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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA MESTRADO ACADÊMICO EM SOCIOLOGIA ALANA CAETANO FREIRE O BANCO MUNDIAL E A EDUCAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A AVALIAÇÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO DO CEARÁ. FORTALEZA- CEARÁ 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

MESTRADO ACADÊMICO EM SOCIOLOGIA

ALANA CAETANO FREIRE

O BANCO MUNDIAL E A EDUCAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A AVALIAÇÃO NAS

ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO DO CEARÁ.

FORTALEZA- CEARÁ

2018

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ALANA CAETANO FREIRE

O BANCO MUNDIAL E A EDUCAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A AVALIAÇÃO NAS

ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO DO CEARÁ.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Sociologia do Centro de Estudos

Sociais Aplicados da Universidade Estadual do

Ceará, como requisito parcial à obtenção do título

de Mestre em Sociologia. Área de Concentração:

Sociologia

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lia Pinheiro Barbosa

FORTALEZA – CEARÁ

2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Sistema de Bibliotecas

Freire, Alana Caetano.

O Banco Mundial e a Educação: um olhar sobre a avaliação

nas escolas de Ensino Médio do Ceará. [recurso eletrônico] / Alana

Caetano Freire - 2018.

1 CD-ROM :il. ; 4 ¾ pol.

CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho

acadêmico com 186 folhas, acondicionado em caixa de DVD Slim

(19 x 14 cm x 7 mm).

Dissertação (mestrado acadêmico) – Universidade Estadual do

Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Programa de Pós

Graduação em Sociologia, Fortaleza, 2018.

Área de Concentração: Sociologia.

Orientação: Profª. Drª Lia Pinheiro Barbosa

1. Escola. 2. Avaliação em larga escala no Ceará. 3. Estado-

Nação. 4. Organismos Multilaterais. I. Título.

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ALANA CAETANO FREIRE

O BANCO MUNDIAL E A EDUCAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A AVALIAÇÃO NAS ESCOLAS

PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO DO CEARÁ.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Sociologia do Centro de Estudos

Sociais Aplicados da Universidade Estadual do

Ceará, como requisito parcial à obtenção do título

de Mestre em Sociologia. Área de Concentração:

Sociologia

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AGRADECIMENTOS

À Mônica Martins, professora e amiga, que desde o início dos meus estudos no curso de

Ciências Sociais, me acompanha e apoia nesse percurso acadêmico.

Aos professores Geovani Jacó, Bosco Feitosa, Rosemary Almeida, Socorro Osterne e David

Oliveira pelas experiências compartilhadas nas aulas do mestrado.

À professora Gustava Bezerril, que me acolheu com muito afeto nas suas aulas e me fez refletir

cada vez mais sobre as práticas docentes.

Aos professores Lia Pinheiro e Mario Valdemarin, pelas contribuições valiosas para o

desenvolvimento desta pesquisa.

Aos diretores e professores das escolas, Liceu de Iguatu Dr. José Gondim, Dona Luiza Távora e

Dona Creusa do Carmo Rocha, que com toda solitude abriram as portas das suas escolas para a

realização dessa pesquisa.

Aos meus amigos da turma 2016, Jersey Oliveira, Leo Melo, Ingrid Lorena, Rai Costa e Gislane

Santos que compartilharam comigo muitas alegrias e angustias em muitas tardes no bar da

“Lôra”.

Às “veadas”, verdadeiros presentes do mestrado, Laís Maia e Laura Hêmilly, pelos cafés e pelas

gargalhadas na madrugada. Sem vocês esse caminho teria sido muito mais tortuoso.

Aos meus pais, Socorro Caetano e Arimatea Freire, e minha irmã Aline Caetano, por todo apoio

e orações.

As minhas companheiras purpurinadas, Aline Mendes, Ellen Garcia, Fernanda Nascimento,

Jéssica Soares, Joyce Campelo, Pryscilla Martins e Susanne Soares, por carnavalizar a minha

vida, me fazerem rir e esquecer durante alguns momentos que eu estava escrevendo uma

dissertação.

À César Weyne, companheiro de sonhos, que com todo seu carinho e zelo, esteve ao meu lado

com total entrega.

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"A educação deve ser compreendida como um

campo social de disputa, portanto, um espaço

de luta e contradição, uma vez que reflete a

própria constituição da sociedade e seus

grupos sociais hegemônicos".

(José Carlos Libâneo)

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RESUMO

A escola, na contemporaneidade, tem servido a múltiplos interesses, em especial à lógica do

capital. Torna-se necessário ter uma melhor apreensão da conjuntura política internacional,

entendendo como os organismos multilaterais, em particular o Banco Mundial, atuam dentro

desse campo e como o Brasil está inserido nessa conjuntura. Assim, a partir desta realidade,

analisamos a Reforma do Estado brasileiro nos anos de 1990 dentro de uma perspectiva

neoliberal, suas consequências para as políticas públicas voltadas para a Educação Básica, em

especial para o Ensino Médio e conhecemos as repercussões produzidas pelos modelos de

Avaliações Externas, como o SPAECE, nas ações pedagógicas dos professores. Para tanto,

fizemos uma pesquisa empírica qualitativa com professores de três escolas do Estado do Ceará.

Temos como marco temporal a Conferência Mundial sobre "Educação para Todos" realizada em

Jomtien no inicio de 1990 e usamos como base da nossa investigação as ideias neoliberais

propagadas pelo Banco Mundial.

Palavras-chave: Escola. Avaliação em Larga Escala no Ceará. Estado-Nação. Organismos

Internacionais.

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ABSTRACT

The school, in the contemporaneity, has served to multiple interests, especially to the logic of the

capital. It is necessary to have a better understanding of the international political situation,

understanding how the multilateral organizations, particularly the World Bank, work within this

field and how Brazil is inserted in this conjuncture. Thus, from this reality, we analyze the

Brazilian State Reform in the 1990s from a neoliberal perspective, its consequences for public

policies focused on Basic Education, especially for High School and we know the repercussions

produced by the models of Assessments External, such as SPAECE, in the pedagogical actions

of teachers. For that, we did a qualitative empirical research with teachers from three schools in

the State of Ceará. We have as a timeframe the World Conference on "Education for All" held in

Jomtien in the early 1990s and used the neoliberal ideas propagated by the World Bank as a basis

for our research.

Keywords: School. Wide-Scale Assessment in Ceará. State-Nation and International.

Organizations.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Fachada da Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José Gondim .. 29

Figura 2- Dados do SPAECE da Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José

Gondim ...........................................................................................................

30

Figura 3 - Interior da Escola de Ensino Médio Escola de Ensino Médio Liceu de

Iguatu Dr. José Gondim ...............................................................................

32

Figura 4 - Fachada da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Luiza Távora 33

Figura 5 - Dados do SPAECE da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona

Luiza Távora .................................................................................................

34

Figura 6 - Espaço de convivência da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona

Luiza Távora ..................................................................................................

36

Figura 7 - Fachada da Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa do

Carmo Rocha .................................................................................................

37

Figura 8 - Dados do SPAECE da Escola Estadual de Educação Profissional Dona

Creusa do Carmo Rocha ..............................................................................

40

Figura 9 - Viveiro de Mudas da Escola Estadual de Educação Profissional Dona

Creusa do Carmo Rocha ..............................................................................

41

Figura 10 - Sexo dos entrevistados ................................................................................... 42

Figura 11 - Escolaridade dos entrevistados ..................................................................... 43

Figura 12 - Idade dos entrevistados ................................................................................ 43

Figura 13 - Disciplinas que os entrevistados ministram ................................................ 43

Figura 14 - Quais séries os entrevistados lecionam ........................................................ 44

Figura 15 - Tempo que os entrevistados exercem a carreira docente ........................... 44

Figura 16 - Tempo de trabalho naquela escola ............................................................... 44

Figura 17 - Carga horária semanal dos entrevistados ................................................... 45

Figura 18 - Situação trabalhistas dos entrevistados ....................................................... 45

Figura 19 - Exemplo do resultado da escola no SPAECE em comparação com a

média estadual ................................................................................................

106

Figura 20 - Proficiência em matemática. Ceará, 2016 ................................................... 107

Figura 21 - Nomes da CREDES do Ceará ....................................................................... 108

Figura 22 - Percentual da frequência dos alunos por escola ......................................... 109

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF Alfabetização

AID Associação Internacional de Desenvolvimento

AMGI Agência Multilateral de Garantia de Investimentos

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

ANEB Avaliação Nacional da Educação Básica

ANRESC Avaliação Nacional da Educação Básica

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento

BM Banco Mundial

CAED Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação

CDES Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

CETREDE Centro de Treinamento e Desenvolvimento

CFI Corporação Financeira Internacional

CIADI Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos

CIVED Civic Education Study

CONSED Conselho Nacional de Secretários de Educação dos Estados e Distrito Federal

CNI Confederação Nacional da Industria

CREDE Centros Regionais de Desenvolvimento da Educação

DERE Delegacias Regionais de Educação

EEEP Escolas Estaduais de Educação Profissional

EF Ensino Fundamental

EJA Educação de Jovens e Adultos

ENEM Exame Nacional de Ensino Médio

EM Ensino Médio

EUA Estados Unidos das Américas

FCPC Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura

FDG Fundação de Desenvolvimento Gerencial

FECLI Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIES Fundo de Financiamento Estudantil

FMI Fundo Monetário Internacional

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FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FPM Fundo de Participação dos Municípios

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério

GIFE Grupo de Institutos Fundações e Empresas

IDE Instituto de Desenvolvimento Econômico

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IEA International Association for the Evaluation of Educational Achievement

IFI's Instituições Financeiras Internacionais

INSOFT Instituto de Software do Ceará

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira

LBA Legião Brasileira de Assistência

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LEME Laboratório de Estatística e Medidas Educacionais

LLECE Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da Educação

MAG Magistério

MARE Ministério da Administração e Reforma do Estado

MEC Ministério da Educação e da Cultura

NTPPS Núcleo de Trabalho Pesquisas e Práticas Sociais

OCDE Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento

ONG's Organizações Não Governamentais

OMC Organização Mundial do Comércio

ONU Organização das Nações Unidas

OREALC Escritório Regional de Educação para a América Latina e Caribe

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PAR Plano de Ações Articuladas

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PDT Projeto Diretor de Turma

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PIBID's Programa Institucional de bolsas de iniciação à docência

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PISA Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

PLAMETAS Plano de Metas do Diretor

PNE Plano Nacional de Educação

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPP Projeto Político Pedagógico

PREAL Programa de Reformas Educacionais na América Latina

PROUNI Programa Universidade para Todos

PRU Primária Universal

QT Qualidade Total

REDUCA Rede Latino Americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação

SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEDUC Secretaria de Educação do Ceará

SIMAVE Sistema de Avaliação da Educação Pública

SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará

SWAP Abordagem Setorial Ampla

TAC Teste Auxiliado por Computador

TAM Programa Tempo de Avançar Médio

TCH Teoria do Capital Humano

TIMSS Trends in International Mathematic sand Science Study

TPE Movimento Todos pela Educação

UE União Européia

UFC Universidade Federal do Ceará

UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNFPA Fundo das Nações para Atividades da População

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15

2 O PERCURSO TEÓRICO METODOLÓGICO DA PESQUISA .................. 23

2.1 O PERFIL DAS ESCOLAS SELECIONADAS ................................................... 27

2.1.1 Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José Gondim ............................ 29

2.1.2 Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Luiza Távora ......................... 33

2.1.3 Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa do Carmo Rocha 37

2.2 O PERFIL DOS PROFESSORES ENTREVISTADOS ....................................... 42

2.3 ESCOLHAS E PROCEDIMENTOS DE APROXIMAÇÕES COM O OBJETO 45

3 A REFORMA DO ESTADO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A

EDUCAÇÃO BRASILEIRA ..............................................................................

48

3.1 A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO ........................................................ 48

3.2 O PAPEL DO BANCO MUNDIAL NO CONTEXTO DA REFORMA DO

ESTADO BRASILEIRO .......................................................................................

53

3.3 A INFLUÊNCIA DAS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS NA

EDUCAÇÃO BRASILEIRA ................................................................................

59

3.4 O MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO (TPE) ....................................... 66

4 A AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO DO CAPITAL ............................. 73

4.1 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA .................................................................... 73

4.2 AVALIAÇÃO: INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM? ................................. 77

4.3 AS DIRETRIZES DO BANCO MUNDIAL PARA OS PROCESSOS

AVALIATIVOS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...............................................

81

4.4 AS AVALIAÇÕES DE LARGA ESCALA NO BRASIL ............................... 85

5 AS CONSEQUÊNCIAS DA IMPLEMENTAÇÃO DO SPAECE SOBRE O

FAZER PEDAGÓGICO .....................................................................................

89

5.1 CEARÁ, ESTADO PIONEIRO: UM OLHAR SOBRE O SPAECE................... 89

5.2 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES PARA ATUAR NO ENSINO MÉDIO 99

5.3 AS CONSEQUÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES DE LARGA ESCALA NO

COTIDIANO ESCOLAR ....................................................................................

101

5.4 AS POLÍTICAS DE BONIFICAÇÕES ................................................................ 111

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 117

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 120

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ANEXOS ............................................................................................................. 132

ANEXO A - ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS COM OS

PROFESSORES ...................................................................................................

133

ANEXO B- DECLARAÇÃO TODOS PELA EDUCAÇÃO .............................. 134

ANEXO C- DECLARAÇÃO DE NOVA DELHI SOBRE EDUCAÇÃO PARA

TODOS .................................................................................................................

144

ANEXO D - MARCO DE AÇÃO DE DAKAR - EDUCAÇÃO PARA

TODOS: ATENDENDO NOSSOS COMPROMISSOS COLETIVOS ...............

146

ANEXO E - DECRETO DE CRIAÇÃO DO PRÊMIO APRENDER PRA

VALER ................................................................................................................

178

ANEXO F - INSTRUÇÃO NORMATIVA QUE ESTABELECE NORMAS

PARA A PROGRESSÃO HORIZONTAL DOS PROFISSIONAIS DA

EDUCAÇÃO BÁSICA .......................................................................................

179

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1 INTRODUÇÃO

Sala de aula lotada, carteiras enfileiradas dispostas bem próximas umas das outras, o que

torna um ambiente com pouca ventilação quase insuportável de se ficar. O professor em sala já

suado tenta organizar minimamente o ambiente, passando de cadeira em cadeira, tentando

separar os alunos ditos "vagabundos" dos "nerds", solicitando silêncio e informando as

regras/sanções para a realização da atividade que vai começar.

Hoje a turma está um pouco mais ansiosa. O início das provas finais determinará se

aqueles estudantes entrarão de férias ou ficarão até perto do Natal na escola, podendo chegar a

repetir o ano. Uns aparentam nervosismo e até uma certa tensão, pois tem medo de ficar de

recuperação. Contudo, a maioria apenas sorri e comenta frases do tipo: "VDC1".

O pacote de provas é entregue pela coordenação ao professor e este começa a aplicação

do certame com uma expressão de vigilância para que ninguém ouse olhar para o lado e cole do

seu vizinho as respostas. Os estudantes, ao receberem o exame em suas mãos, o encaram com

desespero, pensando e, muitas vezes, até expressando sua angustia em voz alta: “isso foi

estudado em sala?”

O docente logo pede para o estudante se calar e se concentrar na prova. Ele deveria

marcar as alternativas nem que fosse "na doida” 2. O importante era não errar o preenchimento

do gabarito, pois ele não entregaria outro.

Naquele dia foram aplicadas as provas de sociologia, matemática e biologia. Juntas,

totalizavam quarenta e cinco questões objetivas, contendo cinco itens cada. Os alunos tinham

duas horas e meia para respondê-la o que significava que eles teriam três minutos e meio para

responder cada questão. Esse é o padrão ENEM3!

Luana4, muito tímida, sempre sentou na frente. É tida como uma boa aluna e, assim que

recebeu a prova, conseguiu resolvê-la com certa agilidade, só ficou com raiva porque não deu

tempo terminar as duas últimas questões de matemática e talvez não consiga garantir o seu dez

em todas as provas. Flávio, jogador do time de futsal da escola, até que fez uma excelente prova

de matemática, mas, como detesta ler, não conseguiu ter um bom desempenho nas provas de

1 Gíria que significa: vai dar certo. Ela é usada especialmente em situações problemáticas, onde com um tom

irônico, o interlocutor demonstra que mesmo não estando apto a resolver a situação ele espera um êxito. 2 Preencher o gabarito de forma aleatória, já que a pessoa não sabe a resolução.

3 O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é realizado uma vez por ano em todo território nacional. Sua nota é

utilizada para ingresso na maioria das universidades públicas do país ( no caso do Ceará, são todas), para concorrer

a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (PROUNI) e para conseguir um financiamento em faculdades

particulares (FIES). O certame é composto por quatro provas objetivas contendo 45 questões cada e uma prova de

redação. As provas são divididas em dois dias: primeiro dia - redação, área de humanas e linguagens e códigos,

tempo de prova 5h30min; segundo dia área de ciência e tecnologia e matemática, tempo de prova 5h30min. 4 Nomes fictícios.

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sociologia e biologia. Rafael que mal veio às aulas o ano todo, pois precisava trabalhar,

"chutou5" todas as questões e com menos de uma hora de prova já perguntava ao professor se

podia ir embora. Flávia, a líder de sala e dançarina profissional de funk, sempre gostou de

problematizar a realidade que a cercava, tem certeza que tirou uma nota boa em sociologia, mas

entregou a prova de matemática em branco. Estudantes com perfis totalmente diferentes são

avaliados da mesma forma.

A sineta bate com uma hora de início da atividade e é dada a autorização para que os

estudantes saiam da sala, quase todos se levantam, alguns teimam em ficar na porta pedindo para

que o professor, que é de sociologia, corrija a sua prova e dê a nota. Em pouco tempo ouvem-se

gritos, é a coordenação mandando os estudantes irem embora e deixar quem quer fazer a "prova

direito6" em paz.

O docente fica até feliz quando a maioria dos estudantes vão embora, pode começar

discretamente a corrigir os gabaritos, afinal muitos outros o esperam.

Quando finalmente o último aluno sai, o professor pensa: hoje foi um bom dia, não

precisei ministrar 10 aulas, contudo, essa alegria acaba em poucos instantes, pois ao chegar à

sala de professores para entregar à coordenação o pacote de provas na qual ele estava

fiscalizando, ele ganha um pacote muito maior contendo os gabaritos de todas as suas vinte e

sete turmas7, ou seja, 1.215.

Ainda com uma cara tristeza ele recebe o sonoro aviso da coordenação: todos os diários

precisam ficar prontos dentro de três dias e estes não podem ser preenchidos fora da escola.

Automaticamente o professor já imagina como ele fará para corrigir 1215 gabaritos, fechar 1215

médias manualmente e passar 1215 notas para 27 diários8 em três dias.

Essa é uma breve narração dos processos avaliativos que acontecem nas escolas públicas

de Ensino Médio do Ceará.

Infelizmente, na sociedade brasileira e, portanto, nas escolas, o autoritarismo está muito

presente. A concepção de gestão participativa no sistema educacional brasileiro, modelo que

5 Tentar acertar as questões na sorte.

6 Expressão que significa que as pessoas estão se dedicando a resolução de um problema ou situação.

7 Na rede básica do Estado do Ceará o professor de Ensino Médio para ter sua carga horária completa necessita ser

lotado 27hs em sala de aula. Caso a disciplina ministrada seja de apenas 1h aula, o professor precisa ter 27 turmas.

Em média são matriculados 45 estudantes por sala. Ou seja, o professor nessa situação tem em média 1215 alunos

sob sua responsabilidade. Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br/images/cogep/02_10_2015/lotacao/

portaria_lotacao_2015_doe_19_12_2014.pdf>. Acesso em : 09 fev. 2018. 8 É importante destacar que não são só as notas que compõem o preenchimento de um diário. Existe também o

cálculo manual das faltas mensais/ anuais por aluno e o preenchimento das atividades realizadas por mês naquela

sala.

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poderia ir ao encontro a essa prática, ainda é uma realidade muito distante. A verticalidade das

decisões e sua implementação obrigatória, sem questionamentos, é um fato corriqueiro.

As formas de avaliação, os projetos e planos elaborados pelo Ministério da Educação

(MEC) e as Secretarias Estaduais, bem como a elaboração do Projeto Político Pedagógico

(PPP)9, acabam se tornando, na maioria das vezes, apenas informações que geralmente se

reduzem a preenchimentos de formulários, prazos de entrega de informações e índices de

aprovação em avaliações internas, como as provas bimestrais, e externas, como o Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica

do Ceará (SPAECE)10

.

Em cinco anos como docente, de sociologia e filosofia, do Ensino Médio da rede básica

de ensino do Estado do Ceará, escutei muitos profissionais de educação, como outros professores

e gestores, falarem que a avaliação deveria ser processual e que os aspectos qualitativos têm

prevalência sobre os quantitativos, como meio seguro e eficaz de medir o rendimento escolar.

Contudo, a verificação de conteúdos, através de testes, simulados e provas, são prioridade.

Por outro lado, não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade neoliberal

globalizada que é extremamente influenciada pelos Organismos Multilaterais, como o Banco

Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das Nações Unidas (ONU), dentre

outros, que orientam a escola a introduzir mecanismos que regulem a produtividade e a eficácia,

em suma: a qualidade dos serviços educacionais.

A presença dos organismos internacionais na educação é ampla e diversificada. Apesar

de já ter ocorrido intervenções anteriores, foi com a realização da "Conferência Mundial de

Educação para Todos", em Jomtien na Tailândia em 1990, que setores empresariais e o Banco

Mundial propuseram reformas educacionais mais contundentes em vários aspectos, por exemplo,

no currículo, nas prioridades educacionais, nas formas de financiamento e na avaliação.

Organizada pela UNESCO, a conferência reuniu cerca de 1500 participantes, entre eles

delegados de 150 países, incluindo especialistas em educação e autoridades nacionais. Além de

9 O Projeto Político-Pedagógico (PPP) deve se constituir na referência norteadora de todos os âmbitos da ação

educativa da escola. Por isso, sua elaboração requer, a participação de todos aqueles que compõem a comunidade

escolar. Este documento é um projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado

período de tempo. É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes,

responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir. E é pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de

ensino e aprendizagem. Disponível em: <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/2-sala_projeto_vivencial/

pdf/dimensoesconceituais.pdf>. Acesso em: 06 fev. 2015. 10

O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) foi implementado em 1992 pela

Secretaria da Educação (SEDUC), com o objetivo de promover um ensino de qualidade e equânime para todos os

alunos da rede pública do estado. Disponível em: <http://www.spaece.caedufjf.net/o-programa/>. Acesso: 30 ago.

2015.

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contar com representantes de organismos inter-governamentais e não-governamentais

(UNESCO, 1990).

A legislação educacional brasileira foi modificada de várias formas, a partir de 1990, para

seguir as diretrizes da Conferência de Jomtien, com destaque para a implementação de uma nova

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/1996) e o fortalecimento do Sistema

de Avaliação Nacional (SAEB), criado em 1988.

O SAEB tem como principal objetivo avaliar a Educação Básica brasileira, contribuir

para a melhoria de sua qualidade e para a universalização do acesso à escola, oferecendo

subsídios concretos para a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas públicas

voltadas para a Educação Básica. Além disso, procura também oferecer dados e indicadores que

possibilitem maior compreensão dos fatores que influenciam o desempenho dos alunos nas áreas

e anos avaliados. Ele é composto por três avaliações externas em larga escala: Avaliação

Nacional da Educação Básica – ANEB, Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA e a

Avaliação Nacional do Rendimento Escolar - ANRESC (também denomina de Prova Brasil) 11

.

A partir da introdução das avaliações como mecanismo de monitoramento das políticas

educacionais, as escolas precisam agora "provar que são boas" através de exames objetivos e

pontuais que podem ter caráter nacional, como a Prova Brasil12

e o Exame Nacional de Ensino

Médio (ENEM) ou local, como o SPAECE.

No pacote da reforma educativa, recomendado aos países em desenvolvimento pela

Conferência de Jomtien, encontramos as seguintes recomendações:

Primazia da análise econômica na definição de problemas e das prioridades (redução de

custos e relação custo-benefício como critérios centrais nas decisões políticas); reforma

administrativa como prioridade, elemento central e articulador; descentralização da

gestão e da autonomia da instituição escolar; políticas de financiamento compartilhado e

recuperação de custos (contribuição econômica dos pais e da comunidade para pagar as

contas da educação escolar local) (TORRES, 2001, p. 79 - 80).

A “Declaração de Jomtien” está em consonância com as diretrizes e os objetivos traçados

pelo Banco Mundial. Para essa instituição financeira, a educação é concebida como uma solução

para o combate à pobreza e sua responsabilidade é da comunidade, da família e do Estado. Os

aspectos mais relevantes referentes à educação expressos nesse documento, são os seguintes:

11

Disponível em: < http://portal.inep.gov.br/web/saeb/aneb-e-anresc>. Acesso em: 22 ago. 2016. 12

Trata-se de uma avaliação censitária envolvendo os alunos da 4ª série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino

Fundamental das escolas públicas das redes municipais, estaduais e federal, com o objetivo de avaliar a qualidade do

ensino ministrado nas escolas públicas. Participam desta avaliação as escolas que possuem, no mínimo, 20 alunos

matriculados nas séries/anos avaliados, sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente

federativo. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/saeb/aneb-e-anresc>. Acesso em: 22 ago. 2016.

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19

"necessidade da reforma do Estado e posteriormente da Educação, a focalização, a equidade, a

descentralização, a privatização e a solidariedade" (DIAS; LARA, 2008, p. 04).

Essas orientações revelam os objetivos econômicos dos organismos patrocinadores da

Conferência de Jomtien, especialmente do BM, seu principal arquiteto. Nota-se, também, a

pretensão de privatização da educação, através da descentralização local/comunitária das

despesas com educação.

Idéias neoliberais, como as de "capital humano", permeiam o planejamento educacional

do BM. Segundo Torres (1995, p.129), esta teoria estabelece as seguintes diretrizes:

"descentralização administrativa, com o pressuposto de que os programas administrados

localmente são mais econômicos que os centralizados". Esta concepção dá sustentação ao

sistema capitalista para que ele proponha a redução da participação financeira do Estado no setor

educacional.

(...) os governos neoliberais propõem noções de mercados abertos e tratados de livre

comércio, redução do setor público e diminuição do intervencionismo estatal na

economia e na regulação do mercado. O ajuste estrutural define-se como um conjunto

de programas e políticas recomendadas pelo Banco Mundial, o Fundo Monetário

Internacional e outras organizações financeiras (...). Este modelo de estabilização e

ajuste tem resultado em uma série de recomendações de políticas públicas, incluindo a

redução do gasto governamental do setor estatal mediante a privatização das empresas

paraestatais (TORRES, 1995, p. 114).

A política macroeconômica praticada pelos bancos internacionais se insere em uma ampla

estratégia com vistas ao desenvolvimento capitalista.

Nos anos de 1980, sob o chamado Consenso de Washington, as equipes do Banco

Mundial e do FMI foram encarregadas de adaptar os países à emergente ordem global

neoliberal. Mencionada atribuição significou intervenção direta nas políticas nacionais e

não apenas no campo macroeconômico. Os governos que haviam contraído dívidas

privadas, bilaterais ou multilaterais e se viam incapazes de pagar essas dívidas eram

alvos primários das IFI's, as quais entendiam sua "missão" como sendo a promoção do

ajuste estrutural das economias "errantes" (GALLI, 2011, p.22).

Os projetos destas instituições são negociados com os governos nacionais e, então, cabe a

estes a responsabilidade de averiguar e decidir quais os reais benefícios que tais projetos trarão à

realidade socioeconômica e cultural de seus países.

Os críticos mais radicais acreditam que as instituições internacionais agem de forma

arbitrária e irredutível nas negociações com os Estados nacionais em que atuam. No entanto, os

governos também têm seu poder de barganha e, às vezes, manifestam posições contrárias às

ações “multilaterais”. Nesse sentido, o pesquisador Sérgio Haddad, lembra que é um equívoco

acreditar que:

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20

(...) haja um alinhamento incondicional entre as políticas produzidas no contexto das

instituições multilaterais e as políticas nacionais que aceitam e ratificam suas

orientações em função das necessidades dos recursos que os acompanham.

Acreditamos, ao contrário, que os atores responsáveis pelas políticas nacionais têm

papel relevante nos processos de negociações (HADDAD, 1998, p. 44).

Assim, as políticas públicas dessa natureza são articulações entre Estados nacionais e

entidades internacionais, em que se negociam desde os pequenos detalhes até as repercussões

macroeconômicas que possam surtir efeito em âmbito internacional.

Portanto, a "Conferência Mundial sobre Educação para Todos" foi fundamental para que

houvesse uma espécie de homogeneização sobre a forma de fazer educação nos países clientes

do Banco Mundial, pois foi a partir dela que diretrizes foram traçadas fazendo com que as leis

educacionais dos países fossem modificadas, em especial as voltadas para os processos

avaliativos, para terem consonância com os objetivos da conferência.

É importante destacar que se faz necessário uma atualização sobre essa relação entre os

organismos internacionais e as políticas públicas educacionais brasileiras nas duas primeiras

décadas do século XXI, tendo em vista que as mudanças conjunturais e estruturais na economia e

na política em nosso país e no mundo refletiram consideravelmente sobre a natureza e o sentido

dessas políticas, fazendo com que erroneamente muitas vezes achemos que a influência de

instituições, como o Banco Mundial, são coisas do passado.

Novos documentos foram escritos, novas categorias e discursos emergiram, novos atores

entraram em cena e novas necessidades se impuseram a partir de mudanças históricas de grande

importância, como o aprofundamento do processo de globalização e a ascensão de um governo

nacional bastante controverso.

A implementação das políticas de accountability na área educacional traz consigo todo

um ideário neoliberal que coloca nos processos de responsabilização toda a incumbência de

superar a péssima qualidade de ensino no país. De modo geral estes programas avaliam os alunos

e as escolas através de exames de proficiência padronizados e fornecem recompensas salariais às

escolas que alcançam metas pré-determinadas de desempenho.

O Estado, nesta perspectiva, deixa de ser o executor das políticas públicas e passa a ser

um Estado avaliador, por isso, os modelos de avaliação externos, como o SPAECE, ganham

destaque na atualidade e se tornam uma ferramenta fundamental de controle do trabalho docente.

As consequências da aplicação destes testes estandardizados é que eles tendem a deixar o

processo de ensino e aprendizagem em segundo plano, tornando-o em apenas um momento

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mecânico de decorar fórmulas, manuais e regras para responder um padrão de prova, fazendo

com que essa ocasião enriquecedora se torne em seletiva, traumática e constrangedora.

As formas tradicionais de aferição passam a ser bastante utilizadas, já que os docentes só

são reconhecidos como bons profissionais quando seus alunos conseguem atingir, nas avaliações

externas, êxito. Assim, esses exames tendem a ditar a metodologia e modelar as práticas

pedagógicas de avaliação dos professores.

Diante desta perspectiva é possível indagar: Quais as implicações das intervenções

realizadas pelo Banco Mundial, para o desenvolvimento da Educação Básica no Brasil? Quais

são os impactos do SPAECE, para a implementação de políticas públicas de educação no Ceará?

As práticas pedagógicas de avaliação dos professores são influenciadas pelas avaliações

externas, como o SPAECE? Quais as conseqüências das políticas de responsabilização e

bonificação dos professores no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes?

Na tentativa de responder tais questões, esse trabalho tem por objetivo conhecer as

repercussões produzidas pelos modelos de Avaliações Externas, como o SPAECE, nas ações

pedagógicas de avaliação dos professores e analisar a influência do Banco Mundial nas políticas

públicas voltadas para a Educação Básica no Brasil, em especial para o Ensino Médio, bem

como

Para tanto, nós começaremos nossa investigação com o capítulo dois apresentando o

percurso teórico metodológico da pesquisa. Este trás o perfil das escolas selecionadas e dos

professores entrevistados, bem como disserta como aconteceram as escolhas dos procedimentos

analíticos do objeto.

A seguir, no capítulo três, tomamos como ponto de partida uma análise sobre a reforma

do Estado brasileiro em um contexto neoliberal nos anos de 1990 e suas consequências para as

políticas públicas educacionais. Destaco nesse momento o papel do Banco Mundial, das

conferências internacionais de educação e do Movimento Todos pela Educação (TPE).

Posteriormente, no quarto capítulo, discutimos a função social da escola e da avaliação

sob a lógica do capital, exploramos as diretrizes propostas pelo Banco Mundial para área e

apresentamos o histórico da realização das avaliações em larga escala no Brasil.

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22

Em seguida, no capítulo cinco, mostramos o pioneirismo do Estado do Ceará na

implementação de testes estandardizados, com foco no SPAECE, discutimos sobre a formação

dos docentes que atuam no Ensino Médio tentando compreender como suas práticas pedagógicas

são influenciadas por avaliações em larga escala e fazemos ponderações acerca do alcance das

políticas de responsabilização e bonificação da prática docente, bem como problematizamos

como estes testes podem transformar o espaço escolar em um local de hierarquização dos saberes

dos estudantes, trazendo a tona a lógica da meritocracia e da culpabilização individual pelo seu

fracasso.

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23

2 O PERCURSO TEÓRICO METODOLÓGICO DA PESQUISA

O discurso atual sobre o papel da educação escolar tem cada vez mais motivações

meramente econômicas. A adoção do documento “Educação um Tesouro a Descobrir13

” (1996),

pelo Brasil, aprofunda a trajetória das relações entre capitalismo e educação.

Este foi baseado em um relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre

Educação para o século XXI, coordenado por Jacques Delors. Segundo este documento, a

educação deve ser organizada com base em quatro princípios, também chamados de pilares da

educação ou pilares do conhecimento: aprender a conhecer (adquirir instrumentos da

compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio), aprender a viver

juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humana) e aprender a ser (conceito

principal que integra todos os anteriores).

Parâmetros educacionais foram determinados e ajustados em consonância a um novo

perfil trabalhista, com vistas aos ajustes do capital mundial. Este foi instituído a partir da

Declaração de Jomtien.

A "declaração de Jomtien" tem por objetivo fornecer definições sobre as necessidades

básicas de aprendizagem, estabelecendo compromissos mundiais para garantir que todas as

pessoas tenham acesso a conhecimentos básicos.

No Brasil, essas diretrizes idealizadas tiveram impacto na elaboração de uma nova Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/1996), no Plano Nacional de Educação (PNE), a

criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e na implantação de um amplo Sistema de

Avaliação da Educação Básica (SAEB), com a finalidade de aferir a "aprendizagem" dos alunos.

As avaliações externas, a partir de então, ganham maior destaque, pois se colocam como

uma forma de controle e vigilância, fazendo com que esse processo torne as práticas escolares

hierarquizadas.

Segundo Luckesi (2011), a avaliação deveria ser um processo amoroso, inclusivo,

dinâmico e construtivo, diferente dos exames, que não são amorosos, são excludentes, não são

construtivos, mas classificatórios. A avaliação inclui, traz para dentro; os exames selecionam,

excluem, marginalizam.

Nessa perspectiva, o processo de ensino e aprendizagem é deixado em segundo plano e as

formas tradicionais de aferição são bastante utilizadas. O quantitativo (notas e faltas) é mais

13

Disponível em: < http://pt.slideshare.net/soaresd2004/delors-jacques-et-al>. Acesso em 22 ago. 2016.

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valorizado do que o qualitativo (participação nas atividades propostas, compreensão dos

conteúdos através de processos lúdicos, como o teatro ou desenho, etc.

A escola aparece então como uma instituição controladora e disciplinar que responde as

exigências do capital. Esta é marcada pelo pensamento moderno e tem por objetivo a ordenação

e organização, ou seja, a normalização disciplinar, não só dos corpos, mas também à submissão

dos conhecimentos. Isto Foucault (2008) vai chamar de escolarização dos saberes.

Assim, a educação formal surge como peça fundamental para uma maior compreensão da

disseminação da lógica do capital dentro de um Estado-Nação. Para Gellner (2000), as mudanças

nos sistemas educacionais são cruciais para compreender melhor as grandes transformações no

mundo ocidental dentro de uma determinada nação. Segundo o autor supracitado, a sociedade

inteira deve ser perpassada por uma só cultura superior padronizada, caso pretenda funcionar.

Esta homogeneização só poderá ser alcançada através da instituição escolar.

O acesso à cultura superior apropriada e a aceitabilidade dentro dela são o bem mais

importante e valioso das pessoas: ele instaura uma condição de acesso não apenas ao

emprego, mas a cidadania legal e moral e a todos os tipos de participação social

(GELLNER, 1993, p.62).

Benedict Anderson (2008, p. 32) define nação como: uma comunidade política imaginada

- e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana.

Ela é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das nações jamais

conhecerão, encontrarão, ou sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros,

embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles. (...) Imagina-se

a nação limitada porque mesmo a maior delas, que agregue, digamos, um bilhão de

habitantes, possui fronteiras finitas, ainda que elásticas, para além das quais existem

outras nações. (...) Imagina-se a nação soberana porque o conceito nasceu na época em

que o Iluminismo e a Revolução estavam destruindo a legitimidade do reino dinástico

hierárquico de ordem divina. (...) A garantia e o emblema da liberdade é o Estado

Soberano. (...) E, por último, ela é imaginada como comunidade porque,

independentemente da desigualdade e da exploração efetivas que possam existir dentro

dela, a nação sempre é concebida como uma profunda camaradagem horizontal

(ANDERSON, 2008, p. 32-34).

Hobsbawm (2002) destaca a grande importância da educação no processo de constituição

dos nacionalismos. Em sua análise, estes para consolidar-se precisaram de meios de

comunicação eficazes para agilizar a ação burocrática do Estado sobre cada cidadão, recorrendo

a meios mais “universais” e mais duradouros, como a língua falada e escrita. Daí a alfabetização

e escolarização em massa ser inerente aos processos de nacionalização.

Portanto, nossa hipótese é que a escola é uma instituição chave para se conhecer a lógica

neoliberal propagada por organismos multilaterais, como o Banco Mundial. Nela já se encontra,

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com muita força, as ideias de eficiência e eficácia, onde a busca por bons resultados nas

avaliações externas, se tornam o centro da sua atividade. Essa lógica traz modificações

importantes nas práticas pedagógicas dos professores, fazendo com que o processo de ensino e

aprendizagem seja deixado de lado, dando prioridade ao "ensinar para o teste".

Assim, em uma tentativa de compreender como as avaliações externas afetam o cotidiano

docente, nossa pesquisa adentrará no universo das Escolas Públicas da Rede Estadual de Ensino

Médio do Ceará.

Nossa pesquisa, a partir do processo vivenciado pelos sujeitos, será de natureza

qualitativa.

A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com

o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os

pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que

defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais

têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os

pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida

social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus

preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1997, p. 34).

A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem

ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais.

Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de

variáveis. O paradigma qualitativo tem seu eixo central na apreensão dos fenômenos sociais a

partir do ponto de vista dos sujeitos envolvidos e implicados na situação em estudo e dá ênfase à

expansão do conhecimento em relação ao sujeito com o qual se está dialogando e aproximar-se

de significados e vivências singulares.

Foram escolhidas, então, três escolas que possuem Ensino Médio nos turnos manhã e

tarde. A seleção destas está ligada a sua localização (pelo menos uma no interior do Estado), a

sua organização (pelo menos uma escola profissionalizante) e ao seu tamanho - uma escola tipo

A (mais de 1000 matrículas), uma escola tipo B (possui entre 501 e 1000 alunos matriculados) e

uma escola tipo C (possui entre 1 e 500 alunos matriculados).

Nossos sujeitos de análise são professores lotados em escolas públicas da Rede Estadual

de Ensino do Ceará, que trabalham nos turnos manhã e tarde no Ensino Médio, a mais de dois

anos nas escolas selecionadas. Não foram levados em consideração outros recortes, como

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gênero, formação, divisão de carga horária, etc. Aliás, se buscou a maior diversidade possível

dentro do perfil pré-estabelecido.

A amostra de uma pesquisa qualitativa precisa levar em consideração a dimensão do

objeto, o tempo e os recursos disponíveis para tal. Minayo (2017) considera que fazer uma

amostra de tamanho adequado deve merecer uma atenção especial do pesquisador qualitativo

afirmando que o tamanho da amostra e seu desenho representam um processo ativo de reflexão.

No que se refere ao tamanho da amostra, Bottoli (2010) conjectura que é impossível

abordar todos os sujeitos que compõem o grupo de interesse do pesquisador. Por esse motivo, a

amostra é definida como uma porção, um pedaço, um fragmento, uma parcela selecionada,

determinada conforme a conveniência de uma população de sujeitos. A autora explicita ainda que

a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, e sim, explorar o

espectro de opiniões sobre o assunto.

