universidade federal de minas gerais arte na educaç… · 1.2 a concepção da linguagem oral e...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UFMG
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA NA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Maria Alice Oliveira Santos
A ARTE NA ALFABETIZAÇÃO: A MÚSICA NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
Belo Horizonte
2019
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Maria Alice Oliveira Santos
A ARTE NA ALFABETIZAÇÃO: A MÚSICA NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
Trabalho apresentado ao Curso de especialização como requisito parcial para obtenção do titulo de especialista em processo de alfabetização e letramento pelo curso de Pós-graduação Lato Sensu em docência na Educação Básica, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador: Prof. Carlos Augusto Novais
Belo Horizonte
2019
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S237a TCC
Santos, Maria Alice Oliveira, 1983- A arte na alfabetização [manuscrito] : a música no processo de aquisição da linguagem oral e escrita / Maria Alice Oliveira Santos. - Belo Horizonte, 2019. 44 f. : enc, il. Monografia -- (Especialização) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. Orientador: Carlos Augusto Novais. Inclui Bibliografia. Inclui apêndice. 1. Educação. 2. Alfabetização. 3. Música na educação. 4. Arte na educação. 5. Arte infantil -- Estudo e ensino (Ensino fundamental). 6. Arte -- Estudo e ensino. 7. Crianças -- Escrita. 8. Escrita -- Estudo e ensino (Ensino fundamental). 9. Leitura (Ensino fundamental). I. Título. II. Novais, Carlos Augusto, 1958-. III. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. CDD- 780.7
Catalogação da Fonte : Biblioteca da FaE/UFMG (Setor de referência)
Bibliotecário: Ivanir Fernandes Leandro CRB: MG-002576/O
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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
ECA – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
EMEI – ESCOLA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL
LDBEN – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
ONG’s – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS
PPP – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
RCENEI – REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
UEMG – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
UFMG – UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
UNESCO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E
A CULTURA
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RESUMO
O presente trabalho discutiu o uso das atividades musicais em uma turma de vinte estudantes com a faixa etária de três/ quatro anos da Educação Infantil da rede Municipal de Belo Horizonte. A implementação do projeto, no campo de pesquisa, teve a duração de três meses O objetivo foi demonstrar as contribuições da música para a aquisição das habilidades necessárias à aprendizagem da linguagem oral e escrita, através da utilização das suas diferentes formas de expressão (oral, corporal, auditiva e visual), considerando que a música apresenta-se como um importante instrumento metodológico, uma vez que desenvolve a percepção, a coordenação motora, a memorização e o pensamento crítico, além de mostrar-se como uma atividade prazerosa. Como metodologia de pesquisa utilizou--se da Pesquisa Ação, método que permitiu realizar intervenções diretas no campo de pesquisa à medida que a reflexão teórica e prática se conciliaram. Para embasar o diálogo teórico foram utilizadas fontes como as Diretrizes Educacionais para a Educação Infantil, Barbier (2007), Fonseca (2005), Nogueira (2005), Rosa (1990), Yogi (2003), Soares (2001), Goulart e Mata (2018) e Benetti, Vieira e Faracco (2016). Entre os resultados obtidos destaca--se a evidencia que o trabalho com a música em sala de aula, além de demonstrar-se um instrumento metodológico de potencial no desenvolvimento da linguagem oral e escrita das crianças, tornou-se um momento prazeroso para todos os envolvidos.
Palavras chave: Música; Linguagem oral; Linguagem escrita; Educação Infantil
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 08 Um pouco da minha trajetória acadêmica 08 INTRODUÇÃO 10 1. EDUCAÇÃO INFANTIL, LINGUAGENS E MÚSICA 12 1.1 A educação infantil: espaço de desenvolvimento da criança na primeira infância 12 1.2 A concepção da linguagem oral e escrita na Educação Infantil 15 1.2.1 O desenvolvimento da linguagem oral e escrita: pré-requisito para a alfabetização 17 1.3 A música na Educação Infantil: processo de aprendizagem 19 1.4 O suporte parental e o desempenho escolar da criança 21 2. A MÚSICA NO PROCESSO METODOLÓGICO 23 2.1 O campo de investigação 23 2.2 Procedimentos metodológicos 24 2.2.1 A roda musical 26 2.2.1.1 O caderno de música 26 2.2.1.2 A caixa musical 27 2.2.1.3 O alfabeto móvel 28 2.2.1.4 Os textos musicais móveis 30 2.2.2 A atividade extraclasse 31 3. A MÚSICA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA LIGUAGEM ORAL E ESCRITA DAS CRIANÇAS BEM PEQUENAS – ANÁLISE DE DADOS 32 3.1 Os aspectos didáticos pedagógicos da música 32 3.2 A percepção auditiva na turma estudada – som e sentido, fonema e grafema: a linguagem escrita 33 3.3 As expressões corporais como aspecto necessário ao aprendizado 35 3.4 A relação entre o uso da música e o desenvolvimento da linguagem oral 36 3.5 O envolvimento familiar 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39 REFERÊNCIAS 41 APÊNDICE 44
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APRESENTAÇÃO
Um pouco da minha trajetória acadêmica.
Escrever sobre a minha trajetória acadêmica me exigiu a ação complexa de
rememorar e relembrar os movimentos e discursos que permearam a minha
formação e sobre a minha subjetividade nas escolhas que me conduziram até aqui.
Aos seis anos de idade iniciei o meu processo de escolarização em uma escola de
Educação Infantil particular, pois na época esta etapa da educação não era ofertada
de forma gratuita. Hoje percebo o quanto meus pais acreditavam no potencial
transformador da educação escolar, pois mesmo não tendo condições financeiras,
se esforçaram para nos proporcionar o que acredito ser a base da educação.
No ano de 1990, aos sete anos de idade, ingressei na antiga primeira série em uma
escola da Rede Municipal de Belo Horizonte, Escola Municipal Humberto Castelo
Branco, onde permaneci até a 4ª serie. Nesta época o Ensino Fundamental regular
oferecido pelas Redes Públicas de Educação era concretizado em 8 anos tendo seu
inicio autorizado a partir aos 7 anos de idade.
Apesar de não dispor de um alto capital cultural, contrariando as expectativas
sociais, sempre obtive um ótimo rendimento, sendo considerada pelos professores
umas das melhores alunas da sala. Recordo-me que, meus irmãos mais velhos
foram os responsáveis por me ensinar o dever de casa, uma vez que meus pais não
tinham o conhecimento escolarizado, apenas sabiam ler e escrever com muita
dificuldade.
Os anos iniciais tiveram grande importância para minha formação como cidadã. Foi
durante este período que aprendi algumas regras sociais que a vivência escolar nos
propicia. Foi também neste período que me “apaixonei” pela figura do professor e
creio que isso que me conduziu a ter bons olhos para a Pedagogia. Terminando o
que hoje conhecemos como “primeiro e segundo ciclo de aprendizagem”, em 1994,
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passei a estudar na Escola Estadual Presidente Dutra, onde permaneci até a
conclusão do Ensino Médio, ou seja, da antiga 5º série até o 3º ano do Colegial.
Durante o meu percurso escolar sempre contei com o apoio dos meus pais e dos
meus irmãos mais velhos que sempre foram e são exemplos. A dificuldade financeira
foi a maior barreira que enfrentamos, pois não tínhamos recursos financeiros para
comprar os livros onerosos e que não eram oferecidos gratuitamente.
