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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE DOUTORADO EM CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: ATRIBUTOS PARA O CUIDADO CLÍNICO SEGURO FORTALEZA-CEARÁ 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM

ENFERMAGEM E SAÚDE

DOUTORADO EM CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE

PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS

AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:

ATRIBUTOS PARA O CUIDADO CLÍNICO SEGURO

FORTALEZA-CEARÁ

2015

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PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS

AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:

ATRIBUTOS PARA O CUIDADO CLÍNICO SEGURO

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Cuidados Clínicos de Enfermagem

e Saúde do Centro de Ciências da Saúde da

Universidade Estadual do Ceará, como

requisito para à obtenção do título de Doutor

em Cuidados Clínicos em Enfermagem.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Consuelo Helena Aires

de Freitas

FORTALEZA-CEARÁ

2015

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A Deus, ao meu esposo Elder Ferreira e a

minha família (Mãe, Pai, Nando e Léo) pela

compreensão, amor incondicional e amizade.

Vocês são exemplos de generosidade.

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5

AGRADECIMENTOS

À Professora Dra. Consuelo Helena Aires de Freitas pela oportunidade de trabalharmos juntas

durante todas as etapas desta pesquisa e pelo carinho e afeto existente na nossa relação

pessoal.

À Prof. Dra. Maria Salete Bessa Jorge por sempre estar disponível neste trabalho com

colaborações decisivas e experientes na construção da pesquisa.

À Prof. Dra Adriana Catarina de Souza Oliveira pelo suporte teórico e prático sobre a

temática.

À Prof. Dra. Rhanna Carvalho e Dra. Maria de Jesus Harada, exemplos para mim na

promoção da Segurança do Paciente.

Aos meus colegas de turma, Albertina, Viviane, Leilson, Keilla, Terezinha e Ana Célia. Em

especial a minha amiga Roberta Meneses por todo apoio, conselhos e troca de vivências sobre

a segurança do paciente.

Às minhas colegas de projeto de pesquisa, Fabiane, Ana Lívia e Glória por todo auxílio

durante todo o processo da construção da tese.

À minha amiga Perla por toda a disponibilidade em ajudar na construção do relatório final.

À Lourdes Suellen pelo apoio prestado no manuseio do software N Vivo.

Aos trabalhadores de saúde, gestores e usuários que possibilitaram a construção dos dados.

Ao Hospital de Messejana, nas pessoas do Dr. Ernani Ximenes, Dr. Marcos Gadelha, Dra.

Mazé Marques e Dra. Silvânia, pelo apoio à pesquisa e incentivo.

À Coordenadora do Centro de Saúde Floresta, Gestora Ana Paula pela compreensão na reta

final deste trabalho.

A todos, meu muito obrigada!

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RESUMO

O estudo analisou a produção do cuidado na Atenção Primária em Saúde e as implicações

com a segurança do paciente na perspectiva do modelo de gestão da clínica que vem sendo

implantado na Estratégia Saúde da Família de Fortaleza-Ceará-Brasil. Foi objetivo desta tese

avaliar a segurança do paciente na atenção primária em saúde a partir dos atributos para a

gestão da clínica: compreensão sistêmica, trabalho em equipe, comunicação, pertencimento e

liderança. Esta pesquisa se caracteriza por uma investigação qualitativa do tipo avaliativa.

Foram selecionados trinta e sete participantes gestores, trabalhadores de saúde e usuários,

pertencentes à ESF de três Unidades de Atenção Primária em Saúde do município. As

informações foram coletadas por meio de entrevistas e grupo focal. Após transcrição integral

das gravações, o material empírico foi analisado por técnica categorial temática. Para

tratamento do material qualitativo, escolheu-se utilizar o software NVivo®. Emergiram duas

classes temáticas: 1) Produção do Cuidado na Atenção Primária à Saúde e a 2)Segurança do

Paciente na Atenção Primária à Saúde. A primeira temática abrangeu 179 unidades de

registro e subdivide-se em três categorias e sete subcategorias, reunindo aspectos relacionados

aos atributos para que a gestão da clínica pudesse ser efetiva, estando diretamente

relacionados à produção do cuidado na APS. Além disso, vislumbra os entraves à produção

do cuidado seguro, assim como, as potencialidades e possibilidades para otimização do

cuidado prestado na perspectiva de quem o faz (trabalhadores de saúde), de quem o recebe

(usuários) e de quem faz a gestão (gestores). Já a segunda classe temática contemplou 60

unidades de registro, divididas em duas categorias e cinco subcategorias. Ainda nesta classe

temática, foi possível apreender as percepções atribuídas à segurança do paciente pelos

usuários, trabalhadores e gestores. Por meio disso, foi possível ampliar a discussão sobre a

temática, inclusive, identificando os riscos e eventos adversos presentes. Com a análise

realizada, concluiu-se que a segurança do paciente pode ser construída a partir de práticas e

saberes compartilhados entre seus colaboradores com integração dos atributos, visão

sistêmica, trabalho em equipe, comunicação, pertencimento e liderança, essenciais para a

gestão da clínica e sua articulação com o modelo de saúde integral preconizado pelo Sistema

Único de Saúde para o cuidado seguro.

Palavras-cheve: Cuidado à Saúde. Segurança do Paciente. Atenção Primária à Saúde.

Pesquisa Qualitativa. Gestão da Clínica.

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ABSTRACT

The study analyzed the design by health professionals, users and managers

attributes to the production of safe care in primary health care through an effective clinical

management. The objective was to analyze patient safety in primary health care from the

attributes for clinical management: systemic understanding, teamwork, communication,

membership, leadership through its relationship with the SUS. This research is characterized

by a qualitative research, evaluative, constructivist and participative type. They selected

thirty-seven participants belonging to the ESF three Primary Health Care Units in Fortaleza.

Information was collected through interviews and group activity. After full transcript of the

recordings, the empirical material was analyzed by technique of thematic categorical analysis.

For the treatment of qualitative material, was chosen using NVivo®. Emerged two thematic

classes: Care Production PHC and Patient Safety in APS. The thematic class production Care

PHC covered 179 UR and is divided into three categories and seven sub-categories which

includes aspects related to the attributes for which the clinical management can be effective

and that are directly related to care production at APS. Moreover, sees obstacles to production

of safe care (49 RU), as well as, the potential (UR 21) and the possibilities for optimization of

the care from the perspective of the dancer (health workers) of the recipient (users) and who

manages (managers). Already the subject class Patient Safety PHC includes 60 UR, divided

into two categories and five subcategories. Also in this issue class, it was possible to

apprehend the perceptions attributed to patient safety by users, workers and managers. By

this, it was possible to broaden the discussion on the theme, including identifying risks and

adverse events present. With the analysis, it was concluded that that patient safety can be built

from practices and shared knowledge among its employees with integration of attributes,

systemic vision, teamwork, communication, membership and leadership are essential to the

management the clinic and its articulation with the comprehensive health model

recommended by the SUS.

Keywords: Patient Safety. Primary Health Care. Qualitative Research. Clinical Management.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Número de serviços ofertados no Brasil (1970- 2010) ........................................ 20

Figura 2 – Número de pessoas que procuram o serviço de saúde no Brasil (1970-2010)..... 20

Figura 3- Mapa conceitual referente à interface da produção do cuidado, gestão da

clínica e cuidado seguro .................................................................................... 23

Figura 4 – Interface entre a segurança do paciente e os atributos para a gestão da clínica ... 26

Figura 5– Marcos históricos para a segurança do paciente no Brasil (1960- 1999) ............. 34

Figura 6– Marcos históricos brasileiros para a segurança do paciente (2000-2013)............ 36

Figura 7 - Paradigma do Templo .......................................................................................... 43

Figura 8 – Tecnologias de microgestão propostas por Mendes (2011) ................................. 44

Figura 9 – Dimensões para a mudança na atenção à saúde ................................................... 45

Figura 10 – Secretarias Regionais do município de Fortaleza- Ceará- Barsil ......................... 48

Figura 11– Organograma da rede de saúde do município de Fortaleza – Ceará .................... 49

Figura 12– Área de cobertura das Secretarias Regionais (SR) do município de .................... 50

Figura 13– Mapa Estratégico da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza ...................... 54

Figura 14– Macroprocesso da atenção primária à saúde ........................................................ 55

Figura 15 – Situação Atual das Reformas e Ampliação .......................................................... 56

Figura 16 – Localização das Unidades da Investigação .......................................................... 57

Figura 17 - Resumo das Fases da Coleta de Material Empírico ............................................. 62

Figura 18– Fases da análise do material empírico .................................................................. 64

Figura 19– Constituição do corpus do estudo ........................................................................ 65

Figura 20 – Diagrama de Árvore por agrupamento por similaridade de codificação entre os

temas Segurança do Paciente na APS, Produção do Cuidado e Atributos para

a Gestão da Clínica ............................................................................................. 70

Figura 21 – Mapa de Árvore por comparação entre os nós por número de informações

codificadas ........................................................................................................... 71

Figura 22 – Cobertura percentual da codificação fornecida pelos gestores por nós

existentes ............................................................................................................. 72

Figura 23– Cobertura percentual da codificação fornecida pelos enfermeiros por nós

existentes ............................................................................................................. 73

Figura 24 – Cobertura percentual da codificação fornecida pelos médicos por nós

existentes ............................................................................................................. 73

Figura 25– Cobertura percentual da codificação fornecida pelos dentistas por nós

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existentes ............................................................................................................. 75

Figura 26 - Diagrama de Árvore por agrupamento por similaridade de codificação entre os

temas Produção do Cuidado e Atributos para a Gestão da Clínica e suas

categorias e subcategorias construídas. ............................................................... 76

Figura 27- A Produção do Cuidado e sua Interface com a Segurança do Paciente na APS .. 78

Figura 28 – Fluxograma descritor da UAPS ......................................................................... 101

Figura 29– Fluxograma analisador referente o acesso do usuário a consultas programadas 102

Figura 30– Fluxograma analisador acesso aos atendimentos específicos da UAPS ............ 106

Figura 31 – Fluxograma analisador do acesso aos encaminhamentos para os outros níveis

de atenção .......................................................................................................... 107

Figura 32 - Fluxograma analisador do serviço Acolhimento ............................................... 110

Figura 33- Árvore de palavras da subcategoria Percepções atribuídas à Segurança do

Paciente pelos usuários, trabalhadores e gestores. Via QRS N.Vivo ................ 120

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Elementos chaves para o sucesso da Gestão da Clínica nas Organizações de

Saúde de acordo com HALLIGAN, DONALDSON, 2001 ................................ 41

Quadro 2 – Componentes Culturais para Gestão da Clínica.NICHOLLS et al, 2000 ........... 43

Quadro 3– Descrição do quantitativo da população, das UAPS e da delimitação territorial

por Secretaria Regional ....................................................................................... 51

Quadro 4 – Grupos de Colaboradores para o Estudo ............................................................. 59

Quadro 5 – Unidades de Atenção Primária à Saúde do Estudo.............................................. 59

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição das categorias temáticas, subcategorias e respectivas frequências

da classe temática Produção do Cuidado na APS. N= 179 UR ........................... 77

Tabela 2- Distribuição das categorias temáticas, subcategorias e respectivas frequências

da classe temática Segurança do Paciente na APS. N= 60 UR ........................... 77

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AB Atenção Básica

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ANVISA Agencia Nacional de Vigilância Sanitária

APS Atenção Primária à Saúde

CAPS Centros de Atenção Psicossocial

CEMJA Centro de Especialidades Médicas José de Alencar

CEO Centro de Especialidades Odontológicas

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CHI Commission for Health Improvement

CONASEMS Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

CORES Coordenadoria Regional de Saúde

DEPS Demanda Espontânea

Eas Eventos Adversos

EACS Equipes de Agentes Comunitários de Saúde

ESB Equipes de Saúde Bucal

ESF Estratégia Saúde da Família

EUA Estados Unidos da América

HEMOBRÁS Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia

HEMOPE Hemocentro de Pernambuco

IC Intervalo de Confiança

IOM Institute Of Medicine

ISGH Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar

JCI JointCommission International

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

GC Gestão da Clínica

MS Ministério da Saúde

NAC Núcleo de Atendimento ao Cliente

NASF Núcleos de Apoio à Saúde da Família

NICE National Institute for Clinical Excelllence

NHS National Health Service

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PET Programa de Educação pelo Trabalho

PMAQ Programa Nacional de Acesso e Melhoria Contínua da Atenção Básica

PNAB Política Nacional da Atenção Básica

POP Protocolo Operacional Padrão

PROADESS Projeto de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde

PSF Programa Saúde da Família

SUS Sistema Único de Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

ONA Organização Nacional de Acreditação

ONGs Organizações Não-Governamentais

RAS Redes de Atenção à Saúde

SAME 1. Serviço de Arquivo Médico e Estatística

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SR Secretaria Regional

SPSS Software Estatístico Windows

SUS Sistema Único de Saúde

UAPS Unidades de Atenção Primária à Saúde

UECE Universidade Estadual do Ceará

UPAS Unidades de Pronto Atendimento à Saúde

UR Unidades de Registros

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16

1.1 APROXIMAÇÃO AO OBJETO DO ESTUDO ....................................................... 16

1.2 RECORTE CONTEXTUALIZADO DO OBJETO DE ESTUDO ........................... 18

1.3 QUESTÕES NORTEADORAS ................................................................................ 25

1.4 PRESSUPOSTOS ...................................................................................................... 26

1.5 OBJETIVOS .............................................................................................................. 27

1.5.1 Geral: ........................................................................................................................ 27

1.5.2 Específicos: ............................................................................................................... 27

2 EIXOS TEÓRICOS ................................................................................................ 28

2.1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA ... 28

2.2 MARCOS HISTÓRICOS DA QUALIDADE E DA SEGURANÇA DO

PACIENTE NO CONTEXTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ....................... 31

2.3 GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE DA FAMÍLIA E SUA ARTICULAÇÃO

COM O CUIDADO INTEGRAL .............................................................................. 36

2.4 GESTÃO DA CLINICA E A SEGURANÇA DO PACIENTE ................................ 40

3 PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................................... 46

3.1 DESCOBERTA DO PROCESSO INVESTIGATIVO DA PESQUISA

AVALIATIVA QUALITATIVA .............................................................................. 46

3.2 DESCOBRINDO O CAMPO INVESTIGATIVO DA PESQUISA AVALIATIVA

QUALITATIVA ........................................................................................................ 47

3.2.1 Sistema Municipal de Saúde ................................................................................... 48

3.2.2 Estratégia Saúde da Família ................................................................................... 52

3.2.3 Estratégias para Inserção no Campo Empírico .................................................... 57

3.3 COLABORADORES DA INVESTIGAÇÃO ........................................................... 58

3.4 ESTRATÉGIAS PARA A COLETA DE DADOS ................................................... 60

3.5 ESTRATÉGIAS PARA A ANÁLISE DO MATERIAL EMPÍRICO ...................... 63

3.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS .............................................................................. 65

4 ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............ 67

4.1 APRESENTANDO OS COLABORADORES DAS PESQUISAS .......................... 67

4.2 EXPLORAÇÃO DO MATERIAL EMPÍRICO COLETADO ................................. 69

4.3 ANÁLISE CATEGORIAL TEMÁTICA DO MATERIAL EMPÍRICO .................. 76

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4.4 TEMA I: A PRODUÇÃO DO CUIDADO E SUA INTERFACE COM A

SEGURANÇA DO PACIENTE NA APS ................................................................ 78

4.4.1 Classe Temática I: Produção do Cuidado na Atenção Primária à Saúde .......... 79

4.5 TEMA II: SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À

SAÚDE .................................................................................................................... 119

4.5.1 Categoria 1.: Percepções atribuídas à Segurança do Paciente pelos usuários,

trabalhadores e gestores ........................................................................................ 120

4.5.2 Categoria 2.: Riscos e Eventos Adversos na ESF: percepção dos

trabalhadores, gestores e usuários ...................................................................... 123

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITES E CONTRIBUIÇÕES ...................... 129

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 132

APÊNDICES .......................................................................................................... 143

APÊNDICE A– TEMÁRIO DO GRUPO FOCAL COM USUÁRIOS .................. 144

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

DOS TRABALHADORES DE SAÚDE DAS UAPS ........................................... 145

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS

GESTORES DAS UAPS ......................................................................................... 146

APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS

USUÁRIOS DAS UPAS ......................................................................................... 147

APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTORES E

TRABALHADORES DE SAÚDE NAS UAPS ..................................................... 149

APÊNDICE F - QUESTIONÁRIO PARA TRAÇAR O PERFIL

SOCIOECONÔMICO DE GESTORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ESF

................................................................................................................................. 150

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1 INTRODUÇÃO

1.1 APROXIMAÇÃO AO OBJETO DO ESTUDO

O despertar em estudar a segurança do paciente na atenção primária emergiu da

experiência profissional na Estratégia Saúde da Família (ESF). Percebi lacunas nesta temática

nesse nível de atenção, vivenciando frequentemente relatos de usuários e de trabalhadores de

saúde sobre erros no cuidado que, algumas vezes, geraram danos.

Desde a graduação em Enfermagem, em 2001 pela Universidade Federal do

Ceará, ainda como monitora em Farmacologia, observei falhas relacionada à administração de

fármacos, o que intrigava dada a insegurança vista nos cuidados prestados a saúde do usuário.

Desde então, percebia a fragilidade que havia a respeito da temática e sua abordagem no

ensino e serviço, sendo ministrada de forma fragmentada.

No mestrado em Farmacologia do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia

da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, pude aprofundar os

conhecimentos e perceber as dificuldades existentes na integração da não aplicação dos

conhecimentos teóricos a posteriori em outras disciplinas. Observava também que esta

dificuldade perpassava pela trajetória dos profissionais da saúde, dessa forma, proporcionando

frequentes falhas no sistema de medicação.

Diante disso, pretendeu-se ir além dos princípios da farmacologia na

administração de medicamentos e intensificar os estudos sobre „Segurança do Paciente‟ de

forma mais ampliada, com olhar apurado e maduro acerca da segurança no contexto do

cuidado à saúde na atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para o estudo, a definição do conceito de „Segurança do Paciente ‟ é a mesma da

Resolução da Diretoria Colegiada no36 de 25 de Julho de 2013 do Ministério da Saúde

(BRASIL, 2013). Tendo em vista que a pesquisa foi desenvolvida no contexto do SUS, isso

implica a necessidade dos termos estarem em consonância com a definição adotada pelas

políticas públicas de saúde que regem o país.

Frisa-se que optou-se por adotar o termo „segurança do paciente‟. Compreende-se

que o termo é dado pela historicidade dos estudos que remontam suas origens. Hoje, o termo

“segurança do paciente” se faz presente porque é concretizado enquanto tema em pesquisas,

pois os estudos e obras consagradas da temática em todo o mundo tratam este termo

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“paciente”. O respeito ao termo “paciente” é incorporado inclusive nos documentos

ministeriais do país sobre o tema.

Entretanto, excetuando-se as situações em que seja necessário utilizar o termo

„segurança do paciente‟, será utilizado, ao invés de paciente, o termo usuário. Já que o SUS

apresenta o termo „usuário‟ nos demais documentos e publicações relacionados ao cuidado

nas Redes de Atenção à Saúde (RAS).

O termo „usuário‟ apresenta denotação democrática, sistêmica e sugere uma

abordagem mais ampla, ultrapassando a passividade frente aos cuidados de saúde,

perpassando a dimensão política, que implica na sua participação nas decisões concernentes

às políticas de saúde e organização dos serviços. O termo usuário remonta a cada um daqueles

que usam ou desfrutam de alguma coisa coletiva, ligada a um serviço público ou particular.

Diferentemente do termo „paciente‟, em que se enfatiza o individual (SAITO et al, 2013).

A persistência da utilização do termo „segurança do paciente‟ em detrimento à

„segurança do usuário‟ demonstra pelo Ministério da Saúde o quanto ainda estamos

embebidos no sistema hegemônico em saúde e na clínica tradicional centrada na doença.

Mesmo com a reforma sanitária remontando duas décadas, ainda não houve transformação

para um novo paradigma. O termo “usuário” constitui-se o porquê dos serviços de saúde e a

produção do cuidado deve dar ênfase à satisfação do usuário e ao acesso por meio da relação

com vínculo, co-responsabilização e autonomia. Assim sendo, a „Segurança do Paciente‟

consiste na redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado à

atenção à saúde (BRASIL, 2013). Isto nos leva à discussão sobre o que se concebe „dano‟ e

ainda „cuidado à saúde‟, por entender que tais conceitos embasam a implicação do

desenvolvimento da pesquisa.

