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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS PATRÍCIA MARIA DA SILVA ROGGI MENDES CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE UM PROTOCOLO PARA CESSAÇÃO DE TABAGISMO E CONTROLE DA FISSURA BELO HORIZONTE - MG 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS

PATRÍCIA MARIA DA SILVA ROGGI MENDES

CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE UM PROTOCOLO PARA CESSAÇÃO DE

TABAGISMO E CONTROLE DA FISSURA

BELO HORIZONTE - MG

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS

PATRÍCIA MARIA DA SILVA ROGGI MENDES

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE UM PROGRAMA PARA CESSAÇÃO DE

TABAGISMO E CONTROLE DA FISSURA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Neurociências como

requisito parcial à obtenção do grau de

Mestre em Neurociências.

Área de concentração: Neurociências

Clínica

Orientador: Prof. Dr. Frederico Duarte

Garcia

Co-orientador: Prof. Dr. Fernando Silva

Neves

BELO HORIZONTE - MG

2014

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AGRADECIMENTOS

À Deus, Verdade Absoluta e Eterna. A Tradição Católica, pelos tesouros que luta em

conservar. Aos exemplos de Santo Antônio de Pádua, Santo Alberto Magno e Santo

Tomás de Aquino pelo amor e contemplação da verdade natural (ciência) e

sobrenatural.

Aos meus pais por me incutirem a hombridade e o amor pelos estudos, cada um a sua

maneira.

Ao Augusto pelo amor, companheirismo e presença em todos os momentos. Sei que

posso contar sempre com você.

À Maria Thereza e ao Antônio, simplesmente por existirem e resignificarem tudo que

existe.

As amigas, Virginia Nunes, Vanessa Almeida e Maíra Nogueira pelas longas conversas,

escutas, incentivos, conselhos e consolos.

Aos professores Fernando, Frederico e Leandro pela orientação, supervisão, incentivo e

trabalhos em conjunto.

A professora Luciana Diniz pela serenidade e disponiblidade.

A equipe de preceptoria do ambulatório de dependência química, Dr. Valdir Campos,

Dr. André Leite, Dr. Gustavo Coutinho, Dr. Silas e Dr. Antônio Alvin.

A Lívia Ferreira, por me incentivar e preparar para a realização dessa pesquisa, ao me

aceitar como iniciação científica.

À equipe de residentes pelo suporte e discussões de casos.

Aos pacientes que confiaram em nosso trabalho e aceitaram participara desta pesquisa.

Às empresas que nos abriram suas portas, Contax na pessoa da Eliane e equipe

segurança do trabalho; Defensoria Pública nas pessoas da Maryvana e Carla,

Departamento de Recursos Humanos; A FUNDEP nas pessoas da Laissa e Joyce.

As estagiárias Raika, Isadora, Larissa, Driele e Melissa.

Ao programa de pós-graduação em Neurociências, ao prof. Dr. Fabrício Moreira, ao

Colegiado e todos os colegas.

Aos professores Valdir, Cristiane e Izabela que aceitaram compor a banca examinadora

deste trabalho.

Ao Núcleo de Bioestatística na pessoa do Fernando, pela supervisão estatística.

A Capes pelo financiamento.

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"Ultima hominis felicitas est in contemplatione veritatis" (Santo Tomás de Aquino,

“Summa contra Gentiles”, III, 37)

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RESUMO

Introdução: O tabagismo ou dependência de nicotina é uma doença crônica, cujo curso

geralmente é marcado por tentativas de abandono, curtos períodos de abstinência e

retorno ao padrão habitual de consumo de cigarro. A fissura é considerada uma das

principais causas de recaídas durante o processo de abstinência do tabaco e desse modo

sua importância se destaca no tratamento do tabagismo. Objetivo: O presente trabalho

teve como objetivo desenvolver e investigar o impacto de uma intervenção para redução

e controle de fissura sobre a abstinência de tabaco. Método: Para tanto, foi realizado

inicialmente uma revisão bibliográfica, a partir da qual identificou-se a terapia cognitiva

e comportamental como principais estratégias para o tratamento da dependência

química, sendo a psicoeducação, o redirecionamento da atenção e a imagery, o

relaxamento, a exposição com prevenção de respostas e prevenção a recaída, as técnicas

mais utilizadas. Em seguida foi conduzido o primeiro estudo, no qual comparou-se um

grupo de pacientes que pararam e não pararam de fumar tratados com o protocolo

padrão. Seu objetivo foi a identificação um perfil neuropsicológico que se relacionou ao

sucesso no tratamento de cessação do tabagismo, bem como a identificação de variáveis

preditores desse desfecho. No segundo estudo, foi realizado um ensaio clínico

randomizado, comparando dois grupos de pacientes tabagistas que foram submetidos a

uma intervenção focada na fissura (grupo tratamento) ou um protocolo placebo (grupo

controle), ambos associados ao tratamento padrão. Neste trabalho, o objetivo foi

desenvolver uma intervenção que reduzisse os sintomas de fissura relacionados a

abstinência do tabaco. Resultados: No estudo 1, os pacientes que pararam de fumar

pertenciam a um nível socioeconômico superior, tinham um grau de dependência de

nicotina maior, bem como relataram níveis de fissura mais graves. Pacientes que não

conseguiram abandonar o tabaco relataram maiores índices de impulsividade atencional,

flexibilidade cognitiva (respostas e erros perseverativos no teste de cartas Wisconsin) e

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mais sintomas de ansiedade. O grupo que desistiu do tratamento era mais jovem, tinha

escolaridade menor e maiores índices de impulsividade do tipo atencional e por não

planejamento. No estudo 2, foi possível observar diferenças significativas quanto a

média de impulsividade motora e do subteste e Busca por sensações (Impulsive

Behavior Scale - UPPS) entre os pacientes na condição controle, além de resultados

menores quanto a aprendizagem ao longo de todas as tentativas (LOT) e velocidade de

esquecimento e maiores índices de interferência retroativa (ITR) (Teste de

aprendizagem auditivo-verbal de Rey). Também foram observadas diferenças quanto a

impulsividade por não planejamento (Bloco 5 e tendência geral do IGT). Conclusão: A

impulsividade demonstrou ser um fator que dificultou o engajamento no tratamento para

abandono do tabaco, além de um aspecto que comprometeu a participação e adesão ao

tratamento. O tratamento com foco na fissura promoveu maior redução dos sintomas de

fissura do que um tratamento controle baseado apenas em intervenções para prevenção a

recaída, embora de tal resultado não tenha alcançado a significância estatística. A

medicação parece ter funcionado como uma varável confundidora dos resultados, fato

que tornam necessárias novas investigações de modo que o tratamento com foco na

fissura seja aplicado em grupos de pacientes formados de acordo com o nível de

dependência de nicotina.

Palavras chave: abandono do tabagismo, terapia cognitivo comportamental, tabaco,

dependência química, fissura

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ABSTRACT

Introduction: The smoking or nicotine dependence is a chronic disease whose course is

usually marked by attempts to quit, short periods of abstinence and return to the usual

pattern of cigarette consumption. The craving is considered a major cause of relapse

during abstinence from tobacco and thus its importance is highlighted in smoking

cessation. Objective: This study aimed to develop and investigate the impact of an

intervention to reduce control craving on abstinence from tobacco. Method: We

initially performed a literature review, from which we identified the Cognitive

Behavioral Therapy, and psychoeducation, redirection of attention, imagery, relaxation,

exposure to response prevention and relapse prevention, the most used techniques for

treatment of tobacco dependence. The first study, we compared a group of patients who

stopped and not stopped smoking treated with the standard protocol. Their goal was to

identify a neuropsychological profile that related to success in the treatment of smoking

cessation and predictors of this outcome variables. In the second study, a randomized

clinical trial was conducted comparing two groups of smokers who treated with a

focused intervention in craving (treatment group) or a placebo protocol (control group),

both associated with standard treatment. In this work, the goal was to develop an

intervention that would reduce the symptoms of craving related to tobacco abstinence.

Results: In the first study, patients who stopped smoking belonged to a higher

socioeconomic status, had a degree of dependence on higher nicotine levels and

reported more severe craving. Patients who failed to quitting smoking reported higher

levels of attentional impulsivity, cognitive flexibility (perseverative responses and

errors in the letters Wisconsin) and more symptoms of test anxiety. The dropout group

was younger, had less education and higher levels of attentional impulsivity type and

not planning impulsivity type. In the second study, we observed significant differences

in the average of the subtests and motor impulsivity and sensation seeking (Impulsive

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Behavior Scale - UPPS) among patients in the control condition, in addition to lower

outcomes as learning over trials (LOT) and post-distraction recall trial and higher rates

of retroactive interference (ITR) (Test of auditory-verbal Learning Rey). Conclusion:

The impulsivity shown to be a factor hampering the engagement in treatment for

smoking cessation, and an aspect that is committed to participation and adherence to

treatment. The treatment focused on craving promoted greater reduction in symptoms of

craving than a control treatment based only on interventions to prevent relapse, although

this result did not reach statistical significance. The farmacoterapie appears to have

worked as one variable confounding the results, a fact that makes necessary further

investigations so that the treatment is applied in groups of patients formed according to

the level of nicotine dependence.

Key-words: smoking cessation, cognitive behavior therapy, tobacco, addiction, craving.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Modelo Cognitivo do Abuso de Substâncias.................................................. 39

Figura 2. Delineamento do estudo para comparação de dois protocolos para a cessação

do tabagismo....................................................................................................................50

Figura 3. Fluxograma de seleção dos artigos..................................................................60

Figura 4. Fluxograma de seleção dos participantes........................................................84

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Modelos etiológicos da fissura.......................................................................26

Tabela 2. Resumo das sessões do tratamento padrão.....................................................54

Tabela 3. Dados sócio demográficos dos pacientes que deram início ao tratamento e que

não deram início.............................................................................................................69

Tabela 4. Comparação entre as linhas de base das variáveis clínicas dos pacientes que

iniciaram e não iniciaram o tratamento...........................................................................70

Tabela 5. Comparação entre as linhas de base das variáveis neuropsicológicas do grupo

de pacientes que iniciaram e não iniciaram o tratamento................................................71

Tabela 6. Comparação entre as linhas de base das variáveis neuropsicológicas do grupo

de pacientes que iniciaram e não iniciaram o tratamento II............................................72

Tabela 7. Dados sócio demográficos dos pacientes que pararam e não pararam de

fumar..............................................................................................................................73

Tabela 8. Comparação entre as linhas de base das variáveis clínicas do grupo de

pacientes que pararam e não pararam de fumar.........................................................74

Tabela 9. Comparação das variáveis clínica de tabagistas que pararam e não pararam de

fumar...................................................................................................................75

Tabela 10. Comparação entre as linhas de base das variáveis neuropsicológicas do

grupo de pacientes que pararam e não pararam de fumar

................................................................................................................................76

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Tabela 11. Comparação da adesão ao tratamento e utilização da medicação entre os

pacientes que pararam e não pararam de fumar.........................................................78

Tabela 12.Variáveis na equação do modelo 1 de regressão logística..............................79

Tabela 13.Variáveis na equação do modelo 2 de regressão logística..............................80

Tabela 14. Resumo das sessões protocolo fissura...........................................................82

Tabela 15. Dados sócio demográficos dos pacientes condição controle e tratamento....84

Tabela 16. Variáveis clínicas dos pacientes condição controle e tratamento..................85

Tabela 17. Variáveis clínicas dos pacientes condição controle e tratamento..................86

Tabela 18. Variáveis neuropsicológicas dos pacientes da condição controle e tratamento

................................................................................................................................88

Tabela 19. Variáveis relacionadas ao tratamento dos pacientes na condição controle e

tratamento........................................................................................................................89

Tabela 20. Média dos sintomas de fissura e diferença entre médias relacionadas ao

tempo inicial e final dos pacientes condição controle e tratamento................................90

Tabela 21. Comparações entre as escalas no tempo 1 e 2...............................................91

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BIS-11 - Escala Barrat de Impulsividade

CET - Terapia de Exposição a Pistas condicionadas

CID - Classificação Internacional das Doenças

DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

EPR - Exposição com Prevenção à Resposta

HC/UFMG – Hospital das Clínicas da UFMG

IGT – Iowa Gambling Test

IMAO - Inibidores da Enzima Monoamina Oxidase

INCA - Instituto Nacional do Câncer e do Ministério da Saúde

ITR - Índices de Interferência Retroativa

LOT - Aprendizagem ao longo de todas as tentativas

nAchR - Receptores Colinérgicos Nicotínicos

nAChRs - Receptores Acetilcolinérgicos

NIDA - National Institute on Drug Abuse

OMS - Organização Mundial da Saúde

Projeto MATCH – Matching alcoholism treatments to client heterogeneity

QSU - Questionnaire of Smoking Urges Brief

RAVLT - Teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey

SUS - Sistema Único de Saúde

TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental

TDAH - Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

UPPS - Impulsive Behavior Scale

VTA - Área Tegmentar Ventral

WSCT - Wisconsin Card Sorting Test

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO AO TABAGISMO ................................................................................... 15

1.2. A NICOTINA E SUA AÇÃO...........................................................................................16

1.3. ASPECTOS DIFICULTADORES DO ABANDONO DO TABABO.............................17

1.4. FISSURA ..........................................................................................................................19

1.4.1.ORIGEM DO TERMO E STATUS ATUAL.................................................................20

1.4.2. ETIOLOGIA DA FISSURA......................................................................................... 24

1.5.TRATAMENTO DA FISSURA NO TABAGISMO.......................................................32

1.5.1.TRATAMETO FARMACOLÓGICO.............................................................................33

1.5.2. TRATAMENTO PSICOTERAPÊUTICO.....................................................................34

1.5.3.PRINCIPAIS INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS......................................................34

1.5.3.1. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL.....................................................36

1.5.3.2. TREINAMENTO OU MODIFICAÇÃO DE VIÉS ATENCIONAL.........................39

1.5.3.3.ENTREVISTA MOTIVACIONAL.............................................................................39

1.5.3.4.EXPOSIÇÃO COM PREVENÇÃO À RESPOSTA....................................................40

1.5.3.5. TERAPIA DE EXPOSIÇÃO A PISTAS CONDICIONADAS..................................41

1.5.3.6.MINDFULNESS..........................................................................................................41

2.OBJETIVO DA PESQUISA ................................................................................................ 43

2.1.OBJETIVO GERAL...........................................................................................................43

2.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 43

3.HIPÓTESE ........................................................................................................................... 43

4.JUSTIFICATIVA..................................................................................................................43

5.MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 43

5.1.PARTICIPANTES ............................................................................................................ 43

5.2.INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................................ 44

5.2.1AVALIAÇÃO CLÍNICA ................................................................................................ 44

5.2.2.AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA ....................................................................... 46

5.3.DELINEAMENTO DO ESTUDO .................................................................................... 49

5.4.PROCEDIMENTOS ......................................................................................................... 50

5.4.1.AVALIAÇÃO CLÍNICA E NEUROPSICOLÓGICA .................................................. 48

5.4.2.TRATAMENTO PADRÃO ........................................................................................... 52

5.2.3.TRATAMENTO FISSURA ........................................................................................... 54

6.ASPECTOS ÉTICOS ........................................................................................................... 55

7.ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................................. 55

8.RESULTADOS .................................................................................................................... 58

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8.1.REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 56

8.2.ESTUDO 1 – PROTOCOLO PADRÃO ........................................................................... 68

8.2.1PARTICIPANTES .......................................................................................................... 68

8.2.2.VARIÁVEIS CLÍNICAS DO GRUPO DE PACIENTES QUE INICIARAM E NÃO

INICIARAM O TRATAMENTO ........................................................................................... 68

8.2.3.PERFIL CLÍNICO E NEUROPSICOLÓGICO DOS PACIENTES QUE PARARAM E

NÃO PARARAM DE FUMAR .............................................................................................. 73

8.2.4. ANÁLISE DE PREDITORES RELACIONADOS AO SUCESSO DO

TRATAMENTO.......................................................................................................................78

8.3. DESENVOLVIMENTO DO PROTOCOLO DE TRATAMENTO DA FISSURA

................................................................................................................................................80

8.4. ESTUDO 2 - PROTOCOLO FISSURA............................................................................83

8.4.1. PARTICIPANTES ........................................................................................................ 83

8.4.2.CARACTERÍSTICAS SÓCIO DEMOGRÁFICAS DOS GRUPOS CONTROLE E

TRATAMENTO ..................................................................................................................... 84

8.4.3.PERFIL CLÍNICO E NEUROPSICOLÓGICO DOS GRUPOS CONTROLE E

TRATAMENTO ..................................................................................................................... 85

9.DISCUSSÂO ........................................................................................................................ 99

10.CONCLUSÃO ................................................................................................................... 93

11.PERSPECTIVAS FUTURAS .......................................................................................... 100

12.REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 102

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1.Introdução ao Tabagismo

A dependência de nicotina ou tabagismo é um transtorno psiquiátrico

caracterizado por fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos, induzidos pela

exposição continua à nicotina. Entre os sintomas da dependência a nicotina, há um forte

desejo ou urgência em consumir essa substância, dificuldade de controlar seu consumo

e utilização persistente apesar da consciência de seus malefícios (APA, 1994).

A presença de sintomas abstinência, tais como fissura, humor disfórico ou

deprimido, insônia, irritação e tensão, surgem quando ocorre a interrupção abrupta do

uso ou redução da quantidade de nicotina consumida pelo paciente e constitui outro

sinal importante caracterizador da dependência.

A síndrome de dependência, também é marcada por uma necessidade de

quantidades crescentes de nicotina para obtenção dos efeitos desejados pelo usuário, ou

acentuada redução destes efeitos com o uso continuado da mesma quantidade de

substância, a chamada tolerância. O uso continuado do tabaco leva à dependência e

causa consequências psíquicas, somáticas e sociais.

São um bilhão de fumantes no mundo concentrados especialmente em países de

baixa e média renda. Apesar de ter sofrido uma significativa redução ao longo dos anos

(27% a 43% entre os anos 1989 e 2003), a prevalência do tabagismo no Brasil tem

mantido próxima de 15%, sendo mais frequente entre os homens (Vigitel, 2012). Nesse

cenário, destaca-se ainda um crescimento da prevalência do uso por mulheres e jovens

com idade entre 18 e 29 anos (Vigitel, 2012).

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência de

nicotina é a principal causa de morte passível de prevenção no mundo (World Health

Organization, 2004). É estimado que 6 milhões de mortes no mundo devem-se ao

tabagismo ativo e passivo (OMS,2010). No Brasil, estima-se que mais de 200 mil

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mortes anuais estejam relacionadas ao uso do tabaco (INCA, 2008). O custo social é

extremamente elevado visto que 8% dos gastos com internação e quimioterapia no

Sistema Único de Saúde (SUS) são atribuídos a doenças relacionadas ao consumo do

tabaco (INCA, 2008).

Entre aqueles que desejam abandonar o cigarro, apenas 6% dos tabagistas

conseguem parar de fumar espontaneamente e entre estes, 80% experimentam pelo

menos um evento de recaída (e.g. novo uso de tabaco após a cessação) ao longo do

primeiro ano de abstenção (Centers for Disease Control and Prevention, 1993).

1.2. A nicotina e sua ação

Entre os principais componentes do cigarro, foram identificadas 4.720

substâncias químicas diferentes. Dentre elas aquela que gera maior interesse na

dependência química é a nicotina. Essa substância é rapidamente absorvida pelos

alvéolos pulmonares e entra na corrente sanguínea pela qual é transportada até a barreira

hemato-encefálica. Por ser uma molécula pequena, ela atravessa essa barreira e vai agir

no sistema nervoso central. A nicotina tem uma meia vida de 2 horas (Benowitz, 1988)

e, em um dependente, após 6 a 8 horas da interrupção do uso, podem surgir os primeiros

sintomas de abstinência. Além da ação no sistema nervoso central, a nicotina estimula

as glândulas suprarrenais, que estimuladas liberam adrenalina. A adrenalina liberada

estimula o sistema nervoso central, o que resulta num aumento da pressão arterial, da

respiração e da frequência cardíaca. No sistema nervoso central envolve ligações com

os receptores colinérgicos nicotínicos (nAchR), aumentando a liberação de diversos

neurotransmissores (Wise, 2006), notadamente a dopamina nos neurônios do chamado

sistema mesolímbico-mesocortical. Esse sistema é conhecido por ser a base

neurofisiológica da dependência química da nicotina e das demais drogas de abuso. Este

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sistema inicia-se na área tegmentar ventral (VTA), a partir da qual neurônios se

projetam para o sistema límbico (núcleo accumbens, tubérculo olfativo, núcleo central

da amígdala, septo lateral e núcleo intersticial da estria terminal) e regiões do córtex

pré-frontal (substância negra, área tegmental ventral até o córtex motor, promotores e

suplementares e córtices parietal, temporal e cingulado posterior) (Flórez J. y Pazos A.

2003). Este circuito também é chamado de sistema de recompensa, por estarem

envolvidos aos comportamentos de satisfação fisiológica (alimentação e sexo), as quais

são seguidas de sensações prazerosas. Nesse sentido, o uso continuado das substâncias

psicotrópicas promove a substituição da gratificação fisiológica pelo aprendizado de

processos reforçadores das drogas.

1.3.Aspectos dificultadores do abandono do tabaco

Diversos fatores podem dificultar a obtenção da abstinência de nicotina bem

como sua manutenção ao longo do tempo. Dentre estes fatores, os mais importantes

associam-se aos efeitos fisiológicos da falta da nicotina no organismo: a síndrome de

abstinência e a fissura (Gilbert, Sharpe, Ramanaiah, Detwiler, & Anderson, 2000;

Shapiro, Jamner, Davydov, & Porsha, 2002; Shiffman, Paty, Gwalney, & Dang, 2004).

Outros fatores estão relacionados a características individuais pré-morbidas, como perfil

sociodemográfico, características de personalidade, comorbidade com transtornos

psiquiátricos, co-dependência com álcool e outras drogas (Cosci et. al, 2009).