Em Dezembro de 2000, conclui o meu processo de escolarização básica sem
nenhuma reprovação. Neste mesmo ano me casei e por oito anos mantive-me
ocupada apenas com os afazeres domésticos, quando mais uma vez, minha família,
sempre acreditando ser a Educação um meio de ascensão social, me incentivou a
voltar aos estudos. Foi deste modo que comecei a estudar, em casa, com o objetivo
de ingressar no nível superior. Foram noites em claro, mas que, resultaram em
minha aprovação no curso de Pedagogia em duas Universidades Públicas,
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e na Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). E novamente, conduzida pela influência dos meus irmãos,
que também se formaram em Pedagogia na UFMG, escolhi esta Universidade, onde
tive a oportunidade de ter um aprendizado de qualidade. Em 2012, conclui o curso,
recebendo a titulação de Pedagoga e atualmente exerço a função de Professora
para a Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental na Rede
Municipal de Educação de Belo Horizonte.
Hoje, o meu desejo em adquirir novos conhecimentos, de aperfeiçoar a minha
prática profissional e o apoio da minha família, me conduziram à busca pela
formação continuada. O resultado deste trabalho faz parte da minha caminhada para
compreender um pouco mais sobre os processos de Alfabetização e Letramento das
crianças pequenas.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como proposta compreender a relação entre a música e o
processo de alfabetização das crianças bem pequenas. Neste sentido, a música
associa-se ao processo de ensino- aprendizagem, por meio das possibilidades de
experimentação das linguagens, corroborando no sentindo de identificar similitudes
entre os caminhos pedagógicos e a arte.
Observa-se que são várias as possibilidades de contribuições da música para o
desenvolvimento da criança. Na Educação Infantil, a música é um dos eixos
norteadores do desenvolvimento da criança, conforme consta no Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil, referendado pela Base Nacional
Comum Curricular- BNCC (2017). No entanto, este trabalho buscou compreender
como a música pode colaborar para processo de aquisição da linguagem oral e
escrita das crianças pequenas, habilidades necessárias para o processo de
alfabetização.
Essa amplitude das possibilidades da contribuição da música para o
desenvolvimento da criança trouxe a necessidade da delimitação dos objetivos
norteadores deste trabalho. Assim, o objetivo central consiste em construir
processos didáticos utilizando a Linguagem Musical para aquisição das habilidades
necessárias à aprendizagem da linguagem oral e escrita, por meio das suas
diferentes formas de expressões (oral, corporal, auditiva e visual). Já os objetivos
específicos foram: identificar os aspectos didático-pedagógicos da música; explorar a
percepção auditiva na turma estudada vinculando som e sentido, fonema e grafema;
explorar as expressões corporais como aspecto necessário ao aprendizado; articular
a relação entre o uso da música e desenvolvimento da linguagem oral e escrita; e
envolver a família nos processos de ensino-aprendizagem.
Para se alcançarem esses objetivos, a metodologia desenvolvida seguiu os passos
da pesquisa-ação, que, segundo Barbier (1997), é um instrumento metodológico cujo
objetivo é possibilitar ao pesquisador a transformação da realidade e produzir
conhecimentos relativos a essas transformações. Para realização deste trabalho foi
elaborado um plano de ação a partir de levantamentos bibliográficos a respeito da
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temática especifica, onde também contavam o planejamento das atividades a serem
executadas com base na utilização da música em sala de aula.
Esta pesquisa-ação, que teve como base a utilização da música no processo de
aquisição da linguagem oral e escrita de criança pequenas, foi desenvolvida em uma
das turmas de 3 e 4 anos da Escola Municipal de Educação Infantil Guarani (EMEI
GUARANI). Atuo nesta instituição, como professora para a Educação Infantil, desde
a sua fundação, há cinco anos, e no ano letivo de 2019 como regente da turma alvo
da pesquisa.
Este trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro, é apresentado um
levantamento bibliográfico em que se conceitua a Educação Infantil como campo de
pesquisa, o trabalho com a Linguagem nesta etapa educacional e as contribuições
da música no desenvolvimento infantil, principalmente no que se refere à aquisição
da linguagem oral e escrita. O segundo capítulo, destinado aos procedimentos
metodológicos, traz o relato das atividades desenvolvidas tendo como base a
utilização da música na sala de aula. E o terceiro e último capítulo ficou destinado à
análise dos dados e os resultados obtidos.
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1. EDUCAÇÃO INFANTIL, LINGUAGENS E MÚSICA.
Para melhor compreensão deste estudo faz-se necessário conhecer um pouco sobre
o campo de pesquisa, a Educação Infantil, um espaço de desenvolvimento da
criança na primeira infância. Até meados do século XX, a Educação Infantil, não
tinha sua importância amplamente reconhecida, mas, atualmente, vem ganhando
destaque como etapa importante no processo de aprendizagem e desenvolvimento
da criança. E compreender que esta etapa, devido a especificidades próprias da
faixa etária, crianças entre 0 à 5 anos, requer métodos e metodologias diferenciadas
faz surgir um olhar diferenciado sobre o uso da música no processo de
aprendizagem infantil. A musicalidade, além de se mostrar uma atividade prazerosa,
pode se tornar um recurso potencial para a aquisição das habilidades necessárias ao
desenvolvimento da linguagem oral e escrita das crianças pequenas, conforme
demonstram os referenciais teóricos que sustentam a base deste trabalho.
1.1 A Educação Infantil: espaço de desenvolvimento da criança na primeira
infância.
Até o final da idade média, nas mais diversas sociedades, não havia diferenciação
entre ser criança e ser adulto. A convivência, a interação social, a divisão de trabalho
e os momentos lúdicos eram os mesmos para todos. A diferença se dava mais pelas
questões de gênero do que por tempo de vivência.
O reconhecimento da infância como uma fase diferenciada e com necessidades e
especificidades próprias, somente foi considerada a partir do século XVIII. A
Revolução Industrial e a entrada das mulheres no mundo do trabalho formal, as
operárias das primeiras fábricas, fizeram surgir a necessidade de um novo olhar
sobre o ser criança.
A partir dos anos 70, configurou-se o modelo de educação pré-escolar, baseado em
diretrizes recomendadas pela XXVI Conferência Internacional da Organização das
Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO). Este novo
modelo enfatizava o caráter essencialmente educativo da pré-escola na tentativa de
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organizar-se de acordo com a idade da criança. Uma educação pública e gratuita,
com proposta de uma remuneração para o corpo docente, equivalente ao ensino
primário, tinha também uma preocupação com a relação professor/aluno, com os
espaços físicos, com a higiene e a limpeza. Nos relatórios da UNESCO sobre a pré-
escola, relatava-se que esta deveria ser considerada uma etapa da educação
permanente, devendo ampliar-se procurando associar a família/comunidade,
objetivando a relevância da infância e principalmente, a redução de custos
financeiros desses programas.
No Brasil, as primeiras políticas públicas e propostas educacionais voltadas para o
atendimento das crianças, inicialmente tinham caráter prioritariamente
assistencialista. As primeiras instituições educacionais dedicavam-se apenas aos
cuidados às crianças. Eram instituições filantrópicas, lugares onde as crianças
permaneciam de12 até 16 horas diárias.
