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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARTES CNICAS
MARIA APARECIDA LINHARES DOS SANTOS SILVA
A INTUIO: COMO REFERNCIA NO DESENVOLVIMENTO SENSORIAL E
PERFORMTICA DO DANARINO
Salvador
2000
MARIA APARECIDA LINHARES DOS SANTOS SILVA
A INTUIO: COMO REFERNCIA NO DESENVOLVIMENTO SENSORIAL E
PERFORMTICO DO DANARINO
Dissertao apresentada ao Programa de Pesquisa e Ps-
Graduao em Artes Cnicas, Escola de Dana, Universidade
Federal da Bahia, como requisito para obteno do grau de
Mestre em Artes Cnicas.
Orientador: Prof. Dr. Sergio Coelho Borges Farias
Salvador
2000
S237 Santos-Silva, Cida Linhares. A Intuio: como referncia no desenvolvimento sensorial e performtico do danarino
/ Maria Aparecida Linhares dos Santos Silva. - 2000. 274p.: il. Orientador: Prof. Dr. Sergio Coelho Borges Farias.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Dana, Salvador, 2006.
1. Dana. 2. Dana na educao. 3. Corpomdia. 4. Teoria da autoconscincia. 5. Dana genuna. 6. Umwelt. I. Farias, Sergio Coelho Borges. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Dana. III. Ttulo. CDD - 792.8 CDU - 793
1. Dana. 2. Dana na educao. 3. Corpomdia. 4. Teoria da autoconscincia. 5. Dana genuna. 6. Umwelt. I. Farias, Sergio Coelho Borges. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Dana. III. Ttulo. CDD - 792.8 CDU - 793
Agradecimentos
Sou grata a muitos que me
acompanharam nessa busca. Aos
companheiros, amigos fieis, a aqueles que se
deixaram que nos tornssemos irmos, a
aqueles que atravessaram comigo esse
caminho, aos colegas, aos que, ao meu lado,
deram e receberam.
A todos aqueles que so citados nesse
trabalho, a aqueles que generosamente
compartilharam, e que vo compartilhar junto
comigo dos seus ensinamentos.
famlia que me deu o seio e a aquela
que me deu a existncia, e, especialmente aos
meus filhos, que enchem meus dias de alegria
e de prazer e a meu companheiro fiel, que
segue comigo o caminho de vida escolhida.
CREDO DE F NA PESSOA
Creio no homem.
Creio na sua essncia de luz, na sua
inclinao para a sade, na sua vocao para a
vida. Creio no seu potencial evolutivo e na sua
possibilidade de despertar. Creio no homem
mesmo quando ele me chega disfarado de
doente, de fracassado, de impotente. Creio no
homem mesmo quando est manipulando e sendo
manipulado; mesmo quando destrudo pela
existncia; mesmo quando reduzido a farrapo
humano. Creio no homem mesmo quando
mendigando, exibindo suas feridas; mesmo
quando construindo bombas nucleares. Creio no
homem mesmo apesar dele mesmo. Creio no
homem porque creio no homem.
Roberto Crema
Imagem extrada da internet
sem meno de autoria.
ORAO DO ARTISTA
Senhor! Tu que o maior dos artistas,
fonte das mais belas inspiraes,
abenoa o meu talento e as minhas obras.
Maravilhoso o dom que me deste na louvada
misso de servir-te com alegria, e de exercer o
meu trabalho com amor e dedicao.
Por isso, agradeo-te
por permaneceres sempre comigo.
Mesmo incompreendido ou diante de desafios,
quero sustentar em minha vocao
a energia de vencer e realizar meus projetos
no imenso cenrio da vida.
D-me equilbrio entre a razo e a emoo,
humildade e sabedoria para me aperfeioar.
Inspira-me, Mestre, criao do novo e do belo.
Protege, tambm, todos os artistas
em suas carreiras e gneros.
Faze com que minhas obras contribuam
para a construo de teu Reino
e que eu prospere, seguindo teus desgnios,
pelos caminhos gloriosos da arte.
Amm!
ORAO GESTLTICA
Eu sou eu.
Voc voc.
Eu fao as minhas coisas,
Voc faz as suas coisas.
Eu sou responsvel por mim,
Voc responsvel por voc.
No estou neste mundo para viver as suas expectativas,
Nem voc est neste mundo para viver as minhas expectativas.
Se nos encontrarmos, seguiremos juntos.
Seno, tchau!
Pearls
RESUMO
Este mergulho na Arte-Educao, especificamente na Dana-Educao foi elaborado
com a ajuda das prxis no ensino da dana pela autora desde os 15 anos de idade e dos
estudos da Psicologia Humanista desenvolvida por Eric Berne na poca da segunda guerra
mundial que culminou na elaborao sistematizada da Teoria da Anlise Transacional
(AT). Esta teoria veio popularizar, nesta poca, o conhecimento e reconhecimento de
processos psicolgicos inconscientes que norteiam a vida humana. Assim, utilizou-se nas
prxis de nove dos dez instrumentos elaborados para a aplicao desta teoria como forma
de descobrir-se bloqueios ou entraves psicolgicos que impedem o danarino, alunos do 3
Grau da Universidade Federal da Bahia, de seguirem um caminho otimizado na busca do
conhecimento da profisso escolhida. Este estudo foi elaborado sob a coordenao da
autora, de psicoterapeutas que cooperaram direta ou indiretamente no processo de
conhecimento da Teoria, de uma Professora e Funcionria da Escola e de um grupo de
alunos que se dispuseram a ajudar e a experimentar essa teoria que nos leva a descobrir
comportamentos arraigados que bloqueiam o corpo que dana. Tendo trabalhado com esta
Teoria e estudando-a atravs de cursos especficos na Clnica Bios e de seminrios,
particularmente por 4 anos consecutivos, a autora criou, com este grupo de pessoas, este
experimento.
Palavras-chave: Arte-Educao, Dana-Educao, Psicologia, Autoconhecimento e
Conscincia.
ABSTRACT
This look into Art Education, specifically into Dance Education, relates to the praxis in
teaching dance by the author carried out since she was 15 years old, and to studies in
humanistic psychology developed by Eric Berne during the second world war that
culminated in the systematic development of the theory of Transactional Analysis (TA).
This theory came to popularize at that time the knowledge and recognition of unconscious
psychological processes that guide human life. With university students of the Federal
University of Bahia, we used the praxis of nine of the ten tools designed for the application
of this theory as a way to discover if blockages or psychological barriers were interfering
the dancer's capacity to follow an optimized path in the search for knowledge in their
chosen profession. This study was prepared under the coordination of the author, with
other psychotherapists, a teacher and a technician of the Dance School and a group of
students who were willing to help and to experiment with this theory, in the attempt to
discover ingrained behaviors that block the dancing body. The author created this study
and experiment in conjunction with studies in courses at Bios Clinic and in seminars of
TA for four consecutive years.
Keywords: Arts Education, Dance Education, Psychology and Self-Consciousness.
SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................................... 11
CAPTULO I O BAL NA FORMAO DO DANARINO ........................................................................... 14 O AUTOCONHECIMENTO COMO A CHAVE DA VIDA ........................................................... 15 O OLHAR, UMA RELAO PROFUNDA.................................................................................... 18 A INTUIO, FONTE PARA NOVAS DESCOBERTAS ............................................................. 22 A EDUCAO COMO PROPSITO ............................................................................................. 27 PSICOLOGIA DO ESPECTRO ....................................................................................................... 28 A IMPORTNCIA DA PSICOLOGIA PARA O ENSINO E APRENDIZADO DA DANA ...... 31 O GRUPO DE PESQUISA ............................................................................................................... 39
CAPTULO II METODOLOGIA ........................................................................................................................... 40 O GRUPO DE PESQUISA ............................................................................................................... 42
CAPTULO III FUNDAMENTAO TERICA ................................................................................................. 50 A IMPORTNCIA DA INTUIO E DO INTELECTO PARA O CONHECIMENTO ............... 50 A ANLISE TRANSACIONAL OU AT ......................................................................................... 57 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA PERSONALIDADE, .................................................. 64 UMA PSICOLOGIA INDIVIDUAL ................................................................................................ 64 TRANSAES, A COMUNICAO SOCIAL ............................................................................. 86 O CCLO DA MUDANA............................................................................................................... 91 FORMA E QUALIDADE DOS MOVIMENTOS, UM CONTATO COM A DANA ................ 100 NECESSIDADES BSICAS DOS SERES HUMANOS .............................................................. 104 UMA SOBREVIDA, AS FOMES DE CARCIAS ........................................................................ 107 ELEMENTOS QUE PARMEIAM OBJETIVOS E METAS ......................................................... 123 O AMOR INCONDICIONAL ........................................................................................................ 145 POSIES EXISTENCIAIS, EMOO E SENTIMENTO ......................................................... 146 JOGOS PSICOLGICOS ............................................................................................................... 164 SCRIPT, ARGUMENTO DE VIDA, OU AINDA, DESTINO ...................................................... 172 O MINIARGUMENTO OU MINISCRIPT .................................................................................... 178 OS MANDATOS MANDADOS .................................................................................................... 184
CAPTULO IV PROCESSOS PSICOLGICOS QUE PERMEIAM O APRENDIZADO DA DANA ....... 185 ETAPAS DO APRENDIZADO TCNICO E ARTSTICO DA DANA .................................... 186 A DEPRESSO .............................................................................................................................. 217 ALGUNS MOVIMENTOS DESAFIADORES, ............................................................................. 231 NA TCNICA DO CLASSICAL BALLET ................................................................................... 231 A INTUIO, A CRIAO E A ARTE DA DANA ................................................................. 243
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 248
ANEXOS ........................................................................................................................................ 253
11
INTRODUO
Se hoje existe um campo [em] que indispensvel ser humilde e
aceitar uma pluralidade de opinies aparentemente contraditrias, esse
campo o da Psicologia Aplicada. Isso porque ainda estamos longe de
conhecer a fundo o objeto mais nobre da cincia a prpria alma
humana. pelo ser humano que devemos comear, para poder fazer-
lhe justia. Carl Gustav Jung
Tag: Criao Cida Linhares
Tube: Extrado da internet sem meno de autoria. Ateno: Tag significa uma imagem elaborada a partir
de outra ou outras imagens. Tube significa uma imagem sem fundo.
