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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical INDICADORES DE PERDA DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA JANAINA ROSA DE SOUSA CUIABÁ-MT 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E

ZOOTECNIA

Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

INDICADORES DE PERDA DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA

JANAINA ROSA DE SOUSA

CUIABÁ-MT

2015

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E

ZOOTECNIA

Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

INDICADORES DE PERDA DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA

JANAINA ROSA DE SOUSA

Bióloga

Orientador: Prof. Dr. FRANCISCO DE ALMEIDA LOBO

Co-Orientadora: Prof. Dra. MARIA APARECIDA BRAGA CANEPPELE

CUIABÁ-MT

2015

Dissertação apresentada à

Faculdade de Agronomia, Medicina

Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Mato

Grosso, para obtenção do título de

Mestre em Agricultura Tropical.

3

4

5

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,

se não tiver amor,

serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom de profetizar

e conheça todos os mistérios e toda a ciência,

ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes,

se não tiver amor, nada serei.

E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres

e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado,

se não tiver amor,

nada disso me aproveitará.

O amor é paciente,

é benigno,

o amor não arde em ciúmes,

não se ufana,

não se ensoberbece,

não se conduz inconvenientemente,

não procura os seus interesses,

não se exaspera,

não se ressente do mal.

Não se alegra com a injustiça,

mas, regozija-se com a verdade.

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais acaba.

As profecias terão o seu fim,

o dom das línguas cessará,

e a ciência será inútil.

Pois o nosso conhecimento é imperfeito,

e imperfeita é também a nossa profecia.

(1º Coríntios 13, 1-10)

6

A Deus que é tão grande e maravilhoso, pois sem ele nada teria acontecido.

Aos meus pais, Marina Luiza e Silvio Rosa, pelo carinho em todos os momentos do

mestrado.

Dedico

7

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e ao Programa de Pós-

Graduação em Agricultura Tropical (PPGAT), ao seu corpo de Direção,

Administrativo e Docentes.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela

concessão da bolsa de estudo que oportunizou o meu crescimento profissional e

possibilitou minha permanência na Universidade Federal de Mato Grosso.

Ao professor Dr. Francisco de Almeida Lobo, primeiramente, agradeço pela

confiança que depositou em mim, por ter disponibilizado a vaga como orientador, por

compartilhar seus conhecimentos e por fim, pela atenção que sempre teve comigo

no decorrer do trabalho.

À professora Dra. Maria Aparecida Braga Caneppele, pela acolhida

acreditando no meu trabalho, agradeço ainda pela cumplicidade, por compartilhar

seus conhecimentos, pelo respeito e paciência.

À professora Dra. Leimi Kobayasti, pelas orientações nas análises sanitárias

dos grãos e pelas correções do trabalho escrito.

À professora Dra. Maria das Graças de Assis Bianchini, pelo auxílio nas

análises químicas, pelo apoio e sugestões no decorrer do trabalho.

À professora Dra. Adelaide Del Pino Beleia, pelas sugestões na banca de

defesa.

À professora Dra. Elisangela Clarete Camili, pelas sugestões no exame de

qualificação.

À Patrícia de Jesus Andrade, pela amizade, pela colaboração e por toda

predisposição em ajudar sempre que solicitada.

Ao Maicon Marinho Vieira Araújo, pela amizade e as valiosas sugestões que

foram fundamentais no trabalho.

À Karoline da Costa Barros, pela amizade e convivência de laboratório

durante o mestrado.

Aos estagiários do Núcleo de Tecnologia em Armazenagem, Rômulo Feletti e

Juarez Orsolin, pela colaboração na pesquisa.

Ás estagiárias Alessandra Rezer e Márcia Silva pela colaboração na

pesquisa.

8

Aos técnicos dos Laboratórios de Sementes, Fitopatologia e Patologia

Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso, Sidnéia, Arlindo e Márcio, pelo

auxílio nas análises laboratoriais.

A todos os amigos e colegas da Pós-Graduação, pelo companheirismo.

E a todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste

trabalho.

9

INDICADORES DE PERDA DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA

RESUMO – Apesar de toda a tecnologia disponível à agricultura brasileira, as

perdas qualitativas e quantitativas, originadas durante o processo de pós-colheita dos grãos, ainda não são bem controladas. Dimensionar as perdas ocorridas no armazenamento é fundamental para que se tomem os devidos procedimentos a fim de minimizá-las. Diante disso, no presente estudo foram contemplados três experimentos: no primeiro avaliaram-se a qualidade física, nutricional, química e sanitária de grãos bons e com defeitos da soja; no segundo avaliou-se a perda de qualidade física, nutricional e sanitária da soja armazenada pelo período de 210 dias, sob condição de laboratório (30 oC e 46% UR) e controlada (23 oC e 50% UR), submetida a infestação de Lasioderma serricorne; no terceiro verificou-se o índice de acidez alcoólica em grãos com diferentes enquadramentos de qualidade no padrão comercial de soja. No primeiro, foram realizadas as seguintes análises de qualidade: teor de água, massa de 100 grãos, teores de proteína bruta e extrato etéreo, índice de acidez, incidência fúngica e detecção de aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2). Observou-se maiores médias de proteína bruta nos grãos ardidos, queimados, mofados e fermentados. Houve acréscimos nos teores de proteína e nos índices de acidez com o avanço da deterioração dos grãos. Para a avaliação das perdas, avaliou-se mensalmente o teor de água, a massa específica aparente a condutividade elétrica os teores de proteína bruta e extrato etéreo a infestação interna e externa. As análises de sanidade e classificação comercial foram realizada inicialmente e aos 210 dias. O ambiente natural promoveu maior perda de qualidade nos grãos ao longo do armazenamento, independente do nível de infestação. Para verificar o índice de acidez alcoólica em grãos de soja, foram avaliados o teor de água, a massa específica aparente, o índice de acidez alcoólica, o teor de proteína bruta e extrato etéreo e a condutividade elétrica. Para todas as safras avaliadas houve aumento da acidez conforme o pior enquadramento comercial. Na comparação das duas estratificações dentro de cada enquadramento houve significância em todos os parâmetros de qualidade avaliados, sendo as maiores médias apresentadas no segundo estrato. Pode-se concluir que o índice de acidez alcoólica tem correspondência com a condutividade elétrica e consequentemente com o total de grãos avariados.

Palavras-chave: grãos danificados, insetos de armazenamento, deterioração,

Glycine max L.

10

INDICATORS OF LOSS OF QUALITY IN SOYBEANS

ABSTRACT – Although all the technology available to Brazilian agriculture, qualitative and quantitative losses arising during the process of post-harvest grain, are not well controlled. Scale the losses during storage is crucial in order to take the proper procedures to minimize them. Therefore, in this study included three experiments: the first evaluated the physical quality, nutritional quality, chemical quality and sanitary quality of soybean defects; the second evaluated the loss of physical quality, nutritional and sanitary quality of soybean stored for a period of 210 days under laboratory conditions (30 ° C and 46% RH) and controlled (23 ° C and 50% RH), subject to infestation Lasioderma serricorne; in the third it was evaluated the acidity in grains with different quality frameworks in commercial soy pattern. At first experiment, there were the following quality analysis: water content, weight of 100 grains, crude protein and ether extract, acid value, fungal incidence and detection of aflatoxins (B1, B2, G1 and G2). It was observed higher average crude protein in damaged kernels, burned, moldy and fermented. There were increases in protein content and acidity levels with advancing deterioration of the grains. For the evaluation of losses, was evaluated monthly water content, the density apparent electrical conductivity crude protein and ether extract internal and external infestation. Analyses of sanity and commercial classification were performed initially and at 210 days. The natural environment caused greater loss of quality in the grain during storage, regardless of the level of infestation. To check the alcoholic acid number in soybeans were evaluated water content, bulk density, the alcoholic acid number of the crude protein and lipids and electrical conductivity. For all crops assessed was increased acidity as the worst trading environment. In comparing the two stratifications within each frame there was significance in all parameters evaluated quality, with higher averages presented in the second stratum. It can be concluded that the alcoholic acid number also corresponds to the electrical conductivity and consequently damaged with the total grains.

Keywords: damaged grain, storage insects, deterioration, Glycine max L.

11

SUMÁRIO

Página

RESUMO............................................................................................. 09

ABSTRACT......................................................................................... 10

1. INTRODUÇÃO................................................................................. 15

1.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 18

2. AVALIAÇÃO DOS DEFEITOS DOS GRÃOS DE SOJA................ 20

RESUMO............................................................................................. 20

ABSTRACT......................................................................................... 21

2.1 INTRODUÇÃO............................................................................... 22

2.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................. 24

2.2.1 Obtenção das amostras de trabalho....................................... 24

2.2.2 Delineamento experimental e análises estatísticas.............. 25

2.2.3 Avaliação da qualidade............................................................ 26

2.2.3.1 Avaliação da qualidade física.............................................. 26

2.2.3.1.1Teor de água........................................................................ 26

2.2.3.1.2 Massa de 100 grãos............................................................ 26

2.2.3.2 Avaliação da qualidade nutricional e química................... 26

2.2.3.2.1 Proteína bruta..................................................................... 27

2.2.3.2.2 Extrato etéreo..................................................................... 27

2.2.3.2.3 Índice de acidez.................................................................. 27

2.2.3.3 Avaliação da qualidade sanitária........................................ 28

2.2.3.3.1 Incidência fúngica............................................................. 28

2.2.3.3.2 Ocorrência de aflatoxinas................................................. 28

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................... 29

2.3.1 Qualidade física..................................................................... 29

2.3.1.1 Teor de água........................................................................ 29

2.3.1.2 Massa de 100 grãos.............................................................. 30

2.3.2 Qualidade nutricional e química........................................... 31

2.3.2.1 Proteína bruta........................................................................ 31

2.3.2.2 Extrato etéreo........................................................................ 32

2.3.2.3 Índice de acidez.................................................................... 33

2.3.3 Qualidade sanitária................................................................. 34

12

2.3.3.2 Aflatoxinas............................................................................ 39

2.4 CONCLUSÕES............................................................................. 41

2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................ 42

3 PERDA DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA ARMAZENADO

EM DIFERENTES CONDIÇÕES SOB INFESTAÇÃO DE

Lasioderma serricorne Fabricius 1792 (Coleoptera: Anobiidae).....

45

RESUMO............................................................................................. 45

ABSTRACT......................................................................................... 46

3.1 INTRODUÇÃO............................................................................... 47

3.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................. 49

3.2.1 Local do experimento e espécie estudada............................. 49

3.2.2 Delineamento experimental e análises estatísticas.............. 50

3.2.3 Descrição das análises............................................................ 51

3.2.4 Qualidade física e química...................................................... 51

3 .2.4.1Teor de água........................................................................... 51

3.2.4.2 Perda de massa...................................................................... 51

3.2.4.3 Massa específica aparente................................................... 52

3.2.4.4 Condutividade elétrica.......................................................... 52

3.2.4.5 Classificação física............................................................... 52

3.2.5 Qualidade nutricional............................................................... 52

3.2.5.1 Proteína bruta e extrato etéreo........................................... 52

3.2.6 Qualidade sanitária................................................................... 53

3.2.6.1 Infestação interna com L. serricorne..................................... 53

3.2.6.2 Infestação externa de L. serricorne....................................... 53

3.2.6.3 Incidência fúngica................................................................. 53

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................... 54

3.3.1 Qualidade física e química...................................................... 54

3.3.1.1 Teor de água......................................................................... 54

3.3.1.2 Perda de massa..................................................................... 55

3.3.1.3 Massa especifica aparente................................................... 57

3.3.1.4 3.3.1.4 Condutividade elétrica....................................................... 57

3.3.1.5 Classificação física............................................................... 58

3.3.2 Qualidade nutricional.............................................................. 59

3.3.2.1 Proteína bruta e extrato etéreo............................................ 59

13

3.3.3 Qualidade sanitária..................................................................

61

3.3.3.1 Infestação interna com L. serricorne..................................... 61

3.3.3.2 Infestação externa de L. serricorne....................................... 61

3.3.3.3 Incidência fúngica................................................................. 64

3.4 CONCLUSÕES.............................................................................. 65

3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 66

TESTE DE ACIDEZ ALCOOLICA E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA COMO ÍNDICE DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA...................

69

RESUMO............................................................................................. 69

ABSTRACT......................................................................................... 70

4.1 INTRODUÇÃO............................................................................... 71

4.2 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................. 73

4.2.1 Obtenção das amostras de grãos de soja............................. 73

4.2.2 Delineamento experimental e análises estatísticas.............. 74

4.2.3 Avaliação das características de qualidade........................... 74

4.2.4 Qualidade física e química..................................................... 74

4.2.4.1Teor de água.......................................................................... 74

4.2.4.2 Massa específica aparente.................................................. 74

4.2.4.3 Classificação física.............................................................. 75

4.2.4.4 Condutividade elétrica......................................................... 75

4.2.4.5 Índice de acidez alcoólica.................................................... 75

4.2.5 Qualidade nutricional.............................................................. 76

4.2.6.1 Proteína bruta e extrato etéreo....................................... 76

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................... 77

4.3.1 Qualidade física e química...................................................... 77

4.3.1.1 Teor de água.......................................................................... 77

4.3.1.2 Massa específica aparente.................................................. 78

4.3.1.3 Condutividade elétrica.......................................................... 78

4.3.1.4 Índice de acidez alcoólica.................................................... 80

4.3.2 Qualidade nutricional............................................................... 81

4.3.2.1 Teor de proteína bruta e extrato etéreo............................... 81

4.3.3 Correlação entre os parâmetros de qualidade e o índice de

acidez alcoólica................................................................................ 82

4.4 CONCLUSÕES.............................................................................. 87

14

4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 88

15

1 INTRODUÇÃO

A soja (Glycine max L.) representa o produto de origem vegetal de maior

impacto na economia brasileira (Klahold et al., 2006). Na safra 2014/15 o Brasil

produziu 96 milhões de toneladas de grãos de soja. Em Mato Grosso foram

semeados 13,4 milhões de hectares, com produtividade de 3.662 kg por hectare, o

que gerou uma produção de 49 milhões de toneladas, representando 51,0% da

produção nacional (CONAB, 2015).

A soja possui várias finalidades, tanto para o consumo humano quanto

animal, devido às altas concentrações de proteínas e óleo presentes nos grãos.

Segundo Souza (2009), a maioria das cultivares apresenta de 30 a 45 % de proteína

e 15 a 25 % de óleo. No entanto, a principal utilização da soja é como matéria-prima

para a indústria que produz óleo degomado e farelo. O óleo é, usado como matéria-

prima para a indústria alimentícia e o farelo na indústria de rações e, as

concentrações e qualidade do óleo e do farelo determinam o quanto pode ser

produzido com uma tonelada de soja e o preço final do produto, em função da

concentração da proteína e óleo a ser obtida e do rendimento industrial (Pípolo,

2002).

Neste contexto, a qualidade dos grãos de soja é importante para toda a

cadeia produtiva, para quem produz, compra, processa e consome. Os fatores de

qualidade dos grãos podem ser agrupados em qualidade física: teor de água,

integridade, avariados, matérias estranhas e impurezas; qualidade sanitária: fungos

e insetos; qualidade nutricional: composição química do grão. Quando ocorre perda

da qualidade dos grãos, esse fato é irreversível, sendo alteradas as qualidades

intrínsecas, essenciais do produto (Bordignon, 2009).

16

Sendo que o armazenamento é a etapa fundamental para a manutenção das

qualidades nutricionais que os grãos oferecem, visando assim a conservação dos

grãos. O armazenamento é utilizado desde a antiguidade para evitar a falta de

alimento em razão da sazonalidade dos cultivos, devido às limitações climáticas ou

ao tempo de desenvolvimento das culturas (Weber, 2001).

Durante a etapa de armazenagem, que se inicia na pós-colheita e vai até o

processo de industrialização, os grãos podem sofrer alterações em sua composição.

Conforme Brooker et al. (1992a), no armazenamento, a massa de grãos é

constantemente submetida a fatores externos, os quais podem ser físicos, como

temperatura e umidade; químicos, como fornecimento de oxigênio e biológicos como

fungos, insetos e roedores.

O que pode influenciar na queda da qualidade de grãos para indústria é a

deterioração do produto que pode se iniciar ainda no campo de produção e se

estender durante o processo de armazenamento e transporte. Em campo, grãos

atacados por insetos sugadores, tais como, percevejo verde (Nezara viridula),

percevejo marrom (Euschistus heros), percevejo verde pequeno (Piezodorus

guildinii), acabam sendo danificados e consequentemente surgem alguns defeitos na

soja. Assim como a ocorrência desses insetos, o excesso ou falta de chuvas nas

fases de enchimento e maturação dos grãos também ocasionam o aparecimento

dos defeitos (Freitas et al., 2010).

Durante o armazenamento, há vários insetos que contribuem para deteriorar

os grãos da soja, aumentando o número de grãos quebrados e promovendo com

isso o surgimento de outros insetos que consomem esses fragmentos ou vivem das

sujidades produzidas nessas circunstâncias.

A incidência de insetos também favorece as infestações de fungos, em virtude

das perfurações que permitem a penetração desses microrganismos. A infestação

dos fungos acelera o processo deteriorativo, reduzindo consideravelmente a massa

dos grãos, além de produzir micotoxinas, substâncias metabólicas de grande

potencial tóxico para animais e seres humanos (Moreira, 2008).

Segundo Padín et al. (2002), o desenvolvimento dos insetos-pragas é

influenciado por fatores ambientais. A temperatura é um dos principais fatores

abióticos que limitam a sobrevivência e reprodução dos insetos (Hallman e

Denlinger, 1998), podendo aumentar a população de insetos no armazenamento e,

com isso, elevando as perdas.

17

A perda de qualidade de grãos e sementes durante o armazenamento, muito

antes de ser detectada por qualquer perda, é acompanhada por outras modificações

deteriorativas (Abdul-Baki, 1980). Uma das alterações associadas com a

deterioração de grãos e sementes, em geral, é a acidificação (Abdul-Baki e Baker,

1972).

De acordo com Smith e Berjak (1995), a acidificação é resultado do aumento

de ácidos graxos livres, de fosfatos ácidos e de aminoácidos, produzidos pela ação

das lipases, fitases e proteases, respectivamente. Entre estes três grupos de

compostos, o maior e o mais rápido aumento ocorre nos ácidos graxos.