A abertura política do país na década de 80 permitiu o reconhecimento social dos
vários movimentos, inclusive dos pais, que foram os principais precursores do direito
à Educação Infantil gratuita. As creches efetivaram-se a partir das transformações
dos papéis sociais, por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o
processo de industrialização, a credibilidade das instituições públicas e os
movimentos político-sociais da época. No primeiro momento, o contexto da creche
foi de abrigar e assegurar o bem-estar das crianças que ali eram colocadas, com a
concepção assistencialista dos cuidados básicos do dia-a-dia. A partir dos
movimentos reivindicatórios dos pais, cada vez mais organizados, a favor da creche
como direito do trabalhador, fez-se necessário redefinir um espaço educativo.
Passou-se a pensar em um atendimento que contemplasse o desenvolvimento da
criança nos aspectos afetivo, emocional, físico e cognitivo.
A expansão das creches comunitárias se deu principalmente nas periferias das
grandes cidades, com organização para atender crianças de zero a seis anos de
idade. A princípio, o sistema de trabalho era voluntário e aos poucos foi se
efetivando através da carteira assinada com as ONGs, ou contratos com instituições
públicas. O quadro de funcionários compôs-se, em sua maioria de mulheres, mães,
desempregadas que exerciam a função de domésticas e/ou serviços braçais, com
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pouco ou quase nenhuma formação escolar.
Da organização do trabalho voluntário ao remunerado, foi descaracterizando-se a
necessidade imediata de contratação mão-de-obra especializada nas creches.
Observa-se que houve a efetivação, a priori, de fatores socioeconômicos e políticos,
pois além de dar assistência às crianças das periferias, oferecia também serviços
para as mulheres desempregadas, tendo assim pouca preocupação com o
pedagógico. A estruturação das creches comunitárias afirmou-se a partir desses
contextos, contribuindo, portanto, com elementos relevantes para a discussão sobre
a educação infantil no Brasil.
Nos planos do Ministério de Educação e Cultura (MEC) constatava-se também, uma
manutenção deste modelo de educação pré-escolar. Surgiram discussões sobre
creche e a pré-escola, efetivando-se, portanto, a configuração entre o
assistencialismo e a educação. As pré-escolas expandiram-se com o apoio do setor
privado, enquanto as creches foram financiadas e geridas pelos órgãos públicos. O
MEC foi responsável pela divulgação do novo discurso sobre a pré-escola para uma
educação de massa. Apesar dessa divulgação, não se observou o aumento das
matriculas, permanecendo um modelo elitista, com uma clientela exclusiva.
Ao fazermos uma retrospectiva do reconhecimento dos direitos da infância no Brasil,
principalmente no que se refere a uma educação escolar de qualidade, pode-se dizer
que a Constituição Brasileira em 1988 foi um marco na história da infância, pois
reconheceu a criança como cidadã. A criação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) em 1990 veio reafirmar esse direito provocando em todo país um
movimento de reconhecimento das especificidades da infância, impulsionando outros
avanços também na educação como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN) de 1996.
Podemos dizer que o século XX foi o século da criança se considerarmos o grande avanço nos conhecimentos sobre infância em várias perspectivas: a da saúde, da história, do desenvolvimento, das aprendizagens culturais e formais. O reconhecimento de que a criança é indivíduo e cidadão, não mais simplesmente um futuro adulto, modificou profundamente as práticas com a infância, que passou a ser vista como um período de formação fundamental na vida do ser humano. (LIMA, p. 21, 2001).
A LDBEN, n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996 deu um destaque à educação de
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crianças de zero a seis anos, reiterando o direito constitucional da criança pequena à
educação, como o dever do Estado de garantir o atendimento gratuito em creches e
pré-escolas e obrigação da família matricular os filhos ou pupilos e zelar pela
manutenção. Em seu eu artigo 29 descreve a Educação Infantil
como a primeira etapa da educação básica, tem como função o estímulo integral da criança até cinco anos de idade, nas suas funções físicas, psicológicas, intelectuais e sociais, aperfeiçoando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996).
O RCENEI, também merece destaque neste processo de reconhecimento da criança
enquanto sujeito de direitos. O RCENEI é uma espécie de “Currículo” da Educação
Infantil e traz orientações pedagógicas, a nível nacional, voltadas para educação
escolar das crianças de 0 a 5 anos. Neste documento encontramos um precioso
conceito de infância e concebe que a criança,
como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais.” [..] “... possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos.” (BRASIL, 1998)
Neste contexto, observa-se que a criança passa a ser vista como um sujeito de
direitos e a escola como um espaço no qual o currículo deve apresentar-se em
conformidade com as especificidades e características do público o qual se destina –
crianças da primeira infância que necessitam ser cuidadas e educadas. Acredita- se
que uma escola de infância, deva promover o desenvolvimento da criança e sua
inserção social. Também deve-se oferecer condições de aprendizagens que ocorrem
através de atividades lúdicas dirigidas ou não. Em situações pedagógicas
intencionais orientadas pelos adultos e também, por que não, pelas crianças.
1.2 A concepção de linguagem oral e escrita na Educação Infantil
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O trabalho com a linguagem oral e escrita se “constitui um dos principais eixos
norteadores do processo de aprendizagem escolar” das crianças “devido a sua
importância no processo de formação do sujeito”. “Aprender a língua não é somente
aprender palavras, mas sim o seu significado”. É através da linguagem que o sujeito
passa a participar das diversas práticas sociais que ampliam a capacidade de
compreensão, de comunicação e de expressão. Goulart e Mata (2018), apoiando-se
em Batkhtin (1988), afirmam que aprender a linguagem é fundamental ao
desenvolvimento humano, pois é por meio da linguagem que ocorre o despertar da
consciência. A linguagem, para as autoras, é algo cultural, carregado de sentidos e
que permite a formação da consciência sujeito social, através das diferentes práticas
sociais como conversas, escutas, leitura e escrita.
O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento. Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os seus significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio sociocultural entendem, interpretam e representam a realidade. A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. (BRASIL, 1998).
Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCENEI,1998I), o
desenvolvimento da linguagem oral ocorre por meio da participação das crianças em
situações de conversas cotidianas, da escuta e do canto de músicas, em
brincadeiras, etc. Tal qual em situações formais de uso da linguagem, como a leitura
de textos diversos. Quanto mais envolvidas em diversificadas situações de interação
social, maior a possibilidade de desenvolvimento da linguagem oral.
No que tange o desenvolvimento da linguagem escrita na Educação Infantil, o
RCENEl expõe que, nas sociedades letradas, as crianças desde de muito pequenas,
já encontram-se em contato com a linguagem escrita nas diversas situações de uso
social.
As crianças, desde os primeiros meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. É por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que as crianças descobrem o aspecto funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem. (BRASIL, 1998).
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Neste sentido, percebe-se que a interação da criança com o meio tem implicações
diretas com o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Entende-se que o grau
de letramento do ambiente em que a criança está inserida implicará em suas
reflexões e curiosidade referentes à função da linguagem e seus significados.
Pensando em ambientes letrados, o RCENEI, afirma ainda que:
[...] a Educação Infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever (BRASIL, 1998.).
Considerando a aquisição das linguagens como ampliação da capacidade de
comunicação e de expressão humana, o processo de aprendizagem destas,
principalmente da linguagem escrita, passa a ser entendida como algo relevante à
vida, não apenas como uma prática mecânica de desenvolvimento da habilidade
motora. “Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um
conhecimento de natureza conceitual: precisa compreender não só o que a escrita
representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem”.
(BRASIL,1998). Portanto, cabe ao Educador, em suas práticas, a responsabilidade
de criar momentos significativos de uso da linguagem para que as crianças possam
entender a aquisição da linguagem oral e escrita como um ato de apropriação dos
bens culturais.
