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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO ZELIA BESERRA CAMELO CONHECIMENTOS TECNOLÓGICOS PEDAGÓGICOS E DE CONTEÚDO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOMETRIA ESPACIAL FORTALEZA CEARÁ 2020

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Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE ......Geometria Espacial. Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se no Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO

ZELIA BESERRA CAMELO

CONHECIMENTOS TECNOLÓGICOS PEDAGÓGICOS E DE CONTEÚDO NA

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOMETRIA ESPACIAL

FORTALEZA – CEARÁ

2020

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ZELIA BESERRA CAMELO

CONHECIMENTOS TECNOLÓGICOS PEDAGÓGICOS E DE CONTEÚDO NA

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOMETRIA ESPACIAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Educação do Programa de Pós-

Graduação em Educação do Centro de

Educação da Universidade Estadual do Ceará,

como requisito parcial à obtenção do grau de

Mestre. Área de Concentração: Formação de

Professores.

Orientadora: Profa. Dra. Ivoneide Pinheiro de

Lima.

FORTALEZA - CEARÁ

2020

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ZELIA BESERRA CAMELO

CONHECIMENTOS TECNOLÓGICOS PEDAGÓGICOS E DE CONTEÚDO NA

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOMETRIA ESPACIAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Educação do Programa de Pós-

Graduação em Educação do Centro de

Educação da Universidade Estadual do Ceará,

como requisito parcial à obtenção do grau de

Mestre. Área de Concentração: Formação de

Professores.

Aprovada em: 25 de junho de 2020.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Ivoneide Pinheiro de Lima (Orientadora)

Universidade Estadual do Ceará – PPGE/UECE

Profa. Dra. Maria José Araújo Souza

Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

Prof. Dr. Daniel Brandão Menezes

Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

Profa. Dra. Marcilia Chagas Barreto

Universidade Estadual do Ceará – PPGE/UECE

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Dedico este trabalho aos meus filhos, Palloma,

Pablo e Sophie, por acreditarem em meu

potencial, incentivando-me durante toda a

trajetória acadêmica.

Aos meus pais, Manoel e Antonia, exemplos

de coragem, perseverança, honestidade e

humildade, por me ensinarem a lutar por meus

ideais.

Aos demais membros da família, irmãs,

irmãos, sobrinhas, sobrinhos, por torcerem por

mim e se fazerem presentes em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que em meio a tantos caminhos difíceis me fez enxergar os atalhos para chegar até

aqui, aliviando-me as dores e o cansaço, fazendo-me seguir adiante e sempre.

À minha querida orientadora, professora Dra. Ivoneide Pinheiro de Lima, pela confiança e por

aceitar me orientar, pelo tempo dedicado, pela sabedoria, compreensão, generosidade e pelos

prazerosos encontros durante essa caminhada, a quem serei eternamente grata.

À professora Dra. Marcilia Chagas Barreto pelas reflexões, ensinamentos e aprendizagens

proporcionados nas disciplinas cursadas. Por participar das bancas de qualificação e de

defesa, pelas significativas sugestões que muito contribuíram para melhoria desse trabalho.

Ao professor Dr. Daniel Brandão Menezes e à professora Dra. Maria José Araújo Souza pela

participação nas bancas de qualificação e de defesa, por compartilharem seus conhecimentos e

sugestões para o meu trabalho.

Aos professores Delta, Sigma e Ômega, por aceitarem participar desta pesquisa, colaborando

ativamente durante as etapas formativas, os quais foram essenciais para o desenvolvimento

desta pesquisa.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) pela partilha de

reflexões e conhecimentos durante a realização das disciplinas; aos coordenadores e

funcionários pela gentileza e dedicação no desempenho de suas funções.

Aos amigos e amigas do grupo de pesquisa Matemática e Ensino (MAES) pelos estudos e

discussões que me propiciaram crescimento profissional.

Aos amigos e amigas da turma do Mestrado em Educação 2018, pela convivência repleta de

alegrias, angústias e aprendizagens.

Aos amigos e amigas Marcos Silvano, Leonardo Ferreira, Cleângela Sousa e Joselma Ferreira

pelas aprendizagens significativas, pelos momentos de estudos e de partilhas.

Às amigas Mariângela Mendonça e Adriana Mendonça pela amizade, parceria e motivação

durante essa jornada.

À Secretaria Estadual de Educação do Ceará (SEDUC) pela concessão do afastamento para a

realização dos estudos de mestrado.

À gestão da escola, lócus da pesquisa, pelo acolhimento e autorização para realização da

coleta dos dados.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este trabalho fosse

realizado.

Meus sinceros agradecimentos!

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“Nem tudo o que se enfrenta pode ser

modificado, mas nada pode ser modificado até

que seja enfrentado”.

(Albert Einstein)

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RESUMO

A formação docente deve contemplar integralmente o desenvolvimento de competências e de

habilidades inerentes à prática docente, embasadas em saberes e em fazeres voltados para o

efetivo exercício da sua práxis pedagógica. Assim, este trabalho tem como objetivo analisar

indícios do conhecimento de conteúdo, do conhecimento pedagógico de conteúdo, do

conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo na prática dos professores de

Matemática do Ensino Médio, a partir do processo formativo direcionado ao ensino de

Geometria Espacial. Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se no

conhecimento do conteúdo e no conhecimento pedagógico do conteúdo de Shulman (1986,

1987) e no conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo – TPACK de Koehler e

Mishra (2005, 2009). A investigação caracteriza-se como pesquisa-ação de natureza

qualitativa, realizada em uma escola de Educação Básica da rede pública estadual, em

Fortaleza/CE, por meio de processo formativo com a participação de três professores de

Matemática do Ensino Médio. Foram realizados encontros que abordaram os conhecimentos

dos professores e o ensino da Geometria Espacial com os aportes dos recursos tecnológicos

(smartphones, tablets, software GeoGebra). Os instrumentos de coleta empregados na análise

foram: observação de aulas ministradas pelos professores, entrevistas, sessões formativas e

sessões reflexivas. A análise e a discussão dos dados utilizaram elementos da análise de

conteúdo na qual foi empregado o software de análise NVivo que permitiu os recortes, a

classificação e a categorização dos dados. Os resultados indicam que o conhecimento do

conteúdo, na atuação dos professores pesquisados, ainda aponta a tendência do ensino

caracterizado pela memorização de fórmulas e resolução de listas de exercícios, e há

evidências de que os docentes investigados possuem o conhecimento pedagógico do conteúdo

com proficiência de habilidades do domínio do “que ensinar”. Entretanto, em relação ao

domínio do “como ensinar”, aponta-se fragilidades nas metodologias de abordagem dos

conteúdos geométricos trabalhados. A etapa formativa realizada expõe, como resultados,

indícios de avanços na interseção dos conhecimentos tecnológicos, pedagógicos e de

conteúdo, podendo-se inferir que houve a integração do TPACK durante a exploração dos

conteúdos de Geometria Espacial, concorrendo para ampliação de habilidades inerentes à

prática profissional dos professores; evidencia-se ainda que a formação continuada é uma

etapa formativa pouco vivenciada pelos docentes da área de Matemática e que os recursos

tecnológicos constituem uma importante ferramenta para auxiliar e implementar o ensino e a

aprendizagem. Por fim, acredita-se que as reflexões traçadas nessa etapa formativa tenham

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contribuído para “o repensar” das práticas dos docentes participantes, como possibilidade de

ampliação do domínio dos conhecimentos dos professores de Matemática.

Palavras-chave: TPACK. Formação de professores. Geometria Espacial. GeoGebra.

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ABSTRACT

Teaching education must fully involve the development of competencies and skills inherent in

teaching practice, based on knowledge and actions focusing on the effectiveness of its

pedagogical praxis. Therefore, this study aims to analyze evidence of content knowledge,

pedagogical content knowledge, technological pedagogical knowledge and content in the

practice of high school mathematics teachers in a formative process concerning the teaching

of Spatial Geometry. The theoretical framework of the investigation is based on the content

knowledge and on pedagogical content knowledge by Shulman (1986, 1987) and on

technological pedagogical knowledge and content knowledge – TPACK by Koehler and

Mishra (2005, 2009). This investigation is characterized as a qualitative action research which

was conducted in a public basic education school, held by state government, in Fortaleza /CE

by means of a training process with the participation of three high school mathematics

teachers. Meetings were carried out approaching teachers' knowledge and the teaching of

Spatial Geometry with the contributions of technological resources (smartphones, tablets,

GeoGebra software). Data collection instruments used in the analysis were observation of

classes taught by participanting teachers, interviews, training sessions and reflective sessions.

The analysis and discussion of the data adopted elements of the content analysis in which the

NVivo analysis software was used, allowing the data to be cut, classified and categorized. The

results indicate that the content knowledge, in the participanting teachers’ performance, still

points to the teaching trend characterized by memorization of formulas and solving exercise

lists. Also, there is evidence that the investigated teachers have the pedagogical content

knowledge with proficiency in the skills of the “what to teach” domain. However, in relation

to the “how to teach” domain, there are weaknesses in the methodologies for approaching the

geometric contents worked on. The formative stage carried out shows, as its results, evidence

of advances in the intersection of technological, pedagogical and content knowledge; thus, it

can be inferred that there was the integration of TPACK during the exploration of the contents

of Spatial Geometry, contributing to the expansion of skills inherent to the teachers'

professional practice. It is also evident that continuing education is a formative stage little

experienced by teachers in the area of Mathematics and that technological resources are an

important tool to help and implement teaching and learning. Finally, it is believed that the

reflections outlined in this formative stage have contributed to the “rethinking” of the

participating teachers’ practices, as a possibility of expanding the knowledge domain of

Mathematics teachers.

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Key-words: TPACK. Teacher education. Spatial geometry. GeoGebra.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 –

Figura 2 –

Figura 3 –

Figura 4 –

Figura 5 –

Figura 6 –

Figura 7 –

Figura 8 –

Figura 9 –

Figura 10 –

Figura 11 –

Figura 12 –

Figura 13 –

Figura 14 –

Figura 15 –

Figura 16 –

Figura 17 –

Figura 18 –

Figura 19 –

Figura 20 –

Figura 21 –

Quadro 1 –

Quadro 2 –

Quadro 3 –

Quadro 4 –

Tabela 1 –

Tabela 2 –

O TPACK e os componentes do conhecimento .....................................

Interface inicial do GeoGebra 3D no smartphone ................................

Interface inicial da barra de Menu ........................................................

Sólido geométrico construído na tela do GeoGebra 3D .......................

Espiral da pesquisa-ação na perspectiva de Barbier (2002) ................

Corpus de análise: arquivos digitais .......................................................

Relatório de codificação das categorias teóricas, no NVivo .................

Diagrama da categoria de análise do conhecimento do conteúdo .......

Diagrama da categoria do conhecimento pedagógico do conteúdo .....

Material manipulável na aula inicial do professor Delta .....................

Aula inicial do professor Sigma ..............................................................

Polígonos da base da pirâmide ...............................................................

Diagrama da categoria de análise do conhecimento tecnológico e

integração ao TPACK .............................................................................

Poliedros de Platão ..................................................................................

Icosaedro (visão bidimensional e tridimensional) .................................

Área e volume do tetraedro no GeoGebra .............................................

Cubo no GeoGebra ..................................................................................

Prisma regular de base triangular .........................................................

Prismas Regulares ....................................................................................

Pirâmides de bases regulares ..................................................................

Elementos da Pirâmide: apótema da base, apótema lateral e altura ..

Ferramentas do GeoGebra 3D ................................................................

Cronograma das sessões formativas ......................................................

Categorias de análise da pesquisa ..........................................................

Perfil dos professores ...............................................................................

Nível de aprendizagem em relação aos níveis de proficiência no

SAEB .........................................................................................................

Habilidades de Geometria Espacial na escala de proficiência de

Matemática 3ª série do Ensino Médio ....................................................

42

69

69

72

82

96

97

106

112

121

122

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125

130

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135

137

137

70

94

98

102

53

54

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BNCC Base Nacional Comum Curricular

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNE Conselho Nacional de Educação

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

EM Ensino Médio

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

GPS Sistema de Posicionamento Global.

MAES Grupo de Pesquisa Matemática e Ensino

MMM Movimento da Matemática Moderna

IES Instituições de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

PCK Conhecimento Pedagógico do Conteúdo

PIBID Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

PISA Programme for International Student Assessment

PUCSP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEDUC Secretaria de Educação Básica

SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará

TCK Conhecimento Tecnológico de Conteúdo

TDIC Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

TPACK Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo

TPK Conhecimento Tecnológico Pedagógico

UECE Universidade Estadual do Ceará

UFC Universidade Federal do Ceará

UFF Universidade Federal Fluminense

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UNESPAR Universidade Estadual do Paraná

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SUMÁRIO

1

2

2.1

2.2

3

3.1

3.2

3.3

4

4.1

4.2

5

5.1

5.2

5.3

5.4

5.5

5.6

5.7

6

6.1

6.2

6.3

6.4

6.4.1

6.4.2

INTRODUÇÃO ...............................................................................................

CONHECIMENTOS DOS PROFESSORES ...............................................

Contexto e formação dos professores no Brasil ...........................................

O domínio dos conhecimentos pelos professores .........................................

O ENSINO DE GEOMETRIA ......................................................................

Contexto histórico da Geometria no Brasil ..................................................

Ensino de Geometria nas avaliações da Educação Básica ..........................

A Geometria Espacial .....................................................................................

RECURSOS TECNOLÓGICOS ...................................................................

Tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDIC) ..................

O GeoGebra .....................................................................................................

METODOLOGIA ...........................................................................................

Abordagens da pesquisa .................................................................................

Pesquisa-ação como metodologia ..................................................................

Organização das etapas da pesquisa .............................................................

Instrumentos de coleta de dados ....................................................................

Cenário e sujeitos da pesquisa .......................................................................

Ação formativa ................................................................................................

Análise de conteúdo ........................................................................................

ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................

Perfil dos professores pesquisados ................................................................

O conhecimento do conteúdo dos professores no ensino de Geometria

Espacial ............................................................................................................

O conhecimento pedagógico do conteúdo dos professores no ensino de

Geometria Espacial .........................................................................................

O conhecimento tecnológico dos professores e o TPACK no ensino de

Geometria Espacial .........................................................................................

O conhecimento tecnológico na prática dos professores antes do processo

formativo ...........................................................................................................

O conhecimento tecnológico a convergência ao TPACK no processo de

formação dos professores ..................................................................................

15

27

27

35

46

46

51

57

61

61

67

74

74

77

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95

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100

105

112

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129

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6.4.3

6.4.4

7

O conhecimento tecnológico e a convergência ao TPACK na aula prática dos

professores ........................................................................................................

Concepções dos professores pesquisados sobre os conhecimentos:

tecnológico, pedagógico e de conteúdo e a convergência ao TPACK, após a

formação dos professores de Matemática .........................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................

REFERÊNCIAS ..............................................................................................

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO .............................................................................................

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA DA PESQUISA DE

CAMPO ...........................................................................................................

APÊNDICE C – PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES PROPOSTAS

NAS SESSÕES FORMATIVAS ....................................................................

APÊNDICE D – CONHECENDO O GEOGEBRA ....................................

APÊNDICE E – POLIEDROS DE PLATÃO ..............................................

APÊNDICE F – CONSTRUÇÃO DE UM CUBO .......................................

APÊNDICE G – CONSTRUÇÃO DE UM PARALELEPÍPEDO .............

APÊNDICE H – CONSTRUÇÃO DE PRISMA REGULAR CUJA

BASE É UM POLÍGONO DE 3 LADOS .....................................................

APÊNDICE I – CONSTRUÇÃO DE UMA PIRÂMIDE CUJA BASE É

UM POLÍGONO REGULAR ........................................................................

ANEXO A – REGISTROS DA ETAPA FORMATIVA COM OS

PROFESSORES PESQUISADOS ................................................................

140

146

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161

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192

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15

1 INTRODUÇÃO

“Não são mais as situações estáveis e as

permanências que nos interessam antes de

tudo, mas as evoluções, as crises e as

instabilidades. Já não queremos estudar apenas

o que permanece, mas também o que se

transforma”.

(PRIGOGINE; STENGERS, 1984).

A formação de professores com excelência é primordial para a obtenção de uma

educação de qualidade, a qual não deve se limitar às assimilações de conteúdos teóricos

advindas da formação inicial, mas deve ser prosseguida com o aperfeiçoamento e a expansão

de diferentes conhecimentos, na mudança de concepções, crenças, valores e práticas. Implica

dizer que os processos formativos ocorrem durante e após a conclusão da graduação e se

estendem ao longo da vida profissional. (MIZUKAMI, 2013).

Para Therrien (2012, p. 110), o trabalho docente é um ato predominantemente

pragmático, cujas intervenções educativas devem ser moldadas “pela dinâmica da relação

dialética do saber e do fazer, ou seja, da teoria e da prática”, encontrando suportes nos

diversos campos do conhecimento. Sob esse aspecto, compreende-se que os processos de

formação inicial e continuada são responsáveis pela produção e mobilização de

conhecimentos que subsidiam as práticas docentes.

No tocante à formação de professores da Educação Básica, particularmente em

Matemática, as discussões acadêmicas continuam recorrentes e suscitam questões em relação

a lacunas provenientes da formação inicial, dentre as quais são mencionadas: distanciamento

entre teoria e prática, predominância do ensino tradicional, restrição e lacunas nos

conhecimentos dos professores e uso reduzido das tecnologias da informação e da

comunicação direcionadas ao contexto educacional. Como consequência, os futuros

professores concluem seus cursos com o domínio conceitual em Matemática, mas possuem

dificuldades de promover a inter-relação entre os conceitos matemáticos com outras áreas do

conhecimento como a pedagogia, sociologia, filosofia, psicologia, tecnologia e dentre outras.

Frente a essa realidade, considera-se que a formação continuada não deve ser vista

somente como elemento necessário para suprir lacunas de uma formação inicial deficiente.

Ela é uma atualização sempre necessária, um processo de aprendizagem que deve propiciar

aos professores oportunidades de estudo de teorias de ensino, de metodologias e de utilização

de recursos tecnológicos para ampliação dos seus conhecimentos, bem como clarificar suas

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16

práxis, permitindo refletirem sobre alternativas que possam minimizar os obstáculos e

desafios vivenciados em seus cenários de atuação – as salas de aula.

Imbernón (2010) salienta que o sistema educacional brasileiro, constantemente,

passa por reformas. Diante disso, os processos de formação continuada são uma maneira dos

professores de Matemática se manterem alinhados a essas mudanças. A formação continuada

é um meio dos professores tomarem conhecimento das transformações. Com isso, os docentes

devem filtrar e compreender o que pode ser considerado ou descartado, e se tornarem

profissionais cada vez mais criativos, reflexivos e críticos. Compreende-se ainda que o

exercício da docência é um processo difícil e que necessita de uma série de conhecimentos

plurais e diversificados, que vai além do conhecimento da disciplina que ensina.

No que concerne à formação dos professores e aos conhecimentos desses

profissionais, é possível encontrar diversos autores e trabalhos que raiaram na década de

1980, com contribuições extremamente pertinentes. Almeida et al. (2019) aponta que, a partir

dessa década, os estudos sobre a tendência dos “conhecimentos” sinalizam a existência de

duas linhas teóricas sobre os conhecimentos profissionais: uma ligada a Shulman (1986,

19871) e colaboradores, com estudos direcionados aos componentes dos conhecimentos que

estão na base da docência; a outra sob a influência de Donald Schön (1987) com abordagens

para um modelo de professor prático reflexivo. Nesta investigação, este estudo tem seu

interesse direcionado ao domínio dos conhecimentos necessários à prática pedagógica dos

professores de Matemática, provenientes da formação acadêmica bem como àqueles

adquiridos nos processos de formação continuada, visualizando-se a aproximação desses

conhecimentos com a linha teórica de Shulman.

Na concepção de Shulman (1986), a formação docente deve envolver um conjunto

de conhecimentos que, ao serem adquiridos e combinados a outros, passam a compor uma

base de conhecimentos para a docência, a qual envolve: o domínio do conteúdo da disciplina

que ensina; diferentes maneiras de representar o ensino; o conhecimento do currículo e de

materiais instrucionais relacionados à matéria que ensina. Esses conhecimentos, quando

articulados à vivência prática do professor, colaboram para o processo de composição da

identidade docente, além de favorecer a aprendizagem do educando. Ao aprofundar as

discussões sobre a complexidade da compreensão e da transmissão do conhecimento pelos

1 O texto de Shulman (1987) foi traduzido para o português e publicado pela revista Cadernos Cenpec em 2014,

intitulado “Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma”. Desse modo, neste trabalho, as

referencias à Shulman (1987) serão referenciadas por Shulman (2014).

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17

professores, Shulman (1986) discute a base de conhecimento para o ensino a partir de três

categorias de conhecimentos profissionais, a saber:

O conhecimento de conteúdo, que é a organização do conhecimento na

estrutura cognitiva do professor. Para o autor, o professor precisa ir além do

conhecimento de conceitos e fatos, é preciso interpretar os processos. Ele

precisa compreender e discutir a maneira como o conteúdo é organizado dentro

da disciplina, saber como as verdades são estabelecidas e reconhecer os

eventuais erros.

O conhecimento pedagógico do conteúdo tipificando o conhecimento da

matéria para o ensino, ou seja, a forma como um conteúdo pode ser

representado, por exemplo, analogias, explicações, ilustrações, demonstrações

e estratégias para facilitar o entendimento e a compreensão dos estudantes.

Esse conhecimento é proveniente de estudos, de pesquisas e da vivência prática

exclusiva de cada professor.

O conhecimento curricular caracterizando o modo de apresentação dos

programas de ensino das disciplinas, sua organização de acordo com os níveis

de ensino, bem como os materiais instrucionais que o professor utiliza para

representar cada conteúdo.

As pesquisas de Shulman (1986, 2014) sobre a formação de professores e o

domínio dos conhecimentos dos professores abriram caminho para novos debates e

discussões. A partir de então, diferentes autores têm desenvolvido suas pesquisas com foco

nessa temática. Dentre eles, podemos citar, por exemplo: Curi (2005; 2011), Libâneo (2013) e

Koehler e Mishra (2005; 2009) que declaram que os conhecimentos docentes apresentam

diversas características e vertentes.

Curi (2005; 2011) enfatiza que os professores que ensinam Matemática

necessitam se apropriarem de um conjunto de conhecimentos como: os conhecimentos

específicos da disciplina que ensina; o tratamento pedagógico adequado ao conteúdo e a série

que ensina; os processos de aprendizagem dos alunos; os obstáculos epistemológicos e

didáticos do conteúdo para o ensino; além da articulação entre a teoria e a prática que deverá

manter um paralelo entre os conhecimentos adquiridos pela formação acadêmica e a

abordagem desses conteúdos na prática de sala de aula.

Libâneo (2013) aponta a relevância da articulação entre o conhecimento

pedagógico e o conhecimento da disciplina, ressaltando a importância da interação entre a

didática, a epistemologia e as metodologias de ensino das disciplinas. Para o autor, a docência

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18

requer o domínio de conhecimentos que estão relacionados a outros conjuntos de

conhecimentos como: o conhecimento das ciências humanas e naturais, o conhecimento

pedagógico, o conhecimento proveniente da prática educacional e o conhecimento de

conteúdos relativos à cultura geral do homem.

Koehler e Mishra (2005, 2009), ao discutirem a base do domínio do conhecimento

para o ensino, apresentada por Shulman (1986), partilham e contribuem com a ideia do autor,

promovem um novo debate sobre a categoria do conhecimento pedagógico do conteúdo,

estendendo a essa categoria o domínio de outro conhecimento: o conhecimento tecnológico.

Os autores passam a explorar abordagens pedagógicas que unem conteúdo, pedagogia e

tecnologia, originando o conhecimento tecnológico e pedagógico do conteúdo (TPACK), que

consiste no conhecimento necessário para o professor transformar a matéria que ensina em

conhecimentos, por meio de conceitos, de representações, de técnicas pedagógicas e de uso da

tecnologia com objetivos pedagógicos definidos.

Partindo dessas reflexões sobre a multiplicidade de conhecimentos que compõem

a formação docente, pode-se observar que todas essas pesquisas (CURI, 2005; 2011;

LIBÂNEO, 2013; KOEHLER e MISHRA, 2005; 2009), apesar de diferentes enfoques,

trazem aproximações com os pressupostos da base de conhecimento para o ensino, proposta

por Shulman (1986, 2014).

Sendo assim, esta pesquisa de mestrado concentrou o seu interesse nos

conhecimentos profissionais dos professores de Matemática, apoiando-se nos estudos de

Shulman (1986, 2014) e em Koehler e Mishra (2005; 2009), visualizando-se neles o

embasamento teórico para a condução de todo trabalho. Quanto aos conhecimentos

abordados, este trabalho limitou seu foco no conhecimento do conteúdo e no conhecimento

pedagógico do conteúdo, discutidos por Shulman (1986, 2014), assim como no conhecimento

tecnológico e pedagógico do conteúdo (TPACK), de Koehler e Mishra (2005; 2009).

Com relação ao conhecimento curricular, discutido por Shulman (1986, 2014),

esta investigação optou por não abordar esse aspecto, pois carece de discussão mais ampla

sobre programas de ensino, cursos, currículos e outros elementos circunscritos pelo domínio

desse conhecimento.

Quanto ao domínio do conhecimento tecnológico, salienta-se que as

transformações científicas e tecnológicas, nos últimos anos, ocorreram de forma acelerada,

percebendo-se a difusão do uso das tecnologias como fator de mudanças em quase todos os

campos da atividade humana. Contudo, no âmbito educacional, as estratégias para promover a

integração da tecnologia nas práticas escolares vêm acontecendo de modo lento. Palis (2014,

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19

p. 155) atesta que a falta de conhecimento tecnológico e “materiais curriculares adequados

não encorajam os professores a incorporar tecnologia em suas aulas.”. Quando os recursos

tecnológicos são utilizados em sala de aula, a participação do estudante, em geral, ocorre de

maneira passiva.

Diante dessas ponderações, essa pesquisa propõe discutir os conhecimentos: do

conteúdo, tecnológico e pedagógico de modo que interajam e apresentem interseções entre si,

na perspectiva do conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo, especificamente em

Geometria Espacial, em uma etapa formativa com professores de Matemática. Esse processo é

desenvolvido com ênfase em reflexões sobre o conteúdo específico da disciplina, as ideias, os

processos pedagógicos e o uso de tecnologias, visando à construção e à mobilização dos

conhecimentos profissionais dos professores envolvidos.

No que se refere ao ensino da Geometria nas escolas, Cunha e Lima (2011)

revelam que, apesar de a Geometria ter sido utilizada, ao longo da história, para solucionar

problemas cotidianos, o seu ensino, durante décadas, foi preterido em relação à Aritmética e à

Álgebra. Sobre a ausência do ensino de Geometria nas escolas brasileiras, Gomes (2007)

aponta como marco histórico a associação entre as propostas do Movimento da Matemática

Moderna e a Lei das Diretrizes de Bases da Educação, na década de 1970, que propunham a

algebrização dos conteúdos e a formação aligeirada dos docentes, provocando lacunas no

domínio dos conteúdos geométricos por professores e alunos, que se estendem aos dias atuais.

Nessa perspectiva, Cunha e Lima (2011) mencionam que a abordagem dos

conteúdos de Geometria tem sido realizada de forma imprópria e imprecisa. Fainguelernt e

Nunes (2012) também comentam que o contato dos estudantes com a Geometria, assim como

em outras disciplinas, se dá de maneira distante do contexto real deles, não sendo interligada a

outras áreas de conhecimento, nem mesmo a assuntos afins, como Aritmética, Análise e

Álgebra.

Scheffer (2010) acentua que há limitação pedagógica dos professores na

abordagem dos conteúdos geométricos em sala de aula, cujos problemas abrangem tanto a

forma de apresentação nos livros didáticos quanto à abordagem do conteúdo. A exigência em

cumprir o plano de ensino e o amontoado de conteúdos básicos obrigatórios para cada

série/escolaridade contribuem para que a Geometria seja ministrada de modo superficial,

focando apenas na memorização de fórmulas e de regras, sem propiciar reflexões ou

oportunidades de descobertas e sem exploração clara das propriedades.

Em relação à prática dos professores que ministram o conteúdo de Geometria,

pesquisadores como Bairral (2005) e Nadalon (2018) apontam que o seu ensino tem sido

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marcado por técnicas ultrapassadas, deficientes e superficiais, destacando a necessidade de

um trabalho de formação docente integradora para atuar com a Geometria, bem como a

relevância de apropriar-se de novos conhecimentos – recursos tecnológicos e outros, que

contribuam para o desenvolvimento profissional do professor nos processos de formação e

ensino.

Diante de tais reflexões, compreende-se que o domínio conceitual do conteúdo

científico e específico, apesar de ser fundamental para o bom desenvolvimento da ação

docente do professor de Matemática em sala de aula, apresenta indicativos que vêm sendo

trabalhados de forma inadequada. Entende-se, ainda, que é necessária a mobilização de

diferentes conhecimentos que subsidiem as práticas de ensino, em que os professores não se

limitem ao ato de transmitir conhecimento, mas que estes estejam preparados para propor

atividades provocativas em que os alunos sejam capazes de elaborar seus conhecimentos,

desenvolvendo suas próprias aprendizagens.

Reforça-se a necessidade de que o professor possua formação adequada para o

desenvolvimento de uma prática de ensino composta por situações de aprendizagem, em que

o aluno seja ativo no processo de construção do conhecimento. Do mesmo modo, deve haver

questionamentos estruturados com a finalidade de envolver todos os participantes, produzindo

significado para o aluno.

A autora desta pesquisa, em sua trajetória profissional docente, atuou como

professora2 de Matemática em diversas turmas do Ensino Médio (EM) na Educação Básica na

rede pública de ensino. E no período compreendido entre os anos de 2010 a 2017, em que

ministrou aulas de Geometria espacial para turmas do 2º ano do Ensino Médio, vivenciou, em

sua prática de sala de aula situações em que se priorizava a transmissão do conteúdo

programático de forma direta e aligeirada, tendo em vista a carga horária da disciplina ser

insuficiente para cumprir a extensa quantidade de conteúdos para cada disciplina/série.

Muitos desses conteúdos foram ministrados de forma completamente expositiva,

por meio da memorização de fórmulas e regras, acompanhadas por listas de exercícios,

exigindo do estudante apenas a repetição de procedimentos por meio da substituição de dados

do problema e do desenvolvimento dos cálculos. Diante desse modelo de ensino, os

resultados obtidos pela sua prática a cada final de ano letivo era o alto índice de reprovação

2 A pesquisadora é professora de Matemática da Secretaria de Educação Básica do Ceará (SEDUC) e iniciou sua

carreira docente por meio de ingresso em concurso público para professor efetivo no ano de 1998, perfazendo

uma trajetória de 21 anos de atividade profissional em diversas escolas públicas no Estado do Ceará, dentre elas,

a EEM Gov. Adauto Bezerra, na qual lecionou no período de 2007 a 2018.

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dos alunos na disciplina que lecionava e baixos níveis de desempenho destes, em avaliações

externas realizadas pelas Secretarias de Educação.

O conteúdo de Geometria era sempre ministrado às pressas, de maneira mecânica,

com uso de fórmulas, sem incentivo a descobertas e construções, sem emprego de materiais

concretos ou uso de recursos tecnológicos. Fainguelernt e Nunes (2012, p. 11) afirmam que

esses modelos de ensino, respaldados na “transmissão oral de conhecimentos, com ênfase na

memorização, assim como as práticas que abdicam do professor o seu papel de desafiar e

intervir no processo de apropriação de conhecimentos por parte dos alunos, são – além de

infrutíferos – extremamente inadequados.”.

A partir da experiência com o ensino de Geometria Espacial, a pesquisadora

constatava que os alunos apresentavam muitas dificuldades nessa área de conhecimento e

frequentemente afirmavam que a Geometria Espacial era o conteúdo mais difícil da

Matemática. Os objetos espaciais eram sempre apresentados em uma visão estática no plano

bidimensional do livro didático ou da lousa. Os alunos não eram estimulados a construir os

sólidos e/ou planificá-los, pois a demanda curricular não disponibilizava tempo suficiente

para essas análises e manipulações.

Essas observações desencadearam uma série de inquietações e o interesse no

aprofundamento dos conhecimentos inerentes ao ensino dos conteúdos de Geometria

Espacial, os quais serão discutidos nesta dissertação. Quanto ao papel do professor e o seu

cenário de atuação, Fainguelernt e Nunes (2012) observam a necessidade de este profissional

ter formação sólida que possibilite situações de ensino que estejam associadas ao diálogo, à

participação mais ativa do aluno, permitindo que o estudante possa interagir, pensar, criar e

dar suas contribuições, não somente reproduzindo o conteúdo memorizado.

Partindo-se dessa reflexão, a pesquisadora percebeu que a sua formação inicial

não foi suficiente para prepará-la para toda essa complexidade que envolve o ato de ensinar,

bem como a experiência prática com a docência também não foi capaz de minimizar as

lacunas oriundas do ensino da disciplina em sala de aula.

No que diz respeito ao domínio dos conhecimentos tecnológicos, pedagógicos e

de conteúdo (KOEHLER; MISHRA, 2005; 2009) necessários à sua prática de ensino na

educação básica, a pesquisa julga que os conhecimentos adquiridos na formação inicial não

foram suficientes para subsidiarem a sua prática docente. Desse modo, ao longo de sua

trajetória profissional, a mesma teve que se dedicar a adquiri-los por meio de cursos de

formação continuada ou, até mesmo, buscar aprendê-los por conta própria. Em relação ao

entendimento das teorias educacionais, esta percebia uma grande lacuna nesse campo do

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conhecimento, podendo afirmar que sua prática efetiva de sala de aula não era embasada por

reflexões teóricas que a direcionassem às questões pedagógicas pertinentes ao ensino e à

aprendizagem dos seus alunos.

No período de abril de 2014 a fevereiro de 2018, a pesquisadora participou do

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID3, da Universidade Estadual

do Ceará (UECE), como professora supervisora de alunos da licenciatura de Matemática junto

à escola que lecionava, durante quatro anos. A atividade de supervisionar alunos da

Graduação em seu primeiro contato com o contexto escolar da Educação Básica motivou a

pesquisadora a refletir sobre a sua prática traçada em sala de aula, despertando o interesse em

conseguir melhorias que reverberassem no ensino e na aprendizagem de seus alunos.

A participação no PIBID possibilitou a reaproximação da pesquisadora com a

universidade e a motivou para prosseguir na caminhada acadêmica. Os momentos formativos,

oferecidos pelos coordenadores do Programa, proporcionaram o crescimento do repertório de

conhecimentos necessários à sua prática docente, além de terem oportunizado o contato com

outros professores supervisores, culminando em trocas de experiências, de metodologias

diferenciadas e na realização de oficinas pedagógicas entre licenciandos, professores e alunos

com recursos didáticos diversificados.

Em 2016, a pesquisadora participou de um curso oferecido pela Universidade

Estadual do Paraná (UNESPAR), na modalidade a distância, intitulado Curso de GeoGebra,

direcionado a capacitar professores para o ensino de conteúdos matemáticos com o uso do

software GeoGebra, objetivando incorporar os recursos tecnológicos na prática docente. A

partir desse curso, foi possível conhecer as ferramentas disponibilizadas pelo software e a sua

aplicabilidade, que abrange conteúdos da Geometria e da Álgebra.

Durante a realização do curso, a pesquisadora percebeu que o curso era voltado

para ser executado em computadores de mesa (desktop) e esbarrava-se na dificuldade das

escolas não possuírem laboratórios de informática com computadores disponíveis em número

suficiente para sua implementação. Contudo, em 2018, a pesquisadora tomou conhecimento

de pesquisas que faziam uso do software GeoGebra em dispositivos móveis, visualizando,

assim, a oportunidade de viabilizar a utilização deste recurso em sala de aula. Em face disso,

começou a apropriar-se desses estudos, projetando uma maneira de aplicação no contexto

3 O PIBID é um programa financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), que oferece bolsa para estudantes de cursos de licenciatura que são acompanhados e orientados por

professores coordenadores da instituição de ensino superior (IES) e professores supervisores de escolas da

Educação Básica.

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escolar, haja vista que a versão do software para dispositivo móvel é diferente da versão para

desktops.

Consoante relato, a disposição para este estudo foi surgindo por observações e

descobertas traçadas no percurso profissional da pesquisadora. O seu ingresso no Mestrado

Acadêmico em Educação e no Grupo de Pesquisa Matemática e Ensino (MAES), vinculado

ao curso de Mestrado Acadêmico em Educação da UECE, permitiram o aprofundamento de

estudos sobre as teorias educacionais e reflexões sobre a formação de professores que

ensinam Matemática, contribuindo para realização de estudos e pesquisas sobre a temática

investigada e a construção do referencial teórico desta investigação.

Em relação à relevância científica deste estudo, buscou-se realizar o Estado da

Questão4, procurando analisar o que já existe de pesquisas realizadas em dissertações e teses

que versam sobre os conhecimentos dos professores, a formação de professores, o ensino de

Geometria Espacial e o uso do software GeoGebra desenvolvidas no período de 2000 a 2019,

no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).

Considera-se que o período de duas décadas traduz resultados consistentes e

relevantes no cenário das pesquisas educacionais, de modo que se delimitou esse recorte

temporal. Para realização das buscas utilizou-se os descritores: geometria espacial,

conhecimentos, formação de professores e geogebra no campo de assuntos.

No site da BDTD e da CAPES não se localizou nenhum trabalho que

contemplasse simultaneamente os quatro enfoques pesquisados. Insistindo em buscar outras

possibilidades de pesquisas, combinou-se os descritores de dois em dois, nos seguintes

moldes: “geometria espacial, conhecimentos”; “geogebra, conhecimentos”; “formação de

professores, geometria espacial” e, também, não foi encontrado nenhum trabalho com essas

temáticas.

Ao inserir “geometria espacial, geogebra”, foram encontradas sete dissertações,

bem como, ao buscar por “geogebra, formação de professores”, três dissertações apareceram.

Observou-se que todas essas pesquisas foram desenvolvidas em cursos de Mestrados

Profissionais, não sendo encontrada nenhuma tese. Esse dado trouxe indícios de que o uso do

software GeoGebra, associado aos descritores supracitados , é pouco explorado nas pesquisas

de cursos de mestrado e doutorado acadêmico, tornando-se relevante à presente investigação

4 A finalidade do Estado da Questão é a de levar o pesquisador a registrar, com suporte em um rigoroso

levantamento bibliográfico, como se encontra o tema ou o objeto de sua investigação no estado atual da ciência

ao seu alcance (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2010, p. 34).

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da temática, no curso de Mestrado Acadêmico em Educação.

A partir das buscas para construção do Estado da Questão e da ausência de

estudos acadêmicos sobre a temática acima mencionada, percebeu-se a carência de pesquisas

direcionadas a investigar e a colaborar com os conhecimentos dos professores que ensinam

Matemática e que já concluíram a formação inicial. A vivência desses profissionais em sala de

aula retrata, de forma confiável, as dificuldades no ensino e na aprendizagem dos alunos e

sinaliza a necessidade da inserção dos recursos tecnológicos na sua prática de ensino, em

especial, na abordagem do conteúdo de Geometria Espacial no EM. Essas lacunas precisam

ser preenchidas por meio de novas investigações.

Diante desse cenário, este trabalho direcionou-se aos conhecimentos dos

professores, na tentativa de refletir sobre a formação e prática de ensino dos docentes de

Matemática, objetivando contribuir para ação docente da disciplina que ministram.

Assim sendo, esse estudo busca responder a seguinte questão: Como os

professores de Matemática do Ensino Médio constroem e mobilizam o conhecimento do

conteúdo, o conhecimento pedagógico e o conhecimento tecnológico em suas atividades

práticas relacionadas ao ensino de Geometria Espacial?

Logo, para elucidação da problemática relatada e da questão de pesquisa,

formulou-se o objetivo geral: analisar indícios do conhecimento de conteúdo, do

conhecimento pedagógico de conteúdo, do conhecimento tecnológico pedagógico e de

conteúdo na prática dos professores de Matemática do Ensino Médio a partir do

processo formativo direcionado ao ensino de Geometria Espacial.

A partir da definição do objetivo geral, foram traçados os objetivos específicos:

Compreender como os professores de Matemática do Ensino Médio

manifestam seu conhecimento do conteúdo no ensino de Geometria Espacial.

Identificar evidências do domínio do conhecimento pedagógico do conteúdo

pelos professores de Matemática do Ensino Médio, associadas ao ensino de

Geometria Espacial.

Verificar indícios da apropriação do conhecimento tecnológico pedagógico e

de conteúdo – TPACK pelos professores de Matemática do Ensino Médio, em

formação continuada.

Nesse caminho, este trabalho de dissertação faz considerações sobre os

conhecimentos: conhecimento do conteúdo, conhecimento pedagógico do conteúdo,

conhecimento tecnológico e as interações com o TPACK na formação continuada dos

professores de Matemática, focalizando os conteúdos de poliedros, prismas e pirâmides com o

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auxilio do software GeoGebra a partir do uso de recursos tecnológicos móveis (smartphones,

iphones ou tablets).

Para efetivação da pesquisa, desenvolveu-se um processo formativo com três

professores de Matemática da Educação Básica na escola de EM Governador Adauto

Bezerra5, que faz parte da rede pública estadual de ensino, localizada no bairro de Fátima, em

Fortaleza – Ceará. A caracterização dos professores e o lócus da pesquisa de campo

encontram-se explicitados no capítulo da metodologia.

A pesquisa seguiu a abordagem qualitativa com foco nos princípios da pesquisa-

ação que se apresenta como uma perspectiva epistemológica de transformação da prática

docente dos participantes do processo de pesquisa. Além da intervenção do pesquisador, é

permitido aos pesquisados expressarem sua percepção sobre a realidade em que estão

inseridos.

Visualiza-se a ação formativa proposta neste trabalho como ação-pesquisa

definida por Barbier (2002), observando-se as recomendações em percorrer as quatro

temáticas propostas pelo autor: a identificação do problema e a contratualização; o

planejamento e a realização em espiral; as técnicas da pesquisa-ação; a teorização, a avaliação

e a publicação dos resultados.

A organização do trabalho é composta por sete capítulos. O primeiro deles, a

introdução, expõe o que foi abordado em todo o trabalho dissertativo, apresentando os

descritores que envolvem a pesquisa: os conhecimentos dos professores, a formação

continuada dos professores de Matemática, a Geometria Espacial e o software GeoGebra.

Descreve-se, ainda, a justificativa, a motivação, os objetivos, a relevância e metodologia

utilizada para realização da investigação.

O segundo capítulo aborda os conhecimentos dos professores e apresenta uma

síntese sobre o contexto histórico da formação continuada de professores no Brasil, seguido

de reflexões sobre a temática dos conhecimentos docentes, imprescindível para o exercício

profissional do professor. A fundamentação teórica para essas discussões se apoia nas

contribuições Fiorentini (2003), Imbernón (2010), Nacarato (2011), Koehler e Mishra (2005,

2009), Shulman (1986, 2014), além de outros pesquisadores.

O terceiro capítulo traz uma reflexão sobre o ensino de Geometria. Apresenta as

habilidades a serem adquiridas pelos alunos, em Geometria Espacial, e os resultados de

avaliações nacionais e internacionais, nos níveis fundamental e médio; o contexto histórico da

5 A divulgação do nome da unidade de ensino foi autorizada pelo seu diretor geral.

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Geometria no Brasil desde o século XVIII até as duas primeiras décadas do século XXI;

discorre-se sobre a abordagem do ensino de Geometria Espacial nas salas de aulas, no cenário

atual. As discussões referenciam-se em autores como Fainguelernt e Nunes (2012), Gomes

(2007), Lorenzato (2015), Nacarato (2005), Valente (2008), além de outros pesquisadores.

O quarto capítulo deslinda sobre os recursos tecnológicos. Explana a utilização

das tecnologias digitais móveis na sala de aula para o desenvolvimento de competências e de

habilidades de professores e alunos; apresenta o software GeoGebra com o intuito de

contribuir para o ensino de Geometria Espacial e para melhoria da prática pedagógica dos

professores. As discussões referenciam-se em autores como Silva e Bairral (2019),

Fainguelernt e Nunes (2012), Koehler e Mishra (2005, 2009), dentre outros.

O quinto capítulo descreve os procedimentos e técnicas de coleta de dados

trilhados no processo de investigação científica da pesquisa de campo. Expõe a escolha do

paradigma de pesquisa e o tipo de estudo, esclarece os critérios observados na escolha do

lócus da pesquisa e dos sujeitos participantes da investigação, os métodos e os instrumentos

de coleta que servem de subsídios para análise de dados, resultados e conclusões desta

pesquisa.

O sexto capítulo apresenta a análise dos dados e discute os resultados obtidos no

campo da pesquisa desenvolvida com os professores, os quais estão estruturados em quatro

seções traçadas, visando contemplar os objetivos específicos da pesquisa.

O sétimo capítulo comunica as considerações finais, a retomada a elementos já

apresentados como a questão de pesquisa, as reflexões sobre os pontos essenciais deste

trabalho, suas possíveis contribuições, seguido das referências, apêndices e anexos.

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2 CONHECIMENTOS DOS PROFESSORES

“O professor não deve apenas ser capaz de

definir para os estudantes as verdades aceitas

em um conteúdo. Eles também precisam ser

capazes de explicitar porque uma dada

proposição pode ser justificada, porque vale a

pena ser conhecida, como se relaciona com

outras proposições, dentro e fora da disciplina,

tanto na teoria quanto na prática.”

(SHULMAN, 1986).

As pesquisas educacionais desenvolvidas no final do século XX e início do século

XXI, por diversos pesquisadores (CURI, 2011; KOEHLER e MISHRA, 2005, 2009;

SHULMAN, 1986, 2014), demonstram uma crescente preocupação com a produção de um

conjunto de conhecimentos a serem desenvolvidos durante os processos formativos de

professores nas instituições de ensino.

No tocante à formação continuada dos docentes, a literatura acadêmica tem

mostrado que esta vem sendo cada vez mais discutida na área educacional brasileira

(FIORENTINI, 2003; IMBERNÓN, 2010; NACARATO, 2011). Entretanto, apesar dos

avanços em estudos, pesquisas e programas de formação de professores nas últimas quatro

décadas, essa formação continuada ainda é considerada como uma prática muito recente e, na

maioria das vezes, não atende às reais necessidades dos professores.

Nessa perspectiva, este capítulo apresenta duas sessões: a primeira aborda o

contexto histórico da formação continuada de professores no Brasil, seguida de reflexões

sobre a temática dos conhecimentos profissionais que o professor, em sua prática de ensino,

deve dominar para transformar a matéria que ensina em conhecimentos que produzam

significados para seus aprendizes.

2.1 Contexto e formação dos professores no Brasil

A formação de professores deve ser compreendida como uma atividade processual

e constante na constituição da identidade profissional do sujeito, tendo como eixo central do

processo a “experiencialidade” e o conhecimento formal como constituintes de um mesmo

movimento, sem dissociá-los. (GUÉRIOS, 2005). Para isso, faz-se necessário compreender o

que dizem as pesquisas acadêmicas sobre o percurso formativo dos professores brasileiros no

final do século XX e nas primeiras décadas do século XXI.

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Ao discorrer sobre o processo formativo da identidade docente, é possível afirmar

que os conhecimentos dos professores são construídos ao longo do tempo. De acordo com

Curi (2011), os processos formativos se iniciam antes mesmo da escolha da profissão, visto

que a aprendizagem também se dá através do processo de observação das situações

vivenciadas nas escolas que constituem as primeiras práticas formativas desse profissional,

antes mesmo desse sujeito entrar em um curso de Graduação. Para a autora, quando o

indivíduo adentra nos primeiros anos da escolaridade básica já começa a incorporar e a

reproduzir as ações de seus professores. Essas ações, sejam boas ou ruins, na maioria das

vezes, são reproduzidas por toda a vida.

Mizukami (2013) corrobora com esse pensamento quando ressalta que o processo

de ensino e de aprendizagem, bem como a constituição de competências e habilidades, se dá

antes mesmo da Graduação e se prolongam por toda a vida, reafirmando que a escola e outros

espaços compõem e ampliam a formação desse profissional. Os processos formativos que

ocorrem após a conclusão da graduação e durante a etapa de efetivo exercício da docência

implicam em mudanças de atitudes, valores, no desenvolvimento de habilidades e melhorias

de práticas pedagógicas essenciais para o exercício da profissão.

Therrien (2006, p. 3) observa que a prática cotidiana dos professores traz marcas

da sua formação. Para o autor, muitos professores formadores costumam conduzir “os

processos formativos com o predomínio da racionalidade da ciência normativa e instrumental,

alheios ao olhar pedagógico dos processos de ensino-aprendizagem”, não havendo conexões

entre “o que se ensina” e a formação pessoal para o “ato de educar”. Esse modelo de ensino

tende a reverberar na prática profissional dos licenciandos que replicam as práticas exercidas

por seus formadores.

