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Glênia Costa Aguiar
A RODA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:
SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE
DA FAMÍLIA
SOBRAL-CE
2015
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
Glênia Costa Aguiar
A RODA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:
SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE
DA FAMÍLIA
Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Saúde da Família da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família/Nucleadora: Universidade Estadual Vale do Acaraú, como requisito necessário ao título de Mestre em Saúde da Família.
Orientadora: Prof.a PhD. Maria Socorro de Araújo Dias
Linha de Pesquisa: Educação na Saúde
SOBRAL-CE
2016
Dedico este trabalho a todos os colegas,
profissionais da Estratégia Saúde da
família de Sobral-Ce, em especial, aos
que compartilham comigo o aprendizado
contínuo, no Centro de Saúde da Família
- Alto da Brasília, a quem considero parte
essencial na construção da minha
vivência do Mestrado Profissional em
Saúde da Família.
AGRADECIMENTOS
Entendendo esta conquitsa, como uma vitória ouriunda de várias mãos,
agradecer se faz essencial, posto que vejo em cada um que percorreu comigo esta
trajetória, um instrumento enviado por Deus para que fosse possível concluir esta
etapa.
Não podendo ser diferente, inicio meus agradecimentos louvando e
bendizendo a Deus, que escolheu para mim a graça de cursar o Mestrado
Profissional em Saúde da Família, cruzando caminhos, na época, com a acadêmica
de enfermagem, Flávia Martins, que tão disponível e atenciosa se dispôs a acreditar
e construir comigo o projeto utilizado na seleção, bem como meus colegas de
trabalho que, sempre com palavras de confiança e encorajamento disseram: “vai”,
“você consegue”... Devo a vocês ter dado o primeiro passo...
Depois, já mestranda, precisando abdicar de tempo ao lado da família,
contei com a compreensão dos meus filhos e marido que sentiram minhas ausências
nas noites e finais de semana, quando, tantas vezes eu dizia: “tenho que estudar”...
Hoje lhes digo que, cada vírgula deste trabalho tem a presença de vocês. Aliás,
vocês são a principal razão pela qual eu não me dei o direito de fraquejar e desistir,
nem deste, nem de qualquer outro desafio da vida.
Aos meus pais que foram e sempre serão minha base, meu porto seguro,
minha referência de vida... Vocês me ensinaram a falar, a pensar... E é só por isso
que hoje fui capaz de escrever um Trabalho de Conclusão de Mestrado.
Aos professores que conduziram cada módulo, de forma encantadora
que, muitas vezes, nos soaram como carícia a alma, porém, nos munindo de todo
conteúdo necessário para fortalecer a nossa práxis.
A minha brilhante orientadora Professora PhD Maria Socorro de Araújo
Dias, que, literalmente segurou minha mão, a quem não encontro palavras para
descrever tamanha admiração e carinho.
Enfim, termino como comecei, louvando e bendizendo a Deus porque Ele
sabe a razão de ter me conduzido até aqui, e eu confio que, os planos d`Ele são os
melhores pra nossa vida. E concluir esse Trabalho foi plano e cuidado d`Ele para
nós.
RESUMO
O processo de co-gestão de coletivos proposto por Gastão Wagner simbolizado pelo
dispositivo da Roda é adotado pelo sistema de Saúde de Sobral, desde 2001. O
desafio deste estudo foi apreender os sentidos e os significados da Roda enquanto
estratégia de Educação Permanente em Saúde do Município de Sobral-Ce. Para
isso, realizamos uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa,
que realizou-se em três centros de saúde que compõem uma macroárea da
Estratégia Saúde da Família de Sobral-Ce. O instrumento utilizado para coleta de
dados foi o Mapa Afetivo. A análise de conteúdo, do subtexto, do sentido e do
motivo, propostos por Bomfim (2010) constituíram o referencial teórico-metodológico
para a análise dos resultados. Estes conduziram a inferência que o Método da Roda
constitui-se em espaço significativo para o coletivo de participantes por permitir um
encontro de sujeitos/poderes que possibilita avaliação da própria ação produtiva,
aumentando assim a capacidade dos sujeitos para analisar e operar sobre a práxis.
Quando buscamos apreender os sentidos (privado) da Roda enquanto estratégia de
EPS, identificamos a relevância do método por possibilitar a expressividade dos
sujeitos que, além de avigorar vínculos, oportuniza a co-produção de projetos, o que
os motiva a co-gestão dos processos de trabalho, fortalecendo o sentimento de
segurança na tomada de decisões pela consistência do aprendizado. Em vista disto,
concluímos que a EPS e Método Paidéia ou Roda são estratégias complementares
ou interdependentes, posto que oportunizam a equipe a um relativo distanciamento
do cotidiano de afazeres, a fim de refletir sobre o mesmo, permeado pelos
componentes administrativo, político, pedagógico e terapêutico que o método
propõe.
Palavras-chave: Atenção Primária a Saúde. Cogestão. Educação Permanente.
ABSTRACT
The co-managing groups proposed by Gastao Wagner symbolized by the wheel
device is adopted by the Health System sobral since 2001. The challenge of this
study was to understand the meanings and the meanings of the wheel as a strategy
of Continuing Education in Health municipality of Sobral-Ce. To this end, we
conducted an exploratory and descriptive research with a qualitative approach, which
was held in three health centers that make up a macro area of the Health Strategy
Sobral-Ce family. The instrument used for data collection was the Affective Map. The
content analysis of the subtext, the meaning and reason proposed by Bomfim (2010)
were the theoretical and methodological framework for the analysis of results. These
led to the inference that the wheel of the method constitutes a significant space for
the collective of participants to allow a meeting of subject / powers that enables
evaluation of own production share, thereby increasing the ability of the subjects to
analyze and operate on the practice. When we seek to grasp the way (private) wheel
while EPS strategy identified the relevance of time by allowing the expressiveness of
the subjects that in addition to invigorate ties, gives opportunity to co-production
projects, which motivates them to co-management processes work, strengthening
the sense of security in decision making by learning consistency. In view of this, we
conclude that the EPS and Paideia or wheel method are complementary or
interdependent strategies, since it will foster team a relative detachment from the
physical everyday to reflect on it, permeated by the administrative, political,
educational and therapeutic components that method proposed.
KEYWORDS: Primary Attention. Health Administration.Education. Continuing.
LISTA DE SIGLAS
PNEPS Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
CIB Comissão Intergestores Bipartite
CIES Comissão de Integração Ensino- Serviço
EPS Educação Permanente em Saúde
EFSFVS Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia
ESF Estratégia Saúde da Família
CSF Centro de Saúde da Família
PMAQ – AB Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica
SSASS Secretaria de Saúde e Assistência Social
UBS Unidades Básicas de Saúde
RMSF Residência Multiprofissional em Saúde da Família
NASF Núcleo de Apoio ao Saúde da Família
eSF Equipes de Saúde da Família
PEEPS Política Estadual de Educação Permanente em Saúde
CGTES Coordenadoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde
UVA Universidade Estadual Vale do Acaraú
SUS Sistema Único de Saúde
TCM Trabalho de Conclusão de Mestrado
CNS Conselho Nacional de Saúde
NEPS Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde
PNAB Política Nacional da Atenção Básica
ACS Agente Comunitário de Saúde
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Esquema ilustrativo dos quatro eixos estruturantes do Sistema Saúde
Escola de Sobral ................................................................................... 37
Figura 2 – Divisão territorial por macroárea de Sobral ............................................ 42
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 - Comparativo entre mapa cognitivo e mapa afetivo................................. 46
Quadro 2- Síntese do processo de categorização voltado para a elaboração do
mapa afetivo .......................................................................................... 57
Quadro 3 - Desenhos da roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos pro
Fissionais do CSF A. Sobral-Ce, 2016 ................................................. 65
Quadro 4- Desenhos da roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos pro
fissionais do CSF B. Sobral-Ce. ............................................................ 65
Quadro 5 - Desenhos da roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos pro
fissionais do CSF C. Sobral-Ce. ............................................................ 66
Quadro 6- Sentimentos e qualidade citados pelos profissionais do CSF A ............. 73
Quadro 7- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF B ........... 74
Quadro 8- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF C ........... 75
Quadro 9- Imagens da roda conforme sentimentos e qualidades citados pelos pro
fissionais ............................................................................................... 76
Quadro 10- Imagens da roda pedagógica conforme respostas dos profissionais .... 80
Quadro 11- Imagens da roda pedagógica conforme respostas dos profissionais .... 84
Quadro 12- Imagens da roda política conforme respostas dos profissionais ............ 86
Quadro 13- Imagens da roda administrativa conforme respostas dos profissionais . 89
Tabela 1- Distribuição dos participantes, segundo idade, sexo e escolaridade So
bral-Ce, 2016. ........................................................................................ 59
Tabela 2- Distribuição dos participantes, segundo categoria profissional e tempo
de inserção na equipe. Sobral-Ce, 2016 ................................................ 62
SUMÁRIO
1 INTROUDÇÃO ........................................................................................... 12
2 OBJETIVOS ............................................................................................... 20
2.1 Objetivo geral ........................................................................................... 20
2.2 Objetivos específicos ............................................................................... 20
3 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 21
3.1 A roda enquanto dispositivo de gestão de coletivos ............................. 21
3.1.1 Poderes- o componente gerencial/administrativo e político das rodas ......... 23
3.1.2 Afetos- o componente terapêutico .............................................................. 25
3.1.3 Saberes- o componente pedagógico .......................................................... 26
3.1.4 A roda e sua incorporação no sistema de saúde de Sobral ........................ 27
3.2 Educação permanente em saúde ............................................................ 33
3.2.1 A política nacional de educação permanente em saúde .............................. 34
3.2.2 A trajetória da educação permanente em saúde em Sobral ....................... 36
3.3 Sentidos e significados ............................................................................ 39
4 METODOLOGIA ........................................................................................ 41
4.1 Abordagem do estudo .............................................................................. 41
4.2 Tipologia da estudo .................................................................................. 41
4.3 Cenário do estudo .................................................................................... 42
4.4 Período do estudo .................................................................................... 44
4.5 Participantes ............................................................................................. 44
4.6 Descrição das etapas de coleta de dados .............................................. 45
4.6.1 Apreensão dos sentidos e significados –o mapa afetivo ............................. 45
4.6.2 Elaboração dos instrumentos ..................................................................... 47
4.6.3 Aplicação dos instrumentos ........................................................................ 49
4.7 Análise dos resultados ............................................................................ 51
4.7.1 Análise do conteúdo para a construção de mapas afetivos ................. 53
4.8 Princípios éticos ....................................................................................... 57
5 IMAGENS AFETIVAS DA RODA ENQUANTO ESTRATÉGIA DE EDUCA
ÇÃO PERMANENTE PARA OS PROFISSIONAIS DA ESF DE SOBRAL 59
5.1 Caracterização dos participantes deste estudo ..................................... 59
5.2 Significado(s) da roda da ESF ................................................................. 64
5.2.1 Significações visuais da roda ...................................................................... 65
5.2.2 Significações da roda a partir das explicações dos desenhos .................... 69
5.2.3. Significações da roda a partir das qualidades e sentimentos expressos
pelos participantes ...................................................................................... 73
5.2.4 Imagens da roda conforme significações construídas pelos participantes .. 76
5.3 Sentidos da roda para seus participantes .............................................. 79
5.3.1 Construção de mapas afetivos pelos profissionais da ESF de Sobral ........ 80
5.3.1.1 Roda pedagógica ....................................................................................... 80
5.3.1.2 Roda terapêutica ........................................................................................ 84
5.3.1.3 Roda política .............................................................................................. 86
5.3.1.4 Roda administrativa .................................................................................... 88
5.3.1.5 Roda fragilidade ......................................................................................... 91
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 92
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 96
APÊNDICE A- INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SIGNIFICADOS
(GRUPO) .................................................................................................. 104
APÊNDICE B- INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SENTIDOS
(INDIVUDUAL) ......................................................................................... 105
APÊNDICE C- ELABORAÇÃO DO MAPA AFETIVO .............................. 106
APÊNDICE D -TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECI
DO ........................................................................................................... 107
APÊNDICE E- CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO ........................... 109
ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA ..................................... 111
ANEXO- B – DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ORTOGRÁFICA ............ 113
12
1 INTRODUÇÃO
Educação Permanente “é um lugar de debate e decisão política e não o
lugar executivo da implementação das ações” (BRASIL, 2004, p.53). Examinando
esta concepção infere-se que a educação permanente configura-se como diretriz de
gestão que perpassa todo o processo de trabalho, não se constituindo em atividades
pontuais e ou direcionadas apenas a uma determinada categoria profissional, por
meio de transmissão de conhecimentos. Configura-se, portanto, em um processo
contínuo de ensinagem1, no qual profissionais e comunidade se envolvem na busca
da consecução de transformação/qualificação de práticas. O que se correlaciona
com o que traz Vygotsky (1984) quando conceitua aprendizagem como uma
experiência social que resulta na aquisição de conhecimentos a partir de um elo
intermediário entre o ser humano e o ambiente, mediada pela interação entre a
linguagem e a ação.
Tendo como base o ensino problematizador e a aprendizagem
significativa, a educação permanente é contrária ao ensino-aprendizagem mecânico.
Se alinha a concepção que orienta-se pela crença de que não existe a educação de
um ser que sabe para outro que não sabe, mas sim a troca e o intercâmbio entre
ambos, exigindo o estranhamento de saberes e a desacomodação com os saberes e
práticas vigentes a fim de entrar em um estado ativo de perguntação (RIOS, et al.,
2010).
Educação Permanente em Saúde é um conceito desenvolvido no campo
da educação para pensar a conexão entre educação e trabalho (SOUZA, et al.,
2008). Tem como ponto de partida a necessidade de se buscar soluções para
problemas vivenciados na prática. Considera que as necessidades de formação e
desenvolvimento dos trabalhadores sejam pautadas pelas necessidades de saúde
das pessoas e população, levando em consideração não somente a necessidade do
território como também as experiências e vivências anteriores de cada profissional e
da equipe em geral (BRASIL, 2009).
1 Termo adotado para significar uma situação de ensino da qual necessariamente decorra a aprendizagem,
sendo a parceria entre professor e alunos, condição fundamental para o enfrentamento do conhecimento,
necessário à formação (ANASTASIOU, 1998).
13
Para Merhy (2015), a prática de Educação Permanente ocorre como parte
construtiva do mundo de trabalho em todas as suas dimensões: no campo da
política, da organização e do cuidado, com efeito sobre o próprio trabalhador de um
modo geral. Como uma Escola permanente, esse mundo sempre implica em
processos formativos, em exercício da própria prática de si, conduzindo a formação
de novos conhecimentos, ou atualizando alguns, no ato de cuidar.
Reconhece-se que a Educação Permanente destacou-se no contexto
internacional em cenários industriais com vistas à otimização de resultados de
metas. O cenário brasileiro, convergente com o orientado pela Organização
Panamericana de Saúde, assume novas conotações. Mantém o foco no processo de
trabalho e seus resultados, mas focaliza no trabalhador enquanto sujeito ativo do
processo e agente de mudanças. Tal premissa pode ser visualizada no texto
institucional do Ministério da Saúde do Brasil, ao afirmar que a Educação
Permanente em Saúde visa a transformação das práticas de formação, de atenção,
de gestão, de formulação de políticas, de participação popular e de controle social
no setor saúde (BRASIL, 2004).
Com base neste entendimento, em setembro de 2003, o Ministério da
Saúde, por meio de seu Departamento de Gestão da Educação na Saúde,
apresentou e aprovou, junto ao Conselho Nacional de Saúde, a “Política de
educação e desenvolvimento para o Sistema Único de Saúde (SUS): caminhos para
a educação permanente em saúde” visando à integração entre ensino e serviço,
formação e gestão setorial e desenvolvimento institucional e controle social. Sendo
que, em 2004 implantou a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
(PNEPS), instituída pela Portaria GM/MS Nº 198, de 13 de fevereiro (BRASIL, 2014).
Para Ceccim & Feurwerker (2004), a qualidade da atenção à saúde está
relacionada com a formação de pessoal específico visto que novos enfoques
teóricos e de produção tecnológica no campo da saúde passaram a exigir novos
perfis profissionais.
Para implementação da PNEPS foi idealizado um dispositivo de
pactuação denominado Polos de Educação Permanente em Saúde. Estes se
constituíam em espaços nos quais atores de diversas origens se encontravam e
pensavam a Educação Permanente em Saúde, como em uma mesa de negociação.
Participavam desses Polos, os gestores estaduais e municipais de saúde, as
instituições de ensino com cursos na área da Saúde, os hospitais de ensino, as
14
organizações estudantis da área da Saúde, os trabalhadores de saúde, os
conselhos municipais e estaduais de saúde, os movimentos sociais ligados à gestão
social das políticas públicas de saúde e todos aqueles que, de alguma maneira,
estavam envolvidos com as questões de saúde (BRASIL, 2005).
No estado do Ceará, a Comissão Intergestores Bipartite (CIB) aprovou 04
Polos de Educação permanente, distribuídos nas macrorregiões de saúde. O
município de Sobral sediou o Polo 3, compreendido por 62 municípios (SOUZA, et
al., 2008).
Em 2007, a PNEPS passou por uma revisão, sendo reeditada sob
Portaria Nº 1.996/GM/MS, a qual trouxe novas diretrizes, objetivando disparar um
processo de planejamento que priorizasse e qualificasse as ações do SUS
subsidiando a tomada de decisão por parte do gestor da saúde (BRASIL, 2009).
Nesta, o dispositivo de princípio colegiado que busca integrar formação, gestão,
atenção e controle social é a Comissão de Integração Ensino- Serviço (CIES). O
Ceará conta com cinco CIES de atuação macrorregional e uma CIES estadual
(CEARÁ, 2014).
Se no âmbito nacional registramos estes movimentos, no cenário local, ou
seja, em Sobral vamos encontrar registros de seu protagonismo em desenvolver
estratégias para qualificação dos trabalhadores orientados pelas necessidades
sanitárias, o que viria, mais tarde, ser denominado como ações de educação
permanente (LIMA, 2014).
Para a autora antes referida, a construção de uma proposta de Educação
Permanente em Saúde (EPS) em Sobral foi desencadeada em 1997, concomitante
com o processo de reorganização do Sistema Municipal de Saúde e a implantação
da Estratégia Saúde da Família (ESF), reorientando o Modelo de Atenção à Saúde,
trazendo daí a necessidade de desenvolver competências aos trabalhadores para
atuarem no sistema local de saúde, com ênfase na atenção básica.
Como traz Souza, et al.(2008), representando a institucionalização de um
espaço físico para amparar a EPS dos profissionais de saúde do município de
Sobral e da região norte do Estado do Ceará, foi concebida em 1997 a Escola de
Formação em Saúde da Família Visconde Sabóia (EFSFVS), no intuito de responder
a necessidade de desenvolvimento e aprimoramento dos conhecimentos,
habilidades e posturas dos trabalhadores da ESF. Em 1999, como ação estruturada
desta escola, deflagra-se a primeira turma da Residência Multiprofissional em Saúde
15
da Família (RMSF), resultante de uma fértil parceria com a Universidade Estadual
Vale do Acaraú (UVA), a qual se mantém coesa após 15 anos.
A organização dos processos de Educação Permanente, no âmbito do
Sistema de Saúde de Sobral, parte da compreensão de um Sistema de Saúde
Escola, onde cada espaço se configure e desenvolva processos de trabalho em
saúde a partir de permanente reflexão e transformação desses processos (SOUZA,
et al., 2008).
Ao curso destas quase duas décadas, Sobral vem incorporando diversas
estratégias com vistas à interposição da educação permanente enquanto estratégia
de gestão. Recentemente, após ter vivenciado diferentes movimentos de EPS, o
município, ao construir seu plano municipal de EPS, elegeu três estratégias como
orientadoras, a saber: tutoria do sistema saúde-escola, vivências teórico-conceituais
e método de co-gestão (SOBRAL, 2015).
Para Souza, et al.(2008), a tutoria do sistema saúde escola se refere ao
tutor como um profissional que, em permanente interação com as equipes de saúde
da família, tem como papel gerar um processo reflexivo em relação aos processos
de trabalho. Entre as contribuições da tutoria, como dispositivo de educação
permanente, Lima (2014) aponta algumas ações e resultados tais como: a
mobilização e participação da comunidade nas ações coletivas, de territorialização,
de planejamento, de educação em saúde, de controle social; a motivação dos
trabalhadores, sua satisfação e felicidade, seu compromisso e amor ao trabalho; a
criação, ampliação e fortalecimento dos espaços de acolhimento, diálogo, cuidado,
educação permanente e educação popular em saúde.
Os momentos de vivências teórico-conceituais, eleito também como
estratégia no Processo de EPS em Sobral, são traduzidos como uma ação que visa
apoiar o trabalho realizado pelas equipes em um processo de ensino-aprendizagem
a partir da problematização da realidade concreta do processo de trabalho. Esta
estratégia vem possibilitando a discussão dos profissionais de saúde diante da
diversidade e dinamismo do mundo do trabalho e permitindo que cada um dos
profissionais desenvolva um olhar próprio e se coloque pró-ativo diante desta
complexidade. (RIOS, et al., 2010).
A Roda, expressão do método de co-gestão de coletivos, é reconhecida
como uma tecnologia leve para desenvolver a EPS em Sobral. Esta deve ser
16
entendida como espaço de diálogo e encontro dos profissionais de diversas
categorias da Estratégia Saúde da Família (ESF) (SOARES, et al., 2009).
Para Campos (2003), a saúde é um campo interdisciplinar. Porém, ainda
que considere como importante o intercâmbio de saberes, o trabalho em equipe não
deve eliminar o caráter particular de cada profissional ou de cada profissão. A co-
gestão é um modo de articulá-los em um campo que assegure saúde à população e
realização pessoal aos trabalhadores. Sugere para isso a utilização do espaço
coletivo da Roda configurado como um arranjo onde exista oportunidade de
discussão e de tomada de decisão e como um lugar onde circulem afetos e vínculos
que são estabelecidos e rompidos durante todo o tempo. É também um espaço para
a elaboração de contrato e de Projeto de Intervenção, bem como de humanização,
alegria e vínculo, objetivando, portanto o fortalecimento do coletivo.