A determinação do índice de acidez pode fornecer um dado importante na

avaliação do estado de conservação do óleo. A deterioração do óleo, seja por

hidrólise ou oxidação, altera quase sempre a concentração dos íons hidrogênio. A

rancidez é frequentemente acompanhada pela formação de ácidos graxos livres,

expressos em termos de índice de acidez (IAL, 2008).

Devido à importância de se avaliar as perdas quantitativas e qualitativas nos

grãos de soja, objetivou-se, neste trabalho, analisar as propriedades física,

nutricional, química e sanitária dos grãos de soja com defeitos em relação aos bons,

avaliar as perdas de qualidade física, nutricional e sanitária dos grãos de soja

armazenado em diferentes condições ambientais e sob infestação ou não de

Lasioderma serricorne e por último verificar o índice de acidez em grãos com

diferentes enquadramentos de qualidade no padrão comercial da soja.

.

18

1.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDUL-BAKI, A. A. Biochemical aspects of seed vigor. HortScience, Alexandria, v.

15, n. 6, p. 765-771, Nov./Dez. 1980.

ABDUL-BAKI, A. A.; BAKER, J. E. Are changes in cellular organelles or membranes related to vigor loss in seeds? Seed Science and Technology, Zurich, v. 1, n. 1, p.

89 -125, Jan./Mar. 1972.

ALMEIDA-Dória, R.F.; REGITANO-D'arce, M.A. Antioxidant activity of rosemary and oregano ethanol extracts in soybean oil under thermal oxidation. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.20, n. 2, p.201-203, Mai/Agos. 2000.

BORDIGNON, B. C. S. Relação das condições de armazenamento com a qualidade fisiológica de sementes e composição do óleo extraído de cultivares de soja. 2009. 90f. Dissertação (Mestrado em Agricultura) – Centro de Ciências

Rurais, Universidade de Santa Maria, Santa Maria-RS, 2009.

BROOKER, D. B.; BAKKER-ARKEMA, F.W.; HALL, C.W. Drying and storage of grains and oilseeds. New York: Van Nostrand Reinhold, 1992. 450pa.

BROOKER, D. B.; BAKKER-ARKEMA, F.W.; HALL, C.W. Drying and storage of grains and oilseeds. New York: Van Nostrand Reinhold, 1992. 450pb.

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento, Levantamento da Safra 2014/15.

Disponível em: < http://www.conab.gov.br/ >. Acesso em: 26 de junho de 2015.

FREITAS, M.A.; GILIOLI, J.L.; MELO, M.A.B.; BORGES, M.M. O que a indústria quer da soja? Disponível em:

«http://www.grupocultivar.com.br/arquivos/gc26_soja.pdf» Acesso em: 25 de outubro de 2014.

HALLMAN, G. J.; D. L. DENLINGER. Introduction: Temperature sensitivity and integrated pest management. In: HALLMAN, G. J.;D. L. DENLINGER. (Ed.). Temperature sensitivity in insects and application in integrated pest management. Boulder: West view Press. 1998. p. 1-5.

IAL- Instituto Adolfo Lutz. Métodos físico-químicos para análise de alimentos.

São Paulo, 4ed, 2008. KLAHOLD, C.A.; GUIMARÃES, V.F.; ECHER, M.M.; KLAHOLD, A.;

19

CONTIERO, R.L.; BECKER, A. Resposta da soja (Glycine max (L.) Merrill) à ação de bioestimulante. Acta Scientiarum Agronomy, v.28, n.2, p.179-185, 2006. MOREIRA, L.L. Desenvolvimento e danos de Lasioderma serricorne (Fabricius,1972) (Coleoptera: Anobiidae). 2008. 98f. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical) – Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, 2008.

PADIN, S.; BELLO, G. D.; FABRIZIO, M. Grain loss caused by Tribolium castaneum,Sitophilus oryzae and Acanthoscelides obtectus in stored durum wheat and beans treated with Beauveria bassiana. Journal of Stored Products Research,

v.38, p.69-74, 2002.

PÍPOLO, A.E. Influência da temperatura sobre as concentrações de proteína e de óleo em sementes de soja (Glycine Max (L.) Merrill). 2002. 77f. Tese (Doutorado em agronomia) - Universidade de São Paulo, Piracicaba-SP. 2002.

SCHÖLLER, M.; PROSELL, S.; AL-KIRSHI, A.G.; REICHMUTH, C.H. Towards biological control as a major component of integrated pest management in stored product protection. Journal of Stored Products Research, Oxford. 1997. v.33, n.1,

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SMITH, M. T.; BERJAK, P. Deteriorative changes associated with the loss of viability of storage desiccation-tolerant and desiccation-sensitive seeds. In: KIMOJEL, Y.; GOLILI, G. Seed development and germination. New York: Marcel Dekker Inc., 1995.p.701-746.

SOUZA, L. C. F.; ZANON, G. D.; PEDROSO, F. F.; ANDRADE, L. H. L. Teor de proteína e de óleo nos grãos de soja em função do tratamento de sementes e aplicação de micronutrientes.Ciênc. agrotec. Lavras, v. 33, n.6, p. 1586-15993, Nov./Dez. 2009.

WEBER, E. Armazenagem agrícola. 2. ed., Guaíba: Agropecuária, 2001.

20

2 AVALIAÇÃO DOS DEFEITOS DOS GRÃOS DE SOJA

RESUMO - Os grãos com defeitos da soja induzem as perdas qualitativas e

quantitativas, além disso, acarretam prejuízos para os produtores, na forma de descontos sobre a carga, no momento da comercialização. Objetivou-se com o presente trabalho analisar as qualidades física, nutricional, química e sanitária dos grãos de soja com defeitos em relação aos bons. Foram separados manualmente

150 g de grãos bons e 150 g de grãos de cada defeito (queimados, ardidos, mofados, fermentados, estes estratificados (em três níveis), esverdeados, germinados, danificados (picados), imaturos, chochos, amassados e partidos conforme a Instrução Normativa nº 11 de 15/05/2007 e IN nº 37 de 27/07/ 2007. Essas amostras foram provenientes da mistura de grãos de diferentes safras e cultivares. Para as avaliações de qualidade foram realizadas as seguintes análises: teor de água, massa de 100 grãos, teores de proteína bruta e extrato etéreo, índice de acidez, incidência fúngica e detecção de aflatoxinas. Observou-se maiores médias de proteína bruta nos grãos ardidos, queimados, mofados e fermentados graves. Os grãos ardidos apresentaram os maiores índices de acidez (47%). Na análise de micotoxinas foram detectadas aflatoxinas B1 nos grãos queimados, ardidos e fermentados (parciais e graves) e B2 nos fermentados graves. Os acréscimos nos teores de proteínas teve correspondência com os elevados índices de acidez. Conclui-se que o processo de deterioração dos grãos provoca alterações metabólicas e, consequentemente, aumento de compostos nitrogenados e ácidos graxos livres, além de ocorrência de aflatoxinas.

Palavras-chave: classificação física, grãos danificados, deterioração, Glycine max

L.

21

EVALUATION OF DEFECTS IN SOYBEANS

ABSTRACT - The beans with soy defects induce qualitative and quantitative losses, moreover, cause damage to producers in the form of discounts on the load at the time of marketing. The aiming of this study was to analyze the physical, nutritional, chemical and sanitary quality of soybeans with defects in relation to the good. They were manually separated 150 g of fine grains to 150 g of each defect grains (burning, stinging, moldy, fermented, these laminated (three levels), greenish, sprouted, damaged (bitten), immature, voids, wrinkles and broken as. Normative Ruling No. 11 of 15/05/2007 and No. 37 IN 27/07 / 2007. These samples were from the mixture of grains of different crops and cultivars for quality assessments the following analyzes were performed: water content, weight of 100 grains, crude protein and ether extract, acid value, fungal incidence and detection of aflatoxins. There was a higher average crude protein in damaged kernels, burnt, moldy and fermented serious. The rot grains showed the highest acid numbers (47%). In the analysis of mycotoxins aflatoxin B1 were detected in the burned, burnt and fermented grains (partial and bass) and B2 in severe fermented. The increases in protein levels had correspondence with the high levels of acidity. It is concluded that the deterioration of the grains causes metabolic changes and hence increased nitrogen compounds and free fatty acids, and occurrence of aflatoxins. Keywords: physical classification, damaged grains, deterioration, Glycine max L.

22

2.1 INTRODUÇÃO

A qualidade da soja é definida ainda na lavoura, sendo que a perda da

qualidade está associada a modificações bioquímicas indesejáveis, que em

detrimento desta acomete o aparecimento de grãos danificados e que estes

ocasionam perdas tanto qualitativas quanto quantitativas. Além disso, os grãos

defeituosos da soja acarretam prejuízos para os produtores, pois são descontados

no momento da comercialização.

Esses descontos visam compensar os custos de remoção do teor de água em

excesso, das impurezas e matérias estranhas e também do manuseio de soja com

grãos avariados (Lazzari, 1999).

No Brasil a classificação da soja é regulamentada pela Instrução Normativa

No 11, de 15 de maio de 2007 e Instrução Normativa NO 37 de 27 de julho de 2007,

do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2007a; 2007b),

permitindo identificar entre fornecedores de matéria prima aqueles que atendem as

exigências do mercado. Isso garante que o produto adquirido seja realmente

ofertado e possibilita o reconhecimento do produto de melhor qualidade. Estas

normativas determinam os defeitos, regras e limites de enquadramento da soja que

será comercializada (Bocatti, 2014).

Os defeitos podem ser de natureza intrínseca e extrínseca, os primeiros

formam-se de grãos alterados por condução inadequada de processos agrícolas,

beneficiamento, por modificações de origem fisiológicas ou genética, já os defeitos

de natureza extrínseca são representados por elementos estranhos (Brasil, 2007a).

Na classificação oficial da soja são encontrados os defeitos queimados,

ardidos, mofados, fermentados, esverdeados, germinados, danificados (picados),

imaturos, chochos, amassados e partidos. Os grãos ardidos são considerados um

23

dos defeitos mais importantes, pois, com o processo de fermentação, ocasiona

escurecimento do grão. Com isso se produzirá um farelo escuro característico de

produto de baixa qualidade. Também acarreta aumento da acidez do óleo contido no

grão, característica indesejável como indicador de qualidade, adicionando custos no

processo industrial para se obter óleo de qualidade desejável (Teixeira, 2001).

Grãos mofados são considerados defeitos graves e os limites máximos de

tolerância para o Grupo I, são de 0,5 e 1,5%, para os Tipos 1 e 2, respectivamente;

para o Grupo II, o limite é de 6,0% (Brasil, 2007a).

Grãos fermentados são considerados como defeitos leves (Brasil, 2007a) e

são grãos ou pedaços de grãos que devido ao processo de fermentação sofreram

alteração visível na cor do cotilédone. Entretanto, esse defeito pode evoluir com o

processo de deterioração e se transformarem em grãos ardidos e mofados, defeitos

classificados como graves pelo padrão comercial.

A presença desses grãos danificados além de comprometer a

comercialização, ainda acarreta riscos de contaminações por micotoxinas, uma vez

que, quando a soja é rebaixada para Fora de Tipo por defeitos graves (queimados,

ardidos e mofados), esta poderá ser rebeneficiada para efeito de enquadramento em

tipo quando o somatório do percentual destes defeitos for de até 12% (doze por

cento) é comercializada para ração animal (Brasil, 2007a).

Trabalhos visando caracterizar aspectos físico-químicos e sanitários destes

defeitos são escassos. Diante deste contexto objetivou-se avaliar as qualidades

físicas, nutricionais, químicas e sanitárias dos grãos de soja bons e com defeitos.

24

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

2.2.1 Obtenção das amostras de trabalho

Foram separadas, manualmente, amostras de 150 g de grãos de soja bons e

150 g de grãos de cada defeito: queimados, ardidos, mofados, fermentados (em três

níveis de gravidade), esverdeados, germinados, danificados (picados), imaturos,

chochos, amassados e partidos (Figura 1). Conforme a Instrução Normativa nº 11 de

15/05/2007 (Brasil, 2007a) e IN nº 37 de 27/07/ 2007 (Brasil, 2007b). Essas

amostras foram provenientes de uma mistura de grãos de diferentes safras e

cultivares do estado do Mato Grosso.

Na separação, seguiu-se o critério de selecionar grãos que apresentavam

somente um defeito, desconsiderando aqueles grãos que exibiam dois defeitos.

Foram estabelecidas três estratificações para o defeito fermentado (leve, parcial

e grave), a fim de comparação da evolução do processo de deterioração no grão

(Figura 1).

Os grãos que apresentavam defeitos visíveis como os queimados, mofados,

germinados, chochos e amassados foram mantidos íntegros. Aqueles cujo defeito só

era possível visualizar internamente como no caso dos ardidos, fermentados

(leves, parcial e grave), imaturos e esverdeados os grãos foram seccionados

transversalmente com auxílio de estilete, sendo realizada a assepsia da lâmina a

cada corte com uma solução de álcool 70% e hipoclorito de sódio a 2%. Os

partidos foram considerados na forma como estavam e sem nenhum outro defeito

(Figura 1).

25

FIGURA 1. Caracterização dos grãos de soja bons e com defeitos, conforme as

Instruções Normativas do MAPA n° 11 de 15/05/2007 e n° 37 de

30/07/2007.

2.2.2 Delineamento experimental e análises estatísticas

O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com 14

tratamentos, correspondendo aos grãos bons e com diferentes tipos de defeitos.

Foto: Sousa, J. R. (2014).

26

Utilizou-se duas repetições para os percentuais de proteína bruta, extrato

etéreo e acidez e, para os demais parâmetros foram utilizadas três repetições. Para

as análises foi utilizado o programa estatístico Assistat 7.7 beta (Silva, 2009). Os

dados foram submetidos aos testes de Lilliefors (5%), para verificar se os valores

seguiram a distribuição normal, e de Cochran (5%), para verificar a homogeneidade

das variâncias. A comparação das médias foi realizada pelo teste de Scott-Knott a

5% de probabilidade. Não houve a necessidade de transformar os dados.

2.2.3 Avaliação da qualidade

Foram avaliadas as características de qualidade física (teor de água e massa

de 100 grãos), nutricional e química (teor de proteína bruta, extrato etéreo e índice

de acidez) e sanitárias (incidência fúngica e ocorrência de aflatoxinas).

As análises da qualidade física e sanitária (incidência fúngica) foram

realizadas nos Laboratórios do Núcleo de Tecnologia em Armazenagem e

Fitopatologia da Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e

Zootecnia (FAMEVZ) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), as demais

foram avaliadas em laboratórios especializados fora da universidade.

2.2.3.2 Avaliação da qualidade física 2.2.3.1.1 Teor de água

O teor de água dos grãos foi obtido por determinação indireta, por meio do

determinador de umidade G650 (método não destrutivo), com três repetições de 150

g, sendo o resultado expresso em base úmida, pela média aritmética das

determinações.

3.2.5.1.1 Massa de 100 grãos

A massa de 100 grãos foi determinada utilizando-se 10 subamostras de 100

grãos inteiros, contados manualmente, pesados em balança eletrônica de precisão

de 0,001.

3.2.5.2 Avaliação da qualidade nutricional e química

As determinações da qualidade nutricional e química foram realizadas em

laboratórios especializados e credenciados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento (MAPA) fora da UFMT.

27

2.2.3.2.1 Proteína bruta

Para avaliar o teor de proteína bruta foi realizada a determinação do

nitrogênio total pelo método de Kjeldhal, pesou-se aproximadamente 0,5 g de soja

moída, transferiu para o tubo de digestão. Adicionou 9 g de catalisador a 15 mL de

ácido sulfúrico concentrado. Após a digestão, acrescentou-se 90 mL de água

destilada. Em um erlenmeyer de 300 mL, adicionou-se exatamente 40 mL de

solução de ácido bórico a 2% a solução de hidróxido de sódio.

Destilou-se até o volume total de 200 mL e em seguida titulou-se o destilado

com ácido sulfúrico 0,1143 N até a cor púrpura. Ao término foi realizada a prova em

branco, descontou-se o volume gasto na prova em branco. O resultado final foi

obtido por meio da multiplicação do teor de nitrogênio pelo fator 6,25 (AOCS, 2005).

2.2.3.2.2 Extrato etéreo

Pesou-se aproximadamente 2 g da amostra moída, em seguida transferiu

para o cartucho. Em um balão de fundo chato secou-se em estufa a 105 oC, por uma

hora, em seguida introduziu o cartucho no extrator. Utilizou éter de petróleo como

solvente.

Após a extração, os cartuchos foram secos a 130 °C por 30 minutos e

pesados (AOCS, 1997).

2.2.3.2.3 Índice de acidez

Foram utilizadas 300 mL de amostra moída, o qual foram adicionadas 400 mL

de éter de petróleo. Após homogeneizar e esperar precipitar filtrou-se a solução e

em seguida levou-se para chapa aquecedora para recuperar o éter de petróleo.

Depois de recuperado deixou o éter de petróleo na estufa por 15 minutos a 130˚C+/-

5°C. Após, esfriar no dessecador até a temperatura ambiente, registrou-se o peso

final.

Em um erlenmeyer mediu-se 50 ml de álcool etílico com indicador, neutralizou

com hidróxido de sódio 0,1 N. Adicionou-se no balão de fundo chato com a soja

recuperada e titulou até a coloração rosa escuro persistente por 15 segundos, ao

final registrou o volume gasto (AOCS 1995), sendo o cálculo realizado em base

úmida.

28

3.2.5.3 Avaliação da qualidade sanitária

2.2.3.4.1 Incidência fúngica

Para avaliação da qualidade sanitária foi montado o teste de incubação em

papel filtro “Blotter Test” seguindo a metodologia proposta por Neergaard (1977),

modificado por Machado (2003) com restrição hídrica. Para os defeitos de grãos

íntegros utilizaram-se oito subamostras de 25 grãos, totalizando 200 grãos inteiros e

os partidos 16 subamostras de 25 grãos, totalizando 400 partes de grão, não sendo

realizada a desinfestação com hipoclorito de sódio a 2% por dois minutos.

Os grãos de soja foram colocados de forma equidistante, em placas de Petri,

contendo três folhas de papel de filtro umedecidas com solução de cloreto de sódio

(NaCl) a -1,0 MPa, esclarecendo-se que todo o material utilizado foi previamente

esterilizado para não influenciar nos resultados do experimento.