Sabe-se que a síndrome de abstinência de nicotina constitui um dos mais

importantes entre os fatores associados à recaída (i.e. retomada do uso contínuo do

tabaco após a cessação) (Hughes, Goldstein, Hurt, & Shiffman, 1999; Osler, Prescott,

Godtfredsen, Hein, & Schnohr, 1999). Os sintomas de abstinência surgem em razão de

relações fisiológicas, principalmente cerebrais, em resposta à repentina ausência de

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nicotina. Entre os sintomas mais comuns estão a fatiga, os distúrbios do sono, o

aumento da tosse, a constipação, os quais constituem um conjunto de sintomas físicos.

Geralmente tais sintomas duram poucos dias, mas podem se prolongar ao longo do

primeiro mês de abstinência. Alguns desses sintomas podem ser acompanhados por

manifestações psicológicas adicionais que refletem o impacto emocional da retirada de

um reforçador consistente, como irritabilidade, tristeza, raiva, afeto negativo e fissura

(Perkins, 2008).

Déficits neuropsicológicos, como desempenho rebaixado em tarefas que exigem

atenção (Harakas & Foulds, 2002; Myers, Taylor, Moolchan, & Heishman, 2008),

vigilância (Parrott, Garnham, Wesnes, & Pin-Cock, 1996) e memória de trabalho

(Myers et al., 2008; Xu et al., 2006) surgem durante a abstinência de nicotina e parecem

estar relacionados um aumento da frequência das recaídas. Alguns estudos têm

investigado o impacto destas características neuropsicológicas na cessação e

manutenção da abstinência após intervenções para cessação do tabagismo. Pacientes

com altos níveis de impulsividade ou com déficits de controle inibitório, relacionados à

desregulação de regiões fronto-estriatais, possuem maiores dificuldades em manter a

abstinência no período pós-intervenção (Kahler, 2009; Doran et. al, 2007; Vanderveen

et col., 2008).

Tais dificuldades para manter a abstinência também têm sido observadas em

pessoas com prejuízos nas funções do lobo frontal (Adinoff, 2004; Rose et al, 2007).

Estas funções são chamadas de funções executivas. Elas permitem ao indivíduo

planejar, direcionar, executar, avaliar e monitorar seu comportamento para atingir

objetivos e estão relacionadas aos comportamentos compulsivos de uso de drogas.

Alterações nestas funções aumentam a incapacidade de se tolerar os efeitos negativos

que ocorrem durante a síndrome de abstinência (Koob, 2004). Poucos dados estão

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disponíveis a respeito do impacto desses déficits cognitivos globais em termos de

manutenção da abstinência pós intervenção.

Com relação à personalidade, muitas pesquisas avaliaram a relação entre

determinados traços de personalidade e fatores relacionados a etiologia do tabagismo

(Etter et al., 2003; Heath et al., 1995; Pomerleau et al., 1992). As mais comuns buscam

correlacionar um traço de personalidade ao tabagismo (Pomerleau, Pomerleau,

Flessland, & Basson, 1992; Gurpegui et al., 2007), bem como a investigação das

diferenças entre tabagistas e não-tabagistas (Etter, Pélissolo, Pomerleau, & De Saint-

Hilaire, 2003; Munafò & Black, 2007; Terraciano & Costa, 2004). Poucos estudos têm

investigado o impacto da personalidade sobre a cessação do tabagismo (Cosci et. al.

2009), e a relação entre os diversos aspectos da personalidade enquanto um conjunto

multidimensional e os resultados de tratamentos para o tabagismo (Hooten et al., 2005).

Leventhal et al (2007) e Etter (2010) observaram que escores elevados em relação ao

traço “busca por novidades” está associado à uma maior gravidade dos sintomas de

abstinência de nicotina. Cosci et al. (2009) observaram que altos escores de

neuroticismo e psicoticismo, traços componentes do modelo de personalidade de

Eysenk, influenciaram negativamente os resultados de pacientes que tentaram parar de

fumar usando terapia de reposição de nicotina. No entanto, os estudos são escassos,

sugerindo a necessidade de maiores investigações.

1.4. Fissura

Como dito anteriormente, a fissura (craving) é um dos principais aspectos

dificultadores da interrupção do uso do tabaco, mostrando-se como um dos principais

precursores para recaída após interrupção do uso de nicotina (Koob, 2006). A fissura é

uma das principais características do tabagismo e surge após interrupção abrupta ou

significativa redução do consumo de cigarros. Além da componente somática, a fissura

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apresenta também componentes psicológicos que podem persistir ao longo de toda a

vida do dependente, sendo por isso, um dos fatores que merece atenção específica no

tratamento da dependência de nicotina.

A fissura ainda é um constructo complexo e que tem sido empregado com

diversos significados. O uso mais comum do termo equivale ao “desejo irresistível de

reviver os efeitos de uma substância, bem como a busca de alívio dos sintomas de

abstinência” (Drummond, 2001). Também é utilizado para expressar a ideia de

“pensamento obsessivo, expectativa dos efeitos positivos oferecidos pela droga,

incentivo motivacional e processo cognitivo não automático” (Drummond, 2001).

De acordo com o National Institute on Drug Abuse (NIDA), a fissura pode ser

experimentada de três formas diferentes: somática, cognitiva e afetiva. A fissura pode

ser vivenciada como uma sensação puramente somática manifesta por meio de

alterações físicas como um “nó” no estômago, a lembrança do cheiro ou até mesmo uma

taquicardia. Cognitivamente pode se expressar por pensamentos relacionados à

necessidade da substância ou do relaxamento que supostamente ela oferece. E por fim,

experimentada juntamente com determinados estados afetivos de tédio ou nervosismo

(Kadden, 1992). Tais aspectos foram alvo de diversas discussões ao longo das tentativas

de conceitualização do termo, as quais serão brevemente apresentadas a seguir.

1.4.1.Origem do termo e status atual

Em 1948, Wikler usou o termo craving como uma urgência intensa e angustiante

para consumir opiáceos (Castillo et Bilbao, 2008). Entretanto, o termo craving parece

ter surgido nos anos 50 dentro do contexto dos estudos realizados por E. Morton

Jellinek. Ao observar pacientes dependentes de álcool, o pesquisador identificou que

eles experimentavam um forte desejo em beber (Hall et. cols., 2011). Deste então, a

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definição do construto passou a ser alvo de pesquisas, na medida em que ele é utilizado

dentro do contexto da pesquisa com álcool, era aplicado de modo confuso e impróprio e

tinha conotação de ser um desejo urgente e irresistível (Hall et. cols., 2011).

Durante a reunião de 1954 da OMS formou-se um comitê de peritos em saúde

mental e álcool para discutirem a terminologia da fissura. A partir daí, dois grupos se

formaram, cada qual com suas propostas de definição do termo. A primeira delas

definia a fissura como um desejo urgente e opressor para o alívio de sentimentos

desagradáveis (motivações psicológicas) e sintomas de abstinência e aquisição de fontes

de energia (motivações fisiológicas) (Castillo et Bilbao, 2008). A segunda formulação

diferenciava dois tipos de fissura: um era provocado por alterações fisiológicas,

relacionada a síndrome de abstinência e acometia pessoas que tinham feito uso

persistente de álcool e o outro era psicológico ou simbólico e surgia após o

desaparecimento dos sintomas de abstinência (Castillo et Bilbao, 2008). Com esse dois

entendimentos diferentes, a utilização do termo foi contraindicada e foi proposta a

utilização de duas formulações para substitui-lo: (1) dependência física para se referir

aos sintomas de abstinência e (2) desejo patológico que incluísse os aspectos

“simbólicos” da fissura, os quais aparecem após um período de abstinência. Esse desejo

patológico passou a ser considerado responsável pelo início de ingestão excessiva de

álcool e recaída (Skinner and Aubin, 2010).

Entretanto, Jellinek manteve a utilização do termo craving, definindo-o como

um sintoma físico associado ao modelo médico do alcoolismo, tendo seus aspectos

psicológicos ignorados (Skinner and Aubin, 2010). A fissura foi incluída na década de

60 entre os critérios da Classificação Internacional das Doenças (CID) e passou a ter

relevância para o tratamento da dependência do álcool, sendo considerada como um

sintoma chave para a dependência ao álcool. A noção de fissura utilizada na CID

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23

correspondia a um desejo causado pelas mudanças físicas provocadas pela dependência

(Skinner and Aubin, 2010).

A emergência das abordagens comportamentais influenciou Edward & Gross

(1976) a definirem o termo como um desejo irracional, urgente e imperioso ou

consciência subjetiva de compulsão e que explicava uma reação em cadeia a partir da

quebra de abstinência e recaída (Castillo et Bilbao, 2008). De acordo com esse modelo,

foi reconhecida a importância dos estímulos do ambiente, do estresse e dos estados

afetivos como influência sobre a fissura (Castillo et Bilbao, 2008). Porém tal definição

foi criticada por diversos autores e a falta de consenso desestimulou o uso do termo

(Skinner and Aubin, 2010).

Rankin, Hodgson y Stockwell (1979,1983) aplicaram o termo craving como

desejo ou disposição para beber e o definiram como uma resposta multidimensional,

resultante de correlatos subjetivos, comportamentais, fisiológicos e bioquímicos

(Castillo et Bilbao, 2008).

Apesar deste cenário, Marlatt (1985, 1987) conservava os aspectos psicológicos

em sua definição de fissura: um desejo subjetivo dos efeitos da droga, os quais são

eliciados por estímulos externos e o distinguia da noção de urgência, que se referia a

intenção de consumo da droga que poderia ou não seguir este desejo (Skinner and

Aubin, 2010).

Kozlowski y Wilkinson (1987) definiram o craving como um estado subjetivo

motivado pela expectativa das consequências positivas. Além disso, esses autores

utilizam a expressão urge para se referir ao impulso ou conduta para o consumo da

droga frente a estímulos internos ou externos (Castillo et Bilbao, 2008).

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24

A despeito da reunião convocada pelo NIDA em 1991 para debates em torno do

fenômeno fissura, o termo continuou sem uma definição única. Embora não haja um

consenso sobre o significado do termo, a fissura é considerada como um forte desejo ou

urgência em usar uma substância que pode ser acompanhada de algum desconforto. Um

recente marco importante relacionado a relevância deste sintoma é a sua inclusão como

um dos critérios diagnósticos para os transtornos adictivos e relacionados a substâncias

na quinta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM)

(Baker et al., 2012).

Entretanto, de acordo com alguns autores (Marlatt and Gordon, 1985; Tiffany,

1990) a distinção entre os termos craving e urgência ainda se mantém. O primeiro faria

referência ao forte desejo pela droga, relacionada a um tipo particular de experiência

proporcionada por ela e a pressão interna desconfortável para obter tal sensação (Beck,

1993). Enquanto isso, a urgência seria o ato consumatório de buscar e consumir a

substância, uma continuação instrumental da fissura que leva ao engajamento no

comportamento repetitivo de uso (Beck, 1993).

A distinção dos termos “craving” e “urgência” também expressa outro ponto

sobre o qual não existe consenso. Craving seria aplicado para indicar estados mais

extremos de desejo (West & Schneider, 1987), enquanto urgência para manifestar um

estado mais moderado (Kozlowski &Wilkinson, 1987). A dificuldade relacionada a esta

diferenciação seria determinar quando um estado de urgência levaria ao craving, já que

não existiriam instrumentos de auto-relato que fossem capazes de detectar os limites

entre as duas experiências (Tiffany et al., 1993).

A vantagem desta distinção permitiria identificar um intervalo existente entre o

desejar e o consumir a droga, intervalo esse que viabilizaria o tratamento (Beck, 1993).

Porém a dificuldade em determinar a magnitude do estado de fissura e os seus limites,

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bem como outros aspectos, motiva a utilização dos dois termos indiferentemente para se

referir ao desejo de consumir uma substância psicoativa (Tiffany et al., 1993).

1.4.2.Etiologia da fissura

Alguns autores (Beck e Wright, 1993) apontam quatro subtipos de fissura a

partir de sua etiologia:

Fissura como resposta aos sintomas de abstinência: a fissura seria

motivada pelo desejo em aliviar os sintomas de abstinência e de estados

desconfortáveis. O usuário frequentemente tem uma redução no senso de

gratificação do uso, ao mesmo tempo em que, tem um senso de

desconforto interno provocado pela interrupção do consumo. Nesses

casos, a fissura corresponde a uma "necessidade de se sentir bem

novamente".

Fissura como resposta à ausência de prazer: a fissura envolveria

tentativas do paciente em melhorar seu humor e a droga funcionaria

como uma "auto-medicação" principalmente no que se refere à

pensamentos e sentimentos desagradáveis. Nesses casos o uso atuaria

como reforço positivo para o consumo futuro.

Fissura como resposta a sinais condicionais associados à substância: a

fissura seria induzida por estímulos acompanhados de significado, os

quais despertariam automaticamente um intenso desejo.

Fissura como resposta aos desejos hedonistas: a fissura estaria associada

ao desejo de atingir estados maiores de prazer a partir de experiências

gratificantes, de modo que o uso aumentaria tal satisfação.

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Outras explicações etiológicas resultam em vários modelos teóricos e

consequentemente em outras formas de definição do fenômeno fissura. A partir da

ênfase em aspectos biológicos, psicológicos ou ambientais, esses modelos se baseiam

desde noções de aprendizagem por condicionamento até conceitos das teorias

motivacionais. O resultado (tabela 1) é uma gama de possibilidades de compreensão do

mesmo fenômeno, as quais não são mutuamente exclusivas (Skinner et Aubin, 2010).

Teoria Pressuposto básico Modelo (Autores)

Teorias

Comportamentais

Craving é uma reação

automática e

inconsciente frente a

um estímulo.

Withdrawal Model (Wikler, Ludwig,

Stark, O’Brien, Drummond, Cooper,

Glautier)

Compensatory Response Model

(Siegel)

Opponent-process Model (Solomon,

Corbit)

Incentive Model (Stewart, de Wit,

Eikelboom)

Teorias

Cognitivas

Craving é despertado a

partir do sistema de

processamento das

informações.

Outcome Expectancy Model (Marlatt)

Dual Affect Model (Baker, Morse,

Sherman)

Affective Processing Model of

Negative Reinforcement (Baker, Piper,

McCarthy, Majeskie e Fiore)

Cognitive Processing Model (Tiffany)

Teorias

Psicobiológicas

Craving pode ser

explicado em parte por

fatores biológicos com

ênfase em

componentes

motivacionais

Three Pathway Psychobiological

Model (Verheul, Van Den Brink,

Geerlings)

Incentive-Sensitization Theory

(neuroadaptative model) (Robinson,

Berridge)

Theory of Neural Opponent

Motivation (Koob, Le Moal)

Temporal-difference Reinforcement

Learnig Model (Redish)

Unified Framework for Addiction

(Redish, Jensen, Johnson)

Neuroanatomical model (Anton)

Model of Interoceptive Dysregulation

(Paulus, Tapert, Schulteis)

Teorias

Motivacionais

Craving é um

componente de um

amplo contexto de

tomada de decisão

Motivacional Model of Alcohol Use

(Cox, Klinger)

Multidimensional Ambivalence Model

(Breiner, Lang Stritzke)

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Prime Theory (West)

Tabela 1. Modelos etiológicos da fissura. Adaptado de Skinner et Aubin (2010).

Os modelos baseados nas teorias comportamentais buscam identificar os

processos associativos e de aprendizagem subjacentes ao ato de utilização da droga e

recaída. Os processos de reforço estariam relacionados à conduta operante de busca da

substância e à sua manutenção: ora explicada pela recompensa prazerosa ora pelo alívio

dos sintomas de abstinência. Nesse sentido, a fissura seria induzida pelos estímulos

condicionados à droga (Jiménez et al, 2002).

Dentro dessa perspectiva, identificamos quatro modelos principais. O modelo da

abstinência condicionada (Ludwig, Wikler et Stark, 1978; O’Brien, 1976; Drummond,

Cooper, Glautier, 1990), o modelo da resposta compensatória (Siegel, 1980) e o modelo

do processamento oponente (Solomon and Corbit, 1978) os quais partem do princípio

de que a fissura surge em razão da abstinência, com o objetivo de dar alívio aos seus

sintomas.

Enquanto isso, o quarto modelo, chamado modelo do incentivo (Stewart, De

Wit et Eikelboom, 1984) propõe que a fissura seja despertada em contextos associados à

experiência anterior de uso da droga para obtenção das sensações agradáveis

provocadas pela drogadição (Stewart et al., 1984). Ou seja, as expectativas positivas de

reforço promoveriam a busca pela droga ao contrário dos demais modelos que

consideram que a fissura seja um reflexo do processo de abstinência (Skinner and

Aubin, 2010).

As perspectivas cognitivas consideram que a fissura seja resultante de um

complexo processamento de informações que envolveria aspectos da aprendizagem

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social, memória e tomada de decisão e por isso, superariam um estado motivacional

primitivo (Skinner and Aubin, 2010).

O modelo sobre as expectativas de resultado (Marlatt, 1985) afirma que a fissura

seria desencadeada pelos gatilhos ambientais, os quais gerariam expectativas de

resultados positivos do uso da droga. Tal resposta só surgiria após a exposição a sinais

relacionados à droga. Porém tal desejo seria diferente da “intenção em consumir”, um

estado motivacional chamado de urgência. Por isso, a fissura não implicaria

necessariamente no uso da droga, mas somente quando fosse seguida da urgência.

Outra definição para a fissura é o modelo do duplo afeto (Baker et col, 1986;

Morse, Sherman). Este modelo sugere a existência de 2 sistemas de afeto mutuamente

inibitórios que modulariam a probabilidade de consumo da substância (urge): o sistema

de afeto positivo responsável pelo processamento de informações sobre os efeitos

diretos e apetitivos das drogas e o sistema de afeto negativo que processa informações

relacionadas a estímulos e afetos negativos. A fissura poderia ser produzida a partir da

ativação de memórias e significados armazenados em um dos 2 sistemas, sendo que os

estímulos ambientais desencadeariam essa ativação. Esse modelo também admite que a

presença de fissura não levaria necessariamente ao consumo de droga.

Uma derivação deste é o modelo de processamento afetivo do reforço negativo

(Baker, Piper, McCarthy, Majeskie et Fiore, 2004), o qual enfatiza o afeto negativo

produzido pela abstinência como sendo a principal motivação para o uso de drogas. De

acordo com este modelo, a fissura teria relação direta com este afeto negativo e sua

intensidade, seria diretamente relacionada a capacidade de manejo e evitação do uso.

Tiffany (1990) propõe o modelo de processamento cognitivo em que a fissura é

automaticamente ativada pelos estímulos associados à droga. Quando o usuário é

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exposto a esses estímulos, um esquema mental armazenado na memória é ativado e

desencadearia um forte desejo pela droga e o consumo acaba ocorrendo de modo

automático. A fissura apenas surgiria quando o comportamento automático de uso é

impedido, sendo por isso um processo cognitivo não automático. Nesse sentido, o

modelo admitiria que o uso não aconteceria somente na presença de fissura e manejar a

fissura envolveria um esforço mental “extra” para a manutenção da abstinência, sendo

que na ausência de recursos de enfrentamento diante de situações estressantes seria

provável uma recaída (Tiffany, 1990).

As teorias psicobiológicas também procuram explicar a etiologia da fissura e

possuem como premissa comum o fato da fissura ser diretamente influenciada por

aspectos neuroanatômicos e neurofisiológicos. Cada modelo enfatiza diferentes

elementos, tais como diferenças individuais e motivação para beber.

O modelo psicobiológico das três vias (Verheul, Van Den Brink, Geerlings,

1999) propõe a existência de 3 padrões de fissura relacionados à busca por recompensa,

necessidade de alívio de abstinência e fissura obsessiva, as quais seriam ligadas à

personalidade, à motivação para o consumo e às diferenças individuais nos sistemas de

neurotransmissão. Dentro desse modelo, a fissura seria um forte desejo em usar a droga,

incluindo a intenção de consumo (Skinner et Aubin, 2010).

A teoria do incentivo-sensitivo ou modelo neuroadaptativo (Robinson, Berridge,

1993) parte do principio de que as drogas aumentam a sensibilidade do sistema de

recompensa aos efeitos e estímulos condicionados: os estímulos se tornariam mais

atrativos, fenômeno chamado de saliência do incentivo. A dependência ocorreria em

função da capacidade que as pistas teriam em mobilizar os sistemas neurais

relacionados à motivação. A fissura surgiria em função da desregulação desses sistemas

o que provocaria um desejo de alívio. Além disso, também poderia ser despertada em

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função da reativação de processos neuroquímicos associados com a experiência passada

de uso de drogas (Skinner et Aubin, 2010).

O Temporal-difference reinforcement learnig model (Redish, 2004) pressupõe

que o uso de drogas tem efeitos neurofisiológicos e afeta a elasticidade relacionada aos

custos das escolhas dos sujeitos. Se comparado com recompensas naturais, a

recompensa proporcionada pelas drogas levaria a comportamentos irracionais

independentes dos custos envolvidos nessa escolha (Skinner et Aubin, 2010).

O Unified framework for addiction (Redish, Jensen, Johnson, 2008) assume a

existência de dois sistemas: um de planejamento, mais flexível e baseado nas futuras

possibilidades e suas consequências, e outro sistema de hábitos mais rígido. Dentro

desse modelo, a dependência química seria explicada por 10 vulnerabilidades existentes

no processo de tomada de decisão, sendo a fissura uma delas originada no sistema de

planejamento. A fissura seria avaliada como uma necessidade e os resultados esperados

com o uso das drogas sejam sobrevalorizados e percebidos como modo de satisfação

dessa necessidade percebida (Skinner et Aubin, 2010).

O modelo neuroanatômico proposto por Anton (1999) relaciona e investiga a

relação entre o uso de drogas e os consequentes substratos e reações neuroanatômicas e

neuroquímicas desse comportamento. Este modelo admite que o uso de drogas

aumentaria o nível de dopamina no núcleo acumbens e ativaria a amigdala, o córtex

frontal e os gânglios da base. A fissura seria explicada pela ativação do córtex pré-

frontal dorso lateral, amígdala e gânglios da base. A ativação dessas regiões seriam

provocadas por traços de memória formados a partir da associação entre a síndrome de

abstinência e alívio desse desconforto pelo consumo da droga (Skinner et Aubin, 2010).