O método propõe que sejam trabalhados no coletivo os componentes
administrativos, político, pedagógico e terapêutico, com o intuito de fomentar o
exercício da participação com maior democratização nos processos de decisão,
constituindo, ao mesmo tempo, espaços de ensino-aprendizagem, de elaboração e
de organização de processos de trabalho e de atenção às subjetividades, desejos
e relações interpessoais.
A adesão a este método no município de Sobral se deu, a partir de agosto
de 2001. Partiu do pressuposto que não bastava ampliar a assistência à saúde, mas
repensar os processos de trabalho em saúde diante as mudanças na organização e
gestão, com o fim de torná-los mais eficazes, eficientes e resolutivos (PAGANI,
2007).
Para sua implementação, ocorreu o Encontro das Rodas de Saúde de
Sobral, sendo o primeiro em 2001, com todos os profissionais para sensibilização e
socialização da proposta. A partir deste, passaram a acontecer encontros semanais
e, em 2003, na perspectiva de avaliação dos primeiros dois anos de sua
implantação, ocorreu um segundo encontro, tendo uma análise positiva e uma
intensificação pelo município desse novo modelo de co-gestão (PAGANI, 2007).
Assim, cada Centro de Saúde da Família (CSF) incorporou na sua
dinâmica de trabalho a roda. Esta ocorre semanalmente, às quintas-feiras no horário
a partir das 13h30min, com a presença de todos os profissionais do CSF, e duração
média de 3 horas. Utiliza o espaço físico da própria Unidade de Saúde. A roda
vivenciada no interior dos CSF assume diferentes singularidades a partir das
17
equipes, no entanto, passamos a descrever a partir de nossa vivência a estratégia
metodológica que tem norteado nossa prática. A roda é demarcada em quatro
momentos: no Primeiro momento é realizado o acolhimento do coletivo,
cotidianamente denominado de “dinâmica e/ou reflexão”, no segundo momento se
constitui um espaço de socialização de informações ou “informes”, em seguida, são
acordados os itens de pauta e por ultimo uma rápida escuta como pretensa
avaliação, seguida de lanche solidário.
Desde 1999 atuando como enfermeira na Atenção primária a Saúde em
alguns municípios do estado, observei que, em nenhum destes se utilizava o método
da roda ou qualquer outro espaço em que tivéssemos a oportunidade de discutir o
processo de trabalho, dificultando na condução do processo de trabalho, por não se
ter um espaço de co-gestão.
Ao ser inserida no sistema de saúde de Sobral, em 2001, me deparei
com tal experiência, o que me causou encantamento. Passei por 2 outras unidades
de saúde até chegar na que me encontro agora, e a vivência tem sido de uma
constante avaliação, construção e reconstrução desse espaço.
Atuando, desde outubro de 2013, como gerente do CSF Alto da Brasília,
temos, em equipe, experimentado e reconstruído esse espaço, de forma que,
vivenciamos a dinâmica de, semanalmente, trazemos temas que nos permitem
aprofundar de forma mais direcionada cada componente proposto pelo método.
Dessa forma, contemplamos, na primeira semana de cada mês, um momento de
alinhamento teórico-conceitual onde, a partir da avaliação dos indicadores realizada
no mês anterior, identificamos a necessidade de discutir sobre alguma temática; na
segunda semana denominamos de roda de avaliação de indicadores e registro de
gráfico, conforme sugerido pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da
Qualidade da Atenção Básica (PMAQ – AB), e cada equipe discute a situação atual
dos indicadores e metas a ela imputada, definindo, a partir daí, a temática para
alinhamento teórico do mês seguinte, segundo necessidades de aprendizagem; na
terceira semana, baseados nos indicadores e no que foi acordado no planejamento
anual da equipe, realiza-se o planejamento estratégico para o mês seguinte e, por
fim, na quarta semana, vivenciamos o que denominamos de “Roda Terapêutica”,
momento em que primamos pelo cuidado com os vínculos e relações interpessoais.
Vale ressaltar que essa estrutura foi construída e pactuada entre a equipe, que tem
aderido, buscando primar e aprimorar cada dia mais, com a finalidade de fazer com
18
que esse momento de alinhamento e organização dos processos de trabalho
possam fazer-se refletir na melhoria do cuidado e qualidade de vida da comunidade
que está sobre a nossa responsabilidade sanitária.
Apesar de utilizarmos tal divisão por temas, esta disposição somente
organiza as discussões sem prejuízo na utilização dos componentes propostos pelo
método em todas as rodas, visto que esse é sempre um momento que oportuniza a
equipe a criação de vínculos, discussão do processo de trabalho e de demandas
administrativas, bem como de aprendizagem significativa, o que não se contempla
apenas nas rodas direcionadas ao estudo de determinada temática, já que o
conhecimento é construído na discussão e construção do cotidiano.
No entanto, tenho refletido e inferido que, nem sempre usufruirmos do
potencial que este espaço pode ter na direção de transformação dos processos de
trabalhos. Reconhecê-lo, também, como um processo de ensinagem que contribua
para o desenvolvimento dos trabalhadores é relacioná-lo aos pressupostos da
educação de adultos. Entende-se que a roda pode gerar aprendizagem crítica a
partir do significado que este processo possa ter, junto aos trabalhadores.
Visualizar a roda como estratégia de educação permanente em saúde
requer o envolvimento de todos e um examinar acurado para o interior de nossos
processos de trabalhos. Situação que é desafiadora, uma vez que seu brilho muitas
vezes é ofuscado diante da grande demanda de informes ou inabilidade do coletivo
de atribuir sentidos e significados a este momento.
Para Silva e Sousa (2010), apesar do método já ser utilizado há algum
tempo em Sobral e de trazer uma estrutura definida, “a dinâmica desta roda varia
entre os CSF, haja vista que cada unidade tem sua forma de condução devido a
seus arranjos profissionais”. Em muitas situações, esse espaço tem se restringido
apenas como momento de repasse de informações, sem a participação e
envolvimento da equipe, reduzindo a capacidade de co-gestão pela equipe e
deixando de ser um dispositivo de co-gestão de coletivo para tornar-se um espaço
instituído formal, não muito diferente de qualquer outro espaço administrativo.
Gomes et al (2013), em trabalho intitulado Retrato das Rodas na
Estratégia Saúde da Família em Sobral-CE, relatou que, em sua maioria, as rodas
apresentem tímidas ações de planejamento, sem no entanto, se ater a avaliação.
Constatou ainda que, o processo é fragilizado, uma vez que não articula os
componentes político, pedagógico, gerencial e terapêutico.
19
Direcionando o olhar para a vivência atual, trago o questionamento de
como a Roda, enquanto dispositivo de co-gestão, tem se configurado como uma
estratégia de Educação Permanente. Indaga-se, quais sentidos e significados a
Roda traz para a qualificação da práxis na ESF. Estes questionamentos se justificam
a partir da reflexão de Merhy (2015) de que é preciso aguçar a possibilidade de se
reconhecer o mundo do trabalho como um processo constitutivo, que em si já é uma
escola de formação, das mais fundamentais.
20
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar os sentidos e significados da Roda enquanto estratégia de
Educação Permanente em Saúde do Município de Sobral-Ce.
2.2 Objetivos específicos
Identificar elementos de EP nas vivências da roda, no interior da ESF de
Sobral;
Compreender os sentidos e significados da roda para os profissionais da
ESF de Sobral;
Examinar as potencialidades e limitações da roda enquanto dispositivo de
EP.
21
3 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo foi desenvolvido enfocando as três categorias conceituais
que ancoram o estudo: Roda enquanto dispositivo de gestão de coletivos; Educação
Permanente em Saúde; e os Sentidos e Significados na perspectiva da escola
Vygotskyana.
3.1 A Roda enquanto dispositivo de gestão de coletivos
Fazer Saúde Coletiva é fazê-la com as pessoas e não sobre elas.
Produzir-se um aumento da capacidade de análise e de intervenção dos
agrupamentos humanos, melhorando a sua capacidade de reconhecer uma situação
sanitária, de identificar os determinantes envolvidos e, ampliar as possibilidades de
intervenção sobre o quadro considerado nocivo é o labor da saúde coletiva. “Saber
sobre os problemas e agir sobre eles. Saber e fazer” (CAMPOS, 2003. p. 23)
Nasce dessa necessidade, um método de agir denominado pelo médico
sanitarista Gastão Wagner de Roda ou Paidéia que propõe um desenvolvimento
integral de pessoas e configura-se como um espaço de politização da gestão, uma
vez que traz a ideia permanente de co-produção e construção de autonomia dos
sujeitos, visando assim a democratização das relações de poder, constituindo-se
também como espaço de ensino-aprendizagem, de elaboração e de organização de
processos de trabalho e de atenção às subjetividades, desejos e relações
interpessoais.
“Paidéia significa desenvolvimento integral das pessoas; um passo adiante em relação ao “Agir Comunicativo”. Não somente melhorar a informação, mas também assegurar a capacidade de compreensão e de decisão aos vários setores envolvidos em um projeto, e, além disso, preocupar-se com a construção de novos padrões de relação entre as pessoas.” (Campos, 2003. p.25)
A criação desses espaços coletivos de co-gestão entre sujeitos
implicados com algum projeto ou algum interesse ou tarefa comum traz o desafio de
que, gestão e planejamento assumam a tarefa de trabalhar não somente a produção
de coisas, mas também a constituição de pessoas e de coletivos organizados,
repensando e resignificando o trabalho não apenas com a finalidade de assegurar o
22
sustento material, mas também implicado com a constituição de pessoas e de sua
rede de relações (CAMPOS, 2005).
Nestes espaços de co-gestão, como nos traz Cunha e Campos (2010), se
faz necessário a utilização do instrumento de co-produção que possibilita a
transformação do sujeito, a partir da composição e da construção de um
conhecimento singular e novo, sem negar os recortes disciplinares, sem deixar de
fazer escolhas e definir prioridades.
“É por isto que o Método Paidéia, também conhecido como método da roda, sintoniza-se com muitas tradições libertárias da educação e da política ao apontar que: ninguém sai da roda (de co-gestão) da mesma forma que entrou” (CUNHA E CAMPOS 2010. p.36).
A mudança simultânea concreta dos sujeitos que habitam estes espaços
a partir da reconstrução das estruturas, saberes, normas e valores trazem uma
crítica ao Taylorismo2. Porém o método não se atém a isso e pensa novos modos
para analisar e operar Coletivos Organizados para a Produção, reconstruindo os
arranjos estruturais, as linhas de produção de subjetividade e os métodos de gestão,
tratando de combinar compromisso social com liberdade (CAMPOS, 2005).
Entendendo sujeito como um ser biológico com um grau relativo e variável
de autonomia para realizar desejos, interesses e necessidades, no entanto, imerso
na história e na sociedade, e o Coletivo Organizado para a Produção como uma
rede de relações entre os sujeitos que a compõem e destes com o contexto, o
método objetiva o aumento da capacidade de análise e intervenção, lidando com as
forças internas e externas, reinventando-se. “Produzir-se no processo de produção”
(CUNHA E CAMPOS 2010. p.36).
“Essa educação para a vida teria como escola a própria vida, mediante a construção de modalidades de co-gestão, que permitam aos sujeitos participarem do comando de processos de trabalho, de educação, de intervenção comunitária e, até mesmo, do cuidado de sua própria saúde”(CAMPOS 2006. p.30).
2 Taylorismo sistema de organização do trabalho concebido pelo engenheiro norte-americano Frederick
Winslow Taylor, com o qual se pretende alcançar o máximo de produção e rendimento com o mínimo de tempo e de esforço.
23
Como um método de co-gestão de coletivos que supõe que em todos os
espaços institucionais estão em jogo os poderes, os afetos e os saberes, Gastão
Wagner propõe que a Roda deve conter os componentes administrativo, político,
pedagógico e terapêutico.
3.1.1 Poderes - o componente gerencial/administrativo e político das rodas
A roda traz consigo um componente gerencial por constituir-se como um
espaço democrático onde se discutem as rotinas do grupo, bem como se definem e
redefinem as ações de forma coletiva (BRANDÃO, 2006).
Este espaço permite o envolvimento das bases das Organizações com a
discussão e definição de objetivos, do objeto e dos métodos de trabalho, partindo da
elaboração de temas relacionados ao trabalho e construindo, a partir deles, sentidos
e significados para os Coletivos. Nesta são criados fluxos de idéias, de debates, de
negociações e de compromissos que contribuem para o desenvolvimento das
pessoas e agrupamentos, implicando assim no sucesso da instituição. “Discutir o
umbigo e o mundo” (CAMPOS, 2005. p. 51).
Para Gastão Wagner Campos (2005), o meio de produzir esse fluxo
viabiliza-se quando todos os membros do Coletivo se reúnem periodicamente no
próprio local de trabalho para repensar o próprio trabalho e sugerir rumos para a
organização como um todo, bem como para as suas relações com a sociedade,
exercendo-se assim formas compartilhadas de direção.
Ver-se então a importância de se trabalhar no coletivo a idéia de
construção e respeito mútuo, como nos traz Gastão Wagner quando diz:
“Privilegia-se a noção de Co-Gestão considerando a existência legítima de outros agrupamentos de interesse... Aprender a discordar e a divergir da formulação alheia sem desconsiderar cabalmente a pertinência de parte das reivindicações alheias; sem projetar a destruição de todos os diferentes da ordem vigente”(CAMPOS 2005. p.158).
Com a finalidade de fazer valer suas decisões, o colegiado deve cumprir
determinações democraticamente compostas e, em caso de desacordo, só se
deverá modificar o que antes resolvera, depois de experimentar por algum tempo a
ação e reavaliá-la criticamente (CAMPOS 2005).
24
Portanto, a tarefa da co-gestão seria viabilizar contratos e compromissos
sempre provisórios e sujeitos a revisão entre estes atores, possibilitando alguma
viabilidade aceitável do ponto de vista de cada um deles (CUNHA E CAMPOS
2010).
Neste intuito, Campos (2003) reforça a necessidade de se reconhecer a
diferença de papéis, de poder e de estabelecimento, buscando estabelecer relações
construtivas, com formas democráticas para coordenar e planejar o trabalho,
devendo envolver os próprios avaliados tanto na construção dos diagnósticos como
na elaboração de novas formas de agir.
Ao reconhecer que toda gestão é produto de uma interação entre
pessoas, faz-se necessário que o gerente da unidade de saúde assuma o papel de
apoiador com a necessidade de colocar-se na roda, buscando incluir-se ativamente
no processo.
”A proposta de equipe de referência parte do pressuposto de que existe uma interdependência entre os profissionais da equipe e prioriza a gestão do time referenciado a uma clientela. Uma das funções importantes da coordenação da equipe é justamente cuidar da construção de uma interação positiva entre os profissionais, construindo objetivos e objetos comuns, apesar das diferenças (e não contra as diferenças)” (CUNHA E CAMPOS, 2010. p.41)
Finalmente, o método procura organizar-se como instância de gerência
propriamente dita, “comprometida com a operação concreta do cotidiano, a exemplo
da gestão de processos de trabalho, de correção de problemas, de redefinição de
rumos e etc.” (CAMPOS 2005. p.158).
Quanto ao componente político, o método substitui as hierarquias e os
papéis sociais, garantindo uma comunidade reflexiva e solidária (BRANDÃO, 2006),
politizando a gestão por reconhecer os conflitos e buscar não moralizar os
interesses em jogo e apostando na ideia de que é possível não ignorar os interesses
dos trabalhadores entendendo este tipo de organização apenas como uma
construção histórica dentre outras possíveis e não como sendo de arranjo
necessário (CUNHA E CAMPOS 2010).
Campos (2005) nos alerta de que o método trabalha com a ideia de
organização de redes de poder co-gerido, compartilhado, e não exercido de forma
solitária e isolada, entendendo que, mesmo os com menos poder, desde que
tenham habilidade para reconhecer a correlação de forças ou o principio de
25
realidade, são capazes de inventar modos para fazer avançar os próprios projetos e
articulá-los aos de outros agrupamentos, formando blocos potentes para operar em
contextos antes tidos como desfavoráveis.
Entende-se, portanto, que o método, por possibilitar ao trabalhador de
saúde que se reconheça como “co-autor” de um projeto construído que propõe o
desenvolvimento de um trabalho coletivo por meio de decisões participativas,
vivenciem o trabalho em equipe de maneira a canalizar energias para o alcance de
melhores resultados, sendo estimulados a realizarem “ações respaldadas na
responsabilidade, liberdade e criatividade, em meio a um clima organizacional volta-
do para motivação, inovação e introdução de novos valores para tomada de
decisões” (XIMENES NETO, 2007. p.313).
Sawaia apud Bomfim (2010) afirma que os afetos podem libertar o
indivíduo das imposições e do conformismo, dependendo da sua capacidade de
transformar paixões em ações.
3.1.2 Afetos - o componente terapêutico
Ao contemplar o componente terapêutico, Brandão (2006) ver a Roda
muito mais do que uma mera reunião de pessoas, mas antes disso, um bom
encontro de sujeitos, e que esse bom encontro ocorre quando a afetividade resulta
em alegria capaz de fortalecer a potência de ser em cada indivíduo.
Diz-nos,também, que esse espaço da roda condiz com o ponto de vista
de Vygotsky quando aborda a não dicotomia entre pensar, sentir e agir, pois, ao
sentarem em círculos, as pessoas têm a oportunidade de olharem-se diretamente,
discutirem seus problemas comuns e confrontarem suas diferentes visões do mundo
e de si, com uma educação voltada “não apenas para a aprendizagem, mas capaz
de transcender a indiferença que marca a sociedade moderna” (BRANDÃO, 2006.
p.3), construindo vínculos e desenvolvendo uma solidariedade que refletirá no ato de
fazer.
“Quando a Roda acontece a busca da paixão é substituída pela paixão da busca, porque ideia e sentimentos não estão dissociados.É, portanto, importante que a Roda tenha um momento de clínica das paixões, cujo único objetivo é fomentar alegria no simples ato de estar no grupo. Os vínculos grupais conquistados ajudam a fazer do coletivo um espaço nutritivo e, por assim dizer, fortalecem a autopoiésis da equipe”.(BRANDÃO, 2006)
26
Este momento terapêutico permite tanto desenvolvimento das relações
interpessoais da equipe como, também, o crescimento individual de cada um dos
participantes e é extremamente necessário para a criação de vínculos entre os
profissionais da equipe.
Campos (2003) diz que vínculo é a circulação de afeto entre as pessoas e
que o manejo adequado deste vínculo apóia o grupo a enxergar a própria impotência
e a descobrir novas maneiras de enfrentar velhos problemas. Para ele, a roda é um
lugar onde circulam esses afetos e esses vínculos que são estabelecidos e rompidos
durante todo o tempo, e o componente terapêutico é a forma de realizar o manejo
destes.
3.1.3 Saberes - o componente pedagógico
A Roda, também, tem seu componente pedagógico, uma vez que objetiva
o estudo e a aprendizagem significativa e esse componente acontece de forma
transversal por todos e em todos os momentos de sua realização.
Merhy (2015) diz que o agir em si provoca uma formação do próprio
coletivo e, mesmo sem ser visto, esse movimento vai acontecendo como prática e
com seus efeitos “sem que precise ser denominado como processo formativo para
ser de fato lugar de formação” (MERHY, 2015. p.9).
O método busca construir condições favoráveis para a reflexão sobre a
atuação dos sujeitos no mundo, procurando sempre meios para que essa reflexão
rebata sobre a imagem que os sujeitos têm de si mesmos, produzindo-se no
processo de produção e reinventando-se, sem negar forças internas e externas, mas
justamente lidando com elas (CUNHA E CAMPOS, 2010).
Possibilit, com isso, a composição e a construção de um conhecimento
singular transdisciplinar nas equipes multiprofissionais, constituindo-se assim como
um processo de co-produção que pretende estabelecer contratos entre os
envolvidos, de forma a permitir que a abordagem das questões relativas à clínica e à
gestão possa ser construída considerando os diferentes saberes e interesses
(CAMPOS et al. 2014).
Este compartilhamento de saberes, competências e responsabilidades se
faz de extrema importancia para o trabalho em equipe, levando em conta os
conceitos de núcleo e campo. Falando em núcleo, nos voltamos pra os saberes,
27
práticas e responsabilidades peculiares de cada categoria profissional enquanto que,
o campo é o lugar que independe da categoria profissional, onde se sobrepõem os
limites entre cada especialidade, formando um espaço de interseção de saberes e
práticas, de interdisciplinaridade (CAMPOS et al., 2014).
O agir Paidéia traz então um desafio que é o de “propiciar um
aprendizado vivencial auto-analítico que crie possibilidades, inclusive, de aprender a
sentir diferente” (CUNHA E CAMPOS, 2010. p.40).
3.1.4 A roda e sua incorporação no sistema de saúde de Sobral
Em 1997, a partir da realização de um diagnóstico de saúde que
aconteceu com um Seminário de Planejamento Estratégico Participativo organizado
pela então Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Saúde, iniciou-se a
construção do Sistema Municipal de Saúde de Sobral com um conjunto de serviços
coordenados pela gestão local, distanciando-se do modelo vigente até então, que
era centrado em ações curativas e em serviços hospitalares (ANDRADE, 2004).
Incitado por essas mudanças, o município de Sobral foi aperfeiçoando
diversos aspectos no sistema de saúde e, em agosto de 2001, realizou o I Encontro
das rodas e implantou o modelo de gestão baseado nos princípios da co-gestão de
coletivos tendo como dispositivo principal o método da roda. Este objetivou
promover a autonomia das pessoas e grupos, fomentar os processos de democracia
institucional e de descentralização de poder, criando espaços para a participação de
profissionais e usuários nos processos de trabalho e de gestão (PAGANI, 2004).
Inicialmente, a roda acontecia em um encontro semanal com toda a
equipe técnica e os profissionais com formação universitária do então PSF,
realizados na terça-feira, à noite, em substituição ao período de trabalho da sexta-
feira à tarde.
A partir dessa metodologia, a então Secretaria de Saúde e Assistência
Social (SSASS) instituiu as Rodas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) formadas
por todos os seus trabalhadores; o colegiado de gestão da SSASS formado por
todos os seus coordenadores; como também a Roda dos gerentes dos serviços que
dão suporte à ESF (PINTO et al., 2008).