Imbernón (2010) pondera como necessário analisar os erros e acertos ocorridos

nos processos formativos, atentando para aquilo que ainda é possível conhecer, avançar e

melhorar. Neste sentido, o autor reflete sobre diversos modelos e características da formação

docente no âmbito nacional, fazendo uma cronologia das etapas formativas desenvolvidas em

quatro períodos distintos que se caracterizam por: (i) o início; (ii) o auge da técnica na

formação e a resistência prática e crítica; (iii) a introdução das mudanças e (iv) a busca por

novas alternativas. Os elementos centrais de cada um desses períodos apresentam as seguintes

características:

i) A década de 1970 foi marcada pelo início dos estudos sobre formação de

professores na maioria dos países da América Latina, sendo marcada pelo

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individualismo na vida formativa, na qual os docentes buscavam atividades de

formação que lhes pudessem trazer algum aprendizado;

ii) Os anos de 1980 foram marcados pela oferta de programas de formação

continuada para professores por instituições formativas, tendo a grande maioria

um caráter meramente instrucional, com o emprego de técnicas de

treinamentos e práticas desenvolvidas através de demonstrações dos

especialistas e observação passiva dos professores. Corroborando com o

pensamento de Imbernón (2013), Ferreira (2003) observa que, nesse período,

as pesquisas em formação de professores de matemática tinham como principal

preocupação a promoção de cursos e de programas que fossem úteis para serem

replicados em sala de aula, em que pouco se refletia sobre questões pertinentes

ao ensino de matemática. Nessa abordagem, as formações tiveram início por

meio de treinamentos, reciclagens, capacitações, reproduzindo nada mais e

nada menos que um processo de adestramento profissional.

iii) Na década de 1990, foram introduzidas pequenas mudanças oriundas de

transformações nos campos políticos e sociais. Algumas delas adotadas como

“modismos” e outras assumidas pelos professores como um “artifício

pedagógico inovador”. Nacarato (2011) observa que essa década foi marcada

pela racionalidade técnica, que tinha a finalidade de trabalhar conteúdos e

abordagens específicas a serem reproduzidas pelos professores nas salas de

aula. Os professores eram considerados como técnicos e executores dos

conhecimentos escolhidos e transmitidos pelos seus formadores. Fiorentini

(2003) relata que os processos de formação de professores, nessa época, tinham

um formato ultrapassado, centrados em modelos da educação tecnicista que

afastava a teoria da prática. Para o autor, havia pouca sustentação investigativa

e pouca consistência teórica, pontuando a urgência da ressignificação das

práticas pedagógicas.

iv) Dos anos 2000 aos dias atuais, Imbernón (2010) descreve que mudanças –

políticas, econômicas e tecnológicas – marcaram os contextos sociais,

ocasionando uma crise institucional na formação de professores. Reacende a

voz dos antigos e aflora a voz dos novos pesquisadores, buscando caminhos

que levem a novos horizontes e a um novo modelo de formação. O papel do

formador é, por conseguinte, garantir que a formação e as práticas dos

educadores e educandos ocorra de maneira singular e linear.

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Diante desse cenário, decorreram-se mais de cinco décadas com estudos e

pesquisas direcionadas para formação de professores. Existe um consenso no pensamento dos

pesquisadores acima citados que, apesar dos avanços relatados na literatura, pode-se afirmar

que, no século XXI, a formação docente estagnou-se no tempo. Imbernón (2010, p. 25) alega

que, há anos, vem repetindo que é necessário buscar novas alternativas para a formação de

professores na sociedade atual, em que tudo é mutável, forjado pelo conhecimento e pela

informação. O pesquisador desabafa: “tenho a sensação de que a formação dos professores

como campo de conhecimento está estancada há muito tempo”.

Coura e Passos (2018, p. 6) denunciam que a concepção de “formação docente”

presente nas licenciaturas de Matemática ainda é “que basta ao professor apenas o domínio do

conhecimento matemático e que a arte de ensinar se aprende ensinando, isto é, na prática, sem

necessidade de uma formação formal ou teórica acerca das relações entre matemática, aluno e

professor”. Infelizmente, esse pensamento ainda permanece no meio educacional,

especialmente pelo professor que foi educado no modelo de ensino tradicional, em que

primava por exposição de conteúdos, fórmulas e lista de exercícios.

Olhando para a história da formação de professores, verifica-se que esse

pensamento teve origem na fundação das primeiras licenciaturas, por volta de 1930, cujos

cursos valorizavam o bacharelado e deixavam a licenciatura em segundo plano. Com o

modelo de ensino denominado “3+1” (três anos de disciplinas específicas e um ano em

disciplinas pedagógicas), tinha-se a concepção de que, para formar um bom professor de

matemática, bastava apenas o individuo dominar o conhecimento específico. Em relação aos

aspectos pedagógicos, era direcionada a um conjunto de técnicas. (LIMA, 2007).

Nacarato (2011) observa que há um descompasso entre os investimentos das

políticas públicas de formação docente e os resultados obtidos pelas pesquisas. Segundo a

autora, os modelos de formação propostos pelos sistemas de ensino não estão sendo eficazes e

não satisfazem as necessidades dos professores. Ela propõe que seja feita uma análise nas

pesquisas no campo de formação de professores, verificando se tais análises têm como

verdadeiro objeto a formação docente ou se apenas tangenciam a temática investigada.

Turrioni e Perez (2010) reforçam como um desafio falar da formação do professor

de Matemática e salientam a necessidade de mudanças do paradigma do papel exercido pelo

professor e dos seus discursos retóricos. Destacam a necessidade de transmutação em um

novo profissional, competente e compromissado, capaz de adquirir e instituir novas

considerações, estratégias e métodos de intervenção no ensino, dotados de mais rigor e

investigação, contribuindo para a aprendizagem dos educandos.

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31

No que concerne à formação dos professores de Matemática, Fiorentini (2003)

evidencia que esses profissionais sofrem muitas críticas – os formadores de professores são

acusados de não viabilizarem uma formação contínua6 para romper com o ensino tradicional;

e os professores das escolas básicas são criticados por reproduzirem a mesma metodologia de

seus formadores, resistindo às inovações curriculares e à integração com outras disciplinas.

Fiorentini (2003) demonstra posicionamento divergente de outros pesquisadores.

Embasado em sua experiência empírica, o autor assevera que tais fatos podem ser

considerados inverídicos, haja vista que estudos realizados em grupo de pesquisa7 revelam

que os educadores matemáticos são os que mais buscam caminhos para implementar a

formação docente, os seus saberes e suas práticas pedagógicas.

Contribuindo com esse pensamento, Ferreira (2003) pontua que, aos poucos, as

pesquisas brasileiras vão concebendo a formação docente como um processo contínuo,

resultante do relacionamento dialético entre teorias e práticas. A prática, muitas vezes, pode

ser o ponto de partida para as mudanças, assim como o conhecimento das teorias educacionais

conseguem trazer grandes contribuições para o repensar das práticas.

Fiorentini (2003) comenta que novas concepções e perspectivas têm surgido,

projetando transformar as práticas pedagógicas e o trabalho docente. Destarte, a práxis do

educador deve ser norteada por alguns elementos-chave, sendo eles: reflexões e ponderações,

observação e aquisição do saber que permitam inovações no currículo e nas práticas escolares.

Segundo Lorenzato (2015, p. 14), muitos professores sentem necessidade de

“ampliar, aprofundar, consolidar seus conhecimentos e habilidades”, precisando ir além do

que as universidades lhes ensinam. Assim, a formação docente deve ser concebida como um

processo de aperfeiçoamento profissional constante, continuado e indispensável,

independentemente da qualidade do curso de graduação.

Essa formação deve ser estruturada pelo movimento social, cultural e histórico da

constituição de cada sujeito. O autor reforça que “é fundamental que a formação contínua seja

reconhecida como necessária e que seja também desejada pelo profissional, pois para

6 Os autores Fiorentini (2003), Ferreira (2003) e Lorenzato (2015) utilizam o conceito de formação contínua para

discutirem o processo formativo “que vai do ensino fundamental e médio, passa pela licenciatura em Matemática

e desenvolve-se continuamente ao longo de sua trajetória profissional.” (FIORENTINI, 2001). Nas demais

sessões do texto, utilizou-se o termo “formação continuada” referindo-se aos processos formativos que ocorrem

durante o percurso profissional, que vai de encontro ao foco desta pesquisa.

7 Fiorentini é membro do grupo de pesquisa Prapem (Prática Pedagógica em Matemática) da Faculdade de

Educação da Unicamp (FE/Unicamp) e docente do Departamento de Metodologia de Ensino da FE/Unicamp e

da área de Educação Matemática do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE/Unicamp.

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aprender é preciso ter vontade”. (LORENZATO, 2015, p. 14).

A aquisição de novos conhecimentos e a apropriação de novas abordagens de

ensino que tornem os conteúdos mais compreensíveis e significativos para os estudantes é

uma expectativa almejada por muitos educadores. Contudo, as ocupações oriundas da prática

da sala de aula, muitas vezes, deixam os professores sem tempo ou sem disposição para

investir em sua própria formação.

Nos últimos anos, são recorrentes pesquisas e debates sobre a necessidade de

mudanças nos processos de ensino, repercutindo nos processos formativos e nas práticas

pedagógicas dos professores. As políticas públicas de educação, alavancadas por agências

financeiras nacionais e internacionais, exigem a promoção de uma série de reformas

curriculares fundamentadas em saberes e competências a serem promovidas pelos docentes.

Freitas et al. (2005) salientam que:

Além dos novos saberes e competências, a sociedade atual espera que a escola

também desenvolva sujeitos capazes de promover continuamente seu próprio

aprendizado. Assim, os saberes e os processos de ensinar e aprender

tradicionalmente desenvolvidos pela escola mostram-se cada vez mais obsoletos e

desinteressantes para os alunos. O professor, então, vê-se desafiado a aprender a

ensinar de modo diferente do que lhe foi ensinado. (FREITAS et al., 2005, p. 89).

Nesse processo, a constituição desses saberes se expressa como um processo

dinâmico e em constante renovação a partir dos desafios da prática docente diária do contexto

escolar. Para o exercício dessa prática, é imprescindível que o professor mobilize um conjunto

de conhecimentos profissionais amparados nos conhecimentos pedagógicos e conhecimentos

do conteúdo a ser ensinado, além de novas metodologias de ensino que favoreçam a

promoção da aprendizagem de seus alunos.

Documentos e diretrizes nacionais que norteiam e regulamentam os processos

formativos docentes no Brasil vêm indicando a necessidade de mudança no âmbito da

formação inicial e continuada. Há mais de 30 anos, a Lei nº 9.394 (BRASIL, 1996) já

enfatizava que os professores deveriam possuir uma sólida formação que propiciasse o

conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho, por

intermédio da articulação entre teoria e prática.

Em 2015, a Resolução nº 02 do Conselho Nacional de Educação (CNE), ao

retomar a temática sobre formação de professores, garante a equidade de acesso aos processos

formativos, tanto em nível de formação inicial quanto no nível formação continuada. O

referido documento menciona que a formação continuada deve promover atividades que

provoquem a reflexão, o desenvolvimento de valores e um conjunto de conhecimentos –

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interdisciplinares, específicos e pedagógicos. Enfatiza, ainda, que essa formação deve ter em

consideração “a necessidade de acompanhar a inovação e o desenvolvimento associados ao

conhecimento, à ciência e à tecnologia” contribuindo, assim, para que se tenha uma formação

profissional efetiva e sólida. (BRASIL, 2015, p. 14).

Em 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) determina um conjunto de

ações normativas direcionadas a sistemas e redes de ensino da Educação Básica,

estabelecendo a reformulação dos currículos e das propostas pedagógicas, garantindo aos

estudantes a aquisição de um conjunto de aprendizagens essenciais. Para tanto, a Base declara

que é necessário que sejam criados “processos permanentes de formação docente que

possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino” para que possam atender as

demandas de aprendizagens de seus alunos. (BRASIL, 2018a, p. 17).

A partir da homologação da BNCC, em 2019, o CNE elaborou um novo Parecer

reformulando a Resolução nº 2/2015. Esse Parecer tem o objetivo de nortear os processos

formativos de professores para a Educação Básica em todo o país e propõe a criação de uma

Base Nacional Comum para a formação inicial e continuada de professores. O CNE justifica a

criação dessa Base para formação de professores declarando que “a formação docente é o

fator mais importante para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem escolar dos

estudantes.” (BRASIL, 2019a, p. 7).

Esse parecer entende como relevante a oferta de programas destinados a investir

na formação docente ao longo de suas carreiras, atribuindo aos Estados, Municípios e Distrito

Federal a competência de definirem planos direcionados à formação continuada de seus

docentes. A oferta de cursos de especializações, mestrados, doutorados ou programas mais

curtos são atribuídos as Instituições de Ensino Superior (IES), enaltecendo-se a importância

desses processos para uma formação que efetivamente contribua para o aprendizado do

professor ao longo da vida, reverberando na qualidade de suas práticas. (BRASIL, 2019a).

Observa-se que a preocupação com a formação docente é assunto recorrente na

legislação brasileira. Contudo, não basta a criação ou reformulação das leis e diretrizes, é

imprescindível que as reformas sejam efetivadas e que cheguem aos espaços educativos onde

os professores atuam, contemplando as lacunas provenientes da formação inicial, subsidiando

de modo efetivo a ação docente. (FREITAS; PACÍFICO, 2020).

Enquanto as reformas não são efetivadas, alguns professores tentam reinventar-se

e ensinar de forma diferente daquela que aprendeu, para adaptar-se ao papel de responsável

pelo ensino e aprendizagem de seus alunos. Segundo Freitas et al. (2005), a sociedade atual

exige que o professor seja um superdocente capaz de desenvolver e aplicar estratégias de sala

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de aula cognitivamente profundas, e, além disso, ser um acelerador de mudanças e

categorizado como catalizador da sociedade informacional e pós-industrial.

Concebe-se que o professor é um profissional que necessita ter uma formação

sólida em diversos campos do conhecimento. Além do domínio do conhecimento dos

conteúdos da disciplina que ensina, deve desenvolver o seu fazer docente baseado na didática

e na práxis docente, fundamentadas em uma prática educativa crítica, criativa, reflexiva e

transformadora de ensino.

As reformas educacionais propõem a inserção de metodologias de ensino que

agreguem os conceitos teóricos aos procedimentos didáticos e à reformulação das práticas

docentes. Os professores devem ser envolvidos em atividades formativas não apenas como

participantes, mas como investigadores de suas práticas e parceiros na construção dos

conhecimentos, participando em processos coletivos. (BRASIL, 2019a, p. 26).

Nessa perspectiva, pesquisadores (NACARATO, 2011; FIORENTINI, 2003)

defendem que a formação docente deve ser pautada no trabalho coletivo e colaborativo. Se

desenvolvidas nesses padrões, proporcionam aos envolvidos oportunidades de formação

permanente, subsidiadas pela troca de experiências e metodologias diferentes para superar os

obstáculos e dificuldades provenientes da prática e da atuação no dia a dia na escola.

Ferreira (2003) colabora com o pensamento dos autores, destacando como

necessária a participação dos professores em todas as etapas dos projetos de formação, desde

a elaboração até o desenvolvimento das atividades.

Torna-se necessário construir uma nova perspectiva em relação à formação e ao

desenvolvimento profissional na qual professores e pesquisadores passem a se ver

reunidos como colegas – cada qual com seus saberes e experiências – unidos no

objetivo comum de proporcionar experiências matemáticas de qualidade para seus

alunos. (FERREIRA, 2003, p 37).

Mattos e Mattos (2018, p. 41) complementam que a formação continuada é uma

importante fonte de reflexão para os professores, favorecendo a ampliação do conjunto de

conhecimentos adquiridos na formação inicial, enriquecendo a produção de convicções e

auxiliando nas práticas para que os conhecimentos profissionais sejam validados. Esse

processo de formação propicia a autonomia pessoal, transformando o docente em um sujeito

“autônomo, seguro e capaz de realizar escolhas que favoreçam o ensino e a aprendizagem

satisfatoriamente”.

Nesse contexto, este trabalho pretende contribuir para a formação dos professores

envolvidos na pesquisa, na perspectiva de gerar discussões e elucidar caminhos para um fazer

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docente sobre o ensino de Geometria Espacial, em que haja articulações com as competências

e habilidades inerentes à prática docente, com ênfase na mobilização dos conhecimentos: dos

conteúdos, de técnicas pedagógicas e do domínio e utilização das novas tecnologias

educacionais. Diante disso, a seção seguinte apresenta uma reflexão sobre o domínio de

conhecimentos docentes necessários ao desenvolvimento da ação profissional dos professores.

2.2 O domínio dos conhecimentos pelos professores

A atividade docente desenvolvida pelos professores favorece a produção e

ampliação de seus conhecimentos, habilidades e competências, constituindo-se em uma base

de conhecimentos para transformar a organização e a realização do trabalho do professor no

contexto escolar, em especial na sala de aula. Mattos e Mattos (2018) consideram que a

atividade docente envolve muito mais do que ensinar, engloba um conjunto de ações:

Saber-fazer, saber-agir e saber-ser envolvem os pares com suas experiências e suas

expectativas; envolvem a escola, a realidade a sua volta, as necessidades locais e

globais; envolvem os alunos, como aprendem, como é deu desenvolvimento afetivo,

cognitivo e pessoal, sua cultura; envolvem os conhecimentos acadêmicos, os

conhecimentos didáticos pedagógicos, as tarefas e as ações esperadas. (MATTOS;

MATTOS, 2018, p. 47).

Assim, a formação docente deverá contemplar integralmente o desenvolvimento

de competências e habilidades inerentes à prática docente, embasadas em saberes e fazeres

voltados para o efetivo exercício da sua práxis pedagógica. (MELO, 2005). Nessa perspectiva,

os programas de formação docente têm sido desafiados a conhecerem, organizarem,

desenvolverem e ampliarem os conhecimentos profissionais dos docentes, que podem ser

compreendidos como aquilo que efetivamente encontra-se sendo aprendido e empregado no

ensino . As diligências empreendidas para contribuir e ampliar os conhecimentos profissionais

e a formação dos professores vêm sendo uma questão recorrente nas pesquisas de diversos

autores da área educacional.

Ao adentrarmos nas discussões sobre formação de professores e conhecimentos

profissionais, pesquisadores discorrem sobre os diversos conhecimentos e/ou saberes que

alicerçam a formação e a prática dos professores, atribuindo-lhes várias denominações:

conhecimentos curriculares, conhecimento dos conteúdos, saberes profissionais, saberes

experenciais, conhecimentos pedagógicos, dentre outros.

Shulman (1986) tem sido um dos pesquisadores mais citados por trazer

contribuições primordiais a esse debate. Apesar de não serem direcionados exclusivamente à

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formação de professores de Matemática, seus estudos estão voltados ao conhecimento dos

professores de diversas áreas, as suas ideias e às razões da dicotomia entre teoria-prática .

Para Curi (2011, p. 78), quando se fala de formação de professores que ensinam

Matemática no Brasil, há várias correntes de pensamento. Contudo, a pesquisadora menciona

a existência de um grupo de pesquisadores que defende “a importância da articulação entre os

conhecimentos matemáticos e os conhecimentos didáticos pedagógicos na formação de

professores de Matemática”, estabelecendo vínculo entre formação e prática profissional. Na

visão da autora, essa corrente pode estar relacionada às pesquisas de Shulman (1986, 2014)

que ressaltam a primordialidade do domínio do conhecimento sobre “o que ensinar” e o

“como ensinar”.

Em relação à influência do pensamento de Shulman (1986, 2014) para a formação

de professores que ensinam Matemática levantada por Curi (2011), os estudos de Almeida et

al. (2019) corroboram com a temática suscitada. As autoras realizaram uma revisão

integrativa de literatura de publicações acadêmicas brasileiras que abordam o conhecimento

pedagógico do conteúdo (uma das categorias apontada pelo autor como a base do

conhecimento para o ensino), nas duas últimas décadas.

Foram localizadas 114 produções (compreendendo artigos, dissertações e teses)

que empregam essa categoria de conhecimento de Shulman (1986). Tais pesquisas foram

realizadas entre os anos de 2003 a 2018, com aumento considerável das publicações, na

última década, destacando que, em 2015, houve a maior incidência de trabalhos – 24

investigações. Os resultados mostraram que a área de estudo com maior concentração de

trabalhos foi a área de Matemática (26,3%), seguida de Química (21,9%), Ciências Biológicas

(13,2%), Educação Física (7,0%) além de outras áreas com incidências menores.

Os resultados sinalizam que os estudos desenvolvidos por Shulman tem

influenciado a investigação de didáticas e disciplinas específicas. Almeida et al. (2019)

apontam ainda que o foco dessas pesquisas recai principalmente na análise do modo como se

dá a aquisição, o desenvolvimento e a mobilização do conhecimento pedagógico do conteúdo

na formação inicial de professores e na ação dos docentes que atuam nos anos finais do

Ensino Fundamental e/ou no EM.

O estudo realizado, pelas autoras supracitadas, indica que a disseminação do

pensamento do teórico, no Brasil, continua recorrente na atualidade. Diante disso, considera-

se que, embora as discussões de Shulman (1986 ) sobre a base e as fontes dos conhecimentos

dos professores para a docência tenham sido suscitadas no âmbito educacional há mais de 30

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anos, elas permanecem atuais nos estudos e debates relacionados à formação de professores,

no cenário nacional.

Nesse caminho, essas informações esclarecem e referenciam a escolha da linha

teórica de Shulman (1986, 2014) pela pesquisadora para embasamento das referências, bem

como para fundamentação teórica que dá subsídios à análise dos dados desta investigação.

Reafirma-se que esta tem por objetivo analisar indícios do conhecimento de conteúdo, do

conhecimento pedagógico de conteúdo, do conhecimento tecnológico pedagógico e de

conteúdo na prática dos professores de Matemática do EM, a partir de uma ação formativa,

abordando o conhecimento de conteúdo e o conhecimento pedagógico do conteúdo de

Shulman (1986) e o TPACK de Koehler e Mishra (2005, 2009).

Diante das reflexões apresentadas, retoma-se a apresentação das contribuições de

Shulman (1986, 2014) sobre a base do conhecimento do professor para o ensino. Em seus

estudos iniciais, o autor considera que o professor deve possuir o domínio de três categorias

de conhecimento essenciais para o desenvolvimento do ensino: conhecimento do conteúdo,

conhecimento pedagógico do conteúdo8 e conhecimento curricular. Cada um desses

conhecimentos tem a sua especificidade:

O conhecimento do conteúdo está associado ao entendimento do professor com

relação à organização do conhecimento, incluindo fatos, conceitos, princípios e

categorias explicativas da disciplina.

O conhecimento pedagógico do conteúdo a ser ensinado constitui-se pela

intersecção do conhecimento do conteúdo e do conhecimento sobre o que

ensinar, bem como a forma como o aluno aprende, resultando em um

conhecimento que é específico do professor.

O conhecimento curricular envolve a compreensão sobre os programas,

materiais de instrução da sua disciplina, os parâmetros e a capacidade de

articulação horizontal e vertical nos conteúdos curriculares. (SHULMAN,

1986).

Em relação aos três conhecimentos destacados, o autor pontua críticas aos

programas de formações de professores, que, nessa época, davam maior ênfase ao

conhecimento do conteúdo, no qual era priorizado o conhecimento científico em detrimento

aos demais conhecimentos. Os estudos de Curi e Pires (2008) evidenciam a referida

8 A expressão “pedagogical contente knowledge” de Shulman (1986) é traduzida por alguns pesquisadores como

“conhecimento didático do conteúdo”, “conhecimento pedagógico da disciplina” e também, como

“conhecimento pedagógico do conteúdo”, neste trabalho, tais expressões assumem o mesmo significado.

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problemática. As autoras, em estudos sobre a formação de professores que ensinam

Matemática, discorrem sobre a análise de ementas de disciplinas relativas à Matemática e a

seu ensino, destacam a presença de tópicos gerais do ensino de Matemática e o predomínio de

um “saber fazer” em detrimento aos demais conhecimentos relativos ao objeto de ensino.

Shulman (1986) argumenta que é necessário dar atenção a todos os componentes

da base do conhecimento para o ensino, suas fontes e a complexidade do processo

pedagógico, visto que tais aspectos não eram observados em processos de formações docentes

na época. Em pesquisas posteriores, Shulman (2014) amplia as categorias de base dos

conhecimentos dos professores para o ensino, passando a compor a seguinte estrutura:

• conhecimento do conteúdo;

• conhecimento pedagógico geral, com especial referência aos princípios e

estratégias mais abrangentes de gerenciamento e organização de sala de aula, que

parecem transcender a matéria;

• conhecimento do currículo, particularmente dos materiais e programas que servem

como “ferramentas do ofício” para os professores;

• conhecimento pedagógico do conteúdo, esse amálgama especial de conteúdo e

pedagogia que é o terreno exclusivo dos professores, seu meio especial de

compreensão profissional;

• conhecimento dos alunos e de suas características;

• conhecimento de contextos educacionais, desde o funcionamento do grupo ou da

sala de aula, passando pela gestão e financiamento dos sistemas educacionais, até as

características das comunidades e suas culturas; e

• conhecimento dos fins, propósitos e valores da educação e de sua base histórica e

filosófica. (SHULMAN, 2014, p. 206)

Mesmo sem a intenção de elevar uma categoria em detrimento à outra, Shulman

(2014) aborda as complexidades dos processos pedagógicos e destaca o conhecimento

pedagógico do conteúdo como categoria importante para a formação do professor. Para o

autor, esse conhecimento se caracteriza no agrupamento de conhecimento próprio do

professor para o ensino e se constitui pela combinação entre a disciplina e a pedagogia, sobre

“o que” ensinar e a forma do “como” o aluno aprende.

Para Shulman (2014, p. 207), o conhecimento pedagógico do conteúdo representa

o “entendimento de como tópicos específicos, problemas ou questões são organizados,

representados e adaptados para os diversos interesses e aptidões dos alunos, e apresentados no

processo educacional em sala de aula”, transformando-se em formas pedagógicas eficazes

para que seus alunos possam desenvolver novas competências e habilidades.

Almeida et al. (2019), embasadas nos estudos Grossman (1990), esclarecem que o

conhecimento pedagógico do conteúdo se constitui pela integração, combinação e

transformação dos demais domínios do conhecimento, em uma combinação coesa e

articulada. A aquisição desse conhecimento tem início na formação inicial e se desenvolve

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durante a atuação profissional, um continuum, em perspectiva de transformação.

Nessa perspectiva, Shulman (2014) enumera as principais fontes de

conhecimentos para o ensino:

(1) formação acadêmica nas áreas de conhecimento ou disciplinas; (2) os materiais e

o entorno do processo educacional institucionalizado (por exemplo, currículos,

materiais didáticos, organização e financiamento educacional, e a estrutura da

profissão docente); (3) pesquisas sobre escolarização, organizações sociais,

aprendizado humano, ensino e desenvolvimento, e outros fenômenos sociais e

culturais que afetam o que os professores fazem; e (4) a sabedoria que deriva da

própria prática. (SHULMAN, 2014, p. 207).

Para Shulman (2014), além da formação acadêmica, essas fontes são incorporadas

quando se busca o aprofundamento do conhecimento em pesquisas acadêmicas assim como

nas práticas dos professores. Desse modo:

A primeira fonte se refere à formação acadêmica do professor na disciplina que

irá ensinar (matemática, química, física, etc.), da qual se origina o

conhecimento do conteúdo.

A segunda fonte compõe-se pelos princípios, circunstâncias, políticas públicas,

conhecimentos dos currículos, avaliações educacionais, organizações sindicais,

entidades governamentais, órgãos de gestão e financiamento que regem os

sistemas de ensino, sobre os quais o professor deve conhecer e familiarizar-se.

A terceira fonte se relaciona ao conhecimento do professor oriundo da

literatura acadêmica – inclui pesquisas empíricas, filosóficas da área de ensino,

aprendizagem e desenvolvimento humano e bases normativas e éticas da

educação – para compreender os processos de escolarização, ensino e

aprendizagem.

A quarta fonte é o conhecimento adquirido pela própria prática ou pelo

trabalho colaborativo entre os professores e as trocas entre os pares.

Lobo da Costa e Prado (2013) também discorrem sobre o domínio do

conhecimento pedagógico do conteúdo, como constituintes da formação e prática dos

professores de Matemática. As autoras entendem que o domínio desse conhecimento:

[...] implica em conhecer as diferentes representações dos conceitos e como utilizá-

las para ensinar, em conhecer quais são os exemplos mais relevantes e, enfim, ter

uma compreensão global sobre o porquê alguns tópicos específicos dos diferentes

quadros matemáticos são mais simples de serem ensinados e de serem aprendidos

enquanto outros são mais complexos, exigem maior nível de abstração, análise e

enfim, de uma compreensão mais estrutural. (LOBO DA COSTA; PRADO, 2013, p.

5145).

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Para as autoras, o conhecimento pedagógico do conteúdo deve ir além do domínio

dos conhecimentos relativos aos conteúdos a serem ensinados, envolve a habilidade de o

professor perceber quais as representações matemáticas são mais relevantes para a

aprendizagem dos alunos, bem como o entendimento dos assuntos específicos da disciplina

que ministra, os mais fáceis ou mais complexos de serem abstraídos.

Shulman (2014) considera seu trabalho investigativo sobre as categorias de

conhecimentos para o ensino como uma versão preliminar para o entendimento da base dos

conhecimentos, enfatizando que novos esquemas e categorias de conhecimentos precisam ser

construídos, inventados e refinados, os quais darão origem a outros campos de

conhecimentos. Ademais, compreende-se que, por meio da mobilização de um repertório

amplo de conhecimentos, o professor tenha maior embasamento para refletir sobre sua prática

docente na perspectiva do aprimoramento de suas ações educativas.

Nesse sentido, os organismos reguladores dos sistemas de ensino brasileiro

direcionam orientações com o intuito de implementar a prática pedagógica dos professores. O

CNE, em Parecer sobre a Base Nacional Comum para a formação de professores da Educação

Básica, concebe que os professores devem desenvolver competências profissionais pautadas

nas dimensões do conhecimento, da prática e do engajamento profissional. Essas

competências pressupõem que o professor tenha uma formação sólida e uma atuação docente

amparada pelo domínio do conteúdo curricular e do conhecimento pedagógico do conteúdo,

além do compromisso consigo mesmo, em seu desenvolvimento pessoal e profissional.

(BRASIL, 2019a). Nesse processo, esse trabalho sugere a utilização das tecnologias digitais

na efetivação de propostas pedagógicas em sala de aula.

Nas últimas décadas, diversas mudanças sociais foram vislumbradas na sociedade,

dentre elas, os aparatos tecnológicos passaram a fazer parte do cotidiano da maioria da

população mundial, desencadeando uma série de transformações. Com a perspectiva de

integrar as tecnologias digitais às práticas docentes, Koehler e Mishra (2005, 2009),

inspirados nas ideias de Shulman, ampliaram a base dos conhecimentos no que concerne ao

conhecimento de conteúdo e ao conhecimento pedagógico do conteúdo.

Ao estabelecer relações entre o conhecimento pedagógico do conteúdo e as

tecnologias educativas, Koehler e Mishra (2005, 2009) apontam como necessário o domínio

do conhecimento tecnológico e pedagógico do conteúdo (Technological Pedagogical Content

Knowledge – TPACK) pelos docentes.

O TPACK é um conhecimento ainda em ascensão e tem estrutura central em três

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diferentes conhecimentos: conteúdo, pedagogia e tecnologia. Na perspectiva dos estudos de

Koehler e Mishra (2005), cada um desses conhecimentos tem uma função específica.

O conteúdo é o conjunto de conhecimentos e habilidades que o professor

ensina com o intuito de garantir a aprendizagem dos alunos. Se o professor não

tiver o domínio desse conhecimento, o aluno poderá receber uma informação

incorreta e desenvolver um conceito errôneo sobre determinado assunto.

A pedagogia é o conjunto de procedimentos e técnicas de instrução que o

professor utiliza no ensino, cuja finalidade é o aprendizado de indivíduos em

formação.

A tecnologia inclui a habilidade do professor aprender, adaptar-se e operar

tecnologias específicas para o ensino. No caso dos professores, saber operar

uma tecnologia vai além de habilidades básicas de trabalhar em sistemas

operacionais como Word, Excell e navegações em Internet.

Para Koehler e Mishra (2005) o ensino baseado em apenas um desses

conhecimentos – conteúdo, pedagogia ou tecnologia é considerado insatisfatório. Segundo os

autores, “Qualquer instrução que se concentre em apenas um desses itens, por vez, seria

relativamente ineficaz em ajudar os professores a compreender como esses conhecimentos

bases se relacionam.” (KOEHLER; MISHRA, 2005, p. 134, tradução nossa9).

A incorporação dos recursos tecnológicos digitais no ensino sinaliza-se como um

elemento potencialmente significativo por disponibilizar uma variedade de demonstrações e

representações que auxiliam aos professores na explanação dos conteúdos, em sala de aula.

Entretanto, a tecnologia por si só não substitui a figura do professor e não contempla

integralmente a abrangência do conhecimento do conteúdo. A inserção das tecnologias em

sala de aula precisa ser complementada com ações pedagógicas intrínsecas dos professores de

modo a possibilitar a interação entre a tecnologia e o conteúdo.

A falta de interação e integração entre conteúdo e ensino é uma das lacunas

apontadas na área da Educação Matemática. (POWELL, 2019). Pesquisadores

(FAINGUELERNT; NUNES, 2012; NADALON, 2018) denunciam a forma de abordagem

dos conteúdos, em que ainda predomina o modelo tradicional – aulas desenvolvidas de forma

expositiva, por meio de fórmulas e regras – sem os aportes de recursos tecnológicos. Contudo,

salienta-se que o uso de recursos tecnológicos requer do professor habilidades para

9 Clearly instruction that focuses on only one of these items at a time would be relatively ineffectual in helping

teachers develop an understanding of how these knowledge bases relate to each other.

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42

reconhecer e selecionar os recursos tecnológicos mais adequados ao ensino de cada conteúdo

e que este profissional saiba promover a mediação entre eles.

A inserção de aportes tecnológicos como vídeos ou simulações com softwares em

sala de aula sem a devida associação ao conteúdo ministrado não garante a aprendizagem dos

educandos. Koehler e Mishra (2005) reforçam como necessária a interação dos recursos

tecnológicos com o conteúdo e com a pedagogia, estabelecendo conexões entre eles, de modo

a resultar em quatro novos tipos conhecimentos: conhecimento pedagógico do conteúdo,

conhecimento tecnológico do conteúdo, conhecimento tecnológico pedagógico e o TPACK,

representados no diagrama da figura 1.

Figura 1 – O TPACK e os componentes do conhecimento

Fonte: Koehler e Mishra (2009, p. 63, tradução nossa

10).

Pela representação dos conhecimentos, ilustrados na figura 1, é possível perceber

que esses conhecimentos – pedagogia, conteúdo e tecnologia, quando se interceptam, se

transformam em novos conhecimentos.

Conteúdo e pedagogia resultam em conhecimento pedagógico do conteúdo

(PCK). Nele está envolvido o conhecimento do professor sobre teorias, técnicas e

representação de conceitos para o ensino de conteúdos de determinada disciplina. Koehler e

10

Technological Knowledge; Pedagogical Knowledge; Content Knowledge; Pedagogical Content Knowledge;

Technological Content Knowledge; Technological Pedagogical Knowledge; Technological Pedagogical Content

Knowledge (TPACK).

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43

Mishra (2009, p. 65, tradução nossa11

) afirmam que “Especificamente, de acordo com

Shulman (1986), [...] ocorre quando o professor interpreta o assunto, encontra várias maneiras

de representá-lo e adapta os materiais instrucionais às concepções alternativas e ao

conhecimento prévio dos alunos”.

Tecnologia e conteúdo convertem-se em conhecimento tecnológico de conteúdo

(TCK) e nele está incluído o domínio do conhecimento de como um conteúdo específico pode

ser modificado pelo uso de uma tecnologia e vice-versa, e seu impacto nas práticas de ensino

e aprendizagem. Para Koehler e Mishra (2009) o conhecimento tecnológico de conteúdo

é um entendimento da maneira pela qual a tecnologia e o conteúdo influenciam e

constrangem um ao outro. Os professores precisam dominar mais do que o assunto

que ensinam; eles também devem ter um entendimento profundo da maneira pela

qual o assunto (ou os tipos de representações que podem ser construídas) pode ser

alterado pela aplicação de tecnologias específicas. (KOEHLER; MISHRA, 2009, p.

65, tradução nossa12

).

No ensino de Geometria Espacial, por exemplo, sólidos geométricos como

prismas, pirâmides e outros sólidos, quando trabalhados em softwares de geometria dinâmica,

são facilmente construídos, visualizados e manipulados (FAINGUELERNT; NUNES, 2012).

Além disso, a imagem dos sólidos pode ser demonstrada em dois formatos: bidimensional e

tridimensional, o que contribui para ampliar a compreensão dos elementos que compõem cada

objeto espacial. Entretanto, ressalta-se a necessidade de o professor possuir o domínio do

conhecimento tecnológico do conteúdo para analisar a tecnologia mais adequada que poderá

auxiliar no ensino de tópicos específicos da matéria que leciona.

Tecnologia e pedagogia formam o conhecimento tecnológico pedagógico (TPK),

que compreende o conhecimento das potencialidades e limitações de uma tecnologia e como

esta pode ser usada para ampliação do ensino e aprendizagem. Koehler e Mishra (2009, p. 64,

tradução nossa13

) definem conhecimento tecnológico pedagógico como:

11

Specifically, according to Shulman (1986), [...] occurs as the teacher interprets the subject matter, finds

multiple ways to represent it, and adapts and tailors the instructional materials to alternative conceptions and

students’ prior knowledge.

12

is an understanding of the manner in which technology and content influence and constrain one another.

Teachers need to master more than the subject matter they teach; they must also have a deep understanding of

the manner in which the subject matter (or the kinds of representations that can be constructed) can be changed

by the application of particular technologies.

13

understanding of how teaching and learning can change when particular technologies are used in particular

ways. This includes knowing the pedagogical affordances and constraints of a range of technological tools as

they relate to disciplinarily and developmentally appropriate pedagogical designs and strategies.

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44

[...] entendimento de como o ensino e a aprendizagem podem mudar quando

determinadas tecnologias são usadas de maneiras particulares. Isso inclui o

conhecimento das possibilidades e restrições pedagógicas de uma variedade de

ferramentas tecnológicas relacionadas a projetos e estratégias pedagógicas

disciplinares e de desenvolvimento apropriadas.

Compreende-se que os professores precisam dominar o conhecimento das

tecnologias que envolve: a escolha da tecnologia adequada, os procedimentos pedagógicos

pertinentes ao ensino, além de prever os possíveis resultados que a tecnologia potencializará

na aprendizagem de seus alunos.

O resultado da intersecção entre os três conhecimentos docentes – PCK, TCK e

TPK, acima definidos, é o TPACK. Esse conhecimento tem significado diferente dos três

conhecimentos mencionados anteriormente, quando pensados individualmente. Koehler e

Mishra (2009) sinalizam que o objetivo do TPACK é contribuir com o conhecimento dos

professores “sobre” a tecnologia para trabalharem “com” a tecnologia em suas disciplinas

escolares, com seus alunos. Para os autores o TPACK é

(...) a base do ensino eficaz da tecnologia, exigindo um entendimento da

representação de conceitos usando tecnologias; técnicas pedagógicas que usam

tecnologias de maneira construtiva para ensinar conteúdo; conhecimento do que

torna os conceitos difíceis ou fáceis de aprender e como a tecnologia pode ajudar a

corrigir alguns dos problemas que os alunos enfrentam; conhecimento do

conhecimento prévio dos alunos e teorias da epistemologia; e conhecimento de

como as tecnologias podem ser usadas para desenvolver o conhecimento existente

para desenvolver novas epistemologias ou fortalecer as antigas. (KOEHLER;

MISHRA, 2009, p. 66, tradução nossa14

).

A apropriação do TPACK não é simples porque os conhecimentos não podem ser

vistos de maneira isolada. Para Lobo da Costa e Prado (2015, 110, grifos das autoras) “A

compreensão integrada dos conhecimentos pedagógicos, tecnológicos do conteúdo é que tem

sido um grande desafio na e para a formação de professores, uma vez que requer novas

reconstruções de conhecimentos.”.

Nessa perspectiva, a plausividade do TPACK consiste na habilidade do professor

em estabelecer inter-relações contínuas entre o conhecimento tecnológico de conteúdo,

conhecimento tecnológico pedagógico e conhecimento pedagógico do conteúdo, aplicando

esses conhecimentos a situações específicas da disciplina que leciona. No caso desta

14

the basis of effective teaching with technology, requiring an understanding of the representation of concepts

using technologies; pedagogical techniques that use technologies in constructive ways to teach content;

knowledge of what makes concepts difficult or easy to learn and how technology can help redress some of the

problems that students face; knowledge of students’ prior knowledge and theories of epistemology; and

knowledge of how technologies can be used to build on existing knowledge to develop new epistemologies or

strengthen old ones.

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45

investigação, procurou-se manter o equilíbrio constante entre os recursos tecnológicos

(software e smartphones), os tópicos de Geometria Espacial (prismas, pirâmides e poliedros

de Platão) explorados e as habilidades pedagógicas dos docentes envolvidos em todo o

percurso da ação formativa.

Estabelecendo-se a similaridade entre os conhecimentos integrantes do TPACK

(KOEHLER; MISHRA, 2005; 2009) e os conhecimentos explorados no contexto da presente

pesquisa, concebeu-se o entendimento de que os recursos tecnológicos móveis e o software

GeoGebra compõem elementos do conhecimento tecnológico; tópicos do conteúdo de

Geometria Espacial constituem o conhecimento de conteúdo; e os componentes da etapa

formativa e a didática dos participantes integram o conhecimento pedagógico de conteúdo. A

possível integração entre esses três diferentes conhecimentos resulta na ascensão do domínio

do TPACK, provocando uma efetiva ampliação do domínio dos conhecimentos necessários à

prática de ensino dos professores de Matemática.

Ensejando-se alcançar os propósitos indicados para essa pesquisa e a devida

fundamentação teórica para a análise dos dados, esta investigação será fundamentada nas

vertentes do conhecimento do conteúdo e conhecimento pedagógico do conteúdo de Shulman

(1986, 2014) e do TPACK referenciados por Koehler e Mishra (2005, 2009), por

estabelecerem aproximações com objetivos desta investigação.

As considerações traçadas neste capítulo – os estudos desenvolvidos sobre

formação continuada e os conhecimentos dos professores compõem o referencial teórico que

subsidiou a construção das análises dos dados da presente investigação. A seguir, apresentam-

se reflexões evidenciadas na literatura, por pesquisadores, acerca do ensino de Geometria

Espacial que ocorre nas escolas brasileiras.

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46

3 O ENSINO DE GEOMETRIA

“A Geometria existe por toda a parte. É

preciso, porém, olhos para vê-la, inteligência

para compreendê-la e alma para admirá-la”.

(JOHANNES KEPLER, 1630).

A Geometria é um ramo da Matemática que propicia o desenvolvimento de

competências e habilidades intelectuais nos indivíduos, tanto no ponto de vista das aplicações

práticas quanto no aspecto do desenvolvimento de capacidades intelectuais, como a

criatividade e a percepção espacial. É uma poderosa ferramenta para a compreensão,

descrição e inter-relação da percepção espacial do mundo em que se habita.

Este capítulo apresenta três seções relacionadas à Geometria. A primeira aborda o

contexto histórico do ensino da Geometria no Brasil desde o século XVIII até as duas

primeiras décadas do século XXI. A segunda seção apresenta ponderações em relação às

habilidades a serem adquiridas, pelos alunos, em Geometria Espacial. Faz considerações,

também, a despeito de resultados de alunos, expressos em avaliações nacionais e

internacionais, nos níveis fundamental e médio. A terceira discorre sobre a abordagem do

ensino de Geometria Espacial nas salas de aulas, no cenário atual. As discussões referenciam-

se em autores como Fainguelernt e Nunes (2012), Gomes (2007), Lorenzato (2015), Nacarato

(2005), Valente (2008), além de outros pesquisadores.

3.1 Contexto histórico da Geometria no Brasil

Para compreender o atual cenário do ensino de Geometria Espacial nas escolas de

Educação Básica, buscou-se conhecer o conteúdo histórico das abordagens desse conteúdo e o

seu desenvolvimento no Brasil ao longo dos séculos. Os primeiros registros do ensino desse

conteúdo no território brasileiro remetem ao século XVIII, com aproximações completamente

voltadas para fins militares – construção de fortes, aparelhamento de guerras e defesa da

Colônia.

A esse respeito, Valente (2008, p. 14) relata que as primeiras aulas de Matemática

no Brasil foram ministradas por um militar português, José Fernandes Pinto Alpoim, em

1738. Alpoim teve “como uma de suas tarefas maiores, a partir da geometria, ensinar como é

possível calcular o número de balas de canhão que um determinado lugar pode conter. Ou

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ainda, à vista de uma pilha de balas de canhão, saber quantas balas a pilha tem.”.

Após a Proclamação da Independência do Brasil, em 1827, com a criação dos

Cursos Jurídicos em universidades brasileiras, uma das condições de ingresso de candidatos a

esses cursos era “prestar exames de língua francesa, retórica, filosofia nacional e moral e

geometria”. Diante desse fato, a Matemática mudou seu status e passou a ocupar lugar de

destaque na sociedade brasileira: “Inicialmente considerados como conteúdos de caráter

técnico-instrumental, servindo prioritariamente ao comércio e a formação militar, os

conteúdos matemáticos, por meio da geometria, ascendem à categoria de saber cultural geral”.

(VALENTE, 2008, p. 15)

O método de acesso aos cursos superiores estendeu-se a outros cursos como

medicina e engenharia e permaneceu por mais de 100 anos, do período do Império até as

primeiras décadas da República. Uma obra citada como referência para os exames de

Geometria foi escrita por Jerônimo Pereira Lima, intitulada de Pontos de Geometria para

provas escritas nos exames da instrução pública da Corte (1869), cuja habilidade requerida

ao candidato para que fosse bem sucedido no exame era decorar todos os pontos da obra. O

trabalho didático-pedagógico do professor era fazer com que seus alunos fixassem os

“pontos” e os reproduzissem nos exames. (VALENTE, 2008).

Com a Reforma de Francisco Campos (1931) houve uma reestruturação no ensino

e nas disciplinas. A Álgebra, a Aritmética e a Geometria se fundiram, constituindo uma nova

disciplina: a Matemática. Entretanto, mesmo com a proposta de fundir as disciplinas

mencionadas em uma única disciplina, os professores de Matemática continuaram a seguir o

modelo de seus antecessores – os conteúdos eram ministrados em dias separados e dentro dos

compêndios15

, que eram organizados em diferentes capítulos. (VALENTE, 2008).

O Movimento da Escola Nova, defendido pelos Pioneiros da Educação,

influenciados pelas correntes internacionais na década de 1930, fez surgir uma preocupação

com o ensino básico brasileiro. Com o crescimento industrial, o desenvolvimento da

agricultura e a expansão dos centros urbanos, surgiram as primeiras faculdades dedicadas à

formação de professores. O Brasil conseguiu organizar o ensino secundário em um sistema

seriado, tornando obrigatório o diploma do ensino secundário para o ingresso no ensino

superior, isso resultou num esvaziamento dos cursos preparatórios. (FERREIRA, 2005).

Os avanços científicos e tecnológicos estavam acontecendo no cenário mundial e

15

Compêndio é o nome que se dá a uma súmula dos conhecimentos relativos a uma dada área do saber, em

forma de livro. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Comp%C3%AAndio

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48

necessitava de interação urgente com os conhecimentos matemáticos. No final da década de

1950 e início de 1960, começaram as primeiras adequações do ensino da Matemática no

Brasil, resultantes das ideias disseminadas internacionalmente pelo Movimento da

Matemática Moderna (MMM). (FERREIRA, 2005).

Nesse período o ensino da Geometria foi amplamente discutido e modificado –

em 1955 foi aprovado que o ensino da Geometria seria iniciado na 3ª série ginasial. Em 1957,

um novo programa foi aprovado e o ensino da Geometria apareceu na 1ª série ginasial,

comtemplando o ensino intuitivo das principais figuras planas e sólidos espaciais, tendo

continuidade nas 3ª e 4ª séries com a Geometria Dedutiva. Em 1959, através de nova

proposta, o ensino de Geometria teve início na 2ª série ginasial, apenas com o sistema métrico

e na 4ª série, o ensino da Geometria Dedutiva Plana, utilizando alguns conhecimentos de

Álgebra. (FERREIRA, 2005).

A respeito do MMM no Brasil, registra-se um momento de ampla discussão do

ensino desse conteúdo. Os modernistas defendiam uma reestruturação do ensino da Geometria

com outras abordagens diferentes da euclidiana, cobrando maior ênfase nas estruturas e

axiomas. Ferreira (2005), amparada em estudos de Morris Kline (1976), relata que a

geometria não euclidiana é dedutiva, porém os modernistas a tornaram muito rigorosa,

exigindo que o ensino e a aprendizagem deveriam ser expressos por axiomas para provar

afirmações que facilmente poderiam ser justificadas pelo raciocínio dedutivo. Isso acabou por

afastar os estudantes desse conteúdo em vez de aproximá-los.