Após a montagem do ensaio, as placas foram incubadas em Biological

Organism Development (B.O.D) a temperatura de 25 ºC, em regime alternado de 12

horas luz, por 7 dias. Decorrido esse período, foi realizada a identificação dos fungos

com o auxílio de microscópios estereoscópico, biológico e literatura consultada. Os

resultados foram expressos em porcentagem de grãos infectados. Quando

necessário, os fungos foram isolados em meio de cultura para posterior

identificação.

2.2.3.3.2 Ocorrência de aflatoxinas

As amostras foram enviadas para o Laboratório SAMITEC (Instituto de

Soluções Analíticas Microbiológicas e Tecnológicas - RS), credenciado pelo MAPA.

Para determinar a ocorrência de aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2) nos grãos de soja foi

utilizada a metodologia de separação por cromatografia líquida e detecção por

espectrometria de massas (LC-MS/MS) conforme mencionado por Varga et al.

(2012).

29

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.3 Qualidade física

2.3.3.1 Teor de água

Os resultados dos teores de água nos grãos de soja bons e com

defeitos encontram-se na Figura 2.

FIGURA 2. Teor de água dos grãos de soja (Glycine max L.) bons e com defeitos nos

diferentes níveis de classificação. Fermentados 1, 2 e 3 (leves, parciais e

graves, respectivamente). Médias seguidas de mesma letra não diferem entre

si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

De forma geral, os valores variaram conforme o defeito apresentado nos

grãos, entretanto, as médias para todos os grãos analisados ficaram dentro do limite

a

j h

c f g h

e i

b c d g

c

0

2

4

6

8

10

12

14

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r d

e á

gu

a (

% b

.u)

30

a

f

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a b

c c

e

c

g

h

d e

0

4

8

12

16

20

Massa d

e 1

00 g

rão

s (

g)

comercial para classificação oficial que é no máximo 14% (Lazzari,1997; Brasil,

2007a).

Os grãos de soja bons exibiram os maiores percentuais de água, em relação

aos grãos com defeitos (Figura 2). Isso pode ser explicado por se tratar de amostras

mais recentes e com período de armazenamento menor.

Por outro lado, grãos germinados e queimados, apresentaram os menores

teores de água. Grãos queimados tem sua origem no processo de carbonização na

unidade armazenadora. Cavariani (1996) ressalta que temperaturas de secagem

devem ter, como referência, a da massa de grão assim, valores situados entre 40 e

43 0C são considerados como máximos e, acima dos quais, danos físicos ou

químicos podem ser gerados.

2.3.1.2 Massa de 100 grãos

Para a variável massa de 100 grãos, de todos os grãos com defeitos,

somente a média obtida com os fermentados leves não diferiu significativamente da

obtida para os grãos sem defeito. Para todos os demais níveis de defeito houve

redução significativa no valor da variável (Figura 3).

FIGURA 3. Massa de 100 grãos de soja (Glycine max L.) bons e com defeitos nos

diferentes níveis de classificação. Fermentados 1, 2 e 3 (leves, parciais e

graves, respectivamente). Médias seguidas de mesma letra não diferem

entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

31

2.3.4 Qualidade nutricional e química

2.3.2.1 Proteína bruta

Na Figura 4 estão apresentados os valores de teor de proteína bruta

dos grãos bons e com diferentes defeitos da soja. Observou-se maiores médias de

proteína bruta nos grãos ardidos, queimados e mofados respectivamente. De acordo

com a Instrução Normativa no 11, esses defeitos são classificados como graves.

FIGURA 4. Teor de proteína bruta nos grãos de soja (Glycine max L.) bons e com defeitos

nos diferentes níveis de classificação. Fermentados 1, 2 e 3 (leves, parciais e

graves, respectivamente). Médias seguidas de mesma letra não diferem entre

si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Conforme Coelho e Pereira (2002), a determinação do teor proteico se

fundamenta na quantidade de nitrogênio total, e pode limitar as interpretações por

possibilita a interferência de outros compostos nitrogenados. Consequentemente, os

maiores valores de proteína bruta nos defeitos graves, pode ser atribuído a uma

possível produção de compostos nitrogenados, em virtude das alterações

metabólicas nos grãos.

Grãos fermentados graves não diferiram dos grãos mofados, o defeito

fermentado assim como os esverdeados, germinados, picados, imaturos, chochos,

amassados e partidos, são defeitos classificados como leves, no entanto estes

podem evoluir com o processo deterioração e passarem a defeito grave.

e

b

a

c

d

f

c

d d e e

f e

d

30

32

34

36

38

40

42

Teo

r d

e p

rote

ína b

ruta

(%

)

32

2.3.2.2 Extrato etéreo

Os maiores percentuais de extrato etéreo foram apresentados pelos grãos

mofados, fermentados graves, ardidos, amassados e esverdeados, respectivamente

(Figura 5).

FIGURA 5. Teor de extrato etéreo nos grãos de soja (Glycine max L.) bons e com defeitos

nos diferentes níveis de classificação. Fermentados 1, 2 e 3 (leves, parciais e

graves, respectivamente). Médias seguidas de mesma letra não diferem entre

si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

As cultivares de soja tem 22 a 25 % de lipídios (Cavalcante et al, 2011),

sendo que o percentual destes componentes são altamente influenciados pelas

condições de temperatura e umidade relativa do ar, na formação do grão.

Apesar dos grãos mofados, ardidos e fermentados graves apresentaram

maiores valores, List et al. (1977) esclarece que a degomação do óleo bruto extraído

de grãos severamente danificados é dificultada e que o óleo refinado é mais escuro

que aquele obtido de grãos sadios, além de ocorrer maior perda no refino.

Os grãos queimados e chochos exibiram os menores valores médios de

extrato etéreo, bem abaixo do esperado para os grãos de soja que conforme Alencar

(2006) é cerca de 20%. Isso pode ser explicado devido à alteração da qualidade dos

grãos carbonizados na secagem, e paras os grãos chochos pelo desprovimento de

massa próprios do defeito.

c

e

b a

c d

a b

d d d

f

b c

0

5

10

15

20

25

Teo

r d

e e

xtr

ato

eté

reo

(%

)

33

2.3.2.3 Índice de acidez

Os valores de acidez podem ser visualizados na Figura 6. Os grãos ardidos,

queimados, fermentados graves e leves, mofados e chochos apresentaram os

maiores índices de acidez, valores acima do estabelecido pela indústria de óleo, que

é de 0,7% (Liu, 1997).

FIGURA 6. Índice de acidez em grãos de soja (Glycine max L.) bons e com defeitos nos

diferentes níveis de classificação. Fermentados 1, 2 e 3 (leves, parciais e

graves, respectivamente). Médias seguidas de mesma letra não diferem entre

si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Neste mesmo contexto grãos picados, partidos, amassados, imaturos,

germinados, esverdeados e fermentados leves ainda poderiam participar do

processo industrial.

A acidez é uma característica indesejável como indicador de qualidade,

pois, adiciona custos no processo industrial para se obter óleo de qualidade

(Teixeira, 2001).

Segundo Copeland (1976), o aumento da acidez nos grãos ocorre devido ao

aumento dos ácidos graxos livres e os fatores que contribuem para isso estão

relacionados com as condições dos grãos, ou seja, o teor de umidade, a

temperatura no armazenamento e a elevada atividade fúngica.

f

b

a

d

f

d c

f f f f

e

f f

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Índ

ice d

e a

cid

ez (

%)

34

Grãos bons, fermentados leves, esverdeados, germinados, picados, imaturos,

amassados e partidos exibiram valores dentro do estabelecido pela indústria.

Isto era de se esperar, pois com exceção dos fermentados leves,

esses grãos ainda não iniciaram o processo de deterioração, sendo este parâmetro

um bom indicativo.

2.3.3 Qualidade sanitária

2.3.3.1 Incidência fúngica

Na Tabela 1 verificou-se que tanto os grãos bons quanto os com defeitos

apresentaram altas porcentagens de incidência de fungos.

TABELA 1. Porcentagem média da incidência de fungos em grãos de soja bons e

com defeitos nos diferentes níveis de classificação. UFMT, Cuiabá, MT.

2015.

Médias seguidas pela mesma letra na vertical, não diferem entre si pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. *Fermentados 1, 2 e 3 (leve, parcial e grave, respectivamente). C.V. (%) Coeficiente de variação.

Apesar dos grãos, terem tido porcentagens perto dos 100%, os grãos bons

obtiveram as menores porcentagens de contaminação fúngica em relação aos

outros tratamentos.

Defeitos Infestados

Bons 82,00 c

Queimados 100,00 a

Ardidos 100,0 a

Mofados 100,0 a

Fermentados 1 97,70 b

Fermentados 2 100,0 a

Fermentados 3 100,0 a

Esverdeados 99,70 a

Germinados 99,50 a

Picados 96,00 b

Imaturos 97,50 b

Chochos 100,00 a

Amassados 100,00 a

Partidos 96,00 b

C.V.(%) 1,81

35

A incidência fúngica nos grãos defeituosos está relacionada com o processo

de sua deterioração, fato que pode ter se iniciado ainda na lavoura, o que pode ser

observado nos grãos germinados e nos chochos.

Foi observada incidência predominante dos fungos Fusarium spp., Aspergillus

spp., Penicillium spp. e Cladosporium sp. tanto nos grãos bons quanto nos grãos

com defeitos (Figuras 7 e 8). A predominância de

Fusarium spp., Aspergillus spp. e Penicillium spp., pode ser atribuída a fatores

abióticos como a temperatura e umidade favoráveis e também ao teor de água no

substrato (Almeida et al., 2000. Tanaka et al., 2001, Marques et al., 2009).

Além da presença desses fungos, foi observada também, em menor

incidência, apresença dos gêneros Rhizopus, Cercospora, Colletotrichum, Alternaria,

Rhizoctonia e Phoma.

Os defeitos classificados como leves (picados, germinados, imaturos,

chochos, esverdeados, amassados e partidos) foram os que mais apresentaram

incidência de Fusarium spp., que variaram de 52,67 a 93,50% (Figura 7 e 8). Esse

fungo é proveniente do campo, estando presente nos grãos antes do

armazenamento, onde as condições de temperatura e umidade são mais elevadas e

a umidade do grão também.

A incidência de Aspergillus spp. nos grãos de soja variou conforme o tipo de

defeito. Nos grãos bons, queimados e picados, a incidência foi menor se comparado

com os demais. Grãos fermentados parciais, ardidos e fermentados graves,

respectivamente, foram os defeitos que exibiram as maiores percentagens do

gênero (Figura 7 e 8).

Os percentuais de Penicillium spp. também variaram de acordo com o defeito.

No entanto, ao contrário do gênero Aspergillus que obteve maior incidência nos

grãos com danos mais elevados, estes foram mais observados nos grãos com

processo deteriorativo menor (Figuras 7 e 8).

De acordo com Lazzari (1997), os gêneros Aspergillus e Penicillium são

conhecidos por colonizarem substratos com baixos teores de água (12,5%), fato que

se observa no caso deste experimento em que os teores de água nos grãos bons e

defeituosos ficaram abaixo de 11% (Figura 2).

Conforme Miller (1995), Pinto (2005) e Cruz et al. (2008), a presença de

Aspergillus e Penicillium são indicativos de deterioração tanto de sementes quanto

36

de grãos causando danos, alterações nutricionais, perda de matéria seca, além da

possibilidade de produção de micotoxinas.

A espécie Cladosporium sp. apresentou valores de 1,50 a 21,77% nos

defeitos esverdeados e picados, respectivamente (Figuras 7 e 8). Assim como

o Fusarium spp., Cladosporium sp. necessitam de teores de água mais elevados

para se desenvolverem.

37

0

20

40

60

80

100 In

cid

ên

cia

(%

)

0

20

40

60

80

100

Fungos

In

cid

ên

cia

(%

)

0

20

40

60

80

100

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cia

(%

)

Fungos

0

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40

60

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cia

(%

)

Fungos

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(%

)

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100

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)

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0

20

40

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80

100

Incid

ên

cia

(%

)

Fungos

B A

C D

Fungos

38

FIGURA 8. Incidência de fungos em grãos de soja (Glycine max L.) germinados (I), danificados

(picados) (J), imaturos (K), chochos (L), amassados (M) e partidos (N).

0

20

40

60

80

100

Incid

ên

cia

(%

)

Fungos

0

20

40

60

80

100

Incid

ên

cia

(%

)

Fungos

0

20

40

60

80

100

Incid

ên

cia

(%

)

Fungos

K

0

20

40

60

80

100

Incid

ên

cia

(%

)

Fungos

L

0

20

40

60

80

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ên

cia

(%

)

Fungos

M

0

20

40

60

80

100

Incid

ên

cia

(%

)

Fungos

N

I J

39

2.3.3.2 Aflatoxinas

Verificou-se a ocorrência de aflatoxinas B1 (AFB1) nos grãos queimados,

ardidos, e nos fermentados parciais e graves, com valores superiores aos limites

máximos toleráveis para oleaginosas, que é de 10 µg kg-1 (consulta pública nº 100,

de 21 de dezembro de 2009 da ANVISA) (Tabela 2). Observou-se que nesses grãos

houve alta incidência dos fungos do gênero Aspergillus spp., estes responsáveis

pela produção de aflatoxinas, com incidência acima de 50% (Figuras 7 e 8).

TABELA 2. Ocorrência de aflatoxinas em grãos de soja (Glycine max L.) bons e

com defeitos nos diferentes níveis de classificação. UFMT, Cuiabá, MT.

2015.

ND - Não detectado. Limite Máximo permitido pelo MAPA e pela ANVISA para soma das aflatoxinas (B1, B2, G1e G2) é de10 µg kg

-1 .

As aflatoxinas B1 (AFB1), B2 (AFB2), G1 (AFG1) e G2 (AFG2) são

micotoxinas produzidas por linhagens de fungos

Defeitos dos grãos

Aflatoxinas B1

µg kg-1

Aflatoxinas B2

µg kg-1

Aflatoxinas G1

µg kg-1

Aflatoxinas G2

µg kg-1

Bons ND ND ND ND

Queimados 73 ND ND ND

Ardidos 18 ND ND ND

Mofados ND ND ND ND

Fermentado 1 ND ND ND ND

Fermentado 2 9,5 ND ND ND

Fermentado 3 33 4,2 ND ND

Esverdeados ND ND ND ND

Germinados ND

ND ND ND

Picados ND ND ND ND

Imaturos ND ND ND ND

Chochos ND ND ND ND

Amassados ND ND ND ND

Partidos ND ND ND ND

40

do gênero Aspergillus, sobretudo pelas espécies A. flavus, A. parasiticus e A.

nomius, as quais naturalmente podem se desenvolver em alimentos, sendo AFB1 as

mais tóxicas, seguida pelas AFG1, AFB2 e AFG2 (Bordin, 2014).

Em alimentos contaminados com aflatoxinas, geralmente, a AFB1

corresponde a 75%. Oliveira (2010), analisando amostras de grãos de

soja coletados em Unidade Armazenadora de Grãos, encontrou contaminação por

AFB1 em oito amostras das 14 analisadas.

Além da presença da AFB1, os grãos fermentados graves também

apresentaram as AFB2, no entanto, os níveis ficaram dentro dos limites

permitidos. De acordo com Bordin (2014), as aflatoxinas presentes no material

oleaginoso podem ser transferidas para o produto final, ou seja, o óleo. Porém,

dependendo do tipo de processamento do óleo, os níveis destes

contaminantes podem ser reduzidos.

Para os grãos mofados não foram detectados a ocorrência de aflatoxinas

(Tabela 2). Isto comprova que nem sempre a ocorrência dos fungos toxigênicos

implica na produção de micotoxinas, pois, nem todos os fungos produzem toxinas,

de forma que a simples presença de fungos em um alimento não implica em que

tenham sido ou venham a ser produzida (Pinto, 2005).

Por outro lado, a simples ausência de sinais visíveis de emboloramento

também não pode ser interpretada como ausência de toxinas, pois as toxinas podem

permanecer em um alimento mesmo depois que o fungo que a produziu tenha

desaparecido do produto processado (Pinto, 2005).

O crescimento dos fungos e a produção de micotoxinas em cereais como

amendoim, milho, trigo, cevada, sorgo e arroz armazenados, são favorecidos pela

alta umidade relativa do ar, teor de água do substrato e temperatura de

armazenamento (Mallmann e Dilkin, 2007).

41

2.4 CONCLUSÕES

O defeito fermentado leve foi o único que não difere em massa e extrato

etéreo dos grãos bons.

Grãos fermentados graves, ardidos e mofados apresentam valores

superiores, tanto para proteína bruta quanto para extrato etéreo.

O processo de deterioração dos grãos de soja provoca alterações

metabólicas.

A ocorrência de fungos toxigênicos nem sempre implica na produção de

micotoxinas.

Foi detectado aflatoxinas B1 apenas em grãos de soja queimados, ardidos,

fermentados parcial e grave e aflatoxinas B2 nos fermentados graves.

42

2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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45

3 PERDA DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA ARMAZENADO EM

DIFERENTES CONDIÇÕES SOB INFESTAÇÃO DE Lasioderma serricorne

Fabricius 1792 (Coleoptera: Anobiidae)

RESUMO - O ataque de insetos como L. serricorne aos grãos armazenados, além

das perdas quantitativas decorrentes da alimentação direta dos insetos, causa expressivas perdas qualitativas. Dessa forma, o conhecimento das perdas ocasionadas pela espécie assume particular importância. Portanto, objetivou-se com esse trabalho avaliar a perda de qualidade física, nutricional e sanitária de grãos de soja armazenado pelo período de 210 dias, em diferentes condições e submetidas a dois níveis de infestação de Lasioderma serricorne. Foram armazenadas, em condição ambiente com temperatura de 30oC e umidade relativa de 46% e controlada com temperatura de 23oC e umidade relativa de 50%. Utilizou-se amostras de 300 g de soja, com três repetições, infestadas, ou não, com 30 indivíduos não sexados de L. serricorne. Foram realizadas avaliações mensais do teor de água, massa específica aparente, condutividade elétrica, teor de proteína bruta e extrato etéreo e infestações (interna e externa). A incidência fúngica e a classificação física foram avaliadas inicialmente e ao final do período de armazenamento. Houve decréscimo do teor de água e massa específica aparente nos dois ambientes ao longo do armazenamento. Houve incremento no percentual de grãos danificados com infestação, durante o armazenamento. Verificou-se menor mortalidade dos insetos no ambiente natural. O fungo com maior ocorrência foi Fusarium spp. O ambiente natural promoveu maior perda de qualidade nos grãos ao longo do armazenamento, independente do nível de infestação. Palavras-chave: insetos de armazenamento, condições de armazenamento, Glycine max L.