No intuito de melhor conhecer esta experiência vivenciada em Sobral,
realizou-se uma busca na literatura a respeito do tema, partindo da consulta nos
28
arquivos da revista SANARE, na biblioteca do Campus do Centro de Ciências em
Saúde e arquivos da Comissão Científica do curso de Enfermagem, biblioteca da
EFSFVS, bancos de teses e dissertações da Universidade Federal do Ceará e
banco de dissertações da RENASF/FIOCRUZ.
Dessa forma, identificamos a produção de 5 trabalhos escritos
discorrendo sobre a dinâmica das rodas no município de Sobral os quais
discorreremos a seguir:
O primeiro deles, escrito por Soares et al (2007), intitulado de Co-gestão
de coletivos: o movimento das rodas nos Centros de Saúde da Família de um
município do interior do Ceará, Brasil - identificou que a roda acontecia nas
unidades de saúde, em espaços com boa iluminação e ventilação razoável, na sala
destinada a educação em saúde e, em unidades que não possuem esse espaço
específico, ocorrem nos consultórios ou, ainda, quando necessário, utilizam-se os
espaços comunitários (SOARES et al, 2007).
Neste período específico, por conta dos processos de educação
permanente que acontecia quinzenalmente para os enfermeiros, odontólogos e
médicos da atenção básica do município organizado pela EFSFVS e SSAS que
aconteciam, também, no mesmo dia e horário, intercalavam às quintas-feiras, à
tarde, quinzenalmente, com horário que variava entre 13h30min às 17h00. No
horário em que a Roda acontece não há atendimento direto aos usuários, ficando na
maioria das vezes, um funcionário para fazer o acolhimento, quando necessário
(SOARES et al., 2007).
A quantidade de pessoas que participava das rodas variava entre quinze
a sessenta participantes, a depender do CSF, fato este que dificultava, segundo
Soares et al. (2007), “o processo de construção coletiva e de pactuações, pois
necessita contar com a conscientização das pessoas e de uma metodologia que
propicie à participação e construção de consensos”. Acrescentam ainda que era
possível observar muitas conversas paralelas bem como posturas de desinteresse
de um número considerável de pessoas. A participação ativa era minoria.
Os autores apresentaram a necessidade de organizar melhor o tempo
destinado aos informes, cuidando para que os mesmos não se transformem em
pautas e que seja estimulado, a partir dos conteúdos trazidos, reflexões sobre
políticas de saúde, planejamento e avaliações das ações de saúde. Quanto à
metodologia é sugerido que seja aquela que favoreça a exposição de ideias por
29
todos, visto que alguns sujeitos expressaram que a manifestação através da fala
deveria acontecer mais (SOARES et al., 2007).
Identificamos também o artigo: “A roda como espaço de co-gestão da
residência multiprofissional em saúde da família do município de Sobral –
Ce”., escrito por Silva e Sousa (2010). Trata-se de um relato de experiência que
propõe descrever e refletir sobre o método da roda nos diversos espaços coletivos
da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) bem como no
cotidiano dos serviços de saúde. Este artigo teve como fonte de coletas o diário de
bordo que continha as percepções vividas pelos autores durante o período em que
fizeram parte da Residência durante o período de 2008 a 2010.
Concluíram que a roda tem sido um dispositivo que tem fomentado a
participação de forma dialógica, reflexiva e construtiva de processos de trabalho,
sendo de extrema importância a garantia desse espaço para o exercício da
participação e do fomento às relações interpessoais através da convivência
saudável. Destacam, ainda, a percepção da construção de práticas e saberes
despertada a partir dos encontros de categorias e de equipes multiprofissionais
(SILVA E SOUSA, 2010).
Porém, foram identificadas algumas lacunas como a necessidade de
revitalização das rodas a partir da EPS com o coletivo de gerentes com abordagens
em metodologias ativas e valorização das experiências, além de reforçar sobre a
estrutura do método da roda (administrativa, política, pedagógica e terapêutica)
ressaltando o caráter pedagógico na superação da lógica tradicional de formação
(SILVA E SOUSA, 2010).
Em 2012, Brasil et al fez a: “Análise das contribuições do método da
roda no gerenciamento de um Centro de Saúde da Família”. Colheu através do
auto-relato estruturado, as falas dos trabalhadores de saúde de duas equipes
multidisciplinares do CSF Maria Adeodato bem como Núcleo de Apoio a Saúde da
Família (NASF) 5 e profissionais da RMPSF inseridos na equipe, sobre o método da
roda. O estudo foi realizado no período de outubro de 2006 a janeiro de 2007 e
objetivou analisar as contribuições proporcionadas pelo método da roda no
gerenciamento de um CSF (BRASIL, 2012).
Identificaram com as falas dos sujeitos que a roda é interpretada como
uma reunião para tomada de decisões onde se debatem, problematizam, buscam
opiniões e soluções no enfrentamento do desenvolvimento das ações de prevenção
30
às doenças e à promoção da saúde, de forma individual, coletiva e institucional além
de assegurar a resolução de conflitos e a elaboração de contratos, projetando-se
reformas estruturais e funcionais de caráter democrático em conformidade com a
proposta de plano político-social do método (BRASIL et al., 2012).
Registraram que, aquelas ocorriam em espaço fechado, cuidando da
proteção das falas e criando uma circulação de afeto e confiança entre os
participantes. Tendo duração aproximada de 2 a 3 horas. Concluíram que a roda
possibilita que o trabalhador da saúde se reconheça como autor do projeto
assistencial que está sendo construído, resgatando seu papel de sujeito e
aumentando a taxa de felicidade e de realização profissional estando em sintonia
com o que é proposto por Gastão Wagner Campos (BRASIL et al., 2012).
Gomes et al. Realizaram, em 2013, uma análise dos espaços de roda nos
CSFs de Sobral em trabalho intitulado: “Retrato das Rodas na Estratégia Saúde
da Família em Sobral-Ce: espaço de planejamento e construção de coletivos”.
A coleta de dados deu-se por meio da técnica de observação participante realizada
em 14 CSFs, com duração de um mês em cada CSF, e utilizou como instrumentos o
roteiro de observação e os registros do diário de campo.
Identificaram que as rodas continuam acontecendo em todas as unidades,
as quintas-feiras, no período da tarde, com duração média de 3 horas, nos próprios
CSFs. Referiram que a metodologia está estruturada em quatro etapas: 1. Momento
dinâmico e/ou reflexivo (71% dos CSFs); 2. Repasse de informes (100% dos CSFs);
3 Discussão das pautas apresentadas (100% dos CSFs) e 4. Lanche e distração
(58% dos CSFs) e, em alguns CSFs o momento 3 é conduzido por cuidadores
(GOMES et al 2013).
Detectaram, também, que, as ações de planejamento, acontecem de
forma pontual e desarticulada, não contemplando as etapas de definição de metas e
avaliação, fragilizando o processo, porém sendo de grande importância por abrir
espaço para os profissionais expressarem suas opiniões, possibilitando a formação
de compromisso, a elaboração e gestão de contratos de Projetos (GOMES et al
2013).
Ponte (2013), em sua dissertação de mestrado escreveu sobre o assunto
em: “Do dispositivo ao instituído: O Método da Roda em Sobral-CE promove a
Co-Gestão de Coletivos?”. Esta pesquisa objetivou analisar o método em Sobral-
CE, enquanto promotor de espaços de co-gestão, averiguando entre os
31
trabalhadores e Sistema Municipal de Saúde, e descrever os componentes
gerencial, político, pedagógico e terapêutico que são implementados nas rodas dos
CSF.
Os atores sociais desse estudo foram os trabalhadores da saúde que
compunham dois CSF, os Gerentes dos CSF e um gestor da Atenção Primária da
SSASS. Os CSF escolhidos foram o primeiro a implantar o método da roda e o CSF
com maior número de equipes. Adotou como técnicas da coleta de dados entrevistas
(individuais e coletivas semi-estruturadas) e a observação sistemática (PONTE,
2013).
A referida autora constatou em sua observação que a lógica Taylorista
continua imperando nestes espaços, sem diferenciar-se de uma reunião
administrativa qualquer com o predomínio do componente administrativo em
detrimento do político, pedagógico e terapêutico.
“As decisões vem a nível central da gestão ( secretaria da saúde e/ou de outras instituições parceiras da prefeitura), unidirecionada, com os profissionais de níveis técnicos intermediários, responsáveis pela supervisão (Coordenador/ Enfermeiro/ Gerente), e controle (indicadores de saúde e entrega de planilhas, etc) e o trabalhador atuando na execução, numa lógica não-espontânea, com base em estímulo moral.” (PONTE,
2013.p.96).
Percebeu, também que, ainda, é incipiente a ocupação deste espaço pelo
trabalhador que poderia utilizá-lo para construção de novos fluxos de gestão e
fortalecimento político, tencionando a gestão por novos modelos de organização do
sistema, avaliação e monitoramento de indicadores locais de saúde, como, também,
avançar nas discussões de desprecarizações de seus vínculos (PONTE, 2013).
Outro destaque feito por este estudo foi a precária infraestrutura do espaço em
que acontecem as rodas, sem boa ventilação e com superlotação, o que ocasiona
dispersão pelo incômodo e pela dificuldade na escuta por conta de conversas
paralelas (PONTE, 2013).
Refletindo, a partir da visão dos trabalhadores, a autora conclui que o
espaço da roda constitui um excelente dispositivo de gestão, mas tornou-se, com o
tempo, algo instituído e enfraquecido pelos sujeitos que o compõem devendo-se
internalizar novas práticas, visando não continuar reproduzindo novas formas de
submissão, fragmentação e alienação (PONTE, 2013).
32
E, por fim, trago o que Brandão (2006) escreveu em “A roda como
espaço de recriação da universidade” apesar de ter sido produzido anteriormente
a alguns estudos aqui mencionados, traduz uma imagem objetiva do que deve ser a
roda. Além de ter sido a única referência, ao nosso encontro, que relaciona o espaço
da roda como dispositivo de educação permanente, coadunando com o objeto de
nosso estudo.
Trata-se de um relato de experiência, a partir da observação de uma roda
vivenciada em uma unidade de saúde do distrito de Patriarca, Sobral-CE, em que o
autor discorre cuidadosamente todos os momentos daquela tarde de quinta-feira,
numa pequena casa onde funcionava a unidade de saúde e, pelo menos, uma vez
por semana, todos paravam suas atividades corriqueiras de atendimento para
discutir sobre suas rotinas e sobre a vida daquele grupo.
O relato detalha a acolhida dos profissionais realizada por uma Agente
Comunitária de Saúde tendo como fundo musical uma ciranda, constituindo, em sua
visão, um forte elemento de coesão grupal. Continua descrevendo que, logo em
seguida, foi proposto um momento de estudo feito de forma criativa conduzido pelo
profissional dentista, conforme tema pactuado em reunião anterior. Para finalizar, a
gerente da unidade de saúde convidou os participantes a problematizar sobre o
tema debatido. Nesse momento, cada um expôs o seu ponto de vista, apresentando
aspectos positivos ou negativos e elaborando um plano de ação, em parceria com
as escolas e outras organizações existentes no lugar. Concluído o encontro, “a
cozinheira da unidade propôs uma dança circular, de modo que todos pudessem
vivenciar a alegria de estar no grupo, pela flexibilidade do movimento e pelo prazer
inefável do transe musical” (BRANDÃO, 2006.p.2)
Para este autor, o fato das pessoas sentarem-se em roda possibilita a
troca de olhares, a construção de vínculos e desenvolve, assim, uma solidariedade
que também existirá no ato de fazer, fazendo da roda não apenas uma mera reunião
de pessoas, mas um bom encontro de sujeitos quando a “afetividade resulta na
alegria, entendida aqui como sentimento duradouro, capaz de fortalecer a potência
de ser em cada indivíduo” (BRANDÃO, 2006.p.2).
O autor reconhece a importância de todos os componentes da roda,
identificando dentre estes, como vital o espaço de educação permanente:
33
“Ainda que o estudo individual seja imprescindível na nossa formação, é igualmente relevante fomentar a reflexão coletiva sobre a realidade que nos cerca. A Roda de estudo ajuda, por um lado, a alinhar conceitos e, por outro, a construir um forte compromisso entre os participantes do grupo”. (BRANDÃO, 2006.p.3)
Atualmente esses espaços se mantêm, especialmente, nas equipes de
Saúde da Família (eSF), e tem sido alvo de avaliações e discussões por parte da
coordenação e conselho gestor de gerentes, a fim de buscar o aprimoramento da
metodologia na prática das equipes de saúde, e constitui-se como um instrumento
valioso de co-gestão e co-participação dentro do sistema de saúde do município.
É neste clima dialógico, de participação, de troca de saberes, valorizando
o espaço como incentivador de reflexões e de discussões que o coletivo se
empodera, visto que somos, ao mesmo tempo, aprendentes e educadores.
3.2 Educação permanente em saúde
Tradicionalmente a formação para trabalhadores é vista como se estes
pudessem ser administrados como um dos componentes de um espectro de
recursos, como os materiais, financeiros, infraestruturais, dentre outros. Está
embutida nesta concepção a ideia prescritiva de habilidades, comportamentos e
perfis aos trabalhadores para que as ações e os serviços sejam implementados com
a qualidade desejada (CECCIM, 2005).
Para o mesmo autor, as reformas setoriais em saúde trazem a
necessidade de dar à formação um lugar central, ao invés de secundário ou de
retaguarda, sendo a Educação Permanente uma estratégia fundamental para a
recomposição das práticas de formação, atenção, gestão, formulação de políticas e
controle social no setor da saúde, estabelecendo ações intersetoriais oficiais e
regulares com o setor da educação.
Ceccim (2005) diz que o papel das práticas educativas deve ser crítica e
incisivamente revisto para que almeje a possibilidade de pertencer aos
serviços/profissionais/estudantes a que se dirigem, de forma que os conhecimentos
que veiculam alcancem significativo cruzamento entre os saberes formais previstos
pelos estudiosos ou especialistas e os saberes operadores das realidades – detidos
pelos profissionais em atuação – para que viabilizem autoanálise e, principalmente,
autogestão. Daí a necessidade de se implementarem espaços de discussão, análise
34
e reflexão da prática no cotidiano do trabalho e dos referenciais que orientam essas
práticas.
Sendo assim, para ocupar o lugar ativo da EPS, o autor antes referido nos
traz a necessidade de abandonarmos (desaprendermos) o sujeito que somos, por
isso, mais que sermos sujeitos (assujeitados pelos modelos hegemônicos e/ou pelos
papéis instituídos) precisamos ser produção de subjetividade.
Para tal, necessita tornar-se sensíveis e abertos a serem arrancados do
instituído e abrir-se para as situações vivenciadas no dia-a-dia do mundo do
trabalho, permitindo um movimento que procure reconhecer os fatos e
acontecimentos como processo formativo, a fim de tornarem-se, de fato, um espaço
de formação, colocando-nos em permanente e contínua produção.
3.2.1 A Política nacional de educação permanente em saúde
Em 2004, o Ministério da Saúde implantou a PNEPS, instituída pela
Portaria GM/MS Nº 198, de 13 de fevereiro, apresentada e aprovada em 2003 pelo
Departamento de Gestão da Educação na Saúde, junto ao Conselho Nacional de
Saúde, como “Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para
a educação permanente em saúde”, visando à integração entre ensino e serviço,
formação e gestão setorial e desenvolvimento institucional e controle social
(BRASIL, 2009).
Em 2007, a PNEPS foi reeditada sob Portaria Nº 1.996/GM/MS, que
trouxe como proposta a ruptura com o conceito de sistema verticalizado para
trabalhar com a ideia de rede. Considerando a necessidade de articulação dos
serviços de saúde, as possibilidades de desenvolvimento dos profissionais, a
capacidade resolutiva dos serviços de saúde e a gestão social sobre as políticas
públicas de saúde, a EPS foi trazida como a proposta mais apropriada para trabalhar
a construção desse modo de operar o Sistema, por permitir articular gestão, atenção
e formação para o enfrentamento dos problemas de cada equipe de saúde, em seu
território geopolítico de atuação. Constitui a realização do encontro entre o mundo
de formação e o mundo de trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao
cotidiano das organizações e ao trabalho. (BRASIL, 2009)
No texto da PNEPS, o Ministério da Saúde (Brasil, 2009), registra o
entendimento de aprendizagem, enquanto desenvolvimento de novos critérios ou
35
capacidades para resolver problemas ou a revisão de critérios e capacidades
existentes que lhes inibem a resolução.
A PNEPS propõe que os processos de educação dos trabalhadores da
saúde se façam a partir da problematização do processo de trabalho e considera
que as necessidades de formação e desenvolvimento dos trabalhadores sejam
pautadas pelas necessidades de saúde das pessoas e populações (BRASIL, 2009).
Ancorada na proposta das novas diretrizes da PNEPS de 2007, a
Secretaria de Saúde do Estado do Ceará aprova, em 10 de julho de 2008, pela
Portaria N°955/SESA, a Política Estadual de Educação Permanente em Saúde
(PEEPS) que tem como objetivos transformar as práticas institucionais; melhorar a
qualidade da atenção proporcionada; atuação comprometida da equipe com o
processo de trabalho e com a comunidade; e melhorar as relações nas e entre as
equipes de trabalho (CEARÁ, 2008).
Tem sido gerida em âmbito estadual pela Coordenadoria de Gestão do
Trabalho e Educação na Saúde (CGTES), com o apoio e envolvimento da CIB
estadual para homologação e discussão dos planos e estratégias de cada
macrorregião, que deverá ainda ser apoiada pelas CIES composta por
representações de gestores, profissionais da saúde, instituições de ensino e controle
social (BRASIL, 2009).
Como instâncias intersetoriais e interinstitucionais as CIES devem
responsabilizar-se pela formulação, condução e desenvolvimento da PNEPS,
acompanhando e avaliando suas ações (BRASIL, 2009).
Vasconcelos et al (2013), ao considerar a necessidade de que a PNEPS
seja avaliada para dar visibilidade as potencialidades e fragilidades das ações
desenvolvidas, bem como perceber os resultados oriundos e desencadeados por
esta política, identificaram em seu estudo que alguns fatores ainda precisam ser
discutidos e aprimorados a partir do processo de implantação e implementação da
PEEPS.
3.2.2 A trajetória da educação permanente em saúde em Sobral
Envolvido pelo cenário nacional e ancorado pela necessidade de revisitar
as práticas dos profissionais inseridos no serviço em decorrência da reorganização
do Sistema de Saúde, em 1997, inicia-se em Sobral, o desenvolvimento de uma
36
série de ações que se converteria mais a frente numa Política Municipal de
Educação Permanente em Sobral como uma das estratégias de consolidação do
novo paradigma. (SOUZA, et al.,2008).
Em 1999, com o objetivo de formar e preparar os profissionais do sistema
municipal de saúde para a atuação na ESF, a então, SSASS, de Sobral-CE em
parceria com a UVA cria o programa de RMSF. O curso abrigou para o momento
todos os profissionais com formação universitária que, além do título, contribuiria de
maneira decisiva para a transformação do modelo assistencial (PINTO et al., 2008).
A RMSF utiliza abordagens metodológicas inovadoras de ensino-
aprendizado que capacita profissionais da saúde para uma atuação crítica, reflexiva
e propositiva na ESF, visando à integralidade e resolutividade do cuidado em saúde
como aspectos necessários à garantia de qualidade no processo de mudanças das
práticas sanitárias voltadas para a efetivação do SUS (SILVA E SOUSA, 2010).
Este movimento de EPS no município, a partir de 2008, passou a ser
denominado Sistema Saúde Escola de Sobral tendo como premissa a integração
entre serviço-ensino e ensino-serviço, e buscando qualificar o processo de gestão
participativa e democrática. (SOARES et al., 2008).
Compreende, assim, uma estratégia e um modo de conceber os
processos de trabalho e de formação dentro de uma lógica em que as experiências
e trocas ocorridas no território, bem como na rede de equipamentos de saúde
constituem uma dimensão pedagógica quer no âmbito da gestão ou da assistência.
Esta aprendizagem é potencializada pelos pressupostos da educação permanente e
da educação popular, resultando, portanto em um método que gera uma
comunidade aprendente (PARENTE, 2010).
Tais Comunidades aprendentes têm como membros todos os agentes
locais do SUS que “compartilham de uma mesma visão e trabalham e aprendem de
forma interdependente, afetando e sendo mutuamente afetados uns pelos outros”.
(SOARES et al., 2008. p.9).
O Sistema Saúde Escola de Sobral alicerça-se em profundas concepções
filosóficas e pedagógicas e opera com a categoria denominada de vivências de
aprendizagem onde a educação permanente acontece para além das estruturas dos
processos ensino-aprendizagem tradicional, fazendo-se presente em diferentes
espaços do sistema e transformando toda a rede de serviços de saúde existente no
37
município em espaços de educação contextualizada e de desenvolvimento
profissional (SOARES et al., 2008).
Nesta perspectiva avança então para se constituir como um sistema
aprendente onde:
“O território, os Centros de Saúde da Família, os grupos sociais, as lideranças populares, os movimentos sociais, os momentos formais de instrução, o dia-a-dia de trabalho nos diferentes espaços organizacionais, as rodas de co-gestão, as situações de tensionamentos e de conflitos existentes nos territórios são geradoras de novas e significativas aprendizagens” (SOARES et al, 2008. p.9).
Quanto à operacionalização, o Sistema Saúde Escola de Sobral articula-
se em quatro eixos estruturantes que são: “um de natureza jurídico-institucional;
outro, éticopedagógico; o terceiro refere-se ao caráter político e o quarto
compreende a integração gestão, atenção, ensino e pesquisa”. (SOARES et al.,
2008. p.8).
Figura 1. Esquema ilustrativo dos quatro eixos estruturantes do Sistema Saúde Escola de Sobral.
Fonte: Soares et al (2008).
Com a missão de promover ações educativas na área da saúde junto ao
sistema de Saúde Escola de Sobral e demais municípios que compõem a
macrorregião de saúde de Sobral e pelo somatório de esforços do Governo do
Estado do Ceará, UVA e Prefeitura Municipal de Sobral-CE, através da então,
SSASS, em 2001, foram inauguradas as instalações da EFSFVS que se institui
como um espaço físico definido para a Política de Educação Permanente dos
38
profissionais de saúde do município de Sobral e da região norte do Estado do Ceará
(PINTO et al, 2008).
