combinados Os estudos linguiacutesticos no

Brasil sobre a modalidade ainda carecem de anaacutelises que levem em conta as expressotildees em

contexto com dados da fala espontacircnea organizados sistematicamente ainda que haja

projetos que explorem o estudo da liacutengua falada (como o NURC e seus desdobramentos em

publicaccedilotildees)

Como consequecircncia o trabalho que ora se apresenta pode fomentar a discussatildeo sobre

semelhanccedilas e diferenccedilas em relaccedilatildeo a variedades da liacutengua portuguesa e em relaccedilatildeo a outras

liacutenguas de base romacircnica (o italiano o francecircs e o espanhol) Desse modo a pesquisa se

mostra relevante na medida em que a anaacutelise pode colaborar na reavaliaccedilatildeo de procedimentos

teoacuterico-metodoloacutegicos nesse campo e contribuir para uma melhor compreensatildeo da relaccedilatildeo da

cogniccedilatildeo humana e o comportamento social

Para aleacutem da proacutepria importacircncia do esforccedilo descritivo da modalidade na fala a tarefa

de se propor um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade para seu reconhecimento

automaacutetico se constitui como campo ainda inexplorado no portuguecircs brasileiro tanto para

dados escritos quanto dados orais Um projeto de anotaccedilatildeo para o PB inspirado em outros

desenvolvidos para a liacutengua inglesa e o portuguecircs europeu (PE) pretende portanto contribuir

20

para um nuacutemero de aplicaccedilotildees para o Processamento de Linguagem Natural (PLN) e

tambeacutem para o proacuteprio estudo linguiacutestico da modalidade

12 Quadro hipoteacutetico

121 Hipoacuteteses

(a) Haacute uma relaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade os perfis linguiacutesticos e a estrutura

informacional dos enunciados do Portuguecircs Brasileiro

(b) As construccedilotildees que carregam iacutendices de modalidade cumprem diferentes funccedilotildees

a depender do contexto de uso

(c) O uso de iacutendices de modalidade depende da tipologia do texto do gecircnero

discursivo do propoacutesito comunicativo e aleacutem disso da relaccedilatildeo entre os participantes da

interaccedilatildeo

122 Objetivos

Como objetivos pretendemos

Objetivo geral

reavaliar a partir de um estudo de um corpus de fala espontacircnea a definiccedilatildeo de

modalidade no sentido de delimitar a fronteira entre semacircntica e pragmaacutetica

e a partir disso definir e descrever os marcadores modais

Objetivos especiacuteficos

explorar o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade mdash

lexicais ou gramaticais mdash em um corpus oral da variante brasileira do

portuguecircs

sugerir uma correlaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade do Portuguecircs

Brasileiro com base nas unidades informacionais que compotildeem seus

enunciados

21

investigar os contextos de uso dos diferentes iacutendices de modalidade

elaborar um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a ser aplicado em uma

amostra de um corpus representativo da fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro

13 Organizaccedilatildeo do texto

Este trabalho estaacute organizado em trecircs grandes eixos uma parte teoacuterica que trata da

definiccedilatildeo de modalidade e da sua tipologia os procedimentos metodoloacutegicos e a descriccedilatildeo

dos itens modais de base empiacuterica em uma amostra de corpus oral do PB e a uacuteltima parte

em que apresento uma proposta de esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade A

narrativa assim se constroacutei desde uma discussatildeo teoacuterica passa pela descriccedilatildeo do fenocircmeno a

partir de consistente base empiacuterica e termina com sua aplicaccedilatildeo para fins de PLN com a

elaboraccedilatildeo do esquema de anotaccedilatildeo

O capiacutetulo 2 traz uma discussatildeo do conceito de modalidade corrente na literatura sobre

o tema os tipos de significados modais as fronteiras desta categoria semacircntica com as de

negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude a fronteira entre modalidade e evidencialidade a

modalidade na fala espontacircnea e a minha proposta de definiccedilatildeo que leva em conta a

modalidade ancorada em uma situaccedilatildeo comunicativa

Em seguida no capiacutetulo 3 satildeo detalhados os procedimentos metodoloacutegicos eacute

introduzido o quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato o projeto C-ORAL-BRASIL e o

minicorpus utilizado nesta pesquisa

O capiacutetulo 4 apresenta a descriccedilatildeo da modalidade na amostra de 20 textos da parte

informal do corpus C-ORAL-BRASIL Este minicorpus eacute representativo e estaacute definido

segundo criteacuterios de alta qualidade Apoacutes serem discutidos os resultados para a distribuiccedilatildeo e

frequecircncia dos iacutendices no que respeita a tipologia interacional as unidades informacionais e

os valores modais empreendo uma anaacutelise de trecircs estrateacutegias modalizadoras lexicais ndash verbos

modalizadores verbos epistecircmicos e adveacuterbios ndash e uma gramatical ndash as construccedilotildees

condicionais

O capiacutetulo 5 que constitui a terceira parte da tese introduz o projeto MASS ndash Modal

Annotation of Spontaneous Speech ndash que se trata de um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade

para a fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Parte desta pesquisa foi desenvolvida no

22

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa sob orientaccedilatildeo da Drordf Amaacutelia Mendes

dentro do Programa de Doutorado Sanduiacuteche no Exterior da Capes (PDSECapes)3

Por fim no capiacutetulo 6 apresento as consideraccedilotildees finais no sentido de apontar os

objetivos alcanccedilados e sinalizar para perspectivas futuras de trabalho

Em resumo

Esta introduccedilatildeo pretendeu explicitar o objeto de estudo os problemas a serem

enfrentados em relaccedilatildeo agrave categoria semacircntica da modalidade a justificativa da pesquisa o

quadro hipoteacutetico os objetivos a serem perseguidos e a estrutura do trabalho No capiacutetulo

seguinte pretendo situar o debate acerca do que vem sendo dito sobre modalidade o consenso

entre as definiccedilotildees e os problemas da conceituaccedilatildeo e da tipologia aplicadas aos dados da fala

Por fim avanccedilo para uma proposta de reformulaccedilatildeo do conceito

3 Processo nordm BEX 953712-0

23

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA

24

Capiacutetulo 2

MODALIDADE estado da arte

Este capiacutetulo pretende elucidar o caminho percorrido pelo conceito de modalidade

desde as abordagens loacutegicas passando pela sua apropriaccedilatildeo pelos semanticistas formais pelas

concepccedilotildees correntes na literatura linguiacutestica sejam formalistas ou funcionalistas para chegar

ao que nos interessa como debate a saber a modalidade aplicada a dados de fala espontacircnea

O objetivo eacute assumir um conceito que pressuponha a divisatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica no

que diz respeito a essa categoria atribuindo agrave semacircntica aquilo que estaacute relacionado agrave

conceptualizaccedilatildeo e ao significado do material locutoacuterio e agrave pragmaacutetica os aspectos referentes

agrave estrutura informacional agrave forccedila ilocucionaacuteria ao conjunto de informaccedilotildees contextuais e agraves

estrateacutegias adotadas pelos interlocutores no curso da interaccedilatildeo

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica

A noccedilatildeo de modalidade vem sendo debatida ao longo da histoacuteria por filoacutesofos

loacutegicos linguistas Autores de diferentes persuasotildees tratam o tema de maneira diversa

fundados principalmente na ideia comum de que a modalidade estaacute comprometida com a

noccedilatildeo de verdade e com a opiniatildeo do falante sobre o que enuncia uma determinada

proposiccedilatildeo No entanto a tarefa de definir o que eacute essa categoria eacute difiacutecil por uma seacuterie de

motivos elencados por Mello Carvalho e Cortes (2010 p 108)

(a) o de tal categoria haver sofrido em sua tradiccedilatildeo de estudo uma grande

influecircncia da Loacutegica havendo assim uma mescla entre estudos filosoacuteficos e

matemaacuteticos e aqueles da linguagem natural o que acarreta uma mistura

metodoloacutegica nem sempre produtiva para o estudo da liacutengua em uso (cf verificaccedilatildeo

de valores de verdade) (b) o de essa categoria existir em interrelaccedilatildeo no sistema

gramatical de uma liacutengua com vaacuterios fenocircmenos gramaticais como tempo aspecto

e modo prosoacutedia organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo dentre outros e (c) o fato de o

proacuteprio conceito de modalidade confundir-se com aqueles de atitude ilocuccedilatildeo e

emoccedilatildeo

Ou como coloca Bybee et al (1994 p 176) ―pode ser impossiacutevel chegar a uma

caracterizaccedilatildeo sucinta do domiacutenio nocional da modalidade4

4 Traduccedilatildeo do original ―it may be impossible to come up with a succinct characterization of the notional domain

of modality (BYBEE et al 1994 p 176)

25

Segundo a tradiccedilatildeo aristoteacutelica uma proposiccedilatildeo eacute uma sentenccedila declarativa que

conteacutem uma verdade ou uma falsidade natildeo podendo ocorrer as duas simultaneamente

Dessa forma Aristoacuteteles dedica um capiacutetulo do seu De Interpretatione agrave sua teoria da

modalidade e propotildee uma anaacutelise das declaraccedilotildees modais ou seja da relaccedilatildeo das proposiccedilotildees

―que satildeo possiacuteveis e aquelas que negam que seja possiacutevel entre aquelas que declaram que eacute

suscetiacutevel de se produzir e aquelas que o negam e entre aquelas que tratam do impossiacutevel e

do necessaacuterio (ARISTOTE 2007 p 309)5 Em dois capiacutetulos Aristoacuteteles trata das relaccedilotildees

entre as declaraccedilotildees que dizem respeito ao possiacutevel ao impossiacutevel ao contingente ao

necessaacuterio e suas respectivas negaccedilotildees (Capiacutetulo 12 As declaraccedilotildees modais e suas

contradiccedilotildeeslsquo) e na sequecircncia analisa as consequecircncias das declaraccedilotildees modais (Capiacutetulo 13

A consecuccedilatildeo loacutegica entre declaraccedilotildees modaislsquo)

A possibilidade e a necessidade estatildeo relacionadas por uma dupla negaccedilatildeo Eacute possiacutevel

que p = Natildeo eacute necessaacuterio que natildeo-plsquo e Eacute necessaacuterio que p = Natildeo eacute possiacutevel que natildeo-plsquo Estas

duas satildeo as noccedilotildees centrais da modalidade mas natildeo refletem a sua totalidade pois haacute uma

gama de significados modais que circulam na periferia formando o quadrado modal ndash

necessidadenatildeo-necessidadeimpossibilidadepossibilidade) como ilustrado na Figura 21

abaixo

Figura 21 - Quadrado modal

5 No original francecircs ―que clsquoest possible et celles qui nient que ce soit possible entre celles deacuteclarant que clsquoest

susceptible de se produire et celles qui le nient et entre celles qui traitent de llsquoimpossible et du neacutecessaire

(ARISTOTE 2007 p 309)

Possiacutevel Contingente

Contradiccedilatildeo

Necessaacuterio Impossiacutevel

26

O quadrado modal pode dar conta por exemplo de explicar que ―Ele pode subir 3

degraus de cada vez e ―Natildeo eacute impossiacutevel pra ele subir 3 degraus de cada vez se relacionam

semanticamente mas natildeo satildeo sinocircnimas

Como extensatildeo da loacutegica formal as loacutegicas modais identificam uma proposiccedilatildeo ―com

o conjunto de mundos possiacuteveis nos quais ela eacute verdadeira ou com uma funccedilatildeo de mundos

possiacuteveis em valores de verdade (HAAK 2002 p 116) Incorporam operadores que

modulam a verdade ou a falsidade para representar argumentos ligados agrave ideia de necessidade

e possibilidade Segundo Machado e Cunha (2005 p 75) ―um modal eacute uma expressatildeo

(necessariamente possivelmente) que eacute usada para qualificar a verdade de um julgamento

Dois operadores modais satildeo utilizados portanto ―eacute possiacutevele ―eacute necessaacuterio O primeiro

significa que uma sentenccedila eacute verdadeira em algum mundo possiacutevel jaacute o segundo significa que

a sentenccedila eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis Considere a proposiccedilatildeo em (21)

abaixo6 e suas modificaccedilotildees pelos operadores em (21a) e (21b)

(21) Joatildeo eacute solteiro

(21a) Possivelmente Joatildeo eacute solteiro

(21b) Com certeza Joatildeo eacute solteiro

A sentenccedila em (21) que representaria o ―real pode ser tomada como a modalidade

zero Em (21a) o operador ―possivelmente indica que haacute um mundo possiacutevel em que Joatildeo eacute

solteiro Jaacute em (21b) afirma-se que em todos os mundos possiacuteveis a proposiccedilatildeo ―Joatildeo eacute

solteiro eacute verdadeira

Haak (2002 p 229) nos esclarece sobre esse caraacuteter necessaacuterio e contingente

Haacute uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica de distinguir entre verdades necessaacuterias e verdades

contingentes A discussatildeo eacute frequentemente explicada da seguinte maneira uma

verdade necessaacuteria eacute uma verdade que natildeo poderia ser de outra forma uma verdade

contingente uma que poderia ou a negaccedilatildeo de uma verdade necessaacuteria eacute

impossiacutevel ou contraditoacuteria a negaccedilatildeo de uma verdade contingente eacute possiacutevel e

consistente ou uma verdade necessaacuteria eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis

uma verdade contingente eacute verdadeira no mundo real mas natildeo em todos os mundos

possiacuteveis

As loacutegicas modais sofreram criacuteticas principalmente porque sua interpretaccedilatildeo parece

cheia de dificuldades Segundo Kiefer (2009 p 179) ―os tratamentos loacutegicos da modalidade

6 Este exemplo foi adaptado de Lyons (1977 p 165) O exemplo original eacute ―John is a bachelor

27

satildeo restritos agraves propriedades das proposiccedilotildees e excluem todos os traccedilos natildeo-proposicionais

das sentenccedilas7

Estas ideias jaacute tinham surgido mesmo que de forma incipiente nos Primeiros

Analiacuteticos em que Aristoacuteteles anuncia ―Temos que dizer primeiro que se quando A eacute eacute

necessaacuterio que B seja entatildeo se A eacute possiacutevel eacute tambeacutem necessaacuterio que B seja possiacutevel (citado

por MACHADO CUNHA 2005 p 76) O tema continuou a ser desenvolvido em outros

acircmbitos sobretudo na linguiacutestica da qual passo a tratar agora

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema

As loacutegicas modais e a linguiacutestica utilizam os mesmos termos para tratar da

modalidade Entretanto a loacutegica a divide em objetiva e subjetiva e se ocupa

fundamentalmente do caraacuteter objetivo da modalidade Jaacute na tradiccedilatildeo linguiacutestica a leitura

subjetiva da modalidade parece ser a preferencial ou melhor dito a modalidade na linguagem

eacute essencialmente subjetiva uma vez que estaacute relacionada com as atitudes dos falantes8

De fato um dos primeiros estudos linguiacutesticos sobre a modalidade o de Jespersen em

1924 nos oferece a definiccedilatildeo ―expressar certas atitudes da mente do falante em relaccedilatildeo ao

conteuacutedo das sentenccedilas9 e aponta para uma diferenciaccedilatildeo de categorias modais dividindo-as

a partir da presenccedila ou ausecircncia de ―um elemento volitivo10

A primeira corresponderia ao

obrigativo jussivo e permissivo a uacuteltima ao necessitativo potencial hipoteacutetico dubitativo

Haacute no entanto aleacutem da abordagem relacionada agrave subjetividade agrave qual esta tese vai se

alinhar outras abordagens para o estudo da modalidade (a) uma mais formal sob a

perspectiva de uma semacircntica de mundos possiacuteveis e (b) outra que propotildee a distinccedilatildeo entre

realis e irrealis

Nas seccedilotildees seguintes apresento estas trecircs teorias semacircnticas que definem de diferentes

perspectivas o fenocircmeno da modalidade

7 No original ―Logical treatments of modality are restricted to properties of propositions and exclude all

nonpropositional features of sentences (KIEFER 2009 p 179) 8 Esta formulaccedilatildeo vai ser problematizada logo agrave frente

9 ―express[ing] certain attitudes of the mind of the speaker towards the content of the sentences (JESPERSEN

1924 p 313) 10

―element of will (JESPERSEN 19241992 p 320-1)

28

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis

De uma forma ou de outra observamos que as definiccedilotildees propostas por linguistas

sobre a modalidade estatildeo comprometidas com o valor de verdade de um determinado

conteuacutedo proposicional ou tambeacutem satildeo analisadas sob a perspectiva de uma semacircntica de

mundos possiacuteveis (KRATZER 1981)

Esta noccedilatildeo foi introduzida na filosofia loacutegica na deacutecada de 1960 por Hintikka (1962) e

Kripke (1963) com raiacutezes em Leibniz para quem as pessoas viviam em um mundo que eacute

apenas um entre infinitas possibilidades de mundos criados por Deus Para fins deste trabalho

natildeo ampliarei a discussatildeo da loacutegica modal e passo a apresentar a proposta de Kratzer em que

os mundos possiacuteveis servem a modelar determinadas relaccedilotildees semacircnticas entre expressotildees

linguiacutesticas Nas palavras de Rubinstein (2012 p 191) ―[hellip] os mundos possiacuteveis

representam todas as maneiras possiacuteveis de as coisas poderem ser (sem o compromisso de

estas possibilidades realmente existirem ou natildeo no mundo em que vivemos [hellip])11

Nesta perspectiva a modalidade seria ―o fenocircmeno linguiacutestico por meio do qual a

gramaacutetica permite que se diga coisas sobre ou na base de situaccedilotildees que natildeo necessitam ser

reais (PORTNER 2009 p 1)12

Os modais seriam pistas linguiacutesticas que lanccedilariam luz aos

conjuntos contextualmente relevantes de mundos possiacuteveis

Duas das ideias centrais da abordagem de Kratzer (1981 1991 2012) tomada como

uma ―encarnaccedilatildeo influente13

da loacutegica modal satildeo (i) os modais relativos natildeo satildeo ambiacuteguos

a distinccedilatildeo do valor de um determinado iacutendice modal eacute dada pelo contexto ou pelo que ela

denomina background conversacional Os modais de possibilidade corresponderiam a

quantificadores existenciais e os de necessidade a quantificadores universais estas forccedilas

modais que incidem sobre a base satildeo definidas pelo item lexical e (ii) ordenamento de

mundos as expressotildees modais satildeo quantificaccedilotildees sobre mundos possiacuteveis no entanto estes

mundos possiacuteveis satildeo tomados como um conjunto ordenado (ou parcialmente ordenado) de

mundos Este conjunto eacute criado atraveacutes da interaccedilatildeo de dois backgrounds conversacionais

A base modal formalmente eacute uma funccedilatildeo de mundos possiacuteveis para um conjunto de

proposiccedilotildees que servem para diferenciar as leituras dos significados modais A cada situaccedilatildeo

de uso a base modal eacute o conjunto dos mundos compatiacuteveis com o conhecimento a crenccedila os

11

Traduccedilatildeo para ―[hellip] possible worlds represent all the possible ways things could be (without committing to

whether or not these possibilities actually exist alongside the one world we live in) [hellip] (RUBINSTEIN 2012

p 191) 12

No original ―the linguistic phenomenon whereby grammar allows one to say things about or on the basis of

situations which need not be real (PORTNER 2009 p 1) 13

―influential incarnation (von FINTEL 2006 p 3)

29

desejos do falante as regras aplicaacuteveis e podem variar de mundo para mundo de acordo com

a sua avaliaccedilatildeo

Para o segundo paracircmetro o subconjunto relevante de mundos possiacuteveis para qualquer

modal eacute identificado primeiro pela descoberta de todos os mundos nos quais todas as

proposiccedilotildees na base modal satildeo verdadeiras e em seguida eacute feita a hierarquizaccedilatildeo (ou o

escalonamento) destes mundos de acordo com o quatildeo proacuteximo estatildeo do ideal determinado

pela fonte de ordenaccedilatildeo Nas palavras de Hara (2006 p 9) a fonte de ordenaccedilatildeo ―forccedila uma

ordenaccedilatildeo particular entre os mundos epistecircmicos da base modal em termos de sua

acessibilidade14

Para von Fintel (2006 p 1) disciacutepulo de Kratzer a modalidade eacute a categoria de

significado linguiacutestico que tem a ver com a expressatildeo de possibilidade e necessidade Uma

sentenccedila modalizada estabelece uma proposiccedilatildeo subjacente e prejacente (anaacutelise no niacutevel

proposicional) no espaccedilo das possibilidades Por exemplo

(24) Sandy might be home

Sandy pode estar em casa

diz que haacute uma possibilidade de Sandy estar em casa

(25) Sandy must be home

Sandy deve estar em casa

diz que entre todas as possibilidades Sandy estaacute em casa

von Fintel (2006) argumenta que a modalidade assim como a temporalidade estaacute no

centro da propriedade de deslocamento que permite agrave linguagem falar de coisas para aleacutem do

aqui-agora Aleacutem desta capacidade de projeccedilatildeo (prospectiva ou retrospectiva) Fintel aponta

para os diferentes tipos de significados dos itens modais15

e nos fornece exemplos com a

forma verbal to have tolsquo apresentados abaixo

(26) It has to be raining

Tem que estar chovendo

[depois de observar pessoas entrando com sombrinhas modalidade epistecircmica]

14

No original ―[The ordering source] forces a particular ordering among epistemic worlds of the modal base in

terms of their accessibility (HARA 2006 p 9) 15

No caso da liacutengua portuguesa comportam mais de um sentido os verbos poderlsquo deverlsquo e ter quelsquo que

carregam tanto o valor epistecircmico quanto o raizdeocircntico e dinacircmico Mais adiante discuto este ponto

30

(27) Visitors have to leave by six pm

Os visitantes tecircm que sair por volta de seis da tarde

[regulamento de hospital deocircntico]

(28) You have to go to bed in ten minutes

Vocecirc tem que ir pra cama em dez minutos

[um pai severo bulomaica ou buleacutetica]

(29) I have to sneeze

Tenho que espirrar

[dado o estado atual do nariz de algueacutem circunstancial]

(210) To get home in time you have to take a taxi

Para chegar em casa no horaacuterio Vocecirc tem que pegar um taacutexi

[modalidade teleoloacutegica]

Os exemplos entre (26) e (210) poderiam ser tomados como ocorrecircncias do tipo

deocircntico No entanto guardam entre si diferenccedilas sutis Em (27) o tipo buleacutetico ou

bulomaico indica a vontade ou intenccedilatildeo do falante O valor circunstancial em (28) expressa o

que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com determinadas circunstacircncias A modalidade

teleoloacutegica eacute orientada para um alvo isto eacute eacute o domiacutenio do necessaacuterio e do possiacutevel com a

finalidade de alcanccedilar um determinado objetivo (von FINTEL IATRIDOU 2005

HACQUARD 2006) no caso em (29) o objetivo seria ―chegar em casa no horaacuterio

Introduzi aqui algumas das ideias principais acerca da abordagem formal da

modalidade desenvolvida desde a deacutecada de 1960 e cuja contribuiccedilatildeo de Kratzer eacute

fundamental como o fato de as expressotildees modais serem usadas para descrever maneiras

alternativas de como pode ser o mundo e incidirem sobre um argumento proposicional

conhecido por ―prejacente Satildeo quantificadores sobre mundos possiacuteveis e esta quantificaccedilatildeo

em qualquer mundo avaliativo estaacute contextualmente localizada e eacute determinada por relaccedilotildees

de acessibilidade Foram apresentados tambeacutem os dois paracircmetros principais desta

abordagem quais sejam a base modal (epistecircmica deocircntica bulomaica circunstancial

teleoloacutegica) a ordenaccedilatildeo de mundos e a fonte de ordenaccedilatildeo definidos em um background

conversacional e a partir da interaccedilatildeo entre eles

31

222 Realis x Irrealis

Como dito haacute na literatura sobre modalidade abordagens que privilegiam em suas

anaacutelises uma divisatildeo binaacuteria entre modal e natildeo-modal e relacionam essa distinccedilatildeo ao

contraste factual natildeo-factual ou realis irrealis (CHUNG TIMBERLAKE 1985 GIVOacuteN

1995 KIEFER 1994 MITHUN 1999) Para Mithun (1999 p 173) ―o realis retrata

situaccedilotildees como presentes ou tendo ocorrido ou atualmente ocorrendo reconheciacuteveis por

percepccedilatildeo direta O irrealis retrata situaccedilotildees como puramente dentro domiacutenio do pensamento

reconheciacutevel apenas atraveacutes da imaginaccedilatildeo16

Em outras palavras esta distinccedilatildeo separa o

mundo entre situaccedilotildees ou eventos reais ou irreais

Ferdinand de Haan (2005 p 41-45) argumenta que a distinccedilatildeo realis-irrealis talvez

natildeo seja suficiente para dar conta de uma tipologia da modalidade e uma definiccedilatildeo

interlinguiacutestica desta categoria uma vez que o termo irrealis eacute vago e pode se referir a

diferentes circunstacircncias aleacutem de o conteuacutedo semacircntico de morfemas irrealis variar de liacutengua

para liacutengua mesmo as liacutenguas intimamente relacionadas

A categoria de futuro eacute apresentada por de Haan como uma que pode ilustrar esta

inconsistecircncia apesar de ser uma categoria que pode ser tomada como prototipicamente

irrealis jaacute que indica eventos que ainda natildeo ocorreram e portanto satildeo irreais Nas liacutenguas

Amele e Muyuw (ambas liacutenguas da Papua Nova Guineacute mas de famiacutelias diferentes) o futuro eacute

uma categoria irrealis mas natildeo eacute o caso da liacutengua Caddo (CHAFE 1995 p 358)

exemplificada abaixo

(211) ciacuteiacutebaacutew-a ci-yi=bahw- a

1SGAGREAL-see-FUT

Irei olhaacute-lolsquo

No exemplo em (211) o morfema de futuro - a natildeo ocorre com o prefixo de

irrealis tlsquoa-tlsquoi- mas com o prefixo de realis ci-

Mithun (1995 p 378ndash80) pontua que haacute liacutenguas como o Pomo Central falado na

Califoacuternia em que o futuro pode ser usado tanto como realis ou irrealis a depender do

julgamento do falante sobre a probabilidade de um evento realmente acontecer

16

No original ―the realis portrays situations as actualized as having occurred or actually occurring knowable

through direct perception The irrealis portrays situations as purely within the realm of thought knowable only

through imagination (MITHUN 1999 p 173)

32

Givoacuten (1995) trata esta distinccedilatildeo a partir da afirmaccedilatildeo de que a modalidade eacute um

domiacutenio funcional complexo que abarca subdomiacutenios semacircnticos e pragmaacuteticos difiacuteceis de

serem separados uma vez que agrupam construccedilotildees que servem tanto a construccedilotildees

primariamente semacircnticas quanto primariamente pragmaacuteticas Seu objetivo eacute delinear alguns

princiacutepios coerentes pelos quais se pode predizer uma variaccedilatildeo de ambientes gramaticais em

que o modo subjuntivo provavelmente se gramaticaliza e podem representar um subconjunto

de irrealis O irrealis eacute tomado como uma categoria comunicativo-cognitiva (funcional) e

tipoloacutegica-gramatical (formal)

Abaixo um quadro que representa a modalidade epistecircmica na tradiccedilatildeo loacutegica e seu

equivalente comunicativo

tradiccedilatildeo loacutegica equivalente comunicativo

a verdade necessaacuteria pressuposiccedilatildeo

b verdade factual asserccedilatildeo realis

c verdade possiacutevel asserccedilatildeo irrealis

d natildeo-verdade asserccedilatildeo-NEG

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional

A tradiccedilatildeo loacutegica trata a modalidade desconectada de seu contexto comunicativo

natural Nas palavras de Givoacuten (1995 p 114) ―a interpretaccedilatildeo comunicativo-pragmaacutetica das

quatro modalidades [] as reelenca em termos dos estados epistecircmicos e objetivos

comunicativos dos dois participantes na negociaccedilatildeo comunicativa mdash falante e ouvinte17

A

redefiniccedilatildeo comunicativa da modalidade epistecircmica fica assim estabelecida

(a) pressuposiccedilatildeo assume-se uma pressuposiccedilatildeo como verdadeira por definiccedilatildeo por

acordo a priori por convenccedilatildeo geneacuterica culturalmente compartilhada por ser

oacutebvio para todos presentes numa situaccedilatildeo de fala ou por ter sido enunciada pelo

falante e natildeo contestada pelo ouvinte

17

Traduccedilatildeo minha para ―the communicative-pragmatic interpretation of the four modalities [hellip] recasts them

in terms of the epistemic states and communicative goals of the two participants of the communicative

transaction mdash speaker and hearer (GIVOacuteN 1995 p 114)

33

(b) asserccedilatildeo realis a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como verdadeira mas a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute considerada apropriada apesar de o falante ter evidecircncia

ou outras bases para defender sua firme crenccedila

(c) asserccedilatildeo irrealis a proposiccedilatildeo eacute fracamente afirmada por ser tanto possiacutevel

provaacutevel ou incerta (submodos epistecircmicos) ou necessaacuteria desejada ou indesejada

(submodos avaliativo-deocircntico) Mas o falante natildeo estaacute pronto para confirmar a

afirmaccedilatildeo com evidecircncia ou outras bases a contestaccedilatildeo do ouvinte eacute prontamente

considerada esperada ou ateacute mesmo solicitada

(d) asserccedilatildeo-NEG a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como falsa mais

comumente em contradiccedilatildeo agraves crenccedilas expliacutecitas ou assumidas do ouvinte a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute antecipada e o falante tem evidecircncia ou outras bases para

confirmar sua firme crenccedila

Mudar o foco das noccedilotildees de realis e irrealis para uma oacutetica cognitiva e comunicativa

implica cognitivamente deslocar de questotildees de verdade loacutegica para questotildees de certeza

subjetiva e comunicativamente deslocar do sentido (semacircntico) da orientaccedilatildeo pelo falante

para o sentido (pragmaacutetico) interativo socialmente negociado envolvendo tanto o falante

quanto o ouvinte

Independentemente da perspectiva que eacute tomada esta distinccedilatildeo parece difiacutecil tomar a

oposiccedilatildeo realis x irrealis e especificamente o irrealis como uma noccedilatildeo para a definiccedilatildeo de

modalidade ainda que em algumas liacutenguas esteja gramaticalmente marcada e que na literatura

sobre crioulos e pidgins esta seja a forma padratildeo para descrever as distinccedilotildees modais (de

HAAN 2005 p 45)

Passo portanto para a terceira abordagem sobre o fenocircmeno a modalidade como uma

categoria relacionada agrave subjetividade

223 Subjetividade

Lyons (1977 p 797-ss) em sua tentativa de siacutentese sobre a modalidade que guia

muitos outros autores em termos de relacionar a categoria com a expressatildeo da atitude de um

falante anuncia ao tratar dos adveacuterbios modais que a modalidade representa ―a opiniatildeo ou a

atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo que a sentenccedila expressa ou a situaccedilatildeo que a

34

proposiccedilatildeo descreve (LYONS 1977 p 452)18

Kiefer (1994 p 2516) se alinha a ele e

afirma que a modalidade eacute ―a atitude volitiva emotiva e cognitiva do falante em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas19

e tambeacutem Nitta (2000 p 81) que define o fenocircmeno ―como a expressatildeo

do ponto de vista do falante sobre os conteuacutedos da sentenccedila e a atitude comunicativa do

falante20

Palmer (1986) igualmente sugere uma definiccedilatildeo para modalidade baseada na

subjetividade ―Modalidade na linguagem estaacute [] relacionada agraves caracteriacutesticas subjetivas de

um enunciado [] [e] poderia ser definida como a gramaticalizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees

(subjetivas) de um falantersquo21

(PALMER 1986 p 16 grifos meus) O autor toma a

modalidade desde uma perspectiva tipoloacutegica e a divide em dois tipos proposicional e de

evento

A primeira eacute definida como o julgamento pelo falante do valor de verdade ou estatuto

factual de uma proposiccedilatildeo e eacute subdividida em epistecircmica e evidencial A epistecircmica expressa

o julgamento sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo e pode ser especulativa (expressa

incerteza) dedutiva (indica uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia observaacutevel) assumptiva

(indica inferecircncia a partir do que eacute geralmente conhecido) evidencial (os falantes indicam a

evidecircncia que tecircm sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo) reportada e sensoacuteria O segundo

tipo eacute a atitude do falante em relaccedilatildeo a um potencial evento futuro que ainda natildeo ocorreu Eacute

tambeacutem subdividida em deocircntica relacionada agrave obrigaccedilatildeo ou agrave permissatildeo e dinacircmica

relativa agrave habilidade ou voliccedilatildeo

Na mesma clave Bybee Perkins e Pagliuca (1994 p 178 grifo meu) conceituam a

modalidade como a ―gramatizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees (subjetivas) do falante22

e

propotildeem uma divisatildeo de modalidade em quatro tipos epistecircmica orientada-para-o-agente

(ie deocircntica) orientada-para-o-falante e subordinada23

Elas sublinham a importacircncia do

estudo diacrocircnico do desenvolvimento de elementos modais a fim de compreender a variaccedilatildeo

dos significados modais em uma liacutengua

18

No original ―the speakerlsquos opinion or attitude towards the preposition that the sentence expresses or the

situation that the proposition describes (LYONS 1977 p 452) 19

Traduccedilatildeo minha para ―the speakerlsquos cognitive emotive or volitive attitude towards a state of affairs

(KIEFER 1994 p 2516) 20

Traduccedilatildeo de ―as expressing the speakerlsquos point of view on the sentence contentes and the speakerlsquos

coomunicative atitude (NITTA 2000 p 81) 21

―Modality in language is [hellip] concerned with subjective characteristics of an utterance [hellip] [and] could be

defined as the grammaticalization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (PALMER 1986 p 16) 22

Traduccedilatildeo minha para ―grammaticization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (BYBEE et al

1994 p 178) 23

Esta tipologia seraacute apresentada na seccedilatildeo 231

35

A dimensatildeo subjetiva da modalidade eacute tratada de diferentes formas na literatura sobre

a modalidade epistecircmica A oposiccedilatildeo entre o traccedilo objetivo e subjetivo da modalidade eacute

apresentada em Lyons (1977) que define que a modalidade epistecircmica objetiva expressa a

chance objetivamente mensuraacutevel de que um estado de coisas seja verdade ou natildeo e por sua

vez um enunciado epistecircmico subjetivo indica uma suposiccedilatildeo subjetiva em relaccedilatildeo agrave sua

verdade A definiccedilatildeo de Lyons de subjetividade x objetividade recai sobre diferenccedilas na

qualidade da evidecircncia que leva ao julgamento (NUYTS 2005 p 14) Lyons (1977 p 797)

toma em consideraccedilatildeo os seguintes exemplos em (212) e (213)

(212) Alfred may be unmarried

Alfred pode ser descasado

Em uma interpretaccedilatildeo subjetiva do exemplo em (212) o falante baseado em suas

proacuteprias suposiccedilotildees subjetivamente se compromete com a possibilidade de Alfred ser

descasado Em uma leitura objetiva o falante tem a informaccedilatildeo por exemplo do nuacutemero de

pessoas casadas em uma determinada comunidade e baseado neste fato constroacutei a

possibilidade de Alfred ser descasado

(213) Alfred must be unmarried

Alfred deve ser descasado

Em (213) uma leitura subjetiva da ocorrecircncia seria mais natural segundo Lyons uma

vez que o falante subjetivamente qualifica seu comprometimento com a factualidade da

proposiccedilatildeo Jaacute uma interpretaccedilatildeo objetiva nasceria por exemplo se se considerasse a

porcentagem de pessoas descasadas numa determinada comunidade e que fosse identificado o

estado civil de todas estas pessoas solteiras exceto o de Alfred O falante portanto se

compromete com a informaccedilatildeo dada ao seu interlocutor e que a proposiccedilatildeo Alfred deve ser

descasado eacute de certa maneira verdadeira

Segundo Nuyts (2001) alguns autores consideram estas caracteriacutesticas como

diferentes significados da modalidade (epistecircmico para a subjetividade e deocircntico para a

objetividade cf HENGEVELD 1988) e outros problematizam o tema como Coates (1983)

que reivindica que tanto o valor epistecircmico quanto o valor deocircntico podem ter usos subjetivos

e objetivos

36

Narrog (2005 p 169-170) aponta que haacute dois problemas relacionados a esta questatildeo

O primeiro seria a dificuldade em definir o que eacute ―subjetivo ou ―a atitude do falante porque

ambos os conceitos levam uma carga de vaguidade O segundo ponto seria definir a fronteira

entre a ―subjetividade e a ―objetividade Na verdade Narrog argumenta que natildeo eacute possiacutevel

alcanccedilar um limite para o que eacute subjetivo ou objetivo uma vez que a subjetividade de um

falante pode estar expressa em diferentes elementos de uma sentenccedila seja na escolha do

vocabulaacuterio na perspectiva adotada para conceptualizar a situaccedilatildeo etc

Pelo vieacutes cognitivista do fenocircmeno tambeacutem eacute considerada a dimensatildeo subjetiva da

modalidade Mortelmans (2007 p 869-870) concorda que a noccedilatildeo de modalidade estaacute longe

de ser definida de forma mais ou menos unificada e destaca que os trabalhos na moldura

cognitiva focam em sua maioria os verbos modais mas haacute publicaccedilotildees que contemplam

outras expressotildees de modalidade como os adveacuterbios adjetivos modais e predicados mentais

(NUYTS 1994 2001 2002) os verbos semi-auxiliares (CORNILLIE 2007) e os

marcadores evidenciais (MATLOCK 1989 LEE 1993)

A ideia de forccedila como pontua Mortelmans tem papel fundamental na forma como a

modalidade eacute conceptualizada pelos cognitivistas A Hipoacutetese da Dinacircmica de Forccedilas de

Talmy (1988 2000) se caracteriza como um esquema imageacutetico baacutesico de causa como

imposiccedilatildeo de forccedila e suspensatildeo de barreiras Expressa ―como as entidades interagem no que

diz respeito agrave forccedila Incluiacutedo aqui estaacute a imposiccedilatildeo da forccedila resistecircncia a tal forccedila barreira agrave

expressatildeo de tal forccedila a superaccedilatildeo de tal resistecircncia a suspensatildeo de tal barreira e coisas do

gecircnero (TALMY 1988 p 49)24

Este modelo eacute uma generalizaccedilatildeo da noccedilatildeo de causaccedilatildeo em que processos satildeo

conceptualizados como resultado de uma interaccedilatildeo de forccedilas e relaccedilotildees causais agindo de

diversas maneiras sobre os participantes de um evento (cf CROFT CRUSE 2004 p 66)

Talmy (1988 2000) importa da fisiologia a terminologia que emprega a entidade de forccedila

focal eacute chamada Agonista e o elemento de forccedila oposto a ela eacute o Antagonista Tento ilustrar

este ponto com uma ocorrecircncia em nossa amostra25

(214) MAI [47] aiacute ele jogou [1] jogou a capaE1 ea estraccedilalhou toda a capaE2

a o tamanho do dente (bfammn01)

24

Traduccedilatildeo para ―how entities interact with respect to force Included here is the exertion of force resistance to

such a force the overcoming of such a resistance blockage of the expression of force removal of such blockage

and the like (TALMY 1988 p 49) 25

A notaccedilatildeo utilizada nestes exemplos seraacute explicitada na Parte II deste trabalho quando introduzo os

pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato No entanto adianto aqui que uma barra simples (―) corresponde a

uma quebra no enunciado percebida como natildeo-terminal e uma barra dupla (―) como uma quebra percebida

como terminal

37

O exemplo em (214) traz dois tipos de eventos causativos o Evento 1 (E1) ―ele jogou

[1] jogou a capa e o Evento 2 (E2) ―ea estraccedilalhou toda a capa Em E1 o Antagonista

(aquele que aplica a forccedila o causador ―ele) exerce uma forccedila sobre o Agonista (aquele em

que a forccedila eacute aplicada o causado ―a capa) que realiza um movimento A situaccedilatildeo em E2 eacute

diferente o Antagonista (―ea = a cobra) impotildee uma forccedila que impede o movimento do

causado ―a capa que resulta na sua destruiccedilatildeo

Dentre os trabalhos nessa linha sobressai-se o de Sweetser (1990) que argumenta que

haacute uma tendecircncia a usar um vocabulaacuterio de um domiacutenio externo (sociofiacutesico) para um

domiacutenio interno (emocional e psicoloacutegico) Diacronicamente o sistema metafoacuterico guia

numerosas mudanccedilas semacircnticas Sincronicamente eacute representado por vaacuterias palavras

polissecircmicas e extensotildees abstratas de sentido do vocabulaacuterio do mundo fiacutesico

A modalidade assim eacute uma categoria que estaacute em ambiguidade sincrocircnica entre

mundo externo e mundo interno quer dizer haacute uma ambiguidade de expressotildees modais entre

sentidos raiz26

ou deocircnticos e sentidos epistecircmicos

Os significados que denotam obrigaccedilatildeo permissatildeo ou habilidade a autora denomina-

os ―raiz Como exemplo temos

(215) John must be home by ten Mother wonlsquot let him stay out any later

John tem que estar em casa agraves dez a Matildee natildeo deixaraacute que ele fique fora ateacute

mais tarde

Epistecircmicos satildeo os significados que denotam necessidade probabilidade ou

possibilidade Como atestado abaixo

(216) John must be home already I see his coat

John jaacute deve estar em casa estou vendo seu casaco

A proposta portanto eacute de que significados ―raiz satildeo extensiacuteveis ao domiacutenio

epistecircmico justamente porque usamos geralmente a linguagem do mundo externo para

aplicar ao mundo mental interno o qual eacute metaforicamente estruturado como paralelo agravequele

mundo externo Sweetser argumenta que os verbos modais natildeo tecircm sentidos separados natildeo-

26

Sweetser prefere usar o termo raiz Natildeo soacute porque eacute um termo mais amplo mas tambeacutem porque como

veremos a seguir ela argumenta que a modalidade epistecircmica estaacute ―enraizada na modalidade sociofiacutesica

Segundo ela o termo deocircntico pode ser tomado algumas vezes meramente como uma obrigaccedilatildeo social ou

moral

38

relacionados mas sim mostram uma extensatildeo do sentido-raiz para o domiacutenio epistecircmico mdash

uma extensatildeo fortemente motivada pelo sistema linguiacutestico circundante

A autora considera que um dos obstaacuteculos para a evoluccedilatildeo de uma compreensatildeo

unificada de modalidade (que jaacute sabemos ser um conceito controverso) decorre do fato de que

anaacutelises semacircnticas da modalidade raiz natildeo foram sistematicamente relacionadas agrave

necessidade e agrave probabilidade loacutegicas

O objetivo de Sweetser eacute demonstrar que uma anaacutelise em termos de dinacircmica de

forccedilas para os modais raiz eacute possiacutevel e extensiacutevel ao domiacutenio epistecircmico A anaacutelise da

linguista avanccedila em relaccedilatildeo ao modelo de Talmy (1981 1988) no sentindo de considerar que

a modalidade se refere a forccedilas e barreiras intencionais e diretas Tomando como exemplo o

modal may temos que no domiacutenio sociofiacutesico o verbo representa em termos de dinacircmica de

forccedilas uma ausecircncia de barreira potencial e encontra no domiacutenio epistecircmico um sentido

correspondente quer dizer uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir

das premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo

Ex permissatildeo (may let allow) instacircncia de retirar uma barreira potencialmente

presente

(217) The crack in the stone let the water flow through (barreira fiacutesica)

A fenda na pedra deixou a aacutegua escorrer

(218) I begged Mary to let me have another cookie (barreira ―social)

Implorei agrave Maria para me deixar comer outro cookie

Gonzalveacutez-Garcia (2000) sob uma perspectiva discursiva ou seja uma perspectiva

mais dinacircmica (e sistemaacutetica) que pressupotildee a ―relaccedilatildeo entre modalidade o contexto de

enunciaccedilatildeo e a funccedilatildeo interpessoal da polidez [nos termos de Brown e Levinson 1987]27

(GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127) propotildee que a modalidade seja caracterizada como

expressatildeo do envolvimento do falante com o conteuacutedo proposicional de um dado enunciado

(agecircncia ou subjetividade) e que pode ser tomada como ramificadora atraveacutes de toda a

arquitetura leacutexico-gramatical da linguagem

O autor argumenta que muitos dos significados normalmente atribuiacutedos a verbos

modais individuais satildeo na verdade derivados tanto do ambiente sentencial do verbo quanto

27

No original ―[hellip] relationship between modality the context of utterance and the interpersonal function of

politeness (GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127)

39

de algum contexto de enunciaccedilatildeo mais amplo Assim o significado modal pode ser tomado

como emergente da interaccedilatildeo de duas camadas de significado estreitamente conectadas uma

abarcando o significado linguiacutestico do verbo modal herdado em conjunto com outros itens

modais vizinhos e outra que diz respeito aos princiacutepios ligados a polidez e estrateacutegias de

proteccedilatildeo de face

Para ilustrar seu ponto o autor lanccedila matildeo de exemplos com ―might selecionados do

International Corpus of English (ICE-GB) e de um excerto do ―Four Weddings and a

Funeral (―Quatro casamentos e um funeral no tiacutetulo brasileiro) Abaixo transcrevo o

primeiro exemplo apresentado pelo autor e sua respectiva anaacutelise (GONZALVEacuteS-GARCIA

2000 p128-129)

(219) ―Maybe I might miss something out because we are all human and Ilsquove

overlooked it and youlsquove remembered it (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Talvez eu pudesse deixar escapar algo porque somos todos humanos e eu o

tenha esquecido e vocecirc se lembrado (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Gonzalveacutes-Garcia considera este uso do modal ―might (―pudesse) como

―possibilidade remota com a leitura reforccedilada pelo adveacuterbio epistecircmico ―maybe (―talvez)

Entretanto outras formas linguiacutesticas (―are ―have overlooked e ―have remembered)

parecem indicar em contraste uma leitura mais factual do modal e aleacutem disso o uso da

forma ―might parece ser motivado pela necessidade do falante de salvar a sua face e

despertar a simpatia da audiecircncia

Em resumo o autor praticamente assume uma visatildeo pragmaacutetica da modalidade e este

estudo apresenta as fronteiras (tecircnues) entre semacircntica e pragmaacutetica

23 Tipos de significados modais

A tradiccedilatildeo loacutegica estabelece o estudo das modalidades aleacutetica epistecircmica e deocircntica

relacionadas respectivamente com as noccedilotildees de verdadefalsidade conhecimento e conduta

Seguindo a tradiccedilatildeo as noccedilotildees de necessidade possibilidade probabilidade e obrigaccedilatildeo satildeo

tomadas em consideraccedilatildeo para definiccedilatildeo dos significados modais

No entanto assim como natildeo haacute qualquer unanimidade na definiccedilatildeo da noccedilatildeo da

modalidade tambeacutem natildeo haacute entre os pesquisadores um consenso de quais categorias

poderiam estar englobadas sob o roacutetulo de ―modal Na literatura linguiacutestica tradicional sobre

a modalidade destacam-se trecircs valores semacircnticos o epistecircmico o deocircntico e o dinacircmico

40

mas muitos estudos organizam de formas distintas as dimensotildees relacionadas agrave categoria a

depender da perspectiva adotada para sua definiccedilatildeo Entre as diferentes abordagens manteacutem-

se a oposiccedilatildeo entre os significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos havendo uma maior

diferenciaccedilatildeo no que diz respeito aos uacuteltimos

Nas subseccedilotildees abaixo apresento primeiramente as visotildees natildeo-tradicionais da

tipologia dos iacutendices modais e em seguida a classificaccedilatildeo tradicional sendo que nesta

uacuteltima destaco as modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica que tomo como ponto de

partida para a descriccedilatildeo e anaacutelises que seratildeo empreendidas no escopo deste trabalho

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas

Uma das classificaccedilotildees mais conhecidas na tipologizaccedilatildeo dos modais eacute a de Bybee e

colaboradoras (BYBEE 1985 BYBEE et al 1994 BYBEE FLEISCHMAN 1995) O

objetivo do trabalho de Bybee e colegas (1985 1994) eacute propor caminhos para o

desenvolvimento das noccedilotildees de modo e modalidade buscando determinar como e por que

determinados significados gramaticais surgem neste domiacutenio As autoras distinguem quatro

tipos de modalidade (i) modalidade orientada-para-o-agente (MOA) (ii) modalidade

orientada-para-o-falante (MOF) (iii) modalidade epistecircmica (ME) e (iv) modalidade

subordinada

A modalidade orientada-para-o-agente ―compreende todos os significados modais que

indicam a existecircncia de condiccedilotildees sobre um agente com relaccedilatildeo agrave conclusatildeo de uma accedilatildeo

expressa no predicado principal por exemplo obrigaccedilatildeo desejo habilidade permissatildeo e

possibilidade raiz (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)28

As noccedilotildees semacircnticas especiacuteficas deste tipo satildeo

(a) obrigaccedilatildeo existecircncia de condiccedilotildees sociais externas que levam um agente a concluir

a accedilatildeo predicada expressa como uma obrigaccedilatildeo forte ou fraca Por exemplo

(220) All students must obtain the consent of the Dean of the faculty concerned

before entering for examination

Todos os estudantes devem obter o consentimento do Diretor da Faculdade

referida antes de entrar no exame

28

Traduccedilatildeo do original ―[]―encompasses all modal meanings that predicate conditions on an agent with regard

to the completion of an action referred to by the main predicate eg obligation desire ability permission and

root possibility (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

41

(221) I just insisted very firmly on calling her Miss Tillman but one should really

call her President

Insisti muito firmemente em chamaacute-la de Srta Tillman mas deve-se realmente

chamaacute-la de Presidente

Em (220) tem-se caracterizada uma obrigaccedilatildeo mais fraca Jaacute em (221) emos um

exemplo de obrigaccedilatildeo forte

(b) necessidade existecircncia de condiccedilotildees fiacutesicas que levam um agente a completar a

accedilatildeo predicada

(222) I need to hear a good loud alarm in the mornings to wake up

Eu preciso ouvir um despertador bem alto pelas manhatildes para acordar

(c) habilidade existecircncia de condiccedilotildees internas de habilidade no agente com relaccedilatildeo agrave

accedilatildeo predicada

(223) I can only type very slowly as I am a beginner

Como sou um iniciante eu soacute consigo digitar muito devagar

(d) desejo existecircncia de condiccedilotildees internas de voliccedilatildeo no agente com relaccedilatildeo agrave accedilatildeo

predicada

(224) Juan Ortiz called to them loudly in the Indian tongue bidding them come forth

if they would (= wanted to) save their lives

Juan Ortiz chamou-os bem alto na liacutengua indiana ordenando-lhes que

voltassem se eles quisessem salvar suas vidas

A modalidade orientada-para-o-falante abrange ―marcadores de diretivos tais como

imperativos optativos e permissivos que representam atos de fala atraveacutes dos quais um

falante tenta provocar o endereccedilado a agir (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)29

Este tipo

natildeo indica a existecircncia de condiccedilotildees sobre o agente mas permite ao falante impor tais

condiccedilotildees sobre o interlocutor O quadro abaixo mostra em resumo os termos gramaticais

usados para a MOF e suas respectivas funccedilotildees

29

No original ―[m]arkers of directives such as imperatives optatives or permissives which represent speech

acts through which a speaker attempts to move an addressee to action (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

42

Termos gramaticais Funccedilatildeo

Imperativo Comando direto a uma segunda pessoa

Proibitivo Comando negativo

Optativo Desejo ou expectativa do falante expresso

na oraccedilatildeo principal

Hortativo (exortativo) O falante encoraja ou incita algueacutem a agir

Admoestativo O falante emite um aviso

Permissivo O falante concede permissatildeo

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees

Bybee et al (1994) consideram os modos acima elencados como parte da modalidade

deocircntica No entanto eacute possiacutevel questionar a validade deste tipo ser uma categoria modal se

se exclui o ―modo do domiacutenio da modalidade

As autoras ainda distinguem a categoria de modalidade subordinada que se trata de

estabelecer uma categoria formal para dar conta das modalidades em claacuteusulas subordinadas

Uma segunda tipologia considerada alternativa dentro dos estudos da modalidade eacute a

proposta por van der Auwera e Plungian (1998) A modalidade para os autores estaria

relacionada com domiacutenios semacircnticos em que possibilidade e necessidade satildeo as variantes

paradigmaacuteticas (van der AUWERA PLUNGIAN 1998 p 80) Satildeo considerados quatro

domiacutenios modalidade interna ao participante modalidade externa ao participante

A modalidade interna ao participante se refere ao tipo de possibilidade ou necessidade

interna a um participante engajado no estado de coisas Veja os exemplos

(225a) Boris can get by with sleeping five hours a night

Boris pode passar bem dormindo cinco horas por noite

(225b) Boris needs to sleep ten hours every night for him to function properly

Boris precisa dormir dez horas toda noite para funcionar adequadamente

O exemplo (225a) em termos de possibilidade mostra uma capacidadehabilidade do

participante Borislsquo e o exemplo em (225b) eacute um caso de uma necessidade interna do

participante

O segundo domiacutenio de contraste entre possibilidade e necessidade eacute a modalidade

externa ao participante que se refere a circunstacircncias externas ao participante engajado no

estado de coisas o que torna este estado de coisas possiacutevel ou necessaacuterio Como atestado nos

exemplos (226a) e (226b)

43

(226a) To get to the Station you can take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc pode pegar o ocircnibus 66

(226b) To get to the Station you have to take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc tem que pegar o ocircnibus 66

Em (226a) o ocircnibus 66 eacute uma entre outras possibilidades para se chegar agrave estaccedilatildeo e

em (226b) pegar o ocircnibus 66 constitui-se como uma necessidade externa jaacute que eacute o uacutenico

meio de transporte para se chegar agrave estaccedilatildeo

O terceiro domiacutenio eacute a modalidade deocircntica caracterizado como um subdomiacutenio da

modalidade externa ao participante Este tipo identifica as circunstacircncias favorecedoras

externas ao participante como uma pessoa(s) normalmente o falante eou alguma norma

social ou eacutetica que permite ou obriga o participante a se engajar no estado de coisas Em

(227a) temos um caso de possibilidade deocircntica uma pessoa ou norma permite e torna

possiacutevel a partida de John A necessidade deocircntica estaacute expressa em (227b) em que uma

autoridade ou uma norma impotildee a partida de Joatildeo como necessaacuteria e obrigatoacuteria

(227a) John may leave now

John pode partir agora

(227b) John must leave now

John deve partir agora

O quarto e uacuteltimo domiacutenio eacute a modalidade epistecircmica que se refere a um julgamento

de uma proposiccedilatildeo pelo falante que pode ser considerada incerta ou provaacutevel

(228a) John may have arrived

John pode ter chegado

(228b) John must have arrived

John deve ter chegado

(228a) ilustra uma possibilidade baseada em julgamentos anteriores o falante trata a

chegada de John como incerta Em (228b) o falante se refere agrave chegada de John como

provaacutevel Dado um conjunto de evidecircncias anteriores o falante eacute levado a crer que

necessariamente John chegou

44

Assim os autores a partir dos passos de gramaticalizaccedilatildeo de Bybee et al (1994)

desenvolveram um mapa semacircntico da representaccedilatildeo da modalidade Como mostra a Figura

22 abaixo

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111)

Neste mapa estatildeo representados trecircs domiacutenios da esquerda para a direita preacute-modal

modal e poacutes-modal Os domiacutenios preacute e poacutes-modais satildeo representados abstratamente e os

passos de gramaticalizaccedilatildeo satildeo representados por setas

Por fim a modalidade raiz abarca os significados natildeo-epistecircmicos em oposiccedilatildeo agrave

modalidade epistecircmica Como visto ela pode estar relacionada com o significado deocircntico

(TALMY 1988 SWEETSER 1990) e tambeacutem incluir parte do tipo dinacircmico (COATES

1983)

Como dito anteriormente levarei em conta neste trabalho uma classificaccedilatildeo

tradicional na literatura linguiacutestica considerando os tipos mais centrais desde o ponto de vista

do uso das liacutenguas naturais Utilizo os significados epistecircmico (relacionado ao conhecimento

e crenccedila) deocircntico (relacionado a obrigaccedilatildeo e permissatildeo) e dinacircmico (relacionado a

capacidade habilidade fiacutesica e voliccedilatildeo) Na proacutexima seccedilatildeo apresento alguns sentidos modais

numa visatildeo tradicional aleacutem de descrever mais detidamente as categorias baacutesicas aplicadas

nesta pesquisa nas seccedilotildees 2321 2322 e 2323

premodal

meanings going

to possibility

premodal

meanings going

to what is vague between

possibility and

necessity

premodal

meanings going to necessity

(one is future)

postmodal

meanings coming

from possibility

postmodal

meanings coming

from either possibility or

necessity

(one is future)

postmodal meanings coming

from necessity

participant-internal

possibility

deontic possibility

D

deontic necessity

D participant-external

possibility

participant-internal

possibility

participant-internal

necessity

epistemic

possibility

epistemic

necessity

45

232 A visatildeo tradicional

Em uma visatildeo tradicional encontra-se normalmente aleacutem das trecircs categorias baacutesicas ndash

epistecircmica deocircntica e dinacircmica ndash as categorias aleacutetica bulomaica (ou buleacutetica)

circunstancial e teleoloacutegica

A modalidade aleacutetica por definiccedilatildeo refere-se agrave verdade contingente possiacutevel ou

necessaacuteria de uma proposiccedilatildeo von Wright (1951) em seu ―Um ensaio em loacutegica modal

afirma que haacute quatro tipos de modos o aleacutetico o epistecircmico o deocircntico e o existencial Os

modos aleacuteticos satildeo os modos da verdade e a preocupaccedilatildeo central para as anaacutelises da loacutegica

modal De acordo com von Wright (1951 p 8) ―[a]s modalidades aleacuteticas satildeo ditas de dicto

quando satildeo sobre o modo ou forma na qual uma proposiccedilatildeo eacute ou natildeo eacute verdadeira As

modalidades satildeo usadas de dicto em frases como Eacute necessaacuterio quelsquo ou Eacute impossiacutevel

quelsquo etc30

Nas abordagens da semacircntica formal (LYONS 1977) o valor aleacutetico se diferencia do

valor epistecircmico uma vez que o uacuteltimo estaacute relacionado aos modos de conhecimento Esta

diferenccedila se aproxima daquela jaacute discutida anteriormente do caraacuteter objetivo e subjetivo da

modalidade epistecircmica

Segundo Palmer (1986 p 11) ―natildeo haacute qualquer distinccedilatildeo entre [hellip] o que eacute

logicamente verdadeiro e o que o falante acredita ser verdade efetivamente e ―natildeo haacute

qualquer distinccedilatildeo gramatical formal em inglecircs e talvez tambeacutem em qualquer outra liacutengua

entre a modalidade aleacutetica e a epistecircmica31

Vejamos o exemplo

(229) Uma refinaria representa investimento de muitos milhotildees Aleacutem do mais o

refino do petroacuteleo pode ser feito em qualquer lugar do paiacutes (CP

19OrBrIntrv Com)

Na ocorrecircncia em (229) coletada no Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA

2006) o falante afirma uma possibilidade fiacutesica ou natural compatiacutevel com o que estaacute

estabelecido em um determinado universo

30

Traduccedilatildeo minha para ―The alethic modalities are said to be de dicto when they are about the mode or way in

which a proposition is or is not true The modalities are used de dicto in phrases such as ―it is necessary that

―it is impossible that etc (von WRIGHT 1951 p 8) 31

No original ―there is no distinction between [hellip] what is logically true and what the speaker believes as a

matter of fact to be true and ―there is no formal grammatical distinction in English and perhaps in no other

language either between alethic and epistemic modality (PALMER 1986 p 11)

46

Entretanto alinho-me a Palmer no sentido de que compreendo que em um

determinado enunciado em que um conhecimento eacute apresentado como dado e natildeo

especulativo (o que seria em loacutegica modal reconhecido como uma verdade aleacutetica)

considero que seja um conhecimento epistecircmico ou ainda como uma possibilidade dinacircmica

Portanto a diferenccedila colocada entre verdade no mundo e verdade na mente de um

determinado indiviacuteduo perde o sentido Portner (2009 p 135) propotildee inclusive o termo

―modalidade factual para abarcar os tipos epistecircmico aleacutetico e metafiacutesico

Conforme Portner (2009 p 10) haacute uma dificuldade em se classificar precisamente o

uso aleacutetico de um modal e que este tipo pode ser considerado o mais baacutesico a partir do qual

outros podem ser definidos

A modalidade bulomaica indica o grau de aprovaccedilatildeo ou desaprovaccedilatildeo do falante (ou

outra pessoa) em relaccedilatildeo a um determinado estado de coisas Este tipo assim como o

epistecircmico e o deocircntico (que podem ser considerados mais fortes ou mais fracos) podem ser

analisados de forma escalar com polos positivo e negativo

O tipo circunstancial se refere ao que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com

determinadas circunstacircncias por exemplo

(230) Eacute possiacutevel instalar uma internet a raacutedio na zona rural de Viccedilosa

A sentenccedila em (230) expressa a informaccedilatildeo de que haacute as condiccedilotildees necessaacuterias que

viabilizam a instalaccedilatildeo de um serviccedilo de internet na zona rural de uma cidade natildeo importa se

a instalaccedilatildeo vai ocorrer ou natildeo

Segundo Mello et al (2009 p 119) alguns autores natildeo consideram este tipo de forma

autocircnoma concebendo-os como enunciados modalizados ou aleticamente ou dinamicamente

A modalidade teleoloacutegica expressa o que eacute necessaacuterio para se atingir um determinado

objetivo

(231) Para entrar no Ministeacuterio Puacuteblico tenho que estudar com disciplina

Em (231) em que o objetivo eacute ser funcionaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e para alcanccedilar

tal objetivo eacute necessaacuterio um estudo disciplinado

47

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades

Lyons (1977 p 797-800) afirma que as interpretaccedilotildees epistecircmicas de iacutendices modais

satildeo frequentemente mais subjetivas e que essas interpretaccedilotildees satildeo mais baacutesicas que as

objetivas Kiefer confirma este caraacuteter subjetivo da modalidade De acordo com ele ―[a]

modalidade epistecircmica subjetiva expressa diferentes graus de comprometimento com a

factualidade32

(KIEFER 2009 p 183) e completa dizendo que dessa forma se relaciona

com a categoria de evidencialidade33

Bybee et al (1994 p 179) propotildeem que a modalidade epistecircmica marca ―a extensatildeo

ateacute a qual o falante estaacute comprometido com a verdade da proposiccedilatildeo34

ou como define

Palmer (1986 p 51) o ―grau de comprometimento do falante com a verdade do que ele

diz35

No mesmo sentido van der Auwera e Plungian (1998) argumentam que uma

proposiccedilatildeo eacute avaliada como certa ou provaacutevel em relaccedilatildeo a um conjunto de julgamentos

Coates (1983 p 41) por sua vez sustenta que a modalidade epistecircmica sempre indica ―a

confianccedila (ou falta de confianccedila) do falante na verdade da proposiccedilatildeo expressa36

e dessa

forma varia entre o limite da confianccedila e da duacutevida

Nuyts (2001) nos oferece a seguinte definiccedilatildeo

A modalidade epistecircmica eacute [] uma avaliaccedilatildeo das chances que um certo estado-de-

coisas hipoteacutetico tomado em consideraccedilatildeo (ou algum aspecto dele) vai ocorrer estaacute

ocorrendo ou ocorreu em um mundo possiacutevel o qual funciona como o universo de

interpretaccedilatildeo para a avaliaccedilatildeo do processo e o qual no caso default eacute o mundo real

(ou antes a interpretaccedilatildeo do avaliador desse mundo []37

(NUYTS 2001 p 21)

A avaliaccedilatildeo nesse caso iria da absoluta certeza de que um estado-de-coisas eacute real agrave

absoluta certeza de que natildeo eacute real Entre os dois extremos estaria um continuum que inclui a

possibilidade e a probabilidade Como os exemplos extraiacutedos de nossa amostra indicam

32

No original ―Subjective epistemic modality thus expresses different degrees of commitment to factuality and

it thus relates to evidentiality (KIEFER 2009 p 183) 33

Trato da relaccedilatildeo semacircntica entre modalidade epistecircmica e evidencialidade mais adiante na seccedilatildeo 24 34

― the extent to which the speaker is committed to the truth of the proposition (BYBEE PERKINS

PAGLIUCA 1994 p 179) 35

―the degree of commitment by the speaker to the truth of what he says (PALMER 1986 p 51) 36

―[speakerlsquos] confidence (or lack of confidence) in the truth of the proposition expressed (COATES 1983 p

41) 37

―Epistemic modality is [hellip] an evaluation of the chances that a certain hypothetical state of affairs under

consideration (or some aspect of it) will occur is occurring or has occurred in a possible world which serves as

the universe of interpretation for the evaluation process and which in the default case is the real world (or

rather the evaluatorlsquos interpretation of it [hellip] (NUYTS 2001 p 21)

48

(232) [141] os cara que satildeo bem mais boleiros eles com ltcertezagt vatildeo saber

alguma coisa (bfamcv01)

(233) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar uaigt (bfamcv01)

(234) [198] minha matildee sem chance (bfammn04)

(235) LUA [95] ltegt assim se cecirc tivesse uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

talvez adiantasse um pouco assim ou pelo menos ajudasse a organizar neacute

(bpubmn01)

O exemplo em (232) representa a certeza que um estado-de-coisas vai ocorrer (―saber

alguma coisa) ao contraacuterio de (233) e (234) que apontam para a certeza de que natildeo vatildeo

ocorrer Jaacute em (235) temos um exemplo da nuance de possibilidade que Nuyts fala de um

estado-de-coisas ocorrer ou natildeo dadas determinadas circunstacircncias no caso a hipoacutetese de

―uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

Sweetser (1990) considera a modalidade epistecircmica como extensatildeo da modalidade

raiz A partir da anaacutelise da modalidade raiz em termos de forccedilas e barreiras sociofiacutesicas ela

explora a transferecircncia dessa visatildeo para a modalidade epistecircmica para atingir uma anaacutelise

unificada sobre modalidade

A autora se alinha a Palmer (1986) no sentido de argumentar que os verbos modais

em inglecircs nos seus sentidos epistecircmicos expressam o julgamento do falante Assim pretende

encontrar uma conexatildeo semacircntica motivada entre o domiacutenio epistecircmico de raciociacutenio e

julgamento e o domiacutenio da modalidade sociofiacutesica

Por exemplo se o may sociofiacutesico representa em termos de dinacircmica de forccedilas uma

ausecircncia de barreira potencial o may epistecircmico tem um sentido paralelo no domiacutenio do

raciociacutenio isto eacute haacute uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir das

premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo Segundo

Sweetser nossa experiecircncia sobre os domiacutenios fiacutesico social e do raciociacutenio compartilham

alguma estrutura que nos permite um mapeamento metafoacuterico bem sucedido entre os

aspectos relevantes dos trecircs domiacutenios

Os fatores pragmaacuteticos (como as pistas contextuais e a prosoacutedia) vatildeo influenciar para

o ouvinte (ou para o indiviacuteduo endereccedilado) compreender se um modal corresponde a um

domiacutenio ou outro Veja os exemplos com os verbos deverlsquo e poderlsquo no portuguecircs brasileiro

49

(236) dever epistecircmico

(236a) necessidade

RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(236b) probabilidade

o diacircmetro dea deve dar uns [1] uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de [1]

de amps [2] de grossura o diacircmetro dela (bfammn01)

(237) poder epistecircmico

(237a) possibilidade

BAL [229] entatildeo isso aqui a gente pode ltinventar de colocar em qualquer

lugargt =COM=$ (bfamdl02)

(237b) impossibilidade

MAI ele nũ [2] ele nũ [2] ele nũ ltpode nemgt falar plsquo ocecirc ltque eacute verdade

(bfammn01)

Em recente trabalho sobre o significado epistecircmico Boye (2012) propotildee igualmente

que a modalidade epistecircmica estaacute definida em termos da noccedilatildeo do grau de certeza do grau de

comprometimento o que ele vai chamar de ―apoio epistecircmico38

Esta categoria assim como

a de evidencialidade estaria subordinada a outra categoria descritiva a epistemicidade que

seria uma generalizaccedilatildeo das noccedilotildees de justificativa epistecircmica e apoio epistecircmico ao que os

filoacutesofos chamam de ―apoio justificativo39

Kaumlrkkaumlinen (2003) destaca que ainda que as definiccedilotildees propostas para a modalidade

epistecircmica faccedilam referecircncia agrave verdade da proposiccedilatildeo os types relacionados a ela satildeo de

possibilidade probabilidade e certeza (inferida)

No PB a modalidade epistecircmica pode ser expressa por elementos de natureza lexical

como verbos modais adveacuterbios modais verbos de atitude proposicional construccedilotildees

adjetivas expressotildees modais e de natureza gramatical como o futuro perifraacutestico e as

condicionais Encerro a seccedilatildeo com mais alguns exemplos de nossa amostra

(238) TER [21] ocirc Jael [22] mas gente velha jaacute prometeu o [1] os presente ltjaacute

podegt garantir que ganhou (bfamcv02)

38

―epistemic support (BOYE 2012 p 2) 39

―justificatory support (BOYE 2012 p 2-3)

50

(239) [171] natildeo trinta reais aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1] eu fico imaginando que elsquo

fica pensando assim Nossa Sio agraves vezes laacute em casa taacute precisando de fazer

uma compra e tudo neacute (bpubmn01)

(240) [72] quela [1] quela aula igual se daacute no EDUCONLE que cecirc acha que eacute ampo

[1] eacute tudo de bom neacute (bpubmn01)

(241) foi verdade ltmesmogt (bfammn01)

(242) PAU [153] porque eacute capaz dlsquoeu subir uma parede laacute (bpubdl01)

(243) [59] porque ateacute aiacute essas crianccedila ateacute dez anos o [1] o mundo que noacutes tamo

vivendos hoje com dez ano jaacute daacute pa ver que daacute trabalho (bfammn05)

(244) [44] es vatildeo pegar os caras que tipo tavam reclamando e tal es vatildeo pegar

[3] es vatildeo pegar tentar fazer um negoacutecio desse e eu aposto que cecirc vai ver

os caras que jaacute conhecem a gente haacute mais tempo tipo Joseacute [1] Zeacute Mourinho

falando assim natildeo o campeonato dlsquoocecircs eacute bem melhor (bfamcv01)

(245) BRU [268] lte se for uma palavra composta cecirc faz assimgt (bfamcv04)

Em (238) temos uma ocorrecircncia com o verbo modal ―poder com valor epistecircmico

que denota possibilidade (239) traz um exemplo com a locuccedilatildeo adverbial ―agraves vezes

normalmente utilizada no sentido temporal de ―em algumas ocasiotildees ou circunstacircncias mas

que na diatopia mineira toma o sentido modal de possibilidade sendo sinocircnima de ―talvez

A ocorrecircncia em (240) traz um verbo de atitude proposicional (ou ainda verbo epistecircmico ou

verbo de crenccedila) ―acha que indica o grau de certeza sobre o que estaacute enunciado As

construccedilotildees adjetivas estatildeo representadas nos exemplos (241) e (242) com as expressotildees

―foi verdade e ―eacute capaz No primeiro caso temos um sentido de certeza e no segundo de

possibilidade O uso modal do verbo ―dar exemplificado em (243) eacute ainda pouco

reconhecido na literatura (cf SALOMAtildeO 2008) no entanto eacute recorrente na fala em sentidos

possibilitativos Os marcadores de modalidade de caraacuteter gramatical estatildeo ilustrados em

(244) e (245) o primeiro exemplo traz uma seacuterie de usos de futuro perifraacutestico que indicam

o grau de certeza ou comprometimento em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo de um evento futuro no

segundo exemplo temos uma construccedilatildeo condicional na forma canocircnica ―se p entatildeo q em

que o conectivo ―se eacute o marcador modal

232 Modalidade deocircntica

Segundo a tradiccedilatildeo loacutegica o valor deocircntico diz respeito agraves noccedilotildees da obrigaccedilatildeo e da

permissatildeo Este valor estaacute ligado a princiacutepios morais ou legais e de conduta social

51

Lyons (1977 p 792-793) afirma que a mesma distinccedilatildeo aplicada agrave modalidade

epistecircmica entre leitura subjetiva e objetiva pode ser estendida agrave modalidade deocircntica como

exemplifica a partir da proposiccedilatildeo ―Alfred is a bachelor (―Alfred eacute celibataacuterio)

(246) Alfred is obliged to be unmarried

Alfred eacute obrigado a ser descasado

(247) ―I (hereby) oblige Alfred to be unmarried

ldquoEu obrigo Alfred ser descasadordquo

Em (246) teriacuteamos uma interpretaccedilatildeo deocircntica mais objetiva e em (232) uma mais

subjetiva Mais aleacutem no exemplo (247) temos um performativo Tento resgatar em nossa

amostra um exemplo que em minha opiniatildeo eacute ambiacuteguo no que diz respeito a uma leitura

subjetiva ou objetiva como coloca Lyons

(248) [132] po parar o carro hhh (bfamdl05)

Se levarmos em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia acima com o verbo modal ―poder

deocircntico em sua forma afereacutetica po‟lsquo desconectada de seu contexto de uso e da forma como

foi enunciada natildeo haveria duacutevida de que as seguintes interpretaccedilotildees seriam possiacuteveis

(248a) Eacute permitido parar o carro

(249b) Eu te permito parar o carro

No entanto natildeo eacute o caso quando a escutamos [ ] O contexto permite a interpretaccedilatildeo

de ―eacute o caso de ou ―eacute oportuno e percebemos uma ilocuccedilatildeo do tipo representativo do

subtipo ―conclusatildeo Natildeo estou colocando em duacutevida o caraacuteter deocircntico da ocorrecircncia mas

gostaria de pensar como (e se) a forccedila ilocucionaacuteria em sobreposiccedilatildeo agrave modalidade40

atenuaria ou reforccedilaria a ideia de permissatildeo

Kiefer (2009) argumenta que se deve fazer uma distinccedilatildeo entre o estabelecimento de

uma necessidade deocircntica ou de uma possibilidade deocircntica (entre proposiccedilotildees deocircnticas) e a

emissatildeo de uma ordem (impor uma obrigaccedilatildeo) ou dar permissatildeo As primeiras segundo ele

pertencem agrave semacircntica (e se proposicional satildeo descritas em termos de loacutegica formal) as

uacuteltimas satildeo parte da teoria dos atos de fala e devem assim ser tratadas na pragmaacutetica

40

Sobre a distinccedilatildeo entre modalidade e ilocuccedilatildeo ver seccedilatildeo 243

Other

15348568

52

A literatura identifica a modalidade deocircntica com os atos de fala diretivos (e com o

modo imperativo cf BYBEE et al 1994) uma vez que a obrigaccedilatildeo e permissatildeo derivariam

de uma fonte de autoridade As evidecircncias em corpora de fala espontacircnea com arquivos de

aacuteudio disponiacuteveis para checar os atos ilocucionaacuterios apontam para outro caminho Os

exemplos de Tucci (2007 p 62)41

do corpus de referecircncia do italiano problematizam a ideia

de comando nos usos de dovere e potere em enunciados assertivos que expressam

necessidade contingente em (250) impossibilidade condicionada em (251) e

esclarecimento de uma regra operativa em (252)

(250) LIA si doveva rigovernare COM

[ifamcv02]

(251) GAL un potevi falsquo cip COM

[ifamcv14]

(252) MAM ma te la devi fare a lei lte lei la fa a tegt COM

[ifamcv25]

Ou como atestado na amostra do corpus de fala espontacircnea do PB em que temos

diferentes classes de atos de fala a partir de Moneglia (2011 p 490)42

representativos

diretivos e expressivos

(253) dever gt necessidade obrigaccedilatildeo

(253a) LUI [213] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais

(bfamcv01)

ill asserccedilatildeo forte

(254) ter que gt necessidade obrigaccedilatildeo

(254a) [211] entatildeo tem que ser eu mesma (bfamcv02)

ill expressatildeo de obviedade

(255) poder

(255a) permissatildeo

[205] a porta taacute fechada mas cecirc pode abrir (bfamdl05)

ill autorizaccedilatildeo

41

Os exemplos em (250) (251) (252) correspondem respectivamente aos exemplos 20 21 e 22 de Tucci

(2007 p 62) transcritos aqui ipsis litteris 42

A tarefa de anotaccedilatildeo ilocucionaacuteria ainda estaacute por ser realizada no acircmbito do projeto C-ORAL-BRASIL Os

exemplos elencados foram anotados com a colaboraccedilatildeo do aluno de doutorado Bruno Rocha exclusivamente

para ilustrar nosso argumento

14186118

1358367

17600812

53

(255b) proibiccedilatildeo

BRU [177] cecirc nũ pode fazer ampa [1] nenhum som (bfamcv04)

ill ordem

(255c) restriccedilatildeo

[181] porque eu acho que no mesmo concurso cecirc nũ pode fazer duas

(bfamdl03)

ill asserccedilatildeo

No subcorpus analisado foram identificadas expressotildees de modalidade deocircntica com

os types poderlsquo (em grande nuacutemero com significado de permissatildeo) ter quelsquo (a ampla

maioria com significado de obrigaccedilatildeo) e deverlsquo (em nuacutemero reduzido)43

233 Modalidade dinacircmica

A modalidade dinacircmica de acordo com Palmer (1990) e Papafragou (2000) inclui

uma habilidade e a intenccedilatildeo (vontade) isto eacute a expressatildeo da capacidade do sujeito Salomatildeo

(1990) daacute os seguintes exemplos com o verbo poderlsquo

(256) Ele pode correr 4 km sem cansar (habilidade fiacutesica)

(257) Ele pode citar Virgiacutelio de cabeccedila (habilidade mental)

Os exemplos de Salomatildeo se sustentam dentro da definiccedilatildeo de Palmer e Papafragou no

entanto se realizada uma busca minuciosa em corpus dificilmente esses usos ocorreriam no

portuguecircs brasileiro ou mesmo na liacutengua falada Em uma busca no Corpus do Portuguecircs por

exemplo com a expressatildeo ―pode nadar encontrei apenas duas ocorrecircncias no portuguecircs

europeu

(258) A maioria dos caranguejos natildeo pode nadar podendo rastejar lentamente para a

frente e mais frequentemente movendo-se para o lado especialmente quando

rastejam a grande velocidade (CP 19Ac Pt Enc)

(259) Pode nadar mergulhar ou andar junto ao fundo usando a pressatildeo da aacutegua

sobre as asas e cauda para se manter em baixo enquanto procura larvas de

insectos e outros pequenos animais

43

Na anaacutelise dos verbos modais tratarei da substituiccedilatildeo do uso do deverlsquo deocircntico por ter quelsquo no PB

11493875

2977958

54

Os dois exemplos pertencem ao mesmo gecircnero verbete de enciclopeacutedia Pelo que foi

discutido anteriormente estas satildeo ocorrecircncias que ficam na fronteira entre a possibilidade

aleacutetica o conhecimento epistecircmico e a habilidade dinacircmica uma vez que o verbo modal

―poder carrega o sentido de um conhecimento estabelecido em um determinado universo

natildeo se constituindo como uma especulaccedilatildeo mas igualmente carrega o sentido da habilidade

dos seres em ―nadar (no caso tambeacutem ―rastejar ―mergulhar e ―andar junto ao fundo)

Ainda poderia colocar em discussatildeo o estatuto do verbo ―saber como um modal que

expressa conhecimento epistecircmico ou habilidade do sujeito em realizar uma determinada

atividade em contextos como em (260) e (261)

(260) Se a pessoa sabe fazer feijatildeo entatildeo ela deve ensinar isso porque tem muita

gente que natildeo sabe fazer feijatildeo

(261) Eacute um talento o homem Sabe falar e sabe escrever Se ele quiser escrever uma

carta para vocecirc chorar vocecirc chora Se quiser escrever uma carta para vocecirc rir

vocecirc ri

Palmer (1990 p 36) aponta que a modalidade dinacircmica diz respeito agrave habilidade ou agrave

voliccedilatildeo do sujeito da sentenccedila natildeo do falante e dessa forma natildeo eacute subjetiva como outras

modalidades

No PB a modalidade dinacircmica se diferencia igualmente da modalidade epistecircmica e

os verbos mais frequentes satildeo ―conseguir e ―aguentar para sentidos de capacidade e

―querer e a forma ―gostaria no sentido de voliccedilatildeo Na amostra encontramos ainda que em

nuacutemero bastante reduzido ocorrecircncias do tipo dinacircmico como ilustro abaixo

(262) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3] lttaacute de

ladinhogt (bfamcv03)

(263) [184] o papai nũ guumlenta carregar mais (bfammn05)

(264) [50] e eu ampa [3] e [1] e vou conseguir sabe vencer essas dificuldades aiacute

(bpubmn01)

(265) [168] taacute pensando em organizar um torneio e a gente quer que vocecircs

participem da organizaccedilatildeo ltmandando representantegt (bfamcv01)

55

Os exemplos em (262) e (263) apontam para a habilidade fiacutesica do sujeito jaacute o em

(264) indica habilidade soacutecio-afetiva ou disposiccedilatildeo interna do sujeito Em (265) finalmente

temos um exemplo com o verbo ―querer no sentido volitivo

Haacute quem argumente (LARREYA 2009) que a voliccedilatildeo estaacute incluiacuteda no significado

deocircntico de um enunciado como ―John must leave (―John deve sair) em dois sentidos no

primeiro a obrigaccedilatildeo expressa no enunciado incluiria uma vontade uma vez que haacute uma

exigecircncia imposta seja por princiacutepio moral ou por uma pessoa que explicita um desejo no

caso de que John saia no segundo o uso de ―must carrega em seu significado a implicaccedilatildeo

de que se John obedece agrave injunccedilatildeo contida no enunciado isso caracterizaria um ato

voluntaacuterio por parte do agente Johnlsquo A primeira seria uma vontade externa e a segunda uma

vontade interna

Sobre a compulsatildeo interna ou intenccedilatildeo o que me faz aninhar a voliccedilatildeo agrave categoria

dinacircmica e natildeo agrave deocircntica Larreya (2009) a considera como uma vontade natildeo-factual em

exemplos como ―I want to go (―Eu quero ir) em que o evento pode ou natildeo se realizar Seria

uma vontade que natildeo depende de uma forccedila externa mas unicamente da disposiccedilatildeo interna do

sujeito

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias

Os estudos sobre evidencialidade partem da anaacutelise de liacutenguas em que haacute um sistema

evidencial gramaticalizado como as liacutenguas nativas norte-americanas (CHAFE 1995

MITHUN 1995) o tibetano (VOKURKOVA 2011 MELAC 2012) ou o cuzco queacutechua

(FALLER 2002) Apesar de natildeo ser uma categoria gramatical em inglecircs ou portuguecircs ela

pode ser expressa por iacutendices lexicais como adveacuterbios ou verbos como parecer e dizer (na

expressatildeo ―diz que)

Justamente por natildeo ser uma categoria com marcaccedilatildeo gramatical e por alguns dos itens

lexicais poderem igualmente ser iacutendices que expressam modalidade a fronteira entre

evidencialidade e epistemicidade eacute difusa e a relaccedilatildeo entre as duas noccedilotildees ainda ocupa o

debate entre linguistas (CHAFE 1986 FITNEVA 2001 NUYTS 2001 PLUNGIAN 2001

entre outros) Dendale e Tasmowski (2001 p 341-342) levantam os problemas de

conceituaccedilatildeo e apontam trecircs caminhos encontrados em estudos recentes ―disjunccedilatildeo (em que

56

satildeo conceptualmente distinguidas) inclusatildeo (em que uma estaacute incluiacuteda no escopo semacircntico

da outra) e sobreposiccedilatildeo (em que elas parcialmente se interseccionam)44

Palmer (2001) por exemplo organiza a modalidade epistecircmica e a evidencial

subordinadas a uma categoria hierarquicamente superior da modalidade proposicional A

mesma decisatildeo de inclusatildeo da evidencialidade como uma categoria modal aparece em Bybee

(1985) Bybee et al (1994) e Frawley (1992) Na outra ponta a da exclusatildeo estatildeo os estudos

de de Haan (1999 2005)

Como visto anteriormente a modalidade epistecircmica expressa os diferentes graus de

comprometimento em relaccedilatildeo agrave validade do material enunciado Jaacute os evidenciais satildeo

marcadores que indicam a fonte e a confiabilidade do conhecimento do falante As duas

categorias lidam com a evidecircncia no entanto a noccedilatildeo de comprometimento no domiacutenio da

modalidade epistecircmica estaacute relacionada com a postura epistecircmica do falante isto eacute com a

probabilidade ou certeza que atribui agravequilo que estaacute dizendo Jaacute no domiacutenio evidencial esta

noccedilatildeo estaacute relacionada ao grau de confianccedila de onde parte a evidecircncia

Este grau de confianccedila segundo Cornillie (2009 p 58) pode ser explicado em termos

de status da evidecircncia compartilhado ou natildeo-compartilhado Como satildeo vaacuterias as fontes de

evidecircncia (o falante o falante e outros participantes da comunicaccedilatildeo ou exclusivamente os

outros) a confiabilidade pode variar mas natildeo envolve uma avaliaccedilatildeo ou probabilidade

epistecircmica Nas palavras de de Haan (2005 p 379) ―a evidencialidade assevera a evidecircncia

enquanto a modalidade epistecircmica avalia a evidecircncia45

Na mesma linha Pietrandrea (2005

p 33) afirma que ―enquanto a evidencialidade qualifica a fonte que justifica a asserccedilatildeo de

uma proposiccedilatildeo a modalidade qualifica a crenccedila genuiacutena do falante sobre a verdade da

proposiccedilatildeo 46

A evidencialidade pois lida com a fonte da evidecircncia que um falante tem sobre uma

dada informaccedilatildeo Os marcadores de evidecircncia expressam se um falante foi testemunha direta

do evento ou atividade que descreve ou se esta informaccedilatildeo chega de outra fonte Dessa forma

a categoria pode ser dividida em duas subcategorias evidecircncia direta e evidecircncia indireta (o

ouvi-dizer-que a citaccedilatildeo e a inferecircncia)

44

Traduccedilatildeo minha para ―disjunction (where they are conceptually distinguished from each other) inclusion

(where one is regarded as falling within the semantic scope of the other) and overlap (where they partly

intersect) 45

Traduccedilatildeo para ―[e]videntiality asserts the evidence while epistemic modality evaluates the evidence (de

HAAN 2005 p 379) 46

No original ―[w]hile evidentiality qualifies the source that justifies the assertion of a proposition modality

qualifies the genuine belief of the speaker about the truth of the proposition (PIETRANDREA 2005 p 33)

57

Em nossa amostra levanto alguns exemplos para ilustrar a questatildeo e sugerir de

alguma forma que as categorias de fato se distinguem Vou partir de trecircs exemplos para

evidenciar meu ponto

(266) LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais (bfamcv01)

(267) [65] se o brasileiro nũ lecirc os manuais hhh no mercado de reposiccedilatildeo ampauto [1]

de autopeccedila eles acham que abrir uma empresa eacute comprar um produto

por um real =COB= na base cem e vender por dois acha que taacute

ganhando o ampdo [2] o dobro (bfammn06)

(268) ROG [187] daacute [188] tem muita pedra ali uai [189] laacute embaixo ainda tem

pedra perto da [2] perto da garagem laacute tem [190] assim vai ficar uma

pracinha boa aqui

PAU [191] e a Isa tava achando que ela ali ia ficar pequena [192] falei

assim depois de feito eacute que a gente vecirc o tamanho neacute (bpubdl01)

No exemplo em (266) temos um julgamento epistecircmico de um conceptualizador47

primaacuterio (o falante) o mais frequente em nossa amostra Em (267) haacute a ocorrecircncia de uma

avaliaccedilatildeo por parte do falante de um julgamento epistecircmico de um conceptualizador em

terceira pessoa o que poderia ser textualizado como ―eu acho que eles acham O uso de um

pronome geneacuterico como ―eles pode indicar essa adesatildeo a uma avaliaccedilatildeo que parte do senso

comum Por fim em (268) o falante reporta um julgamento epistecircmico de uma terceira

pessoa porque partilha dessa informaccedilatildeo (eleela acha porque compartilhamos esse

conhecimento)

Parece que haacute em (267) e (268) dois niacuteveis de interpretaccedilatildeo o primeiro niacutevel estaria

relacionado ao falante e agrave confiabilidadefonte da informaccedilatildeo que seria evidencial uma vez

que eacute uma informaccedilatildeoavaliaccedilatildeo filtrada pelos olhos do falante no primeiro caso e no

segundo exemplo haacute uma avaliaccedilatildeo reportada pelo falante o outro niacutevel estaria relacionado a

um conceptualizador em terceira pessoa e agrave sua (suposta) avaliaccedilatildeo portanto uma

interpretaccedilatildeo epistecircmica

O seguinte continuum representa os graus de comprometimentoafastamento do

falante conceptualizador primeiro no que diz respeito ao material enunciado

47

O conceptualizador eacute a entidade que constroacutei um ponto de vista em uma determinada cena Esta noccedilatildeo estaacute

ligada agrave de construal que eacute a nossa capacidade de conceber e retratar a mesma situaccedilatildeo de maneiras diferentes

58

eu acho (eu acho que) ele acha parece que diz-que

ele acha (info partilhada)

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade

Nos exemplos observam-se trecircs diferentes graus de participaccedilatildeo do enunciador na

constituiccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sobre o que estaacute sendo dito o que me leva a tentar reformular o

conceito de modalidade e assumir a noccedilatildeo de conceptualizador48

nos termos langackerianos

para explicar este fenocircmeno semacircntico

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias

Nas seccedilotildees anteriores foram apresentadas diferentes abordagens e tipologias no que

diz respeito agrave modalidade As definiccedilotildees desta categoria podem ser mais amplas como a de

Palmer (2001) que diz que a modalidade se relaciona com o status da proposiccedilatildeo que descreve

o evento ou mais restritas como a de van der Auwera e Plungian (1998) para quem a

modalidade envolve os domiacutenios de possibilidade e necessidade como variantes

paradigmaacuteticas A primeira definiccedilatildeo natildeo deixa claro o que inclui ou exclui a modalidade na

segunda identificam-se termos reconhecidos como ―modais mas exclui por exemplo

habilidade e voliccedilatildeo

Bally (1942 p 3) apresenta uma definiccedilatildeo enunciativa da modalidade como o modus

do dictum em suas palavras ―a forma linguiacutestica [Modus on dictum] de um julgamento

intelectual de um julgamento afetivo ou de uma vontade que um sujeito pensante enuncia a

propoacutesito de uma percepccedilatildeo ou de uma representaccedilatildeo de sua alma49

Segundo ele uma frase

expliacutecita eacute composta por duas diferentes partes uma o dictum eacute a representaccedilatildeo percebida

pelos sentidos pela memoacuteria e a imaginaccedilatildeo a outra o modus eacute uma operaccedilatildeo psiacutequica de

um sujeito pensante

Ao modus eacute conferida mais importacircncia que ao dictum O autor oferece exemplos para

o que considera as operaccedilotildees do pensamento50

sobre o que se enuncia que indicam um

entendimento um sentimento e uma vontade ―algueacutem crecirc que vai chover ou ―natildeo crecirc ou

―duvida ―algueacutem se alegra porque chove ou ―algueacutem lamenta que chove ―algueacutem deseja

48

Desenvolvo este ponto na seccedilatildeo 25 49

No original ―la forme linguistique dlsquoun jugement intellectual dlsquoun jugement affectif ou dlsquoune volonteacute qulsquoun

sujet pensant eacutenonce agrave propos dlsquoune perception ou dlsquoune representation de son esprit (BALLY 1942 p 3) 50

Pensar para Bally (19321965 p 35) seria ―reagir a uma representaccedilatildeo constatando-a apreciando-a ou

desejando-a

59

que chova ou ―que natildeo chova

Esta parece ser entretanto uma definiccedilatildeo muito ampla mdash apesar de indiscutivelmente

nos inspirar a considerar a dimensatildeo do enunciado mdash e seguirei na tentativa de estreitaacute-la e

responder agrave pergunta que tipo de modificaccedilatildeo do dictum deve ser considerada sob o escopo

da modalidade ou em outras palavras como definir o que compreende o modus Como

definir (a) de que modificaccedilatildeo se trata (b) o que estaacute incluiacutedo no escopo da modalidade (c)

quais os domiacutenios semacircnticos envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes

categorias

A partir de agora portanto argumentarei no sentido de diferenciar as categorias que

podem modificar o que eacute dito e em particular apontar as nuances entre negaccedilatildeo modo

ilocuccedilatildeo e atitude

A pergunta que emerge ao me defrontar com dados orais em situaccedilotildees reais de uso da

liacutengua eacute ―por que seria insuficiente esse conceito de modalidade fundado na loacutegica

aristoteacutelica Dito de outra forma a definiccedilatildeo de modalidade e o seu campo de aplicaccedilatildeo ateacute

agora utilizados pela semacircntica como heranccedila da loacutegica formal para a anaacutelise de sentenccedilas

isoladas servem completamente ao estudo desse fenocircmeno na fala e na dinacircmica de uma

interaccedilatildeo

251 Modalidade e negaccedilatildeo

A categoria da negaccedilatildeo vem sendo estudada em uma perspectiva filosoacutefica desde

Aristoacuteteles A pergunta que se persegue responder em termos de valor de verdade eacute como o

valor de verdade de uma sentenccedila muda se for adicionado um elemento negativo Na loacutegica

a negaccedilatildeo eacute um operador que inverte as condiccedilotildees de verdade de um determinado conteuacutedo

proposicional

Lawler (2007) coloca que a negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cognitivo e

intelectual e que eacute fundamental para todo o pensamento humano Nas palavras de Kiefer

(2009 p 193) ―a negaccedilatildeo de um evento teria que ser caracterizada em termos da ocorrecircncia

do evento ser feita relativamente agrave sua natildeo-ocorrecircncia51

Nas liacutenguas naturais a negaccedilatildeo funciona como um operador associado a

quantificadores e modais sendo que a relaccedilatildeo entre estas categorias se daacute de forma complexa

Vejamos alguns casos ambiacuteguos

51

[hellip] the negation of an event would have to be characterized in terms of the occurrence of the event being

made relative to its nonoccurrence [hellip] (KIEFER 2009 p 193)

60

(269) Ele natildeo pode ir ao jogo

(269a) Natildeo eacute possiacutevel ele ir ao jogo

(269b) Natildeo eacute permitido ele ir ao jogo

Destaco de nossa amostra algumas ocorrecircncias em que temos o operador de negaccedilatildeo

associado a um iacutendice modal A partir deles discuto a relaccedilatildeo entre dois iacutendices modais (um

deles modificado pela negaccedilatildeo)

(270) GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em [2] e tambeacutem falando

em povo mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt (bfamcv01)

(271) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e desmanchar tudo o que

foi feito durante a semana neacute

ROG [248] pode natildeo [249] mas tem gente que desmancha socirc Paulo

(bpubdl01)

(272) [185] cecirc natildeo pode aprontar [1] apontar pra mesa (bfamcv04)

Os verbos ―dever e ―poder modificados pelo operador de negaccedilatildeo nos casos acima

expressam interdiccedilatildeoimpedimento restriccedilatildeo e proibiccedilatildeo respectivamente portanto estatildeo

inscritos no significado deocircntico da modalidade Quero destacar o exemplo (270) em que

temos dois iacutendices modais na mesma unidade informacional um verbo epistecircmico acharlsquo e o

verbo modal deverlsquo deocircntico Neste caso vai atuar o princiacutepio da composicionalidade o

valor epistecircmico ordena o valor deocircntico Em outras palavras o falante a partir de seu

conhecimento de mundo e de suas crenccedilas emite sua opiniatildeo que envolve uma avaliaccedilatildeo

relacionada agrave interdiccedilatildeo

Apresento mais dois exemplos do subcorpus em estudo para discutir o escopo da

negaccedilatildeo

(273) CES [391] acho que nũ tem ningueacutem aiacute natildeo (bfamdl03)

(274) LUI [232] lteu nũ acho que a gente [6] eu nũ acho que a gente deve chamar

soacute veteranos natildeogt (bfamcv01)

Na ocorrecircncia em (273) o verbo de atitude proposicional acharlsquo natildeo estaacute sob o

escopo da negaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo aqui apresentada eacute de que o falante considera que o material

61

locutoacuterio da encaixada natildeo ocorre Jaacute em (274) o verbo eacute posto no escopo da negaccedilatildeo o

falante enuncia uma sua opiniatildeo negativa

No PB haacute trecircs tipos de negaccedilatildeo a simples preposta a simples posposta e a dupla

negaccedilatildeo Neste trabalho investigarei ainda a relaccedilatildeo de modalidade e negaccedilatildeo para fins de

anotaccedilatildeo semacircntica Este ponto vai ser desenvolvido na Parte III desta tese

252 Modalidade e modo

O modo eacute uma categoria morfoloacutegica e se refere a um conjunto de tipos de enunciados

que indica a maneira de o verbo expressar um estado de coisas Esta categoria eacute apresentada

em sua relaccedilatildeo com a modalidade ou como a expressatildeo gramaticalizada da modalidade por

exemplo o modo imperativo se relaciona com a modalidade deocircntica e os outros modos com

a modalidade epistecircmica (OLIVEIRA 2003 p 254)

Bybee et al (1994) como jaacute visto incluem o modo no domiacutenio da modalidade

enquanto van der Auwera e Plungian (1998) no domiacutenio das ilocuccedilotildees Como Green (2009)

que afirma que ―o modo com o conteuacutedo subdetermina a forccedila Por outro lado eacute uma hipoacutetese

plausiacutevel que o modo gramatical eacute um dos dispositivos que usamos em conjunto com as

pistas contextuais entonaccedilatildeo e outros para indicar a forccedila com a qual estamos expressando

um dado conteuacutedo52

Palmer (1986) define o ―modo como uma categoria morfossintaacutetica de natureza

verbal no mesmo niacutevel de tempo e aspecto sendo caracterizado em relaccedilatildeo agrave modalidade

como um recurso linguiacutestico menos prototiacutepico Lyons (1977 p 848) tambeacutem caracteriza o

modo como uma categoria gramatical e portanto diferente da modalidade que estaria

associada ao domiacutenio semacircntico O que eacute corroborado por Narrog (2005 p 167) que afirma

que o termo modo ―se refere a formas linguiacutesticas especiacuteficas ou paradigmas de formas

tipicamente na inflexatildeo verbal cuja funccedilatildeo primeira eacute expressar modalidade53

Halliday (1970) distingue modalidade e modo relacionando a primeira agrave expressatildeo de

necessidade e possibilidade e o segundo agrave forccedila ilocucionaacuteria O modo estaria ligado a

noccedilotildees de realidade existecircncia factualidade e a modalidade a noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade e voliccedilatildeo

52

No original ―Mood together with content underdetermine force On the other hand it is a plausible hypothesis

that grammatical mood is one of the devices we use together with contextual clues intonation and so on to

indicate the force with which we are expressing a given content (GREEN 2009) 53

No original ―[] refers to specific linguistic forms or paradigms of forms typically in verb inflection whose

primary function is to express modality (NARROG 2005 p 167)

62

Na tradiccedilatildeo gramatical do portuguecircs do Brasil o modo verbal eacute classificado em trecircs

tipos indicativo (relacionado ao factual o subjuntivo (relacionado ao hipoteacutetico e

contrafactual) e o imperativo (relacionado a comandos ordens pedidos)

O modo indicativo de maneira mais geral eacute natildeo-marcado para a modalidade com

exceccedilatildeo para os usos modais do futuro do presente e futuro do preteacuterito conforme os

exemplos abaixo

(275) [33] eu vou olhar pr ocecirc se eu tenho trinta-e-nove dessa dessa (bpubdl02)

(276) [37] aiacute ea falou assim cecirc ia ter neneacutem aonde (bfammn04)

Jaacute o subjuntivo segundo Palmer (1986 p 39) eacute um marcador geneacuterico de

modalidade Morfossintaticamente ocorre em oraccedilotildees encaixadas (PALMER 1986 p 22) e

com frequecircncia eacute uma marca redundante de um elemento modal presente na oraccedilatildeo principal

No minicorpus analisado encontramos algumas dessas ocorrecircncias54

(277) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1] tenha perdido (bfamdl01)

(278) [39] queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho e tudo (bfammn05)

Podem aparecer tambeacutem em ocorrecircncias como as em (279) e (280) com valor de

hipoacutetese

(279) [148] porque esse aqui eacute quando for desenhar (bfamcv04)

(280) [239] pra que Deus venha ampri [1] contribuir pa sua sorte (bfamdl04)

O modo imperativo por sua vez poderia estar ligado agrave modalidade deocircntica como

reconhece Portner (2007 p 399) ―[a] ideia de que os imperativos devam ter alguma coisa a

ver com a interpretaccedilatildeo de modais deocircnticos eacute extremamente intuitiva55

De fato uma

enunciaccedilatildeo imperativa eacute uma tentativa de impor a um indiviacuteduo uma obrigaccedilatildeo No entanto a

opccedilatildeo neste trabalho dados seus pressupostos eacute de que os imperativos estatildeo ligados a atos de

fala do tipo diretivos e natildeo agrave expressatildeo da modalidade

54

Vale lembrar que no PB em contextos anteriormente tidos como tipicamente de uso do subjuntivo observa-se

uma variaccedilatildeo com o emprego de formas do indicativo No entanto natildeo estaacute no escopo deste trabalho a discussatildeo

desta flutuaccedilatildeo Para esta variaccedilatildeo no espanhol ver o trabalho de Mejiacuteas-Bikandi (1996) apoiado na Teoria dos

Espaccedilos Mentais de Fauconnier (1994) Nesta moldura teoacuterica o modo eacute visto como um mecanismo que regula o

compartilhamento de informaccedilotildees entre espaccedilos mentais 55

Traduccedilatildeo para ―The idea that imperatives should have something to do with the interpretation of deontic

modals is extremely intuitive (PORTNER 2007 p 339)

63

Na proacutexima seccedilatildeo trato da modalidade e sua relaccedilatildeo com a ilocuccedilatildeo e a atitude no

sentido de demonstrar que satildeo categorias diferentes poreacutem que se interrelacionam

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude

O conceito de ilocuccedilatildeo ou ato ilocucionaacuterio foi primeiramente formulado por Austin

(1962) em uma seacuterie de conferecircncias em que sustentava que ―falar alguma coisa eacute fazer

alguma coisa56

Austin distingue no ato linguiacutestico trecircs niacuteveis o locutoacuterio o ilocutoacuterio e o

perlocutoacuterio

Este conceito eacute retomado mais tarde por Searle (1969) que considera que um ato

ilocucionaacuterio eacute a unidade miacutenima da comunicaccedilatildeo linguiacutestica humana O filoacutesofo revecirc a

taxinomia austiniana e propotildee cinco categorias baacutesicas para como usamos a linguagem

(SEARLE 19792002 p 19-31) (a) assertivos (dizer agraves pessoas como as coisas satildeo) (b)

diretivos (levar as pessoas a fazer coisas) (c) compromissivos (nos comprometer a fazer

coisas) (d) expressivos (expressar nossos sentimentos) e (e) declaraccedilotildees (provocar mudanccedilas

no mundo atraveacutes das emissotildees linguiacutesticas)

Na mesma linha Cresti (2001) reconhece a divisatildeo em trecircs niacuteveis do ato linguiacutestico e

afirma que a ilocuccedilatildeo coocorre com o ato locutoacuterio e produz um efeito de caraacuteter afetivo-

pulsional Principalmente a partir de criteacuterios prosoacutedicos ela propotildee cinco classes de atos

ilocucionaacuterios

(a) Asserccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de autoconfianccedila por

parte do falante com base nas proacuteprias realizaccedilotildees de pensamento que permite

a manifestaccedilatildeo de julgamentos descobertas avaliaccedilotildees representaccedilotildees como

novos objetos no mundo

(b) Direccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de levar em

consideraccedilatildeo as habilidades possibilidades disponibilidade do ouvinte

enquanto se espera transformar o mundo atraveacutes de accedilotildees informaccedilotildees

movimentos ou que o ouvinte transforme a si mesmo com relaccedilatildeo a seu

horizonte de atenccedilatildeo seu conhecimento sua habilidade seu ponto de vista

56

―[hellip] to say something is to do something [hellip] (AUSTIN 1962 p 12)

64

(c) Expressatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de manifestaccedilatildeo

―esteacutetica de estados mentais sentimentos emoccedilotildees crenccedilas esperando que o

ouvinte se torne consciente disso e compartilhe disso

(d) Rito um comportamento externo de execuccedilatildeo de tarefas linguumliacutesticas que tecircm

valor e efeito legal e social e que pode ser realizado com o miacutenimo de

participaccedilatildeo afetiva apenas suficiente para a ativaccedilatildeo fisioloacutegica da fala

(e) Recusa uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de liberdade e separaccedilatildeo

por parte do falante com relaccedilatildeo ao seu interlocutor que permite um confronto

completo com esse uacuteltimo

Cresti assume que a ilocuccedilatildeo natildeo se opotildee agrave modalidade mas que as duas pertencem a

dois niacuteveis diferentes Tucci (2011) em anaacutelise de corpus de fala espontacircnea do italiano

afirma que haacute duas razotildees principais para se separar as duas noccedilotildees a primeira de caraacuteter

formal consiste em assumir que por definiccedilatildeo cada enunciado corresponde a uma e somente

uma forccedila ilocucionaacuteria enquanto que mais de um valor modal pode coexistir num

enunciado a segunda de um ponto de vista mais qualitativo consiste em atestar que natildeo haacute

uma correspondecircncia entre o valor modal e a forccedila ilocucionaacuteria apesar de os iacutendices modais

contribuiacuterem para a interpretaccedilatildeo ilocucionaacuteria de um enunciado

Outros autores igualmente assumem que a modalidade se circunscreve perfeitamente

no niacutevel da semacircntica e natildeo da pragmaacutetica (FRAWLEY 1992 KIEFER 1997 NARROG

2005) Kiefer (1997 p 247) afirma que ―os atos de asseverar permitir ordenar ou prometer

satildeo estranhos agrave modalidade Natildeo haacute como elaborar uma questatildeo significativa sobre como um

ato afeta a modalidade Isso vale para a ilocuccedilatildeo assim como para a perlocuccedilatildeo57

Desde um ponto de vista pragmaacutetico coerente natildeo se pode considerar a modalidade

como a mesma coisa que ilocuccedilatildeo Mello e Raso (2011 p 5-ss) em estudo experimental

fazem uma distinccedilatildeo entre as categorias de modalidade ilocuccedilatildeo e atitude58

Os autores pleiteiam que a modalidade pertence ao domiacutenio da semacircntica no qual a

postura do falante em relaccedilatildeo agrave expressatildeo do material locutoacuterio se manifesta de maneira que

a mesma ilocuccedilatildeo pode ser modalizada de diferentes formas sem afetar o niacutevel ilocucionaacuterio

A ilocuccedilatildeo por sua vez pertence ao domiacutenio pragmaacutetico no qual a postura do falante em

relaccedilatildeo ao seu interlocutor se manifesta

57

No original ―[t]he act of asserting permitting ordering or promising is alien to modality There is no way to

ask a meaningful question about how such an act affects modality This holds for illocution as well as for

perlocution (KIEFER 1997 p 247) 58

A distinccedilatildeo entre modalidade e atitude estaacute na proacutexima seccedilatildeo 244

65

Em relaccedilatildeo agrave atitude uma das dificuldades para se distinguir modalidade e esta

categoria reside justamente na proacutepria polissemia do termo atitude que pode ser definida

como uma posiccedilatildeopostura assumida ou como emoccedilatildeo (MOZZICONACCI 2001) ou como

comportamentomaneira de agir em relaccedilatildeo a uma outra pessoa Nos trabalhos de anotaccedilatildeo

semacircntica de opiniatildeo e sentimentos (cf WIEBE et al 2005) os conceitos de modalidade e

atitude tambeacutem se confundem

Mello e Raso (2011) constatam que a categoria de atitude comparada agraves de

modalidade e ilocuccedilatildeo ainda eacute pouco discutida na literatura Eles apresentam alguns estudos

como o de Local (2005) que menciona a importacircncia da categoria para os estudos de

entonaccedilatildeo ou a definiccedilatildeo de Moraes et al (2010) de que ―a atitude prosoacutedica geralmente se

refere agrave expressatildeo de afetos sociais voluntariamente controladas pelo falante59

Ainda

segundo Moraes et al (2010) existem algumas atitudes que afetam o conteuacutedo proposicional

de um enunciado como a ironia a incredulidade a surpresa e outras que estatildeo ligadas a

relaccedilotildees sociais estabelecidas entre os participantes de uma interaccedilatildeo como a polidez a

autoridade a arrogacircncia

Assim eacute reconhecida a dimensatildeo sociointeracional da atitude isto eacute o falante revela

seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica (com uma modalidade especiacutefica) A

mesma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras por exemplo triste contente

desafiadora envolvente surpresa irritada etc

Como experimento para a distinccedilatildeo das trecircs categorias os pesquisadores consideraram

trecircs ilocuccedilotildees diferentes pertencentes agrave classe dos diretivos (cf CRESTI 2000 MONEGLIA

2011) a saber sugestatildeorecomendaccedilatildeo convite e pergunta para materiais locutoacuterios com

diferentes modalidades o primeiro ―Vem pro Brasil o segundo ―Pode vir pro Brasil e o

terceiro ―Tem que vir pro Brasil Foram consideradas tambeacutem duas atitudes comprometida

e irritada

Comparando a mesma ilocuccedilatildeo produzida com diferentes atitudes observou-se que

enquanto a ilocuccedilatildeo tem um nuacutecleo a atitude estaacute distribuiacuteda por toda a unidade tonal Dessa

forma para se analisar a ilocuccedilatildeo eacute necessaacuterio olhar a posiccedilatildeo do nuacutecleo a forma do nuacutecleo e

o alinhamento do nuacutecleo isto eacute a relaccedilatildeo do nuacutecleo com o conteuacutedo segmental

Tambeacutem se observou que se se mantecircm a ilocuccedilatildeo e a atitude e se varia a modalidade

esta uacuteltima natildeo vai afetar os paracircmetros prosoacutedicos O uacutenico aspecto que parece mudar eacute a

parte de preparaccedilatildeo da curva devido a uma mudanccedila no material segmental

59

No original ―prosodic attitude generally refers to the expression of social affects voluntarily controlled by the

speaker (MORAES et al p 1)

66

Outro aspecto observado por Mello e Raso (2011 p 15) foi que a depender da

ilocuccedilatildeo um mesmo iacutendice modal pode ser interpretado com diferentes significados Por

exemplo para o material locutoacuterio ―eu devo passar na casa dele se enunciado como uma

asserccedilatildeo recebe uma leitura epistecircmica enunciado como uma pergunta uma interpretaccedilatildeo

deocircntica

Em resumo conforme o experimento de Mello e Raso (2011 p 16) as categorias da

modalidade ilocuccedilatildeo e atitude se diferenciam e ao mesmo tempo se interrelacionam Nas

suas palavras ―uma atitude especiacutefica preferelsquo algumas ilocuccedilotildees e uma ilocuccedilatildeo especiacutefica

preferelsquo algumas modalidades ao ponto de que o mesmo item lexical vai receber uma

interpretaccedilatildeo preferencial devido agrave ilocuccedilatildeo em que figura60

Um esquema possiacutevel para esta relaccedilatildeo seria o seguinte

Projeccedilatildeo ato comunicativo

atitude

ilocuccedilatildeo

modalidade

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo

A figura eacute um esforccedilo para representar a hierarquia no ato comunicativo o campo

atitudinal pode projetar uma espeacutecie de zona de sombra na camada da ilocuccedilatildeo que por sua

vez projeta uma zona de sombra na camada da modalidade A modalidade seria o ―Modus do

Dictum a ilocuccedilatildeo o ―Actum do Dictum e a atitude o ―Modus do Actum

Parto portanto para tentar a formulaccedilatildeo de uma definiccedilatildeo mais apropriada para que

abarque igualmente a modalidade na fala espontacircnea a partir de dados empiacutericos

60

―a specific attitude preferslsquo come illocution and a specific illocution preferslsquo some modalities to the point

that the same lexical index will receive a preferred interpretation due to the illocution it figures in (MELLO

RASO 2011 p 16)

67

26 Modalidade na fala espontacircnea

Tomarei para iniacutecio de conversa (e porque como explicitado nos objetivos pretendo

reavaliar a noccedilatildeo de modalidade) a posiccedilatildeo de Cresti (2002) e Tucci (2007 2008 2009) que

assumem que a modalidade eacute inerente a qualquer enunciado com ou sem a presenccedila de

iacutendices modais Para elas a modalidade estaacute sob o domiacutenio do niacutevel semacircntico natildeo do

pragmaacutetico uma vez que se constitui como um processo cognitivo natildeo uma accedilatildeo

Como a fala natildeo eacute organizada em proposiccedilotildees loacutegicas mas em unidades pragmaacuteticas

a incidecircncia do valor modal veiculado por um iacutendice de acordo com Tucci (2007) eacute uma

propriedade natildeo do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem

considerados

(i) se o enunciado eacute simples quer dizer se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente ao enunciado inteiro e agrave unidade informativa

(281) [31] trecircs eacute o carinho no um nũ daacute (bfamcv03)

(ii) se dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o

princiacutepio de composicionalidade em que um iacutendice domina o outro e determina a

modalidade

(282) EVN [148] acho ltque a gentegt tem que olhar direito (bfamcv01)

(iii) se um enunciado possui duas unidades informacionais se aplica um princiacutepio de

natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

(283) [397] vai arrumar laacute o dia todo =TOP= e de laacute que ea vai po [1] po coisa

=COM=$ (bfamcv02)

Dentre os valores modais trecircs primordiais satildeo utilizados por Cresti e Tucci o

aleacutetico61

o deocircntico e o epistecircmico A modalidade aleacutetica se restringe agrave avaliaccedilatildeo que o

61

A loacutegica modal diz respeito quase exclusivamente agrave modalidade aleacutetica isto eacute agravequela relacionada com a

verdade necessaacuteria ou contingente das proposiccedilotildees Na linguiacutestica este tipo de modalidade desempenha um

papel marginal por esta razatildeo natildeo seraacute levada em conta neste trabalho como explicitado na seccedilatildeo 231

68

falante faz do estado-de-coisas segundo noccedilotildees loacutegicas de verdade e agrave apresentaccedilatildeo do

estado-de-coisas como verdadeiro como nos seguintes exemplos62

(284) Um cisne pode ser negro

Um leopardo deve ser malhado

Como as noccedilotildees de capacidade e habilidade estatildeo ligadas agrave verdade do mundo satildeo

encaixadas nessa categoria63

A modalidade deocircntica estaacute relacionada agraves noccedilotildees de permissatildeo e de obrigaccedilatildeo com

as quais o falante avalia um estado-de-coisas referente a alguma accedilatildeo como nos exemplos

seguintes

(285) Natildeo se pode abandonar a pessoa sozinha

Marco deve partir hoje (~ ter que)

A expressatildeo de desejo em alguns casos tambeacutem se insere nessa categoria uma vez

que o falante posiciona-se perante uma accedilatildeo

A modalidade epistecircmica manifesta-se sempre que o falante imprime ao estado de

coisas uma avaliaccedilatildeo baseada em seus conhecimentos e crenccedilas sobre o mundo e denota graus

de possibilidade e de probabilidade com relaccedilatildeo aos estado-de-coisas

(286) Juacutelio pode ter partido

Devem ser os sete

No que se refere ao discurso oral o comprometimento com o conteuacutedo proposicional

natildeo se aplica uma vez que o escopo da modalidade natildeo pode estar limitado a proposiccedilotildees O

conteuacutedo linguiacutestico eacute organizado em enunciados64

revelando um determinado padratildeo

informacional (CRESTI 2000) A visatildeo de modalidade tomada pelas autoras italianas eacute a

62

Os exemplos que ilustram as categorias de modalidade satildeo de Tucci (2007) Traduccedilatildeo minha 63

Os sentidos de capacidade habilidade e voliccedilatildeo satildeo tratados de forma separada neste trabalho como visto na

seccedilatildeo 233 64

Na moldura da ―Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) como veremos em detalhes mais adiante o

enunciado eacute a unidade de referecircncia da liacutengua falada e eacute definido como qualquer expressatildeo linguiacutestica

interpretaacutevel pragmaticamente ligada a (a) uma condiccedilatildeo semacircntica de plena significaccedilatildeo da expressatildeo em

questatildeo e (b) uma realizaccedilatildeo entoada segundo um padratildeo meloacutedico de valor ilocutoacuterio

69

seguinte ―expressatildeo da avaliaccedilatildeo do falante sobre o material locutoacuterio e seu escopo eacute a

unidade informacional

Relembrando as perguntas que me motivaram ateacute aqui a saber (a) de que modificaccedilatildeo

se trata a modalidade (b) o que estaacute incluiacutedo no seu escopo (c) quais os domiacutenios semacircnticos

envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes categorias creio que eacute possiacutevel

ir um pouco aleacutem e entender a modalidade como uma nuancerelativizaccedilatildeo do material

locutoacuterio enunciado natildeo necessariamente uma proposiccedilatildeo ligada agrave dimensatildeo subjetiva e que

inclui os domiacutenios da possibilidade da necessidade da habilidade e da voliccedilatildeo Diferencia-se

de negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude entretanto estaacute estreitamente relacionada com estas

noccedilotildees

Na minha formulaccedilatildeo a partir do que foi discutido anteriormente a modalidade pode

ser tomada como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que

relativiza o que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da

interaccedilatildeo

Esta definiccedilatildeo proposta se aproxima e se afasta do conceito corrente na literatura ―a

opiniatildeo ou atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo ou agrave situaccedilatildeo contida na proposiccedilatildeo

(LYONS 1977 p 452-3) por alguns motivos os quais elenco a seguir

(a) opiniatildeo atitude gt julgamento avaliaccedilatildeo que relativiza

Como vimos a categoria da atitude estaacute relacionada a um niacutevel sociointeracional no

qual o falante demonstra seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica e com uma

modalidade especiacutefica Usar este roacutetulo portanto pode levar a interpretaccedilotildees equivocadas

sobre a categoria da modalidade

A modalidade eacute uma modificaccedilatildeo que cria uma nuance ou uma relativizaccedilatildeo do que

estaacute sendo enunciado Natildeo pode ser confundida com qualquer modificaccedilatildeo nem com

qualquer funccedilatildeo modalizadora nem com um quantificador (eg aproximadamentelsquo cerca

delsquo) nem com um angulador (eg tipolsquo uma espeacutecie delsquo) eacute uma modificaccedilatildeo que

pressupotildee o grau de comprometimento do sujeito da modalidade eou os domiacutenios da

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo

70

(b) falante gt sujeito conceptualizador

Utilizo uma noccedilatildeo semacircntico-cognitiva o conceptualizador nos termos de Langacker

(1987 1991 2001 2007 2008) em lugar do ―falante uma vez que a primeira noccedilatildeo eacute mais

abrangente do que a uacuteltima pois abarca aleacutem do falante o endereccedilado ou um terceiro

indiviacuteduo O conceptualizador seria o proacuteprio falante ou uma terceira pessoa para cujo ponto

de vista o falante se projeta Observe os exemplos abaixo

(287) [117] eu falei natildeo eu devo ter a conta ainda porque eu nũ + (bfammn03)

(288) LUC [361] ltisso pode ser potencialmentegt divertido (bfamcv04)

(289) DFL [58] aquilo que o o professor achava mais importante (bfammn02)

(290) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando (bfamdl04)

(291) [48] cecirc nũ consegue cem por cento de nada na sua vida entatildeo acho que tocirc

[1] tocirc caminhando (bpubmn01)

Em (287) e (288) temos um conceptualizador em primeira pessoa que coincide com

o falante e enuncia a sua avaliaccedilatildeo sobre o material locutoacuterio Em (287) o enunciador se

desloca para um momento anterior e reporta o que enunciou agravequela altura marcada

linguisticamente pela presenccedila do verbo dicendi falarlsquo A ocorrecircncia em (288) apresenta

inclusive uma redundacircncia da possibilidade epistecircmica com o uso do verbo modal poderlsquo e

do adveacuterbio modal potencialmentelsquo (ou conforme Halliday 1970 e Lunguinho 2010 o

fenocircmeno da concordacircncia modal65

) No exemplo em (289) o falante enuncia a avaliaccedilatildeo de

um conceptualizador em terceira pessoa O falante em (290) pede a confirmaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo

de um outro conceptualizador (―ela) Na ocorrecircncia do monoacutelogo puacuteblico em (291) a

falante no papel de professora se projeta para um ponto de vista impessoal representado pelo

decircitico ―cecirc o que aponta para um grau de afastamento em relaccedilatildeo ao que estaacute sendo

enunciado

Segundo Langacker (2008) a conceptualizaccedilatildeo metaforicamente eacute a forma como

vemos uma cena Em suas palavras ―Um arranjo de ponto de vista eacute a relaccedilatildeo global entre os

―observadores e a situaccedilatildeo sendo ―observada [] os observadores satildeo os

conceptualizadores que apreendem os significados de expressotildees linguiacutesticas o falante e o

65

A concordacircncia modal se caracteriza se caracteriza pela presenccedila sintaacutetica de dois itens modais que satildeo

interpretados como se houvesse apenas um (HALLIDAY 1970 LUNGUINHO 2010)

71

ouvinte66

(LANGACKER 2008 p 73)

O arranjo de ponto de vista portanto seria uma espeacutecie de ajuste ou afinaccedilatildeo entre

quem vecirc e o que vecirc Este ajuste eacute tomado como default quando os interlocutores estatildeo juntos

em um local fixo a partir do qual observam e descrevem o que acontece no mundo em volta

deles e eacute ―uma parte essencial para o substrato conceptual que sustenta o significado de uma

expressatildeo e molda a sua forma67

As perspectivas default tendem a ser praticamente

invisiacuteveis e se explicitam quando se considera expressotildees que cumprem uma accedilatildeo como uma

pergunta ou ordem

O que a modalidade parece sugerir eacute que se trata da modificaccedilatildeo avaliadora de uma

perspectiva default ou seja aquela perspectiva expliacutecita marcada semanticamente Por

exemplo em ―O livro taacute sobre a mesa estamos diante de uma perspectiva default Jaacute em ―Eu

acho que o livro taacute sobre a mesa temos o grau de certeza modalizador como acreacutescimo ao

ponto de vantagem do arranjo default

Cresti (no prelo p 13) corroborando esta posiccedilatildeo afirma que ―[c]ada cena eacute uma

funccedilatildeo de uma perspectiva o ponto de vista do falante ou do endereccedilado ou de algueacutem

externo e pode ser marcada socialmente eou estilisticamente []68

Uma cena se caracteriza

por coordenadas nos eixos temporal e especial em um determinado universo possiacutevel

(c) proposiccedilatildeo gt material locutoacuterio enunciado

Como estamos tratando da modalidade na fala com um entendimento particular do

que eacute esta fala espontacircnea (CRESTI SCARANO 1998) e dentro do quadro teoacuterico da Liacutengua

em Ato (CRESTI 2000) haacute que se deslocar o alvo de incidecircncia da proposiccedilatildeo para o

material locutoacuterio enunciado no escopo de uma unidade informacional (cf TUCCI 2007)

Recuperando resumidamente a formulaccedilatildeo de Tucci a modalidade natildeo eacute uma

propriedade do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem levados em

conta (a) se o enunciado eacute simples isto eacute se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente a todo o enunciado e agrave unidade informacional (b) se

66

No original ―A viewing arrangement is the overall relationship between the ―viewers and the situation being

―viewed [For our purposes] the viewers are conceptualizers who apprehend the meanings of linguistic

expressions the speaker and the hearer (LANGACKER 2008 p 73) 67

Traduccedilatildeo para ―an essential part of the conceptual substrate that supports an expressionlsquos meaning and shapes

its form 68

No original ―Every scene is a function of a perspective the point of view of the speaker or the addressee or

someone external and can be marked socially andor stylistically [hellip] (CRESTI no prelo p 13)

72

dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o princiacutepio de

composicionalidade em que um iacutendice domina o outro hieraquicamente e determina a

modalidade e (c) se um enunciado possui duas unidades informacionais aplica-se o princiacutepio

de natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

Alguns dados da amostra no entanto me levam a considerar que a modalidade tem

uma incidecircncia local no acircmbito da unidade informacional mas tambeacutem eacute uma propriedade

dinacircmica que atua igualmente em uma cadeia referencial no domiacutenio textual

Segundo Cresti (no prelo p 12) cada chunk linguiacutestico de um ponto de vista

semacircntico corresponde a uma cena (cf BARWISE PERRY 1981 FAUCONNIER 1984) e

para permitir o desenvolvimento de uma funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem

estar na mesma cena

Segundo Simon-Venderbergen e Aijmer (2007) os marcadores modais podem evoluir

de uma funccedilatildeo puramente qualificacional para funccedilotildees textuais e retoacutericas Podem ser

marcadores de confirmaccedilatildeo adversidade continuidade e causalidade Vejamos este excerto de

uma conversaccedilatildeo familiar do tipo argumentativo predominantemente cujo tema eacute um

campeonato de futebol

(292) Excerto 1

LEO [1] o Juninho ltfoigt

GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em e tambeacutem falando em povo

mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt

LUI [3] ltnatildeogt

LEO [4] ltnatildeogt

LUI [5] lteu acho natildeogt

LEO [6] ltcom certezagt

LUI [7] ltcom certeza es nũ vatildeo participar uaigt

Destaco do excerto acima os enunciados [2] [5] [6] e [7] No enunciado [2] o

participante GIL expotildee sua opiniatildeo sobre o time Galaacuteticos (―eacute muito palha) e faz tambeacutem

um julgamento sobre a participaccedilatildeo desta equipe no campeonato que estatildeo organizando (―eu

73

acho que es nũ deviam mais participar e lttalgt) Os participantes LUI e LEO por sua vez

fazem eco a esse julgamento utilizando operadores modais de confirmaccedilatildeo como ―acho natildeo

e ―com certeza

Os enunciados satildeo diferentes com suas respectivas modalidades no entanto o que

parece eacute que podemos recuperar nos domiacutenios locais elementos referenciais pertencentes a

uma determinada cena anterior em uma coordenaccedilatildeo muacutetua de sistemas cognitivos quer

dizer os sistemas cognitivos dos participantes de uma interaccedilatildeo estatildeo alinhados o que

Verhagen (2005) chama ―intersubjetividade Segundo ele a liacutengua se presta natildeo soacute a

objetivos de informaccedilatildeo mas principalmente de argumentaccedilatildeo Assim desenvolve o conceito

de argumentatividade ou seja a capacidade das pessoas de accedilotildees cognitivamente coordenadas

no fluxo para induzir o interlocutor a realizar inferecircncias e criar um discurso coerente

Neste capiacutetulo apresentei o estado da arte dos estudos de modalidade as tipologias

tradicionais e as visotildees alternativas Ainda defini os valores modais que seratildeo utilizados na

pesquisa e a partir de uma perspectiva subjetiva tentei uma formulaccedilatildeo para o conceito de

modalidade que desse conta de explicar a que tipo de modificaccedilatildeo me refiro quando utilizo os

termos ―modalidade ―modal e ―modalizador e a que domiacutenios semacircnticos ela estaria

ligada

A partir de agora desde um ponto de vista empiacuterico introduzo os procedimentos

metodoloacutegicos e os resultados da descriccedilatildeo do fenocircmeno da modalidade em um corpus de fala

espontacircnea do portuguecircs brasileiro

74

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

75

Capiacutetulo 3

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

No capiacutetulo anterior me ocupei em apresentar alguns estudos sobre a categoria de

modalidade destacados de uma vasta literatura sobre o tema sejam eles vinculados a uma

abordagem mais objetiva ou subjetiva e tambeacutem descrevi os tipos de significados modais da

tradiccedilatildeo linguiacutestica e de abordagens alternativas e aqueles que utilizo na pesquisa Ainda

apontei a relaccedilatildeo da modalidade com outras categorias a ela associadas como a negaccedilatildeo o

modo a ilocuccedilatildeo e a atitude Por fim apresentei minha proacutepria proposta de definiccedilatildeo que se

conforma com o estudo da modalidade na fala que se diferencia em larga medida do estudo

da categoria na escrita

Neste capiacutetulo descrevo os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para empreender a

pesquisa Em primeiro lugar introduzo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato Em

seguida apresento o projeto C-ORAL-BRASIL e a amostra de estudo um minicorpus da

parte informal deste corpus (RASO MELLO 2012) A seguir apresento as outras etapas do

trabalho para fim de coleta preparaccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados

31 A Teoria da Liacutengua em Ato

A Teoria da Liacutengua em Ato para a anaacutelise da estrutura informacional proposta por

Cresti (2000) tem como hipoacutetese baacutesica a partir de Austin (1962) que eacute possiacutevel dizer que haacute

uma correspondecircncia entre unidade de accedilatildeo (os atos de fala) e unidade linguiacutestica (os

enunciados) atraveacutes de padrotildees entoacionais Nas palavras da proacutepria autora ―assumindo a

teoria dos atos linguiacutesticos de Austin (1962) como quadro teoacuterico de referecircncia possamos

descrever a verbalizaccedilatildeo oral como uma forma particular de comportamento humano do qual

cada instacircncia eacute um ato linguiacutestico constituiacutedo da ativaccedilatildeo simultacircnea de trecircs diversos tipos

de ato (locutoacuterio ilocutoacuterio e perlocutoacuterio)69

(CRESTI 2000 p 42)

69

No original ―assumendo la teoria degli atti linguistici di Austin (1962) come quadro teoacuterico di riferimento

possiamo descrivere La verbalizzazioneorale come uma particolare forma di comportamento umano di cui ogni

istanza egrave un atto linguiacutestico costituito dalllsquoattivazione simultanea di ter diversi tipi di atti (locutivo ilocutivo e

perlocutivo) (CRESTI 2000 p 42)

76

Essa teoria nasce no domiacutenio da oralidade especificamente da observaccedilatildeo e anaacutelise da

fala espontacircnea70

quer dizer de um texto falado concebido ao mesmo tempo em que eacute

executado e que natildeo realiza nenhum texto anterior mdash escrito lido ou script (fala roteirizada)

De uma perspectiva comunicativa a fala espontacircnea eacute um comportamento dinacircmico

de interaccedilatildeo entre interlocutores uma cadeia de accedilatildeo-reaccedilatildeo Os participantes de uma troca

conversacional realizam accedilotildees dirigidas a um ou mais interlocutores o que chamamos de

ilocuccedilotildees Uma ilocuccedilatildeo se define a partir de um conteuacutedo afetivo base de todas as relaccedilotildees

entre pessoas71

Cumprir uma ilocuccedilatildeo seria realizar um ato ao dizer algo Um ato de fala se realiza

simultaneamente em trecircs dimensotildees

a) ato locutoacuterio parte linguiacutestica ato de dizer algo

b) ato ilocutoacuterio intenccedilatildeo comunicativa ato ao dizer algo

c) ato perlocutoacuterio eacute a produccedilatildeo de um efeito sobre o interlocutor

A contraparte linguiacutestica de um ato de fala eacute um enunciado que carrega sempre uma

intenccedilatildeo comunicativa e eacute a unidade de referecircncia da diamesia falada Diferencia-se de

uma frase por ser um elemento compreendido em autonomia e analisaacutevel

pragmaticamente A prosoacutedia eacute o componente suprassegmental que nos permite identificar

esses enunciados

311 O enunciado

A anaacutelise da fala diferencia-se da anaacutelise da escrita uma vez que segundo Moneglia

(2011 p 481) ―a linguagem escrita pode ser propriamente segmentada de acordo com

princiacutepios sintaacuteticos e semacircnticos enquanto ―a identificaccedilatildeo de unidades de referecircncia em

um corpus de fala pode dificilmente ser feita atraveacutes dos mesmos dispositivos sintaacuteticos e

semacircnticos72

A primazia da escrita sobre a fala nos estudos linguiacutesticos aliaacutes leva-nos a

70

A base para este estudo foi o LABLITA Corpus principalmente o subcorpus LABLITA Corpus of Adult

Spontaneous Spoken Italian Disponiacutevel em httplablitaditunifiitcorporadescriptionslablita Uacuteltimo acesso

08 jan 2014 71

De acordo com Cresti (2000 p 84 e ss) um afeto eacute definido como ―uma pulsatildeo e representaccedilatildeo de um

esquema acional em relaccedilatildeo ao interlocutor que permite uma accedilatildeo concreta no mundo 72

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] written language can be properly parsed according to syntactic and semantic

principles (hellip) the identification of the units of reference in a spoken corpus can hardly be identified through the

same syntactic and semantic devices (Blanche-Benveniste 1997 Biber et al 1999 Cresti 2000 Miller amp Weinert

1998 Izreel 2005) (MONEGLIA 2011 p 481)

77

cometer o equiacutevoco de neglicenciar esta diamesia e trataacute-la como um texto escrito jaacute que o

que eacute estudado normalmente eacute a transcriccedilatildeo da fala segmentada de acordo com pausas

sintaacuteticas o que corresponde graficamente ao uso da viacutergula como pontuaccedilatildeo (MELLO

RASO 2013) No entanto ancorado em consistente base empiacuterica Moneglia (2011) afirma

que os dados de corpora orais apontam para a insuficiecircncia dos mesmos criteacuterios sintaacuteticos

aplicados agrave escrita para anaacutelise dos eventos de fala uma vez que muitos destes eventos natildeo

apresentam sequer um verbo

Ainda de acordo com Mello e Raso (2013 p 101) para o estudo efetivo da fala haacute

que se considerar os niacuteveis hieraacuterquicos definidos na expressatildeo comunicativa da fala o que

pressupotildee ―i que inicialmente se individualize a unidade ilocucionaacuteria ii que dentro dessa

unidade seja estabelecida a sua estrutura informacional e iii que somente dentro da unidade

informacional seja possiacutevel uma anaacutelise sintaacutetica

Como mencionado acima o enunciado eacute a entidade linguiacutestica que do ponto de vista

pragmaacutetico eacute autocircnoma o que significa que natildeo se define nem pela completude semacircntica

nem pela expressatildeo da predicaccedilatildeo O criteacuterio de identificaccedilatildeo de um enunciado parte de

caracteriacutesticas entoacionais dado que a forccedila ilocucionaacuteria de um enunciado eacute veiculada

atraveacutes dela A correspondecircncia entre ilocuccedilatildeo e um dado contorno prosoacutedico eacute denominada

―criteacuterio ilocutivo (CRESTI 2000) As funccedilotildees linguiacutesticas da entoaccedilatildeo seriam segundo

Cresti (2000) (a) indicar o tipo de ilocuccedilatildeo realizada no ato de fala (b) delimitar os

enunciados no contiacutenuo focircnico (c) segmentar o enunciado em unidades menores (d) assinalar

o tipo informacional de cada unidade dentro do enunciado

Assim a prosoacutedia pode ser considerada a interface formal entre os atos executados

simultaneamente em um ato de fala73

Podemos identificar como paracircmetros prosoacutedicos os

seguintes elementos movimento de F0 (hz) intensidade (db) duraccedilatildeo (s) alinhamento

velocidade de fala e ritmo Eacute importante destacar que o tipo de ilocuccedilatildeo natildeo estaacute subordinado

ao conteuacutedo locutoacuterio

No que diz respeito agrave segunda funccedilatildeo da entoaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo dos enunciados eacute

realizada atraveacutes da percepccedilatildeo das variaccedilotildees prosoacutedicas relevantes por um falante

―competente As variaccedilotildees que resultam na segmentaccedilatildeo do enunciado em unidades discretas

satildeo chamadas de quebras prosoacutedicas divididas em

73

Adiante veremos que a prosoacutedia eacute apenas um dos criteacuterios para identificaccedilatildeo da unidade entoacional ainda

contribuem para esta definiccedilatildeo do tipo informacional criteacuterios funcionais e distribucionais

78

(a) terminais quebras que satildeo percebidas como conclusivas e portanto indicam

a completude prosoacutedica do enunciado Graficamente satildeo representadas por duas

barras ( ―)

(b) natildeo-terminais percebidas como quebras natildeo-conclusivas Satildeo mais fracas e

cumprem a funccedilatildeo de delimitar as unidades internas ao enunciado Graficamente

satildeo representadas por uma barra (―)

As quebras prosoacutedicas satildeo utilizadas na transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo de textos orais

(MONEGLIA CRESTI 1997) Como exemplos dessas quebras terminal e natildeo-terminal

respectivamente temos

(31) REN [116] eu gosto de maccedilatilde

(32) REN [145] desinfetante a gente precisa

Os enunciados podem ter um padratildeo simples ou complexo No padratildeo simples o

enunciado eacute composto apenas pelo nuacutecleo do ato de fala e eacute executado em uma uacutenica unidade

tonal necessaacuteria e suficiente porque carrega a forccedila ilocucionaacuteria denominada Comentaacuterio

no padratildeo complexo o enunciado corresponde ao nuacutecleo mais um conjunto de unidades com

distintas funccedilotildees informacionais eacute executado em duas ou mais unidades tonais Uma dessas

unidades eacute obrigatoriamente o Comentaacuterio as outras unidades cumprem funccedilotildees

informacionais textuais ou dialoacutegicas

As unidades tonais satildeo marcadas pelas quebras prosoacutedicas (terminais ou natildeo-

terminais) e em princiacutepio realizam uma unidade informacional A relaccedilatildeo entre as unidades

de um enunciado eacute de natureza funcional e apenas dentro de uma mesma unidade podem ser

estabelecidas relaccedilotildees de ordem sintaacutetica

Os criteacuterios de individualizaccedilatildeo das unidades aplicados simultaneamente satildeo de

caraacuteter (a) funcional a funccedilatildeo desempenhada pela unidade no padratildeo informacional (b)

entoacional perfil prosoacutedico74

tipo e direccedilatildeo do movimento de F0 velocidade de elocuccedilatildeo e

intensidade presenccedila ou natildeo de foco entoacional e (c) distribucional a posiccedilatildeo da unidade

74

O perfil prosoacutedico eacute identificado com base na fonologia entoacional desenvolvida pelo grupo IPO (Instituut

voor Perceptie Onderzoek em holandecircs) ou Instituto para Pesquisa em Percepccedilatildeo (HART COLLIER COHEN

1990) Satildeo definidas trecircs classes de configuraccedilatildeo root perfix suffix que se combinam em um contorno

prosoacutedico

10448977

19330605

79

opcional em relaccedilatildeo agrave unidade nuclear (o Comentaacuterio) que tem distribuiccedilatildeo livre dentro do

enunciado

Haacute unidades com funccedilatildeo textual que compotildeem e agem diretamente sobre o texto do

enunciado e unidades com funccedilotildees dialoacutegicas tambeacutem chamadas auxiacutelios dialoacutegicos que

satildeo instrumentos para regular o diaacutelogo e a interaccedilatildeo agem sobre a situaccedilatildeo comunicativa

eou o interlocutor

As unidades textuais satildeo o Comentaacuterio que em um padratildeo complexo pode ser

realizado na forma de Comentaacuterios Muacuteltiplos ou Comentaacuterios Ligados o Apecircndice de

Comentaacuterio o Toacutepico o Apecircndice de Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo As

unidades dialoacutegicas satildeo o Incipitaacuterio o Conativo o Faacutetico o Alocutivo o Expressivo e o

Conector Discursivo Haacute outras unidades que natildeo possuem valor informacional e sinalizam

disfluecircncias da fala ou escansatildeo a Unidade de Escansatildeo a Tomada de Tempo e a Unidade

Vazia

A partir de agora apresento a definiccedilatildeo de cada uma destas unidades tornadas

discretas atraveacutes dos criteacuterios mencionados anteriormente funcional entoacional e

distribucional

312 Unidades Informacionais

3121 Comentaacuterio (COM)

A unidade de Comentaacuterio (COM) eacute a unidade nuclear primaacuteria de um padratildeo

informacional e tem a funccedilatildeo de veicular a forccedila ilocucionaacuteria do enunciado Eacute a uacutenica que

pode figurar sozinha no enunciado uma vez que representa a unidade informacional

necessaacuteria e suficiente para a sua realizaccedilatildeo e interpretabilidade

Em termos de propriedades prosoacutedicas esta unidade corresponde ao perfil do tipo raiz

e seu foco varia de acordo com os tipos de ilocuccedilatildeo (recusa asserccedilatildeo direccedilatildeo expressatildeo rito)

e condiccedilotildees contextuais

Quanto ao criteacuterio distribucional o Comentaacuterio tem distribuiccedilatildeo livre e estabelece

restriccedilotildees nas propriedades distribucionais de outras (possiacuteveis) unidades informacionais isto

eacute as demais unidades se organizam em funccedilatildeo dele Esta unidade pode ser segmentada por