46

LOSS OF QUALITY IN SOYBEANS STORED IN DIFFERENT CONDITIONS

UNDER INFESTATION OF Lasioderma serricorne Fabricius 1792 (Coleoptera:

Anobiidae)

ABSTRACT - The attack of insects like L. serricorne in stored grain, in addition to the quantitative losses arising from the direct feeding of insects, causes significant qualitative losses. Thus, knowledge of the losses caused by the species of particular importance. Therefore, the aiming in this study was to evaluate the loss of physical, nutritional and sanitary quality of soybeans stored for a period of 210 days, in different conditions and subjected to two levels of infestation Lasioderma serricorne. They were stored at room condition with 30 ºC and relative humidity of 46% and controlled with 23 ºC temperature and relative humidity of 50%. We used samples of 300 g of soybeans, with three replicates infested or not unsexed individuals at 30 L. serricorne. Monthly assessments of water content were held, bulk density, electrical conductivity, crude protein and ether extract and infestations (internal and external). The fungal incidence and physical classification were evaluated initially and after the storage period. There was a decrease in the water content and bulk density in both environments during storage. There was an increase in the percentage of damaged grain with infestation during storage. A lower mortality of insects in the natural environment. The fungus with the highest occurrence was Fusarium spp. The natural environment caused greater loss of quality in the grain during storage, regardless of the level of infestation. Keywords: Storage insects, storage conditions, Glycine max L.

47

3.1 INTRODUÇÃO

A ocorrência de insetos nos grãos armazenados, além das perdas

quantitativas decorrentes da alimentação direta dos insetos, causa expressivas

perdas qualitativas como a diminuição do valor nutricional dos grãos e da qualidade

fisiológica das sementes ou grãos o que determina, consequentemente, a redução

do valor de mercado ou até mesmo a condenação de lotes de sementes e/ou grãos

(Anderson et al., 1990; Faroni,1992; Caneppele et al., 2003).

Sinha (1995) e Schöller et al. (1997) relatam que as perdas com produtos

armazenados podem atingir até 30% em alguns casos, destes 10% são causadas

diretamente pelo ataque de pragas.

De acordo com Hagstrum e Flinn (1992), a maioria das pragas tem taxa de

desenvolvimento com capacidade de multiplicação da população inicial em pelo

menos 10 vezes por mês, sob condições ótimas de temperatura e umidade.

Os insetos-praga de produtos armazenados, podem ser classificados como

pragas primárias ou secundárias, de acordo com o hábito alimentar. As pragas

primárias são capazes de atacar os grãos íntegros e sadios, divididas em pragas

primárias internas, que completam seu ciclo evolutivo no interior dos grãos, e as

pragas primárias externas, que se alimentam da porção externa do grão, podendo

48

danificar a parte interna após o rompimento da externa, sendo que nesse último

caso se inclui a L. serricorne (Lima et al., 1979; Gallo et al., 1988). Já as pragas

secundárias, não conseguem romper a película do grão, alimentando-se então de

grãos quebrados ou atacados por pragas primárias.

De acordo com Powell (1931), Stamatinis (1935), USDA (1972) e Ryan

(1995), a espécie L. serricorne é considerada cosmopolita e ocasiona considerável

dano a uma grande variedade de produtos armazenados, incluindo oleaginosas,

cereais, farinhas, folhas de fumo e frutas secas. Em tais produtos, tanto as larvas

quanto os adultos escavam galerias, danificando-os completamente.

Segundo Lorini (2012), L. serricorne tem sido constatada com certa

frequência em soja armazenada, ocasionando sérios prejuízos aos armazenadores

e, consequentemente, comprometendo a qualidade do produto oferecido nos

mercados interno e externo, sendo considerada uma ameaça ao armazenamento de

sementes e grãos de soja.

Em decorrência das perdas causadas pela L. serricorne em soja armazenada,

objetivou-se com esta pesquisa avaliar as perdas de qualidade física, nutricional e

sanitária dos grãos em diferentes condições de armazenamento e níveis de

infestação.

49

3.2 MATERIAL E MÉTODOS

3.2.1 Local do experimento e espécie estudada

O experimento foi conduzido no Laboratório do Núcleo de Tecnologia em

Armazenagem (NTA) da Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia

(FAMEVZ) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em grãos de soja TMG

132RR infestados com a espécie L. serricorne, sem sexagem e escolhidos ao acaso

da própria criação deste e armazenados em duas condições diferenciadas de

temperatura e umidade relativa (U R), conforme abaixo:

I) Ambiente de laboratório (Figura 9): as amostras de grãos de soja foram

mantidas em condições de laboratório com temperatura de 30 OC e

umidade relativa de 46%, acompanhadas diariamente por psicrômetro.

II) Ambiente controlado (Figura 9): em B.O.D a temperatura de 23 OC e

umidade relativa de 50% com fotoperíodo de 12 horas.

Os tratamentos foram constituídos de 300g de grãos de soja acondicionados

em frascos de vidro fechado com tampa telada, infestados ou não com 30 indivíduos

adultos não sexados de L. serricorne e armazenados por um período de 30, 60, 90,

120, 150, 180 e 210 dias.

50

FIGURA 9. Ambiente de laboratório (A) Ambiente controlado (B). Médias mensais

de temperatura e umidade relativa do ar, ao longo do período de

armazenamento dos grãos de soja (Glycine max L.).

3.2.2 Delineamento experimental e análises estatísticas

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema

fatorial 2 x 2 x 8, sendo dois níveis de infestação, dois ambientes e oito períodos de

armazenamento, com três repetições, totalizando 32 tratamentos. Utilizou-se o

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Tem

pera

tura

(0C

)

Um

idad

e r

ela

tiva d

o a

r (u

.bu

%)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Tem

pera

tura

(0C

)

Um

idad

e r

ela

tiva d

o a

r (u

.bu

)% B

Temperatura Umidade

A

51

programa de análises estatísticas e planejamento de experimentos Sisvar, versão

5.3 Build77 (Ferreira, 2011).

De posse dos dados, verificou-se a normalidade pelo teste de Lilliefors a 5%

e, posteriormente, a homogeneidade pelo teste de Cochran a 5% de probabilidade.

Foi realizada a análise de variância e suas médias discriminadas pelo teste de Scott-

Knott a 5% de probabilidade. Os dados de classificação física foram transformados

para

3.2.3 Descrição das análises

Para avaliação da qualidade dos grãos foram medidos parâmetros de

qualidade física, nutricional e sanitária. Os parâmetros de qualidade física avaliados

foram: o teor de água, a massa específica aparente, a condutividade elétrica, a

perda de massa e classificação física. Os parâmetros de qualidade nutricional foram:

o teor proteico e o extrato etéreo. A qualidade sanitária foi avaliada pelas infestações

interna e externa e pela incidência fúngica.

Para o experimento, inicialmente e mensalmente, foram realizadas as

avaliações de teor de água, a massa específica aparente, a condutividade elétrica, a

perda de massa, o teor proteico, o extrato etéreo e as infestações interna e externa,

durante o período de 210 dias. A classificação física e a incidência fúngica foram

avaliadas inicialmente e ao término da pesquisa.

3.2.4 Qualidade física e química

4 .2.4.1Teor de água

O teor de água foi obtido por meio de três repetições de 5 g de grãos de soja.

As amostras foram colocadas em recipiente de alumínio, pesadas em balança

eletrônica de precisão e submetidas em estufa a 105 °C, durante 24h (Brasil, 2009).

O resultado foi expresso em porcentagem de base úmida, pela média aritmética das

determinações.

3.2.4.2 Perda de massa

Com o uso de balança semianalítica (precisão de 0,01 g) pesaram-se os

frascos de vidro e os grãos de soja necessários para cada repetição e, ao final de

cada período de armazenamento, novamente os grãos de soja foram pesados.

52

3.2.4.3 Massa específica aparente

Foi obtida por meio da determinação do peso hectolitro, em balança

específica, com capacidade de ¼ de litro, utilizando três subamostras. Os resultados

obtidos em kg hL-1 foram transformados e expressos em kg m-3 de acordo com

metodologia proposta por Brasil (2009), sendo estes valores corrigidos para o teor

de umidade de 14 % em base úmida.

3.2.4.4 Condutividade elétrica

Para avaliar a condutividade elétrica dos grãos foi utilizado o “sistema de

copo” ou “condutividade de massa” (Vieira e Carvalho, 1994). Os testes foram

realizados com quatro repetições de 50 grãos para cada tratamento. Os grãos foram

pesados em balança com precisão de 0,01 gramas e colocados em copos plásticos

de 200 mL, aos quais foram adicionados 75 mL de água deionizada. Em seguida os

copos foram colocados em câmara de crescimento do tipo B.O.D., sob temperatura

de 25 °C, por 24 horas. Após este período, os copos foram retirados da B.O.D. para

a realização das medições da condutividade elétrica na solução de embebição, com

um condutivímetro de bancada digital, com um eletrodo com constante 1,0. Antes de

realizar as avaliações, o aparelho foi calibrado com solução padrão de cloreto de

sódio, de condutividade elétrica conhecida, à temperatura de 25 °C. O valor da

condutividade (µS cm-1) foi dividido pela massa dos grãos, obtendo-se, então, o

valor de condutividade elétrica expresso com base na massa da matéria seca, em

µS cm-1g-1.

3.2.4.5 Classificação física

A classificação física foi realizada com base no Padrão Oficial de

Classificação para grãos de soja do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, estabelecidos pela Instrução Normativa nº 11 de 15/05/2007 (Brasil,

2007a) e pela IN nº 37 de 27/07/ 2007 (Brasil, 2007b).

3.2.5 Qualidade nutricional

3.2.5.1 Proteína bruta e extrato etéreo

Foram determinados os teores de proteína e extrato etéreo, via

espectroscopia de infravermelho próximo, utilizando o analisador NIRS (Near

Infrared Spectroscopy Alyzer), cujo equipamento possui bandas de absorção

53

específicas (seletividade espectral) e possibilita a determinação de diversos

compostos químicos, simultaneamente, sem a geração de resíduos e com tempo de

análise relativamente reduzido (Fountain, 2003).

Para a análise por espectroscopia no infravermelho próximo foram utilizados

grãos de soja inteiros, cubeta de quartzo e equipamento analítico NIRS – Spectra

Alyzer Premium (Zeutec GmbH, Alemanha).

3.2.6 Qualidade sanitária

3.2.6.1 Infestação interna com L. serricorne

A infestação interna por L. serricorne foi avaliada de acordo com a análise

padrão estabelecida por Brasil (2009). Para tanto, foram utilizadas duas

subamostras de 100 grãos para cada repetição, submersas em água por 24 h e

cortadas longitudinalmente para avaliação da presença dos insetos.

3.2.6.2 Infestação externa de L. serricorne

No final de cada período de armazenamento, os grãos de soja estocados nos

frascos passaram por análises em um conjunto de peneiras de malhas de arame

com 2,00; 1,50 e 1,00mm de diâmetro, para avaliação quantitativa de insetos, nos

diferentes estádios de desenvolvimento larva, pupa e adulto (Instituto Adolfo Lutz,

2008).

3.2.6.3 Incidência fúngica

Para avaliar a incidência fúngica foi empregado o método de papel de filtro

“Blotter Test”, conforme a metodologia proposta por Neergaard (1977), modificada

por Machado et al. (2003), com restrição hídrica. Para cada amostra, foram

utilizadas oito placas de Petri contendo 25 grãos cada, distribuídas sobre três folhas

de papel de filtro previamente umedecidas com NaCl a –1,0 MPa.

Os grãos foram incubados por um período de sete dias, em câmara de

crescimento B.O.D. com temperatura de 25 ºC sob luz fluorescente branca,

fotoperíodo de 12 horas. Após esse período foram identificados os fungos e a

incidência foi expressa em porcentagem.

54

z = 0,0002x2 - 0,0536x + 12,085

R² = 0,9357

y = 0,0002x2 - 0,0518x + 11,946 R² = 0,9409

0

2

4

6

8

10

12

14

0 30 60 90 120 150 180 210

Teo

r d

e á

gu

a (

%)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

z = 6E-05x2 - 0,0243x + 11,19 R² = 0,848

y = 2E-05x2 - 0,0169x + 10,983 R² = 0,7341

0

2

4

6

8

10

12

14

0 30 60 90 120 150 180 210

Teo

r d

e á

gu

a (

%)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3.1 Qualidade física e química

3.3.1.1 Teor de água

Observa-se de forma geral que houve decréscimo do teor de água nos dois

ambientes ao longo do armazenamento, entretanto, não ocorreu diferença

significativa entre os fatores com e sem infestação, para os mesmos (Figura 10).

FIGURA 10. Teor de água dos grãos de soja (Glycine max L.) no Ambiente de

laboratório (A) e Ambiente controlado (B), ao longo do armazenamento.

Quando se compararam os dois ambientes, verificou-se redução significativa

do valor para o ambiente de laboratório (Figura 10). Com exceção aos 210 dias que

não houve diferença, provavelmente, devido à elevação da umidade relativa do ar e,

consequentemente, aumento da umidade dos grãos.

A

B

55

Outra explicação refere-se à permeabilidade da tampa dos frascos ao vapor

de água e as propriedades higroscópicas do grão, que também favoreceram as

alterações do teor de água do produto durante o armazenamento, entretanto, esses

valores ficaram dentro dos limites de tolerância para a soja que é de 14 % (Lazzari,

1999).

3.3.1.2 Perda de massa

Os resultados obtidos em relação à perda de massa dos grãos de soja ao

final de cada tempo de armazenamento encontram-se nas Tabelas 3 e 4.

TABELA 3. Média da perda de massa dos grãos de soja (Glycine max L.) em

diferentes ambientes de armazenamento, com e sem infestação de L.

serricorne. UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Am

bie

nte

la

bo

rató

rio

D.A Perda de massa (%)

Sem infestação Com infestação

0 30 60 90

120 150 180 210

0,00 1,54 2,75 3,42 4,40 5,39 5,00 4,53

fA eA dA cA bA aA aA bA

0,00 1,45 2,68 3,93 5,03 5,44 4,96 4,73

eA dA cA bA aA aA aA aA

C.V.(%) 13,52

D.A

Perda de massa (%)

Sem infestação Com infestação

A

mb

ien

te c

on

tro

lad

o

0 30 60 90

120 150 180 210

0 1,82 2,56 2,45 2,42 3,36 3,29 3,75

cA bA bA bA bB aA aA aA

0 2,07

2,1 2,58 3,17 3,49 3,87 3,46

cA bA bA bA aA aA aA aA

C.V.(%) 13,52 Médias seguidas de mesma letra minúsculas nas colunas e maiúscula nas linhas em cada ambiente, não

diferem entre si pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. D.A= Dias de Armazenamento. C.V.(%)= Coeficiente de variação.

56

TABELA 4. Média da perda de massa dos grãos de soja (Glycine max L.)

submetidos ou não ao nível de infestação L. serricorne em diferentes

ambientes de armazenamento.

Se

m i

nfe

sta

çã

o

D.A Perda de massa (%)

Laboratório Controlado

0 0,00 fA 0,00 cA 30 1,54 eA 1,82 bA 60 2,75 dA 2,56 bA 90 3,42 cA 2,45 bB

120 4,40 bA 2,42 bB

150 5,39 aA 3,36 aB 180 5,00 aA 3,29 aB 210 4,53 bA 3,75 aB

C.V.(%) 13,52

D.A

Perda de massa (%)

Laboratório Controlado

C

om

in

fes

taçã

o 0 0,00 eA 0,00 cA

30 1,45 dA 2,07 bA 60 2,68 cA 2,10 bA 90 3,93 bA 2,58 bB

120 5,03 aA 3,17 aB 150 5,44 aA 3,49 aB 180 4,96 aA 3,87 aB 210 4,73 aA 3,46 aB

C.V.(%) 13,52 Médias seguidas de mesma letra minúsculas nas colunas e maiúscula nas linhas em cada ambiente, não diferem entre si pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. D.A= Dias de Armazenamento. C.V.(%)= coeficiente de variação.

Ocorreram perdas, ao longo do armazenamento, reduzindo significativamente

o peso dos grãos ao longo dos 210 dias de armazenamento. Esses dados se

assemelham aos de Antunes et al. (2011), que avaliando os danos físicos e

químicos causados por insetos adultos da espécie Sitophilus zeamais (Motschulsky)

ao longo do armazenamento, verificaram perdas significativas de 17% ao final dos

120 dias.

Não houve diferença entre as amostras com e sem infestação, mas houve

entre os ambientes (Tabela 3 e 4). Caneppele et al. (2003) que, estudando a

correlação entre o nível de infestação de S. zeamais e a qualidade de

57

z = 1E-04x2 - 0,0381x + 69,572 R² = 0,9495

y = 1E-04x2 - 0,0335x + 69,277 R² = 0,8699

66

66

67

67

68

68

69

69

70

70

0 30 60 90 120 150 180 210 Massa e

sp

ecíf

ica a

pare

nte

(K

g m

-3)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

z = 7E-06x2 - 0,0126x + 68,982 R² = 0,8601

y = -1E-05x2 - 0,0072x + 68,504 R² = 0,8021

66

66

67

67

68

68

69

69

70

70

0 30 60 90 120 150 180 210

Massa e

sp

ecíf

ica a

pare

nte

(K

g m

-3)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

armazenamento de grãos de milho, constataram o aumento de perda de massa

desses grãos, conforme foram aumentados o tempo e o número de insetos em

contato com os grãos de milho.

3.3.1.3 Massa específica aparente

A massa especifica dos grãos não variou entre os ambientes, tanto para as

amostras com e sem infestação (Figura 11). Houve redução da massa específica ao

longo do armazenamento, para os dois ambientes.

FIGURA 11. Massa específica aparente dos grãos de soja (Glycine max L.) no Ambiente de

laboratório (A) e Ambiente controlado (B), ao longo do período de

armazenamento.