“A fundação da EFSFVS veio sedimentar o compromisso da gestão municipal em reconhecer seu estratégico papel de impulsionar e estimular o desenvolvimento do sistema regional de saúde, na construção de tecnologias e competências para a qualificação do serviço, atuando principalmente nos processos formativos de Recursos Humanos para o SUS.” (PINTO et al, 2008.p.65)
Visando fortalecer o SUS a partir da estratégia de educação
especializada, permanente e contextualizada em Saúde, a “EFSFVS é um espaço
institucional que acolhe, planeja, organiza, desenvolve tecnologias e dissemina
ações educativas” (PARENTE, 2010. p. 2), inserindo-se, ainda, na perspectiva da
escola cidadã por ser “pública quanto a sua clientela (é para e de todos), estatal
quanto a sua fonte financiadora (opera com recursos públicos), e democrática e
comunitária quanto ao seu modelo de gestão (princípio da participação)”.
(PARENTE, 2010. p. 2).
Atualmente, a EFSFVS trabalha na perspectiva de promover em seus
processos educativos uma concepção ampliada e integral de saúde, assumindo
tanto na sua identidade institucional como nas suas práticas pedagógicas a ESF
como marco central. Isso implica reconhecer a importância e o impacto desta
estratégia para a organização, desenvolvimento e transformação da realidade
sanitária local.
Vivenciando um constante aprimoramento da EPS a partir de diversas
experiências vivenciadas e em consonância com a PNEPS do Ministério da Saúde,
Sobral assume seu o papel de formulador de políticas públicas, oferecendo uma
experiência municipal concreta para a formação de Recursos Humanos voltados
para a área de saúde, incrementando o desenvolvimento científico e tecnológico dos
profissionais que atuam na ESF (SOUZA, et al., 2008).
3.3 Sentidos e significados na perspectiva da escola Vygotskyana
Entendendo a roda como um espaço de movimento e recriação
permanente da coletividade, faz-se necessário que cada participante não se sinta
apenas interagindo e sim implicado, formando, com a coletividade uma totalidade.
39
Isso exige, para Bomfim (2010), um exercício de motivação individual em que o
sentido de ação e transformação pode ter a afetividade como eixo integrador.
Tais relações humanas são mediadas por sistemas simbólicos – a
linguagem – que constitui a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento,
fornecendo os conceitos e as formas de organização do real, ou seja, a linguagem é
o meio pelo qual o ser humano constitui-se sujeito, atribui significados aos eventos,
aos objetos, aos seres, tornando-se, portanto, ser histórico e cultural (COSTAS &
FERREIRA, 2010).
Vygotsky diz que “são os significados que vão propiciar a mediação
simbólica entre o indivíduo e o mundo real”. Tal significado constitui-se como
componente indispensável da palavra onde o pensamento e a fala encontram-se em
uma verdadeira unidade. É no significado, portanto que o pensamento e o discurso
se unem em pensamento verbal, ficando clara a conexão entre aspectos cognitivos
e afetivos do funcionamento psicológico (DE LA TAILLE et al., 1992. p.81).
De La Taille et al, (1992), ainda , nos trazem que na concepção de
Vygostsky a medida que o significado constitui um núcleo estável de compreensão
da palavra compartilhado por todas as pessoas que a utilizam, o sentido, por sua
vez, liga o significado da palavra ao contexto de uso e aos motivos afetivos e
pessoais de cada indivíduo.
Este “sentido”, segundo Barros et al (2009), é concebido como
acontecimento semântico particular, constituído através de relações sociais e que,
assim, como os signos, são produzidos nas práticas sociais através da articulação
dialética da história de constituição do mundo psicológico com a experiência atual do
sujeito.
Sendo o sentido a soma de todos os fatos psicológicos que despertam em
nossa consciência, o significado constitui-se em apenas uma dessas zonas no
sentido que a palavra adquire no contexto de algum discurso. A mais estável,
uniforme e exata (BARROS et al 2009).
Para compreender o discurso do outro, não basta entender apenas as
palavras e sim o pensamento, além de ser necessária ainda a compreensão do
motivo que o levou a emiti-las, visto que, a palavra, pode mudar de sentido
facilmente a depender de diferentes contextos, e é sempre uma “formação dinâmica,
fluida, complexa, que tem zonas de estabilidade variadas” (VYGOTSKY apud
BARROS et al.,2009 . p.179).
40
Disso decorre na perspectiva de ygotsky e que se traz aqui, em uma idéia
acerca desses dois conceitos: o do significado e do sentido. O primeiro
representando a instância coletiva, ou seja, aquilo que é apreendido e compartilhado
pelo conjunto de indivíduos de um dado grupo social. Já o segundo, o sentido
implica na compreensão que se manifesta do ponto de vista privado acerca de um
dado fato ou processo social, apreendido a partir das vivências pessoais e
particulares. Portanto, o sentido é singular enquanto o significado ganha uma
dimensão contextual sendo aceita e compartilhada no âmbito do grupo.
41
4 METODOLOGIA
4.1 Abordagem do estudo
O estudo constitui-se em uma pesquisa com abordagem qualitativa que,
segundo Minayo (2010) procura investigar melhor os grupos e seguimentos
delimitados e focalizados, por meio de histórias sociais sob a ótica dos atores;
assim, como as relações dos sujeitos envolvidos.
Cassab (2007) diz que a pesquisa qualitativa preocupa-se em
compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que são depositárias de
crenças, valores, atitudes e hábitos, que não podem ser quantificados.
Partindo da necessidade de compreender tais relações, lançamos mão da
abordagem metodológica baseada no compreensivismo que consiste em entender
os sentidos que as ações de um indivíduo contém, e suas relações sociais,
entendendo que o ser humano é subjetivo e que esses sentidos seriam, para ele,
permeados de valores, motivações, intenções e interesses próprios e particulares,
visto que o ser humano não age apenas por agir , mas pensa sobre o que faz e
interpreta suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus
semelhantes (MINAYO, 2010).
Para a mesma autora, os teóricos de inspiração compreensivista não se
preocupam em quantificar ou em explicar e sim em compreender. Atuam com a
matéria-prima das vivências, experiências e cotidianeidade, sem deixar de analisar
as instituições e estruturas, porém entendendo-as apenas como ação humana
objetivada.
4.2 Tipologia do estudo
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo. Para Gil (2010), as
pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Isso nos
trouxe a possibilidade de ter uma visão geral, do tipo aprimorativa das vivências do
método da Roda na unidade, a fim de identificar, nesta imersão, as nuances da EPS,
identificando os sentidos e significados dos profissionais que a constroem em seu
cotidiano.
42
Já sobre o estudo descritivo Gil (2010) diz que complementa essa
imersão na realidade pesquisada a partir do registro e análise das características,
fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo. O que nos
permitiu descrever tais registros da Roda de forma apreciativa, conforme nos
propomos.
4.3 Cenário do estudo
O lócus da pesquisa foi a Estratégia Saúde da Família de Sobral/CE que
é composta por sessenta e três equipes distribuída em trinta e cinco Centros de
Saúde da Família, contando com uma cobertura assistencial de 96% da população
de cento e cinquenta mil, quinhentos e sessenta pessoas (SOBRAL, 2015).
Sobral considera, ainda, uma divisão de território a partir de 04
macroáreas de saúde que são compostas por CSF da sede e distritos com uma
média de 16 equipes de Saúde da Família cada uma. A divisão dos CSF nas
macroáreas respeita características semelhantes entre si, como quantidade de eSF,
geografia, condições sócio-econômicas do território e da população, entre outras
(SOBRAL, 2014).
Figura 2. Divisão territorial por macroárea de Sobral.
Fonte: Sobral (2014).
43
O estudo se deu mais especificamente na Macroárea 3 que é composta
pelos CSF Expectativa, CAIC, Novo Recanto, Pedrinhas, Tamarindo, Centro,
Estação e Alto da Brasília,. Contêm quinze eSF, e atende a uma população de
cinqüenta e três mil, duzentos e vinte e seis pessoas, correspondendo a vinte e
quatro por cento da população total do município (SOBRAL, 2014).
Dentro deste quantitativo, elegemos 03 Centros de Saúde da Família que
foram escolhidos de acordo com sua estrutura física, visto que, o referencial para a
coleta e análise de dados utilizado, Mapa Afetivo, busca correlacionar os sentidos e
significados a tal aspecto. Adotamos, portanto, o CSF Alto da Brasília por funcionar
em uma Unidade de Saúde com estrutura física que não se encontra dentro dos
padrões do município, aguardando a construção de uma unidade padrão, já em fase
de conclusão; o CSF Tamarindo por funcionar em uma Unidade padrão, porém,
ainda nos moldes utilizados pelo município para a construção das primeiras
unidades logo após a implantação da ESF, portanto, já um pouco ultrapassada do
padrão atual; e, finalmente, o CSF Novo Recanto por ser contemplado com um
espaço físico bem moderno, dentro dos modelos construídos mais atuais.
O CSF Alto da Brasília, no qual me encontro atualmente inserida na
função de gerente é composta por 2 eSF, tendo em seu quadro um quantitativo de
trinta e oito profissionais. Acompanha mil trezentos e setenta e seis famílias, com
uma população de cinco mil e cinquenta e seis pessoas. Assiste aos bairros Alto da
Brasília, Coração de Jesus, Betânia e Conjunto Habitacional Cesarina Barreto Lopes
(SOBRAL, 2015).
O CSF Tamarindo também é constituído por 1 eSF, com trinta e um
profissionais compondo a mesma. Responsabiliza-se por mil, cento e setenta
famílias, e quatro mil e cem pessoas compreendendo os bairros Centro e Tamarindo
(SOBRAL, 2015)
O CSF Novo Recanto, Assiste ao bairro Novo Recanto,
responsabilizando-se por novecentos e quarenta e duas famílias constituídas por
uma população de três mil, quatrocentos e trinta pessoas, com um quadro vinte e
cinco profissionais cindido em 1 eSF. (SOBRAL, 2015)
Preservando o anonimato dos participantes dos estudos, identificamos
cada equipe com uma letra diferenciada A, B e C.
44
4.4 Período do estudo
O estudo desenvolveu-se de março de 2015 a outubro de 2016. A partir
da vivência do módulo Metodologia do Trabalho Cientifico, onde nos foi proposto
realizar um pré-projeto do que seria o Trabalho de Conclusão de Mestrado (TCM)
para apresentação em Seminário de Acompanhamento.
A coleta de dados realizou-se no período de 31 de março a 26 de maio de
2016, logo após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética, liberado no dia 7 de
março do ano corrente. E a interpretação e análise de dados aconteceram nos
meses de junho a setembro de 2016.
4.5 Participantes
Os participantes deste estudo são os profissionais da ESF inseridos nas
eSF definidas para o estudo – CSF Alto da Brasília, Tamarindo e Novo Recanto. As
equipes básicas são constituídas de acordo com portaria PORTARIA Nº 2.488/2011
MS, por categorias como Agentes Comunitários de Saúde, Técnicos de
Enfermagem, Enfermeiros, Médicos, Cirurgião-Dentista, Técnico em Saúde Bucal,
Agentes administrativos e apoiados por profissionais do NASF.
O NASF foi criado pelo Ministério da Saúde através da Portaria GM nº
154, de 24 de janeiro de 2008 objetivando atuarem em conjunto com os profissionais
das Equipes de Saúde da Família, compartilhando as práticas em saúde nos
territórios em que estão cadastrados e de responsabilidade destes. São constituídos
por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento como
Assistente Social, Educador Físico, Fisioterapeuta, Nutricionista, Terapeuta
Ocupacional, Psicólogo, entre outros.
Além desses profissionais, fazem parte do estudo os Residentes inseridos
na RMSF, tutelados pela ESFVS em parceria com a UVA, e mais alguns acadêmicos
do Curso de enfermagem desta mesma universidade que se encontravam
vivenciando o período de Internato, no qual os mesmos acompanham os
profissionais da equipe por 560 horas distribuídas em quatro meses. Vale ressaltar
que, o momento da coleta de dados coincidiu com o período de inserção destes
estudantes nas equipes, o que trará para o resultado do estudo a riqueza de ser
contemplado, para além da visão do vivido, pelas expectativas trazidas por estes
45
para com o processo da Roda enquanto estratégia de EPS, visto que eles, apesar
de em alguns casos ser este o primeiro contato com tal estratégia, vivenciaram um
momento de acolhida no Sistema de Saúde em que tiveram a oportunidade de
aprofundar-se teoricamente sobre o tema.
Ressalto, também, a inserção neste processo, dos profissionais Serviços
Gerais e vigilantes que, apesar de não estarem contemplados na lista dos que
devem fazer parte das eSF, estão inseridos no funcionamento da unidade, portanto
sendo de grande importância para os processos de EPS.
4.6 Descrição das etapas de coleta de dados
4.6.1 Apreensão dos sentidos e significados – o mapa afetivo
Considerando o indivíduo como possuidor de uma referência cultural e
histórica que interfere nas suas formas de pensar, sentir e agir buscamos
compreender que sentido(s) e significado(s) esse espaço da Roda traz como
dispositivo de Educação Permanente para cada profissional.
Considerando que EPS leva em conta não somente a necessidade do
território como, também, as experiências e vivências anteriores de cada profissional
e da equipe em geral, identificamos como apropriada a aplicação do Mapa Afetivo
como instrumento utilizado para a coleta de dados. Ao passo que, entendemos que
encontrar meios para acessar tais sentimentos é um grande desafio por estarmos
diante de um tema abrangente e que parte de uma linguagem interior que são
emoções não tão fáceis de serem exteriorizadas.
Bomfim (2010) em seu trabalho intitulado “Cidade e Afetividade” pensou
em uma metodologia que pudesse facilitar tal processo apontando a utilização de
um instrumento metodológico que se utiliza de desenhos, metáforas e palavras,
direcionando uma compreensão da relação da pessoa com o entorno físico, de
forma menos elaborada e mais sensível com o desafio de se chegar as sensações e
sentimentos sem correr o risco de acessar somente processos racionais.
Os mapas afetivos propiciam a aproximação dos sentimentos à realidade
da vida cotidiana por propor uma inter-relação sintética das várias dimensões
relacionadas à representação ou imagem, sendo um processo de (re)produção que
46
avança em sentimentos que não estavam acessíveis, relacionando-se como
resposta afetiva, a partir da utilização de recursos imaginéticos.
Diferencia-se do conceito de mapa cognitivo por voltar o olhar para o
afeto e não para a cognição como descreve o quadro a seguir:
Quadro 1 – Comparativo entre Mapa cognitivo e Mapa afetivo
MAPA COGNITIVO MAPA AFETIVO
Objetiva o conhecimento do
ambiente como expressão espacial e
geográfica.
Pautados em imagens
coletivas
Priorizam os elementos da
estrutura física do ambiente, dando
pouca ênfase à dimensão de
significado, aos afetos.
A representação da cidade
permite o acesso à estrutura da
cidade que está no habitante.
É uma resposta à solicitação
do investigador a uma
representação da cidade em termos
de orientação espacial.
Funções: organizar
experiência social e cognitiva; influir
na organização do espaço; gerar
decisões acerca de ações e
planificações.
Objetiva o conhecimento do
ambiente como expressão do afeto e
da orientação espacial.
Pactuados em imagens
psicossociais.
Revelam os significados do
ambiente pelos afetos. Alem dos
aspectos da estrutura, incluem os
aspectos metafóricos e abstratos.
A representação da cidade
permite o acesso à estrutura da cidade,
mediada pela afetividade.
É uma construção que se dá na
inter-relação do pesquisador com o
respondente, mediada por um
instrumento de pesquisa.
Funções: Além das funções
dos mapas cognitivos, visa reconhecer
a implicação do indivíduo com a cidade
(ética e ação) e superar as dicotomias
subjetividade e objetividade, individual
e coletivo; cognição e afetos.
Fonte: Bomfim ( 2010).
Para a autora, a metodologia ancorada na perspectiva histórico-cultural
de Vygotsky, compreende as funções psicológicas superiores como processos em
movimento e mudança, que busca basear-se na “articulação entre significados,
qualidades e sentimentos atribuídos aos desenhos” (p.137), tendo nas metáforas um
recurso importante para a revelação dos afetos.
47
“Os desenhos e metáforas são recursos imaginéticos reveladores dos afetos que, juntamente com a linguagem escrita dos indivíduos pesquisados, nos dão um movimento de síntese de sentimento.”(BOMFIM, 2010. p.139) “Pretende ser um método de análise de sentido que, de forma heurística, articula afeto (motivo, vontade), cognição (pensamento, linguagem-falada e escrita) e imaginação (criatividade e sonho)” (BOMFIM, 2010. p.219)
Para ela, os desenhos têm a função de aquecer a expressão de emoções
e sentimentos para facilitar a compreensão de subtextos que não são facilmente
captados, e a escrita traduz a dimensão afetiva dessa projeção da imagem.
Já a metáfora, por ser capaz de ir além da cognitividade, tem como alvo a
conquista da intimidade, sendo de grande importância também pela capacidade de
fornecer informações intraduzíveis, refletindo “a experiência da vida cotidiana e
permitindo o insight comunitário e o contato com a coletividade” (BOMFIM, 2010.
p.137). Como expressão da afetividade, a metáfora rompe com o significado literal e
é vista como um sentido que o indivíduo constrói para a análise do motivo que está
implícito em sua resposta.
Embora, originalmente, o método tenha sido desenvolvido para aferir
relação de afetividade da pessoa para o espaço físico, entende-se que as fases
delineadas podem também apreender relações entre sujeitos (profissionais) e
determinados processos que estabeleçam implicação direta com o espaço
(território), mostrando-se adequado para atingirmos os objetivos propostos pelo
estudo.
4.6.2 Elaboração dos instrumentos
Diante da abrangência da metodologia proposta, elaboramos os
instrumentos a serem aplicados no estudo, embasados nos que foram utilizados
pela autora, adaptados a necessidade do tema.
Fundamentados na necessidade de acesso aos afetos refletidos na
realidade do cotidiano dos profissionais, nos ancoramos no que propõe Bomfim
(2010) quanto a aplicação de um instrumento que contemple “imagens e palavras,
pela formulação de sínteses ligadas aos sentimentos, de forma menos elaborada e
mais sensível.” (BOMFIM, 2010. p.137).
48
Concatenando este aspecto ao objetivo de identificar o significado coletivo
dos profissionais quanto ao espaço da Roda enquanto estratégia de EPS,
adaptamos o instrumento a ser aplicado em grupo, no qual os profissionais
elaborassem um desenho que expressasse o que a Roda significa para eles
enquanto EPS. Bomfim (2010) sugere que o desenho, ao constituir-se como primeiro
item do instrumento, possa facilitar a expressividade de emoções, deflagrando um
processo representacional imaginético, antes mesmo da representação escrita.
Ao lado do desenho, designamos um espaço para que os participantes
pudessem descrever, por ordem de importância, 6 palavras, que poderiam variar
entre sentimentos, qualidades, substantivos ou outras expressões que
descrevessem a significação do desenho para o grupo. Para Bomfim (2010) espera-
se desta síntese de palavras que, os participantes, afirmem com clareza e precisão
os sentimentos, resinificando e saturando o que foi despertado pelo desenho. A este
denominamos de Instrumento para apreensão dos significados (APÊNDICE A), que
conteve, também, em seu introito espaço para identificação do grupo, bem como das
categorias profissionais que o compuseram, a fim de facilitar a identificação no
processo de análise dos resultados.
Aplicando a ideia da autora, elaboramos o segundo instrumento a ser
utilizado, o qual denominamos de Instrumento para apreensão dos sentidos
(APENDICE B), visando captar respostas que possam remeter o sujeito, agora não
mais por desenhos, a uma nova construção de seus sentimentos (BOMFIM, 2010),
intentando acessar quais sentidos a Roda traz para os profissionais da ESF de
Sobral-Ce, levando-os a descrever sobre o que pensam da Roda enquanto EPS;
fazendo-os recordar tais momentos que lhes chamou mais atenção e quais
sentimentos esses momentos despertaram; impelindo-os, também, a relembrar
quais resultados estes momentos tiveram para a equipe. Só depois de oportunizar
tais reflexões, fizemos a pergunta final que representa a metáfora ou comparativo
que o remete a Roda enquanto estratégia de EPS. Bomfim (2010) reflete, ainda que,
a metáfora, tem como principal alvo, a conquista da intimidade, o que promove a
categorização do afeto sobre o espaço vivido.
Além das perguntas, este instrumento também conteve a descrição de
informações individuais como nome, idade, escolaridade e sexo dos participantes,
além da numeração que o identifica no instrumento de coletivo, a fim de possibilitar a
caracterização da amostra, na etapa de análise dos dados.
49
4.6.3 Aplicação dos instrumentos
Para a aplicação do estudo foi feito um agendamento prévio com os
gerentes de cada CSF, a fim de organizarmos cronograma que contemplasse a
todas as equipes envolvidas na pesquisa, após aval da Coordenação da Atenção
Primária a Saúde de município. Tal cronograma foi construído em um momento
exclusivo com os gerentes destas Unidades onde foi apresentado o projeto para
compreensão dos mesmos, e pactuado as datas da aplicação nos territórios.
Enfrentamos nesta ocasião algumas dificuldades de agendamento devido a
programação já pré-definida de temas para as Rodas das equipes, tanto por
demandas do próprio CSF, como por demandas da SMSS, que promovem, com o
apoio da EFSFVS, momentos de EPS específico por categorias profissionais como
médicos, odontólogos, atendentes de farmácia e enfermeiros, nos fazendo buscar
definir uma data, para cada CSF que não confluísse com a ausência destes
profissionais da unidade. Porém, conseguimos um acordo que fosse viável pra
todos, mas que, mesmo pactuado, sofreram alguns víeis devido a demandas que
surgiram no decorrer do tempo.