Este estudo consiste numa reviso bibliogrfica referente psicologia,
especificamente a Teoria da Anlise Transacional como suporte na descoberta de
bloqueios psicolgicos que norteiam o ensino e a aprendizagem da dana, seguida de um
experimento com um grupo de alunos do curso superior de dana da Universidade Federal
da Bahia. Visa identificar os processos psicolgicos que permeiam o desenvolvimento do
aprendizado e do ensino da dana, os bloqueios corporais inconscientes e suas
consequncias internas e externas. Esta pesquisa foi estruturada com dois blocos
principais: A Fundamentao Terica e seu Desenvolvimento.
Na Fundamentao Terica, constam informaes sobre a intuio e o intelecto onde
so apresentados os instrumentos utilizados tcnica e terapeuticamente pela Anlise
Transacional e por outros segmentos da psicologia, como procedimentos facilitadores de
mudanas desejadas no corpo, basicamente na relao desse corpo com o aprendizado da
dana. A apresentao desses instrumentos ser alternada com outras tcnicas
psicoteraputicas e comentrios relativos aprendizagem e ensino da dana, baseados na
observao e vivncia do pesquisador. No Desenvolvimento, so estruturados conceitos
especficos relativos aprendizagem e ao ensino da dana, baseados nos instrumentos
anteriormente apresentados. Tambm dessa parte da pesquisa, constam as etapas para o
aprendizado da dana e para o desenvolvimento do profissional que almeja uma carreira de
sucesso nos seus empreendimentos. A palavra sucesso nesta pesquisa retrata uma soluo
bem sucedida, relativa a um objetivo, obtida atravs de um empreendimento. Uma
necessidade moral, tendo como signo o valor pessoal de um indivduo. Segundo Sillamy,
Cada sucesso um encorajamento [...] constatando-se que o fato de conseguir fazer
alguma coisa til produz o abandono das atitudes negativas (1998, p.225).
Tornarmo-nos conscientes desses processos psicolgicos que interferem positiva ou
negativamente no desenvolvimento profissional do aluno de dana, uma forma de
12
aprendizado terico-prtico que encontramos para suprir direta e objetivamente algumas
necessidades do profissional que almeja uma carreira de sucesso. Muitas questes so
levantadas por pesquisadores dessa rea que buscam respostas na sociologia, na fsica, na
psicologia, na antropologia e nas cincias, que direta ou indiretamente possam contribuir
para a evoluo educacional do ser humano.
Muitas pesquisas foram feitas sem registro para esta viagem que hoje, com
conscincia, desejamos compartir com o aluno, futuro intrprete da dana. Sistematiz-la,
com a inteno tambm de ajudar a todos os alunos que quiserem ser ajudados, um
objetivo pessoal.
Trabalhando h mais de trinta anos com a arte da dana, e em consequncia com
seres humanos, enfrentamos problemticas educacionais, que nem sempre soubemos como
resolve-las para mantermo-nos fiis aos nossos propsitos. O caminho escolhido sempre
foi a busca incessante do heteroconhecimento e do autoconhecimento. Durante muitos anos
de observao, procuramos formas de conscientizao acerca do profissional de dana e
tambm das relaes entre alunos e professores, para desenvolvermos este trabalho. O
intuito contribuir para que ns artistas, educadores, performers, alunos de arte em geral e
pessoas interessadas pelo assunto, encontremos e realizemos nosso grande desejo
profissional. Elaborar uma prtica de ensino, que conscientize nossos alunos dos passos
que esto dando na construo de sua vida profissional, uma meta.
Aprendendo muito com a psicologia durante todos esses anos, e querendo somar
para o desenvolvimento da arte e do artista, decidimos transpor para o papel esta vivncia.
A busca ao autoconhecimento trouxe para ns muitas descobertas. Uma delas ter
percebido, que o comportamento do ser humano de forma geral, influenciado
demasiadamente pelo inconsciente; que a maioria do nosso tempo utilizado com aes e
reaes fundamentadas em argumentos pr-concebidos, e que estes justificam as relaes
inadequadas, sejam estas intrapessoais ou interpessoais. Esta descoberta nos fez dar
importncia psique do ser humano e toda a sua influncia no aprendizado e na
performance da dana. Com a dana, atravs do trabalho prtico dirio, desenvolvemos
aptides e habilidades sensoriais e perceptivas. Estes conhecimentos so registrados na
memria muscular que, subjetivamente, aciona as tcnicas adquiridas. Pressupomos que a
memria muscular, unida ao condicionamento fsico, faz fluir os movimentos corporais, o
que deixa o artista completamente livre para sentir e expressar, durante sua performance.
13
Portanto, expressar os sentimentos e emoes faz parte da dana e da vida. No podemos
ficar de fora, observando sem contribuir para o desenvolvimento evolutivo tambm do
psicolgico do ser humano, que tanto interfere no aprendizado da dana e na nossa vida
profissional. Olhar o aluno, futuro danarino como sujeito principal da instituio a qual
estamos vinculada, faz parte da nossa proposta. A dana o objeto de estudo, e o
danarino, o construtor de conhecimento. Para isso, os educadores devem interagir com
outras reas de conhecimento, visando o comportamento dos futuros profissionais, em prol
da vida profissional deles e consequentemente, em prol da Dana. As tcnicas de dana
podem ser adquiridas atravs de mtodos que atinjam o conhecimento e preparo do corpo
integrado. Este aprendizado nos d possibilidades infinitas de movimentao. A
conscincia corporal proveniente do treinamento tcnico como meio e no como fim, nos
conduz ao movimento expressivo, diferenciando o intrprete do tcnico do movimento.
Com a tcnica pura, nada jamais ser novo em termos de movimento ou de sua criao.
O novo a linguagem expressa pelo movimento do ser individual, do artista que interpreta
suas ideias idiossincrticas, com seus sentimentos, emoes, sensaes, reflexes,
pensamentos e intuies. O artista aquele que expe sua intimidade para o pblico. A
emoo, sendo autntica, reflete este ser sensvel e assertivo ao mesmo tempo intrprete da
arte e de si mesmo. Ou seja, atravs da emoo autntica ele , e se , ele no s est.
O que nos impede de sermos ns mesmos, s vezes, ou na maioria das vezes, a
falta de autenticidade, de autoconhecimento, o que nos leva representao, na vida, de
papis que no nos pertencem. Isto nos priva de viver uma vida com um script positivo,
permitindo a interferncia de desejos inconscientes, nem sempre benficos nossa vida.
Esta interferncia, sem dvida, influencia negativamente a adequao e o bem estar do ser
consciente, que enganado, sempre encontra justificativas plausveis internas para suas
faltas, falhas, omisses ou mesmo desvios de carter.
A dana uma resposta do corpo ao esprito artstico do ser humano. Ela tem o papel
de expressar o ser individual artstico. A criatividade uma qualidade necessria ao artista,
e atravs desta, que o mesmo desenvolve a sua arte. Quando a dana est na memria
muscular do danarino, sua linguagem fluida e expressa uma verdade do ser. A emoo
faz parte desta linguagem, cujo cerne expressivo o corpo. Este corpo, integrado msica
do consciente, pode nos levar transcendncia.
14
CAPTULO I
O BAL NA FORMAO DO DANARINO
Tag: Cida Linhares
Tube: extrado da internet sem meno de autoria.
Observao: Tag uma imagem transformada e elaborada
num software chamado "Paint Shop Pro" desenvolvido pela
"Corel Draw", usando sempre outra imagem existente com um
Back (fundo) ou ser um tube, que uma imagem sem
fundo.
Uma problemtica central da
dana refere-se ao fator tempo. A cada
ano que passa, exige-se mais e mais
conhecimento, persistncia, dedicao,
disciplina e tcnica, o que faz com que
o aprendizado da dana necessite ser desenvolvido em curto prazo. Para o professor de
dana que almeje para os seus alunos, no somente o aprendizado tcnico da dana, torna-
se relevante complementar sempre seus conhecimentos com estudos e pesquisas na rea da
arte-educao. Desenvolver a criatividade, no intuito de descobrir mtodos e prticas de
ensino que agilizem o aprendizado do aluno, responsabilidade do docente.
Para o aluno, comear cedo fundamental. Cada me (geralmente a me que
estimula as crianas a fazerem dana) deve consultar um professor que, isento de qualquer
interesse particular, seja capaz de examinar e estimular a criana a aprender um tipo de
dana que seja mais apropriada para seu fsico, tornando o processo de aprendizagem mais
prazeroso, e progressivo.
Aquele que se dedica profissionalmente dana clssica, ainda hoje, deve possuir
um corpo que anatomicamente e fisiologicamente se adapte aos moldes europeus, ou seja,
longilneo, leve, com a estrutura anatmica da articulao coxofemoral capaz de um en
dehors adequado, que a capacidade de virar essa articulao para fora (ver figura 1).
Quando o en dehors acontece naturalmente dos quadris at os ps, os quais devem ser
apropriados para subir nas sapatilhas de ponta, significa que este fsico j possui esta
qualidade bsica para o bal. Devem possuir tambm propores equilibradas das partes do
corpo, pescoo, braos e pernas alongados. Os rapazes, alm de todos os predicados
fsicos, devero ter braos fortes, para poder sustentar as bailarinas. O vesturio e
sapatilhas devem estar apropriados para os movimentos realizados em aulas. Estar
preparado psicologicamente e fisicamente para obter excelncia em cada aula, um dever
15
para aquele que quer seguir a carreira de danarino. Alm disso, estar ciente do desejo de
se preparar para a batalha da concorrncia nas companhias clssicas de bal, que ainda
sobrevivem fora do nosso pas, algo a ser pensado, refletido e discutido.
