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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL REDE DE ESGOTO SANITÁRIO DO BAIRRO DO BENEDITO BENTES GUILHERME BARBOSA LOPES JÚNIOR Trabalho de Conclusão de Curso Orientador: Celso Luiz Piati Neto Co-orientadora: Nélia Henriques Callado Maceió 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

REDE DE ESGOTO SANITÁRIO

DO BAIRRO DO BENEDITO BENTES

GUILHERME BARBOSA LOPES JÚNIOR

Trabalho de Conclusão de Curso

Orientador: Celso Luiz Piati Neto

Co-orientadora: Nélia Henriques Callado

Maceió

2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

REDE DE ESGOTO SANITÁRIO

DO BAIRRO DO BENEDITO BENTES

GUILHERME BARBOSA LOPES JÚNIOR

Orientador: Celso Luiz Piati Neto

Co-orientadora: Nélia Henriques Callado

Maceió

2009

Trabalho de Conclusão de Curso

para a obtenção do título de

Engenheiro Civil pela

Universidade Federal de Alagoas.

GUILHERME BARBOSA LOPES JÚNIOR

REDE DE ESGOTO SANITÁRIO

DO BAIRRO DO BENEDITO BENTES

Aprovado em ___/___/___.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

Prof. MSc. Celso Luiz Piati Neto (Orientador)

______________________________________

Prof. Dr. Marcio Gomes Barboza

______________________________________

Prof. Dr. Marllus Gustavo Ferreira Passos das Neves

Trabalho de Conclusão de Curso

para a obtenção do título de

Engenheiro Civil pela

Universidade Federal de Alagoas.

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Guilherme e Margarida.

Aos meus avôs (in memorian) e minhas avós.

Aos meus irmãos de sangue e de coração.

AGRADECIMENTOS

Esta é, talvez, uma das páginas mais importantes do presente trabalho. Aqui é o

espaço reservado para se prestar as devidas homenagens, mesmo que singelas a todos

aqueles que foram primordiais na sua elaboração, bem como na minha formação final

que me possibilitou escrevê-lo.

Cada página aqui escrita está dedicada primeiramente à família. Apesar da perda

insubstituível deste ano, termino com este último trabalho a jornada incentiva há anos

atrás pelo meu amado avô, Francisco, ao qual devo minha formação, não só como

estudante, mas também como pessoa. Graças a sua dedicação, inspirei-me em seus

passos e ensinamentos, tendo como grande incentivadora a minha avó Alba, com o seu

enorme carinho e amor dando grande força na caminhada.

Não posso jamais esquecer o apoio incondicional e, sem dúvida, imprescindível

dado pelos meus pais, Guilherme e Margarida, cujo apoio, paciência e incentivo, foram

também incentivadores para todo o sucesso durante o curso. Devo salientar que a

escolha inicial, feita no ano de 2004, foi de grande parte graças a essas duas pessoas de

grande fibra, que abriram mão de muitas coisas para dar aos seus quatro filhos tudo que

puderam e que sem eles não seria capaz de chegar aonde cheguei.

Agradeço também aos irmãos. Não só os de sangue: Renata, Roberta, Rodrigo e

Rahy, que deram todo apoio possível, mas também os de coração que estiveram

presentes nos momentos bons e ruins ao longo de todos esses anos. Não vale citar

nomes, que possam gerar ressentimento a outros, mas quem aqui dedicar a leitura saberá

que estou falando dos AMIGÕES, que me foram leais do começo ao fim.

Também não me esqueço dos padrinhos de coração. Meus tios Fábio e

Alexandre as minhas tias Malba e Elza, que foram como pais para mim, dando apoio em

tudo que me foi necessário ao longo da minha vida. E ao meu padrinho de curso o

Professor Roberaldo que desde o segundo ano tem sido mais do que um orientador, mas

um verdadeiro amigo, dando-me apoio em todos os meus passos acadêmicos.

Por fim, mas também de suma importância, os agradecimentos aos meus

orientadores: Prof. Piatti e Profa. Nélia, pelo apoio no trabalho, aos colaboradores:

Prefeito Comunitário Silvanio Barbosa (essencial com as informações sobre o bairro) e

Profa. Ivete (incentivadora dos meus passos no trabalho), e ao pessoal da Secretaria

Municipal de Planejamento, por terem cedido grandes informações sobre o local.

RESUMO

O município de Maceió tem passado por diversas mudanças, sobretudo devido

ao crescimento de sua população, o que passou a influenciar na ampliação dos conjuntos

habitacionais já existentes sem que fossem feitas as devidas ampliações de serviços

públicos como educação, saúde, pavimentação e saneamento básico, entre outros. É

inserido nesse contexto que o presente trabalho se encontra, de maneira a estudar a

situação atual de um bairro da capital alagoana, o Benedito Bentes. Esse estudo consiste

na análise do atual sistema de esgotamento sanitário da região, seguido de alternativas

de solução da provável defasagem por meio de projetos de ampliação e renovação das

redes de esgotos já existentes.

Palavras chaves: esgoto sanitário; Benedito Bentes; rede coletora.

ABSTRACT

The city of Maceió has passed for some changes, especially because the

increasing of your population, what has caused an expanding of the housing complexes

that already exist with no rising of public services such as education, health, paves and

sanitation, among others. It is in this context that the project is purpose, to study the

nowadays situation of an area of the capital of Alagoas, the Benedito Bentes. This study

consist to analyze the system of sanitation sewers of the region, followed by alternatives

to fit the actual system through rising projects and changing the waste water networks

that exist in the area.

Key-words: sewage treatment plant; Benedito Bentes; collector net.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

1.1. Considerações iniciais ...................................................................................... 11

1.2. Objetivos .......................................................................................................... 16

1.2.1. Geral ......................................................................................................... 16

1.2.2. Específicos ................................................................................................ 17

2. METODOLOGIA E REFERENCIAL TEÓRICO ................................................. 18

2.1. Projetos existentes e levantamento de dados ................................................... 18

2.1.1. Projetos existentes .................................................................................... 18

2.1.2. Informações locais .................................................................................... 19

2.1.3. Dados populacionais ................................................................................ 20

2.2. Considerações do projeto atual ........................................................................ 25

2.2.1. População e equipamentos não residenciais............................................ 25

2.2.2. Consumo per capita e contribuições ........................................................ 26

2.2.3. Concepção da rede de esgoto atual .......................................................... 28

2.2.4. Caracterização da área ............................................................................ 32

2.3. Projeção populacional ...................................................................................... 33

2.3.1. Modelos clássicos para projeção populacional ....................................... 33

2.3.2. Calibração para os modelos propostos .................................................... 40

2.3.3. Análises estatísticas .................................................................................. 43

2.3.4. Análise gráfica .......................................................................................... 46

2.4. Dimensionamento da rede coletora complementar .......................................... 46

2.4.1. Lançamento da rede ................................................................................. 47

2.4.2. Fatores intervenientes nas vazões de esgoto ............................................ 48

2.4.3. Vazões de esgoto ....................................................................................... 54

2.4.4. Tipos declividades .................................................................................... 56

2.4.5. Recobrimento mínimo ............................................................................... 58

2.4.6. Declividade adotada ................................................................................. 58

2.4.7. Diâmetro adotado ..................................................................................... 60

2.4.8. Cotas dos coletores ................................................................................... 61

2.4.9. Profundidade dos coletores ...................................................................... 62

2.4.10. Órgãos acessórios ................................................................................. 62

2.4.11. Verificação da rede ............................................................................... 64

2.5. Análise das Estações Elevatórias ..................................................................... 66

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................. 67

3.1. Benedito Bentes ............................................................................................... 67

3.2. População ......................................................................................................... 69

3.3. Comércio e outros equipamentos ..................................................................... 72

3.4. Esgotamento Sanitário ..................................................................................... 76

3.5. Clima ................................................................................................................ 78

3.5.1. Precipitações ............................................................................................ 79

3.5.2. Umidade ................................................................................................... 82

3.5.3. Temperatura ............................................................................................. 83

3.6. Geologia, solo e topografia .............................................................................. 84

3.6.1. Geologia e solo ......................................................................................... 84

3.6.2. Topografia ................................................................................................ 87

4. ANÁLISE DO SISTEMA DE ESGOTO DO BAIRRO ........................................ 89

4.1. Rede atual ........................................................................................................ 89

4.2. ETE local ......................................................................................................... 93

4.2.1. Tecnologias de tratamento ....................................................................... 95

4.2.2. Instalações projetadas .............................................................................. 99

4.2.3. Características finais dos efluentes ........................................................ 102

4.3. Comentários e observações ............................................................................ 104

4.3.1. Projeto atual ........................................................................................... 104

4.3.2. Situação atual ......................................................................................... 109

5. POPULAÇÃO DE PROJETO .............................................................................. 113

5.1.1. Modelos calibrados ................................................................................ 113

5.1.2. Projeção populacional ........................................................................... 116

6. REDE COLETORA COMPLEMENTAR ........................................................... 119

6.1. Área A ............................................................................................................ 119

6.2. Área B ............................................................................................................ 120

6.3. Área C ............................................................................................................ 121

6.4. Área D ............................................................................................................ 122

6.5. Área E ............................................................................................................ 122

6.6. Área F ............................................................................................................ 123

6.7. Área G ............................................................................................................ 124

6.8. Área H ............................................................................................................ 124

6.9. Área I ............................................................................................................. 125

6.10. Área J.......................................................................................................... 126

7. MATERIAL EMPREGADO ................................................................................ 127

8. DADOS DE ENTRADA DAS ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS ........................... 130

9. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................ 132

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 133

APÊNDICE DIGITAL ................................................................................................. 136

ANEXO DIGITAL ....................................................................................................... 137

11

1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações iniciais

Nos últimos anos, o município de Maceió tem evidenciado um crescimento

populacional acelerado, baseado em estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (2009), que acarreta em uma ampliação desordenada do número de

residências em aglomerados urbanos espalhados por toda a capital. Em geral, esses

aglomerados são conjuntos habitacionais de grande porte que ao aumentarem a sua

população, tendem a sofrer com problemas sérios de abastecimento de água e,

sobretudo, esgotamento sanitário.

Na figura 1.1 a seguir, tem-se a evolução da população do município de Maceió,

segundo infográfico digital do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009).

Figura 1.1: evolução populacional de Maceió/AL.

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2009)

12

Em casos como estes, os resíduos gerados passam a ser lançados ao meio

ambiente de maneira incorreta e indevida devido a não concomitância do crescimento

dos sistemas de saneamento públicos. Seja por lançamento direto em corpos d’água seja

por disposição indevida no solo, os efluentes sanitários geram riscos não somente de

saúde, mas também sociais incalculáveis. No primeiro caso, a contaminação de rios e

lagoas gera mortandade da vida aquática presente pelo processo de eutrofização, bem

como outros impactos ambientais sérios devido à diminuição do oxigênio dissolvido e o

aumento de sedimentos nos corpos d’água. Já no segundo caso, a contaminação do solo

pode gerar, dentre outros problemas, contaminação dos lençóis subterrâneos, que

abastecem parte da população maceioense.

Por isso, torna-se de suma importância fazer a destinação correta dos efluentes

domésticos, através de redes de esgotos que destinem as suas vazões a estações de

tratamento capazes de tratar eficazmente esses tipos de resíduos.

Segundo estudos sobre a estimativa de mortes causadas por questões de

saneamento, higiene e água no mundo (PRÜSS ET AL., 2002), uma das causas levadas

em consideração no estudo foi o contato direto e indireto da população com águas

contendo micro-organismos patogênicos, tendo sido o contato indireto relacionado com

a transmissão através de proliferação vetores. Do estudo, pode-se concluir que em casos

onde a população não é assistida por saneamento básico, incluindo a destinação correta

dos efluentes, o risco de contaminação através de patogênicos por via oral é muito alto,

citando também o alto risco de mortalidade envolvida, sobretudo em crianças.

Em casos onde há a destinação correta, mas de abrangência incompleta, o risco é

amortizado, mas continua em índices altos, sobretudo pela contaminação indireta. Essa

conclusão também foi relatada por Esrey et al. (1996, apud NASCIMENTO 2004). De

acordo com World Bank (1992, apud ESREY et al., 1990, apud NASCIMENTO, 2004),

as melhorias nas condições de saneamento resultam numa redução de mais de 20% em

casos de doenças de veiculação hídrica, do solo ou através de vetores, podendo chegar a

mais de 70% para casos de esquistossomose, amplamente evidenciados em núcleos

populacionais de média e baixa renda.

Outra pesquisa realizada no Chile (BRAKARZ ET AL., 2002, apud

NASCIMENTO, 2004) apontou que a redução foi de 50%, tendo ainda sido relatado por

entidades de saúde dos locais pesquisados que infecções cutâneas e estomacais

deixaram de ser motivos principais de consulta, sendo substituídas por problemas

13

respiratórios, doenças crônicas e acidentes, evidenciando a estreita ligação dos fatores

mencionados.

Na figura 1.2, tem-se um gráfico com índice de contaminação em relação às

condições de saneamento básico (PRÜSS ET AL., 2002). Conclui-se que além desses

fatores, é levada em conta na pesquisa a questão da higiene. No entanto, ressalta-se que

a higiene está diretamente ligada com os hábitos das populações em questão e,

comprometida, no caso de precariedade em serviços de saneamento.

Nota-se também que nesta pesquisa, mesmo em condições muito boas o risco

ainda não se torna zero, isso porque ainda devem ser consideradas algumas outras

questões que não foram alvo do trabalho como serviços de limpeza pública, manutenção

dos sistemas já instalados ou cuidados de armazenamento pela população.

Figura 1.2: risco de contaminação devido a fatores de saneamento básico.

(PRÜSS ET AL., 2002)

Ainda nesse contexto, segundo a Agência Nacional das Águas (2004), os fatores

de degradação da qualidade da água estão diretamente ligados à poluição resultante do

lançamento de esgotos sanitários em corpos d’água. Ainda conforme o que foi relatado

por esta agência, um esgotamento sanitário eficaz possibilita, dentre outras coisas,

redução das doenças relacionadas com água contaminada e consequentemente os

Muito Alto

Muito Alto Muito Alto

Alto

Médio

Baixo

Muito baixo

Sem água tartada, sem

saneamento

Sem água tratada,

com saneamento

Com água tratada,

sem saneamento

Com água tratada,

com saneamento, sem

total abrangência

Com água tratada,

com saneamento, com

total abrangência, sem

controle de qualidade

de água

Com água tratada,

com saneamento, com

total abrangência e

controle da qualidade

de água

Com água tratada,

com saneamento, com

total abrangência,

controle da qualidade

de água e hábitos

higiênicos

14

recursos destinados ao tratamento dessas doenças, além de impedir a proliferação de

vetores, confirmando a afirmativa proposta por Prüss et al. (2002).

De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (2006), o incorreto tratamento e

destinação dos esgotos sanitários provocam redução da capacidade produtiva da

população, gastos evitáveis com tratamento de doenças e diminuição da expectativa de

vida de uma região. No fragmento abaixo o órgão do ministério da saúde deixa clara a

relevância do saneamento com a capacidade produtiva da população e,

consequentemente, com a economia em geral.

A ocorrência de doenças, principalmente as doenças infecciosas e

parasitárias ocasionadas pela falta de condições adequadas de destino dos

dejetos, podem levar o homem a inatividade ou reduzir sua potencialidade

para o trabalho. (FUNASA, 2006).

Com isso, além do fator de saúde, ainda há estudos que contemplam a melhora

econômica ligada aos investimentos em saneamento. Essa melhora, direta ou indireta,

foi descrita por Hiratuka et al. (2009) por uma pesquisa que levou em conta o avanço

econômico gerado por investimentos na área durante e após as obras de implantação de

sistemas de saneamento básico.

O avanço citado é referente à movimentação econômica nas diversas áreas

envolvidas no processo de construção civil, por exemplo, mão de obra, aluguéis de

máquinas, produtos em geral, dentre outros; assim como a melhoria das condições

locais onde obra se insere propiciando desenvolvimento do comércio em geral, além de

favorecer um aumento significativo nos salários da região, principalmente da mão de

obra envolvida no processo, já que a maioria das empresas que participam da execução

de projetos de saneamento é estatal ou mista, com parceria de uma estatal com uma

empresa privada, segundo Hiratuka et al. (2009).

Ainda nesse contexto, “cada dólar aplicado em saneamento representa uma

economia de cerca de quatro dólares em medicina curativa”, de acordo com a

Organização Mundial de Saúde (apud AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS, 2004).

Já segundo Martins et al. (2002, apud NASCIMENTO, 2004) é relatado que a cada US$

2,26 gastos em saneamento, são economizados US$ 2,63 em gastos com a saúde para

prevenção de doenças intestinais e helmintíases (principais doenças relacionadas com a

15

falta de saneamento básico), em pesquisa realizada em 1997 no município de

Itapetininga em São Paulo.

Portanto o esgotamento sanitário de uma região quando bem sucedido e com boa

manutenção ainda representa grande importância na área econômica. De acordo com

informações divulgadas no website da Secretaria do Estado do Desenvolvimento

Econômico Sustentável, o esgoto sanitário ainda é importante para melhoria da

produtividade, aumento da vida média da população, implantação e desenvolvimento de

atividades econômicas locais e dentre outros motivos.

Baseado em declarações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (2008, apud HIRATUKA ET AL., 2009), estão previstos investimentos para a

área de saneamento na ordem de R$ 48 bilhões, entre os anos de 2008 e 2011. Referente

às declarações citadas:

A realização de R$ 48 bilhões em investimentos poderá gerar mais de R$ 80

bilhões no aumento do valor da produção e cerca de metade deste valor sob a

forma de aumento do valor agregado. Desta variação esperada no PIB,

destaca-se o acréscimo sobre as remunerações, tanto de salários (39% da

variação do PIB), quanto de excedente operacional bruto (44%).

(HIRATUKA ET AL., 2009).

Com relação à capital do estado de Alagoas, esta conta com apenas duas

Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), uma localizada no bairro Pontal da Barra de

onde parte o emissário submarino e recebe parte do esgoto coletado em Maceió; e outra

no Benedito Bentes, a qual só tem capacidade para atender parte da população desse

bairro.

Assim, a maior parte da rede de esgoto de Maceió é destinada ao emissário

submarino, outra é conduzida à ETE do Benedito Bentes e uma parte nem mesmo

possui um destino adequado sendo lançado em corpos d’água espalhados por Maceió.

Dessa forma, esse trabalho visa avaliar o sistema de esgotamento sanitário

existente no bairro do Benedito Bentes e verificar se o mesmo atende às atuais

necessidades da população residente no mesmo, apontando as principais deficiências e

novas propostas para a melhoria do sistema.

Para tanto, faz-se necessário analisar a população atual do bairro, para compará-

la com a população prevista no projeto inicial elaborado em 1982. Essa análise indica,

16

mesmo que inicialmente, a quantidade de habitantes não atendidos pelo sistema, bem

como demonstra a abrangência restrita do projeto atual.

Mesmo assim, para se ter resultados quantitativos mais confiáveis, ainda se

fazem necessárias observações das áreas atendidas, para saber através da amplitude

espacial do projeto atual, onde permite estimar uma população aproximada que não

possui o atendimento da rede. Essa população é o foco principal a ser alcançado com a

ampliação da rede, já que é ela a responsável pela destinação imprópria dos seus

efluentes.

Outra ressalva importante é com relação à Estação de Tratamento de Esgotos

(ETE) do local, pois é preciso avaliar a sua capacidade hidráulica, indicando se a rede

ampliada pode ou não ser destinada a ela. Nessa avaliação, como será observado,

contata-se que a ETE não possui capacidade para suportar a nova vazão de chegada,

necessitando de uma ampliação ou de uma nova estação para auxiliar a atual, garantindo

o correto tratamento dos efluentes.

Como também é evidenciado, os custos envolvidos, apesar de elevados,

acarretariam em melhoras significativas na região, além de que ele representa um

investimento inicial altamente válido, já que evitaria gastos futuros com reparos aos

impactos ambientais, desenvolveria economicamente e socialmente a região e garantia

melhores condições da saúde local, como já foi discutido anteriormente.

Isso visa acarretar mudanças significativas na região, tanto no âmbito social,

quanto no da saúde. Essa melhoria acarretaria no aumento dos índices sociais,

econômicos e de saúde maceioenses de maneira relevante, visto que a população do

bairro representa parcela significativa da população da capital alagoana.

1.2. Objetivos

1.2.1. Geral

O trabalho tem por objetivo avaliar o sistema de esgotamento sanitário existente

no bairro do Benedito Bentes, em Maceió/AL, verificando se o mesmo atende às

necessidades atuais da população residente.

17

1.2.2. Específicos

Avaliar o crescimento da população atual do bairro e compará-la com a população

prevista para o alcance do projeto original.

Analisar a rede de esgotos existente de Benedito Bentes que cobre o bairro e propor

uma ampliação para ela por meio de uma rede complementar que venha a convergir

para o sistema atual.

Verificar se a capacidade da ETE existente atende a vazão atual ou se há

necessidade de ampliação, ou de se construir outra estação. O trabalho, no entanto,

não visa analisar se a concepção adotada para a ETE existente é adequada à

realidade local, mas apenas aferir a sua capacidade hidráulica, visto que para isso

seria necessário abordar questões mais amplas de tratamento de águas residuárias.

18

2. METODOLOGIA E REFERENCIAL TEÓRICO

No presente item, busca-se apresentar a metodologia básica utilizada para a

formulação do presente trabalho, seja nas etapas de análise seja nas etapas de

dimensionamento.

Este espaço também será aproveitado para citar os procedimentos tomados que

resultaram na obtenção do projeto, dados e conjunto de informações sobre o sistema de

esgoto atual do bairro do Benedito Bentes. Além disso, serão apresentados adiante os

coeficientes considerados em conjunto com a metodologia empregada no cálculo da

rede de esgoto complementar.

2.1. Projetos existentes e levantamento de dados

Um grande obstáculo a ser vencido em todo trabalho com um estudo prévio de

caso e posterior projeto complementar é a obtenção de dados, informações e, sobretudo,

dos projetos já existentes.

O presente trabalho, assim, necessitou de bases para a elaboração da

caracterização da área, análise do sistema atual e para a projeção populacional,

indispensável para o dimensionamento da rede complementar.

2.1.1. Projetos existentes

O projeto atual do bairro do Benedito Bentes foi elaborado em abril de 1982 pela

empresa Projeto e Obras de Engenharia Civil Ltda. (PROEC) sendo aprovado pela

Coordenação de Meio ambiente do estado de Alagoas em dezembro do mesmo ano e

pela Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL) em 15 de abril de 1983.

A execução da obra foi de responsabilidade da firma Master Incosa Engenharia

S. A., tendo sido contratada pela Companhia de Habitação de Alagoas (COHAB-AL)

que foi a responsável pela construção do conjunto habitacional do Benedito Bentes. A

obra foi prevista em três etapas, onde ao final iria contemplar todo o conjunto

habitacional. Na figura 2.1 está uma fotografia do planejamento do projeto.

19

Figura 2.1: fotografia do planejamento do projeto.

Os projetos estão na atualidade arquivados pela CASAL. Como todo projeto da

companhia foi necessário uma autorização para se ter acesso ao conjunto de projetos,

sendo requerida a cópia das pranchas diante do pagamento da taxa de plotagem.

Devido a idade do projeto, ele originalmente foi concebido em papel manteiga,

muito frágil, o que compromete a qualidade de algumas pranchas e que possivelmente

seja este o motivo para a ausência da maioria dos detalhamentos.