Foi utilizado o momento da reunião de roda, que, antes do seu início teve
ambiente preparado com música e organização do espaço físico respeitando o que é
habitual da vivencia da equipe. Orientamos que os participantes colocassem-se em
seus lugares de costume. Ao estarem todos em seus devidos locais, respeitando
inclusive a euforia inicial da chegada e do encontro, instruímos para que fechassem
os olhos e trouxessem à memória a última roda a qual participaram, recordando
desde a sua chegada a unidade, à sua acomodação, acolhida, discussões do
momento, pauta, à conclusão do dia, a fim de colocá-los em sintonia com o tema
proposto. Logo após, seguimos os passos que foram explanados de forma clara, por
meio de apresentação de slides em Power Point, contendo cada passo que seria
seguido:
Passo 1 - No primeiro momento foi solicitado que os participantes
construíssem um desenho que traduzisse a sua forma de ver e sentir o espaço da
roda como estratégia de EPS. Os grupos foram constituídos por um total de 4 a 7
pessoas (um ou mais grupos), tendo a consigna de elaborar uma imagem da roda
enquanto estratégia de EPS. Os participantes receberam pincéis e papel madeira;
refletiram um pouco entre si, e com um fundo musical, passaram a elaboração da
50
tarefa. O resultado foi um desenho que traduziu o significado que o grupo atribui à
roda. Teve como objetivo deflagrar um processo representacional imaginético antes
de uma representação escrita, para identificar o sentido do desenho, que fora
interpretado pelo próprio sujeito.
Passo 2 - Em seguida, pedimos a cada participante que explicasse o
significado do desenho, esclarecendo o que ele quis representar através do mesmo,
considerando a sua estrutura e respondendo que sentimentos vinculam-se ao
desenho. Neste momento foi solicitado que o sujeito expressasse e descrevesse os
sentimentos suscitados a partir do desenho, tendo como estímulo inicial o
instrumento de pesquisa que é a EPS no espaço da roda.
Passo 3 – Neste momento foi aplicado o roteiro do Instrumento para
apreensão dos significados (APÊNDICE A), em que orientamos para que fossem
escritas palavras que representassem uma síntese dos sentimentos provocados
pelo desenho, na ordem de 1 a 6, podendo variar entre sentimentos, substantivos ou
outras expressões, sendo permitido repetir o que já respondeu, demonstrando a
interferência do participante no processo de elaboração de sua resposta, de modo
que pudesse ter maior clareza e superação do instrumento, projetando-o para as
etapas posteriores.
Passo 4 - Por fim, aplicamos o roteiro do Instrumento individual: “Caso
alguém lhe perguntasse o que pensa da “roda” enquanto estratégia de EP, o que
diria?; Você lembra de um momento de EPS vivenciado na roda do seu CSF que lhe
chamou atenção? Por quê? Descreva-o passo-a-passo; Que sentimentos despertam
em você ao lembrar-se desse momento?;Qual resultado esse momento trouxe para
a equipe? E o que isso pode ter significado para a mesma?; Se tivesse de fazer uma
comparação desse momento, com o que compararia?”. Seguidas de algumas
perguntas de identificação do participante, como idade, sexo, função que exerce
entre outras. (APENDICE B).
Vale lembrar que todos os momentos aconteceram em grupo e foram
registrados a partir de gravação de voz com esclarecimento e autorização dos
participantes conforme o que regem os princípios éticos da pesquisa. Os
instrumentos individuais registrados de forma escrita foram recolhidos ao final para
categorização.
No CSF A, participaram da Roda vinte e três pessoas que se dividiram em
4 grupos, sendo 3 destes compostos por 6 participantes e 1 composto de 5. O
51
primeiro contato com o campo permitiu que eu identificasse nuances que
necessitariam de melhor clareza ao explicar o processo. A equipe envolveu-se de
forma a contribuir, inclusive com sugestões como a de explicar melhor sobre a
construção do desenho e deixar exposto, durante o preenchimento do questionário o
slide com elucidações sobre as perguntas. Palpites tais que foram acatados e
utilizados nos momentos com as outras unidades. Recebi preenchidos vinte e três
questionários e 4 desenhos construídos pelos grupos.
Com o intervalo de 1 semana, realizamos a coleta no CSF B que contou
com a presença de dezenove participantes, dividindo-se em 2 grupos de 7
participantes e 1 grupo de 5, totalizando 3 grupos. Foi possível observar a
expressividade de alguns profissionais que não se interessaram em envolver-se com
a proposta, o que me levou a esclarecer mais fortemente sobre a liberdade de
participação no estudo. Porém, ao iniciar a acolhida com a proposta do relaxamento
e reflexão, tal situação foi contornada. Tive um retorno dos dezenove questionários
respondidos e 3 desenhos. Nesta aplicação, corrigi as falhas cometidas no momento
da primeira coleta, obtendo excelente êxito na condução do mesmo.
Somente 3 semanas depois, foi possível realizar a coleta no CSF C,
devido as dificuldades de agenda já mencionadas anteriormente. Participaram da
roda do dia dezessete pessoas, que constituíram 3 grupos, sendo 2 grupos de 6
participantes e 1 de 5. Também configurou-se em um momento de grande
importância, com o envolvimento e participação de todos. Ressalto o fato de aqui, ao
final da roda, alguns participantes agradeceram a oportunidade de permiti-los refletir
sobre o método, o que trará para eles a visão de maior valorização deste espaço.
Recolhi dezessete questionários respondidos e 3 desenhos produzidos pelos
grupos.
4.7 Análise dos resultados
Ao principiar o processo de análise dos resultados obtidos a partir da
coleta de dados, partimos da caracterização da amostra na qual consideramos as
variáveis: idade, sexo, escolaridade, tempo de inserção na equipe e categoria
profissional, por serem estas de maior relevância e significado para os resultados do
estudo. Dividimos as informações em dois quadros respeitando a similaridade entre
eles: o quadro 1 contendo os dados das informações mais pessoais (idade, sexo e
52
escolaridade), enquanto o quadro 2 traz informações mais profissionais e
relacionadas à equipe (categoria profissional e tempo de inserção na equipe). Tais
informações foram obtidas das respostas do instrumento para apreensão dos
sentidos (APENDICE B) e, somente a informação relacionada a categoria
profissional foi colhida do instrumento para apreensão dos significados (APENDICE
A).
Quanto aos dados que se referem à idade dos participantes, que variou
de vinte e dois a cinquenta e sete anos, foram agrupados em 5 classes a partir da
primeira idade, respeitando o intervalo de 8 anos entre estas. Procuramos manter tal
intervalo com o intuito de definirmos equivalência entre um agrupamento e outro, a
fim de conferir maior isonomia à comparação. Dentre o total, 2 dos participantes não
responderam a este quesito. Os dados que representam o sexo dos participantes
foram divididos nas categorias masculina e feminina. Para análise do grau de
escolaridade, nos utilizamos do que rege a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, quando define que a educação escolar compõe-se da educação básica
formada pelo ensino fundamental e médio, enquanto que a educação superior não
se fragmenta (BRASIL, 1996), porém subdividimos ainda com os termos completo
ou incompleto, visto que este foi um aspecto bem presente nas respostas dos
participantes. Quanto a categoria Especialização, apesar de, para esta mesma lei
dever estar inserida na categoria de ensino superior, achamos relevante destacar
visto que foi um dado citado nas respostas que diferencia-se dos demais. Nesta
categoria, apenas 1 profissional não respondeu a este quesito.
Utilizamos como referencial para a análise do conteúdo produzido
coletivamente e individualmente a análise do subtexto, do sentido e do motivo
utilizados por Bomfim (2010). Vygotsky (1993) refere-se à leitura e a análise de
subtexto não apenas como procedimentos metodológicos de análise, mas como
conceitos fundamentais presentes na teoria da relação entre pensamento e
linguagem, por considerar que, por ser o pensamento sempre mediado pelo
significado e não imediatamente expresso por palavras, sempre está presente na
fala do sujeito, um pensamento oculto e, no texto, um subtexto.
Descreveremos a seguir o percurso utilizado, adaptado conforme
necessidades do estudo atual.
53
4.7.1 Análise do conteúdo para a construção de mapas afetivos
Bomfim (2003) sugere as seguintes etapas principais para análise dos
mapas afetivos, as quais adaptamos de acordo com as necessidades do estudo.
Embora, originalmente, o método utilize a Escala de Likert, não a utilizamos, por
entendermos que intentamos aqui, acessar os sentidos e significados que se
correlacionam com o espaço/lugar que a Roda ocupa, e não apenas como espaço
físico no qual ela acontece.
A) Pré-análise
Digitação dos questionários em dados brutos para posterior leitura
sucessiva e exaustiva dos mesmos. Fase esta que requereu bastante atenção,
especialmente, pela necessidade de transcrição das falas trazidas durante as
explicações dos desenhos.
B) Codificação
Transformação dos dados brutos, em úteis, momento em que, sempre
tendo em vistas o referencial por onde embasamos o estudo, construímos quadros e
tabelas que trouxessem de forma clara e organizada os resultados colhidos a partir
dos instrumentos utilizados na coleta de dados.
a) Fragmentação do texto
Unidades de registro: Aqui obtivemos, do quantitativo de grupos
formados (10), todos os desenhos com as devidas explicações e palavras sínteses,
devolvidos adequadamente, obtendo assim os 10 desenhos construídos pelos
grupos. Quanto aos instrumentos individuais, os respondentes, que totalizaram em
cinquenta e nove, devolveram todos, portanto, 4 destes encontravam-se incompletos
pela falta de resposta a uma ou duas das perguntas, não mais que isso.
Após a fragmentação, passamos para catalogação dos dados na qual se
buscou organizar o texto de forma a extrair das respostas os subtextos que
54
expressem os sentidos e significados atribuídos a Roda como estratégias de EPS,
de forma mais nítida.
b) Catalogação das unidades
No item onde analisamos as Significações Visuais da Roda, nos
ancoramos na catalogação dos tipos de desenho que apresentamos na análise, de
forma descritiva, caracterizando-os quanto aos seguintes aspectos:
QUANTO A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO
ESTRUTURAL – Mostrou o espaço físico do local onde acontece a Roda,
profissionais e seus respectivos locais de costume;
REPRESENTATIVO – Não mencionou o espaço físico e sim um desenho
representativo da Roda.
QUANTO A EXPRESSIVIDADE DE SENTIMENTOS
EXPRESSIVO - Expressam, através de palavras ou desenhos,
sentimentos que vivenciam nas rodas;
NÃO EXPRESSIVO - Não expressam, através de palavras ou desenhos,
sentimentos que vivenciam nas rodas.
QUANTO A IDENTIFICAÇÃO DE ELEMENTOS DE EP NO DESENHO
REPRESENTATIVO – Utiliza palavras ou desenhos que se relacionem
com a Educação Permanente;
AUSENTE - Não expressam, através de palavras ou desenhos que se
relacionem com a Educação Permanente.
Para Vygotsky (2001) apesar de o significado e o sentido se expressarem
na linguagem, não se reduzem nela. Ancorado nesta tese, Bomfim (2010), ao propor
a metodologia que objetiva captar o significado da cidade para os indivíduos
pesquisados, valoriza os desenhos como uma estratégia de aquecimento para a
expressão de emoções que irá ser traduzida, enquanto dimensão afetiva, na escrita.
Assim, ao concluirmos a etapa de identificação dos tipos de desenhos
trazidos pelos profissionais, analisamos as explicações que os grupos atribuíram aos
mesmos e buscamos identificar aqui os elementos de EPS citados. A partir das
falas, fomos especificando as que apresentavam similaridades e agrupando-as.
55
Sobre isso, Vigostky (2010) ainda diz que, na busca de entender os
discursos, torna-se incompleta a compreensão se nos voltarmos apenas para as
palavras, fazendo-se necessário sempre entender os pensamentos, o que não se
faz suficiente, necessitando ainda compreender o motivo que o leva a emiti-lo.
Nesta busca, nos conduzimos para a construção das Significações da
Roda a partir das qualidades e sentimentos expressos pelos participantes.
Produzimos um quadro para cada CSF trazendo as palavras sínteses que foram
citadas pelos grupos no passo 3, catalogando-as entre sentimentos e qualidades,
além de destacar a primeira palavra citada, visto que o grupo foi orientado a
escrevê-las conforme a ordem de importância. Bomfim (2010) propõe que a
construção da metáfora sintetiza-se a partir da relação aglutinadora entre
sentimentos e qualidades, o que nos faz analisar esta como uma etapa de
planificação para as seguintes.
Ao avaliarmos o constructo acima podemos identificar que as primeiras
palavras citadas pelos grupos por ordem de importância remetem-nos aos
componentes da Roda: administrativo, político, pedagógico e terapêutico, o que nos
conduziu a categorizamos as expressões trazidas pelos grupos, dimensionando
cada componente definido pelo método, a fim de identificá-los e classificá-los
ancorados na representação da totalidade dos sentimentos e qualidades
encontrados nas unidades de registro que inferiram significados a partir dos
objetivos investigados. Apresentamos, também, a categoria que agrupa as
qualidades e sentimentos que se referem às fragilidades deste espaço.
Catalogamos em outro quadro (QUADRO 7), agora não mais por CSF,
mas pelas categorias já definidas (administrativa, política, pedagógica, terapêutica e
fragilidade), todos os sentimentos e qualidades relacionados a cada categoria,
considerando as presenças e frequências de aparecimento.
Na categoria Pedagógica encontramos as seguintes qualidades:
Educação permanente (1), Pedagógica (1), Educativa (1), Discutir (1), Compartilhar
(3), Informação (1), Conhecimento (1), Ensino (1), que, somados, totalizam 10;
seguidas dos sentimentos de: Aprendizado/aprendizagem (6), Troca de
saberes/conhecimento (2); Alinhamento (1), totalizando 9 qualidades. Ao somarmos,
encontramos dezenove respostas, que representaram a maioria das respostas
dadas (32%).
56
Na categoria Terapêutica foram descritas as qualidades: Terapêutica (2),
Acolhimento (1) e Momento de aproximação (1) que, somados, totalizam 4; além dos
sentimentos de União (5), Cuidado (2), Descontração (1), Motivação (1), Integração
(2), Alegria (1), totalizando doze qualidades. Ao somarmos, encontramos dezesseis
respostas, que representam 27% das respostas.
Na terceira categoria por ordem de aparecimento e frequência, a
Administrativa, foram descritas as qualidades: Planejamento (6), Administrativa (1),
Realizar (1), Metas (1), Evolução (1), Rotina (1) e Resolução (1) que, somados,
totalizam 12 ; e os sentimentos de Compromisso (1) e Continuidade (1) que somam
2 qualidades. Ao total, encontramos quatorze respostas, sendo um percentual de
24%.
A Categoria Política foi caraterizada pelas seguintes qualidades: Co-
participação (1), Enfrentamento das dificuldades (1), Reflexiva (1), Trabalho em
equipe (1) e Fortalecimento (1), somando 5; e os sentimentos de: Desabafo (1),
Igualdade (2) e Parcerias (1) que somam 4. Totalizam juntas, sentimentos e
qualidades, 9 palavras, que representam 15% do total.
A categoria menos citada foi a Fragilidade, representada pela qualidade:
cobrança (1) e pelo único sentimento de dispersão (1), representando 3% apenas do
total de respostas.
A partir de, então, fomos relacionando as categorias com algumas falas e
com a literatura pertinente, o que nos permitiu explicitar os significados que a Roda
tem para os Profissionais da ESF enquanto Estratégia de EPS.
C) Categorização
Antes de avançarmos para a construção dos Mapas Afetivos,
propriamente dita, construímos, para cada categoria definida, um quadro
apresentando as imagens trazidas como metáfora pelos profissionais, de forma a
mencionar todas as citadas, visto que, trazemos para o corpo do trabalho, apenas as
que apresentam características peculiares e diferenciadas, com o intuito de não nos
tornarmos redundantes nas discussões.
Seguimos, então, transcrevendo as respostas dadas pelos profissionais,
aos instrumentos aplicados individualmente, classificando-as e condensando-as no
57
quadro proposto por Bomfim (2010) que apresenta as dimensões de identificação do
respondente; significado; qualidade; sentimento; metáfora e sentido.
Quadro 2 – Síntese do processo de categorização voltado para a elaboração do mapa afetivo Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°:
Sexo:
Idade:
Escolaridade:
Função:
Tempo que
trabalha na
equipe:
Explicação do
respondente
sobre o que
significa pra ele
a Roda
enquanto
Estratégia de
EPS - Questão
1 do
Instrumento
individual .
Atributos do
espaço da Roda
enquanto
estratégia de
EPS extraídos
das questões 2
e 4 .
Expressão
afetiva do
respondente ao
espaço da Roda
enquanto
estratégia de
EPS nas rodas
– Resposta a
questão 3
Comparação do
espaço de EP
das rodas com
algo pelo
respondente,
que tem como
função a
elaboração de
metáforas –
Resposta a
questão 5
Interpretação
dada pelo
investigador à
articulação de
sentidos entre
as metáforas e
as outras
dimensões
atribuídas pelo
respondente
(qualidade e
sentimentos).
Fonte: Bomfim, 2010.
A última dimensão do quadro (Sentido) foi construída partindo da
explicação ou definição da imagem apontada pelo respondente a partir da metáfora,
de forma a articular a imagem da metáfora com o sentimento e a qualidade atribuída
pelo respondente ao desenho.
Denomina-se, portanto, a esse processo de articulação dos sentidos, de
construção de Mapas Afetivos e, a partir deste é que se formam as imagens a serem
atribuídas à roda como espaço de EP que foram classificadas a partir da escolha de
categorias por saturação, à medida que, se repetiram e que serviram para a
ordenação do aparecimento destas categorias.
4.8 Princípios éticos
No que diz respeito aos procedimentos éticos, a pesquisa atendeu à
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que normatiza os
aspectos éticos relativos à realização de pesquisas envolvendo seres humanos.
Buscou-se a permissão da Secretaria da Saúde do Município de Sobral-
CE, por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde (NEPS), também anuído
pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UVA, com parecer de numero 0148/2015, em 8
58
de dezembro de 2015 e pela Comissão Científica, em 2 de março do mesmo ano,
com parecer de número 52246015.6.0000.5053.
Considerando que, todo o progresso e seu avanço devem, sempre,
respeitar a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano a participação da
pesquisa será de livre escolha dos sujeitos assim como a liberdade para desistir
dessa participação em qualquer estágio que ela se encontre sem trazer prejuízos ou
ônus aos participantes. Foi garantido, também, a retirada de toda e qualquer
informação ou ato que possa ferir a dignidade ou expor indevidamente os sujeitos da
pesquisa, sempre que a garantia do anonimato não for suficiente para tal.
Em respeito aos princípios de respeito à autonomia dos sujeitos e da
beneficência e não maleficência oferecemos o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APENDICE D), documento no qual é explicitado o consentimento livre e
esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo
conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil
entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se
propõe participar.
Pretendeu-se com isso respeitar as questões éticas que perpassem todos
os processos desta pesquisa, assegurando a preservação dos dados, a
confidencialidade e o anonimato dos indivíduos pesquisados.
59
5 IMAGENS AFETIVAS DA RODA ENQUANTO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE PARA OS PROFISSIONAIS DA ESF DE SOBRAL
5.1 Caracterização dos participantes deste estudo
Os participantes deste estudo, profissionais da ESF, residentes e internos
do Sistema Saúde Escola, correspondem aqueles que desenvolvem seus processos
de trabalho e vivências de aprendizagem, nos CSFs Alto da Brasília, Tamarindo e
Novo Recanto e que participaram das rodas no momento da coleta de dados.
Destes, 50 (85%) compõem as equipes mínimas, equipes de saúde bucal e NASF,
enquanto que 9 (15%) são residentes e internos , que se inserem de forma orgânica
nas eSF no Sistema de Saúde considerado como um Saúde Escola, totalizando 59
participantes, os quais se dividiram em 10 grupos: 4 no Alto da Brasília, 3 no
Tamarindo e 3 no Novo Recanto; os quais denominaremos nesta pesquisa de
Centro de Saúde da Família A, B e C, não correspondendo, necessariamente, a
sequências dos CSF tipificados.
Para fins de caracterização foram consideradas as variáveis: idade, sexo,
escolaridade, tempo de inserção na equipe e categoria profissional, conforme
Tabelas 1 e 2.
Tabela 1- Distribuição dos participantes, segundo idade, sexo e escolaridade. Sobral-Ce, 2016. ( Continua)
VARIÁVEL/CSF A B C TOTAL
N° % N° % N° % N° %
IDADE
22 a 30 10 3% 7 38% 6 35% 23 39%
31 a 39 2 9% 4 21% 6 35% 12 20%
40 a 48 8 35% 5 26% 4 24% 17 29%
49 a 57 3 13% 1 5% 1 6% 5 8%
Não respondeu 2 10% 2 4%
SEXO
Feminino 21 91% 16 84% 13 76% 50 85%
Masculino 2 9% 3 16% 4 24% 9 15%
ESCOLARIDADE
Ensino fundamental
incompleto - - 1 5% 1 6% 2 3%
60
Tabela 1- Distribuição dos participantes, segundo idade, sexo e escolaridade. Sobral-Ce, 2016. ( Conclusão)
Ensino fundamental
completo
- - - - 1 6% 1 2%
Ensino médio
incompleto - - - - - - -
Ensino médio
completo 9 39% 7 37% 8 47% 24 41%
Ensino superior
incompleto 1 4% 2 11% 2 11% 5 8%
Ensino superior
completo 11 49% 7 37% 3 19% 21 36%
Especialização 1 4% 1 5%
2 3%
Não respondeu 1 4% 1 5% 2 11% 4 7%
TOTAL 23 100% 19 100% 17 100% 59 100%
Fonte: Primária.
Quanto a idade dos participantes, esta variou entre 22 a 57 anos,
agrupadas em 4 classes, a partir da primeira idade, com intervalo fechado de 8 em
8 anos. A maioria encontra-se dentro da faixa etária de 22 a 30 anos, o que
corresponde a 35% do total, demonstrando que há uma predominância de adultos
jovens. Estudo realizado por Nunes et al ( 2015) sobre Perfil dos Profissionais das
Equipes de Saúde da Família em municípios de pequeno porte de uma Regional de
Saúde do Paraná, identificou que 40% do total de profissionais apresentavam idade
inferior a 30 anos. Tomasi et al (2008) reforça também, que os trabalhadores da ESF
são significativamente mais jovens que os vinculados ao modelo tradicional,
concentrando-se nesta mesma categoria de idade.