1.2.1 O desenvolvimento da linguagem oral e escrita: pré-requisito a
alfabetização
É interessante compreendermos a Alfabetização e o Letramento como
processos que começam antes da entrada da criança na escola. Podemos dizer
que vivemos em uma cultura letrada, e o sujeito desde o seu nascimento já
encontra-se inserido nesta cultura. Um exemplo, fácil de ser citado, é próprio
nome que muitas vezes é gravado em diversos pertences do bebê, permitindo
os primeiros contatos deste com a cultura escrita. No entanto, entende-se que a
concretização do processo alfabetização ocorre quando se ganha o domínio de
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um sistema linguístico e das técnicas de utilizá-lo para ler e escrever. Assim, a
alfabetização é a responsável pela aquisição da escrita e de sua utilização como
código de comunicação. Já o termo Letramento é utilizado frequentemente para
dar nome ao processo de desenvolvimento das técnicas da leitura e escrita no
meio social, simbólico e tecnológico. Para Tfouni (1995), a Alfabetização tem a
função de ocupar-se da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de
indivíduos, nesse ínterim, o Letramento focaliza os aspectos sócios históricos da
sociedade. A Alfabetização estimula a socialização da pessoa na medida em
que aponta novas formas de trocas simbólicas com outros e outras criando
espaços de conhecimentos.
Na educação Infantil a aquisição da linguagem escrita inicia se por meio de um
processo educacional com base no reconhecimento das vogais e consoantes,
tendo como objetivo principal a relação entre os sons e escrita. O processo da
aprendizagem da linguagem oral e escrita é importante para que as crianças
expandam suas possibilidades de inserção e de participação nas várias práticas
de socialização. Soares afirma que:
[...] a função da escola, na área de linguagem, é introduzir a criança no mundo da escrita, explorando tanto a língua oral quanto a escrita como forma de interlocução, em que quem fala ou escreve é um sujeito que em determinado contexto social e histórico, em determinada situação pragmática, interage com um locutor, também um sujeito, e o faz levado por um objetivo, um desejo, uma necessidade de interação (SOARES, 2001, p. 13).
Todavia, alguns educadores demostram receios de que as práticas pedagógicas
tradicionais sejam inseridas muito cedo no cotidiano das crianças pequenas e com
isso, percamos a aprendizagem lúdica tão necessária nessa fase do
desenvolvimento. Scarpa (2006) rebate a visão de que a alfabetização e ludicidade
não possam se fazer em um mesmo processo, “como se a escrita entrasse por uma
porta e as atividades com outras linguagens (música, brincadeira, desenho etc.)
saíssem por outra” (p.1). O professor pode usar métodos lúdicos para fomentar o
processo de Alfabetização, usando criatividade e estudo. A ludicidade precisa ser o
ponto de partida para qualquer aprendizagem quando nos referimos à educação
infantil. A presença da leitura e escrita nas atividades lúdicas em sala de aula são o
início dos processos alfabetização e letramento ainda antes do ingresso no ensino
fundamental.
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1.3 A Música na Educação Infantil: processo de aprendizagem
A importância da música é tão fortemente marcada em vários aspectos da vida que
pode ter um papel decisivo para o desenvolvimento integral dos sujeitos. Alguns
repertórios os acompanham pela vida toda, em momentos de lembranças de fatos
passados, ou até mesmo por preferência por algum estilo musical em determinada
época. A música provoca estímulos para o desenvolvimento das faculdades mentais,
emocionais e intelectuais, e na escola abre caminhos para o aprendizado de outras
linguagens.
A Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008 estabelece a obrigatoriedade do ensino de
música nas escolas de Educação Básica. De acordo com a LDBEN 9.394/96 Art. 21,
inciso I, a Educação Básica compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental
e Ensino Médio (BRASIL, 1996).
A música em suas inúmeras formas quando utilizada em sala de aula traz muitos
benefícios, contribuindo para o desenvolvimento de diferentes habilidades como: a
linguagem oral, a criatividade, a percepção rítmica e corporal, a memorização, o
raciocínio. Quando o sujeito consegue relacionar os padrões musicais aos
emocionais, o nível de compreensão vai além da dimensão artística conduzindo ao
desenvolvimento psicológico e cognitivo. O canto de canções do universo infantil
pelas crianças em processo de alfabetização pode vir a se tornar um facilitador na
aquisição das habilidades da linguagem oral e escrita, na compreensão do
vocabulário e na capacidade de expressão.
Yogi (2003) afirma que a “música é um importante mediador do desenvolvimento da
criança nas suas habilidades físicas, mentais, verbais, sociais e emocionais” (p.12).
Para o autor, uma característica da Educação Musical é trazer à tona a liberdade e a
espontaneidade de criar. A música, ainda segundo Yogi (2003), torna as atividades
mais atraentes elevando o desejo por novas descobertas. Nesse sentido, através do
canto, da dança e do trabalho com as letras das músicas, podemos envolver as
crianças em atividades de leitura dando significando e sentido às palavras e assim
despertar maior interesse no processo de alfabetização e Letramento.
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Rosa (1990) afirma que a música auxilia nas relações socioculturais e tem uma
função muito importante no desenvolvimento psicológico e cultural das crianças. As
atividades musicais coletivas favorecem a socialização entre as crianças. Mesmo
aquelas mais tímidas se sentem impulsionadas a participar devido à autossatisfação
e o sentimento de segurança que a música produz. A música causa estímulos à
expressão corporal da criança e desperta o interesse para outros conhecimentos a
partir das temáticas que estão expressas em suas letras. As músicas utilizadas em
sala de aula podem se tornar temas geradores de aprendizagem, desenvolvendo o
desejo e o envolvimento no mundo da leitura e da escrita. Além disso, o trabalho
com a música desenvolve uma importante habilidade necessária ao aprendizado, o
aprender a ouvir. Quando a criança desenvolve essa habilidade, aumenta-se o nível
de concentração e hábito de estar atenta.
O período preparatório à alfabetização beneficia-se do ensino da linguagem musical quando as atividades propostas contribuem para o desenvolvimento da coordenação viso motora, da imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. Essas funções psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que constituem as diversas maneiras de adquirir conhecimentos, ou seja, são as operações mentais que usamos para aprender, para raciocinar. A simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma série de aptidões importantes (ROSA, 1990, p.21).
Na Educação Infantil, a linguagem musical é um dos eixos norteadores que
contribuem para o desenvolvimento psicomotor, afetivo, cognitivo e social da criança.
O simples ato de cantar uma música envolve o desenvolvimento de uma série de
operações mentais usadas para apender. O RCENEI traz à luz esta importância ao
afirmar que:
A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente (BRASIL, 1998).
As contribuições da música para o desenvolvimento infantil é afirmado por
estudiosos de diversas áreas, no entanto, há uma preocupação específica dos
especialistas em Educação Musical no que se refere ao uso da música apenas para
o que eles chamam de práticas pedagógicas reduzidas, tornando o uso desta dentro
da escola um equívoco. Nogueira (2005) afirma que a Educação Musical pode ser
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usada para melhorar diversas áreas do conhecimento realizando algo transformador
na educação. “Todavia, o processo de aprendizagem através da música também
deve proporcionar à criança um contato mais exploratório e prazeroso com a
linguagem musical” (p.3).