Neste trabalho usamos como recurso metodológico a saturação da resposta. Saturação é

um termo cunhado por Glaser e Strauss (1967) para se referirem a um momento no trabalho de

campo em que a coleta de novos dados não traria mais esclarecimentos para o objeto estudado.

Turato (2008) nos diz que o fechamento de amostra por saturação é uma ferramenta

muito utilizada em pesquisas qualitativas. A avaliação da amostra exige uma análise dos dados

coletados durante toda a pesquisa, assim a suspensão de novos participantes se dá quando o

pesquisador avalia que, no conjunto das informações, os acréscimos de elementos vão ficando

raros. Para isso, o autor reitera a importância do pesquisador avaliar se os objetivos da pesquisa

foram respondidos com aquele número de sujeitos previsto, pois, diferentes objetivos específicos

serão saturados em diferentes momentos de estudo.

Minayo (2017) ressalta que o tamanho da amostra e o ponto de saturação são resultantes

da heterogeneidade da população que será estudada e que estabelecer epistemologicamente o

momento de pausa da pesquisa é um momento muito difícil, pois a complexidade de qualquer

objeto é imensa.

Reconhecendo os inúmeros desafios dessa proposta e os diversos caminhos que

poderíamos ter seguido, realizamos trinta e uma entrevistas semi-estruturadas, (ver roteiro em

anexo A) fundamentadas nos objetivos desta pesquisa com os docentes das escolas selecionadas,

sendo catorze professores na escola Liceu de Iguatu Dr. José Gondim (professores dentro do

perfil vinte e seis), nove na escola Dona Luiza Távora (professores dentro do perfil treze) e oito

na escola Dona Creusa do Carmo Rocha (professores dentro do perfil 9).

A entrevista se caracteriza por uma conversação de natureza profissional para obtenção

de informações a respeito de um determinado assunto. Na entrevista semiestruturada, o

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entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, com perguntas predeterminadas,

efetuadas com pessoas selecionadas de acordo com o plano (GIL, 1999).

Para Bottoli (2010), a pesquisa com entrevista é um processo social, em que há interação

e cooperação entre entrevistado e entrevistador. Nesse âmbito, as palavras são o meio principal

de troca de ideias e significados de várias realidades e percepções, visando à produção de

conhecimento.

Todas as entrevistas foram realizadas individualmente e em condições adequadas ao

sigilo e a privacidade das informações, entre meses de setembro e outubro de 2017. Depois deste

momento, iniciamos a análise de conteúdo das mesmas, através de minuciosa leitura, para

identificar os pontos divergentes e comuns entre os entrevistados e realizar os cortes necessários

que puderam ressaltar as múltiplas facetas e dimensões que cercam os impactos das avaliações

em larga escala no cotidiano escolar.

Nossa proposta não é fazer nenhum tipo de comparação entre as escolas e sim perceber

através das entrevistas como diferentes profissionais que vivenciam realidades bastante distintas

são impactados pela aplicação do SPAECE. Portanto, as falas do interlocutores não serão

identificados por escola e sim por uma numeração dada pela a pesquisadora.

2.1 PERFIL DAS ESCOLAS SELECIONADAS

São instituições que têm entre oito e doze salas de aula, podendo ter mais de 1500

estudantes divididos em três turnos (manhã, tarde e noite) e em três turmas (1°, 2° e 3° anos).

O padrão MEC14

coloca que estes espaços precisam ter: salas arejadas que possam

comportar até 45 estudantes (esse número pode ser reduzido, caso na sala tenha um estudante

com alguma deficiência, nesse caso a turma terá no máximo 25 alunos), quadra poliesportiva,

biblioteca, sala de multimeios (também conhecida como sala de vídeo), laboratórios de

informática, biologia, química, física e matemática. Contudo, a maioria delas não possuem essas

estruturas ou quando as têm, funcionam de forma precária.

Atualmente, o foco da aprendizagem da maioria desses colégios é a obtenção de uma boa

nota no ENEM. Apesar de não haver uma estrutura mínima adequada, como a produção de

material específico, já que em grande parte das instituições faltam papel ou tonner na máquina

de xerox, existe uma "comoção" pós férias de julho, promovida pela Secretaria Estadual de

Educação (SEDUC) para que toda a atenção esteja voltada para o certame, que geralmente é

14

Disponível em:< http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000562.pdf>. Acesso em 20 dez. 2017.

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realizado no último final de semana de outubro. Inclusive, sugere-se que o conteúdo seja

paralisado e os professores se dediquem em resoluções de exercícios preparatórios e das provas

do ENEM nos anos anteriores.

Além da direção, a gestão escolar é composta por coordenadores da área pedagógica e

financeira. Existe também um aporte de pessoas que trabalham na administração e manutenção

do ambiente como: as secretárias, merendeiras, zeladores, porteiros, etc.

Os professores são lotados por disciplina, na maioria das vezes na área de sua formação15

.

Para fechar a sua carga horária nas escolas da rede estadual de ensino precisam ser lotados em

27hs em sala de aula e 13hs são para planejamento das atividades pedagógicas e preenchimento

da burocracia, como os diários de sala, totalizando assim, 40hs de contrato.

Os estudantes, com exceção do curso noturno, têm em média entre 15 e 18 anos, a

grande maioria estão "dentro de faixa" e boa parte já trabalha, em especial em programas como o

"Jovem Aprendiz16

" ou em trabalhos temporários sem grandes remunerações ou vínculo

empregatício na rede de serviços próxima a sua residência, como manicure, garçom, embalador

de supermercado, etc.

Geralmente são ministradas cinco aulas por dia (apesar de existirem instituições que

ministram seis aulas), de segunda a sexta, o sábado quando usado são para atividades festivas ou

reposições de aula. Por lei são garantidos 200 dias letivos em sala de aula, mais período de

recuperação.

Na maior parte das vezes as aulas começam no final de janeiro, há um período de férias

em julho, retornam as atividades em agosto e tem seu encerramento em meados do mês de

dezembro.

As disciplinas que compõem a grade curricular da maioria das instituições escolares são:

história (2 aulas), geografia (2 aulas), sociologia (1 aula), filosofia, (1 aula), física (2 aulas),

15

Alguns professores, para fechar a sua carga horária e não precisarem ter dois ou mais locais de trabalho, são

lotados em outras disciplinas da sua área de formação. Exemplo: o professor de sociologia, também ministra aulas

de filosofia ou o professor de química, dá aulas de física. 16

O Programa Jovem Aprendiz é um projeto do governo federal criado a partir da Lei da Aprendizagem (Lei

10.097/00) com o objetivo de que as empresas desenvolvam programas de aprendizagem que visam a capacitação

profissional de adolescentes e jovens em todo o país. O programa é composto por curso de aprendizagem gratuito

com duração de até dois anos. Durante este período, o aprendiz receberá ensinamentos teórico (sala de aula) e

prático (dentro da empresa contratante). Muitas empresas participam do programa, como a Caixa Econômica

Federal e os Correios . Para participar o adolescente ou jovem precisa ter entre 14 e 24 anos e estar matriculado e

freqüentando a escola. A remuneração tem como referência o salário mínimo/ hora. Mas o empregador é livre para

estipular qualquer valor de salário acima deste mínimo estipulado pela lei.

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química (2 aulas), biologia (2 aulas), matemática (4 aulas), inglês (1 aula), espanhol (1 aula),

educação física (2 aulas), português (4 aulas) e formação para cidadania (1 aula)17

.

2.1.1 Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José Gondim

Figura 1- Fachada da Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José Gondim

Escola regular localizada em Iguatu, município do Ceará, localizado na Região Centro-

Sul do Estado, distante 380 km da capital Fortaleza. Configura-se como o principal pólo

econômico da região.

Foi inaugurada em 12 de dezembro de 2000 pelo governador Tasso Jereissati, porém só

começou suas atividades em 2001. O prédio situado na rua 25 de março, s/n, foi construído em

um terreno doado pela município, com uma área de 45.000m². Devido aos serviços prestados à

comunidade iguatuense, o Dr. José Gondim teve seu nome indicado pela prefeitura para ser

homenageado com o nome da escola.

Na época a instituição oferecia 14 turmas de 1° ano do Ensino Médio e 15 do Programa

Tempo de Avançar Médio (TAM)18

, subdividas nos três turnos, com a clientela inicial de 1.180

estudantes.

17

Disciplina da Área curricular transversal que estimula a reflexão e a ressignificação de valores, atitudes e

comportamentos, levando estudantes a assumir novas formas de ser e de conviver. Faz parte do Projeto Professor

Diretor de Turma (PDT), que é uma tecnologia educacional, em que um professor, ministrante de qualquer

disciplina e com perfil adequado para exercer a função, assume o compromisso de responsabilizar-se pelos alunos

de uma única turma, ao longo de 04 horas semanais, desenvolvendo atividades de planejamento, monitoramento e

avaliação do desempenho acadêmico dos estudantes. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-

legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/ce/ arquivos/apresentacao-fortaleza>. Acesso em 19 ago. 2016.

Fonte: < http://www.maisfm.com/pais-de-alunos-reclamam-de-falta-de-vagas-na-escola-liceu-de-iguatu/>.

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A escola ao longo da sua trajetória se tornou referência na região, inclusive recebendo

alunos da zona rural do município e de outras cidades vizinhas. Atualmente é a maior da região,

com mais de 1000 alunos divididos nos três turnos e 25 turmas de Ensino Médio, fazendo com

que o perfil do aluno seja bastante diversificado, compondo assim vários níveis

socioeconômicos.

O corpo docente compreende 32 professores, sendo 7 temporários e 25 efetivos. O

núcleo gestor é composto de 01 diretora e 02 coordenadores pedagógicos.

A instituição tem como missão "proporcionar um ensino de qualidade, preparando os

alunos para os desafios da vida, visando a sua formação cidadã de modo crítico, participativo e

consciente dos seus direitos e deveres. E tem como objetivo aumentar a taxa de aprovação de

88,55 % para 90% e reduzir a taxa de abandono de 1,77% para 1%. (PROJETO POLITICO

PEDAGOGICO da Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José Gondim, 2016, p. 19). Para

tal, se utiliza do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Estado do Ceará

(SPAECE) para monitorar a melhoria da aprendizagem de seus estudantes, pois a partir dos

resultados obtidos a cada ano, os professores têm conseguido aprimorar sua forma de avaliar os

alunos. (Ibid, p. 13)

Abaixo segue os índices no SPAECE da escola:

Figura 2- Dados do SPAECE da Escola de Ensino Médio Liceu de Iguatu Dr. José Gondim

A escala de rendimentos é dividida da seguinte forma: até 225 pontos - muito critica a

situação de aprendizagem; de 226 à 275 pontos - crítica a situação de aprendizagem; de 276 à

18

Projeto desenvolvido para a educação de jovens e adultos no Ceará. Caracteriza-se por ser uma ação de

escolarização supletiva nos níveis fundamental e médio, que se utilizava de aulas pela televisão, com a metodologia

do Telecurso 2000. A experiência ocorreu em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará,

secretarias municipais de educação e Fundação Roberto Marinho, abrangeu toda a rede estadual de ensino (CEARA,

1999).

Fonte: Elaborada pela autora.

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31

325 pontos - situação intermediária de aprendizagem; e mais de 326 pontos - situação adequada

de aprendizagem.

Atualmente, a escola se encontra no nível intermediário na aprendizagem de português e

no nível crítico de aprendizagem em matemática.

Programas e projetos desenvolvidos na escola:

Projeto Jovem de Futuro: é um projeto de Gestão Escolar para Resultados da Secretaria

de Educação do Ceará (SEDUC) em parceria com o Instituto Unibanco que oferece às escolas

participantes apoio técnico e financeiro para, em um período de 3 anos (duração do Ensino

Médio), melhorar substancialmente seu desempenho19

. Dentro dele a escola realiza as seguintes

atividades: coral vozes do Liceu e banda; letramento entre pares monitoria/tutoria; liceu olímpico

da matemática; o circulo de leitura; o viva esporte; e a gincana.

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID's): o programa oferece

bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao estágio nas

escolas públicas e que, quando graduados, se comprometam com o exercício do magistério na

rede pública. O objetivo é antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula da rede

pública. Com essa iniciativa, o PIBID faz uma articulação entre a educação superior (por meio

das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais e municipais20

. Na escola esse programa

acontece em parceria com a Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI) e são

contempladas as seguintes disciplinas: química, matemática, português e biologia.

Células de Aprendizagem Cooperativa de Estudo: as células de estudo funcionam do

seguinte modo - um grupo de pessoas se reúne para compartilhar conhecimentos e

consequentemente, suas histórias de vida. Não há professor, os próprios estudantes se tornam

facilitadores das disciplinas com que tem mais afinidade. Eles se apoiam mutuamente e juntos

superam suas deficiências de aprendizagem preparando-se assim para ingressar no ensino

superior.21

Programa Geração da Paz: objetivo do programa “Geração da Paz” é promover e

desenvolver estratégias de aproximação da escola e comunidade, através da valorização dos

19

Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/legislacao/87-pagina-inicial-servicos/ desenvolvimento-

da -escola/3176-projeto-jovem-de-futuro>. Acesso em 14 dez. 2017. 20

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pibid>. Acesso em 14 dez. 2017. 21

Disponível em: <http://www.prece.ufc.br/?page_id=381>. Acesso em 14 dez. 2017.

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32

saberes e experiências locais, que apoiem a construção de uma cultura de paz no estado do

Ceará22

.

Núcleo de Trabalho Pesquisas e Práticas Sociais (NTPPS): É um componente curricular

integrador e indutor de novas práticas que tem como finalidade o desenvolvimento de

competências socioemocionais por meio da pesquisa, da interdisciplinaridade, do protagonismo

estudantil, contribuindo fortemente para um ambiente escolar mais integrado, motivador e

favorável à produção de conhecimentos23

.

Estrutura física da escola:

13 salas de aula;

01 laboratório de biologia;

01 laboratório de física;

01 laboratório de química;

02 laboratórios de informática;

01 centro de multimeios com biblioteca e sala de vídeo;

01 sala multifuncional que atende aos alunos com alguma deficiência;

01 auditório;

01 sala para a direção;

01 sala para os professores;

01 sala para a coordenação pedagógica;

01 ginásio poliesportivo;

01 cozinha com refeitório;

06 banheiros para alunos e funcionários;

01 secretaria;

01 sala de mecanografia;

01 pátio com anfiteatro;

01 estacionamento.

22

Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/noticias/143-programa-geracao-da-paz/3492-programa-

geracao-da-paz>. Acesso em 14 dez. 2017. 23

Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/legislacao/196-pagina-inicial-servicos/ desenvolvimento-

da-escola/ntpps/8891-e-o-que-e-o-ntpps>. Acesso em: 14 dez. 2017.

Fonte: < http://www.maisfm.com/pais-de-alunos-

reclamam-de-falta-de-vagas-na-escola-liceu-de-iguatu/>.

Figura 3- Interior da Escola de Ensino Médio

Escola de Ensino Médio Liceu Dr. José Gondim

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33

2.1.2 Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Luiza Távora

Figura 4- Fachada da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Luiza Távora

Instituição localizada no bairro Pio XII. Este é situado na Regional II (divisão

administrativa) do município de Fortaleza, caracteriza-se por ser uma região de baixo IDH. 24

A escola regular de Ensino Fundamental e Médio Dona Luiza Távora – Pio XII, nasceu

em 1964 com a criação do Centro Profissional do Lagamar, na Rua Sabino do Monte nº 4506,

local onde as lavadeiras levavam seus filhos para as acompanharem no trabalho. Na segunda

gestão do governador Virgílio Távora (1979-1982), sua esposa, Dona Luiza Távora, então

presidente local da Legião Brasileira de Assistência (LBA)25

, ajudou a contratar professores e

funcionários para aquela instituição. Assim, para homenagear a primeira dama do Estado,

quando o colégio foi reinaugurado em 1980 recebeu o seu nome.

24

Disponível em: <http://pt.calameo.com/read/0032553521353dc27b3d9>. Acesso em 21 fev. 2018. 25

LBA é a sigla de Legião Brasileira de Assistência, uma entidade filantrópica fundada em 1942 por Darcy Vargas,

esposa do então presidente Getúlio Vargas. A fundação tinha como objetivo inicial prestar auxílio às famílias dos

soldados enviados à 2ª Guerra Mundial. Com o fim da guerra, continuou a existir para ajudar famílias carentes. A

instituição era presidida por primeiras-damas. Contudo, muitas denúncias de desvios de verbas no ano de 1991

marcaram negativamente a gestão de Rosane Collor, mulher de Fernando Collor de Melo presidente em exercício do

Brasil. Em 1995, a LBA foi extinta logo no primeiro dia do governo do então Presidente da República, Fernando

Henrique Cardoso. Disponível em: <https://www.significados.com.br/lba/>. Acesso em 07 dez. 2017.

Fonte : <https://pt.foursquare.com/v/eefm-dona-luiza-t%C3%A1vora--pio-xii/5221485f2fc65ac dc7bf3737/photos> .

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34

A partir de junho de 1981, a escola passou a funcionar em uma casa residencial na Rua

José Justa, nº 4248, local alugado pela Secretaria Estadual de Educação do Ceará (SEDUC).

Apenas em fevereiro de 1985, foi inaugurada a sede, situada na Rua Ana Gonçalves, nº 947,

onde funciona até a presente data.

A escola está localizada num bairro residencial com alguns pontos comerciais,

considerado violento e perigoso, pelas falas da população local e da mídia. A região também é

alvo de especulação imobiliária, o que causa constantemente conflitos entre os moradores e os

poderes públicos.

A comunidade é composta na sua maioria por pessoas subempregadas que faz com que

grande parte dos estudantes pertençam à classes menos favorecidas. O uso de álcool e de outras

drogas ilícitas predomina na região, fazendo dela território do trafico e de facções criminosas que

disputam o local, causando constantemente transtornos para a população.

Atualmente a escola possui 536 alunos, divididos em três turnos e 17 turmas de Ensino

Fundamental e Médio. O corpo docente compreende 35 professores, sendo 13 temporários e 22

efetivos. O núcleo gestor é composto de 01 diretora e 02 coordenadoras pedagógicas.

A escola convive com altos índices de repetência e abandono. Em seu PPP, a instituição

demonstra preocupação com os seus índices de aprendizagem aferidos nas avaliações externas,

como o SPAECE, por isso coloca como meta para os próximo anos o aumento dos índices de

proficiência em Língua Portuguesa e Matemática em 8,2%.

Segue abaixo o resultado da escola no SPAECE:

Figura 5- Dados do

SPAECE da Escola de

Ensino

Fundamental e Médio Dona Luiza Távora.

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Atualmente, a escola se encontra no nível crítico de aprendizagem nas duas áreas

avaliadas: português e matemática.

Dentro do ponto três do Plano de Metas do Diretor (PLAMETAS)26

da escola,

verificamos especificamente normativas sobre as avaliações externas. Ele trás como objetivos:

1. elaborar um instrumento de auto-avaliação de desempenho para ser aplicado junto aos

professores; 2. realizar um relatório avaliativo sobre as atividades executadas; 3. realizar um

acompanhamento pedagógico dos resultados das avaliações externas. Ratificando assim a

atenção destinada aos resultados das avaliações externas. 4. realizar um levantamento

diagnóstico dos alunos do ensino Fundamental nas séries finais e dos alunos do Ensino Médio

nas disciplinas de Português e Matemática; 5. planejar atividades de leitura e escrita

diversificadas com o auxilio da sala de informática para os alunos de ensino médio e

fundamental; 6. apresentar o desempenho acadêmico dos alunos aos pais e professores,

procurando fazer um monitoramento para um melhor desenvolvimento da escola; e 7.

implementar na escola a função do professor diretor de turmas para facilitar o acompanhamento

dos rendimentos.

Projetos desenvolvidos na escola

Projeto clube de leitores: Este projeto tem como objetivos: exercitar a leitura como

prática democrática, envolver e conscientizar a comunidade estudantil sobre o ato de ler,

desenvolver competências de compreensão leitora, ampliar as práticas promotoras do acesso e da

democratização da leitura, incentivar a leitura e formação de novos leitores; possibilitar a

vivência de emoções e o exercício da fantasia e da imaginação, valorizar e estimular a criação e

circulação do acervo de literatura da biblioteca. 27

26

O Plano de Metas do Diretor – PLAMETAS, representa o compromisso inicial do diretor com a Escola e a

SEDUC, servindo de base para a redefinição, junto à comunidade escolar, dos instrumentos de gestão da Escola.

Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/legislacao/87-pagina-inicial-servicos/desenvolvimento-da-

escola/363-plano-de-metas-do-diretor-plametas>. Acesso em: 15 dez. 2017. 27

Disponível em: <http://www.cbbionline.org/uploads/8/4/3/3/8433852/clube_da_leitura_(1).pdf>. Acesso em 15

dez. 2017.

Fonte: Elaborada pela autora.

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Projeto de monitoria: são atividades desenvolvidas por alunos do Ensino Médio da Rede

Estadual de Ensino, voltadas para o fortalecimento das ações pedagógicas e de projetos da

unidade escolar na qual estão matriculados. Assim, os estudantes irão auxiliar colegas e

professores nas atividades escolares. 28

Projeto reforço paralelo: são aulas de Reforço em Língua Portuguesa e Matemática.

Justifica-se pela importância de ser um instrumento de apoio didático e pedagógico para suprir

dificuldades de aprendizagem relacionadas a conteúdo de leitura, escrita e operações

matemática.29

Projeto feira cultural e esportiva: Proporcionar momentos de integração entre alunos de

turmas diferentes e deste com os professores estimulando atitudes de solidariedade,

perseverança, colaboração e responsabilidade, na

realização de tarefas de cunho cultural e

esportivo.30

Estrutura física da escola

07 salas de aula;

01 laboratório de ciências;

01 laboratório de informática;

01 centro de multimeios com biblioteca

01 sala para a direção e coordenação;

01 sala para os professores;

01 cozinha com refeitório;

03 banheiros para alunos e funcionários;

01 secretaria;

01 espaço de convivência

28

Disponível em: <http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/195-noticias-2015/9238-escolas-

do-proemi-jovem-de-futuro-lancam-editais-para-monitores-e-tutores-2015>. Acesso em 15 dez. 2017. 29

PROJETO POLITICO PEDAGOGICO da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dona Luiza Távora, 2015. 30

Ibid.

Figura 6- Espaço de convivência

da Escola de Ensino

Fundamental e Médio Dona

Luiza Távora

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2.1.3 Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa do Carmo Rocha

Figura 7- Fachada da Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa do Carmo

Rocha

Fonte:<https://www.facebook.com/pg/EEEP-Dona-Creusa-do-Carmo-Rocha-1399049723703118/photos/

?ref=page_internal>.

A instituição é localizada na Av. Sargento Hermínio, n° 2006, no Monte Castelo. Este é

situado na Regional I (divisão administrativa) do município de Fortaleza, caracteriza-se por ser

um bairro residencial que em meados do século XX possuía muitas fábricas.

A E.E.P. Dona Creusa Do Carmo Rocha é um local que desenvolve o Ensino

Profissional integrado ao Ensino Médio regular. Ela faz parte do grupo de escolas criadas,

conforme Lei nº 14.273 de 19/12/2008, para implementar o projeto de formação profissional

idealizado pelo Governo do Estado do Ceará visando a formação de profissionais para atender as

necessidades do mercado de trabalho nos seus diversos setores. Este projeto foi corroborado pela

Fonte : <https://pt.foursquare.com/v/eefm-dona-luiza-t%C3%A1vora--pio-

xii/5221485f2fc65acdc7bf3737/photos>.

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parceria entre os governos estadual, Cid Ferreira Gomes e o federal Luís Inácio Lula da Silva

através do programa Brasil Profissionalizado.

O Programa Brasil Profissionalizado visa fortalecer as redes estaduais de educação

profissional e tecnológica. A iniciativa repassa recursos do governo federal para que os estados

invistam em suas escolas técnicas. Criado em 2007, o programa possibilita a modernização, a

expansão das redes públicas de Ensino Médio integradas à Educação Profissional, levando em

consideração o desenvolvimento da educação básica na rede local de ensino e fazendo uma

projeção dos resultados para a melhoria da aprendizagem.

Em 2008, quando o programa foi iniciado, foram implantadas 25 Escolas Estaduais de

Educação Profissional (EEEP), que ofertavam, em 20 municípios, quatro cursos profissionais de

nível técnico: Informática, Enfermagem, Guia de Turismo e Segurança do Trabalho, totalizando

uma carga horária total nos três anos do Ensino médio 2.620 horas.

Além do currículo regular, as EEEP têm em seu quadro de disciplinas uma "parte

diversificada" que envolve atividades escolhidas pelos estabelecimentos escolares, de

acordo com as características regionais, culturais, sociais e econômicas locais. Dentre os

componentes da parte diversificada destacam-se: Projeto de Vida; Formação para a Cidadania;

Mundo do Trabalho; Oficina de Redação; e Empreendedorismo.

Segundo as diretrizes estaduais para as escolas profissionais,

(...) essas unidades curriculares favorecem a comunicação entre a formação geral e a

formação profissional, na medida em que tratam de temáticas que são transversais ao

currículo proposto, como também contribuem para desenvolver o protagonismo

cooperativo e solidário31

.

O critério adotado pela SEDUC-CE para a escolha dos municípios que iriam receber as

primeiras escolas profissionais foi, além da capital, ser município sede das Coordenadorias

Regionais de Desenvolvimento da Educação (CREDE), se situarem em áreas de vulnerabilidade

social, apresentarem indicadores educacionais abaixo do esperado como forma de revitalizá-las,

e estarem em condições mínimas necessárias à implantação. A escolha dos cursos se deu em

função das características socioeconômicas dos municípios inicialmente contemplados, em

diálogo com os projetos estratégicos do governo estadual no que se refere ao desenvolvimento

31

Disponível em: <http://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br/index.php?option=com_content&view

=article&id=3&Itemid=103 >. Acesso em 12 dez. 2017.

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econômico e produtivo do Ceará. Esse critério continua a ser considerado na criação de novos

cursos32

.

Em 2017 já se chega ao número de 115 escolas profissionais no Estado do Ceará,

divididas em 93 municípios, com quase 50 mil estudantes matriculados. São ofertados

atualmente 53 cursos profissionalizantes divididos em 12 eixos centrais, a saber:

Quadro 1- Lista com os cursos ofertados nas escolas profissionalizantes do Estado do Ceará

Eixo Cursos

Ambiente e Saúde

Enfermagem; Estética; Massoterapia;

Meio Ambiente; Nutrição e Dietética;

Saúde Bucal.

Controle e Processos Industriais

Automação Industrial;

Eletromecânica; Eletrotécnica;

Manutenção Automotiva; Mecânica.

Desenvolvimento Educacional e Social Instrução de Libras - Experimental; Secretaria

Escolar; Tradução e Interpretação de Libras.

Gestão e Negócios

Administração; Comércio; Contabilidade;

Finanças; Logística; Secretariado;

Transações Imobiliárias.

Informação e Comunicação Informática; Redes de Computadores.

Infraestrutura

Agrimensura; Desenho de Construção Civil;

Edificações; Portos.

Produção Alimentícia Agroindústria

Produção Cultural e Design

Design de Interiores;

Gestão Cultural - Experimental;

Modelagem do Vestuário; Multimídia;

Paisagismo; Produção de Áudio e Vídeo;

Produção de Moda; Regência.

Produção Industrial

Biotecnologia; Fabricação Mecânica; Móveis;

Petróleo e Gás; Química; Têxtil; Vestuário.

Recursos Naturais

Agricultura(Floricultura);

Agronegócio; Agropecuária;

Aquicultura; Fruticultura; Mineração.

Segurança Segurança do Trabalho

Turismo, hospitalidade e lazer Eventos; Guia de Turismo; Hospedagem.

Fonte: PROJETO POLITICO PEDAGOGICO da Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa do Carmo

Rocha, 2014.

32

Disponível em: < http://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br/index.php?option=com_content&view=

article&id=3&Itemid=103>. Acesso em: 12 dez. 2017.

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Atualmente são ofertados cinco cursos profissionalizantes na E.E.P. Dona Creusa do

Carmo Rocha: técnico em informática, administração, logística, secretariado e design de

interiores. Em 2017 foram matriculados 405 estudantes, divididos em 11 turmas de Ensino Médio.

O corpo docente compreende 20 professores, sendo 9 temporários e 11 efetivos. O núcleo gestor é

composto de 01 diretora e 03 coordenadores pedagógicos.

Em seu PPA a escola coloca como missão oferecer aos educandos um ambiente de

aprendizagens significativas e de desenvolvimento de competências profissionais voltadas para a

produção do conhecimento, habilidades e atitudes requeridas pelo mundo do trabalho.

Comprometida com a solidariedade, a participação e a equidade social reconhece que

(...) em face das transformações do mundo contemporâneo e dos processos de

reestruturação produtiva, a qualificação para o trabalho deixa de ser compreendida

como fruto da aquisição de modos de fazer, passando a ser vista como resultado da

articulação de vários elementos, subjetivos e objetivos, tais como: natureza das relações

sociais vividas pelos indivíduos, escolaridade, acesso à informação, a saberes, a

manifestações científicas e culturais, além da duração e da profundidade das

experiências vivenciadas, tanto na vida social, quanto no mundo do trabalho. A

formação dos trabalhadores passa, então, a ter como objetivo o desenvolvimento de

competências. Nessa perspectiva, a formação assume como finalidade capacitar

indivíduos para que tenham condições de disponibilizar durante seu desempenho

profissional os atributos adquiridos na vida social, escolar, pessoal e laboral,

preparando-os para lidar com a incerteza, com a flexibilidade e a rapidez na resolução

de problemas. (....) Essa mudança de paradigma conduziu a escola ao compromisso

irrevogável com a eficiência, a eficácia e a qualidade, com a disposição de avaliar e ser

avaliada, de levantar um diagnóstico preciso da realidade, de construir coletivamente

sua proposta pedagógica, de definir estratégias para superar problemas e atingir metas e

da disposição de prestar contas de sua atuação e de seus resultados (PROJETO

POLITICO PEDAGOGICO da Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa

do Carmo Rocha, 2014, p.9).

Assim, a instituição já deixa bem claro seus princípios e a sua percepção sobre a função

da escola na sociedade, ou seja, capacitar trabalhadores eficientes para o mundo do trabalho,

dando-lhes condições de competitividade e uma formação integral que envolve conhecimentos

teóricos e técnicos.

Atualmente, a escola se encontra no nível intermediário de aprendizagem nas duas

disciplinas avaliadas. Segue abaixo o resultado da escola no SPAECE:

Figura 8- Dados do SPAECE da Escola Estadual de Educação Profissional Dona Creusa do

Carmo Rocha

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Estrutura física da escola:

11 salas de aula;

01 laboratório de ciências;

02 laboratórios de informática;

01 sala de hardware;

01 centro de multimeios com biblioteca e sala de vídeo;

01 auditório;

01 sala para a

direção;

01 sala para os

professores;

01 sala para planejamento pedagógico;

01 sala para a coordenação pedagógica;

Fonte: Elaborada pela autora.

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01 ginásio poliesportivo;

01 cozinha com refeitório;

03 banheiros para alunos e funcionários;

02 vestiários;

01 secretaria;

01 viveiro de mudas;

01 pátio;

01 estacionamento.

2.2 O PERFIL DOS PROFESSORES

ENTREVISTADOS

Todas as trinta e uma entrevistas

foram realizadas de forma presencial pela

pesquisadora. Em nenhuma escola teve

resistência ou algum impedimento por parte da gestão, ao contrário, em todas fui bem recebida e

minha solicitação para realizar a pesquisa foi prontamente atendida. Em campo, buscamos a

maior variação possível dentro do perfil pré-estabelecido. Destaco aqui alguns dados que

consideramos relevantes. A saber:

1. equidade de gênero (ver figura 10);

Fonte: <https://www.facebook.com/pg/EEEP-Dona-Creusa-do-

Carmo-Rocha-1399049723703118 /photos/?ref=page_internal>.

Figura 9- Viveiro de Mudas da Escola Estadual de

Educação Profissional Dona Creusa do Carmo Rocha

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2. formação superior de todos os entrevistados (ver figura 11);

3. a maioria dos interlocutores têm menos 40 anos (ver figura 12), sinalizando que eles

estão no início de carreira (ver figura 15);

4. número maior que 31 (ver figura 13), pois alguns docentes lecionam mais de uma

disciplina, em especial os da área de Humanas.

5. quase todos os professores lecionam nas três séries do Ensino Médio, mostrando que

existe uma grande carga laboral para preparação das aulas (ver figura 14);

6. quase todos só trabalham como professores, o que pode ser demonstrado na sua

grande carga horária (ver figura 17); e

7. boa parte são efetivos (ver figura 18)

Figura 10- Sexo dos entrevistados

Figura 11- Escolaridade dos

entrevistados

Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 12- Idade dos entrevistados

Figura 13- Disciplinas que os entrevistados ministram

Fonte: Elaborada pela autora.

Fonte: Elaborada pela autora.

Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 14- Quais séries os entrevistados lecionam

Figura 15- Tempo que os entrevistados exercem a carreira docente

Figura 16- Tempo de trabalho naquela escola

Fonte: Elaborada pela autora.

Fonte: Elaborada pela autora.

Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 17- Carga horária semanal dos entrevistados

Figura 18- Situação trabalhistas dos entrevistados

2.3 ESCOLHAS E PROCEDIMENTOS DE APROXIMAÇÕES COM O OBJETO

O propósito dessa investigação é fazer uma análise crítica de como as avaliações

externas, como o SPAECE, influenciam nas práticas pedagógicas dos professores no Estado do

Ceará. Desse modo, para tentar responder essa questão, utilizaremos como categorias de análise

os conceitos de escola, avaliação em larga escala, Estado-Nação e Organismos Internacionais.

Em busca de uma melhor compreensão do conceito de escola, dialogamos com:

Dermeval Savianni, tendo por base as obras "Escola e Democracia" (2012) e "Pedagogia

Histórico-Crítica: primeiras aproximações, (2000)", Michel Foucault particularmente suas ideias

no livro intitulado "Vigiar e Punir" (2014), José Carlos Libâneo em "Educação escolar: políticas,

Fonte: Elaborada pela autora.

Fonte: Elaborada pela autora.

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estrutura e organização" (2012) e Maurice Tardif em "Saberes Docentes e formação profissional"

(2002).

Para uma análise mais detalhada sobre a avaliação em larga escala, utilizei as apreciações

de vários autores, destaco aqui: Almerindo Janela Afonso (2009); Alícia Bonamino e Sandra

Zákia Sousa (2012); Nigel Brooke (2006 e 2011); Gaudêncio Frigotto (1999 e 2010); Eric

Ferdinando Kanai Passone (2014 e 2015); e Diane Ravitch (2011).

As questões que dizem respeito à construção do Estado-Nação tem embasamento teórico

em: Benedict Anderson (Comunidades Imaginadas - 2008); Eric Hobsbawm (Nações e

Nacionalismo: 1780 - 1990), os artigos "Significados do Nacionalismo e do Internacionalismo"

(2006) de Manuel Domingos e Mônica Martins, "A nação" (2000) de Otto Bauer, "O advento do

nacionalismo e sua interpretação: os mitos da nação e da classe" (2000) de Ernest Gellner, bem

como o seu livro "Nação e nacionalismo" (1993).

Hobsbawm, Bauer e Gellner são de grande relevância para o trabalho, pois eles percebem

o papel decisivo da educação no processo de construção da nacionalidade, sobretudo nos

aspectos de padronização de valores, costumes, atitudes e ideias, segundo um modelo oficial de

Estado-Nação que deve ser disseminado amplamente junto à população de um dado território

“nacional”, independente de etnias e culturas.

E para investigar o conceito de Organismo Internacional, usarei as ponderações de três

artigos. A saber, "Estabilização, Desenvolvimento e Gestão Macroeconômica: opiniões sobre as

visões contidas nos documentos do Banco Mundial e do BID" (1998) de Adhemar Mineiro; "O

papel das Instituições Financeiras Multilaterais" (2005) de Marcus Castro e Alex Farias; " As

instituições financeiras multilaterais: de volta ao ponto de partida" (2011) de Rosemary Galli.

Foi também realizada uma ampla revisão bibliográfica e documental desses conceitos

chaves.

Além dos teóricos supracitados, nossa investigação teve como base eventos referenciais

na área da educação internacional, em especial, a "Conferência Mundial Educação para Todos"

(1990), realizada em Jomtien na Tailândia, a "Declaração de Nova Delhi sobre Educação para

Todos" (1993) e o "Marco de Ação de Dakar - Educação para Todos: atendendo nossos

compromissos coletivos." (2000). (ver declarações em anexos B, C e D, respectivamente )

Além disso, utilizamos como embasamento os seguintes documentos: "A Declaração

Mundial sobre Educação para Todos", o "Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas

de Aprendizagem" (ambos frutos de Jomtein, publicados em 1991) e "Educação: um tesouro a

descobrir" (1996).

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Ainda na nossa pesquisa foi necessário ter como referencia a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB 9394/1996), o Plano Nacional de Educação - PNE (2014/2024) e os

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (1997), bem como os documentos que criaram os

Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB (2008), o Sistema Permanente de Avaliação

Básica do Ceará - SPAECE (1992), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB

(2007) e os decretos que efetivaram os prêmios Escola Nova Milênio (2001), Aprender para

Valer (2008) e a Escola Nota 10 (2009) no Estado do Ceará.

Temos como marco o ano de 2016, já que um dos critérios para as entrevistas era ter dois

anos de docência na escola selecionada, como o campo foi realizado no segundo semestre de

2017, avançar muito temporalmente constituiria em um problema metodológico.

Assim, depois dos dados empíricos coletados e o referencial conceitual definido,

analisamos nos próximos capítulos a abrangência e profundidade da influência exercida pelo

Banco Mundial na metodologia utilizada nas Avaliações Externas, como o SPAECE, e suas

possíveis consequências no espaço escolar.

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3 A REFORMA DO ESTADO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO

BRASILEIRA.

3.1 A REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO

Os anos de 1970 são marcados por intensa crise estrutural do capital principalmente em

decorrência da baixa do mercado do petróleo. Presenciou-se uma desregulamentação das

economias, trazendo como consequência uma alta inflacionária e índices exorbitantes de

desemprego, em especial nos países ditos periféricos.

A partir de Marx, Mandel (2015) e Mésazáros (2011) afirmam que as crises econômicas

são partes constitutivas da própria natureza do capitalismo. Além disso elas reforçam cada dia

mais as contradições sociais já existentes na sociedade. Este cenário fez com que o Estado

tivesse um novo direcionamento para atender as exigências do mercado trazendo consigo toda a

lógica da empresa, como as ideias de eficiência, competência e produtividade.

A solução encontrada para a superação dessa problemática foi a reforma do Estado por

meio da diminuição da sua atuação. Assim, a racionalização de recursos, através da diminuição

das políticas sociais ganha força. Para Peroni e Adrião (2009, p.108) dentro da lógica neoliberal:

"o Estado deveria buscar como parâmetro de qualidade o mercado e as instituições públicas, aqui

entendidas como estatais, não deveriam mais ser as principais responsáveis pela execução das

políticas públicas. "

É nesse cenário que a partir da década de 1990 se inicia a reforma do Estado brasileiro,

tendo como pioneiro o governo de Fernando Collor de Mello (1990- 1992) e se consolidando nos

mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998/ 1999 - 2002), sob o comando de Bresser

Pereira33

. Para Peroni e Adrião (2009), ela se apresenta de forma mais contundente no Plano

Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, idealizada pelo Ministério da Administração e

Reforma do Estado (MARE).

A reforma "continha as influências do neoliberalismo, quando este identifica o Estado

como origem da crise e propõe como solução a privatização estatal, e a implementação da

Terceira Via34

, ao estabelecer a relação entre o público e o privado através da propriedade

pública não-estatal" (SOUZA, 2017, p. 71).

33

Economista, cientista político, administrador de empresas e formado em direito. Foi ministro da Fazenda do

Brasil em 1987, da Administração Federal e Reforma do Estado entre os anos de 1995-1998 e ministro da Ciência e

Tecnologia em 1999. 34

A Terceira Via surgiu, segundo Peroni e Adrião (2009), como proposta da social-democracia, em que esta

defende outro caminho que não apontasse necessariamente para as políticas de controle do mercado pelo Estado

(keynesianismo) e, ao mesmo tempo, se contrapõe ao Estado neoliberal, através da privatização para o mercado. A

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O documento do Plano Diretor coloca que a superação da crise somente ocorrerá através

da "reforma ou reconstrução do Estado, de forma a resgatar sua autonomia financeira e sua

capacidade de implementar políticas públicas (BRASIL, 1995, p. 11).

O objetivo pretendido com essa reforma é reforçar a capacidade de governabilidade do

Estado, através da transição programada de um tipo de administração pública, burocrática, rígida

e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para uma administração pública

gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento da cidadania (BRASIL, 1995, p 13).