No que concerne a variável sexo, identifica-se que o sexo feminino
prevalece, correspondendo a 85%. Este resultado se assemelha, ao que foi
encontrado, por Assis et al (2010), que afirma que a proporção de mulheres
trabalhadoras na ESF é superior a quantidade de homens, chegando a 93,3%.
Sobre isso, observa-se que a participação das mulheres no mercado de trabalho em
saúde vem se expandindo e sendo estudada nas últimas décadas, visto que se
busca compreender melhor a especificidade da saúde, que abriga um contingente
expressivo de mulheres em seu quadro, que vem representando cerca de 70% de
toda força de trabalho em saúde (MACHADO; OLIVEIRA; MOYSES, 2011).
61
Ao analisar o grau de escolaridade, sobressaem os profissionais que
informam ter concluído o Ensino Médio completo (41%), seguido dos que concluíram
ensino superior (36%). Os que declaram ter Ensino superior incompleto somam 8%,
enquanto 3% tem Ensino fundamental incompleto, o que se equipara aos que
declaram ter Especialização (3%). Além desses, 7% não responderam a este
quesito.
Direcionamos a análise desta variável com o perfil de escolaridade
requerido para os profissionais que integram as eSF. Assim, este resultado é
condizente com o que é preconizado pela Política Nacional da Atenção Básica
(PNAB), que define que a eSF seja composta por 03 categorias profissionais de
nível superior (enfermeiro, médico e odontólogo), ainda, acrescido dos profissionais
do NASF, somando, em média, oito profissionais, o que corresponde a 36% dos
profissionais na equipe. Na composição de profissionais com nível técnico que
requer uma formação de ensino médio temos o indicativo de 14 profissionais, nas
categorias de: Agente Comunitário de Saúde (ACS), Auxiliar ou técnico de
enfermagem e auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal correspondendo a 63%.
(BRASIL, 2012).
As categorias profissionais mais presentes, conforme mostra a Tabela 2,
são as de nível técnico, sendo o ACS o que representa um maior quantitativo (31%),
seguida dos profissionais de enfermagem representados por 22% destes, entre
técnicos e auxiliares de enfermagem, e enfermeiros. Dado que vai de encontro aos
resultados da pesquisa realizada por Assis et al (2010), a qual identificou que 56,7%
dos profissionais de saúde que atuam na ESF, são Agentes Comunitários de Saúde,
coadunando com o que traz a PNAB (BRASIL, 2012). Direcionando a análise para o
quantitativo de profissionais de enfermagem identificamos que os resultados se
comparam com o que foi encontrado por Machado; Oliveira; Moyses (2011), quando
identificou que, nas últimas duas décadas, a contratação de profissionais
enfermeiros para o mercado de saúde sofreu um acréscimo de 179,8%, enquanto
que a contratação de técnicos e auxiliares de enfermagem aumentou em 110,2%.
62
Tabela 2- Distribuição dos participantes, segundo Categoria Profissional e Tempo de inserção na equipe. Sobral-Ce, 2016. (Continua)
VARIÁVEL/CSF A B C TOTAL
N % N % N % N %
CATEGORIA PROFISSIONAL
Atendente de Saúde
Bucal
2 9% - - 1 6% 3 5%
Agente Comunitário
de Saúde
8 35% 6 32% 4 23% 18 31%
Assistente de
administração
1 4% 1 5% 1 6% 3 5%
Atendente de farmácia - - 1 5% - - 1 2%
Auxiliar de
administração
- - - - 2 12% 2 3%
Auxiliar de
enfermagem
2 9% - - 1 6% 3 5%
Enfermeiro 1 4% 2 13% 3 20% 6 11%
Médico - - - - - - - -
Odontólogo - - 1 5% 1 6% 2 3%
Auxiliar de Serviços
Gerais
- - - - 2 12% 2 3%
Técnico de
enfermagem
- - 2 11% 2 12% 4 7%
Vigilante - - - - - - - -
Educador Físico
(Residente)
- - 1 5% - - 1 2%
Fisioterapeuta
(Residente)
1 4% 1 5% - - 2 3%
Fonoaudiólogo
(Residente)
- - 1 5% - - 1 2%
Nutrição (Residente) 2 9% - - - - 2 3%
Psicólogo (Residente) 1 4% - - - - 1 2%
Serviço Social
(Residente)
1 4% - - - - 1 2%
Terapeuta
Ocupacional
(Residente)
- - 1 5% - - 1 2%
Psicólogo (NASF) 1 4% - - - - 1 2%
Serviço Social (NASF) 1 4% - - - - 1 2%
Internos de enf. 1 4% 1 5% - - 2 3%
63
Tabela 2 - Distribuição dos participantes, segundo Categoria Profissional e Tempo de inserção na equipe. Sobral-Ce, 2016. (Conclusão)
TEMPO DE INSERÇÃO NA EQUIPE
0 a 2 11 48% 8 42% 9 53% 28 48%
2 a 10 4 17% 6 31% 6 35% 16 29%
Maior que 10 6 26% 3 16% 1 6% 10 17%
NÃO RESPONDEU 2 9% 2 11% 1 6% 5 8%
TOTAL 23
19
17
59
Fonte: primária.
Além das categorias profissionais estabelecidas pela PNAB, para o bom
desenvolvimento dos processos de trabalho, os Centos de Saúde da Família em
Sobral, contam, também, com o serviço de outras categorias que são: Agente
Administrativo, Atendente de Farmácia, Auxiliar de serviços gerais e vigilantes.
Dentre estes, não esteve presente em nenhuma Roda o vigilante, ausência
justificada por uma das equipes pela necessidade de controlar e orientar a
população que ainda busca os serviços da unidade, durante o turno da reunião, o
que, em parte, desvirtua o objetivo deste espaço de Roda por não permitir que esse
profissional vivencie a construção de conhecimento e de contratos, visto que o
mesmo é peça chave na transmissão de informações e orientações aos usuários,
por ser o profissional que primeiro os acolhe na chegada da UBS. Quanto a
ausência do profissional médico, nenhuma das equipes fez referencia a tal situação
porém, isto, também, se faz ver como um aspecto que fragiliza os processos de
aprendizagem por este profissional não vivenciar a construção dos projetos
pactuados, não se sentido corresponsável pelos mesmos.
Ainda como uma especificidade do Sistema de Saúde de Sobral, vimos a
figura do gerente, que é um profissional selecionado, responsável pela dinâmica e
processos administrativos do CSF. Os dois gerentes presentes durante a pesquisa,
são da categoria profissional de enfermagem, apesar de, dentro do cenário do
município, em outras unidades de saúde, outras categorias como educador físico,
fisioterapeuta, entre outros, assumam essa função estratégica.
Quanto ao tempo de inserção dos participantes da pesquisa nas equipes
temos que 48% a integram num período inferior a 2 anos. Considerando a
prerrogativa do município se constituir como um sistema de saúde escola, os
profissionais residentes e internos de enfermagem estão contidos neste percentual.
64
Entendemos ser necessário a participação deste na pesquisa, visto que, se inserem
de forma orgânica no serviço e consequentemente participam diretamente dos
processos de trabalho. Sendo assim, teremos sempre um quantitativo expressivo de
profissionais que se encontram há menos de 2 anos inseridos na equipe, uma vez
que o curso da RMSF ocorre em um período de 24 meses, conforme Portaria 2.117,
de 3 de novembro de 2005, (Brasil, 2005) e os internos de enfermagem, um período
de 560 horas, distribuídas em 4 meses de acordo com Manual de Internato do Curso
de Enfermagem da Universidade Estadual Vale da Acaraú (UVA, 2014).
Ainda, assim, é possível identificar a predominância de profissionais com
vínculos recentes. Para Nunes et al (2015), em estudo realizado sobre a atenção
básica, 70% dos profissionais da ESF estavam atuando a menos de cinco anos na
ESF.
Alguns fatores têm sido registrados como responsáveis pela alta
rotatividade, a exemplo da precarização do trabalho com vínculos frágeis, bem como
baixa oportunidade de progressão profissional, exigência de carga horária integral,
entre outras (MENDONÇA et al., 2010). O que gera, além do aumento de custos
devido a necessidade de reposição de pessoal, a insatisfação dos outros
profissionais no ambiente de trabalho, dificultando o atendimento ao usuário que
sofre interrupções e descontinuidade do cuidado (SCALCO et al., 2010).
Registra-se que, este estudo, não investigou, por não ser seu objeto, a
rotatividade dos profissionais que integram as eSF em Sobral.
Após conhecermos as principais características dos participantes,
seguimos a etapa de catalogação das unidades onde construímos, a partir da
explicação dos profissionais quanto ao desenho, o significado que os mesmos
atribuem ao espaço da roda.
5.2 Significado(s) da roda na ESF
Dada a dificuldade de acessar sentimentos, os desenhos construídos
pelos grupos nos trazem a possibilidade de avaliar afetos e emoções ligados a Roda
como estratégia de EP, a partir do simbolismo do espaço construído por cada equipe
(BOMFIM, 2010), conforme já mencionado nos procedimentos metodológicos.
65
Neste sentido, seguiremos os seguintes passos interpretativos: descrição
do desenho considerando o espaço físico, a expressividade dos sentimentos e a
relação da roda com a educação permanente em saúde.
5.2.1 Significações visuais da roda
Quadro 3 - Desenhos da Roda enquanto Estratégia de EPS construídos pelos Profissionais do CSF A. Sobral-Ce, 2016
QUADRO 4- Desenhos da Roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos profissionais do CSF B. Sobral-Ce, 2016
66
QUADRO 5- Desenhos da Roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos profissionais do CSF C. Sobral-Ce, 2016.
Os desenhos realizados pelos participantes da Roda dos CSF A1, A2, A3,
A4 e B1 nos permitem inferir que há uma similaridade na representação visual deste
espaço. As imagens exprimem um simbolismo da Roda caracterizado pela
circularidade e que nesta, os participantes se colocam como elo ao juntarem as
mãos, o que nos leva a confirmar o que diz Campos (2005) quando aborda a
importancia das pessoas terem a oportunidade de se olharem, com a tarefa, não
apenas de produzir coisas, mas de constituição de pessoas e de sua rede de
relações.
Já os participantes dos grupos B1 e B2, representam o espaço circular
formando uma interligação contínua que traz em seu interior, células e elos que
unidos, formam o círculo em sua totalidade, corroborando também com o que nos
diz Campos et al (2014) quando fala que o método Paidéia busca ampliar a
capacidade das pessoas de compreender a si mesmas, aos outros e ao contexto, o
que traz como consequência a necessidade de criação de vínculos entre os sujeitos
fazendo-se necessário que se análise o desejo e interesse próprios, ao tempo em
que se considere o desejo e interesse do outro, bem como toda a dinâmica histórica
e social.
67
Nos desenhos dos grupos B3, C2 e C3, os participantes expressaram o
espaço físico onde ocorre semanalmente a Roda e neste a delimitação do local que
cada profissional “ocupa” - local que geralmente senta - delimitando a apropriação
do espaço onde vivenciam a Roda. Bonfim apud Prochansky (2010) define
apropriação como um sentimento de pertencimento do indivíduo ao seu lugar, a
ponto de despertar nele o sentimento de apego, defesa e cuidado. Como
consequência, torna-se capaz de gerar afetividade, por ser este cenário palco de
suas experiências de afetos e emoções, mediando às construções e descobertas
(BONFIM, 2010). No entanto, refletimos que tal apropriação de espaço pode
representar demarcação de poder, o que segue em contramão ao que se entende
da Roda enquanto circularidade.
Campos 2006 reflete, ainda que, por ser co-gestão definida como espaço
de compartilhamento de poderes onde a cidadania e a democracia constituem
ambiente favorável ao desenvolvimento das pessoas, tal disputa pelo poder torna-se
essencial à esta democracia, desde que se configure como um meio para um bom
governo e não um fim em si mesmo.
É notório, entretanto, a expressão da Roda como espaço vivo
sobrepondo-se a concretude do espaço físico. Campos (2006) reforça que, para que
o método Paidéia possa ser implementado, não exige espaços pedagógicos ou
terapêuticos especiais, dependendo muito mais da constituição de espaços de
compartilhamento de poderes, o que define-se como co-gestão. Ao intérprete fica a
leitura que o significado da roda se expressa pelo que ela é, ou seja, pelo vivido e
não pela estrutura física na qual se instala.
As palavras que permeiam as imagens expressam uma unidade de
significações entre os componentes das equipes, ao referirem palavras sinônimas ou
afins, a exemplo de união, integração, parcerias; mas, ao mesmo tempo, denotam o
lugar da singularidade, do particular na totalidade. Tal configuração nos conduz a
inferência do espaço da roda enquanto espaço de expressão da autonomia do
pensar/interpretar dos participantes. Para Campos (2006) esse espaço assegura,
tanto ao indivíduo como a coletividade, a possibilidade de ampliarem a autonomia,
partindo da liberdade da expressividade de interesses, desejos e valores particulares
ou singulares. Não significando autonomia como descompromisso ou independência
absoluta, ao contrário, implicando na capacidade de se firmarem contratos e
compromissos entre atores sociais envolvidos, criando assim uma rede de
68
dependências que partem da construção de vínculos, considerando o mundo que
intervêm sobre eles (CAMPOS, 2006).
O grupo B3 express, simbolicamente, por meio de nuvens diferentes
expressões apresentadas pelos participantes, ao se colocarem em Roda
demonstrando que o método da Roda permite que os sujeitos impliquem-se com
projetos de interesse ou tarefa comum de forma a valorizar os saberes, mesmo dos
que, institucionalmente, tenham menos poder, reconhecendo que todos são capazes
de trazer para esse espaço coletivo modos de se fazer avançar os próprios projetos
e articulá-los aos do agrupamento, potencializando as soluções para contextos
vistos como desfavoráveis (CAMPOS, 2005).
Considerando que o objeto de análise deste estudo é a roda enquanto
estratégia de EPS, reconduzimos nossas lentes às imagens (visuais e textuais) na
busca de capturar as significações da Equipe acerca desta assertiva, qual seja a
roda enquanto espaço de aprendizagem. Num primeiro relance já é possível
identificarmos a expressão “Educação Permanente”. Seguimos a busca e
identificamos, sem dificuldade, outras palavras que se associam diretamente a esta,
tais como: ensino, nivelamento, aprendizagem, educação em saúde, ideias,
compartilhamento, informação, conhecimento (trocas), qualificação e alinhamento.
No grupo B1 os participantes citam palavras como cogestão e
coparticipação, termos que encontram-se relacionados a EPS por esta propor
espaços em que se reúnam os coletivos com o intuito de discutirem a reformulação
da estrutura e do processo produtivo em si, fazendo do sujeito um ator ativo das
cenas de formação e trabalho (CECCIM, 2005). Campos et al (2014) vem fortalecer
esta afirmativa quando conceitua cogestão como “exercício compartilhado do
governo de um programa, serviço, sistema ou política” (p.986) enquanto que
coparticipação implica no envolvimento de sujeitos com distintos interesses e
inserções sociais em todas as etapas do processo de gestão, integrados em sistema
de gestão participativa (CAMPOS et al., 2014).
Documentos institucionais do Ministério da Saúde conceituam educação
permanente como processo de educação dos trabalhadores baseado na
aprendizagem significativa, onde o aprender e o ensinar acontecem no cotidiano das
pessoas e das organizações. Propõe que parta da problematização dos processos
de trabalho, bem como das necessidades de saúde das pessoas e da população,
levando em conta as necessidades de formação dos trabalhadores, e sua bagagem
69
de conhecimentos e experiências (BRASIL, 2009). Situação que nos remete a
valorizar a expressividade dos participantes quando trazem, na construção de suas
imagens, as expressões relativas à Educação Permanente, reforçando o quanto a
Roda se constitui como espaço propício a esse processo.
5.2.2 Significações da roda a partir das explicações dos desenhos
Apresentamos agora a significação que os grupos atribuem a Roda
enquanto estratégia de EPS, a partir da explicação que eles trazem dos desenhos.
Quando solicitado que fosse externada, através da fala, qual significado o
desenho teve para o grupo, observou-se que os participantes veem o espaço da
Roda como um momento de construção coletiva, a exemplo dos trechos discursivos
que segue:
“[...] Aí a gente trouxe a ciranda como uma representação desse momento de construção coletiva do conhecimento...” A1 “[...] Toda a equipe aprende junto e de forma igual, formando um momento de construção coletiva, que tem influência direta na conduta dos profissionais.” B1
Esse processo de construção do conhecimento a partir do
compartilhamento da prática e da problematização dos processos de trabalho
proporciona a atualização de saberes na produção dos sentidos no agir (MERHY,
2015) caracterizando-se assim como um processo de aprendizagem significativa
que desemboca não somente na atualização dos aportes teórico-metodológicos,
mais ainda em uma necessária construção de relações e processos que vão do
interior das equipes às práticas organizacionais.
Sobre isso, Campos (2005) reforça que o Método da Roda, por ser um
método de apoio a co-gestão de processos de produção, amplia a capacidade de
direção dos grupos, aumentando assim sua capacidade de analisar e operar sobre a
práxis. O que conferimos nas falas:
“Momento... de trocas de conhecimentos e a gente passa conhecer mais o trabalho, o nosso serviço, a nossa organização... a gente planeja pra organizar. O que mais? Proposição... É a questão de trazer proposta, sugestão, dar ideias...” A1 “Trabalhamos numa equipe que é como um dominó: se um não faz o seu trabalho direito, todos caem e aí fica muito ruim. Também digo que a roda é
70
um desafio de procurar resolver os problemas que aparecem no nosso trabalho, mas é bom que todos resolvem juntos” B2 “[...] porque durante o dia a gente só se ver de relâmpago né, só pra tratar de problemas da área ou coisas parecidas e na roda... é que agente interage...” C2
Nas falas observamos a importância do encontro que o espaço da Roda
traz para que se oportunize a reflexão a partir da prática de si e do outro, visto que,
no cotidiano, esse encontro se faz sem o tempo necessário de se permitir afetar. Se
fazendo necessária a implementação desses espaços de análise e reflexão da
prática, que tomem o cotidiano como lugar aberto a revisão contínua, que gere
desconforto e produza subjetividade (CECIM, 2005). O fato de se desinstalar gera
reflexões capazes de co-produção de sujeitos, que constitui-se como um dos
conceitos de sustentação do Método da Roda. O que podemos atestar nos discursos
dos grupos:
“A Roda é um momento de aprendizagem e de ensino... de integração... onde todo mundo fica na mesma igualdade, todo mundo tem direito de falar... É um momento de união e de fortalecimento de conhecimento.”A2 “O desenho demonstra um circulo onde todo mundo pode se olhar e ficam todos iguais, independente da profissão. Todos podem falar e participarem para articular as estratégias e melhorar o nosso trabalho, no dia a dia. Mesmo quando tem as opiniões diferentes...”B1 “[...] é um espaço de evolução enquanto profissional e até mesmo enquanto ser humano [...]” C1 “É um lugar onde tende a haver a igualdade, não tem ninguém nem maior nem menor... todos se ajudando, realmente um apoiando o outro.” C3
O sentimento de igualdade e o direito da fala expressado pelos grupos
denotam a importância deste espaço no fortalecimento de vínculos que geram trocas
de experiências fundamentais para a aprendizagem significativa. Quando a Roda
acontece como um espaço de diálogo, os trabalhadores têm a possibilidade de falar
sobre suas realidades e ouvir de outros trabalhadores suas experiências e vivências,
possibilitando trocas simbólicas e afetivas que o fazem reconstruir o sentido do
trabalho, revertendo o que antes era angústia em proposta (Torres et al, 2012), e
esse é o desafio que a EPS propõe: o aprendizado que precisa fazer sentido, para
operar no campo de ação individual e afetar o coletivo.
71
Portanto, a Roda enquanto espaço terapêutico oportuniza a
aprendizagem, e inferimos das falas dos participantes, o quanto a Roda se coloca
como tal:
“[...] tem também os momentos de cuidado com a gente né, de fazer as terapias, que são show de bola, são massa.” A1 “Aí a gente trouxe a ciranda como uma representação desse momento de construção coletiva do conhecimento [...]” A1 “[...] também um momento de se confraternizar, de cuidar, de se unir né, porque durante o dia a gente só se ver de relâmpago né, só pra tratar de problemas da área ou coisas
parecidas e na roda a gente tem aquela parte da acolhida né, que a gente interage, que a gente brinca, acha graça, manga, enfim, é um momento que ajuda com que a gente interaja melhor do que no dia a dia.” C3
O comparativo da Roda com uma ciranda, trazido pela fala dos
participantes do grupo A1 nos remete à circularidade, à alegria do encontro, às
brincadeiras da infância, principalmente quando nos reportamos às brincadeiras de
roda que, uma vez que exigem o olhar frente a frente, o toque corporal, à exposição,
ajudam a sociabilizar e desinibir, potencializando o senso rítmico e organização
coletiva, sendo também um dos elementos importantes para a integração e o lazer
(Gaspar, 2009), o que possibilita ao profissional sentir-se sujeito ativo no processo
de Educação Permanente, permitindo afetar-se e modificar-se, colocando-se em
permanente produção (CECCIM, 2005).
Os participantes também trazem em suas falas a expressividade de
sentimentos que o momento da Roda possibilita e a influência que este tem sobre a
significação do mesmo.
“[...] A gente quis mostrar aqui no desenho que a roda é uma mistura de sentimentos. Muitos chegam muitas vezes com raiva, tristes, alegres, e isso acaba se misturando e dando esse sentido da roda, a ser esse círculo[...]” A4 “Observando agora, vejo como fizemos o desenho que mostra pequenas células que forma um círculo todo. Assim somos nós, nesse espaço da roda: cada um com seus pensamentos, sentimentos, conhecimentos... e, juntando tudo, fazemos o círculo único.” B1 “Essa nuvenzinha diz que todos nós estamos pensando em alguma coisa diferente pra falar aqui e ensinar e aprender também... Cada um traz um pensamento e um sentimento e, aqui, um aprende com o que o outro traz.” B2
72
Colocar-se em Roda é colocar-se por inteiro, com ideais, afetos, ilusões e
outros sentimentos pertinentes ao ser, ao ponto em que também nos colocamos
sensíveis as afecções do outro em nós. Passa-se a ser, não mais o indivíduo, mas o
coletivo que move a Roda (RUIZ, 2010).