Neste pensamento, o conceito de „dano‟ remete à definição da Organização

Mundial de Saúde (OMS) e se identifica com o conceito proposto pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA), que qualifica „dano‟ “como o comprometimento da estrutura

ou função do corpo e/ou qualquer efeito dele oriundo, incluindo doenças, lesão, sofrimento,

morte, incapacidade ou disfunção, podendo, assim, ser físico, social ou psicológico”

(BRASIL, 2013, p. 2).

Como tal, entende-se que a redução do risco de danos constitui a promoção e

manutenção de um ambiente seguro a fim de minimizar que danos não venham a ocorrer,

fazendo-se necessário que trabalhadores de saúde, gestores e usuários estejam envolvidos no

cuidado de forma dialógica e construtiva para o bem comum.

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Além da atuação na atenção primária como enfermeira da Estratégia Saúde da

Família, a pesquisadora desempenhava atividades laborais em unidade de cuidados intensivos

e percebia que a temática era pouco debatida em nível estadual hospitalar. Após o lançamento

do Programa Nacional da Segurança do Paciente, que propôs a formação dos Núcleos de

Segurança do Paciente nas unidades hospitalares, houve maior divulgação. Como participante

deste núcleo, percebi também a necessidade da ampliação desta discussão no âmbito da

gestão do cuidado pelo enfermeiro, assim como também de toda equipe multidisciplinar, já

que é na micropolítica que se produz o cuidado (CECILIO, 2009) e neste lócus que se

desenvolvem as práticas em saúde.

1.2 RECORTE CONTEXTUALIZADO DO OBJETO DE ESTUDO

Para contextualizar com o cenário mundial, em 2004 a Organização Mundial de

Saúde lançou o Programa Segurança do Paciente em resposta à Assembleia Mundial de Saúde

em 2002. Em 2012, ocorreu a primeira reunião Safer Primary Care Expert Working Group

promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), um novo momento surge e se torna

necessário entender e analisar as lacunas relacionadas à temática.

Com ele, iniciou-se também, o Programa de Segurança do Paciente no Cuidado

Primário com o objetivo de compreender sobre os riscos existentes para o usuário nos

cuidados da atenção primária à saúde, a magnitude e a natureza dos danos evitáveis devido a

práticas inseguras e os mecanismos de segurança para usuário (OMS, 2012).

Segundo a OMS (2012), há poucos estudos relacionados à segurança do paciente

na Atenção Primária (APS). Pouco se sabe, por exemplo, do quantitativo dos eventos

adversos e tampouco da incidência de riscos associados para sua ocorrência, já que existe uma

falsa percepção que na atenção primária o usuário está menos susceptível a práticas não

seguras. Por outro lado, apesar dos incidentes na APS, não apresentavam consequências

drásticas, seus efeitos são em maior magnitude, por serem erros repetitivos e por exporem um

maior número de pessoas (RUNCIMAN, EDMONDS, PRADHAN, 2002; BRASIL, 2013).

Foi considerada a definição para „incidente‟ a mesma proposta pela Resolução

36/2013 que define como evento ou circunstância que poderia resultar ou resultou em dano.

Por sua vez, evento adverso é o incidente que resulta em dano (BRASIL, 2013).

Ressalta-se que há duas décadas pesquisadores estudam sobre a qualidade dos

cuidados à saúde, sendo os eventos adversos (evento que resulta em dano), um sério problema

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relatado com índices alarmantes e provocando uma discussão mundial sobre a segurança do

paciente (MENDES et al, 2009).

Na vivência profissional da pesquisadora, como enfermeira da atenção primária,

tanto os profissionais de saúde, como os gestores e até mesmo os usuários não conseguem

compreender que estão frequentemente expostos a situações que podem promover incidentes

e não atentam para o quanto o cuidado prestado pode ser inseguro.

Apesar dos poucos estudos brasileiros referentes à quantificação da estimativa

desses incidentes, estima-se que a taxa de incidentes no cuidado primário varie de 5 a 80

casos por 100.000 consultas (SANDARS, ESMAIL, 2003), sendo 45%-76% dos erros

evitáveis (MAKEHAM et al, 2008). Os eventos adversos estiveram relacionados à: 48,2%

com medicamentos; 25,7% com a atenção prestada; 24,6% com a comunicação (MENDES,

2012).

A quantificação da frequência de incidentes deve ser feita por meio da notificação

de eventos adversos. Com essa ferramenta, é possível estabelecer estratégias direcionadas

para elucidação da causa do erro. No Brasil, estamos iniciando o processo de notificação de

eventos adversos na atenção secundária e terciária. Na atenção primária há a notificação de

eventos adversos relacionados à administração de imunobiológicos. Entretanto, ocorre

subnotificação desses eventos.

Diante disso, ressalta-se que a Estratégia Saúde da Família (ESF) por meio das

unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) é responsável no Brasil por 77, 6% do acesso

dos usuários ao sistema de saúde (PNAD, 2008). Logo, pode-se inferir que a proporção de

incidentes relacionados ao cuidado prestado deve ser bem maior, tendo em vista a grande

quantidade de usuários que estão inseridas neste nível de atenção. Com isso, vem crescendo a

ênfase na segurança do cuidado prestado, já que a maioria dos cuidados a saúde é feita fora

dos hospitais (ROSEN et al, 2008), como se observa a seguir nas Figuras 1 e 2.

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Figura 1 – Número de serviços ofertados no Brasil (1970- 2010)

Fonte: Paim et al, 2011.

FFigura 2 – Número de pessoas que procuram o serviço de saúde no Brasil (1970-2010)

Fonte: Paim et al, 2011.

Ainda no que tange aos aspectos conceituais utilizados no presente trabalho, no

Brasil, o termo „Atenção Primária à Saúde‟ (APS), considerando as novas diretrizes da

Política Nacional da Atenção Básica (PNAB), é considerado sinônimo de „Atenção Básica‟

(BRASIL, 2012). A APS é considerada a porta de entrada para o sistema de saúde pelos

usuários e é o nível de cuidados mais utilizado pela população (APEAS, 2008). Mendes

(2011) propõe que APS ultrapasse a prerrogativa de „porta de entrada‟. Dessa forma, é

considerada como isolado de parte do sistema, voltada para eventos agudos e alicerçada na

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consulta médica. Para prosseguir com a discussão, remota-se ao conceito de APS pela OMS

(1978):

O cuidado primário é a atenção à saúde essencial baseada em métodos e tecnologias

práticas, cientificamente fundamentados e socialmente aceitáveis, colocadas ao

alcance de todos os indivíduos e famílias da comunidade, a um custo que a

comunidade e o país possam suportar, em todas e em cada etapa do

desenvolvimento, com um espírito de autorresponsabilidade e autodeterminação

(OMS, 1978, p.1).

Atualmente, propõe-se uma estratégia de organização do sistema de atenção à

saúde na proposta de Rede de Atenção à Saúde (RAS). A APS passa a ser reconhecida por se

articular com os outros serviços de saúde na forma de redes de atenção à saúde, possuindo

caráter emancipatório no setor saúde (FONTENELLE, 2012; DUSSAULT, 1992).

No que se refere à definição do conceito „cuidado à saúde‟, ele consiste na ação

integral, que tem significados e sentidos voltados para a compreensão de saúde como direito

de ser. É o tratar, o respeitar, o acolher, o atender o ser humano (PINHEIRO, MATTOS,

2008).

Neste contexto, diferentemente da clínica tradicional, o SUS empreende a clínica

ampliada. A clínica ampliada assume a responsabilidade sobre os usuários dos serviços de

saúde, buscando a intersetorialidade na resolução dos problemas, proporcionar justiça social

numa perspectiva interdisciplinar, ajustando as competências de cada profissão às

necessidades dos usuários por meio da escuta qualificada (BRASIL, 2004). Propõe-se a

transformar a atenção individual e coletiva, dentre outros aspectos do sujeito compreendidos

não apenas no plano biológico (CUNHA, 2004).

Vale ressaltar que o desenvolvimento contemporâneo da área de segurança vem

permitindo ampliar um novo olhar sobre o cuidado de saúde, na medida em que foi

influenciado e integra variados campos do conhecimento, que se voltou para estudar „o erro

humano‟, os acidentes e sua prevenção (TRAVASSOS, CALDAS, 2013) de forma processual

e sistêmica.

A concepção do erro humano pela clínica ampliada contraria a clínica tradicional,

individual, que entende que o profissional que presta o cuidado não deve errar, e em caso de

erro, não consegue vislumbrar que sua causa é multifatorial e está ligada à complexidade dos

sistemas de saúde. Além disso, a clínica tradicional está associada à punição, censura e

humilhações. Limitada ainda à visão individualista do erro, tende-se a negar o fato ocorrido,

sem analisá-lo como forma de prevenção para que não ocorra novamente.

Na perspectiva da clínica ampliada, o modo como o erro é visto está alinhado com

a visão sistêmica, que entende que o profissional é parte de um todo, que o erro é processual e

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não individual, sendo os processos de trabalhos revistos, permitindo que riscos sejam

reduzidos, evitando que novamente ocorram.

Na Atenção Primária à Saúde, Starfield (2002) refere características de como deve

ser a clínica na APS: acessível, geral, holística, integrada, continuada, trabalhada em equipe,

centrada na pessoa, orientada para a família e para a comunidade, coordenada, confidencial e

defensora do paciente. A clínica proposta por Starfield (2002) difere da clínica degradada, que

gera cuidado inseguro a quem utiliza.

No Brasil, a saúde coletiva está, tanto no campo acadêmico quanto político,

ocupando espaços de gestão do trabalho em saúde, o que significa que a clínica é cada vez

mais um tema do campo da saúde coletiva e que o trabalho em equipe tem uma importância

crescente. A construção da clínica ampliada é justamente a transformação da atenção

individual para a coletiva, de forma a possibilitar que outros aspectos do sujeito, não apenas o

biológico possam ser compreendidos e trabalhados.

Ainda considerando a definição de conceitos importantes para a tese, a partir da

discussão com os colegas da Turma I do Doutorado em Cuidados Clínicos pela Universidade

Estadual do Ceará, concebeu-se como „cuidado clínico‟ as ações de promoção da saúde e de

prevenção de doenças, assim como também de tratamento e de reabilitação do indivíduo nos

diversos espaços com vistas ao seu restabelecimento e equilíbrio em segurança por meio da

clínica ampliada, que promove seu cuidado com aspectos essenciais para a gestão da clínica:

trabalho em equipe, visão sistêmica, comunicação, liderança e pertencimento.

Atrelado a este conceito, está a „produção de cuidado‟ que envolve o conjunto de

trabalhadores em saúde com seus potenciais de intervenções nos processos de produção de

saúde e de doença, marcados pela relação de seus núcleos de competências específicos,

associados à dimensão de cuidador que qualquer profissional de saúde tem (MERHY, 2002).

Dentro desde contexto, na tentativa de desenvolver o cuidado clínico seguro,

surge a Gestão da Clínica (GC). Por meio dela é possível construir um ambiente para uma boa

prática clínica, pois se acredita que os cuidados à saúde devam ter homogeneidade e ser

baseado em evidências. Isso proporcionaria o desenvolvimento pessoal, já que necessitaria

que seus profissionais fossem capacitados para tal. As organizações também devem se ajustar

no que se refere aos seus sistemas, estrutura e sua cultura organizacional a fim de que possam

desenvolver o cuidado com qualidade pautada nos pressupostos da gestão da clínica

(DONALDSON, GRAY, 1998).

A fim de contextualizar o objeto de estudo com os conceitos vistos, atrelado às

experiências nas práticas de saúde neste campo de atenção da pesquisadora, almejou-se

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articular o campo da gestão da clínica, modelo em implementação na ESF em Fortaleza e

aspectos relevantes para produção do cuidado, centrado nas necessidades do usuário e por

entender que tal implicação resulta na segurança do cuidado à saúde. Tal intento está em

síntese de pensamento na Figura 3, que compreendo como sendo a lógica da pesquisa.

Figura 3- Mapa conceitual referente à interface da produção do cuidado, gestão da

clínica e cuidado seguro

Fonte: Elaboreada pelo autor.

Neste contexto, ressalta-se que o foco da gestão da clínica para o cuidado integral

e seguro é a parceria entre o paciente e o profissional de saúde e sugere que essa relação para

ser adequada deve ser focada em cinco componentes: o pertencimento, a comunicação, o

trabalho em equipe, a liderança e a compreensão sistêmica (NICHOLLS et al, 2000).

Entende-se que estes cinco atributos ultrapassam a relação profissional e usuário

e, portanto, são atributos essenciais para que seja possível a implantação da gestão da clínica

na produção do cuidado.

Para a prática de cuidado clínico seguro, os profissionais devem sentir-se parte do

processo de atenção à saúde, ou seja, pertencer a ele. O sentido de pertencimento a um grupo

social é algo próprio do ser humano e está relacionado a complexos processos sociais e

culturais, sendo essencial para sentir-se seguro, tornando-se capaz de planejar suas ações

futuras. Além disso, as pessoas usuárias também necessitam empoderar-se para seu

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autocuidado, sendo o cuidado centrado nelas, colocando-as numa posição de maior controle

de sua saúde (MENDES, 2011).

Mediante a interação do profissional com o usuário é que se concebe o cuidado

clínico em saúde. No processo de comunicação, a escuta é essencial para o diálogo. Por meio

da escuta atenta pode surgir a compreensão da não adesão do usuário a um tratamento, a falta

de entendimento de uma orientação e a descoberta de sua falta de interesse com sua saúde

(AYRES, 2005). Além disso, a interação-comunicação também é primordial para um cuidado

seguro. A comunicação enfraquecida entre profissionais e, principalmente, entre profissionais

e usuários, é considerada um forte e importante contribuinte relacionado a eventos adversos,

sendo responsável por 17 % deles (APEAS, 2008).

Ainda para um cuidado clínico seguro, o trabalho em equipe representa um dos

principais pilares para uma assistência integral e equânime na saúde. Por meio da soma de

variados olhares de diferentes profissionais é possível uma abordagem integral ao individuo, a

partir de um processo assistencial comum e que os profissionais desenvolvam uma ação de

interação entre si e com a comunidade (VIEGAS, PENNA, 2013). O relatório “To Error

Human” aponta que um melhor trabalho em equipe é uma forma de reduzir erros nos sistemas

de saúde (Institute of Medicine, 2000). Depois desse relatório, o trabalho em equipe e sua

importância na área da saúde vêm crescendo, demonstrando redução de erros (KALISCH,

LABELLE, BOQIN, 2013).

A liderança é outro atributo importante para um cuidado clínico seguro. Mendes

(2011) propõe que um líder é capaz de estabelecer a visão, dá a direção e influi no

crescimento pessoal de maneira a criar, inovar e aprender. Sabe-se que a ausência de liderança

é uma barreira para o desenvolvimento da segurança ao usuário (QUES, MONTORO,

GONZÁLEZ, 2010). Historicamente, a equipe de saúde era regida pela polaridade entre as

pessoas, sendo suas ações vinculadas diretamente ao domínio do conhecimento. Com o

rompimento do modelo clássico, ao qual havia níveis hierárquicos e a estruturação em equipes

de saúde da família, o diálogo horizontal foi proposto entre todos os profissionais e

trabalhadores, visando a atuação interdisciplinar e harmoniosa (LANZONI, MEIRELLES,

2012).

A compreensão sistêmica está, dentro do modelo proposto pelo SUS, diretamente

relacionado ao conceito de redes de atenção à saúde. Entende-se que o profissional deve estar

apto a compreender os níveis de atenção subsequentes para a integralidade do cuidado ao

usuário, garantindo que haja uma referência. Da mesma forma, o profissional/instituição na

qual o usuário foi direcionado deve compreender também a necessidade de fornecer a

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informação necessária para o nível de assistência que o referenciou. De acordo com Mendes

(2011) é sabido que as redes de atenção em saúde melhoram os resultados clínicos, sanitários

e econômicos dos sistemas de saúde e devem ser horizontalizadas e integradas nos variados

níveis de atenção.

1.3 QUESTÕES NORTEADORAS

Diante do exposto, o estudo aponta a seguinte questão condutora do processo de

investigação: Como a interface da produção do cuidado na atenção primária em saúde envolve

os atributos para a gestão da clinica (compreensão sistêmica, trabalho em equipe,

comunicação, pertencimento e liderança) para a segurança do paciente?

A definição do conceito de interface é ampla e pode se expressar pela presença de

uma ou mais ferramentas para o uso e movimentação de qualquer sistema de informações,

seja ele material, seja ele virtual. Interface é o conjunto de meios planejadamente dispostos

sejam eles físicos ou lógicos com vista a fazer a adaptação entre dois sistemas para obter certo

fim cujo resultado possui partes comuns aos dois sistemas, ou seja, o objeto final possui

características dos dois sistemas.

A partir dessa questão, formularam-se questões mais específicas no intuito de

melhor conduzir os desdobramentos da pesquisa de forma a contemplar as interfaces que

constituem o fenômeno do estudo:

a) Qual a percepção dos usuários sobre a segurança na atenção à saúde recebida?

Como se sentem em relação à segurança no cuidado de atenção primária?

Quais sugestões para a promoção da segurança e cuidado de qualidade na

atenção primária?

b) Como trabalhadores de saúde e gestores se veem mediante à segurança do

paciente no contexto de trabalho?

c) Como os trabalhadores de saúde identificam a ocorrência de eventos adversos?

Como o gestor vem percebendo as questões de segurança na atenção primária à

saúde e que ações tem desenvolvido neste âmbito?

d) Qual a percepção dos profissionais de saúde sobre a gestão na unidade e da

liderança no grupo de trabalho frente a promoção da segurança do paciente?

e) Como se dá o processo de comunicação entre profissionais de saúde, usuários e

gestores na atenção primária?

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f) Como se dá a articulação do trabalho em equipe a fim de promover o cuidado

seguro?

g) Os colaboradores da pesquisa se sentem fazendo parte na promoção do cuidado

seguro?

No intuito de melhor expressar o objeto do estudo, configurou-se a descrição na

Figura 4, a seguir.

Figura 4 – Interface entre a segurança do paciente e os atributos para a gestão da clínica

Fonte: Elaborado pelo autor.

1.4 PRESSUPOSTOS

No sentido de estruturar a discussão teórica e também de explicitar a formulação

teórico-metodológica adotada, formulam-se os seguintes pressupostos teóricos:

1o Pressuposto: A segurança do paciente no serviço de atenção primária em saúde

pode ser construída a partir de práticas e saberes compartilhados entre gestores, profissionais

de saúde e usuários a partir da integração dos atributos (compreensão sistêmica, o trabalho em

equipe, comunicação, pertencimento e liderança) essenciais para a gestão da clínica e sua

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articulação com o modelo de saúde integral preconizado pelo SUS, possibilitando o

mapeamento dos riscos existentes, porque nos serviços públicos as atividades são realizadas

ainda de maneira distante das necessidades de saúde dos usuários decorrente da pouca

participação deste para o cuidado resolutivo.

2o Pressuposto: A segurança do paciente no Sistema Único de Saúde vem sendo

motivo de preocupação no país, compreendidas como movimento de grande desafio para a

sua promoção dada a insatisfação da sociedade nos segmentos dos níveis de atenção. O

mapeamento dos riscos existentes promove a prevenção de eventos adversos. Já que a

ocorrência de eventos adversos é usual, cuja divulgação tem ocasionado impacto na saúde

pública do país. No entanto, concebe-se que estes são de ordem sistêmica, estando implicados

no processo de gestão em saúde, necessitando-se assim redesenhar modos de práxis a atender

as necessidades de saúde de usuários e sua relação com profissionais e gestores.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Geral:

a) Avaliar a segurança do paciente na atenção primária em saúde pela produção

do cuidado com ênfase nos atributos para a gestão da clínica (compreensão

sistêmica, o trabalho em equipe, comunicação, pertencimento e liderança),

considerando o preconizado pelo Sistema Único de Saúde.