No tocante ao legado do MMM, pesquisadores (GOMES, 2007; LORENZATO,

1995) destacam que esse Movimento contribuiu para o caos do ensino de Geometria,

resultando na limitação do desenvolvimento do conhecimento geométrico e a algebrização

dos conteúdos, resultando em lacunas que se refletiram nas práticas pedagógicas dos

professores.

[...] antes de sua chegada ao Brasil, nosso ensino geométrico era marcantemente

lógico-dedutivo, com demonstrações, e nossos alunos o detestavam. A proposta da

Matemática Moderna de algebrizar a Geometria não vingou no Brasil, mas

conseguiu eliminar o modelo anterior, criando assim uma lacuna nas nossas práticas

pedagógicas, (LORENZATO, 1995, p. 4).

Gomes (2007) assevera que, após esse Movimento, o raciocínio dedutivo e as

demonstrações geométricas foram apresentadas como uma simples série de receitas tornando

o enfoque meramente informativo e as abordagens adotadas não caracterizavam nem como

intuitivas, tampouco, dedutivas, ou seja, recebendo informações ilustrativas e com ausência de

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49

percepção. O ensino da Geometria foi marcado pela despersonalização, visto que, na relação

ensino/aprendizagem, “os estudantes não descobriam as propriedades geométricas mediante

experiências, como também não chegavam a elas por meio de deduções – apenas recebiam

informações isoladas e sem qualquer justificativa.”. (GOMES, 2007, p. 6).

Na visão de Valente (2008), a herança adquirida pelo professor das práticas

desenvolvidas no século XIX sedimentou-se por mais de 100 anos. Já Ferreira (2005) declara

que, por mais de 300 anos, o ensino da Matemática foi tradicional – centrado no professor –

acentuado pelo elitismo e nem todos tiveram acesso a ele. “Para a elite, ensinava-se a

geometria euclidiana, racional e rigorosa; já nas classes menos favorecidas – ensino técnico –

privilegiando-se o cálculo.” (FERREIRA, 2005, p. 96). Nas aulas de Aritmética e Geometria

era enfatizado a abstração, a sistematização lógica por definições, axiomas e postulados,

incentivando a não participação de muitos alunos nessas aulas.

Sobre o enfoque do ensino de Geometria, na década de 1980, Grando, Nacarato e

Gonçalves (2008) corroboram, evidenciando que inúmeras pesquisas, da área de Educação

Matemática, relatam que a Geometria se revestiu no modelo direcionado à linguagem dos

conteúdos, resultando em ausência nos currículos e livros didáticos. Isso contribui para que os

professores a preterissem em relação à Álgebra e à Aritmética, desencadeando no abandono

do ensino desse conteúdo na escola básica.

A ausência do conteúdo de Geometria nos currículos e nos livros didáticos, nas

escolas brasileiras, nessa década, é consenso entre os pesquisadores. Os estudos de Lorenzato

(1995) apontaram equívocos nas propostas de elaboração desses livros, que apresentavam a

Geometria como “um conjunto de definições, propriedades, nomes e fórmulas, desligado de

quaisquer aplicações ou explicações de natureza histórica ou lógica; [...] reduzida a meia

dúzia de formas banais do mundo físico”. Essas lacunas realçadas na análise dos livros

didáticos, envolvendo os conteúdos e conceitos geométricos, influenciaram diretamente a

prática pedagógica dos professores durante as décadas subsequentes.

Na primeira década do século XXI, Passos (2000) assevera que os professores

apresentavam dificuldades em trabalhar conceitos geométricos elementares e quando

tentavam ensinar para seus alunos, apresentavam muita dificuldade, tanto na teoria quanto na

metodologia, comprometendo o processo de aprendizagem dos estudantes. Tais deficiências

não foram sanadas pelos cursos de formação inicial, resultando em um desconhecimento

profundo desse campo da Matemática, indicando a necessidade de formação continuada.

As análises relativas às duas primeiras décadas do século XXI indicam a

introdução de pequenas mudanças e adaptações. Especialistas (GOMES, 2007; NACARATO,

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50

2008) revelam, em seus estudos, na primeira década do século XXI, que os professores

passaram a demonstrar maior atenção na preparação das práticas pedagógicas voltadas para os

conteúdos geométricos, propostos pelos programas curriculares da Educação Básica,

buscando a consolidação de proposições e conceitos.

Gomes (2007) realizou uma pesquisa junto a professores da rede municipal de

Belo Horizonte ao ministrar a disciplina de Geometria, em um curso de especialização, sobre

os conhecimentos geométricos e atividades experimentais desenvolvidas pelos docentes em

suas práticas educativas. A pesquisadora menciona que, apesar de estudos evidenciarem “uma

presença considerável das atividades experimentais com o uso de vários materiais e

instrumentos” por alguns docentes, infelizmente, essa metodologia de ensino ainda não é

utilizada pela maioria dos professores. (GOMES, 2007, p.14). A autora constatou que os

professores demonstram insegurança em relação ao que fazem e a maioria dos participantes

da pesquisa manifestou o desejo de ampliar os conhecimentos sobre os conteúdos geométricos

e metodologias específicas para seu ensino.

Já na segunda década do século XXI, pesquisadores (SANCHEZ, 2018;

SANTOS; NACARATO, 2014) apontam o movimento de resgate da Geometria em pesquisas

acadêmicas e nos livros didáticos. Em relação aos currículos da Educação Básica, em

consonância às orientações de diretrizes curriculares como BNCC (BRASIL, 2018a) e

Matrizes de Referências do INEP/MEC (BRASIL, 2018b), já se percebe a distribuição dos

blocos de conteúdos matemáticos: Números, Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas,

Probabilidade e Estatística, sem grandes disparidades.

No tocante às abordagens dos conteúdos geométricos nos livros didáticos,

Sanchez (2018, p. 39), ao analisar coleções de EM distribuídas em escolas públicas

brasileiras, pelo Plano Nacional do Livro Didático – PNLD/2015, observa que a Geometria já

aparece nos livros “de maneira integrada à Aritmética e à Álgebra, não sendo mais deixada

para o final do livro didático”.

Contudo, a autora ressalta que, na coleção aprovada e distribuída em 1º lugar no

Brasil16

no PNLD, a Geometria Espacial ainda é apresentada de modo extenso, fragmentado e

com muitos exercícios repetitivos. Além disso, não são exploradas as representações

bidimensionais (planificações) de objetos tridimensionais (figuras espaciais). No cálculo de

volume dos sólidos geométricos espaciais, faz-se somente a dedução da fórmula do volume

do paralelepípedo retângulo e as demais fórmulas são deduzidas de modo superficial.

16

dados obtidos no relatório estatístico do PNLD de 2015. (SANCHEZ, 2018).

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51

Sanchez (2018) observa ainda a presença de exercícios que se caracterizam pela

repetição e pela resolução de problemas que não favorecem a reflexão. A quantidade de

conceitos e atividades propostas é excessiva. Em alguns tópicos da geometria desses livros é

possível perceber algumas abordagens relacionadas ao cotidiano ou a aplicações reais, mas

isso é feito de maneira isolada, ao final dos capítulos, em um subtópico destinado à resolução

de exercícios de vestibulares.

Em relação às adaptações e mudanças dos livros didáticos, com os conteúdos e

habilidades desenvolvidos no formato das indicações da BNCC e Matrizes de Referências do

INEP/MEC, não foi encontrado nenhum estudo no momento da realização desta investigação.

Ressalta-se que as coleções distribuídas nas escolas públicas brasileiras, pelo PNLD, para os

anos finais do Ensino Fundamental, chegaram às escolas no início de 2020 e as coleções do

EM só estarão disponíveis a partir de 2022.

Quanto à abordagem dos conteúdos geométricos no ensino, pelos professores,

Santos e Nacarato (2014) sinalizam que ainda há lacunas e deficiências perceptíveis na

atualidade. As pesquisadoras apontam que a prática dos professores ainda é caracterizada pela

presença de abordagens superficiais no ensino desse conteúdo ou ainda sua ausência, além da

falta de material de apoio para exploração do tema.

As ponderações apresentadas ao longo dessa seção indicam a necessidade de

reflexões sobre suas práticas educativas relacionadas a essa temática na aquisição de novos

conhecimentos do conteúdo e conhecimentos pedagógicos que contribuam para a melhoria da

atuação docente, bem como o processo de aprendizagem de seus educandos. A seguir,

discorre-se sobre abordagens do ensino de Geometria Espacial nas salas de aulas, no cenário

atual.

3.2 Ensino de Geometria nas avaliações da Educação Básica

A Educação faz parte dos direitos e garantias fundamentais, assegurados em nossa

Constituição Federal Republicana, dispondo esta que o ensino terá por princípios, dentre

outros, a “garantia de padrão de qualidade” e será promovido “visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para

o trabalho (BRASIL, 1988, art. 205). Contudo, ao analisarmos os resultados das avaliações

externas nacionais e internacionais da Educação Básica - PISA17

(2018) e SAEB18

(2017),

17

O PISA — Programme for International Student Assessment — é uma avaliação amostral externa trianual de

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52

percebemos que a Matemática da Educação Básica no Brasil se encontra em níveis críticos de

proficiência.

Os conteúdos matemáticos da avaliação do PISA são contemplados em 4

temáticas: I. Variações e relações; II. Espaço e forma; III. Quantidade; IV. Incerteza e dados,

distribuídos em questões com a mesma recorrência (25% cada). Quanto ao conteúdo de

Geometria, contemplado na temática – espaço e forma – almeja-se que, neste campo de

conhecimento, o estudante tenha a habilidade de “compreender a noção de perspectiva, a

criação e a leitura de mapas, a transformação de formas (com e sem uso de tecnologias), a

interpretação de vistas de cenas tridimensionais a partir de diferentes perspectivas, e a

construção de representações de formas”. (BRASIL, 2019b, p. 101).

Os resultados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP) sobre o PISA/2018 indicam que 68,1% dos estudantes

brasileiros encontram-se nos piores níveis de proficiência (nível 0 e nível 1) em Matemática e

não dominam habilidades básicas para a aprendizagem de conceitos de Geometria. Nesses

dois níveis, os estudantes apenas “conseguem executar cálculos aritméticos simples com

números naturais, seguindo instruções claras e bem definidas”. Apenas 15,6% dos estudantes

foram capazes de resolver situações-problema relativas ao eixo que aborda conteúdos

geométricos (espaço e forma). Esse dado foi apontado pelo relatório como ponto fraco dos

brasileiros. (BRASIL, 2019b, p. 110).

Ressalta-se ainda que o relatório nacional do PISA/2015, com a análise dos dados

avaliativos sobre essa prova, mostra que os resultados dos estudantes brasileiros que

realizaram a avaliação tiveram melhor performance no que diz respeito aos itens sobre valor

em dinheiro, razão e proporção e cálculos aritméticos. Entretanto, apresentam menor

desempenho em questões de Geometria, pois carecem do domínio das propriedades básicas

larga escala que permite obter informações sobre os sistemas educacionais dos países/economias participantes.

Em 2018, fizeram parte do PISA os 37 países da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico – e 42 países/economias parceiras, incluindo o Brasil. Contou com uma amostra de 597 escolas e

10.691 estudantes avaliados, distribuídos por todo o território nacional. A população-alvo do PISA é formada

por estudantes com idade entre 15 e 16 anos, matriculados em uma instituição educacional federal, estadual,

municipal e particular. Dados disponíveis em: http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pisa/

documentos/2019/relatorio_PISA_2018_preliminar.pdf.

18

O SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica – é um processo de avaliação somativa em larga escala

realizado bianual pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),

permitindo que os diversos níveis governamentais avaliem a qualidade da educação práticada no país. Dados

disponíveis em: http://provabrasil.inep.gov.br/web/guest/educacao-basica/saeb.

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53

das figuras geométricas planas e espaciais, demonstrando a dissociação entre o conteúdo

escolar e a realidade do educando. (BRASIL, 2016).

Brito (2017), ao realizar um estudo sobre o desempenho de alunos brasileiros na

avaliação do PISA de 2015, destaca que o cenário observado em Matemática é preocupante,

suscitando a necessidade de reformulação no sistema educacional brasileiro com objetivos

efetivos, realistas e plausíveis que resultem na melhora dos conhecimentos básicos na

formação dos educandos para atuarem de modo criativo, ético e crítico no mundo

contemporâneo.

Quanto à avaliação do SAEB, os resultados dessas avaliações são classificados em

uma escala de proficiência19

com 11 níveis, agrupados em três categorias de aprendizagem:

insuficiente (níveis 0 a 3), básico (níveis 4 a 6) e adequado (níveis 7 a 10). A métrica da

escala de proficiência para a 3ª série do EM varia de 0 a 500 pontos. (BRASIL, 2018b).

A tabela 1 indica o percentual de alunos que apresentou desempenho em cada

nível na prova de Matemática da 3ª série do EM no SAEB 2017.

Tabela 1 – Nível de aprendizagem em relação aos níveis de proficiência no SAEB

Matemática – 3ª série EM – 2017

Média de Proficiência brasileira = 270

Níveis Pontuação % de aluno por nível Nível 0 Desempenho < 225 22,49

Nível 1 Desempenho ≥ 225 e < 250 16,93

Nível 2 Desempenho ≥ 250 e < 275 17,60

Nível 3 Desempenho ≥ 275 e < 300 14,65

Nível 4 Desempenho ≥ 300 e < 325 11,32

Nível 5 Desempenho ≥ 325 e < 350 7,94

Nível 6 Desempenho ≥ 350 e < 375 4,55

Nível 7 Desempenho ≥ 375 e < 400 2,46

Nível 8 Desempenho ≥ 400 e < 425 1,44

Nível 9 Desempenho ≥ 425 e < 450 0,01

Nível 10 Desempenho ≥ 450 0,00

Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações do INEP.

Os dados apontam que, entre os alunos que estavam concluindo a última etapa de

escolaridade da Educação Básica e realizaram a prova, 71,7% deles apresentam aprendizagem

considerada insuficiente (Nível 0, 1, 2 3); 23,8% encontram-se na categoria básica (Nível 4, 5

e 6) e somente 4,5% encontram-se em nível adequado (Nível 7, 8, 9 e 10) de conhecimentos.

Os conteúdos das provas são associados a competências e habilidades a serem

desenvolvidas pelos alunos, associadas aos níveis de aprendizagem (nível 1 a 10),

19

interpretação dada pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.

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organizados em quatro temas: I. Espaço e forma; II. Grandezas e medidas; III. Números e

operações/álgebra e funções; IV. Tratamento da informação. Nesses blocos temáticos, é

possível visualizar a Geometria nos temas I e II e níveis 6, 8 e 9. (BRASIL, 2018b).

As habilidades, referentes aos conteúdos de Geometria Espacial, a serem

adquiridas pelos estudantes do EM estão associadas a níveis de conhecimentos, como

especificados na tabela 2.

Tabela 2 – Habilidades de Geometria Espacial na escala de proficiência de Matemática

3ª série do EM

Níveis Tema Habilidades

Nível 6

Espaço e

forma. Associar um sólido geométrico simples a uma planificação usual dada.

Grandezas e

medidas Determinar o volume de um paralelepípedo retângulo, dada sua

representação espacial.

Nível 8

Espaço e

forma.

Determinar uma das medidas de uma figura tridimensional, utilizando o

Teorema de Pitágoras.

Determinar a quantidade de faces, vértices e arestas de um poliedro por

meio da relação de Euler.

Associar um prisma a uma planificação usual dada.

Grandezas e

medidas

Determinar a área da superfície de uma pirâmide regular.

Determinar o volume de um paralelepípedo, dadas suas dimensões em

unidades diferentes.

Determinar o volume de cilindros.

Nível 9 Grandezas e

medidas Determinar o volume de pirâmides regulares.

Resolver problema envolvendo cálculo de volume de cilindro.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações do INEP.

A tabela 2 expõe os níveis e habilidades referentes aos conteúdos geométricos.

Fazendo-se um contraponto entre a tabela 1 e a tabela 2, evidencia-se que: a tabela 1 expõe os

níveis de aprendizagem dos alunos, a pontuação em cada nível e o percentual de alunos em

cada um desses níveis; a tabela 2 relaciona o nível de aprendizagem com a habilidade a ser

adquirida em cada nível. Diante dessas informações, visualiza-se a relação entre os baixos

níveis de aprendizagens alcançados pelos alunos e a ausência de conhecimentos geométricos

espaciais adquiridos pela maioria dos estudantes brasileiros.

As habilidades se ampliam na mesma proporção que aumenta o nível de

conhecimento. Os temas e habilidades de Geometria Espacial estão associados aos níveis 6, 8

e 9 da tabela 2. A tabela 1 demonstra que apenas 4,55% dos alunos atingiram o nível 6, 1,44%

alcançaram o nível 8 e 0,01% encontram-se no nível 9. Diante desses dados, é possível

afirmar que somente 6% dos alunos dominam as habilidades esperadas para o conteúdo de

Geometria Espacial, dentro da sua etapa de escolaridade, enquanto 94% dos alunos brasileiros

não dominam esses conhecimentos.

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O gráfico 1 demonstra a variação das médias de proficiências dos estudantes

brasileiros, em Matemática, compreendidas no período de 2007 a 2017.

Gráfico 1 – Evolução das proficiências médias dos estudantes brasileiros, no 3º ano EM,

de 2007 a 2017.

Fonte: Elaborado pela autora a partir das informações do INEP.

A partir dos dados expostos no gráfico 1, o INEP, através do relatório final dos

resultados do SAEB 2017, evidencia ainda que praticamente não houve avanços na

aprendizagem dos alunos durante essa etapa de escolaridade e que estes concluem o EM sem

possuir os conhecimentos básicos de Matemática, especialmente em Geometria. Se

comparados aos anos anteriores, o nível de proficiência no EM dos educandos permanece

numa situação de inércia desde 2007. (BRASIL, 2018b).

O INEP (BRASIL, 2018b) apresenta também um comparativo entre a média geral

de proficiência em Matemática dos estudantes matriculados na última série do EM e os alunos

matriculados no 9º ano do Ensino Fundamental. Enquanto no EM a proficiência foi associada

ao nível 2, no 9º ano os estudantes apresentaram proficiência média relativa ao nível 3. Esse

dado indica que não está havendo uma progressão das habilidades ao longo da escolarização,

como propõe a BNCC (BRASIL, 2018a), que explana aos sistemas de ensino a ampliação do

domínio das habilidades à medida que os estudantes avancem para as séries subsequentes.

Para Santos et al. (2015), o professor deve ter compreensão dos resultados dessas

avaliações para orientar sua ação pedagógica. A ciência das aptidões e conhecimentos daquilo

que os estudantes desenvolveram até então permite que os docentes estabeleçam um

comparativo entre a aprendizagem e a série escolar correspondente. Contribui também para

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identificar os empecilhos que interferem na aquisição dos conceitos, de forma mais efetiva.

Curi (2011) destaca que os resultados dessas avaliações indicam que os educandos possuem

poucos conhecimentos dos conteúdos matemáticos, sendo necessário, portanto, promover

melhorias na formação dos educadores.

Para Nacarato (2011), ao passo que essas informações são publicadas e

difundidas, fica evidente a intensificação dos debates acerca da formação dos educadores.

Pesquisadores como Fiorentini (2005) e Imbernón (2010) reconhecem a necessidade contínua

de políticas públicas direcionadas à formação de professores, que possam contribuir de forma

efetiva com a aprendizagem dos alunos da Educação Básica.

No tocante à prática docente no ensino de Geometria e sua relação com os dados

das avaliações apresentadas em parágrafos anteriores, estudos como de Fainguelernt e Nunes

(2012) apontam que a abordagem dos conteúdos em sala de aula tem priorizado questões que

focam em conceitos e aplicação de fórmulas, tornando o ensino dessa área de conhecimento

completamente algébrico.

As lacunas relacionadas à aprendizagem de Geometria são verificadas também,

nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), cujo resultado pode ser utilizado

para avaliar o desempenho dos alunos ao final da escolaridade básica. Fainguelernt e Nunes

(2012) mencionam que há estudos comprovando que os estudantes têm muitas dificuldades

com a Geometria, principalmente a Geometria Espacial.

Frente a essa realidade, o professor necessita definir estratégias pedagógicas para

alcançar objetivos de ensino que se relacionam diretamente à aprendizagem dos alunos. Para

tanto, é preciso que esse profissional esteja referenciado por uma bagagem de conhecimentos

sobre teorias pertinentes ao ensino e à aprendizagem dos alunos e que se apropriem de

metodologias de ensino que contribuam para melhoria da apresentação dos conteúdos

disciplinares.

De acordo com Proença (2008), para haver um ensino de Geometria de qualidade,

é necessário que o professor possua um amplo conhecimento da área, conheça processos

avaliativos para identificar o conhecimento conceitual e o nível de aprendizagem de seus

alunos, e saiba propor atividades direcionadas a uma aprendizagem significativa dos conceitos

geométricos em sala de aula.

A seguir, a seção aborda o contexto histórico do ensino da Geometria no Brasil

desde o século XVIII até as duas primeiras décadas do século XXI, apresentando as

características dominantes no ensino desse conteúdo, ao longo dos séculos.

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3.3 A Geometria Espacial

A Geometria é um conteúdo da Matemática presente nas diversas etapas de

escolarização, sendo regulamentada por diversas propostas curriculares nacionais – Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCN), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Base Nacional

Comum Curricular (BNCC), dentre outras.

Seu estudo se inicia na Educação Infantil, prosseguindo até o EM em que os

conteúdos são retomados, ampliados e sistematizados com os conhecimentos adquiridos em

séries anteriores. Na Educação Infantil são desenvolvidas habilidades relativas à lateralidade,

lateralização e noções topológicas. No Ensino Fundamental ao EM, a aprendizagem da

Geometria deve contemplar o desenvolvimento de outras habilidades como: conjecturar,

experimentar, validar hipóteses, representar, argumentar, comunicar procedimentos e

resultados. (PIROLA, 2013).

Na década de 1990, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

(PCNEM) trouxeram orientações complementares quanto ao ensino da Geometria Espacial na

escolaridade média, ressaltando que o estudo de representações geométricas planas e espaciais

desenvolve no indivíduo a capacidade de compreensão e ajuda na construção de modelos que

auxiliarão na resolução de questões tanto da Matemática quanto de outras disciplinas

(BRASIL, 1999).

Nesse mesmo período, Lorenzato (1995, p. 5) justifica a importância do ensino de

Geometria “pelo fato de que, o indivíduo sem esse conteúdo, nunca poderia desenvolver o

pensar geométrico, ou ainda, o raciocínio visual, além de não conseguir resolver situações da

vida que forem geometrizadas”. Fainguelernt e Nunes (2012, p. 114) asseguram que “ela

desempenha um papel integrador entre as diversas partes da matemática, além de ser um

campo fértil para o exercício de aprender a fazer e aprender a pensar, porque a intuição, o

formalismo, a abstração e a dedução constituem a sua essência”.

A relevância do ensino e aprendizagem da Geometria Espacial também é reiterada

por pesquisadores (FAINGUELERNT e NUNES, 2012; PIROLA, 2013) que indicam a

Geometria como ramo da Matemática que mais propicia o desenvolvimento de competências

e habilidades intelectuais nos indivíduos como a criatividade e a percepção espacial. A

abordagem desse conteúdo é de extrema relevância, tanto do ponto de vista das aplicações

práticas quanto no aspecto do desenvolvimento de capacidades intelectuais necessárias à

formação de qualquer indivíduo. “Ela é uma poderosa ferramenta para a compreensão,

descrição e inter-relação com o espaço em que vivemos.” (FAINGUELERNT; NUNES, 2012,

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p. 113).

Na década de 2020, visualiza-se a Geometria em documentos oficiais como a

BNCC (BRASIL, 2018a) que orienta os currículos da Educação Básica nas escolas

brasileiras. Para o ciclo do EM, a Base apresenta 5 unidades temáticas: I. Números, II.

Álgebra, III. Geometria, IV. Grandezas e Medidas, V. Probabilidade e Estatística, nas quais a

Geometria se faz presente em duas delas – unidades III e IV – e perpassa todo o currículo

dessa etapa de escolarização.

Esse documento destaca a presença da Geometria em muitas situações reais do dia

a dia, salientando articulação do conteúdo em diversos contextos, tais como: o uso de mapas e

GPS20

– importantes na movimentação diária do cidadão comum; o estudo do movimento e

posição no espaço bidimensional e tridimensional; atividades investigativas com softwares

dinâmicos que podem gerar integração entre as áreas do conhecimento.

Quanto ao ensino de Geometria Espacial, pesquisadores destacam o desafio de

trabalhar esse tema, que carece de abordagens que favoreçam a visualização, a construção, a

mensuração, a abstração e a comunicação de procedimentos e resultados. Fainguelernt e

Nunes (2012) destacam que os conceitos matemáticos e as representações desses conceitos se

expressam “nas ações interiorizadas pelo sujeito, pelo significado que dão às suas ações, às

formulações que enunciam, às verificações e relações que realizam, necessitando para isso o

estabelecimento de abstrações e generalizações.” (NEHRING; POZZOBON, 2007 apud

FAINGUELERNT; NUNES, 2012, p. 128).

Contudo, Fainguelernt e Nunes (2012) asseveram que, quando a abordagem desse

conteúdo é feita por representações estáticas no plano, como aparece nos livros didáticos,

muitas das características e propriedades dos objetos deixam de ser compreendidas e

identificadas. Os estudos de Moraco (2006) refletem sobre o ensino de Geometria Espacial,

no EM, quando ocorre a transição entre a noção bidimensional dos polígonos da Geometria

Plana para os objetos tridimensionais da Geometria Espacial (poliedros, prismas, pirâmides,

entre outros sólidos geométricos). Segundo o autor, para os alunos essa transição apresenta

elementos de difícil compreensão.

Moraco (2006, p. 27) propõe que o ensino de Geometria Espacial no EM seja

apresentado “a partir de definições de objetos concretos encontrados no dia-a-dia, onde serão

contextualizadas as formas geométricas para reconhecimento, nomenclatura, construção,

representação, relações métricas simples.”. Após essa etapa, o professor deverá trabalhar com

20

Global Positioning System que significa: Sistema de Posicionamento Global.

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a planificação dos sólidos que facilitará a compreensão das “diferenças entre figuras planas e

não-planas, os atributos definidores e propriedades dos polígonos” pelos alunos.

Leivas (2009) aponta que o ensino dessa disciplina na escola básica se limita ao

uso de fórmulas, não privilegiando as dimensões essenciais – imaginação, intuição e

visualização – para o desenvolvimento do pensamento geométrico. O autor apresenta suas

concepções acerca desses elementos e a sua relevância na construção dos conceitos.

Imaginação: expressa a forma de concepção mental de um conceito matemático, o

qual pode vir a ser representado por um símbolo ou esquema visual, algébrico,

verbal ou uma combinação dos mesmos, com a finalidade de comunicar para o

próprio indivíduo ou para outros tal conceito.

Intuição: processo de construção de estruturas mentais para a formação de um

determinado conceito matemático, a partir de experiências concretas do indivíduo

com um determinado objeto.

Visualização: um processo de formar imagens mentais, com a finalidade de construir

e comunicar determinado conceito matemático, com vistas a auxiliar na resolução de

problemas analíticos ou geométricos. (LEIVAS, 2009, p. 20-21-22).

Máximo (2016) esclarece que a visualização envolve “um processo amplo e

complexo que tem em sua composição a presença do pensamento visual, das imagens mentais

e das representações dessas imagens mentais”. É uma etapa fundamental no ensino e na

aprendizagem de Geometria Espacial, pois, com a formalização do pensamento visual, a

imagem mental é produzida e pode ser externada por meio das representações.

É consenso entre os pesquisadores que a visualização é essencial para o

desenvolvimento do pensamento geométrico, contudo, é preciso ter cuidado para que o ensino

e aprendizagem de Geometria não sejam limitados a simples procedimentos de visualização.

Porém, para Nasser e Sant’anna (2017), é possível amenizar as dificuldades e facilitar a

construção dos conhecimentos em Geometria usando estratégias didáticas convenientes e o

professor tem um papel primordial nessa construção.

Nessa vertente, Biani (2015) enfatiza que a mediação do ensino dos conteúdos de

Geometria Espacial entre professor e aluno deverá ser pautada por: intervenções pedagógicas

adequadas e fundamentadas em objetos empíricos, observáveis e manipuláveis. Se adotadas

desde o início do processo de ensino, contribuirá para o desenvolvimento da capacidade de

fazer relações, aprender conceitos e criar imagens mentalmente e, posteriormente, os alunos

serão capazes de estabelecer abstrações sem a presença de tais objetos.

No intento de modificar métodos de ensino de conteúdos geométricos, ao longo

da humanidade, os professores foram introduzindo recursos tecnológicos, ainda que bastante

convencionais. Silva e Bairral (2019) destacam que a tecnologia e Geometria caminham

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juntas ao longo da história através da utilização dos instrumentos de medidas (varas de

cálculos, teodolitos), ferramentas de desenho de curvas geométricas e outros mecanismos, até

o surgimento das tecnologias digitais no ensino de Geometria.

As metodologias tradicionais de ensino empregadas pela maioria dos professores

– desenhos no plano, imagens dos livros didáticos, listas de exercícios – não são eficazes para

desenvolver a habilidade de visualização, a abstração e a formulação de conceitos inerentes

aos sólidos geométricos. (NADALON, 2018). Assim, a abordagem dos conteúdos

geométricos requer novas metodologias de ensino que possam suprir essa carência. Nesse

caminho, as tecnologias digitais e os softwares de geometria dinâmica se apresentam como

uma contribuição promissora da melhoria do ensino e da aprendizagem.

Isto posto, para essa investigação se propõe o uso dos recursos digitais móveis

com os aportes do software GeoGebra para o ensino de conteúdos de Geometria Espacial. A

seguir, apresentam-se considerações sobre o uso das tecnologias digitais da informação e

comunicação com a perspectiva de contribuir para o ensino e aprendizagem da Geometria

Espacial.

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61

4 RECURSOS TECNOLÓGICOS

“Portanto, o que se requer é uma mudança

profunda sobre como pensar educação. Assim,

tecnologia não é a solução, é somente um

instrumento. Mas embora tecnologia não

produza automaticamente uma boa educação, a

falta de tecnologia garante automaticamente

uma má educação.”.

(SEYMOUR PAPERT, 2001)

Nos últimos tempos, a utilização de recursos tecnológicos educacionais é

apontada como alternativa para superação de dificuldades inerentes ao processo de ensino e

aprendizagem. Para Koehler e Mishra (2009), a palavra tecnologia é aplicada tanto para as

tecnologias analógicas quanto para as digitais, contudo, esta investigação dará ênfase às

tecnologias digitais. As pesquisas educacionais demonstram que, apesar do avanço dos

recursos tecnológicos digitais nos diversos campos da sociedade, esses recursos têm sido

pouco utilizados no contexto da sala de aula.

Este capítulo aborda a utilização das tecnologias digitais móveis na sala de aula

por meio do software GeoGebra, com o intuito de contribuir para o ensino de Geometria

Espacial e para melhoria da prática pedagógica dos professores. As discussões referenciam-se

em autores como Silva e Bairral (2019), Fainguelernt e Nunes (2012), Koehler e Mishra

(2005; 2009), dentre outros.

4.1 Tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDIC)

As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) se expandiram

rapidamente nas últimas décadas e hoje integra os domicílios e outros espaços como um

processo natural na vida da maioria dos indivíduos. No Brasil, a utilização dos recursos

tecnológicos nas práticas educativas vem sendo objeto de estudo por diversos pesquisadores

como Valente (1998), Gomes (2007) e Silva e Bairral (2019). É consenso entre eles que essas

tecnologias estão chegando aos espaços escolares de uma forma muito lenta e de modo pouco

efetivo nos processos de ensino e aprendizagem.

Em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Matemática já

apontavam a utilização dos recursos didáticos como um dos princípios norteadores do ensino,

e quando esses recursos estão associados a atividades práticas, propiciam situações

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62

integradoras e favorecem a abstração dos conceitos. Os PCNs destacavam que “recursos

didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores, e outros materiais exercem

papel relevante no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, eles precisam estar

integrados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão”. (BRASIL, 1997, p.

19).

Diante dessa assertiva, o uso dos recursos tecnológicos tradicionais de ensino

(lápis, pincel, lousa, datashow) tem permanecido na prática pedagógica dos professores há

décadas. Koehler e Mishra (2009) refletem que esses recursos, nos últimos anos, perderam a

visibilidade e sequer são considerados como tecnologia. Com o surgimento dos recursos

tecnológicos digitais, estes passaram a exercer grande fascínio em seus usuários,

caracterizando-se como tendência mundial. As pesquisas em educação sugerem, então, a

possibilidade de inclusão desses recursos nos contextos de sala de aula a fim de integrá-los em

benefício do ensino e da aprendizagem.

Com a evolução da tecnologia e as inovações curriculares, surge a necessidade de

adaptação do ensino às novas demandas sociais. Neste sentido, a BNCC (BRASIL, 2018a, p.

17) orienta que os sistemas, redes de ensino e escolas devem “selecionar, produzir, aplicar e

avaliar recursos didáticos e tecnológicos”, incorporando-os aos seus currículos e propostas

pedagógicas, garantindo aos estudantes o desenvolvimento de competências específicas “a

respeito de diferentes conceitos e propriedades matemáticas”, auxiliando-os em seus

processos de aprendizagem.

Fainguelernt e Nunes (2012, p. 23) recomendam a imediata utilização dos

recursos tecnológicos digitais nos espaços educativos, que vão “muito além do giz e do livro

didático”. Para as pesquisadoras, as tecnologias digitais se constituem como instrumento de

grande potencial para as práticas pedagógicas de ensino e de aprendizagem da Matemática,

possibilitando o “enriquecimento e a melhoria da qualidade de ensino”.

Koehler e Mishra (2009) observam que trabalhar com tecnologias digitais no

ensino envolve vários desafios. Por ser um recurso instável (diferente do pincel e da lousa que

permanecem com a mesma função há séculos), essas tecnologias atingem uma transparência

na aplicação e mudam sua funcionalidade ao longo do tempo, tornando-se ferramentas

comuns, além de perderem sua aplicabilidade. Em alguns casos, o uso de certos recursos

tecnológicos torna-se obsoleto antes mesmo do professor aprender a manuseá-los.

Os autores refletem ainda sobre a formação inicial do professor que, em diversos

casos, se desenvolveu em um período em que a tecnologia digital se encontrava num estágio

muito aquém dos dias atuais. Isso os faz sentirem-se inaptos para inseri-las em suas salas de

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aula e desconsideram a relevância destes recursos para o ensino. Pesquisas na área da

educação matemática (IDEM, 201721

; NADALON, 2018;) indicam que o uso das tecnologias

digitais nos cursos de formação docente, nas IES, ainda permanece distante da formação.

Idem (2017), em sua pesquisa de mestrado, investigou o uso das tecnologias

digitais no ensino com licenciandos e professores de Matemática, concluindo que a prática

pedagógica do professor ainda é caracterizada pelo ensino transmissivo, sem auxílio de

recursos tecnológicos e ainda há poucos registros de programas de formação continuada

voltados para o uso de tecnologias digitais na área da Educação.

Silva (2018, p. 21) observa que “enquanto que o crescimento tecnológico social

cresce exponencialmente, esse desenvolvimento dentro da escola segue aritmeticamente”.

Para alguns professores, trabalhar com tecnologias demanda tempo, que vai desde a

elaboração das atividades, o planejamento pedagógico de suas práticas até o domínio da

tecnologia. Os professores, absorvidos pela dinâmica do trabalho escolar, na maioria das

vezes, não dispõem desse tempo. Entretanto, Fainguelernt e Nunes (2012) destacam a

necessidade de incorporar, de forma imediata e efetiva, os recursos tecnológicos no cotidiano

da escola e nas aulas de Matemática, para romper com a prática reprodutiva, dando ao ensino

uma dimensão mais dinâmica.

Conforme Nadalon (2018), o professor ainda faz pouco uso das tecnologias em

suas práticas, o que pode ser caracterizado como “falta de vontade de utilizá-las” ou “por falta

de capacitação para tal”. Para o autor, a maioria dos professores não teve em sua formação

inicial nenhuma disciplina que os preparassem para trabalhar com essas ferramentas e as

políticas públicas educacionais que propõem o uso desses recursos nas práticas escolares não

contribuem para a sua efetivação. A pesquisa de Nadalon, em 2018, não identificou

evidências de programas de formação docente nas instituições de ensino da Educação Básica

que preparasse os professores para utilizarem os recursos tecnológicos em sua dinâmica de

ensino.

Para Koehler e Mishra (2009), as formações, quando existem, são inadequadas,

pois possuem abordagem tecnológica sem integração pedagógica (não direcionam a ações de

ensino e aprendizagem). Diante disso, faz-se necessário promover a integração entre

conhecimento tecnológico, conhecimento de conteúdo e conhecimento pedagógico,

objetivando aprimorar esses conhecimentos aos contextos educacionais.

Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou

21

Neste trabalho, Idem é usado para referenciar os estudos da pesquisadora Rita de Cássia Idem.

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um surto de pneumonia, posteriormente denominada COVID-19, que se disseminou em todos

os Continentes, caracterizando-se como pandemia. Em março de 2020, em decorrência desse

cenário, os Conselhos de Educação: Nacional, Estaduais e Municipais emitiram resoluções

e/ou pareceres orientativos, suspendendo as aulas presenciais e sugerindo a substituição destas

aulas por aulas em meios digitais. Além disso, o Governo Federal/MEC publicou Medida

Provisória e Portarias, com normas excepcionais para a reorganização do ano letivo da

educação básica e do ensino superior, calendário escolar, dias letivos e uso de atividades não

presenciais, contabilizadas como dias letivos.

Diante desse cenário, MEC, IES e Secretarias de Educação vêm disponibilizando

cursos de formação para professores e profissionais da educação, por meio de plataformas on-

line, a fim de capacitar esses profissionais para desempenharem suas funções educativas. Para

a situação apresentada, no momento em que se conclui esta pesquisa de Mestrado

(Junho/2020), não há conclusões. Contudo, convém mencionar essa crise que assola o

mundo, enfatizando que professores e alunos vêm sendo obrigados a conviver e adaptarem-se

a esse novo cenário de atividades remotas, configurando-se em um modelo de ensino

totalmente novo para a maioria dos envolvidos.

Tais desafios exigem que o professor disponha do desejo de capacitar-se, vindo a

adquirir o domínio da tecnologia no decorrer da prática profissional para inseri-las em suas

atividades docentes. Para tanto, é necessário que esses profissionais concebam os recursos

tecnológicos como ferramentas de apoio e implementação de suas práticas educativas, tenham

confiança na sua capacidade de aprendizagem e interesse em ampliar os conhecimentos

docentes para trabalhar com os aparatos tecnológicos.

Nas últimas décadas, um recurso tecnológico que ganhou espaço entre a

população mundial foram os recursos digitais móveis (smartphones e tablets) que reúnem

diversas funções e podem ser utilizados de acordo com a necessidade de seus usuários. Muitas

pessoas têm substituído seus computadores por esses utensílios móveis, seja para funções de

trabalho ou como recursos interativos. Desse modo, esses objetos foram adentrando nas

escolas de modo a canalizar a atenção dos alunos para fins inoportunos como bate-papos e

acessos às redes sociais, sem o devido aproveitamento para fins educacionais. (SILVA, 2018).

Powell (2019) afirma que investigações que têm como foco o uso de smartphones

e tablets, por meio de aplicativos e softwares, na área da Educação Matemática, ainda são

pouco divulgadas. O autor destaca que é necessária a ampliação de pesquisas nessa área

educacional, pois colaboram para o progresso e o fortalecimento das tecnologias nesse campo

do conhecimento. Nessa perspectiva, diversos pesquisadores (BAIRRAL e CARVALHO,

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65

2019; OLIVEIRA, 2019; SILVA e BAIRRAL, 2019) começam a direcionar seus estudos para

a referida temática, despontando, ainda que gradativamente, pesquisas difundindo a utilização

desses recursos em aulas de Matemática.

Silva e Bairral (2019) apontam vantagens ao se trabalhar com dispositivos móveis

em sala de aula, tais como: a disposição dos equipamentos pelos alunos; a familiaridade de

manuseio e conectividade; a compactação de uma quantidade maior de informações em um

pequeno espaço físico; a possibilidade de compartilhamento de aplicativos, softwares e

conteúdos entre os dispositivos dos alunos, para aqueles que não possuam conexão ativa com

a internet o tempo todo, por meio de aplicativos de compartilhamento como o MyAppSharer e

Bluetooth App Sender APK Share, entre outras.

Desse modo, os recursos tecnológicos móveis contribuem para o processo de

ensino e de aprendizagem em sala de aula, por meio do planejamento e da exploração de

atividades em softwares educacionais gratuitos, contribuindo para alcançar o objetivo comum

entre os envolvidos.

Contudo, para trabalhar com qualquer tecnologia, o professor deve possuir

conhecimentos específicos para manuseá-las, pois além do acesso à tecnologia, é essencial

“saber usá-la em paralelo aos conteúdos de forma a promover a aprendizagem”, visto que

“são inúmeras as possibilidades de aproveitamento deste recurso tecnológico,

complementando a aprendizagem, tornando as aulas mais dinâmicas e participativas.”

(SILVA, 2018, p. 25).

Fainguelernt e Nunes (2012) atestam que os recursos tecnológicos são

instrumentos de enorme potencial – possibilitam o enriquecimento e a melhoria da qualidade

de ensino, facilitam a aprendizagem e a tornam mais prazerosa. Apesar disso, o uso das

tecnologias “por si só” não garantem efetividade no processo de ensino e de aprendizagem, é

necessário haver interações entre o software e a abordagem dos conteúdos com explorações

de atividades que favoreçam a aprendizagem.

Corroborando com esse pensamento, Gomes (2007, p. 20) sinaliza que esses

recursos muitas vezes são empregados “sem a preocupação de estabelecer qualquer vínculo

entre eles e as atividades de experimentação”. Se as atividades não forem direcionadas à

promoção de reflexões e articulações necessárias à formação dos conceitos, pode-se não

atingir a aprendizagem desejada.

Nacarato (2005) salienta que a eficácia ou não dos recursos didáticos depende da

forma como eles são utilizados. Nenhum material, seja ele convencional ou tecnológico,

poderá ser considerado como potencializador do ensino e da aprendizagem se quem os

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manuseia não possuir os conhecimentos específicos, sendo necessário, no mínimo, um

planejamento adequado antes de usá-los. Estabelecendo uma relação entre os conhecimentos

específicos apontados pela autora e os conhecimentos discutidos neste trabalho, pode-se dizer

que é necessário que o professor possua os conhecimentos: tecnológicos, pedagógicos e do

conteúdo para o desenvolvimento de um trabalho efetivo com os recursos tecnológicos

digitais em sala de aula.

Para Fainguelernt e Nunes (2012, p. 23), é necessário aliar a esses recursos

tecnológicos “novas metodologias de ensino, que fujam da simples memorização e tenham

como objetivo desenvolver habilidades de reflexão, levantamento de conjecturas e

argumentação”, levando o aluno a ser o protagonista do seu processo de aprendizagem. Caso

contrário, os recursos tecnológicos serão utilizados apenas como um recurso passivo, ou seja,

uma ferramenta de armazenamento, um mecanismo ágil para fazer cálculos ou, ainda, auxiliar

na busca de informações.

Em relação ao ensino de Geometria, é possível encontrar investigações que se

apropriaram de softwares de geometria dinâmica22

para construções de desenhos geométricos

em que são exploradas propriedades da geometria euclidiana. Os estudos de Silva e Bairral

(2019) apontam alguns softwares de geometria dinâmica que podem ser executados nos

dispositivos móveis – Cabri 3D, FreeGeo, GeoGebra, Geometric Constructer, Sketchometry.

Esses softwares, quando trabalhados nos dispositivos móveis, podem ser manipulados com

simples toques (touchscreen), facilitando o seu uso.

As atividades desenvolvidas a partir desses softwares permitem que “os alunos

criem estratégias e vão instigando, descobrindo, ajustando e redescobrindo conceitos e

propriedades por meio de argumentação, chegando a dedução de propriedades matemáticas.”.

(SILVA; BAIRRAL, 2019, p. 35). Contudo, não se deve esquecer que o professor exerce

papel fundamental, começando na escolha do software, na elaboração de atividades

instigantes, na exploração das habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes.

Fainguelernt e Nunes (2012) afirmam que as pesquisas vêm mostrando que o

emprego de softwares na geometria dinâmica favorece a exploração e a aquisição de

conhecimentos geométricos, proporcionando uma série de vantagens que o ensino com lápis,

régua e compasso não propiciam. Dentre essas vantagens, são destacadas:

a) agilidade na investigação – as figuras são construídas rapidamente na tela do

22

“Geometria Dinâmica é um termo utilizado para nomear um método dinâmico e interativo para o ensino e

aprendizagem de geometria usando ambientes computacionais”, onde as mudanças podem ser visualizadas em

tempo real. (FAINGUELERNT; NUNES, 2012, p. 121)

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computador, enquanto levam-se horas para se construir com lápis e papel;

b) dinâmica – a partir de uma única construção é possível modificar o número de

experimentações da figura efetuada, o que seria impossível com o desenho

manual em um plano físico, com régua e compasso;

c) visualização – as figuras podem ser construídas em formas diversificadas e

visualizadas em diferentes perspectivas;

d) interação – o aluno tem a possibilidade de interagir com a figura, modificando-

a, animando-a, olhando-a sob diferentes perspectivas, possibilitando a análise

de seus elementos.

Bairral (2017, p. 103) defende o uso dos dispositivos móveis no ensino como fator

gerador de aprendizagens e descobertas. Além disso, esses recursos poderão “compor o

cenário de aula como mais uma possibilidade de dinamizar o ensino e de promover novas

explorações conceituais, procedimentais etc.”. Nessa perspectiva, esta pesquisa buscou

contribuir com a ampliação do conhecimento dos professores para o ensino com o uso de

recursos tecnológicos digitais utilizando-se GeoGebra na produção e na compreensão de

conteúdos matemáticos, em especial Geometria Espacial.

Dentre a diversidade de softwares que podem ser utilizados para conteúdos de

Geometria Espacial, justifica-se a escolha do GeoGebra para esta investigação, pela

aproximação da pesquisadora com a ferramenta, em momentos que antecederam o

planejamento do projeto de pesquisa, fato relatado em seções anteriores. A seção seguinte

apresenta considerações sobre o ensino de Geometria Espacial com o suporte das tecnologias

digitais móveis – smartphones, iphones e tablets com o auxílio do software GeoGebra no

ensino dos poliedros de Platão, prismas e pirâmides.

4.2 O GeoGebra

Os softwares educativos são mencionados por pesquisadores como instrumentos

de grande potencial para as práticas pedagógicas, possibilitando “criação e exploração de

objetos geométricos diferentes dos modelos padrões e estáticos dos livros textos.” (SILVA;

BAIRRAL, 2019, p. 175). Dentre os diversos softwares empregados em pesquisas

(ANDRADE, 2011; COSTA, 2016; GIL, 2013; JUCÁ, 2011; NADALON, 2018;

NASCIMENTO, 2012) da área da educação matemática, direcionadas ao ensino de Geometria

com uso de recursos tecnológicos digitais, o GeoGebra apresenta-se com grande recorrência.

A escolha pelo uso GeoGebra através dos dispositivos móveis na presente

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investigação é justificada por ser um software de fácil familiarização e em razão da

organização e disponibilidade de diversos recursos na mesma interface de trabalho utilizada,

além de possuir entes geométricos de fácil manuseio.

Assim, o GeoGebra 3D é considerado um software dinâmico, gratuito, idealizado

por Markus Hohenwarter, docente do departamento de Matemática da Universidade de

Salzburgo, na Áustria. Para Matemática, o software agrega conteúdos de Geometria, Álgebra

e Cálculo e foi desenvolvido para auxiliar ações de ensino e aprendizagem de professores e

alunos da Educação Básica e do Ensino Superior. O nome GeoGebra originou-se da fusão dos

termos Geometria e Álgebra. (GEOGEBRA, 2019).

Além da versão executável para computadores com sistemas operacionais

Windows e Linux, disponível para download através do site www.geogebra.org, foi

desenvolvido um aplicativo (app) para sistemas Android23

e iOS24

que inclui basicamente

todas as funções da versão usada em computadores. O app do GeoGebra pode ser baixado

tanto no Play Store para sistemas operacionais Android ou no App Store para versões iOS em

smartphones e iphone, digitando-se “Calculadora Gráfica GeoGebra 3D”. (GEOGEBRA,

2019).

A instalação também pode ser feita por meio do aplicativo de compartilhamento

entre os dispositivos, sem a necessidade de conexão com internet, através de bluetooth,

representando uma vantagem para os alunos que não dispõem de pacotes de dados de

conexão. Após a conclusão do download e instalação do programa o ícone do software ficará

disponível na galeria de aplicativos dos dispositivos a serem utilizados.

O software foi desenvolvido com fins educativos, voltado principalmente para a

Matemática, de uso gratuito e indicado para trabalhar conteúdos de Geometria, Álgebra,

Cálculo e recursos de Probabilidade e Estatística. Os usuários podem criar simulações

diretamente no seu dispositivo, salvar os objetos criados, compartilhá-los ou executar

qualquer simulação que tenha sido desenvolvida por outro usuário.