Segundo o documento, a reforma do Estado brasileiro deve acontecer via dois

dispositivos: a privatização e publicização.

A privatização refere-se à transferência de atividades e empresas estatais para a

iniciativa privada, em que o seu controle é gerido pelas regras do mercado. A

publicização, por sua vez, relaciona-se com a descentralização da execução de serviços

para o setor público não-estatal, ou seja, é a transferência de serviços que outrora era

executado diretamente pelo poder público e agora passa a ser executado pela esfera

privada, via de regra, sob o controle do Estado. Porém, estes serviços não se relacionam

diretamente com o exercício do poder estatal, mas devem ser financiados pelo Estado,

como no caso dos serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica (SOUZA,

2017, p. 73).

Através das privatizações transfere-se para o setor privado a tarefa da produção, já que

este o realiza de forma mais eficiente. E através da publicização, transfere-se para o setor público

não-estatal a produção dos serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecendo-se

um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento e controle (BRASIL,

1995).

Nesse sentido, o Estado diminui a sua função de executor e passa a ter, prioritariamente,

a função de regulador de serviços. Assim, a reforma do aparelho do Estado passa a ser orientada

"pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços públicos e pelo

desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações" (BRASIL, 1995, p. 16).

Mendes Segundo (2005) destaca que além da reforma em si do Estado, houve também

uma alteração na relação entre poder público e as pessoas. Esta agora também é mediada pela

lógica do mercado e o "cidadão" passa a ser um consumidor de serviços.

Este argumento situa os indivíduos à lógica do mercado, na qual são sumariamente

reduzidos à condição de consumidores. Outro aspecto a apontar é que a reforma procura

quebrar definitivamente todas as barreiras entre o público e o privado. Nesta o cliente,

que também é cidadão, almeja simplesmente que o Estado cumpra com eficiência sua

missão, qual seja, atendê-lo para bem servir ao mercado, porquanto, sob esta

terceira via, portanto, propõe a relação do público e o privado, através de parcerias entre ambos, a partir da relação

público não-estatal.

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perspectiva, o Estado também passa a não só se comportar como um mercado, mas a

encarnar o próprio mercado. Como tal, o Estado - mercado precisa saber gerenciar seus

recursos com eficiência e priorizar suas necessidades mais rentáveis. Com esse

propósito, o Estado passará a selecionar suas atividades, direcionando-as para aquelas

que correspondam aos interesses do mercado e do cidadão-cliente ( SEGUNDO, 2005,

p.134).

A educação dentro desta perspectiva é considerada um serviço público que pode ser

oferecida pela iniciativa privada, mas sob o controle do Estado. Para o ministro Bresser Pereira,

a educação, a cultura e outros serviços estão incluídos nessa nova forma de propriedade, ao

defender que:

No meio, entre as atividades exclusivas de Estado e a produção de bens e serviços para

o mercado, temos hoje, dentro do Estado, uma série de atividades na área social e

científica que não lhes são exclusivas, que não envolvem poder de Estado. Incluem-se

nesta categoria as escolas, as universidades, os centros de pesquisa científica e

tecnológica, as creches, os ambulatórios, os hospitais, entidades de assistência aos

carentes, principalmente aos menores e aos velhos, os museus, as orquestras sinfônicas,

as oficinas de arte, as emissoras de rádio e televisão educativa ou cultural etc. [...] essas

são atividades competitivas e podem ser controladas não apenas através da

administração gerencial, mas também e, principalmente, através do controle social e da

constituição de quase-mercado (PEREIRA, 1997, p.12).

Portanto, a reforma do Estado brasileiro, implementada pelo MARE, teve consequências

direta na educação, pois transferiu a responsabilidade da oferta do Estado para a esfera privada,

colocando com mais veemência a lógica da gestão empresarial para dentro da escola pública e

trazendo a ideia de que o individuo é responsável pelo seu processo de formação, lhe atribuindo

todo o fardo pelo seu sucesso ou fracasso.

Essa ideia está alicerçada na Teoria do Capital Humano (TCH), que incide exatamente

na responsabilização individual e pela defesa dos interesses particulares, já que os fenômenos

sociais seriam explicados pelo comportamento de cada indivíduo (SAUL, 2004).

Segundo Frigotto (1999), a TCH foi desenvolvida nos Estados Unidos, a partir dos anos

de 1950 e teve à frente o economista Theodore Schultz, que pertenceu à Escola de Chicago. Ele

frisa que o indivíduo deve ser qualificado por meio da educação para proporcionar o

desenvolvimento tanto da economia quanto do próprio indivíduo.

Por isso, a ideia utilitarista é um pilar que fundamenta essa teoria, pois reduziu o

homem a um simples objeto do processo produtivo na economia de mercado. Assim à formação

do trabalhador precisa ser:

(...) flexível, polivalente, multifuncional, cuja formação tem como base a pedagogia da

qualidade, a polivalência, a formação dita abstrata. Nesse contexto, o papel econômico

da educação foi revalorizado, enfatizando a importância produtiva dos conhecimentos

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(...) tratando-se, porém, de um adestramento geral, básico a ser oferecido pelo Estado

ou, ainda, pelo Sistema S35

. A qualificação do trabalhador seria o motor para o bom

desempenho e para a competividade da produção, o que, a seu turno, levaria ao

crescimento econômico e ao desenvolvimento social dos países periféricos do

capitalismo (FRERES; GOMES; BARBOSA, 2017, p. 86).

Nesse sentido, países como o Brasil, o Chile e a Índia reestruturaram seus modelos

educacionais, buscando adequar a formação escolar às exigências do padrão de eficiência e

eficácia produtiva.

É importante destacar ainda que para fundamentar toda essa lógica o uso das políticas

de accountability vem ganhando força nos últimos anos. Esta que foi idealizada nas esferas da

administração pública e tem como definição, segundo dicionário estadunidense Merrian-Webster,

“A qualidade ou estado de ser responsável; uma obrigação ou disposição de aceitar

responsabilidade ou dar conta de suas ações”.36

Trata-se de um conceito que traz consigo as ideias de controle, poder, justificação,

informação, responsabilização, sanção e recompensa. Tudo isso, faz parte de um discurso

ideológico preocupado com a "Qualidade Total" (QT)37

dos serviços educacionais.

Segundo Nardi e Schneider (2015),

Ao contrário do que ocorreu no campo da economia, que advogou pelo afastamento do

Estado por causa de sua suposta inoperância, no setor educacional a ideologia neoliberal

passou a ter um papel central nos modos de governação e regulação operadas pelo

Estado. A exemplo do que ocorrera no campo econômico, as reformas encetadas no

campo educacional tiveram como marco referencial a conformação da educação às leis

que regem o mercado e a iniciativa privada. Pressupostos da qualidade total, da

competitividade, da eficiência e eficácia foram importados do sistema econômico para

as práticas educativas e pedagógicas. (...) É nesse contexto que o Estado passa a assumir

novas funções, associadas especialmente a mecanismos e estratégias de avaliação dos

serviços públicos. Por esse motivo, passa a caracterizar-se como um Estado-avaliador

por adotar formas diversas de avaliação como estratégia para legitimar mudanças no

setor educacional. A expressão Estado-avaliador tem a ver, portanto, com o

fortalecimento de referenciais neoliberais, representados pela adesão de medidas

35

Termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o treinamento profissional,

assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra S,

têm raízes comuns e características organizacionais similares. Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço

Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem

Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte

(Sest). Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s>. Acesso em: 11 fev.

2018. 36

Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/4-etapas-para-se-tornar-um-profissional-

com-accountability/95687/>. Acesso em 14 nov. 2017. 37

A QT é uma filosofia de administração que foi, inicialmente, sistematizada e difundida pelo ideólogo norte-

americano Edwards Deming. É também conhecida como modelo japonês de negócios (HERÉDIA, 1997). Ela está

sendo transportada para o campo da educação e mostra-se hoje como discurso oficial para a teoria neoliberal.

Zitkoski (1997) ressalta que: "o que está na raiz das teorias sobre Qualidade Total na educação, de reengenharia do

ensino, da excelência do ensino é a razão instrumental como a positivação da vida, tecnificação do conhecimento,

burocratização dos sistemas e atrofiamentos da capacidade critica e criativa do ser humano.

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políticas e administrativas ajustadas às leis do mercado e pela sofisticação dos

mecanismos de controle e responsabilização dos resultados obtidos pelos sistemas

educacionais (p.63).

Para Afonso (2013), a introdução de mecanismos de accountability, baseados em testes

padronizados, com o objetivo principal de controle dos serviços ofertados representa apenas uma

primeira fase do Estado-avaliador. Na década de 1990, com a entrada de organizações

internacionais no campo da educação, tais como a Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) , o Banco Mundial (BM), o Escritório Regional de

Educação para a América Latina e Caribe (OREALC), dentre outras, o Estado-Avaliador teria

alcançado o seu segundo estágio de desenvolvimento, este marcado pela construção de um

sistema de indicadores e de avaliação comparada internacional.

Ganha destaque, nesse momento, a implantação de vários testes educacionais, dentre

eles: Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA)38

; Laboratório Latino-

Americano de Avaliação da Qualidade da Educação (LLECE)39

, coordenado pela Organização

das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco); Trends in International

Mathematics and Science Study (TIMSS)40

; e o Civic Education Study (CIVED)41

.

Ainda para Afonso (2013), existe o estágio: pós-Estado-avaliador, este é marcado pela

exacerbação da expansão de formas de avaliação comparada, as quais estabeleceriam pontos de

38

O PISA é desenvolvido pela OCDE. Foi concebido para avaliar se os alunos de 15 anos conseguem mobilizar as

suas competências de leitura, matemática ou ciências na resolução de situações relacionadas com o dia a dia. As

aplicações do PISA ocorrem em ciclos de três anos. Em cada ciclo do PISA, é dada ênfase a uma das três áreas

avaliadas. Em 2000, ano em que os testes foram aplicados pela primeira vez, a área principal foi a Leitura, área

novamente avaliada em 2009. Em 2003 e em 2012, a área principal foi a Matemática e, em 2006 e 2015, a área

principal foi a de Ciências. Em 2018, a área principal será a Leitura, à semelhança do que aconteceu em 2000 e

2009. Disponível em: <http://iave.pt/np4/12.html>. Acesso em: 14 nov. 2017. 39

Criada em 10 de novembro de 1994, na cidade do México, o LLECE constitui-se em uma [...] rede internacional

de avaliação educacional e seu principal objetivo é a identificação dos níveis e padrões do aprendizado escolar para

a região latino-americana, levando em conta os fatores internos e externos à aprendizagem (UNESCO, 1998, p. 14). 40

O TIMSS é uma avaliação internacional do desempenho dos alunos do 4.º e do 8.º ano de escolaridade em

Matemática e Ciências, desenvolvida pela International Association for the Evaluation of Educational

Achievement (IEA), uma associação internacional independente, constituída por instituições de investigação

educacional e por agências governamentais de investigação dedicadas à melhoria dos sistemas educativos. A

avaliação em Matemática é desenhada tendo em consideração duas dimensões: uma, que diz respeito ao conteúdo,

em que se explicitam domínios específicos da Matemática – Números, Formas Geométricas e Medida, Apresentação

de Dados; e a outra, a dimensão cognitiva, em que se especificam os processos mentais mobilizados pelos alunos –

Aplicar, Conhecer e Raciocinar. A avaliação em Ciências segue o mesmo desenho, sendo as áreas contempladas as

seguintes: Ciências da Vida, Ciências Físicas e Ciências da Terra. Cada aluno responde a um caderno de teste que

combina itens de Matemática e de Ciências. Desde 1995, os testes TIMSS são aplicados de quatro em quatro anos

com a finalidade de gerar informação de qualidade sobre os resultados do desempenho dos alunos e sobre os

contextos em que estes aprendem. O último foi realizado em 2015. Disponível em: <http://iave.pt/np4/11.html>.

Acesso em: 14 nov. 2017. 41

O CIVED, realizado desde de 1999, fornece informações sobre o conhecimento de práticas e instituições

democráticas . Além disso, oferece dados sobre as atitudes dos alunos da nona série dos EUA em relação à

democracia, identidade nacional, relações internacionais e coesão social e diversidade. Disponível em:

<https://nces.ed.gov/surveys/cived/>. Acesso em 14 nov. 2017.

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referência que supostamente constituiriam a garantia de qualidade educacional para os países. A

comparabilidade, portanto, representaria uma forma de influenciar a determinação de políticas no

campo da educação.

Assim, influenciado por organismos multilaterais como o Banco Mundial, este Estado-

avaliador, em busca de uma "qualidade educacional total", consolida ainda mais o processo de

reforma estatal no Brasil intensificando e sofisticando cada vez mais formas padronizadas de

testes. Por isso, se faz necessário uma maior compreensão do funcionamento desta instituição.

3.2 O PAPEL DO BANCO MUNDIAL NO CONTEXTO DA REFORMA DO ESTADO

BRASILEIRO

A comunidade nacional se consolida na fase em que os meios de comunicação e

transporte permitem intensiva circulação de capitais, mercadorias, pessoas, inovações

tecnológicas, idéias, padrões éticos e morais. “A nação não é essencialmente fruto de veleidades

exclusivistas, mas filha dileta da internacionalidade” ( DOMINGOS; MARTINS, 2006, p.106).

Nessa perspectiva, torna-se necessário uma melhor compreensão da conjuntura política

internacional, para entendermos o funcionamento do Estado-Nação brasileiro.

Para Manuel Domingos e Mônica Martins (2006, p. 106), a nação pode ser definida

"como a forma de organização social e política exigida pela dinâmica do capitalismo avançado,

que se caracteriza pelo predomínio do sistema produtivo mundialmente integrado e de valores

amplamente acatados".

Sem os arcabouços institucionais (político, jurídico, burocrático, militar, educacional e

cultural) do Estado nacional, seria inimaginável o desenvolvimento capitalista. Não por outra

razão, as entidades conhecidas como organismos internacionais se empenham na construção e no

fortalecimento das nações: não haveria outra forma de condicionar ao capitalismo sociedades tão

diferenciadas.

Os aspectos mais significativos dessa decisiva interferência externa nos processos

nacionais, não obstante, são sempre mascarados e negligenciados posto que arranham a

veleidade de autodeterminação alimentada pela comunidade nacional (DOMINGOS;

MARTINS, 2006, p. 106).

A comunidade nacional, anunciada ao longo do século XIX, se consolida na primeira

metade do século XX, quando as grandes guerras mundiais permitem a quase toda a humanidade

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perceber as espetaculares novidades incorporadas à vida cotidiana e as coletividades se dão conta

de que precisam competir duramente pelo domínio do conhecimento e pela melhoria geral das

condições de existência.

As nações, portanto, estão inseridas em um mundo globalizado, caracterizadas pelo

neoliberalismo e sua lógica não pode ser compreendida se não entrarmos no âmbito internacional

e no papel das agências de financiamento.

Os resultados da dinâmica da inter-relação entre Banco Mundial, Organização para a

cooperação Econômica e Desenvolvimento - OCDE e a União Européia - UE, bem

como a emergência de novos contextos sociais políticos e econômicos, sugerem que as

políticas da educação não podem ser compreendidas inteira e exclusivamente a partir da

perspectiva nacional (AMARAL, 2010, p. 41).

Segundo Arce (2001), o neoliberalismo apresenta-se como uma alternativa teórica,

econômica, ideológica, ético-política e educativa à crise do capitalismo deste final de século.

Portanto, algumas categorias são eleitas pelo ideário neoliberal para fundamentar as suas bases

teóricas: qualidade total, formação abstrata e polivalente, flexibilidade, participação, autonomia,

descentralização, competitividade, equidade, eficiência e produtividade.

Essas questões nos fazem pensar nas relações existentes entre educação e estrutura

social. Segundo Saviani (2012, p 85), "as relações entre educação e política têm existência

histórica e são manifestações sociais determinadas". Além disso, elas se constituem em

modalidades específicas da prática social, integrando uma mesma totalidade.

O processo educacional, portanto, está inserido dentro de uma lógica dialética onde as

tensões sociais existentes dentro da sociedade moderna influenciam e são influenciados pelo

Estado.

Nesse sentido, como nos lembra Gramsci (2002), "o poder não se concentra todo no

Estado, está diluído também na sociedade civil". Ele define a sociedade civil como uma arena

privilegiada da luta de classe, uma esfera do ser social na qual se dá uma intensa luta pela

hegemonia; e, precisamente por isso, ela não é o "outro" do Estado, mas - juntamente com a

"sociedade política" ou o "Estado-coerção" - um de seus momentos constitutivos.

Alberto Tosi Rodrigues (2001), à luz das ideias gramscianas afirma que:

A política tem que ser feita na sociedade, deve referir-se a todos os espaços de poder

disponíveis. A luta política não pode limitar-se apenas a uma luta de pura força física ou

de puro poder econômico. O Estado é força, coerção, dominação, mas a sociedade é o

lugar onde os homens conflitam seus interesses através da persuasão. Não basta força,

portanto. É preciso conquistar a consciência das pessoas. Quem quiser disputar o poder

nessa sociedade ocidental, moderna, complexa, tem que, no dizer de Gramsci, ganhar a

batalha das ideias (RODRIGUES, 2001, p. 76 - grifo nosso).

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Ora, se para conquistar a hegemonia política e ideológica é necessário "ganhar a batalha

das ideias", evidentemente os organismos multilaterais desempenham um papel-chave nesse

processo.

Assim, em busca de uma "formação de ideias", no inicio dos anos de 1990, o Fundo das

Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização das Nações Unidas para a Educação

(UNESCO), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco

Mundial (BM) tiveram a iniciativa de elaborar um modelo de educação.

Dentre esses organismos, destaca-se o Banco Mundial, que têm impulsionado políticas

de ensino e gestão, focadas na educação básica e na "qualidade" da educação.

O Banco Mundial foi criado na Conferência de Breetton Woods em 1944, no estado de

New Hampshire (EUA), para ajudar a estabelecer os pilares do sistema financeiro internacional

pós a segunda grande guerra42

.

O objetivo básico do Banco Mundial era o de auxiliar na reconstrução e

desenvolvimento de territórios dos países membros (signatários do instrumento legal

que deu origem formal ao banco) atingidos pela destruição da guerra. Este objetivo

deveria ser atendido por meio de atividades dedicadas a :prover capital para fins

produtivos; promover o investimento externo privado e promover, complementando

(quando o capital privado não estivesse disponível em condições razoáveis) o

investimento privado mediante o fornecimento de capital para fins produtivos; e

promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comércio internacional e a

manutenção do equilíbrio nos balanços de pagamento mediante o incentivo

internacional a investimentos para o desenvolvimento de recursos produtivos (

CASTRO; FARIAS, 2005, p. 48).

Além do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o Grupo do

Banco Mundial, sediado em Washington, compreende os seguintes organismos: Corporação

Financeira Internacional (CFI) criada em 1956; Associação Internacional de Desenvolvimento

(AID), criada em 1960; o Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos

(CIADI), criado em 1966; e a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (AMGI), criada

em 1988. Conforme o artigo I dos Estatutos Constitutivos reformulados, ao BIRD compete: “dar

assistência à reconstrução e ao desenvolvimento das nações-membros, facilitando o investimento

42

Nessa conferência, também foi instituído o fundo Monetário Internacional (FMI) que tinha por objetivos:

promover a cooperação monetária internacional mediante uma instituição permanente que servisse de mecanismo

para consulta e colaboração sobre problemas monetários; supervisionar o sistema monetário internacional; e

acompanhar o cumprimento por cada país de suas obrigações referentes à sua política cambial (CASTRO; FARIAS,

2005).

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de capital para fins produtivos, promover o crescimento equilibrado do comércio internacional,

no longo prazo, e manter o equilíbrio da balança de pagamentos” (MARTINS, 2005, p. 02).

Com 184 Estados-membros e atuando em cerca de 100 países, o Banco Mundial

restringe seus empréstimos aos integrantes do FMI.

Formalmente, a instância máxima do Banco Mundial é o Conselho de Governadores, do

qual participam representantes dos Estados -membros, via de regra, Ministros das

Finanças ou equivalente. De fato, as resoluções sobre orçamento, empréstimos, gastos

com operações, estratégias de assistência são tomadas por apenas oito países

(Alemanha, Arábia Saudita, China, Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão e Rússia),

detentores de uma cadeira permanente no Conselho de Diretores-executivos composto

por um total de 24. As demais nações, agrupadas em 16 blocos, elegem, a cada biênio,

seus representantes. O voto é proporcional à contribuição monetária do país (cotas-parte

do capital subscrito), em vez de respeitar o princípio “uma nação, um voto”, que rege o

sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). Como o maior acionista, 17,87%

das ações, o governo dos Estados Unidos decide as matérias importantes que requerem

85% dos votos, tem prerrogativa de veto e indica o presidente da instituição,

tradicionalmente um norte-americano (MARTINS, 2005, p. 3).

No entanto, com o passar das décadas, suas ações vão se entrelaçando com os grandes

investimentos financeiros globais e com o discurso de erradicar a pobreza através de um

conjunto de políticas de desenvolvimento que envolvem várias áreas como: energia,

agropecuária, política econômica, educação, saúde, habitação, transporte, infra-estrutura,

indústria, comércio, meio ambiente, administração pública, dentre outros (PEREIRA, 2011).

É nesse sentido, que o BM passa a atuar diretamente com programas educacionais43

para os países em desenvolvimento. Ressalta-se que esses programas eram explicitamente de

cunho político e ideológico, tendo em vista que se direcionavam para as populações que

"possivelmente eram sensíveis ao comunismo" (LEHER, 1999, p. 22).

Com a criação do Instituto de Desenvolvimento Econômico (IDE), em 1955, o BM

começa a reestruturar o seu papel e passou a funcionar também como disseminador de ideias,

ainda que de forma tímida. Somente na gestão de Robert McNamara44

(1968-81) essa condição

43

Conforme Mendes Segundo (2005) até a década de 1980 a Unesco, era a principal organização ligada às Nações

Unidas responsável pelo debate da educação em nível mundial. No entanto, após a inflexão da política do Banco

Mundial, a qual a educação passa a ter um papel importante, e o fim de financiamento da Unesco pelos Estados

Unidos e os demais países financiadores, o Banco Mundial passa a assumir o papel no âmbito do debate da educação

em nível mundial que outrora era da Unesco. A justificativa dada pelos agentes financiadores para tal mudança diz

respeito ao fim da ideologia do desenvolvimento em favor da ideologia da globalização. Desse modo, concluí a

autora, ― [...] a política do presidente Ronald Reagan inicia a era contra todos os organismos e instâncias da ONU,

elevando o Banco Mundial ao papel de Ministério da Educação Mundial. Sobressai, então, um aspecto curioso, qual

seja, mesmo perdendo as funções para o Banco Mundial, a Unesco, gradativamente, foi incorporando o discurso do

Banco na visão de educação voltada ao mercado de trabalho. Nesse sentido, sob o apoio do Banco Mundial, assume

a organização de fóruns mundiais e nacionais de educação para todos em vários países (MENDES SEGUNDO,

2005, p. 60). 44

Robert Strange McNamara, nasceu em São Francisco no ano de 1916. Foi um empresário e político norte-

americano que serviu como o 8º Secretário de Defesa dos Estados Unidos de 1961 a 1968 durante as presidências

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de produtor de conhecimento passou a ser mais contundente. Como destaca Leher (1999, p. 22)

se referindo ao mandato de McNamara

Nos vinte e dois anos anteriores ao seu mandato foram aprovados 708 projetos, com um

custo total de US$ 10,7 bilhões. Somente na primeira parte de sua gestão (1968-73)

foram aprovados 760 projetos a um custo de US$ 13,4 bilhões (...). Além disso,

aumentou a quantidade de países membros, chegando a atingir 179 países, em 1995.

Pereira (2010) afirma que sob a presidência de McNamara, o departamento tinha a

missão de estabelecer uma base sólida de dados e conceitos para a formulação abrangente de

políticas que dessem suporte respaldo à expansão agressiva das operações financeiras do Banco

do ponto de vista geográfico e setorial, com vistas a ampliar seu raio de influência junto aos

governos da periferia do sistema internacional na turbulenta conjuntura do final dos anos 1960 e

inicio dos anos 1970.

Mendes Segundo (2005) argumenta que em decorrência do agravamento da crise do

endividamento dos países de economias ditas periféricas, devido à crise estrutural do capital, o

Banco Mundial e os demais organismos multilaterais passaram a desempenhar o papel de

agentes no gerenciamento das relações de crédito internacional e na definição de políticas de

reestruturação econômica, por meio de programas de ajuste estrutural. Por isso, defende a autora,

que a partir da década de 1980, o Banco Mundial:

(...) passou a intervir diretamente na formulação da política interna, influenciando até na

própria legislação desses países. Entretanto, o ajuste estrutural efetuado pelo Banco

Mundial requer um acordo prévio com o FMI, que o condiciona a uma ampla e severa

exigência macroeconômica e setorial, além de protagonizar alguns programas

específicos nas áreas de saúde e educação nos países ditos em desenvolvimento

(MENDES SEGUNDO, 2005, p. 47).

Nesse contexto, Roberto Leher (1999), enfatiza que o Banco Mundial atuou junto com o

FMI em relação aos países credores, não só oferecendo empréstimos, mas colocando

condicionalidades de cunho ideológico.

A condicionalidade do Banco não se restringia mais a indicadores macroeconômicos,

como a balança de pagamentos, mas principalmente ao hoje famoso "ajuste estrutural"

que, nas palavras de um dirigente do Banco, consiste em liberar o mecanismo de

mercado e fortalecer o seu papel no desenvolvimento econômico. O setor privado

deveria ser o motor do crescimento com o governo desempenhando um papel de apoio a

de John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson, período em que ele teve um importante papel no aumento do

envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã. Depois de sair do cargo ele serviu como presidente do Banco

Mundial até 1981. Morreu 2009. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/

conteudo/noticias/22872/hoje+na+historia+2009++morre+robert+mcnamara+arquiteto+da+guerra+do+vietna.shtml

>. Acesso em 13 dez. 2017.

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ele. O crescimento (e não mais o desenvolvimento) econômico seria o principal meio

pelo qual a pobreza seria aliviada (LEHER, 1999, p.24).

Surge, assim, um conjunto de publicações especializadas voltadas para a construção de

indicadores econômicos e sociais que justificassem a atuação do BM no combate a pobreza.

Construiu-se um campo de investigação e de prescrição de políticas baseado na ideia da

pobreza como unidade de analise fundamental e foco obrigatório de toda e qualquer

iniciativa na esfera da assistência internacional ao desenvolvimento. À medida que esse

campo se consolidou, impôs-se um novo vocabulário (centrado em termos como

equidade, eficiência, mercado, renda, ativos, vulnerabilidade, pobre, etc.) em detrimento

de outro (baseado em termos como igualdade, exploração, dominação, classe, luta de

classes, trabalhador, direitos, etc.) (PEREIRA, 2011, p. 68).

Ou seja, essa nova estruturação ampliou o modo de atuação do Banco, pois lhe forneceu

instrumentos para aumentar sua influência intelectual sobre os países devedores.

Seu investimento na produção intelectual é tão grande que atualmente os indicadores

socioeconômicos, que servem de base para a maioria das pesquisas acadêmicas no mundo, são

produzidos pelo BM, bem como servem de orientação para várias agências, bancos de

desenvolvimentos e organizações, como a OMC. Ademais, ainda existiam os cursos de formação

produzidos pela a instituição que abriram portas para o mercado internacional de consultorias e

ajudavam a difundir modelos de formação intelectual sintonizados com concepções dominantes

acerca do desenvolvimento (PEREIRA, 2010).

Em suma, apesar do histórico medíocre em matéria de criação de conhecimento em

economia e ciências sociais, a legitimidade do Banco Mundial como fonte de dados,

afiançador e disseminador de ideias, formador de gestores públicos, produtor de análises

comparativas e guia em matéria de políticas de desenvolvimento estava estabelecida

(PEREIRA, 2011, p. 75).

O papel dos organismos multilaterais tem sido extremamente relevante no que diz

respeito às relações entre Sociedade, Economia e Estado, com fortes consequências na adoção de

políticas públicas (estruturais e setoriais) pelos países “clientes” dos bancos internacionais,

sugerindo um modelo de "formação de agenda" (RUA, 2013, p. 73).

Como nos lembra Amaral (2010), o regime internacional é uma forma de regulação

social. Contudo, é importante destacar que cada sistema nacional faz uma recontextualização dos

elementos dessa política. Até porque as "arenas políticas são espaços de conflito e de consenso

relativos às diversas construções de políticas públicas" (RUA, 2013, p. 77).

Por conseguinte, o objetivo dos bancos multilaterais gira em torno da eficiência

econômica, da liberdade de mercados e da globalização do capital. Nesse sentido, eles utilizam

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prioritariamente critérios meramente econômicos para avaliar a eficácia de seus projetos e de

suas ações.

Todos os países-membros financiados pelo BM são submetidos a uma espécie de

padronização de políticas, cujo objetivo é adotar uma administração “racionalizada” de

qualidade, com o propósito final de privatização das políticas sociais e de educação. Assim,

podemos perceber que os interesses dos organismos internacionais, como o Banco Mundial,

refletem uma ordem neoliberal, fazendo da educação mais uma engrenagem da lógica capitalista.

Nesse contexto se realizaram internacionalmente vários encontros, conferências e

fóruns, organizados por tais agências, tendo por objetivo traçar diretrizes educacionais para os

países participantes.

3.3 A INFLUÊNCIA DAS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS NA EDUCAÇÃO

BRASILEIRA

Nos anos de 1980, o contexto dos índices educacionais no mundo era desastroso.

(...) mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são meninas, não

têm acesso ao ensino primário; mais de 960 milhões de adultos – dois terços dos quais

mulheres são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema significativo em

todos os países industrializados ou em desenvolvimento; mais de um terço dos adultos

do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e

tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a

adaptar-se às mudanças sociais e culturais; e mais de 100 milhões de crianças e

incontáveis adultos não conseguem concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de

concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades essenciais (BRASIL,

1990, p. 01).

Assim, perante esta situação, a necessidade de formação básica de mão-de-obra, e da

expansão do ideário neoliberal, criou-se as condições que motivaram a realização de várias

conferências, destacam-se: a de Jomtien (1990); Nova Delhi (1993); e o Fórum de Dakar (2000).

A " Conferência Mundial sobre Educação para Todos" realizada de 5 a 9 de março de

1990 na cidade de Jomtien, na Tailândia, teve a participação de mais cem países, incluindo de

governos, ONG´S, agências internacionais, e autoridades interessadas no tema educação. Foi o

primeiro encontro a estabelecer diretrizes para as políticas educacionais aos países signatários.

Os documentos finais da Conferência compuseram a “Declaração Mundial sobre

Educação para Todos" e o "Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de

Aprendizagem".

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O programa educacional definido pela conferência está dividido em dez metas, a saber:

1 – satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; 2 – expandir o enfoque; 3 – universalizar

o acesso à educação e promover a equidade; 4 – concentrar a atenção na aprendizagem; 5 –

ampliar os meios e o raio de ação da Educação Básica; 6 – propiciar um ambiente adequado a

aprendizagem; 7- fortalecer as alianças; 8 – desenvolver uma política contextualizada de apoio; 9

– mobilizar os recursos; 10 – fortalecer a solidariedade internacional (UNESCO,1990).

O projeto político e ideológico, foi exposto no corpo do documento, sob vários

aspectos:

(...) iniciando pela política de focalização do ensino, ao restringir a responsabilidade do

Estado ao Ensino Fundamental, direcionando o Ensino Médio e Superior à

responsabilidade dos indivíduos e às determinações do mercado; fundos educacionais

também direcionados para o Ensino Fundamental; minimizando a responsabilidade do

Estado para com a educação, ao defender que esta é uma responsabilidade de todos

(organizações governamentais e não-governamentais, comunidades locais, famílias e o

setor privado); em razão disso, defende o voluntariado na educação; restringindo o

processo educacional somente ao aspecto da aprendizagem, deixando de lado outras

questões fundamentais e essenciais desse processo, como é o caso do ensino e da

apropriação dos conteúdos acumulados historicamente; e principalmente o foco na

satisfação das necessidades básicas de aprendizagem (SOUZA, 2017, p. 83).

Também é importante destacar que o documento apresenta, como objetivo principal, um

padrão mínimo de qualidade da aprendizagem, expressa através da capacidade de leitura, escrita

e cálculo do individuo.

Jimenez, Rabelo e Mendes Segundo (2009) colocam que a Educação Primária Universal

(PRU) foi a principal meta estabelecida pela Conferência de Jomtien, especialmente para os nove

países com maior taxa de analfabetismo do mundo: Brasil, Bangladesh, China, Egito, Índia,

Indonésia, México, Nigéria e Paquistão.

É relevante lembrar que o foco na educação primária defendida, por exemplo, pelo

Banco Mundial, o principal patrocinador e organizador da Conferência Mundial de Jomtien, tem

como finalidade a preparação para o trabalho de forma mais rápida dos indivíduos localizados

nos países pobres, conforme afirma Fonseca (2000)

(...) o Banco perceberá que o moderno mercado de trabalho será cada vez mais limitado

e, assim sendo, deve-se adotar uma política seletiva de educação. Para os países pobres,

o nível primário é considerado o mais adequado na iniciação imediata do trabalho,

especialmente no mercado tradicional. Para justificar essa escolha, o Banco atribui à

educação primária maior retorno financeiro aos indivíduos do que o próprio ensino

superior. Vale ressaltar que nos países ricos ocorre o contrário os níveis superiores

trazem maiores ganhos, tanto no nível microeconômico como no nível macro (p.62).

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Dando continuidade as discussões de Jomtien, no ano de 1993, foi realizada a

Conferência de Nova Delhi, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Fundo das Nações para Atividades da População

(UNFPA) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Neste encontro reuniram-se,

somente, os nove países mais populosos do mundo, que juntos tinham mais da metade da

população mundial, os quais reafirmaram os anos 2000 como prazo limite para o cumprimento

das metas de universalização do ensino.

Neste mesmo ano foi lançado pelo Ministério da Educação o Plano Decenal de

Educação para Todos (1993-2003), primeiro documento institucional concretizando as diretrizes

de Jomtien no Brasil. Assim, o plano marca a aceitação formal, pelo governo federal brasileiro,

das teses que estavam sendo formuladas nos foros internacionais mais significativos na área da

melhoria da educação básica.

Este plano expressa sete objetivos gerais de desenvolvimento da educação básica: "1.

satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, provendo-lhes

as competências fundamentais requeridas para a participação na vida econômica, social, política

e cultural do país, especialmente as necessidades do mundo do trabalho; 2. universalizar, com

eqüidade, as oportunidades de alcançar e manter níveis apropriados de aprendizagem e

desenvolvimento; 3. ampliar os meios e o alcance da educação básica; 4. favorecer um ambiente

adequado à aprendizagem; 5. fortalecer os espaços institucionais de acordos, parcerias e

compromisso; 6. incrementar os recursos financeiros para manutenção e para investimentos na

qualidade da educação básica, conferindo maior eficiência e eqüidade em sua distribuição e

aplicação; 7. estabelecer canais mais amplos e qualificados de cooperação e intercâmbio

educacional e cultural de caráter bilateral, multilateral e internacional”(MEC, 1993).

No esteio dessas discussões, logo em seguida veio a promulgação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Brasileira, Lei n. 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, substituindo a Lei de Diretrizes e Bases 5692/71.

Os debates referentes a uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação iniciaram-se,

sobretudo, no período posterior a constituição de 1988, ganhando uma maior força no governo

Itamar Franco. Foi justamente no final deste governo que o projeto da LDB, aprovado pela

Câmara dos Deputados em 13 de maio de 1993, entrava no Senado.

A versão final do projeto, havia sido fruto de amplas discussões, nas quais 40 entidades

e instituições foram ouvidas em audiências públicas e que, em linhas gerais, representava os

interesses daqueles segmentos compromissados com a construção de uma escola pública de

qualidade.

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No Senado, ao invés de se proceder a votação, o que ocorre, sobretudo, a partir das

definições da eleição de 1994 e da nova composição partidária, é o congelamento temporário do

projeto a partir de uma estratégia de fazer centenas de destaques e emendas através de

parlamentares da base do governo e, assim, ir ganhando tempo na tramitação ao mesmo tempo

em que ia implantando a reforma educacional por decretos e outras medidas.

A não votação do projeto indicava que o pior estava por vir, conforme descreve Rezende

Pinto:

A nova composição partidária, que deu uma folgada maioria nas suas duas casas ao

governo, e uma ação incisiva do MEC provocaram uma reviravolta no processo e, por

meio de uma manobra regimental no Senado, o projeto originário da Câmara e fruto de

longa discussão é substituído por outro, elaborado, a toque de caixa, na „cozinha‟ do

MEC mas com a paternidade assumida pelo senador Darcy Ribeiro. Este projeto é

aprovado em fevereiro de 1996 no plenário, de onde retorna a Câmara, que introduz

pequenas alterações e o aprova em 17 e dezembro de 1996. De lá segue para sanção

presidencial e é promulgado lei em 20 de dezembro do mesmo ano, sem qualquer veto

presidencial, fato raro em nossa história e que mostra sua total sintonia com a nova

aliança no poder (2002, p. 112).

A nova LDB havia sido bastante deturpada do seu projeto original, mas ainda assim,

apresentada avanços como a criação do O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), mostrando, assim, que a lei está

envolvida num sistema de interesses públicos e privados.

Segundo Saviani (2000), a nova lei aprovada se caracteriza, por ser minimalista e estar

em consonância com a proposta de desregulamentação, de descentralização e de privatização do

Banco Mundial.

O Estado brasileiro, sob o invólucro da "Educação Para Todos", determina por força de

lei - artigo 87, parágrafo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 9394-96) -

que o Plano Nacional de Educação seja elaborado com base na Declaração Mundial de Educação

Para Todos devendo concretizar as recomendações de Jomtien.

Nesse sentido, a LDB (1996, p. 20) institui a "Década de Educação", declarando, no

Artigo 87, das Disposições Transitórias que: “A União, no prazo de um ano a partir da

publicação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com

diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre

Educação para Todos”.

Com a nova legislação, a Educação Básica no Brasil é dividida em três etapas: a

Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A Educação Infantil, bem como o

Ensino Médio e, principalmente, o Ensino Superior não são prioridades da educação oferecida

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pelo Estado. Ressalta-se, assim, que as responsabilidades do Estado são focalizadas no Ensino

Fundamental e mesmo assim, são mínimas, pois são divididas com comunidade, com a família e

com a iniciativa privada.

Essas determinações apresentam como consequência a contenção dos gastos com a

educação pública, pois prioriza somente o Ensino Fundamental e deixa o Ensino Médio e o

Superior à margem, deixando-os livres para o processo de privatização, trazendo à tona a

consolidação de uma ampla reforma na educação.

Dois anos após a aprovação da LDB 9394/96, o governo brasileiro elaborou e publicou

“Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)” para a Educação Fundamental.

A elaboração desse documento foi justificada pela precariedade dos currículos

existentes no país e a necessidade de um currículo nacional, “a estratégia do MEC foi divulgar a

noção de que a defasagem dos projetos curriculares elaborados pelas secretarias estaduais de

educação evidenciava a carência de novos parâmetros nacionais” (FALLEIROS, 2005, p.214)

Logo no início do documento é apresentada sua relação direta com a conferência de

Jomtien:

Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de Educação para Todos, em

Jomtien, na Tailândia, convocada pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Dessa

conferência resultaram posições consensuais na luta pela satisfação das necessidades

básicas de aprendizagem para todos (BRASIL, 1997, p.14).

Em relação aos conteúdos, os PCN's mudam o seu foco, propondo um ensino em que

este sirva de meio para que os alunos desenvolvam as capacidades para produzir e usufruir dos

bens culturais, sociais e econômicos (BRASIL, 1997, p.516).

O governo federal brasileiro também reestrutura o Sistema de Avaliação da Educação

Básica (SAEB) para demonstrar que as políticas educacionais adotadas têm produzido qualidade.

A eficácia e a eficiência são depois de Jomtien elementos fundamentais de qualquer instituição

educacional. Não se admite desperdício de recursos. O controle do rendimento dos funcionários

e os resultados meramente estatísticos fazem da escola agora uma espécie de empresa.

O sistema escolar deve ser dirigido da melhor forma possível, “controlar o funcional, dominar o

rendimento, melhorar a gestão contábil, de estoque e de pessoal” (BONNIOL, 2001, p. 106).

À escola também é atribuído o papel de socializadora, que visa o desenvolvimento

individual, social e cultural do aluno, construindo a igualdade e o respeito às diferenças entre as

pessoas, nesse momento entra a questão da construção da cidadania que:

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(...) precisa assumir a valorização da cultura de sua própria comunidade e, ao mesmo

tempo, buscar ultrapassar seus limites, propiciando às crianças pertencentes aos

diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos

socialmente relevantes da cultura brasileira no âmbito nacional e regional (BRASIL,

1997, p.34).