Unidades de Escansatildeo

Vejamos os exemplos

80

(33) BRU [360] nũ tem nada que pode ser aproveitado =COM=$ (bpubcv01)

(34) CAR se for mais gente numa situaccedilatildeo pior =TOP= noacutes vamo ter que pensar

=COM=$ (bpubcv02)

O enunciado em (33) eacute do tipo simples porque possui apenas a unidade de

Comentaacuterio suficiente e necessaacuteria Em (34) temos um exemplo de enunciado do tipo

complexo com duas unidades informacionais o Toacutepico e o Comentaacuterio

3122 Toacutepico (TOP)

O Toacutepico (TOP) eacute uma das principais unidades informacionais e tem como funccedilatildeo

delimitar semanticamente o campo de aplicaccedilatildeo da forccedila ilocucionaacuteria Esta unidade

seleciona o domiacutenio de relevacircncia em relaccedilatildeo ao qual o ato de fala deve ser interpretado

Prosodicamente a unidade eacute marcada por um perfil do tipo prefixo e apresenta foco

entoacional agrave direita Assim como o Comentaacuterio a unidade informacional de Toacutepico tambeacutem

tem um foco o que permite distingui-la de outras unidades que antecedem o Comentaacuterio No

portuguecircs foram identificadas quatro formas entoacionais diferentes para o Toacutepico (cf

ROCHA 2012 MITTMAN 2012)

Em termos de distribuiccedilatildeo antecede o Comentaacuterio ainda que natildeo seja adjacente a ele

A unidade tambeacutem pode ser segmentada em Unidades de Escansatildeo

Um Toacutepico pode ser recursivo e tambeacutem pode ser formado por subpadrotildees de

unidades informacionais normalmente do tipo referencial o que se constitui como uma Lista

de Toacutepicos Todos os Toacutepicos de uma lista juntos fornecem um uacutenico domiacutenio de aplicaccedilatildeo

da forccedila do Comentaacuterio e todos eles pertencem ao mesmo domiacutenio ontoloacutegico ou no miacutenimo

eles devem ser semanticamente coerentes

Como exemplos

(35) FLA aiacute o caderno =TOP= eacute um negoacutecio meio atrasado =COM= assim =

PHA=$ (bpubcv01)

(36) FLA o [1]=EMP= o ceagaeme =TPL(1)= o plasma =TPL(2)= e a plaqueta

=TPL(3)= a gente armazena ate o dia seguinte =COM= (bpubcv01)

1681224

34460394

25983393

37703385

81

Em (35) temos um SN que realiza um Toacutepico simples e a ocorrecircncia em (36)

representa uma Lista de Toacutepicos um dos tipos de Toacutepico complexo

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC)

O Apecircndice de Comentaacuterio (APC) integra textualmente o Comentaacuterio e eacute dependente

desta unidade Varia informacionalmente atraveacutes de (a) repeticcedilatildeo repeticcedilatildeo ou eco (parcial

ou natildeo) de uma informaccedilatildeo jaacute conhecida ou uma paraacutefrase de um material locutivo no mesmo

enunciado ou em um enunciado diferente do mesmo falante ou mesmo do interlocutor (b)

preenchedor natildeo apresenta repeticcedilatildeo de um conteuacutedo anterior e se constitui como uma

expressatildeo formulaica que natildeo apresenta quase nenhuma informaccedilatildeo e (c) informaccedilatildeo

retardada o conteuacutedo semacircntico adiciona informaccedilatildeo para fins sociais quer dizer oferece

informaccedilatildeo mais especiacutefica ou alteraccedilotildees que facilitam a compreensatildeo do enunciado para o

interlocutor

Apresenta perfil entoacional do tipo sufixo nivelado ou descendente sem foco Estaacute

distribuiacutedo agrave direita do Comentaacuterio e em alguns casos pode estar separado do Comentaacuterio

por uma unidade de Faacutetico ou Parenteacutetico No entanto nunca pode ser interrompido por um

Parenteacutetico e algumas vezes eacute seguido por um Faacutetico ou Conativo

(37) CAR queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho =COM= e tudo =APC=$

(bfammn05)

(38) CAR [177] cecirc nũ entendeu =COM= cecirc nũ =APC=$ (bfamcv03)

(39) FLA [358] tem que lembrar ela =COM= comprar acetona =APC=$

(bfamdl01)

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT)

O Apecircndice de Toacutepico (APT) integra o texto do Toacutepico e se constitui

informacionalmente por integraccedilotildees lexicais ou alteraccedilotildees e muito raramente por repeticcedilotildees

exclusivamente do material locutoacuterio do Toacutepico

Esta eacute uma unidade de tipo sufixo com perfil que pode ser nivelado descendente ou

mesmo reproduzir a curva de F0 do Toacutepico a que se refere Diferentemente do Toacutepico natildeo

possui foco Distribui-se agrave direita da unidade de Toacutepico e o segue podendo estar intercalado

32391825

15673465

18808156

82

por uma unidade dialoacutegica (Faacutetico ou Alocutivo no PB) Natildeo pode ser interrompido por uma

unidade de Parenteacutetico

(310) BAL um cuidado =TOP= que cecircs tecircm que tomar =APT= lt Bel gt +

=ALL=$ (bfamdl02)

3115 Parenteacutetico (PAR)

A unidade de Parenteacutetico (PAR) expressa uma integraccedilatildeo metalinguiacutestica do

enunciado em alguns casos com funccedilatildeo modalizadora apresentando um ponto de vista

externo agravequele do Comentaacuterio A funccedilatildeo metalinguiacutestica encontra sua relevacircncia em relaccedilatildeo a

todo o enunciado ou pode se referir a uma unidade textual para traacutes ou para frente na maioria

das vezes um Comentaacuterio ou um Toacutepico e mais raramente a outro Parenteacutetico ou uma palavra

especiacutefica dentro de qualquer unidade informacional Informacionalmente cinco tipos de

integraccedilatildeo metalinguiacutestica foram encontrados avaliaccedilatildeo modal simples adiccedilatildeo de informaccedilatildeo

(com avaliaccedilatildeo positiva ou negativa) comentaacuterios sobre a atividade natildeo-linguiacutestica do falante

simultacircneo ao enunciado instruccedilotildees para o interlocutor que diz respeito agrave atividade dialoacutegica

glosa terminoloacutegica glosa locutiva de discurso reportado ou exemplificaccedilatildeo

O perfil prosoacutedico do tipo parecircntese eacute caracterizado por um abaixamento da F0 e

velocidade de execuccedilatildeo mais alta que o resto do enunciado Pode ocorrer em qualquer posiccedilatildeo

no enunciado exceto na inicial (VALE 2010)

(311) BAL [30] porque =DCT= lt se eu for gt empregado =TOP= por exemplo

=PAR= algueacutem vecirc que eu sou muito foda =TOP= lt medo gt de perder

=TOP= lt o posto gt lt deles =APT= es vatildeo [2] =EMP= es vatildeo gt me dizar

=COM= lt neacute gt =PHA=$ (bfamdl02)

Foi identificada ainda no minicorpus do C-ORAL-BRASIL a unidade de Lista de

Parenteacuteticos

(312) LUZ [68] aquele dia a Lilisa tava discutindo com a Deise =COB= ela ja tava

[3]=EMP= jaacute [1]=EMP= a Deise =SCA= jaacute ampf [1]=SCA= tinha falado de

quem que era =PAR= eu achei ate que ia ser do Ronan =COB= mas =DCT=

elas tava falando que nao =COB= falando de um outro ai =COM= nũ sei se eacute

Marco Tuacutelio =PRL= sei laacute quem =PRL= nũ sei quem =PRL=

(bfamdl03)

18285708

71817803

1071023

83

3116 Introdutor locutivo (INT)

O Introdutor Locutivo (INT) sinaliza a suspensatildeo pragmaacutetica do hic et nunc e introduz

uma metailocuccedilatildeo por exemplo um discurso reportado uma exemplificaccedilatildeo e um

pensamento falado um elenco e tambeacutem um parenteacutetico O perfil do tipo introdutor apresenta

alta velocidade de execuccedilatildeo e F0 mais baixa do que a do Comentaacuterio subsequente Sua

posiccedilatildeo eacute anterior ao Comentaacuterio que introduz

(313) FLA [324] como diz vocecirc =INT= natildeo precisa =COM_r=$ (bfamdl01)

322 Unidades Dialoacutegicas

As unidades dialoacutegicas compartilham algumas propriedades que as distinguem das

unidades textuais como por exemplo desenvolver uma funccedilatildeo que natildeo contribui para a

construccedilatildeo do conteuacutedo semacircntico do enunciado e por outro lado contribuir para o

desempenho feliz do ato de fala no contexto comunicativo e podem ocorrer em discurso

reportado Aleacutem disso em sua maioria satildeo realizadas com apenas uma palavra ou expressatildeo

natildeo podem ser escandidas natildeo carregam foco natildeo podem ser modalizadas possuem

restriccedilotildees de seleccedilatildeo lexical e natildeo contribuem para a composicionalidade sintaacutetico-semacircntica

do enunciado

3221 Incipitaacuterio (INP)

O Incipitaacuterio (INP) eacute uma unidade dialoacutegica que marca a abertura do turno dialoacutegico e

regula o fluxo da interaccedilatildeo Ele abre o canal comunicativo e indica um valor de contraste ou

uma oposiccedilatildeo ao enunciado anterior

Apresenta perfil prosoacutedico de auxiacutelio com F0 alta caracterizada por um movimento de

raacutepida subida seguida de descida Distribucionalmente ocorre em iniacutecio de enunciado ou

turno e frequentemente eacute seguido de uma unidade de Faacutetico

(314) bom =INP= ali tambeacutem pode fazer o seguinte o =COM=$ (bpubdl01)

16718361

2256

84

3222 Conativo (CNT)

A unidade de Conativo (CNT) tem a funccedilatildeo de provocar o interlocutor a se engajar na

interaccedilatildeo ou interromper o seu comportamento natildeo-cooperativo O perfil prosoacutedico se

caracteriza por intensidade alta perfil descendente e duraccedilatildeo curta Na maioria das vezes

ocupa posiccedilatildeo inicial ou final e algumas vezes posiccedilatildeo intermediaacuteria Haacute a possibilidade

ainda que pouco frequente de ocorrer mais de uma unidade de CNT no enunciado

(315) ltpera aiacute = CNT= pera pera aiacutegt =CNT= soacute um segundo =CNT= soacute vatildeo

esperar o [1] =SCA= a ampulheta = COB= aiacute lt desnegoccedilar gt = COM=$

(bfamcv04)

3223 Faacutetico (PHA)

A unidade dialoacutegica de Faacutetico (PHA) tem a funccedilatildeo de controlar o canal comunicativo

de modo a assegurar a manutenccedilatildeo de sua abertura Ele estimula o ouvinte a manter a coesatildeo

social necessaacuteria numa troca conversacional ou tenta se certificar de que o enunciado foi

recebido Em posiccedilatildeo final no enunciado serve para marcar o acordo com o interlocutor e

pode ser empregado para pedir uma confirmaccedilatildeo Por uacuteltimo funciona como uma tomada de

tempo para uma melhor programaccedilatildeo do enunciado

Apresenta perfil entoacional nivelado e duraccedilatildeo muito curta Sua posiccedilatildeo no

enunciado eacute livre

(316) eu contei o caso lt pra ele =COM= neacute gt =PHA= (bfammn01)

3224 Alocutivo (ALL)

O Alocutivo (ALL) opera no controle da comunicaccedilatildeo especifica a quem a mensagem

eacute dirigida e manteacutem a atenccedilatildeo do interlocutor desempenhando tambeacutem uma funccedilatildeo de coesatildeo

social Tem duraccedilatildeo curta baixa intensidade e movimento descendente Pode ocorrer em

qualquer posiccedilatildeo dentro do enunciado

(317) lt nũ tem perigo natildeo =COM= socirc gt =ALL= (bpubcv02)

30824478

18365709

10448977

85

3225 Expressivo (EXP)

O Expressivo (EXP) eacute suporte emocional do ato ilocutoacuterio cumprido pelo Comentaacuterio

assinala o compartilhamento de uma identidade de grupo com o interlocutor Apresenta F0

modulada ascendente com aumento da velocidade em relaccedilatildeo agrave meacutedia do enunciado Pode

ocorrer em qualquer posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao comentaacuterio

(318) eacute um [2] =EMP= eacute um pacote laacute com a Oi =COM= uai =EXP= (bpubcv01)

3226 Conector Discursivo (DCT)

O Conector Discursivo (DCT) tem como funccedilatildeo marcar a continuidade do discurso

indicando ao interlocutor que o processo de construccedilatildeo textual vai prosseguir Ocorre sempre

em iniacutecio de enunciado ou de um subpadratildeo de estrofe Eacute uma unidade com duraccedilatildeo longa

perfil nivelado ou modulado baixa velocidade e intensidade alta

O DCT funciona de modo oposto ao Incipitaacuterio Enquanto o uacuteltimo marca

descontinuidade no discurso o primeiro marca a continuidade O INP muitas vezes eacute usado

para tomar o turno de outro falante enquanto o DCT funciona mais internamente ao turno de

um mesmo falante

(319) entatildeo =DCT= dia de sexta e saacutebado ele nũ trabalha =COM=$ (bpubdl01)

323 A perda do isomorfismo

De acordo com Cresti (2000) haacute um princiacutepio de isomorfismo entre enunciado e

ilocuccedilatildeo e entre unidade tonal e unidade informacional Em alguns casos no entanto este

princiacutepio eacute quebrado como nos seguintes (i) quando uma unidade informacional se realizada

em mais de uma unidade entoacional fenocircmeno denominado escansatildeo (ii) quando mais de

uma ilocuccedilatildeo eacute realizada com determinado padratildeo dentro de uma uacutenica entidade linguiacutestica

concluiacuteda e (iii) quando varias ilocuccedilotildees fracas e homogecircneas satildeo realizadas

processualmente em uma situaccedilatildeo pouco acional ao que eacute chamado de Estrofe

3460162

3648

86

3231 Unidade de escansatildeo (SCA)

O fenocircmeno da escansatildeo ocorre apenas em unidades informacionais textuais Estas

unidades podem ser realizadas em mais de uma unidade entoacional Assim a Unidade de

Escansatildeo (SCA) natildeo apresenta funccedilatildeo informacional mas eacute parte de uma unidade

informacional maior A SCA indica disfluecircncias na fala que podem ocorrer por dificuldades

relativas agrave execuccedilatildeo do programa meloacutedico de uma unidade longa ou agrave expressividade da

unidade informacional Natildeo possui foco Uma caracteriacutestica deste fenocircmeno eacute a

composicionalidade sintaacutetica entre as unidades tonais escandidas

(320) com medo =INT= que se ea entrasse dentro de casa =TOP= ea ia matar

=SCA= os filho =SCA= com ea e tudo =COM=$ (bfammn01)

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) se constituem como dois ou mais comentaacuterios

dentro do mesmo enunciado ou seja separados por quebra natildeo-terminal e estruturados em

um padratildeo retoacuterico Estes padrotildees podem ser de tipos variados e ateacute agora foram

identificados as seguintes possibilidades de uma lista aberta elenco reforccedilo

alternativapedido de confirmaccedilatildeo comparaccedilatildeo relaccedilatildeo necessaacuteria chamamento cliacutemax e

consequecircncia

(321) SIL ou eacute vinho bom caro =CMM= ou eacute cerveja =CMM= (bfamdl04)

(322) ocirc Heliana =CMM= o vinho tava bom =CMM= (bfamdl04)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos satildeo contiacuteguos e como propriedades prosoacutedicas apresentam

o formato da unidade tonal eacute do tipo raiz + raiz (+ raiz) formando um padratildeo prosoacutedico e

seus perfil prosoacutedico e nuacutecleo variam de acordo com o tipo ilocucionaacuterio

37093863

37491415

22465298

87

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB)

Uma Estrofe eacute uma entidade linguiacutestica concluiacuteda que natildeo corresponde ao

cumprimento de um ato de fala mas sim a uma atividade de fala geneacuterica As Estrofes satildeo

unidades maiores que desenvolvem duas ou mais ilocuccedilotildees antes da quebra prosoacutedica

percebida como tendo valor terminal Contrariamente aos Comentaacuterios Muacuteltiplos natildeo satildeo

unidades programadas mas uma sequecircncia processual de Comentaacuterios Ligados (COB) nelas

o princiacutepio ilocucionaacuterio se enfraquece em favor de uma dimensatildeo menos pragmaacutetica e mais

textual

Nos Comentaacuterios Muacuteltiplos haacute um programa que requer mais de um Comentaacuterio para

ser realizado no caso das Estrofes agrave medida que ocorre a enunciaccedilatildeo outros Comentaacuterios vatildeo

sendo acrescentados porque o falante os percebe como importantes no momento sem que se

tenha programado anteriormente

Cada Comentaacuterio Ligado (COB) eacute caracterizado por uma forccedila ilocucionaacuteria fraca e

devem ser homogecircneos Aparentemente as estrofes cumprem somente atos com baixa

afetividade (descriccedilatildeo narraccedilatildeo pergunta retoacuterica instruccedilatildeo conselho expressatildeo de estado

psicoloacutegico)

O objetivo primaacuterio da Estrofe parece ser a expressatildeo de um pensamento em

andamento que induz a realizaccedilatildeo de um texto oral O texto da Estrofe eacute organizado como

uma sequecircncia de focos semacircnticos cada um dos quais pode registrar um valor modal

diferente A homogeneidade ilocucionaacuteria dos COB junto com a liberdade na variaccedilatildeo modal

implica que a Estrofe eacute concebida atraveacutes de uma relaccedilatildeo atitudinal uacutenica com o destinataacuterio

Em siacutentese a Estrofe se realiza quando a fala tende para uma dimensatildeo menos

pragmaacutetica e mais semacircntica O texto como conteuacutedo semacircntico se torna mais evidente e o

ato linguiacutestico como operaccedilatildeo pragmaacutetica se enfraquece As estrofes em princiacutepio podem ser

encontradas em todos os tipos de texto mas satildeo muito mais presentes no monoloacutegico e no

contexto puacuteblico Podemos ver portanto a estrofe como a dimensatildeo da acionalidade

enfraquecida em favor de uma elaboraccedilatildeo semacircntico-textual

(323) nos temos vinte-e-cinco funcionaacuterios =COB= dentro de Minas Gerais

=COB=atuando =COB= com a base nossa aqui em [1]=SCA= na capital

=COB= e hoje noacutes tamos =SCA= numa media de ampfature [1]=SCA=

faturamento de um-milhatildeo-e-meio a um-milhatildeo-e-setecentos-mil reais =SCA=

mecircs =COM= (bfammn06)

13926106

88

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL

O C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro eacute um projeto

em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais especificamente no

Laboratoacuterio de Estudos Experimentais e Empiacutericos da Linguagem (LEEL) coordenado pelos

professores Tommaso Raso e Heliana Mello

O corpus foi originalmente estruturado para o estudo da estrutura informacional do

portuguecircs brasileiro e suas ilocuccedilotildees com base nos pressupostos da Teoria do Padratildeo

Informacional (CRESTI 2000) e eacute construiacutedo aos moldes do C-ORAL-ROM (CRESTI

MONEGLIA 2005) projeto que reuacutene os corpora comparaacuteveis das quatro principais liacutenguas

romacircnicas europeacuteias italiano francecircs espanhol e portuguecircs Na arquitetura desses corpora

privilegia-se uma maior variaccedilatildeo diafaacutesica a fim de se obter uma diversidade de ilocuccedilotildees e

de estruturas informacionais da fala

O corpus se constitui de textos de fala espontacircnea isto eacute textos produzidos ao mesmo

tempo em que satildeo executados e sua realizaccedilatildeo natildeo pressupotildee um texto anterior (escrito ou

roteirizado) Estaacute dividido em uma metade formal (em fase de coleta transcriccedilatildeo e revisatildeo) e

em uma metade informal (concluiacuteda e jaacute publicada RASO MELLO 2012) A parte informal

eacute composta de 139 textos (de aproximadamente 1500 palavras) e 208130 palavras em um

total de 21h8min de gravaccedilatildeo organizada em duas seccedilotildees privadofamiliar e puacuteblico Do

total de textos 80 pertencem ao domiacutenio familiar (105 gravaccedilotildees) e 20 ao domiacutenio

puacuteblico (34 gravaccedilotildees) distribuiacutedos igualmente em trecircs diferentes tipologias interacionais 13

de monoacutelogos 13 de diaacutelogos e 13 de conversaccedilotildees

A classificaccedilatildeo da tipologia interacional natildeo estaacute relacionada somente ao nuacutemero de

participantes na cena comunicativa mas agrave dinacircmica da situaccedilatildeo e ao peso relativo de cada

participante na produccedilatildeo linguiacutestica resultante Aleacutem de se privilegiar a diversidade de

situaccedilotildees o corpus eacute balanceado em termos de variaccedilatildeo diastraacutetica As gravaccedilotildees satildeo

realizadas em contexto natural enquanto os falantes realizam atividades

Como nos corpora do C-ORAL-ROM os textos satildeo transcritos no formato

CHILDES-CLAN e procede-se agrave segmentaccedilatildeo da fala em enunciados e unidades tonais e agrave

anotaccedilatildeo da estrutura informacional

Escolheu-se representar de maneira sistemaacutetica uma uacutenica diatopia no caso a do

estado de Minas Gerais e em particular a aacuterea urbana da capital Belo Horizonte Tal escolha

se deve agrave limitada dimensatildeo do corpus que natildeo poderia ser representativo de mais diatopias

Assim pelo menos 50 dos falantes satildeo mineiros Tradicionalmente a fala mineira eacute dividida

89

em pelo menos trecircs grandes aacutereas Sul e Triacircngulo (falar paulista) Norte (falar baiano) e

regiatildeo constituiacuteda pela Zona da Mata Zona Metaluacutergica Vertentes e Belo Horizonte e

arredores (falar mineiro) Estas regiotildees estatildeo representadas mas a grande aacuterea metropolitana

de Belo Horizonte tem a maior representaccedilatildeo

O corpus busca representar a variaccedilatildeo diastraacutetica especialmente importante na fala

brasileira mas tambeacutem nesse caso natildeo se pretende alcanccedilar uma representatividade

sistemaacutetica Haacute entretanto um esforccedilo no sentido de que vaacuterias faixas socioculturais estejam

presentes em todas as ramificaccedilotildees do corpus constam interaccedilotildees com falantes de vaacuterias

diastratias interagindo tanto com falantes da mesma faixa quanto com falantes de faixas

diferentes o que se mostraraacute produtivo para a anaacutelise da modalidade

Nesse aspecto com relaccedilatildeo aos criteacuterios adotados para o C-ORAL-ROM optou-se por

adequar a indicaccedilatildeo das faixas de escolaridade a uma distribuiccedilatildeo que melhor refletisse a

realidade brasileira levando-se em conta as significativas diferenccedilas em relaccedilatildeo agrave realidade

europeia

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I

Para fins desta pesquisa utilizarei uma amostra da parte informal do corpus C-ORAL-

BRASIL Dentre os 139 textos com meacutedia de 1500 palavras cada um num total de 208130

palavras seraacute analisado um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias

interacionais divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash 7

diaacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas

Este minicorpus busca preservar a mesma estrutura da parte informal do C-ORAL-

BRASIL e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica Os seguintes criteacuterios ―de

maacutexima qualidade foram utilizados para a escolha dos 20 textos da amostra (RASO

MELLO 2009 p 32)

(i) Representatividade de ramificaccedilatildeo (monoacutelogos diaacutelogos conversaccedilotildees privados e

puacuteblicos)

(ii) Maior variaccedilatildeo de atividade maior nuacutemero possiacutevel de situaccedilotildees comunicativas

diferentes

90

(iii) Alta qualidade acuacutestica de acordo com a qualidade do espectrograma pouco ou

nenhum ruiacutedo de fundo pouco ou nenhum retorno do sinal claridade da voz

ganho bom caacutelculo confiaacutevel da F0 baixa porcentagem de sobreposiccedilatildeo de vozes

(iv) Diversidade de locutores representatividade equilibrada entre vozes masculinas e

femininas e de faixas etaacuterias Um informante natildeo aparece mais de uma vez a natildeo

ser que seja como interlocutor em atividade monoloacutegica

(v) Natildeo marcaccedilatildeo no que diz respeito agrave diastratia a meacutedia dos informantes natildeo eacute de

diastratia nem muito alta nem muito baixa

(vi) Interesse do conteuacutedo aumenta a atenccedilatildeo de transcritores e segmentadores

aumenta o niacutevel de informatividade pois garante uma fala mais espontacircnea

Abaixo segue a Tabela 31 que descreve as caracteriacutesticas dos textos do minicorpus75

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

Conversaccedilotildees 15 9 010728 9774

bfamcv01 Amigos avaliam um campeonato de futebol organizado por eles e planejam o

proacuteximo

4 0 000700 1467

bfamcv02 Senhoras conversam sobre os preparativos do casamento de uma parente 0 3 000751 1725

bfamcv03 Amigos jogam sinuca 5 0 000650 1390

bfamcv04 Amigos jogam ―Imagem e Accedilatildeo apoacutes explicar as regras do jogo para uma das

participantes

2 2 000730 1766

bpubcv01 Funcionaacuterios de banco de sangue explicam como o sangue coletado eacute

armazenado

1 3 000830 1798

bpubcv02 Reuniatildeo ordinaacuteria em uma sede regional de partido poliacutetico 3 1 002947 1628

Diaacutelogos 6 8 014528 11331

bfamdl01 Colegas de apartamento fazem as compras do mecircs 0 2 001439 2131

bfamdl02 Colegas de faculdade batem papo enquanto organizam o material de gravaccedilatildeo 1 1 000726 1572

bfamdl03 Casal faz uma viagem de carro 1 1 001030 1637

bfamdl04 Domeacutesticas matildee e filha fazem a limpeza da cozinha apoacutes o almoccedilo 0 2 001932 1249

bfamdl05 Corretor de imoacuteveis leva a irmatilde para visitar apartamento 1 1 001128 1736

bpubdl01 Engenheiro e pedreiro trabalham em uma obra 2 0 002608 1568

bfamdl02 Cliente e vendedor interagem durante a compra de calccedilados 1 1 001545 1438

Monoacutelogos 7 10 010540 10213

bfammn01 Senhor narra histoacuteria fantaacutestica sobre uma cobra 2 0 000502 1086

bfammn02 Sobrinha de Carlos Drummond de Andrade conta histoacuteria da famiacutelia ao neto 1 1 000723 1677

bfammn03 Narrativa de ―causos divertidos para a famiacutelia 3 3 000708 1206

75

Fonte Raso e Mittman (2012 p 220-221)

91

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

bfammn04 Senhora conta sua experiecircncia no hospital apoacutes ter dado agrave luz no carro 0 1 000657 1450

bfammn05 Senhora fala sobre a adoccedilatildeo da filha apoacutes a morte de sua filha bioloacutegica 0 2 000952 1580

bfammn06 Pai conta seu percurso profissional agrave sua filha 1 1 001002 1600

bpubmn01 Entrevista de avaliaccedilatildeo sobre aulas de inglecircs na rede puacuteblica de ensino 0 2 001916 1614

Total 28 27 035836 31318

presenccedila de pequenas intervenccedilotildees de um ou mais informantes que estavam fora da situaccedilatildeo

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus

Os nomes dos arquivos satildeo construiacutedos da seguinte forma a primeira letra representa

a liacutengua do corpus (―b) o grupo de trecircs letras seguintes o contexto da interaccedilatildeo (―fam para

contextos privados e ―pub para contextos puacuteblicos) as duas letras finais correspondem agrave

tipologia interacional (―mn para monoacutelogos ―dl para diaacutelogos e ―cv para conversaccedilotildees)

os numerais em sequecircncia correspondem agrave sua identificaccedilatildeo na seccedilatildeo a que pertencem

A tabela aponta que o minicorpus eacute composto de um total de 31318 palavras em 3h

58min e 36s de gravaccedilatildeo totalizando de 55 informantes (28 do sexo masculino e 27 do

feminino) As conversaccedilotildees tecircm 1h 7min e 28s de gravaccedilatildeo com 24 informantes (15 homens

e 9 mulheres) os diaacutelogos 1h 45min e 28s de gravaccedilatildeo com 14 informantes (6 homens e 8

mulheres) e os monoacutelogos 1h 5min e 40s de duraccedilatildeo e 17 informantes (7 homens e 10

mulheres)

Com relaccedilatildeo ao nuacutemero de informantes nos monoacutelogos ainda que haja mais de um

participante na situaccedilatildeo comunicativa apenas um dos participantes eacute o informante central

para a contagem do nuacutemero de palavras do texto Os eventuais interlocutores satildeo os

endereccedilados e contribuem tatildeo-somente com pequenas interferecircncias normalmente para

manter o fluxo discursivo

Os nuacutemeros para o contexto e a tipologia interacional satildeo os seguintes 74 da

amostra pertencem ao contexto privadofamiliar e os arquivos em contexto puacuteblico

representam 26 do total de palavras da amostra Assim como em toda a parte informal do

corpus a divisatildeo do minicorpus eacute balanceada 31 satildeo conversaccedilotildees 36 diaacutelogos e 33

monoacutelogos

Deve-se observar que neste subcorpus a representatividade para o contexto puacuteblico

natildeo eacute suficiente para efeitos de comparaccedilatildeo com as situaccedilotildees familiares O nuacutemero de

92

palavras neste contexto equivale a 13 das palavras das conversaccedilotildees 14 das dos diaacutelogos e

16 das palavras produzidas em monoacutelogos

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices

A busca pelos iacutendices modais no minicorpus foi feita manualmente por trecircs

anotadores Os anotadores duas estudantes de graduaccedilatildeo e uma de poacutes-graduaccedilatildeo cumpriram

duas tarefas a partir do que jaacute havia sido investigado na literatura e discutido sobre o conceito

de modalidade e a tipologia a primeira buscar os iacutendices nos textos e a segunda tarefa a de

classificaacute-los de acordo com os tipos epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Ainda que um objetivo futuro seja a comparaccedilatildeo com dados de modalidade para a fala

espontacircnea do italiano que utilizam os valores aleacutetico epistecircmico e deocircntico decidiu-se natildeo

individualizar a modalidade aleacutetica76

e proceder agrave classificaccedilatildeo apenas dos dois uacuteltimos tipos

A partir da observaccedilatildeo direta dos dados e nas discussotildees do grupo sobre os significados

modais a serem aplicados optou-se por uma abordagem subjetiva da modalidade De fato

alguns estudiosos (von WRIGHT 1951 LYONS 197777

CRESTI 2000 TUCCI 2007)

reconhecem o tipo aleacutetico e consideram-no em sua tipologizaccedilatildeo poreacutem como Portner (2009

p 10) argumenta ―[p]ode ser difiacutecil determinar precisamente quais os usos de modais

supostamente contados como aleacuteticos como em eacute necessariamente verdade que a leitura

aleacutetica tende a se destacar A motivaccedilatildeo para a concepccedilatildeo estrita pode ser a assunccedilatildeo de que a

modalidade aleacutetica eacute o tipo mais baacutesico de modalidade em termos do qual as outras

variedades podem ser definidas mais do que um tipo entre muitos78

o que corrobora nossa

posiccedilatildeo

A cada texto anotado os resultados eram discutidos em reuniatildeo com a coordenadora

do projeto A busca e a classificaccedilatildeo eram checadas e validadas e apesar de natildeo computado

estatisticamente foi apontado alto grau de acordo entre os anotadores Agrave medida que o

processo de codificaccedilatildeo avanccedilava foi decidido que o valor dinacircmico seria incluiacutedo na

tipologia para cobrir os casos de habilidadecapacidade e os de voliccedilatildeointenccedilatildeo

76

No entanto eacute reconhecida a importacircncia da modalidade aleacutetica para o estudo das ontologias por exemplo 77

Segundo Portner (2009 p 122-123) ―A visatildeo de Lyons tambeacutem parece ser de que a modalidade na

linguagem natural eacute simplesmente uma versatildeo extremamente objetiva da modalidade epistecircmica 78

No original ―It can be hard to determine precisely which uses of modals are supposed to count as alethic but

if you put in the word true as in It is necessarily true that the alethic reading tends to stand out The

motivation for the narrow conception may be an assumption that alethic modality is the most basic type of

modality in terms of which the other varieties may be defined rather than just one type among many

(PORTNER 2009 p 10)

93

Para os casos de ambiguidade dos verbos modais como ―poder e ―dever que

permitem leituras tanto epistecircmicas quanto deocircnticas (e para o ―poder tambeacutem dinacircmicas) o

desempate foi feito pela anaacutelise do contexto e ainda pela utilizaccedilatildeo do software WinPitch

(MARTIN 2004) na oitiva uma vez que a anaacutelise perceptual e acuacutestica do sinal sonoro

permitem a desambiguaccedilatildeo do valor semacircntico de uma mesma forma lexical

O WinPitch Corpus eacute uma ferramenta fundamental para a anaacutelise de textos falados

porque permite o alinhamento preciso das informaccedilotildees linguiacutesticas contidas num texto com

seu correspondente sinal acuacutestico Assim permite a identificaccedilatildeo natildeo soacute de siacutelabas como de

enunciados inteiros inclusive dos segmentos de unidades informacionais Aleacutem do

alinhamento transcriccedilatildeo-fala o software possui outros recursos para a anaacutelise acuacutestica como

espectrograma identificaccedilatildeo da frequecircncia fundamental possibilidade de siacutentese da curva

prosoacutedica entre outros A anaacutelise dos arquivos de som se mostra fundamental para

reconhecer classificar e analisar os iacutendices de modalidade quando sugerem mais de um

sentido

Para o tratamento nesta tese foram selecionados apenas os enunciados com um iacutendice

modal expliacutecito e ao final destacamos 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046

enunciados excluiacutedos os enunciados interrompidos Apoacutes a seleccedilatildeo os dados foram

organizados em uma tabela com todas as ocorrecircncias por arquivo de texto Os enunciados

foram codificados da seguinte forma

(a) Metadados informaccedilotildees sobre cada arquivo o nome de cada um a tipologia

interativa (monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees) e os participantes Estes dados

foram colhidos nos cabeccedilalhos de cada arquivo que fornecem os dados estatiacutesticos

sobre as categorias de sexo idade niacutevel escolar ocupaccedilatildeo e papel comunicativo

exercido pelos falantes assim como informaccedilotildees relativas agraves atividades exercidas

durante a gravaccedilatildeo os assuntos e os locais de gravaccedilatildeo Esse cabeccedilalho traz

tambeacutem comentaacuterios que podem conter observaccedilotildees julgadas importantes sobre a

natureza situacional para a compreensatildeo do texto como um todo ou de parte(s)

dele e observaccedilotildees linguiacutesticas natildeo acolhidas nos criteacuterios de transcriccedilatildeo mas

consideradas relevantes em cada caso especiacutefico

94

A estes metadados fornecidos pelo corpus foram acrescentados a tipologia

textual79

o gecircnero textual e o assunto de cada interaccedilatildeo a fim de verificar a

relaccedilatildeo entre as escolhas dos itens modais e os tipos de texto em que estatildeo

inseridos Estas variaacuteveis natildeo satildeo paracircmetros controlados pelo C-ORAL-BRASIL

nem pelo C-ORAL-ROM Abaixo um instantacircneo das informaccedilotildees compiladas e

codificadas sobre os metadados

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados

(b) Lemas e lexemas identificaccedilatildeo do item modal de cada enunciado e suas

respectivas formas A Tabela 33 indica a forma de codificaccedilatildeo

79

A fim de classificar a tipologia textual utilizo as categorias de Dolz e Schneuwly (19962004) divididas em

NARRAR RELATAR EXPOR ARGUMENTAR e DESCREVER

Arquivo Tipologia in teracional Tipo textual Gecircnero Assunto Inform antes S

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento TER F

bfamcv03 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo variadosjogo de sinuca CEL M

bfamcv04 conversaccedilatildeo privada descritivo instruccedilatildeo de jogo Imagem e Accedilatildeo CEL M

bfamdl01 diaacutelogo privado narrativo seleccedilatildeo de alimentos compras do mecircs REN1 F

bfamdl02 diaacutelogo privado narrativodescritivobate-papoinstruccedilatildeo de uso

de equipamento

variados organizaccedilatildeo de

equipamentoBEL F

95

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas

(c) Organizaccedilatildeo informativa unidades informacionais em que se encontram o iacutendice

modal (Comentaacuterio Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Toacutepico Lista

de Toacutepico Parenteacutetico Lista de Parenteacuteticos Introdutor Locutivo Apecircndice de

Comentaacuterio e Apecircndice de Toacutepico)80

Abaixo segue a tabela com as etiquetas

utilizadas

Unidade informacional Etiqueta

Comentaacuterio COM

Comentaacuterios Muacuteltiplos CMM

Comentaacuterios Ligados COB

Toacutepico TOP

Lista de Toacutepicos TPL

Parenteacutetico PAR

Lista de Parenteacuteticos PRL

Introdutor Locutivo INT

Apecircndice APC

Apecircndice de Toacutepico APT

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais

80

Na etiquetagem informacional eacute utilizada a etiqueta CMB para Comentaacuterios Muacuteltiplos Ligados No entanto

para os propoacutesitos de meu trabalho assumo os CMBs como COBs pela opccedilatildeo de agrupar categorias semelhantes

funcionalmente

Lem a Lexem a

achar acho

dever deviam

achar acho

com certeza com certeza

com certeza com certeza

ir vatildeo

mesmo mesmo

querer queria

dar daacute

dever deve

querer querendo

esperar espero

96

(d) Valor modal correspondente epistecircmico deocircntico e dinacircmico e seus respectivos

subvalores modais Para os subvalores a nomenclatura estaacute em inglecircs tendo em

vista que nos projetos de anotaccedilatildeo da modalidade a liacutengua inglesa eacute a liacutengua

francalsquo

O valor epistecircmico o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de

certeza de um conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se

refere agraves noccedilotildees de possibilidade probabilidade e necessidade Por exemplo

O valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo

O valor dinacircmico relaciona-se agrave capacidade habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um

conceptualizador

A Tabela 33 indica os coacutedigos utilizados

Valores Subvalores Coacutedigo

Epistecircmicos epi

Conhecimento knowledge

Crenccedila belief

Possibilidade possibility

Probabilidade probability

Necessidade necessity

Verificaccedilatildeo verification

Deocircnticos deo

Obrigaccedilatildeo obligation

Permissatildeo permission

Proibiccedilatildeo prohibition

Necessidade necessity

Dinacircmicos dyn

Habilidade ability

Voliccedilatildeo volition

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais

97

(e) Part of speech (PoS) do iacutendice modal verbos modalizadores81

verbos epistecircmicos

verbos de compreensatildeo e percepccedilatildeo verbos de atitude proposicional adveacuterbio

modal e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais

construccedilotildees de futuro (futuro perifraacutestico vamos+infinitivo futuro do preteacuterito e

imperfeito com funccedilatildeo de retrospecccedilatildeo) A Tabela 34 indica as etiquetas

PoS Etiqueta

Verbos modalizadores Vm

Verbos epistecircmicos Vepi

Verbos de compreensatildeopercepccedilatildeo Vcomp

Verbos de atitude proposicional Vap

Adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais Adv

Adjetivos e construccedilotildees adjetivas Adj

Expressotildees modais Em

Morfologia

Futuro perifraacutestico futperif

vamos+infinitivo letlsquos

Futuro do preteacuterito futpret

Imperfeito imperf

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos

(f) Composicionalidade se haacute apenas um iacutendice modal em cada enunciado (―s para

simples) ou se haacute dois ou mais iacutendices na mesma unidade informacional e mesmo

enunciado (―me para mesmo enunciado) ou se haacute no mesmo enunciado e em

unidades informacionais diferentes (―meud para mesmo enunciado e unidades

diferentes)

A Tabela 37 traz um instantacircneo da maneira como os dados referentes a enunciados

padratildeo informacional composicionalidade valor modal PoS e subvalores modais estatildeo

organizados e codificados

81

Sob a etiqueta verbos modalizadores incluo natildeo apenas os verbos ―poder ―dever e ―ter que mas todos

aqueles que expressam modalidade epistecircmica deocircntica e dinacircmica mesmo que a rigor nem todos sejam

enquadrados na categoria ―verbos modais

98

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados

En

un

cia

do

UI

Pa

dratilde

oc

om

pV

alo

r m

od

al

Po

SS

ub

va

lor

mo

da

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GIL

[2

] lt

ocirc =

CN

T=

ma

sgt

=

DC

T=

vo

lta

nd

o agrave

qu

estatilde

o =

CO

B=

fa

lan

do

em

[2

]=E

MP

= e

ta

mb

eacutem

fala

nd

o e

m p

ovo

ma

sca

rad

o =

CO

B=

esse

po

vo

do

Ga

laacutetico

s eacute

mu

ito

pa

lha

=

CO

B=

eu

ac

ho

qu

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n

99

Em fase posterior foram acrescentados apenas por um anotador dados referentes aos

componentes utilizados para a anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade como o target a unidade

informacional que conteacutem o target a polaridade e a source of the modality ou holder

(BAKER et al 2010) A metodologia utilizada na anotaccedilatildeo dos dados seraacute explicitada no

capiacutetulo 5 da Parte III deste trabalho uma vez que para tal classifico apenas os iacutendices

lexicais utilizo uma classificaccedilatildeo mais refinada e um software especiacutefico para tarefas de

anotaccedilatildeo o MMAX2 (MULLER STRUBE 2006)

Da tabela ainda consta um campo para observaccedilotildees sobre sutilezas de cada ocorrecircncia

como por exemplo relaccedilotildees entre morfossintaxe e semacircntica estrateacutegias de polidez

envolvidas padrotildees modais etc

As construccedilotildees condicionais foram tabuladas em planilha especiacutefica devido agrave

particularidade dos dados a serem analisados Aleacutem dos metadados lemas e lexemas e valor

modal foram acrescentados o padratildeo de organizaccedilatildeo informativa da construccedilatildeo por exemplo

TOPCOM e a distribuiccedilatildeo da proacutetase e apoacutedose correspondente ao padratildeo de cada

enunciado

Abaixo uma amostra da tabela com as condicionais e suas variaacuteveis

Texto Falante Construccedilatildeo Est Info Estr Sint

bfamcv02 TER [21] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhou =COM=$ TOP-COM Pro-apo

bfamcv02 RUT [23] se nũ morrer antes ltdelesgt =COM=$ COM pro

bfamcv02 JAE [27] ltse for ogt filho e ganhou =TOP= lteacute questatildeo da matildeegt =COM=$ TOP-COM Pro-apo

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais

34 Anaacutelise dos dados

A partir da organizaccedilatildeo dos dados foi realizada a descriccedilatildeo da modalidade no

minicorpus etiquetado informacionalmente do C-ORAL-BRASIL Foram analisadas as

frequecircncias de enunciados modalizados encontrados na amostra bem como a sua distribuiccedilatildeo

por tipologia interacional Aleacutem disso foram descritas a frequecircncia dos iacutendices morfolexicais

inclusive em relaccedilatildeo agrave unidade informacional de que faziam parte e a frequecircncia dos tipos de

modalidade em relaccedilatildeo aos iacutendices e a cada unidade informacional

Em seguida foi feita a anaacutelise qualitativa e quantitativa para cada um dos iacutendices

modais encontrados em termos de ambientes sintaacuteticos relaccedilatildeo entre estrutura sintaacutetica e

estrutura informacional distribuiccedilatildeo nos contextos e tipologias interacionais tipologia textual

100

(narrativo relato expositivo argumentativo descritivo) Aleacutem disso foram analisadas as

variaacuteveis tipo de modalidade e seus subvalores padratildeo de estrutura informacional (qual

unidade informacional conteacutem o marcador modal) e a composicionalidade (enunciado

simples dois iacutendices na mesma unidade informacional dois ou mais iacutendices em unidades

informacionais diferentes mas no mesmo enunciado)

Neste capiacutetulo tratei dos procedimentos metodoloacutegicos que guiaram esta pesquisa Na

primeira seccedilatildeo expus os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato teoria esta corpus-driven

e corpus-based que define o enunciado como sua unidade miacutenima de referecircncia

pragmaticamente analisaacutevel Elenquei e defini as unidades informacionais textuais e

dialoacutegicas e os padrotildees complexos de organizaccedilatildeo informacional a saber as Unidades de

escansatildeo Comentaacuterios Muacuteltiplos Estrofes e Comentaacuterios Ligados Em seguida na segunda

seccedilatildeo apresentei a arquitetura do C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro especificamente em sua variedade mineira Da parte informal deste corpus foi

recortado um minicorpus a partir de criteacuterios de maacutexima qualidade com 20 textos

privadosfamiliares e puacuteblicos que tenta preservar a arquitetura do corpus Descrevo as

variaacuteveis utilizadas para a anaacutelise dos dados (metadados lemas e lexemas estrutura

informacional composicionalidade valores e subvalores modais e PoS) e por uacuteltimo

explicito o tipo de anaacutelise a ser empreendida

No proacuteximo capiacutetulo sigo com a descriccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL com

a apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados e posterior anaacutelise qualitativa de alguns dos iacutendices

lexicais que expressam o fenocircmeno em tela

101

Capiacutetulo 4

A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise

No capiacutetulo anterior apresentei a moldura teoacuterica da Teoria da Liacutengua em Ato o

projeto C-ORAL-BRASIL e os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para a anaacutelise da

modalidade no minicorpus extraiacutedo da parte informal do C-ORAL-BRASIL No presente

capiacutetulo descrevo os resultados para a modalidade na amostra de 20 textos deste minicorpus e

analiso o comportamento de alguns dos iacutendices lexicais que expressam modalidade a saber

verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais do tipo

―se p entatildeo q

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra

O minicorpus de anaacutelise possui um total de 31465 palavras e 5484 enunciados Foi

realizada uma busca manual em todos os enunciados para a extraccedilatildeo dos enunciados que

continham pelo menos um marcador de modalidade dentre os jaacute elencados na seccedilatildeo de

procedimentos metodoloacutegicos Foram encontrados 1197 iacutendices marcadores de modalidade

sendo 109 referentes a construccedilotildees condicionais82

e 1088 referentes aos outros itens modais

distribuiacutedos em 1044 enunciados o que corresponde a 1903 do total de todos os

enunciados da amostra Como mostra o graacutefico abaixo

82

Conforme destacado no capiacutetulo de procedimentos metodoloacutegicos as construccedilotildees condicionais recebem

tratamento diferenciado porque ―assumem uma estrutura textual que difere das estrateacutegias lexicais e possuem

uma distribuiccedilatildeo prosoacutedico-pragmaacutetica peculiar (CORTES MELLO 2013 p 1)

102

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus

Em termos de composicionalidade83

os iacutendices estatildeo assim organizados dos 1088

marcadores 825 aparecem em enunciados com apenas um iacutendice modal 202 estatildeo

combinados (dois ou mais iacutendices) em uma mesma unidade informacional e 61 deles

correspondem a mais de um iacutendice modal em um mesmo enunciado mas em unidades

informacionais diferentes A combinaccedilatildeo de um ou mais iacutendices em uma mesma unidade

informacional exige que seja analisado o valor global do enunciado respeitando a hierarquia

de valores de cada um dos modais

Na amostra haacute uma seacuterie de valores modais combinados (epi-epi epi-deo epi-dyn

epi-epi-epi epi-deo-epi epi-epi-dyn deo-deo- deo-epi dyn-epi etc) sendo que o valor

global predominante nestes enunciados eacute o epistecircmico Vejamos alguns exemplos

(41) SIL [92] ltsinceramentegt que eu nũ sei =COM=$ (bfamdl04)

(42) HEL [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt =COM=$ (bfamcv04)

(43) JOR [79] eles queriam me dar um dinheiro por fora mas =SCA= a gente

tambeacutem tem que ter o nossos momento de descanso =COM=$ (bfammn06)

(44) EVN [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

83

Apresento a composicionalidade dos 1088 marcadores de modalidade excluiacutedas as construccedilotildees condicionais

que como jaacute mencionado estatildeo organizadas de maneira particular

nordm de enunciados

nordm de enunciados modalizados

103

Em (41) temos dois iacutendices modais epistecircmicos ―sinceramente e ―sei com

subvalores de crenccedila e conhecimento e o valor global do enunciado eacute epistecircmico A

ocorrecircncia em (42) traz um enunciado com valor global deocircntico haacute uma combinaccedilatildeo de

dois itens modais deocircnticos com significado de permissatildeo e impedimento O exemplo (43)

combina um iacutendice dinacircmico ―queriam e um deocircntico ―tem que dada a hierarquia o valor

global eacute dinacircmico Por uacuteltimo em (44) a unidade informacional de Comentaacuterio conteacutem dois

marcadores modais um epistecircmico de crenccedila ―acho e uma obrigaccedilatildeo deocircntica ―tem que e

seu valor global eacute epistecircmico

42 Enunciados e tipologia interacional

Na amostra da parte informal do corpus a extraccedilatildeo automaacutetica dos enunciados nos daacute

um resultado de 5484 enunciados simples e complexos distribuiacutedos da seguinte forma 4126

enunciados privados (1404 conversaccedilotildees 1870 diaacutelogos e 852 monoacutelogos) e 1358

enunciados puacuteblicos (635 conversaccedilotildees 581 diaacutelogos e 142 monoacutelogos) A Tabela 42 mostra

os nuacutemeros para a distribuiccedilatildeo de enunciados em termos de tipologia interacional e contexto

familiar ou puacuteblico Destacam-se o nuacutemero total de enunciados por tipologia e contexto e a

frequecircncia deles comparados aos nuacutemeros totais do minicorpus

Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x tipologia e contexto interacional

O graacutefico abaixo daacute a perspectiva da distribuiccedilatildeo

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal

Total

amostra

Freq

()

Privados 174 332 291 797 4126 193

Puacuteblicos 46 111 90 247 1358 181

Total modal 220 443 381 1044 5484 1903

Total amostra 994 2451 2039 5484

Freq () 221 18 186

104

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional

Observa-se que a tipologia interacional tem influecircncia sobre o percentual de

enunciados modalizados comparados aos diaacutelogos e conversaccedilotildees (181 e 186

respectivamente) a tipologia monoloacutegica possui mais enunciados modalizados (222)

Na Tabela 42 estatildeo indicados o nuacutemero de iacutendice modais encontrados em cada

contexto e tipologia interacional e sua frequecircncia em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de iacutendices

modalizados

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional

Abaixo o graacutefico para ilustrar essa distribuiccedilatildeo

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal Freq ()

Privados 207 365 334 906 756

Puacuteblicos 64 130 97 291 243

Total modal 271 495 431 1197

Freq () 226 413 359

105

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional

A grande diferenccedila entre a frequecircncia dos iacutendices em contextos privados e puacuteblico

deve-se ao nuacutemero bastante superior de textos privados (15) em relaccedilatildeo ao puacuteblico (5) Esta

comparaccedilatildeo portanto eacute meramente ilustrativa No que diz respeito agrave tipologia interacional os

iacutendices estatildeo assim distribuiacutedos para os monoacutelogos 226 do total de iacutendices para os

diaacutelogos 413 e para as conversaccedilotildees 359

Assim vemos que ao serem apresentados apenas os nuacutemeros de iacutendices modais

deslocados do nuacutemero de enunciados e de uma base de referecircncia de toda a amostra inverte-

se o peso das tipologias os monoacutelogos apresentam menos modalizaccedilotildees em comparaccedilatildeo com

as trocas dialoacutegicas (diaacutelogos e conversaccedilotildees)

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade

Foram encontradas 1197 ocorrecircncias de itens lexicais e gramaticais que expressam

modalidade divididos em verbos modais verbos epistecircmicos e de atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais futuro

perifraacutestico futuro do preteacuterito imperfeito (com valor de futuro do preteacuterito) e construccedilotildees

condicionais A Tabela 43 abaixo mostra os nuacutemeros para cada estrateacutegia modalizadora

0

200

400

600

800

1000

1200

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Freq ()

106

Estrateacutegias modalizadoras nordm de enunciados

verbos modalizadores 414

verbos epistecircmicos atitude proposicional 223

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 92

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 22

expressotildees modais 30

futuro perifraacutestico 243

vamos+infinitivo (~letlsquos) 18

futuro do preteacuterito 37

imperfeito (~futuro do preteacuterito) 9

construccedilotildees condicionais 109

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras

O nuacutemero de ocorrecircncia de iacutendices lexicais eacute de 783 e corresponde a 654 da

amostra enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 O nuacutemero de

iacutendices gramaticais somados eacute idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A estrateacutegia modalizadora empregada mais frequententemente satildeo os verbos

modalizadores (aqui como jaacute explicitado incluo todos os verbos que expressam modalidade

epistecircmica deocircntica e dinacircmica) correspondendo a 346 do total de ocorrecircncias As duas

outras estrateacutegias mais frequentes satildeo o futuro perifraacutestico (202) e os verbos epistecircmicos e

de atitude proposicional (185) A Figura 44 demonstra a participaccedilatildeo de cada uma das

estrateacutegias utilizadas na amostra

107

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra ()

Importante destacar que na liacutengua portuguesa o futuro do preteacuterito apesar de ser uma

forma do modo indicativo representando um futuro retrospectivo funciona como uma forma

condicional exatamente como em outras liacutenguas romacircnicas como o francecircs e o italiano Dessa

forma as construccedilotildees condicionais (do tipo ―se p entatildeo q) e o futuro do preteacuterito (inclusive

na forma temporal do imperfeito) consistem em 129 do total de enunciados modalizados

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional

Nesta seccedilatildeo apresento a distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade em relaccedilatildeo agrave

articulaccedilatildeo informacional do enunciado

Segundo Tucci (2007) apenas algumas unidades podem conter um iacutendice modal o

Comentaacuterio o Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo No minicorpus em anaacutelise aleacutem

destas unidades informacionais centrais jaacute apontadas nos dados do italiano ainda aparecem

como modalizados as unidade de Lista de Toacutepicos Lista de Parenteacuteticos Comentaacuterios

Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados Destaco que apesar de termos quatro ocorrecircncias de

iacutendices na unidade de Apecircndice de Comentaacuterio e uma na de Apecircndice de Toacutepico os nuacutemeros

foram computados na unidade imediatamente anterior que integra na medida em que se

constituem como ecos ou informaccedilatildeo atrasada de itens contidos no Comentaacuterio ou Toacutepico A

Tabela 44 a seguir mostra a frequecircncia relativa das unidades informacionais centrais na

amostra

estrateacutegias modalizadorasverbos modais

verbos epistecircmicos atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais

adjetivos e construccedilotildees adjetivas

futuro perifraacutestico

vamos+infinitivo (~letrsquos)

108

Unidades textuais Amostra iacutendices modais

Comentaacuterio 5484 1027 187

Toacutepico 503 22 43

Parenteacutetico 124 17 137

Introdutor Locutivo 223 22 103

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra84

Do total de 1088 ocorrecircncias de iacutendices modais 1027 delas se realizam em unidade

de Comentaacuterio seja o Comentaacuterio-ele mesmo (820 ocorrecircncias) ou unidades de Comentaacuterio

Muacuteltiplo (94 ocorrecircncias) Comentaacuterios Ligados (109 ocorrecircncias) As trecircs outras unidades

que carregam o marcador modal mdash Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo mdash participam de

maneira semelhante na caracterizaccedilatildeo da modalidade na amostra em nuacutemeros absolutos com

22 17 e 22 ocorrecircncias respectivamente Os graacuteficos em 45 e 46 apontam o percentual

absoluto e relativo de unidades modalizadas respectivamente

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices modalizados

84

A tabela foi montada a partir da base IPIC plataforma de busca que fornece os dados comparativos do C-

ORAL-ROM italiano e seu minicorpus e o minicorpus (parte informal) do C-ORAL-BRASIL em relaccedilatildeo a

dados gerais tipos interacionais contextos comunicativos e unidades informacionais Disponiacutevel em

httplablitaditunifiitipic Uacuteltimo acesso em 16 mar 2014 Trago apenas os nuacutemeros que me interessam nesta

anaacutelise Para fins de anaacutelise nos nuacutemeros para Comentaacuterio estatildeo incluiacutedos enunciados e estrofes uma vez que

os nuacutemeros da unidade COM contecircm os CMMs e os COBs Computo igualmente para o Toacutepico e o Parenteacutetico

os nuacutemeros da Lista de Toacutepicos (3) e Lista de Parenteacuteticos (3) respectivamente

94

2 22

Frequecircncia absoluta - Unidade informacionais

COM TOP PAR INT

109

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus

Comparados os dois graacuteficos notamos que o Comentaacuterio tanto em termos absolutos

quanto em termos relativos eacute a unidade mais frequentemente modalizada As outras

unidades em nuacutemeros absolutos satildeo modalizadas em meacutedia em 2 dos enunciados jaacute em

termos relativos o quadro se modifica o Parenteacutetico figura como a segunda unidade mais

modalizada (137) seguida do Introdutor Locutivo (103) e em frequecircncia bem menor do

Toacutepico (43)

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais

Trato agora da distribuiccedilatildeo dos valores modais (epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos)

em relaccedilatildeo ao nuacutemero de enunciados agrave estrutura informacional e agrave ocorrecircncia das estrateacutegias

modalizadoras A distribuiccedilatildeo dos valores modais na nossa amostra eacute a seguinte

tipo de modalidade nordm de enunciados

epistecircmica 904

deocircntica 190

dinacircmica 103

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo

5484

503 124 223

1028

2217 23187 43 137 103

Frequecircncia relativa - Unidades informacionais

Minicorpus iacutendices modais

110

De um total de 1197 iacutendices que expressam a modalidade o epistecircmico eacute o valor

modal mais amplamente utilizado em 766 das ocorrecircncias As modalidades deocircntica e

dinacircmica satildeo realizadas em percentual bem menor com 149 e 84 das ocorrecircncias Como

mostra a figura a seguir

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais ()

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical

No que diz respeito agrave frequecircncia dos valores modais por iacutendice lexical temos

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

verbos epistecircmicos 210 0 0

verbos de atitude proposicional 26 0 0

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 94 0 0

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 19 1 0

expressotildees modais 28 1 1

futuro perifraacutestico 244 0 0

vamos + infinitivo (~ construccedilatildeo let) 0 0 17

futuro do preteacuterito 37 0 0

imperfeito 9 0 0

condicionais 109 0 0

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade

76

16

8

tipos de modalidade

epistecircmica deocircntica dinacircmica

111

O nuacutemero de iacutendices lexicais eacute de 781 e corresponde a 657 de todos os iacutendices

enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 dos modais O nuacutemero de

itens gramaticais modais eacute praticamente idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A tabela indica que independentemente do valor satildeo os verbos modalizadores a

estrateacutegia preferencial para a expressatildeo da modalidade num percentual correspondente a

335 do total de iacutendices com destaque para o tipo deocircntico em que esta estrateacutegia

predomina 469 do uso de verbos modais correspondem a este valor 319 ao valor

epistecircmico e 212 ao dinacircmico

A modalidade epistecircmica eacute a mais utilizada como jaacute visto e estaacute associada a todas as

estrateacutegias modalizadoras Mello e colaboradores (2013) em anaacutelise quantitativa da

distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro

construiacuteram um graacutefico em que quanto mais vetores estivessem associados a um determinado

noacute mais representativo seria este noacute em relaccedilatildeo ao paracircmetro analisado no caso a relaccedilatildeo

entre a tipologia modal e os lemas modais Desta forma demonstraram a tendecircncia para o

uso no portuguecircs brasileiro do tipo epistecircmico e apontaram que este valor tem uma taxa de

associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que os tipos deocircntico e

dinacircmico

Os valores deocircntico e dinacircmico satildeo realizados predominantemente pelos verbos

modalizadores com a ocorrecircncia de uma expressatildeo modal com valor deocircntico e uma para o

valor dinacircmico Construccedilotildees do tipo ―vamos+Vinf (tambeacutem chamada de construccedilatildeo let ou

construccedilotildees hortativas) com 17 ocorrecircncias representam o futuro como voliccedilatildeointenccedilatildeo

subvalores associados ao valor dinacircmico

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais

Nesta seccedilatildeo apresento os resultados para a frequecircncia do valor modal em relaccedilatildeo agraves

unidades informacionais Jaacute deixamos claro que o escopo da modalidade natildeo eacute o enunciado

mas a unidade informacional Em um mesmo enunciado pode ocorrer mais de um elemento

veiculador de modalidade e a modalidade soacute se estende ao enunciado inteiro se ele for do

tipo simples quer dizer soacute composto pela unidade de Comentaacuterio

A Tabela 47 traz os nuacutemeros para os valores modais nas unidades informacionais de

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo

112

Unidades informacionais epi deo dyn

COM 746 185 96

TOP 19 1 2

PAR 15 1 1

INT 16 3 3

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais

As unidades informacionais tecircm comportamento diverso e natildeo-uniforme no que diz

respeito agrave realizaccedilatildeo do valor modal Para o Comentaacuterio natildeo haacute restriccedilatildeo quanto ao valor

modal a unidade assume significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos O Toacutepico ao

contraacuterio realiza principalmente o tipo epistecircmico (863) e na amostra assumiu o valor

dinacircmico em duas ocorrecircncias e em uma ocorrecircncia do tipo deocircntico correspondente ao item

modal contido na unidade de Apecircndice de Toacutepico que a integra A unidade de Parenteacutetico tem

comportamento semelhante realiza em sua maioria significados epistecircmicos (882) e

assume em apenas uma ocorrecircncia o valor deocircntico e o dinacircmico Quanto ao Introdutor

Locutivo parece apresentar da mesma forma que o Comentaacuterio a possibilidade de maior

realizaccedilatildeo de todos os significados modais (739 para os epistecircmicos e 13 para os

deocircnticos e dinacircmicos) Abaixo o graacutefico representa a distribuiccedilatildeo absoluta das unidades

informacionais relativo a cada valor modal

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal

0

200

400

600

800

1000

1200

epi deo dyn total

INT

PAR

TOP

COM

113

Abaixo na Figura 49 a distribuiccedilatildeo relativa das unidades no que diz respeito a cada

valor modal com base no nuacutemero total de ocorrecircncias

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal

Segundo Tucci (2007 p 270) em anaacutelise dos dados da modalidade para o italiano o

fato de as unidades de Comentaacuterio e Introdutor Locutivo poderem realizar todos os valores

modais sem qualquer restriccedilatildeo natildeo eacute surpreendente O Comentaacuterio representa a unidade

suficiente e necessaacuteria para a interpretabilidade de um enunciado e da mesma forma o

Introdutor Locutivo que introduz um discurso reportado um elenco uma comparaccedilatildeo uma

exemplificaccedilatildeo (no portuguecircs brasileiro introduz uma opiniatildeo ou consideraccedilatildeo) assinalando

a modalidade e suspendendo a operaccedilatildeo ilocutiva

Sobre o Toacutepico e o Parenteacutetico Tucci (2007 p 271-273) faz consideraccedilotildees sobre as

duas unidades no que diz respeito agrave realizaccedilatildeo majoritariamente das modalidades epistecircmica e

aleacutetica e agrave restriccedilatildeo do uso do tipo deocircntico De acordo com a autora esta restriccedilatildeo estaacute

intimamente associada agrave sua funccedilatildeo informativa

Nas proacuteximas seccedilotildees passo a analisar os dados para alguns dos iacutendices lexicais

marcadores de modalidade

738 863 882739

71 45 59

13

92 9 59 13

COM TOP PAR INT

unidades informacionais x valor modal

epi deo dyn

114

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade

Os significados modais no portuguecircs brasileiro como jaacute apontado podem ser

expressos por vaacuterios meios lexicais morfoloacutegicos e sintaacuteticos Esta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise

de quatro categorias lexicais ndash verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios modais ndash

e uma categoria gramatical ndash as construccedilotildees condicionais

451 Os verbos modalizadores

A grande maioria dos estudos sobre a categoria da modalidade se dedica agrave anaacutelise dos

verbos modais auxiliares ou semi-auxiliares como os de Papafragou (1998 2000) Cornillie

(2005 2007) van der Auwera and Plungian (1998) Bybee et al (1994) Almeida (2010) para

nomear apenas uns poucos Para a liacutengua portuguesa destaco os trabalhos de Oliveira (2003)

Gonccedilalves (2004) Galvatildeo (2000) Gonccedilalves e Galvatildeo (2001) Salomatildeo (2008)

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores

Como apontado na seccedilatildeo 441 os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial

utilizada para a expressatildeo da modalidade Relembrando ilustro com um excerto da Tabela

46

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

Foram identificados na amostra portanto 401 verbos modalizadores isto eacute todos os

verbos modais auxiliares semimodais e verbos plenos que expressam modalidade Abaixo

elenco todos os lemas encontrados e suas respectivas ocorrecircncias

115

verbos

modalizadores ocorrecircncias

adiantar 3 08

aguentar 2 05

conseguir 11 27

dar 30 75

dever 31 77

esperar 3 08

gostar 1 03

parecer 10 24

poder 132 329

precisar 17 42

querer 65 162

ter que 93 232

valer 3 08

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores

Desta lista observa-se a grande ocorrecircncia de verbos que figuram em listas de vaacuterias

liacutenguas como ―poder ―dever ―ter que ―precisar ―querer e ―parecer No entanto haacute

formas outras que normalmente natildeo satildeo consideradas modais canocircnicos como os verbos

―dar ―adiantar ―valer e ―aguentar que parecem ser usos especializados do portuguecircs

brasileiro85

O graacutefico abaixo mostra a distribuiccedilatildeo dos itens

85

Restrinjo-me agrave variante brasileira do portuguecircs uma vez que natildeo tenho dados suficientes para fazer

afirmaccedilotildees sobre as outras variantes seja a europeia ou as africanas

116

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores

A seguir apresento alguns exemplos de verbos que por um vieacutes metafoacuterico permitem

a leitura como marcador modal

(41) Adiantar

(a) [217]aiacute natildeo adianta =CMM= nũ pode desmanchar =CMM=$ (bpubdl01)

(42) Conseguir

(b) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(c) KAT [32] conseguiu marcar =CMM= natildeo =CMM= neacute =CMM=$

(43) Dar (para)

(d) REN [266] daacute pa fechar o jogo =COM=$

(e) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(f) [168] dois filho =TOP_r= daacute pa rir e chorar =COM_r=$

(44) Esperar

(g) entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros times que

jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $ (bfamcv01)

(h) REN [518] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

11 3 7 8

1 02

33

4

16

23

1

Frequecircncia dos verbos modalizadores

adiantar aguentar conseguir dar dever

esperar gostar parecer poder precisar

querer ter que valer

117

(45) Parecer

(i) [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$ (bpubdl01)

(46) Valer

(j) FLA [444] natildeo vale mais chorar por ele=COM=$

Destaco na amostra os nuacutemeros para as ocorrecircncias dos principais verbos que dizem

respeito agraves modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica mdash ―poder ―dever ―ter que

―querer e ―conseguir

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade

Observamos que o verbo ―poder eacute mais usado que o verbo ―dever como estrateacutegia

de modalidade com 132 ocorrecircncias comparadas a 31 ocorrecircncias Necessaacuterio salientar que o

uso de ―ter que (93 ocorrecircncias 2 em sentido epistecircmico e 91 em sentido deocircntico) no PB

como veiculador de modalidade deocircntica indica que o sentido de obrigaccedilatildeo estaacute quase

totalmente vinculado a ele O verbo ―querer assume valor dinacircmico de voliccedilatildeo e o

―conseguir indica habilidadecapacidade dinacircmica em 9 casos e possibilidade epistecircmica em

2

Na Tabela 49 os nuacutemeros de ocorrecircncias de cada verbo e a frequecircncia relativa aos

verbos modalizadores e aos valores modais totais

poder (can)dever (must

should)ter que (have

to)querer

(wishwant)conseguir

(be able to)

epi 52 29 2 0 2

deo 78 2 91 0 0

dyn 2 0 0 65 9

0102030405060708090

100

Principais verbos modais

118

Verbos modais epi deo dyn

poder (can) 52 78 2

dever (must should) 29 2 0

ter que (have to) 2 94 0

querer (wishwant) 0 0 65

conseguir (be able to) 2 0 9

total 85 174 76

verbos modalizadores 205 421 184

valor modal 94 915 737

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores

Observa-se que a partir do caacutelculo da porcentagem para cada um dos valores modais

tomando em consideraccedilatildeo todos os enunciados estes verbos em destaque assumem o valor

deocircntico (915) e dinacircmico (737) contra 94 de epistecircmicos Em relaccedilatildeo aos verbos

modalizadores os deocircnticos continuam a predominar (421) seguido em nuacutemeros proacuteximos

dos epistecircmicos (205) e dos dinacircmicos (184) Conforme o graacutefico em 412

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores

A baixa ocorrecircncia de ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca e a sua maior ocorrecircncia com o valor epistecircmico indica que este verbo

conforme Mello et al (2010 p 119)

020406080

100120140160180

epi

deo

dyn

119

[d]e tiacutepico modalizador deocircntico (por conter a noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo associada agrave

diacutevida) o verbo passou a frequente modalizador epistecircmico veiculando menos a

noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo do que a de possibilidade ou a de probabilidade A noccedilatildeo de

obrigaccedilatildeo aparece fracamente na semacircntica do verbo porque a avaliaccedilatildeo de

probabilidade (epistecircmico) deriva de uma avaliaccedilatildeo baseada na necessidade

(deocircntica neste caso) das relaccedilotildees entre as coisas Eacute notaacutevel a ocorrecircncia dessa nova

acepccedilatildeo (epistecircmica) mais frequente que a acepccedilatildeo de raiz (deocircntica)

O espaccedilo deixado pelo verbo ―dever em usos de obrigaccedilatildeo deocircntica tem sido ocupado

pelo semimodal ―ter que como confirmam os nuacutemeros

Em termos de distribuiccedilatildeo dos verbos nas unidades informacionais como estrateacutegia

mais produtiva podem ocupar qualquer uma das UIs modalizaacuteveis com destaque mais uma

vez para o grande nuacutemero de ocorrecircncias na unidade de Comentaacuterio (315) o que corresponde

a 786 de todas as ocorrecircncias Se ao Comentaacuterio acrescentamos as ocorrecircncias para APC

CMM e COB este nuacutemero sobe para 390 973 do total de ocorrecircncias da amostra Eacute

importante notar que todos os significados epistecircmicos satildeo realizados nesta unidade Nas

unidades de Toacutepico Apecircndice de Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo temos a

realizaccedilatildeo de valores deocircnticos (tanto permissatildeo quanto obrigaccedilatildeo) e dinacircmicos (voliccedilatildeo)

452 Os verbos epistecircmicos

Os verbos de caraacuteter epistecircmico ou verbos de crenccedila funcionam segundo Venier

(1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) como ―sinais para manifestar no ouvinte o grau de

confiabilidade conferido pelo falante agrave proposiccedilatildeo e para manter uma funccedilatildeo sinalizadora

tambeacutem quando o enunciado que a conteacutem vem reportado86

Aleacutem disso desenvolvem

sentidos atitudinais e interacionais podem estar configurados sintaticamente de variadas

maneiras permitindo diferentes complementos a proacutepria omissatildeo de complemento e

informacionalmente a parentetizaccedilatildeo

Vejamos ocorrecircncias do Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA 2006) com o

verbo de crenccedila ―considerar a fim de apontar nuances de com conceptualizaccedilatildeo no uso deste

tipo de verbo87

86

Traduccedilatildeo minha para ―segnali di manifestare alllsquoascoltatore il grado di attendibilitagrave assegnato dal parlante

alla proposizione e di mantenete uma funzione segnaletica anche quando llsquoenunciato che li contiene viene

riportato (VENIER 1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) 87

Os exemplos foram coletados do Corpus do Portuguecircs esse eacute um corpus de referecircncia da liacutengua portuguesa

projeto desenvolvido pelos professores Mark Davies (BYU) e Michael J Ferreira (Georgetown University) com

mais 45000000 de palavras e um total de 57000 textos do seacutec XIV ao seacutec XX Esse corpus permite o

cruzamento de dados e distribuiccedilatildeo de palavras frases e construccedilotildees por registro (oral ficccedilatildeo jornaliacutestico e

120

(47) os direitos com facilidade ou tem ciuacuteme Joatildeo Ubaldo - Realmente natildeo gostei de

O Sorriso do Lagarto mas gostei da adaptaccedilatildeo de Sargento Getuacutelio para o cinema

Natildeo tenho ciuacuteme algum Trata-se mesmo de outra obra a obra do cineasta

iBEsp_242 15 de outubro de 1997 Nahas se considera ldquoum bode expiatoacuteriordquo

Estado - O sr esperava esta sentenccedila da Justiccedila Naji Nahas - Natildeo esperava de jeito

nenhum Eacute mais uma violecircncia uma discriminaccedilatildeo odiosa entre as muitas que tenho

sido viacutetima desde 89 Estado - Se o sr eacute a viacutetima quem (CDP19OrBrIntrvISP)

(48) Nahas - Confio na Justiccedila e sei que esta sentenccedila estaacute sujeita a revisatildeo

Terminando meu trabalho eu volto porque quero me apresentar para a apelaccedilao

aproveitando o momento para esclarecer todo esse assunto e mostrar definitivamente

quem satildeo os culpados Sou a viacutetima Estado - O sr se considera um bode

expiatoacuterio Nahas - Sou E o mais sofrido do BrasiliBEsp_244 18 de outubro de

1997 Manoel de Barros faz do absurdo sensatez Estado - Como surgiu seu amor pelas

coisas sem importacircncia Manoel de Barros - Quando eu era jovem fiz uma longa

viagem pela Boliacutevia (CDP19OrBrIntrvISP)

Em (47) confirmado por (48) tem-se um caso de discurso reportado e mostra-se a

separaccedilatildeo entre ―quem enuncia e nos termos tradicionais explicitados anteriormente ―o

falante que se compromete com a verdade da proposiccedilatildeo enunciada Em uacuteltima

consequecircncia haacute uma separaccedilatildeo a meu ver entre enunciado e proposiccedilatildeo enunciada

Observemos outro exemplo

(49) lugar (exceto Belo Horizonte) por mais de 2 anos Sebastiatildeo Nem no Rio de

Janeiro Prof Eduardo No Rio eu peguei uma vez mas minha mulher me gozou

tanto Comecei a puxar o ldquosrdquo igual ao pessoal de Juiz de Fora

que se considera carioca Dizem aqui em Belo Horizonte que o pessoal de laacute daacute o

endereccedilo tipo Avenida Brasil 9 milhotildees 582 mil etc (risos) Foi na eacutepoca em que

servi o Exeacutercito no Rio em Magalhatildees Bastos subuacuterbio Sebastiatildeo Natildeo entendi Com

17 anos o senhor

A partir de (49) temos duas possiacuteveis interpretaccedilotildees

acadecircmico) dialeto (portuguecircs brasileiro vs europeu no seacuteculo XX) periacuteodo histoacuterico (seacuteculos XIV ao XX)

Para acessaacute-lo httpwwwcorpusdoportuguesorg

121

(49a) Os juizforanos efetivamente dizem que satildeo cariocas (e aiacute se constituiria como

(xi) discurso reportado)

(49b) Os juizforanos se comportaram de uma determinada forma ou fizeram alguma

consideraccedilatildeo sobre serem cariocas que levam o falante a crer que o pessoal de Juiz de

Fora ―se considera carioca (inclusive enfatizado pelo enunciado seguinte em que

temos a presenccedila do evidencial ―Dizem que)

Dessa forma o que se pode depreender dos exemplos acima quando empregada a

terceira pessoa do discurso eacute que um dos usos dessas construccedilotildees eacute uma avaliaccedilatildeo do falante

sobre a avaliaccedilatildeo (ou perspectiva ou ainda ponto de vista) de uma pessoa outra (no papel

sintaacutetico de sujeito da claacuteusula principal)

Segundo Nuyts (2012) esta seria uma diferenccedila ente subjetividade e

intersubjetividade Uma avaliaccedilatildeo eacute tomada como subjetiva quando eacute responsabilidade

exclusiva do avaliador enquanto a intersubjetiva eacute compartilhada entre o avaliador e um

grupo de pessoas O autor sugere que satildeo principalmente os verbos de predicados mentais que

devem ser identificados com a subjetividade (NUYTS 2001 p 122-128) e pleiteia que a

subjetividade seja tratada como uma categoria diferenciada da modalidade epistecircmica

(NUYTS 2012) como por exemplo em (410) e (411)

(410) [94] achei aquele lugar incriacutevel =COM=$ (bfamcv01)

(411) [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

Na interpretaccedilatildeo de Nuyts exemplos como o apresentado em (410) parecem natildeo

carregar um sentido epistecircmico considerando que o verbo ―achar neste caso eacute um marcador

puramente de subjetividade jaacute que indica uma avaliaccedilatildeo esteacutetica ou moral e natildeo uma Em

(411) ao contraacuterio o verbo estaria empregado como um marcador epistecircmico com a

introduccedilatildeo de uma opiniatildeo baseada em evidecircncia ou na estimativa das possibilidades de

alguma coisa ser o caso

Sob outra perspectiva Almeida e Ferrari (2012) em artigo sobre a diferenccedila entre os

complementos de construccedilotildees epistecircmicas no inglecircs do tipo [X thinks that Y] e [X thinks Y]

levantam a questatildeo de qual seria a diferenccedila pragmaacutetica entre estas duas construccedilotildees baseado

no Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia (GOLDBERG 1995) As autoras a partir da anaacutelise de 382

construccedilotildees epistecircmicas de complementaccedilatildeo coletadas nas versotildees impressa e eletrocircnica da

revista Speak Up afirmam que estas construccedilotildees satildeo ―operadores de subjetividade que

122

apresentam o objeto de conceptualizaccedilatildeo (a claacuteusula complemento) tanto direta como

indiretamente desde a perspectiva do falante88

(ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

Ainda sustentam que as construccedilotildees sinalizam intersubjetividade uma vez que se referem

implicitamente agrave perspectiva do falante em relaccedilatildeo a outras perspectivas apresentadas em

discurso anterior as natildeo-completivas indicam conjunccedilatildeo cognitiva e as completivas

disjunccedilatildeo cognitiva entre a perspectiva do falante e outras perspectivas disponiacuteveis no fluxo

discursivo (ALMEIDA FERRARI 2012 p 124) Esta posiccedilatildeo que leva em conta uma

abordagem discursiva contraria outras propostas discutidas na literatura sobre o tema como a

jaacute mencionada de Nuyts (2012) e a de Verhagen (2005) justamente porque pleiteia que a

intersubjetividade vai envolver uma cena mais ampla que inclui a relaccedilatildeo entre falante e

ouvinte a claacuteusula complemento e as perspectivas anteriores disponiacuteveis no discurso

De fato os exemplos da amostra apontam para uma diferenccedila na qualidade da

avaliaccedilatildeo em construccedilotildees completivas e natildeo-completivas No entanto natildeo temos dados

suficientes para uma generalizaccedilatildeo que corrobore uma ou outra posiccedilatildeo apresentada Para fins

da pesquisa abarco crenccedila e opiniatildeo sob o guarda-chuva de crenccedila tomando uma opiniatildeo

como o resultado de uma determinada crenccedila

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos

Os types e tokens correlatos para os verbos epistecircmicos foram classificados

quantitativamente de acordo com a tipologia interacional (puacuteblico versus privado monoacutelogos

versus diaacutelogos versus conversaccedilotildees) e a tipologia textual (narrativo relato expositivo

argumentativo descritivo)

Aleacutem disso foi utilizado um nuacutemero de variaacuteveis na tabulaccedilatildeo dos dados que levam

em conta o padratildeo de estrutura informacional (qual unidade informacional conteacutem o

marcador modal) composicionalidade (enunciado simples dois iacutendices no mesmo enunciado

dois ou mais iacutendices em enunciados diferentes referecircncia contextual) tipo de modalidade e

seus subvalores o padratildeo sintaacutetico a projeccedilatildeo pragmaacutetica dos iacutendices e o conceptualizador

Os tipos encontrados foram acharlsquo acreditarlsquo crerlsquo imaginarlsquo pensarlsquo e saberlsquo

como exemplificado abaixo

88

No original ―[hellip] subjectivity operators which present the object of conceptualization (complement clause)

either direct or indirectly from the speakerlsquos perspective (ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

123

(412) Achar

(k) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do Galaacuteticos eacute

muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar =COM= e lttalgt

=UNC=$ (bfamcv01)

(l) [44] aiacute =PHA= passou um pouquim =COB= o filho =i-COB= achando que tava

errado aquele negoacutecio =PAR= voltou laacute outra vez =COM=$ (bfammn03)

(m) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando =COM=$

(bfamdl04)

(413) Acreditar

(n) [46] tipo =INT= eu [1]=EMP= eu acredito =i-COM= tipo =PAR= cem =SCA=

por cento =SCA= nisso =COM=$ (bfamcv01)

(o) [87] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfamdl01)

(p) [49] e eu acredito que depois que eu terminar o EDUCONLE =COB= eu acho

que aiacute eu vou tar mais madura ainda =COB= acho que mais preparada =COM=$

(bpubmn01)

(414) Crer

(q) ENC [208] eu creio que sim =COM (bfamdl05)

(415) Imaginar

(r) [171] natildeo =PHA= trinta reais =TOP= aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1]=EMP= eu fico

imaginando que elsquo fica pensando assim =INT= Nossa Sio =EXP_r= agraves vezes laacute em

casa taacute precisando de fazer uma compra e tudo =COM_r= neacute =PHA=$

(bpubmn01)

(416) Pensar

(s) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

(417) Saber

(t) TER [69] sei o tanto natildeo =COM=$ (bfamcv02)

(u) BAL [45] cecirc sabe que aquelas caxinhas ali =TOP= ela [1]=EMP= eu descobri

ontem =COB=$ (bfamdl02)

124

(v) ANE [19] rua Joaquim Nabuco =TOP= socirc sabe me informar =COM=$

(bfamdl03)

Como mencionado anteriormente o nuacutemero total de tokens de verbos epistecircmicos

encontrado no subcorpus foi de 210 distribuiacutedos em 6 types como a seguir 105 para acharlsquo

(50) 3 para acreditarlsquo 1 para crerlsquo 1 para imaginarlsquo 2 para pensarlsquo e 98 para saberlsquo

(47) A Figura 413 mostra esta distribuiccedilatildeo

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra

Analisando os nuacutemeros para tipologia interacional os resultados satildeo 60 exemplares

para monoacutelogos 21 em monoacutelogos puacuteblicos e 39 em privados 99 exemplares para diaacutelogos

16 para puacuteblicos versus 83 para diaacutelogos privados e 51 exemplares para conversaccedilotildees 14 em

puacuteblicas versus 37 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os dados na Tabela 410

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 39 21 60

Diaacutelogos 83 16 99

Conversaccedilotildees 37 14 51

TOTAL 159 (757) 32 (243) 210

Tabela 410 Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional

50

11

0

1

47

verbos epistecircmicos - ocorrecircncias

achar acreditar crer imaginar pensar saber

125

Esta tabela aponta para uma alta taxa de tokens em interaccedilotildees dialoacutegicas

principalmente em diaacutelogos privados Isso se deve a caracteriacutesticas especiacuteficas desses tipos de

texto e agrave relaccedilatildeo dos participantes na situaccedilatildeo comunicativa Se levarmos em conta a tipologia

textual nota-se que 319 destes verbos satildeo usados em textos argumentativos ou expositivos

o que coincide com a sua proacutepria definiccedilatildeo sinalizar o comprometimento do conceptualizador

em relaccedilatildeo ao que se enuncia As outras ocorrecircncias distribuiacutedas em textos narrativos

descritivos e relatos mostram os momentos em que os participantes expressam suas opiniotildees

ou crenccedilas ou requerem a opiniatildeo de seu interlocutor Devo destacar que as ocorrecircncias em

monoacutelogos puacuteblicos correspondem a apenas um texto a participante uma professora da

escola baacutesica relata sua atividade profissional e daacute sua opiniatildeo sobre o processo de ensino-

aprendizagem Eacute tambeacutem necessaacuterio destacar que a diferenccedila entre os nuacutemeros de textos

privados e puacuteblicos eacute minimizada em termos de frequecircncia relativa

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas

Vaacuterios padrotildees sintaacuteticos satildeo utilizados principalmente

(i) os verbos epistecircmicos introduzem oraccedilotildees encaixadas Em nossa amostra 571

de todas as ocorrecircncias seguem este padratildeo

(ii) eles podem ocupar diferentes posiccedilotildees no enunciado nos casos em que natildeo

introduzem uma encaixada

(iii) [SN]SUBJ V [SN]OBJ [SAdv] [SAdj]ATR Os casos em que natildeo haacute a realizaccedilatildeo do

objeto correspondem a 229 do total de ocorrecircncias principalmente com os verbos

―achar e ―saber

Alguns exemplos

(418) SNSUJ V comp S

LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais =COM=$ (bfamcv01)

(419) SNSUJ V SAdv S

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer =TOP= ele

paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

(420) SNSUJ V SNOBJ SAdv SAdjATR

[77] entatildeo eu achava aquilo muito interessante =COM=$ (bfammn06)

126

(421) SNSUJ SAdvNEGV SAdjATR SAdvNEG

[283] eu nũ achei ruim natildeo =COM= Jael =ALL=$ (bfamcv02)

Semanticamente estes verbos expressam o grau de comprometimento do

conceptualizador em relaccedilatildeo ao material locutivo enunciado Estas unidades lexicais estatildeo

ligadas a diferentes frames descritos para o inglecircs Opinion Certainty Awareness Assessing

andor Cogitation89

Em termos da distribuiccedilatildeo dos verbos por unidades informacionais podemos ver na

Tabela 411 como o subcorpus estaacute caracterizado

Unidades informacionais ocorrecircncias

epistecircmicos amostra

COM 182 866 177

INT 3 14 1363

PAR 11 53 647

TOP 14 67 636

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas

A primeira coisa a se observar eacute qual a unidade informacional que conteacutem o iacutendice

modal apenas o Comentaacuterio (incluindo as unidades Comentaacuterio Muacuteltiplo e Comentaacuterio

Ligado) o Toacutepico (inclusive a Lista de Toacutepico) o Parenteacutetico (inclusive a Lista de

Parenteacutetico) e o Introdutor Locutivo podem ser modalizados No caso dos verbos epistecircmicos

a unidade de Comentaacuterio eacute modalizada em 866 de todas as ocorrecircncias (182 para COM 11

para CMM e 20 para COB) seguida pelo Toacutepico (67 das ocorrecircncias sendo em nuacutemeros

absolutos 12 para o TOP e 2 para TPL) o Parenteacutetico (53 das ocorrecircncias 8 para PAR e 3

para PRL) Em nuacutemero bastante reduzido o Introdutor Locutivo com apenas 3 ocorrecircncias

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de ocorrecircncias das unidades informacionais o que se destaca satildeo

os nuacutemeros para o Toacutepico e o Parenteacutetico As duas unidades tecircm como estrateacutegia preferencial

de modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 de todas as ocorrecircncias do

minicorpus Quanto ao Comentaacuterio e o Introdutor Locutivo como visto anteriormente a

estrateacutegia principal satildeo os verbos modalizadores sendo os epistecircmicos responsaacuteveis por

89

A descriccedilatildeo para o frame de Opinion por exemplo eacute a seguinte ―Cognizer holds a particular Opinion which

may be portrayed as being about a particular Topic (John THINKS that it looks better back) Disponiacutevel em

httpsframeneticsiberkeleyedufndrupal

127

menos de 20 das ocorrecircncias O graacutefico na Figura 414 ilustra a distribuiccedilatildeo dos epistecircmicos

nas unidades informacionais e a frequecircncia desta estrateacutegia no conjunto das unidades

informacionais

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais

Abaixo alguns exemplos

(422) COM

DFL [56] aquilo que o =SCA= professor achava mais importante

=COM=$ (bfammn02)

(423) TOP

ANE [324] eu acho que quando eu vim =TOP= tinha esse =CMM= tinha

o outro =CMM=$ (bfamdl05)

(424) PAR

[41] soacute que eacute de microondas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl01)

(425) INT

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer

=TOP= ele paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

Mello e Raso (2013) discutem a necessidade de ampliaccedilatildeo do enunciado e das

unidades tonais como construtos analiacuteticos baacutesicos no tratamento da fala espontacircnea via

frames Como segundo a Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) ao enunciado

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

COM INT PAR TOP

ocorrecircncias

epistecircmicos

amostra

128

corresponde uma ilocuccedilatildeo mesmo que esses verbos epistecircmicos objeto de nossa

investigaccedilatildeo estejam de alguma forma representados em frames ligados por heranccedila

metafoacuterica e no uso de atividade mental ao falarmos estamos cumprindo diferentes accedilotildees

Dessa forma ―a anaacutelise da linguagem pautada por frames necessariamente deve levar em

conta pelo menos dois niacuteveis adicionais agravequeles construcional e semacircntico quais sejam os

niacuteveis informacional e ilocucionaacuterio (MELLO RASO 2013 p 106)

Transponho um princiacutepio talhado ateacute agora para a anaacutelise da escrita para a anaacutelise

da fala o Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia para discutir brevemente essa questatildeo Segundo esse

Princiacutepio (GOLDBERG 1995 2006)

Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas elas devem ser

semacircntica ou pragmaticamente distintas

Corolaacuterio A Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

semanticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

pragmaticamente sinocircnimas

Corolaacuterio B Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

pragmaticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

semanticamente sinocircnimas

Os verbos proacuteximos semanticamente se organizam sintaticamente de vaacuterias maneiras

como vimos Dessa forma pelo PNS o seu comportamento pragmaacutetico deve ser diferente E

de fato o eacute Vejamos as possiacuteveis funccedilotildees e os seus respectivos exemplos com a mesma

unidade lexical acharlsquo

(i) Estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior

Contexto casal conversa sobre a distribuiccedilatildeo de vagas em uma universidade

puacuteblica

LAU [51] natildeo tem um de ensino de arte +

LUZ [52] satildeo duas vagas eu acho [53] natildeo [54] de ensino de artes (bfamdl03)

(ii) Marcadores de concordacircncia discordacircncia indica um (possiacutevel) padratildeo

lexical Corresponde a um fenocircmeno de gradiecircncia de iacutendice modal para um

marcador discursivo

Contexto amigas no supermercado

129

REN [413] ltpodegt [414] tanto faz [415] pode

FLA [416] ou cecirc acha muito

REN [417] uhn [418] acho que natildeo [419] taacute [420] papel lthigiecircnico eu

nuncagt + (bfamdl01)

Dessa forma damos conta de que uma descriccedilatildeo de frames em termos exclusivamente

sintaacuteticos e semacircnticos pode ser de fato enriquecida com desdobramentos pragmaacuteticos de

diversas ordens

453 Adveacuterbios modais

Os adveacuterbios assim como os verbos receberam atenccedilatildeo especial como iacutendice

marcador de modalidade principalmente na liacutengua inglesa (GREENBAUM 1969 PERKINS

1983 SWAN 1988 BIBER FINEGAN 1988 HOYE 1997 SIMON-VANDERBERGEN

AIJMER 2007 SIMON-VANDERBERGEN 2008) No portuguecircs brasileiro destacam-se os

trabalhos de Castilho (1993 2010) e para a fala espontacircnea os de Mello Couto e Aacutevila

(2010) e Mello e Caetano (2012)

A classe de adveacuterbios eacute uma classe flexiacutevel em termos sintaacuteticos uma vez que pode

aparecer em diferentes posiccedilotildees nos enunciados Na fala como aponta Mello et al (2010)

esta complexidade de escopo se amplifica dado que devem ser levados em consideraccedilatildeo os

traccedilos prosoacutedicos Jaacute foi salientado que a anaacutelise da prosoacutedia eacute importante para a

desambiguizaccedilatildeo de itens modais e no caso especiacutefico dos adveacuterbios modais se estes satildeo de

fato itens modalizadores ou se cumprem outra funccedilatildeo no enunciado como a de intensificador

ou marcador discursivo

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais

Nesta seccedilatildeo forneccedilo os resultados para os adveacuterbios modais em relaccedilatildeo agrave sua

frequecircncia na amostra Os types e tokens tambeacutem foram classificados quantitativamente de

acordo com a tipologia interacional (puacuteblico vs privado monoacutelogos vs diaacutelogos vs

conversaccedilotildees) Foram encontrados 16 types em 94 ocorrecircncias na amostra o que corresponde

130

no universo dos iacutendices modais a 79 das ocorrecircncias90

A Tabela 412 e 413 trazem os

nuacutemeros para o nuacutemero de ocorrecircncias deste iacutendice no minicorpus e sua distribuiccedilatildeo em

termos de tipologia interacional respectivamente

adveacuterbios ocorrecircncias

com certeza 7 75

mesmo 45 479

realmente 3 32

exatamente 4 44

talvez 8 85

sem duacutevida 2 22

agraves vezes 5 53

na verdade 7 75

sinceramente 2 22

claro 5 53

potencialmente 1 1

oacutebvio 1 1

sem chance 1 1

logicamente 1 1

justamente 1 1

certamente 1 1

Total 94 100

Tabela 412 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais

90

Mello e Caetano (2012) investigaram a distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos adveacuterbios modais em toda a parte

informal do C-ORAL-BRASIL Atraveacutes da busca pelo parser PALAVRAS de todos os adveacuterbios foram

identificados 28000 adveacuterbios no corpus correspondendo a 1345 das palavras na amostra Dentre os

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 763 foram destacados como modais que representa 037 do total de palavras

da parte informal do corpus No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre adveacuterbiosadveacuterbios modais aproximadamente

272 do total de adveacuterbios assume funccedilatildeo modal O estudo revela dessa forma que a frequecircncia de adveacuterbios

modais eacute expressiva mas as autoras sublinham que ao olhar com lentes de aumento para a amostra um uacutenico

item o adveacuterbio ―mesmo contribui com uma frequecircncia de 557 de todas as ocorrecircncias O que coincide com

os nuacutemeros para o minicorpus

131

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 14 5 19

Diaacutelogos 33 12 45

Conversaccedilotildees 25 5 30

TOTAL 72 22 94

Tabela 413 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional

Em termos absolutos o nuacutemero de ocorrecircncias em contexto privadofamiliar eacute

bastante maior do que no contexto puacuteblico No entanto como jaacute observado para as outras

estrateacutegias eacute possiacutevel um balanceamento na frequecircncia dos itens que apontam para um uso

proporcional nos dois contextos interacionais No que diz respeito agrave tipologia interacional

tambeacutem como esperado os adveacuterbios ocorrem mais em trocas dialoacutegicas (45 para diaacutelogos e

30 para conversaccedilotildees) do que em monoacutelogos (19) Estes nuacutemeros acompanham os

encontrados por Mello e Caetano (2012) na anaacutelise de todos os adveacuterbios modais da parte

informal do C-ORAL-BRASIL

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais

Em termos de distribuiccedilatildeo pelas unidades informacionais satildeo estes os nuacutemeros

Unidades informacionais ocorrecircncias

adveacuterbios

COM 87 926

INT 2 21

PAR 3 32

TOP 2 21

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais

No que tange aos valores modais todas as ocorrecircncias da amostra satildeo do tipo

epistecircmico com o subvalor de possibilidade como ―agraves vezes e ―talvez ou de crenccedila

indicando graus de certeza em sua maioria o que corrobora a posiccedilatildeo de Perkins (1983 p

89) para os adveacuterbios modais em inglecircs O autor afirma que estes marcadores satildeo

fundamentalmente de natureza epistecircmica

132

Vejamos agora os exemplos para cada um dos 16 itens aqui encontrados e seu

comportamento em relaccedilatildeo a outros elementos co-textuais

(426) Mesmo

(w) REN lttem que ser ogt Knorr mesmo

FLA eacute ampva [1] vai esse neacute Rena (bfamdl01)

O item ―mesmo eacute o adveacuterbio modal mais frequente na amostra com quase a metade

das ocorrecircncias Este item tem um comportamento particular porque muitas das vezes pode

funcionar como intensificador como um operador que regula o fluxo da interaccedilatildeo ou como

pronome adjetivo Para o desempate utilizamos a regra de substituiccedilatildeo observamos o co-

texto e ainda fazemos a oitiva do arquivo de som Vejamos os exemplos em que o adveacuterbio

natildeo possui funccedilatildeo modal

(x) TON tinha que matar o cinco socirc

REN natildeo aiacute e laacute

CAR eacute o quatro mesmo Jacareacute

TON ltpeneigt

CAR ltquatro mesmo socircgt purra ele se ele nũ morrer nũ tem problema natildeo

ltaiacute ogt

(y) CES vatildeo laacute eacute e ele [2] e eacute ele mesmo que taacute ainda viu eacute o trezentos-e-trecircs

viu Anete

ANE eacute ele mesmo

CES eacute ele mesmo entatildeo uhn (bfamdl05)

(427) Na verdade e com certeza

(z) EUG cecirc jaacute escolheu moccedila

JAN hum hum eu acho que eu vou + na verdade eu queria levar as duas neacute

mas eu vou levar essa aqui (bpubdl02)

(aa) FLA colorido eacute mais caro

REN com certeza deve ser (bfamdl01)

133

(428) Talvez e agraves vezes indicadores de possibilidade

(bb) MAI no norte de Mina tinha esse [2] antigamente tinha esse tipo de cobra

tudo neacute talvez agora jaacute acabou porque jaacute desmataram muito neacute

(bfammn01)

(cc) ANE [297] eacute olha se tem gente aiacute

CES [298] xxx [1] pode passar aqui

ENC [299] oi

ANE [300] ltagraves vezesgt [2] agraves vezes fica ltgentegt

CES [301] ltpode entrargt [302] ltpo po vimgt Anete (bfamdl05)

―Agraves vezes eacute uma locuccedilatildeo que tanto pode exercer uma funccedilatildeo temporal quanto pode

exercer uma funccedilatildeo modal91

A desambiguizaccedilatildeo tambeacutem eacute feita pela anaacutelise do contexto do

co-texto e da prosoacutedia Por exemplo

(dd) PAU cecirc tem que aprender a olhar planta porque a hora que cecirc pegar um

projeto maior aiacute pa fazer que o dono nũ tiver perto aiacute cecirc tem que tocar agraves

vezes o engenheiro tambeacutem nũ tem muito tempo taacute mexendo com outra coisa

soacute vem no final de semana (bpubdl01)

No exemplo o adverbial ―agraves vezes pode indicar uma situaccedilatildeo possiacutevel portanto um

uso modal ou pode indicar a frequecircncia com que o engenheiro visita a obra um uso temporal

no caso

(429) Certamente e potencialmente

(ee) MAI a cobra tavaampen[2] continuou enrolada nele certamente eatava

querendo fazer o seguinte eu eu matei esse eu vou matar o resto tudo da

[1] amphe dentro da casa nũ sei neacute a imaginaccedilatildeo hhh dum [1] dum animal

o que que pode ser neacute (bfammn01)

(ff) HEL lteacute tipogt cecircs ficamltfalando tambeacutemgt

LUC ltisso pode ser potencialmentegt divertido

BRU ltnatildeogt

LUC ltmas enfim yyyyhhhgt

BRU ltnũ achogt (bfamcv04)

91

Natildeo eacute do escopo deste trabalho investigar a gramaticalizaccedilatildeo dos itens modais Parece-me no entanto que o

caminho de adverbial de tempo para um adverbial modal eacute uma hipoacutetese consistente Como exemplo similar

temos o caso da locuccedilatildeo ―de repente (―De repente ele chegou uso temporal ―De repente a gente toma um

copo assim que cecirc acabar a tese uso modal indicando possibilidade)

7056

134

(430) Sinceramente

(gg) TER ltoh adoreigt

RUT o eu nũ achei ruim natildeo Jael ltsinceramentegt

JAE ltnũ gosteigt de jeito nenhum (bfamcv02)

(431) Logicamente

(hh) JOR e laacute eu fiquei um periacuteodo desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho

logicamente com um salaacuterio melhor hhh e por amizade eu fui cair em uma

multinacional que eu dei uma virada no produto (bfammn06)

(432) Exatamente e justamente

(ii) CEL ltfazer uma jogadagt melhor

CAR eacute que aiacute cecirc rola lto seis fica atraacutes do quatrogt

CEL lteacutegt ltissogt ltexatamentegt (bfamcv03)

(jj) ANE ltque nuacutemerogt que eacute

CES setecentos-e-quatro

ANE aqui eacute exatamente po parar o carro hhh

CES eacute setecentos-e-quatro (bfamdl05)

(433) Claro e oacutebvio

(kk) LUI [151] natildeo [152] e [1] e [1] e [1] e principalmente convocando a galera

falar assim o galera negoacutecio seguinte taacute pensando em organizar um torneio

e a gente quer que vocecircs participem da organizaccedilatildeo ltmandando

representantegt +

LEO [153] lte acima de tudo eu acho que a gente temgt que chamar os times

que tipo o [1] realmente os times que merecem a [1] a nossa +

EVN [154] eacute a ltgente tem quegt ltrestringir tambeacutem issogt

GIL [155] ltnatildeo clarogt (bfamcv01)

(ll) ROG [222] eacute [223] o projeto eacute bom por isso uai [224] a gente faz jeito que

a pessoa pede uai [225] aquele carinha ltdo ampAlexagt +

PAU [226] ltmas temgt que saber ler projeto tambeacutem neacute

ROG [227] aquele ltcarinhagt do Alexandre laacute ele me deu o desenho dele

PAU [228] ltclarogt (bpubdl01)

(mm) BRU taacute falando do meu peacute neacute

CEL oacutebvio (bfamcv04)

135

Os iacutendices modais ―claro e ―oacutebvio92

apesar de pertencerem formalmente agrave

categoria dos adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos sem a

presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo Quando este eacute o caso satildeo analisados como adjetivos

em posiccedilatildeo predicativa

Estes itens tendem a cumprir um papel de confirmaccedilatildeo quer dizer um falante

normalmente os utiliza para confirmar o que foi enunciado pelo falante anterior

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q

O caraacuteter epistecircmico das construccedilotildees condicionais na variante brasileira do portuguecircs

eacute apontado em um nuacutemero de trabalhos relevantes para o tema entre eles os de Hirata-Vale

(2001 2008) Ferrari (2007 2008) Bezerra e Meireles (2009) Hirata-Vale afirma que ―as

condicionais relacionam-se a mundos concebiacuteveis sejam eles reais eventuais e

contrafactuais e se tornam mais abstratas agrave medida que passam por um processo de

subjetivizaccedilatildeo por isso estatildeo situadas no eixo do conhecimento e da avaliaccedilatildeo subjetiva

Nas condicionais de forma canocircnica ―se p entatildeo q em que p eacute a proacutetase e q a

apoacutedose ―o evento p eacute uma condiccedilatildeo suficiente (e em alguns casos necessaacuteria) para a

ocorrecircncia do evento q (SWEETESER 1990) As condicionais satildeo pois projeccedilotildees

hipoteacuteticas de manifestaccedilotildees causais diretas

A sua hipoteticidade estaacute ligada ao grau de probabilidade de realizaccedilatildeo das situaccedilotildees

referidas na proacutetase (cf COMRIE 1986)

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica

As construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato

constituem-se como um desafio uma vez que como apontado anteriormente o escopo da

modalidade eacute a unidade informacional No caso deste tipo de construccedilatildeo como afirmam

Cocircrtes e Mello (2013 p 2) ela ―pode ultrapassar os limites de um enunciado ou estar

completamente acomodada nele dividida ou natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

92

Poderiam estar incluiacutedos os adjetivos ―loacutegico e exato que tecircm comportamento similar ao dos adveacuterbios

―logicamente e ―exatamente

136

A frequecircncia das construccedilotildees condicionais no minicorpus foi considerada de acordo

com a tipologia interacional a estrutura informacional a distribuiccedilatildeo de proacutetaseapoacutedose e a

relaccedilatildeo entre a estrutura sintaacutetica e informacional

Como jaacute dito ao todo foram analisados 5484 enunciados sendo que 1046 deles estatildeo

modalizados Foram encontradas 109 ocorrecircncias de construccedilotildees condicionais entre as de

forma canocircnica O percentual de condicionais na amostra eacute de 909 entre todos os iacutendices

modais

Passando agrave anaacutelise para a tipologia interacional temos os seguintes resultados 24

exemplares para monoacutelogos 8 em monoacutelogos puacuteblicos e 16 em privados 40 exemplares para

diaacutelogos 9 para puacuteblicos versus 25 para diaacutelogos privados e 50 exemplares para

conversaccedilotildees 12 em puacuteblicas versus 38 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os

dados na Tabela 415

Tipologia Contexto Frequecircncia

Monoacutelogo Privado 16

Puacuteblico 8

Diaacutelogo Privado 25

Puacuteblico 10

Conversaccedilatildeo Privado 38

Puacuteblico 12

Tabela 415 - Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional

No que diz respeito agrave tipologia interacional ainda natildeo temos dados suficientes para

verificar quais as variaacuteveis em jogo e como as condicionais se comportam em cada contexto

Com relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sintaacutetica encontramos trecircs tipos de padrotildees

proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase e proacutetase somente Abaixo as frequecircncias para cada um dos

tipos

Organizaccedilatildeo sintaacutetica Frequecircncia

Proacutetase-apoacutedose 76

Apoacutedose-proacutetase 10

Proacutetase 23

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais

137

Os nuacutemeros para cada tipo de organizaccedilatildeo natildeo surpreendem exatamente Em

frequecircncia absoluta o padratildeo proacutetaseapoacutedose eacute o mais recorrente jaacute o apoacutedoseproacutetase

apresenta ocorrecircncia bem reduzida Sobre a proacutetase sozinha parece-me um nuacutemero

interessante pois natildeo segue o padratildeo estabelecido na escrita e corresponde a 211 do total

de ocorrecircncias e se dividem na amostra em trecircs tipos (a) proacutetases cuja apoacutedose natildeo satildeo

realizadas com efeito suspensivo mas possiacutevel de ser compreendida entre os interlocutores

(em termos de ilocuccedilatildeo parecem cumprir um ato do tipo expressivo do subtipo expressatildeo de

obviedade) (b) proacutetases que satildeo perguntas parciais (em termos de ato satildeo do tipo diretivo do

subtipo pedido de explicaccedilatildeo) (c) proacutetases cuja apoacutedose foi realizada anteriormente diluiacuteda

no contexto ou realizada por outro falante

Antes de apresentar os exemplos das condicionais mostro os nuacutemeros referentes agrave

distribuiccedilatildeo dos iacutendices em termos de estrutura informacional na Tabela 417 e a relaccedilatildeo

entre padrotildees sintaacuteticos e organizaccedilatildeo informacional na Tabela 418

Estrutura

informacional Frequecircncia

Enunciados diferentes 10

Mesma unidade de COM 30

TOPCOM 51

CMMCMM 11

Outros 7

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional

Estrutura

informacional TOPCOM

Mesmo

COM CMMCMM

Enunciados

diferentes Outros Total

Estrutura

sintaacutetica

Proacute - apoacute 49 7 9 8 3 76

Apoacute - proacute 2 2 2 2 2 10

Proacute --- 21 --- --- 2 23

Total

109

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional

138

Seguem exemplos das possiacuteveis combinaccedilotildees sintaacuteticas das condicionais e de sua

distribuiccedilatildeo em termos de estrutura informacional

(a) Proacutetase apoacutedose

(a1) proacutetase =TOP= apoacutedose =COM=

(434) BRU [268] lte se for uma palavra compostaPRO =TOP= cecirc faz assimAPOgt

=COM=$ (bfamcv04)

(a2) proacutetase e apoacutedose na mesma unidade de COM proacutetase apoacutedose =COM=

(435) PAU [72] esse tipo de muro =TOP= se ficar baixo demaisPRO ele fica

feioAPO =COM=$ (bpubdl01)

(a3) proacutetase apoacutedose em enunciados diferentes

(436) SIL [233] se ocecirc natildeo tem reloacutegio dentro do quartoPRO =COM=$

[234] cecirc vai comprar um reloacutegioAPO =CMM= pocircr laacute pa despertar =CMM=$

(bfamdl04)

(a4) proacutetase =CMM= apoacutedose =CMM=

(437) CAR [75] se ele nũ morrerPRO =CMM= nũ tem problema natildeoAPO

=CMM=$ (bfamcv03)

(b) Apoacutedose proacutetase

(b1) apoacutedose e proacutetase em enunciados diferentes apoacutedose proacutetase

(438) ANE [120] como eacute que a gente vai adivinharAPO =COM=$

[121] se for issoPRO =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl05)

(b2) apoacutedose proacutetase =COM=

(439) RUT [191] ltlaacute em casagt =TOP= ltavisoAPO se cecirc for laacutePROgt =COM=$

(bfamcv02)

(b3) apoacutedose =TOP= proacutetase =COM=

(440) BAL [58] ltdaacutegt ltproblemaAPO =TOP= se vocecirc ligar o aparelho degt ampduz

[1]=SCA= cento-e-dez na tomada de duzentos-e-vintePRO =COM=$

(bfamdl02)

139

(c) Proacutetase

(c1) expressatildeo de obviedade

(441) ANE [38] eh =PHA= se cecirc nũ tiver um carrinho que [1]=SCA= que sobe

aquiPRO =COM=$ (bfamdl05)

(c2) pergunta parcial pedido de explicaccedilatildeo

(442) [318] lte se precisar de um esclarecimentoPROgt =COM= ltassim =PAR= nogt

meio do negoacutecio hhh =APC=$ (bfamcv04)

(c3) conjugaccedilatildeo entre turnos

(443) TER [22] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhouAPO =COM=$

RUT [23] ltah =CMM= eacutegt =CMM=$ [24] se nũ morrer antes ltdelesPRO

=COM=$ (bfamcv02)

Observa-se que a estrutura mais frequente eacute o perfil proacutetase no Toacutepico e apoacutedose no

Comentaacuterio o que coincide com a funccedilatildeo informacional das unidades Em termos discursivos

a proacutetase de uma condicional atua como um angulador que estabelece as condiccedilotildees de

validaccedilatildeo do discurso subsequente Conforme Ferrari (2008 p 121) desde uma perspectiva

cognitiva

no domiacutenio epistecircmico as condicionais expressam a ideia de que o conhecimento do

evento ou do estado de coisas expresso na proacutetase seria uma condiccedilatildeo suficiente

para o estabelecimento da conclusatildeo na apoacutedose

Os exemplos tambeacutem nos mostram que eacute possiacutevel a combinaccedilatildeo de outros perfis com

as estruturas proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase distribuiacutedas em unidades informacionais

diferentes como Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Apecircndices de Toacutepico e

tambeacutem em enunciados diferentes neste caso a estrutura se completa em atos de fala

diferentes cada um veiculando sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Podem ser encontradas ainda ocorrecircncias em que a proacutetase tenha como acircncora o

contexto interacional sem a realizaccedilatildeo necessaacuteria da apoacutedose como no caso em (441) o que

denota um comportamento peculiar destas construccedilotildees na fala espontacircnea

Os dados apontam para o fato de que a proacutetase carrega o natildeo-factual da construccedilatildeo

condicional (cf COMRIE 1986) e nos casos em que ocorre a ordem inversa ―o foco da

44923267

3761631

140

construccedilatildeo estaacute no conteuacutedo veiculado pela apoacutedose isto eacute a parte mais saliente

informativamente eacute a accedilatildeo presente na apoacutedose (CORTES MELLO 2013 p 4)

Por uacuteltimo gostaria de retomar que as condicionais como iacutendices que expressam de

modalidade desafiam a premissa posta pela Teoria da Liacutengua em Ato de que o marcador

modal incide dentro da unidade informacional Como vimos este tipo de construccedilatildeo

ultrapassa as fronteiras da unidade informacional e inclusive em alguns casos do enunciado

Uma das hipoacuteteses que levanto eacute que a estrutura condicional poderia ser tratada como uma

construccedilatildeo padronizada nos termos de Cresti (no prelo p 17) estas satildeo ―construccedilotildees

realizadas atraveacutes de UTs cada uma desenvolve uma funccedilatildeo informacional diferente93

A

autora ainda completa que incluem tambeacutem construccedilotildees que satildeo realizadas em diferentes

enunciados com cada uma cumprindo sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei a descriccedilatildeo da modalidade no minicorpus da parte informal

do C-ORAL-BRASIL Apresentei e discuti os resultados em termos de frequecircncia por

tipologia interacional por distribuiccedilatildeo dos iacutendices nas unidades informacionais a distribuiccedilatildeo

e frequecircncia dos valores modais epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos e a relaccedilatildeo de cada valor

com as unidades informacionais Em seguida empreendi a anaacutelise para os verbos

modalizadores os verbos epistecircmicos os adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais de forma

canocircnica

Passo agora agrave Parte III deste trabalho que traz a proposta de esquema de anotaccedilatildeo para

a modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro que como afirmam Aacutevila e Mello

(2013 p 1) vai fornecer

um ponto de partida confiaacutevel para pesquisadores interessados em desenvolver

metodologias associadas a PLN que resulta na extraccedilatildeo no discurso oral de

marcadores de confiabilidade certeza e factualidade ou proceder agrave anaacutelise de

sentimentos modelagem da modalidade e objetivos afins 94

93

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] constructions performed across TUs with each developing a different information

function [hellip] (CRESTI no prelo p 17) 94

No original ―[hellip] reliable starting point for researchers that might be interested in developing methodologies

associated to NLP that ensue the extraction of oral discourse reliability certainty and factuality markers or

carrying sentiment analysis modeling modality and similar objectives (AacuteVILA MELLO 2013 p1)

141

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE

142

Capiacutetulo 5

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL95

O presente capiacutetulo apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous

Speech) um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

A anotaccedilatildeo linguiacutestica de corpora nas palavras de Leech (1993 p 275) pode ser

definida como ―a praacutetica de adicionar informaccedilatildeo interpretativa (especialmente linguiacutestica) a

um corpus eletrocircnico de dados linguiacutesticos falados eou escritos por algum tipo de coacutedigo

anexado a ou intercalados com a representaccedilatildeo eletrocircnica do proacuteprio material linguiacutestico96

E tambeacutem pode se referir ao produto final deste processo

A Linguiacutestica Computacional fornece meios para o desenvolvimento de softwares para

o processamento de linguagem natural escrita e falada Os corpora anotados natildeo satildeo um fim

em si mesmo a resoluccedilatildeo de tarefas especiacuteficas bem definidas e limitadas como a

etiquetagem morfossintaacutetica (cf o parser PALAVRAS BICK 2000) eacute preacute-requisito para a

construccedilatildeo de sistemas complexos como os de traduccedilatildeo automaacutetica e de sumarizaccedilatildeo

Especificamente o interesse por se distinguir uma informaccedilatildeo que eacute real e certa de

uma informaccedilatildeo especulativa e modal resulta do fato de esta ser tarefa necessaacuteria para

aplicaccedilotildees em PLN como a extraccedilatildeo de informaccedilatildeo (KARTUNNEN ZAENNEN 2005)

modelagem de incerteza em textos cliacutenicos (MOWERY et al 2012) resposta a perguntas

(SAURIacute et al 2006) classificaccedilatildeo de hedges (MEDLOCK BRISCOE 2007 MORANTE

DAELEMANS 2009) e anaacutelise de sentimentos (WIEBE et al 2005)

Anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu reconhecimento automaacutetico

inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma determinada tipologia (por

exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a sua fonte e o seu escopo

semacircntico Vaacuterios tecircm sido os projetos desenvolvidos para a anotaccedilatildeo de expressotildees modais

95

Parte da pesquisa sobre a anotaccedilatildeo semacircntica foi desenvolvida em meu Estaacutegio Doutoral no Centro de

Linguiacutestica da Universidade de Lisboa no periacuteodo de janeiro a agosto de 2013 sob a supervisatildeo da Dra Amaacutelia

Mendes e financiada pela Capes Proc nordm BEX 9537-12-0 96

No original ―[hellip] the practice of adding interpretative (especially linguistic) information to an existing corpus

of spoken andor written language by some kind of coding attached to or interspersed with the electronic

representation of the language material itself (LEECH 1993 p 275)

143

em sua grande maioria para a liacutengua inglesa e focados nos auxiliares modais com destaque

para a relaccedilatildeo entre modalidade e negaccedilatildeo (MORANTE SPORLEDER 2012 BAKER et al

2012) a anotaccedilatildeo de sentido de verbos modais (RUPPENHOFER REHBEIN 2012) o

desenvolvimento de um leacutexico para a modalidade e a construccedilatildeo de etiquetadores automaacuteticos

(BAKER et al 2010) Haacute ainda esforccedilos de anotaccedilatildeo sendo empreendidos em outras liacutenguas

como os trabalhos para o chinecircs (CUI CHI 2013) e para o portuguecircs europeu (HENDRICKX

et al 2012 MENDES et al 2013)

A anotaccedilatildeo da modalidade para dados do portuguecircs brasileiro eacute terreno a ser explorado

tanto para corpora escritos quanto para corpora de fala Segundo Nurmi (2007 p1) a

anotaccedilatildeo linguiacutestica contribui para a recuperaccedilatildeo de diferentes elementos linguiacutesticos no

entanto a natureza multifacetada da modalidade ―eacute ainda um obstaacuteculo para a pesquisa

assistida por computador97

Na mesma clave Baker et al (2010 p 1403) afirmam que o

desafio para a criaccedilatildeo de um esquema de anotaccedilatildeo de modalidade reside em ―lidar com o

complexo escopo das modalidades entre cada uma delas e com a negaccedilatildeo e ao mesmo tempo

criar um procedimento operacional simplificado que possa ser seguido por um especialista da

linguagem sem treinamento especial98

Como jaacute discutido na parte I desta tese estaacute longe de

haver um consenso sobre como definir e caracterizar a modalidade ela pode ser tomada como

expressatildeo da subjetividade como uma distinccedilatildeo entre realis e irrealis ou ainda como uma

quantificaccedilatildeo sobre mundos possiacuteveis restringidas por uma relaccedilatildeo de acessibilidade Dessa

forma o entendimento do que eacute essa categoria semacircntica eacute fundamental bem como ter claro

quais satildeo os elementos que podem veicular a modalidade

Na seccedilatildeo seguinte contextualizo o nosso projeto dentro dos estudos anteriores de

anotaccedilatildeo semacircntica das expressotildees modais

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica

Os trabalhos desenvolvidos em anotaccedilatildeo semacircntica centram-se nos fenocircmenos da

factualidade e da modalidade uma vez que como foi dito para um bom nuacutemero de

aplicaccedilotildees em PLN eacute necessaacuterio distinguir uma informaccedilatildeo factual de uma natildeo-factual e

tambeacutem as certezas das incertezas

97

Traduccedilatildeo minha para ―[] is still a hurdle in computer assisted-research 98

No original ―[t]he challenge of creating a modality annotation scheme was to deal with the complex scopig of

modalities with each other and with negation while at the same time creating a simplified operational procedure

that could be followed by language experts without special training

144

Do ponto de vista computacional a definiccedilatildeo de modalidade envolve um nuacutemero de

conceitos diferentes relacionados a ela a depender da tarefa que se deve cumprir e de

fenocircmenos especiacuteficos que satildeo levantados como por exemplo subjetividade factualidade

certezaincerteza hedging como jaacute explicitado

O trabalho de Sauriacute Verhagen e Pustejovsky (2006) objetiva identificar o escopo da

modalidade e propor uma sua soluccedilatildeo para sua identificaccedilatildeo automaacutetica Os autores utilizam a

linguagem TimeML (PUSTEJOVSKY et al 2005) para sua anotaccedilatildeo que codifica com

diferentes etiquetas (tags) nos niacuteveis lexical e sintaacutetico vaacuterios tipos de modalidade Os

eventos satildeo identificados no TimeML como as expressotildees que participam de uma narrativa

em um dado documento que podem ser ordenados temporalmente No niacutevel sintaacutetico os

seguintes valores satildeo levados em conta factive (para eventos implicados ou pressupostos)

counterfative (para um evento que pressupotildee a natildeo-veracidade de seu argumento) evidential

(introduzido por eventos reportados ou perceptuais) negative evidential (introduzido por

eventos reportados ou perceptuais que expressam polaridade negativa) modal (para eventos

que introduzem uma referecircncia a mundo possiacutevel) e conditional (para construccedilotildees

condicionais)

Tendo em vista a tarefa de reconhecer implicaturas textuais Sauriacute e Pustejovski

(2009) apresentam uma ferramenta que fornece eventos com os seus valores de factualidade

Os autores identificam os valores de factualidade baseados na anaacutelise de Horn (1989) para a

modalidade epistecircmica em que o valor factual eacute apresentado pelo par ltmod polgt contendo

um valor modal (certo provaacutevel possiacutevel e desconhecido) e um valor de polaridade (positivo

ou negativo) Haacute ainda a possibilidade do participante estar completamente descomprometida

com a factualidade de um determinado evento (ltUNUNgt)

No entanto os autores destacam que o valor assinalado para os eventos estatildeo

diretamente relacionados com os participantes (fontes da modalidade) em jogo quer dizer haacute

um ato de comprometimento em relaccedilatildeo agrave factualidade de um evento desempenhado por um

determinado participante O conjunto de valores factuais que diferentes participantes

assinalam para um evento eacute denominado perfil de factualidade (factuality profile)

Sauriacute (2008) e Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) adicionaram ao TimeBank corpus

(PUSTEJOVISKY et al 2005) uma nova camada de informaccedilatildeo semacircntica o FactBank Este

corpus de eventos constituiacutedo por 208 documentos com 9488 eventos eacute anotado para a

factualidade de eventos (ou factividade) definida por Sauriacute e Pustejovsky (2012 p 263)

como ―[] o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa a natureza factual de eventualidades

mencionadas em um texto Isto eacute expressar se elas correspondem a um fato () a uma

145

possibilidade () ou a uma situaccedilatildeo que natildeo ocorre no mundo () []99

Segundo os

autores a factualidade eacute resultado da interaccedilatildeo entre polaridade e certeza e se relacionam com

outras categorias como a modalidade epistecircmica a evidencialidade a postura epistecircmica e

hedging

A anotaccedilatildeo de modalidade para a caracterizaccedilatildeo de eventos pode tambeacutem ser utilizada

em processos analiacuteticos automaacuteticos Baker et al (2010) desenvolveram um esquema de

anotaccedilatildeo de modalidade um leacutexico da modalidade e dois etiquetadores automatizados

construiacutedos a partir do leacutexico e do esquema de anotaccedilatildeo O esquema eacute aplicado a exemplos do

inglecircs com mapeamentos possiacuteveis para o Urdu Os autores consideram a modalidade como

um componente extra-proposicional do significado e argumentam que pode ser tomada de

forma mais ampla para incluir vaacuterios tipos de atitude (no sentido de ―posiccedilatildeo) Assim

segundo eles a modalidade eacute definida como ―uma atitude por parte do falante em relaccedilatildeo a

uma accedilatildeo [] ou um estado100

(BAKER et al 2010 p 1) e pode indicar factividade

(relacionada ao fato de um evento um estado ou uma proposiccedilatildeo acontecer ou natildeo acontecer)

evidencialidade (relacionada agrave fonte da informaccedilatildeo cf seccedilatildeo 24 do segundo capiacutetulo deste

trabalho) ou sentimento (relacionado aos sentimentos negativos ou positivos do falante em

relaccedilatildeo ao evento estado ou proposiccedilatildeo)

O esquema de anotaccedilatildeo reconhece trecircs elementos o trigger (a palavra ou sequecircncia de

palavras que expressam modalidade) o target (eacute a unidade de anotaccedilatildeo - o evento estado ou

relaccedilatildeo no escopo do trigger) e o holder (o experienciador ou o cognoscente da modalidade)

O anotador seleciona apenas o target e a modalidade relacionada a ele nenhuma anotaccedilatildeo eacute

feita no holder ou no trigger Esta unidade de anotaccedilatildeo estaacute contida em uma oraccedilatildeo e o verbo

principal da oraccedilatildeo eacute o uacutenico a ser marcado

Para fins de etiquetagem satildeo consideradas oito modalidades relacionadas estritamente

agrave factividade que podem no entanto se sobrepor agraves categorias de evidencialidade e

sentimento Requirement Permissive Success Effort Intention Ability Want Belief

Da mesma forma Ruppenhofer e Rehbein (2012) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo

para os verbos modais em inglecircs aplicados a documentos do MPQA Opinion Corpus101

(WIEBE et al 2005) Em seu esquema tambeacutem levam em conta trecircs elementos de

99

No original ldquo[hellip] level of information expressing the factual nature of eventualities mentioned in text That is

expressing whether they correspond to a fact in the world (hellip) a possibility (hellip) or a situation that does not hold

(hellip) [hellip] (SAURIacute e PUSTEJOVSKY 2012 p 263) 100

No original ―an attitude on the part of the speaker toward an action [hellip] or state (BAKER et al 2010 p 1) 101

Disponiacutevel em httpmpqacspittedu Uacuteltimo acesso em 28 out 2013 O corpus conteacutem notiacutecias e outros

documentos anotados manualmente para opiniotildees e outros estados privados como crenccedilas especulaccedilotildees

sentimentos Sua mais nova versatildeo inclui a anotaccedilatildeo de atitudes e targets (WILSON 2008)

146

significado modal a expressatildeo modal a source e o target Para a tarefa de anotaccedilatildeo utilizam

a ferramenta SALTO102

(BURCHARDT et al 2006) e identificam seis categorias

(epistecircmico deocircntico dinacircmico optativo concessivo e condicional) para a anotaccedilatildeo de cinco

verbos modais (cancould maymight must ought shallshould)

Como o trabalho estaacute restrito aos verbos modais do inglecircs eacute utilizado um nuacutemero

menor de categorias comparado a Baker et al (2010) Importante destacar que na descriccedilatildeo

das instruccedilotildees de anotaccedilatildeo os autores distinguem para os verbos bdquomust‟ bdquoshould‟ e bdquoought‟

dois sentidos ndash o epistecircmico e o deocircntico ndash nestes casos para os epistecircmicos natildeo distinguem

entre as inferecircncias subjetivas (bdquoThe light is on He must be home‟) e as objetivas (John is 35

and Peter is only a year or two older than John so he must be under 40 still‟) (cf

HUDDLESTON PULLUM 2002) No primeiro exemplo natildeo haacute uma inferecircncia loacutegica que

leve agrave conclusatildeo de que John estaacute em casa e no segundo chega-se agrave conclusatildeo sobre a idade

de Peter por meio de operaccedilotildees matemaacuteticas Para o valor deocircntico natildeo fazem qualquer

subcategorizaccedilatildeo no que diz respeito agrave forccedila imposta sobre os atores se externa (bdquoDogs must

be leashed here A city ordinance requires it‟) ou interna (I really must call him He will be

worried‟) e tambeacutem natildeo fazem distinccedilatildeo entre uma obrigaccedilatildeo reportada (bdquoMom says you must

go home now It‟s past 10 pm‟) e uma obrigaccedilatildeo imposta pelo ato de fala (You must go home

now I want you gone‟)

Ainda para o verbo bdquomay‟ identificam trecircs sentidos epistecircmico deocircntico (relacionado

agrave permissatildeo) e optativo (relacionado a um desejo) Para o verbo bdquocan‟ trecircs satildeo os valores

dinacircmico (relacionado agrave habilidade e ao potencial de envolvimento em eventos ou

comportamento) deocircntico (relacionado agrave permissatildeo) e epistecircmico (relacionado agrave

possibilidade)

Jaacute Matsuyoshi et al (2010) a partir de estudos sobre modalidade e trabalhos em PLN

apresentam um esquema para a anotaccedilatildeo da modalidade estendida de eventos modais para um

corpus do japonecircs constituiacutedo de 50018 eventos recolhidos em diferentes recursos como

blogs documentos da web o corpus de Murakami et al (2009) e posts de sites de perguntas e

respostas Um evento eacute definido como ―consistindo de um predicado central e seus

argumentos (complementos e adjuntos) em uma sentenccedila103

(MATSUYOSHI et al 2010 p

1458)

102

Esta ferramenta de anotaccedilatildeo foi originalmente concebida para a anotaccedilatildeo manual de papeacuteis semacircnticos na

moldura teoacuterica da semacircntica de frames no contexto do projeto Salsa (ERK et al 2003) 103

No original ―(hellip) consisting of a core predicate and its arguments (complements and adjuncts) in the

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1458)

147

Para a construccedilatildeo do esquema com vistas para aplicaccedilatildeo em PLN satildeo colocadas

quatro condiccedilotildees necessaacuterias 1) a informaccedilatildeo da modalidade deve estar reunida em um uacutenico

elemento especificamente o predicado central 2) o sistema deve ser independente de liacutengua

3) a polaridade deve comportar duas classes a polaridade da realidade e a polaridade do ponto

de vista da avaliaccedilatildeo da fonte para capturar explicitamente a factualidade do evento 4) as

etiquetas em cada componente natildeo podem ser muito refinadas porque segundo os autores

―as classificaccedilotildees de modalidade restrita em Linguiacutestica por exemplo (Palmer 2001) e

sistemas de loacutegica modal (Portner 2009) satildeo muito sofisticadas e eacute muito difiacutecil executar

analisadores de modalidade estendida nelas baseados no atual estaacutegio de tecnologia em

PNL104

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1458) O esquema de modalidade proposto eacute

constituiacutedo de sete componentes Source Time Conditional Primary modality type

(assertion volition wish imperative permission interrogative) Actuality Evaluation e

Focus

Este sistema encontrou alguns desafios como a representaccedilatildeo de adveacuterbios de

frequecircncia de construccedilotildees de dificuldade e de potencial No entanto apresentou um acordo

entre dois anotadores razoavelmente aceitaacutevel (em meacutedia um κ=071 para os componentes)

Comparado aos projetos de Sauriacute et al (2006) Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) e ao

de Baker (2010) o sistema proposto por Matsuyoshi et al (2010) apesar de tambeacutem anotar

eventos eacute mais rico em termos de elementos a serem anotados Isso se deve ao fato de que os

sistemas construiacutedos tanto por Sauriacute e seus colegas quanto por Baker e colegas atendem a um

propoacutesito especiacutefico e dessa forma a escolha dos componentes a serem marcados fica

condicionada a este objetivo final

Em uma perspectiva mais ampla do que seja modalidade Wiebe e suas colaboradoras

(2005) exploram um esquema de anotaccedilatildeo de opiniotildees e emoccedilotildees baseado em estudo de um

corpus de artigos da imprensa internacional o MPQA Opinion Corpus (WIEBE WILSON

CARDIE 2005) composto de 10657 sentenccedilas em 535 documentos em liacutengua inglesa

Segundo as autoras (2005 p 1) a motivaccedilatildeo para a identificaccedilatildeo e extraccedilatildeo de opiniotildees

reconhecimento de emoccedilotildees e anaacutelise de sentimentos nasce do ―desejo de fornecer

ferramentas para analistas da informaccedilatildeo nos domiacutenios governamental comercial e poliacutetico

que querem rastrear automaticamente atitudes e sentimentos em notiacutecias e em foacuteruns on-line

104

Nas palavras dos autores ―[] classifications of restricted modality in Linguistics eg (Palmer 2001) and

systems of modal logic (Portner 2009) are too sophisticated and it is very difficult to implement analyzers of

extended modality based on them with the current level of technology in NLP (MATSUYOSHI 2010 p 1458)

148

As pesquisadoras propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo refinado para a etiquetagem de

componentes e propriedades de opiniotildees sentimentos emoccedilotildees estados privados

especulaccedilotildees que abriga sob o roacutetulo de estados privados (private stateslsquo)

Os estados privados satildeo definidos como ―estados internos que natildeo podem ser

diretamente observados pelos outros105

(WIEBE et al 2005 p 2) Para cada expressatildeo de

estado privado eacute definido um frame de estado privado que se constitui pelos seguintes

elementos a source106

(cujo estado privado estaacute sendo expresso) o target (sobre o quecirc eacute o

estado privado) as propriedades que envolvem intensity significance e type of attitude

Haacute dois tipos de frames de estado privado (a) elementos subjetivos expressivos

(expressive subjective elementslsquo) representam elementos subjetivos expressivos (b)

subjetivos diretos representam menccedilotildees expliacutecitas a estados privados (explicit mentions of

private stateslsquo) e eventos de fala que expressam estados privados (speech events expressing

private stateslsquo)

O esquema proposto por Wiebe Wilson e Cardie eacute bastante detalhado assim como o

de Matsuyoshi et al (2010) e aplicado a um grande corpus Como se pode observar a noccedilatildeo

de modalidade nos esquemas apresentados acima natildeo segue a noccedilatildeo corrente na literatura

sobre o tema (cf PALMER 1986 ou PORTNER 2009) Os trabalhos que apresento em

seguida ao contraacuterio se apoacuteiam na ideia de modalidade restrita e na definiccedilatildeo se assim posso

dizer mais tradicional da categoria qual seja ―a atitude do falante aleacutem de considerar

geralmente em sua tipologia a oposiccedilatildeo entre significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos e

natildeo entre informaccedilatildeo factual e natildeo-factual (o que evidentemente natildeo exclui a anaacutelise destas

caracteriacutesticas) Estes proacuteximos projetos natildeo foram desenvolvidos com um objetivo especiacutefico

e definido de aplicaccedilatildeo em PLN no entanto reconhecem que satildeo pontos de partida para

cumprir as tarefas de extraccedilatildeo de informaccedilatildeo mineraccedilatildeo de opiniatildeo resposta a perguntas por

exemplo

Nirenburg e McShane (2008) anotaram um corpus com informaccedilatildeo sobre a

modalidade no acircmbito do projeto OntoSem107

(NIRENBURG RASKIN 2004) e

desenvolveram um analisador alimentado com textos natildeo-tratados e realizaram vaacuterias tarefas

105

Traduccedilatildeo para ―[] internal states that cannot be directly observed by others (WIEBE et al 2005 p 2) 106

Uma propriedade importante das sources eacute que elas podem estar encaixadas isto eacute eventos privados e

eventos de fala podem estar frequentemente encaixados um no outro 107

Este projeto foi desenvolvido para o tratamento computacional da representaccedilatildeo do significado de um texto

Nas palavras dos autores ―[o]ntological semantics is a theory of meaning in natural language and an approach to

natural language processing (NLP) which uses a constructed world model or ontology as the central resource

for extracting and representing meaning of natural language texts reasoning about knowledge derived from texts

as well as generating natural language texts based on representations of their meaning (NIRENBURG

RASKIN 2004 p 10)

149

de anaacutelise linguiacutestica a modalidade incluiacuteda Para a codificaccedilatildeo da modalidade quatro

propriedades satildeo consideradas o tipo de modalidade (MODALITY TYPE) o valor escalar

(SCALAR VALUE) o escopo (SCOPE) e a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TO)

Os tipos de modalidade centrais incluem (i) factividade-epistecircmica (epistemic-

factivitylsquo) (ii) crenccedila (belieflsquo) (iii) obrigaccedilatildeo (obligativelsquo) (iv) permissatildeo (permissivelsquo)

(v) potencial (potentiallsquo) (vi) avaliativo (evaluative‟) (vii) intencional (intentionallsquo) (viii)

epitecircutico - grau de sucesso (epiteuctic ndash degree of success‟) (ix) esforccedilo (effortlsquo) (x)

voliccedilatildeo (volitivelsquo)

A cada um destes significados modais estatildeo distribuiacutedos valores que variam em uma

escala de zero a um considerados qualquer valor decimal vaacutelido neste intervalo Por exemplo

para a factividade-epistecircmica o valor 0lsquo corresponde a ―natildeo aconteceu (didn‟t happenlsquo) e o

valor 1lsquo a ―definitivamente aconteceu (definitely happenlsquo) ou para o epitecircutico - grau de

sucesso o zerolsquo equivale ao ―fracasso (faillsquo) e o ―um ao ―completamente bem-sucedido

ou ―sucesso absoluto (succeed fullylsquo)

Assim como nos outros projetos o escopo (SCOPElsquo) eacute o predicado afetado pela

modalidade e a propriedade a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TOlsquo) aponta para a quem a

modalidade eacute atribuiacuteda sendo o falante o valor padratildeo Eacute importante notar que as

propriedades da modalidade estatildeo explicitamente presentes no texto

O sistema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et al 2012a

2012b) baseia-se no esquema de anotaccedilatildeo proposta por Nirenburg e McShane (2008)

Enquanto no OntoSem a informaccedilatildeo sobre a modalidade eacute um moacutedulo semacircntico nas entradas

lexicais que expressam modalidade o modelo para o PE centra-se na anotaccedilatildeo de eventos e

natildeo de entidades Satildeo anotadas as expressotildees modais que incluem verbos adveacuterbios nomes

adjetivos sintagmas preposicionais e oraccedilotildees entretanto a tarefa eacute restrita agrave anotaccedilatildeo de

sentenccedilas

Entre os componentes anotados estatildeo o trigger o elemento que expressa o valor

modal108

o target a expressatildeo no escopo do trigger (corresponde ao atributo SCOPElsquo) a

source of the modality um agente ou experienciador (correspondente agrave propriedade

ATTRIBUTED-TOlsquo) e a source of the event mention que pode ser o falante ou o escritor109

108

Para o trigger satildeo assinalados dois atributos os valores modais e a polaridade (positiva ou negativa) 109

A decisatildeo de anotar duas sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e

aquele que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes mas natildeo

necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de 180 contos por mecircs para a

manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os portugueses eacute a entidade com a

necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se

que eacute o produtor da frase

150

Para os significados modais satildeo considerados sete valores e alguns subvalores

correspondentes a saber

Valores Subvalores

Epistemic knowledge

belief

doubt

possibility

interrogative

Deontic obligation

permission

Participant-internal necessity personal needs

capacity personal capacity

Evaluation evaluation of the proposition

Volition hopes and wishes

Effort attempt of the participant to make sth happen

Success results of the commitment of the participant

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu

Se comparado aos tipos de modalidade selecionados no OntoSem eacute possiacutevel observar

grande semelhanccedila entre os dois esquemas O tipo ―intentional foi incluiacutedo no valor ―effort

e o subvalor ―doubt do PE incluiacutedo nos epistecircmicos eacute parte do tipo ―belief no OntoSem

A tarefa de anotaccedilatildeo foi empreendida primeiramente por um anotador (em papel) e

em um segundo momento foi revisada por um segundo anotador utilizando o software

MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006)110

em uma amostra de aproximadamente 2000

sentenccedilas da parte escrita do Corpus de Referecircncia do Portuguecircs Contemporacircneo ndash CRPC

(GEacuteNEacuteREUX et al 2012)111

Os anotadores utilizam a estrateacutegia min-max (cf FARKAS et al 2010) Para o

trigger eacute anotada a menor unidade possiacutevel jaacute para o target o maacuteximo de unidades eacute

110

Disponiacutevel para download em httpmmax2net Esta ferramenta de anotaccedilatildeo seraacute detalhada na seccedilatildeo 5311

deste capiacutetulo 111

Este eacute um corpus de aproximadamente 312 milhotildees de palavras entre textos e escritos e registros orais

constituiacutedo por uma ampla gama de textos de diferentes gecircneros textuais em todas as variedades da liacutengua

portuguesa Disponiacutevel em httpwwwclululptptrecursos183-reference-corpus-of-contemporary-portuguese-

crpc Uacuteltimo acesso em 13 nov 2013

151

considerado e este elemento tambeacutem pode ser anotado em descontinuidade No que diz

respeito agraves sources satildeo marcados sintagmas nominais inteiros ou verbos No esquema

proposto ainda haacute um campo adicional para comentaacuterios (Commentlsquo) para que quaisquer

dificuldades sejam registradas principalmente casos de ambiguidade

Em trabalho mais recente (MENDES et al 2013) foi integrada a este esquema de

anotaccedilatildeo a interaccedilatildeo entre o foco e a modalidade especialmente o foco envolvendo partiacuteculas

exclusivas como ―soacute Os autores extraiacuteram os contextos e aplicaram o esquema a 100

sentenccedilas de documentos escritos do CRPC

Dois projetos desenvolvidos na Georgetown University os trabalhos de Rubinstein e

colegas (2013) para a anotaccedilatildeo da modalidade no inglecircs e o de Cui e Chi (2013) para a

anotaccedilatildeo de dados do chinecircs seguem a mesma orientaccedilatildeo teoacuterica (cf PORTNER 2009) e

utilizam um quadro bastante similar de elementos a serem anotados

Rubinstein et al (2013) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo de sentidos modais

construiacutedo a partir de trabalhos anteriores e acrescentado de novos traccedilos para a anotaccedilatildeo do