O grupo A3 inicia sua apresentação trazendo um olhar diferente do que
até agora foi aqui apresentado e analisado neste estudo.
“Roda não presta, que é só perda de tempo... Porque todo
mundo vai dizer que é uma maravilha, mas eu digo o que eu escuto.”
Campos (2005) diz que, para que se legitime a existência de outros
agrupamentos, deve-se privilegiar a discordância e a divergência de formulações
alheias, sem, portanto desconsiderá-las. Para ocuparmos o lugar de atores ativos
nos processos de EPS, precisamos muitas vezes, desaprender os padrões de
subjetividade hegemônicos que somos e permitir que os problemas reais nos
afetem, a ponto de nos colocar como sujeitos produtores de subjetividade (MERHY,
2015). Portanto, respeitar e acolher os diferentes olhares impulsiona a gerar
reflexões que levem o processo de trabalho a diferentes movimentos.
Esta fala deve ser considerada. É preciso reconhecer as diferenças de
percepções e buscar reconhecer o que a condiciona. Entretanto, faz-se necessário
registrar que a fala que complementa este discurso apresenta contradições. Para
este mesmo participante, representando o discurso de seu grupo, reconhece a Roda
como um processo que tem como propósito o permitir afetar-se para transformar
palavras em ideias, e ideias em atos de intervenção que produzam mudanças.
“[...] A partir do momento em que se dão as mãos, a gente luta junto e, se eu separar e fizer só uma reta, tem um começo e tem um fim, o círculo ele não tem. A roda é um momento de... continuidade, exatamente porque, a continuidade, a gente nunca termina e está sempre aprendendo coisas novas. Pensar também de não ter começo, meio e fim ... pra se chegar na comunidade. Não ter que ter a visão de estar se rodando no mesmo lugar e não ir pra canto nenhum...quando eu imagino uma roda, eu imagino ela rodando e indo a algum lugar e não rodando em torno de si[..].” A3
Outras falas, também, fortalecem esse sentimento de que a Roda sempre
propõe um processo de continuidade que não se finda em si, mas se coloca em
73
movimento, refletindo nos atos produzidos no cotidiano, o que, para Ceccim (2005),
se retrata como uma característica da Educação Permanente.
“[...] um momento de construção coletiva, que tem influência direta na conduta dos profissionais”. B1 “Porque a gente percebe que, no decorrer da roda... esse espaço... ele vai desaguar ne, na melhoria da qualidade da Estratégia saúde da família, que é o nosso objetivo né que é prestar realmente uma promoção da saúde melhor pra comunidade.” C1 “É onde a gente aprende, planeja ações pra comunidade, pra dentro mesmo do posto...” C3
Pensar na Roda como um processo que não acaba em si, traz significado
a esse espaço. Esse encontro de sujeitos/poderes possibilita que se tome o mundo
do trabalho como escola e traga para o coletivo suas tarefas e conhecimentos,
propiciando a avaliação da própria ação produtiva a fim de se visualizar como uma
esfera de construção de novas possibilidades de fazer (MERHY, FEUERWERKER,
CECCIM, 2006)
5.2.3 Significações da roda a partir das qualidades e sentimentos expressos
pelos participantes
Após a etapa de explicação do desenho, foi solicitado, conforme descrito
na metodologia, que os grupos trouxessem, por ordem de importância, as palavras
sínteses (sentimentos e qualidades) que se relacionassem ao desenho.
QUADRO 6- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF A (Continua)
GRUPO PALAVRAS
SÍNTESES
PRIMEIRA
PALAVRA SENTIMENTOS QUALIDADES
A1
Educação
Permanente
Planejamento
Acolhimento
Troca de
conhecimentos
Enfrentamentos de
dificuldades
Cuidado
Educação
Permanente
Troca de
conhecimentos
Cuidado
Educação
Permanente
Planejamento
Acolhimento
Enfrentamentos
de dificuldades
74
QUADRO 6- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF A (Conclusão)
Fonte: Primária
QUADRO 7- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF B. (Continua)
GRUPO PALAVRAS
SÍNTESES
PRIMEIRA
PALAVRA SENTIMENTOS QUALIDADES
A2
Integração
Aprendizagem
União
Ensino
Fortalecimento
Compartilhamento
Integração
Integração
Aprendizagem
União
Fortalecimento
Compartilhamento
Ensino
A3
Compromisso
Conhecimento
Aprendizagem
Integração
União
Continuidade
Compromisso
Aprendizagem
Integração
União
Compromisso
Conhecimento
Continuidade
A4
Planejamento
Cuidado
Parcerias
Compartilhamento
Alegria
Equipe
Planejamento
Cuidado
Compartilhamento
Alegria
Planejamento
Parcerias
Equipe
B1
Administrativa
Planejada
Terapêutica
Pedagógica
Igualdade
Co-participação
Administrativa Igualdade
Administrativa
Planejada
Terapêutica
Pedagógica
Co-participação
B2
Compartilhar
Planejar
Realizar
Discutir
Desabafar
União
Compartilhar União
Compartilhar
Planejar
Realizar
Discutir
Desabafar
75
QUADRO 7- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF B. (Conclusão)
Fonte: Primária.
QUADRO 8: Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF C
GRUPO PALAVRAS
SÍNTESES
PRIMEIRA
PALAVRA SENTIMENTOS QUALIDADES
Fonte: Primária.
Observamos que, as primeiras palavras citadas pelos grupos por ordem
de importância, remetem-nos aos componentes da Roda: administrativo, político,
pedagógico e terapêutico, por ser este um método de co-gestão de coletivos que
supõe que em todos os espaços institucionais estão em jogo os poderes, os afetos e
os saberes (CAMPOS, 2006).
Ancoradas por tal pressuposto, categorizamos as expressões trazidas
pelos grupos, dimensionando cada componente definido pelo método, a fim de
identificá-los e classificá-los, a partir dos sentimentos e qualidades citados,
evidenciando entre as principais características da Roda o seu potencial enquanto
B3
Aprendizagem
Educativa
Troca de saberes
Reflexiva
Dispersão
Momento de
aproximação
Aprendizagem
Aprendizagem
Troca de saberes
Dispersão
Educativa
Reflexiva
Momento de
aproximação
C1
Aprendizagem
Planejamento
Metas
Evolução
Alinhamento
Terapêutica
Aprendizagem
Aprendizagem
Alinhamento
Planejamento
Metas
Evolução
Terapêutica
C2
Aprendizado
Informação
União (trabalho em
equipe)
Descontração
Cobranças
Rotina
Aprendizado
Aprendizado
União (trabalho
em equipe)
Descontração
Informação
Cobranças
Rotina
C3
União
Planejamento
Motivação
Igualdade
Aprendizado
Resolução
União
União
Motivação
Igualdade
Aprendizado
Planejamento
Resolução
76
educativo, com os respectivos sentimentos que a representam, bem como trazemos
as qualidades e sentimentos que se referem às fragilidades deste espaço.
5.2.4 Imagens da roda conforme significações construídas pelos participantes
Como descrito na metodologia, neste quadro catalogamos por ordem de
frequências e aparecimentos, todos os sentimentos e qualidades descritos pelos
profissionais, conforme categorias já definidas enquanto administrativa, política,
pedagógica, terapêutica e fragilidade.
QUADRO 9- Imagens da Roda conforme sentimentos e qualidades citados pelos profissionais (Continua)
IMAGEM
(Por ordem de
importancia)
Qualidades Sentimentos
Pedagógica
(Q – 10 + S – 9 =
19)
32%
Educação permanente(1)
Pedagógica (1)
Educativa (1)
Discutir (1)
Compartilhar (3)
Informação (1)
Conhecimento (1)
Ensino (1)
Aprendizado/aprendizagem (6)
Troca de saberes/conhecimento
(2)
Alinhamento (1)
Terapêutica
(Q – 4 + S – 12 =
16)
26%
Terapêutica (2)
Acolhimento (1)
Momento de aproximação (1)
União (5)
Cuidado (2)
Descontração (1)
Motivação (1)
Integração (2)
Alegria (1)
Administrativa
(Q – 12 + S – 2 =
14)
24%
Planejamento (6)
Administrativa (1)
Realizar (1)
Metas (1)
Evolução (1)
Rotina (1)
Resolução (1)
Compromisso (1)
Continuidade (1)
77
QUADRO 9 - Imagens da Roda conforme sentimentos e qualidades citados pelos profissionais (Conclusão)
Política
(Q – 5 + S – 4 = 9)
15%
Co-participação (1)
Enfrentamento das dificuldades
(1)
Reflexiva (1)
Trabalho em equipe (1)
Fortalecimento (1)
Desabafo (1)
Igualdade (2)
Parcerias (1)
Fragilidade
(Q – 1 + S – 1 = 2)
3%
Cobranças (1) Dispersão (1)
Fonte: Primária.
A imagem da Roda pedagógica foi a que demonstrou ser a primeira em
grau de importância para equipe, por agregar a este dispositivo as características de
educativa, reflexiva e a oportunidade de discutir, compartilhar saberes e
informações, alinhando-se ao que requerido em processos de educação permanente
que tensiona o vivido nos processos de trabalho e busca transformá-lo para
qualificá-lo. É uma imagem que associada aos sentimentos de aprendizagem,
alinhamento e troca de saberes, considera a relevância do espaço da Roda
enquanto momento em que a equipe volta o olhar para a atualização do
conhecimento técnico a partir da discussão e reflexão da produção do mundo do
cuidado e da prática. Amparemo-nos em Merhy (2015) que reforça a importância de
se ter um olhar ampliado de modo intencional para o mundo do agir do trabalho que
“atualiza o conhecimento e o produz ali na produção dos sentidos no agir” (MERHY,
2015. p.10). Tal aprendizado, não se faz visível no cotidiano de prática da equipe,
que se encontra permanentemente produzindo e reafirmando conhecimentos,
enquanto age tecnologicamente no campo do cuidado (MERHY, 2015).
Campos (1988), ainda, valoriza esse espaço como um “sistema informal
de Educação Continuada do estilo paidéia (educação integral)” por oportunizar, a
partir de oficinas, discussões de casos e elaborações conjuntas de projetos
terapêuticos ou de programas coletivos, o intercambio de saberes (CAMPOS, 1998,
P. 869).
78
A segunda imagem3 encontrada foi a Roda terapêutica por proporcionar
momentos de aproximação, acolhimento e compartilhamento, associando-se aos
sentimentos de união, cuidado, descontração e motivação.
Para Torres et al (2012), a existência de um espaço coletivo como um
lugar de encontro, fortalece e instrumentaliza a equipe para lidar com as
complexidades do cotidiano e do processo de trabalho. Brandão (2006) ver para
além, quando diz que a Roda é um bom encontro onde a afetividade resulta em
alegria capaz de fortalecer a potência de ser em cada indivíduo, potencializando a
construção de vínculos que, para Campos (2006), se manejados adequadamente,
apoia o grupo a enxergar a própria impotência e a descobrir novas maneiras de
enfrentar velhos problemas.
A terceira imagem encontrada é de que a Roda administrativa é
caracterizada por ser um espaço de planejamento, construção de rotinas e metas
para a evolução da equipe e resolução das dificuldades, vinculada aos sentimentos
de continuidade e compromisso. Para se configurar como tal, o método Paideia
propõe que esse espaço coletivo, onde ocorrem encontros entre diferentes sujeitos,
siga etapas do processo de gestão, que são: definição de objetivos e de diretrizes,
diagnóstico, interpretação de informações, tomada de decisão e avaliação de
resultados; integrando-se em sistema de gestão participativa para análise e tomada
de decisões sobre temas importantes (CAMPOS et al., 2014).
A dimensão Política da Roda é definida pelas características de co-
participação, de reflexão e de enfrentamento das dificuldades, e da potencialidade
de se realizarem os projetos idealizados. O sentimento de desabafo, igualdade e
oportunidade de se trabalhar em equipe permeia essa dimensão política. O método
da Roda busca o efeito Paidéia que visa ampliar a capacidade das pessoas de
tomarem decisões, lidarem com conflitos e estabelecerem compromissos e
contratos, a partir da interpretação das informações, da compreensão de si mesmo,
dos outros e do contexto (CAMPOS et al., 2014).
O método objetiva aumentar a capacidade de compreensão e de intervenção das pessoas sobre o mundo e sobre si mesmas, contribuindo para instituir processos de construção de sociedades com grau crescente de democracia e de bem-estar social. (CAMPOS, 2006).
3 Metáfora, processo pelo qual se tornam mais vivas as ideias, emprestando-as uma forma sensível e visível.
(BOMFIM, 2010)
79
A equipe A2 representa esta imagem quando expressa-se sobre a Roda como:
“E a gente finaliza... com essa frase aqui que diz que nenhum de nós é melhor que todos nós juntos. Todos nós, juntos e misturados, fazemos muito melhor.” A2
Como menos importante, de acordo com a ordem, a imagem de Roda
fragilidade, foi apenas citada com a caracterísitica de ser um momento de cobranças
e representada pelo sentimento de dispersão. Como observou Ponte (2013) em seu
trabalho “Do Dispositivo ao Instituído: O Método da Roda em Sobral-Ce, promove a
Co-Gestão de Coletivos?”, a ocupação da Roda como espaço de efetivação desta
prática democrática é incipiente por parte dos profissionais, necessitando assim de
serem instituídos pelo Sistema de Saúde práticas de gestão que permita a equipe ter
mais conhecimentos teóricos e filosóficos sobre o método, bem como sobre os
princípios de co-gestão. O que não foi demonstrado pela fala da maioria dos
participantes.
Trabalhar – problematizar os processos de trabalho - conhecer
necessidades de saúde da população – colocar-se em coletivo – afetar-se e afetar
(constituição do sujeito) – identificar necessidades de aprendizado a partir das
necessidades dos outros profissionais e de si mesmos, considerando bagagens de
conhecimentos e experiências - construir novas possibilidades – pactuar contratos -
atuar na prática. Ciclo que vai sempre partir da prática e reverberar-se nesta mesma
após passar por um processo coletivo de estranhamento, reconhecimento,
aprimoramento e pactuação. E a Roda se constitui em um espaço apropriado por
trazer em sua organização, pontos que proporcionam a equipe o momento de
afastar-se um pouco do cotidiano a fim de refletir sobre o mesmo, permeado pelos
componentes administrativo, político, pedagógico e terapêutico que o método
propõe.
5.3 Sentidos da roda para seus participantes
Sendo sentido a compreensão que se manifesta do ponto de vista privado
acerca de um dado fato ou processo social, apreendido a partir das vivências
pessoais e particulares e tendo este trabalho como um dos objetivos compreender
os sentidos e significados da roda para os profissionais da ESF de Sobral
80
discorremos aqui os resultados dos instrumentos individuais aplicados, a fim de
ancorados pela metodologia proposta de construção dos Mapas Afetivos, extrair
este sentido a partir da expressividade da metáfora aliada aos sentimentos e
qualidades atribuídos a Roda, pelos profissionais.
5.3.1 – Construção de mapas Afetivos pelos profissionais da ESF de Sobral
A título ilustrativo, mostraremos aqui os quadros, trazendo as metáforas
que representam suas respectivas imagens extraídas dos instrumentos individuais
respondidos pelos profissionais dos CSF participantes.
Embora reconhecendo que a inserção de alguns profissionais na equipe
seja recente – provável até que seja a sua primeira experiência da Roda –
valorizamos aqui a visão de estranhamento/perspectiva destes como fator que vem
a contribuir com o constructo.
5.3.1.1 Roda pedagógica
O quadro 10 nos mostra as imagens de Roda Pedagógica com as
respectivas metáforas, entendendo aqui como o pedagógico como componente
potente nos processos de EPS que permeia o espaço da Roda.
Quadro 10: Imagens da Roda Pedagógica conforme respostas dos profissionais
CSF A CSF B CSF C
Roda Troca
Roda Cordas afinadas
Roda Planta
Roda Reciclagem
Roda Aprendizagem
Roda conhecimento,
compartilhamento e
descoberta
Roda Vassoura
Roda Escada
Roda Megafone
Roda Tempo de colégio
Roda Rio
Roda Porta
Roda livro
Roda nó
Roda caderno
Roda Pássaro livre
Fonte: Primária.
A primeira imagem da Roda expressada pelos profissionais, mais
fortemente nos CSF A e B, define-se a partir de características típicas do processo
81
formativo que o espaço propõe, alinhadas as metáforas comparativas expressadas.
Trazemos o Mapa Afetivo de alguns respondentes:
Grupo CSF A 2
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 02
Sexo: M
Idade: 24
Escolaridade
: Superior
Função:
Psicólogo
Tempo que
trabalha na
equipe: 1
semana
Estratégia
importante
de
alinhamento
conceitual e
prático para
as ações no
CSF. É
importante
que a equipe
esteja em
sintonia para
que possa
atender as
demandas
do território
Sintonia
e
Integração
da equipe
Pertenci-
mento a
equipe
Cordas
afinadas de
um
instrumento
musical
A Roda
Cordas
afinadas é
uma estratégia
de
alinhamento
conceitual e
prático para as
ações da
equipe,
colocando-a
em sintonia e
reforçando nos
profissionais o
sentimento de
pertencimento
a esta.
Olhando para o Mapa Afetivo construído pelo respondente 2 do grupo A2,
o mesmo refere-se a metáfora Roda Cordas afinadas valorizando a importância da
integração da equipe e de ser essa uma estratégia que permite alinhar as práticas
aos conceitos, de forma a nivelar o conhecimento e envolvimento dos profissionais
da equipe para atender melhor as necessidades do território.
Um dos princípios Tayloristas rebatidos por Campos (2010) é o de que
haja uma típica separação entre quem pensa, sabe e decide, de quem executa o
trabalho como quem não sabe e apenas obedece. O Método Paideia, ao contrário,
pressupõe que exista uma interdependência entre os profissionais da equipe,
ocorrendo a construção de uma interação positiva entre os profissionais, construindo
objetivos e objetos comuns, respeitando inclusive as diferenças e não contra as
diferenças.
O respondente reconhece que esta construção emerge da discussão das
questões que não encontram espaço para serem debatidas no cotidiano,
82
encontrando na Roda uma ocasião favorável para tal conversa o que irá refletir na
qualificação do serviço ofertado. Merhy (2015) fala da importância de nos
debruçarmos intencionalmente sobre as discussões do mundo do trabalho a fim de
reconhecer tal processo como uma escola de formação, das mais fundamentais, de
onde surgem não somente produção de novos conhecimentos construídos
coletivamente como também implicando em processos formativos necessários para
a atualização da própria prática.
Grupo CSF B 1
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 05
Sexo: F
Idade: 26
Escolaridade
: Superior
completo
Função:
Dentista
Tempo que
trabalha na
equipe: 2
anos
Concordaria
e diria que é
m momento
muito
importante
para
aprendizado
de toda a
equipe, de
forma a
interligar
todos os
profissionais
de forma
interdiscipli-
nar.
Traz
conheci-
mento para
todos os
profissionai
s
Sentimen
-tos de
alerta em
relação a
ações
preventivas
da saúde da
mulher, que
necessita de
atenção e
cuidado com
a minha
própria
saúde
também.
Como um
megafone
A Roda
Megafone é um
momento
importante para
aprendizado de
toda a equipe,
de forma a
interligar todos
os profissionais
de forma
interdisciplinar
proporcionando
sentimento de
alerta em
relação as
ações
preventivas com
a saúde da
população, bem
como da própria
saúde.
Perceber a Roda como uma ocasião onde se desperta não somente para
as necessidades de cuidado da população como também para a importância do
auto-cuidado, induz o profissional a sentir-se parte importante do processo. A
imagem de Roda Megafone nos remete a necessidade de se falar em uma altura
que seja ouvida por todos, colocando-os em alerta para as necessidades em
comum.
83
Outro aspecto notável trazido na fala é o fato da Roda ser vista como um
espaço que promove interdisciplinaridade por fomentar a interação entre os
profissionais e seus saberes sem “diluir as especificidades dos saberes e práticas
peculiares a cada profissão” (CAMPOS et al., 2014. p. 989).
Grupo CSF C 1
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 02
Sexo: M
Idade: 39
Escolaridade:
Superior
completo
Função:
Enfermeiro/ge
rente
Tempo que
trabalha na
equipe: 1ano
e 8 meses
A Roda é um
momento
precioso
para o
desenvolvi-
mento de
EP, pois
nesta
ocasião a
equipe está
reunida e o
compartilha-
mento de
experiências
se torna mais
interativo,
qualificando
o
aprendizado
Trans-
formação
do olhar
da equipe
para o
conheci-
mento que
se traz
Confia-
nça diante
das
indispensá-
veis
informações
recebidas,
ocasionando
um
aprendizado
consistente
acerca do
assunto
Um
pássaro,
livre para
voar
A Roda Pássaro
livre é um
momento
precioso para o
desenvolvimen-
to de EP, pois
nesta ocasião a
equipe está
reunida e o
compartilhamen
-to de
experiências se
torna mais
interativo,
qualificando o
aprendizado e
permitindo
transformação
do olhar da
equipe para o
conhecimento
que se traz
proporcionando
Confiança
diante das
indispensáveis
informações
recebidas,
ocasionando um
aprendizado
84
Nesta imagem, o respondente atribui o mérito da qualificação do
aprendizado ao compartilhamento de experiências, convertendo-se em aprendizado
consistente, o que confere ao profissional maior segurança acerca do que se é
discutido. Merhy (2015) identifica que a formação individual e coletiva é provocada
pelo agir em si, agenciada pela presença do outro e do campo do cuidado. E o
imbricamento entre o conhecimento e a sua atualização no ato da produção gera o
cuidado, como exercício da própria prática de si.
5.3.1.2 Roda terapêutica
A imagem da Roda Terapêutica é expressa pelos respondentes a partir
de metáforas que nos remetem aos aspectos afetivos, de leveza e de criação de
vínculos que se relacionam a Roda. Nestas respostas, o CSF C foi o que se
sobrepôs aos demais.