A questão da formação do cidadão, trazida tanto pela conferência mencionada quanto

pela legislação brasileira, pode ser entendida como um desenvolvimento amplo do aluno para a

atuação em sociedade de um novo modelo de homem. Um homem com mais valores de

solidariedade com o próximo. Nesse contexto, à educação básica é atribuída a principal tarefa de

inclusão dos indivíduos no mercado de trabalho, ao lado do status de provedor da restauração da

cidadania e da eqüidade.

Ao professor cabe a tarefa de remediar as graves disfunções que afetam a vida social e

as relações interpessoais.

Resta ao profissional do ensino, integrar-se aos programas de formação continuada e em

serviço, igualmente propugnados no conjunto das declarações, já que o mesmo

transforma-se nesse contexto de crise educacional, no principal agente de mudanças.

Para tanto, no intuito de manter-se atualizado, competente e qualificado, atendendo às

exigências do mercado educacional, o professor, é oportuno ressaltar, recorre aos cursos

pagos e aligeirados de formação continuada, comprometendo, nessa empreitada, boa

parte de seu aviltado salário (JIMENEZ; RABELO; MENDES SEGUNDO, 2009, p.14).

O investimento na formação docente é compreendido como fundamental para preparar

os jovens para o enfrentamento dos desafios postos pela proclamada sociedade do conhecimento,

contribuindo ainda, para a compreensão e o domínio do fenômeno da globalização, o que, em

última instância, favoreceria a coesão social (RABELO; MENDES SEGUNDO, 2006).

Percebemos, assim, que os problemas da sociedade – contradições intrínsecas à lógica

do sistema do capital – são deixados à porta da escola e a cargo do profissional de educação.

De acordo com Falleiros (2005, p. 211), o papel da escola nessa perspectiva é “a tarefa

de ensinar as futuras gerações a exercer uma cidadania de „qualidade nova‟, a partir da qual o

espírito de competitividade seja desenvolvido em paralelo ao espírito de solidariedade”.

Assim, ocorre uma renúncia, uma negação da divisão de classes e há um ajuntamento

para uma atitude "cidadã" que diminuiria as diferenças e a miséria incutindo uma noção de

solidariedade e amenização das lutas de classes e diferenças raciais, sociais, culturais entre tantas

outras.

Com a chegada dos anos 2000, as metas estabelecidas estavam longe se serem

cumpridas o que acabou levando a promoção de um novo encontro da Cúpula Mundial de

Educação em Dakar. Participaram deste evento 180 países e 150 ONG's que mais uma vez se

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comprometeram a oferecer educação para todos, já que este é um direito humano universal

básico que auxilia no desenvolvimento sustentável, a segurança e a paz.

Em um documento síntese denominado "Marco de Ação de Dakar", foi estabelecido a

educação "como o meio indispensável para alcançar a participação efetiva nas sociedades e nas

economias do século XXI" (DAKAR,2000, p. 6).

Os participantes se comprometeram a alcançar, até 2015, seis metas, a saber : 1.

expandir e melhorar o cuidado e a educação da criança pequena, especialmente para as crianças

mais vulneráveis e em maior desvantagem; 2. assegurar que todas as crianças, com ênfase

especial nas meninas e crianças em circunstâncias difíceis, tenham acesso à educação primária,

obrigatória, gratuita e de boa qualidade até o ano 2015; 3.assegurar que as necessidades de

aprendizagem de todos os jovens e adultos sejam atendidas pelo acesso equitativo à

aprendizagem apropriada, a habilidades para a vida e a programas de formação para a cidadania;

4.alcançar uma melhoria de 50% nos níveis de alfabetização de adultos até 2015, especialmente

para as mulheres, e acesso equitativo à educação básica e continuada para todos os adultos;

5.eliminar disparidades de gênero na educação primária e secundária até 2005 e alcançar a

igualdade de gênero na educação até 2015, com enfoque na garantia ao acesso e o desempenho

pleno e equitativo de meninas na educação básica de boa qualidade; 6. melhorar todos os

aspectos da qualidade da educação e assegurar excelência para todos, de forma a garantir a todos

resultados reconhecidos e mensuráveis, especialmente na alfabetização, matemática e

habilidades essenciais à vida (DAKAR, 2000).

Destaco aqui a meta número seis, que ressalta o papel da avaliação, como instrumento

seguro de monitoramento das propostas estabelecidas. A partir dessa determinação, os sistemas

de avaliação de políticas na área educacional em todo o mundo se intensificam, ganhando novos

formatos de controle e coerção.

Diante do exposto, observamos a interferência dos organismos internacionais na

economia e na reorganização do Estado brasileiro na área da educação nos anos de 1990 e no

início do século XXI, pois as principais leis referentes à política educacional apresentaram

alinhamento com as propostas internacionais, aqui analisadas, em especial as do Banco Mundial.

Contudo, este foi apenas um primeiro momento para compreendermos melhor o

percurso das políticas educacionais brasileiras nas duas últimas décadas, agora focaremos nos

anos 2000 e o avanço das ideias neoliberais na educação tendo como principal promotor o

movimento Todos pela Educação (TPE).

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3.4 O MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO (TPE)

As reformas educacionais propostas pelos organismos multilaterais acontecem de

formas diferentes em cada país, pois se desenvolvem de acordo com a especificidade de cada

lugar.

Segundo Martins (2013), elas não ocorrem de maneira imediata e direta. Por isso, esses

organismos atuam estrategicamente na cooptação de organizações e intelectuais que

desempenham funções importantes junto às instâncias de poder local, tais como universidades,

associações de classes, canais de comunicação de massa e do próprio governo.

Aqui no Brasil ganha destaque o Movimento Todos pela Educação que surgiu por

iniciativa da esfera privada, com a participação determinante do capital financeiro e industrial,

porém com a atuação expressiva do capital financeiro através de institutos ligados ao setor

bancário, conforme atestam Leher e Evangelista (2012):

O TPE foi convocado justo pelo setor bancário, liderado pelo Itaú, em articulação com o

setor de commodities, no caso, siderúrgico, dirigido pelo organizador de outra iniciativa

empresarial para intervir na educação, o movimento Brasil Competitivo, Jorge Gerdau

Johannpeter. (...) Para ampliar a convocatória, o Itaú Unibanco Holdings S.A. contou

com a adesão de entidades e organizações representativas de outras frações do capital,

como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), Grupo de Institutos Fundações e

Empresas (GIFE) e Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (p. 06-07).

As organizações que participaram inicialmente do movimento que originou o TPE

foram: o grupo Pão de açúcar – Ana Maria Diniz; grupo DPaschoal – Luís Norberto Paschoal;

grupo Itaú-Unibanco – Milu Vilela. Posteriormente, mais setores ligados aderiram ao

movimento, como foi o caso do grupo Gerdau, através do seu presidente Jorge Gerdau

Johannpeter, o qual, a partir de 2006, passou a presidir também o TPE (SOUZA, 2017).

Atualmente, o TPE está dividido entre entidades 1) mantenedoras – grupo DPaschoal,

Fundação Bradesco, Fundação Itaú Social, Itaú BBA, Instituto Unibanco, Fundação Telefônica

(Vivo), grupo Gerdau, Suzano Papel e Celulose, Fundação Lemann, Instituto Península, Instituto

Natura, Instituto Votorantim e Viação Gol; e 2) parceiras – Rede Globo, Friends Áudio, Canal

Futura, Fundação Roberto Marinho,Editora Moderna, Fundação Santillana, Instituto Ayrton

Senna, Instituto Paulo Montenegro, Instituto Rodrigo Mendes, Itaú Cultural, Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundação Victor Civita, Fundação Maria Cecilia

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Souto Vidigal, ABC Omnicom Group, DM9DDB, Mckinsey & Company, PATRI Políticas

Públicas e Luzio Strategy Group. 45

O movimento também se articula com o poder público, tais como: O Ministério da

Educação – MEC; Conselho Nacional de Secretários de Educação dos Estados e Distrito Federal

– CONSED; União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, bem como

com os organismos internacionais, como por exemplo: Unicef e Unesco, com organizações

similares na América Latina tendo como apoio dessa articulação o BID e o PREAL.

Conforme Martins (2013), o grupo contou inicialmente com as seguintes presenças

institucionais:

(...) Ministro da educação Fernando Haddad, do então Secretário de educação básica,

Francisco das Chagas Fernandes, de José Henrique Paim Fernandes, presidente do

FNDE na época, de Gabriel Chalita, presidente do CONSED na época e da então

presidente da Undime, Maria do Pilar Lacerda. Acrescenta-se ainda a presença

marcante, em vários momentos da década de 2000, de integrantes do TPE no Conselho

de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), este diretamente ligado a presidência

da república (p.53).

Em setembro de 2011, em Brasília, ocorreu o Congresso Empresarial - Educação: uma

Agenda Urgente - promovido pelo TPE em parceria com o BID. Tal encontro teve a participação

de treze organizações46

de países da América Latina, o que no final formalizaram a criação da

"Rede Latino-americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação" (REDUCA). A

carta de princípios que instituiu a Rede foi estruturada em três pilares: "1) trabalhar em conjunto

para a garantia do direito à educação de qualidade para toda criança e jovem; 2) trocar

conhecimento e aprender coletivamente; 3) ter uma voz coletiva no nível regional" (MARTINS,

2013, p. 112).

No dia 06 de setembro de 2006 foi lançado em São Paulo, no Museu do Ipiranga, o

Movimento denominado de "Compromisso Todos pela Educação". Entretanto, em 2007 o

governo federal lançou o PDE instituído pelo Plano de Metas Compromisso Todos pela

Educação através do Decreto 6.094/07. Além de incorporar as propostas do TPE no PDE o

governo utilizou o próprio termo ―compromisso todos pela educação no decreto que instituiu tal

45

Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/quem-somos/quem-esta-conosco/>. Acesso em: 08 out.

2017. 46

"Proyecto EducAR 2050 (Argentina); Todos pela Educação (Brasil); Fundación Empresarios por la Educación –

ExE (Colômbia); Fundación Educación 2020 (Chile); Fundación Empresarial para el Desarrollo Educativo – Fepade

(El Salvador); Grupo FARO (Equador); Empresarios por la Educación (Guatemala); Fundación Educativa Ricardo

Ernesto Maduro Andreu – Ferema (Honduras); ‗Mexicanos Primero„ (México); Unidos por la Educación (Panamá);

Juntos por la Educación (Paraguai); Asociación Empresarios por la Educación (Peru); e EDUCA (República

Dominicana)." Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/quem-somos/quem-esta-conosco/>. Acesso

em 08 out. 2017.

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plano, fato que levou o grupo a modificar o seu nome, passando a denominar-se, então, Todos

pela Educação (TPE) (SOUZA, 2017).

O movimento que se descreve como "apartidário e plural", tem por objetivo propiciar

condições de acesso, de alfabetização e de sucesso escolar, ampliar recursos investidos na

Educação Básica e melhorar a gestão desses recursos visando uma educação de qualidade.

Estes objetivos foram traduzidos em cinco metas a serem alcançadas até 2022, ano do

bicentenário da Independência do Brasil, a saber: 1- Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na

escola; 2- Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; 3 - Todo aluno com aprendizado

adequado ao seu ano; 4- Todo jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos; e 5-

Investimento em Educação ampliado e bem gerido. 47

Em 2010, o movimento adotou "cinco bandeiras", as quais entende como urgentes e

com resultados mais impactantes para a melhoria da qualidade da Educação e para o alcance das

Metas. São elas: 1- Melhoria da formação e carreira do professor; 2 - Definição dos direitos de

aprendizagem; 3- Uso pedagógico das avaliações; 4 - Ampliação da oferta de Educação integral;

5 - Aperfeiçoamento da governança e gestão48

.

Para auxiliar seus objetivos, o TPE lançou em 2014, cinco atitudes que mostram como a

população brasileira pode ajudar crianças e jovens a aprender mais. 1- Valorizar os professores, a

aprendizagem e o conhecimento; 2- Promover as habilidades importantes para a vida e para a

escola; 3- Colocar a Educação escolar no dia a dia; 4 - Apoiar o projeto de vida e o protagonismo

dos alunos; 5- Ampliar o repertório cultural e esportivo das crianças e dos jovens. Em fevereiro

deste mesmo ano, o movimento foi qualificado como Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público (Oscip)49

.

É importante destacar que o TPE, seguindo o discurso neoliberal, se utiliza

incessantemente do conceito de "qualidade educacional". Nessa perspectiva, a "qualidade

educacional' é reduzida a resultados, mensurados através de testes, como os exames em larga

escala, SAEB, ENEM, PISA, SPAECE, dentre outros.

Segundo Martins (2013), a ideia que orienta a atuação do movimento 'Todos Pela

Educação" é a busca pela qualidade da educação pública. Tal qualidade, conforme a autora, se

47

Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/quem-somos/quem-esta-conosco/>. Acesso em 08 ago.

2017. 48

Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/quem-somos/quem-esta-conosco/>. Acesso em ago. 2017. 49

A Profª. Maria Sylvia Dí Pietro conceitua as OSCIPs como pessoas jurídicas de direito privado, sem fins

lucrativos, instituídas por iniciativas de particulares, para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado,

com incentivo e fiscalização do Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por meio de termo de parceria.

Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/19265/organizacao-da-sociedade-civil-de-interesse-publico-oscip>.

Acesso em: 14 nov. 2017.

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enquadra na mesma perspectiva defendida pelo discurso moderno do empresariado e dos

próprios agentes públicos.

A avaliação externa, como mecanismo de informação do desempenho do sistema e

subsídio para o planejamento das políticas públicas, aparece como eixo central no

conceito de qualidade da educação do TPE. Para o Movimento, ela deve ser utilizada

pelos governos como instrumento de replanejamento e de gestão da educação (p. 63).

Para Souza (2017), na visão do TPE, aspectos como qualidade da educação, mensurado

a partir dos resultados da aprendizagem, gestão democrática, capacitação de professores,

melhorias salariais atrelados ao desempenho, autonomia da escola, entre outras, estariam

subordinados aos resultados das avaliações externas. No Brasil, podemos perceber essa lógica se

desenvolvendo desde a década de 1990 com a implementação do SAEB.

Toda essa qualidade almejada, na concepção do TPE não pode ser tarefa única do

Estado, mas seria uma co-responsabilidade dos poderes públicos, a iniciativa privada e setores

organizados da sociedade civil.

Para auxiliar essa lógica, em 2007, foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica (IDEB) como um dos eixos centrais do PDE. Segundo o PNE 2014-2024, o IDEB

constitui-se como instrumento de avaliação e fonte de informação acerca da qualidade da

Educação Básica no país, bem como orienta as políticas públicas para essa etapa da educação

(BRASIL, 2014).

Contudo, como nos lembra Leher e Evangelista (2012) o conjunto de metas de

desempenho instituídas pelo TPE, mensuradas pelo IDEB são:

(...) instrumentos centralizados de avaliação e mecanismos de premiação e castigo

balizados pelo cumprimento das metas, afetando os sistemas, os chamados gestores das

escolas e, principalmente, os professores. Desse modo, os setores dominantes

aprisionam em concepções estreitas o que vem a ser a ―qualidade da educação,

traduzindo-a sob a forma de subordinação à formação para o trabalho explorado

requerido pelo capitalismo dependente. (...) Além disso, a busca por resultados, através

da política de metas, tem como objetivo expropriar os conhecimentos dos professores e

uniformizar a pedagogia do capital nas escolas (p.09).

Os objetivos defendidos pelo TPE foram incorporados progressivamente pelo poder

público, na medida em que o governo federal foi modificando a legislação educacional de forma

a contemplar tais metas. Seu auge foi a instituição em 2007 do Plano de Desenvolvimento da

Educação (PDE).

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Segundo Jimenez (2010), existe uma grande ligação entre o PDE, o Plano de Metas

Todos pela Educação e as diretrizes do projeto de Educação para Todos inaugurado em 1990 na

Conferência de Jomtien, sob responsabilidade do Banco Mundial e ONU.

É inegável, ademais, a consonância entre PDE e seu congênere, o Plano de Metas Todos

pela Educação, às diretrizes emanadas do Projeto de Educação para Todos, inaugurado

em Jomtien, em 1990, sob os auspícios do Banco Mundial e da ONU e que, irmanado às

Metas do Milênio, representa o mais completo receituário para o ajuste do pensamento e

da política educacional aos interesses do grande capital, no contexto da crise hodierna.

Nesse sentido, é curioso observar que o PDE foi lançado no contexto de um evento

vinculado ao referido Projeto, a Semana de Educação para Todos, realizada entre 23 e

29 de abril de 2009, em Brasília. Onde, precisamente?: na sede da Confederação

Nacional da Indústria (CNI) (p. 6).

Já Savianni (2009) destaca que a grande inovação do PDE (2007) é a sua busca pela tal

"qualidade da educação". Para isso, o PDE estabeleceu quatro pilares: avaliação (via IDEB);

formação de professores e valorização do magistério; nova forma de financiamento (criação do

FUNDEB); e a criação do Plano de Metas.

Para conseguir a primeira meta (avaliação), o SAEB foi reformulado em 2005, deixando

de ser amostral e passando a ser censitário. Assim, houve uma reformulação das avaliações

externas, pois foi possível criar um "indicador de qualidade" que pudesse responsabilizar todos

os envolvidos no processo educacional.

Esse novo indicador foi conseguido através da unificação de dois resultados: o da

"Prova Brasil" e do "rendimento escolar"50

apurado via censo escolar. Em síntese, o IDEB é

obtido a partir dos dados levantados pelo Censo Escolar e a Prova Brasil ambos sintetizados no

Programa Educacenso (BRASIL, 2009).

Segundo Saviani (2009), o IDEB foi a principal ação instituída pelo Estado brasileiro,

que permite ao governo o monitoramento e a implementação do PDE, definir e redefinir metas,

orientar e reorientar as ―ações programadas e avaliar os resultados, de forma a atingir a meta

final que é garantir o acesso, permanência e a qualidade da educação básica até 2022, conforme

as metas traçadas pelo TPE.

De acordo Jimenez (2010), no que se refere à qualidade da educação básica pretendida

pelo governo através do IDEB, nos termos apresentados pelo PDE:

(...) corresponde, em última análise, à mais estreita lógica produtivista, ultra-benéfica

para o capital, porém devastadora para os trabalhadores, a qual, por exemplo, no âmbito

de uma empresa – provavelmente, de todas aqueles que assinam o Plano Compromisso

Todos pela Educação – empurra-os uns contra os outros, numa arena de competição

50

Rendimento Escolar diz respeito ao quantitativo de promoção, reprovação e evasão que cada escola obteve

durante o ano letivo.

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desesperada, para o alcance de metas ou cotas, a fim de acrescer seus míseros salários

com algum benefício extra, ou, no limite, salvar-lhes o emprego. Assim, consoante a

essa lógica, nos municípios e escolas, professores e gestores hão de atropelar-se

cotidianamente na lida de fraturar a complexa totalidade escolar em metas sobre metas

passíveis de medição e controle, a fim de concorrer aos editais que acenam com os

diferentes produtos„ exibidos nas prateleiras virtuais do PDE e, assim, tentar alcançar os

índices pré-estabelecidos (p. 27-28).

Com relação à formação de professores e a valorização do magistério, em 2008 foi

efetivado o piso do magistério, através da lei 11.738/ 08 e estabeleceu formações iniciais e

continuada para professores da Educação Básica.

Já a terceira meta foi estabelecida em 2006, com a criação do FUNDEB (em

substituição ao FUNDEF) através da Emenda Constitucional 53/2006 e regulamentado pela Lei

11.494/2007. Agora, o financiamento da educação abrange estudantes de toda a Educação Básica

(Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), bem como todas as modalidades de

ensino51

. Saviani (2007) ressalta, porém, que:

(...) embora a implementação do Fundeb tenha sido um importante avanço em relação

ao Fundef, pois aumentou o raio de alcance de suas medidas, os recursos disponíveis

para o novo fundo não foi proporcional à quantidade de estudantes que passou a

contemplar. No Fundef eram atendidos 30 milhões de estudantes com o valor de 35,2

bilhões de reais. Já o Fundeb aumentou para 47 milhões a quantidade de estudantes

atendidos (aumento de 56,6%), enquanto o novo valor disponibilizado pelo governo foi

de 48 bilhões (aumento de 36,3%). No caso do Fundef o governo disponibilizava por

cada aluno o valor de R$ 1.173,33, enquanto no Fundeb esse valor diminuiu para R$

1.021,27 por aluno. (...) o Fundeb é um fundo de natureza contábil e que, em razão dos

recursos mínimos, não resolve os problemas de financiamento da educação básica. Em

vista disso, esse fundo se caracteriza mais como um ganho de gestão do que financeiro.

Assim, conclui o autor, se os recursos forem aplicados corretamente e bem geridos

poderia representar uma melhora no financiamento da educação em comparação com o

contexto anterior, mas do ponto de vista da melhoria da qualidade da educação não terá

força de mudar o status quo vigente (pg. 43).

O último pilar traçado pelo PDE é a construção de um Plano de Metas. Este estabelece,

ao mesmo tempo, um processo de planejamento das ações, alicerçado no princípio de

colaboração entre a União, Estados e Municípios, aliado com a gestão educacional, através do

Plano de Ações Articuladas (PAR).52

Através do Plano de Metas o governo pretende:

51

São modalidades de ensino segundo a LDB 9394/1996: Educação de Jovens e Adultos; Educação Especial;

Educação Profissional e tecnológica; Educação do Campo; Educação Indígena; Educação Escolar Quilombola e

Educação a Distância. 52

O Plano de Ações Articuladas, é o conjunto de ações, apoiado técnica e financeiramente pelo Ministério da

Educação, que visa ao cumprimento das metas do Compromisso Todos pela Educação, sendo base para o termo de

convênio ou cooperação firmado entre o MEC e o ente apoiado. A partir da adesão ao Plano de Metas Compromisso

Todos pela Educação, os estados e municípios elaboram seus respectivos Planos de Ações Articuladas. Inicialmente,

os estados e municípios realizam um diagnóstico minucioso da realidade educacional que está estruturado em quatro

grandes dimensões: 1. Gestão Educacional; 2. Formação de Professores e dos Profissionais de Serviço e Apoio

Escolar; 3. Práticas Pedagógicas e Avaliação; e 4. Infraestrutura Física e Recursos Pedagógicos. A partir do

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[...] garantir a sustentabilidade das ações que o compõem. Convênios unidimensionais e

efêmeros dão lugar aos planos de ações articuladas (PAR), de caráter plurianual,

construídos com a participação dos gestores e educadores locais, baseados em

diagnóstico de caráter participativo, elaborados a partir da utilização do Instrumento de

Avaliação de Campo, que permite a análise compartilhada do sistema educacional em

quatro dimensões: gestão educacional, formação de professores e dos profissionais de

serviço e apoio escolar, práticas pedagógicas e avaliação e infraestrutura física e

recursos pedagógicos. O PAR é, portanto, multidimensional e sua temporalidade o

protege daquilo que tem sido o maior impeditivo do desenvolvimento do regime de

colaboração: a descontinuidade das ações, a destruição da memória do que foi adotado,

a reinvenção, a cada troca de equipe, do que já foi inventado. Em outras palavras, a

intermitência. Só assim se torna possível estabelecer metas de qualidade de longo prazo

para que cada escola ou rede de ensino tome a si como parâmetro e encontre apoio para

seu desenvolvimento institucional (BRASIL, 2009, p. 14-15).

Portanto, percebe-se que a lógica neoliberal, defendida por organismos internacionais

como o Banco Mundial e representado por movimentos como o "Todos Pela Educação", vem

norteando as políticas educacionais brasileiras nas últimas décadas.

Assim, várias diretrizes educacionais foram traçadas e estão sendo seguidas pelo Estado

brasileiro. Destaco aqui a criação de inúmeros sistemas de avaliações estaduais e a reestruturação

do sistema nacional de avaliação. Temas que aprofundarei no capítulo seguinte.

diagnóstico, a equipe responsável planeja e desenvolve um conjunto de ações que resultam no PAR.Disponível em:

<http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php>. Acesso em: 15 nov. 2017.

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4 A AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO DO CAPITAL

4.1 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

Os problemas educacionais que a sociedade brasileira enfrenta têm origem em períodos

anteriores aos dias atuais. No Brasil colônia e no império, a escola como instituição pública

praticamente inexistiu. Em uma sociedade de modelo agroexportador, a educação escolar parecia

não ser importante, pois o foco do governo estava sobre a necessidade de mão-de-obra que não

precisa previamente de nenhuma formação institucionalizada.

Contudo, com o surgimento da sociedade moderna e a chegada da república no país, a

posse do conhecimento torna-se fundamental para possibilitar uma maior expectativa de

ascensão social, em especial, nos grupos menos favorecidos. Portanto, a instituição escolar passa

a ser uma peça fundamental para o desenvolvimento e fortalecimento do capitalismo.

A escola, na forma como conhecemos, surge na era industrial e com a constituição do

Estado-Nação moderno.

A consolidação do capitalismo reforçou a convicção de que a educação podia ser

mecanismo de controle social. Ela foi recomendada pelos teóricos da economia política

liberal do século XVIII como forma de tornar o povo ordeiro, obediente aos superiores

(LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p.238).

Seguindo este mesmo raciocínio, Ernest Gellner (1993), fala que as transformações na

educação formal ao longo da história fazem parte da transição ocorrida na passagem da

sociedade agro-letrada à sociedade industrial. A sociedade agro-letrada trata-se de uma

sociedade baseada na agricultura, ou seja, na produção e armazenagem de alimentos. E a

sociedade Industrial Avançada tem sua base na inovação sustentada e contínua e num

crescimento exponencial dos recursos produtivos e da produção.

Essa transição se acentuou a partir do século XIX na Europa ocidental e trouxe como

características: “homogeneidade social”, “estandardização da educação” e prevalência de uma

“cultura superior” liderada por uma “elite dominante”. Portanto, essa transição requer nova

estrutura ocupacional que exige uma mão de obra especializada. Desse modo, os trabalhadores

tornaram-se dependentes da educação orientada pelas demandas do capital. Todas as

características ressaltadas por Gellner para definir essa nova sociedade industrial, regida pela

economia de mercado e por uma educação padronizada, ainda permanecem vivas na atualidade e

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são potencializadas com o desenvolvimento das relações multilaterais pós II Guerra Mundial

(1939-1945).

As novas tendências econômicas estão diretamente relacionadas ao atual processo de

globalização. Os propulsores do capitalismo - organismos multilaterais, grandes empresas e

bancos públicos internacionais - estão sempre atentos ao potencial formador e reprodutivo da

educação.

Como nos lembra Maria das Graças Rua:

As políticas públicas (policies) ocorrem em um ambiente tenso e de alta densidade

política (politics), marcado por relações de poder, extremamente problemáticas, entre

atores do Estado e da sociedade, entre agências intersetoriais, entre os poderes do

Estado, entre o nível nacional e níveis subnacionais, entre comunidade política e

burocracia (2013, p. 36).

Hoje, segundo Adjacy Farias (2014), podemos atualizar as ideias de Gellner e denominar

as grandes empresas transnacionais que impulsionam o capital mundial como representantes da

“elite superior” global, ou seja, um grupo disposto a se esclarecer e promover o aperfeiçoamento

das ciências, das artes, da administração estatal, etc. Estas têm todo interesse num sistema de

ensino que reproduza seus valores.

Assim, a escola na contemporaneidade, tem servido a interesses múltiplos. Alvo de

elogios, críticas e das mais diversas interpretações em relação a sua responsabilidade, posto que

esta é parte integrante da sociedade e dos conflitos sociais nela existentes. Por ser uma

instituição social e histórica, movida pela atividade humana, seu formato leva em consideração

as necessidades e complexidades das demandas econômicas, políticas, sociais e culturais da

conjuntura na qual ela está inserida.

A dependência da escola em relação à dinâmica social leva a ressaltar, na formação de

professores, a importância da determinação de seus objetivos e funções, pois disso

decorrem as políticas educacionais, as formas de conceber o funcionamento da escola,

as orientações para a formação de professores, as orientações curriculares e as formas de

avaliação no âmbito tanto do sistema de ensino quanto da aprendizagem (LIBÂNEO;

OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p.239).

Por conta dessa realidade, a educação formal precisa ser analisada como um campo social

de disputa, um espaço de luta e contradição, já que reflete a própria sociedade capitalista.

Segundo Libâneo (2012), nesse modelo de sociedade podemos encontrar várias finalidades para

a educação escolar, entre quais:

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a) garantir a unidade nacional e legitimar o sistema; b) contribuir para a coesão e o

controle social; c) reproduzir a sociedade e manter a divisão social; d) promover a

democracia da representação; e) contribuir para a mobilidade e ascensão social; f)

apoiar o processo de acumulação do capital; g) habilitar técnica, social e

ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores para servir ao mundo do trabalho;

h) compor a força de trabalho, preparando, qualificando, formando e desenvolvendo

competências para o trabalho; i) proporcionar uma força de trabalho capacitada e

flexível para o crescimento econômico (p. 249).

Nas palavras de Gadotti (1997, p. 35), "nos diversos modelos de sociedade, a escola tem

servido de veículo de divulgação de seu modo de pensar e como instrumento de formação de

mão-de-obra para impulsionar seu projeto econômico".

Veiga-Neto, tendo por base as ideias foucaultianas, afirma:

Não é demais insistir que, mais do que qualquer outra instituição, a escola encarregou-

se de operar as individualizações disciplinares, engedrando novas subjetividades e, com

isso, cumpriu um papel decisivo na constituição da sociedade moderna. A escola foi

sendo concebida e montada como a grande - e (mais recentemente) a mais ampla e

universal - máquina capaz de fazer, dos corpos, o objeto do poder disciplinar; e assim,

torná-los dóceis53

; além do mais a escola é depois da família (mas, muitas vezes, antes

dessa), a instituição de sequestro pela qual todos passam (ou deveriam passar...) o maior

tempo de suas vidas, no período da infância e da juventude. Na medida em que a

permanência na escola é diária e se estende ao longo de vários anos, os efeitos desse

processo disciplinar de subjetivação são notáveis (VEIGA - NETO, 2016, p. 70).

Nessa perspectiva a escola é um dos principais espaços de controle e vigilância, não só

sobre o corpo, mas também sobre a forma de pensar. Essa instituição tem um papel fundamental

na transmissão de valores e ideias. Por isso, para haver um maior domínio sobre o que é passado

para os estudantes se faz necessário um processo fiscalizador, bastante coercitivo, que acontece

principalmente através dos exames.

Para Foucault (2014), o exame combina as técnicas de hierarquia que vigia e as da sanção

que normaliza através do olhar. É um controle que permite qualificar, classificar, hierarquizar e

punir, pois é ele que está no centro dos processos que constituem o indivíduo como efeito e

objeto de poder e de saber. Através do exame se encontra a “verdade” do indivíduo. Dele, três

características emergem:

1) inverte-se a visibilidade do poder: através do exame o poder se esconde, e faz brilhar

aquele sobre quem atua, através do exame o sujeito se mostra como objeto, se dá, se

torna números e medidas. (...) 2) inclui a individualidade dentro de um campo

documentário: nasce o indivíduo e as ciências do homem, através do exame é possível

53

Dizer que a disciplina fabrica corpos dóceis não significa dizer que ela fabrica corpos obedientes. Falar em corpos

dóceis é falar em corpos maleáveis e moldáveis; mas não se trata, ai, de uma modelagem imposta, feita à força. Ao

contrário, o que é notável no poder disciplinar é que ele atua no nível de corpo e dos saberes, que resultam em

formas particulares de estar no mundo - no eixo corporal -, quanto de cada um conhecer o mundo e nele se situar -

no eixo dos saberes (VEIGA - NETO, 1996).

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descrever o indivíduo e compará-lo aos demais; caracteriza-se grupo, coletivos e pode-

se verificar os desvios dos “desajustados” (...) 3) cada indivíduo se torna um “caso”:

hora antes dada somente aos reis e realizadores de grandes feitos, agora todo ser

humano tem sua vida esmiuçada, pormenorizada, detalhada, violentada por processos de

marcação, classificação e objetificação (FOUCAULT, 2014, p. 183; 185; 187).

Assim, a escola em uma perspectiva foucaultiana, é o lugar de controle do ser e os

processos avaliativos são usados para analisar, julgar, categorizar e comparar o indivíduo,

reafirmando assim o caráter domestificador dessa instituição.

Ideia similar a de Afonso (2009), para ele já que as formas de avaliação são compulsórias

(é até difícil imaginar uma instituição escolar sem processos avaliativos), estas tem

consequências importantes para a vida escolar e pós-escolar dos estudantes e "impõe

unilateralmente uma determinada grelha de interpretação da realidade que faz com que a relação

entre avaliador e avaliado seja vivida como uma relação de dominação" (p. 20).

Essa abordagem da educação, apoiada na lógica neoliberal, da competência e da

racionalidade, coloca na avaliação toda a responsabilidade de garantir uma "qualidade"

educacional, trazendo consigo uma ideia de reorganização e o melhoramento dos sistemas de

ensino.

Para Saviani (2000), o espaço escolar deveria ser um lugar de mobilização, confronto,

construção, conflitualidade, complexidade, produção e reprodução, resistência e alfabetização.

Entendida dessa forma, ela representaria a possibilidade da afirmação ou da negação do modelo

de sociedade vigente.

Segundo o autor supracitado, o modelo de organização da escola permanece autoritário.

Neste aspecto, continua utilizando instrumentos pedagógicos, como por exemplo, a frequência e

a avaliação de maneira tradicional, servindo como controladores da disciplina, do respeito e da

moral.

Assim, a escola na atualidade se mostra como um espaço complexo, onde as teias sociais

são diversas, podendo traçar vários percursos. Contudo, o formato organizacional muitas vezes

coercitivo, faz dessa instituição um lugar de punição e de exclusão dos saberes tendo na

avaliação um importante instrumento de poder, pois é a partir dela que diretrizes e metas são

impostas e as cobranças por resultados são feitas.

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4.2 AVALIAÇÃO: INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM?

A avaliação tem sido objeto de muitas reflexões. Nesses debates, parece prevalecer a

tendência em explorar os aspectos históricos, as contradições e ambiguidades da legislação

educacional que predominam, sobretudo, no nosso país.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB n° 9.394/96 gerou expectativas

positivas ao definir em seu Art. 24, V, alíneas a, b, c, d, e:

Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as

seguintes regras comuns. V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes

critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com

prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do

período sobre as eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para

alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries

mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e)

obrigatoriedade de estudos de recuperação de preferência, paralelos ao período letivo, para

os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em

seus regimentos.

A lei denota o caráter essencial da avaliação para a aprendizagem quando afirma que os

aspectos qualitativos tem prevalência sobre os quantitativos, como meio seguro e eficaz de

verificar o rendimento escolar.

Contudo, percebe-se que a verificação de conteúdos, através de testes, simulados e

provas, são prioridade. O estudante parece ser visto apenas como um depósito de conteúdos. O

que remete ao conceito de educação bancária de Paulo Freire (1997), onde o professor deposita o

conhecimento em um aluno desprovido de seus próprios pensamentos transformando a escola

pública em um espaço apenas de reprodução e formação de mão-de-obra barata.

A finalidade da avaliação é um aspecto crucial, já que determina, em grande parte, o tipo

de informações consideradas pertinentes para analisar os critérios tomados como pontos de

referência. O seu formato reflete com muita clareza a sociedade em que ela está inserida, pois a

avaliação é também uma atividade que é afetada por forças políticas. Ela é determinada por

crenças e visões de mundo.

Bonami, citado por Afonso (2009), afirma que:

(...) a avaliação constitui a pedra angular da instituição escolar uma vez que entre suas

funções,i) condiciona os fluxos de entrada e de saída do sistema escolar, bem como as

passagens entre os diferentes sub-sistemas, classes e cursos; ii) torna possível o controlo

parcial sobre os professores - quer por parte dos administradores da educação, quer por

parte dos próprios pares; iii) define as informações e as mensagens a transmitir aos pais

e aos organismos de tutela; iv) constitui um elemento importante na gestão da aula na

medida que influencia as aprendizagens, o sistema de disciplina e as próprias

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motivações dos alunos; v) fornece ao professor informações importantes sobre a sua

própria imagem profissional e sobre os métodos pedagógicos que utiliza (p.18).

Para o autor supracitado, as modalidades de avaliação adotadas por um sistema escolar

têm sempre uma função de regulação, o que significa que a formação das pessoas está ligada

diretamente com as características do próprio sistema de formação. Se vivemos, por exemplo,

em uma sociedade neoliberal a tendência é que a função da avaliação esteja ligada a idéia de

seleção dos indivíduos, hieraquização dos saberes, seleção, responsabilização (accountability),

meritocracia, dentre outros.

Bloom (1983) classificou a avaliação em três tipos: diagnóstica, formativa e somativa. A

avaliação diagnóstica é realizada no início do curso e visa verificar a existência, ou ausência, de

habilidades e conhecimentos pré-estabelecidos. A avaliação formativa é realizada ao longo de

todo o processo, dando ao professor parâmetros para que ele possa interferir no que pode estar

comprometendo a aprendizagem. A avaliação somativa, na maioria das vezes acontece de forma

pontual, visa classificar os alunos e quantificar o processo avaliativo.

Segundo Libâneo (1994), a prática da avaliação utilizada nas escolas, em sua maioria,

está reduzida a uma função de controle mensurado num resultado quantitativo obtido por meio

de provas.

O depoimento de uma professora mostra essa realidade:

Eu acho que não avalia (a prova), eu acho que não dar para a avaliar direito. Mas é o

que a gente tem ao nosso alcance porque as salas são cheias...quarenta alunos, tem uma

média de quarenta alunos, então fica complicado você avaliar todos minuciosamente e

qualitativamente (professora 2 - grifo meu).

Outro fator relevante que se faz necessário destacar é a instauração do medo pela escola

através dos processos avaliativos. (COSTA; FREITAS; MIRANDA, 2014). O medo é uma

variante decisiva para o controle disciplinar e social. Para implantar uma onda de medo se usa o

instrumento castigo e esse vem por meio da ameaça, que nesse caso, é usado para controlar a

situação. Para os autores a avaliação em nossas escolas tem sido usada com esse intuito.

Quando a prova é usada como meio de intimidação, aos educandos, esse instrumento

perde sua função no processo avaliativo e passa a ser um instrumento de controle social, punitivo

e disciplinador (LUCKESI, 2011). Num processo avaliativo tradicional, a avaliação é

comumente usada como forma de classificação, comparação, punição e de controle social.

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Na avaliação usada numa concepção classificatória, a qualidade se refere a padrões

preestabelecidos, em bases comparativas: critérios de promoção, gabaritos de respostas às

tarefas, padrões de comportamento ideal.

Frequentemente a avaliação feita pelo professor se fundamenta na fragmentação do

processo ensino/aprendizagem e na classificação das respostas de seus alunos e alunas,

a partir de um padrão predeterminado [...] a avaliação escolar, nesta perspectiva

excludente, silencia as pessoas, suas culturas e seus processos de construção de

conhecimentos; desvalorizando saberes fortalece a hierarquia que está posta,

contribuindo para que diversos saberes sejam apagados, percam sua existência e se

confirmem como a ausência de conhecimento (ESTEBAN, 2001, p. 16 ‐ 17).

Como pode ser percebido ao utilizar a avaliação com a função de medir ou classificar, se

perde o princípio básico de sua função, causando uma forma de “descontinuidade, de

fragmentação, de segmentação, ou seja, de parcelarização do conhecimento” (CARMINATTI;

BORGES, 2012, p. 171).

Conforme Moretto (2010), a avaliação no modelo classificatório, é isolada do processo de

ensino e surge como um recorte da aprendizagem. Neste tipo, a avaliação é categorizada como

controle das condutas, atua de forma excludente, no qual os que não sabem são colocados para

fora. O erro neste caso é associado a fracasso, e o instrumento prova, é utilizado pelo professor

como um momento para “acerto de contas”.

A escola muitas vezes é cruel quando todos fundam suas atenções na promoção, ou

reprovação do aluno. O sistema quer resultados quantitativos positivos, os pais querem a

aprovação, os professores na busca de resultados ameaçam com a prova e os alunos pensam

apenas na nota que precisam para serem aprovados. A aprendizagem e o processo avaliativo são

colocados em segundo plano, pois o que realmente interessa, nesse caso, é aprovar o maior

número de educandos possível (LUCKESI, 2011).

Podemos perceber essa realidade nas falas de nossos interlocutores quando eles afirmam:

Então, nessa nota qualitativa eu avalio a assiduidade, a participação e a disciplina do

aluno durante a minha aula. E também as atividades que ele entrega. Então eu uso três

parâmetros e eu atribuo notas a cada um deles. Porque infelizmente a gente precisa

quantificar. Quando você manda para a SEDUC, para ter registro você precisa

quantificar (professor 1).