1.5.2 Específicos:

a) Compreender a concepção do conceito „segurança do paciente‟ pelos

trabalhadores de saúde, usuários e gestores na APS;

b) Identificar os riscos assistenciais, institucionais, profissionais e clínicos à

segurança do paciente na atenção primária à saúde;

c) Identificar os entraves para a promoção do cuidado clínico seguro, dentre eles,

a gestão autocrática e a precarização do serviço;

d) Identificar as potencialidades do serviço para a promoção no cuidado seguro.

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28

2 EIXOS TEÓRICOS

Neste capítulo apresentam-se os marcos teóricos e conceituais sobre a temática do

objeto de estudo desta Tese. Dessa forma, conformações teóricas relacionadas à avaliação da

qualidade do cuidado na atenção primária, os marcos históricos brasileiros referentes a

segurança do paciente, a gestão do trabalho em saúde e como se articula ao cuidado integral e

a relação entre a gestão da clínica e a segurança do paciente esclareceram as dimensões

investigadas por meio da delimitação epistemológica do objeto de estudo.

2.1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

No pensamento moderno, a qualidade passou a ser compreendida como parte da

função gerencial e como elemento essencial para a sobrevivência das organizações nos

mercados atuais altamente competitivos. Da mesma forma, o desenvolvimento do conceito de

qualidade aplicado aos serviços de saúde, passou por um processo evolutivo semelhante,

incorporando novos elementos com o movimento histórico da sociedade e das organizações

(NEPOMUCENO, KURCGANT, 2008).

A qualidade na assistência à saúde é definida como o grau com que os serviços de

saúde aumentam a chance de atingir desfechos desejados tanto de indivíduos quanto de

populações e que são consistentes com o conhecimento profissional coerente. As dimensões

da qualidade em sistema de saúde são: segurança do usuário, objetivos centrados no usuário,

efetividade, eficiência, oportunidade e equidade (Institute Of Medicine, 2000). Portanto,

qualidade é mais do que a prestação da assistência baseada na ciência, é bem mais abrangente,

envolvendo aspectos mais complexos.

É notória a dificuldade existente para definir qualidade, já que se trata de um

termo polissêmico (UCHIMURA, BOSSI, 2009).

Para Øvretveit, a qualidade não é uma coisa mágica como às vezes foi

apresentada, mas um conjunto de métodos e uma filosofia, que obriga as pessoas a

enfrentarem conflitos de interesses, a lidarem com situações em que o aumento de um aspecto

da qualidade pode prejudicar outro e a elaborarem soluções qualificadas para tais conflitos

(SERAPIONI, SILVA, 2011).

Para Donabedian (2001), a qualidade é a obtenção dos maiores benefícios, com

menores riscos e custos para os usuários. Afirma ainda que a qualidade dos serviços de saúde

é ponto estratégico e prioritário para os gestores, os profissionais e as organizações.

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O indicador mais importante da qualidade dos cuidados é o resultado de saúde que

os usuários obtêm (DONABEDIAN, 2001).

Segundo a Joint Commission International (2013), qualidade seria o grau no qual

os serviços prestados ao paciente aumentam a probabilidade de resultados favoráveis e

diminuem a probabilidade de resultados desfavoráveis.

Em 1989, a OMS lançou um programa de promoção da avaliação da qualidade da

atenção primária, com o objetivo de sensibilizar gestores, administradores e profissionais da

saúde. Ao se ignorar o tema da qualidade, se consolidam, segundo a OMS, as condições de

desigualdade, já que a qualidade torna-se uma prerrogativa de uma pequena minoria da

população (SERAPIONI, SILVA, 2011).

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a qualidade é compreendida como uma

construção social, produzida com base nas referências dos sujeitos envolvidos, que varia de

acordo com o contexto histórico, político, econômico, tecnológico e cultural e com os

conhecimentos acumulados sobre o tema (BRASIL, 2011).

Na atenção primária por muito tempo não houve uma implantação institucional de

métodos de avaliação. Já que historicamente, a avaliação da qualidade da assistência foi

presente no âmbito hospitalar.

Com a ampliação das equipes de atenção primária, tornou-se necessário e

prioridade a avaliação e o monitoramento das práticas desenvolvidas também na atenção

primária.

Apesar de a avaliação ser uma atividade antiga e própria do ser humano e que

consiste em julgar, estimar, medir, classificar, analisar criticamente, enfim, atribuir valor a

algo ou a alguém (TANAKA, MELO, 2004). Para COSTA et al (2008) afirma que conceituar

avaliação não é fácil, sendo uma atividade árdua e complexa. É um termo polissêmico com

aplicabilidade em várias áreas, além de poder ser considerado um elemento pertinente às

práticas relativas a diferentes âmbitos e campos do espaço social (SILVA, 2005).

Ainda segundo Costa et al (2008), avaliar, como instrumento do conhecimento,

exige delineamento de cotidianos, sendo o processo de avaliação provisório e incompleto. No

entanto, é exatamente pela perspectiva de gerar mudanças que a avaliação se apresenta como

uma atividade essencial nos programas e políticas de saúde (PAIM, 2005).

Adotou-se nesta investigação, a definição de avaliação como sendo uma atividade

que consiste fundamentalmente em aplicar um julgamento de valor a uma intervenção, por

meio de um dispositivo capaz de fornecer informações cientificamente válidas e socialmente

legítimas sobre ela ou qualquer um dos seus componentes, permitindo aos diferentes atores,

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que podem ter campos de julgamentos diferentes, posicionarem-se e construírem (individual

ou coletivamente) um julgamento capaz de ser traduzido em ação (CONTANDRIOPOULOS,

2002).

A história moderna da avaliação sistemática das intervenções sociais começa no

século XVIII, na Grã-Bretanha e na França com as novas correntes ideológicas e filosóficas

que serviram de arrimo ao pensamento científico moderno acarretando assim a multiplicação

e o refinamento dos métodos de pesquisa social e a implementação de transformações sociais,

políticas, econômicas e culturais (CRUZ, 2011).

Somente após a Segunda Guerra Mundial, avaliações de programas públicos se

fortaleceram decorrente da necessidade da eficácia da aplicação de recursos pelo governo

devido a depressão americana. A partir disso foram desenvolvidos inúmeros métodos que

possibilitasse a análise das vantagens e custos dos programas (UCHIMURA, BOSI, 2009).

No Brasil, somente no decorrer dos anos 70, com o término do período de

implantação dos grandes programas, necessitou-se avaliar as ações sanitárias. A diminuição

do crescimento econômico e o papel do Estado no financiamento dos serviços de saúde

tornavam indispensável o controle dos custos sem comprometer a qualidade (HARTZ,

1997).

Segundo Hartz e Contandriopoulos (2004), os estudos mostram a produção de

centenas de artigos voltados para doenças ou cuidados a grupos específicos (redes de atenção

perinatal, AIDS, saúde mental), mas são poucas as referências ao desempenho de sistemas no

seu conjunto. O foco tem privilegiado a análise da coordenação em nível corporativo e

hospitalar, com pouca ênfase na atenção ambulatorial ou domiciliar e na trajetória dos

usuários no continuum dos cuidados.

Em seu estudo Melo e Almeida (2012) observaram que os dados produzidos na

Unidade Básica de Saúde não são utilizados para a avaliação e o planejamento das ações de

saúde, prevalecendo o enfoque normativo da avaliação, com lacunas no enfoque qualitativo-

participativo.

Por fim, ratifica-se a importância da institucionalização da avaliação na atenção

primária como dispositivo capaz de oferecer opções tecnológicas não só para a organização

dos serviços e das práticas de saúde, como também para possibilitar o fortalecimento do

controle social no SUS. No entanto, para isto, a avaliação deve ser compreendida e utilizada

como um instrumento de gestão no cotidiano dos serviços e embasada num projeto político-

ideológico centrado no enfrentamento das adversidades para a organização e funcionamento

dos serviços de atenção primária à saúde.

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Diante disso, os estudos de avaliação devem construir evidências para o processo

decisório. Para tal, é necessário a aplicação de metodologias que priorizem oportunidade,

validade operacional e adequação do conteúdo ao problema a ser resolvido

(ANDRADE,QUANDT, DELZIVO, 2012).

Neste sentido, o Ministério da Saúde instituiu, por meio da Portaria nº 1.654

GM/MS de 19 de julho de 2011, o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade

da Atenção Básica (PMAQ). O PMAQ foi resultado de negociações e pactuações das três

esferas de gestão do SUS que contou com vários momentos, nos quais o Ministério da Saúde

(MS) e os gestores municipais e estaduais, representados pelo Conselho Nacional de

Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde

(CONASS), respectivamente, debateram e propuseram soluções para viabilizar um desenho

do programa que possa permitir a ampliação do acesso e melhoria da qualidade da atenção

primária em todo o Brasil (BRASIL, 2012).

O PMAQ propõe uma mudança no repasse de recursos para a Atenção Básica

(AB), assim como também, anuncia mudanças semelhantes no financiamento do Sistema

Único de Saúde (SUS) como um todo. Além disso, é um componente da nova Política

Nacional de Atenção Básica (PNAB) cujo sucesso está condicionado à sua capacidade de

mobilizar os atores locais em prol da mudança das condições e práticas de atenção, gestão e

participação orientadas por diretrizes pactuadas nacionalmente.

Isto depende fundamentalmente do fomento de espaços de

diálogo/problematização/negociação/gestão da mudança entre equipes, gestores e usuários,

com potência de produzir mudanças concretas na realidade cotidiana dos serviços (PINTO,

SOUSA, FLORÊNCIO, 2012). Além disso, vincula também os repasses de recursos à

implantação de padronização da qualidade das equipes de atenção primária.

2.2 MARCOS HISTÓRICOS DA QUALIDADE E DA SEGURANÇA DO PACIENTE

NO CONTEXTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

No Brasil, alguns acontecimentos marcaram seriamente a sociedade e geraram

sequelas graves e irreparáveis aos usuários. O primeiro grande episódio registrado foi em

1960 com a administração em gestantes do medicamento Talidomida, que afetou 300 recém-

nascidos, ocasionando malformações congênitas.

Diante disso foi criado em 1968, o Programa Internacional para o maior

monitoramento dos fármacos e seus possíveis efeitos. Com isso, a OMS objetivava coordenar

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o sistema de quantificação e detecção de reações adversas. Desde a sua criação, muitos países

desenvolveram centros de notificações.

Na década de 70, o Ministério da Saúde por meio de normas e portarias

regulamentou a Qualidade e Avaliação Hospitalar. Com o passar do tempo, a acreditação

hospitalar que inicialmente surgiu para proteger e organizar a profissão médica amplia-se e

estende-se para outras áreas da saúde com ênfase na qualidade do cuidado. Todo esse

processo culminou na criação da Organização Nacional de Acreditação (ONA) em 1999

(FELDMAN, GATTO, CUNHA, 2005).

Nesse contexto, ainda na década de 70, outro grande marco para a Segurança do

Paciente no país foi a criação de hemocentros públicos, tendo em vista que anteriormente

eram privados e sem regulamentação. O Hemocentro de Pernambuco (HEMOPE) foi o

primeiro hemocentro público. Com isso, novas normatizações foram criadas. Dentre elas, o

voluntariado para doação de sangue, padronização de equipamentos e de material de consumo

utilizados no serviço. Anteriormente, somente havia hemocentros privados e sem fiscalização,

não havendo testagens sorológicas para nenhum tipo de doença. Entretanto, em 1985, na

sessão de abertura do Congresso Internacional de Hemofilia, já não havia dúvidas sobre a

necessidade de parâmetros de qualidade, dentre eles testes de triagem sorológica (SARAIVA,

2005).

Nesse período, a AIDS não era considerada uma prioridade no Ministério da

Saúde. Somente dois anos depois, o Ministério tornou obrigatória a realização de teste

sorológico para detecção do anticorpo anti-HIV (SARAIVA, 2005).

Diante do grande debate com o advento da AIDS, os hemocentros exigiam

qualidade do sangue coletado. Atualmente, o padrão de qualidade dos hemocentros do país se

assemelha ao dos países europeus e dos Estados Unidos. Diante da importância do tema, foi

criado em 2004 a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (HEMOBRÁS) por

meio da lei no. 10.972 de 2 de dezembro de 2004. Com a implantação da empresa, o plasma

brasileiro não precisa mais ser enviado para fora do país para se tornar produto, como

acontecia anteriormente, fortalecendo ainda mais a qualidade aos usuários do SUS (BRASIL,

2015).

Na década de 80, outro importante marco foi o incidente com o Césio 137 em

Goiânia. Apesar das poucas mudanças frente a este acontecimento (BITTENCOUNT, 2007),

passou-se a atentar-se para o descarte adequado de materiais a fim de que se evitasse qualquer

tipo de contaminação. Ainda nos dia atuais, essa temática merece maior atenção do governo a

fim de que danos não ocorram decorrentes de descarte inapropriado de material hospitalar.

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Ainda na década de 80 com a criação do Sistema Único de Saúde, houve outro

grande marco para promoção da segurança do paciente. A saúde passa a ser vista como direito

de todos e um dever do Estado. Dessa forma, objetiva prover atenção integral, universal,

preventiva e curativa por meio de gestão descentralizada com participação popular em todos

os níveis de governo (BRASIL, 1988).

Com a sua criação, o SUS conseguiu melhorar o acesso a atenção primária e dos

serviços de emergência, atingiu também cobertura universal de vacinação e assistência pré-

natal e investiu na expansão de recursos humanos e de tecnologia (PAIM et al, 2011).

No Brasil, destaca-se o Sistema Estadual de Farmacovigilância do Ceará, criado

em novembro de 1996 por convênio entre Universidade Federal do Ceará e a Secretaria de

Saúde do Estado, tendo como órgão executor o Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de

Medicamentos (MENDES et al, 2008).

No Brasil, na tentativa de alcançar todos esses objetivos, o Programa Saúde da

Família (PSF) foi criado em 1994. O seu funcionamento se dá por meio de equipes de saúde,

composta por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro a seis agentes

comunitários de saúde, sendo que em 2004 passou a incluir equipe de saúde bucal. As equipes

trabalham em unidades de saúde que atuam em áreas geográficas definidas e com uma

população adscrita de 600 a 1000 famílias para cada equipe (BRASIL, 2012). As equipes

coordenam a atenção à saúde e procuram integrar os serviços de apoio diagnóstico, assistência

especializada e hospitalar. Dessa forma, mesmo não institucionalizado, foi uma tentativa que

buscou e ainda busca fornecer um cuidado mais integral e, portanto, mais seguro.

Ainda no mesmo ano, foi lançado o Programa de Qualidade pelo Ministério da

Saúde com objetivo de promover uma cultura de qualidade. Concomitante a isso, criou a

Comissão Nacional de Qualidade e Produtividade em Saúde que desempenhou importante

papel na elaboração das diretrizes do programa (FELDMAN, GATTO, CUNHA, 2005).

Infelizmente, esse marco não foi capaz de impedir que pacientes submetidos a

hemodiálise em Caruaru fossem a óbito decorrente da contaminação da água por cianofíceas.

Somente em 2004 foi criada pelo Ministério da Saúde a Portaria no. 518 de 25/03/04 que

estabeleceu controle e vigilância da água para consumo humano neste procedimento

(CARNEIRO, 2004).

Diante desse contexto, na tentativa de regular toda a produção e os serviços que

possam afetar a saúde da população, foi criada em 1999, a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA), abrangendo tanto a regulação sanitária. ANVISA está vinculada ao

Ministério da Saúde e integra o SUS (BRASIL, 1999).

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34

A partir da criação da ANVISA, há diminuição dos riscos à saúde da população

por meio de sua ação regulatória. No contexto da promoção da segurança do paciente, a

ANVISA é o órgão responsável pelo recebimento das notificações relacionadas a qualquer

evento que cause dano à saúde do paciente (BRASIL, 2015). A seguir a figura 5 apresenta o

resumo histórico dos marcos no período de 1960 a 1999 para a segurança do paciente no país.

Figura 5– Marcos históricos para a segurança do paciente no Brasil (1960- 1999)

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir dos anos 2000, surgem as primeiras investigações científicas sobre o tema

Segurança do Paciente no Brasil. O surgimento dessas pesquisas estava atrelado ao panorama

mundial de discussão acerca da temática e das certificações das instituições de saúde com

métodos de avaliação na forma de acreditação. Por meio da avaliação destas instituições, foi

possível constatar que os processos hospitalares não se encontravam organizados e adequados

para um cuidado seguro (BUENO, FASSARELLA, 2014).

Diante do crescimento de estudos relacionadas à temática, os eventos adversos

passam a ser mais discutidos no país. Isso foi tão evidente que somente em 2001 o Brasil é

inserido como membro oficial no Programa Internacional de Monitoramento de

Medicamentos para Eventos Adversos da OMS. O programa surgiu em 1968 e é coordenado

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pelo Centro Colaborador do Uppsala Monitoring Centre na Suécia. Participam desse

programa 86 países (BUENO, FASSARELLA, 2014).

Sendo assim, no Brasil em 2001 foi criado o Centro Nacional de Monitoramento

de Medicamentos por meio da Portaria Ministerial no. 696 de 07/05/2001 como função

principal analisar informações recebidas e encaminhá-las ao banco de dados do Programa

Internacional de Medicamento (MENDES et al, 2008).

Diante da preocupação com os eventos adversos, o Governo cria por meio da

ANVISA, os hospitais sentinelas, cujo objetivo é notificar eventos adversos e queixas técnicas

de produtos de saúde, insumos, materiais e medicamentos, saneantes, kits para provas

laboratoriais e equipamentos médico-hospitalares em uso no Brasil para ampliar e sistematizar

a vigilância de produtos utilizados em serviços de saúde e, assim, garantir melhores produtos

no mercado e mais segurança e qualidade para pacientes e profissionais de saúde (ANVISA,

2015).

Neste contexto, o Brasil sensibilizado por fazer parte da Aliança Mundial para a

Segurança do Paciente desde 2004 e preocupado com o número crescente de eventos adversos

relacionados ao cuidado em saúde, culminou em 2013, a criação do Programa Nacional de

Segurança do Paciente por meio da Portaria no. 529 de 01/04/2013 a fim de aumentar a

qualidade dos serviços de saúde com ênfase no cuidado colaborativo entre profissionais de

saúde, usuário, família e comunidade (ANVISA, 2015).

Interessante frisar que não apenas o Governo esteve preocupado com as questões

relacionadas ao cuidado seguro, mas também os profissionais de saúde. Destaca-se nesse

processo a Enfermagem, que presta cuidado direto ao usuário e assume a gestão intermediária

na maioria das instituições de saúde, usufruindo de indicadores de qualidade para avaliação

do serviço.

Neste contexto surge em 2008, a Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do

Paciente (REBRAENSP) com o objetivo de discutir assuntos relevantes para a segurança do

paciente, assim como também, incentivar pesquisas com divulgação de novos métodos e

experiências (REDE, 2015).

Em 2011, Joint Commission International (JCI) lançou, na Standards Lists

Version, os objetivos internacionais para segurança do paciente, sendo eles: identificar os

pacientes corretamente; melhorar a comunicação; melhorar a segurança dos medicamentos de

alto risco; assegurar sítio, procedimentos e pacientes corretos nas cirurgias; reduzir o risco de

infecções associadas aos cuidados de saúde e reduzir o risco do paciente de danos resultantes

de quedas (BUENO, FASSARELLA, 2014).

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Estas metas foram aderidas ao Programa Nacional de Segurança do Paciente para

serem desenvolvidas no plano de ação das instituições onde foram criados os Núcleos de

Segurança do Paciente. O foco do programa ainda é centrado no cuidado hospitalar não tendo

sido ainda estendido para a atenção primária. A seguir a figura 6 mostra os marcos

relacionados à segurança do paciente no período de 2000 aos dias atuais:

Figura 6– Marcos históricos brasileiros para a segurança do paciente (2000-2013)

Fonte: Elaborado pelo autor.

2.3 GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE DA FAMÍLIA E SUA ARTICULAÇÃO

COM O CUIDADO INTEGRAL

Os contornos da gestão pública contemporânea vêm colocando em pauta as

discussões sobre as mudanças significativas nos modos da organização da vida cotidiana, a

partir da globalização, rearranjos de vínculos sociais e entrada de novos atores na esfera

pública, o que repercute na reestruturação sem precedentes nas práticas de sociabilidade desde

as esferas institucionais fortemente reguladas até àquelas mais frouxas, de menor

complexidade na vida cotidiana, no plano das organizações das práticas e saberes primários

como a família, vizinhos, amigos, enfim os usuários (FONTES, MARTINS, 2006).