As construções podem ser criadas através de comandos e ferramentas, com

múltiplos toques, proporcionados pela tecnologia touchscreen, além da possibilidade de guiá-

las ou movê-las para diversos locais da tela. É um excelente recurso para desenvolver

trabalhos de Geometria, pois facilita a construção de sólidos na versão tridimensional, além da

23

Sistema operacional projetado principalmente para dispositivos móveis com tela sensível ao toque como

smartphones e tablets. (https://pt.wikipedia.org).

24

Sistema operacional móvel da Apple Inc. desenvolvido originalmente para iPhone. (https://pt.wikipedia.org).

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facilidade de planificá-los, na mesma interface de trabalho.

Ao abrir o software, aparece a interface inicial do GeoGebra, como se mostra na

Figura 2, composta por dois campos de visualização e a barra de Menu.

Figura 2 – Interface inicial do GeoGebra 3D no smartphone

Fonte: Elaborada pela autora.

Na figura 2, têm-se os seguintes elementos: a barra de Menu, com dois ícones que

podem ser usados alternadamente, possibilitando trabalhar com “janela de entrada” e a “barra

de ferramentas”. À direita da figura, visualiza-se o plano destinado às construções

geométricas e, à esquerda, a janela algébrica.

Alternando-se a “janela de Entrada”, visualizada à esquerda da figura 2, para a

“barra de ferramentas”, obtém-se a interface disposta na figura 3.

Figura 3 – Interface inicial da barra de Menu

Fonte: Elaborada pela autora.

A barra de Menu disponibiliza diversos recursos, como se mostra na figura 3, a

partir ícones de comando como: “ferramentas básicas”, “editar”, “pontos”, “retas e

polígonos”, “sólidos”, “planos”, “círculos”, “curvas”, “medições”, “transformações” e “retas

especiais”.

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70

As funções de cada ferramenta disponibilizada na barra de ferramentas do

GeoGebra são apresentadas no quadro 1.

Quadro 1 – Ferramentas do GeoGebra 3D

Ferramenta Ícone Funções

Mover

Movimentar ponto ou objeto na janela geométrica. Também tem a função

de neutralizar um comando executado anteriormente.

Ponto

Criar um ou mais pontos na janela geométrica.

Exibir/

Esconder

Mostrar ou ocultar um rótulo de um objeto.

Exibir/

Esconder Após ativar essa ferramenta, selecione o objeto que deseja mostrar ou

ocultar.

Apagar

Exclui qualquer objeto que deseja apagar.

Vista para

frente de Mover o ponto de vista da construção na frente do objeto selecionado.

Interseção

Criar pontos de interseção de dois objetos, dessa forma todas as

interseções existentes são marcadas.

Ponto Médio ou

Centro

Obter o ponto médio entre dois pontos ou o ponto médio de um segmento.

Ponto em

objeto Criar um ponto fixo em um objeto

Vincular/

Desvincular

Anexar ou desanexar um ponto a um caminho ou uma região.

Segmento

Criar um segmento de reta a ser traçado por dois pontos.

Segmento/

comprimento

fixo

Criar um segmento com comprimento específico e um ponto final que

pode ser girado em torno do ponto inicial.

Reta

Traçar uma reta definida por dois pontos.

Semirreta

Traçar uma semirreta a partir de dois pontos.

Vetor

Criar um vetor determinado por dois pontos.

Polígono

Construir um polígono a partir de três pontos.

Polígono

Regular

Construir polígonos regulares, digitando-se o número de lados.

Reta

Perpendicular

Construir uma reta perpendicular à um plano.

Reta Paralela

Construir uma reta paralela à reta considerada, passando por um referido

ponto.

Bissetriz

Construir as bissetrizes dos ângulos determinados por duas retas

concorrentes.

Reta Tangente

Criar retas tangentes a uma seção cônica.

Intersecção de

superfícies

Obter a curva de interseção de dois objetos que tiverem pontos em

comum.

Pirâmide

Criar uma pirâmide com o polígono fornecido como base e um ponto

como vértice.

Prisma

Criar um prisma com o polígono fornecido como base e altura específica.

Tetraedro

Criar um tetraedro com faces regulares com o segmento

entre os dois pontos como uma aresta.

Cubo

Construir um cubo a partir de uma base formada por dois pontos.

(continua)

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71

Quadro 1 – Ferramentas do GeoGebra 3D

Ferramenta Ícone Funções

Esfera

Construir uma esfera a partir de dois pontos.

Esfera com

centro/raio Construir uma esfera com centro A e medida específica para o raio.

Cone

Criar um cone com altura e raio especificados.

Cilindro

Criar um cilindro com raio da base e altura determinadas.

Extrusão para

Pirâmide

Criar um círculo ou uma pirâmide a partir de um círculo ou polígono.

Extrusão para

Prisma Criar um cilindro ou um prisma a partir de um círculo ou polígono.

Planificação

Obter a planificação de um sólido tridimensional a partir de sua base

inferior.

Plano por três

pontos

Criar um plano determinado por três pontos.

Plano

Criar um plano determinado por três pontos; ou ponto e linha; ou duas

linhas; ou um polígono.

Plano Paralelo

Criar um plano determinado por um ponto e um plano e paralelo ao plano

selecionado.

Plano

Perpendicular

Criar um plano determinado por um ponto e uma linha e perpendicular à

linha selecionada.

Círculo

(Eixo-ponto)

Criar um círculo a partir de um eixo e um ponto no círculo.

Círculo

(Centro-raio)

Criar um círculo e movimentá-lo em diferentes direções (linha ou plano).

Circulo

Criar um círculo marcando por três pontos não-colineares.

Arco Circular

Especificar o comprimento de um arco circular.

Arco

circuncircular

Criar um arco a partir de três ponto, sendo A o ponto inicial e C, o ponto

final.

Setor circular

Criar um setor circular a partir de um ponto central.

Setor

circuncircular Criar um setor circular a partir de três pontos.

Elipse

Criar uma elipse a partir de dois focos da elipse e um terceiro ponto que

fica na elipse.

Cônica por

cinco pontos

Criar uma seção cônica através de cinco pontos.

Parábola

Criar uma parábola a partir de um ponto e uma diretriz.

Hipérbole

Criar uma hipérbole com determinados pontos de foco.

Lugar

geométrico

Criar lugar geométrico em um ponto B que depende de outro ponto A.

Reflexão/

plano

Desenhar um objeto refletido em relação a um plano através do qual

ocorrerá a reflexão.

Reflexão/

ponto Desenhar um objeto refletido em relação a um ponto através do qual

ocorrerá a reflexão.

Reflexão/

Reta

Desenhar um objeto refletido em relação a uma reta através da qual

ocorrerá a reflexão.

Girar em torno

de reta

Girar um objeto a partir de um eixo e um ângulo específico.

Translação por

um vetor

Criar um vetor v através de um ponto A para um ponto B.

Homotetia

Dilatar o objeto de um ponto, através de ponto central da

dilatação, usando fator especificado.

(continua)

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72

Quadro 1 – Ferramentas do GeoGebra 3D

Ferramenta Ícone Funções

Ângulo

Traçar ângulos entre três pontos; ou entre dois segmentos ou entre duas

retas ou em um polígono.

Distância,

Comprimento

Obter a distância entre: dois pontos; duas linhas ou um ponto e uma linha.

Área

Obter a área de um polígono, na janela algébrica.

Volume

Calcular o volume de um sólido construído.

Girar Janela

Girar a visualização de gráficos 3D.

Mover Janela

Arrastar a área de trabalho ou os eixos da janela geométrica.

Estilo visual

Copiar as propriedades visuais como cor, dimensão, estilo de linha, etc., a

partir de um objeto, para vários outros objetos.

Caminho

poligonal

Criar linha poligonal através de, pelo menos, três pontos que serão

vértices da polilinha.

Reta polar ou

diametral Criar a linha polar ou de diâmetro de uma seção cônica.

Fonte: Elaborada pela autora.

Todas as ferramentas apresentadas no quadro acima estão disponíveis para serem

exploradas nos dispositivos móveis (smartphones, iphones ou tablets) e tiveram suas funções

descritas de modo sucinto. Aquelas utilizadas no desenvolvimento dos conteúdos de prismas e

pirâmides, as quais foram exploradas na etapa formativa com os professores, encontram-se

detalhadas nos apêndices D a I, deste trabalho.

Um objeto pode ser construído tanto por fórmulas digitadas na função Entrada ou

a partir do ícone disponibilizado na barra de Menu. Seguindo alguns comandos, têm-se a

imagem do objeto almejado exibida no campo geométrico. A figura 4 apresenta a imagem de

um cubo construído no software, em que se visualiza sua forma tridimensional e

bidimensional.

Figura 4 – Sólido geométrico construído na tela do GeoGebra 3D

Fonte: Elaborado pela autora

O GeoGebra 3D permite a movimentação desses sólidos geométricos na tela do

(conclusão)

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73

dispositivo. Esse espaço interativo proporciona condições ao aprendiz para que ele manipule e

visualize seus elementos, aplicando propriedades e realizando conjecturas. Esses requisitos

são essenciais para observação de regularidades e podem contribuir para a construção do

conhecimento e da aprendizagem significativa.

Com toques no touchscreen, na tela do dispositivo, é possível arrastar o sólido

exibido na figura 4 em diferentes sentidos. Movendo dois dedos para dentro e para fora da

janela de visualização, é possível alterar a dimensão da imagem/objeto para menor ou maior.

Para se visualizar as propriedades do objeto, clica-se na janela de Entrada e logo se obtém

dados do objeto (coordenadas dos vértices, área, volume etc.).

Quanto à utilização desse software no trabalho docente, este apresenta vantagens

de ser manuseado no espaço físico da sala de aula, além de ser utilizado nos dispositivos

móveis dos alunos sem a necessidade do emprego do laboratório de informática. Mas isso não

garante a efetividade do processo de ensino e aprendizagem. Requer, dentre outras

habilidades, que o professor esteja preparado para mediar situações de ensino e que o aluno

tenha interesse em trabalhar com esse recurso, que lhe permita fazer manipulações e analisar

os elementos das construções geométricas que auxiliam o educando na construção do

conhecimento. (SILVA, 2018).

Para utilização do software GeoGebra, nesta pesquisa, foram construídos tutoriais

a partir da observação de vídeos do youtube25

, disponibilizados pelos pesquisadores Prof.

Humberto Bortolossi, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Prof. Sérgio Dantas,

docente da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Apucarana (UNESPAR).

Além do GeoGebra, foram utilizados outros aplicativos durante as sessões

formativas. Um deles foi o software AZ Screen Recorder que foi utilizado para gravar

imagens de captura de tela dos dispositivos móveis, bem como a comunicação verbal

realizada entre os participantes nos encontros práticos com o software em que a pesquisadora

trabalhou junto aos professores pesquisados. O outro software utilizado foi o ApowerMirror26

,

empregado para espelhar as imagens da tela do celular para o computador, de modo que

pudessem ser projetadas pelo datashow no espaço formativo.

A seguir, apresenta-se a metodologia que guiou os procedimentos e as técnicas de

coleta de dados dessa investigação.

25

https://ogeogebra.com.br; www.youtube.com/watch?v=Y1Zy5PbfHI0&t=1614s

26

O ApowerMirror é um aplicativo para reproduzir a tela do Android/iPhone no computador. Ele também

permite que os usuários controlem seus dispositivos pelo PC, usando o mouse e o teclado. Fonte:

www.apowersoft.com.br.

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74

5 METODOLOGIA

“Se fosse ensinar a uma criança a arte da

jardinagem, não começaria com as lições das

pás, enxadas e tesouras de podar. Levaria a

passear por parques e jardins, mostraria flores

e árvores, falaria sobre suas maravilhosas

simetrias e perfumes; [...]. Aí, seduzida pela

beleza dos jardins, ela me pediria para ensinar-

lhe as lições das pás, enxadas e tesouras de

podar”.

(RUBENS ALVES, 2004).

Este capítulo tem a finalidade de descrever os procedimentos e técnicas de coleta

de dados trilhados no processo de investigação científica da pesquisa de campo, buscando

atingir os objetivos da pesquisa que se encontram expostos na introdução deste trabalho. Do

mesmo modo, expõe a escolha do paradigma de pesquisa e o tipo de estudo, esclarece os

critérios observados na escolha do lócus da pesquisa e dos sujeitos participantes da

investigação, os métodos e os instrumentos de coleta que serviram de subsídios para análise

de dados, resultados e conclusões desta pesquisa.

Na literatura acadêmica são encontrados diversos autores que orientam os

procedimentos de investigação e percursos metodológicos, de modo que os caminhos

apresentados são específicos para a presente investigação e agrupa o pensamento de Barbier

(2002); Bogdan e Biklen (1994); Fiorentini e Lorenzato (2012); Ghedin e Franco (2011),

Marconi e Lakatos (2010), dentre outros.

5.1 Abordagens da pesquisa

A pesquisa científica em educação tem, dentre seus postulados, o aprofundamento

do saber e a produção de novos conhecimentos voltados à promoção de melhores condições

sociais para existência dos indivíduos. Ghedin e Franco (2011, p.42) observam que esse tipo

de pesquisa deve ser desenvolvido em observância a métodos de análise e de ação “coletiva,

dialógica e comprometida com a emancipação” de todos os envolvidos. Para tanto, faz-se

necessário estabelecer procedimentos científicos destinados a indicar sua origem e seu

alcance.

Sob essa perspectiva, o objeto dessa investigação encontra-se imbricado na

abordagem fenomenológico-hermenêutica, que consiste em abordagem que tem origem no

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75

campo filosófico da fenomenologia e na perspectiva hermenêutica. Para Fiorentini e

Lorenzato (2012, p. 65), essa tendência “parte do pressuposto de que a solução dos problemas

educacionais passa primeiramente pela busca de interpretação e compreensão dos significados

atribuídos pelos envolvidos (os sujeitos que experienciam o fenômeno)”. Na pesquisa

científica, constitui-se na busca do pesquisador em compreender e atribuir significado a

determinada realidade que se externa diante dele.

Sánchez Gamboa (2000, p. 95) pontua que nas abordagens fenomenológico-

hermenêuticas os processos de conhecimentos se iniciam em partes, pela manifestação dos

fenômenos “e caminham em direção do todo”. O conhecimento acontece quando se captura o

significado dos fenômenos e se desvenda “seu verdadeiro sentido”.

Nesse processo, a presença do pesquisador é elemento marcante pela capacidade

de interpretar fenômenos e discursos. Para Sánchez Gamboa (2000, p. 95), o pesquisador tem

que intervir no contexto investigado, interpretando-o, “procurando o seu sentido, e utilizando

técnicas abertas que permitam a manifestação profunda dos fenômenos”.

Nesta pesquisa, a abordagem fenomenológico-hermenêutica se efetiva quando a

pesquisadora decidiu analisar a prática pedagógica dos professores (caracterizados na seção

5.5) de Matemática do EM, a partir dos seus conhecimentos profissionais mobilizados e

empregados no ensino de Geometria Espacial através de um processo de formação

continuada.

Os estudos teóricos da pesquisadora sobre os objetos da pesquisa contribuíram

para ampliação do conhecimento a respeito da problemática investigada em busca de

mudanças na práxis dos sujeitos envolvidos, ensejando alcançar melhorias para o processo de

ensino de Geometria Espacial. Ghedin e Franco (2011, p. 173) reforçam as concepções sobre

a presença do pesquisador e sua relação com objeto de pesquisa para constituição do

conhecimento. Para os autores, “o pesquisador tem de dirigir o olhar para as profundezas das

relações a fim de ler o que está escondido por trás das aparências, e não ficar apenas no

reflexo da superficialidade”.

Para investigação do problema, a pesquisa trilhou os caminhos metodológicos da

abordagem qualitativa, que, na visão de Silvano (2019, p. 81), tem como uma das finalidades

“aprofundar a compreensão dos fenômenos investigados a partir de uma análise rigorosa e

criteriosa das informações que compõem o universo dos dados a serem analisados”.

Ghedin e Franco (2011, p. 57) destacam que Franco (2003) ao analisar

dissertações de mestrado e teses de doutorado produzidas na década de 2000, cuja temática

era direcionada à prática docente, constatou que praticamente todas elas empregaram a

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76

abordagem qualitativa. Para os autores, isso demonstra a preocupação dos pesquisadores “em

procurar a participação dos sujeitos pesquisados na análise dos processos e dos resultados da

pesquisa.”.

Minayo (2002, p. 21-22) assevera que pesquisas que apresentam essa abordagem

respondem questões particulares e se preocupam com realidades que não podem ser

quantificadas, “ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos

processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Para Borba e Araújo (2018) as pesquisas com abordagem qualitativa surgem da inquietação

do pesquisador e objetiva saber o “como” os fenômenos acontecem.

Ghedin e Franco (2011) apontam que as pesquisas qualitativas na área

educacional, nas últimas décadas, foram embasadas em novas concepções, visualizando-se

nelas:

O professor como sujeito no cenário da pesquisa;

O cotidiano e as práticas educacionais que são compreendidos como espaço de

vivência e de transformações;

A realidade social que passou a ser analisada como componente com múltiplos

significados e representações, carregados de intencionalidade;

O pesquisador que reconhece o sujeito pesquisado como alguém com

identidade e autonomia, em busca de emancipação;

Os fatos que acontecem em constante movimento e os produtos são

provisórios, havendo necessidade de focar na construção do processo; e

As técnicas de pesquisas que se tornam mais profundas e ricas, primando por

significados mais convincentes.

Na concepção de Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa com

abordagem fenomenológico-hermenêutica apresenta cinco características essenciais, embora

alguns estudos possam vir desprovidos de algumas dessas características, apresentadas a

seguir:

a) O ambiente natural como fonte direta de dados e o investigador constituem-se

os principais instrumentos, ou seja, os dados são obtidos pelo seu contato direto

e o seu entendimento é o principal instrumento de análise;

b) A investigação qualitativa é descritiva – os dados são descritos em forma de

palavras e não de números e os investigadores tentam analisar os dados com

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77

toda riqueza possível, respeitando a forma como foram registrados ou

transcritos;

c) Os investigadores interessam-se mais pelo processo do que pelos resultados ou

produtos – as estratégias se manifestam e as expectativas se definem nas

atividades, procedimentos e interações diárias;

d) Os investigadores tendem a analisar os dados de forma indutiva – os dados são

recolhidos sem o intuito de confirmar ou refutar hipóteses construídas

previamente, ao contrário, as abstrações vão se construindo à medida que os

dados recolhidos vão se agrupando;

e) O significado é de vital importância na abordagem – os investigadores

estabelecem estratégias e procedimentos levando em consideração as

interpretações de acordo com o que lhes é informado.

Borba e Araújo (2018) acrescentam que o uso de abordagens qualitativas em

pesquisas em Ciências Sociais não é novo, pois sua origem se remete ao século XIX.

Contudo, na área de Educação Matemática, essa abordagem vem sendo discutida há pouco

tempo, já que os pesquisadores dessa área (professores de Matemática) foram sempre

direcionados a trabalharem com quantidades. Para o autor, fornecer informações descritivas

do modo como as ações da pesquisa qualitativa são feitas, configura-se ainda, como um

grande desafio.

Para Garnica (2018), em Educação Matemática, a caracterização de uma pesquisa

qualitativa segue praticamente todos os parâmetros acima descritos por Bogdan e Biklen,

mesmo que essas orientações sejam da década de 1980. Aceitar esses pressupostos é conceber

sua contemporaneidade no desenvolvimento desse tipo de pesquisa.

Assim, após a definição do paradigma e da abordagem da presente investigação,

prossegue-se com a delimitação do método de pesquisa, o qual seguiu-se à metodologia da

pesquisa-ação.

5.2 Pesquisa–ação como metodologia

A pesquisa científica pode ser conceituada como um processo sistemático

detalhado, oriunda da ação humana, mediante investigação rigorosa sobre um determinado

problema ou uma questão da realidade que instiga o pesquisador a descobrir respostas para as

indagações inicialmente propostas. Para Fiorentini e Lorenzato (2012), o processo

investigativo passa por dois momentos fundamentais: a formulação da questão de

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investigação e a construção do caminho que permite responder desde a questão de

investigação até a solução ou resposta confiável.

Sob essa perspectiva, esta pesquisa segue os princípios da pesquisa-ação que se

apresenta como uma perspectiva epistemológica de transformação da prática docente dos

participantes do processo de pesquisa. Fiorentini e Lorenzato (2012) alertam que essa prática

de pesquisa pode não encontrar suporte teórico-epistemológico em nenhum dos paradigmas

clássicos de investigação ou contemplar procedimentos de vários paradigmas. Os autores

definem a pesquisa-ação como uma variante de atuação e observação intermediada pela ação

na qual:

O pesquisador se introduz no ambiente a ser estudado não só para observá-lo e

compreendê-lo, mas sobretudo para mudá-lo em direções que permitam a melhoria

das práticas e maior liberdade de ação e aprendizagem dos participantes. [...]

Apresenta-se transformadora, libertadora, provocando mudança de significados.

(FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 112).

Nessa concepção, a pesquisa-ação é entendida como um processo de intervenção

investigativo em que as práticas – investigativa, reflexiva e educativa – caminham juntas. A

prática educativa, quando investigada, produz orientações e compreensões que são

transformadas, gerando novas situações de investigação. Fiorentini e Lorenzato (2012)

esclarecem que os principais objetivos da pesquisa-ação é: (i) promover melhorias nas

práticas pedagógicas dos professores; (ii) articular o desenvolvimento curricular centrado na

escola; (iii) proporcionar o desenvolvimento de um grupo autorreflexivo na escola; (iv)

refletir sobre melhorias de condições de trabalho pedagógico e investigativo”.

Os autores supracitados reforçam que, apesar da pesquisa-ação ser considerada

uma técnica de coleta de informações, ela também é vista como uma espécie de ação em que

os sujeitos pesquisados também podem exercer a ação de pesquisar a própria prática. Quanto

ao papel do pesquisador, este atua tanto como pesquisador quanto como participante,

intervindo nos rumos da ação, sempre orientado pelos objetivos da pesquisa que desenvolve,

cumprindo o seu papel formativo.

Conforme pontuam Ghedin e Franco (2011), a pesquisa-ação vem sendo cada vez

mais utilizada por pesquisadores em trabalhos que investigam e realizam intervenções em

práticas educativas por possibilitar a participação, o diálogo, a reflexão entre os envolvidos e

a produção de conhecimentos. Dessa forma, intentou-se promover uma reflexão sobre os

conhecimentos dos professores necessários para a prática pedagógica no ensino do conteúdo

de Geometria Espacial, bem como apropriação do conhecimento tecnológico para ampliação

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da base dos conhecimentos dos docentes.

Ghedin e Franco (2011) complementam que é “praticamente consensual” entre os

pesquisadores que a pesquisa-ação teve origem nos trabalhos de Kurt Lewin27

, os quais

sugeriam que a pesquisa-ação fosse conduzida por um circuito de espirais cíclicas que

envolvia: planejamento, ação, pesquisa, observação, reflexão, avaliação, planejamento de

novas ações, assim por diante. Esses elementos da espiral acontecem sempre em movimentos

cíclicos e aprofundados, cumprindo seu processo de integração entre pesquisa, reflexão e

ação.

Quanto à conceituação da pesquisa-ação, observa-se que é possível encontrar

diferentes denominações, referenciadas por diversos autores. A presente investigação não tem

a pretensão de aprofundar tais discussões, limitando-se a apresentar essa conceituação

referenciada em Barbier (2002) e Ghedin e Franco (2011). Ghedin e Franco (2011) observam

que, ao se tratar de pesquisa-ação, há diversos pesquisadores que apresentam diferentes

conceitos. Sobre essa temática, os autores apontam três modelos:

a) Pesquisa-ação colaborativa – quando os sujeitos de determinado grupo buscam

pela intervenção do pesquisador no sentido deste intervir e provocar

transformação nesse espaço ocupado pelos sujeitos;

b) Pesquisa-ação crítica – quando a necessidade de intervenção é percebida em

trabalhos iniciais do pesquisador com os sujeitos, pautada por uma reflexão

crítica coletiva, buscando a emancipação dos sujeitos;

c) Pesquisa-ação estratégica – quando é planejada, acompanhada e avaliada pelo

pesquisador, sem a participação dos sujeitos. Apesar de apresentar essas

características, esta última também é considerada pesquisa-ação pela

profundidade em que se investiga a práxis do grupo estudado e as mudanças

são negociadas e geridas no coletivo.

Barbier (2002) menciona a existência da diversidade de classificações para a

pesquisa-ação e aponta quatro tipos de pesquisa-ação abordados nos estudos de Lévy (1985):

pesquisa-ação de inspiração lewiniana; consulta-pesquisa de inspiração analítica ou

socioanalítica; experimentação social e ação-pesquisa. De acordo com o autor, esses tipos

27 Kurt Lewin (1946) foi o pioneiro a difundir o modelo da pesquisa-ação, e considerava que a pesquisa-ação é

um processo de espiral que envolve três fases: planejamento, ação e reflexão.

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possuem as seguintes definições:

a) Pesquisa-ação de inspiração lewiniana – o pesquisador aplica um plano

experimental junto a um grupo-piloto para obtenção da elaboração de um

paradigma de ação ou para resolução de problema. Posteriormente é aplicada a

grupos em larga escala quando surgem os problemas ou no tratamento destes.

b) Consulta-pesquisa de inspiração analítica ou socioanalítica – voltada para a

psicanálise freudiana e kleiniana, no que concerne aos conceitos e à

metodologia. O pesquisador age como analista ou terapeuta diante dos atores,

caracterizando-se em modelo de socioterapia, buscando descobrir influências

involuntárias presentes na vivência dos participantes. Nesse processo, a

intervenção é requerida pelos atores.

c) Experimentação social – são desenvolvidas ações que são julgadas

“inovadoras”, oriundas de experiências de vida de comunidades ou grupos e

são dotadas de certa cumplicidade com os pesquisadores. A pesquisa é

acompanhada pela reflexão e análise, simultaneamente, de instrumentos como

diários de campo, relatórios e trocas para compreender suas experiências e

posteriormente, divulgá-las.

d) Ação-pesquisa – desenvolvida por meio de ações intencionais com o intuito de

promover mudanças decididas pelo pesquisador. O pesquisador intervém

diretamente no fenômeno que precisa ser transformado, visando obter

mudanças na realidade pesquisada. Apesar do processo de pesquisa ser

induzido pelo pesquisador e as modalidades também propostas por ele, a

pesquisa é efetuada com os sujeitos em situação e sobre a situação destes. O

resultado da exploração das ações pelo pesquisador se transforma em pesquisa

acadêmica.

No caso deste trabalho, visualiza-se aproximação com a conceituação de Barbier

(2002), na perspectiva da ação-pesquisa, proposta pela pesquisadora. Nesse processo, foi

desenvolvida uma etapa formativa com três professores de Matemática, buscando

compreender os conhecimentos desses docentes em suas práticas profissionais, além da

reflexão e ressignificação do ensino de conteúdos de Geometria Espacial com uso de recursos

tecnológicos. Os professores participantes puderam tecer reflexões sobre suas práticas

educativas, os conhecimentos adquiridos em suas trajetórias profissionais, as angústias

vivenciadas no cotidiano de suas salas de aulas e suas necessidades em adquirir novas

metodologias de ensino que contribuam para o processo de aprendizagem de seus alunos.

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Barbier (2002) destaca que não há ação sem pesquisa e nem pesquisa sem ação. O

autor destaca como primordial a constante reflexão do pesquisador sobre a ação desenvolvida,

em que ele passa e repassa seu olhar sobre o “objeto”, realizando processos de ações em busca

de mudança permanente. Ainda que o objeto lhe escape constantemente, o pesquisador o

examina regularmente, sem querer retê-lo.

O autor declara que, independentemente do tipo de pesquisa-ação que se

desenvolve, todas elas utilizam a abordagem em espiral. O autor destaca que “todo avanço em

pesquisa-ação implica o efeito recursivo em função de uma reflexão permanente sobre a

ação.”. Sugere ainda que, em sua realização quatro temáticas basilares, sejam consideradas: “a

identificação do problema e a contratualização; o planejamento e a realização em espiral; as

técnicas da pesquisa-ação; a teorização, a avaliação e a publicação dos resultados.”

(BARBIER, 2002, p. 117/118).

A temática da identificação do problema e a contratualização podem ser

suscitadas tanto pelo pesquisador, quanto podem ser sugeridas pelos membros de determinado

grupo, que identificam situações de dificuldades em ambientes que convivem e procuram a

ajuda de um pesquisador profissional com a finalidade de resolver o problema. A

contratualização é feita entre o pesquisador e o grupo pesquisado e deve indicar finalidades,

temporalidade, código de ética, dentre outros. O pesquisador deve estar aberto ao diálogo em

todos os momentos: problemática, definição do problema, metodologia, análise das

dificuldades e outras situações que transcorram no desenvolvimento da ação.

A temática do planejamento e a realização em espiral acontecem a partir da

aceitação dos pesquisados para fazer parte da investigação. Em cada fase da espiral são

propostos objetivos, elaborando-se um cronograma com pautas, prazos e outros pontos

importantes para o desenvolvimento do trabalho. Todos os conflitos devem ser mediados no

momento de seu surgimento; a avaliação deve acontecer em cada ciclo da espiral para

identificar a existência ou não dos efeitos de mudança. A situação investigada só deverá ser

finalizada se verificada a existência de soluções para a problemática levantada.

A temática das técnicas da pesquisa-ação podem ser as mesmas que comumente

são empregadas em Ciências Sociais, desde que sejam direcionadas à resolução do problema.

Envolve a escuta sensível do pesquisador e demanda tempo para que seja estabelecida uma

relação de confiança entre o pesquisador e os pesquisados.

A temática da teorização, a avaliação e a publicação dos resultados das

atividades são planejadas e aplicadas em um processo de espiral. Ao identificar a situação-

problema, prossegue-se com o planejamento e com a ação nº 1, seguida da avaliação,

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teorização e da retroação sobre o problema; a espiral, então, retoma o planejamento e a ação

nº 2, seguida da avaliação e teorização e assim sucessivamente. (BARBIER, 2002).

Nessa fase acontece o processo de pesquisa em espiral que implica numa

constante reflexão sobre a ação, olhando várias vezes o mesmo objeto sob diferentes ângulos.

Um ciclo pode se transformar em vários ciclos e uma espiral se transformar em várias

espirais, conforme pode ser observado na Figura 5, até alcançar os objetivos da pesquisa.

Figura 5 – Espiral da pesquisa-ação na perspectiva de Barbier (2002)

Fonte: Ferreira (2019).

Ghedin e Franco (2011) tecem reflexões sobre o ciclo das espirais (planejamento,

ação, reflexão, pesquisa, ressignificação, replanejamento etc.) enfatizando que é necessário

haver tempo para se obter o pleno desenvolvimento desse tipo de abordagem. O método

requer avaliação constante e retomada contínua das espirais cíclicas. A avaliação é realizada

pelo pesquisador para tentar compreender se houve mudança nas atitudes, nos

comportamentos dos pesquisados ou na situação investigada.

Por fim, a publicação dos resultados é presenciada em trabalhos oriundos de

pesquisadores profissionais, divulgação de práticas inovadoras e investigações provenientes

de estudos universitários que dependem da publicação para obtenção de pareceres favoráveis

à sua conclusão. (GHEDIN; FRANCO, 2011). Nessa investigação, a publicação será realizada

após parecer dos professores que compõem a banca examinadora do referido trabalho.

Diante dessas reflexões, neste trabalho a pesquisa-ação encontra-se referenciada

pelas considerações de pesquisadores como Barbier (2002), Fiorentini e Lorenzato (2012) e

Ghedin e Franco (2011). A pesquisa-ação se desenvolve na realização de ação formativa com

professores de Matemática, dentre eles, aqueles que ministram o conteúdo de Geometria

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Espacial, especificamente, em tópicos referentes ao estudo de poliedros de Platão, prismas e

pirâmides. A efetivação das fases da pesquisa-ação assume as orientações propostas Barbier

(2002), percorrendo as quatro temáticas propostas pelo autor, descritas na seção seguinte.

.

5.3 Organização das etapas da pesquisa

Este trabalho investigativo adotou as orientações para realização da ação

formativa, referenciadas em Barbier (2002), a qual se apresenta descrição detalhada de sua

execução.

A primeira etapa, denominada de identificação do problema e contratualização,

teve início com a elaboração do projeto de pesquisa pela pesquisadora, durante o período em

que participou do processo seletivo para ingresso no curso de mestrado, da apropriação do

referencial teórico da pesquisa, dos estudos realizados nas disciplinas cursadas no mestrado e

grupo de pesquisa, bem como da metodologia a ser seguida no trabalho de campo com os

atores da pesquisa.

A contratualização foi efetivada em encontro que antecedeu à etapa formativa,

após o contato inicial com os professores de Matemática para apresentação da proposta

formativa, sensibilização para adesão do processo formativo e a seleção dos professores

pesquisados. Os professores foram informados sobre a voluntariedade de suas participações

na pesquisa, além da ter sido realizado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (apêndice A).

Essa etapa aconteceu observando-se as recomendações de Bogdan e Biklen (1994,

p. 75) na qual: “1. Os sujeitos aderem voluntariamente aos projectos de investigação, cientes

da natureza do estudo e dos perigos e obrigações nele envolvidos. 2. Os sujeitos não são

expostos a riscos superiores aos ganhos nele envolvidos”.

Os autores recomendam que os pesquisadores devam dispor atenção aos

princípios éticos que norteiam os processos investigativos que são eles: respeito mútuo para

com os participantes; fazer negociações para tornar o estudo honesto e realista; e fidelidade na

redação final dos resultados. Desse modo, os professores pesquisados fizeram a adesão ao

projeto de investigação, informados da natureza do estudo, dos riscos e obrigações que

poderiam ou não ser envolvidos.

A segunda etapa, denominada de planejamento e a realização em espiral,

concretizou-se com o planejamento da etapa formativa, entre a pesquisadora e os professores

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envolvidos na etapa formativa, elaborando-se uma projeção do cronograma dos encontros

formativos, realização de entrevista (apêndice B). Nesse momento foi fixada a data de

realização da entrevista e da observação de uma aula ministrada pelos professores

participantes para os seus alunos, em que estariam abordando conteúdos de Geometria

Espacial. Essa aula foi denominada de “aula inicial”, antecedeu aos encontros formativos e

teve como objetivo analisar a prática dos docentes pesquisados, antes da intervenção

formativa.

Após a observação da aula inicial, realizou-se as entrevistas com os professores

envolvidos e teve início a fase da ação. Essa ação foi denominada de “ação formativa” e

constituiu-se por quatro encontros, descritos na seção 5.6. Foram intermediadas as seguintes

diretrizes: a realização de dois encontros para estudos teóricos sobre os conhecimentos

profissionais e o ensino de Geometria Espacial; e dois encontros para explorar o uso de

recursos tecnológicos direcionados ao ensino do conteúdo de Geometria Espacial.

A terceira etapa comumente acontece mediante a efetivação da parte prática da

investigação. Nessa etapa a pesquisadora adentrou no lócus da pesquisa, explorando

possibilidades e descobertas, embasada pela teoria apresentada no referencial teórico e por um

conjunto de técnicas de pesquisa-ação.

A escolha das técnicas usadas na coleta dos dados é primordial para uma análise e

deve estar embasada no rigor científico e veracidade das informações. Assim, esta pesquisa

utilizou-se das técnicas propostas por Barbier (2002) – observação participante e diário de

campo, bem como a adoção de outros recursos como: entrevistas, sessões reflexivas,

filmagens e gravações em áudio.

Na quarta etapa da pesquisa, denominada teorização, avaliação e publicação dos

resultados, a teoria é verificada pela avaliação incessante da ação desenvolvida. Nesse

caminho, a reflexão contínua foi a base constitutiva durante e após todo o processo formativo.

A avaliação da pesquisa-ação é mencionada por Barbier (2002) como um processo

para compreender as reais mudanças de comportamentos e de atitudes ocorridas em nível de

grupo e da problemática investigada. Nesta investigação, a avaliação foi realizada após a

conclusão dos encontros formativos e das sessões reflexivas com os sujeitos, visando analisar

as atitudes e concepções dos pesquisados quanto aos conhecimentos adquiridos e suas

contribuições para a (re)significação de suas práticas.

Para Barbier (2002), a teorização ou resultado da pesquisa deve acontecer com a

resolução do problema inicial da pesquisa, seguida da publicação do relatório final. Nesta

investigação, a teorização é requisito obrigatório para a conclusão do curso de mestrado, no

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qual a pesquisa teve origem. Essa fase requer procedimentos rigorosos e metódicos para

análise dos dados recolhidos durante o processo de pesquisa e foi realizada com auxílio dos

dados coletados no campo da pesquisa, referenciadas em aportes bibliográficas.

A divulgação dos resultados junto aos pesquisados e demais interessados será

feita após a aprovação do relatório final, pela banca de professores de Programas de Pós-

Graduação, que analisam o trabalho da pesquisadora. Tal divulgação foi compromisso

assumido com a gestão escolar e com o grupo de professores de Matemática que compõem o

quadro de professores da escola onde ocorreu a pesquisa de campo. Essa publicitação dos

resultados tem o propósito de difundir as respostas encontradas à questão de pesquisa, além de

fortalecer a motivação dos pesquisados a se manterem inseridos em processos de formação

continuada, em seu percurso profissional.

A seção seguinte apresenta os instrumentos usados na pesquisa durante a etapa

formativa com os professores pesquisados.

5.4 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos usados nesta investigação se constituíram em: observações,

diário de campo, entrevista, sessões reflexivas, filmagem e gravações em áudio. Todos esses

recursos contribuíram para a triangulação dos dados, durante a análise. Para Araújo e Borba

(2018, p. 42), a triangulação de dados é um procedimento que pode ser utilizado para

aumentar a credibilidade da pesquisa. Dessa maneira, “o pesquisador, ao invés de construir

suas conclusões apenas a partir das observações”, pode utilizar outros métodos, como

entrevistas, filmagens etc., e poderá utilizá-las “para checar algum detalhe ou para

compreender melhor algum fato ocorrido durante as observações”. Para os autores, a

observação feita por diferentes procedimentos configura-se em uma “triangulação de

métodos”.

A observação “é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e

utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas

em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar.”.

Nesse processo o pesquisador obtém informações sobre o comportamento dos pesquisados,

mesmo que estes não tenham consciência de que são detentores de tais hábitos. (MARCONI;

LAKATOS, 2010, p. 173).

Para o autor, essa técnica também pode ser denominada de observação

participante natural. Nesse tipo de observação, o levantamento de dados é realizado no local

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onde os fenômenos ocorrem e o pesquisador é membro da comunidade em que acontece a

investigação. Salienta-se que, nesta situação, o pesquisador exerce o papel de destaque,

atuando dentro e fora do grupo, em diversas ações desenvolvidas nos momentos formativos

com os atores pesquisados.

O diário de campo é um recurso que pode ser usado tanto pelo pesquisador

quanto pelos sujeitos pesquisados para o registro de fatos e dados como: “dados relativos a

compreensões, interpretações, sínteses das leituras de fundamentação teórica; sínteses das

reflexões e decisões grupais”, dentre outras coisas. (GHEDIN; FRANCO, 2011, p. 244).

Nesta investigação, esse recurso foi utilizado pela pesquisadora para pontuar

reflexões oriundas da etapa formativa. Esses registros se somaram aos demais instrumentos de

coleta e contribuíram para potencializar elementos pertinentes para análise dos dados

coletados e para elaboração do relatório final.

A entrevista é uma espécie de conversa metódica, em que o pesquisador deseja

obter do entrevistado as informações necessárias para sua questão de pesquisa. Para Marconi

e Lakatos (2010, p. 178) “é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha

informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza

profissional.”. Além disso, as autoras enumeram vantagens da entrevista: (i) a oralidade – o

entrevistado não precisar escrever; (ii) a comunicação direta – as informações são mais

precisas, podendo repetir ou reformular perguntas para esclarecer dúvidas e discordâncias; e

(iii) possibilidade de avaliar condutas e reações.

As sessões reflexivas são momentos de diálogo entre pesquisador e pesquisados

sobre a prática docente. Nesse movimento, os professores discutem “as suas angústias, os

problemas enfrentados no processo de ensino-aprendizagem com relação ao conteúdo a

ensinar, ao ambiente de sala de aula, a sua prática, [...], as suas aflições.”. (JORGE, 2015, p.

33).

Nessa vertente, as sessões reflexivas entre a pesquisadora e os professores

pesquisados objetivaram a promoção de reflexões sobre os estudos teóricos realizados nos

encontros formativos, com ênfase nos conhecimentos profissionais e no ensino de Geometria

Espacial; os conhecimentos adquiridos ou não durante os momentos formativos; a vivência

prática com uso dos recursos tecnológicos, bem como a avaliação da etapa formativa

realizada.

A filmagem é uma técnica que engloba em um só recurso a imagem e a

comunicação, com a função de complementar como um todo a análise da pesquisa e vem

sendo cada vez mais utilizada pelos pesquisadores. Esse procedimento se constitui como

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importante registro para ampliar o conhecimento do estudo, proporcionando documentar

situações decorrentes do cotidiano vivenciado e visualizá-las em momentos posteriores, sobre

diferentes ângulos. (CRUZ NETO, 2002).

O autor assevera que o trabalho do pesquisador não deve ficar limitado a esta

técnica, pois o olhar atento do pesquisador é o fundamental no momento da pesquisa de

campo, por isso deve ser utilizada a observação participante durante todo o processo. A

pesquisadora buscou seguir essa recomendação, durante toda etapa formativa.

A gravação em áudio se configura como uma técnica amplamente utilizada em

pesquisas qualitativas, por permitir a transcrição fidedigna das discussões no produto

pesquisado, além de se caracterizar como um recurso de fácil acesso e com uma vasta

quantidade de tecnologias que permitem a realização desse procedimento. (CRUZ NETO,

2002).

Para melhor viabilização na análise posterior dos dados coletados, foi realizado o

registro dos encontros através de recursos de filmagem, áudios registrados nos encontros

presenciais desenvolvidos no lócus da pesquisa, além das anotações pessoais no diário de

campo da pesquisadora. As gravações em áudio apresentam melhor qualidade na captação do

som, já que o produto obtido nas filmagens, muitas vezes, resulta em sons de baixa qualidade

que podem inviabilizar a análise da investigação. Para garantir a fidelização da transcrição

dos dados coletados nas gravações, esta investigação empregou tanto a gravação em áudio

quando a filmagem durante os encontros presenciais.

A seguir, apresenta-se o cenário em que foi realizada a coleta de dados e os

professores que participaram da etapa formativa.

5.5 Cenário e sujeitos da pesquisa

A escolha do lócus da pesquisa se deu a partir do estabelecimento dos seguintes

parâmetros: ser uma escola integrante da rede pública de ensino; funcionamento de turmas de

EM; estar sendo lecionado o conteúdo de Geometria Espacial em período concomitante com a

etapa formativa; anuência da gestão da unidade escolar e adesão de professores de

Matemática para participarem da etapa formativa.

Dessa forma, a pesquisa foi realizada na escola de EM Governador Adauto

Bezerra, localizada no bairro de Fátima, Fortaleza – Ceará. A referida escola pertence à rede

pública de ensino estadual, possui um quantitativo de 2050 alunos (matrícula de 2020)

matriculados nas três séries do EM e 105 professores em efetivo exercício de suas funções.

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Ressalta-se que a pesquisadora exerceu a função de professora nessa unidade de

ensino, em período antecedente a seu ingresso no curso de Mestrado. Para Ghedin e Franco

(2011), a presença do pesquisador no ambiente em que desenvolve a própria prática é um

princípio eminentemente pedagógico e viável para operacionalização da pesquisa-ação.

Contudo, a pesquisa deve se configurar em uma ação que mantenha o rigor científico,

primando pela prática educativa embasada em princípios éticos direcionados ao caráter

formativo e emancipatório dos sujeitos. A observância desses princípios foi mantida nesta

investigação.

Uma das características visualizadas na escola é a receptividade de seus gestores

a projetos que contribuam para o “repensar” de práticas que contribuam para melhoria do

processo de ensino e aprendizagem dos integrantes que compõem seu espaço educacional.

Diante dessa realidade, a presença de pesquisadores de IES é bastante frequente e bem

acolhida por aqueles que compõem seu núcleo gestor.

A aproximação da pesquisadora com o lócus da pesquisa e com os participantes

da investigação caracterizou-se em uma relação de confiança e, consequentemente, encorajou

o grupo a participar das ações e reflexões desenvolvidas durante todo o processo formativo.

Mediante contato inicial da pesquisadora com o diretor geral da escola e com a

coordenação da área de Matemática, agendou-se o primeiro encontro com os professores da

disciplina de Matemática em que foi explanada a proposta formativa. O referido encontro

aconteceu após o encerramento das atividades de fechamento de bimestre, no horário semanal

destinado ao planejamento de área, dentro da jornada de trabalho dos docentes.

O encontro contou com a presença de 10 professores, em que foi apresentada a

proposta de ação formativa a ser desenvolvida. Ressalta-se que o conteúdo de Geometria

Espacial, dentro da organização curricular da escola, é trabalhado integralmente na 2ª série e,

em formato de revisão, na 3ª série do EM.

Diante da organização dos conteúdos nas respectivas séries, o número de

professores que trabalham com esse conteúdo na escola é bastante limitado e o convite foi

ampliado a todos os professores que ministram a disciplina de Matemática na escola. A

pesquisadora considerou que a proposta formativa poderia despertar o interesse de outros

docentes lotados em Matemática, em áreas afins, tendo em vista a interdisciplinaridade entre a

Álgebra, Aritmética e Geometria.

Durante a apresentação da proposta, um dos professores fez uma ressalva sobre a

viabilidade de usar o GeoGebra no celular. Na concepção desse professor, esse programa só

teria êxito se fosse trabalhado em ambiente silencioso, pois exige um alto grau de

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concentração. Destacou que seria necessário ter um ambiente com cabines individuais, se

referindo-se ao laboratório de informática. Ressaltou que seria difícil trabalhar dentro de uma

sala de aula, numa turma de 40 alunos, e que não teria rendimento.

Outro professor observou que seria um grande desafio trabalhar em sala de aula

no celular com os alunos, pois eles acabariam se desvinculando do trabalho com o software

para utilizá-lo em outras situações como: uso das redes sociais e canais de comunicação

(WhatsApp) no momento da aula.

Ao ser mencionado que após a conclusão da pesquisa a pesquisadora retornaria à

escola para apresentar ao grupo de professores de Matemática os resultados da investigação,

um terceiro professor mencionou a sua participação em outras pesquisas realizadas na escola,

em anos anteriores, e que, após a coleta de dados, não houve nenhum retorno dos

pesquisadores ao grupo pesquisado. Apesar das intervenções desses professores sobre os

pontos apresentados, eles não demonstraram interesse em participar da etapa formativa.

Após a explanação do projeto de pesquisa e o formato da investigação, a adesão

dos participantes ao processo formativo aconteceu de forma voluntária por três professores,

cujo perfil é apresentado na seção 6.1. Para manter o anonimato dos docentes, nesta

investigação, a partir desse momento serão denominados de Delta, Sigma e Ômega.

Os professores Delta e Sigma estavam lotados em turmas de 2º ano e

encontravam-se ministrando o conteúdo de Geometria Espacial, no momento da apresentação

da proposta. Ômega encontrava-se lotado em turmas do 1º ano do EM, na disciplina de

Matemática. Embora Ômega não estivesse lotado em turmas de 2º ano, em que é abordado o

conteúdo de Geometria Espacial, o professor demonstrou interesse em participar da etapa

formativa. A pesquisadora acenou positivamente e Ômega participou do encontro inicial,

entrevista, encontros formativos teóricos e práticos e sessão reflexiva. Não se observou a aula

inicial e a aula prática de Ômega, em razão desse professor não estar trabalhando com

conteúdos de Geometria Espacial, um dos objetos desta investigação.

Em relação ao tamanho da amostra, Silvano (2019) pontua que três professores é

uma condição favorável para aplicação dos procedimentos da pesquisa-ação. Esse tipo de

pesquisa se revela como um instrumento de investigação de grupos pequenos a médio porte.

A seção seguinte explana a ação formativa realizada com os professores Delta,

Sigma e Ômega, constituindo-se como uma das etapas dessa investigação.

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5.6 Ação formativa

A etapa formativa foi realizada com os três professores, denominados na seção

anterior, e abordou as seguintes temáticas: conhecimentos dos professores, Geometria

Espacial e software GeoGebra. Considerando a relevância dos processos formativos no

âmbito do trabalho docente, a proposta teve como objetivos:

a) Propiciar um espaço de reflexão aos professores pesquisados sobre sua prática

educativa dentro do espaço escolar em que estão inseridos;

b) Promover uma reflexão sobre os conhecimentos dos professores de

Matemática, com foco no conteúdo de Geometria Espacial;

c) Explorar as potencialidades dinâmicas do GeoGebra para produção do

conhecimento e interação entre os sujeitos envolvidos, articulando o

conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo à prática educativa dos

professores.

Objetivando contemplar todas as etapas planejadas para a proposta formativa

elaborada, foi necessária a realização de nove encontros que aconteceram entre os meses de

setembro de 2019 a janeiro 2020, com duração de duas horas cada encontro. A carga horária

total da ação formativa foi de 30 horas aulas, sendo 20 horas de atividades presenciais e 10

horas de estudos domiciliares.