Além das plantas da rede de esgoto existente no bairro, pôde-se ter acesso ao

memorial descritivo do projeto. O memorial é indispensável para a análise do projeto

existente, já que nele estão especificadas todas as considerações do projetista, bem

como as eventuais mudanças realizadas antes da execução.

2.1.2. Informações locais

Para uma correta localização do bairro são necessárias algumas informações

cruciais para a caracterização da área em estudo. Assim é preciso dados sobre: histórico,

localização, população, saneamento, clima, topografia, geologia e entre outros. Cada

tipo de informação pode ser obtido através de estudos já realizados no local ou de

órgãos públicos e comunitários que possuam levantamentos no mesmo.

20

A localização do bairro pôde ser obtida através de dados da Secretaria Municipal

de Planejamento que forneceram, além das informações provenientes de levantamentos

realizados no local, as plantas digitais da região, constando as ruas existentes e as curvas

de nível do local.

Com relação aos dados climáticos, as informações partiram do Instituto Nacional

de Meteorologia (INMET) que disponibiliza dados de suas estações meteorológicas.

Observando a localização do bairro pôde-se constatar a proximidade com a estação de

Maceió, sendo assim, os dados da estação refletem muito bem a região em análise.

Já as informações relacionadas com o saneamento básico do bairro e a ligação

do mesmo com o restante de Maceió partiram de relatórios e do plano diretor da

Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL).

Com relação a levantamentos geológicos e históricos do bairro foram levadas em

consideração as pesquisas realizadas por pesquisadores locais e publicadas em livros,

websites e trabalhos acadêmicos. Esse tipo de levantamento exigiu uma revisão

bibliográfica a fim de garantir que as informações fossem as mais precisas possíveis.

Quanto a dados populacionais e outras informações do bairro, como exemplo a

situação de saneamento básico atual, foi realizada uma entrevista com o Prefeito

Comunitário do bairro, Silvânio Barbosa, que comanda as atividades comunitárias no

local. O referido prefeito reside no bairro praticamente desde a sua criação e ajudou a

fundar a prefeitura comunitária que realiza levantamentos dos órgãos públicos e

privados do local, populacionais, assim como registra as obras de melhoria de

infraestrutura realizadas no bairro.

Apesar de demandar certo tempo, esses levantamentos foram imprescindíveis

para a realização do trabalho, pois eles servem de base para as discussões e o

dimensionamento a serem detalhados.

2.1.3. Dados populacionais

Os dados populacionais representam a contagem da população residente em um

determinado bairro, seja esta contagem oficial ou não. Obviamente, há uma larga

diferença entre esses dois tipos de dados, não só com relação à metodologia empregada

na contagem, mas também o que é considerado na contagem.

21

A região em questão é dotada de inúmeras particularidades com relação à

população contabilizada, não só em observância no número de habitantes, mas também

no período. Isso porque o bairro só foi criado em 2001 e por isso não há dados oficiais

do local, já que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somente faz a

contagem de bairros. Até mesmo os levantamentos não oficiais da prefeitura

comunitária local são escassos, isso porque eles também acompanham a data de criação

do bairro.

Quanto ao outro problema, o do número de habitantes, os dados do IBGE ainda

possuem um agravante quanto ao levantamento feito. O referido instituto faz um

levantamento populacional superficial em alguns bairros como o Benedito Bentes,

devido ao fato de que algumas áreas do bairro apresentam grande risco de segurança,

inviabilizando a ação dos recenseadores. Assim, algumas contagens são feitas

estimando-se um número fixo de moradores (05, cinco) para cada residência cadastrada

na prefeitura da cidade.

Isso gera uma grande defasagem com relação ao número real do bairro pelos

seguintes motivos:

O número real de moradores, na maioria das vezes, ultrapassa os cinco

habitantes propostos, de acordo com Alves (2006);

A quantidade de residências são bem superiores às apresentadas, além de que

muitas, cadastradas recentemente, não são inseridas no levantamento. Apesar de

que as residências não oficiais não deveriam contribuir com os seus esgotos (por

razões legais com relação às taxas recolhidas pelos órgãos públicos), na prática

essa ligação é feita, mesmo que clandestina, portanto é de bom senso que ela

seja considerada;

Ainda há os moradores das grotas que devem ser inseridos na contagem, já que

também colaborarão com seus esgotos;

As favelas remanejadas que a curto e médio prazo tendem a ser inseridas no

bairro por programas sociais, o que demanda a inclusão parcial dessa parcela da

população na contagem da população do bairro;

E, obviamente, ainda deve ser levado em conta que boa parcela da população do

bairro trabalha ao longo de todo o dia, segundo informações da prefeitura

comunitária do Benedito Bentes, o que interfere nos resultados do

22

recenseamento, já que essa parcela da população não passa pelo sistema de

questionários de levantamento populacional do IBGE.

Por isso se torna essencial conhecer dados que representem valores mais

realistas para a população do bairro, a fim de garantir uma análise mais precisa que

resultará em resultados mais palpáveis.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000 e 2007), a

população do Benedito Bentes está apresentada abaixo, na tabela 2.1.

Tabela 2.1: dados populacionais do Benedito Bentes

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007)

Ano População

2000 67.923

2007 78.602

Já segundo os dados da prefeitura comunitária do bairro, tem-se alguns valores

bem distintos, alcançados em suas contagens e levantamentos. Na tabela 2.2 constam os

valores indicados pela prefeitura comunitária.

Tabela 2.2: dados populacionais do Benedito Bentes

(PREFEITURA COMUNITÁRIA DO COMPLEXO BENEDITO BENTES, [2008?])

Ano População

2006 127.000

2009 143.000

2010* 158.000

* Valores previstos com a implantação dos novos conjuntos.

Os valores indicados para 2010 são baseados nos habitantes que serão

introduzidos no bairro através de programas sociais do governo (minha casa, minha

23

vida) e de remanejamento de outras áreas, sobretudo favelas da periferia de Maceió, da

região lagunar e de vilas de pescadores.

Conforme descrito por Alves (2006), ainda podem ser levantados mais alguns

dados. Segundo a autora, em 1986 foram implementados os conjuntos habitacionais do

Benedito Bentes I e II, enquanto que em 1988 foi integrado na região o complexo

habitacional Cachoeira do Mirim. Assim, em 1986 eram ao todo 6.232 famílias

residindo no local, enquanto que em 1988 já eram 10.760. Em 1990 foi criado o

conjunto Moacir Andrade com 800 residências unifamiliares. Observando o Anexo I

(ALVES, 2006), ainda foram acrescentadas de 1991 até 1995 mais seis conjuntos,

totalizando 5805 habitantes. Unindo com dados da prefeitura comunitária que registrou

no período de 2001 a 2004 cerca de nove outros conjuntos habitacionais, totalizando

3000 unidades. Ainda foi registrado o surgimento de residências nas grotas, totalizando

cerca de 5000 famílias, as quais não foram computadas.

Assim teremos o seguinte levantamento populacional, unindo as informações

propostas pela prefeitura comunitária, pelo IBGE e por Alves (2006) colocado na tabela

2.3 seguinte.

Tabela 2.3: população do Benedito Bentes

Ano População

1986 23.807

1988 41.104

1990 51.200

1995 57.005

2000 67.923

2004 79.393

2006 127.000

2009 143.000

2010 158.000*

* Valores previstos com a implantação dos novos conjuntos.

As informações da tabela 2.3 reúnem os dados dos levantamentos censitários

feitos pela prefeitura comunitária e por Alves (2006), distribuídos ao longo dos anos:

em cada ano respectivo, têm-se os conjuntos que ingressaram no bairro e a respectiva

população que inicial; em cada ano subsequente eram somadas as populações dos novos

24

conjuntos que tinham sido criados naquele ano com a população que era evidenciada

nos outros conjuntos no mesmo ano.

Além dos conjuntos registrados, muitas outras unidades habitacionais foram

criadas ao longo dos anos, sobretudo os criados após o ano de 2000, quando os

programas sociais do governo federal se intensificaram.

A população das grotas, parcela representativa da população, não foi inserida

como dado até o ano de 2004, tendo sido considerada nos últimos levantamentos da

prefeitura comunitária do Benedito Bentes.

Com isso, pode-se observar o crescimento da população do bairro mais

detalhadamente. Ao se analisar graficamente esses dados teríamos o proposto na figura

2.2.

Figura 2.2: evolução populacional do Benedito Bentes.

Como pode ser observado os valores das populações são muito distintos e que a

população prevista pelo IBGE segue aproximadamente um padrão de uma reta.

Outra observação importante a ser feita é que a população do bairro só aumentou

cerca de 10000 habitantes em sete anos, levantando dúvidas sobre os seus dados, já que

nos últimos anos o bairro se expandiu territorialmente (como pode ser visto no Anexo

Digital I proposto por ALVES, 2006) e, consequentemente, a sua população também

sofreu aumentos significativos.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.000

1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

Po

pu

laçã

o

Ano

25

Isso reforça ainda mais os pressupostos abordados, de que os dados fornecidos

pela prefeitura comunitária possuem uma confiabilidade mais ampla, além de garantir

certa segurança com relação ao bom dimensionamento da rede.

2.2. Considerações do projeto atual

2.2.1. População e equipamentos não residenciais

No projeto original foram previstas as escolas, templos religiosos, recreativos,

comerciais e dentre outros. Na tabela 2.4 constam os números de equipamentos não

residenciais evidenciados no local, segundo levantamentos da prefeitura comunitária do

complexo Benedito Bentes realizados em meados de 2008.

Tabela 2.4: equipamentos não residenciais do projeto atual.

(PREFEITURA COMUNITÁRIA DO COMPLEXO BENEDITO BENTES, [2008?])

Equipamentos Comunitários Observação

Escolas de 1º grau 7 escolas

Escolas de 2º grau 3 escolas

Equipamentos religiosos 3 templos

Espaços recreativos 1 clube social

Estabelecimentos comerciais 1 mercado público

Postos de saúde 1 posto de saúde

Equipamentos de segurança 1 posto policial

Nota-se a defasagem total destes números com os atuais. Segundo a prefeitura

comunitária, o bairro atualmente conta uma infraestrutura comunitária bem mais ampla,

decorrente a ampliação da população local, sobretudo no que diz respeito ao comércio.

Na tabela 2.5 estão os números propostos pela prefeitura comunitária.

26

Tabela 2.5: equipamentos não residenciais atuais do bairro

(PREFEITURA COMUNITÁRIA DO COMPLEXO BENEDITO BENTES, [2008?])

Equipamentos Número

Escolas 58

Comércio 397

Associações 35

Equipamentos Religiosos 10

Bibliotecas 02

Outra consideração desse aspecto é que esses equipamentos comunitários não

influenciaram no dimensionamento da rede. Como citado por Libânio et al. (2006), as

contribuições comerciais e públicas geram parcelas relevantes de vazões, no entanto

para o bairro do Benedito Bentes, as contribuições desses equipamentos são pouco

significativas, porque esses equipamentos são de pequeno porte, não possuindo grande

significância e, portanto, podendo ser desprezadas.

A população também foi pouco discutida na elaboração do projeto, conforme o

que foi apresentado no relatório da Companhia de Saneamento de Alagoas (1984),

referente ao memorial descritivo do projeto. Conforme o apresentado pelo relatório a

população foi contabilizada pelo número de unidades habitacionais do conjunto

habitacional, considerando-se que em cada unidade haveria 05 habitantes a residirem lá.

Com isso, se o conjunto foi criado para atender 10.043 unidades habitacionais, então a

população considerada foi de 50.215 habitantes.

Vale destacar que nenhum estudo de população de projeto foi elaborado, pois

como a princípio o conjunto não seria ampliado, considerou-se como população de

projeto a própria população inicial do conjunto. Isso implica que mesmo observando os

dados oficiais minorados, como será abordado mais adiante, ainda existe uma

defasagem de quase 28.000 habitantes sem o serviço de esgoto sanitário.

2.2.2. Consumo per capita e contribuições

A defasagem ocasionada pela não consideração dos equipamentos não

residenciais foi amenizada pelas outras considerações de projeto. A taxa de consumo

27

per capita, por exemplo, foi de 250 l/hab./dia, sendo reduzida numa própria revisão do

projeto para 200 l/hab./dia. Mesmo assim, essa taxa é muito alta, sendo inviável o seu

uso em projetos atuais. Como se sabe, o consumo de água e, consequentemente, a

geração de efluentes está diretamente ligada à renda familiar, porte do local, clima e

dentre outros aspectos.

Em famílias de baixa renda, inseridas numa população oficial de 78.000

habitantes, que é o caso do Benedito Bentes, a taxa de consumo está em torno de 150

l/hab/dia, de acordo com Libânio et al. (2006). A discussão sobre a taxa de consumo per

capita será abordada mais a frente na determinação das vazões de efluentes.

Quanto às contribuições consideradas, elas foram provenientes de duas

vertentes, uma referente às vazões domésticas e outra com relação às infiltrações na

rede.

As vazões domésticas foram calculadas a partir da vazão de abastecimento,

incluindo os coeficientes de máximo horário e diário. Portanto a vazão de efluentes é

calculada multiplicando-se a de abastecimento pelo coeficiente de retorno. O coeficiente

de retorno representa a taxa de abastecimento que se torna efluentes, já que parte da

água de abastecimento é utilizada para outros fins, o que será discutido posteriormente.

O coeficiente de retorno utilizado é o mesmo recomendado pela Associação Brasileira

de Normas Técnicas (1986) e pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo (2006), ou seja, de 0,8.

Já com relação à taxa de infiltração, foi adotada uma taxa de 0,1 l/s/km de

coletor, que é uma taxa inferior ao recomendado pela norma da época PNB 67, de

acordo com o próprio memorial descritivo do projeto atual. O projetista, no entanto,

justifica a escolha pelo fato do terreno ser plano e seco, além do solo local ser

constituído de material areno-argiloso e o lençol freático estar a uma grande

profundidade.

Apesar de ser uma taxa adequada, como será visto mais adiante, a justificativa

não é válida, já que a infiltração pode ser proveniente da própria percolação da água

pelo solo, antes mesmo de chegar ao lençol freático. Portanto, mesmo acertando a taxa

de infiltração com um valor bastante adequado, para adotar algo fora da norma é sempre

necessário fazer testes e medições na região em questão, o que não foi feito para o

projeto atual segundo o que foi especificado pela Companhia de Saneamento de

Alagoas (1984).

28

2.2.3. Concepção da rede de esgoto atual

A concepção da rede incorpora alguns aspectos relativos aos materiais das

tubulações da rede e dos diâmetros dos ramais, assim como vazões mínimas e limites de

velocidade. Também é considerado o recobrimento dos coletores e as distâncias entre os

órgãos acessórios.

a) Ramais prediais

Um ramal predial é uma tubulação que lança à rede coletora os efluentes

domésticos de uma residência, prédio, comércio ou indústria. Essa tubulação, segundo a

determinação do memorial descritivo apresentado pela Companhia de Saneamento de

Alagoas (1984) deveria ser feito de tubos cerâmicos ou de policloreto de vinila (PVC).

Quanto ao diâmetro, ficou explícita a recomendação da utilização de diâmetros

de 100 mm, com uma declividade mínima de 2%, para casas, enquanto que para prédios

deveria ser utilizado um diâmetro de 150 mm com uma declividade mínima de 1%.

Essas recomendações ainda são bastante comuns, a Companhia de Saneamento

Básico do Estado de São Paulo (2005), por exemplo, recomenda um diâmetro mínimo

de 100 mm e uma declividade 2%, para residências unifamiliares, sendo recomendado

mais de 2% para comércios e residências plurifamiliares. Para outros casos existem

outras restrições de declividade a partir do diâmetro e fórmulas para o cálculo dos

diâmetros.

b) Tipos de tubulações

A fim de garantir um fornecimento adequado de seus materiais, o memorial

descritivo apresentado especifica o tipo de material a ser utilizado para as tubulações a

partir do diâmetro estabelecido. No entanto, o memorial descritivo apenas sugere a

utilização desses materiais sem pré-estabelecer seu uso em trechos específicos onde eles

devem ser utilizados.

Conforme apresentado o material a ser executado deveria seguir a seguinte

especificação da tabela 2.6.

29

Tabela 2.6: especificação do material a partir do diâmetro.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Diâmetro (mm) Material Empregado

Até 150 PVC ou Cerâmica de Barro

De 200 a 300 Cerâmica de Barro

Maior que 400 Concreto

Como pode ser verificada, a cerâmica de barro foi largamente utilizada. No

entanto, atualmente seria preferível a utilização de PVC, cobrindo quase toda a rede que

possui um diâmetro inferior a 400 mm, já que este material facilita e acelera a execução.

c) Vazão mínima

Segundo a Companhia de Saneamento de Alagoas (1984), a vazão mínima do

memorial descritivo recomendada é de 2,2 l/s nos trechos iniciais dos coletores. Isso

representa uma grande disparidade tanto com a realidade como com as normas vigentes.

Considerando essa vazão mínima nos trechos iniciais, nos trechos em sequência

tem-se um acúmulo dessas vazões, por exemplo: se em um coletor for colocado dois

trechos iniciais, nele a vazão mínima seria de 4,4 l/s. Entretanto, apesar de relatar essa

consideração, observando as tabelas de dimensionamento do memorial observa-se que

foi levada em conta uma vazão mínima de 2,2 l/s em qualquer trecho, ou seja,

calcularam-se as vazões e em seguida os valores inferiores a esta vazão foram

substituídos por ele para o dimensionamento, conforme recomendado pelas normas

atuais.

Mesmo assim, as normas atuais ainda recomendam um valor menos do que o

apresentado. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) e com

a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) a vazão mínima em

qualquer trecho deve ser de 1,5 l/s.

d) Limites de velocidade

Foram fixados valores de velocidade no intervalo de 0,5 e 4,0 m/s, sob a

justificativa de possibilitar a auto limpeza e evitar a abrasão nos coletores. Atualmente,

30

no entanto existem outros limites, ambos controlados pela declividade, ou seja,

restringi-se a declividade a valores máximos e mínimos, garantindo assim as

velocidades pré-determinadas.

Referente ao recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

(1986) e pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) a

velocidade máxima deve ser de 5,0 m/s a fim de evitar o fenômeno de abrasão, sendo

essa velocidade controlada por uma declividade máxima.

Já a auto limpeza dos condutos tem sido regulada através do critério da tensão

trativa mínima, limitada em 1,0 Pa. No entanto, o antigo Departamento de Água e

Energia (DAE) de São Paulo fazia limitações de velocidade mínima e segundo Araújo

(2007a) esses valores estariam entre 0,2 m/s e 0,6 m/s, a depender do diâmetro do

trecho.

e) Diâmetro mínimo

Quanto ao diâmetro mínimo a ser adotado para a rede de esgotos, o manual

descritivo refere-se a um valor de 150 mm. Esse valor é amplamente discutido

atualmente pelos órgãos elaboradores de normas no Brasil.

Partindo das referências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986),

tem-se como valor mínimo o diâmetro nominal de 100 mm. Contudo observando as

prescrições da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) ela

refere-se ao mesmo valor adotado como mínimo para o projeto atual.

Isso entra em uma questão polêmica que engloba a ultrapassagem das normas da

ABNT até o fato das questões de superposição de normas. Isso porque as normas da

ABNT referentes a sistemas de esgotamento sanitário são muito antigas, datadas da

década de 80, deixando de lado inovações, pesquisas e dados estudados nos 20 anos

subsequentes.

Mas essa questão é amenizada pelo fato de as pesquisas que norteiam as normas

mais atualizadas, como as da SABESP, indicarem valores sempre mais restritos, ou

seja, a favor da excelência. Com isso tem se tornado constante a utilização das normas

estaduais, ao invés da nacional, para o dimensionamento, pois assim garante resultados

comprovadamente melhores, já que as restrições e valores são mais específicos.

31

f) Órgãos acessórios

Foram previstos para o projeto atual dois tipos de órgãos acessórios: poços de

visita e terminais de limpeza. Os terminais de limpeza (TL) foram previstos para as

extremidades de cada linha. Já os poços de visita (PV) foram previstos para os casos de:

junção de coletores, mudança de diâmetros, curvas, mudanças de declividades e de

materiais.

A distância entre um PV e outro foi baseada no diâmetro do coletor em questão.

O projetista levou em conta que quanto maior o diâmetro, menor a necessidade desses

acessórios, os quais visam manutenção e limpeza dos coletores. Na tabela 2.7 constam

esses valores.

Tabela 2.7: distância entre PVs a partir do diâmetro do coletor.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Distância entre PVs Diâmetro do coletor

100 m 150 mm

120 m Entre 200 mm e 600 mm

150 m Maior que 600 mm

Esses afastamentos, atualmente, são independentes dos diâmetros e fixados em

no máximo 100 m, segundo as normas vigentes. Isso porque diâmetros maiores para as

tubulações não são indícios de menor necessidade de manutenção ou limpeza dos

condutos.

Os poços de visita foram previstos com câmaras de trabalho de três dimensões

distintas, a depender do diâmetro do maior coletor conectado a ele. Essas dimensões

estão explicitas abaixo na tabela 2.8.

Tabela 2.8: dimensão principal das câmaras dos PVs.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Diâmetro do coletor Dimensão da câmara

Até 300 mm 1,2 m

De 300 a 500 mm 1,5 m

Maior que 500 mm Diâmetro + 1,0 m

32

Ainda foram previstos tubos de queda para alturas superiores a 0,7 m, o que

atualmente foi reduzido para 0,5 m, nas normas em vigência.

g) Profundidades

No projeto atual há referência a apenas uma profundidade mínima para os

coletores, sendo de 1,0 m. Entretanto, atualmente, a Associação Brasileira de Normas

Técnicas (1986) recomenda recobrimentos de 0,65 m, se o coletor estiver no passeio, ou

de 0,9 m, caso o coletor esteja na pista.

O memorial descritivo ainda prevê coletores auxiliares mais rasos para o caso de

um coletor projetado atingir mais de 4,50 m de profundidade. Mesma recomendação

que persiste na norma da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

(2006).

2.2.4. Caracterização da área

No projeto atual ainda foi feita uma breve caracterização da área com relação a

alguns aspectos como: clima, topografia e geologia. Esses dois últimos aspectos já

foram brevemente adiantados no item 2 do presente trabalho, sobretudo como forma de

basear a caracterização geológica deste, por isso despensa grandes comentários.

Já com relação ao clima, o procedimento de caracterização seguiu a mesma linha

apresentada no item 2, ou seja, foi tomada uma série histórica climatológica que baseou

a caracterização da temperatura, umidade e precipitação. Obviamente as considerações

foram um pouco distintas, já que a série de 1961 a 1990 só foi liberado após a

construção do Benedito Bentes.

Uma ressalva importante a se fazer sobre a caracterização apresentada pela

Companhia de Saneamento de Alagoas (1984) foi muito pouco referenciada, deixando

por vezes dúvidas dos dados apresentados, já que nem foram anexados levantamentos

realizados pelas entidades responsáveis pelo projeto nem foi referenciada alguma fonte

que possa ter colaborado com a caracterização proposta.

33

2.3. Projeção populacional

O primeiro passo na análise da rede atual, bem como na elaboração dos

eventuais projetos de expansão é fazer uma análise da população do local. Tanto

observar a população atual, quanto prever uma população de projeto para um alcance

mínimo de vinte anos, segundo orientação da NTS-025 da Companhia de Saneamento

Básico do Estado de São Paulo (2006).

Nesse estudo serão feitas comparações entre a população atual e a população de

projeto prevista no plano inicial. Em seguida são feitas análises da população de projeto

para mais vinte anos a fim de observar se o projeto atual será capaz de suportar as

futuras vazões, após ampliações propostas neste trabalho ou em projetos futuros que

vierem a serem concebidos.