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Ainda segundo Fontes e Martins (2006), destacam que a reconstrução destas

práticas de sociabilidade substituem gradualmente as fórmulas tradicionais de organização

institucional dominantes no século XX. Assim sendo, pesquisas de avaliação no nosso país,

precisam se integrar a tais inovações nas práticas da vida cotidiana dos usuários, a fim de

escanear fenômenos que digam respeito a cidadania, ligados às experiências dos sujeitos

usuários para uma nova perspectiva teórico-metodológica, em que o pesquisador participa do

processo e torna-se criativo na utilização de formas, métodos e técnicas de pesquisa, no

investimento na relação entre usuários, profissionais de saúde e gestores de modo a

compreender as reais necessidades de saúde da comunidade em atenção.

Neste âmbito, o cuidado pressupõe um olhar diferente às diversas perspectivas

que formam o processo de produção de saúde. É, portanto, uma visão ampliada das

necessidades de cada indivíduo, considerando o contexto e o momento da vida de cada

sujeito, na qual os projetos terapêuticos surgirão de uma interação entre a equipe de saúde e os

usuários. A integralidade é considerada como um valor a ser defendido e sustentado nas

práticas dos profissionais de saúde, sendo expresso na forma como os profissionais

respondem aos pacientes que os procuram. A integralidade é usada para designar atributos e

valores de práticas de saúde, de organização dos serviços e de políticas de saúde (MATTOS,

2006).

Pontua-se ainda a abrangência da integralidade com o intuito de mudar a atenção à

saúde para torná-la baseada no sujeito, podendo ser analisado sob três eixos: 1. Nas políticas

públicas, como resposta aos problemas de saúde, procurando a articulação de ações

preventivas e assistenciais; 2. Na organização dos serviços de saúde, que devem realizar uma

apreensão ampliada das necessidades da população atendida e não somente como uma

resposta à doença; 3. Nas práticas dos profissionais de saúde, que devem olhar seus pacientes

além de sistemas biológicos com lesões ou disfunções (MATTOS, 2006).

Nessa perspectiva, o planejamento, a gestão dos serviços e a prática clínica devem

ser resultado de um processo de diferentes profissionais, nas diferentes esferas da atenção à

saúde de modo articulado e cooperativo com respeito ao usuário, formando redes integradas e

não deixando uma dispersão nos serviços prestados.

Dessa forma, considera-se gestão do trabalho como as ações que envolvem o

trabalho e o trabalhador da saúde em sua dimensão mais ampla, desde sua formação,

incluindo a Educação Permanente, até as relações de trabalho que se estabelecem nas

instituições de saúde.

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Na implementação do SUS, diversas mudanças ocorreram no sentido de garantir

maior acesso aos serviços de saúde para os cidadãos, em especial, a criação do Programa de

Saúde da Família em 1994. Pautada na lógica de trabalho integrado e multiprofissional, a

proposta assumiu enquanto fundamento o Movimento da Reforma Sanitária para constituir

um sistema com Universalidade, Integralidade e Equidade. Esta lógica incidiu diretamente no

trabalho na Estratégia Saúde da Família, ampliando o escopo das ações na atenção básica e

dos serviços em rede de atenção à saúde. A estruturação em Rede de Atenção à Saúde (RAS)

foi criada por meio da Portaria 4.279 de 30/12/2010 como estratégia para superar a

fragmentação da atenção e da gestão nas Regiões de Saúde e aperfeiçoar o funcionamento

político-institucional do Sistema Único de Saúde (SUS,) com vistas a assegurar ao usuário o

conjunto de ações e serviços que necessita com efetividade e eficiência (BRASIL, 2010).

Decorridos quase duas décadas de sua criação, outros processos precisaram ser

modificados, como a reestruturação curricular dos cursos de graduação em saúde no sentido

de formar profissionais com perfil adequado para o SUS.

Nessa perspectiva de ampliar a visão para o SUS, em 2008, foram criados os

Núcleos de Apoio à Saúde da Família constituído por profissionais experientes em áreas

estratégicas para melhorar a resolutividade da ESF (MORETTI-PIRES, 2012).

Sob a responsabilidade do governo na esfera federal, estadual e municipal, o SUS

passa a ser um sistema com o sentido de um conjunto de unidades, de serviços e ações que

interagem para um fim comum. A atenção básica foi, durante muito tempo, a denominação

adotada no país como um conjunto de ações de saúde que englobam estratégias de

intervenção de promoção da saúde, prevenção de doenças; agravos e atenção curativa

(BRASIL, 2003)

A entrada no sistema de saúde é visualizada nas dimensões: atenção às

necessidades e problemas de saúde da pessoa (não direcionada apenas a enfermidade);

coordenação ou integração dos diferentes níveis de atenção, mediante ações combinadas na

resolução de problemas mais comuns da comunidade, oferecendo serviços de prevenção, cura

e reabilitação; integração da atenção quando existem múltiplos problemas de saúde em

determinados territórios sociais e racionalização do uso de todos os recursos, tanto básicos

como especializados, direcionados para a promoção, manutenção e melhoria da saúde

(STARFIELD, 2012).

Desse modo a rede assistencial da ESF se insere na proposta de superar o modelo

de saúde centrado na doença e em práticas curativas, com o objetivo de reorganizar o

processo de trabalho em saúde na atenção primária; assim como incorporar conceitos e

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práticas inovadoras, com diferentes tecnologias para responder s necessidades identificadas

nos espaços em que as pessoas manifestam o processo de saúde-doença (ASSIS; JORGE;

FRANCO, 2012).

Para tanto, a horizontalidade, vínculo, autonomia e corresponsabilidade nas ações

junto aos usuários do sistema são princípios que resignificam o papel deste, delegando

importância e responsabilidade ao usuário pela sua própria saúde, diferentemente do sistema

tradicional, cujo enfoque consiste em paciente e passivo nos processos do sistema de saúde.

Dessa forma, a ESF não é uma intervenção vertical e paralela às atividades dos

serviços de saúde: é uma estratégia que possibilita a integração e promove a organização

destas atividades em um território definido (BRASIL, 2007)

A ESF prioriza uma assistência pautada na concepção ampliada de saúde,

atentando para as necessidades humanas e diferenças singulares (VAITSMAN, 1992), sendo

um modelo contra hegemônico ao modelo flexneriano, que valoriza apenas os saberes

oriundos da academia e a dominação do poder do profissional sobre a saúde do paciente, com

ênfase na doença, distanciando-se das dimensões sociais, psicológicas e comportamentais

implicadas na doença (MORETTI-PIRES, 2012).

Ainda sobre a construção do SUS, o controle social exerce grande papel e está

solidamente embasado em um modelo de Gestão Participativa (ACIOLI, 2005), em que o

gestor público no mundo contemporâneo deva utilizar-se de aporte técnico legal que garanta

ao cidadão o exercício de seus direitos fundamentais, mais do que o administrador e político

no sentido clássico (MORETTI-PIRES, 2012).

Na prestação de serviços públicos de saúde, a micropolítica, ou seja, as relações

do cotidiano do serviço refletem-se na organização dos processos de trabalho, na gestão e

produção da saúde, sendo imprescindíveis, em termos de entendimento, para se promover

reais mudanças nas formas de gestão e de se produzir saúde (MERHY, 1997).

O gestor público de saúde tem seu locus de intervenção: a intersubjetividade e a

subjetividade do trabalho em saúde, por ser um tipo de produção que utiliza o aparato

tecnológico próprio, mas também detém um caráter relacional entre os agentes do Estado,

cidadãos e profissionais (MERHY, ONOKO, 1997).

Nesse sentido, indicadores quantitativos são importantes, mas a rede de relações e

como os processos se desenrolam são fundamentais, de forma que a abordagem qualitativa na

avaliação e monitoramento é imprescindível para a Gestão Pública em Saúde (MORETTI-

PIRES, 2012)

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2.4 GESTÃO DA CLINICA E A SEGURANÇA DO PACIENTE

O termo gestão da clínica provém da governança clínica inglesa e do

gerenciamento do cuidado (managed care) americano. A governança clínica surgiu

inicialmente nas organizações financeiras a partir da governança corporativa. Esta consiste no

conjunto de processos, costumes, políticas, leis, regulamentos e instituições que regulam a

maneira como uma empresa é dirigida, administrada ou controlada. O termo está relacionado

com as relações entre os diversos atores envolvidos (stakeholders) e os objetivos pelos quais a

empresa se orienta (CARVALHO, 2002).

A governança corporativa estendeu-se para os serviços em saúde pela primeira

vez em 1997, sendo instituído pela primeira vez pelo National Health Service (NHS), sistema

inglês de saúde. Nesse contexto, foi criado o National Institute for Clinical Excelllence

(NICE) em 1999 e da Commission for Health Improvement (CHI) em 2000. Ambas são

estruturas que respondem no âmbito nacional inglês para assegurar a melhoria da qualidade e

entendem que a governança clínica é o principal veiculo para a melhoria contínua da

qualidade do cuidado ao paciente (NICHOLLS et al, 2000).

Já a expressão “managed care” foi traduzida de várias maneiras, sendo como

"manejo clínico" a mais comum, assim como também, “atenção gerenciada”. A expressão

americana é muito precisa, porque as duas palavras significavam as características clínicas

principais: em primeiro lugar, a obrigação de “cuidar” e, portanto, o que é melhor para seu

usuário e expõe também sua condição de “gerente”, ou seja, gerenciador de recursos e atende

à necessidade de controle de custos.

Em suma, o managed care entende que o campo da saúde utiliza a integração e a

coordenação, acima de tudo, como artifício para contingenciar a utilização dos serviços pelos

segurados ou evitar que médicos solicitem determinados procedimentos que venham onerar as

seguradoras. Esses procedimentos são utilizados em organizações de managed care por

operadoras de planos de saúde privados dos Estados Unidos, difundidos como instrumento de

organização da atenção para diversos países.

Para Donaldson e Gray (1998), a gestão da clínica foi definida como a estrutura

através da qual as organizações do NHS são responsáveis e responsabilizadas por melhorar a

qualidade de seus serviços de forma contínua e por assegurar elevados padrões de cuidado

através da criação de um ambiente no qual a excelência do cuidado clínico floresça. Para

Nicholls et al (2000), a gestão da clinica permite a mudança cultural no sistema como um

todo, fornecendo os meios para desenvolver uma capacidade organizacional para ofertar

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cuidado com qualidade assegurada de forma sustentável e responsável (que preste contas).

Acredita-se que o foco é o paciente e que, portanto, deve haver a parceria entre pacientes e

profissionais.

Segundo Buetow e Roland(1999), a gestão da clínica foi concebida como uma

tentativa de vincular abordagens profissionais da avaliação da qualidade e da auditoria clínica,

com abordagens gerenciais de garantia de qualidade e de sua melhoria. Seu foco seria a

melhoria da qualidade clínica, em que não diz respeito apenas aos indivíduos, mas a

organização como um todo. Dessa forma se faz necessário uma estratégia abrangente,

incluindo métodos de melhoria da qualidade, auditoria e gestão do risco ligados diretamente à

programas de desenvolvimento profissional.

Apesar da gestão da clínica ser marcada por uma forte regulação externa, no

modelo inglês, oferece-se aos profissionais uma oportunidade de mostrar que eles podem se

autorregular de maneira consistente com as noções correntes da administração pública de

prestação de contas (BUETOW, ROLAND, 1999).

A gestão da clínica cria um ambiente para uma boa prática clínica, pois acredita

que os cuidados à saúde devem ter homogeneidade e devem ser baseados em evidências. Com

isso, proporcionaria o desenvolvimento pessoal, já que necessitaria que seus profissionais

fossem capacitados para tal.

As organizações também devem se ajustar no que se refere aos seus sistemas,

estrutura e sua cultura organizacional a fim de que possam desenvolver o cuidado com

qualidade pautada nos pressupostos da gestão da clínica. Acredita-se que para o ajuste da

cultura, a liderança seria imprescindível. Assim como também um ajuste no sistema de gestão

do conhecimento através de guidelines disponibilizados através de um sistema de informação

(DONALDSON, GRAY, 1998).

Para Halligan e Donaldson (2001), os atributos para o sucesso da gestão da clínica

seriam, conforme quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Elementos chaves para o sucesso da Gestão da Clínica nas Organizações de

Saúde de acordo com HALLIGAN, DONALDSON, 2001

Elementos para GC Definição do Conceito

Liderança efetiva Criar um ambiente aberto de questionamento permanente e fortalecer o

trabalho em equipe.

Planejamento para a qualidade

É necessário um plano que avalie as necessidades e visão dos usuários,

estabeleça risco clínico, exigências de regulação, competências da

equipe, necessidades de capacitação e uma apreciação realística de

(Continua)

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42

desempenho atual com o de similares e padrões de melhor prática. A

tecnologia da informação, educação e treinamento e pesquisa e

desenvolvimento devem estar articuladas com a garantia de qualidade e

melhoria de qualidade.

Centrada no paciente Empoderar o paciente com informações e aumentar sua participação na

gestão do cuidado.

Informação, análise e insight Informação deve ser válida, atualizada e possibilitar insights para ser útil.

Todos alinhados para fazer o certo Equipe deve usar seu pleno potencial. Treinamento e educação

permanentes; a equipe deve se sentir valorizada, deve compartilhar a

discussão sobre o desenvolvimento da GC; necessita ter apropriado

suporte técnico; acesso às melhores evidências para tomar suas decisões

clínicas.

Cultura livre do medo Estimular o exame aberto do erro é uma característica central em

organizações que querem melhorar a qualidade e aprender. Os objetivos

da organização precisam ser consistentes com a meta de melhoria da

segurança, que passa por uma comunicação aberta e não punitiva sobre

os eventos adversos e falhas de segurança.

Bom desenho do serviço Os processos precisam ser redesenhados

Demonstrando o sucesso Habilidade para medir a qualidade: tempo de espera; redução de

desperdício (teste repetidos), taxa de inovação; efetividade da inovação,

tempo para introduzir novos serviços.

Fonte: Adaptado por Margareth Crisóstomo Portela e Sheyla Maria Lemos Lima

Entende-se que o foco da gestão da clínica é a parceria entre o paciente e o

profissional de saúde e sugere que essa relação para ser adequada deve ter como base cinco

componentes: a compreensão sistêmica, o trabalho em equipe, a comunicação, o

pertencimento e a liderança. São princípios em relação às quais é necessário compartilhar

crenças, atitudes, valores e normas de comportamento a fim de ofertar de forma sustentável a

melhoria da qualidade (NICHOLLS et al, 2000).

O NHS propôs o paradigma do templo em que são considerados sete pilares:

clínica efetiva, gerenciamento de risco efetivo, experiência do paciente, comunicação efetiva,

recurso efetivo, estratégia efetiva e aprendizado efetivo. Estes seriam os pilares para a

compreensão sistêmica, trabalho em equipe, comunicação, pertencimento e liderança.

Conforme segue a figura a seguir:

(Continuação)

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43

Figura 7 - Paradigma do Templo

Fonte: NICHOLLS et al, 2000.

Para Nicholls et al (2000), a compreensão sistêmica, o trabalho em equipe, a

comunicação, pertencimento e a liderança são considerados como componentes culturais para

a relação profissional- paciente ser efetiva e, portanto, para a governança clínica.

Quadro 2 – Componentes Culturais para Gestão da Clínica.NICHOLLS et al, 2000

Componentes Culturais Definição do Conceito

Compreensão Sistêmica Organização de saúde composta por um conjunto de sistemas

que interagem e interdependem uns dos outros.

Trabalho em equipe

O trabalho em equipe pode também ser descrito como um

conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma

tarefa ou determinado trabalho para resolver um problema.

Comunicação

Interdependência no trabalho exige trabalho em equipe e

comunicação lateral dada a natureza do trabalho. Necessidade

de transmissão de informação rápida, acurada e acessível

(inclusive que possibilite a compreensão facilmente).

Pertencimento

Criação de um ambiente de trabalho onde haja a real

participação das equipes, que proporcione suporte para os

profissionais e equipes que são empoderados para resolver

problemas.

Liderança

Tem papel central na criação do sentimento de pertencimento

dos profissionais e equipe, na geração de um ambiente que

estimule o diálogo, na geração de novas ideias, na cooperação

de que o erro é uma oportunidade de aprender.

Fonte: Adaptado por Margareth Crisóstomo Portela e Sheyla Maria Lemos Lima

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Pode perceber-se que todos estes componentes podem ser considerados atributos

para que a gestão da clínica aconteça. Consequentemente, com sua implantação, o cuidado

tornar-se-ia mais seguro.

No Brasil, Mendes adotou o termo gestão da clínica ao invés de governança

clínica. Para Mendes (2011), a gestão da clínica consiste em:

[...] um conjunto de tecnologias de microgestão da clínica, destinado a prover uma

atenção à saúde de qualidade: centrada nas pessoas; efetiva, estruturada com base em

evidências científicas; segura, que não cause danos às pessoas usuárias e aos

profissionais de saúde; eficiente, provida com os custos ótimos; oportuna, prestada no

tempo certo; equitativa, de forma a reduzir as desigualdades injustas; e ofertada de

forma humanizada (MENDES, 2011, p. 639).

Para Mendes (2011), a gestão da clínica, portanto, constitue-se das tecnologias

sanitárias que partem das tecnologias-mãe, as diretrizes clínicas, para, a partir delas,

desenvolver as tecnologias de gestão da condição de saúde, de gestão de caso, de auditoria

clínica e de listas de espera, conforme se vê na Figura 8.

Figura 8 – Tecnologias de microgestão propostas por Mendes (2011)

Fonte: Mendes (2011)

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Nesse ínterim, Mendes (2011) propõe uma nova clínica, enfatizando o cuidado às

condições crônicas. Entende que para tal, mudanças profundas são necessárias na forma de

prestar atenção à saúde. Admite ainda que o fracasso dos sistemas de saúde fragmentado, no

plano micro, determinou a falência da consulta médica de curta duração. Modificando dessa

forma as interações produtivas entre equipes de saúde proativas e usuários ativos e

informados para obtenção de resultados clínicos efetivos. Mendes (2011) estabelece oito

dimensões para a mudança na atenção à saúde, conforme demonstrado na figura a seguir:

Figura 9 – Dimensões para a mudança na atenção à saúde

Fonte: Mendes (2011)

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3 PERCURSO METODOLÓGICO

Nesta sessão delimitou-se a proposta investigada por meio das ferramentas

metodológicas utilizadas, a fim de que se consiga compreender os fenômenos relacionados à

segurança do paciente na Atenção Primária de Fortaleza, Ceará, Brasil.

3.1 DESCOBERTA DO PROCESSO INVESTIGATIVO DA PESQUISA AVALIATIVA

QUALITATIVA

Esta pesquisa se caracteriza por uma investigação qualitativa do tipo avaliativa.

De acordo com Santos (2010) no conhecimento pós-moderno, busca-se as

condições de possibilidades da ação humana projetada no mundo a partir de um espaço-

temporal e local, constituindo-se a partir de uma pluralidade metodológica, em que cada

método é uma linguagem e a realidade responde a língua em que é perguntada.

Assim sendo, faz-se necessário apresentar com transparência os conceitos a que o

estudo se reportou, tendo em vista a leitura da realidade a ser investigada pautada nos

conceitos apresentados pelos documentos ministeriais da saúde acerca da segurança do

paciente nos serviços de saúde no encontro aos do SUS na medida em que se for dando o

desenrolar da investigação.

Logo, a abordagem de pesquisa utilizada foi a qualitativa, definida como aquela

que se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que, por sua vez,

correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e fenômenos que não

podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2010).

A pesquisa qualitativa considera a subjetividade do pesquisador. Dessa forma, as

intencionalidades e subjetividades de quem processa a pesquisa, assim como também suas

reflexões, atitudes e sentimentos tornam-se dados em si mesmos e constituem material para

interpretação. Consideram a comunicação do pesquisador em campo como parte explícita da

produção de conhecimento, tornando-se parte do processo de pesquisa a subjetividade do

pesquisador e daqueles que estão sendo estudados (FLICK, 2009).