1.4 O suporte parental e o desempenho escolar das crianças
A participação da família no processo de aprendizado das crianças tem sido
amplamente discutida no meio acadêmico. Diversos estudos apontam que o suporte
familiar tem ligação direta com o resultado do desempenho escolar dos alunos.
Segundo Benetti, Vieira e Faracco (2016), o suporte parental, ou seja, as diversas
formas de atuação das famílias nas atividades cotidianas das crianças têm
influências decisivas na vida acadêmica desses sujeitos. Para os autores, os pais
como provedores de suporte parental, desempenham um papel importante no
desenvolvimento das crianças, à medida que propiciam um ambiente favorável à
experimentação e interação familiar, tornando o espaço doméstico propício ao
desenvolvimento infantil. Ainda de acordo com os autores, apesar de algumas
variáveis, como a questão socioeconômica e o nível de escolaridade dos pais
também influenciarem no desempenho escolar dos alunos, os benefícios do suporte
parental são indiscutíveis para que as crianças alcancem progresso e sucesso na
vida acadêmica, independente de outros fatores.
Em ampliação dos benefícios da participação da família no processo escolarização
das crianças Benetti, Vieira e Faracco (2016) afirmam que:
o suporte parental também pode beneficiar outras pessoas e outros ambientes, que vão além do lócus doméstico e da sala de aula e envolvem os professores, a escola, os próprios pais, assim como outras crianças da família. A comunidade, por sua vez, também recebe os benefícios do suporte parental, já que crianças ajustadas à escola geralmente apresentam comportamentos adequados no entorno da casa e da escola. (BENETTI, VIEIRA E FARACCO, 2016, s/p.)
No que concerne o processo de desenvolvimento da linguagem oral e escrita, a
família é primeiro meio de estimulação no qual a criança esta inserida. Antes do
ingresso da criança na escola é que a acontecem as primeiras formas de estimulo ao
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desenvolvimento das linguagens. São as diversas formas de interações sociais e a
vivência em um meio letrado que auxiliam o desenvolvimento adequado desta área.
Ninguém aprende a falar ou a escrever inatamente. Basta lembrar o caso da menina
lobo, que ao crescer em um meio restrito de linguagem não aprendeu a falar e a
escrever. Vigotskii, Luria e Leontiev (2010) atribuíram grande importância ao
processo de interação ao desenvolvimento da criança. Segundo estes autores são
nos processos de interações sociais que acontece o desenvolvimento humano.
Com base nas assertivas sobre a importância da presença familiar para o bom o
desenvolvimento e desempenho escolar das crianças, é que buscamos, neste
trabalho, envolvê-la no processo de ensino e aprendizagem formal da língua oral e
escrita.
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2. A MÚSICA NO PROCESSO METODOLÓGICO
Este capítulo traz uma breve caracterização do campo de investigação e os
procedimentos metodológicos utilizados durante a realização da pesquisa-ação.
2.1 O campo de investigação
A Escola Municipal de Educação Infantil Guarani (EMEI GUARANI) pertence à Rede
Pública Municipal de Educação da cidade de Belo Horizonte e está situada na
Regional Norte. A escola tem capacidade para 440 crianças, em turmas de
atendimento integral e parcial (manhã e tarde). Além da comunidade do bairro em
que fica localizada, a escola também atende crianças dos bairros adjacentes.
Integrada ao sistema de ensino da Rede Municipal de Belo Horizonte, a EMEI
Guarani, atende crianças na faixa etária de 2 à 5 anos e oito meses. O trabalho
Pedagógico segue as diretrizes encontradas nas Proposições Curriculares para
Educação Infantil do Município e da BNCC. Estes documentos trazem à luz as
habilidades a serem desenvolvidas pelas crianças em cada ciclo/idade da Educação
Infantil nas seguintes linguagens: Oral, Escrita, Musical, Digital, Matemática,
Plástica-visual e Corporal.
O Horário de atendimento das crianças é:
Turno da Manhã: 07h30min às 11h30min
Turno da Tarde: 13h00min às 17h00min
Turno Integral: 07h30min às 17h00min
A estrutura física da escola segue os padrões das demais escolas da rede municipal
voltadas para o atendimento das crianças pequenas, ocorrendo apenas algumas
adaptações de construção para adequação à topologia do terreno.
O espaço é composto por sala multiuso, pátio interno, cozinha e refeitório,
instalações sanitárias adaptadas às crianças e funcionários. Possui, ainda, sala de
professores e de coordenação, área de serviço e dependências completas, fraldário,
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área verde com espaço para recreação e brinquedos, área cimentada e espaço para
banho de ducha.
O grupo foco do trabalho foi formado por 20 crianças, sendo 10 meninos e 10
meninas com faixa etária entre 3 e 4 anos. A maioria das crianças oriundas de
famílias de baixa renda e ingressaram na escola neste ano de 2019. São ativas,
participativas e apresentam gosto pelo universo musical infantil.
Apesar do Projeto Político-Pedagógico (PPP) de uma escola ser de suma
importância como norteador do trabalho que se pretende desenvolver, o PPP da
EMEI Guarani, ainda encontra- se em construção, mesmo após cinco anos de sua
fundação. Entretanto, é possível encontrar em sua estrutura, ainda que não
finalizada, a proposta de educação que permeia as práticas educativas ali
desenvolvidas.
“A EMEl é uma escola da infância. Como um projeto de escola da infância nossa identidade pressupõe o princípio da proposta de continuidade do cuidar, do educar e do brincar. Em nossa proposta, estas três dimensões do trabalho pedagógico não se opõem, completam-se na formação de qualidade oferecida às crianças.. ( EMEI,2017, p..27)
Observa-se que para que essa concepção de educação se efetive, faz-se necessária
uma organização espacial e perfil profissional que propicie, para essas crianças:
tratamento igualitário, que respeite a diversidade humana e que as considere nos
seus contextos socioculturais oferecendo interações e práticas sociais variadas para
a construção de uma identidade autônoma em experiências que permitam que elas
sejam curiosas, livres, criativas, inventivas, descobridoras e felizes.
2.2 Procedimentos metodológicos
Para realização deste trabalho primeiramente foi elaborado um Plano de Ação a
partir de levantamentos bibliográficos a respeito do uso da música no processo de
aprendizagem infantil e contendo de atividades a serem desenvolvidas.
Essas atividades tiveram como base a utilização da música em sala de aula com
objetivo de explorar o potencial da Linguagem Musical no processo de aquisição das
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habilidades necessárias à aprendizagem da linguagem oral e escrita através da
utilização das suas diferentes formas de expressão (oral, corporal, auditiva e visual).
As atividades foram realizadas em um período de 3 (três) meses com a frequência
de 2 (duas) vezes por semana. Os dados que permitiram a análise das atividades,
desenvolvidas em sala de aula, foram coletados através das mídias digitais – fotos e
vídeos- e de registros manuscritos em uma espécie de diário de campo. Já as
atividades extra-classe foram analisadas através de um questionário que foi enviado
juntamente com a caixa musical para ser respondido pelas famílias envolvidas e de
registros digitais solicitados aos participantes.
A primeira atividade efetuada, em sala de aula, foi a escolha do repertório a ser
trabalhado, considerando que seriam utilizadas apenas músicas do universo infantil.
Para tal escolha, foi realizada uma roda de conversa e cada criança apontou uma
música de seu conhecimento. Após a retirada das indicações com duplicidade de
indicação, totalizou de 14(quatorze) músicas, que foram registradas no quadro e,
posteriormente, tiveram suas letras registradas para compor o caderno de músicas.