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O modelo da desregulação interoceptiva (Paulus, Tapert, Schulteis, 2009)

propõe dois conceitos: interocepção, que diz respeito às sensações e sentimentos

gerados no corpo e inclui a ação de regular os estados internos e a aliestesia que é o

valor hedônico do estímulo relacionado à droga e sua regulação interoceptiva. De

acordo com essa teoria, os dependentes químicos sofrem de alterações interoceptivas

devido a um desequilíbrio provocado por erros de predição, os quais impedem um

controle adequado do comportamento e facilita o uso de drogas (Skinner et Aubin,

2010).

A teoria neural da motivação oponente (Koob, 2010) propõe que a dependência

química se desenvolveria em três fases, nas quais haveria a passagem de um estado de

impulsividade (predisposição para reagir de forma rápida e não planejada frente à

estímulos que oferecem reforço imediato, a despeito das consequências negativas ou de

ganhos maiores à longo prazo) para a compulsividade (tendência em persistir em

comportamentos desvantajosos ou que trazem consequências adversas). Com o

consumo crônico de substâncias psicotrópicas sucede alterações na regulação

homeostática do sistema dopaminérgico de recompensa e em resposta a essas alterações

um novo estado de regulação se desenvolveria, estado chamado alostático. Este estado

corresponderia a um processo de neuroadaptação através da modificação crônica do

nível de homeostase natural do sistema de recompensa, o que deslocaria o significado

motivacional do consumo de drogas do reforço positivo (sensações prazerosas) para

reforço negativo (alívio de estados negativos), além de aumentar a vulnerabilidade para

a recaída (Koob & Le Moal, 2001). A fissura corresponderia a um estado de

antecipação/preocupação envolvendo a ativação do córtex orbital e cingular anterior e o

lobo temporal, incluindo a amígdala (Koob & Le Moal, 2001). Esta etapa envolve o

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processamento de reforço condicionado na amígdala basolateral e o processamento de

informações contextuais pelo hipocampo.

Os modelos motivacionais partem do princípio de que a fissura é apenas um

aspecto de uma complexa situação de tomada de decisão. O modelo motivacional para o

uso de álcool, proposto por Cox e Klinger (1988), assume que o comportamento de

beber é explicado pela motivação em alcançar determinadas metas. Os autores admitem

que o consumo de álcool envolveria uma escolha baseada na maximização das

expectativas de efeitos positivos, diretos ou indiretos, proporcionados pela bebida em

detrimento de uma minimização das consequências de beber. Assim, a fissura seria

seguida de uma tentativa em aumentar o afeto positivo.

O modelo multidimensional da ambivalência (Breiner et al., 1999; Lang Stritzke,

1997) propõe a existência de dois sistemas moduladores da escolha de aproximação ou

esquiva da droga: os fatores históricos e os fatores atuais. A fissura poderia ser

modulada por esses fatores, afetando o processo de tomada de decisão para consumir

droga.

A teoria proposta por West (2006) propõe um sistema complexo de

funcionamento que envolve cinco temas: a estrutura do sistema motivacional, o foco no

momento, plasticidade neural, a importância da identidade e a mente instável. Dentro

dessa teoria, a dependência química promoveria uma desordem nesse sistema e um

impulso para alívio da fissura se tornaria uma prioridade. A fissura teria níveis de

intensidade diferentes, os quais poderiam variar desde o desejo por uma experiência

gratificante até um desejo intenso e irresistível de consumir a droga.

Apesar da variedade de explicações, Sánchez-Hervás et col. (2001) encontraram

elementos comuns entre as diversas definições de fissura: a fissura como parte da

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dependência química, a intensificação do desejo diante de estímulos associados ao

consumo e a importância de ensinar ao paciente estratégias de como identificar e

enfrentar seus desejos e observar como são aliviados a despeito do consumo. Essas

estratégias envolvem técnicas que auxiliem na identificação e controle do desejo, bem

como pela observância de maneiras alternativas de alívio dos sintomas que não seja o

uso da droga.

Nessa parte introdutória, foi desenvolvido um breve levantamento sobre a

dependência de nicotina e os seus processos fisiológicos subjacentes. Além disso, foram

abordadas as dificuldades envolvidas na cessação do uso de nicotina, entre as quais se

destacou a fissura como um fator responsável pela manutenção do consumo de tabaco a

despeito de suas consequências. Desse modo, revisamos os diversos usos do termo

fissura ao longo do desenvolvimento das pesquisas no campo da dependência química,

além de constatar uma variedade de concepções sobre o que seria o fenômeno da

fissura. Tais elementos permitem avançar para tópicos relacionados ao tratamento, os

quais serão apresentados em seguida. Para os objetivos desse trabalho, a fissura será

utilizada de acordo com o emprego mais recente adotado pelos manuais diagnósticos

das doenças mentais, os quais definem a fissura como um forte desejo ou urgência em

usar uma substância psicotrópica. Além disso, iremos adotar como norte teórico a

perspectiva cognitiva que pressupõe a fissura como resultado do modo de

processamento das informações. É importante ressaltar a contribuição das diversas

teorias para o entendimento da complexidade do fenômeno fissura. Nesse sentido,

destacamos que ao longo deste trabalho as compreensões do termo de acordo com as

demais perspectivas podem ser apropriadamente empregadas, na medida em que

compreendemos a complementaridade dessas teorias.

1.5.Tratamento da fissura no tabagismo

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A compreensão da natureza e dos mecanismos associados a dependência de

nicotina são fundamentais para a estruturação de um programa terapêutico e para a

condução de um tratamento eficaz. Ademais, torna-se essencial o entendimento dos

aspectos relacionados a abstinência e dos elementos que levam aos episódios de recaída,

ciclo que costuma se repetir ao longo do histórico pessoal do paciente com dependência

química. Nesse contexto, o tratamento da fissura é um dos aspectos que merece mais

atenção dos profissionais que a tratar estes pacientes.

Atualmente, os programas para utilizam farmacoterapia e psicoterapia para o

tratamento da dependência de nicotina. A farmacoterapia utiliza a prescrição de

tratamentos de substituição nicotínica (e.g. adesivos, gomas de mascar, pastilhas entre

outros) e para redução da fissura à nicotina (e.g. bupropiona e vareniclina). A

psicoterapia para o tratamento do tabagismo baseia-se no uso de diversas abordagens de

psicoterapias e tem como objetivo informar, motivar, abordar aspectos específicos da

dependência e prolongar os períodos de abstinência. Nas pesquisas comparando

psicoterapias, a terapia de tipo cognitivo-comportamental (TCC) tem mostrado

resultados mais eficazes que outras intervenções psicoterapêuticas (Hall et al, 2011)

especialmente quando associada a farmacoterapia (Stead et Lancaster, 2008). A

associação destas duas terapêuticas alcança taxas de abstinência de 25% a 30% durante

o primeiro ano após o tratamento (Lancaster, Stead, Silagy, & Sowden, 2000). Dados

nacionais apontam uma eficácia variando de 65% a 79%, sendo que 62% dos ex-

fumantes se mantêm em abstinência 25 meses após o término do tratamento (Sardinha

et al. 2005; Fernandes, Botega, Boscolo & Sartori, 2009). Os programas mais eficazes

para interrupção do tabaco são aqueles que associam métodos psicológicos e

farmacológicos para a cessação do tabagismo (Reichert, et al. 2008).

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35

A seguir iremos discutir o tratamento farmacológico da fissura. Serão revistos o

uso da bupropiona, da vareniclina e da reposição de nicotina, bem como as principais

intervenções e técnicas psicoterapêuticas.

1.5.1. Tratamento Farmacológico

A bupropiona é um antidepressivo atípico que inibe a receptação da dopamina,

especialmente no núcleo accumbens, bem como inibe a receptação de noradrenalina no

locus cerulus. Sua ação reduz o estado de fissura e os sintomas de abstinência devido a

sua atuação como antagonista nos receptores nicotínicos. Dentre as contra-indicações

para o uso de bupropriona estão uma história pregressa de epilepsia, traumatismo

craniano e transtornos alimentares. Ela também não deve ser associada com inibidores

da monoamina oxidase (IMAO) (Fagerstrom and Jimenez-Ruiz, 2008).

A vareniclina é um agonista parcial da nicotina e sua ação se dá pelo bloqueio

dos efeitos dessa substância nos receptores acetilcolinérgicos (nAChRs) da via

dopaminérgica mesolímbica. Além de reduzir os efeitos da fissura e dos demais

sintomas de abstinência enquanto agonista, a vareniclina também minimiza os efeitos

reforçadores da nicotina, consequência de sua ação enquanto antagonista dos mesmos

receptores (Etter, 2006).

Alguns estudos têm mostrado que a bupropiona e a vareniclina possuem efeitos

superiores aos do placebo em relação aos índices de abstinência e esta última possui

uma eficácia superior a bupropiona (Cahill et col., 2013). A Terapia de reposição de

nicotina também parece ter uma ação redutora da fissura pela nicotina (Shiffman et al.,

2000; Shiffman and Ferguson, 2008). Ela se baseia na utilização de adesivos, gomas e

pastilhas, que liberam uma dose contínua ou intermitente de nicotina, respectivamente, e

reduzem os sintomas da abstinência do tabaco. Dados mostram que seu uso aumentam a

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chance de parar de fumar em cerca de 2 vezes (Cahill et al., 2013) e parte do insucesso

se deve ao uso incorreto desta farmacoterapia.

1.5.2. Tratamento psicoterapêutico

Como já dito anteriormente, a fissura é um dos principais motivos para a recaída

e sua abordagem psicológica tem se centrado em reduzir a frequência e a intensidade da

fissura. Através do manejo dos estímulos condicionados ao hábito de fumar, a

identificação e análise de situações nas quais existem a possibilidade de romper com a

abstinência e na realização de um plano estratégico para enfrentar tal situação sem o uso

do tabaco e evitar uma recaída (BECK, 1993). Desse modo, a psicoterapia do

tratamento para a dependência da nicotina envolve o aprendizado por meio das

experiências de recidivas, nas quais as recaídas podem representar oportunidades de

compreensão das dificuldades relacionadas à dependência, além de permitir ao paciente

o desenvolvimento de estratégias que evitem novas recaídas. Tratamentos cujas

estratégias de manejo são baseados na TCC e se mostraram mais eficazes nos ensaios

clínicos em reduzir a taxa de recaída entre ex-fumantes que outras terapias (Song et al.,

2010).

1.5.3. Principais Intervenções Psicológicas

A técnica de prevenção a recaída é uma abordagem cujo objetivo é a

identificação e análise de situações nas quais há um alto risco para a recaída. Igualmente

envolve o aprendizado por meio das experiências recidivas, nas quais as recaídas são

utilizadas para análise e compreensão das dificuldades relacionadas à dependência, além

de permitir ao paciente o desenvolvimento de estratégias que evitem novas recaídas

(Heather et Stockwell, 2004). A técnica de prevenção à recaída tem sido aplicada no

tratamento das diversas drogas e reduzido significativamente a frequência e intensidade

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dos episódios de recaída, especialmente nos casos de dependência de álcool (Irvin et al.,

1999).

A psicoeducação é uma intervenção pela qual são fornecidas informações sobre

a doença e o tratamento de modo que o paciente, através do empoderamento, seja capaz

de identificar e modificar cognições e comportamentos problemáticos e com isso,

através da compreensão de seu problema, aumente a adesão ao tratamento (Knapp et

Beck, 2008). São abordadas a natureza da dependência química, os efeitos do uso de

substâncias psicoativas, os sintomas de abstinência e como eles podem ser superados

através da adoção de algumas estratégias, por exemplo. A psicoeducação tem papel

importante na construção de novas crenças a cerca do uso e da abstinência do cigarro

(Lee et col. 2010; Yasin et col, 2010).

Técnicas para o manejo de estresse têm sido aplicadas em diversas populações

com o objetivo de minimizar o impacto de estímulos estressores, bem como modificar

as respostas de enfrentamento ao estresse. Os programas de treinamento para manejo do

estresse podem incluir técnicas de relaxamento, biofeedback, reestruturação cognitiva,

resolução de problemas e manejo do tempo (Soo & Lam, 2009). Parte do tratamento

para manejo do estresse inclui o manejo do humor. Este se refere ao treinamento de

habilidades para administrar estados de humor e sentimentos negativos e substituir as

respostas destrutivas e de evitação por respostas mais positivas e adaptativas

(Carpentier, 2008). Tais estratégias visando o manejo do estresse podem ser

coadjuvantes em tratamentos psicossociais e farmacológicos (Back, Gentilin, Brady,

2007).

As habilidades de relaxamento também podem ser muito úteis em diversas

circunstâncias como estresse, tensão, ansiedade, raiva, as quais costumeiramente estão

associadas a um aumento no risco de recaídas. As técnicas mais comuns envolvem a

respiração diafragmática, a utilização de imagens calmantes e o tensionamento muscular

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alternado pelo relaxamento (Kadden, 1992). O Treinamento em relaxamento é uma

técnica comportamental bastante aplicada no tratamento do tabagismo. Estas técnicas

permitem que o paciente tenha conhecimento de um método mais seguro para se

acalmar diante de situações que podem ser costumeiramente fontes de recaídas, além de

aprender como lidar com a fissura que pode sentir nos primeiros dias sem fumar (Beck,

1993).

O auto monitoramento tem como base o planejamento e controle das atividades

diárias de modo que o paciente não se confronte com situações de alto risco, ou seja,

que não seja surpreendido por situações inesperadas que levam ao consumo de

substâncias psicoativas. Através dessa técnica o tabagista pode identificar e modificar

comportamentos e hábitos favoráveis ao uso de cigarros, além de adotar

comportamentos alternativos (Beck, 1993).

A técnica de resolução de problemas envolve o treinamento que visa encontrar

alternativas para lidar com situações problemáticas que podem levar a recaídas.

Geralmente esta técnica segue uma sequência de passos que incluem o reconhecimento

e a identificação dos elementos componentes de um problema, a produção de soluções

potenciais, juntamente com a avaliação das vantagens e desvantagens das alternativas

geradas e a seleção das respostas mais promissoras (D'Zurilla & Nezu, 1999). Durante a

execução do plano construído ocorre o acompanhamento da sua adequação, bem como

o seu refinamento se necessário.

1.5.3.1. Terapia Cognitivo-Comportamental

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterápica

cujo o objetivo é modificar o processamento cognitivo das informações através de

intervenções cognitivas e comportamentais. Seus princípios teóricos são o aprendizado

por condicionamento clássico (processo pelo qual os organismos aprendem relações

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preditivas entre os estímulos do ambiente), aprendizado por condicionamento operante

(processo pelo qual os comportamentos são adquiridos, mantidos ou extintos em função

das consequências que se seguem), aprendizagem social (o aprendizado ocorre pela

observação de outras pessoas e não apenas através da experiência direta) e

aprendizagem cognitiva (a aprendizagem depende de um sistema de interpretação do

mundo que se constrói ao longo das experiências) (Beck, 1993).

A TCC utiliza o Modelo Cognitivo, o qual expressa o modo de processamento

das informações, a partir da qual os sujeitos dão sentido às suas experiências e buscam

organizá-la para si mesmos de maneira coerente. O pressuposto central é que as

cognições não se baseiam nos fatos em si, mas na interpretação deles. Elas são

construídas a partir do modo como os sujeitos direcionam a sua atenção e assimilam

parte das informações disponíveis no meio (Robbins e Ehrman, 2004). Tais cognições

determinam o modo de sentir e agir de um indivíduo, além de despertar respostas

fisiológicas.

Porém, o significado que uma pessoa atribui a uma situação pode ser marcado

por erros de compreensão da causa, do efeito ou de suas implicações, na medida em que

informações incoerentes com as crenças já existentes são ignoradas ou interpretadas

erroneamente. Nesse sentido, o processo natural de atribuir significado às experiências

cotidianas pode causar mal estar, visto que essas cognições não correspondem ao que de

fato acontece, ou seja, elas são distorcidas. Essas distorções, somadas ou não à

resistência em modificações e adaptação podem predispor as pessoas a vulnerabilidades

específicas e contribuir para o desenvolvimento de diversos problemas psicológicos

(Beck, 2011).

Pessoas dependentes de nicotina apresentam geralmente quatro tipos de crenças

diferentes (Beck, 1993):

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• crenças antecipatórias refletem a expectativa de recompensa ou prazer obtidas a

partir do uso do cigarro. Ex: Fumar muito saboroso.

• crenças de alívio expressam o desejo da remoção de algum desconforto ou

sofrimento, como sintomas de abstinência. Ex: Para evitar discussões, vou

fumar um cigarro.

• crenças permissivas, ou facilitadoras as quais refletem avaliações sobre o uso de

cigarro como aceitável e justificável. Ex: hoje eu tive um dia estressante, mereço

um cigarro!

• crenças de controle que abarcam todas as crenças que diminuem a possibilidade

do uso de tais substâncias. Ex: Só por hoje eu não vou fumar.

O uso inicial do tabaco é favorecido por uma série de fatores, tais como a busca

de novas sensações, busca por aceitação e sensação de pertencimento a um grupo,

experimentação de sensações de poder, inibição de determinados estados emocionais,

auto medicação (Salkovskis, 2013). Essas motivações estão relacionadas ao modo de

funcionamento cognitivo básico do sujeito, ou seja, pensamentos automáticos, crenças

centrais e intermediárias, as quais são ativadas pela aproximação do tabaco e a decisão

pelo uso. Com o uso continuado, muitas crenças se desenvolvem a cerca desse evento e

acabam sendo reforçadas pelos efeitos benéficos iniciais que a nicotina proporciona –

relaxamento, sensação de bem estar, aceitação num grupo. Com a manutenção do uso há

um aumento no risco da instalação da dependência química, na qual os efeitos maléficos

e as consequências prejudiciais já passam a superar os aspectos positivos iniciais. Nesse

estágio, um padrão comportamental já está instalado e é sustentado por pensamentos

automáticos, crenças intermediárias e nucleares. Em momentos de fissura, crenças

permissivas são ativadas e impedem que o sujeito se lembre das razões para não usar o

cigarro. Pode ocorrer uma distorção cognitiva chamada visão em túnel ou bloqueio

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mental (Beck, 1993). Esse erro cognitivo provoca um viés de atenção e o sujeito

seleciona, dá atenção e assimila preferencialmente apenas os estímulos e informações

favoráveis à fissura e/ou uso de drogas, desconsiderando todos os demais estímulos,

inclusive pensamentos alternativos ao uso da droga (Beck, 1993). Cognições

relacionadas ao uso passam a ser ativadas na maior parte do dia-a-dia do sujeito e

situações anteriormente neutras se transformam em gatilhos poderosos para o consumo

do tabaco. Esses gatilhos podem despertar fissura e o sujeito em situação de

ambivalência pode ter crenças facilitadoras sendo mais ativadas e motivando-o a se

engajar em estratégias instrumentais para o uso. Assim o sujeito fecha o ciclo de uso e

abuso da nicotina.

Figura 1: Modelo Cognitivo do Abuso de Substâncias. Adaptado de Beck (1993)

1.5.3.2. Treinamento ou Modificação de Viés Atencional

O Treinamento ou Modificação de Viés Atencional focaliza suas intervenções

nas pistas condicionadas aos efeitos da droga de modo que deixe de receber mais

atenção do usuário em detrimento de outras informações disponíveis no meio. Desse

modo busca-se a neutralização desses estímulos e a superação da tendência em

Crenças ativadas

Pensamentos Automáticos

Fissura

Crenças facilitadoras

Estratégias Instrumentais

Uso continuado ou

recaídas

Estimulos Ativadores

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direcionar sua atenção preferencialmente para estímulos associados à droga de escolha

(Peuker & cols., 2009). Embora a atenção tenha um alto valor preditivo em relação à

fissura, essa associação precisa continuar sendo investigada (Tiffany et al.,2000).

1.5.3.3. Entrevista Motivacional

A Entrevista Motivacional é uma abordagem de aconselhamento diretivo,

centrada no paciente e que busca estimular mudanças do comportamento problema

através do exame e resolução da ambivalência relacionada às mudanças (Miller, 1983).

Zywiak et col.(2006) compararam a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC),

Entrevista Motivacional e Terapia de Doze Passos e observaram que todas elas possuem

efeitos semelhantes na recaída, mas que particularmente a TCC e a Terapia de Doze

Passos são melhores em reduzir as recaídas associadas à pressão social. Durante

seguimento de 6 meses pós-tratamento, Lee et col., (2010) observaram taxas de

abstinência maiores para os participantes da condição em que a entrevista motivacional

foi associada a terapia cognitivo-comportamental. De um modo geral, a entrevista

motivacional tem se mostrado eficaz quando utilizada sozinha ou nas fases preliminares

do tratamento (Burke, Arkowitz, &Dunn, 2002).

1.5.3.4. Exposição com Prevenção à Resposta

A técnica de Exposição com Prevenção à Resposta (EPR) é uma intervenção que

se baseia no enfrentamento de situações e objetos ou sensações internas que despertam

fissura ou algum outro desconforto até que o comportamento de uso de drogas seja

extinto ou controlado (Beck, 1993; Dawe et al., 2003). Price et col. (2010)

demonstraram robusta extinção da resposta de fissura diante de estímulos condicionados

ao longo de duas sessões de exposição com prevenção de resposta. O uso de exposição

empregando a realidade virtual é uma das técnicas auxiliares para a EPR. A realidade

virtual é uma tecnologia de interface avançada entre um usuário e um sistema

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computacional. O objetivo dessa tecnologia é recriar ao máximo a sensação de

realidade. A EPR pode ser combinada ao treinamento de viés atencional (Littel M,

Franken IH.,2011) ou com outros métodos da TCC (Yoon et col., 2013). A exposição

repetida aos estímulos associados à droga tem levado a extinção de respostas de fissura

e uso de substâncias (O’Brien, Childress, McLellan, &Ehrman, 1990).

1.5.3.5.Terapia de Exposição a Pistas condicionadas

A Terapia de Exposição a Pistas condicionadas (CET) envolve a exposição

controlada e repetida visando à redução da reatividade frente aos estímulos relacionados

com a droga através da extinção e habituação (Ferguson, Shiffman, &Gwaltney, 2006).