Figura 1
Contudo, o fsico no funcionar eficazmente sem uma mente saudvel, madura,
consciente das necessidades e dos limites do indivduo. O danarino, quando pratica a sua
arte, deve estar livre e aberto s suas percepes sensoriais, ou seja, seus sentimentos, suas
emoes, cognies e intuies. Livre para amar o que escolheu fazer como profisso, e
realizar o seu trabalho. Isto no significa que o caminho fcil, pois o processo de
aprendizado, alm de envolver muitas etapas, s vezes nos faz deparar com obstculos que
podem nos deixar bloqueados e ou necessitados de ajuda. Uma das opes que possumos
para ultrapass-los, alm da vontade, pode ser o caminho do autoconhecimento, atravs de
terapias corporais diversas.
O AUTOCONHECIMENTO COMO A CHAVE DA VIDA
A maior sabedoria que existe conhecer-se a si
mesmo. Galileu Galilei
Tag: Cida Linhares
Tube: extrado da internet sem meno de autoria.
O autoconhecimento ou o
conhecimento de si mesmo significa para
o sujeito, explorar, numa tarefa
incomensurvel, sua prpria incgnita, e desvend-la. conhecer mais a fundo a sua
individualidade e como esta se expressa. partir para uma investigao do seu mundo
16
interior. Conhecer-se um meio adequado para se atingir o sucesso na arte da dana.
Quanto ao ensino da dana, nada poderemos dar ao aluno se primeiro no nos dermos,
porque, simplesmente, no teremos. Como poderemos educar se nem mesmo soubermos
nos educar? No poderemos dar nada que no possumos, e em nenhum caso, a inteno ou
a tentativa so suficientes.
Nossa histria pessoal, capacidade de assimilao, nossos objetivos, talentos, a
forma como usamos nossos sentimentos e intelecto, bem como nossas limitaes, so
relevantes no processo do aprendizado da dana, como tambm da vida que vivemos. No
fcil encarar conscientemente os processos psicolgicos pelos quais passamos,
principalmente quando no atentamos para seus significados. Possuirmos o conhecimento,
a coragem e a motivao para encar-los fundamental. Sem isso, os nossos campos de
condutas e papis, sejam estes: profissional, social, familiar e/ou de casal, podem ficar
prejudicados. (Ver figura 2, reas de Condutas e Papis, Kertsz, 1987, p.103). Ver Figura
2 a seguir.
O meu interesse, tambm pela Psicologia,
comeou em 1982, quando fiz um curso chamado 101
da AT (Anlise Transacional) que me fez ver a
importncia da psicoterapia para ns, seres humanos, e
seus benefcios para um viver mais pleno.
A Anlise Transacional uma ferramenta,
utilizada tecnicamente por psicoterapeutas, facilitadora de grandes mudanas positivas nas
comunicaes intrapessoais, interpessoais e grupais. Esta abordagem da Psicologia
individual e social foi criada e desenvolvida pelo psiquiatra canadense radicado nos EUA,
Eric Berne, que iniciou em 1949, como disse Shinyashiki:
[...] seus estudos e posteriores publicaes sobre intuio e estratgias de
psicoterapia. Prosseguiu amadurecendo suas ideias, elaborando as crticas e
colhendo dados da aplicao de seus mtodos at que em 1958 publica seu
importante artigo Anlise Transacional: um novo e efetivo mtodo de terapia de
grupos, at chegar a escrever esta que eu considero sua obra maior. (Na
introduo do livro de Berne, Anlise Transacional em Psicoterapia, 1961)
Ao tempo em que procuramos aprofundar os estudos em psicologia, pretendemos
integrar elementos da dana e da psicologia numa contnua viagem interdisciplinar.
Tendo participado de congressos, laboratrios, cursos e grupos de psicoterapia, vrios
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deles com mdicos especialistas como a Dra. Maria Jos Duplat, psiquiatra e
psicoterapeuta, Dr. Roberto Crema, psicoterapeuta, que hoje tambm trabalha com holismo
e transcendncia, Roberto Shinyashiki, psicoterapeuta, Maria do Carmo Motta,
psicoterapeuta e psicloga, Eliana Dummet, terapeuta ocupacional e outros mais, criamos
um vnculo entre a dana, a psicologia e a educao.
Toda essa experincia sentida com a psicologia, mais consciente do passado,
presente e planejando um futuro, acreditando na intuio como referncia para as
interpretaes da vida, nos possibilitou uma transformao num ser muito mais humano e
num estar muito mais aberta ao aprendizado e a novas experincias.
Alguns livros de psicologia como: O Caminho do Autoconhecimento, No
Temas o Mal e Criando Unio de Eva Pierrakus, Nascidos para Vencer de Muriel
James e Dorothy Jongeward, Os Papis que Vivemos na Vida e O Outro Lado do
Poder de Claude Steiner, Os Jogos da Vida de Eric Berne, Medo da Vida de
Alexander Lowen, Amar Pode Dar Certo de Roberto Shinyashiki, A Mgica de Pensar
Grande do Dr. David J. Schwartz, dentre outros, foram aumentando nossa autoestima e
reconhecendo no outro e no universo o Eu que estou, ora amoroso, ora criador, ora triste,
ora alegre, ora ilimitado ou limitado, ora cheio de coragem, e s vezes com medo,
confiando ou desconfiando, mas com uma diferena: mais consciente do que mudou, do
que est mudando e do que ainda no mudou, o que nos torna inteiros.
A autoconscincia o componente do processo de autoconhecimento, da
transformao, do estmulo e da motivao, to necessrios para o trabalho com a arte da
dana. Trazer conscincia os processos inconscientes que permeiam as nossas vidas, em
qualquer campo de conduta, nos prepara para enfrentarmos com maturidade nossas
relaes com o mundo em que vivemos.
O ser humano, ainda hoje, sofre alienao de si mesmo e do mundo contemporneo
em que vive, o que faz com que este trabalho tenha como eixo central ou ocupao bsica,
o autoconhecimento. Vejamos o que Fayga Ostrower nos diz a respeito disso, o que
constituiu-se, de fato, para ela, numa preocupao bsica:
Em si, a questo no nova nem to recente. H muito o ser humano vive
alienado de si mesmo. As riquezas materiais, o conhecimento sobre o mundo e
os meios tcnicos de que hoje se dispe, em pouco alteraram essa condio
humana. Ao contrrio, o homem contemporneo, colocado diante das mltiplas
funes que deve exercer, pressionado por mltiplas exigncias, bombardeado
por um fluxo ininterrupto de informaes contraditrias, em acelerao crescente
18
que quase ultrapassa o ritmo orgnico de sua vida, em vez de se integrar como
ser individual e ser social, sofre um processo de desintegrao. Aliena-se de si,
de seu trabalho, de suas possibilidades de criar e de realizar em sua vida
contedos mais humanos. (1977, p.6)
A busca do autoconhecimento chega mesmo a ser um propsito, ou melhor; um
objetivo de vida. medida que usamos tudo que somos ou que fazemos como princpios
que nos levam a essa viagem sem fim, enchemos nossas vidas de significados.
O OLHAR, UMA RELAO PROFUNDA
Cada qual carrega a tocha do conhecimento por um certo trecho do
percurso s at entreg-la a outro. Se pudssemos, por exemplo,
supor que no somos ns os criadores pessoais da nossa verdade,
mas os seus representantes, simples porta-vozes das necessidades
psquicas contemporneas, muito veneno, muita amargura poderia
ser evitada, e nosso olhar estaria desimpedido para enxergar as
relaes profundas e impessoais da alma da humanidade. Carl
Gustav Jung
Tag: Cida Linhares
Tube: extrado da internet sem meno de autoria.
A crise da modernidade e as descobertas da Fsica Quntica vieram abrir o caminho
busca do sensorial, do individual invisvel, da conscincia que nos envolve nessa espiral
de pensamentos, atitudes, sensaes, percepes, emoes, etc. Este universo ainda
pouco explorado pela maioria dos seres humanos. Isto nos faz perceber o elo entre o
homem e o cosmos, como parte integrante de nossas vidas. (Ver Joo Francisco Duarte em
Itinerrio de uma crise: a modernidade, 1997)
Na nossa viso holstica da arte, e na nova viso psmoderna de recorrer a tcnicas
que integradas facilitem o aprendizado do aluno de dana, que pretendemos basear
nossos estudos, utilizando elementos da Psicologia Humanista. Esta ser a base para o
desenvolvimento sensorial (desenvolvimento dos sentidos, sejam eles de ordem fsica,
orgnica, ou psquica) o que possibilita ao danarino olhar para dentro de si mesmo.
possvel que, este olhar, seja o incio de sua busca do Eu superior, o ntimo do ser. (Ver
Eva Pierrakos, O Caminho da Autotransformao, 1997) Pressupomos que, interagindo o
aprendizado da dana com a psicologia, podemos fazer surgir um profissional mais
19
consciente de seus prprios processos de vida, se aceitando como e mesmo como est,
vivendo no presente, e aprimorando progressivamente seu desempenho tcnico-artstico.
Para o desenvolvimento do presente estudo, partimos do pressuposto de que,
trabalhando com a intuio junto aos alunos, podemos observar, perceber e interpretar o
que se configura, potencialmente, como bloqueios psicolgicos (traumas, neuroses, etc.)
que interferem na expresso do movimento. Durante muitos anos de observao e estudos,
tanto em sala de aula como tambm fora dela, observando comportamentos, buscamos uma
forma segura de ajudar os alunos, principalmente aqueles que mais sofrem interferncia
desses bloqueios.
O bailarino tende a se ocultar, seu movimento fica
introspectivo. So situaes em que vemos a necessidade de abrir
um espao para que a pessoa tome conhecimento dos contedos
que a esto impedindo de mover-se. As emoes que vo sendo
abertas devem ser elaboradas para que o bailarino-pesquisador-
intrprete possa distinguir uma emoo trabalhada de um
emocionalismo. Graziela Rodrigues
Tag: Cida Linhares
Tube: extrado da internet sem meno de autoria.
A relao entre a comunicao verbal e a corporal sempre nos chamou a ateno.