A análise basear-se-á em modelos clássicos de projeção populacional propostos

por Libânio et al. (2006) e Quasim (1985), já as bases estatísticas serão estabelecidas em

coeficientes consagrados na literatura, propostos por Montgomery e Runger (2003).

Outra base para a análise da população foi o trabalho desenvolvido em Maceió a

cerca da análise do modelo que melhor representa a população local, Lopes Júnior e

Piati Neto (2009). Neste trabalho, focam-se os modelos e o método descrito pelo autor

para se alcançar o modelo que melhor representa a população de uma região antes de se

calcular a população de projeto. Isso visa diminuir erros na estimativa, bem como gerar

redes com capacidade suficiente para ampliações.

Nos tópicos seguintes, estão descritos os procedimentos, tais como propostos no

referido trabalho.

2.3.1. Modelos clássicos para projeção populacional

Os modelos clássicos de projeção populacional servem de base para estimar uma

determinada população que eventualmente poderá ser evidenciada dentro de alguns

anos, período de tempo este definido como alcance da estimativa, caso não haja

nenhuma mudança brusca nos padrões sociais, econômicos, de saúde e de segurança,

visto que, por exemplo, a estimativa seria totalmente defasada se houvesse uma guerra

na região em estudo.

34

Dentre todos os modelos, destacam-se os cinco mais importantes como sendo: a

projeção aritmética, a projeção geométrica, a regressão multiplicativa, a taxa

decrescente de crescimento e o crescimento logístico. Usualmente, os projetistas têm

empregado os modelos de projeções aritméticas e geométricas na maioria, senão

totalidade de suas análises. Isso porque estes modelos são os mais simples de serem

elaborados, utilizando ferramentas já difundidas no meio. Todavia, esses modelos nem

sempre são representativos dentro de uma população, acarretando falhas nos estudos de

concepção.

Em cada um dos modelos existem parâmetros de entradas fixos, variáveis e de

entrada. Os fixos são aqueles que entram com valores imutáveis ao longo da regressão

sendo determinados a partir de uma observação direta do conjunto de dados. Já os

parâmetros variáveis são aqueles que entram com um “chute inicial” e então são

ajustados pela regressão de modo a se ter o melhor ajuste do determinado modelo. O

parâmetro de entrada considerado é o t, que representa o ano em que se deseja estimar a

população. Para classificar os parâmetros utilizou-se como base os procedimentos para

regressão destes modelos de projeção populacional previstos por Libânio et al. (2006) e

Qasim (1985).

Entretanto, em conjunto de dados pouco significativo, é aconselhável o uso de

formulações específicas de cada modelo, propostas por Quasim (1985) e reforçado por

Libânio et al. (2006). Os autores, entretanto, não especificam qual é o número de dados

ideal, a partir do qual seria possível aplicar as regressões, contudo é plausível adotar

como um número mínimo de seis dados para se ter uma regressão linear ou não linear.

As expressões foram elaboradas a fim de possibilitar o estudo quando o conjunto

de dados for muito pequeno, o que comprometeria os bons resultados de uma regressão.

Assim, o modelo (c) não seria válido, visto que ele só pode ser gerado através de uma

calibração.

a) Projeção Aritmética

Esta projeção considera um crescimento populacional segundo uma taxa

constante, portanto esse método geralmente é utilizado para estimativas de menor prazo

e em populações menores, como a de pequenas comunidades, onde a taxa de

crescimento realmente são praticamente imutáveis.

35

Este modelo baseia-se na expressão 2.01 a seguir e, como se pode prever, terá

três parâmetros de entrada.

(2.01)

Nessa expressão teremos que e serão parâmetros de entrada fixos, pois

representam o ponto base inicial do conjunto de dados e o será um parâmetro

variável, que no caso representa a taxa de crescimento considerada constante. O

crescimento nesse modelo é significativo quando o alcance é muito longo e, por isso,

deve ter seu uso evitado, visto que o alcance mínimo previsto é de 20 anos. Isso será

confirmado pela comparação dos métodos para o caso em estudo, como será visto mais

adiante.

Para o caso de um conjunto de dados pouco significativos, Libânio et al.

apresenta a seguinte expressão para o cálculo do Ka:

(2.02)

b) Projeção Geométrica

O crescimento populacional é uma função da população existente a cada

instante, ou seja, a população em um determinado ano seria o produto da população

inicial por uma taxa de crescimento que seria crescente, aumentando com o passar dos

anos. Este modelo também é utilizado para estimativas de menor prazo, visto que como

a taxa é sempre crescente a população seria exorbitante se considerados longos

alcances, o que não ocorre na prática, pois uma determinada população possui, entre

outras coisas, uma limitação física de seu espaço. A expressão que representa este

modelo é dada por:

(2.03)

36

Para este modelo os parâmetros e também serão fixos e o parâmetro

variável deste modelo será o , a base da regressão.

Para o caso da aplicação direta de fórmula para gerar o modelo, Quasim (1985)

explicita a seguinte expressão 2.04:

(

(

)

)

(2.04)

c) Regressão Multiplicativa

No caso da regressão multiplicativa, temos uma expressão com dois parâmetros

fixos, e , e dois parâmetros variáveis para a regressão, e . Neste caso,

diferentemente do modelo anterior, a população a ser estimada pode ou não apresentar

uma taxa de crescimento crescente indeterminadamente ao longo dos anos, dependendo

do valor encontrado para S. Além disso, existe outra observação a ser feita em relação a

esta taxa de crescimento, como pode ser observado na expressão 2.03. A taxa de

crescimento não multiplica a população inicial, mas sim outro parâmetro variável que se

auto ajustará ao S, de acordo com os dados utilizados, representando crescimento muito

mais suavizados. Para este modelo a expressão será a seguinte:

(2.05)

Como se pode perceber pela expressão este modelo pode resultar de uma

regressão linear ou, mais provavelmente, uma não-linear. Vale lembrar que os valores

do ponto base serão os mesmos adotados para os outros dois modelos já descritos.

Outra ressalva importante é a cerca dos resultados que podem ser obtidos por

este modelo. Como foi proposto por Lopes Júnior e Piati Neto (2009), esse modelo

possui um excelente resultado para o município de Maceió, seguido de perto do modelo

37

de Crescimento Logístico, no entanto é importante observar que, diferentemente, dos

dois métodos descritos nos itens em sequência, este não possui uma população de

saturação, ou seja, não possui um limite de crescimento. Assim, mesmo sendo o

crescimento menor do que nos modelos Aritmético e Geométrico, possibilitando uma

análise a um alcance maior, estimativas a muito longo prazo podem gerar resultados

muito distantes da realidade, isso por que mesmo que a população possa crescer de

maneira acelerada, existe sempre a limitação física do local.

Um fator que justificaria a escolha deste método, mesmo diante desse problema,

é que o resultado para alcances razoáveis, 20 anos, por exemplo, ainda seria bom, desde

que fosse comprovada a devida correlação de acordo com os procedimentos a seguir.

Obviamente, o resultado pode ser um pouco afastado, contudo ele possivelmente

apontaria para uma população maior do que a que verdadeiramente seria evidenciada e,

portanto, haveria um super dimensionamento da rede, o que geraria redes para alcances

ainda maiores, ou até mesmo nem alcançáveis, apesar de ocasionar custos maiores com

a implantação.

Esse modelo não possui uma formulação específica para um pequeno conjunto

de dados, sendo, portanto, restrito ao método das regressões como sugere o próprio

nome.

d) Taxa Decrescente de Crescimento

O modelo de taxa decrescente de crescimento parte da premissa de que, à

medida que a cidade cresce, a taxa de crescimento torna-se menor, consequentemente a

população tende assintoticamente a um valor de saturação. Neste modelo teremos uma

pequena ressalva quanto aos parâmetros. Teremos e que continuarão sendo

parâmetros fixos e teremos que será um parâmetro variável. Além desses três, tem-se

o que representa a população de saturação. Este parâmetro será ajustado pela

regressão (parâmetro variável) ao entrar com um chute inicial a partir de uma expressão

para estimar um , porque, como será observado posteriormente, ao ser feita a

regressão o valor de inicialmente estimado não irá sofrer grandes alterações. Isso

ocorre devido ao fato de que a população de saturação sofre uma alteração, durante o

ajuste, muito sutil se comparada com outro coeficiente variável do modelo, já que ela

representa uma assíntota para o modelo.

38

Assim a expressão será:

(2.06)

Como já foi dito, o será um parâmetro variável baseado em uma densidade

populacional. A expressão que define pode ser dada por, segundo Libânio et al.

(2006) e Qasim (1985):

(2.07)

Onde , e serão três pontos subseqüentes da nossa série de dados. Para se

gerar uma população de saturação mais precisa, devem ser testadas todas as possíveis

combinações e utilizadas na regressão para se encontrar o melhor , ressaltando que

deve ser dada uma atenção especial aos três últimos valores do conjunto de dados, os

quais provavelmente possuem uma maior representatividade para a estimativa desejada.

No caso de um conjunto de dados pouco significativo, devem ser tomados os três

últimos dados da série, garantindo uma análise mais precisa.

No entanto ainda deve ser feita a seguinte ressalva de que P0<P1<P2 e P0.P2<P12

e caso essas condições não sejam atendidas a fórmula para o chute inicial não pode ser

utilizada, porque a população de saturação encontrada não representaria mais uma

assíntota do modelo.

Outra consideração muito importante é sobre o valor encontrado pela expressão,

que pode ser muito pequeno e, portanto, deve-se fazer uma estimativa a parte,

descartando a encontrada pela equação 2.07. Outro problema tanto deste método como

do descrito no subitem em sequência, é que a depender da população de saturação

adotada ou calculada, quanto maior o alcance desejado, mais longe do valor real de

população a estimativa estará, sempre apresentando valores menores, isso porque as

taxas de crescimento diminuem ao se aumentar o t, o que pode acarretar problemas de

sub-dimensionamento dos projetos, caso não haja redução sequencial da taxa de

39

natalidade da região. Por isso se torna tão importante uma análise minuciosa durante a

estimação do “chute inicial” para o Ps.

Para o caso de poucos dados ainda deve ser estimado o Kd através da equação

4.08 seguinte, apresentada por Libânio et al. (2006):

(

)

(2.08)

e) Crescimento Logístico

Para o modelo de crescimento logístico, o crescimento populacional segue uma

relação matemática, que estabelece uma curva em forma de S, onde a população tende

assintoticamente a um valor de saturação. Portanto, assim como no modelo de taxa

decrescente de crescimento descrito anteriormente, no item (d), este modelo contará

com um parâmetro de população saturada e, analogamente, esse parâmetro será

considerado variável, sendo encontrado pela mesma expressão já descrita no item

anterior, como proposto por Libânio et al. (2006) e Qasim (1985).

Com isso, têm-se um parâmetro fixo, , e três parâmetros variáveis, , e ,

sendo a expressão deste modelo descrita por:

(2.09)

Vale ressaltar que o será estimado da mesma maneira anteriormente descrita,

fazendo-se todas as combinações possíveis com os dados e que o valor de é referente

ao ponto base como já foi especificado.

As restrições da utilização para a expressão 2.07 são também válidas para esse

modelo, assim como as orientações já citadas. No entanto é importante destacar outra

questão. Como este modelo é provavelmente o mais complexo dos apresentados aqui, a

escolha da função objetivo torna-se fundamental e até mesmo decisiva para os bons

40

resultados da regressão, além, é claro, do “chute inicial” adotado. Isso porque se

imagina que esse modelo apresenta máximos locais e globais para cada função objetivo

e, assim, a depender da estimativa dada inicialmente, pode ser encontrado o melhor

ajuste local ao invés do global, que é objetivo da regressão: encontrar diante do modelo

apresentado a melhor expressão que representa aquele conjunto de dados.

Para a situação de um conjunto de dados reduzido, ainda se fazem necessárias as

determinações de c e , assim, segundo o proposto por Libânio et al. (2006), tem-se

que:

(2.10)

e

(

) (

) (2.11)

2.3.2. Calibração para os modelos propostos

A partir de cada modelo pode ser feita uma regressão onde se estima os seus

coeficientes variáveis pelas técnicas de ajuste já consagradas. Para realizar as regressões

existem diversas técnicas e alguns programas bastante usuais já conhecidos. Assim, para

o desenvolvimento deste trabalho, optou-se pelo uso do Microsoft Excel, devido a sua

facilidade de manuseio diante de suas interfaces gráficas e pelo fato de já ser um

programa amplamente utilizado para outros fins, utilizando o procedimento descrito por

Lopes Júnior e Piati Neto (2009) e relatados a seguir.

Por esse programa é possível encontrar ajustes que representam os modelos pré-

estabelecidos usando a ferramenta Solver. O Solver permite que se tenha uma expressão

de entrada com pelo menos um parâmetro variável, uma relação de ajuste, ou seja, o

modelo a ser adotado e uma função objetivo, a qual será tendida ao seu valor máximo

ou mínimo, dependendo da função, modificando apenas os valores dos parâmetros

variáveis a partir da estimativa inicial dada. Em resumo é fornecido ao Excel:

41

Expressão do modelo que se deseja ajustar;

Valores iniciais (“chutes”) para os parâmetros variáveis;

Relação de ajuste (modelo adotado);

Função objetivo;

Método de ajuste (escolhe-se o método que o Solver deve trabalhar).

Em uma tabela do Microsoft Excel são criadas, então, as colunas com os

parâmetros variáveis, dados observados e dados estimados a partir da expressão do

modelo com os coeficientes fixos e os chutes iniciais no lugar dos coeficientes

variáveis. Em seguida é criada uma célula com o valor final da função objetivo, por

exemplo, o somatório dos erros absolutos ou qualquer outra função objetivo.

Assim, na ferramenta citada seleciona-se a célula que teria o somatório dos erros

como célula de destino, pede-se para minimizar ou maximizar esse valor, selecionando

como células variáveis as células onde constarem os chutes iniciais dos parâmetros

variáveis e configura o método pelo qual o Solver irá resolver o ajuste. Uma

configuração básica é dada abaixo na figura 2.3.

Figura 2.3: opções do Solver.

Como pode ser visto na figura anterior, pode-se determinar o tipo da estimativa,

da derivada e o método que será utilizado para fazer o ajuste. Também se pode alterar o

número de iterações, a precisão e a tolerância, onde é aconselhável se colocar para o

número de iterações algo em torno de 500 para garantir um ajuste melhor.

42

Vale destacar que as expressões encontradas não são únicas e absolutas para os

modelos, ou seja, existem outras expressões que podem ser encontradas a partir dos

mesmos modelos e através dos mesmos métodos que se ajustarão tão bem quanto as

aqui encontradas. Isso ocorre porque existem alguns fatores que intervêm no resultado

final, por exemplo, o chute inicial e por isso haverá mais de uma expressão que poderia

ser encontrada para cada modelo. No entanto as expressões são sempre equivalentes,

pois os coeficientes terminam por se equilibrarem, tendo uma diferença entre os seus

erros muito pequena, sendo considerada irrelevante no contexto geral.

Outra ressalva importante é que para determinados métodos o chute inicial é

determinante, pois o Solver utiliza um método de busca direta e, por conseqüência, ele

possui uma limitação, já que a depender do modelo ele pode achar um máximo local de

uma função ao invés do seu global, caso ela possua picos múltiplos. Como já foi

relatada, uma função com este problema é a função de crescimento logístico, cujo chute

inicial pode até mesmo gerar coeficientes que geram resultados finais incoerentes para a

população.

Esse problema seria eliminado ao se utilizar técnicas numéricas como algoritmos

genéticos ou evolutivos, no entanto esses métodos são mais complexos e exigiriam

programações mais avançadas, o que não convém utilizar para análises de crescimento

populacional, por basicamente três motivos, segundo Lopes Júnior e Piatti Neto (2009):

[...] primeiro demandaria certo tempo e conhecimento de uma linguagem de

programação para gerar um programa específico para a projeção

populacional; segundo não seriam métodos e programas acessíveis a todos o

que dificultaria a difusão das análises de crescimento populacional por parte

dos projetistas e planejadores urbanos; e em terceiro não seria vantagem, pois

os resultados são muito próximos dos encontrados por esse método. (LOPES

JÚNIOR E PIATTI NETO, 2009)

Independente da técnica utilizada para a calibração, a verificação ou pelos

métodos estatísticos ou pela análise gráfica, tornam-se essenciais. Vale ressaltar também

que a calibração não pode ser feita para um conjunto de dados pouco significativos,

restando como única opção a utilização das expressões já apresentadas em subitens

anteriores.

43

2.3.3. Análises estatísticas

Depois de ajustados, os modelos então passam a ter certa representatividade para

se fazer uma projeção, que nada mais é do que uma extrapolação dos valores estimados

para pontos fora do intervalo utilizado para o ajuste. Portanto, faz-se necessária uma

análise de cada expressão encontrada a fim de se obter o grau de confiança da mesma, o

qual indica o quanto aquela expressão se ajusta ou representa o conjunto de dados, bem

como as suas extrapolações.

O grau de confiança de um ajuste pode ser obtido de várias maneiras, quase

todas envolvendo coeficientes e parâmetros estatísticos, podendo também ser levada em

conta a análise visual dos gráficos gerados. Para este trabalho foram explorados os

parâmetros estatísticos mais usuais, sendo eles detalhados mais adiante.

Ressalta-se, entretanto, que existem outras formas de se analisar erros e ajustes,

no entanto todas elas devem acompanhar os resultados dos meios aqui adotados quando

focada a comparação entre as expressões originadas pelos modelos de projeção, não

sendo foco de este trabalho detalhar os métodos alternativos.

Basicamente se deve encontrar o erro entre os valores estimados e os valores

reais observados. A expressão de erro utilizada depende da função objetivo que se

deseja trabalhar. E depois de calculado o erro, faz-se uma projeção desse erro através de

um coeficiente de determinação ou coeficiente de ajuste o qual estima quantitativamente

a qualidade do ajuste em questão, através de uma relação entre variações originadas por

algumas funções objetivo, também pré-determinadas e explicadas com detalhe adiante.

a) Erros

A base de toda análise estatística para qualificar as expressões ajustadas está na

correta interpretação e utilização de funções objetivo. Essas funções são as responsáveis

por uma estimativa do erro que as expressões possuem em relação aos dados reais

observados.

No presente trabalho foi adotada uma mesma expressão de erro para todos os

casos, a diferença dos quadrados dos erros absolutos. Essa função é um modelo padrão

que é comumente utilizada para diversos casos, sendo particularmente adotada para o

presente caso por Libânio et al. (2006).

44

A diferença dos quadrados consiste somente em subtrair do valor observado o

valor estimado e elevar o resultado ao quadrado. Portanto a expressão que rege essa

função objetivo é dada por:

(2.12)

Vale ressaltar alguns pontos sobre a expressão de erro proposta acima. O

primeiro ponto a focar é o fato de os valores de erros serem altos, isso ocorre pela escala

que se está trabalhando (milhares por se tratar de população) e pelo fator ao quadrado da

formulação.

Outra ressalva importante a se fazer sobre a escolha desta expressão para o erro

é que ela servirá de base para o cálculo do coeficiente de determinação, o qual em uma

de suas parcelas leva em conta os erros quadrados, como será visto no item

subsequente. Isso auxilia porque será através da maximização deste coeficiente

(tendendo-o a 1,0) é que será encontrado o melhor ajuste possível.

b) Coeficiente de determinação

O coeficiente de determinação ou coeficiente de ajuste, , é um dos principais e

mais usuais meios de se determinar o quão bem uma expressão de regressão se ajusta

em certo conjunto de dados. De acordo com Montgomery e Runger (2003) o coeficiente

de determinação é “usualmente utilizado para julgar a adequação de um modelo de

regressão”.

Esse coeficiente demonstra uma relação entre uma variação explicada e a

variação total, geradas pela comparação entre os dados reais observados e os valores

estimados. E a sua relação é dada pela expressão:

(2.13)

45

Onde a variação explicada é dada por uma relação entre os valores estimados e a

média dos valores reais observados, sendo essa relação expressa por:

∑ (2.14)

E a não explicada pode ser dada pela expressão a seguir:

∑ (2.15)

Contudo a variação total será a soma da variação explicada e da variação não

explicada, assim:

∑ ∑ (2.16)

Portanto substituindo na expressão de , teremos a seguinte expressão para

quantificarmos o ajuste:

∑( )

∑ ∑ (2.17)

Onde P’ são os valores estimados da população, P são os valores reais

observados e é o valor da média dos dados de valores reais observados. Ressalta-se

que as relações expressas acima para as variações são referenciadas por Montgomery e

Runger (2003).

Uma última observação a se fazer sobre o coeficiente de ajuste é que o seu valor

varia entre 0 e 1,0, onde quanto mais próximo de 1,0 for o seu valor, melhor é o ajuste.

46

2.3.4. Análise gráfica

A análise gráfica pode substituir as análises estatísticas quando os modelos

forem ajustados pelas expressões de três pontos apresentadas para conjunto de dados

pequenos.

Ela se baseia em uma análise subjetiva do gráfico que melhor se adéqua a

realidade e segue um padrão lógico de crescimento. No entanto, para uma amostra de

dados representativa, não se dispensa a análise estatística em paralelo, de maneira a

confirmar os resultados obtidos visualmente.

Este tipo de análise pode ser feita sob duas perspectivas, a primeira analisando

cada curva populacional de cada modelo separadamente e a segunda confrontando todos

os modelos. Contudo a conclusão final só pode ser obtida com o resultado das

observações das duas análises, provavelmente concomitantes.

Como já foi dito, as análises são subjetivas e cabe ao projetista ter bom senso em

saber se os valores apresentados para população de projeto estão ou não razoáveis,

destacando os aumentos populacionais de projeções de cinco em cinco anos até alcançar

a projeção desejada.

2.4. Dimensionamento da rede coletora complementar

O dimensionamento das tubulações das redes coletoras consiste em se estimar

um diâmetro tal que aliado a declividade do trecho permitam um escoamento dos

efluentes sem que haja interrupções, mudança no tipo de escoamento (para escoamento

forçado) ou detenção excessiva do fluido no interior do conduto.

Para tanto, faz-se necessária uma análise precisa das vazões de contribuição, de

início e final de plano, das tensões trativas entre o fluido e as paredes do conduto,

garantidas pelo diâmetro e declividade corretamente estipulados, e correta disposição

dos órgãos auxiliares, como: poços de visita (PV), terminais de inspeção e limpeza

(TIL) e terminais de limpeza (TL).

47

2.4.1. Lançamento da rede

O lançamento da rede consiste em determinar previamente o local que a rede

contemplará através da planta topográfica do local. É feita uma análise das cotas inicial,

intermediária e final de cada rua do local estudado e o caminhamento que a rede deve

ter para que as escavações sejam as mínimas possíveis.

Para isso são determinadas as pontas secas que são os pontos iniciais da rede

providos de terminais de limpeza e que possuem o recobrimento mínimo de 0,9 m

conforme recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986). As

pontas secas devem estar de preferência em pontos mais elevados do que o resto do

sistema. No entanto, a topografia local não é passível disto, por isso deve-se escolher o

trajeto da rede com cautela a fim de se evitar grandes profundidades nos trechos

posteriores.

O lançamento prévio, entretanto, não evita completamente as mudanças

posteriores causadas por grandes profundidades ou diâmetros muito grandes na rede,

fatos que exigem uma remodelagem no sistema da rede, seja pela mudança de trajeto,

mudança de direção da rede (quando as cotas permitem) ou pela criação de um novo

ponto de estação elevatória.