Ainda corroborando com Minayo (2010), a proposição de que a grande vantagem

de utilizar a metodologia qualitativa para avaliação seria a possibilidade da compreensão

aprofundada do fenômeno, capaz de refleti-lo em suas múltiplas dimensões, em detrimento

das generalizações.

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No que tange à avaliação qualitativa, ela corresponde a análise das dimensões que

escapam aos indicadores e expressões numéricas. Essa análise se volta para a produção

subjetiva que permeia as práticas em saúde inscritas nos programas e serviços, repercutindo

diretamente na natureza do material a ser levantado e produzido, o qual não pode se restringir

a instrumentos estruturados que conduzam a respostas exclusivamente numéricas (BOSI,

UCHIMURA, 2006). Estudos avaliativos voltados à dimensão subjetiva da qualidade se

propõem a desvendar os sentidos dos fenômenos, respeitando sua complexidade, riqueza e

profundidade (UCHIMURA, BOSSI, 2002).

Dessa forma, a avaliação qualitativa foi adequada para o que se propôs buscar

nesta investigação, já que se pretendeu a análise da segurança do paciente na Atenção

Primária de forma a desvendar nuances ainda não desveladas pelos usuários, gestores e

trabalhadores de saúde.

A inclusão de diversos atores envolvidos com o serviço, a consideração de seus

diferentes valores e pontos de vista, bem como a preocupação com a utilização dos resultados

do processo investigativo nos parece divisores de água na constituição de processos

avaliativos participativos (ONOCKO-CAMPOS, FURTADO, 2006).

A abordagem participativa adotada objetiva engajar os atores no processo de

avaliação, visando à sua capacitação e desenvolvimento como foi vislumbrado nessa

investigação (FURTADO, 2001). Por meio do processo investigativo foi possível instigar

seus participantes sobre a temática. Tal abordagem apoia-se no paradigma construtivista, já

que o desenho é aberto à invenção; à obtenção de dados e ao descobrimento; e à análise e à

interpretação. Para o construtivismo, a crítica e a transformação estariam centradas nas metas

de reconstrução dos pontos de vista dos implicados no que está sendo estudado (SILVA,

1998).

3.2 DESCOBRINDO O CAMPO INVESTIGATIVO DA PESQUISA AVALIATIVA

QUALITATIVA

A pesquisa foi realizada no município de Fortaleza- Ceará, considerada a quinta

maior cidade do país. Possui uma área de 313,8 Km2 e população estimada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística de 2.374.944 habitantes. Destes, 53,2% são do sexo

feminino e 40,4% encontram-se na faixa etária de 0 a 19 anos e a população acima de 60 anos

de idade corresponde a 7,48% do total (FORTALEZA, 2006). Fortaleza é apontada como a

segunda cidade mais desigual do País (FORTALEZA, 2013). A administração da prefeitura

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está dividida em Secretarias Regionais (SR) que são sete ao todo (SR I, SR II, SR III, SR IV,

SR V, SR VI e a Regional do Centro) e apresenta seis CORES (Coordenadoria Regional de

Saúde), como demonstrado na Figura 10 seguinte.

Figura 10 – Secretarias Regionais do município de Fortaleza- Ceará- Barsil

Fonte: Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza. Fortaleza, 2013.

3.2.1 Sistema Municipal de Saúde

Em Fortaleza, a gestão da saúde é responsável pelos serviços de atenção primária,

secundária e terciária no seu território de abrangência, que compõem a rede regionalizada e

hierarquizada do SUS (FORTALEZA, 2013).

A Secretaria Municipal de Saúde administra uma rede própria de serviços de

saúde e mantém convênio com uma rede de hospitais e clínicas públicas, particulares ou

filantrópicas. A rede própria é formada por 93 Unidades de Atenção Primária à Saúde

(UAPS), dois Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), o Centro de Especialidades

Médicas José de Alencar (CEMJA), duas Farmácias Populares, 14 Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS), oito hospitais secundários, um hospital terciário, um de atenção

secundária e terciária e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192). A rede

conveniada é composta por clínicas e hospitais públicos, privados e filantrópicos

credenciados, que prestam serviços de consultas, exames e internações (FORTALEZA, 2013),

como se pode observar na figura a seguir:

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Figura 11– Organograma da rede de saúde do município de Fortaleza – Ceará

Fonte: Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza. Fortaleza, 2013.

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A Figura 12 mostra a delimitação territorial por regional de saúde. Já o quadro 3 a

seguir, demonstra a descrição do número populacional, o número de UAPS por regional e a

delimitação territorial por cada Secretaria Regional:

Figura 12– Área de cobertura das Secretarias Regionais (SR) do município de

Fortaleza/ CE

Fonte: Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza. http://cmsf.sms.fortaleza.ce.gov.br/v1/ Acesso em 22 de

outubro de 2013.

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Quadro 3– Descrição do quantitativo da população, das UAPS e da delimitação

territorial por Secretaria Regional

Secretaria

Regional

POPULAÇÃO UAPS DELIMITAÇÃO TERRITORIAL

CENTRO 24.775 - Delimita ao Norte, pelas avenidas Historiador

Raimundo Girão, Almirante Barroso e Pessoa Anta,

ruas Adolfo Caminha e Santa Terezinha, e Avenida

Presidente Castelo Branco (Leste - Oeste); ao Leste,

pela Rua João Cordeiro; ao Oeste, pelas avenidas

Filomeno Gomes e Padre Ibiapina; e ao Sul, pela

Avenida Domingos Olímpio e início da Avenida

Antônio Sales.

I 360.000 12 Vila Velha, Jardim Guanabara, Jardim Iracema, Barra

do Ceará, Floresta, Álvaro Weyne, Cristo Redentor,

Ellery, São Gerardo, Monte Castelo, Carlito Pamplona,

Pirambu, Farias Brito, Jacarecanga e Moura Brasil

II 325.058 12 Aldeota, Cais do Porto, Cidade 2000, Cocó, De

Lourdes, Dionísio Torres, Engenheiro Luciano

Calvalcante, Guararapes, Joaquim Távora, Manuel

Dias Branco, Meireles, Mucuripe, Papicu, Praia de

Iracema, Praia do Futuro I e II, Salinas, São João do

Tauape, Varjota, Vicente Pinzon.

III 378.000 16 Amadeu Furtado, Antônio Bezerra, Autran Nunes,

Bonsucesso, Bela Vista, Dom Lustosa, Henrique Jorge,

João XXIII, Jóquei Clube, Olavo Oliveira, Padre

Andrade, Parque Araxá, Pici, Parquelândia, Presidente

Kennedy, Rodolfo Teófilo e Quintino Cunha.

IV 305.000 12 São José Bonifácio, Benfica, Fátima, Jardim América,

Damas, Parreão, Bom Futuro, Vila União, Montese,

Couto Fernandes, Pan Americano, Demócrito Rocha,

Itaoca, Parangaba, Serrinha, Aeroporto, Itaperi, Dendê

e Vila Pery.

V 570.000 20 Conjunto Ceará, Siqueira, Mondubim, Conjunto José

Walter, Granja Lisboa, Granja Portugal, Bom Jardim,

Genibaú, Canindezinho, Vila Manoel Sátiro, Parque

São José, Parque Santa Rosa, Maraponga, Jardim

Cearense, Conjunto Esperança, Presidente Vargas,

Planalto Ayrton Senna e Mondubim.

VI 600.000 20 Aerolândia, Ancuri, Alto da Balança, Barroso, Boa

Vista (unificação do Castelão com Mata Galinha),

Cambeba, Cajazeiras, Cidade dos Funcionários, Coaçu,

Conjunto Palmeiras (parte do Jangurussu), Curió, Dias

Macedo, Edson Queiroz, Guajerú, Jangurussu, Jardim

das Oliveiras, José de Alencar (antigo Alagadiço

Novo), Messejana, Parque Dois Irmãos, Passaré,

Paupina, Parque Manibura, Parque Iracema, Parque

Santa Maria (parte do Ancuri), Pedras, Lagoa

Redonda, Sabiaguaba, São Bento (parte do Paupina) e

Sapiranga. Tem como objetivos garantir a melhoria de

vida aos habitantes e a preservação das potencialidades

naturais da região. Fonte: Secretaria de Saúde de Fortaleza. FORTALEZA, 2013.

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3.2.2 Estratégia Saúde da Família

A organização do sistema municipal de saúde tem se dado em Fortaleza pelas

redes assistenciais (RAS): Rede Assistencial da Estratégia Saúde da Família; Rede

Assistencial Ambulatorial Especializada; Rede Assistencial da Urgência e Emergência; Rede

Assistencial Hospitalar; Rede Assistencial da Saúde Mental (FORTALEZA, 2007).

A Rede Assistencial da Estratégia Saúde da Família apresenta o Programa Saúde

da Família como eixo estruturante da organização do sistema municipal de saúde. Nesse

sentido, em 2006, trabalhou-se na estruturação dessa rede concluindo a reforma de 77 (setenta

e sete) unidades dispostas nas seis regionais da cidade. Ainda nesse ano, o número de equipes

de trabalho foi ampliado, contabilizando em dezembro de 2006, um total de 304 equipes

cadastradas no Ministério da Saúde, das quais 240 compostas por profissionais médicos.

Nessa data, o município também contava com 196 equipes de saúde bucal, as quais realizaram

no ano de 2006 um total de 465.009 procedimentos (FORTALEZA, 2007).

De acordo com o Plano Diretor de Saúde (2010-2013), pretende-se efetivar a

atenção primária como espaço prioritário de organização do SUS; desenvolver estratégias de

atenção integral tendo como eixo estruturante a Estratégia Saúde da Família; ampliar o acesso

com qualidade, resolutividade e humanização da atenção e promover a participação popular e

a articulação intersetorial com as demais políticas e níveis de complexidade da atenção à

saúde.

Dados mais recentes mostram que a cidade de Fortaleza é considerada a terceira

cidade do Brasil com maior cobertura do Programa Saúde da Família (PSF), entre os

municípios com mais de 1,5 milhão de habitantes, atingindo 35% da população da capital. A

cidade fica atrás apenas de Belo Horizonte, com 75% da cobertura do PSF, e Recife, com

56%. Ainda de acordo com o Data SUS, Fortaleza mais que dobrou nos últimos anos, o

número de Equipes de Estratégia de Saúde da Família (UECE, 2013).

Em 2006, passaram de 101 para 248 equipes completas com médicos,

enfermeiros, dentistas e agentes comunitários de saúde (FORTALEZA, 2013). Entretanto, há

evasão de profissionais, principalmente médicos, ou seja, não possuem uma das categorias

profissionais básicas que deveriam estar nos quadros para serem consideradas completas

(médico, enfermeiro, dentista, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde).

Atualmente, há 91 Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) com 327

equipes de Saúde da Família completas (372 médicos, 390 enfermeiros, 349 auxiliares de

enfermagem), 62 Equipes de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), 237 Equipes de Saúde

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Bucal (ESB) completas, 284 dentistas e 243 auxiliares de Saúde Bucal, 2.456 agentes

comunitários de saúde e 12 equipes do NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família)

compostas por 33 assistentes sociais, 21 fisioterapeutas, 16 psicólogos, 24 farmacêuticos, 10

fonoaudiólogos e 11 terapeutas ocupacionais (SMS, 2014).

Desde 2013, na tentativa de reorganizar e integrar os serviços de saúde por meio

de redes de atenção, Fortaleza está recebendo a consultoria dos técnicos em Saúde Pública,

Eugênio Vilaça e Maria Emi Shimazaki. A consultoria consiste na realização de grupos de

trabalho para discussão de propostas para a organização dos diversos níveis de atenção. São

realizadas visitas técnicas as instituições de saúde pertencentes à rede de saúde.

Dentre as oficinas, realizou-se o grupo de trabalho relativo à Atenção Hospitalar;

promoveram a oficina juntamente com o Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) para

análise do novo modelo de gestão nas UAPS; grupos de trabalhos para organização da

Atenção Ambulatorial Especializada a partir de um modelo regionalizado de Atenção à

Saúde; há ainda grupos de trabalho sobre Atenção Primária à Saúde, Prontuário Eletrônico e

Macroprocessos. Além de reuniões com o ISGH e com a comissão de acompanhamento do

contrato de gestão vigente. Assim como também, tutoria sobre os laboratórios nos postos de

saúde (FORTALEZA, 2014).

No que se refere à APS, a consultoria tem como metas: Ampliar a cobertura e a

qualidade da atenção prestada pelas equipes de atenção primária a saúde; Melhorar a

Ambiência das Unidades de Atenção Primária a Saúde (UAPS); Buscar um modelo de gestão

de alto desempenho, tendo como eixo estruturante a Atenção Primária; Olhar para o futuro:

Gestão para Resultados (SMS, 2014).

Para alcançar tais intentos, a Secretaria Municipal de Saúde construiu o mapa

estratégico (SMS, 2014), conforme a seguir.

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Figura 13– Mapa Estratégico da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza

Fonte: SMS, 2014.

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Na tentativa de reorganizar os macroprocessos de trabalho, está a implantação da

gestão da clínica „por meio da elaboração e implantação das linhas-guia e protocolos clínicos

com a utilização da tecnologia de gestão de patologia - o que implica a programação por

riscos, o contrato de gestão, o sistema de monitoramento eletrônico, a educação permanente

dos profissionais da atenção primária e de educação em saúde dos usuários e da tecnologia de

auditoria clínica‟ (SMS, 2014).

A seguir, tem-se os elementos que compõe os macroprocessos da atenção primária

à saúde.

Figura 14– Macroprocesso da atenção primária à saúde

Fonte: SMS, 2014

Outra mudança realizada foram as ações de melhoria física nas unidades de saúde

com reforma e ampliação. Frisa-se que nem todas ainda estão sendo reformadas, mas há um

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cronograma para a realização. Conforme segue a figura a seguir, apresenta-se a situação atual

das reformas e ampliação.

Figura 15 – Situação Atual das Reformas e Ampliação

Fonte: SMS, 2014.

Diante do contexto de mudanças no processo de trabalho nas UAPS, foram

escolhidas pela gestão central, unidades que seriam “unidades-laboratórios” para a

implantação de mudanças nos seus macroprocessos. Portanto, na época da construção do

projeto desta investigação, havia três unidades de saúde nestes moldes e que, portanto, foram

escolhidas. São unidades que possuem apenas Estratégia Saúde da Família e que recebem

com frequência visitas da consultoria e que são acompanhadas quase que diariamente por

tutores de cada secretaria regional. As unidades localizam-se conforme mapa a seguir:

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Figura 16 – Localização das Unidades da Investigação

Fonte: SMS, 2014.

3.2.3 Estratégias para Inserção no Campo Empírico

Para Minayo (2013), a “Estratégia de Entrada em Campo” consiste na fase

exploratória de campo. Por meio disso, pode-se obter maior proximidade com os participantes

da investigação. O fato da pesquisadora pertencer também aos profissionais da Atenção

Primária, mesmo que não sendo da mesma unidade, favoreceu o vínculo e a confiança, que

são imprescindíveis para o aprofundamento das questões norteadoras. Logo, a receptividade

foi muito boa, não necessitando de maior convencimento para participação dos gestores e

profissionais de saúde. Mesmo assim, respeitou-se a fase exploratória da pesquisa para a

imersão da pesquisadora.

As estratégias para a entrada no campo deram início em agosto e setembro de

2014 e antecederam o período de entrada no campo e se caracterizaram por uma aproximação

na busca de conhecer a realidade de cada UAPS. Foi-se ao campo diversas vezes e a

pesquisadora foi inserida participando da rotina diária de cada unidade, inclusive participando

de momentos dos profissionais com os tutores de cada secretaria regional.

O primeiro contato foi feito com os tutores de cada secretaria regional. Após o

fornecimento de documentos necessários para a coleta propriamente dita e apresentação da

proposta de trabalho, cada tutor enviou uma comunicação interna para cada gestor. Em

seguida, o investigador, juntamente com bolsista, compareceu a cada unidade pessoalmente a

fim de apresentar-se para o gestor local e obter informações sobre localização da unidade.

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Apreender a realidade, quando o pesquisador está inserido no contexto, foi uma

preocupação sempre presente durante todo o trajeto da investigação. Sendo o objeto

investigado instigante e, considerando que faz refletir sobre o cuidado, a pesquisadora, a fim

de mergulhar na problemática, realizou o estudo atenta ao desenho metodológico, mantendo o

distanciamento necessário para que não interferisse na coleta e prejudicasse a confiabilidade

do material empírico. Apesar de que, segundo Minayo (2010), nenhuma pesquisa é neutra,

compartilhando a pesquisadora desta investigação esse pressuposto.

Em cada uma das unidades exploradas, a realidade social econômica era bem

semelhante: inseridas em comunidades carentes com alto índice de violência. No que se refere

ao processo de trabalho, também havia homogeneidade das ações desenvolvidas.

Durante essa fase, percebeu-se que os trabalhadores de saúde, assim como os

gestores, não conheciam a temática, quando em alguns momentos dificultou para a coleta de

informações. Porém, apesar disso, houve interesse dos colaboradores em contribuir com a

pesquisa. Entretanto, houve certa dificuldade para a participação dos usuários, o que foi

amenizado pela ajuda prestada pelos profissionais de saúde para alocá-los em um ambiente

em que fosse possível a realização da coleta de dados. Para aproximação, os usuários

participantes estavam aguardando consulta do profissional, que previamente já havia aceitado

participar da pesquisa. Isso facilitou a participação deles na discussão.

3.3 COLABORADORES DA INVESTIGAÇÃO

Os sujeitos do estudo foram usuários, profissionais de saúde e gestores das UAPS.

Foram constituídos três grupos de informantes: Grupo A – Trabalhadores de saúde (19

trabalhadores de saúde: quatro médicos, três enfermeiros, três dentistas e nove agentes

comunitários de saúde), obedeceram aos seguintes critérios de inclusão: trabalhar há, no

mínimo, um ano na UAPS em que estavam locado, pois já participaram do processo de

territorialização e conhecem a realidade de sua área adscrita; Grupo B - Gestores das UAPS

admitidos no último processo de seleção para o referido cargo (três gestores); Grupo C –

Usuários cadastrados e acompanhados (24 usuários) pelos respectivos trabalhadores do Grupo

1 deste estudo (quadro 4)

A divisão dos grupos representantes ocorreu como descritos a seguir:

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Quadro 4 – Grupos de Colaboradores para o Estudo

GRUPO REPRESENTAÇÃO

A Trabalhadores de saúde pertencentes a ESF

completas que trabalham pelo menos há 1 anos na

UAPS em que está locado.

B Gestores das UAPS admitidos no último processo de

seleção para o referido cargo.

C Usuários cadastrados e acompanhados pelas

respectivas equipes do Grupo 1 deste estudo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Mediante a intencionalidade da pesquisa com os grupos amostrais, foi realizado

um levantamento da população para se conhecer o quantitativo de profissionais, gestores e

usuários existentes no cenário do estudo, apresentado no quadro a seguir.

Quadro 5 – Unidades de Atenção Primária à Saúde do Estudo

SECRETARIA

REGIONAL

UAPS

Número de

profissionais

pertencentes

às equipes

completas

da ESF

População de abrangência

I A 18 17.000 mil pessoas cadastradas

IV B 15 18.088 mil pessoas cadastrados

VI C 12 34.000 mil pessoas cadastradas

TOTAL 45 69.088 mil pessoas cadastradas

Fonte: Secretaria de Saúde de Fortaleza. FORTALEZA, 2013.

Para a coleta qualitativa dos dados foi adotada como ponto de partida uma equipe

completa para cada Secretaria Regional (SR) investigada. No total, foram 19 participantes

para o grupo A (trabalhadores de saúde), três para o grupo B considerada uma boa

representação, tendo em vista que cada UAPS possui apenas um gestor, e 18 participantes

(usuários) para o grupo C.

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60

3.4 ESTRATÉGIAS PARA A COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados no período de agosto a dezembro de 2014 e ocorreram

em dois momentos distintos. O primeiro momento constitui-se na fase descritiva para

aproximação com o campo empírico por meio da observação sistemática e não-participante

com registro em diário de campo. No segundo momento da coleta de dados foram utilizadas

as seguintes técnicas: observação sistemática e não-participante, questionário, entrevista

semiestruturada e grupo focal.