A gente é meio que padronizado aqui, né... tem a avaliação bimestral, a parcial que pode

ser um projeto dependendo do bimestre, só que esse bimestre a parcial é uma

avaliaçãozinha parcial. Mas tem a nota qualitativa que ela é...a gente divide alguns

quesitos, disciplina, comportamento, assiduidade (...) participação, ai envolve uma série

de coisas, pró atividade do aluno, interesse, enfim, mas no final a gente transforma a

qualitativa em uma quantitativa (professor 2).

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É possível compreender essa problemática da avaliação como punição ou sistema de

medida quando se percebe que tais fatores são heranças históricas que se iniciam na formação

dos professores e se perpetuam na reprodução destes quando se tornam docentes

(CARMINATTI, BORGES, 2012).

Ao estabelecer a avaliação como um instrumento de exclusão, também se estabelece um

sistema de controle social, em que só tem acesso a determinados privilégios os que se adequarem

ao sistema definido por aqueles que detêm o poder de ditar o que é ensinado e o que cobrado.

É possível compreender que os fatores associados ao controle se estenderam de tal

forma à educação que seus dispositivos tornaram‐se indissociáveis a toda prática

pedagógica. Instituem‐se, então, valores, normas, hierarquias, poderes que ao longo dos

tempos foram alterando suas performances, mas ao mesmo tempo enraizaram‐se nos

terrenos férteis da educação, fortificando segundo controversos interesses educativos,

sociais e políticos de cada época. Tal trajetória tem incidências reais no processo

avaliativo instaurado a partir dessa organização escolar administrativa e pedagógica,

cujas consequências também estão presentes no paradigma educacional contemporâneo

(CARMINATTI, BORGES, 2012, p. 163).

Luckesi (2000) alerta que a avaliação com função classificatória não auxilia em nada o

avanço e o crescimento do aluno e do professor, pois se constitui num instrumento estático e

repressor de todo o processo educativo.

Segundo Vasconcelos (1998), avaliar vem do latim valere e significa reconhecer a valia,

atribuir valor ou significado, é portanto, um juízo de valor sobre a realidade. Porém, na

perspectiva pedagógica avaliar irá mais além. Representa uma prática intencional e

transformadora, porque pressupõe a determinação de acompanhar o processo de construção do

conhecimento do aluno, apreendendo o seu desenvolvimento real e as suas dificuldades diante

a situação avaliada e se comprometendo em contribuir para supera-las, ampliando o seu

potencial de aprendizagem e desenvolvimento.

Worthen (1982), ainda nos lembra que precisamos ter cuidado para não confundir a

palavra "avaliação", com termos como "pesquisa, verificação, medida e controle". O autor define

cada um desses termos, a saber: 1. mensuração é o simples ato de medir; é apenas um processo

de coletar os dados com base nos quais serão feitos os juízos avaliativos. Embora se constitua um

instrumento chave na avaliação, não é suficiente por si mesmo; 2. verificação são decisões sobre

como verificar se os objetivos foram atingidos, medição do grau em que os objetivos ou metas

foram alcançados; 3. Controle é um conceito amplo que vai além da avaliação, embora dela

dependa como um de seus passos centrais, ajuda a alcançar os níveis de desempenho desejados.

4. Pesquisa é a atividade complexa inerente à busca de explicações causais; tem por função

determinar por que certos níveis de desempenhos foram alcançados; e 5. Avaliação determina

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que medidas e critérios deveriam ser usados para julgar o desempenho, coletar a informação

relevante através de medição; e aplicar o critério para determinar o mérito ou a efetividade.

Contudo, o que se percebe é que mesmo nos dias atuais as palavras avaliação e

mensuração andam muito próximas. Segundo Vianna (2000), uma rápida reflexão histórica sobre

essa questão mostra que a realização das primeiras experiências dos estudos sobre diferenças

individuais, iniciados no século XIX, contribui para que a identidade entre avaliação e medida se

acentue a ponto de confundi-las.

Édna Raposo e Márcia Ribeiro (2004), ainda nos lembram que a avaliação é uma

atividade política, por isso as suas funções devem ser compreendidas segundo o contexto

educacional, econômico e político mais amplo.

A presença distinta e lancinante da avaliação no campo educativo deve-se a

fenômenos sociais, como o desenvolvimento de práticas democráticas, isto é, o

executor de uma prática não deve ser o único juiz da qualidade do seu trabalho, devem

existir outros olhares sobre o mesmo; do desenvolvimento da atitude de gestão, de

administração, visto que, antes a nossa eficácia se legava a mais recursos e mais horas,

hoje, devido à crise econômica e ideológica, tornamono-nos econômicos, necessitando

de análise constante (RAPOSO; RIBEIRO, 2004, p. 04).

Assim, para compreendermos a lógica dos processos avaliativos dentro de sala de aula

precisamos analisar a conjuntura política internacional, entendendo como o país se insere dentro

desse macro campo e como somos influenciados por diretrizes de organismos, como o Banco

Mundial.

4.3 AS DIRETRIZES DO BANCO MUNDIAL PARA OS PROCESSOS AVALIATIVOS NA

EDUCAÇÃO

Vivemos em uma sociedade neoliberal em que os contextos nacionais e internacionais se

entrelaçam, revelando a complexidade de como fatores econômicos, culturais e políticos

influenciam um determinado momento histórico. Os acontecimentos do mundo atual afetam a

educação escolar de várias maneiras segundo Libâneo (2012), a saber:

a) exigem novo tipo de trabalhador, mais flexível e polivalente, o que provoca certa

valorização da educação formadora de novas habilidades cognitivas e competências

sociais e pessoais; b) levam o capitalismo a estabelecer, para a escola, finalidades mais

compatíveis com os interesses do mercado; c) modificam os objetivos e as prioridades

da escola; d)produzem modificações nos interesses, necessidades e valores escolares;

forçam a escola a mudar suas práticas por causa do avanço tecnológico dos meios de

comunicação e da introdução da informática; f) induzem alteração na atitude do

professor e no trabalho docente (p. 62).

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Para Afonso (2009), países diferentes, ocupando lugares distintos no sistema mundial,

estão percorrendo caminhos bastante semelhantes no desenvolvimento de suas políticas de

avaliação educacional. Ou seja, para o autor, as políticas educativas e avaliativas só podem ser

adequadamente compreendidas se forem também referenciadas ao contexto mundial.

Assim, percebe-se cada vez mais uma espécie de "pensamento internacional" sobre o

assunto e este é construído principalmente pelos organismos internacionais, como o Banco

Mundial.

O discurso da excelência, da eficácia, da eficiência, da competitividade, da produtividade,

da liberdade de escolha do indivíduo, do governo mínimo, do laissez-faire, aparecem agora com

muita força, tudo para justificar uma ideia de racionalidade econômica, componente essencial

para controlar as despesas públicas na área educacional dentro da lógica de um Estado que é

apenas um ente avaliador e controlador dos serviços ofertados.

Nesse contexto, a avaliação educacional parece servir apenas como controle e regulação

por parte do Estado e como mecanismo de introdução da lógica do mercado, visando a maior

competição e desempenho, além de reforçar valores como individualismo, meritocracia e

competência (Catani, Oliveira e Dourado, 2002).

Com isso, a reforma dos sistemas educativos torna-se prioridade, especialmente nos

países em desenvolvimento, como o Brasil. O raciocínio sistematicamente reiterado por agências

financeiras internacionais, como o Banco mundial, é o seguinte: novos tempos requerem nova

qualidade educativa, o que implica mudança nos currículos, na gestão educacional, na avaliação

dos sistemas e na profissionalização dos professores (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012).

Os organismos multilaterais vinculados ao capitalismo, por sua vez, trataram de traçar

uma política educacional aos países pobres. A princípio, o interesse desses organismos

esteve voltado quase que exclusivamente para a otimização dos sistemas escolares, no

intuito de atender às demandas da globalização, entre as quais uma escola provedora de

educação que correspondesse à intelectualização do processo produtivo e formadora de

consumidores. Atualmente, além de empenhar-se na reformulação do papel do Estado

na educação, esses mesmos organismos estão preocupados com a exclusão, a

segregação e a marginalização social das populações pobres, em razão de essas

condições constituírem, em parte, fatores impeditivos para o desenvolvimento do

capitalismo, ou melhor, serem uma ameaça à estabilidade e a ordem nos países ricos

(LIBÂNEO, 2012, p. 65).

Essas reformas orientam as escolas a introduzirem mecanismos que regulem a

produtividade e a eficácia, em suma: a qualidade dos serviços educacionais. E todo esse controle

acontece através de testes e avaliações pontuais, não considerando o aprendizado do aluno como

um processo.

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Segundo Mota Júnior e Maués (2014) dois relatórios do BM publicados em 1999

reconhecem a importância das reformas educacionais para consolidar a democracia liberal e

promover a estabilidade política, a saber: Educational Change in Latin American e The

Caribbean e Education Sector Strategy.

Estes documentos mostram que uma população educada, pela lógica do Banco Mundial,

terá maior probabilidade de mostrar interesse e envolvimento na condução política do país e,

como consequência, será mais capaz de fazer escolhas corretas e cobrar a responsabilidade dos

políticos quanto às promessas de campanha eleitoral. Além disso, a educação promove o

desenvolvimento social, aumentando a coesão da sociedade e oferecendo melhores

oportunidades aos indivíduos. Assim o BM considera que as políticas educacionais de inclusão

são fundamentais para aumentar a coesão da sociedade e evitar protestos e descontentamento

social (World Bank, 1999a; 1999b).

Para Oliveira (2009), as consequências dessas reformas educacionais que vêm

impactando o Brasil nessas duas últimas décadas levaram a constituir uma nova regulação

educativa no país, assentada em três pilares: a gestão local, o financiamento per capita e a

avaliação sistêmica.

A avaliação, que é o foco deste trabalho, ganhou dentro dessa lógica uma importância

exaltada inclusive pelo próprio BM, no seu documento Achieving World Class Education in

Brazil: The Next Agenda de 2011, onde coloca que os sistemas de "medição de resultados"do

Brasil, como o Enem, SAEB, Provinha Brasil e a criação do IDEB fizeram do país um lugar de

referência em informações estatísticas e mensuração de dados educacionais.

Para Dias Sobrinho (2010)

Com o advento da supremacia do neoliberalismo e as consequentes políticas de

diminuição da presença do Estado nos financiamentos públicos, os exames gerais

ganharam importância como instrumento de controle e de reforma. Sua dimensão

política de controle passou a prevalecer sobre a pedagógica. Os exames nacionais

atendem bem as finalidades de medir a eficiência e a eficácia da educação segundo os

critérios e as necessidades dos Estados neoliberais, em suas reformas de modernização,

e do mercado, em seu apetite por lucros e diplomas (DIAS SOBRINHO, 2010, p. 202).

As consequências desta postura de priorização de critérios quantitativos, podem ser

exemplificados através da diminuição dos índices de evasão e repetência sem, no entanto,

conseguir assegurar um processo de aprendizagem satisfatório.

No Brasil, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), as principais

prioridades na área da educação apresentado no seu Plano Decenal são: descentralização da

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administração das verbas federais, elaboração do currículo básico nacional, avaliação nacional

das escolas, parâmetros de qualidade escolar, entre outras (LIBÂNEO, 2012).

O relatório “A Educação Municipal no Brasil: recursos, incentivos e resultados (2003)”, o

Banco Mundial também declara como objetivo primeiro: avaliar as políticas e os resultados de

recursos destinados à educação municipal no País.

Segundo Jimenez, Rabelo e Segundo,

(...) são adotados como critérios para avaliação da educação nos municípios: a gestão

descentralizada, as reformas educacionais e o compromisso quanto à racionalidade dos

recursos públicos. Para o Banco Mundial, a avaliação é compreendida como um

instrumento por meio do qual se produzem e se tornam públicos indicadores com vistas

a alcançar os objetivos educacionais, particularmente, a meta de universalização do

ensino básico (2009, p.13).

As autoras supracitadas, compreendem também que as políticas de avaliação do Banco

Mundial têm o sentido de implementar práticas avaliativas que estimulam a competição e o

individualismo no seio do sistema público de ensino em todos os seus níveis (federal, estadual e

municipal), transferindo responsabilidades com o financiamento e manutenção da educação

básica aos chamados gestores de políticas educacionais; à própria comunidade escolar; e aos

educadores.

Com efeito, as políticas de avaliação são instrumentos sistemáticos e periódicos,

presentes na forma de recomendações, em todas as declarações do Banco Mundial, pós

1990. Na essência, criam a ilusão de que é preciso reformar a educação, atribuindo ao

professor um papel determinante no alcance da qualidade do ensino público. Nessa

acepção, responsabilizam o docente pelo inventário infindável dos problemas

educacionais, condenando-o pelas precárias condições do ensino público com que nos

defrontamos de forma particularmente drástica nos países pobres. Resta ao profissional

do ensino, integrar-se aos programas de formação continuada e em serviço, igualmente

propugnados no conjunto das declarações, já que o mesmo transforma-se nesse contexto

de crise educacional, no principal agente de mudanças. Para tanto, no intuito de manter-

se atualizado, competente e qualificado, atendendo às exigências do mercado

educacional, o professor, é oportuno ressaltar, recorre aos cursos pagos e aligeirados de

formação continuada, comprometendo, nessa empreitada, boa parte de seu aviltado

salário (JIMENEZ, RABELO; SEGUNDO, 2009, p. 14).

Nessa perspectiva, torna-se necessário a implementação de sistemas nacionais de

avaliação que são instrumentos que oferecem subsídios para formulação, reformulação e

monitoramento de políticas públicas de educação, ou seja, a avaliação de larga escala nos retrata

como o país está no que se refere à qualidade do ensino e sua efetividade.

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4.4 AS AVALIAÇÕES DE LARGA ESCALA NO BRASIL

As avaliações em larga escala permitem verificar se os objetivos educacionais estão

sendo atingidos pelo programa de ensino e fornecem informações quanto ao desempenho dos

alunos em face dos objetivos esperados, possibilitando que se verifique o quanto as experiências

de aprendizagem, tal como previstas e executadas, favorecem o alcance dos resultados desejados

(SOUSA, 1993).

Pautado nestas considerações, as avaliações em larga escala deveriam contribuir para a

melhoria da qualidade da educação, não apenas como um instrumento para aferir as

competências e habilidades, mas como uma ferramenta contínua de trabalho, onde professores,

gestores e técnicos identificam condições problemáticas para propor novas possibilidades

pedagógicas na escola.

No Brasil, segundo Zaponi e Valença (2009), a análise do formato em andamento leva a

que se identifiquem três gerações de avaliações da educação em larga escala, com consequências

diferenciadas para o currículo escolar.

A primeira geração é caracterizada pela avaliação com caráter diagnóstico da qualidade

da educação ofertada no país, sem atribuição de consequências diretas para as escolas e para o

currículo. Essas avaliações têm por finalidade acompanhar a evolução da qualidade da educação.

A segunda geração, por sua vez, contempla, além da divulgação pública, a devolução dos

resultados para as escolas, sem estabelecer consequências materiais. Nesse caso, os efeitos são

simbólicos e decorrem da divulgação e da apropriação das informações sobre os resultados da

escola pelos pais e pela sociedade. Esse tipo de mecanismo de responsabilização tem como

pressuposto que o conhecimento dos resultados favoreça a mobilização das equipes escolares

para a melhoria da educação, bem como a pressão dos pais e da comunidade sobre a escola

(ZAPONI; VALENÇA, 2009).

As avaliações de terceira geração são aquelas que referenciam políticas de

responsabilização forte ou high stakes, contemplando sanções ou recompensas em decorrência

dos resultados de alunos e escolas. Nesse caso, incluem-se experiências de responsabilização

explicitadas em normas e que envolvem mecanismos de remuneração em função de metas

estabelecidas (ZAPONI; VALENÇA, 2009).

A história do desenvolvimento das avaliações padronizadas em larga escala no Brasil está

associada à avaliação de programas educacionais com financiamento federal. O primeiro

exemplo foi a avaliação do Projeto Edurural, que utilizou instrumentos padronizados criados sob

medida baseados em exemplos de exercícios e trabalhos de sala de aula colhidos nas escolas de

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três dos estados do Nordeste onde o projeto se desenvolvia – Piauí, Ceará e Pernambuco. A

avaliação acompanhou a implementação e o desenvolvimento do projeto de 1982 a 1986,

medindo o rendimento dos alunos, analisando as formas de gerenciamento do projeto e

acompanhando professores, organizações municipais de ensino, alunos e famílias. A avaliação

do Edurural se tornou um marco justamente por ela fornecer as bases técnicas e mostrar a

relevância da avaliação educacional em larga escala para a identificação mais nítida dos

problemas das escolas. Até o final da mesma década, os alicerces de um sistema nacional de

avaliação já haviam sido criados (BROOKE; CUNHA, 2011).

Contudo, embora já tenha havido algumas tentativas anteriores, foi somente no final dos

anos de 1980 que a avaliação no Brasil passou a integrar políticas e práticas governamentais

direcionadas à Educação Básica.

A primeira iniciativa de organização de uma sistemática de avaliação dos Ensinos

Fundamental e Médio em âmbito nacional aconteceu com a criação do Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Básica (SAEB), contudo, inicialmente ele era apenas amostral e

realizado a cada dois anos. Ele assume um novo perfil avaliativo reforçado por empréstimos com

o Banco Mundial, e pela a terceirização de operações técnicas. (WERLE, 2011)

Atualmente ele é composto por três avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica

(Aneb), que é uma avaliação bianual que abrange, de forma amostral, escolas e alunos das redes

públicas e privadas do país, em áreas urbanas e rurais, matriculados no 5º ano e 9º ano do Ensino

Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio regular. Seus resultados são apresentados por regiões

geográficas e unidades da federação; a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc),

conhecida como Prova Brasil, é uma avaliação censitária bianual envolvendo os alunos do 5º ano

e 9º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas que possuem, no mínimo, 20 alunos

matriculados nos anos avaliados.

Seu objetivo principal é mensurar a qualidade do ensino ministrado nas escolas das redes

públicas, fornecendo resultados para cada unidade escolar participante bem como para as redes

de ensino em geral; e a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) que é uma avaliação

censitária envolvendo os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas, com o

objetivo principal de avaliar os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa e

alfabetização em Matemática54

.

Portanto, para Werle 2011, nos anos noventa os processos de avaliação em larga escala se

difundem e passam a operar em sistemas educativos em vários lugares. Se, no final dos anos

54

Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/saeb>. Acesso em: 25 jan. 2017.

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oitenta e início dos noventa os procedimentos de avaliação eram incipientes e o MEC neles

envolvia agentes dos sistemas de ensino e docentes do ensino superior, após 1995 a avaliação é

reforçada, terceirizada e consolidada como ação do poder público federal separando os diferentes

níveis em que a avaliação da Educação Básica se processa, se caracterizando segundo Bonamino

e Souza (2012), como avaliações de segunda e terceira geração, pois elas estão associadas à

introdução de políticas de responsabilização baseadas em consequências simbólicas e materiais,

tendo o propósito de criar incentivos para que o professor se esforce no aprendizado dos alunos.

No entanto, evidências nacionais e internacionais mostram que principalmente o uso de

resultados das avaliações de terceira geração para informar iniciativas de

responsabilização forte pode envolver riscos para o currículo escolar. Um deles é a

situação conhecida como ensinar para o teste, que ocorre quando os professores

concentram seus esforços preferencialmente nos tópicos que são avaliados e

desconsideram aspectos importantes do currículo, inclusive de caráter não cognitivo

(BONAMINO; SOUZA, 2012, p. 383).

O problema decorre do fato de os currículos escolares possuírem múltiplos objetivos, ao

passo que as medidas de resultados utilizadas pelas avaliações em larga escala tipicamente visam

a objetivos cognitivos relacionados a códigos de leitura, letramento e raciocínios matemáticos

que repercutem uma cultura superior que a grande maioria dos estudantes não tem acesso, nem

mesmo no espaço escolar. Assim, as disciplinas de português e matemática passam a ser as

únicas que interessam ao sistema escolar, pois são a partir delas que as metas e objetivos

educacionais são testados.

Segundo Passone (2015), a avaliação, deveria ser uma atividade-meio do processo

escolar, e não fim. O problema, segundo o autor, se encontra na crença gerencial de que tais

sistemas avaliativos induzem a uma melhoria na qualidade de ensino, pois ela gera uma espécie

de "competição saudável" entre as redes de ensino, as escolas e os alunos. Assim, a competição é

considerada fundamental para promover melhores resultados.

Essa realidade produz medo e obediência entre os educadores, pois para alcançar boas

notas nos testes externos, os professores enxugam o currículo e passam a dedicar um maior

tempo para a preparação da prova. "Muito dessa preparação para os testes não é projetado para

aumentar a aprendizagem dos estudantes, mas sim para vencer o teste" (RAVIRCH, 2001, p.

110).

Os estudantes passam a ser apenas "treinados", não mais educados. O termo

"proficiência" ganha destaque, já que cada série tem um perfil básico de proficiência, contudo, é

importante ressaltar que esse termo não significa necessariamente uma aprendizagem adequada.

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89

Os estudos existentes no país enfatizam que a simples implantação dos sistemas de

avaliação não tem contribuído para alterar o quadro de rendimento dos alunos. Ao

contrário, no campo de avaliação de políticas educacionais, especialistas sustentam que

não há evidências concretas do efeito-melhoria sobre a qualidade educacional. De modo

consensual, os pesquisadores concordam que a forte ênfase na avaliação e nas provas

externas distorce as finalidades da educação, pressionando as escolas ao estreitamento

dos currículos em consequência de sua adaptação às exigências do sistema de

monitoramento e avaliação ( PASSONE, 2015, p. 188).

Portanto, cada vez mais os processos de mensuração ganham força, e a avaliação em

larga escala passa ser um instrumento fundamental de controle e fiscalização para responder a

lógica de mercado, seguindo esta tendência, Estados e municípios sentiram também a

necessidade de implantar avaliações que atingissem especificamente todas as escolas de sua rede.

Essa conjuntura fez com que vários Estados adotassem seus próprios sistemas de

avaliação. Os dois primeiros foram: Minas Gerais, que criou em 1991, o Sistema de Avaliação da

Educação Pública (SIMAVE), e o Ceará, o Sistema Permanente de Avaliação da Educação

Básica do Ceará (SPAECE), em 1992. Esses dois sistemas, pelo seu tempo e atual formato,

atualmente são caracterizados como de terceira geração.

A seguir, analisaremos especificamente a conjuntura de implementação do SPAECE e

quais as suas consequências para o sistema estadual de educação.

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90

5 AS CONSEQUÊNCIAS DA IMPLEMENTAÇÃO DO SPAECE SOBRE O FAZER

PEDAGÓGICO.

5.1 CEARÁ, ESTADO PIONEIRO: UM OLHAR SOBRE O SPAECE

O Ceará foi um dos primeiros estados da federação a criar um sistema estadual de

avaliação da Educação Básica, inicialmente chamado de “Avaliação do Rendimento Escolar dos

Alunos de 4ª e 8ª Séries”, passando a ser conhecido nos meios escolares como “Avaliação das

Quartas e Oitavas”, posteriormente denominado de “Avaliação da Qualidade do Ensino”. Ele

teve como objetivo inicial, segundo Lima (2007):

(...) fomentar uma cultura avaliativa no Estado do Ceará a partir do desenvolvimento

permanente do Sistema de Avaliação; possibilitar a todos os elementos envolvidos no

processo educativo (alunos, professores, administradores e especialistas) um

acompanhamento efetivo dos resultados escolares que vêm sendo obtidos no 1º Grau, ao

final do ano letivo; analisar as necessidades de aprendizagem consideradas básicas,

tendo em vista a formulação e o monitoramento das ações educacionais (p. 119).

O primeiro ciclo aconteceu através de uma experiência piloto de Avaliação do

Rendimento Escolar dos Alunos de 4ª e 8ª séries (atuais 5° e 9° anos) com uma amostra de 156

escolas da rede estadual e 14.600 alunos do Ensino Fundamental da cidade de Fortaleza.

O eixo central dessa avaliação considerou como critério de qualidade os resultados

auferidos pela escola em termos de desempenho cognitivo nas áreas básicas (Português

e Matemática), utilizando testes padronizados, estruturados e elaborados pelo

MEC/INEP, a partir dos conteúdos mínimos do currículo escolar (CEARÁ, 2003, p. 05).

Observa-se que o modelo utilizado de avaliação em larga escala, implementado através

do Centro de Treinamento e Desenvolvimento (CETREDE), da Universidade Federal do Ceará

(UFC), foi semelhante ao desenvolvido pelo SAEB, o que possibilita grosso modo, uma leitura

comparada dos resultados, aspecto relevante em avaliações dessa natureza.

No ano de 1993, é realizada a segunda edição da avaliação do sistema educacional

cearense. Nesta edição, “procurou-se melhorar o conhecimento sobre a escola a partir da

apropriação de alguns indicadores e posterior construção de escalas de mensuração das seguintes

dimensões: qualidade do ensino, produtividade do sistema e infra-estrutura física” (CEARÁ,

1994b, p.1).

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91

Participaram desta avaliação todas as 246 escolas públicas estaduais urbanas dos

municípios sede das 14 Delegacias Regionais de Ensino (DERE), das quais 152

localizadas em Fortaleza e 94 no interior. Do universo destas escolas, 236 tinham a 4ª

série e 127 a 8ª série do 1º Grau. Responderam aos testes 22.886 alunos, sendo 16.605

alunos da 4ª série e 6.281 alunos da 8ª série (LIMA, 2007, p.121).

Também neste ano foi criado um Índice de Qualidade da Escola, composto por dados do

rendimento individual do aluno e da situação da conservação dos ambientes escolares.

Em 1994, em parceria com a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC) da UFC,

é realizada a Terceira Edição da avaliação do rendimento dos alunos, seguindo o mesmo desenho

metodológico e abrangência da avaliação anterior.

Enquanto que no ano de 1992 essa avaliação restringiu-se aos alunos da Capital, as

avaliações de 1993 e 1994 foram estendidas aos alunos das escolas estaduais urbanas

dos municípios sedes das 14 DERE. Foram aplicados testes de múltipla escolha, com 4

opções por questão, compostos de 25 questões de Português e de Matemática, a um total

de 21.812 alunos, sendo 16.317 alunos da 4ª série e 5.495 alunos da 8ª série do 1º Grau.

Foram analisadas todas as 244 escolas públicas estaduais dos municípios sedes das

Delegacias de Ensino do Ceará, das quais 150 em Fortaleza e 94 no interior. Dessas 244

escolas, 235 possuíam a 4ª série e 127 tinham a 8ª (LIMA, 2007, p.122).

Lima (2007), destaca que todas as ações de avaliação iniciadas neste período revelam

uma sintonia das políticas públicas com o Plano Decenal de Educação Para Todos – 1993 / 2003,

que foi estruturado em três vertentes básicas: Escola de Boa Qualidade; Valorização dos

Profissionais de Ensino e Racionalização e Democratização da Gestão do Sistema de Ensino.

O Plano de Desenvolvimento Sustentável 1995 – 1998, referente ao segundo governo

Tasso Jereissati, intercalado pelo governo Ciro Gomes, em seu vetor Capacitação da

População, canaliza esforços no campo da educação para a mobilização da sociedade

em prol de um Projeto Educativo para o Ceará, expresso na política “Todos pela

Educação de Qualidade para Todos”. Na área da Avaliação, este plano estratégico

sinaliza para a necessidade de mecanismos avaliativos, através da manutenção de um

sistema permanente de avaliação do desempenho do sistema de ensino e do projeto

pedagógico da comunidade escolar (LIMA, 2007, p.126).

No ano de 1996, o sistema de avaliação educacional cearense foi denominado de Sistema

Permanente de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado do Ceará. Neste mesmo ano, foi

realizada sua quarta edição também com parceria com a FCPC/ UFC.

Ele teve a abrangência ampliada de 14 para 27 municípios, sendo os 21 municípios

sedes dos recém criados CREDE mais 05 (cinco) municípios integrantes do processo de

municipalização (Fortim, Icapuí, Jucás, Maranguape e Marco) e o município de

Limoeiro do Norte que antes era sede de DERE. A Avaliação Educacional nas Escolas

Urbanas de 1º Grau das Sedes dos CREDES e dos Municípios Integrantes do Programa

de Municipalização envolveu 17.576 alunos da 4ª série e 7.677 alunos da 8ª série do

Ensino Fundamental, em 327 escolas da rede estadual situadas na zona urbana (LIMA,

2007, p.127).

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Ainda em 1996, foi implantado o Projeto de Avaliação Institucional nas escolas públicas,

apoiada pelo Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB). Este

projeto tinha como objetivo geral “Implantar a Avaliação Institucional como um processo

organizado, sistemático, contínuo e participativo nas Escolas Públicas do Ceará, como condição

intrínseca para a Qualidade no Ensino e Autonomia da Escola” (CEARÁ, 1997, p. 6).

Em 1998, foi realizada a quinta edição do SPAECE, ainda em parceria com a FCPC /

UFC, da qual participaram

(...) as escolas estaduais dos municípios sede dos 21 CREDE, sendo agregados mais

dois municípios por região, de acordo com a densidade populacional, ou seja, o menor

município e um de porte médio. Ademais, o SPAECE continuou com o mesmo desenho,

ou seja, sendo aplicado nas 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, nas disciplinas de

Português e Matemática, nas escolas públicas da rede estadual de ensino. No entanto,

sua abrangência foi ampliada, envolvendo 407 escolas de 61 municípios. A aplicação

dos testes contemplou 39.710 alunos, sendo 25.704 alunos da 4ª série / 2º ciclo e 14.006

alunos da 8ª série do Ensino Fundamental (LIMA, 2007, p.129).

No ano de 2000, o SPAECE passa ser institucionalizado a partir da Portaria Nº 101/00.

Seus objetivos são: 1. Proporcionar aos agentes educacionais e à sociedade uma visão clara e

concreta dos processos de ensino-aprendizagem e gestão escolar, bem como das condições em

que são desenvolvidas; 2. Fornecer informações que possibilitem maior compreensão dos fatores

que influenciam o desempenho dos educandos, nas diversas séries ou ciclos e áreas de

conhecimento; 3. Desenvolver competências técnica e científica na área de avaliação

educacional, de modo que as instâncias regionais e escolares possam ser parte integrante do

Sistema de Avaliação, envolvendo-se efetivamente em suas etapas; 4. Consolidar uma cultura de

avaliação institucional no âmbito do Sistema de Ensino do Estado do Ceará (CEARÁ, 2000).

Ainda em 2000 foi realizada a sexta edição da avaliação, esta teve aporte financeiro um

empréstimo com o Banco Mundial. "Todas as 756 escolas da rede estadual do Ceará, envolvendo

cerca de 150.000 alunos e uma amostra de aproximadamente 50.000 alunos da rede municipal,

perfazendo um total de 200.000 alunos” foram avaliadas, segundo Lima (2007, p. 130).

Neste mesmo ano foi implementado o Programa de Bonificação de Professores por Bom

Desempenho que tem por objetivo desenvolver especificamente a função de premiação, como

forma de incentivo e motivação dos professores envolvidos (IBID).

Em 2001, o formato da sexta avaliação estadual foi totalmente modificado, passando a ser

chamado de SPAECE-NET. Este foi concebido com o envolvimento de várias instituições, a

saber: o Instituto de Software do Ceará (INSOFT), responsável pelo funcionamento dos pólos de

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aplicação; a Fundação de Desenvolvimento Gerencial (FDG), que desenvolveu o software

específico para a avaliação; e consultores do Laboratório de Estatística e Medidas Educacionais

(LEME), da Universidade Federal do Ceará (UFC), que montaram os instrumentos, definiram a

amostra e estruturaram a base de dados (LIMA, 2007).

Inicialmente ela foi idealizada como uma avaliação diagnóstica para a implementação do

Programa de Melhoria da Escola55

. Contudo, também passou a integrar a vertente da Avaliação

do Rendimento Escolar.

O SPAECE-NET foi a princípio pensado como uma “Olimpíada do Conhecimento”,

que utilizaria a Internet como meio para verificar o rendimento do aluno e o seu

comportamento face ao computador, já que este programa se encontrava associado ao

“Programa Internet na Escola”. Ponderando as limitações desta proposta, optou-se por

realizar o SPAECE-NET no formato de uma avaliação, incorporando outras questões

técnicas, como forma de também investigar a possibilidade de uso das novas

tecnologias em uma avaliação em larga escala, especificamente a ferramenta

computacional, via internet (LIMA, 2007, p. 140).

Desta forma, o SPAECE-NET passou a caracterizar-se como uma avaliação que verifica

o rendimento médio das escolas em relação ao desempenho dos alunos, através da metodologia

“Computer Aided Testing (CAT) – Teste Auxiliado por Computador (TAC) utilizada em

aplicativos educacionais com base na Web. De acordo com esta nova versão de avaliação, os

objetivos pretendidos passam a ser: 1. verificar o rendimento médio das escolas em relação ao

desempenho dos alunos; 2. promover a articulação de mecanismos de avaliação com as novas

tecnologias; e 3. gratificar e premiar diretores, técnicos e servidores dos CREDEs e diretores,

professores, servidores e alunos das escolas estaduais (CEARÁ, 2002b, p.11).

A amostra do SPAECE-NET contemplou 7.820 alunos da 8ª série do Ensino

Fundamental e 4.720 alunos da 3ª série do Ensino Médio, envolvendo ao todo 473

escolas estaduais de 160 municípios, em 21 CREDE. Para a aplicação dos testes, foram

montados 106 pólos com laboratórios de informática em 70 dos 184 municípios

cearenses. Os alunos responderam aos testes, sendo 20 itens de Língua Portuguesa e 20

itens de Matemática, selecionados automaticamente de um conjunto disponibilizado de

30 itens para cada série e disciplina avaliadas. Desta forma, cada aluno, ao entrar com

sua senha, tinha acesso a um teste montado de forma diferente (LIMA, 2007, p. 141).

55

Ele foi alterado em 2004, quando o estado institui o Programa de Modernização e Melhoria da Educação Básica

e cria o Selo Escola Destaque do Ano, o prêmio continua ininterrupto até 2007.Uma das ações do Programa de

Melhoria da Escola foi a criação do Prêmio Educacional Escola do Novo Milênio-Educação Básica de Qualidade no

Ceará. Com isso, a média do desempenho na 4ª e na 8ª séries passou a ser considerada como o indicador da

qualidade de escola. Conforme a lei que criou o prêmio, os membros das equipes das 100 melhores escolas recebem

uma recompensa em dinheiro quando suas médias alcançam a nota cinco ou mais (até dez). Para as 50 melhores

escolas o prêmio é de 100% do valor especificado, e para as demais, de 50%. O prêmio é concedido a todos os

membros da equipe da escola e, em março de 2002, correspondia R$800 para os docentes temporários e

permanentes em tempo integral e a R$300 para o pessoal administrativo. Há prêmios também para os melhores

alunos (BROOKE, 2006).

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Assim, passando por várias denominações e modificações ao longo de sua

implementação, de uma amostra inicial restrita a apenas um município, o SPAECE foi

gradativamente ampliado. Primeiro, estendendo-se aos quatorze municípios sedes das antigas

Delegacias Regionais de Educação (Dere), hoje Centros Regionais de Desenvolvimento da

Educação (Crede), em número de 2156

.

Ao longo do tempo, outras mudanças vieram a ser feitas no SPAECE visando ao seu

aprimoramento, o que permitiu torná-lo importante instrumento de monitoramento da

rede pública escolar do Ceará. Desde o governo Lúcio Alcântara (2003 - 2006), na

esteira de um projeto SWAP do Banco Mundial57

que envolveu todas as secretarias, o

Ceará passou a conviver com uma dinâmica de gestão por resultados no âmbito estadual

(VIDAL; VIEIRA, 2016, p.60).

No ano 2003 passou a atingir todas as cidades do Ceará, com uma amostra de 28.557

alunos de 8ª série do Ensino Fundamental e de 3ª série do Ensino Médio. Em 2004 ocorre a

maior e mais significativa mudança no SPAECE, quando ele passa a incorporar a rede municipal

de ensino, avaliando o maior contingente de escolas e estudantes desde sua criação. Nesse ano,

foram avaliadas 2.631 escolas públicas (estaduais e municipais) e 187.577 alunos: 72.787 da

rede estadual e 114.790 da rede municipal. Participaram ainda, respondendo a questionários,

2.600 diretores e 9.550 professores das escolas/séries avaliadas. Mantiveram-se os cortes de 4ª e

8ª séries do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio, e as disciplinas Língua Portuguesa

e Matemática (VIEIRA, 2007).

A busca deliberada da melhoria de resultados na administração pública se inscreveu nos

compromissos do plano de governo “Ceará Melhor” (2003- 2006), onde a educação

veio a integrar o eixo “Ceará Vida Melhor”, explicitado no plano de educação básica

“Escola Melhor, Vida Melhor”, antes referido. Um dos dez desafios nele contido

articula-se diretamente com o tema aqui tratado – o “aperfeiçoamento do processo de

avaliação institucional e de análise dos resultados educacionais” (CEARÁ, 2004, p.70).

A ampliação do SPAECE para todas as escolas da rede pública viabilizou um maior

monitoramento do desempenho dos alunos. Foi nesse ano, que pela primeira vez, o governo

estadual premiou com o 14° salário para os professores lotados nas instituições com melhores

resultados. Em 2007, a medida foi ampliada e adotada como política para toda a rede, inclusive

56

Atualmente as cidades sedes das CREDES são: Maracanaú, Itapipoca, Acaraú, Camocim, Tianguá Sobral,

Canindé, Baturité, Horizonte, Russas, Jaguaribe, Quixadá, Crateús, Senador Pompeu, Tauá, Iguatu, Icó, Crato,

Juazeiro do Norte, Brejo Santo e Fortaleza. 57

Trata-se de uma operação de crédito inovadora desenvolvida junto ao Banco Mundial. Sua característica principal

é o apoio ao fortalecimento da gestão do governo direcionada ao objetivo da promoção da inclusão social no estado.

Os recursos financeiros são aportados diretamente ao tesouro estadual e viabilização a continuidade de programas

nas áreas de saúde, educação abastecimento de água, esgoto, recursos hídricos e meio ambiente. Disponível em:

<http://www2.ipece.ce.gov.br/SWAP/>. Acesso em: 25 jan. 2017.

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mediante vinculação de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) (VIDAL;

VIEIRA, 2016).

No ano de 2008 foi criado o prêmio "Aprender pra Valer" (ver anexo E), voltado para

escolas de Ensino Médio, conforme a Lei 14.190, de 2008. Tem por finalidade a elevação do

desempenho acadêmico dos alunos do Ensino Médio, com vistas à aquisição dos níveis de

proficiência adequados a cada série/ano, bem com a articulação deste nível de ensino com a

educação profissional e tecnológica. Esse prêmio está articulado com as notas que os estudantes

tiram no SPAECE.

Nesse caso, são premiados os professores de até 45 escolas que atingem os seguintes

índices na soma das médias de Língua Portuguesa e Matemática em cada uma das três

séries do Ensino Médio: 1. Evolução de 7 a 10% sobre a média de proficiência obtida

no ano anterior; 2. Não apresentar média de proficiência no padrão Muito Crítico; 3.

Percentual de participação mínima de 80% (no Spaece) com base na matrícula inicial

informada no Educacenso. O prêmio, destinado aos gestores, professores e servidores

efetivos e temporários, é concedido no valor mensal da remuneração de cada servidor,

proporcional ao acréscimo na média de proficiência dos alunos. Ou seja, no limite

inferior de 7% de crescimento na média da escola, os professores ganham uma

bonificação de 70% do salário. No limite superior de 10% ou mais, a bonificação é de

100% (BROOKE; CUNHA, 2011, p. 48).

Atualmente, no prêmio Aprender para Valer também são agraciados com um notebook ou

tablets os estudantes que alcançaram um bom desempenho nas provas do ENEM (para os alunos

do terceiro ano) ou na prova do SPAECE.

Em 2009 foi criado o prêmio "Escola Nota Dez" voltado para o Ensino Fundamental

através da Lei 14.371, após algumas modificações, atualmente a premiação é regida pelo decreto

32.079/2016.

O prêmio tem como objetivo valorizar a gestão educacional com foco na aprendizagem

do aluno, servindo como estímulo ao desenvolvimento da excelência no âmbito do sistema

público de ensino no Estado58

.