A extinção é um processo de enfraquecimento de uma resposta operante, ou seja a

diminuição da frequência da resposta, via retirada do reforçador (Galvão e Barros,

2001). Nesse caso, a droga ou os estímulos associados a ela são apresentados, mas a

resposta condicionada de usá-la é impedida. Por conseguinte, o indivíduo não obtém o

reforçador envolvido no uso, seja ele positivo (efeitos da droga) ou negativo (alívio dos

sintomas de abstinência). A habituação, por sua vez, é a redução da resposta atencional

e/ou emocional a um estimulo apresentado repetidamente (Cordioli, 2008). A CET deve

começar com estímulos menos reativos que devem ser intensificados à medida que o

paciente ganhe segurança e progrida no tratamento. Um dos elementos reativos é a

fissura, por isso a CET tem sido um dos métodos empregados para o manejo e

enfrentamento deste. A exposição pode ser feita de diversas maneiras como a

manipulação da substância sem o consumo, apresentação de fotos ou cartões de

situações de consumo, entre outras.

1.5.3.6. Mindfulness

A Terapia de Atenção Plena, nome vindo do termo inglês Mindfulness. É

descrita como a conscientização que surge por meio da atenção proposital na

experiência da fissura e de uma atitude isenta de julgamentos a seu respeito (Kabat-

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Zinn, 2003). Essa abordagem considera a fissura como um fenômeno transitório, de

ordem afetiva e cognitiva. A prática dessa técnica se traduz em uma aceitação física e

afetiva desse estado e, para isso, inclui a observação do fenômeno, a subsequente

conscientização desse e uma postura de observação, ou seja, não reativa, por parte de

quem o experimenta. A aplicação de mindfulness para o tratamento da DQ tem

permitido a redução e enfrentamento da fissura, além de ser empregada na perspectiva

de prevenção à recaída (Witkiewitz, Marlatt, & Walker, 2005).

Todas essas estratégias psicológicas e farmacológicas visam o engajamento em

respostas de manejo e enfrentamento da fissura, especialmente em situações de alto

risco, etapa fundamental para o tratamento (Marlatt and Gordon, 1980; Beck, 1993).

Tais respostas envolvem mecanismos de enfrentamento, manejo e adaptação às

situações de alto risco, sejam elas agudas ou crônicas, nas quais surge um intenso desejo

para consumir a droga (Antoniazzi, dell'Aglio and Bandeira,1998). As situações de alto

risco envolvem estímulos internos (estados emocionais, pensamentos automáticos) e

externos (conflito interpessoal, disponibilidade do tabaco) que favorecem e motivam o

uso de cigarros. Frente a essas situações, a utilização de uma resposta efetiva à fissura

diminui a probabilidade de relapso, pois o sujeito tende a dar uma resposta alternativa

que, além de ampliar seu repertório de comportamento, permite a percepção do controle

da situação e o fortalecimento do sentimento de auto-eficácia. Como resultado da

implementação de novas respostas, o sujeito percebe-se no controle e enfrentamento de

situações problemáticas sem o uso da droga (Marlat et Gordon, 1980).

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2. OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1. Objetivo Geral

Adaptar e aprimorar para cultura brasileira um módulo para o controle da fissura

para ser incorporado ao protocolo de tratamento do tabagismo e avaliar a sua

eficácia quanto a redução de fissura e abstinência de tabaco.

2.2. Objetivos Específicos

Identificar variáveis preditoras que influenciem o desfecho do tratamento;

Verificar a existência de um perfil neuropsicológico comum entre os aqueles que

pararam e não pararam de fumar;

3. HIPÓTESE

Uma intervenção centrada no controle da fissura pode diminuir as taxas de

recaída e aumentar a eficácia do tratamento de cessação do tabagismo.

4. JUSTIFICATIVA

A inclusão de módulo adicional de tratamento que aborda o enfrentamento e

manejo da fissura pode facilitar a aprendizagem de estratégias mais eficazes para o

tratamento de cessação do tabagismo preconizado pelo INCA. Pretende-se alcançar

taxas maiores de abstinência dentro do período de tratamento, ao se reduzir a fissura.

Desse modo, busca-se o favorecimento de indivíduos tabagistas que procuraram por

tratamento para cessação do cigarro, garantindo um tratamento mais adequado e

compatível com as características de sua dependência de nicotina. O impacto dessa

intervenção também pode se dar sobre a alocação dos recursos disponíveis para o

tratamento do tabagismo de modo a garantir a otimização desses recursos e do serviço

como um todo.

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5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. Participantes

Todos os pacientes que procuraram o Ambulatório de Dependências Químicas

do Hospital das Clínicas da UFMG para tratamento para tabagismo foram convidados a

participar deste estudo.

Os critérios de inclusão neste estudo foram:

- Idade entre 18 e 60 anos (inclusive) de ambos os sexos;

- Diagnóstico de dependência de nicotina segundo os critérios da DSM-IV

confirmado pela equipe de psiquiatria do Ambulatório de Dependência Química do

Hospital das Clínicas da UFMG;

- Não apresentar dependência e/ou abuso de substâncias para álcool e/ou outras

drogas de acordo com os critérios da DSM-IV;

- Não apresentar comorbidades psiquiátricas do eixo II de acordo com avaliação

psiquiátrica;

- Não apresentar sintomas atuais de comorbidades do eixo I de acordo com os

critérios da DSM-IV.

- Pacientes com insuficiência pulmonar grave ou outra doença clínica aguda ou

crônica que complique a continuidade do tratamento em grupo.

5.2. INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

5.2.1. Avaliação clínica

Anamnese: Cada sujeito foi entrevistado a partir de uma entrevista semi-

estruturada que investigou a história tabagística, as complicações provocadas ou

agravadas pelo uso de tabaco e as tentativas anteriores de abandono do cigarro.

Teste de Fargerstrom (Fagerström, 1978) é uma auto-escala que avalia o grau de

dependência física de nicotina através de seis fatores: horário do primeiro

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cigarro, quantidade de cigarros fumados por dia, evitação de lugares nos quais

fumar é proibido, se fuma enquanto está doente, maior frequência de tabaco pela

manhã e qual cigarro do dia traz mais satisfação. Os resultados variam de 0 a

10, em que quanto maiores os escores, maior a dependência de nicotina.

Validado para o contexto brasileiro por Carmo e Pueyo (2002).

Mini-Plus (versão brasileira 5.0; Amorim, 2000) Consiste em um roteiro de

entrevista neuropsiquiátrica, baseado nos critérios de classificação das doenças

“Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana”,

DSM-IV, em que são investigados os critérios diagnósticos dos transtornos do

eixo I.

Escala de Depressão de Beck – BDI (Beck, Ward, Mendelson, Mock, &

Erbaugh, 1961) é uma escala de auto-aplicação com 21 itens que avaliam a

presença ou ausência de sintomas depressivos. Cada item possui uma pontuação

que varia entre 0 e 3 que refletem a gravidade dos sintomas. Versão traduzida e

adaptada em português por Gorestein et Andrade (1998).

Escala de Ansiedade de Beck - BAI (Beck, A. T., Epstein, N., Brown, G., &

Steer, R. A. 1988) é inventário constituído de 21 itens de auto-aplicação. Este

inventário expressa o grau de ansiedade a partir da pontuação dos itens que varia

entre 0 e 3 pontos. A adaptação e validação para o contexto brasileiro por Cunha

(2001).

Questionário de Urgência em fumar - Versão Brasileira - QSU-B (Tiffany,

1991) é uma escala de auto-preenchimento que avalia a fissura pelo tabaco em

indivíduos dependentes de nicotina. De acordo com o modelo de fissura a partir

do qual este questionário foi construído, destacam-se quatro categorias distintas:

desejo de fumar, antecipação de resultado positivo, alívio dos sintomas de

privação ou afeto negativo e intenção de fumar, assim como dois fatores, o

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primeiro, relacionado à intenção, desejo de fumar e antecipação do prazer de

fumar e, o segundo, formado pela antecipação do alívio do afeto negativo, dos

sintomas da abstinência da nicotina e pelo desejo urgente e arrebatador de fumar

Adaptado e validado por Araújo et. al. (2006).

Escala de Contemplação de Ladder (Biener, & Abrams, 1991) é escala de auto

preenchimento que avalia a motivação ou abertura para mudança do hábito de

tabagismo. Através de uma escala de 1 a 10, em que 1 é pouco motivado e 10

muito motivado permite que os indivíduos indiquem seu estado motivacional

para o tratamento segundo modelo de Prochaska (pré-contemplação,

contemplação, preparação, ação e manutenção) Adaptado e validado por Terra et

al. (2009).

Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) é um instrumento para

segmentação econômica baseada no levantamento de características

domiciliares, como a presença e quantidade de alguns itens de conforto e grau

escolaridade do chefe de família. Em função dessas características é feita uma

correspondência entre faixas de pontuação do critério e estratos de classificação

econômica, definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E (ABEP, 2008).

CAGE (Mayfield, McLeod, & Hall, 1974) instrumento de triagem para

identificação do uso de álcool. É constituído de quatro perguntas que avaliam a

percepção do paciente em diminuir ou cessar o consumo de álcool, culpa e a

presença de críticas pelo modo como bebe e sintomas de ressaca. Tradução e

validação para o português por Masur & Monteiro (1983).

ASRS-18 O ASRS-18 é um instrumento que consiste de 18 itens baseados nos

critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para o diagnóstico do Transtorno de

Deficit de Atenção e Hiperatividade. Divide-se em Parte A e Parte B, em que

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investiga respectivamente sintomas de desatenção e hiperatividade. Traduzido e

adaptado por Mattos et col (2006).

5.4.2. AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey – Ravlt (Rey, 1958): é um teste

que avalia a memória recente, a aprendizagem, interferência, retenção e

memória de reconhecimento. Esse instrumento é constituído de uma lista de

palavra que é lida em voz alta e seguida por um teste de evocação imediata.

Após cinco tentativas, uma outra lista palavras de interferência é apresentada

também sendo seguida de um novo teste de lembrança. Duas novas evocações

são realizadas, sendo que a última deve respeitar um intervalo de 20 a 30

minutos. Por fim, uma lista de 50 palavras é apresentada para o reconhecimento

dos itens da primeira lista. A versão utilizada corresponde a adaptação para o

contexto brasileiro (Malloy-Diniz et al. 2007).

Matrizes Progressivas de Raven (Raven, 2000): constitui um teste que avalia a

inteligência geral por meio da apresentação de 60 mosaicos, divididos em 5

séries organizadas em ordem de dificuldade crescente, os quais possuem um

elemento faltante. O examinando deve escolher entre 6 ou 8 opções

apresentadas, aquela que melhor completa tal mosaico, ou seja, o elemento que

preenche a figura de maneira lógica.

“Iowa Gambling Task” (Bechara e cols., 1994): O “Iowa Gambling Task”

(IGT), versão computadorizada, é uma tarefa que avalia o processo de tomada

de decisões, simulando situações da vida real. Os sujeitos se deparam com um

computador onde estão quatro baralhos de cartas. Recebem inicialmente um

“empréstimo” de 2 mil reais para que comecem a jogar. O sujeito deverá

escolher cartas tirando-as uma a uma, de forma a ganhar o máximo de dinheiro.

Tirar uma carta dá ao sujeito um ganho imediato. No entanto, de maneira

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imprevisível, algumas cartas implicarão perdas que variarão em magnitude. Os

baralhos A e B trazem ganhos grandes e imediatos, mas as cartas com “multas”

são mais frequentes ou mais vultosas. Escolher mais vezes os baralhos A e B

conduz a uma perda global. Já as cartas dos montes C e D levam a ganhos

pequenos em curto prazo, mas a perdas menos frequentes e de menor

quantidade. Escolher mais vezes os baralhos C e D conduz a um ganho global.

Os sujeitos não são informados dessa regra, devendo percebê-la à medida que

jogam. O jogo termina quando o sujeito escolhe a 100a carta. O desempenho do

sujeito nas 100 escolhas é dividido em cinco blocos de 20 escolhas. Para cada

bloco é calculada a fórmula [(escolhas no monte C + escolhas no monte D) -

(escolhas no monte A + escolhas no monte B)]. Ao final, o escore global é

calculado somando-se o resultado da fórmula nos cinco blocos de escolhas. O

escore final do IGT foi utilizado neste estudo para medir a impulsividade por

falta de planejamento (dificuldades no processo de tomada de decisões).

Escala Barrat de Impulsividade - BIS-11 (Barrat, 1959): escala de auto-

preenchimento composta por 30 frases que abordam 3 componentes da

impulsividade: impulsividade por desatenção, motora e por falta de

planejamento. O sujeito deverá avaliar a frequência do comportamento descrito

na frase em relação a seu dia–a-dia, classificando cada item de acordo com uma

escala do tipo likert, em que: 1 = raramente ou nunca, 2 = de vez em quando, 3

= freqüentemente, 4 = quase sempre/sempre. A pontuação máxima da escala é

de 120 pontos. A partir da análise dos resultados são fornecidos os escores para

três subtipos de impulsividade: por desatenção, motora e por falta de

planejamento.

Wisconsin Card Sorting Test – WSCT (versão computadorizada) (Kongs,

Thompson, Iverson, & Heaton, 2000): teste neuropsicológico que mede

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flexibilidade cognitiva, categorização, perseveração e impulsividade atencional.

Inicialmente, são apresentadas ao sujeito 64 cartas, que devem ser agrupadas

uma a uma dentre quatro cartas-alvo. Para isso, o sujeito deverá escolher um

determinado critério de categorização (cor, formato ou número). Através do

feedback de acerto ou erro dado pelo aplicador, o participante então deverá

organizar as cartas da pilha de acordo com as quatro iniciais. No entanto,

durante a administração, as regras mudam e o sujeito deverá discriminá-las,

modificando sua estratégia (Fuentes e cols., 2008). Versão adaptada para o

contexto brasileiro por Cunha e cols. (2005), citado por Zimmer e cols. (2008).

Teste de Dígitos (Wechsler, 1997): é um teste que tem por objetivo a avaliação

da atenção concentrada auditiva, bem como o sistema mnemônico episódico de

curto prazo. São apresentados sete pares de sequências numéricas formadas

aleatoriamente que devem ser repetidas tanto na forma direta quanto na forma

inversa.

Teste de span Cubos de Corsi (Corsi, 1973): é um teste não verbal que avalia a

memorização visuo-espacial e a capacidade de armazenamento na memória de

curto-prazo e seu componente executivo, a memória de trabalho pela recordação

na ordem Inversa. Neste teste, uma sequencia de blocos são apontados e devem

ser repetidos pelo examinando sem que haja qualquer pista nos blocos que

facilitem tal repetição.

5.3. DELINEAMENTO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo transversal, monocêntrico, intervencionista, randomizado,

comparando duas condições de tratamento psicológico para a cessação do tabagismo.

Em ambas as condições, os pacientes foram submetidos ao programa “Deixando de

fumar sem mistérios” bem estabelecido e utilizado nacionalmente com a chancela do

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52

Instituto Nacional do Câncer e do Ministério da Saúde (INCA). Na 1ª condição, o

tratamento INCA (tratamento padrão) foi seguido de 4 sessões placebo, semi

estruturado com foco na prevenção a recaída, que denominamos de condição controle.

A segunda condição, chamada aqui de “tratamento fissura”, foi constituído pela

realização do tratamento padrão mais quatro sessões suplementares com um protocolo

para a abordagem específica da fissura, desenvolvidos nessa pesquisa. O delineamento

do estudo está representado na figura 2.

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53

Figura 2: Delineamento do estudo para comparação de dois protocolos para a

cessação do tabagismo.

5.4. PROCEDIMENTOS

Avaliação Clínica e Neuropsicológica

Pacientes do Ambulatório de Dependência

Química

Randomização simples

Exclusão por critérios

Grupo INCA + Módulo

Placebo

Grupo INCA + Módulo

Fissura

D0: Sessão I

D7: Sessão II

D15: Sessão III

D21: Sessão IV

D28: Sessão Placebo I

D35: Sessão Placebo II

D0: Sessão I

D7: Sessão II

D15: Sessão III

D21: Sessão IV

D28: Sessão Fissura I

D35: Sessão Fissura II

D42: Sessão Fissura III

D49: Sessão Fissura IV

Reunião de Admissão e apresentação do serviço

Avaliação Neuropsicológica de Rotina do Serviço

Proposição de Participação no Estudo

Processo Obtenção de TCLE

Recusa ou Desistência

D42: Sessão Placebo III

D49: Sessão Placebo IV

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54

O Ambulatório de Adictologia e Dependências Químicas do HC/UFMG foi

criado em Agosto de 2010 e funciona nas dependências do anexo Bias Fortes.

Os pacientes incluídos neste estudo referem-se aqueles que procuraram

voluntariamente por tratamento para abandono do tabaco e são oriundos da comunidade,

de outras clínicas do Hospital das Clínicas, de postos de saúde ou outros serviços

médicos.

No primeiro dia, os pacientes foram acolhidos no serviço através de uma reunião

de admissão, na qual o ambulatório e o tratamento são apresentados. Em seguida os

pacientes são solicitados a responder uma entrevista estruturada para triagem de

tabagistas, a qual investiga a história médica (presença de doenças correlacionadas ao

tabagismo, uso medicações, uso de álcool), história tabagística (idade de inicio,

tentativas prévias de abandono do tabaco, possível utilização de recursos para a

abstinência) e o nível de dependência de nicotina (Teste de Fargerstron), além de dados

básicos de identificação, como sexo, idade, estado civil. Também é utilizada uma

entrevista semi-estruturada para investigação de comorbidades psiquiátricas (MINI-

PLUS 5.0). Os sujeitos também são solicitados a responder as escalas de auto-

preenchimento que investigam sintomas de depressão, ansiedade e Transtorno de déficit

de atenção e hiperatividade - TDAH (Escalas Beck, ASRS-18). Os sintomas de TDAH

serão investigados pela alta correlação com dependência química (Malloy-Diniz, 2007).

Em seguida, os pacientes triados passam por uma avaliação psiquiátrica e

investigação da necessidade do uso de medicação para o abandono do cigarro.

No segundo e último dia, os pacientes foram submetidos ao protocolo de

avaliação neuropsicológica. A avaliação neuropsicológica consiste em um exame

através do qual é investigado o funcionamento das habilidades cognitivas básicas, como

memória, atenção, tomada de decisão. Neste estudo, a avaliação neuropsicológica

permitirá a identificação de um perfil cognitivo de tabagistas, a partir do qual poderão

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55

ser identificados preditores de desfecho do tratamento. A impulsividade será avaliada

neste estudo, pois traços elevados de impulsividade têm sido identificados como parte

do processo de dependência química (Baker et al., 2004; 2005; Goldstein & Volkow,

2002; Koob et al., 2004; Volkow, 2004).

Os critérios para a submissão à avaliação neuropsicológica:

- Ausência de histórico de Traumatismos Cranianos ou Acidente Vascular

Cerebral

-Não ter sido submetido à Eletroconvulsoterapia nos seis meses que antecederam

a avaliação;

- Não possuir diagnóstico para doenças neurológicas, como síndrome de

Korsakoff, Acidente Vascular Cerebral e/ou alguma síndrome amnésica.

-Não estar em uso de medicações que interferem na avaliação neuropsicológica.

Nosso protocolo de avaliação neuropsicológica incluiu instrumentos de

avaliação das funções executivas, linguagem, memória, impulsividade e inteligência

(IGT, WSCT, Ravlt, Dígitos Blocos de Corsi, Raven e BIS-11). A aplicação destes

testes foi realizada com um intervalo máximo de sete dias entre o primeiro e o último

dia de coleta. Em todos eles foram investigados o consumo de tabaco e outras drogas,

bem como o uso de medicação. Todos os procedimentos foram realizados em ambiente

calmo, sem distratores auditivos e visuais.

Os pacientes foram convidados a participar do estudo bem como recebem

esclarecimentos adequados sobre pesquisa e preenchem um termo de consentimento

livre e esclarecido.

5.4.2. Tratamento Padrão

O tratamento padrão foi realizado segundo o prescrito pelo INCA. Ele é

realizado de rotina no Ambulatório de Dependências Químicas do HC-UFMG há dois

anos e segundo nossas observações ele tem uma eficácia ao término do tratamento de

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40% (Ferreira, 2012). De maneira resumida, no grupo tratamento padrão (Tabela 2) os

participantes recebem uma intervenção para tabagismo em 4 sessões semanais. As

sessões têm uma duração média de 90 minutos cada. Em todos os encontros, os

pacientes serão questionados quanto ao consumo/abstinência do tabaco e utilização de

farmacoterapia, conforme prescrição psiquiátrica prévia.

As sessões possuem uma estrutura pré-definida, realizada em quatro etapas. Na

primeira etapa, os participantes são convidados a partilhar suas experiências recentes

relacionadas ao abandono do tabaco, suas dificuldades, progressos, bem como

esclarecer quaisquer dúvidas que tenham surgido ao longo da semana sobre o conteúdo

abordado nas sessões estruturadas. Em seguida, informações relacionadas ao uso do

tabaco e estratégias de enfrentamento e manejo de dificuldades provocadas pelo

abandono do tabaco são discutidas de acordo com os objetivos de cada sessão. Na fase

de revisão e discussão, todas as informações são revistas com o objetivo de incentivar

um debate do conteúdo apresentado. Por fim, os participantes são orientados quanto às

tarefas que deverão fazer entre uma sessão e outra e que geralmente se resumirá na

leitura do folheto que aborda o conteúdo tratado durante o grupo.

De modo geral, as técnicas utilizadas são: psicoeducação, orientação para

habilidades sociais, conselhos para manejo da abstinência, relaxamento e estratégias de

prevenção de recaídas. A psicoeducação é caracterizada pela transmissão de

informações verdadeiras e específicas sobre a síndrome de dependência, a causa dos

sintomas de abstinência, métodos de abandono do cigarro. Na orientação para

habilidades sociais os pacientes são convidados a refletir sobre suas atitudes para com

outras pessoas e encorajados a expressar seus reais sentimentos e pensamentos em

situações que não se sentiam aptos a fazerem isso. A partir dos conselhos para manejo

da abstinência, os pacientes recebem orientações para superar os sintomas físicos da

abstinência, os quais incluem uma mudança no estilo de vida de forma a garantir

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incorporação de hábitos de saúde mais saudáveis. São ensinadas algumas técnicas de

relaxamento que envolvem a respiração diafragmática, o relaxamento muscular

progressivo, a imaginação de cenas positivas e agradáveis. Finalmente, os sujeitos

recebem conselhos básicos para prevenir futuras recaídas, através de estratégias de

prevenção de recaídas. Um resumo pode ser observado na tabela a seguir:

Tabela 2. Resumo das sessões do tratamento padrão

5.2.3. Tratamento Fissura

Enquanto isso, o grupo de tratamento da fissura foi submetido ao protocolo do

tratamento padrão, segundo o prescrito pelo INCA e a um protocolo que enfatizou o

treinamento em manejo de fissura desenvolvido durante a pesquisa. Maiores detalhes

serão descritos na parte de resultados.