Mesmo a massa específica aparente não sendo um parâmetro utilizado na

comercialização da soja, a redução em seu valor pode estar associada à perda de

qualidade do produto em consequência dos processos deteriorativos durante o

armazenamento e, consequentemente, à perda de qualidade (Silva, 1997). Esse

mesmo autor afirma, ainda, que valores próximos a 60 kg m-3 de massa específica

são encontrados em grãos que perderam, excessivamente, matéria seca devido à

infestação de fungos e/ou insetos no campo e/ou no armazenamento.

3.3.1.4 Condutividade elétrica

A B

58

z = -0,0006x2 + 0,3424x + 83,461 R² = 0,7584

y = -0,0015x2 + 0,5516x + 78,633 R² = 0,6827

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 30 60 90 120 150 180 210

Co

nd

uti

vid

ad

e (

µS

.cm

-1.g

-1)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

z = -0,0001x2 + 0,0841x + 85,781 R² = 0,1441

y = -0,0006x2 + 0,214x + 81,193 R² = 0,3259

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 30 60 90 120 150 180 210

Co

nd

uti

vid

ad

e (

µS

.cm

-1.g

-1)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

Não ocorreu diferença significativa dos valores de condutividade para os

fatores com e sem infestação. Contudo, fixando-se a condição de armazenagem,

para ambos os casos se verificou diferenças ao longo do tempo (Figura 12).

FIGURA 12. Condutividade elétrica dos grãos de soja (Glycine max L.) no Ambiente de

laboratório (A) e Ambiente controlado (B), ao longo do período de

armazenamento.

Verificou-se para as duas condições de armazenamento, tendência crescente

dos valores obtidos para condutividade elétrica das soluções com os grãos de soja.

Observa-se que, quanto maior a temperatura e o período de armazenamento, maior

a condutividade elétrica da solução que continha os grãos, indicando maior

deterioração da membrana celular desses grãos, devido à maior lixiviação de

eletrólitos do interior das células para o meio, gerando maiores valores de

condutividade elétrica (Figura 12). Isso ocorre porque a elevação da temperatura

acelera o metabolismo das sementes e, consequentemente, leva à perda de

qualidade (Plazas et al., 2003). De acordo com Santos et al. (2004), a temperatura é

um dos principais fatores físicos responsável pela deterioração dos grãos ao longo

do armazenamento.

3.3.1.5 Classificação física

A B

59

O percentual de grãos danificados e de grãos avariados diferiu entre aqueles

que sofreram e que não sofreram o ataque por infestação de L. serricorne (Tabela

5).

TABELA 5. Ocorrência média de danificados e total de avariados em grãos de soja

(Glycine max L.) submetidos ou não a infestação por L. serricorne ao longo do

armazenamento em diferentes ambientes. UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Médias seguidas de mesma letra minúsculas nas colunas e maiúscula nas linhas em cada ambiente, não diferem entre si pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. D.A = Dias de Armazenamento. C.V. (%)= coeficiente de variação. Médias originais encontram-se entre parêntesis.

3.3.2 Qualidade nutricional

3.3.2.1 Proteína bruta e extrato etéreo

Houve diferença apenas para os valores de proteína, nos dois ambientes,

quando comparado com e sem infestação (Figura 13).

Não percebeu diferenças entre os dois ambientes tanto com e sem infestação

das amostras, no entanto, houve alteração para estes parâmetros ao longo do

período de armazenamento.

Os resultados de aumento dos teores de proteínas durante o armazenamento

corroboram com Thomas et al. (1989), que armazenaram a soja às temperaturas de

20 e 30ºC e umidades relativas de 65 e 85%, verificaram que o teor de proteína

decresceu com o tempo de armazenamento e que a umidade relativa e a

temperatura influenciaram significativamente no teor de proteína (P < 0,01).

Am

bie

nte

lab

ora

tóri

o

D.A

Danificados (%) Total de avariados (%)

Sem infestação

Com infestação Sem infestação Com infestação

0

(0,11) 1,05 aA

(0,18) 1,08 bA

(1,83) 1,68 aA

(2,25) 1,80 aA

210

(0,00) 1,00 aB

(0,85) 1,36 aA

(1,91) 1,70 aA

(2,50) 1,87 aA

C.V.(%) 7,26 6,52

Am

bie

nte

co

ntr

ola

do

D.A

Danificados (%) Total de avariados (%)

Sem infestação Com infestação Sem infestação Com infestação

0 ]

(0,00) 1,00 aA

(0,00) 1,00 bA (1,53) 1,59 aA

(1,56) 1,60 bA

210

(0,06) 1,03 aB

(1,29) 1,51 aA (1,55) 1,59 aB

(2,65) 1,91 aA

C.V.(%) 7,26 6,52

60

z = 0,0001x2 - 0,0219x + 36,809 R² = 0,1405

y = -3E-05x2 + 0,0112x + 36,141 R² = 0,1115

34

35

35

36

36

37

37

38

38

39

39

0 30 60 90 120 150 180 210

Pro

teín

a b

ruta

(%

)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

z = 3E-05x2 - 0,0061x + 35,944 R² = 0,016

y = 5E-05x2 - 0,0051x + 35,918 R² = 0,1057

34

34

35

35

36

36

37

37

38

38

39

39

0 30 60 90 120 150 180 210

Pro

teín

a b

ruta

(%

)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

z = -0,0002x2 + 0,0461x + 20,893

R² = 0,9369

y = -0,0002x2 + 0,0468x + 21,067 R² = 0,926

20

21

21

22

22

23

23

24

24

25

25

0 30 60 90 120 150 180 210

Extr

ato

eté

reo

(%

)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

z = -2E-05x2 + 0,0074x + 22,763 R² = 0,3534

y = 2E-06x2 + 0,0037x + 22,735 R² = 0,4546

20

21

21

22

22

23

23

24

24

25

25

0 30 60 90 120 150 180 210

Extr

ato

eté

reo

(%)

Dias de Armazenamento

Com Inseto Sem Inseto

Polinômio (Com Inseto) Polinômio (Sem Inseto)

Hou e Chang (2004), ao analisarem a composição química dos grãos de soja

armazenados em diferentes condições, verificaram aumento do teor do extrato

etéreo quando os grãos foram armazenados a 30 ºC e 84% de U R, condições

próximas deste experiemento. Ao contrário, Teixeira (2001), afirmou que o teor de

óleo tem tendência a decrescer com o tempo de armazenamento, sendo função do

teor de umidade inicial e do tempo de armazenagem. Rupollo et al. (2004),

afirmaram que perdas no teor de extrato etéreo ocorrem durante o armazenamento

devido a processos bioquímicos, como a respiração, ou processos de oxidação.

Figura 13. Proteína bruta e extrato etéreo dos grãos de soja (Glycine max L.) no

Ambiente de laboratório (A) e Ambiente controlado (B), ao longo do

período de armazenamento.

A B

A B

61

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1 2 3 4 5 6 7 8

Infe

sta

ção

in

tern

a (

%)

Dias de Armazenamento

A

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1 2 3 4 5 6 7 8

Infe

sta

ção

in

tern

a (

%)

Dias de Armazenamento

B

0 30 60 90 120 150 180 210

3.3.3 Qualidade sanitária

3.3.3.1 Infestação interna com L. serricorne

Ao longo do período de armazenamento no ambiente de laboratório observou-

se infestação interna de L. serricorne dos grãos aos 60 e 90 dias de

armazenamento, e após esse período não foram constatadas infestações (Figura

14).

No ambiente controlado não foram verificadas infestações até os 150 dias de

armazenamento (Figura 14).

FIGURA 14. Infestação interna de L. serricorne em grãos de soja (Glycine max L.)

armazenados durante 210 dias em diferentes ambientes. Laboratório (A)

e Controlado (B).

3.3.3.2 Infestação externa de L. serricorne

Foram observadas nas amostras de grãos de soja, nos dois ambientes,

espécimes em diferentes estádios de desenvolvimento (pupas, larvas e adultos) ao

longo do armazenamento. No ambiente de laboratório houve mortalidade dos

insetos aos 30 dias de armazenamento, no entanto, no mesmo período o número de

larvas dobrou e o de pupas também aumentou (Figura 15). Isso pode ser explicado

pelo fato desses insetos terem completado o ciclo biológico no primeiro mês de

armazenamento. Essa tendência também foi observada aos 60 dias, já aos 90 e 120

dias o número médio de adultos vivos foi de 0,67 e 0,33 e de mortos 101,33 e 79,67,

respectivamente, para os dois períodos, e as médias de larvas e pupas diminuíram

drasticamente, o qual teve aumento aos 150 dias (Figura 15).

0 30 60 90 120 150 180 210

62

No ambiente controlado aos 30 e 60 dias foram verificados maiores números

de indivíduos adultos mortos na população de L. serricorne, em relação ao número

de adultos vivos, entretanto aos 30 dias já se observavam larvas e pupas, ocorrendo

o mesmo ao longo do armazenamento.

Nota-se que tanto no ambiente natural quanto no controlado ocorreu flutuação

no número de insetos, e o número de indivíduos inicialmente foi de 30. Esses

resultados corroboram com de Moreira (2008), que verificou nos níveis mais baixos

de infestação as maiores variações populacionais de L. serricorne.

63

0

20

40

60

80

100

120

140

0 30 60 90 120 150 180 210

mero

d

e i

nd

ivíd

uo

s a

du

lto

s v

ivo

s

e m

ort

os

Dias de Armazenamento

A

0

20

40

60

80

100

120

140

0 30 60 90 120 150 180 210

mero

de i

nd

ivid

uo

s a

du

lto

s v

ivo

s e

mo

rto

s

Dias de Armazenamento

0

20

40

60

80

100

120

140

0 30 60 90 120 150 180 210

mero

de l

arv

as

Dias de Armazenamento

0

20

40

60

80

100

120

140

0 30 60 90 120 150 180 210

mero

de l

arv

as

Dias de Armazenamento

D

0,00

0,40

0,80

1,20

1,60

2,00

0 30 60 90 120 150 180 210

mero

de p

up

as

Dias de Armazenamento

0,00

0,40

0,80

1,20

1,60

2,00

0 30 60 90 120 150 180 210

mero

de p

up

as

Dias de Armazenamento

FIGURA 15. Infestação externa de L. serricorne em grãos de soja (Glycine max L.)

armazenados durante 210 dias com nível de infestação de 30 indivíduos

em diferentes ambientes, laboratório ( A, C, E) e controlado (B, D, F).

Vivos Mortos

C

E

B

F

64

3.3.3.3 Incidência fúngica

Na incidência fúngica avaliado pelo “Blotter Test” não foi observado diferença

estatística nos ambientes com e sem infestação no início e ao final do

armazenamento (Tabela 8).

A presença do inseto não influenciou na presença desses microorganismos,

mas o tempo de armazenamento para Penicillium e Aspergillus. Para Fusarium, o

tempo de armazenamento houve alteração quando comparado o ambiente

controlado e ambiente de laboratório. Observou-se menores taxas de infecção por

Aspergillus e Penicillium no ambiente controlado. Já no ambiente de laboratório

registrou-se as maiores taxas. Estes resultados confirmam o incremento da atividade

metabólica dos grãos devido ao elevado teor de água no ambiente de laboratório,

motivo pelo qual verificou-se desenvolvimento acelerado de fungos, o que pode ter

contribuído para a redução da massa específica aparente e o aumento da

condutividade elétrica dos grãos. As condições ótimas de temperatura e umidade

relativa para o desenvolvimento dos micro-organismos são de 30 ºC e 75%,

respectivamente (Mbata e Osuji, 1983; Hansen et al., 2004), praticamente a mesma

condição de temperatura e umidade relativa aos quais os grãos foram

acondicionados.

TABELA 6. Incidência média de fungos em grãos de soja (Glycine max L.)

submetidos ou não a infestação por L. serricorne ao longo do

armazenamento em diferentes ambientes. UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Am

bie

nte

la

bo

rató

rio

D.A

Aspergillus spp. (%) Penicillium spp. (%) Fusarium spp. (%)

Sem infestação

Com infestação

Sem infestação

Com infestação

Sem infestação

Com infestação

0 6,67

10,95

11,86

8,49

77,15

77,78 210 30,61

18,35

14,99

7,76

60,58

46,59

Am

bie

nte

co

ntr

ola

do

D.A

Aspergillus spp. (%) Penicillium spp. (%) Fusarium spp. (%)

Sem infestação

Com infestação

Sem infestação

Com infestação

Sem infestação

Com infestação

0 7,29

9,50

6,72

3,03

85,03

76, 47 210 22,11

18,06

9,44

8,80

65,99

54, 26

D.A= Dias de Armazenamento.

65

3.4 CONCLUSÕES

A perda de qualidade dos grãos de soja está diretamente influenciada pela

infestação, condição e período de armazenamento.

O ambiente de laboratório promove as maiores perdas de qualidade nos

grãos.

A perda progressiva ao longo do armazenamento, independente do ambiente

e nível de infestação.

66

3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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69

4 TESTE DE ACIDEZ ALCOÓLICA E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA COMO

ÍNDICE DE QUALIDADE EM GRÃOS DE SOJA

RESUMO - O índice de acidez em grãos de soja é considerado como um indicador

de qualidade para as empresas de processamento de óleo. Grãos de soja que apresentam elevados índices de defeitos resultam na produção de óleos de baixa qualidade e consequentemente aumentam os custos no processamento. O objetivo deste trabalho foi verificar o índice de acidez em grãos com diferentes enquadramentos de qualidade no padrão comercial da soja. Foram selecionadas amostras das safras 2009/2010, 2010/2011 e 2011/2012, e de cada safra foram separadas 32 amostras distribuídas igualmente no Grupo I (GI): soja destinada ao consumo in natura (Tipo 1, T1 e Tipo 2, T2) e Grupo II (GII): soja destinada a outros usos (Padrão Básico e Fora de Tipo), conforme a Instrução Normativa do MAPA n° 11. Dentro de cada enquadramento, essas amostras ainda foram subdivididas em duas estratificações de acordo com as porcentagens máxima de total de avariados. Para avaliar o índice de acidez foi empregado o método do álcool solúvel, segundo Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Para todas as safras houve aumento da acidez conforme o pior enquadramento comercial. Na comparação das duas estratificações dentro de cada enquadramento houve significância em todos os parâmetros de qualidade avaliados, sendo as maiores médias apresentadas no segundo estrato. Na safra 2010 observou-se alta correlação entre o índice de acidez e as porcentagens de grãos picados (r=0,97) e total de avariados (r=0,86). Esta mesma tendência foi verificada na safra 2011 em que apresentou-se alta com grãos picados (r=0,98) e total de avariados (r=0,88). Já as amostras da safra 2012, além da alta correlação com os grãos picados (r=0,99) e total de avariados (r=0,98) também apresentou correlação com os grãos fermentados (r=0,90). Pode-se concluir que o índice de acidez tem correspondência com a condutividade elétrica e consequentemente com o total de grãos avariados. Palavras-chave: padrão de qualidade, grãos avariados, classificação física, Glycine

max L.

70

ALCOHOLIC ACIDITY TESTING AND ELECTRICAL CONDUCTIVITY AS

QUALITY INDEX IN SOYBEANS

ABSTRACT - The acidity in soybeans is considered as a quality indicator for oil-

processing enterprises. Soybeans that exhibit high defect rates result in the production of low-quality oils and consequently increases the processing costs. The aiming of this study was to determine the acidity content in grains with different quality frameworks in commercial soy pattern. It was selected harvest 2009/2010, 2010/2011 and 2011/2012, and of each harvest were separated 32 samples evenly distributed in Group I (GI): soy destined for fresh consumption (Type 1 and Type 2 T1, T2) and Group II (GII): soybeans used for other purposes (Type Basic and Off Standard), according to Normative Instruction MAPA No. 11. Dentro of each frame, these samples were further subdivided into two strata according to the percentages Maximum total damaged. To evaluate the acid value was employed the method of soluble alcohol, according to Analytical Standards Institute Adolfo Lutz. For all crops was increased acidity as the worst trading environment. In comparing the two stratifications within each frame there was significance in all parameters evaluated quality, with higher averages presented in the second stratum. In the 2010 crop there was a high correlation between the acid number and chopped grain percentage (r = 0.97) and total injured (r = 0.86). This same trend was observed in the 2011 harvest that presented itself high with chopped grains (r = 0.98) and total injured (r = 0.88). However, the samples of the crop in 2012, in addition to high correlation with chopped grains (r = 0.99) and total injured (r = 0.98) also correlated with fermented grains (r = 0.90). It can be concluded that the acidity index has correlation with the electric conductivity and consequently damaged with the total grains. Keywords: quality standard, damaged grains, physical classification, Glycine max L.

71

4.1 INTRODUÇÃO

A acidez da soja é uma das causas de prejuízos econômicos para as

empresas de produção de óleo. Para fazer com que o óleo esteja nos padrões

aprovados pela ANVISA é necessário a utilização de produtos químicos no controle

da acidez da soja, o que pode influenciar no maior ou menor custo da

industrialização desse produto (Greggio, 2012).

A acidificação é o resultado do aumento de ácidos graxos livres, de fosfatos

ácidos e de aminoácidos, produzidos pela ação das lipases, fitases e proteases,

respectivamente. Entre estes três grupos de compostos, o maior e o mais rápido

aumento ocorre nos ácidos graxos (Smith e Berjak, 1995).

De acordo com Araújo (2004), durante o período de armazenamento dos

alimentos, a fração lipídica é lentamente hidrolisada pela água à temperatura

elevada (processo físico) e enzimas lipolíticas naturais ou produzidas por bactérias

e/ou fungos contribuem para a rancificação hidrolítica dos alimentos.

O índice de acidez do óleo de soja varia, naturalmente, entre 0,3 e 0,5%

desde a formação do grão até a fase de maturação fisiológica. Quando os grãos

estão em condições de colheita com teor de umidade (máxima de 22% b.u.) inicia-se

o processo degradativo, proporcionado por operações inadequadas, até a fase

industrial, onde são toleráveis níveis de até 0,7% de ácidos graxos livres para o óleo

(Liu, 1997).

Quando esses valores são ultrapassados é necessário, neutralizar a acidez, e

para isso utiliza-se hidróxido de sódio, que num contexto de custo é relativamente

baixo. No entanto, Freitas et al. (2001) esclarecem que, se for considerada uma

agroindústria que adquira grãos de soja tipo “semente”, a acidez do óleo bruto

72

produzido, ao longo da safra, seria praticamente constante 0,2%. Mas quando se

consideram regiões onde os produtores adotam baixa tecnologia, a qualidade de

grãos é muito heterogênea e a acidez do óleo bruto pode variar ao longo da safra

devido à má qualidade da soja recebida. Portanto, o custo de produção anual pode

ser três vezes maior.