O prêmio funciona como política indutora para as escolas melhorarem seus resultados e

política apoiadora às escolas com menores resultados. É destinado a premiar até 150

escolas públicas com melhores resultados no IDE - Alfa (Índice de Desempenho Escolar

no 2º Ano do EF), IDE - 5 (Índice de Desempenho Escolar do 5º Ano do EF) e IDE - 9

(Índice de Desempenho Escolar do 9º Ano do EF) do Ensino Fundamental nas

avaliações do SPAECE, e apoiar financeiramente as escolas públicas em igual número

das premiadas de 5º e 9º anos que obtiverem os menores resultados. O valor da

premiação por escola é calculado considerando a per capita por aluno de R$

2.000,00(dois mil reais) correspondente à multiplicação do número de alunos avaliados.

As escolas com menores IDE - 9 (Índice de Desempenho Escolar do 9º Ano do EF) e

IDE - 5 (Índice de Desempenho Escolar do 5º Ano do EF) são beneficiadas com

contribuição financeira equivalente à multiplicação do número de alunos avaliados

58

Disponível em: <http://www.paic.seduc.ce.gov.br/index.php/o-paic/premio-escola-nota-10>. Acesso em: 08 fev.

2018.

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considerando o valor per capita de R$1.000,00 (hum mil reais) para implementação do

plano de melhoria dos resultados. As escolas premiadas recebem conforme a legislação

anteriormente mencionada, o equivalente a 75% do valor referente ao Prêmio. Os 25%

restantes deverão ser recebidos com base no cumprimento de dois critérios: manter ou

elevar os resultados no SPAECE e apoiar a escola parceira (apoiada). As escolas

apoiadas recebem o equivalente a 50% do valor do Prêmio, somente receberão a

complementação de 50%, com a condição de terem elevado seu IDE-5 para no mínimo

5,0 no caso do 5° ano e mínimo 5,0 no IDE-9 para o 9° ano.59

Em 2010, os alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA EF 2º Segmento, EJA EM 1º

Período e 2º Período – passaram a ter acompanhamento, por meio de resultados apresentados de

modo independente daqueles alcançados pelos alunos do ensino regular (EF e EM) nas

avaliações do SPAECE. Esse modelo de divulgação permitiu, melhor acompanhamento dos

alunos desta modalidade de ensino, com resultados próprios e ações e intervenções adequadas a

esse público, objetivando uma melhor qualidade no aprendizado60

.

Em 2012, os testes da 3ª série do Ensino Médio e 2º período da EJA EM foram

organizados em quatro áreas, em convergência com a proposta da Matriz de Referência para o

ENEM, do Ministério da Educação. Os testes de Língua Portuguesa e Matemática do SPAECE

consideraram também as respectivas matrizes do SPAECE e receberam a denominação de testes

de Linguagens e Códigos e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Foram também

aplicados os testes para as áreas de Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia) e de

Ciências Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), além da prova de Redação.

Nesta edição, os alunos das escolas municipais e estaduais do Ceará foram avaliados no 2º ano

do Ensino Fundamental, em Língua Portuguesa (Leitura). Os alunos do 5º e 9º anos e 2º

segmento da EJA Ensino Fundamental e da 1ª e 2ª séries e 1º período da EJA Ensino Médio

foram avaliados nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática61

.

No ano de 2013 foram avaliados as 2ª e 3ª séries do EM, de forma amostral. Os alunos

foram selecionados a partir dos dados do Censo Escolar 2013. Em 2014, a avaliação dos alunos

da 2ª e 3ª séries do EM continuou sendo realizada de forma amostral, com representatividade por

escola.

Em 2015, o SPAECE avaliou, de modo censitário, os alunos da 1ª e 3ª séries do Ensino

Médio (ProEMI/Jovem de Futuro) e EJA (1º Período, presencial da Rede Estadual). Abaixo

podemos ver o SPAECE a evolução da aplicação do SPAECE.

59

Ibid. 60

Disponível em: <http://www.spaece.caedufjf.net/>. Acesso em: 08 fev. 2018. 61

Ibid.

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Quadro 2 - Evolução da aplicação do SPAECE da sua criação até 2016

ANO ABRANGÊNCIA SÉRIE/ANO

Nº DE

ALUNOS

AVALIADOS

1992 Fortaleza 4ª e 8ª EF 14.600

1993 Fortaleza e 14 municípios sede das

Delegacias 4ª e 8ª EF 22.886

1994 Fortaleza e 14 municípios sede das

Delegacias 4ª e 8ª EF 21.812

1996 Fortaleza e 14 municípios sede das

Delegacias + 05 Municipalizados 4ª e 8ª EF 25.253

1998 Fortaleza e 20 municípios sede dos

CREDE + 02 municípios por CREDE 4ª e 8ª EF 39.710

2001 Adesão das escolas (184 municípios) –

SPAECE NET 8ª EF e 3ª EM 12.540

2002 Adesão das escolas (179 municípios) –

SPAECE NET 8ª EF e 3ª EM 23.258

2003 Adesão das escolas (184 municípios) –

SPAECE NET 8ª EF e 3ª EM 28.557

2004 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipal 4ª e 8ª EF e 3ª EM 141.593

2006 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais 4ª e 8ª EF e 3ª EM 187.561

2007 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais 2º EF 170.904

2008 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais 2º, 5º e 9º EF e 1ª, 2ª e 3ª EM 614.566

2009 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais 2º, e 5º EF e 1ª, 2ª e 3ª EM 546.951

2010 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

2º, 5º e 9º EF e 1ª, 2ª e 3ª EM;

EJA (AF e EM) 667.196

2011 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

2º, 5º e 9º EF; 1ª, 2ª e 3ª EM;

EJA (AF e EM) 658.654

2012 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

2º, 5º e 9º EF; 1ª, 2ª e 3ª EM;

EJA (AF e EM) 647.693

2013 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

Censitário: 2º e 5º EF; 1ª EM e

EJA (AF e EM); Amostral 9º

EF ; 2ª e 3ª EM

659.669

2014 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

Censitário: 2º, 5º e 9º EF 1ª EM

e EJA (AF e EM) Amostral

2ª e 3ª EM

622.566

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98

2015 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

Censitário: 2º, 5º e 9º EF 1ª e 3ª

EM* e EJA (AF e EM) 449.010

2016 Universalizado (184 municípios) –

Redes Estadual e Municipais

2º, 5º e 9º EF 3ª EM e

EJA (EM) 370,272

* Na 3ª série do EM foram avaliados apenas os alunos das escolas do 2º ciclo do Programa Ensino Médio Inovador/Jovem de

Futuro. Fonte:< http://www.spaece.caedufjf.net/avaliacao-educacional/o-programa/>.

Podemos perceber que existe um declínio, a partir de 2013, na quantidade de estudantes

avaliados, isso acontece pois o SPAECE deixa de ser censitário e passa a ser amostral em

algumas séries. Deste modo alguns alunos daquela instituição são escolhidos para fazer a prova.

Vale ressaltar que essa seleção é aleatória e só é conhecida no dia do certame. Isso

acontece para que a escola não indique os estudantes tidos como bons.

Contudo, apesar dessa abrangência, o que se percebe é que muitas vezes a comunidade

escolar não sabe o porquê que essa avaliação é realizada na escola e qual o seu objetivo. Os

professores ao serem questionados sobre o motivo da aplicação do SPAECE, respondem:

(...) Honestamente? Não. Porque se não me engano é só português e matemática, né? Ou

só matemática? (...) Ai teve anos que foi só terceiro, teve anos que foi só amostragem,

teve anos que foi só nos segundos, quer dizer....teve anos que foi só nos primeiros, eu

não sei o que é realmente (...) e não é tão divulgado como o ENEM, ai eu fico bem na

dúvida (professor 2).

(...) Especificamente não, na realidade eu não sei nem se tá correto, mas a maneira que

eu vejo o SPAECE seria pra gente tentar identificar né, a situação do ensino, no caso do

Estado do Ceará, entendeu. Agora quando foi que surgiu realmente eu não sei, não

lembro (professor 6).

(...) não, o histórico eu não sei, e até aí o objetivo eu também não tenho certeza né, mas

acredito que seja pra avaliar a questão da aprendizagem pra depois suprir possíveis

diagnósticos né, de carência (professor 21).

(...) não, assim, o que é repassado de forma geral é que ela é utilizada como parâmetro

apenas para avaliar os alunos, e também como forma de classificar pra bonificar esses

alunos que atingem um determinado perfil, mas estatisticamente como é usado essa

forma de avaliação, como é revestida essa avaliação em resultado não sei (professor 24).

(...) Não de maneira profunda, eu acho que falta muito conhecimento sobre como se dá

o processo de construção dessa avaliação, os principais objetivos, acho que nós aqui não

temos tanto contato com esse planejamento das políticas públicas, a gente acaba sendo

só mais a ponta mesmo (professor 25).

Atualmente, o Ceará também recorre a uma política nacional de avaliação, o Exame

Nacional de Ensino Médio (ENEM), para aferir os resultados das escolas. Nesse sentido, o

Estado incentiva a inscrição de todos os alunos dos 2° e 3° anos de Ensino Médio da rede pública

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no certame, inclusive com medidas que auxiliam a ida desses estudantes no dia da prova, como o

fornecimento de passagens de ônibus, kits com alimentação e material de escritório.

Popkewitz e Lindblad (2001) afirmam que o maior problema da utilização desses

modelos de avaliação que priorizam as estatísticas educacionais é que são tomados como

espelhos da realidade, não levando em consideração a realidade social do estudante e da própria

escola. Segundo os autores, as estatísticas educacionais produzem uma normatização que cria

novas formas de exclusão.

Bourdieu vai além, afirmando que o atual sistema de ensino – pautado na inclusão social

– é o grande promotor da inequidade e da exclusão. A expansão do ensino e a permanência das

crianças e dos adolescentes que antes não tinham acesso na escola não significam

necessariamente ganhos reais em termos sociais. O autor denomina este fenômeno como

“causalidade do provável”:

(...) os membros de cada grupo social tenderão a fazer projetos, mais ou menos

ambiciosos, e a investir uma parcela maior ou menor dos seus esforços – medidos em

termos de tempo, energia e recursos financeiros – na carreira escolar dos seus filhos

conforme percebam serem maiores ou menores as probabilidades de êxito. É um

processo baseado na internalização das chances de acesso de um indivíduo a um

determinado bem material ou simbólico e na dinâmica de transformação das condições

objetivas do indivíduo em condições subjetivas, intermediado pelo habitus

(BOURDIEU, 1998, p. 73).

Portanto, avaliações de larga escala como o SPAECE, colocam a responsabilidade de

êxito apenas como uma relação de capacidade ou de “dom” do individuo, enquanto que na

realidade, o que ocorre é uma proximidade maior ou menor entre a cultura escolar e a cultura

familiar do aluno.

Esses formatos de avaliação com critérios universalistas só ajudam a manutenção do

status quo de uma sociedade de classe. Assim, longe de ser uma mera disfunção pedagógica, o

fracasso escolar apresentado através de exames, como o SPAECE, aparece como socialmente

necessário num sistema de relações de dominação.

Portanto, os atuais formatos de avaliação em larga escala, travestidos de uma

racionalidade neoliberal, reduzem esse processo a uma mera medição de condutas, perpetrando

inúmeras violências simbólicas no sistema escolar e, ajudando assim a tornar esse espaço um

lugar de exclusão, hierarquização e legitimação do poder dominante.

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100

5.2 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES PARA ATUAR NO ENSINO MÉDIO

No nosso país a formação acadêmica pedagógica é bastante abstrata, fazendo com que,

por vezes, a prática em sala de aula e o estudo na universidade se desentendem.

Os educadores e a comunidade científica tornaram-se dois grupos cada vez mais distintos,

destinados a tarefas especializadas de transmissão e de produção dos saberes sem nenhuma

relação entre si (TARDIF, 2002). Assim, cria-se uma dualidade entre a produção a formação

acadêmica pedagógica e os saberes produzidos no cotidiano escolar e um "choque de realidade"

quando os alunos se tornam professores, pois aquilo que foi estudado na universidade está muito

distante da realidade concreta da sala de aula.

Como retrata a fala de um dos nossos interlocutores

Eu penso que na academia, o pessoal da educação, eles pregam uma coisa que não

fazem. Eu, agora que conheço mais a fundo por que eu tô fazendo pedagogia, tô

cursando, justamente pra conhecer mais essa parte educacional né, por que a matemática

é muito distante dessa parte pedagógica, os professores são considerados pesquisadores,

então eles deixam a desejar...minha formação pedagógica é bem deficiente (professor

17).

Ou seja, as licenciaturas são apenas um apêndice dos cursos de bacharelado, fazendo com

que a formação pedagógica dos futuros professores seja colocada em segundo plano.

Silva Júnior (2010), assinala que as formações docentes clássicas voltadas à preparação

individual para o trabalho se têm revelado ineficazes, ou seja, a concepção tradicional de

formação inicial desses profissionais apenas como propedêutica e fragmentada, em forma teórica

dissociada de experiências e conhecimentos adquiridos pelo prática, não responde às

necessidades da contemporaneidade.

E quando o assunto é avaliação essa preparação fica ainda mais complicada. Segundo

Flávia Barbosa (2012), a avaliação é sempre uma questão delicada na rotina docente, muitos

professores após colarem grau, diante do cumprimento de sua atividade profissional não

possuem elementos teóricos que embasem suas práticas avaliativas, apenas contam com anos de

experiência na posição de aluno.

A maioria dos recém-formados só conhecem a avaliação ligada às provas e testes que

servem quase que exclusivamente para aprovação/ reprovação dos estudantes ou para processos

meritocráticos de classificação e premiação. Contudo, como nos lembra Grillo (2003), os

professores precisam lembrar que sua postura avaliativa é central, pois é ela quem decide sobre

os conteúdos trabalhados e as atividades que serão realizadas.

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De acordo com Hoffmann (2003), durante muito tempo, o estudo sobre avaliação nos

cursos de formação de professores esteve focado em teorias de medidas educacionais: o

aprendizado gerava em torno de como fazer provas e como atribuir notas e medidas, o que pode

justificar as posturas docentes com as quais convivemos até hoje.

Várias pesquisas, como a de Maurice Tardif (2002), colocam que o professor da

Educação Básica é idealizado pelo senso comum e até mesmo pelo Estado, como salvador, um

profissional que possui uma vocação para ocupar aquele espaço. Porém, esta profissão também é

apontada como precária, atrelada a péssimas condições de trabalho, a salário baixos, além de

outros problemas que podem aparecer, como as questões relacionadas a saúde física e mental

desse sujeito.

Eric Passone (2014), afirma que essa dualidade está diretamente relacionada à reforma

educacional mostrando o lugar que os profissionais da educação ocupam nesta conjuntura, ora

como vilões, que são chamados à responsabilização, ora como heróis, que merecem ser

premiados e gratificados. Dito de outro modo, "tais discursos enfatizam a centralidade do

professor no processo de ensino em detrimento de outras dimensões que são igualmente

estruturantes, como a necessidade de recursos e investimentos adequados à educação pública,

dentre outros"(2014, p. 427).

Segundo Tardif (2002, p. 39), "o professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria,

sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da

educação e à pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana

com os alunos". Seria um docente plural, cuja função social seria transmitir um modelo de saber.

Já Farias (2009) coloca que não podemos esquecer que as experiências pessoais e

profissionais estão atreladas e, portanto, os significados que cada pessoa confere à atividade

docente é única e influencia no seu fazer pedagógico.

Nas últimas três décadas percebe-se que a principal preocupação do Estado é a expansão

da oferta de cursos de licenciaturas, infelizmente sem fazer uma crítica ao modelo vigente de

formação e as condições trabalhistas desses profissionais, priorizando os cursos a distância e nas

universidades privadas.

Contudo, como toda forma de ensino é histórica e temporal, precisamos compreender a

atual conjuntura para analisarmos que tipo de formação inicial e continuada os professores na

atualidade estão recebendo.

Para além do problema já apresentado da distância entre a universidade e a realidade

escolar, que dificulta o entendimento do que seja a educação formal na modernidade, precisamos

ressaltar que ela é bastante influenciada pela lógica capitalista.

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102

Nessa perspectiva, a ideia de que o professor é formador e educador de um ser em sua

plenitude, perde força e a concepção de um docente instrutor, que foca nas competências do

aluno, e transmissor de informações parece ter maior destaque.

Assim, determinar quais os conteúdos que são pertinentes para dar conta dessa realidade,

aparece como uma necessidade intrínseca da escola contemporânea, pois:

A instituição escolar deixou de ser um lugar de formação para torna-se um mercado

onde seriam oferecidos, aos consumidores (alunos e pais, adultos em processo de

reciclagem, educação permanente), saberes - instrumentos, saberes - meios, um capital

de informações mais ou menos úteis para o seu futuro "posicionamento no mercado de

trabalho" e sua adaptação à vida social. Os estudantes escolares se transformariam então

em clientes. A definição e a seleção dos saberes dependeriam então das pressões dos

consumidores e da evolução mais ou menos tortuosa do mercado dos saberes (TARDIF,

2002, p. 47).

Portanto, a escola nos dias de hoje, busca formar um aluno para estar inserido no mundo

do capital. Ideias como educação empreendedora62

e capital humano estão mais presentes no

vocabulário docente e no currículo escolar. Logo, a formação dos professores precisa responder a

essa lógica, pois só assim o espaço escolar poderá formar o perfil exigido de mão-de-obra da

atualidade.

5.3 AS CONSEQUÊNCIAS DAS AVALIAÇÕES DE LARGA ESCALA NO COTIDIANO

ESCOLAR

A partir da década de 1990, um novo elemento se incorpora ao debate da avaliação

educacional. Trata-se das chamadas avaliações externas, assim denominadas porque são

definidas, organizadas e conduzidas por um sujeito (individual ou institucional) que não se

encontra no interior das escolas. Passou-se então a usar a expressão avaliação interna para

designar a avaliação praticada no interior da escola (como as provas bimestrais), usualmente

conduzida pelos professores e usadas como critério de aprovação do estudante para outra série.

Pelo fato de abarcarem grandes contingentes de alunos e escolas essas avaliações

externas, também, se caracterizam por serem avaliações em larga escala. Elas têm como

62

Nessa perspectiva a escola precisa preparar o aluno para a vida, para o mercado de trabalho e para competir com

os demais pelo sucesso. Para isso, é necessário dar ao aluno a possibilidade de desenvolver as competências

múltiplas. Por isso, a educação empreendedora hoje tem uma posição estratégica no campo social e econômico.

Através dela, é possível estimular o desenvolvimento de competências duráveis e a possibilidade de inserção no

mundo do trabalho. É assim que entra o empreendedorismo no ambiente escolar: estimulando o desenvolvimento do

ser humano em todas as suas dimensões, visando contribuir para a aplicação de ideias criativas. Tudo isso é possível

através de processos educacionais adequados, que incentivem atitudes empreendedoras, persistência, independência,

comprometimento, autoconfiança, entre outros. Disponível em: <http://blog.wpensar.com.br/gestao-

escolar/importancia-de-trabalhar-o-empreendedorismo-na-educacao/>. Acesso em: 24 março 2017.

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características a definição de uma matriz de avaliação e o emprego de provas padronizadas,

como condição para que sejam possíveis de comparações.

Para isso, faz- se necessário um modelo padrão de currículo. No caso brasileiro, pós

Jomtien e com a promulgação de uma nova LDB 9394/96, o currículo escolar passa a ser voltado

para uma noção de competência. Segundo André Barreto e Gatti (2011), a proposta é que o

ensino deixe de promover a mera reprodução de um saber letrado e leve o(a) aluno(a) a mobilizar

conhecimentos, habilidades, atitudes, para responder a uma dada situação de modo satisfatório,

tendo em conta o contexto em que está inserido.

O aluno agora precisa ser formado para o mercado e deve saber, de uma maneira rápida e

pontual, resolver questões pertinentes ao mundo do trabalho.

Para garantir que essas determinações curriculares sejam seguidas foi implementado um

vasto sistema de avaliações em larga escala das políticas educacionais no país. Estas, por sua

vez, tendem a influenciar desde a formação docente até as práticas pedagógicas em sala de aula.

Sob a urgência de melhoria da qualidade da educação básica, a política nacional de

avaliação sofre incrementos consideráveis, no decorrer da primeira década dos anos de

2000, do que certamente decorrem repercussões nos currículos, na formação docente e

na própria avaliação do desempenho dos professores, concebida, sobretudo, em função

dos resultados de rendimento dos alunos (ANDRÉ; BARRETO; GATTI, 2011, p. 40).

Essa configuração permite que os resultados das avaliações se tornem mecanismos de

prestação de contas às secretarias (federais, estaduais, ou municipais) de educação e de

responsabilização pelo êxito ou fracasso, dos professores.

A partir dessa lógica, o colégio passa a ter a obrigação de ensinar exatamente aquilo que

as provas de avaliação em larga escala medem, influenciando mudanças nas práticas

pedagógicas, como o currículo e os formatos das avaliações internas. Pois, apesar de um discurso

de "autonomia" curricular, estas instituições só serão consideradas de excelência se conseguirem

bons resultados nesses testes.

Percebemos essa realidade nas falas dos professores entrevistados ao descrevem a

influência do SPAECE em suas práticas pedagógicas:

(...) Eu acho que de certa maneira qualquer avaliação externa acaba influenciando.

Porque a escola busca resultados. Né? Se ela busca resultados, ela direciona o

planejamento pedagógico dela para a obtenção desses resultados. Então acaba

influenciando de qualquer maneira as nossas aulas. (...)Aqui na escola, a gente trabalha

nos planejamentos na época da semana pedagógica. A gente fez um acordo que nesse

primeiro período, há uma avaliação diagnóstica, né. Da seduc. Pra saber como os

meninos estão entrando, né... e foi solicitado pela coordenação da própria escola que

todos os professores trabalhassem o nivelamento enquanto a interpretação textual,

certo? Então, existe um trabalho, em especial na minha área que é linguagens e códigos,

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nesse...pra suprir essa carência dos meninos. Eles já chegam do Ensino Fundamental

com esse déficit de, de... dificuldade de interpretar textos, né... e isso é sempre

solicitado por conta das avaliações externas (professora 01).

(...) Por exemplo, é passado pra gente a matriz do SPAECE tá certo, então em cima

dessa matriz a gente começa a criar...falar pra eles né, para os alunos no caso, aqueles

determinados assuntos, mas principalmente quando tá mais próximo da prova do

SPAECE (professor 06).

(...) Eu por exemplo tento trabalhar né, dentro da Geografia, gráficos, mapas,

interpretação de tabelas por exemplo, que é importante né, proporções, lógica, dentro

daquele conteúdo que eu tô trabalhando. Gráficos né, que são os assuntos assim mais

abordados dentro da geografia, leitura também, interpretação de textos dando a opinião

deles né, mais pra esclarecer essas coisas por que são português e matemática é que são

avaliados, geografia não entra, mas a gente tenta contribuir dessa forma (professor 07).

(...) Eu mudo [as aulas] na proximidade do SPAECE, normalmente como minha

disciplina é física eu tenho que valorizar mais os aspectos matemáticos, que tá

relacionado a física. Por que as vezes cai uma questão ou outra que dá pra relacionar, e

aí a gente força, coisa básica né, tipo regra de três, proporção, por que isso aí a física

pega muito tá entendendo (professor 08 - grifo nosso).

(...) Somos orientados e nós procuramos aplicar algumas atividades envolvendo leitura,

(...) a partir daí a gente pensa em metodologias né, pra que a gente possa remediar

aquilo que está ruim, foi deflagrado como um problema pelo exame (professor 14).

(...) A gente identifica já a prova no início do ano, os dias que vão acontecer e quando é

um período bem próximo a gente tenta focar que o aluno entenda mais sobre o SPAECE

e também alguns assuntos de provas anteriores (professor 15).

A consequência disso é que a escola passa a se preocupar mais com os dados

quantitativos, do que propriamente com o processo de ensino e aprendizagem, fazendo com que

os professores não tenham a liberdade de planejar suas aulas, pois estes sofrem uma pressão para

bater metas e alcançar os resultados traçados pela a instituição. "Com metas pré-determinadas a

atingir, a postura mais flexível e aberta em relação aos currículos começa a fechar-se e chega, em

alguns casos, a fechar-se seriamente" (ANDRÉ; BARRETO; GATTI, 2011, p. 41)

Para Casassus (2009), o resultado desse tipo de avaliação pode ser observado nas escolas,

quando os professores passam a se preocupar mais em “treinar” os alunos nas respostas das

provas do que em efetivamente educar e ensinar. Nesse sentido, as avaliações em larga escala são

elaboradas para selecionar e não para incluir”, diz ele:

(...) aceita-se que, em sociedade, a inteligência e o desenvolvimento mental se

distribuem numa curva normal. Ou seja, é por sorte ou azar que alguns estão no extremo

dos “burros” e outros estão no outro extremo, o dos “inteligentes”. Se os testes de

inteligência (QI) ou os sistemas nacionais de medição fossem objetivos, então, supunha-

se que, dada a normalidade da curva, no extremo dos “burros” tinha que haver tantos

ricos como pobres e, no extremo dos “inteligentes”, também deveria haver tantos ricos

como pobres. Mas não é o que acontece. Os resultados das provas indicam-nos que no

extremo dos “burros” e das baixas pontuações se encontram os pobres, e que os ricos se

encontram no extremo dos “inteligentes” e com pontuações altas. É esta a única

informação válida e consistente deste tipo de provas: as escolas municipais e os pobres

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têm más pontuações, porque se verifica, “cientificamente”, que é ali que estão os

“burros”, que, por azar, são pobres (CASASSUS, 2009, p. 76).

Na medida em que o objetivo da educação está voltado mais ao desempenho dos alunos

nas provas do que ao ensino, desloca-se a questão das condições do educar e do ensinar para o

ato de aprender do aluno e seus resultados. Como consequência, difunde-se a ideia de que "os

fins justificam os meios", ou seja, para se alcançar os melhores resultados nos testes externos,

qualquer ação se justificaria (PASSONE, 2014).

Passone (2014), ainda nos questiona se um sistema educacional que se move à base de

juízos de valor relacionados às altas pontuações não produz situações contra-educativas, nas

quais a relação entre professor e aluno se orienta mais pelos resultados esperados do que pelos

resultados efetivamente obtidos. Nesse caso, um “mau” aluno poderia ser visto como uma

ameaça na medida em que comprometeria o desempenho do professor e/ou da escola?

Bonamino e Sousa (2012) observam que os resultados das provas estandardizadas tendem

a reorientar o trabalho escolar, determinando “o que, como e para que ensinar”, isto é, que as

avaliações em larga escala sobre determinam os trabalhos das equipes escolares, incidindo tanto

sobre o conteúdo curricular a ser ensinado quanto a forma como devem ser trabalhados na

escola, para que os alunos alcancem os melhores resultados.

Como podemos perceber na fala dos nossos interlocutores:

(...) Ela [a escola] não só tem ações junto aos professores das áreas especificas, que são

abrangidas, como também ações para os alunos, de incentivo e proporcionar atividades

extraclasse que possam facilitar a aprendizagem, melhorar a aprendizagem, etc. E

quanto aos professores pra fazer com que eles também entendam a importância disso,

por quê que essa prova é importante, por que é importante a escola atingir bons índice,

por que existe até uma informação que me chegou é de que vai haver uma cobrança

muito forte por conta do SPAECE em relação ao governo, a Secretaria de Educação vai

ter uma cobrança muito forte em relação à escola para obter os índices (professor 03 -

grifo nosso)

(...) A escola é cobrada pelos índices da escola, que automaticamente quando os índices

são baixos a escola é cobrada de cima pra baixo, se o Estado cobra da direção, a

secretaria cobra da direção, a direção cobra dos professores, então há projetos pra que

mantenha pelo menos o nível, não caia esse nível, e há um trabalho de atividades

voltadas às questões do SPAECE, há orientações de como é essa prova, pra que serve

essa prova, com os alunos, pra eles não chegar aqui e não terem orientação nenhuma

(professor 04).

(...) Esse semestre por exemplo nós elaboramos um plano de ação, da gestão junto com

os PCA's, pra aprimorar, e a meta por exemplo é alavancar 50% desse nível dentro das

ações do SPAECE, e pra isso a gente trabalha as questões e as habilidades que são

cobradas dentro do SPAECE, e ai é um conjunto de todos os professores focando, nas

suas respectivas áreas mais a questão da leitura, da interpretação, e português e

matemática o foco é maior (professor 07).

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(...) Como a gente é uma escola [informação ocultada] então nós somos mais cobrados

pela Secretaria de Educação, e mais vigiados, então há a obrigação de fazer alguma ação

voltada especificamente pra isso. Como são só português e matemática então afeta mais

a área deles, até por que ele tem mais carga horária com as turmas. Os outros

professores recebem orientações, mas quem de fato executa as ações são os professores

de português e matemática (professor 13).

(...) Nós temos no início do ano letivo, primeiro semestre, aulas de nivelamento. Já

pensando na questão do SPAECE pra melhorar os índices né de...aplicamos também

provas né, à semelhança das questões do SPAECE pra termos também dados, sabermos

também através das nossas avaliações às semelhanças do SPAECE o que a gente precisa

mudar na questão do ensino (professor 14).

(...) Às vezes fazemos aulões, as vezes preparamos material, apostila, até mesmo

entrega os descritores para os alunos, professores, pra ir acompanhando o que já foi

trabalhado, ou então relacionando os descritores com os projetos, ciclo de leitura

(professor 15).

(...) Tem o trabalho cotidiano na qual os professores da língua portuguesa e da

matemática já trabalham em si, eles passam o ano todo trabalhando com base nas

competência e habilidades do SPAECE, do Enem também, e quando tá próximo ao

SPAECE ai é intensificado as ações, é trabalhado de fato todo o contexto do SPAECE,

todos os conteúdos e tudo mais, então tem toda uma preparação (professor 26).

(...) A escola faz preparação, aulões, aulas especificas para o SPAECE, raciocínio

lógico, pessoal da matemática e português se articula principalmente pra isso (professor

30).

O que se percebe nas falas dos professores é que existe uma preocupação com os índices

escolares da sua instituição, para isso eles passam o ano promovendo ações pedagógicas que

auxiliem aos alunos na hora de fazer a prova do SPAECE. É interessante ainda perceber que

apesar de ter uma cobrança maior para os docentes das áreas de português e matemática,

percebe-se que os demais professores também direcionam de alguma maneira suas aulas para

ajudar na preparação dos estudantes.

É importante destacar que todos esses pontos apresentados pelos autores e pelas falas dos

professores, também são influenciados por outros elementos, como as condições sociais dos

estudantes, a formação dos docentes, a política pedagógica adotada pela a escola, a estrutura

arquitetônica da instituição, dentre outros.

Para além de toda essa realidade, o professor atualmente ainda precisa lidar com a

responsabilidade dos resultados educacionais de seus alunos. O modelo de accountability se faz

muito presente neste momento, em especial, na cobrança de metas, onde a lógica meritocrática e

de premiação por resultados aparecem como mais força.

Os professores são cobrados de diferentes maneiras dentro dessa perspectiva, eles

precisam prestar contas: 1. a burocracia estatal e as suas regras; 2. aos seus pares para que a

instituição siga um determinado padrão; e 3. pelos resultados dos estudantes. ( ANDERSON,

2005 apud KOSLINSKI et al., 2015).

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De acordo com Freitas (2012), as consequências dessa estratégia são questionáveis pois:

consideram que os melhores professores serão motivados mais pela questão financeira do que

pelo próprio desempenho do aluno; expõem os professores a sanções ou aprovações públicas,

desmoralizando a categoria; ranqueiam os professores a partir de uma metodologia de cálculo

inconsistente e, finalmente, a meritocracia não tem maiores impactos na melhoria do

desempenho dos alunos e acarreta graves consequências para a educação.

Ainda para o autor esse sistema de responsabilização apresenta algumas características

próprias, a saber: testes estandardizados para os estudantes, divulgação pública dos resultados e

recompensas/punições para os profissionais de educação. Esse último elemento, segundo Freitas

(2012), trazem o caráter meritocrático desse sistema, pois a própria divulgação pública dos

resultados da escola consiste, em si mesma, em uma forma de recompensa ou sanção. Desse

modo, “a meritocracia é uma categoria que perpassa a responsabilização” (p. 383).

Aqui no Ceará, a divulgação dos resultados do SPAECE é feita através dos boletins

SPAECE, neles constam os mapas com os padrões de desempenho estudantil63

por município.

Figura 19- Exemplo do resultado da escola no SPAECE em comparação com a

média estadual

63

Os Padrões de Desempenho constituem uma caracterização das competências e habilidades desenvolvidas pelos

alunos de determinada etapa de escolaridade, em uma disciplina / área de conhecimento específica. Essa

caracterização corresponde a intervalos numéricos estabelecidos na Escala de Proficiência. Esses Intervalos são

denominados Padrões de Desempenho. Disponível em: <http://www.spaece.caedufjf.net/wp-

content/uploads/2017/07/CE-SPAECE-2016-RS-MR-WEB-1.pdf>. Acesso em: 07 fev. 2018.

Fonte: http://www.spaece.caedufjf.net/resultados/resultados-anteriores/resultados-por-escola/.

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Figura 20 - Proficiência em matemática. Ceará, 2016

Fonte: http://www.spaece.caedufjf.net/resultados/resultados-anteriores/resultados-por-escola/.

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Figura 21 - Nomes da CREDES do Ceará

A cor vermelha mostra que aquela cidade está em situação "muito crítica", ou seja, os

estudantes requerem atenção especial, necessitando de recuperação das competências e

habilidades não desenvolvidas. A cor amarela se refere a uma situação "crítica", ou seja, o

desempenho dos estudantes estão no modo básico, caracterizado por um processo inicial de

desenvolvimento das competências e habilidades correspondentes à etapa de escolaridade

avaliada. A cor verde clara significa que os alunos estão no nível "intermediário", ou seja, os

estudantes que se encontram nesse padrão demonstram ter desenvolvido as habilidades básicas e

essenciais, referentes à etapa de escolaridade em que se encontram. E por último tem a cor verde

escura que sinaliza um desempenho adequado, ou seja, os estudantes com esse padrão de

desempenho demonstram ter desenvolvido habilidades além daquelas esperadas para a etapa de

escolaridade em que se encontram.

Para além desse formato, cada escola tem o seu resultado individual publicado no site do

Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAED)64

, instituição responsável pela a

execução do SPAECE, mostrando o seu desempenho com relação ao Estado e a Crede. Como no

modelo abaixo.

64

Disponível em: <http://resultados.caedufjf.net/resultados/publicacao/publico/escola.jsf>. Acesso em: 07 fev.

2018.

Fonte: http://www.spaece.caedufjf.net/resultados/resultados-anteriores/resultados-por-escola/.

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110

Figura 22 - Percentual da frequência doa alunos por escola.

Proficiência Média Participação Evolução do percentual de alunos

(número de por padrão de desempenho

alunos)

Para Lopes (2013), qualquer política que possibilite comparações entre escolas ou

que possibilite uma classificação de qualidade dentro de uma escala com critérios definidos e

que isso seja tanto exposto ao público quanto seja direito desse mesmo público exigir melhorias

e explicações sobre os resultados obtidos, já é considerado accountability.

Entretanto, mesmo com o avanço na divulgação dos resultados, as críticas dos

professores sugerem que estes demoram a chegar na escola e por conta disso acabam não sendo

utilizados em sua plenitude no planejamento das atividades pedagógicas.

Como ressalta a fala dos professores:

(...) eu deveria até usar [os resultados], mas é por que é o seguinte, o resultado ele só sai

no ano que vem, então na realidade pra você usar já fica um pouco complicado, por que

você já tem passado aquela turma, então alguns alunos já deixaram até de estudar na

escola né, então é complicado (professor 06).

(...) quando é no ano seguinte sempre é divulgado, mas assim é uma divulgação, é um

número, é só um número, a gente nunca para pra avaliar, tipo dos professores avaliar

"Olha, o nosso SPAECE foi isso, isso mostra o quê pra nossa escola, a gente tem que

mudar o quê" não, já no Enem a gente faz isso (professor 16).

Fonte: http://www.spaece.caedufjf.net/resultados/resultados-anteriores/resultados-por-escola/.

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111

(...) assim, é repassado pra gente de forma muito superficial né o resultado, mas nada

direcionado isso para o cunho do planejamento. (professor 24).

(...) Eu não sei se é por que a gente não dá tanta importância, eles chegam tão depois [os

resultados] que talvez a gente não dê tanta credibilidade a eles sabe, por que (...) eu acho

que agilidade poderia fazer com que o resultado até melhorasse, a gente pudesse

intervir, acho que pela demora e a descrença que a gente tem também (professor 27).

Outro problema recorrente com toda essa cobrança é a intensificação do trabalho docente

que resulta em adoecimento do profissional. Contudo, apesar dessa realidade complexa, a falta

de "qualidade" na escola muitas vezes é atribuída a questões meramente individuais, seja através

da falta de interesse do estudante ou da incompetência dos professores, nunca por questões

sociais e econômicas.

Muitos estudos demonstram que existe, por um lado, o discurso de que há falta de

preparo dos professores, que estes têm dificuldades em aceitar novas práticas e,

frequentemente, burlam o sistema; que existe uma falta de formação inicial e continuada

consistente e que, portanto, a falta de qualidade do ensino dá-se devido à ineficiência do

professor. Ou seja, considera-se que (....) se algo vai mal é porque os professores não

têm a formação necessária para realizá-lo bem. As condições de trabalho são assim

secundarizadas ante a necessidade de maior formação dos professores (SANTOS;

OLIVEIRA, 2009, p. 36).

Inclusive, como lembra Gentili (1998), dentro de uma retórica conservadora, o discurso

da qualidade pode estar a serviço de uma classe de satisfeitos, quando o Estado e a intervenção

pública geram condições de ineficiência estrutural que se volta contra os excluídos. Nesse caso,

existe uma noção de qualidade para poucos, que mais poderia ser chamada de privilégio, que não

é somente desejável, dentro de uma proposta conservadora, como também necessária.

De acordo com Passone (2014), as políticas de responsabilização na educação brasileira

vêm contribuindo para camuflar os problemas educacionais, ao apontar os professores como os

principais responsáveis pela oferta de um ensino de qualidade. Para o autor, a

(...) responsabilização na educação básica brasileira vem ocorrendo em detrimento da

melhoria de elementos estruturais relacionados ao processo educacional, tornando-se

apenas um procedimento de racionalização dos recursos existentes, sem aportar

investimentos substanciais às escolas (2014, p. 443).

Adotando a mesma compreensão, Novaes (2013) afirma que a avaliação do desempenho,

no contexto brasileiro, foi pouco considerada como investimento, relacionando-se mais com a

punição do que com o crescimento e a melhoria do trabalho docente.

Cassassus (2007), é mais duro ao criticar os processos de responsabilização no meio

escolar, para ele os efeitos dessa prática foram: diminuição da dignidade do docente; minou a

motivação profissional; enrijeceu os currículos; e destruiu os vínculos entre professores e alunos.

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112

Assim, essa política de responsabilização, centrada na avaliação dos resultados

corresponde à política educacional desenvolvida pelo Ministério da Educação, em consonância

com as orientações dos organismos internacionais, desde a década de 1990. Portanto, desde essa

época, segundo Silva e Silva (2014), vem predominando uma reforma gerencial em busca da

eficiência, pela redução e controle dos gastos públicos, além de uma maior demanda pela

qualidade dos serviços públicos e descentralização administrativa.

Essa característica presente nas reformas do Ensino Médio mantém-se mesmo quando são

pensadas reformas curriculares no sentido de uma formação integral ou integrada. De acordo

com Ramos,

(...) ainda que conceitualmente a política curricular do ensino médio caminhe no sentido

da formação integrada, permanecem contradições na existência de diferentes programas

que podem ou não estar convergindo numa mesma direção. Ao mesmo tempo, a

efetividade do investimento financeiro a que se dispõe o governo federal depende tanto

da eficiência administrativa dos sistemas envolvidos, quando da capacidade deste

governo obter hegemonia de suas propostas. E estas, por sua vez, ainda que apresentem,

no conteúdo dos documentos oficiais, um compromisso com a classe trabalhadora,

deixam transparecer alianças com os interesses do capital (2011, p. 784).

Para Silva e Silva (2014), cada vez mais as reformas colocadas em curso no âmbito

educacional se colocam como política de governo e não de Estado. Isso porque a ampliação da

oferta e a reforma curricular no sentido de uma formação integral e/ou integrada vêm

acompanhadas por uma proposta formulada no âmbito do poder central, posta como condição

para a obtenção do financiamento correspondente e por mecanismos centrais de monitoramento e

avaliação.

Além desses processos de responsabilização ainda precisamos destacar outra

característica das políticas mercadológicas para a educação na atualidade: as bonificações ou

premiações, tema do nosso próximo tópico.

5.4 AS POLÍTICAS DE BONIFICAÇÕES

As políticas de bonificação não são um consenso no meio acadêmico, pois alguns autores

colocam que elas não influenciam positivamente e diretamente no desempenho dos estudantes

nas avaliações em larga escala.