O lançamento prévio da rede complementar proposta foi o estipulado no

Apêndice Digital I, podendo ser visto os trechos lançados inicialmente. Posteriormente

ele foi alterado em sua concepção e foram incluídos novos trechos e os pontos das

estações elevatórias (bem como o caminhamento dos emissários) resultando no modelo

final.

Uma observação importante sobre o lançamento da rede é que ele foi baseado na

planta do bairro do Benedito Bentes (ANEXO II), levando em consideração as ruas dos

conjuntos já prontos, conforme indicado pela Secretaria Municipal de Planejamento. No

entanto, ao utilizar a população de projeto, os novos conjuntos a serem encaixados

posteriormente podem fazer suas ligações ao sistema já proposto.

Outra ressalva é com relação às sub-bacias de esgotamento que dividiram o

bairro em várias áreas. Isso porque a topografia local promove a formação de diversos

pequenos corpos d’água no entorno dos conjuntos implantados, além de linhas d’água

criadas por pontos mais altos que ajudaram a subdividir as bacias.

48

Podem-se observar as sub-bacias formadas no Apêndice Digital XIII, no qual se

observa a subdivisão do bairro em áreas de esgotamento, inseridas estas nas suas sub-

bacias respectivas.

2.4.2. Fatores intervenientes nas vazões de esgoto

Existem dois tipos de vazões importantes a serem consideradas no

dimensionamento e verificação dos condutos. São as vazões de início e fim de plano. A

primeira representa a população base, ou seja, aquela que vai existir de qualquer

maneira desde o início da implantação do sistema, sendo assim leva em consideração a

população atual da região em questão. Já a de fim de plano representa a vazão máxima

que será encontrada no final do plano, assim esta vazão trata da vazão de efluentes

gerada ao fim do alcance do projeto, onde a população de projeto é atendida e a rede

passa a trabalhar em capacidade máxima.

Para estimar essas vazões é preciso inicialmente definir alguns parâmetros como

as populações atendidas, o coeficiente de retorno, o consumo per capita, taxa de

infiltração, os coeficientes de variação de vazão e as vazões de contribuições.

a) Populações atendidas

As populações atendidas, como já foram citadas, são a atual e a de projeto. A de

projeto representa a população alcançada no fim de alcance, sendo o mínimo de 20

anos, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2002).

Assim, conforme o item 2.1 e 2.3 do presente trabalho, a população de início de plano

será igual a 158.000 habitantes, imaginando a implantação do sistema no ano de 2010,

enquanto que a de final de plano será de 225.713 habitantes.

b) Coeficiente de retorno

Outro parâmetro importante é o coeficiente de retorno, que representa a vazão

que retorna após o uso, ou seja, é a parcela de água que é lançada a rede de esgoto na

forma de efluente. Baseado em Tsutiya e Além Sobrinho (1999, apud ARAÚJO,

2007a), o coeficiente de retorno possui diferentes recomendações a depender do autor e

49

do local do projeto. No entanto a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) e a

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) recomendam com

valor único de 0,8. Isso significa considerar que 80% da água que é fornecida para o

abastecimento da região será gerada em efluentes pela mesma.

Esse coeficiente torna-se necessário, pois parte da água que abastece uma

residência não é devolvida na forma de efluente para a rede de esgotos. Essa parcela é

geralmente associada à limpeza e outros fins domésticos e, geralmente, evaporam,

infiltram pelo solo ou até mesmo terminam sendo jogada na rua onde é drenada pelo

sistema de águas pluviais.

c) Taxa de consumo per capita

Em contrapartida, a fim de estimar a quantidade de água para abastecer uma

determinada população, torna-se essencial conhecer o consumo per capita dela. Esse

consumo representa a quantidade de água consumida por um habitante em um dia, que

de acordo com Narchi (1989, apud LIBÂNIO ET AL., 2006) varia com as

características culturais, nível educacional e social, temperatura local e dentre outras

coisas.

Araújo (2007a), em pesquisas realizadas em cidades do interior paulista, indica

que a taxa de consumo per capita está em torno de 160 l/hab/dia. No entanto, segundo o

Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (2000, apud LIBÂNIO ET AL.,

2006), a taxa de consumo média de todos os estados brasileiros está em torno de 130

l/hab/dia, sendo o maior consumo de 266 l/hab/dia, no Rio de Janeiro, e de apenas 13

l/hab/dia.

Ainda sobre este assunto Von Sperling (2005, apud LIBÂNIO ET AL., 2006)

elaborou a seguinte tabela que relaciona o consumo per capita com o porte da

comunidade. Através disto, pode-se estimar que o consumo per capita para o bairro em

questão está em torno de 150 l/hab/dia, ficando próximo dos valores observados pelos

diversos pesquisadores. Poderia ser adotado, por exemplo, algum dos outros valores,

mas considera-se este bastante razoável, por se enquadrar bem aos diversos aspectos

intervenientes no consumo per capita já citados.

50

Tabela 2.9: consumo per capita referente ao porte da comunidade.

(VON SPERLING, 2005, apud LIBÂNIO ET Al., 2006)

Faixa da População

(habitantes)

Consumo per capita

(l/hab/dia)

<5000 90 a 140

5000 a 10000 100 a 160

10000 a 50000 110 a 180

50000 a 250000 120 a 220

>250000 150 a 300

d) Taxa de infiltração

Uma ressalva importante a se considerar é a taxa de infiltração. Ela representa

eventuais infiltrações na rede coletora que podem ocorrer segundo Araújo (2007b): nas

falhas executivas das juntas de tubulações, nos poços de visita ou outros órgãos

acessórios da rede e nas imperfeições nas paredes das tubulações.

Na verdade a taxa de contribuição por infiltração na rede depende de diversos

fatores como: o solo do local, pois este interfere na permeabilidade do meio ao redor das

tubulações, bem como na taxa de permeabilidade do solo; o nível do lençol freático,

pois ele indicaria a carga de pressão hidrostática na tubulação; a qualidade da execução

da obra, já que uma obra bem executada possibilitaria menores riscos de danos causados

às paredes dos condutos; o tipo de material empregado, que indica o grau de controle de

qualidade na fabricação e o tipo de junta a ser utilizada; o grau de compactação e o

material utilizado para reaterrar as valas, que interferem na infiltração direta de água em

determinados trechos; dentre outros motivos.

Referente ao especificado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

(1986) a taxa de infiltração pode ser considerada no intervalo de 0,05 l/s/km e 1,0

l/s/km, devendo-se justificar a escolha. No entanto, apesar de ser de bom senso

considerar uma taxa relativamente alta de infiltração, para evitar problemas hidráulicos

futuros, torna-se não viável, pois acarreta em aumento significativo no diâmetro das

tubulações e, em consequência, no custo total da obra. Além de que adotar uma taxa de

infiltração alta significaria uma brecha de vazão que seria dada por considerar uma

execução de qualidade menos rigorosa, fator que atualmente não deve ser levado em

51

conta, exigindo-se um mínimo de rigor durante a execução por parte de empresa que for

executar o projeto.

Referente a levantamentos realizados em São Paulo por Hazen e Sawer (1965,

apud ARAÚJO, 2007b) as taxas de infiltração em tubulações já executadas estariam

entre 0,24 l/s/km e 1,4 l/s/km. No entanto, segundo estudos realizados por Jesus Neto

(1940, apud ARAÚJO, 2007b) em tubulações novas recém-instaladas, as taxas de

infiltração se apresentaram entre 0,3 l/s/km e 0,7 l/s/km. Isso indica que atualmente,

seria justo adotar valores ainda menores do que este, devido aos novos métodos de

execução, novos materiais empregados nas juntas e maior tecnologia na fabricação das

tubulações.

Isto é confirmado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo (2006), que adota valores da taxa de infiltração de acordo com o nível do lençol

freático: 0,1 l/s/km, para redes preponderantemente acima do lençol freático; e 0,5

l/s/km, para redes preponderantemente abaixo do lençol freático.

No caso da rede a ser dimensionada, a taxa considerada será de 0,1 l/s/km, já que

a rede se localizará em cotas acima dos 70,0 m, em maioria acima dos 80,0 m, onde o

nível de água dos córregos, riachos e lençol freático estão abaixo dos 45,0 m, segundo

levantamentos da Secretaria de Planejamento e memorial descritivo do projeto já

existente.

e) Coeficientes de variação de vazão

Ainda é necessário levar em consideração os picos de vazões na rede. Esses

picos são acarretados pelo uso simultâneo da rede em uma determinada hora e dia,

assim se deve considerar uma vazão um pouco maior, sendo majorada por alguns

coeficientes. Assim, esses coeficientes estão diretamente ligados aos consumidores

domésticos. Além disso, existe ainda um coeficiente de minoração que representa a

demanda mínima para representar a menor vazão em uma determinada hora do dia.

Esses coeficientes e os seus respectivos valores, segundo a Associação Brasileira

de Normas Técnicas (1986) e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo (2006), são os seguintes:

K1: é coeficiente de maior consumo diário. Ele representa o dia de maior

consumo em um determinado ano, quando comparado com o consumo médio do

52

mesmo. Fala-se em consumo porque como já foi visto a vazão de efluentes

domésticos está diretamente ligada ao consumo, através do coeficiente de

retorno. O seu valor é igual a 1,2, baseado nas normas citadas.

K2: é o coeficiente de maior consumo horário. Ele indica a hora de maior

consumo de um determinado dia em função da média dele. As normas em

vigência indicam um valor de 1,5 para este coeficiente.

K3: é o oposto do K2, pois ele indica o consumo horário mínimo. Segundo as

referidas normas ele deve ser considerado igual a 0,5.

f) Consumidores específicos

Definido isto, para a estimativa da vazão é necessário conhecer os consumidores

que geram contribuições específicas. É o caso das indústrias locais que geram vazões de

contribuições que geram sobrecargas na rede se não forem consideradas. Essa vazão

pode ser determinada por coleta de dados, quando a vazão contribuinte é determinada

pela indústria, ou por estimativa, determinando a vazão por comparação a outras

indústrias semelhantes. Em ambos os casos a vazão pode ser determinada conhecendo,

ao invés da vazão de contribuição, a demanda de água que a abastece, aplicando nela o

coeficiente de retorno estipulado.

No caso do presente trabalho, segundo os dados da Secretaria de Planejamento e

da Prefeitura Comunitária do Benedito Bentes, os grandes produtores de efluentes que

são as indústrias e Shopping Pátio Maceió (com inauguração prevista para o final de

novembro de 2009) possuirão sistemas de tratamento próprio, lançando seus efluentes

nos corpos d’água ao redor.

Isso significa que não há vazões de contribuição específicas a ser consideradas

no cálculo da rede complementar, isso porque os consumidores específicos que

poderiam ser considerados (as indústrias) possuem tratamento próprio, não

sobrecarregando a rede e os outros equipamentos, como escolas, postos e etc., não

contribuem para a rede complementar e são de pequeno porte, não gerando sobrecargas

mesmo para a rede já existente.

53

g) Águas parasitárias

Além dessas considerações é necessário falar das águas pluviais parasitárias. As

águas parasitárias são as contribuições provenientes de águas pluviais indevidamente

lançadas no sistema. Essas contribuições, de acordo com Araújo (2007b) se dão através

de ligações pluviais prediais a rede, interligações da rede com galerias pluviais, ligações

abandonadas que não foram corretamente lacradas ou aberturas no sistema, como nos

tampões dos poços de visita.

Em todos esses casos, a contribuição da água parasitária é resultado da falta de

fiscalização e da negligência por parte do poder público. Pois é dele a responsabilidade

de impedir que essas ligações sejam realizadas, bem como checar se os tampões e

outros lacres dos demais órgãos acessórios estão devidamente instalados.

Ainda pode ser citada, como fator gerador dessas ligações impróprias, a

motivação econômica, pois usualmente torna-se mais caro fazer outra ligação predial

apenas para águas pluviais. Assim em comunidades predominantemente de população

de baixa renda, como é o caso do Benedito Bentes, a população, a fim de se livrar de

suas águas pluviais, fazem este tipo de ligação gerando as águas pluviais.

Reforçando o que foi exposto, Araújo (2007b) ressalta que:

As ligações pluviais às redes de esgoto ocorrem com alguma frequência em

imóveis residenciais por iniciativa inescrupulosa de construtores,

encanadores ou curiosos, sobretudo quando essas ligações trazem maiores

facilidades ou maior economia para as suas empreitadas. Por essas ligações,

são encaminhadas para o coletor sanitário as águas de chuva colhidas em

telhados, terraços, pátios, porões e quintais, inclusive de águas subterrâneas

que surgem nos lotes urbanos. (ARAÚJO, 2007b).

Atualmente as normas vigentes para o dimensionamento de redes de esgoto

sanitário não contemplarem as águas parasitárias no dimensionamento das vazões, pois

elas consideram que elas não devem existir e que deve haver intensa fiscalização para

evitá-las.

No entanto, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992) cita, em seu

item 4.2.1.5: “A contribuição pluvial parasitária deve ser adicionada à vazão final para a

análise de funcionamento e para o dimensionamento dos extravasores.”. Isso quer dizer

que, as águas pluviais parasitárias devem ser apenas consideradas no dimensionamento

54

dos extravasores que são colocados no início das estações elevatórias para se evitar

problemas no bombeamento, excluindo a sua participação no dimensionamento das

tubulações, devendo ser realizada apenas numa checagem do funcionamento hidráulico

dos interceptores.

Portanto, como não há interceptores previstos na rede coletora complementar

proposta no presente trabalho, já que todos os trechos possuem contribuição de

efluentes, não haverá contribuição de águas parasitárias previstas no presente trabalho,

já que o dimensionamento de interceptores e estações elevatórias não faz parte do

escopo do mesmo.

h) Comprimento total da rede

Para gerar as vazões em marcha é necessário levantar comprimento total dos

trechos que irão contribuir. No caso do bairro em questão, o conglomerado urbano é

intenso fazendo com que todos os trechos possuam contribuição em marcha.

Então para o dimensionamento da rede complementar, era preciso lançar a rede

como um todo, passando pelos trechos já existentes (a fim de conferir os valores

especificados em projeto) e pelos trechos a serem contemplados pela rede

complementar.

Isso porque para gerar uma vazão em marcha é necessário dividir a vazão total

de contribuição pelo comprimento total da rede, já que a população analisada é referente

ao bairro todo.

Outra ressalva importante sobre o levantamento da rede para se evitar problemas

com arredondamentos coagindo a um erro significativo, os comprimentos de cada

trecho foram registrados com uma casa decimal, evitando erros acumulados muito

grandes.

2.4.3. Vazões de esgoto

Baseado nos fatores intervenientes, a vazão média pode ser calculada através da

expressão 2.18 seguinte.

55

(2.18)

Onde P é a população (em hab.) e C é a contribuição (em l/hab./dia), resultando

em uma vazão em l/s.

Assim, as vazões médias de início e de final de plano possuem os seus valores

ao adotar a população atual e de projeto, respectivamente. Portanto essas vazões podem

ser calculadas através das expressões 2.19 e 2.20.

(2.19)

(2.20)

Onde I é a taxa de infiltração em l/s. Com isso as vazões em marcha de início e

final de plano seriam dadas por:

(2.21)

(2.22)

É de suma importância que se trabalhe com as duas vazões simultaneamente,

pois o dimensionamento dependerá das duas vazões, inicial e final, de cada trecho. Por

isso, encontram-se as vazões de cada trecho através da expressão 2.23.

∑ (2.23)

56

Onde a vazão do trecho (inicial ou final) é igual ao somatório das vazões a

montante (inicial ou final) acrescido do produto da vazão em marcha (inicial ou final)

pelo comprimento do trecho.

Além do cálculo da vazão é preciso atender a mais um critério normativo que

estabelece a vazão mínima para qual um condutor deve ser dimensionado. A norma da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) não deixa claro este ponto, indicando

que caso apenas não haja dados pesquisados a vazão mínima será de 1,5 l/s. Contudo a

norma da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) indica que

de qualquer modo deve ser considerada como vazão mínima para o dimensionamento

do coletor uma vazão de 1,5 l/s.

Assim, conclui-se que tanto para a vazão de início de plano (que determina a

declividade mínima) quanto para a de final de plano (que influencia no diâmetro

diretamente) deve-se adotar uma vazão de 1,5 l/s quando a vazão do trecho for menor

que 1,5 l/s.

Isso significa que, calcula-se preliminarmente a vazão em cada trecho pelo

método apresentado e no cálculo das declividades e do diâmetro utiliza-se a vazão de

1,5 l/s em todos os trechos que a vazão no mesmo for inferior.

2.4.4. Tipos declividades

Existem três tipos de declividade a serem observadas em uma rede de esgoto: a

do terreno, a mínima e a máxima.

a) Declividade do terreno

A declividade do terreno representa a declividade que o coletor deve ter para

acompanhar a mudança de cotas do terreno. Isso significa que a declividade pode ser

dada por:

(2.24)

57

b) Declividade mínima

A declividade mínima é a declividade necessária para que seja respeitado o

critério de tensão trativa mínima estabelecida pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas (1986) de 1,0 Pa. Assim segundo Araújo (2007a), após tomar algumas

considerações, foi possível elaborar uma curva que gerou a seguinte expressão empírica:

(2.25)

c) Declividade máxima

Além da declividade mínima, existe uma declividade máxima proposta pela

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) para uma velocidade final de 5,0 m/s.

A expressão aproximada para o cálculo da declividade máxima admissível é dada pelas

normas vigentes como:

(2.26)

A declividade máxima tem por objetivo evitar o desgaste das tubulações que

podem ser abrasadas por partículas duras como areia. Contudo, Tsutiya e Além

Sobrinho (1999, apud ARAÚJO, 2007a) indica que este tipo de fenômeno não é

acusado nem em literatura técnica sobre dutos em operação nem em estudos específicos

para observar tais efeitos.

58

2.4.5. Recobrimento mínimo

O recobrimento mínimo representa a menor profundidade que se deve localizar o

coletor. Neste aspecto a Associação Brasileira de Norma Técnicas (1986) recomenda

um recobrimento mínimo de 0,65 m, quando o coletor está no passeio, e de 0,9 m

quando o coletor está na rua.

Já a norma paulista, proposta pela Companhia de Saneamento Básico do Estado

de São Paulo (2006) é um pouco mais rígida, exigindo recobrimentos significativamente

maiores e uma distinção quanto aos casos de lençol freático mais elevado.

Mesmo diante da recomendação da SABESP, no presente trabalho se adotou o

recobrimento recomendado pela ABNT, sendo assim o recobrimento será de 0,9 m

(supondo que o coletor estará sempre na rua). Isso porque, a topografia irregular do

terreno já pronuncia um recobrimento elevado em alguns trechos, além do fato de que

as pontas secas (que possuirão o recobrimento mínimo no seu ponto inicial) estão

localizadas em locais de tráfego muito baixo ou nulo, sendo os menores recobrimentos,

em sua grande maioria, apresentados nelas.

2.4.6. Declividade adotada

Ao analisar os três tipos de declividade, constata-se que para atender o critério

da norma tem-se que a declividade adotada Io deve atender o critério da expressão 2.27.

(2.27)

Isso garante, além de atender aos critérios da norma, que o duto teoricamente

não sofrerá abrasão e que a tensão de arraste seja alcançada como já foi discutido

anteriormente.

Entretanto existe uma série de fatores que devem ser observados. O primeiro

dele é que se a vazão de início de plano for muito pequena, a declividade mínima será

muito reduzida o que pode interferir na execução. Sabe-se que declividades menores

59

que 0,0005 m/m (0,05%) elimina qualquer precisão na execução e por isso devem ser

evitadas, o que é reforçado por autores na área como Araújo (2007a).

Outro fator a se levar em consideração é a declividade que irá proporcionar a

maior economia para o sistema. Observando de maneira geral, quanto menor a

declividade, menor será o volume de escavação. No entanto, a utilização da declividade

mínima pode por vezes eliminar o recobrimento mínimo, devendo ser utilizada uma

declividade maior.

Sabe-se, todavia, que se utilizar a declividade do terreno, estando esta entre os

limites da expressão 2.27, ela representará um volume de material retirado muito baixo

se comparado a declividades maiores que ela, já que acompanha o terreno.

Portanto, conclui-se que, se a declividade do terreno é menor do que a máxima e

maior que a mínima, então se pode adotar uma declividade dentro do limite da

expressão 2.28.

(2.28)

Mesmo assim, a dúvida sobre qual declividade adotar ainda permanece. Então

basta observar que quanto menor a declividade, menos o custo com escavação, portanto

é necessário reduzir ao máximo a declividade o que só é permitido através de uma

análise dos recobrimentos de cada trecho.

Com isso, pode-se criar um procedimento de checagem, tal que seja adotada a

declividade que represente o menor custo de escavação possível, sem que o

recobrimento seja inferior ao recomendado.

Inicialmente, determina-se que todo trecho possuirá ou a declividade mínima ou

a declividade do terreno, adotando-se a maior das duas, desde que esta seja

menor que a máxima.

Em seguida, nos trechos onde foram utilizadas as declividades do terreno,

verifica-se o recobrimento no final do trecho, se este for maior que 0,9 m

(conforme recomendação), isso significa que a declividade pode ser reduzida, já

que possui uma folga no recobrimento.

60

Portanto, através de um processo de tentativa e erro, reduz-se o valor da

declividade até que ela atinja o seu menor valor possível: ou quando o

recobrimento final atinge o mínimo (0,9 m) ou quando a declividade atinge o

mínimo ( ).

Esse procedimento garante que se trabalhe com as menores declividades

possíveis e com os menores volumes de escavação, o que recorre a menores custos e

escoramentos mais simples.

2.4.7. Diâmetro adotado

Com a declividade adotada é possível, portanto estimar o diâmetro a ser

utilizado em cada trecho da rede. O diâmetro calculado atende ao critério de y/do de

0,75, mantendo a folga estabelecida. No entanto, ao se arredondar o diâmetro

encontrado ao seu comercial mais próximo esta folga tende a ficar maior.

(

)

(2.29)

Com relação ao diâmetro mínimo a ser empregado a norma brasileira difere da

norma paulista. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) o

diâmetro nominal mínimo a ser adotado é de 100 mm, todavia segundo a Companhia de

Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) ele deve ser igual ou superior a 150

mm.

No presente trabalho, considerou-se como diâmetro nominal mínimo o

recomendado pela norma paulista (150 mm), já que atende as duas normas, além de

manter uma segurança maior no dimensionamento e garantir que a maior parte da rede

seja do mesmo diâmetro.

61

2.4.8. Cotas dos coletores

Em todo projeto de rede de esgoto, uma das informações mais importantes a ser

apresentada no projeto é a cota do coletor. Ela representa o quanto será necessário

escavar no início e no fim de cada trecho para se colocar o coletor.

As cotas também são importantes para a construção do poço de visita e a

determinação se o poço vai ou não precisar de tubo de queda. Além disso, como ela

indica a profundidade do coletor ela indica a possibilidade de utilização ou não de

Terminais de Inspeção e Limpeza (TIL) no lugar dos Poços de Visitas (PV), o que

barateia ainda mais o custo de implantação da rede.

As cotas iniciais dos coletores na ponta seca, ou seja, no início da rede, podem

ser dadas pela expressão 2.30 que se segue:

(2.30)

Assim, para o ponto final desses coletores, a cota poderá ser dada pela expressão

2.30, onde l é o comprimento do trecho, já que o recobrimento aumenta devido à

declividade (Io).

(2.31)

Para os trechos subsequentes, deve-se analisar as cotas finais dos coletores

anteriores, pois a cota inicial do coletor seguinte será igual a menor cota dos coletores

que contribuem com este trecho. E a cota final será calculada pela expressão 2.31.