MPQA Corpus No esquema os anotadores em primeiro lugar codificavam cada modal em

trecircs categorias mais amplas Epistecircmica ou Circunstancial (Epistemiclsquo ou Circumstantiallsquo)

Habilidade ou Circunstancial (Abilitylsquo ou Circumstantiallsquo) e Prioridade (Prioritylsquo) Em

seguida sete tipos modais mais refinados foram individualizados Epistecircmica (Epistemiclsquo)

Circunstancial (Circumstantiallsquo) Habilidade (Abilitylsquo) Deocircntica (Deontic‟) Bouleacutetica

(Bouleticlsquo) Teleoloacutegica (Teleologicallsquo) e BuleacuteticaTeleoloacutegica (BouleticTeleologicallsquo)

Cui e Chi (2013) descrevem em seu trabalho a tentativa de refinar a anotaccedilatildeo de

alguns aspectos dos modais para o Penn Chinese Treebank e apontam seus primeiros

resultados para a primeira fase de anotaccedilatildeo Para a tarefa de anotaccedilatildeo realizada por dois

anotadores tambeacutem foi utilizado o software MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) com um

esquema de dez traccedilos e uma lista de inicial com onze iacutendices modais que agrave medida que o

projeto avanccedila pode crescer Como contribuiccedilatildeo os autores argumentam que o projeto

demonstrou que ―eacute possiacutevel usar um esquema e um conjunto de instruccedilotildees para a anotaccedilatildeo

translinguiacutestica112

(CUI CHI 2013 p 8)

112

No original ―() it is possible to use one scheme and set of guidelines for cross-linguistic annotation (CUI

e CHI 2013 p 8)

152

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc)

Em resumo os componentes identificados eou anotados nos projetos apresentados na

seccedilatildeo anterior

Autores Trigger Target Source Factuality Certainty Transition

of certainty Focus Time Conditional

Sauriacute et al

2006 2007

2009 2012

x x x x x

Baker et al

2010 x x x x

Matsuyoshi et

al 2010 x x x x x x x x

Wiebe et al

2005 x x x x x

Niremburg

McShane 2008 x x x

Hendrikx et al

2012

Mendes et al

2013

x x x x

Rubinstein et al

2013 x x x

Cui Chi 2013 x x x

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo semacircntica

Entre os diferentes projetos apesar de a terminologia usada para a categorizaccedilatildeo dos

significados modais diferirem eacute possiacutevel encontrar correspondecircncias entre os valores modais

correntes na literatura linguiacutestica e aqueles valores denominados natildeo-padratildeo Abaixo

resumidamente elenco na Tabela 52 todos os valores assinalados nos esquemas de anotaccedilatildeo

apresentados Na coluna da esquerda listo os valores modais utilizados na tradiccedilatildeo linguiacutestica

(cf PALMER 2001) e na coluna da esquerda os valores correspondentes encontrados nos

esquemas aqui apresentados e seus respectivos autores

153

Valores modais

tradiccedilatildeo linguiacutestica esquemas de anotaccedilatildeo

Epistemic factuality (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010)

actuality (MATSUYOSHI et al 2010)

evidentiality (SAURIacute et al 2006)

assertion (MATSUYOSHI et al 2010)

transition of certainty (MATSUYOSHI e al 2010)

degrees of possibility (SAURIacute et al 2006)

potential (NIREMBURG McSHANE 2008)

belief (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010 NIREMBURG

McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

interrogative (MATSUYOSHI et al 2010)

evaluation (HENDRICKX et al 2012b NIREMBURG McSHANE

2008)

Deontic modality command (SAURIacute et al 2006)

requirement (BAKER et al 2010)

imperative (MATSUYOSHI et al 2010)

obligative (NIREMBURG McSHANE 2008)

permissive (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

permission (MATSUYOSHI et al 2010)

Dynamic modality

Participant-internal modality

ability (BAKER et al 2010)

success (BAKER et al 2010)

epiteuctic (NIREMBURG McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

volition (MATSUYOSHI et al 2010 McSHANE amp NIREMBURG

2008 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG McSHANE 2008)

expectation (SAURIacute et al 2006)

want (BAKER et al 2010)

wish (MATSUYOSHI et al 2010)

intention (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

attempting (SAURIacute et al 2006)

effort (BAKER et al 2010 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG

McSHANE 2008)

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo

154

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs (CUI

CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000 v capiacutetulo 3 seccedilatildeo 31) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez

que natildeo centra a sua anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no

domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento a metodologia empregada para a anotaccedilatildeo no que

diz respeito agrave preparaccedilatildeo dos textos o corpus utilizado e a ferramenta para anotaccedilatildeo mdash o

software livre MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais

e os elementos a serem anotados a marcaccedilatildeo da polaridade aplicada ao elemento Trigger

exemplos de anotaccedilatildeo os resultados e finalmente algumas consideraccedilotildees sobre o processo

de anotaccedilatildeo

531 Metodologia

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

Abaixo na Figura 51 um exemplo da tela principal do programa que se refere a um

dos arquivos anotados (bfamcvo4) deste projeto de anotaccedilatildeo de modalidade no corpus C-

ORAL-BRASIL

155

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2

Na tela as linhas azuis satildeo as sequecircncias que contecircm os elementos anotados (trigger

target source of the modality source of the event)113

Em amarelo temos marcado um dos

componentes anotados (no caso o trigger) em cinza os outros elementos da sequecircncia modal

e por uacuteltimo em verde os links entre os elementos que compotildeem um set modal

Segundo Muumlller e Strube (2006) satildeo cinco os passos cruciais de um projeto de

anotaccedilatildeo o que chamam de ―ciclo de vida da anotaccedilatildeo a saber

(i) preparaccedilatildeo do corpus

(ii) definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotaccedilatildeo

(iii) manual de anotaccedilatildeo

(iv) checagem da viabilidade da anotaccedilatildeo

(v) utilizaccedilatildeo da anotaccedilatildeo completa

Apresento nas proacuteximas seccedilotildees alguns passos do ciclo de vida do projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

113

Estes elementos seratildeo descritos em detalhes nas seccedilotildees subsequumlentes deste capiacutetulo

156

5312 A preparaccedilatildeo dos textos

Para fins de preacute-processamento e utilizaccedilatildeo do software MMAX2 foi necessaacuteria a

limpeza dos arquivos em extensatildeo ―txt Os elementos a serem eliminados foram detectados

atraveacutes da proacutepria ferramenta de busca do editor de texto e os textos foram limpos

manualmente O corpus C-ORAL-BRASIL eacute transcrito segundo o sistema CHAT

(MAcWHINNEY 2000) que fornece um formato padronizado para produzir transcriccedilotildees

computadorizadas de interaccedilotildees conversacionais face a face implementado para a anotaccedilatildeo

prosoacutedica (MONEGLIA CRESTI 1997) e eacute segmentado em enunciados e unidades tonais

Algumas das convenccedilotildees da segmentaccedilatildeo prosoacutedica e tambeacutem notaccedilotildees da transcriccedilatildeo

tiveram que ser removidas tais como interrupccedilotildees retractings sobreposiccedilotildees fragmentos

fonoloacutegicos nuacutemeros de enunciados e os asteriscos que precedem os nomes de cada

participante Abaixo segue um resumo dos elementos eliminados

(a) nuacutemeros dos enunciados [xxx] os arquivos satildeo transcritos por enunciados e a cada

enunciado corresponde um nuacutemero

Ex LUA [72] taacute parecendo aqueas histoacuteria daquele livro que cecirc tava contando

=COM=$

(b) asterisco () o asterisco indica a ―linha principal isto eacute a linha que codifica um

uacutenico enunciado produzido por um determinado falante Este sinal antecede o

coacutedigo em trecircs letras maiuacutesculas que indicam o participante produtor daquele

enunciado

Ex CES [104] uhn =PHA= tocirc achando que natildeo =COM=$

(c) ampersand ou e-comercial (amp) este siacutembolo eacute usado para indicar que o material

seguinte eacute apenas um fragmento fonoloacutegico ou um pedaccedilo de palavra Esta forma

de notaccedilatildeo eacute usada quando o falante gagueja ou para de falar antes de completar

uma palavra reconheciacutevel (falsos comeccedilos)

Ex ANE [224] amphe =TMT= essa localizaccedilatildeo aqui eu nũ acho ruim =COM=$

157

(d) anguladores (lt gt) sinalizam que o material locutivo de um falante em um

determinado turno contido entre os anguladores estaacute sendo produzido ao mesmo

tempo que o material angulado do seu interlocutor no turno seguinte

Ex ANE [298] ltagraves vezesgt [2]=EMP= agraves vezes fica ltgentegt =COM=$

CES [299] ltpode entrargt =COM=$

(e) sinal de adiccedilatildeo (+) indica uma interrupccedilatildeo seja por tomada de turno pelo

interlocutor ou por decisatildeo do proacuteprio falante

Ex [99] entatildeo =INP= eu =TOP= eu sei =COB= Mara =ALL= que =DCT= ela me

tirou =i-COB= assim + =PAR=$

(f) [n] indica retracting O numeral ―n ao lado da barra indica o nuacutemero de palavras

envolvidas no retracting e canceladas pelo falante Eacute usado quando o falante

comeccedila a dizer alguma coisa para repete o sintagma baacutesico muda a sintaxe mas

manteacutem a mesma ideia pode envolver tambeacutem a completa reformulaccedilatildeo da

mensagem sem quaisquer correccedilotildees especiacuteficas ou ainda indicar que o falante

comeccedilou a dizer alguma coisa parou e repetiu o material anterior sem qualquer

mudanccedila

Ex [147] essa histoacuteria ampde [1]=SCA= da menina =TOP= eu tenho certeza que e

nũ te conta natildeo =COM=$

Apresento abaixo em (a) um exemplo de enunciado antes da limpeza com alguns dos

elementos eliminados e a seguir em (b) o resultado da limpeza deste mesmo enunciado114

(a) JOR [17] e aiacute =TOP= eu consegui =i-COB= amphe =TMP= com a experiecircncia

que eu tinha dentro da multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e ampf [1]=SCA=

isso me facilitou e eu passei pra aacuterea comercial da empresa pra vender =COB_s=

disjuntores =CMB= transformadores =CMB= motores de =INT= corrente

contiacutenua =CMB= corrente alternada =CMB= isoladores =CMB= e =TXC=

releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria =CMB= e assim foi iniciando a minha vida

comercial =COM

(b) JOR e aiacute eu consegui he com a experiecircncia que eu tinha dentro da

multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e f isso me facilitou e eu passei pra aacuterea

comercial da empresa pra vender disjuntores transformadores motores de

corrente contiacutenua corrente alternada isoladores e releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria

e assim foi iniciando a minha vida comercial

114

As unidades informacionais jaacute natildeo constavam na versatildeo dos arquivos de texto utilizada para o preacute-

processamento

158

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar

(a) Os markables (marcadores)

Um markable eacute o componente baacutesico de anotaccedilatildeo no MMAX2 Eacute uma porccedilatildeo de texto

que eacute marcada normalmente uma sequecircncia de texto ou partes descontiacutenuas de um texto

Estes marcadores podem se expandir em diferentes sentenccedilas podem se sobrepor

podem corresponder a exatamente a mesma porccedilatildeo de texto e podem estar anotados em

descontinuidade isto eacute duas partes do texto podem estar divididas e serem anotadas como um

uacutenico marcador

Em nosso projeto defino quatro tipos de markables os quais descreverei em detalhes

mais adiante que satildeo o trigger o target a source of the event mention e a source of the

modality Estes componentes em conjunto formam um ―set modal Os componentes trigger

e target possuem traccedilos que os distinguem O primeiro carrega os traccedilos modal_value

polarity information unit e comment o segundo os traccedilos information unit (ie a unidade

informacional em que o componente estaacute contido) e polarity

Para a criaccedilatildeo de um ―set modal eacute necessaacuterio em primeiro lugar criar cada um dos

markables e em seguida estabelecer os links entre eles Para a criaccedilatildeo dos markables (Figura

52) arraste com o mouse sobre o elemento que se deseja marcar clique com o botatildeo

direito sobre o texto selecionado selecione ―Create Markable at level bdquomodal‟ por uacuteltimo

na caixa de anotaccedilatildeo faccedila a escolha dos atributos apropriados para cada markable

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable

159

Os passos para estabelecer os links entre os markables satildeo os seguintes (Figuras 53 e

54) clique sobre o componente marcado como o trigger que ganha destaque em amarelo

em seguida clique com o botatildeo direito sobre um dos componentes por exemplo a source of

the modality e selecione ―Mark as link Repita o mesmo procedimento para os outros

componentes Uma linha verde vai surgir entre os markables e o set modal estaacute constituiacutedo

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido

160

No campo ―modal_class da caixa de anotaccedilatildeo (Figura 55) apareceraacute ―set_x em que

―x corresponde ao nuacutemero do set criado

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal

No caso de haver uma mesma sequecircncia de texto com dois ou mais papeacuteis diferentes

isto eacute uma sequecircncia de texto correspondente a dois ou mais markables basta proceder da

forma indicada acima Para selecionar os links apropriados clique em cada uma das porccedilotildees

de texto disponiacuteveis para criar o set modal

(b) Regras baacutesicas de anotaccedilatildeo

(b1) Criar como explicitado acima para um novo markable ser criado (Figura 52) eacute

necessaacuterio selecionar uma porccedilatildeo de texto arrastando o mouse com o botatildeo esquerdo e

clicando com o botatildeo direito na seleccedilatildeo Outros elementos natildeo devem estar selecionados do

contraacuterio este material seraacute adicionado ao markable em amarelo

(b2) Remover um link pode ser removido (Figura 56) primeiro selecionando o componente

com o botatildeo esquerdo do mouse depois com o botatildeo direito sobre a seleccedilatildeo escolher

―Unmark as link

161

Figura 56 - Remover o link

(b3) Apagar para apagar completamente um markable (Figura 57) basta clicar em cima do

elemento a ser apagado O elemento natildeo pode estar em amarelo

Figura 57 - Apagar um markable

(b4) Markable descontiacutenuo a partir de um markable existente eacute possiacutevel adicionar a ele uma

porccedilatildeo de texto natildeo-contiacutenua Eacute necessaacuterio clicar sobre o markable criado que fica em

amarelo entatildeo selecionar com o botatildeo esquerdo a segunda porccedilatildeo de texto a ser adicionada

(Figura 58) clicar com o botatildeo direito sobre esta seleccedilatildeo e escolher ―Add to this markable

Para o caso de toda a porccedilatildeo de texto adicionada ser removida ou apenas parte dela (Figura

162

59) basta selecionar o elemento que deseja desvincular do markable clicar com o botatildeo

direito em cima dele e escolher ―Remove from this markable

Figura 58 - Adicionar uma sequecircncia ao markable

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable

(c) Interface visual do MMAX2 e configuraccedilotildees baacutesicas iniciais

O MMAX2 possui uma apresentaccedilatildeo visual bastante amigaacutevel e algumas

configuraccedilotildees baacutesicas devem ser aplicadas para se iniciar a tarefa de anotaccedilatildeo Ao carregar o

software (―mmaxbat) vatildeo surgir quatro caixas na tela (a) uma diz respeito ao que estaacute

sendo rodado no sistema (b) a caixa de anotaccedilatildeo dos valores e atributos dos markables (c) a

tela principal com o texto a ser anotado e (d) o painel de controle do niacutevel do markable

163

Tambeacutem surgiraacute uma janela em ―pop-up perguntando se o anotador deseja validar as

anotaccedilotildees

Abaixo apresento instantacircneos das quatro principais telas a serem configuradas como e

quando necessaacuterio pelos anotadores

(a1) Snapshot da tela de anotaccedilatildeo dos valores e atributos

Figura 510- Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos

Nesta tela em ―Settings selecione ―Auto-apply on para evitar a accedilatildeo de ―Apply a

cada modificaccedilatildeo Quando os campos ―comment ou ―polarity_cue forem modificados o

―Apply deve ser feito manualmente

(a2) Snapshot da tela principal de anotaccedilatildeo

Figura 511 - Tela principal de anotaccedilatildeo

164

No caso de os anotadores considerarem o espaccedilamento entre as linhas de anotaccedilatildeo

pequeno eacute possiacutevel utilizar a opccedilatildeo ―Font gt ―Line spacing para a configuraccedilatildeo desejada

Na parte esquerda superior desta tela no menu ―File haacute a opccedilatildeo ―Auto-save onde o

intervalo para salvar as modificaccedilotildees realizadas pode ser controlado O ideal eacute configuraacute-lo

para 5 ou 10 minutos

(a3) Snapshot do painel de controle do niacutevel do markable

Figura 512 - Painel de controle

Nesta caixa temos dois niacuteveis ―modal e ―sentence Este uacuteltimo niacutevel deve estar

configurado como ―visible e natildeo ―active uma vez que nenhuma anotaccedilatildeo no niacutevel da

sentenccedila seraacute realizada

(a4) Snapshot da tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

Figura 513 - Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

O anotador deve clicar em ―Do not validate nesta fase inicial

165

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML

No MMAX2 qualquer tipo de anotaccedilatildeo pode ser representada pela associaccedilatildeo de

elementos individuais com atributos e pela conexatildeo dos vaacuterios markables por meio de

relaccedilotildees (MUumlLLER STRUBE 2006 p 202) Abaixo apresento os atributos e as relaccedilotildees

definidos no esquema de anotaccedilatildeo de modalidade para a fala espontacircnea em sua versatildeo XML

No primeiro niacutevel estaacute definido o atributo Type e os seus respectivos valores (none

target1 target_dependent trigger source of the event source of the modality) que

apareceram como ―nominal_buttons (bototildees nominais) A cada valor corresponde um

conjunto de propriedades e estas dependecircncias satildeo expressas pelo atributo ―next Isso

significa que ao ser selecionado um determinado valor o seu conjunto de propriedades estaraacute

disponiacutevel Para o target1 temos as propriedades ―polaridade e ―unidade informacional

para o trigger as propriedades ―valor modal ―polaridade ―iacutendice de polaridade e ―unidade

informacional

ltxml version=10 encoding=ISO-8859-1gt

ltannotationschemegt

ltattribute id=level_type name=Type type=nominal_button text=Choose type of expressiongt

ltvalue id=value_type_none name=nonegt

ltvalue id=value_type_target1 name=target1 next=level_polarity_target1level_info_unit_target1gt

ltvalue id=value_type_target_dependent name=target_dep next=level_polarity_target_dependent

level_info_unit_target_dependentgt

ltvalue id=value_type_trigger name=trigger next=level_modal_valuelevel_polarity level_polarity_cue

level_info_unit_triggergt

ltvalue id=value_type_source_modality name=source_modalitygt

ltvalue id=value_type_event name=source_eventgt

ltattributegt

No segundo niacutevel estaacute definido o atributo ―valor modal e seus respectivos valores

em uma lista nominal

ltattribute id=level_modal_value name=modal_value type=nominal_list text=gt

ltvalue id=value_modal_value_none name=nonegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_knowledge name=epistemic_knowledgegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_belief name=epistemic_beliefgt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_possibility name=epistemic_possibilitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_probability name=epistemic_probabilitygt

166

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_necessity name=epistemic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_verification name=epistemic_verificationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_necessity name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_permission name=deontic_permissiongt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_obligation name=deontic_obligationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_prohibition name=deontic_prohibitiongt

ltvalue id=value_modal_deontic_restriction name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_volition name=dynamic_volitiongt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_ability name=dynamic_abilitygt

ltattributegt

No terceiro quarto quinto e sexto niacuteveis estatildeo definidos os atributos ―polaridade do

trigger ―polaridade do target1 ―polaridade do target_dependent com os valores

―positivo e ―negativo (em bototildees nominais) e o ―iacutendice de polaridade o qual eacute um atributo

―freetext

ltattribute id=level_polarity name=polarity type=nominal_button text=Choose the polarity of the

triggergt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target1 name=polarity_target1 type=nominal_button text=Choose the

polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target_dependent name=polarity_target_dep type=nominal_button

text=Choose the polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_cue type=freetext name=polarity_cuegt

ltvalue id=value_polarity_cue name=polarity_cuegt

ltattributegt

167

Os seacutetimo oitavo e nono niacuteveis definem os atributos para a ―unidade informacional do

trigger a ―unidade informacional do target1 e a ―unidade informacional do

target_dependent em bototildees nominais

ltattribute id=level_info_unit_trigger type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target1 type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target_dependent type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

O deacutecimo niacutevel descreve o atributo ―modal_class que define o set modal e suas

propriedades

168

ltattribute id=level_modalclass name=modal_class color=green width=2 type=markable_set

add_to_markableset_text=Mark as link style=lcurve remove_from_markableset_text=Unmark as link

adopt_into_markableset_text=Move this into current modal set merge_into_markableset_text=Merge both

modal sets into onegt

ltvalue id=value_modalclass name=modal_classgt

ltattributegt

O uacuteltimo niacutevel define o atributo ―comment do tipo ―freetext

ltattribute id=level_comment type=freetext name=commentgt

ltvalue id=value_comment name=commentgt

ltattributegt

ltannotationschemegt

532 Escolha dos valores modais

Este trabalho como explicitado anteriormente na parte teoacuterica filia-se agrave tradiccedilatildeo

linguiacutestica sobre modalidade que apresenta a depender da orientaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica

diferentes tipologias para o estudo dos modais O repertoacuterio de significados modais estaacute longe

de ser estaacutevel entre as liacutenguas no entanto observamos que haacute consenso entre todas as

abordagens em relaccedilatildeo ao significado epistecircmico e o que as difere satildeo as nuances nos

significados natildeo-epistecircmicos (cf seccedilatildeo 23 do capiacutetulo 2)

Retomo brevemente aqui os valores modais que seratildeo utilizados para fins de anotaccedilatildeo

a saber os valores epistecircmico deocircntico e dinacircmico115

Para o estabelecimento dos subvalores

de cada tipo de modalidade partiu-se da definiccedilatildeo de modalidade discutida neste trabalho e

dos valores apresentados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo como descrito na seccedilatildeo 52 deste

capiacutetulo aleacutem de os proacuteprios dados analisados revelarem pelo contexto sutilezas de

interpretaccedilatildeo que aqui foram consideradas

115

Os termos que se referem ao esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a saber os valores e subvalores modais o

iacutendice modal disparador a expressatildeo no escopo do item modal e a fonte (do evento e da modalidade) seratildeo

mantidos em liacutengua inglesa uma vez que no domiacutenio da anotaccedilatildeo semacircntica eacute consenso o uso do inglecircs nos

sistemas de anotaccedilatildeo Desta forma quando necessaacuterio seraacute apresentada em nota de peacute de paacutegina uma legenda

com a traduccedilatildeo dos roacutetulos para o portuguecircs e das suas definiccedilotildees

169

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (51) (52) (53) e (54)

(51) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(52) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ

posso esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(53) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(54) REN [223] oito =COM=$ [224] mas olha o preccedilo =COM=$ [225] quatorze

e oitenta-e-nove =COM=$ [226] esse daqui eacute quatro e noventa-e-oito

=COM=$

FLA [227] eacute =COM=$ [228] oh =COM=$ [229] natildeo =CMM= mas aiacute tem

[2]=SCA= aqui tem o [1]=SCA= lto dobrogt =CMM=$

REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$

(bfamdl01)

Em (51) o falante ―LAU descreve uma situaccedilatildeo que eacute apresentada como uma crenccedila

ou opiniatildeo com nenhum (ou baixo) grau de certeza O exemplo seguinte (52) dada

determinada evidecircncia ―BAL apresenta a impossibilidade (―nũ posso) de que ―esperar

crescer dentro disso seja o caso O verbo ―dever em (53) carrega o significado de que a

partir de um conhecimento preacutevio sobre ―es chega-se agrave conclusatildeo de que eacute provaacutevel que um

grupo (―es) critique uma determinada situaccedilatildeo em outras palavras o exemplo expressa um

julgamento epistecircmico da probabilidade de uma determinada situaccedilatildeo ocorrer No excerto em

(54) os participantes comparam o preccedilo de dois produtos A participante ―REN chega

entatildeo agrave conclusatildeo de que haacute a necessidade (disparada pelo semimodal ―ter que) do preccedilo do

produto ser ―uns dez reais para que fosse coerente a quantidade do produto com o seu preccedilo

Para este tipo foram identificados seis subvalores conhecimento crenccedila

possibilidade probabilidade necessidade e verificaccedilatildeo Segundo Palmer (2001 p 24)

existem trecircs tipos de julgamento epistecircmico possiacuteveis o especulativo (que expressa

incerteza) o dedutivo (que expressa uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia) e o

assumptivo (que indica uma inferecircncia no senso comum) Assim os subvalores que seratildeo

descritos abaixo foram definidos a partir destes trecircs tipos de julgamento

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

170

(55) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(56) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(57) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(58) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta

=COM= neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(59) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(510) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$

(bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(511) e (512) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(511) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(512) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

171

Na ocorrecircncia em (511) o falante impotildee a obrigaccedilatildeo ao sujeito ―cecirc de ―ir chique a

um determinado evento Jaacute em (512) excerto de um diaacutelogo em que um participante daacute

instruccedilotildees para uma outra pessoa de como utilizar um equipamento eacute o falante ―BAL que

garante a permissatildeo para que o sujeito da sentenccedila ―cecirc esteja autorizado a realizar uma

determinada accedilatildeo no caso ―deixar o cabo bater no chatildeo

Como subvalores os deocircnticos abrangem obrigaccedilatildeo permissatildeo proibiccedilatildeo e

necessidade Apesar de a literatura sobre os deocircnticos normalmente classificarem tais modais

como uma necessidade que gera uma obrigaccedilatildeo (imposta pelo falante ou por uma autoridade

mas tambeacutem uma mera obrigaccedilatildeo a ser cumprida por um conceptualizador) ou uma

permissatildeo a partir dos dados em contexto foram identificados significados que sugeriam

proibiccedilatildeo (uma permissatildeo mais fortemente negada) e necessidade (pessoal ou de um grupo)

que natildeo gera necessariamente uma obrigaccedilatildeo ou permissatildeo Estes subvalores estatildeo descritos

abaixo

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(513) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(514) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(515) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(516) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

172

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em

(517) (518) e (519)

(517) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(518) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(519) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um

lugar =COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

No exemplo (517) o verbo ―conseguir se refere agrave capacidade do experienciador de

realizar uma atividade no caso a capacidade de ―ser pior dentre os participantes de um

grupo expressa pelo falante ―BRU Em (518) o mesmo verbo indica que o falante expressa

a falta de habilidade (generalizada) de um conjunto de pessoas (marcado pelo uso impessoal

do pronome ―vocecirc) de cumprir uma determinada tarefa (―usar o celular) Por uacuteltimo em

(519) ―GIL reporta a necessidade de se consultar um grupo para que expressem sua

vontade A perspectiva levada em conta aqui eacute a do endereccedilado ―cecircs

O tipo dinacircmico expressa dois subvalores habilidadecapacidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo

Palmer (2001 p 76) define duas categorias para a modalidade dinacircmica habilitativo e

volitivo De acordo com Palmer (2001 p 10) a categoria da habilidade ―tem que ser

interpretada mais amplamente do que em termos dos poderes fiacutesico e mental dos sujeitos para

incluir circunstacircncias que imediatamente os afetam (mas natildeo claro a permissatildeo

deocircntica)116

Abaixo a descriccedilatildeo de cada um dos subvalores

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(520) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute

de ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

116

No original ―has to be interpreted rather more widely than in terms of the subjectlsquos physical and mental

powers to include circumstances that immediately affect them (but not of course deontic permission

(PALMER 2001 p 10)

173

(521) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(522) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na tabela abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

174

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados

5331 Triggers

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

modais os verbos epistecircmicos os adveacuterbios modais as expressotildees adjetivas as expressotildees

lexicais que carregam modalidade Para este esquema que proponho seratildeo anotados apenas os

iacutendices lexicais deixando de lado por ora os gramaticais

Como descrito no capiacutetulo 3 deste trabalho os iacutendices modais mais frequentes satildeo os

verbos auxiliares e semi-auxiliares (―poder ―dever ―ter que ―parecer ―precisar ―dar

―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar) bem como os verbos de crenccedila ou

espietecircmicos (―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar) verbos de

conhecimento e compreensatildeo (―saber ―ver ―perceber) Na nossa amostra ainda

encontramos os seguintes types para os adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente

―com certeza ―exatamente ―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio

―potencialmente ―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves

vezes e para os adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―claro ―eacute claro ―eacute

loacutegico ―eacute verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade Ainda as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute

que ―tem certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

Para fins de anotaccedilatildeo levo em conta aqui apenas os iacutendices lexicais Natildeo seratildeo

anotados os marcadores morfoloacutegicos e gramaticais nem os itens que expressam

evidencialidade (cf definiccedilatildeo no capiacutetulo 2 desta tese) Desta forma natildeo estatildeo codificados os

marcadores de futuro perifraacutestico futuro do presente futuro do preteacuterito (com significado

condicional) o subjuntivo e as construccedilotildees condicionais117

A partir de agora apresento as regras para anotaccedilatildeo do trigger

117

Avalio que para a anotaccedilatildeo das construccedilotildees condicionais do tipo factual e contrafactual por exemplo um

sistema de anotaccedilatildeo deveria levar em conta natildeo apenas a sua epistemicidade mas tambeacutem um conjunto de

valores distintivos da factualidade dos eventos nos moldes do FactBank (cf SAURIacute PUSTEJOVSKY 2009)

que definem a factualidade de um evento como ―o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa o comprometimento de

fontes relevantes em relaccedilatildeo agrave natureza factual de eventos mencionados no discurso (SAURIacute PUSTEJOVSKY

2009 p 231) O termo evento eacute tratado em termos amplos para designar tanto processos como estados bem

como outros objetos abstratos como proposiccedilotildees fatos e possibilidades Adicionar uma segunda camada de

anotaccedilatildeo de factualidade para a interpretaccedilatildeo de eventos eacute um dos objetivos para trabalhos futuros

175

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(523) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(524) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(525) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(526) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(527) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(528) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser porque eacute parte do predicado nominal Apenas os adjetivos

com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos118

118

O esquema de anotaccedilatildeo para o portuguecircs europeu considera o valor ―Evaluation definido como ―[t]he

speaker expresses his or someone elselsquos evaluation of facts and propositions (HENDRICKX et al 2012a)

176

(529) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(530) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo inclusive se for o caso o verbo

suporte

(531) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade

de umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(532) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ eu tive certeza absoluta que

eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas119

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(533) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(534) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi

[1]=EMP= foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(535) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

119

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

177

(536) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

(537) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como120

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(538) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(539) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades121

120

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas Como proceder agrave anotaccedilatildeo de sequecircncias

descontiacutenuas com o software MMAX2 ver a seccedilatildeo 5313 deste capiacutetulo item (b4) 121

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

178

(540) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

(541) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(542) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(543) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(b) polaridade (polarity‟)

(c) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(d) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

179

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

agindo sobre o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext isto eacute um campo em que se

pode digitar qualquer informaccedilatildeo desejada neste caso identificar a palavra ou palavras que

expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)122

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)123

uma plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente composta de

(i) um corpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 124735

palavras e 74 sessotildees gravadas

(ii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 32589

palavras e 20 sessotildees para comparaccedilatildeo interlinguiacutestica com o minicorpus

brasileiro

(iii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-BRASIL com 31464 palavras

e 20 sessotildees

Os arquivos estatildeo divididos por enunciados e para cada enunciado aleacutem da

transcriccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis o arquivo de som a anotaccedilatildeo da estrutura informacional e a

anotaccedilatildeo de PoS

122

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 123

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013

180

5332 Sources

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila124

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459) Vaacuterios estudos levam em consideraccedilatildeo este componente em suas anaacutelises tais

como Bethard et al (2004) Breck amp Cardie (2004) Choi et al (2005) Wiebe et al (2005)

Rubin et al (2005) Prasad et al (2007) Sauriacute e Pustejovsky (2007) Inui et al (2008) Baker

et al (2010) Wiebe et al (2005) em seu trabalho sobre a anotaccedilatildeo de opiniotildees emoccedilotildees e

outros estados privados consideram a source do evento de fala isto eacute o falante ou escritor a

source do estado privado isto eacute a source cujo estado privado estaacute sendo expresso e apontam

o aninhamento de sources uma propriedade que reflete o fato de que eventos e estados

privados podem estar encaixados um no outro

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitor a julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila125

O esquema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICX et al 2012a 2012b)

anota a source of the event mention (o falante ou o produtor do evento) e a source of the

modality (a quem a modalidade eacute atribuiacuteda) Segundo os autores a decisatildeo de anotar duas

sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e aquele

que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes

mas natildeo necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de

180 contos por mecircs para a manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os

portugueses eacute a entidade com a necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O

produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se que eacute o produtor da sentenccedila

Inspirada neste uacuteltimo trabalho e ciente dos diferentes niacuteveis de concepualizaccedilatildeo na

expressatildeo da modalidade utilizo as mesmas categorias para o esquema proposto aqui

53321 Source of the event mention

A source of the event mention eacute o produtor do evento

124

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 125

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

181

A O produtor eacute normalmente o falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

B A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(544) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(545) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(546) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP= ele

=TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

53322 Source of the modality

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade

As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

182

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

que expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo

sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade

O conceptualizador que apresenta o material enunciado

como uma necessidade baseado em conhecimento

anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a

um estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado

ou obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo

a fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou

a necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(547) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

183

(548) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(549) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(550) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(551) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

184

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(552) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(553) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(554) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

HEL [89] ltham hamgt =COM=$ [90] a pessoa ampfa +=COM=$

LUC [91] lteacutegt =COM=$

HEL [92] ltahgt =COM=$

LUC [93] lteacutegt =COM=$

HEL [94] pessoa faz que natildeo =COM=$

LUC [95] eacute =COM=$

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

LUC [98] ltxxxgt =UNC=$

BRU [99] ltmas aiacute =TOP= agt gente escolhe =SCA= qual =COM=$ [100]

o laranja =CMM= ou o amarelo =CMM=$

HEL [101] lttaacutegt $

(bfamcv04)

185

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(555) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(556) GIL [54] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

5333 Targets

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo126

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

126

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

186

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(557) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(558) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(559) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(560) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

187

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(561) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(562) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(563) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

188

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo e negaccedilatildeo posposta simples natildeo incluir a segunda partiacutecula de

negaccedilatildeo no target

(564) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting127

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(565) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui

orsquo =COM=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(566) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd

[1]=EMP= desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

127

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza das barras invertidas e colchetes sinais

indicativos de retractings o material linguiacutestico que fica como vestiacutegio eacute reconhecido pela repeticcedilatildeo de chunks

eou mudanccedila de planejamento

189

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(567) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(568) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$

(bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

190

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena128

(569) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target_dep quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(570) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

128

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

191

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente A linguagem natural possui muitos recursos e a anotaccedilatildeo linguiacutestica tem como

funccedilatildeo permitir a melhor compreensatildeo da linguagem natural pela maacutequina A maacutequina natildeo

dispotildee dos recursos do humano para a interaccedilatildeo acional da linguagem dessa forma satildeo

necessaacuterias categorias que a ajudem a recuperar a referencialidade da linguagem natural

Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou correferecircncias para o

qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(571) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

192

Nesta ocorrecircncia em (571) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo

esclarecendo e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos

participantes LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos

precisar a expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que

poderia ser qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)129

e anota-se a expressatildeo

afetada contida na unidade informacional subsequente e seu valor

(572) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(573) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc

=CMB130

= se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

129

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18) 130

O CMB eacute uma categoria a ser revisada e estaacute sendo considerada como COB

193

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(a) polaridade (polarity‟)

(b) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(c) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(574) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(575) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(576) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

194

(d) epistemic_probability

(577) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(578) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(579) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

195

(g) deontic_obligation

(580) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(581) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA=

desmanchar tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(582) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(583) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

196

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(584) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(585) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

197

534 Polaridade

O traccedilo da polaridade como explicitado nas seccedilotildees sobre os componentes trigger e o

target eacute marcado para o trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o

valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(586) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(587) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

198

54 Resultados

Em nossa amostra encontramos 1088 marcadores modais (lexicais e gramaticais

excluiacutedas as condicionais e as construccedilotildees de subjuntivo) e destes foram anotados 781

triggers A Tabela 56 mostra a distribuiccedilatildeo dos valores modais e respectivos subvalores no

minicorpus

Valores Subvalores Freq

Epistecircmicos 506 647

conhecimento 108 213

crenccedila 223 44

possibilidade 122 241

probabilidade 24 47

necessidade 10 19

verificaccedilatildeo 19 37

Deocircnticos 189

obrigaccedilatildeo 96 508

permissatildeo 70 37

proibiccedilatildeo 6 32

necessidade 17 9

Dinacircmicos 86

habilidade 17 198

voliccedilatildeo 69 802

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra

A modalidade epistecircmica eacute o valor mais frequente (647) e o valor ―crenccedila que

compreende os verbos epistecircmicos e adveacuterbios modais eacute o mais numeroso representando

44 de todos os iacutendices epistecircmicos Dentre os itens deocircnticos o seu maior uso eacute o de

―obrigaccedilatildeo metade de todos os itens e a proibiccedilatildeo deocircntica tem o nuacutemero menor de

ocorrecircncias possivelmente por se tratar de uma nuance mais forte da permissatildeo deocircntica

(37 dos deocircnticos) Os casos de voliccedilatildeo correspondem a 802 da modalidade do tipo

dinacircmico e em nuacutemero menor os casos de habilidadecapacidade o que pode confirmar o

caraacuteter menos central desta categoria como jaacute mencionado anteriormente

Os triggers satildeo em um sua maioria verbos modais 815 de todos os iacutendices (65

auxiliares e semi-auxiliares 31 modais epistecircmicos) seguido pelos adveacuterbios (118) Em

nuacutemero bastante menor os adjetivos (28) e expressotildees modais (39)

A source of the event mention eacute normalmente o falante A source of modality coincide

com o falante em 883 das ocorrecircncias mas encontramos diferentes niacuteveis de

199

conceptualizaccedilatildeo envolvendo a perspectiva do endereccedilado ou outra entidade aleacutem da

perspectiva do falante No entanto haacute que se observar que estas perspectivas de

conceptualizadores diferentes da do enunciador satildeo normalmente filtradas pelos olhos do

falante principalmente em relaccedilatildeo ao uso dos verbos de crenccedila confirmando o argumento de

Wiebe e suas colaboradoras (2005 p 9) de que o aninhamento eacute uma propriedade importante

das sources

Quanto aos targets em 791 de todas as ocorrecircncias eles satildeo realizados dentro da

mesma unidade informacional Em onze ocorrecircncias ele natildeo foi marcado sendo que em uma

delas eacute inespeciacutefico (o caso em que poderia ser recuperado apenas se toda a cena estivesse

registrada em imagem) Por fim cinco satildeo os casos em que estatildeo em construccedilotildees

padronizadas (trecircs com unidades de INT contendo o trigger e duas em unidade de COB com

os targets realizados na unidade de Comentaacuterio)

Foram encontradas 108 ocorrecircncias com polaridade negativa do trigger e 27 para o

target disparada em sua maioria pela partiacutecula de negaccedilatildeo ―natildeo (ou em sua forma ―nũ)

541 Acordo entre anotadores

A anotaccedilatildeo dos textos do minicorpus nos termos descritos neste capiacutetulo foi realizada

por apenas um anotador ateacute o momento Entretanto para fins de validaccedilatildeo do esquema e

checagem de sua viabilidade em uma etapa posterior a este trabalho seratildeo realizados testes

com pelo menos mais dois anotadores estudantes de poacutes-graduaccedilatildeo

No primeiro teste um dos anotadores receberaacute um treinamento miacutenimo com diretrizes

gerais da anotaccedilatildeo para a anotaccedilatildeo de 3 textos (um texto de cada tipologia interacional) No

segundo experimento um anotador diferente do primeiro receberaacute instruccedilotildees detalhadas e

procederaacute agrave anotaccedilatildeo dos mesmos textos acompanhando o manual de anotaccedilatildeo Ambas as

anotaccedilotildees seratildeo revisadas pelo anotador original O acordo entre anotadores seraacute computado

utilizando a Estatiacutestica Kappa (COHEN 1960) para todos os componentes da anotaccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei as regras para a anotaccedilatildeo de um subcorpus de 20 textos de

fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Este esquema foi inspirado por outros jaacute elaborados

para a liacutengua inglesa e se aproxima do projeto proposto para o portuguecircs europeu No entanto

diferencia-se deste uacuteltimo pelas opccedilotildees teoacutericas adotadas aqui em termos de valores modais e

fundamentalmente em termos de conceber os targets natildeo como uma proposiccedilatildeo completa

200

mas chuncks linguiacutesticos dado que a modalidade se realiza dentro do escopo da unidade

informacional

Na primeira seccedilatildeo trago os trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica relevantes

para o projeto aqui apresentado e em seguida apresento um quadro resumptivo de quem anota

o quecirc e quais os valores satildeo utilizados por cada um deles Na seccedilatildeo 53 introduzo a proposta

descrevendo a metodologia utilizada (o software de anotaccedilatildeo a preparaccedilatildeo dos textos e regras

baacutesicas de anotaccedilatildeo) para entatildeo explicitar a escolha dos valores e subvalores modais e os

elementos a serem anotados (trigger target sources) e o detalhamento das regras para cada

um Por fim apresento e discuto os resultados aleacutem de mostrar os experimentos a serem

realizados para computar o acordo entre os anotadores

No capiacutetulo seguinte caminho para a conclusatildeo deste trabalho resumindo os

principais pontos discutidos os avanccedilos para o tema da modalidade e o horizonte futuro desta

pesquisa

201

Capiacutetulo 6

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A tiacutetulo de conclusatildeo deste trabalho gostaria de evidenciar alguns pontos centrais

para a discussatildeo do conceito de modalidade a partir de uma anaacutelise baseada em corpus Este

estudo seguiu um fio narrativo por assim dizer que compreende trecircs eixos que estatildeo

intrinsecamente relacionados o primeiro a discussatildeo do conceito de modalidade o segundo

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos itens modais e o terceiro a elaboraccedilatildeo de um esquema de

anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade

No capiacutetulo teoacuterico busquei apresentar e de certa maneira confrontar as diferentes

abordagens para o estudo da categoria da modalidade ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis a

distinccedilatildeo entre realis e irrealis e o caraacuteter subjetivo do fenocircmeno Esta noccedilatildeo eacute apresentada

na literatura linguiacutestica de variadas maneiras Claro estaacute no entanto que seja em uma

interpretaccedilatildeo mais ampla (e vaga) como a de Palmer (2001) que afirma que a modalidade se

preocupa com o estatuto da proposiccedilatildeo que descreve o evento seja em uma mais estrita como

a de van der Auwera e Plungian (1998) que a definem a partir dos domiacutenios da possibilidade

e da necessidade (e excluem outros domiacutenios) natildeo haacute um consenso sobre os limites da

categoria e que tipo de modificaccedilatildeo ela abarca

Coloquei-me portanto as seguintes questotildees de que qualidade eacute a modificaccedilatildeo

definida como modalidade Que criteacuterios para delimitar esta modificaccedilatildeo poderiam ser

propostos Na tentativa de alcanccedilar uma resposta o primeiro passo foi apresentar o seu

avesso ―o que natildeo eacute modalidade ou melhor explicando apresentei as categorias com as

quais a modalidade conversa e dela se diferenciam como a negaccedilatildeo o modo a ilocuccedilatildeo e a

atitude

Alinhando-me agrave proposta de Cresti (2000) e Tucci (2007) para quem a modalidade eacute

inerente a qualquer enunciado e pertence ao niacutevel semacircntico natildeo ao pragmaacutetico e seguindo a

tradiccedilatildeo ballyniana que leva em consideraccedilatildeo a dimensatildeo do enunciado e a noccedilatildeo de

subjetividade propus a modalidade como uma modificaccedilatildeo avaliativa operada por um

sujeito conceptualizador (o falante o endereccedilado ou uma terceira pessoa em cena) que

relativiza o material locutoacuterio enunciado de acordo com o grau de

certezacomprometimento e baseada em noccedilotildees de possibilidade necessidade

capacidade e voliccedilatildeo

202

A delimitaccedilatildeo da categoria pela subjetividade e pela inclusatildeo dos domiacutenios semacircnticos

da possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo levou-nos a uma opccedilatildeo teoacuterico-

metodoloacutegica de estudar o fenocircmeno a partir de uma tipologia jaacute bem definida na literatura e

que estaacute no centro de muitas anaacutelises os significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Esta escolha exclui a modalidade aleacutetica dado que segundo Palmer (1986) natildeo haacute distinccedilatildeo

entre o que eacute logicamente verdadeiro e aquilo que o falante considera como verdadeiro

Completando este raciociacutenio pergunto se a linguagem eacute per se argumentativa isto eacute se

sempre haacute uma perspectiva de um conceptualizador sobre uma determinada cena de que

maneira seria possiacutevel alcanccedilar uma objetividade tal que levaria a uma ―verdade

A seleccedilatildeo dos itens modais portanto foi baseada nos criteacuterios acima mencionados

com lemas que figuram em listas de modais em vaacuterias liacutenguas e outros que emergem por um

vieacutes metafoacuterico como uso especiacutefico da liacutengua portuguesa Como dito faccedilo esta afirmaccedilatildeo

desde os dados pesquisados na variante brasileira jaacute que natildeo possuo informaccedilatildeo suficiente

para generalizar para as outras variantes de Portugal e Aacutefrica

Definida a concepccedilatildeo de modalidade a tipologia a ser utilizada e os pressupostos da

Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) procedi agrave descriccedilatildeo da modalidade em uma

amostra de 20 textos da parte informal do C-ORAL-BRASIL corpus da fala espontacircnea do

portuguecircs brasileiro (especificamente da regiatildeo de Belo Horizonte MG) Este minicorpus

compilado a partir de criteacuterios de ―maacutexima qualidade tenta preservar a estrutura da parte

informal e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica

Esta descriccedilatildeo lanccedilou luz a pontos importantes como

a categoria semacircntica da modalidade se comporta de forma distinta da escrita

na fala espontacircnea uma vez que o seu escopo eacute a unidade informacional que

natildeo necessariamente abriga uma proposiccedilatildeo mas antes chunks linguiacutesticos que

natildeo obedecem aos criteacuterios sintaacuteticos propostos para a anaacutelise da escrita

os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam

puacuteblicas ou privadas

apenas algumas unidades informacionais podem ser modalizadas o

Comentaacuterio incluiacutedos os Comentaacuterios Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados) o

Parenteacutetico (e a Lista de Parenteacuteticos) o Toacutepico (e a Lista de Toacutepicos) e o

Introdutor Locutivo

A unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI

203

o Introdutor Locutivo no portuguecircs brasileiro tambeacutem pode marcar uma

introduccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo epistecircmica

as unidades de Toacutepico e Parenteacutetico abrigam como estrateacutegia preferencial de

modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 respectivamente de

todas as ocorrecircncias do minicorpus

a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de significado com

uma taxa de associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que

a dos tipos deocircntico e dinacircmico (cf MELLO et al 2013)

os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de

modalidade Sua distribuiccedilatildeo estaacute concentrada na unidade informacional de

Comentaacuterio com uma porcentagem de 973 de todas as ocorrecircncias

incluiacutedos o Comentaacuterio Muacuteltiplo o Comentaacuterio Ligado e o Apecircndice de

Comentaacuterio

o verbo ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca tem baixiacutessima ocorrecircncia O espaccedilo em usos de obrigaccedilatildeo

deocircntica tem sido ocupado pelo semimodal ―ter que

os verbos epistecircmicos que sinalizam a opiniatildeo ou grau de comprometimento

de um falante em relaccedilatildeo ao que estaacute enunciado e se organizam sintaticamente

de vaacuterias maneiras possuem funccedilotildees pragmaacuteticas distintas (a) em termos de

estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior e (b) podem ser marcadores de concordacircnciadiscordacircncia o

que indica um (possiacutevel) padratildeo lexical correspondente a um fenocircmeno de

gradiecircncia de iacutendice modal para um marcador discursivo

os itens ―claro e ―oacutebvio apesar de pertencerem formalmente agrave categoria dos

adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos

sem a presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo

as construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em

Ato constituem-se como um desafio uma vez que podem ultrapassar os

limites de um enunciado ou estar completamente acomodada nele dividida ou

natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

204

Por fim nasceu o MASS ndash Modal Annotation in Spontaneous Speech projeto de

anotaccedilatildeo da modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Os desafios para cumprir

esta tarefa foram muitos fundamentalmente relacionados ao fato de que todos os esquemas de

anotaccedilatildeo desenvolvidos ateacute agora satildeo aplicados a textos escritos normalmente a corpora de

textos jornaliacutesticos ou textos biomeacutedicos

Como jaacute visto anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu

reconhecimento automaacutetico inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma

determinada tipologia (por exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a

sua fonte e o seu escopo semacircntico Nosso esquema se inspirou no esquema proposto para o

portuguecircs europeu mas dele se diferencia na medida em que algumas decisotildees cruciais para

a anotaccedilatildeo foram baseadas na moldura teoacuterico-metodoloacutegica da TLA o que significa tomar o

enunciado como unidade analiacutetica de referecircncia e a unidade informacional o campo de

aplicaccedilatildeo da modalidade

Foram anotados 781 itens modais lexicais Como valores modais escolhemos o tipo

epistecircmico com seis subvalores conhecimento crenccedila possibilidade probabilidade

necessidade e verificaccedilatildeo o tipo deocircntico que abriga quatro subvalores obrigaccedilatildeo permissatildeo

proibiccedilatildeo e necessidade e por fim o tipo dinacircmico com dois subvalores habilidade e

voliccedilatildeo Como elementos a serem anotados o trigger a palavra ou sequecircncia de palavras que

carrega(m) a modalidade o target a expressatildeo que estaacute no escopo do trigger dentro da

unidade informacional a source of the modality o conceptualizador e a source of the event o

falante ou produtor

A anotaccedilatildeo foi realizada por um uacutenico anotador ateacute o momento com a ferramenta

(MUumlLLER STRUBE 2006) um software livre para a anotaccedilatildeo em muacuteltiplos niacuteveis valores

e subvalores modais e os elementos a serem anotados (trigger target sources) e o

detalhamento das regras para cada um

O estudo da modalidade como campo profiacutecuo pode inspirar futuras possibilidades e

projetos Tendo em vista que o C-ORAL-BRASIL eacute um corpus construiacutedo com a mesma

arquitetura dos corpora do C-ORAL-ROM eacute possiacutevel propor um estudo comparativo entre a

expressatildeo da modalidade no portuguecircs brasileiro e nas outras quatro liacutenguas romacircnicas que

compotildeem o C-ORAL-ROM Mais imediatamente faz sentido a comparaccedilatildeo com o trabalho

de Ida Tucci (2007) que descreveu a modalidade para a fala espontacircnea do italiano em uma

anaacutelise corpus-based

Uma segunda tarefa premente eacute a aplicaccedilatildeo dos experimentos para a computaccedilatildeo do

acordo entre anotadores o que vai indicar a viabilidade do esquema proposto A porcentagem

205

de itens anotados alcanccedilada na amostra leva-nos a crer na possibilidade tambeacutem de se buscar

algoritmos para o treinamento de maacutequinas para alguns dos iacutendices mais representativos

como os verbos modalizadores

Outras pesquisas sobre a modalidade e a sua relaccedilatildeo com outras categorias como

modo tempo e aspecto podem ser exploradas Assim como pode ser considerada a

possibilidade de inclusatildeo de construccedilotildees avaliativas do tipo ―eacute osso e ser estudada a

relaccedilatildeo entre a modalidade e as ilocuccedilotildees

No que concerne aos trabalhos em anotaccedilatildeo semacircntica como mencionado eacute terreno a

ser semeado e cultivado Trabalhos que envolvam a modalidade e outras categorias como o

foco e trabalhos comparativos por exemplo entre as diamesias oral e escrita e entre os

diferentes projetos propostos para outras liacutenguas

Entendo que o trabalho realizado contribui para uma melhor compreensatildeo da noccedilatildeo

semacircntica de modalidade e sua realizaccedilatildeo na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Aleacutem

disso o esquema de anotaccedilatildeo da modalidade eacute um passo importante e relevante para os

estudos em Processamento em Linguagem Natural e poderaacute contribuir com ferramentas para

anotaccedilatildeo automaacutetica da categoria no que diz respeito a textos falados e por que natildeo sua

ampliaccedilatildeo (e adaptaccedilatildeo) para textos escritos

206

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ANEXOS

MASS 10

MANUAL DE ANOTACcedilAtildeO

LUCIANA AacuteVILA

POSLIN ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CENTRO DE LINGUIacuteSTICA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

02 DE JANEIRO DE 2013

SUMAacuteRIO

1INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 1

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip2

21 MODALIDADE 2

22 VALORES MODAIS 2

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip5

31 O SOFTWARE MMAX2 6

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS 6

321 TRIGGERShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip6

322 SOURCES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3221 SOURCE OF THE EVENThelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3222 SOURCE OF THE MODALITY helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip12

33 TARGET helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip15

34 POLARIDADE helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip27

35 REFEREcircNCIAS helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip28

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este manual apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous Speech)

um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES

21 MODALIDADE

A definiccedilatildeo da modalidade estaacute longe de ser consensual Neste projeto defino este

fenocircmeno como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o

que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade obrigaccedilatildeo e permissatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da interaccedilatildeo

(AVILA amp MELLO 2013 AVILA 2014)

22 VALORES MODAIS

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (1) (2) (3) e (4)

(1) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(2) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ posso

esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(3) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(4) REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

(5) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(6) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(7) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(8) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta =COM=

neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(9) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(10) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$ (bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(11) e (12) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(11) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(12) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(13) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(14) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(15) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(16) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em (17)

(18) e (19)

(17) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(18) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(19) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um lugar

=COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(20) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute de

ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

(21) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(22) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na Tabela 1 abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 1 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

3 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 2009 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs

(CUI CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez que natildeo centra a sua

anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento o software livre MMAX2131

(MUumlLLER

STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais e os elementos a serem anotados

(trigger source of the event source of the modality target) e a marcaccedilatildeo da polaridade

aplicada ao elemento trigger

31 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS

321 TRIGGERS

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

131

httpmmax2sourceforgenet

modais os verbos epistecircmicos ou de atitude proposicional os adveacuterbios modais as

expressotildees adjetivas as expressotildees lexicais que carregam modalidade

Os iacutendices modais considerados satildeo

(a) verbos auxiliares e semi-auxiliares ―poder ―dever ―ter que ―parecer

―precisar ―dar ―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar

(b) verbos de crenccedila ―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar

(c) verbos de conhecimento e compreensatildeo ―saber ―ver ―perceber

(d) adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente ―com certeza ―exatamente

―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio ―potencialmente

―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves vezes

―claro

(e) adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―eacute claro ―eacute loacutegico ―eacute

verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade

(f) as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute que ―tem

certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(23) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(24) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(25) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(26) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(27) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(28) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser uma vez que eacute parte do predicado nominal Apenas os

adjetivos com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos

(29) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(30) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger agraves vezes

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo

(31) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade de

umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(32) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ [6]=EMP= eu tive certeza

absoluta que eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas132

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(33) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(34) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi [1]=EMP=

foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(35) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

(36) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

132

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

(37) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como133

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(38) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(39) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades134

(40) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

133

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas 134

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

(41) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(42) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(43) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(e) polaridade (polarity‟)

(f) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(g) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

escopando o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext em que estaacute identificado a

palavra ou palavras que expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)135

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)136

plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente

322 SOURCES

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila137

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459)

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitora julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila138

3221 SOURCE OF THE EVENT MENTION

A source of the event mention eacute o produtor do evento O produtor eacute normalmente o

falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

A A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(44) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

135

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 136

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013 137

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 138

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(45) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(46) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP=

ele =TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

3522 SOURCE OF THE MODALITY

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) que

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua opiniatildeo

sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade O conceptualizador que apresenta o material enunciado como

uma necessidade baseado em conhecimento anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado ou

obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a fazer

algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de uma

outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 2 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(47) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

(48) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(49) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

B1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(50) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(51) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(52) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(53) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(54) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

[]

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

(bfamcv04)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(55) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(56) GIL [64] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

323 TARGETS

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo139

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(57) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

139

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

(58) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(59) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(60) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(61) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(62) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(63) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo natildeo incluir a segunda partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(64) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting140

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(65) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui orsquo

=COM=$ (bfamcv01)

140

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza dos retractings os seus vestiacutegios satildeo

reconhecidos pela repeticcedilatildeo de chunks eou mudanccedila de planejamento

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(66) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(67) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(68) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$ (bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena141

141

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

(69) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(70) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou

correferecircncias para o qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) que poderiam ser recuperados apenas se disponiacuteveis

arquivos de imagem o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(71) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

Nesta ocorrecircncia em (71) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo esclarecendo

e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos participantes

LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos precisar a

expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que poderia ser

qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)142

e com modalidades

tambeacutem distintas e anota-se a expressatildeo afetada contida na unidade informacional

subsequente e seu valor

(72) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

142

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18)

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(73) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc =CMB143

=

se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(d) polaridade (polarity‟)

(e) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(f) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(74) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

143

As unidades de CMB natildeo descritas na literatura correspondem em sua grande maioria agrave unidade de COB e

foram portanto substituiacutedas por ela na anotaccedilatildeo

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(75) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(76) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

(d) epistemic_probability

(77) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(78) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(79) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

(g) deontic_obligation

(80) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(81) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(82) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(83) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(84) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(85) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

33 POLARIDADE

O traccedilo da polaridade como explicitado em seccedilotildees anteriores eacute marcado para o

trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(86) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(87) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

37 REFEREcircNCIAS

AVILA L MELLO H Challenges in modality annotation in a Brazilian Portuguese

spontaneous speech corpus In Proceedings of WAMM-IWCS2013 Potsdam Germany 2013

AVILA L Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus de fala espontacircnea do

Portuguecircs Brasileiro Tese (Doutorado em Estudos Lingiacutesticos) Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais 2014

BAKER K BLOODGOOD M DORR B J FILARDO N W LEVIN L PIATKO C

A modality lexicon and its use in automatic tagging In Proceedings of the Seventh Language

Resources and Evaluation Conference (LREC‟10) Valletta Malta ELRA 2010 p 1402-

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BARWISE K J PERRY J Situations and attitudes Cambridge MIT Press 1981

CRESTI E Corpus di italiano parlato Firenze Accademia della Crusca 2000

CRESTI E Syntactic properties of spontaneous speech in The Language into Act Theory

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FAUCONNIER G Espaces mentaux Paris Les eacuteditions de Minuit 1984

HENDRICKX I MENDES A MENCARELLI S SALGUEIRO A Modality Annotation

Manual version 10 Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa Lisboa Portugal

2012a

HENDRICKX I MENDES A MENCARELLI S Modality in Text a Proposal for

Corpus Annotation In Proceedings of the Eighth International Conference on Language

Resources and Evaluation - LREC 2012 Istanbul May 21-27 2012b

HUDDLESTON R PULLUM G The Cambridge Grammar of the English Language

Cambridge Cambridge University Press 2002

KIEFER F Modality In ASHER R E (ed) The Encyclopedia of language and linguistics

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MATSUYOSHI S EGUCHI M SAO C MURAKAMI K INUI K MATSUMOTO

Y (2010) Annotating Event Mentions in Text with Modality Focus and Source

Information in Proceedings of the Seventh conference on the International Language

Resources and Evaluation (LREClsquo10)

A HENDRICKX I SALGUEIRO A AacuteVILA L Annotating the interaction between

focus and modality the case of exclusive particles In Proceedings of the 7th Linguistic

Annotation Workshop amp Interoperability with Discourse Sofia Bulgaria 2013 p 228ndash237

MUumlLLER C STRUBE M Multi-level annotation of linguistic data with MMAX2 In

BRAUN S KOHN K MUKHERJEE J (eds) Corpus technology and language

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SAURIacute R VERHAGEN M PUSTEJOVSKY J Annotating and recognizing event

modality in text in Proceedings of the 19th International FLAIRS Conference FLAIRS 2006

SAURIacute R PUSTEJOVSKY J FactBank a corpus annotated with event actuality Language

Resources amp Evaluation 43 227ndash268 2009

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS LUCIANA BEATRIZ ... · Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Linha de Pesquisa: Estudos Lingüísticos Baseados Em Corpora

Ficha catalograacutefica elaborada pelos Bibliotecaacuterios da Biblioteca FALEUFMG

Aacutevila Luciana Beatriz Bastos A958m Modalidade em perspectiva [manuscrito] estudo baseado em

corpus oral do portuguecircs brasileiro Luciana Beatriz Bastos Aacutevila ndash 2014

253 f enc il grafs (color) tabs (pampb) + 1 CD-ROM

Orientadora Heliana Ribeiro de Mello

Aacuterea de concentraccedilatildeo Linguiacutestica Teoacuterica e Descritiva

Linha de Pesquisa Estudos Linguumliacutesticos Baseados Em Corpora

Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Minas

Gerais Faculdade de Letras

Inclui CD-ROM com arquivos de aacuteudio guia do usuaacuterio MMAX2

demonstraccedilatildeo de arquivo anotado

Bibliografia f 206-218

Anexo f 219-253

1 Modalidade (Linguiacutestica) ndash Teses 2 Linguiacutestica de corpus ndash Teses 3 Liacutengua portuguesa ndash Portuguecircs falado ndash Brasil ndash Teses 4 Atos de fala (Linguiacutestica) ndash Teses 5 Linguiacutestica ndash Processamento de dados ndash Teses I Mello Heliana Ribeiro de II Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras III Tiacutetulo CDD 418

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LlNGuiacuteSTICOS

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus oral doportuguecircsbrasileiro

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AVILA

Tese submetida agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS como requisito para obtenccedilatildeo do grau de Doutorem ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS aacuterea de concentraccedilatildeo LINGUIacuteSTICA TEOacuteRICA EDESCRITIVA linha de pesquisa Linha G-Estudos Inter-Relaccedilatildeo Linguagem Cogniccedilatildeo e

Aprovada em 30 de abril de 2014 pela banca constituiacuteda pelos membros

~~Prof(a) Heliana Ribeiro de Mello - Orientador

UFMG

C4-vJl c eO~~c~ -

PIJ~a) Giulia Bossaglia lUFMG

PWf(l o A g sto de Souza

~-~OvlProf(a) Lilian Vieira Ferrari

UFRJ

LLa tampirdWv oa 2M-~Prof(a) ~ampariaClaacuteudia de Freitas

PUC-RJ

Belo Horizonte 30 de abril de 2014

agrave memoacuteria do meu pai Joseacute Walter

que me ensinou a assimetria do tempo-espaccedilo

AGRADECIMENTOS

Natildeo se engana quem pensa que um doutorado eacute um osso duro de roer No entanto seria ainda

mais duro se natildeo estiveacutessemos cercados de um sem nuacutemero de pessoas que nos apoiam

encorajam datildeo colo provocam motivam

Agrave Prof Heliana Mello minha orientadora e amiga parceira e cuacutemplice nessa jornada que me

guiou pela matildeo para a terceira margem e se empenhou de forma delicada gentil e generosa

para eu me tornar uma doutora Por sua contribuiccedilatildeo intelectual e por sua compreensatildeo

paciecircncia e carinho desde sempre

Agrave Amaacutelia Mendes que me acolheu em Lisboa em meu periacuteodo de Estaacutegio Doutoral e natildeo

mediu esforccedilos para que me integrasse agrave vida de trabalho no Centro de Linguiacutestica da

Universidade de Lisboa Pela nossa histoacuteria de afeto e ―muita amizade Torcendo por

parcerias futuras

Ao Prof Tommaso Raso e Profordf Liacutelian Ferrari pelos valiosos comentaacuterios em minha sessatildeo

de qualificaccedilatildeo

Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem prontamente o convite para leitura e

discussatildeo deste trabalho

Aos colegas do LEEL grandes companheiros Priscila Adriana e Raiacutessa com quem dividi a

peleja para aprender sobre a modalidade Luiacutes pelas oacutetimas trocas Bruno Rocha Elisa Helocirc

Maryualecirc Andressa Carol Bruna e Bruno Alberto pelos bons momentos passados juntos

Ao Pedro Perini com quem venho construindo um produtivo diaacutelogo sobre linguiacutestica e uma

bela amizade Ao Fred por nossa histoacuteria comprida de carinho

Aos colegas do CLUL Liliana Raiumlssa Aida Sandra Antunes Sandra Pereira Fernando aos

professores Luiacutesa Alice Gabriela e Joatildeo pelos almoccedilos cafeacutes da tarde solzinho na esplanada

e toblerones compartilhados Ao Seacutergio da informaacutetica pelo suporte teacutecnico no meu

momento de desespero quando o programa natildeo rodava Meu agradecimento especial ao

Agostinho que jaacute no primeiro dia de trabalho me ensinou pacientemente a operar o software

de anotaccedilatildeo e me provocou um lindo insight para a soluccedilatildeo de uma questatildeo que me perseguia

Agrave minha matildee Celeste a quem natildeo cabe adjetivos Ela eacute superlativa

Agrave minha famiacutelia porque sim Agrave Clara grande companheira de viagem e a todos os sobrinhos

plenos de sonhos e esperanccedilas

Agrave Fernanda que estava laacute na hora certa

Ao Nando e agrave Angeacutelica amigos obrigatoacuterios nos meus agradecimentos na alegria e na

tristeza na sauacutede e na doenccedila Meu amor sempre

Ao Francisco e agrave Antonieta pela amizade carinho almoccedilos de domingo sabores

maravilhosos e um bom vinho

Ao Eduardo amigo queridiacutessimo pelo apoio incondicional e por tornar a vida mais faacutecil

todos os dias Cafeacute preto sem accediluacutecar fruta picada e CBN

Agrave Isabel Mariana e Laurent pelas portas e braccedilos sempre abertos do lado de caacute e de laacute do

Atlacircntico

Agrave Chris que foi chegando devagarinho e veio pra ficar Risos laacutegrimas conversas matinais

Agrave Corita Evandro e Fernandinho reencontro maravilhoso pelo carinho e a sensaccedilatildeo de

abraccedilo apertado em Viccedilosa

Aos amigos de sempre espalhados pelo mundo Viccedilosa Juiz de Fora Rio Belo Horizonte

Lisboa Ouro Preto Satildeo Paulo Campinas Niteroacutei Nicosia Madrid Paris Genegraveve Basel

Berna Berlim Vocecircs formam o mapa do meu afeto

Ao Nuno tatildeo diferente e tatildeo surpreendente pelo apoio paciecircncia carinho solampmar comida

preparada Vocecirc segurou a minha onda no momento mais barra pesada da vida

Ao Francisco Carlos e agrave Miuacutecha que abriram suas casas para me acolherem Aos

companheiros de casa em Belo Horizonte e Lisboa por me ensinarem a enxergar o outro

Agraves funcionaacuterias que cuidaram de meu pai e cuidam de minha matildee a ajuda de Vocecircs nos cerca

de tranquilidade

Ao Thiago e ao Ronaldo que aleacutem de amigos maravilhosos me ajudaram com abstracts

papers ―uma traduccedilatildeo rapidinha

Ao Prof Kleos pela ajuda com as imagens e a maacutegica da formataccedilatildeo

Aos meus colegas de departamento

Agraves funcionaacuterias da PPG Suely e Margarida pelo apoio na burocracia

Aos funcionaacuterios do PosLin prestativos e soliacutecitos a nossas demandas

Agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) pela bolsa de

estudos concedida para Estaacutegio Doutoral em Portugal no acircmbito do Programa de Doutorado

Sanduiacuteche no Exterior (PDSE) e agrave UFV pela bolsa de estudos no Brasil

A todos os muacutesicos de samba chorinho jazz fado soul reggae rock amp blues A vida eacute mais

leve assim

A todas as pessoas que passaram pela minha vida que natildeo estatildeo aqui nomeadas mas que

certamente deram cor e graccedila a esta minha aventura

ldquoEacute preciso que as pessoas entrem e saiam

Que vivam por toda a parterdquo

(Herberto Heacutelder)

RESUMO

Este estudo trata da descriccedilatildeo da modalidade em um corpus de fala espontacircnea da

variedade mineira do portuguecircs brasileiro Modalidade em uma definiccedilatildeo mais enxuta eacute a

avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o material locutoacuterio que enuncia em

termos do grau de certeza possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo No entanto natildeo

existe consenso sobre a definiccedilatildeo precisa desta categoria por diferentes razotildees (a) a

modalidade eacute campo de estudo para a loacutegica e a linguiacutestica que aplicam para este fim

metodologias diversas (b) a categoria se diferencia e estaacute interrelacionada com outras como

as de tempo aspecto modo (c) esta noccedilatildeo se confunde e se sobrepotildee agraves de ilocuccedilatildeo atitude e

emoccedilatildeo Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato na metodologia da Linguiacutestica

de Corpus e Linguiacutestica Computacional o trabalho tem como objetivo descrever o

comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade e propor um esquema de

anotaccedilatildeo da modalidade para um minicorpus do C-ORAL-BRASIL O C-ORAL-BRASIL eacute

um corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro o quinto braccedilo do C-ORAL-ROM um

corpus comparaacutevel representativo das quatro principais liacutenguas romacircnicas europeias (italiano

espanhol francecircs e portuguecircs) segmentado prosodicamente em enunciados e suas

subunidades informacionais O enunciado eacute a unidade miacutenima de referecircncia pragmaticamente

interpretaacutevel Para fins desta pesquisa utilizo uma amostra da parte informal do corpus C-

ORAL-BRASIL um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias interacionais

divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 6 privados e 1 puacuteblico mdash 7 diaacutelogos mdash 5

privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas Para o tratamento nesta

tese foram selecionados 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046 enunciados codificados

e posteriormente anotados semanticamente atraveacutes do software MMAX2 Apoacutes a anaacutelise

quantitativa e qualitativa podemos concluir que (i) a categoria da modalidade se comporta de

forma distinta da escrita na fala espontacircnea (ii) os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados

em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam puacuteblicas ou privadas (iii) apenas algumas unidades

informacionais podem ser modalizadas Comentaacuterio Parenteacutetico Toacutepico Introdutor

Locutivo (iv) a unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI (v) a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de

significado (vi) os verbos satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de modalidade

Palavras-chave modalidade corpus oral fala espontacircnea anotaccedilatildeo semacircntica portuguecircs

brasileiro

ABSTRACT

This study deals with the description of modality in a corpus of spontaneous Brazilian

Portuguese spoken language more specifically the Minas Gerais variety Modality in a more

concise definition is the evaluation of a conceptualizer which relativizes the uttered locutive

material in terms of degree of certainty possibility necessity capability and volition

However there is no consensus on a precise definition of such category explained by a

number of reasons (a) modality is a field of study for logics and linguistics that utilizes

various methodologies (b) the categories is both differentiated and interrelated to others such

as time aspect mode (c) this notion is mistaken and overlaps those of illocution attitude

and emotion Based on the principles of the Speech Act Theory in Corpus and

Computational Linguistics this work aims at describing the behavior of different modality

markers and proposing a modality annotation scheme for a C-ORAL-BRASIL minicorpus C-

ORAL-BRASIL is a corpus of Brazilian Portuguese spoken language the fifth branch of C-

ORAL-ROM a comparable corpus representative of the four main European Romance

Languages (Italian Spanish French and Portuguese) prosodically segmented in utterances

and their informational sub-units The utterance is the minimal reference unit pragmatically

interpretable To better fit the purposes of this research I utilized the informal part of the C-

ORAL-BRASIL corpus a minicorpus composed of 20 texts of three interactional typologies

divided into private and public 7 monologues ndash 6 private and 1 public ndash 7 dialogues ndash 5

private and 2 public ndash and 6 conversations ndash 4 private and 2 public ones For the treatment in

this thesis 1197 modal indexes distributed in 1046 utterances codified and later on

semantically annotated through the MMAX2 software were utilized After the quantitative

and qualitative analysis we can conclude that (i) the category of modality behaves

distinctively in written and spontaneous oral language (ii) the modal indexes are widely

utilized in dialogic situations be them public or private (iii) only a few informational units

can be modalized Comment Parenthetical Topic Locutive Introducer (iv) the Comment

unit is the most modalized and there is no realization restriction for this IU (v) the epistemic

modality is the most frequent one among the types of meaning (vi) verbs are the preferred

strategy for modality marking

Keywords modality oral corpus spontaneous speech semantic annotation Brazilian

Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 ndash Quadrado modal 25

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111) 44

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade 58

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo 66

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus 102

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional 104

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional 105

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra () 107

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices

modalizados 108

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus 109

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais () 110

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal 112

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal 113

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores 116

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade 117

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores 118

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra 124

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais 127

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2 155

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable 158

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables 159

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido 159

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal 160

Figura 56 ndash Remover o link 161

Figura 57 ndash Apagar um markable 161

Figura 58 ndash Adicionar uma sequecircncia ao markable 162

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable 162

Figura 510 ndash Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos 163

Figura 511 ndash Tela principal de anotaccedilatildeo 163

Figura 512 ndash Painel de controle 164

Figura 513 ndash Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo 164

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional 32

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees 42

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus 91

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados 94

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas 95

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais 95

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais 96

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos 97

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados 98

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais 99

Tabela 41 Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x contexto e tipologia interacional 103

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional 104

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras 106

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra 108

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade 109

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade 110

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais 112

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores no minicorpus 115

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores 118

Tabela 410 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional 124

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas 126

Tabela 412 - Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais 130

Tabela 413 - Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional 131

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais 131

Tabela 415 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional 136

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais 136

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional 137

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional 137

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu 150

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo

semacircntica 152

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo 153

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees 173

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais 182

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra 198

LISTA DE ABREVIATURAS

ALL - Alocutivo

APC - Apecircndice de Comentaacuterio

APT - Apecircndice de Toacutepico

b - Brasileiro (Portuguecircs)

fam - Familiar

pub - Puacuteblico

cv - Conversaccedilatildeo

dl - Diaacutelogo

mn - Monoacutelogo

CMM - Comentaacuterio Muacuteltiplo

CNT - Conativo

COB - Comentaacuterio Ligado

COM - Comentaacuterio

DCT - Conector Discursivo

EMP - Unidade informacionalmente vazia

EXP - Expressivo

F - Feminino

F0 - Frequecircncia fundamental

Hz - Hertz

i- - Unidade informacional interrompida

INP - Incipitaacuterio

INT - Introdutor Locutivo

IPO - Instituto de Pesquisa Perceptual

LABLITA - Laboratorio Linguistico do

Departamento de Italianistica

LEEL - Laboratoacuterio de Estudos Empiacutericos e

Experimentais da Linguagem

M - Masculino

PAR - Parenteacutetico

PB - Portuguecircs do Brasil

PE - Portuguecircs Europeu

PLN - Processamento de Linguagem Natural

PHA - Faacutetico

PRL - Lista de Parenteacuteticos

SCA - Unidade informacional escandida

TLA - Teoria da Liacutengua em Ato

TMT - Tomada de Tempo

TOP ndash Toacutepico

TPL - Lista de Toacutepicos

UI - Unidade de informaccedilatildeo

UNC - Unidade informacional irreconheciacutevel

XML - Linguagem de marcaccedilatildeo estendida

SUMAacuteRIO

Capiacutetulo 1 INTRODUCcedilAtildeO 17

11 Justificativa 18

12 Quadro hipoteacutetico 20

121 Hipoacuteteses 20

122 Objetivos 20

13 Organizaccedilatildeo do texto 21

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA 23

Capiacutetulo 2 MODALIDADE estado da arte 24

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica 24

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema 27

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis 28

222 Realis x Irrealis 31

223 Subjetividade 33

23 Tipos de significados modais 39

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas 40

232 A visatildeo tradicional 45

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades 47

232 Modalidade deocircntica 50

233 Modalidade dinacircmica 53

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias 55

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias 58

251 Modalidade e negaccedilatildeo 59

252 Modalidade e modo 61

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude 63

26 Modalidade na fala espontacircnea 67

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS

DADOS 74

Capiacutetulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 75

31 A Teoria da Liacutengua em Ato 75

311 O enunciado 76

312 Unidades Informacionais 79

3121 Comentaacuterio (COM) 79

3122 Toacutepico 80

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC) 81

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT) 81

3115 Parenteacutetico (PAR) 82

3116 Introdutor locutivo (INT) 83

322 Unidades Dialoacutegicas 83

3221 Incipitaacuterio (INP) 83

3222 Conativo (CNT) 84

3223 Faacutetico (PHA) 84

3224 Alocutivo (ALL) 84

3225 Expressivo (EXP) 85

3226 Conector Discursivo (DCT) 85

323 A perda do isomorfismo 85

3231 Unidade de escansatildeo (SCA) 86

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) 86

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB) 87

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL 88

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados 89

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I 89

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices 92

34 Anaacutelise dos dados 99

Capiacutetulo 4 A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise 101

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra 101

42 Enunciados e tipologia interacional 103

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade 105

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional 107

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais 109

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical 110

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais 111

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade 114

451 Os verbos modalizadores 114

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores 114

452 Os verbos epistecircmicos 117

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos 122

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas 125

453 Adveacuterbios e adjetivos modais 129

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais 129

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais 131

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q 135

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica 135

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE 141

Capiacutetulo 5 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL 142

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica 143

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc) 152

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech) 154

531 Metodologia 154

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2 154

5312 A preparaccedilatildeo dos textos 156

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar 158

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML 165

532 Escolha dos valores modais 168

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados 174

5331 Triggers 174

5332 Sources 180

53321 Source of the event mention 180

53322 Source of the modality 181

5333 Targets 185

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal 193

534 Polaridade 197

54 Resultados 198

541 Acordo entre anotadores 199

Capiacutetulo 6 Consideraccedilotildees finais 201

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 206

ANEXOS

Anexo 1 MASS 10 - Manual de anotaccedilatildeo

Anexo 2 Guia de uso MMAX2 (apenas na versatildeo eletrocircnica)

Anexo 3 Demonstraccedilatildeo de arquivo anotado (apenas na versatildeo eletrocircnica)

17

Capiacutetulo1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho se insere em um projeto sobre a modalidade desenvolvido desde o

ano de 2008 na Universidade Federal de Minas Gerais denominado ―Modalidade na fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro um estudo de corpus Este projeto tem como objetivo

investigar a modalidade em um corpus oral de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro por

diferentes motivos (1) pela dificuldade de compreensatildeo dessa categoria gramatical (2) pelo

nuacutemero ainda tiacutemido de estudos sobre o tema no portuguecircs brasileiro e (3) pela necessidade

de ―descriccedilotildees e estudos pontuais da manifestaccedilatildeo oral do portuguecircs brasileiro

Algumas das decisotildees teoacuterico-metodoloacutegicas aqui adotadas portanto satildeo fruto das

discussotildees realizadas pelo grupo de pesquisa ―Interfaces linguagem cogniccedilatildeo e cultura ndash

INCOGNITO certificado pelo CNPq e liderado pelos professores Heliana Mello e Tommaso

Raso Assim parti de estudos preliminares empreendidos dentro do projeto C-ORAL-

BRASIL que levantaram as principais estrateacutegias modalizadoras na fala espontacircnea do PB

(MELLO CARVALHO CORTES 2010 MELLO RAMOS AVILA 2011 CORTES

MELLO 2013 MELLO CAETANO 2012)

O trabalho que ora apresento pretende ser um passo agrave frente no que diz respeito agrave

descriccedilatildeo do comportamento de diferentes iacutendices marcadores do fenocircmeno semacircntico da

modalidade em um corpus oral da variante mineira do portuguecircs brasileiro

Desde o seacuteculo XVII segundo Arendt (19582010 p 310) ―todos os grandes autores

cientistas e filoacutesofos [] declaravam ver coisas jamais antes vistas e ter pensamentos jamais

antes pensados Como proposta de tese de doutoramento pretendo tratar de um tema que jaacute

foi bastante pensado e discutido desde a Antiguidade Claacutessica e por autores de diferentes

persuasotildees a categoria semacircntica da modalidade No entanto tal como os grandes nomes da

histoacuteria revolucionaacuterios ou natildeo sofremos insistentemente do ―pathoacutes da novidade e

portanto arrisco pensar a modalidade diferentemente da concepccedilatildeo claacutessica1 como uma

categoria menos estaacutetica e como uma noccedilatildeo que se realiza tambeacutem em um contexto

interacional Logo esse estudo pode ser realizado tatildeo somente pela anaacutelise da liacutengua em uso

e no caso da pesquisa em tela atraveacutes de um estudo empiacuterico

1 Trato da concepccedilatildeo claacutessica da modalidade e de outras definiccedilotildees da categoria no capiacutetulo 2

18

Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) e na

metodologia da Linguiacutestica de Corpus a pesquisa que proponho desenvolver tem como

objetivo descrever (e tentar explicar) o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de

modalidade mdash lexicais ou gramaticais mdash como por exemplo verbos modais adveacuterbios ou

locuccedilotildees modalizadoras verbos de crenccedila verbos de voliccedilatildeo construccedilotildees adjetivas

modalizadoras construccedilotildees condicionais e o futuro

A pesquisa teraacute como foco a diamesia oral da variante brasileira do portuguecircs a partir

da anaacutelise (qualitativa e quantitativa) da parte informal de um corpus oral representativo da

fala espontacircnea2 o C-ORAL-BRASIL (cf RASO MELLO 2012) a ser descrito mais

adiante Como exemplos desses iacutendices temos

(11) RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees uai

(12) JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai

13) CAR [12] e =TXC= e eu achei que ia me dar trabalho =COM=$

(14) [123] o Zeacute Carlos vai dar a televisatildeo =COM=$

(15) LUC [361] ltisso pode ser =SCA= potencialmentegt divertido =COM=$

11 Justificativa

Um estudo sobre a modalidade se justifica por diferentes razotildees Primeiro por ocupar

um lugar de destaque nos estudos da linguiacutestica nas uacuteltimas deacutecadas e ser um conceito ainda

controverso (e complexo) que se pode sobrepor a outros como os de atitude ilocuccedilatildeo ou

modo Mello e Raso (2011) propotildeem uma discussatildeo interessante sobre as categorias de

atitude ilocuccedilatildeo e modalidade a fim de facilitar a identificaccedilatildeo de traccedilos que possam

caracterizar esses diferentes conceitos De acordo com os autores essas trecircs definiccedilotildees muitas

vezes se sobrepotildeem o que leva a problemas metodoloacutegicos cruciais para a anaacutelise prosoacutedica

uma vez que a prosoacutedia codifica coisas diferentes ao mesmo tempo Os autores na tentativa

de separar os domiacutenios de aplicaccedilatildeo de cada um desses conceitos argumentam que eles

2 Para fala espontacircnea acompanho a proposta de Cresti e Scarano (1998 p 5) que entendem o espontacircneo

―como o cumprimento de atos linguiacutesticos nem programados nem programaacuteveis porque produzidos durante e

no desenvolvimento de uma interaccedilatildeo sempre nova e imprevisiacutevel entre locutores As autoras destacam o

caraacuteter dialoacutegico da fala considerada espontacircnea fundamentadas na Teoria dos Atos de Fala que relaciona o ato

de falar com o cumprimento de diversas accedilotildees linguiacutesticas (AUSTIN 1962) Tais accedilotildees linguiacutesticas em si

finitas e circunscritas natildeo satildeo o produto de um locutor ativo e isolado mas sim se relacionam a um locutor

engajado em uma situaccedilatildeo dinacircmica e interativa com vaacuterios interlocutores Segundo as autoras o princiacutepio que

rege os textos da fala espontacircnea repousa sobre um fundamento ilocutoacuterio ausente na escrita que conteacutem uma

articulaccedilatildeo informacional especifica

19

devem ser estabelecidos como instacircncias de diferentes fenocircmenos os quais satildeo aplicados a

diferentes niacuteveis do ato comunicativo e podem a princiacutepio ser composicionais

Em segundo lugar entendo que partir de corpora orais de fala espontacircnea para a

anaacutelise do fenocircmeno pode nos levar a caminhos de investigaccedilatildeo com foco em ―contextos

especiacuteficos de uso de expressotildees modais e como eles correspondem a necessidades

especiacuteficas de comunicaccedilatildeo (CORNILLIE PIETRANDREA 2012) e por consequecircncia agrave

importacircncia dos movimentos linguiacutesticos dos participantes na negociaccedilatildeo de sentidos no

curso de uma interaccedilatildeo De fato se o objetivo que aqui se delineia eacute trabalhar com a descriccedilatildeo

de construccedilotildees da liacutengua os estudos de corpora em termos metodoloacutegicos vecircm contribuir

para a manipulaccedilatildeo de um grande nuacutemero de dados representativos do uso com o recurso de

ferramentas computacionais sofisticadas Dar conta da distribuiccedilatildeo das expressotildees de uma

liacutengua se constitui como uma tarefa hercuacutelea A pesquisa de corpus dessa forma pode

determinar a frequecircncia com a qual uma determinada expressatildeo (ou construccedilatildeo) pode ser

usada em diferentes contextos Gries destaca em artigo sobre a polissemia do verbo to run

como ―os meacutetodos quantitativos da linguiacutestica de corpus podem fornecer evidecircncia empiacuterica

sugerindo respostas para alguns problemas notoriamente difiacuteceis da linguiacutestica cognitiva

(GRIES 2006 p 57)

Por uacuteltimo mas natildeo menos importante o tema da modalidade cobre diferentes

construtos de abordagens baseadas no uso ainda natildeo combinados Os estudos linguiacutesticos no

Brasil sobre a modalidade ainda carecem de anaacutelises que levem em conta as expressotildees em

contexto com dados da fala espontacircnea organizados sistematicamente ainda que haja

projetos que explorem o estudo da liacutengua falada (como o NURC e seus desdobramentos em

publicaccedilotildees)

Como consequecircncia o trabalho que ora se apresenta pode fomentar a discussatildeo sobre

semelhanccedilas e diferenccedilas em relaccedilatildeo a variedades da liacutengua portuguesa e em relaccedilatildeo a outras

liacutenguas de base romacircnica (o italiano o francecircs e o espanhol) Desse modo a pesquisa se

mostra relevante na medida em que a anaacutelise pode colaborar na reavaliaccedilatildeo de procedimentos

teoacuterico-metodoloacutegicos nesse campo e contribuir para uma melhor compreensatildeo da relaccedilatildeo da

cogniccedilatildeo humana e o comportamento social

Para aleacutem da proacutepria importacircncia do esforccedilo descritivo da modalidade na fala a tarefa

de se propor um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade para seu reconhecimento

automaacutetico se constitui como campo ainda inexplorado no portuguecircs brasileiro tanto para

dados escritos quanto dados orais Um projeto de anotaccedilatildeo para o PB inspirado em outros

desenvolvidos para a liacutengua inglesa e o portuguecircs europeu (PE) pretende portanto contribuir

20

para um nuacutemero de aplicaccedilotildees para o Processamento de Linguagem Natural (PLN) e

tambeacutem para o proacuteprio estudo linguiacutestico da modalidade

12 Quadro hipoteacutetico

121 Hipoacuteteses

(a) Haacute uma relaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade os perfis linguiacutesticos e a estrutura

informacional dos enunciados do Portuguecircs Brasileiro

(b) As construccedilotildees que carregam iacutendices de modalidade cumprem diferentes funccedilotildees

a depender do contexto de uso

(c) O uso de iacutendices de modalidade depende da tipologia do texto do gecircnero

discursivo do propoacutesito comunicativo e aleacutem disso da relaccedilatildeo entre os participantes da

interaccedilatildeo

122 Objetivos

Como objetivos pretendemos

Objetivo geral

reavaliar a partir de um estudo de um corpus de fala espontacircnea a definiccedilatildeo de

modalidade no sentido de delimitar a fronteira entre semacircntica e pragmaacutetica

e a partir disso definir e descrever os marcadores modais

Objetivos especiacuteficos

explorar o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade mdash

lexicais ou gramaticais mdash em um corpus oral da variante brasileira do

portuguecircs

sugerir uma correlaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade do Portuguecircs

Brasileiro com base nas unidades informacionais que compotildeem seus

enunciados

21

investigar os contextos de uso dos diferentes iacutendices de modalidade

elaborar um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a ser aplicado em uma

amostra de um corpus representativo da fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro

13 Organizaccedilatildeo do texto

Este trabalho estaacute organizado em trecircs grandes eixos uma parte teoacuterica que trata da

definiccedilatildeo de modalidade e da sua tipologia os procedimentos metodoloacutegicos e a descriccedilatildeo

dos itens modais de base empiacuterica em uma amostra de corpus oral do PB e a uacuteltima parte

em que apresento uma proposta de esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade A

narrativa assim se constroacutei desde uma discussatildeo teoacuterica passa pela descriccedilatildeo do fenocircmeno a

partir de consistente base empiacuterica e termina com sua aplicaccedilatildeo para fins de PLN com a

elaboraccedilatildeo do esquema de anotaccedilatildeo

O capiacutetulo 2 traz uma discussatildeo do conceito de modalidade corrente na literatura sobre

o tema os tipos de significados modais as fronteiras desta categoria semacircntica com as de

negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude a fronteira entre modalidade e evidencialidade a

modalidade na fala espontacircnea e a minha proposta de definiccedilatildeo que leva em conta a

modalidade ancorada em uma situaccedilatildeo comunicativa

Em seguida no capiacutetulo 3 satildeo detalhados os procedimentos metodoloacutegicos eacute

introduzido o quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato o projeto C-ORAL-BRASIL e o

minicorpus utilizado nesta pesquisa

O capiacutetulo 4 apresenta a descriccedilatildeo da modalidade na amostra de 20 textos da parte

informal do corpus C-ORAL-BRASIL Este minicorpus eacute representativo e estaacute definido

segundo criteacuterios de alta qualidade Apoacutes serem discutidos os resultados para a distribuiccedilatildeo e

frequecircncia dos iacutendices no que respeita a tipologia interacional as unidades informacionais e

os valores modais empreendo uma anaacutelise de trecircs estrateacutegias modalizadoras lexicais ndash verbos

modalizadores verbos epistecircmicos e adveacuterbios ndash e uma gramatical ndash as construccedilotildees

condicionais

O capiacutetulo 5 que constitui a terceira parte da tese introduz o projeto MASS ndash Modal

Annotation of Spontaneous Speech ndash que se trata de um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade

para a fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Parte desta pesquisa foi desenvolvida no

22

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa sob orientaccedilatildeo da Drordf Amaacutelia Mendes

dentro do Programa de Doutorado Sanduiacuteche no Exterior da Capes (PDSECapes)3

Por fim no capiacutetulo 6 apresento as consideraccedilotildees finais no sentido de apontar os

objetivos alcanccedilados e sinalizar para perspectivas futuras de trabalho

Em resumo

Esta introduccedilatildeo pretendeu explicitar o objeto de estudo os problemas a serem

enfrentados em relaccedilatildeo agrave categoria semacircntica da modalidade a justificativa da pesquisa o

quadro hipoteacutetico os objetivos a serem perseguidos e a estrutura do trabalho No capiacutetulo

seguinte pretendo situar o debate acerca do que vem sendo dito sobre modalidade o consenso

entre as definiccedilotildees e os problemas da conceituaccedilatildeo e da tipologia aplicadas aos dados da fala

Por fim avanccedilo para uma proposta de reformulaccedilatildeo do conceito

3 Processo nordm BEX 953712-0

23

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA

24

Capiacutetulo 2

MODALIDADE estado da arte

Este capiacutetulo pretende elucidar o caminho percorrido pelo conceito de modalidade

desde as abordagens loacutegicas passando pela sua apropriaccedilatildeo pelos semanticistas formais pelas

concepccedilotildees correntes na literatura linguiacutestica sejam formalistas ou funcionalistas para chegar

ao que nos interessa como debate a saber a modalidade aplicada a dados de fala espontacircnea

O objetivo eacute assumir um conceito que pressuponha a divisatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica no

que diz respeito a essa categoria atribuindo agrave semacircntica aquilo que estaacute relacionado agrave

conceptualizaccedilatildeo e ao significado do material locutoacuterio e agrave pragmaacutetica os aspectos referentes

agrave estrutura informacional agrave forccedila ilocucionaacuteria ao conjunto de informaccedilotildees contextuais e agraves

estrateacutegias adotadas pelos interlocutores no curso da interaccedilatildeo

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica

A noccedilatildeo de modalidade vem sendo debatida ao longo da histoacuteria por filoacutesofos

loacutegicos linguistas Autores de diferentes persuasotildees tratam o tema de maneira diversa

fundados principalmente na ideia comum de que a modalidade estaacute comprometida com a

noccedilatildeo de verdade e com a opiniatildeo do falante sobre o que enuncia uma determinada

proposiccedilatildeo No entanto a tarefa de definir o que eacute essa categoria eacute difiacutecil por uma seacuterie de

motivos elencados por Mello Carvalho e Cortes (2010 p 108)

(a) o de tal categoria haver sofrido em sua tradiccedilatildeo de estudo uma grande

influecircncia da Loacutegica havendo assim uma mescla entre estudos filosoacuteficos e

matemaacuteticos e aqueles da linguagem natural o que acarreta uma mistura

metodoloacutegica nem sempre produtiva para o estudo da liacutengua em uso (cf verificaccedilatildeo

de valores de verdade) (b) o de essa categoria existir em interrelaccedilatildeo no sistema

gramatical de uma liacutengua com vaacuterios fenocircmenos gramaticais como tempo aspecto

e modo prosoacutedia organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo dentre outros e (c) o fato de o

proacuteprio conceito de modalidade confundir-se com aqueles de atitude ilocuccedilatildeo e

emoccedilatildeo

Ou como coloca Bybee et al (1994 p 176) ―pode ser impossiacutevel chegar a uma

caracterizaccedilatildeo sucinta do domiacutenio nocional da modalidade4

4 Traduccedilatildeo do original ―it may be impossible to come up with a succinct characterization of the notional domain

of modality (BYBEE et al 1994 p 176)

25

Segundo a tradiccedilatildeo aristoteacutelica uma proposiccedilatildeo eacute uma sentenccedila declarativa que

conteacutem uma verdade ou uma falsidade natildeo podendo ocorrer as duas simultaneamente

Dessa forma Aristoacuteteles dedica um capiacutetulo do seu De Interpretatione agrave sua teoria da

modalidade e propotildee uma anaacutelise das declaraccedilotildees modais ou seja da relaccedilatildeo das proposiccedilotildees

―que satildeo possiacuteveis e aquelas que negam que seja possiacutevel entre aquelas que declaram que eacute

suscetiacutevel de se produzir e aquelas que o negam e entre aquelas que tratam do impossiacutevel e

do necessaacuterio (ARISTOTE 2007 p 309)5 Em dois capiacutetulos Aristoacuteteles trata das relaccedilotildees

entre as declaraccedilotildees que dizem respeito ao possiacutevel ao impossiacutevel ao contingente ao

necessaacuterio e suas respectivas negaccedilotildees (Capiacutetulo 12 As declaraccedilotildees modais e suas

contradiccedilotildeeslsquo) e na sequecircncia analisa as consequecircncias das declaraccedilotildees modais (Capiacutetulo 13

A consecuccedilatildeo loacutegica entre declaraccedilotildees modaislsquo)

A possibilidade e a necessidade estatildeo relacionadas por uma dupla negaccedilatildeo Eacute possiacutevel

que p = Natildeo eacute necessaacuterio que natildeo-plsquo e Eacute necessaacuterio que p = Natildeo eacute possiacutevel que natildeo-plsquo Estas

duas satildeo as noccedilotildees centrais da modalidade mas natildeo refletem a sua totalidade pois haacute uma

gama de significados modais que circulam na periferia formando o quadrado modal ndash

necessidadenatildeo-necessidadeimpossibilidadepossibilidade) como ilustrado na Figura 21

abaixo

Figura 21 - Quadrado modal

5 No original francecircs ―que clsquoest possible et celles qui nient que ce soit possible entre celles deacuteclarant que clsquoest

susceptible de se produire et celles qui le nient et entre celles qui traitent de llsquoimpossible et du neacutecessaire

(ARISTOTE 2007 p 309)

Possiacutevel Contingente

Contradiccedilatildeo

Necessaacuterio Impossiacutevel

26

O quadrado modal pode dar conta por exemplo de explicar que ―Ele pode subir 3

degraus de cada vez e ―Natildeo eacute impossiacutevel pra ele subir 3 degraus de cada vez se relacionam

semanticamente mas natildeo satildeo sinocircnimas

Como extensatildeo da loacutegica formal as loacutegicas modais identificam uma proposiccedilatildeo ―com

o conjunto de mundos possiacuteveis nos quais ela eacute verdadeira ou com uma funccedilatildeo de mundos

possiacuteveis em valores de verdade (HAAK 2002 p 116) Incorporam operadores que

modulam a verdade ou a falsidade para representar argumentos ligados agrave ideia de necessidade

e possibilidade Segundo Machado e Cunha (2005 p 75) ―um modal eacute uma expressatildeo

(necessariamente possivelmente) que eacute usada para qualificar a verdade de um julgamento

Dois operadores modais satildeo utilizados portanto ―eacute possiacutevele ―eacute necessaacuterio O primeiro

significa que uma sentenccedila eacute verdadeira em algum mundo possiacutevel jaacute o segundo significa que

a sentenccedila eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis Considere a proposiccedilatildeo em (21)

abaixo6 e suas modificaccedilotildees pelos operadores em (21a) e (21b)

(21) Joatildeo eacute solteiro

(21a) Possivelmente Joatildeo eacute solteiro

(21b) Com certeza Joatildeo eacute solteiro

A sentenccedila em (21) que representaria o ―real pode ser tomada como a modalidade

zero Em (21a) o operador ―possivelmente indica que haacute um mundo possiacutevel em que Joatildeo eacute

solteiro Jaacute em (21b) afirma-se que em todos os mundos possiacuteveis a proposiccedilatildeo ―Joatildeo eacute

solteiro eacute verdadeira

Haak (2002 p 229) nos esclarece sobre esse caraacuteter necessaacuterio e contingente

Haacute uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica de distinguir entre verdades necessaacuterias e verdades

contingentes A discussatildeo eacute frequentemente explicada da seguinte maneira uma

verdade necessaacuteria eacute uma verdade que natildeo poderia ser de outra forma uma verdade

contingente uma que poderia ou a negaccedilatildeo de uma verdade necessaacuteria eacute

impossiacutevel ou contraditoacuteria a negaccedilatildeo de uma verdade contingente eacute possiacutevel e

consistente ou uma verdade necessaacuteria eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis

uma verdade contingente eacute verdadeira no mundo real mas natildeo em todos os mundos

possiacuteveis

As loacutegicas modais sofreram criacuteticas principalmente porque sua interpretaccedilatildeo parece

cheia de dificuldades Segundo Kiefer (2009 p 179) ―os tratamentos loacutegicos da modalidade

6 Este exemplo foi adaptado de Lyons (1977 p 165) O exemplo original eacute ―John is a bachelor

27

satildeo restritos agraves propriedades das proposiccedilotildees e excluem todos os traccedilos natildeo-proposicionais

das sentenccedilas7

Estas ideias jaacute tinham surgido mesmo que de forma incipiente nos Primeiros

Analiacuteticos em que Aristoacuteteles anuncia ―Temos que dizer primeiro que se quando A eacute eacute

necessaacuterio que B seja entatildeo se A eacute possiacutevel eacute tambeacutem necessaacuterio que B seja possiacutevel (citado

por MACHADO CUNHA 2005 p 76) O tema continuou a ser desenvolvido em outros

acircmbitos sobretudo na linguiacutestica da qual passo a tratar agora

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema

As loacutegicas modais e a linguiacutestica utilizam os mesmos termos para tratar da

modalidade Entretanto a loacutegica a divide em objetiva e subjetiva e se ocupa

fundamentalmente do caraacuteter objetivo da modalidade Jaacute na tradiccedilatildeo linguiacutestica a leitura

subjetiva da modalidade parece ser a preferencial ou melhor dito a modalidade na linguagem

eacute essencialmente subjetiva uma vez que estaacute relacionada com as atitudes dos falantes8

De fato um dos primeiros estudos linguiacutesticos sobre a modalidade o de Jespersen em

1924 nos oferece a definiccedilatildeo ―expressar certas atitudes da mente do falante em relaccedilatildeo ao

conteuacutedo das sentenccedilas9 e aponta para uma diferenciaccedilatildeo de categorias modais dividindo-as

a partir da presenccedila ou ausecircncia de ―um elemento volitivo10

A primeira corresponderia ao

obrigativo jussivo e permissivo a uacuteltima ao necessitativo potencial hipoteacutetico dubitativo

Haacute no entanto aleacutem da abordagem relacionada agrave subjetividade agrave qual esta tese vai se

alinhar outras abordagens para o estudo da modalidade (a) uma mais formal sob a

perspectiva de uma semacircntica de mundos possiacuteveis e (b) outra que propotildee a distinccedilatildeo entre

realis e irrealis

Nas seccedilotildees seguintes apresento estas trecircs teorias semacircnticas que definem de diferentes

perspectivas o fenocircmeno da modalidade

7 No original ―Logical treatments of modality are restricted to properties of propositions and exclude all

nonpropositional features of sentences (KIEFER 2009 p 179) 8 Esta formulaccedilatildeo vai ser problematizada logo agrave frente

9 ―express[ing] certain attitudes of the mind of the speaker towards the content of the sentences (JESPERSEN

1924 p 313) 10

―element of will (JESPERSEN 19241992 p 320-1)

28

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis

De uma forma ou de outra observamos que as definiccedilotildees propostas por linguistas

sobre a modalidade estatildeo comprometidas com o valor de verdade de um determinado

conteuacutedo proposicional ou tambeacutem satildeo analisadas sob a perspectiva de uma semacircntica de

mundos possiacuteveis (KRATZER 1981)

Esta noccedilatildeo foi introduzida na filosofia loacutegica na deacutecada de 1960 por Hintikka (1962) e

Kripke (1963) com raiacutezes em Leibniz para quem as pessoas viviam em um mundo que eacute

apenas um entre infinitas possibilidades de mundos criados por Deus Para fins deste trabalho

natildeo ampliarei a discussatildeo da loacutegica modal e passo a apresentar a proposta de Kratzer em que

os mundos possiacuteveis servem a modelar determinadas relaccedilotildees semacircnticas entre expressotildees

linguiacutesticas Nas palavras de Rubinstein (2012 p 191) ―[hellip] os mundos possiacuteveis

representam todas as maneiras possiacuteveis de as coisas poderem ser (sem o compromisso de

estas possibilidades realmente existirem ou natildeo no mundo em que vivemos [hellip])11

Nesta perspectiva a modalidade seria ―o fenocircmeno linguiacutestico por meio do qual a

gramaacutetica permite que se diga coisas sobre ou na base de situaccedilotildees que natildeo necessitam ser

reais (PORTNER 2009 p 1)12

Os modais seriam pistas linguiacutesticas que lanccedilariam luz aos

conjuntos contextualmente relevantes de mundos possiacuteveis

Duas das ideias centrais da abordagem de Kratzer (1981 1991 2012) tomada como

uma ―encarnaccedilatildeo influente13

da loacutegica modal satildeo (i) os modais relativos natildeo satildeo ambiacuteguos

a distinccedilatildeo do valor de um determinado iacutendice modal eacute dada pelo contexto ou pelo que ela

denomina background conversacional Os modais de possibilidade corresponderiam a

quantificadores existenciais e os de necessidade a quantificadores universais estas forccedilas

modais que incidem sobre a base satildeo definidas pelo item lexical e (ii) ordenamento de

mundos as expressotildees modais satildeo quantificaccedilotildees sobre mundos possiacuteveis no entanto estes

mundos possiacuteveis satildeo tomados como um conjunto ordenado (ou parcialmente ordenado) de

mundos Este conjunto eacute criado atraveacutes da interaccedilatildeo de dois backgrounds conversacionais

A base modal formalmente eacute uma funccedilatildeo de mundos possiacuteveis para um conjunto de

proposiccedilotildees que servem para diferenciar as leituras dos significados modais A cada situaccedilatildeo

de uso a base modal eacute o conjunto dos mundos compatiacuteveis com o conhecimento a crenccedila os

11

Traduccedilatildeo para ―[hellip] possible worlds represent all the possible ways things could be (without committing to

whether or not these possibilities actually exist alongside the one world we live in) [hellip] (RUBINSTEIN 2012

p 191) 12

No original ―the linguistic phenomenon whereby grammar allows one to say things about or on the basis of

situations which need not be real (PORTNER 2009 p 1) 13

―influential incarnation (von FINTEL 2006 p 3)

29

desejos do falante as regras aplicaacuteveis e podem variar de mundo para mundo de acordo com

a sua avaliaccedilatildeo

Para o segundo paracircmetro o subconjunto relevante de mundos possiacuteveis para qualquer

modal eacute identificado primeiro pela descoberta de todos os mundos nos quais todas as

proposiccedilotildees na base modal satildeo verdadeiras e em seguida eacute feita a hierarquizaccedilatildeo (ou o

escalonamento) destes mundos de acordo com o quatildeo proacuteximo estatildeo do ideal determinado

pela fonte de ordenaccedilatildeo Nas palavras de Hara (2006 p 9) a fonte de ordenaccedilatildeo ―forccedila uma

ordenaccedilatildeo particular entre os mundos epistecircmicos da base modal em termos de sua

acessibilidade14

Para von Fintel (2006 p 1) disciacutepulo de Kratzer a modalidade eacute a categoria de

significado linguiacutestico que tem a ver com a expressatildeo de possibilidade e necessidade Uma

sentenccedila modalizada estabelece uma proposiccedilatildeo subjacente e prejacente (anaacutelise no niacutevel

proposicional) no espaccedilo das possibilidades Por exemplo

(24) Sandy might be home

Sandy pode estar em casa

diz que haacute uma possibilidade de Sandy estar em casa

(25) Sandy must be home

Sandy deve estar em casa

diz que entre todas as possibilidades Sandy estaacute em casa

von Fintel (2006) argumenta que a modalidade assim como a temporalidade estaacute no

centro da propriedade de deslocamento que permite agrave linguagem falar de coisas para aleacutem do

aqui-agora Aleacutem desta capacidade de projeccedilatildeo (prospectiva ou retrospectiva) Fintel aponta

para os diferentes tipos de significados dos itens modais15

e nos fornece exemplos com a

forma verbal to have tolsquo apresentados abaixo

(26) It has to be raining

Tem que estar chovendo

[depois de observar pessoas entrando com sombrinhas modalidade epistecircmica]

14

No original ―[The ordering source] forces a particular ordering among epistemic worlds of the modal base in

terms of their accessibility (HARA 2006 p 9) 15

No caso da liacutengua portuguesa comportam mais de um sentido os verbos poderlsquo deverlsquo e ter quelsquo que

carregam tanto o valor epistecircmico quanto o raizdeocircntico e dinacircmico Mais adiante discuto este ponto

30

(27) Visitors have to leave by six pm

Os visitantes tecircm que sair por volta de seis da tarde

[regulamento de hospital deocircntico]

(28) You have to go to bed in ten minutes

Vocecirc tem que ir pra cama em dez minutos

[um pai severo bulomaica ou buleacutetica]

(29) I have to sneeze

Tenho que espirrar

[dado o estado atual do nariz de algueacutem circunstancial]

(210) To get home in time you have to take a taxi

Para chegar em casa no horaacuterio Vocecirc tem que pegar um taacutexi

[modalidade teleoloacutegica]

Os exemplos entre (26) e (210) poderiam ser tomados como ocorrecircncias do tipo

deocircntico No entanto guardam entre si diferenccedilas sutis Em (27) o tipo buleacutetico ou

bulomaico indica a vontade ou intenccedilatildeo do falante O valor circunstancial em (28) expressa o

que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com determinadas circunstacircncias A modalidade

teleoloacutegica eacute orientada para um alvo isto eacute eacute o domiacutenio do necessaacuterio e do possiacutevel com a

finalidade de alcanccedilar um determinado objetivo (von FINTEL IATRIDOU 2005

HACQUARD 2006) no caso em (29) o objetivo seria ―chegar em casa no horaacuterio

Introduzi aqui algumas das ideias principais acerca da abordagem formal da

modalidade desenvolvida desde a deacutecada de 1960 e cuja contribuiccedilatildeo de Kratzer eacute

fundamental como o fato de as expressotildees modais serem usadas para descrever maneiras

alternativas de como pode ser o mundo e incidirem sobre um argumento proposicional

conhecido por ―prejacente Satildeo quantificadores sobre mundos possiacuteveis e esta quantificaccedilatildeo

em qualquer mundo avaliativo estaacute contextualmente localizada e eacute determinada por relaccedilotildees

de acessibilidade Foram apresentados tambeacutem os dois paracircmetros principais desta

abordagem quais sejam a base modal (epistecircmica deocircntica bulomaica circunstancial

teleoloacutegica) a ordenaccedilatildeo de mundos e a fonte de ordenaccedilatildeo definidos em um background

conversacional e a partir da interaccedilatildeo entre eles

31

222 Realis x Irrealis

Como dito haacute na literatura sobre modalidade abordagens que privilegiam em suas

anaacutelises uma divisatildeo binaacuteria entre modal e natildeo-modal e relacionam essa distinccedilatildeo ao

contraste factual natildeo-factual ou realis irrealis (CHUNG TIMBERLAKE 1985 GIVOacuteN

1995 KIEFER 1994 MITHUN 1999) Para Mithun (1999 p 173) ―o realis retrata

situaccedilotildees como presentes ou tendo ocorrido ou atualmente ocorrendo reconheciacuteveis por

percepccedilatildeo direta O irrealis retrata situaccedilotildees como puramente dentro domiacutenio do pensamento

reconheciacutevel apenas atraveacutes da imaginaccedilatildeo16

Em outras palavras esta distinccedilatildeo separa o

mundo entre situaccedilotildees ou eventos reais ou irreais

Ferdinand de Haan (2005 p 41-45) argumenta que a distinccedilatildeo realis-irrealis talvez

natildeo seja suficiente para dar conta de uma tipologia da modalidade e uma definiccedilatildeo

interlinguiacutestica desta categoria uma vez que o termo irrealis eacute vago e pode se referir a

diferentes circunstacircncias aleacutem de o conteuacutedo semacircntico de morfemas irrealis variar de liacutengua

para liacutengua mesmo as liacutenguas intimamente relacionadas

A categoria de futuro eacute apresentada por de Haan como uma que pode ilustrar esta

inconsistecircncia apesar de ser uma categoria que pode ser tomada como prototipicamente

irrealis jaacute que indica eventos que ainda natildeo ocorreram e portanto satildeo irreais Nas liacutenguas

Amele e Muyuw (ambas liacutenguas da Papua Nova Guineacute mas de famiacutelias diferentes) o futuro eacute

uma categoria irrealis mas natildeo eacute o caso da liacutengua Caddo (CHAFE 1995 p 358)

exemplificada abaixo

(211) ciacuteiacutebaacutew-a ci-yi=bahw- a

1SGAGREAL-see-FUT

Irei olhaacute-lolsquo

No exemplo em (211) o morfema de futuro - a natildeo ocorre com o prefixo de

irrealis tlsquoa-tlsquoi- mas com o prefixo de realis ci-

Mithun (1995 p 378ndash80) pontua que haacute liacutenguas como o Pomo Central falado na

Califoacuternia em que o futuro pode ser usado tanto como realis ou irrealis a depender do

julgamento do falante sobre a probabilidade de um evento realmente acontecer

16

No original ―the realis portrays situations as actualized as having occurred or actually occurring knowable

through direct perception The irrealis portrays situations as purely within the realm of thought knowable only

through imagination (MITHUN 1999 p 173)

32

Givoacuten (1995) trata esta distinccedilatildeo a partir da afirmaccedilatildeo de que a modalidade eacute um

domiacutenio funcional complexo que abarca subdomiacutenios semacircnticos e pragmaacuteticos difiacuteceis de

serem separados uma vez que agrupam construccedilotildees que servem tanto a construccedilotildees

primariamente semacircnticas quanto primariamente pragmaacuteticas Seu objetivo eacute delinear alguns

princiacutepios coerentes pelos quais se pode predizer uma variaccedilatildeo de ambientes gramaticais em

que o modo subjuntivo provavelmente se gramaticaliza e podem representar um subconjunto

de irrealis O irrealis eacute tomado como uma categoria comunicativo-cognitiva (funcional) e

tipoloacutegica-gramatical (formal)

Abaixo um quadro que representa a modalidade epistecircmica na tradiccedilatildeo loacutegica e seu

equivalente comunicativo

tradiccedilatildeo loacutegica equivalente comunicativo

a verdade necessaacuteria pressuposiccedilatildeo

b verdade factual asserccedilatildeo realis

c verdade possiacutevel asserccedilatildeo irrealis

d natildeo-verdade asserccedilatildeo-NEG

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional

A tradiccedilatildeo loacutegica trata a modalidade desconectada de seu contexto comunicativo

natural Nas palavras de Givoacuten (1995 p 114) ―a interpretaccedilatildeo comunicativo-pragmaacutetica das

quatro modalidades [] as reelenca em termos dos estados epistecircmicos e objetivos

comunicativos dos dois participantes na negociaccedilatildeo comunicativa mdash falante e ouvinte17

A

redefiniccedilatildeo comunicativa da modalidade epistecircmica fica assim estabelecida

(a) pressuposiccedilatildeo assume-se uma pressuposiccedilatildeo como verdadeira por definiccedilatildeo por

acordo a priori por convenccedilatildeo geneacuterica culturalmente compartilhada por ser

oacutebvio para todos presentes numa situaccedilatildeo de fala ou por ter sido enunciada pelo

falante e natildeo contestada pelo ouvinte

17

Traduccedilatildeo minha para ―the communicative-pragmatic interpretation of the four modalities [hellip] recasts them

in terms of the epistemic states and communicative goals of the two participants of the communicative

transaction mdash speaker and hearer (GIVOacuteN 1995 p 114)

33

(b) asserccedilatildeo realis a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como verdadeira mas a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute considerada apropriada apesar de o falante ter evidecircncia

ou outras bases para defender sua firme crenccedila

(c) asserccedilatildeo irrealis a proposiccedilatildeo eacute fracamente afirmada por ser tanto possiacutevel

provaacutevel ou incerta (submodos epistecircmicos) ou necessaacuteria desejada ou indesejada

(submodos avaliativo-deocircntico) Mas o falante natildeo estaacute pronto para confirmar a

afirmaccedilatildeo com evidecircncia ou outras bases a contestaccedilatildeo do ouvinte eacute prontamente

considerada esperada ou ateacute mesmo solicitada

(d) asserccedilatildeo-NEG a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como falsa mais

comumente em contradiccedilatildeo agraves crenccedilas expliacutecitas ou assumidas do ouvinte a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute antecipada e o falante tem evidecircncia ou outras bases para

confirmar sua firme crenccedila

Mudar o foco das noccedilotildees de realis e irrealis para uma oacutetica cognitiva e comunicativa

implica cognitivamente deslocar de questotildees de verdade loacutegica para questotildees de certeza

subjetiva e comunicativamente deslocar do sentido (semacircntico) da orientaccedilatildeo pelo falante

para o sentido (pragmaacutetico) interativo socialmente negociado envolvendo tanto o falante

quanto o ouvinte

Independentemente da perspectiva que eacute tomada esta distinccedilatildeo parece difiacutecil tomar a

oposiccedilatildeo realis x irrealis e especificamente o irrealis como uma noccedilatildeo para a definiccedilatildeo de

modalidade ainda que em algumas liacutenguas esteja gramaticalmente marcada e que na literatura

sobre crioulos e pidgins esta seja a forma padratildeo para descrever as distinccedilotildees modais (de

HAAN 2005 p 45)

Passo portanto para a terceira abordagem sobre o fenocircmeno a modalidade como uma

categoria relacionada agrave subjetividade

223 Subjetividade

Lyons (1977 p 797-ss) em sua tentativa de siacutentese sobre a modalidade que guia

muitos outros autores em termos de relacionar a categoria com a expressatildeo da atitude de um

falante anuncia ao tratar dos adveacuterbios modais que a modalidade representa ―a opiniatildeo ou a

atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo que a sentenccedila expressa ou a situaccedilatildeo que a

34

proposiccedilatildeo descreve (LYONS 1977 p 452)18

Kiefer (1994 p 2516) se alinha a ele e

afirma que a modalidade eacute ―a atitude volitiva emotiva e cognitiva do falante em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas19

e tambeacutem Nitta (2000 p 81) que define o fenocircmeno ―como a expressatildeo

do ponto de vista do falante sobre os conteuacutedos da sentenccedila e a atitude comunicativa do

falante20

Palmer (1986) igualmente sugere uma definiccedilatildeo para modalidade baseada na

subjetividade ―Modalidade na linguagem estaacute [] relacionada agraves caracteriacutesticas subjetivas de

um enunciado [] [e] poderia ser definida como a gramaticalizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees

(subjetivas) de um falantersquo21

(PALMER 1986 p 16 grifos meus) O autor toma a

modalidade desde uma perspectiva tipoloacutegica e a divide em dois tipos proposicional e de

evento

A primeira eacute definida como o julgamento pelo falante do valor de verdade ou estatuto

factual de uma proposiccedilatildeo e eacute subdividida em epistecircmica e evidencial A epistecircmica expressa

o julgamento sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo e pode ser especulativa (expressa

incerteza) dedutiva (indica uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia observaacutevel) assumptiva

(indica inferecircncia a partir do que eacute geralmente conhecido) evidencial (os falantes indicam a

evidecircncia que tecircm sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo) reportada e sensoacuteria O segundo

tipo eacute a atitude do falante em relaccedilatildeo a um potencial evento futuro que ainda natildeo ocorreu Eacute

tambeacutem subdividida em deocircntica relacionada agrave obrigaccedilatildeo ou agrave permissatildeo e dinacircmica

relativa agrave habilidade ou voliccedilatildeo

Na mesma clave Bybee Perkins e Pagliuca (1994 p 178 grifo meu) conceituam a

modalidade como a ―gramatizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees (subjetivas) do falante22

e

propotildeem uma divisatildeo de modalidade em quatro tipos epistecircmica orientada-para-o-agente

(ie deocircntica) orientada-para-o-falante e subordinada23

Elas sublinham a importacircncia do

estudo diacrocircnico do desenvolvimento de elementos modais a fim de compreender a variaccedilatildeo

dos significados modais em uma liacutengua

18

No original ―the speakerlsquos opinion or attitude towards the preposition that the sentence expresses or the

situation that the proposition describes (LYONS 1977 p 452) 19

Traduccedilatildeo minha para ―the speakerlsquos cognitive emotive or volitive attitude towards a state of affairs

(KIEFER 1994 p 2516) 20

Traduccedilatildeo de ―as expressing the speakerlsquos point of view on the sentence contentes and the speakerlsquos

coomunicative atitude (NITTA 2000 p 81) 21

―Modality in language is [hellip] concerned with subjective characteristics of an utterance [hellip] [and] could be

defined as the grammaticalization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (PALMER 1986 p 16) 22

Traduccedilatildeo minha para ―grammaticization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (BYBEE et al

1994 p 178) 23

Esta tipologia seraacute apresentada na seccedilatildeo 231

35

A dimensatildeo subjetiva da modalidade eacute tratada de diferentes formas na literatura sobre

a modalidade epistecircmica A oposiccedilatildeo entre o traccedilo objetivo e subjetivo da modalidade eacute

apresentada em Lyons (1977) que define que a modalidade epistecircmica objetiva expressa a

chance objetivamente mensuraacutevel de que um estado de coisas seja verdade ou natildeo e por sua

vez um enunciado epistecircmico subjetivo indica uma suposiccedilatildeo subjetiva em relaccedilatildeo agrave sua

verdade A definiccedilatildeo de Lyons de subjetividade x objetividade recai sobre diferenccedilas na

qualidade da evidecircncia que leva ao julgamento (NUYTS 2005 p 14) Lyons (1977 p 797)

toma em consideraccedilatildeo os seguintes exemplos em (212) e (213)

(212) Alfred may be unmarried

Alfred pode ser descasado

Em uma interpretaccedilatildeo subjetiva do exemplo em (212) o falante baseado em suas

proacuteprias suposiccedilotildees subjetivamente se compromete com a possibilidade de Alfred ser

descasado Em uma leitura objetiva o falante tem a informaccedilatildeo por exemplo do nuacutemero de

pessoas casadas em uma determinada comunidade e baseado neste fato constroacutei a

possibilidade de Alfred ser descasado

(213) Alfred must be unmarried

Alfred deve ser descasado

Em (213) uma leitura subjetiva da ocorrecircncia seria mais natural segundo Lyons uma

vez que o falante subjetivamente qualifica seu comprometimento com a factualidade da

proposiccedilatildeo Jaacute uma interpretaccedilatildeo objetiva nasceria por exemplo se se considerasse a

porcentagem de pessoas descasadas numa determinada comunidade e que fosse identificado o

estado civil de todas estas pessoas solteiras exceto o de Alfred O falante portanto se

compromete com a informaccedilatildeo dada ao seu interlocutor e que a proposiccedilatildeo Alfred deve ser

descasado eacute de certa maneira verdadeira

Segundo Nuyts (2001) alguns autores consideram estas caracteriacutesticas como

diferentes significados da modalidade (epistecircmico para a subjetividade e deocircntico para a

objetividade cf HENGEVELD 1988) e outros problematizam o tema como Coates (1983)

que reivindica que tanto o valor epistecircmico quanto o valor deocircntico podem ter usos subjetivos

e objetivos

36

Narrog (2005 p 169-170) aponta que haacute dois problemas relacionados a esta questatildeo

O primeiro seria a dificuldade em definir o que eacute ―subjetivo ou ―a atitude do falante porque

ambos os conceitos levam uma carga de vaguidade O segundo ponto seria definir a fronteira

entre a ―subjetividade e a ―objetividade Na verdade Narrog argumenta que natildeo eacute possiacutevel

alcanccedilar um limite para o que eacute subjetivo ou objetivo uma vez que a subjetividade de um

falante pode estar expressa em diferentes elementos de uma sentenccedila seja na escolha do

vocabulaacuterio na perspectiva adotada para conceptualizar a situaccedilatildeo etc

Pelo vieacutes cognitivista do fenocircmeno tambeacutem eacute considerada a dimensatildeo subjetiva da

modalidade Mortelmans (2007 p 869-870) concorda que a noccedilatildeo de modalidade estaacute longe

de ser definida de forma mais ou menos unificada e destaca que os trabalhos na moldura

cognitiva focam em sua maioria os verbos modais mas haacute publicaccedilotildees que contemplam

outras expressotildees de modalidade como os adveacuterbios adjetivos modais e predicados mentais

(NUYTS 1994 2001 2002) os verbos semi-auxiliares (CORNILLIE 2007) e os

marcadores evidenciais (MATLOCK 1989 LEE 1993)

A ideia de forccedila como pontua Mortelmans tem papel fundamental na forma como a

modalidade eacute conceptualizada pelos cognitivistas A Hipoacutetese da Dinacircmica de Forccedilas de

Talmy (1988 2000) se caracteriza como um esquema imageacutetico baacutesico de causa como

imposiccedilatildeo de forccedila e suspensatildeo de barreiras Expressa ―como as entidades interagem no que

diz respeito agrave forccedila Incluiacutedo aqui estaacute a imposiccedilatildeo da forccedila resistecircncia a tal forccedila barreira agrave

expressatildeo de tal forccedila a superaccedilatildeo de tal resistecircncia a suspensatildeo de tal barreira e coisas do

gecircnero (TALMY 1988 p 49)24

Este modelo eacute uma generalizaccedilatildeo da noccedilatildeo de causaccedilatildeo em que processos satildeo

conceptualizados como resultado de uma interaccedilatildeo de forccedilas e relaccedilotildees causais agindo de

diversas maneiras sobre os participantes de um evento (cf CROFT CRUSE 2004 p 66)

Talmy (1988 2000) importa da fisiologia a terminologia que emprega a entidade de forccedila

focal eacute chamada Agonista e o elemento de forccedila oposto a ela eacute o Antagonista Tento ilustrar

este ponto com uma ocorrecircncia em nossa amostra25

(214) MAI [47] aiacute ele jogou [1] jogou a capaE1 ea estraccedilalhou toda a capaE2

a o tamanho do dente (bfammn01)

24

Traduccedilatildeo para ―how entities interact with respect to force Included here is the exertion of force resistance to

such a force the overcoming of such a resistance blockage of the expression of force removal of such blockage

and the like (TALMY 1988 p 49) 25

A notaccedilatildeo utilizada nestes exemplos seraacute explicitada na Parte II deste trabalho quando introduzo os

pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato No entanto adianto aqui que uma barra simples (―) corresponde a

uma quebra no enunciado percebida como natildeo-terminal e uma barra dupla (―) como uma quebra percebida

como terminal

37

O exemplo em (214) traz dois tipos de eventos causativos o Evento 1 (E1) ―ele jogou

[1] jogou a capa e o Evento 2 (E2) ―ea estraccedilalhou toda a capa Em E1 o Antagonista

(aquele que aplica a forccedila o causador ―ele) exerce uma forccedila sobre o Agonista (aquele em

que a forccedila eacute aplicada o causado ―a capa) que realiza um movimento A situaccedilatildeo em E2 eacute

diferente o Antagonista (―ea = a cobra) impotildee uma forccedila que impede o movimento do

causado ―a capa que resulta na sua destruiccedilatildeo

Dentre os trabalhos nessa linha sobressai-se o de Sweetser (1990) que argumenta que

haacute uma tendecircncia a usar um vocabulaacuterio de um domiacutenio externo (sociofiacutesico) para um

domiacutenio interno (emocional e psicoloacutegico) Diacronicamente o sistema metafoacuterico guia

numerosas mudanccedilas semacircnticas Sincronicamente eacute representado por vaacuterias palavras

polissecircmicas e extensotildees abstratas de sentido do vocabulaacuterio do mundo fiacutesico

A modalidade assim eacute uma categoria que estaacute em ambiguidade sincrocircnica entre

mundo externo e mundo interno quer dizer haacute uma ambiguidade de expressotildees modais entre

sentidos raiz26

ou deocircnticos e sentidos epistecircmicos

Os significados que denotam obrigaccedilatildeo permissatildeo ou habilidade a autora denomina-

os ―raiz Como exemplo temos

(215) John must be home by ten Mother wonlsquot let him stay out any later

John tem que estar em casa agraves dez a Matildee natildeo deixaraacute que ele fique fora ateacute

mais tarde

Epistecircmicos satildeo os significados que denotam necessidade probabilidade ou

possibilidade Como atestado abaixo

(216) John must be home already I see his coat

John jaacute deve estar em casa estou vendo seu casaco

A proposta portanto eacute de que significados ―raiz satildeo extensiacuteveis ao domiacutenio

epistecircmico justamente porque usamos geralmente a linguagem do mundo externo para

aplicar ao mundo mental interno o qual eacute metaforicamente estruturado como paralelo agravequele

mundo externo Sweetser argumenta que os verbos modais natildeo tecircm sentidos separados natildeo-

26

Sweetser prefere usar o termo raiz Natildeo soacute porque eacute um termo mais amplo mas tambeacutem porque como

veremos a seguir ela argumenta que a modalidade epistecircmica estaacute ―enraizada na modalidade sociofiacutesica

Segundo ela o termo deocircntico pode ser tomado algumas vezes meramente como uma obrigaccedilatildeo social ou

moral

38

relacionados mas sim mostram uma extensatildeo do sentido-raiz para o domiacutenio epistecircmico mdash

uma extensatildeo fortemente motivada pelo sistema linguiacutestico circundante

A autora considera que um dos obstaacuteculos para a evoluccedilatildeo de uma compreensatildeo

unificada de modalidade (que jaacute sabemos ser um conceito controverso) decorre do fato de que

anaacutelises semacircnticas da modalidade raiz natildeo foram sistematicamente relacionadas agrave

necessidade e agrave probabilidade loacutegicas

O objetivo de Sweetser eacute demonstrar que uma anaacutelise em termos de dinacircmica de

forccedilas para os modais raiz eacute possiacutevel e extensiacutevel ao domiacutenio epistecircmico A anaacutelise da

linguista avanccedila em relaccedilatildeo ao modelo de Talmy (1981 1988) no sentindo de considerar que

a modalidade se refere a forccedilas e barreiras intencionais e diretas Tomando como exemplo o

modal may temos que no domiacutenio sociofiacutesico o verbo representa em termos de dinacircmica de

forccedilas uma ausecircncia de barreira potencial e encontra no domiacutenio epistecircmico um sentido

correspondente quer dizer uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir

das premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo

Ex permissatildeo (may let allow) instacircncia de retirar uma barreira potencialmente

presente

(217) The crack in the stone let the water flow through (barreira fiacutesica)

A fenda na pedra deixou a aacutegua escorrer

(218) I begged Mary to let me have another cookie (barreira ―social)

Implorei agrave Maria para me deixar comer outro cookie

Gonzalveacutez-Garcia (2000) sob uma perspectiva discursiva ou seja uma perspectiva

mais dinacircmica (e sistemaacutetica) que pressupotildee a ―relaccedilatildeo entre modalidade o contexto de

enunciaccedilatildeo e a funccedilatildeo interpessoal da polidez [nos termos de Brown e Levinson 1987]27

(GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127) propotildee que a modalidade seja caracterizada como

expressatildeo do envolvimento do falante com o conteuacutedo proposicional de um dado enunciado

(agecircncia ou subjetividade) e que pode ser tomada como ramificadora atraveacutes de toda a

arquitetura leacutexico-gramatical da linguagem

O autor argumenta que muitos dos significados normalmente atribuiacutedos a verbos

modais individuais satildeo na verdade derivados tanto do ambiente sentencial do verbo quanto

27

No original ―[hellip] relationship between modality the context of utterance and the interpersonal function of

politeness (GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127)

39

de algum contexto de enunciaccedilatildeo mais amplo Assim o significado modal pode ser tomado

como emergente da interaccedilatildeo de duas camadas de significado estreitamente conectadas uma

abarcando o significado linguiacutestico do verbo modal herdado em conjunto com outros itens

modais vizinhos e outra que diz respeito aos princiacutepios ligados a polidez e estrateacutegias de

proteccedilatildeo de face

Para ilustrar seu ponto o autor lanccedila matildeo de exemplos com ―might selecionados do

International Corpus of English (ICE-GB) e de um excerto do ―Four Weddings and a

Funeral (―Quatro casamentos e um funeral no tiacutetulo brasileiro) Abaixo transcrevo o

primeiro exemplo apresentado pelo autor e sua respectiva anaacutelise (GONZALVEacuteS-GARCIA

2000 p128-129)

(219) ―Maybe I might miss something out because we are all human and Ilsquove

overlooked it and youlsquove remembered it (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Talvez eu pudesse deixar escapar algo porque somos todos humanos e eu o

tenha esquecido e vocecirc se lembrado (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Gonzalveacutes-Garcia considera este uso do modal ―might (―pudesse) como

―possibilidade remota com a leitura reforccedilada pelo adveacuterbio epistecircmico ―maybe (―talvez)

Entretanto outras formas linguiacutesticas (―are ―have overlooked e ―have remembered)

parecem indicar em contraste uma leitura mais factual do modal e aleacutem disso o uso da

forma ―might parece ser motivado pela necessidade do falante de salvar a sua face e

despertar a simpatia da audiecircncia

Em resumo o autor praticamente assume uma visatildeo pragmaacutetica da modalidade e este

estudo apresenta as fronteiras (tecircnues) entre semacircntica e pragmaacutetica

23 Tipos de significados modais

A tradiccedilatildeo loacutegica estabelece o estudo das modalidades aleacutetica epistecircmica e deocircntica

relacionadas respectivamente com as noccedilotildees de verdadefalsidade conhecimento e conduta

Seguindo a tradiccedilatildeo as noccedilotildees de necessidade possibilidade probabilidade e obrigaccedilatildeo satildeo

tomadas em consideraccedilatildeo para definiccedilatildeo dos significados modais

No entanto assim como natildeo haacute qualquer unanimidade na definiccedilatildeo da noccedilatildeo da

modalidade tambeacutem natildeo haacute entre os pesquisadores um consenso de quais categorias

poderiam estar englobadas sob o roacutetulo de ―modal Na literatura linguiacutestica tradicional sobre

a modalidade destacam-se trecircs valores semacircnticos o epistecircmico o deocircntico e o dinacircmico

40

mas muitos estudos organizam de formas distintas as dimensotildees relacionadas agrave categoria a

depender da perspectiva adotada para sua definiccedilatildeo Entre as diferentes abordagens manteacutem-

se a oposiccedilatildeo entre os significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos havendo uma maior

diferenciaccedilatildeo no que diz respeito aos uacuteltimos

Nas subseccedilotildees abaixo apresento primeiramente as visotildees natildeo-tradicionais da

tipologia dos iacutendices modais e em seguida a classificaccedilatildeo tradicional sendo que nesta

uacuteltima destaco as modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica que tomo como ponto de

partida para a descriccedilatildeo e anaacutelises que seratildeo empreendidas no escopo deste trabalho

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas

Uma das classificaccedilotildees mais conhecidas na tipologizaccedilatildeo dos modais eacute a de Bybee e

colaboradoras (BYBEE 1985 BYBEE et al 1994 BYBEE FLEISCHMAN 1995) O

objetivo do trabalho de Bybee e colegas (1985 1994) eacute propor caminhos para o

desenvolvimento das noccedilotildees de modo e modalidade buscando determinar como e por que

determinados significados gramaticais surgem neste domiacutenio As autoras distinguem quatro

tipos de modalidade (i) modalidade orientada-para-o-agente (MOA) (ii) modalidade

orientada-para-o-falante (MOF) (iii) modalidade epistecircmica (ME) e (iv) modalidade

subordinada

A modalidade orientada-para-o-agente ―compreende todos os significados modais que

indicam a existecircncia de condiccedilotildees sobre um agente com relaccedilatildeo agrave conclusatildeo de uma accedilatildeo

expressa no predicado principal por exemplo obrigaccedilatildeo desejo habilidade permissatildeo e

possibilidade raiz (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)28

As noccedilotildees semacircnticas especiacuteficas deste tipo satildeo

(a) obrigaccedilatildeo existecircncia de condiccedilotildees sociais externas que levam um agente a concluir

a accedilatildeo predicada expressa como uma obrigaccedilatildeo forte ou fraca Por exemplo

(220) All students must obtain the consent of the Dean of the faculty concerned

before entering for examination

Todos os estudantes devem obter o consentimento do Diretor da Faculdade

referida antes de entrar no exame

28

Traduccedilatildeo do original ―[]―encompasses all modal meanings that predicate conditions on an agent with regard

to the completion of an action referred to by the main predicate eg obligation desire ability permission and

root possibility (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

41

(221) I just insisted very firmly on calling her Miss Tillman but one should really

call her President

Insisti muito firmemente em chamaacute-la de Srta Tillman mas deve-se realmente

chamaacute-la de Presidente

Em (220) tem-se caracterizada uma obrigaccedilatildeo mais fraca Jaacute em (221) emos um

exemplo de obrigaccedilatildeo forte

(b) necessidade existecircncia de condiccedilotildees fiacutesicas que levam um agente a completar a

accedilatildeo predicada

(222) I need to hear a good loud alarm in the mornings to wake up

Eu preciso ouvir um despertador bem alto pelas manhatildes para acordar

(c) habilidade existecircncia de condiccedilotildees internas de habilidade no agente com relaccedilatildeo agrave

accedilatildeo predicada

(223) I can only type very slowly as I am a beginner

Como sou um iniciante eu soacute consigo digitar muito devagar

(d) desejo existecircncia de condiccedilotildees internas de voliccedilatildeo no agente com relaccedilatildeo agrave accedilatildeo

predicada

(224) Juan Ortiz called to them loudly in the Indian tongue bidding them come forth

if they would (= wanted to) save their lives

Juan Ortiz chamou-os bem alto na liacutengua indiana ordenando-lhes que

voltassem se eles quisessem salvar suas vidas

A modalidade orientada-para-o-falante abrange ―marcadores de diretivos tais como

imperativos optativos e permissivos que representam atos de fala atraveacutes dos quais um

falante tenta provocar o endereccedilado a agir (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)29

Este tipo

natildeo indica a existecircncia de condiccedilotildees sobre o agente mas permite ao falante impor tais

condiccedilotildees sobre o interlocutor O quadro abaixo mostra em resumo os termos gramaticais

usados para a MOF e suas respectivas funccedilotildees

29

No original ―[m]arkers of directives such as imperatives optatives or permissives which represent speech

acts through which a speaker attempts to move an addressee to action (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

42

Termos gramaticais Funccedilatildeo

Imperativo Comando direto a uma segunda pessoa

Proibitivo Comando negativo

Optativo Desejo ou expectativa do falante expresso

na oraccedilatildeo principal

Hortativo (exortativo) O falante encoraja ou incita algueacutem a agir

Admoestativo O falante emite um aviso

Permissivo O falante concede permissatildeo

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees

Bybee et al (1994) consideram os modos acima elencados como parte da modalidade

deocircntica No entanto eacute possiacutevel questionar a validade deste tipo ser uma categoria modal se

se exclui o ―modo do domiacutenio da modalidade

As autoras ainda distinguem a categoria de modalidade subordinada que se trata de

estabelecer uma categoria formal para dar conta das modalidades em claacuteusulas subordinadas

Uma segunda tipologia considerada alternativa dentro dos estudos da modalidade eacute a

proposta por van der Auwera e Plungian (1998) A modalidade para os autores estaria

relacionada com domiacutenios semacircnticos em que possibilidade e necessidade satildeo as variantes

paradigmaacuteticas (van der AUWERA PLUNGIAN 1998 p 80) Satildeo considerados quatro

domiacutenios modalidade interna ao participante modalidade externa ao participante

A modalidade interna ao participante se refere ao tipo de possibilidade ou necessidade

interna a um participante engajado no estado de coisas Veja os exemplos

(225a) Boris can get by with sleeping five hours a night

Boris pode passar bem dormindo cinco horas por noite

(225b) Boris needs to sleep ten hours every night for him to function properly

Boris precisa dormir dez horas toda noite para funcionar adequadamente

O exemplo (225a) em termos de possibilidade mostra uma capacidadehabilidade do

participante Borislsquo e o exemplo em (225b) eacute um caso de uma necessidade interna do

participante

O segundo domiacutenio de contraste entre possibilidade e necessidade eacute a modalidade

externa ao participante que se refere a circunstacircncias externas ao participante engajado no

estado de coisas o que torna este estado de coisas possiacutevel ou necessaacuterio Como atestado nos

exemplos (226a) e (226b)

43

(226a) To get to the Station you can take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc pode pegar o ocircnibus 66

(226b) To get to the Station you have to take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc tem que pegar o ocircnibus 66

Em (226a) o ocircnibus 66 eacute uma entre outras possibilidades para se chegar agrave estaccedilatildeo e

em (226b) pegar o ocircnibus 66 constitui-se como uma necessidade externa jaacute que eacute o uacutenico

meio de transporte para se chegar agrave estaccedilatildeo

O terceiro domiacutenio eacute a modalidade deocircntica caracterizado como um subdomiacutenio da

modalidade externa ao participante Este tipo identifica as circunstacircncias favorecedoras

externas ao participante como uma pessoa(s) normalmente o falante eou alguma norma

social ou eacutetica que permite ou obriga o participante a se engajar no estado de coisas Em

(227a) temos um caso de possibilidade deocircntica uma pessoa ou norma permite e torna

possiacutevel a partida de John A necessidade deocircntica estaacute expressa em (227b) em que uma

autoridade ou uma norma impotildee a partida de Joatildeo como necessaacuteria e obrigatoacuteria

(227a) John may leave now

John pode partir agora

(227b) John must leave now

John deve partir agora

O quarto e uacuteltimo domiacutenio eacute a modalidade epistecircmica que se refere a um julgamento

de uma proposiccedilatildeo pelo falante que pode ser considerada incerta ou provaacutevel

(228a) John may have arrived

John pode ter chegado

(228b) John must have arrived

John deve ter chegado

(228a) ilustra uma possibilidade baseada em julgamentos anteriores o falante trata a

chegada de John como incerta Em (228b) o falante se refere agrave chegada de John como

provaacutevel Dado um conjunto de evidecircncias anteriores o falante eacute levado a crer que

necessariamente John chegou

44

Assim os autores a partir dos passos de gramaticalizaccedilatildeo de Bybee et al (1994)

desenvolveram um mapa semacircntico da representaccedilatildeo da modalidade Como mostra a Figura