6. ASPECTOS ÉTICOS

Sessões 1ª: “Entender por que se

fuma e como isso afeta

sua saúde”

2ª: “Os primeiros dias sem

fumar”

3ª:”como vencer

obstáculos para

permanecer sem fumar”

4ª: “Benefícios

obtidos após parar

de fumar”

Resumo

das

sessões

-Informações sobre o

tabagismo

-Psicoeducação:

trabalhando a

ambivalência

- Apresentação dos

métodos para parar de

fumar (abrupta ou

gradual)

- Tarefa de casa: escolher

o dia para parar de fumar

-Revisão da sessão anterior;

- Psicoeducação: o que é a

síndrome de abstinência,

quais os sintomas, tempo de

duração;

- Psicoeducação sobre

assertividade para lidar com

situações de estresse;

-Treino de relaxamento:

técnicas de respiração

profunda e relaxamento.

-Revisão da sessão

anterior;

-Troca de experiências:

como os que pararam

viveram seus dias?

-Listagem dos benefícios

de parar de fumar;

-Informações sobre

possível ganho de peso;

-Encorajar os que não

pararam a continuar

tentando.

-Troca de

experiências;

- Psicoeducação:

prevenindo recaidas;

- Listagem dos

benefícios a longo

prazo;

- Encorajamento aos

que continuarem

tentando;

- Tarefa: Cartão de

enfrentamento.

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Este estudo foi conduzido após a aprovação de seu projeto pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da UFMG sob o processo n º CAAE 11219012.1.0000.5149.

7. ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise dos dados foi realizada no Statistical Package for Social Sciences –

Versão 18.

No primeiro estudo, a análise estatística foi realizada em 3 etapas: análise

descritiva, análise univariada e análise multivariada.

A descritiva foi realizada com o objetivo de caracterizar a amostra em termos

das variáveis sociodemográficas (idade, sexo, nível socioeconômico, escolaridade), das

variáveis clínicas (idade de início do uso, nível de dependência de nicotina, sintomas de

ansiedade e depressão, fissura e motivação para o tratamento) e variáveis

neuropsicológicas (funções executivas, linguagem, memória, impulsividade e

inteligência). As variáveis contínuas foram apresentadas em relação a suas respectivas

médias, desvios-padrão e mediana, enquanto as variáveis categóricas foram

apresentadas em relação à sua frequência (contagem e porcentagem).

Para a comparação entre os grupos, ou análise univariada, inicialmente foi

realizado o teste Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade da distribuição dos escores

das medidas clínicas e neuropsicológicas. O teste de Levene foi utilizado na avaliação

da homogeneidade das variâncias. A partir desses resultados decidiu-se pela escolha de

métodos de estatística (paramétrica x não paramétrica) para a comparação entre os

grupos.

Foram feitas comparações entre os grupos formados de acordo com o sucesso ou

não na abstenção de tabaco (ex-tabagistas x tabagistas) e resultados das variáveis

neuropsicológicas. Também foram conduzidas comparações entre o grupo desistente e o

grupo de tratamento para verificar possíveis diferenças entre eles. Em todas as

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comparações foram analisadas as variáveis sociodemográficas, clínicas, tratamento e

neuropsicológicas. O teste do qui-quadrado (ou o teste exato de Fischer, quando

apropriado) foi utilizado nas comparações envolvendo variáveis categóricas. O teste T

(paramétrico) e Mann-Whitney (não paramétrico) também foram utilizados para

comparar os grupos formados por aqueles que pararam e não pararam de fumar.

Como análise multivariada, a regressão logística foi conduzida para verificar a

existência de associação entre as varáveis clínicas e neuropsicológicas (variáveis

independentes) e o desfecho do tratamento (variável dependente). Nessa etapa, foram

incluídas todas as variáveis que na análise univariada obtiveram um nível de

significância de 20%. A partir desse modelo foi feita uma redução manual “passo a

passo”, em que a variável que apresentava maior valor de alfa (tendo p<0,05 como

referência) era removida. Esse procedimento foi repetido até encontrar a(s) variável(is)

que preenchia(m) o valor de significância critério que comporiam os modelos finais. As

variáveis explicativas selecionadas nos modelos parciais foram então incluídas em cada

modelo final apresentado.

No estudo 2, foram realizadas as seguintes etapas: análise descritiva, análise

univariada e avaliação da eficácia.

Inicialmente também foi realizada análise estatística descritiva básica para

caracterização da amostra quanto às variáveis sociodemográficas (idade, sexo, nível

socioeconômico, escolaridade), variáveis clínicas (idade de início do uso, nível de

dependência de nicotina, sintomas de ansiedade e depressão, fissura e motivação para o

tratamento) e variáveis neuropsicológicas (funções executivas, linguagem, memória,

impulsividade e inteligência). As variáveis contínuas estão apresentadas em relação a

suas respectivas médias, desvios-padrão e mediana, enquanto as variáveis categóricas

serão apresentadas em relação à sua frequência (contagem e porcentagem).

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60

O grupo de pacientes acolhidos e após a submissão ao protocolo padrão de

avaliação clínica e neuropsicológica foi randomizado aleatoriamente a partir de

sequências de números geradas a partir de um site (http://www.randomizer.org) e

assumiram a condição de tratamento ou controle.

Estes grupos foram comparados (análise univariada) inicialmente quanto a

normalidade da distribuição dos escores das medidas clínicas e neuropsicológicas

através do teste Shapiro-Wilk. A homogeneidade das variâncias foi observada através

do teste de Levene e a partir desses resultados, decidiu-se pela escolha de métodos de

estatística (paramétrica x não paramétrica) para a comparação entre os grupos.

O grupo controle e tratamento foi comparado quanto as características

sociodemográficas, clínicas, de tratamento e neuropsicológicas. O teste do qui-quadrado

(ou o teste exato de Fischer, quando apropriado) foi utilizado nas comparações

envolvendo variáveis categóricas. O teste T (paramétrico) e Mann-Whitney (não

paramétrico) também foram utilizados para comparar quanto as demais variáveis.

Para avaliar a eficácia da intervenção na redução dos sintomas de fissura, a

resposta ao tratamento foi calculada a partir da seguinte fórmula:

Resposta ao tratamento = Intensidade da Fissura 1 (QSU1) - Intensidade da Fissura 2

(QSU2)

Não foi realizada análise multivariada para a identificação de preditores

relacionados ao desfecho do tratamento devido a pequena amostra que abandonou o

cigarro.

8. RESULTADOS

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Para a construção do protocolo de atendimento para a redução da fissura foi

realizada uma revisão bibliográfica e um estudo com o tratamento padrão.

8.1. Revisão de literatura

Foi realizada uma revisão bibliográfica sistemática com o objetivo de identificar

as técnicas mais utilizadas dentro da Terapia Cognitiva e Comportamental o manejo da

fissura. Para tanto, foram conduzidas buscas nas bases bibliográficas da Pubmed e

PsycInfo empregando os seguintes descritores em associação: “craving”, “cognitive

therapy” "behavior therapy" e "cognitive behavior therapy". Os artigos selecionados

obedeceram aos seguintes critérios de inclusão: i) artigos originais; ii) artigos indexados

e disponíveis nas bases de dados do PsycInfo e PubMed; iii) artigos escritos em

português, inglês e espanhol com os resumos disponíveis nas bases supracitadas; iv)

artigos publicados nos últimos 10 anos ou equivalente ao período compreendido entre

Janeiro de 2003 a Março de 2013; v) artigos cuja amostra era constituída apenas por

humanos; vi) artigos em que a amostra era composta por adultos com idade entre 18 e

60 anos de idade.

Foram encontrados 198 artigos nas duas bases de dados, sendo que 15 artigos

eram repetidos e por esse motivo, foram excluídos do grupo maior. Os estudos que

envolviam revisões de literatura, abordagem exclusivamente farmacológica, estudos de

casos, métodos de tratamento que não envolviam intervenções psicológicas, outras

populações (adolescente), estudos que não abordavam a fissura enquanto sintoma da

dependência química (fissura por alimentos e jogo patológico) e ou cujo objetivo não

era o seu tratamento, foram excluídos. Também foram excluídas outras formas de

publicação, tais como dissertações, capítulos e revisões de livros. O detalhamento dos

artigos selecionados e excluídos pode ser conferido na figura 3.

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Para a leitura do artigo na íntegra, a amostra foi composta por 51 artigos.

Posteriormente foram excluídos 10 artigos, porque 3 não descreveram a fonte do

protocolo da intervenção psicológica ou a descrição de suas técnicas, 6 não avaliavam o

tratamento da fissura, mas outras informações descritivas sobre ela e 1 porque o estudo

não tinha ainda sido executado. Assim, a busca resultou em 41 artigos que investigaram

o tratamento para a fissura na dependência química.

Resultados

Os estudos encontrados investigavam principalmente o tratamento da fissura em

dependentes de nicotina e álcool. As amostras dos estudos englobavam principalmente

sujeitos do sexo masculino, sendo que 3 artigos investigaram populações mais

especificas como dependentes químicos com esquizofrenia, transtorno de estresse pós

traumático e homossexuais portadores do vírus HIV. A seguir, os resultados serão

apresentados de acordo com o delineamento dos estudos.

15 artigos repetidos nas duas bases excluídos

Amostra final 41 artigos

16 álcool 12 nicotina 5 cocaína 4 anfetamina 4 múltiplas 1 opióides 1 heroína

142 excluídos 27 artigos de revisão 5 outras línguas 9 outros tratamento 7 fármaco 23 indisponíveis 25 outras doenças 1 pesquisa com animal 3 população adolescente 3 validação de instrumento 2 estudo de caso 17 publicação anterior a 2003 10 outras publicações 1 substrato neural da abstinência 3 protocolo não publicado 1 ou não descritas as suas técnicas 4 não avalia o tto da fissura 1 estudo não foi realizado

82 pubmed 116 psycInfo

183 total

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63

Figura 3. Fluxograma de seleção de artigos

Nos programas de TCC, geralmente encontramos a associação de diversas

técnicas. Entre as mais frequentes encontradas: Psicoeducação, Manejo de Humor e

Estresse, Entrevista Motivacional, Treinamento ou Modificação de Viés Atencional,

Exposição com Prevenção a Recaída, Técnicas de Relaxamento e Prevenção a Recaída.

Cinco dos artigos incluíram em seu delineamento apenas uma intervenção formada por

essas técnicas, cuja a eficácia foi avaliada através de avaliação pré e pos tratamento. A

aplicação do conjunto dessas técnicas se deu principalmente no tratamento do

alcoolismo e mostrou-se eficaz quanto ao aumento do período de abstinência (Loeber,

2007; Kavanagh, 2006) e redução dos dias de consumo (Loeber, 2007; Kavanagh, 2006;

Witkiewitz et col. 2011). Houve melhoras quanto a fissura por álcool (Shadel, 2011;

Witkiewitz et col. 2011) e inclusive quando ela foi induzida por estresse (Back et, al.,

2007).

A terapia cognitivo-comportamental baseada na abordagem de reforço

comunitário (Community Reinforcement Approach - CRA) foi aplicada no tratamento

do tabagismo. Seu programa era constituído por técnicas de entrevista motivacional,

treinamento para aderência à medicação, auto-monitoramento, prevenção a recaída,

planejamento de atividades. Uma redução significativa da fissura por cigarros e uma

redução de cinquenta por cento maior na taxa de abstinência quando comparada ao

tratamento com naltrexona por três meses, foram observadas em um estudo (Roozen et

al., 2006).

Também foram encontrados delineamentos nos quais a TCC foi utilizada em

associação com farmacoterapia no tratamento da dependência de álcool, tabaco, cocaína

e anfetamina. Os resultados foram pouco consistentes com relação a redução da fissura

e aumento dos dias de abstinência em alcoolistas tratados com olanzapina e TCC

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(Gardia, 2004), mas houve redução do consumo de álcool a partir da associação entre

naltrexona e TCC (Baldin, 2003). O modafinil associado a TCC produziu maior tempo

de abstinência em dependentes de cocaína (Dackis, 2005), enquanto a amlodipina

associada a TCC não conferiu nenhuma vantagem com relação ao placebo (Malcolm,

2005). A naltrexona e o dissulfiram associados a TCC também produziram melhores

resultados do que só a TCC no tratamento para a dependência de cocaína. O tratamento

com fluoxetina e reposição de nicotina não aumentou as taxas de abstinência, mas

reduziu a intensidade dos sintomas de abstinência de tabaco (Saules et al., 2004). A

reposição de nicotina dobrou a chance de abandono do tabagismo (Yasin et. col, 2012).

O modafinil associado a TCC reduziu a quantidade de dias de uso de anfetamina (4 para

1), além de diminuir as taxas fissura, mas esse último resultado não foi estatisticamente

significativo (McEIhiney, 2009). Já o ondasentron e a TCC aumentaram a taxa de

abstinentes de metanfetamina em relação ao grupo tratado com placebo e terapia

(Johson, 2008). Em co-abusadores de cocaína e álcool, o dissulfiram se mostrou mais

efetivo em prevenir o consumo de ambas drogas e reduzir a fissura por cocaína (Grassi

et al., 2007) enquanto a naltrexona foi mais efetiva em reduzir a fissura por álcool

(Grassi et al., 2007).

A TCC também foi diretamente comparada com outras intervenções

psicológicas. Quando comparada a livretos de auto ajuda, a TCC produziu maiores

taxas de abstinência (Brendryen et col. 2008; Lee et col. 2010), embora não tenha

reduzido a fissura (Lee et col. 2010). A TCC também foi comparada com Motivational

Enhancement Therapy and Twelve-Step Facilitation Therapy e embora as três

intervenções tenham tido impacto semelhante na redução da recaída, a TCC foi mais

efetiva na redução das recaídas associadas a pressão social (Zywiak, 2006). Para o

tratamento da cocaína, a condição de aconselhamento individual (baseda na filosofia de

tratamento dos 12 passos) mais aconselhamento de grupo (psicoeducação sobre a

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recuperação da dependência química e motivação para a participação no grupo de 12

passos) foi o tratamento mais eficaz do que a terapia cognitiva e uma terapia

psicodinâmica de apoio-expressivo (com foco na importância dos temas centrais

interpessoais e intrapsíquicos na gênese e manutenção do consumo de cocaína) e,

adicionalmente, pode ter enfraquecido a ligação entre a fissura de cocaína e o consumo

subsequente dela (Weiss, Griffin, Mazurick, et al., 2003).

Outros estudos observaram o impacto da medicação ou placebo e da TCC ou

outra terapia em diversas condições. Entre 8 condições diferentes (manejo médico com

16 semanas de placebo ou naltrexona ativa e placebo ou acamprosato ativo, com ou sem

associação de TCC), a condição de manejo médico + naltrexona (sem TCC), ou, manejo

clínico e TCC (sem naltrexona), tinha uma melhor resposta ao tratamento do que os que

tomaram placebo ou qualquer um dos outros tratamentos individuais ou combinados

(Greenfield, 2010). Entre diversas condições (levodopa/carbidopa ou placebo em

combinação com manejo médico; manejo clínico + TCC; ou manejo clínico + TCC +

voucher-based reinforcement therapy), a associação de levodopa + voucher-based

reinforcement therapy foi superior em diversos resultados, tais como baixos índices de

consumo de cocaína, longos períodos de abstinência contínua e menos fissura em

relação aos pacientes do grupo placebo (Schmitz, 2008). Naltrexona combinada com

TCC foi superior ao placebo em reduzir as recaídas e a fissura, além de ter sido superior

as demais condições (TCC + placebo; TCC + naltrexona; MET + placebo; MET +

naltrexona) (Anton et col, 2005). Entre 5 condições (sem tratamento adicional,

bupropiona ativa, placebo, bupropiona ativo + TCC ativo ou placebo + TCC) as duas

condições de TCC produziram taxas de abstinência significativamente maiores do que

as outras três condições (Hall et al., 2011).

A Terapia de Exposição a Pistas condicionadas (CET) também foi uma das

intervenções utilizadas para o tratamento da fissura. A CET demonstrou-se eficaz para a

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redução da fissura por álcool (Lee et col, 2007) metanfetamina (Price et al, 2010) e

tabaco (García Rodríguez, 2012), inclusive quando associada à exposição de ambientes

virtuais (García Rodríguez, 2012). No tratamento para dependência de opióides, a CET

foi comparada a tratamentos placebo ou de rotina e garantiu redução significativa da

fissura (Marissen et col., 2007; De Quirós, Labrador, and De Arce 2005). Entretanto, a

CET produziu maiores taxas de recaída (40%) do que sujeitos dependentes de heroína

tratados com outra intervenção (12,3%) no follow-up de 3 meses (Marissen et col.,

2007). Para a cessação do tabagismo, a fissura induzida pelas pistas condicionadas foi

extinta após repetidas sessões de CET usando estímulos virtuais e o consumo diário teve

redução durante o período de tratamento, mas essas mudanças não foram afetadas pela

D-cicloserina (Yoon et al., 2013). A TCC mostrou-se mais vantajosa do que a CET na

redução do consumo de álcool (Kavanagh et al., 2006), mas aumentou a taxa de recaída

no follow-up de 6 meses (Loeber et al., 2006).

A prática da Terapia de Atenção Plena ou Mindfulness foi outro tratamento que

se destacou. Técnicas de mindfulness foram comparadas à técnicas de supressão para o

tratamento do tabagismo, mas nenhuma das intervenções reduziu o craving

significativamente após a exposição à pistas condicionadas (Rogojanski, Vettese et.

Antony, 2011) Porém Bowen et. col, (2009) observaram redução significativa da fissura

em relação a um tratamento usual. A prevenção a recaída baseada em Mindfulness

aumentou os meses de abstinência pós intervenção em relação a um tratamento usual,

mas esse resultado não foi estatisticamente significativo (Witkiewitz et Bowen, 2010).

O Attentional Bias Modification foi utilizado em 3 dos estudos avaliados. Em

dois deles (McHugh et col. 2010; Field et col. 2009) foi aplicado para o tratamento do

tabagismo e embora a fissura tenha aumentado durante a exposição, o treinamento para

modificação do viés de atenção não teve impacto significativo na redução da fissura

pós-tratamento ou suas mudanças foram transitórias e pouco generalizadas (Field, Duka,

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67

Tyler, Schoenmakers, 2009). No terceiro estudo, (Schoenmakers et col. 2010) o

Attentional Bias Modification enfraqueceu as associações das pistas relacionadas ao

álcool, fato que teve generalização para novos estímulos e apesar de não ter impacto na

fissura, aumentou o tempo de abstinência.

Um dos manuais mais citados como guia para programas de tratamento é o

Manual de Terapia Cognitivo-Comportamental do Projeto MATCH elaborado por

Kadden e colaboradores em 1992. A TCC baseada no Protocolo Match associada a

naltrexona produz maiores taxas de abstinência e redução no consumo de álcool (Anton

et col., 2005; Baldin et. al., 2003). Além disso, a TCC mostrou se efetiva em reduzir a

quantidade de recaídas. Zywiak et col. (2006) demonstrou que ela teria efeito em resistir

a pressão social para beber. Kelly et col. (2011) demonstrou que abstinência estaria

relacionada principalmente a um maior engajamento em atividades nas quais não se faz

uso de álcool e ao mesmo tempo as relações favoráveis a abstinência também

favoreceriam a ausência de consumo. Quanto a fissura, a TCC também reduziu as taxas

(Greenfield et col., 2010; Anton et col., 2005). Quando comparada a outra intervenção

psicossocial, a TCC também garantiu maiores taxas de abstinência (Oslin et col., 2008).

Não houve redução na frequência e intensidade dos episódios de fissura quando tal

protocolo foi aplicado ao tratamento da dependência de cocaína em associação com

modafinil (Dackis, 2005).

A TCC, num formato virtual, foi comparada a terapia baseada em realidade

virtual no tratamento para o alcoolismo. A terapia baseada em realidade virtual consistiu

de uma série de cenas que foram associadas com relaxamento, simulando uma situação

de alto risco (pistas de álcool virtual) e seguidas de uma estimulação aversiva. Os

resultados demonstraram que terapia baseada em realidade virtual foi superior a TCC na

redução da fissura após a décima sessão de terapia baseada em realidade virtual (Lee et

al. 2008).

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68

Manejo de contingências envolve um tangível reforçamento após a confirmação

objetiva da abstinência de drogas ou a realização de outro comportamento alvo. A

aplicação em pacientes tabagistas com esquizofrenia a fissura reduziu

significativamente (Tidey et col., 2011).

Pacientes alcoolistas com Transtorno de Estresse Pós-Traumático foram

submetidos a exposição imaginária focada no trauma. As taxas médias de fissura

eliciadas pelos estímulos relacionados ao trauma e ao álcool diminuíram

significativamente na condição de exposição, mas não modificou significativamente na

condição de relaxamento (Coffey, Stasiewicz, Hughes and Brimo 2006).

Discussão

Os resultados apontam a TCC como um dos tratamentos mais eficazes para o

tratamento da dependência química ao reduzir a fissura e aumentar as taxas e o período

de abstinência, além de reduzir os dias de consumo. Sua eficácia é potencializada

quando associada a farmacoterapia e superior à outros tratamentos baseados apenas em

livretos de auto-ajuda e outras intervenções psicossociais puramente motivacionais ou

baseadas nas filosofias dos 12 passos. Tais resultados são compatíveis com os dados

disponíveis na literatura que suportam a eficácia da TCC para o tratamento da DQ

(Magill and Ray, 2009). Nesse sentido, McHugh et al (2010) apontam que os efeitos da

TCC variam de acordo com a droga utilizada: grandes tamanho de efeito foram obtidos

no tratamento da dependência de maconha, moderados efeitos para o tratamento da

cocaína e pequeno efeito para o tratamento de dependência de usuários de

polisubstâncias.