As músicas selecionadas foram.
1. Alecrim dourado;
2. Dona Aranha;
3. A baleia;
4. Borboletinha;
5. A bruxa;
6. Era uma casa;
7. O joguete;
8. A galinha pintadinha;
9. Indiozinho;
10. Jacarezinho passeando na lagoa;
11. Macaquinho bate, bate seu coquinho;
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12. Pintinho amarelinho;
13. O sapo não lava o pé;
14. Tartaruguinha.
Além do repertório oral, com o objetivo de desenvolver também a expressão
corporal, como uma forma de linguagem, foram trabalhados gestos e expressões
durante a cantiga e algumas músicas foram dramatizadas, por isso a autora desse
estudo sugeriu mais 3 (três) canções, 2(duas) delas foram cantadas e utilizadas para
encenação e 1(uma) para dança que trabalha movimentos corporais são elas: a
árvore da montanha, a linda rosa juvenil e tchu, tchuê.
2.2.1 A roda musical
A roda musical foi a principal atividade desenvolvida em sala de aula. Trata-se de um
procedimento metodológico que consiste em sentar-se com o grupo em forma de
círculo, no chão ou em cadeiras; a fim de maior participação e aproximação entre
quem ensina e aprende transferindo o foco do processo de aprendizagem do
educador para todos os envolvidos. Conforme o objetivo a ser desenvolvido, a roda
de música pode, ou não, ser complementada por alguns recursos ou materiais
pedagógicos.
Neste estudo algumas atividades foram complementadas pelos seguintes recursos
pedagógicos: o caderno de músicas, a caixa musical, o alfabeto móvel e os textos
musicais.
2.2.1.1 O caderno de músicas
O caderno de músicas foi confeccionado pela autora da pesquisa e contêm as letras
das 14 (quatorze) músicas sugeridas pelas crianças e também as figuras ilustrativas
que nomeia cada uma das canções trabalhadas em sala de aula. As letras foram
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classificas em ordem alfabética para auxiliar na aprendizagem do alfabeto, visto que
o mesmo é manuseado pelas crianças e familiares.
Figura 1 – Caderno de músicas
Fonte: Autora, 2019.
2.2.1.2 A caixa musical
A caixa musical é uma caixa contendo diversos CDs, elaborado pela autora desse
estudo, que traz de um lado a letra inicial do nome de uma figura e do outro a
imagem/foto dessa mesma figura.
A atividade consistia em retirar um CD da caixa, observar a figura e depois a
representação gráfica alfabética inicial do nome dessa imagem e cantar uma música
que contem o nome da figura. A música cantada pode ser uma criação própria ou
mesmo uma trabalhada em sala ou outra do conhecimento da criança.
Como na figura 2, o CD consta de um lado a Letra B, e do outro a figura de uma
baleia, então a música cantada foi:
“A baleia, a baleia, mora no mar, mora no mar.
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Não consigo vê-la, não consigo vê-la,
Vou mergulhar, tchibum, vou mergulhar, tchibum”.
Figura 2 – Caixa Musical: CD a baleia
Fonte: Autora, 2019
2.2.1.3 O alfabeto móvel
O alfabeto móvel foi confeccionado em folhas de papel A4, nele está presente a letra
do alfabeto grafada de diferente formas – cursiva, maiúsculo e minúsculo e caixa
alta. A representação de uma figura que tem o nome iniciado pela letra em questão,
também encontra- se em cada carta do alfabeto, bem como a grafia do nome da
figura, conforme imagem 3.
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Figura 3 – Alfabeto móvel
Fonte: Autora, 2019
Esse recurso foi criado para trabalhar uma música utilizando o nome das crianças,
do mesmo modo fazendo referência a primeira letra utilizada na grafia deste,
permitindo as primeiras relações entre grafema e fonema.
A letra da música cantada era:
“O (diz o nome da letra) é uma letrinha que faz parte do ABC. Oh! (diz o nome da
criança) como eu gosto de você”!
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Então a criança cujo nome foi cantado levanta-se e pega a letra do seu nome e
mostra para os colegas. Caso tenha crianças com o nome repetido, ambas,
levantam e pegam a sua letra. Pois há letras repetidas no alfabeto móvel.
2.2.1.4 Os textos musicais móveis
Os textos Musicais Móveis foi outro recurso pedagógico empregado com o intuito em
despertar na criança a percepção entre as diferentes formas de registro, desenho e
escrita alfabética. Este recurso consiste em fazer a troca de imagens por palavras,
no texto da canção, ou seja, o texto musical móvel é a letra da música em forma de
texto, onde “palavras-chave” são substituídas por figuras, ou figuras são substituídas
por “palavra-chave” e vice-versa.
Para essa atividade foram confeccionados três textos chaves com a letra das
músicas trabalhadas em sala. Por exemplo, na música O sapo, onde deveria vir
escrita a palavra “sapo” tinha a figura do “sapo” e o objetivo era que as crianças
trocassem a figura que estava somente presa no texto pela palavra correspondente
à figura.
Figura 4 – Texto musical móvel
Fonte: Autora, 2019.
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2.2.2 A atividade extraclasse
Das 20 (vinte) crianças que fazem parte da turma, 10 (dez) foram selecionadas, por
meio de sorteio, para levarem para casa a caixa musical e desenvolver junto à
família, atividades utilizando-se desse recurso.
Juntamente com caixa musical foi enviado um questionário simples para
complementação da análise dos dados contendo apenas, 1 (uma) pergunta fechada
com opções de marcar: sempre, às vezes, não ouve. E 3 (três) perguntas
abertas.(APENDICE 1). No cabeçalho do questionário estavam algumas informações
sobre o projeto, orientações referentes ao trabalho com a caixa musical e logo após
uma solicitação para que o pais, que desejassem, enviassem fotos e vídeos, via
aplicativo de mensagens Whatsapp, das crianças executando o trabalho extra-classe
para a observação do envolvimento familiar.
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3. ANÁLISE DE DADOS - A MÚSICA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA DAS CRIANÇAS BEM PEQUENAS
Este capítulo traz a análise das relações entre os dados obtidos com o uso da
música e processo de desenvolvimento da linguagem oral e escrita infantil. Para
auxiliar na análise foram utilizados registros fotográficos, vídeos dos momentos de
execução das atividades e um diário de campo onde constam registros datados dos
momentos e das falas das crianças que foram considerados relevantes para uma
análise mais detalhada dos dados.
3.1 Aspectos didático-pedagógicos da música.
A música apresenta-se como um instrumento metodológico que envolve uma
dinâmica potencial ao processo ensino /aprendizagem. Através do canto, da dança,
do trabalho com as letras das músicas, podemos envolver as crianças em atividades
de leitura dando significando e sentido às palavras e assim despertar maior interesse
no processo de alfabetização e Letramento. Yogi (2003, p. 12) afirma que a “música
é um importante mediador do desenvolvimento da criança nas suas habilidades
físicas, mentais, verbais, sociais e emocionais”.
As contribuições da música para o desenvolvimento infantil é afirmada por
estudiosos de diversas áreas. No entanto, assim como estudiosos da Literatura
fazem críticas ao uso desta para práticas exclusivamente voltadas ao
desenvolvimento de outras áreas, com o uso da música não se faz diferente.