22 abaixo

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111)

Neste mapa estatildeo representados trecircs domiacutenios da esquerda para a direita preacute-modal

modal e poacutes-modal Os domiacutenios preacute e poacutes-modais satildeo representados abstratamente e os

passos de gramaticalizaccedilatildeo satildeo representados por setas

Por fim a modalidade raiz abarca os significados natildeo-epistecircmicos em oposiccedilatildeo agrave

modalidade epistecircmica Como visto ela pode estar relacionada com o significado deocircntico

(TALMY 1988 SWEETSER 1990) e tambeacutem incluir parte do tipo dinacircmico (COATES

1983)

Como dito anteriormente levarei em conta neste trabalho uma classificaccedilatildeo

tradicional na literatura linguiacutestica considerando os tipos mais centrais desde o ponto de vista

do uso das liacutenguas naturais Utilizo os significados epistecircmico (relacionado ao conhecimento

e crenccedila) deocircntico (relacionado a obrigaccedilatildeo e permissatildeo) e dinacircmico (relacionado a

capacidade habilidade fiacutesica e voliccedilatildeo) Na proacutexima seccedilatildeo apresento alguns sentidos modais

numa visatildeo tradicional aleacutem de descrever mais detidamente as categorias baacutesicas aplicadas

nesta pesquisa nas seccedilotildees 2321 2322 e 2323

premodal

meanings going

to possibility

premodal

meanings going

to what is vague between

possibility and

necessity

premodal

meanings going to necessity

(one is future)

postmodal

meanings coming

from possibility

postmodal

meanings coming

from either possibility or

necessity

(one is future)

postmodal meanings coming

from necessity

participant-internal

possibility

deontic possibility

D

deontic necessity

D participant-external

possibility

participant-internal

possibility

participant-internal

necessity

epistemic

possibility

epistemic

necessity

45

232 A visatildeo tradicional

Em uma visatildeo tradicional encontra-se normalmente aleacutem das trecircs categorias baacutesicas ndash

epistecircmica deocircntica e dinacircmica ndash as categorias aleacutetica bulomaica (ou buleacutetica)

circunstancial e teleoloacutegica

A modalidade aleacutetica por definiccedilatildeo refere-se agrave verdade contingente possiacutevel ou

necessaacuteria de uma proposiccedilatildeo von Wright (1951) em seu ―Um ensaio em loacutegica modal

afirma que haacute quatro tipos de modos o aleacutetico o epistecircmico o deocircntico e o existencial Os

modos aleacuteticos satildeo os modos da verdade e a preocupaccedilatildeo central para as anaacutelises da loacutegica

modal De acordo com von Wright (1951 p 8) ―[a]s modalidades aleacuteticas satildeo ditas de dicto

quando satildeo sobre o modo ou forma na qual uma proposiccedilatildeo eacute ou natildeo eacute verdadeira As

modalidades satildeo usadas de dicto em frases como Eacute necessaacuterio quelsquo ou Eacute impossiacutevel

quelsquo etc30

Nas abordagens da semacircntica formal (LYONS 1977) o valor aleacutetico se diferencia do

valor epistecircmico uma vez que o uacuteltimo estaacute relacionado aos modos de conhecimento Esta

diferenccedila se aproxima daquela jaacute discutida anteriormente do caraacuteter objetivo e subjetivo da

modalidade epistecircmica

Segundo Palmer (1986 p 11) ―natildeo haacute qualquer distinccedilatildeo entre [hellip] o que eacute

logicamente verdadeiro e o que o falante acredita ser verdade efetivamente e ―natildeo haacute

qualquer distinccedilatildeo gramatical formal em inglecircs e talvez tambeacutem em qualquer outra liacutengua

entre a modalidade aleacutetica e a epistecircmica31

Vejamos o exemplo

(229) Uma refinaria representa investimento de muitos milhotildees Aleacutem do mais o

refino do petroacuteleo pode ser feito em qualquer lugar do paiacutes (CP

19OrBrIntrv Com)

Na ocorrecircncia em (229) coletada no Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA

2006) o falante afirma uma possibilidade fiacutesica ou natural compatiacutevel com o que estaacute

estabelecido em um determinado universo

30

Traduccedilatildeo minha para ―The alethic modalities are said to be de dicto when they are about the mode or way in

which a proposition is or is not true The modalities are used de dicto in phrases such as ―it is necessary that

―it is impossible that etc (von WRIGHT 1951 p 8) 31

No original ―there is no distinction between [hellip] what is logically true and what the speaker believes as a

matter of fact to be true and ―there is no formal grammatical distinction in English and perhaps in no other

language either between alethic and epistemic modality (PALMER 1986 p 11)

46

Entretanto alinho-me a Palmer no sentido de que compreendo que em um

determinado enunciado em que um conhecimento eacute apresentado como dado e natildeo

especulativo (o que seria em loacutegica modal reconhecido como uma verdade aleacutetica)

considero que seja um conhecimento epistecircmico ou ainda como uma possibilidade dinacircmica

Portanto a diferenccedila colocada entre verdade no mundo e verdade na mente de um

determinado indiviacuteduo perde o sentido Portner (2009 p 135) propotildee inclusive o termo

―modalidade factual para abarcar os tipos epistecircmico aleacutetico e metafiacutesico

Conforme Portner (2009 p 10) haacute uma dificuldade em se classificar precisamente o

uso aleacutetico de um modal e que este tipo pode ser considerado o mais baacutesico a partir do qual

outros podem ser definidos

A modalidade bulomaica indica o grau de aprovaccedilatildeo ou desaprovaccedilatildeo do falante (ou

outra pessoa) em relaccedilatildeo a um determinado estado de coisas Este tipo assim como o

epistecircmico e o deocircntico (que podem ser considerados mais fortes ou mais fracos) podem ser

analisados de forma escalar com polos positivo e negativo

O tipo circunstancial se refere ao que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com

determinadas circunstacircncias por exemplo

(230) Eacute possiacutevel instalar uma internet a raacutedio na zona rural de Viccedilosa

A sentenccedila em (230) expressa a informaccedilatildeo de que haacute as condiccedilotildees necessaacuterias que

viabilizam a instalaccedilatildeo de um serviccedilo de internet na zona rural de uma cidade natildeo importa se

a instalaccedilatildeo vai ocorrer ou natildeo

Segundo Mello et al (2009 p 119) alguns autores natildeo consideram este tipo de forma

autocircnoma concebendo-os como enunciados modalizados ou aleticamente ou dinamicamente

A modalidade teleoloacutegica expressa o que eacute necessaacuterio para se atingir um determinado

objetivo

(231) Para entrar no Ministeacuterio Puacuteblico tenho que estudar com disciplina

Em (231) em que o objetivo eacute ser funcionaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e para alcanccedilar

tal objetivo eacute necessaacuterio um estudo disciplinado

47

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades

Lyons (1977 p 797-800) afirma que as interpretaccedilotildees epistecircmicas de iacutendices modais

satildeo frequentemente mais subjetivas e que essas interpretaccedilotildees satildeo mais baacutesicas que as

objetivas Kiefer confirma este caraacuteter subjetivo da modalidade De acordo com ele ―[a]

modalidade epistecircmica subjetiva expressa diferentes graus de comprometimento com a

factualidade32

(KIEFER 2009 p 183) e completa dizendo que dessa forma se relaciona

com a categoria de evidencialidade33

Bybee et al (1994 p 179) propotildeem que a modalidade epistecircmica marca ―a extensatildeo

ateacute a qual o falante estaacute comprometido com a verdade da proposiccedilatildeo34

ou como define

Palmer (1986 p 51) o ―grau de comprometimento do falante com a verdade do que ele

diz35

No mesmo sentido van der Auwera e Plungian (1998) argumentam que uma

proposiccedilatildeo eacute avaliada como certa ou provaacutevel em relaccedilatildeo a um conjunto de julgamentos

Coates (1983 p 41) por sua vez sustenta que a modalidade epistecircmica sempre indica ―a

confianccedila (ou falta de confianccedila) do falante na verdade da proposiccedilatildeo expressa36

e dessa

forma varia entre o limite da confianccedila e da duacutevida

Nuyts (2001) nos oferece a seguinte definiccedilatildeo

A modalidade epistecircmica eacute [] uma avaliaccedilatildeo das chances que um certo estado-de-

coisas hipoteacutetico tomado em consideraccedilatildeo (ou algum aspecto dele) vai ocorrer estaacute

ocorrendo ou ocorreu em um mundo possiacutevel o qual funciona como o universo de

interpretaccedilatildeo para a avaliaccedilatildeo do processo e o qual no caso default eacute o mundo real

(ou antes a interpretaccedilatildeo do avaliador desse mundo []37

(NUYTS 2001 p 21)

A avaliaccedilatildeo nesse caso iria da absoluta certeza de que um estado-de-coisas eacute real agrave

absoluta certeza de que natildeo eacute real Entre os dois extremos estaria um continuum que inclui a

possibilidade e a probabilidade Como os exemplos extraiacutedos de nossa amostra indicam

32

No original ―Subjective epistemic modality thus expresses different degrees of commitment to factuality and

it thus relates to evidentiality (KIEFER 2009 p 183) 33

Trato da relaccedilatildeo semacircntica entre modalidade epistecircmica e evidencialidade mais adiante na seccedilatildeo 24 34

― the extent to which the speaker is committed to the truth of the proposition (BYBEE PERKINS

PAGLIUCA 1994 p 179) 35

―the degree of commitment by the speaker to the truth of what he says (PALMER 1986 p 51) 36

―[speakerlsquos] confidence (or lack of confidence) in the truth of the proposition expressed (COATES 1983 p

41) 37

―Epistemic modality is [hellip] an evaluation of the chances that a certain hypothetical state of affairs under

consideration (or some aspect of it) will occur is occurring or has occurred in a possible world which serves as

the universe of interpretation for the evaluation process and which in the default case is the real world (or

rather the evaluatorlsquos interpretation of it [hellip] (NUYTS 2001 p 21)

48

(232) [141] os cara que satildeo bem mais boleiros eles com ltcertezagt vatildeo saber

alguma coisa (bfamcv01)

(233) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar uaigt (bfamcv01)

(234) [198] minha matildee sem chance (bfammn04)

(235) LUA [95] ltegt assim se cecirc tivesse uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

talvez adiantasse um pouco assim ou pelo menos ajudasse a organizar neacute

(bpubmn01)

O exemplo em (232) representa a certeza que um estado-de-coisas vai ocorrer (―saber

alguma coisa) ao contraacuterio de (233) e (234) que apontam para a certeza de que natildeo vatildeo

ocorrer Jaacute em (235) temos um exemplo da nuance de possibilidade que Nuyts fala de um

estado-de-coisas ocorrer ou natildeo dadas determinadas circunstacircncias no caso a hipoacutetese de

―uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

Sweetser (1990) considera a modalidade epistecircmica como extensatildeo da modalidade

raiz A partir da anaacutelise da modalidade raiz em termos de forccedilas e barreiras sociofiacutesicas ela

explora a transferecircncia dessa visatildeo para a modalidade epistecircmica para atingir uma anaacutelise

unificada sobre modalidade

A autora se alinha a Palmer (1986) no sentido de argumentar que os verbos modais

em inglecircs nos seus sentidos epistecircmicos expressam o julgamento do falante Assim pretende

encontrar uma conexatildeo semacircntica motivada entre o domiacutenio epistecircmico de raciociacutenio e

julgamento e o domiacutenio da modalidade sociofiacutesica

Por exemplo se o may sociofiacutesico representa em termos de dinacircmica de forccedilas uma

ausecircncia de barreira potencial o may epistecircmico tem um sentido paralelo no domiacutenio do

raciociacutenio isto eacute haacute uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir das

premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo Segundo

Sweetser nossa experiecircncia sobre os domiacutenios fiacutesico social e do raciociacutenio compartilham

alguma estrutura que nos permite um mapeamento metafoacuterico bem sucedido entre os

aspectos relevantes dos trecircs domiacutenios

Os fatores pragmaacuteticos (como as pistas contextuais e a prosoacutedia) vatildeo influenciar para

o ouvinte (ou para o indiviacuteduo endereccedilado) compreender se um modal corresponde a um

domiacutenio ou outro Veja os exemplos com os verbos deverlsquo e poderlsquo no portuguecircs brasileiro

49

(236) dever epistecircmico

(236a) necessidade

RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(236b) probabilidade

o diacircmetro dea deve dar uns [1] uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de [1]

de amps [2] de grossura o diacircmetro dela (bfammn01)

(237) poder epistecircmico

(237a) possibilidade

BAL [229] entatildeo isso aqui a gente pode ltinventar de colocar em qualquer

lugargt =COM=$ (bfamdl02)

(237b) impossibilidade

MAI ele nũ [2] ele nũ [2] ele nũ ltpode nemgt falar plsquo ocecirc ltque eacute verdade

(bfammn01)

Em recente trabalho sobre o significado epistecircmico Boye (2012) propotildee igualmente

que a modalidade epistecircmica estaacute definida em termos da noccedilatildeo do grau de certeza do grau de

comprometimento o que ele vai chamar de ―apoio epistecircmico38

Esta categoria assim como

a de evidencialidade estaria subordinada a outra categoria descritiva a epistemicidade que

seria uma generalizaccedilatildeo das noccedilotildees de justificativa epistecircmica e apoio epistecircmico ao que os

filoacutesofos chamam de ―apoio justificativo39

Kaumlrkkaumlinen (2003) destaca que ainda que as definiccedilotildees propostas para a modalidade

epistecircmica faccedilam referecircncia agrave verdade da proposiccedilatildeo os types relacionados a ela satildeo de

possibilidade probabilidade e certeza (inferida)

No PB a modalidade epistecircmica pode ser expressa por elementos de natureza lexical

como verbos modais adveacuterbios modais verbos de atitude proposicional construccedilotildees

adjetivas expressotildees modais e de natureza gramatical como o futuro perifraacutestico e as

condicionais Encerro a seccedilatildeo com mais alguns exemplos de nossa amostra

(238) TER [21] ocirc Jael [22] mas gente velha jaacute prometeu o [1] os presente ltjaacute

podegt garantir que ganhou (bfamcv02)

38

―epistemic support (BOYE 2012 p 2) 39

―justificatory support (BOYE 2012 p 2-3)

50

(239) [171] natildeo trinta reais aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1] eu fico imaginando que elsquo

fica pensando assim Nossa Sio agraves vezes laacute em casa taacute precisando de fazer

uma compra e tudo neacute (bpubmn01)

(240) [72] quela [1] quela aula igual se daacute no EDUCONLE que cecirc acha que eacute ampo

[1] eacute tudo de bom neacute (bpubmn01)

(241) foi verdade ltmesmogt (bfammn01)

(242) PAU [153] porque eacute capaz dlsquoeu subir uma parede laacute (bpubdl01)

(243) [59] porque ateacute aiacute essas crianccedila ateacute dez anos o [1] o mundo que noacutes tamo

vivendos hoje com dez ano jaacute daacute pa ver que daacute trabalho (bfammn05)

(244) [44] es vatildeo pegar os caras que tipo tavam reclamando e tal es vatildeo pegar

[3] es vatildeo pegar tentar fazer um negoacutecio desse e eu aposto que cecirc vai ver

os caras que jaacute conhecem a gente haacute mais tempo tipo Joseacute [1] Zeacute Mourinho

falando assim natildeo o campeonato dlsquoocecircs eacute bem melhor (bfamcv01)

(245) BRU [268] lte se for uma palavra composta cecirc faz assimgt (bfamcv04)

Em (238) temos uma ocorrecircncia com o verbo modal ―poder com valor epistecircmico

que denota possibilidade (239) traz um exemplo com a locuccedilatildeo adverbial ―agraves vezes

normalmente utilizada no sentido temporal de ―em algumas ocasiotildees ou circunstacircncias mas

que na diatopia mineira toma o sentido modal de possibilidade sendo sinocircnima de ―talvez

A ocorrecircncia em (240) traz um verbo de atitude proposicional (ou ainda verbo epistecircmico ou

verbo de crenccedila) ―acha que indica o grau de certeza sobre o que estaacute enunciado As

construccedilotildees adjetivas estatildeo representadas nos exemplos (241) e (242) com as expressotildees

―foi verdade e ―eacute capaz No primeiro caso temos um sentido de certeza e no segundo de

possibilidade O uso modal do verbo ―dar exemplificado em (243) eacute ainda pouco

reconhecido na literatura (cf SALOMAtildeO 2008) no entanto eacute recorrente na fala em sentidos

possibilitativos Os marcadores de modalidade de caraacuteter gramatical estatildeo ilustrados em

(244) e (245) o primeiro exemplo traz uma seacuterie de usos de futuro perifraacutestico que indicam

o grau de certeza ou comprometimento em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo de um evento futuro no

segundo exemplo temos uma construccedilatildeo condicional na forma canocircnica ―se p entatildeo q em

que o conectivo ―se eacute o marcador modal

232 Modalidade deocircntica

Segundo a tradiccedilatildeo loacutegica o valor deocircntico diz respeito agraves noccedilotildees da obrigaccedilatildeo e da

permissatildeo Este valor estaacute ligado a princiacutepios morais ou legais e de conduta social

51

Lyons (1977 p 792-793) afirma que a mesma distinccedilatildeo aplicada agrave modalidade

epistecircmica entre leitura subjetiva e objetiva pode ser estendida agrave modalidade deocircntica como

exemplifica a partir da proposiccedilatildeo ―Alfred is a bachelor (―Alfred eacute celibataacuterio)

(246) Alfred is obliged to be unmarried

Alfred eacute obrigado a ser descasado

(247) ―I (hereby) oblige Alfred to be unmarried

ldquoEu obrigo Alfred ser descasadordquo

Em (246) teriacuteamos uma interpretaccedilatildeo deocircntica mais objetiva e em (232) uma mais

subjetiva Mais aleacutem no exemplo (247) temos um performativo Tento resgatar em nossa

amostra um exemplo que em minha opiniatildeo eacute ambiacuteguo no que diz respeito a uma leitura

subjetiva ou objetiva como coloca Lyons

(248) [132] po parar o carro hhh (bfamdl05)

Se levarmos em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia acima com o verbo modal ―poder

deocircntico em sua forma afereacutetica po‟lsquo desconectada de seu contexto de uso e da forma como

foi enunciada natildeo haveria duacutevida de que as seguintes interpretaccedilotildees seriam possiacuteveis

(248a) Eacute permitido parar o carro

(249b) Eu te permito parar o carro

No entanto natildeo eacute o caso quando a escutamos [ ] O contexto permite a interpretaccedilatildeo

de ―eacute o caso de ou ―eacute oportuno e percebemos uma ilocuccedilatildeo do tipo representativo do

subtipo ―conclusatildeo Natildeo estou colocando em duacutevida o caraacuteter deocircntico da ocorrecircncia mas

gostaria de pensar como (e se) a forccedila ilocucionaacuteria em sobreposiccedilatildeo agrave modalidade40

atenuaria ou reforccedilaria a ideia de permissatildeo

Kiefer (2009) argumenta que se deve fazer uma distinccedilatildeo entre o estabelecimento de

uma necessidade deocircntica ou de uma possibilidade deocircntica (entre proposiccedilotildees deocircnticas) e a

emissatildeo de uma ordem (impor uma obrigaccedilatildeo) ou dar permissatildeo As primeiras segundo ele

pertencem agrave semacircntica (e se proposicional satildeo descritas em termos de loacutegica formal) as

uacuteltimas satildeo parte da teoria dos atos de fala e devem assim ser tratadas na pragmaacutetica

40

Sobre a distinccedilatildeo entre modalidade e ilocuccedilatildeo ver seccedilatildeo 243

Other

15348568

52

A literatura identifica a modalidade deocircntica com os atos de fala diretivos (e com o

modo imperativo cf BYBEE et al 1994) uma vez que a obrigaccedilatildeo e permissatildeo derivariam

de uma fonte de autoridade As evidecircncias em corpora de fala espontacircnea com arquivos de

aacuteudio disponiacuteveis para checar os atos ilocucionaacuterios apontam para outro caminho Os

exemplos de Tucci (2007 p 62)41

do corpus de referecircncia do italiano problematizam a ideia

de comando nos usos de dovere e potere em enunciados assertivos que expressam

necessidade contingente em (250) impossibilidade condicionada em (251) e

esclarecimento de uma regra operativa em (252)

(250) LIA si doveva rigovernare COM

[ifamcv02]

(251) GAL un potevi falsquo cip COM

[ifamcv14]

(252) MAM ma te la devi fare a lei lte lei la fa a tegt COM

[ifamcv25]

Ou como atestado na amostra do corpus de fala espontacircnea do PB em que temos

diferentes classes de atos de fala a partir de Moneglia (2011 p 490)42

representativos

diretivos e expressivos

(253) dever gt necessidade obrigaccedilatildeo

(253a) LUI [213] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais

(bfamcv01)

ill asserccedilatildeo forte

(254) ter que gt necessidade obrigaccedilatildeo

(254a) [211] entatildeo tem que ser eu mesma (bfamcv02)

ill expressatildeo de obviedade

(255) poder

(255a) permissatildeo

[205] a porta taacute fechada mas cecirc pode abrir (bfamdl05)

ill autorizaccedilatildeo

41

Os exemplos em (250) (251) (252) correspondem respectivamente aos exemplos 20 21 e 22 de Tucci

(2007 p 62) transcritos aqui ipsis litteris 42

A tarefa de anotaccedilatildeo ilocucionaacuteria ainda estaacute por ser realizada no acircmbito do projeto C-ORAL-BRASIL Os

exemplos elencados foram anotados com a colaboraccedilatildeo do aluno de doutorado Bruno Rocha exclusivamente

para ilustrar nosso argumento

14186118

1358367

17600812

53

(255b) proibiccedilatildeo

BRU [177] cecirc nũ pode fazer ampa [1] nenhum som (bfamcv04)

ill ordem

(255c) restriccedilatildeo

[181] porque eu acho que no mesmo concurso cecirc nũ pode fazer duas

(bfamdl03)

ill asserccedilatildeo

No subcorpus analisado foram identificadas expressotildees de modalidade deocircntica com

os types poderlsquo (em grande nuacutemero com significado de permissatildeo) ter quelsquo (a ampla

maioria com significado de obrigaccedilatildeo) e deverlsquo (em nuacutemero reduzido)43

233 Modalidade dinacircmica

A modalidade dinacircmica de acordo com Palmer (1990) e Papafragou (2000) inclui

uma habilidade e a intenccedilatildeo (vontade) isto eacute a expressatildeo da capacidade do sujeito Salomatildeo

(1990) daacute os seguintes exemplos com o verbo poderlsquo

(256) Ele pode correr 4 km sem cansar (habilidade fiacutesica)

(257) Ele pode citar Virgiacutelio de cabeccedila (habilidade mental)

Os exemplos de Salomatildeo se sustentam dentro da definiccedilatildeo de Palmer e Papafragou no

entanto se realizada uma busca minuciosa em corpus dificilmente esses usos ocorreriam no

portuguecircs brasileiro ou mesmo na liacutengua falada Em uma busca no Corpus do Portuguecircs por

exemplo com a expressatildeo ―pode nadar encontrei apenas duas ocorrecircncias no portuguecircs

europeu

(258) A maioria dos caranguejos natildeo pode nadar podendo rastejar lentamente para a

frente e mais frequentemente movendo-se para o lado especialmente quando

rastejam a grande velocidade (CP 19Ac Pt Enc)

(259) Pode nadar mergulhar ou andar junto ao fundo usando a pressatildeo da aacutegua

sobre as asas e cauda para se manter em baixo enquanto procura larvas de

insectos e outros pequenos animais

43

Na anaacutelise dos verbos modais tratarei da substituiccedilatildeo do uso do deverlsquo deocircntico por ter quelsquo no PB

11493875

2977958

54

Os dois exemplos pertencem ao mesmo gecircnero verbete de enciclopeacutedia Pelo que foi

discutido anteriormente estas satildeo ocorrecircncias que ficam na fronteira entre a possibilidade

aleacutetica o conhecimento epistecircmico e a habilidade dinacircmica uma vez que o verbo modal

―poder carrega o sentido de um conhecimento estabelecido em um determinado universo

natildeo se constituindo como uma especulaccedilatildeo mas igualmente carrega o sentido da habilidade

dos seres em ―nadar (no caso tambeacutem ―rastejar ―mergulhar e ―andar junto ao fundo)

Ainda poderia colocar em discussatildeo o estatuto do verbo ―saber como um modal que

expressa conhecimento epistecircmico ou habilidade do sujeito em realizar uma determinada

atividade em contextos como em (260) e (261)

(260) Se a pessoa sabe fazer feijatildeo entatildeo ela deve ensinar isso porque tem muita

gente que natildeo sabe fazer feijatildeo

(261) Eacute um talento o homem Sabe falar e sabe escrever Se ele quiser escrever uma

carta para vocecirc chorar vocecirc chora Se quiser escrever uma carta para vocecirc rir

vocecirc ri

Palmer (1990 p 36) aponta que a modalidade dinacircmica diz respeito agrave habilidade ou agrave

voliccedilatildeo do sujeito da sentenccedila natildeo do falante e dessa forma natildeo eacute subjetiva como outras

modalidades

No PB a modalidade dinacircmica se diferencia igualmente da modalidade epistecircmica e

os verbos mais frequentes satildeo ―conseguir e ―aguentar para sentidos de capacidade e

―querer e a forma ―gostaria no sentido de voliccedilatildeo Na amostra encontramos ainda que em

nuacutemero bastante reduzido ocorrecircncias do tipo dinacircmico como ilustro abaixo

(262) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3] lttaacute de

ladinhogt (bfamcv03)

(263) [184] o papai nũ guumlenta carregar mais (bfammn05)

(264) [50] e eu ampa [3] e [1] e vou conseguir sabe vencer essas dificuldades aiacute

(bpubmn01)

(265) [168] taacute pensando em organizar um torneio e a gente quer que vocecircs

participem da organizaccedilatildeo ltmandando representantegt (bfamcv01)

55

Os exemplos em (262) e (263) apontam para a habilidade fiacutesica do sujeito jaacute o em

(264) indica habilidade soacutecio-afetiva ou disposiccedilatildeo interna do sujeito Em (265) finalmente

temos um exemplo com o verbo ―querer no sentido volitivo

Haacute quem argumente (LARREYA 2009) que a voliccedilatildeo estaacute incluiacuteda no significado

deocircntico de um enunciado como ―John must leave (―John deve sair) em dois sentidos no

primeiro a obrigaccedilatildeo expressa no enunciado incluiria uma vontade uma vez que haacute uma

exigecircncia imposta seja por princiacutepio moral ou por uma pessoa que explicita um desejo no

caso de que John saia no segundo o uso de ―must carrega em seu significado a implicaccedilatildeo

de que se John obedece agrave injunccedilatildeo contida no enunciado isso caracterizaria um ato

voluntaacuterio por parte do agente Johnlsquo A primeira seria uma vontade externa e a segunda uma

vontade interna

Sobre a compulsatildeo interna ou intenccedilatildeo o que me faz aninhar a voliccedilatildeo agrave categoria

dinacircmica e natildeo agrave deocircntica Larreya (2009) a considera como uma vontade natildeo-factual em

exemplos como ―I want to go (―Eu quero ir) em que o evento pode ou natildeo se realizar Seria

uma vontade que natildeo depende de uma forccedila externa mas unicamente da disposiccedilatildeo interna do

sujeito

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias

Os estudos sobre evidencialidade partem da anaacutelise de liacutenguas em que haacute um sistema

evidencial gramaticalizado como as liacutenguas nativas norte-americanas (CHAFE 1995

MITHUN 1995) o tibetano (VOKURKOVA 2011 MELAC 2012) ou o cuzco queacutechua

(FALLER 2002) Apesar de natildeo ser uma categoria gramatical em inglecircs ou portuguecircs ela

pode ser expressa por iacutendices lexicais como adveacuterbios ou verbos como parecer e dizer (na

expressatildeo ―diz que)

Justamente por natildeo ser uma categoria com marcaccedilatildeo gramatical e por alguns dos itens

lexicais poderem igualmente ser iacutendices que expressam modalidade a fronteira entre

evidencialidade e epistemicidade eacute difusa e a relaccedilatildeo entre as duas noccedilotildees ainda ocupa o

debate entre linguistas (CHAFE 1986 FITNEVA 2001 NUYTS 2001 PLUNGIAN 2001

entre outros) Dendale e Tasmowski (2001 p 341-342) levantam os problemas de

conceituaccedilatildeo e apontam trecircs caminhos encontrados em estudos recentes ―disjunccedilatildeo (em que

56

satildeo conceptualmente distinguidas) inclusatildeo (em que uma estaacute incluiacuteda no escopo semacircntico

da outra) e sobreposiccedilatildeo (em que elas parcialmente se interseccionam)44

Palmer (2001) por exemplo organiza a modalidade epistecircmica e a evidencial

subordinadas a uma categoria hierarquicamente superior da modalidade proposicional A

mesma decisatildeo de inclusatildeo da evidencialidade como uma categoria modal aparece em Bybee

(1985) Bybee et al (1994) e Frawley (1992) Na outra ponta a da exclusatildeo estatildeo os estudos

de de Haan (1999 2005)

Como visto anteriormente a modalidade epistecircmica expressa os diferentes graus de

comprometimento em relaccedilatildeo agrave validade do material enunciado Jaacute os evidenciais satildeo

marcadores que indicam a fonte e a confiabilidade do conhecimento do falante As duas

categorias lidam com a evidecircncia no entanto a noccedilatildeo de comprometimento no domiacutenio da

modalidade epistecircmica estaacute relacionada com a postura epistecircmica do falante isto eacute com a

probabilidade ou certeza que atribui agravequilo que estaacute dizendo Jaacute no domiacutenio evidencial esta

noccedilatildeo estaacute relacionada ao grau de confianccedila de onde parte a evidecircncia

Este grau de confianccedila segundo Cornillie (2009 p 58) pode ser explicado em termos

de status da evidecircncia compartilhado ou natildeo-compartilhado Como satildeo vaacuterias as fontes de

evidecircncia (o falante o falante e outros participantes da comunicaccedilatildeo ou exclusivamente os

outros) a confiabilidade pode variar mas natildeo envolve uma avaliaccedilatildeo ou probabilidade

epistecircmica Nas palavras de de Haan (2005 p 379) ―a evidencialidade assevera a evidecircncia

enquanto a modalidade epistecircmica avalia a evidecircncia45

Na mesma linha Pietrandrea (2005

p 33) afirma que ―enquanto a evidencialidade qualifica a fonte que justifica a asserccedilatildeo de

uma proposiccedilatildeo a modalidade qualifica a crenccedila genuiacutena do falante sobre a verdade da

proposiccedilatildeo 46

A evidencialidade pois lida com a fonte da evidecircncia que um falante tem sobre uma

dada informaccedilatildeo Os marcadores de evidecircncia expressam se um falante foi testemunha direta

do evento ou atividade que descreve ou se esta informaccedilatildeo chega de outra fonte Dessa forma

a categoria pode ser dividida em duas subcategorias evidecircncia direta e evidecircncia indireta (o

ouvi-dizer-que a citaccedilatildeo e a inferecircncia)

44

Traduccedilatildeo minha para ―disjunction (where they are conceptually distinguished from each other) inclusion

(where one is regarded as falling within the semantic scope of the other) and overlap (where they partly

intersect) 45

Traduccedilatildeo para ―[e]videntiality asserts the evidence while epistemic modality evaluates the evidence (de

HAAN 2005 p 379) 46

No original ―[w]hile evidentiality qualifies the source that justifies the assertion of a proposition modality

qualifies the genuine belief of the speaker about the truth of the proposition (PIETRANDREA 2005 p 33)

57

Em nossa amostra levanto alguns exemplos para ilustrar a questatildeo e sugerir de

alguma forma que as categorias de fato se distinguem Vou partir de trecircs exemplos para

evidenciar meu ponto

(266) LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais (bfamcv01)

(267) [65] se o brasileiro nũ lecirc os manuais hhh no mercado de reposiccedilatildeo ampauto [1]

de autopeccedila eles acham que abrir uma empresa eacute comprar um produto

por um real =COB= na base cem e vender por dois acha que taacute

ganhando o ampdo [2] o dobro (bfammn06)

(268) ROG [187] daacute [188] tem muita pedra ali uai [189] laacute embaixo ainda tem

pedra perto da [2] perto da garagem laacute tem [190] assim vai ficar uma

pracinha boa aqui

PAU [191] e a Isa tava achando que ela ali ia ficar pequena [192] falei

assim depois de feito eacute que a gente vecirc o tamanho neacute (bpubdl01)

No exemplo em (266) temos um julgamento epistecircmico de um conceptualizador47

primaacuterio (o falante) o mais frequente em nossa amostra Em (267) haacute a ocorrecircncia de uma

avaliaccedilatildeo por parte do falante de um julgamento epistecircmico de um conceptualizador em

terceira pessoa o que poderia ser textualizado como ―eu acho que eles acham O uso de um

pronome geneacuterico como ―eles pode indicar essa adesatildeo a uma avaliaccedilatildeo que parte do senso

comum Por fim em (268) o falante reporta um julgamento epistecircmico de uma terceira

pessoa porque partilha dessa informaccedilatildeo (eleela acha porque compartilhamos esse

conhecimento)

Parece que haacute em (267) e (268) dois niacuteveis de interpretaccedilatildeo o primeiro niacutevel estaria

relacionado ao falante e agrave confiabilidadefonte da informaccedilatildeo que seria evidencial uma vez

que eacute uma informaccedilatildeoavaliaccedilatildeo filtrada pelos olhos do falante no primeiro caso e no

segundo exemplo haacute uma avaliaccedilatildeo reportada pelo falante o outro niacutevel estaria relacionado a

um conceptualizador em terceira pessoa e agrave sua (suposta) avaliaccedilatildeo portanto uma

interpretaccedilatildeo epistecircmica

O seguinte continuum representa os graus de comprometimentoafastamento do

falante conceptualizador primeiro no que diz respeito ao material enunciado

47

O conceptualizador eacute a entidade que constroacutei um ponto de vista em uma determinada cena Esta noccedilatildeo estaacute

ligada agrave de construal que eacute a nossa capacidade de conceber e retratar a mesma situaccedilatildeo de maneiras diferentes

58

eu acho (eu acho que) ele acha parece que diz-que

ele acha (info partilhada)

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade

Nos exemplos observam-se trecircs diferentes graus de participaccedilatildeo do enunciador na

constituiccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sobre o que estaacute sendo dito o que me leva a tentar reformular o

conceito de modalidade e assumir a noccedilatildeo de conceptualizador48

nos termos langackerianos

para explicar este fenocircmeno semacircntico

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias

Nas seccedilotildees anteriores foram apresentadas diferentes abordagens e tipologias no que

diz respeito agrave modalidade As definiccedilotildees desta categoria podem ser mais amplas como a de

Palmer (2001) que diz que a modalidade se relaciona com o status da proposiccedilatildeo que descreve

o evento ou mais restritas como a de van der Auwera e Plungian (1998) para quem a

modalidade envolve os domiacutenios de possibilidade e necessidade como variantes

paradigmaacuteticas A primeira definiccedilatildeo natildeo deixa claro o que inclui ou exclui a modalidade na

segunda identificam-se termos reconhecidos como ―modais mas exclui por exemplo

habilidade e voliccedilatildeo

Bally (1942 p 3) apresenta uma definiccedilatildeo enunciativa da modalidade como o modus

do dictum em suas palavras ―a forma linguiacutestica [Modus on dictum] de um julgamento

intelectual de um julgamento afetivo ou de uma vontade que um sujeito pensante enuncia a

propoacutesito de uma percepccedilatildeo ou de uma representaccedilatildeo de sua alma49

Segundo ele uma frase

expliacutecita eacute composta por duas diferentes partes uma o dictum eacute a representaccedilatildeo percebida

pelos sentidos pela memoacuteria e a imaginaccedilatildeo a outra o modus eacute uma operaccedilatildeo psiacutequica de

um sujeito pensante

Ao modus eacute conferida mais importacircncia que ao dictum O autor oferece exemplos para

o que considera as operaccedilotildees do pensamento50

sobre o que se enuncia que indicam um

entendimento um sentimento e uma vontade ―algueacutem crecirc que vai chover ou ―natildeo crecirc ou

―duvida ―algueacutem se alegra porque chove ou ―algueacutem lamenta que chove ―algueacutem deseja

48

Desenvolvo este ponto na seccedilatildeo 25 49

No original ―la forme linguistique dlsquoun jugement intellectual dlsquoun jugement affectif ou dlsquoune volonteacute qulsquoun

sujet pensant eacutenonce agrave propos dlsquoune perception ou dlsquoune representation de son esprit (BALLY 1942 p 3) 50

Pensar para Bally (19321965 p 35) seria ―reagir a uma representaccedilatildeo constatando-a apreciando-a ou

desejando-a

59

que chova ou ―que natildeo chova

Esta parece ser entretanto uma definiccedilatildeo muito ampla mdash apesar de indiscutivelmente

nos inspirar a considerar a dimensatildeo do enunciado mdash e seguirei na tentativa de estreitaacute-la e

responder agrave pergunta que tipo de modificaccedilatildeo do dictum deve ser considerada sob o escopo

da modalidade ou em outras palavras como definir o que compreende o modus Como

definir (a) de que modificaccedilatildeo se trata (b) o que estaacute incluiacutedo no escopo da modalidade (c)

quais os domiacutenios semacircnticos envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes

categorias

A partir de agora portanto argumentarei no sentido de diferenciar as categorias que

podem modificar o que eacute dito e em particular apontar as nuances entre negaccedilatildeo modo

ilocuccedilatildeo e atitude

A pergunta que emerge ao me defrontar com dados orais em situaccedilotildees reais de uso da

liacutengua eacute ―por que seria insuficiente esse conceito de modalidade fundado na loacutegica

aristoteacutelica Dito de outra forma a definiccedilatildeo de modalidade e o seu campo de aplicaccedilatildeo ateacute

agora utilizados pela semacircntica como heranccedila da loacutegica formal para a anaacutelise de sentenccedilas

isoladas servem completamente ao estudo desse fenocircmeno na fala e na dinacircmica de uma

interaccedilatildeo

251 Modalidade e negaccedilatildeo

A categoria da negaccedilatildeo vem sendo estudada em uma perspectiva filosoacutefica desde

Aristoacuteteles A pergunta que se persegue responder em termos de valor de verdade eacute como o

valor de verdade de uma sentenccedila muda se for adicionado um elemento negativo Na loacutegica

a negaccedilatildeo eacute um operador que inverte as condiccedilotildees de verdade de um determinado conteuacutedo

proposicional

Lawler (2007) coloca que a negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cognitivo e

intelectual e que eacute fundamental para todo o pensamento humano Nas palavras de Kiefer

(2009 p 193) ―a negaccedilatildeo de um evento teria que ser caracterizada em termos da ocorrecircncia

do evento ser feita relativamente agrave sua natildeo-ocorrecircncia51

Nas liacutenguas naturais a negaccedilatildeo funciona como um operador associado a

quantificadores e modais sendo que a relaccedilatildeo entre estas categorias se daacute de forma complexa

Vejamos alguns casos ambiacuteguos

51

[hellip] the negation of an event would have to be characterized in terms of the occurrence of the event being

made relative to its nonoccurrence [hellip] (KIEFER 2009 p 193)

60

(269) Ele natildeo pode ir ao jogo

(269a) Natildeo eacute possiacutevel ele ir ao jogo

(269b) Natildeo eacute permitido ele ir ao jogo

Destaco de nossa amostra algumas ocorrecircncias em que temos o operador de negaccedilatildeo

associado a um iacutendice modal A partir deles discuto a relaccedilatildeo entre dois iacutendices modais (um

deles modificado pela negaccedilatildeo)

(270) GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em [2] e tambeacutem falando

em povo mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt (bfamcv01)

(271) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e desmanchar tudo o que

foi feito durante a semana neacute

ROG [248] pode natildeo [249] mas tem gente que desmancha socirc Paulo

(bpubdl01)

(272) [185] cecirc natildeo pode aprontar [1] apontar pra mesa (bfamcv04)

Os verbos ―dever e ―poder modificados pelo operador de negaccedilatildeo nos casos acima

expressam interdiccedilatildeoimpedimento restriccedilatildeo e proibiccedilatildeo respectivamente portanto estatildeo

inscritos no significado deocircntico da modalidade Quero destacar o exemplo (270) em que

temos dois iacutendices modais na mesma unidade informacional um verbo epistecircmico acharlsquo e o

verbo modal deverlsquo deocircntico Neste caso vai atuar o princiacutepio da composicionalidade o

valor epistecircmico ordena o valor deocircntico Em outras palavras o falante a partir de seu

conhecimento de mundo e de suas crenccedilas emite sua opiniatildeo que envolve uma avaliaccedilatildeo

relacionada agrave interdiccedilatildeo

Apresento mais dois exemplos do subcorpus em estudo para discutir o escopo da

negaccedilatildeo

(273) CES [391] acho que nũ tem ningueacutem aiacute natildeo (bfamdl03)

(274) LUI [232] lteu nũ acho que a gente [6] eu nũ acho que a gente deve chamar

soacute veteranos natildeogt (bfamcv01)

Na ocorrecircncia em (273) o verbo de atitude proposicional acharlsquo natildeo estaacute sob o

escopo da negaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo aqui apresentada eacute de que o falante considera que o material

61

locutoacuterio da encaixada natildeo ocorre Jaacute em (274) o verbo eacute posto no escopo da negaccedilatildeo o

falante enuncia uma sua opiniatildeo negativa

No PB haacute trecircs tipos de negaccedilatildeo a simples preposta a simples posposta e a dupla

negaccedilatildeo Neste trabalho investigarei ainda a relaccedilatildeo de modalidade e negaccedilatildeo para fins de

anotaccedilatildeo semacircntica Este ponto vai ser desenvolvido na Parte III desta tese

252 Modalidade e modo

O modo eacute uma categoria morfoloacutegica e se refere a um conjunto de tipos de enunciados

que indica a maneira de o verbo expressar um estado de coisas Esta categoria eacute apresentada

em sua relaccedilatildeo com a modalidade ou como a expressatildeo gramaticalizada da modalidade por

exemplo o modo imperativo se relaciona com a modalidade deocircntica e os outros modos com

a modalidade epistecircmica (OLIVEIRA 2003 p 254)

Bybee et al (1994) como jaacute visto incluem o modo no domiacutenio da modalidade

enquanto van der Auwera e Plungian (1998) no domiacutenio das ilocuccedilotildees Como Green (2009)

que afirma que ―o modo com o conteuacutedo subdetermina a forccedila Por outro lado eacute uma hipoacutetese

plausiacutevel que o modo gramatical eacute um dos dispositivos que usamos em conjunto com as

pistas contextuais entonaccedilatildeo e outros para indicar a forccedila com a qual estamos expressando

um dado conteuacutedo52

Palmer (1986) define o ―modo como uma categoria morfossintaacutetica de natureza

verbal no mesmo niacutevel de tempo e aspecto sendo caracterizado em relaccedilatildeo agrave modalidade

como um recurso linguiacutestico menos prototiacutepico Lyons (1977 p 848) tambeacutem caracteriza o

modo como uma categoria gramatical e portanto diferente da modalidade que estaria

associada ao domiacutenio semacircntico O que eacute corroborado por Narrog (2005 p 167) que afirma

que o termo modo ―se refere a formas linguiacutesticas especiacuteficas ou paradigmas de formas

tipicamente na inflexatildeo verbal cuja funccedilatildeo primeira eacute expressar modalidade53

Halliday (1970) distingue modalidade e modo relacionando a primeira agrave expressatildeo de

necessidade e possibilidade e o segundo agrave forccedila ilocucionaacuteria O modo estaria ligado a

noccedilotildees de realidade existecircncia factualidade e a modalidade a noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade e voliccedilatildeo

52

No original ―Mood together with content underdetermine force On the other hand it is a plausible hypothesis

that grammatical mood is one of the devices we use together with contextual clues intonation and so on to

indicate the force with which we are expressing a given content (GREEN 2009) 53

No original ―[] refers to specific linguistic forms or paradigms of forms typically in verb inflection whose

primary function is to express modality (NARROG 2005 p 167)

62

Na tradiccedilatildeo gramatical do portuguecircs do Brasil o modo verbal eacute classificado em trecircs

tipos indicativo (relacionado ao factual o subjuntivo (relacionado ao hipoteacutetico e

contrafactual) e o imperativo (relacionado a comandos ordens pedidos)

O modo indicativo de maneira mais geral eacute natildeo-marcado para a modalidade com

exceccedilatildeo para os usos modais do futuro do presente e futuro do preteacuterito conforme os

exemplos abaixo

(275) [33] eu vou olhar pr ocecirc se eu tenho trinta-e-nove dessa dessa (bpubdl02)

(276) [37] aiacute ea falou assim cecirc ia ter neneacutem aonde (bfammn04)

Jaacute o subjuntivo segundo Palmer (1986 p 39) eacute um marcador geneacuterico de

modalidade Morfossintaticamente ocorre em oraccedilotildees encaixadas (PALMER 1986 p 22) e

com frequecircncia eacute uma marca redundante de um elemento modal presente na oraccedilatildeo principal

No minicorpus analisado encontramos algumas dessas ocorrecircncias54

(277) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1] tenha perdido (bfamdl01)

(278) [39] queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho e tudo (bfammn05)

Podem aparecer tambeacutem em ocorrecircncias como as em (279) e (280) com valor de

hipoacutetese

(279) [148] porque esse aqui eacute quando for desenhar (bfamcv04)

(280) [239] pra que Deus venha ampri [1] contribuir pa sua sorte (bfamdl04)

O modo imperativo por sua vez poderia estar ligado agrave modalidade deocircntica como

reconhece Portner (2007 p 399) ―[a] ideia de que os imperativos devam ter alguma coisa a

ver com a interpretaccedilatildeo de modais deocircnticos eacute extremamente intuitiva55

De fato uma

enunciaccedilatildeo imperativa eacute uma tentativa de impor a um indiviacuteduo uma obrigaccedilatildeo No entanto a

opccedilatildeo neste trabalho dados seus pressupostos eacute de que os imperativos estatildeo ligados a atos de

fala do tipo diretivos e natildeo agrave expressatildeo da modalidade

54

Vale lembrar que no PB em contextos anteriormente tidos como tipicamente de uso do subjuntivo observa-se

uma variaccedilatildeo com o emprego de formas do indicativo No entanto natildeo estaacute no escopo deste trabalho a discussatildeo

desta flutuaccedilatildeo Para esta variaccedilatildeo no espanhol ver o trabalho de Mejiacuteas-Bikandi (1996) apoiado na Teoria dos

Espaccedilos Mentais de Fauconnier (1994) Nesta moldura teoacuterica o modo eacute visto como um mecanismo que regula o

compartilhamento de informaccedilotildees entre espaccedilos mentais 55

Traduccedilatildeo para ―The idea that imperatives should have something to do with the interpretation of deontic

modals is extremely intuitive (PORTNER 2007 p 339)

63

Na proacutexima seccedilatildeo trato da modalidade e sua relaccedilatildeo com a ilocuccedilatildeo e a atitude no

sentido de demonstrar que satildeo categorias diferentes poreacutem que se interrelacionam

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude

O conceito de ilocuccedilatildeo ou ato ilocucionaacuterio foi primeiramente formulado por Austin

(1962) em uma seacuterie de conferecircncias em que sustentava que ―falar alguma coisa eacute fazer

alguma coisa56

Austin distingue no ato linguiacutestico trecircs niacuteveis o locutoacuterio o ilocutoacuterio e o

perlocutoacuterio

Este conceito eacute retomado mais tarde por Searle (1969) que considera que um ato

ilocucionaacuterio eacute a unidade miacutenima da comunicaccedilatildeo linguiacutestica humana O filoacutesofo revecirc a

taxinomia austiniana e propotildee cinco categorias baacutesicas para como usamos a linguagem

(SEARLE 19792002 p 19-31) (a) assertivos (dizer agraves pessoas como as coisas satildeo) (b)

diretivos (levar as pessoas a fazer coisas) (c) compromissivos (nos comprometer a fazer

coisas) (d) expressivos (expressar nossos sentimentos) e (e) declaraccedilotildees (provocar mudanccedilas

no mundo atraveacutes das emissotildees linguiacutesticas)

Na mesma linha Cresti (2001) reconhece a divisatildeo em trecircs niacuteveis do ato linguiacutestico e

afirma que a ilocuccedilatildeo coocorre com o ato locutoacuterio e produz um efeito de caraacuteter afetivo-

pulsional Principalmente a partir de criteacuterios prosoacutedicos ela propotildee cinco classes de atos

ilocucionaacuterios

(a) Asserccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de autoconfianccedila por

parte do falante com base nas proacuteprias realizaccedilotildees de pensamento que permite

a manifestaccedilatildeo de julgamentos descobertas avaliaccedilotildees representaccedilotildees como

novos objetos no mundo

(b) Direccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de levar em

consideraccedilatildeo as habilidades possibilidades disponibilidade do ouvinte

enquanto se espera transformar o mundo atraveacutes de accedilotildees informaccedilotildees

movimentos ou que o ouvinte transforme a si mesmo com relaccedilatildeo a seu

horizonte de atenccedilatildeo seu conhecimento sua habilidade seu ponto de vista

56

―[hellip] to say something is to do something [hellip] (AUSTIN 1962 p 12)

64

(c) Expressatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de manifestaccedilatildeo

―esteacutetica de estados mentais sentimentos emoccedilotildees crenccedilas esperando que o

ouvinte se torne consciente disso e compartilhe disso

(d) Rito um comportamento externo de execuccedilatildeo de tarefas linguumliacutesticas que tecircm

valor e efeito legal e social e que pode ser realizado com o miacutenimo de

participaccedilatildeo afetiva apenas suficiente para a ativaccedilatildeo fisioloacutegica da fala

(e) Recusa uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de liberdade e separaccedilatildeo

por parte do falante com relaccedilatildeo ao seu interlocutor que permite um confronto

completo com esse uacuteltimo

Cresti assume que a ilocuccedilatildeo natildeo se opotildee agrave modalidade mas que as duas pertencem a

dois niacuteveis diferentes Tucci (2011) em anaacutelise de corpus de fala espontacircnea do italiano

afirma que haacute duas razotildees principais para se separar as duas noccedilotildees a primeira de caraacuteter

formal consiste em assumir que por definiccedilatildeo cada enunciado corresponde a uma e somente

uma forccedila ilocucionaacuteria enquanto que mais de um valor modal pode coexistir num

enunciado a segunda de um ponto de vista mais qualitativo consiste em atestar que natildeo haacute

uma correspondecircncia entre o valor modal e a forccedila ilocucionaacuteria apesar de os iacutendices modais

contribuiacuterem para a interpretaccedilatildeo ilocucionaacuteria de um enunciado

Outros autores igualmente assumem que a modalidade se circunscreve perfeitamente

no niacutevel da semacircntica e natildeo da pragmaacutetica (FRAWLEY 1992 KIEFER 1997 NARROG

2005) Kiefer (1997 p 247) afirma que ―os atos de asseverar permitir ordenar ou prometer

satildeo estranhos agrave modalidade Natildeo haacute como elaborar uma questatildeo significativa sobre como um

ato afeta a modalidade Isso vale para a ilocuccedilatildeo assim como para a perlocuccedilatildeo57

Desde um ponto de vista pragmaacutetico coerente natildeo se pode considerar a modalidade

como a mesma coisa que ilocuccedilatildeo Mello e Raso (2011 p 5-ss) em estudo experimental

fazem uma distinccedilatildeo entre as categorias de modalidade ilocuccedilatildeo e atitude58

Os autores pleiteiam que a modalidade pertence ao domiacutenio da semacircntica no qual a

postura do falante em relaccedilatildeo agrave expressatildeo do material locutoacuterio se manifesta de maneira que

a mesma ilocuccedilatildeo pode ser modalizada de diferentes formas sem afetar o niacutevel ilocucionaacuterio

A ilocuccedilatildeo por sua vez pertence ao domiacutenio pragmaacutetico no qual a postura do falante em

relaccedilatildeo ao seu interlocutor se manifesta

57

No original ―[t]he act of asserting permitting ordering or promising is alien to modality There is no way to

ask a meaningful question about how such an act affects modality This holds for illocution as well as for

perlocution (KIEFER 1997 p 247) 58

A distinccedilatildeo entre modalidade e atitude estaacute na proacutexima seccedilatildeo 244

65

Em relaccedilatildeo agrave atitude uma das dificuldades para se distinguir modalidade e esta

categoria reside justamente na proacutepria polissemia do termo atitude que pode ser definida

como uma posiccedilatildeopostura assumida ou como emoccedilatildeo (MOZZICONACCI 2001) ou como

comportamentomaneira de agir em relaccedilatildeo a uma outra pessoa Nos trabalhos de anotaccedilatildeo

semacircntica de opiniatildeo e sentimentos (cf WIEBE et al 2005) os conceitos de modalidade e

atitude tambeacutem se confundem

Mello e Raso (2011) constatam que a categoria de atitude comparada agraves de

modalidade e ilocuccedilatildeo ainda eacute pouco discutida na literatura Eles apresentam alguns estudos

como o de Local (2005) que menciona a importacircncia da categoria para os estudos de

entonaccedilatildeo ou a definiccedilatildeo de Moraes et al (2010) de que ―a atitude prosoacutedica geralmente se

refere agrave expressatildeo de afetos sociais voluntariamente controladas pelo falante59

Ainda

segundo Moraes et al (2010) existem algumas atitudes que afetam o conteuacutedo proposicional

de um enunciado como a ironia a incredulidade a surpresa e outras que estatildeo ligadas a

relaccedilotildees sociais estabelecidas entre os participantes de uma interaccedilatildeo como a polidez a

autoridade a arrogacircncia

Assim eacute reconhecida a dimensatildeo sociointeracional da atitude isto eacute o falante revela

seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica (com uma modalidade especiacutefica) A

mesma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras por exemplo triste contente

desafiadora envolvente surpresa irritada etc

Como experimento para a distinccedilatildeo das trecircs categorias os pesquisadores consideraram

trecircs ilocuccedilotildees diferentes pertencentes agrave classe dos diretivos (cf CRESTI 2000 MONEGLIA

2011) a saber sugestatildeorecomendaccedilatildeo convite e pergunta para materiais locutoacuterios com

diferentes modalidades o primeiro ―Vem pro Brasil o segundo ―Pode vir pro Brasil e o

terceiro ―Tem que vir pro Brasil Foram consideradas tambeacutem duas atitudes comprometida

e irritada

Comparando a mesma ilocuccedilatildeo produzida com diferentes atitudes observou-se que

enquanto a ilocuccedilatildeo tem um nuacutecleo a atitude estaacute distribuiacuteda por toda a unidade tonal Dessa

forma para se analisar a ilocuccedilatildeo eacute necessaacuterio olhar a posiccedilatildeo do nuacutecleo a forma do nuacutecleo e

o alinhamento do nuacutecleo isto eacute a relaccedilatildeo do nuacutecleo com o conteuacutedo segmental

Tambeacutem se observou que se se mantecircm a ilocuccedilatildeo e a atitude e se varia a modalidade

esta uacuteltima natildeo vai afetar os paracircmetros prosoacutedicos O uacutenico aspecto que parece mudar eacute a

parte de preparaccedilatildeo da curva devido a uma mudanccedila no material segmental

59

No original ―prosodic attitude generally refers to the expression of social affects voluntarily controlled by the

speaker (MORAES et al p 1)

66

Outro aspecto observado por Mello e Raso (2011 p 15) foi que a depender da

ilocuccedilatildeo um mesmo iacutendice modal pode ser interpretado com diferentes significados Por

exemplo para o material locutoacuterio ―eu devo passar na casa dele se enunciado como uma

asserccedilatildeo recebe uma leitura epistecircmica enunciado como uma pergunta uma interpretaccedilatildeo

deocircntica

Em resumo conforme o experimento de Mello e Raso (2011 p 16) as categorias da

modalidade ilocuccedilatildeo e atitude se diferenciam e ao mesmo tempo se interrelacionam Nas

suas palavras ―uma atitude especiacutefica preferelsquo algumas ilocuccedilotildees e uma ilocuccedilatildeo especiacutefica

preferelsquo algumas modalidades ao ponto de que o mesmo item lexical vai receber uma

interpretaccedilatildeo preferencial devido agrave ilocuccedilatildeo em que figura60

Um esquema possiacutevel para esta relaccedilatildeo seria o seguinte

Projeccedilatildeo ato comunicativo

atitude

ilocuccedilatildeo

modalidade

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo

A figura eacute um esforccedilo para representar a hierarquia no ato comunicativo o campo

atitudinal pode projetar uma espeacutecie de zona de sombra na camada da ilocuccedilatildeo que por sua

vez projeta uma zona de sombra na camada da modalidade A modalidade seria o ―Modus do

Dictum a ilocuccedilatildeo o ―Actum do Dictum e a atitude o ―Modus do Actum

Parto portanto para tentar a formulaccedilatildeo de uma definiccedilatildeo mais apropriada para que

abarque igualmente a modalidade na fala espontacircnea a partir de dados empiacutericos

60

―a specific attitude preferslsquo come illocution and a specific illocution preferslsquo some modalities to the point

that the same lexical index will receive a preferred interpretation due to the illocution it figures in (MELLO

RASO 2011 p 16)

67

26 Modalidade na fala espontacircnea

Tomarei para iniacutecio de conversa (e porque como explicitado nos objetivos pretendo

reavaliar a noccedilatildeo de modalidade) a posiccedilatildeo de Cresti (2002) e Tucci (2007 2008 2009) que

assumem que a modalidade eacute inerente a qualquer enunciado com ou sem a presenccedila de

iacutendices modais Para elas a modalidade estaacute sob o domiacutenio do niacutevel semacircntico natildeo do

pragmaacutetico uma vez que se constitui como um processo cognitivo natildeo uma accedilatildeo

Como a fala natildeo eacute organizada em proposiccedilotildees loacutegicas mas em unidades pragmaacuteticas

a incidecircncia do valor modal veiculado por um iacutendice de acordo com Tucci (2007) eacute uma

propriedade natildeo do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem

considerados

(i) se o enunciado eacute simples quer dizer se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente ao enunciado inteiro e agrave unidade informativa

(281) [31] trecircs eacute o carinho no um nũ daacute (bfamcv03)

(ii) se dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o

princiacutepio de composicionalidade em que um iacutendice domina o outro e determina a

modalidade

(282) EVN [148] acho ltque a gentegt tem que olhar direito (bfamcv01)

(iii) se um enunciado possui duas unidades informacionais se aplica um princiacutepio de

natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

(283) [397] vai arrumar laacute o dia todo =TOP= e de laacute que ea vai po [1] po coisa

=COM=$ (bfamcv02)

Dentre os valores modais trecircs primordiais satildeo utilizados por Cresti e Tucci o

aleacutetico61

o deocircntico e o epistecircmico A modalidade aleacutetica se restringe agrave avaliaccedilatildeo que o

61

A loacutegica modal diz respeito quase exclusivamente agrave modalidade aleacutetica isto eacute agravequela relacionada com a

verdade necessaacuteria ou contingente das proposiccedilotildees Na linguiacutestica este tipo de modalidade desempenha um

papel marginal por esta razatildeo natildeo seraacute levada em conta neste trabalho como explicitado na seccedilatildeo 231

68

falante faz do estado-de-coisas segundo noccedilotildees loacutegicas de verdade e agrave apresentaccedilatildeo do

estado-de-coisas como verdadeiro como nos seguintes exemplos62

(284) Um cisne pode ser negro

Um leopardo deve ser malhado

Como as noccedilotildees de capacidade e habilidade estatildeo ligadas agrave verdade do mundo satildeo

encaixadas nessa categoria63

A modalidade deocircntica estaacute relacionada agraves noccedilotildees de permissatildeo e de obrigaccedilatildeo com

as quais o falante avalia um estado-de-coisas referente a alguma accedilatildeo como nos exemplos

seguintes

(285) Natildeo se pode abandonar a pessoa sozinha

Marco deve partir hoje (~ ter que)

A expressatildeo de desejo em alguns casos tambeacutem se insere nessa categoria uma vez

que o falante posiciona-se perante uma accedilatildeo

A modalidade epistecircmica manifesta-se sempre que o falante imprime ao estado de

coisas uma avaliaccedilatildeo baseada em seus conhecimentos e crenccedilas sobre o mundo e denota graus

de possibilidade e de probabilidade com relaccedilatildeo aos estado-de-coisas

(286) Juacutelio pode ter partido

Devem ser os sete

No que se refere ao discurso oral o comprometimento com o conteuacutedo proposicional

natildeo se aplica uma vez que o escopo da modalidade natildeo pode estar limitado a proposiccedilotildees O

conteuacutedo linguiacutestico eacute organizado em enunciados64

revelando um determinado padratildeo

informacional (CRESTI 2000) A visatildeo de modalidade tomada pelas autoras italianas eacute a

62

Os exemplos que ilustram as categorias de modalidade satildeo de Tucci (2007) Traduccedilatildeo minha 63

Os sentidos de capacidade habilidade e voliccedilatildeo satildeo tratados de forma separada neste trabalho como visto na

seccedilatildeo 233 64

Na moldura da ―Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) como veremos em detalhes mais adiante o

enunciado eacute a unidade de referecircncia da liacutengua falada e eacute definido como qualquer expressatildeo linguiacutestica

interpretaacutevel pragmaticamente ligada a (a) uma condiccedilatildeo semacircntica de plena significaccedilatildeo da expressatildeo em

questatildeo e (b) uma realizaccedilatildeo entoada segundo um padratildeo meloacutedico de valor ilocutoacuterio

69

seguinte ―expressatildeo da avaliaccedilatildeo do falante sobre o material locutoacuterio e seu escopo eacute a

unidade informacional

Relembrando as perguntas que me motivaram ateacute aqui a saber (a) de que modificaccedilatildeo

se trata a modalidade (b) o que estaacute incluiacutedo no seu escopo (c) quais os domiacutenios semacircnticos

envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes categorias creio que eacute possiacutevel

ir um pouco aleacutem e entender a modalidade como uma nuancerelativizaccedilatildeo do material

locutoacuterio enunciado natildeo necessariamente uma proposiccedilatildeo ligada agrave dimensatildeo subjetiva e que

inclui os domiacutenios da possibilidade da necessidade da habilidade e da voliccedilatildeo Diferencia-se

de negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude entretanto estaacute estreitamente relacionada com estas

noccedilotildees

Na minha formulaccedilatildeo a partir do que foi discutido anteriormente a modalidade pode

ser tomada como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que

relativiza o que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da

interaccedilatildeo

Esta definiccedilatildeo proposta se aproxima e se afasta do conceito corrente na literatura ―a

opiniatildeo ou atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo ou agrave situaccedilatildeo contida na proposiccedilatildeo

(LYONS 1977 p 452-3) por alguns motivos os quais elenco a seguir

(a) opiniatildeo atitude gt julgamento avaliaccedilatildeo que relativiza

Como vimos a categoria da atitude estaacute relacionada a um niacutevel sociointeracional no

qual o falante demonstra seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica e com uma

modalidade especiacutefica Usar este roacutetulo portanto pode levar a interpretaccedilotildees equivocadas

sobre a categoria da modalidade

A modalidade eacute uma modificaccedilatildeo que cria uma nuance ou uma relativizaccedilatildeo do que

estaacute sendo enunciado Natildeo pode ser confundida com qualquer modificaccedilatildeo nem com

qualquer funccedilatildeo modalizadora nem com um quantificador (eg aproximadamentelsquo cerca

delsquo) nem com um angulador (eg tipolsquo uma espeacutecie delsquo) eacute uma modificaccedilatildeo que

pressupotildee o grau de comprometimento do sujeito da modalidade eou os domiacutenios da

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo

70

(b) falante gt sujeito conceptualizador

Utilizo uma noccedilatildeo semacircntico-cognitiva o conceptualizador nos termos de Langacker

(1987 1991 2001 2007 2008) em lugar do ―falante uma vez que a primeira noccedilatildeo eacute mais

abrangente do que a uacuteltima pois abarca aleacutem do falante o endereccedilado ou um terceiro

indiviacuteduo O conceptualizador seria o proacuteprio falante ou uma terceira pessoa para cujo ponto

de vista o falante se projeta Observe os exemplos abaixo

(287) [117] eu falei natildeo eu devo ter a conta ainda porque eu nũ + (bfammn03)

(288) LUC [361] ltisso pode ser potencialmentegt divertido (bfamcv04)

(289) DFL [58] aquilo que o o professor achava mais importante (bfammn02)

(290) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando (bfamdl04)

(291) [48] cecirc nũ consegue cem por cento de nada na sua vida entatildeo acho que tocirc

[1] tocirc caminhando (bpubmn01)

Em (287) e (288) temos um conceptualizador em primeira pessoa que coincide com

o falante e enuncia a sua avaliaccedilatildeo sobre o material locutoacuterio Em (287) o enunciador se

desloca para um momento anterior e reporta o que enunciou agravequela altura marcada

linguisticamente pela presenccedila do verbo dicendi falarlsquo A ocorrecircncia em (288) apresenta

inclusive uma redundacircncia da possibilidade epistecircmica com o uso do verbo modal poderlsquo e

do adveacuterbio modal potencialmentelsquo (ou conforme Halliday 1970 e Lunguinho 2010 o

fenocircmeno da concordacircncia modal65

) No exemplo em (289) o falante enuncia a avaliaccedilatildeo de

um conceptualizador em terceira pessoa O falante em (290) pede a confirmaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo

de um outro conceptualizador (―ela) Na ocorrecircncia do monoacutelogo puacuteblico em (291) a

falante no papel de professora se projeta para um ponto de vista impessoal representado pelo

decircitico ―cecirc o que aponta para um grau de afastamento em relaccedilatildeo ao que estaacute sendo

enunciado

Segundo Langacker (2008) a conceptualizaccedilatildeo metaforicamente eacute a forma como

vemos uma cena Em suas palavras ―Um arranjo de ponto de vista eacute a relaccedilatildeo global entre os

―observadores e a situaccedilatildeo sendo ―observada [] os observadores satildeo os

conceptualizadores que apreendem os significados de expressotildees linguiacutesticas o falante e o

65

A concordacircncia modal se caracteriza se caracteriza pela presenccedila sintaacutetica de dois itens modais que satildeo

interpretados como se houvesse apenas um (HALLIDAY 1970 LUNGUINHO 2010)

71

ouvinte66

(LANGACKER 2008 p 73)

O arranjo de ponto de vista portanto seria uma espeacutecie de ajuste ou afinaccedilatildeo entre

quem vecirc e o que vecirc Este ajuste eacute tomado como default quando os interlocutores estatildeo juntos

em um local fixo a partir do qual observam e descrevem o que acontece no mundo em volta

deles e eacute ―uma parte essencial para o substrato conceptual que sustenta o significado de uma

expressatildeo e molda a sua forma67

As perspectivas default tendem a ser praticamente

invisiacuteveis e se explicitam quando se considera expressotildees que cumprem uma accedilatildeo como uma

pergunta ou ordem

O que a modalidade parece sugerir eacute que se trata da modificaccedilatildeo avaliadora de uma

perspectiva default ou seja aquela perspectiva expliacutecita marcada semanticamente Por

exemplo em ―O livro taacute sobre a mesa estamos diante de uma perspectiva default Jaacute em ―Eu

acho que o livro taacute sobre a mesa temos o grau de certeza modalizador como acreacutescimo ao

ponto de vantagem do arranjo default

Cresti (no prelo p 13) corroborando esta posiccedilatildeo afirma que ―[c]ada cena eacute uma

funccedilatildeo de uma perspectiva o ponto de vista do falante ou do endereccedilado ou de algueacutem

externo e pode ser marcada socialmente eou estilisticamente []68

Uma cena se caracteriza

por coordenadas nos eixos temporal e especial em um determinado universo possiacutevel

(c) proposiccedilatildeo gt material locutoacuterio enunciado

Como estamos tratando da modalidade na fala com um entendimento particular do

que eacute esta fala espontacircnea (CRESTI SCARANO 1998) e dentro do quadro teoacuterico da Liacutengua

em Ato (CRESTI 2000) haacute que se deslocar o alvo de incidecircncia da proposiccedilatildeo para o

material locutoacuterio enunciado no escopo de uma unidade informacional (cf TUCCI 2007)

Recuperando resumidamente a formulaccedilatildeo de Tucci a modalidade natildeo eacute uma

propriedade do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem levados em

conta (a) se o enunciado eacute simples isto eacute se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente a todo o enunciado e agrave unidade informacional (b) se

66

No original ―A viewing arrangement is the overall relationship between the ―viewers and the situation being

―viewed [For our purposes] the viewers are conceptualizers who apprehend the meanings of linguistic

expressions the speaker and the hearer (LANGACKER 2008 p 73) 67

Traduccedilatildeo para ―an essential part of the conceptual substrate that supports an expressionlsquos meaning and shapes

its form 68

No original ―Every scene is a function of a perspective the point of view of the speaker or the addressee or

someone external and can be marked socially andor stylistically [hellip] (CRESTI no prelo p 13)

72

dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o princiacutepio de

composicionalidade em que um iacutendice domina o outro hieraquicamente e determina a

modalidade e (c) se um enunciado possui duas unidades informacionais aplica-se o princiacutepio

de natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

Alguns dados da amostra no entanto me levam a considerar que a modalidade tem

uma incidecircncia local no acircmbito da unidade informacional mas tambeacutem eacute uma propriedade

dinacircmica que atua igualmente em uma cadeia referencial no domiacutenio textual

Segundo Cresti (no prelo p 12) cada chunk linguiacutestico de um ponto de vista

semacircntico corresponde a uma cena (cf BARWISE PERRY 1981 FAUCONNIER 1984) e

para permitir o desenvolvimento de uma funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem

estar na mesma cena

Segundo Simon-Venderbergen e Aijmer (2007) os marcadores modais podem evoluir

de uma funccedilatildeo puramente qualificacional para funccedilotildees textuais e retoacutericas Podem ser

marcadores de confirmaccedilatildeo adversidade continuidade e causalidade Vejamos este excerto de

uma conversaccedilatildeo familiar do tipo argumentativo predominantemente cujo tema eacute um

campeonato de futebol

(292) Excerto 1

LEO [1] o Juninho ltfoigt

GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em e tambeacutem falando em povo

mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt

LUI [3] ltnatildeogt

LEO [4] ltnatildeogt

LUI [5] lteu acho natildeogt

LEO [6] ltcom certezagt

LUI [7] ltcom certeza es nũ vatildeo participar uaigt

Destaco do excerto acima os enunciados [2] [5] [6] e [7] No enunciado [2] o

participante GIL expotildee sua opiniatildeo sobre o time Galaacuteticos (―eacute muito palha) e faz tambeacutem

um julgamento sobre a participaccedilatildeo desta equipe no campeonato que estatildeo organizando (―eu

73

acho que es nũ deviam mais participar e lttalgt) Os participantes LUI e LEO por sua vez

fazem eco a esse julgamento utilizando operadores modais de confirmaccedilatildeo como ―acho natildeo

e ―com certeza

Os enunciados satildeo diferentes com suas respectivas modalidades no entanto o que

parece eacute que podemos recuperar nos domiacutenios locais elementos referenciais pertencentes a

uma determinada cena anterior em uma coordenaccedilatildeo muacutetua de sistemas cognitivos quer

dizer os sistemas cognitivos dos participantes de uma interaccedilatildeo estatildeo alinhados o que

Verhagen (2005) chama ―intersubjetividade Segundo ele a liacutengua se presta natildeo soacute a

objetivos de informaccedilatildeo mas principalmente de argumentaccedilatildeo Assim desenvolve o conceito

de argumentatividade ou seja a capacidade das pessoas de accedilotildees cognitivamente coordenadas

no fluxo para induzir o interlocutor a realizar inferecircncias e criar um discurso coerente

Neste capiacutetulo apresentei o estado da arte dos estudos de modalidade as tipologias

tradicionais e as visotildees alternativas Ainda defini os valores modais que seratildeo utilizados na

pesquisa e a partir de uma perspectiva subjetiva tentei uma formulaccedilatildeo para o conceito de

modalidade que desse conta de explicar a que tipo de modificaccedilatildeo me refiro quando utilizo os

termos ―modalidade ―modal e ―modalizador e a que domiacutenios semacircnticos ela estaria

ligada

A partir de agora desde um ponto de vista empiacuterico introduzo os procedimentos

metodoloacutegicos e os resultados da descriccedilatildeo do fenocircmeno da modalidade em um corpus de fala

espontacircnea do portuguecircs brasileiro

74

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

75

Capiacutetulo 3

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

No capiacutetulo anterior me ocupei em apresentar alguns estudos sobre a categoria de

modalidade destacados de uma vasta literatura sobre o tema sejam eles vinculados a uma

abordagem mais objetiva ou subjetiva e tambeacutem descrevi os tipos de significados modais da

tradiccedilatildeo linguiacutestica e de abordagens alternativas e aqueles que utilizo na pesquisa Ainda

apontei a relaccedilatildeo da modalidade com outras categorias a ela associadas como a negaccedilatildeo o

modo a ilocuccedilatildeo e a atitude Por fim apresentei minha proacutepria proposta de definiccedilatildeo que se

conforma com o estudo da modalidade na fala que se diferencia em larga medida do estudo

da categoria na escrita

Neste capiacutetulo descrevo os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para empreender a

pesquisa Em primeiro lugar introduzo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato Em

seguida apresento o projeto C-ORAL-BRASIL e a amostra de estudo um minicorpus da

parte informal deste corpus (RASO MELLO 2012) A seguir apresento as outras etapas do

trabalho para fim de coleta preparaccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados

31 A Teoria da Liacutengua em Ato

A Teoria da Liacutengua em Ato para a anaacutelise da estrutura informacional proposta por

Cresti (2000) tem como hipoacutetese baacutesica a partir de Austin (1962) que eacute possiacutevel dizer que haacute

uma correspondecircncia entre unidade de accedilatildeo (os atos de fala) e unidade linguiacutestica (os

enunciados) atraveacutes de padrotildees entoacionais Nas palavras da proacutepria autora ―assumindo a

teoria dos atos linguiacutesticos de Austin (1962) como quadro teoacuterico de referecircncia possamos

descrever a verbalizaccedilatildeo oral como uma forma particular de comportamento humano do qual

cada instacircncia eacute um ato linguiacutestico constituiacutedo da ativaccedilatildeo simultacircnea de trecircs diversos tipos

de ato (locutoacuterio ilocutoacuterio e perlocutoacuterio)69

(CRESTI 2000 p 42)

69

No original ―assumendo la teoria degli atti linguistici di Austin (1962) come quadro teoacuterico di riferimento

possiamo descrivere La verbalizzazioneorale come uma particolare forma di comportamento umano di cui ogni

istanza egrave un atto linguiacutestico costituito dalllsquoattivazione simultanea di ter diversi tipi di atti (locutivo ilocutivo e

perlocutivo) (CRESTI 2000 p 42)

76

Essa teoria nasce no domiacutenio da oralidade especificamente da observaccedilatildeo e anaacutelise da

fala espontacircnea70

quer dizer de um texto falado concebido ao mesmo tempo em que eacute

executado e que natildeo realiza nenhum texto anterior mdash escrito lido ou script (fala roteirizada)

De uma perspectiva comunicativa a fala espontacircnea eacute um comportamento dinacircmico

de interaccedilatildeo entre interlocutores uma cadeia de accedilatildeo-reaccedilatildeo Os participantes de uma troca

conversacional realizam accedilotildees dirigidas a um ou mais interlocutores o que chamamos de

ilocuccedilotildees Uma ilocuccedilatildeo se define a partir de um conteuacutedo afetivo base de todas as relaccedilotildees

entre pessoas71

Cumprir uma ilocuccedilatildeo seria realizar um ato ao dizer algo Um ato de fala se realiza

simultaneamente em trecircs dimensotildees

a) ato locutoacuterio parte linguiacutestica ato de dizer algo

b) ato ilocutoacuterio intenccedilatildeo comunicativa ato ao dizer algo

c) ato perlocutoacuterio eacute a produccedilatildeo de um efeito sobre o interlocutor

A contraparte linguiacutestica de um ato de fala eacute um enunciado que carrega sempre uma

intenccedilatildeo comunicativa e eacute a unidade de referecircncia da diamesia falada Diferencia-se de

uma frase por ser um elemento compreendido em autonomia e analisaacutevel

pragmaticamente A prosoacutedia eacute o componente suprassegmental que nos permite identificar

esses enunciados

311 O enunciado

A anaacutelise da fala diferencia-se da anaacutelise da escrita uma vez que segundo Moneglia

(2011 p 481) ―a linguagem escrita pode ser propriamente segmentada de acordo com

princiacutepios sintaacuteticos e semacircnticos enquanto ―a identificaccedilatildeo de unidades de referecircncia em

um corpus de fala pode dificilmente ser feita atraveacutes dos mesmos dispositivos sintaacuteticos e

semacircnticos72

A primazia da escrita sobre a fala nos estudos linguiacutesticos aliaacutes leva-nos a

70

A base para este estudo foi o LABLITA Corpus principalmente o subcorpus LABLITA Corpus of Adult

Spontaneous Spoken Italian Disponiacutevel em httplablitaditunifiitcorporadescriptionslablita Uacuteltimo acesso

08 jan 2014 71

De acordo com Cresti (2000 p 84 e ss) um afeto eacute definido como ―uma pulsatildeo e representaccedilatildeo de um

esquema acional em relaccedilatildeo ao interlocutor que permite uma accedilatildeo concreta no mundo 72

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] written language can be properly parsed according to syntactic and semantic

principles (hellip) the identification of the units of reference in a spoken corpus can hardly be identified through the

same syntactic and semantic devices (Blanche-Benveniste 1997 Biber et al 1999 Cresti 2000 Miller amp Weinert

1998 Izreel 2005) (MONEGLIA 2011 p 481)

77

cometer o equiacutevoco de neglicenciar esta diamesia e trataacute-la como um texto escrito jaacute que o

que eacute estudado normalmente eacute a transcriccedilatildeo da fala segmentada de acordo com pausas

sintaacuteticas o que corresponde graficamente ao uso da viacutergula como pontuaccedilatildeo (MELLO

RASO 2013) No entanto ancorado em consistente base empiacuterica Moneglia (2011) afirma

que os dados de corpora orais apontam para a insuficiecircncia dos mesmos criteacuterios sintaacuteticos

aplicados agrave escrita para anaacutelise dos eventos de fala uma vez que muitos destes eventos natildeo

apresentam sequer um verbo

Ainda de acordo com Mello e Raso (2013 p 101) para o estudo efetivo da fala haacute

que se considerar os niacuteveis hieraacuterquicos definidos na expressatildeo comunicativa da fala o que

pressupotildee ―i que inicialmente se individualize a unidade ilocucionaacuteria ii que dentro dessa

unidade seja estabelecida a sua estrutura informacional e iii que somente dentro da unidade

informacional seja possiacutevel uma anaacutelise sintaacutetica

Como mencionado acima o enunciado eacute a entidade linguiacutestica que do ponto de vista

pragmaacutetico eacute autocircnoma o que significa que natildeo se define nem pela completude semacircntica

nem pela expressatildeo da predicaccedilatildeo O criteacuterio de identificaccedilatildeo de um enunciado parte de

caracteriacutesticas entoacionais dado que a forccedila ilocucionaacuteria de um enunciado eacute veiculada

atraveacutes dela A correspondecircncia entre ilocuccedilatildeo e um dado contorno prosoacutedico eacute denominada

―criteacuterio ilocutivo (CRESTI 2000) As funccedilotildees linguiacutesticas da entoaccedilatildeo seriam segundo

Cresti (2000) (a) indicar o tipo de ilocuccedilatildeo realizada no ato de fala (b) delimitar os

enunciados no contiacutenuo focircnico (c) segmentar o enunciado em unidades menores (d) assinalar

o tipo informacional de cada unidade dentro do enunciado

Assim a prosoacutedia pode ser considerada a interface formal entre os atos executados

simultaneamente em um ato de fala73

Podemos identificar como paracircmetros prosoacutedicos os

seguintes elementos movimento de F0 (hz) intensidade (db) duraccedilatildeo (s) alinhamento

velocidade de fala e ritmo Eacute importante destacar que o tipo de ilocuccedilatildeo natildeo estaacute subordinado

ao conteuacutedo locutoacuterio

No que diz respeito agrave segunda funccedilatildeo da entoaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo dos enunciados eacute

realizada atraveacutes da percepccedilatildeo das variaccedilotildees prosoacutedicas relevantes por um falante

―competente As variaccedilotildees que resultam na segmentaccedilatildeo do enunciado em unidades discretas

satildeo chamadas de quebras prosoacutedicas divididas em

73

Adiante veremos que a prosoacutedia eacute apenas um dos criteacuterios para identificaccedilatildeo da unidade entoacional ainda

contribuem para esta definiccedilatildeo do tipo informacional criteacuterios funcionais e distribucionais

78

(a) terminais quebras que satildeo percebidas como conclusivas e portanto indicam

a completude prosoacutedica do enunciado Graficamente satildeo representadas por duas

barras ( ―)

(b) natildeo-terminais percebidas como quebras natildeo-conclusivas Satildeo mais fracas e

cumprem a funccedilatildeo de delimitar as unidades internas ao enunciado Graficamente

satildeo representadas por uma barra (―)

As quebras prosoacutedicas satildeo utilizadas na transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo de textos orais

(MONEGLIA CRESTI 1997) Como exemplos dessas quebras terminal e natildeo-terminal

respectivamente temos

(31) REN [116] eu gosto de maccedilatilde

(32) REN [145] desinfetante a gente precisa

Os enunciados podem ter um padratildeo simples ou complexo No padratildeo simples o

enunciado eacute composto apenas pelo nuacutecleo do ato de fala e eacute executado em uma uacutenica unidade

tonal necessaacuteria e suficiente porque carrega a forccedila ilocucionaacuteria denominada Comentaacuterio

no padratildeo complexo o enunciado corresponde ao nuacutecleo mais um conjunto de unidades com

distintas funccedilotildees informacionais eacute executado em duas ou mais unidades tonais Uma dessas

unidades eacute obrigatoriamente o Comentaacuterio as outras unidades cumprem funccedilotildees

informacionais textuais ou dialoacutegicas

As unidades tonais satildeo marcadas pelas quebras prosoacutedicas (terminais ou natildeo-

terminais) e em princiacutepio realizam uma unidade informacional A relaccedilatildeo entre as unidades

de um enunciado eacute de natureza funcional e apenas dentro de uma mesma unidade podem ser

estabelecidas relaccedilotildees de ordem sintaacutetica

Os criteacuterios de individualizaccedilatildeo das unidades aplicados simultaneamente satildeo de

caraacuteter (a) funcional a funccedilatildeo desempenhada pela unidade no padratildeo informacional (b)

entoacional perfil prosoacutedico74

tipo e direccedilatildeo do movimento de F0 velocidade de elocuccedilatildeo e

intensidade presenccedila ou natildeo de foco entoacional e (c) distribucional a posiccedilatildeo da unidade

74

O perfil prosoacutedico eacute identificado com base na fonologia entoacional desenvolvida pelo grupo IPO (Instituut

voor Perceptie Onderzoek em holandecircs) ou Instituto para Pesquisa em Percepccedilatildeo (HART COLLIER COHEN

1990) Satildeo definidas trecircs classes de configuraccedilatildeo root perfix suffix que se combinam em um contorno

prosoacutedico

10448977

19330605

79

opcional em relaccedilatildeo agrave unidade nuclear (o Comentaacuterio) que tem distribuiccedilatildeo livre dentro do

enunciado

Haacute unidades com funccedilatildeo textual que compotildeem e agem diretamente sobre o texto do

enunciado e unidades com funccedilotildees dialoacutegicas tambeacutem chamadas auxiacutelios dialoacutegicos que

satildeo instrumentos para regular o diaacutelogo e a interaccedilatildeo agem sobre a situaccedilatildeo comunicativa

eou o interlocutor

As unidades textuais satildeo o Comentaacuterio que em um padratildeo complexo pode ser

realizado na forma de Comentaacuterios Muacuteltiplos ou Comentaacuterios Ligados o Apecircndice de

Comentaacuterio o Toacutepico o Apecircndice de Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo As

unidades dialoacutegicas satildeo o Incipitaacuterio o Conativo o Faacutetico o Alocutivo o Expressivo e o

Conector Discursivo Haacute outras unidades que natildeo possuem valor informacional e sinalizam

disfluecircncias da fala ou escansatildeo a Unidade de Escansatildeo a Tomada de Tempo e a Unidade

Vazia

A partir de agora apresento a definiccedilatildeo de cada uma destas unidades tornadas

discretas atraveacutes dos criteacuterios mencionados anteriormente funcional entoacional e

distribucional

312 Unidades Informacionais

3121 Comentaacuterio (COM)

A unidade de Comentaacuterio (COM) eacute a unidade nuclear primaacuteria de um padratildeo

informacional e tem a funccedilatildeo de veicular a forccedila ilocucionaacuteria do enunciado Eacute a uacutenica que

pode figurar sozinha no enunciado uma vez que representa a unidade informacional

necessaacuteria e suficiente para a sua realizaccedilatildeo e interpretabilidade

Em termos de propriedades prosoacutedicas esta unidade corresponde ao perfil do tipo raiz

e seu foco varia de acordo com os tipos de ilocuccedilatildeo (recusa asserccedilatildeo direccedilatildeo expressatildeo rito)

e condiccedilotildees contextuais

Quanto ao criteacuterio distribucional o Comentaacuterio tem distribuiccedilatildeo livre e estabelece

restriccedilotildees nas propriedades distribucionais de outras (possiacuteveis) unidades informacionais isto

eacute as demais unidades se organizam em funccedilatildeo dele Esta unidade pode ser segmentada por

Unidades de Escansatildeo

Vejamos os exemplos

80

(33) BRU [360] nũ tem nada que pode ser aproveitado =COM=$ (bpubcv01)

(34) CAR se for mais gente numa situaccedilatildeo pior =TOP= noacutes vamo ter que pensar

=COM=$ (bpubcv02)

O enunciado em (33) eacute do tipo simples porque possui apenas a unidade de

Comentaacuterio suficiente e necessaacuteria Em (34) temos um exemplo de enunciado do tipo

complexo com duas unidades informacionais o Toacutepico e o Comentaacuterio

3122 Toacutepico (TOP)

O Toacutepico (TOP) eacute uma das principais unidades informacionais e tem como funccedilatildeo

delimitar semanticamente o campo de aplicaccedilatildeo da forccedila ilocucionaacuteria Esta unidade

seleciona o domiacutenio de relevacircncia em relaccedilatildeo ao qual o ato de fala deve ser interpretado

Prosodicamente a unidade eacute marcada por um perfil do tipo prefixo e apresenta foco

entoacional agrave direita Assim como o Comentaacuterio a unidade informacional de Toacutepico tambeacutem

tem um foco o que permite distingui-la de outras unidades que antecedem o Comentaacuterio No

portuguecircs foram identificadas quatro formas entoacionais diferentes para o Toacutepico (cf

ROCHA 2012 MITTMAN 2012)

Em termos de distribuiccedilatildeo antecede o Comentaacuterio ainda que natildeo seja adjacente a ele

A unidade tambeacutem pode ser segmentada em Unidades de Escansatildeo

Um Toacutepico pode ser recursivo e tambeacutem pode ser formado por subpadrotildees de

unidades informacionais normalmente do tipo referencial o que se constitui como uma Lista

de Toacutepicos Todos os Toacutepicos de uma lista juntos fornecem um uacutenico domiacutenio de aplicaccedilatildeo

da forccedila do Comentaacuterio e todos eles pertencem ao mesmo domiacutenio ontoloacutegico ou no miacutenimo

eles devem ser semanticamente coerentes

Como exemplos

(35) FLA aiacute o caderno =TOP= eacute um negoacutecio meio atrasado =COM= assim =

PHA=$ (bpubcv01)

(36) FLA o [1]=EMP= o ceagaeme =TPL(1)= o plasma =TPL(2)= e a plaqueta

=TPL(3)= a gente armazena ate o dia seguinte =COM= (bpubcv01)

1681224

34460394

25983393

37703385

81

Em (35) temos um SN que realiza um Toacutepico simples e a ocorrecircncia em (36)

representa uma Lista de Toacutepicos um dos tipos de Toacutepico complexo

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC)

O Apecircndice de Comentaacuterio (APC) integra textualmente o Comentaacuterio e eacute dependente

desta unidade Varia informacionalmente atraveacutes de (a) repeticcedilatildeo repeticcedilatildeo ou eco (parcial

ou natildeo) de uma informaccedilatildeo jaacute conhecida ou uma paraacutefrase de um material locutivo no mesmo

enunciado ou em um enunciado diferente do mesmo falante ou mesmo do interlocutor (b)

preenchedor natildeo apresenta repeticcedilatildeo de um conteuacutedo anterior e se constitui como uma

expressatildeo formulaica que natildeo apresenta quase nenhuma informaccedilatildeo e (c) informaccedilatildeo

retardada o conteuacutedo semacircntico adiciona informaccedilatildeo para fins sociais quer dizer oferece

informaccedilatildeo mais especiacutefica ou alteraccedilotildees que facilitam a compreensatildeo do enunciado para o

interlocutor

Apresenta perfil entoacional do tipo sufixo nivelado ou descendente sem foco Estaacute

distribuiacutedo agrave direita do Comentaacuterio e em alguns casos pode estar separado do Comentaacuterio

por uma unidade de Faacutetico ou Parenteacutetico No entanto nunca pode ser interrompido por um

Parenteacutetico e algumas vezes eacute seguido por um Faacutetico ou Conativo

(37) CAR queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho =COM= e tudo =APC=$

(bfammn05)

(38) CAR [177] cecirc nũ entendeu =COM= cecirc nũ =APC=$ (bfamcv03)

(39) FLA [358] tem que lembrar ela =COM= comprar acetona =APC=$

(bfamdl01)

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT)

O Apecircndice de Toacutepico (APT) integra o texto do Toacutepico e se constitui

informacionalmente por integraccedilotildees lexicais ou alteraccedilotildees e muito raramente por repeticcedilotildees

exclusivamente do material locutoacuterio do Toacutepico

Esta eacute uma unidade de tipo sufixo com perfil que pode ser nivelado descendente ou

mesmo reproduzir a curva de F0 do Toacutepico a que se refere Diferentemente do Toacutepico natildeo

possui foco Distribui-se agrave direita da unidade de Toacutepico e o segue podendo estar intercalado

32391825

15673465

18808156

82

por uma unidade dialoacutegica (Faacutetico ou Alocutivo no PB) Natildeo pode ser interrompido por uma

unidade de Parenteacutetico

(310) BAL um cuidado =TOP= que cecircs tecircm que tomar =APT= lt Bel gt +

=ALL=$ (bfamdl02)

3115 Parenteacutetico (PAR)

A unidade de Parenteacutetico (PAR) expressa uma integraccedilatildeo metalinguiacutestica do

enunciado em alguns casos com funccedilatildeo modalizadora apresentando um ponto de vista

externo agravequele do Comentaacuterio A funccedilatildeo metalinguiacutestica encontra sua relevacircncia em relaccedilatildeo a

todo o enunciado ou pode se referir a uma unidade textual para traacutes ou para frente na maioria

das vezes um Comentaacuterio ou um Toacutepico e mais raramente a outro Parenteacutetico ou uma palavra

especiacutefica dentro de qualquer unidade informacional Informacionalmente cinco tipos de

integraccedilatildeo metalinguiacutestica foram encontrados avaliaccedilatildeo modal simples adiccedilatildeo de informaccedilatildeo

(com avaliaccedilatildeo positiva ou negativa) comentaacuterios sobre a atividade natildeo-linguiacutestica do falante

simultacircneo ao enunciado instruccedilotildees para o interlocutor que diz respeito agrave atividade dialoacutegica

glosa terminoloacutegica glosa locutiva de discurso reportado ou exemplificaccedilatildeo

O perfil prosoacutedico do tipo parecircntese eacute caracterizado por um abaixamento da F0 e

velocidade de execuccedilatildeo mais alta que o resto do enunciado Pode ocorrer em qualquer posiccedilatildeo

no enunciado exceto na inicial (VALE 2010)

(311) BAL [30] porque =DCT= lt se eu for gt empregado =TOP= por exemplo

=PAR= algueacutem vecirc que eu sou muito foda =TOP= lt medo gt de perder

=TOP= lt o posto gt lt deles =APT= es vatildeo [2] =EMP= es vatildeo gt me dizar

=COM= lt neacute gt =PHA=$ (bfamdl02)

Foi identificada ainda no minicorpus do C-ORAL-BRASIL a unidade de Lista de

Parenteacuteticos

(312) LUZ [68] aquele dia a Lilisa tava discutindo com a Deise =COB= ela ja tava

[3]=EMP= jaacute [1]=EMP= a Deise =SCA= jaacute ampf [1]=SCA= tinha falado de

quem que era =PAR= eu achei ate que ia ser do Ronan =COB= mas =DCT=

elas tava falando que nao =COB= falando de um outro ai =COM= nũ sei se eacute

Marco Tuacutelio =PRL= sei laacute quem =PRL= nũ sei quem =PRL=

(bfamdl03)

18285708

71817803

1071023

83

3116 Introdutor locutivo (INT)

O Introdutor Locutivo (INT) sinaliza a suspensatildeo pragmaacutetica do hic et nunc e introduz

uma metailocuccedilatildeo por exemplo um discurso reportado uma exemplificaccedilatildeo e um

pensamento falado um elenco e tambeacutem um parenteacutetico O perfil do tipo introdutor apresenta

alta velocidade de execuccedilatildeo e F0 mais baixa do que a do Comentaacuterio subsequente Sua

posiccedilatildeo eacute anterior ao Comentaacuterio que introduz

(313) FLA [324] como diz vocecirc =INT= natildeo precisa =COM_r=$ (bfamdl01)

322 Unidades Dialoacutegicas

As unidades dialoacutegicas compartilham algumas propriedades que as distinguem das

unidades textuais como por exemplo desenvolver uma funccedilatildeo que natildeo contribui para a

construccedilatildeo do conteuacutedo semacircntico do enunciado e por outro lado contribuir para o

desempenho feliz do ato de fala no contexto comunicativo e podem ocorrer em discurso

reportado Aleacutem disso em sua maioria satildeo realizadas com apenas uma palavra ou expressatildeo

natildeo podem ser escandidas natildeo carregam foco natildeo podem ser modalizadas possuem

restriccedilotildees de seleccedilatildeo lexical e natildeo contribuem para a composicionalidade sintaacutetico-semacircntica

do enunciado

3221 Incipitaacuterio (INP)

O Incipitaacuterio (INP) eacute uma unidade dialoacutegica que marca a abertura do turno dialoacutegico e

regula o fluxo da interaccedilatildeo Ele abre o canal comunicativo e indica um valor de contraste ou

uma oposiccedilatildeo ao enunciado anterior

Apresenta perfil prosoacutedico de auxiacutelio com F0 alta caracterizada por um movimento de

raacutepida subida seguida de descida Distribucionalmente ocorre em iniacutecio de enunciado ou

turno e frequentemente eacute seguido de uma unidade de Faacutetico

(314) bom =INP= ali tambeacutem pode fazer o seguinte o =COM=$ (bpubdl01)

16718361

2256

84

3222 Conativo (CNT)

A unidade de Conativo (CNT) tem a funccedilatildeo de provocar o interlocutor a se engajar na

interaccedilatildeo ou interromper o seu comportamento natildeo-cooperativo O perfil prosoacutedico se

caracteriza por intensidade alta perfil descendente e duraccedilatildeo curta Na maioria das vezes

ocupa posiccedilatildeo inicial ou final e algumas vezes posiccedilatildeo intermediaacuteria Haacute a possibilidade

ainda que pouco frequente de ocorrer mais de uma unidade de CNT no enunciado

(315) ltpera aiacute = CNT= pera pera aiacutegt =CNT= soacute um segundo =CNT= soacute vatildeo

esperar o [1] =SCA= a ampulheta = COB= aiacute lt desnegoccedilar gt = COM=$

(bfamcv04)

3223 Faacutetico (PHA)

A unidade dialoacutegica de Faacutetico (PHA) tem a funccedilatildeo de controlar o canal comunicativo

de modo a assegurar a manutenccedilatildeo de sua abertura Ele estimula o ouvinte a manter a coesatildeo

social necessaacuteria numa troca conversacional ou tenta se certificar de que o enunciado foi

recebido Em posiccedilatildeo final no enunciado serve para marcar o acordo com o interlocutor e

pode ser empregado para pedir uma confirmaccedilatildeo Por uacuteltimo funciona como uma tomada de

tempo para uma melhor programaccedilatildeo do enunciado

Apresenta perfil entoacional nivelado e duraccedilatildeo muito curta Sua posiccedilatildeo no

enunciado eacute livre

(316) eu contei o caso lt pra ele =COM= neacute gt =PHA= (bfammn01)

3224 Alocutivo (ALL)

O Alocutivo (ALL) opera no controle da comunicaccedilatildeo especifica a quem a mensagem

eacute dirigida e manteacutem a atenccedilatildeo do interlocutor desempenhando tambeacutem uma funccedilatildeo de coesatildeo

social Tem duraccedilatildeo curta baixa intensidade e movimento descendente Pode ocorrer em

qualquer posiccedilatildeo dentro do enunciado

(317) lt nũ tem perigo natildeo =COM= socirc gt =ALL= (bpubcv02)

30824478

18365709

10448977

85

3225 Expressivo (EXP)

O Expressivo (EXP) eacute suporte emocional do ato ilocutoacuterio cumprido pelo Comentaacuterio

assinala o compartilhamento de uma identidade de grupo com o interlocutor Apresenta F0

modulada ascendente com aumento da velocidade em relaccedilatildeo agrave meacutedia do enunciado Pode

ocorrer em qualquer posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao comentaacuterio

(318) eacute um [2] =EMP= eacute um pacote laacute com a Oi =COM= uai =EXP= (bpubcv01)

3226 Conector Discursivo (DCT)

O Conector Discursivo (DCT) tem como funccedilatildeo marcar a continuidade do discurso

indicando ao interlocutor que o processo de construccedilatildeo textual vai prosseguir Ocorre sempre

em iniacutecio de enunciado ou de um subpadratildeo de estrofe Eacute uma unidade com duraccedilatildeo longa

perfil nivelado ou modulado baixa velocidade e intensidade alta

O DCT funciona de modo oposto ao Incipitaacuterio Enquanto o uacuteltimo marca

descontinuidade no discurso o primeiro marca a continuidade O INP muitas vezes eacute usado

para tomar o turno de outro falante enquanto o DCT funciona mais internamente ao turno de

um mesmo falante

(319) entatildeo =DCT= dia de sexta e saacutebado ele nũ trabalha =COM=$ (bpubdl01)

323 A perda do isomorfismo

De acordo com Cresti (2000) haacute um princiacutepio de isomorfismo entre enunciado e

ilocuccedilatildeo e entre unidade tonal e unidade informacional Em alguns casos no entanto este

princiacutepio eacute quebrado como nos seguintes (i) quando uma unidade informacional se realizada

em mais de uma unidade entoacional fenocircmeno denominado escansatildeo (ii) quando mais de

uma ilocuccedilatildeo eacute realizada com determinado padratildeo dentro de uma uacutenica entidade linguiacutestica

concluiacuteda e (iii) quando varias ilocuccedilotildees fracas e homogecircneas satildeo realizadas

processualmente em uma situaccedilatildeo pouco acional ao que eacute chamado de Estrofe

3460162

3648

86

3231 Unidade de escansatildeo (SCA)

O fenocircmeno da escansatildeo ocorre apenas em unidades informacionais textuais Estas

unidades podem ser realizadas em mais de uma unidade entoacional Assim a Unidade de

Escansatildeo (SCA) natildeo apresenta funccedilatildeo informacional mas eacute parte de uma unidade

informacional maior A SCA indica disfluecircncias na fala que podem ocorrer por dificuldades

relativas agrave execuccedilatildeo do programa meloacutedico de uma unidade longa ou agrave expressividade da

unidade informacional Natildeo possui foco Uma caracteriacutestica deste fenocircmeno eacute a

composicionalidade sintaacutetica entre as unidades tonais escandidas

(320) com medo =INT= que se ea entrasse dentro de casa =TOP= ea ia matar

=SCA= os filho =SCA= com ea e tudo =COM=$ (bfammn01)

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) se constituem como dois ou mais comentaacuterios

dentro do mesmo enunciado ou seja separados por quebra natildeo-terminal e estruturados em

um padratildeo retoacuterico Estes padrotildees podem ser de tipos variados e ateacute agora foram

identificados as seguintes possibilidades de uma lista aberta elenco reforccedilo

alternativapedido de confirmaccedilatildeo comparaccedilatildeo relaccedilatildeo necessaacuteria chamamento cliacutemax e

consequecircncia

(321) SIL ou eacute vinho bom caro =CMM= ou eacute cerveja =CMM= (bfamdl04)

(322) ocirc Heliana =CMM= o vinho tava bom =CMM= (bfamdl04)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos satildeo contiacuteguos e como propriedades prosoacutedicas apresentam

o formato da unidade tonal eacute do tipo raiz + raiz (+ raiz) formando um padratildeo prosoacutedico e

seus perfil prosoacutedico e nuacutecleo variam de acordo com o tipo ilocucionaacuterio

37093863

37491415

22465298

87

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB)

Uma Estrofe eacute uma entidade linguiacutestica concluiacuteda que natildeo corresponde ao

cumprimento de um ato de fala mas sim a uma atividade de fala geneacuterica As Estrofes satildeo

unidades maiores que desenvolvem duas ou mais ilocuccedilotildees antes da quebra prosoacutedica

percebida como tendo valor terminal Contrariamente aos Comentaacuterios Muacuteltiplos natildeo satildeo

unidades programadas mas uma sequecircncia processual de Comentaacuterios Ligados (COB) nelas

o princiacutepio ilocucionaacuterio se enfraquece em favor de uma dimensatildeo menos pragmaacutetica e mais

textual

Nos Comentaacuterios Muacuteltiplos haacute um programa que requer mais de um Comentaacuterio para

ser realizado no caso das Estrofes agrave medida que ocorre a enunciaccedilatildeo outros Comentaacuterios vatildeo

sendo acrescentados porque o falante os percebe como importantes no momento sem que se

tenha programado anteriormente

Cada Comentaacuterio Ligado (COB) eacute caracterizado por uma forccedila ilocucionaacuteria fraca e

devem ser homogecircneos Aparentemente as estrofes cumprem somente atos com baixa

afetividade (descriccedilatildeo narraccedilatildeo pergunta retoacuterica instruccedilatildeo conselho expressatildeo de estado

psicoloacutegico)

O objetivo primaacuterio da Estrofe parece ser a expressatildeo de um pensamento em

andamento que induz a realizaccedilatildeo de um texto oral O texto da Estrofe eacute organizado como

uma sequecircncia de focos semacircnticos cada um dos quais pode registrar um valor modal

diferente A homogeneidade ilocucionaacuteria dos COB junto com a liberdade na variaccedilatildeo modal

implica que a Estrofe eacute concebida atraveacutes de uma relaccedilatildeo atitudinal uacutenica com o destinataacuterio

Em siacutentese a Estrofe se realiza quando a fala tende para uma dimensatildeo menos

pragmaacutetica e mais semacircntica O texto como conteuacutedo semacircntico se torna mais evidente e o

ato linguiacutestico como operaccedilatildeo pragmaacutetica se enfraquece As estrofes em princiacutepio podem ser

encontradas em todos os tipos de texto mas satildeo muito mais presentes no monoloacutegico e no

contexto puacuteblico Podemos ver portanto a estrofe como a dimensatildeo da acionalidade

enfraquecida em favor de uma elaboraccedilatildeo semacircntico-textual

(323) nos temos vinte-e-cinco funcionaacuterios =COB= dentro de Minas Gerais

=COB=atuando =COB= com a base nossa aqui em [1]=SCA= na capital

=COB= e hoje noacutes tamos =SCA= numa media de ampfature [1]=SCA=

faturamento de um-milhatildeo-e-meio a um-milhatildeo-e-setecentos-mil reais =SCA=

mecircs =COM= (bfammn06)

13926106

88

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL

O C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro eacute um projeto

em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais especificamente no

Laboratoacuterio de Estudos Experimentais e Empiacutericos da Linguagem (LEEL) coordenado pelos

professores Tommaso Raso e Heliana Mello

O corpus foi originalmente estruturado para o estudo da estrutura informacional do

portuguecircs brasileiro e suas ilocuccedilotildees com base nos pressupostos da Teoria do Padratildeo

Informacional (CRESTI 2000) e eacute construiacutedo aos moldes do C-ORAL-ROM (CRESTI

MONEGLIA 2005) projeto que reuacutene os corpora comparaacuteveis das quatro principais liacutenguas

romacircnicas europeacuteias italiano francecircs espanhol e portuguecircs Na arquitetura desses corpora

privilegia-se uma maior variaccedilatildeo diafaacutesica a fim de se obter uma diversidade de ilocuccedilotildees e

de estruturas informacionais da fala

O corpus se constitui de textos de fala espontacircnea isto eacute textos produzidos ao mesmo

tempo em que satildeo executados e sua realizaccedilatildeo natildeo pressupotildee um texto anterior (escrito ou

roteirizado) Estaacute dividido em uma metade formal (em fase de coleta transcriccedilatildeo e revisatildeo) e

em uma metade informal (concluiacuteda e jaacute publicada RASO MELLO 2012) A parte informal

eacute composta de 139 textos (de aproximadamente 1500 palavras) e 208130 palavras em um

total de 21h8min de gravaccedilatildeo organizada em duas seccedilotildees privadofamiliar e puacuteblico Do

total de textos 80 pertencem ao domiacutenio familiar (105 gravaccedilotildees) e 20 ao domiacutenio

puacuteblico (34 gravaccedilotildees) distribuiacutedos igualmente em trecircs diferentes tipologias interacionais 13

de monoacutelogos 13 de diaacutelogos e 13 de conversaccedilotildees

A classificaccedilatildeo da tipologia interacional natildeo estaacute relacionada somente ao nuacutemero de

participantes na cena comunicativa mas agrave dinacircmica da situaccedilatildeo e ao peso relativo de cada

participante na produccedilatildeo linguiacutestica resultante Aleacutem de se privilegiar a diversidade de

situaccedilotildees o corpus eacute balanceado em termos de variaccedilatildeo diastraacutetica As gravaccedilotildees satildeo

realizadas em contexto natural enquanto os falantes realizam atividades

Como nos corpora do C-ORAL-ROM os textos satildeo transcritos no formato

CHILDES-CLAN e procede-se agrave segmentaccedilatildeo da fala em enunciados e unidades tonais e agrave

anotaccedilatildeo da estrutura informacional

Escolheu-se representar de maneira sistemaacutetica uma uacutenica diatopia no caso a do

estado de Minas Gerais e em particular a aacuterea urbana da capital Belo Horizonte Tal escolha

se deve agrave limitada dimensatildeo do corpus que natildeo poderia ser representativo de mais diatopias

Assim pelo menos 50 dos falantes satildeo mineiros Tradicionalmente a fala mineira eacute dividida

89

em pelo menos trecircs grandes aacutereas Sul e Triacircngulo (falar paulista) Norte (falar baiano) e

regiatildeo constituiacuteda pela Zona da Mata Zona Metaluacutergica Vertentes e Belo Horizonte e

arredores (falar mineiro) Estas regiotildees estatildeo representadas mas a grande aacuterea metropolitana

de Belo Horizonte tem a maior representaccedilatildeo

O corpus busca representar a variaccedilatildeo diastraacutetica especialmente importante na fala

brasileira mas tambeacutem nesse caso natildeo se pretende alcanccedilar uma representatividade

sistemaacutetica Haacute entretanto um esforccedilo no sentido de que vaacuterias faixas socioculturais estejam

presentes em todas as ramificaccedilotildees do corpus constam interaccedilotildees com falantes de vaacuterias

diastratias interagindo tanto com falantes da mesma faixa quanto com falantes de faixas

diferentes o que se mostraraacute produtivo para a anaacutelise da modalidade

Nesse aspecto com relaccedilatildeo aos criteacuterios adotados para o C-ORAL-ROM optou-se por

adequar a indicaccedilatildeo das faixas de escolaridade a uma distribuiccedilatildeo que melhor refletisse a

realidade brasileira levando-se em conta as significativas diferenccedilas em relaccedilatildeo agrave realidade

europeia

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I

Para fins desta pesquisa utilizarei uma amostra da parte informal do corpus C-ORAL-

BRASIL Dentre os 139 textos com meacutedia de 1500 palavras cada um num total de 208130

palavras seraacute analisado um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias

interacionais divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash 7

diaacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas

Este minicorpus busca preservar a mesma estrutura da parte informal do C-ORAL-

BRASIL e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica Os seguintes criteacuterios ―de

maacutexima qualidade foram utilizados para a escolha dos 20 textos da amostra (RASO

MELLO 2009 p 32)

(i) Representatividade de ramificaccedilatildeo (monoacutelogos diaacutelogos conversaccedilotildees privados e

puacuteblicos)

(ii) Maior variaccedilatildeo de atividade maior nuacutemero possiacutevel de situaccedilotildees comunicativas

diferentes

90

(iii) Alta qualidade acuacutestica de acordo com a qualidade do espectrograma pouco ou

nenhum ruiacutedo de fundo pouco ou nenhum retorno do sinal claridade da voz

ganho bom caacutelculo confiaacutevel da F0 baixa porcentagem de sobreposiccedilatildeo de vozes

(iv) Diversidade de locutores representatividade equilibrada entre vozes masculinas e

femininas e de faixas etaacuterias Um informante natildeo aparece mais de uma vez a natildeo

ser que seja como interlocutor em atividade monoloacutegica

(v) Natildeo marcaccedilatildeo no que diz respeito agrave diastratia a meacutedia dos informantes natildeo eacute de

diastratia nem muito alta nem muito baixa

(vi) Interesse do conteuacutedo aumenta a atenccedilatildeo de transcritores e segmentadores

aumenta o niacutevel de informatividade pois garante uma fala mais espontacircnea

Abaixo segue a Tabela 31 que descreve as caracteriacutesticas dos textos do minicorpus75

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

Conversaccedilotildees 15 9 010728 9774

bfamcv01 Amigos avaliam um campeonato de futebol organizado por eles e planejam o

proacuteximo

4 0 000700 1467

bfamcv02 Senhoras conversam sobre os preparativos do casamento de uma parente 0 3 000751 1725

bfamcv03 Amigos jogam sinuca 5 0 000650 1390

bfamcv04 Amigos jogam ―Imagem e Accedilatildeo apoacutes explicar as regras do jogo para uma das

participantes

2 2 000730 1766

bpubcv01 Funcionaacuterios de banco de sangue explicam como o sangue coletado eacute

armazenado

1 3 000830 1798

bpubcv02 Reuniatildeo ordinaacuteria em uma sede regional de partido poliacutetico 3 1 002947 1628

Diaacutelogos 6 8 014528 11331

bfamdl01 Colegas de apartamento fazem as compras do mecircs 0 2 001439 2131

bfamdl02 Colegas de faculdade batem papo enquanto organizam o material de gravaccedilatildeo 1 1 000726 1572

bfamdl03 Casal faz uma viagem de carro 1 1 001030 1637

bfamdl04 Domeacutesticas matildee e filha fazem a limpeza da cozinha apoacutes o almoccedilo 0 2 001932 1249

bfamdl05 Corretor de imoacuteveis leva a irmatilde para visitar apartamento 1 1 001128 1736

bpubdl01 Engenheiro e pedreiro trabalham em uma obra 2 0 002608 1568

bfamdl02 Cliente e vendedor interagem durante a compra de calccedilados 1 1 001545 1438

Monoacutelogos 7 10 010540 10213

bfammn01 Senhor narra histoacuteria fantaacutestica sobre uma cobra 2 0 000502 1086

bfammn02 Sobrinha de Carlos Drummond de Andrade conta histoacuteria da famiacutelia ao neto 1 1 000723 1677

bfammn03 Narrativa de ―causos divertidos para a famiacutelia 3 3 000708 1206

75

Fonte Raso e Mittman (2012 p 220-221)

91

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

bfammn04 Senhora conta sua experiecircncia no hospital apoacutes ter dado agrave luz no carro 0 1 000657 1450

bfammn05 Senhora fala sobre a adoccedilatildeo da filha apoacutes a morte de sua filha bioloacutegica 0 2 000952 1580

bfammn06 Pai conta seu percurso profissional agrave sua filha 1 1 001002 1600

bpubmn01 Entrevista de avaliaccedilatildeo sobre aulas de inglecircs na rede puacuteblica de ensino 0 2 001916 1614

Total 28 27 035836 31318

presenccedila de pequenas intervenccedilotildees de um ou mais informantes que estavam fora da situaccedilatildeo

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus

Os nomes dos arquivos satildeo construiacutedos da seguinte forma a primeira letra representa

a liacutengua do corpus (―b) o grupo de trecircs letras seguintes o contexto da interaccedilatildeo (―fam para

contextos privados e ―pub para contextos puacuteblicos) as duas letras finais correspondem agrave

tipologia interacional (―mn para monoacutelogos ―dl para diaacutelogos e ―cv para conversaccedilotildees)

os numerais em sequecircncia correspondem agrave sua identificaccedilatildeo na seccedilatildeo a que pertencem

A tabela aponta que o minicorpus eacute composto de um total de 31318 palavras em 3h

58min e 36s de gravaccedilatildeo totalizando de 55 informantes (28 do sexo masculino e 27 do

feminino) As conversaccedilotildees tecircm 1h 7min e 28s de gravaccedilatildeo com 24 informantes (15 homens

e 9 mulheres) os diaacutelogos 1h 45min e 28s de gravaccedilatildeo com 14 informantes (6 homens e 8

mulheres) e os monoacutelogos 1h 5min e 40s de duraccedilatildeo e 17 informantes (7 homens e 10

mulheres)

Com relaccedilatildeo ao nuacutemero de informantes nos monoacutelogos ainda que haja mais de um

participante na situaccedilatildeo comunicativa apenas um dos participantes eacute o informante central

para a contagem do nuacutemero de palavras do texto Os eventuais interlocutores satildeo os

endereccedilados e contribuem tatildeo-somente com pequenas interferecircncias normalmente para

manter o fluxo discursivo

Os nuacutemeros para o contexto e a tipologia interacional satildeo os seguintes 74 da

amostra pertencem ao contexto privadofamiliar e os arquivos em contexto puacuteblico

representam 26 do total de palavras da amostra Assim como em toda a parte informal do

corpus a divisatildeo do minicorpus eacute balanceada 31 satildeo conversaccedilotildees 36 diaacutelogos e 33

monoacutelogos

Deve-se observar que neste subcorpus a representatividade para o contexto puacuteblico

natildeo eacute suficiente para efeitos de comparaccedilatildeo com as situaccedilotildees familiares O nuacutemero de

92

palavras neste contexto equivale a 13 das palavras das conversaccedilotildees 14 das dos diaacutelogos e

16 das palavras produzidas em monoacutelogos

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices

A busca pelos iacutendices modais no minicorpus foi feita manualmente por trecircs

anotadores Os anotadores duas estudantes de graduaccedilatildeo e uma de poacutes-graduaccedilatildeo cumpriram

duas tarefas a partir do que jaacute havia sido investigado na literatura e discutido sobre o conceito

de modalidade e a tipologia a primeira buscar os iacutendices nos textos e a segunda tarefa a de

classificaacute-los de acordo com os tipos epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Ainda que um objetivo futuro seja a comparaccedilatildeo com dados de modalidade para a fala

espontacircnea do italiano que utilizam os valores aleacutetico epistecircmico e deocircntico decidiu-se natildeo

individualizar a modalidade aleacutetica76

e proceder agrave classificaccedilatildeo apenas dos dois uacuteltimos tipos

A partir da observaccedilatildeo direta dos dados e nas discussotildees do grupo sobre os significados

modais a serem aplicados optou-se por uma abordagem subjetiva da modalidade De fato

alguns estudiosos (von WRIGHT 1951 LYONS 197777

CRESTI 2000 TUCCI 2007)

reconhecem o tipo aleacutetico e consideram-no em sua tipologizaccedilatildeo poreacutem como Portner (2009

p 10) argumenta ―[p]ode ser difiacutecil determinar precisamente quais os usos de modais

supostamente contados como aleacuteticos como em eacute necessariamente verdade que a leitura

aleacutetica tende a se destacar A motivaccedilatildeo para a concepccedilatildeo estrita pode ser a assunccedilatildeo de que a

modalidade aleacutetica eacute o tipo mais baacutesico de modalidade em termos do qual as outras

variedades podem ser definidas mais do que um tipo entre muitos78

o que corrobora nossa

posiccedilatildeo

A cada texto anotado os resultados eram discutidos em reuniatildeo com a coordenadora

do projeto A busca e a classificaccedilatildeo eram checadas e validadas e apesar de natildeo computado

estatisticamente foi apontado alto grau de acordo entre os anotadores Agrave medida que o

processo de codificaccedilatildeo avanccedilava foi decidido que o valor dinacircmico seria incluiacutedo na

tipologia para cobrir os casos de habilidadecapacidade e os de voliccedilatildeointenccedilatildeo

76

No entanto eacute reconhecida a importacircncia da modalidade aleacutetica para o estudo das ontologias por exemplo 77

Segundo Portner (2009 p 122-123) ―A visatildeo de Lyons tambeacutem parece ser de que a modalidade na

linguagem natural eacute simplesmente uma versatildeo extremamente objetiva da modalidade epistecircmica 78

No original ―It can be hard to determine precisely which uses of modals are supposed to count as alethic but

if you put in the word true as in It is necessarily true that the alethic reading tends to stand out The

motivation for the narrow conception may be an assumption that alethic modality is the most basic type of

modality in terms of which the other varieties may be defined rather than just one type among many

(PORTNER 2009 p 10)

93

Para os casos de ambiguidade dos verbos modais como ―poder e ―dever que

permitem leituras tanto epistecircmicas quanto deocircnticas (e para o ―poder tambeacutem dinacircmicas) o

desempate foi feito pela anaacutelise do contexto e ainda pela utilizaccedilatildeo do software WinPitch

(MARTIN 2004) na oitiva uma vez que a anaacutelise perceptual e acuacutestica do sinal sonoro

permitem a desambiguaccedilatildeo do valor semacircntico de uma mesma forma lexical

O WinPitch Corpus eacute uma ferramenta fundamental para a anaacutelise de textos falados

porque permite o alinhamento preciso das informaccedilotildees linguiacutesticas contidas num texto com

seu correspondente sinal acuacutestico Assim permite a identificaccedilatildeo natildeo soacute de siacutelabas como de

enunciados inteiros inclusive dos segmentos de unidades informacionais Aleacutem do

alinhamento transcriccedilatildeo-fala o software possui outros recursos para a anaacutelise acuacutestica como

espectrograma identificaccedilatildeo da frequecircncia fundamental possibilidade de siacutentese da curva

prosoacutedica entre outros A anaacutelise dos arquivos de som se mostra fundamental para

reconhecer classificar e analisar os iacutendices de modalidade quando sugerem mais de um

sentido

Para o tratamento nesta tese foram selecionados apenas os enunciados com um iacutendice

modal expliacutecito e ao final destacamos 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046

enunciados excluiacutedos os enunciados interrompidos Apoacutes a seleccedilatildeo os dados foram

organizados em uma tabela com todas as ocorrecircncias por arquivo de texto Os enunciados

foram codificados da seguinte forma

(a) Metadados informaccedilotildees sobre cada arquivo o nome de cada um a tipologia

interativa (monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees) e os participantes Estes dados

foram colhidos nos cabeccedilalhos de cada arquivo que fornecem os dados estatiacutesticos

sobre as categorias de sexo idade niacutevel escolar ocupaccedilatildeo e papel comunicativo

exercido pelos falantes assim como informaccedilotildees relativas agraves atividades exercidas

durante a gravaccedilatildeo os assuntos e os locais de gravaccedilatildeo Esse cabeccedilalho traz

tambeacutem comentaacuterios que podem conter observaccedilotildees julgadas importantes sobre a

natureza situacional para a compreensatildeo do texto como um todo ou de parte(s)

dele e observaccedilotildees linguiacutesticas natildeo acolhidas nos criteacuterios de transcriccedilatildeo mas

consideradas relevantes em cada caso especiacutefico

94

A estes metadados fornecidos pelo corpus foram acrescentados a tipologia

textual79

o gecircnero textual e o assunto de cada interaccedilatildeo a fim de verificar a

relaccedilatildeo entre as escolhas dos itens modais e os tipos de texto em que estatildeo

inseridos Estas variaacuteveis natildeo satildeo paracircmetros controlados pelo C-ORAL-BRASIL

nem pelo C-ORAL-ROM Abaixo um instantacircneo das informaccedilotildees compiladas e

codificadas sobre os metadados

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados

(b) Lemas e lexemas identificaccedilatildeo do item modal de cada enunciado e suas

respectivas formas A Tabela 33 indica a forma de codificaccedilatildeo

79

A fim de classificar a tipologia textual utilizo as categorias de Dolz e Schneuwly (19962004) divididas em

NARRAR RELATAR EXPOR ARGUMENTAR e DESCREVER

Arquivo Tipologia in teracional Tipo textual Gecircnero Assunto Inform antes S

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento TER F

bfamcv03 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo variadosjogo de sinuca CEL M

bfamcv04 conversaccedilatildeo privada descritivo instruccedilatildeo de jogo Imagem e Accedilatildeo CEL M

bfamdl01 diaacutelogo privado narrativo seleccedilatildeo de alimentos compras do mecircs REN1 F

bfamdl02 diaacutelogo privado narrativodescritivobate-papoinstruccedilatildeo de uso

de equipamento

variados organizaccedilatildeo de

equipamentoBEL F

95

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas

(c) Organizaccedilatildeo informativa unidades informacionais em que se encontram o iacutendice

modal (Comentaacuterio Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Toacutepico Lista

de Toacutepico Parenteacutetico Lista de Parenteacuteticos Introdutor Locutivo Apecircndice de

Comentaacuterio e Apecircndice de Toacutepico)80

Abaixo segue a tabela com as etiquetas

utilizadas

Unidade informacional Etiqueta

Comentaacuterio COM

Comentaacuterios Muacuteltiplos CMM

Comentaacuterios Ligados COB

Toacutepico TOP

Lista de Toacutepicos TPL

Parenteacutetico PAR

Lista de Parenteacuteticos PRL

Introdutor Locutivo INT

Apecircndice APC

Apecircndice de Toacutepico APT

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais

80

Na etiquetagem informacional eacute utilizada a etiqueta CMB para Comentaacuterios Muacuteltiplos Ligados No entanto

para os propoacutesitos de meu trabalho assumo os CMBs como COBs pela opccedilatildeo de agrupar categorias semelhantes

funcionalmente

Lem a Lexem a

achar acho

dever deviam

achar acho

com certeza com certeza

com certeza com certeza

ir vatildeo

mesmo mesmo

querer queria

dar daacute

dever deve

querer querendo

esperar espero

96

(d) Valor modal correspondente epistecircmico deocircntico e dinacircmico e seus respectivos

subvalores modais Para os subvalores a nomenclatura estaacute em inglecircs tendo em

vista que nos projetos de anotaccedilatildeo da modalidade a liacutengua inglesa eacute a liacutengua

francalsquo

O valor epistecircmico o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de

certeza de um conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se

refere agraves noccedilotildees de possibilidade probabilidade e necessidade Por exemplo

O valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo

O valor dinacircmico relaciona-se agrave capacidade habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um

conceptualizador

A Tabela 33 indica os coacutedigos utilizados

Valores Subvalores Coacutedigo

Epistecircmicos epi

Conhecimento knowledge

Crenccedila belief

Possibilidade possibility

Probabilidade probability

Necessidade necessity

Verificaccedilatildeo verification

Deocircnticos deo

Obrigaccedilatildeo obligation

Permissatildeo permission

Proibiccedilatildeo prohibition

Necessidade necessity

Dinacircmicos dyn

Habilidade ability

Voliccedilatildeo volition

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais

97

(e) Part of speech (PoS) do iacutendice modal verbos modalizadores81

verbos epistecircmicos

verbos de compreensatildeo e percepccedilatildeo verbos de atitude proposicional adveacuterbio

modal e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais

construccedilotildees de futuro (futuro perifraacutestico vamos+infinitivo futuro do preteacuterito e

imperfeito com funccedilatildeo de retrospecccedilatildeo) A Tabela 34 indica as etiquetas

PoS Etiqueta

Verbos modalizadores Vm

Verbos epistecircmicos Vepi

Verbos de compreensatildeopercepccedilatildeo Vcomp

Verbos de atitude proposicional Vap

Adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais Adv

Adjetivos e construccedilotildees adjetivas Adj

Expressotildees modais Em

Morfologia

Futuro perifraacutestico futperif

vamos+infinitivo letlsquos

Futuro do preteacuterito futpret

Imperfeito imperf

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos

(f) Composicionalidade se haacute apenas um iacutendice modal em cada enunciado (―s para

simples) ou se haacute dois ou mais iacutendices na mesma unidade informacional e mesmo

enunciado (―me para mesmo enunciado) ou se haacute no mesmo enunciado e em

unidades informacionais diferentes (―meud para mesmo enunciado e unidades

diferentes)

A Tabela 37 traz um instantacircneo da maneira como os dados referentes a enunciados

padratildeo informacional composicionalidade valor modal PoS e subvalores modais estatildeo

organizados e codificados

81

Sob a etiqueta verbos modalizadores incluo natildeo apenas os verbos ―poder ―dever e ―ter que mas todos

aqueles que expressam modalidade epistecircmica deocircntica e dinacircmica mesmo que a rigor nem todos sejam

enquadrados na categoria ―verbos modais

98

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados

En

un

cia

do

UI

Pa

dratilde

oc

om

pV

alo

r m

od

al

Po

SS

ub

va

lor

mo

da

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GIL

[2

] lt

ocirc =

CN

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ma

sgt

=

DC

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vo

lta

nd

o agrave

qu

estatilde

o =

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B=

fa

lan

do

em

[2

]=E

MP

= e

ta

mb

eacutem

fala

nd

o e

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ovo

ma

sca

rad

o =

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B=

esse

po

vo

do

Ga

laacutetico

s eacute

mu

ito

pa

lha

=

CO

B=

eu

ac

ho

qu

e e

s n

ũ d

ev

iam

ma

is p

art

icip

ar

=C

OM

= e

ltta

lgt =

UN

C=

$

CO

Mm

ee

pi

ve

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be

lie

f

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Mm

ee

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vm

ne

ce

ssity

LU

I [5

] e

u a

ch

o n

atildeo

=

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M=

$

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Ms

ep

ive

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be

lie

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LE

O [6

] c

om

ce

rte

za

=

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M=

$

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ep

ia

dv

be

lie

f

LU

I [7

] c

om

ce

rte

za

es n

ũ v

atildeo

pa

rtic

ipa

r =

CO

M=

ua

igt =

PH

A=

$

CO

Mm

ee

pi

ad

vb

elie

f

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Mm

ee

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futp

eri

fp

red

ictio

n

No

rsquo =

EX

P=

o G

alaacute

tico

s eacute

me

sm

o =

INT

= to

do

mu

nd

o eacute

ltb

ab

aca

gt =

CO

M=

$

INT

se

pi

ad

vb

elie

f

EV

N [2

7] lt

eu

qu

eri

a v

er

a c

om

un

ida

de

de

legt

laacute

=

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B=

ve

r q

ue

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s fa

lam

=

SC

A=

en

tre

si

=C

OB

= a

ssim

=

PA

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soacute

pra

ele

s m

esm

os =

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M=

$C

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sd

yn

vm

vo

litio

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[35

] m

as eacute

fe

ch

ad

o =

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B=

daacute

pra

ir

=

CO

M=

$

CO

Ms

ep

ivm

po

ssib

ility

GIL

[3

6] n

eacute e

s d

ev

e m

ete

r o

pa

u $

C

OM

se

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vm

pro

ba

bility

[32

] e

ampp

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]=E

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= e

pri

ncip

alm

en

te =

TO

P=

es tatilde

o q

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ren

do

fa

ze

r =

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= c

am

pe

on

ato

=C

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= s

em

a g

en

te =

CM

B=

ta

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eacutem

=

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INT

sd

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litio

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en

tatildeo

assim

=

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= e

sp

ero

qu

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SC

A=

isso

se

ja =

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co

isa

pro

s tim

es q

ue

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ga

m c

om

a

ge

nte

de

ixa

r d

e jo

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m a

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=

CO

M=

$C

OM

sd

yn

vm

vo

litio

n

LE

O [3

5] co

mo

o C

hu

b fa

la =

INT

= e

s v

atildeo

pe

ga

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s c

ara

s q

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=

i-C

OB

= tip

o =

PA

R=

ta

va

m

recla

ma

nd

o =

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B=

e ta

l =

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es v

atildeo

pe

ga

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B=

es v

atildeo

pe

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r te

nta

r fa

ze

r u

m n

eg

oacutecio

de

sse

=

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e e

u a

po

sto

qu

e c

ecirc v

ai

ve

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s c

ara

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jaacute

co

nh

ece

m a

ge

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haacute

ma

is te

mp

o

=C

OB

= tip

o J

oseacute

[1

]=S

CA

= Z

eacute M

ou

rin

ho

=

PA

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lan

do

assim

=

INT

= n

atildeo

=

CM

B_r=

o =

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ca

mp

eo

na

to d

rsquo o

cecirc

s eacute

be

m m

elh

or

=

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M_r=

$

CO

Bm

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de

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futp

eri

fp

red

ictio

n

CO

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eu

de

pi

futp

eri

fp

red

ictio

n

CO

Bm

eu

de

pi

futp

eri

fp

red

ictio

n

CO

Bm

eu

de

pi

futp

eri

fp

red

ictio

n

99

Em fase posterior foram acrescentados apenas por um anotador dados referentes aos

componentes utilizados para a anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade como o target a unidade

informacional que conteacutem o target a polaridade e a source of the modality ou holder

(BAKER et al 2010) A metodologia utilizada na anotaccedilatildeo dos dados seraacute explicitada no

capiacutetulo 5 da Parte III deste trabalho uma vez que para tal classifico apenas os iacutendices

lexicais utilizo uma classificaccedilatildeo mais refinada e um software especiacutefico para tarefas de

anotaccedilatildeo o MMAX2 (MULLER STRUBE 2006)

Da tabela ainda consta um campo para observaccedilotildees sobre sutilezas de cada ocorrecircncia

como por exemplo relaccedilotildees entre morfossintaxe e semacircntica estrateacutegias de polidez

envolvidas padrotildees modais etc

As construccedilotildees condicionais foram tabuladas em planilha especiacutefica devido agrave

particularidade dos dados a serem analisados Aleacutem dos metadados lemas e lexemas e valor

modal foram acrescentados o padratildeo de organizaccedilatildeo informativa da construccedilatildeo por exemplo

TOPCOM e a distribuiccedilatildeo da proacutetase e apoacutedose correspondente ao padratildeo de cada

enunciado

Abaixo uma amostra da tabela com as condicionais e suas variaacuteveis

Texto Falante Construccedilatildeo Est Info Estr Sint

bfamcv02 TER [21] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhou =COM=$ TOP-COM Pro-apo

bfamcv02 RUT [23] se nũ morrer antes ltdelesgt =COM=$ COM pro

bfamcv02 JAE [27] ltse for ogt filho e ganhou =TOP= lteacute questatildeo da matildeegt =COM=$ TOP-COM Pro-apo

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais

34 Anaacutelise dos dados

A partir da organizaccedilatildeo dos dados foi realizada a descriccedilatildeo da modalidade no

minicorpus etiquetado informacionalmente do C-ORAL-BRASIL Foram analisadas as

frequecircncias de enunciados modalizados encontrados na amostra bem como a sua distribuiccedilatildeo

por tipologia interacional Aleacutem disso foram descritas a frequecircncia dos iacutendices morfolexicais

inclusive em relaccedilatildeo agrave unidade informacional de que faziam parte e a frequecircncia dos tipos de

modalidade em relaccedilatildeo aos iacutendices e a cada unidade informacional

Em seguida foi feita a anaacutelise qualitativa e quantitativa para cada um dos iacutendices

modais encontrados em termos de ambientes sintaacuteticos relaccedilatildeo entre estrutura sintaacutetica e

estrutura informacional distribuiccedilatildeo nos contextos e tipologias interacionais tipologia textual

100

(narrativo relato expositivo argumentativo descritivo) Aleacutem disso foram analisadas as

variaacuteveis tipo de modalidade e seus subvalores padratildeo de estrutura informacional (qual

unidade informacional conteacutem o marcador modal) e a composicionalidade (enunciado

simples dois iacutendices na mesma unidade informacional dois ou mais iacutendices em unidades

informacionais diferentes mas no mesmo enunciado)

Neste capiacutetulo tratei dos procedimentos metodoloacutegicos que guiaram esta pesquisa Na

primeira seccedilatildeo expus os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato teoria esta corpus-driven

e corpus-based que define o enunciado como sua unidade miacutenima de referecircncia

pragmaticamente analisaacutevel Elenquei e defini as unidades informacionais textuais e

dialoacutegicas e os padrotildees complexos de organizaccedilatildeo informacional a saber as Unidades de

escansatildeo Comentaacuterios Muacuteltiplos Estrofes e Comentaacuterios Ligados Em seguida na segunda

seccedilatildeo apresentei a arquitetura do C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro especificamente em sua variedade mineira Da parte informal deste corpus foi

recortado um minicorpus a partir de criteacuterios de maacutexima qualidade com 20 textos

privadosfamiliares e puacuteblicos que tenta preservar a arquitetura do corpus Descrevo as

variaacuteveis utilizadas para a anaacutelise dos dados (metadados lemas e lexemas estrutura

informacional composicionalidade valores e subvalores modais e PoS) e por uacuteltimo

explicito o tipo de anaacutelise a ser empreendida

No proacuteximo capiacutetulo sigo com a descriccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL com

a apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados e posterior anaacutelise qualitativa de alguns dos iacutendices

lexicais que expressam o fenocircmeno em tela

101

Capiacutetulo 4

A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise

No capiacutetulo anterior apresentei a moldura teoacuterica da Teoria da Liacutengua em Ato o

projeto C-ORAL-BRASIL e os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para a anaacutelise da

modalidade no minicorpus extraiacutedo da parte informal do C-ORAL-BRASIL No presente

capiacutetulo descrevo os resultados para a modalidade na amostra de 20 textos deste minicorpus e

analiso o comportamento de alguns dos iacutendices lexicais que expressam modalidade a saber

verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais do tipo

―se p entatildeo q

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra

O minicorpus de anaacutelise possui um total de 31465 palavras e 5484 enunciados Foi

realizada uma busca manual em todos os enunciados para a extraccedilatildeo dos enunciados que

continham pelo menos um marcador de modalidade dentre os jaacute elencados na seccedilatildeo de

procedimentos metodoloacutegicos Foram encontrados 1197 iacutendices marcadores de modalidade

sendo 109 referentes a construccedilotildees condicionais82

e 1088 referentes aos outros itens modais

distribuiacutedos em 1044 enunciados o que corresponde a 1903 do total de todos os

enunciados da amostra Como mostra o graacutefico abaixo

82

Conforme destacado no capiacutetulo de procedimentos metodoloacutegicos as construccedilotildees condicionais recebem

tratamento diferenciado porque ―assumem uma estrutura textual que difere das estrateacutegias lexicais e possuem

uma distribuiccedilatildeo prosoacutedico-pragmaacutetica peculiar (CORTES MELLO 2013 p 1)

102

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus

Em termos de composicionalidade83

os iacutendices estatildeo assim organizados dos 1088

marcadores 825 aparecem em enunciados com apenas um iacutendice modal 202 estatildeo

combinados (dois ou mais iacutendices) em uma mesma unidade informacional e 61 deles

correspondem a mais de um iacutendice modal em um mesmo enunciado mas em unidades

informacionais diferentes A combinaccedilatildeo de um ou mais iacutendices em uma mesma unidade

informacional exige que seja analisado o valor global do enunciado respeitando a hierarquia

de valores de cada um dos modais

Na amostra haacute uma seacuterie de valores modais combinados (epi-epi epi-deo epi-dyn

epi-epi-epi epi-deo-epi epi-epi-dyn deo-deo- deo-epi dyn-epi etc) sendo que o valor

global predominante nestes enunciados eacute o epistecircmico Vejamos alguns exemplos

(41) SIL [92] ltsinceramentegt que eu nũ sei =COM=$ (bfamdl04)

(42) HEL [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt =COM=$ (bfamcv04)

(43) JOR [79] eles queriam me dar um dinheiro por fora mas =SCA= a gente

tambeacutem tem que ter o nossos momento de descanso =COM=$ (bfammn06)

(44) EVN [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

83

Apresento a composicionalidade dos 1088 marcadores de modalidade excluiacutedas as construccedilotildees condicionais

que como jaacute mencionado estatildeo organizadas de maneira particular

nordm de enunciados

nordm de enunciados modalizados

103

Em (41) temos dois iacutendices modais epistecircmicos ―sinceramente e ―sei com

subvalores de crenccedila e conhecimento e o valor global do enunciado eacute epistecircmico A

ocorrecircncia em (42) traz um enunciado com valor global deocircntico haacute uma combinaccedilatildeo de

dois itens modais deocircnticos com significado de permissatildeo e impedimento O exemplo (43)

combina um iacutendice dinacircmico ―queriam e um deocircntico ―tem que dada a hierarquia o valor

global eacute dinacircmico Por uacuteltimo em (44) a unidade informacional de Comentaacuterio conteacutem dois

marcadores modais um epistecircmico de crenccedila ―acho e uma obrigaccedilatildeo deocircntica ―tem que e

seu valor global eacute epistecircmico

42 Enunciados e tipologia interacional

Na amostra da parte informal do corpus a extraccedilatildeo automaacutetica dos enunciados nos daacute

um resultado de 5484 enunciados simples e complexos distribuiacutedos da seguinte forma 4126

enunciados privados (1404 conversaccedilotildees 1870 diaacutelogos e 852 monoacutelogos) e 1358

enunciados puacuteblicos (635 conversaccedilotildees 581 diaacutelogos e 142 monoacutelogos) A Tabela 42 mostra

os nuacutemeros para a distribuiccedilatildeo de enunciados em termos de tipologia interacional e contexto

familiar ou puacuteblico Destacam-se o nuacutemero total de enunciados por tipologia e contexto e a

frequecircncia deles comparados aos nuacutemeros totais do minicorpus

Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x tipologia e contexto interacional

O graacutefico abaixo daacute a perspectiva da distribuiccedilatildeo

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal

Total

amostra

Freq

()

Privados 174 332 291 797 4126 193

Puacuteblicos 46 111 90 247 1358 181

Total modal 220 443 381 1044 5484 1903

Total amostra 994 2451 2039 5484

Freq () 221 18 186

104

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional

Observa-se que a tipologia interacional tem influecircncia sobre o percentual de

enunciados modalizados comparados aos diaacutelogos e conversaccedilotildees (181 e 186

respectivamente) a tipologia monoloacutegica possui mais enunciados modalizados (222)

Na Tabela 42 estatildeo indicados o nuacutemero de iacutendice modais encontrados em cada

contexto e tipologia interacional e sua frequecircncia em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de iacutendices

modalizados

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional

Abaixo o graacutefico para ilustrar essa distribuiccedilatildeo

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal Freq ()

Privados 207 365 334 906 756

Puacuteblicos 64 130 97 291 243

Total modal 271 495 431 1197

Freq () 226 413 359

105

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional

A grande diferenccedila entre a frequecircncia dos iacutendices em contextos privados e puacuteblico

deve-se ao nuacutemero bastante superior de textos privados (15) em relaccedilatildeo ao puacuteblico (5) Esta

comparaccedilatildeo portanto eacute meramente ilustrativa No que diz respeito agrave tipologia interacional os

iacutendices estatildeo assim distribuiacutedos para os monoacutelogos 226 do total de iacutendices para os

diaacutelogos 413 e para as conversaccedilotildees 359

Assim vemos que ao serem apresentados apenas os nuacutemeros de iacutendices modais

deslocados do nuacutemero de enunciados e de uma base de referecircncia de toda a amostra inverte-

se o peso das tipologias os monoacutelogos apresentam menos modalizaccedilotildees em comparaccedilatildeo com

as trocas dialoacutegicas (diaacutelogos e conversaccedilotildees)