Foram poucos os estudos que avaliaram a Terapia de Exposição a Pistas

condicionadas (CET). Neles foi observada significativa redução da fissura na

dependência de álcool, anfetamina, tabaco, opióides, ao mesmo tempo em que

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69

houveram maiores taxas de recaída em pacientes submetidos a CET. Recaídas foram

observadas em outros estudos (Brandon et al, 1995; Niaura et al., 1999) e por isso a

CET teria indicações limitadas para a promoção da abstinência (Ferguson and Shiffman;

2009). Porém outros estudos demonstram a eficácia da CET na extinção de estímulos

condicionados à droga e consequente redução da fissura (O’Brien and col., 1990; Field

and Duka 2002), além de redução no consumo de drogas (Drummond and Glautier

1994). Existem esforços para melhoria de sua eficácia na aplicação para a dependência

química (Conklin & Tiffany, 2002), fazendo com que as conclusões sobre a sua eficácia

sejam precipitadas.

Enquanto isso, os resultados da Terapia de Atenção Plena ou Mindfulness foram

controversos com relação a fissura e os dados relacionados ao aumento do tempo de

abstinência não foram significativos. Porém os dados disponíveis têm demonstrado

impactos positivos a em reduzir o consumo de várias substâncias incluído o álcool,

cocaína, anfetamina, maconha, tabaco e opiáceos, bem como em reduzir a fissura

(Chiesa and Serretti, 2014). Do mesmo modo, intervenções baseadas em Mindfulness

têm reduzido a fissura (Witkiewitz et al, 2013), inclusive em seus aspectos neurais

(Westbrook et al., 2011). Sendo assim, apontamos a necessidade de outros estudos que

repliquem demais resultados para a aplicação de mindfulness no tratamento da

dependência química.

O Attentional Bias Modification não teve impacto significativo na redução da

fissura do tabaco e álcool e, apesar de enfraquecer as associações das pistas relacionadas

a droga e aumentar o tempo de abstinência, suas mudanças foram transitórias e pouco

generalizadas. Porém outros estudos também demonstraram que Attentional Bias

Modification é capaz de reduzir a fissura (Field et col., 2007) e o consumo de álcool em

grupos treinados para desviar a atenção de estímulos relacionados as drogas (Field and

Eastwood, 2005). Nesse sentido, tal treinamento mostrou-se efetivo em modificar as

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70

respostas frente a estímulos condicionados às drogas (Attwoodet al, 2008), mas seus

resultados devem ser interpretados com cautela. Ainda sim sua aplicação pode

contribuir para aumentar a eficácia do tratamento baseado na terapia cognitivo

comportamental (Schoenmakers et al., 2011).

Em suma, o tratamento da fissura é uma das etapas essenciais do tratamento da

dependência química. A complexidade e a natureza multideterminada, tornam difícil a

compreensão da fissura e seu tratamento. A consequência disso é uma ampla variedade

de teorias, modelos explicativos e tratamentos disponíveis, os quais devem ser

utilizados de acordo com o perfil do paciente, suas necessidades e recursos, assim como

o histórico e gravidade de sua doença. Vale ressaltar a importância de avaliar o impacto

e benefício da aplicação desses recursos bem como julgar a necessidade de associá-los

para obtenção de melhor resultado terapêutico.

Destacamos a indisponibilidade de alguns artigos como uma limitação de nossos

resultados. Apontamos a necessidade de outros trabalhos que explorem o tratamento dos

subtipos de fissura e comparem a eficácia das intervenções psicológicas aplicada à cada

um deles.

8.2. ESTUDO 1 – PROTOCOLO PADRÃO

8.2.1. Participantes

Oitenta tabagistas comparecerem a reunião admissional procurando tratamento

para o tabagismo. Esses pacientes foram submetidos ao protocolo de avaliação clínica e

19 foram excluídos por não preencherem os critérios diagnósticos. Todos os pacientes

foram submetidos a avaliação psiquiátrica para avaliação da demanda de

farmacoterapia.

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71

A amostra de pacientes elegíveis para o tratamento contou com 54 tabagistas

com intenção para o tratamento. Todos esses pacientes foram submetidos também ao

protocolo de avaliação neuropsicológica, etapa anterior ao início do tratamento. Neste

estudo, os pacientes foram submetidos a intervenção padrão, composta por 4 sessões

semanais.

8.2.2. Variáveis clínicas do grupo de pacientes que iniciaram e não iniciaram o

tratamento

Entre o universo dos 54 tabagistas, apenas 32 pacientes deram inicio ao

tratamento. Nessa condição foram incluídos os pacientes que frequentaram ao menos

uma sessão do grupo, enquanto aqueles que não foram a nenhuma reunião compuseram

o grupo de desistentes. Os pacientes desistentes não deram início ao tratamento por

indisponibilidade e/ou incompatibilidade de horários dos grupos oferecidos. Foram

oferecidos 8 grupos, divididos nos turnos da manhã e tarde.

O grupo de pacientes que iniciou o tratamento foi comparado aos que não deram

início quanto a sua condição sócio demográfica, avaliação clínica e neuropsicológica.

As variáveis sócio-demograficas estão representadas na tabela 3. Foram observadas

diferenças significativas entre os 2 grupos quanto a escolaridade: os pacientes com

maior nível de escolaridade foram a maioria daqueles que deram início ao tratamento.

Os dois grupos demonstraram homogeneidade quanto às demais variáveis sócio

demográficas.

Tabela 3. Dados sócio demográficos dos pacientes que deram início ao tratamento e

que não deram início

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72

Foram observadas diferenças significativas quanto a idade atual dos pacientes

que deram início ao tratamento, sendo esse formado por um grupo de pacientes mais

velhos. Não foram observadas diferenças significativas relacionadas às demais variáveis

clínicas. Essas informações estão representadas na tabela 4.

Tabela 4. Comparação entre as linhas de base das variáveis clínicas entre os pacientes

que iniciaram o tratamento e que não deram início.

Tabagistas que

iniciaram o tratamento

(N=32)

Tabagistas que não

iniciaram o

tratamento (N=22)

X² ou

Fisher

p

Sexo 2,265 0,132

Mulheres 25 (78%) 13 (59%)

Escolaridade 2,900 0,0338

Fund.

Incompleto

7 (22%) 7 (32%)

Fund. Completo 5 (15,6%) 3 (13,6%)

Médio

Incompleto

1 (3,1%) 5 (22,7%)

Médio Completo 10 (31,3%) 4 (18,2%)

Superior

Incompleto

2 (6,3%) 3 (13,6%)

Superior

Completo

7 (21,9%) 0 (0%)

Critério Brasil 0,209 0,509

B1-B2 14 (46,6%) 7 (31,8%)

C1-C2 12 (40%) 14 (63,7%)

D 4 (13,3%) 1 (4,5%)

Tabagistas que

iniciaram o

tratamento (N=32)

Tabagistas que não

iniciaram o

tratamento (N=22)

X² ou

Fisher

P

Uso regular de

álcool

0,239 0,625

Sim 21 (65,6%) 9 (41%)

Motivação para o

tratamento

3,644 0,056

Contemplação 0 (0%) 5 (26,3%)

Preparação 12 (100%) 14 (73,7%)

Qto tempo fumou

o ultimo cigarro

0,521 0,470

0-30 minutos 2 (10,5%) 3 (16,7%)

31-60 minutos 11 (58%) 4 (22,%)

61-89 minutos 2 (10,5%) 7 (38,9%)

90-120 minutos 1 (5,3%) 0 (0%)

> 120 minutos 3 (15,8%) 4 (22,%)

Classificação da 0,394 0,530

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73

Os pacientes que não deram inicio ao tratamento relataram a presença de mais

comportamentos relacionados a impulsividade atencional. Não foram observadas

diferenças significativas quanto às características dos pacientes que abandonaram e que

iniciaram o tratamento. Todos os resultados podem ser conferidos na tabela 5 e 6. Além

disso, todos os pacientes que iniciaram o tratamento estavam na fase motivacional de

preparação para o tratamento, variável que indicou uma tendência significativa.

Também foi observada uma tendência significativa quanto a impulsividade por não

planejamento, maior entre os pacientes que não iniciaram o tratamento.

Tabela 5. Comparação entre as linhas de base das variáveis clínicas do grupo de

pacientes que iniciaram e não iniciaram o tratamento

Tabagistas que

iniciaram o tratamento

(N=32)

Tabagistas que não

iniciaram o tratamento

(N=22)

Média

(SD)

Mediana Média (SD) Mediana U ou T P

Idade 56,19

(5,46)

57,0 48,95

(12,37)

50,0 -2,574 0,016

Fagerstron

Total 6,59 (1,99) 7,0 6,27 (2,12) 7,0 0,644 0,574

BDI

Escore total 17,63

(8,56)

16,0 20,36

(16,28)

16,5 0,723 0,475

Asrs-18

Total 29,87

(9,08)

32,0 27,95

(14,25)

27,0 -0,593 0,556

UPPS

Subteste urgência 31,75

(5,41)

32,0 33,90 (6,08) 34,0 1,349 0,183

Subteste falta de

premeditação

20,59

(4,95)

21,0 22,05 (8,58) 23,5 0,716 0,480

Subteste falta de

perseverança

19,44

(4,77)

19,0 19,55 (6,64) 20,0 0,070 0,945

fissura atual

Ausência de

fissura

2 (9,1%) 1 (5%)

Fissura Leve 2 (9,1%) 7 (35%)

Fissura moderada 9 (40,9%) 4 (20%)

Fissura intensa 9 (40,9%) 8 (40%)

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74

ASRS-18

Hiperatividade 16,38

(5,63)

15,5 15,67 (5,32) 17,0 -0,857 0,396

QSU

Somas das

resposta 1-10

44,60

(12,02)

45,0 32,83

(16,63)

32,0 -0,125 0,901

Subescala

antecipação dos

efeitos positivos

de fumar

10,89

(2,80)

11,0 6,82 (3,73) 8,0 -1,017 0,316

Subescala

intenção de

fumar

13,33

(4,15)

13 12,73 (4,71) 14,0 -0,609 0,546

Tabela 6. Comparação entre as linhas de base das variáveis neuropsicológicas do grupo

de pacientes que iniciaram e não iniciaram o tratamento

Tabagistas que

iniciaram o tratamento

(N=32)

Tabagistas que não

iniciaram o tratamento

(N=22)

Variável Média (SD) Mediana Média

(SD)

Mediana U ou T P

BIS-11

Impulsividade

por não

planejamento

26,63 (5,13) 27,5 29,57

(5,56)

30,0 1,977 0,053

Impulsividade

atencional

19,34 (4,52) 18,0 25,24

(5,10)

25,0 4,407 0,000

Ravlt

Ravlt B1 4,69 (2,17) 5,0 4,36 (1,91) 4,0 -0,574 0,569

A6_evoc

imediata

8,50 (2,84) 8,0 8,38 (2,95) 9,0 -0,147 0,884

Total A1 a A5 42,41 (9,15) 42,0 44,14

(11,99)

46,0 0,601 0,550

Lot 16,31 (5,45) 16,5 13,5 (5,24) 12,5 -1,892 0,064

WSCT

Acertos 35,16 (9,63) 36,0 34,10

(9,59)

33,0 -0,385 0,702

Erros 29,19 (9,69) 29,0 29,95

(9,61)

31,0 0,273 0,786

Respostas

perseverativos

13,17 (7,17) 10,5 11,35

(7,35)

11,5 -0,869 0,389

Erros

perseverativos

12,07 (5,92) 10,5 10,53

(5,70)

11,0 -0,899 0,372

Erros não

perseverativos

18,80 (8,76) 16,5 17,84

(10,22)

15,0 0,380 0,706

Resposta de

nível conceitual

26,61(12,97) 28,0 24,60

(13,61)

21,0 -0,531 0,598

IGT

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75

Escolhas pilha A 22,68 (5,92) 24,0 25,48

(7,05)

25,0 1,547 0,128

Escolhas pilha C 23,06 (5,41) 24,0 22,81

(5,66)

32,0 -0,164 0,871

Escolhas pilha D 26,45 (7,71) 25,0 24,05

(5,50)

24,0 -1,230 0,225

Tend. bloco 3 -0,52 (5,56) -2,0 -2,10

(6,76)

0,00 -0,920 0,362

Tendência geral -1,61 (18,68) -4,0 -5,33

(16,44)

-6,0 -0,739 0,464

Dígitos

Dígitos direto

acertos

7,75 (2,07) 7,5 7,41 (2,01) 7,5 -0,599 0,552

8.2.3. Perfil clínico e neuropsicológico dos pacientes que pararam e não pararam

de fumar

Foram 17 sujeitos que pararam de fumar, ou seja, foram aqueles que

abandonaram totalmente o hábito de fumar. Estes frequentaram ao menos 2 sessões,

sendo que atingiram 64,7% das presenças em todas as 4 sessões.

A maioria dos pacientes que parou de fumar eram mulheres (76,5%) com idade

média de 56,06 (SD=5,12) e idade de início do tabaco aos 16,27 anos (SD=6,49). A

maioria tinha o ensino médio completo (35,3%) ou ensino superior completo (29,4%).

Esses pacientes fumavam em media de 11 a 20 cigarros diariamente (58,8%), tendo sido

observado um elevado grau de dependência de nicotina (52,9%), com valor médio de

6,59 (SD=1,99). Esse grupo relatou sintomas de fissura intensa (35,3%) e apenas 31 a

60 minutos de abstinência de seu último cigarro (29,4%). Quanto a motivação para o

tratamento, estavam na fase equivalente a preparação (29,4%).

Tabela 7. Dados sócio demográficos dos pacientes que pararam e não pararam de fumar

Pacientes que pararam

de fumar N=17

Pacientes que não

pararam de fumar

N=15

X² ou

Fisher

P

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76

* O programa SPSS não informou esse valor

Não foram observadas diferenças significativas quanto as variáveis clínicas,

conforme a tabela 8.

Tabela 8. Comparação entre as linhas de base das variáveis clínicas do grupo de

pacientes que pararam e não pararam de fumar

p* não foi possível fazer o cálculo da motivação para o tratamento, pois todos os

pacientes estavam apenas em uma fase.

** a fissura teve seus itens reagrupados em função do baixo tamanho amostral

*** O programa SPSS não informou esse valor

Sexo * 1,000

Mulheres 13 (76,5) 12 (80%)

Idade 56,06 56,33 0,139 0,890

Escolaridade 2,064 0,151

Fund. Incompleto 2 (11,8%) 5 (33,3%)

Fund. Completo 3 (17,6%) 2 (13,3%)

Méd. Incompleto - 1 (6,7%)

Médio Completo 6 (35,3%) 4 (26,7%)

Sup. Incompleto 1 (5,9%) 1 (6,7%)

Sup. Completo 5 (29,4%) 2 (13,3%)

Critério Brasil 2,951 0,086

B1-B2 9 (52,9%) 5 (33,3%)

C1-C2 5 (29,4%) 7 (46,7%)

D 1 (5,9%) 3 (20,0%)

Pacientes que pararam

de fumar (n=17)

Pacientes não pararam

de fumar (n=15)

X² ou

Fisher

P

Cage

Sim 11 (64,7%) 10 (66,7%) -2,060 0,059

Escala de Ladder * p*

Preparação 5 (29,4%) 7 (46,7%)

Qto tempo fumou

o último cigarro**

*** 0,390

0-30 minutos - 2 (13,3%)

31-60 minutos 5 (29,4%) 6 (40,0%)

61-89 minutos 1 (5,9%) 1 (6,7%)

90-120 minutos 1 (5,9%) -

> 120 minutos 2 (11,8%) 1 (6,7%)

QSU 2,738 0,098

Ausência de

fissura- Fissura

Leve

4 (23,5%) 3 (20,0%)

Fissura moderada-

Fissura intensa

6 (35,3%) 9 (60,0%)

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77

Os pacientes que não pararam de fumar relataram a presença de mais sintomas

de ansiedade do que aqueles que pararam e essa diferença foi estatisticamente

significativa (p=0,014).

Tabela 9. Comparação das variáveis neuropsicológicas de tabagistas que pararam e não

pararam de fumar

Pacientes que pararam

de fumar (n=17)

Pacientes não pararam

de fumar (n=15)

U ou T P

Média

(SD)

Mediana Média

(SD)

Mediana

Idade de início

do tabagismo

14,65

(2,87)

14,0 16,27

(6,49)

14,0 -0,160 0,890

Fagerstrom

Total 7,0 (1,54) 7,0 6,13

(2,38)

7,0 -1,203 0,241

Psicopatologia

BDI 15,76

(7,11)

15,0 19,73

(9,77)

18,0 1,325 0,195

BAI 10,94

(9,06)

11,0 20,87

(12,05)

20,0 2,603 0,014

UPPS

Subt. urgência 30,88

(4,19)

30,0 32,73

(6,55)

35,0 0,963 0,343

Subt. falta de

premeditação

20,76

(4,19)

21,0 20,40

(5,84)

21,0 -0,205 0,839

Subt. falta de

perseverança

19,40

(5,36)

19,0 19,47

(4.36)

19,0 -0,041 0,968

Subt busca por

sensações

26,53

(10,0)

25,0 24,6

(9,20)

23,0 -0,819 0,577

ASRS

Desatenção 12,59

(4,86)

13,0 14,80

(5,89)

17,0 -0,856 0,254

Hiperatividade 16,38

(5,63)

15,5 15,67

(5,32)

17,0 -0,359 0,722

As variáveis neuropsicológicas do grupo de pacientes que pararam e não

pararam de fumar foram representadas na tabela 10. A impulsividade atencional se

destacou entre os paciente que não pararam de fumar. Podemos observar que houveram

diferenças significativas quanto as respostas perseverativas e erros perseverativos e uma

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78

tendência em relação ao fracasso em manter o contexto índices do teste de cartas

Wisconsin. Também houve uma tendência no bloco 5 do teste IGT.

Tabela 10. Comparação entre as linhas de base das variáveis neuropsicológicas do

grupo de pacientes que pararam e não pararam de fumar

Pacientes que pararam

de fumar (N=17)

Pacientes não pararam

de fumar (N=15)

Variável Média (SD) Mediana Média (SD) Mediana U ou T P

Raven

Total 35,14(11,05) 37 29,14(11,12) 25 -0,228 0,164

BIS-11

Impulsividade

por não

planejamento

26,18 (4,51) 27,0 27,13 (5,87) 29,0 0,520 0,607

Impulsividade

motora

20,00 (3,12) 20,00 20,60 (3,77) 21,0 -1,509 0,626

Impulsividade

atencional

17,76 (4,14) 17,0 21,13 (4,38) 22,0 2,231 0,033

Ravlt

Ravlt B1 4,94 (1,75) 5 4,40 (2,50) 4 -0,716 0,479

A6_evoc

imediata

8,06 (2,81) 8 9,00 (2,78) 8 0,934 0,358

A7_evoc tardia 8,76 (1,98) 8 9,00 (2,39) 8 -0,743 0,763

Total A1 a A5 43,06 (7,35) 42 41,67(11,07) 42 -0,424 0,675

Lot 17,47 (5,36) 17 15,00 (5,42) 15 -1,293 0,206

WSCT

Acertos 37,38 (9,51) 39 32,80 (9,51) 32 -1,338 0,191

Erros 26,63 (9,51) 25 31,93 (9,41) 33 1,560 0,130

Respostas

perseverativas

10,56 (4,16) 10 16,14 (8,77) 15,5 2,273 0,031

Erros

perseverativos

9,81 (3,43) 9 14,64 (7,16) 15 2,405 0,023

Erros não

perseverativos p=0,706

16,81 (9,59) 13 16,79 (8,06) 18 -0,008 0,091

Resposta de

nível conceitual

30,63(13,12) 32,5 22,33(11,74) 22 -1,849 0,075

Categorias

completadas

1,69 (1,35) 1,0 1,47 (1,06) 1,12 -0,112 0,756

Ensaios para a

1ª categoria

27,44(20,69) 18,5 31,79(21,05) 25,5 -1,335 0,573

Fracasso em

manter o

contexto

1,06 (0,99) 1,0 0,43 (0,85) 0,0 -0,846 0,053

IGT

Pilha A 23,31(6,67) 23 22,0 (5,15) 24 -0,610 0,547

Pilha B 28,19(6,70) 28 28,27(7,01) 26 -0,131 0,975

Pilha C 23,38(5,80) 23 22,73(5,14) 24 -0,325 0,748

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79

Pilha D 27,87(8,09) 27 25,13(7,34) 23,5 0,988 0,331

Tend. bloco 1 -1,13(4,06) -2 0,27 (2,91) 0,0 -1,777 0,285

Tend. bloco 2 -0,25(6,88) 0,0 0,67 (4,82) 0,0 -1,366 0,673

Tend. bloco 3 -0,38(5,27) -2,0 -0,67(6,03) -2 -0,144 0,887

Tend. bloco 4 3,0 (9,23) 5 -0,40(4,48) 0,0 -0,470 0,202

Tend. bloco 5 -2,75(6,88) -3 1,73 (5,54) 0,0 -0,329 0,056

Tendência geral -3,0(21,09) -6 -1,13(16,3) -4,0 0,421 0,677

Dígitos

Direto acertos 7,87 (2,38) 7 7,65 (1,83) 8 0,294 0,771

Direto span 5,41 (1,12) 6 5,53 (1,59) 5 -0,799 0,803

Direto total 40,76(18,53) 35 46,47 25,6) 35 -0,425 0,472

Inverso acertos 5,0 (2,20) 4 4,47 (1,84) 4 -0,440 0,468

Inverso total 21,82(15,89) 16,0 19,33(14,23) 16 -0,383 0,646

Inversa span 3,88 (1,21) 4,0 3,87 (1,35) 4,0 -0,222 0,598

Cubos

Direta span 5,06 (0,68) 5,0 5,33 (0,81) 5,0 -1,030 0,352

Direta acertos 7,10 (1,35) 7,0 6,82 (1,91) 7,0 -0,888 0,611

Direta total 35,88 (9,41) 35,0 37,07 12,69) 30,0 -0,828 0,984

Inversa acertos 5,63 (1,66) 5,0 5,00 (1,25) 5,0 -0,616 0,450

Inversa span 4,19 (0,75) 4,0 4,27 (0,70) 0,70 -0,682 0,598

Inversa total 24,5 (11,9) 20 21,8 (7,72) 24,0 -0,681 0,842

Onze pacientes pararam de fumar e frequentaram as 4 sessões e entre os

pacientes que não pararam de fumar apenas 7 completaram o tratamento, mas essa

diferença não foi significativa (p=0,554). Em relação ao uso da medicação, 76%

utilizaram bupropiona ou adesivo no grupo que alcançou a abstenção e 66,6% entre

aqueles que não abandonaram o tabaco (p=0,652).