No primeiro momento, pretendeu-se descrever por meio de observação a produção

do cuidado dos profissionais de saúde das ESF e gestores das UAPS na atenção à saúde aos

usuários. Esta fase permitiu, ainda, descrever as condições de estrutura física e do ambiente de

trabalho, a comunicação e o trabalho em equipe na atenção ao usuário.

A observação sistemática é a maneira de compreender a realidade de forma

complementar a análise obtida a partir da entrevista, pois permite captar uma realidade

empírica em suas diferentes dimensões, tais como atos, significados e relações (TRIVINOS,

1992). Ocorre por meio da aplicação de um esquema de observação mais ou menos

padronizado (FLICK, 2009), que observou as condições de estrutura física e do ambiente de

trabalho; o pertencimento do usuário; a comunicação entre os profissionais e com o usuário; a

liderança do gestor no processo de produção do cuidado; o trabalho em equipe na atenção ao

usuário e a compreensão sistêmica pelos profissionais e gestores pertencentes a unidade de

atenção a saúde na rede de saúde no SUS.

Complementarmente, foram realizadas observações “não-participantes”, sem

intervenção (FLICK, 2009), durante a exploração do campo e coleta para complementar os

dados, buscando vivenciar os fenômenos relatados nas entrevistas, grupos focais e

documentos, além de estabelecer uma aproximação com o cotidiano do trabalho dos

diferentes sujeitos e conhecer in loco.

Na observação não-participante somente se observam e registram os

acontecimentos em um ambiente real (ARNOULD, WALLENDORF, 1994). As anotações

em diário de campo foram por meio de registro cursivo (contínuo) e uso de palavras-chaves.

Frisa-se que durante a observação não participante houve participação da pesquisadora. Isso

ocorreu devido estar tão inserida no contexto da pesquisa, que muitas vezes a pesquisadora

era questionada frente a situações diversas vivenciadas. Ressalta-se que esta situação não

caracteriza observação participante, já que a mesma exige um método próprio.

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O segundo momento consistiu-se na fase qualitativa com os colaboradores que

cumpriram os critérios de elegibilidade estabelecidos em cada grupo. O fechamento da

amostra intencional foi feita tecnicamente por saturação teórica, interrompendo-se a captação

de novos participantes quando os dados obtidos forem julgados suficientes para sustentar

empiricamente o desenvolvimento de novas reflexões sobre o tema (GLASER, ST RAUSS,

1967; FONTANELLA, RICAS, TURATO, 2008).

De forma a conhecer o perfil profissional de gestores e profissionais de saúde foi

aplicado um questionário com quesitos sobre a aspectos relacionados a formação

profissional, assim como também, dados socioeconômicos (APENDICE A).

Para os profissionais de saúde e os gestores foram aplicadas entrevista

semiestruturada, cujo roteiro está pautado nos atributos para gestão da clinica direcionado

para a segurança do usuário (APENDICE B). A entrevista é uma técnica que busca abordar

questões subjetivas e objetivas e possibilita a obtenção de informações a partir das falas dos

entrevistados. A estruturação prévia da entrevista que vai caracterizar a “entrevista

semiestruturada” parte de questionamentos e reflexões baseados em teorias e/ou hipóteses

formuladas antes e até mesmo no processo de aplicação do instrumento, o que decorrerá o

aumento da amplitude investigativa (TRIVIÑOS, 1992).

A neutralidade na relação empreendida no processo de aplicação da entrevista é

limitada pelo fato de os sujeitos (pesquisador-entrevistado) estarem inseridos em um mesmo

contexto e, portanto, vivenciam também o espaço onde está focalizada a investigação

(MINAYO, 2013).

Em relação as entrevistas, foi feito previamente um encontro para agendar o

melhor horário possível para sua realização. O local e o horário da entrevista foram definidos

pelos colaboradores.

Em relação aos usuários foi aplicado o grupo focal, que foram realizados em um

ambiente reservado, sem interrupções, com tempo médio de 60 minutos de duração. Foram

feitos 3 grupos focais com usuários e no período previamente combinado com os profissionais

de saúde, já que o grupo focal foi feito antes do atendimento dos usuários com o profissional,

que em um momento anterior já havia participado da pesquisa. Já quanto aos agentes

comunitários de saúde foi realizado um grupo focal no turno da manhã, antes de

encaminharem-se para sua área adscrita com duração de 58 minutos.

Visando abordar questões em maior profundidade, pela interação grupal, cada

grupo focal não pode ser grande, ficando sua dimensão entre 6-12 pessoas e seguirá temas

específicos relacionados ao assunto estudado. O temário do grupo focal foi desenvolvido com

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temas acerca da segurança que estes recebem na Atenção Primária, na visão dos usuários, as

opiniões e sugestões para o cuidado integral e de qualidade (APÊNDICE C).

Anteriormente ao inicio do grupo focal, foi explicada a importância da

participação dos colaboradores. Reforçou-se que todos os aspectos éticos foram cumpridos,

informando inclusive que as entrevistas serão gravadas e transcritas, garantindo o anonimato

posterior para divulgação dos dados obtidos.

Para Minayo, Souza, Constantino e Santos (2007), a técnica de grupo focal é

bastante utilizada nas pesquisas de avaliação. Os princípios de definição amostral se baseiam

na busca de aprofundamento e compreensão de um grupo social, de uma organização. A partir

desses princípios, o foco se volta para questões acerca de quais serão os grupos a quem e o

que observar. Portanto, foram feitos grupos focais com os usuários.

Após a coleta do material empírico, os dados contidos no material gravado foram

transcritos na íntegra de forma a seguir os passos recomendados para a fase de análise do

material.

Na figura 17 a seguir mostra resumidamente as fases da coleta do material

empírico. Ressalta-se que a divisão apresentada é apenas didática a fim de facilitar a

visualização de cada fase.

Figura 17 - Resumo das Fases da Coleta de Material Empírico

Fonte: Minayo, Souza, Constantino e Santos (2007).

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63

3.5 ESTRATÉGIAS PARA A ANÁLISE DO MATERIAL EMPÍRICO

Durante a aproximação no campo, foram realizadas observações do campo

empírico e a descrição das atividades de rotina desenvolvidas nas unidades. Nesta fase

descritiva, para a melhor compreensão de como deve ocorrer o fluxo do atendimento nas

UAPS, foi utilizado o fluxograma analisador construído por Merhy (2002). Este é constituído

a partir de três figuras: a elipse, que representa momentos de entrada e saída; o retângulo,

momentos de ação, e o triângulo de decisão. Esse fluxograma permite analisar o modelo de

atenção de um serviço e consiste em um diagrama simples utilizado com a perspectiva de

desenhar certo modo de um conjunto de processos de trabalho.

Dessa forma, representa uma ferramenta reflexiva para analisar os processos de

trabalho, não apenas descrevê-los. Por meio do fluxograma analisador revelam-se as relações

estabelecidas entre os trabalhadores e destes com os usuários, demonstrando os nós críticos do

processo de trabalho. Pretende-se retratar e revelar áreas de sombra que não estão claras e

explícitas para os trabalhadores e gestores (MERHY el al, 2007).

Para a análise das características sóciodemográficos e laborais foi realizada uma

análise descritiva das variáveis, utilizando escala de razão por estimadores de tendência

central (média e desvio padrão), sendo apresentadas por proporções e porcentagens.

As informações coletadas por meio de entrevistas e atividade grupal, após

transcrição integral das gravações, foram analisadas utilizando a técnica de análise categorial

temática, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens em três fases: Pré-análise; Exploração do material; Tratamento dos resultados,

inferência e interpretação (BARDIN, 2010).

Para tratamento do material qualitativo, escolheu-se utilizar o software QRS

(Qualitative Solutions Research) NVivo® versão 10.0, doravante escrito como NVivo. O

NVivo é o software mais utilizado em pesquisas qualitativas (30%), seguida pelo software

Atlas (26%) e do MaxQDA (9%). Seu uso está bem demonstrado por sua facilidade e

contribuição para a investigação (PINTO et al, 2014).

Devido a grande quantidade de material empírico obtido, o software foi uma

ferramenta computacional de suporte para organização dos dados coletados por meio da

codificação, tratamento, armazenamento e gerenciamento do material coletado, facilitando

dessa forma o processo de análise por meio da criação de códigos, determinação de categorias

analíticas e suas relações (SAMPAIO, 2014). Ressalta-se que o software não realiza análise,

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sendo esse processo feito pela pesquisadora. O software limitou-se a organização dos dados, o

que facilitou a análise do material empírico.

Para a análise seguiu-se as seguintes etapas como demonstrado a seguir.

Figura 18– Fases da análise do material empírico

Fonte: Minayo, Souza, Constantino e Santos (2007).

A etapa de Pré-Análise iniciou-se com a transcrição dos áudios gravados durante

os grupos focais e entrevistas. Por meio do recurso computacional, importação de fonte, os

dados foram transportados para o software NVivo, gerando um banco de dados para

organização e codificação do material empírico.

Após este procedimento, iniciou-se a etapa seguinte, Exploração do Material.

Nessa fase, por meio da leitura flutuante e exaustiva pode apreender as ideias centrais e

relevantes para sua codificação e categorização. A codificação compreendeu a escolha de

unidades de registro, a seleção de regras de contagem e a escolha de categorias. Unidade de

registro (UR) é a unidade de significação a codificar, a qual pode ser o tema, palavra ou frase.

A frequência com que aparece uma UR denota importância. Já como Unidade de Contexto

(UC) é considerada o pano de fundo que dá significado à unidade de análise, serve como

unidade de compreensão para codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da

mensagem. É a parte mais ampla do conteúdo analisado e indispensável para decodificação do

material a ser analisado (BARDIN, 2010).

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Esse processo de recorte textual das unidades de registro e das unidades de

contexto é chamado também de codificação pelo software NVivo, sendo que são organizados

em “nós”, no qual o pesquisador reúne o material em um único lugar de acordo com seus

critérios de análise (QRS INTERNACIONAL, 2013).

A partir da leitura feita do material empírico, designou-se a UR selecionada do

texto para seu devido nó. Dessa forma, se criou a partir dos nós livres, os “nós de árvore”,

conhecidos como temas e subtemas.

É importante ressaltar que algumas subcategorias dentro das categorias foram

emergindo também ao longo do processo de recorte de dados, através dos relatos dos

participantes, numa formulação bottom-up, ou seja, que deriva de baixo para cima, do campo

empírico para o campo teórico (GUERRA, 2006).

Após os dados codificados e devidamente organizados, iniciou-se o tratamento

dos dados. Nesse momento, volta-se atentamente aos marcos conceituais e teóricos

pertinentes à investigação para que se possa inferir e interpretar mediante a articulação do

material empírico coletado e o referencial teórico proposto.

A seguir, apresenta-se um organograma representando a constituição do corpus do

presente estudo:

Figura 19– Constituição do corpus do estudo

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS

O projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade Estadual do Ceara (UECE) e a pesquisa de campo se iniciou após sua aprovação

mediante parecer de aprovação no. 735.550 de 01/08/2014. Os sujeitos entrevistados

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assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICES D, E e F) para sua

participação na pesquisa, atendendo aos princípios éticos, conforme Resolução 466/12 do

Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012).

Em se tratando dos aspectos éticos em pesquisa envolvendo seres humanos,

consta na Resolução 466/12 que “individual ou coletivamente, tenha como participante o ser

humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o

manejo de seus dados, informações ou materiais biológicos“ (BRASIL, 2012).

As entrevistas e os grupos focais foram gravados na íntegra com autorização

prévia dos entrevistados. Após gravação, foi colocado à disposição do entrevistado, para que

o mesmo pudesse ouvi-la, e caso desejasse modificar ou acrescentar questões relativas ao seu

depoimento ficasse a vontade para fazê-lo. Dessa forma, foram utilizados letras para

identificar as falas utilizadas. Usou-se “E” para enfermeiros, “M” para médicos, “G” para

gestores, “ACS” para agente comunitário em saúde e “U” para usuário.

Vale salientar, que mesmo após analisados, o material será guardado por cinco

anos, sob responsabilidade do pesquisador para serem utilizadas por outros pesquisadores que

se interessarem sobre o tema em estudo, contanto que seja preservado o anonimato dos

sujeitos.

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67

4 ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 APRESENTANDO OS COLABORADORES DAS PESQUISAS

Os colaboradores deste estudo caracterizam-se como profissionais jovens, com

idade variando entre 20 a 60 anos.

No que se refere ao sexo dos profissionais de saúde e gestores, houve

predominância do sexo feminino, representando 77%. O que corrobora com o PNAD (2008),

que identifica que há uma concentração maior da participação laboral feminina em alguns

setores, em especial, o setor saúde. Dessa forma, decorrente do papel da mulher na sociedade,

há uma injusta divisão social e sexual do trabalho, que acarreta na sobrecarga de trabalho

(BARBOSA et al, 2012).

Quanto ao vínculo empregatício, 47% dos colaboradores apresentavam mais de

um vínculo empregatício. Diante dessa realidade, é válido frisar que estudos relacionados a

segurança do paciente enfatizam que a sobrecarga de trabalho está diretamente relacionada a

ocorrência de erros relacionados ao cuidado. É sabido que os riscos dos profissionais de

cometer erros aumentam em jornadas superiores a 40h semanais, quando em turnos que

excedem 12 horas e/ou quando se submetem a hora extra (ROGERS et al, 2004; HOLDEN et

al, 2011; LIU et al, 2012; NOVARETTI et al, 2014). Olds e Clarke (2010) demonstraram que,

mesmo no caso de horas extras voluntárias, cada período adicional de três horas de trabalho

por semana, passado 40 horas, foi associado com um aumento médio de 3% de erros na

medicação ou dose e de 3% de lesões por punção venosa. Ainda sobre o excesso de trabalho,

segundo Needleman et al (2011), o cuidado de saúde associado a um dimensionamento

inadequado de trabalhadores está associado a aumento de mortalidade de pacientes.

No que se refere à idade, a maioria dos colaboradores da pesquisa é composta por

adultos jovens (71%), prevalecendo a faixa etária entre 30 a 40 anos de idade. Evidenciou-se

ainda que 39% mostraram-se com tempo de formação entre 11 a 15 anos. Devido a isso houve

certa dificuldade para a realização das entrevistas decorrente do desconhecimento da temática.

Ressalta-se que o Programa Nacional de Segurança do Paciente é recente e ainda é

desconhecida por alguns profissionais, principalmente pelos profissionais e gestores na

Atenção Primária à Saúde (APS). Em geral, os colaboradores da pesquisa que conheciam a

temática estavam ligados à instituição hospitalar aonde a temática vinha sendo trabalhada.

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Atrelada ao desconhecimento da temática, outra problemática existente é a

dificuldade nas matrizes curriculares em integrar saberes de disciplinas diversas que para a

segurança do paciente é uma competência primordial. Percebe-se que a formação dos

trabalhadores, em especial dos profissionais, e gestores em saúde ainda está em transição para

a perspectiva de um modelo mais democrático e adequado para o SUS. Ainda sobre

formação, 71% dos participantes são especialistas em áreas diversas.

Dos colaboradores, 15% apresentam bolsa de incentivo, sendo que 100% destas

bolsas é Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE). Nesta bolsa de

incentivo, as UAPS recebem alunos das universidades. O PET- Saúde consiste em um

programa do governo federal a fim de formar graduandos em saúde de acordo com as

necessidades do SUS por meio de sua inserção na APS, bem como um instrumento de

qualificação em serviço dos profissionais de saúde (BRASIL, 2011). Dessa forma, é possível

troca de saberes entre os trabalhadores de saúde e os graduandos.

Quanto ao tempo que está no serviço, 71% apresentavam entre 6 a 10 anos, destes

93% são funcionários públicos egressos mediante concurso público. A permanência do

profissional de saúde no serviço por períodos prolongados pode favorecer a formação do

vínculo com a comunidade. Segundo Merhy (2009), o vínculo entre profissional e usuário

refletem os momentos de intersecção e do encontro trabalhador-usuário no cotidiano da APS.

Ressalta-se que a permanência desse profissional na unidade de saúde não necessariamente

proporcionará que isso aconteça, já que esses momentos de encontro envolvem interesses

distintos, necessidades diversas e estão relacionadas diretamente com o acolhimento, ou seja,

ouvir o usuário e dar respostas as suas demandas (MERHY, 2009).

Embora para GONÇALVES et al (2014) o vinculo empregatício seja uma

preocupação frequente entre os gestores da APS por sabe-se que sem vínculos empregatícios

estáveis, a rotatividade aumenta (VIEIRA et al, 2004) e prejudica a longitudinalidade e

continuidade na APS, a grande maioria dos profissionais e gestores do estudo são concursados

e sua rotatividade é relativamente baixa.

Foi observado que 78% recebem proventos entre 6 a 20 salários mínimos. O

salário dos profissionais de saúde na APS em Fortaleza é o maior quando comparado a

municípios do estado e até mesmo no país. Segundo Schrader (2012), os participantes de seu

estudo afirmaram que a qualidade do atendimento não deve ser condicionada ao salário que o

trabalhador recebe. Até porque já se sabe que apenas as questões salariais não são

determinantes para a satisfação no trabalho. Herzberg (1975) já considerava o salário como

um fator para evitar a insatisfação, sendo considerado por ele como fator extrínseco à

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satisfação. Entretanto, o conteúdo do cargo, a natureza das tarefas que o indivíduo executa e

as recompensas ao desempenho profissional são fatores intrínsecos para a satisfação e,

portanto, determinantes para motivação profissional. Salienta- que a 90% dos usuários

apresentam renda mensal de dois salários mínimos, evidenciando-se a grande desigualdade

social.

Ainda sobre o que tange os aspectos salariais, outro aspecto identificado nas

entrevistas realizadas foi a diferença salarial entre as categorias profissionais,

sequencialmente: o médico possui os maiores proventos, o cirurgião-dentista, o enfermeiro e

os gestores.

Vieira et al (2004) também identificou as divergências salariais entre as categorias

profissionais na APS e esse fato, consequentemente, provocaria rivalidades e insegurança.

Como averiguado também por Pinto, Meneses e Villa (2010), as diferenças salariais

comprometem as relações de trabalho e profissionais. Para os médicos, a diferença do salário

com a enfermeira justifica-se pela formação, pela responsabilidade e pela valorização no

mercado de trabalho. Enquanto que para os enfermeiros essa condição é injusta, já que o

enfermeiro tem maior vínculo com a comunidade e a maior parte das atividades

administrativas é de sua responsabilidade (PEDROSA,TELES, 2001).

De fato, o salário é um fator que pode influenciar na satisfação do profissional de

enfermagem. No Brasil, aponta-se que a insatisfação do profissional enfermeiro está

relacionada ao acúmulo de atividades e às escassas perspectivas de obter novos

conhecimentos, prejudicando a qualidade do seu desempenho junto ao usuário, tornando o

cuidado menos seguro (DEL CURA, RODRIGUES, 1999).

Salienta-se que a satisfação profissional é um ponto chave, já que influencia o

comportamento do trabalhador e implica em menos erros no cuidado prestado (LOCKER,

1984).

4.2 EXPLORAÇÃO DO MATERIAL EMPÍRICO COLETADO

Inicialmente, analisou-se a exploração geral do material empírico sem o

aprofundamento para cada classe temática construída. Essa visão geral e panorâmica dos

dados coletados foi feita utilizando os recursos do software NVivo a partir do agrupamento

de todas as codificações características de cada tema de análise, no caso, Produção do

Cuidado na APS e Segurança do Paciente na APS. Com isso, foram obtidos 239 unidades de

registros (UR) relativos a 100% do corpus analisado.

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Dentre os recursos utilizados, destaca-se a análise de agrupamento que gera um

diagrama de árvore (Dendrograma). A análise de agrupamento é um recurso usado com

frequência em pesquisas quantitativas. Entretanto o software admite que seja utilizado em

pesquisas qualitativas, permitindo o cruzamento entre o conjunto de codificações que compõe

cada classe temática estudada (SANTANA, 2014).

A partir disso, foi possível gerar uma imagem para visualização de semelhanças

de codificação. O outro recurso utilizado foi a consulta de pesquisa de texto que gera uma

árvore de palavras. Por meio de seus galhos é possível visualizar os diferentes contextos em

que a palavra ou frase ocorre. Permite também visualizar o conteúdo das codificações em

busca de tendências nas expressões dos sujeitos da pesquisa (SANTANA, 2014).