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade

Foram encontradas 1197 ocorrecircncias de itens lexicais e gramaticais que expressam

modalidade divididos em verbos modais verbos epistecircmicos e de atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais futuro

perifraacutestico futuro do preteacuterito imperfeito (com valor de futuro do preteacuterito) e construccedilotildees

condicionais A Tabela 43 abaixo mostra os nuacutemeros para cada estrateacutegia modalizadora

0

200

400

600

800

1000

1200

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Freq ()

106

Estrateacutegias modalizadoras nordm de enunciados

verbos modalizadores 414

verbos epistecircmicos atitude proposicional 223

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 92

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 22

expressotildees modais 30

futuro perifraacutestico 243

vamos+infinitivo (~letlsquos) 18

futuro do preteacuterito 37

imperfeito (~futuro do preteacuterito) 9

construccedilotildees condicionais 109

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras

O nuacutemero de ocorrecircncia de iacutendices lexicais eacute de 783 e corresponde a 654 da

amostra enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 O nuacutemero de

iacutendices gramaticais somados eacute idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A estrateacutegia modalizadora empregada mais frequententemente satildeo os verbos

modalizadores (aqui como jaacute explicitado incluo todos os verbos que expressam modalidade

epistecircmica deocircntica e dinacircmica) correspondendo a 346 do total de ocorrecircncias As duas

outras estrateacutegias mais frequentes satildeo o futuro perifraacutestico (202) e os verbos epistecircmicos e

de atitude proposicional (185) A Figura 44 demonstra a participaccedilatildeo de cada uma das

estrateacutegias utilizadas na amostra

107

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra ()

Importante destacar que na liacutengua portuguesa o futuro do preteacuterito apesar de ser uma

forma do modo indicativo representando um futuro retrospectivo funciona como uma forma

condicional exatamente como em outras liacutenguas romacircnicas como o francecircs e o italiano Dessa

forma as construccedilotildees condicionais (do tipo ―se p entatildeo q) e o futuro do preteacuterito (inclusive

na forma temporal do imperfeito) consistem em 129 do total de enunciados modalizados

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional

Nesta seccedilatildeo apresento a distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade em relaccedilatildeo agrave

articulaccedilatildeo informacional do enunciado

Segundo Tucci (2007) apenas algumas unidades podem conter um iacutendice modal o

Comentaacuterio o Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo No minicorpus em anaacutelise aleacutem

destas unidades informacionais centrais jaacute apontadas nos dados do italiano ainda aparecem

como modalizados as unidade de Lista de Toacutepicos Lista de Parenteacuteticos Comentaacuterios

Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados Destaco que apesar de termos quatro ocorrecircncias de

iacutendices na unidade de Apecircndice de Comentaacuterio e uma na de Apecircndice de Toacutepico os nuacutemeros

foram computados na unidade imediatamente anterior que integra na medida em que se

constituem como ecos ou informaccedilatildeo atrasada de itens contidos no Comentaacuterio ou Toacutepico A

Tabela 44 a seguir mostra a frequecircncia relativa das unidades informacionais centrais na

amostra

estrateacutegias modalizadorasverbos modais

verbos epistecircmicos atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais

adjetivos e construccedilotildees adjetivas

futuro perifraacutestico

vamos+infinitivo (~letrsquos)

108

Unidades textuais Amostra iacutendices modais

Comentaacuterio 5484 1027 187

Toacutepico 503 22 43

Parenteacutetico 124 17 137

Introdutor Locutivo 223 22 103

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra84

Do total de 1088 ocorrecircncias de iacutendices modais 1027 delas se realizam em unidade

de Comentaacuterio seja o Comentaacuterio-ele mesmo (820 ocorrecircncias) ou unidades de Comentaacuterio

Muacuteltiplo (94 ocorrecircncias) Comentaacuterios Ligados (109 ocorrecircncias) As trecircs outras unidades

que carregam o marcador modal mdash Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo mdash participam de

maneira semelhante na caracterizaccedilatildeo da modalidade na amostra em nuacutemeros absolutos com

22 17 e 22 ocorrecircncias respectivamente Os graacuteficos em 45 e 46 apontam o percentual

absoluto e relativo de unidades modalizadas respectivamente

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices modalizados

84

A tabela foi montada a partir da base IPIC plataforma de busca que fornece os dados comparativos do C-

ORAL-ROM italiano e seu minicorpus e o minicorpus (parte informal) do C-ORAL-BRASIL em relaccedilatildeo a

dados gerais tipos interacionais contextos comunicativos e unidades informacionais Disponiacutevel em

httplablitaditunifiitipic Uacuteltimo acesso em 16 mar 2014 Trago apenas os nuacutemeros que me interessam nesta

anaacutelise Para fins de anaacutelise nos nuacutemeros para Comentaacuterio estatildeo incluiacutedos enunciados e estrofes uma vez que

os nuacutemeros da unidade COM contecircm os CMMs e os COBs Computo igualmente para o Toacutepico e o Parenteacutetico

os nuacutemeros da Lista de Toacutepicos (3) e Lista de Parenteacuteticos (3) respectivamente

94

2 22

Frequecircncia absoluta - Unidade informacionais

COM TOP PAR INT

109

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus

Comparados os dois graacuteficos notamos que o Comentaacuterio tanto em termos absolutos

quanto em termos relativos eacute a unidade mais frequentemente modalizada As outras

unidades em nuacutemeros absolutos satildeo modalizadas em meacutedia em 2 dos enunciados jaacute em

termos relativos o quadro se modifica o Parenteacutetico figura como a segunda unidade mais

modalizada (137) seguida do Introdutor Locutivo (103) e em frequecircncia bem menor do

Toacutepico (43)

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais

Trato agora da distribuiccedilatildeo dos valores modais (epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos)

em relaccedilatildeo ao nuacutemero de enunciados agrave estrutura informacional e agrave ocorrecircncia das estrateacutegias

modalizadoras A distribuiccedilatildeo dos valores modais na nossa amostra eacute a seguinte

tipo de modalidade nordm de enunciados

epistecircmica 904

deocircntica 190

dinacircmica 103

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo

5484

503 124 223

1028

2217 23187 43 137 103

Frequecircncia relativa - Unidades informacionais

Minicorpus iacutendices modais

110

De um total de 1197 iacutendices que expressam a modalidade o epistecircmico eacute o valor

modal mais amplamente utilizado em 766 das ocorrecircncias As modalidades deocircntica e

dinacircmica satildeo realizadas em percentual bem menor com 149 e 84 das ocorrecircncias Como

mostra a figura a seguir

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais ()

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical

No que diz respeito agrave frequecircncia dos valores modais por iacutendice lexical temos

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

verbos epistecircmicos 210 0 0

verbos de atitude proposicional 26 0 0

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 94 0 0

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 19 1 0

expressotildees modais 28 1 1

futuro perifraacutestico 244 0 0

vamos + infinitivo (~ construccedilatildeo let) 0 0 17

futuro do preteacuterito 37 0 0

imperfeito 9 0 0

condicionais 109 0 0

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade

76

16

8

tipos de modalidade

epistecircmica deocircntica dinacircmica

111

O nuacutemero de iacutendices lexicais eacute de 781 e corresponde a 657 de todos os iacutendices

enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 dos modais O nuacutemero de

itens gramaticais modais eacute praticamente idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A tabela indica que independentemente do valor satildeo os verbos modalizadores a

estrateacutegia preferencial para a expressatildeo da modalidade num percentual correspondente a

335 do total de iacutendices com destaque para o tipo deocircntico em que esta estrateacutegia

predomina 469 do uso de verbos modais correspondem a este valor 319 ao valor

epistecircmico e 212 ao dinacircmico

A modalidade epistecircmica eacute a mais utilizada como jaacute visto e estaacute associada a todas as

estrateacutegias modalizadoras Mello e colaboradores (2013) em anaacutelise quantitativa da

distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro

construiacuteram um graacutefico em que quanto mais vetores estivessem associados a um determinado

noacute mais representativo seria este noacute em relaccedilatildeo ao paracircmetro analisado no caso a relaccedilatildeo

entre a tipologia modal e os lemas modais Desta forma demonstraram a tendecircncia para o

uso no portuguecircs brasileiro do tipo epistecircmico e apontaram que este valor tem uma taxa de

associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que os tipos deocircntico e

dinacircmico

Os valores deocircntico e dinacircmico satildeo realizados predominantemente pelos verbos

modalizadores com a ocorrecircncia de uma expressatildeo modal com valor deocircntico e uma para o

valor dinacircmico Construccedilotildees do tipo ―vamos+Vinf (tambeacutem chamada de construccedilatildeo let ou

construccedilotildees hortativas) com 17 ocorrecircncias representam o futuro como voliccedilatildeointenccedilatildeo

subvalores associados ao valor dinacircmico

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais

Nesta seccedilatildeo apresento os resultados para a frequecircncia do valor modal em relaccedilatildeo agraves

unidades informacionais Jaacute deixamos claro que o escopo da modalidade natildeo eacute o enunciado

mas a unidade informacional Em um mesmo enunciado pode ocorrer mais de um elemento

veiculador de modalidade e a modalidade soacute se estende ao enunciado inteiro se ele for do

tipo simples quer dizer soacute composto pela unidade de Comentaacuterio

A Tabela 47 traz os nuacutemeros para os valores modais nas unidades informacionais de

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo

112

Unidades informacionais epi deo dyn

COM 746 185 96

TOP 19 1 2

PAR 15 1 1

INT 16 3 3

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais

As unidades informacionais tecircm comportamento diverso e natildeo-uniforme no que diz

respeito agrave realizaccedilatildeo do valor modal Para o Comentaacuterio natildeo haacute restriccedilatildeo quanto ao valor

modal a unidade assume significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos O Toacutepico ao

contraacuterio realiza principalmente o tipo epistecircmico (863) e na amostra assumiu o valor

dinacircmico em duas ocorrecircncias e em uma ocorrecircncia do tipo deocircntico correspondente ao item

modal contido na unidade de Apecircndice de Toacutepico que a integra A unidade de Parenteacutetico tem

comportamento semelhante realiza em sua maioria significados epistecircmicos (882) e

assume em apenas uma ocorrecircncia o valor deocircntico e o dinacircmico Quanto ao Introdutor

Locutivo parece apresentar da mesma forma que o Comentaacuterio a possibilidade de maior

realizaccedilatildeo de todos os significados modais (739 para os epistecircmicos e 13 para os

deocircnticos e dinacircmicos) Abaixo o graacutefico representa a distribuiccedilatildeo absoluta das unidades

informacionais relativo a cada valor modal

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal

0

200

400

600

800

1000

1200

epi deo dyn total

INT

PAR

TOP

COM

113

Abaixo na Figura 49 a distribuiccedilatildeo relativa das unidades no que diz respeito a cada

valor modal com base no nuacutemero total de ocorrecircncias

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal

Segundo Tucci (2007 p 270) em anaacutelise dos dados da modalidade para o italiano o

fato de as unidades de Comentaacuterio e Introdutor Locutivo poderem realizar todos os valores

modais sem qualquer restriccedilatildeo natildeo eacute surpreendente O Comentaacuterio representa a unidade

suficiente e necessaacuteria para a interpretabilidade de um enunciado e da mesma forma o

Introdutor Locutivo que introduz um discurso reportado um elenco uma comparaccedilatildeo uma

exemplificaccedilatildeo (no portuguecircs brasileiro introduz uma opiniatildeo ou consideraccedilatildeo) assinalando

a modalidade e suspendendo a operaccedilatildeo ilocutiva

Sobre o Toacutepico e o Parenteacutetico Tucci (2007 p 271-273) faz consideraccedilotildees sobre as

duas unidades no que diz respeito agrave realizaccedilatildeo majoritariamente das modalidades epistecircmica e

aleacutetica e agrave restriccedilatildeo do uso do tipo deocircntico De acordo com a autora esta restriccedilatildeo estaacute

intimamente associada agrave sua funccedilatildeo informativa

Nas proacuteximas seccedilotildees passo a analisar os dados para alguns dos iacutendices lexicais

marcadores de modalidade

738 863 882739

71 45 59

13

92 9 59 13

COM TOP PAR INT

unidades informacionais x valor modal

epi deo dyn

114

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade

Os significados modais no portuguecircs brasileiro como jaacute apontado podem ser

expressos por vaacuterios meios lexicais morfoloacutegicos e sintaacuteticos Esta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise

de quatro categorias lexicais ndash verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios modais ndash

e uma categoria gramatical ndash as construccedilotildees condicionais

451 Os verbos modalizadores

A grande maioria dos estudos sobre a categoria da modalidade se dedica agrave anaacutelise dos

verbos modais auxiliares ou semi-auxiliares como os de Papafragou (1998 2000) Cornillie

(2005 2007) van der Auwera and Plungian (1998) Bybee et al (1994) Almeida (2010) para

nomear apenas uns poucos Para a liacutengua portuguesa destaco os trabalhos de Oliveira (2003)

Gonccedilalves (2004) Galvatildeo (2000) Gonccedilalves e Galvatildeo (2001) Salomatildeo (2008)

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores

Como apontado na seccedilatildeo 441 os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial

utilizada para a expressatildeo da modalidade Relembrando ilustro com um excerto da Tabela

46

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

Foram identificados na amostra portanto 401 verbos modalizadores isto eacute todos os

verbos modais auxiliares semimodais e verbos plenos que expressam modalidade Abaixo

elenco todos os lemas encontrados e suas respectivas ocorrecircncias

115

verbos

modalizadores ocorrecircncias

adiantar 3 08

aguentar 2 05

conseguir 11 27

dar 30 75

dever 31 77

esperar 3 08

gostar 1 03

parecer 10 24

poder 132 329

precisar 17 42

querer 65 162

ter que 93 232

valer 3 08

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores

Desta lista observa-se a grande ocorrecircncia de verbos que figuram em listas de vaacuterias

liacutenguas como ―poder ―dever ―ter que ―precisar ―querer e ―parecer No entanto haacute

formas outras que normalmente natildeo satildeo consideradas modais canocircnicos como os verbos

―dar ―adiantar ―valer e ―aguentar que parecem ser usos especializados do portuguecircs

brasileiro85

O graacutefico abaixo mostra a distribuiccedilatildeo dos itens

85

Restrinjo-me agrave variante brasileira do portuguecircs uma vez que natildeo tenho dados suficientes para fazer

afirmaccedilotildees sobre as outras variantes seja a europeia ou as africanas

116

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores

A seguir apresento alguns exemplos de verbos que por um vieacutes metafoacuterico permitem

a leitura como marcador modal

(41) Adiantar

(a) [217]aiacute natildeo adianta =CMM= nũ pode desmanchar =CMM=$ (bpubdl01)

(42) Conseguir

(b) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(c) KAT [32] conseguiu marcar =CMM= natildeo =CMM= neacute =CMM=$

(43) Dar (para)

(d) REN [266] daacute pa fechar o jogo =COM=$

(e) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(f) [168] dois filho =TOP_r= daacute pa rir e chorar =COM_r=$

(44) Esperar

(g) entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros times que

jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $ (bfamcv01)

(h) REN [518] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

11 3 7 8

1 02

33

4

16

23

1

Frequecircncia dos verbos modalizadores

adiantar aguentar conseguir dar dever

esperar gostar parecer poder precisar

querer ter que valer

117

(45) Parecer

(i) [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$ (bpubdl01)

(46) Valer

(j) FLA [444] natildeo vale mais chorar por ele=COM=$

Destaco na amostra os nuacutemeros para as ocorrecircncias dos principais verbos que dizem

respeito agraves modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica mdash ―poder ―dever ―ter que

―querer e ―conseguir

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade

Observamos que o verbo ―poder eacute mais usado que o verbo ―dever como estrateacutegia

de modalidade com 132 ocorrecircncias comparadas a 31 ocorrecircncias Necessaacuterio salientar que o

uso de ―ter que (93 ocorrecircncias 2 em sentido epistecircmico e 91 em sentido deocircntico) no PB

como veiculador de modalidade deocircntica indica que o sentido de obrigaccedilatildeo estaacute quase

totalmente vinculado a ele O verbo ―querer assume valor dinacircmico de voliccedilatildeo e o

―conseguir indica habilidadecapacidade dinacircmica em 9 casos e possibilidade epistecircmica em

2

Na Tabela 49 os nuacutemeros de ocorrecircncias de cada verbo e a frequecircncia relativa aos

verbos modalizadores e aos valores modais totais

poder (can)dever (must

should)ter que (have

to)querer

(wishwant)conseguir

(be able to)

epi 52 29 2 0 2

deo 78 2 91 0 0

dyn 2 0 0 65 9

0102030405060708090

100

Principais verbos modais

118

Verbos modais epi deo dyn

poder (can) 52 78 2

dever (must should) 29 2 0

ter que (have to) 2 94 0

querer (wishwant) 0 0 65

conseguir (be able to) 2 0 9

total 85 174 76

verbos modalizadores 205 421 184

valor modal 94 915 737

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores

Observa-se que a partir do caacutelculo da porcentagem para cada um dos valores modais

tomando em consideraccedilatildeo todos os enunciados estes verbos em destaque assumem o valor

deocircntico (915) e dinacircmico (737) contra 94 de epistecircmicos Em relaccedilatildeo aos verbos

modalizadores os deocircnticos continuam a predominar (421) seguido em nuacutemeros proacuteximos

dos epistecircmicos (205) e dos dinacircmicos (184) Conforme o graacutefico em 412

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores

A baixa ocorrecircncia de ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca e a sua maior ocorrecircncia com o valor epistecircmico indica que este verbo

conforme Mello et al (2010 p 119)

020406080

100120140160180

epi

deo

dyn

119

[d]e tiacutepico modalizador deocircntico (por conter a noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo associada agrave

diacutevida) o verbo passou a frequente modalizador epistecircmico veiculando menos a

noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo do que a de possibilidade ou a de probabilidade A noccedilatildeo de

obrigaccedilatildeo aparece fracamente na semacircntica do verbo porque a avaliaccedilatildeo de

probabilidade (epistecircmico) deriva de uma avaliaccedilatildeo baseada na necessidade

(deocircntica neste caso) das relaccedilotildees entre as coisas Eacute notaacutevel a ocorrecircncia dessa nova

acepccedilatildeo (epistecircmica) mais frequente que a acepccedilatildeo de raiz (deocircntica)

O espaccedilo deixado pelo verbo ―dever em usos de obrigaccedilatildeo deocircntica tem sido ocupado

pelo semimodal ―ter que como confirmam os nuacutemeros

Em termos de distribuiccedilatildeo dos verbos nas unidades informacionais como estrateacutegia

mais produtiva podem ocupar qualquer uma das UIs modalizaacuteveis com destaque mais uma

vez para o grande nuacutemero de ocorrecircncias na unidade de Comentaacuterio (315) o que corresponde

a 786 de todas as ocorrecircncias Se ao Comentaacuterio acrescentamos as ocorrecircncias para APC

CMM e COB este nuacutemero sobe para 390 973 do total de ocorrecircncias da amostra Eacute

importante notar que todos os significados epistecircmicos satildeo realizados nesta unidade Nas

unidades de Toacutepico Apecircndice de Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo temos a

realizaccedilatildeo de valores deocircnticos (tanto permissatildeo quanto obrigaccedilatildeo) e dinacircmicos (voliccedilatildeo)

452 Os verbos epistecircmicos

Os verbos de caraacuteter epistecircmico ou verbos de crenccedila funcionam segundo Venier

(1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) como ―sinais para manifestar no ouvinte o grau de

confiabilidade conferido pelo falante agrave proposiccedilatildeo e para manter uma funccedilatildeo sinalizadora

tambeacutem quando o enunciado que a conteacutem vem reportado86

Aleacutem disso desenvolvem

sentidos atitudinais e interacionais podem estar configurados sintaticamente de variadas

maneiras permitindo diferentes complementos a proacutepria omissatildeo de complemento e

informacionalmente a parentetizaccedilatildeo

Vejamos ocorrecircncias do Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA 2006) com o

verbo de crenccedila ―considerar a fim de apontar nuances de com conceptualizaccedilatildeo no uso deste

tipo de verbo87

86

Traduccedilatildeo minha para ―segnali di manifestare alllsquoascoltatore il grado di attendibilitagrave assegnato dal parlante

alla proposizione e di mantenete uma funzione segnaletica anche quando llsquoenunciato che li contiene viene

riportato (VENIER 1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) 87

Os exemplos foram coletados do Corpus do Portuguecircs esse eacute um corpus de referecircncia da liacutengua portuguesa

projeto desenvolvido pelos professores Mark Davies (BYU) e Michael J Ferreira (Georgetown University) com

mais 45000000 de palavras e um total de 57000 textos do seacutec XIV ao seacutec XX Esse corpus permite o

cruzamento de dados e distribuiccedilatildeo de palavras frases e construccedilotildees por registro (oral ficccedilatildeo jornaliacutestico e

120

(47) os direitos com facilidade ou tem ciuacuteme Joatildeo Ubaldo - Realmente natildeo gostei de

O Sorriso do Lagarto mas gostei da adaptaccedilatildeo de Sargento Getuacutelio para o cinema

Natildeo tenho ciuacuteme algum Trata-se mesmo de outra obra a obra do cineasta

iBEsp_242 15 de outubro de 1997 Nahas se considera ldquoum bode expiatoacuteriordquo

Estado - O sr esperava esta sentenccedila da Justiccedila Naji Nahas - Natildeo esperava de jeito

nenhum Eacute mais uma violecircncia uma discriminaccedilatildeo odiosa entre as muitas que tenho

sido viacutetima desde 89 Estado - Se o sr eacute a viacutetima quem (CDP19OrBrIntrvISP)

(48) Nahas - Confio na Justiccedila e sei que esta sentenccedila estaacute sujeita a revisatildeo

Terminando meu trabalho eu volto porque quero me apresentar para a apelaccedilao

aproveitando o momento para esclarecer todo esse assunto e mostrar definitivamente

quem satildeo os culpados Sou a viacutetima Estado - O sr se considera um bode

expiatoacuterio Nahas - Sou E o mais sofrido do BrasiliBEsp_244 18 de outubro de

1997 Manoel de Barros faz do absurdo sensatez Estado - Como surgiu seu amor pelas

coisas sem importacircncia Manoel de Barros - Quando eu era jovem fiz uma longa

viagem pela Boliacutevia (CDP19OrBrIntrvISP)

Em (47) confirmado por (48) tem-se um caso de discurso reportado e mostra-se a

separaccedilatildeo entre ―quem enuncia e nos termos tradicionais explicitados anteriormente ―o

falante que se compromete com a verdade da proposiccedilatildeo enunciada Em uacuteltima

consequecircncia haacute uma separaccedilatildeo a meu ver entre enunciado e proposiccedilatildeo enunciada

Observemos outro exemplo

(49) lugar (exceto Belo Horizonte) por mais de 2 anos Sebastiatildeo Nem no Rio de

Janeiro Prof Eduardo No Rio eu peguei uma vez mas minha mulher me gozou

tanto Comecei a puxar o ldquosrdquo igual ao pessoal de Juiz de Fora

que se considera carioca Dizem aqui em Belo Horizonte que o pessoal de laacute daacute o

endereccedilo tipo Avenida Brasil 9 milhotildees 582 mil etc (risos) Foi na eacutepoca em que

servi o Exeacutercito no Rio em Magalhatildees Bastos subuacuterbio Sebastiatildeo Natildeo entendi Com

17 anos o senhor

A partir de (49) temos duas possiacuteveis interpretaccedilotildees

acadecircmico) dialeto (portuguecircs brasileiro vs europeu no seacuteculo XX) periacuteodo histoacuterico (seacuteculos XIV ao XX)

Para acessaacute-lo httpwwwcorpusdoportuguesorg

121

(49a) Os juizforanos efetivamente dizem que satildeo cariocas (e aiacute se constituiria como

(xi) discurso reportado)

(49b) Os juizforanos se comportaram de uma determinada forma ou fizeram alguma

consideraccedilatildeo sobre serem cariocas que levam o falante a crer que o pessoal de Juiz de

Fora ―se considera carioca (inclusive enfatizado pelo enunciado seguinte em que

temos a presenccedila do evidencial ―Dizem que)

Dessa forma o que se pode depreender dos exemplos acima quando empregada a

terceira pessoa do discurso eacute que um dos usos dessas construccedilotildees eacute uma avaliaccedilatildeo do falante

sobre a avaliaccedilatildeo (ou perspectiva ou ainda ponto de vista) de uma pessoa outra (no papel

sintaacutetico de sujeito da claacuteusula principal)

Segundo Nuyts (2012) esta seria uma diferenccedila ente subjetividade e

intersubjetividade Uma avaliaccedilatildeo eacute tomada como subjetiva quando eacute responsabilidade

exclusiva do avaliador enquanto a intersubjetiva eacute compartilhada entre o avaliador e um

grupo de pessoas O autor sugere que satildeo principalmente os verbos de predicados mentais que

devem ser identificados com a subjetividade (NUYTS 2001 p 122-128) e pleiteia que a

subjetividade seja tratada como uma categoria diferenciada da modalidade epistecircmica

(NUYTS 2012) como por exemplo em (410) e (411)

(410) [94] achei aquele lugar incriacutevel =COM=$ (bfamcv01)

(411) [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

Na interpretaccedilatildeo de Nuyts exemplos como o apresentado em (410) parecem natildeo

carregar um sentido epistecircmico considerando que o verbo ―achar neste caso eacute um marcador

puramente de subjetividade jaacute que indica uma avaliaccedilatildeo esteacutetica ou moral e natildeo uma Em

(411) ao contraacuterio o verbo estaria empregado como um marcador epistecircmico com a

introduccedilatildeo de uma opiniatildeo baseada em evidecircncia ou na estimativa das possibilidades de

alguma coisa ser o caso

Sob outra perspectiva Almeida e Ferrari (2012) em artigo sobre a diferenccedila entre os

complementos de construccedilotildees epistecircmicas no inglecircs do tipo [X thinks that Y] e [X thinks Y]

levantam a questatildeo de qual seria a diferenccedila pragmaacutetica entre estas duas construccedilotildees baseado

no Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia (GOLDBERG 1995) As autoras a partir da anaacutelise de 382

construccedilotildees epistecircmicas de complementaccedilatildeo coletadas nas versotildees impressa e eletrocircnica da

revista Speak Up afirmam que estas construccedilotildees satildeo ―operadores de subjetividade que

122

apresentam o objeto de conceptualizaccedilatildeo (a claacuteusula complemento) tanto direta como

indiretamente desde a perspectiva do falante88

(ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

Ainda sustentam que as construccedilotildees sinalizam intersubjetividade uma vez que se referem

implicitamente agrave perspectiva do falante em relaccedilatildeo a outras perspectivas apresentadas em

discurso anterior as natildeo-completivas indicam conjunccedilatildeo cognitiva e as completivas

disjunccedilatildeo cognitiva entre a perspectiva do falante e outras perspectivas disponiacuteveis no fluxo

discursivo (ALMEIDA FERRARI 2012 p 124) Esta posiccedilatildeo que leva em conta uma

abordagem discursiva contraria outras propostas discutidas na literatura sobre o tema como a

jaacute mencionada de Nuyts (2012) e a de Verhagen (2005) justamente porque pleiteia que a

intersubjetividade vai envolver uma cena mais ampla que inclui a relaccedilatildeo entre falante e

ouvinte a claacuteusula complemento e as perspectivas anteriores disponiacuteveis no discurso

De fato os exemplos da amostra apontam para uma diferenccedila na qualidade da

avaliaccedilatildeo em construccedilotildees completivas e natildeo-completivas No entanto natildeo temos dados

suficientes para uma generalizaccedilatildeo que corrobore uma ou outra posiccedilatildeo apresentada Para fins

da pesquisa abarco crenccedila e opiniatildeo sob o guarda-chuva de crenccedila tomando uma opiniatildeo

como o resultado de uma determinada crenccedila

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos

Os types e tokens correlatos para os verbos epistecircmicos foram classificados

quantitativamente de acordo com a tipologia interacional (puacuteblico versus privado monoacutelogos

versus diaacutelogos versus conversaccedilotildees) e a tipologia textual (narrativo relato expositivo

argumentativo descritivo)

Aleacutem disso foi utilizado um nuacutemero de variaacuteveis na tabulaccedilatildeo dos dados que levam

em conta o padratildeo de estrutura informacional (qual unidade informacional conteacutem o

marcador modal) composicionalidade (enunciado simples dois iacutendices no mesmo enunciado

dois ou mais iacutendices em enunciados diferentes referecircncia contextual) tipo de modalidade e

seus subvalores o padratildeo sintaacutetico a projeccedilatildeo pragmaacutetica dos iacutendices e o conceptualizador

Os tipos encontrados foram acharlsquo acreditarlsquo crerlsquo imaginarlsquo pensarlsquo e saberlsquo

como exemplificado abaixo

88

No original ―[hellip] subjectivity operators which present the object of conceptualization (complement clause)

either direct or indirectly from the speakerlsquos perspective (ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

123

(412) Achar

(k) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do Galaacuteticos eacute

muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar =COM= e lttalgt

=UNC=$ (bfamcv01)

(l) [44] aiacute =PHA= passou um pouquim =COB= o filho =i-COB= achando que tava

errado aquele negoacutecio =PAR= voltou laacute outra vez =COM=$ (bfammn03)

(m) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando =COM=$

(bfamdl04)

(413) Acreditar

(n) [46] tipo =INT= eu [1]=EMP= eu acredito =i-COM= tipo =PAR= cem =SCA=

por cento =SCA= nisso =COM=$ (bfamcv01)

(o) [87] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfamdl01)

(p) [49] e eu acredito que depois que eu terminar o EDUCONLE =COB= eu acho

que aiacute eu vou tar mais madura ainda =COB= acho que mais preparada =COM=$

(bpubmn01)

(414) Crer

(q) ENC [208] eu creio que sim =COM (bfamdl05)

(415) Imaginar

(r) [171] natildeo =PHA= trinta reais =TOP= aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1]=EMP= eu fico

imaginando que elsquo fica pensando assim =INT= Nossa Sio =EXP_r= agraves vezes laacute em

casa taacute precisando de fazer uma compra e tudo =COM_r= neacute =PHA=$

(bpubmn01)

(416) Pensar

(s) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

(417) Saber

(t) TER [69] sei o tanto natildeo =COM=$ (bfamcv02)

(u) BAL [45] cecirc sabe que aquelas caxinhas ali =TOP= ela [1]=EMP= eu descobri

ontem =COB=$ (bfamdl02)

124

(v) ANE [19] rua Joaquim Nabuco =TOP= socirc sabe me informar =COM=$

(bfamdl03)

Como mencionado anteriormente o nuacutemero total de tokens de verbos epistecircmicos

encontrado no subcorpus foi de 210 distribuiacutedos em 6 types como a seguir 105 para acharlsquo

(50) 3 para acreditarlsquo 1 para crerlsquo 1 para imaginarlsquo 2 para pensarlsquo e 98 para saberlsquo

(47) A Figura 413 mostra esta distribuiccedilatildeo

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra

Analisando os nuacutemeros para tipologia interacional os resultados satildeo 60 exemplares

para monoacutelogos 21 em monoacutelogos puacuteblicos e 39 em privados 99 exemplares para diaacutelogos

16 para puacuteblicos versus 83 para diaacutelogos privados e 51 exemplares para conversaccedilotildees 14 em

puacuteblicas versus 37 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os dados na Tabela 410

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 39 21 60

Diaacutelogos 83 16 99

Conversaccedilotildees 37 14 51

TOTAL 159 (757) 32 (243) 210

Tabela 410 Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional

50

11

0

1

47

verbos epistecircmicos - ocorrecircncias

achar acreditar crer imaginar pensar saber

125

Esta tabela aponta para uma alta taxa de tokens em interaccedilotildees dialoacutegicas

principalmente em diaacutelogos privados Isso se deve a caracteriacutesticas especiacuteficas desses tipos de

texto e agrave relaccedilatildeo dos participantes na situaccedilatildeo comunicativa Se levarmos em conta a tipologia

textual nota-se que 319 destes verbos satildeo usados em textos argumentativos ou expositivos

o que coincide com a sua proacutepria definiccedilatildeo sinalizar o comprometimento do conceptualizador

em relaccedilatildeo ao que se enuncia As outras ocorrecircncias distribuiacutedas em textos narrativos

descritivos e relatos mostram os momentos em que os participantes expressam suas opiniotildees

ou crenccedilas ou requerem a opiniatildeo de seu interlocutor Devo destacar que as ocorrecircncias em

monoacutelogos puacuteblicos correspondem a apenas um texto a participante uma professora da

escola baacutesica relata sua atividade profissional e daacute sua opiniatildeo sobre o processo de ensino-

aprendizagem Eacute tambeacutem necessaacuterio destacar que a diferenccedila entre os nuacutemeros de textos

privados e puacuteblicos eacute minimizada em termos de frequecircncia relativa

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas

Vaacuterios padrotildees sintaacuteticos satildeo utilizados principalmente

(i) os verbos epistecircmicos introduzem oraccedilotildees encaixadas Em nossa amostra 571

de todas as ocorrecircncias seguem este padratildeo

(ii) eles podem ocupar diferentes posiccedilotildees no enunciado nos casos em que natildeo

introduzem uma encaixada

(iii) [SN]SUBJ V [SN]OBJ [SAdv] [SAdj]ATR Os casos em que natildeo haacute a realizaccedilatildeo do

objeto correspondem a 229 do total de ocorrecircncias principalmente com os verbos

―achar e ―saber

Alguns exemplos

(418) SNSUJ V comp S

LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais =COM=$ (bfamcv01)

(419) SNSUJ V SAdv S

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer =TOP= ele

paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

(420) SNSUJ V SNOBJ SAdv SAdjATR

[77] entatildeo eu achava aquilo muito interessante =COM=$ (bfammn06)

126

(421) SNSUJ SAdvNEGV SAdjATR SAdvNEG

[283] eu nũ achei ruim natildeo =COM= Jael =ALL=$ (bfamcv02)

Semanticamente estes verbos expressam o grau de comprometimento do

conceptualizador em relaccedilatildeo ao material locutivo enunciado Estas unidades lexicais estatildeo

ligadas a diferentes frames descritos para o inglecircs Opinion Certainty Awareness Assessing

andor Cogitation89

Em termos da distribuiccedilatildeo dos verbos por unidades informacionais podemos ver na

Tabela 411 como o subcorpus estaacute caracterizado

Unidades informacionais ocorrecircncias

epistecircmicos amostra

COM 182 866 177

INT 3 14 1363

PAR 11 53 647

TOP 14 67 636

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas

A primeira coisa a se observar eacute qual a unidade informacional que conteacutem o iacutendice

modal apenas o Comentaacuterio (incluindo as unidades Comentaacuterio Muacuteltiplo e Comentaacuterio

Ligado) o Toacutepico (inclusive a Lista de Toacutepico) o Parenteacutetico (inclusive a Lista de

Parenteacutetico) e o Introdutor Locutivo podem ser modalizados No caso dos verbos epistecircmicos

a unidade de Comentaacuterio eacute modalizada em 866 de todas as ocorrecircncias (182 para COM 11

para CMM e 20 para COB) seguida pelo Toacutepico (67 das ocorrecircncias sendo em nuacutemeros

absolutos 12 para o TOP e 2 para TPL) o Parenteacutetico (53 das ocorrecircncias 8 para PAR e 3

para PRL) Em nuacutemero bastante reduzido o Introdutor Locutivo com apenas 3 ocorrecircncias

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de ocorrecircncias das unidades informacionais o que se destaca satildeo

os nuacutemeros para o Toacutepico e o Parenteacutetico As duas unidades tecircm como estrateacutegia preferencial

de modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 de todas as ocorrecircncias do

minicorpus Quanto ao Comentaacuterio e o Introdutor Locutivo como visto anteriormente a

estrateacutegia principal satildeo os verbos modalizadores sendo os epistecircmicos responsaacuteveis por

89

A descriccedilatildeo para o frame de Opinion por exemplo eacute a seguinte ―Cognizer holds a particular Opinion which

may be portrayed as being about a particular Topic (John THINKS that it looks better back) Disponiacutevel em

httpsframeneticsiberkeleyedufndrupal

127

menos de 20 das ocorrecircncias O graacutefico na Figura 414 ilustra a distribuiccedilatildeo dos epistecircmicos

nas unidades informacionais e a frequecircncia desta estrateacutegia no conjunto das unidades

informacionais

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais

Abaixo alguns exemplos

(422) COM

DFL [56] aquilo que o =SCA= professor achava mais importante

=COM=$ (bfammn02)

(423) TOP

ANE [324] eu acho que quando eu vim =TOP= tinha esse =CMM= tinha

o outro =CMM=$ (bfamdl05)

(424) PAR

[41] soacute que eacute de microondas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl01)

(425) INT

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer

=TOP= ele paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

Mello e Raso (2013) discutem a necessidade de ampliaccedilatildeo do enunciado e das

unidades tonais como construtos analiacuteticos baacutesicos no tratamento da fala espontacircnea via

frames Como segundo a Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) ao enunciado

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

COM INT PAR TOP

ocorrecircncias

epistecircmicos

amostra

128

corresponde uma ilocuccedilatildeo mesmo que esses verbos epistecircmicos objeto de nossa

investigaccedilatildeo estejam de alguma forma representados em frames ligados por heranccedila

metafoacuterica e no uso de atividade mental ao falarmos estamos cumprindo diferentes accedilotildees

Dessa forma ―a anaacutelise da linguagem pautada por frames necessariamente deve levar em

conta pelo menos dois niacuteveis adicionais agravequeles construcional e semacircntico quais sejam os

niacuteveis informacional e ilocucionaacuterio (MELLO RASO 2013 p 106)

Transponho um princiacutepio talhado ateacute agora para a anaacutelise da escrita para a anaacutelise

da fala o Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia para discutir brevemente essa questatildeo Segundo esse

Princiacutepio (GOLDBERG 1995 2006)

Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas elas devem ser

semacircntica ou pragmaticamente distintas

Corolaacuterio A Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

semanticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

pragmaticamente sinocircnimas

Corolaacuterio B Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

pragmaticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

semanticamente sinocircnimas

Os verbos proacuteximos semanticamente se organizam sintaticamente de vaacuterias maneiras

como vimos Dessa forma pelo PNS o seu comportamento pragmaacutetico deve ser diferente E

de fato o eacute Vejamos as possiacuteveis funccedilotildees e os seus respectivos exemplos com a mesma

unidade lexical acharlsquo

(i) Estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior

Contexto casal conversa sobre a distribuiccedilatildeo de vagas em uma universidade

puacuteblica

LAU [51] natildeo tem um de ensino de arte +

LUZ [52] satildeo duas vagas eu acho [53] natildeo [54] de ensino de artes (bfamdl03)

(ii) Marcadores de concordacircncia discordacircncia indica um (possiacutevel) padratildeo

lexical Corresponde a um fenocircmeno de gradiecircncia de iacutendice modal para um

marcador discursivo

Contexto amigas no supermercado

129

REN [413] ltpodegt [414] tanto faz [415] pode

FLA [416] ou cecirc acha muito

REN [417] uhn [418] acho que natildeo [419] taacute [420] papel lthigiecircnico eu

nuncagt + (bfamdl01)

Dessa forma damos conta de que uma descriccedilatildeo de frames em termos exclusivamente

sintaacuteticos e semacircnticos pode ser de fato enriquecida com desdobramentos pragmaacuteticos de

diversas ordens

453 Adveacuterbios modais

Os adveacuterbios assim como os verbos receberam atenccedilatildeo especial como iacutendice

marcador de modalidade principalmente na liacutengua inglesa (GREENBAUM 1969 PERKINS

1983 SWAN 1988 BIBER FINEGAN 1988 HOYE 1997 SIMON-VANDERBERGEN

AIJMER 2007 SIMON-VANDERBERGEN 2008) No portuguecircs brasileiro destacam-se os

trabalhos de Castilho (1993 2010) e para a fala espontacircnea os de Mello Couto e Aacutevila

(2010) e Mello e Caetano (2012)

A classe de adveacuterbios eacute uma classe flexiacutevel em termos sintaacuteticos uma vez que pode

aparecer em diferentes posiccedilotildees nos enunciados Na fala como aponta Mello et al (2010)

esta complexidade de escopo se amplifica dado que devem ser levados em consideraccedilatildeo os

traccedilos prosoacutedicos Jaacute foi salientado que a anaacutelise da prosoacutedia eacute importante para a

desambiguizaccedilatildeo de itens modais e no caso especiacutefico dos adveacuterbios modais se estes satildeo de

fato itens modalizadores ou se cumprem outra funccedilatildeo no enunciado como a de intensificador

ou marcador discursivo

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais

Nesta seccedilatildeo forneccedilo os resultados para os adveacuterbios modais em relaccedilatildeo agrave sua

frequecircncia na amostra Os types e tokens tambeacutem foram classificados quantitativamente de

acordo com a tipologia interacional (puacuteblico vs privado monoacutelogos vs diaacutelogos vs

conversaccedilotildees) Foram encontrados 16 types em 94 ocorrecircncias na amostra o que corresponde

130

no universo dos iacutendices modais a 79 das ocorrecircncias90

A Tabela 412 e 413 trazem os

nuacutemeros para o nuacutemero de ocorrecircncias deste iacutendice no minicorpus e sua distribuiccedilatildeo em

termos de tipologia interacional respectivamente

adveacuterbios ocorrecircncias

com certeza 7 75

mesmo 45 479

realmente 3 32

exatamente 4 44

talvez 8 85

sem duacutevida 2 22

agraves vezes 5 53

na verdade 7 75

sinceramente 2 22

claro 5 53

potencialmente 1 1

oacutebvio 1 1

sem chance 1 1

logicamente 1 1

justamente 1 1

certamente 1 1

Total 94 100

Tabela 412 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais

90

Mello e Caetano (2012) investigaram a distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos adveacuterbios modais em toda a parte

informal do C-ORAL-BRASIL Atraveacutes da busca pelo parser PALAVRAS de todos os adveacuterbios foram

identificados 28000 adveacuterbios no corpus correspondendo a 1345 das palavras na amostra Dentre os

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 763 foram destacados como modais que representa 037 do total de palavras

da parte informal do corpus No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre adveacuterbiosadveacuterbios modais aproximadamente

272 do total de adveacuterbios assume funccedilatildeo modal O estudo revela dessa forma que a frequecircncia de adveacuterbios

modais eacute expressiva mas as autoras sublinham que ao olhar com lentes de aumento para a amostra um uacutenico

item o adveacuterbio ―mesmo contribui com uma frequecircncia de 557 de todas as ocorrecircncias O que coincide com

os nuacutemeros para o minicorpus

131

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 14 5 19

Diaacutelogos 33 12 45

Conversaccedilotildees 25 5 30

TOTAL 72 22 94

Tabela 413 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional

Em termos absolutos o nuacutemero de ocorrecircncias em contexto privadofamiliar eacute

bastante maior do que no contexto puacuteblico No entanto como jaacute observado para as outras

estrateacutegias eacute possiacutevel um balanceamento na frequecircncia dos itens que apontam para um uso

proporcional nos dois contextos interacionais No que diz respeito agrave tipologia interacional

tambeacutem como esperado os adveacuterbios ocorrem mais em trocas dialoacutegicas (45 para diaacutelogos e

30 para conversaccedilotildees) do que em monoacutelogos (19) Estes nuacutemeros acompanham os

encontrados por Mello e Caetano (2012) na anaacutelise de todos os adveacuterbios modais da parte

informal do C-ORAL-BRASIL

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais

Em termos de distribuiccedilatildeo pelas unidades informacionais satildeo estes os nuacutemeros

Unidades informacionais ocorrecircncias

adveacuterbios

COM 87 926

INT 2 21

PAR 3 32

TOP 2 21

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais

No que tange aos valores modais todas as ocorrecircncias da amostra satildeo do tipo

epistecircmico com o subvalor de possibilidade como ―agraves vezes e ―talvez ou de crenccedila

indicando graus de certeza em sua maioria o que corrobora a posiccedilatildeo de Perkins (1983 p

89) para os adveacuterbios modais em inglecircs O autor afirma que estes marcadores satildeo

fundamentalmente de natureza epistecircmica

132

Vejamos agora os exemplos para cada um dos 16 itens aqui encontrados e seu

comportamento em relaccedilatildeo a outros elementos co-textuais

(426) Mesmo

(w) REN lttem que ser ogt Knorr mesmo

FLA eacute ampva [1] vai esse neacute Rena (bfamdl01)

O item ―mesmo eacute o adveacuterbio modal mais frequente na amostra com quase a metade

das ocorrecircncias Este item tem um comportamento particular porque muitas das vezes pode

funcionar como intensificador como um operador que regula o fluxo da interaccedilatildeo ou como

pronome adjetivo Para o desempate utilizamos a regra de substituiccedilatildeo observamos o co-

texto e ainda fazemos a oitiva do arquivo de som Vejamos os exemplos em que o adveacuterbio

natildeo possui funccedilatildeo modal

(x) TON tinha que matar o cinco socirc

REN natildeo aiacute e laacute

CAR eacute o quatro mesmo Jacareacute

TON ltpeneigt

CAR ltquatro mesmo socircgt purra ele se ele nũ morrer nũ tem problema natildeo

ltaiacute ogt

(y) CES vatildeo laacute eacute e ele [2] e eacute ele mesmo que taacute ainda viu eacute o trezentos-e-trecircs

viu Anete

ANE eacute ele mesmo

CES eacute ele mesmo entatildeo uhn (bfamdl05)

(427) Na verdade e com certeza

(z) EUG cecirc jaacute escolheu moccedila

JAN hum hum eu acho que eu vou + na verdade eu queria levar as duas neacute

mas eu vou levar essa aqui (bpubdl02)

(aa) FLA colorido eacute mais caro

REN com certeza deve ser (bfamdl01)

133

(428) Talvez e agraves vezes indicadores de possibilidade

(bb) MAI no norte de Mina tinha esse [2] antigamente tinha esse tipo de cobra

tudo neacute talvez agora jaacute acabou porque jaacute desmataram muito neacute

(bfammn01)

(cc) ANE [297] eacute olha se tem gente aiacute

CES [298] xxx [1] pode passar aqui

ENC [299] oi

ANE [300] ltagraves vezesgt [2] agraves vezes fica ltgentegt

CES [301] ltpode entrargt [302] ltpo po vimgt Anete (bfamdl05)

―Agraves vezes eacute uma locuccedilatildeo que tanto pode exercer uma funccedilatildeo temporal quanto pode

exercer uma funccedilatildeo modal91

A desambiguizaccedilatildeo tambeacutem eacute feita pela anaacutelise do contexto do

co-texto e da prosoacutedia Por exemplo

(dd) PAU cecirc tem que aprender a olhar planta porque a hora que cecirc pegar um

projeto maior aiacute pa fazer que o dono nũ tiver perto aiacute cecirc tem que tocar agraves

vezes o engenheiro tambeacutem nũ tem muito tempo taacute mexendo com outra coisa

soacute vem no final de semana (bpubdl01)

No exemplo o adverbial ―agraves vezes pode indicar uma situaccedilatildeo possiacutevel portanto um

uso modal ou pode indicar a frequecircncia com que o engenheiro visita a obra um uso temporal

no caso

(429) Certamente e potencialmente

(ee) MAI a cobra tavaampen[2] continuou enrolada nele certamente eatava

querendo fazer o seguinte eu eu matei esse eu vou matar o resto tudo da

[1] amphe dentro da casa nũ sei neacute a imaginaccedilatildeo hhh dum [1] dum animal

o que que pode ser neacute (bfammn01)

(ff) HEL lteacute tipogt cecircs ficamltfalando tambeacutemgt

LUC ltisso pode ser potencialmentegt divertido

BRU ltnatildeogt

LUC ltmas enfim yyyyhhhgt

BRU ltnũ achogt (bfamcv04)

91

Natildeo eacute do escopo deste trabalho investigar a gramaticalizaccedilatildeo dos itens modais Parece-me no entanto que o

caminho de adverbial de tempo para um adverbial modal eacute uma hipoacutetese consistente Como exemplo similar

temos o caso da locuccedilatildeo ―de repente (―De repente ele chegou uso temporal ―De repente a gente toma um

copo assim que cecirc acabar a tese uso modal indicando possibilidade)

7056

134

(430) Sinceramente

(gg) TER ltoh adoreigt

RUT o eu nũ achei ruim natildeo Jael ltsinceramentegt

JAE ltnũ gosteigt de jeito nenhum (bfamcv02)

(431) Logicamente

(hh) JOR e laacute eu fiquei um periacuteodo desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho

logicamente com um salaacuterio melhor hhh e por amizade eu fui cair em uma

multinacional que eu dei uma virada no produto (bfammn06)

(432) Exatamente e justamente

(ii) CEL ltfazer uma jogadagt melhor

CAR eacute que aiacute cecirc rola lto seis fica atraacutes do quatrogt

CEL lteacutegt ltissogt ltexatamentegt (bfamcv03)

(jj) ANE ltque nuacutemerogt que eacute

CES setecentos-e-quatro

ANE aqui eacute exatamente po parar o carro hhh

CES eacute setecentos-e-quatro (bfamdl05)

(433) Claro e oacutebvio

(kk) LUI [151] natildeo [152] e [1] e [1] e [1] e principalmente convocando a galera

falar assim o galera negoacutecio seguinte taacute pensando em organizar um torneio

e a gente quer que vocecircs participem da organizaccedilatildeo ltmandando

representantegt +

LEO [153] lte acima de tudo eu acho que a gente temgt que chamar os times

que tipo o [1] realmente os times que merecem a [1] a nossa +

EVN [154] eacute a ltgente tem quegt ltrestringir tambeacutem issogt

GIL [155] ltnatildeo clarogt (bfamcv01)

(ll) ROG [222] eacute [223] o projeto eacute bom por isso uai [224] a gente faz jeito que

a pessoa pede uai [225] aquele carinha ltdo ampAlexagt +

PAU [226] ltmas temgt que saber ler projeto tambeacutem neacute

ROG [227] aquele ltcarinhagt do Alexandre laacute ele me deu o desenho dele

PAU [228] ltclarogt (bpubdl01)

(mm) BRU taacute falando do meu peacute neacute

CEL oacutebvio (bfamcv04)

135

Os iacutendices modais ―claro e ―oacutebvio92

apesar de pertencerem formalmente agrave

categoria dos adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos sem a

presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo Quando este eacute o caso satildeo analisados como adjetivos

em posiccedilatildeo predicativa

Estes itens tendem a cumprir um papel de confirmaccedilatildeo quer dizer um falante

normalmente os utiliza para confirmar o que foi enunciado pelo falante anterior

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q

O caraacuteter epistecircmico das construccedilotildees condicionais na variante brasileira do portuguecircs

eacute apontado em um nuacutemero de trabalhos relevantes para o tema entre eles os de Hirata-Vale

(2001 2008) Ferrari (2007 2008) Bezerra e Meireles (2009) Hirata-Vale afirma que ―as

condicionais relacionam-se a mundos concebiacuteveis sejam eles reais eventuais e

contrafactuais e se tornam mais abstratas agrave medida que passam por um processo de

subjetivizaccedilatildeo por isso estatildeo situadas no eixo do conhecimento e da avaliaccedilatildeo subjetiva

Nas condicionais de forma canocircnica ―se p entatildeo q em que p eacute a proacutetase e q a

apoacutedose ―o evento p eacute uma condiccedilatildeo suficiente (e em alguns casos necessaacuteria) para a

ocorrecircncia do evento q (SWEETESER 1990) As condicionais satildeo pois projeccedilotildees

hipoteacuteticas de manifestaccedilotildees causais diretas

A sua hipoteticidade estaacute ligada ao grau de probabilidade de realizaccedilatildeo das situaccedilotildees

referidas na proacutetase (cf COMRIE 1986)

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica

As construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato

constituem-se como um desafio uma vez que como apontado anteriormente o escopo da

modalidade eacute a unidade informacional No caso deste tipo de construccedilatildeo como afirmam

Cocircrtes e Mello (2013 p 2) ela ―pode ultrapassar os limites de um enunciado ou estar

completamente acomodada nele dividida ou natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

92

Poderiam estar incluiacutedos os adjetivos ―loacutegico e exato que tecircm comportamento similar ao dos adveacuterbios

―logicamente e ―exatamente

136

A frequecircncia das construccedilotildees condicionais no minicorpus foi considerada de acordo

com a tipologia interacional a estrutura informacional a distribuiccedilatildeo de proacutetaseapoacutedose e a

relaccedilatildeo entre a estrutura sintaacutetica e informacional

Como jaacute dito ao todo foram analisados 5484 enunciados sendo que 1046 deles estatildeo

modalizados Foram encontradas 109 ocorrecircncias de construccedilotildees condicionais entre as de

forma canocircnica O percentual de condicionais na amostra eacute de 909 entre todos os iacutendices

modais

Passando agrave anaacutelise para a tipologia interacional temos os seguintes resultados 24

exemplares para monoacutelogos 8 em monoacutelogos puacuteblicos e 16 em privados 40 exemplares para

diaacutelogos 9 para puacuteblicos versus 25 para diaacutelogos privados e 50 exemplares para

conversaccedilotildees 12 em puacuteblicas versus 38 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os

dados na Tabela 415

Tipologia Contexto Frequecircncia

Monoacutelogo Privado 16

Puacuteblico 8

Diaacutelogo Privado 25

Puacuteblico 10

Conversaccedilatildeo Privado 38

Puacuteblico 12

Tabela 415 - Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional

No que diz respeito agrave tipologia interacional ainda natildeo temos dados suficientes para

verificar quais as variaacuteveis em jogo e como as condicionais se comportam em cada contexto

Com relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sintaacutetica encontramos trecircs tipos de padrotildees

proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase e proacutetase somente Abaixo as frequecircncias para cada um dos

tipos

Organizaccedilatildeo sintaacutetica Frequecircncia

Proacutetase-apoacutedose 76

Apoacutedose-proacutetase 10

Proacutetase 23

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais

137

Os nuacutemeros para cada tipo de organizaccedilatildeo natildeo surpreendem exatamente Em

frequecircncia absoluta o padratildeo proacutetaseapoacutedose eacute o mais recorrente jaacute o apoacutedoseproacutetase

apresenta ocorrecircncia bem reduzida Sobre a proacutetase sozinha parece-me um nuacutemero

interessante pois natildeo segue o padratildeo estabelecido na escrita e corresponde a 211 do total

de ocorrecircncias e se dividem na amostra em trecircs tipos (a) proacutetases cuja apoacutedose natildeo satildeo

realizadas com efeito suspensivo mas possiacutevel de ser compreendida entre os interlocutores

(em termos de ilocuccedilatildeo parecem cumprir um ato do tipo expressivo do subtipo expressatildeo de

obviedade) (b) proacutetases que satildeo perguntas parciais (em termos de ato satildeo do tipo diretivo do

subtipo pedido de explicaccedilatildeo) (c) proacutetases cuja apoacutedose foi realizada anteriormente diluiacuteda

no contexto ou realizada por outro falante

Antes de apresentar os exemplos das condicionais mostro os nuacutemeros referentes agrave

distribuiccedilatildeo dos iacutendices em termos de estrutura informacional na Tabela 417 e a relaccedilatildeo

entre padrotildees sintaacuteticos e organizaccedilatildeo informacional na Tabela 418

Estrutura

informacional Frequecircncia

Enunciados diferentes 10

Mesma unidade de COM 30

TOPCOM 51

CMMCMM 11

Outros 7

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional

Estrutura

informacional TOPCOM

Mesmo

COM CMMCMM

Enunciados

diferentes Outros Total

Estrutura

sintaacutetica

Proacute - apoacute 49 7 9 8 3 76

Apoacute - proacute 2 2 2 2 2 10

Proacute --- 21 --- --- 2 23

Total

109

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional

138

Seguem exemplos das possiacuteveis combinaccedilotildees sintaacuteticas das condicionais e de sua

distribuiccedilatildeo em termos de estrutura informacional

(a) Proacutetase apoacutedose

(a1) proacutetase =TOP= apoacutedose =COM=

(434) BRU [268] lte se for uma palavra compostaPRO =TOP= cecirc faz assimAPOgt

=COM=$ (bfamcv04)

(a2) proacutetase e apoacutedose na mesma unidade de COM proacutetase apoacutedose =COM=

(435) PAU [72] esse tipo de muro =TOP= se ficar baixo demaisPRO ele fica

feioAPO =COM=$ (bpubdl01)

(a3) proacutetase apoacutedose em enunciados diferentes

(436) SIL [233] se ocecirc natildeo tem reloacutegio dentro do quartoPRO =COM=$

[234] cecirc vai comprar um reloacutegioAPO =CMM= pocircr laacute pa despertar =CMM=$

(bfamdl04)

(a4) proacutetase =CMM= apoacutedose =CMM=

(437) CAR [75] se ele nũ morrerPRO =CMM= nũ tem problema natildeoAPO

=CMM=$ (bfamcv03)

(b) Apoacutedose proacutetase

(b1) apoacutedose e proacutetase em enunciados diferentes apoacutedose proacutetase

(438) ANE [120] como eacute que a gente vai adivinharAPO =COM=$

[121] se for issoPRO =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl05)

(b2) apoacutedose proacutetase =COM=

(439) RUT [191] ltlaacute em casagt =TOP= ltavisoAPO se cecirc for laacutePROgt =COM=$

(bfamcv02)

(b3) apoacutedose =TOP= proacutetase =COM=

(440) BAL [58] ltdaacutegt ltproblemaAPO =TOP= se vocecirc ligar o aparelho degt ampduz

[1]=SCA= cento-e-dez na tomada de duzentos-e-vintePRO =COM=$

(bfamdl02)

139

(c) Proacutetase

(c1) expressatildeo de obviedade

(441) ANE [38] eh =PHA= se cecirc nũ tiver um carrinho que [1]=SCA= que sobe

aquiPRO =COM=$ (bfamdl05)

(c2) pergunta parcial pedido de explicaccedilatildeo

(442) [318] lte se precisar de um esclarecimentoPROgt =COM= ltassim =PAR= nogt

meio do negoacutecio hhh =APC=$ (bfamcv04)

(c3) conjugaccedilatildeo entre turnos

(443) TER [22] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhouAPO =COM=$

RUT [23] ltah =CMM= eacutegt =CMM=$ [24] se nũ morrer antes ltdelesPRO

=COM=$ (bfamcv02)

Observa-se que a estrutura mais frequente eacute o perfil proacutetase no Toacutepico e apoacutedose no

Comentaacuterio o que coincide com a funccedilatildeo informacional das unidades Em termos discursivos

a proacutetase de uma condicional atua como um angulador que estabelece as condiccedilotildees de

validaccedilatildeo do discurso subsequente Conforme Ferrari (2008 p 121) desde uma perspectiva

cognitiva

no domiacutenio epistecircmico as condicionais expressam a ideia de que o conhecimento do

evento ou do estado de coisas expresso na proacutetase seria uma condiccedilatildeo suficiente

para o estabelecimento da conclusatildeo na apoacutedose

Os exemplos tambeacutem nos mostram que eacute possiacutevel a combinaccedilatildeo de outros perfis com

as estruturas proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase distribuiacutedas em unidades informacionais

diferentes como Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Apecircndices de Toacutepico e

tambeacutem em enunciados diferentes neste caso a estrutura se completa em atos de fala

diferentes cada um veiculando sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Podem ser encontradas ainda ocorrecircncias em que a proacutetase tenha como acircncora o

contexto interacional sem a realizaccedilatildeo necessaacuteria da apoacutedose como no caso em (441) o que

denota um comportamento peculiar destas construccedilotildees na fala espontacircnea

Os dados apontam para o fato de que a proacutetase carrega o natildeo-factual da construccedilatildeo

condicional (cf COMRIE 1986) e nos casos em que ocorre a ordem inversa ―o foco da

44923267

3761631

140

construccedilatildeo estaacute no conteuacutedo veiculado pela apoacutedose isto eacute a parte mais saliente

informativamente eacute a accedilatildeo presente na apoacutedose (CORTES MELLO 2013 p 4)

Por uacuteltimo gostaria de retomar que as condicionais como iacutendices que expressam de

modalidade desafiam a premissa posta pela Teoria da Liacutengua em Ato de que o marcador

modal incide dentro da unidade informacional Como vimos este tipo de construccedilatildeo

ultrapassa as fronteiras da unidade informacional e inclusive em alguns casos do enunciado

Uma das hipoacuteteses que levanto eacute que a estrutura condicional poderia ser tratada como uma

construccedilatildeo padronizada nos termos de Cresti (no prelo p 17) estas satildeo ―construccedilotildees

realizadas atraveacutes de UTs cada uma desenvolve uma funccedilatildeo informacional diferente93

A

autora ainda completa que incluem tambeacutem construccedilotildees que satildeo realizadas em diferentes

enunciados com cada uma cumprindo sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei a descriccedilatildeo da modalidade no minicorpus da parte informal

do C-ORAL-BRASIL Apresentei e discuti os resultados em termos de frequecircncia por

tipologia interacional por distribuiccedilatildeo dos iacutendices nas unidades informacionais a distribuiccedilatildeo

e frequecircncia dos valores modais epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos e a relaccedilatildeo de cada valor

com as unidades informacionais Em seguida empreendi a anaacutelise para os verbos

modalizadores os verbos epistecircmicos os adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais de forma

canocircnica

Passo agora agrave Parte III deste trabalho que traz a proposta de esquema de anotaccedilatildeo para

a modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro que como afirmam Aacutevila e Mello

(2013 p 1) vai fornecer

um ponto de partida confiaacutevel para pesquisadores interessados em desenvolver

metodologias associadas a PLN que resulta na extraccedilatildeo no discurso oral de

marcadores de confiabilidade certeza e factualidade ou proceder agrave anaacutelise de

sentimentos modelagem da modalidade e objetivos afins 94

93

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] constructions performed across TUs with each developing a different information

function [hellip] (CRESTI no prelo p 17) 94

No original ―[hellip] reliable starting point for researchers that might be interested in developing methodologies

associated to NLP that ensue the extraction of oral discourse reliability certainty and factuality markers or

carrying sentiment analysis modeling modality and similar objectives (AacuteVILA MELLO 2013 p1)

141

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE

142

Capiacutetulo 5

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL95

O presente capiacutetulo apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous

Speech) um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

A anotaccedilatildeo linguiacutestica de corpora nas palavras de Leech (1993 p 275) pode ser

definida como ―a praacutetica de adicionar informaccedilatildeo interpretativa (especialmente linguiacutestica) a

um corpus eletrocircnico de dados linguiacutesticos falados eou escritos por algum tipo de coacutedigo

anexado a ou intercalados com a representaccedilatildeo eletrocircnica do proacuteprio material linguiacutestico96

E tambeacutem pode se referir ao produto final deste processo

A Linguiacutestica Computacional fornece meios para o desenvolvimento de softwares para

o processamento de linguagem natural escrita e falada Os corpora anotados natildeo satildeo um fim

em si mesmo a resoluccedilatildeo de tarefas especiacuteficas bem definidas e limitadas como a

etiquetagem morfossintaacutetica (cf o parser PALAVRAS BICK 2000) eacute preacute-requisito para a

construccedilatildeo de sistemas complexos como os de traduccedilatildeo automaacutetica e de sumarizaccedilatildeo

Especificamente o interesse por se distinguir uma informaccedilatildeo que eacute real e certa de

uma informaccedilatildeo especulativa e modal resulta do fato de esta ser tarefa necessaacuteria para

aplicaccedilotildees em PLN como a extraccedilatildeo de informaccedilatildeo (KARTUNNEN ZAENNEN 2005)

modelagem de incerteza em textos cliacutenicos (MOWERY et al 2012) resposta a perguntas

(SAURIacute et al 2006) classificaccedilatildeo de hedges (MEDLOCK BRISCOE 2007 MORANTE

DAELEMANS 2009) e anaacutelise de sentimentos (WIEBE et al 2005)

Anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu reconhecimento automaacutetico

inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma determinada tipologia (por

exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a sua fonte e o seu escopo

semacircntico Vaacuterios tecircm sido os projetos desenvolvidos para a anotaccedilatildeo de expressotildees modais

95

Parte da pesquisa sobre a anotaccedilatildeo semacircntica foi desenvolvida em meu Estaacutegio Doutoral no Centro de

Linguiacutestica da Universidade de Lisboa no periacuteodo de janeiro a agosto de 2013 sob a supervisatildeo da Dra Amaacutelia

Mendes e financiada pela Capes Proc nordm BEX 9537-12-0 96

No original ―[hellip] the practice of adding interpretative (especially linguistic) information to an existing corpus

of spoken andor written language by some kind of coding attached to or interspersed with the electronic

representation of the language material itself (LEECH 1993 p 275)

143

em sua grande maioria para a liacutengua inglesa e focados nos auxiliares modais com destaque

para a relaccedilatildeo entre modalidade e negaccedilatildeo (MORANTE SPORLEDER 2012 BAKER et al

2012) a anotaccedilatildeo de sentido de verbos modais (RUPPENHOFER REHBEIN 2012) o

desenvolvimento de um leacutexico para a modalidade e a construccedilatildeo de etiquetadores automaacuteticos

(BAKER et al 2010) Haacute ainda esforccedilos de anotaccedilatildeo sendo empreendidos em outras liacutenguas

como os trabalhos para o chinecircs (CUI CHI 2013) e para o portuguecircs europeu (HENDRICKX

et al 2012 MENDES et al 2013)

A anotaccedilatildeo da modalidade para dados do portuguecircs brasileiro eacute terreno a ser explorado

tanto para corpora escritos quanto para corpora de fala Segundo Nurmi (2007 p1) a

anotaccedilatildeo linguiacutestica contribui para a recuperaccedilatildeo de diferentes elementos linguiacutesticos no

entanto a natureza multifacetada da modalidade ―eacute ainda um obstaacuteculo para a pesquisa

assistida por computador97

Na mesma clave Baker et al (2010 p 1403) afirmam que o

desafio para a criaccedilatildeo de um esquema de anotaccedilatildeo de modalidade reside em ―lidar com o

complexo escopo das modalidades entre cada uma delas e com a negaccedilatildeo e ao mesmo tempo

criar um procedimento operacional simplificado que possa ser seguido por um especialista da

linguagem sem treinamento especial98

Como jaacute discutido na parte I desta tese estaacute longe de

haver um consenso sobre como definir e caracterizar a modalidade ela pode ser tomada como

expressatildeo da subjetividade como uma distinccedilatildeo entre realis e irrealis ou ainda como uma

quantificaccedilatildeo sobre mundos possiacuteveis restringidas por uma relaccedilatildeo de acessibilidade Dessa

forma o entendimento do que eacute essa categoria semacircntica eacute fundamental bem como ter claro

quais satildeo os elementos que podem veicular a modalidade

Na seccedilatildeo seguinte contextualizo o nosso projeto dentro dos estudos anteriores de

anotaccedilatildeo semacircntica das expressotildees modais

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica

Os trabalhos desenvolvidos em anotaccedilatildeo semacircntica centram-se nos fenocircmenos da

factualidade e da modalidade uma vez que como foi dito para um bom nuacutemero de

aplicaccedilotildees em PLN eacute necessaacuterio distinguir uma informaccedilatildeo factual de uma natildeo-factual e

tambeacutem as certezas das incertezas

97

Traduccedilatildeo minha para ―[] is still a hurdle in computer assisted-research 98

No original ―[t]he challenge of creating a modality annotation scheme was to deal with the complex scopig of

modalities with each other and with negation while at the same time creating a simplified operational procedure

that could be followed by language experts without special training

144

Do ponto de vista computacional a definiccedilatildeo de modalidade envolve um nuacutemero de

conceitos diferentes relacionados a ela a depender da tarefa que se deve cumprir e de

fenocircmenos especiacuteficos que satildeo levantados como por exemplo subjetividade factualidade

certezaincerteza hedging como jaacute explicitado

O trabalho de Sauriacute Verhagen e Pustejovsky (2006) objetiva identificar o escopo da

modalidade e propor uma sua soluccedilatildeo para sua identificaccedilatildeo automaacutetica Os autores utilizam a

linguagem TimeML (PUSTEJOVSKY et al 2005) para sua anotaccedilatildeo que codifica com

diferentes etiquetas (tags) nos niacuteveis lexical e sintaacutetico vaacuterios tipos de modalidade Os

eventos satildeo identificados no TimeML como as expressotildees que participam de uma narrativa

em um dado documento que podem ser ordenados temporalmente No niacutevel sintaacutetico os

seguintes valores satildeo levados em conta factive (para eventos implicados ou pressupostos)

counterfative (para um evento que pressupotildee a natildeo-veracidade de seu argumento) evidential

(introduzido por eventos reportados ou perceptuais) negative evidential (introduzido por

eventos reportados ou perceptuais que expressam polaridade negativa) modal (para eventos

que introduzem uma referecircncia a mundo possiacutevel) e conditional (para construccedilotildees

condicionais)

Tendo em vista a tarefa de reconhecer implicaturas textuais Sauriacute e Pustejovski

(2009) apresentam uma ferramenta que fornece eventos com os seus valores de factualidade

Os autores identificam os valores de factualidade baseados na anaacutelise de Horn (1989) para a

modalidade epistecircmica em que o valor factual eacute apresentado pelo par ltmod polgt contendo

um valor modal (certo provaacutevel possiacutevel e desconhecido) e um valor de polaridade (positivo

ou negativo) Haacute ainda a possibilidade do participante estar completamente descomprometida

com a factualidade de um determinado evento (ltUNUNgt)

No entanto os autores destacam que o valor assinalado para os eventos estatildeo

diretamente relacionados com os participantes (fontes da modalidade) em jogo quer dizer haacute

um ato de comprometimento em relaccedilatildeo agrave factualidade de um evento desempenhado por um

determinado participante O conjunto de valores factuais que diferentes participantes

assinalam para um evento eacute denominado perfil de factualidade (factuality profile)

Sauriacute (2008) e Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) adicionaram ao TimeBank corpus

(PUSTEJOVISKY et al 2005) uma nova camada de informaccedilatildeo semacircntica o FactBank Este

corpus de eventos constituiacutedo por 208 documentos com 9488 eventos eacute anotado para a

factualidade de eventos (ou factividade) definida por Sauriacute e Pustejovsky (2012 p 263)

como ―[] o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa a natureza factual de eventualidades

mencionadas em um texto Isto eacute expressar se elas correspondem a um fato () a uma

145

possibilidade () ou a uma situaccedilatildeo que natildeo ocorre no mundo () []99

Segundo os

autores a factualidade eacute resultado da interaccedilatildeo entre polaridade e certeza e se relacionam com

outras categorias como a modalidade epistecircmica a evidencialidade a postura epistecircmica e

hedging

A anotaccedilatildeo de modalidade para a caracterizaccedilatildeo de eventos pode tambeacutem ser utilizada

em processos analiacuteticos automaacuteticos Baker et al (2010) desenvolveram um esquema de

anotaccedilatildeo de modalidade um leacutexico da modalidade e dois etiquetadores automatizados

construiacutedos a partir do leacutexico e do esquema de anotaccedilatildeo O esquema eacute aplicado a exemplos do

inglecircs com mapeamentos possiacuteveis para o Urdu Os autores consideram a modalidade como

um componente extra-proposicional do significado e argumentam que pode ser tomada de

forma mais ampla para incluir vaacuterios tipos de atitude (no sentido de ―posiccedilatildeo) Assim

segundo eles a modalidade eacute definida como ―uma atitude por parte do falante em relaccedilatildeo a

uma accedilatildeo [] ou um estado100

(BAKER et al 2010 p 1) e pode indicar factividade

(relacionada ao fato de um evento um estado ou uma proposiccedilatildeo acontecer ou natildeo acontecer)

evidencialidade (relacionada agrave fonte da informaccedilatildeo cf seccedilatildeo 24 do segundo capiacutetulo deste

trabalho) ou sentimento (relacionado aos sentimentos negativos ou positivos do falante em

relaccedilatildeo ao evento estado ou proposiccedilatildeo)

O esquema de anotaccedilatildeo reconhece trecircs elementos o trigger (a palavra ou sequecircncia de

palavras que expressam modalidade) o target (eacute a unidade de anotaccedilatildeo - o evento estado ou

relaccedilatildeo no escopo do trigger) e o holder (o experienciador ou o cognoscente da modalidade)

O anotador seleciona apenas o target e a modalidade relacionada a ele nenhuma anotaccedilatildeo eacute

feita no holder ou no trigger Esta unidade de anotaccedilatildeo estaacute contida em uma oraccedilatildeo e o verbo

principal da oraccedilatildeo eacute o uacutenico a ser marcado

Para fins de etiquetagem satildeo consideradas oito modalidades relacionadas estritamente

agrave factividade que podem no entanto se sobrepor agraves categorias de evidencialidade e

sentimento Requirement Permissive Success Effort Intention Ability Want Belief

Da mesma forma Ruppenhofer e Rehbein (2012) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo

para os verbos modais em inglecircs aplicados a documentos do MPQA Opinion Corpus101

(WIEBE et al 2005) Em seu esquema tambeacutem levam em conta trecircs elementos de

99

No original ldquo[hellip] level of information expressing the factual nature of eventualities mentioned in text That is

expressing whether they correspond to a fact in the world (hellip) a possibility (hellip) or a situation that does not hold

(hellip) [hellip] (SAURIacute e PUSTEJOVSKY 2012 p 263) 100

No original ―an attitude on the part of the speaker toward an action [hellip] or state (BAKER et al 2010 p 1) 101

Disponiacutevel em httpmpqacspittedu Uacuteltimo acesso em 28 out 2013 O corpus conteacutem notiacutecias e outros

documentos anotados manualmente para opiniotildees e outros estados privados como crenccedilas especulaccedilotildees

sentimentos Sua mais nova versatildeo inclui a anotaccedilatildeo de atitudes e targets (WILSON 2008)

146

significado modal a expressatildeo modal a source e o target Para a tarefa de anotaccedilatildeo utilizam

a ferramenta SALTO102

(BURCHARDT et al 2006) e identificam seis categorias

(epistecircmico deocircntico dinacircmico optativo concessivo e condicional) para a anotaccedilatildeo de cinco

verbos modais (cancould maymight must ought shallshould)

Como o trabalho estaacute restrito aos verbos modais do inglecircs eacute utilizado um nuacutemero

menor de categorias comparado a Baker et al (2010) Importante destacar que na descriccedilatildeo

das instruccedilotildees de anotaccedilatildeo os autores distinguem para os verbos bdquomust‟ bdquoshould‟ e bdquoought‟

dois sentidos ndash o epistecircmico e o deocircntico ndash nestes casos para os epistecircmicos natildeo distinguem

entre as inferecircncias subjetivas (bdquoThe light is on He must be home‟) e as objetivas (John is 35

and Peter is only a year or two older than John so he must be under 40 still‟) (cf

HUDDLESTON PULLUM 2002) No primeiro exemplo natildeo haacute uma inferecircncia loacutegica que

leve agrave conclusatildeo de que John estaacute em casa e no segundo chega-se agrave conclusatildeo sobre a idade

de Peter por meio de operaccedilotildees matemaacuteticas Para o valor deocircntico natildeo fazem qualquer

subcategorizaccedilatildeo no que diz respeito agrave forccedila imposta sobre os atores se externa (bdquoDogs must

be leashed here A city ordinance requires it‟) ou interna (I really must call him He will be

worried‟) e tambeacutem natildeo fazem distinccedilatildeo entre uma obrigaccedilatildeo reportada (bdquoMom says you must

go home now It‟s past 10 pm‟) e uma obrigaccedilatildeo imposta pelo ato de fala (You must go home

now I want you gone‟)

Ainda para o verbo bdquomay‟ identificam trecircs sentidos epistecircmico deocircntico (relacionado

agrave permissatildeo) e optativo (relacionado a um desejo) Para o verbo bdquocan‟ trecircs satildeo os valores

dinacircmico (relacionado agrave habilidade e ao potencial de envolvimento em eventos ou

comportamento) deocircntico (relacionado agrave permissatildeo) e epistecircmico (relacionado agrave

possibilidade)

Jaacute Matsuyoshi et al (2010) a partir de estudos sobre modalidade e trabalhos em PLN

apresentam um esquema para a anotaccedilatildeo da modalidade estendida de eventos modais para um

corpus do japonecircs constituiacutedo de 50018 eventos recolhidos em diferentes recursos como

blogs documentos da web o corpus de Murakami et al (2009) e posts de sites de perguntas e

respostas Um evento eacute definido como ―consistindo de um predicado central e seus

argumentos (complementos e adjuntos) em uma sentenccedila103

(MATSUYOSHI et al 2010 p

1458)

102

Esta ferramenta de anotaccedilatildeo foi originalmente concebida para a anotaccedilatildeo manual de papeacuteis semacircnticos na

moldura teoacuterica da semacircntica de frames no contexto do projeto Salsa (ERK et al 2003) 103

No original ―(hellip) consisting of a core predicate and its arguments (complements and adjuncts) in the

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1458)

147

Para a construccedilatildeo do esquema com vistas para aplicaccedilatildeo em PLN satildeo colocadas

quatro condiccedilotildees necessaacuterias 1) a informaccedilatildeo da modalidade deve estar reunida em um uacutenico

elemento especificamente o predicado central 2) o sistema deve ser independente de liacutengua

3) a polaridade deve comportar duas classes a polaridade da realidade e a polaridade do ponto

de vista da avaliaccedilatildeo da fonte para capturar explicitamente a factualidade do evento 4) as

etiquetas em cada componente natildeo podem ser muito refinadas porque segundo os autores

―as classificaccedilotildees de modalidade restrita em Linguiacutestica por exemplo (Palmer 2001) e

sistemas de loacutegica modal (Portner 2009) satildeo muito sofisticadas e eacute muito difiacutecil executar

analisadores de modalidade estendida nelas baseados no atual estaacutegio de tecnologia em

PNL104

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1458) O esquema de modalidade proposto eacute

constituiacutedo de sete componentes Source Time Conditional Primary modality type

(assertion volition wish imperative permission interrogative) Actuality Evaluation e

Focus

Este sistema encontrou alguns desafios como a representaccedilatildeo de adveacuterbios de

frequecircncia de construccedilotildees de dificuldade e de potencial No entanto apresentou um acordo

entre dois anotadores razoavelmente aceitaacutevel (em meacutedia um κ=071 para os componentes)

Comparado aos projetos de Sauriacute et al (2006) Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) e ao

de Baker (2010) o sistema proposto por Matsuyoshi et al (2010) apesar de tambeacutem anotar

eventos eacute mais rico em termos de elementos a serem anotados Isso se deve ao fato de que os

sistemas construiacutedos tanto por Sauriacute e seus colegas quanto por Baker e colegas atendem a um

propoacutesito especiacutefico e dessa forma a escolha dos componentes a serem marcados fica

condicionada a este objetivo final

Em uma perspectiva mais ampla do que seja modalidade Wiebe e suas colaboradoras

(2005) exploram um esquema de anotaccedilatildeo de opiniotildees e emoccedilotildees baseado em estudo de um

corpus de artigos da imprensa internacional o MPQA Opinion Corpus (WIEBE WILSON

CARDIE 2005) composto de 10657 sentenccedilas em 535 documentos em liacutengua inglesa

Segundo as autoras (2005 p 1) a motivaccedilatildeo para a identificaccedilatildeo e extraccedilatildeo de opiniotildees

reconhecimento de emoccedilotildees e anaacutelise de sentimentos nasce do ―desejo de fornecer

ferramentas para analistas da informaccedilatildeo nos domiacutenios governamental comercial e poliacutetico

que querem rastrear automaticamente atitudes e sentimentos em notiacutecias e em foacuteruns on-line

104

Nas palavras dos autores ―[] classifications of restricted modality in Linguistics eg (Palmer 2001) and

systems of modal logic (Portner 2009) are too sophisticated and it is very difficult to implement analyzers of

extended modality based on them with the current level of technology in NLP (MATSUYOSHI 2010 p 1458)

148

As pesquisadoras propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo refinado para a etiquetagem de

componentes e propriedades de opiniotildees sentimentos emoccedilotildees estados privados

especulaccedilotildees que abriga sob o roacutetulo de estados privados (private stateslsquo)

Os estados privados satildeo definidos como ―estados internos que natildeo podem ser

diretamente observados pelos outros105

(WIEBE et al 2005 p 2) Para cada expressatildeo de

estado privado eacute definido um frame de estado privado que se constitui pelos seguintes

elementos a source106

(cujo estado privado estaacute sendo expresso) o target (sobre o quecirc eacute o

estado privado) as propriedades que envolvem intensity significance e type of attitude

Haacute dois tipos de frames de estado privado (a) elementos subjetivos expressivos

(expressive subjective elementslsquo) representam elementos subjetivos expressivos (b)

subjetivos diretos representam menccedilotildees expliacutecitas a estados privados (explicit mentions of

private stateslsquo) e eventos de fala que expressam estados privados (speech events expressing

private stateslsquo)

O esquema proposto por Wiebe Wilson e Cardie eacute bastante detalhado assim como o

de Matsuyoshi et al (2010) e aplicado a um grande corpus Como se pode observar a noccedilatildeo

de modalidade nos esquemas apresentados acima natildeo segue a noccedilatildeo corrente na literatura

sobre o tema (cf PALMER 1986 ou PORTNER 2009) Os trabalhos que apresento em

seguida ao contraacuterio se apoacuteiam na ideia de modalidade restrita e na definiccedilatildeo se assim posso

dizer mais tradicional da categoria qual seja ―a atitude do falante aleacutem de considerar

geralmente em sua tipologia a oposiccedilatildeo entre significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos e

natildeo entre informaccedilatildeo factual e natildeo-factual (o que evidentemente natildeo exclui a anaacutelise destas

caracteriacutesticas) Estes proacuteximos projetos natildeo foram desenvolvidos com um objetivo especiacutefico

e definido de aplicaccedilatildeo em PLN no entanto reconhecem que satildeo pontos de partida para

cumprir as tarefas de extraccedilatildeo de informaccedilatildeo mineraccedilatildeo de opiniatildeo resposta a perguntas por

exemplo

Nirenburg e McShane (2008) anotaram um corpus com informaccedilatildeo sobre a

modalidade no acircmbito do projeto OntoSem107

(NIRENBURG RASKIN 2004) e

desenvolveram um analisador alimentado com textos natildeo-tratados e realizaram vaacuterias tarefas

105

Traduccedilatildeo para ―[] internal states that cannot be directly observed by others (WIEBE et al 2005 p 2) 106

Uma propriedade importante das sources eacute que elas podem estar encaixadas isto eacute eventos privados e

eventos de fala podem estar frequentemente encaixados um no outro 107

Este projeto foi desenvolvido para o tratamento computacional da representaccedilatildeo do significado de um texto

Nas palavras dos autores ―[o]ntological semantics is a theory of meaning in natural language and an approach to

natural language processing (NLP) which uses a constructed world model or ontology as the central resource

for extracting and representing meaning of natural language texts reasoning about knowledge derived from texts

as well as generating natural language texts based on representations of their meaning (NIRENBURG

RASKIN 2004 p 10)

149

de anaacutelise linguiacutestica a modalidade incluiacuteda Para a codificaccedilatildeo da modalidade quatro

propriedades satildeo consideradas o tipo de modalidade (MODALITY TYPE) o valor escalar

(SCALAR VALUE) o escopo (SCOPE) e a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TO)

Os tipos de modalidade centrais incluem (i) factividade-epistecircmica (epistemic-

factivitylsquo) (ii) crenccedila (belieflsquo) (iii) obrigaccedilatildeo (obligativelsquo) (iv) permissatildeo (permissivelsquo)

(v) potencial (potentiallsquo) (vi) avaliativo (evaluative‟) (vii) intencional (intentionallsquo) (viii)

epitecircutico - grau de sucesso (epiteuctic ndash degree of success‟) (ix) esforccedilo (effortlsquo) (x)

voliccedilatildeo (volitivelsquo)

A cada um destes significados modais estatildeo distribuiacutedos valores que variam em uma

escala de zero a um considerados qualquer valor decimal vaacutelido neste intervalo Por exemplo

para a factividade-epistecircmica o valor 0lsquo corresponde a ―natildeo aconteceu (didn‟t happenlsquo) e o

valor 1lsquo a ―definitivamente aconteceu (definitely happenlsquo) ou para o epitecircutico - grau de

sucesso o zerolsquo equivale ao ―fracasso (faillsquo) e o ―um ao ―completamente bem-sucedido

ou ―sucesso absoluto (succeed fullylsquo)

Assim como nos outros projetos o escopo (SCOPElsquo) eacute o predicado afetado pela

modalidade e a propriedade a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TOlsquo) aponta para a quem a

modalidade eacute atribuiacuteda sendo o falante o valor padratildeo Eacute importante notar que as

propriedades da modalidade estatildeo explicitamente presentes no texto

O sistema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et al 2012a

2012b) baseia-se no esquema de anotaccedilatildeo proposta por Nirenburg e McShane (2008)

Enquanto no OntoSem a informaccedilatildeo sobre a modalidade eacute um moacutedulo semacircntico nas entradas

lexicais que expressam modalidade o modelo para o PE centra-se na anotaccedilatildeo de eventos e

natildeo de entidades Satildeo anotadas as expressotildees modais que incluem verbos adveacuterbios nomes

adjetivos sintagmas preposicionais e oraccedilotildees entretanto a tarefa eacute restrita agrave anotaccedilatildeo de

sentenccedilas

Entre os componentes anotados estatildeo o trigger o elemento que expressa o valor

modal108

o target a expressatildeo no escopo do trigger (corresponde ao atributo SCOPElsquo) a

source of the modality um agente ou experienciador (correspondente agrave propriedade

ATTRIBUTED-TOlsquo) e a source of the event mention que pode ser o falante ou o escritor109

108

Para o trigger satildeo assinalados dois atributos os valores modais e a polaridade (positiva ou negativa) 109

A decisatildeo de anotar duas sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e

aquele que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes mas natildeo

necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de 180 contos por mecircs para a

manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os portugueses eacute a entidade com a

necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se

que eacute o produtor da frase

150

Para os significados modais satildeo considerados sete valores e alguns subvalores

correspondentes a saber

Valores Subvalores

Epistemic knowledge

belief

doubt

possibility

interrogative

Deontic obligation

permission

Participant-internal necessity personal needs

capacity personal capacity

Evaluation evaluation of the proposition

Volition hopes and wishes

Effort attempt of the participant to make sth happen

Success results of the commitment of the participant

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu

Se comparado aos tipos de modalidade selecionados no OntoSem eacute possiacutevel observar

grande semelhanccedila entre os dois esquemas O tipo ―intentional foi incluiacutedo no valor ―effort

e o subvalor ―doubt do PE incluiacutedo nos epistecircmicos eacute parte do tipo ―belief no OntoSem

A tarefa de anotaccedilatildeo foi empreendida primeiramente por um anotador (em papel) e

em um segundo momento foi revisada por um segundo anotador utilizando o software

MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006)110

em uma amostra de aproximadamente 2000

sentenccedilas da parte escrita do Corpus de Referecircncia do Portuguecircs Contemporacircneo ndash CRPC

(GEacuteNEacuteREUX et al 2012)111

Os anotadores utilizam a estrateacutegia min-max (cf FARKAS et al 2010) Para o

trigger eacute anotada a menor unidade possiacutevel jaacute para o target o maacuteximo de unidades eacute

110

Disponiacutevel para download em httpmmax2net Esta ferramenta de anotaccedilatildeo seraacute detalhada na seccedilatildeo 5311

deste capiacutetulo 111

Este eacute um corpus de aproximadamente 312 milhotildees de palavras entre textos e escritos e registros orais

constituiacutedo por uma ampla gama de textos de diferentes gecircneros textuais em todas as variedades da liacutengua

portuguesa Disponiacutevel em httpwwwclululptptrecursos183-reference-corpus-of-contemporary-portuguese-

crpc Uacuteltimo acesso em 13 nov 2013

151

considerado e este elemento tambeacutem pode ser anotado em descontinuidade No que diz

respeito agraves sources satildeo marcados sintagmas nominais inteiros ou verbos No esquema

proposto ainda haacute um campo adicional para comentaacuterios (Commentlsquo) para que quaisquer

dificuldades sejam registradas principalmente casos de ambiguidade

Em trabalho mais recente (MENDES et al 2013) foi integrada a este esquema de

anotaccedilatildeo a interaccedilatildeo entre o foco e a modalidade especialmente o foco envolvendo partiacuteculas

exclusivas como ―soacute Os autores extraiacuteram os contextos e aplicaram o esquema a 100

sentenccedilas de documentos escritos do CRPC

Dois projetos desenvolvidos na Georgetown University os trabalhos de Rubinstein e

colegas (2013) para a anotaccedilatildeo da modalidade no inglecircs e o de Cui e Chi (2013) para a

anotaccedilatildeo de dados do chinecircs seguem a mesma orientaccedilatildeo teoacuterica (cf PORTNER 2009) e

utilizam um quadro bastante similar de elementos a serem anotados

Rubinstein et al (2013) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo de sentidos modais

construiacutedo a partir de trabalhos anteriores e acrescentado de novos traccedilos para a anotaccedilatildeo do

MPQA Corpus No esquema os anotadores em primeiro lugar codificavam cada modal em

trecircs categorias mais amplas Epistecircmica ou Circunstancial (Epistemiclsquo ou Circumstantiallsquo)

Habilidade ou Circunstancial (Abilitylsquo ou Circumstantiallsquo) e Prioridade (Prioritylsquo) Em

seguida sete tipos modais mais refinados foram individualizados Epistecircmica (Epistemiclsquo)

Circunstancial (Circumstantiallsquo) Habilidade (Abilitylsquo) Deocircntica (Deontic‟) Bouleacutetica

(Bouleticlsquo) Teleoloacutegica (Teleologicallsquo) e BuleacuteticaTeleoloacutegica (BouleticTeleologicallsquo)

Cui e Chi (2013) descrevem em seu trabalho a tentativa de refinar a anotaccedilatildeo de

alguns aspectos dos modais para o Penn Chinese Treebank e apontam seus primeiros

resultados para a primeira fase de anotaccedilatildeo Para a tarefa de anotaccedilatildeo realizada por dois

anotadores tambeacutem foi utilizado o software MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) com um

esquema de dez traccedilos e uma lista de inicial com onze iacutendices modais que agrave medida que o

projeto avanccedila pode crescer Como contribuiccedilatildeo os autores argumentam que o projeto

demonstrou que ―eacute possiacutevel usar um esquema e um conjunto de instruccedilotildees para a anotaccedilatildeo

translinguiacutestica112

(CUI CHI 2013 p 8)

112

No original ―() it is possible to use one scheme and set of guidelines for cross-linguistic annotation (CUI

e CHI 2013 p 8)

152

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc)

Em resumo os componentes identificados eou anotados nos projetos apresentados na

seccedilatildeo anterior

Autores Trigger Target Source Factuality Certainty Transition

of certainty Focus Time Conditional

Sauriacute et al

2006 2007

2009 2012

x x x x x

Baker et al

2010 x x x x

Matsuyoshi et

al 2010 x x x x x x x x

Wiebe et al

2005 x x x x x

Niremburg

McShane 2008 x x x

Hendrikx et al

2012

Mendes et al

2013

x x x x

Rubinstein et al

2013 x x x

Cui Chi 2013 x x x

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo semacircntica

Entre os diferentes projetos apesar de a terminologia usada para a categorizaccedilatildeo dos

significados modais diferirem eacute possiacutevel encontrar correspondecircncias entre os valores modais

correntes na literatura linguiacutestica e aqueles valores denominados natildeo-padratildeo Abaixo

resumidamente elenco na Tabela 52 todos os valores assinalados nos esquemas de anotaccedilatildeo

apresentados Na coluna da esquerda listo os valores modais utilizados na tradiccedilatildeo linguiacutestica

(cf PALMER 2001) e na coluna da esquerda os valores correspondentes encontrados nos

esquemas aqui apresentados e seus respectivos autores

153

Valores modais

tradiccedilatildeo linguiacutestica esquemas de anotaccedilatildeo

Epistemic factuality (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010)

actuality (MATSUYOSHI et al 2010)

evidentiality (SAURIacute et al 2006)

assertion (MATSUYOSHI et al 2010)

transition of certainty (MATSUYOSHI e al 2010)

degrees of possibility (SAURIacute et al 2006)

potential (NIREMBURG McSHANE 2008)

belief (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010 NIREMBURG

McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

interrogative (MATSUYOSHI et al 2010)

evaluation (HENDRICKX et al 2012b NIREMBURG McSHANE

2008)

Deontic modality command (SAURIacute et al 2006)

requirement (BAKER et al 2010)

imperative (MATSUYOSHI et al 2010)

obligative (NIREMBURG McSHANE 2008)

permissive (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

permission (MATSUYOSHI et al 2010)

Dynamic modality

Participant-internal modality

ability (BAKER et al 2010)

success (BAKER et al 2010)

epiteuctic (NIREMBURG McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

volition (MATSUYOSHI et al 2010 McSHANE amp NIREMBURG

2008 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG McSHANE 2008)

expectation (SAURIacute et al 2006)

want (BAKER et al 2010)

wish (MATSUYOSHI et al 2010)

intention (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

attempting (SAURIacute et al 2006)

effort (BAKER et al 2010 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG

McSHANE 2008)

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo

154

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs (CUI

CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000 v capiacutetulo 3 seccedilatildeo 31) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez

que natildeo centra a sua anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no

domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento a metodologia empregada para a anotaccedilatildeo no que

diz respeito agrave preparaccedilatildeo dos textos o corpus utilizado e a ferramenta para anotaccedilatildeo mdash o

software livre MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais

e os elementos a serem anotados a marcaccedilatildeo da polaridade aplicada ao elemento Trigger

exemplos de anotaccedilatildeo os resultados e finalmente algumas consideraccedilotildees sobre o processo

de anotaccedilatildeo

531 Metodologia

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

Abaixo na Figura 51 um exemplo da tela principal do programa que se refere a um

dos arquivos anotados (bfamcvo4) deste projeto de anotaccedilatildeo de modalidade no corpus C-

ORAL-BRASIL

155

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2

Na tela as linhas azuis satildeo as sequecircncias que contecircm os elementos anotados (trigger

target source of the modality source of the event)113

Em amarelo temos marcado um dos

componentes anotados (no caso o trigger) em cinza os outros elementos da sequecircncia modal

e por uacuteltimo em verde os links entre os elementos que compotildeem um set modal

Segundo Muumlller e Strube (2006) satildeo cinco os passos cruciais de um projeto de

anotaccedilatildeo o que chamam de ―ciclo de vida da anotaccedilatildeo a saber

(i) preparaccedilatildeo do corpus

(ii) definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotaccedilatildeo

(iii) manual de anotaccedilatildeo

(iv) checagem da viabilidade da anotaccedilatildeo

(v) utilizaccedilatildeo da anotaccedilatildeo completa

Apresento nas proacuteximas seccedilotildees alguns passos do ciclo de vida do projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

113

Estes elementos seratildeo descritos em detalhes nas seccedilotildees subsequumlentes deste capiacutetulo

156

5312 A preparaccedilatildeo dos textos

Para fins de preacute-processamento e utilizaccedilatildeo do software MMAX2 foi necessaacuteria a

limpeza dos arquivos em extensatildeo ―txt Os elementos a serem eliminados foram detectados

atraveacutes da proacutepria ferramenta de busca do editor de texto e os textos foram limpos

manualmente O corpus C-ORAL-BRASIL eacute transcrito segundo o sistema CHAT

(MAcWHINNEY 2000) que fornece um formato padronizado para produzir transcriccedilotildees

computadorizadas de interaccedilotildees conversacionais face a face implementado para a anotaccedilatildeo

prosoacutedica (MONEGLIA CRESTI 1997) e eacute segmentado em enunciados e unidades tonais

Algumas das convenccedilotildees da segmentaccedilatildeo prosoacutedica e tambeacutem notaccedilotildees da transcriccedilatildeo

tiveram que ser removidas tais como interrupccedilotildees retractings sobreposiccedilotildees fragmentos

fonoloacutegicos nuacutemeros de enunciados e os asteriscos que precedem os nomes de cada

participante Abaixo segue um resumo dos elementos eliminados

(a) nuacutemeros dos enunciados [xxx] os arquivos satildeo transcritos por enunciados e a cada

enunciado corresponde um nuacutemero

Ex LUA [72] taacute parecendo aqueas histoacuteria daquele livro que cecirc tava contando

=COM=$

(b) asterisco () o asterisco indica a ―linha principal isto eacute a linha que codifica um

uacutenico enunciado produzido por um determinado falante Este sinal antecede o

coacutedigo em trecircs letras maiuacutesculas que indicam o participante produtor daquele

enunciado

Ex CES [104] uhn =PHA= tocirc achando que natildeo =COM=$

(c) ampersand ou e-comercial (amp) este siacutembolo eacute usado para indicar que o material

seguinte eacute apenas um fragmento fonoloacutegico ou um pedaccedilo de palavra Esta forma

de notaccedilatildeo eacute usada quando o falante gagueja ou para de falar antes de completar

uma palavra reconheciacutevel (falsos comeccedilos)

Ex ANE [224] amphe =TMT= essa localizaccedilatildeo aqui eu nũ acho ruim =COM=$

157

(d) anguladores (lt gt) sinalizam que o material locutivo de um falante em um

determinado turno contido entre os anguladores estaacute sendo produzido ao mesmo

tempo que o material angulado do seu interlocutor no turno seguinte

Ex ANE [298] ltagraves vezesgt [2]=EMP= agraves vezes fica ltgentegt =COM=$

CES [299] ltpode entrargt =COM=$

(e) sinal de adiccedilatildeo (+) indica uma interrupccedilatildeo seja por tomada de turno pelo

interlocutor ou por decisatildeo do proacuteprio falante

Ex [99] entatildeo =INP= eu =TOP= eu sei =COB= Mara =ALL= que =DCT= ela me

tirou =i-COB= assim + =PAR=$

(f) [n] indica retracting O numeral ―n ao lado da barra indica o nuacutemero de palavras

envolvidas no retracting e canceladas pelo falante Eacute usado quando o falante

comeccedila a dizer alguma coisa para repete o sintagma baacutesico muda a sintaxe mas

manteacutem a mesma ideia pode envolver tambeacutem a completa reformulaccedilatildeo da

mensagem sem quaisquer correccedilotildees especiacuteficas ou ainda indicar que o falante

comeccedilou a dizer alguma coisa parou e repetiu o material anterior sem qualquer

mudanccedila

Ex [147] essa histoacuteria ampde [1]=SCA= da menina =TOP= eu tenho certeza que e

nũ te conta natildeo =COM=$

Apresento abaixo em (a) um exemplo de enunciado antes da limpeza com alguns dos

elementos eliminados e a seguir em (b) o resultado da limpeza deste mesmo enunciado114

(a) JOR [17] e aiacute =TOP= eu consegui =i-COB= amphe =TMP= com a experiecircncia

que eu tinha dentro da multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e ampf [1]=SCA=

isso me facilitou e eu passei pra aacuterea comercial da empresa pra vender =COB_s=

disjuntores =CMB= transformadores =CMB= motores de =INT= corrente

contiacutenua =CMB= corrente alternada =CMB= isoladores =CMB= e =TXC=

releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria =CMB= e assim foi iniciando a minha vida

comercial =COM

(b) JOR e aiacute eu consegui he com a experiecircncia que eu tinha dentro da

multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e f isso me facilitou e eu passei pra aacuterea

comercial da empresa pra vender disjuntores transformadores motores de

corrente contiacutenua corrente alternada isoladores e releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria

e assim foi iniciando a minha vida comercial

114

As unidades informacionais jaacute natildeo constavam na versatildeo dos arquivos de texto utilizada para o preacute-

processamento

158

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar

(a) Os markables (marcadores)

Um markable eacute o componente baacutesico de anotaccedilatildeo no MMAX2 Eacute uma porccedilatildeo de texto

que eacute marcada normalmente uma sequecircncia de texto ou partes descontiacutenuas de um texto

Estes marcadores podem se expandir em diferentes sentenccedilas podem se sobrepor

podem corresponder a exatamente a mesma porccedilatildeo de texto e podem estar anotados em

descontinuidade isto eacute duas partes do texto podem estar divididas e serem anotadas como um

uacutenico marcador

Em nosso projeto defino quatro tipos de markables os quais descreverei em detalhes

mais adiante que satildeo o trigger o target a source of the event mention e a source of the

modality Estes componentes em conjunto formam um ―set modal Os componentes trigger

e target possuem traccedilos que os distinguem O primeiro carrega os traccedilos modal_value

polarity information unit e comment o segundo os traccedilos information unit (ie a unidade

informacional em que o componente estaacute contido) e polarity

Para a criaccedilatildeo de um ―set modal eacute necessaacuterio em primeiro lugar criar cada um dos

markables e em seguida estabelecer os links entre eles Para a criaccedilatildeo dos markables (Figura

52) arraste com o mouse sobre o elemento que se deseja marcar clique com o botatildeo

direito sobre o texto selecionado selecione ―Create Markable at level bdquomodal‟ por uacuteltimo

na caixa de anotaccedilatildeo faccedila a escolha dos atributos apropriados para cada markable

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable

159

Os passos para estabelecer os links entre os markables satildeo os seguintes (Figuras 53 e

54) clique sobre o componente marcado como o trigger que ganha destaque em amarelo

em seguida clique com o botatildeo direito sobre um dos componentes por exemplo a source of

the modality e selecione ―Mark as link Repita o mesmo procedimento para os outros

componentes Uma linha verde vai surgir entre os markables e o set modal estaacute constituiacutedo

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido

160

No campo ―modal_class da caixa de anotaccedilatildeo (Figura 55) apareceraacute ―set_x em que

―x corresponde ao nuacutemero do set criado

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal

No caso de haver uma mesma sequecircncia de texto com dois ou mais papeacuteis diferentes

isto eacute uma sequecircncia de texto correspondente a dois ou mais markables basta proceder da

forma indicada acima Para selecionar os links apropriados clique em cada uma das porccedilotildees

de texto disponiacuteveis para criar o set modal

(b) Regras baacutesicas de anotaccedilatildeo

(b1) Criar como explicitado acima para um novo markable ser criado (Figura 52) eacute

necessaacuterio selecionar uma porccedilatildeo de texto arrastando o mouse com o botatildeo esquerdo e

clicando com o botatildeo direito na seleccedilatildeo Outros elementos natildeo devem estar selecionados do

contraacuterio este material seraacute adicionado ao markable em amarelo

(b2) Remover um link pode ser removido (Figura 56) primeiro selecionando o componente

com o botatildeo esquerdo do mouse depois com o botatildeo direito sobre a seleccedilatildeo escolher

―Unmark as link

161

Figura 56 - Remover o link

(b3) Apagar para apagar completamente um markable (Figura 57) basta clicar em cima do

elemento a ser apagado O elemento natildeo pode estar em amarelo

Figura 57 - Apagar um markable

(b4) Markable descontiacutenuo a partir de um markable existente eacute possiacutevel adicionar a ele uma

porccedilatildeo de texto natildeo-contiacutenua Eacute necessaacuterio clicar sobre o markable criado que fica em

amarelo entatildeo selecionar com o botatildeo esquerdo a segunda porccedilatildeo de texto a ser adicionada

(Figura 58) clicar com o botatildeo direito sobre esta seleccedilatildeo e escolher ―Add to this markable

Para o caso de toda a porccedilatildeo de texto adicionada ser removida ou apenas parte dela (Figura

162

59) basta selecionar o elemento que deseja desvincular do markable clicar com o botatildeo

direito em cima dele e escolher ―Remove from this markable

Figura 58 - Adicionar uma sequecircncia ao markable

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable

(c) Interface visual do MMAX2 e configuraccedilotildees baacutesicas iniciais

O MMAX2 possui uma apresentaccedilatildeo visual bastante amigaacutevel e algumas

configuraccedilotildees baacutesicas devem ser aplicadas para se iniciar a tarefa de anotaccedilatildeo Ao carregar o

software (―mmaxbat) vatildeo surgir quatro caixas na tela (a) uma diz respeito ao que estaacute

sendo rodado no sistema (b) a caixa de anotaccedilatildeo dos valores e atributos dos markables (c) a

tela principal com o texto a ser anotado e (d) o painel de controle do niacutevel do markable

163

Tambeacutem surgiraacute uma janela em ―pop-up perguntando se o anotador deseja validar as

anotaccedilotildees

Abaixo apresento instantacircneos das quatro principais telas a serem configuradas como e

quando necessaacuterio pelos anotadores

(a1) Snapshot da tela de anotaccedilatildeo dos valores e atributos

Figura 510- Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos

Nesta tela em ―Settings selecione ―Auto-apply on para evitar a accedilatildeo de ―Apply a

cada modificaccedilatildeo Quando os campos ―comment ou ―polarity_cue forem modificados o

―Apply deve ser feito manualmente

(a2) Snapshot da tela principal de anotaccedilatildeo

Figura 511 - Tela principal de anotaccedilatildeo

164

No caso de os anotadores considerarem o espaccedilamento entre as linhas de anotaccedilatildeo

pequeno eacute possiacutevel utilizar a opccedilatildeo ―Font gt ―Line spacing para a configuraccedilatildeo desejada

Na parte esquerda superior desta tela no menu ―File haacute a opccedilatildeo ―Auto-save onde o

intervalo para salvar as modificaccedilotildees realizadas pode ser controlado O ideal eacute configuraacute-lo

para 5 ou 10 minutos

(a3) Snapshot do painel de controle do niacutevel do markable

Figura 512 - Painel de controle

Nesta caixa temos dois niacuteveis ―modal e ―sentence Este uacuteltimo niacutevel deve estar

configurado como ―visible e natildeo ―active uma vez que nenhuma anotaccedilatildeo no niacutevel da

sentenccedila seraacute realizada

(a4) Snapshot da tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

Figura 513 - Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

O anotador deve clicar em ―Do not validate nesta fase inicial

165

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML

No MMAX2 qualquer tipo de anotaccedilatildeo pode ser representada pela associaccedilatildeo de

elementos individuais com atributos e pela conexatildeo dos vaacuterios markables por meio de

relaccedilotildees (MUumlLLER STRUBE 2006 p 202) Abaixo apresento os atributos e as relaccedilotildees

definidos no esquema de anotaccedilatildeo de modalidade para a fala espontacircnea em sua versatildeo XML

No primeiro niacutevel estaacute definido o atributo Type e os seus respectivos valores (none

target1 target_dependent trigger source of the event source of the modality) que

apareceram como ―nominal_buttons (bototildees nominais) A cada valor corresponde um

conjunto de propriedades e estas dependecircncias satildeo expressas pelo atributo ―next Isso

significa que ao ser selecionado um determinado valor o seu conjunto de propriedades estaraacute

disponiacutevel Para o target1 temos as propriedades ―polaridade e ―unidade informacional

para o trigger as propriedades ―valor modal ―polaridade ―iacutendice de polaridade e ―unidade

informacional

ltxml version=10 encoding=ISO-8859-1gt

ltannotationschemegt

ltattribute id=level_type name=Type type=nominal_button text=Choose type of expressiongt

ltvalue id=value_type_none name=nonegt

ltvalue id=value_type_target1 name=target1 next=level_polarity_target1level_info_unit_target1gt

ltvalue id=value_type_target_dependent name=target_dep next=level_polarity_target_dependent

level_info_unit_target_dependentgt

ltvalue id=value_type_trigger name=trigger next=level_modal_valuelevel_polarity level_polarity_cue

level_info_unit_triggergt

ltvalue id=value_type_source_modality name=source_modalitygt

ltvalue id=value_type_event name=source_eventgt

ltattributegt

No segundo niacutevel estaacute definido o atributo ―valor modal e seus respectivos valores

em uma lista nominal

ltattribute id=level_modal_value name=modal_value type=nominal_list text=gt

ltvalue id=value_modal_value_none name=nonegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_knowledge name=epistemic_knowledgegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_belief name=epistemic_beliefgt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_possibility name=epistemic_possibilitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_probability name=epistemic_probabilitygt

166

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_necessity name=epistemic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_verification name=epistemic_verificationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_necessity name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_permission name=deontic_permissiongt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_obligation name=deontic_obligationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_prohibition name=deontic_prohibitiongt

ltvalue id=value_modal_deontic_restriction name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_volition name=dynamic_volitiongt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_ability name=dynamic_abilitygt

ltattributegt

No terceiro quarto quinto e sexto niacuteveis estatildeo definidos os atributos ―polaridade do

trigger ―polaridade do target1 ―polaridade do target_dependent com os valores

―positivo e ―negativo (em bototildees nominais) e o ―iacutendice de polaridade o qual eacute um atributo

―freetext

ltattribute id=level_polarity name=polarity type=nominal_button text=Choose the polarity of the

triggergt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target1 name=polarity_target1 type=nominal_button text=Choose the

polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target_dependent name=polarity_target_dep type=nominal_button

text=Choose the polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_cue type=freetext name=polarity_cuegt

ltvalue id=value_polarity_cue name=polarity_cuegt

ltattributegt

167

Os seacutetimo oitavo e nono niacuteveis definem os atributos para a ―unidade informacional do

trigger a ―unidade informacional do target1 e a ―unidade informacional do

target_dependent em bototildees nominais

ltattribute id=level_info_unit_trigger type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target1 type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target_dependent type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

O deacutecimo niacutevel descreve o atributo ―modal_class que define o set modal e suas

propriedades

168

ltattribute id=level_modalclass name=modal_class color=green width=2 type=markable_set

add_to_markableset_text=Mark as link style=lcurve remove_from_markableset_text=Unmark as link

adopt_into_markableset_text=Move this into current modal set merge_into_markableset_text=Merge both

modal sets into onegt

ltvalue id=value_modalclass name=modal_classgt

ltattributegt

O uacuteltimo niacutevel define o atributo ―comment do tipo ―freetext

ltattribute id=level_comment type=freetext name=commentgt

ltvalue id=value_comment name=commentgt

ltattributegt

ltannotationschemegt

532 Escolha dos valores modais

Este trabalho como explicitado anteriormente na parte teoacuterica filia-se agrave tradiccedilatildeo

linguiacutestica sobre modalidade que apresenta a depender da orientaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica

diferentes tipologias para o estudo dos modais O repertoacuterio de significados modais estaacute longe

de ser estaacutevel entre as liacutenguas no entanto observamos que haacute consenso entre todas as

abordagens em relaccedilatildeo ao significado epistecircmico e o que as difere satildeo as nuances nos

significados natildeo-epistecircmicos (cf seccedilatildeo 23 do capiacutetulo 2)

Retomo brevemente aqui os valores modais que seratildeo utilizados para fins de anotaccedilatildeo

a saber os valores epistecircmico deocircntico e dinacircmico115

Para o estabelecimento dos subvalores

de cada tipo de modalidade partiu-se da definiccedilatildeo de modalidade discutida neste trabalho e

dos valores apresentados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo como descrito na seccedilatildeo 52 deste

capiacutetulo aleacutem de os proacuteprios dados analisados revelarem pelo contexto sutilezas de

interpretaccedilatildeo que aqui foram consideradas

115

Os termos que se referem ao esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a saber os valores e subvalores modais o

iacutendice modal disparador a expressatildeo no escopo do item modal e a fonte (do evento e da modalidade) seratildeo

mantidos em liacutengua inglesa uma vez que no domiacutenio da anotaccedilatildeo semacircntica eacute consenso o uso do inglecircs nos

sistemas de anotaccedilatildeo Desta forma quando necessaacuterio seraacute apresentada em nota de peacute de paacutegina uma legenda

com a traduccedilatildeo dos roacutetulos para o portuguecircs e das suas definiccedilotildees

169

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (51) (52) (53) e (54)

(51) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(52) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ

posso esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(53) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(54) REN [223] oito =COM=$ [224] mas olha o preccedilo =COM=$ [225] quatorze

e oitenta-e-nove =COM=$ [226] esse daqui eacute quatro e noventa-e-oito

=COM=$

FLA [227] eacute =COM=$ [228] oh =COM=$ [229] natildeo =CMM= mas aiacute tem

[2]=SCA= aqui tem o [1]=SCA= lto dobrogt =CMM=$

REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$

(bfamdl01)

Em (51) o falante ―LAU descreve uma situaccedilatildeo que eacute apresentada como uma crenccedila

ou opiniatildeo com nenhum (ou baixo) grau de certeza O exemplo seguinte (52) dada

determinada evidecircncia ―BAL apresenta a impossibilidade (―nũ posso) de que ―esperar

crescer dentro disso seja o caso O verbo ―dever em (53) carrega o significado de que a

partir de um conhecimento preacutevio sobre ―es chega-se agrave conclusatildeo de que eacute provaacutevel que um

grupo (―es) critique uma determinada situaccedilatildeo em outras palavras o exemplo expressa um

julgamento epistecircmico da probabilidade de uma determinada situaccedilatildeo ocorrer No excerto em

(54) os participantes comparam o preccedilo de dois produtos A participante ―REN chega

entatildeo agrave conclusatildeo de que haacute a necessidade (disparada pelo semimodal ―ter que) do preccedilo do

produto ser ―uns dez reais para que fosse coerente a quantidade do produto com o seu preccedilo

Para este tipo foram identificados seis subvalores conhecimento crenccedila

possibilidade probabilidade necessidade e verificaccedilatildeo Segundo Palmer (2001 p 24)

existem trecircs tipos de julgamento epistecircmico possiacuteveis o especulativo (que expressa

incerteza) o dedutivo (que expressa uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia) e o

assumptivo (que indica uma inferecircncia no senso comum) Assim os subvalores que seratildeo

descritos abaixo foram definidos a partir destes trecircs tipos de julgamento

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

170

(55) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(56) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(57) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(58) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta

=COM= neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(59) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(510) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$

(bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(511) e (512) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(511) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(512) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

171

Na ocorrecircncia em (511) o falante impotildee a obrigaccedilatildeo ao sujeito ―cecirc de ―ir chique a

um determinado evento Jaacute em (512) excerto de um diaacutelogo em que um participante daacute

instruccedilotildees para uma outra pessoa de como utilizar um equipamento eacute o falante ―BAL que

garante a permissatildeo para que o sujeito da sentenccedila ―cecirc esteja autorizado a realizar uma

determinada accedilatildeo no caso ―deixar o cabo bater no chatildeo

Como subvalores os deocircnticos abrangem obrigaccedilatildeo permissatildeo proibiccedilatildeo e

necessidade Apesar de a literatura sobre os deocircnticos normalmente classificarem tais modais

como uma necessidade que gera uma obrigaccedilatildeo (imposta pelo falante ou por uma autoridade

mas tambeacutem uma mera obrigaccedilatildeo a ser cumprida por um conceptualizador) ou uma

permissatildeo a partir dos dados em contexto foram identificados significados que sugeriam

proibiccedilatildeo (uma permissatildeo mais fortemente negada) e necessidade (pessoal ou de um grupo)

que natildeo gera necessariamente uma obrigaccedilatildeo ou permissatildeo Estes subvalores estatildeo descritos

abaixo

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(513) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(514) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(515) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(516) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

172

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em

(517) (518) e (519)

(517) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(518) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(519) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um

lugar =COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

No exemplo (517) o verbo ―conseguir se refere agrave capacidade do experienciador de

realizar uma atividade no caso a capacidade de ―ser pior dentre os participantes de um

grupo expressa pelo falante ―BRU Em (518) o mesmo verbo indica que o falante expressa

a falta de habilidade (generalizada) de um conjunto de pessoas (marcado pelo uso impessoal

do pronome ―vocecirc) de cumprir uma determinada tarefa (―usar o celular) Por uacuteltimo em

(519) ―GIL reporta a necessidade de se consultar um grupo para que expressem sua

vontade A perspectiva levada em conta aqui eacute a do endereccedilado ―cecircs

O tipo dinacircmico expressa dois subvalores habilidadecapacidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo

Palmer (2001 p 76) define duas categorias para a modalidade dinacircmica habilitativo e

volitivo De acordo com Palmer (2001 p 10) a categoria da habilidade ―tem que ser

interpretada mais amplamente do que em termos dos poderes fiacutesico e mental dos sujeitos para

incluir circunstacircncias que imediatamente os afetam (mas natildeo claro a permissatildeo

deocircntica)116

Abaixo a descriccedilatildeo de cada um dos subvalores

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(520) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute

de ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

116

No original ―has to be interpreted rather more widely than in terms of the subjectlsquos physical and mental

powers to include circumstances that immediately affect them (but not of course deontic permission

(PALMER 2001 p 10)

173

(521) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(522) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na tabela abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

174

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados

5331 Triggers

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

modais os verbos epistecircmicos os adveacuterbios modais as expressotildees adjetivas as expressotildees

lexicais que carregam modalidade Para este esquema que proponho seratildeo anotados apenas os

iacutendices lexicais deixando de lado por ora os gramaticais

Como descrito no capiacutetulo 3 deste trabalho os iacutendices modais mais frequentes satildeo os

verbos auxiliares e semi-auxiliares (―poder ―dever ―ter que ―parecer ―precisar ―dar

―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar) bem como os verbos de crenccedila ou

espietecircmicos (―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar) verbos de

conhecimento e compreensatildeo (―saber ―ver ―perceber) Na nossa amostra ainda

encontramos os seguintes types para os adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente

―com certeza ―exatamente ―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio

―potencialmente ―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves

vezes e para os adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―claro ―eacute claro ―eacute

loacutegico ―eacute verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade Ainda as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute

que ―tem certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

Para fins de anotaccedilatildeo levo em conta aqui apenas os iacutendices lexicais Natildeo seratildeo

anotados os marcadores morfoloacutegicos e gramaticais nem os itens que expressam

evidencialidade (cf definiccedilatildeo no capiacutetulo 2 desta tese) Desta forma natildeo estatildeo codificados os

marcadores de futuro perifraacutestico futuro do presente futuro do preteacuterito (com significado

condicional) o subjuntivo e as construccedilotildees condicionais117

A partir de agora apresento as regras para anotaccedilatildeo do trigger

117

Avalio que para a anotaccedilatildeo das construccedilotildees condicionais do tipo factual e contrafactual por exemplo um

sistema de anotaccedilatildeo deveria levar em conta natildeo apenas a sua epistemicidade mas tambeacutem um conjunto de

valores distintivos da factualidade dos eventos nos moldes do FactBank (cf SAURIacute PUSTEJOVSKY 2009)

que definem a factualidade de um evento como ―o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa o comprometimento de

fontes relevantes em relaccedilatildeo agrave natureza factual de eventos mencionados no discurso (SAURIacute PUSTEJOVSKY

2009 p 231) O termo evento eacute tratado em termos amplos para designar tanto processos como estados bem

como outros objetos abstratos como proposiccedilotildees fatos e possibilidades Adicionar uma segunda camada de

anotaccedilatildeo de factualidade para a interpretaccedilatildeo de eventos eacute um dos objetivos para trabalhos futuros

175

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(523) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(524) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(525) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(526) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(527) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(528) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser porque eacute parte do predicado nominal Apenas os adjetivos

com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos118

118

O esquema de anotaccedilatildeo para o portuguecircs europeu considera o valor ―Evaluation definido como ―[t]he

speaker expresses his or someone elselsquos evaluation of facts and propositions (HENDRICKX et al 2012a)

176

(529) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(530) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo inclusive se for o caso o verbo

suporte

(531) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade

de umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(532) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ eu tive certeza absoluta que

eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas119

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(533) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(534) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi

[1]=EMP= foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(535) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

119

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

177

(536) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

(537) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como120

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(538) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(539) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades121

120

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas Como proceder agrave anotaccedilatildeo de sequecircncias

descontiacutenuas com o software MMAX2 ver a seccedilatildeo 5313 deste capiacutetulo item (b4) 121

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

178

(540) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

(541) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(542) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(543) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(b) polaridade (polarity‟)

(c) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(d) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

179

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

agindo sobre o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext isto eacute um campo em que se

pode digitar qualquer informaccedilatildeo desejada neste caso identificar a palavra ou palavras que

expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)122

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)123

uma plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente composta de

(i) um corpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 124735

palavras e 74 sessotildees gravadas

(ii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 32589

palavras e 20 sessotildees para comparaccedilatildeo interlinguiacutestica com o minicorpus

brasileiro

(iii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-BRASIL com 31464 palavras

e 20 sessotildees

Os arquivos estatildeo divididos por enunciados e para cada enunciado aleacutem da

transcriccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis o arquivo de som a anotaccedilatildeo da estrutura informacional e a

anotaccedilatildeo de PoS

122

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 123

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013

180

5332 Sources

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila124

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459) Vaacuterios estudos levam em consideraccedilatildeo este componente em suas anaacutelises tais

como Bethard et al (2004) Breck amp Cardie (2004) Choi et al (2005) Wiebe et al (2005)

Rubin et al (2005) Prasad et al (2007) Sauriacute e Pustejovsky (2007) Inui et al (2008) Baker

et al (2010) Wiebe et al (2005) em seu trabalho sobre a anotaccedilatildeo de opiniotildees emoccedilotildees e

outros estados privados consideram a source do evento de fala isto eacute o falante ou escritor a

source do estado privado isto eacute a source cujo estado privado estaacute sendo expresso e apontam

o aninhamento de sources uma propriedade que reflete o fato de que eventos e estados

privados podem estar encaixados um no outro

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitor a julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila125

O esquema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICX et al 2012a 2012b)

anota a source of the event mention (o falante ou o produtor do evento) e a source of the

modality (a quem a modalidade eacute atribuiacuteda) Segundo os autores a decisatildeo de anotar duas

sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e aquele

que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes

mas natildeo necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de

180 contos por mecircs para a manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os

portugueses eacute a entidade com a necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O

produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se que eacute o produtor da sentenccedila

Inspirada neste uacuteltimo trabalho e ciente dos diferentes niacuteveis de concepualizaccedilatildeo na

expressatildeo da modalidade utilizo as mesmas categorias para o esquema proposto aqui

53321 Source of the event mention

A source of the event mention eacute o produtor do evento

124

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 125

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

181

A O produtor eacute normalmente o falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

B A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(544) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(545) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(546) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP= ele

=TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

53322 Source of the modality

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade

As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

182

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

que expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo

sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade

O conceptualizador que apresenta o material enunciado

como uma necessidade baseado em conhecimento

anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a

um estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado

ou obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo

a fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou

a necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(547) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

183

(548) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(549) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(550) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(551) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

184

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(552) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(553) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(554) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

HEL [89] ltham hamgt =COM=$ [90] a pessoa ampfa +=COM=$

LUC [91] lteacutegt =COM=$

HEL [92] ltahgt =COM=$

LUC [93] lteacutegt =COM=$

HEL [94] pessoa faz que natildeo =COM=$

LUC [95] eacute =COM=$

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

LUC [98] ltxxxgt =UNC=$

BRU [99] ltmas aiacute =TOP= agt gente escolhe =SCA= qual =COM=$ [100]

o laranja =CMM= ou o amarelo =CMM=$

HEL [101] lttaacutegt $

(bfamcv04)

185

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(555) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(556) GIL [54] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

5333 Targets

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo126

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

126

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

186

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(557) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(558) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(559) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(560) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

187

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(561) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(562) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(563) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

188

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo e negaccedilatildeo posposta simples natildeo incluir a segunda partiacutecula de

negaccedilatildeo no target

(564) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting127

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(565) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui

orsquo =COM=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(566) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd

[1]=EMP= desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

127

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza das barras invertidas e colchetes sinais

indicativos de retractings o material linguiacutestico que fica como vestiacutegio eacute reconhecido pela repeticcedilatildeo de chunks

eou mudanccedila de planejamento

189

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(567) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(568) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$

(bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

190

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena128

(569) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target_dep quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(570) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

128

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

191

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente A linguagem natural possui muitos recursos e a anotaccedilatildeo linguiacutestica tem como

funccedilatildeo permitir a melhor compreensatildeo da linguagem natural pela maacutequina A maacutequina natildeo

dispotildee dos recursos do humano para a interaccedilatildeo acional da linguagem dessa forma satildeo

necessaacuterias categorias que a ajudem a recuperar a referencialidade da linguagem natural

Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou correferecircncias para o

qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(571) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

192

Nesta ocorrecircncia em (571) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo

esclarecendo e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos

participantes LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos

precisar a expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que

poderia ser qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)129

e anota-se a expressatildeo

afetada contida na unidade informacional subsequente e seu valor

(572) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(573) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc

=CMB130

= se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

129

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18) 130

O CMB eacute uma categoria a ser revisada e estaacute sendo considerada como COB

193

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(a) polaridade (polarity‟)

(b) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(c) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(574) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(575) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(576) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

194

(d) epistemic_probability

(577) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(578) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(579) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

195

(g) deontic_obligation

(580) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(581) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA=

desmanchar tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(582) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(583) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

196

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(584) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(585) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

197

534 Polaridade

O traccedilo da polaridade como explicitado nas seccedilotildees sobre os componentes trigger e o

target eacute marcado para o trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o

valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(586) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(587) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

198

54 Resultados

Em nossa amostra encontramos 1088 marcadores modais (lexicais e gramaticais

excluiacutedas as condicionais e as construccedilotildees de subjuntivo) e destes foram anotados 781

triggers A Tabela 56 mostra a distribuiccedilatildeo dos valores modais e respectivos subvalores no

minicorpus

Valores Subvalores Freq

Epistecircmicos 506 647

conhecimento 108 213

crenccedila 223 44

possibilidade 122 241

probabilidade 24 47

necessidade 10 19

verificaccedilatildeo 19 37

Deocircnticos 189

obrigaccedilatildeo 96 508

permissatildeo 70 37

proibiccedilatildeo 6 32

necessidade 17 9

Dinacircmicos 86

habilidade 17 198

voliccedilatildeo 69 802

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra

A modalidade epistecircmica eacute o valor mais frequente (647) e o valor ―crenccedila que

compreende os verbos epistecircmicos e adveacuterbios modais eacute o mais numeroso representando

44 de todos os iacutendices epistecircmicos Dentre os itens deocircnticos o seu maior uso eacute o de

―obrigaccedilatildeo metade de todos os itens e a proibiccedilatildeo deocircntica tem o nuacutemero menor de

ocorrecircncias possivelmente por se tratar de uma nuance mais forte da permissatildeo deocircntica

(37 dos deocircnticos) Os casos de voliccedilatildeo correspondem a 802 da modalidade do tipo

dinacircmico e em nuacutemero menor os casos de habilidadecapacidade o que pode confirmar o

caraacuteter menos central desta categoria como jaacute mencionado anteriormente

Os triggers satildeo em um sua maioria verbos modais 815 de todos os iacutendices (65

auxiliares e semi-auxiliares 31 modais epistecircmicos) seguido pelos adveacuterbios (118) Em

nuacutemero bastante menor os adjetivos (28) e expressotildees modais (39)

A source of the event mention eacute normalmente o falante A source of modality coincide

com o falante em 883 das ocorrecircncias mas encontramos diferentes niacuteveis de

199

conceptualizaccedilatildeo envolvendo a perspectiva do endereccedilado ou outra entidade aleacutem da

perspectiva do falante No entanto haacute que se observar que estas perspectivas de

conceptualizadores diferentes da do enunciador satildeo normalmente filtradas pelos olhos do

falante principalmente em relaccedilatildeo ao uso dos verbos de crenccedila confirmando o argumento de

Wiebe e suas colaboradoras (2005 p 9) de que o aninhamento eacute uma propriedade importante

das sources

Quanto aos targets em 791 de todas as ocorrecircncias eles satildeo realizados dentro da

mesma unidade informacional Em onze ocorrecircncias ele natildeo foi marcado sendo que em uma

delas eacute inespeciacutefico (o caso em que poderia ser recuperado apenas se toda a cena estivesse

registrada em imagem) Por fim cinco satildeo os casos em que estatildeo em construccedilotildees

padronizadas (trecircs com unidades de INT contendo o trigger e duas em unidade de COB com

os targets realizados na unidade de Comentaacuterio)

Foram encontradas 108 ocorrecircncias com polaridade negativa do trigger e 27 para o

target disparada em sua maioria pela partiacutecula de negaccedilatildeo ―natildeo (ou em sua forma ―nũ)

541 Acordo entre anotadores

A anotaccedilatildeo dos textos do minicorpus nos termos descritos neste capiacutetulo foi realizada

por apenas um anotador ateacute o momento Entretanto para fins de validaccedilatildeo do esquema e

checagem de sua viabilidade em uma etapa posterior a este trabalho seratildeo realizados testes

com pelo menos mais dois anotadores estudantes de poacutes-graduaccedilatildeo

No primeiro teste um dos anotadores receberaacute um treinamento miacutenimo com diretrizes

gerais da anotaccedilatildeo para a anotaccedilatildeo de 3 textos (um texto de cada tipologia interacional) No

segundo experimento um anotador diferente do primeiro receberaacute instruccedilotildees detalhadas e

procederaacute agrave anotaccedilatildeo dos mesmos textos acompanhando o manual de anotaccedilatildeo Ambas as

anotaccedilotildees seratildeo revisadas pelo anotador original O acordo entre anotadores seraacute computado

utilizando a Estatiacutestica Kappa (COHEN 1960) para todos os componentes da anotaccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei as regras para a anotaccedilatildeo de um subcorpus de 20 textos de

fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Este esquema foi inspirado por outros jaacute elaborados

para a liacutengua inglesa e se aproxima do projeto proposto para o portuguecircs europeu No entanto

diferencia-se deste uacuteltimo pelas opccedilotildees teoacutericas adotadas aqui em termos de valores modais e

fundamentalmente em termos de conceber os targets natildeo como uma proposiccedilatildeo completa

200

mas chuncks linguiacutesticos dado que a modalidade se realiza dentro do escopo da unidade

informacional

Na primeira seccedilatildeo trago os trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica relevantes

para o projeto aqui apresentado e em seguida apresento um quadro resumptivo de quem anota

o quecirc e quais os valores satildeo utilizados por cada um deles Na seccedilatildeo 53 introduzo a proposta

descrevendo a metodologia utilizada (o software de anotaccedilatildeo a preparaccedilatildeo dos textos e regras

baacutesicas de anotaccedilatildeo) para entatildeo explicitar a escolha dos valores e subvalores modais e os

elementos a serem anotados (trigger target sources) e o detalhamento das regras para cada

um Por fim apresento e discuto os resultados aleacutem de mostrar os experimentos a serem

realizados para computar o acordo entre os anotadores

No capiacutetulo seguinte caminho para a conclusatildeo deste trabalho resumindo os

principais pontos discutidos os avanccedilos para o tema da modalidade e o horizonte futuro desta

pesquisa

201

Capiacutetulo 6

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A tiacutetulo de conclusatildeo deste trabalho gostaria de evidenciar alguns pontos centrais

para a discussatildeo do conceito de modalidade a partir de uma anaacutelise baseada em corpus Este

estudo seguiu um fio narrativo por assim dizer que compreende trecircs eixos que estatildeo

intrinsecamente relacionados o primeiro a discussatildeo do conceito de modalidade o segundo

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos itens modais e o terceiro a elaboraccedilatildeo de um esquema de

anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade

No capiacutetulo teoacuterico busquei apresentar e de certa maneira confrontar as diferentes

abordagens para o estudo da categoria da modalidade ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis a

distinccedilatildeo entre realis e irrealis e o caraacuteter subjetivo do fenocircmeno Esta noccedilatildeo eacute apresentada

na literatura linguiacutestica de variadas maneiras Claro estaacute no entanto que seja em uma

interpretaccedilatildeo mais ampla (e vaga) como a de Palmer (2001) que afirma que a modalidade se

preocupa com o estatuto da proposiccedilatildeo que descreve o evento seja em uma mais estrita como

a de van der Auwera e Plungian (1998) que a definem a partir dos domiacutenios da possibilidade

e da necessidade (e excluem outros domiacutenios) natildeo haacute um consenso sobre os limites da

categoria e que tipo de modificaccedilatildeo ela abarca

Coloquei-me portanto as seguintes questotildees de que qualidade eacute a modificaccedilatildeo

definida como modalidade Que criteacuterios para delimitar esta modificaccedilatildeo poderiam ser

propostos Na tentativa de alcanccedilar uma resposta o primeiro passo foi apresentar o seu

avesso ―o que natildeo eacute modalidade ou melhor explicando apresentei as categorias com as

quais a modalidade conversa e dela se diferenciam como a negaccedilatildeo o modo a ilocuccedilatildeo e a

atitude

Alinhando-me agrave proposta de Cresti (2000) e Tucci (2007) para quem a modalidade eacute

inerente a qualquer enunciado e pertence ao niacutevel semacircntico natildeo ao pragmaacutetico e seguindo a

tradiccedilatildeo ballyniana que leva em consideraccedilatildeo a dimensatildeo do enunciado e a noccedilatildeo de

subjetividade propus a modalidade como uma modificaccedilatildeo avaliativa operada por um

sujeito conceptualizador (o falante o endereccedilado ou uma terceira pessoa em cena) que

relativiza o material locutoacuterio enunciado de acordo com o grau de

certezacomprometimento e baseada em noccedilotildees de possibilidade necessidade

capacidade e voliccedilatildeo

202

A delimitaccedilatildeo da categoria pela subjetividade e pela inclusatildeo dos domiacutenios semacircnticos

da possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo levou-nos a uma opccedilatildeo teoacuterico-

metodoloacutegica de estudar o fenocircmeno a partir de uma tipologia jaacute bem definida na literatura e

que estaacute no centro de muitas anaacutelises os significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Esta escolha exclui a modalidade aleacutetica dado que segundo Palmer (1986) natildeo haacute distinccedilatildeo

entre o que eacute logicamente verdadeiro e aquilo que o falante considera como verdadeiro

Completando este raciociacutenio pergunto se a linguagem eacute per se argumentativa isto eacute se

sempre haacute uma perspectiva de um conceptualizador sobre uma determinada cena de que

maneira seria possiacutevel alcanccedilar uma objetividade tal que levaria a uma ―verdade

A seleccedilatildeo dos itens modais portanto foi baseada nos criteacuterios acima mencionados

com lemas que figuram em listas de modais em vaacuterias liacutenguas e outros que emergem por um

vieacutes metafoacuterico como uso especiacutefico da liacutengua portuguesa Como dito faccedilo esta afirmaccedilatildeo

desde os dados pesquisados na variante brasileira jaacute que natildeo possuo informaccedilatildeo suficiente

para generalizar para as outras variantes de Portugal e Aacutefrica

Definida a concepccedilatildeo de modalidade a tipologia a ser utilizada e os pressupostos da

Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) procedi agrave descriccedilatildeo da modalidade em uma

amostra de 20 textos da parte informal do C-ORAL-BRASIL corpus da fala espontacircnea do

portuguecircs brasileiro (especificamente da regiatildeo de Belo Horizonte MG) Este minicorpus

compilado a partir de criteacuterios de ―maacutexima qualidade tenta preservar a estrutura da parte

informal e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica

Esta descriccedilatildeo lanccedilou luz a pontos importantes como

a categoria semacircntica da modalidade se comporta de forma distinta da escrita

na fala espontacircnea uma vez que o seu escopo eacute a unidade informacional que

natildeo necessariamente abriga uma proposiccedilatildeo mas antes chunks linguiacutesticos que

natildeo obedecem aos criteacuterios sintaacuteticos propostos para a anaacutelise da escrita

os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam

puacuteblicas ou privadas

apenas algumas unidades informacionais podem ser modalizadas o

Comentaacuterio incluiacutedos os Comentaacuterios Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados) o

Parenteacutetico (e a Lista de Parenteacuteticos) o Toacutepico (e a Lista de Toacutepicos) e o

Introdutor Locutivo

A unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI

203

o Introdutor Locutivo no portuguecircs brasileiro tambeacutem pode marcar uma

introduccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo epistecircmica

as unidades de Toacutepico e Parenteacutetico abrigam como estrateacutegia preferencial de

modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 respectivamente de

todas as ocorrecircncias do minicorpus

a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de significado com

uma taxa de associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que

a dos tipos deocircntico e dinacircmico (cf MELLO et al 2013)

os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de

modalidade Sua distribuiccedilatildeo estaacute concentrada na unidade informacional de

Comentaacuterio com uma porcentagem de 973 de todas as ocorrecircncias

incluiacutedos o Comentaacuterio Muacuteltiplo o Comentaacuterio Ligado e o Apecircndice de

Comentaacuterio

o verbo ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca tem baixiacutessima ocorrecircncia O espaccedilo em usos de obrigaccedilatildeo

deocircntica tem sido ocupado pelo semimodal ―ter que

os verbos epistecircmicos que sinalizam a opiniatildeo ou grau de comprometimento

de um falante em relaccedilatildeo ao que estaacute enunciado e se organizam sintaticamente

de vaacuterias maneiras possuem funccedilotildees pragmaacuteticas distintas (a) em termos de

estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior e (b) podem ser marcadores de concordacircnciadiscordacircncia o

que indica um (possiacutevel) padratildeo lexical correspondente a um fenocircmeno de

gradiecircncia de iacutendice modal para um marcador discursivo

os itens ―claro e ―oacutebvio apesar de pertencerem formalmente agrave categoria dos

adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos

sem a presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo

as construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em

Ato constituem-se como um desafio uma vez que podem ultrapassar os

limites de um enunciado ou estar completamente acomodada nele dividida ou

natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

204

Por fim nasceu o MASS ndash Modal Annotation in Spontaneous Speech projeto de

anotaccedilatildeo da modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Os desafios para cumprir

esta tarefa foram muitos fundamentalmente relacionados ao fato de que todos os esquemas de

anotaccedilatildeo desenvolvidos ateacute agora satildeo aplicados a textos escritos normalmente a corpora de

textos jornaliacutesticos ou textos biomeacutedicos

Como jaacute visto anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu

reconhecimento automaacutetico inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma

determinada tipologia (por exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a

sua fonte e o seu escopo semacircntico Nosso esquema se inspirou no esquema proposto para o

portuguecircs europeu mas dele se diferencia na medida em que algumas decisotildees cruciais para

a anotaccedilatildeo foram baseadas na moldura teoacuterico-metodoloacutegica da TLA o que significa tomar o

enunciado como unidade analiacutetica de referecircncia e a unidade informacional o campo de

aplicaccedilatildeo da modalidade

Foram anotados 781 itens modais lexicais Como valores modais escolhemos o tipo

epistecircmico com seis subvalores conhecimento crenccedila possibilidade probabilidade

necessidade e verificaccedilatildeo o tipo deocircntico que abriga quatro subvalores obrigaccedilatildeo permissatildeo

proibiccedilatildeo e necessidade e por fim o tipo dinacircmico com dois subvalores habilidade e

voliccedilatildeo Como elementos a serem anotados o trigger a palavra ou sequecircncia de palavras que

carrega(m) a modalidade o target a expressatildeo que estaacute no escopo do trigger dentro da

unidade informacional a source of the modality o conceptualizador e a source of the event o

falante ou produtor

A anotaccedilatildeo foi realizada por um uacutenico anotador ateacute o momento com a ferramenta

(MUumlLLER STRUBE 2006) um software livre para a anotaccedilatildeo em muacuteltiplos niacuteveis valores

e subvalores modais e os elementos a serem anotados (trigger target sources) e o

detalhamento das regras para cada um

O estudo da modalidade como campo profiacutecuo pode inspirar futuras possibilidades e

projetos Tendo em vista que o C-ORAL-BRASIL eacute um corpus construiacutedo com a mesma

arquitetura dos corpora do C-ORAL-ROM eacute possiacutevel propor um estudo comparativo entre a

expressatildeo da modalidade no portuguecircs brasileiro e nas outras quatro liacutenguas romacircnicas que

compotildeem o C-ORAL-ROM Mais imediatamente faz sentido a comparaccedilatildeo com o trabalho

de Ida Tucci (2007) que descreveu a modalidade para a fala espontacircnea do italiano em uma

anaacutelise corpus-based

Uma segunda tarefa premente eacute a aplicaccedilatildeo dos experimentos para a computaccedilatildeo do

acordo entre anotadores o que vai indicar a viabilidade do esquema proposto A porcentagem