Além dos gastos com produtos alcalinos, a indústria perde também na

quantidade de óleo desperdiçado, na quantidade de energia despendida, na mão-de-

obra e encargo social, na capacidade produtiva, no desgaste e manutenção de

equipamentos, além da necessidade de investimentos em máquinas para este fim

específico (Silva et al., 2000).

Soares (2003), estudando a variação do nível de ácidos graxos livres em

grãos de soja danificados artificialmente, e concluiu que, o teste de acidez graxa

mostrou-se sensível aos efeitos dos danos térmicos e mecânicos, e que, comparado

ao teste de tetrazólio, o índice de acidez graxa revelou-se num ótimo indicador para

detectar o efeito latente oriundo dos mesmos.

Os principais problemas que interferem na qualidade da soja são: grãos

esverdeados, grãos partidos, grãos chochos e avariados. Relacionar o índice de

acidez para cada tipo de enquadramento comercial da soja pode fornecer um dado

importante na avaliação do estado de conservação do óleo (Freire et al., 2013).

Saber do índice de acidez na classificação da soja é importante, pois, com os

resultados é possível comparar o tipo de dano com o teor de acidez dos grãos.

Diante disso o objetivo com este trabalho foi verificar o índice de acidez em grãos

com diferentes enquadramentos de qualidade no padrão comercial de soja.

73

4.2 MATERIAL E MÉTODOS

4.2.1 Obtenção das amostras de grãos de soja

Foram selecionados grãos de soja das safras 2009/2010, 2010/2011 e

2011/2012 em Mato Grosso, sendo que para cada uma das safras foram separadas

32 amostras distribuídas igualmente no Grupo I (GI): soja destinada ao consumo in

natura (Tipo 1 e T2) e Grupo II (GII): soja destinada a outros usos (Padrão Básico e

Fora de Tipo). Dentro de cada enquadramento, as amostras ainda foram

subdivididas em duas estratificações de acordo com as porcentagens de total de

grãos avariados, com base nos limites máximos de tolerância deste, conforme a

Instrução Normativa do MAPA n° 11 de 15 de maio de 2007 (Brasil, 2007a)

complementada com a Instrução Normativa N° 37 de 30 de julho de 2007 (Brasil,

2007b) visualizada nos Quadro 1 e 2.

QUADRO 1. Limites máximos de tolerância, expressos em porcentagem, para a soja do Grupo I

(consumo humano).

Tipo

Avariados

Esverdeados Partidos,

Quebrados e Amassados

Matérias Estranhas e Impurezas

Total de Ardidos e

queimados

Máximos de Queimados

Mofados Total (1)

1 1,0 0,3 0,5 4,0 2,0 8,0 1,0

2 2,0 1,0 1,5 6,0 4,0 15,0 1,0 (1) A soma de queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e chochos.

QUADRO 2. Limites máximos de tolerâncias, expressos em porcentagem, para soja do Grupo II (outros

usos).

Tipo

Avariados

Esverdeados Partidos,

Quebrados e Amassados

Matérias Estranhas e Impurezas

Total de Ardidos e

queimados

Máximos de Queimados

Mofados Total (1)

Padrão Básico 4,0 1,0 6 8,0 8,0 30,0 1,0

(1) A soma de queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e chochos.

As estratificações ficaram dispostas da seguinte maneira: Tipo 1: primeiro

estrato amostras de 0 a 2% de grãos avariados e segundo estrato de 2 a 4%. Tipo 2:

primeiro estrato de 4 a 5% e segundo estrato de 5 a 6%. Padrão Básico: primeiro

74

estrato de 6 a 7% e segundo estrato 7 a 8%, Fora de Tipo: primeiro estrato de 8 a

11% e segundo estrato acima de 11%.

4.2.2 Delineamento experimental e análises estatísticas

O delineamento experimental para cada safra foi o inteiramente casualizado

em esquema fatorial 4 x 2, sendo quatro diferentes enquadramentos e duas

estratificações de porcentagens de total de avariados, com três repetições para

todos os parâmetros avaliados.

Para fins de análise estatística utilizou-se o programa de análises estatísticas

e planejamento de experimentos Sisvar, versão 5.3 Build77 (Ferreira, 2011). Foi

aplicado o teste de Tukey no nível de 5% de significância para comparação das

médias. Também foi realizada correlação entre o índice de acidez alcoólica e os

demais testes de qualidade.

4.2.3 Avaliação das características de qualidade

No Laboratório do Núcleo de Tecnologia em Armazenagem (NTA) da

FAMEVZ/UFMT, foram analisadas as características de qualidade física e química

(teor de água, massa específica aparente, classificação física, condutividade elétrica

e índice de acidez alcoólica) e nutricional (proteína bruta e extrato etéreo).

4.2.5 Qualidade física e química

4.2.4.1Teor de água

Foi realizado com três subamostras de 5 g de grãos de soja, para cada

repetição, utilizando o método de estufa 105 ± 3°C, durante 24 h (Brasil, 2009) e o

resultado expresso em base úmida.

4.2.4.2 Massa específica aparente

Foi obtida por meio da determinação do peso hectolitro, em balança

específica, com capacidade de ¼ de litro, utilizando três subamostras. Os resultados

obtidos em kg hL-1 foram transformados e expressos em kg m-3 de acordo com

metodologia proposta por Brasil (2009), sendo estes valores corrigidos para o teor

de umidade de 14% em base úmida.

75

4.2.4.3 Classificação física

A classificação dos grãos foi realizada por meio da quantificação do

percentual de grãos avariados (queimados, ardidos, mofados, fermentados,

germinados, danificados, imaturos e chochos); esverdeados, quebrados, partidos,

amassados, matérias estranhas e impurezas com base no Padrão de Qualidade da

soja estabelecido pela Instrução Normativa no 11 de 15/05/2007 (Brasil, 2007a), e

pela Instrução Normativa n° 37 de 30/05/2007 (Brasil, 2007b) (Tabela 7).

TABELA 7. Médias de porcentagem total de grãos avariados nos diferentes

enquadramentos da soja (Glycine max L.), safras 2010, 2011 e 2012.

UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Enquadramentos Safra 2010 Safra 2011 Safra 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 0,21 0,75 0,15 0,99 0,25 0,95 Tipo 2 2,42 4,31 3,80 5,45 2,87 3,62

Padrão Básico 6,01 7,71 6,41 8,84 5,32 7,06 Fora de Tipo 10,32 19,38 14,19 28,69 10,12 22,03

E1= estrato 1, E2= estrato 2.

4.2.4.4 Condutividade elétrica

Os testes de condutividade elétrica foram conduzidos de acordo com o

“sistema de copo” ou “condutividade de massa”, conforme metodologia

recomendada por Vieira e Carvalho (1994).

4.2.4.5 Índice de acidez alcoólica

A determinação de acidez total titulável, foi obtida, utilizando-se 5 g de grãos

de soja moídos. Em um balão volumétrico com capacidade de 100 mL, foi

adicionado 80 mL de álcool etílico a 95 %, acrescido os 5 g de grãos moídos e, logo

em seguida, misturados, onde permaneceram em repouso por 24 horas. Após este

período, foi completado o volume para 100 mL com álcool etílico a 95 % e depois a

solução foi filtrada em papel filtro. Da solução filtrada, foram separados 20 mL,

sendo adicionadas duas gotas do indicador de fenolftaleína. Em seguida, o conteúdo

foi titulado com hidróxido de sódio 0,01N até a cor rósea persistente. Os resultados

76

foram expressos em (g 100g-1 MS), de acordo com as normas analíticas do Instituto

Adolfo Lutz (IAL, 2008).

4.2.5 Qualidade nutricional

4.2.6.1 Proteína bruta e extrato etéreo

Foram determinados os teores de proteína e extrato etéreo, via

espectroscopia de infravermelho próximo, utilizando o analisador NIRS Near Infrared

Spectroscopy Alyzer (Fountain, 2003).

Para a análise foram utilizados grãos de soja inteiros, em triplicata, sendo os

valores expressos em porcentagem, em base úmida.

77

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3.1 Qualidade física e química

4.3.1.1 Teor de água

Independente das safras (2010, 2011 e 2012) avaliadas, os teores de água

das amostras de soja nos diferentes enquadramentos não apresentaram diferença

estatística significativa (Tabela 8). Observou-se que os valores ficaram entre 10,39 e

11,57%. Esses valores encontram-se na faixa admitida pela classificação oficial que

é de no máximo 14% (Brasil 2007a), e compatíveis com os teores recomendados

para o armazenamento seguro da soja que é de 11 a 12% (Lazzari, 1997).

TABELA 8. Teor de água (%) dos grãos de soja (Glycine max. L) em diferentes

enquadramentos comerciais, safras 2010, 2011 e 2012. UFMT,

Cuiabá, MT. 2015.

Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. E1= estrato 1, E2= estrato 2. C.V.(%)= coeficiente de variação.

Enquadramentos 2010 2011 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 11,57 aA 11,21 aA 10,62 aA 11,09 aA 10,74 aA 11,19 aA

Tipo 2 11,51 aA 11,40 aA 10,78 aA 10,64 aA 10,68 aA 10,53 aA

Padrão Básico 11,33 aA 10,84 aA 10,98 aA 10,39 aA 10,57 aA 10,82 aA

Fora de Tipo 11,20 aA 11,21 aA 10,73 aA 10,52 aA 11,33 aA 10,67 aA

C.V. (%) 3,73 4,97 6,00

78

Freitas et al. (2001) relataram que a armazenagem em ambiente natural, em

silos ou graneleiros, deve ser realizada com grãos limpos e secos, isto é, mantê-los

com impurezas entre 1 e 3% e com teores de água entre 11 e 13 % b.u. Para a soja

e outras leguminosas, o teor máximo de água dos grãos, indicado para a

armazenagem em 1 ano, em ambiente natural, é de 12% b.u.

Quando analisados os teores de água nos dois estratos das três safras de

cada enquadramento também não foram observadas diferenças estatísticas, ou

seja, dentro desses enquadramentos os valores foram iguais (Tabela 8).

4.3.1.2 Massa específica aparente

Independente da safra avaliada, as amostras de grãos de soja nos quatro

enquadramentos comerciais e dos respectivos estratos, não mostraram significância

pelo teste de médias (Tabela 9). A massa específica é utilizada como um parâmetro

em transações de compra e venda é um critério de avaliação de qualidade de grãos

a ser observado durante o armazenamento.

Nos Estados Unidos a massa específica dos grãos é o principal critério

utilizado no processo de classificação padrão para enquadramento em tipo e análise

de qualidade (Duarte et al., 2007; USDA, 2010).

TABELA 9. Massa específica aparente (kg m-3) dos grãos de soja (Glycine max. L)

em diferentes enquadramentos comerciais, safras 2010, 2011 e 2012.

UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Enquadramentos 2010 2011 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 67,56 aA 66,41 aA 68,03 aA 67,34 aA 66,21 aA 63,05aB

Tipo 2 67,44 aA 67,80 aA 65,77 aA 65,89 aA 66,88 aA 65,01 aA

Padrão Básico 68,02 aA 65,34 aA 62,44 aA 65,32 aA 66,62 aA 66,31 aA

Fora de Tipo 62,09 aA 66,50 aA 66,03 aA 64,91aA 66,48 aA 65,70 aA

C.V. (%) 3,96 5,69 20,6 Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem entre si

pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. E1= estrato 1, E2= estrato 2, C.V(%)= coeficiente de variação. Os valores foram corrigidos para 14% de umidade.

4.3.1.3 Condutividade elétrica

79

Os valores de condutividade elétrica dos grãos de soja nos diferentes

enquadramentos comerciais estão expressos na Tabela 10. Observa-se para as

safras 2010, 2011 e 2012, conforme há redução na qualidade dos grãos, as médias

de condutividade elétrica aumentam, assim como para os estratos de maior

percentual de total de avariados. Nas safras 2010 e 2011, os valores obtidos diferem

a partir das amostras enquadradas em Tipo 2. Já para a safra 2012, a condutividade

elétrica apresentou aumento nas amostras Fora de Tipo. Ao comparar os dois

estratos, nota-se que o segundo estrato obteve maiores médias de condutividade

para todas a safras analisadas, correspondendo com o maior percentual de defeitos

encontrados neste.

TABELA 10. Condutividade elétrica (µS cm-1g-1) dos grãos de soja (Glycine max. L)

em diferentes enquadramentos comerciais, safras 2010, 2011 e 2012.

UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Médias seguidas de mesma letra minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. E1= estrato 1, E2= estrato 2. C.V.(%)= coeficiente de variação.

De acordo com Heslehurst (1988), a condutividade elétrica está relacionada

com a quantidade de íons lixiviados na solução, os quais estão diretamente

associados à integridade das membranas celulares. Membranas mal estruturadas e

células danificadas estão associadas ao processo de deterioração dos grãos,

portanto, a condutividade elétrica é uma variável que possibilita evidenciar

problemas de deterioração dos grãos. Isso explica o fato do aumento da

condutividade elétrica nas amostras com maiores porcentagens de total de

avariados.

As mesmas tendências foram observadas por Malta et al. (2005). Os autores,

analisando a influência dos principais defeitos dos grãos de café na determinação da

Enquadramentos

Safra 2010 Safra 2011 Safra 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 144,96 aA 152,48 aA 86,75 aA 113,60 aB 117,08 aA 137,64 aA

Tipo 2 157,76 aA 178,46 bB 133,54 bA 151,46 aB 163,79 aA 171,23 aA

Padrão Básico 214,78 bA 228,57 cB 165,27 cA 186,45 aB 180,10 aA 188,98 aA

Fora de Tipo 244,49 cA 281,70 dB 206,51 dA 227,07 aB 209,99 bA 384,248 bB

C. V.(%) 4,44 5,97 20,92

80

condutividade elétrica, verificaram acréscimo significativo nestas, conforme o tipo e a

porcentagem de defeito nas amostras.

4.3.1.4 Índice de acidez alcoólica

Os tratamentos testados, apresentaram efeitos significativos pelo teste F (P

< 0,01) para os diferentes enquadramentos de soja (Tabela 11). As amostras exibiram

aumento progressivo nos índices de acidez conforme a perda de qualidade da soja, ou

seja, a soja enquadrada comercialmente como Tipo 1 e 2 mostrou-se com valores

menores enquanto que as amostras Padrão Básico e Fora de Tipo foram maiores.

Observa-se que nas safras 2010 e 2011, os índices de acidez tanto para as amostras

de Tipo 1,Tipo 2, Padrão Básico quanto as Fora de Tipo, ficaram acima dos limites

estabelecidos pela ANVISA (1999) para comercialização de óleo bruto de soja no Brasil

de 2 g 100g-1 ou 2 %, e da indústria que tolera níveis de até 0,7 % de ácidos graxos

livres (Liu,1997). Houve diferença no estrato dois para ambas as safras, entretanto, a

diferença na safra 2011, foi significativa a partir do enquadramento Padrão Básico. Os

valores acima do estabelecido podem ser explicados, pelo período de armazenamento

das amostras.

TABELA 11. Índice de acidez alcoólica (g 100g-1 MS) em diferentes enquadramentos

comerciais de grãos de soja (Glycine max L.), safras 2010, 2011 e 2012.

UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. E1= estrato 1, E2= estrato 2, C.V.(%)= coeficiente de variação.

Na safra 2012, apenas as amostras de grãos de soja enquadradas em Tipo 1,

apresentaram índice de acidez dentro dos limites estabelecidos, no entanto, os maiores

percentuais para acidez foram significativos nas amostras do enquadramento Fora de

Enquadramentos 2010 2011 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 1,11 aA 1,23 aB 0,74 Aa 0,79 aA 0,63 aA 0,70 aA

Tipo2 1,33 bA 1,43 bB 0,84 Aa 0,89 aA 0,76 abA 0,84 abA

Padrão Básico 1,48 cA 1,57 cB 0,98 bA 1,10 bB 0,87 bA 1,04 bB

Fora de Tipo 1,63 daA 1,70 dB 1,22 Ca 1,35 cB 1,21 cA 1,55 cB

C.V. (%) 2,64 4,38 9,79

81

Tipo. Verificou-se, expressivo aumento da acidez no segundo estrato, somente nas

amostras Padrão Básico e Fora de Tipo.

Os resultados apresentados neste estudo corroboram com os observados por

Biaggioni e Barros (2006), que utilizando o teste de acidez graxa como índice de

qualidade em arroz, concluíram que o nível de ácidos graxos livres está relacionado à

classificação comercial por tipos, em grãos de arroz.

O percentual de ácidos graxos livres tem sido proposto como um índice sensível

de qualidade dos grãos, uma vez que está associado à rancidez hidrolítica (Napoleão,

1997). De acordo com O'Brien (2004), a rancidez hidrolítica resulta em liberação de

ácidos graxos livres do glicerol, podendo afetar o sabor, odor e outras características.

Esse autor afirma que, óleos de origem vegetal podem apresentar valores de ácidos

graxos livres relativamente altos, caso os grãos ou sementes apresentem danos

procedentes do campo ou de práticas incorretas de armazenagem, sendo que altos

valores de ácidos graxos livres podem ocasionar perdas excessivas no refino. Wilson et

al. (1995) afirmam que perdas no refino entre 1 e 1,5% são consideradas normais,

entretanto, tais perdas podem chegar a 4% ou mais, à medida que se tem valores mais

altos de ácidos graxos livres.

4.3.2 Qualidade nutricional

4.3.2.1 Teor de proteína bruta e extrato etéreo

Analisando os dados apresentados nas Tabelas 12 e 13, verificou-se que

tanto o teor de proteína bruta quanto o extrato etéreo, tiveram aumento em função

da classificação dos grãos de soja. As amostras de soja enquadrada nos Tipo 1,

Tipo 2 e Padrão Básico apresentaram os menores valores de proteína em

comparação com as Fora de Tipo. Segundo Pereira (1997), a determinação do teor

proteico se baseia na quantidade de nitrogênio total, e pode limitar as interpretações

por possibilitar a interferência de outros compostos nitrogenados.

82

TABELA 12. Teor de proteína bruta (%) em diferentes enquadramentos comerciais

de grãos de soja (Glycine max L.), safras 2010, 2011 e 2012. UFMT,

Cuiabá, MT. 2015.