Alm disso, h de se pressupor que a incoerncia entre a comunicao verbal e a
comunicao corporal est, na maioria das vezes, sob o comando do inconsciente, e o
resultado pode ser imprevisvel. A observao da expresso corporal capaz de nos
informar se ambas as comunicaes esto ou no consonantes, e de acordo com o que se
deseja comunicar. Aprendemos que esta coerncia entre linguagens pode ser: total, parcial
ou inexistente. Em qualquer outra forma de relao onde as expresses corporais revelem
uma atitude corporal no condizente com a linguagem verbal, ao ou reao na maioria
das vezes inconsciente, a comunicao perde a potncia, a finalidade. Um exemplo disto
o aluno que, ao possuir um preconceito com relao tcnica clssica ou qualquer outra
tcnica de dana, bloqueia, inconscientemente ou no, o seu aprendizado. Alguns podem
vir a fantasiar e at mesmo somatizar impossibilidades fsicas para no pratic-la. Mesmo
que sua linguagem verbal justifique socialmente suas impossibilidades, este aluno s tem o
direito a 25% de faltas em cada disciplina, o que j acarreta em perdas, caso este se utilize
desse direito. Isto faz com que o aluno perca a disciplina especfica por um motivo justo,
eliminando ou abrandando assim a prpria culpa, ou transferir a culpa para o acaso, por
desconhecer a base do problema (inconsciente).
20
A expresso do danarino elemento primordial para sua comunicao consigo e
com o pblico. Sem a eficcia desta comunicao, no existe o dilogo ou a troca de
energias. A autopercepo ou a percepo das pessoas ao redor, principalmente no caso
dos alunos, nos mostra que nem sempre a comunicao corporal condizente com a
comunicao verbal, e vice-versa. Ocorrendo este descompasso de linguagens no
aprendizado da dana, o movimento corporal confina-se a um estado de pr
expressividade. Este termo foi utilizado por Stanislavski para o movimento imaturo na
sua forma de expresso. (Ver Eugnio Barba e Nicola Savarese em, A Arte Secreta do Ator
- Dicionrio de Antropologia Teatral, 1995, pp.186-204)
Segundo a teoria de Rudolf von Laban, a pr-expressividade acontece quando a
criana est desenvolvendo suas qualidades expressivas. Dessa forma, ocorre o que ele
designa de pre-effort. Segundo a Dra. Ciane Fernandes no seu mais recente livro O Corpo
em Cena Ensina temos:
O termo Pr-Expressividade, em Labanlise, difere porm relaciona-se com o
usado por Eugnio Barba e Nicola Savarese, que o consideram como uma
lgica do processo de preparao expressiva, anterior apresentao cnica.
Em Labanlise, a Pr-Expressividade consiste no desenvolvimento das
qualidades expressivas na criana e presente subliminarmente na Expressividade
adulta. Atravs de exploraes sensoriais, a criana gradualmente forma sua
extenso expressiva. As qualidades expressivas desenvolvem-se a partir da pr-
expressividade [...] (1999, p.123)
Uma outra caracterstica do movimento prexpressivo ou do pre-effort, diz respeito
intensidade do movimento (ver Kestenberg, Judith. The Role of Movement Patterns in
Development I, Princeton: Dance Horizons, 1997). Segundo a teoria de Laban, o
movimento oscila sempre entre a expressividade e a pr-expressividade, o que no faz com
que perca, necessariamente, suas qualidades. A pr-expressividade como veremos a seguir,
com um outro ponto de vista, tambm relacionado com o de Stanislavski e o de Laban,
ocorre quando o movimento do danarino no alcana totalmente seu significado
expressivo, podendo revelar duas condies: ou o aluno est numa fase de aprendizado,
fluindo em progresso, ou no est aprendendo, por se colocar numa atitude defensiva,
bloqueado psicologicamente, o que impede a fluncia do movimento. Por exemplo, ao
executar o movimento com bloqueios de fluxo de energia (que geralmente so de ordem
psicolgica), a comunicao e a expresso do mesmo ficam parcialmente bloqueadas ou
impedidas, interferindo na qualidade da performance. Com outras palavras, a pr-
expressividade a que nos referimos, a impedida de fluncia por bloqueios psicolgicos,
21
que no permitem a expresso do movimento, geralmente causados pelas introjees de
preconceitos e crenas sobre ns mesmos, sobre algo ou sobre os outros, elaborados
inconscientemente pela Criana no passado, nos incapacitando, ou melhor, oferecendo
resistncia, aqui e agora, expresso dos movimentos, e, em consequncia, ao aprendizado
da dana. (Ver A Estrutura da Personalidade segundo a AT no captulo III)
A falta de fluncia entre as energias da mente-fsico, tanto para o aprendizado
racional quanto para o aprendizado sensorial, pode gerar um movimento sem qualidades
artsticas, e sem comunicao. Isto porque, quando o aluno est numa fase de percepo,
assimilao e de incorporao do mesmo, ainda no diferencia seus limites psicolgicos
dos limites fsicos e expressivos reais, o qual s se efetivar com a prtica. Esta condio
anloga ao beb que est aprendendo a andar. Seu primeiro passo pr-se de p, o que s
conseguir com apoio e proteo. O segundo, assimilar atravs da percepo, e da
experincia fsico-sensorial, a transferncia de seu peso, de dois ps para um p, deixando
o outro livre para dar seu primeiro passo. Caso o beb, durante este desafio de
movimentao, caia sempre ou sinta-se gravemente ameaado, ele poder ser
desestimulado a continuar sua descoberta, interrompendo seu desenvolvimento natural. O
medo de cair poder aumentar, e a experincia ao ser retomada, poder ser incmoda, at o
momento em que ele se encontre apto a seguir seu caminho. Nesse caso, intensifica-se a
necessidade de autoproteo. O risco de novas quedas surge com a emoo de medo que
poder ser intensificada, causando mais insegurana e possivelmente mais quedas, tenso
muscular, e at mesmo chegar ao medo pnico, pois os msculos j no respondem com a
mesma energia inicial, ou seja, todo seu corpo poder estar afetado (somatizao) pela
experincia anteriormente vivida e registrada atravs dos seus sentimentos e sensaes na
linguagem do corpo. Assim ele passa a desempenhar um movimento inseguro, enfermo
(tecnicamente incorreto), defendido, preso, insuficiente, privado de um fluxo natural. Se a
experincia acontece com sucesso, o beb estar motivado a experienciar outras vezes
mais, sentindo-se potente e seguro para faz-lo, e perdendo o medo do novo, dos desafios
naturais que surgem na vida, num processo orgnico e fluido de aprendizagem.
Ns educadores temos acesso observao, anlise e convivncia com alunos, de
biotipos, classes sociais, experincias de vida, objetivos e desenvolvimento cultural,
pessoal e emocional, diferenciados. Cada um deles constitui um universo singular a ser
explorado, no qual eles agem e reagem a estmulos e desafios que surgem ao longo de seu
22
aprendizado na dana, de formas distintas. Sua vivncia anterior, seus preconceitos, sua
autoestima, sua autoconfiana e seu comportamento, influenciam, interagem e norteiam
este processo pedaggico.
A aula de tcnica da dana assume caractersticas de laboratrio, onde o papel do
aluno pesquisar diariamente, com criatividade, a melhor forma de sentir a tcnica
aplicada ao movimento, no prprio corpo em harmonia, atuando com as capacidades dos
dois hemisfrios do crebro: o direito, com o potencial subjetivo, intuitivo, emocional,
imaginativo, criativo e outros, e o esquerdo, ligado a experincias intelectuais, ao
processamento lgicoracional. Apesar dos seus hemisfrios diferenciados, o crebro
configura-se como um nico rgo de processamentos mltiplos. (Ver Edgardo Musso,
Intuio: As mulheres e o funcionamento do crebro, 1997, no site da Internet:
http://www.cdic.com.br/abril97.htm)
A INTUIO, FONTE PARA NOVAS DESCOBERTAS
No existe nenhum caminho
lgico para a descoberta das leis
elementares do Universo o nico
caminho o da intuio. Albert
Einstein Tag: Cida Linhares
Imagem danarinos: na internet, sem
meno de autoria.
A utilizao de ambos os
hemisfrios do crebro pelo aluno de dana, ou das Artes em geral, fundamental na
experincia do viver, do intuir, do criar e do interpretar. No caso do danarino,
especificamente, fundamental na experincia do movimento corporal e da expresso
desse movimento. Fazendo uso da intuio, o aluno de dana ter acesso a um processo
que pode atingir tanto o inconsciente como o consciente. Atravs da intuio e do intelecto,
assim como dos sentidos e das emoes, que podemos desenvolver, no prprio corpo, a
arte de danar. Acreditamos que o aprendizado do aluno de dana se deve necessariamente
ao desenvolvimento destes pontos cruciais, que vm assegurar uma eficaz formao do
danarino, alcanando alto nvel profissional.
23
Na presente pesquisa, pretendemos abordar a intuio, ttulo desta dissertao, como
um conhecimento claro e direto de algo, um imeciocnio ou pressentimento que venha a ser
explorado criativamente, um insight, caracterizado pela espontaneidade e assero. Carol
Adrienne, no prefcio do livro de Penney Peirce, palestrante e pesquisadora da intuio,
cujo ttulo : O Caminho da Intuio, Um guia para a sabedoria interior, nos revela que:
O instrumento que d mais poder e, ao mesmo tempo, o mais prtico de todos
j dentro de ns a capacidade de receber orientao intuitiva, ligando-a com
nossos processos racionais e emocionais e passando a agir com base em nossas
respostas autnticas no momento. Com a intuio e a lgica trabalhando em
harmonia, podemos ver claramente o que necessrio e fazer exatamente o que
exigido de ns enfrentando as situaes com inspirao e confiana. (1999,
p.12)
Adrienne acredita que, ao usarmos nossa intuio, [...] ficamos como um animal
farejando o vento alerta! Com essa nova forma de buscar orientao em nosso ntimo, em
buscas de pistas quase imperceptveis, vemos como nossas relaes so importantes com
nossa alma e uns com os outros. (Ibidem, p.12) Ela acredita que, utilizando dessa forma a
intuio: Percebemos que nossa vida no s faz diferena neste mundo, como tambm
que essa a verdadeira razo pela qual nascemos. (Ibidem, p.12) Que, quando
entendemos [...] o paradoxo de que nada fixo e programado, nem aleatrio ou acidental,
realizamos a transio que nos leva a viver verdadeiramente nossa misso. Comeamos a
ver que o nosso papel envolver-nos com a vida, participar, desfrutar e divertir-nos.