205

de itens anotados alcanccedilada na amostra leva-nos a crer na possibilidade tambeacutem de se buscar

algoritmos para o treinamento de maacutequinas para alguns dos iacutendices mais representativos

como os verbos modalizadores

Outras pesquisas sobre a modalidade e a sua relaccedilatildeo com outras categorias como

modo tempo e aspecto podem ser exploradas Assim como pode ser considerada a

possibilidade de inclusatildeo de construccedilotildees avaliativas do tipo ―eacute osso e ser estudada a

relaccedilatildeo entre a modalidade e as ilocuccedilotildees

No que concerne aos trabalhos em anotaccedilatildeo semacircntica como mencionado eacute terreno a

ser semeado e cultivado Trabalhos que envolvam a modalidade e outras categorias como o

foco e trabalhos comparativos por exemplo entre as diamesias oral e escrita e entre os

diferentes projetos propostos para outras liacutenguas

Entendo que o trabalho realizado contribui para uma melhor compreensatildeo da noccedilatildeo

semacircntica de modalidade e sua realizaccedilatildeo na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Aleacutem

disso o esquema de anotaccedilatildeo da modalidade eacute um passo importante e relevante para os

estudos em Processamento em Linguagem Natural e poderaacute contribuir com ferramentas para

anotaccedilatildeo automaacutetica da categoria no que diz respeito a textos falados e por que natildeo sua

ampliaccedilatildeo (e adaptaccedilatildeo) para textos escritos

206

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WILSON Th Fine-grained subjectivity and sentiment analysis recognizing the intensity

polarity and attitudes of private states 2008 PhD thesis University of Pittsburgh

Pittsburgh PA USA 214p

ANEXOS

MASS 10

MANUAL DE ANOTACcedilAtildeO

LUCIANA AacuteVILA

POSLIN ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CENTRO DE LINGUIacuteSTICA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

02 DE JANEIRO DE 2013

SUMAacuteRIO

1INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 1

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip2

21 MODALIDADE 2

22 VALORES MODAIS 2

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip5

31 O SOFTWARE MMAX2 6

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS 6

321 TRIGGERShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip6

322 SOURCES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3221 SOURCE OF THE EVENThelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3222 SOURCE OF THE MODALITY helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip12

33 TARGET helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip15

34 POLARIDADE helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip27

35 REFEREcircNCIAS helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip28

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este manual apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous Speech)

um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES

21 MODALIDADE

A definiccedilatildeo da modalidade estaacute longe de ser consensual Neste projeto defino este

fenocircmeno como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o

que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade obrigaccedilatildeo e permissatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da interaccedilatildeo

(AVILA amp MELLO 2013 AVILA 2014)

22 VALORES MODAIS

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (1) (2) (3) e (4)

(1) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(2) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ posso

esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(3) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(4) REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

(5) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(6) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(7) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(8) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta =COM=

neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(9) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(10) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$ (bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(11) e (12) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(11) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(12) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(13) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(14) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(15) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(16) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em (17)

(18) e (19)

(17) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(18) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(19) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um lugar

=COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(20) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute de

ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

(21) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(22) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na Tabela 1 abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 1 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

3 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 2009 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs

(CUI CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez que natildeo centra a sua

anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento o software livre MMAX2131

(MUumlLLER

STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais e os elementos a serem anotados

(trigger source of the event source of the modality target) e a marcaccedilatildeo da polaridade

aplicada ao elemento trigger

31 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS

321 TRIGGERS

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

131

httpmmax2sourceforgenet

modais os verbos epistecircmicos ou de atitude proposicional os adveacuterbios modais as

expressotildees adjetivas as expressotildees lexicais que carregam modalidade

Os iacutendices modais considerados satildeo

(a) verbos auxiliares e semi-auxiliares ―poder ―dever ―ter que ―parecer

―precisar ―dar ―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar

(b) verbos de crenccedila ―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar

(c) verbos de conhecimento e compreensatildeo ―saber ―ver ―perceber

(d) adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente ―com certeza ―exatamente

―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio ―potencialmente

―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves vezes

―claro

(e) adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―eacute claro ―eacute loacutegico ―eacute

verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade

(f) as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute que ―tem

certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(23) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(24) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(25) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(26) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(27) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(28) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser uma vez que eacute parte do predicado nominal Apenas os

adjetivos com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos

(29) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(30) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger agraves vezes

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo

(31) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade de

umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(32) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ [6]=EMP= eu tive certeza

absoluta que eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas132

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(33) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(34) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi [1]=EMP=

foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(35) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

(36) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

132

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

(37) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como133

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(38) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(39) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades134

(40) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

133

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas 134

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

(41) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(42) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(43) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(e) polaridade (polarity‟)

(f) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(g) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

escopando o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext em que estaacute identificado a

palavra ou palavras que expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)135

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)136

plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente

322 SOURCES

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila137

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459)

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitora julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila138

3221 SOURCE OF THE EVENT MENTION

A source of the event mention eacute o produtor do evento O produtor eacute normalmente o

falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

A A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(44) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

135

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 136

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013 137

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 138

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(45) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(46) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP=

ele =TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

3522 SOURCE OF THE MODALITY

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) que

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua opiniatildeo

sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade O conceptualizador que apresenta o material enunciado como

uma necessidade baseado em conhecimento anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado ou

obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a fazer

algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de uma

outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 2 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(47) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

(48) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(49) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

B1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(50) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(51) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(52) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(53) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(54) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

[]

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

(bfamcv04)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(55) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(56) GIL [64] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

323 TARGETS

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo139

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(57) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

139

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

(58) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(59) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(60) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(61) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(62) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(63) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo natildeo incluir a segunda partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(64) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting140

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(65) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui orsquo

=COM=$ (bfamcv01)

140

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza dos retractings os seus vestiacutegios satildeo

reconhecidos pela repeticcedilatildeo de chunks eou mudanccedila de planejamento

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(66) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(67) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(68) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$ (bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena141

141

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

(69) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(70) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou

correferecircncias para o qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) que poderiam ser recuperados apenas se disponiacuteveis

arquivos de imagem o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(71) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

Nesta ocorrecircncia em (71) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo esclarecendo

e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos participantes

LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos precisar a

expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que poderia ser

qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)142

e com modalidades

tambeacutem distintas e anota-se a expressatildeo afetada contida na unidade informacional

subsequente e seu valor

(72) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

142

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18)

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(73) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc =CMB143

=

se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(d) polaridade (polarity‟)

(e) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(f) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(74) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

143

As unidades de CMB natildeo descritas na literatura correspondem em sua grande maioria agrave unidade de COB e

foram portanto substituiacutedas por ela na anotaccedilatildeo

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(75) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(76) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

(d) epistemic_probability

(77) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(78) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(79) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

(g) deontic_obligation

(80) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(81) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(82) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(83) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(84) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(85) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

33 POLARIDADE

O traccedilo da polaridade como explicitado em seccedilotildees anteriores eacute marcado para o

trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(86) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(87) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

37 REFEREcircNCIAS

AVILA L MELLO H Challenges in modality annotation in a Brazilian Portuguese

spontaneous speech corpus In Proceedings of WAMM-IWCS2013 Potsdam Germany 2013

AVILA L Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus de fala espontacircnea do

Portuguecircs Brasileiro Tese (Doutorado em Estudos Lingiacutesticos) Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais 2014

BAKER K BLOODGOOD M DORR B J FILARDO N W LEVIN L PIATKO C

A modality lexicon and its use in automatic tagging In Proceedings of the Seventh Language

Resources and Evaluation Conference (LREC‟10) Valletta Malta ELRA 2010 p 1402-

1407

BARWISE K J PERRY J Situations and attitudes Cambridge MIT Press 1981

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HENDRICKX I MENDES A MENCARELLI S SALGUEIRO A Modality Annotation

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HENDRICKX I MENDES A MENCARELLI S Modality in Text a Proposal for

Corpus Annotation In Proceedings of the Eighth International Conference on Language

Resources and Evaluation - LREC 2012 Istanbul May 21-27 2012b

HUDDLESTON R PULLUM G The Cambridge Grammar of the English Language

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SAURIacute R PUSTEJOVSKY J FactBank a corpus annotated with event actuality Language

Resources amp Evaluation 43 227ndash268 2009

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS LUCIANA BEATRIZ ... · Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Linha de Pesquisa: Estudos Lingüísticos Baseados Em Corpora

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LlNGuiacuteSTICOS

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Modalidade em perspectiva estudo baseado em corpus oral doportuguecircsbrasileiro

LUCIANA BEATRIZ BASTOS AVILA

Tese submetida agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS como requisito para obtenccedilatildeo do grau de Doutorem ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS aacuterea de concentraccedilatildeo LINGUIacuteSTICA TEOacuteRICA EDESCRITIVA linha de pesquisa Linha G-Estudos Inter-Relaccedilatildeo Linguagem Cogniccedilatildeo e

Aprovada em 30 de abril de 2014 pela banca constituiacuteda pelos membros

~~Prof(a) Heliana Ribeiro de Mello - Orientador

UFMG

C4-vJl c eO~~c~ -

PIJ~a) Giulia Bossaglia lUFMG

PWf(l o A g sto de Souza

~-~OvlProf(a) Lilian Vieira Ferrari

UFRJ

LLa tampirdWv oa 2M-~Prof(a) ~ampariaClaacuteudia de Freitas

PUC-RJ

Belo Horizonte 30 de abril de 2014

agrave memoacuteria do meu pai Joseacute Walter

que me ensinou a assimetria do tempo-espaccedilo

AGRADECIMENTOS

Natildeo se engana quem pensa que um doutorado eacute um osso duro de roer No entanto seria ainda

mais duro se natildeo estiveacutessemos cercados de um sem nuacutemero de pessoas que nos apoiam

encorajam datildeo colo provocam motivam

Agrave Prof Heliana Mello minha orientadora e amiga parceira e cuacutemplice nessa jornada que me

guiou pela matildeo para a terceira margem e se empenhou de forma delicada gentil e generosa

para eu me tornar uma doutora Por sua contribuiccedilatildeo intelectual e por sua compreensatildeo

paciecircncia e carinho desde sempre

Agrave Amaacutelia Mendes que me acolheu em Lisboa em meu periacuteodo de Estaacutegio Doutoral e natildeo

mediu esforccedilos para que me integrasse agrave vida de trabalho no Centro de Linguiacutestica da

Universidade de Lisboa Pela nossa histoacuteria de afeto e ―muita amizade Torcendo por

parcerias futuras

Ao Prof Tommaso Raso e Profordf Liacutelian Ferrari pelos valiosos comentaacuterios em minha sessatildeo

de qualificaccedilatildeo

Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem prontamente o convite para leitura e

discussatildeo deste trabalho

Aos colegas do LEEL grandes companheiros Priscila Adriana e Raiacutessa com quem dividi a

peleja para aprender sobre a modalidade Luiacutes pelas oacutetimas trocas Bruno Rocha Elisa Helocirc

Maryualecirc Andressa Carol Bruna e Bruno Alberto pelos bons momentos passados juntos

Ao Pedro Perini com quem venho construindo um produtivo diaacutelogo sobre linguiacutestica e uma

bela amizade Ao Fred por nossa histoacuteria comprida de carinho

Aos colegas do CLUL Liliana Raiumlssa Aida Sandra Antunes Sandra Pereira Fernando aos

professores Luiacutesa Alice Gabriela e Joatildeo pelos almoccedilos cafeacutes da tarde solzinho na esplanada

e toblerones compartilhados Ao Seacutergio da informaacutetica pelo suporte teacutecnico no meu

momento de desespero quando o programa natildeo rodava Meu agradecimento especial ao

Agostinho que jaacute no primeiro dia de trabalho me ensinou pacientemente a operar o software

de anotaccedilatildeo e me provocou um lindo insight para a soluccedilatildeo de uma questatildeo que me perseguia

Agrave minha matildee Celeste a quem natildeo cabe adjetivos Ela eacute superlativa

Agrave minha famiacutelia porque sim Agrave Clara grande companheira de viagem e a todos os sobrinhos

plenos de sonhos e esperanccedilas

Agrave Fernanda que estava laacute na hora certa

Ao Nando e agrave Angeacutelica amigos obrigatoacuterios nos meus agradecimentos na alegria e na

tristeza na sauacutede e na doenccedila Meu amor sempre

Ao Francisco e agrave Antonieta pela amizade carinho almoccedilos de domingo sabores

maravilhosos e um bom vinho

Ao Eduardo amigo queridiacutessimo pelo apoio incondicional e por tornar a vida mais faacutecil

todos os dias Cafeacute preto sem accediluacutecar fruta picada e CBN

Agrave Isabel Mariana e Laurent pelas portas e braccedilos sempre abertos do lado de caacute e de laacute do

Atlacircntico

Agrave Chris que foi chegando devagarinho e veio pra ficar Risos laacutegrimas conversas matinais

Agrave Corita Evandro e Fernandinho reencontro maravilhoso pelo carinho e a sensaccedilatildeo de

abraccedilo apertado em Viccedilosa

Aos amigos de sempre espalhados pelo mundo Viccedilosa Juiz de Fora Rio Belo Horizonte

Lisboa Ouro Preto Satildeo Paulo Campinas Niteroacutei Nicosia Madrid Paris Genegraveve Basel

Berna Berlim Vocecircs formam o mapa do meu afeto

Ao Nuno tatildeo diferente e tatildeo surpreendente pelo apoio paciecircncia carinho solampmar comida

preparada Vocecirc segurou a minha onda no momento mais barra pesada da vida

Ao Francisco Carlos e agrave Miuacutecha que abriram suas casas para me acolherem Aos

companheiros de casa em Belo Horizonte e Lisboa por me ensinarem a enxergar o outro

Agraves funcionaacuterias que cuidaram de meu pai e cuidam de minha matildee a ajuda de Vocecircs nos cerca

de tranquilidade

Ao Thiago e ao Ronaldo que aleacutem de amigos maravilhosos me ajudaram com abstracts

papers ―uma traduccedilatildeo rapidinha

Ao Prof Kleos pela ajuda com as imagens e a maacutegica da formataccedilatildeo

Aos meus colegas de departamento

Agraves funcionaacuterias da PPG Suely e Margarida pelo apoio na burocracia

Aos funcionaacuterios do PosLin prestativos e soliacutecitos a nossas demandas

Agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) pela bolsa de

estudos concedida para Estaacutegio Doutoral em Portugal no acircmbito do Programa de Doutorado

Sanduiacuteche no Exterior (PDSE) e agrave UFV pela bolsa de estudos no Brasil

A todos os muacutesicos de samba chorinho jazz fado soul reggae rock amp blues A vida eacute mais

leve assim

A todas as pessoas que passaram pela minha vida que natildeo estatildeo aqui nomeadas mas que

certamente deram cor e graccedila a esta minha aventura

ldquoEacute preciso que as pessoas entrem e saiam

Que vivam por toda a parterdquo

(Herberto Heacutelder)

RESUMO

Este estudo trata da descriccedilatildeo da modalidade em um corpus de fala espontacircnea da

variedade mineira do portuguecircs brasileiro Modalidade em uma definiccedilatildeo mais enxuta eacute a

avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o material locutoacuterio que enuncia em

termos do grau de certeza possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo No entanto natildeo

existe consenso sobre a definiccedilatildeo precisa desta categoria por diferentes razotildees (a) a

modalidade eacute campo de estudo para a loacutegica e a linguiacutestica que aplicam para este fim

metodologias diversas (b) a categoria se diferencia e estaacute interrelacionada com outras como

as de tempo aspecto modo (c) esta noccedilatildeo se confunde e se sobrepotildee agraves de ilocuccedilatildeo atitude e

emoccedilatildeo Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato na metodologia da Linguiacutestica

de Corpus e Linguiacutestica Computacional o trabalho tem como objetivo descrever o

comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade e propor um esquema de

anotaccedilatildeo da modalidade para um minicorpus do C-ORAL-BRASIL O C-ORAL-BRASIL eacute

um corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro o quinto braccedilo do C-ORAL-ROM um

corpus comparaacutevel representativo das quatro principais liacutenguas romacircnicas europeias (italiano

espanhol francecircs e portuguecircs) segmentado prosodicamente em enunciados e suas

subunidades informacionais O enunciado eacute a unidade miacutenima de referecircncia pragmaticamente

interpretaacutevel Para fins desta pesquisa utilizo uma amostra da parte informal do corpus C-

ORAL-BRASIL um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias interacionais

divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 6 privados e 1 puacuteblico mdash 7 diaacutelogos mdash 5

privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas Para o tratamento nesta

tese foram selecionados 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046 enunciados codificados

e posteriormente anotados semanticamente atraveacutes do software MMAX2 Apoacutes a anaacutelise

quantitativa e qualitativa podemos concluir que (i) a categoria da modalidade se comporta de

forma distinta da escrita na fala espontacircnea (ii) os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados

em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam puacuteblicas ou privadas (iii) apenas algumas unidades

informacionais podem ser modalizadas Comentaacuterio Parenteacutetico Toacutepico Introdutor

Locutivo (iv) a unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI (v) a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de

significado (vi) os verbos satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de modalidade

Palavras-chave modalidade corpus oral fala espontacircnea anotaccedilatildeo semacircntica portuguecircs

brasileiro

ABSTRACT

This study deals with the description of modality in a corpus of spontaneous Brazilian

Portuguese spoken language more specifically the Minas Gerais variety Modality in a more

concise definition is the evaluation of a conceptualizer which relativizes the uttered locutive

material in terms of degree of certainty possibility necessity capability and volition

However there is no consensus on a precise definition of such category explained by a

number of reasons (a) modality is a field of study for logics and linguistics that utilizes

various methodologies (b) the categories is both differentiated and interrelated to others such

as time aspect mode (c) this notion is mistaken and overlaps those of illocution attitude

and emotion Based on the principles of the Speech Act Theory in Corpus and

Computational Linguistics this work aims at describing the behavior of different modality

markers and proposing a modality annotation scheme for a C-ORAL-BRASIL minicorpus C-

ORAL-BRASIL is a corpus of Brazilian Portuguese spoken language the fifth branch of C-

ORAL-ROM a comparable corpus representative of the four main European Romance

Languages (Italian Spanish French and Portuguese) prosodically segmented in utterances

and their informational sub-units The utterance is the minimal reference unit pragmatically

interpretable To better fit the purposes of this research I utilized the informal part of the C-

ORAL-BRASIL corpus a minicorpus composed of 20 texts of three interactional typologies

divided into private and public 7 monologues ndash 6 private and 1 public ndash 7 dialogues ndash 5

private and 2 public ndash and 6 conversations ndash 4 private and 2 public ones For the treatment in

this thesis 1197 modal indexes distributed in 1046 utterances codified and later on

semantically annotated through the MMAX2 software were utilized After the quantitative

and qualitative analysis we can conclude that (i) the category of modality behaves

distinctively in written and spontaneous oral language (ii) the modal indexes are widely

utilized in dialogic situations be them public or private (iii) only a few informational units

can be modalized Comment Parenthetical Topic Locutive Introducer (iv) the Comment

unit is the most modalized and there is no realization restriction for this IU (v) the epistemic

modality is the most frequent one among the types of meaning (vi) verbs are the preferred

strategy for modality marking

Keywords modality oral corpus spontaneous speech semantic annotation Brazilian

Portuguese

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 ndash Quadrado modal 25

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111) 44

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade 58

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo 66

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus 102

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional 104

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional 105

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra () 107

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices

modalizados 108

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus 109

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais () 110

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal 112

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal 113

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores 116

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade 117

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores 118

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra 124

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais 127

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2 155

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable 158

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables 159

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido 159

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal 160

Figura 56 ndash Remover o link 161

Figura 57 ndash Apagar um markable 161

Figura 58 ndash Adicionar uma sequecircncia ao markable 162

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable 162

Figura 510 ndash Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos 163

Figura 511 ndash Tela principal de anotaccedilatildeo 163

Figura 512 ndash Painel de controle 164

Figura 513 ndash Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo 164

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional 32

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees 42

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus 91

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados 94

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas 95

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais 95

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais 96

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos 97

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados 98

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais 99

Tabela 41 Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x contexto e tipologia interacional 103

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional 104

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras 106

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra 108

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade 109

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade 110

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais 112

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores no minicorpus 115

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores 118

Tabela 410 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional 124

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas 126

Tabela 412 - Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais 130

Tabela 413 - Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional 131

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais 131

Tabela 415 ndash Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional 136

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais 136

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional 137

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional 137

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu 150

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo

semacircntica 152

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo 153

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees 173

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais 182

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra 198

LISTA DE ABREVIATURAS

ALL - Alocutivo

APC - Apecircndice de Comentaacuterio

APT - Apecircndice de Toacutepico

b - Brasileiro (Portuguecircs)

fam - Familiar

pub - Puacuteblico

cv - Conversaccedilatildeo

dl - Diaacutelogo

mn - Monoacutelogo

CMM - Comentaacuterio Muacuteltiplo

CNT - Conativo

COB - Comentaacuterio Ligado

COM - Comentaacuterio

DCT - Conector Discursivo

EMP - Unidade informacionalmente vazia

EXP - Expressivo

F - Feminino

F0 - Frequecircncia fundamental

Hz - Hertz

i- - Unidade informacional interrompida

INP - Incipitaacuterio

INT - Introdutor Locutivo

IPO - Instituto de Pesquisa Perceptual

LABLITA - Laboratorio Linguistico do

Departamento de Italianistica

LEEL - Laboratoacuterio de Estudos Empiacutericos e

Experimentais da Linguagem

M - Masculino

PAR - Parenteacutetico

PB - Portuguecircs do Brasil

PE - Portuguecircs Europeu

PLN - Processamento de Linguagem Natural

PHA - Faacutetico

PRL - Lista de Parenteacuteticos

SCA - Unidade informacional escandida

TLA - Teoria da Liacutengua em Ato

TMT - Tomada de Tempo

TOP ndash Toacutepico

TPL - Lista de Toacutepicos

UI - Unidade de informaccedilatildeo

UNC - Unidade informacional irreconheciacutevel

XML - Linguagem de marcaccedilatildeo estendida

SUMAacuteRIO

Capiacutetulo 1 INTRODUCcedilAtildeO 17

11 Justificativa 18

12 Quadro hipoteacutetico 20

121 Hipoacuteteses 20

122 Objetivos 20

13 Organizaccedilatildeo do texto 21

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA 23

Capiacutetulo 2 MODALIDADE estado da arte 24

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica 24

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema 27

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis 28

222 Realis x Irrealis 31

223 Subjetividade 33

23 Tipos de significados modais 39

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas 40

232 A visatildeo tradicional 45

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades 47

232 Modalidade deocircntica 50

233 Modalidade dinacircmica 53

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias 55

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias 58

251 Modalidade e negaccedilatildeo 59

252 Modalidade e modo 61

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude 63

26 Modalidade na fala espontacircnea 67

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS

DADOS 74

Capiacutetulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 75

31 A Teoria da Liacutengua em Ato 75

311 O enunciado 76

312 Unidades Informacionais 79

3121 Comentaacuterio (COM) 79

3122 Toacutepico 80

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC) 81

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT) 81

3115 Parenteacutetico (PAR) 82

3116 Introdutor locutivo (INT) 83

322 Unidades Dialoacutegicas 83

3221 Incipitaacuterio (INP) 83

3222 Conativo (CNT) 84

3223 Faacutetico (PHA) 84

3224 Alocutivo (ALL) 84

3225 Expressivo (EXP) 85

3226 Conector Discursivo (DCT) 85

323 A perda do isomorfismo 85

3231 Unidade de escansatildeo (SCA) 86

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) 86

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB) 87

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL 88

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados 89

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I 89

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices 92

34 Anaacutelise dos dados 99

Capiacutetulo 4 A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise 101

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra 101

42 Enunciados e tipologia interacional 103

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade 105

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional 107

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais 109

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical 110

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais 111

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade 114

451 Os verbos modalizadores 114

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores 114

452 Os verbos epistecircmicos 117

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos 122

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas 125

453 Adveacuterbios e adjetivos modais 129

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais 129

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais 131

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q 135

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica 135

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE 141

Capiacutetulo 5 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL 142

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica 143

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc) 152

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech) 154

531 Metodologia 154

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2 154

5312 A preparaccedilatildeo dos textos 156

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar 158

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML 165

532 Escolha dos valores modais 168

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados 174

5331 Triggers 174

5332 Sources 180

53321 Source of the event mention 180

53322 Source of the modality 181

5333 Targets 185

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal 193

534 Polaridade 197

54 Resultados 198

541 Acordo entre anotadores 199

Capiacutetulo 6 Consideraccedilotildees finais 201

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 206

ANEXOS

Anexo 1 MASS 10 - Manual de anotaccedilatildeo

Anexo 2 Guia de uso MMAX2 (apenas na versatildeo eletrocircnica)

Anexo 3 Demonstraccedilatildeo de arquivo anotado (apenas na versatildeo eletrocircnica)

17

Capiacutetulo1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho se insere em um projeto sobre a modalidade desenvolvido desde o

ano de 2008 na Universidade Federal de Minas Gerais denominado ―Modalidade na fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro um estudo de corpus Este projeto tem como objetivo

investigar a modalidade em um corpus oral de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro por

diferentes motivos (1) pela dificuldade de compreensatildeo dessa categoria gramatical (2) pelo

nuacutemero ainda tiacutemido de estudos sobre o tema no portuguecircs brasileiro e (3) pela necessidade

de ―descriccedilotildees e estudos pontuais da manifestaccedilatildeo oral do portuguecircs brasileiro

Algumas das decisotildees teoacuterico-metodoloacutegicas aqui adotadas portanto satildeo fruto das

discussotildees realizadas pelo grupo de pesquisa ―Interfaces linguagem cogniccedilatildeo e cultura ndash

INCOGNITO certificado pelo CNPq e liderado pelos professores Heliana Mello e Tommaso

Raso Assim parti de estudos preliminares empreendidos dentro do projeto C-ORAL-

BRASIL que levantaram as principais estrateacutegias modalizadoras na fala espontacircnea do PB

(MELLO CARVALHO CORTES 2010 MELLO RAMOS AVILA 2011 CORTES

MELLO 2013 MELLO CAETANO 2012)

O trabalho que ora apresento pretende ser um passo agrave frente no que diz respeito agrave

descriccedilatildeo do comportamento de diferentes iacutendices marcadores do fenocircmeno semacircntico da

modalidade em um corpus oral da variante mineira do portuguecircs brasileiro

Desde o seacuteculo XVII segundo Arendt (19582010 p 310) ―todos os grandes autores

cientistas e filoacutesofos [] declaravam ver coisas jamais antes vistas e ter pensamentos jamais

antes pensados Como proposta de tese de doutoramento pretendo tratar de um tema que jaacute

foi bastante pensado e discutido desde a Antiguidade Claacutessica e por autores de diferentes

persuasotildees a categoria semacircntica da modalidade No entanto tal como os grandes nomes da

histoacuteria revolucionaacuterios ou natildeo sofremos insistentemente do ―pathoacutes da novidade e

portanto arrisco pensar a modalidade diferentemente da concepccedilatildeo claacutessica1 como uma

categoria menos estaacutetica e como uma noccedilatildeo que se realiza tambeacutem em um contexto

interacional Logo esse estudo pode ser realizado tatildeo somente pela anaacutelise da liacutengua em uso

e no caso da pesquisa em tela atraveacutes de um estudo empiacuterico

1 Trato da concepccedilatildeo claacutessica da modalidade e de outras definiccedilotildees da categoria no capiacutetulo 2

18

Com base nos princiacutepios da Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) e na

metodologia da Linguiacutestica de Corpus a pesquisa que proponho desenvolver tem como

objetivo descrever (e tentar explicar) o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de

modalidade mdash lexicais ou gramaticais mdash como por exemplo verbos modais adveacuterbios ou

locuccedilotildees modalizadoras verbos de crenccedila verbos de voliccedilatildeo construccedilotildees adjetivas

modalizadoras construccedilotildees condicionais e o futuro

A pesquisa teraacute como foco a diamesia oral da variante brasileira do portuguecircs a partir

da anaacutelise (qualitativa e quantitativa) da parte informal de um corpus oral representativo da

fala espontacircnea2 o C-ORAL-BRASIL (cf RASO MELLO 2012) a ser descrito mais

adiante Como exemplos desses iacutendices temos

(11) RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees uai

(12) JAE [88] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs uai

13) CAR [12] e =TXC= e eu achei que ia me dar trabalho =COM=$

(14) [123] o Zeacute Carlos vai dar a televisatildeo =COM=$

(15) LUC [361] ltisso pode ser =SCA= potencialmentegt divertido =COM=$

11 Justificativa

Um estudo sobre a modalidade se justifica por diferentes razotildees Primeiro por ocupar

um lugar de destaque nos estudos da linguiacutestica nas uacuteltimas deacutecadas e ser um conceito ainda

controverso (e complexo) que se pode sobrepor a outros como os de atitude ilocuccedilatildeo ou

modo Mello e Raso (2011) propotildeem uma discussatildeo interessante sobre as categorias de

atitude ilocuccedilatildeo e modalidade a fim de facilitar a identificaccedilatildeo de traccedilos que possam

caracterizar esses diferentes conceitos De acordo com os autores essas trecircs definiccedilotildees muitas

vezes se sobrepotildeem o que leva a problemas metodoloacutegicos cruciais para a anaacutelise prosoacutedica

uma vez que a prosoacutedia codifica coisas diferentes ao mesmo tempo Os autores na tentativa

de separar os domiacutenios de aplicaccedilatildeo de cada um desses conceitos argumentam que eles

2 Para fala espontacircnea acompanho a proposta de Cresti e Scarano (1998 p 5) que entendem o espontacircneo

―como o cumprimento de atos linguiacutesticos nem programados nem programaacuteveis porque produzidos durante e

no desenvolvimento de uma interaccedilatildeo sempre nova e imprevisiacutevel entre locutores As autoras destacam o

caraacuteter dialoacutegico da fala considerada espontacircnea fundamentadas na Teoria dos Atos de Fala que relaciona o ato

de falar com o cumprimento de diversas accedilotildees linguiacutesticas (AUSTIN 1962) Tais accedilotildees linguiacutesticas em si

finitas e circunscritas natildeo satildeo o produto de um locutor ativo e isolado mas sim se relacionam a um locutor

engajado em uma situaccedilatildeo dinacircmica e interativa com vaacuterios interlocutores Segundo as autoras o princiacutepio que

rege os textos da fala espontacircnea repousa sobre um fundamento ilocutoacuterio ausente na escrita que conteacutem uma

articulaccedilatildeo informacional especifica

19

devem ser estabelecidos como instacircncias de diferentes fenocircmenos os quais satildeo aplicados a

diferentes niacuteveis do ato comunicativo e podem a princiacutepio ser composicionais

Em segundo lugar entendo que partir de corpora orais de fala espontacircnea para a

anaacutelise do fenocircmeno pode nos levar a caminhos de investigaccedilatildeo com foco em ―contextos

especiacuteficos de uso de expressotildees modais e como eles correspondem a necessidades

especiacuteficas de comunicaccedilatildeo (CORNILLIE PIETRANDREA 2012) e por consequecircncia agrave

importacircncia dos movimentos linguiacutesticos dos participantes na negociaccedilatildeo de sentidos no

curso de uma interaccedilatildeo De fato se o objetivo que aqui se delineia eacute trabalhar com a descriccedilatildeo

de construccedilotildees da liacutengua os estudos de corpora em termos metodoloacutegicos vecircm contribuir

para a manipulaccedilatildeo de um grande nuacutemero de dados representativos do uso com o recurso de

ferramentas computacionais sofisticadas Dar conta da distribuiccedilatildeo das expressotildees de uma

liacutengua se constitui como uma tarefa hercuacutelea A pesquisa de corpus dessa forma pode

determinar a frequecircncia com a qual uma determinada expressatildeo (ou construccedilatildeo) pode ser

usada em diferentes contextos Gries destaca em artigo sobre a polissemia do verbo to run

como ―os meacutetodos quantitativos da linguiacutestica de corpus podem fornecer evidecircncia empiacuterica

sugerindo respostas para alguns problemas notoriamente difiacuteceis da linguiacutestica cognitiva

(GRIES 2006 p 57)

Por uacuteltimo mas natildeo menos importante o tema da modalidade cobre diferentes

construtos de abordagens baseadas no uso ainda natildeo combinados Os estudos linguiacutesticos no

Brasil sobre a modalidade ainda carecem de anaacutelises que levem em conta as expressotildees em

contexto com dados da fala espontacircnea organizados sistematicamente ainda que haja

projetos que explorem o estudo da liacutengua falada (como o NURC e seus desdobramentos em

publicaccedilotildees)

Como consequecircncia o trabalho que ora se apresenta pode fomentar a discussatildeo sobre

semelhanccedilas e diferenccedilas em relaccedilatildeo a variedades da liacutengua portuguesa e em relaccedilatildeo a outras

liacutenguas de base romacircnica (o italiano o francecircs e o espanhol) Desse modo a pesquisa se

mostra relevante na medida em que a anaacutelise pode colaborar na reavaliaccedilatildeo de procedimentos

teoacuterico-metodoloacutegicos nesse campo e contribuir para uma melhor compreensatildeo da relaccedilatildeo da

cogniccedilatildeo humana e o comportamento social

Para aleacutem da proacutepria importacircncia do esforccedilo descritivo da modalidade na fala a tarefa

de se propor um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade para seu reconhecimento

automaacutetico se constitui como campo ainda inexplorado no portuguecircs brasileiro tanto para

dados escritos quanto dados orais Um projeto de anotaccedilatildeo para o PB inspirado em outros

desenvolvidos para a liacutengua inglesa e o portuguecircs europeu (PE) pretende portanto contribuir

20

para um nuacutemero de aplicaccedilotildees para o Processamento de Linguagem Natural (PLN) e

tambeacutem para o proacuteprio estudo linguiacutestico da modalidade

12 Quadro hipoteacutetico

121 Hipoacuteteses

(a) Haacute uma relaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade os perfis linguiacutesticos e a estrutura

informacional dos enunciados do Portuguecircs Brasileiro

(b) As construccedilotildees que carregam iacutendices de modalidade cumprem diferentes funccedilotildees

a depender do contexto de uso

(c) O uso de iacutendices de modalidade depende da tipologia do texto do gecircnero

discursivo do propoacutesito comunicativo e aleacutem disso da relaccedilatildeo entre os participantes da

interaccedilatildeo

122 Objetivos

Como objetivos pretendemos

Objetivo geral

reavaliar a partir de um estudo de um corpus de fala espontacircnea a definiccedilatildeo de

modalidade no sentido de delimitar a fronteira entre semacircntica e pragmaacutetica

e a partir disso definir e descrever os marcadores modais

Objetivos especiacuteficos

explorar o comportamento de diferentes iacutendices marcadores de modalidade mdash

lexicais ou gramaticais mdash em um corpus oral da variante brasileira do

portuguecircs

sugerir uma correlaccedilatildeo entre a tipologia da modalidade do Portuguecircs

Brasileiro com base nas unidades informacionais que compotildeem seus

enunciados

21

investigar os contextos de uso dos diferentes iacutendices de modalidade

elaborar um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a ser aplicado em uma

amostra de um corpus representativo da fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro

13 Organizaccedilatildeo do texto

Este trabalho estaacute organizado em trecircs grandes eixos uma parte teoacuterica que trata da

definiccedilatildeo de modalidade e da sua tipologia os procedimentos metodoloacutegicos e a descriccedilatildeo

dos itens modais de base empiacuterica em uma amostra de corpus oral do PB e a uacuteltima parte

em que apresento uma proposta de esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade A

narrativa assim se constroacutei desde uma discussatildeo teoacuterica passa pela descriccedilatildeo do fenocircmeno a

partir de consistente base empiacuterica e termina com sua aplicaccedilatildeo para fins de PLN com a

elaboraccedilatildeo do esquema de anotaccedilatildeo

O capiacutetulo 2 traz uma discussatildeo do conceito de modalidade corrente na literatura sobre

o tema os tipos de significados modais as fronteiras desta categoria semacircntica com as de

negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude a fronteira entre modalidade e evidencialidade a

modalidade na fala espontacircnea e a minha proposta de definiccedilatildeo que leva em conta a

modalidade ancorada em uma situaccedilatildeo comunicativa

Em seguida no capiacutetulo 3 satildeo detalhados os procedimentos metodoloacutegicos eacute

introduzido o quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato o projeto C-ORAL-BRASIL e o

minicorpus utilizado nesta pesquisa

O capiacutetulo 4 apresenta a descriccedilatildeo da modalidade na amostra de 20 textos da parte

informal do corpus C-ORAL-BRASIL Este minicorpus eacute representativo e estaacute definido

segundo criteacuterios de alta qualidade Apoacutes serem discutidos os resultados para a distribuiccedilatildeo e

frequecircncia dos iacutendices no que respeita a tipologia interacional as unidades informacionais e

os valores modais empreendo uma anaacutelise de trecircs estrateacutegias modalizadoras lexicais ndash verbos

modalizadores verbos epistecircmicos e adveacuterbios ndash e uma gramatical ndash as construccedilotildees

condicionais

O capiacutetulo 5 que constitui a terceira parte da tese introduz o projeto MASS ndash Modal

Annotation of Spontaneous Speech ndash que se trata de um esquema de anotaccedilatildeo da modalidade

para a fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Parte desta pesquisa foi desenvolvida no

22

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa sob orientaccedilatildeo da Drordf Amaacutelia Mendes

dentro do Programa de Doutorado Sanduiacuteche no Exterior da Capes (PDSECapes)3

Por fim no capiacutetulo 6 apresento as consideraccedilotildees finais no sentido de apontar os

objetivos alcanccedilados e sinalizar para perspectivas futuras de trabalho

Em resumo

Esta introduccedilatildeo pretendeu explicitar o objeto de estudo os problemas a serem

enfrentados em relaccedilatildeo agrave categoria semacircntica da modalidade a justificativa da pesquisa o

quadro hipoteacutetico os objetivos a serem perseguidos e a estrutura do trabalho No capiacutetulo

seguinte pretendo situar o debate acerca do que vem sendo dito sobre modalidade o consenso

entre as definiccedilotildees e os problemas da conceituaccedilatildeo e da tipologia aplicadas aos dados da fala

Por fim avanccedilo para uma proposta de reformulaccedilatildeo do conceito

3 Processo nordm BEX 953712-0

23

PARTE I ndash DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA

24

Capiacutetulo 2

MODALIDADE estado da arte

Este capiacutetulo pretende elucidar o caminho percorrido pelo conceito de modalidade

desde as abordagens loacutegicas passando pela sua apropriaccedilatildeo pelos semanticistas formais pelas

concepccedilotildees correntes na literatura linguiacutestica sejam formalistas ou funcionalistas para chegar

ao que nos interessa como debate a saber a modalidade aplicada a dados de fala espontacircnea

O objetivo eacute assumir um conceito que pressuponha a divisatildeo entre semacircntica e pragmaacutetica no

que diz respeito a essa categoria atribuindo agrave semacircntica aquilo que estaacute relacionado agrave

conceptualizaccedilatildeo e ao significado do material locutoacuterio e agrave pragmaacutetica os aspectos referentes

agrave estrutura informacional agrave forccedila ilocucionaacuteria ao conjunto de informaccedilotildees contextuais e agraves

estrateacutegias adotadas pelos interlocutores no curso da interaccedilatildeo

21 Breve percurso histoacuterico a modalidade na loacutegica

A noccedilatildeo de modalidade vem sendo debatida ao longo da histoacuteria por filoacutesofos

loacutegicos linguistas Autores de diferentes persuasotildees tratam o tema de maneira diversa

fundados principalmente na ideia comum de que a modalidade estaacute comprometida com a

noccedilatildeo de verdade e com a opiniatildeo do falante sobre o que enuncia uma determinada

proposiccedilatildeo No entanto a tarefa de definir o que eacute essa categoria eacute difiacutecil por uma seacuterie de

motivos elencados por Mello Carvalho e Cortes (2010 p 108)

(a) o de tal categoria haver sofrido em sua tradiccedilatildeo de estudo uma grande

influecircncia da Loacutegica havendo assim uma mescla entre estudos filosoacuteficos e

matemaacuteticos e aqueles da linguagem natural o que acarreta uma mistura

metodoloacutegica nem sempre produtiva para o estudo da liacutengua em uso (cf verificaccedilatildeo

de valores de verdade) (b) o de essa categoria existir em interrelaccedilatildeo no sistema

gramatical de uma liacutengua com vaacuterios fenocircmenos gramaticais como tempo aspecto

e modo prosoacutedia organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo dentre outros e (c) o fato de o

proacuteprio conceito de modalidade confundir-se com aqueles de atitude ilocuccedilatildeo e

emoccedilatildeo

Ou como coloca Bybee et al (1994 p 176) ―pode ser impossiacutevel chegar a uma

caracterizaccedilatildeo sucinta do domiacutenio nocional da modalidade4

4 Traduccedilatildeo do original ―it may be impossible to come up with a succinct characterization of the notional domain

of modality (BYBEE et al 1994 p 176)

25

Segundo a tradiccedilatildeo aristoteacutelica uma proposiccedilatildeo eacute uma sentenccedila declarativa que

conteacutem uma verdade ou uma falsidade natildeo podendo ocorrer as duas simultaneamente

Dessa forma Aristoacuteteles dedica um capiacutetulo do seu De Interpretatione agrave sua teoria da

modalidade e propotildee uma anaacutelise das declaraccedilotildees modais ou seja da relaccedilatildeo das proposiccedilotildees

―que satildeo possiacuteveis e aquelas que negam que seja possiacutevel entre aquelas que declaram que eacute

suscetiacutevel de se produzir e aquelas que o negam e entre aquelas que tratam do impossiacutevel e

do necessaacuterio (ARISTOTE 2007 p 309)5 Em dois capiacutetulos Aristoacuteteles trata das relaccedilotildees

entre as declaraccedilotildees que dizem respeito ao possiacutevel ao impossiacutevel ao contingente ao

necessaacuterio e suas respectivas negaccedilotildees (Capiacutetulo 12 As declaraccedilotildees modais e suas

contradiccedilotildeeslsquo) e na sequecircncia analisa as consequecircncias das declaraccedilotildees modais (Capiacutetulo 13

A consecuccedilatildeo loacutegica entre declaraccedilotildees modaislsquo)

A possibilidade e a necessidade estatildeo relacionadas por uma dupla negaccedilatildeo Eacute possiacutevel

que p = Natildeo eacute necessaacuterio que natildeo-plsquo e Eacute necessaacuterio que p = Natildeo eacute possiacutevel que natildeo-plsquo Estas

duas satildeo as noccedilotildees centrais da modalidade mas natildeo refletem a sua totalidade pois haacute uma

gama de significados modais que circulam na periferia formando o quadrado modal ndash

necessidadenatildeo-necessidadeimpossibilidadepossibilidade) como ilustrado na Figura 21

abaixo

Figura 21 - Quadrado modal

5 No original francecircs ―que clsquoest possible et celles qui nient que ce soit possible entre celles deacuteclarant que clsquoest

susceptible de se produire et celles qui le nient et entre celles qui traitent de llsquoimpossible et du neacutecessaire

(ARISTOTE 2007 p 309)

Possiacutevel Contingente

Contradiccedilatildeo

Necessaacuterio Impossiacutevel

26

O quadrado modal pode dar conta por exemplo de explicar que ―Ele pode subir 3

degraus de cada vez e ―Natildeo eacute impossiacutevel pra ele subir 3 degraus de cada vez se relacionam

semanticamente mas natildeo satildeo sinocircnimas

Como extensatildeo da loacutegica formal as loacutegicas modais identificam uma proposiccedilatildeo ―com

o conjunto de mundos possiacuteveis nos quais ela eacute verdadeira ou com uma funccedilatildeo de mundos

possiacuteveis em valores de verdade (HAAK 2002 p 116) Incorporam operadores que

modulam a verdade ou a falsidade para representar argumentos ligados agrave ideia de necessidade

e possibilidade Segundo Machado e Cunha (2005 p 75) ―um modal eacute uma expressatildeo

(necessariamente possivelmente) que eacute usada para qualificar a verdade de um julgamento

Dois operadores modais satildeo utilizados portanto ―eacute possiacutevele ―eacute necessaacuterio O primeiro

significa que uma sentenccedila eacute verdadeira em algum mundo possiacutevel jaacute o segundo significa que

a sentenccedila eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis Considere a proposiccedilatildeo em (21)

abaixo6 e suas modificaccedilotildees pelos operadores em (21a) e (21b)

(21) Joatildeo eacute solteiro

(21a) Possivelmente Joatildeo eacute solteiro

(21b) Com certeza Joatildeo eacute solteiro

A sentenccedila em (21) que representaria o ―real pode ser tomada como a modalidade

zero Em (21a) o operador ―possivelmente indica que haacute um mundo possiacutevel em que Joatildeo eacute

solteiro Jaacute em (21b) afirma-se que em todos os mundos possiacuteveis a proposiccedilatildeo ―Joatildeo eacute

solteiro eacute verdadeira

Haak (2002 p 229) nos esclarece sobre esse caraacuteter necessaacuterio e contingente

Haacute uma longa tradiccedilatildeo filosoacutefica de distinguir entre verdades necessaacuterias e verdades

contingentes A discussatildeo eacute frequentemente explicada da seguinte maneira uma

verdade necessaacuteria eacute uma verdade que natildeo poderia ser de outra forma uma verdade

contingente uma que poderia ou a negaccedilatildeo de uma verdade necessaacuteria eacute

impossiacutevel ou contraditoacuteria a negaccedilatildeo de uma verdade contingente eacute possiacutevel e

consistente ou uma verdade necessaacuteria eacute verdadeira em todos os mundos possiacuteveis

uma verdade contingente eacute verdadeira no mundo real mas natildeo em todos os mundos

possiacuteveis

As loacutegicas modais sofreram criacuteticas principalmente porque sua interpretaccedilatildeo parece

cheia de dificuldades Segundo Kiefer (2009 p 179) ―os tratamentos loacutegicos da modalidade

6 Este exemplo foi adaptado de Lyons (1977 p 165) O exemplo original eacute ―John is a bachelor

27

satildeo restritos agraves propriedades das proposiccedilotildees e excluem todos os traccedilos natildeo-proposicionais

das sentenccedilas7

Estas ideias jaacute tinham surgido mesmo que de forma incipiente nos Primeiros

Analiacuteticos em que Aristoacuteteles anuncia ―Temos que dizer primeiro que se quando A eacute eacute

necessaacuterio que B seja entatildeo se A eacute possiacutevel eacute tambeacutem necessaacuterio que B seja possiacutevel (citado

por MACHADO CUNHA 2005 p 76) O tema continuou a ser desenvolvido em outros

acircmbitos sobretudo na linguiacutestica da qual passo a tratar agora

22 A modalidade eacute Visotildees sobre o tema

As loacutegicas modais e a linguiacutestica utilizam os mesmos termos para tratar da

modalidade Entretanto a loacutegica a divide em objetiva e subjetiva e se ocupa

fundamentalmente do caraacuteter objetivo da modalidade Jaacute na tradiccedilatildeo linguiacutestica a leitura

subjetiva da modalidade parece ser a preferencial ou melhor dito a modalidade na linguagem

eacute essencialmente subjetiva uma vez que estaacute relacionada com as atitudes dos falantes8

De fato um dos primeiros estudos linguiacutesticos sobre a modalidade o de Jespersen em

1924 nos oferece a definiccedilatildeo ―expressar certas atitudes da mente do falante em relaccedilatildeo ao

conteuacutedo das sentenccedilas9 e aponta para uma diferenciaccedilatildeo de categorias modais dividindo-as

a partir da presenccedila ou ausecircncia de ―um elemento volitivo10

A primeira corresponderia ao

obrigativo jussivo e permissivo a uacuteltima ao necessitativo potencial hipoteacutetico dubitativo

Haacute no entanto aleacutem da abordagem relacionada agrave subjetividade agrave qual esta tese vai se

alinhar outras abordagens para o estudo da modalidade (a) uma mais formal sob a

perspectiva de uma semacircntica de mundos possiacuteveis e (b) outra que propotildee a distinccedilatildeo entre

realis e irrealis

Nas seccedilotildees seguintes apresento estas trecircs teorias semacircnticas que definem de diferentes

perspectivas o fenocircmeno da modalidade

7 No original ―Logical treatments of modality are restricted to properties of propositions and exclude all

nonpropositional features of sentences (KIEFER 2009 p 179) 8 Esta formulaccedilatildeo vai ser problematizada logo agrave frente

9 ―express[ing] certain attitudes of the mind of the speaker towards the content of the sentences (JESPERSEN

1924 p 313) 10

―element of will (JESPERSEN 19241992 p 320-1)

28

221 A abordagem formalista ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis

De uma forma ou de outra observamos que as definiccedilotildees propostas por linguistas

sobre a modalidade estatildeo comprometidas com o valor de verdade de um determinado

conteuacutedo proposicional ou tambeacutem satildeo analisadas sob a perspectiva de uma semacircntica de

mundos possiacuteveis (KRATZER 1981)

Esta noccedilatildeo foi introduzida na filosofia loacutegica na deacutecada de 1960 por Hintikka (1962) e

Kripke (1963) com raiacutezes em Leibniz para quem as pessoas viviam em um mundo que eacute

apenas um entre infinitas possibilidades de mundos criados por Deus Para fins deste trabalho

natildeo ampliarei a discussatildeo da loacutegica modal e passo a apresentar a proposta de Kratzer em que

os mundos possiacuteveis servem a modelar determinadas relaccedilotildees semacircnticas entre expressotildees

linguiacutesticas Nas palavras de Rubinstein (2012 p 191) ―[hellip] os mundos possiacuteveis

representam todas as maneiras possiacuteveis de as coisas poderem ser (sem o compromisso de

estas possibilidades realmente existirem ou natildeo no mundo em que vivemos [hellip])11

Nesta perspectiva a modalidade seria ―o fenocircmeno linguiacutestico por meio do qual a

gramaacutetica permite que se diga coisas sobre ou na base de situaccedilotildees que natildeo necessitam ser

reais (PORTNER 2009 p 1)12

Os modais seriam pistas linguiacutesticas que lanccedilariam luz aos

conjuntos contextualmente relevantes de mundos possiacuteveis

Duas das ideias centrais da abordagem de Kratzer (1981 1991 2012) tomada como

uma ―encarnaccedilatildeo influente13

da loacutegica modal satildeo (i) os modais relativos natildeo satildeo ambiacuteguos

a distinccedilatildeo do valor de um determinado iacutendice modal eacute dada pelo contexto ou pelo que ela

denomina background conversacional Os modais de possibilidade corresponderiam a

quantificadores existenciais e os de necessidade a quantificadores universais estas forccedilas

modais que incidem sobre a base satildeo definidas pelo item lexical e (ii) ordenamento de

mundos as expressotildees modais satildeo quantificaccedilotildees sobre mundos possiacuteveis no entanto estes

mundos possiacuteveis satildeo tomados como um conjunto ordenado (ou parcialmente ordenado) de

mundos Este conjunto eacute criado atraveacutes da interaccedilatildeo de dois backgrounds conversacionais

A base modal formalmente eacute uma funccedilatildeo de mundos possiacuteveis para um conjunto de

proposiccedilotildees que servem para diferenciar as leituras dos significados modais A cada situaccedilatildeo

de uso a base modal eacute o conjunto dos mundos compatiacuteveis com o conhecimento a crenccedila os

11

Traduccedilatildeo para ―[hellip] possible worlds represent all the possible ways things could be (without committing to

whether or not these possibilities actually exist alongside the one world we live in) [hellip] (RUBINSTEIN 2012

p 191) 12

No original ―the linguistic phenomenon whereby grammar allows one to say things about or on the basis of

situations which need not be real (PORTNER 2009 p 1) 13

―influential incarnation (von FINTEL 2006 p 3)

29

desejos do falante as regras aplicaacuteveis e podem variar de mundo para mundo de acordo com

a sua avaliaccedilatildeo

Para o segundo paracircmetro o subconjunto relevante de mundos possiacuteveis para qualquer

modal eacute identificado primeiro pela descoberta de todos os mundos nos quais todas as

proposiccedilotildees na base modal satildeo verdadeiras e em seguida eacute feita a hierarquizaccedilatildeo (ou o

escalonamento) destes mundos de acordo com o quatildeo proacuteximo estatildeo do ideal determinado

pela fonte de ordenaccedilatildeo Nas palavras de Hara (2006 p 9) a fonte de ordenaccedilatildeo ―forccedila uma

ordenaccedilatildeo particular entre os mundos epistecircmicos da base modal em termos de sua

acessibilidade14

Para von Fintel (2006 p 1) disciacutepulo de Kratzer a modalidade eacute a categoria de

significado linguiacutestico que tem a ver com a expressatildeo de possibilidade e necessidade Uma

sentenccedila modalizada estabelece uma proposiccedilatildeo subjacente e prejacente (anaacutelise no niacutevel

proposicional) no espaccedilo das possibilidades Por exemplo

(24) Sandy might be home

Sandy pode estar em casa

diz que haacute uma possibilidade de Sandy estar em casa

(25) Sandy must be home

Sandy deve estar em casa

diz que entre todas as possibilidades Sandy estaacute em casa

von Fintel (2006) argumenta que a modalidade assim como a temporalidade estaacute no

centro da propriedade de deslocamento que permite agrave linguagem falar de coisas para aleacutem do

aqui-agora Aleacutem desta capacidade de projeccedilatildeo (prospectiva ou retrospectiva) Fintel aponta

para os diferentes tipos de significados dos itens modais15

e nos fornece exemplos com a

forma verbal to have tolsquo apresentados abaixo

(26) It has to be raining

Tem que estar chovendo

[depois de observar pessoas entrando com sombrinhas modalidade epistecircmica]

14

No original ―[The ordering source] forces a particular ordering among epistemic worlds of the modal base in

terms of their accessibility (HARA 2006 p 9) 15

No caso da liacutengua portuguesa comportam mais de um sentido os verbos poderlsquo deverlsquo e ter quelsquo que

carregam tanto o valor epistecircmico quanto o raizdeocircntico e dinacircmico Mais adiante discuto este ponto

30

(27) Visitors have to leave by six pm

Os visitantes tecircm que sair por volta de seis da tarde

[regulamento de hospital deocircntico]

(28) You have to go to bed in ten minutes

Vocecirc tem que ir pra cama em dez minutos

[um pai severo bulomaica ou buleacutetica]

(29) I have to sneeze

Tenho que espirrar

[dado o estado atual do nariz de algueacutem circunstancial]

(210) To get home in time you have to take a taxi

Para chegar em casa no horaacuterio Vocecirc tem que pegar um taacutexi

[modalidade teleoloacutegica]

Os exemplos entre (26) e (210) poderiam ser tomados como ocorrecircncias do tipo

deocircntico No entanto guardam entre si diferenccedilas sutis Em (27) o tipo buleacutetico ou

bulomaico indica a vontade ou intenccedilatildeo do falante O valor circunstancial em (28) expressa o

que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com determinadas circunstacircncias A modalidade

teleoloacutegica eacute orientada para um alvo isto eacute eacute o domiacutenio do necessaacuterio e do possiacutevel com a

finalidade de alcanccedilar um determinado objetivo (von FINTEL IATRIDOU 2005

HACQUARD 2006) no caso em (29) o objetivo seria ―chegar em casa no horaacuterio

Introduzi aqui algumas das ideias principais acerca da abordagem formal da

modalidade desenvolvida desde a deacutecada de 1960 e cuja contribuiccedilatildeo de Kratzer eacute

fundamental como o fato de as expressotildees modais serem usadas para descrever maneiras

alternativas de como pode ser o mundo e incidirem sobre um argumento proposicional

conhecido por ―prejacente Satildeo quantificadores sobre mundos possiacuteveis e esta quantificaccedilatildeo

em qualquer mundo avaliativo estaacute contextualmente localizada e eacute determinada por relaccedilotildees

de acessibilidade Foram apresentados tambeacutem os dois paracircmetros principais desta

abordagem quais sejam a base modal (epistecircmica deocircntica bulomaica circunstancial

teleoloacutegica) a ordenaccedilatildeo de mundos e a fonte de ordenaccedilatildeo definidos em um background

conversacional e a partir da interaccedilatildeo entre eles

31

222 Realis x Irrealis

Como dito haacute na literatura sobre modalidade abordagens que privilegiam em suas

anaacutelises uma divisatildeo binaacuteria entre modal e natildeo-modal e relacionam essa distinccedilatildeo ao

contraste factual natildeo-factual ou realis irrealis (CHUNG TIMBERLAKE 1985 GIVOacuteN

1995 KIEFER 1994 MITHUN 1999) Para Mithun (1999 p 173) ―o realis retrata

situaccedilotildees como presentes ou tendo ocorrido ou atualmente ocorrendo reconheciacuteveis por

percepccedilatildeo direta O irrealis retrata situaccedilotildees como puramente dentro domiacutenio do pensamento

reconheciacutevel apenas atraveacutes da imaginaccedilatildeo16

Em outras palavras esta distinccedilatildeo separa o

mundo entre situaccedilotildees ou eventos reais ou irreais

Ferdinand de Haan (2005 p 41-45) argumenta que a distinccedilatildeo realis-irrealis talvez

natildeo seja suficiente para dar conta de uma tipologia da modalidade e uma definiccedilatildeo

interlinguiacutestica desta categoria uma vez que o termo irrealis eacute vago e pode se referir a

diferentes circunstacircncias aleacutem de o conteuacutedo semacircntico de morfemas irrealis variar de liacutengua

para liacutengua mesmo as liacutenguas intimamente relacionadas

A categoria de futuro eacute apresentada por de Haan como uma que pode ilustrar esta

inconsistecircncia apesar de ser uma categoria que pode ser tomada como prototipicamente

irrealis jaacute que indica eventos que ainda natildeo ocorreram e portanto satildeo irreais Nas liacutenguas

Amele e Muyuw (ambas liacutenguas da Papua Nova Guineacute mas de famiacutelias diferentes) o futuro eacute

uma categoria irrealis mas natildeo eacute o caso da liacutengua Caddo (CHAFE 1995 p 358)

exemplificada abaixo

(211) ciacuteiacutebaacutew-a ci-yi=bahw- a

1SGAGREAL-see-FUT

Irei olhaacute-lolsquo

No exemplo em (211) o morfema de futuro - a natildeo ocorre com o prefixo de

irrealis tlsquoa-tlsquoi- mas com o prefixo de realis ci-

Mithun (1995 p 378ndash80) pontua que haacute liacutenguas como o Pomo Central falado na

Califoacuternia em que o futuro pode ser usado tanto como realis ou irrealis a depender do

julgamento do falante sobre a probabilidade de um evento realmente acontecer

16

No original ―the realis portrays situations as actualized as having occurred or actually occurring knowable

through direct perception The irrealis portrays situations as purely within the realm of thought knowable only

through imagination (MITHUN 1999 p 173)

32

Givoacuten (1995) trata esta distinccedilatildeo a partir da afirmaccedilatildeo de que a modalidade eacute um

domiacutenio funcional complexo que abarca subdomiacutenios semacircnticos e pragmaacuteticos difiacuteceis de

serem separados uma vez que agrupam construccedilotildees que servem tanto a construccedilotildees

primariamente semacircnticas quanto primariamente pragmaacuteticas Seu objetivo eacute delinear alguns

princiacutepios coerentes pelos quais se pode predizer uma variaccedilatildeo de ambientes gramaticais em

que o modo subjuntivo provavelmente se gramaticaliza e podem representar um subconjunto

de irrealis O irrealis eacute tomado como uma categoria comunicativo-cognitiva (funcional) e

tipoloacutegica-gramatical (formal)

Abaixo um quadro que representa a modalidade epistecircmica na tradiccedilatildeo loacutegica e seu

equivalente comunicativo

tradiccedilatildeo loacutegica equivalente comunicativo

a verdade necessaacuteria pressuposiccedilatildeo

b verdade factual asserccedilatildeo realis

c verdade possiacutevel asserccedilatildeo irrealis

d natildeo-verdade asserccedilatildeo-NEG

Quadro 21 ndash Correspondecircncia da modalidade epistecircmica entre a tradiccedilatildeo loacutegica e a funcional

A tradiccedilatildeo loacutegica trata a modalidade desconectada de seu contexto comunicativo

natural Nas palavras de Givoacuten (1995 p 114) ―a interpretaccedilatildeo comunicativo-pragmaacutetica das

quatro modalidades [] as reelenca em termos dos estados epistecircmicos e objetivos

comunicativos dos dois participantes na negociaccedilatildeo comunicativa mdash falante e ouvinte17

A

redefiniccedilatildeo comunicativa da modalidade epistecircmica fica assim estabelecida

(a) pressuposiccedilatildeo assume-se uma pressuposiccedilatildeo como verdadeira por definiccedilatildeo por

acordo a priori por convenccedilatildeo geneacuterica culturalmente compartilhada por ser

oacutebvio para todos presentes numa situaccedilatildeo de fala ou por ter sido enunciada pelo

falante e natildeo contestada pelo ouvinte

17

Traduccedilatildeo minha para ―the communicative-pragmatic interpretation of the four modalities [hellip] recasts them

in terms of the epistemic states and communicative goals of the two participants of the communicative

transaction mdash speaker and hearer (GIVOacuteN 1995 p 114)

33

(b) asserccedilatildeo realis a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como verdadeira mas a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute considerada apropriada apesar de o falante ter evidecircncia

ou outras bases para defender sua firme crenccedila

(c) asserccedilatildeo irrealis a proposiccedilatildeo eacute fracamente afirmada por ser tanto possiacutevel

provaacutevel ou incerta (submodos epistecircmicos) ou necessaacuteria desejada ou indesejada

(submodos avaliativo-deocircntico) Mas o falante natildeo estaacute pronto para confirmar a

afirmaccedilatildeo com evidecircncia ou outras bases a contestaccedilatildeo do ouvinte eacute prontamente

considerada esperada ou ateacute mesmo solicitada

(d) asserccedilatildeo-NEG a proposiccedilatildeo eacute fortemente afirmada como falsa mais

comumente em contradiccedilatildeo agraves crenccedilas expliacutecitas ou assumidas do ouvinte a

contestaccedilatildeo do ouvinte eacute antecipada e o falante tem evidecircncia ou outras bases para

confirmar sua firme crenccedila

Mudar o foco das noccedilotildees de realis e irrealis para uma oacutetica cognitiva e comunicativa

implica cognitivamente deslocar de questotildees de verdade loacutegica para questotildees de certeza

subjetiva e comunicativamente deslocar do sentido (semacircntico) da orientaccedilatildeo pelo falante

para o sentido (pragmaacutetico) interativo socialmente negociado envolvendo tanto o falante

quanto o ouvinte

Independentemente da perspectiva que eacute tomada esta distinccedilatildeo parece difiacutecil tomar a

oposiccedilatildeo realis x irrealis e especificamente o irrealis como uma noccedilatildeo para a definiccedilatildeo de

modalidade ainda que em algumas liacutenguas esteja gramaticalmente marcada e que na literatura

sobre crioulos e pidgins esta seja a forma padratildeo para descrever as distinccedilotildees modais (de

HAAN 2005 p 45)

Passo portanto para a terceira abordagem sobre o fenocircmeno a modalidade como uma

categoria relacionada agrave subjetividade

223 Subjetividade

Lyons (1977 p 797-ss) em sua tentativa de siacutentese sobre a modalidade que guia

muitos outros autores em termos de relacionar a categoria com a expressatildeo da atitude de um

falante anuncia ao tratar dos adveacuterbios modais que a modalidade representa ―a opiniatildeo ou a

atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo que a sentenccedila expressa ou a situaccedilatildeo que a

34

proposiccedilatildeo descreve (LYONS 1977 p 452)18

Kiefer (1994 p 2516) se alinha a ele e

afirma que a modalidade eacute ―a atitude volitiva emotiva e cognitiva do falante em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas19

e tambeacutem Nitta (2000 p 81) que define o fenocircmeno ―como a expressatildeo

do ponto de vista do falante sobre os conteuacutedos da sentenccedila e a atitude comunicativa do

falante20

Palmer (1986) igualmente sugere uma definiccedilatildeo para modalidade baseada na

subjetividade ―Modalidade na linguagem estaacute [] relacionada agraves caracteriacutesticas subjetivas de

um enunciado [] [e] poderia ser definida como a gramaticalizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees

(subjetivas) de um falantersquo21

(PALMER 1986 p 16 grifos meus) O autor toma a

modalidade desde uma perspectiva tipoloacutegica e a divide em dois tipos proposicional e de

evento

A primeira eacute definida como o julgamento pelo falante do valor de verdade ou estatuto

factual de uma proposiccedilatildeo e eacute subdividida em epistecircmica e evidencial A epistecircmica expressa

o julgamento sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo e pode ser especulativa (expressa

incerteza) dedutiva (indica uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia observaacutevel) assumptiva

(indica inferecircncia a partir do que eacute geralmente conhecido) evidencial (os falantes indicam a

evidecircncia que tecircm sobre o estatuto factual da proposiccedilatildeo) reportada e sensoacuteria O segundo

tipo eacute a atitude do falante em relaccedilatildeo a um potencial evento futuro que ainda natildeo ocorreu Eacute

tambeacutem subdividida em deocircntica relacionada agrave obrigaccedilatildeo ou agrave permissatildeo e dinacircmica

relativa agrave habilidade ou voliccedilatildeo

Na mesma clave Bybee Perkins e Pagliuca (1994 p 178 grifo meu) conceituam a

modalidade como a ―gramatizaccedilatildeo das atitudes e opiniotildees (subjetivas) do falante22

e

propotildeem uma divisatildeo de modalidade em quatro tipos epistecircmica orientada-para-o-agente

(ie deocircntica) orientada-para-o-falante e subordinada23

Elas sublinham a importacircncia do

estudo diacrocircnico do desenvolvimento de elementos modais a fim de compreender a variaccedilatildeo

dos significados modais em uma liacutengua

18

No original ―the speakerlsquos opinion or attitude towards the preposition that the sentence expresses or the

situation that the proposition describes (LYONS 1977 p 452) 19

Traduccedilatildeo minha para ―the speakerlsquos cognitive emotive or volitive attitude towards a state of affairs

(KIEFER 1994 p 2516) 20

Traduccedilatildeo de ―as expressing the speakerlsquos point of view on the sentence contentes and the speakerlsquos

coomunicative atitude (NITTA 2000 p 81) 21

―Modality in language is [hellip] concerned with subjective characteristics of an utterance [hellip] [and] could be

defined as the grammaticalization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (PALMER 1986 p 16) 22

Traduccedilatildeo minha para ―grammaticization of speakerlsquos (subjective) attitudes and opinions (BYBEE et al

1994 p 178) 23

Esta tipologia seraacute apresentada na seccedilatildeo 231

35

A dimensatildeo subjetiva da modalidade eacute tratada de diferentes formas na literatura sobre

a modalidade epistecircmica A oposiccedilatildeo entre o traccedilo objetivo e subjetivo da modalidade eacute

apresentada em Lyons (1977) que define que a modalidade epistecircmica objetiva expressa a

chance objetivamente mensuraacutevel de que um estado de coisas seja verdade ou natildeo e por sua

vez um enunciado epistecircmico subjetivo indica uma suposiccedilatildeo subjetiva em relaccedilatildeo agrave sua

verdade A definiccedilatildeo de Lyons de subjetividade x objetividade recai sobre diferenccedilas na

qualidade da evidecircncia que leva ao julgamento (NUYTS 2005 p 14) Lyons (1977 p 797)

toma em consideraccedilatildeo os seguintes exemplos em (212) e (213)

(212) Alfred may be unmarried

Alfred pode ser descasado

Em uma interpretaccedilatildeo subjetiva do exemplo em (212) o falante baseado em suas

proacuteprias suposiccedilotildees subjetivamente se compromete com a possibilidade de Alfred ser

descasado Em uma leitura objetiva o falante tem a informaccedilatildeo por exemplo do nuacutemero de

pessoas casadas em uma determinada comunidade e baseado neste fato constroacutei a

possibilidade de Alfred ser descasado

(213) Alfred must be unmarried

Alfred deve ser descasado

Em (213) uma leitura subjetiva da ocorrecircncia seria mais natural segundo Lyons uma

vez que o falante subjetivamente qualifica seu comprometimento com a factualidade da

proposiccedilatildeo Jaacute uma interpretaccedilatildeo objetiva nasceria por exemplo se se considerasse a

porcentagem de pessoas descasadas numa determinada comunidade e que fosse identificado o

estado civil de todas estas pessoas solteiras exceto o de Alfred O falante portanto se

compromete com a informaccedilatildeo dada ao seu interlocutor e que a proposiccedilatildeo Alfred deve ser

descasado eacute de certa maneira verdadeira

Segundo Nuyts (2001) alguns autores consideram estas caracteriacutesticas como

diferentes significados da modalidade (epistecircmico para a subjetividade e deocircntico para a

objetividade cf HENGEVELD 1988) e outros problematizam o tema como Coates (1983)

que reivindica que tanto o valor epistecircmico quanto o valor deocircntico podem ter usos subjetivos

e objetivos

36

Narrog (2005 p 169-170) aponta que haacute dois problemas relacionados a esta questatildeo

O primeiro seria a dificuldade em definir o que eacute ―subjetivo ou ―a atitude do falante porque

ambos os conceitos levam uma carga de vaguidade O segundo ponto seria definir a fronteira

entre a ―subjetividade e a ―objetividade Na verdade Narrog argumenta que natildeo eacute possiacutevel

alcanccedilar um limite para o que eacute subjetivo ou objetivo uma vez que a subjetividade de um

falante pode estar expressa em diferentes elementos de uma sentenccedila seja na escolha do

vocabulaacuterio na perspectiva adotada para conceptualizar a situaccedilatildeo etc

Pelo vieacutes cognitivista do fenocircmeno tambeacutem eacute considerada a dimensatildeo subjetiva da

modalidade Mortelmans (2007 p 869-870) concorda que a noccedilatildeo de modalidade estaacute longe

de ser definida de forma mais ou menos unificada e destaca que os trabalhos na moldura

cognitiva focam em sua maioria os verbos modais mas haacute publicaccedilotildees que contemplam

outras expressotildees de modalidade como os adveacuterbios adjetivos modais e predicados mentais

(NUYTS 1994 2001 2002) os verbos semi-auxiliares (CORNILLIE 2007) e os

marcadores evidenciais (MATLOCK 1989 LEE 1993)

A ideia de forccedila como pontua Mortelmans tem papel fundamental na forma como a

modalidade eacute conceptualizada pelos cognitivistas A Hipoacutetese da Dinacircmica de Forccedilas de

Talmy (1988 2000) se caracteriza como um esquema imageacutetico baacutesico de causa como

imposiccedilatildeo de forccedila e suspensatildeo de barreiras Expressa ―como as entidades interagem no que

diz respeito agrave forccedila Incluiacutedo aqui estaacute a imposiccedilatildeo da forccedila resistecircncia a tal forccedila barreira agrave

expressatildeo de tal forccedila a superaccedilatildeo de tal resistecircncia a suspensatildeo de tal barreira e coisas do

gecircnero (TALMY 1988 p 49)24

Este modelo eacute uma generalizaccedilatildeo da noccedilatildeo de causaccedilatildeo em que processos satildeo

conceptualizados como resultado de uma interaccedilatildeo de forccedilas e relaccedilotildees causais agindo de

diversas maneiras sobre os participantes de um evento (cf CROFT CRUSE 2004 p 66)

Talmy (1988 2000) importa da fisiologia a terminologia que emprega a entidade de forccedila

focal eacute chamada Agonista e o elemento de forccedila oposto a ela eacute o Antagonista Tento ilustrar

este ponto com uma ocorrecircncia em nossa amostra25

(214) MAI [47] aiacute ele jogou [1] jogou a capaE1 ea estraccedilalhou toda a capaE2

a o tamanho do dente (bfammn01)

24

Traduccedilatildeo para ―how entities interact with respect to force Included here is the exertion of force resistance to

such a force the overcoming of such a resistance blockage of the expression of force removal of such blockage

and the like (TALMY 1988 p 49) 25

A notaccedilatildeo utilizada nestes exemplos seraacute explicitada na Parte II deste trabalho quando introduzo os

pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato No entanto adianto aqui que uma barra simples (―) corresponde a

uma quebra no enunciado percebida como natildeo-terminal e uma barra dupla (―) como uma quebra percebida

como terminal

37

O exemplo em (214) traz dois tipos de eventos causativos o Evento 1 (E1) ―ele jogou

[1] jogou a capa e o Evento 2 (E2) ―ea estraccedilalhou toda a capa Em E1 o Antagonista

(aquele que aplica a forccedila o causador ―ele) exerce uma forccedila sobre o Agonista (aquele em

que a forccedila eacute aplicada o causado ―a capa) que realiza um movimento A situaccedilatildeo em E2 eacute

diferente o Antagonista (―ea = a cobra) impotildee uma forccedila que impede o movimento do

causado ―a capa que resulta na sua destruiccedilatildeo

Dentre os trabalhos nessa linha sobressai-se o de Sweetser (1990) que argumenta que

haacute uma tendecircncia a usar um vocabulaacuterio de um domiacutenio externo (sociofiacutesico) para um

domiacutenio interno (emocional e psicoloacutegico) Diacronicamente o sistema metafoacuterico guia

numerosas mudanccedilas semacircnticas Sincronicamente eacute representado por vaacuterias palavras

polissecircmicas e extensotildees abstratas de sentido do vocabulaacuterio do mundo fiacutesico

A modalidade assim eacute uma categoria que estaacute em ambiguidade sincrocircnica entre

mundo externo e mundo interno quer dizer haacute uma ambiguidade de expressotildees modais entre

sentidos raiz26

ou deocircnticos e sentidos epistecircmicos

Os significados que denotam obrigaccedilatildeo permissatildeo ou habilidade a autora denomina-

os ―raiz Como exemplo temos

(215) John must be home by ten Mother wonlsquot let him stay out any later

John tem que estar em casa agraves dez a Matildee natildeo deixaraacute que ele fique fora ateacute

mais tarde

Epistecircmicos satildeo os significados que denotam necessidade probabilidade ou

possibilidade Como atestado abaixo

(216) John must be home already I see his coat

John jaacute deve estar em casa estou vendo seu casaco

A proposta portanto eacute de que significados ―raiz satildeo extensiacuteveis ao domiacutenio

epistecircmico justamente porque usamos geralmente a linguagem do mundo externo para

aplicar ao mundo mental interno o qual eacute metaforicamente estruturado como paralelo agravequele

mundo externo Sweetser argumenta que os verbos modais natildeo tecircm sentidos separados natildeo-

26

Sweetser prefere usar o termo raiz Natildeo soacute porque eacute um termo mais amplo mas tambeacutem porque como

veremos a seguir ela argumenta que a modalidade epistecircmica estaacute ―enraizada na modalidade sociofiacutesica

Segundo ela o termo deocircntico pode ser tomado algumas vezes meramente como uma obrigaccedilatildeo social ou

moral

38

relacionados mas sim mostram uma extensatildeo do sentido-raiz para o domiacutenio epistecircmico mdash

uma extensatildeo fortemente motivada pelo sistema linguiacutestico circundante

A autora considera que um dos obstaacuteculos para a evoluccedilatildeo de uma compreensatildeo

unificada de modalidade (que jaacute sabemos ser um conceito controverso) decorre do fato de que

anaacutelises semacircnticas da modalidade raiz natildeo foram sistematicamente relacionadas agrave

necessidade e agrave probabilidade loacutegicas

O objetivo de Sweetser eacute demonstrar que uma anaacutelise em termos de dinacircmica de

forccedilas para os modais raiz eacute possiacutevel e extensiacutevel ao domiacutenio epistecircmico A anaacutelise da

linguista avanccedila em relaccedilatildeo ao modelo de Talmy (1981 1988) no sentindo de considerar que

a modalidade se refere a forccedilas e barreiras intencionais e diretas Tomando como exemplo o

modal may temos que no domiacutenio sociofiacutesico o verbo representa em termos de dinacircmica de

forccedilas uma ausecircncia de barreira potencial e encontra no domiacutenio epistecircmico um sentido

correspondente quer dizer uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir

das premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo

Ex permissatildeo (may let allow) instacircncia de retirar uma barreira potencialmente

presente

(217) The crack in the stone let the water flow through (barreira fiacutesica)

A fenda na pedra deixou a aacutegua escorrer

(218) I begged Mary to let me have another cookie (barreira ―social)

Implorei agrave Maria para me deixar comer outro cookie

Gonzalveacutez-Garcia (2000) sob uma perspectiva discursiva ou seja uma perspectiva

mais dinacircmica (e sistemaacutetica) que pressupotildee a ―relaccedilatildeo entre modalidade o contexto de

enunciaccedilatildeo e a funccedilatildeo interpessoal da polidez [nos termos de Brown e Levinson 1987]27

(GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127) propotildee que a modalidade seja caracterizada como

expressatildeo do envolvimento do falante com o conteuacutedo proposicional de um dado enunciado

(agecircncia ou subjetividade) e que pode ser tomada como ramificadora atraveacutes de toda a

arquitetura leacutexico-gramatical da linguagem

O autor argumenta que muitos dos significados normalmente atribuiacutedos a verbos

modais individuais satildeo na verdade derivados tanto do ambiente sentencial do verbo quanto

27

No original ―[hellip] relationship between modality the context of utterance and the interpersonal function of

politeness (GONZALVEacuteS-GARCIA 2000 p127)

39

de algum contexto de enunciaccedilatildeo mais amplo Assim o significado modal pode ser tomado

como emergente da interaccedilatildeo de duas camadas de significado estreitamente conectadas uma

abarcando o significado linguiacutestico do verbo modal herdado em conjunto com outros itens

modais vizinhos e outra que diz respeito aos princiacutepios ligados a polidez e estrateacutegias de

proteccedilatildeo de face

Para ilustrar seu ponto o autor lanccedila matildeo de exemplos com ―might selecionados do

International Corpus of English (ICE-GB) e de um excerto do ―Four Weddings and a

Funeral (―Quatro casamentos e um funeral no tiacutetulo brasileiro) Abaixo transcrevo o

primeiro exemplo apresentado pelo autor e sua respectiva anaacutelise (GONZALVEacuteS-GARCIA

2000 p128-129)

(219) ―Maybe I might miss something out because we are all human and Ilsquove

overlooked it and youlsquove remembered it (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Talvez eu pudesse deixar escapar algo porque somos todos humanos e eu o

tenha esquecido e vocecirc se lembrado (ICE-GB Corpus S2A-061-36)

Gonzalveacutes-Garcia considera este uso do modal ―might (―pudesse) como

―possibilidade remota com a leitura reforccedilada pelo adveacuterbio epistecircmico ―maybe (―talvez)

Entretanto outras formas linguiacutesticas (―are ―have overlooked e ―have remembered)

parecem indicar em contraste uma leitura mais factual do modal e aleacutem disso o uso da

forma ―might parece ser motivado pela necessidade do falante de salvar a sua face e

despertar a simpatia da audiecircncia

Em resumo o autor praticamente assume uma visatildeo pragmaacutetica da modalidade e este

estudo apresenta as fronteiras (tecircnues) entre semacircntica e pragmaacutetica

23 Tipos de significados modais

A tradiccedilatildeo loacutegica estabelece o estudo das modalidades aleacutetica epistecircmica e deocircntica

relacionadas respectivamente com as noccedilotildees de verdadefalsidade conhecimento e conduta

Seguindo a tradiccedilatildeo as noccedilotildees de necessidade possibilidade probabilidade e obrigaccedilatildeo satildeo

tomadas em consideraccedilatildeo para definiccedilatildeo dos significados modais

No entanto assim como natildeo haacute qualquer unanimidade na definiccedilatildeo da noccedilatildeo da

modalidade tambeacutem natildeo haacute entre os pesquisadores um consenso de quais categorias

poderiam estar englobadas sob o roacutetulo de ―modal Na literatura linguiacutestica tradicional sobre

a modalidade destacam-se trecircs valores semacircnticos o epistecircmico o deocircntico e o dinacircmico

40

mas muitos estudos organizam de formas distintas as dimensotildees relacionadas agrave categoria a

depender da perspectiva adotada para sua definiccedilatildeo Entre as diferentes abordagens manteacutem-

se a oposiccedilatildeo entre os significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos havendo uma maior

diferenciaccedilatildeo no que diz respeito aos uacuteltimos

Nas subseccedilotildees abaixo apresento primeiramente as visotildees natildeo-tradicionais da

tipologia dos iacutendices modais e em seguida a classificaccedilatildeo tradicional sendo que nesta

uacuteltima destaco as modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica que tomo como ponto de

partida para a descriccedilatildeo e anaacutelises que seratildeo empreendidas no escopo deste trabalho

231 As visotildees natildeo-tradicionais tipologias alternativas

Uma das classificaccedilotildees mais conhecidas na tipologizaccedilatildeo dos modais eacute a de Bybee e

colaboradoras (BYBEE 1985 BYBEE et al 1994 BYBEE FLEISCHMAN 1995) O

objetivo do trabalho de Bybee e colegas (1985 1994) eacute propor caminhos para o

desenvolvimento das noccedilotildees de modo e modalidade buscando determinar como e por que

determinados significados gramaticais surgem neste domiacutenio As autoras distinguem quatro

tipos de modalidade (i) modalidade orientada-para-o-agente (MOA) (ii) modalidade

orientada-para-o-falante (MOF) (iii) modalidade epistecircmica (ME) e (iv) modalidade

subordinada

A modalidade orientada-para-o-agente ―compreende todos os significados modais que

indicam a existecircncia de condiccedilotildees sobre um agente com relaccedilatildeo agrave conclusatildeo de uma accedilatildeo

expressa no predicado principal por exemplo obrigaccedilatildeo desejo habilidade permissatildeo e

possibilidade raiz (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)28

As noccedilotildees semacircnticas especiacuteficas deste tipo satildeo

(a) obrigaccedilatildeo existecircncia de condiccedilotildees sociais externas que levam um agente a concluir

a accedilatildeo predicada expressa como uma obrigaccedilatildeo forte ou fraca Por exemplo

(220) All students must obtain the consent of the Dean of the faculty concerned

before entering for examination

Todos os estudantes devem obter o consentimento do Diretor da Faculdade

referida antes de entrar no exame

28

Traduccedilatildeo do original ―[]―encompasses all modal meanings that predicate conditions on an agent with regard

to the completion of an action referred to by the main predicate eg obligation desire ability permission and

root possibility (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

41

(221) I just insisted very firmly on calling her Miss Tillman but one should really

call her President

Insisti muito firmemente em chamaacute-la de Srta Tillman mas deve-se realmente

chamaacute-la de Presidente

Em (220) tem-se caracterizada uma obrigaccedilatildeo mais fraca Jaacute em (221) emos um

exemplo de obrigaccedilatildeo forte

(b) necessidade existecircncia de condiccedilotildees fiacutesicas que levam um agente a completar a

accedilatildeo predicada

(222) I need to hear a good loud alarm in the mornings to wake up

Eu preciso ouvir um despertador bem alto pelas manhatildes para acordar

(c) habilidade existecircncia de condiccedilotildees internas de habilidade no agente com relaccedilatildeo agrave

accedilatildeo predicada

(223) I can only type very slowly as I am a beginner

Como sou um iniciante eu soacute consigo digitar muito devagar

(d) desejo existecircncia de condiccedilotildees internas de voliccedilatildeo no agente com relaccedilatildeo agrave accedilatildeo

predicada

(224) Juan Ortiz called to them loudly in the Indian tongue bidding them come forth

if they would (= wanted to) save their lives

Juan Ortiz chamou-os bem alto na liacutengua indiana ordenando-lhes que

voltassem se eles quisessem salvar suas vidas

A modalidade orientada-para-o-falante abrange ―marcadores de diretivos tais como

imperativos optativos e permissivos que representam atos de fala atraveacutes dos quais um

falante tenta provocar o endereccedilado a agir (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)29

Este tipo

natildeo indica a existecircncia de condiccedilotildees sobre o agente mas permite ao falante impor tais

condiccedilotildees sobre o interlocutor O quadro abaixo mostra em resumo os termos gramaticais

usados para a MOF e suas respectivas funccedilotildees

29

No original ―[m]arkers of directives such as imperatives optatives or permissives which represent speech

acts through which a speaker attempts to move an addressee to action (BYBEE FLEISCHMAN 1995 p 6)

42

Termos gramaticais Funccedilatildeo

Imperativo Comando direto a uma segunda pessoa

Proibitivo Comando negativo

Optativo Desejo ou expectativa do falante expresso

na oraccedilatildeo principal

Hortativo (exortativo) O falante encoraja ou incita algueacutem a agir

Admoestativo O falante emite um aviso

Permissivo O falante concede permissatildeo

Quadro 22 ndash Termos gramaticais para a MOF e suas funccedilotildees

Bybee et al (1994) consideram os modos acima elencados como parte da modalidade

deocircntica No entanto eacute possiacutevel questionar a validade deste tipo ser uma categoria modal se

se exclui o ―modo do domiacutenio da modalidade

As autoras ainda distinguem a categoria de modalidade subordinada que se trata de

estabelecer uma categoria formal para dar conta das modalidades em claacuteusulas subordinadas

Uma segunda tipologia considerada alternativa dentro dos estudos da modalidade eacute a

proposta por van der Auwera e Plungian (1998) A modalidade para os autores estaria

relacionada com domiacutenios semacircnticos em que possibilidade e necessidade satildeo as variantes

paradigmaacuteticas (van der AUWERA PLUNGIAN 1998 p 80) Satildeo considerados quatro

domiacutenios modalidade interna ao participante modalidade externa ao participante

A modalidade interna ao participante se refere ao tipo de possibilidade ou necessidade

interna a um participante engajado no estado de coisas Veja os exemplos

(225a) Boris can get by with sleeping five hours a night

Boris pode passar bem dormindo cinco horas por noite

(225b) Boris needs to sleep ten hours every night for him to function properly

Boris precisa dormir dez horas toda noite para funcionar adequadamente

O exemplo (225a) em termos de possibilidade mostra uma capacidadehabilidade do

participante Borislsquo e o exemplo em (225b) eacute um caso de uma necessidade interna do

participante

O segundo domiacutenio de contraste entre possibilidade e necessidade eacute a modalidade

externa ao participante que se refere a circunstacircncias externas ao participante engajado no

estado de coisas o que torna este estado de coisas possiacutevel ou necessaacuterio Como atestado nos

exemplos (226a) e (226b)

43

(226a) To get to the Station you can take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc pode pegar o ocircnibus 66

(226b) To get to the Station you have to take bus 66

Para chegar agrave estaccedilatildeo vocecirc tem que pegar o ocircnibus 66

Em (226a) o ocircnibus 66 eacute uma entre outras possibilidades para se chegar agrave estaccedilatildeo e

em (226b) pegar o ocircnibus 66 constitui-se como uma necessidade externa jaacute que eacute o uacutenico

meio de transporte para se chegar agrave estaccedilatildeo

O terceiro domiacutenio eacute a modalidade deocircntica caracterizado como um subdomiacutenio da

modalidade externa ao participante Este tipo identifica as circunstacircncias favorecedoras

externas ao participante como uma pessoa(s) normalmente o falante eou alguma norma

social ou eacutetica que permite ou obriga o participante a se engajar no estado de coisas Em

(227a) temos um caso de possibilidade deocircntica uma pessoa ou norma permite e torna

possiacutevel a partida de John A necessidade deocircntica estaacute expressa em (227b) em que uma

autoridade ou uma norma impotildee a partida de Joatildeo como necessaacuteria e obrigatoacuteria

(227a) John may leave now

John pode partir agora

(227b) John must leave now

John deve partir agora

O quarto e uacuteltimo domiacutenio eacute a modalidade epistecircmica que se refere a um julgamento

de uma proposiccedilatildeo pelo falante que pode ser considerada incerta ou provaacutevel

(228a) John may have arrived

John pode ter chegado

(228b) John must have arrived

John deve ter chegado

(228a) ilustra uma possibilidade baseada em julgamentos anteriores o falante trata a

chegada de John como incerta Em (228b) o falante se refere agrave chegada de John como

provaacutevel Dado um conjunto de evidecircncias anteriores o falante eacute levado a crer que

necessariamente John chegou

44

Assim os autores a partir dos passos de gramaticalizaccedilatildeo de Bybee et al (1994)

desenvolveram um mapa semacircntico da representaccedilatildeo da modalidade Como mostra a Figura

22 abaixo

Figura 22 ndash Mapa semacircntico da modalidade Fonte van der Auwera e Plungian (1998 p 111)

Neste mapa estatildeo representados trecircs domiacutenios da esquerda para a direita preacute-modal

modal e poacutes-modal Os domiacutenios preacute e poacutes-modais satildeo representados abstratamente e os

passos de gramaticalizaccedilatildeo satildeo representados por setas

Por fim a modalidade raiz abarca os significados natildeo-epistecircmicos em oposiccedilatildeo agrave

modalidade epistecircmica Como visto ela pode estar relacionada com o significado deocircntico

(TALMY 1988 SWEETSER 1990) e tambeacutem incluir parte do tipo dinacircmico (COATES

1983)

Como dito anteriormente levarei em conta neste trabalho uma classificaccedilatildeo

tradicional na literatura linguiacutestica considerando os tipos mais centrais desde o ponto de vista

do uso das liacutenguas naturais Utilizo os significados epistecircmico (relacionado ao conhecimento

e crenccedila) deocircntico (relacionado a obrigaccedilatildeo e permissatildeo) e dinacircmico (relacionado a

capacidade habilidade fiacutesica e voliccedilatildeo) Na proacutexima seccedilatildeo apresento alguns sentidos modais

numa visatildeo tradicional aleacutem de descrever mais detidamente as categorias baacutesicas aplicadas

nesta pesquisa nas seccedilotildees 2321 2322 e 2323

premodal

meanings going

to possibility

premodal

meanings going

to what is vague between

possibility and

necessity

premodal

meanings going to necessity

(one is future)

postmodal

meanings coming

from possibility

postmodal

meanings coming

from either possibility or

necessity

(one is future)

postmodal meanings coming

from necessity

participant-internal

possibility

deontic possibility

D

deontic necessity

D participant-external

possibility

participant-internal

possibility

participant-internal

necessity

epistemic

possibility

epistemic

necessity

45

232 A visatildeo tradicional

Em uma visatildeo tradicional encontra-se normalmente aleacutem das trecircs categorias baacutesicas ndash

epistecircmica deocircntica e dinacircmica ndash as categorias aleacutetica bulomaica (ou buleacutetica)

circunstancial e teleoloacutegica

A modalidade aleacutetica por definiccedilatildeo refere-se agrave verdade contingente possiacutevel ou

necessaacuteria de uma proposiccedilatildeo von Wright (1951) em seu ―Um ensaio em loacutegica modal

afirma que haacute quatro tipos de modos o aleacutetico o epistecircmico o deocircntico e o existencial Os

modos aleacuteticos satildeo os modos da verdade e a preocupaccedilatildeo central para as anaacutelises da loacutegica

modal De acordo com von Wright (1951 p 8) ―[a]s modalidades aleacuteticas satildeo ditas de dicto

quando satildeo sobre o modo ou forma na qual uma proposiccedilatildeo eacute ou natildeo eacute verdadeira As

modalidades satildeo usadas de dicto em frases como Eacute necessaacuterio quelsquo ou Eacute impossiacutevel

quelsquo etc30

Nas abordagens da semacircntica formal (LYONS 1977) o valor aleacutetico se diferencia do

valor epistecircmico uma vez que o uacuteltimo estaacute relacionado aos modos de conhecimento Esta

diferenccedila se aproxima daquela jaacute discutida anteriormente do caraacuteter objetivo e subjetivo da

modalidade epistecircmica

Segundo Palmer (1986 p 11) ―natildeo haacute qualquer distinccedilatildeo entre [hellip] o que eacute

logicamente verdadeiro e o que o falante acredita ser verdade efetivamente e ―natildeo haacute

qualquer distinccedilatildeo gramatical formal em inglecircs e talvez tambeacutem em qualquer outra liacutengua

entre a modalidade aleacutetica e a epistecircmica31

Vejamos o exemplo

(229) Uma refinaria representa investimento de muitos milhotildees Aleacutem do mais o

refino do petroacuteleo pode ser feito em qualquer lugar do paiacutes (CP

19OrBrIntrv Com)

Na ocorrecircncia em (229) coletada no Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA

2006) o falante afirma uma possibilidade fiacutesica ou natural compatiacutevel com o que estaacute

estabelecido em um determinado universo

30

Traduccedilatildeo minha para ―The alethic modalities are said to be de dicto when they are about the mode or way in

which a proposition is or is not true The modalities are used de dicto in phrases such as ―it is necessary that

―it is impossible that etc (von WRIGHT 1951 p 8) 31

No original ―there is no distinction between [hellip] what is logically true and what the speaker believes as a

matter of fact to be true and ―there is no formal grammatical distinction in English and perhaps in no other

language either between alethic and epistemic modality (PALMER 1986 p 11)

46

Entretanto alinho-me a Palmer no sentido de que compreendo que em um

determinado enunciado em que um conhecimento eacute apresentado como dado e natildeo

especulativo (o que seria em loacutegica modal reconhecido como uma verdade aleacutetica)

considero que seja um conhecimento epistecircmico ou ainda como uma possibilidade dinacircmica

Portanto a diferenccedila colocada entre verdade no mundo e verdade na mente de um

determinado indiviacuteduo perde o sentido Portner (2009 p 135) propotildee inclusive o termo

―modalidade factual para abarcar os tipos epistecircmico aleacutetico e metafiacutesico

Conforme Portner (2009 p 10) haacute uma dificuldade em se classificar precisamente o

uso aleacutetico de um modal e que este tipo pode ser considerado o mais baacutesico a partir do qual

outros podem ser definidos

A modalidade bulomaica indica o grau de aprovaccedilatildeo ou desaprovaccedilatildeo do falante (ou

outra pessoa) em relaccedilatildeo a um determinado estado de coisas Este tipo assim como o

epistecircmico e o deocircntico (que podem ser considerados mais fortes ou mais fracos) podem ser

analisados de forma escalar com polos positivo e negativo

O tipo circunstancial se refere ao que eacute possiacutevel ou necessaacuterio de acordo com

determinadas circunstacircncias por exemplo

(230) Eacute possiacutevel instalar uma internet a raacutedio na zona rural de Viccedilosa

A sentenccedila em (230) expressa a informaccedilatildeo de que haacute as condiccedilotildees necessaacuterias que

viabilizam a instalaccedilatildeo de um serviccedilo de internet na zona rural de uma cidade natildeo importa se

a instalaccedilatildeo vai ocorrer ou natildeo

Segundo Mello et al (2009 p 119) alguns autores natildeo consideram este tipo de forma

autocircnoma concebendo-os como enunciados modalizados ou aleticamente ou dinamicamente

A modalidade teleoloacutegica expressa o que eacute necessaacuterio para se atingir um determinado

objetivo

(231) Para entrar no Ministeacuterio Puacuteblico tenho que estudar com disciplina

Em (231) em que o objetivo eacute ser funcionaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e para alcanccedilar

tal objetivo eacute necessaacuterio um estudo disciplinado

47

2321 Modalidade epistecircmica a linguagem das possibilidades

Lyons (1977 p 797-800) afirma que as interpretaccedilotildees epistecircmicas de iacutendices modais

satildeo frequentemente mais subjetivas e que essas interpretaccedilotildees satildeo mais baacutesicas que as

objetivas Kiefer confirma este caraacuteter subjetivo da modalidade De acordo com ele ―[a]

modalidade epistecircmica subjetiva expressa diferentes graus de comprometimento com a

factualidade32

(KIEFER 2009 p 183) e completa dizendo que dessa forma se relaciona

com a categoria de evidencialidade33

Bybee et al (1994 p 179) propotildeem que a modalidade epistecircmica marca ―a extensatildeo

ateacute a qual o falante estaacute comprometido com a verdade da proposiccedilatildeo34

ou como define

Palmer (1986 p 51) o ―grau de comprometimento do falante com a verdade do que ele

diz35

No mesmo sentido van der Auwera e Plungian (1998) argumentam que uma

proposiccedilatildeo eacute avaliada como certa ou provaacutevel em relaccedilatildeo a um conjunto de julgamentos

Coates (1983 p 41) por sua vez sustenta que a modalidade epistecircmica sempre indica ―a

confianccedila (ou falta de confianccedila) do falante na verdade da proposiccedilatildeo expressa36

e dessa

forma varia entre o limite da confianccedila e da duacutevida

Nuyts (2001) nos oferece a seguinte definiccedilatildeo

A modalidade epistecircmica eacute [] uma avaliaccedilatildeo das chances que um certo estado-de-

coisas hipoteacutetico tomado em consideraccedilatildeo (ou algum aspecto dele) vai ocorrer estaacute

ocorrendo ou ocorreu em um mundo possiacutevel o qual funciona como o universo de

interpretaccedilatildeo para a avaliaccedilatildeo do processo e o qual no caso default eacute o mundo real

(ou antes a interpretaccedilatildeo do avaliador desse mundo []37

(NUYTS 2001 p 21)

A avaliaccedilatildeo nesse caso iria da absoluta certeza de que um estado-de-coisas eacute real agrave

absoluta certeza de que natildeo eacute real Entre os dois extremos estaria um continuum que inclui a

possibilidade e a probabilidade Como os exemplos extraiacutedos de nossa amostra indicam

32

No original ―Subjective epistemic modality thus expresses different degrees of commitment to factuality and

it thus relates to evidentiality (KIEFER 2009 p 183) 33

Trato da relaccedilatildeo semacircntica entre modalidade epistecircmica e evidencialidade mais adiante na seccedilatildeo 24 34

― the extent to which the speaker is committed to the truth of the proposition (BYBEE PERKINS

PAGLIUCA 1994 p 179) 35

―the degree of commitment by the speaker to the truth of what he says (PALMER 1986 p 51) 36

―[speakerlsquos] confidence (or lack of confidence) in the truth of the proposition expressed (COATES 1983 p

41) 37

―Epistemic modality is [hellip] an evaluation of the chances that a certain hypothetical state of affairs under

consideration (or some aspect of it) will occur is occurring or has occurred in a possible world which serves as

the universe of interpretation for the evaluation process and which in the default case is the real world (or

rather the evaluatorlsquos interpretation of it [hellip] (NUYTS 2001 p 21)

48

(232) [141] os cara que satildeo bem mais boleiros eles com ltcertezagt vatildeo saber

alguma coisa (bfamcv01)

(233) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar uaigt (bfamcv01)

(234) [198] minha matildee sem chance (bfammn04)

(235) LUA [95] ltegt assim se cecirc tivesse uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

talvez adiantasse um pouco assim ou pelo menos ajudasse a organizar neacute

(bpubmn01)

O exemplo em (232) representa a certeza que um estado-de-coisas vai ocorrer (―saber

alguma coisa) ao contraacuterio de (233) e (234) que apontam para a certeza de que natildeo vatildeo

ocorrer Jaacute em (235) temos um exemplo da nuance de possibilidade que Nuyts fala de um

estado-de-coisas ocorrer ou natildeo dadas determinadas circunstacircncias no caso a hipoacutetese de

―uma coordenaccedilatildeo pedagoacutegica melhor

Sweetser (1990) considera a modalidade epistecircmica como extensatildeo da modalidade

raiz A partir da anaacutelise da modalidade raiz em termos de forccedilas e barreiras sociofiacutesicas ela

explora a transferecircncia dessa visatildeo para a modalidade epistecircmica para atingir uma anaacutelise

unificada sobre modalidade

A autora se alinha a Palmer (1986) no sentido de argumentar que os verbos modais

em inglecircs nos seus sentidos epistecircmicos expressam o julgamento do falante Assim pretende

encontrar uma conexatildeo semacircntica motivada entre o domiacutenio epistecircmico de raciociacutenio e

julgamento e o domiacutenio da modalidade sociofiacutesica

Por exemplo se o may sociofiacutesico representa em termos de dinacircmica de forccedilas uma

ausecircncia de barreira potencial o may epistecircmico tem um sentido paralelo no domiacutenio do

raciociacutenio isto eacute haacute uma barreira ausente no processo de raciociacutenio do falante a partir das

premissas disponiacuteveis para a conclusatildeo expressa na sentenccedila qualificada pelo verbo Segundo

Sweetser nossa experiecircncia sobre os domiacutenios fiacutesico social e do raciociacutenio compartilham

alguma estrutura que nos permite um mapeamento metafoacuterico bem sucedido entre os

aspectos relevantes dos trecircs domiacutenios

Os fatores pragmaacuteticos (como as pistas contextuais e a prosoacutedia) vatildeo influenciar para

o ouvinte (ou para o indiviacuteduo endereccedilado) compreender se um modal corresponde a um

domiacutenio ou outro Veja os exemplos com os verbos deverlsquo e poderlsquo no portuguecircs brasileiro

49

(236) dever epistecircmico

(236a) necessidade

RUT [178] ltmas elesgt tambeacutem deve ter condiccedilotildees =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(236b) probabilidade

o diacircmetro dea deve dar uns [1] uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de [1]

de amps [2] de grossura o diacircmetro dela (bfammn01)

(237) poder epistecircmico

(237a) possibilidade

BAL [229] entatildeo isso aqui a gente pode ltinventar de colocar em qualquer

lugargt =COM=$ (bfamdl02)

(237b) impossibilidade

MAI ele nũ [2] ele nũ [2] ele nũ ltpode nemgt falar plsquo ocecirc ltque eacute verdade

(bfammn01)

Em recente trabalho sobre o significado epistecircmico Boye (2012) propotildee igualmente

que a modalidade epistecircmica estaacute definida em termos da noccedilatildeo do grau de certeza do grau de

comprometimento o que ele vai chamar de ―apoio epistecircmico38

Esta categoria assim como

a de evidencialidade estaria subordinada a outra categoria descritiva a epistemicidade que

seria uma generalizaccedilatildeo das noccedilotildees de justificativa epistecircmica e apoio epistecircmico ao que os

filoacutesofos chamam de ―apoio justificativo39

Kaumlrkkaumlinen (2003) destaca que ainda que as definiccedilotildees propostas para a modalidade

epistecircmica faccedilam referecircncia agrave verdade da proposiccedilatildeo os types relacionados a ela satildeo de

possibilidade probabilidade e certeza (inferida)

No PB a modalidade epistecircmica pode ser expressa por elementos de natureza lexical

como verbos modais adveacuterbios modais verbos de atitude proposicional construccedilotildees

adjetivas expressotildees modais e de natureza gramatical como o futuro perifraacutestico e as

condicionais Encerro a seccedilatildeo com mais alguns exemplos de nossa amostra

(238) TER [21] ocirc Jael [22] mas gente velha jaacute prometeu o [1] os presente ltjaacute

podegt garantir que ganhou (bfamcv02)

38

―epistemic support (BOYE 2012 p 2) 39

―justificatory support (BOYE 2012 p 2-3)

50

(239) [171] natildeo trinta reais aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1] eu fico imaginando que elsquo

fica pensando assim Nossa Sio agraves vezes laacute em casa taacute precisando de fazer

uma compra e tudo neacute (bpubmn01)

(240) [72] quela [1] quela aula igual se daacute no EDUCONLE que cecirc acha que eacute ampo

[1] eacute tudo de bom neacute (bpubmn01)

(241) foi verdade ltmesmogt (bfammn01)

(242) PAU [153] porque eacute capaz dlsquoeu subir uma parede laacute (bpubdl01)

(243) [59] porque ateacute aiacute essas crianccedila ateacute dez anos o [1] o mundo que noacutes tamo

vivendos hoje com dez ano jaacute daacute pa ver que daacute trabalho (bfammn05)

(244) [44] es vatildeo pegar os caras que tipo tavam reclamando e tal es vatildeo pegar

[3] es vatildeo pegar tentar fazer um negoacutecio desse e eu aposto que cecirc vai ver

os caras que jaacute conhecem a gente haacute mais tempo tipo Joseacute [1] Zeacute Mourinho

falando assim natildeo o campeonato dlsquoocecircs eacute bem melhor (bfamcv01)

(245) BRU [268] lte se for uma palavra composta cecirc faz assimgt (bfamcv04)

Em (238) temos uma ocorrecircncia com o verbo modal ―poder com valor epistecircmico

que denota possibilidade (239) traz um exemplo com a locuccedilatildeo adverbial ―agraves vezes

normalmente utilizada no sentido temporal de ―em algumas ocasiotildees ou circunstacircncias mas

que na diatopia mineira toma o sentido modal de possibilidade sendo sinocircnima de ―talvez

A ocorrecircncia em (240) traz um verbo de atitude proposicional (ou ainda verbo epistecircmico ou

verbo de crenccedila) ―acha que indica o grau de certeza sobre o que estaacute enunciado As

construccedilotildees adjetivas estatildeo representadas nos exemplos (241) e (242) com as expressotildees

―foi verdade e ―eacute capaz No primeiro caso temos um sentido de certeza e no segundo de

possibilidade O uso modal do verbo ―dar exemplificado em (243) eacute ainda pouco

reconhecido na literatura (cf SALOMAtildeO 2008) no entanto eacute recorrente na fala em sentidos

possibilitativos Os marcadores de modalidade de caraacuteter gramatical estatildeo ilustrados em

(244) e (245) o primeiro exemplo traz uma seacuterie de usos de futuro perifraacutestico que indicam

o grau de certeza ou comprometimento em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo de um evento futuro no

segundo exemplo temos uma construccedilatildeo condicional na forma canocircnica ―se p entatildeo q em

que o conectivo ―se eacute o marcador modal

232 Modalidade deocircntica

Segundo a tradiccedilatildeo loacutegica o valor deocircntico diz respeito agraves noccedilotildees da obrigaccedilatildeo e da

permissatildeo Este valor estaacute ligado a princiacutepios morais ou legais e de conduta social

51

Lyons (1977 p 792-793) afirma que a mesma distinccedilatildeo aplicada agrave modalidade

epistecircmica entre leitura subjetiva e objetiva pode ser estendida agrave modalidade deocircntica como

exemplifica a partir da proposiccedilatildeo ―Alfred is a bachelor (―Alfred eacute celibataacuterio)

(246) Alfred is obliged to be unmarried

Alfred eacute obrigado a ser descasado

(247) ―I (hereby) oblige Alfred to be unmarried

ldquoEu obrigo Alfred ser descasadordquo

Em (246) teriacuteamos uma interpretaccedilatildeo deocircntica mais objetiva e em (232) uma mais

subjetiva Mais aleacutem no exemplo (247) temos um performativo Tento resgatar em nossa

amostra um exemplo que em minha opiniatildeo eacute ambiacuteguo no que diz respeito a uma leitura

subjetiva ou objetiva como coloca Lyons

(248) [132] po parar o carro hhh (bfamdl05)

Se levarmos em consideraccedilatildeo a ocorrecircncia acima com o verbo modal ―poder

deocircntico em sua forma afereacutetica po‟lsquo desconectada de seu contexto de uso e da forma como

foi enunciada natildeo haveria duacutevida de que as seguintes interpretaccedilotildees seriam possiacuteveis

(248a) Eacute permitido parar o carro

(249b) Eu te permito parar o carro

No entanto natildeo eacute o caso quando a escutamos [ ] O contexto permite a interpretaccedilatildeo

de ―eacute o caso de ou ―eacute oportuno e percebemos uma ilocuccedilatildeo do tipo representativo do

subtipo ―conclusatildeo Natildeo estou colocando em duacutevida o caraacuteter deocircntico da ocorrecircncia mas

gostaria de pensar como (e se) a forccedila ilocucionaacuteria em sobreposiccedilatildeo agrave modalidade40

atenuaria ou reforccedilaria a ideia de permissatildeo

Kiefer (2009) argumenta que se deve fazer uma distinccedilatildeo entre o estabelecimento de

uma necessidade deocircntica ou de uma possibilidade deocircntica (entre proposiccedilotildees deocircnticas) e a

emissatildeo de uma ordem (impor uma obrigaccedilatildeo) ou dar permissatildeo As primeiras segundo ele

pertencem agrave semacircntica (e se proposicional satildeo descritas em termos de loacutegica formal) as

uacuteltimas satildeo parte da teoria dos atos de fala e devem assim ser tratadas na pragmaacutetica

40

Sobre a distinccedilatildeo entre modalidade e ilocuccedilatildeo ver seccedilatildeo 243

Other

15348568

52

A literatura identifica a modalidade deocircntica com os atos de fala diretivos (e com o

modo imperativo cf BYBEE et al 1994) uma vez que a obrigaccedilatildeo e permissatildeo derivariam

de uma fonte de autoridade As evidecircncias em corpora de fala espontacircnea com arquivos de

aacuteudio disponiacuteveis para checar os atos ilocucionaacuterios apontam para outro caminho Os

exemplos de Tucci (2007 p 62)41

do corpus de referecircncia do italiano problematizam a ideia

de comando nos usos de dovere e potere em enunciados assertivos que expressam

necessidade contingente em (250) impossibilidade condicionada em (251) e

esclarecimento de uma regra operativa em (252)

(250) LIA si doveva rigovernare COM

[ifamcv02]

(251) GAL un potevi falsquo cip COM

[ifamcv14]

(252) MAM ma te la devi fare a lei lte lei la fa a tegt COM

[ifamcv25]

Ou como atestado na amostra do corpus de fala espontacircnea do PB em que temos

diferentes classes de atos de fala a partir de Moneglia (2011 p 490)42

representativos

diretivos e expressivos

(253) dever gt necessidade obrigaccedilatildeo

(253a) LUI [213] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais

(bfamcv01)

ill asserccedilatildeo forte

(254) ter que gt necessidade obrigaccedilatildeo

(254a) [211] entatildeo tem que ser eu mesma (bfamcv02)

ill expressatildeo de obviedade

(255) poder

(255a) permissatildeo

[205] a porta taacute fechada mas cecirc pode abrir (bfamdl05)

ill autorizaccedilatildeo

41

Os exemplos em (250) (251) (252) correspondem respectivamente aos exemplos 20 21 e 22 de Tucci

(2007 p 62) transcritos aqui ipsis litteris 42

A tarefa de anotaccedilatildeo ilocucionaacuteria ainda estaacute por ser realizada no acircmbito do projeto C-ORAL-BRASIL Os

exemplos elencados foram anotados com a colaboraccedilatildeo do aluno de doutorado Bruno Rocha exclusivamente

para ilustrar nosso argumento

14186118

1358367

17600812

53

(255b) proibiccedilatildeo

BRU [177] cecirc nũ pode fazer ampa [1] nenhum som (bfamcv04)

ill ordem

(255c) restriccedilatildeo

[181] porque eu acho que no mesmo concurso cecirc nũ pode fazer duas

(bfamdl03)

ill asserccedilatildeo

No subcorpus analisado foram identificadas expressotildees de modalidade deocircntica com

os types poderlsquo (em grande nuacutemero com significado de permissatildeo) ter quelsquo (a ampla

maioria com significado de obrigaccedilatildeo) e deverlsquo (em nuacutemero reduzido)43

233 Modalidade dinacircmica

A modalidade dinacircmica de acordo com Palmer (1990) e Papafragou (2000) inclui

uma habilidade e a intenccedilatildeo (vontade) isto eacute a expressatildeo da capacidade do sujeito Salomatildeo

(1990) daacute os seguintes exemplos com o verbo poderlsquo

(256) Ele pode correr 4 km sem cansar (habilidade fiacutesica)

(257) Ele pode citar Virgiacutelio de cabeccedila (habilidade mental)

Os exemplos de Salomatildeo se sustentam dentro da definiccedilatildeo de Palmer e Papafragou no

entanto se realizada uma busca minuciosa em corpus dificilmente esses usos ocorreriam no

portuguecircs brasileiro ou mesmo na liacutengua falada Em uma busca no Corpus do Portuguecircs por

exemplo com a expressatildeo ―pode nadar encontrei apenas duas ocorrecircncias no portuguecircs

europeu

(258) A maioria dos caranguejos natildeo pode nadar podendo rastejar lentamente para a

frente e mais frequentemente movendo-se para o lado especialmente quando

rastejam a grande velocidade (CP 19Ac Pt Enc)

(259) Pode nadar mergulhar ou andar junto ao fundo usando a pressatildeo da aacutegua

sobre as asas e cauda para se manter em baixo enquanto procura larvas de

insectos e outros pequenos animais

43

Na anaacutelise dos verbos modais tratarei da substituiccedilatildeo do uso do deverlsquo deocircntico por ter quelsquo no PB

11493875

2977958

54

Os dois exemplos pertencem ao mesmo gecircnero verbete de enciclopeacutedia Pelo que foi

discutido anteriormente estas satildeo ocorrecircncias que ficam na fronteira entre a possibilidade

aleacutetica o conhecimento epistecircmico e a habilidade dinacircmica uma vez que o verbo modal

―poder carrega o sentido de um conhecimento estabelecido em um determinado universo

natildeo se constituindo como uma especulaccedilatildeo mas igualmente carrega o sentido da habilidade

dos seres em ―nadar (no caso tambeacutem ―rastejar ―mergulhar e ―andar junto ao fundo)

Ainda poderia colocar em discussatildeo o estatuto do verbo ―saber como um modal que

expressa conhecimento epistecircmico ou habilidade do sujeito em realizar uma determinada

atividade em contextos como em (260) e (261)

(260) Se a pessoa sabe fazer feijatildeo entatildeo ela deve ensinar isso porque tem muita

gente que natildeo sabe fazer feijatildeo

(261) Eacute um talento o homem Sabe falar e sabe escrever Se ele quiser escrever uma

carta para vocecirc chorar vocecirc chora Se quiser escrever uma carta para vocecirc rir

vocecirc ri

Palmer (1990 p 36) aponta que a modalidade dinacircmica diz respeito agrave habilidade ou agrave

voliccedilatildeo do sujeito da sentenccedila natildeo do falante e dessa forma natildeo eacute subjetiva como outras

modalidades

No PB a modalidade dinacircmica se diferencia igualmente da modalidade epistecircmica e

os verbos mais frequentes satildeo ―conseguir e ―aguentar para sentidos de capacidade e

―querer e a forma ―gostaria no sentido de voliccedilatildeo Na amostra encontramos ainda que em

nuacutemero bastante reduzido ocorrecircncias do tipo dinacircmico como ilustro abaixo

(262) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3] lttaacute de

ladinhogt (bfamcv03)

(263) [184] o papai nũ guumlenta carregar mais (bfammn05)

(264) [50] e eu ampa [3] e [1] e vou conseguir sabe vencer essas dificuldades aiacute

(bpubmn01)

(265) [168] taacute pensando em organizar um torneio e a gente quer que vocecircs

participem da organizaccedilatildeo ltmandando representantegt (bfamcv01)

55

Os exemplos em (262) e (263) apontam para a habilidade fiacutesica do sujeito jaacute o em

(264) indica habilidade soacutecio-afetiva ou disposiccedilatildeo interna do sujeito Em (265) finalmente

temos um exemplo com o verbo ―querer no sentido volitivo

Haacute quem argumente (LARREYA 2009) que a voliccedilatildeo estaacute incluiacuteda no significado

deocircntico de um enunciado como ―John must leave (―John deve sair) em dois sentidos no

primeiro a obrigaccedilatildeo expressa no enunciado incluiria uma vontade uma vez que haacute uma

exigecircncia imposta seja por princiacutepio moral ou por uma pessoa que explicita um desejo no

caso de que John saia no segundo o uso de ―must carrega em seu significado a implicaccedilatildeo

de que se John obedece agrave injunccedilatildeo contida no enunciado isso caracterizaria um ato

voluntaacuterio por parte do agente Johnlsquo A primeira seria uma vontade externa e a segunda uma

vontade interna

Sobre a compulsatildeo interna ou intenccedilatildeo o que me faz aninhar a voliccedilatildeo agrave categoria

dinacircmica e natildeo agrave deocircntica Larreya (2009) a considera como uma vontade natildeo-factual em

exemplos como ―I want to go (―Eu quero ir) em que o evento pode ou natildeo se realizar Seria

uma vontade que natildeo depende de uma forccedila externa mas unicamente da disposiccedilatildeo interna do

sujeito

24 Modalidade epistecircmica e evidencialidade o limite () entre categorias

Os estudos sobre evidencialidade partem da anaacutelise de liacutenguas em que haacute um sistema

evidencial gramaticalizado como as liacutenguas nativas norte-americanas (CHAFE 1995

MITHUN 1995) o tibetano (VOKURKOVA 2011 MELAC 2012) ou o cuzco queacutechua

(FALLER 2002) Apesar de natildeo ser uma categoria gramatical em inglecircs ou portuguecircs ela

pode ser expressa por iacutendices lexicais como adveacuterbios ou verbos como parecer e dizer (na

expressatildeo ―diz que)

Justamente por natildeo ser uma categoria com marcaccedilatildeo gramatical e por alguns dos itens

lexicais poderem igualmente ser iacutendices que expressam modalidade a fronteira entre

evidencialidade e epistemicidade eacute difusa e a relaccedilatildeo entre as duas noccedilotildees ainda ocupa o

debate entre linguistas (CHAFE 1986 FITNEVA 2001 NUYTS 2001 PLUNGIAN 2001

entre outros) Dendale e Tasmowski (2001 p 341-342) levantam os problemas de

conceituaccedilatildeo e apontam trecircs caminhos encontrados em estudos recentes ―disjunccedilatildeo (em que

56

satildeo conceptualmente distinguidas) inclusatildeo (em que uma estaacute incluiacuteda no escopo semacircntico

da outra) e sobreposiccedilatildeo (em que elas parcialmente se interseccionam)44

Palmer (2001) por exemplo organiza a modalidade epistecircmica e a evidencial

subordinadas a uma categoria hierarquicamente superior da modalidade proposicional A

mesma decisatildeo de inclusatildeo da evidencialidade como uma categoria modal aparece em Bybee

(1985) Bybee et al (1994) e Frawley (1992) Na outra ponta a da exclusatildeo estatildeo os estudos

de de Haan (1999 2005)

Como visto anteriormente a modalidade epistecircmica expressa os diferentes graus de

comprometimento em relaccedilatildeo agrave validade do material enunciado Jaacute os evidenciais satildeo

marcadores que indicam a fonte e a confiabilidade do conhecimento do falante As duas

categorias lidam com a evidecircncia no entanto a noccedilatildeo de comprometimento no domiacutenio da

modalidade epistecircmica estaacute relacionada com a postura epistecircmica do falante isto eacute com a

probabilidade ou certeza que atribui agravequilo que estaacute dizendo Jaacute no domiacutenio evidencial esta

noccedilatildeo estaacute relacionada ao grau de confianccedila de onde parte a evidecircncia

Este grau de confianccedila segundo Cornillie (2009 p 58) pode ser explicado em termos

de status da evidecircncia compartilhado ou natildeo-compartilhado Como satildeo vaacuterias as fontes de

evidecircncia (o falante o falante e outros participantes da comunicaccedilatildeo ou exclusivamente os

outros) a confiabilidade pode variar mas natildeo envolve uma avaliaccedilatildeo ou probabilidade

epistecircmica Nas palavras de de Haan (2005 p 379) ―a evidencialidade assevera a evidecircncia

enquanto a modalidade epistecircmica avalia a evidecircncia45

Na mesma linha Pietrandrea (2005

p 33) afirma que ―enquanto a evidencialidade qualifica a fonte que justifica a asserccedilatildeo de

uma proposiccedilatildeo a modalidade qualifica a crenccedila genuiacutena do falante sobre a verdade da

proposiccedilatildeo 46

A evidencialidade pois lida com a fonte da evidecircncia que um falante tem sobre uma

dada informaccedilatildeo Os marcadores de evidecircncia expressam se um falante foi testemunha direta

do evento ou atividade que descreve ou se esta informaccedilatildeo chega de outra fonte Dessa forma

a categoria pode ser dividida em duas subcategorias evidecircncia direta e evidecircncia indireta (o

ouvi-dizer-que a citaccedilatildeo e a inferecircncia)

44

Traduccedilatildeo minha para ―disjunction (where they are conceptually distinguished from each other) inclusion

(where one is regarded as falling within the semantic scope of the other) and overlap (where they partly

intersect) 45

Traduccedilatildeo para ―[e]videntiality asserts the evidence while epistemic modality evaluates the evidence (de

HAAN 2005 p 379) 46

No original ―[w]hile evidentiality qualifies the source that justifies the assertion of a proposition modality

qualifies the genuine belief of the speaker about the truth of the proposition (PIETRANDREA 2005 p 33)

57

Em nossa amostra levanto alguns exemplos para ilustrar a questatildeo e sugerir de

alguma forma que as categorias de fato se distinguem Vou partir de trecircs exemplos para

evidenciar meu ponto

(266) LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais (bfamcv01)

(267) [65] se o brasileiro nũ lecirc os manuais hhh no mercado de reposiccedilatildeo ampauto [1]

de autopeccedila eles acham que abrir uma empresa eacute comprar um produto

por um real =COB= na base cem e vender por dois acha que taacute

ganhando o ampdo [2] o dobro (bfammn06)

(268) ROG [187] daacute [188] tem muita pedra ali uai [189] laacute embaixo ainda tem

pedra perto da [2] perto da garagem laacute tem [190] assim vai ficar uma

pracinha boa aqui

PAU [191] e a Isa tava achando que ela ali ia ficar pequena [192] falei

assim depois de feito eacute que a gente vecirc o tamanho neacute (bpubdl01)

No exemplo em (266) temos um julgamento epistecircmico de um conceptualizador47

primaacuterio (o falante) o mais frequente em nossa amostra Em (267) haacute a ocorrecircncia de uma

avaliaccedilatildeo por parte do falante de um julgamento epistecircmico de um conceptualizador em

terceira pessoa o que poderia ser textualizado como ―eu acho que eles acham O uso de um

pronome geneacuterico como ―eles pode indicar essa adesatildeo a uma avaliaccedilatildeo que parte do senso

comum Por fim em (268) o falante reporta um julgamento epistecircmico de uma terceira

pessoa porque partilha dessa informaccedilatildeo (eleela acha porque compartilhamos esse

conhecimento)

Parece que haacute em (267) e (268) dois niacuteveis de interpretaccedilatildeo o primeiro niacutevel estaria

relacionado ao falante e agrave confiabilidadefonte da informaccedilatildeo que seria evidencial uma vez

que eacute uma informaccedilatildeoavaliaccedilatildeo filtrada pelos olhos do falante no primeiro caso e no

segundo exemplo haacute uma avaliaccedilatildeo reportada pelo falante o outro niacutevel estaria relacionado a

um conceptualizador em terceira pessoa e agrave sua (suposta) avaliaccedilatildeo portanto uma

interpretaccedilatildeo epistecircmica

O seguinte continuum representa os graus de comprometimentoafastamento do

falante conceptualizador primeiro no que diz respeito ao material enunciado

47

O conceptualizador eacute a entidade que constroacutei um ponto de vista em uma determinada cena Esta noccedilatildeo estaacute

ligada agrave de construal que eacute a nossa capacidade de conceber e retratar a mesma situaccedilatildeo de maneiras diferentes

58

eu acho (eu acho que) ele acha parece que diz-que

ele acha (info partilhada)

Figura 23 - Continuum modalidade epistecircmicaevidencialidade

Nos exemplos observam-se trecircs diferentes graus de participaccedilatildeo do enunciador na

constituiccedilatildeo da avaliaccedilatildeo sobre o que estaacute sendo dito o que me leva a tentar reformular o

conceito de modalidade e assumir a noccedilatildeo de conceptualizador48

nos termos langackerianos

para explicar este fenocircmeno semacircntico

25 O escopo da modalidade e as fronteiras entre algumas categorias

Nas seccedilotildees anteriores foram apresentadas diferentes abordagens e tipologias no que

diz respeito agrave modalidade As definiccedilotildees desta categoria podem ser mais amplas como a de

Palmer (2001) que diz que a modalidade se relaciona com o status da proposiccedilatildeo que descreve

o evento ou mais restritas como a de van der Auwera e Plungian (1998) para quem a

modalidade envolve os domiacutenios de possibilidade e necessidade como variantes

paradigmaacuteticas A primeira definiccedilatildeo natildeo deixa claro o que inclui ou exclui a modalidade na

segunda identificam-se termos reconhecidos como ―modais mas exclui por exemplo

habilidade e voliccedilatildeo

Bally (1942 p 3) apresenta uma definiccedilatildeo enunciativa da modalidade como o modus

do dictum em suas palavras ―a forma linguiacutestica [Modus on dictum] de um julgamento

intelectual de um julgamento afetivo ou de uma vontade que um sujeito pensante enuncia a

propoacutesito de uma percepccedilatildeo ou de uma representaccedilatildeo de sua alma49

Segundo ele uma frase

expliacutecita eacute composta por duas diferentes partes uma o dictum eacute a representaccedilatildeo percebida

pelos sentidos pela memoacuteria e a imaginaccedilatildeo a outra o modus eacute uma operaccedilatildeo psiacutequica de

um sujeito pensante

Ao modus eacute conferida mais importacircncia que ao dictum O autor oferece exemplos para

o que considera as operaccedilotildees do pensamento50

sobre o que se enuncia que indicam um

entendimento um sentimento e uma vontade ―algueacutem crecirc que vai chover ou ―natildeo crecirc ou

―duvida ―algueacutem se alegra porque chove ou ―algueacutem lamenta que chove ―algueacutem deseja

48

Desenvolvo este ponto na seccedilatildeo 25 49

No original ―la forme linguistique dlsquoun jugement intellectual dlsquoun jugement affectif ou dlsquoune volonteacute qulsquoun

sujet pensant eacutenonce agrave propos dlsquoune perception ou dlsquoune representation de son esprit (BALLY 1942 p 3) 50

Pensar para Bally (19321965 p 35) seria ―reagir a uma representaccedilatildeo constatando-a apreciando-a ou

desejando-a

59

que chova ou ―que natildeo chova

Esta parece ser entretanto uma definiccedilatildeo muito ampla mdash apesar de indiscutivelmente

nos inspirar a considerar a dimensatildeo do enunciado mdash e seguirei na tentativa de estreitaacute-la e

responder agrave pergunta que tipo de modificaccedilatildeo do dictum deve ser considerada sob o escopo

da modalidade ou em outras palavras como definir o que compreende o modus Como

definir (a) de que modificaccedilatildeo se trata (b) o que estaacute incluiacutedo no escopo da modalidade (c)

quais os domiacutenios semacircnticos envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes

categorias

A partir de agora portanto argumentarei no sentido de diferenciar as categorias que

podem modificar o que eacute dito e em particular apontar as nuances entre negaccedilatildeo modo

ilocuccedilatildeo e atitude

A pergunta que emerge ao me defrontar com dados orais em situaccedilotildees reais de uso da

liacutengua eacute ―por que seria insuficiente esse conceito de modalidade fundado na loacutegica

aristoteacutelica Dito de outra forma a definiccedilatildeo de modalidade e o seu campo de aplicaccedilatildeo ateacute

agora utilizados pela semacircntica como heranccedila da loacutegica formal para a anaacutelise de sentenccedilas

isoladas servem completamente ao estudo desse fenocircmeno na fala e na dinacircmica de uma

interaccedilatildeo

251 Modalidade e negaccedilatildeo

A categoria da negaccedilatildeo vem sendo estudada em uma perspectiva filosoacutefica desde

Aristoacuteteles A pergunta que se persegue responder em termos de valor de verdade eacute como o

valor de verdade de uma sentenccedila muda se for adicionado um elemento negativo Na loacutegica

a negaccedilatildeo eacute um operador que inverte as condiccedilotildees de verdade de um determinado conteuacutedo

proposicional

Lawler (2007) coloca que a negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno linguiacutestico cognitivo e

intelectual e que eacute fundamental para todo o pensamento humano Nas palavras de Kiefer

(2009 p 193) ―a negaccedilatildeo de um evento teria que ser caracterizada em termos da ocorrecircncia

do evento ser feita relativamente agrave sua natildeo-ocorrecircncia51

Nas liacutenguas naturais a negaccedilatildeo funciona como um operador associado a

quantificadores e modais sendo que a relaccedilatildeo entre estas categorias se daacute de forma complexa

Vejamos alguns casos ambiacuteguos

51

[hellip] the negation of an event would have to be characterized in terms of the occurrence of the event being

made relative to its nonoccurrence [hellip] (KIEFER 2009 p 193)

60

(269) Ele natildeo pode ir ao jogo

(269a) Natildeo eacute possiacutevel ele ir ao jogo

(269b) Natildeo eacute permitido ele ir ao jogo

Destaco de nossa amostra algumas ocorrecircncias em que temos o operador de negaccedilatildeo

associado a um iacutendice modal A partir deles discuto a relaccedilatildeo entre dois iacutendices modais (um

deles modificado pela negaccedilatildeo)

(270) GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em [2] e tambeacutem falando

em povo mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt (bfamcv01)

(271) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e desmanchar tudo o que

foi feito durante a semana neacute

ROG [248] pode natildeo [249] mas tem gente que desmancha socirc Paulo

(bpubdl01)

(272) [185] cecirc natildeo pode aprontar [1] apontar pra mesa (bfamcv04)

Os verbos ―dever e ―poder modificados pelo operador de negaccedilatildeo nos casos acima

expressam interdiccedilatildeoimpedimento restriccedilatildeo e proibiccedilatildeo respectivamente portanto estatildeo

inscritos no significado deocircntico da modalidade Quero destacar o exemplo (270) em que

temos dois iacutendices modais na mesma unidade informacional um verbo epistecircmico acharlsquo e o

verbo modal deverlsquo deocircntico Neste caso vai atuar o princiacutepio da composicionalidade o

valor epistecircmico ordena o valor deocircntico Em outras palavras o falante a partir de seu

conhecimento de mundo e de suas crenccedilas emite sua opiniatildeo que envolve uma avaliaccedilatildeo

relacionada agrave interdiccedilatildeo

Apresento mais dois exemplos do subcorpus em estudo para discutir o escopo da

negaccedilatildeo

(273) CES [391] acho que nũ tem ningueacutem aiacute natildeo (bfamdl03)

(274) LUI [232] lteu nũ acho que a gente [6] eu nũ acho que a gente deve chamar

soacute veteranos natildeogt (bfamcv01)

Na ocorrecircncia em (273) o verbo de atitude proposicional acharlsquo natildeo estaacute sob o

escopo da negaccedilatildeo A avaliaccedilatildeo aqui apresentada eacute de que o falante considera que o material

61

locutoacuterio da encaixada natildeo ocorre Jaacute em (274) o verbo eacute posto no escopo da negaccedilatildeo o

falante enuncia uma sua opiniatildeo negativa

No PB haacute trecircs tipos de negaccedilatildeo a simples preposta a simples posposta e a dupla

negaccedilatildeo Neste trabalho investigarei ainda a relaccedilatildeo de modalidade e negaccedilatildeo para fins de

anotaccedilatildeo semacircntica Este ponto vai ser desenvolvido na Parte III desta tese

252 Modalidade e modo

O modo eacute uma categoria morfoloacutegica e se refere a um conjunto de tipos de enunciados

que indica a maneira de o verbo expressar um estado de coisas Esta categoria eacute apresentada

em sua relaccedilatildeo com a modalidade ou como a expressatildeo gramaticalizada da modalidade por

exemplo o modo imperativo se relaciona com a modalidade deocircntica e os outros modos com

a modalidade epistecircmica (OLIVEIRA 2003 p 254)

Bybee et al (1994) como jaacute visto incluem o modo no domiacutenio da modalidade

enquanto van der Auwera e Plungian (1998) no domiacutenio das ilocuccedilotildees Como Green (2009)

que afirma que ―o modo com o conteuacutedo subdetermina a forccedila Por outro lado eacute uma hipoacutetese

plausiacutevel que o modo gramatical eacute um dos dispositivos que usamos em conjunto com as

pistas contextuais entonaccedilatildeo e outros para indicar a forccedila com a qual estamos expressando

um dado conteuacutedo52

Palmer (1986) define o ―modo como uma categoria morfossintaacutetica de natureza

verbal no mesmo niacutevel de tempo e aspecto sendo caracterizado em relaccedilatildeo agrave modalidade

como um recurso linguiacutestico menos prototiacutepico Lyons (1977 p 848) tambeacutem caracteriza o

modo como uma categoria gramatical e portanto diferente da modalidade que estaria

associada ao domiacutenio semacircntico O que eacute corroborado por Narrog (2005 p 167) que afirma

que o termo modo ―se refere a formas linguiacutesticas especiacuteficas ou paradigmas de formas

tipicamente na inflexatildeo verbal cuja funccedilatildeo primeira eacute expressar modalidade53

Halliday (1970) distingue modalidade e modo relacionando a primeira agrave expressatildeo de

necessidade e possibilidade e o segundo agrave forccedila ilocucionaacuteria O modo estaria ligado a

noccedilotildees de realidade existecircncia factualidade e a modalidade a noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade e voliccedilatildeo

52

No original ―Mood together with content underdetermine force On the other hand it is a plausible hypothesis

that grammatical mood is one of the devices we use together with contextual clues intonation and so on to

indicate the force with which we are expressing a given content (GREEN 2009) 53

No original ―[] refers to specific linguistic forms or paradigms of forms typically in verb inflection whose

primary function is to express modality (NARROG 2005 p 167)

62

Na tradiccedilatildeo gramatical do portuguecircs do Brasil o modo verbal eacute classificado em trecircs

tipos indicativo (relacionado ao factual o subjuntivo (relacionado ao hipoteacutetico e

contrafactual) e o imperativo (relacionado a comandos ordens pedidos)

O modo indicativo de maneira mais geral eacute natildeo-marcado para a modalidade com

exceccedilatildeo para os usos modais do futuro do presente e futuro do preteacuterito conforme os

exemplos abaixo

(275) [33] eu vou olhar pr ocecirc se eu tenho trinta-e-nove dessa dessa (bpubdl02)

(276) [37] aiacute ea falou assim cecirc ia ter neneacutem aonde (bfammn04)

Jaacute o subjuntivo segundo Palmer (1986 p 39) eacute um marcador geneacuterico de

modalidade Morfossintaticamente ocorre em oraccedilotildees encaixadas (PALMER 1986 p 22) e

com frequecircncia eacute uma marca redundante de um elemento modal presente na oraccedilatildeo principal

No minicorpus analisado encontramos algumas dessas ocorrecircncias54

(277) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1] tenha perdido (bfamdl01)

(278) [39] queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho e tudo (bfammn05)

Podem aparecer tambeacutem em ocorrecircncias como as em (279) e (280) com valor de

hipoacutetese

(279) [148] porque esse aqui eacute quando for desenhar (bfamcv04)

(280) [239] pra que Deus venha ampri [1] contribuir pa sua sorte (bfamdl04)

O modo imperativo por sua vez poderia estar ligado agrave modalidade deocircntica como

reconhece Portner (2007 p 399) ―[a] ideia de que os imperativos devam ter alguma coisa a

ver com a interpretaccedilatildeo de modais deocircnticos eacute extremamente intuitiva55

De fato uma

enunciaccedilatildeo imperativa eacute uma tentativa de impor a um indiviacuteduo uma obrigaccedilatildeo No entanto a

opccedilatildeo neste trabalho dados seus pressupostos eacute de que os imperativos estatildeo ligados a atos de

fala do tipo diretivos e natildeo agrave expressatildeo da modalidade

54

Vale lembrar que no PB em contextos anteriormente tidos como tipicamente de uso do subjuntivo observa-se

uma variaccedilatildeo com o emprego de formas do indicativo No entanto natildeo estaacute no escopo deste trabalho a discussatildeo

desta flutuaccedilatildeo Para esta variaccedilatildeo no espanhol ver o trabalho de Mejiacuteas-Bikandi (1996) apoiado na Teoria dos

Espaccedilos Mentais de Fauconnier (1994) Nesta moldura teoacuterica o modo eacute visto como um mecanismo que regula o

compartilhamento de informaccedilotildees entre espaccedilos mentais 55

Traduccedilatildeo para ―The idea that imperatives should have something to do with the interpretation of deontic

modals is extremely intuitive (PORTNER 2007 p 339)

63

Na proacutexima seccedilatildeo trato da modalidade e sua relaccedilatildeo com a ilocuccedilatildeo e a atitude no

sentido de demonstrar que satildeo categorias diferentes poreacutem que se interrelacionam

253 Modalidade ilocuccedilatildeo e atitude

O conceito de ilocuccedilatildeo ou ato ilocucionaacuterio foi primeiramente formulado por Austin

(1962) em uma seacuterie de conferecircncias em que sustentava que ―falar alguma coisa eacute fazer

alguma coisa56

Austin distingue no ato linguiacutestico trecircs niacuteveis o locutoacuterio o ilocutoacuterio e o

perlocutoacuterio

Este conceito eacute retomado mais tarde por Searle (1969) que considera que um ato

ilocucionaacuterio eacute a unidade miacutenima da comunicaccedilatildeo linguiacutestica humana O filoacutesofo revecirc a

taxinomia austiniana e propotildee cinco categorias baacutesicas para como usamos a linguagem

(SEARLE 19792002 p 19-31) (a) assertivos (dizer agraves pessoas como as coisas satildeo) (b)

diretivos (levar as pessoas a fazer coisas) (c) compromissivos (nos comprometer a fazer

coisas) (d) expressivos (expressar nossos sentimentos) e (e) declaraccedilotildees (provocar mudanccedilas

no mundo atraveacutes das emissotildees linguiacutesticas)

Na mesma linha Cresti (2001) reconhece a divisatildeo em trecircs niacuteveis do ato linguiacutestico e

afirma que a ilocuccedilatildeo coocorre com o ato locutoacuterio e produz um efeito de caraacuteter afetivo-

pulsional Principalmente a partir de criteacuterios prosoacutedicos ela propotildee cinco classes de atos

ilocucionaacuterios

(a) Asserccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de autoconfianccedila por

parte do falante com base nas proacuteprias realizaccedilotildees de pensamento que permite

a manifestaccedilatildeo de julgamentos descobertas avaliaccedilotildees representaccedilotildees como

novos objetos no mundo

(b) Direccedilatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de levar em

consideraccedilatildeo as habilidades possibilidades disponibilidade do ouvinte

enquanto se espera transformar o mundo atraveacutes de accedilotildees informaccedilotildees

movimentos ou que o ouvinte transforme a si mesmo com relaccedilatildeo a seu

horizonte de atenccedilatildeo seu conhecimento sua habilidade seu ponto de vista

56

―[hellip] to say something is to do something [hellip] (AUSTIN 1962 p 12)

64

(c) Expressatildeo uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de manifestaccedilatildeo

―esteacutetica de estados mentais sentimentos emoccedilotildees crenccedilas esperando que o

ouvinte se torne consciente disso e compartilhe disso

(d) Rito um comportamento externo de execuccedilatildeo de tarefas linguumliacutesticas que tecircm

valor e efeito legal e social e que pode ser realizado com o miacutenimo de

participaccedilatildeo afetiva apenas suficiente para a ativaccedilatildeo fisioloacutegica da fala

(e) Recusa uma disposiccedilatildeo atitude ou estado de espiacuterito de liberdade e separaccedilatildeo

por parte do falante com relaccedilatildeo ao seu interlocutor que permite um confronto

completo com esse uacuteltimo

Cresti assume que a ilocuccedilatildeo natildeo se opotildee agrave modalidade mas que as duas pertencem a

dois niacuteveis diferentes Tucci (2011) em anaacutelise de corpus de fala espontacircnea do italiano

afirma que haacute duas razotildees principais para se separar as duas noccedilotildees a primeira de caraacuteter

formal consiste em assumir que por definiccedilatildeo cada enunciado corresponde a uma e somente

uma forccedila ilocucionaacuteria enquanto que mais de um valor modal pode coexistir num

enunciado a segunda de um ponto de vista mais qualitativo consiste em atestar que natildeo haacute

uma correspondecircncia entre o valor modal e a forccedila ilocucionaacuteria apesar de os iacutendices modais

contribuiacuterem para a interpretaccedilatildeo ilocucionaacuteria de um enunciado

Outros autores igualmente assumem que a modalidade se circunscreve perfeitamente

no niacutevel da semacircntica e natildeo da pragmaacutetica (FRAWLEY 1992 KIEFER 1997 NARROG

2005) Kiefer (1997 p 247) afirma que ―os atos de asseverar permitir ordenar ou prometer

satildeo estranhos agrave modalidade Natildeo haacute como elaborar uma questatildeo significativa sobre como um

ato afeta a modalidade Isso vale para a ilocuccedilatildeo assim como para a perlocuccedilatildeo57

Desde um ponto de vista pragmaacutetico coerente natildeo se pode considerar a modalidade

como a mesma coisa que ilocuccedilatildeo Mello e Raso (2011 p 5-ss) em estudo experimental

fazem uma distinccedilatildeo entre as categorias de modalidade ilocuccedilatildeo e atitude58