62

2.4.9. Profundidade dos coletores

Como já foi dito a profundidade dos coletores é de suma importância na

determinação dos órgãos acessórios, bem como na garantia do recobrimento mínimo e

nos custos de execução da rede.

As profundidades podem, então, serem calculadas pela diferença entre a cota do

terreno e a cota do coletor no ponto em que se deseja saber.

2.4.10. Órgãos acessórios

Os órgãos acessórios de uma rede podem ser descritos como dispositivos não

mecanizados que permitem a inspeção e manutenção da rede de esgoto, garantindo a

pressão atmosférica nas tubulações, condição essencial para o escoamento livre.

Podem ser citados três órgãos acessórios conforme estabelecido pela Companhia

de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006): terminais de limpeza (TL),

terminais de inspeção e limpeza (TIL) e poços de visita (PV).

a) Terminais de Limpeza (TL)

É o dispositivo localizado no início da rede de esgoto, em pontas secas, que

substitui o poço de visita. Este dispositivo, apesar de não permitir visita de inspeção,

permite a introdução de equipamentos de limpeza para desobstrução e limpeza dos

condutos.

A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (2006) possui um

esquema construtivo a ser adotado para os terminais de limpeza, disposto no Anexo C

da norma. O referido esquema pode ser visto no Anexo Digital VI do presente trabalho

com todo o detalhamento necessário para a execução.

b) Terminais de Inspeção e Limpeza (TIL)

Um terminal de inspeção e limpeza é um dispositivo não visitável que pode

substituir um poço de visita (PV) em determinadas situações previstas nas normas.

63

Adotando o que e proposto pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo (2006), um PV pode ser substituído por um TIL nas seguintes situações:

Confluência de até dois trechos a singularidade e uma saída;

Nos pontos com degraus superiores a 0,5 m de altura;

Profundidade do coletor de saída de até 1,6 m, com coletores de chegada e saída

de até 200 mm e sem ligações a montante de postos de gasolina, hospitais e

escolas.

Assim como para os terminais de limpeza, a Companhia de Saneamento Básico

do Estado de São Paulo (2006) também possui um modelo a ser adotado para os TILs

em seu Anexo B, citado como poço de inspeção, e disposto no Anexo Digital V do

presente trabalho.

c) Poços de Visita (PV)

Com isso, existem alguns casos que a Companhia de Saneamento Básico do

Estado de São Paulo (2006) indica como de uso obrigatório dos poços de visita, já que

esse não pode ser trocado pelas alternativas já apresentadas.

Assim, é obrigatório o uso de PV quando:

Há confluência de mais de dois trechos a singularidade e uma saída;

Na confluência que exige tubo de queda, ou seja, diferença entre as cotas mais

alta e mais baixa dos coletores de chegada maior que 0,6 m;

Quando há profundidade maior ou igual a 1,6 m;

Quando a jusante há contribuições que podem acarretar em problemas.

No Anexo Digital III e IV, constam os modelos para poços de visita sem ou com

tubo de queda, sendo este necessário na situação já citada. Existe ainda no Anexo A3 da

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006) um modelo de poço

de visita com tubo de queda interno ao PV.

Ressalta-se também na referida norma, que caso o diâmetro seja superior a 300

mm e haja a necessidade de tubo de queda, deve ser previsto um dissipador de energia.

64

Recomendação não adotada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986), que

ainda indica tubos de queda quando a diferença de cotas for de 0,5 m.

2.4.11. Verificação da rede

O processo de verificação consiste em se confirmar que para os valores adotados

de declividade, diâmetro e vazão, o trecho atenderá as seguintes prescrições:

Lâmina (y/do): limitada em 75%;

Tensão trativa: mínima de 1,0 Pa;

Velocidade final: deve ser inferior a velocidade crítica.

O critério da tensão trativa é atendido de imediato após a adoção da declividade

maior ou igual à declividade mínima, portanto pelos procedimentos já descritos ela não

seria alvo de verificação.

A lâmina é verificada por mera formalidade, mas a adoção de diâmetros

nominais imediatamente superiores aos calculados (e mínimo de 150 mm) já eliminaria

a necessidade de qualquer verificação. Entretanto a lâmina deve ser encontrada para a

verificação das velocidades.

Portanto o único critério que necessita de atenção, frente ao procedimento de

dimensionamento adotado, é o das velocidades. Mesmo assim, usualmente, é incomum

que este critério não seja atendido após seguir o dimensionamento proposto. Contudo a

Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (2006) e a Associação Brasileira de

Normas Técnicas (1986) exigem que esse critério seja avaliado.

O procedimento para a avaliação deste critério é simples e pode ser resumido da

seguinte forma:

Calcula-se a vazão e a velocidade em seção plena pelas expressões 2.32 e 2.33:

(2.32)

65

(2.33)

Em seguida encontra-se a relação de Qf/Qp, entre a vazão do trecho em final de

plano (mínima de 1,5 l/s) e a vazão em seção plena;

Determina-se a relação y/do através da tabela do Apêndice Digital XIV.

Em seguida calcula-se o valor do raio hidráulico e da área molhada através das

expressões 2.34, 2.35 e 2.36:

* (

)+ (2.34)

(2.35)

(2.36)

Em seguida calcula-se a velocidade final e a velocidade crítica através das

expressões 2.37 e 2.38 a seguir;

(2.37)

√ (2.38)

Por fim, verifica-se a expressão 2.39:

66

(2.39)

Caso essa relação não seja satisfeita, deve-se refazer o dimensionamento para

uma lâmina máxima de 0,5, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas

(1986) e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006).

2.5. Análise das Estações Elevatórias

As estações elevatórias compõem uma parte importante dos sistemas de

esgotamento sanitário, pois elas possibilitam atingir trechos debilitados pela topografia

do local a ser empregado.

Portanto, o presente trabalho necessita, para a disposição da rede de esgoto

complementar, prever o local no qual as estações elevatórias irão se localizar para lançar

os efluentes ou diretamente na estação de tratamento ou em outra área de esgotamento.

Além disso, é preciso determinar algumas de suas características como a cota

aproximada de sua localização, a cota de destino e a vazão de entrada na estação que

será determinante para o dimensionamento dos conjuntos de bombas e dos poços de

sucção.

Também foram previstos os caminhos que os emissários deveriam seguir,

evitando ao máximo o lançamento em trechos iniciais das redes das outras áreas e

procurando, sempre que possível, lançar diretamente nas estações elevatórias, mesmo

que elevando um pouco os custos com os emissários.

Vale ressaltar, entretanto, que o dimensionamento e detalhamento dessas

estações não são frutos do presente trabalho, deixando essa questão como sugestão para

trabalhos futuros. Aqui se busca exclusivamente determinar alguns parâmetros para

auxiliar em trabalhos futuros.

67

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Antes da elaboração de um projeto, ou até mesmo da análise de um já existente,

faz-se necessária uma caracterização do local a ser analisado. Isso porque os

coeficientes a serem utilizados e citados nos projetos dependem de diversos fatores

climáticos, geográficos, geológicos, populacionais e dentre outros, que interferem

diretamente na tomada de decisões.

Além desses fatores, ainda se torna imprescindível uma caracterização do meio

em que se insere o local, destacando os aspectos que sejam relevantes para as análises.

No caso do trabalho em questão, além da caracterização do esgotamento sanitário do

Benedito Bentes é de bom senso destacar a sua participação no contexto do município,

já que é nele inserido.

No entanto, como uma caracterização precisa da área necessitaria de uma equipe

múltipla a fim de determinar o clima, geologia e geografia com precisão, a

caracterização que se descreve a seguir é feita com os dados existentes e com a própria

caracterização realizada no projeto existente, já que apesar de o projeto ter sido

elaborado na década de oitenta, características geológicas, por exemplo, permanecem

inalteradas.

Nota-se mais adiante a escassez de dados oficiais sobre o bairro e os que existem

possuem algumas defasagens, como é o caso dos dados populacionais. Isso torna a

caracterização mais complicada, pois ela possuirá, por vezes, mais de uma vertente,

sendo então o bom senso uma ferramenta primordial. Portanto, cabe nesse item apenas

uma descrição de cada característica, sendo as análises mais detalhadas, se necessárias,

propostas nos itens referentes ao dimensionamento.

3.1. Benedito Bentes

Em 1986, quando foi construído, o antigo conjunto habitacional do Benedito

Bentes, planejado pela Companhia Habitacional de Alagoas (COHAB-AL), destinava-

se a abrigar parte da população maceioense que não tinha condições para arcar com

grandes despesas financeiras, como aluguéis ou comprar uma casa própria. Devido ao

crescimento da parte alta da cidade, principalmente daquela região que na época fazia

parte do bairro do Tabuleiro do Martins, e ao aumento populacional, o local passou a

68

contar com estabelecimentos comerciais para atender a população, bem como serviços

de transporte, educação, saúde e saneamento, próprios para o conjunto que a essa altura

já havia sido ampliado para atender a demanda.

Posteriormente, em 06 de janeiro de 2000, foram estipulados os limites oficiais

dos bairros maceioenses ainda não delimitados, restringindo, assim, os limites dos

bairros que foram então divididos. Neles foram inseridos alguns bairros recém criados

pela câmara municipal de vereadores através das leis 4.952 e 4.953, como o Antares,

Santa Lúcia e Benedito Bentes, que foram separados do bairro do Tabuleiro dos

Martins, onde estavam inseridos.

Figura 3.1: bairros de Maceió e seus limites oficiais.

Na figura 3.2 encontra-se uma foto de satélite da região. Destaca-se na figura o

posicionamento dos bairros ao redor, confirmando a localização prevista na figura

69

anterior. As coordenadas geográficas do local, segundo Google (2009), são 9°33’

37.53’’ S e 35°42’28.52’’ O.

Figura 3.2: foto de satélite do bairro do Benedito Bentes. (GOOGLE, 2009)

Na figura ainda estão destacadas as principais avenidas de acesso do bairro em

amarelo. Também é possível identificar a Avenida Menino Marcelo, que corta o bairro

do Antares, sendo a principal via de ligação com o restante da cidade, tendo sido

construída para ser uma via expressa do aeroporto ao porto da capital alagoana.

Portanto pode ser dito que o principal acesso do bairro é feito pela Avenida

Cachoeira do Mirim, que interliga o bairro com a Avenida Menino Marcelo.

3.2. População

Como o bairro só foi criado em 2000, o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) incluía a população residente no conjunto habitacional no bairro do

Tabuleiro dos Martins. Isso acarreta numa falta de dados oficiais sobre a população

local, agravado ainda mais pelo processo de favelização que o bairro tem sofrido com o

aumento populacional.

70

O aumento do número de favelas, sobretudo nas grotas de difícil acesso, acarreta

numa defasagem entre a população oficial, divulgada pelo IBGE, e a população não

oficial, divulgada pela prefeitura comunitária.

Assim o censo publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(2000) revelou que o Benedito Bentes contava com uma população de

aproximadamente 68.000 habitantes em 80 logradouros em seus 24,624 km². Mais

recentemente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007) o

bairro já conta com mais de 78.000 habitantes e mais de 18.000 domicílios.

No entanto, de acordo com a prefeitura comunitária do bairro, em entrevista

publicada (AGÊNCIA ALAGOAS, 2008), o Benedito Bentes atualmente conta com 22

conjuntos habitacionais, 15 grotas e tem uma população de aproximadamente 127.000

habitantes que, se for real, representa quase 14% da população maceioense.

Segundo Alves (2006), a quantidade de habitantes por residência no bairro

obedece as porcentagens especificadas na figura 3.3.

Figura 3.3: quantidades de habitantes por residência no bairro. (ALVES, 2006)

Supondo que o número de domicílios levantados esteja correto, ou seja, que o

recenseamento atingiu as áreas de difícil acesso, a população estaria na faixa

especificada na tabela 3.1 a seguir. Como pode ser visto a população está em torno da

recenseada, no entanto um pouco abaixo. Isso leva a concluir que o recenseamento

possui uma defasagem com relação ao número de habitantes por residência, podendo

resultar em duas conclusões: a primeira de que os recenseadores não chegaram a entrar

em algumas residências, possivelmente pelo fato da maioria dos moradores trabalharem

fora do bairro, estimando a população por uma base 4 habitantes por residência; a

GRÁFICO 3.1: Quantidade de habitantes por

residência no bairro do Benedito Bentes

11%

24%

18%

42%

5%2 pessoas

3 pessoas

4 pessoas

5 pessoas

mais de 5

pessoas

71

segunda de que houve omissão de dados por parte dos próprios moradores da região,

por razões diversas.

Tabela 3.1: população estimada pelo número de domicílios.

Habitantes por

Domicílio

(hab)

Porcentagem

(%)

Número de

Domicílios

Total de Habitantes

(hab)

2 11 2200 4400

3 24 4800 14400

4 42 8400 33600

5 18 3600 18000

>5 5 1000 6000*

TOTAL DE HABITANTES

76400

*supondo 6 habitantes.

Vale ressaltar que o recenseamento tem como principal problema, sobretudo em

localidades de segurança pública comprometida, a incapacidade de alcançar parte das

residências. No caso do Benedito Bentes, um quarto da população atesta como principal

problema a segurança (ALVES, 2006), assim, é de bom senso considerar o fato de que

eles não atingiram todas as residências.

A população é a característica mais importante para o dimensionamento do

projeto e análise do atual, não apenas pelo número de habitantes, mas também pela

distribuição dos mesmos. Portanto, torna-se imprescindível uma correta estimativa da

população real do bairro, pois se nota entre dados oficiais e não oficiais uma defasagem

de 49.000 habitantes, que representa margem significativa a ser reduzida.

Com isso, devido ao aumento crescente da população, sem que tenha havido

ampliações nas redes de esgotamento sanitário, da estação de tratamento, além do mau

uso do sistema por parte da população, o bairro do Benedito Bentes passou a ter um

sistema de esgotamento sanitário ineficiente e defasado diante da situação atual do

bairro.

Isso acarreta problemas socioeconômicos e de saúde que geram grande impacto

na população local, gerando problemas de segurança de saúde pública e a necessidade

de grandes gastos com a mesma neste local, sem falar em outros problemas, como a

72

contaminação do lençol freático da região nos pontos mais baixos das grotas, onde o

nível de água fica a uma menor profundidade.

De acordo com as informações da prefeitura comunitária da região divulgadas

em 2008, a principal atividade econômica do bairro é o comércio que é diretamente

afetado pela falta de saneamento. Ainda segundo a prefeitura comunitária, o

desemprego na região chega a alcançar a marca dos 80% na população de 18 a 25 anos

e ainda ressalta que do total da população empregada, apenas 20% estão trabalhando em

empresas privadas, índices estes muito baixos, podendo ser revertido com ampliações

dos serviços públicos básicos.

Além disso, o bairro ainda passa por um crescimento intenso de sua população

através de realocações populacionais. Esse incremento, advindo de favelas que foram

destruídas por todo município, bem como de programas sociais diversos como o “Minha

casa, sua casa”, do governo federal, gera um enorme transtorno social, de segurança e,

inclusive, de saneamento básico, já que este não consegue acompanhar o aumento

crescente da população. Ainda serão beneficiados os sem tetos espelhados pelo bairro a

fim de evitar um processo de favelização do local. A prefeitura comunitária, em

entrevista, estima que cerca de 3.000 novas casas sejam criadas até o fim do ano de

2010.

Em um trabalho realizado, Alves (2006), descreve uma evolução territorial do

bairro a partir da entrada de novos conjuntos habitacionais. No Anexo I do presente

trabalho, consta o mapa da região dividida em conjuntos habitacionais, de acordo com a

data de entrada.

3.3. Comércio e outros equipamentos

O bairro do Benedito Bentes possui como principal forma de geração de

empregos e renda o setor de comércios. Baseado em dados da prefeitura comunitária o

bairro conta com pelo menos 1200 estabelecimentos comerciais, formais e informais,

sendo a maioria dispostos nas principais avenidas do bairro.

Na tabela 3.2 estão listadas as principais avenidas do bairro e o número de

estabelecimentos comerciais presentes conforme disposto pela Prefeitura Comunitária

do Complexo do Benedito Bentes [2008?].

73

Tabela 3.2: comércio nas principais avenidas do Benedito Bentes

(PREFEITURA COMUNITÁRIA DO COMPLEXO BENEDITO BENTES, [2008?])

Avenidas Número de Estabelecimentos

Av. Garça Torta 110

Av. Pratagy 88

Av. Mundaú 76

Av. Guaxuma 71

Av. Norma Pimentel 52

Dentre os estabelecimentos encontram-se açougues, farmácias, padarias, lojas de

móveis, etc.. Também estão presentes no bairro filiais de grandes lojas como O

Boticário e Oi, além de óticas como a Flulook e dentre outras. Isso serve de grande

atrativo para a população dos bairros vizinhos com estrutura comercial não tão boa

(ALVES, 2006). Assim tanto os pequenos comércios, quanto os grandes, beneficiam a

economia local através da geração direta e indireta de empregos.

Na figura 3.4, tem-se a Avenida Garça Torta, uma das principais avenidas do

bairro. Pode ser destacado os estabelecimentos de pequeno porte, como mercadinhos,

que abastecem a região, já que não há supermercados de grande porte no bairro.

Figura 3.4: Avenida Graça Torta.

(ALVES, 2006)

74

Já na figura 3.5, ganha destaque uma filial de uma rede de farmácias da capital,

além de uma loja de confecções à esquerda, contrastando com uma área residencial da

avenida.

Figura 3.5: Avenida Pratagy.

(ALVES, 2006)

Ainda segundo Alves (2006), o comércio local emprega cerca de 30% da

população do bairro. Na figura 3.6, encontram-se as porcentagens referentes aos locais

de trabalho dos moradores locais.

Figura 3.6: locais de trabalho dos moradores locais.

(ALVES, 2006)

GRÁFICO 4.2: Local de Trabalho das pessoas

entreveistadas no bairro Benedito Bentes.

33%

30% 37%

Benedito Bentes Outro Bairro Não Trabalha

75

O comércio local do bairro, entretanto, está sempre passando por um processo de

ampliação, sobretudo nas ruas menores onde estão se inserindo constantemente

unidades residenciais novas de programas de desenvolvimento social, tanto municipais

quanto estaduais e federais.

Além do desenvolvimento do comércio por estabelecimentos de pequeno porte,

ainda interferem os de alto padrão como a construção do Shopping Pátio Maceió na

entrada do bairro. No entanto, apesar desse estabelecimento fornecer grande

desenvolvimento a população local através da geração de empregos, ele de nada

interfere no esgotamento do bairro, já que os seus esgotos irão ser destinados a um

sistema próprio, em conjunto com a nova fábrica da Coca-Cola, também instalada na

entrada do bairro.

Além dos equipamentos comerciais, o bairro conta com equipamentos públicos e

privados de educação, bem como associações de moradores. Na tabela 2.4 constam os

números desses equipamentos, segundo registros da prefeitura comunitária local.

Tabela 3.3: outros equipamentos não residenciais do bairro

(PREFEITURA COMUNITÁRIA DO COMPLEXO BENEDITO BENTES, [2008?])

Equipamentos Quantidade

Associações 35

Escolas estaduais 08

Escolas municipais 08

Escolas particulares 38

Creches municipais 02

Creches particulares 02

Bibliotecas 02

Equipamentos religiosos 10

Como podem ser observadas, as associações representam um numero

significativo de contribuição de efluentes, assim como as escolas. Apesar desses

equipamentos não possuírem uma contribuição tão grande quanto às residências, é

necessário levá-los em conta, sobretudo pelo fato das associações promoverem cursos e

76

ciclos de capacitação que mantém parte da comunidade dentro dos centros por algumas

horas, suficiente para gerar vazões significativas de contribuição.

3.4. Esgotamento Sanitário

O esgotamento sanitário do bairro, assim como de toda a capital, é de

responsabilidade da Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), que é

responsável pela manutenção e fiscalização das redes existentes, bem como pela

destinação final desses efluentes. Ainda é de responsabilidade da CASAL, analisar as

possíveis ampliações, quando necessárias, das redes existentes, tendo que atender à

maior parcela possível da população.

Assim, visando melhorar o gerenciamento dos esgotos sanitários, Maceió é

dividida em 10 sub-bacias para o esgotamento sanitário municipal. Segundo a

Companhia de Saneamento de Alagoas (2007), na figura 3.7, estão delimitadas essas

sub-bacias.

Figura 3.7: sub-bacias do esgotamento sanitário de Maceió.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 2007)

Como pode ser observado, o bairro do Benedito Bentes é considerado um

sistema totalmente independente dos outros. Atualmente, o sistema deste bairro conta

77

com uma rede coletora, sete estações elevatórias e uma estação de tratamento, composta

por três lagoas em série com aeração mecânica, sendo a disposição final realizada na

parte remanescente da bacia hidrográfica do Riacho Doce.

Além desses sistemas, o polo industrial da capital conta como exigência para a

instalação de fábricas na região que cada poluidor seja responsável pelos efluentes

industriais produzidos. Essa exigência passa a ser requerida não só para indústrias, bem

como para grandes produtores. Como exemplo disso tem-se na entrada do bairro do

Benedito Bentes dois empreendimentos que contam com sistemas próprios de

tratamento: o shopping Pátio Maceió e a fabrica da Coca-Cola, ambos recém

inaugurados no corrente ano. Assim, considera-se que grandes produtores tenham por

exigência fundamental a utilização de um sistema próprio de tratamento de efluentes.

Existe ainda no município um plano diretor, proposto em 1991, que visa

maximizar o sistema de coleta de efluentes da cidade como um todo. Esse plano conta

com três etapas, para reduzir os investimentos iniciais, além de buscar atender

inicialmente os problemas mais urgentes de esgotamento sanitário. O plano objetiva

também integrar todas as redes atuais e futuras, com exceção dos sistemas

independentes, que é o caso do Benedito Bentes e sub-bacias de esgotamento do norte

de Maceió e Pratagy.

Na primeira etapa do plano diretor serão sanados os problemas da área litorânea,

bem como o lançamento de efluentes na lagoa Mundaú. Já a segunda etapa será iniciada

logo após o término da primeira, na qual será prolongado o sistema criado na primeira

para as outras bacias do município que ainda não foram contempladas.

Na terceira etapa, devem-se sanar os problemas devido ao adensamento

populacional e, portanto, a sua implantação deve ocorrer conforme a evolução do

adensamento. É nessa etapa que o bairro do Benedito Bentes seria beneficiado através

de uma ampliação do sistema atual, adequando-se a nova realidade populacional.

A última etapa não possui ainda data prevista, no entanto devido ao aumento

crescente da população, sobretudo em bairros como o Benedito Bentes que são alvo dos

remanejamentos por parte das favelas e dos programas sociais de moradia, esta etapa

torna-se essencial para o desenvolvimento da região.

Na Figura 3.8, tem-se as etapas a serem executadas e as áreas a serem atendidas

pelo plano diretor atual.

78

Figura 3.8: Etapas de implantação do plano diretor de esgotamento sanitário de Maceió.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 2007)

O plano diretor, então, se insere nesse contexto, como forma de propor soluções

para o problema de saneamento básico do município. Segundo a Constituição Federal

Brasileira, em incisos de seus artigos 21º e 23º, os problemas de saneamento básico

devem ser sanados, visando sempre à ampliação das infraestruturas necessárias de uma

região sempre que o serviço não atender corretamente toda a população, sendo esse o

principal objetivo do órgão responsável, que no caso em questão é a CASAL.