A partir desses recursos, as codificações semelhantes se agrupam no mesmo ramo.

Já as codificações não tão semelhantes, se agrupam em ramos mais distantes. Como

observado na Figura 20 a seguir.

Figura 20 – Diagrama de Árvore por agrupamento por similaridade de codificação entre

os temas Segurança do Paciente na APS, Produção do Cuidado e Atributos para a Gestão

da Clínica

Fonte: Santana, 2014).

O diagrama revela que há conceitos semelhantes entre os materiais codificados

das respectivas classes temáticas, Produção do Cuidado e Atributos para a Gestão da

Clínica, visualizado pela proximidade dos ramos. Já a classe temática Segurança do Paciente

na APS apresentou menor relação de similaridade com esses dois temas citados.

A partir disso, pode-se inferir que os atributos, considerados essenciais para que a

gestão da clínica seja possível, apresentam conceitos associados à produção do cuidado

relatados pelos trabalhadores de saúde. Entretanto, percebe-se a similaridade menor desses

temas com a Segurança do Paciente na APS, evidenciando-se a necessidade de retomar essa

temática na APS com ênfase na integração dela com a produção do cuidado. Retoma- se

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71

posteriormente esta discussão na seção Segurança do Paciente na APS: Percepções e

conceitos atribuídos pelos usuários, trabalhadores e gestores.

Outro recurso utilizado pelo software NVivo foi a construção do mapa de árvore.

O mapa de árvore permitiu visualizar a comparação entre os nós por número de codificações

(QSR, 2011). Com a utilização da codificação, percebe-se a linha tênue que separa as

investigações quantitativas das investigações qualitativas, já que se pode atribuir valores a

dados qualitativos no momento que é categorizado, permitindo ser visto como quantitativo

(ATIENO, 2009).

As codificações são representadas pelo material empírico selecionado para cada

nó. Com isso, se podem visualizar panoramicamente os nós construídos e o quão foram

representativos por meio do tamanho do quadrado ou retângulos gerados, conforme

apresentado na figura 21.

Figura 21 – Mapa de Árvore por comparação entre os nós por número de informações

codificadas

Fonte: ATIENO, 2009.

Outro recurso para a exploração do material empírico é a visualização por

codificação por nó, no qual se pode visualizar a cobertura percentual de cada fonte, no caso,

os gestores entrevistados, relacionado aos nós construídos. Conforme visto na figura 22, a

seguir.

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72

Figura 22 – Cobertura percentual da codificação fornecida pelos gestores por nós

existentes

Fonte: ATIENO, 2009.

O gráfico revela que os gestores detinham maior frequência de informações

codificadas, isto é, unidades de registro, no que se refere visão sistêmica. O gestor,

geralmente, consegue ter dimensão do todo por vivenciar, na sua rotina de trabalho, a

necessidade de compreender como o sistema de saúde se configura já que em muitos

momentos é indagado pelo usuário para a resolução de suas demandas.

Frisa-se que esse dado não necessariamente indica que os gestores tenham de fato

uma compreensão sistêmica da realidade, mas há uma preocupação direta a respeito dela.

Diferentemente dos demais profissionais que muitas vezes têm uma visão fragmentada do

sistema de saúde. Além disso, segundo Andre et al (2014) a visão sistêmica é caracterizada

pelos gestores em seu estudo como uma das competências mais importantes para gestão eficaz

e eficiente.

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73

Figura 23– Cobertura percentual da codificação fornecida pelos enfermeiros por nós

existentes

Fonte: Andre et al 2014.

Para os enfermeiros, houve uma maior frequência de unidades de registros

relacionados a precarização do serviço. A precarização do serviço consiste na categoria que

aborda aspectos relacionados a pontos críticos no serviço. Entretanto, foi a categoria

profissional que mais apontou potencialidades para promover a segurança do paciente na

produção do cuidado. Acredita-se que isso decorra por ser o profissional que vivencie mais

diretamente os pontos críticos para o cuidado, tendo que muitas vezes enfrentá-los

diretamente, como visto na figura 23.

Figura 24 – Cobertura percentual da codificação fornecida pelos médicos por nós

existentes

Fonte: Andre et al 2014.

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74

Já a categoria profissional médica, apresentou maior quantidade de registro no nó

precarização e gestão autocrática. Observa-se que são capazes de identificar entraves

existentes ao cuidado seguro. Foi interessante perceber que de todos os grupos entrevistados,

os médicos foram quem demostraram menor quantidade de codificação para pertencimento.

Corroborando com os achados de Gonçalves et al (2009), os médicos tiveram

dificuldades em formular sugestões para a melhoria da APS, demonstrado na menor

quantidade de codificação na figura 24.

No que tange ao pertencimento, Kreindler et al (2014) refere a dificuldade que se

tem de engajar esta categoria, de fazer com que se faça parte do processo, principalmente nas

mudanças da organização nos serviços de saúde.

Os resultados da investigação corroboram com o estudo de Ahmed et al (2014),

que ao investigar quais seriam os atributos mais importantes para cuidado seguro na atenção

primária, liderança foi considerada a menos importante para 36% dos entrevistados.

Diferentemente de sua pesquisa feita em nível de atenção secundário, onde os médicos

conseguem desenvolver mais claramente sua liderança direcionada para a segurança do

paciente por meio de atribuições em diretorias clínicas, por exemplo.

Em seus achados, Ahmed et al (2014) remete ainda a necessidade de incentivar os

médicos generalistas a compreenderem seu papel de líder em sua prática na produção do

cuidado, já que estes profissionais são incapazes de reconhecerem como tal, considerando que

muitas vezes a segurança pode ser exercida mais na prática individual ao invés de uma prática

em equipe. Isso está diretamente relacionado a gestão do cuidado.

O consultório é um espaço onde o cuidado também acontece. Deve-se entender

que a primeira dimensão da gestão do cuidado encontra-se na responsabilidade profissional

mediante a postura ética do profissional da forma como concebe o outro (usuário) que

necessita do seu cuidado, a competência com que o profissional opera o seu núcleo de saber, o

que nos remete ao menor ou maior domínio técnico e científico para buscar as melhores

respostas para o problema apresentado pelo usuário e a capacidade de criar um bom vínculo

profissional-usuário (CECÍLIO, 2009).

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Figura 25– Cobertura percentual da codificação fornecida pelos dentistas por nós

existentes

Fonte: Andre et al 2014.

Já para os dentistas, conforme visualizado na figura 25, houve maior codificação

para a identificação de entraves para o cuidado seguro, assim como também visualizado na

codificação referente aos médicos. Entretanto, conseguiram visualizar potencialidades no

serviço que promovem o cuidado seguro. Araújo e Dimenstein (2006) identificaram que a

precarização do serviço faz com que esta categoria não opte em trabalhar na APS.

A figura 26 ilustra a relação entre as codificações do material empírico. Pode-se

perceber que das dezenove subcategorias, há similaridade de conteúdo entre doze delas.

Apesar de “Risco Clínico”, “Eventos Adversos” e “Risco Profissional” pertencer ao mesmo

encadeamento das dozes categorias similares, houve um distanciamento no que tange a

similaridade com o grupo. Observou-se também que “Produção do Cuidado”, “Atributos da

Gestão da Clínica”, “Entraves” e “Segurança do Paciente na APS” formam um outro grupo

por semelhança de codificação. Conforme a figura ilustra há encadeamento entre todos os

grupos, demonstrando alguma similaridade entre todos eles.

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76

Figura 26 - Diagrama de Árvore por agrupamento por similaridade de codificação entre

os temas Produção do Cuidado e Atributos para a Gestão da Clínica e suas categorias e

subcategorias construídas.

Fonte: Araújo e Dimenstein 2006.

4.3 ANÁLISE CATEGORIAL TEMÁTICA DO MATERIAL EMPÍRICO

Por meio da observação e das entrevistas realizadas com profissionais de saúde e

gestores e do grupo focal realizado com agentes comunitários de saúde e os usuários estão

representadas os resultados da análise categorial temática. Foram construídas duas classes

temáticas: Produção do Cuidado na APS e a Segurança do Paciente na APS.

A classe temática Produção do Cuidado na APS abrangeu 179 UR e subdivide-se em

três categorias e sete subcategorias que reúne aspectos relacionados aos atributos para que a

gestão da clínica possa ser efetiva e que estão diretamente relacionados a produção do

cuidado na APS. Além disso, vislumbra os entraves a produção do cuidado seguro (49 UR) ,

assim como também, as potencialidades (21 UR) e as possibilidades para a otimização do

cuidado prestado na perspectiva de quem o faz (trabalhadores de saúde), de quem o recebe

(usuários) e de quem faz a gestão (gestores). Conforme demonstrado na tabela 1 a seguir:

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77

Tabela 1 - Distribuição das categorias temáticas, subcategorias e respectivas

frequências da classe temática Produção do Cuidado na APS. N= 179 UR

CLASSE

TEMÁTICA

CATEGORIA

(CODIFICAÇÃO)

Ƒ (%) SUBCATEGORIA

(CODIFICAÇÃO)

Ƒ (%)

I- Produção do

Cuidado na APS

1. Atributos da Gestão da

Clínica (ATGC)

109

(60,8%)

1.1. Comunicação

(ATGCC)

46 (40%)

1.2. Liderança

(ATGCL)

22 (21%)

1.3. Visão Sistêmica

(ATGCVS)

20 (19%)

1.4. Pertencimento

(ATGCP)

12 (11%)

1.5. Trabalho em Equipe

(ATGCTE)

8 (9%)

2. Entraves a Promoção da

Segurança do Paciente

(EPSP)

49

(27,4%)

2.1. Precarização do Serviço

(PCESFEPS)

30 (61 %)

2.2. Gestão Autocrítica

(PCESFEGA)

19 (39%)

3. Potencialidades para a

Promoção da Segurança

do Paciente

(PSP)

21

(11,8%)

------ -----

Fonte: Elaborado pelo autor.

Já a classe temática Segurança do Paciente na APS contempla 60 UR, divididas em 2

categorias e 5 subcategorias. Ainda nesta classe temática, foi possível apreender as

percepções atribuídas à segurança do paciente pelos usuários, trabalhadores e gestores. Por

meio disso, foi possível ampliar a discussão acerca da temática, inclusive, identificando os

riscos e eventos adversos presentes. Conforme demonstrado na tabela 2 a seguir:

Tabela 2- Distribuição das categorias temáticas, subcategorias e respectivas frequências

da classe temática Segurança do Paciente na APS. N= 60 UR

CLASSE

TEMÁTICA

CATEGORIA

(CODIFICAÇÃO)

Ƒ

(%)

SUBCATEGORIA

(CODIFICAÇÃO)

Ƒ (%)

II- Segurança do

Paciente na APS

1.Percepções e conceitos atribuídos

pelos usuários, trabalhadores e

gestores. (SPESFPC)

31

(52%) ----

2. Riscos e Eventos Adversos na

APS: percepção dos trabalhadores,

gestores e usuários. (SPESFREA)

29

(48%) ----

Fonte: Elaborado pelo autor.

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78

Os dois temas que emergiram do processo analítico do campo empírico se reporta:

A Produção do Cuidado e sua Interface com a Segurança do Paciente na APS. A discussão

foi a partir do referencial epistemológico sobre os estudos de avaliação na perspectiva

qualitativa e marcos conceituais referentes à segurança do paciente, buscando-se o sentido e

significados do contexto investigado.

O objeto de estudo pressupõe uma interface entre os dois campos temáticos

amplamente discutidos e vistos separadamente pela literatura, tanto no campo teórico, como

no campo prático, sendo que a segurança do paciente é mais frequentemente vista em uma

perspectiva positivista.

Já a produção do cuidado na APS é vista numa perspectiva muitas vezes

distanciada do contexto real de onde ocorre e por quem a faz. Com isso, o objeto do estudo

sugere que há partes comuns entre eles, já que é no processo e no contexto da produção do

cuidado em que “riscos”, “erros” e “eventos adversos” ocorrem. Neste sentido, é

imprescindível minimizar essa dicotomia e integrar estes saberes.

Figura 27- A Produção do Cuidado e sua Interface com a Segurança do Paciente na APS

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.4 TEMA I: A PRODUÇÃO DO CUIDADO E SUA INTERFACE COM A SEGURANÇA

DO PACIENTE NA APS

Para a temática investigada, tomaram-se como referencial teórico, os estudos da

segurança do paciente e da gestão da clínica proposta por Mendes (2011), buscando-se

compreender a segurança na Atenção Primária por meio do material empírico coletado.

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79

4.4.1 Classe Temática I: Produção do Cuidado na Atenção Primária à Saúde

4.4.1.1 Categoria 1: Atributos para a Gestão da Clínica na APS

Esta categoria possui 109 unidades de registro relacionadas aos atributos que são

essenciais para a gestão da clínica e consequentemente para um cuidado seguro na APS,

sendo eles divididos em 5 subcategorias: comunicação, liderança, visão sistêmica,

pertencimento e trabalho em equipe.

Apesar de estes atributos estarem relacionados, são necessárias análises

específicas de como ocorrem na produção do cuidado na promoção da segurança do paciente.

A seguir, cada subcategoria será discutida à luz da literatura científica pertinente.

4.4.1.1.1 Subcategoria 1.: Comunicação

Segundo Mourão et al, (2009), a comunicação é muito mais que um meio pelo

qual o ser humano fornece informações para persuadir de forma a gerar mudanças de

comportamento, dentro de uma troca de experiências e para ensinar e discutir os mais

variados assuntos. Nesta perspectiva, a comunicação envolve relações interpessoais e,

frequentemente, podem ocorrer problemas, dificuldades e restrições de maneira que a

mensagem enviada não é decodificada corretamente (STEFANELLI, 2005), podendo ainda

ser expressada verbalmente ou não por meio de um olhar, por exemplo. Merhy (2006)

enquadra a comunicação nas tecnologias leves por se tratar das relações na produção do

cuidado vivo.

A não decodificação devida da informação foi observada nas UAPS investigadas.

Isso foi frequentemente observado e, várias vezes, relatados pelos colaboradores da pesquisa.

O que demonstrou o que Coelho e Jorge (2009) já apontavam: a necessidade do treinamento

dos trabalhadores para humanizar o cuidado, promovendo a execução de atividades de

acolhimento pautadas nas tecnologias das relações, tendo em vista a satisfação dos usuários.

Ninguém sabe lhe responder nada, ninguém sabe lhe orientar de nada, a gente fica

perdido [...] aqui não tem comunicação não, é o que eles dizem e ninguém não pode

dizer nada, é voltar, ir pra casa e pronto. (ACS 3, ACS 4, ACS 5, U2, U3)

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Já está bem documentado que a comunicação entre o usuário e a equipe de saúde

influencia nos resultados sanitários e implica no envolvimento das pessoas na elaboração e

monitoramento do seu plano de cuidado. Além disso, é um critério para avaliar a satisfação do

usuário no cuidado recebido (MENDES, 2011). Percebe-se que o processo de interação entre

usuário e profissional no interior do consultório é adequado. Interessante a inferência obtida

em um dos relatos, quanto ao significado do toque pelo profissional de saúde. Para o usuário a

linguagem não verbal por meio do exame físico ainda é algo importante, como relatado a

seguir.

[comunicação com profissional de saúde] [...] a gente está muito bem assistido, a

gente sai da sala muito bem esclarecida [...] Eu gostei, eles passam muito tempo

perguntando sobre tudo que a gente sente, eles vão examinar direitinho, examinar

pulmão, coração, tudo eu gostei dele mesmo assim [...] (U2, U3, U9, U11)

Para os profissionais de saúde, o processo comunicativo também se revela

adequado. Assim como também foi observado.

[comunicação profissional com usuário] Uma comunicação aberta, nós temos

liberdade de falar, de expor nossas opiniões, às vezes eu não tenho uma resposta

satisfatória, uma solução imediata, mas eu consigo explicar pra ele o que eu posso

fazer naquele momento [...] (D4, E4, M1, E1, D1, M4, E6)

Entretanto, os profissionais de saúde conseguem identificar as limitações na

comunicação, não considerando totalmente satisfatória, demonstrando que o processo

interativo não deve limitar-se ao consultório, mas que outros espaços e meios de comunicar-se

devem ser criados.

Não considero satisfatória [comunicação com usuário] a oportunidade de ter

comunicação com os usuários da sua própria área, pra fortalecer esse vinculo, é só

dentro do consultório... (E6)

Um aspecto que chama atenção é o número de interrupções durante o

atendimento. Durante o período de observação evidenciou-se em uma semana de atendimento

(32 horas/semanal). Destes, 12 horas são para demanda espontânea e 20h para demanda

programada. No entanto, o tempo de interrupções correspondeu a 35 minutos para demanda

programada. Durante o Acolhimento, há mais interrupções proporcionalmente ao tempo

destinado para esta atividade, totalizando 26 minutos. Dessa forma, observou-se que o

profissional em atendimento não conseguia concentrar-se totalmente decorrente do grande

número de interrupções, prejudicando sua comunicação com o usuário. Os profissionais

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relatam que “[...] tem muita gente que bate na porta só querendo informação, não quer

atendimento” (D1).

Ressalta-se que a comunicação é uma função da APS, sendo um indicador

importante para a qualidade do serviço de saúde prestada pela UAPS (MENDES, 2011).

Entretanto, percebeu-se que a comunicação fora dos consultórios dos profissionais é tensa e

bastante prejudicada. Foi visível a insatisfação dos usuários com o Núcleo de Atendimento ao

Usuário (NAC), conforme relatado a seguir.

[...] naquela janela de vidro como o pessoal que fica lá na porta não é esclarecedor

[..] a questão aqui é NAC, sempre NAC, a confusão sempre é na janela de vidro que

ninguém entende a linguagem deles [...] elas atendem muito mal, aquelas atendente

que ficam lá dentro [...] elas são muito ignorantes, elas não aceitam você dizer nada

[...] aconteceu de eu chegar aqui no NAC e dizer que a doutora não tá e a doutora

passar do meu lado [...] {reclamação junto ao NAC do usuário porque o NAC

marcou consulta errada} [...] e eu tenho culpa? Pra que eu fui dizer isso, ela só faltou

me engolir (U2, U8, U11,U12)

O NAC consiste no local que anteriormente era nomeado de SAME, onde

consultas, exames e marcação para os outros níveis de atenção são realizados.

É possível inferir o distanciamento existente entre os trabalhadores do NAC e os

usuários, longe do acolhimento esperado. Isso fica claro no discurso ao fazer referência à

“janela de vidro”, como barreira para o processo comunicativo e simboliza a frieza percebida

pelo usuário. Ressalta-se que não há vínculo destes trabalhadores com usuários e é

desconhecida a realização de capacitação para aprimorar este vínculo.

Porém, foi observada nesse setor a insatisfação dos profissionais que estão do

“outro lado da janela de vidro” no que se refere à sobrecarga de trabalho, já que as filas são

imensas e há poucos recursos humanos para o atendimento. Além disso, há poucas vagas

ofertadas para o usuário pelo sistema informatizado. Sem contar, que eles também são

vítimas do fluxo inadequado de informações. Percebe-se que algumas vezes as informações

são repassadas equivocadamente, sem uma apuração do que realmente ocorreu, seja falta de

material para realização de exames, seja a ausência de algum profissional da unidade.

Reis et al (2012) frisa que organizações de saúde com uma cultura de segurança

estabelecida se caracterizam pela comunicação fundada na confiança mútua. Com isso,

percebe-se a necessidade de melhorar a comunicação neste nível de atenção no que se refere a

aumentar o nível de confiança. Como demonstrado a seguir.

[...] ele ficou com o meu papel que é da consulta do meu menino, até hoje ele ficou de

ligar e não ligou [....] a gente faz aquela confusão, que é quando alguém grita, alguém

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briga, aí resolve [...] nunca vi um lugar pra ter mais cavalo que posto de saúde [...] eles

só chegam pra passar alguma informação pra gente usuário quando já tem virado uma

polemica [...] a gente passa a informação e quando chega é totalmente outra [...] (U8,

U9, U11, U12, ACS 1, ACS 3, ACS 5)

Diante deste contexto, isso é preocupante, a demanda não vem sendo atendida,

questiona-se o modelo de saúde ofertado, modelo centrado na doença, longe do que o SUS

preconiza. De acordo com as diretrizes para a implantação das Redes Assistenciais à Saúde

(RAS), a APS é o centro de comunicação, que é considerada sua função na APS (MENDES,

2011). Logo, é preocupante perceber o frequente ruído no processo comunicativo vivenciado

diariamente nas UAPS, relatados pelos usuários do serviço U1 e U7: “ [...] não tem uma

comunicação entre a unidade de saúde com o usuário pra informar [....] se alguém quiser

informação a gente tem que sair atrás [...]”, sinalizando insatisfação dos usuários, que se

apresentam tensos, verificando verdadeiros nós na rede.