Os autores pleiteiam que a modalidade pertence ao domiacutenio da semacircntica no qual a

postura do falante em relaccedilatildeo agrave expressatildeo do material locutoacuterio se manifesta de maneira que

a mesma ilocuccedilatildeo pode ser modalizada de diferentes formas sem afetar o niacutevel ilocucionaacuterio

A ilocuccedilatildeo por sua vez pertence ao domiacutenio pragmaacutetico no qual a postura do falante em

relaccedilatildeo ao seu interlocutor se manifesta

57

No original ―[t]he act of asserting permitting ordering or promising is alien to modality There is no way to

ask a meaningful question about how such an act affects modality This holds for illocution as well as for

perlocution (KIEFER 1997 p 247) 58

A distinccedilatildeo entre modalidade e atitude estaacute na proacutexima seccedilatildeo 244

65

Em relaccedilatildeo agrave atitude uma das dificuldades para se distinguir modalidade e esta

categoria reside justamente na proacutepria polissemia do termo atitude que pode ser definida

como uma posiccedilatildeopostura assumida ou como emoccedilatildeo (MOZZICONACCI 2001) ou como

comportamentomaneira de agir em relaccedilatildeo a uma outra pessoa Nos trabalhos de anotaccedilatildeo

semacircntica de opiniatildeo e sentimentos (cf WIEBE et al 2005) os conceitos de modalidade e

atitude tambeacutem se confundem

Mello e Raso (2011) constatam que a categoria de atitude comparada agraves de

modalidade e ilocuccedilatildeo ainda eacute pouco discutida na literatura Eles apresentam alguns estudos

como o de Local (2005) que menciona a importacircncia da categoria para os estudos de

entonaccedilatildeo ou a definiccedilatildeo de Moraes et al (2010) de que ―a atitude prosoacutedica geralmente se

refere agrave expressatildeo de afetos sociais voluntariamente controladas pelo falante59

Ainda

segundo Moraes et al (2010) existem algumas atitudes que afetam o conteuacutedo proposicional

de um enunciado como a ironia a incredulidade a surpresa e outras que estatildeo ligadas a

relaccedilotildees sociais estabelecidas entre os participantes de uma interaccedilatildeo como a polidez a

autoridade a arrogacircncia

Assim eacute reconhecida a dimensatildeo sociointeracional da atitude isto eacute o falante revela

seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica (com uma modalidade especiacutefica) A

mesma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras por exemplo triste contente

desafiadora envolvente surpresa irritada etc

Como experimento para a distinccedilatildeo das trecircs categorias os pesquisadores consideraram

trecircs ilocuccedilotildees diferentes pertencentes agrave classe dos diretivos (cf CRESTI 2000 MONEGLIA

2011) a saber sugestatildeorecomendaccedilatildeo convite e pergunta para materiais locutoacuterios com

diferentes modalidades o primeiro ―Vem pro Brasil o segundo ―Pode vir pro Brasil e o

terceiro ―Tem que vir pro Brasil Foram consideradas tambeacutem duas atitudes comprometida

e irritada

Comparando a mesma ilocuccedilatildeo produzida com diferentes atitudes observou-se que

enquanto a ilocuccedilatildeo tem um nuacutecleo a atitude estaacute distribuiacuteda por toda a unidade tonal Dessa

forma para se analisar a ilocuccedilatildeo eacute necessaacuterio olhar a posiccedilatildeo do nuacutecleo a forma do nuacutecleo e

o alinhamento do nuacutecleo isto eacute a relaccedilatildeo do nuacutecleo com o conteuacutedo segmental

Tambeacutem se observou que se se mantecircm a ilocuccedilatildeo e a atitude e se varia a modalidade

esta uacuteltima natildeo vai afetar os paracircmetros prosoacutedicos O uacutenico aspecto que parece mudar eacute a

parte de preparaccedilatildeo da curva devido a uma mudanccedila no material segmental

59

No original ―prosodic attitude generally refers to the expression of social affects voluntarily controlled by the

speaker (MORAES et al p 1)

66

Outro aspecto observado por Mello e Raso (2011 p 15) foi que a depender da

ilocuccedilatildeo um mesmo iacutendice modal pode ser interpretado com diferentes significados Por

exemplo para o material locutoacuterio ―eu devo passar na casa dele se enunciado como uma

asserccedilatildeo recebe uma leitura epistecircmica enunciado como uma pergunta uma interpretaccedilatildeo

deocircntica

Em resumo conforme o experimento de Mello e Raso (2011 p 16) as categorias da

modalidade ilocuccedilatildeo e atitude se diferenciam e ao mesmo tempo se interrelacionam Nas

suas palavras ―uma atitude especiacutefica preferelsquo algumas ilocuccedilotildees e uma ilocuccedilatildeo especiacutefica

preferelsquo algumas modalidades ao ponto de que o mesmo item lexical vai receber uma

interpretaccedilatildeo preferencial devido agrave ilocuccedilatildeo em que figura60

Um esquema possiacutevel para esta relaccedilatildeo seria o seguinte

Projeccedilatildeo ato comunicativo

atitude

ilocuccedilatildeo

modalidade

Figura 24 ndash Projeccedilatildeo do ato comunicativo

A figura eacute um esforccedilo para representar a hierarquia no ato comunicativo o campo

atitudinal pode projetar uma espeacutecie de zona de sombra na camada da ilocuccedilatildeo que por sua

vez projeta uma zona de sombra na camada da modalidade A modalidade seria o ―Modus do

Dictum a ilocuccedilatildeo o ―Actum do Dictum e a atitude o ―Modus do Actum

Parto portanto para tentar a formulaccedilatildeo de uma definiccedilatildeo mais apropriada para que

abarque igualmente a modalidade na fala espontacircnea a partir de dados empiacutericos

60

―a specific attitude preferslsquo come illocution and a specific illocution preferslsquo some modalities to the point

that the same lexical index will receive a preferred interpretation due to the illocution it figures in (MELLO

RASO 2011 p 16)

67

26 Modalidade na fala espontacircnea

Tomarei para iniacutecio de conversa (e porque como explicitado nos objetivos pretendo

reavaliar a noccedilatildeo de modalidade) a posiccedilatildeo de Cresti (2002) e Tucci (2007 2008 2009) que

assumem que a modalidade eacute inerente a qualquer enunciado com ou sem a presenccedila de

iacutendices modais Para elas a modalidade estaacute sob o domiacutenio do niacutevel semacircntico natildeo do

pragmaacutetico uma vez que se constitui como um processo cognitivo natildeo uma accedilatildeo

Como a fala natildeo eacute organizada em proposiccedilotildees loacutegicas mas em unidades pragmaacuteticas

a incidecircncia do valor modal veiculado por um iacutendice de acordo com Tucci (2007) eacute uma

propriedade natildeo do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem

considerados

(i) se o enunciado eacute simples quer dizer se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente ao enunciado inteiro e agrave unidade informativa

(281) [31] trecircs eacute o carinho no um nũ daacute (bfamcv03)

(ii) se dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o

princiacutepio de composicionalidade em que um iacutendice domina o outro e determina a

modalidade

(282) EVN [148] acho ltque a gentegt tem que olhar direito (bfamcv01)

(iii) se um enunciado possui duas unidades informacionais se aplica um princiacutepio de

natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

(283) [397] vai arrumar laacute o dia todo =TOP= e de laacute que ea vai po [1] po coisa

=COM=$ (bfamcv02)

Dentre os valores modais trecircs primordiais satildeo utilizados por Cresti e Tucci o

aleacutetico61

o deocircntico e o epistecircmico A modalidade aleacutetica se restringe agrave avaliaccedilatildeo que o

61

A loacutegica modal diz respeito quase exclusivamente agrave modalidade aleacutetica isto eacute agravequela relacionada com a

verdade necessaacuteria ou contingente das proposiccedilotildees Na linguiacutestica este tipo de modalidade desempenha um

papel marginal por esta razatildeo natildeo seraacute levada em conta neste trabalho como explicitado na seccedilatildeo 231

68

falante faz do estado-de-coisas segundo noccedilotildees loacutegicas de verdade e agrave apresentaccedilatildeo do

estado-de-coisas como verdadeiro como nos seguintes exemplos62

(284) Um cisne pode ser negro

Um leopardo deve ser malhado

Como as noccedilotildees de capacidade e habilidade estatildeo ligadas agrave verdade do mundo satildeo

encaixadas nessa categoria63

A modalidade deocircntica estaacute relacionada agraves noccedilotildees de permissatildeo e de obrigaccedilatildeo com

as quais o falante avalia um estado-de-coisas referente a alguma accedilatildeo como nos exemplos

seguintes

(285) Natildeo se pode abandonar a pessoa sozinha

Marco deve partir hoje (~ ter que)

A expressatildeo de desejo em alguns casos tambeacutem se insere nessa categoria uma vez

que o falante posiciona-se perante uma accedilatildeo

A modalidade epistecircmica manifesta-se sempre que o falante imprime ao estado de

coisas uma avaliaccedilatildeo baseada em seus conhecimentos e crenccedilas sobre o mundo e denota graus

de possibilidade e de probabilidade com relaccedilatildeo aos estado-de-coisas

(286) Juacutelio pode ter partido

Devem ser os sete

No que se refere ao discurso oral o comprometimento com o conteuacutedo proposicional

natildeo se aplica uma vez que o escopo da modalidade natildeo pode estar limitado a proposiccedilotildees O

conteuacutedo linguiacutestico eacute organizado em enunciados64

revelando um determinado padratildeo

informacional (CRESTI 2000) A visatildeo de modalidade tomada pelas autoras italianas eacute a

62

Os exemplos que ilustram as categorias de modalidade satildeo de Tucci (2007) Traduccedilatildeo minha 63

Os sentidos de capacidade habilidade e voliccedilatildeo satildeo tratados de forma separada neste trabalho como visto na

seccedilatildeo 233 64

Na moldura da ―Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) como veremos em detalhes mais adiante o

enunciado eacute a unidade de referecircncia da liacutengua falada e eacute definido como qualquer expressatildeo linguiacutestica

interpretaacutevel pragmaticamente ligada a (a) uma condiccedilatildeo semacircntica de plena significaccedilatildeo da expressatildeo em

questatildeo e (b) uma realizaccedilatildeo entoada segundo um padratildeo meloacutedico de valor ilocutoacuterio

69

seguinte ―expressatildeo da avaliaccedilatildeo do falante sobre o material locutoacuterio e seu escopo eacute a

unidade informacional

Relembrando as perguntas que me motivaram ateacute aqui a saber (a) de que modificaccedilatildeo

se trata a modalidade (b) o que estaacute incluiacutedo no seu escopo (c) quais os domiacutenios semacircnticos

envolvidos (d) como estabelecer fronteiras entre as diferentes categorias creio que eacute possiacutevel

ir um pouco aleacutem e entender a modalidade como uma nuancerelativizaccedilatildeo do material

locutoacuterio enunciado natildeo necessariamente uma proposiccedilatildeo ligada agrave dimensatildeo subjetiva e que

inclui os domiacutenios da possibilidade da necessidade da habilidade e da voliccedilatildeo Diferencia-se

de negaccedilatildeo modo ilocuccedilatildeo e atitude entretanto estaacute estreitamente relacionada com estas

noccedilotildees

Na minha formulaccedilatildeo a partir do que foi discutido anteriormente a modalidade pode

ser tomada como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que

relativiza o que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da

interaccedilatildeo

Esta definiccedilatildeo proposta se aproxima e se afasta do conceito corrente na literatura ―a

opiniatildeo ou atitude do falante em relaccedilatildeo agrave proposiccedilatildeo ou agrave situaccedilatildeo contida na proposiccedilatildeo

(LYONS 1977 p 452-3) por alguns motivos os quais elenco a seguir

(a) opiniatildeo atitude gt julgamento avaliaccedilatildeo que relativiza

Como vimos a categoria da atitude estaacute relacionada a um niacutevel sociointeracional no

qual o falante demonstra seu humor enquanto realiza uma ilocuccedilatildeo especiacutefica e com uma

modalidade especiacutefica Usar este roacutetulo portanto pode levar a interpretaccedilotildees equivocadas

sobre a categoria da modalidade

A modalidade eacute uma modificaccedilatildeo que cria uma nuance ou uma relativizaccedilatildeo do que

estaacute sendo enunciado Natildeo pode ser confundida com qualquer modificaccedilatildeo nem com

qualquer funccedilatildeo modalizadora nem com um quantificador (eg aproximadamentelsquo cerca

delsquo) nem com um angulador (eg tipolsquo uma espeacutecie delsquo) eacute uma modificaccedilatildeo que

pressupotildee o grau de comprometimento do sujeito da modalidade eou os domiacutenios da

possibilidade necessidade habilidade e voliccedilatildeo

70

(b) falante gt sujeito conceptualizador

Utilizo uma noccedilatildeo semacircntico-cognitiva o conceptualizador nos termos de Langacker

(1987 1991 2001 2007 2008) em lugar do ―falante uma vez que a primeira noccedilatildeo eacute mais

abrangente do que a uacuteltima pois abarca aleacutem do falante o endereccedilado ou um terceiro

indiviacuteduo O conceptualizador seria o proacuteprio falante ou uma terceira pessoa para cujo ponto

de vista o falante se projeta Observe os exemplos abaixo

(287) [117] eu falei natildeo eu devo ter a conta ainda porque eu nũ + (bfammn03)

(288) LUC [361] ltisso pode ser potencialmentegt divertido (bfamcv04)

(289) DFL [58] aquilo que o o professor achava mais importante (bfammn02)

(290) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando (bfamdl04)

(291) [48] cecirc nũ consegue cem por cento de nada na sua vida entatildeo acho que tocirc

[1] tocirc caminhando (bpubmn01)

Em (287) e (288) temos um conceptualizador em primeira pessoa que coincide com

o falante e enuncia a sua avaliaccedilatildeo sobre o material locutoacuterio Em (287) o enunciador se

desloca para um momento anterior e reporta o que enunciou agravequela altura marcada

linguisticamente pela presenccedila do verbo dicendi falarlsquo A ocorrecircncia em (288) apresenta

inclusive uma redundacircncia da possibilidade epistecircmica com o uso do verbo modal poderlsquo e

do adveacuterbio modal potencialmentelsquo (ou conforme Halliday 1970 e Lunguinho 2010 o

fenocircmeno da concordacircncia modal65

) No exemplo em (289) o falante enuncia a avaliaccedilatildeo de

um conceptualizador em terceira pessoa O falante em (290) pede a confirmaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo

de um outro conceptualizador (―ela) Na ocorrecircncia do monoacutelogo puacuteblico em (291) a

falante no papel de professora se projeta para um ponto de vista impessoal representado pelo

decircitico ―cecirc o que aponta para um grau de afastamento em relaccedilatildeo ao que estaacute sendo

enunciado

Segundo Langacker (2008) a conceptualizaccedilatildeo metaforicamente eacute a forma como

vemos uma cena Em suas palavras ―Um arranjo de ponto de vista eacute a relaccedilatildeo global entre os

―observadores e a situaccedilatildeo sendo ―observada [] os observadores satildeo os

conceptualizadores que apreendem os significados de expressotildees linguiacutesticas o falante e o

65

A concordacircncia modal se caracteriza se caracteriza pela presenccedila sintaacutetica de dois itens modais que satildeo

interpretados como se houvesse apenas um (HALLIDAY 1970 LUNGUINHO 2010)

71

ouvinte66

(LANGACKER 2008 p 73)

O arranjo de ponto de vista portanto seria uma espeacutecie de ajuste ou afinaccedilatildeo entre

quem vecirc e o que vecirc Este ajuste eacute tomado como default quando os interlocutores estatildeo juntos

em um local fixo a partir do qual observam e descrevem o que acontece no mundo em volta

deles e eacute ―uma parte essencial para o substrato conceptual que sustenta o significado de uma

expressatildeo e molda a sua forma67

As perspectivas default tendem a ser praticamente

invisiacuteveis e se explicitam quando se considera expressotildees que cumprem uma accedilatildeo como uma

pergunta ou ordem

O que a modalidade parece sugerir eacute que se trata da modificaccedilatildeo avaliadora de uma

perspectiva default ou seja aquela perspectiva expliacutecita marcada semanticamente Por

exemplo em ―O livro taacute sobre a mesa estamos diante de uma perspectiva default Jaacute em ―Eu

acho que o livro taacute sobre a mesa temos o grau de certeza modalizador como acreacutescimo ao

ponto de vantagem do arranjo default

Cresti (no prelo p 13) corroborando esta posiccedilatildeo afirma que ―[c]ada cena eacute uma

funccedilatildeo de uma perspectiva o ponto de vista do falante ou do endereccedilado ou de algueacutem

externo e pode ser marcada socialmente eou estilisticamente []68

Uma cena se caracteriza

por coordenadas nos eixos temporal e especial em um determinado universo possiacutevel

(c) proposiccedilatildeo gt material locutoacuterio enunciado

Como estamos tratando da modalidade na fala com um entendimento particular do

que eacute esta fala espontacircnea (CRESTI SCARANO 1998) e dentro do quadro teoacuterico da Liacutengua

em Ato (CRESTI 2000) haacute que se deslocar o alvo de incidecircncia da proposiccedilatildeo para o

material locutoacuterio enunciado no escopo de uma unidade informacional (cf TUCCI 2007)

Recuperando resumidamente a formulaccedilatildeo de Tucci a modalidade natildeo eacute uma

propriedade do enunciado mas da unidade informacional Haacute trecircs casos a serem levados em

conta (a) se o enunciado eacute simples isto eacute se conteacutem apenas a unidade de Comentaacuterio a

modalidade pertence simultaneamente a todo o enunciado e agrave unidade informacional (b) se

66

No original ―A viewing arrangement is the overall relationship between the ―viewers and the situation being

―viewed [For our purposes] the viewers are conceptualizers who apprehend the meanings of linguistic

expressions the speaker and the hearer (LANGACKER 2008 p 73) 67

Traduccedilatildeo para ―an essential part of the conceptual substrate that supports an expressionlsquos meaning and shapes

its form 68

No original ―Every scene is a function of a perspective the point of view of the speaker or the addressee or

someone external and can be marked socially andor stylistically [hellip] (CRESTI no prelo p 13)

72

dentro de uma mesma unidade informacional temos dois iacutendices modais vale o princiacutepio de

composicionalidade em que um iacutendice domina o outro hieraquicamente e determina a

modalidade e (c) se um enunciado possui duas unidades informacionais aplica-se o princiacutepio

de natildeo-composicionalidade e o domiacutenio da modalidade portanto recai sobre a unidade

informacional

Alguns dados da amostra no entanto me levam a considerar que a modalidade tem

uma incidecircncia local no acircmbito da unidade informacional mas tambeacutem eacute uma propriedade

dinacircmica que atua igualmente em uma cadeia referencial no domiacutenio textual

Segundo Cresti (no prelo p 12) cada chunk linguiacutestico de um ponto de vista

semacircntico corresponde a uma cena (cf BARWISE PERRY 1981 FAUCONNIER 1984) e

para permitir o desenvolvimento de uma funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem

estar na mesma cena

Segundo Simon-Venderbergen e Aijmer (2007) os marcadores modais podem evoluir

de uma funccedilatildeo puramente qualificacional para funccedilotildees textuais e retoacutericas Podem ser

marcadores de confirmaccedilatildeo adversidade continuidade e causalidade Vejamos este excerto de

uma conversaccedilatildeo familiar do tipo argumentativo predominantemente cujo tema eacute um

campeonato de futebol

(292) Excerto 1

LEO [1] o Juninho ltfoigt

GIL [2] ltocirc masgt voltando agrave questatildeo falando em e tambeacutem falando em povo

mascarado esse povo do Galaacuteticos eacute muito palha eu acho que es nũ

deviam mais participar e lttalgt

LUI [3] ltnatildeogt

LEO [4] ltnatildeogt

LUI [5] lteu acho natildeogt

LEO [6] ltcom certezagt

LUI [7] ltcom certeza es nũ vatildeo participar uaigt

Destaco do excerto acima os enunciados [2] [5] [6] e [7] No enunciado [2] o

participante GIL expotildee sua opiniatildeo sobre o time Galaacuteticos (―eacute muito palha) e faz tambeacutem

um julgamento sobre a participaccedilatildeo desta equipe no campeonato que estatildeo organizando (―eu

73

acho que es nũ deviam mais participar e lttalgt) Os participantes LUI e LEO por sua vez

fazem eco a esse julgamento utilizando operadores modais de confirmaccedilatildeo como ―acho natildeo

e ―com certeza

Os enunciados satildeo diferentes com suas respectivas modalidades no entanto o que

parece eacute que podemos recuperar nos domiacutenios locais elementos referenciais pertencentes a

uma determinada cena anterior em uma coordenaccedilatildeo muacutetua de sistemas cognitivos quer

dizer os sistemas cognitivos dos participantes de uma interaccedilatildeo estatildeo alinhados o que

Verhagen (2005) chama ―intersubjetividade Segundo ele a liacutengua se presta natildeo soacute a

objetivos de informaccedilatildeo mas principalmente de argumentaccedilatildeo Assim desenvolve o conceito

de argumentatividade ou seja a capacidade das pessoas de accedilotildees cognitivamente coordenadas

no fluxo para induzir o interlocutor a realizar inferecircncias e criar um discurso coerente

Neste capiacutetulo apresentei o estado da arte dos estudos de modalidade as tipologias

tradicionais e as visotildees alternativas Ainda defini os valores modais que seratildeo utilizados na

pesquisa e a partir de uma perspectiva subjetiva tentei uma formulaccedilatildeo para o conceito de

modalidade que desse conta de explicar a que tipo de modificaccedilatildeo me refiro quando utilizo os

termos ―modalidade ―modal e ―modalizador e a que domiacutenios semacircnticos ela estaria

ligada

A partir de agora desde um ponto de vista empiacuterico introduzo os procedimentos

metodoloacutegicos e os resultados da descriccedilatildeo do fenocircmeno da modalidade em um corpus de fala

espontacircnea do portuguecircs brasileiro

74

PARTE II ndash PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

75

Capiacutetulo 3

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

No capiacutetulo anterior me ocupei em apresentar alguns estudos sobre a categoria de

modalidade destacados de uma vasta literatura sobre o tema sejam eles vinculados a uma

abordagem mais objetiva ou subjetiva e tambeacutem descrevi os tipos de significados modais da

tradiccedilatildeo linguiacutestica e de abordagens alternativas e aqueles que utilizo na pesquisa Ainda

apontei a relaccedilatildeo da modalidade com outras categorias a ela associadas como a negaccedilatildeo o

modo a ilocuccedilatildeo e a atitude Por fim apresentei minha proacutepria proposta de definiccedilatildeo que se

conforma com o estudo da modalidade na fala que se diferencia em larga medida do estudo

da categoria na escrita

Neste capiacutetulo descrevo os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para empreender a

pesquisa Em primeiro lugar introduzo os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato Em

seguida apresento o projeto C-ORAL-BRASIL e a amostra de estudo um minicorpus da

parte informal deste corpus (RASO MELLO 2012) A seguir apresento as outras etapas do

trabalho para fim de coleta preparaccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados

31 A Teoria da Liacutengua em Ato

A Teoria da Liacutengua em Ato para a anaacutelise da estrutura informacional proposta por

Cresti (2000) tem como hipoacutetese baacutesica a partir de Austin (1962) que eacute possiacutevel dizer que haacute

uma correspondecircncia entre unidade de accedilatildeo (os atos de fala) e unidade linguiacutestica (os

enunciados) atraveacutes de padrotildees entoacionais Nas palavras da proacutepria autora ―assumindo a

teoria dos atos linguiacutesticos de Austin (1962) como quadro teoacuterico de referecircncia possamos

descrever a verbalizaccedilatildeo oral como uma forma particular de comportamento humano do qual

cada instacircncia eacute um ato linguiacutestico constituiacutedo da ativaccedilatildeo simultacircnea de trecircs diversos tipos

de ato (locutoacuterio ilocutoacuterio e perlocutoacuterio)69

(CRESTI 2000 p 42)

69

No original ―assumendo la teoria degli atti linguistici di Austin (1962) come quadro teoacuterico di riferimento

possiamo descrivere La verbalizzazioneorale come uma particolare forma di comportamento umano di cui ogni

istanza egrave un atto linguiacutestico costituito dalllsquoattivazione simultanea di ter diversi tipi di atti (locutivo ilocutivo e

perlocutivo) (CRESTI 2000 p 42)

76

Essa teoria nasce no domiacutenio da oralidade especificamente da observaccedilatildeo e anaacutelise da

fala espontacircnea70

quer dizer de um texto falado concebido ao mesmo tempo em que eacute

executado e que natildeo realiza nenhum texto anterior mdash escrito lido ou script (fala roteirizada)

De uma perspectiva comunicativa a fala espontacircnea eacute um comportamento dinacircmico

de interaccedilatildeo entre interlocutores uma cadeia de accedilatildeo-reaccedilatildeo Os participantes de uma troca

conversacional realizam accedilotildees dirigidas a um ou mais interlocutores o que chamamos de

ilocuccedilotildees Uma ilocuccedilatildeo se define a partir de um conteuacutedo afetivo base de todas as relaccedilotildees

entre pessoas71

Cumprir uma ilocuccedilatildeo seria realizar um ato ao dizer algo Um ato de fala se realiza

simultaneamente em trecircs dimensotildees

a) ato locutoacuterio parte linguiacutestica ato de dizer algo

b) ato ilocutoacuterio intenccedilatildeo comunicativa ato ao dizer algo

c) ato perlocutoacuterio eacute a produccedilatildeo de um efeito sobre o interlocutor

A contraparte linguiacutestica de um ato de fala eacute um enunciado que carrega sempre uma

intenccedilatildeo comunicativa e eacute a unidade de referecircncia da diamesia falada Diferencia-se de

uma frase por ser um elemento compreendido em autonomia e analisaacutevel

pragmaticamente A prosoacutedia eacute o componente suprassegmental que nos permite identificar

esses enunciados

311 O enunciado

A anaacutelise da fala diferencia-se da anaacutelise da escrita uma vez que segundo Moneglia

(2011 p 481) ―a linguagem escrita pode ser propriamente segmentada de acordo com

princiacutepios sintaacuteticos e semacircnticos enquanto ―a identificaccedilatildeo de unidades de referecircncia em

um corpus de fala pode dificilmente ser feita atraveacutes dos mesmos dispositivos sintaacuteticos e

semacircnticos72

A primazia da escrita sobre a fala nos estudos linguiacutesticos aliaacutes leva-nos a

70

A base para este estudo foi o LABLITA Corpus principalmente o subcorpus LABLITA Corpus of Adult

Spontaneous Spoken Italian Disponiacutevel em httplablitaditunifiitcorporadescriptionslablita Uacuteltimo acesso

08 jan 2014 71

De acordo com Cresti (2000 p 84 e ss) um afeto eacute definido como ―uma pulsatildeo e representaccedilatildeo de um

esquema acional em relaccedilatildeo ao interlocutor que permite uma accedilatildeo concreta no mundo 72

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] written language can be properly parsed according to syntactic and semantic

principles (hellip) the identification of the units of reference in a spoken corpus can hardly be identified through the

same syntactic and semantic devices (Blanche-Benveniste 1997 Biber et al 1999 Cresti 2000 Miller amp Weinert

1998 Izreel 2005) (MONEGLIA 2011 p 481)

77

cometer o equiacutevoco de neglicenciar esta diamesia e trataacute-la como um texto escrito jaacute que o

que eacute estudado normalmente eacute a transcriccedilatildeo da fala segmentada de acordo com pausas

sintaacuteticas o que corresponde graficamente ao uso da viacutergula como pontuaccedilatildeo (MELLO

RASO 2013) No entanto ancorado em consistente base empiacuterica Moneglia (2011) afirma

que os dados de corpora orais apontam para a insuficiecircncia dos mesmos criteacuterios sintaacuteticos

aplicados agrave escrita para anaacutelise dos eventos de fala uma vez que muitos destes eventos natildeo

apresentam sequer um verbo

Ainda de acordo com Mello e Raso (2013 p 101) para o estudo efetivo da fala haacute

que se considerar os niacuteveis hieraacuterquicos definidos na expressatildeo comunicativa da fala o que

pressupotildee ―i que inicialmente se individualize a unidade ilocucionaacuteria ii que dentro dessa

unidade seja estabelecida a sua estrutura informacional e iii que somente dentro da unidade

informacional seja possiacutevel uma anaacutelise sintaacutetica

Como mencionado acima o enunciado eacute a entidade linguiacutestica que do ponto de vista

pragmaacutetico eacute autocircnoma o que significa que natildeo se define nem pela completude semacircntica

nem pela expressatildeo da predicaccedilatildeo O criteacuterio de identificaccedilatildeo de um enunciado parte de

caracteriacutesticas entoacionais dado que a forccedila ilocucionaacuteria de um enunciado eacute veiculada

atraveacutes dela A correspondecircncia entre ilocuccedilatildeo e um dado contorno prosoacutedico eacute denominada

―criteacuterio ilocutivo (CRESTI 2000) As funccedilotildees linguiacutesticas da entoaccedilatildeo seriam segundo

Cresti (2000) (a) indicar o tipo de ilocuccedilatildeo realizada no ato de fala (b) delimitar os

enunciados no contiacutenuo focircnico (c) segmentar o enunciado em unidades menores (d) assinalar

o tipo informacional de cada unidade dentro do enunciado

Assim a prosoacutedia pode ser considerada a interface formal entre os atos executados

simultaneamente em um ato de fala73

Podemos identificar como paracircmetros prosoacutedicos os

seguintes elementos movimento de F0 (hz) intensidade (db) duraccedilatildeo (s) alinhamento

velocidade de fala e ritmo Eacute importante destacar que o tipo de ilocuccedilatildeo natildeo estaacute subordinado

ao conteuacutedo locutoacuterio

No que diz respeito agrave segunda funccedilatildeo da entoaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo dos enunciados eacute

realizada atraveacutes da percepccedilatildeo das variaccedilotildees prosoacutedicas relevantes por um falante

―competente As variaccedilotildees que resultam na segmentaccedilatildeo do enunciado em unidades discretas

satildeo chamadas de quebras prosoacutedicas divididas em

73

Adiante veremos que a prosoacutedia eacute apenas um dos criteacuterios para identificaccedilatildeo da unidade entoacional ainda

contribuem para esta definiccedilatildeo do tipo informacional criteacuterios funcionais e distribucionais

78

(a) terminais quebras que satildeo percebidas como conclusivas e portanto indicam

a completude prosoacutedica do enunciado Graficamente satildeo representadas por duas

barras ( ―)

(b) natildeo-terminais percebidas como quebras natildeo-conclusivas Satildeo mais fracas e

cumprem a funccedilatildeo de delimitar as unidades internas ao enunciado Graficamente

satildeo representadas por uma barra (―)

As quebras prosoacutedicas satildeo utilizadas na transcriccedilatildeo e segmentaccedilatildeo de textos orais

(MONEGLIA CRESTI 1997) Como exemplos dessas quebras terminal e natildeo-terminal

respectivamente temos

(31) REN [116] eu gosto de maccedilatilde

(32) REN [145] desinfetante a gente precisa

Os enunciados podem ter um padratildeo simples ou complexo No padratildeo simples o

enunciado eacute composto apenas pelo nuacutecleo do ato de fala e eacute executado em uma uacutenica unidade

tonal necessaacuteria e suficiente porque carrega a forccedila ilocucionaacuteria denominada Comentaacuterio

no padratildeo complexo o enunciado corresponde ao nuacutecleo mais um conjunto de unidades com

distintas funccedilotildees informacionais eacute executado em duas ou mais unidades tonais Uma dessas

unidades eacute obrigatoriamente o Comentaacuterio as outras unidades cumprem funccedilotildees

informacionais textuais ou dialoacutegicas

As unidades tonais satildeo marcadas pelas quebras prosoacutedicas (terminais ou natildeo-

terminais) e em princiacutepio realizam uma unidade informacional A relaccedilatildeo entre as unidades

de um enunciado eacute de natureza funcional e apenas dentro de uma mesma unidade podem ser

estabelecidas relaccedilotildees de ordem sintaacutetica

Os criteacuterios de individualizaccedilatildeo das unidades aplicados simultaneamente satildeo de

caraacuteter (a) funcional a funccedilatildeo desempenhada pela unidade no padratildeo informacional (b)

entoacional perfil prosoacutedico74

tipo e direccedilatildeo do movimento de F0 velocidade de elocuccedilatildeo e

intensidade presenccedila ou natildeo de foco entoacional e (c) distribucional a posiccedilatildeo da unidade

74

O perfil prosoacutedico eacute identificado com base na fonologia entoacional desenvolvida pelo grupo IPO (Instituut

voor Perceptie Onderzoek em holandecircs) ou Instituto para Pesquisa em Percepccedilatildeo (HART COLLIER COHEN

1990) Satildeo definidas trecircs classes de configuraccedilatildeo root perfix suffix que se combinam em um contorno

prosoacutedico

10448977

19330605

79

opcional em relaccedilatildeo agrave unidade nuclear (o Comentaacuterio) que tem distribuiccedilatildeo livre dentro do

enunciado

Haacute unidades com funccedilatildeo textual que compotildeem e agem diretamente sobre o texto do

enunciado e unidades com funccedilotildees dialoacutegicas tambeacutem chamadas auxiacutelios dialoacutegicos que

satildeo instrumentos para regular o diaacutelogo e a interaccedilatildeo agem sobre a situaccedilatildeo comunicativa

eou o interlocutor

As unidades textuais satildeo o Comentaacuterio que em um padratildeo complexo pode ser

realizado na forma de Comentaacuterios Muacuteltiplos ou Comentaacuterios Ligados o Apecircndice de

Comentaacuterio o Toacutepico o Apecircndice de Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo As

unidades dialoacutegicas satildeo o Incipitaacuterio o Conativo o Faacutetico o Alocutivo o Expressivo e o

Conector Discursivo Haacute outras unidades que natildeo possuem valor informacional e sinalizam

disfluecircncias da fala ou escansatildeo a Unidade de Escansatildeo a Tomada de Tempo e a Unidade

Vazia

A partir de agora apresento a definiccedilatildeo de cada uma destas unidades tornadas

discretas atraveacutes dos criteacuterios mencionados anteriormente funcional entoacional e

distribucional

312 Unidades Informacionais

3121 Comentaacuterio (COM)

A unidade de Comentaacuterio (COM) eacute a unidade nuclear primaacuteria de um padratildeo

informacional e tem a funccedilatildeo de veicular a forccedila ilocucionaacuteria do enunciado Eacute a uacutenica que

pode figurar sozinha no enunciado uma vez que representa a unidade informacional

necessaacuteria e suficiente para a sua realizaccedilatildeo e interpretabilidade

Em termos de propriedades prosoacutedicas esta unidade corresponde ao perfil do tipo raiz

e seu foco varia de acordo com os tipos de ilocuccedilatildeo (recusa asserccedilatildeo direccedilatildeo expressatildeo rito)

e condiccedilotildees contextuais

Quanto ao criteacuterio distribucional o Comentaacuterio tem distribuiccedilatildeo livre e estabelece

restriccedilotildees nas propriedades distribucionais de outras (possiacuteveis) unidades informacionais isto

eacute as demais unidades se organizam em funccedilatildeo dele Esta unidade pode ser segmentada por

Unidades de Escansatildeo

Vejamos os exemplos

80

(33) BRU [360] nũ tem nada que pode ser aproveitado =COM=$ (bpubcv01)

(34) CAR se for mais gente numa situaccedilatildeo pior =TOP= noacutes vamo ter que pensar

=COM=$ (bpubcv02)

O enunciado em (33) eacute do tipo simples porque possui apenas a unidade de

Comentaacuterio suficiente e necessaacuteria Em (34) temos um exemplo de enunciado do tipo

complexo com duas unidades informacionais o Toacutepico e o Comentaacuterio

3122 Toacutepico (TOP)

O Toacutepico (TOP) eacute uma das principais unidades informacionais e tem como funccedilatildeo

delimitar semanticamente o campo de aplicaccedilatildeo da forccedila ilocucionaacuteria Esta unidade

seleciona o domiacutenio de relevacircncia em relaccedilatildeo ao qual o ato de fala deve ser interpretado

Prosodicamente a unidade eacute marcada por um perfil do tipo prefixo e apresenta foco

entoacional agrave direita Assim como o Comentaacuterio a unidade informacional de Toacutepico tambeacutem

tem um foco o que permite distingui-la de outras unidades que antecedem o Comentaacuterio No

portuguecircs foram identificadas quatro formas entoacionais diferentes para o Toacutepico (cf

ROCHA 2012 MITTMAN 2012)

Em termos de distribuiccedilatildeo antecede o Comentaacuterio ainda que natildeo seja adjacente a ele

A unidade tambeacutem pode ser segmentada em Unidades de Escansatildeo

Um Toacutepico pode ser recursivo e tambeacutem pode ser formado por subpadrotildees de

unidades informacionais normalmente do tipo referencial o que se constitui como uma Lista

de Toacutepicos Todos os Toacutepicos de uma lista juntos fornecem um uacutenico domiacutenio de aplicaccedilatildeo

da forccedila do Comentaacuterio e todos eles pertencem ao mesmo domiacutenio ontoloacutegico ou no miacutenimo

eles devem ser semanticamente coerentes

Como exemplos

(35) FLA aiacute o caderno =TOP= eacute um negoacutecio meio atrasado =COM= assim =

PHA=$ (bpubcv01)

(36) FLA o [1]=EMP= o ceagaeme =TPL(1)= o plasma =TPL(2)= e a plaqueta

=TPL(3)= a gente armazena ate o dia seguinte =COM= (bpubcv01)

1681224

34460394

25983393

37703385

81

Em (35) temos um SN que realiza um Toacutepico simples e a ocorrecircncia em (36)

representa uma Lista de Toacutepicos um dos tipos de Toacutepico complexo

3123 Apecircndice de Comentaacuterio (APC)

O Apecircndice de Comentaacuterio (APC) integra textualmente o Comentaacuterio e eacute dependente

desta unidade Varia informacionalmente atraveacutes de (a) repeticcedilatildeo repeticcedilatildeo ou eco (parcial

ou natildeo) de uma informaccedilatildeo jaacute conhecida ou uma paraacutefrase de um material locutivo no mesmo

enunciado ou em um enunciado diferente do mesmo falante ou mesmo do interlocutor (b)

preenchedor natildeo apresenta repeticcedilatildeo de um conteuacutedo anterior e se constitui como uma

expressatildeo formulaica que natildeo apresenta quase nenhuma informaccedilatildeo e (c) informaccedilatildeo

retardada o conteuacutedo semacircntico adiciona informaccedilatildeo para fins sociais quer dizer oferece

informaccedilatildeo mais especiacutefica ou alteraccedilotildees que facilitam a compreensatildeo do enunciado para o

interlocutor

Apresenta perfil entoacional do tipo sufixo nivelado ou descendente sem foco Estaacute

distribuiacutedo agrave direita do Comentaacuterio e em alguns casos pode estar separado do Comentaacuterio

por uma unidade de Faacutetico ou Parenteacutetico No entanto nunca pode ser interrompido por um

Parenteacutetico e algumas vezes eacute seguido por um Faacutetico ou Conativo

(37) CAR queria uma crianccedila que nũ me desse trabalho =COM= e tudo =APC=$

(bfammn05)

(38) CAR [177] cecirc nũ entendeu =COM= cecirc nũ =APC=$ (bfamcv03)

(39) FLA [358] tem que lembrar ela =COM= comprar acetona =APC=$

(bfamdl01)

3124 Apecircndice de Toacutepico (APT)

O Apecircndice de Toacutepico (APT) integra o texto do Toacutepico e se constitui

informacionalmente por integraccedilotildees lexicais ou alteraccedilotildees e muito raramente por repeticcedilotildees

exclusivamente do material locutoacuterio do Toacutepico

Esta eacute uma unidade de tipo sufixo com perfil que pode ser nivelado descendente ou

mesmo reproduzir a curva de F0 do Toacutepico a que se refere Diferentemente do Toacutepico natildeo

possui foco Distribui-se agrave direita da unidade de Toacutepico e o segue podendo estar intercalado

32391825

15673465

18808156

82

por uma unidade dialoacutegica (Faacutetico ou Alocutivo no PB) Natildeo pode ser interrompido por uma

unidade de Parenteacutetico

(310) BAL um cuidado =TOP= que cecircs tecircm que tomar =APT= lt Bel gt +

=ALL=$ (bfamdl02)

3115 Parenteacutetico (PAR)

A unidade de Parenteacutetico (PAR) expressa uma integraccedilatildeo metalinguiacutestica do

enunciado em alguns casos com funccedilatildeo modalizadora apresentando um ponto de vista

externo agravequele do Comentaacuterio A funccedilatildeo metalinguiacutestica encontra sua relevacircncia em relaccedilatildeo a

todo o enunciado ou pode se referir a uma unidade textual para traacutes ou para frente na maioria

das vezes um Comentaacuterio ou um Toacutepico e mais raramente a outro Parenteacutetico ou uma palavra

especiacutefica dentro de qualquer unidade informacional Informacionalmente cinco tipos de

integraccedilatildeo metalinguiacutestica foram encontrados avaliaccedilatildeo modal simples adiccedilatildeo de informaccedilatildeo

(com avaliaccedilatildeo positiva ou negativa) comentaacuterios sobre a atividade natildeo-linguiacutestica do falante

simultacircneo ao enunciado instruccedilotildees para o interlocutor que diz respeito agrave atividade dialoacutegica

glosa terminoloacutegica glosa locutiva de discurso reportado ou exemplificaccedilatildeo

O perfil prosoacutedico do tipo parecircntese eacute caracterizado por um abaixamento da F0 e

velocidade de execuccedilatildeo mais alta que o resto do enunciado Pode ocorrer em qualquer posiccedilatildeo

no enunciado exceto na inicial (VALE 2010)

(311) BAL [30] porque =DCT= lt se eu for gt empregado =TOP= por exemplo

=PAR= algueacutem vecirc que eu sou muito foda =TOP= lt medo gt de perder

=TOP= lt o posto gt lt deles =APT= es vatildeo [2] =EMP= es vatildeo gt me dizar

=COM= lt neacute gt =PHA=$ (bfamdl02)

Foi identificada ainda no minicorpus do C-ORAL-BRASIL a unidade de Lista de

Parenteacuteticos

(312) LUZ [68] aquele dia a Lilisa tava discutindo com a Deise =COB= ela ja tava

[3]=EMP= jaacute [1]=EMP= a Deise =SCA= jaacute ampf [1]=SCA= tinha falado de

quem que era =PAR= eu achei ate que ia ser do Ronan =COB= mas =DCT=

elas tava falando que nao =COB= falando de um outro ai =COM= nũ sei se eacute

Marco Tuacutelio =PRL= sei laacute quem =PRL= nũ sei quem =PRL=

(bfamdl03)

18285708

71817803

1071023

83

3116 Introdutor locutivo (INT)

O Introdutor Locutivo (INT) sinaliza a suspensatildeo pragmaacutetica do hic et nunc e introduz

uma metailocuccedilatildeo por exemplo um discurso reportado uma exemplificaccedilatildeo e um

pensamento falado um elenco e tambeacutem um parenteacutetico O perfil do tipo introdutor apresenta

alta velocidade de execuccedilatildeo e F0 mais baixa do que a do Comentaacuterio subsequente Sua

posiccedilatildeo eacute anterior ao Comentaacuterio que introduz

(313) FLA [324] como diz vocecirc =INT= natildeo precisa =COM_r=$ (bfamdl01)

322 Unidades Dialoacutegicas

As unidades dialoacutegicas compartilham algumas propriedades que as distinguem das

unidades textuais como por exemplo desenvolver uma funccedilatildeo que natildeo contribui para a

construccedilatildeo do conteuacutedo semacircntico do enunciado e por outro lado contribuir para o

desempenho feliz do ato de fala no contexto comunicativo e podem ocorrer em discurso

reportado Aleacutem disso em sua maioria satildeo realizadas com apenas uma palavra ou expressatildeo

natildeo podem ser escandidas natildeo carregam foco natildeo podem ser modalizadas possuem

restriccedilotildees de seleccedilatildeo lexical e natildeo contribuem para a composicionalidade sintaacutetico-semacircntica

do enunciado

3221 Incipitaacuterio (INP)

O Incipitaacuterio (INP) eacute uma unidade dialoacutegica que marca a abertura do turno dialoacutegico e

regula o fluxo da interaccedilatildeo Ele abre o canal comunicativo e indica um valor de contraste ou

uma oposiccedilatildeo ao enunciado anterior

Apresenta perfil prosoacutedico de auxiacutelio com F0 alta caracterizada por um movimento de

raacutepida subida seguida de descida Distribucionalmente ocorre em iniacutecio de enunciado ou

turno e frequentemente eacute seguido de uma unidade de Faacutetico

(314) bom =INP= ali tambeacutem pode fazer o seguinte o =COM=$ (bpubdl01)

16718361

2256

84

3222 Conativo (CNT)

A unidade de Conativo (CNT) tem a funccedilatildeo de provocar o interlocutor a se engajar na

interaccedilatildeo ou interromper o seu comportamento natildeo-cooperativo O perfil prosoacutedico se

caracteriza por intensidade alta perfil descendente e duraccedilatildeo curta Na maioria das vezes

ocupa posiccedilatildeo inicial ou final e algumas vezes posiccedilatildeo intermediaacuteria Haacute a possibilidade

ainda que pouco frequente de ocorrer mais de uma unidade de CNT no enunciado

(315) ltpera aiacute = CNT= pera pera aiacutegt =CNT= soacute um segundo =CNT= soacute vatildeo

esperar o [1] =SCA= a ampulheta = COB= aiacute lt desnegoccedilar gt = COM=$

(bfamcv04)

3223 Faacutetico (PHA)

A unidade dialoacutegica de Faacutetico (PHA) tem a funccedilatildeo de controlar o canal comunicativo

de modo a assegurar a manutenccedilatildeo de sua abertura Ele estimula o ouvinte a manter a coesatildeo

social necessaacuteria numa troca conversacional ou tenta se certificar de que o enunciado foi

recebido Em posiccedilatildeo final no enunciado serve para marcar o acordo com o interlocutor e

pode ser empregado para pedir uma confirmaccedilatildeo Por uacuteltimo funciona como uma tomada de

tempo para uma melhor programaccedilatildeo do enunciado

Apresenta perfil entoacional nivelado e duraccedilatildeo muito curta Sua posiccedilatildeo no

enunciado eacute livre

(316) eu contei o caso lt pra ele =COM= neacute gt =PHA= (bfammn01)

3224 Alocutivo (ALL)

O Alocutivo (ALL) opera no controle da comunicaccedilatildeo especifica a quem a mensagem

eacute dirigida e manteacutem a atenccedilatildeo do interlocutor desempenhando tambeacutem uma funccedilatildeo de coesatildeo

social Tem duraccedilatildeo curta baixa intensidade e movimento descendente Pode ocorrer em

qualquer posiccedilatildeo dentro do enunciado

(317) lt nũ tem perigo natildeo =COM= socirc gt =ALL= (bpubcv02)

30824478

18365709

10448977

85

3225 Expressivo (EXP)

O Expressivo (EXP) eacute suporte emocional do ato ilocutoacuterio cumprido pelo Comentaacuterio

assinala o compartilhamento de uma identidade de grupo com o interlocutor Apresenta F0

modulada ascendente com aumento da velocidade em relaccedilatildeo agrave meacutedia do enunciado Pode

ocorrer em qualquer posiccedilatildeo em relaccedilatildeo ao comentaacuterio

(318) eacute um [2] =EMP= eacute um pacote laacute com a Oi =COM= uai =EXP= (bpubcv01)

3226 Conector Discursivo (DCT)

O Conector Discursivo (DCT) tem como funccedilatildeo marcar a continuidade do discurso

indicando ao interlocutor que o processo de construccedilatildeo textual vai prosseguir Ocorre sempre

em iniacutecio de enunciado ou de um subpadratildeo de estrofe Eacute uma unidade com duraccedilatildeo longa

perfil nivelado ou modulado baixa velocidade e intensidade alta

O DCT funciona de modo oposto ao Incipitaacuterio Enquanto o uacuteltimo marca

descontinuidade no discurso o primeiro marca a continuidade O INP muitas vezes eacute usado

para tomar o turno de outro falante enquanto o DCT funciona mais internamente ao turno de

um mesmo falante

(319) entatildeo =DCT= dia de sexta e saacutebado ele nũ trabalha =COM=$ (bpubdl01)

323 A perda do isomorfismo

De acordo com Cresti (2000) haacute um princiacutepio de isomorfismo entre enunciado e

ilocuccedilatildeo e entre unidade tonal e unidade informacional Em alguns casos no entanto este

princiacutepio eacute quebrado como nos seguintes (i) quando uma unidade informacional se realizada

em mais de uma unidade entoacional fenocircmeno denominado escansatildeo (ii) quando mais de

uma ilocuccedilatildeo eacute realizada com determinado padratildeo dentro de uma uacutenica entidade linguiacutestica

concluiacuteda e (iii) quando varias ilocuccedilotildees fracas e homogecircneas satildeo realizadas

processualmente em uma situaccedilatildeo pouco acional ao que eacute chamado de Estrofe

3460162

3648

86

3231 Unidade de escansatildeo (SCA)

O fenocircmeno da escansatildeo ocorre apenas em unidades informacionais textuais Estas

unidades podem ser realizadas em mais de uma unidade entoacional Assim a Unidade de

Escansatildeo (SCA) natildeo apresenta funccedilatildeo informacional mas eacute parte de uma unidade

informacional maior A SCA indica disfluecircncias na fala que podem ocorrer por dificuldades

relativas agrave execuccedilatildeo do programa meloacutedico de uma unidade longa ou agrave expressividade da

unidade informacional Natildeo possui foco Uma caracteriacutestica deste fenocircmeno eacute a

composicionalidade sintaacutetica entre as unidades tonais escandidas

(320) com medo =INT= que se ea entrasse dentro de casa =TOP= ea ia matar

=SCA= os filho =SCA= com ea e tudo =COM=$ (bfammn01)

3232 Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos (CMM) se constituem como dois ou mais comentaacuterios

dentro do mesmo enunciado ou seja separados por quebra natildeo-terminal e estruturados em

um padratildeo retoacuterico Estes padrotildees podem ser de tipos variados e ateacute agora foram

identificados as seguintes possibilidades de uma lista aberta elenco reforccedilo

alternativapedido de confirmaccedilatildeo comparaccedilatildeo relaccedilatildeo necessaacuteria chamamento cliacutemax e

consequecircncia

(321) SIL ou eacute vinho bom caro =CMM= ou eacute cerveja =CMM= (bfamdl04)

(322) ocirc Heliana =CMM= o vinho tava bom =CMM= (bfamdl04)

Os Comentaacuterios Muacuteltiplos satildeo contiacuteguos e como propriedades prosoacutedicas apresentam

o formato da unidade tonal eacute do tipo raiz + raiz (+ raiz) formando um padratildeo prosoacutedico e

seus perfil prosoacutedico e nuacutecleo variam de acordo com o tipo ilocucionaacuterio

37093863

37491415

22465298

87

3233 Estrofes e Comentaacuterios Ligados (COB)

Uma Estrofe eacute uma entidade linguiacutestica concluiacuteda que natildeo corresponde ao

cumprimento de um ato de fala mas sim a uma atividade de fala geneacuterica As Estrofes satildeo

unidades maiores que desenvolvem duas ou mais ilocuccedilotildees antes da quebra prosoacutedica

percebida como tendo valor terminal Contrariamente aos Comentaacuterios Muacuteltiplos natildeo satildeo

unidades programadas mas uma sequecircncia processual de Comentaacuterios Ligados (COB) nelas

o princiacutepio ilocucionaacuterio se enfraquece em favor de uma dimensatildeo menos pragmaacutetica e mais

textual

Nos Comentaacuterios Muacuteltiplos haacute um programa que requer mais de um Comentaacuterio para

ser realizado no caso das Estrofes agrave medida que ocorre a enunciaccedilatildeo outros Comentaacuterios vatildeo

sendo acrescentados porque o falante os percebe como importantes no momento sem que se

tenha programado anteriormente

Cada Comentaacuterio Ligado (COB) eacute caracterizado por uma forccedila ilocucionaacuteria fraca e

devem ser homogecircneos Aparentemente as estrofes cumprem somente atos com baixa

afetividade (descriccedilatildeo narraccedilatildeo pergunta retoacuterica instruccedilatildeo conselho expressatildeo de estado

psicoloacutegico)

O objetivo primaacuterio da Estrofe parece ser a expressatildeo de um pensamento em

andamento que induz a realizaccedilatildeo de um texto oral O texto da Estrofe eacute organizado como

uma sequecircncia de focos semacircnticos cada um dos quais pode registrar um valor modal

diferente A homogeneidade ilocucionaacuteria dos COB junto com a liberdade na variaccedilatildeo modal

implica que a Estrofe eacute concebida atraveacutes de uma relaccedilatildeo atitudinal uacutenica com o destinataacuterio

Em siacutentese a Estrofe se realiza quando a fala tende para uma dimensatildeo menos

pragmaacutetica e mais semacircntica O texto como conteuacutedo semacircntico se torna mais evidente e o

ato linguiacutestico como operaccedilatildeo pragmaacutetica se enfraquece As estrofes em princiacutepio podem ser

encontradas em todos os tipos de texto mas satildeo muito mais presentes no monoloacutegico e no

contexto puacuteblico Podemos ver portanto a estrofe como a dimensatildeo da acionalidade

enfraquecida em favor de uma elaboraccedilatildeo semacircntico-textual

(323) nos temos vinte-e-cinco funcionaacuterios =COB= dentro de Minas Gerais

=COB=atuando =COB= com a base nossa aqui em [1]=SCA= na capital

=COB= e hoje noacutes tamos =SCA= numa media de ampfature [1]=SCA=

faturamento de um-milhatildeo-e-meio a um-milhatildeo-e-setecentos-mil reais =SCA=

mecircs =COM= (bfammn06)

13926106

88

32 O corpus de fala espontacircnea o C-ORAL-BRASIL

O C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro eacute um projeto

em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais especificamente no

Laboratoacuterio de Estudos Experimentais e Empiacutericos da Linguagem (LEEL) coordenado pelos

professores Tommaso Raso e Heliana Mello

O corpus foi originalmente estruturado para o estudo da estrutura informacional do

portuguecircs brasileiro e suas ilocuccedilotildees com base nos pressupostos da Teoria do Padratildeo

Informacional (CRESTI 2000) e eacute construiacutedo aos moldes do C-ORAL-ROM (CRESTI

MONEGLIA 2005) projeto que reuacutene os corpora comparaacuteveis das quatro principais liacutenguas

romacircnicas europeacuteias italiano francecircs espanhol e portuguecircs Na arquitetura desses corpora

privilegia-se uma maior variaccedilatildeo diafaacutesica a fim de se obter uma diversidade de ilocuccedilotildees e

de estruturas informacionais da fala

O corpus se constitui de textos de fala espontacircnea isto eacute textos produzidos ao mesmo

tempo em que satildeo executados e sua realizaccedilatildeo natildeo pressupotildee um texto anterior (escrito ou

roteirizado) Estaacute dividido em uma metade formal (em fase de coleta transcriccedilatildeo e revisatildeo) e

em uma metade informal (concluiacuteda e jaacute publicada RASO MELLO 2012) A parte informal

eacute composta de 139 textos (de aproximadamente 1500 palavras) e 208130 palavras em um

total de 21h8min de gravaccedilatildeo organizada em duas seccedilotildees privadofamiliar e puacuteblico Do

total de textos 80 pertencem ao domiacutenio familiar (105 gravaccedilotildees) e 20 ao domiacutenio

puacuteblico (34 gravaccedilotildees) distribuiacutedos igualmente em trecircs diferentes tipologias interacionais 13

de monoacutelogos 13 de diaacutelogos e 13 de conversaccedilotildees

A classificaccedilatildeo da tipologia interacional natildeo estaacute relacionada somente ao nuacutemero de

participantes na cena comunicativa mas agrave dinacircmica da situaccedilatildeo e ao peso relativo de cada

participante na produccedilatildeo linguiacutestica resultante Aleacutem de se privilegiar a diversidade de

situaccedilotildees o corpus eacute balanceado em termos de variaccedilatildeo diastraacutetica As gravaccedilotildees satildeo

realizadas em contexto natural enquanto os falantes realizam atividades

Como nos corpora do C-ORAL-ROM os textos satildeo transcritos no formato

CHILDES-CLAN e procede-se agrave segmentaccedilatildeo da fala em enunciados e unidades tonais e agrave

anotaccedilatildeo da estrutura informacional

Escolheu-se representar de maneira sistemaacutetica uma uacutenica diatopia no caso a do

estado de Minas Gerais e em particular a aacuterea urbana da capital Belo Horizonte Tal escolha

se deve agrave limitada dimensatildeo do corpus que natildeo poderia ser representativo de mais diatopias

Assim pelo menos 50 dos falantes satildeo mineiros Tradicionalmente a fala mineira eacute dividida

89

em pelo menos trecircs grandes aacutereas Sul e Triacircngulo (falar paulista) Norte (falar baiano) e

regiatildeo constituiacuteda pela Zona da Mata Zona Metaluacutergica Vertentes e Belo Horizonte e

arredores (falar mineiro) Estas regiotildees estatildeo representadas mas a grande aacuterea metropolitana

de Belo Horizonte tem a maior representaccedilatildeo

O corpus busca representar a variaccedilatildeo diastraacutetica especialmente importante na fala

brasileira mas tambeacutem nesse caso natildeo se pretende alcanccedilar uma representatividade

sistemaacutetica Haacute entretanto um esforccedilo no sentido de que vaacuterias faixas socioculturais estejam

presentes em todas as ramificaccedilotildees do corpus constam interaccedilotildees com falantes de vaacuterias

diastratias interagindo tanto com falantes da mesma faixa quanto com falantes de faixas

diferentes o que se mostraraacute produtivo para a anaacutelise da modalidade

Nesse aspecto com relaccedilatildeo aos criteacuterios adotados para o C-ORAL-ROM optou-se por

adequar a indicaccedilatildeo das faixas de escolaridade a uma distribuiccedilatildeo que melhor refletisse a

realidade brasileira levando-se em conta as significativas diferenccedilas em relaccedilatildeo agrave realidade

europeia

33 Coleta e organizaccedilatildeo dos dados

331 O minicorpus do C-ORAL-BRASIL I

Para fins desta pesquisa utilizarei uma amostra da parte informal do corpus C-ORAL-

BRASIL Dentre os 139 textos com meacutedia de 1500 palavras cada um num total de 208130

palavras seraacute analisado um minicorpus composto de 20 textos de trecircs tipologias

interacionais divididos em privados e puacuteblicos 7 monoacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash 7

diaacutelogos mdash 5 privados e 2 puacuteblicos mdash e 6 conversaccedilotildees mdash 4 privadas e 2 puacuteblicas

Este minicorpus busca preservar a mesma estrutura da parte informal do C-ORAL-

BRASIL e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica Os seguintes criteacuterios ―de

maacutexima qualidade foram utilizados para a escolha dos 20 textos da amostra (RASO

MELLO 2009 p 32)

(i) Representatividade de ramificaccedilatildeo (monoacutelogos diaacutelogos conversaccedilotildees privados e

puacuteblicos)

(ii) Maior variaccedilatildeo de atividade maior nuacutemero possiacutevel de situaccedilotildees comunicativas

diferentes

90

(iii) Alta qualidade acuacutestica de acordo com a qualidade do espectrograma pouco ou

nenhum ruiacutedo de fundo pouco ou nenhum retorno do sinal claridade da voz

ganho bom caacutelculo confiaacutevel da F0 baixa porcentagem de sobreposiccedilatildeo de vozes

(iv) Diversidade de locutores representatividade equilibrada entre vozes masculinas e

femininas e de faixas etaacuterias Um informante natildeo aparece mais de uma vez a natildeo

ser que seja como interlocutor em atividade monoloacutegica

(v) Natildeo marcaccedilatildeo no que diz respeito agrave diastratia a meacutedia dos informantes natildeo eacute de

diastratia nem muito alta nem muito baixa

(vi) Interesse do conteuacutedo aumenta a atenccedilatildeo de transcritores e segmentadores

aumenta o niacutevel de informatividade pois garante uma fala mais espontacircnea

Abaixo segue a Tabela 31 que descreve as caracteriacutesticas dos textos do minicorpus75

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

Conversaccedilotildees 15 9 010728 9774

bfamcv01 Amigos avaliam um campeonato de futebol organizado por eles e planejam o

proacuteximo

4 0 000700 1467

bfamcv02 Senhoras conversam sobre os preparativos do casamento de uma parente 0 3 000751 1725

bfamcv03 Amigos jogam sinuca 5 0 000650 1390

bfamcv04 Amigos jogam ―Imagem e Accedilatildeo apoacutes explicar as regras do jogo para uma das

participantes

2 2 000730 1766

bpubcv01 Funcionaacuterios de banco de sangue explicam como o sangue coletado eacute

armazenado

1 3 000830 1798

bpubcv02 Reuniatildeo ordinaacuteria em uma sede regional de partido poliacutetico 3 1 002947 1628

Diaacutelogos 6 8 014528 11331

bfamdl01 Colegas de apartamento fazem as compras do mecircs 0 2 001439 2131

bfamdl02 Colegas de faculdade batem papo enquanto organizam o material de gravaccedilatildeo 1 1 000726 1572

bfamdl03 Casal faz uma viagem de carro 1 1 001030 1637

bfamdl04 Domeacutesticas matildee e filha fazem a limpeza da cozinha apoacutes o almoccedilo 0 2 001932 1249

bfamdl05 Corretor de imoacuteveis leva a irmatilde para visitar apartamento 1 1 001128 1736

bpubdl01 Engenheiro e pedreiro trabalham em uma obra 2 0 002608 1568

bfamdl02 Cliente e vendedor interagem durante a compra de calccedilados 1 1 001545 1438

Monoacutelogos 7 10 010540 10213

bfammn01 Senhor narra histoacuteria fantaacutestica sobre uma cobra 2 0 000502 1086

bfammn02 Sobrinha de Carlos Drummond de Andrade conta histoacuteria da famiacutelia ao neto 1 1 000723 1677

bfammn03 Narrativa de ―causos divertidos para a famiacutelia 3 3 000708 1206

75

Fonte Raso e Mittman (2012 p 220-221)

91

Caracteriacutesticas dos textos do subcorpus

do C-ORAL-BRASIL etiquetado informacionalmente

Texto Situaccedilatildeo Informantes Duraccedilatildeo

Hms

No de

palavras M F

bfammn04 Senhora conta sua experiecircncia no hospital apoacutes ter dado agrave luz no carro 0 1 000657 1450

bfammn05 Senhora fala sobre a adoccedilatildeo da filha apoacutes a morte de sua filha bioloacutegica 0 2 000952 1580

bfammn06 Pai conta seu percurso profissional agrave sua filha 1 1 001002 1600

bpubmn01 Entrevista de avaliaccedilatildeo sobre aulas de inglecircs na rede puacuteblica de ensino 0 2 001916 1614

Total 28 27 035836 31318

presenccedila de pequenas intervenccedilotildees de um ou mais informantes que estavam fora da situaccedilatildeo

Tabela 31 ndash Caracteriacutesticas dos textos do minicorpus

Os nomes dos arquivos satildeo construiacutedos da seguinte forma a primeira letra representa

a liacutengua do corpus (―b) o grupo de trecircs letras seguintes o contexto da interaccedilatildeo (―fam para

contextos privados e ―pub para contextos puacuteblicos) as duas letras finais correspondem agrave

tipologia interacional (―mn para monoacutelogos ―dl para diaacutelogos e ―cv para conversaccedilotildees)

os numerais em sequecircncia correspondem agrave sua identificaccedilatildeo na seccedilatildeo a que pertencem

A tabela aponta que o minicorpus eacute composto de um total de 31318 palavras em 3h

58min e 36s de gravaccedilatildeo totalizando de 55 informantes (28 do sexo masculino e 27 do

feminino) As conversaccedilotildees tecircm 1h 7min e 28s de gravaccedilatildeo com 24 informantes (15 homens

e 9 mulheres) os diaacutelogos 1h 45min e 28s de gravaccedilatildeo com 14 informantes (6 homens e 8

mulheres) e os monoacutelogos 1h 5min e 40s de duraccedilatildeo e 17 informantes (7 homens e 10

mulheres)

Com relaccedilatildeo ao nuacutemero de informantes nos monoacutelogos ainda que haja mais de um

participante na situaccedilatildeo comunicativa apenas um dos participantes eacute o informante central

para a contagem do nuacutemero de palavras do texto Os eventuais interlocutores satildeo os

endereccedilados e contribuem tatildeo-somente com pequenas interferecircncias normalmente para

manter o fluxo discursivo

Os nuacutemeros para o contexto e a tipologia interacional satildeo os seguintes 74 da

amostra pertencem ao contexto privadofamiliar e os arquivos em contexto puacuteblico

representam 26 do total de palavras da amostra Assim como em toda a parte informal do

corpus a divisatildeo do minicorpus eacute balanceada 31 satildeo conversaccedilotildees 36 diaacutelogos e 33

monoacutelogos

Deve-se observar que neste subcorpus a representatividade para o contexto puacuteblico

natildeo eacute suficiente para efeitos de comparaccedilatildeo com as situaccedilotildees familiares O nuacutemero de

92

palavras neste contexto equivale a 13 das palavras das conversaccedilotildees 14 das dos diaacutelogos e

16 das palavras produzidas em monoacutelogos

332 A busca e organizaccedilatildeo dos iacutendices

A busca pelos iacutendices modais no minicorpus foi feita manualmente por trecircs

anotadores Os anotadores duas estudantes de graduaccedilatildeo e uma de poacutes-graduaccedilatildeo cumpriram

duas tarefas a partir do que jaacute havia sido investigado na literatura e discutido sobre o conceito

de modalidade e a tipologia a primeira buscar os iacutendices nos textos e a segunda tarefa a de

classificaacute-los de acordo com os tipos epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Ainda que um objetivo futuro seja a comparaccedilatildeo com dados de modalidade para a fala

espontacircnea do italiano que utilizam os valores aleacutetico epistecircmico e deocircntico decidiu-se natildeo

individualizar a modalidade aleacutetica76

e proceder agrave classificaccedilatildeo apenas dos dois uacuteltimos tipos

A partir da observaccedilatildeo direta dos dados e nas discussotildees do grupo sobre os significados

modais a serem aplicados optou-se por uma abordagem subjetiva da modalidade De fato

alguns estudiosos (von WRIGHT 1951 LYONS 197777

CRESTI 2000 TUCCI 2007)

reconhecem o tipo aleacutetico e consideram-no em sua tipologizaccedilatildeo poreacutem como Portner (2009

p 10) argumenta ―[p]ode ser difiacutecil determinar precisamente quais os usos de modais

supostamente contados como aleacuteticos como em eacute necessariamente verdade que a leitura

aleacutetica tende a se destacar A motivaccedilatildeo para a concepccedilatildeo estrita pode ser a assunccedilatildeo de que a

modalidade aleacutetica eacute o tipo mais baacutesico de modalidade em termos do qual as outras

variedades podem ser definidas mais do que um tipo entre muitos78

o que corrobora nossa

posiccedilatildeo

A cada texto anotado os resultados eram discutidos em reuniatildeo com a coordenadora

do projeto A busca e a classificaccedilatildeo eram checadas e validadas e apesar de natildeo computado

estatisticamente foi apontado alto grau de acordo entre os anotadores Agrave medida que o

processo de codificaccedilatildeo avanccedilava foi decidido que o valor dinacircmico seria incluiacutedo na

tipologia para cobrir os casos de habilidadecapacidade e os de voliccedilatildeointenccedilatildeo

76

No entanto eacute reconhecida a importacircncia da modalidade aleacutetica para o estudo das ontologias por exemplo 77

Segundo Portner (2009 p 122-123) ―A visatildeo de Lyons tambeacutem parece ser de que a modalidade na

linguagem natural eacute simplesmente uma versatildeo extremamente objetiva da modalidade epistecircmica 78

No original ―It can be hard to determine precisely which uses of modals are supposed to count as alethic but

if you put in the word true as in It is necessarily true that the alethic reading tends to stand out The

motivation for the narrow conception may be an assumption that alethic modality is the most basic type of

modality in terms of which the other varieties may be defined rather than just one type among many

(PORTNER 2009 p 10)

93

Para os casos de ambiguidade dos verbos modais como ―poder e ―dever que

permitem leituras tanto epistecircmicas quanto deocircnticas (e para o ―poder tambeacutem dinacircmicas) o

desempate foi feito pela anaacutelise do contexto e ainda pela utilizaccedilatildeo do software WinPitch

(MARTIN 2004) na oitiva uma vez que a anaacutelise perceptual e acuacutestica do sinal sonoro

permitem a desambiguaccedilatildeo do valor semacircntico de uma mesma forma lexical

O WinPitch Corpus eacute uma ferramenta fundamental para a anaacutelise de textos falados

porque permite o alinhamento preciso das informaccedilotildees linguiacutesticas contidas num texto com

seu correspondente sinal acuacutestico Assim permite a identificaccedilatildeo natildeo soacute de siacutelabas como de

enunciados inteiros inclusive dos segmentos de unidades informacionais Aleacutem do

alinhamento transcriccedilatildeo-fala o software possui outros recursos para a anaacutelise acuacutestica como

espectrograma identificaccedilatildeo da frequecircncia fundamental possibilidade de siacutentese da curva

prosoacutedica entre outros A anaacutelise dos arquivos de som se mostra fundamental para

reconhecer classificar e analisar os iacutendices de modalidade quando sugerem mais de um

sentido

Para o tratamento nesta tese foram selecionados apenas os enunciados com um iacutendice

modal expliacutecito e ao final destacamos 1197 iacutendices modais distribuiacutedos em 1046

enunciados excluiacutedos os enunciados interrompidos Apoacutes a seleccedilatildeo os dados foram

organizados em uma tabela com todas as ocorrecircncias por arquivo de texto Os enunciados

foram codificados da seguinte forma

(a) Metadados informaccedilotildees sobre cada arquivo o nome de cada um a tipologia

interativa (monoacutelogos diaacutelogos e conversaccedilotildees) e os participantes Estes dados

foram colhidos nos cabeccedilalhos de cada arquivo que fornecem os dados estatiacutesticos

sobre as categorias de sexo idade niacutevel escolar ocupaccedilatildeo e papel comunicativo

exercido pelos falantes assim como informaccedilotildees relativas agraves atividades exercidas

durante a gravaccedilatildeo os assuntos e os locais de gravaccedilatildeo Esse cabeccedilalho traz

tambeacutem comentaacuterios que podem conter observaccedilotildees julgadas importantes sobre a

natureza situacional para a compreensatildeo do texto como um todo ou de parte(s)

dele e observaccedilotildees linguiacutesticas natildeo acolhidas nos criteacuterios de transcriccedilatildeo mas

consideradas relevantes em cada caso especiacutefico

94

A estes metadados fornecidos pelo corpus foram acrescentados a tipologia

textual79

o gecircnero textual e o assunto de cada interaccedilatildeo a fim de verificar a

relaccedilatildeo entre as escolhas dos itens modais e os tipos de texto em que estatildeo

inseridos Estas variaacuteveis natildeo satildeo paracircmetros controlados pelo C-ORAL-BRASIL

nem pelo C-ORAL-ROM Abaixo um instantacircneo das informaccedilotildees compiladas e

codificadas sobre os metadados

Tabela 32 ndash Informaccedilotildees sobre os metadados

(b) Lemas e lexemas identificaccedilatildeo do item modal de cada enunciado e suas

respectivas formas A Tabela 33 indica a forma de codificaccedilatildeo

79

A fim de classificar a tipologia textual utilizo as categorias de Dolz e Schneuwly (19962004) divididas em

NARRAR RELATAR EXPOR ARGUMENTAR e DESCREVER

Arquivo Tipologia in teracional Tipo textual Gecircnero Assunto Inform antes S

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol GIL M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv01 conversaccedilatildeo privada argumentativo avaliaccedilatildeoplanejamento campeonato de futebol LUI M

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento RUT F

bfamcv02 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo preparativos de casamento TER F

bfamcv03 conversaccedilatildeo privada narrativo bate-papo variadosjogo de sinuca CEL M

bfamcv04 conversaccedilatildeo privada descritivo instruccedilatildeo de jogo Imagem e Accedilatildeo CEL M

bfamdl01 diaacutelogo privado narrativo seleccedilatildeo de alimentos compras do mecircs REN1 F

bfamdl02 diaacutelogo privado narrativodescritivobate-papoinstruccedilatildeo de uso

de equipamento

variados organizaccedilatildeo de

equipamentoBEL F

95

Tabela 33 ndash Informaccedilotildees sobre lemas e lexemas

(c) Organizaccedilatildeo informativa unidades informacionais em que se encontram o iacutendice

modal (Comentaacuterio Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Toacutepico Lista

de Toacutepico Parenteacutetico Lista de Parenteacuteticos Introdutor Locutivo Apecircndice de

Comentaacuterio e Apecircndice de Toacutepico)80

Abaixo segue a tabela com as etiquetas

utilizadas

Unidade informacional Etiqueta

Comentaacuterio COM

Comentaacuterios Muacuteltiplos CMM

Comentaacuterios Ligados COB

Toacutepico TOP

Lista de Toacutepicos TPL

Parenteacutetico PAR

Lista de Parenteacuteticos PRL

Introdutor Locutivo INT

Apecircndice APC

Apecircndice de Toacutepico APT

Tabela 34 ndash Etiquetagem de unidades informacionais

80

Na etiquetagem informacional eacute utilizada a etiqueta CMB para Comentaacuterios Muacuteltiplos Ligados No entanto

para os propoacutesitos de meu trabalho assumo os CMBs como COBs pela opccedilatildeo de agrupar categorias semelhantes

funcionalmente

Lem a Lexem a

achar acho

dever deviam

achar acho

com certeza com certeza

com certeza com certeza

ir vatildeo

mesmo mesmo

querer queria

dar daacute

dever deve

querer querendo

esperar espero

96

(d) Valor modal correspondente epistecircmico deocircntico e dinacircmico e seus respectivos

subvalores modais Para os subvalores a nomenclatura estaacute em inglecircs tendo em

vista que nos projetos de anotaccedilatildeo da modalidade a liacutengua inglesa eacute a liacutengua

francalsquo

O valor epistecircmico o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de

certeza de um conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se

refere agraves noccedilotildees de possibilidade probabilidade e necessidade Por exemplo

O valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo

O valor dinacircmico relaciona-se agrave capacidade habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um

conceptualizador

A Tabela 33 indica os coacutedigos utilizados

Valores Subvalores Coacutedigo

Epistecircmicos epi

Conhecimento knowledge

Crenccedila belief

Possibilidade possibility

Probabilidade probability

Necessidade necessity

Verificaccedilatildeo verification

Deocircnticos deo

Obrigaccedilatildeo obligation

Permissatildeo permission

Proibiccedilatildeo prohibition

Necessidade necessity

Dinacircmicos dyn

Habilidade ability

Voliccedilatildeo volition

Tabela 35 ndash Etiquetagem de valores e subvalores modais

97

(e) Part of speech (PoS) do iacutendice modal verbos modalizadores81

verbos epistecircmicos

verbos de compreensatildeo e percepccedilatildeo verbos de atitude proposicional adveacuterbio

modal e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais

construccedilotildees de futuro (futuro perifraacutestico vamos+infinitivo futuro do preteacuterito e

imperfeito com funccedilatildeo de retrospecccedilatildeo) A Tabela 34 indica as etiquetas

PoS Etiqueta

Verbos modalizadores Vm

Verbos epistecircmicos Vepi

Verbos de compreensatildeopercepccedilatildeo Vcomp

Verbos de atitude proposicional Vap

Adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais Adv

Adjetivos e construccedilotildees adjetivas Adj

Expressotildees modais Em

Morfologia

Futuro perifraacutestico futperif

vamos+infinitivo letlsquos

Futuro do preteacuterito futpret

Imperfeito imperf

Tabela 36 ndash Etiquetagem de Part of speech (PoS) e iacutendices morfoloacutegicos

(f) Composicionalidade se haacute apenas um iacutendice modal em cada enunciado (―s para

simples) ou se haacute dois ou mais iacutendices na mesma unidade informacional e mesmo

enunciado (―me para mesmo enunciado) ou se haacute no mesmo enunciado e em

unidades informacionais diferentes (―meud para mesmo enunciado e unidades

diferentes)

A Tabela 37 traz um instantacircneo da maneira como os dados referentes a enunciados

padratildeo informacional composicionalidade valor modal PoS e subvalores modais estatildeo

organizados e codificados

81

Sob a etiqueta verbos modalizadores incluo natildeo apenas os verbos ―poder ―dever e ―ter que mas todos

aqueles que expressam modalidade epistecircmica deocircntica e dinacircmica mesmo que a rigor nem todos sejam

enquadrados na categoria ―verbos modais

98

Tabela 37 ndash Organizaccedilatildeo e codificaccedilatildeo de dados

En

un

cia

do

UI

Pa

dratilde

oc

om

pV

alo

r m

od

al

Po

SS

ub

va

lor

mo

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l

GIL

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CN

T=

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o agrave

qu

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CO

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lan

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em

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MP

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ta

mb

eacutem

fala

nd

o e

m p

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ma

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o =

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esse

po

vo

do

Ga

laacutetico

s eacute

mu

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pa

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=

CO

B=

eu

ac

ho

qu

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s n

ũ d

ev

iam

ma

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art

icip

ar

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OM

= e

ltta

lgt =

UN

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$

CO

Mm

ee

pi

ve

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ee

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vm

ne

ce

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LU

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ch

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CO

M=

$

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Ms

ep

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CO

M=

$

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Ms

ep

ia

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be

lie

f

LU

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rte

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ũ v

atildeo

pa

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CO

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n

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CO

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de

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CO

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CO

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6] n

eacute e

s d

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isso

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A=

co

isa

pro

s tim

es q

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ga

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nte

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ge

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=

CO

M=

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OM

sd

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vo

litio

n

LE

O [3

5] co

mo

o C

hu

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INT

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s v

atildeo

pe

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s c

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s q

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=

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= tip

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PA

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CO

B=

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l =

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atildeo

pe

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r =

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es v

atildeo

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s q

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CO

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$

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Bm

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pi

futp

eri

fp

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ictio

n

CO

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futp

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fp

red

ictio

n

CO

Bm

eu

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pi

futp

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fp

red

ictio

n

CO

Bm

eu

de

pi

futp

eri

fp

red

ictio

n

99

Em fase posterior foram acrescentados apenas por um anotador dados referentes aos

componentes utilizados para a anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade como o target a unidade

informacional que conteacutem o target a polaridade e a source of the modality ou holder

(BAKER et al 2010) A metodologia utilizada na anotaccedilatildeo dos dados seraacute explicitada no

capiacutetulo 5 da Parte III deste trabalho uma vez que para tal classifico apenas os iacutendices

lexicais utilizo uma classificaccedilatildeo mais refinada e um software especiacutefico para tarefas de

anotaccedilatildeo o MMAX2 (MULLER STRUBE 2006)

Da tabela ainda consta um campo para observaccedilotildees sobre sutilezas de cada ocorrecircncia

como por exemplo relaccedilotildees entre morfossintaxe e semacircntica estrateacutegias de polidez

envolvidas padrotildees modais etc

As construccedilotildees condicionais foram tabuladas em planilha especiacutefica devido agrave

particularidade dos dados a serem analisados Aleacutem dos metadados lemas e lexemas e valor

modal foram acrescentados o padratildeo de organizaccedilatildeo informativa da construccedilatildeo por exemplo

TOPCOM e a distribuiccedilatildeo da proacutetase e apoacutedose correspondente ao padratildeo de cada

enunciado

Abaixo uma amostra da tabela com as condicionais e suas variaacuteveis

Texto Falante Construccedilatildeo Est Info Estr Sint

bfamcv02 TER [21] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhou =COM=$ TOP-COM Pro-apo

bfamcv02 RUT [23] se nũ morrer antes ltdelesgt =COM=$ COM pro

bfamcv02 JAE [27] ltse for ogt filho e ganhou =TOP= lteacute questatildeo da matildeegt =COM=$ TOP-COM Pro-apo

Tabela 38 ndash Exemplo de organizaccedilatildeo dos dados das construccedilotildees condicionais

34 Anaacutelise dos dados

A partir da organizaccedilatildeo dos dados foi realizada a descriccedilatildeo da modalidade no

minicorpus etiquetado informacionalmente do C-ORAL-BRASIL Foram analisadas as

frequecircncias de enunciados modalizados encontrados na amostra bem como a sua distribuiccedilatildeo

por tipologia interacional Aleacutem disso foram descritas a frequecircncia dos iacutendices morfolexicais

inclusive em relaccedilatildeo agrave unidade informacional de que faziam parte e a frequecircncia dos tipos de

modalidade em relaccedilatildeo aos iacutendices e a cada unidade informacional

Em seguida foi feita a anaacutelise qualitativa e quantitativa para cada um dos iacutendices

modais encontrados em termos de ambientes sintaacuteticos relaccedilatildeo entre estrutura sintaacutetica e

estrutura informacional distribuiccedilatildeo nos contextos e tipologias interacionais tipologia textual

100

(narrativo relato expositivo argumentativo descritivo) Aleacutem disso foram analisadas as

variaacuteveis tipo de modalidade e seus subvalores padratildeo de estrutura informacional (qual

unidade informacional conteacutem o marcador modal) e a composicionalidade (enunciado

simples dois iacutendices na mesma unidade informacional dois ou mais iacutendices em unidades

informacionais diferentes mas no mesmo enunciado)

Neste capiacutetulo tratei dos procedimentos metodoloacutegicos que guiaram esta pesquisa Na

primeira seccedilatildeo expus os pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato teoria esta corpus-driven

e corpus-based que define o enunciado como sua unidade miacutenima de referecircncia

pragmaticamente analisaacutevel Elenquei e defini as unidades informacionais textuais e

dialoacutegicas e os padrotildees complexos de organizaccedilatildeo informacional a saber as Unidades de

escansatildeo Comentaacuterios Muacuteltiplos Estrofes e Comentaacuterios Ligados Em seguida na segunda

seccedilatildeo apresentei a arquitetura do C-ORAL-BRASIL corpus de fala espontacircnea do portuguecircs

brasileiro especificamente em sua variedade mineira Da parte informal deste corpus foi

recortado um minicorpus a partir de criteacuterios de maacutexima qualidade com 20 textos

privadosfamiliares e puacuteblicos que tenta preservar a arquitetura do corpus Descrevo as

variaacuteveis utilizadas para a anaacutelise dos dados (metadados lemas e lexemas estrutura

informacional composicionalidade valores e subvalores modais e PoS) e por uacuteltimo

explicito o tipo de anaacutelise a ser empreendida

No proacuteximo capiacutetulo sigo com a descriccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL com

a apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados e posterior anaacutelise qualitativa de alguns dos iacutendices

lexicais que expressam o fenocircmeno em tela

101

Capiacutetulo 4

A MODALIDADE NO MINICORPUS DO C-ORAL-BRASIL I

resultados e anaacutelise

No capiacutetulo anterior apresentei a moldura teoacuterica da Teoria da Liacutengua em Ato o

projeto C-ORAL-BRASIL e os procedimentos metodoloacutegicos utilizados para a anaacutelise da

modalidade no minicorpus extraiacutedo da parte informal do C-ORAL-BRASIL No presente

capiacutetulo descrevo os resultados para a modalidade na amostra de 20 textos deste minicorpus e

analiso o comportamento de alguns dos iacutendices lexicais que expressam modalidade a saber

verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais do tipo

―se p entatildeo q

41 Frequecircncia de enunciados modalizados na amostra

O minicorpus de anaacutelise possui um total de 31465 palavras e 5484 enunciados Foi

realizada uma busca manual em todos os enunciados para a extraccedilatildeo dos enunciados que

continham pelo menos um marcador de modalidade dentre os jaacute elencados na seccedilatildeo de

procedimentos metodoloacutegicos Foram encontrados 1197 iacutendices marcadores de modalidade

sendo 109 referentes a construccedilotildees condicionais82

e 1088 referentes aos outros itens modais

distribuiacutedos em 1044 enunciados o que corresponde a 1903 do total de todos os

enunciados da amostra Como mostra o graacutefico abaixo

82

Conforme destacado no capiacutetulo de procedimentos metodoloacutegicos as construccedilotildees condicionais recebem

tratamento diferenciado porque ―assumem uma estrutura textual que difere das estrateacutegias lexicais e possuem

uma distribuiccedilatildeo prosoacutedico-pragmaacutetica peculiar (CORTES MELLO 2013 p 1)

102

Figura 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados no minicorpus

Em termos de composicionalidade83

os iacutendices estatildeo assim organizados dos 1088

marcadores 825 aparecem em enunciados com apenas um iacutendice modal 202 estatildeo

combinados (dois ou mais iacutendices) em uma mesma unidade informacional e 61 deles

correspondem a mais de um iacutendice modal em um mesmo enunciado mas em unidades

informacionais diferentes A combinaccedilatildeo de um ou mais iacutendices em uma mesma unidade

informacional exige que seja analisado o valor global do enunciado respeitando a hierarquia

de valores de cada um dos modais

Na amostra haacute uma seacuterie de valores modais combinados (epi-epi epi-deo epi-dyn

epi-epi-epi epi-deo-epi epi-epi-dyn deo-deo- deo-epi dyn-epi etc) sendo que o valor

global predominante nestes enunciados eacute o epistecircmico Vejamos alguns exemplos

(41) SIL [92] ltsinceramentegt que eu nũ sei =COM=$ (bfamdl04)

(42) HEL [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt =COM=$ (bfamcv04)

(43) JOR [79] eles queriam me dar um dinheiro por fora mas =SCA= a gente

tambeacutem tem que ter o nossos momento de descanso =COM=$ (bfammn06)

(44) EVN [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

83

Apresento a composicionalidade dos 1088 marcadores de modalidade excluiacutedas as construccedilotildees condicionais

que como jaacute mencionado estatildeo organizadas de maneira particular

nordm de enunciados

nordm de enunciados modalizados

103

Em (41) temos dois iacutendices modais epistecircmicos ―sinceramente e ―sei com

subvalores de crenccedila e conhecimento e o valor global do enunciado eacute epistecircmico A

ocorrecircncia em (42) traz um enunciado com valor global deocircntico haacute uma combinaccedilatildeo de

dois itens modais deocircnticos com significado de permissatildeo e impedimento O exemplo (43)

combina um iacutendice dinacircmico ―queriam e um deocircntico ―tem que dada a hierarquia o valor

global eacute dinacircmico Por uacuteltimo em (44) a unidade informacional de Comentaacuterio conteacutem dois

marcadores modais um epistecircmico de crenccedila ―acho e uma obrigaccedilatildeo deocircntica ―tem que e

seu valor global eacute epistecircmico

42 Enunciados e tipologia interacional

Na amostra da parte informal do corpus a extraccedilatildeo automaacutetica dos enunciados nos daacute

um resultado de 5484 enunciados simples e complexos distribuiacutedos da seguinte forma 4126

enunciados privados (1404 conversaccedilotildees 1870 diaacutelogos e 852 monoacutelogos) e 1358

enunciados puacuteblicos (635 conversaccedilotildees 581 diaacutelogos e 142 monoacutelogos) A Tabela 42 mostra

os nuacutemeros para a distribuiccedilatildeo de enunciados em termos de tipologia interacional e contexto

familiar ou puacuteblico Destacam-se o nuacutemero total de enunciados por tipologia e contexto e a

frequecircncia deles comparados aos nuacutemeros totais do minicorpus

Tabela 41 ndash Frequecircncia de enunciados modalizados x tipologia e contexto interacional

O graacutefico abaixo daacute a perspectiva da distribuiccedilatildeo

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal

Total

amostra

Freq

()

Privados 174 332 291 797 4126 193

Puacuteblicos 46 111 90 247 1358 181

Total modal 220 443 381 1044 5484 1903

Total amostra 994 2451 2039 5484

Freq () 221 18 186

104

Figura 42 ndash Frequecircncia de enunciados por tipologia e contexto interacional

Observa-se que a tipologia interacional tem influecircncia sobre o percentual de

enunciados modalizados comparados aos diaacutelogos e conversaccedilotildees (181 e 186

respectivamente) a tipologia monoloacutegica possui mais enunciados modalizados (222)

Na Tabela 42 estatildeo indicados o nuacutemero de iacutendice modais encontrados em cada

contexto e tipologia interacional e sua frequecircncia em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de iacutendices

modalizados

Tabela 42 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por contexto e tipologia interacional

Abaixo o graacutefico para ilustrar essa distribuiccedilatildeo

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Monoacutelogos Diaacutelogos Conversaccedilotildees Total modal Freq ()

Privados 207 365 334 906 756

Puacuteblicos 64 130 97 291 243

Total modal 271 495 431 1197

Freq () 226 413 359

105

Figura 43 ndash Frequecircncia de iacutendices modais por tipologia e contexto interacional

A grande diferenccedila entre a frequecircncia dos iacutendices em contextos privados e puacuteblico

deve-se ao nuacutemero bastante superior de textos privados (15) em relaccedilatildeo ao puacuteblico (5) Esta

comparaccedilatildeo portanto eacute meramente ilustrativa No que diz respeito agrave tipologia interacional os

iacutendices estatildeo assim distribuiacutedos para os monoacutelogos 226 do total de iacutendices para os

diaacutelogos 413 e para as conversaccedilotildees 359

Assim vemos que ao serem apresentados apenas os nuacutemeros de iacutendices modais

deslocados do nuacutemero de enunciados e de uma base de referecircncia de toda a amostra inverte-

se o peso das tipologias os monoacutelogos apresentam menos modalizaccedilotildees em comparaccedilatildeo com

as trocas dialoacutegicas (diaacutelogos e conversaccedilotildees)

43 Frequecircncia dos iacutendices morfolexicais de modalidade

Foram encontradas 1197 ocorrecircncias de itens lexicais e gramaticais que expressam

modalidade divididos em verbos modais verbos epistecircmicos e de atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais adjetivos e construccedilotildees adjetivas expressotildees modais futuro

perifraacutestico futuro do preteacuterito imperfeito (com valor de futuro do preteacuterito) e construccedilotildees

condicionais A Tabela 43 abaixo mostra os nuacutemeros para cada estrateacutegia modalizadora

0

200

400

600

800

1000

1200

Privados

Puacuteblicos

Total modal

Freq ()

106

Estrateacutegias modalizadoras nordm de enunciados

verbos modalizadores 414

verbos epistecircmicos atitude proposicional 223

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 92

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 22

expressotildees modais 30

futuro perifraacutestico 243

vamos+infinitivo (~letlsquos) 18

futuro do preteacuterito 37

imperfeito (~futuro do preteacuterito) 9

construccedilotildees condicionais 109

Tabela 43 ndash Estrateacutegias modalizadoras

O nuacutemero de ocorrecircncia de iacutendices lexicais eacute de 783 e corresponde a 654 da

amostra enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 O nuacutemero de

iacutendices gramaticais somados eacute idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A estrateacutegia modalizadora empregada mais frequententemente satildeo os verbos

modalizadores (aqui como jaacute explicitado incluo todos os verbos que expressam modalidade

epistecircmica deocircntica e dinacircmica) correspondendo a 346 do total de ocorrecircncias As duas

outras estrateacutegias mais frequentes satildeo o futuro perifraacutestico (202) e os verbos epistecircmicos e

de atitude proposicional (185) A Figura 44 demonstra a participaccedilatildeo de cada uma das

estrateacutegias utilizadas na amostra

107

Figura 44 ndash Distribuiccedilatildeo das estrateacutegias modalizadoras na amostra ()

Importante destacar que na liacutengua portuguesa o futuro do preteacuterito apesar de ser uma

forma do modo indicativo representando um futuro retrospectivo funciona como uma forma

condicional exatamente como em outras liacutenguas romacircnicas como o francecircs e o italiano Dessa

forma as construccedilotildees condicionais (do tipo ―se p entatildeo q) e o futuro do preteacuterito (inclusive

na forma temporal do imperfeito) consistem em 129 do total de enunciados modalizados

431 Distribuiccedilatildeo dos iacutendices em relaccedilatildeo agrave unidade informacional

Nesta seccedilatildeo apresento a distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade em relaccedilatildeo agrave

articulaccedilatildeo informacional do enunciado

Segundo Tucci (2007) apenas algumas unidades podem conter um iacutendice modal o

Comentaacuterio o Toacutepico o Parenteacutetico e o Introdutor Locutivo No minicorpus em anaacutelise aleacutem

destas unidades informacionais centrais jaacute apontadas nos dados do italiano ainda aparecem

como modalizados as unidade de Lista de Toacutepicos Lista de Parenteacuteticos Comentaacuterios

Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados Destaco que apesar de termos quatro ocorrecircncias de

iacutendices na unidade de Apecircndice de Comentaacuterio e uma na de Apecircndice de Toacutepico os nuacutemeros

foram computados na unidade imediatamente anterior que integra na medida em que se

constituem como ecos ou informaccedilatildeo atrasada de itens contidos no Comentaacuterio ou Toacutepico A

Tabela 44 a seguir mostra a frequecircncia relativa das unidades informacionais centrais na

amostra

estrateacutegias modalizadorasverbos modais

verbos epistecircmicos atitude proposicional

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais

adjetivos e construccedilotildees adjetivas

futuro perifraacutestico

vamos+infinitivo (~letrsquos)

108

Unidades textuais Amostra iacutendices modais

Comentaacuterio 5484 1027 187

Toacutepico 503 22 43

Parenteacutetico 124 17 137

Introdutor Locutivo 223 22 103

Tabela 44 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais na amostra84

Do total de 1088 ocorrecircncias de iacutendices modais 1027 delas se realizam em unidade

de Comentaacuterio seja o Comentaacuterio-ele mesmo (820 ocorrecircncias) ou unidades de Comentaacuterio

Muacuteltiplo (94 ocorrecircncias) Comentaacuterios Ligados (109 ocorrecircncias) As trecircs outras unidades

que carregam o marcador modal mdash Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo mdash participam de

maneira semelhante na caracterizaccedilatildeo da modalidade na amostra em nuacutemeros absolutos com

22 17 e 22 ocorrecircncias respectivamente Os graacuteficos em 45 e 46 apontam o percentual

absoluto e relativo de unidades modalizadas respectivamente

Figura 45 ndash Frequecircncia absoluta das unidades informacionais em relaccedilatildeo aos iacutendices modalizados

84

A tabela foi montada a partir da base IPIC plataforma de busca que fornece os dados comparativos do C-

ORAL-ROM italiano e seu minicorpus e o minicorpus (parte informal) do C-ORAL-BRASIL em relaccedilatildeo a

dados gerais tipos interacionais contextos comunicativos e unidades informacionais Disponiacutevel em

httplablitaditunifiitipic Uacuteltimo acesso em 16 mar 2014 Trago apenas os nuacutemeros que me interessam nesta

anaacutelise Para fins de anaacutelise nos nuacutemeros para Comentaacuterio estatildeo incluiacutedos enunciados e estrofes uma vez que

os nuacutemeros da unidade COM contecircm os CMMs e os COBs Computo igualmente para o Toacutepico e o Parenteacutetico

os nuacutemeros da Lista de Toacutepicos (3) e Lista de Parenteacuteticos (3) respectivamente

94

2 22

Frequecircncia absoluta - Unidade informacionais

COM TOP PAR INT

109

Figura 46 ndash Frequecircncia relativa das unidades informacionais no minicorpus

Comparados os dois graacuteficos notamos que o Comentaacuterio tanto em termos absolutos

quanto em termos relativos eacute a unidade mais frequentemente modalizada As outras

unidades em nuacutemeros absolutos satildeo modalizadas em meacutedia em 2 dos enunciados jaacute em

termos relativos o quadro se modifica o Parenteacutetico figura como a segunda unidade mais

modalizada (137) seguida do Introdutor Locutivo (103) e em frequecircncia bem menor do

Toacutepico (43)

44 Frequecircncia da modalidade quanto aos tipos modais

Trato agora da distribuiccedilatildeo dos valores modais (epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos)

em relaccedilatildeo ao nuacutemero de enunciados agrave estrutura informacional e agrave ocorrecircncia das estrateacutegias

modalizadoras A distribuiccedilatildeo dos valores modais na nossa amostra eacute a seguinte

tipo de modalidade nordm de enunciados

epistecircmica 904

deocircntica 190

dinacircmica 103

Tabela 45 ndash Tipos de modalidade

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico Introdutor Locutivo

5484

503 124 223

1028

2217 23187 43 137 103

Frequecircncia relativa - Unidades informacionais

Minicorpus iacutendices modais

110

De um total de 1197 iacutendices que expressam a modalidade o epistecircmico eacute o valor

modal mais amplamente utilizado em 766 das ocorrecircncias As modalidades deocircntica e

dinacircmica satildeo realizadas em percentual bem menor com 149 e 84 das ocorrecircncias Como

mostra a figura a seguir

Figura 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais ()

441 Frequecircncia de valor modal por iacutendice lexical

No que diz respeito agrave frequecircncia dos valores modais por iacutendice lexical temos

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

verbos epistecircmicos 210 0 0

verbos de atitude proposicional 26 0 0

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 94 0 0

adjetivos e construccedilotildees adjetivas 19 1 0

expressotildees modais 28 1 1

futuro perifraacutestico 244 0 0

vamos + infinitivo (~ construccedilatildeo let) 0 0 17

futuro do preteacuterito 37 0 0

imperfeito 9 0 0

condicionais 109 0 0

Tabela 46 ndash Estrateacutegias modalizadoras e tipos de modalidade

76

16

8

tipos de modalidade

epistecircmica deocircntica dinacircmica

111

O nuacutemero de iacutendices lexicais eacute de 781 e corresponde a 657 de todos os iacutendices

enquanto o de iacutendices gramaticais eacute de 416 e corresponde a 346 dos modais O nuacutemero de

itens gramaticais modais eacute praticamente idecircntico ao nuacutemero de verbos modalizadores

A tabela indica que independentemente do valor satildeo os verbos modalizadores a

estrateacutegia preferencial para a expressatildeo da modalidade num percentual correspondente a

335 do total de iacutendices com destaque para o tipo deocircntico em que esta estrateacutegia

predomina 469 do uso de verbos modais correspondem a este valor 319 ao valor

epistecircmico e 212 ao dinacircmico

A modalidade epistecircmica eacute a mais utilizada como jaacute visto e estaacute associada a todas as

estrateacutegias modalizadoras Mello e colaboradores (2013) em anaacutelise quantitativa da

distribuiccedilatildeo dos marcadores de modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro

construiacuteram um graacutefico em que quanto mais vetores estivessem associados a um determinado

noacute mais representativo seria este noacute em relaccedilatildeo ao paracircmetro analisado no caso a relaccedilatildeo

entre a tipologia modal e os lemas modais Desta forma demonstraram a tendecircncia para o

uso no portuguecircs brasileiro do tipo epistecircmico e apontaram que este valor tem uma taxa de

associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que os tipos deocircntico e

dinacircmico

Os valores deocircntico e dinacircmico satildeo realizados predominantemente pelos verbos

modalizadores com a ocorrecircncia de uma expressatildeo modal com valor deocircntico e uma para o

valor dinacircmico Construccedilotildees do tipo ―vamos+Vinf (tambeacutem chamada de construccedilatildeo let ou

construccedilotildees hortativas) com 17 ocorrecircncias representam o futuro como voliccedilatildeointenccedilatildeo

subvalores associados ao valor dinacircmico

442 Relaccedilatildeo entre o valor modal e as unidades informacionais

Nesta seccedilatildeo apresento os resultados para a frequecircncia do valor modal em relaccedilatildeo agraves

unidades informacionais Jaacute deixamos claro que o escopo da modalidade natildeo eacute o enunciado

mas a unidade informacional Em um mesmo enunciado pode ocorrer mais de um elemento

veiculador de modalidade e a modalidade soacute se estende ao enunciado inteiro se ele for do

tipo simples quer dizer soacute composto pela unidade de Comentaacuterio

A Tabela 47 traz os nuacutemeros para os valores modais nas unidades informacionais de

Comentaacuterio Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo

112

Unidades informacionais epi deo dyn

COM 746 185 96

TOP 19 1 2

PAR 15 1 1

INT 16 3 3

Tabela 47 ndash Distribuiccedilatildeo dos valores modais nas unidades informacionais

As unidades informacionais tecircm comportamento diverso e natildeo-uniforme no que diz

respeito agrave realizaccedilatildeo do valor modal Para o Comentaacuterio natildeo haacute restriccedilatildeo quanto ao valor

modal a unidade assume significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos O Toacutepico ao

contraacuterio realiza principalmente o tipo epistecircmico (863) e na amostra assumiu o valor

dinacircmico em duas ocorrecircncias e em uma ocorrecircncia do tipo deocircntico correspondente ao item

modal contido na unidade de Apecircndice de Toacutepico que a integra A unidade de Parenteacutetico tem

comportamento semelhante realiza em sua maioria significados epistecircmicos (882) e

assume em apenas uma ocorrecircncia o valor deocircntico e o dinacircmico Quanto ao Introdutor

Locutivo parece apresentar da mesma forma que o Comentaacuterio a possibilidade de maior

realizaccedilatildeo de todos os significados modais (739 para os epistecircmicos e 13 para os

deocircnticos e dinacircmicos) Abaixo o graacutefico representa a distribuiccedilatildeo absoluta das unidades

informacionais relativo a cada valor modal

Figura 48 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta de unidades informacionais por valor modal

0

200

400

600

800

1000

1200

epi deo dyn total

INT

PAR

TOP

COM

113

Abaixo na Figura 49 a distribuiccedilatildeo relativa das unidades no que diz respeito a cada

valor modal com base no nuacutemero total de ocorrecircncias

Figura 49 ndash Frequecircncia relativa de unidades informacionais por valor modal

Segundo Tucci (2007 p 270) em anaacutelise dos dados da modalidade para o italiano o

fato de as unidades de Comentaacuterio e Introdutor Locutivo poderem realizar todos os valores

modais sem qualquer restriccedilatildeo natildeo eacute surpreendente O Comentaacuterio representa a unidade

suficiente e necessaacuteria para a interpretabilidade de um enunciado e da mesma forma o

Introdutor Locutivo que introduz um discurso reportado um elenco uma comparaccedilatildeo uma

exemplificaccedilatildeo (no portuguecircs brasileiro introduz uma opiniatildeo ou consideraccedilatildeo) assinalando

a modalidade e suspendendo a operaccedilatildeo ilocutiva

Sobre o Toacutepico e o Parenteacutetico Tucci (2007 p 271-273) faz consideraccedilotildees sobre as

duas unidades no que diz respeito agrave realizaccedilatildeo majoritariamente das modalidades epistecircmica e

aleacutetica e agrave restriccedilatildeo do uso do tipo deocircntico De acordo com a autora esta restriccedilatildeo estaacute

intimamente associada agrave sua funccedilatildeo informativa

Nas proacuteximas seccedilotildees passo a analisar os dados para alguns dos iacutendices lexicais

marcadores de modalidade

738 863 882739

71 45 59

13

92 9 59 13

COM TOP PAR INT

unidades informacionais x valor modal

epi deo dyn

114

45 Anaacutelise de iacutendices marcadores de modalidade

Os significados modais no portuguecircs brasileiro como jaacute apontado podem ser

expressos por vaacuterios meios lexicais morfoloacutegicos e sintaacuteticos Esta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise

de quatro categorias lexicais ndash verbos modalizadores verbos epistecircmicos adveacuterbios modais ndash

e uma categoria gramatical ndash as construccedilotildees condicionais

451 Os verbos modalizadores

A grande maioria dos estudos sobre a categoria da modalidade se dedica agrave anaacutelise dos

verbos modais auxiliares ou semi-auxiliares como os de Papafragou (1998 2000) Cornillie

(2005 2007) van der Auwera and Plungian (1998) Bybee et al (1994) Almeida (2010) para

nomear apenas uns poucos Para a liacutengua portuguesa destaco os trabalhos de Oliveira (2003)

Gonccedilalves (2004) Galvatildeo (2000) Gonccedilalves e Galvatildeo (2001) Salomatildeo (2008)

4511 Frequecircncia dos verbos modalizadores

Como apontado na seccedilatildeo 441 os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial

utilizada para a expressatildeo da modalidade Relembrando ilustro com um excerto da Tabela

46

Estrateacutegias modalizadoras epi deo dyn

verbos modalizadores 128 188 85

Foram identificados na amostra portanto 401 verbos modalizadores isto eacute todos os

verbos modais auxiliares semimodais e verbos plenos que expressam modalidade Abaixo

elenco todos os lemas encontrados e suas respectivas ocorrecircncias

115

verbos

modalizadores ocorrecircncias

adiantar 3 08

aguentar 2 05

conseguir 11 27

dar 30 75

dever 31 77

esperar 3 08

gostar 1 03

parecer 10 24

poder 132 329

precisar 17 42

querer 65 162

ter que 93 232

valer 3 08

Tabela 48 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos modalizadores

Desta lista observa-se a grande ocorrecircncia de verbos que figuram em listas de vaacuterias

liacutenguas como ―poder ―dever ―ter que ―precisar ―querer e ―parecer No entanto haacute

formas outras que normalmente natildeo satildeo consideradas modais canocircnicos como os verbos

―dar ―adiantar ―valer e ―aguentar que parecem ser usos especializados do portuguecircs

brasileiro85

O graacutefico abaixo mostra a distribuiccedilatildeo dos itens

85

Restrinjo-me agrave variante brasileira do portuguecircs uma vez que natildeo tenho dados suficientes para fazer

afirmaccedilotildees sobre as outras variantes seja a europeia ou as africanas

116

Figura 410 ndash Frequecircncia dos verbos modalizadores

A seguir apresento alguns exemplos de verbos que por um vieacutes metafoacuterico permitem

a leitura como marcador modal

(41) Adiantar

(a) [217]aiacute natildeo adianta =CMM= nũ pode desmanchar =CMM=$ (bpubdl01)

(42) Conseguir

(b) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(c) KAT [32] conseguiu marcar =CMM= natildeo =CMM= neacute =CMM=$

(43) Dar (para)

(d) REN [266] daacute pa fechar o jogo =COM=$

(e) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(f) [168] dois filho =TOP_r= daacute pa rir e chorar =COM_r=$

(44) Esperar

(g) entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros times que

jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $ (bfamcv01)

(h) REN [518] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

11 3 7 8

1 02

33

4

16

23

1

Frequecircncia dos verbos modalizadores

adiantar aguentar conseguir dar dever

esperar gostar parecer poder precisar

querer ter que valer

117

(45) Parecer

(i) [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$ (bpubdl01)

(46) Valer

(j) FLA [444] natildeo vale mais chorar por ele=COM=$

Destaco na amostra os nuacutemeros para as ocorrecircncias dos principais verbos que dizem

respeito agraves modalidades epistecircmica deocircntica e dinacircmica mdash ―poder ―dever ―ter que

―querer e ―conseguir

Figura 411 ndash Ocorrecircncia dos principais verbos modais tipo de modalidade

Observamos que o verbo ―poder eacute mais usado que o verbo ―dever como estrateacutegia

de modalidade com 132 ocorrecircncias comparadas a 31 ocorrecircncias Necessaacuterio salientar que o

uso de ―ter que (93 ocorrecircncias 2 em sentido epistecircmico e 91 em sentido deocircntico) no PB

como veiculador de modalidade deocircntica indica que o sentido de obrigaccedilatildeo estaacute quase

totalmente vinculado a ele O verbo ―querer assume valor dinacircmico de voliccedilatildeo e o

―conseguir indica habilidadecapacidade dinacircmica em 9 casos e possibilidade epistecircmica em

2

Na Tabela 49 os nuacutemeros de ocorrecircncias de cada verbo e a frequecircncia relativa aos

verbos modalizadores e aos valores modais totais

poder (can)dever (must

should)ter que (have

to)querer

(wishwant)conseguir

(be able to)

epi 52 29 2 0 2

deo 78 2 91 0 0

dyn 2 0 0 65 9

0102030405060708090

100

Principais verbos modais

118

Verbos modais epi deo dyn

poder (can) 52 78 2

dever (must should) 29 2 0

ter que (have to) 2 94 0

querer (wishwant) 0 0 65

conseguir (be able to) 2 0 9

total 85 174 76

verbos modalizadores 205 421 184

valor modal 94 915 737

Tabela 49 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos principais verbos modalizadores

Observa-se que a partir do caacutelculo da porcentagem para cada um dos valores modais

tomando em consideraccedilatildeo todos os enunciados estes verbos em destaque assumem o valor

deocircntico (915) e dinacircmico (737) contra 94 de epistecircmicos Em relaccedilatildeo aos verbos

modalizadores os deocircnticos continuam a predominar (421) seguido em nuacutemeros proacuteximos

dos epistecircmicos (205) e dos dinacircmicos (184) Conforme o graacutefico em 412

Figura 412 ndash Frequecircncia relativa dos valores modais dos principais verbos modalizadores

A baixa ocorrecircncia de ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca e a sua maior ocorrecircncia com o valor epistecircmico indica que este verbo

conforme Mello et al (2010 p 119)

020406080

100120140160180

epi

deo

dyn

119

[d]e tiacutepico modalizador deocircntico (por conter a noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo associada agrave

diacutevida) o verbo passou a frequente modalizador epistecircmico veiculando menos a

noccedilatildeo de obrigaccedilatildeo do que a de possibilidade ou a de probabilidade A noccedilatildeo de

obrigaccedilatildeo aparece fracamente na semacircntica do verbo porque a avaliaccedilatildeo de

probabilidade (epistecircmico) deriva de uma avaliaccedilatildeo baseada na necessidade

(deocircntica neste caso) das relaccedilotildees entre as coisas Eacute notaacutevel a ocorrecircncia dessa nova

acepccedilatildeo (epistecircmica) mais frequente que a acepccedilatildeo de raiz (deocircntica)

O espaccedilo deixado pelo verbo ―dever em usos de obrigaccedilatildeo deocircntica tem sido ocupado

pelo semimodal ―ter que como confirmam os nuacutemeros

Em termos de distribuiccedilatildeo dos verbos nas unidades informacionais como estrateacutegia

mais produtiva podem ocupar qualquer uma das UIs modalizaacuteveis com destaque mais uma

vez para o grande nuacutemero de ocorrecircncias na unidade de Comentaacuterio (315) o que corresponde

a 786 de todas as ocorrecircncias Se ao Comentaacuterio acrescentamos as ocorrecircncias para APC

CMM e COB este nuacutemero sobe para 390 973 do total de ocorrecircncias da amostra Eacute

importante notar que todos os significados epistecircmicos satildeo realizados nesta unidade Nas

unidades de Toacutepico Apecircndice de Toacutepico Parenteacutetico e Introdutor Locutivo temos a

realizaccedilatildeo de valores deocircnticos (tanto permissatildeo quanto obrigaccedilatildeo) e dinacircmicos (voliccedilatildeo)

452 Os verbos epistecircmicos

Os verbos de caraacuteter epistecircmico ou verbos de crenccedila funcionam segundo Venier

(1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) como ―sinais para manifestar no ouvinte o grau de

confiabilidade conferido pelo falante agrave proposiccedilatildeo e para manter uma funccedilatildeo sinalizadora

tambeacutem quando o enunciado que a conteacutem vem reportado86

Aleacutem disso desenvolvem

sentidos atitudinais e interacionais podem estar configurados sintaticamente de variadas

maneiras permitindo diferentes complementos a proacutepria omissatildeo de complemento e

informacionalmente a parentetizaccedilatildeo

Vejamos ocorrecircncias do Corpus do Portuguecircs (DAVIES FERREIRA 2006) com o

verbo de crenccedila ―considerar a fim de apontar nuances de com conceptualizaccedilatildeo no uso deste

tipo de verbo87

86

Traduccedilatildeo minha para ―segnali di manifestare alllsquoascoltatore il grado di attendibilitagrave assegnato dal parlante

alla proposizione e di mantenete uma funzione segnaletica anche quando llsquoenunciato che li contiene viene

riportato (VENIER 1991 p 68 apud TUCCI 2007 p 172) 87

Os exemplos foram coletados do Corpus do Portuguecircs esse eacute um corpus de referecircncia da liacutengua portuguesa

projeto desenvolvido pelos professores Mark Davies (BYU) e Michael J Ferreira (Georgetown University) com

mais 45000000 de palavras e um total de 57000 textos do seacutec XIV ao seacutec XX Esse corpus permite o

cruzamento de dados e distribuiccedilatildeo de palavras frases e construccedilotildees por registro (oral ficccedilatildeo jornaliacutestico e

120

(47) os direitos com facilidade ou tem ciuacuteme Joatildeo Ubaldo - Realmente natildeo gostei de

O Sorriso do Lagarto mas gostei da adaptaccedilatildeo de Sargento Getuacutelio para o cinema

Natildeo tenho ciuacuteme algum Trata-se mesmo de outra obra a obra do cineasta

iBEsp_242 15 de outubro de 1997 Nahas se considera ldquoum bode expiatoacuteriordquo

Estado - O sr esperava esta sentenccedila da Justiccedila Naji Nahas - Natildeo esperava de jeito

nenhum Eacute mais uma violecircncia uma discriminaccedilatildeo odiosa entre as muitas que tenho

sido viacutetima desde 89 Estado - Se o sr eacute a viacutetima quem (CDP19OrBrIntrvISP)

(48) Nahas - Confio na Justiccedila e sei que esta sentenccedila estaacute sujeita a revisatildeo

Terminando meu trabalho eu volto porque quero me apresentar para a apelaccedilao

aproveitando o momento para esclarecer todo esse assunto e mostrar definitivamente

quem satildeo os culpados Sou a viacutetima Estado - O sr se considera um bode

expiatoacuterio Nahas - Sou E o mais sofrido do BrasiliBEsp_244 18 de outubro de

1997 Manoel de Barros faz do absurdo sensatez Estado - Como surgiu seu amor pelas

coisas sem importacircncia Manoel de Barros - Quando eu era jovem fiz uma longa

viagem pela Boliacutevia (CDP19OrBrIntrvISP)

Em (47) confirmado por (48) tem-se um caso de discurso reportado e mostra-se a

separaccedilatildeo entre ―quem enuncia e nos termos tradicionais explicitados anteriormente ―o

falante que se compromete com a verdade da proposiccedilatildeo enunciada Em uacuteltima

consequecircncia haacute uma separaccedilatildeo a meu ver entre enunciado e proposiccedilatildeo enunciada

Observemos outro exemplo

(49) lugar (exceto Belo Horizonte) por mais de 2 anos Sebastiatildeo Nem no Rio de

Janeiro Prof Eduardo No Rio eu peguei uma vez mas minha mulher me gozou

tanto Comecei a puxar o ldquosrdquo igual ao pessoal de Juiz de Fora

que se considera carioca Dizem aqui em Belo Horizonte que o pessoal de laacute daacute o

endereccedilo tipo Avenida Brasil 9 milhotildees 582 mil etc (risos) Foi na eacutepoca em que

servi o Exeacutercito no Rio em Magalhatildees Bastos subuacuterbio Sebastiatildeo Natildeo entendi Com

17 anos o senhor

A partir de (49) temos duas possiacuteveis interpretaccedilotildees

acadecircmico) dialeto (portuguecircs brasileiro vs europeu no seacuteculo XX) periacuteodo histoacuterico (seacuteculos XIV ao XX)

Para acessaacute-lo httpwwwcorpusdoportuguesorg

121

(49a) Os juizforanos efetivamente dizem que satildeo cariocas (e aiacute se constituiria como

(xi) discurso reportado)

(49b) Os juizforanos se comportaram de uma determinada forma ou fizeram alguma

consideraccedilatildeo sobre serem cariocas que levam o falante a crer que o pessoal de Juiz de

Fora ―se considera carioca (inclusive enfatizado pelo enunciado seguinte em que

temos a presenccedila do evidencial ―Dizem que)

Dessa forma o que se pode depreender dos exemplos acima quando empregada a

terceira pessoa do discurso eacute que um dos usos dessas construccedilotildees eacute uma avaliaccedilatildeo do falante

sobre a avaliaccedilatildeo (ou perspectiva ou ainda ponto de vista) de uma pessoa outra (no papel

sintaacutetico de sujeito da claacuteusula principal)

Segundo Nuyts (2012) esta seria uma diferenccedila ente subjetividade e

intersubjetividade Uma avaliaccedilatildeo eacute tomada como subjetiva quando eacute responsabilidade

exclusiva do avaliador enquanto a intersubjetiva eacute compartilhada entre o avaliador e um

grupo de pessoas O autor sugere que satildeo principalmente os verbos de predicados mentais que

devem ser identificados com a subjetividade (NUYTS 2001 p 122-128) e pleiteia que a

subjetividade seja tratada como uma categoria diferenciada da modalidade epistecircmica

(NUYTS 2012) como por exemplo em (410) e (411)

(410) [94] achei aquele lugar incriacutevel =COM=$ (bfamcv01)

(411) [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

Na interpretaccedilatildeo de Nuyts exemplos como o apresentado em (410) parecem natildeo

carregar um sentido epistecircmico considerando que o verbo ―achar neste caso eacute um marcador

puramente de subjetividade jaacute que indica uma avaliaccedilatildeo esteacutetica ou moral e natildeo uma Em

(411) ao contraacuterio o verbo estaria empregado como um marcador epistecircmico com a

introduccedilatildeo de uma opiniatildeo baseada em evidecircncia ou na estimativa das possibilidades de

alguma coisa ser o caso

Sob outra perspectiva Almeida e Ferrari (2012) em artigo sobre a diferenccedila entre os

complementos de construccedilotildees epistecircmicas no inglecircs do tipo [X thinks that Y] e [X thinks Y]

levantam a questatildeo de qual seria a diferenccedila pragmaacutetica entre estas duas construccedilotildees baseado

no Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia (GOLDBERG 1995) As autoras a partir da anaacutelise de 382

construccedilotildees epistecircmicas de complementaccedilatildeo coletadas nas versotildees impressa e eletrocircnica da

revista Speak Up afirmam que estas construccedilotildees satildeo ―operadores de subjetividade que

122

apresentam o objeto de conceptualizaccedilatildeo (a claacuteusula complemento) tanto direta como

indiretamente desde a perspectiva do falante88

(ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

Ainda sustentam que as construccedilotildees sinalizam intersubjetividade uma vez que se referem

implicitamente agrave perspectiva do falante em relaccedilatildeo a outras perspectivas apresentadas em

discurso anterior as natildeo-completivas indicam conjunccedilatildeo cognitiva e as completivas

disjunccedilatildeo cognitiva entre a perspectiva do falante e outras perspectivas disponiacuteveis no fluxo

discursivo (ALMEIDA FERRARI 2012 p 124) Esta posiccedilatildeo que leva em conta uma

abordagem discursiva contraria outras propostas discutidas na literatura sobre o tema como a

jaacute mencionada de Nuyts (2012) e a de Verhagen (2005) justamente porque pleiteia que a

intersubjetividade vai envolver uma cena mais ampla que inclui a relaccedilatildeo entre falante e

ouvinte a claacuteusula complemento e as perspectivas anteriores disponiacuteveis no discurso

De fato os exemplos da amostra apontam para uma diferenccedila na qualidade da

avaliaccedilatildeo em construccedilotildees completivas e natildeo-completivas No entanto natildeo temos dados

suficientes para uma generalizaccedilatildeo que corrobore uma ou outra posiccedilatildeo apresentada Para fins

da pesquisa abarco crenccedila e opiniatildeo sob o guarda-chuva de crenccedila tomando uma opiniatildeo

como o resultado de uma determinada crenccedila

4521 Os nuacutemeros para os verbos epistecircmicos

Os types e tokens correlatos para os verbos epistecircmicos foram classificados

quantitativamente de acordo com a tipologia interacional (puacuteblico versus privado monoacutelogos

versus diaacutelogos versus conversaccedilotildees) e a tipologia textual (narrativo relato expositivo

argumentativo descritivo)

Aleacutem disso foi utilizado um nuacutemero de variaacuteveis na tabulaccedilatildeo dos dados que levam

em conta o padratildeo de estrutura informacional (qual unidade informacional conteacutem o

marcador modal) composicionalidade (enunciado simples dois iacutendices no mesmo enunciado

dois ou mais iacutendices em enunciados diferentes referecircncia contextual) tipo de modalidade e

seus subvalores o padratildeo sintaacutetico a projeccedilatildeo pragmaacutetica dos iacutendices e o conceptualizador

Os tipos encontrados foram acharlsquo acreditarlsquo crerlsquo imaginarlsquo pensarlsquo e saberlsquo

como exemplificado abaixo

88

No original ―[hellip] subjectivity operators which present the object of conceptualization (complement clause)

either direct or indirectly from the speakerlsquos perspective (ALMEIDA FERRARI 2012 p 123-124)

123

(412) Achar

(k) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do Galaacuteticos eacute

muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar =COM= e lttalgt

=UNC=$ (bfamcv01)

(l) [44] aiacute =PHA= passou um pouquim =COB= o filho =i-COB= achando que tava

errado aquele negoacutecio =PAR= voltou laacute outra vez =COM=$ (bfammn03)

(m) KAT [43] entatildeo ela acha que eacute a meia que taacute melhorando =COM=$

(bfamdl04)

(413) Acreditar

(n) [46] tipo =INT= eu [1]=EMP= eu acredito =i-COM= tipo =PAR= cem =SCA=

por cento =SCA= nisso =COM=$ (bfamcv01)

(o) [87] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfamdl01)

(p) [49] e eu acredito que depois que eu terminar o EDUCONLE =COB= eu acho

que aiacute eu vou tar mais madura ainda =COB= acho que mais preparada =COM=$

(bpubmn01)

(414) Crer

(q) ENC [208] eu creio que sim =COM (bfamdl05)

(415) Imaginar

(r) [171] natildeo =PHA= trinta reais =TOP= aiacute eu ampj [2]=SCA= eu [1]=EMP= eu fico

imaginando que elsquo fica pensando assim =INT= Nossa Sio =EXP_r= agraves vezes laacute em

casa taacute precisando de fazer uma compra e tudo =COM_r= neacute =PHA=$

(bpubmn01)

(416) Pensar

(s) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

(417) Saber

(t) TER [69] sei o tanto natildeo =COM=$ (bfamcv02)

(u) BAL [45] cecirc sabe que aquelas caxinhas ali =TOP= ela [1]=EMP= eu descobri

ontem =COB=$ (bfamdl02)

124

(v) ANE [19] rua Joaquim Nabuco =TOP= socirc sabe me informar =COM=$

(bfamdl03)

Como mencionado anteriormente o nuacutemero total de tokens de verbos epistecircmicos

encontrado no subcorpus foi de 210 distribuiacutedos em 6 types como a seguir 105 para acharlsquo

(50) 3 para acreditarlsquo 1 para crerlsquo 1 para imaginarlsquo 2 para pensarlsquo e 98 para saberlsquo

(47) A Figura 413 mostra esta distribuiccedilatildeo

Figura 413 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos verbos epistecircmicos na amostra

Analisando os nuacutemeros para tipologia interacional os resultados satildeo 60 exemplares

para monoacutelogos 21 em monoacutelogos puacuteblicos e 39 em privados 99 exemplares para diaacutelogos

16 para puacuteblicos versus 83 para diaacutelogos privados e 51 exemplares para conversaccedilotildees 14 em

puacuteblicas versus 37 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os dados na Tabela 410

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 39 21 60

Diaacutelogos 83 16 99

Conversaccedilotildees 37 14 51

TOTAL 159 (757) 32 (243) 210

Tabela 410 Distribuiccedilatildeo de tokens de verbos epistecircmicos por tipologia interacional

50

11

0

1

47

verbos epistecircmicos - ocorrecircncias

achar acreditar crer imaginar pensar saber

125

Esta tabela aponta para uma alta taxa de tokens em interaccedilotildees dialoacutegicas

principalmente em diaacutelogos privados Isso se deve a caracteriacutesticas especiacuteficas desses tipos de

texto e agrave relaccedilatildeo dos participantes na situaccedilatildeo comunicativa Se levarmos em conta a tipologia

textual nota-se que 319 destes verbos satildeo usados em textos argumentativos ou expositivos

o que coincide com a sua proacutepria definiccedilatildeo sinalizar o comprometimento do conceptualizador

em relaccedilatildeo ao que se enuncia As outras ocorrecircncias distribuiacutedas em textos narrativos

descritivos e relatos mostram os momentos em que os participantes expressam suas opiniotildees

ou crenccedilas ou requerem a opiniatildeo de seu interlocutor Devo destacar que as ocorrecircncias em

monoacutelogos puacuteblicos correspondem a apenas um texto a participante uma professora da

escola baacutesica relata sua atividade profissional e daacute sua opiniatildeo sobre o processo de ensino-

aprendizagem Eacute tambeacutem necessaacuterio destacar que a diferenccedila entre os nuacutemeros de textos

privados e puacuteblicos eacute minimizada em termos de frequecircncia relativa

4522 Padrotildees sintaacuteticos semacircntica e questotildees pragmaacuteticas

Vaacuterios padrotildees sintaacuteticos satildeo utilizados principalmente

(i) os verbos epistecircmicos introduzem oraccedilotildees encaixadas Em nossa amostra 571

de todas as ocorrecircncias seguem este padratildeo

(ii) eles podem ocupar diferentes posiccedilotildees no enunciado nos casos em que natildeo

introduzem uma encaixada

(iii) [SN]SUBJ V [SN]OBJ [SAdv] [SAdj]ATR Os casos em que natildeo haacute a realizaccedilatildeo do

objeto correspondem a 229 do total de ocorrecircncias principalmente com os verbos

―achar e ―saber

Alguns exemplos

(418) SNSUJ V comp S

LUI [236] eu acho que a gente deve chamar os lttimesgt legais =COM=$ (bfamcv01)

(419) SNSUJ V SAdv S

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer =TOP= ele

paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

(420) SNSUJ V SNOBJ SAdv SAdjATR

[77] entatildeo eu achava aquilo muito interessante =COM=$ (bfammn06)

126

(421) SNSUJ SAdvNEGV SAdjATR SAdvNEG

[283] eu nũ achei ruim natildeo =COM= Jael =ALL=$ (bfamcv02)

Semanticamente estes verbos expressam o grau de comprometimento do

conceptualizador em relaccedilatildeo ao material locutivo enunciado Estas unidades lexicais estatildeo

ligadas a diferentes frames descritos para o inglecircs Opinion Certainty Awareness Assessing

andor Cogitation89

Em termos da distribuiccedilatildeo dos verbos por unidades informacionais podemos ver na

Tabela 411 como o subcorpus estaacute caracterizado

Unidades informacionais ocorrecircncias

epistecircmicos amostra

COM 182 866 177

INT 3 14 1363

PAR 11 53 647

TOP 14 67 636

Tabela 411 ndash Distribuiccedilatildeo dos verbos epistecircmicos em unidades informativas

A primeira coisa a se observar eacute qual a unidade informacional que conteacutem o iacutendice

modal apenas o Comentaacuterio (incluindo as unidades Comentaacuterio Muacuteltiplo e Comentaacuterio

Ligado) o Toacutepico (inclusive a Lista de Toacutepico) o Parenteacutetico (inclusive a Lista de

Parenteacutetico) e o Introdutor Locutivo podem ser modalizados No caso dos verbos epistecircmicos

a unidade de Comentaacuterio eacute modalizada em 866 de todas as ocorrecircncias (182 para COM 11

para CMM e 20 para COB) seguida pelo Toacutepico (67 das ocorrecircncias sendo em nuacutemeros

absolutos 12 para o TOP e 2 para TPL) o Parenteacutetico (53 das ocorrecircncias 8 para PAR e 3

para PRL) Em nuacutemero bastante reduzido o Introdutor Locutivo com apenas 3 ocorrecircncias

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero total de ocorrecircncias das unidades informacionais o que se destaca satildeo

os nuacutemeros para o Toacutepico e o Parenteacutetico As duas unidades tecircm como estrateacutegia preferencial

de modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 de todas as ocorrecircncias do

minicorpus Quanto ao Comentaacuterio e o Introdutor Locutivo como visto anteriormente a

estrateacutegia principal satildeo os verbos modalizadores sendo os epistecircmicos responsaacuteveis por

89

A descriccedilatildeo para o frame de Opinion por exemplo eacute a seguinte ―Cognizer holds a particular Opinion which

may be portrayed as being about a particular Topic (John THINKS that it looks better back) Disponiacutevel em

httpsframeneticsiberkeleyedufndrupal

127

menos de 20 das ocorrecircncias O graacutefico na Figura 414 ilustra a distribuiccedilatildeo dos epistecircmicos

nas unidades informacionais e a frequecircncia desta estrateacutegia no conjunto das unidades

informacionais

Figura 414 ndash Distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos epistecircmicos em unidades informacionais

Abaixo alguns exemplos

(422) COM

DFL [56] aquilo que o =SCA= professor achava mais importante

=COM=$ (bfammn02)

(423) TOP

ANE [324] eu acho que quando eu vim =TOP= tinha esse =CMM= tinha

o outro =CMM=$ (bfamdl05)

(424) PAR

[41] soacute que eacute de microondas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl01)

(425) INT

SIL [154] eu acho assim =INT= se a pessoa nũ tem condiccedilotildees de fazer

=TOP= ele paga pra fazer =COM=$ (bfamdl04)

Mello e Raso (2013) discutem a necessidade de ampliaccedilatildeo do enunciado e das

unidades tonais como construtos analiacuteticos baacutesicos no tratamento da fala espontacircnea via

frames Como segundo a Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) ao enunciado

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

COM INT PAR TOP

ocorrecircncias

epistecircmicos

amostra

128

corresponde uma ilocuccedilatildeo mesmo que esses verbos epistecircmicos objeto de nossa

investigaccedilatildeo estejam de alguma forma representados em frames ligados por heranccedila

metafoacuterica e no uso de atividade mental ao falarmos estamos cumprindo diferentes accedilotildees

Dessa forma ―a anaacutelise da linguagem pautada por frames necessariamente deve levar em

conta pelo menos dois niacuteveis adicionais agravequeles construcional e semacircntico quais sejam os

niacuteveis informacional e ilocucionaacuterio (MELLO RASO 2013 p 106)

Transponho um princiacutepio talhado ateacute agora para a anaacutelise da escrita para a anaacutelise

da fala o Princiacutepio da Natildeo-Sinoniacutemia para discutir brevemente essa questatildeo Segundo esse

Princiacutepio (GOLDBERG 1995 2006)

Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas elas devem ser

semacircntica ou pragmaticamente distintas

Corolaacuterio A Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

semanticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

pragmaticamente sinocircnimas

Corolaacuterio B Se duas construccedilotildees satildeo sintaticamente distintas e

pragmaticamente sinocircnimas entatildeo elas natildeo devem ser

semanticamente sinocircnimas

Os verbos proacuteximos semanticamente se organizam sintaticamente de vaacuterias maneiras

como vimos Dessa forma pelo PNS o seu comportamento pragmaacutetico deve ser diferente E

de fato o eacute Vejamos as possiacuteveis funccedilotildees e os seus respectivos exemplos com a mesma

unidade lexical acharlsquo

(i) Estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior

Contexto casal conversa sobre a distribuiccedilatildeo de vagas em uma universidade

puacuteblica

LAU [51] natildeo tem um de ensino de arte +

LUZ [52] satildeo duas vagas eu acho [53] natildeo [54] de ensino de artes (bfamdl03)

(ii) Marcadores de concordacircncia discordacircncia indica um (possiacutevel) padratildeo

lexical Corresponde a um fenocircmeno de gradiecircncia de iacutendice modal para um

marcador discursivo

Contexto amigas no supermercado

129

REN [413] ltpodegt [414] tanto faz [415] pode

FLA [416] ou cecirc acha muito

REN [417] uhn [418] acho que natildeo [419] taacute [420] papel lthigiecircnico eu

nuncagt + (bfamdl01)

Dessa forma damos conta de que uma descriccedilatildeo de frames em termos exclusivamente

sintaacuteticos e semacircnticos pode ser de fato enriquecida com desdobramentos pragmaacuteticos de

diversas ordens

453 Adveacuterbios modais

Os adveacuterbios assim como os verbos receberam atenccedilatildeo especial como iacutendice

marcador de modalidade principalmente na liacutengua inglesa (GREENBAUM 1969 PERKINS

1983 SWAN 1988 BIBER FINEGAN 1988 HOYE 1997 SIMON-VANDERBERGEN

AIJMER 2007 SIMON-VANDERBERGEN 2008) No portuguecircs brasileiro destacam-se os

trabalhos de Castilho (1993 2010) e para a fala espontacircnea os de Mello Couto e Aacutevila

(2010) e Mello e Caetano (2012)

A classe de adveacuterbios eacute uma classe flexiacutevel em termos sintaacuteticos uma vez que pode

aparecer em diferentes posiccedilotildees nos enunciados Na fala como aponta Mello et al (2010)

esta complexidade de escopo se amplifica dado que devem ser levados em consideraccedilatildeo os

traccedilos prosoacutedicos Jaacute foi salientado que a anaacutelise da prosoacutedia eacute importante para a

desambiguizaccedilatildeo de itens modais e no caso especiacutefico dos adveacuterbios modais se estes satildeo de

fato itens modalizadores ou se cumprem outra funccedilatildeo no enunciado como a de intensificador

ou marcador discursivo

4531 Frequecircncia de adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais modais

Nesta seccedilatildeo forneccedilo os resultados para os adveacuterbios modais em relaccedilatildeo agrave sua

frequecircncia na amostra Os types e tokens tambeacutem foram classificados quantitativamente de

acordo com a tipologia interacional (puacuteblico vs privado monoacutelogos vs diaacutelogos vs

conversaccedilotildees) Foram encontrados 16 types em 94 ocorrecircncias na amostra o que corresponde

130

no universo dos iacutendices modais a 79 das ocorrecircncias90

A Tabela 412 e 413 trazem os

nuacutemeros para o nuacutemero de ocorrecircncias deste iacutendice no minicorpus e sua distribuiccedilatildeo em

termos de tipologia interacional respectivamente

adveacuterbios ocorrecircncias

com certeza 7 75

mesmo 45 479

realmente 3 32

exatamente 4 44

talvez 8 85

sem duacutevida 2 22

agraves vezes 5 53

na verdade 7 75

sinceramente 2 22

claro 5 53

potencialmente 1 1

oacutebvio 1 1

sem chance 1 1

logicamente 1 1

justamente 1 1

certamente 1 1

Total 94 100

Tabela 412 ndash Nuacutemero de ocorrecircncias dos adveacuterbios modais

90

Mello e Caetano (2012) investigaram a distribuiccedilatildeo e frequecircncia dos adveacuterbios modais em toda a parte

informal do C-ORAL-BRASIL Atraveacutes da busca pelo parser PALAVRAS de todos os adveacuterbios foram

identificados 28000 adveacuterbios no corpus correspondendo a 1345 das palavras na amostra Dentre os

adveacuterbios e locuccedilotildees adverbiais 763 foram destacados como modais que representa 037 do total de palavras

da parte informal do corpus No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre adveacuterbiosadveacuterbios modais aproximadamente

272 do total de adveacuterbios assume funccedilatildeo modal O estudo revela dessa forma que a frequecircncia de adveacuterbios

modais eacute expressiva mas as autoras sublinham que ao olhar com lentes de aumento para a amostra um uacutenico

item o adveacuterbio ―mesmo contribui com uma frequecircncia de 557 de todas as ocorrecircncias O que coincide com

os nuacutemeros para o minicorpus

131

Privado Puacuteblico TOTAL

Monoacutelogos 14 5 19

Diaacutelogos 33 12 45

Conversaccedilotildees 25 5 30

TOTAL 72 22 94

Tabela 413 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios x tipologia interacional

Em termos absolutos o nuacutemero de ocorrecircncias em contexto privadofamiliar eacute

bastante maior do que no contexto puacuteblico No entanto como jaacute observado para as outras

estrateacutegias eacute possiacutevel um balanceamento na frequecircncia dos itens que apontam para um uso

proporcional nos dois contextos interacionais No que diz respeito agrave tipologia interacional

tambeacutem como esperado os adveacuterbios ocorrem mais em trocas dialoacutegicas (45 para diaacutelogos e

30 para conversaccedilotildees) do que em monoacutelogos (19) Estes nuacutemeros acompanham os

encontrados por Mello e Caetano (2012) na anaacutelise de todos os adveacuterbios modais da parte

informal do C-ORAL-BRASIL

4532 Distribuiccedilatildeo em unidades informacionais

Em termos de distribuiccedilatildeo pelas unidades informacionais satildeo estes os nuacutemeros

Unidades informacionais ocorrecircncias

adveacuterbios

COM 87 926

INT 2 21

PAR 3 32

TOP 2 21

Tabela 414 ndash Distribuiccedilatildeo dos adveacuterbios modais nas unidades informacionais

No que tange aos valores modais todas as ocorrecircncias da amostra satildeo do tipo

epistecircmico com o subvalor de possibilidade como ―agraves vezes e ―talvez ou de crenccedila

indicando graus de certeza em sua maioria o que corrobora a posiccedilatildeo de Perkins (1983 p

89) para os adveacuterbios modais em inglecircs O autor afirma que estes marcadores satildeo

fundamentalmente de natureza epistecircmica

132

Vejamos agora os exemplos para cada um dos 16 itens aqui encontrados e seu

comportamento em relaccedilatildeo a outros elementos co-textuais

(426) Mesmo

(w) REN lttem que ser ogt Knorr mesmo

FLA eacute ampva [1] vai esse neacute Rena (bfamdl01)

O item ―mesmo eacute o adveacuterbio modal mais frequente na amostra com quase a metade

das ocorrecircncias Este item tem um comportamento particular porque muitas das vezes pode

funcionar como intensificador como um operador que regula o fluxo da interaccedilatildeo ou como

pronome adjetivo Para o desempate utilizamos a regra de substituiccedilatildeo observamos o co-

texto e ainda fazemos a oitiva do arquivo de som Vejamos os exemplos em que o adveacuterbio

natildeo possui funccedilatildeo modal

(x) TON tinha que matar o cinco socirc

REN natildeo aiacute e laacute

CAR eacute o quatro mesmo Jacareacute

TON ltpeneigt

CAR ltquatro mesmo socircgt purra ele se ele nũ morrer nũ tem problema natildeo

ltaiacute ogt

(y) CES vatildeo laacute eacute e ele [2] e eacute ele mesmo que taacute ainda viu eacute o trezentos-e-trecircs

viu Anete

ANE eacute ele mesmo

CES eacute ele mesmo entatildeo uhn (bfamdl05)

(427) Na verdade e com certeza

(z) EUG cecirc jaacute escolheu moccedila

JAN hum hum eu acho que eu vou + na verdade eu queria levar as duas neacute

mas eu vou levar essa aqui (bpubdl02)

(aa) FLA colorido eacute mais caro

REN com certeza deve ser (bfamdl01)

133

(428) Talvez e agraves vezes indicadores de possibilidade

(bb) MAI no norte de Mina tinha esse [2] antigamente tinha esse tipo de cobra

tudo neacute talvez agora jaacute acabou porque jaacute desmataram muito neacute

(bfammn01)

(cc) ANE [297] eacute olha se tem gente aiacute

CES [298] xxx [1] pode passar aqui

ENC [299] oi

ANE [300] ltagraves vezesgt [2] agraves vezes fica ltgentegt

CES [301] ltpode entrargt [302] ltpo po vimgt Anete (bfamdl05)

―Agraves vezes eacute uma locuccedilatildeo que tanto pode exercer uma funccedilatildeo temporal quanto pode

exercer uma funccedilatildeo modal91

A desambiguizaccedilatildeo tambeacutem eacute feita pela anaacutelise do contexto do

co-texto e da prosoacutedia Por exemplo

(dd) PAU cecirc tem que aprender a olhar planta porque a hora que cecirc pegar um

projeto maior aiacute pa fazer que o dono nũ tiver perto aiacute cecirc tem que tocar agraves

vezes o engenheiro tambeacutem nũ tem muito tempo taacute mexendo com outra coisa

soacute vem no final de semana (bpubdl01)

No exemplo o adverbial ―agraves vezes pode indicar uma situaccedilatildeo possiacutevel portanto um

uso modal ou pode indicar a frequecircncia com que o engenheiro visita a obra um uso temporal

no caso

(429) Certamente e potencialmente

(ee) MAI a cobra tavaampen[2] continuou enrolada nele certamente eatava

querendo fazer o seguinte eu eu matei esse eu vou matar o resto tudo da

[1] amphe dentro da casa nũ sei neacute a imaginaccedilatildeo hhh dum [1] dum animal

o que que pode ser neacute (bfammn01)