(Ibidem, p.12) Peirce considera a intuio a essncia da vida que se perdeu h muito, e
viver de acordo com ela uma arte. Para isso, basta pedir, que ela nos d fluidez e alegria,
respostas instantneas e abundncia de conhecimentos. Quando dominamos essa arte, esta
vibra como nenhuma outra. Acredita que, atravs do desenvolvimento da nossa intuio
podemos dissolver inseguranas e bloqueios, alm de alguma rigidez temporria do
intelecto ou da emoo. Para ela, podemos tambm desobstruir nossa criatividade,
aumentar a nitidez de nossos sonhos e cultivar mais sincronicidade mgica. (Ibidem,
pp.13-14) Continua dizendo que: A intuio pode aumentar o sucesso e a satisfao em
todos os domnios seja material, emocional ou espiritual e tambm pode dar muitas
alegrias [...]. (Ibidem, p.14)
24
Segundo Peirce, nossa intuio a catalizadora do autodesenvolvimento e da auto
realizao, porque, quando tratamos de fazer mudanas profundas e duradouras em nossas
vidas particulares, s a experincia subjetiva, e no os fatos, conta como algo real. Para
desenvolvermos a nossa capacidade intuitiva necessitamos decifrar as mensagens de nosso
corpo (nossos impulsos). Ela afirma que a linguagem do corpo binria, ou seja: h apenas
duas formas de ao que podemos exemplificar como: expandir ou contrair. Expandimos
quando aceitamos algo, quando dizemos sim, e contramos quando reprovamos, dizendo
no. O corpo nos d sinais de excitao ou entra em uma frequncia ligeiramente mais alta
quando quer chamar nossa ateno. Alguns sintomas de reprovao podem ser: irritao
(estresse) ou distrao (depresso). Ainda que estejamos sintonizados com nossa intuio
ou aprendendo novas formas de ouvi-la, viver de acordo com ela pode nos trazer muitos
benefcios. (Ver ibidem, pp.14-169) Continua:
Quando para voc uma escolha ou ao apropriada, segura ou direto-na-
mosca, voc sente uma expanso de energia: consegue at sentir a energia
subindo e tornando-se ativa ou cheia de vitalidade. Voc talvez se interesse por
uma ideia, fique delirante ou se sinta tomado pelo entusiasmo.
Quando pergunto s pessoas como sabem que algo verdadeiro e onde
experimentam essa sensao no corpo, muitas descrevem uma sensao de calor
que se espalha pelo peito. Outras sentem a energia borbulhar de seu diafragma
para o peito, ou do peito para a garganta. [...] No entanto, o mais comum voc
reconhecer sua verdade pessoal por ter um sentimento de profundo conforto.
(Ibidem, p.152)
Quando o corpo responde no, para Peirce, a mensagem costuma ser inequvoca.
Para ela, a maioria das pessoas, na realidade, tem mais conscincia de seus sinais de
ansiedade do que dos sinais da verdade. Podemos sentir a energia cair, o corpo contrair ou
recuar quando uma escolha ou ao no oferece segurana. Podemos mesmo chegar a
reagir friamente a algum estmulo ou a algum, buscando distncia. O corpo procura logo
se afastar ou recuar. O sentimento pode ser de: rejeio com a emoo de tristeza, ficando
plidos se o sangue nos foge do rosto, trancando a garganta como se esta tivesse dado um
n ou sentindo uma contrao na boca do estmago. Pode surgir o sentimento de depresso
(ver emoo rebusque ou disfarce no captulo III) que estudaremos mais adiante no
captulo IV, podendo vir a sentir dor em regies especficas do corpo, nuseas, dor de
estmago, dor de cabea, dor no peito, como se voc tivesse sido atingido com um soco na
rea do plexo solar. Todos esses so sinais de ansiedade. Continua:
Por que importante saber quais so os sinais da verdade e da ansiedade?
Primeiro porque voc precisa de um modo infalvel de discernir quais as opes
25
da vida so as melhores para voc, precisa ser capaz de fazer escolhas autnticas
orientadas diretamente pela sabedoria [...] da sua alma. Os sinais da verdade e da
ansiedade so seu principal canal para a sabedoria mais elevada. Em segundo
lugar, ao aprender a identificar respostas claras mais rpida e diretamente, voc
no perde tanto tempo e energia e, desse modo, no perde tantas oportunidades
de ser feliz. Em terceiro lugar, ao aprender a confiar irrestritamente na primeira
reao de seu corpo, voc vai descobrir que a orientao que obtm da maior
qualidade. Goethe disse essas palavras enganosamente simples: Basta confiar
em si mesmo. E ento vai saber viver. (Ibidem, p.153)
Peirce acredita que, seguindo nossa intuio, acabaremos por experienciar a alma em
nosso prprio corpo, como nossa personalidade. Fala da importncia de confiarmos no
impulso de nossos interesses, e na corrente que nos leva ao nosso destino ou nossa meta,
cuja responsabilidade, em grande parte, da nossa intuio que se transforma em cognio.
Diz tambm que, com isso, aprendeu que o prprio processo o mestre. (Ibidem, pp.16-
17) Para ela a intuio ocorre quando estamos vivendo de forma fluida, longe de
preocupaes, dos deveres e das opinies arraigadas. Se ns conseguirmos mudar
facilmente de direo, diz ela, ajustarmos nossa velocidade para as necessidades do
momento, iniciarmos um movimento e abandonamos comportamentos que j no tm mais
serventia. (Ibidem, p.77) Assim, nossa intuio pode tornar-se um fator importante e de
uso permanente em nossa vida.
Edgardo Musso nos apresenta diversas formas de intuio. So elas: (Em: Intuio:
As mulheres e o funcionamento do crebro, 1997, no site da Internet:
http://www.cdic.com.br/abril97.htm).
A intuio sensvel aquela pela qual apreendemos as sensaes. A intuio racional atravs da qual a razo apreende certas verdades. A intuio psicolgica a que nos d conscincia imediata das nossas
Ideias, sentimentos e recordaes.
Analisando essas informaes, e relacionando-as com a dana, elaboramos o
seguinte quadro de referncia:
1. Com a intuio sensvel, podemos perceber: Quando a sensao agradvel ou desagradvel; principalmente no que diz
respeito movimentao do corpo no espao.
Deficincias tcnicas, causadas pelo no desenvolvimento de algumas habilidades.
Impossibilidades psicofsicas, ou seja: limites fsicos reais e pseudolimites psicolgicos.
2. A intuio racional pode conscientizar o danarino acerca do ser e do estar, buscando a situao real do momento. a intuio cognitiva, do conhecimento claro e
direto.
3. A intuio psicolgica traz o aluno sempre para o tempo presente, para o aqui e agora, conscientemente.
26
Esse trabalho tem como ttulo a intuio, e como meta, utiliz-la como referncia
para detectar bloqueios psicolgicos que dificultam a expresso performtica do danarino,
assim como elemento primordial para o desenvolvimento da criatividade. Observamos
estes bloqueios num grupo formado por alunos de dana da UFBA, atravs de um estudo
tericoprtico, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento sensorial, criativo e
performtico do danarino. Hoje queremos apostar na intuio como suporte para a criao
artstica e ao mesmo tempo como facilitadora na identificao e resoluo de problemas
comportamentais, principalmente desses bloqueios psicolgicos mencionados
anteriormente. Alm disso, a intuio permear todo este processo. O que estamos fazendo
apostar na intuio como referncia no desenvolvimento sensorial e performtico do
danarino.
Alguns conceitos de intuio esto explicitados por Sillamy sendo o mais simples,
aquele que a define como uma [...] compreenso imediata e sem reflexo da realidade.
(1996, p.133) Prossegue definindo a intuio segundo a psicologia da Gestalt, que veremos
com mais detalhes adiante, portanto, a intuio seria [...] a apreenso direta de elementos
organizados espontaneamente em um conjunto determinado. Para P. Sorokin (ibidem,
p.133), [...] uma espcie de iluminao instantnea e imprevisvel, que permite aceder
diretamente essncia de um ente ou soluo de um problema. (Ibidem, p.133) Sillamy
d continuidade conceituao de intuio citando Jung:
C.G. Jung fez dela uma funo fundamental da psique, graas qual subitamente
nos apresentado o contedo, em forma definitiva, sem que saibamos como ele
foi construdo. Essa capacidade no est distribuda igualmente pelos indivduos,
mas um trao caracterstico da criana e do primitivo. Nos adultos, alguns so
particularmente intuitivos. So encontrados principalmente entre os escritores e
os sbios. Vrios pesquisadores ou matemticos, como H. Poincar sublinharam
o papel preponderante desempenhado pela intuio como ponto de partida de
suas descobertas ou de suas invenes. Em psicologia, essencial a intuio.
Graas a ela, o clnico levado ao corao do sujeito, apreendendo o que tem
de nico e, por consequncia, de inexprimvel (H. Brgson). Mas, por este
mesmo motivo, porque frequentemente os dados intuitivos no so verificveis,
muitos dos participantes desconfiam da intuio, que tentam substituir por
mtodos racionais. (Ibidem, p.133)
O insight, um termo de lngua inglesa que no possui equivalente em portugus, a
no ser, de maneira aproximada, a palavra compreenso, pode-se definir como uma
compreenso sbita de uma determinada situao, que pode vir a clarificar, atravs de uma
organizao de elementos, aquilo que desejamos, conscientemente ou no. Esta definio
coloca o insight muito prximo da intuio, o que faz com que muitos autores se utilizem
27
dos dois termos para indicar a mesma coisa. (Ibidem, p.130) Arnheim coloca a intuio
como funo da cognio, junto com o intelecto (1989, p.97). Ver tpico do Captulo III, A
Importncia da Intuio e do Intelecto para o conhecimento.
A EDUCAO COMO PROPSITO
O que a verdade? Uma pergunta difcil:
mas eu a respondi para mim mesmo dizendo que o
que aquela voz interior fala com voc. Mahatma
Gandhi
Tag: Cida Linhares
Tube: Patries Clean
A educao situando-se como
processo entre o danarino e a dana, deve ser sempre o propsito, tanto do professor,
quanto do aluno. O papel do professor educar. Mas, o que educar? Alm de tudo que
implica a ao do educador, fundamental que o professor estimule, motive e facilite o
aluno a explorar todo seu potencial. Ter sempre como objetivo a superao de limites, com
amor, proteo e principalmente compreenso, num ambiente favorvel, no s do ponto
de vista ambientalespacial, como do psicolgicoemocional.