QUADRO 11 - Imagens da Roda Terapêutica conforme respostas dos profissionais
CSF A CSF B CSF C
Roda Coração
Roda Toque
Roda Corações unidos
Roda Rosa
desabrochando
Roda Cantinho da
Equipe
Roda Imagem de Deus
Roda Pessoas de mão
dadas
Roda Edifício
Roda Pluma
Roda Música
Roda Mesa de
banquete
Roda Cortina
Fonte: Primária.
Nos Mapas Afetivos abaixo trazemos as imagens que se destacam na
caracterização da Roda como espaço terapêutico, extraídos dos que estão descritos
no quadro 11.
Grupo CSF A 1
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 06
Sexo: F
Idade: 21
É um
momento de
discussão
para melhorar
o meu
trabalho como
ACS.
Lazer Relaxamento
Descontração
Relaxa-mento
Descontração
Alegria
Integração
Pessoas
tocando
umas nas
outras e e
sentiam as
mãos umas
das outras
A Roda Toque
é um
momento de
adquirir
conhecimento
como uma
preparação
85
Grupo CSF A 1
Escolaridade:
Ensino
Superior
Função: ACS
Tempo que
trabalha na
equipe: 21
anos
Adquiro
conhecimento,
fortalecimento
para os
momentos de
dificuldades
para o
enfrentamento
das
dificuldades
proporcionan-
do
relaxamento,
descontração
e alegria.
A imagem de Roda Toque trazida com uma metáfora de pessoas tocando
umas as outras, nos remete ao fato de que este espaço de aprendizado, incorpora o
seu componente terapêutico por ser, também, um momento de encontro entre a
equipe, que desperta os sentimentos de relaxamento, descontração e alegria, além
de avigorar vínculos que servirão para tonificar à equipe para o enfrentamento das
adversidades que surgirão. O que coaduna com Cecim (2008) quando diz que no
ambiente de trabalho em saúde o fato de se viverem em grupo constantes
atualizações das experiências éticas e estéticas, pela repetição dos atos vividos,
afetos e sentimentos são gerados que, por sua vez, catalisam o funcionamento dos
processos cognitivos de aprendizagem.
Grupo CSF C 2
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 02
Sexo: F
Idade: 21
Escolaridade:
Nível superior
incompleto
Função:
Auxiliar
administrativa
Tempo que
trabalha na
equipe:3 anos
Que é bom para pensarmos nos problemas diários, pensarmos como vamos desfaze-los. Ótimo para o aprendizado dos profissionais
Significa que somos seres humanos, apesar de profissionais, por isso precisamos ser cuidados
Sentimentos bons, como de importância e de sermos importantes; relaxamento, leveza, etc
Pluma: gostosa de pegar
A Roda Pluma é momento bom para pensarmos nos problemas diários, e como vamos desfaze-los. permitindo sermos cuidados como seres humanos e não só como profissionais
86
Grupo CSF C 2
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
permitindo sermos
cuidados como seres
humanos e não só
como profissionais
cuidar do outro como
gostaria de ser cuidado
proporcionan-do
relaxamento e leveza.
A leveza da imagem da Roda Pluma, quando trazida pela respondente
relacionada à relevância do cuidado ao profissional como ser humano, move-os a
alegria de sentir-se parte essencial na reciprocidade do cuidado com o outro.
5.3.1.3 Roda política
No quadro 12, as metáforas atribuídas à imagem da Roda Política
retratam esta como importante espaço de co-produção de sujeitos de forma a
contribuir fortemente para o estímulo à democratização do trabalho em saúde.
QUADRO 12 - Imagens da Roda Política conforme respostas dos profissionais
CSF A CSF B CSF C
Roda
Complementaridade
Roda Parceria
Co-responsabilização
Roda Árvore jovem
Roda Interação e
participação
Roda Importância
Roda Porta
Roda Abacaxi
Fonte: Primária.
87
Mostramos aqui as principais metáforas que caracterizam esta imagem, a
partir da construção dos Mapas Afetivos.
Grupo CSF A 3
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 01
Sexo: F
Idade: 28
Escolaridade
: Ensino
Superior
Função:
Enfermeira
Tempo que
trabalha na
equipe: 4 dias
É um espaço
de
discussão,
aprendizado,
planejamento
e de cuidado
para a
equipe de
saúde da
família. É o
momento em
que a equipe
tem de
planejar suas
atividades e
discutir
assuntos
referentes as
necessida-
des da
comunidade
Resolu-
tividade
Traba-
lho em
equipe
Cuidado
Atenção
Integra-
lidade
Respon-
sabilidade
Co-
responsa-
bilização
A Roda Co-
responsabilização é um
espaço de discussão,
aprendizado,
planejamento e de
cuidado para a equipe
de saúde da família
proporcionando
cuidado, atenção,
integralidade
responsabilida-de.
O Mapa Afetivo que traz como metáfora a imagem de Roda Co-
responsabilização, nos faz pensar no quanto o profissional se entende como sujeito
ativo na produção dos resultados dos processos de trabalhos da ESF. Campos
(2005) descreve o Método da Roda como proposta de constituição de Coletivos
Organizados onde tais agrupamentos possam ter a capacidade de análise e co-
gestão, a ponto de lidar tanto com a produção de bens e serviços, como também
com sua própria constituição enquanto Sujeito. O que faz com que a Roda signifique
para os profissionais um espaço político, por promover a subjetividade, cultura e
práxis de Sujeitos e Coletivos.
88
Grupo CSF B 1
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 06
Sexo: M
Idade: 32
Escolaridade
: Superior
completo
Função: Ed.
Físico -
Residente
Tempo que
trabalha na
equipe: 1
semana
A “roda”
constitui-se
como um
momento de
construção
coletiva.
Onde todos
tem direito a
voz, voto e
influência e
corresponsa
bilidade
direta na
conduta dos
profissionais
em exercício.
Sintonia
com os
profissio-
nais
Colabo-
ração
individual
no
processo
de saúde
idealizado
pelo SUS
Sentimen
-to de
satisfação
Engran-
decimento
pessoal e
profissional
Uma
árvore
ainda
jovem,
mas cheia
de força e
vitalidade.
A Roda Árvore jovem é
um momento de
construção coletiva,
onde todos tem direito a
voz, voto e influência e
corresponsabili-dade
direta na conduta dos
profissionais em
exercício, permitindo
sintonia entre os
profissionais e
colaboração individual
no processo de saúde
idealizado pelo SUS,
proporcionando
Sentimento de
satisfação e
engrandecimen-to
pessoal e profissional.
O encontro que permite a equipe sentir-se com direito a voz e ao voto
reforça uma característica do “Agir Paidéia” que traz em seu conceito o fato de que o
desenvolvimento integral das pessoas exige não somente a exposição de
informações, mas o aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre as
realidades postas, potencializando o saber, pensar e fazer (CAMPOS, 2003).
5.3.1.4 Roda administrativa
A Roda como um espaço que possibilita a estruturação administrativa
dos processos de trabalho se faz percebida a partir das metáforas trazidas pelos
respondentes descritas no quadro 13.
89
QUADRO 13- Imagens da Roda Administrativa conforme respostas dos profissionais
CSF A CSF B CSF C
Roda Companheirismo
Roda Coisa boa
Roda Integralidade
Roda Trabalho em
equipe
Roda Lâmpada Roda Porta de entrada
Fonte: Primária.
Os Mapas Afetivos construídos a partir das metáforas trazidas nos
remetem a relevância da Roda para tal estruturação.
Grupo CSF A 4
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 04
Sexo: F
Idade: 40
Escolaridade
: 2° grau
Função:
A.C.S.
Tempo que
trabalha na
equipe: 18
anos
Planejar
Aprender
Conhe-
cimento
Um
sentimento
importante
Trabalho
com
equipe
A Roda
Trabalho em
equipe é um
momento de
planejamento e
aprendizagem e
proporciona um
sentimento
importante
Por ser um espaço que reúne sistematicamente todos os profissionais da
equipe, possibilita a realização do planejamento onde todos os sujeitos tem a
oportunidade de expressar-se de forma a colaborar na construção de projetos que
farão parte do processo de trabalho da equipe. Planejar é um importante passo para
que o trabalho tenda a fluir de forma interdisciplinar e integrada.
90
Grupo CSF C 3
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°: 01
Sexo: F
Idade: 37
Escolaridade:
Pós-
graduação
Função:
Dentista
Tempo que
trabalha na
equipe: 2
anos
Penso que é
um momento
de bastante
aprendizado,
planejamento
para metas,
momento de
união, apoio.
Informações
importantes
para que os
resultados da
estratégia d
equipe sejam
sempre
acima do
esperado
(TOP )
Alcance
de metas
Motivação
Atitude
positiva
Organiza-
ção
Meta
atingida
“etapa
superada”
Vitória
União
A porta
de
entrada a
um
templo de
informa-
ções que
trazem
resulta-
dos
positivos,
supera-
ção, força
e vontade
de
continuar
trabalhan
do unidos
A Roda Porta
de entrada é
aprendizado,
planejamento
para metas,
momento de
união, apoio.
Para que os
resultados da
estratégia da
equipe sejam
sempre acima
do esperado
proporcionando
motivação,
organização,
superação e
união
Uma das ambições do Método da Roda consiste na construção coletiva
de projetos que partam da co-produção de Objetos de Investimento. Projetos estes
que cuidem de prover os meios indispensáveis para reorientar a prática a partir da
análise de elementos internos e externos, visando o fim almejado. Para tal, faz-se
necessário que se considere, nesta co-gestão o próprio desejo, interesse e
necessidade, bem como o do coletivo, implicando em produzir sentido para a ação.
E quando Sujeitos e Coletivos conseguem construir e ligar-se a um Objeto de
Investimento, torna-se possível o estabelecimento de tarefas que os aproximem do
objeto almejado. (CAMPOS, 2005).
Concordando como autor o profissional retrata a Roda Porta de entrada
como este processo de co-gestao, onde se pactuam metas e se planejam
estratégias organizadas para que se possa atingi-las, fomentando na equipe os
sentimentos de motivação e união.
91
5.3.1.5 Roda fragilidade
Não foi citado, em nenhum dos questionários individuais, nenhuma
qualidade ou sentimento que caracterizasse a Roda como um espaço que trouxesse
experiências negativas para a equipe.
92
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisar os sentidos e significados da Roda enquanto estratégia de
Educação Permanente em Saúde do Município de Sobral-Ce, não foi tarefa difícil.
Ao vivenciar as Rodas de algumas equipes, com o olhar apurado, identifica-se
facilmente que a EPS e Método Paidéia ou Roda são estratégias complementares.
Na busca de identificar elementos de EPS na Roda analisamos, em um
momento inicial, os desenhos construídos pelos grupos e percebemos que a Roda
significa para as equipes espaço de circularidade e elo, não somente em sua
estrutura física, visto que, em algumas equipes, esta não acontece em espaço físico
apropriado para tal, mas ainda pela constituição de espaços de compartilhamento de
poderes.
Observamos que, alguns desenhos, trazem a Roda com delimitação de
locais específicos de cada profissional, podendo assim significar demarcação de
poder, que contradiz a expressividade dos demais desenhos e do próprio conceito
proposto pelo método, porém, ao aprofundarmos a análise, principalmente, na
expressividade das palavras sínteses que permeiam as imagens, inferimos que tais
desenhos expressam muito mais o sentimento de pertencimento a este lugar,
facilitando o estabelecimento e fortalecimento de vínculos, ao tempo em que
estimula os sentimentos de cuidado.
Ao caminhar na análise dos Significados, obtidos a partir das construções
dos grupos, fortalecemos a ideia da íntima relação entre a EPS e as dimensões do
Método da Roda (Pedagógica, Terapêutica, Política e Administrativa), que se
confirma nas construções dos Mapas Afetivos, criados a partir dos Sentidos
extraídos das respostas dadas aos questionários individuais, o que nos conduziu a
categorizar as qualidades e sentimentos citados pelos profissionais respondentes a
partir das imagens que se relacionem a tais componentes.
Quanto à imagem de Roda Terapêutica, observamos que este espaço
representa grande significação para o coletivo por permitir o acolhimento
viabilizando cuidado mútuo entre os profissionais da equipe. O comparativo com
uma Ciranda reforça o significado de circularidade e da alegria do encontro que a
Roda traz para a equipe.
Quando buscamos apreender o sentido (privado) da Roda enquanto seu
componente terapêutico, identificamos a importancia de ser este um momento que
93
possibilita a expressividade dos sentimentos e de ser oportunizado viver o azo de
descontração e alegria, que além de avigorar vínculos, tonificam a equipe para o
enfrentamento das adversidades vivenciadas no cotidiano. Relacionando esta
imagem a EPS, nos valemos de Cecim (2005) quando diz que a geração de afetos e
sentimentos catalisam o funcionamento dos processos cognitivos de aprendizagem.
Por ser a Roda um encontro sistemático de profissionais (sujeitos)
significa também a oportunidade de distanciarem-se da prática cotidiana para
identificar as dificuldades, refleti-las alinhando e compartilhando saberes, projetar
soluções coletivamente e pactuar contratos para a execução destes projetos nesta
mesma prática, aumentando assim sua capacidade de analisar e operar sobre a
práxis, significando então produção de conhecimentos embasada tanto na realidade
vivida pelos profissionais quanto nas experiências desses atores, o que se configura
como processo de EPS, coadunando com as características do que se entende dos
componentes administrativo e pedagógico do método.
Ainda sobre a imagem da Roda Pedagógica os profissionais veem como
significado do Método o merecimento de que a troca de saberes fomenta a
interdisciplinaridade e ao alinhamento entre a teoria e prática.
Os sentidos expressos quanto à compreensão de a Roda ser educativa
desperta também no profissional o interesse para o auto-cuidado, e o faz sentir-se
parte importante do processo. Outro sentido mencionado foi o fato de também
conferir aprendizado consistente ao tempo em que aviva o sentimento de segurança
na tomada de decisões.
A imagem de Roda Administrativa significa para os profissionais
respondentes, espaço de planejamento, construção de rotinas e metas que
promovem o desenvolvimento da equipe, situação que favorece a resolução das
dificuldades, concedendo a continuidade dos processos.
Os sentidos apresentados, relacionados a esta imagem referem-se à
oportunidade de expressar-se de forma a colaborar na construção de projetos,
motivando-os ao compromisso com os processos de trabalho da equipe.
No que tange a Roda Política o fato de aguçar neste espaço a reflexão
sobre os processos produtivos fomentando a uma visão crítica da práxis com a
finalidade de aprimoramento do trabalho em equipe, faz-se fator de importante
significado para os profissionais respondentes.
94
Ressalta-se, também que, para estes, os sentimentos de desabafo e
igualdade viabilizados pelo direito a voz e a vez permeiam essa dimensão política,
na medida em que traz o sentido de isonomia e co-gestão de poderes. E a busca da
compreensão de si mesmo e dos outros facilita a promoção da subjetividade, cultura
e práxis de Sujeitos e Coletivos, trazendo sentido individual para os profissionais da
ESF de Sobral.
A imagem da Roda Fragilidade, apesar de não ter sido retratada em
nenhuma das respostas que nos remetem a obtenção do sentido individual, nas
expressividades do significado como construção do coletivo, surgem falas que
colocam o momento como “perda de tempo”, momento em que os profissionais se
colocam em uma postura de dispersão, além do sentimento de que este também se
constitui como um espaço de cobrança. Apesar de tais falas terem sido bem
pontuais e se contradizerem pelos próprios respondentes, merecem ser valorizadas,
visto que expressam que ainda, alguns profissionais da ESF precisam entender este
como um espaço de co-gestão das relações de poder, espaço em que se torna
possível o investimento em sua autonomia enquanto Sujeito que compõe um
Coletivo, ou ainda, expressa a necessidade de se fazer deste, um espaço de
reflexão sobre o que o método propõe e a utilização fidedigna do mesmo no
cotidiano das equipes.
Quão rica é para a obtenção de resultados favoráveis ao que se propõe a
ESF, poder vivenciar esse encontro, onde a equipe, que se constitui pelos sujeitos
que a compõem, vivencia em um espaço sistematizado, o aprendizado de forma
pedagógica, a convivência de forma terapêutica, a política de forma a enxergar-se
como Sujeito ativo, enfim a oportunidade de administrar seu processo de trabalho de
forma co-gerida.
De outro lado, registra-se que esta pesquisa não se fazendo diferente da
maioria registra limitações. No que concerne ao processo de coleta de dados,
entendemos que poderíamos ter ampliado o quantitativo de CSF estudado, mesmo
reconhecendo que a natureza desta investigação é qualitativa e zela, portanto, pela
intensividade e não extensividade. De todo modo, poderíamos ter contemplado um
CSF na zona rural para explorarmos limites e potencialidades. No processo de
análise também nos inquietamos com ausência de questões no instrumento
individual que instigasse aos profissionais a apontarem as fragilidades da Roda
95
como estratégia de EPS, visto que este também se constitui como um dos objetivos
do estudo.
Futuras investigações podem ampliar o escopo dos cenários e
redimensionamento dos questionamentos de modo a apreender outras leituras sobre
o espaço da Roda.
Por fim, este estudo constituiu um contributo para o entendimento da
Roda enquanto Estratégia de EPS, em Sobral-Ce, visto que este método é adotado
pelo município como uma estratégia sistemática, tornando-se assim um tema
relevante levando-nos a considerar que ainda há muito o que percorrer no campo da
investigação nesta área sendo, portanto, um campo fértil de trabalho para outros
investigadores.
96
REFERÊNCIAS
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103
APÊNDICES
104
APÊNDICE A - INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SIGNIFICADOS
(GRUPO)
Grupo: ___________________
Participantes:
NOME CATEGORIA
01
02
03
04
05
06
07
1. Construa um desenho que traduza a sua
forma de ver e sentir a roda como estratégia de
EPS
Escreva palavras que sejam
uma síntese dos
sentimentos provocados
pelo desenho, na ordem de
1 a 6, podendo variar entre
sentimentos, substantivos
ou qualidades e sendo
permitido repetir o que já
respondeu.
1-
2-
3-
4-
5-
6-
105
APÊNDICE B - INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SENTIDOS
(INDIVIDUAL)
GRUPO N° __________ PROFISSIONAL N° ____________
IDADE:_____________ TEMPO QUE ATUA NESSE CSF: ____________
ESCOLARIDADE:________________________________ SEXO: ( )M ( )F
1. Caso alguém lhe perguntasse o que pensa da “roda” enquanto estratégia de EP,
o que diria?
2. Você lembra de um momento de EPS vivenciado na roda do seu CSF que lhe
chamou atenção? Por quê? Descreva-o passo-a-passo.
3. Que sentimentos despertam em você ao lembrar-se desse momento?
4. Qual resultado esse momento trouxe para a equipe? E o que isso pode ter
significado para a mesma?
5. Se tivesse de fazer uma comparação desse momento, com o que compararia?
106
APÊNDICE C – ELABORAÇÃO DO MAPA AFETIVO
Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido
N°:
Sexo:
Idade:
Escolaridade:
Função:
Tempo que
trabalha na
equipe:
Explicação do
respondente
sobre o que
significa pra ele
a Roda
enquanto
Estratégia de
EPS - Questão
1 do
Instrumento
individual .
Atributos do
espaço da Roda
enquanto
estratégia de
EPS extraídos
das questões 2
e 4 .
Expressão
afetiva do
respondente ao
espaço da Roda
enquanto
estratégia de
EPS nas rodas
– Resposta a
questão 3
Comparação do
espaço de EP
das rodas com
algo pelo
respondente,
que tem como
função a
elaboração de
metáforas –
Resposta a
questão 5
Interpretação
dada pelo
investigador à
articulação de
sentidos entre
as metáforas e
as outras
dimensões
atribuídas pelo
respondente
(qualidade e
sentimentos).
Fonte: Bomfim, 2010
107
APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos desenvolvendo a pesquisa: A RODA COMO ESTRATÉGIA DE
EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS
TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA. Seu objetivo geral é:
Analisar a roda enquanto a estratégia de Educação Permanente em Saúde no
município de Sobral. O estudo tem como orientadora a Profa. Dra. Maria do Socorro
de Araújo Dias. Sua participação consistirá na autorização para a realização de uma
entrevista contendo questões abertas que poderá ser gravada. Gostaria de deixar
claro para o(a) Senhor(a), que:
- todas as informações coletadas neste estudo são estritamente
confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos
dados;
- A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Porém podem
provocar um desconforto pelo tempo exigido ou até um constrangimento pelo teor
dos questionamentos;
- A sua participação é voluntária e o(a) Sr.(a) poderá se recusar a responder a
pergunta caso não sinta à vontade;
- Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o
andamento da pesquisa, resolver desistir, tem toda a liberdade para retirar seu
consentimento;
- ao participar desta pesquisa o(a) Sr.(a) não terá nenhum benefício direto.
Entretanto, esperamos que este estudo possa proporcionar uma reflexão em equipe
sobre a importância da Roda como Educação Permanente em Saúde, de forma que
o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa contribuir para
analisar a Roda enquanto estratégia de Educação Permanente, onde a
pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos;
- o(a) Sr.(a) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa,
bem como nada será pago por sua participação;
- Sua colaboração e participação poderão trazer benefícios para o
desenvolvimento da ciência e para a melhoria dos processos de Educação
Permanente em Saúde neste município;
108
- Estarei disponível para qualquer outro esclarecimento no endereço: Av. Dr.
Guarany, 1028, Centro, Sobral-CE. Telefone: (88) 9207-4261 ou pelo e-mail:
Informações adicionais podem também serem obtidas no Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú - Centro de Ciências da Saúde:
Rua Mauro Célio Rocha Ponte, nº 150 – bairro Derby, Sobral-CE. Fone: (88) 3677-
4255.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre
para participar desta pesquisa.
Atenciosamente,
__________________________________________
Glênia Costa Aguiar
Pesquisador
109
APÊNDICE E - CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO
Eu, _______________________________________________, A RODA COMO
ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: SENTIDOS E
SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA,
aceito participar da pesquisa. Seus resultados serão tratados sigilosamente e, caso
não queira mais participar da investigação, tenho liberdade para retirar meu
consentimento.
__________, __________________ de 2016.
_________________________________________
Assinatura do Sujeito
_________________________________________
Assinatura do Pesquisado
110
ANEXOS
111
ANEXO A- PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA
112
113
ANEXO B – DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ORTOGRÁFICA