Médias de Letras iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. E1= estrato 1, E2= estrato 2. C.V.(%)= coeficiente de variação.

TABELA 13. Teor de extrato etéreo (%) em diferentes enquadramentos comerciais

de grãos de soja (Glycine max L.), safras 2010, 2011 e 2012. UFMT,

Cuiabá, MT. 2015.

Médias de Letras iguais na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. E1= estrato 1, E2= estrato 2. C.V.(%)= coeficiente de variação.

Na comparação entre os parâmetros de qualidade nutricional nos estratos de

cada enquadramento comercial, nota-se, que para todas as safras e

enquadramentos, as porcentagens de teor de proteína bruta e extrato etéreo foram

maiores no segundo estrato.

4.3.3 Correlação entre os parâmetros de qualidade e o índice de acidez

alcoólica

Foi possível estabelecer correlação significativa entre os parâmetros

qualitativos e o índice de acidez nos grãos de soja dos diferentes enquadramentos

comercial (Tabelas 14, 15 e 16). Observa-se relação direta entre o índice de acidez

total dos grãos com a condutividade elétrica, percentagem de grãos ardidos,

Enquadramentos 2010 2011 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 36,49 aA 38,00 aB 35,22 aA 37,13 aB 36,77 aA 37,73 aB

Tipo 2 38,99 bA 40,02 bB 37,69 bA 38,35 aA 38,66 bA 39,81 bB

Padrão Básico 40,46 cA 41,20 cB 40,11 cA 40,59 bA 40,16 cA 40,82 cB

Fora de Tipo 41,62 dA 42,40 dB 41,37 cA 43,01 cB 41,64 dA 43,40 dB

C.V. (%) 0,99 1,72 0,89

Enquadramentos 2010 2011 2012

E1 E2 E1 E2 E1 E2

Tipo 1 21,73 aA 21,95 aA 21,82 aA 22,34 aB 21,51aA 22,32 aB

Tipo 2 22,22 bA 22,42 bA 22,88 bA 23,35 bB 22,79 bA 23,17 bA

Padrão Básico 22,75 cA 22,97 cA 23,49 cA 23,67 cA 23,55 cA 23,81 cA

Fora de Tipo 23,18 dA 23,62 dB 24,06 dA 24,31 dB 24,12 cA 24,93 dB

C.V. (%) 0,61 0,51 1,09

83

mofados, fermentados, picados e total de avariados. Soares (2003), estudando a

deterioração da soja, ocasionada por fatores térmicos, mecânicos e biológicos ao

longo do período de armazenamento não verificou resultados conclusivos referentes

à relação entre ácidos graxos livres e o percentual de grãos ardidos. No entanto,

Alencar (2009), avaliando a qualidade do óleo extraído de grãos de soja, a partir de

características qualitativas do óleo e dos grãos, observou relação direta entre os

fatores de qualidade, do óleo e grãos, com a porcentagem de ácidos graxos livres.

Nas avaliações da safra 2010 observou-se alta correlação positiva entre o

índice de acidez e as porcentagens de grãos picados (r=0,97) e total de avariados

(r=0,86) esta mesma tendência foi verificada na safra 2011 que apresentou-se alta

com grãos picados (r=0,98) e total de avariados (r=0,88). Já as amostras da safra

2012, além da alta correlação com os grãos picados (r=0,99) e total de avariados

(r=0,98) também apresentaram correlação com os grãos fermentados (r=0,90)

(Tabelas 16, 17 e 18).

Pode-se observar tendência do nível de ácidos graxos livres, acompanhar a

classificação comercial quanto à porcentagem destes defeitos apresentados. Deste

modo, quanto pior o tipo comercial de grãos de soja, maior o nível de ácidos graxos

livres.

De maneira geral, a condutividade elétrica medida em solução contendo

grãos de soja aumentou à medida que ocorreu acréscimos no percentual de grãos

ardidos, mofados, fermentados, picados e total de avariados, confirmadas pelas

altas correlações positivas encontradas entre estes parâmetros (Tabelas 14, 15 e

16).

Verificou-se, para a condutividade elétrica, que a maior correlação foi

estabelecida com os grãos picados (r=0,99) na safra 2010, e este também na safra

2011 (r=0,97). Para a safra 2012 o defeito que implicou na maior correlação com a

condutividade elétrica foi o total de avariados (r=0,97).

Destaca-se, também, correlação alta e positiva entre condutividade elétrica e

o teor de acidez total dos grãos (r=0,95) para safra 2010, (r=0,97) safra 2011, e

(r=0,93) para 2012. Alencar (2009), analisando a correlação entre condutividade e os

parâmetros de qualidade do óleo e dos grãos de soja, obteve as maiores

correlações entre condutividade elétrica, teor de ácidos graxos livres (r= 0,70*) e

índice de peróxido (r= 0,84*).

84

TABELA 14. Matriz de correlação de Pearson entre as variáveis qualitativas dos grãos de soja (Glycine max L.), em relação à

acidez alcoólica, safra 2010. UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Variável T.A (%) M.E.A1 ACID2 CE3

ARD (%) MOF (%) FER (%) PIC (%) T. A.V (%) P.B (%) E.E (%)

T.A (%) 1

M.E.A 0,2285 ns 1

ACID -0,3570 ns -0,3137ns 1

CE -0,4026ns -0,3138ns 0,9505*

1

ARD (%) -0,2075ns -0,1544ns 0,6684* 0,7924* 1

MOF (%) -0,2571ns -0,0807ns 0,5447* 0,6936* 0,9104* 1

FER (%) -0,2229ns -0,0510ns 0,6889* 0,8012* 0,9572* 0,8776* 1

PIC (%) -0,3143ns -0,2772ns 0,9684* 0,9854* 0,7749* 0,6745* 0,7944* 1

T. A.V (%) -0,3058ns -0,2135ns 0,8608* 0,9419* 0,9268* 0,8789* 0,9260* 0,9406* 1

P.B (%) -0,3597ns -0,3119ns 0,9879* 0,9413* 0,6496* 0,5527* 0,6671* 0,9624* 0,8550* 1

E.E (%) -0,3814ns -0,3112ns 0,9680* 0,9885* 0,7766* 0,6894 0,7934 0,9929 0,9417 0,9659* 1

T.A- Teor de água; M.E.A. – Massa específica aparente; ACID – Acidez; CE – Condutividade elétrica; ARD- Grãos ardidos; MOF – Grãos mofados; FER – Grãos fermentados; PIC- Grãos picados;

T.A.V – Total de grãos avariados; PB – Teor de proteína bruta; E.E. – Teor de extrato etéreo.

1 Expresso em kg m-3

2 Expresso em g 100g-1

MS

3 Expresso em µS cm-1

g-1

* Significativo a 5% de probabilidade NS

Não significativo ao nível de 5% de probabilidade

85

TABELA 15. Matriz de correlação de Pearson entre as variáveis qualitativas dos grãos de soja (Glycine max L.), em relação à

acidez alcoólica, safra 2011. UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Variável T.A (%) M.E.A1 ACID2 CE3

ARD (%) MOF (%) FER (%) PIC (%) T. A.V (%) P.B (%) E.E (%)

T.A (%) 1

M.E.A 0,3923ns 1

ACID -0,1826ns 0,1896ns 1

CE -0,1949ns -,2623ns 0,9711* 1

ARD (%) -0,1872ns -,0979ns 0,5520* 0,5386* 1

MOF (%) -0,1894ns -,0673ns 0,7643* 0,7213* 0,9473* 1

FER (%) -0,2903ns 0,1856ns 0,6623* 0,6383* 0,9358* 0,9344* 1

PIC (%) -0,2112ns 0,1990ns 0,9769* 0,9668* 0,6322* 0,8129* 0,7230* 1

T. A.V (%) -0,2187ns 0,1611ns 0,8758* 0,8531* 0,8747* 0,9682* 0,9124* 0,9251* 1

P.B (%) -0,1745ns -,3069ns 0,9537* 0,9700* 0,5052* 0,6823* 0,6297* 0,9305* 0,8185* 1

E.E (%) -0,1302ns -,2708ns 0,9201* 0,9734* 0,4048* 0,5922* 0,5179* 0,9261* 0,7602* 0,9506* 1

.A- Teor de água; M.E.A. – Massa específica aparente; ACID – Acidez; CE – Condutividade elétrica; ARD- Grãos ardidos; MOF – Grãos mofados; FER – Grãos fermentados; PIC- Grãos picados;

T.A.V – Total de grãos avariados; PB – Teor de proteína bruta; E.E. – Teor de extrato etéreo.

1 Expresso em kg m-3

2 Expresso em g 100g-1

MS

3 Expresso em µS cm-1

g-1

* Significativo a 5% de probabilidade NS

Não significativo ao nível de 5% de probabilidade

86

TABELA 16. Matriz de correlação de Pearson entre as variáveis qualitativas dos grãos de soja (Glycine max L.), em relação à

acidez alcoólica, safra 2012. UFMT, Cuiabá, MT. 2015.

Variável T.A (%) M.E.A1 ACID2 CE3 ARD (%) MOF (%) FER (%) PIC (%) T. A.V (%) P.B (%) E.E (%)

T.A (%) 1

M.E.A -0,0991ns 1

ACID 0,0223ns 0,1927ns 1

CE -0,1091ns 0,1518ns 0,9311* 1

ARD (%) -0,1480ns 0,0559ns 0,7638* 0,8205* 1

MOF (%) -0,0753ns 0,0849ns 0,8566* 0,9591* 0,8536* 1

FER (%) 0,0058ns 0,0956ns 0,8996* 0,9561* 0,8443* 0,9776* 1

PIC (%) -0,0567ns 0,2224ns 0,9860* 0,9490* 0,7602* 0,8664* 0,9047* 1

T. A.V (%) -0,0571ns 0,1788ns 0,9781* 0,9710* 0,8435* 0,9253* 0,9528* 0,9866* 1

P.B (%) -0,0360ns 0,2688ns 0,9384* 0,8480* 0,5663* 0,6965* 0,7411* 0,9424* 0,8849* 1

E.E (%) -0,0190ns 0,2479ns 0,9214* 0,8358* 0,5677* 0,6722* 0,7194* 0,9237* 0,8664* 0,9863* 1

T.A- Teor de água; M.E.A. – Massa específica aparente; ACID – Acidez; CE – Condutividade elétrica; ARD- Grãos ardidos; MOF – Grãos mofados; FER – Grãos fermentados; PIC- Grãos

picados; T.A.V – Total de grãos avariados;PB – Teor de proteína bruta; E.E. – Teor de extrato etéreo.

1 Expresso em kg m-3

2 Expresso em g 100g-1

MS

3 Expresso em µS cm-1

g-1

* Significativo a 5% de probabilidade NS

Não significativo ao nível de 5% de probabilidade

87

4.4 CONCLUSÕES

O enquadramento comercial inferior eleva o índice de acidez alcoólica e

condutividade elétrica dos grãos de soja.

O índice de acidez tem correspondência com a condutividade elétrica e

consequentemente com o total de grãos de soja avariados.

Os valores de proteína bruta e extrato etéreo elevam com o maior percentual

de grãos de soja picados e fermentados.

A condição física dos grãos de soja é um bom indicativo de qualidade físico-

química e nutricional.

88

4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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91

ANEXO - INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº. 11, DE 15 DE MAIO DE 2007

O MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO,

no uso da atribuição que lhe confere o art. 2o, do Decreto n° 5.741, de 30 de março

de 2006, tendo em vista o disposto na Lei n° 9.972, de 25 de maio de 2000, no

Decreto no 3.664, de 17 de novembro de 2000, e o que consta do Processo no

21000.014080/2005-73, resolve:

Art. 1° Estabelecer o Regulamento Técnico da Soja, definindo o seu padrão oficial

de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade intrínseca e extrínseca,

a amostragem e a marcação ou rotulagem, na forma do Anexo.

Art. 2° Na soja destinada à exportação, os aspectos relativos à sua identidade e

qualidade, não contemplados nos contratos referentes a essa operação, observarão

como referência o previsto nesta Instrução Normativa.

Art. 3° As dúvidas porventura surgidas na aplicação da presente Instrução Normativa

serão resolvidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Art. 4° Esta Instrução Normativa entra em vigor no prazo de 60 (sessenta) dias a

partir da data de sua publicação.

Art. 5° Fica revogada a Portaria MA n° 262, de 23 de novembro de 1983.

REGULAMENTO TÉCNICO DA SOJA

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1° O presente Regulamento Técnico tem por objetivo definir o padrão oficial de

classificação da soja, considerando os seus requisitos de identidade e qualidade

intrínseca e extrínseca, de amostragem e de marcação ou rotulagem.

Art. 2° Para efeito deste Regulamento, considera-se:

I - soja: grãos provenientes da espécie Glycine max (L) Merrill;

II - identidade: conjunto de parâmetros ou características técnicas que permitem

identificar ou caracterizar um produto ou processo quanto aos aspectos botânicos,

de aparência, metodologia de preparo, natureza ou forma de processamento,

beneficiamento ou industrialização, modo de apresentação, conforme o caso;

92

III - qualidade: conjunto de parâmetros ou características extrínsecas ou intrínsecas

de um produto ou um processo, que permitem determinar as suas especificações

quali-quantitativas, mediante aspectos relativos à tolerância de defeitos, medida ou

teor de fatores essenciais de composição, características organolépticas, fatores

higiênico-sanitários ou tecnológicos;

IV - avariados: grãos ou pedaços de grãos que se apresentam queimados, ardidos,

mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e chochos:

a) queimados: grãos ou pedaços de grãos carbonizados;

b) ardidos: grãos ou pedaços de grãos que se apresentam visivelmente

fermentados e com coloração marrom ou escura afetando a polpa, incluindo se

neste defeito os grãos queimados por processo de secagem;

c) mofados: grãos ou pedaços de grãos que se apresentam com fungos (mofo ou

bolor) visíveis a olho nu;

d) fermentados: grãos ou pedaços de grãos que, em razão do processo de

fermentação, tenham sofrido alteração visível na cor do cotilédone que não aquela

definida para os ardidos;

e) germinados: grãos ou pedaços de grãos que apresentam visivelmente a emissão

da radícula;

f) danificados: grãos ou pedaços de grãos que se apresentam com manchas na

polpa alterados e deformados, perfurados ou atacados por doenças ou insetos, em

qualquer de suas fases evolutivas;

g) imaturos e chochos: grãos ou pedaços de grãos que se apresentam geralmente

atrofiados, enrugados e com formato irregular devido ao desenvolvimento fisiológico

incompleto;

V - amassados: grãos que se apresentam esmagados, com os cotilédones e

tegumento, rompidos por danos mecânicos, estando excluídos deste defeito os

grãos que se apresentam trincados em seu tegumento;

VI - partidos e quebrados: pedaços de grãos, inclusive cotilédones, que ficam retidos

na peneira de crivos circulares de 3,0 mm (três milímetros) de diâmetro;

VII - esverdeados: grãos ou pedaços de grãos com desenvolvimento fisiológico

completo que apresentam coloração totalmente esverdeada no cotilédone;

VIII - mancha púrpura: grãos que apresentam manchas arroxeadas no tegumento;

IX - mancha café ou derramamento de hilo: grãos que apresentam manchas escuras

a partir do hilo;

X - matérias estranhas e impurezas: todo material que vazar através de peneiras

que tenham as seguintes características: espessura de chapa de 0,8 mm (zero

93

vírgula oito milímetros); quantidade de furos de 400/100 cm2 (quatrocentos por cem

centímetros quadrados); diâmetro dos furos de 3,0 mm (três milímetros) ou que

nelas ficarem retidos, mas que não seja soja, inclusive as vagens não debulhadas; a

casca do grão de soja (película) retida na peneira não é considerada impureza;

XI - umidade: percentual de água encontrado na amostra do produto isenta de

matérias estranhas e impurezas, determinado por um método oficial ou por aparelho

que dê resultado equivalente;

XII - defeitos graves: aqueles cuja incidência sobre o grão compromete seriamente

a aparência, conservação e qualidade do produto, restringindo ou inviabilizando seu

uso; são os grãos ardidos, mofados e queimados; restringem ou inviabilizem a

utilização do produto, por não comprometer seriamente sua aparência, conservação

e qualidade; são os grãos fermentados, danificados, germinados, imaturos, chochos,

esverdeados, amassados, partidos e quebrados;

XIV - lote: quantidade de produto com especificações de identidade, qualidade e

apresentação perfeitamente definidas;

XV - substâncias nocivas à saúde: substâncias ou agentes estranhos de origem

biológica, química ou física que sejam nocivos à saúde, tais como as micotoxinas, os

resíduos de produtos fitossanitários ou outros contaminantes, previstos em

legislação específica vigente, não sendo assim considerado o produto cujo valor se

verifica dentro dos limites máximos previstos;

XVI - matérias macroscópicas: aquelas estranhas ao produto que podem ser

detectadas por observação direta (olho nu), sem auxílio de instrumentos ópticos e

que estão relacionadas ao risco à saúde humana segundo legislação específica

vigente;

XVII - matérias microscópicas: aquelas estranhas ao produto que podem ser

detectadas com auxílio de instrumentos ópticos e que estão relacionadas ao risco à

saúde humana segundo legislação específica vigente;

XVIII - partículas com toxicidade desconhecida: partículas estranhas, grãos ou

partes desses, diferentes de sua condição natural, com suspeitas de toxicidade.

CAPÍTULO II

REQUISITOS DE IDENTIDADE E QUALIDADE INTRÍNSECA E EXTRÍNSECA

Art. 3° O requisito de identidade da soja é identificado pela própria espécie do

produto, na forma disposta no inciso I, art. 2°, do Capítulo I, deste Regulamento

Técnico.

Art. 4° Os requisitos de qualidade da soja serão definidos em Grupos, em função do

uso proposto; em Classes, em função da coloração do grão e em Tipos, em função

da qualidade de acordo com os percentuais de tolerância estabelecidos nas Tabelas

94

1 e 2, deste Capítulo. § 1° De acordo com o uso proposto, a soja será classificada

em dois Grupos, sendo o interessado responsável por essa informação: I - Grupo I:

soja destinada ao consumo in natura; II - Grupo II: soja destinada a outros usos.