3.5. Clima

O clima de Maceió é tropical quente e úmido sofrendo grande influência das

correntes advindas do oceano Atlântico. Decorrente da sua latitude, a amplitude térmica

é muito pequena, ou seja, a temperatura sofre pequenas variações ao longo do dia e ao

longo do ano. Ainda se destacam no clima local apenas duas estações climáticas bem

definidas: verão e inverno, sendo o segundo caracterizado por chuvas torrenciais que

abaixam sutilmente a temperatura e aumentam a umidade relativa do ar.

Para a caracterização do clima no Benedito Bentes necessitaria de dados de uma

estação climática no local. No entanto, como não existem estações no bairro, adota-se a

estação mais próxima ou a influencia das estações ao redor.

De acordo com Omena et al. (2006), existe em Maceió uma estação do Instituto

Nacional de Meteorologia (INMET) que faz a monitorização climática e está localizada

79

próxima ao bairro, em uma região de influências climáticas semelhantes. Na figura 3.9,

encontra-se a localização da referida estação.

Figura 3.9: localização da estação de monitoramento climático.

(OMENA ET AL., 2006)

Nota-se na foto de satélite acima, que a posição para a estação destacada

corresponde às proximidades da Cidade Universitária e do Benedito Bentes, como pode

ser mais bem observado se comparar a figura 3.9 a figura 3.1.

Assim, foi possível caracterizar três parâmetros climáticos da região, todos

baseados em séries históricas de 1931 até 1990, de acordo com o Instituto Nacional de

Meteorologia (2009), sendo estes complementados por informações dos últimos meses,

também fornecidas pelo INMET.

3.5.1. Precipitações

As taxas de precipitações representam a quantidade de água que chove durante

um determinado período de tempo. Para caracterizar as precipitações foram utilizados

dados do Instituto Nacional de Meteorologia (2009) que indicam duas séries históricas

de 30 anos e dados referentes aos 07 primeiros meses do presente ano.

80

Em ambos os conjuntos de dados, os valores representados são precipitações

médias mensais, ou seja, média das precipitações mensais registradas para cada ano. As

precipitações acumuladas repassam uma noção dos períodos mais chuvosos e secos do

ano, condições que interferem diretamente na umidade relativa e temperatura, por

subsequência.

Figura 3.10: Precipitação acumulada para as séries históricas

Na figura 3.10 acima, estão os dados de precipitações médias mensais para as

duas séries históricas. Nota-se uma clara convergência dos maiores valores para os

meses de abril a junho, considerados de inverno para a região. Nota-se também que a

média de ambas as séries históricas encontram seus máximos no mês de maio,

alcançando cerca de 350 mm, e seus mínimos no mês de novembro, com cerca de 50

mm.

Isso não quer dizer que durante esses 60 anos a precipitação não superou os 350

mm, mas indica que a média de cada mês não ultrapassou, ou seja, que em um ano a

precipitação pode ter alcançado 600 mm, mas no ano seguinte teve 200 mm e no outro

250 mm, totalizando uma média de 350 mm para os três anos, por exemplo.

Esse fato, apesar de mascarar um pouco os acontecimentos, ele faz uma boa

representação de como a precipitação se comporta ao longo dos anos, indicando os

meses de maiores e menores incidências de chuvas, fator de muita importância para um

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Meses

Precipitação Média Mensal

1961 a 1990

1931 a 1960

81

planejamento de execução de redes coletoras, por exemplo, que sofre grande

interveniência de águas pluviais.

Já na figura 3.11, encontram-se os dados representativos dos 07 primeiros meses

deste ano. Nota-se uma clara semelhança ao formato dos gráficos da figura 2.6, tendo o

seu pico chuvoso no mês de maio.

Figura 3.11: precipitação acumulada para o ano de 2009.

No entanto, como se pode observar a precipitação no mês de maio esteve em

torno de 650 mm, destacando o que já foi dito em relação ao valor máximo observado

pelas séries históricas e indicando que no ano de 2009 as chuvas sofreram grande

aumento, se comparado as médias históricas.

Com relação a isso, ainda se pode destacar que a média das precipitações ao

longo dos primeiros meses de 2009 foi de 231,43 mm, acumulando um total de 1620

mm de chuva. Essa é uma média relativamente grande se observado que só foram

levados em conta os sete primeiros meses.

Já com relação às séries históricas a média geral em todos os períodos

levantados foi de 159,58 mm, gerando uma precipitação acumulada média de 1915

mm/ano, o que ressalta o alto valor encontrado para o presente ano.

0

100

200

300

400

500

600

700

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Meses

Precipitação Total Mensal

2009

82

3.5.2. Umidade

A umidade é um valor dado em porcentagem e representa a parcela do ar que é

composto por moléculas de água. Na figura 3.12, estão representados os valores de

umidade para as séries históricas a partir dos valores médios apresentados pelos anos

que formam cada série.

Figura 3.12: umidade ao longo dos meses das séries históricas.

Nota-se que os maiores valores de umidade estão nos meses de abril a agosto,

acompanhando os períodos de maiores taxas de precipitação atmosférica. O valor de

umidade máxima registrado para as séries históricas é de, aproximadamente, 82,5 e o

mínimo em torno de 74,5 %. Já a média da umidade ao longo de toda a série estaria na

faixa de 78,4%.

Comparando esses valores com os já apresentados este ano, de maio a junho,

tem-se que a umidade máxima esteve em torno de 96%, no mês de maio, e a menor em

torno de 45%, no mês de abril. No entanto esses valores são referentes a dados horários,

não representando bem a média geral dos três meses que foi de 85%.

Mesmo assim, o valor médio desses três meses ainda foi maior do que o da série

histórica, isso porque esses meses representam os meses de maior umidade ao longo do

ano e, portanto, indica que uma média de 78,4% para a umidade é plausível.

70

72

74

76

78

80

82

84

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Um

idad

e (

%)

Meses

Umidade

1961 a 1990

1931 a 1960

83

3.5.3. Temperatura

As temperaturas da capital alagoana seguem uma variação ao longo do ano bem

definida, possuindo queda na temperatura a partir de abril até setembro, acompanhando

os períodos de maiores taxas de precipitações e, consequentemente, de umidades

relativas.

De maneira semelhante, para a caracterização da temperatura também foram

utilizadas séries históricas e outros dados do Instituto Nacional de Meteorologia (2009).

Estes dados são dos meses de abril, maio e junho de cada ano e ajudam a caracterizar

aqueles, que são as séries históricas descritas na figura 3.13.

Nos dados referentes a estes três meses, a maior temperatura registrada foi de

32,6°C no mês de abril e a menor de 19,5°C no mês de junho e, portanto, seguindo os

meses mais chuvosos representados na figura 2.8 que representa as precipitações até a

metade do presente ano.

Nas séries históricas, representadas na figura 3.13, encontram-se os valores

médios de temperatura ao longo dos anos para cada mês. Pode-se concluir que as

temperaturas médias variam entre 23,5°C e 26,7°C, tendo uma temperatura média anual

geral em aproximadamente 25,14°C

Figura 3.13: temperaturas médias para as séries históricas.

23

23,5

24

24,5

25

25,5

26

26,5

27

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Tem

pe

ratu

ra (

°C)

Meses

Temperaturas Médias

1961 a 1990

1931 a 1960

84

Com isso, demonstra-se que para os meses de abril até junho deste ano a

amplitude térmica é de 13,1°C, enquanto que em relação às médias, a amplitude gira em

torno de apenas 3,2°C. Isso porque essa última amplitude representa uma amplitude em

relação à média das temperaturas de cada mês ao longo de períodos de 30 anos,

enquanto que a primeira indicaria uma amplitude de apenas um ano.

3.6. Geologia, solo e topografia

A caracterização geológica e topográfica da região é imprescindível para a

determinação da inclinação a ser adotada para os condutores, bem como a execução a

ser adotada.

Enquanto a geologia e o perfil do solo são encontrados através de sondagens no

terreno (rotativas ou SPT, respectivamente) o perfil topográfico é encontrado através de

levantamentos no local. No entanto, esses estudos seriam complexos e demandariam

algum tempo para serem elaborados, por isso foram tomados levantamentos já

existentes e fornecidos por órgãos públicos, estadual e municipal.

3.6.1. Geologia e solo

Um levantamento topográfico e geológico de um bairro como o Benedito Bentes

torna-se longo e demorado, além de necessitar de certos investimentos que possibilitem

o trabalho de empresas especializadas no ramo.

No entanto, alguns levantamentos já realizados facilitam a caracterização da

área, sobretudo da parte geológica, já que esta não sofre alterações significativas ao

longo de curtos intervalos de tempo. Por isso se pode adotar sem perdas a caracterização

realizada pelo projeto que existe atualmente, descrita pela Companhia de Saneamento

de Alagoas (1984).

Segundo a Companhia de Saneamento de Alagoas (1984), o bairro está

localizado numa área de tabuleiros, incluída no chamado tabuleiro dos Martins, com

leve inclinação para o leste. Ainda existe uma zona escarpada que serve de elo com a

zona costeira e o perfil do solo pode ser caracterizado como:

85

Na zona de tabuleiro, a camada sub-superficial do solo é composta

predominantemente de areia siltosa, pouco arenosa e o lençol freático está

bastante profundo. A implantação da rede coletora dos esgotos sanitários terá

sua construção facilitada pelo tipo de solo encontrado. (COMPANHIA DE

SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984).

Mais recentemente, baseado em Marques (1994, apud MARQUES, 2008), o

perfil geológico de Maceió pode ser representado pela figura 2.14 a seguir. Na figura

pode-se notar uma escala de altitudes aproximadas, contando como o nível zero, o ponto

mais alto do município.

Figura 3.14: perfil geológico de Maceió

(MARQUES, 1994, apud MARQUES, 2008)

Nota-se que na região alta da cidade, caso do bairro em questão, existe uma

formação sedimentar com um solo basicamente formado de argilas e areias. Na tabela

3.3, retirada de Marques (1997, apud MARQUES, 2008), consta um perfil do solo

típico para a parte alta da cidade de Maceió, na qual se insere o bairro.

86

Tabela 3.3: perfil típico do solo da parte alta de Maceió.

(MARQUES, 1997, apud MARQUES, 2008)

Profundidade Estimada (m) Classificação do Material

0,00

10,00

ARGILA areno-siltosa, consistência média a rija, ou

AREIA argilosa, fofa e medianamente compacta.

SPT: 4 a 15

15,00

AREIA argilosa ou siltosa, com ou sem concentrações

ferruginosas, com pedregulhos, medianamente

compacta ou compacta.

SPT: 15 A 25

20,00

AREIA argilo-siltosa, com pouco pedregulho,

ferruginosa, medianamente compacta a muito

compacta.

SPT: 15 a 50

ARGILA ferruginosa, pouco arenosa, consistente e

dura.

SPT: 20 a 60

Conclui-se, portanto, o mesmo que o relatado no projeto atual, que o solo é

muito bom e facilita a execução, pois como pode ser observado pelo índice de SPT, em

todos os casos o solo estará no mínimo em média compactação (para as areias) ou será

uma argila média e, possivelmente, na maioria dos casos em condições ainda melhores.

87

3.6.2. Topografia

A topografia foi estabelecida pela Secretaria de Planejamento de Maceió que

forneceu o seguinte mapa, figura 3.15.

Figura 3.15: mapa do bairro do Benedito Bentes

(SECRETARIA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO, 2000)

Na figura, podem-se notar algumas curvas em marrom, essas curvas representam

as curvas de nível da região. Essas curvas variam a altitude entre 90m e 35m, entre os

pontos mais altos e mais baixos.

No entanto, a topografia realmente relevante para o traçado dos condutos é que

corta o conglomerado urbano, formado pelos quarteirões, escolas, hospitais, etc. Nota-se

na figura 3.15 que os trechos em amarelo, que são os lotes, praticamente não são

cortados pelas curvas de nível, indicando que os lotes estão basicamente na mesma

altitude.

Na figura 3.16, pode-se observar isto com mais clareza. Na figura está um trecho

do bairro com alguns quarteirões. Nesse trecho, nota-se que a maior parte dos lotes

88

estão compreendidos dentro da curva de nível de 80m (em marrom tracejado). Isso

indica que a inclinação do terreno é, realmente muito sutil nessa área, conforme

indicado pela Companhia de Saneamento de Alagoas (1984).

Figura 3.16: quadras compreendidas na mesma curva de nível.

Essa disparidade entre os trechos mais altos e baixos indica a formação de grotas

e encostas, a maioria desabitada pela impossibilidade de se construir moradias. Mesmo

assim, algumas grotas são habitadas e não sendo contempladas pelo sistema coletor

local. Apesar de ser de difícil arranjo, a rede de esgoto a ser pensada para o bairro, deve

contar com trechos contemplando esses conglomerados, mesmo que isso exija uma rede

inicialmente mais onerosa.

O local ainda possui pontos mais altos nas áreas centrais rodeados de pontos

mais baixos o que compromete a rede no que se refere à profundidade dos coletores,

exigindo uma atenção especial nas declividades a serem adotadas como será discutido

adiante.

89

4. ANÁLISE DO SISTEMA DE ESGOTO DO BAIRRO

A análise do sistema de esgoto atual, existente no bairro, é de suma importância

para o dimensionamento da rede de esgoto complementar. Isso porque interfere nos

trechos a serem dimensionados, no caminhamento dos emissários e no posicionamento

das estações elevatórias.

Basicamente, o lançamento prévio da rede complementar necessita da análise da

que já existe, a fim de apenas complementar a rede já existente no mesmo.

4.1. Rede atual

A rede atual, calculada através das considerações descritas no subitem 3.1,

possui um comprimento total de 64.840 m, percorrendo todo o conjunto habitacional

que deu origem ao bairro do Benedito Bentes.

Na tabela 4.1, contam os comprimentos da rede em função do diâmetro do

coletor apresentados no memorial descritivo do projeto atual.

Tabela 4.1: extensão da rede e diâmetro dos coletores

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Diâmetro (mm) Extensão (m)

150 59.935

200 316

250 1.510

300 1.263

400 732

500 1.084

Como pode ser notado, na maior parte da rede o diâmetro adotado foi de 150

mm, sendo a maior parte da rede, então, executada em cerâmica de barro, cerca 63.024

m executados com esse material.

90

A rede ainda conta com 850 órgãos acessórios, sendo a distribuição descrita na

tabela 4.2.

Tabela 4.2: órgãos acessórios da rede

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Órgão Acessório Unidades

Poços de visita 523

Terminais de limpeza 190

Tês de limpeza 157

O número de acessórios é bastante razoável, pois são 640 órgãos intermediários

para um comprimento total de 64.840 m, dando um afastamento médio de 95,35 m, que

é um número inferior ao apresentado como padrão no memorial (entre 100 m e 150 m).

No projeto, ao todo, são 238 coletores divididos em vários trechos cada um,

numerados e dispostos em tabelas com as informações que compõe cada trecho. São

informações sobre as vazões, número de lotes atingidos, lâmina d’água em porcentagem

da seção cheia, profundidades dos coletores e dentre outras.

Observando a coluna pertinente as lâminas d’água, nota-se que em 27 trechos a

lâmina ultrapassa os 70% e em alguns desses casos chega a 74%. Já na coluna das

inclinações, tem-se que as menores inclinações do projeto são de 0,0022 em dois

trechos do coletor 61 e de 0,0020 em cinco trechos do coletor 129.

Quanto às profundidades dos coletores, em alguns trechos o projeto previu

coletores com mais de 6,0 m de profundidade. Se observados isoladamente, esses

coletores, por vezes ultrapassando os 7,0 m, seriam um problema de menor magnitude,

já que a topografia acidentada do bairro indica que possivelmente haverá esta

necessidade. No entanto, essa característica é apresentada em vários trechos da rede,

sendo observados em alguns casos vários trechos consecutivos, demonstrando que o

projeto da rede não passou por qualquer tipo de revisão que contornasse o problema.

Em média, as profundidades mais recorrentes giram em torno dos 5,0 m, também

inusitadas já que o projeto existente contempla uma região de declividades favoráveis a

implantação.

91

Ainda foi cancelado o coletor 214, anteriormente concebido. Esse trecho,

observando a planta 03/19, estaria interligando o coletor 213 ao 215, mas foi

incorporado pelo coletor 213, sendo apenas mais um trecho do mesmo.

Além dos coletores, a rede conta com cinco estações elevatórias e seis

emissários, apesar de haver referência a um emissário 06, ele não foi concebido. Esse

emissário, de acordo com o memorial descritivo deveria conduzir os efluentes de seis

coletores: 150, 186, 200, 213, 216 e 218, no entanto, no mesmo memorial descritivo,

esses coletores contribuem para o emissário sete, sendo na planta destacado apenas este

emissário, não sendo observado aquele.

As cinco estações elevatórias possuem características a partir da vazão de

entrada nas mesmas, sendo as suas principais características dispostas na tabela 4.3

abaixo, tais como população, volume do poço de sucção para a bomba, bem como as

vazões consideradas para o cálculo das bombas.

Tabela 4.3: estações elevatórias da rede.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Estação

Elevatória

População

(hab)

Volume do

Poço (m³)

Vazões (l/s)

Máxima Média Mínima

EE-1 1565 0,9 5,36 3,14 1,69

EE-2 9665 5,25 34,29 17,90 8,95

EE-3 4280 3,9 25,38 18,67 17,88

EE-4 1010 0,6 3,52 2,02 1,09

EE-5 3830 6,0 39,89 34,21 33,51

Ao observar a tabela anterior, nota-se que apesar das estações elevatórias 03 e 05

possuírem uma população de contribuição bastante inferior a 02, suas vazões são bem

próximas às dela e se observadas as vazões médias as das EE-3 e EE-5 são superiores.

Isso porque para as estações elevatórias foram consideradas as contribuições localizadas

dispostas na tabela 4.4:

92

Tabela 4.4: contribuições localizadas para as estações elevatórias 03 e 05.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

EE – 3

Creches

Escola de 1º grau

EE – 1

EE – 2

EE – 5

Creches

Escola de 1º grau

Escola de 2º grau

EE – 3

Isso, portanto, explica a magnitude das vazões apresentadas. Cada estação

elevatória é dotada de um emissário para conduzir os efluentes a um ponto mais alto. As

estações 01, 02 e 03, como estão destacados na tabela acima, são destinados a outra

estação elevatória: o emissário que saí da estação despeja os efluentes em um poço de

visita pré-determinado. Já os emissários 04 e 05, ao observar o projeto original, são

destinados ao emissário 07 de maneira semelhante ao especificado para os demais.

Entretanto, ao observar a planta de esgotamento sanitário do local, não é possível

encontrar nem a estação elevatória nem o emissário 04.

As características de cada emissário, como diâmetro, extensão e vazão estão

dispostas na tabela 4.5.

Tabela 4.5: características dos emissários das estações elevatórias.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Extensão

(m)

Diâmetro

(mm)

Vazão

(l/s)

Emissário 01 340 100 6,0

Emissário 02 790 200 35,0

Emissário 03 560 200 26,0

Emissário 04 250 100 4,0

Emissário 05 330 200 40,0

93

Para os emissários 01 e 04, o memorial descrito abre precedentes quanto ao

material as ser empregado ou ferro dúctil ou PVC, no entanto em conformidade aos

outros emissários, utilizou-se ferro dúctil.

Além desses emissários ainda existe um emissário para destinar à ETE. O

emissário 07 foi dividido em seis trechos, para facilitar a execução, possuindo as

seguintes características especificadas no projeto.

Tabela 4.6: características do emissário 07

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Trecho Comprimento

(m)

Vazão

(l/s)

Declividade

(m/m)

01 100 166,975 0,020

02 100 166,985 0,005

03 70 166,999 0,005

04 145 169,256 0,005

05 70 169,263 0,005

06 15 174,576 0,005

Nota-se uma variação de vazão ao longo dos trechos, o que não deveria ocorrer

em um emissário, isso porque para esse emissário o projetista levou em consideração a

taxa de infiltração. Outra ressalva é a cerca do material empregado, concreto, escolhido

devido ao diâmetro de todos os trechos, 500 mm. Vale observar também que a vazão

final do trecho 06 será a vazão de chegada a ETE, portanto a estação de tratamento

possuirá uma vazão de entrada de aproximadamente 175 l/s.

4.2. ETE local

Na concepção da estação de tratamento de esgotos do local, o projeto atual, em

seu memorial descritivo, fez uma série de considerações a cerca do tipo de tecnologia a

ser empregada, bem como sobre como ela seria empregada. Isso porque houve a

94

necessidade de um tratamento extremamente eficaz decorrente do local de lançamento

final dos efluentes, cuidadosamente escolhido.

Conforme disposto pela Companhia de Saneamento de Alagoas (1984) no

memorial descritivo do projeto atual, o lançamento dos efluentes após a ETE é realizado

na bacia do rio Pratagy, a jusante da barragem de Duas Bocas (popularmente chamada

de barragem do Pratagy).

A barragem foi projetada, de acordo com a Secretaria do Estado do Meio

Ambiente e dos Recursos Hídricos (2009), para atender as seguintes finalidades:

Ampliar o abastecimento de água de Maceió;

Regularizar descargas do rio Pratagy;

Irrigação a jusante da barragem;

Aproveitamento de vazantes no entorno do lago;

Entre outras.

Na figura seguinte, pode-se observar o posicionamento dessa barragem, vale

observar a proximidade dela com o bairro do Benedito Bentes. Segundo a Secretaria do

Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (2009), a barragem fica a apenas 5

km do Benedito Bentes, estando a 1,2 km do encontro com o rio Messias.

Figura 4.1: posicionamento da barragem Duas Bocas

(SECRETARIA DO ESTADO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS

HÍDRICOS, 2009)

95

O rio Pratagy, que alimenta a barragem Duas Bocas está localizado ao norte da

capital alagoana, podendo ser citado da seguinte maneira:

O rio Pratagy se constitui no maior curso d’água, entre os rios situados ao

norte de Maceió, com nascentes encravados na Região do Tabuleiro. No

trecho correspondente ao médio e alto curso, este rio corre em vale profundo,

até alcançar a planície costeira baixa e alagadiça, sofrendo a influência das

marés, cuja penetração se faz sentir até cerca de 1500 m da foz.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984).

O referido rio deságua no oceano Atlântico nas imediações do bairro de Riacho

Doce, ou seja, em uma zona considerada como um balneário para o município de

Maceió.

Portanto, nota-se que a eficiência do tratamento deve ser muito elevada, devido

ao fato de a jusante da barragem de Duas Bocas o rio ser utilizado para irrigação, bem

como por ele desaguar no oceano.

Além desta opção, ainda foram levadas em conta mais duas opções, descartadas

pelo projetista: lançamento do efluente tratado em Graça Torta e o lançamento do

efluente sem tratamento no início do coletor C-3, deixando o tratamento para ser

realizado junto com os outros efluentes de Maceió.

Conforme relatado pela Companhia de Saneamento de Alagoas (1984), a opção

mais adequada foi a adotada, possivelmente por razões econômicas e ambientais. Para

tal conclusão foi realizado um relatório técnico preliminar aprovado pelos órgãos

responsáveis pela criação do conjunto: COHAB, CASAL e Coordenação do Meio

Ambiente, segundo a referência já citada.

4.2.1. Tecnologias de tratamento

Para o tratamento dos efluentes do Benedito Bentes foram consideradas as

quatro opções mais usualmente empregadas, sendo cada uma analisada a fim de se fazer

um balanço dos pontos positivos e negativos de cada um, além de considerar uma ETE

mista, utilizando mais de um método de tratamento. Ao final, foi determinado o método

96

que, para o projetista, seria o mais adequado de acordo com os seguintes objetivos,

propostos no memorial descritivo:

Eficiência elevada, garantindo depuração adequada;

Baixos custos de construção, operação e manutenção;

Operação simples;

Compatível com a área disponível.