(ff) HEL lteacute tipogt cecircs ficamltfalando tambeacutemgt

LUC ltisso pode ser potencialmentegt divertido

BRU ltnatildeogt

LUC ltmas enfim yyyyhhhgt

BRU ltnũ achogt (bfamcv04)

91

Natildeo eacute do escopo deste trabalho investigar a gramaticalizaccedilatildeo dos itens modais Parece-me no entanto que o

caminho de adverbial de tempo para um adverbial modal eacute uma hipoacutetese consistente Como exemplo similar

temos o caso da locuccedilatildeo ―de repente (―De repente ele chegou uso temporal ―De repente a gente toma um

copo assim que cecirc acabar a tese uso modal indicando possibilidade)

7056

134

(430) Sinceramente

(gg) TER ltoh adoreigt

RUT o eu nũ achei ruim natildeo Jael ltsinceramentegt

JAE ltnũ gosteigt de jeito nenhum (bfamcv02)

(431) Logicamente

(hh) JOR e laacute eu fiquei um periacuteodo desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho

logicamente com um salaacuterio melhor hhh e por amizade eu fui cair em uma

multinacional que eu dei uma virada no produto (bfammn06)

(432) Exatamente e justamente

(ii) CEL ltfazer uma jogadagt melhor

CAR eacute que aiacute cecirc rola lto seis fica atraacutes do quatrogt

CEL lteacutegt ltissogt ltexatamentegt (bfamcv03)

(jj) ANE ltque nuacutemerogt que eacute

CES setecentos-e-quatro

ANE aqui eacute exatamente po parar o carro hhh

CES eacute setecentos-e-quatro (bfamdl05)

(433) Claro e oacutebvio

(kk) LUI [151] natildeo [152] e [1] e [1] e [1] e principalmente convocando a galera

falar assim o galera negoacutecio seguinte taacute pensando em organizar um torneio

e a gente quer que vocecircs participem da organizaccedilatildeo ltmandando

representantegt +

LEO [153] lte acima de tudo eu acho que a gente temgt que chamar os times

que tipo o [1] realmente os times que merecem a [1] a nossa +

EVN [154] eacute a ltgente tem quegt ltrestringir tambeacutem issogt

GIL [155] ltnatildeo clarogt (bfamcv01)

(ll) ROG [222] eacute [223] o projeto eacute bom por isso uai [224] a gente faz jeito que

a pessoa pede uai [225] aquele carinha ltdo ampAlexagt +

PAU [226] ltmas temgt que saber ler projeto tambeacutem neacute

ROG [227] aquele ltcarinhagt do Alexandre laacute ele me deu o desenho dele

PAU [228] ltclarogt (bpubdl01)

(mm) BRU taacute falando do meu peacute neacute

CEL oacutebvio (bfamcv04)

135

Os iacutendices modais ―claro e ―oacutebvio92

apesar de pertencerem formalmente agrave

categoria dos adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos sem a

presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo Quando este eacute o caso satildeo analisados como adjetivos

em posiccedilatildeo predicativa

Estes itens tendem a cumprir um papel de confirmaccedilatildeo quer dizer um falante

normalmente os utiliza para confirmar o que foi enunciado pelo falante anterior

454 As construccedilotildees condicionais se p entatildeo q

O caraacuteter epistecircmico das construccedilotildees condicionais na variante brasileira do portuguecircs

eacute apontado em um nuacutemero de trabalhos relevantes para o tema entre eles os de Hirata-Vale

(2001 2008) Ferrari (2007 2008) Bezerra e Meireles (2009) Hirata-Vale afirma que ―as

condicionais relacionam-se a mundos concebiacuteveis sejam eles reais eventuais e

contrafactuais e se tornam mais abstratas agrave medida que passam por um processo de

subjetivizaccedilatildeo por isso estatildeo situadas no eixo do conhecimento e da avaliaccedilatildeo subjetiva

Nas condicionais de forma canocircnica ―se p entatildeo q em que p eacute a proacutetase e q a

apoacutedose ―o evento p eacute uma condiccedilatildeo suficiente (e em alguns casos necessaacuteria) para a

ocorrecircncia do evento q (SWEETESER 1990) As condicionais satildeo pois projeccedilotildees

hipoteacuteticas de manifestaccedilotildees causais diretas

A sua hipoteticidade estaacute ligada ao grau de probabilidade de realizaccedilatildeo das situaccedilotildees

referidas na proacutetase (cf COMRIE 1986)

4541 Os nuacutemeros para as construccedilotildees condicionais de forma canocircnica

As construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em Ato

constituem-se como um desafio uma vez que como apontado anteriormente o escopo da

modalidade eacute a unidade informacional No caso deste tipo de construccedilatildeo como afirmam

Cocircrtes e Mello (2013 p 2) ela ―pode ultrapassar os limites de um enunciado ou estar

completamente acomodada nele dividida ou natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

92

Poderiam estar incluiacutedos os adjetivos ―loacutegico e exato que tecircm comportamento similar ao dos adveacuterbios

―logicamente e ―exatamente

136

A frequecircncia das construccedilotildees condicionais no minicorpus foi considerada de acordo

com a tipologia interacional a estrutura informacional a distribuiccedilatildeo de proacutetaseapoacutedose e a

relaccedilatildeo entre a estrutura sintaacutetica e informacional

Como jaacute dito ao todo foram analisados 5484 enunciados sendo que 1046 deles estatildeo

modalizados Foram encontradas 109 ocorrecircncias de construccedilotildees condicionais entre as de

forma canocircnica O percentual de condicionais na amostra eacute de 909 entre todos os iacutendices

modais

Passando agrave anaacutelise para a tipologia interacional temos os seguintes resultados 24

exemplares para monoacutelogos 8 em monoacutelogos puacuteblicos e 16 em privados 40 exemplares para

diaacutelogos 9 para puacuteblicos versus 25 para diaacutelogos privados e 50 exemplares para

conversaccedilotildees 12 em puacuteblicas versus 38 em conversaccedilotildees privadas Eacute possiacutevel visualizar os

dados na Tabela 415

Tipologia Contexto Frequecircncia

Monoacutelogo Privado 16

Puacuteblico 8

Diaacutelogo Privado 25

Puacuteblico 10

Conversaccedilatildeo Privado 38

Puacuteblico 12

Tabela 415 - Distribuiccedilatildeo de tokens de condicionais por tipologia interacional

No que diz respeito agrave tipologia interacional ainda natildeo temos dados suficientes para

verificar quais as variaacuteveis em jogo e como as condicionais se comportam em cada contexto

Com relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo sintaacutetica encontramos trecircs tipos de padrotildees

proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase e proacutetase somente Abaixo as frequecircncias para cada um dos

tipos

Organizaccedilatildeo sintaacutetica Frequecircncia

Proacutetase-apoacutedose 76

Apoacutedose-proacutetase 10

Proacutetase 23

Tabela 416 ndash Frequecircncia dos padrotildees sintaacuteticos de condicionais

137

Os nuacutemeros para cada tipo de organizaccedilatildeo natildeo surpreendem exatamente Em

frequecircncia absoluta o padratildeo proacutetaseapoacutedose eacute o mais recorrente jaacute o apoacutedoseproacutetase

apresenta ocorrecircncia bem reduzida Sobre a proacutetase sozinha parece-me um nuacutemero

interessante pois natildeo segue o padratildeo estabelecido na escrita e corresponde a 211 do total

de ocorrecircncias e se dividem na amostra em trecircs tipos (a) proacutetases cuja apoacutedose natildeo satildeo

realizadas com efeito suspensivo mas possiacutevel de ser compreendida entre os interlocutores

(em termos de ilocuccedilatildeo parecem cumprir um ato do tipo expressivo do subtipo expressatildeo de

obviedade) (b) proacutetases que satildeo perguntas parciais (em termos de ato satildeo do tipo diretivo do

subtipo pedido de explicaccedilatildeo) (c) proacutetases cuja apoacutedose foi realizada anteriormente diluiacuteda

no contexto ou realizada por outro falante

Antes de apresentar os exemplos das condicionais mostro os nuacutemeros referentes agrave

distribuiccedilatildeo dos iacutendices em termos de estrutura informacional na Tabela 417 e a relaccedilatildeo

entre padrotildees sintaacuteticos e organizaccedilatildeo informacional na Tabela 418

Estrutura

informacional Frequecircncia

Enunciados diferentes 10

Mesma unidade de COM 30

TOPCOM 51

CMMCMM 11

Outros 7

Tabela 417 ndash Frequecircncia das condicionais quanto agrave estrutura informacional

Estrutura

informacional TOPCOM

Mesmo

COM CMMCMM

Enunciados

diferentes Outros Total

Estrutura

sintaacutetica

Proacute - apoacute 49 7 9 8 3 76

Apoacute - proacute 2 2 2 2 2 10

Proacute --- 21 --- --- 2 23

Total

109

Tabela 418 ndash Relaccedilatildeo do padratildeo sintaacutetico de condicionais e estrutura informacional

138

Seguem exemplos das possiacuteveis combinaccedilotildees sintaacuteticas das condicionais e de sua

distribuiccedilatildeo em termos de estrutura informacional

(a) Proacutetase apoacutedose

(a1) proacutetase =TOP= apoacutedose =COM=

(434) BRU [268] lte se for uma palavra compostaPRO =TOP= cecirc faz assimAPOgt

=COM=$ (bfamcv04)

(a2) proacutetase e apoacutedose na mesma unidade de COM proacutetase apoacutedose =COM=

(435) PAU [72] esse tipo de muro =TOP= se ficar baixo demaisPRO ele fica

feioAPO =COM=$ (bpubdl01)

(a3) proacutetase apoacutedose em enunciados diferentes

(436) SIL [233] se ocecirc natildeo tem reloacutegio dentro do quartoPRO =COM=$

[234] cecirc vai comprar um reloacutegioAPO =CMM= pocircr laacute pa despertar =CMM=$

(bfamdl04)

(a4) proacutetase =CMM= apoacutedose =CMM=

(437) CAR [75] se ele nũ morrerPRO =CMM= nũ tem problema natildeoAPO

=CMM=$ (bfamcv03)

(b) Apoacutedose proacutetase

(b1) apoacutedose e proacutetase em enunciados diferentes apoacutedose proacutetase

(438) ANE [120] como eacute que a gente vai adivinharAPO =COM=$

[121] se for issoPRO =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl05)

(b2) apoacutedose proacutetase =COM=

(439) RUT [191] ltlaacute em casagt =TOP= ltavisoAPO se cecirc for laacutePROgt =COM=$

(bfamcv02)

(b3) apoacutedose =TOP= proacutetase =COM=

(440) BAL [58] ltdaacutegt ltproblemaAPO =TOP= se vocecirc ligar o aparelho degt ampduz

[1]=SCA= cento-e-dez na tomada de duzentos-e-vintePRO =COM=$

(bfamdl02)

139

(c) Proacutetase

(c1) expressatildeo de obviedade

(441) ANE [38] eh =PHA= se cecirc nũ tiver um carrinho que [1]=SCA= que sobe

aquiPRO =COM=$ (bfamdl05)

(c2) pergunta parcial pedido de explicaccedilatildeo

(442) [318] lte se precisar de um esclarecimentoPROgt =COM= ltassim =PAR= nogt

meio do negoacutecio hhh =APC=$ (bfamcv04)

(c3) conjugaccedilatildeo entre turnos

(443) TER [22] mas =INP= gente velha =TOP= jaacute prometeu o [1]=SCA= os

presente =TOP= ltjaacute =SCA= podegt garantir que ganhouAPO =COM=$

RUT [23] ltah =CMM= eacutegt =CMM=$ [24] se nũ morrer antes ltdelesPRO

=COM=$ (bfamcv02)

Observa-se que a estrutura mais frequente eacute o perfil proacutetase no Toacutepico e apoacutedose no

Comentaacuterio o que coincide com a funccedilatildeo informacional das unidades Em termos discursivos

a proacutetase de uma condicional atua como um angulador que estabelece as condiccedilotildees de

validaccedilatildeo do discurso subsequente Conforme Ferrari (2008 p 121) desde uma perspectiva

cognitiva

no domiacutenio epistecircmico as condicionais expressam a ideia de que o conhecimento do

evento ou do estado de coisas expresso na proacutetase seria uma condiccedilatildeo suficiente

para o estabelecimento da conclusatildeo na apoacutedose

Os exemplos tambeacutem nos mostram que eacute possiacutevel a combinaccedilatildeo de outros perfis com

as estruturas proacutetaseapoacutedose apoacutedoseproacutetase distribuiacutedas em unidades informacionais

diferentes como Comentaacuterios Muacuteltiplos Comentaacuterios Ligados Apecircndices de Toacutepico e

tambeacutem em enunciados diferentes neste caso a estrutura se completa em atos de fala

diferentes cada um veiculando sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Podem ser encontradas ainda ocorrecircncias em que a proacutetase tenha como acircncora o

contexto interacional sem a realizaccedilatildeo necessaacuteria da apoacutedose como no caso em (441) o que

denota um comportamento peculiar destas construccedilotildees na fala espontacircnea

Os dados apontam para o fato de que a proacutetase carrega o natildeo-factual da construccedilatildeo

condicional (cf COMRIE 1986) e nos casos em que ocorre a ordem inversa ―o foco da

44923267

3761631

140

construccedilatildeo estaacute no conteuacutedo veiculado pela apoacutedose isto eacute a parte mais saliente

informativamente eacute a accedilatildeo presente na apoacutedose (CORTES MELLO 2013 p 4)

Por uacuteltimo gostaria de retomar que as condicionais como iacutendices que expressam de

modalidade desafiam a premissa posta pela Teoria da Liacutengua em Ato de que o marcador

modal incide dentro da unidade informacional Como vimos este tipo de construccedilatildeo

ultrapassa as fronteiras da unidade informacional e inclusive em alguns casos do enunciado

Uma das hipoacuteteses que levanto eacute que a estrutura condicional poderia ser tratada como uma

construccedilatildeo padronizada nos termos de Cresti (no prelo p 17) estas satildeo ―construccedilotildees

realizadas atraveacutes de UTs cada uma desenvolve uma funccedilatildeo informacional diferente93

A

autora ainda completa que incluem tambeacutem construccedilotildees que satildeo realizadas em diferentes

enunciados com cada uma cumprindo sua proacutepria ilocuccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei a descriccedilatildeo da modalidade no minicorpus da parte informal

do C-ORAL-BRASIL Apresentei e discuti os resultados em termos de frequecircncia por

tipologia interacional por distribuiccedilatildeo dos iacutendices nas unidades informacionais a distribuiccedilatildeo

e frequecircncia dos valores modais epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos e a relaccedilatildeo de cada valor

com as unidades informacionais Em seguida empreendi a anaacutelise para os verbos

modalizadores os verbos epistecircmicos os adveacuterbios e as construccedilotildees condicionais de forma

canocircnica

Passo agora agrave Parte III deste trabalho que traz a proposta de esquema de anotaccedilatildeo para

a modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro que como afirmam Aacutevila e Mello

(2013 p 1) vai fornecer

um ponto de partida confiaacutevel para pesquisadores interessados em desenvolver

metodologias associadas a PLN que resulta na extraccedilatildeo no discurso oral de

marcadores de confiabilidade certeza e factualidade ou proceder agrave anaacutelise de

sentimentos modelagem da modalidade e objetivos afins 94

93

Traduccedilatildeo minha para ―[hellip] constructions performed across TUs with each developing a different information

function [hellip] (CRESTI no prelo p 17) 94

No original ―[hellip] reliable starting point for researchers that might be interested in developing methodologies

associated to NLP that ensue the extraction of oral discourse reliability certainty and factuality markers or

carrying sentiment analysis modeling modality and similar objectives (AacuteVILA MELLO 2013 p1)

141

PARTE III ndash ANOTACcedilAtildeO SEMAcircNTICA DA MODALIDADE

142

Capiacutetulo 5

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS

SPEECH) anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade no C-ORAL-BRASIL95

O presente capiacutetulo apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous

Speech) um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

A anotaccedilatildeo linguiacutestica de corpora nas palavras de Leech (1993 p 275) pode ser

definida como ―a praacutetica de adicionar informaccedilatildeo interpretativa (especialmente linguiacutestica) a

um corpus eletrocircnico de dados linguiacutesticos falados eou escritos por algum tipo de coacutedigo

anexado a ou intercalados com a representaccedilatildeo eletrocircnica do proacuteprio material linguiacutestico96

E tambeacutem pode se referir ao produto final deste processo

A Linguiacutestica Computacional fornece meios para o desenvolvimento de softwares para

o processamento de linguagem natural escrita e falada Os corpora anotados natildeo satildeo um fim

em si mesmo a resoluccedilatildeo de tarefas especiacuteficas bem definidas e limitadas como a

etiquetagem morfossintaacutetica (cf o parser PALAVRAS BICK 2000) eacute preacute-requisito para a

construccedilatildeo de sistemas complexos como os de traduccedilatildeo automaacutetica e de sumarizaccedilatildeo

Especificamente o interesse por se distinguir uma informaccedilatildeo que eacute real e certa de

uma informaccedilatildeo especulativa e modal resulta do fato de esta ser tarefa necessaacuteria para

aplicaccedilotildees em PLN como a extraccedilatildeo de informaccedilatildeo (KARTUNNEN ZAENNEN 2005)

modelagem de incerteza em textos cliacutenicos (MOWERY et al 2012) resposta a perguntas

(SAURIacute et al 2006) classificaccedilatildeo de hedges (MEDLOCK BRISCOE 2007 MORANTE

DAELEMANS 2009) e anaacutelise de sentimentos (WIEBE et al 2005)

Anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu reconhecimento automaacutetico

inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma determinada tipologia (por

exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a sua fonte e o seu escopo

semacircntico Vaacuterios tecircm sido os projetos desenvolvidos para a anotaccedilatildeo de expressotildees modais

95

Parte da pesquisa sobre a anotaccedilatildeo semacircntica foi desenvolvida em meu Estaacutegio Doutoral no Centro de

Linguiacutestica da Universidade de Lisboa no periacuteodo de janeiro a agosto de 2013 sob a supervisatildeo da Dra Amaacutelia

Mendes e financiada pela Capes Proc nordm BEX 9537-12-0 96

No original ―[hellip] the practice of adding interpretative (especially linguistic) information to an existing corpus

of spoken andor written language by some kind of coding attached to or interspersed with the electronic

representation of the language material itself (LEECH 1993 p 275)

143

em sua grande maioria para a liacutengua inglesa e focados nos auxiliares modais com destaque

para a relaccedilatildeo entre modalidade e negaccedilatildeo (MORANTE SPORLEDER 2012 BAKER et al

2012) a anotaccedilatildeo de sentido de verbos modais (RUPPENHOFER REHBEIN 2012) o

desenvolvimento de um leacutexico para a modalidade e a construccedilatildeo de etiquetadores automaacuteticos

(BAKER et al 2010) Haacute ainda esforccedilos de anotaccedilatildeo sendo empreendidos em outras liacutenguas

como os trabalhos para o chinecircs (CUI CHI 2013) e para o portuguecircs europeu (HENDRICKX

et al 2012 MENDES et al 2013)

A anotaccedilatildeo da modalidade para dados do portuguecircs brasileiro eacute terreno a ser explorado

tanto para corpora escritos quanto para corpora de fala Segundo Nurmi (2007 p1) a

anotaccedilatildeo linguiacutestica contribui para a recuperaccedilatildeo de diferentes elementos linguiacutesticos no

entanto a natureza multifacetada da modalidade ―eacute ainda um obstaacuteculo para a pesquisa

assistida por computador97

Na mesma clave Baker et al (2010 p 1403) afirmam que o

desafio para a criaccedilatildeo de um esquema de anotaccedilatildeo de modalidade reside em ―lidar com o

complexo escopo das modalidades entre cada uma delas e com a negaccedilatildeo e ao mesmo tempo

criar um procedimento operacional simplificado que possa ser seguido por um especialista da

linguagem sem treinamento especial98

Como jaacute discutido na parte I desta tese estaacute longe de

haver um consenso sobre como definir e caracterizar a modalidade ela pode ser tomada como

expressatildeo da subjetividade como uma distinccedilatildeo entre realis e irrealis ou ainda como uma

quantificaccedilatildeo sobre mundos possiacuteveis restringidas por uma relaccedilatildeo de acessibilidade Dessa

forma o entendimento do que eacute essa categoria semacircntica eacute fundamental bem como ter claro

quais satildeo os elementos que podem veicular a modalidade

Na seccedilatildeo seguinte contextualizo o nosso projeto dentro dos estudos anteriores de

anotaccedilatildeo semacircntica das expressotildees modais

51 Trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica

Os trabalhos desenvolvidos em anotaccedilatildeo semacircntica centram-se nos fenocircmenos da

factualidade e da modalidade uma vez que como foi dito para um bom nuacutemero de

aplicaccedilotildees em PLN eacute necessaacuterio distinguir uma informaccedilatildeo factual de uma natildeo-factual e

tambeacutem as certezas das incertezas

97

Traduccedilatildeo minha para ―[] is still a hurdle in computer assisted-research 98

No original ―[t]he challenge of creating a modality annotation scheme was to deal with the complex scopig of

modalities with each other and with negation while at the same time creating a simplified operational procedure

that could be followed by language experts without special training

144

Do ponto de vista computacional a definiccedilatildeo de modalidade envolve um nuacutemero de

conceitos diferentes relacionados a ela a depender da tarefa que se deve cumprir e de

fenocircmenos especiacuteficos que satildeo levantados como por exemplo subjetividade factualidade

certezaincerteza hedging como jaacute explicitado

O trabalho de Sauriacute Verhagen e Pustejovsky (2006) objetiva identificar o escopo da

modalidade e propor uma sua soluccedilatildeo para sua identificaccedilatildeo automaacutetica Os autores utilizam a

linguagem TimeML (PUSTEJOVSKY et al 2005) para sua anotaccedilatildeo que codifica com

diferentes etiquetas (tags) nos niacuteveis lexical e sintaacutetico vaacuterios tipos de modalidade Os

eventos satildeo identificados no TimeML como as expressotildees que participam de uma narrativa

em um dado documento que podem ser ordenados temporalmente No niacutevel sintaacutetico os

seguintes valores satildeo levados em conta factive (para eventos implicados ou pressupostos)

counterfative (para um evento que pressupotildee a natildeo-veracidade de seu argumento) evidential

(introduzido por eventos reportados ou perceptuais) negative evidential (introduzido por

eventos reportados ou perceptuais que expressam polaridade negativa) modal (para eventos

que introduzem uma referecircncia a mundo possiacutevel) e conditional (para construccedilotildees

condicionais)

Tendo em vista a tarefa de reconhecer implicaturas textuais Sauriacute e Pustejovski

(2009) apresentam uma ferramenta que fornece eventos com os seus valores de factualidade

Os autores identificam os valores de factualidade baseados na anaacutelise de Horn (1989) para a

modalidade epistecircmica em que o valor factual eacute apresentado pelo par ltmod polgt contendo

um valor modal (certo provaacutevel possiacutevel e desconhecido) e um valor de polaridade (positivo

ou negativo) Haacute ainda a possibilidade do participante estar completamente descomprometida

com a factualidade de um determinado evento (ltUNUNgt)

No entanto os autores destacam que o valor assinalado para os eventos estatildeo

diretamente relacionados com os participantes (fontes da modalidade) em jogo quer dizer haacute

um ato de comprometimento em relaccedilatildeo agrave factualidade de um evento desempenhado por um

determinado participante O conjunto de valores factuais que diferentes participantes

assinalam para um evento eacute denominado perfil de factualidade (factuality profile)

Sauriacute (2008) e Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) adicionaram ao TimeBank corpus

(PUSTEJOVISKY et al 2005) uma nova camada de informaccedilatildeo semacircntica o FactBank Este

corpus de eventos constituiacutedo por 208 documentos com 9488 eventos eacute anotado para a

factualidade de eventos (ou factividade) definida por Sauriacute e Pustejovsky (2012 p 263)

como ―[] o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa a natureza factual de eventualidades

mencionadas em um texto Isto eacute expressar se elas correspondem a um fato () a uma

145

possibilidade () ou a uma situaccedilatildeo que natildeo ocorre no mundo () []99

Segundo os

autores a factualidade eacute resultado da interaccedilatildeo entre polaridade e certeza e se relacionam com

outras categorias como a modalidade epistecircmica a evidencialidade a postura epistecircmica e

hedging

A anotaccedilatildeo de modalidade para a caracterizaccedilatildeo de eventos pode tambeacutem ser utilizada

em processos analiacuteticos automaacuteticos Baker et al (2010) desenvolveram um esquema de

anotaccedilatildeo de modalidade um leacutexico da modalidade e dois etiquetadores automatizados

construiacutedos a partir do leacutexico e do esquema de anotaccedilatildeo O esquema eacute aplicado a exemplos do

inglecircs com mapeamentos possiacuteveis para o Urdu Os autores consideram a modalidade como

um componente extra-proposicional do significado e argumentam que pode ser tomada de

forma mais ampla para incluir vaacuterios tipos de atitude (no sentido de ―posiccedilatildeo) Assim

segundo eles a modalidade eacute definida como ―uma atitude por parte do falante em relaccedilatildeo a

uma accedilatildeo [] ou um estado100

(BAKER et al 2010 p 1) e pode indicar factividade

(relacionada ao fato de um evento um estado ou uma proposiccedilatildeo acontecer ou natildeo acontecer)

evidencialidade (relacionada agrave fonte da informaccedilatildeo cf seccedilatildeo 24 do segundo capiacutetulo deste

trabalho) ou sentimento (relacionado aos sentimentos negativos ou positivos do falante em

relaccedilatildeo ao evento estado ou proposiccedilatildeo)

O esquema de anotaccedilatildeo reconhece trecircs elementos o trigger (a palavra ou sequecircncia de

palavras que expressam modalidade) o target (eacute a unidade de anotaccedilatildeo - o evento estado ou

relaccedilatildeo no escopo do trigger) e o holder (o experienciador ou o cognoscente da modalidade)

O anotador seleciona apenas o target e a modalidade relacionada a ele nenhuma anotaccedilatildeo eacute

feita no holder ou no trigger Esta unidade de anotaccedilatildeo estaacute contida em uma oraccedilatildeo e o verbo

principal da oraccedilatildeo eacute o uacutenico a ser marcado

Para fins de etiquetagem satildeo consideradas oito modalidades relacionadas estritamente

agrave factividade que podem no entanto se sobrepor agraves categorias de evidencialidade e

sentimento Requirement Permissive Success Effort Intention Ability Want Belief

Da mesma forma Ruppenhofer e Rehbein (2012) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo

para os verbos modais em inglecircs aplicados a documentos do MPQA Opinion Corpus101

(WIEBE et al 2005) Em seu esquema tambeacutem levam em conta trecircs elementos de

99

No original ldquo[hellip] level of information expressing the factual nature of eventualities mentioned in text That is

expressing whether they correspond to a fact in the world (hellip) a possibility (hellip) or a situation that does not hold

(hellip) [hellip] (SAURIacute e PUSTEJOVSKY 2012 p 263) 100

No original ―an attitude on the part of the speaker toward an action [hellip] or state (BAKER et al 2010 p 1) 101

Disponiacutevel em httpmpqacspittedu Uacuteltimo acesso em 28 out 2013 O corpus conteacutem notiacutecias e outros

documentos anotados manualmente para opiniotildees e outros estados privados como crenccedilas especulaccedilotildees

sentimentos Sua mais nova versatildeo inclui a anotaccedilatildeo de atitudes e targets (WILSON 2008)

146

significado modal a expressatildeo modal a source e o target Para a tarefa de anotaccedilatildeo utilizam

a ferramenta SALTO102

(BURCHARDT et al 2006) e identificam seis categorias

(epistecircmico deocircntico dinacircmico optativo concessivo e condicional) para a anotaccedilatildeo de cinco

verbos modais (cancould maymight must ought shallshould)

Como o trabalho estaacute restrito aos verbos modais do inglecircs eacute utilizado um nuacutemero

menor de categorias comparado a Baker et al (2010) Importante destacar que na descriccedilatildeo

das instruccedilotildees de anotaccedilatildeo os autores distinguem para os verbos bdquomust‟ bdquoshould‟ e bdquoought‟

dois sentidos ndash o epistecircmico e o deocircntico ndash nestes casos para os epistecircmicos natildeo distinguem

entre as inferecircncias subjetivas (bdquoThe light is on He must be home‟) e as objetivas (John is 35

and Peter is only a year or two older than John so he must be under 40 still‟) (cf

HUDDLESTON PULLUM 2002) No primeiro exemplo natildeo haacute uma inferecircncia loacutegica que

leve agrave conclusatildeo de que John estaacute em casa e no segundo chega-se agrave conclusatildeo sobre a idade

de Peter por meio de operaccedilotildees matemaacuteticas Para o valor deocircntico natildeo fazem qualquer

subcategorizaccedilatildeo no que diz respeito agrave forccedila imposta sobre os atores se externa (bdquoDogs must

be leashed here A city ordinance requires it‟) ou interna (I really must call him He will be

worried‟) e tambeacutem natildeo fazem distinccedilatildeo entre uma obrigaccedilatildeo reportada (bdquoMom says you must

go home now It‟s past 10 pm‟) e uma obrigaccedilatildeo imposta pelo ato de fala (You must go home

now I want you gone‟)

Ainda para o verbo bdquomay‟ identificam trecircs sentidos epistecircmico deocircntico (relacionado

agrave permissatildeo) e optativo (relacionado a um desejo) Para o verbo bdquocan‟ trecircs satildeo os valores

dinacircmico (relacionado agrave habilidade e ao potencial de envolvimento em eventos ou

comportamento) deocircntico (relacionado agrave permissatildeo) e epistecircmico (relacionado agrave

possibilidade)

Jaacute Matsuyoshi et al (2010) a partir de estudos sobre modalidade e trabalhos em PLN

apresentam um esquema para a anotaccedilatildeo da modalidade estendida de eventos modais para um

corpus do japonecircs constituiacutedo de 50018 eventos recolhidos em diferentes recursos como

blogs documentos da web o corpus de Murakami et al (2009) e posts de sites de perguntas e

respostas Um evento eacute definido como ―consistindo de um predicado central e seus

argumentos (complementos e adjuntos) em uma sentenccedila103

(MATSUYOSHI et al 2010 p

1458)

102

Esta ferramenta de anotaccedilatildeo foi originalmente concebida para a anotaccedilatildeo manual de papeacuteis semacircnticos na

moldura teoacuterica da semacircntica de frames no contexto do projeto Salsa (ERK et al 2003) 103

No original ―(hellip) consisting of a core predicate and its arguments (complements and adjuncts) in the

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1458)

147

Para a construccedilatildeo do esquema com vistas para aplicaccedilatildeo em PLN satildeo colocadas

quatro condiccedilotildees necessaacuterias 1) a informaccedilatildeo da modalidade deve estar reunida em um uacutenico

elemento especificamente o predicado central 2) o sistema deve ser independente de liacutengua

3) a polaridade deve comportar duas classes a polaridade da realidade e a polaridade do ponto

de vista da avaliaccedilatildeo da fonte para capturar explicitamente a factualidade do evento 4) as

etiquetas em cada componente natildeo podem ser muito refinadas porque segundo os autores

―as classificaccedilotildees de modalidade restrita em Linguiacutestica por exemplo (Palmer 2001) e

sistemas de loacutegica modal (Portner 2009) satildeo muito sofisticadas e eacute muito difiacutecil executar

analisadores de modalidade estendida nelas baseados no atual estaacutegio de tecnologia em

PNL104

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1458) O esquema de modalidade proposto eacute

constituiacutedo de sete componentes Source Time Conditional Primary modality type

(assertion volition wish imperative permission interrogative) Actuality Evaluation e

Focus

Este sistema encontrou alguns desafios como a representaccedilatildeo de adveacuterbios de

frequecircncia de construccedilotildees de dificuldade e de potencial No entanto apresentou um acordo

entre dois anotadores razoavelmente aceitaacutevel (em meacutedia um κ=071 para os componentes)

Comparado aos projetos de Sauriacute et al (2006) Sauriacute e Pustejovski (2009 2012) e ao

de Baker (2010) o sistema proposto por Matsuyoshi et al (2010) apesar de tambeacutem anotar

eventos eacute mais rico em termos de elementos a serem anotados Isso se deve ao fato de que os

sistemas construiacutedos tanto por Sauriacute e seus colegas quanto por Baker e colegas atendem a um

propoacutesito especiacutefico e dessa forma a escolha dos componentes a serem marcados fica

condicionada a este objetivo final

Em uma perspectiva mais ampla do que seja modalidade Wiebe e suas colaboradoras

(2005) exploram um esquema de anotaccedilatildeo de opiniotildees e emoccedilotildees baseado em estudo de um

corpus de artigos da imprensa internacional o MPQA Opinion Corpus (WIEBE WILSON

CARDIE 2005) composto de 10657 sentenccedilas em 535 documentos em liacutengua inglesa

Segundo as autoras (2005 p 1) a motivaccedilatildeo para a identificaccedilatildeo e extraccedilatildeo de opiniotildees

reconhecimento de emoccedilotildees e anaacutelise de sentimentos nasce do ―desejo de fornecer

ferramentas para analistas da informaccedilatildeo nos domiacutenios governamental comercial e poliacutetico

que querem rastrear automaticamente atitudes e sentimentos em notiacutecias e em foacuteruns on-line

104

Nas palavras dos autores ―[] classifications of restricted modality in Linguistics eg (Palmer 2001) and

systems of modal logic (Portner 2009) are too sophisticated and it is very difficult to implement analyzers of

extended modality based on them with the current level of technology in NLP (MATSUYOSHI 2010 p 1458)

148

As pesquisadoras propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo refinado para a etiquetagem de

componentes e propriedades de opiniotildees sentimentos emoccedilotildees estados privados

especulaccedilotildees que abriga sob o roacutetulo de estados privados (private stateslsquo)

Os estados privados satildeo definidos como ―estados internos que natildeo podem ser

diretamente observados pelos outros105

(WIEBE et al 2005 p 2) Para cada expressatildeo de

estado privado eacute definido um frame de estado privado que se constitui pelos seguintes

elementos a source106

(cujo estado privado estaacute sendo expresso) o target (sobre o quecirc eacute o

estado privado) as propriedades que envolvem intensity significance e type of attitude

Haacute dois tipos de frames de estado privado (a) elementos subjetivos expressivos

(expressive subjective elementslsquo) representam elementos subjetivos expressivos (b)

subjetivos diretos representam menccedilotildees expliacutecitas a estados privados (explicit mentions of

private stateslsquo) e eventos de fala que expressam estados privados (speech events expressing

private stateslsquo)

O esquema proposto por Wiebe Wilson e Cardie eacute bastante detalhado assim como o

de Matsuyoshi et al (2010) e aplicado a um grande corpus Como se pode observar a noccedilatildeo

de modalidade nos esquemas apresentados acima natildeo segue a noccedilatildeo corrente na literatura

sobre o tema (cf PALMER 1986 ou PORTNER 2009) Os trabalhos que apresento em

seguida ao contraacuterio se apoacuteiam na ideia de modalidade restrita e na definiccedilatildeo se assim posso

dizer mais tradicional da categoria qual seja ―a atitude do falante aleacutem de considerar

geralmente em sua tipologia a oposiccedilatildeo entre significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos e

natildeo entre informaccedilatildeo factual e natildeo-factual (o que evidentemente natildeo exclui a anaacutelise destas

caracteriacutesticas) Estes proacuteximos projetos natildeo foram desenvolvidos com um objetivo especiacutefico

e definido de aplicaccedilatildeo em PLN no entanto reconhecem que satildeo pontos de partida para

cumprir as tarefas de extraccedilatildeo de informaccedilatildeo mineraccedilatildeo de opiniatildeo resposta a perguntas por

exemplo

Nirenburg e McShane (2008) anotaram um corpus com informaccedilatildeo sobre a

modalidade no acircmbito do projeto OntoSem107

(NIRENBURG RASKIN 2004) e

desenvolveram um analisador alimentado com textos natildeo-tratados e realizaram vaacuterias tarefas

105

Traduccedilatildeo para ―[] internal states that cannot be directly observed by others (WIEBE et al 2005 p 2) 106

Uma propriedade importante das sources eacute que elas podem estar encaixadas isto eacute eventos privados e

eventos de fala podem estar frequentemente encaixados um no outro 107

Este projeto foi desenvolvido para o tratamento computacional da representaccedilatildeo do significado de um texto

Nas palavras dos autores ―[o]ntological semantics is a theory of meaning in natural language and an approach to

natural language processing (NLP) which uses a constructed world model or ontology as the central resource

for extracting and representing meaning of natural language texts reasoning about knowledge derived from texts

as well as generating natural language texts based on representations of their meaning (NIRENBURG

RASKIN 2004 p 10)

149

de anaacutelise linguiacutestica a modalidade incluiacuteda Para a codificaccedilatildeo da modalidade quatro

propriedades satildeo consideradas o tipo de modalidade (MODALITY TYPE) o valor escalar

(SCALAR VALUE) o escopo (SCOPE) e a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TO)

Os tipos de modalidade centrais incluem (i) factividade-epistecircmica (epistemic-

factivitylsquo) (ii) crenccedila (belieflsquo) (iii) obrigaccedilatildeo (obligativelsquo) (iv) permissatildeo (permissivelsquo)

(v) potencial (potentiallsquo) (vi) avaliativo (evaluative‟) (vii) intencional (intentionallsquo) (viii)

epitecircutico - grau de sucesso (epiteuctic ndash degree of success‟) (ix) esforccedilo (effortlsquo) (x)

voliccedilatildeo (volitivelsquo)

A cada um destes significados modais estatildeo distribuiacutedos valores que variam em uma

escala de zero a um considerados qualquer valor decimal vaacutelido neste intervalo Por exemplo

para a factividade-epistecircmica o valor 0lsquo corresponde a ―natildeo aconteceu (didn‟t happenlsquo) e o

valor 1lsquo a ―definitivamente aconteceu (definitely happenlsquo) ou para o epitecircutico - grau de

sucesso o zerolsquo equivale ao ―fracasso (faillsquo) e o ―um ao ―completamente bem-sucedido

ou ―sucesso absoluto (succeed fullylsquo)

Assim como nos outros projetos o escopo (SCOPElsquo) eacute o predicado afetado pela

modalidade e a propriedade a-quem-eacute-atribuiacuteda (ATTRIBUTED-TOlsquo) aponta para a quem a

modalidade eacute atribuiacuteda sendo o falante o valor padratildeo Eacute importante notar que as

propriedades da modalidade estatildeo explicitamente presentes no texto

O sistema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et al 2012a

2012b) baseia-se no esquema de anotaccedilatildeo proposta por Nirenburg e McShane (2008)

Enquanto no OntoSem a informaccedilatildeo sobre a modalidade eacute um moacutedulo semacircntico nas entradas

lexicais que expressam modalidade o modelo para o PE centra-se na anotaccedilatildeo de eventos e

natildeo de entidades Satildeo anotadas as expressotildees modais que incluem verbos adveacuterbios nomes

adjetivos sintagmas preposicionais e oraccedilotildees entretanto a tarefa eacute restrita agrave anotaccedilatildeo de

sentenccedilas

Entre os componentes anotados estatildeo o trigger o elemento que expressa o valor

modal108

o target a expressatildeo no escopo do trigger (corresponde ao atributo SCOPElsquo) a

source of the modality um agente ou experienciador (correspondente agrave propriedade

ATTRIBUTED-TOlsquo) e a source of the event mention que pode ser o falante ou o escritor109

108

Para o trigger satildeo assinalados dois atributos os valores modais e a polaridade (positiva ou negativa) 109

A decisatildeo de anotar duas sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e

aquele que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes mas natildeo

necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de 180 contos por mecircs para a

manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os portugueses eacute a entidade com a

necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se

que eacute o produtor da frase

150

Para os significados modais satildeo considerados sete valores e alguns subvalores

correspondentes a saber

Valores Subvalores

Epistemic knowledge

belief

doubt

possibility

interrogative

Deontic obligation

permission

Participant-internal necessity personal needs

capacity personal capacity

Evaluation evaluation of the proposition

Volition hopes and wishes

Effort attempt of the participant to make sth happen

Success results of the commitment of the participant

Tabela 51 ndash Valores e subvalores para o esquema do portuguecircs europeu

Se comparado aos tipos de modalidade selecionados no OntoSem eacute possiacutevel observar

grande semelhanccedila entre os dois esquemas O tipo ―intentional foi incluiacutedo no valor ―effort

e o subvalor ―doubt do PE incluiacutedo nos epistecircmicos eacute parte do tipo ―belief no OntoSem

A tarefa de anotaccedilatildeo foi empreendida primeiramente por um anotador (em papel) e

em um segundo momento foi revisada por um segundo anotador utilizando o software

MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006)110

em uma amostra de aproximadamente 2000

sentenccedilas da parte escrita do Corpus de Referecircncia do Portuguecircs Contemporacircneo ndash CRPC

(GEacuteNEacuteREUX et al 2012)111

Os anotadores utilizam a estrateacutegia min-max (cf FARKAS et al 2010) Para o

trigger eacute anotada a menor unidade possiacutevel jaacute para o target o maacuteximo de unidades eacute

110

Disponiacutevel para download em httpmmax2net Esta ferramenta de anotaccedilatildeo seraacute detalhada na seccedilatildeo 5311

deste capiacutetulo 111

Este eacute um corpus de aproximadamente 312 milhotildees de palavras entre textos e escritos e registros orais

constituiacutedo por uma ampla gama de textos de diferentes gecircneros textuais em todas as variedades da liacutengua

portuguesa Disponiacutevel em httpwwwclululptptrecursos183-reference-corpus-of-contemporary-portuguese-

crpc Uacuteltimo acesso em 13 nov 2013

151

considerado e este elemento tambeacutem pode ser anotado em descontinuidade No que diz

respeito agraves sources satildeo marcados sintagmas nominais inteiros ou verbos No esquema

proposto ainda haacute um campo adicional para comentaacuterios (Commentlsquo) para que quaisquer

dificuldades sejam registradas principalmente casos de ambiguidade

Em trabalho mais recente (MENDES et al 2013) foi integrada a este esquema de

anotaccedilatildeo a interaccedilatildeo entre o foco e a modalidade especialmente o foco envolvendo partiacuteculas

exclusivas como ―soacute Os autores extraiacuteram os contextos e aplicaram o esquema a 100

sentenccedilas de documentos escritos do CRPC

Dois projetos desenvolvidos na Georgetown University os trabalhos de Rubinstein e

colegas (2013) para a anotaccedilatildeo da modalidade no inglecircs e o de Cui e Chi (2013) para a

anotaccedilatildeo de dados do chinecircs seguem a mesma orientaccedilatildeo teoacuterica (cf PORTNER 2009) e

utilizam um quadro bastante similar de elementos a serem anotados

Rubinstein et al (2013) propotildeem um esquema de anotaccedilatildeo de sentidos modais

construiacutedo a partir de trabalhos anteriores e acrescentado de novos traccedilos para a anotaccedilatildeo do

MPQA Corpus No esquema os anotadores em primeiro lugar codificavam cada modal em

trecircs categorias mais amplas Epistecircmica ou Circunstancial (Epistemiclsquo ou Circumstantiallsquo)

Habilidade ou Circunstancial (Abilitylsquo ou Circumstantiallsquo) e Prioridade (Prioritylsquo) Em

seguida sete tipos modais mais refinados foram individualizados Epistecircmica (Epistemiclsquo)

Circunstancial (Circumstantiallsquo) Habilidade (Abilitylsquo) Deocircntica (Deontic‟) Bouleacutetica

(Bouleticlsquo) Teleoloacutegica (Teleologicallsquo) e BuleacuteticaTeleoloacutegica (BouleticTeleologicallsquo)

Cui e Chi (2013) descrevem em seu trabalho a tentativa de refinar a anotaccedilatildeo de

alguns aspectos dos modais para o Penn Chinese Treebank e apontam seus primeiros

resultados para a primeira fase de anotaccedilatildeo Para a tarefa de anotaccedilatildeo realizada por dois

anotadores tambeacutem foi utilizado o software MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) com um

esquema de dez traccedilos e uma lista de inicial com onze iacutendices modais que agrave medida que o

projeto avanccedila pode crescer Como contribuiccedilatildeo os autores argumentam que o projeto

demonstrou que ―eacute possiacutevel usar um esquema e um conjunto de instruccedilotildees para a anotaccedilatildeo

translinguiacutestica112

(CUI CHI 2013 p 8)

112

No original ―() it is possible to use one scheme and set of guidelines for cross-linguistic annotation (CUI

e CHI 2013 p 8)

152

52 Panorama geral (ou quem identifica eou anota o quecirc)

Em resumo os componentes identificados eou anotados nos projetos apresentados na

seccedilatildeo anterior

Autores Trigger Target Source Factuality Certainty Transition

of certainty Focus Time Conditional

Sauriacute et al

2006 2007

2009 2012

x x x x x

Baker et al

2010 x x x x

Matsuyoshi et

al 2010 x x x x x x x x

Wiebe et al

2005 x x x x x

Niremburg

McShane 2008 x x x

Hendrikx et al

2012

Mendes et al

2013

x x x x

Rubinstein et al

2013 x x x

Cui Chi 2013 x x x

Tabela 52 ndash Elementos identificados eou anotados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo semacircntica

Entre os diferentes projetos apesar de a terminologia usada para a categorizaccedilatildeo dos

significados modais diferirem eacute possiacutevel encontrar correspondecircncias entre os valores modais

correntes na literatura linguiacutestica e aqueles valores denominados natildeo-padratildeo Abaixo

resumidamente elenco na Tabela 52 todos os valores assinalados nos esquemas de anotaccedilatildeo

apresentados Na coluna da esquerda listo os valores modais utilizados na tradiccedilatildeo linguiacutestica

(cf PALMER 2001) e na coluna da esquerda os valores correspondentes encontrados nos

esquemas aqui apresentados e seus respectivos autores

153

Valores modais

tradiccedilatildeo linguiacutestica esquemas de anotaccedilatildeo

Epistemic factuality (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010)

actuality (MATSUYOSHI et al 2010)

evidentiality (SAURIacute et al 2006)

assertion (MATSUYOSHI et al 2010)

transition of certainty (MATSUYOSHI e al 2010)

degrees of possibility (SAURIacute et al 2006)

potential (NIREMBURG McSHANE 2008)

belief (SAURIacute et al 2006 BAKER et al 2010 NIREMBURG

McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

interrogative (MATSUYOSHI et al 2010)

evaluation (HENDRICKX et al 2012b NIREMBURG McSHANE

2008)

Deontic modality command (SAURIacute et al 2006)

requirement (BAKER et al 2010)

imperative (MATSUYOSHI et al 2010)

obligative (NIREMBURG McSHANE 2008)

permissive (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

permission (MATSUYOSHI et al 2010)

Dynamic modality

Participant-internal modality

ability (BAKER et al 2010)

success (BAKER et al 2010)

epiteuctic (NIREMBURG McSHANE 2008)

requirement (BAKER et al 2010)

volition (MATSUYOSHI et al 2010 McSHANE amp NIREMBURG

2008 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG McSHANE 2008)

expectation (SAURIacute et al 2006)

want (BAKER et al 2010)

wish (MATSUYOSHI et al 2010)

intention (BAKER et al 2010 NIREMBURG McSHANE 2008)

attempting (SAURIacute et al 2006)

effort (BAKER et al 2010 HENDRICKX et al 2012 NIREMBURG

McSHANE 2008)

Tabela 53 ndash Correspondecircncia entre valores na tradiccedilatildeo linguiacutestica e nos esquemas de anotaccedilatildeo

154

53 Proposta para anotaccedilatildeo da modalidade no C-ORAL-BRASIL o projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs (CUI

CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000 v capiacutetulo 3 seccedilatildeo 31) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez

que natildeo centra a sua anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no

domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento a metodologia empregada para a anotaccedilatildeo no que

diz respeito agrave preparaccedilatildeo dos textos o corpus utilizado e a ferramenta para anotaccedilatildeo mdash o

software livre MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais

e os elementos a serem anotados a marcaccedilatildeo da polaridade aplicada ao elemento Trigger

exemplos de anotaccedilatildeo os resultados e finalmente algumas consideraccedilotildees sobre o processo

de anotaccedilatildeo

531 Metodologia

5311 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

Abaixo na Figura 51 um exemplo da tela principal do programa que se refere a um

dos arquivos anotados (bfamcvo4) deste projeto de anotaccedilatildeo de modalidade no corpus C-

ORAL-BRASIL

155

Figura 51 ndash Tela principal do software MMAX2

Na tela as linhas azuis satildeo as sequecircncias que contecircm os elementos anotados (trigger

target source of the modality source of the event)113

Em amarelo temos marcado um dos

componentes anotados (no caso o trigger) em cinza os outros elementos da sequecircncia modal

e por uacuteltimo em verde os links entre os elementos que compotildeem um set modal

Segundo Muumlller e Strube (2006) satildeo cinco os passos cruciais de um projeto de

anotaccedilatildeo o que chamam de ―ciclo de vida da anotaccedilatildeo a saber

(i) preparaccedilatildeo do corpus

(ii) definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotaccedilatildeo

(iii) manual de anotaccedilatildeo

(iv) checagem da viabilidade da anotaccedilatildeo

(v) utilizaccedilatildeo da anotaccedilatildeo completa

Apresento nas proacuteximas seccedilotildees alguns passos do ciclo de vida do projeto MASS

(Modal Annotation in Spontaneous Speech)

113

Estes elementos seratildeo descritos em detalhes nas seccedilotildees subsequumlentes deste capiacutetulo

156

5312 A preparaccedilatildeo dos textos

Para fins de preacute-processamento e utilizaccedilatildeo do software MMAX2 foi necessaacuteria a

limpeza dos arquivos em extensatildeo ―txt Os elementos a serem eliminados foram detectados

atraveacutes da proacutepria ferramenta de busca do editor de texto e os textos foram limpos

manualmente O corpus C-ORAL-BRASIL eacute transcrito segundo o sistema CHAT

(MAcWHINNEY 2000) que fornece um formato padronizado para produzir transcriccedilotildees

computadorizadas de interaccedilotildees conversacionais face a face implementado para a anotaccedilatildeo

prosoacutedica (MONEGLIA CRESTI 1997) e eacute segmentado em enunciados e unidades tonais

Algumas das convenccedilotildees da segmentaccedilatildeo prosoacutedica e tambeacutem notaccedilotildees da transcriccedilatildeo

tiveram que ser removidas tais como interrupccedilotildees retractings sobreposiccedilotildees fragmentos

fonoloacutegicos nuacutemeros de enunciados e os asteriscos que precedem os nomes de cada

participante Abaixo segue um resumo dos elementos eliminados

(a) nuacutemeros dos enunciados [xxx] os arquivos satildeo transcritos por enunciados e a cada

enunciado corresponde um nuacutemero

Ex LUA [72] taacute parecendo aqueas histoacuteria daquele livro que cecirc tava contando

=COM=$

(b) asterisco () o asterisco indica a ―linha principal isto eacute a linha que codifica um

uacutenico enunciado produzido por um determinado falante Este sinal antecede o

coacutedigo em trecircs letras maiuacutesculas que indicam o participante produtor daquele

enunciado

Ex CES [104] uhn =PHA= tocirc achando que natildeo =COM=$

(c) ampersand ou e-comercial (amp) este siacutembolo eacute usado para indicar que o material

seguinte eacute apenas um fragmento fonoloacutegico ou um pedaccedilo de palavra Esta forma

de notaccedilatildeo eacute usada quando o falante gagueja ou para de falar antes de completar

uma palavra reconheciacutevel (falsos comeccedilos)

Ex ANE [224] amphe =TMT= essa localizaccedilatildeo aqui eu nũ acho ruim =COM=$

157

(d) anguladores (lt gt) sinalizam que o material locutivo de um falante em um

determinado turno contido entre os anguladores estaacute sendo produzido ao mesmo

tempo que o material angulado do seu interlocutor no turno seguinte

Ex ANE [298] ltagraves vezesgt [2]=EMP= agraves vezes fica ltgentegt =COM=$

CES [299] ltpode entrargt =COM=$

(e) sinal de adiccedilatildeo (+) indica uma interrupccedilatildeo seja por tomada de turno pelo

interlocutor ou por decisatildeo do proacuteprio falante

Ex [99] entatildeo =INP= eu =TOP= eu sei =COB= Mara =ALL= que =DCT= ela me

tirou =i-COB= assim + =PAR=$

(f) [n] indica retracting O numeral ―n ao lado da barra indica o nuacutemero de palavras

envolvidas no retracting e canceladas pelo falante Eacute usado quando o falante

comeccedila a dizer alguma coisa para repete o sintagma baacutesico muda a sintaxe mas

manteacutem a mesma ideia pode envolver tambeacutem a completa reformulaccedilatildeo da

mensagem sem quaisquer correccedilotildees especiacuteficas ou ainda indicar que o falante

comeccedilou a dizer alguma coisa parou e repetiu o material anterior sem qualquer

mudanccedila

Ex [147] essa histoacuteria ampde [1]=SCA= da menina =TOP= eu tenho certeza que e

nũ te conta natildeo =COM=$

Apresento abaixo em (a) um exemplo de enunciado antes da limpeza com alguns dos

elementos eliminados e a seguir em (b) o resultado da limpeza deste mesmo enunciado114

(a) JOR [17] e aiacute =TOP= eu consegui =i-COB= amphe =TMP= com a experiecircncia

que eu tinha dentro da multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e ampf [1]=SCA=

isso me facilitou e eu passei pra aacuterea comercial da empresa pra vender =COB_s=

disjuntores =CMB= transformadores =CMB= motores de =INT= corrente

contiacutenua =CMB= corrente alternada =CMB= isoladores =CMB= e =TXC=

releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria =CMB= e assim foi iniciando a minha vida

comercial =COM

(b) JOR e aiacute eu consegui he com a experiecircncia que eu tinha dentro da

multinacional =PAR= concorrer agrave vaga e f isso me facilitou e eu passei pra aacuterea

comercial da empresa pra vender disjuntores transformadores motores de

corrente contiacutenua corrente alternada isoladores e releacutes de proteccedilatildeo secundaacuteria

e assim foi iniciando a minha vida comercial

114

As unidades informacionais jaacute natildeo constavam na versatildeo dos arquivos de texto utilizada para o preacute-

processamento

158

5313 Definiccedilatildeo e formalizaccedilatildeo da tarefa de anotar

(a) Os markables (marcadores)

Um markable eacute o componente baacutesico de anotaccedilatildeo no MMAX2 Eacute uma porccedilatildeo de texto

que eacute marcada normalmente uma sequecircncia de texto ou partes descontiacutenuas de um texto

Estes marcadores podem se expandir em diferentes sentenccedilas podem se sobrepor

podem corresponder a exatamente a mesma porccedilatildeo de texto e podem estar anotados em

descontinuidade isto eacute duas partes do texto podem estar divididas e serem anotadas como um

uacutenico marcador

Em nosso projeto defino quatro tipos de markables os quais descreverei em detalhes

mais adiante que satildeo o trigger o target a source of the event mention e a source of the

modality Estes componentes em conjunto formam um ―set modal Os componentes trigger

e target possuem traccedilos que os distinguem O primeiro carrega os traccedilos modal_value

polarity information unit e comment o segundo os traccedilos information unit (ie a unidade

informacional em que o componente estaacute contido) e polarity

Para a criaccedilatildeo de um ―set modal eacute necessaacuterio em primeiro lugar criar cada um dos

markables e em seguida estabelecer os links entre eles Para a criaccedilatildeo dos markables (Figura

52) arraste com o mouse sobre o elemento que se deseja marcar clique com o botatildeo

direito sobre o texto selecionado selecione ―Create Markable at level bdquomodal‟ por uacuteltimo

na caixa de anotaccedilatildeo faccedila a escolha dos atributos apropriados para cada markable

Figura 52 ndash Criaccedilatildeo de markable

159

Os passos para estabelecer os links entre os markables satildeo os seguintes (Figuras 53 e

54) clique sobre o componente marcado como o trigger que ganha destaque em amarelo

em seguida clique com o botatildeo direito sobre um dos componentes por exemplo a source of

the modality e selecione ―Mark as link Repita o mesmo procedimento para os outros

componentes Uma linha verde vai surgir entre os markables e o set modal estaacute constituiacutedo

Figura 53 ndash Estabelecer links entre markables

Figura 54 ndash Links entre markables estabelecido

160

No campo ―modal_class da caixa de anotaccedilatildeo (Figura 55) apareceraacute ―set_x em que

―x corresponde ao nuacutemero do set criado

Figura 55 ndash Modal-class nuacutemero do set modal

No caso de haver uma mesma sequecircncia de texto com dois ou mais papeacuteis diferentes

isto eacute uma sequecircncia de texto correspondente a dois ou mais markables basta proceder da

forma indicada acima Para selecionar os links apropriados clique em cada uma das porccedilotildees

de texto disponiacuteveis para criar o set modal

(b) Regras baacutesicas de anotaccedilatildeo

(b1) Criar como explicitado acima para um novo markable ser criado (Figura 52) eacute

necessaacuterio selecionar uma porccedilatildeo de texto arrastando o mouse com o botatildeo esquerdo e

clicando com o botatildeo direito na seleccedilatildeo Outros elementos natildeo devem estar selecionados do

contraacuterio este material seraacute adicionado ao markable em amarelo

(b2) Remover um link pode ser removido (Figura 56) primeiro selecionando o componente

com o botatildeo esquerdo do mouse depois com o botatildeo direito sobre a seleccedilatildeo escolher

―Unmark as link

161

Figura 56 - Remover o link

(b3) Apagar para apagar completamente um markable (Figura 57) basta clicar em cima do

elemento a ser apagado O elemento natildeo pode estar em amarelo

Figura 57 - Apagar um markable

(b4) Markable descontiacutenuo a partir de um markable existente eacute possiacutevel adicionar a ele uma

porccedilatildeo de texto natildeo-contiacutenua Eacute necessaacuterio clicar sobre o markable criado que fica em

amarelo entatildeo selecionar com o botatildeo esquerdo a segunda porccedilatildeo de texto a ser adicionada

(Figura 58) clicar com o botatildeo direito sobre esta seleccedilatildeo e escolher ―Add to this markable

Para o caso de toda a porccedilatildeo de texto adicionada ser removida ou apenas parte dela (Figura

162

59) basta selecionar o elemento que deseja desvincular do markable clicar com o botatildeo

direito em cima dele e escolher ―Remove from this markable

Figura 58 - Adicionar uma sequecircncia ao markable

Figura 59 ndash Remover sequecircncia de um markable

(c) Interface visual do MMAX2 e configuraccedilotildees baacutesicas iniciais

O MMAX2 possui uma apresentaccedilatildeo visual bastante amigaacutevel e algumas

configuraccedilotildees baacutesicas devem ser aplicadas para se iniciar a tarefa de anotaccedilatildeo Ao carregar o

software (―mmaxbat) vatildeo surgir quatro caixas na tela (a) uma diz respeito ao que estaacute

sendo rodado no sistema (b) a caixa de anotaccedilatildeo dos valores e atributos dos markables (c) a

tela principal com o texto a ser anotado e (d) o painel de controle do niacutevel do markable

163

Tambeacutem surgiraacute uma janela em ―pop-up perguntando se o anotador deseja validar as

anotaccedilotildees

Abaixo apresento instantacircneos das quatro principais telas a serem configuradas como e

quando necessaacuterio pelos anotadores

(a1) Snapshot da tela de anotaccedilatildeo dos valores e atributos

Figura 510- Caixa de anotaccedilatildeo de valores e atributos

Nesta tela em ―Settings selecione ―Auto-apply on para evitar a accedilatildeo de ―Apply a

cada modificaccedilatildeo Quando os campos ―comment ou ―polarity_cue forem modificados o

―Apply deve ser feito manualmente

(a2) Snapshot da tela principal de anotaccedilatildeo

Figura 511 - Tela principal de anotaccedilatildeo

164

No caso de os anotadores considerarem o espaccedilamento entre as linhas de anotaccedilatildeo

pequeno eacute possiacutevel utilizar a opccedilatildeo ―Font gt ―Line spacing para a configuraccedilatildeo desejada

Na parte esquerda superior desta tela no menu ―File haacute a opccedilatildeo ―Auto-save onde o

intervalo para salvar as modificaccedilotildees realizadas pode ser controlado O ideal eacute configuraacute-lo

para 5 ou 10 minutos

(a3) Snapshot do painel de controle do niacutevel do markable

Figura 512 - Painel de controle

Nesta caixa temos dois niacuteveis ―modal e ―sentence Este uacuteltimo niacutevel deve estar

configurado como ―visible e natildeo ―active uma vez que nenhuma anotaccedilatildeo no niacutevel da

sentenccedila seraacute realizada

(a4) Snapshot da tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

Figura 513 - Tela de validaccedilatildeo da anotaccedilatildeo

O anotador deve clicar em ―Do not validate nesta fase inicial

165

5314 O esquema de anotaccedilatildeo em versatildeo XML

No MMAX2 qualquer tipo de anotaccedilatildeo pode ser representada pela associaccedilatildeo de

elementos individuais com atributos e pela conexatildeo dos vaacuterios markables por meio de

relaccedilotildees (MUumlLLER STRUBE 2006 p 202) Abaixo apresento os atributos e as relaccedilotildees

definidos no esquema de anotaccedilatildeo de modalidade para a fala espontacircnea em sua versatildeo XML

No primeiro niacutevel estaacute definido o atributo Type e os seus respectivos valores (none

target1 target_dependent trigger source of the event source of the modality) que

apareceram como ―nominal_buttons (bototildees nominais) A cada valor corresponde um

conjunto de propriedades e estas dependecircncias satildeo expressas pelo atributo ―next Isso

significa que ao ser selecionado um determinado valor o seu conjunto de propriedades estaraacute

disponiacutevel Para o target1 temos as propriedades ―polaridade e ―unidade informacional

para o trigger as propriedades ―valor modal ―polaridade ―iacutendice de polaridade e ―unidade

informacional

ltxml version=10 encoding=ISO-8859-1gt

ltannotationschemegt

ltattribute id=level_type name=Type type=nominal_button text=Choose type of expressiongt

ltvalue id=value_type_none name=nonegt

ltvalue id=value_type_target1 name=target1 next=level_polarity_target1level_info_unit_target1gt

ltvalue id=value_type_target_dependent name=target_dep next=level_polarity_target_dependent

level_info_unit_target_dependentgt

ltvalue id=value_type_trigger name=trigger next=level_modal_valuelevel_polarity level_polarity_cue

level_info_unit_triggergt

ltvalue id=value_type_source_modality name=source_modalitygt

ltvalue id=value_type_event name=source_eventgt

ltattributegt

No segundo niacutevel estaacute definido o atributo ―valor modal e seus respectivos valores

em uma lista nominal

ltattribute id=level_modal_value name=modal_value type=nominal_list text=gt

ltvalue id=value_modal_value_none name=nonegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_knowledge name=epistemic_knowledgegt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_belief name=epistemic_beliefgt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_possibility name=epistemic_possibilitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_probability name=epistemic_probabilitygt

166

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_necessity name=epistemic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_epistemic_verification name=epistemic_verificationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_necessity name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_permission name=deontic_permissiongt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_obligation name=deontic_obligationgt

ltvalue id=value_modal_value_deontic_prohibition name=deontic_prohibitiongt

ltvalue id=value_modal_deontic_restriction name=deontic_necessitygt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_volition name=dynamic_volitiongt

ltvalue id=value_modal_value_dynamic_ability name=dynamic_abilitygt

ltattributegt

No terceiro quarto quinto e sexto niacuteveis estatildeo definidos os atributos ―polaridade do

trigger ―polaridade do target1 ―polaridade do target_dependent com os valores

―positivo e ―negativo (em bototildees nominais) e o ―iacutendice de polaridade o qual eacute um atributo

―freetext

ltattribute id=level_polarity name=polarity type=nominal_button text=Choose the polarity of the

triggergt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target1 name=polarity_target1 type=nominal_button text=Choose the

polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_target_dependent name=polarity_target_dep type=nominal_button

text=Choose the polarity of the target1gt

ltvalue id=value_polarity_pos name=posgt

ltvalue id=value_polarity_neg name=neggt

ltattributegt

ltattribute id=level_polarity_cue type=freetext name=polarity_cuegt

ltvalue id=value_polarity_cue name=polarity_cuegt

ltattributegt

167

Os seacutetimo oitavo e nono niacuteveis definem os atributos para a ―unidade informacional do

trigger a ―unidade informacional do target1 e a ―unidade informacional do

target_dependent em bototildees nominais

ltattribute id=level_info_unit_trigger type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target1 type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

ltattribute id=level_info_unit_target_dependent type=nominal_button name=IUgt

ltvalue id=value_IU_comment name=COMgt

ltvalue id=value_IU_topic name=TOPgt

ltvalue id=value_IU_parenthetical name=PARgt

ltvalue id=value_IU_locutive_introducer name=INTgt

ltvalue id=value_IU_multiple_comment name=CMMgt

ltvalue id=value_IU_bound_comment name=COBgt

ltvalue id=value_IU_appendix_comment name=APCgt

ltattributegt

O deacutecimo niacutevel descreve o atributo ―modal_class que define o set modal e suas

propriedades

168

ltattribute id=level_modalclass name=modal_class color=green width=2 type=markable_set

add_to_markableset_text=Mark as link style=lcurve remove_from_markableset_text=Unmark as link

adopt_into_markableset_text=Move this into current modal set merge_into_markableset_text=Merge both

modal sets into onegt

ltvalue id=value_modalclass name=modal_classgt

ltattributegt

O uacuteltimo niacutevel define o atributo ―comment do tipo ―freetext

ltattribute id=level_comment type=freetext name=commentgt

ltvalue id=value_comment name=commentgt

ltattributegt

ltannotationschemegt

532 Escolha dos valores modais

Este trabalho como explicitado anteriormente na parte teoacuterica filia-se agrave tradiccedilatildeo

linguiacutestica sobre modalidade que apresenta a depender da orientaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica

diferentes tipologias para o estudo dos modais O repertoacuterio de significados modais estaacute longe

de ser estaacutevel entre as liacutenguas no entanto observamos que haacute consenso entre todas as

abordagens em relaccedilatildeo ao significado epistecircmico e o que as difere satildeo as nuances nos

significados natildeo-epistecircmicos (cf seccedilatildeo 23 do capiacutetulo 2)

Retomo brevemente aqui os valores modais que seratildeo utilizados para fins de anotaccedilatildeo

a saber os valores epistecircmico deocircntico e dinacircmico115

Para o estabelecimento dos subvalores

de cada tipo de modalidade partiu-se da definiccedilatildeo de modalidade discutida neste trabalho e

dos valores apresentados em diferentes projetos de anotaccedilatildeo como descrito na seccedilatildeo 52 deste

capiacutetulo aleacutem de os proacuteprios dados analisados revelarem pelo contexto sutilezas de

interpretaccedilatildeo que aqui foram consideradas

115

Os termos que se referem ao esquema de anotaccedilatildeo da modalidade a saber os valores e subvalores modais o

iacutendice modal disparador a expressatildeo no escopo do item modal e a fonte (do evento e da modalidade) seratildeo

mantidos em liacutengua inglesa uma vez que no domiacutenio da anotaccedilatildeo semacircntica eacute consenso o uso do inglecircs nos

sistemas de anotaccedilatildeo Desta forma quando necessaacuterio seraacute apresentada em nota de peacute de paacutegina uma legenda

com a traduccedilatildeo dos roacutetulos para o portuguecircs e das suas definiccedilotildees

169

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (51) (52) (53) e (54)

(51) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(52) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ

posso esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(53) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(54) REN [223] oito =COM=$ [224] mas olha o preccedilo =COM=$ [225] quatorze

e oitenta-e-nove =COM=$ [226] esse daqui eacute quatro e noventa-e-oito

=COM=$

FLA [227] eacute =COM=$ [228] oh =COM=$ [229] natildeo =CMM= mas aiacute tem

[2]=SCA= aqui tem o [1]=SCA= lto dobrogt =CMM=$

REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$

(bfamdl01)

Em (51) o falante ―LAU descreve uma situaccedilatildeo que eacute apresentada como uma crenccedila

ou opiniatildeo com nenhum (ou baixo) grau de certeza O exemplo seguinte (52) dada

determinada evidecircncia ―BAL apresenta a impossibilidade (―nũ posso) de que ―esperar

crescer dentro disso seja o caso O verbo ―dever em (53) carrega o significado de que a

partir de um conhecimento preacutevio sobre ―es chega-se agrave conclusatildeo de que eacute provaacutevel que um

grupo (―es) critique uma determinada situaccedilatildeo em outras palavras o exemplo expressa um

julgamento epistecircmico da probabilidade de uma determinada situaccedilatildeo ocorrer No excerto em

(54) os participantes comparam o preccedilo de dois produtos A participante ―REN chega

entatildeo agrave conclusatildeo de que haacute a necessidade (disparada pelo semimodal ―ter que) do preccedilo do

produto ser ―uns dez reais para que fosse coerente a quantidade do produto com o seu preccedilo

Para este tipo foram identificados seis subvalores conhecimento crenccedila

possibilidade probabilidade necessidade e verificaccedilatildeo Segundo Palmer (2001 p 24)

existem trecircs tipos de julgamento epistecircmico possiacuteveis o especulativo (que expressa

incerteza) o dedutivo (que expressa uma inferecircncia a partir de uma evidecircncia) e o

assumptivo (que indica uma inferecircncia no senso comum) Assim os subvalores que seratildeo

descritos abaixo foram definidos a partir destes trecircs tipos de julgamento

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

170

(55) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(56) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(57) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(58) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta

=COM= neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(59) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(510) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$

(bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(511) e (512) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(511) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(512) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

171

Na ocorrecircncia em (511) o falante impotildee a obrigaccedilatildeo ao sujeito ―cecirc de ―ir chique a

um determinado evento Jaacute em (512) excerto de um diaacutelogo em que um participante daacute

instruccedilotildees para uma outra pessoa de como utilizar um equipamento eacute o falante ―BAL que

garante a permissatildeo para que o sujeito da sentenccedila ―cecirc esteja autorizado a realizar uma

determinada accedilatildeo no caso ―deixar o cabo bater no chatildeo

Como subvalores os deocircnticos abrangem obrigaccedilatildeo permissatildeo proibiccedilatildeo e

necessidade Apesar de a literatura sobre os deocircnticos normalmente classificarem tais modais

como uma necessidade que gera uma obrigaccedilatildeo (imposta pelo falante ou por uma autoridade

mas tambeacutem uma mera obrigaccedilatildeo a ser cumprida por um conceptualizador) ou uma

permissatildeo a partir dos dados em contexto foram identificados significados que sugeriam

proibiccedilatildeo (uma permissatildeo mais fortemente negada) e necessidade (pessoal ou de um grupo)

que natildeo gera necessariamente uma obrigaccedilatildeo ou permissatildeo Estes subvalores estatildeo descritos

abaixo

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(513) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(514) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(515) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(516) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

172

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em

(517) (518) e (519)

(517) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(518) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(519) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um

lugar =COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

No exemplo (517) o verbo ―conseguir se refere agrave capacidade do experienciador de

realizar uma atividade no caso a capacidade de ―ser pior dentre os participantes de um

grupo expressa pelo falante ―BRU Em (518) o mesmo verbo indica que o falante expressa

a falta de habilidade (generalizada) de um conjunto de pessoas (marcado pelo uso impessoal

do pronome ―vocecirc) de cumprir uma determinada tarefa (―usar o celular) Por uacuteltimo em

(519) ―GIL reporta a necessidade de se consultar um grupo para que expressem sua

vontade A perspectiva levada em conta aqui eacute a do endereccedilado ―cecircs

O tipo dinacircmico expressa dois subvalores habilidadecapacidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo

Palmer (2001 p 76) define duas categorias para a modalidade dinacircmica habilitativo e

volitivo De acordo com Palmer (2001 p 10) a categoria da habilidade ―tem que ser

interpretada mais amplamente do que em termos dos poderes fiacutesico e mental dos sujeitos para

incluir circunstacircncias que imediatamente os afetam (mas natildeo claro a permissatildeo

deocircntica)116

Abaixo a descriccedilatildeo de cada um dos subvalores

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(520) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute

de ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

116

No original ―has to be interpreted rather more widely than in terms of the subjectlsquos physical and mental

powers to include circumstances that immediately affect them (but not of course deontic permission

(PALMER 2001 p 10)

173

(521) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(522) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na tabela abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 54 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

174

533 Triggers Sources e Targets elementos a serem anotados

5331 Triggers

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

modais os verbos epistecircmicos os adveacuterbios modais as expressotildees adjetivas as expressotildees

lexicais que carregam modalidade Para este esquema que proponho seratildeo anotados apenas os

iacutendices lexicais deixando de lado por ora os gramaticais

Como descrito no capiacutetulo 3 deste trabalho os iacutendices modais mais frequentes satildeo os

verbos auxiliares e semi-auxiliares (―poder ―dever ―ter que ―parecer ―precisar ―dar

―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar) bem como os verbos de crenccedila ou

espietecircmicos (―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar) verbos de

conhecimento e compreensatildeo (―saber ―ver ―perceber) Na nossa amostra ainda

encontramos os seguintes types para os adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente

―com certeza ―exatamente ―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio

―potencialmente ―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves

vezes e para os adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―claro ―eacute claro ―eacute

loacutegico ―eacute verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade Ainda as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute

que ―tem certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

Para fins de anotaccedilatildeo levo em conta aqui apenas os iacutendices lexicais Natildeo seratildeo

anotados os marcadores morfoloacutegicos e gramaticais nem os itens que expressam

evidencialidade (cf definiccedilatildeo no capiacutetulo 2 desta tese) Desta forma natildeo estatildeo codificados os

marcadores de futuro perifraacutestico futuro do presente futuro do preteacuterito (com significado

condicional) o subjuntivo e as construccedilotildees condicionais117

A partir de agora apresento as regras para anotaccedilatildeo do trigger

117

Avalio que para a anotaccedilatildeo das construccedilotildees condicionais do tipo factual e contrafactual por exemplo um

sistema de anotaccedilatildeo deveria levar em conta natildeo apenas a sua epistemicidade mas tambeacutem um conjunto de

valores distintivos da factualidade dos eventos nos moldes do FactBank (cf SAURIacute PUSTEJOVSKY 2009)

que definem a factualidade de um evento como ―o niacutevel de informaccedilatildeo que expressa o comprometimento de

fontes relevantes em relaccedilatildeo agrave natureza factual de eventos mencionados no discurso (SAURIacute PUSTEJOVSKY

2009 p 231) O termo evento eacute tratado em termos amplos para designar tanto processos como estados bem

como outros objetos abstratos como proposiccedilotildees fatos e possibilidades Adicionar uma segunda camada de

anotaccedilatildeo de factualidade para a interpretaccedilatildeo de eventos eacute um dos objetivos para trabalhos futuros

175

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(523) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(524) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(525) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(526) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(527) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(528) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser porque eacute parte do predicado nominal Apenas os adjetivos

com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos118

118

O esquema de anotaccedilatildeo para o portuguecircs europeu considera o valor ―Evaluation definido como ―[t]he

speaker expresses his or someone elselsquos evaluation of facts and propositions (HENDRICKX et al 2012a)

176

(529) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(530) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo inclusive se for o caso o verbo

suporte

(531) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade

de umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(532) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ eu tive certeza absoluta que

eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas119

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(533) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(534) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi

[1]=EMP= foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(535) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

119

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

177

(536) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

(537) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como120

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(538) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(539) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades121

120

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas Como proceder agrave anotaccedilatildeo de sequecircncias

descontiacutenuas com o software MMAX2 ver a seccedilatildeo 5313 deste capiacutetulo item (b4) 121

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

178

(540) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

(541) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(542) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(543) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(b) polaridade (polarity‟)

(c) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(d) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

179

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

agindo sobre o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext isto eacute um campo em que se

pode digitar qualquer informaccedilatildeo desejada neste caso identificar a palavra ou palavras que

expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)122

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)123

uma plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente composta de

(i) um corpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 124735

palavras e 74 sessotildees gravadas

(ii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-ROM italiano com 32589

palavras e 20 sessotildees para comparaccedilatildeo interlinguiacutestica com o minicorpus

brasileiro

(iii) um minicorpus da seccedilatildeo informal do C-ORAL-BRASIL com 31464 palavras

e 20 sessotildees

Os arquivos estatildeo divididos por enunciados e para cada enunciado aleacutem da

transcriccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis o arquivo de som a anotaccedilatildeo da estrutura informacional e a

anotaccedilatildeo de PoS

122

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 123

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013

180

5332 Sources

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila124

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459) Vaacuterios estudos levam em consideraccedilatildeo este componente em suas anaacutelises tais

como Bethard et al (2004) Breck amp Cardie (2004) Choi et al (2005) Wiebe et al (2005)

Rubin et al (2005) Prasad et al (2007) Sauriacute e Pustejovsky (2007) Inui et al (2008) Baker

et al (2010) Wiebe et al (2005) em seu trabalho sobre a anotaccedilatildeo de opiniotildees emoccedilotildees e

outros estados privados consideram a source do evento de fala isto eacute o falante ou escritor a

source do estado privado isto eacute a source cujo estado privado estaacute sendo expresso e apontam

o aninhamento de sources uma propriedade que reflete o fato de que eventos e estados

privados podem estar encaixados um no outro

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitor a julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila125

O esquema desenvolvido para o portuguecircs europeu (HENDRICX et al 2012a 2012b)

anota a source of the event mention (o falante ou o produtor do evento) e a source of the

modality (a quem a modalidade eacute atribuiacuteda) Segundo os autores a decisatildeo de anotar duas

sources se deve agrave necessidade de se distinguir entre aquele que produz a sentenccedilalsquo e aquele

que expressa a modalidadelsquo Em muitas ocorrecircncias estes dois elementos satildeo coincidentes

mas natildeo necessariamente este eacute o caso como em ―Os portugueses necessitam em meacutedia de

180 contos por mecircs para a manutenccedilatildeo de uma famiacutelia de quatro pessoas Neste exemplo ―Os

portugueses eacute a entidade com a necessidade interna disparada pelo verbo ―necessitar O

produtor do evento natildeo estaacute expliacutecito aqui e assume-se que eacute o produtor da sentenccedila

Inspirada neste uacuteltimo trabalho e ciente dos diferentes niacuteveis de concepualizaccedilatildeo na

expressatildeo da modalidade utilizo as mesmas categorias para o esquema proposto aqui

53321 Source of the event mention

A source of the event mention eacute o produtor do evento

124

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 125

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

181

A O produtor eacute normalmente o falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

B A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(544) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(545) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(546) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP= ele

=TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

53322 Source of the modality

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade

As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

182

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

que expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo

sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como

uma probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade

O conceptualizador que apresenta o material enunciado

como uma necessidade baseado em conhecimento

anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a

um estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado

ou obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo

a fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou

a necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 55 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(547) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

183

(548) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(549) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(550) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(551) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

184

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(552) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(553) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(554) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

HEL [89] ltham hamgt =COM=$ [90] a pessoa ampfa +=COM=$

LUC [91] lteacutegt =COM=$

HEL [92] ltahgt =COM=$

LUC [93] lteacutegt =COM=$

HEL [94] pessoa faz que natildeo =COM=$

LUC [95] eacute =COM=$

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

LUC [98] ltxxxgt =UNC=$

BRU [99] ltmas aiacute =TOP= agt gente escolhe =SCA= qual =COM=$ [100]

o laranja =CMM= ou o amarelo =CMM=$

HEL [101] lttaacutegt $

(bfamcv04)

185

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(555) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(556) GIL [54] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

5333 Targets

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo126

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

126

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

186

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(557) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(558) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(559) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(560) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

187

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(561) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(562) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(563) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

188

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo e negaccedilatildeo posposta simples natildeo incluir a segunda partiacutecula de

negaccedilatildeo no target

(564) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting127

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(565) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui

orsquo =COM=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(566) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd

[1]=EMP= desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

127

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza das barras invertidas e colchetes sinais

indicativos de retractings o material linguiacutestico que fica como vestiacutegio eacute reconhecido pela repeticcedilatildeo de chunks

eou mudanccedila de planejamento

189

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(567) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(568) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$

(bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

190

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena128

(569) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target_dep quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(570) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

128

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

191

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target_dep es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente A linguagem natural possui muitos recursos e a anotaccedilatildeo linguiacutestica tem como

funccedilatildeo permitir a melhor compreensatildeo da linguagem natural pela maacutequina A maacutequina natildeo

dispotildee dos recursos do humano para a interaccedilatildeo acional da linguagem dessa forma satildeo

necessaacuterias categorias que a ajudem a recuperar a referencialidade da linguagem natural

Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou correferecircncias para o

qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(571) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

192

Nesta ocorrecircncia em (571) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo

esclarecendo e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos

participantes LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos

precisar a expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que

poderia ser qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)129

e anota-se a expressatildeo

afetada contida na unidade informacional subsequente e seu valor

(572) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(573) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc

=CMB130

= se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

129

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18) 130

O CMB eacute uma categoria a ser revisada e estaacute sendo considerada como COB

193

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(a) polaridade (polarity‟)

(b) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(c) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

5334 Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(574) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(575) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(576) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

194

(d) epistemic_probability

(577) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(578) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(579) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

195

(g) deontic_obligation

(580) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(581) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA=

desmanchar tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(582) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(583) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

196

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(584) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(585) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

197

534 Polaridade

O traccedilo da polaridade como explicitado nas seccedilotildees sobre os componentes trigger e o

target eacute marcado para o trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o

valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(586) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(587) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

198

54 Resultados

Em nossa amostra encontramos 1088 marcadores modais (lexicais e gramaticais

excluiacutedas as condicionais e as construccedilotildees de subjuntivo) e destes foram anotados 781

triggers A Tabela 56 mostra a distribuiccedilatildeo dos valores modais e respectivos subvalores no

minicorpus

Valores Subvalores Freq

Epistecircmicos 506 647

conhecimento 108 213

crenccedila 223 44

possibilidade 122 241

probabilidade 24 47

necessidade 10 19

verificaccedilatildeo 19 37

Deocircnticos 189

obrigaccedilatildeo 96 508

permissatildeo 70 37

proibiccedilatildeo 6 32

necessidade 17 9

Dinacircmicos 86

habilidade 17 198

voliccedilatildeo 69 802

Tabela 56 ndash Frequecircncia dos valores modais na amostra

A modalidade epistecircmica eacute o valor mais frequente (647) e o valor ―crenccedila que

compreende os verbos epistecircmicos e adveacuterbios modais eacute o mais numeroso representando

44 de todos os iacutendices epistecircmicos Dentre os itens deocircnticos o seu maior uso eacute o de

―obrigaccedilatildeo metade de todos os itens e a proibiccedilatildeo deocircntica tem o nuacutemero menor de

ocorrecircncias possivelmente por se tratar de uma nuance mais forte da permissatildeo deocircntica

(37 dos deocircnticos) Os casos de voliccedilatildeo correspondem a 802 da modalidade do tipo

dinacircmico e em nuacutemero menor os casos de habilidadecapacidade o que pode confirmar o

caraacuteter menos central desta categoria como jaacute mencionado anteriormente

Os triggers satildeo em um sua maioria verbos modais 815 de todos os iacutendices (65

auxiliares e semi-auxiliares 31 modais epistecircmicos) seguido pelos adveacuterbios (118) Em

nuacutemero bastante menor os adjetivos (28) e expressotildees modais (39)

A source of the event mention eacute normalmente o falante A source of modality coincide

com o falante em 883 das ocorrecircncias mas encontramos diferentes niacuteveis de

199

conceptualizaccedilatildeo envolvendo a perspectiva do endereccedilado ou outra entidade aleacutem da

perspectiva do falante No entanto haacute que se observar que estas perspectivas de

conceptualizadores diferentes da do enunciador satildeo normalmente filtradas pelos olhos do

falante principalmente em relaccedilatildeo ao uso dos verbos de crenccedila confirmando o argumento de

Wiebe e suas colaboradoras (2005 p 9) de que o aninhamento eacute uma propriedade importante

das sources

Quanto aos targets em 791 de todas as ocorrecircncias eles satildeo realizados dentro da

mesma unidade informacional Em onze ocorrecircncias ele natildeo foi marcado sendo que em uma

delas eacute inespeciacutefico (o caso em que poderia ser recuperado apenas se toda a cena estivesse

registrada em imagem) Por fim cinco satildeo os casos em que estatildeo em construccedilotildees

padronizadas (trecircs com unidades de INT contendo o trigger e duas em unidade de COB com

os targets realizados na unidade de Comentaacuterio)

Foram encontradas 108 ocorrecircncias com polaridade negativa do trigger e 27 para o

target disparada em sua maioria pela partiacutecula de negaccedilatildeo ―natildeo (ou em sua forma ―nũ)

541 Acordo entre anotadores

A anotaccedilatildeo dos textos do minicorpus nos termos descritos neste capiacutetulo foi realizada

por apenas um anotador ateacute o momento Entretanto para fins de validaccedilatildeo do esquema e

checagem de sua viabilidade em uma etapa posterior a este trabalho seratildeo realizados testes

com pelo menos mais dois anotadores estudantes de poacutes-graduaccedilatildeo

No primeiro teste um dos anotadores receberaacute um treinamento miacutenimo com diretrizes

gerais da anotaccedilatildeo para a anotaccedilatildeo de 3 textos (um texto de cada tipologia interacional) No

segundo experimento um anotador diferente do primeiro receberaacute instruccedilotildees detalhadas e

procederaacute agrave anotaccedilatildeo dos mesmos textos acompanhando o manual de anotaccedilatildeo Ambas as

anotaccedilotildees seratildeo revisadas pelo anotador original O acordo entre anotadores seraacute computado

utilizando a Estatiacutestica Kappa (COHEN 1960) para todos os componentes da anotaccedilatildeo

Neste capiacutetulo apresentei as regras para a anotaccedilatildeo de um subcorpus de 20 textos de

fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Este esquema foi inspirado por outros jaacute elaborados

para a liacutengua inglesa e se aproxima do projeto proposto para o portuguecircs europeu No entanto

diferencia-se deste uacuteltimo pelas opccedilotildees teoacutericas adotadas aqui em termos de valores modais e

fundamentalmente em termos de conceber os targets natildeo como uma proposiccedilatildeo completa

200

mas chuncks linguiacutesticos dado que a modalidade se realiza dentro do escopo da unidade

informacional

Na primeira seccedilatildeo trago os trabalhos anteriores em anotaccedilatildeo semacircntica relevantes

para o projeto aqui apresentado e em seguida apresento um quadro resumptivo de quem anota

o quecirc e quais os valores satildeo utilizados por cada um deles Na seccedilatildeo 53 introduzo a proposta

descrevendo a metodologia utilizada (o software de anotaccedilatildeo a preparaccedilatildeo dos textos e regras

baacutesicas de anotaccedilatildeo) para entatildeo explicitar a escolha dos valores e subvalores modais e os

elementos a serem anotados (trigger target sources) e o detalhamento das regras para cada

um Por fim apresento e discuto os resultados aleacutem de mostrar os experimentos a serem

realizados para computar o acordo entre os anotadores

No capiacutetulo seguinte caminho para a conclusatildeo deste trabalho resumindo os

principais pontos discutidos os avanccedilos para o tema da modalidade e o horizonte futuro desta

pesquisa

201

Capiacutetulo 6

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A tiacutetulo de conclusatildeo deste trabalho gostaria de evidenciar alguns pontos centrais

para a discussatildeo do conceito de modalidade a partir de uma anaacutelise baseada em corpus Este

estudo seguiu um fio narrativo por assim dizer que compreende trecircs eixos que estatildeo

intrinsecamente relacionados o primeiro a discussatildeo do conceito de modalidade o segundo

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos itens modais e o terceiro a elaboraccedilatildeo de um esquema de

anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade

No capiacutetulo teoacuterico busquei apresentar e de certa maneira confrontar as diferentes

abordagens para o estudo da categoria da modalidade ndash a semacircntica dos mundos possiacuteveis a

distinccedilatildeo entre realis e irrealis e o caraacuteter subjetivo do fenocircmeno Esta noccedilatildeo eacute apresentada

na literatura linguiacutestica de variadas maneiras Claro estaacute no entanto que seja em uma

interpretaccedilatildeo mais ampla (e vaga) como a de Palmer (2001) que afirma que a modalidade se

preocupa com o estatuto da proposiccedilatildeo que descreve o evento seja em uma mais estrita como

a de van der Auwera e Plungian (1998) que a definem a partir dos domiacutenios da possibilidade

e da necessidade (e excluem outros domiacutenios) natildeo haacute um consenso sobre os limites da

categoria e que tipo de modificaccedilatildeo ela abarca

Coloquei-me portanto as seguintes questotildees de que qualidade eacute a modificaccedilatildeo

definida como modalidade Que criteacuterios para delimitar esta modificaccedilatildeo poderiam ser

propostos Na tentativa de alcanccedilar uma resposta o primeiro passo foi apresentar o seu

avesso ―o que natildeo eacute modalidade ou melhor explicando apresentei as categorias com as

quais a modalidade conversa e dela se diferenciam como a negaccedilatildeo o modo a ilocuccedilatildeo e a

atitude

Alinhando-me agrave proposta de Cresti (2000) e Tucci (2007) para quem a modalidade eacute

inerente a qualquer enunciado e pertence ao niacutevel semacircntico natildeo ao pragmaacutetico e seguindo a

tradiccedilatildeo ballyniana que leva em consideraccedilatildeo a dimensatildeo do enunciado e a noccedilatildeo de

subjetividade propus a modalidade como uma modificaccedilatildeo avaliativa operada por um

sujeito conceptualizador (o falante o endereccedilado ou uma terceira pessoa em cena) que

relativiza o material locutoacuterio enunciado de acordo com o grau de

certezacomprometimento e baseada em noccedilotildees de possibilidade necessidade

capacidade e voliccedilatildeo

202

A delimitaccedilatildeo da categoria pela subjetividade e pela inclusatildeo dos domiacutenios semacircnticos

da possibilidade necessidade capacidade e voliccedilatildeo levou-nos a uma opccedilatildeo teoacuterico-

metodoloacutegica de estudar o fenocircmeno a partir de uma tipologia jaacute bem definida na literatura e

que estaacute no centro de muitas anaacutelises os significados epistecircmicos deocircnticos e dinacircmicos

Esta escolha exclui a modalidade aleacutetica dado que segundo Palmer (1986) natildeo haacute distinccedilatildeo

entre o que eacute logicamente verdadeiro e aquilo que o falante considera como verdadeiro

Completando este raciociacutenio pergunto se a linguagem eacute per se argumentativa isto eacute se

sempre haacute uma perspectiva de um conceptualizador sobre uma determinada cena de que

maneira seria possiacutevel alcanccedilar uma objetividade tal que levaria a uma ―verdade

A seleccedilatildeo dos itens modais portanto foi baseada nos criteacuterios acima mencionados

com lemas que figuram em listas de modais em vaacuterias liacutenguas e outros que emergem por um

vieacutes metafoacuterico como uso especiacutefico da liacutengua portuguesa Como dito faccedilo esta afirmaccedilatildeo

desde os dados pesquisados na variante brasileira jaacute que natildeo possuo informaccedilatildeo suficiente

para generalizar para as outras variantes de Portugal e Aacutefrica

Definida a concepccedilatildeo de modalidade a tipologia a ser utilizada e os pressupostos da

Teoria da Liacutengua em Ato (CRESTI 2000) procedi agrave descriccedilatildeo da modalidade em uma

amostra de 20 textos da parte informal do C-ORAL-BRASIL corpus da fala espontacircnea do

portuguecircs brasileiro (especificamente da regiatildeo de Belo Horizonte MG) Este minicorpus

compilado a partir de criteacuterios de ―maacutexima qualidade tenta preservar a estrutura da parte

informal e representa uma ampla variaccedilatildeo diastraacutetica e diafaacutesica

Esta descriccedilatildeo lanccedilou luz a pontos importantes como

a categoria semacircntica da modalidade se comporta de forma distinta da escrita

na fala espontacircnea uma vez que o seu escopo eacute a unidade informacional que

natildeo necessariamente abriga uma proposiccedilatildeo mas antes chunks linguiacutesticos que

natildeo obedecem aos criteacuterios sintaacuteticos propostos para a anaacutelise da escrita

os iacutendices modais satildeo amplamente utilizados em situaccedilotildees dialoacutegicas sejam

puacuteblicas ou privadas

apenas algumas unidades informacionais podem ser modalizadas o

Comentaacuterio incluiacutedos os Comentaacuterios Muacuteltiplos e Comentaacuterios Ligados) o

Parenteacutetico (e a Lista de Parenteacuteticos) o Toacutepico (e a Lista de Toacutepicos) e o

Introdutor Locutivo

A unidade de Comentaacuterio eacute a mais modalizada e natildeo haacute restriccedilatildeo de realizaccedilatildeo

de itens nesta UI

203

o Introdutor Locutivo no portuguecircs brasileiro tambeacutem pode marcar uma

introduccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo epistecircmica

as unidades de Toacutepico e Parenteacutetico abrigam como estrateacutegia preferencial de

modalizaccedilatildeo os verbos epistecircmicos com 636 e 647 respectivamente de

todas as ocorrecircncias do minicorpus

a modalidade epistecircmica eacute a mais frequente entre os tipos de significado com

uma taxa de associaccedilatildeo a diferentes iacutendices modais muito mais elevada do que

a dos tipos deocircntico e dinacircmico (cf MELLO et al 2013)

os verbos modalizadores satildeo a estrateacutegia preferencial para marcaccedilatildeo de

modalidade Sua distribuiccedilatildeo estaacute concentrada na unidade informacional de

Comentaacuterio com uma porcentagem de 973 de todas as ocorrecircncias

incluiacutedos o Comentaacuterio Muacuteltiplo o Comentaacuterio Ligado e o Apecircndice de

Comentaacuterio

o verbo ―dever com valor deocircntico relacionado com o sentido de uma

obrigaccedilatildeo fraca tem baixiacutessima ocorrecircncia O espaccedilo em usos de obrigaccedilatildeo

deocircntica tem sido ocupado pelo semimodal ―ter que

os verbos epistecircmicos que sinalizam a opiniatildeo ou grau de comprometimento

de um falante em relaccedilatildeo ao que estaacute enunciado e se organizam sintaticamente

de vaacuterias maneiras possuem funccedilotildees pragmaacuteticas distintas (a) em termos de

estrutura informacional em posiccedilatildeo parenteacutetica funciona como atenuador da

asserccedilatildeo anterior e (b) podem ser marcadores de concordacircnciadiscordacircncia o

que indica um (possiacutevel) padratildeo lexical correspondente a um fenocircmeno de

gradiecircncia de iacutendice modal para um marcador discursivo

os itens ―claro e ―oacutebvio apesar de pertencerem formalmente agrave categoria dos

adjetivos foram incluiacutedos na anaacutelise das construccedilotildees adverbiais modais uma

vez que seu comportamento se assemelha dos adveacuterbios modais ―claramente e

―obviamente Satildeo considerados adveacuterbios somente quando ocorrem sozinhos

sem a presenccedila do verbo ser eou da conjunccedilatildeo

as construccedilotildees condicionais dentro do quadro teoacuterico da Teoria da Liacutengua em

Ato constituem-se como um desafio uma vez que podem ultrapassar os

limites de um enunciado ou estar completamente acomodada nele dividida ou

natildeo em mais de uma de suas unidades tonais

204

Por fim nasceu o MASS ndash Modal Annotation in Spontaneous Speech projeto de

anotaccedilatildeo da modalidade na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Os desafios para cumprir

esta tarefa foram muitos fundamentalmente relacionados ao fato de que todos os esquemas de

anotaccedilatildeo desenvolvidos ateacute agora satildeo aplicados a textos escritos normalmente a corpora de

textos jornaliacutesticos ou textos biomeacutedicos

Como jaacute visto anotar a modalidade com a finalidade de permitir o seu

reconhecimento automaacutetico inclui identificar os iacutendices modais classificaacute-los em uma

determinada tipologia (por exemplo em significados epistecircmicos e natildeo-epistecircmicos) definir a

sua fonte e o seu escopo semacircntico Nosso esquema se inspirou no esquema proposto para o

portuguecircs europeu mas dele se diferencia na medida em que algumas decisotildees cruciais para

a anotaccedilatildeo foram baseadas na moldura teoacuterico-metodoloacutegica da TLA o que significa tomar o

enunciado como unidade analiacutetica de referecircncia e a unidade informacional o campo de

aplicaccedilatildeo da modalidade

Foram anotados 781 itens modais lexicais Como valores modais escolhemos o tipo

epistecircmico com seis subvalores conhecimento crenccedila possibilidade probabilidade

necessidade e verificaccedilatildeo o tipo deocircntico que abriga quatro subvalores obrigaccedilatildeo permissatildeo

proibiccedilatildeo e necessidade e por fim o tipo dinacircmico com dois subvalores habilidade e

voliccedilatildeo Como elementos a serem anotados o trigger a palavra ou sequecircncia de palavras que

carrega(m) a modalidade o target a expressatildeo que estaacute no escopo do trigger dentro da

unidade informacional a source of the modality o conceptualizador e a source of the event o

falante ou produtor

A anotaccedilatildeo foi realizada por um uacutenico anotador ateacute o momento com a ferramenta

(MUumlLLER STRUBE 2006) um software livre para a anotaccedilatildeo em muacuteltiplos niacuteveis valores

e subvalores modais e os elementos a serem anotados (trigger target sources) e o

detalhamento das regras para cada um

O estudo da modalidade como campo profiacutecuo pode inspirar futuras possibilidades e

projetos Tendo em vista que o C-ORAL-BRASIL eacute um corpus construiacutedo com a mesma

arquitetura dos corpora do C-ORAL-ROM eacute possiacutevel propor um estudo comparativo entre a

expressatildeo da modalidade no portuguecircs brasileiro e nas outras quatro liacutenguas romacircnicas que

compotildeem o C-ORAL-ROM Mais imediatamente faz sentido a comparaccedilatildeo com o trabalho

de Ida Tucci (2007) que descreveu a modalidade para a fala espontacircnea do italiano em uma

anaacutelise corpus-based

Uma segunda tarefa premente eacute a aplicaccedilatildeo dos experimentos para a computaccedilatildeo do

acordo entre anotadores o que vai indicar a viabilidade do esquema proposto A porcentagem

205

de itens anotados alcanccedilada na amostra leva-nos a crer na possibilidade tambeacutem de se buscar

algoritmos para o treinamento de maacutequinas para alguns dos iacutendices mais representativos

como os verbos modalizadores

Outras pesquisas sobre a modalidade e a sua relaccedilatildeo com outras categorias como

modo tempo e aspecto podem ser exploradas Assim como pode ser considerada a

possibilidade de inclusatildeo de construccedilotildees avaliativas do tipo ―eacute osso e ser estudada a

relaccedilatildeo entre a modalidade e as ilocuccedilotildees

No que concerne aos trabalhos em anotaccedilatildeo semacircntica como mencionado eacute terreno a

ser semeado e cultivado Trabalhos que envolvam a modalidade e outras categorias como o

foco e trabalhos comparativos por exemplo entre as diamesias oral e escrita e entre os

diferentes projetos propostos para outras liacutenguas

Entendo que o trabalho realizado contribui para uma melhor compreensatildeo da noccedilatildeo

semacircntica de modalidade e sua realizaccedilatildeo na fala espontacircnea do portuguecircs brasileiro Aleacutem

disso o esquema de anotaccedilatildeo da modalidade eacute um passo importante e relevante para os

estudos em Processamento em Linguagem Natural e poderaacute contribuir com ferramentas para

anotaccedilatildeo automaacutetica da categoria no que diz respeito a textos falados e por que natildeo sua

ampliaccedilatildeo (e adaptaccedilatildeo) para textos escritos

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ANEXOS

MASS 10

MANUAL DE ANOTACcedilAtildeO

LUCIANA AacuteVILA

POSLIN ndash UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CENTRO DE LINGUIacuteSTICA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

02 DE JANEIRO DE 2013

SUMAacuteRIO

1INTRODUCcedilAtildeO helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 1

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip2

21 MODALIDADE 2

22 VALORES MODAIS 2

O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH) helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip5

31 O SOFTWARE MMAX2 6

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS 6

321 TRIGGERShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip6

322 SOURCES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3221 SOURCE OF THE EVENThelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip11

3222 SOURCE OF THE MODALITY helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip12

33 TARGET helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip15

34 POLARIDADE helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip27

35 REFEREcircNCIAS helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip28

1 INTRODUCcedilAtildeO

Este manual apresenta o projeto MASS (Modal Annotation in Spontaneous Speech)

um esquema de anotaccedilatildeo semacircntica da modalidade desenvolvido para dados de fala

espontacircnea do Portuguecircs Brasileiro descreve e explica em detalhes os passos da anotaccedilatildeo

bem como discute os casos problemaacuteticos e as decisotildees tomadas para solucionaacute-los

2 NOCcedilOtildeES IMPORTANTES

21 MODALIDADE

A definiccedilatildeo da modalidade estaacute longe de ser consensual Neste projeto defino este

fenocircmeno como o julgamento ou a avaliaccedilatildeo de um sujeito conceptualizador que relativiza o

que estaacute sendo enunciado em termos de grau de certeza e das noccedilotildees de possibilidade

probabilidade necessidade obrigaccedilatildeo e permissatildeo Ela estaacute ancorada em uma situaccedilatildeo

comunicativa e vai cumprir diferentes funccedilotildees pragmaacutetico-discursivas no curso da interaccedilatildeo

(AVILA amp MELLO 2013 AVILA 2014)

22 VALORES MODAIS

(a) Epistecircmicos o significado epistecircmico estaacute relacionado com o grau de certeza de um

conceptualizador sobre o material locutoacuterio enunciado e tambeacutem se refere agraves noccedilotildees de

possibilidade probabilidade e necessidade Como exemplificado em (1) (2) (3) e (4)

(1) LAU [195] tambeacutem nũ tem certeza de nada =COM=$ (bfamdl03)

(2) BAL [107] ltsoacute que eacute aquela coisa =INT= eu nũ amppogt [3]=EMP= eu nũ posso

esperar crescer dentro disso =COM=$ (bfamdl02)

(3) GIL [36] neacute es deve meter o pau $ (bfamcv01)

(4) REN [230] o ltdobrogt =COM=$ [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns

dez reais =CMM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

(a1) epistemic_knowledge o conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) expressa o

seu conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

(5) ANE [152] ltagt gente nũ ltsabia que eragt essa [1]=SCA= essa ltruagt

=COM=$ (bfamdl05)

(a2) epitemic_belief o conceptualizador expressa a sua crenccedila ou opiniatildeo sobre algo

(6) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

(a3) epistemic_possibility O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

(7) TON [173] daacute pra ampma [3]=EMP= daacute pra jogar ela aqui =CMM= ela vem na

frente da quatro o =CMM=$ (bfamcv03)

(a5) epistemic_probability O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

(8) CAR [95] deve ser ltumgt [1]=SCA= alguns milhares de reais a conta =COM=

neacute =PHA=$ (bpubcv02)

(a6) epistemic_necessity O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade baseado em conhecimento anterior

(9) DFL [121] meu avocirc falava com papai =INT= ele eacute doido =CMM_r= soacute pode

ser doido =CMM_r= neacute =PHA= amppo +=EMP=$ (bfammn02)

(a7) epistemic_verification O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um estado-

de-coisas evento ou atividade em foco

(10) ANE [390] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =COM= Ceacutesar =ALL=$ (bfamdl05)

(b) Deocircnticos o valor deocircntico normalmente estaacute associado agraves convenccedilotildees morais e sociais e

portanto normalmente eacute usado para indicar obrigaccedilatildeo permissatildeo ou proibiccedilatildeo Os exemplos

(11) e (12) ilustram respectivamente uma obrigaccedilatildeo e uma permissatildeo

(11) RUT [257] cecirc tem que ir chique =COM=$ (bfamcv02)

(12) BAL [127] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b1) deontic_obligation O conceptualizador obriga a algueacutem se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada razatildeo

(13) CAR [220] ltaiacutegt tem que olhar os vizinhos =COM=$ (bpubcv02)

(b2) deontic_permission O conceptualizador permite algueacutem ou se permite realizar uma

atividade ou permite que algo aconteccedila

(14) BAL [134] ltcecirc podegt deixar o cabo bater no chatildeo =COM=$ (bfamdl02)

(b3) deontic_prohibition O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo de fazer algo ou

proiacutebe que algo aconteccedila

(15) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ porsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

(b4) deontic_necessity O conceptualizador expressa suas necessidades ou a necessidade de

uma outra pessoa ou grupo

(16) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

(c) Dinacircmicos o tipo dinacircmico apesar de ser menos central nos trabalhos sobre modalidade

(HUDDLESTON PULLUM 2002 KIEFER 1994 SALKIE 2009) se relaciona agrave capacidade

habilidade e voliccedilatildeointenccedilatildeo de um conceptualizador como mostram as ocorrecircncias em (17)

(18) e (19)

(17) BRU [383] ltcecirc conseguiu sergt pior =COM=$ (bfamcv04)

(18) JOR [51] eacute a mesma coisa que vocecirc comprar hoje um celular com tanta

tecnologia =CMB= e vocecirc nũ consegue usaacute-lo porque vocecirc nũ aprende a usar

=SCA= aqueles manuais tatildeo extenso pra poder =SCA= ter =SCA= o =EMP=

o ampus [1]=SCA= uso =i-COB= neacute =PHA= da proacutepria tecnologia =COM=$

(bfammn06)

(19) GIL [78] cecircs querem olhar com a gente =COB= cecircs querem sugerir um lugar

=COB= ltqualquergt coisa desse tipo =COM=$

(c1) dynamic_ability O conceptualizador expressa a sua proacutepria habilidadecapacidade ou a

habilidadecapacidade de uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

(20) CEL [85] elsquo nũ ltconsegue fazer isso nunca taacute meio de hhhgt [3]=SCA= lttaacute de

ladinhogt =COM=$ (bfamcv03)

(21) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

(c2) dynamic_volition O conceptualizador expressa as suas vontades desejos esperanccedilas e

intenccedilotildees

(22) REN [550] espero que eu natildeo tinha [1]=SCA= tenha perdido =COM=$

(bfamdl01)

Na Tabela 1 abaixo apresento em resumo os valores modais os subvalores a eles

associados e a definiccedilatildeo de cada um

Valores Subvalores Definiccedilatildeo

Epistecircmico

conhecimento

O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade)

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre

algo

crenccedila O conceptualizador expressa a sua crenccedila ou sua

opiniatildeo sobre algo

possibilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

probabilidade

necessidade O conceptualizador apresenta o que enuncia como uma

necessidade

verificaccedilatildeo O conceptualizador expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador se vecirc obrigado ou obriga a si

mesmo a realizar uma atividade por uma determinada

razatildeo

permissatildeo O conceptualizador permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de

uma outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 1 ndash Valores e subvalores modais e suas definiccedilotildees

3 O PROJETO MASS (MODAL ANNOTATION IN SPONTANEOUS SPEECH)

Este projeto de esquema de anotaccedilatildeo de modalidade em dados orais do portuguecircs

brasileiro segue diretamente o esquema proposto para o portuguecircs europeu (HENDRICKX et

al 2012a 2012b MENDES et al 2013) e igualmente inspira-se em outros esquemas de

anotaccedilatildeo previamente explorados para a liacutengua inglesa (BAKER et al 2010 SAURIacute et al

2006 2009 RUBINSTEIN et al 2013) o japonecircs (MATSUYOSHI et al 2010) e o chinecircs

(CUI CHI 2013)

Este esquema se baseia nos pressupostos da Teoria da Liacutengua em Ato e tem como

unidade de referecircncia de anaacutelise portanto o enunciado e as unidades informacionais (cf

CRESTI 2000) Desta forma difere-se de outros projetos uma vez que natildeo centra a sua

anaacutelise na diamesia escrita e portanto natildeo fornece uma anotaccedilatildeo no domiacutenio da sentenccedila

Nas subseccedilotildees seguintes apresento o software livre MMAX2131

(MUumlLLER

STRUBE 2006) sigo com a escolha dos valores modais e os elementos a serem anotados

(trigger source of the event source of the modality target) e a marcaccedilatildeo da polaridade

aplicada ao elemento trigger

31 O software de anotaccedilatildeo MMAX2

O MMAX2 (MUumlLLER STRUBE 2006) eacute um software livre para anotaccedilatildeo linguiacutestica

de corpora em muacuteltiplos niacuteveis Esta eacute uma ferramenta flexiacutevel para criar navegar por e

visualizar as anotaccedilotildees linguiacutesticas MMAX oferece uma interface visual para anotar

sentenccedilas pela marcaccedilatildeo sequecircncias textuais e criaccedilatildeo de links entre os elementos marcados

O MMAX estaacute escrito em Java (por razotildees de independecircncia de plataforma) e as anotaccedilotildees

satildeo armazenadas em XML

32 TRIGGERS SOURCES E TARGETS ELEMENTOS A SEREM ANOTADOS

321 TRIGGERS

Os triggers satildeo as ―palavras ou sequecircncia de palavras que expressam modalidade

(BAKER et al 2010) Considero como triggers os verbos auxiliares e semi-auxiliares

131

httpmmax2sourceforgenet

modais os verbos epistecircmicos ou de atitude proposicional os adveacuterbios modais as

expressotildees adjetivas as expressotildees lexicais que carregam modalidade

Os iacutendices modais considerados satildeo

(a) verbos auxiliares e semi-auxiliares ―poder ―dever ―ter que ―parecer

―precisar ―dar ―conseguir ―aguentar ―querer ―valer ―adiantar

(b) verbos de crenccedila ―achar ―acreditar ―crer ―imaginar ―julgar ―pensar

(c) verbos de conhecimento e compreensatildeo ―saber ―ver ―perceber

(d) adveacuterbios e as locuccedilotildees adverbiais ―certamente ―com certeza ―exatamente

―justamente ―logicamente ―mesmo ―na verdade ―oacutebvio ―potencialmente

―realmente ―sem chance ―sem duacutevida ―sinceramente ―talvez ―agraves vezes

―claro

(e) adjetivos e locuccedilotildees adjetivas ―capaz ―eacute capaz ―eacute claro ―eacute loacutegico ―eacute

verdade ―eacute verdadeira ―foi verdade ―loacutegico ―mais certo eacute que taacute

―verdade

(f) as expressotildees com valor modal ―era pra ―pode saber ―seraacute ―seraacute que ―tem

certeza ―tem chance ―tem condiccedilatildeo ―tem condiccedilotildees ―tem jeito ―tenho

certeza ―tinha condiccedilotildees ―tinha jeito

A Se o trigger eacute

A1 um verbo auxiliar ou semi-auxiliar modal anota-se o verbo modalizador como trigger

(23) FLA [104] lthhh natildeo =INP= e a gente tem quegt pesar a bolsa de novo

=COM=$ (bpubcv01)

trigger tem que

(24) CAR [38] e =DCT= falei com Deus tambeacutem que eu nũ queria buscar

=COM_r (bfammn05)

trigger queria

Se o verbo modalizador estaacute em uma construccedilatildeo com os verbos auxiliares ser estar ou

terhaver anota-se apenas o modal

(25) [99] jaacute sofri o suficiente =COB_r= agora eu tocirc querendo relaxar =COM_r=$

trigger querendo

(26) [271] eu tocirc achando que vai ltchovergt =COM=$

trigger achando

A2 um adveacuterbio anota-se o adveacuterbio ou locuccedilatildeo adverbial como trigger

(27) LEO [247] lttalvez o Racinggt =COM=$ (bfamcv01)

trigger talvez

(28) [44] que agraves vezes a gente sente uma dor numa hora =COM=$ (bfamdl02)

trigger agraves vezes

A3 um adjetivo ou uma construccedilatildeo adjetival anota-se o adjetivo ou toda a expressatildeo

adjetival inclusive o auxiliar ―ser uma vez que eacute parte do predicado nominal Apenas os

adjetivos com valor modal satildeo considerados neste esquema de anotaccedilatildeo uma vez que natildeo

consideramos como modais os ―avaliativos

(29) PAU [146] capaz =COM=$ (bpubldl01)

trigger capaz

(30) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$

(bfamcv02)

trigger agraves vezes

A4 uma expressatildeo modal anota-se toda a expressatildeo

(31) [64] esquenta =SCA= comida =CMB= ltyyyy =CMB= tem a possibilidade de

umgt monte de produto =COM= olsquo =CNT=$ (bfamdl01)

trigger tem a possibilidade

(32) LUZ [1] porque =DCT= eu soacute soube que eu nũ [6]=EMP= eu tive certeza

absoluta que eu nũ era daqui quando eu saiacute =COM=$ (bfamdl03)

trigger tive certeza absoluta

B O trigger natildeo inclui as partiacuteculas negativas132

A negaccedilatildeo eacute um fenocircmeno que interage

diretamente com a modalidade

(33) [16] nũ sei se eu jogo aiacute na trecircs =COB= nũ posso =COM=$ (bfamcv03)

trigger sei

C As preposiccedilotildees e conectivos natildeo satildeo incluiacutedos no trigger A uacutenica exceccedilatildeo eacute o verbo

semimodal ter que

(34) [108] e eu sei que ea devia =TOP= porque =SCA= amphe =TMT= foi [1]=EMP=

foi ampq [1]=SCA= nas veacutespera dlsquo eu vim embora =COM=$

trigger sei

(35) BAL [38] taacute vendo =CNT= a setinha tem que taacute no cento-e-dez =COM

(bfamdl02)

trigger tem que

(36) [80] e =DCT= teve que amputar as duas perna aqui =COB= hoje anda numa

cadeira de roda =COB= entatildeo a gente levava ela pra avoacute =COM=$

(bfammn05)

trigger teve que

D Se no trigger vier intercalada qualquer partiacutecula natildeo se considera esta palavra como parte

do trigger

132

No PB existem trecircs possibilidades de realizaccedilatildeo da negaccedilatildeo negaccedilatildeo simples preposta negaccedilatildeo simples

posposta e dupla negaccedilatildeo

(37) [81] porque eu nunca confundo letras com ltinformaacuteticagt =COB= nũ tem nem

como =COM=$ (bfamdl02)

trigger tem como133

E Quando uma unidade informacional ou um enunciado conteacutem mais de um trigger anota-se

cada um dos triggers separadamente

(38) [169] vatildeogt vatildeo =CNT= lteu acho que tem que ser essesgt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

target tem que ser esses

trigger tem que

target ser esses

(39) [220] e nũ pode falar e nũ pode ltapontar o bagulhogt =COM=$ (bfamcv04)

trigger poder

target falar

trigger pode

target apontar o bagulho

F Quando um trigger estaacute em unidade de escansatildeo (SCA) anota-se a unidade da qual ela

herda as propriedades134

(40) [33] entatildeo assim =INT= espero que =SCA= isso nũ seja =SCA= coisa pros

times que jogam com a gente deixar de jogar com a gente =COM= $

(bfamcv01)

trigger espero

IU COM

133

Utilizo o sinal ― para marcar sequecircncias natildeo-contiacutenuas 134

A unidade de escansatildeo constitui partes tonais diferentes de uma mesma unidade informacional Ela introduz a

unidade informacional que escande (escansatildeo agrave esquerda) de maneira que a parte final da UI escandida

especifica a funccedilatildeo informacional do todo

(41) EVN [134] acho ltque a gentegt tem =SCA= que olhar direito =COM=$

(bfamcv02)

trigger tem que

IU COM

G Se um trigger estiver expresso em uma unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) ou no

Apecircndice de Toacutepico (APT) seja como uma repeticcedilatildeo de um iacutendice expresso no Comentaacuterio

ou Toacutepico ou como informaccedilatildeo atrasada quer dizer quando se adiciona informaccedilatildeo para

facilitar a compreensatildeo do enunciado pelo endereccedilado anota-se a unidade de Comentaacuterio ou

Toacutepico do qual eacute dependente

(42) [4] ele nũ eacute muito parente chegado natildeo =COB= mas ampt [1]=SCA= deve ser

=SCA= primo [1]=EMP= primo quarto =COM= por aiacute =PAR= deve ser

=APC=$ (bfammn01)

trigger deve

IU COM (APC como ―eco)

(43) [157] distancia =COM= que es queria ltcolocargt =APC=$ (bpubcv02)

trigger queria

IU COM (APC como ―informaccedilatildeo atrasada)

Como o trigger eacute o componente central na expressatildeo modal atribui-se as

especificaccedilotildees do tipo de modalidade a ele Especifica-se para cada trigger as seguintes

caracteriacutesticas

(a) valor modal (modal valuelsquo)

(e) polaridade (polarity‟)

(f) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(g) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

A polaridade (polarity‟) eacute o componente usado para marcar se haacute uma negaccedilatildeo

escopando o valor modal Os valores atribuiacutedos a este traccedilo satildeo ―positivo e ―negativo O

iacutendice de polaridade (―polarity_cue) eacute um campo ―freetext em que estaacute identificado a

palavra ou palavras que expressam a polaridade que afeta o trigger

Uma unidade informacional pode coincidir com um enunciado ou apenas ser uma

parte dele Cada unidade cumpre uma funccedilatildeo textual ou dialoacutegica As unidades

informacionais textuais que podem conter um trigger satildeo o Comentaacuterio (COM) Comentaacuterio

Muacuteltiplo (CMM) Comentaacuterio Ligado (COB) o Toacutepico (TOP) o Parenteacutetico (PAR) e o

Introdutor Locutivo (INT)135

Como os textos do minicorpus alimentados no MMAX2 natildeo

contecircm a anotaccedilatildeo da estrutura informacional para a anotaccedilatildeo deste traccedilo eacute necessaacuteria a

utilizaccedilatildeo da plataforma DB-IPIC (Database of Information Pattern of Italian C-ORAL-

ROM)136

plataforma de busca disponiacutevel gratuitamente

322 SOURCES

Uma sourcelsquo eacute definida em sentido amplo como ―um agente ou uma organizaccedilatildeo

que toma uma atitude em relaccedilatildeo a um evento em uma sentenccedila137

(MATSUYOSHI et al

2010 p 1459)

De acordo com Matsuyoshi et al (2010 p 1459) a source eacute um importante traccedilo da

modalidade estendida porque ―[esta] informaccedilatildeo ajuda o leitora julgar a credibilidade dos

conteuacutedos expressos em uma determinada sentenccedila138

3221 SOURCE OF THE EVENT MENTION

A source of the event mention eacute o produtor do evento O produtor eacute normalmente o

falante que enuncia um determinado conteuacutedo locutoacuterio

A A pessoa que produz o evento modal pode ser identificada no texto como a palavra em

caixa alta no iniacutecio de cada enunciado

(44) CAR [98] lteugt consigo =COM= neacute =PHA=$ (bfamcv03)

135

Excepcionalmente a unidade de Apecircndice de Comentaacuterio (APC) pode conter um iacutendice modal Esta unidade

integra o texto do Comentaacuterio e conclui o enunciado Eacute dependente da unidade informacional de Comentaacuterio

Para a anotaccedilatildeo das ocorrecircncias do trigger nesta unidade ver regra ―G desta seccedilatildeo 136

Disponiacutevel em httplablitaditunifiitappdbipicindexphp Uacuteltimo acesso 01 dez 2013 137

No original ―an agent or an organization that takes an attitude toward an event mention in a sentence

(MATSUYOSHI et al 2010 p 1459) 138

Traduccedilatildeo para ―[this] information helps a reader judge credibility of contents conveyed from a given

sentence (MATSUYOSHI et al 2010 p 1459)

trigger consigo

modal value dynamic_ability

polarity pos

IU COM

source of the event mention CAR

(45) JAN [291] na verdade eu queria levar as duas =COM= neacute =PHA=$

(bpubdl02)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention JAN

(46) EMM [79] esperamos ltque essegt novo programa ltquegt vai vim =TOP=

ele =TOP=$ (bpucv01)

trigger esperamos

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU TOP

source of the event mention EMM

3522 SOURCE OF THE MODALITY

A source of the modality eacute o agente experenciador ou cognoscente que veicula a

modalidade As sources correspondentes a cada um dos valores modais satildeo assim descritas

Valores Subvalores Source

Epistecircmico

conhecimento O conceptualizador (o falante ou uma outra entidade) que

expressa o grau de conhecimento ou compreensatildeo sobre algo

crenccedila O conceptualizador que expressa a sua crenccedila ou sua opiniatildeo

sobre algo

possibilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

possibilidade

probabilidade O conceptualizador que apresenta o que enuncia como uma

probabilidade baseado em alguma evidecircncia

necessidade O conceptualizador que apresenta o material enunciado como

uma necessidade baseado em conhecimento anterior

verificaccedilatildeo O conceptualizador que expressa incerteza em relaccedilatildeo a um

estado-de-coisas evento ou atividade em foco

Deocircntico

obrigaccedilatildeo

O conceptualizador que obriga algueacutem se vecirc obrigado ou

obriga a si mesmo a realizar uma atividade por uma

determinada razatildeo

permissatildeo O conceptualizador que permite algueacutem ou a si mesmo a

fazer algo ou permite que algo aconteccedila

proibiccedilatildeo O conceptualizador que proiacutebe algueacutem ou a si mesmo a fazer

algo ou proiacutebe que algo aconteccedila

necessidade O conceptualizador que expressa suas necessidades ou a

necessidade de uma outra pessoa ou grupo

Dinacircmico

habilidade

O conceptualizador que expressa a sua proacutepria

habilidadecapacidade ou a habilidadecapacidade de uma

outra pessoa para realizar ou alcanccedilar algo

voliccedilatildeo O conceptualizador que expressa as suas vontades

necessidades desejos esperanccedilas e intenccedilotildees

Tabela 2 ndash Sources correspondentes a cada valor e subvalor modais

As regras para a source of the modality satildeo as seguintes

A A source of the modality e a source of the event mention satildeo normalmente coincidentes

(47) LUI [53] eu quero fazer o proacuteximo campeonato no Arnaldinum =CMM= e

foda-se ltpro seu Joaquimgt =CMM=$ (bfamcv01)

trigger quero

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU CMM

source of the event mention LUI

source of the modality eu

(48) GIL [74] que eu acho que deu muito pau =COM= nessa taccedila =APC=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality eu

(49) GIL [94] a gente podia fazer a taccedila aqui =COB= todo mundo vai adorar

=COB= e tal =COM=$ (bfamcv01)

trigger podia

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COB

source of the event mention GIL

source of the modality A gente

B Casos difiacuteceis

B1 Se a source of the modality natildeo estaacute expliacutecita anota-se

(a) o falante se coincidir com ele ou com o grupo em que estaacute inserido

(50) TIQ [227] deve ser da =SCA= ltda irmatildegt Geni =COM= ltneacutegt =PHA=$

(bpubcv02)

trigger deve

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

source of the event mention TIQ

source of the modality TIQ

(51) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

2 Quando a source of the modality eacute um pronome ele eacute anotado

(52) CES [307] ele lttem setenta-e-seisgt metros quadrado me parece =COM=$

trigger parece

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention CES

source of the modality me

3 Quando a source de uma deontic_permission eacute externa ao participante ela natildeo eacute anotada

(53) BRU [147] esse aqui natildeo =CMM= porque esse aqui eacute quando for desenhar

=CMM=$ [148] aiacute =DCT= o [1]=EMP= no jogo do desenho =TOP= por

exemplo =INT= um =TOP= cecirc nũ pode tirar o [1]=SCA= o [1]=EMP= ltogt

[1]=EMP= o laacutepis do papel =CMM= lto outro tem que desenhar com a matildeogt

esquerda =CMM=$

HEL [149] ltnatildeo =CMM= noacutes nũgt vatildeo fazer o desenho =CMM=$

LUC [150] lteu posso desenhar ao inveacutes de fazer miacutemicagt =COM=$

(bfamcv04)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention LUC

source of the modality -

(54) BRU [88] lthhh aiacute =DCT= passa um tiquim =CMM= fala de novo =CMM=

neacutegt =PHA=$

[]

HEL [96] pois eacute =COM=$ [97] o que que ltpodegt ltque que nũ podegt

=COM=$

(bfamcv04)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

source of the event mention HEL

source of the modality -

4 Se eacute uma pergunta retoacuterica anota-se o cognoscente Se natildeo estaacute expliacutecito anota-se o verbo

(55) REG [134] e ocecirc acha que eu nũ te conheccedilo =COM_r=$ (bfammn04)

trigger acha

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

source of the event mention REG

source of the modality ocecirc

(56) GIL [64] sabe que que eu penso =COM= velho =ALL=$ (bfamcv01)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

source of the event mention GIL

source of the modality sabe

323 TARGETS

O target em textos falados eacute a expressatildeo afetada pelo iacutendice modal expresso pelo

trigger dentro de uma unidade informacional Portanto diferente de outros esquemas de

anotaccedilatildeo que anotam o evento no escopo do item modal natildeo eacute necessaacuterio um predicado

completo como eacute usualmente tomado em textos escritos (uma claacuteusula subordinada ou um

evento com todos os seus complementos e adjuntos) Na fala como argumenta Cresti (no

prelo) ―um grande nuacutemero de chunks falados de fato natildeo podem ser definidos como

claacuteusulas mas como fragmentos interjeiccedilotildees adveacuterbios sintagmas no entanto funcionam

perfeitamente do ponto de vista comunicativo139

Assim o target eacute anotado maximamente admitindo-se descontinuidade dentro do

domiacutenio da unidade informacional que conteacutem o iacutendice modal

A Se o target eacute

A1 um sintagma anota-se todo o sintagma

(57) REN [136] sabatildeo em poacute nũ precisa natildeo =COM= neacute =PHA=$ (bfamdl01)

trigger precisa

modal value deontic_necessity

polarity neg

IU COM

target sabatildeo em poacute

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

139

No original ―a large number of spoken chunks indeed cannot be defined as clauses but are rather fragments

interjections adverbs phrases while nevertheless functioning properly from a communicative point of view

(CRESTI no prelo)

(58) REN [463] precisando xxx =COM=$ (bfamdl01)

trigger precisando

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target xxx

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(59) DFL [86] natildeo =INP_r= nũ acredito nisso natildeo =COM_r=$ (bfammn02)

trigger acredito

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target nisso

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality DFL

A2 uma claacuteusula anota-se a claacuteusula excluiacutedo o complementizador que a introduz

(60) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =COB= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =COB= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$ (bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

(61) LUI [7] com certeza es nũ vatildeo participar =COM= uaigt =PHA=$

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ vatildeo participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

(62) JAE [84] mas eacute loacutegico que ea vai pocircr ocecircs =COM= uai =PHA=$ (bfamcv02)

trigger eacute loacutegico

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target ea vai pocircr ocecircs

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAE

source of the modality JAE

B Quando o target tem polaridade negativa incluir a partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(63) CAR [200] ltacho que nũgt deu muito certo pra ele natildeo =COM= Toninho

=ALL=$ (bfamcv03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target nũ deu muito certo pra ele

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

B1 No caso de dupla negaccedilatildeo natildeo incluir a segunda partiacutecula de negaccedilatildeo no target

(64) LUZ [210] ltNossagt =EXP= esse negoacutecio de terra nũ daacute natildeo =COM=$

(bfamdl03)

trigger daacute

modal value epistemic_possibility

polarity neg

IU COM

target esse negoacutecio de terra

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

C Quando haacute um caso de retracting140

no target anotar apenas a uacuteltima parte em que estaacute

completa a enunciaccedilatildeo

(65) GIL [170] lteu ampa [2]=EMP= eu acho que eacutegt esse [2]=SCA= eacute esse aqui orsquo

=COM=$ (bfamcv01)

140

Como para a utilizaccedilatildeo do MMAX2 foi necessaacuteria a limpeza dos retractings os seus vestiacutegios satildeo

reconhecidos pela repeticcedilatildeo de chunks eou mudanccedila de planejamento

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eacute esse aqui orsquo

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention GIL

source of the modality GIL

D Se o target estaacute em uma unidade de escansatildeo (SCA) anotaacute-lo como uma uacutenica unidade

informacional

(66) RUT [208] cecirc pensa que ele =SCA= participa da [1]=SCA= ampd [1]=EMP=

desses presente =COM=$ (bfamcv02)

trigger pensa

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target eleparticipadesses presente

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention RUT

source of the modality CE

E Se o trigger estaacute em unidade de Parenteacutetico (PAR) e a expressatildeo em seu escopo estaacute em

uma unidade informacional diferente natildeo se anota o target

(67) LUZ [52] satildeo duas vagas =COM= eu acho =PAR=$ (bfamdl03)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(68) FLA [296] ltoito =CMM= neacute =CMM= na verdadegt =PAR=$ (bfamdl01)

trigger na verdade

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target -

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention FLA

source of the modality FLA

F Target-dependent

O atributo target-dependent foi criado para os casos em que o target natildeo estaacute expliacutecito

em um determinado enunciado mas eacute recuperaacutevel na cadeia referencial do texto

Segundo Cresti (no prelo p 12) ―[c]ada chunck linguiacutestico concebido para

desempenhar uma determinada funccedilatildeo textual (UT) dentro de um padratildeo informacional (PI)

corresponde a uma cena (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) de um ponto de vista

semacircntico Como jaacute dito de um ponto de vista sintaacutetico uma UT pode ateacute mesmo

corresponder a uma coleccedilatildeo de fragmentos mas a fim de permitir o desenvolvimento de uma

funccedilatildeo textual as expressotildees participantes devem estar reunidas na mesma cena141

141

No original ―Each linguistic chunk conceived to perform a certain textual function (TU) within an

information pattern (IP) corresponds to a scene (Barwise amp Perry 1981 Fauconnier 1984) from a semantic point

of view As we have already said from a syntactic point of view a TU can even correspond to a collection of

fragments but in order to allow the development of a textual function the participating expressions must be

gathered within the same scene (CRESTI no prelo p 12)

(69) LUZ [6] passei a vida toda num lugar errado =COM=$ [7] que que eacute isso

=COM=$ [8] passei a vida toda fora dlsquo aacutegua hhh =COM=$ [9] que loucura

=COM=$ [10] aiacute que ocecirc sabe =COM= neacute =PHA=$ [11] porque quando cecirc

chega num lugar que cecirc se sente em casa =TOP= cecirc sabe imediatamente

=COM=$ [12] eacute um +=EMP=$

LAU [13] ham ham =COM=$

LUZ [14] amphe =TMT= o corpo sabe =CMM= tudo sabe =CMM=$ [15] o

seu humor =CMB= a sua +=EMP=$ [16] tudo =COM=$

(bfamdl03)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target quando cecirc chega num lugar que cecirc se sente em casa

polarity_tgt pos

IU_tgt TOP

source of the event mention LUZ

source of the modality LUZ

(70) GIL [2] ltocirc =CNT= masgt =DCT= voltando agrave questatildeo =TOP= falando em

[2]=EMP= e tambeacutem falando em povo mascarado =TOP= esse povo do

Galaacuteticos eacute muito palha =COB= eu acho que es nũ deviam mais participar

=COM= e lttalgt =UNC=$

[]

LUI [5] lteu acho natildeogt =COM=$

LEO [6] ltcom certezagt =COM=$

(bfamcv01)

trigger acho

modal value epistemic_belief

polarity neg

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LUI

source of the modality LUI

trigger com certeza

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target es nũ deviam mais participar

polarity_tgt neg

IU_tgt COM

source of the event mention LEO

source of the modality LEO

Apesar de em termos da anotaccedilatildeo em seu conjunto esta ser uma informaccedilatildeo

redundante a decisatildeo se justifica para fins de recuperaccedilatildeo das informaccedilotildees referenciais mais

facilmente Destaco que esta natildeo eacute uma tentativa para a anotaccedilatildeo de anaacuteforas ou

correferecircncias para o qual um projeto especiacutefico deve ser empreendido

G Casos difiacuteceis

G1 No caso de usos formulaicos em que a expressatildeo do target envolve aspectos natildeo-verbais

(como gestos expressotildees faciais etc) que poderiam ser recuperados apenas se disponiacuteveis

arquivos de imagem o target eacute inespeciacutefico e portanto natildeo eacute anotado

(71) CEL [138] ltentatildeo taacute =CMM= amarelogt =CMM=$

HEL [139] eacute =COM=$ [140] taacute =COM=$

BRU [141] amarelo =COM=$

LUC [142] beleza ltxxxgt =UNC=$

BRU [143] lttaacutegt =COM=$

LUC [144] ltpossogt =COM=$

BRU [145] ltegt +=EMP=$

LUC [146] e tem um dadinho diferente ali =COM=$

(bfamcv01)

trigger posso

modal value deontic_permission

polarity pos

IU COM

target inespeciacutefico

polarity_tgt -

IU_tgt -

source of the event mention LUC

source of the modality inespeciacutefica

Nesta ocorrecircncia em (71) os participantes da interaccedilatildeo estatildeo discutindo esclarecendo

e conversando sobre as regras de um jogo Apoacutes as explicaccedilotildees iniciais um dos participantes

LUClsquo pede a permissatildeo a uma pessoa para realizar alguma accedilatildeo Natildeo podemos precisar a

expressatildeo no escopo do trigger modal nem o conceptualizador da permissatildeo que poderia ser

qualquer um dos envolvidos

G2 Se o trigger estaacute em uma unidade informacional e o target afetado por ele estaacute em uma

unidade subsequente considera-se o todo como uma ―construccedilatildeo padronizada ou seja

―construccedilotildees realizadas atraveacutes de UTs [unidades textuais] com cada qual desenvolvendo

uma funccedilatildeo informacional diferente (CRESTI no prelo p 18)142

e com modalidades

tambeacutem distintas e anota-se a expressatildeo afetada contida na unidade informacional

subsequente e seu valor

(72) LUC [1] pois eacute entatildeo =INT= cecirc sabe que =INT= laacute na Letras =TOP= se eu

conto essa histoacuteria =SCA= que eu sou parente do Drummond =COM= neacute

=PHA=$ (bfammn02)

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COM

target se eu conto essa histoacuteria que eu sou parente do Drummond

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

142

Traduccedilatildeo para ―constructions performed across TUs with each developing a different information function

(CRESTI no prelo p 18)

source of the event mention LUC

source of the modality cecirc

(73) FLA [239] soacute que a gente natildeo sabe =COB_s= se elas tecircm agaivecirc =CMB143

=

se elas lttecircm hepatitegt =CMB= se elas +=EMP=$

trigger sabe

modal value epistemic_knowledge

polarity pos

IU COB

target se elas tecircm agaivecircse elas tecircm hepatite

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention FLA

source of the modality a gente

Para o target atribuem-se as seguintes caracteriacutesticas

(d) polaridade (polarity‟)

(e) iacutendice de modalidade (polarity_cuelsquo)

(f) unidade informacional em que estaacute contido (―IU)

Identificaccedilatildeo de targets de acordo com o valor modal

(a) epistemic_knowledge

(74) OSV [67] lta de telefonegt nũ veio ainda =CMM= que eu nũ sei quando que

vai =CMM=$ (bpubcv02)

trigger sei

modal value epistemic_knowledge

polarity neg

IU CMM

target quando que vai

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

143

As unidades de CMB natildeo descritas na literatura correspondem em sua grande maioria agrave unidade de COB e

foram portanto substituiacutedas por ela na anotaccedilatildeo

source of the event mention OSV

source of the modality eu

(b) epistemic_belief

(75) REN [321] o Neve eacute caro ltmesmogt =COM=$ (bfamdl01)

trigger mesmo

modal value epistemic_belief

polarity pos

IU COM

target o Neve eacute caro

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(c) epistemic_possibility

(76) CEL [229] cecirc pode ter feito ltLIBRASgt =COM=$ (bfamcv04)

trigger pode

modal value epistemic_possibility

polarity pos

IU COM

target ter feito LIBRAS

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CEL

source of the modality cecirc

(d) epistemic_probability

(77) MAI [13] o diacircmetro dea deve dar uns [1]=SCA= uns quarenta a

cinquumlenta centiacutemetro de [1]=SCA= de amps [2]=EMP= de grossura

=COM= o diacircmetro dela =APC=$ (bfammn01)

trigger sabe

modal value epistemic_probability

polarity pos

IU COM

target o diacircmetro deadar uns quarenta a cinquumlenta centiacutemetro de

grossura

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention MAI

source of the modality MAI

(e) epistemic_necessity

(78) REN [231] pois eacute =CMM= mas teria que ser uns dez reais =CMM= neacute

=PHA=$ (bfamdl01)

trigger teria que

modal value epistemic_necessity

polarity pos

IU CMM

target ser uns dez reais

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention REN

source of the modality REN

(f) epistemic_verification

(79) ANE [393] olha aiacute se nũ tem ningueacutem =CMM= Ceacutesar =CMM=$

(bfamdl05)

trigger olha

modal value epistemic_verification

polarity pos

IU CMM

target nũ tem ningueacutem

polarity_tgt neg

IU_tgt CMM

source of the event mention ANE

source of the modality ANE

(g) deontic_obligation

(80) JAN [239] depois eu tem que comprar uma =COM=$ (bpubdl02)

trigger tem que

modal value deontic_obligation

polarity pos

IU COM

target comprar uma

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JAN

source of the modality eu

(h) deontic_permission

(81) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(i) deontic_prohibition

(82) CES [82] nũ pode subir =CMM= eacute contramatildeo =CMM=$ (bfamdl05)

trigger pode

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU CMM

target subir

polarity_tgt pos

IU_tgt CMM

source of the event mention CES

source of the modality CES

(j) deontic_necessity

(83) JOR [50] noacutes precisamo criar esse haacutebito =COM=$ (bfammn06)

trigger precisamo

modal value deontic_necessity

polarity pos

IU COM

target criar esse haacutebito

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention JOR

source of the modality noacutes

(h) dynamic_ability

(84) CAR [150] porque ele ama =COB= ele chama ela de =SCA= fuminho

=COB= neacute =COB= meu pretinho =COB= papai nũ guumlenta carregar mais

=COB= mas =DCT= nũ guumlenta pegar mais =COB= porque taacute muito grande

=COB= mas eacute [1]=SCA= eacute essa eacute a histoacuteria =SCA= e eacute a vida =SCA= que

noacutes temos aqui em casa =COM=$ (bfammn05)

trigger guumlenta

modal value dynamic_ability

polarity neg

IU COB

target carregar mais

polarity_tgt pos

IU_tgt COB

source of the event mention CAR

source of the modality papai

(i) dynamic_volition

(85) DFL [63] mas ele quis que todos os filhos estudassem =COM=$

(bfammn02)

trigger quis

modal value dynamic_volition

polarity pos

IU COM

target todos os filhos estudassem

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention DFL

source of the modality ele

33 POLARIDADE

O traccedilo da polaridade como explicitado em seccedilotildees anteriores eacute marcado para o

trigger e o target Possui dois valores ―positivo e ―negativo e o valor default eacute o positivo

A polaridade global do enunciado natildeo eacute computada Se um trigger e um target ambos

possuam polaridade negativa a polaridade dos componentes seraacute marcada separadamente

Nos casos de valores deocircnticos de permissatildeo e proibiccedilatildeo marcados por uma partiacutecula

negativa o que os diferencia eacute a forccedila da permissatildeo ([-forte] ou [+forte] respectivamente)

Para a deontic_permission marca-se a polaridade como ―negativa jaacute para a

deontic_prohibition marca-se a polaridade como ―positiva

(86) PAU [247] ele natildeo pode chegar no final da semana e =SCA= desmanchar

tudo o que foi feito durante a semana =COM= neacute =PHA=$ (bpubdl01)

trigger pode

modal value deontic_permission

polarity neg

IU COM

target elechegar no final da semana e desmanchar tudo o que foi feito

durante a semana

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention PAU

source of the modality PAU

(87) CAR [250] hhh ltpalavratildeogt nũ polsquo falar natildeo =COM=$ (bfamcv03)

trigger polsquo

modal value deontic_prohibition

polarity pos

IU COM

target palavratildeo falar

polarity_tgt pos

IU_tgt COM

source of the event mention CAR

source of the modality CAR

A decisatildeo de se individualizar o valor de proibiccedilatildeo deve-se agrave tentativa de se cobrir

exemplos do tipo ―Natildeo eacute proibido X ou ―Vocecirc natildeo estaacute proibido de X Mais que uma

permissatildeo estes tipos de ocorrecircncia se configurariam como uma proibiccedilatildeo deocircntica de

polaridade negativa

37 REFEREcircNCIAS

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