§ 2° De acordo com a coloração do grão, a soja será classificada em 2 (duas)

Classes, assim definidas:

I - Amarela: é a constituída de soja que apresenta o tegumento de cor amarela,

verde ou pérola, cujo interior se mostra amarelo, amarelado, claro ou esbranquiçado

em corte transversal, admitindo-se até 10% (dez por cento) de grãos de outras

cores;

II - Misturada: é aquela que não se enquadra na Classe Amarela. § 3º A soja do

Grupo I e do Grupo II será classificada em 2 Tipos, definidos em função da sua

qualidade, de acordo com os percentuais de tolerância, estabelecidos nas Tabelas 1

e 2, a seguir:

Tabela 1 - Limites máximos de tolerância, expressos em porcentagem, para a soja

do Grupo I:

Tipo Avariados Esverdeados Partidos, Quebrados e Amassados

Matérias Estranhas e Impurezas

Total de ardidos e queimados

Máximo de queimados

Mofados Total (1)

1 1,0 0,3 0,5 4,0 2,0 8,0 1,0 2 2,0 1,0 1,5 6,0 4,0 15,0 1,0 (1) A soma de

queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e

chochos.

Tabela 2 - Limites máximos de tolerância, expressos em porcentagem, para a soja

do Grupo II:

Tipo Avariados Esverdeados Partidos, Quebrados e Amassados

Matérias Estranhas e Impurezas

Total de ardidos e queimados

Máximo de queimados

Mofados Total (1)

Padrão básico

95

4,0 1,0 6,0 8,0 8,0 30,0 1,0

(1) A soma de queimados, ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados,

imaturos e chochos.

§ 4° A umidade deverá ser obrigatoriamente determinada, mas não será

considerada para efeito de enquadramento em tipos, sendo recomendado o

percentual máximo de 14% (catorze por cento).

Art. 5° A soja deverá se apresentar fisiologicamente desenvolvida, sã, limpa, seca e

isenta de odores estranhos ou impróprios ao produto.

Parágrafo único.

Os limites e procedimentos a serem adotados quando da verificação da presença de

partículas com toxicidade desconhecida deverão ser os dispostos na Instrução

Normativa no 15, de 9 de junho de 2004.

Art. 6° Será classificado como Fora de Tipo a soja que não atender, em um ou mais

aspectos, às especificações de qualidade previstas nas Tabelas 1 e 2, do Capítulo II,

deste Regulamento Técnico, para o Tipo 2, na soja do Grupo I e para o Padrão

Básico, na soja do Grupo II. § 1° A soja classificada como Fora de Tipo por defeitos

graves (queimados, ardidos e mofados) não poderá ser comercializada quando

destinada diretamente à alimentação humana, podendo ser rebeneficiada para efeito

de enquadramento em tipo quando o somatório do percentual destes defeitos for de

até 12% (doze por cento). § 2° A soja classificada como Fora de Tipo por matérias

estranhas e impurezas não poderá ser comercializada quando destinada

diretamente à alimentação humana, podendo ser rebeneficiada para efeito de

enquadramento em Tipo. § 3° A soja classificada como Fora de Tipo por defeitos

leves poderá ser: I - comercializada como se apresenta, desde que identificada

como tal; II - rebeneficiada, desdobrada ou recomposta para efeito de

enquadramento em tipo.

Art. 7° O lote de soja que apresentar, por quilograma de amostra, duas ou mais

bagas de mamona ou outras sementes de espécies tóxicas em seu estado natural

deverá obrigatoriamente ser rebeneficiado antes de se proceder à sua classificação.

Art. 8° Será desclassificada e proibida a sua internalização e comercialização, a soja

que apresentar uma ou mais das características indicadas abaixo:

I - mau estado de conservação;

II - percentual de defeitos graves superior a 12% (doze por cento) para a soja

destinada diretamente à alimentação humana;

III - percentual de defeitos graves superior a 40% (quarenta por cento) para a soja

destinada a outros usos;

96

IV - odor estranho (ácido ou azedo) de qualquer natureza, impróprio ao produto, que

inviabilize a sua utilização;

V - presença de insetos vivos, mortos ou partes desses no produto já classificado e

destinado diretamente à alimentação humana;

VI - presença de sementes tóxicas, na soja destinada diretamente à alimentação

humana.

Art. 9° Sempre que julgar necessário, o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento poderá exigir análise de substâncias nocivas à saúde, matérias

macroscópicas, microscópicas e microbiológicas relacionadas ao risco à saúde

humana, de acordo com a legislação específica vigente, independentemente do

resultado da classificação do produto, desde que o mesmo já não tenha sido

considerado desclassificado.

Parágrafo único.

A soja será desclassificada quando da análise de que trata o caput se constatar a

presença das referidas substâncias em limites superiores ao máximo estabelecido

na legislação vigente. Art. 10. Quando a pessoa jurídica responsável pela

classificação constatar a desclassificação do produto, esta deverá comunicar o fato

ao Setor Técnico Competente da Superintendência Federal de Agricultura - SFA da

Unidade da Federação onde o produto se encontra estocado, para as providências

cabíveis. Art. 11. Caberá ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a

decisão quanto ao destino do produto desclassificado, podendo, para isso, articular-

se nas situações em que couber, com outros órgãos oficiais.

CAPÍTULO III REQUISITOS DE AMOSTRAGEM

Art. 12. Previamente à amostragem, deverão ser observadas as condições gerais do

lote do produto e havendo qualquer anormalidade, tais como presença de insetos

vivos ou a existência de quaisquer das características desclassificantes (odor

estranho, mau estado de conservação, aspecto generalizado de mofo, entre outras),

deverão ser adotados os procedimentos específicos previstos nos artigos. 7°, 8°, 9°,

10 e 11, do Capítulo II, deste Regulamento Técnico.

Parágrafo único.

Havendo qualquer anormalidade, deve-se exigir, previamente à classificação, o

expurgo ou qualquer outra forma de controle ou beneficiamento do produto,

conforme o caso, na forma estabelecida na legislação específica.

Art. 13. Responderá legalmente pela representatividade da amostra, em relação ao

lote ou volume do qual se originou, a pessoa física ou jurídica que proceder à coleta

da mesma.

97

Art. 14. A coleta das amostras em transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário

deve ser realizada em pontos uniformemente distribuídos no veículo, de maneira

aleatória, conforme critérios estabelecidos na Tabela 3 - Número de pontos de coleta

de amostras de acordo com o tamanho do lote, em profundidades que atinjam o

terço superior, o meio e o terço inferior da carga a ser amostrada, a seguir:

Tabela 3 - Número de pontos de coleta de amostra de acordo com o tamanho do

lote

Quantidade do produto que constitui o lote (toneladas)

Número mínimo de pontos a serem amostrados

Até 15 toneladas 5 Mais de 15 até 30 toneladas 8 Mais de 30 toneladas 11

Parágrafo único. O total de produto amostrado deverá ser homogeneizado,

quarteado e reduzido em 3 kg (três quilogramas) para compor, no mínimo, 3 (três)

amostras, constituídas de 1kg (um quilograma) cada, que serão representativas do

lote.

Art. 15. A coleta das amostras em equipamentos de movimentação ou grãos em

movimento quando das operações de carga, descarga ou transilagem deve ser feita

com equipamento apropriado, realizando-se coletas de 500g (quinhentos gramas)

nas correias transportadoras e extraindo-se, no mínimo, 10 kg (dez quilogramas) de

produto para cada fração de 500t (quinhentas toneladas) da quantidade de produto a

ser amostrada, em intervalos regulares de tempos iguais, calculados em função da

vazão de cada terminal. § 1° Os 10 kg (dez quilogramas) extraídos de cada fração

de 500t (quinhentas toneladas) deverão ser homogeneizados, quarteados e

reservados para comporem a amostra que será analisada a cada 5000t (cinco mil

toneladas) do lote. § 2° A cada 5000 t (cinco mil toneladas), juntar as 10 (dez)

amostras parciais que foram reservadas para compor a amostra a ser analisada

conforme previsto no § 1o deste artigo, homogeneizar e quartear no mínimo por 3

(três) vezes até obter 3kg (três quilogramas) de produto para compor, no mínimo, as

3 (três) vias de amostras, constituídas de 1kg (um quilograma) cada.

Art. 16. A coleta de amostras em silos e armazéns graneleiros será feita no sistema

de recepção ou expedição da unidade armazenadora, procedendose segundo as

instruções para amostragem em equipamento de movimentação previstas no art. 15

deste Regulamento Técnico. Art. 17. A coleta de amostra em produto ensacado será

feita ao acaso, em no mínimo 10% (dez por cento) dos sacos, devendo abranger

todas as faces da pilha formadas pelos sacos.

Parágrafo único.

A quantidade mínima de coleta será de 30g (trinta gramas) por saco, até completar

no mínimo 5 kg (cinco quilogramas) do produto, que deverá ser homogeneizado,

quarteado e reduzido em 3 kg (três quilogramas) para compor, no mínimo, três

98

amostras, constituídas de 1kg (um quilograma) cada, que serão representativas do

lote.

Art. 18. Na coleta de amostra em produto empacotado, deverá ser retirado um

número de pacotes que totalize no mínimo 10 kg (dez quilogramas),

independentemente do tamanho do lote, uma vez que o produto empacotado

apresenta-se homogêneo.

Parágrafo único.

O produto extraído deverá ser homogeneizado, quarteado e reduzido a 3 kg (três

quilogramas) para compor, no mínimo, as três amostras, de 1 kg (um quilograma)

cada, que serão representativas do lote.

Art. 19. A quantidade remanescente do processo de amostragem, homogeneização

e quarteamento serão recolocadas no lote ou devolvidas ao detentor do produto.

Art. 20. As amostras extraídas conforme os procedimentos descritos neste Capítulo

deverão ser devidamente acondicionadas, lacradas, identificadas e autenticadas.

Parágrafo único.

As vias das amostras coletadas terão a seguinte destinação: uma via deverá ser

entregue ao interessado e as demais vias serão destinadas à Empresa ou Entidade

que efetuará a classificação, sendo que uma dessas deverá ficar como contraprova.

Art. 21. Quando a amostra for coletada e enviada pelo interessado, deverão ser

observados os mesmos critérios e procedimentos de amostragem previstos nesse

Regulamento Técnico.

Art. 22. Estando o produto em condições de ser classificado, deve-se homogeneizar

a amostra destinada à classificação, reduzi-la pelo processo de quarteamento até a

obtenção da amostra de trabalho, ou seja, no mínimo 125g (cento e vinte e cinco

gramas), pesada em balança previamente aferida, anotando-se o peso obtido para

efeito de cálculo dos percentuais de tolerâncias previstos nas Tabelas 1 e 2, do

Capítulo II, deste Regulamento Técnico.

Art. 23. Do restante da amostra destinada à classificação de 1 kg (um quilograma),

deve-se obter ainda pelo processo de quarteamento uma subamostra destinada à

determinação da umidade, da qual se retirará as matérias estranhas e impurezas.

§ 1° O peso da subamostra deverá estar de acordo com as recomendações do

fabricante do equipamento utilizado para verificação da umidade. § 2° Uma vez

verificada a umidade, deve-se anotar o valor encontrado no Laudo e no Certificado

de Classificação.

Art. 24. De posse da amostra de trabalho, deve-se utilizar a peneira de crivos

circulares de 3,0 mm (três milímetros) de diâmetro, executando movimentos

contínuos e uniformes durante 30s (trinta segundos), observando-se os critérios

abaixo:

99

I - as vagens não debulhadas serão consideradas como impureza;

II - a película do grão da soja que ficar retida na peneira não será considerada

impureza;

III - as impurezas e matérias estranhas que ficarem retidas na peneira serão catadas

manualmente, adicionadas e pesadas às que vazarem na peneira e determinado o

seu percentual, anotando-se o valor encontrado no laudo.

Art. 25. Para a determinação dos defeitos, deve-se aferir o peso da amostra isenta

de matérias estranhas e impurezas, anotando o peso obtido no laudo de

classificação, o qual será utilizado posteriormente para o cálculo do percentual de

defeitos.

Parágrafo único.

Posteriormente, deve-se proceder à separação dos grãos avariados (queimados,

ardidos, mofados, fermentados, germinados, danificados, imaturos e chochos),

esverdeados, quebrados, partidos e amassados, observando-se os seguintes

critérios:

I - sempre que houver dúvidas quanto à identificação de algum defeito no grão de

soja, o mesmo deverá ser cortado, no sentido transversal aos cotilédones, na região

afetada;

II - caso o grão apresente mais de um defeito, prevalecerá o defeito mais grave para

efeito de classificação e enquadramento em tipo, considerandose a seguinte escala

de gravidade em ordem decrescente: queimado, ardido, mofado, fermentado,

esverdeado, germinado, danificado, imaturo, chocho, amassado, partido e quebrado;

III - no caso dos grãos danificados, separar os grãos atacados por insetos sugadores

(picados), pesar e encontrar o percentual, dividindo este por 4 (quatro), cujo

resultado deverá ser somado aos percentuais dos outros grãos danificados, caso

ocorram na amostra; somar o percentual de grãos danificados encontrados aos

demais percentuais de grãos avariados, sendo esse somatório utilizado para

posterior enquadramento do produto nas Tabelas 1 e 2, do Capítulo II, deste

Regulamento Técnico, conforme o caso;

IV - pesar os grãos amassados, partidos e quebrados já separados e encontrar o

percentual para enquadramento nas Tabelas 1 e 2, do Capítulo II, deste

Regulamento Técnico, conforme o caso; não considerar como defeito o grão

amassado sem o rompimento do tegumento;

V - pesar os grãos esverdeados e encontrar o percentual para utilização nas Tabelas

1 e 2, do Capítulo II, deste Regulamento Técnico, conforme o caso;

VI - os grãos com mancha púrpura e os grãos com mancha café não serão

considerados como defeitos;

100

VII - pesar todos os defeitos isoladamente e anotar no laudo de classificação o peso

e o percentual encontrado de cada um, fazendo a conversão dos valores pela

fórmula a seguir, sendo seu resultado expresso com 1 (uma) casa decimal: % =

peso do defeito (g) x 100/peso da amostra (g) Art. 26. Proceder ao enquadramento

do produto em Tipo, considerando os percentuais encontrados, conforme a

distribuição dos defeitos e respectivas tolerâncias, contidos nas Tabelas 1 e 2, do

Capítulo II, deste Regulamento Técnico, conforme o caso.

Art. 27. Deve-se enquadrar o produto em função do pior tipo encontrado.

Art. 28. Para determinação da Classe, deve-se aferir o peso da amostra isenta de

defeitos, anotando o peso obtido no laudo de classificação, valor esse que será

utilizado posteriormente para o cálculo do percentual de grãos de outras cores. § 1°

Se a amostra contiver grãos de outras cores diferentes da permitida para a classe

amarela, proceder à separação dos mesmos, pesar e anotar os valores encontrados

no respectivo campo do laudo, fazendo a conversão dos valores pela fórmula:

% = peso de grãos de outras cores (g) x 100/peso da amostra (g) § 2° Verificar se o

percentual encontrado se situa dentro do valor máximo admitido para a Classe

Amarela; caso esse valor seja superior ao admitido para a classe Amarela, a soja

será considerada da Classe Misturada.

Art. 29. Concluída a classificação e caso a soja seja considerada como Fora de Tipo,

Desclassificada ou da Classe Misturada, fazer constar no Laudo e no Certificado de

Classificação os motivos que causaram essas situações, conforme o caso.

Art. 30. Revisar, datar, carimbar e assinar o Laudo e o Certificado de Classificação,

devendo constar, em ambos, obrigatoriamente, o carimbo, o nome do classificador e

o seu número de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Art. 31. Com o objetivo de uniformizar os critérios de classificação, será elaborado

um referencial fotográfico, identificando e caracterizando cada defeito.

CAPÍTULO IV

REQUISITOS DE MARCAÇÃO E ROTULAGEM

Art. 32. A soja pode ser comercializada a granel, ensacada ou empacotada. § 1° As

embalagens utilizadas no acondicionamento da soja podem ser de materiais

naturais, sintéticos ou qualquer outro material apropriado. § 2° As especificações

quanto à confecção e à capacidade das embalagens devem estar de acordo com a

legislação específica vigente.

Art. 33. As especificações de qualidade do produto contidas na marcação ou

rotulagem deverão estar em consonância com o respectivo Certificado de

Classificação. § 1o No caso do produto embalado para a venda direta à alimentação

humana, a marcação ou rotulagem deverá conter as seguintes informações:

101

I - relativas à classificação do produto:

a) grupo;

b) classe, que será obrigatória somente quando a soja for considerada da Classe

Misturada;

c) tipo;

II - relativas ao produto e ao seu responsável:

a) denominação de venda do produto (a palavra "soja" acrescida da marca comercial

do produto);

b) identificação do lote, que será de responsabilidade do interessado;

c) nome empresarial, CNPJ, endereço da empresa embaladora ou do responsável

pelo produto. § 2° No caso do produto a granel destinado à venda direta à

alimentação humana, esse deverá ser identificado e as informações colocadas em

lugar de destaque, contendo no mínimo as seguintes informações:

I - denominação de venda do produto;

II - grupo;

III - classe, que será obrigatória somente quando a soja for considerada da Classe

Misturada;

IV - tipo. § 3° No caso do produto importado, além das exigências contidas nas

alíneas "a", "b" e "c" do inciso I e "b" do inciso II, todos do § 1°, deste artigo, deste

Regulamento Técnico, deverá apresentar, ainda, as seguintes informações:

I - país de origem;

II - nome e endereço do importador. § 4° A marcação ou rotulagem deve ser de fácil

visualização e de difícil remoção, assegurando informações corretas, claras,

precisas, ostensivas e em língua portuguesa, cumprindo com as exigências

previstas na legislação específica vigente. § 5° A informação qualitativa referente ao

Grupo deverá ser grafada com a palavra "Grupo" seguida do algarismo romano e

das expressões "soja destinada ao consumo in natura" ou "Soja destinada a outros

usos", conforme o caso; a Classe deverá ser grafada por extenso, quando for

necessária sua identificação; o Tipo deverá ser grafado com a palavra "Tipo",

seguido do algarismo arábico correspondente ou com a expressão "Padrão Básico",

onde couber; e, quando a soja não se enquadrar em Tipo ou for Desclassificada, a

informação deverá ser grafada coma a expressão "Fora de Tipo", ou "Fora do

Padrão Básico", ou ainda, "Desclassificada", conforme o caso.