Tabela 11. Comparação da frequência no tratamento e utilização da medicação entre os

pacientes que pararam e não pararam de fumar

Pacientes que pararam

de fumar (n=17)

Pacientes não pararam

de fumar (n=15)

X² ou

Fisher

P

Quantas sessões

frequentou

* 0,280

1 - -

2 1 (5,9%) -

3 5 (29,4%) 8 (53,3%)

4 11 (64,7%) 7 (46,7%)

Utilizou algum

medicamento

* 0,652

Nenhum 4 (23,5%) 5 (33,3%)

Bupropiona 12 (70,6%) 8 (53,3%)

Adesivo 1 (5,9%) 2 (13,3%)

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80

* O programa SPSS não informou esse valor

8.2.4. Análise de preditores relacionados ao sucesso do tratamento

Para identificar os preditores clínicos e neuropsicológicos relacionados ao

desfecho “abandono do tabaco” (variável dependente) foi conduzida uma análise de

regressão logística. A partir dos resultados da análise univariada, foram selecionadas

todas as variáveis (independentes) que obtiveram um nível de significância de 20%. Em

seguida, foi feita uma redução manual “passo a passo”, em que a variável que

apresentava maior valor de alfa (tendo p<0,05 como referência) era removida. Esse

procedimento foi repetido até encontrar a(s) variável(is) que preenchia(m) o valor de

significância critério que comporiam os modelos finais. As variáveis explicativas

selecionadas nos modelos parciais foram então incluídas em cada modelo final

apresentado.

O primeiro modelo significativo foi composto pelas variáveis relacionadas a

impulsividade atencional (BIS11 C) e a fissura (QSU-Total). A impulsividade

atencional demonstrou ser um fator de proteção (Exp(B)<1), ou seja, quanto maior o

nível de impulsividade menor a probabilidade em parar de fumar. Além disso, o

aumento de uma unidade diminui em 0,840 a probabilidade de o sujeito abandonar o

tabaco. Enquanto isso, a fissura apresentou-se como um fator de risco (Exp(B)>1):

quanto maior a fissura, maior a probabilidade em abster-se do cigarro. E o aumento de

uma unidade aumenta em 1,082 a probabilidade do sujeito abandonar o tabaco.

Tabela 12. Variáveis da equação do modelo 1 de regressão logística

B S.E. Wald Sig. Exp(B) 95% C.I.for

EXP(B)

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81

Menor Maior

Step

1a

BIS11-imp_atencional -,175 ,075 5,439 ,020 ,840 ,725 ,972

QSUB-total ,079 ,035 5,017 ,025 1,082 1,010 1,160

a. Variável(is) incluída (s) na etapa 1: BIS11-imp_atencional, QSUB-total.

Foi observado na amostra estudada, a importância do uso da medicação para o

abandono do tabaco. Por isso, essa variável foi incluída no modelo como variável

preditora de modo a identificar sua influência sobre os dados. O segundo modelo

encontrado também foi significativo (p=0,513). Porém a inclusão dessa variável fez

com que as demais variáveis perdessem a sua significância, ou seja, seu valor preditivo,

tornando o modelo inadequado.

Tabela 13. Variáveis da equação do modelo 2 de regressão logística

B S.E. Wald Sig. Exp(B) 95% C.I.for

EXP(B)

Menor Maior

Step 1a BIS11_imp_atencional -,360 ,195 3,408 ,065 ,698 ,476 1,022

QSUBtotal ,072 ,040 3,181 ,074 1,074 ,993 1,162

Apoio_medicamentoso ,352 ,839

Apoio_medicamentoso_

bupropiona

22,10

0

40192,

982

,000 1,000 3,962E

9

,000 .

Apoio_medicamentoso_

adesivo

21,25

8

40192,

982

,000 1,000 1,707E

9

,000 .

Constant -

17,44

2

40192,

982

,000 1,000 ,000

a. Variável(is) incluída (s) na etapa 1: BIS11.C_atencional, QSUBtotal,

Apoio_medicamentoso.

8.3. Desenvolvimento do protocolo de tratamento fissura

Como dito anteriormente, o protocolo fissura foi construído a partir do

levantamento bibliográfico pelo qual se identificou as principais técnicas para o manejo

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82

da atenção. Além disso, foram levantados dados do estudo 1 a respeito do perfil

cognitivo dos paciente que pararam e não pararam de fumar a partir da aplicação do

protocolo padrão de tratamento. O protocolo fissura constitui-se de 4 sessões que

abordaram em específico a fissura.

Na primeira sessão do protocolo fissura conceitos de síndrome de abstinência

são abordados, de maneira a destacar a fissura como um dos mais importantes aspectos

da cessação. A fissura seria o desejo de consumir uma substância quando estamos

abstinentes dela. São caracterizadas as formas de experimentar essa fissura, seja de

modo somático, cognitivo ou afetivo. Em seguida é discutido que o desejo pelo cigarro

é acompanhado de algum desconforto, como ansiedade e pensamentos negativos. É feita

uma psicoeducação sobre pensamentos automáticos: são ideias que falamos para nós

mesmos e que desencadeiam reações emocionais, fisiológicas e comportamentais em

nós. Elas podem aparecer na forma de frases ou de imagens mentais. Nesse ponto é feita

a diferenciação dos pensamentos automáticos negativos e positivos e enfatizado que os

pensamentos automáticos negativos são disfuncionais porque que não se baseiam em

lógica e surgem espontaneamente em nossa mente diante dos acontecimentos do dia a

dia. Pelo fato de serem negativas, essas ideias não ajudam a atingir os objetivos

pessoais. Destaca-se a possiblidade de identificação desses pensamentos automáticos

após treinamento, sendo que essa identificação tem por objetivo encontrar os erros

desses pensamentos e reestruturá-los. Como tarefa de casa, é pedido ao paciente que

faça o registro dos pensamentos automáticos negativos e tente reestruturá-los.

Na segunda sessão, o objetivo é realizar o treinamento de estratégias para o

manejo da fissura. Por isso, são ensinadas técnicas comportamentais, como relaxamento

e respiração e técnicas cognitivas, refocalização e distração atencionais, substituição de

imagens. Além disso, é discutido como o paciente deve utilizar essas técnicas diante das

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83

diferentes situações. A tarefa de casa continua sendo o registro diário das situações de

fissura.

Na terceira sessão são aplicadas as técnicas de Exposição e Prevenção de

Respostas. Primeiramente os pacientes são expostos de forma imaginária e em seguida a

um cigarro de verdade. Os pacientes são convidados a aplicar as técnicas ensinadas na

sessão anterior. Também é feito uma exposição imaginária pela qual se busca o

pareamento de imagens positivas relacionadas as expectativas positivas de fumar com

sentimentos negativos despertados pelas consequências de fumar. A tarefa de casa

consiste em pequenos exercícios de exposição.

Na quarta sessão é apresentado e discutido o modelo cognitivo da recaída e se

relaciona com as técnicas ensinadas e aplicadas nas sessões anteriores. São discutidos os

conceitos de lapso e recaída e como identificar situações de alto risco. É realizado um

fechamento do tratamento com feedback geral.

As sessões placebos eram semi estruturadas e guiadas por objetivos em cada

uma delas tendo em todas elas como principal objetivo, a prevenção a recaída. Na

primeira sessão era proposto o exercício de balança decisória. Na segunda sessão e

terceira sessão identificação de gatilhos em situações de alto risco e na quarta sessão a

construção de um plano de ação pessoal para enfrentar as situações de alto risco. Um

resumo pode ser conferido na tabela a seguir.

Tabela 14. Resumo das sessões protocolo fissura

Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4

Objetivo Introduzir o modelo cognitivo com foco nos pensamentos automáticos que desencadeiam fissura

Ensinar técnicas de manejo de fissura e comportamentos alternativos

Dessensibilização frente à estímulos condicionados e que desencadeiam fissura.

Introduzir o treinamento de prevenção de recaída

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84

Técnicas Psicoeducação, Reestruturação cognitiva

Psicoeducação, Reestruturação cognitiva, Relaxamento, Refocalização Distração, Cartão de enfrentamento.

Exposição com Prevenção de Resposta

Prevenção a recaida

Resumo da sessão

1- Revisão da semana e conexão com a sessão anterior 2-Conceitos do dia 3- Psicoeducação: Sobre a síndrome de abstinência e fissura 4- Psicoeducação sobre modelo cognitivo Tempo de duração: 15 minutos 5- Psicoeducação sobre Pensamentos automáticos 6- Resumo da sessão 7- Tarefa de casa 8- Feedback da sessão

1- Revisão da semana e conexão com a sessão anterior 2-Revisão da tarefa de casa 3-Conceitos do dia 4- Exercícios breves de relaxamento 5- Técnicas cognitivas: Refocalização x Distração; Substituição de imagens positivas por imagens negativas X substituição de imagens negativas por imagens positivas. 6- Resumo da sessão 7- Tarefa de casa 8- Feedback da sessão

1- Revisão da semana e conexão com a sessão anterior 2-Revisão da tarefa de casa 3-Conceitos do dia 4-Exercício de exposição pela imaginação e in vivo 5- Resumo da sessão 6- Tarefa de casa 8- Feedback da sessão

1- Revisão da semana e conexão com a sessão anterior 2-Revisão da tarefa de casa 3-Conceitos do dia 4-Prevenção de recaída: modelo cognitivo-comportamental do processo de recaída 5-Diferenciação entre lapso e recaída 6-Vivência: Análise de recaídas anteriores e identificação de situações de alto risco, discussão de intervenções possíveis. 7-Resumos periódicos e resumo final Feedback do tratamento.

8.4. Estudo 2 – Protocolo Fissura

8.4.1. Participantes

Foram acolhidos 90 tabagistas na reunião admissional. Após o preenchimento

das escalas de avaliação clínica 40 pacientes foram encaminhados para a avaliação

psiquiátrica para adequação do tratamento medicamentoso e identificação de outras

comorbidades psiquiátricas. 4 pacientes foram excluídos por não preencherem os

critérios de inclusão e foram encaminhados para outras formas de tratamento dentro e

fora do ambulatório de dependência química. Os demais pacientes foram convocados

para a primeira reunião de grupo, mas 25 desistiram ou não tinham horário compatível

com os horários de realização dos grupos.

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85

Sessenta e um pacientes foram submetidos a avaliação neuropsicológica, deram

início ao tratamento frequentando a primeira reunião e foram alocados aleatoriamente

em um dos grupos. Quarenta e dois pacientes chegaram até a última sessão e dezenove

pacientes não deram continuidade ao tratamento. Entre os pacientes que completaram o

tratamento, apenas 15 fizeram uso de medicação (12 pacientes do grupo tratamento e 3

do grupo controle).

Figura 4. Fluxograma de seleção dos participantes

8.4.3. Características sócio demográficas dos grupos controle e tratamento

A amostra final foi composta por quarenta e dois pacientes. Eles foram atendidos

ao longo dos 20 grupos de apoio para tabagistas realizados, sendo 10 grupos para

pacientes na condição de tratamento e 10 na condição controle. Entre eles, 64,3% eram

mulheres com idade entre 25 e 64 anos (M=46,5; SD=11,0) e 26,3% completaram o

Reunião de Admissão

90

Randomização simples

N=42

Grupo Tratamento

N=26

Grupo Controle

N=16

Avaliação Neuropsicológica

N=61

Grupo INCA

N=61 19 Desistências

4 Exclusões por critérios

25 Desistências

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86

ensino médio. Quanto a classificação socioeconômica, 52,4% pertenciam a classe C de

acordo com o Critério Brasil (Brasil, 2008). Essas informações estão representadas na

tabela 15, na qual pode-se observar a sua distribuição de acordo com a condição

assumida.

Tabela 15. Dados sócio demográficos dos pacientes condição controle e

tratamento

* O programa SPSS não informou esse valor

Não foram observadas diferenças significativas relacionadas as variáveis sócio

demográficas, indicando homogeneidade dos grupos.

8.4.3. Perfil clínico e neuropsicológico dos grupos controle e tratamento

As características clínicas estão representadas na tabela 16. Não foram

observadas diferenças significativas quanto a estas variáveis.

Tabela 16. Variáveis clínicas dos pacientes condição controle e tratamento

Variável categórica Controle

N=16

Tratamento

N=26

X² ou

Fisher

P

Sexo * 0,511

Mulheres 9 (56,3%) 18 (69,2%)

Idade 47,38 (11,44) 45,96 (10,93) 0,400 0,692

Escolaridade 0,286 0,593

Fund. Incompleto 3 (18,8%) 6 (23,1%)

Fund. Completo 0 (0%) 1 (3,8%)

Médio Incompleto 1 (6,3%) 4 (15,4%)

Médio Completo 5 (31,3%) 6 (23,1%)

Superior Incompleto 4 (25,0%) 2 (7,7%)

Superior Completo 3 (18,8%) 7 (26,9%)

Critério Brasil 0,093 0,761

B1-B2 8 (50%) 11 (42,3%)

C1-C2 7 (43,7%) 15 (57,7%)

D 1 (6,3%) 0 (0%)

Controle

N=16

Tratamento

N=26

X² ou

Fisher

P

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87

* Os itens tiveram que ser reagrupados devido ao pequeno tamanho amostral.

Foram observadas diferenças significativas quanto a média de impulsividade

motora, sendo maior entre os pacientes da condição controle. Do mesmo modo, o

subteste busca por sensações (Questionnaire of Smoking Urges Brief – versão brasil-

QSU-BR) foi maior entre os pacientes na condição tratamento. Não foram observadas

outras diferenças. Todos os resultados podem ser conferidos na tabela 17.

Tabela 17. Variáveis clínicas dos pacientes condição controle e tratamento

Controle

N=16

Tratamento

N=26

U ou T P

Média

(SD)

Mediana Média

(SD)

Mediana

Idade 47,38

(11,44)

48,5 45,96

(10,93)

49,0 0,400 0,692

Fagerstron

Total 4,81

(2,19)

5,0 5,81 (2,75) 6,0 -1,713 0,087

BDI 12,38

(9,33)

13,0 15,81

(9,87)

13,5 -1,116 0,271

BAI 14,13

(10,2)

14,0 13,65

(10,3)

9,5 -0,181 0,856

BIS-11

Impulsividade 24,13 24,5 19,96 19,5 2,768 0,011

Uso regular de álcool 0,001 0,974

Sim 11 (68,8%) 18 (69,2%)

Motivação para o

tratamento

0,001 0,973

Pré-contemplação 0 (0,0%) 1 (3,8%)

Contemplação 3 (18,8%) 3 (11,5%)

Preparação 13 (81,3)% 22 (84,6%)

Qto tempo fumou o

ultimo cigarro

0,195 0,659

0-30 minutos 5 (31,3%) 6 (23,1%)

31-60 minutos 5 (31,3%) 6 (23,1%)

61-89 minutos 2 (12,5%) 7 (26,9%)

90-120 minutos 0 (0,0%) 2 (7,7%)

> 120 minutos 4 (25,0%) 5 (19,2%)

Classificação da fissura

atual

0,276 1,000

Ausência de fissura 1 (6,2%) 3 (11,6%)

Fissura Leve 5 (31,2%) 7 (26,9%)

Fissura moderada 8 (50,0%) 7 (26,9%)

Fissura intensa 2 (12,6%) 9 (34,6%)

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88

motora (5,35) (3,50)

Impulsividade por

não planejamento

28,94

(4,38)

28,5 27,23

(3,80)

26,5 1,331 0,191

Impulsividade

atencional

25,19

(4,10)

25,0 23,38

(3,40)

23,0 1,541 0,131

UPPS

Subteste urgência 33,00

(7,06)

33,0 31,81

(4,94)

32,5 0,592 0,559

Subteste falta de

premeditação

21,63

(5,80)

22,5 18,73

(4,92)

18,5 -1,662 0,097

Subteste falta de

perseverança

19,50

(6,45)

19,0 17,73

(3,49)

18,0 1,155 0,255

Busca por

sensações

28,88

(7,16)

27,5 24,81

(5,13)

23,5 2,107 0,041

ASRS-18

Desatenção 14,75

(5,98)

15,5 18,81

(5,06)

14,5 -0,033 0,973

Hiperatividade 16,44

(7,30)

15,5 15,50

(5,20)

16,0 0,486 0,630

QSU

Somas das resposta

1-10

31,56

(15,95)

31,0 33,77

(15,91)

34,0 -0,436 0,665

Sub. antecipação

dos efeitos

positivos de fumar

7,00

(3,54)

7,0 7,35 (4,25) 7,0 -0,195 0,845

Sub. intenção de

fumar

11,38

(4,09)

11,5 11,15

(4,41)

11,0 0,162 0,872

Sub. Desejo de

fumar

8,06

(5,48)

7,0 9,88 (5,79) 11,0 -1,077 0,282

Sub. Alivio dos

sintomas de

abstinência

5,31

(3,80)

4,5 5,12 (3,17) 5,0 -0,757 0,449

As variáveis neuropsicológicas foram representadas na tabela 18. Podemos

observar diferenças significativas quanto aos resultados do teste de aprendizagem

auditivo-verbal de Rey nos índices de interferência retroativa (ITR), aprendizagem ao

longo de todas as tentativas (LOT) e velocidade de esquecimento. O LOT e a

velocidade de esquecimento foram menores para os pacientes na condição controle

enquanto ITR foi maior. Outras diferenças significativas e que beneficiaram os

pacientes no grupo controle foram os índices do teste IGT, tendência no Bl 5 e

tendência geral. Não foram observadas quaisquer outras diferenças entre os pacientes.

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89

Tabela 18. Variáveis neuropsicológicas dos pacientes da condição controle e tratamento

Controle

N=16

Tratamento

N=26

U ou T

Variável Média

(SD)

Mediana Média (SD) Mediana P

Raven

Total 40,13

(11,48)

43,0 40,58 (7,56) 41,0 -0,556 0,578

Ravlt

A6_evoc

imediata

9,67 (1,71) 10,0 8,58 (2,13) 9,0 1,682 0,101

A7_evoc tardia 9,13 (2,90) 10,0 8,76 (2,35) 9,0 -0,510 0,610

Total A1 a A5 44,13

(10,28)

42,0 41,81 (10,8) 43,5 -0,109 0,914

ITP 0,67 (0,27) 0,62 0,89 (0,49) 0,81 -1,617 0,106

ITR 0,90 (0,14) 0,88 0,83 (0,26) 0,80 -2,019 0,044

REC 11,66

(3,53)

12,0 11,88 (2,53) 12,0 -0,178 0,858

Lot 11,0 (7,56) 12,0 18,26 (8,28) 18,0 -2,798 0,008

ESQ 0,88 (0,21) 0,87 1,02 (0,19) 1,0 -2,133 0,033

WSCT

Acertos 32,93

(10,76)

36,0 34,68

(12,05)

37,0 -0,461 0,647

Erros 31,07

(10,76)

28,0 29,32 (27,0) 27,0 -0,461 0,647

Respostas

perseverativos

14,87

(6,42)

13,0 12,44 (5,87) 12,0 -1,290 0,197

Erros

perseverativos

13,47

(5,15)

12,0 12,28 (4,56) 12,0 -0,576 0,565

Erros não

perseverativos

17,60

(8,45)

17,0 17,40

(10,84)

14,0 -0,617 0,538

Resposta de

nível conceitual

24,67

(12,0)

26,0 26,84

(15,15)

26,0 -0,472 0,640

Categorias

Completas

1,60 (1,12) 2,0 2,04 (1,30) 2,0 -1,019 0,308

Ensaios para a

primeira

categoria

26,07

(21,38)

14,0 24,52

(19,27)

13,0 -0,057 0,955

Fracasso em

manter o

contexto

0,40 (0,63) 0,0 0,36 (0,56) 0,0 -0,136 0,892

IGT

Escolhas pilha A 19,44

(6,08)

6,08 24,12 (5,55) 30,9 -2,554 0,015

Escolhas pilha B 29,31

(7,08)

29,5 29,04 (5,22) 28,5 0,144 0,886

Escolhas pilha C 23,38 24,0 22,23 (5,11) 23,5 0,595 0,555

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90

(7,34)

Escolhas pilha D 27,88

(7,47)

29,5 24,62 (5,79) 25,0 -1,130 0,259

Bloco 1 -0,50

(3,46)

-1,0 -2,31 (4,29) -2,0 -1,819 0,069

Bloco 2 -0,13

(4,16)

-1,0 -1,0 (3,58) -2,0 0,722 0,474

Bloco 3 -0,75

(5,29)

0,0 -1,15 (5,80) 0,0 0,230 0,628

Bloco 4 0,00 (6,15) 0,0 0,08 (4,50) 0,0 -0,026 0,979

Bloco 5 4,0 (6,77) 2,0 -3,15

(11,52)

0,0 -2,945 0,003

Tendência geral 2,50 (11,9) 0,0 -6,31

(18,87)

-8,0 -2,039 0,041

Digitos

Direto span 6,33 (1,49) 6,0 5,68 (1,39) 6,0 -1,208 0,227

Direto acertos 9,0 (2,0) 9,0 8,32 (1,88) 8,0 0,294

Direto total 55,07

(19,0)

57,0 49,28

(20,91)

48,0 0,856 0,397

Inverso acertos 5,27 (1,98) 6,0 5,44 (1,5) 5,0 -0,072 0,943

Inverso span 4,07 (1,1) 4,0 4,20 (0,81) 4,0 -0,267 0,789

Inverso total 23,33

(13,4)

24,0 23,88

(11,34)

20,0 0,105 0,200

Cubos

Direto span 4,77 (1,16) 5,0 4,88(1,07) 5,0 -0,396 0,692

Direto acertos 6,85 (1,86) 8,0 7,0 (1,97) 8,0 -0,343 0,731

Direto total 34,38

(15,5)

40,0 35,92 (15,8) 37,5 -0,208 0,835

Inverso acertos 7,08 (1,70) 8,0 6,46 (1,86) 3,47 0,991 0,328

Inverso span 5,46 (1,0) 5,46 4,79 (1,21) 5,0 1,675 0,103

Inverso total 40,0

(15,27)

42,0 32,63 (16,9) 32,5 1,305 0,200

Os dados relacionados a taxa de abstenção, distribuição do uso de medicação e

seu tipo bem como a frequência ao tratamento e foram representadas na tabela 19. Não

foram observadas diferenças significativas quanto a essas variáveis. Podemos observar

que a abstenção entre os pacientes do grupo tratamento foi maior do que aqueles na

condição controle. Além disso, os pacientes submetidos ao tratamento fizeram mais uso

de medicação (46,2%) e foram mais frequentes nas reuniões de terapia uma vez que 12

(46,2%) tabagistas completaram o tratamento frequentando as 8 sessões.