Infelizmente, ns educadores, ocupamo-nos da didtica, da metodologia e da tcnica,
deixando de lado, quase no esquecimento, a psicologia, to pouco estudada e explorada nos
processos educacionais de forma geral. De pouco adianta estudarmos a matria Psicologia
Aplicada Educao no curso de Licenciatura em Dana se no a aplicamos a ns
mesmos, a nossos prprios processos de aprendizagem. Ao aplicarmos a psicologia,
encontramos respostas para muitos questionamentos que surgem ao longo da profisso de
educador como: O que fazer para que o aluno de dana descubra o seu caminho na
profisso? Como lev-los a obter sucesso com a dana? Como faz-los atingir seu pblico
com uma comunicao eficaz? Qual a sua meta em relao dana? Como cumprir os
objetivos para alcan-la? So suas atitudes coerentes para a consecuo desses objetivos?
Quais os impedimentos para tal? Como usar a dana como forma de expresso? Sem o
autoconhecimento, ou, sem a tomada de conscincia do nosso prprio processo psicolgico
de vida, dificultamos a expanso do self.
Estudamos praticamente tudo numa escola hoje, menos como nos perceber e
perceber o outro, como adequadamente nos comportar, principalmente diante de estmulos
28
que mexem com nossa emoo, como nos aceitarmos como somos ou como estamos, e
principalmente, como assumirmos nossas responsabilidades. Enfim, como termos a
percepo do universo como um todo e de ns mesmos como parte integrante dele. Esta
percepo, alm de nos dar um autoconhecimento, pode nos fazer enxergar a realidade, nos
habilitar a aceit-la quando nos fizer bem, e nos dar foras para mud-la, quando assim o
quisermos. Portanto, tudo que interage com o aprendizado da dana e a performance do
aluno, diz respeito educao. O comportamento do aluno, ou seja: seus sentimentos,
pensamentos e aes, so relevantes e fazem parte do todo. A Psicologia do Espectro pode
nos dar uma ajuda relevante, nos situando na relao Eu-Cosmos. Vejamos a seguir.
PSICOLOGIA DO ESPECTRO
O homem livre de tudo o que sabe
e escravo de tudo que ignora. Rohden
Tag: Cida Linhares
Imagem: Luz Cristina
Um dos sistemas didticos segundo
Carlos Antnio Fragoso Guimares, que
procura integrar os diferentes insights das
vrias escolas psicoteraputicas do ocidente, assim como as vrias abordagens orientais a
recente Psicologia do Espectro, proposta por Ken Wilber, como um modelo da
compreenso transpessoal das diferenas entre psicoterapias. Neste modelo, cada uma das
diferentes escolas ...
[...] vista como uma faixa que se dedica a um aspecto especfico do total a que
se pode apresentar a conscincia humana. Cada uma dessas escolas aponta para
um estado de conscincia que se caracteriza por possuir um diferente senso de
identidade, indo da pequena identidade restrita ao ego at suprema identidade
com todo o universo, que o nvel extremo da conscincia transpessoal. (Ver: A
Psicologia Transpessoal, no site: http://.com/Vienna/2809/psicho.htm, 1996)
A Psicologia do Espectro classifica os estados de conscincia entendidos em quatro
nveis: o do ego, o biossocial, o existencial e o transpessoal.
1. No nvel do ego: a pessoa no se identifica, a rigor, com o seu organismo, mas com
uma representao mental, ou com um conceito do mesmo, como uma autoimagem
construda, ou egica. Segundo Guimares, este um problema de identificao
com um modelo que a pessoa aceita, num investimento, como sendo seu eu. Para
esta pessoa, existe um eu que independente e diferente de tudo e de todos. Para ela,
29
no existe um interesse em [...] cultivar relaes interpessoais sem que haja uma
vantagem especfica para o ego [...] nem se preocupa com aspectos ecolgicos ou
sociais.
2. No nvel biossocial: J envolve a conscincia e a pessoa j se preocupa com o nvel e
os aspectos do seu ambiente social. J se sente parte desse ambiente e tambm sente ter
alguma responsabilidade por ele e pelo ambiente natural.
3. No nvel existencial: o nvel dos ideais humanistas, do organismo total,
caracterizado por um senso de identidade autoorganizador do corpomente. Emoo e
razo andando juntos, mais ou menos associadas para um desenvolvimento e
crescimento das potencialidades do homem, desde que os meios sejam (razoavelmente)
propcios. O pensamento se torna mais sofisticado, em termos de filosofia de vida. Um
alto grau de desenvolvimento moral frequentemente associado a este estgio.
4. No nvel transpessoal: O senso de identidade se torna mais amplo, ultrapassando as
barreiras do Ego, o nvel do inconsciente coletivo e dos fenmenos que lhe esto
associados, tal como descrito por Jung e seguidores. Ainda segundo Guimares,
neste nvel de percepo que:
[...] podem mas no necessariamente ocorrem ou so regra geral prprias de
uma percepo transpessoal surgir, como eventos secundrios, certos
fenmenos parapsicolgicos, como telepatia, precognio ou o que no tipifica
um fenmeno parapsicolgico, mas sim psicolgico lembranas de vidas
passadas. [...] Essa forma de conscincia transcende, e muito, o raciocnio lgico
convencional, e aproxima-se das assim chamadas experincias msticas. E este
estado que objeto mais ntimo de estudo da Psicologia Transpessoal. (Ibidem,
internet)
Este pequeno esquema, que aponta vrios nveis da conscincia humana, alm de nos
possibilitar situar as diversas psicologias existentes, poder contribuir para uma auto-
avaliao de identidade. Ele servir de base para o desenvolvimento da pesquisa, j que
esta se prope, a conscientizar o ser e o estar de cada aluno como indivduo, como parte
integrante de um todo, pertencente ao cosmos. Acreditamos que o nvel transpessoal seja o
nvel que almejam os artistas, para que a construo da sua arte esteja sempre livre de
amarras.
Partimos do pressuposto de que, atravs do estudo da psicologia e do trabalho de
tcnicas psicoteraputicas de autoajuda, o aluno poderia detectar, para futuramente
resolver, alguns bloqueios psicolgicos que interferem no desenvolvimento expressivo da
sua dana. Depois do racionalismo positivista, que postergou, por vrios anos, o
30
desenvolvimento do conhecimento cientfico a respeito da nossa parte sensorial e extra
sensorial, surge um novo humanismo. Este qualifica a intuio ou insight como um
discernimento, um pensamento superior, quando surge a soluo de um problema que, de
modo geral, se d de forma repentina. A intuio funciona quando, sem estarmos nem
mesmo atentos, temos um pressentimento, ou um momento de luz, um conhecimento claro
e direto da soluo de um problema, sem que necessitemos do auxlio direto do raciocnio.
A referncia da intuio para o desenvolvimento da sensibilidade, dever ajudar a
conscientizar os alunos dos bloqueios que impedem a expresso do movimento na
interpretao coreogrfica do danarino. Sua busca ao autoconhecimento e o aumento da
autoestima e da autoconfiana, podem contribuir para o desenvolvimento da sua
personalidade que ainda est em formao (ver Jung, 1986, p.177). Pretendemos, alm de
detectar pontos de bloqueios psicolgicos atravs de problemticas no resolvidas no
passado, dar embasamento terico, para que conscientemente, os mesmos problemas
possam ser estudados. Este estudo terico-prtico ser dirigido com a inteno de
conscientizar, os prprios alunos, de seus bloqueios psicolgicos, pelo menos os mais
percebidos por eles. Utilizando o estudo da Anlise Transacional, da Gestalt Terapia e da
Psicologia Transpessoal, que do enfoque s relaes interpessoais, buscamos expandir a
conscincia para alm das fronteiras do eu. Dando nfase ao indivduo, esperamos
contribuir para o crescimento da sua autonomia nos processos de criao e encenao dos
quais venha a participar.
Desenvolver uma prtica de ensino com os alunos da Escola de Dana da
Universidade Federal da Bahia, que possibilitasse, atravs do autoconhecimento, o seu
desenvolvimento sensorial, ou seja, o desenvolvimento da intuio, percepo, dos
sentidos, da expresso das emoes e sensaes, criatividade e outros, foi nosso objetivo.
Utilizando, como base de conhecimento, e de autoconhecimento, os dez instrumentos da
Anlise Transacional, pretendemos dar subsdios aos alunos para detectarem bloqueios
psicolgicos que possam estar interferindo no seu aprendizado e na sua performance.
31
A IMPORTNCIA DA PSICOLOGIA PARA O ENSINO
E APRENDIZADO DA DANA
Apostando na razo como nica forma de
estruturar os padres de comportamento e tomada de
decises (racionalismo), a humanidade postergou por
anos a capacidade de intuir dos seres humanos, ocultado
pelo lucro e governado pelo medo ao erro. Edgardo
Musso Tag: Cida Linhares
Imagem: Mara Pontes
O aluno atingir a universidade, em nosso pas, j uma grande vitria. Conseguir
concluir o curso, outra. Estar apto para enfrentar problemas, sejam de ordem poltico
social, dentre outros, mais uma. Mas, estar apto para enfrentar a vida com a profisso
escolhida, dever ser a maior de todas elas, e isto , em parte, responsabilidade dos
educadores. Para Jung, personalidade ....
[...] a realizao mxima da ndole inata e especfica de um ser vivo em
particular. [...] Personalidade, a obra a que se chega pela mxima coragem de
viver, pela afirmao absoluta do ser individual, e pela adaptao, a mais perfeita
possvel, a tudo que existe de universal, e tudo isto aliado mxima liberdade de
deciso prpria, o que requer-se para tanto uma vida inteira de uma pessoa. (O
desenvolvimento da Personalidade, 1986, p.177)
Ao tempo em que o aluno de graduao encontra-se normalmente num processo de
desenvolvimento da personalidade, ele necessita tomar decises quanto o seu futuro
profissional. Com esta responsabilidade, s vezes prematura, da escolha da profisso, ele
sai em busca de um embasamento para sua vida profissional, criando expectativas e
incertezas, das quais podem surgir conflitos.