Houve expedição de certificados para os professores participantes. Tais

certificados são reconhecidos como Capacitação Profissional para Ascensão Funcional no

Plano de Progressão Horizontal dos Profissionais do Magistério da SEDUC e exercem papel

motivador para os professores participarem de processos formativos ao longo de suas

carreiras profissionais. Ressalta-se que os momentos de estudos domiciliares não se

configuraram em material de análise para a investigação.

O primeiro encontro, além da apresentação da proposta geral da pesquisa,

firmou-se a contratualização da etapa formativa entre o pesquisador e o grupo pesquisado por

meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (apêndice A), buscando-se

intermediar definições e diretrizes de ações a serem trabalhadas nos demais encontros. Criou-

se um grupo pelo aplicativo de conversa whatsapp para facilitar a comunicação entre os

participantes. Esse recurso contribuiu para a comunicação entre o grupo e o agendamento das

datas dos encontros presenciais, que sempre aconteceram em dias e horários disponibilizados

pelos docentes, fora de suas cargas horárias de trabalho escolar.

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91

O segundo encontro entre pesquisador e pesquisados teve a finalidade de

observar uma aula inicial ministrada pelos professores Delta e Sigma trabalhando o conteúdo

de Geometria Espacial, em etapa concomitante com a pesquisa de campo. Não se observou a

atuação professor Ômega em sala de aula, visto que tal professor não trabalhava com o

conteúdo do objeto de investigação.

A observação aconteceu antes dos encontros teóricos e prática com o software,

contemplando uma aula de cada professor, em suas respectivas salas de aulas, cujo objetivo

foi analisar indícios dos conhecimentos: de conteúdo, pedagógico e tecnológico com a

utilização de recursos didáticos no fazer pedagógico dos professores ao abordarem o conteúdo

de Geometria Espacial em suas salas de aula. Ressalta-se que nesse encontro não houve

nenhuma intervenção da pesquisadora, objetivando que a aula transcorresse da forma mais

natural possível.

No terceiro encontro, aconteceu a realização de entrevista com roteiro

semiestruturado (apêndice B). Apesar de a entrevista seguir um roteiro de perguntas

previamente elaboradas, a pesquisadora e os entrevistados tinham a liberdade de fazer outras

perguntas e explorar outras situações, caracterizando-se em uma conversa informal. O roteiro

da entrevista foi enviado aos professores antecipadamente via e-mail.

Os dados obtidos na entrevista, em geral, foram a respeito da experiência do

professor no ensino de Geometria Espacial, seus métodos e recursos didáticos empregados em

suas práticas diárias. Esse momento foi determinante para elaboração do diagnóstico inicial

do perfil dos professores participantes. Além disso, buscou-se conhecer as dificuldades

apontadas pelos professores na prática de ensino do conteúdo de Geometria Espacial.

O quarto encontro ensejou fazer uma reflexão sobre os conhecimentos

profissionais fundamentada nos estudos de Shulman (1987, 2014) e Koehler e Mishra (2009).

Os textos foram disponibilizados antecipadamente para que os professores pudessem

conhecer e aprofundar as leituras e entendimento da temática proposta. Esse procedimento foi

caracterizado como estudos domiciliares.

Houve uma conversa inicial embasada nos estudos de Shulman (1987, 2014) e

não houve tempo para discutir o texto referenciado por Koehler e Mishra (2009). Convém

justificar que o tempo disponibilizado pelos professores para o encontro era de duas horas e os

professores aproveitaram o encontro para apontar angústias oriundas do processo de ensino,

bem como as dificuldades diagnosticadas na construção da aprendizagem de seus alunos.

No quinto encontro buscou-se refletir sobre a importância do ensino de

Geometria dentro do processo educativo e a relação que se estabelece entre esses conteúdos e

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE ......Geometria Espacial. Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se no Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se

92

a produção do conhecimento gerada na academia pelos teóricos da educação e as práticas

docentes desenvolvidas nos cursos de formação de professores. As discussões foram baseadas

a partir do referencial teórico do capítulo 3 desta dissertação, no qual os professores refletiram

a respeito do texto explorado.

Os encontros sexto e o sétimo aconteceram com o uso dos dispositivos

tecnológicos móveis – os smarphones dos participantes, explorando-se as potencialidades do

software GeoGebra, trabalhando-se assuntos de prismas e pirâmides. Para esses encontros, a

pesquisadora preparou um tutorial (apêndices D a I) a ser seguido no processo de construção

dos sólidos espaciais no aplicativo GeoGebra.

Durante a realização dessas duas sessões formativas, houve problemas nas

gravações de vídeos, as quais não foram efetivadas. As gravações em áudios foram feitas nos

dispositivos móveis dos professores Delta e Sigma, utilizando o aplicativo AZ Screen

Recorder, e compartilhadas pelo Google Drive com a pesquisadora, em momentos

posteriores. Esse aplicativo possibilita a gravação das falas de todos os participantes e captura

o vídeo da tela do dispositivo do participante que está executando o programa, registrando os

movimentos que o professor executa na tela de seu smartphone.

Foram explorados elementos dos prismas – vértices, arestas e faces; a visualização

dos sólidos em seus formatos tridimensionais e bidimensionais; e a identificação das figuras

planas que constituem cada sólido. Procurou-se construir, reconhecer e identificar os

principais elementos dos prismas retos (cubo, paralelepípedo, prismas regulares triangulares,

quadrangulares, pentagonais e hexagonais), além das pirâmides construídas com bases

regulares com vários lados, no “plano geométrico” do GeoGebra. Foi possível explorar

habilidades de percepção, descobertas, verificações e deduções de conceitos dos sólidos

geométricos.

O oitavo encontro deu-se com a observação de uma aula prática desenvolvida

pelos professores Delta e Sigma, sendo uma aula de cada professor, em dois momentos

distintos. Novamente, convém esclarecer que nesse encontro não houve intervenção da

pesquisadora, ensejando-se que a aula transcorresse conforme o planejamento e a

coordenação dos respectivos professores.

Os professores tiveram a liberdade de planejar a aula para uma de suas turmas, em

que seria trabalhado um dos conteúdos de Geometria Espacial (poliedros, prismas ou

pirâmides), fazendo uso do software GeoGebra nos dispositivos móveis dos alunos,

explorando os conhecimentos adquiridos no sexto e sétimo encontro. O download do software

foi realizado pelos alunos em dias antecedentes da realização da aula, atendendo à solicitação

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93

dos professores.

A sessão reflexiva foi planejada para acontecer em um único encontro coletivo,

envolvendo todos os participantes, em dezembro de 2019, período que antecedia ao recesso

escolar dos professores. Devido à incompatibilidade nos horários disponibilizados pelos

professores, o encontro foi realizado em momentos distintos, sendo um encontro individual

com cada professor. Um dos encontros aconteceu em dezembro 2019 com professor Sigma e

os demais, em janeiro de 2020 com os professores Delta e Ômega.

Nessa etapa, o diálogo entre pesquisador e pesquisados teve o objetivo de

promover reflexões sobre o processo formativo desenvolvido no lócus da pesquisa – as

sessões formativas com os aportes teóricos sobre o domínio dos conhecimentos dos

professores, o ensino de Geometria e o manuseio do software GeoGebra na prática de ensino

dos docentes – além das impressões dos professores sobre a inserção dos recursos

tecnológicos em suas salas de aula.

As discussões foram direcionadas para se obter a análise e a avaliação dos

resultados, levando-se em consideração três aspectos:

A reflexão sobre os estudos teóricos – qual a percepção dos professores sobre

os momentos formativos para a formação profissional, a atuação em sala de

aula (em relação aos textos, ao software GeoGebra e ao conteúdo matemático)

e quais os conhecimentos adquiridos ou não durante os momentos formativos.

A vivência prática com emprego da tecnologia – que fosse relatado como foi o

planejamento e a execução da aula prática; a relação entre os textos estudados e

o planejamento da aula prática; se os objetivos estabelecidos para a aula foram

alcançados; a relação entre o conhecimento do conteúdo com a tecnologia

utilizada em sala de aula; a relação entre tecnologia, conhecimento pedagógico

e conhecimento de conteúdo durante a utilização do software em sala de aula.

Avaliação do processo formativo e do uso do aplicativo em sala de aula – foi

pedido aos professores que relatassem pontos positivos e negativos

visualizados durante as sessões formativas e no processo de utilização do

software GeoGebra para o ensino de Geometria Espacial em suas salas de aulas

com seus alunos.

O quadro 2 apresenta a síntese da etapa formativa desenvolvida nos 09 encontros

presenciais, cronograma e carga horária de cada encontro.

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94

Quadro 2 – Cronograma das sessões formativas

Etapas

Formativas

Tema Carga

Horária

Encontro 01

17/09/19

Apresentação da proposta de trabalho.

Cronograma inicial dos encontros presenciais.

Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

02 h/a

Encontro 02

18/09/19 e

26/09/19

Observação de uma aula inicial ministrada pelos pesquisados, antes da

etapa formativa.

02 h/a

Encontro 03

30/09/19 e

02/10/19

Entrevistas com os professores pesquisados. 02 h/a

Estudo

complementares

03/10 à 07/10/19

Estudo de textos:

Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma. (SHULMAN,

2014) e What Is Technological Pedagogical Content Knowledge?

(KOEHLER; MISHRA, 2009)

03 h/a

Encontro 04

08/10/19

Discussão da prática pedagógica embasados no texto – Conhecimento e

ensino: fundamentos para a nova reforma. (SHULMAN, 2014)

02 h/a

Estudo

complementares

09/10 à 20/10/19

Estudo de texto – O ensino de Geometria. (Capítulo 3 desta dissertação) 03 h/a

Encontro 05

21/10/19

Discussão sobre o ensino da Geometria Espacial no Brasil, embasados no

texto – O ensino de Geometria. (Capítulo 3 desta dissertação) 02 h/a

Encontro 06

08/11/19

Formação para uso do Software GeoGebra entre pesquisador e

professores pesquisados. 02 h/a

Encontro 07

13/11/19

Formação para uso do Software GeoGebra entre pesquisador e

professores pesquisados. 02 h/a

Estudo

complementares

14/11 à 27/11/19

Planejamento de aula prática com uso do software GeoGebra. 04 h/a

Encontro 08

28/11/19 e

29/11/19

Observação de aula prática em sala de aula desenvolvida pelos

professores Delta e Sigma, com seus alunos. 04 h/a

Encontro 09

20/12/19 e

20/01/20

Sessão Reflexiva entre pesquisador e professores pesquisados. 02 h/a

CARGA HORARIA TOTAL 30 h/a

Fonte: Elaborada pela autora.

O detalhamento de cada encontro formativo, descrito no quadro 2, encontra-se

discriminado em formato de planejamento no Apêndice C, deste trabalho. A seção seguinte

apresenta a descrição da análise dos dados a qual se aplicou a técnica análise de conteúdo,

bem como as categorias teóricas propostas para esta investigação.

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95

5.7 Análise de conteúdo

Para tratamento e análise dos dados coletados, utilizou-se elementos da Análise de

Conteúdo proposta por Bardin (2009) e Franco (2018), definida como:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por

procedimento temático e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) das mensagens (BARDIN, 2009, p. 44).

Justifica-se a escolha desse método pelo fato de orientar estudos e produzir

inferências de dados obtidos em processos de comunicação oral, escrita ou figurativa, além de

auxiliar a construção de um conjunto de técnicas, como as categorias de análises, apresentadas

posteriormente.

Por meio da análise de conteúdo, este trabalho buscou estruturar as informações

coletadas no lócus da pesquisa de campo, visando interpretar os dados, responder à questão de

investigação e atingir os objetivos da pesquisa.

A análise de conteúdo tomou como base três etapas organizativas propostas por

Bardin (2009): (i) a pré-análise; (ii) a exploração do material e; (iii) o tratamento dos

resultados, inferência e interpretação.

A pré-análise começou com a organização dos materiais, de forma preliminar, a

serem incorporados na constituição de um esquema metódico que deve ser seguido durante o

plano de análise. Após essa organização, deu-se início a leitura “flutuante” do material

coletado, caracterizada pelo contato direto com as transcrições digitalizados, buscando-se

conhecer os significados das mensagens contidas nesses documentos. Para escolha dos

documentos, é necessário que sejam estabelecidas regras para a seleção dos registros que irão

compor o conjunto de documentos a serem examinados com leitura minuciosa, os quais

passam a constituir o corpus (dados brutos) de análise, apresentados na figura 6. (BARDIN,

2009).

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96

Figura 6 – Corpus de análise: arquivos digitais

Fonte: Elaborada pela autora.

Nesta investigação, a fase da pré-análise foi desenvolvida pela identificação de

todos os registros obtidos na coleta de campo: conteúdo das entrevistas realizadas; das sessões

reflexivas com os professores pesquisados; das interações entre os participantes durante os

encontros das sessões formativas; das observações das aulas iniciais e aulas práticas; bem

como as sessões formativas que foram organizadas em arquivos digitais e arquivados no

software NVIVO28

, versão 12, expostos na figura 6.

A segunda fase foi concretizada pela exploração do material que compõe a

codificação dos instrumentos de análise dos dados coletados, através de recortes denominados

de unidades de registro. Para Franco (2018, p. 43) “A Unidade de Registro é a menor parte do

conteúdo, cuja ocorrência é registrada de acordo com as categorias levantadas.”.

Nessa fase da análise, o material que havia sido coletado no campo e

posteriormente transformado em texto foi recortado em fragmentos de textos (frases ou

parágrafos) e agrupado em temas relacionados às categorias iniciais desta pesquisa. Esse

procedimento teve o apoio do software NVivo, que permitiu os recortes, a classificação e a

categorização dos dados em categorias teóricas e empíricas, denominadas “nós”. A figura 7

apresenta o relatório da estrutura de codificação, obtido no NVivo, realizados pela

pesquisadora.

28

Software utilizado em pesquisas sociais que envolvem técnicas qualitativas através de ferramentas

computacionais. O programa auxilia a organização e categorização de informações textuais, ajudando na

descoberta de tendências e na sistematização das análises, facilitando a reexaminação dos dados de modo rápido

e preciso. (ALVES; FIGUEIREDO FILHO; HENRIQUE, 2016).

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97

Figura 7 – Relatório de codificação das categorias teóricas, no NVivo

Fonte: Acervo da autora (print

29 da tela do computador com a interface do software NVivo).

A categorização dos conteúdos é considerada por diversos pesquisadores

(BARDIN, 2009; FRANCO, 2018), como um estágio primordial na análise de conteúdo. Para

Franco (2018, p. 63) “a categorização é uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em

analogias, a partir de critérios definidos.”.

Franco (2018, p. 64-65) esclarece que a elaboração das categorias segue dois

caminhos – categorias criadas a priori ou categorias definidas a posteriori. As categorias

criadas a priori “são predeterminadas em função da busca de uma resposta específica do

investigador”, enquanto as categorias a posteriori “emergem da fala, do discurso, do conteúdo

das respostas e implicam constante ida e volta do material de análise à teoria.”.

Para Franco (2018, p. 71), “uma categoria é considerada pertinente quando está

adaptada ao material de análise escolhido e ao quadro teórico definido.”, devendo oferecer

resultados produtivos e “dados relevantes para o aprofundamento de teorias e para a

orientação de uma prática crítica, construtiva e transformadora.”. Fiorentini e Lorenzato

(2012) afirmam que essa etapa da pesquisa é fundamental, pois é nela que o pesquisador

obtém os resultados consistentes e as respostas expressivas para as questões inicialmente

formuladas na investigação.

Partindo desse entendimento, a categorização desta investigação surgiu de

categorias teóricas definidas a priori, embasadas no referencial teórico acerca do

conhecimento do conteúdo, conhecimento pedagógico do conteúdo fundamentados em

Shulman (1986) e o TPACK, fundamentos em Koehler e Mishra (2005; 2009), e de categorias

empíricas definidas a posteriori que emergiram a partir dos dados coletados. As categorias

teóricas e empíricas encontram-se explicitadas no quadro 3, relacionando-se aos objetivos

específicos desta pesquisa.

29

captura da imagem exibida na tela de recursos tecnológicos digitais.

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE ......Geometria Espacial. Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se no Os pressupostos teóricos da investigação fundamentam-se

98

Quadro 3 – Categorias de análise da pesquisa

CATEGORIAS

TEÓRICAS

CONCEITOS

NORTEADORES

CATEGORIAS

EMPÍRICAS

AÇÃO

DESENVOLVIDA

O conhecimento

do conteúdo dos

professores no

ensino de

Geometria

Espacial

Refere-se à organização e a

quantidade do conhecimento em

si mesmo, na mente do professor.

(SHULMAN, 1986, p. 10,

tradução nossa30

).

O formalismo no

ensino de Geometria

Espacial.

A ênfase ao uso de

fórmulas matemáticas.

A memorização dos

conteúdos.

Entrevistas.

Estudos teóricos

(Encontro 5).

Observação

(aula inicial).

O conhecimento

pedagógico do

conteúdo dos

professores no

ensino de

Geometria

Espacial

Incorpora os aspectos do

conteúdo mais pertinentes à sua

capacidade de ensino. [...] inclui,

os tópicos a serem ensinados na

área de assunto, as formas mais

úteis de representação dessas

ideias, as analogias, ilustrações,

exemplos, explicações e

demonstrações mais poderosas -

em outras palavras, as maneiras

de representar e formular o

assunto que o torna

compreensível para os outros.

(SHULMAN, 1986, p. 10,

tradução nossa31

).

Relação entre a

formação acadêmica e a

prática profissional.

Dificuldades

vivenciadas no ensino e

na aprendizagem de

Geometria Espacial.

Estratégias e recursos

didáticos na prática dos

professores de

Geometria Espacial.

Entrevistas.

Estudo teórico

(Encontro 4).

Observação

(aula inicial).

O conhecimento

tecnológico dos

professores e o

TPACK no ensino

de Geometria

Espacial

Entendimento da

representação de conceitos

usando tecnologias; técnicas

pedagógicas que usam

tecnologias de maneira

construtiva para ensinar

conteúdo; conhecimento do que

torna os conceitos difíceis ou

fáceis de aprender e como a

tecnologia pode ajudar a corrigir

alguns dos problemas que os

alunos enfrentam; entendimento

do conhecimento prévio dos

alunos e de teorias e

epistemologias; e conhecimento

de como as tecnologias podem

serem usadas para desenvolver o

conhecimento existente para

desenvolver novas

epistemologias ou fortalecer as

antigas. (KOEHLER; MISHRA,

2009, p. 66).

O conhecimento

tecnológico na prática

dos professores antes do

processo formativo.

O conhecimento

tecnológico e a

convergência ao TPACK

no processo de formação

dos professores.

O conhecimento

tecnológico e a

convergência ao TPACK

na aula prática dos

professores.

Concepções dos

professores pesquisados

sobre os conhecimentos:

tecnológico, pedagógico

e de conteúdo e a

convergência ao

TPACK, após a

formação dos

professores de

Matemática.

Entrevistas.

Estudos teóricos.

Observações

(aula inicial e aula

prática).

Sessões

Reflexivas.

Fonte: Elaborada pela autora

30

refers to the amount and organization of knowledge per se in the mind of the teacher.

31

embodies the aspects of content most germane to its teachability. [...] include, for the most regularly taught

topics in one’s subject area, the most useful forms of representation of those ideas, the most powerful analogies,

illustrations, examples, explanations, and demonstrations-in a word, the ways of representing and formulating

the subject that make it comprehensible to others.

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99

As categorias teóricas e as categorias empíricas foram criadas para garantir uma

estrutura mais significativa, além de manter a relação entre os objetivos específicos da

pesquisa, sendo eles: (i) compreender como os professores de Matemática do Ensino Médio

manifestam seu conhecimento do conteúdo no ensino de Geometria Espacial. (ii) identificar

evidências do domínio do conhecimento pedagógico do conteúdo pelos professores de

Matemática do Ensino Médio, associadas ao ensino de Geometria Espacial. (iii) verificar

indícios da apropriação do conhecimento tecnológico e pedagógico do conteúdo – TPACK

pelos professores de Matemática do Ensino Médio, em formação continuada.

Por fim, a terceira fase proposta por Bardin (2009), também aplicada nesta

pesquisa, apresenta o tratamento dos resultados, inferência e interpretação, e consiste em

compreender os significados dos conteúdos inclusos no material coletado (observações,

entrevistas, sessões formativas e sessões reflexivas), confrontando-os com a teoria utilizada.

Os resultados referentes a cada uma das categorias apresentadas no quadro 3,

foram exploradas no capítulo seguinte e representam a análise descritiva dos dados dessa

investigação.

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100

6 ANÁLISE DOS DADOS

“O real não é nunca aquilo em que se poderia

acreditar, mas é sempre aquilo em que

deveríamos ter pensado”.

(BACHELARD,1962).

Este capítulo apresenta as análises dos dados coletados no lócus da pesquisa, as

quais estão estruturadas em quatro seções visando alcançar os objetivos da investigação.

Antes de iniciar a análise dos dados através das categorias teóricas apresentadas na

metodologia, no capítulo anterior, faz-se um breve perfil dos professores pesquisados, sua

formação inicial e continuada, o qual se considerou necessário essa análise para maior

compreensão da formação dos professores e suas experiências para o exercício da prática do

ensino de Geometria Espacial.

A segunda seção apresenta a análise norteada pela categoria denominada o

conhecimento do conteúdo dos professores no ensino de Geometria Espacial, na qual se

considerou os conhecimentos dos professores sobre a disciplina de Matemática e os conteúdos

de Geometria Espacial.

Na terceira, a análise é dirigida pela categoria definida o conhecimento

pedagógico do conteúdo dos professores no ensino de Geometria Espacial, na qual se buscou

identificar evidências do domínio do conhecimento pedagógico do conteúdo pelos professores

de Matemática do EM, associadas ao ensino de Geometria Espacial.

Na quarta, a análise é orientada pela categoria o conhecimento tecnológico dos

professores e o TPACK, associado ao uso dos recursos tecnológicos móveis (smartphones,

iphones e tablets) no ensino de conteúdos de Geometria Espacial (prismas e pirâmides) com o

auxílio do software GeoGebra aplicadas ao grupo de professores pesquisados.

6.1 Perfil dos professores pesquisados

As análises apresentadas nesta seção foram desenvolvidas a partir dos dados

coletados na entrevista, junto aos três professores, que teve como foco construir o perfil dos

docentes participantes da pesquisa, bem como conhecer suas experiências profissionais com o

ensino do conteúdo de Geometria Espacial, o uso ou não dos recursos tecnológicos digitais e

seus conhecimentos relativos à formação inicial e continuada.

Nessa perspectiva, os dados coletados por meio da entrevista inicial conduziram à

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101

elaboração do recorte apresentado. Nessa conversa a pesquisadora tomou conhecimento sobre

informações pessoais como nome, idade, vínculo de trabalho com a escola, tempo de

experiência com o magistério e titulações acadêmicas (graduação/área; especialização;

mestrado; etc.).

O professor Delta tem 30 anos de idade e 07 anos de experiência na docência. É

licenciado em Matemática pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, tendo concluído o

curso no segundo semestre de 2017. Iniciou como professor de Matemática em 2013, ainda na

graduação, participando de um projeto desenvolvido pela SEDUC, dando aula de reforço para

alunos com baixo rendimento. Em 2014 foi convidado pelo diretor da escola em que atuava

para assumir, como professor temporário, a regência da disciplina de Matemática, em turmas

regulares do EM, permanecendo até o momento atual.

O professor Sigma tem 29 anos de idade e 02 anos de experiência na docência.

Enquanto aluno da Educação Básica fez o Técnico em Informática e iniciou o curso de

Graduação em Sistemas de Informação, mas não concluiu. Posteriormente, ingressou na

licenciatura em Física na Universidade Federal do Ceará – UFC, em que se encontra cursando

o último semestre. Em 2018 ingressou na escola de Educação Básica como bolsista do

Programa Residência Pedagógica e em 2019 foi contratado como professor temporário nas

disciplinas de Física e Matemática, lecionando Geometria Espacial em 03 turmas de 2º ano.

O professor Ômega tem 42 anos e 20 anos de experiência na docência. Trabalha

na área de educação desde 1999, iniciou sua carreira dando aulas em cursinhos preparatórios

para vestibulares, depois como professor temporário em escolas da Educação Básica, em

Fortaleza. Em 2010, ao ser aprovado em concurso para professor efetivo da SEDUC , assumiu

a função de professor efetivo na escola onde se desenvolveu esta pesquisa. Iniciou lecionando

Física e, nos dois últimos anos (2018/2019 ), passou a ministrar aulas de Matemática em

turmas de 1ºs anos.

A primeira graduação de Ômega foi o bacharelado em Química Industrial,

contudo, para exercer o magistério, fez um curso de complementação pedagógica denominado

de “Esquema”, que o habilitou a lecionar as disciplinas de Química e Matemática.

Posteriormente cursou licenciatura em Física e atualmente cursa a licenciatura em

Matemática, estando no 4º semestre. O quadro 4 sintetiza o perfil dos professores

participantes.

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102

Quadro 4 - Perfil dos professores

NOME TEMPO DE

DOCÊNCIA

GRADUAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO

Delta 07 anos Matemática (licenciatura) Não possui

Sigma 02 anos Física (licenciatura) Não possui

Ômega 20 anos Química Industrial (bacharelado)

Química e Matemática (habilitação)

Física (licenciatura)

Ensino de Física

(Especialização)

Mestrado Nacional Profissional

em Ensino de Física (MNPF) Fonte: Elaborada pela autora

Analisando o tempo de experiência na docência e a formação inicial, os três

professores apresentam características diferentes. Sigma ainda está concluindo a graduação, a

maior titulação de Delta é a licenciatura e Ômega possui curso de especialização e mestrado.

Em relação a esse ponto mencionado, não se tem a pretensão de emitir opiniões ou

julgamentos, contudo, esse dado sinaliza a fragmentação do continuum entre a formação

inicial e a formação continuada, pontuada como relevante por pesquisadores (LORENZATO,

2015; MATTOS, MATTOS, 2018; NACARATO, 2011).

Em relação ao tempo de formação dos professores Delta, Sigma, Ômega e a

participação destes nesta ação formativa promovida pela pesquisadora, todos demonstraram

interesse e envolvimento. Ressalta-se que não foram identificados contrastes entre professores

pesquisados que pudessem ser atribuídos à formação inicial e/ou tempo de experiência com a

docência.

Nesse sentido, Shulman (2014) argumenta que a distinção entre um professor

iniciante para um especialista não é o conhecimento do conteúdo da disciplina que ministra.

Embora esse conhecimento seja importante, outros fatores podem ser determinantes para a

base do conhecimento e imprescindíveis para a docência – as habilidades pedagógicas, o

engajamento, as motivações, a compreensão da realidade em que atua e a disposição para

aprender com a experiência proporcionada no gerenciamento da sala de aula.

Contudo, convém ressaltar que a inserção dos professores no âmbito da docência

ocorreu de diferentes maneiras: Delta e Sigma, por exemplo, ingressaram no campo de

atuação profissional antes mesmo da conclusão da licenciatura. Isso indica que a iniciação à

docência, para esses professores, constituiu-se em um movimento “paralelo à formação”. Curi

e Pires (2008, p. 6), ao analisarem a formação de professores que ensinam Matemática,

evidenciam que, para esses profissionais, “foi a prática docente – e não a formação inicial ”,

que os aproximou do campo de atuação profissional. Esse fato é apontado como um aspecto

favorável ao desenvolvimento dos conhecimentos dos docentes que, aos poucos, vão

construindo suas identidades profissionais moldadas pelas experiências vivenciadas como

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103

professores da Educação Básica e como alunos do ensino superior.

Já Ômega teve um percurso profissional construído de modo divergente de Delta e

Sigma. Era bacharel em Química Industrial e para exercer a docência teve que realizar curso

de formação complementar. Essa complementação (regulamentada pela Portaria Ministerial nº

432/71 e resolução nº 2/97 do CNE) visa assegurar a ampliação dos conhecimentos

profissionais dos professores, buscando a integração entre os conhecimentos teóricos das

disciplinas específicas com os conhecimentos pedagógicos necessários às práticas escolares.

Esse fato apontado reforça a argumentação dos autores (KOEHLER; MISHRA, 2005, 2009;

SHULMAN, 1986, 2014) ao mencionarem que, para o exercício da docência, é necessário

além do domínio do conhecimento do conteúdo especifico da disciplina, é imprescindível o

domínio do conhecimento pedagógico do conteúdo e também da integração das tecnologias

em contextos educacionais.

Quanto à formação continuada, este trabalho investigativo considera pertinente

conhecer a trajetória formativa dos professores a partir de sua inserção profissional nos

espaços escolares, seus interesses e motivações em participarem de processos formativos ao

longo de suas trajetórias profissionais, visto que a formação profissional é concebida como

“requisito fundamental para as transformações que se fazem necessárias na educação.”, a

partir dos processos de formações continuadas. (GROENWALD, 2011, p. 66).

Dois professores participaram uma única vez de cursos de formação em sua

trajetória profissional. O professor Delta participou uma única vez de um curso de curta

duração, direcionado ao ensino de Matemática com foco na metodologia de ensino -

Sequência Fedathi, oferecido por grupo de pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Sigma participou de curso de elaboração de questões de Matemática, enfocando o

conhecimento para elaborar itens de avaliações externas do Sistema Permanente de Avaliação

da Educação Básica do Ceará SPAECE ou SAEB, ministrado pela SEDUC.

Delta entende a formação continuada como necessária, entretanto, justifica a

ausência de participação em cursos de aperfeiçoamento e especialização atribuindo a dois

fatores: a falta de tempo para conciliar a vida profissional com a formação continuada: “não

pude fazer porque não tá dando tempo mesmo e também porque estou dando aula no

PREVEST32

à noite, aí tá muito corrido... aí tem direção de turma e tudo mais...” e a falta de

32

Curso pré-vestibular ofertado pela SEDUC, para promover o acesso dos alunos do EM ao ensino superior, por

meio de aulas preparatórias para o vestibular e ENEM. (Fonte: www.seduc.ce.gov.br).

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recursos financeiros: “eu tinha me inscrevido para o mestrado, mas foi cortado as bolsas e eu

vou ter que esperar o próximo.”.

Sigma também manifesta sua aspiração para ingressar em um curso de mestrado,

após a conclusão da graduação, além do interesse em fazer licenciatura em Matemática:

[...] você não pode ter uma matrícula no [curso] superior e num curso de pós, ao

mesmo tempo, na mesma universidade. Mas eu podia ter em universidades

diferentes, fazer o mestrado num lugar e a graduação num outro lugar... E aí

trabalhar, fica impossível! Então vão ser planos que vão ser adiados, por enquanto.

(SIGMA, Entrevista, 2019).

As narrativas de Delta e Sigma evidenciam a problemática já apontada por Sousa

(2018), no que se refere aos obstáculos que permeiam a formação continuada dos professores.

Muitos professores não conseguem participar de formações continuadas, especializar, por

falta de tempo, visto que vários docentes trabalham diariamente nos três turnos para custear

despesas e manter a família. Evidencia ainda que as redes de ensino não conseguem efetivar o

que preconiza a Lei do Piso Salarial nº 11.738/2008 (BRASIL, 2012) sobre a garantia de que

1/3 da jornada de trabalho sejam reservadas a planejamento e estudos, em que os professores

possam ser inseridos em formações contínuas no próprio local de trabalho.

O professor Ômega possui curso de especialização. Em 2018 concluiu mestrado

em Ensino de Física e participou de diversos cursos de curta duração, alguns deles na

modalidade a distância, oferecidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS). O professor destaca que:

A partir do momento que a gente se deparou com o mundo da educação e viu que

era esse ramo que a gente ia traçar, a gente percebeu uma necessidade cada vez mais

se adequar o que se exigia os novos tempos. A gente no início só tinha a graduação,

como eu havia falado antes, e depois precisou da necessidade de fazer uma

especialização. (ÔMEGA, Entrevista, 2019)

Diante dessa narrativa de Ômega a respeito de sua participação em cursos durante

sua trajetória profissional, a pesquisadora indagou se ele considerava que a sua prática havia

melhorado a partir da realização dos cursos de formação. Este afirmou “Melhorou certamente,

se eu quiser fazer uma reflexão do que eu ministro hoje para 10 anos atrás certamente essas

novas ferramentas [formações] me ajudaram, né, e muito.”. (ÔMEGA, Entrevista, 2019).

Fica evidente na fala do professor Ômega que ele reconhece a necessidade do

professor se manter inserido em programas de formação continuada para ampliar os

conhecimentos adquiridos na universidade. Essa constatação vai de encontro ao pensamento

de Lorenzato (2015, p. 15) ao enfatizar que muitos professores “desejam melhorar a qualidade

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105

do ensino que proporcionam e sentem que precisam ampliar, aprofundar, consolidar seus

conhecimentos e habilidades” para garantir um conhecimento qualitativo diferente do que foi

alcançado na universidade.

Sigma (Entrevista, 2019) menciona que a sua participação no curso de formação

para elaboração de questões de Matemática contribuiu para a sua prática de sala de aula:

“mesmo o curso não sendo [de conteúdo] específico [...] eu acabava trazendo alguma coisa de

lá para cá, aí uma coisa ajudava a outra". Delta (Entrevista, 2019) também reconhece a

formação continuada como uma possibilidade de aprimorar e “formar melhor os professores

para isso [ensinar] e reinventar essas aulas porque só lousa realmente não é suficiente,

Geometria Espacial não tem como você dar só na lousa.”.

Gomes (2018) corrobora com o relato de Delta ao afirmar que determinados

conteúdos da Matemática, no caso citado pelo professor Delta – a Geometria Espacial, para

serem abstraídos e compreendidos pelos alunos, requer do professor o uso de diferentes

técnicas e recursos pedagógicos que auxiliem os estudantes na interpretação e na assimilação

dos conhecimentos.

No que concerne à participação dos professores pesquisados nos processos de

formação continuada percebe-se, através de suas narrativas, que, apesar de reconhecerem a

importância da formação continuada para a prática educativa, esse campo formativo foi pouco

vivenciado. Apenas Ômega relata que já participou de várias formações, já Delta e Sigma

participaram uma única vez de processos formativos ao longo de sua carreira. Esse cenário

precisa ser revisado e subsidiado por políticas públicas que promovam ações voltadas para a

prática docente, já que as propostas defendidas pela BNCC (BRASIL, 2018a) colocam a

formação continuada como pauta obrigatória em todas as unidades de ensino.

A seguir, procurou-se analisar a primeira categoria teórica que reflete sobre os

conhecimentos de conteúdo da disciplina que os professores ministram, a partir dos dados

obtidos pela entrevista inicial, encontro teórico sobre a Geometria Espacial e observações de

aulas iniciais ministradas pelos professores Delta e Sigma.

6.2 O conhecimento do conteúdo dos professores no ensino de Geometria Espacial

Esta seção tem o propósito de sistematizar as discussões relativas à primeira

categoria teórica de análise o conhecimento do conteúdo dos professores no ensino de

Geometria Espacial. Essa categoria tem como conceito norteador o domínio do conhecimento

de conteúdo que se refere à organização e à quantidade do conhecimento em si mesmo, na

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mente do professor (SHULMAN, 1986).

A partir da categoria teórica que buscou responder o primeiro objetivo específico

desta pesquisa, surgiram as categorias empíricas (figura 8) que emergiram a partir dos dados

coletados com os professores.

Figura 8 – Diagrama da categoria de análise do conhecimento do conteúdo

Fonte: Elaborado pela autora.

A Figura 8 apresenta um diagrama composto com a organização da primeira

categoria teórica de análise (a esquerda da figura), o objetivo específico (ao centro) e as

categorias empíricas (a direita da figura).

As reflexões se fundamentam na concepção do conhecimento do conteúdo,

descrita por Shulman (1986), que considera necessário entender o conhecimento do professor

perante a disciplina que ele ensina. Considerando-se que Ômega não atua com a Geometria

Espacial, as análises desta categoria são alusivas aos professores Delta e Sigma, a partir de

três momentos distintos:

O destaque ao conhecimento do conteúdo pontuado na entrevista de Delta e

Sigma;

A ênfase ao conhecimento do conteúdo manifestado no encontro de formação

teórica sobre o ensino de Geometria no Brasil;

A manifestação do conhecimento de conteúdo na aula inicial dos professores

Delta e Sigma.

Shulman (1986) argumenta que os programas de formação de professores dão

maior ênfase ao saber do conhecimento do conteúdo do assunto, em que são priorizados os

conhecimentos científicos em detrimento aos demais conhecimentos. Nesse contexto, na

entrevista inicial, quando se indagou aos professores sobre os conhecimentos adquiridos na

formação inicial que eles consideravam importantes para a prática do ensino de Geometria

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Espacial na Educação Básica, Sigma (Entrevista, 2019) pondera que a sua formação não é em

Matemática e argumenta:

É uma pergunta que eu não sei te responder, quais conhecimentos eu considero

essenciais [...] já que a minha formação inicial não foi em Matemática, no caso, ela é

em Física. Então, talvez no curso de licenciatura em Matemática, eu, talvez

adquiriria esses conhecimentos, né? (SIGMA, Entrevista, 2019).

Diante da fala de Sigma, há indícios de que o docente se referia ao conhecimento

do conteúdo, tendo em vista este apontar que a sua formação inicial não é em Matemática,

mas em Física. Já Delta, em sua fala, dá ênfase ao conhecimento do conteúdo: “Os

conhecimentos adquiridos na formação que eu considero é mais a parte de demonstração.”.

Contudo, o professor destaca que “lá é muita formalidade, é demonstração e demonstração.

Aqui não, a gente tem que trazer um exemplo do cotidiano do menino.”. (DELTA, Entrevista,

2019).

A fala do professor Delta sinaliza que os conhecimentos adquiridos na formação

inicial e que são empregados na prática do ensino de Geometria Espacial foram somente o

conhecimento do conteúdo. Essas narrativas ratificam as críticas de Shulman (1986),

referentes aos programas de formação de professores, na proeminência do conhecimento

científico em detrimento aos demais conhecimentos como fato ainda recorrente na atualidade.

Delta assume que os conhecimentos mais importantes adquiridos por ele, em sua

formação inicial, foram as demonstrações matemáticas. Entretanto, o professor reconhece que

o modo de apresentar tais demonstrações para os alunos da Educação Básica deve ser feito de

forma diferente do modo como ele aprendeu, destacando a importância de apresentar

exemplos que estejam relacionados ao cotidiano do aluno. Sigma (Entrevista, 2019) afirma:

“olha, há uma dissociação entre o que eu estou aprendendo lá, [...] e levar isso para a sala de

aula. É totalmente dissociado. E isso acontece até nas cadeiras teóricas [...] e nas cadeiras de

metodologia.”.

Diante do relato dos professores sobre os conhecimentos adquiridos na formação

inicial e a conexão com as suas práticas docentes, ratifica-se as argumentações sobre o

distanciamento entre as licenciaturas e o campo de atuação desses profissionais. A situação

evidenciada pelos docentes é referenciada por pesquisadores (COURA; PASSOS, 2018;

CURI, 2011) ao mencionarem que a Matemática que os licenciandos estudam na graduação

mantém numerosos contrastes com a Matemática escolar. Nesse sentido, enfatiza-se a

primordialidade dos professores buscarem a ampliação dos conhecimentos, metodologias e

utilização das tecnologias em sala, que contribuam para o ensino dos conteúdos, reverberando

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108

na aprendizagem dos educandos.

Quanto à exploração dos conteúdos geométricos em sala de aula, Delta considera

a demonstração das fórmulas importante para a aprendizagem dos estudantes, mas pondera

que esse procedimento deve ser feito de modo breve, visto que os alunos não demonstram

interesse nesse tipo de aprendizagem: “eu acho que o principal é saber demonstrar o porquê

de algumas coisas, as demonstrações mais longas não adianta fazer porque eles não vão se

interessar.” (DELTA, Entrevista, 2019). Nesse sentido, Sigma destaca que “o que é que a

gente quer dos alunos... ok tem fórmula de área..., fórmula de volume..., vários sólidos

geométricos..., várias figuras planas... e a gente quer que eles saibam reconhecer e entender

tudo isso.” (SIGMA, Entrevista, 2019).

Entende-se, na narrativa de Delta, ao evidenciar o formalismo no ensino de

Matemática para os alunos da Educação Básica, como um aspecto negativo, visto que o

professor argumenta que os alunos não demonstram interesse por demonstrações longas.

Nesse caminho, Sigma menciona a importância do aluno compreender o significado dos

conteúdos matemáticos, na perspectiva de ir além da exploração de simbologias e fórmulas.

Grando, Nacarato e Gonçalves (2008) colaboram com o pensamento dos

professores. As autoras consideram que as argumentações e justificativas de conteúdos

matemáticos, na sala de aula da Educação Básica, não precisam ser validadas pelos mesmos

postulados dos matemáticos profissionais, podendo apresentar diferentes modelos e

justificativas de apresentação. Esse fato sinaliza indícios que Delta e Sigma conduzem suas

ações de ensino pautadas na reflexão de quais conteúdos podem ser fecundos para a

aprendizagem de seus alunos. As argumentações apontadas pelos docentes evidenciam o

domínio do conhecimento do conteúdo – um dos integrantes da base do conhecimento de

ensino de Shulman (1986; 2014).

Para refletir sobre o ensino do conteúdo de Geometria Espacial no Brasil,

realizou-se um encontro teórico (Encontro 5) com discussões pautadas no texto apresentado

no capítulo 3 desta pesquisa. Ao ser explanado as contribuições de Valente (2008) – no

tocante às práticas dos professores de Matemática nos três últimos séculos, em que o trabalho

didático-pedagógico do professor era fazer com que seus alunos fixassem os “pontos” e

depois os reproduzissem nos exames – o professor Sigma pondera que os professores ainda

“carregam” essa herança:

A gente dá um conjunto de conhecimento para os meninos resolver questões,

resolver problemas. Acaba que a maior parte do nosso tempo, como o texto falou,

que a gente utiliza aquele texto de geometria só para resolver fórmulas repetidas.

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109

Porque se a gente pegar os nossos livros ainda têm dezenas e centenas de questões

bem simplistas que é só aplicação direta da fórmula. Uma espécie de memorização.

A gente valoriza mais a memorização do que a capacidade analítica do menino de

pegar aquele conhecimento de geometria plana ou espacial e de tentar organizá-lo

em torno, dentro, do que é a realidade dele. (SIGMA, Encontro 5, 2019).

Em sentido semelhante, Delta reafirma “a gente ainda peca nessa questão da

herança, de puxar muita coisa de que era praticado antes, não fazer o menino pensar, abstrair,

formalizar e procurar aplicar esse conhecimento em outras áreas, em outros problemas”.

Dessa vez, os professores reconhecem que suas ações docentes diante dos alunos

são caracterizadas pela valorização das fórmulas e dos processos de memorização, ao mesmo

tempo em que destacam que o ensino deve estar relacionado com a realidade do educando.

Para Curi (2011), um mesmo professor pode ter ideias conflitantes sobre uma mesma

temática, pois elas surgem das vivências e intervenções sofridas em momentos distintos da

sua atuação. Para a autora, os professores aplicam diferentes filtros de intervenção,

dependendo do contexto que estejam inseridos, fato que é evidenciado em diversos momentos

da etapa formativa, nesta investigação.

Os professores apontam a existência de empecilhos que interferem negativamente

em sua atuação, tais como: ausência de tempo e de conhecimento.

[...] principalmente nessa parte de Geometria Espacial que é muita fórmula para

lembrar, porque são muitas figuras diferentes e os alunos sempre têm essa

reclamação – mas qual a importância disso? E a gente [professor] acaba que, meio

que não tendo tempo ou talvez o preparo suficiente para poder fazer esse link –

porque que esse conteúdo é importante de ser visto... porque que todas essas

formulas diferentes ou todas essas figuras geométricas diferentes são importantes,

porque que isso é importante para vocês aprenderem a Química, a Física ou em

todas as áreas da Matemática. (SIGMA, Encontro 5, 2019).

É uma correria muito grande, ensinar Geometria Espacial em um bimestre, para o

monte de coisa que é... [é pouco tempo]. (DELTA, Encontro 5, 2019).

A fala de Sigma demonstra que ainda existem fragilidades em relação ao

conhecimento do conteúdo para ensinar, no caso apontado – a Geometria Espacial,

constituindo-se como obstáculos para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Outro

entrave mencionado por Delta e Sigma é o reduzido tempo para cumprir o extenso currículo

de Geometria Espacial em um único bimestre, além da carência de tempo na jornada de

trabalho dos docentes, indicando ausência de planejamento no ensino desse conteúdo. Esse

dado evidencia que o ensino desse conteúdo segue na direção oposta da assertiva de

Fainguelernt e Nunes (2012), que as aulas de Matemática precisam romper com a prática

reprodutiva, dando ao ensino uma dimensão mais dinâmica.

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Além das análises apresentadas sobre aspectos pontuados na entrevista e encontro

teórico, destaca-se a manifestação do conhecimento de conteúdo na aula inicial dos

professores Delta e Sigma.

Apesar de Delta e Sigma argumentarem que os alunos precisam refletir e entender

como os conhecimentos são construídos durante a aula inicial, os professores deram ênfase ao

processo de aprendizagem construído a partir da utilização de fórmulas e da resolução de

questões. O realce dado à aquisição do conhecimento pelo aluno, por meio do uso das

fórmulas, foi observado em vários trechos das aulas dos professores:

Essas questões fáceis são importantes para vocês lembrarem das fórmulas, para

responderem as difíceis. (SIGMA, Aula inicial, 2019).

A gente tá aqui falando do cone, mas faz mais de um mês que a gente está

interessado em saber duas coisas: calcular a área e o volume. (SIGMA, Aula inicial,

2019).

A área lateral vai ser o quê? Vai ser essa fórmula nova aqui para vocês. (SIGMA,

Aula inicial, 2019).

Esses exemplos que eu coloquei para vocês – da página 205 – são exemplos bem

simples. Mas porque eles são importantes? Eles fazem vocês toda hora irem atrás

das fórmulas, eles fazem vocês praticarem as fórmulas. (SIGMA, Aula inicial,

2019).

O que a questão te dá? – Ela te dá a área da secção: 36∏ r2. – Presta atenção: mesmo

esquema que a gente já tinha falado antes. Quando ele te dá uma informação,

geralmente a gente vai atrás dela. Geralmente já é a dica para a fórmula que você vai

precisar usar. Então, se ele já achou isso aqui para mim, eu vou usar a fórmula do

mesmo jeito. (DELTA, Aula inicial, 2019).

Analisando-se os depoimentos dos professores Delta e Sigma na entrevista e suas

ações práticas na aula inicial, pode-se perceber que estes assumem posturas antagônicas em

relação ao ensino dos conteúdos de Geometria Espacial. Enquanto na entrevista os professores

adotam o pensamento que o aluno precisa entender o conteúdo para compreender as fórmulas,

durante a atuação em sala de aula, deram demasiada ênfase ao papel que as fórmulas exercem

no ensino e aprendizagem dos conteúdos.

A relevância atribuída às fórmulas durante o processo de ensino, observada

durante as aulas dos professores Delta e Sigma, ainda se encontram em conformidade com a

realidade descrita por Leivas (2009), em seus estudos. O pesquisador, ao se manifestar sobre a

maneira como os professores de Matemática abordam os conteúdos geométricos, aponta que

estes priorizam os tipos de questões que tratam de aplicação de conceitos e de fórmulas, o que

tem tornado o ensino de Geometria completamente algébrico.

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Eu vivo repetindo para eles: - Olha, a Matemática é treino, você precisa resolver as

questões, para vocês conseguirem resolver próximas questões, novas questões com

mais facilidade, só que fazer os alunos estudarem, treinarem a Matemática é o mais

difícil, né?! (SIGMA, Entrevista, 2019)

Eu digo: - pois é pessoal, a prova não é difícil, o que é difícil é vocês pararem para

praticar, mas eu garanto para vocês, se vocês pararem para praticar, fazer exercícios

com uma certa regularidade em qualquer disciplina vocês vão perceber a diferença.

(DELTA, Entrevista, 2019)

Então quem não lembra da fórmula na hora da prova é porque não praticou

suficiente. Então é por isso que essas questões são importantes, para vocês

praticarem. (SIGMA, Aula inicial, 2019).

Pesquisadores (FAINGUELERNT e NUNES, 2012; SCHEFFER, 2010) apontam

que o ensino pautado pela memorização de fórmulas representa um dos principais entraves na

aprendizagem Matemática. No entanto, percebeu-se indícios dessa tendência na transmissão

dos conteúdos pelos professores. Observou-se a continuidade da estimulação pela resolução

de problemas através da aplicação de fórmulas, embasados na compreensão de que a

aprendizagem de Matemática é adquirida pela repetição e pelo treino constante. Na concepção

desses pesquisadores, esse tipo de ensino não favorece a análise e o estímulo do raciocínio

lógico, tampouco contribui para o desenvolvimento do pensamento matemático, ficando o

ensino e a aprendizagem limitados ao uso de fórmulas matemáticas.

Mediante análises dos dados explanados nesta seção, é possível observar, pelos

depoimentos dos professores, que eles percebem a importância do domínio do conhecimento

do conteúdo específico da disciplina pelo professor e detêm o domínio desse conteúdo.