Estudiosos da área musical chamam a atenção para o processo de didatização da
música. Nogueira (2005) afirma que a Educação Musical pode ser usada para
melhorar diversas áreas do conhecimento realizando algo transformador na
educação, todavia, o processo de aprendizagem através da música também deve
proporcionar à criança um contato mais exploratório e prazeroso com a linguagem
musical (p.3).
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3.2 A percepção auditiva, vinculando som e sentido, fonema e grafema: a
linguagem escrita.
A ideia de se trabalhar a base do processo de aquisição da linguagem escrita, ou
seja, o alfabeto através da música ocorreu devido ao fato da especificidade própria
da idade e da etapa educacional na qual as crianças estão inseridas – a Educação
Infantil. As Diretrizes e Bases da Educacional Nacional afirmam que, o trabalho com
crianças de 0 a 5 anos requer metodologias diferenciadas que estimulem
integralmente a criança em suas funções físicas, psicológicas, intelectuais e sociais,
aperfeiçoando a ação da família e da comunidade. Além disso, de acordo com o
RECENEI “a música é uma das formas importantes de expressão humana, o que por
si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na
educação infantil, particularmente.” (BRASIL, 1998, p. 45). É neste viés que o
trabalho com a música se justifica.
O alfabeto móvel, a caixa musical, o caderno de músicas e os textos móveis,
serviram como recursos pedagógicos no processo de aprendizagem da linguagem
escrita, possibilitando às crianças fazerem as primeiras referências entre o grafema
e fonema. Rosa (1990) afirma que as músicas utilizadas em sala de aula podem se
tornar temas geradores de aprendizagem, desenvolvendo o desejo e o envolvimento
no mundo da leitura e da escrita.
O alfabeto móvel foi utilizado para trabalhar a letra inicial do nome das crianças. No
primeiro momento ao cantar a música das letrinhas, a professora pronunciava o
nome da criança que iniciava com a letra e a mesma dirigia-se à professora para
pegar a placa com representação gráfica da letra correspondente a inicial do seu
nome, mostrava aos demais colegas e voltava para seu lugar Este procedimento
didático possibilitou que as crianças conhecessem a base alfabética de forma lúdica.
Posteriormente a dinâmica da realização da atividade foi modificada, as letras foram
espalhadas no chão dentro da roda e ao cantar a letra da música, a criança cujo
nome era pronunciado, dirigia-se ao meio da roda para pegar a “sua letra” e a
apresentava aos demais colegas. Durante a realização dessa atividade foi sugerido
que se buscasse novas palavras ou nomes que o som também se iniciasse com a
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letra trabalhada, por exemplo, a letra “A” é o inicio do nome Ana, mas também é de
Alice, de amor, de avião. A partir desse experimento observou-se que as crianças
começaram a fazer essas referências com mais facilidades e periodicamente mesmo
fora de classe.
Durante a realização de atividades envolvendo o alfabeto móvel e outra a caixa
musical, fatos chamaram a atenção. O primeiro se refere à fala de uma criança
identificada como R.C. que, após um dos colegas retirar do solo um dos cartões do
Alfabeto Móvel e apresentar a letra inicial do nome, a letra V, falou:
Professora, a letra V, também é de Vinicius, meu primo, e de vaca. Olha só como
ela faz, VVVVVVV” e continuou pronunciando um V longo.
Outro fato ocorrido foi durante a atividade com a caixa musical. A criança identificada
pelas iniciais B. L. retirou o CD da caixa com a Letra T, mostrou aos seus colegas e
ao começar a cantar a música da tartaruguinha, foi interrompida por uma colega de
sala (L. A.) que, ao encontrar um pedaço de papel no chão, disse: - “Olha
Professora, eu achei a letrinha T de tartaruga. No instante seguinte, uma outra
criança (V.C), tentou pegar o papel da mão de L.A rasgando-o em uma das laterais
modificando a sua estrutura física. Após o ocorrido, V.C. falou todo eufórico: “Olha,
Alice, agora virou a Letra L de Laura, de Lorran, não é mesmo, Professora.?!!”.
Durante as atividades que envolviam o manuseio do caderno músicas, verificou-se a
preocupação das crianças em seguir as letras das canções tentando identificar o que
estava escrito e não somente cantar. O desejo de aprender a ler estava explicito nas
atitudes de cada criança que manuseava o caderno.
Diante do exposto percebemos que o uso da música infantil pelas crianças em
processo de alfabetização pode vir a se tornar um facilitador na aquisição das
habilidades da linguagem oral e escrita, na compreensão do vocabulário e na
capacidade de expressão. Para Rosa (1990) o simples ato de cantar uma cantiga
proporciona à criança o desenvolvimento de aptidões importantes. E, no que se
refere ao desenvolvimento da linguagem escrita, a autora ainda afirma que:
O período preparatório à alfabetização beneficia-se do ensino da linguagem musical quando as atividades propostas contribuem para o desenvolvimento
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da coordenação viso motora, da imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. (ROSA, 1990, p.21).
Por fim, análise dos dados corroboram no sentindo de compreender que a música
provoca estímulos para o desenvolvimento das faculdades mentais, emocionais e
intelectuais, e na escola abre caminhos para o aprendizado de outras linguagens.
3.3 As expressões corporais como aspecto necessário ao aprendizado
Além do repertório oral a expressão corporal, como forma de linguagem também foi
trabalhada. Com o intuito de promover o desenvolvimento da linguagem corporal,
durante a cantiga das músicas eram realizados gestos, expressões faciais e
corporais e algumas músicas foram dramatizadas. A maior parte das crianças, do
grupo estudado, demonstrava grande desejo em participar das encenações. Até as
que apresentavam um comportamento mais tímido disputavam o microfone, que foi
confeccionado para dar uma sensação de destaque e incentivo à participação. O
papel principal durante a encenação das músicas também era alvo de disputa.
Durante a encenação da música “A linda Rosa Juvenil” houve uma grande demanda
em participar por parte das crianças. Como havia vários personagens no enredo foi
sugerido, por parte da professora, um sorteio para definir o papel que cada criança
representaria. A encenação se repetiu por inúmeras vezes, em cada uma delas, os
papéis eram novamente sorteados e cada criança representava um novo
personagem. Entretanto, houve uma demanda maior por representar a linda Rosa e
o belo Rei. Percebe-se que na infância estes personagens tem uma representação
simbólica de status social. Neste sentido, observamos o quanto a música marca
desde a tenra idade os aspectos sociais da vida do sujeito. Segundo Rosa (1990) a
música auxilia nas relações socioculturais e causa estímulos à expressão corporal
da criança e desperta o interesse para outros conhecimentos a partir das temáticas
que estão expressas em suas letras.
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3.4 A relação entre o uso da música e desenvolvimento da linguagem oral.
No inicio do ano letivo observou-se que algumas crianças da sala apresentavam um
vocabulário restrito e dificuldades na pronúncia de algumas palavras. No entanto,
notou-se uma mudança significativa no padrão oral das crianças, após o início das
atividades que envolviam o canto. Estas passaram a conhecer novos vocábulos, que
eram expressos nas letras das músicas e a questionar o significado dos mesmos.
Durante o canto da música “Alecrim dourado”, a fala de duas crianças, mereceu
destaque, pois evidenciou essa mudança no padrão oral e no conhecimento de
novos vocábulos. A caracterização dos envolvidos no diálogo se dará como criança
1, criança 2 e professora.