Segundo Cassettari (2012), existem três principais modelos de "remuneração por

desempenho" ou "políticas de bonificação" existentes no pais para os profissionais de educação:

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pagamento por mérito individual, bonificação com base no resultado das escolas (que é o caso do

Ceará) e o pagamento com base nos conhecimentos e habilidades dos professores.

O pagamento por mérito individual, em geral com bônus financeiro, fundamenta-se na

ideia de que premiar os professores que mais se destacam em avaliações individuais

consiste em uma recompensa por seus esforços, além de estimular o conjunto do corpo

docente a melhorar seu desempenho. (...) No modelo de bonificação que tem como

referência os resultados da escola, a premiação é conferida a todos os docentes e, em

alguns casos, aos funcionários e até aos alunos, das unidades escolares que alcançaram

os objetivos previamente definidos. (....) No caso da concessão de um prêmio aos

docentes, trata-se sempre de um bônus ao final da avaliação e não de um acréscimo

salarial permanente, fazendo com que os professores tenham que reconquistar os seus

prêmios ao final de cada processo avaliativo (CASSETTARI, 2012, p. 07-08).

Para a autora, a vinculação da remuneração dos professores aos resultados nos sistemas

de avaliação externa pode incentivar uma série de comportamentos questionáveis que não

contribuem para a melhoria da qualidade da educação, dentre eles: a seleção e exclusão de

alunos, a fraude, a concentração dos melhores professores em algumas escolas, a redução do

currículo ao que é cobrado nas provas, etc. (Ibid, p. 07- 08).

Os bônus, como lembra Lopes (2013), não necessariamente são de ordem monetária,

podendo ser o reconhecimento da escola, o aumento do prestigio (como é o Prêmio Escola Nota

10); da mesma forma que a sanção pode não ser uma interferência direta na escola, mas uma

perda de prestígio ou um constrangimento frente aos pares, na realidade cearense basta que sua

escola/ município seja marcado de vermelho. Tudo isso vai depender da intensidade da política,

geralmente caracterizadas como high-stake (alto impacto) ou low-stake (baixo impacto). As

políticas de alto impacto são aquelas que impõem bônus ou sanções às escolas de forma direta –

como pagamento de prêmios aos professores ou reestruturação do quadro de funcionários - e por

isso acabam interferindo mais na dinâmica intra-escolar.

O Estado do Ceará é um dos poucos do Brasil que podem ser caracterizados por

implementarem políticas de high-stake. Pois possuem premiações para as escolas que conseguem

bons resultados e as progressões horizontais dos profissionais do grupo ocupacional MAG da

Educação Básica, regida sobre a instrução normativa 001/2015 (ver anexo F), deixa claro que um

dos critérios para a ascensão funcional são os resultados que a escola obteve no SPAECE.

Segundo Diane Ravitch (2011), os mecanismos de premiação nas avaliações externas,

sejam para os professores ou para os alunos, não significa necessariamente um processo de

aprendizagem, pois

(...) os professores passaram a investir no ensino de truques necessários para os alunos

responderem à testagem com êxito, em detrimento de uma formação consistente em

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114

todas as áreas do conhecimento. O Currículo foi reduzido a habilidades básicas em

leitura e matemática, associados a recompensas e punições por meio das avaliações. A

testagem, havia se tornado uma preocupação central nas escolas e não era apenas uma

mensuração, mas um fim em si mesma. (...) A responsabilização dos resultados, não

estava elevando os padrões, mas imbecilizando as escolas conforme os Estados e

distritos lutavam para atingir metas irrealistas (p. 13).

Brooke e Cunha (2011) também alertam para os problemas nas políticas de incentivos

salariais, para eles as escolas nem sempre aplicam as provas aos alunos mais fracos para não

reduzir suas médias. As instituições de ensino passam a se preocupar menos com as séries que

não são avaliadas, há ocorrência da “transferência branca65

” de alunos com baixo desempenho

para outras escolas, além da insatisfação dos profissionais de ensino pela pressão criada em torno

do prêmio.

Além disso, as escolas passam a "mascarar" a sua realidade para que seus índices não

sejam tão baixos, como por exemplo: dar pontuação extra nas disciplinas; prometer passeios e

prêmios; ir pegar o aluno em casa, caso ele não compareça no dia da avaliação em larga escala;

dentre outras atitudes. Tudo isso para garantir que as salas tenham 100% de freqüência. Essa

realidade foi narrada pelos professores:

(...) por que muitas vezes os alunos, por exemplo, não se interessam em fazer [o

SPAECE], não se sentem motivados, e ai acaba não sendo o efeito real, aquele objetivo

não é alcançado, por que quando eles chegam pra fazer essas provas eles não lêem,

simplesmente eles tão ali pra preencher, e ai como eles sabem que não vai valer nada na

escola, por exemplo que é uma avaliação externa, eles não se motivam, e ai a gente

sempre tenta esclarecer com eles que é importante pra questão de políticas públicas,

fazemos de tudo para que eles faltem, damos pontos, essas coisas, mas a questão dos

alunos em si eles não levam a sério, e ai fica só a escola sendo cobrada sem, um

feedback, ou seja sem realmente alcançar o objetivo que é nos alunos (professor 07 -

grifo nosso).

(...) a gente acabou se adequando assim, entendeu, tipo “Ah, vou dar dois pontos no 4°

bimestre, três pontos. A gente faz de tudo para eles não faltarem (professor 20).

Por sua vez, Araújo (2014, p. 110) afirma que a "recompensa e o reconhecimento público

pelos desempenhos na obtenção de resultados naturaliza a ideia de que o „sucesso‟ da escola

centra-se na sua própria capacidade de superação e de avanço", enfatizando a responsabilidade

dos profissionais da educação e da gestão escolar pela geração das melhorias, desconsiderando

as condições materiais das escolas e o nível socioeconômico dos alunos, entre outros.

65

Prática na qual há o aconselhamento dos pais para que transfiram seus filhos "problemáticos" para escolas com

outros perfis, pois assim se adequariam melhor.

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115

As escolas brasileiras, segundo Gatti (2013), necessitam de uma série de investimentos

para que possam superar seu caráter de precariedade. Desse modo, a implantação de políticas de

bonificação sem a melhoria dessas condições, não consegue valorizar o professor, pois a

valorização da docência está atrelada à melhoria das condições de trabalho, das condições

salariais e da carreira, dentre outros. Assim, quanto menor o piso salarial e maior a insatisfação

dos professores com seus salários, menor a probabilidade de o incentivo salarial produzir os

efeitos desejados.

Essa realidade podemos perceber na fala dos professores entrevistados:

(...) estimula em parte [as políticas de bonificação], seria mais interessante ao meu ver,

ao invés de investir em computadores investir em qualidade de vida do ambiente

escolar, do ambiente de trabalho, da sala de aula do aluno. Nós temos aqui uma sala que

têm 40 alunos, mas extremamente quente por que não temos nenhum ar- condicionado

em nenhuma sala (...), os ventiladores são barulhentos, quando chega no período da

tarde é o ar quente sendo lançado na cara dos alunos (professor 13).

(...) eu acredito que a bonificação é interessante, mas (...) o que nos incentivaria melhor

seria um olhar mais atento para a educação né, a estrutura, as condições de trabalho, isso

que nos tem desmotivado bastante, não são essas bonificações que vão nos deixar

animados né e nos aplicarmos ao ensino né, estarmos dispostos, o que nos deixa muito

chateados né, é a questão das péssimas condições que nós temos no nosso ensino né, a

questão da infraestrutura que é muito precária, isso desmotiva tanto professor quanto os

alunos, é difícil você dar uma aula, uma boa aula de português, por exemplo, numa sala

quente, em que você tem que desligar o ventilador por que é barulhento (professor 14).

(...) eu como professora mesmo, sinceramente, pra mim eu me estimularia mais se

tivesse a melhoria de condições de trabalho na escola, pra todo mundo, do que só uma

gratificação de um salário a mais no final do ano. Eu acho isso até um pouco injusto

com o aluno, por que assim, se ele tirou uma nota boa, se ele foi bem no SPAECE a

contribuição é minha, mas também é maior dele, então acho que nada mais justo do que

ter uma melhoria de condições de uma sala de aula com refrigeração sabe assim, uma

escola com infraestrutura melhor, eu acho que estimularia bem mais os professores se

utilizasse isso ai como premiação, melhoria do local de trabalho, pra todo mundo

(professor 16).

(...) não tem uma conexão real, na minha concepção. (...) Aqui na escola a gente tem um

problema de estrutura gigantesco, muitos alunos em salas muito pequenas, então isso

prejudica bastante o aprendizado, então no meu caso eu tento fazer o meu melhor, mas

eu sei que eu não vou atingir o que eles querem para o décimo quarto salário, então eu

nem penso nesse décimo quarto. Não, por que ele é pontual, eu acho que eles deveriam

fazer algo mais continuo, (...) não uma coisa pontual, mas no decorrer do ano, ver a

estrutura da escola, (...) como é que posso dizer, tão tendo assessoria, de vários tipos,

psicológica, pedagógica né. Escola de tempo integral, por exemplo, não tem espaço pro

aluno ter um descanso, eu acho muito errado essa ideia de 9 aulas sentado direto

assistindo numa sala quente, eu acho que /.../ Chega o momento que o aluno não vai

aguentar, ele não vai render, é um ser humano não é uma máquina, né. Uma coisa que

demorou pra que eu compreendesse também, demorou bastante, eu achava que eles

tinham que se motivar e tal, que era a única chance deles de melhorar já que a maioria

dos alunos são da classe pobre, né, mas eu percebo que não é, não motiva (...) o próprio

contexto deles, né, de vida não motiva. E aí só um décimo quarto também não vai

motivar professor, por que tem que ter toda uma estrutura, né (professor 17).

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Pontual (2008) destaca os aspectos positivos e negativos dessas "premiações". A autora

parte da constatação de que não há consenso quanto à efetividade da gestão por meio da

avaliação e da remuneração por resultados na qualidade da educação e, embora a considere “uma

política promissora”, aponta uma série de aspectos negativos encontrados nas avaliações já

realizadas em outros contextos sobre o impacto da utilização dos incentivos monetários, tais

como:

(...) redução da colaboração entre professores; desvalorização da motivação intrínseca

do professor; exclusão dos piores alunos das avaliações; foco somente nos alunos que os

professores crêem ter potencial de melhora em detrimento dos outros; manipulação dos

dados e resultados usados para atribuir a gratificação; desvio do foco pedagógico da

escola majoritariamente para as matérias testadas nas avaliações em detrimento das

demais; excesso de foco no teste e estratégias de sucesso para fazê-lo em detrimento da

aquisição de outras competências e habilidades (PONTUAL, 2008, p. 35).

Para Barbosa e Fernandes (2013), o pagamento de bônus como ação individualizada de

incentivo não implica a incorporação salarial do rendimento e não altera as condições relativas à

carreira docente, mas se alinha aos mecanismos de reforma e à nova forma de gestão pública do

Estado, objetivando “evitar desperdícios – nesse caso, por meio de aumentos salariais

indiscriminados – racionar a folha de pagamento, via remuneração por desempenho, e monitorar

a qualidade da educação por meio da elevação de indicadores” (p. 51).

Cassettari (2012), destaca as consequências negativas das bonificações, tais como: o

dispêndio de tempo e dinheiro das instituições sem, necessariamente, alcançar os resultados

desejados; diminuição da colaboração entre os trabalhadores; aumento da insatisfação com o

trabalho; dificuldade de avaliar o desempenho dos profissionais; risco de comprometer a

qualidade em nome da produtividade.

É importante enfatizar ainda que todos esses processos de responsabilização e

bonificação não necessariamente garantem a melhora da qualidade de ensino nas escolas, muito

menos a uma real valorização dos profissionais de educação. O que se percebe é uma

precarização cada vez maior expressa deste os cursos superiores de licenciatura e pedagogia até

os planos de cargos e carreiras do magistério, que dão pouca importância ao piso salarial ou a

formação continuada, preferindo como no caso do Ceará, pagamentos extras (décimo quarto

salário) que não irão incidir de forma permanente nos abonos mensais.

Assim, a lógica do gerencialismo ganha força. E o que se percebe é que os próprios

professores passam a reproduzir essa ideia como se percebe na fala do professore entrevistado.

Ah, isso é uma polêmica né, eu particularmente, por ser da área da educação física eu

acredito que a competição faz parte do processo de aprendizagem, acredito que o

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processo competitivo em si traz coisas positivas, mas como tudo ele também pode trazer

coisas negativas se ele não for bem aplicado. Então eu vejo o SPAECE como uma

dessas competições, entre aspas né, onde os alunos eles competem consigo mesmos de

modo a mostrar que podem melhorar a cada edição da prova e as escolas também

competindo entre si pra ver qual que sai em primeiro na lista e tal, ou seja esse aspecto

eu vejo positivamente (professor 03).

Segundo Madaus, Russell e Higgins (2009, apud BORGES; SÁ, 2015), as avaliações em

larga escala tem:

a) Influenciado as práticas de ensino, levando os professores a focar o trabalho nas

disciplinas e habilidades que possibilitam a preparação dos alunos para as provas. b)

Afetado a forma como os professores trabalham, não levando em consideração a

demografia da sala de aula como um fator importante para a compreensão do

desempenho dos alunos. c) Levado a um aumento da segregação dos alunos que estão

nas pontas dos desempenhos – mais altos e mais baixos – e uma atenção maior àqueles

que estão próximos da média, com mais probabilidade de ter sucesso nos testes. d)

Provocado um crescimento das taxas de abandono e da retenção no grau, em função da

pressão exercida sobre os alunos. e) Quando utilizados como indicadores para metas

sociais e para prestação de contas eles podem ser corrompidos: preparação específica,

deliberada dos alunos para a prova; rebaixamento dos níveis dos testes para melhorar

artificialmente as notas dos estudantes e a ajuda dos professores aos alunos durante a

realização dos exames (p. 26).

Ou seja, as práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula são influenciadas por essas

avaliações e os professores, na maioria das vezes, tendem a ser responsabilizados, pela gestão ou

Secretaria de Educação, pelos resultados que seus alunos obtiveram nesses testes.

As avaliações externas, como o SPAECE, deveriam ser utilizadas como uma ferramenta

que ajuda a orientar na implementação de políticas públicas na área da educação, contudo, o que

se percebe é que ela ao longo da sua trajetória deixa de ser um meio para se tornar uma política

fim. Isso trás como consequência a redução da autonomia dos professores, tornando o seu

trabalho mecânico que busca como prioridade cumprir as metas exigidas pelos índices tidos

como de qualidade.

Além disso, os estudantes são os principais penalizados dentro dessa lógica, pois o

processo de ensino e aprendizagem são deixados de lado e a escola passa a ser um espaço

prioritariamente de hierarquização dos saberes, como veremos no próximo tópico.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O percurso realizado neste trabalho teve como ponto de partida o aprofundamento

teórico conceitual sobre a reforma do Estado brasileiro nos anos de 1990 dentro de uma

perspectiva neoliberal, onde o Estado deixou de ser uma entidade executora e passou a exercer

uma função prioritariamente de avaliadora das políticas públicas.

Esta realidade trás consigo ideias gerenciais de eficiência, eficácia, competência e

racionalidade sobre a coisa pública, colocando sobre o indivíduo a total responsabilidade sobre

os resultados do seu trabalho.

Dentro do meio educacional nacional essa perspectiva chegou principalmente por meio

das conferências internacionais de educação, como as realizadas em Jomtien (1990), Nova Deli

(1993) e Dakar (2000), das políticas de financiamento das organizações internacionais como o

Banco Mundial e de movimentos como o Todos pela a Educação. Juntos estes influenciaram

nossa legislação, propondo novas diretrizes para: a organização escolar, o currículo, a gestão

orçamentária e as formas de avaliação dos resultados.

Assim, a escola, sob a lógica do capital, ainda que proclame, sua função de instrumento

de mobilidade social, exerce um papel crucial na perpetuação de uma cultura superior pré-

estabelecida. A busca constante por índices nas avaliações em larga escala, como o SPAECE,

trazem sérias consequências no processo de ensino e aprendizagem e acabam influenciando no

fazer pedagógico dos professores.

Uma educação neoliberal, baseada na meritocracia e nas políticas de accountability,

refletem na intensificação do trabalho docente, mediante uma política centrada na

responsabilização do professor e da escola pelo sucesso ou fracasso nas avaliações externas e no

ranking alcançado pela rede de ensino.

As avaliações externas ganharam notoriedade no Brasil a partir de 1990, seguindo uma

agenda internacional. Elas surgem como uma forma de mapeamento da realidade escolar para

que políticas públicas fossem pensadas para área. Contudo, o que se percebe é que elas se

tornaram um importante instrumento de vigilância e controle do Estado para com a unidade

escolar.

Atualmente, para além das avaliações nacionais, como a Prova Brasil, os Estados

também possuem os seus próprios testes, no Ceará, o SPAECE foi criado em 1992, fazendo do

Estado um dos locais pioneiros na implementação e na execução de políticas de bonificação que

estão atreladas a prova.

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Analisando a política de avaliação no cenário local, com foco no SPAECE, a partir das

falas do professores entrevistados, ficou evidenciado que este possui características muito

próprias e que apesar da diversidade e complexidade de cada escola os sentimentos dos docentes

para com a prova são muito parecidos. A saber:

1. Apesar de fazer parte do calendário anual, o nível de conhecimento sobre o SPAECE

é baixíssimo. Nenhum professor soube responder sobre a origem da prova e poucos souberam

dizer qual era o seu objetivo e para quê ela servia;

2. Os entrevistados reclamam da demora e do formato da divulgação dos resultados do

SPAECE. Já que muitas vezes este chega tardiamente, bem depois da semana pedagógica, e as

tabelas de proficiência com os descritores são apresentadas de forma confusa dificultando a

utilização das mesmas;

3. Poucos docentes se utilizam dos resultados do SPAECE para pensar a sua prática

pedagógica, consequência dos problemas apresentados no ponto 2. Seu uso é relatado com maior

frequência na elaboração de alguns projetos pontuais de iniciativa de algum professor do que

como uma prática da escola;

4. Os professores também relataram a prática mais frequente de "treinar para o teste".

Eles colocam que é comum a realização de simulados e de questões nas suas provas internas para

mostrar ao estudante o modelo da avaliação externa;

5. As políticas de bonificação para os professores e estudantes, ainda são vistas pelos

entrevistados como pouco eficazes no que se refere ao alcance de resultados;

6. A maioria dos professores preferem a melhoria da qualidade educacional como um

todo, do que bonificações pontuais referentes a premiações pelo bons resultados no SPAECE.

O que se percebeu preliminarmente foi que o SPAECE não é uma política de gestão, ele

é uma política de Estado. Apesar da maioria dos professores não a compreenderem bem, ela se

faz presente a muitos anos e já faz parte da rotina escolar. A realização do SPAECE afeta as

ações pedagógicas dos professores e seus resultados são muito esperados, pois são eles que

dizem se aquela instituição é boa.

No entanto, é importante destacar que esse formato de avaliação externa, são

instrumentos pedagógicos muito frágeis e tendem a servir mais como mecanismos de controle,

fiscalização, exclusão e hierarquização do que como uma ferramenta para melhorar a qualidade

educacional.

Buscamos assim neste trabalho tentar compreender como as políticas de avaliações

externas, influenciadas por organismos internacionais, repercutem nas práticas pedagógicas dos

professores. A limitação temporal do recorte estabelecido, 1990 a 2016, abre automaticamente

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120

espaço para o desenvolvimento de novos estudos. Embora esta discussão tenha lançado algumas

luzes sobre a Avaliação Educacional no cenário local, esta temática continua intrigante e

desafiadora, uma vez que esta investigação não tinha a pretensão de esgotá-la, mas contribuir

com algumas reflexões, que certamente terão continuidade, agregando-se de novos olhares, a

partir de novos cenários e contextos político-históricos.

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121

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ANEXOS

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ANEXO A - Roteiro para as entrevistas com os professores

Nome da escola:___________________________________________

Identificação do entrevistado (a)

01. Sexo:_____

02.Idade:_____

03. Naturalidade: ______________

04. Bairro em que mora: ________________

05. Escolaridade: _________________________________________________

06. Quais disciplinas você leciona? ___________________________________

07. Em que os anos do Ensino Médio você leciona? _____________________

08. Há quanto tempo você está lecionando? ______________

09. Há quanto tempo você trabalha nesta escola? ___________

10. Em qual turno você trabalha? ________________________________

11. Quantas horas aulas você ministra por semana nessa escola? __________

12. Qual a sua situação trabalhista nesta escola? _______________________

Questões específicas

01. O que você sabe sobre as avaliações em larga escala? Quais você conhece?

02. O que você sabe sobre o SPAECE? Histórico, objetivo da prova, o porquê dela ser aplicada?

03. Você muda as suas ações pedagógicas em função da prova do SPAECE?

04. Você acha que a escola faz ações de preparação dos alunos para o SPAECE? Se sim,

exemplifique.

05. Você faz uso dos resultados da escola no SPAECE quando prepara suas aulas?

06. Você acha que avaliações de larga escala como o SPAECE, influenciam no processo de

aprendizagem dos estudantes? Como?

07. Você acha que as políticas de bonificação para os professores e para os estudantes motivam

eles a se preparem melhor para o SPAECE?

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ANEXO B - Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades

básicas de aprendizagem Jomtien, 1990

1998

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Declaração Mundial sobre Educação para Todos

Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizage m

PREÃMBULO

Há mais de quarenta anos, as nações do mundo afirmaram na Declaração Universal dos

Direitos Humanos que "toda pessoa tem direito à educação". No entanto, apesar dos esforços

realizados por países do mundo inteiro para assegurar o direito à educação para todos, persistem

as seguintes realidades:

mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são meninas, não têm

acesso ao ensino primário:

mais de 960 milhões de adultos - dois terços dos quais mulheres - são analfabetos, e o

analfabetismo funcional e um problema significativo em todos os países industrializados ou em

desenvolvimento:

mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso,

às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los

aperceber e a adpatar-se às mudanças socias e culturais: e

mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem concluir o

ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e

habilidades essenciais.

Ao mesmo tempo, o mundo tem que enfrentar um quadro sombrio de problemas, entre os

quais: o aumento da dívida de muitos países, a ameaça de estagnação e decadência econômicas,

o rápido aumento da população, as diferenças econômicas crescentes entre as nações e dentro

delas, a guerra, a ocupação, as lutas civis. a violência: a morte de milhões de crianças que

poderia ser evitada e a degradação generalizada do meio-ambiente. Esses problemas atropelam

os esforços envidados no sentido de satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem,

enquanto a falta de educação básica para significativas parcelas da população impede que a

sociedade enfrente esses problemas com vigor e determinação.

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Durante a década de 80, esses problemas dificultaram os avanços da educação básica em

muitos países menos desenvolvidos. Em outros, o crescimento econômico permitiu financiar a

expansão da educação mas, mesmo assim. milhões de seres humanos continuam na pobreza,

privados de escolaridade ou analfabetos. E em alguns países industrializados, cortes nos gastos

púhlic s ao longo dos anos 80 contribuíram para a deterioração da educação.

Não obstante, o' mundo está às vésperas de um novo século carregado de esperanças e de

possibilidades. Hoje, testemunhamos um autêntico progresso rumo à distensão pacífica e de uma

maior cooperação entre as nações. Hoje, os direitos essenciais e as potencialidades das mulheres

são levados em conta. Hoje, vemos emergir, a todo momento, muitas e valiosas realizações

científicas e culturais. Hoje, o volume das informações disponível no mundo - grande parte

importante para a sobrevivência e bem-estar das pessoas - é extremamente mais amplo do que há

alguns anos, e continua crescendo num ritmo acelerado. Estes conhecimentos incluem

informações sobre como melhorar a qualidade de vida ou como aprender a aprender. Um efeito

multiplicador ocorre quando informações importantes estão vinculadas com outro grande

avanço: nossa nova capacidade em comunicar.

Essas novas forças, combinadas com a experiência acumulada de reformas, inovações,

pesquisas, e com o notável progresso em educação registrado em muitos países, fazem com que a

meta de educação básica para todos - pela primeira vez na história - seja uma meta viável.

Em conseqüência, nós, os participantes da Conferência Mundial sobre Educação para

Todos, reunidos em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990:

Relembrando que a educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de

todas as idades, no mundo inteiro;

Entendendo que a educação pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais

sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso

social, económico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional;

Sabendo que a educação, embora não seja condição suficiente, é de importância

fundamental para o progresso pessoal e social;

Reconhecendo que o conhecimento tradicional e o património cultural têm utilidade e

valor próprios, assim como a capacidade de definir e promover o desenvolvimento;

Admitindo que, em termos gerais, a educação que hoje é ministrada apresenta graves

deficiências, que se faz necessário torná-la mais relevante e melhorar sua qualidade, e que ela

deve estar universalmente disponível;

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Reconhecendo que uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os

níveis superiores de educação e de ensino, a formação científica e tecnológica e, por conseguinte,

para alcançar um desenvolvimento autônomo; e

Reconhecendo a necessidade de proporcionar às gerações presentes e futuras uma visão.

abrangente de educação básica e um renovado comprornissoa favor dela, para enfrentar a

amplitude e a complexidade do desafio, proclamamos a seguinte

Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades

Basicas de Aprendizagem

EDUCAÇAO PARA TO DOS: OBJETIVOS

ARTIGO 1 . SATISFAZER AS NECESSIDADES BÁSICAS DE APRENDIZAGEM

1. Cada pessoa - criança, jovem ou adulto - deve estar em condições de aproveitar as

oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.

Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a

leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos

básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para

que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e

trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de

vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo. A amplitude das necessidades

básicas de aprendizagem e a maneira de satisfazè-Ias variam segundo c ada país e cada cultura,

e, inevitavelmente, mudam com o decorrer do tempo.

2. A satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a

possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança

cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da

justiça social, de proteger o meio-ambiente e de ser tolerante com os sistemas sociais, políticos e

religiosos que difiram dos seus, assegurando respeito aos valores humanistas e aos direitos

humanos comumente aceitos, bem como de trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais

em um mundo interdependente.

3. Outro objetivo, não menos fundamental, do desenvolvimento da educação. é o

enriquecimento dos valores culturais e morais comuns. É nesses valores que os indivíduos e a

sociedade encontram sua identidade e sua dignidade.

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4. A educação básica é mais do que uma finalidade em si mesma. Ela é a base para a

aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes, sobre a qual os países podem

construir, sistematicamente, níveis e tipos mais adiantados de educação e capacitação.

EDUCAÇÃO PARA TODOS: UMA VISÃO ABRANGENTE E UM COMPROMISSO

RENOVADO

ARTIGO 2 . EXPANDIR O ENFOQUE

1. Lutar pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos exige

mais do que a ratificação do compromisso pela educação básica. É ncessário um enf oque

abrangente, capaz de ir além dos níveis atuais de recursos, das estruturas institucionais; dos

currículos e dos sistemas convencionais de ensino, para construir sobre a base do que há de

melhor nas práticas correntes. Existem hoje novas possibilidades que resultam da convergência

do crescimento da informação e de uma capacidade de comunicação sem precedentes. Devemos

trabalhar estas possibilidades com criatividade e com a determinação de aumentar a sua eficácia.

2. Este enfoque abrangente, tal como exposto nos Artigos 3 a 7 desta Declaração,

compreende o seguinte:

• universalizar o acesso à educação e promover a eqüidade:

• concentrar a atenção na aprendizagem;

• ampliar os meios e o raio de ação da educação básica;

• propiciar um ambiente adequado à aprendizagem;

• fortalecer alianças.

3. A concretização do enorme potencial para o progresso humano depende do acesso

das pessoas à educação e da articulação entre o crescente conjunto de conhecimentos relevantes

com os novos meios de difusão desses conhecimentos

ARTIGO 3 UNIVERSALIZAR O ACESSO À EDUCAÇÃO E PROMOVER A

EQUIDADE

1. A educação básica deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos.

Para tanto, é necessário universalizá-la e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas

efetivas para reduzir as desigualdades.

2. Para que a educação básica se torne eqüitativa, é mister oferecer a todas as crianças,

jovens e adultos, a oportunidade de alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade da

aprendizagem.

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A prioridade mais urgente é melhorar a qualidade e garantir o acesso à educação para

meninas e mulheres, e superar todos os obstáculos que impedem sua participação ativa no

processo educativo. Os preconceitos e estereótipos de qualquer natureza devem ser eliminados

da educação.

Um compromisso efetivo para superar as disparidades educacionais deve ser assumido.

Os grupos excluídos - os pobres: os meninos e meninas de rua ou trabalhadores; as populações

das periferias urbanas e zonas rurais os nómades e os trabalhadores migrantes; os povos

indígenas; as minorias étnicas, raciais e lingüísticas: os refugiados; os deslocados pela guerra; e

os povos submetidos a um regime de ocupação - não devem sofrer qualquer tipo de

discriminação no acesso às oportunidades educacionais.

As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências

requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que ga rantam a igualdade de acesso à

educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema

educativo.

A RTIGO 4 CONCENTRAR A ATENÇÃO NA APRENDIZAGEM

1. A tradução das oportunidades ampliadas de educação em desenvolvimento efetivo -

para o indivíduo ou para a sociedade - dependerá, em última instância, de, em razão dessas

mesmas oportunidades, as pessoas aprenderem de fato, ou seja, apreenderem conhecimentos

úteis, habilidades de raciocínio, aptidões e valores. Em conseqüência, a educação básica deve

estar centrada na aquisição e nos resultados efetivos da aprendizagem, e não mais

exclusivamente na matrícula. freqüência aos programas estabelecidos e preenchimento dos

requisitos para a obtenção do diploma. Abordagens ativas e participativas são particularmente

valiosas no que diz respeito a garantir a aprendizagem e possibilitar aos educandos esgotar

plenamente suas potencialidades. Daí a necessidade de definir, nos programas educacionais, os

níveis desejáveis de aquisição de conhecimentos e implementar sistemas de avaliação de

desempenho.

ARTIGO 5 AMPLIAR OS MEIOS DE E O RAIO DE AÇÃO DA EDUCAÇÃO

BÁSICA

A diversidade, a complexidade e o caráter mutável das necessidades básicas de

aprendizagem das crianças, jovens e adultos, exigem que se amplie e se redefina continuamente

o alcance da educação básica, para que nela se incluam os seguintes elementos:

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• A aprendizagem começa com o nascimento. Isto implica cuidados básicos e

educação inicial na infância, proporcionados seja através de estratégias que envolvam as famílias

e comunidades ou programas institucionais, como for mais apropriado.

• O principal sistema de promoção da educação básica fora da esfera familiaré a

escola fundamental. A educação fundamental deve ser universal, garantir a satisfação das

necessidades básicas de aprendizagem de todas as crianças, e levar em consideração a cultura, as

necessidades e as possibilidades da comunidade. Programas complementares alternativos podem

ajudar a satisfazer as necessidades de aprendizagem das crianças cujo acesso à escolaridade

formal é limitado ou inexistente, desde que observem os mesmos padrões de aprendizagem

adotados na escola e disponham de apoio adequado.

• As necessidades básicas de aprendizagem de jovens e adultos são diversas, e devem

ser atendidas mediante uma variedade de sistemas. Os programas de alfabetização são

indispensáveis, dado que saber ler e escrever constitui-se uma capacidade necessária em si

mesma, sendo ainda o fundamento de outras habilidades vitais. A alfabetização na língua

materna fortalece a identidade e a herança cultural. Outras necessidades podem ser satisfeitas

mediante a capacitação técnica, a aprendizagem de ofícios e os programas de educação formal e

não formal em matérias como'saúde, nutrição, população, técnicas agrícolas, meio-ambiente,

ciência, tecnologia, vida familiar - incluindo-se aí a questão da natalidade - e outros problemas

sociais.

• Todos os instrumentos disponíveis e os canais de informação, comunicação e ação

social podem contribuir na transmissão de conhecimentos essenciais, bem como na informação e

educação dos indivíduos quanto a questões sociais. Além dos instrumentos tradicionais, as

bibliotecas, a televisão, o rádio e outros meios de comunicação de massa podem ser mobilizados

em todo o seu potencial, a fim de satisfazer as necessidades de educação básica para todos.

Estes componentes devem constituir um sistema integrado - complementar, interativo e

de padrões comparáveis - e deve contribuir para criar e desenvolver possibilidades de

aprendizagem por toda a vida.

ARTIGO 6 P R O P I C I A R U M A M B I E N T E A D E Q U A D O À A P R E N D I Z AG

E M

A aprendizagem não ocorre em situação de isolamento. Portanto, as sociedades devem

garantir a todos os educandos assistência em nutrição, cuidados médicos e o apoio físico e

emocional essencial para que participem ativamente de sua própria educação e dela se

beneficiem. Os conhecimentos e as habilidades necessários à ampliação das condições de

aprendizagem das crianças devem estar integrados aos programas de educação comunitária para

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adultos. A educação das crianças e a de seus pais ou responsáveis respaldam-se mutuamente, e

esta interação deve ser usada para criar, em benefício de todos, um ambiente de aprendizagem

onde haja calor humano e vibração.

ARTIGO 7 FORTALECER AS ALIANÇAS

As autoridades responsáveis pela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm

a obrigação prioritária. de proporcionar educação básica para todos. Não se pode, todavia,

esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos, financeiros e organizacionais

necessários a esta tarefa. Novas e crescentes articulações e alianças serão necessárias em todos

os níveis: entre todos os subsetores e formas de educação, reconhecendo o papel especial dos

professores, dos administradores e do pessoal que trabalha em educação; entre os órgãos

educacionais e demais órgãos de governo, incluindo os de planejamento, finanças, trabalho,

comunicações, e outros setores sociais; entre as organizações governamentais e não-

governamentais, com o setor privado, com as comunidades locais, com os grupos religiosos, com

as famílias. É particularmente importante reconhecer o papel vital dos educadores e das famílias.

Neste contexto, as condições de trabalho e a situação social do pessoal docente, elementos

decisivos no sentido de se implementar a educação para todos, devem ser urgentemente

melhoradas em todos os países signatários da Recomendação Relativa à Situação do Pessoal

Docente OIT/UNESCO (1966). Alianças efetivas contribuem significativamente para o

planejamento, implementação, administração e avaliação dos programas de educação básica.

Quando nos referimos a "um enfoque abrangente e a um compromisso renovado",

incluímos as alianças como parte fundamental.

EDUCAÇÃO PARA TODOS: OS REQUISITOS

ARTIGO 8 DESENVOLVER UMA POLÍTICA CONTEXTUALIZADA DE APOIO

1. Políticas de apoio nos setores social, cultural e econômico são necessárias à

concretização da plena provisão e utilização da educação básica para a promoção individual e

social. A educação básica para todos depende de um compromisso político e de uma vontade

política, respaldados por medidas fiscais adequadas e ratificados por reformas na política

educacional e pelo fortalecimento institucional. Uma política adequada em matéria de economia,

comércio, trabalho, emprego e saúde incentiva o educando e contribui para o desenvolvimento

da sociedade.

2. A sociedade deve garantir também um sólido ambiente intelectual e científico à

educação básica, o que implica a melhoria do ensino superior e o desenvolvimento da pesquisa

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científica. Deve ser possível estabelecer, em cada nível da educação, um contato estreito com o

conhecimento tecnológico e científico contemporâneo.

ARTIGO 9 MOBILIZAR OS RECURSOS

1. Para que as necessidades básicas de aprendizagem para todos sejam satisfeitas

mediante ações de alcance muito mais ampl o, será essencial mobilizar atuais e novos recursos

financeiros e humanos, públicos, privados ou voluntários. Todos os membros da sociedade têm

uma contribuição a dar, lembrando sempre que o tempo, a energia e os recursos dirigidos à

educação básica constituem, certamente, o investimento mais importante que se pode fazer no

povo e no futuro de um país.

2. Um apoio mais amplo por parte do setor público significa atrair recursos de todos

os órgãos governamentais responsáveis pelo desenvolvimento humano, mediante o aumento em

valores absolutos e relativos, das dotações orçamentár ias aos serviços de educação básica.

Significa, também, reconhecer a existência de demandas concorrentes que pesam sobre os

recursos nacionais, e que, embora a educação seja um setor importante, não é o único. Cuidar

para que haja uma melhor utilização dos recursos e programas disponíveis para a educação

resultará em um maior rendimento, e poderá ainda atrair novos recursos. A urgente tarefa de

satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem poderá vir a exigir unia realocação dos

recursos entre setores. como por exemplo, uma transferência de fundos dos gastos militares para

a educação. Acima de tudo, é necessário uma proteção especial para a educação básica nos países

em processo de ajustes estruturais e que carregam o pesado fardo da dívida externa. Agora, mais

do que nunca, a educação deve ser considerada uma dimensão fundamental de todo projeto

social, cultural e econômico.

ARTIGO 10 FORTALECER A SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

1. Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem constitui-se uma

responsabilidade comum e universal a todos os povos, e implica solidariedade internacional e

relações económicas honestas e eqüitativas, a fim de corrigir as atuais disparidades económicas.

Todas as nações têm valiosos conhecimentos e experiências a compartilhar, com vistas à

elaboração de políticas e programas educacionais eficazes.

2. Será necessário um aumento substancial, a longo prazo, dos recursos destinados à

educação básica. A comunidade mundial, incluindo os organismos e instituições

intergovernamentais, têm a responsabilidade urgente de atenuar as limitações que impedem

algumas nações de alcançar a meta da educação para todos. Este esforço implicará,

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necessariamente, a adoção de medidas que aumentem os orçamentos nacionais dos países mais

pobres, ou ajudem a aliviar o fardo das pesadas dívidas que os afligem. Credores e devedores

devem procurar fórmulas inovadoras e eqüitativas para reduzir este fardo, uma vez que a

capacidade de muitos países em desenvolvimento de responder efetivamente à educação e a

outras necessidades básicas será extremamente ampliada ao se resolver o problema da dívida.

3. As necessidades básicas de aprendizagem dos adultos e das crianças devem ser

atendidas onde quer que existam. Os países menos desenvolvidos e com baixa renda apresentam

necessidades especiais que exigirão atenção prioritária no quadro da cooperação internacional à

educação básica, nos anos 90.

4. Todas as nações devem agir conjuntamente para resolver conflitos e disputas, pôr

fim às ocupações militares e assentar populações deslocadas ou facilitar seu retorno a seus países

de origem, bem como garantir o atendimento de suas necessidades básicas de aprendizagem. Só

um ambiente estável e pacífico pode criar condições para que todos os seres humanos, crianças e

adultos, venham a beneficiar-se das propostas desta declaração.

Nós, os participantes da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, reafirmamos o

direito de todos à educação. Este é o fundamento de nossa determinação individual e coletiva -

assegurar educação para todos.

Compromete mo-nos em cooperar, no âmbito da nossa esfera de responsabilidades,

tomando todas as medidas necessárias à consecução dos objetivos de educação para todos.

Juntos apelamos aos governos, às organizações interessadas e aos indivíduos, para que se somem

a este urgente empreendimento.

As necessidades básicas de aprendizagem para todos podem e devem ser satisfeitas. Não

há modo mais significativo do que este para iniciar o Ano Internacional da Alfabetização e

avançar rumo às metas da Década das Nações Unidas para os Portadores de Deficiências (1983-

1992), Década Internacional para o Desenvolvimento Cultural (1988-1997), Quarta Década das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (1991-2000), Convenção sobre a Eliminação de Todas

as Formas de Discriminação contra a Mulher e Estratégias para o Desenvolvimento da Mulher, e

da Convenção sobre os Direitos da Criança. Nunca antes uma época foi tão propícia à realização

do nosso compromisso em proporcionar oportunidades básicas de aprendizagem a todos os

povos do mundo.

Adotamos, portanto, esta Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das

Necessidades Básicas de Aprendizagem, e aprovamos o Plano. de Ação para Satisfazer as

Necessidades Básicas de Aprendizagem. com a finalidade de atingir os objetivos estabelecidos

nesta Declaração.

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1998

ANEXO C - Declaração de Nova Delhi sobre Educação para Todos Nova Dehli, 6 de dezembro de 1993

Declaração de Nova Delhi sobre Educação para Todos

1. Nós, os líderes dos nove países em desenvolvimento de maior população do

mundo, reiteramos por esta Declaração nosso compromisso de buscar com zelo e

determinação as metas definidas pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos e

pela Cúpula Mundial da Criança, realizadas em 1990, de atender às necessidades básicas

de aprendizagem de todos os nossos povos tornando universal a educação básica e

ampliando as oportunidades de aprendizagem para crianças, jovens e adultos. Assim

fazemos com consciência plena que nossos países abrigam mais do que a metade da

população mundial e que o sucesso de nossos esforços é crucial à obtenção da meta global

de educação para todos.