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91

Tabela 19. Variáveis relacionadas ao tratamento dos na pacientes condição controle e

tratamento

Controle

N=16

Tratamento

N=26

X² ou

Fisher

P

Abstinência do tabaco

Parou de Fumar 4 (25,0%) 9 (34,6%) * 0,733

Não Parou de fumar 12 (75,0%) 17 (65,4%)

Medicação 3,421 0,181

Nenhum 13 (81,3%) 14 (53,8%)

Bupropiona 2 (12,5%) 6 (23,1%)

Adesivo 1 (6,3%) 6 (23,1%)

Frequência 1,877 0,171

1 1 (6,3%) 2 (7,7%)

2 1 (6,3%) 0 (0,0%)

3 2 (12,5%) 3 (11,5%)

4 2 (12,5%) 5 (19,5%)

5 5 (31,3%) 1 (3,8%)

6 2 (12,5%) 2 (7,7%)

7 1 (6,3%) 1 (3,8%)

8 2 (12,5%) 12 (46,2%)

* O programa SPSS não informou esse valor

A média e diferença entre os sintomas de fissura no inicio e fim do tratamento

também foram representadas e estão na tabela 20. Não houve redução significativa dos

subtipos de fissura ou da dependência de nicotina, bem como não houve aumento

significativa do tempo de abstinência. Destaca-se que apesar de não significativo, houve

maior redução dos sintomas de fissura entre os pacientes na condição tratamento.

Tabela 20. Média dos sintomas de fissura e diferença entre médias relacionadas ao

tempo inicial e final dos pacientes condição controle e tratamento

Controle

N=16

Tratamento

N=26

X² ou

Fisher

P

Média

(SD)

Mediana Média (SD) Mediana

QSU1 31,56

(15,9)

31,0 33,77 (15,9) 34,0 -0,436 0,665

Tempo de

abstinência 1

0,195 0,659

0-30 min 5 (31,3%) 6 (23,1%)

31-60 min 5 (31,3%) 6 (23,1%)

61-89 min 2 (12,5%) 7 (26,9%)

90-120 min 0 (0,0%) 2 (7,7%)

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92

> 120 min 4 (25,0%) 5 (19,2%)

QSU3 22,19

(12,37)

16,5 21,81

(15,45)

15,5 -0,629 0,529

Tempo de

abstinência 3

-1,331 0,183

0-60 min 4 (25,0%) 3 (11,5%)

60-120 min

ou mais

12 (75,0%) 23 (88,4%)

Dif qsu 1 e 3 9,37

(17,18)

7,5 11,96

(17,98)

10,0 -0,460 0,648

Para identificar modificações específicas produzidas pela intervenção focada na

fissura, foram avaliadas alterações em cada subitem da fissura bem como do grau de

dependência de nicotina, comparando o tempo inicial e final. Esses dados estão

representados na tabela 21. Podemos observar que a intervenção não produziu impactos

significativos no grupo tratamento, apesar de reduzir mais os índices dependência de

nicotina e desejo de fumar.

Tabela 21. Comparações entre ano tempo 1 e 2

Controle

N=16

Tratame

nto

N=26

T ou U P

Média

(SD)

Mediana Média

(SD)

Mediana

Diferença

Fagerstron 1 e 3

2,18 2,0 4,04 4,0 -1,644 0,100

QSU

Dif. Desejo de

fumar

1,75 1,0 3,57 3,0 -0,859 0,395

Dif. Antecipação

dos efeitos positivos

2,31 1,5 2,73 2,5 -0,298 0,767

Dif. Alívio dos

sintomas de

abstinência

0,68 0,0 0,65 0,0 0,028 0,978

Dif. Intenção de

fumar

4,31 4,0 4,46 6,0 -0,091 0,928

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93

9. DISCUSSÂO

O presente estudo teve como objetivo construir uma intervenção para o manejo

da fissura, um dos principais componentes da dependência química e precursor de

recaídas. Para tanto, o estudo foi desenvolvido nas seguintes etapas: revisão

bibliográfica, estudo com o tratamento padrão, construção da intervenção e

implementação de nova intervenção para a fissura.

Através da revisão de bibliografia foi possível identificar a terapia cognitiva e

comportamental como principais estratégias para o tratamento da dependência química.

Nesse sentido, as técnicas mais utilizadas focavam a psicoeducação, técnicas cognitivas,

como o redirecionamento da atenção e a imagery, técnicas comportamentais, como o

relaxamento, a exposição com prevenção de respostas e prevenção a recaída.

Ao mesmo tempo, foram realizados 8 grupos utilizando o tratamento padrão,

com o intuito de conhecer e descrever o perfil dos pacientes atendidos, acessando suas

características e necessidades.

Todas essas informações técnicas e práticas foram agrupadas conforme uma

sequência terapêutica, dando origem a intervenção elaborada e testada nesta pesquisa. A

seguir serão discutidos os principais resultados observados no estudo 1 e 2.

No estudo 1, houveram pacientes que não deram inicio ao tratamento. Estes

eram mais jovens, tinham escolaridade menor, maiores índices de impulsividade auto-

relatada, em especial ao subtipo de impulsividade atencional do que aqueles que

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94

iniciaram o tratamento. Esse perfil é compatível com dados disponíveis na literatura, os

quais apontam baixos níveis de escolaridade e idade inferior como aspectos

relacionados a dificuldades em abandonar o tabaco (Burris, 2013).

Quanto aos aspectos neuropsicológicos dos desistentes do tratamento, a

impulsividade é apontada como um fator que dificulta o engajamento no tratamento

para abandono do tabaco (Doran, 2004), mas não existem estudos que explorem a

relação entre os subtipos de impulsividade e aderência ou abandono ao tratamento.

Sendo a impulsividade manifesta pela emissão de comportamentos rápidos e pouco

refletidos, associados a incapacidade em antecipar riscos e consequências destes,

padrões elevados de impulsividade levam os sujeitos à exposição mais frequente de

riscos e a tomada de decisões precipitada. Por isso, a impulsividade parece estar

relacionada a diversos transtornos psiquiátricos, inclusive com a dependência química e

tabagismo. Nesse sentido, pressupomos que altos níveis de impulsividade podem afetar

diretamente a adesão a tratamentos médicos.

No estudo 1, foram comparados os pacientes que pararam e não pararam de

fumar. Os pacientes que pararam de fumar pertenciam a um nível socioeconômico

superior, tinham um grau de dependência de nicotina maior, bem como relataram níveis

de fissura mais graves. O nível socioeconômico já foi apontado como um preditor do

desfecho do tratamento em outras pesquisas (West et al., 2001; Ferguson et al., 2003).

Alto nível de escolaridade e idade avançada foram preditores relacionados a desfechos

positivos de tratamento (Stolz, 2013). Porém altos níveis de fissura e de dependência de

nicotina foram descritos como preditores relacionados ao fracasso no tratamento para o

tabagismo (Stolz, 2013). Além disso, altos níveis de dependência de nicotina estão

relacionados a pequena probabilidade de tentar abandonar o tabaco (Zhou et. al., 2009).

Levantamos a hipótese de que esse resultado parece ter relação com o fato de que 72%

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95

dos pacientes que interromperam o uso do tabaco utilizaram alguma medicação

enquanto os pacientes que não pararam apenas 18% fizeram uso. É possível que os

pacientes que relataram maiores índices de fissura e dependência de nicotina tenham

sido mais medicados e o fato de utilizarem mais um recurso, tenha garantido o sucesso

do tratamento. Nesse sentido, estes resultados apontam a importância da medicação

associada a psicoterapia para o abandono do tabaco em populações de tabagistas graves.

Pacientes que não conseguiram abandonar o tabaco relataram maiores índices de

impulsividade atencional, ou seja, tais sujeitos possuem dificuldades em inibir

informações irrelevantes e focar na tarefa em andamento por falta de concentração. Não

existem dados na literatura que relacione o subtipo específico, impulsividade atencional

ao tratamento do tabagismo. Tal traço pode se acentuar nas tentativas de abandono do

tabaco (Doran, 2004) e levantamos como hipótese o comportamento de fumar como

uma estratégia compensatória para tal dificuldade. Ao aumentar o alerta e a

concentração, o comportamento de fumar se manteria através de seu efeito

positivamente reforçador.

A ansiedade também se destacou entre os pacientes que não pararam de fumar e

este sintoma tem sido descrito como um aspecto que dificulta o tratamento do

tabagismo (Zvolensky et al.2007; McDermott et al.2013). Stefanidou et. col., (2014)

observaram que a ansiedade foi uma característica importante que influenciou o

desfecho do tratamento e seguimento em uma amostra de gregos. A ansiedade contribui

para a manutenção do tabagismo conforme seu efeito de reforçamento negativo, pois o

cigarro é usado como uma estratégia de auto-medicação, alívio e compensação diante

dos sintomas ansiosos.

Também, pacientes que não pararam de fumar tinham maiores índices de

respostas e erros perseverativos no teste de cartas Wisconsin. Os erros perseverativos

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96

correspondem ao total de erros cometidos pela persistência em responder a uma

característica inadequada do estímulo, explicada pelo princípio anteriormente reforçado.

As respostas perseverativas dizem respeito a quantidade de respostas repetidas que são

emitidas independente do feedback do contexto, indicando tendência a não tentar outras

alternativas. Desse modo, ambos os índices correspondem a medidas de flexibilidade

cognitiva, ou seja, a capacidade em modificar de estratégia quando a meta não é

alcançada. Tal resultado aponta uma dificuldade de mudança de comportamento

explicável por uma tendência a inflexibilidade cognitiva. Resultados semelhantes foram

observados anteriormente: a abstinência de nicotina aumentou os índices de

perseveração no teste de cartas de Wisconsin (Lyvers, Maltzman and Miyata, 1994).

Essa tendência pode ser explicada pelo fato de que a nicotina melhora o desempenho

cognitivo devido a sua ação estimulante, que proporciona aumento rápido da atenção e

vigilância. Além disso, a abstinência aguda de nicotina tem sido correlacionada à

prejuízos nas habilidades de flexibilidade cognitiva de fumantes (Nesic et al., 2011).

Não houveram outras diferenças quanto ao perfil neuropsicológico de pacientes

que alcançaram a abstinência de cigarros e aqueles que não conseguiram abandonar a

nicotina.

A análise de preditores do abandono do tabaco apontou que maiores níveis de

impulsividade atencional diminuem a probabilidade em cessar o tabagismo, sendo esse

resultado, compatível com a literatura (Doran, Cook, Mcchargue, Myers, and Spring,

2008; Doran, 2004). Enquanto isso, altos níveis de fissura aumentaram a probabilidade

de abandonar o tabagismo. Esse resultado contraria nossas expectativas já que a fissura

tem sido amplamente descrita como um obstáculo para tentativas de abandono do

tabaco (Orleans, Rimer, Cristinzio, Keintz, & Fleisher, 1991), além de ser um aspecto

relacionado ao fracasso e não adesão aos tratamentos (Stolz, 2013). Embora o nível de

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97

fissura não seja um critério de indicação para a medicação, a dependência de nicotina

constituía um requisito para a utilização de farmacoterapia durante o tratamento.

Germeroth, Wray, Gass, & Tiffany (2013) apontam a relação entre o nível de fissura e a

gravidade da dependência de nicotina, na medida que a primeira representa um preditor

discriminativo da segunda. Nesse sentido, levantamos a hipótese de que quanto maior o

nível de fissura, mais grave a dependência de nicotina e por isso, os pacientes com altas

taxas de fissura serem mais medicados. Em nossa amostra tais pacientes foram aqueles

que responderam melhor ao tratamento e como já foi observado, tanto a bupropiona

quanto os adesivos de nicotina são apontados como insumos que aumentam as chances

de abandono do cigarro (Fiore e cols., 2008). Para identificar a ação da farmacoterapia,

essa variável foi incluída na análise multivariada, mas não houve resultados

significativos quanto ao poder preditivo que tal variável teria em relação a resposta ao

tratamento. Esse resultado pode ter ocorrido em função do pequeno tamanho de

amostra. Sendo assim, através da análise multivariada foi possível identificar a

impulsividade e a fissura como fatores determinantes da resposta ao tratamento de

tabagismo, sendo caracterizados como preditores do sucesso no abandono do tabaco.

No estudo 2, a amostra foi composta por pacientes com características

sociodemográficas mais homogêneas, não sendo observadas diferenças significativas

entre pacientes na condição controle e tratamento.

Quanto aos aspectos neuropsicológicos, foi possível observar diferenças

significativas quanto a média de impulsividade motora, sendo maior entre os pacientes

da condição controle. Tal construto se refere a tendência que o sujeito tem em responder

de forma automática devido a um déficit em inibir respostas costumeiras. É importante

ressaltar que o grupo controle foi composto por um grupo de pacientes que tiveram

baixa adesão ao tratamento, ou seja, tiveram baixa frequência durante as sessões de

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terapia, ao mesmo tempo em que a taxa de abstenção do tabaco foi baixa. Nesse sentido,

a impulsividade demonstra ser um aspecto determinante para a participação e adesão ao

tratamento do tabagismo. Esse achado é compatível com diversos dados disponíveis na

literatura, os quais relacionam a impulsividade com o comportamento de fumar e

apontam a elevação desse traço como um aspecto dificultador para o abandono do

cigarro (Doran, Cook, Mcchargue, Myers, and Spring, 2008). Sabe-se também que a

impulsividade está associada a elevados níveis de fissura por tabaco, induzida por

estímulos condicionados (Doran, Spring, & McChargue, 2007), sendo esta associação,

outro elemento que pode representar dificuldades diante dos esforços para abstenção do

tabaco.

Do mesmo modo, o subteste Busca por sensações (Impulsive Behavior Scale -

UPPS) também resultou numa média maior entre os pacientes na condição controle.

Esse teste se refere a necessidade de estimulação e novidade, incluindo condutas de

risco (Zuckerman, 1994). Esse índice representa uma faceta da impulsividade de acordo

com o modelo de Whiteside et Lynam (2001). Doran, Spring, & McChargue (2007)

observaram que níveis mais elevados do traço de busca de sensação estão associados

com maiores taxas de resposta negativa e fissura. No presente estudo, não observamos

tal associação, sendo que os pacientes com maiores índices de fissura compuseram o

grupo tratamento e este grupo teve maior redução de fissura e maior abstenção do

tabaco. Do mesmo modo que no estudo 1, tais pacientes receberam mais medicações

(46,2%), fato que apesar de não significativo, aumentou as taxas de adesão e abstenção

do tabaco. Outra possibilidade é os pacientes que possuem maiores índices de busca por

sensações encararem a abstinência como uma novidade na fase inicial e aderirem ao

tratamento rapidamente (Piasecki et al., 2002). A grande dificuldade é na manutenção

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99

dessa abstinência, cuja novidade passa e logo o paciente retorna a um estado de

estimulação costumeiro (Piasecki et al., 2002).

Ainda quanto as variáveis neuropsicológicas, foi possível observar diferenças

significativas quanto aos resultados do teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey

nos índices de interferência retroativa (ITR), aprendizagem ao longo de todas as

tentativas (LOT) e velocidade de esquecimento. O LOT e a velocidade de esquecimento

foram menores para os pacientes na condição controle enquanto ITR foi maior. O índice

de aprendizagens ao longo do teste, LOT (learning over trials), representa a capacidade

de aquisição da nova informação ao longo das 5 exposições a lista A. A velocidade de

esquecimento é a quantidade de conteúdo aprendido e evocado após um intervalo de 20-

30 minutos e exposição a uma lista de distratores. E o índice de interferência retroativa

(ITR) refere-se ao efeito deletério que o aprendizado de novo conteúdo exerce sobre

outro já previamente aprendido. O grupo controle tinha uma capacidade menor de

aprendizagem e baixa tendência ao esquecimento, fatores que contribuiriam para o

sucesso do tratamento. Porém observamos que tal grupo teve baixa adesão ao

tratamento, maior evasão, menor abstenção de tabaco e menor participação nos grupos.

Existem poucos dados disponíveis na literatura que investigam a relação entre o teste

RAVLT e o tabagismo, os quais ainda mantêm resultados inconclusos. Soar et al.

(2008) observaram que tabagistas em abstinência tiveram menores índices de

aprendizagem do que tabagistas sem abstinência e não tabagistas. Esse resultado foi

encontrado também por Starr et al. (2007), mas não foi observado por Paul et al. (2006).

Hoffman & al’Absi (2013) avaliaram uma amostra de tabagistas usuários de khat

(estimulante) e não observaram déficits quanto as habilidades de memória verbal e

aprendizagem.

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100

Também foi observado no grupo controle maiores índices de impulsividade por

não planejamento, no Bloco 5 e Tendência Geral, medidas através do teste IGT. Esse

subtipo caracteriza-se por uma tendência em orientar o comportamento para o momento

presente em relação ao futuro a despeito das consequências a longo prazo. Como

discutido anteriormente tal tendência não favorece a tentativas bem sucedidas de

abandono do tabaco (Doran, Cook, Mcchargue, Myers, and Spring, 2008).

Foi observada redução nos sintomas de fissura, sendo que essa redução foi maior

no grupo tratamento. Porém tal resultado não foi estatisticamente significativo. Do

mesmo modo, não foi observado impacto significativo nos itens específicos de fissura,

bem como no nível de dependência de nicotina. Levantamos como hipótese para tal

desfecho o aumento do tempo de tratamento. É importante notar que, embora o aumento

do tempo de tratamento favoreça maior interação entre os pacientes e acompanhamento

por período mais longo, tal aspecto parece ter contribuído para maior evasão.

Destacamos que os pacientes frequentaram os grupos longe do local de sua referência

de saúde e precisavam custear seu deslocamento até o local de realização dos grupos, ao

mesmo tempo em que pertencia a classes sociais menos favorecidas.

Alguns limites da pesquisa podem ser apontados. A amostra em ambos os

estudos foi composta apenas por pacientes que queriam tratamento, ou seja, uma

amostra de conveniência, sendo seus resultados limitados em sua generalização e não

abrangentes para a população de tabagistas que abandonam o cigarro.

Foram incluídos na presente pesquisa pacientes com diversos níveis de

dependência de nicotina o que resultou numa amostra bastante heterogênea quanto as

características relacionadas ao grau de severidade do tabagismo. Tal fato provocou

diferentes formas de tratamento e pode ter influenciado os resultados deste estudo,

sendo a medicação uma variável confundidora.

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101

10. CONCLUSÃO

No presente estudo buscou-se adaptação e aprimoramento de um módulo para o

controle da fissura para cultura brasileira, de modo que pudesse ser incorporado ao

protocolo de tratamento do tabagismo, além de avaliar a sua eficácia quanto a

abstinência e redução de fissura. Esse módulo de tratamento com foco na fissura

promoveu maior redução dos sintomas de fissura e dependência de nicotina do que um

tratamento controle baseado apenas em intervenções para prevenção a recaída, embora

tal resultado não tenha alcançado a significância estatística. Foi investigada a existência

de um perfil neuropsicológico comum entre os aqueles que pararam e não pararam de

fumar, bem como buscou-se identificar variáveis preditoras que influenciassem o

desfecho do tratamento. Entre todos os resultados obtidos, destacamos a impulsividade

e a ansiedade como aspectos pré-tratamento e que são determinantes para a abstenção

do tabaco, adesão ao tratamento e redução dos sintomas de fissura. Além disso, a

impulsividade e a fissura foram preditores de resposta ao tratamento.

A medicação mostrou-se mais uma vez um aspecto importante para o

tratamento, aumentando as chances de abstenção e sucesso do tratamento. Na presente

pesquisa mostrou-se um aspecto confundidor dos resultados.

Cerca de 70% dos pacientes na condição tratamento relataram dependência

elevada ou muito elevada de nicotina. A adequação do tratamento para esse perfil

parece incluir necessariamente a farmacologia e/ou a combinação dessa à psicoterapia,

para os casos de dependência elevada e muito elevada. Enquanto isso, a monoterapia

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102

baseada apenas numa abordagem psicológica pode ser mais efetiva apenas nos casos de

dependência de nicotina muito baixa a média.

Outro aspecto importante foi a influência da impulsividade nos resultados do

tratamento e nesse sentido, faz-se necessário uma abordagem específica e anterior ao

tratamento do tabagismo, de modo a reabilitar o sujeito em termos de impulsividade e

flexibilidade cognitiva.

11. PERSPECTIVAS FUTURAS

Os pacientes serão acompanhados durante um seguimento de 12 meses para

verificação da manutenção dos resultados obtidos durante esta pesquisa.

Serão realizados outros grupos com amostras mais homogêneas de modo a

uniformizar o tratamento e controlar seu impacto sobre os resultados. Nesse sentido,

iremos testar o protocolo em pacientes com dependência de nicotina muito baixa a

média em um design constituído apenas de monoterapia. Além disso, iremos compará-la

ao tratamento combinado em pacientes com dependência elevada e muito elevada.

Todas as investigações continuarão enfocando as relações entre impulsividade,

fissura e tabagismo de modo a determinar qual a associação e o papel de cada um desses

fenômenos.

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