Contudo, ressalta-se que esse conhecimento deve ir além da habilidade de fazer

demonstrações e definições de conceitos. Para Curi (2011, p. 79), o domínio desse

conhecimento “deve proporcionar condições ao professor de tratar corretamente, de modo

flexível, os conhecimentos matemáticos relacionando-os com outros conhecimentos dos

alunos a fim de torná-los capazes de resolver uma determinada situação.”.

Apesar de ter sido visualizado nas ações dos professores manifestações que foram

caracterizadas em domínio do conhecimento de conteúdo, em outras situações não foi

possível separá-las ou reduzi-las a esse campo específico do conhecimento. Nesse sentido,

Curi e Pires (2008), ao analisarem pesquisas brasileiras na área da Educação Matemática que

abordam o conhecimento do conteúdo para ensinar Matemática, revelam que esse

conhecimento associa-se a outros conhecimentos, tais como o conhecimento pedagógico de

conteúdo e o conhecimento curricular, indo além do conhecimento do conteúdo, visto que o

“ato de ensinar” não é estático e se integra a outros conhecimentos sejam de conteúdo,

pedagógico, bem como aqueles adquiridos em suas práticas docentes.

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112

Na próxima seção procurou-se analisar a segunda categoria teórica que reflete

sobre o conhecimento pedagógico do conteúdo, a partir dos dados obtidos pela entrevista

inicial, encontro teórico sobre os conhecimentos dos professores e observações de aulas.

6.3 O conhecimento pedagógico do conteúdo dos professores no ensino de Geometria

Espacial

Esta seção tem o propósito de sistematizar as discussões relativas à segunda

categoria de análise: o conhecimento pedagógico do conteúdo dos professores no ensino de

Geometria Espacial. Esta categoria tem como conceito norteador aspectos do conhecimento

pedagógico do conteúdo e suas interações com o ensino e a aprendizagem. Esse conhecimento

é único do professor e envolve a forma particular de atuação de cada profissional, além da

compreensão dos processos e procedimentos, a maneira como os problemas e questões são

organizados e adaptados para atender aos interesses dos alunos e a condução da aula.

(SHULMAN, 2014).

A partir da categoria teórica que buscou responder o segundo objetivo específico

desta pesquisa, surgiram as categorias empíricas (figura 9) que emergiram a partir dos dados

coletados com os professores.

Figura 9 – Diagrama da categoria de análise do conhecimento pedagógico do conteúdo

Fonte: Elaborado pela autora.

A Figura 9 apresenta um diagrama composto pela organização da segunda

categoria teórica de análise (a esquerda da figura), o objetivo específico (ao centro) e as

categorias empíricas (a direita da figura).

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113

As ponderações se fundamentam na concepção do conhecimento pedagógico do

conteúdo de Shulman (1986) que considera necessária a combinação do conteúdo com a

pedagogia para o entendimento e a prática da disciplina que o professor ensina. Compreende-

se que o conhecimento pedagógico na prática docente deve ser incorporado ao conteúdo da

disciplina, numa perspectiva de combinação, integração e transformação. Sob esse ângulo, os

dados foram analisados a partir de três momentos distintos:

Os aspectos pontuados ao conhecimento pedagógico do conteúdo durante a

entrevista de Delta, Sigma e Ômega;

A ênfase ao conhecimento pedagógico do conteúdo manifestado no encontro

de formação teórica sobre os conhecimentos docentes com os professores

Delta, Sigma e Ômega;

Indicações do conhecimento pedagógico de conteúdo na aula inicial dos

professores Delta e Sigma.

Shulman (2014) menciona que a base do conhecimento para o ensino provém de

diversas fontes. Duas dessas fontes encontram-se diretamente relacionadas à atual categoria

de análise, a saber: a formação acadêmica para a disciplina que ministram e a sabedoria

adquirida da própria prática dos professores. Nesse caminho, para elucidar a relação entre os

professores, o conhecimento do conteúdo e o conhecimento pedagógico, na entrevista,

indagou-se aos professores se a formação acadêmica inicial os preparou de forma adequada

para a prática profissional do ensino de Geometria Espacial na Educação Básica.

Eu acho que não, adequada não. Muita coisa de boa, que eu percebo que eu tenho

que os meninos acabam gostando dos assuntos são coisas que eu aprendi no dia a

dia, aqui na prática com os colegas. O que eu via de bom que um colega praticava eu

copiava, eu ia moldando ao meu estilo de aula. (DELTA, Entrevista, 2019).

Existe toda uma análise do mundo, da sua volta mesmo, que a gente [...] adquire

enquanto estuda. [...] Eu não tive o prazer de estar na sala de aula e o professor

passar esses exemplos para mim. Ou de encontrar isso numa disciplina de

metodologia de ensino, alguma coisa do tipo, infelizmente. Foi pesquisando mesmo,

foi elaborando aula, foi procurando uma maneira de passar aquele assunto que a

gente vai descobrindo essas coisas. Infelizmente o meu curso deixava a desejar

nessa questão de como passar esse conteúdo, essa metodologia assim. (SIGMA,

Entrevista, 2019).

As respostas dos professores Delta e Sigma evidenciam que a maior parte dos

conhecimentos empregados em sua atuação docente é oriunda da prática adquirida nas ações

desenvolvidas junto aos alunos ou pela prática colaborativa de seus colegas de trabalho. Estes

foram unânimes em apontar que os conhecimentos empregados em suas ações pedagógicas

foram adquiridos durante a docência na Educação Básica. Curi e Pires (2008) mencionam que

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114

existe um abismo entre os graduandos nas licenciaturas de Matemática com a pedagogia, a

didática e as ciências da educação. Para as autoras, a formação do licenciando de Matemática

é caracterizada por abordagens extremamente teóricas e sem vínculo com o seu futuro campo

de atuação, fato também evidenciado nas reflexões dos professores.

Solicitou-se que os professores apontassem as principais dificuldades vivenciadas

na prática de ensino do conteúdo de Geometria Espacial. Delta menciona o método de

representação e abordagem dos conteúdos geométricos espaciais, nos quais muitas de suas

características e propriedades deixam de ser compreendidas e identificadas pela forma de

representação no plano e Sigma complementa que os alunos não conseguem reproduzir em

seus cadernos os desenhos dos sólidos espaciais que são demonstrados na lousa.

As principais dificuldades é fazer realmente os meninos entenderem [os conteúdos],

mas elas deixam de ser dificuldades quando eu consigo conectar [...] o assunto com

o dia a dia deles. Esses sólidos [manipuláveis] que eu comecei a utilizar agora

facilitou bastante também. Ano passado eu não tinha, era só o desenho mesmo, [...],

mas tem alunos que só com o desenho ele não consegue perceber a figura. (DELTA,

Entrevista, 2019).

Além das dificuldades do “como ensinar”, Delta e Sigma tecem comentários em

relação às dificuldades dos seus alunos, no processo de assimilação dos conteúdos. Delta

(Entrevista, 2019) aponta que “uma das coisas que eu vejo que eles [aluno] têm mais

dificuldades em fazer é abstrair, retirar o significado das coisas”. Diante dessas colocações,

recorre-se à assertiva de Lobo da Costa e Prado (2013) ao pontuarem que o domínio do

conhecimento pedagógico do conteúdo envolve a compreensão do professor de tópicos

matemáticos, o conhecimento de tópicos que são mais fáceis de serem ensinados e de serem

compreendidos, enquanto outros são mais complexos, aqueles exemplos que são mais

relevantes ou exigem maior nível de abstração, tudo isso faz parte do conhecimento

pedagógico do conteúdo. Analisando as falas de Delta e Sigma, há evidências de que ambos

possuem esse conhecimento.

Em relação à aprendizagem dos alunos, Sigma destaca que estes estão habituados

a utilizarem somente a memorização e a reprodução de fórmulas.

[...] acho que a dificuldade tá em os alunos assimilar aqueles conteúdos,

principalmente as fórmulas, os alunos tem uma dificuldade imensa em saber aplicar

as fórmulas, lembrar das fórmulas, [...] acabam querendo decorar a fórmula e [...]

mesmo sabendo as fórmulas não sabem resolver a questão porque eles não entende

como aquela fórmula foi construída [...] eles não conseguem deduzir quais são os

elementos que tem na questão pra você utilizar e resolver naquela fórmula. (SIGMA,

Entrevista, 2019)

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115

Sigma aponta a necessidade dos professores de compreenderem as dificuldades

que os alunos possuem e diferentes formas para explicar o significado dos conceitos, para que

se possa contribuir com o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos.

Entender os nossos alunos, que a única forma da gente conseguir fazer aquele nosso

aluno progredir, avançar e ter o conhecimento é a gente entender justamente essas

dificuldades deles. Essa dificuldade que ele vêm carregando, essa dificuldade de

aprender aquele conteúdo, porque saber o conteúdo, é algo que a gente sabe, [...]

Agora, conhecer o público, conhecer o aluno e procurar maneiras de ensinar para ele

e para toda turma diferente, toda aula diferente, a gente tem que reinventar isso.

(SIGMA, Entrevista, 2019).

Eu acho que o nosso trabalho é sempre tentar procurar encontrar respostas, mesmo

sabendo que a gente nunca vai chegar numa resposta que sirva para todas as turmas,

para todos os alunos. (SIGMA, Entrevista, 2019).

Diante do depoimento dos professores Delta e Sigma sobre as dificuldades dos

alunos na aprendizagem dos conteúdos geométricos, Leivas (2009) afirma que o ensino dessa

disciplina na escola básica carece de abordagens que favoreçam a imaginação – que pode ser

representada por um esquema visual; a intuição – construção de estruturas mentais para a

formação de conceitos; e a visualização – processo de formar imagens mentais, para construir

e comunicar conceitos matemáticos, com vistas a auxiliar na resolução de problemas

geométricos.

Para Leivas (2009), as diferentes formas de visualização e aplicabilidade do

conteúdo matemático, quando efetuadas em sala de aula, contribuem para melhorar a

compreensão do aluno sobre características específicas das diferentes figuras geométricas.

Nesse sentido, perguntou-se aos professores sobre a disponibilidade de materiais didáticos,

em seu ambiente de trabalho, para a prática do ensino de Geometria Espacial e quais recursos

eram utilizados em suas atividades de ensino.

Sigma informou que teve conhecimento que existe laboratório de matemática na

escola há bem pouco tempo e que, durante o ensino das figuras espaciais, construiu alguns

moldes de papel – cubo e pirâmides – mostrando aos alunos elementos como o apótema

lateral, apótema da base, altura e volume. Relatou ainda a existência do laboratório de

informática, mas não teve a oportunidade de usá-lo com os alunos, devido a uma série de

questões que inviabilizam seu uso.

[...] me disseram que no laboratório de Matemática existe alguns moldes lá de

algumas figuras, só que eu não sabia quando dei essas aulas, então eu fiz em casa

tipo: o cubo, as pirâmides. Ai eu fiz e tentei mostrar para eles, principalmente para

tentar explicar a questão da apótema lateral, da base, da altura, do volume. E a

escola também oferece para a gente, o laboratório de informática, que dá para a

gente a possibilidade da gente levar os alunos e colocar eles para utilizar softwares

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específicos, mas eu não fiz isso na prática. Eu sei que existe, a possibilidade tá ai,

mas eu não tive a oportunidade de aplicar isso com os alunos. (SIGMA, Entrevista,

2019).

Delta relatou que a escola dispõe de alguns objetos tridimensionais – cone,

cilindro, pirâmide, esfera – confeccionados para o uso com alunos deficientes visuais e que os

utiliza em suas aulas com os alunos videntes.

Aqui a gente tem o professor [...], ele comprou uma impressora 3D, [...], aí ele

imprimiu [...] cone, fez cilindro, fez pirâmide. Lá na Sala de Recursos

Multifuncional33

, [...] tem uma prateleira lá e tudo que ele imprime ele deixa lá para

[...] utilizar com os meninos que são deficientes visuais. E sempre nas minhas aulas

eu passo lá antes e pego. E também no laboratório [de Matemática] eu pego algumas

coisas lá, [...], toda essa parte de sólido eu pego. Além de desenhar para eles

[alunos] eu levo essas coisas para eles verem, eles passam na mão de cada um para

verem o que é. Dou aula mostrando, porque às vezes o desenho [...] não conseguem

ver de forma tridimensional, [...] mas com o sólido lá fica mais fácil. (Delta,

Entrevista, 2019).

Em relação ao uso de recursos didáticos, observa-se na fala de Delta a menção ao

uso dos materiais manipuláveis disponíveis na escola, enquanto Sigma desconhecia a

existência de tais recursos. Salienta-se que Delta e Sigma são professores na mesma escola,

lecionam o mesmo conteúdo, na mesma série, e trabalham com recursos e abordagens

diferentes, o que pode ser caracterizado como ausência de comunicação entre os docentes no

planejamento didático da prática de ensino dos conteúdos geométricos. Esse dado sinaliza que

a troca entre os pares, na escola, pode não estar acontecendo.

Para Shulman (2014), o conhecimento para o ensino provém de várias fontes,

incluindo as relações sociais realizadas nos espaços educativos. Dessa forma, pontua-se que

tais relações se efetivam: nos momentos de reflexões sobre a complexidade e gerenciamento

do ensino, no planejamento pedagógico, no desenvolvimento de projetos coletivos, na

elaboração de materiais e atividades didáticas. Esses momentos são fundamentais para a

formação e atuação docente, entretanto, se os docentes não vivenciam tais relações, há um

indicativo da ausência de troca de conhecimento entre os pares nos espaços educativos.

Ainda em relação aos recursos didáticos, observa-se que os laboratórios de

informática34

encontram-se na maioria das escolas públicas estaduais, desde o final do século

33

Espaços físicos disponíveis nas escolas onde se realiza o Atendimento Educacional Especializado - AEE. As

SRM possuem materiais de acessibilidade para atendimento de alunos com necessidades especiais e que

necessitam de AEE. Este espaço dispõe de um professor com formação em Educação Especial. (Fonte:

www.assistiva.com.br)

34

Em 1997, o MEC criou o Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) para promover o uso

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XX e início do século XXI. Contudo, esse espaço é pouco utilizado na prática pedagógica dos

professores. Nacarato (2005) faz observações quanto ao uso dos recursos didáticos e aponta

que esses recursos, quando disponíveis nos espaços educativos, raramente são utilizados.

Segundo a autora, os professores alegam falta de suporte para gerenciar a sala de aula com

outros recursos ou, ainda, argumentam desconhecimento para manuseá-los. Apesar de Sigma

ter mencionado a existência do laboratório de informática na escola, os professores

pesquisados não fazem uso desse recurso em suas práticas pedagógicas.

Para refletir sobre os conhecimentos docentes oriundos da formação e das práticas

pedagógicas dos professores, realizou-se uma sessão teórica (Encontro 4) com discussões

pautadas nas ideias de Shulman (2014) e Koehler e Mishra (2009). Os textos foram

disponibilizados antecipadamente e os professores foram orientados a fazerem as leituras a

fim de conhecerem e aprofundarem os conhecimentos e o entendimento da temática proposta.

A pesquisadora iniciou o encontro dirigindo aos professores Delta, Sigma e

Ômega a questão norteadora: – Quais os principais conhecimentos profissionais que norteiam

a prática educativa do professor? Delta descreve que sua prática é embasada pela pesquisa,

pois é importante que o professor tenha conhecimentos que possam facilitar o ensino dos

conceitos e representações matemáticas para o aluno ter um melhor entendimento do

conteúdo abordado.

[...] o que norteia a prática educativa do professor é o estudo constante e sempre tá

buscando [...] como é que eu posso fazer com que eles entendam o assunto

utilizando a maneira mais simples possível. Eu recorro muito pouco ao livro que a

escola adota, só para exercícios. Mas para definições, para contextualização eu vou

buscar em outros meios, outros materiais. E é isso, a leitura, a pesquisa. Não se

prender a uma única fonte. (DELTA, Encontro 4, 2019)

Diante da manifestação de Delta, Sigma menciona: “Então, o saber tá relacionado

à atualização, à pesquisa daquele conhecimento, né? [...] O conhecimento que a gente tem que

ensinar em sala de aula, [...] a gente precisa encontrar maneiras diferentes de passar aquele

conhecimento que se adeque aquela turma.”. Em pensamento semelhante, Ômega declara:

Engraçado que, nessa proposta do [...] [conhecimento] até para a particularidade das

turmas faz a diferença, porque vamos imaginar que ele [professor] domina o

conteúdo, tem a estratégia de trabalho, [...] dá certo lá no 1º A, [...], você vai para

uma outra turma, com uma ideia parecida e não dá [...]. Você [...] tem que dar aula e

se avaliar ao mesmo tempo, para saber se tá conseguindo chegar, porque as turmas

pedagógico da informática na rede pública de educação básica. O programa leva às escolas computadores e

conteúdos educacionais. E os estados, o distrito federal e municípios oferecem a estrutura adequada para receber

os laboratórios e capacitar os educadores para uso das máquinas e tecnologias. (Fonte: www.portal.mec.gov.br).

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118

são heterogêneas “pra caramba”! As dúvidas não vão ser as mesmas, [...] o saber

ensinar, ele é muito íntimo. (ÔMEGA, Encontro 4, 2019).

Analisando-se as falas dos professores sobre os conhecimentos que norteiam suas

práticas, interpreta-se que eles se referiam ao conhecimento do conteúdo e ao conhecimento

pedagógico, sem indicar outros conhecimentos. Contribuindo com a temática, Curi (2011)

destaca que são requeridos inúmeros conhecimentos para ensinar e que os docentes precisam

dominar os conhecimentos específicos da disciplina de Matemática, o conhecimento das

especificidades pedagógicas e as abordagens metodológicas que contribuem para a

aprendizagem dos alunos. Implica, ainda, no desenvolvimento de outros conhecimentos que

são essenciais a prática de ensino, tais como os conhecimentos: tecnológicos, do currículo;

dos alunos; dos contextos educacionais; das finalidades educacionais, além de outros

conhecimentos. (SHULMAN, 2014).

Ainda em relação ao conhecimento pedagógico do conteúdo, Delta descreve que é

importante que o professor tenha conhecimento do assunto e encontre maneiras representá-lo

e aproximá-lo da vivência do aluno, para que ele possa ter um melhor entendimento do

conteúdo abordado.

O assunto, claro, obviamente e também essa parte de fazer com que eles [alunos]

abstraiam o assunto de forma menos difícil. Você conseguir relacionar o assunto

com o cotidiano deles, eu acho isso muito importante, porque se o assunto se torna

próximo dele fica mais fácil dele visualizar as coisas, perceber... (DELTA, Encontro

4, 2019).

Sigma reconhece a importância de o professor possuir conhecimentos para ir além

do ensino do conteúdo da disciplina que ministra. Essa compreensão dos professores é

importante para sua atuação profissional, pois demonstra maturidade em relação a sua atuação

docente. Essa reflexão evidencia uma aproximação do pensamento de Shulman (1986) que

pontua a necessidade do professor estabelecer relações entre os conteúdos estudados e as

diversas áreas de conhecimento.

O professor precisa ter uma capacidade meio interdisciplinar de poder relacionar

aquilo [conteúdo] [...] de maneira que possa conversar com outras disciplinas, para

não ficar um conteúdo solto, assim, meio “raso”, eu acho que isso é interessante.

(SIGMA, Encontro 4, 2019).

Delta e Sigma enfatizam, em suas narrativas, que os conteúdos específicos da

disciplina precisam ser relacionados aos assuntos do cotidiano. Essa é uma didática específica

do professor, em sua prática docente. Esse dado evidencia que os professores conseguem

perceber que o ensino dos conteúdos precisa estar articulado às situações do cotidiano do

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estudante, estabelecendo conexões entre o conteúdo com outros campos de conhecimentos,

possibilitando que o aluno tenha compreensão do significado daquilo que aprende.

Para Sigma, as situações que fazem parte da vivência dos estudantes contribuem

para facilitar a aprendizagem destes, dando-lhes maior significado.

[...] a ideia por trás de tudo isso é que os alunos possam utilizar esse conhecimento

pra o seu meio, [...], por exemplo, por que o cone que é usado no trânsito é um cone

e não é um cubo? É uma pergunta que geralmente eu faço com meus alunos, [...],

porque um cone o centro de massa dele está a ¼ da base, então, como o centro de

massa está mais baixo ele tem maior equilíbrio, além dele ser cilíndrico, ele tem

maior equilíbrio também com o vento, por isso que os cones são cones, os cones não

são pirâmides, por exemplo! (SIGMA, Encontro 4, 2019).

A narrativa de Sigma, em relação ao conteúdo de “cone”, reflete ações que

retratam o conhecimento pedagógico do conteúdo, visto que o professor consegue relacionar

assuntos específicos de Geometria Espacial (cones) a objetos usados no cotidiano (cone usado

no trânsito) como um modelo para representar o conteúdo. A ênfase ao fato de “que o centro

da massa” estar próximo à base faz com que o cone não vire demostra o domínio do conteúdo

pelo professor. Esse exemplo foi analisado como um apontamento pedagógico muito

interessante, configurando-se em uma ação eminentemente didática e individual do professor.

Entretanto, na “aula inicial” em que Sigma introduziu o conteúdo de “cone” para seus alunos,

ele não fez uso desse modelo.

Especialistas (LEIVAS, 2009; SHULMAN, 1986) asseveram que o uso de

analogias e objetos do cotidiano do educando favorece a imaginação, a intuição e contribui

para a aprendizagem dos alunos. Contudo, ressalta-se a importância de se utilizar atividades

demandando procedimentos de observações, mensurações, explorações que contribuirão para

o desenvolvimento da aprendizagem do educando.

Nos depoimentos dos professores é possível perceber a preocupação destes com

suas práticas pedagógicas e engajamento para solucionar os problemas enfrentados em suas

rotinas de trabalho, embora as justificativas sejam fundamentadas em aspectos da prática

cotidiana. As reflexões dos professores indicam evidências do conhecimento pedagógico de

conteúdo que incluem a compreensão que o professor possui do que torna a aprendizagem de

tópicos fácil ou difícil pelos estudantes e as estratégias que serão produtivas para melhorar o

conhecimento dos alunos. (SHULMAN, 1986).

Outro elemento a ser destacado, em relação ao conhecimento pedagógico de

conteúdo dos professores pesquisados, é a ação centralizada no papel que estes exercem em

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120

sala de aula, sem provocar em seus alunos a busca pela descoberta do conhecimento e da

aprendizagem.

[...] eu sempre acho que a gente tem um pouquinho desse conhecimento para

passar para nossos alunos e chega na aprendizagem de nossos alunos e dá

significância ao que eles estão fazendo também. [...] todos esses conhecimentos eu

acho que é interessante a gente mostrar para os alunos [...]. (SIGMA, Entrevista,

2019, grifo nosso).

Em relação aos recursos [didáticos] [...] eu fiz em casa tipo: o cubo, as pirâmides,

[...] e tentei mostrar para eles, principalmente para tentar explicar a questão da

apótema lateral, da base, da altura, do volume [...]. (SIGMA, Entrevista, 2019, grifo

nosso).

[...] a gente tem que saber quais são as fórmulas, como deduzir aquilo, mostrar aos

alunos de onde vem aquilo, né, como aplicar aquilo [...]. (SIGMA, Entrevista, 2019,

grifo nosso).

[...] você acaba tendo de dar um outro assunto, além do que você tá programado para

dar, porque você tem que mostrar para ele [aluno] o porquê [...]. (Delta, Encontro

4, 2019, grifo nosso).

Os depoimentos de Delta e Sigma mostram que estes mencionam, com certa

frequência, a preocupação em “fazer” e “mostrar” para os alunos. Nesse sentido, Nacarato,

Mengali e Passos (2019) enfatizam que a aprendizagem dos conhecimentos matemáticos é

uma prática social que requer o envolvimento do aluno nas atividades. Para tanto, é necessária

uma nova postura da didática do professor, transformando a sala de aula em um cenário de

investigação em que as situações vivenciadas incorrem no estabelecimento de novas relações

que deem significado à aprendizagem.

Esse dado sinaliza que o ensino continua sendo direcionado por atividades nas

quais os alunos exercem papel passivo no desenvolvimento de suas aprendizagens, não se

visualizando atividades em que estes fizeram medições, manipulações e descobertas das

propriedades geométricas dos conteúdos abordados. Percebeu-se, nesse processo, que o

professor exerce a função de centralizar todo o processo de ensino o que indica uma lacuna no

conhecimento pedagógico do conteúdo dos docentes.

Buscando estabelecer uma reflexão a respeito do conhecimento pedagógico de

conteúdo e da prática dos professores Delta e Sigma, apresentam-se algumas ponderações em

relação à aula inicial dos docentes, abordando tópicos de Geometria Espacial.

A aula inicial de Sigma abordou a temática “esfera”. A estratégia de apresentação

desse tema da aula para os alunos foi o uso de material manipulável (bola de isopor). A Figura

10 registra um trecho da aula inicial quando Sigma usa o recurso didático.

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Figura 10 – Material manipulável na aula inicial do professor Delta

Fonte: Acervo da pesquisadora.

Na figura 10 visualiza-se a lousa com a definição de esfera, alguns elementos da

esfera: raio (r), diâmetro (d), centro da esfera (o), a representação da esfera (desenho) e

algumas fórmulas: área da superfície da esfera (A = 4∏r2), Área da secção plana (A = ∏r

2) e a

fórmula do volume da esfera (V = ). À frente da lousa, Delta segura uma bola de isopor,

exemplificando a definição de esfera para os alunos, e posteriormente, para explicar a

definição de área de superfície e volume da esfera.

Então, esfera, eu trouxe aqui para vocês verem, essa aqui não é daquele mesmo

material do cone, mas dá para você perceber perfeitamente o que é uma esfera.

(DELTA, aula inicial, 2019).

Vamos só entender o que é área da superfície. – O que é a superfície? Se a gente

abrir essa esfera aqui ela tá oca, certo? Superfície esférica é exatamente só essa parte

aqui, ó, imagina como se fosse uma laranja, só a casca! Uma bola sem o ar dentro,

só a parte plástica da bola. (DELTA, aula inicial, 2019).

E por fim pessoal, ele quer o volume. O volume já é o contrário, não é só isso aqui

somente, ele quer tanto essa parte externa como também tudo que tá contido dentro.

Não é só a casca da laranja, é a laranja com a parte de dentro, a polpa. Ele quer tudo,

ele quer a esfera totalmente preenchida. (DELTA, aula inicial, 2019).

Delta utiliza o material manipulável para ilustração de conceitos de “esfera”, que,

segundo Leivas (2009), contribui para o desenvolvimento de características do pensamento

geométrico: imaginação, intuição e visualização. Contudo, os alunos não tiveram

oportunidade de trabalhar com explorações e deduções alusivas a esse material. Nesse

sentido, Lorenzato (2010) esclarece que há diferença entre a ação do professor ilustrar uma

explicação oral com um material e a atividade em que o aluno manuseia esse material. Para o

pesquisador, a atitude do professor em apenas mostrar o material para os alunos reforça o

protagonismo docente e o papel passivo do estudante, configurando-se como mero reforço à

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122

memorização. Em contrapartida, se o aluno puder conhecer o material, manusear, analisar as

possibilidades de composição e decomposição, fazer observações, será mais efetivo e

contribuirá para a construção de novos conhecimentos. Tais abordagens não foram

visualizadas na aula do professor.

A aula inicial de Sigma abordou a temática “cone”. A estratégia de apresentação

desse tema foi a explanação oral, ilustrações (desenhos na lousa) do cone e exemplos retirados

do livro didático, adotada na escola. A figura 11 mostra a lousa, com os apontamentos

registrados por Sigma, na aula inicial.

Figura 11– Aula inicial do professor Sigma

Fonte: Acervo da pesquisadora.

Na figura 11 encontram-se imagens da lousa, na aula inicial de Sigma, com a

representação do cone na visão espacial e planificada, as fórmulas da área da base (Ab = ∏r2),

área lateral (AL = ∏rg), área total (AT = Ab + AL) e volume (V = ). O professor Sigma

explica aos alunos a relação existente entre pirâmides e cone: “a primeira coisa que a gente

tem a pensar é que cones é muito semelhante a pirâmides”. Essa postura do professor sinaliza

que ele articula pedagogicamente o conhecimento que deve ter sido desenvolvido pelos

alunos anteriormente (pirâmide) e o novo conhecimento (cone). Prossegue apresentando

características comuns que se apresentam na pirâmide e no cone.

Como é que a gente pode entender isso? A nossa pirâmide [...] tinha uma figura

base. Podia ser qualquer figura plana, né, um triangulo, um quadrado, um pentágono

e ela tinhas várias superfícies laterais que se encontravam com o vértice lá em cima.

Isso formava a nossa pirâmide, não é?! O cone é a mesma coisa, a gente tem o

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vértice externo e as retas que ligam esse vértice até o plano que a gente chama de

plano da base, é o que forma a superfície do cone. Agora, a [...] pirâmide, essa

minha base podia ser um triângulo, um quadrado, um pentágono, um hexágono...

Um cone, a minha base é sempre um círculo porque o cone é circular. A gente

chama de cone circular. [...]. Porque o cone a gente pode enxergar ele como se fosse

uma pirâmide. Imagina o seguinte: se a gente tem uma pirâmide triangular, a base

vai ser um triângulo. Quadrangular, a base vai ser um quadrado. Pentagonal...

Hexagonal... Quanto mais lados a gente for colocando nessa base, ela vai ficando

mais próxima de quê?[...] Ela fica mais próxima do círculo, ou seja, aqui já tem 8

lados, a minha base fica mais próxima de um círculo. Então se você imaginar uma

figura base com infinitos lados, esses lados são tão pequenos que eles acabam não

tendo dobras, eles formam um círculo. Aí quando eles formam um círculo, nos

temos uma base circular. (SIGMA, aula inicial, 2019).

A explicação do professor Sigma sobre a transição da mudança dos polígonos da

base da pirâmide para a base do cone foi feita por explicações orais e o desenho na lousa de 5

polígonos. A figura 12 mostra desenhos dos polígonos realizados por Sigma, durante a aula

inicial.

Figura 12 – Polígonos da base da pirâmide

Fonte: Acervo da pesquisadora.

Na figura 12 é possível se observar que o professor Sigma desenhou alguns

polígonos (triângulo, quadrado, pentágono, hexágono e octógono) para demonstrar aos alunos

que à medida que o número de lados ia aumentando, ia ficando mais próximo da imagem do

círculo. Quanto a esse episódio, observou-se que os alunos permaneceram alheios e passivos,

não esboçando nenhuma comunicação diante da demonstração apresentada, chamando a

atenção da pesquisadora, vislumbrando que a explanação foi apresentada pelo professor, mas

que não trouxe significado para os estudantes. Pondera-se que a situação demonstrada

demanda de maior apropriação do conhecimento pedagógico do professor integrando os

alunos em movimento de experimentação e prática.

Sobre essa temática, Fainguelernt e Nunes (2012) ressaltam a necessidade dos

professores estimularem os alunos a realizarem atividades exploratórias e investigativas, além

da utilização de recursos didáticos. Salientam, também, o estabelecimento de relações entre os

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124

conceitos matemáticos e ações a serem interiorizadas pelos sujeitos, para que lhes tragam

significados e contribuam para o estabelecimento de abstrações e generalizações. Pode-se

inferir, pela observação das aulas dos professores Delta e Sigma, que estes estabeleceram

relações entre os conceitos geométricos e a aprendizagem a ser interiorizada pelos alunos

quando relacionaram a bola de isopor com a esfera, o cone com a pirâmide, a base de lados

crescentes da pirâmide com o círculo. Entretanto, não se visualizou a realização de atividades

exploratórias e investigativas pelos alunos.

Diante das análises apresentadas, salienta-se a necessidade de o professor

diversificar suas práticas, incorporando maior variedade de recursos didáticos, associando-os

às atividades exploratórias e investigativas como forma de implementar os processos de

ensino e de aprendizagem. Analisando-se as ações dos professores, há evidências de que

houve reflexões sobre os conhecimentos pedagógicos do conteúdo. Entretanto, percebe-se a

carência de discussões embasadas em conhecimentos teóricos. É necessário que os docentes

percebam que o conhecimento das teorias deve ser incorporado às práticas pedagógicas de

ensino, promovendo a integração dos múltiplos conhecimentos de forma reflexiva e contínua.

Os docentes precisam dominar outros conhecimentos (conhecimentos tecnológicos,

conhecimentos curriculares, dentre outros), conciliando-os às suas ações educativas para que

possam superar as limitações e desafios que integram suas práticas docentes.

A próxima seção analisa a terceira categoria teórica que reflete sobre o

conhecimento tecnológico, bem como a interseção dos conhecimentos: tecnológico,

pedagógico e de conteúdo na perspectiva do TPACK, a partir dos dados obtidos pela

entrevista inicial, sessões formativas, observações de aulas e sessões reflexivas realizadas.

6.4 O conhecimento tecnológico dos professores e o TPACK no ensino de Geometria

Espacial

Essa seção tem o propósito de sistematizar as discussões relativas à terceira

categoria de análise sobre o conhecimento tecnológico dos professores e o TPACK no ensino

de Geometria Espacial. Essa categoria tem como conceito norteador o domínio do

conhecimento tecnológico na prática dos professores e a concepção do ensino com tecnologia,

estabelecendo conexões entre tecnologia, conteúdo e o processo pedagógico requerido para o

ensino. (KOEHLER; MISHRA, 2005).

A partir da categoria teórica que buscou responder o terceiro objetivo específico

desta pesquisa, surgiram as categorias empíricas (figura 13) que emergiram a partir dos dados

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125

coletados com os professores.

Figura 13 – Diagrama da categoria de análise do conhecimento tecnológico e integração

ao TPACK

Fonte: Elaborado pela autora.

A Figura 13 apresenta um diagrama composto pela organização da terceira

categoria teórica de análise (a esquerda da figura), o objetivo específico (ao centro) e as

categorias empíricas (a direita da figura).

As reflexões se fundamentam no entendimento dos pesquisadores (KOEHLER;

MISHRA, 2005) que consideram necessária a interação entre as tecnologias educacionais e o

conhecimento pedagógico do conteúdo para produzir o ensino eficaz, mediado pela

tecnologia. Nesse sentido, as ponderações foram retratadas pela percepção de ações dos

professores a partir de quatros momentos distintos:

O conhecimento tecnológico na prática dos professores antes do processo

formativo;

O conhecimento tecnológico e a convergência ao TPACK no processo de

processo formativo dos professores;

O conhecimento tecnológico e a convergência ao TPACK na prática dos

professores;

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126

Concepções dos professores pesquisados sobre os conhecimentos: tecnológico,

pedagógico e de conteúdo e a convergência ao TPACK, após a formação dos

professores de Matemática.

6.4.1 O conhecimento tecnológico na prática dos professores antes do processo formativo

Objetivando-se analisar a viabilidade de utilização do software GeoGebra durante

as sessões formativas, no processo formativo dos professores participantes dessa investigação,

considerou-se necessário saber se os participantes já conheciam ou utilizavam essa ferramenta

como um recurso didático em suas atividades docentes.

Assim sendo, na entrevista inicial, os professores foram indagados se conheciam o

software GeoGebra e se já faziam uso pedagógico desse programa em suas práticas docentes.

Delta afirmou que não conhecia o software e Ômega afirmou que já conhecia o GeoGebra de

aplicações direcionadas ao ensino de conteúdos de Álgebra, para trabalhar tópicos de funções,

mas que não conhecia a sua aplicabilidade para trabalhar conteúdos de Geometria. No

entanto, não foi possível compreender se ele já utilizou o software em suas práticas

pedagógicas ou apenas tinha conhecimentos de atividades em que a ferramenta era utilizada.

Esse estranhamento escapou ao olhar da pesquisadora no momento em que realizou a

entrevista com o professor Ômega, vindo à tona somente na ocasião em que os dados estavam

sendo analisados, não sendo possível esclarecê-lo, nesta análise.

Sigma relatou que conhecia o GeoGebra desde o período que cursou o EM – o

software era usado como uma ferramenta na construção de gráficos – tinha funções

semelhantes a outros programas de elaboração de gráficos, como o Excel. Em sua atuação

docente já fez uso de imagens obtidas por meio da construção de sólidos no software, das

quais fez o print e as projetou na lousa, para que os alunos pudessem visualizá-las. Sigma

(Entrevista, 2019) esclarece que não é possível afirmar que faz uso dos recursos tecnológicos

em suas aulas, seria “forçar a barra”, segundo ele, pois, os alunos “viram só as imagens, eles

não viram o programa em si, não viram o uso do programa, eles não viram as potencialidades

que eles podiam ter no programa, eles não manipularam nem nada, foi só uma visualização

mesmo.”.

O uso da tecnologia no modelo acima, descrito por Sigma, configura-se apenas

como uma ferramenta que possibilita a exibição da solução de uma questão, auxiliando na

construção de gráficos e de imagens em benefício do trabalho docente. Esse tipo de atividade,

em que o manuseio da tecnologia é restrito ao professor, pouco contribui para a exploração

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127

das potencialidades pedagógicas que as tecnologias oferecem para o desenvolvimento da

aprendizagem do educando. Estes continuam na passividade de olhar a figura, embora a

escola disponha de laboratório de informática. Enfatiza-se que os alunos precisam estar

integrados com o uso da tecnologia, associando-a ao conteúdo abordado e ao processo de

aprendizagem.

Diante das narrativas dos professores, verificou-se que um deles não conhecia o

software e dois conheciam o software, mas não trabalhavam com o GeoGebra em suas

práticas pedagógicas. A ciência desse fato foi relevante para a pesquisadora, que confirmou a

escolha do software e sua exploração nos dispositivos móveis no decorrer das sessões

formativas, considerando-o como uma das principais ferramentas para investigar indícios do

conhecimento tecnológico dos professores, no ensino de conteúdos de Geometria Espacial, na

presente investigação.

Os dados obtidos pelo relato dos docentes pesquisados sobre a não utilização dos

recursos tecnológicos em suas práticas de ensino reforçam dados de pesquisas publicadas, que

apontam a ausência das tecnologias digitais nas práticas escolares (PALIS, 2014). Nadalon

(2018) evidencia que o professor ainda não incorporou as tecnologias em suas práticas

educativas e Koehler e Mishra (2009) afirmam que muitos professores não utilizam a

tecnologia em sua atuação docente porque não tiveram acesso a esse conhecimento no

momento de sua formação inicial.

Shulman (1986) destaca a importância dos processos formativos prepararem os

professores para o domínio dos conteúdos e a diversificação dos materiais de ensino a serem

utilizados em suas práticas pedagógicas:

Quantas pessoas a quem nós preparamos para ensinar [...] entendem bem os

materiais para essa instrução, os textos alternativos, softwares, programas, materiais

visuais [...]? Confiaríamos em um médico que não entendesse realmente as formas

alternativas de lidar com categoriais de doenças contagiantes e que só conhecesse

apenas uma maneira? (SHULMAN, 1986, p. 10, tradução nossa35

).

Nessa perspectiva, entende-se que a tecnologia pode contribuir para diversificar a

construção de representações de conteúdos e a forma como estes podem ser ensinados,

possibilitando o desenvolvimento de novas interpretações diante da exploração do conteúdo

abordado. Ômega (Entrevista, 2019) relata o desejo de apropriar-se dos conhecimentos

35

How many individuals whom we prepare for teaching […] understand well the materials for that

instruction, the alternative texts, software, programs, visual materials, […]?. Would we trust a physician

who did not really understand the alternative ways of dealing with categories of infectious disease, but who

knew only one way?

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tecnológicos para que possa empregá-los em suas aulas: “certamente, a partir do

conhecimento e do uso de diversas ferramentas, a gente consiga chegar numa linha de

comunicação com o aluno”. No mesmo sentido, Delta declara:

Eu [...] quero conhecer o software, quanto maior a gama de recursos que você tiver

para utilizar em suas aulas é melhor, porque às vezes um aluno não entende por um

método, mas se você trocar ali pode ser que ele entenda, né!. [...]. Embora desenhe

bem, eu ainda levo os sólidos [materiais manipuláveis] mesmo assim, para minhas

aulas e tudo... Dou para eles pegar, olhar de baixo, de cima, e tudo... E seria bom a

gente ter o máximo possível de ferramentas para utilizar porque ainda é muito pouco

o que a gente tem. (DELTA, Entrevista, 2019).

As narrativas de Delta e Ômega evidenciam a aceitação em conhecer o software,

além do reconhecimento que os recursos didáticos tradicionais (pincel e lousa) empregados

em suas ações docentes não são suficientes para o desenvolvimento de habilidades essenciais

no aluno como a visualização, a abstração e a formulação de conceitos geométricos.

Nesse sentido, apresentam-se os recursos tecnológicos como uma ferramenta de

ensino para superar essas deficiências. Fainguelernt e Nunes (2012) observam que os

dispositivos móveis fazem parte do cotidiano da maioria dos alunos e professores. Entretanto,

poucos são aproveitados como apoio educacional, o que deve ser feito de forma efetiva e

urgente, para propiciar uma dimensão mais dinâmica ao ensino. A esse respeito, Sigma

menciona que:

[...] todos os nossos hábitos [...] estão sendo moldados por essa influência da

tecnologia. E isso não muda [...] dentro da sala de aula. [...] É muito difícil, eu como

professor, querer que meus alunos fiquem 4 horas [...] na sala de aula sem mexer no

celular, sem dar importância para o celular, se ele passa o resto do dia inteiro

pendurado no celular. [...] É muito difícil para mim querer que ele fique só parado,

olhando para mim, na lousa, dando o meu assunto e ele se desfaça dessa coisa que

ele vive fora da sala de aula. [...] Se eu consigo fazer uso dessa tendência, desse

novo costume que tá se aprofundando na sociedade, favorável dentro da sala de aula,

é um ganho para mim [e para os alunos]. (SIGMA, Sessão Reflexiva, 2020).

Conforme exposto no relato de Sigma sobre os recursos tecnológicos na vida dos

indivíduos e a não utilização nas atividades escolares, constata-se a proposição de Silva

(2018), ao relatar que as tecnologias digitais fazem parte da vivência dos estudantes, em seus

domicílios, mas quando estes chegam aos espaços escolares se deparam com práticas

educativas tradicionais, mediadas pela explanação oral e analógica, totalmente diferente do

contexto social vivenciado por eles.

Diante das análises apresentadas, verificou-se que, antes do processo formativo

desenvolvido com os professores, eles não faziam uso dos recursos tecnológicos em suas

práticas de ensino. Fica evidente a necessidade da generalização dos conhecimentos

tecnológicos a maior número de professores, associando-as a abordagens dos conteúdos

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geométricos. O depoimento dos professores indica a aceitação quanto ao uso da tecnologia em

suas atividades docentes, além da reflexão sobre as contribuições do conhecimento

tecnológico como um dos componentes do TPACK, o que se pontua como um aspecto

positivo.

A seguir, explana-se as análises sobre indícios do conhecimento tecnológico e sua

convergência com os componentes do TPACK, visualizados durante as sessões formativas

(sexto e sexto encontro) dos professores Delta, Sigma e Ômega, com os recursos

tecnológicos.

6.4.2 O conhecimento tecnológico a convergência ao TPACK no processo de formação dos

professores

Na ação formativa entre pesquisadora e professores Delta, Sigma e Ômega foram

destinados dois encontros (o sexto e o sétimo encontro) para uso do software GeoGebra

através dos dispositivos tecnológicos móveis (smarphones, iphones) dos participantes. Os

conteúdos explorados foram tópicos de conteúdos de Geometria Espacial – poliedros de

Platão, prismas e pirâmides. Essas sessões formativas seguiram um tutorial elaborado pela

pesquisadora e disponibilizado nos apêndices D a I, deste trabalho.

As construções dos sólidos geométricos, com os aportes dos recursos

tecnológicos, requerem habilidades como: conhecimentos específicos para manusear o

GeoGebra, comandos precisos para a construção dos sólidos em formato bidimensional e

tridimensional, familiaridade com a ferramenta. Dessa forma, o tutorial elaborado tinha o

objetivo de auxiliar os professores na execução dos comandos com a ferramenta. Contudo,

durante toda a etapa que trabalhou a temática, a pesquisadora e os professores iam realizando

considerações, formulando hipóteses, conjecturas, estabelecendo relações entre os conteúdos

geométricos e os sólidos que eram obtidos em seus dispositivos.

Ao iniciar o manuseio do software, observa-se configurações iniciais do programa

como: janela de visualização, eixos, ferramentas, seguido de outros comandos. A primeira

atividade realizada com o Geogebra foi a construção dos poliedros de Platão (tetraedro,

hexaedro, octaedro, dodecaedro e icosaedro). A figura 14 apresenta imagens dos poliedros

construídos pelos professores, em seus smartphones.

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Figura 14 - Poliedros de Platão

Tetraedro Hexaedro

Octaedro Dodecaedro

Icosaedro

Fonte: Acervo da autora (print das telas dos smartphones dos participantes, Encontro 7, 2019).

Durante as construções dos poliedros de Platão (figura 14), foi sendo discutido

com os professores o que poderia ser explorado e destacado no ensino do conteúdo desse

tópico, associando conhecimentos e conceitos da Geometria com os sólidos construídos com

o apoio das ferramentas tecnológicas. Delta e Sigma argumentam:

A gente pode passar para eles [alunos] os tipos, né, quais são [os poliedros de

Platão], denominar cada um deles, a questão da nomenclatura de cada um, que

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depende das faces e o padrão que eles seguem, que eles tem que obedecer a relação

de Euler36

. E além de exemplificar, você já introduz a relação de Euler depois. A

gente podia pedir provar a relação de Euler, contar vértices, arestas e faces do sólido

aqui [no smartphone] e pedir para eles contar vértices, arestas e faces e fazer os

cálculos no caderno, com a fórmula, pra ver se bate. (DELTA, Encontro 6, 2019).

E também a questão dos vértices, arestas, faces, os componentes de cada sólido

desse. São figuras bem parecidas, o octaedro e icosaedro são construídos por

triângulos, pode mostrar isso para os alunos. Uma ideia seria contar o número de

faces. (SIGMA, Encontro 6, 2019).

A manifestação dos professores Delta e Sigma, nesse momento, demostra que os

docentes possuem o domínio do conhecimento do conteúdo da disciplina que ministram e

visualizam maneiras de explorar esse tópico, por intermédio da relação conteúdo-tecnologia,

utilizando os recursos tecnológicos trabalhados na formação.

Ao ser explorada a planificação dos poliedros, Ômega (Encontro 6, 2019)

argumenta, diante das imagens obtidas nos dispositivos: “Essa planificação é muito bacana.

Você vai construindo vários sólidos e vai planificando [...] você consegue mostrar [para o

aluno] a formação prática de como aquilo acontece, coisa que na lousa a gente não

consegue.”. Delta também pontua: “sem contar que na lousa você não consegue mostrar as

faces que tão lá atrás.”.

Nesse enfoque, destaca-se que, mediante as construções das figuras espaciais nos

dispositivos, é possível fazer movimentações e visualizá-los sob várias perspectivas. Além

disso, facilita a interação entre a versão tridimensional para a versão bidimensional a partir de

comandos básicos com um toque (touchscreen) nos botões: exibir ou ocultar, disponíveis na

janela de álgebra, obtendo-se as imagens apresentadas na figura 15.

Figura 15 – Icosaedro (visão bidimensional e tridimensional)

36

Fórmula matemática que relaciona os vértices, arestas e faces de um poliedro convexo, dada pela expressão: V

– A + F = 2.

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Fonte: Acervo da autora (print das telas dos smartphones dos participantes, Encontro 7, 2019).

A figura 15 mostra imagens do icosaedro em três composições diferentes: à

esquerda tem-se o sólido em dois planos – bidimensional e tridimensional. Ao centro,

ocultou-se a planificação, resultando somente a versão espacial; na imagem da direita,

ocultou-se o sólido espacial, permanecendo apenas sua planificação. Toda essa dinâmica de

diferentes possibilidades de visualização e inversão das imagens favorece a construção do

conhecimento a partir da abordagem prática e intuitiva, para posteriormente explorar-se o

enfoque dedutivo. (GOMES, 2007).

Durante todo o processo de construção dos sólidos geométricos, nas sessões

formativas (sexto e sétimo encontro), procurou-se integrar a tecnologia com o conhecimento

dos professores sobre conteúdos específicos do ensino e o conhecimento pedagógico, o modo

como eles aplicariam esse conhecimento ao contexto de suas salas de aulas. Enquanto eram

construídos os poliedros (representados na figura 15), a pesquisadora pontuou que, através do

software, era possível trabalhar os conceitos de área e volume de cada um dos sólidos

construídos, acionando a janela de álgebra. Esse comando foi efetuado e obteve-se os valores

constantes nas imagens da figura 16.

Figura 16 – Área e volume do tetraedro no GeoGebra

Fonte: Acervo da autora (print das telas dos smartphones de Delta e Sigma, Encontro 7, 2019).

A figura 16 apresenta imagens da janela de álgebra dos smartphones de Delta e

Sigma (não foi publicada a imagem da construção de Ômega em razão desse professor não ter

realizado a gravação da tela de seu celular). Os valores da área e volume do tetraedro

construído pela pesquisadora, projetado no datashow, indicava o volume (a = 3,24) e área (c =

15,79). Nesse momento, Ômega observou que os valores da sua construção divergiam

daqueles visualizados na projeção e indaga: “Porque os meus valores aqui são diferentes?”.