Muitos so os psiquiatras, psiclogos e psicoterapeutas que veem fazendo pesquisas
nos campos da cincia, da arte e da personalidade humana. Algumas pesquisas cientficas
relativas criatividade e intuio na arte foram realizadas, principalmente, pelos adeptos e
seguidores da psicologia humanista, tendo como base o trabalho de Jung, que influenciou
Carl Rogers, Maslow, Rollo May, dentre outros (ver Carlos Antnio Fragoso Guimares,
1998). Na dana, especificamente, encontramos artistas que explicam sobre as relaes
entre a Dana e a Psicologia e a necessidade dessa interao. A dana terapia, abordada por
Maria Fux, enfoca:
A mobilizao, tanto com crianas como com adultos, sempre de carter
psicolgico, mas isto no implica uma posio teraputica preestabelecida.
Melhor a chamaria de profiltica. Se se utiliza o conceito psicolgico, no
habitualmente para curar ningum, mas para que esse algum se ponha a salvo
32
do risco da enfermidade; e enfermidade nesses casos seria no reconhecer o
corpo, sua possibilidade expressiva e sua evoluo em relao idade que se
tem. Mas, em alguns casos, meu trabalho de comunicao e de expresso com o
corpo se complementa com um tratamento psicoteraputico, que fao com
mdicos especializados. (Captulo IV 1983, p.97)
A sensibilizao do corpo para o desenvolvimento da expresso e em consequncia
da comunicao fundamental para o danarino que utiliza como instrumento principal de
trabalho o prprio corpo. Mas, Maria Fux s se utiliza da psicoterapia em alguns casos.
Ela descobre com suas experincias na dana terapia que: O movimento, [...] revela no
espao a psicologia profunda do indivduo. E que: [...] possvel desenvolver no s a
parte fsica mas tambm a psquica, estimulando-os a um reencontro que produz descarga e
alegria. (Fux, captulo IV 1983, p.97) A mesma autora, no captulo Novas Buscas em
Educao, j dizia:
Algo deve ser feito para que o aluno possa ampliar seus referenciais do mundo e
trabalhar, simultaneamente, com todas as linguagens (...) A derrubada dos muros
da escola poder integrar a educao ao espao vivificante do mundo e ajudar o
aluno a construir sua prpria viso do universo. (Ibidem, p.97)
Klauss Vianna (no seu livro A Dana, captulo VI), relaciona assuntos da psicologia
com a dana. Vejamos:
certo que so maiores as possibilidades de resolvermos nossos problemas
medida que conseguimos formul-los. Contudo esse processo quando aplicado
somente ao corpo, insuficiente. O trabalho corporal tem uma dimenso
teraputica na medida em que toma o corpo como referncia direta da nossa
existncia mais profunda. [...] difcil vivenciar nossas emoes e sentimentos
mais profundos. Por vezes, esse enfrentamento assume a conotao de um risco,
que nem todos estamos dispostos a enfrentar. (1990, p.55)
A integrao da dana com a psicologia, portanto, j foi tratada por vrios autores. O
que gostaramos de acrescentar a este trabalho uma metodologia capaz de conscientizar
alunos e professores da necessidade desta integrao. Esta metodologia dever possibilitar
o desenvolvimento de meios que ajudem os alunos a superarem bloqueios de
aprendizagem, durante o ensino das tcnicas corporais, com o objetivo performtico. Carl
Rogers, terapeuta transpessoal e um dos estudiosos e pesquisadores da criatividade,
acredita que: [...] sua fonte parece ser a mesma tendncia que se observa como fora
curativa na psicoterapia a tendncia do homem para atualizarse, para concretizar suas
potencialidades. (Apud Alice de Alencar, 1995) Ele acredita tambm que a criatividade
gerada apenas por uma pessoa saudvel psicologicamente. Acreditamos que a busca pela
criatividade deva ser iniciada pelo caminho inverso ao que sempre fizemos, ou seja: o
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autoconhecimento surgia, de forma intuitiva, pelo trabalho corporal, que deixava lacunas e
sacrificava o fator tempo. Estas lacunas poderiam ser resolvidas ou no, anos mais tarde,
com dor e sacrifcio da vivncia. Ora, a carreira do danarino muito curta. O corpo
comea a envelhecer muito cedo. Ns, professores de dana da universidade, pegamos o
aluno, com raras excees, com no mnimo 18 anos, e com nveis, classes, conhecimentos
e objetivos, diferenciados, sem tratarmos de outros detalhes como vcios corporais e
desvios de carter, ou seja, desvios na maneira de ser, sentir e reagir (Ver Sillamy, 1998,
p.43).
Convivemos com os alunos em cada disciplina durante quatro meses (mais ou
menos), e temos apenas trs anos para form-los em danarinos profissionais, o que
achamos pouco tempo, mas, mesmo assim, j os deixa com no mnimo 21 anos.
Acreditamos tambm que, um danarino, hoje, necessita estar o mais maduro possvel
(com todos os significados que esta palavra possa ter), aos 18 anos porque a maioria das
companhias de dana contratam seus danarinos com esta idade ou menos.
O conhecimento de tcnicas diversificadas de dana, tanto na teoria como na prtica,
o histrico da dana e suas manifestaes etnolgicas, anatmicas e cinesiolgicas so
abordadas no currculo. A matria psicologia aplicada faz parte do programa das
disciplinas de licenciatura em dana mas, segundo alguns alunos do grupo de pesquisa,
esta no orienta os alunos no sentido de deix-los aptos a resolverem seus problemas
psicolgicos prticos do dia a dia, sejam eles de nvel profissional ou no.
A disciplina de ballet clssico tem a durao de trs semestres apenas. Quando os
alunos atingem esta disciplina, j cursaram dois semestres de tcnica da dana moderna.
Alguns alunos, na sua maioria, no desenvolveram suficientemente o conhecimento do
prprio corpo. Conhecer o prprio corpo fundamental para o danarino. Observar e
trabalhar com a relao corpo-mente, integrando-a com a vida e o universo, pode nos dar a
energia para tudo que buscamos. Podemos comear a nos conhecer atravs da nossa
respirao, que a troca do gs carbnico pelo oxignio.
Trabalhar nossa respirao ao longo da nossa vida profissional, pode trazer o
autoconhecimento, atravs das sensaes, do espao interno do nosso corpo, que poder se
expandir e recolher. Isto, por sua vez, pode contribuir para a integrao do ritmo interno
com o ritmo csmico, harmonizando a interpretao coreogrfica. Conhecer nossos
espaos internos como o espao externo, tambm pode trazer a proteo, que o danarino
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necessita, contra contuses e machucados, alm do conhecimento cinesiolgico e
cinestsico individual. Concordamos com Klauss quando ele diz:
Bloquear ou no saber lidar com a respirao, com a expanso e o recolhimento
que conduzem o ritmo interno s contribui para criar couraas no corpo [...]. A
partir do momento em que bloqueamos ou dificultamos nossa respirao interna,
comeamos a matar nossa sensibilidade, a intuio, todo o corpo. Quando
podamos a expressividade de nosso corpo, impedindo que respire, estamos
cortando o nosso cordo umbilical com o mundo. (1990, p.56)
O que nos estimula no ensino e na prtica da dana, o dilogo no verbal, ou seja,
o dilogo corporal entre a expresso do aluno, geralmente em resposta a um estmulo, e sua
relao entre seus pensamentos, atitudes e emoes. As atitudes corporais do aluno so
capazes de revelar toda sua personalidade e carter. s vezes, alguns alunos procuram,
inconscientemente, omitir sensaes e emoes sem sucesso, quando se trata de uma ao
corporal, principalmente as que se relacionam com heranas do passado, geralmente
causadoras de dor e sofrimento. Estas heranas, como vero mais adiante, influenciam as
nossas estruturas do EU, que emitem geralmente mensagens parentais negativas de uma
estrutura a outra. Estas mensagens bruxas, inconscientes, interferem diretamente na
performance do aluno, que passa a vivenciar com frequncia um passado, abandonando o
presente, o aqui e agora. Observamos este fenmeno atravs de dilogos, com alguns
alunos, acerca de seus sentimentos e comportamentos.
A falta da percepo de si mesmo denota um comportamento imprprio com a
vivncia (que s vezes acontece at mesmo quando por minutos ou questes de segundos
ficamos fora da realidade, vivenciando inconscientemente e cinestesicamente o passado, ou
sonhando com o futuro, sem viver o momento presente) aqui e agora. Geralmente
vivenciamos inconscientemente um momento do passado obscuro, muitas vezes vivido e
no resolvido, na sua maioria traumtico. Quando no estamos no passado, podemos estar
vivendo um futuro de expectativas fantsticas, que podero destruir o prprio desejo
consciente de uma carreira de sucesso. Esta prtica melhor observada, quando j se
tornou, no aluno, um padro frequente de comportamento. possvel identificar, nestes
momentos, fora da realidade, um padro de comportamento, geralmente adquirido na
infncia, que, para quem observa, vai depender da frequncia com que eles ocorram. Este
padro de comportamento, fora da realidade, pode induzir o aluno ao erro, ou seja, lev-lo
a perder a coordenao do movimento, entrando em um estado de confuso. Normalmente,
o que precede este tipo de comportamento, a emoo de medo, que desorganiza os
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pensamentos, ou seja, ocorre, quase sempre, um bloqueio psicossomtico, pois, o aluno
apresenta reaes fsicas como: suar frio, tencionar os msculos, tremer o corpo, dentre
outros. A respirao geralmente torna-se ofegante, descompassada, impedindo a
performance da dana. O branco, ou seja, o esquecimento, seja de uma coreografia ou de
um texto teatral, so exemplos tpicos de momentos como estes. Como o professor pode
ajud-lo? At onde vai sua competncia? Qual a melhor conduta em seu papel neste
momento? ...