Dentre os possíveis métodos, foram considerados os seguintes: lagoas

facultativas, lagoas aeradas, lodos ativados e filtração biológica. Na tabela 4.7 estão

descritas as eficiências de cada método de acordo com o parâmetro a ser reduzido. Esses

valores estão conforme o apresentado por Inhoff et al. (1971, apud COMPANHIA DE

SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984).

Tabela 4.7: eficiência dos métodos de tratamento.

(COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984)

Tipo de Tratamento DBO Remoção de

Sólidos Suspensos

Germes

Coliformes

Lagoas Facultativas 75 – 95 * 90 – 99

Lagoas Aeradas 70 – 90 80 – 90 **

Lodos Ativados 50 – 90 65 – 95 70 – 98

Filtração Biológica 65 – 95 65 – 90 70 – 95

* pode ser comprometida pela presença de algas

** depende do tempo de detenção

A princípio conclui-se que o método mais eficaz seria as lagoas facultativas, no

entanto o projetista optou por uma análise mais minuciosa de cada um, observando

outros aspectos. A análise feita, a qual será descrita adiante, levou em consideração

aspectos como área a ser ocupada e manutenção, antes de optar pelo melhor método,

além de considerar, obviamente, os fatores de eficácia das tecnologias.

97

a) Lagoas facultativas

O grande problema encontrado pela utilização dessa tecnologia é a área a ser

ocupada. De acordo com as considerações previstas pelo projetista no memorial

descritivo, conforme a Companhia de Saneamento de Alagoas (1984), as lagoas

facultativas teriam ótima eficácia no processo de desinfecção, baixo custo de

manutenção, dispensa gastos com energia elétrica e ainda apresentaria baixos teores de

sólidos suspensos.

No entanto a área designada para este método, caso ele fosse empregado, seria

de quase 30 ha, ou seja, 0,3 km². Essa área seria completamente fora do espaço

disponível para a ETE.

Ainda foram feitas considerações sobre lagoas em série que reduziriam a área

final. Essa associação foi considerada através de um Sistema Australiano que

compreenderia uma lagoa anaeróbica, com cinco dias de retenção, seguida de uma lagoa

facultativa, sem reduzir a eficiência esperada. Entretanto a área ainda continuou muito

grande, necessitando de 0,15 km², e, portanto, descartando essa tecnologia de

tratamento.

b) Lagoa aerada

A tecnologia de lagoas aeradas consiste em uma lagoa com aeradores

convenientemente instalados na superfície, a fim de garantir uma introdução de

oxigênio necessário para a degradação biológica prevista no projeto.

De acordo com o disposto no memorial descritivo do projeto, se fosse utilizada

uma única lagoa seria necessária uma área disponível de 4 ha, a qual já estaria

compatível com a área destinada à estação de tratamento. No entanto, a fim de diminuir

ainda mais essa área, foram consideradas três lagoas aeradas em série. Isso acarretou

numa redução de 1 ha, além de diminuir o número de aeradores, segundo o relatado pela

Companhia de Saneamento de Alagoas (1984).

98

c) Lodos ativados e filtração biológica

Esses dois sistemas sofreram uma análise em conjunto por se tratarem de

tecnologias que, basicamente, dependem do mesmo conjunto de necessidades e

particularidades operacionais.

Ressaltou-se a questão da área requerida como principal ponto positivo desses

sistemas, por se necessitarem de pequenas áreas para atuarem, mesmo em comparação

com as lagoas aeradas supracitadas. Contudo, segundo o apresentado pelo projetista no

memorial do projeto, Companhia de Saneamento de Alagoas (1984), esses dois métodos

de tratamento de efluentes possuem os seguintes inconvenientes:

São sistemas de tratamento que demandam um controle exigente de carga

orgânica e de vazão, acarretando em transtornos provenientes de alterações

desses parâmetros;

Necessitam de técnicos especializados para realizar a manutenção a fim de

manter os índices dentro dos parâmetros estabelecidos;

Os custos de instalação e manutenção são mais elevados do que os das outras

alternativas;

São extremamente dependentes de energia elétrica.

As considerações propostas foram bastante válidas, pois ao se adotar algum

desses sistemas de tratamento, a ETE local iria depender de diversos fatores ligados a

manutenção, o que poderia acarretar em problemas ao longo do ano, sobretudo com

relação ao tratamento inadequado.

Como será visto no subitem 3.3.4, mesmo adotando um sistema mais simples a

ETE local sofre de grandes problemas com manutenção, conforme informações

repassadas pela prefeitura comunitária.

99

4.2.2. Instalações projetadas

Como pode ser visto no item anterior a alternativa adotada for a tecnologia de

lagoas aeradas. Portanto foram projetadas três lagoas aeradas com um número

específico de aeradores a depender da eficiência desejada.

Também foram calculadas uma calha Parshall, que possui a função de medir a

vazão de entrada na ETE, uma estação elevatória final e um emissário final, dando a

destinação final dos efluentes tratados.

Como pode ser visto na figura 4.2, as lagoas são dispostas em série interligadas

por tubulações acopladas a flutuadores, coisa comum nesse tipo de tratamento.

Figura 4.2: lagoas aeradas em série da ETE do Benedito Bentes

(PREFEITURA COMUNITÁRIA DO COMPLEXO BENEDITO BENTES, [2008?])

As lagoas possuem o mesmo formato de tronco de prisma de base retangular. Na

figura 4.3 consta um esquema geral das três lagoas, sendo uma planta baixa. O

retângulo interno representa a base, enquanto que o externo representa a boca.

100

Figura 4.3: esquema geral das lagoas aeradas.

No entanto as dimensões variam de uma lagoa para a outra a depender da

eficiência requerida pela mesma. Na tabela 4.8 constam as dimensões de cada uma das

três lagoas.

Tabela 4.8: dimensões das três lagoas

Dimensões da Base Dimensões da Boca

A B C D

Lagoa 1 45,00 130,00 63,00 148,00

Lagoa 2 45,00 60,00 63,00 78,00

Lagoa 3 45,00 120,00 63,00 138,00

Como se pode notar a primeira lagoa é a maior das três, sendo a segunda a

menor, provavelmente devido à topografia local.

Quanto aos aeradores presentes em cada lagoa, eles foram dimensionados, em

número, de maneira que as primeiras lagoas possuíssem uma maior eficácia do que a

última, portanto o número de aeradores diminui de uma lagoa para a outra.

Além do número de aeradores, ainda existe a questão do tempo de detenção, que

representa o tempo necessário que o efluente necessita passar dentro da lagoa, em

contato com os aeradores, para que possa haver uma correta redução da demanda

bioquímica de oxigênio (DBO).

101

O tempo de detenção é uma relação entre o volume total da lagoa, a taxa de

aeração necessária e o volume de entrada na lagoa em um dia. Por isso, quanto maior a

lagoa, maior é o tempo de detenção, já que se considera que a vazão de entrada será

igual à vazão que passa de uma lagoa para a outra, assim é correto afirmar que a lagoa 1

terá o maior tempo de detenção, enquanto que a lagoa 2 terá o menor, levando em conta

as dimensões especificadas na tabela 4.8.

Na tabela 4.9, estão relacionados os números de aeradores em função da lagoa

correspondente, bem como o tempo de detenção de cada lagoa e o total das três.

Tabela 4.9: número de aeradores e tempo de detenção em cada lagoa

Número de Aeradores Tempo de Detenção

Lagoa 1 6 3,97 dias

Lagoa 2 2 1,99 dias

Lagoa 3 2 3,70 dias

Total 10 9,66 dias

Na figura 4.2 podem ser visto os aeradores já em funcionamento, sobretudo para

a terceira lagoa. No entanto, como será discutido adiante, o número de aeradores

aumentou e atualmente as lagoas contam com mais 13 aeradores, segundo informação

repassada pela prefeitura comunitária do bairro.

Outra ressalva sobre os aeradores é sobre as potências dos mesmos, que variam

de acordo com a lagoa. Na primeira lagoa os aeradores são de 20 cv, cada um, na

segunda lagoa são de 15 cv cada, enquanto que na terceira os dois aeradores são de 10

cv, cada. Isso porque a eficiência exigida diminui a medida que o efluente transpassa

pelas lagoas e, portanto, a potência e o número de aeradores também diminui.

Além dessas unidades, a estação de tratamento do Benedito Bentes ainda conta

com uma estação elevatória e com um emissário para destinar os efluentes tratados para

a bacia do Pratagy.

Projetada para regularizar as vazões da ETE, a estação elevatória foi pensada

para uma vazão de 100 l/s, são duas bombas de funcionamento simultâneo de 50 l/s

cada e uma terceira bomba de reserva. O poço de sucção da estação elevatória foi

102

dimensionado para um intervalo de tempo de 10 minutos entre duas partidas

consecutivas, assim o seu volume foi calculado em 15 m³.

Na saída da estação elevatória final, o efluente passa por um processo de

desinfecção com a aplicação de cloro gasoso. A dosagem indicada pelo projetista é de

0,01% (ou 10 mg/l), com cloradores de capacidade máxima de 71,53 g/min, segundo

disposto no memorial descritivo (COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS,

1984).

Da estação elevatória final, os efluentes são destinados através de um emissário

final. O emissário, dimensionado pela vazão de saída da estação elevatória, foi dividido

em dois trechos, um de alta pressão com 770 m de extensão e com diâmetro de 300 mm.

Esse diâmetro foi encontrado utilizando-se a fórmula de Bresse com sua constante igual

a 1,0, arredondando ao fim o valor encontrado para o comercial inferior mais próximo.

Este procedimento é desaconselhado atualmente, tanto com relação ao valor da

constante empregado, abaixo do 1,3 que é proposto por Porto (2006), e por ter

arredondado ao valor inferior, ou seja, o diâmetro a ter sido adotado deveria ser, no

mínimo, de 400 mm. O material utilizado no primeiro trecho foi o ferro dúctil,

cimentado gerando uma perda de carga de 5,75 m.c.a/km, segundo apresentado no

memorial descritivo.

O outro trecho, de baixa pressão, foi ainda dividido em um trecho sob pressão,

como forma transitória para um trecho em escoamento livre. No trecho de baixa

pressão, a tubulação possui diâmetro de 400 mm com uma perda de carga unitária de

1,35 m.c.a/km e um comprimento total de 4150 m. Já o último trecho, em escoamento

livre, devido a declividade do terreno, foi projetada um canal aberto de 1,0 m x 0,5 m e

com uma lâmina d’água em 0,2 m. Neste trecho, a velocidade está em torno de 1,0 m/s e

a canal ainda possui uma descida de escada, ou seja, foram feitos degraus como forma

de dissipar energia.

4.2.3. Características finais dos efluentes

Após o tratamento, os efluentes que saem da estação de tratamento serão obtidos

efluentes com características físicas, bioquímicas e microbiológicas bem definidas. Na

teoria, segundo descrito pela Companhia de Saneamento de Alagoas (1984), no

103

memorial descritivo, os efluentes finais devem conter as seguintes características, antes

de serem dispostos na bacia do Pratagy, como já foi comentado:

a) Características físicas

Os efluentes sairiam da ETE com características físicas bastante otimizadas,

desde que garantida a total degradação da matéria orgânica, pois assim eles saem com

baixo teor de sólidos suspensos. Quanto às algas, não haveria proliferação das mesmas

devido ao tempo de detenção muito curto, em comparação às lagoas facultativas.

b) Características bioquímicas

É citada no memorial descritivo, sobre a concentração de DBO, a seguinte

observação:

A concentração da DBO solúvel no efluente de lagoas em série, conforme a

concepção do projeto, é da ordem de 15 mg/l, de acordo com o resultado

observado em experiências realizadas. Somada essa parcela com a DBO dos

sólidos suspensos contidos no efluente, resulta carga orgânica degradável não

superior a 30 mg/l, conforme é desejável. (COMPANHIA DE

SANEAMENTO DE ALAGOAS, 1984).

Como pode ser lido acima, ainda é projetada uma folga de DBO para que seja

lançada no corpo receptor, isso porque a vazão estimada no trecho a serem destinados

os efluentes é da ordem de 300 l/s, tendo condições de aceitar perfeitamente os efluentes

com a taxa de DBO estimada no projeto, sendo a diluição no corpo receptor, ainda

considerada para o tratamento do efluente. Ainda se faz referência a um DBO do

efluente bruto na faixa de 315 mg/l, descrevendo uma eficiência elevada do sistema.

c) Características microbiológicas

Cita-se no memorial que o desaparecimento de germes de origem fecal em

lagoas de estabilização é muito rápido, assim o projetista não faz nenhuma outra

ressalva, citando alguns trabalhos como reforço de sua afirmação.

104

4.3. Comentários e observações

Sobre o sistema de esgotos do bairro, valem fazer algumas ressalvas com relação

ao projeto atual e à situação atual do Benedito Bentes, sendo esta relatada pela

prefeitura comunitária do local.

4.3.1. Projeto atual

O primeiro comentário a se fazer sobre o projeto do sistema atual recai sobre a

ETE. A estação, como já foi supracitado, foi dimensionada para funcionar com um

tempo de detenção total de nove dias e meio, aproximadamente. No entanto como pode

ser observada no memorial descritivo a vazão de chegada na ETE pode ser, em horários

de pico, de 175 l/s, enquanto a maior vazão de saída da ETE é de 100 l/s.

Esse fato gera amortizações indevidas na própria ETE, na rede e nos poços de

sucção a montante da estação de tratamento, que podem gerar alguns problemas de

ordem prática:

O tempo excessivo de detenção na rede permite a geração de gás sufídrico em

maior quantidade que ao reagir com a umidade presente se torna ácido sulfúrico,

considerado um ácido forte e altamente corrosivo para tubulações de ferro e

concreto, presentes em boa parte da rede. Ao corroer a tubulação o gás sulfídrico

que ainda não reagiu com a umidade, é liberado no solo e na atmosfera,

causando danos ambientais, além de diminuir a resistência do solo sobre a

tubulação geando inconvenientes na pavimentação do local. Esse fenômeno é

descrito por Nuvolari (2007) como um fenômeno mais recorrente em regiões de

clima quente, tubulações com baixa declividade e em poços de sucção que

detêm o esgoto por certo período de tempo.

Retira a eficiência dos aeradores que irão tratar um volume maior de esgoto do

que o projetado.

105

Aumenta o tempo de funcionamento das bombas da estação elevatória final

quando o volume da ETE está muito grande, gerando gastos excessivos com

energia.

Obviamente, em parte do tempo a vazão de entrada na rede é inferior a esses 175

l/s propostos, no entanto a estação elevatória final deveria ter sido projetada com mais

cautela nesses aspectos.

Na saída da estação elevatória, a cloração prevista possui uma concentração de

cloro um pouco elevada, ao se observar a eficiência prevista no sistema, pois é gerado

um cloro residual desnecessário, já que o sistema irá destinar o efluente tratado para o

corpo d’água, representando um gasto não necessário com cloro.

Além desses aspectos, o projeto ainda apresenta algumas falhas na rede de

esgotos, não somente com relação à parte técnica, mas também na parte executiva. No

subitem 3.2, pode-se observar que a rede possui em diversos trechos a lâmina d’água

funcionando com mais de 70%, isso deveria ter sido evitado, pois há a possibilidade do

conduto funcionar nesses trechos como conduto forçado, já que não foram consideradas

as ampliações do sistema, pois não se adotou a população de projeto com alcance.

Outra ressalva importante é que não foram feitas qualquer verificação a cerca da

velocidade crítica ou da tensão trativa, já que no memorial descritivo disposto pela

Companhia de Saneamento de Alagoas (1984) não consta o método de

dimensionamento do diâmetro. O único fator verificado foi o da lâmina, não havendo

registro de y/do maiores que 75%.

Além disso, a ampliação dos conjuntos habitacionais que compõe o projeto

(Benedito Bentes I e Benedito Bentes II) gera uma vazão de contribuição bem superior a

especificada no projeto, deixando clara a necessidade de se deixar uma folga na lâmina

d’água. Na figura 4.4, consta uma mudança sutil já evidenciada entre o projeto e o que

consta atualmente nas plantas da secretaria de planejamento.

106

Figura 4.4: mapa da secretaria de planejamento e foto de um trecho do projeto.

Vê-se a criação de duas novas quadras, além das casas ao redor anexadas

posteriormente. Essa situação ocorre ao longo de todo o projeto, com a criação dos

conjuntos habitacionais do Benedito Bentes I e II, residências iam sendo construídas em

todo o entorno, gerando um crescimento não projetado.

Além disso, algumas partes dos conjuntos não chegaram a ser construídas

devido a construção de residências anteriormente em locais onde haviam sido

planejados quarteirões. Ao se fazer o lançamento prévio da rede para o projeto da rede

complementar, as ruas da rede atual foram todas contempladas, inclusive considerando

o trecho de coletor duplo em uma mesma avenida, como pode ser visto no Apêndice

Digital I. Ao somar os comprimentos de todos os trechos pertencentes à rede atual

foram evidenciados em torno de 53 km de rede, havendo uma disparidade com os 64

km apresentados em uma tabela no memorial descritivo (observar tabela 4.1).

Na figura 4.5 nota-se uma distinção do planejamento do projeto na época com o

que existe no bairro hoje em registros da secretaria de planejamento. Nela evidencia-se

a clara entrada de residências em ruas onde não há quarteirões registrados atualmente.

Se observado o proposto por Alves (2006) a região em questão corresponde a uma área

de favelas localizada no entorno de grotas, o que reforça o argumento de que nem toda a

rede de esgoto possa ter sido construída efetivamente de acordo com o projeto.

107

Figura 4.5: mapa da secretaria de planejamento e foto do trecho correspondente.

Quanto à parte executiva do projeto, as profundidades muito grandes dos

coletores aliado aos materiais utilizados e o diâmetro dos coletores evidenciados geram

alguns transtornos como:

Necessidade de escoramento mais rígido, provavelmente utilizando placas de

aço nas laterais, o que onera os custos de implantação.

Dificuldade de manutenção nos casos de reparo de redes, já que a profundidade

torna difícil escavar, além de que seria uma operação cara.

108

Não foram previstos coletores auxiliares para as ligações prediais nesses trechos,

como previsto pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) e pela

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006).

Encarece os poços de visita, pois deverão ser mais profundos, sobretudo nos

trechos cujo trecho subsequente ainda possui uma profundidade elevada, como

no coletor 129.

A maior parte dos problemas, portanto, são de ordem econômica e prática, assim

essas questões deveriam ter sido analisadas na revisão do projeto, o que não ocorreu, já

que essas peculiaridades ainda foram aprovadas. No entanto, isso também se deve ao

fato de que existem vários trechos com as profundidades elevadas, não resultando em

pontos isolados no sistema.

Outro problema na elaboração do projeto evidenciado está ligado ao

arredondamento dos diâmetros para os comerciais mais próximos inferiores, ao invés de

tomar os superiores. Isso acarreta em retirar a folga que aquele trecho teria, apesar de

diminuir os custos de implantação, fato que provavelmente pesou para a escolha do

projetista.

Já em observância ao projeto como um todo são necessárias algumas ressalvas,

pertinentes à organização do projeto:

Apesar de passar por uma revisão, o projeto continuou com algumas falhas

como o emissário 6 que não existe em projeto, mas continua sendo citado,

apesar das informações serem as do emissário 7.

O emissário 4 e a sua respectiva estação elevatória não conseguem ser

encontrados nas plantas do projeto, levando a uma divergência entre o memorial

descritivo e as pranchas.

O cancelamento de um trecho que poderia ter sido previsto, dificultando a

análise das plantas.

As plantas dos projetos não estão completas, sendo algumas delas ausentes.

Outras estão apagadas ou estão manchadas, impossibilitando a observação de

algumas informações. Isso se deve obviamente ao tempo, já que o projeto é da

década de 80, e do arquivamento ao longo dos anos, sem nenhuma memória

fotográfica para garantir a conservação do projeto.

109

Os levantamentos topográficos e geológicos previstos que não existem mais no

conjunto do projeto.

Erros na soma e elementos na tabela resumo da rede coletora, presente no

memorial descritivo.

Esses problemas com o projeto levam a conclusão de que não houve uma revisão

minuciosa no projeto, gerando falhas no acervo do projeto atual, já prejudicado pelo

incorreto arquivamento na época, que mesmo tendo sido corrigido atualmente, gerou

danos às plantas e memoriais, os quais já deveriam estar em formato digital, ao menos

uma parcela.

4.3.2. Situação atual

Além dos problemas já citados com relação ao projeto executado, ao longo dos

anos o esgoto sanitário do Benedito Bentes sofreu mudanças decorrentes da má

manutenção, fiscalização e até mesmo certo descaso por parte da Companhia de

Saneamento de Alagoas (CASAL), responsável pelo saneamento do bairro.

Segundo a prefeitura comunitária do Benedito Bentes, o sistema de esgotamento

sanitário da região passou por algumas reformas, oficiais ou não, sem que os condutos

tenham sofrido qualquer alteração. Como pode ser visto o projeto atual foi proposto

para o conjunto habitacional do Benedito Bentes I e II, no entanto, com a ampliação

destes dois conjuntos ao longo dos anos, o esgotamento sanitário das novas residências

era ora destinados a rede ora descartados de maneira imprópria.

Buscando uma maneira de suprir a falta de esgotamento sanitário do bairro,

moradores locais têm utilizado como alternativa o uso de poços absorventes para

destinar seus efluentes. Esses poços, em sua grande maioria sem qualquer tipo de

dimensionamento e posicionamento adequado terminam por comprometer a saúde e o

comércio em torno, sobretudo pelo transbordamento usualmente observado.

Na figura 4.6, nota-se a precariedade desses tipos de poços absorventes,

demonstrando total falta de fiscalização pelos órgãos responsáveis. Na figura em

questão o poço absorvente possui poucos metros de profundidade e recebe efluentes de

doze residências em seu entorno.

110

Figura 4.6: poço absorvente improvisado.

Pode ser observado que o sumidouro em questão está totalmente exposto. Em

períodos chuvosos facilmente ocorre o transbordamento do poço absorvente,

espalhando os efluentes por toda a rua, sendo lixiviado a pontos mais baixos, em ruas

adjacentes. Além disso, como o sumidouro não possui tampa, sendo esta uma

obrigatoriedade, ocorre uma rápida disseminação de vetores, sejam macro vetores

(ratos, baratas, helmintos, etc.) sejam micro vetores (protozoários, fungos, bactérias e,

inclusive, vírus), que afetam diretamente a saúde da população local.

Ainda por iniciativa local, principalmente em estabelecimentos comerciais,

foram criadas fossas sépticas visando destinar os efluentes. Entretanto, essas fossas não

possuem um correto esvaziamento, já que, por motivos geralmente econômicos, os

responsáveis não se interessam em esvaziá-las regularmente. Isso acarreta um problema

semelhante aos poços absorventes, já que ao transbordar, as fossas lançam os efluentes

na própria rua, como pode ser visto na figura 4.7.

111

Figura 4.7: fossa séptica transbordando.

Este problema é muito mais ameno do que aquele, isso porque se forem

comparados, o primeiro problema apresentado não possui ao menos uma tampa, ainda

gerando riscos de acidente, além de possuir um risco de contaminação bem maior,

sobretudo em períodos chuvosos. Mesmo assim, não se pode ignorar o segundo, porque

ele ainda representa um problema de má destinação aos efluentes do bairro, além de

uma falta de atenção e fiscalização por parte das autarquias públicas.

Além desses problemas, a vazão de saída do sistema como já foi dito, é superior

à de entrada da estação comprometendo a eficiência do sistema de tratamento.