A criança 1, pergunta: “Professora o que é Alecrim?”. No mesmo instante, a criança
2, responde, antes mesmo que a professora pudesse se expressar: “É uma plantinha
que minha vó faz chá para ela tomar quando está doente”. Após observar a
explicação da criança 2, a professora, completa a explicação informando que a
planta pode ser usada para chás como também para dar cheiro em alguns lugares,
para temperar a carne, e mostra a planta através da imagem do celular. Ao final da
fala da docente, a criança 1 retoma e diz: “Agora eu já sei. Vou pedir minha vó para
fazer chá de alecrim pra mim, porque eu “tô” gripada, professora.”
No decorrer da pesquisa percebeu-se que, além da ampliação do vocabulário, houve
um aumento qualitativo no padrão verbal das crianças que buscavam pronunciar as
palavras contidas na letra das músicas de maneira próxima ao padrão cultural. Neste
sentido, Yogi afirma que a música é um importante mediador do desenvolvimento da
criança nas suas habilidades físicas, mentais, verbais, sociais e emocionais.
“Quando o sujeito consegue relacionar os padrões musicais aos emocionais, o nível
de compreensão vai além da dimensão artística conduzindo ao desenvolvimento
psicológico e cognitivo. ( YOGI, 2003, p. 12)
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3.5 O envolvimento familiar no processo ensino aprendizagem
Um dos objetivos deste trabalho refere-se ao envolvimento familiar no processo de
aprendizagem das crianças, uma vez que, diversos estudos apontam que o suporte
parental tem ligação direta com o resultado do desempenho escolar dos alunos.
Com o intuito de observar esta relação entre o suporte familiar e o desempenho
escolar das crianças, a caixa musical foi enviada para casa de dez crianças do grupo
juntamente com um questionário, conforme informado nos procedimentos
metodológicos descritos anteriormente. Para possibilitar uma análise mais completa
da participação da família foram solicitados o envio de registros fotográficos e
vídeos.
Os resultados obtidos com o retorno das famílias estão representados no gráfico
abaixo. Para melhor entendimento, dos dados, foram consideradas sem retorno, as
famílias que, apesar de se disporem a levar a caixa, não preencheram o questionário
e não enviaram nenhum tipo de registro fotográfico ou vídeo. Retorno parcial refere-
se às famílias que preencheram o questionário, mas não enviaram vídeos e fotos. E
retorno total, às famílias que preencheram o questionário e enviaram vídeos e fotos
da família e da criança fazendo uso da caixa musical.
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Em um dos vídeos enviados por uma família considerada com retorno total, notou-se
que a criança, assim que chegou em casa. logo começou a explorar a caixa musical,
tirando os CDs, cantando as músicas trabalhadas e criando outras com os desenhos
e as letras que encontravam-se nos discos. Em um momento de envolvimento
familiar (mãe, pai e a bisavó), a criança tirou o Cd da caixa, mostrou para seus
familiares perguntando: - “Que letra é essa?” Eles responderam a letra B. Então a
criança continuou: “isso mesmo, o B que é de booola, borboleeeeta”. E o pai,
completou, “de bonitiiinha!!” (risos). A mãe perguntou tem música com essa letra,
filha? A criança disse: “Sim” e logo começou a cantar a música da borboletinha. A
avó ficou o tempo todo com o caderno de música em mãos acompanhando e
incentivando a criança a continuar.
Observa-se que a criança que pertence a este núcleo familiar apresenta um bom
desempenho escolar e desenvolvimento acima do esperado considerando o fator
idade (três anos). Segundo Benetti, Vieira e Faracco (2016), o suporte parental, ou
seja, as diversas formas de atuação das famílias nas atividades cotidianas das
crianças têm influências decisivas na vida acadêmica das crianças. Para os autores,
os pais como provedores de suporte parental, desempenham um papel importante
no desenvolvimento das crianças, à medida que propiciam um ambiente favorável à
experimentação e à interação familiar, tornando o ambiente de casa propício ao
desenvolvimento infantil.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo objetivou compreender as contribuições da música no processo de
aquisição das habilidades necessárias à Alfabetização – a aprendizagem da
Linguagem oral e escrita das crianças pequenas – através de suas diferentes formas
de expressão (oral, corporal, auditiva e visual).
A metodologia de pesquisa utilizada, nesse trabalho, foi a pesquisa-ação. Este
método permitiu conciliar teoria e prática, ou seja, as reflexões, acerca do referencial
teórico estudado, como suporte para as intervenções no campo de pesquisa. Para
tanto, foi elaborado, anteriormente, um plano de ação com levantamentos
bibliográficos baseado em referenciais teóricos sobre o uso da música na educação.
Neste plano, também constavam as atividades que seriam desenvolvidas,
considerando a temática do estudo. Como procedimento metodológico principal,
utilizou-se a roda de música incorporando-se alguns recursos pedagógicos como a
caixa musical, o caderno musical, alfabeto móvel e fantasias.
Ao fim do período de execução das atividades propostas, observou-se que o
trabalho com a música, em sala de aula, demonstrou-se que, além de ser um
instrumento metodológico de potencial no desenvolvimento da linguagem oral e
escrita das crianças, é também um momento prazeroso para todos. As crianças
envolveram-se durante a execução das atividades demonstrando interesse e desejo
de participar. Ao pegar o microfone, por exemplo, além de cantar as músicas
trabalhadas em sala, elas criavam novos repertórios, dançavam e buscavam fazer
associações fonéticas das letras iniciais com outras palavras, além das que estavam
sendo trabalhadas no momento. O trabalho com a música também colaborou para a
ampliação do vocabulário das crianças, à medida que novos vocábulos eram
apresentados nas cantigas, bem como auxiliou no desenvolvimento da fluência
verbal ao se propor o canto diário com pronúncia correta das palavras que faziam
parte do repertório. Cabe ressaltar ainda o potencial da música no que tange à
socialização. Mesmo as crianças mais tímidas interagiram durante as atividades de
roda, bem como nas encenações das músicas.
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No entanto, algumas dificuldades surgiram no decorrer do processo. Acredito que a
falta de formação especifica na área da música e de habilidades para o uso de
instrumentos musicais, restringiu um pouco o desenvolvimento das atividades. Além
disso, surgiram outras questões, como o curto tempo cronológico para coleta dos
dados para serem analisados, no caso deste trabalho que buscou o envolvimento
familiar.
Esse estudo não tem como pretensão esgotar o tema proposto, mas auxiliar na
busca de metodologias diferenciadas no processo de aquisição da linguagem oral e
escrita no ambiente escolar. Contudo, conclui-se que as músicas utilizadas em sala
de aula podem se tornar temas geradores de aprendizagem, desenvolvendo o
desejo e o envolvimento das crianças no mundo da leitura e da escrita.
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REFERÊNCIAS
BARBIER, Rene. A pesquisa ação. Tradução. Lucie Didio. Brasilia:UNB, 1997.
BENETTI, Idonézia Collodel ; VIEIRA, Mauro Luís; FARACCO, Anna Maria. Suporte
parental para crianças do ensino fundamental. Caderno de Pesquisa. v.46,n..161,
São Paulo, jul./set. 2016 . Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010015742016000300784&l
ng=pt&nrm=iso#B9 – Acesso: 27 de out.2019
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dez. de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial da União Brasília, DF, 1996. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso: 01 mai. 2019.
BRASIL. Lei n. 11.769, de 18 de ago.de 2008. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dez. de
1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do
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APÊNDICE 1 – MODELO DO QUESTIONÁRIO FAMILIAR –