Delta e Sigma também informaram os valores encontrados em suas construções: o tetraedro

de Sigma tinha volume (a = 2,84) e a área (c = 14,44), enquanto os valores da construção de

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Delta indicavam (a = 3,28) e (c = 15,90).

A pesquisadora repassou a dúvida de Ômega a todos os professores, indagando “o

porquê” dos valores da área e volume dos tetraedros construídos, naquele momento,

apresentarem valores divergentes. Sigma declarou: “Porque os pontos iniciais foram

colocados aleatoriamente [no plano]”. Diante da proposição de Sigma, Delta e Ômega

concordaram com a justificativa e a pesquisadora reforçou que as mudanças eram decorrentes

da localização dos pontos A e B, traçados aleatoriamente no plano. Em consequência disso, as

arestas tinham tamanhos diferentes e os valores de área e do volume variaram de acordo com

a medida das arestas.

As discussões promovidas entre pesquisadora e professores evidenciaram que as

construções obtidas com o apoio da tecnologia, ao serem exploradas, requerem também o

domínio do conhecimento do conteúdo da disciplina que é trabalhada, não sendo possível

dissociar um conhecimento do outro. É possível afirmar que nesse momento Sigma

demonstrou evidências do domínio do conhecimento tecnológico e do conteúdo. Em relação a

Delta e Ômega, estes demandaram mais tempo para perceberem a divergência dos resultados

dos valores obtidos no software, o que pode sinalizar uma necessidade de maior apropriação

entre o conhecimento tecnológico e o conhecimento do conteúdo matemático.

Ao ser construído o cubo, com a demonstração de sua diagonal, no Geogebra

(figura 17), Ômega destacou: “aqui você vê a diagonal bem direitinho!”.

Figura 17 – Cubo no GeoGebra

Fonte: Acervo da autora (print da tela do smartphone de Delta, Encontro 7, 2019).

Diante da construção do cubo (figura 17), Delta observa: “A gente pode colocar

como atividade [...] aplicar o teorema de Pitágoras para encontrar a medida da diagonal do

cubo [...] e depois a gente mostra na ferramenta o comprimento entre um ponto e outro, e

depois vê se bate com o valor dado no software”. (DELTA, Encontro 7, 2019). A proposta de

Delta, nesse momento, é trabalhar simultaneamente com os dados encontrados nos

dispositivos e articulá-los com conhecimentos prévios – Teorema de Pitágoras, fazendo a

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134

comparação entre os dados obtidos pelo programa e os dados coletados manualmente.

Embasando-se na concepção de TPACK, definida por Koehler e Mishra (2009),

pode-se afirmar que a proposta de atividade sugerida por Delta manifesta evidências de

TPACK, visto que o professor interpretou o assunto trabalhado e encontrou maneiras de

representá-lo e adaptá-lo com aos recursos tecnológicos que estavam sendo empregados, além

de associá-los ao conhecimento prévio dos alunos.

Ao se abordar o tópico referente a prismas regulares, nos smartphones, os

docentes demonstraram conhecimentos na percepção das relações entre o enfoque

experimental obtido pelas figuras planas que compõem as figuras espaciais até se chegar ao

enfoque em que se faz a dedução da fórmula da área total (At) do referido prisma. Na figura

18, apresenta-se prisma de base triangular explorado durante a sessão formativa com o

GeoGebra.

Figura 18 – Prisma regular de base triangular

Fonte: Acervo da autora (print da tela do smartphone de Sigma, Encontro 8, 2019).

Após a construção do prisma apresentado na figura 18, a pesquisadora indagou

quais elementos poderiam ser explorados, com o prisma construído. Os professores foram

destacando algumas considerações:

As figuras planas que compõem o prisma é 2 triângulos e 3 retângulos. Para

construir a área total, basta calcular a área de um triângulo e multiplicar por 2 e a

área de um retângulo e multiplicar por 3, aí soma os resultados. (DELTA, Encontro

6, 2019).

A área lateral, nesse caso aí é 3 retângulos. (ÔMEGA, Encontro 6, 2019).

Pode perguntar por que na fórmula usa 2AB e AL. Aí mostra a imagem [do software]

e faz a dedução da fórmula. (SIGMA, Encontro 6, 2019).

Nesse momento, os professores identificaram quais as figuras planas que

compõem as bases do prisma: dois triângulos equiláteros, além da área lateral (AL) que é

composta por três retângulos. Observaram, por meio da imagem obtida no software (prisma

planificado), que a área total (AT) é construída por dois triângulos equiláteros e três

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retângulos. Logo, a área total (AT) é formada pela área de duas bases (2AB) mais a área lateral

(AL) composta por três retângulos. Desse modo, os professores concluem que é possível se

chegar à dedução da fórmula comumente empregada no cálculo de área dos prismas onde: AT

= 2 AB + AL.

As observações e deduções dos professores foram relevantes e demonstram que os

docentes fizeram a interseção entre os conhecimentos do conteúdo e os conhecimentos

tecnológicos em um enfoque exploratório e dedutivo. Mediante construção dos prismas (nos

smartphones), os professores conseguiram associar as representações tridimensionais e

bidimensionais realizadas pela tecnologia aos conhecimentos do conteúdo de Geometria

Espacial, trabalhados regularmente em sala de aula. Nesse sentido, concorda-se com Gomes

(2007), que enfatiza como fundamental que as práticas pedagógicas dos professores deem

ênfase tanto ao enfoque experimental quanto ao enfoque dedutivo, caminhando sempre na

direção que contemple ambas as abordagens.

Após a construção do prisma de base triangular, prosseguiu-se, ampliando a

sequência de construções de prismas, até se obter um prisma com base hectagonal (100

lados). Nesse momento, os professores tiveram oportunidade de vivenciar, com o software

GeoGebra, a transição entre o polígono da base de um sólido até a obtenção de uma

circunferência. A figura 19 apresenta as imagens de dois prismas de bases regulares,

construídos em dois momentos distintos da sessão formativa.

Figura 19 - Prismas Regulares

Fonte: Acervo da autora (print da tela do smartphone do professor Sigma, Encontro 7, 2019)

Na figura 19, visualiza-se as imagens de dois prismas: à esquerda um prisma

regular dodecagonal (base formada por um polígono de 12 lados) e à direita foi ampliado o

número de lados da base, transformando-se em um prisma regular heptacontagonal (base

formada por um polígono de 70 lados).

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136

A mudança observada entre os objetos foi realizada através de comandos, no

software GeoGebra. Na proporção em que o número de lados da base dos prismas foi

aumentando, os professores ficaram admirados com a imagem do objeto que era visualizada

nos seus dispositivos. Ômega exclamou: “Isso é show de bola!”, Delta logo observou: “Olha o

que a gente pode dizer enquanto eles [alunos] verem isso, a gente prova que a circunferência

tem infinitos lados” e Sigma pontua: “quantos mais lados, mais próximo da circunferência.”.

Os participantes utilizaram a simulação construída no GeoGebra para verificar a

validação de conceitos matemáticos, a partir das modificações visualizadas na base do prisma,

associando-a a uma circunferência e, consequentemente, ao cilindro – outro tópico trabalhado

em Geometria Espacial. O processo de construção do prisma, a partir de uma base composta

por 3 lados até a base formada por 100 lados, permitiu aos professores validar a generalização

do conceito de outros conteúdos – a área lateral do cilindro ser formada por infinitos lados.

Ainda em relação à construção apresentada, convém relacioná-la ao exemplo

mostrado pelo professor Sigma na aula inicial (figura 12), com seus alunos, apresentado na

seção 6.3. Naquele momento, o professor demonstrava para os alunos a transição entre a base

de uma pirâmide para a base do cone, fazendo a explanação através de 5 polígonos

desenhados na lousa. Já na sessão formativa dos professores, estes tiveram a oportunidade de

visualizar a mudança entre os polígonos da base, à medida que aumentavam, um a um,

variando de 3 a 100 lados. Nessa situação, demonstra-se as potencialidades do uso da

tecnologia na exploração dos conteúdos geométricos e verifica-se que os professores, por

meio do domínio do conhecimento tecnológico, estabeleceram relações com o conhecimento

do conteúdo e tais relações integram os componentes do TPACK.

Embora um dos participantes nunca tivesse tido contato com o software, durante

as sessões formativas com a ferramenta, verificou-se a facilidade na qual os professores

manuseavam o mesmo. Ao se trabalhar o conteúdo de pirâmides no GeoGegra, além da

habilidade em executar os comandos para a construção dos sólidos, os professores

conseguiram perceber modificações entre o tutorial que tinham recebido e os comandos que

executavam no software, durante a construção da altura de uma pirâmide.

No tutorial, a altura da pirâmide deveria ser obtida pelo comando: Segmento (E,

G). Na formação, ao executar o comando, não foi possível visualizar a altura da pirâmide. De

imediato, Delta exclama: “a base da minha pirâmide tem 7 lados e o vértice J, então vou

colocar (J, H)”. Ao realizar esse procedimento, a altura da pirâmide foi obtida. A

pesquisadora pondera qual seria a razão de ter colocado os pontos (E, G) no tutorial e Sigma

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sugere: “Não é porque você tinha feito só com 4 lados?”. A figura 20 apresenta a imagem

duas pirâmides, com bases e vértices diferentes.

Figura 20 – Pirâmides de bases regulares

Fonte: Acervo da autora (print das telas dos smartphones dos participantes, Encontro 8, 2019)

A situação apresentada no parágrafo anterior pode ser observada nas imagens da

figura 20. A pirâmide da esquerda possui base quadrangular e o segmento da altura é definido

pelos pontos (E, G); a pirâmide da direita apresenta base heptagonal e segmento da altura

definido pelos pontos (H, I). Os professores perceberam que os pontos dos extremos do

segmento da altura eram modificados na proporção que era modificado o número de lados de

sua base. Isso demonstra que os professores conseguiam compreender a mudança entre os

comandos requeridos pelo software e os conhecimentos pertinentes ao conteúdo de ensino

(elementos que compõem os sólidos geométricos), manifestando-se claramente o

conhecimento tecnológico do conteúdo.

A exploração do conteúdo de pirâmides teve continuidade, explorando-se os

elementos da pirâmide como: apótema da base e apótema lateral. As construções realizadas

no software são apresentadas na figura 21.

Figura 21 – Elementos da Pirâmide: apótema da base, apótema lateral e altura

Fonte: Acervo da autora (print da tela do smartphone do professor Sigma, Encontro 8, 2019).

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A figura 21 apresenta duas imagens: à esquerda da figura, tem-se uma pirâmide

em seu formato tridimensional e à direita, a pirâmide planificada na qual se visualizam os

elementos: altura, apótema da base e apótema lateral, realçados no triângulo retângulo da

imagem.

Na construção dos apótemas, nos dispositivos, usou-se o comando: ponto médio.

Delta observou que o “software pode ser usado para trabalhar geometria analítica, para

calcular distância entre dois pontos.” e Sigma complementa afirmando que “dá para trabalhar

ponto médio também.”. O entendimento das diferentes possibilidades de como a tecnologia

pode ser aproveitada, associando-as a diferentes conteúdos, de acordo com as mudanças no

contexto e nos propósitos, é uma parte importante do domínio do TPACK. No caso descrito,

percebeu-se esse entendimento nas afirmativas dos professores. (KOEHLER; MISHRA,

2009). Nesse momento, Sigma destacou que:

O conteúdo de pirâmides é o que eles [alunos] têm mais dificuldades de visualizar.

A altura da pirâmide, por exemplo. Eles têm dificuldades de visualizar o apótema

lateral, eles usam como altura da pirâmide. [...] sem contar que eles não conseguem

reproduzir, no caderno deles. Tipo, eu ia desenhar a pirâmide, aí eles: - Professor eu

não sei desenhar isso não, eu posso não desenhar? Se a gente consegue mostrar isso

aqui, acho que já ajuda um pouco. (SIGMA, Encontro 7, 2019).

A manifestação de Sigma sobre as dificuldades dos alunos, nesse momento, indica

indícios de domínio do conhecimento do conteúdo, um dos componentes do TPACK, pois o

professor consegue entender quais os tópicos dos conteúdos da disciplina que ministra são

mais simples de serem ensinados e de serem aprendidos, enquanto outros são mais

complexos. O docente percebe quais tópicos exigem do aluno maior nível de abstração e

compreensão e, ainda, quais ações podem ser tomadas para auxiliar na aprendizagem desse

educando. (LOBO DA COSTA; PRADO, 2013). Após a conclusão das construções, os

docentes fizeram algumas colocações:

Vai ser uma aula bem mais lúdica com esse aplicativo. Agora aqui dá pra gente

evitar que eles se dispersem. A gente vai ter esse aliado. (DELTA, Encontro 7,

2019).

E se o aluno não tiver o celular, dá para trabalhar em dupla, eu digo o que eu quero

que eles façam e depois eu passo conferindo, se eles fizeram mesmo. (ÔMEGA,

Encontro 7, 2019).

Pode passar atividades para eles fazerem em casa, com o tutorial, aí eles fazem,

tiram o print e monstra pra gente. (SIGMA, Encontro 7, 2019).

Nesse momento, a pesquisadora se posicionou, reforçando a necessidade do

ensino ir além da ludicidade, bem como a importância do uso do software ser direcionado

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para a ampliação e construção de conhecimentos, para que os alunos tenham melhor

compreensão dos conteúdos de Geometria Espacial e, consequentemente, melhoria na

aprendizagem. Nessa perspectiva, Carneiro (2013, p. 81) alerta que o uso desse “recurso

requer cuidado para não ser banalizado e visto apenas como um instrumento para animação de

imagens, esquecendo seu principal propósito, que é a promoção da aprendizagem”.

Os docentes pesquisados sinalizaram que o uso dos recursos tecnológicos foi

relevante para a exploração dos conteúdos geométricos, aludindo-o como um recurso

significativo. Além disso, destacaram como positiva a facilidade que a ferramenta

proporciona para construção e visualização dos sólidos espaciais, mencionando que com “esse

suporte” foi possível explorar elementos não identificados nos desenhos dos livros didáticos,

assim como nos desenhos expostos na lousa, pelo professor. Esse dado é validado por

Fainguelernt e Nunes (2012) ao afirmarem que o uso de softwares de geometria dinâmica

contribui para a agilidade das construções geométricas, para a visualização do objeto sob

diferentes perspectivas e para a possibilidade de interação com os elementos construídos,

facilitando a compreensão dos conteúdos trabalhados.

Ao término das sessões formativas com os recursos tecnológicos, os professores

passaram a discutir diferentes estratégias de utilização da tecnologia e do conteúdo para

levarem para suas salas de aulas:

Você dá só uma ideia disso aqui [construção da pirâmide]. Você faz uma com a base

quadrangular e pede que eles façam com outra base. Por exemplo: para o conteúdo

de pirâmide, você dá esse passo-a-passo aqui para eles construírem com bases

diferentes, em grupo de 4 pessoas. Um faz com uma base quadrangular, outro faz

com uma base pentagonal, hexagonal e assim por diante... E depois cada um

apresenta a sua. (ÔMEGA, Encontro 7, 2019).

Um de nós poderia trabalhar os poliedros e outro, as pirâmides. (DELTA, Encontro

7, 2019).

Aí podia ser uma nota de exercícios para melhorar a nota da prova parcial do 4ºo

bimestre ou ela poderia ser depois da prova bimestral, como uma atividade

complementar, para a turma. Ou ainda, poderia ser uma atividade de revisão antes da

prova bimestral. (SIGMA, Encontro 7, 2019).

Nesse momento da discussão, a pesquisadora esclareceu que o planejamento da

aula e o momento da realização da prática ficariam a cargo dos professores Delta e Sigma,

que deveriam escolher um dos tópicos de Geometria Espacial trabalhados nas sessões

formativas e que não haveria interferência da pesquisadora. Ponderou que a prática seria um

componente para sondar a viabilidade e o uso dos recursos tecnológicos em sala de aula, a

aproximação dos professores com as ferramentas e o planejamento executado. Todos esses

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elementos, se trabalhados/explorados em conjunto, contribuem para a interseção do TPACK.

Quanto à utilização dos recursos tecnológicos na sala de aula, Gomes (2007)

argumenta que, para se trabalhar com tecnologia, o professor deve fazer um planejamento

minucioso da atividade, visando contemplar não somente a abordagem intuitiva mas também

a dimensão lógico-dedutiva dos conteúdos explorados, esse aspecto também foi esclarecido

aos professores.

Diante das análises apresentadas, destaca-se, nas sessões formativas com a

tecnologia, a facilidade que os docentes sentiram nas construções dos sólidos com os recursos

tecnológicos, além de explorações que promoveram a visualização, a interação e a dedução de

conhecimentos geométricos. Percebeu-se “o despertar da vontade” dos professores para

inserirem os recursos trabalhados na formação, em suas práticas educativas.

As sessões formativas com a tecnologia, auxiliadas pelo uso do software

GeoGebra, caracterizaram-se em um momento de discussão e reflexão sobre a prática

pedagógica, garantindo aos professores o domínio tecnológico para uso do software e a

exploração de conteúdos geométricos – poliedros, prismas e pirâmides, para explorarem em

suas atividades escolares. A seguir, explana-se as análises sobre indícios do conhecimento

tecnológico e sua convergência com os componentes do TPACK, visualizados na aula prática

dos professores Delta e Sigma.

6.4.3 O conhecimento tecnológico e a convergência ao TPACK na aula prática dos

professores

Essa seção almeja analisar evidências do domínio do conhecimento tecnológico,

bem como a sua interseção com o conhecimento pedagógico e de conteúdo na prática dos

professores Delta e Sigma quando utilizaram os dispositivos móveis, com o software

GeoGebra, para trabalhar conteúdos de Geometria Espacial junto a seus alunos. Esse

momento aconteceu após a conclusão dos encontros formativos com a pesquisadora.

Esta etapa foi projetada para ser executada no mesmo período que os professores

estivessem ministrando os conteúdos de Geometria Espacial, concomitante ao plano de curso

da escola. Devido a algumas adversidades (adaptação da proposta de formação ao calendário

escolar e a disponibilidade dos professores, feriados, dentre outros) que fugiram ao controle

da pesquisadora, não foi possível desenvolvê-la na mesma etapa em que os conteúdos eram

abordados em sala de aula. Diante da situação explicitada, o período de aplicação da prática

só foi possível após o encerramento dos assuntos de Geometria Espacial, após a finalização do

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processo avaliativo dos conteúdos abordados no bimestre. Esse fato foi citado, na avaliação

dos professores pesquisados, como um ponto negativo, trazendo interferências na

potencialização dos resultados.

Novamente ressalta-se que o professor Ômega não realizou atividade prática em

sala de aula, após a formação com os recursos tecnológicos digitais, em virtude de não

ministrar conteúdos de Geometria Espacial no período em que ocorreu a etapa formativa.

Contudo, destaca-se a intensa participação de Ômega durante as sessões formativas com uso

da tecnologia, tanto na aquisição e no domínio da tecnologia quanto nas reflexões, indicando

sugestões de como introduzir o software na sala de aula e diferentes maneiras de se explorar a

tecnologia atrelada aos conteúdos geométricos, junto aos alunos. Isso demonstrou evidências

do TPACK na formação do professor para atuar em atividades futuras, quando estiver

trabalhando com tais conteúdos.

Os professores Delta e Sigma foram orientados a prepararem uma aula para

aplicarem em uma de suas turmas regulares, em que fossem abordados conteúdos de

Geometria Espacial, utilizando o software GeoGebra através dos dispositivos móveis dos

professores e alunos. As turmas tinham em média 40 alunos matriculados, mas durante o

trabalho com os recursos tecnológicos só havia cerca de 50% de cada turma presente. O

tempo de duração foi de 100 minutos, contabilizado por dois períodos consecutivos de 50

minutos cada, alternados por um intervalo de 20 minutos, em conformidade com o horário

regular das aulas.

Alguns procedimentos foram semelhantes na prática de Delta e Sigma, desse

modo, são apresentados em concomitância. As particularidades serão individualizadas e

apresentadas separadamente, mostrando a prática de cada um dos docentes mencionados, com

as análises pertinentes a esses momentos.

Os dois professores solicitaram que os alunos fizessem o download do GeoGebra,

em seus celulares, em dias anteriores à aplicação prática. Esse procedimento teve o objetivo

de ampliar, ao máximo, o tempo da aula com o manuseio do software. Antes de iniciar a

prática, Delta e Sigma indagaram aos alunos quem iria usar o seu dispositivo móvel

(smartphone, iphones) para terem noção da quantidade de celulares disponíveis na sala. Após

a sondagem, orientaram que os alunos se reunissem em grupos, com uma média 3 alunos,

cada grupo. Com o auxílio do projetor, Delta e Sigma explicaram para os alunos o layout do

GeoGebra e as ferramentas básicas que seriam utilizadas durante a realização da atividade

(apêndice D). Além dos recursos apontados (smartphones, datashow, GeoGebra,

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computador), usaram o aplicativo ApowerMirror para espelhar no datashow as imagens

construídas na tela dos celulares.

A prática de Delta ocorreu no dia 28/11/19, no turno manhã. Delta deu início à

aula informando aos alunos que iria construir prismas, contudo, não informou os objetivos da

aula. Indagou aos alunos se eles lembravam o que era um prisma. Diante do silêncio dos

estudantes, Delta (Aula prática, 2019) expressou a seguinte definição: “é um sólido

tridimensional, ele tem base inferior e base superior [...] iguais: base triangular, base

quadrangular e por aí vai...”. Embora os objetivos da aula não tenham sido explanados, neste

momento, a pesquisadora deduziu que o professor pretendia verificar os conhecimentos

prévios dos estudantes a respeito da temática que seria abordada, visto que o conteúdo de

prismas tinha sido explorado no bimestre anterior.

Destaca-se aqui a proposição de Gomes (2007) no tocante ao uso dos recursos

tecnológicos para a visualização das figuras geométricas e suas propriedades. Ao propor

atividades que utilizam esses recursos, os professores devem estabelecer objetivos claros e

devem promover reflexões e articulações necessárias para a formulação dos conceitos. Do

contrário, podem ser caracterizadas pelo abuso da experimentação sem estabelecer relações

com os conhecimentos geométricos.

Na sequência, Delta iniciou as construções em seu smartphone, seguindo o roteiro

do tutorial (apêndice H), repassando os comandos para os alunos de forma verbal e estes iam

seguindo as orientações do professor. Ao mesmo tempo em que os comandos eram realizados

no dispositivo de Delta, a imagem ia sendo projetada na lousa e os alunos acompanhavam as

construções e as executavam em seus dispositivos. À medida que os comandos eram

realizados, os alunos iam fazendo comparações entre as suas construções e a construção do

professor.

Percebeu-se que os alunos apresentavam dificuldades em entender e executar o

passo-a-passo repassado pelo professor, embora, ao final da aula, todos os grupos tenham

construído os sólidos geométricos. Nesse sentido, verifica-se que a disponibilização do

tutorial para os alunos configura-se como um importante aliado para trabalhar as construções

geométricas com o software, minimizando as dificuldades dos alunos em executar os

comandos requeridos pela ferramenta.

Na proporção em que os alunos iam finalizando suas construções e iam

visualizando o prisma na tela de seus celulares, estes ficaram muito entusiasmados e

exclamavam: “ai que legal!”, “que viagem, louco!”, “legal!”, seguidos de minutos de euforia.

Após essa etapa, Delta destacou, no prisma espelhado na lousa, elementos como: vértices,

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arestas e bases, deu ênfase à visualização dos sólidos que se apresentavam no formato

bidimensional (planificação) e tridimensional (sólido espacial). Além dessas características,

outros apontamentos foram destacados pelo professor “à medida que você movimenta o

sólido as arestas que estão indo para trás do sólido, elas vão ficando tracejadas”, enquanto na

lousa não é possível fazer essas modificações. Ao finalizar a aula, Delta perguntou aos alunos

“essa ferramenta aqui, ajuda ou dificulta?”, os alunos responderam positivamente à indagação

do professor e o mesmo destacou que a familiarização com o software “é uma questão de

prática”, que as construções feitas na lousa ou no caderno não permitem a mesma visualização

que se tem com o apoio da ferramenta. Enfatizou que o uso do software ajuda tanto o

professor quanto os alunos “a ter uma aula mais lúdica, mais interativa e sai um pouco do

caderno, da lousa.”.

Diante das colocações de Delta para os alunos, percebe-se que o professor usou a

ferramenta com a finalidade de trabalhar a visualização das figuras espaciais e a ludicidade da

aula, sem aproveitar outras potencialidades que poderiam ser exploradas com o uso do

software. Recorre-se às ponderações de Fainguelernt e Nunes (2012, p. 23) quando discorrem

sobre a utilização das tecnologias para o ensino de conteúdos específicos. As pesquisadoras

ponderam sobre a necessidade dos professores promoverem metodologias que venham a

“desenvolver habilidades de reflexão, levantamento de conjecturas, argumentação, levando o

aluno a participar, de fato, de seu processo de aprendizagem”, destacando ainda que o uso da

tecnologia “por si só” não garante a efetividade no processo de ensino e de aprendizagem.

Quanto aos indícios do TPACK e seus componentes na prática de Delta,

percebeu-se que o professor demonstrou domínio do conhecimento da tecnologia no manuseio

do software perante os alunos, porém, destaca-se a necessidade de maior mobilização e

integração entre prática pedagógica, conteúdo e tecnologia para a construção do

conhecimento dos alunos. Para tanto, é importante que os alunos sejam inseridos numa

dinâmica mais ativa com a tecnologia, na exploração dos conteúdos geométricos culminando

na construção da própria aprendizagem.

A prática de Sigma ocorreu no dia 29/11/19, no turno tarde. Antes de iniciar a

atividade com os alunos, Sigma verificou quais deles já haviam instalado o programa no

celular e quais faltavam instalar. Dois alunos não tinham feito a instalação do software e o

professor fez o compartilhamento do programa de seu celular para o de seus alunos, por meio

do aplicativo de compartilhamento MyAppSharer. Diante da iniciativa do professor, percebeu-

se que Sigma teve o domínio do conhecimento tecnológico e pedagógico, pois foi capaz de

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solucionar a necessidade de seus alunos, em adquirir o software, minutos antes do início da

atividade.

Sigma distribuiu para os alunos a cópia do tutorial (apêndice I) com os comandos

básicos para a construção de pirâmides e expôs o objetivo que deveriam alcançar: cada grupo

deveria construir uma pirâmide no formato bidimensional (planificação) e tridimensional

(sólido espacial), identificando nas construções os seguintes elementos: segmento da altura da

pirâmide, segmento do apótema lateral e segmento do apótema da base e a quantidade de

lados da base da pirâmide (pirâmide de base quadrangular, hexagonal e demais bases). Ao

finalizar as construções, os alunos deveriam apresentar as pirâmides construídas para os

demais colegas, usando o projetor e demonstrando os elementos explorados.

A definição dos objetivos na elaboração e na execução da atividade é

fundamental, pois, “no momento em que o educador resolve utilizar um software em sua

prática docente, alude a uma série de análises e procedimentos, favorecendo, assim, que seus

objetivos estejam estabelecidos na atividade e que apresentem benefícios para o aprendizado

da classe.” (CARNEIRO, 2013, p. 81). Ao expor os objetivos da atividade para os alunos,

Sigma deixou claro quais procedimentos e análises os estudantes deveriam atingir nas suas

construções com os recursos digitais.

Percebeu-se que alguns grupos realizaram a tarefa com muita agilidade. Contudo,

houve alunos que apresentaram pequenas dificuldades em entender o passo-a-passo e executar

a tarefa proposta pelo professor, mas Sigma buscou atender a todos os grupos que solicitaram

seu apoio, circulando pela sala, contribuindo para que os alunos atingissem os objetivos

traçados. Esse movimento foi realizado no primeiro tempo da aula, no caso, os 50 minutos

que antecederam ao intervalo escolar.

O segundo tempo da aula foi o momento dos alunos apresentarem suas

construções. Os grupos compartilharam a atividade para o celular do professor, via bluetooth

ou whatsapp, para que pudesse ser projetada e visualizada por todos, esse procedimento foi

realizado sem dificuldades. Cada grupo escolheu dois alunos para fazer a apresentação da sua

construção. Mais uma vez atribui-se ao professor o domínio do TPACK, visto que Sigma

promoveu estratégias de utilização do software em atividades educativas, encontrando

possibilidades de inserir promover a integração do T`PACK em sua ação docente.

As apresentações das construções feitas pelos alunos ocorreram no segundo tempo

de aula. A primeira equipe a se apresentar passou a descrever como realizou a construção da

pirâmide no programa e Sigma fez algumas intervenções:

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Quais são as características dessa pirâmide? Essa pirâmide é uma pirâmide [...]

Quantos lados tem essa base dessa pirâmide? [...] Se a base tem 6 lados, então essa

pirâmide é [...] Se eu perguntar a vocês qual é o nome do segmento que vocês

fizeram que fica na lateral dos triângulos da pirâmide, é qual? [...] Qual é o

segmento que representa a altura? [...]. (SIGMA, Aula prática, 2019).

A intervenção de Sigma, durante a apresentação da atividade pelos alunos, revela

a importância do professor estar atento ao desenvolvimento da atividade pelos estudantes e o

conhecimento que estes adquiriram com a tarefa proposta. Nesse sentido, destaca-se a

necessidade do professor propor atividades que estimulem o aluno a investigar sobre o

assunto que está sendo abordado e dele tirar suas próprias conclusões. (CARNEIRO, 2013).

A ação realizada por Sigma, durante a apresentação dos alunos, foi interpretada

como um procedimento que demonstrou domínio do TPACK pelo professor, na mediação

entre a tecnologia, o conteúdo e a aprendizagem dos alunos. Esse tipo de interferência é

relevante, pois os alunos são desafiados a serem protagonistas do próprio conhecimento.

Os questionamentos de Sigma instigaram os alunos a explorarem a pirâmide

construída para apresentar respostas às indagações. Diante das perguntas do professor à

equipe que se apresentava, os demais grupos voltaram a explorar as construções em seus

dispositivos, na tentativa de localizar, em suas pirâmides, os elementos que foram indagados à

primeira equipe.

As demais equipes, ao se apresentarem, já iam demonstrando e relacionando os

conceitos aos elementos construídos nas pirâmides. Três grupos construíram pirâmides de

bases quadrangulares, um grupo construiu uma pirâmide de base hexagonal e outro grupo

construiu pirâmide de base triangular. Todos os alunos conseguiram identificar e demonstrar

os elementos nas pirâmides (altura, apótema lateral, apótema da base) solicitados pelo

professor. Nesse momento, destaca-se que os alunos também demonstraram apropriação do

conhecimento tecnológico e estabeleceram relações com o conteúdo estudado.

Todas as construções apresentadas tiveram características bem parecidas: a base, o

mesmo número de lados, a altura, os vértices e as arestas eram bem semelhantes. Infere-se

que a justificativa para tal semelhança residiria no fato dessas construções terem sido

realizadas seguindo o tutorial, fornecido pelo professor, e os alunos não modificarem a

quantidade de lados do polígono da base da pirâmide.

A atividade prática realizada por Delta e Sigma, com os recursos tecnológicos,

aconteceu em datas e turnos diferentes e não houve troca de comunicação entre eles, após a

execução dessa atividade. Supõe-se que a comunicação entre os professores poderia contribuir

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146

para melhorar as estratégias de apresentação e exploração da ferramenta em benefício da

aprendizagem dos educandos.

Ressalta-se que os professores Delta e Sigma não conseguiram articular o TPACK

em todas as etapas de suas práticas. Mas, numa visão geral, é possível afirmar que eles

apresentaram o domínio de conhecimentos que se inter-relacionam com o TPACK. Houve

momentos em que os professores demonstraram domínio do conhecimento tecnológico e do

conteúdo, e, em outros, domínio do conhecimento tecnológico e pedagógico. Um desses

momentos pode ser percebido quando os professores planejaram a atividade prática a ser

trabalhada com os alunos, associando a tecnologia ao ensino e aprendizagem dos conteúdos

de Geometria Espacial.

Diante das análises apresentadas, compreende-se que a sobreposição do

conhecimento tecnológico aos demais componentes do TPACK não acontece da noite para o

dia, demanda tempo para ser incorporada à prática dos professores. Lobo da Costa e Prado

(2015, p. 104) esclarece que a apropriação da tecnologia acontece de forma gradativa e

depende da disponibilidade do professor “a aprender e a reconstruir os seus conhecimentos

para o uso da tecnologia na sua prática”. Ademais, a carga horária empregada na realização da

etapa formativa desta pesquisa foi bastante limitada, tornando-se insuficiente para que eles se

apropriassem com propriedade desse conhecimento definido como TPACK.

A seguir, explana-se as análises das sessões reflexivas quanto às concepções dos

professores Delta, Sigma e Ômega sobre os conhecimentos: tecnológico, pedagógico e de

conteúdo e sua convergência com os componentes do TPACK, e os indícios desses

conhecimentos na formação dos professores.

6.4.4 Concepções dos professores pesquisados sobre os conhecimentos: tecnológico,

pedagógico e de conteúdo e a convergência ao TPACK, após a formação dos

professores de Matemática

Após as sessões formativas, procurou-se conhecer a concepção dos professores

sobre as contribuições da etapa formativa e os indícios de apropriação dos conhecimentos

tecnológico, pedagógico e de conteúdo dos professores e a convergência ao TPACK para a

ampliação de habilidades inerentes à prática profissional dos docentes. Nessa perspectiva,

para o desenvolvimento desse tópico, levou-se em consideração as discussões obtidas nas

sessões reflexivas nas quais os professores expressaram seus pensamentos e sentimentos

sobre o processo formativo que vivenciaram.

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147

Para melhor compreensão e visualização do processo, as ponderações foram

organizadas em três momentos distintos: reflexão sobre as sessões formativas que foram

direcionadas pelos estudos de teóricos (Shulman, 2014) e referencial teórico do capítulo 3;

pela apresentação e exploração do software GeoGebra, abordando tópicos de Geometria

Espacial entre pesquisadora e professores pesquisados; percepções sobre a atividade prática

realizada pelos professores Delta e Sigma com os alunos; avaliação sobre o processo

formativo e o uso do aplicativo em sala de aula.

As sessões reflexivas foram realizadas entre a pesquisadora e os professores

Sigma (20/12/2019), Delta (10/01/2020) e Ômega (10/01/2020), em encontros individuais

com duração média de 30 minutos, com cada um deles. Sugeriu-se que os professores

relatassem como as impressões e os conhecimentos adquiridos ou não durante os momentos

formativos (textos debatidos nos encontros teóricos, o uso do software GeoGebra e a relação

destes textos e recursos com o conteúdo do ensino) contribuíram para suas formações

profissionais e suas atuações em sala de aula.

[...] os textos dos pensadores37

que se envolvem neste tipo de pesquisa serviu

particularmente para mim porque você vê que tem base àquilo que você está

querendo fazer, que tem gente que também se interessa por melhorar a educação, o

ensino, que também tem essa visão de que o ensino tradicional já não é mais tão

viável hoje em dia, que também tem que se atualizar, se modificar o modo de

ensinar hoje em dia [...]. Instiga a gente a querer buscar mais, porque eu adorei estar

aqui [nessa formação]. (DELTA, Sessão Reflexiva, 2019).

[...] a gente teve oportunidade de debater, a partir de vivências do dia a dia, aquilo

que o teórico, que na verdade foram dois [...] trazia da sua visão da educação. E a

gente percebia que era bem semelhante à nossa realidade, às nossas angústias que a

gente tinha em sala de aula. Aquele momento foi bacana e formações teóricas como

aquela a gente não tem. Às vezes, a gente que é da área de exatas, muitos

[professores da área] têm um certo receio né, em ler alguns teóricos, porque muitos

têm uma visão bem fechada, de que acha que não vai aprender nada com ninguém. E

a gente acaba vendo que essa oportunidade que a gente tem, através dessa formação,

mesmo que curta, é ter a sensação que mais pessoas estão pensando na educação e

que pode nos ajudar, a partir daquilo que é pesquisado aliar à vivência [de sala de

aula]. (ÔMEGA, Sessão Reflexiva, 2019).

Os tipos de conhecimentos, o conhecimento pedagógico, o conhecimento da

ferramenta, o conhecimento do conteúdo, toda essa discussão que a gente teve que é

algo que eu nunca tinha tido durante a graduação foi enriquecedor. (SIGMA, Sessão

Reflexiva, 2019).

Os professores foram unânimes em apontar, em seus depoimentos, que as sessões

formativas e os estudos teóricos de artigos de pesquisadores (SHULMAN, 2014; KOEHLER;

MISHRA, 2009) foi uma oportunidade de conhecer aprofundar o estudo de teorias

37

Delta se referia aos textos de Koehler e Mishra (2009), Shulman (2014) e os autores referenciados no capítulo

3, desta dissertação.

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educacionais, não vivenciadas em sua formação inicial. Para os docentes, tais estudos se

configuram em momentos de aprendizagem e contribuíram para amparar suas práticas, além

de subsidiarem a tríade ensino-conteúdo-tecnologia.

Nessa perspectiva, Shulman (2014, p. 200) confirma que a “base do conhecimento

para o ensino” engloba um conjunto de “conhecimento, habilidades, compreensão,

tecnologias, ética e disposições” necessários para a prática efetiva dos professores em

contextos específicos de ensino e aprendizagem, como alternativa para minimizar os

obstáculos vivenciados por estes, em suas salas de aula. A reflexão desenvolvida pelos

professores sobre o domínio dos conhecimentos: tecnológicos, pedagógicos e do conteúdo,

bem como o destaque registrado sobre os “conhecimentos teóricos”, é destacada como um

elemento favorável germinado a partir da prática formativa realizada.

Destaca-se que os professores se mostraram motivados e comprometidos com as

sessões formativas, tanto nos encontros teóricos realizados com as temáticas dos

conhecimentos e do ensino de Geometria, como também nos encontros da prática com uso do

software GeoGebra. Os encontros transcorreram de acordo com a disponibilidade dos

professores, em horários diversos (manhã, tarde, noite), com a participação espontânea de

todos os participantes, em todos os encontros formativos.

A sessão formativa, na qual a pesquisadora e os professores fizeram uso do

GeoGebra, foi mencionada por Delta (Sessão Reflexiva, 2019) como um momento de

expectativa “naquele momento ali, vendo tudo aquilo eu só imaginava aquilo na aula e como

foi naquela aula prática que a gente fez.”. A narrativa de Delta reflete que o professor, ao ter o

domínio do conhecimento tecnológico, passou a elaborar estratégias para trabalhar com

recursos digitais, em sua prática de sala de aula, com seus alunos.

Para Sigma, o uso da tecnologia se caracterizou como um processo bastante

simples. Já Ômega apresenta um pouco de dificuldade em executar alguns comandos

direcionados pelo tutorial no smartphone, mas, com a ajuda da pesquisadora, essa dificuldade

foi sanada. Os professores Sigma e Ômega deram ênfase à maneira como a pesquisadora

conduziu a formação, destacando que a forma como foi conduzida contribuiu para o domínio

do conhecimento tecnológico, estabelecendo relações com o conhecimento do conteúdo de

Geometria Espacial.

Eu conhecia um pouco o software, aí facilita, eu já achava ele bastante intuitivo, mas

a maneira como você fez com a gente eu acho que tornou tudo muito simples,

porque tu já trouxe para a gente os anexos e anexos já tinham o passo-a-passo de

como fazer cada coisa, aí você seguiu com a gente cada coisa para ter certeza que a

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gente ia tá acompanhando e ia tá aprendendo aquele conteúdo. Eu achei o processo

todo simples, de boa. (SIGMA, Sessão Reflexiva, 2019).

Para mim tudo foi novidade, até de início eu apresentei uma certa dificuldade em

manusear, até quando você [...], formadora, nos orientou foi que eu fui

desenvolvendo um pouco mais a habilidade e percebi que era uma ferramenta

extremamente interessante, [...], me ajudou a entender Geometria Espacial, né, a

partir de uma vivência prática propiciada pela formação e pelo software. (ÔMEGA,

Sessão Reflexiva, 2020).

Quanto ao planejamento, as estratégias, e o desenvolvimento da atividade prática

com os alunos, realizada por Delta e Sigma, os professores apresentam suas colocações:

Quando eu coloco o meu aluno para ele utilizar aquela tecnologia para alcançar os

objetivos da minha aula, eu acho que de certa forma eu estou puxando ele para: –

Olha tá vendo toda essa facilidade que você tem com isso? – Vamos usar isso aqui

para atingir esse objetivo. [...] O caminho que o meu aluno vai fazer para chegar

para deter e aprender aquele conteúdo talvez fique um pouco mais agradável.

(SIGMA, Sessão Reflexiva, 2019).

O software foi um aliado, porque os alunos se dispersam facilmente se você ficar só

no livro, se você ficar só quadro eles também vão se dispersar em pouco tempo, mas

já tendo aquele material, eles olhando no celular, fazendo o passo a passo e a gente

acompanhando ali no projetor, nem pareceu que era 50 minutos de aulas. Ficou

muito, muito, muito ativo para todo mundo. Então foi muito bom, muito proveitoso

aquele momento. Então, tanto o aplicativo como as definições do conteúdo e a aula

em si, a parte da pedagogia, do ensino, eles não tiveram vergonha de perguntar e

dizer (a grande maioria) de dizer que tinha conseguido ou não tinha conseguido... de

mostrar um para outro. (DELTA, Sessão Reflexiva, 2020).

Sigma menciona a importância de o professor estabelecer um planejamento prévio

com objetivos claros a serem alcançados pelos alunos. Delta e Sigma, em suas narrativas,

destacam a relação entre o conhecimento tecnológico, conhecimento pedagógico e

conhecimento do conteúdo e o entrelace entre esses conhecimentos na ação desenvolvida com

o software. Esse fato é destacado pela pesquisadora como um elemento positivo, diante da

necessidade dos professores integrarem múltiplos conhecimentos em atividades de ensino e

aprendizagem, não se limitando aos conhecimentos: do conteúdo ou tecnológicos.

Diante das narrativas dos professores Delta e Sigma, salienta-se que o uso da

tecnologia móvel associado às práticas pedagógicas – quando conduzidas por estratégias

selecionadas e bem planejadas pelo professor – contribuem para melhoria do ensino e da

aprendizagem. Além disso, ajudam a minimizar a repetição das rotineiras práticas presentes

nas aulas de Matemática, em que, muitas vezes, os conteúdos são apresentados oralmente, por

meio de definições, demonstrações de propriedades e exemplos, seguidas por uma extensa

lista de exercícios, presumindo-se que o aluno aprende pela reprodução, sem oportunizá-lo a

ser o agente construtor da própria aprendizagem. (OLIVEIRA, 2019).

Ainda durante as sessões reflexivas, buscou-se fazer uma consideração sobre

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positivos e negativos visualizados pelos professores, no processo de ensino em que estes

fizeram uso dos aportes tecnológicos em suas salas de aulas, com os alunos. Delta descreve

que a atividade desenvolvida com os alunos “foi mais uma recapitulação de uma aula vista e

acabou sendo legal, mas eu acho que, se fosse no período normal, apresentar cada definição,

cada característica do sólido, não perderia em nada, a aula seria muito mais aproveitada.”.

(DELTA, Sessão Reflexiva, 2019).

Em pensamento semelhante ao depoimento de Delta, Sigma também se reporta ao

período letivo em que a atividade foi desenvolvida na escola como um ponto negativo, ao

avaliar o uso dos recursos tecnológicos:

“Foi a questão do período onde a gente foi fazer mesmo o estudo, o calendário da

escola não contribuiu tanto, então a gente teve pouca oportunidade de levar [para a

sala de aula], eu gostaria de ter tido várias aulas, de ter levado para os alunos em

outros momentos para ter esse uso e gostaria principalmente de ter conseguido

começar e finalizar todo um conteúdo utilizando isso.” (SIGMA, Sessão Reflexiva,

2020)

Mais uma vez convém destacar que a aula desenvolvida pelos professores, junto

aos alunos, com os recursos tecnológicos, não foi possível ser executada em conformidade

com o planejamento da pesquisadora. O projeto inicial era trabalhar com o software no

mesmo período em que os conteúdos eram ministrados em sala de aula. Contudo, a escola tem

planejamento independente, com atividades prioritárias e o software só foi levado para a sala

de aula quando já estava encerrando o ano letivo e os alunos já se encontravam em clima de

férias. Nesse contexto, Delta descreve a aula como uma “recapitulação” de conteúdos. Os dois

professores comungam da mesma opinião de que se o trabalho com o software fosse realizado

no mesmo momento em que os conteúdos são trabalhados nas aulas regulares, seriam melhor

explorados.

Outros pontos negativos foram destacados pelos professores: a estrutura física das

salas de aulas – o excesso de claridade que adentrava na sala ofuscava as imagens projetadas

no datashow e dificultava a visibilidade dos alunos; havia várias turmas sem aula, no

momento da aplicação da atividade, o que acabou desestimulando os alunos a permanecem

em sala de aula; o clima de férias que se instaurava na escola. Expõe-se aqui que tais fatores

transcendem ao controle da pesquisadora e pesquisados, mas interferem nos resultados da

avaliação da atividade.

Em relação aos pontos positivos, Delta (Sessão Reflexiva, 2020) narra que “o

mais significativo foi a vontade deles [alunos] quererem fazer mais. Eles mostrarem ali de

imediato que eles tinham gostado, que eles se interessaram mesmo, mostraram interesse e

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dentro da própria aula, querer mais.”. Nesse momento também se apresenta o pensamento de

Sigma: “eu acho que foi mais proveitoso e enriquecedor foi de que tu não trouxe para mim só

a capacitação de utilizar a ferramenta, tu trouxe para mim, como eu posso levar essa

ferramenta para a sala de aula, com o meu conteúdo, para os meus alunos.”. (SIGMA, Sessão

Reflexiva, 2019).

O uso das tecnologias deve ser desenvolvido de modo que possa envolver

professores e alunos, através de estratégias pedagógicas que promovam reflexões, descobertas

e aprendizagens durante a abordagem dos conteúdos. A compreensão dos professores sobre o

uso das tecnologias e a forma como elas devem ser integradas aos conteúdos, ao ensino e à

aprendizagem dos alunos demonstrou indícios de que eles se apropriaram dos conceitos do

TPACK.

Para Sigma, a formação com a ferramenta tecnológica lhe trouxe conhecimentos

que antes não tinha, citando alguns exemplos: “como eu posso agora pegar isso [ferramenta] e

fazer isso de uso cotidiano, como eu posso levar isso [ferramenta] para minhas experiências

didáticas de maneira mais pontuais.”. (SIGMA, Sessão Reflexiva, 2019). Sigma acrescenta

que antes de participar desse processo formativo já havido trabalhado com softwares em aulas

de Mecânica e Cinemática para demonstrar processos de colisões e conservação de energia,

contudo, não havia interação entre o software, o conteúdo e os alunos e que eram trabalhadas

somente “coisas pontuais”, sem maior integração aos assuntos abordados.

Para se potencializar o ensino com tecnologia, é necessário que se tenha ciência

de que é preciso criar, manter e restabelecer continuamente um equilíbrio dinâmico entre

todos os componentes – tecnologia, pedagogia e conteúdo. Nesse sentido, Koehler e Mishra

(2009) afirmam que o TPACK é a base do ensino com a tecnologia e requer a compreensão da

representação de conceitos utilizando tecnologias; técnicas pedagógicas para utilizar as

tecnologias e modelo construtivo para ensinar os conteúdos. Enfatiza-se que esse ensino deve

ser guiado por intermédio de práticas que possam envolver professores e alunos, pois, caso

contrário, esses recursos serão considerados ineficientes.

Quanto às potencialidades dos recursos tecnológicos, não significa que estes

possam suprir todas as lacunas já apontadas no campo da Educação Matemática, mas podem

ser importantes aliados para auxiliarem e implementarem o ensino e a aprendizagem. Nesse

contexto, os professores manifestam seus sentimentos em relação ao trabalho com o software,

destacando que a ferramenta contribui para a construção do conhecimento, além da ampliação

da forma de aprender e ensinar.

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Perfeito, aí ele contempla tudo, o que sobra para a gente fazer no quadro é resolver

questões, exemplos, porque a parte de definições, teorias, ele aborda muito bem, é

um ótimo aliado tanto para o professor quanto para o aluno. (DELTA, Sessão

Reflexiva, 2020).

[...] na nossa formação quando a gente ganhava a habilidade [...] de utilizar a

ferramenta, aí tinha aquele momento de discussão onde você [pesquisadora] puxava

[...] qual o aprendizado que o aluno possa ter, pra que serve isso aqui. Ou seja, vai

pedir o aluno para construir uma pirâmide, não é só a ferramenta, o software, a gente

não quer ensinar o aluno a utilizar o software, ele é uma ferramenta necessária para

aprender um conteúdo, um aprendizado. [...] Você sempre deixava isso em evidência

para a gente. Aí foi bem interessante, construtivo [...] (SIGMA, Sessão Reflexiva,

2019).