Trabalhar com o ensino das tcnicas corporais, entrar em sintonia com o aluno,
(nosso objetivo direto) educar num sentido amplo, para que o mesmo possa desenvolver
todo o seu potencial. Induzi-lo a trabalhar na barreira do limite fsico, para que ele possa
sempre ampli-lo. Dar oportunidades e estmulos, para que ele encontre seu caminho,
enfrente os desafios que na vida surgem, confiando no seu potencial artstico, absorvendo o
mximo de informao e conhecimento, e explorando com motivao e criatividade toda
uma riqueza de material que faz parte do seu inventrio, ou seja, da sua vida, origens,
cultura, etc. Para que isso acontea, acreditamos que, antes de tudo, seja preciso percorrer
o caminho do autoconhecimento. Alm disso, o autoconhecimento proporciona ao aluno a
descoberta do ser individual artstico que ele , nico neste universo.
O movimento do danarino captado pelo pblico atravs da viso. atravs dos
vrios olhos (que podemos traduzir em dana como focos corporais), que o danarino
possui no corpo que, se transformados durante o aprendizado em vetores de fluxo de
energia e consequentemente de expresso, criamos um veculo eficaz de comunicao com
o pblico. (Vetores ou vector, representa-se pela linha que une um ponto fixo com outro
mvel [...] adj. Raio vector Ver dicionrio Caldas Aulete, 1964, 5o Vol., p.4179) O que
notamos ao longo desses anos de observao em sala de aula, que os alunos que
demonstram dificuldades na expresso do movimento, no s mostram bloqueios corporais
desses vetores, com a somatizao como efeito, tendo como causa outros bloqueios de
origem psicolgica, que ao nosso ver, impedem o fluxo de energia sensorial necessria
para a expresso eficaz do movimento. O bloqueio desses vetores, tendo sua origem no
inconsciente, dificulta sua aceitao e em consequncia a sua mudana. Mas, como
podemos mudar necessariamente alguns comportamentos e atitudes se nem mesmo
sabemos que possumos? O educador intui os possveis bloqueios do aluno, (pois ele
mais experiente) mas as interpretaes nem sempre podem, e quase sempre, precisam ser
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averiguadas e constatadas pelo aluno, para que o mesmo perceba, aceite e reflita sobre o
que fazer. At mesmo os alunos que dominam uma tcnica avanada, em dana, s vezes
demonstram bloqueios desses vetores.
Possuir uma tcnica avanada, no significa que o danarino est completo. Possuir
dotes fsicos importante, mas um corpo que apresenta um virtuosismo, s vezes in-tenso
(in em ingls=dentro, ou seja: com o corpo tenso), pode no ser expressivo. Muitas vezes
elogiado por sua tcnica, embora a sua falta de expressividade na interpretao no deixar
de ser notada, sequer, pelo pblico leigo.
O simulacro na dana, no funciona para um pblico que possui sensibilidade na
diferenciao entre, a dana como a arte de expressar, interpretar e comunicar
criativamente a ideia da coreografia, com todos os objetivos implcitos, e a dana
acrobtica (mesmo considerando que a percepo do pblico leigo se d subjetivamente).
Um pblico que vai a um espetculo de dana, para ver acrobacias, ou a dana acrobtica
(aquela que no emociona, no expressa emoo), sabe que suas manobras difceis, so
executadas com perfeio por um corpo adestrado para tal. O danarino profissional
portanto, deve buscar, atravs da tcnica, a expresso da sua dana.
Os vetores corporais de fluxo de energia devem estar desobstrudos, para que a
performance do danarino seja completa, para que flua a energia sensorial e orgnica, que
vai qualificar o movimento se estiver repleto de emoo e/ou de sensaes que se deseje
comunicar.
Diante das dificuldades enfrentadas pelos alunos do curso superior de dana, na
assimilao e incorporao da tcnica clssica, especificamente, principalmente por
aqueles cuja experincia anterior da tcnica, foi insuficiente ou deficiente, sobra muito
pouco espao para o desenvolvimento sensorial pelo movimento. J na Universidade,
alguns alunos, vo iniciar o aprendizado bsico do ballet. Com apenas duas aulas semanais
e uma carga horria de 60h por semestre, sem falar dos dias santos e feriados, s vezes, ns
professores, precisamos ser um pouco bruxos ou mgicos, usando toda criatividade e
intuio, para que o aluno alcance um embasamento da tcnica com seus objetivos
especficos. Estar presente, por inteiro, ou seja, de corpo e alma ao expressar o movimento,
necessrio para a assimilao da tcnica do bal, que alm de minuciosa, requer muito
equilbrio, em todos os sentidos da palavra.
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Ao danar, podemos mostrar uma harmonia entre a expresso do corpo e da mente,
do racional e do subjetivo, movimento e expresso, que pode ser uma frmula mgica para
se obter sucesso na comunicao com o pblico e na prpria vida. Quando esta harmonia
no alcanada, a organicidade e a energia do movimento ficam bloqueadas, o que faz
com que o danarino execute o movimento sem resposta, ou seja, sem alcanar o objetivo
da comunicao, sem dilogo eficaz com o pblico. Isso muito comum no aluno de dana
que se procupa com a execuo do movimento tecnicamente correto, perfeita, sem ter
uma percepo sensorial suficientemente desenvolvida. Isto significa que este no se
permite errar ou desfrutar, nem se d conta de que atravs dos nossos erros podemos
aprender. Estes comportamentos imaturos e inadequados podem induzi-lo mais ainda ao
erro.
Como podemos criar um dilogo com o pblico, sem termos a inteno de sermos
bvios, se o movimento no tiver sentido? A principal forma do danarino dialogar com o
pblico durante sua performance, a energtica corporal. A est a fora vital do
movimento, que em ao, qualifica a interpretao do danarino, proporcionando um ter
sentido ao pblico sem ter que ser bvio. Acreditamos que esta caracterstica da linguagem
da dana a aproxima mais da msica que do teatro, embora o teatro tambm se utilize
eventualmente desta linguagem.
Quando trabalhamos a tcnica, seja ela clssica ou moderna pelas sensaes,
desfrutando da msica, da beleza da dana e qualificando cada movimento, (por menor que
seja seu tamanho ou significado) podemos perceber qualitativamente a expresso intrnseca
de cada gesto, sua inteno e, em consequncia, o prazer em ser artista. Neste momento,
podemos vivenciar a dana como um canal de contato com nosso eu verdadeiro, de alma
pura. Ao atingirmos este nvel de comunicao, mostramos uma dana plena em harmonia,
esteticamente bela, atravs da qual o danarino atinge o auge de sua maturao. A comea
um relacionamento de cumplicidade mtua, entre o danarino e a dana, passando a ser
impossvel separar o danarino do movimento incorporado sensorialmente.
Roberto Crema, no seu livro Anlise Transacional Centrada na Pessoa e mais alm
... relata: O enfoque humanstico da AT Centrada na Pessoa postula que ns vivemos para
evoluir, e que a tendncia natural da pessoa sadia expandir suas fronteiras de contato,
aceitando o risco inerente ao contatar e crescer. (1985, p.100)
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Portanto, torna-se relevante uma investigao sobre os processos de formao do
danarino, referente aos bloqueios psicolgicos, que interferem no aprendizado da dana,
limitam a criatividade, a percepo, a incorporao e a expresso. Vejamos o que Sandra
Meyer Nunes, professora do Ceart Udesc e mestranda em Semitica na PUC/SP, relata. Ela
nos fala a respeito da evoluo da arte a partir do conceito de mente, de intuio-
criatividade, e de processo de mudana.
Atualmente os cientistas, aps quatro sculos de uma herana racional
oficializada por Descartes, reconhecem o quanto os fatores intuitivos e criativos,
normalmente atribudos s artes em geral, so tambm uma ferramenta
necessria para a cincia. (Em: A dana como forma de conhecimento:
Existiram afinidades entre o artista e o cientista? E entre a dana e a cincia?).
(Texto adquirido na internet, sem data, em 1999)
No seminrio, O Prximo Corpo, ocorrido em So Paulo no ms de julho de 1996
durante o Encontro Laban 96, iniciativa do Centro Rudolf Laban e SESC, onde se reuniram
os palestrantes Helena Katz, crtica de dana e Dra. em Semitica pela PUC/SP, Jorge
Vieira, astrofsico e Dr. em Semitica pela PUC/SP, e Norval Baitello Jr., Dr. em Cincia
da Comunicao pela Universidade de Berlim. Nunes relata que: O encontro destes trs
semioticistas transformou-se em um valioso momento de entendimento das possveis
relaes entre a dana e a cincia, e muito mais alm, entre o corpo mente e a cincia.
Nunes continua dizendo que: Esta interdisciplinaridade deu ao evento um papel pioneiro e
diferenciado em relao a outros eventos da rea de dana no Pas. Ela tambm define e
resume a principal colocao do palestrante que vm a seguir:
Norval Baitello Jr. falou a respeito do corpo e seu dilogo com a mente. [...] O
corpo, ora meramente visto como comandado pelo crebro inteligente, comea
a ser percebido tambm como possvel entidade pensante. A conscincia no
estaria localizada somente no crebro, mas presente como um todo no
organismo, produzindo uma viso de corpo no segmentada e dualizada.
(Ibidem, internet)
Katz apud Nunes lembrou que: [...] a mente como se fosse um vrus, que pode nos
infectar, como os genes. Pulam de um crebro ao outro, de um corpo ao outro transmitindo
informao cultural. Essa infeo, infelizmente, no ocorre sempre com a transmisso de
informao cultural ou de emoes que nos tragam prazer. Nunes continua:
O Seminrio O Prximo Corpo contemplou outras vises de corpo ao colocar as
possveis relaes entre dana e cincia. O ambiente criado pelos trs inspirados
palestrantes teve um rigor cientfico, mas traduziu-se tambm por uma aura de
encantamento mgico. A quantidade de insights surgidos provocou nos ouvintes
a sublime sensao de se poder percorrer novos caminhos na arte da dana,
mesmo atravs dos j traados e insistentes mapas clssicos. (Ibidem, internet)
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Portanto, o conhecimento, a pesquisa e o estudo pelo danarino/professor e amantes
dessa arte, no poderiam deixar de lado os aspectos psicolgi