2. RECONHECEMOS que:

as aspirações e metas de desenvolvimento de nossos países serão atendidas

somente através da garantia de educação para todos os nossos povos, direito este

assegurado tanto pela Declaração Universal dos Direito do Homem quanto pelas

constituições e leis de cada um de nossos países;

a educação é o instrumento preeminente de promoção dos valores humanos

universais, da qualidade dos recursos humanos e do respeito pela diversidade cultural;

os sistemas educacionais dos nossos países já alcançaram progressos

importantes na oferta de educação a contingentes substanciais da nossa população, mas

ainda não foram plenamente sucedidos os esforços de proporcionar uma educação de

qualidade a todos os nossos povos, o que indica a necessidade de desenvolvermos enfoques

criativos tanto dentro quanto fora dos sistemas formais;

os conteúdos e métodos de educação precisam ser desenvolvidos para servir

às necessidades básicas de aprendizagem dos indivíduos e das sociedades, proporcionando-

lhes o poder de enfrentar seus problemas mais urgentes - combate à pobreza, aumento da

produtividade, melhora das condições de vida e proteção ao meio ambiente - e permitindo

que assumam seu papel por direito na construção de sociedades democráticas e no

enriquecimento de sua herança cultural;

os programas educacionais bem sucedidos exigem ações complementares e

convergentes, no contexto do papel da família e da comunidade, nas áreas de nutrição

adequada, cuidados efetivos da saúde e cuidado e desenvolvimento apropriado para

crianças pequenas;

a educação e a incorporação plena de mulheres jovens e adultas à sociedade

são metas importantes em si e elementos chaves do processo de desenvolvimento do bem-

estar social, da educação de gerações presentes e futuras e da diversificação das opções

disponíveis à mulher para o desenvolvimento de todo o seu potencial;

pressões demográficas impõem um ônus por demais pesado à capacidade dos

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sistemas educacionais e impedem as reformas e melhorias necessárias; além do mais, dada

a estrutura etária dos nossos países, esse processo continuará no decorrer da próxima

década;

a educação é - e tem que ser - responsabilidade da sociedade, englobando

igualmente os governos, as famílias, as comunidades e as organizações não-

governamentais, exige o compromisso e a participação de todos numa grande aliança que

transcenda a diversidade de opiniões e posições políticas.

3. CIENTES do papel vital que a educação terá que cumprir no

desenvolvimento das nossas sociedades, asseveramos por esta Declaração que até o ano de

2000 ou o mais rapidamente possível:

garantiremos a toda criança uma vaga em uma escola ou em um programa

educacional adequado às suas capacidades, para que a educação não seja negada a uma só

criança por falta de professor, material didático ou espaço adequado - fazemos essa

promessa em cumprimento ao compromisso assumido na Convenção sobre os Direitos da

Criança que ratificamos;

consolidaremos esforços dirigidos à educação básica de jovens e adultos

proporcionada por entidades públicas e privadas, melhorando e ampliando nossos

programas de alfabetização e educação de adultos no contexto de uma estratégia integrada

de educação básica para todo o nosso povo;

eliminaremos disparidades de acesso à educação básica em função do sexo,

idade, renda, família, diferenças culturais , étnicas e lingüísticas, e distância geográfica;

melhoraremos a qualidade e relevância dos programas de educação básica

através da intensificação de esforços para aperfeiçoar o "status", o treinamento e as

condições de trabalho do magistério;

melhorar os conteúdos educacionais e o material didático e implementar outras

reformas necessárias aos nossos sistemas educacionais;

em todas as nossas ações, em nível nacional e em todos os níveis,

atribuiremos a mais alta prioridade ao desenvolvimento humano, assegurando que uma

parcela crescente dos recursos nacionais e comunitários seja canalizada à educação básica

e melhoria do gerenciamento dos recursos educacionais agora disponíveis;

mobilizaremos todos os setores de nossas sociedades em prol da educação

para todos, endossando por este instrumento o Projeto de Ação que acompanha esta

Declaração e nos comprometendo a revisar nosso progresso a nível nacional e a

compartilhar nossas experiências entre nós e com a comunidade global.

4. PORTANTO, convocamos:

os colaboradores internacionais para que aumentem substancialmente o apoio

prestado ao nosso esforço de ampliar nossas capacidades nacionais em benefício da

expansão e melhoria dos serviços de educação básica;

as instituições financeiras internacionais para que, sob o prisma de ajustes

estruturais, reconheçam a educação como investimento crítico isento da imposição de tetos

preestabelecidos e que promovam um clima internacional capaz de permitir aos países

sustentar seu desenvolvimento sócio-econômico;

a comunidade de nações para que se junte a nós na reafirmação do nosso

compromisso com a meta de educação para todos e na intensificação de seus esforços para

alcançarmos nossa meta até o ano 2000 ou o mais breve possível.

ÈM CONFORMIDADE com o que foi aprovado por aclamação em Nova Delhi

em 16 de dezembro de 1993 e em testemunho da promessa e do compromisso assumidos

afixamos individualmente a esta Declaração nossas respectivas assinaturas.

(Indonésia) (China) (Bangladesh) (Brasil) (Egito) (México) (Nigéria) (Paquistão)

(Índia)

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ANEXO D - Marco de Ação de Dakar - Educação para todos: atendendo nossos compromissos coletivos.

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 2 ANO XI Nº144 FORTALEZA, 31 DE JULHO DE 2008

LEI Nº14.190, de 30 de julho de 2008.

CRIA O PROGRAMA APRENDER

PRA VALER QUE DESENVOLVERÁ

AÇÕES ESTRATÉGICAS COMPLE-

MENTARES PARA O FORTALE-

CIMENTO DA APRENDIZAGEM

DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

E SUA ARTICULAÇÃO COM A

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E

TECNOLÓGICA.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ Faço saber que

a

Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art.1º Fica instituído o Programa Aprender Pra Valer por

meio do qual o Estado, no cumprimento de suas

responsabilidades constitucionais dispostas no art.211, §3º da

Constituição Federal, desenvolverá ações estratégicas

complementares de fortalecimento do ensino médio.

Art.2º O Programa Aprender Pra Valer tem por

finalidade a elevação do desempenho acadêmico dos alunos do

ensino médio, com vistas à aquisição dos níveis de proficiência

adequados a cada série/ano, bem com a articulação deste nível

de ensino com a educação profissional e tecnológica.

Art.3º O Programa Aprender Pra Valer se efetivará por

meio das seguintes ações:

I – Superintendência Escolar - consiste no desenvolvimento de

estratégias de acompanhamento da gestão escolar com foco no

aperfeiçoamento do trabalho pedagógico e na aprendizagem do

aluno;

II – Primeiro, Aprender - consiste na consolidação de

competências avançadas de leitura e de raciocínio lógico-

matemático, utilizando materiais complementares de ensino-

aprendizagem especialmente elaborados para este fim;

III – Professor Aprendiz – consiste em incentivar professores da

rede a colaborarem com o Programa, em caráter especial, na

produção de material didático-pedadagógico, na formação e

treinamento de outros professores e na publicação de suas

experiências e reflexões.

IV – Avaliação Censitária do Ensino Médio – consiste na

ampliação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação

Básica do Ceará – SPAECE, para operacionalização de

avaliações externas anuais, de todos os alunos das três séries

do ensino médio, tendo em vista o acompanhamento do

progresso acadêmico de cada aluno, de forma a orientar ações

de melhoria a serem implementadas pelas escolas, pelos

professores e pelos próprios alunos.

V – Pré-Vest – consiste no apoio à continuidade dos estudos

com vistas ao ingresso no ensino superior.

VI – Articulação do Ensino Médio à Educação Profissional –

consiste na oferta, a estudantes e egressos do ensino médio, de

melhores oportunidades de preparação para o trabalho,

concebendo as escolas da rede estadual de ensino médio

como local privilegiado para a educação de nível técnico e

de qualificação profissional.

Parágrafo único. O Poder Executivo estabelecerá em decreto

as características específicas dos estabelecimentos de

ensino para fins de cumprimento do disposto no inciso VI,

deste artigo.

Art.4º Para maior agilidade e eficiência das atividades

desenvolvidas no âmbito do Programa, fica a Secretaria de

Educação autorizada a firmar acordos de cooperação

técnica e financeira com universidades públicas e seus

institutos ou fundações universitárias de pesquisa e pós-

graduação, e ainda com instituições de fomento à pesquisa.

Parágrafo único. No âmbito e para os fins de execução das

ações deste programa, fica a SEDUC autorizada a conceder

bolsa de pesquisa, inovação ou extensão tecnológica, a

pesquisadores e professores do ensino superior e médio,

servidores públicos ou não, com o objetivo de realizar

pesquisas, desenvolver tecnologias e materiais instrucionais

e ministrar treinamentos e capacitações.

Art.5º Sempre que possível as ações do Programa Aprender

Pra Valer deverão ser estendidas aos alunos das séries finais

do ensino fundamental da rede pública de ensino.

Art.6 As despesas decorrentes da aplicação desta Lei correrão

por conta das dotações orçamentárias da Secretaria da

Educação do Estado do Ceará, por execução direta ou nos

termos dos acordos de cooperação técnica celebrados para

este fim.

Art.7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art.8º Revogam-se as disposições em contrário.

PALÁCIO IRACEMA, DO GOVERNO DO ESTADO DO

CEARÁ, em Fortaleza, 30 de julho de 2008.

Cid Ferreira Gomes

GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ

*** *** ***

ANEXO E - Decreto de Criação do Prêmio Aprender pra Valer.

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

INSTRUÇÃO NORMATIVA SEDUC Nº001, de 27 de

outubro de 2015.

ESTABELECE

NORMAS E

PROCEDIMENTOS

OPERACIONAIS PARA

A PROGRESSÃO

HORIZONTAL DOS

PROFISSIONAIS DO

GRUPO CUPACIONAL

MAG DA EDUCAÇÃO

BÁSICA.

O SECRETÁRIO ADJUNTO DA EDUCAÇÃO, no uso

das atribuições legais que lhe confere a Portaria

Nº0968/2015-GAB da lavra do Excelentíssimo

Secretário da Educação do Estado publicada no Diário

Oficial do Estado de 22 de outubro de 2015, e em

conformidade com o disposto na Lei nº12.066, de 13 de

janeiro de 1993 e suas alterações contidas nas Leis

nº12.416 de 17 de março de 1995 e nº12.503 de 31 de

outubro de 1995, bem como o Decreto nº28.304 de 30

de junho de 2006 e CONSIDERANDO a necessidade

de normatizar os procedimentos operacionais para a

Progressão Horizontal dos Profissionais do Grupo

Ocupacional MAG da Educação Básica; e

CONSIDERANDO a política de valorização dos

profissionais, implantada por esta Secretaria, como

forma de melhorar os indicadores educacionais;

RESOLVE:

Art.1º - Disciplinar os procedimentos operacionais

referentes a progressão horizontal dos Profissionais do

Grupo Ocupacional MAG da Educação Básica da

Secretaria da Educação do Estado do Ceará – SEDUC.

Art.2º - A Progressão Horizontal dos Profissionais do

Grupo Ocupacional MAG da Educação Básica será

efetuada nos termos do Decreto 28.304 de 30 de junho

de 2006, obedecidos os critérios de

desempenho e de antiguidade e dependerá de:

I - quanto ao desempenho: de avaliação

compreendendo fatores subjetivos (desempenho

profissional) e fatores objetivos (capacitação e

experiência profissional).

II - quanto ao desempenho e à antiguidade, do

cumprimento do interstício de 365 (trezentos e sessenta

e cinco) ou de 730 (setecentos e trinta), dias, no

caso de ensino médio, na referência da respectiva

classe na qual se encontre o interessado.

§1º O número de servidores a serem avançados

por progressão horizontal corresponderá a 60% (sessenta

por cento) do total dos ocupantes de cargos/funções em

cada referência, dentro da mesma faixa vencimental,

atendidos os critérios de desempenho e antiguidade.

§2º Do percentual previsto para progressão

horizontal, 50% (cinquenta por cento) será por

desempenho e 50% (cinquenta por cento) por

antiguidade.

Art.3º - A progressão horizontal por antiguidade dos profissionais

do Grupo Ocupacional MAG recairá no servidor que, em cada

referência de uma mesma classe, contar maior tempo de serviço

efetivo, observado o disposto no Decreto nº28.304, de 30 de

junho de 2006.

Parágrafo único. A classificação dos servidores a serem

ascendidos por antiguidade será por ordem decrescente, considerado o maior tempo de serviço efetivo na referência.

Art.4º - Em caso de empate na classificação da progressão

horizontal por desempenho ou por antiguidade proceder-se-á

ao desempate, seguindo-se os seguintes critérios:

I - maior tempo de serviço na classe;

II - maior tempo de serviço na carreira;

III - maior tempo de serviço público estadual; IV - maior

tempo de serviço público;

V - maior prole;

VI - maior idade.

Art.5º - À Coordenadoria de Gestão de Pessoas - COGEP

compete a coordenação do processo de apuração e

concessão da Progressão Horizontal dos profissionais do

Grupo Ocupacional MAG da Educação Básica,

compreendendo o acompanhamento e operacionalização

dos procedimentos.

Art.6º - Findos os procedimentos de avaliação, a

Coordenadoria de Gestão de Pessoas formalizará os

processos de progressão horizontal compreendendo: a

elaboração das portarias, a repercussão financeira e o

encaminhamento à Secretaria do Planejamento e Gestão para

análise e publicação.

Art.7º - A progressão horizontal será efetivada por Portaria do

Secretário Adjunto da Educação.

Parágrafo Único – As Portarias de progressão horizontal

deverão conter obrigatoriamente o grupo ocupacional, o

nome do profissional, matrícula, cargo ou função, classe,

referência atual e nova e o tipo de critério.

Art.8º - O servidor que não concordar com os resultados ou

se julgar prejudicado na sua Progressão Horizontal terá o

prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a contar da data da

divulgação dos resultados no site da SEDUC

(www.seduc.ce.gov.br), para interpor recurso, via on- line,

junto a Secretária da Educação. Os recursos somente serão

aceitos quando formalizados via Sistema on-line.

§1º O prazo para julgamento do recurso será de 96

(noventa e seis) horas, a contar do encerramento do prazo

para sua apresentação, via on-line, no site da SEDUC

(www.seduc.ce.gov.br). Se julgado procedente, far-se-á a

alteração no boletim de classificação.

§2º Todos os recursos serão analisados, e os resultados

divulgados via sistema on-line. Não serão encaminhadas

respostas individuais.

§3º O recurso deverá ser claro, consistente e objetivo

em seu pleito. Recurso inconsistente ou intempestivo será

preliminarmente indeferido.

Art.9º - Sendo detectada no processo da Progressão

Horizontal, alguma falha ou violação às normas disciplinares

estabelecidas nesta Instrução Normativa ou nas demais

legislações correlatas, os mesmos serão devolvidos à

ANEXO F - Instrução Normativa que estabelece normas para a progressão horizontal dos profissionais

da Educação Básica.

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

Secretaria da Educação para que sejam procedidas as

correções que se fizerem necessárias.

Art.10º - Os casos omissos serão resolvidos pela

Coordenadoria de Gestão de Pessoas em consonância

com a Comissão Central de Avaliação de Desempenho.

Art.11º - A Secretária Executiva da Educação constituirá,

através de Portaria, Comissão de Avaliação com a

competência de coordenar, executar e validar o processo de

avaliação de desempenho, além de analisar e julgar os

recursos interpostos e será constituída com a seguinte

composição;

a) 1 (um) representante da categoria dos profissionais do

grupo ocupacional MAG da Educação Básica indicado

pela entidade de classe;

b) 6 (seis) representantes da Coordenadoria de Gestão de

Pessoas da SEDUC;

c) 1 (um) representante da Assessoria Jurídica da SEDUC;

Parágrafo Único. Poderão ainda apoiar os trabalhos da

Comissão, outros servidores que se fizerem necessários,

por força da demanda das atividades.

Art.12 - Compete ainda à Comissão de Avaliação:

I – orientar o preenchimento dos instrumentais de

Avaliação; II - analisar os resultados obtidos nos

instrumentais (autoavaliação e avaliação de chefia

imediata) de cada avaliado,

mantendo o sigilo necessário ao bom andamento dos

trabalhos;

III - elaborar o resultado provisório da avaliação e

divulgá-lo no site da SEDUC (www.seduc.ce.gov.br);

IV - analisar e julgar os recursos impetrados pelos

avaliados que se julgarem prejudicados;

V- elaborar o resultado final da avaliação para divulgação

no site da SEDUC (www.seduc.ce.gov.br).

Art.13 - A avaliação por fatores subjetivos (desempenho

profissional) para progressão horizontal dos profissionais

do Grupo Ocupacional MAG será efetivada pelo chefe

imediato da unidade de trabalho onde o avaliado encontra-

se atualmente exercendo suas atividades e pelo próprio

profissional avaliado por meio de formulário virtual

disponibilizado em Sistema on-line.

§1º Caso o Profissional MAG esteja lotado em mais de

uma unidade escolar, este será avaliado pelo chefe

imediato daquela unidade na qual esteja lotado com

maior carga horária.

§2º Caso o avaliado tenha a mesma carga horária em mais

de uma unidade escolar, este será avaliado pelo chefe

imediato da unidade em que tenha lotação mais antiga.

§3º Caso o avaliado tenha a mesma carga horária e o

mesmo tempo de lotação em mais de uma unidade escolar,

este será avaliado pelo chefe imediato da unidade que

possua o menor número de INEP.

§4º Caso o avaliado possua duas matrículas, o mesmo

deverá realizar a autoavaliação nas duas matrículas, assim

como também a avaliação do chefe imediato deverá ser

realizada nas duas matrículas.

Art.14 - Para fins de avaliação considerar-se-ão chefes

imediatos dos profissionais avaliados os seguintes:

I – Profissional do Grupo MAG em regência de sala de

aula e em suporte pedagógico: Diretor Escolar ou, em

caso de afastamento oficial deste, será substituído por

um dos Coordenadores Escolares da unidade de

ensino;

II – Profissional do Grupo MAG em exercício da função de

Coordenador Escolar: Diretor Escolar ou, em caso de

afastamento oficial deste, será substituído pelo Orientador

da área pedagógica da Coordenadoria Regional de

Desenvolvimento da Escola-CREDE ou Superintendência

das Escolas Estaduais de Fortaleza –

SEFOR, responsável pela unidade escolar;

III – Profissional do Grupo MAG em exercício da

função

IV de Diretor Escolar: Coordenador da CREDE/SEFOR

ou, em caso de afastamento oficial deste, será substituído

pelo Orientador da área pedagógica da CREDE/SEFOR

responsável pela unidade escolar;

V – Profissional do Grupo MAG em exercício da função de

Coordenador de CREDE/SEFOR/SEDUC: Secretário Adjunto

da Educação; V – Profissional do Grupo MAG em exercício

na CREDE/ SEFOR/SEDUC: Coordenador/Orientador da

área respectiva de sua

lotação.

Art.15 - As avaliações serão realizadas somente via

internet, por meio de formulário virtual disponibilizado no

sistema on-line, entre às entre às 09:00 horas do início e 17:00

horas data fim, constantes do cronograma do Anexo IX,

observado o horário local., observado o horário local.

§1º - A SEDUC não se responsabilizará por

avaliações não enviadas por motivos de ordem técnica dos

computadores, falhas de comunicação, congestionamento das

linhas de comunicação, bem como por outros fatores que

impossibilitem a transferência de dados.

§2º - O avaliado e o avaliador emitirão, via sistema,

comprovante de envio da avaliação realizada.

Art.16 - Em caso de recusa do profissional MAG em

proceder à sua autoavaliação ou da não realização da mesma

em tempo hábil, serão computados apenas os pontos referentes

à avaliação do chefe imediato e aos critérios objetivos.

Art.17 - Em caso de recusa do chefe imediato em

proceder a avaliação ou da não realização da mesma em

tempo hábil, serão computados apenas os pontos referentes à

autoavaliação e aos critérios objetivos e aberto procedimento

administrativo para análise e apuração dos fatos.

Art.18 - A avaliação por fatores objetivos

(capacitação e experiência profissional) para progressão

horizontal dos profissionais do Grupo Ocupacional MAG

será efetivada por:

I – cômputo de 20 (vinte) pontos de capacitação na área

de educação, discriminadas no anexo I, efetuadas pelo avaliado

dentro do interstício de cada progressão, entregues à

CREDE/SEDUC, entre às 08:00 horas do início e 17 horas data

fim, constantes do cronograma do Anexo IX, observado o

horário local.

II- experiência profissional, totalizando 20 (vinte)

pontos de acordo com o anexo I, pela participação em banca ou

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182

DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

comissão na área educacional dentro do

interstício de cada progressão e tempo de serviço

prestado na forma do atual cargo/função públicos do

Grupo MAG da Educação Básica até o limite de 20

(vinte) anos computados até o último dia do período do

interstício de cada progressão.

Art.19 - A avaliação por desempenho somará

um máximo de 100 (cem) pontos e analisará os

critérios objetivos e subjetivos, nos termos do

Decreto 28.304 de 30 de junho de 2006.

§1º Os critérios de natureza objetiva serão

avaliados na forma do Anexo I, conforme:

I – Capacitação Profissional: máximo de 20

(vinte) pontos; II – Experiência Profissional:

máximo de 20 (vinte) pontos;

§2º O critério de natureza subjetiva é o

Desempenho Profissional, observando-se o resultado

escolar, com pontuação máxima de 60 (sessenta

pontos), nos termos do Anexo I.

§3º Para análise do critério da Experiência

Profissional será computado 0,75 (setenta e cinco

centésimos) de ponto por cada ano completo de serviço

prestado no atual cargo/função públicos do Grupo MAG

até o limite de 15 (quinze) pontos.

Art.20 - Para a apuração do resultado escolar será

considerada a nota global do SPAECE ou a nota global

por área de conhecimento do ENEM da escola do ano

imediatamente anterior ao ano final do interstício de

referência da progressão onde o avaliado se

encontre lotado atualmente, e comparados os

resultados do ENEM ou SPAECE dos dois anos

imediatamente anteriores ao ano final do interstício de

referência da progressão, para fins de apuração da

evolução nos resultados da escola, devendo ser

considerada a maior soma da pontuação obtida, de

acordo com as fórmulas constantes dos Anexos VI e

VII.

§1º Quando o servidor do Grupo MAG não se

encontrar lotado em unidades escolares a nota

referente ao resultado escolar será:

I – Quando lotado nas CREDEs ou SEFOR, o

resultado regional do SPAECE ou ENEM;

II – Quando lotado na sede da SEDUC, o

resultado estadual do SPAECE ou ENEM.

§2º Quando o servidor do Grupo MAG se

encontrar lotado em unidades escolares que não

possuam o resultado escolar do SPAECE ou ENEM de

acordo com o caput desse artigo, será considerado o

resultado regional da CREDE/SEFOR vinculada.

§3º. Será utilizada a maior nota final obtida

pelo avaliado dentre as calculadas para o SPAECE ou

ENEM, na forma dos anexos citados no caput deste

artigo.

Art.21 - Findo o prazo de envio dos instrumentais de

avaliação via sistema on-line, a Comissão de Avaliação

efetuará o processamento dos dados e divulgará um

boletim contendo o resultado provisório das notas das

avaliações (critérios subjetivos e objetivos) no site da

SEDUC segundo cronograma do Anexo IX.

Art.22 - É assegurado ao avaliado que se julgar

prejudicado n a a v a l i a ç ã o i n t e rp o r , v i a si st e m a o n

- l i n e , r e c u r so p e r a n t e a Comissão de Avaliação no

prazo máximo de até 48 (quarenta e oito) horas,

contados da data da divulgação do resultado

provisório da avaliação.

Parágrafo único - O recurso deverá ser claro,

consistente e objetivo em seu pleito. Serão

preliminarmente indeferidos os recursos que:

I – forem impetrados de forma intempestiva;

II - cujo teor desrespeite a Comissão de Avaliação;

III – não respeitem a forma on-line disponível,

recurso via postal, via fax, via correio eletrônico ou,

ainda, em desacordo com essa Instrução Normativa.

Art.23 - Todos os recursos das avaliações interpostos

dentro do prazo serão analisados pela Comissão de

Avaliação que divulgará o resultado final da avaliação,

via on-line, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a

contar do encerramento do prazo de recurso.

Art.24 - A Comissão de Avaliação de Desempenho

encaminhará o resultado final da avaliação à área

competente da Coordenadoria de Gestão de Pessoas, para

providenciar as portarias referentes à progressão

horizontal.

Art.25 - A presente Instrução Normativa entrará em

vigor na data de sua publicação.

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO

CEARÁ, em

Fortaleza, de 27 de outubro de 2015.

Armando Amorim Simões SECRETÁRIO ADJUNTO

DA EDUCAÇÃO

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ANEXO I

CÁLCULO DOS PONTOS DA AVALIAÇÃO POR DESEMPENHO

Critério

Natureza

Forma de Avaliação

Pontos

Capacitação

Profissional

Objetivo

Pós-graduação lato e ou stricto senso

não cumulativo Seminários,

Especialização (4

pontos), Mestrado (7

congressos e encontros na área da

educação com carga horária

pontos) e Doutorado

(10 pontos) até

total mínima de 8 horas Capacitação

na área educacional com

o máximo de 10 pontos

1 ponto por

carga horária total entre 20 e 80

horas Capacitação na área

participação, até o

máximo de 3 pontos 1

educacional com carga horária total

mínima de 80 horas

ponto por capacitação,

até o máximo de 4

pontos 1,5 ponto por

curso, até o máximo

de 3 pontos

Experiência

profissional

Objetivo Participação em Bancas e/ou

Comissões na área

1 ponto por banca e ou

comissão, até o

da Educação Tempo de Serviço na

SEDUC

máximo de 5 pontos

0,75 ponto por cada

ano completo

trabalhado, até o

máximo

de 15 pontos

Desempenho

Profissional

Resultado

Escolar

Spaece/Enem 2 a 20 pontos

Subjetivo Autoavaliação 4 a 20 pontos

Subjetivo Avaliação do chefe imediato 4 a 20 pontos

Resultado Global: SOMATÓRIO da

pontuação. Pontuação Máxima: 100

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

ANEXO II AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO PROF DO MAG EM

EFETIVA REGÊNCIA DE CLASSE- FATORES SUBJETIVOS

MODELO INSTRUMENTAL DE AUTOAVALIAÇÃO E AVALIAÇÃO DO CHEFE IMEDIATO

A

V

A

L

I

A

Ç

Ã

O

D

O

C

H

E

F

E

I

M

E

D

I

A

ANEXO III AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO PROF DO MAG EM

FUNÇÕES TÉCNICAS- FATORES SUBJETIVOS

ANEXO IV AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO PROF DO MAG EM REGÊNCIA

DE CLASSE E EM FUNÇÕES TÉCNICAS- FATORES OBJETIVOS

MODELO INSTRUMENTAL DE AVALIAÇÃO FATORES OBJETIVOS

ANEXO V

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DO PROF DO MAG EM REGENCIA

DE CLASSE E EM FUNÇÕES TÉCNICAS- FATORES OBJETIVOS

MODELO INSTRUMENTAL DE AVALIAÇÃO FATORES OBJETIVOS

ANEXO VI

CÁLCULO PARA APURAÇÃO DO RESULTADO

ESCOLAR DO SPAECE CÁLCULO DA “NOTA

GLOBAL DA ESCOLA NO SPAECE NO ANO DO

INÍCIO DO INTERSTÍCIO”.

1º PASSO: CÁLCULO DAS MÉDIAS GLOBAIS DA

ESCOLA PARA

CADA DISCIPLINA, ou seja, uma média única da escola

para as três séries (1ª, 2ª e 3ª). Deve-se proceder

separadamente com as disciplinas: uma para português e

uma para matemática. Para isso, simplesmente somamos a

nota de cada aluno, e dividimos pelo número de alunos

avaliados;

Resultado do 1º passo:

“MÉDIA GLOBAL DE LÍNGUA PORTUGUESA NA

ESCALA DO

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

SPAECE” de cada escola.

“MÉDIA GLOBAL DE MATEMÁTICA NA ESCALA DO

SPAECE” de cada escola.

2º PASSO: CÁLCULO DA PARTICIPAÇÃO GLOBAL DA

ESCOLA.

Para isso, simplesmente dividimos o total de alunos avaliados,

incluindo as três séries, pelo total de alunos matrículados;

Resultado do 2º passo: PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA

3º PASSO: CÁLCULO DA “MÉDIA GLOBAL DE

LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCALA DE 1 A 10”: PARA

ISSO, APLICAMOS A SEGUINTE FÓRMULA:

Resultado do 3º passo: “MÉDIA GLOBAL DE LÍNGUA

PORTUGUESA NA ESCALA DE 1 A 10”

4º PASSO: CÁLCULO DA “MÉDIA GLOBAL DE

MATEMÁTICA NA

ESCALA DE 1 A 10”: Para isso, aplicamos a seguinte

fórmula: Resultado do 4º passo: “MÉDIA GLOBAL DE

MATEMÁTICA NA ESCALA DE 1 A 10”

5º PASSO: CÁLCULO DA “MÉDIA GLOBAL DA ESCOLA

NA ESCALA

DE 1 A 10”: Para isso, simplesmente calculamos a seguinte

média: Resultado do 5º passo: “MÉDIA GLOBAL DA

ESCOLA NA ESCALA DE 1 A 10”

6º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA DA ESCOLA NO ANO

DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”: BASTA ENTÃO

MULTIPLICAR O SEGUINTE: “NOTA DA ESCOLA NO

ANO INICIAL DO INTERSTÍCIO” = “MÉDIA GLOBAL DA

ESCOLA NA ESCALA DE 1 A 10” X “PARTICIPAÇÃO DA

ESCOLA”

RESULTADO DO 6º PASSO: “NOTA DA ESCOLA NO ANO

INICIAL DO INTERSTÍCIO”

OBS.: NAS ESCOLAS QUE TIVEREM SOMENTE

ENSINO FUNDAMENTAL, SERÃO UTILIZADOS OS

RESULTADOS DAS SÉRIES

AVALIADAS NO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO.

CÁLCULO DA “NOTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO

SPAECE: ANO ANTERIOR AO DO INICIO DO

INTERSTÍCIO/ANO DE INICIO DO INTERSTÍCIO”

1º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR

AO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”, utilizando-se os

mesmos passos para o cálculo das notas do SPAECE DO

ANO DO INÍCIO DO INTERSTÍCIO.

Resultado do 1º passo: “NOTA DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR AO DO INICIO DO INTERSTÍCIO”

2º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA BRUTA DE

EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DO

INÍCIO DO INTERSTÍCIO/ ANO DE INICIO DO

INTERSTÍCIO”

Para isso, realizamos simplesmente a SUBTRAÇÃO:

“NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR AO DO INICIO DO INTERSTÍCIO/ANO DE

INICIO DO INTERSTÍCIO”.= “NOTA DA ESCOLA NO

ANO INICIO DO INTERSTÍCIO - NOTA DA ESCOLA

NO ANTERIOR AO DO INÍCIO DO INTERSTÍCIO”

Resultado do 2º passo: “NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO

DA ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DO INICIO DO

INTERSTÍCIO//NOTA DA ESCOLA NO ANO DE INICIO

DO INTERSTÍCIO”.

3º PASSO: CÁLCULO DO “VALOR DE

COMPLEMENTO PARA A NOTA DE EVOLUÇÃO”:

PARA ISSO, OBSERVA-SE A ESCOLA COM MENOR

VALOR NA “NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA

ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DO INICIO DO

INTERSTÍCIO/ANO DE INICIO DO INTERSTICIO”.

E REALIZA-SE A SEGUINTE OPERAÇÃO:

“VALOR DE COMPLEMENTO PARA A NOTA DE

EVOLUÇÃO” = 1

– Resultado de MENOR valor dentre todas as escolas da

“NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR AO DO INICIO DO INTERSTÍCIO/ANO DE

INICIO DO INTERSTICIO”.

Resultado do 3º passo: “VALOR DE COMPLEMENTO

PARA A NOTA DE EVOLUÇÃO”

4º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA DE EVOLUÇÃO DA

ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DO INICIO DO

INTERSTÍCIO/ANO DE INICIO

DO INTERSTICIO”: Para isso, basta somarmos:

“NOTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR AO DO INICIO DO INTERSTÍCIO/ANO DE

INICIO DO INTERSTICIO” = “NOTA BRUTA DE

EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DO

INICIO DO INTERSTÍCIO/ANO DE INICIO DO

INTERSTICIO” + “VALOR DE COMPLEMENTO PARA

A NOTA DE EVOLUÇÃO”

Resultado do 4º passo: “NOTA DE EVOLUÇÃO DA

ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DO INICIO DO

INTERSTÍCIO/ANO DE INICIO DO INTERSTICIO”.

CÁLCULO DA PONTUAÇÃO DO RESULTADO

ESCOLAR NO SPAECE:

“NOTA GLOBAL DA ESCOLA NO SPAECE NO ANO DE

INICIO DO INTERSTÍCIO”+ “NOTA DE EVOLUÇÃO

DA ESCOLA NO SPAECE NO ANO ANTERIOR AO DO

INICIO DO INTERSTICIO/NOTA DA ESCOLA NO

ESPAECE NO ANO DE INICIO DO INTERSTICIO”

OBS.: SERÃO ADOTADAS AS REGRAS DE

ARREDONDAMENTO INTERNACIONAL NOS

CÁLCULOS DAS “NOTA GLOBAL DA ESCOLA NO

SPAECE NO ANO DE INICIO DO INTERSTÍCIO” E

“NOTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO SPAECE NO

ANO ANTERIOR AO DO INICIO DO

INTERSTICIO/NOTA DA ESCOLA NO ANO DE INICIO

DO INTERSTÍCIO” APRESENTADOS.

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

ANEXO VII

Cálculo para apuração do resultado escolar do ENEM

CÁLCULO DA “NOTA DA ÁREA DE CONHECIMENTO

DA ESCOLA NO ENEM NO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO.

1º PASSO: CÁLCULO DAS MÉDIAS GLOBAIS DA

ESCOLA PARA

CADA ÁREA DE CONHECIMENTO, ou seja, uma média

única da escola em cada área de conhecimento para todas as

3ª séries. Deve-se proceder separadamente com cada área de

conhecimento: Matemática e suas Tecnologias, Ciências da

Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas

Tecnologias, Redação/Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias. Para isso, simplesmente somamos a nota de cada

aluno, e dividimos pelo número de alunos avaliados;

Obs.: No caso de Redação/Linguagens e Códigos e suas

Tecnologias serão somadas todas as notas obtidas em

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e todas as notas

obtidas na redação e divididos pelo dobro de alunos avaliados.

Resultado do 1º passo:

“MÉDIA GLOBAL MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS

NA ESCALA DO ENEM NO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO” de cada escola.

“MÉDIA GLOBAL CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS

TECNOLOGIAS NA ESCALA DO ENEM NO ANO DE

INÍCIO DO

INTERSTÍCIO” de cada escola.

“MÉDIA GLOBAL CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS

TECNOLOGIAS NA ESCALA DO ENEM NO ANO DE

INÍCIO DO INTERSTÍCIO” de

cada escola.

“MÉDIA GLOBAL REDAÇÃO/LINGUAGENS E

CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS NA ESCALA DO

ENEM NO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO” de cada escola.

2º PASSO: CÁLCULO DA PARTICIPAÇÃO GLOBAL DA

ESCOLA.

Para isso, simplesmente dividimos o total de alunos avaliados,

pelo total de alunos matrículados;

Resultado do 2º passo: PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA

3º PASSO: CÁLCULO DA “MÉDIA GLOBAL DE CADA

ÁREA DE

CONHECIMENTO NA ESCALA DE 1 A 10”: Para isso,

aplicamos a seguinte fórmula:

Resultado do 3º passo:

“MÉDIA GLOBAL MATEMÁTICA E SUAS

TECNOLOGIAS NA ESCALA DE 1 A 10”

“MÉDIA GLOBAL CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS

TECNOLOGIAS NA ESCALA DE 1 A 10”

“MÉDIA GLOBAL CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS

TECNOLOGIAS NA ESCALA DE 1 A 10”

“MÉDIA GLOBAL REDAÇÃO/LINGUAGENS E

CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS NA ESCALA DE 1

A 10”

4º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA DA ESCOLA NO

ENEM NO ANO

DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”: Basta então multiplicar

o seguinte: “NOTA DA ESCOLA NO ANO DE INÍCIO

DO INTERSTÍCIO” = “MÉDIA GLOBAL DA ÁREA DE

CONHECIMENTO NA ESCALA DE 1 A 10” X

“PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA”

Resultado do 4º passo:

“NOTA DA ESCOLA EM MATEMÁTICA E SUAS

TECNOLOGIAS DO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO”

“NOTA DA ESCOLA EM CIÊNCIAS DA NATUREZA E

SUAS TECNOLOGIAS DO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO”

“NOTA DA ESCOLA EM CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS

TECNOLOGIAS NO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”

“NOTA DA ESCOLA EM REDAÇÃO/LINGUAGENS E

CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS NO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO” CÁLCULO DA “NOTA DE EVOLUÇÃO DA

ÁREA DA ESCOLA NO ENEM DO ANO ANTERIOR AO DE

INÍCIO DO INTERSTÍCIO/NOTA DA ESCOLA NO ANO DE

INÍCIO DO INTERSTÍCIO “.

1º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA DA ESCOLA DO ANO

ANTERIOR

AO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO “, utilizando-se os mesmos

passos para o cálculo das notas do SPAECE DO ANO DE INÍCIO

DO INTERSTÍCIO”

Resultado do 1º passo: “NOTA DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR AO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO “

2º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO

DA ESCOLA NO ANO ANTERIOR AO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO/

NO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”: Para isso, realizamos

simplesmente a SUBTRAÇÃO:

“NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA NO ANO

ANTERIOR AO DO INÍCIO DO INTERSTÍCIO/ANO DE

INÍCIO DO INTERSTÍCIO” = “NOTA DA ESCOLA DO ANO

DE INÍCIO DE INTERSTÍCIO” - “NOTA DA ESCOLA DO

ANO ANTERIOR AO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO “

Resultado do 2º passo: “NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA

ESCOLA DO ANO ANTERIOR AO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO/NOTA DO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”

3º PASSO: CÁLCULO DO “VALOR DE COMPLEMENTO

PARA

A NOTA DE EVOLUÇÃO”: Para isso, observa-se a escola

com MENOR valor na “NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA

ESCOLA DO ANO ANTERIOR AO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO/NOTA

DO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO” e realiza-se a seguinte

operação:

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DIÁRIO OFICIALDO ESTADO SÉRIE 3 ANO VII Nº208 FORTALEZA, 09 DE NOVEMBRO DE 2015

“VALOR DE COMPLEMENTO PARA A NOTA DE

EVOLUÇÃO “ =

1 – Resultado de MENOR valor dentre todas as escolas da

“NOTA BRUTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA DO ANO

ANTERIOR AO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO/NOTA

DO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO”

Resultado do 3º passo: “VALOR DE COMPLEMENTO

PARA A NOTA DE EVOLUÇÃO”

4º PASSO: CÁLCULO DA “NOTA DE EVOLUÇÃO DA

ESCOLA DO ANO ANTERIOR AO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO/NOTA DO ANO

DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO” Para isso, basta somarmos:

“NOTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA DO ANO

ANTERIOR AO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO/NOTA

DO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO” = “NOTA

BRUTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA DO

ANO ANTERIOR AO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO/ NOTA

DO ANO

DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO” + “VALOR DE

COMPLEMENTO PARA A NOTA DE EVOLUÇÃO”

Resultado do 4º passo: “NOTA DE EVOLUÇÃO DA ESCOLA

DO ANO ANTERIOR AO DO INÍCIO DO

INTERSTÍCIO/NOTA DO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO”

CÁLCULO DA PONTUAÇÃO do resultado escolar no

ENEM: “NOTA DA ÁREA DE CONHECIMENTO DA

ESCOLA NO ENEM DO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO” + “NOTA DE EVOLUÇÃO DA ÁREA DA

ESCOLA NO ENEM DO ANO ANTERIOR AO DO INÍCIO

DO INTERSTÍCIO/NOTA DO ANO DE INÍCIO DO

INTERSTÍCIO”.

OBS: SERÃO ADOTADAS AS REGRAS DE

ARREDONDAMENTO INTERNACIONAL NOS CÁLCULOS

DAS “NOTA DA ÁREA DE CONHECIMENTO DA ESCOLA

NO ENEM DO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO” + “NOTA

DE EVOLUÇÃO DA ÁREA DA ESCOLA NO ENEM DO

ANO ANTERIOR AO DO INÍCIO DO INTERSTÍCIO/NOTA

DO ANO DE INÍCIO DO INTERSTÍCIO” APRESENTADOS.

ANEXO VIII

FORMULÁRIO PADRONIZADO PARA ENTREGA DOS TÍTUL

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