Esse fato já explica a reforma sofrida pela estação de tratamento do local a qual

recebeu 05 novos aeradores no ano de 2005 para poder ampliar a capacidade de

tratamento da ETE cujo tempo de detenção foi reduzido para acomodar a vazão real

evidenciada.

Mesmo assim, devido à falta de manutenção os quinze aeradores atuais estão

sem funcionar, fazendo com que as lagoas aeradas passem a funcionar como simples

lagoas de estabilização. Isso acarreta em um tratamento ineficaz já que a área necessária

para uma lagoa de estabilização é pelo menos dez vezes maior do que a área da ETE do

112

bairro, o que possivelmente está gerando uma poluição de cunho hídrico na bacia do

Pratagy, que recebe os efluentes da estação.

Essa deficiência pode ser observada na figura 4.8 abaixo. A imagem é da

primeira lagoa aerada da ETE do bairro. Nota-se que apenas três dos aeradores estão

funcionando, mesmo tendo sido projetado para seis e terem sido acrescentados mais

dois na reforma. Portanto, como pode ser observado dos oito aeradores, apenas três do

total.

Figura 4.8: primeira lagoa aerada da ETE do Benedito Bentes.

(ALVES, 2006)

A conclusão que se pode tomar é que, com a poluição da bacia do Pratagy a

partir do ponto de descarga, gera um impacto negativo não só na qualidade da água do

próprio rio, mas também compromete a qualidade da água da praia de sua foz, bem

como das vizinhas, já que os agentes poluentes são carregados pela própria maré.

Mesmo que o impacto nas praias de Garça Torta, Guaxuma e Riacho Doce, não

seja tão grande, o não funcionamento adequado da estação de tratamento deste bairro

(popularmente apelidada de “bostão”, devido aos odores liberados e o acúmulo de

efluentes sem tratamento) acarreta em geração de vetores, inibição do uso da água a

jusante do ponto de lançamento seja para qual for o uso e eutrofização do rio, causando

impacto na fauna e flora do mesmo.

113

5. POPULAÇÃO DE PROJETO

Após a apresentação dos modelos de projeção, analisa-se, então, os modelos

propostos a fim de se alcançar o modelo que melhor representa a região. As análises,

estatística e gráfica, indicam o modelo a ser utilizado para o cálculo da projeção.

Portanto, os modelos propostos calibrados são apresentados nos subitens que se

seguem de maneira a determinar a população de projeto para uma projeção de 20 anos,

indicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) e pela Companhia de

Saneamento Básico do Estado de São Paulo (2006).

5.1.1. Modelos calibrados

Os modelos foram calibrados pelos métodos já citados, amplamente reforçados

por artigos e outras publicações da área. Os modelos foram calibrados utilizando o

coeficiente de determinação como função objetivo. Assim, podem-se obter os seguintes

valores para os coeficientes de ajusta para cada modelo, conforme observado na tabela

4.4 que se segue.

Tabela 4.4: valores de R² para os modelos propostos.

Modelo R² (%)

Aritmético 88,06

Geométrico 95,03

Regressão Multiplicativa 93,72

Taxa Decrescente de Crescimento 86,79

Crescimento Logístico 49,11

Ao observar os valores acima, conclui-se que o modelo geométrico foi o que

melhor se ajustou ao conjunto de dados. No entanto, é preciso analisar a tendência de

erros dos modelos, disposta no gráfico da figura a seguir.

Há uma tendência dos modelos mais bem ajustados de possuírem erros

quadrados reduzidos ao se aproximar dos últimos valores de população. Chama-se a

atenção para as faixas de ajuste, onde os modelos de mesma faixa acompanham a

mesma tendência, por isso na figura foi excluído o modelo de crescimento logístico,

114

pois como o seu ajuste foi bem inferior ele danificaria a observação dos demais, devido

à escala.

Figura 4.3: tendência de erros quadrados dos modelos calibrados.

Portanto tomando os dois melhores ajustes para a análise gráfica, tem-se o

correspondente às figuras 4.4 e 4.5 aos modelos geométrico e de regressão

multiplicativa, respectivamente.

Figura 4.4: modelo geométrico calibrado.

0

200.000.000

400.000.000

600.000.000

800.000.000

1.000.000.000

1.200.000.000

1.400.000.000

1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

Erro

s Q

uad

rad

os

Ano

Aritmética

Geométrica

Regressão Multiplicativa

Taxa Decrescente deCrescimento

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

1980 1990 2000 2010 2020

Po

pu

laçã

o

Ano

População Estimada

População Real

115

Figura 4.5: modelo de regressão multiplicativa calibrado.

Apesar de parecerem o mesmo gráfico a diferença sutil pode ser percebida pela

tabela resumo dos valores de população para os dois métodos (tabela 4.5).

Tabela 4.5: valores estimados de população e valores reais.

População Estimada

Ano População Real Geométrico Regressão

Multiplicativa

1986 23.807 23.807 23.807

1988 41.104 27.900 24.907

1990 51.200 32.696 28.016

1995 57.005 48.610 44.032

2000 67.923 72.271 71.372

2004 79.373 99.254 101.173

2006 127.000 116.317 118.674

2009 143.000 147.565 148.144

2010 158.000 159.746 158.820

Na tabela acima, nota-se uma convergência dos dois modelos, seguindo a

evolução populacional com uma margem muito pequena de diferença.

Vale ressaltar os resultados aqui encontrados são bastante razoáveis para série de

dados em tempos relativamente curtos, menos que 30 anos. Isso pode ser visto através

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

1980 1990 2000 2010 2020

Po

pu

laçã

o

Ano

População Estimada

População Real

116

do resultado da calibração para o modelo de crescimento logístico, que geralmente

apresenta bons resultados para séries temporais maiores, e para o modelo aritmético,

que é mais representativo para séries menores, onde o coeficiente angular da reta por ele

gerada é menos interveniente.

5.1.2. Projeção populacional

Portanto a projeção populacional foi realizada através do modelo de projeção

geométrica devido aos motivos já explicitados. A expressão calibrada para o modelo

encontra é a descrita na expressão 4.18 que se segue.

(4.18)

Portanto, supondo que a projeção é feita para um período de 20 anos, então t será

igual a 2030, tem-se:

habitantes

No entanto, analisando pelo modelo de projeção de regressão multiplicativa,

pelos mesmos motivos, através da seguinte relação:

(4.19)

O que resultaria em uma população de, aproximadamente, 460.200 habitantes.

Esse número é um pouco melhor do que o anterior, pois se aproxima de um valor mais

plausível com as limitações territoriais apresentadas no local. Mas mesmo assim

117

representa um número de habitantes inconsistente com as condições territoriais do local,

pois ele indicaria um aumento de 291,28% da população estimada para 2010.

Assim, faz-se necessário analisar outro modelo. Observando os modelos que

trabalham com população de saturação, taxa decrescente de população e crescimento

logístico, é válida a análise pelo primeiro. Isso porque ele apresentou os melhores

resultados com os dados existentes e por trabalhar com população de saturação, ele

possui uma limitação ao número de habitantes do local, que é o que ocorre na realidade

já que o bairro já passa por uma situação de grande conglomerado.

Observando a figura 4.6, nota-se o comportamento desse modelo em relação a

população real do bairro.

Figura 4.6: modelo de taxa decrescente de crescimento calibrado.

Pela análise gráfica conclui-se que o modelo se afasta um pouco da curva real

nos anos intermediários, mas se aproxima muito nos últimos anos, o que leva a concluir

que o modelo pode dar uma boa estimativa. Assim, com a expressão 4.20, faz-se a

estimativa com este modelo.

(4.20)

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

1980 1990 2000 2010 2020

Po

pu

laçã

o

Ano

População Estimada

População Real

118

Substituindo t=2030, obtém-se uma população de, aproximadamente, 225.713

habitantes, muito mais palpável do que as outras duas populações encontradas. Isso

ressalta a importância da correta análise dos resultados obtidos com a situação real do

local.

Com isso, tem-se:

119

6. REDE COLETORA COMPLEMENTAR

O projeto da rede coletora complementar foi elaborado a partir dos

procedimentos de dimensionamento já apresentados no presente trabalho. Parte do

projeto, correspondente a área G, pode ser visto no Apêndice Digital II com o respectivo

detalhamento e as tabelas resumo de cada área nos Apêndices digitais especificados a

diante. Também pode ser visto o esquema geral junto com a sugestão de

posicionamento das Estações Elevatórias no Apêndice Digital XIII.

O projeto foi dividido em dez áreas a partir das sub-bacias de esgotamento. Nos

subitens a seguir constam as principais informações sobre cada área de projeto através

de tabelas resumidas, além breves comentários sobre as profundidades e diâmetros

máximos adotados.

Para todas as áreas foram utilizadas as mesmas vazões em marcha de início e

final de plano, calculadas a partir do procedimento descrito no subitem 2.4.3. Para elas

foi considerado um comprimento total de, aproximadamente, 87.635 m, sendo 52.562 m

da rede já existente e 35.073 m da rede complementar.

Assim utilizando os outros parâmetros já apresentados no subitem citado, têm-se

os valores da tabela 6.1 seguinte.

Tabela 6.1: vazões em marcha para o dimensionamento da rede complementar.

Vazão em Marcha Inicial

(l/s/m)

Vazão em Marcha Final

(l/s/m)

0,003105 0,006539

6.1. Área A

A rede coletora da área A é composta de, aproximadamente, 3.100 m de rede

dividida em 42 trechos. O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 200 mm.

Na tabela 6.2 constam os comprimentos de rede para os dois diâmetros adotados.

120

Tabela 6.2: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área A.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 2.900

200 200

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 2,10 m,

possuindo um valor máximo de 5,35 m, no ponto a jusante do coletor número 22, ou

seja, a montante do 27º.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 06, 25, 28, 30 e 34 tiveram

suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o volume de escavação

nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área A podem ser observados no Apêndice Digital III,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.2. Área B

A rede coletora da área B é formada de 6.710 m de rede repartida em 89 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 300 mm. Na tabela 6.3 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.3: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área B.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 5.774

200 348

250 315

300 273

121

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 2,13 m,

possuindo um valor máximo de 5,56 m, no ponto a jusante do coletor número 65, ou

seja, a montante do 66º.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 12, 15, 24, 29, 32, 35, 47, 53,

62, 66, 68, 71, 74, 75, 77, 80, 86, 87 e 88 tiveram suas declividades adotadas de maneira

a diminuir ao máximo o volume de escavação nesta área, obedecendo ao procedimento

já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área B podem ser observados no Apêndice Digital IV,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.3. Área C

A rede coletora da área C é formada de 6.997 m de rede repartida em 114

trechos. O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 300 mm. Na tabela 6.4

constam os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.4: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área C.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 5.753

200 875

250 230

300 139

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 1,71 m,

possuindo um valor máximo de 5,89 m, no ponto a jusante do coletor número 54, ou

seja, a montante do 55º.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 08, 10, 11, 13, 23, 39, 41, 50,

52, 53, 55, 57, 58, 59, 60, 63, 64, 66, 74, 75, 84, 91, 94, 103, 106, 107, 111 e 113

tiveram suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o volume de

escavação nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área C podem ser observados no Apêndice Digital V,

contendo os valores em função de cada trecho.

122

6.4. Área D

A rede coletora da área D é formada de 4.388 m de rede repartida em 68 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 300 mm. Na tabela 6.5 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.5: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área D.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 3.406

200 225

250 601

300 156

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 1,67 m,

possuindo um valor máximo de 4,31 m, no ponto a jusante do coletor número 23, ou

seja, a montante do 24º.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 19, 20, 21, 24, 25, 31, 41, 42,

43, 44, 46, 56, 58 e 59 tiveram suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao

máximo o volume de escavação nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado

no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área D podem ser observados no Apêndice Digital VI,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.5. Área E

A rede coletora da área E é formada de 2.558 m de rede repartida em 50 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 250 mm. Na tabela 6.6 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

123

Tabela 6.6: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área E.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 2.068

200 290

250 200

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 2,07 m,

possuindo um valor máximo de 5,51 m, no ponto a jusante do coletor número 19, ou

seja, a montante do 20º.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 11, 17, 20, 32, 33, 37, 39, 40,

44, 46 e 48 tiveram suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o

volume de escavação nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado no

presente trabalho.

Os demais parâmetros da área E podem ser observados no Apêndice Digital VII,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.6. Área F

A rede coletora da área F é formada de 1558 m de rede repartida em 28 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 200 mm. Na tabela 6.7 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.7: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área F.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 1458

200 100

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 1,69 m,

possuindo um valor máximo de 4,02 m, no ponto a jusante do coletor número 09, ou

seja, a montante do 10º.

124

Além disso, na adoção das declividades os trechos 08, 10, 13, 15 e 21 tiveram

suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o volume de escavação

nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área F podem ser observados no Apêndice Digital

VIII, contendo os valores em função de cada trecho.

6.7. Área G

A rede coletora da área G é formada de 3030 m de rede repartida em 40 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 200 mm. Na tabela 6.8 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.8: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área G.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 2.883

200 147

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 1,29 m,

possuindo um valor máximo de 7,3 m, no ponto a jusante do coletor número 16, ou seja,

a montante do 19.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 17, 18 e 22 tiveram suas

declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o volume de escavação nesta

área, obedecendo ao procedimento já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área G podem ser observados no Apêndice Digital IX,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.8. Área H

A rede coletora da área H é formada de 2110 m de rede repartida em 35 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 200 mm. Na tabela 6.9 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

125

Tabela 6.9: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área H.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 2.085

200 25

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 1,11 m,

possuindo um valor máximo de 2,19 m, no ponto a jusante do coletor número 06, ou

seja, a montante do 09.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 09, 18, 21, 30, 32 e 33

tiveram suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o volume de

escavação nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área H podem ser observados no Apêndice Digital X,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.9. Área I

A rede coletora da área I é formada de 2.415 m de rede repartida em 46 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 500 mm. Na tabela 6.10 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.10: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área I.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 2.004

250 23

300 25

350 24

500 339

126

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 1,75 m,

possuindo um valor máximo de 3,7 m, no ponto a jusante do coletor número 21, ou seja,

a montante do 23º.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 03, 06, 07, 17, 23, 25, 27, 29,

32, 34, 37, 40, 41 e 43 tiveram suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao

máximo o volume de escavação nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado

no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área I podem ser observados no Apêndice Digital XI,

contendo os valores em função de cada trecho.

6.10. Área J

A rede coletora da área J é formada de 2.203 m de rede repartida em 31 trechos.

O diâmetro máximo utilizado nessa área da rede foi de 250 mm. Na tabela 6.11 constam

os comprimentos de rede para os diâmetros adotados.

Tabela 6.9: comprimentos de rede em função do diâmetro para a área H.

Diâmetros

(mm)

Comprimentos

(m)

150 1.849

200 284

250 70

A escavação para atingir as cotas dos coletores foi em média de 2,20 m,

possuindo um valor máximo de 4,36 m, no ponto a jusante do coletor número 15, ou

seja, a montante do 19.

Além disso, na adoção das declividades os trechos 05, 07, 10, 13, 19, 21, 23, 25

e 27 tiveram suas declividades adotadas de maneira a diminuir ao máximo o volume de

escavação nesta área, obedecendo ao procedimento já apresentado no presente trabalho.

Os demais parâmetros da área J podem ser observados no Apêndice Digital XII,

contendo os valores em função de cada trecho.

127

7. MATERIAL EMPREGADO

Após o dimensionamento, é essencial considerar o tipo de material que será

empregado nas tubulações. Diversos fatores interferem nesta decisão, por exemplo:

Características dos efluentes;

Resistência a cargas externas;

Diâmetros disponíveis;

Proximidade dos fornecedores;

Velocidade de execução;

Custo do material;

Custo da execução.

Basicamente, todos os aspectos terminam por analisar o quanto aquele material

irá custar e o tempo que leva para a sua execução, já que a depender do trecho no qual

se estiver trabalhando a execução necessita ser rápida a fim de amenizar os impactos no

local.

Portanto, podem-se resumir os materiais disponíveis para a execução de redes de

esgoto segundo Bevilacqua (2006):

PVC;

Cerâmica;

Concreto;

Ferro fundido;

Poliéster reforçado com fibras de vidro (PRFV).

Em estudo de caso realizado em municípios do interior paulista, Bevilacqua

(2006) ressalta as vantagens da utilização em todos os casos, com exceção dos

diâmetros superiores a 400 mm, cujo fornecimento das tubulações de PVC teriam que

ser por encomenda. Ele ressalta dentre outros fatores:

Facilidade no transporte;

Resistência;

128

Rapidez na execução;

Menor quantidade de juntas;

Facilidade na manutenção.

No mesmo estudo, ainda é citada a redução de custos se comparado com outros

materiais comumente empregados, segundo estudos da Companhia de Saneamento

Básico do Estado de São Paulo (2005, apud BEVILACQUA, 2006). Na figura 7.1,

observa-se um comparativo de custos feito entre as tubulações de PVC e cerâmica.

Figura 7.1: comparação de custos de materiais e execução entre tipos de tubulações.

(COMPANHIA DE SANEMAENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2005, apud

BEVILACQUA, 2006)

Outro comparativo, também feito pela SABESP, pode ser verificado na figura

7.2, só levando em consideração o custo do material. Nota-se que o concreto torna-se o

mais econômico para diâmetros acima de 400 mm, diâmetros para o qual as tubulações

de PVC não são usualmente empregadas. Outra ressalva sobre o proposto pela figura

seguinte é que ela não leva em consideração o custo de mão de obra, o que modificaria

um pouco o cenário apresentado.

129

Figura 7.2: comparativo de custos de materiais usualmente empregados em redes de

esgoto. (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO

PAULO, 2005, apud BEVILACQUA, 2006)

Portanto, baseado nos estudos citados e levando em consideração a facilidade de

execução, diminuição de juntas que podem provocar infiltrações ou acúmulo de

sedimentos, custos de material e de mão de obra, recomenda-se que para as tubulações

abaixo de 400 mm sejam utilizadas tubulações de PVC que os trechos com 500 mm

sejam dotados de tubulações de concreto.

130

8. DADOS DE ENTRADA DAS ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS

No Apêndice Digital XIII, consta um esquema geral da rede de esgoto

complementar proposta. Nele também se pode observar a localização proposta para as

estações elevatórias de cada área.

Das estações saem linhas em azul que demarcam o caminho sugerido para os

emissários de cada uma. Os emissários foram pensados para evitar sobre carregamento

da rede, lançando ou no final da rede da área a qual ele destinará os efluentes ou

diretamente na estação elevatória seguinte.

Portanto, gera-se a tabela 8.1 com os valores das cotas iniciais e finais,

aproximados, de cada emissário correspondente às estações de cada área.

Tabela 8.1: cotas inicial e final para os emissários.

Emissário Cota Inicial Cota Final

A 81,0 81,0

B 81,0 79,0

C 35,0 80,9

D 70,5 87,2

E 68,6 75,2

F 70,5 68,6

G 40,0 68,6

H 69,9 79,7

I 79,7 80,9

J 80,9 79,0

Já na tabela 8.2 são representadas as vazões de início e final de plano para cada

estação elevatória.

131

Tabela 8.2: vazões para as estações elevatórias.

Estação Elevatória Início de Plano

(l/s)

Final de Plano

(l/s)

A 9,63 20,30

B 30,39 64,00

C 21,21 44,66

D 35,81 75,42

E 22,19 46,74

F 4,84 10,19

G 9,41 19,82

H 6,55 13,80

I 49,87 105,02

J 77,91 164,10

Essas vazões são de extrema importância para o dimensionamento dos

elementos das estações elevatórias, incluindo os conjuntos motores-bombas.

132

9. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

O presente trabalho representa um importante passo para o desenvolvimento do

saneamento no bairro do Benedito Bentes. Por isso ele torna-se essencial para servir de

base a futuros trabalhos envolvendo as mesmas questões.

Assim pode-se propor uma série de trabalhos a fim de continuar a linha de

trabalho aqui proposta, por exemplo:

Análise de custos envolvidos no processo de ampliação da rede complementar,

comparando os preços sugeridos pelos órgãos públicos e os reais observados em

obras no estado;

Dimensionamento das Estações Elevatórias, comparando os custos de diversas

alternativas;

Propor uma Estação de Tratamento que supra as reais necessidades do bairro;

Analisar o funcionamento da rede que já existe, visando a detecção de

vazamentos, entupimentos e outros problemas;

Analisar a questão de águas parasitárias no local aliadas as ligações clandestinas

utilizando um estudo de vazões.

133

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA ALAGOAS. Comunidade escolar do Benedito Bentes discute explosão de

violência na região. Alagoas em Tempo Real, Maceió, 01/12/2008. Disponível em

<http://www.alemtemporeal.com.br/?pag=educacao&cod=1550>. Acessado em 20 abr.

2009.

AGENCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Coleta e Tratamento de Esgotos Sanitários.

ANA, Brasília, 2004.

ALVES, S. O.. “Benedito Bentes: que bairro é esse?”. Maceió, 2006. Originalmente

apresentada como trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Alagoas,

2006.

ARAÚJO, R.. As Unidades do Sistema. In: NUVOLARI, A.. Esgoto Sanitário. Editora

Blücher, São Paulo, 2007. Cap. 4.

______. O Esgoto Sanitário. In: NUVOLARI, A.. Esgoto Sanitário. Editora Blücher,

São Paulo, 2007. Cap. 2.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-12207: Projetos de

interceptores de esgoto sanitário. Rio de Janeiro, 1992.

______. NBR-9649: Projetos de redes de esgoto. Rio de Janeiro, 1986.

BEVILACQUA, N.. Materiais de Tubulações Utilizadas em Sistemas de Coleta e

Transporte de Esgotos Sanitários. Estudo de Caso da Área Norte de São Paulo. São

Paulo, 2006. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade de

São Paulo, 2006.

BRASIL. Congresso. Senado. Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, 1988.

COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS. Relatório Técnico da Revisão

do Projeto de Esgotos Sanitários do Parque Residencial Benedito Bentes –

Maceió/Alagoas. Maceió, 1984.

______. Sistema de esgotamento sanitário de Maceió. Maceió, 2007.

COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. NTS-

025: Projeto de redes coletoras de esgoto. São Paulo, 2006.

______. NTS-062: Estudo de concepção de sistema de esgoto sanitário. São Paulo,

2002.

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136

APÊNDICE DIGITAL

I – Lançamento prévio da rede.

II – Rede coletora complementar detalhada para a área G.

III – Tabela de valores para a Área A.

IV – Tabela de valores para a Área B.

V – Tabela de valores para a Área C.

VI – Tabela de valores para a Área D.

VII – Tabela de valores para a Área E.

VIII – Tabela de valores para a Área F.

IX – Tabela de valores para a Área G.

X – Tabela de valores para a Área H.

XI – Tabela de valores para a Área I.

XII – Tabela de valores para a Área J.

XIII – Posicionamento proposto para as Estações Elevatórias.

XIV – Tabela para auxílio da verificação da velocidade crítica.

137

ANEXO DIGITAL

I – Expansão territorial do bairro do Benedito Bentes (ALVES, 2006).

II – Mapa do bairro do Benedito Bentes (SECRETARIA MUNICIPAL DE

PLANEJAMENTO).

III – Poço de Visita sem Tubo de Queda (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO

DO ESTADO DE SÃO PAULO, NTS 025, 2006).

IV – Poço de Visita com Tubo de Queda Externo (COMPANHIA DE SANEAMENTO

BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, NTS 025, 2006).

V – Terminal de Inspeção e Limpeza (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO

DO ESTADO DE SÃO PAULO, NTS 025, 2006).

VI – Terminal de Limpeza (COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO

ESTADO DE SÃO PAULO, NTS 025, 2006).