[...] percebi que era uma ferramenta extremamente interessante, porque a partir dela

o aluno consegue uma vivência que a gente não consegue em nenhum momento, [...]

você consegue trazer para a vivência uma projeção de uma formação de um sólido,

[...] dá uma visão extremamente tridimensional, aquilo que os livros e a gente, por

mais que se esforce numa lousa não consegue passar. [...] a partir de uma ferramenta

como essa a gente percebe que é mais fácil a gente chegar numa linha de

comunicação com o aluno. Ele tá vendo na prática a formação de um sólido e as

suas características e a partir da própria formação do programa, [...] e podendo

manusear, [...] certamente a gente pode extrair mais informações e estreitar a nossa

linha [de comunicação] com o estudante. (ÔMEGA, Sessão Reflexiva, 2020).

Diante dos relatos dos professores, observou-se a avaliação positiva em relação ao

uso da ferramenta, percebendo-se que estavam motivados e entusiasmados com a etapa

formativa que participaram. Os docentes realçaram a possibilidade de inserir as ferramentas

tecnológicas no ensino dos conteúdos geométricos, como possibilidade de ampliar e

diversificar suas práticas de ensino, visando contribuir para alcançar a aprendizagem dos

alunos.

Ao final da etapa formativa, a pesquisadora agradeceu aos professores a

disponibilidade e o compromisso em participarem da pesquisa, além de incentivá-los a se

manterem inseridos nos processos de formação ao longo de sua profissão docente. Ômega

elogiou a formação e sugeriu que a mesma poderia ser estendida a outros professores da

Educação Básica, para ampliar seus conhecimentos tecnológicos de modo que possam utilizá-

los em suas salas de aulas.

[...] a gente como professor peca muito em procurar novos textos, novos elementos

porque a gente acaba se incomodando com o fator tempo. A gente tem a carga

horária extremamente elevada [...] e acaba perdendo a oportunidade de formações

como esta. [...] Se ela fosse ofertada diretamente por meio da Secretaria, oferecida

ao professor, no seu horário de planejamento, o professor teria acesso [a tecnologia].

[...] Muitos deles não a usam porque não tem acesso, por essas limitações que eu

falei anteriormente, seja de tempo [...] e de sua carga horária. Se [...] fosse

apresentada ao grupo de professores e mostrada na prática como é que ela acontece,

o que que ela pode trazer de ganho, certamente, os professores em terem acesso a

esse material, iriam, [...] aplicar em sala de aula e iriam perceber, o grande poder de

um aliado que a gente têm e que as vezes não usa por desconhecer o método.

(ÔMEGA, Sessão Reflexiva, 2020).

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Diante do relato de Ômega, reforça-se que é necessário que os professores

percebam que os processos formativos se estendem ao longo da vida e sintam vontade em

ampliar seus conhecimentos por meio de formações e experiências que estejam atreladas ao

seu campo de atuação. (MIZUKAMI, 2013).

Diante das análises apresentadas, considera-se que as sessões formativas foram

uma oportunidade para que os docentes pudessem conhecer e refletir sobre alguns aspectos

das teorias educacionais, não vivenciadas antes. Os docentes relaram que a formação

continuada foi um momento de aprendizagem para suas formações e contribuíram para

amparar suas práticas, além de subsidiar a tríade ensino-conteúdo-tecnologia. Salienta-se que

o conhecimento tecnológico associado ao conteúdo e às práticas pedagógicas – quando

conduzidas por estratégias selecionadas e bem planejadas – contribuem para melhoria do

ensino e da aprendizagem. A compreensão dos professores sobre o uso das tecnologias e a

forma como elas devem ser integradas aos conteúdos ao ensino e aprendizagem dos alunos

demonstrou indícios de que eles se apropriaram dos conceitos do TPACK.

A seguir apresenta-se as considerações finais com a síntese da trajetória realizada

nesta investigação, as respostas encontradas à questão de pesquisa, as reflexões finais e o

indicativo de indícios de elementos para futuras investigações.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos

não é senão uma gota de água no mar. Mas o

mar seria menor se lhe faltasse uma gota.”.

(MADRE TERESA DE CALCUTÁ).

Para finalizar este trabalho de pesquisa retorna-se a elementos já apresentados,

trazendo-se explicações para aclará-los. A questão de investigação que direcionou esse estudo

buscou responder a seguinte indagação: Como os professores de Matemática do Ensino

Médio constroem e mobilizam o conhecimento do conteúdo, o conhecimento pedagógico e o

conhecimento tecnológico em suas atividades práticas relacionadas ao ensino de Geometria

Espacial?

Diante desse questionamento, as ações desenvolvidas foram direcionadas na

tentativa de analisar indícios do conhecimento de conteúdo, do conhecimento pedagógico de

conteúdo, do conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo na prática dos professores

de Matemática do Ensino Médio, a partir do processo formativo direcionado ao ensino de

Geometria Espacial.

A pesquisa seguiu a abordagem qualitativa com foco investigativo, embasado na

pesquisa-ação. Desse modo, a ação realizada foi uma etapa formativa dando ênfase aos

conhecimentos tecnológicos pedagógicos e de conteúdo, com três professores de Matemática

da Educação Básica em uma escola estadual de Fortaleza–Ce. Teve como foco conteúdos de

poliedros, prismas e pirâmides com o auxílio do software GeoGebra, a partir do uso de

recursos tecnológicos móveis (smartphones, tablets).

No que se refere ao conhecimento de conteúdo da disciplina que os professores

ministram, os professores sinalizaram que os conhecimentos adquiridos na formação

acadêmica, empregados na prática do ensino de Geometria Espacial, foram somente o

conhecimento do conteúdo, destacando-se, entre eles, as demonstrações matemáticas.

Entretanto, os professores reconhecem que o ensino deve ir além da exploração de

simbologias e fórmulas, e ainda há a necessidade do aluno compreender o significado dos

conteúdos matemáticos.

Ao se traçar discussões sobre o ensino do conteúdo de Geometria Espacial, os

professores reconheceram que suas ações docentes ainda são caracterizadas pela valorização

de fórmulas e processos de memorização e, ao mesmo tempo, refletem que o ensino desse

conteúdo deve estar relacionado com a realidade do educando. Assumem ainda algumas

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fragilidades (falta de tempo ou de conhecimento) que interferem no ensino do conhecimento

do conteúdo de Geometria Espacial.

Apesar de um dos docentes mencionar “ausência do conhecimento do conteúdo”

relativo às suas práticas, não foi visualizado essa lacuna na observação das práticas dos

docentes. Dessa forma, não foi possível apontar ausência de domínio do conhecimento do

conteúdo ou dificuldades no Ensino de Geometria Espacial na atuação dos docentes

pesquisados.

As observações relativas às aulas ministradas pelos professores pesquisados

demonstraram que os docentes dedicam demasiada relevância às fórmulas matemáticas, no

processo de ensino, tratando esse método como elemento fundamental para a aprendizagem

dos educandos. Percebeu-se indícios da tendência do ensino ainda caracterizada pela

memorização de fórmulas e resolução de listas de exercícios, embasados na compreensão de

que a aprendizagem de Matemática é adquirida pela repetição e pelo treino constante. Diante

desses dados, enfatiza-se que o ensino dirigido por tais modelos é infrutífero para a

aprendizagem dos educandos, pois não favorece a reflexão, a experimentação e a validação de

resultados dos conhecimentos matemáticos pelos alunos.

Ao se traçar reflexões sobre os conhecimentos adquiridos na formação acadêmica

e suas contribuições para a prática profissional do ensino de Geometria Espacial, os

pesquisados evidenciaram que os conhecimentos empregados em suas ações pedagógicas

foram adquiridos durante a docência na Educação Básica, desenvolvidas junto aos alunos,

assim como na prática colaborativa de seus colegas de trabalho. Esse dado sinaliza

fragilidades na formação dos licenciandos de Matemática, que, na atualidade, ainda carregam

em seu bojo o ensino pautado na abordagem dos conteúdos tradicionais, do treinamento e da

memorização de fórmulas, sem vínculo com o campo de atuação dos docentes. Reforça a

problemática já evidenciada por pesquisadores, ao longo do referencial teórico, que alegam

abismos entre a formação inicial dos licenciandos com a prática profissional na Educação

Básica.

Um dos desafios apontados pelos professores, no ensino do conteúdo mencionado,

é a dificuldade dos alunos em entender a visualização dos objetos espaciais, a compreensão

das características que compõem os conteúdos geométricos e a dedução das fórmulas –

elementos essenciais para a aprendizagem dos conteúdos de Geometria Espacial. Diante

dessas argumentações, ratifica-se que o uso de diferentes recursos didáticos pode contribuir

para minimizar tais obstáculos.

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Em relação ao emprego de materiais didáticos nas práticas dos professores

pesquisados, nas observações da aula inicial por estes ministradas, foi possível observar que,

enquanto um deles usou material concreto para ilustração de conceitos de conteúdos

geométricos, o outro empregou apenas as estratégias convencionais, como a explanação oral e

ilustrações através de desenhos na lousa para apresentação do conteúdo. Para exploração e

aprofundamento dos conteúdos, os docentes utilizaram somente exemplos retirados do livro

didático e indicaram que os alunos resolvessem uma lista de exercícios. Esse fato confirma

apontamentos de estudos publicados na área da Educação Matemática, nos diversos ramos

desse ensino – ausência de diferentes estratégias e recursos didáticos nas práticas docentes –

indicando que os recursos didáticos, quando empregados, muitas vezes, são direcionados

somente para ilustrar uma explicação oral. Desse modo, os alunos não são estimulados a

fazerem explorações e deduções alusivas a esse material, o que pouco contribui para o

desenvolvimento de novos conhecimentos.

Quanto ao domínio dos conhecimentos docentes para o ensino, os pesquisados

reconhecem que é importante que o professor tenha conhecimento do conteúdo da disciplina

que ministra, mas que é preciso encontrar maneiras de representá-lo e aproximá-lo da

vivência do aluno, para que ele possa ter um melhor entendimento do conteúdo abordado.

Esperava-se que os professores pudessem mencionar os conhecimentos destacados nos

estudos teóricos (leituras sugeridas), porém eles se reportaram aos aspectos do conteúdo

específico e do conhecimento pedagógico sem estabelecer nenhuma relação com os textos

disponibilizados na formação. Esse fato transparece que as ações dos professores são dirigidas

pelos conhecimentos adquiridos na prática escolar, com pouca reflexão e fundamentação em

estudos de teorias educacionais.

Diante dessas reflexões, há evidências de que os docentes investigados possuem o

conhecimento pedagógico do conteúdo, com ampla habilidade do domínio do “o que ensinar”

– que inclui a compreensão de tópicos mais relevantes para a aprendizagem dos estudantes.

Entretanto, em relação ao domínio do “como ensinar” – que contempla estratégias que serão

produtivas para o desenvolvimento do conhecimento dos alunos, percebeu-se carências de

metodologias na abordagem dos conteúdos geométricos trabalhados. Ressalta-se a

importância do professor direcionar aos seus alunos atividades exploratórias e investigativas

que demandem procedimentos de observações, mensurações e explorações do pensamento do

educando, para que lhes tragam significados e contribuam para o desenvolvimento da

aprendizagem. Tais atividades não foram visualizadas nas aulas dos professores observados.

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Em relação ao domínio do conhecimento tecnológico na prática dos professores,

antes da etapa formativa, estes afirmaram que não utilizavam o GeoGebra em atividades de

ensino dos conteúdos de Geometria Espacial. Essa informação foi relevante para se confirmar,

naquele momento, a escolha do software e sua exploração nos dispositivos móveis para a

formação dos professores. Desse modo, os dispositivos tecnológicos móveis e o GeoGebra

foram as ferramentas usadas para investigar indícios de conhecimento pedagógico e

tecnológico dos docentes, no ensino de conteúdos do ramo da Geometria, na presente

investigação. Esse dado também evidencia o diagnóstico já apontado em outros estudos

acadêmicos sobre o uso dos recursos tecnológicos como estratégia didática pouco explorada

nas práticas escolares. Nesse sentido, ressalta-se que a tecnologia digital pode contribuir para

diversificar a construção de representações de conteúdos e a forma como estes podem ser

ensinados, possibilitando o desenvolvimento de novas interpretações e explorações dos

conteúdos pelos docentes e discentes.

Quanto à exploração do software GeoGebra com os participantes, percebeu-se

que os docentes não apresentavam dificuldades em manusear o software, tinham facilidade

em explorar os recursos tecnológicos digitais e conseguiam estabelecer conexões entre os

sólidos que eram obtidos em seus dispositivos e os conteúdos geométricos. Nessa ação,

visualiza-se indícios de integração dos conhecimentos: tecnológicos, pedagógicos e de

conteúdo, pois os docentes conseguiram estabelecer relações entre os conteúdos geométricos

e a tecnologia, realizando considerações, formulando hipóteses, conjecturas alusivas a esse

conhecimento, além de discutirem e planejarem estratégias pedagógicas para levarem esses

recursos para suas salas de aulas.

No tocante ao uso dos recursos tecnológicos na aula prática dos professores com

os alunos, percebeu-se que um dos professores usou a ferramenta com a finalidade de

trabalhar a visualização das figuras espaciais e a ludicidade da aula, sem explorar outras

potencialidades que o software oferece, como a abstração, a análise e a dedução de elementos

pertinentes do conteúdo tratado, sinalizando, assim, lacunas no conhecimento tecnológico e

pedagógico. Quanto aos indícios do TPACK na prática desse professor, percebeu-se o

domínio do conhecimento da tecnologia no manuseio do software perante os alunos, porém

destaca-se a necessidade de maior mobilização e integração entre prática pedagógica,

conteúdo e tecnologia, reverberando no desenvolvimento do conhecimento dos alunos.

Destaca-se a necessidade dos alunos estarem inseridos ativamente na tecnologia, com a

exploração dos conteúdos geométricos culminando na construção da própria aprendizagem.

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O segundo professor a explorar o software com os alunos direcionou o trabalho de

exploração para os alunos. Este distribuiu o tutorial com os comandos básicos da ferramenta

que seriam usados nas construções, expôs os objetivos que os alunos deveriam alcançar,

estabelecendo procedimentos e análises que deveriam ser realizadas nas suas construções,

com os recursos digitais. Diante desses procedimentos, infere-se que o planejamento e o

desenvolvimento dessa aula colaboraram para que os alunos utilizassem a tecnologia na

exploração de conteúdos de Geometria Espacial, explorando elementos e conceitos dos

conteúdos geométricos. Mesmo com os poucos elementos observados, em uma única aula,

percebeu-se indícios de apropriação do TPACK tanto do professor quanto dos alunos.

Ademais, infere-se que a atividade realizada contribuiu para melhorar a compreensão dos

alunos acerca dos assuntos já estudados, colaborando com a ampliação da aprendizagem.

Apesar da atividade prática realizada pelos professores, com os recursos

tecnológicos, não apontar grandes avanços, percebe-se a interseção dos conhecimentos

tecnológicos, pedagógicos e de conteúdo desde o momento que antecedeu à prática, quando

os docentes realizaram o planejamento da aula a ser explorada com os alunos, até a sua

execução. Estes fizeram uso dos recursos digitais e ao mesmo tempo realizaram explorações

de tópicos dos conteúdos de Geometria Espacial, direcionando-os ao ensino e a

aprendizagem, podendo-se inferir que houve a integração do TPACK.

Salienta-se a brevidade em que ocorreu a etapa formativa com os docentes, como

tempo incipiente para a completa familiaridade dos professores com o software. A

apropriação e domínio do TPACK acontece lentamente, demanda tempo e recidiva das

experiências práticas, visto que há conhecimentos que são adquiridos pela vivência dos

professores ao longo do seu percurso acadêmico e profissional. Estima-se que a recorrência

do trabalho com os recursos tecnológicos os levará a maior apropriação do domínio do

TPACK.

As sessões reflexivas se caracterizaram como momentos de ponderações dos

professores sobre toda a etapa formativa em que foram partícipes. Os docentes relataram que

as sessões formativas teóricas foram importantes para o conhecimento das teorias

educacionais não vivenciadas antes, em suas formações. Explanaram que as sessões

formativas com uso das ferramentas tecnológicas proporcionaram conhecimentos que antes

não possuíam. Declararam que a formação continuada se caracterizou por momentos de

aprendizagem para suas formações, contribuindo para amparar suas práticas, além de

subsidiar a tríade ensino-conteúdo-tecnologia. Diante dessas argumentações, a etapa

formativa desenvolvida nesta investigação aponta indícios de apropriação dos conhecimentos:

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tecnológico, pedagógico e de conteúdo e suas convergências ao TPACK, concorrendo para

ampliação de habilidades inerentes à prática profissional dos professores.

Diante das considerações apresentadas, ressalta-se que o uso das tecnologias deve

ser desenvolvido de modo que possa envolver professores e alunos, através de estratégias

pedagógicas que promovam reflexões, descobertas e aprendizagens durante a abordagem dos

conteúdos. Salienta-se que o domínio do TPACK ainda representa um grande desafio a ser

alcançado no campo de formação de professores, pois requer o envolvimento de todos os seus

componentes. Contudo, reafirma-se que a aquisição dos conhecimentos docentes é um

processo contínuo, ao longo da profissão, contribuindo para a ampliação, modificação e

aperfeiçoamento das práticas educativas.

Após a apresentação das considerações referentes aos objetivos específicos desta

investigação, percebeu-se a relevância em mostrar outros elementos que emergiram nas

análises dos dados obtidos no lócus da pesquisa, que são alusivos aos objetos deste estudo. No

que concerne à formação continuada dos professores pesquisados, com exceção de um dos

participantes, os demais docentes pouco vivenciaram essa experiência. Apesar de estes

reconhecerem a importância da formação continuada para a prática educativa, participaram

uma única vez de processos formativos durante todo percurso profissional. Um dos

empecilhos apontados é a falta de tempo para conciliar a vida profissional com à formação

continuada.

Diante dos dados mencionados, reafirma-se a problemática já discutida em

estudos anteriores, no que se refere aos obstáculos que permeiam a formação continuada dos

professores. A carência de formação continuada na prática profissional dos professores de

Matemática pode estar prejudicando o desenvolvimento de competências e habilidades

inerentes ao domínio do conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo.

Fica evidente a necessidade de o professor estar inserido em programas

formativos para ampliar os conhecimentos adquiridos na formação inicial. Destaca-se

novamente a primordialidade dos sistemas de ensino investirem em processos de formações

continuadas no próprio local de trabalho, firmadas por meio de parcerias com IES e grupos de

pesquisas, desenvolvidas dentro da jornada de trabalho, nos horários reservados ao

planejamento e aos estudos com a finalidade de minimizar as dificuldades apontadas pelos

professores.

Quanto às potencialidades dos recursos tecnológicos, não significa que estes

possam suprir todas as lacunas já apontadas no campo da Educação Matemática, mas sinaliza

que são notáveis aliados para auxiliar e implementar o ensino e a aprendizagem. No que

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concerne aos dispositivos móveis (smartphones), percebeu-se que estes se constituíram como

uma importante ferramenta, com utilização viável tanto para o ensino quanto para o

pesquisador. Além do emprego com o software, os registros em áudio realizados no lócus da

pesquisa foram feitos com esse dispositivo, como também as gravações materializadas nas

sessões formativas com o GeoGebra, possibilitando gravações de áudio e vídeo que captaram

as construções que eram efetuadas nas telas dos dispositivos móveis dos participantes,

constituindo-se elementos de análise.

No que se refere aos conhecimentos aplicados, ampliados e desenvolvidos no

decorrer do processo formativo, considera-se que os professores perceberam a importância do

aperfeiçoamento contínuo de suas práticas pedagógicas como possibilidade de melhoria dos

processos de ensino, de modo a construir práticas mais sólidas que favoreçam o processo de

ensino dos conteúdos de Matemática, além de outros tópicos da Geometria Espacial.

Acredita-se que as reflexões traçadas nesses encontros tenham contribuído para “o repensar”

das práticas de ensino desse conteúdo.

No caso desta investigação, tem-se a clareza de que todo esse processo nasceu de

dificuldades que emergiram da prática da pesquisadora, em seu percurso profissional,

despontando o desejo em ampliar o domínio do TPACK. Em consequência, intentou-se

discutir e estender esse conhecimento a outros professores, por meio da formação promovida

no decorrer desta pesquisa de mestrado.

Ademais, avista-se a viabilidade de apresentar os resultados desta investigação à

SEDUC/CE, no intuito de expandir a proposta formativa a outras escolas da rede pública

estadual, objetivando ampliar as contribuições alcançadas por este estudo a outros professores

de Matemática do Ensino Médio, com a possiblidade de contribuir com a formação

continuada de outros professores da área da Educação Matemática.

Para pesquisas posteriores, vislumbra-se a possibilidade de ampliação deste

estudo, expandindo-a para outros ramos da Matemática, de maneira que possa ter maior

abrangência de conteúdos, vindo a suprir os dilemas pertinentes a essa área do conhecimento,

não contempladas por esta investigação.

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168

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa

“CONHECIMENTOS TECNOLÓGICOS PEDAGÓGICOS E DE CONTEÚDO NA

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOMETRIA ESPACIAL”. O objetivo deste

estudo consiste em analisar indícios do conhecimento de conteúdo, do conhecimento

pedagógico de conteúdo, do conhecimento tecnológico pedagógico e de conteúdo na prática

dos professores de Matemática do Ensino Médio a partir do processo formativo direcionado

ao ensino de Geometria Espacial.

A sua participação não é obrigatória e, a qualquer momento, poderá desistir da

participação. Tal recusa não trará prejuízos em sua relação com o pesquisador ou com a

instituição em que trabalha. Não há riscos quanto a sua participação, porém se sentir

desconforto emocional, dificuldade ou desinteresse poderá interromper a participação e, se

houver interesse, conversar com o pesquisador.

Para a realização desse trabalho realizaremos uma Prática Pedagógica com os

participantes com uma carga horária total de 30 h/a.

As suas respostas não serão divulgadas de forma a possibilitar a identificação.

Além disso, você está recebendo uma cópia deste termo em que consta o telefone do

pesquisador principal, podendo tirar dúvidas agora ou a qualquer momento.

Eu,______________________________________________________________,

portador (a) do documento de Identidade ____________________, fui informado (a) dos

objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que

a qualquer momento poderei solicitar novas informações. Recebi uma cópia deste termo de

assentimento e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Os registros com recursos de áudio e vídeo feitos durante as etapas formativas

podem ser coletados e utilizados para a pesquisa acima descrita?

( ) Sim. ( ) Não.

As imagens, falas e conversas minhas, com os colegas e com a pesquisadora

podem ser utilizadas para a pesquisa acima descrita?

( ) Sim. ( ) Não.

_____________________________, ____ de ______________ de 2019.

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169

_______________________________ ___________________________

Nome do(a) Professor(a) Assinatura

___________________________ ___________________________

ZELIA BESERRA CAMELO Assinatura

Professora Pesquisadora

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170

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA DA PESQUISA DE CAMPO

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PROFESSORES PESQUISADOS

1 Dados gerais sobre o docente

1.1 Nome completo

1.2 Idade

1.3 Vínculo de trabalho com a escola

1.4 Disciplina(s) que leciona

1.5 Tempo de experiência com o magistério

1.6 Ano de conclusão do curso de graduação

1.7 Maior titulação (especialização/área; mestrado/área; etc.).

2 Formação Inicial

2.1 Como surgiu o interesse pelo curso de graduação em Matemática?

2.2 Descreva como foi sua formação inicial?

2.3 Quais os conhecimentos adquiridos na formação inicial que considera importante no

ensino de Geometria Espacial da Educação Básica?

2.4 A formação inicial te preparou de forma adequada para seu processo de inserção

profissional no ensino de Geometria Espacial da Educação Básica?

3 Formação Continuada

3.1 Qual(is) a(s) formação(es) que você participou que foram direcionadas ao ensino de

Geometria Espacial?

3.2 A(s) formação(es) continuada(s) contribuiu(ram) na sua prática de ensino de Geometria

Espacial?

3.3 Quais os conhecimentos adquiridos na formação continuada que considera importante no

ensino de Geometria Espacial da Educação Básica?

4 Prática Profissional

4.1 Quais os recursos disponibilizados em seu ambiente de trabalho para o exercício da sua

função profissional no ensino de Geometria espacial da Educação Básica? (salas, material

disponível, apoio dos outros professores etc.). Essas condições são adequadas? Por quê?

4.2 Qual(is) o(s) conhecimento(s) que considera importante para sua atuação docente no

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171

ensino de Geometria Espacial da Educação Básica?

4.3 Qual(is) o(s) conhecimento(s) que não foi(ram) adquirido(s) na sua formação inicial e

continuada e que teve que construí-los na prática de trabalho de sala de aula, acerca da

Geometria Espacial?

4.4 Você conhece o software educativo Geogebra? Já fez uso pedagógico desse software em

suas práticas docente? Como foi utilizado?

4.5 Quais as principais dificuldades e possibilidades vivenciadas por você na prática de ensino

do conteúdo de Geometria Espacial?

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172

APÊNDICE C – PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES PROPOSTAS NAS SESSÕES

FORMATIVAS

PLANEJAMENTO DO 1ºENCONTRO

Duração: 2 h/a.

Tema: Apresentação geral da proposta formativa.

Objetivos:

Apresentar a proposta formativa;

Intermediar definições e diretrizes de ações a serem trabalhadas nos demais encontros

formativos.

Metodologia:

1º momento: Apresentação da proposta de trabalho, sua problemática e formalizar a adesão

ao processo formativo.

2º momento: Definição do cronograma dos encontros presenciais.

Assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

PLANEJAMENTO DO 2ºENCONTRO

Duração: 2 h/a.

Tema: Observação de uma aula prática, dos professores participantes.

Objetivos:

Analisar quais conhecimentos empregados na ação didática prática no ensino dos

conteúdos de Geometria Espacial.

Metodologia:

Observação.

Questões norteadoras para observação:

– Quais os conhecimentos docentes foram visualizados na ação prática dos professores

durante o ensino dos conteúdos de Geometria Espacial?

– Quais os recursos didáticos os professores utilizaram no ensino dos conteúdos de Geometria

Espacial?

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173

PLANEJAMENTO DO 3ºENCONTRO

Duração: 2 h/a (90 min), sendo 30 min para cada professor pesquisado.

Tema: Entrevista semiestruturada constante no Apêndice B.

Objetivos:

Construir um diagnóstico inicial do perfil dos professores pesquisados;

Observar seus métodos e recursos didáticos empregados em suas práticas de sala de aula

no ensino do conteúdo de Geometria Espacial.

Metodologia:

Conversa informal entre a pesquisadora e os entrevistados, seguindo um roteiro de

perguntas previamente elaboradas e disponibilizado para os professores.

PLANEJAMENTO DO 4º ENCONTRO

Duração: 2 h/a.

Tema: Conhecimentos dos professores.

Objetivos:

Conhecer os conhecimentos dos docentes na perspectiva dos estudos de Shulman (1986,

2014) e Koehler e Mishra (2009);

Discutir quais conhecimentos os professores utilizam na sua prática docente.

Metodologia:

Fazer uma reflexão sobre os conhecimentos dos docentes na perspectiva dos estudos de

Shulman (1986, 2014) e Koehler e Mishra (2009).

Questão norteadora:

Quais os principais os conhecimentos que norteiam a prática educativa do professor?

(Desenvolver uma reflexão tendo como de partida esta questão).

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174

PLANEJAMENTO DO 5º ENCONTRO

Duração: 2 h/a.

Tema: A Geometria Espacial.

Objetivos:

Refletir sobre o contexto histórico do ensino de Geometria Espacial;

Refletir sobre o ensino e a aprendizagem da Geometria Espacial no âmbito da escola

básica.

Metodologia:

Fazer uma reflexão sobre o ensino de Geometria Espacial fundamentada pelo referencial

teórico do capítulo 3, desta dissertação.

Questão norteadora:

Qual a importância da Geometria Espacial para o indivíduo? (Desenvolver uma reflexão

tendo como de partida esta questão).

PLANEJAMENTO DO 6º ENCONTRO

Duração: 2 h/a.

Tema: Utilização do software Geogebra nos smartphones para o estudo dos prismas.

Objetivos:

Identificar os elementos de um prisma (base, altura, vértices, arestas, diagonais e faces

laterais);

Identificar as figuras planas na composição dos prismas regulares triangulares,

quadrangulares, pentagonais e hexagonais;

Exercitar a visão geométrica tridimensional no espaço e bidimensional representada no

plano identificando as propriedades comuns entre os sólidos espaciais e suas respectivas

planificações;

Desenvolver habilidades visuais de percepção, descobertas, verificações e deduções dos

prismas.

Metodologia:

Construir prismas (regulares triangulares, quadrangulares, pentagonais e hexagonais) com

auxílio do software Geogebra nos smartphones;

Estabelecer relações entre os elementos e características presentes nos sólidos visualizados

no Geogebra.

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175

PLANEJAMENTO DO 7º ENCONTRO

Duração: 2 h/a

Tema: Utilização do software Geogebra nos smartphones para o estudo das pirâmides.

Objetivos:

Identificar os elementos de uma pirâmide (base, altura, vértices, arestas, diagonais e faces

laterais);

Identificar as figuras planas na composição das pirâmides regulares triangulares,

quadrangulares, pentagonais e hexagonais;

Exercitar a visão geométrica tridimensional no espaço e bidimensional representada no

plano identificando as propriedades comuns entre os sólidos espaciais e suas respectivas

planificações;

Desenvolver habilidades visuais de percepção, descobertas, verificações e deduções dos

prismas.

Recursos:

Dispositivos móveis (smartphones), software GeoGebra, software AZ Screen Recorder,

software ApowerMirror, notebook, Datashow, tutorial (Apêndice D a H).

Metodologia:

Construir pirâmides (regulares triangulares, quadrangulares, pentagonais e hexagonais)

com auxílio do software GeoGebra nos smartphones;

Estabelecer relações entre os elementos e características presentes nos sólidos visualizados

no GeoGebra.

PLANEJAMENTO DO 8º ENCONTRO

Duração: 2 h/a

Tema: Aplicação de uma atividade prática em sala de aula, pelos professores participantes,

com o software Geogebra.

Objetivos:

Observar a utilização do GeoGebra como recurso tecnológico na prática dos professores

junto aos educandos;

Identificar indícios do TPACK na prática dos professores.

Recursos:

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176

Dispositivos móveis (smartphones), software GeoGebra, software AZ Screen Recorder,

software ApowerMirror, notebook, Datashow, tutorial (Apêndice I).

Metodologia:

Observação

Questões norteadoras para observação:

– Como se deu a utilização do software GeoGebra no ensino dos conteúdos de Geometria

Espacial?

– Quais os conhecimentos foram visualizados na ação prática dos professores durante o uso

do software GeoGebra no ensino dos conteúdos de Geometria Espacial?

As atividades realizadas foram adequadas para elaborar o conhecimento em foco?

PLANEJAMENTO DO 9º ENCONTRO

Duração: 2 h/a

Tema: Sessão reflexiva.

Objetivos:

Promover reflexões sobre o processo formativo;

Avaliar as contribuições das sessões formativas na prática dos professores no ensino dos

conteúdos de sólidos geométricos espaciais.

Metodologia:

Discussões direcionadas a obter a análise e a avaliação dos resultados, levando-se em

consideração três aspectos:

– A reflexão sobre os estudos teóricos;

– A vivência prática com emprego da tecnologia;

– Avaliação do processo formativo.

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177

APÊNDICE D - CONHECENDO O GEOGEBRA

Ao abrir o software GeoGebra 3D no smartphone visualizamos a tela apresentada

na figura 1, a seguir.

Figura 1: Tela inicial do software GeoGebra 3D

Fonte: Elaborada pela autora.

Os eixos ortogonais da janela de visualização apresentam as seguintes

representações: o eixo vermelho corresponde ao eixo x, o eixo verde é o eixo y e o eixo azul é

o eixo z.

Para mudar a perspectiva de visualização do plano ou dos eixos basta tocar na tela

do smartphone na área próxima aos eixos e mover em diversos sentidos.

Para inibir os eixos, clicar em Configurações , em e desativar a

função ou .

A Barra de Menu possui duas ferramentas: Entrada e Gráficos

. Ao selecionarmos a ferramenta Gráficos aparece um Menu com várias

ferramentas , quando selecionamos a ferramenta Entrada

aparece um campo de entrada que possibilita inserir funções

para construção de diversos sólidos geométricos.

Ao clicar no ícone , no canto superior esquerdo da tela, aparece uma aba onde

é possível executar algumas tarefas como limpar ou gravar as construções criadas,

Janela de Visualização

Barra de Menu

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compartilhá-las, além de outras possibilidades que podem ser visualizadas na Figura 2, a

seguir.

Figura 2 – Janela de Configurações

Fonte: Elaborada pela autora.

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APÊNDICE E - POLIEDROS DE PLATÃO

CONSTRUÇÃO DO TETRAEDRO

1. Ao abrir o software e selecionar a ferramenta Gráficos .

2. Selecionar a ferramenta Ponto e fixar um ponto A e um ponto B no plano da janela

de visualização.

3. Selecionar a ferramenta Entrada , clicar no ícone do campo de entrada

e na opção .

4. Digitar a palavra “tetraedro”. Selecionar o nome “tetraedro” sugerido nos comandos e

indicar dois pontos (A, B) e clicar na tecla enter . Para neutralizar a

função “tetraedro”, clicar em Mover .

5. Para mudar a perspectiva de visualização do tetraedro basta tocá-lo na janela de

visualização e movimentá-lo em diversos sentidos.

PLANIFICAÇÃO

1. Clicar na ferramenta Gráficos .

2. Selecionar a ferramenta Planificação , clicar no sólido construído e em seguida,

clicar em Mover para neutralizar a função planificação.

3. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

ícone de reprodução do controle deslizante.

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CONSTRUÇÃO DO HEXAEDRO, OCTAEDRO, DODECAEDRO E ICOSAEDRO.

1. Abrir o software e selecionar a ferramenta Gráficos .

2. Selecionar a ferramenta Ponto e fixar um ponto A e um ponto B no plano.

3. Para construir os demais Poliedros de Platão é necessário repetir os mesmos comandos

utilizados na construção do tetraedro do Apêndice 3, observando-se os seguintes passos:

4. Selecionar a ferramenta Entrada

5. Clicar no ícone do campo de entrada e na opção .

6. Clicar em ajuda para construir um comando digitando a palavra “hexaedro” ou “octaedro”

ou “dodecaedro” ou “icosaedro”. Selecionar o nome do comando sugerido e indicar dois

pontos (A, B). Clicar na tecla enter . Para neutralizar a função que construiu o poliedro,

clicar em Mover .

7. Para mudar a perspectiva de visualização do poliedro basta tocar na janela de visualização e

mover em diversos sentidos.

PLANIFICAÇÃO

1. Para planificar o poliedro basta clicar em Gráficos .

2. Clicar em Ferramentas Básicas.

2. Selecionar a ferramenta Planificação , clicar no sólido construído e em seguida,

clicar em Mover para neutralizar a função planificação.

4. Para abrir e fechar a planificação do poliedro, selecionar a ferramenta Entrada e clicar

no controle deslizante b em seu ícone de reprodução .

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APÊNDICE F - CONSTRUÇÃO DE UM CUBO

1. Ao abrir o software e selecionar a ferramenta Gráficos .

2. Selecionar a ferramenta Ponto e clicar na janela de visualização para construir um

ponto A e um ponto B no plano.

3. Selecionar a ferramenta Cubo e clicar nos dois pontos criados anteriormente.

4. Selecionar a ferramenta Mover para evitar a construção de novos cubos. (Caso a

ferramenta não seja selecionada, ao tocar no plano da janela de visualização outros cubos

serão criados).

CUSTUMIZAÇÃO

1. Para inibir os vértices, clicar em MAIS da barra de ferramentas e rolar a até a ferramenta

até EDITAR, clicar em Exibir/Esconder , a seguir, tocar em todos os vértices que

deseja esconder e finalizar clicando na tecla Mover .

DIAGONAL

1. Selecionar Gráficos .

2. Rolar até Retas e Polígonos e selecionar Segmento .

3. Clicar em 2 vértices para traçar a diagonal.

PLANIFICAÇÃO

1. Clicar em Ferramentas Básicas.

2. Selecionar a ferramenta Planificação e clicar no sólido construído.

3. Para neutralizar a função planificação, clicar em Mover .

4. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

ícone de reprodução do controle deslizante.

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AREA

1. Selecionar a ferramenta Gráficos e rolar a barra de ferramentas até MEDIÇÕES.

2. Selecionar Área e clicar em uma das faces do sólido ou da planificação. Finalizar

clicando na ferramenta Mover . Com esse comando é possível visualizar a área de uma

das faces do cubo, na janela de visualização.

3. Para visualizar o valor da área do sólido é necessário clicar na ferramenta Entrada .

Logo abaixo do controle deslizante da planificação encontramos o valor da área total do

sólido construído.

VOLUME

1. Selecionar a ferramenta Gráficos e rolar a barra de ferramentas até MEDIÇÕES. 2.

Selecionar Volume , em seguida clicar no sólido para que seja calculado o seu

volume. Finalizar clicando na ferramenta Mover . Com esse comando é possível

visualizar o volume do cubo tanto na janela de visualização quanto na ferramenta Entrada

.

MEDIDA DA ARESTA

1. Para medir a aresta do cubo é necessário rolar a barra de ferramentas até Medições,

selecionar Distância, Comprimento .

2. Clicar em dois vértices (pontos) para visualizar a medida do comprimento do segmento

(aresta).

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APÊNDICE G - CONSTRUÇÃO DE UM PARALELEPÍPEDO

1. Ao abrir o software e selecionar a ferramenta Gráficos .

2. Selecionar a ferramenta Ponto e clicar na janela de visualização para construir os

pontos A, B, C e D, no plano.

3. Selecionar a ferramenta Polígono e clicar nos dois pontos A, B, C, D e A, criados

anteriormente.

4. Selecionar a ferramenta Mover para evitar a construção de novos sólidos.

5. Clicar na ferramenta Entrada para editar as coordenadas dos pontos para que a base

tenha um formato retangular. (Sugestão: A(0,-1,0), B(2,-1,0), C(2,0,0) e D(0,0,0))

6. Na ferramenta Entrada , digitar h = 5 para determinar o valor da altura do sólido e

clicar na tecla enter .

7. Para construção de um paralelepípedo digitar Prisma(Polígono(A,B,C,D),h) e clicar na

tecla enter . (Obs. Não utilizar espaço entre os caracteres para essa função).

PLANIFICAÇÃO

1. Em Ferramentas Básicas, selecionar a ferramenta Planificação e clicar no sólido

construído. Para neutralizar a função planificação, clicar em Mover .

2. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

controle deslizante b em seu ícone de reprodução .

DIAGONAL

1. Selecionar Gráficos .

2. Rolar até Retas e Polígonos e selecionar Segmento

3. Clicar em 2 vértices para traçar a diagonal.

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APÊNDICE H - CONSTRUÇÃO DE PRISMA REGULAR CUJA BASE É UM

POLÍGONO DE 3 LADOS

1. Ao abrir o software, clicar na ferramenta Entrada .

2. Digitar N=ControleDeslizante(3,3,1). (Obs.: não utilizar espaço entre os caracteres) e clicar

na tecla enter .

3. Digitar R = 2 e clicar na tecla enter .

4. Digitar h = 5 para determinar o valor da altura do sólido e clicar na tecla enter .

5. Digitar base=Polígono(Sequência(Girar((R,0,0),2 pi i/N,EixoZ),i,0,N-1)) e clicar na tecla

enter . (Obs.: não utilizar espaço entre os caracteres, exceto entre 2 e pi e entre pi e i) e

clicar na tecla enter .

6. Digitar Prisma(base,h) e clicar na tecla enter . (Obs. Em nenhuma das funções acima

deve ser utilizado espaço entre os caracteres, salvo obs. item 5.).

BASE

1. Para modificar o comprimento da aresta base do sólido basta clicar no controle deslizante R

em seu ícone de reprodução .

ALTURA

1. Para modificar a altura do sólido, basta clicar no controle deslizante h em seu ícone de

reprodução .

PLANIFICAÇÃO

1. Em Ferramentas Básicas, selecionar a ferramenta Planificação e clicar no sólido

construído. Para neutralizar a função planificação, clicar em Mover .

2. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

controle deslizante b em seu ícone de reprodução .

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185

CONSTRUÇÃO DE UM PRISMA REGULAR CUJA BASE É UM POLÍGONO DE 4,

5, ... , n LADOS

1. Ao abrir o software, clicar na ferramenta Entrada .

2. Digitar N=ControleDeslizante(4,4,1) ou (5,5,1) ou (n,n,1). (Obs.: não utilizar espaço entre

os caracteres) e clicar na tecla enter .

3. Digitar R = 2 e clicar na tecla enter .

4. Digitar h = 5 para determinar o valor da altura do sólido e clicar na tecla enter .

5. Digitar base=Polígono(Sequência(Girar((R,0,0),2 pi i/N,EixoZ),i,0,N-1)) e clicar na tecla

enter . (Obs.: não utilizar espaço entre os caracteres, exceto entre 2 e pi e entre pi e i) e

clicar na tecla enter .

6. Digitar Prisma(base,h) e clicar na tecla enter . (Obs. Em nenhuma das funções acima

deve ser utilizado espaço entre os caracteres, salvo obs. item 5.).

BASE

1. Para modificar o comprimento da aresta base do sólido basta clicar no controle deslizante R

em seu ícone de reprodução .

ALTURA

1. Para modificar a altura do sólido, basta clicar no controle deslizante h em seu ícone de

reprodução .

PLANIFICAÇÃO

1. Em Ferramentas Básicas, selecionar a ferramenta Planificação e clicar no sólido

construído. Para neutralizar a função planificação, clicar em Mover .

2. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

controle deslizante b em seu ícone de reprodução .

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CONSTRUÇÃO DE UM PRISMA REGULAR CUJA BASE É UM POLÍGONO DE N

LADOS

1. Ao abrir o software, selecionar Entrada .

2. Digitar N=ControleDeslizante(3,20,1). (Obs.: não utilizar espaço entre os caracteres) e

clicar na tecla enter .

3. Digitar R = 2 e clicar na tecla enter .

4. Digitar h = 5 para determinar o valor da altura do sólido e clicar na tecla enter .

5. Digitar base=Polígono(Sequência(Girar((R,0,0),2 pi i/N,EixoZ),i,0,N-1)) e clicar na tecla

enter . (Obs.: não utilizar espaço entre os caracteres, exceto entre 2 e pi e entre pi e i) e

clicar na tecla enter .

6. Digitar Prisma(base,h) e clicar na tecla enter . (Obs. Em nenhuma das funções acima

deve ser utilizado espaço entre os caracteres, salvo obs. item 5.).

BASE

1. Para modificar o número de lados da base do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e

clicar no controle deslizante N em seu ícone de reprodução .

2. Para modificar o comprimento da aresta base do sólido basta clicar no controle deslizante R

em seu ícone de reprodução .

ALTURA

1. Para modificar a altura do sólido, basta clicar no controle deslizante h em seu ícone de

reprodução .

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PLANIFICAÇÃO

1. Em Ferramentas Básicas, selecionar a ferramenta Planificação e clicar no sólido

construído. Para neutralizar a função planificação, clicar em Mover .

2. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

controle deslizante b em seu ícone de reprodução .

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APÊNDICE I - CONSTRUÇÃO DE UMA PIRÂMIDE CUJA BASE É UM

POLÍGONO REGULAR

1. Ao abrir o software, selecionar na ferramenta Gráficos .

2. Rolar as ferramentas até Retas e Polígonos e selecionar Polígono Regular .

3. Clicar no Plano da janela de visualização em dois pontos distintos; Ao abrir a janela

deverá digitar a quantidade de vértices do polígono da base e clicar em ok.

4. Selecionar a ferramenta Entrada .

5. Clicar no ícone do campo de entrada e na opção .

6. Em ajuda digitar a palavra “CentroDeGravidade”, selecionar o nome sugerido e clicar na

tecla enter .

7. Nos parênteses do campo de entrada CentrodeGravidade( ) digitar “pol1” e clicar na

tecla enter .

8. Selecionar a ferramenta Gráficos .

9. Rolar as ferramentas até Sólidos e selecionar Fazer extrusão para Pirâmide.

10. Clicar no Polígono da base da janela de visualização e poderá abrir uma janela

onde deverá ser digitada a altura da pirâmide que se deseja construir. Em seguida

clicar em ok.

11. Caso não seja solicitada a altura, clicar em Mover e em seguida, clicar no ponto que

se encontra no centro da base e movimentá-lo no sentido do eixo z para fixar a altura da

pirâmide.

12. Para mudar a perspectiva de visualização do poliedro basta tocar na janela de visualização

e mover em diversos sentidos.

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CUSTUMIZAÇÃO

1. Para inibir os eixos, clicar em Configurações , em e desativar a função

.

2. Para inibir o plano, clicar em Configurações , em e desativar a função

ALTURA

1. Selecionar a ferramenta Entrada .

2. Clicar no ícone do campo de entrada e na opção .

3. Em ajuda digitar a palavra “Segmento”, selecionar o nome sugerido e clicar na tecla enter

.

4. Nos parênteses do campo de entrada “Segmento()” deverá ser digitado os pontos que

correspondem ao centro de gravidade e a altura da pirâmide. Se pirâmide tiver base

triangular, os pontos que deverão ser digitados serão (D,E); se pirâmide tiver base

quadrangular, os pontos que deverão ser digitados serão (E,F); e assim sucessivamente. Para

tanto, é necessário observar os pontos que se encontram na janela de visualização. Em

seguida, clicar na tecla enter .

APÓTEMA LATERAL

1. Selecionar a ferramenta Gráficos .

2. Rolar até a ferramenta Pontos e selecionar Ponto Médio.

3. Clicar nos pontos A e B da base do polígono, obtendo-se um novo ponto.

4. Selecionar a ferramenta Entrada .

5. Clicar no ícone do campo de entrada e na opção .

3. Em ajuda digitar a palavra “Segmento”, selecionar o nome sugerido e clicar na tecla enter

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.

4. Nos parênteses do campo de entrada “Segmento()” deverá ser digitado os pontos que

correspondem ao ponto médio e a altura da pirâmide. Se pirâmide tiver base triangular, os

pontos que deverão ser digitados serão (G,E); se pirâmide tiver base quadrangular, os pontos

que deverão ser digitados serão (E,H); e assim sucessivamente. Para tanto, é necessário

observar os pontos que se encontram na janela de visualização. Clicar na tecla enter .

APÓTEMA DA BASE

1. Selecionar a ferramenta Entrada .

2. Clicar no ícone do campo de entrada e na opção .

3. Em ajuda digitar a palavra “Segmento”, selecionar o nome sugerido e clicar na tecla enter

.

4. Nos parênteses do campo de entrada “Segmento()” deverá ser digitado os pontos que

correspondem ao centro de gravidade e o ponto médio determinado na etapa anterior. Se

pirâmide tiver base triangular, os pontos que deverão ser digitados serão (E, F); se pirâmide

tiver base quadrangular, os pontos que deverão ser digitados serão (E,G); e assim

sucessivamente. Para tanto, é necessário observar os pontos que se encontram na janela de

visualização. Clicar na tecla enter .

TRIÂNGULO RETÂNGULO

1. Selecionar a ferramenta Entrada .

2. Clicar no ícone do campo de entrada e na opção .

3. Em ajuda digitar a palavra “Polígono”, selecionar o nome sugerido e clicar na tecla enter

.

4. Nos parênteses do campo de entrada “Poligono()” deverá ser digitado os pontos

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referentes à altura, centro de gravidade e ponto médio da aresta da base da pirâmide.

Exemplo: “Polígono(E,F,G)” e clicar na tecla enter .

PLANIFICAÇÃO

1. Selecionar a ferramenta Gráficos .

2. Em Ferramentas Básicas, selecionar a ferramenta Planificação e clicar no sólido

construído, em seguida, clicar em Mover para neutralizar a função planificação.

2. Para abrir e fechar a planificação do sólido, selecionar a ferramenta Entrada e clicar no

controle deslizante b em seu ícone de reprodução .

CUSTUMIZAÇÃO

1. Para inibir a Pirâmide em seu formato tridimensional, clicar na ferramenta Entrada e

desmarcar a bolinha e obtém-se a imagem:

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ANEXO A – REGISTROS DA ETAPA FORMATIVA COM OS PROFESSORES

PESQUISADOS

Encontro 02 - Observação da aula inicial dos professores Delta e Sigma

Observação aula – professor Delta

Observação aula – professor Sigma

Fonte: Acervo da autora.

Encontro 03 - Entrevistas com os professores Delta e Sigma

Fonte: Acervo da autora.

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Encontro 04 - Estudos teóricos direcionados à temática “conhecimentos”

Fonte: Acervo da autora.

Encontro 05 - Discussão sobre o ensino da Geometria Espacial no Brasil

Fonte: Acervo da autora.

Encontro 06 - Uso do software GeoGebra entre pesquisador e professores pesquisados

Fonte: Acervo da autora.

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194

Encontro 07 - Uso do software GeoGebra entre pesquisador e professores pesquisados

Fonte: Acervo da autora.

Encontro 08 - Observação de aula prática desenvolvida pelos professores Delta e Sigma

Aula prática – professor Delta

Aula prática – professor Sigma

Fonte: Acervo da autora.

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Encontro 09 - Sessões Reflexivas com os professores Delta, Sigma e Ômega

Fonte: Acervo da autora.