Para os gestores, a comunicação foi apontada como uma “ferramenta importante”

(G1, G4, G6) por meio do qual há abertura entre a gestão e os usuários: “a gente tenta receber

todos os usuários para os que vêm fazer alguma solicitação sejam um pedido ” (G1, G4, G6).

Entretanto, foi observado e relatado pelos demais colaboradores da investigação,

limitações na relação interpessoal tanto entre gestores e trabalhadores de saúde, assim como

gestores e usuários.

[gestora da unidade] é uma tendência da unidade inteira evitar essa comunicação,

porque muitas vezes ela gera mais problemas do que soluções [...] (M6, E6, D6).

[...] se a gente chega lá na coordenação pra fazer queixa ou em outro setor qualquer

aqui dentro, ainda fazem questão de dizer que o usuário é barraqueiro, que o usuário

gosta de confusão... (ACS2, ACS4, ACS 12, U13).

“Barraqueiro” na linguagem informal e popular se refere a alguém que cria casos

por qualquer mínima divergência, seja de conceitos ou ações, com outra pessoa por meio de

conflitos expressos verbalmente, com expressões e até mesmo podendo causar danos morais e

físicos. Logo, é crítico o usuário perceber que é encarado dessa maneira, o que vai limitar

ainda mais a comunicação efetiva com os profissionais da UAPS.

Sabe-se que as instituições devem contar com estratégias efetivas de trabalho em

equipe e comunicação para garantir uma assistência segura ao paciente (WATCHER, 2010).

Entretanto, foi perceptível que o trabalho em equipe juntamente a gestão na unidade não é

efetivo. Dessa forma, compromete-se a implantação de uma cultura de segurança do paciente.

Uma estratégia que possibilita o compartilhamento de informações é por meio de

reuniões com trabalhadores de saúde. No período da coleta do material empírico, percebeu-se

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que estas não ocorriam, o que também foi relatado pelos trabalhadores de saúde. Pelo discurso

de G6:“[...] nós não estamos com um fluxo organizado de reuniões, elas acontecem sempre

em cima de uma necessidade”. Isto demonstra claramente a falta de planejamento das ações, o

que pode muitas vezes impossibilitar ações efetivas para a continuidade do cuidado.

Planejamento é uma competência fundamental para a gestão em saúde.

Infere-se que isso implique na ausência de quórum para que estas reuniões

ocorram, como relatado por G6 “{reunião}[...] duas vezes elas aconteceram mais a última já

foi extremamente esvaziada [...]”. Além disso, foi relatado pelos profissionais que os seus

resultados demonstram sua ineficiência. Atrelado a isso, os trabalhadores de saúde não são

sensibilizados previamente. Foi observado que as reuniões são marcadas subitamente e muitas

vezes já estão programadas atividades, dentre elas, atendimento a população.

Foi observado e relatado pelos trabalhadores de saúde a necessidade de que as

reuniões ocorram sistematicamente e que sejam programadas previamente. No relato de D6 a

seguir, percebe-se essa necessidade: “[...] não tem mais aquelas reuniões que existia

anteriormente, eu sou sincera, sinto falta disso [...]”.

Apesar da angústia percebida entre os trabalhadores, percebe-se que esse

sentimento também é vivenciado pelos gestores. Além disso, os gestores evitam o

enfrentamento junto aos trabalhadores, referindo a dificuldade vivenciada para que as

reuniões aconteçam. Dentre elas, foi citada a seguir por G1: “[...]ter uma reunião é mais

complicado por uma questão de horário, eles estão trabalhando em escalas”.

Há uma percepção de que reunião significa não estar trabalhando, por entender

que trabalho é quando o trabalhador está atuando junto ao usuário no atendimento a saúde.

Reunião é uma estratégia importante na perspectiva de encontro de pessoas que buscam um

mesmo sentido, seja entre gestores, entre trabalhadores e gestores; entre usuários, gestores e

trabalhadores, enfim, entre pessoas que buscam negociar, fazer arranjos rumo a um sentido.

Ressalta-se que os gestores também são “vítimas” e “vilões” desse processo, pois

muitas vezes também não tem como argumentar com os gestores dos outros níveis, recebendo

previamente as determinações do que deve ser feito. No entanto, deixam-se moldar no

processo e não rompem com tais linhas, buscando estratégias e flexibilidade em seu grupo de

trabalho. Sabe-se com isso, que enfrentam dificuldades como comunicar-se junto aos

trabalhadores, como relatado a seguir por M4: “[...] é muito informal, espontâneo, ainda não

tenho participado assim de reuniões”.

As reuniões previamente agendadas seriam uma forma de minimizar conflitos nas

relações interpessoais, que são essenciais para o cuidado seguro.

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[...] ocorrem mudanças e essas mudanças só são avisadas pra gente depois [...] são

informações que são úteis e elas não são passadas em tempo hábil, elas chegam

praticamente de surpresa (D1)

A reunião é um espaço necessário para planejar e definir estratégias para o

cuidado da população que faz uso do serviço de saúde. Segundo Silva e Trad (2005), a

reunião tem uma função importante enquanto possibilidade dos diversos membros da equipe

conhecer o trabalho do outro e de discussão dos problemas que se apresentam na prática

cotidiana da equipe. As soluções para os problemas identificados são negociadas e se procura

construir consensos.

Embora sempre provisórios, os consensos buscam refletir os interesses dos

profissionais ou ao menos, a opinião da maioria. Entretanto, percebe-se que não há um

interesse de que as reuniões aconteçam a fim de que dessa forma se evite o enfrentamento.

Isso foi observado e relatado algumas vezes pelos profissionais de saúde.

Como enfermeira pertencente à Estratégia Saúde da Família, a pesquisadora

vivencia a dificuldade no que se refere à comunicação na APS. As informações são

desencontradas e muitas vezes implicam diretamente na organização do serviço.

Outro agravante é a falha quanto a sinalização no interior das UAPS. Diante disso,

os usuários se sentem perdidos nas UAPS. Então, há ausência de fluxos, comunicação dúbia

da gestão, de ordem macro e micro, comunicação limitada nas relações entre os grupos de

trabalho, entre as equipes da Estratégia de Saúde da Família.

A produção do cuidado deve ser operada dinâmica e ciclicamente, sob atuação de

vários trabalhadores, numa lógica produtiva determinada macro e micro politicamente na busca de

sentidos que venham ocasionar impacto nas ações de cuidado que desenvolve. Os conceitos

adotados devem dialogar com as ações empreendidas pelos profissionais da saúde, suas

implicações e divergências. A incorporação desses conceitos precisa ser refletida, tendo em vista a

sua potência de utilização em diversos cenários (MERHY, 2002).

No micro espaço das equipes, também há dificuldade no que compete a

elaboração de planos terapêuticos singulares. O plano terapêutico singular incorpora a

interdisciplinaridade que recolhe a contribuição de distintas profissões. O termo “projeto”

sinaliza a discussão prospectiva e não retrospectiva. Já o termo “singular” remete a essência

do projeto terapêutico, buscando-se alcançar o cuidado, a melhoria da qualidade de vida dos

usuários, ampliação do entendimento e apropriação do processo saúde doença (PINTO et al,

2011).

Os gestores apresentam dificuldade em utilizar a comunicação como ferramenta

para agregar esforços. Foi interessante o relato pelo profissional D4 de associar a boa

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comunicação com a segurança do paciente na APS: “[...] uma boa comunicação pra esse

paciente pra que ele possa tá informado, pra ver se ele vai tá se sentindo seguro naquele

ambiente [...]”.

Diante disso, entende-se que a educação permanente poderia voltar-se para o

acompanhamento dos colaboradores e construir estratégias nas UAPS a fim de que a

comunicação melhorasse. Enquanto isso se houvesse um vínculo entre o espaço acadêmico e

as UAPS para o desenvolvimento dessa competência ainda na formação desses profissionais,

haveria uma forte possibilidade para a promoção de um cuidado mais seguro.

4.4.1.1.2 Subcategoria 2.: Liderança

A liderança é um atributo da gestão em saúde. Gera e aplica energia nas pessoas,

proporciona-lhes uma direção e sincroniza seus esforços. Com efeito, representa o indicador

fundamental do potencial de uma empresa, pois, diferentemente dos resultados financeiros,

que apenas indicam onde a empresa já esteve. Uma forte liderança faz com que uma boa

empresa seja ainda melhor da mesma forma que, com certeza, uma fraca liderança reduz seu

potencial e, com o tempo, o destrói (CHARAN, 2008).

Entretanto, nos achados da presente investigação, os gestores acreditam que suas

funções remetem o de “fornecer condição (G6)” para que o cuidado seja realizado. Não

havendo uma percepção por parte deles ampliada do real papel do líder.

Sabe-se que liderança é um processo de influenciar as atividades de um indivíduo

ou grupo para que um objetivo seja alcançado em uma dada situação (HERSEY,

BLANCHARD, 1986).

Essa habilidade apresenta-se limitada quando o gestor no seu discurso, conforme

visto no depoimento a seguir, refere-se que foi dada autonomia para que um protocolo fosse

elaborado e mesmo assim o documento não foi implementado. Evidenciando-se a dificuldade

do gestor em desempenhar tal competência, já que não basta apenas solicitar, é necessário que

participe ativamente do processo para que ele ocorra. Essa dificuldade pode ser demonstrada a

seguir no relato do gestor (G6): “[...] a gestão te dar total autonomia pra que esse protocolo

seja implementado e providenciar os insumos para que isso aconteça e a coisa não saiu [...]”.

Já se sabe que a ausência de liderança é uma barreira para a promoção de uma

cultura de segurança do paciente (QUES et al, 2010; AHMED et al, 2014; TSUNO,

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KAWAKAMI, 2015). Já que é por meio da liderança que se podem transformar os sistemas

de prestação de cuidados primários.

Acredita-se que o cuidado centrado no usuário é fundamental na cultura e na

organização da atenção primária. Logo, líderes engajados podem mobilizar recursos,

estrutura organizacional e processos clínicos adequados para que essa mudança ocorra

(McMULLEN et al, 2013).

Ainda para os gestores investigados, são características imprescindíveis para o

desempenho de sua gestão: “fornecer insumos, ter bom senso, elogiar quando necessário,

saber entender e desenvolver a descentralização das ações gerenciais”(G1,G6, G4).

Entretanto, Costa et al (2015) infere que o trabalho do líder na APS exige

articular estratégias institucionais com ênfase na promoção da saúde e na efetivação dos

princípios do SUS, mobilizando atitudes e habilidades em prol do coletivo, trabalhando

sempre no gerenciamento e organização da UAPS na qual atua, harmonizando os recursos

humanos com os recursos materiais que possui para a realização do cuidado. Dessa forma, o

papel do gestor como líder não pode ser observado pela pesquisadora e nem relatado pelos

colaboradores da pesquisa.

Diante dessa realidade, os trabalhadores de saúde esperam que o gestor tenha uma

postura de líder. Para eles, o líder é:

[...] uma pessoa dinâmica, formadora de opinião, que divulga e sabe conduzir o

grupo, motiva, compartilha, escuta opinião, junta e une a equipe, articula as pessoas

por meio do diálogo, ajuda na organização, negocia, postura decisiva e permite que

sejam relatas as necessidades (D1, D4, D6, M1, M1L, M6, ACS 6, ACS 8, E1, E4).

Para a govenança da RAS, uma liderança orientada para a ação cooperativa e para

a comunicação de objetivos e de estratégia é fundamental. A liderança efetiva tem as

seguintes características: é inclusiva, não exclusiva; encoraja a participação de todos na

missão, visão e valores das RAS; desenvolve lideranças em todos os níveis do sistema; avalia

as necessidades das pessoas usuárias das RAS; e desenvolve uma cultura sistêmica que foca

na melhoria contínua do desempenho do sistema para atender a essas necessidades

(MENDES, 2011).

Percebe-se que os trabalhadores têm uma visão ampliada sobre o papel do gestor

para cuidado seguro. Acredita-se que isso se deva ao sofrimento com atitudes inadequadas

que os gestores venham a desempenhar. Dessa forma, promove uma reflexão aprofundada

frente ao estilo de liderança desenvolvida nestas UAPS.

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Ainda foi relatada pelos profissionais de saúde uma limitação no que se refere ao

papel do líder. Para alguns, o líder é alguem que organiza papéis, remetendo a função de

organização que perpassa ao líder. Entretanto, é importante que o gestor não se reduza apenas

a esta função.

[...] tenho colegas também no meu setor que gostam também de estar liderando,

organizando papéis, trabalhar com a parte burocrática, de estar nesse processo de

organização dos processos de trabalho, organizando eventos [...] (D4)

De fato, ao serem indagados sobre como qualificariam a gestão, tanto os usuários,

quanto os trabalhadores não estão satisfeitos, qualificando até mesmo como “péssima” a

atuação do gestor (U8, U10, U13). Aliado a baixa resolubilidade das demandas dos usuários e

dos trabalhadores de saúde ao gestor, como observado e relatado a seguir: “[...] a gente chega

para fazer uma reclamação na coordenação, ela simplesmente diz: eu não posso fazer nada”

(ACS 6).

Entende-se também que há insufuciência de insumos e falta de autonomia para

decisão em alguns setores estratégicos pelo gestor da UAPS. Setores como NAC, laboratório

e Farmácia estão sobre a coordenação de outro gestor, que não é o mesmo da direção geral. A

descentralização parece interessante. Entretanto, se o gestor desses setores, que são

considerados críticos, na UAPS, não tiver uma postura resolutiva e trabalhar conjuntamente

com o gestor geral da APS haverá dificuldades para resolver as demandas do usuário.

Houve ainda relatos de comportamento opressor pelo gestor, mediante uma

relação difícil e distante (M6, E6, D6, ACS7, E4, M4, D4). Assim como também o

comportamemto de passividade (M2). O que foi constatado no período de observação no

campo empírico.

Foi interessante observar que o profissional enfermeiro é tido como uma possível

liderança nas unidades. A liderança do enfermeiro é vista pelos colaboradores da pesquisa

como alguém que resolve problemas da equipe e dos usuários e está mais sensivél as questões

relacionadas ao gerencimento da equipe. Isto foi relatado pelos colaboradores da pesquisa

também: “[enfermeira] supõe essa liderança junto a equipe, flui muito bem [...] (M1, M2)”.

Acredita-se que isso se deva a sua formação profissional, por possuir no seu

currículo disciplinas relacionadas a gerenciamento, assim como também suas atribuições na

ESF, como coordenação dos agentes comunitários de saúde e da equipe de enfermagem.

Porém, ainda percebe-se que sua atuação limita-se a uma liderança diretiva com ênfase na

supervisão dos liderados. Isso também foi observado na pesquisa de Costa et al (2015). Em

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estudo recente, a liderança foi apontado como a competência mais importante e mais presente

nos gerentes de enfermagem (FURUKAWA, 2011).

Atualmente, propõe-se um novo tipo de liderança: liderança coaching. A

Liderança Coaching é um novo direcionamento das organizações do setor saúde e inovadora,

sendo oportuno e necessário estudá-la em nossa realidade, por que há poucos estudos a

respeito. A essência do Coaching é o desenvolvimento das competências para alcance das

metas (CARDOSO, RAMOS, D‟INNOCENZO, 2011).

Dessa forma, corrobora-se com Paduzzi (2011) que o papel do gestor na UAPS

está relacionado à construção do compromisso das equipes e dos trabalhadores com o projeto

institucional, estímulo à autonomia das equipes, definição de responsabilidades e

accountability na promoção de mudança da cultura institucional e supervisão externa.

Diante deste complexo contexto, apesar da escolha do gestor se dar por meio de

seleção pública e todos os gestores serem servidores do munícipio, percebe-se a necessidade

de aprimoramento para desempenhar as funções gerenciais. Já que na formação profissional

durante a graduação, ainda é pouco enfatizando e quando enfatizado não é voltado para as

necessidades do SUS. Além disso, capacitações efetivas e aporte para tomada de decisão e

resolução de problemas são fundamentais.

Diante dessa realidade, exigem-se profissionais com competências diferenciadas,

com novos requisitos de qualificação, novos perfis, comportamentos e habilidades

(SIQUEIRA, 2014).

Com isso, houve um processo de reestruturação do setor saúde, o que favoreceu

transformações no ensino a fim de aproximar a formação dos profissionais com a realidade

dos serviços de saúde pública para que se gere uma resposta a sociedade. Logo, a

complexidade do campo de atuação dos profissionais de saúde exige o desenvolvimento de

competências, traduzida em conhecimentos, habilidades e atitude, que possibilitam a atuação

multiprofissional na promoção da saúde.

Essas competências foram definidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os

cursos da área da saúde de forma democrática e com participação popular e podem ser

definidas como: atenção à saúde, tomada de decisão, comunicação, liderança administração e

gerenciamento. Os cursos da área da saúde devem desenvolver essas competências em

consonância com seus projetos políticos-pedagógicos (BRASIL, 2001).

4.4.1.1.3 Subcategoria 3: Compreensão Sistêmica

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A compreensão sistêmica vem se tornando cada vez mais necessária nos

ambientes de produção do cuidado decorrente da complexidade dos sistemas de saúde.

Segundo a concepção de Chechetto e Ming (2012), quando se trabalha „sistema‟, requer a

visão do todo, interação, autonomia, organização e objetivos, a interação complexa entre

componentes e o meio requer a compreensão dos níveis. O „complexo‟ origina-se do

emaranhado de eventos, interações, retroações, incidentes que constituem o mundo dos

fenômenos (MORIN, 2003).

Diante da necessidade de interação no sistema de saúde, Mendes (2001) propôs a

construção das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no SUS por meio de uma análise crítica da

fragmentação do sistema público brasileiro e sugeriu a integração dos sistemas de saúde que

articulassem os territórios sanitários, os componentes de integração e a gestão da clínica. Em

seus estudos Mendes relata ainda que a integração dos sistemas melhoram os resultados

clínicos, sanitários e econômicos.

No entanto, no que se refere à integração desse complexo sistema em níveis de

atenção, observou-se em todas as unidades visitadas, o descontentamento da população,

principalmente no que se referiu aos encaminhamentos a outros níveis de atenção, decorrente

da insuficiência de oferta nos serviços nos outros níveis de atenção.

Assim como visto também por Almeida et al (2012), essa insuficiência de oferta é

uma barreira quase instransponível para a coordenação entre os níveis, acarretando sempre

longos tempos de espera e impossibilidade de cuidado oportuno, mesmo que os mecanismos

de integração estejam desenvolvidos. Entretanto, apesar das mudanças no sistema de saúde

municipal, a população ainda não conseguiu sentí-la. O usuário permanece com seu acesso

limitado no serviço especializado, como relatado por U11: “[...] vai para o Gonzaguinha e não

tem também atendimento, eles dizem que o atendimento tem que ser no posto [...]”.

Percebeu-se também que não há uma definição clara para os profissionais que

pertencem aos serviços da rede de atenção sobre o papel desempenhado em cada nível. Com

isso, o usuário permanece sem saber ao certo onde realmente deveria estar. Como é relatado

frequentemente pelos usuários ao chegar ao nível secundário: „não você tem que ir para o

posto‟, „pode lhe atender lá no posto‟[...] eles mandam pra UPA, quando chega na UPA não é

resolvido também, volta para o posto [...] (U8, U9 e U10).

Além do descontentamento vivenciado pelos usuários, os trabalhadores de saúde

também referem-se à dificuldade da APS em coordenar os níveis de atenção, não havendo

nenhum tipo de contato entre estes níveis. Como profissional, a pesquisadora também percebe

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esta dificuldade em acompanhar o usuário. Esta dificuldade ainda persiste mesmo nas UAPS

que foram reformadas e preconizam o novo modelo da APS para ESF de Fortaleza.

Curiosamente, foi relatado pelos profissionais que a segurança do paciente na

APS pode ser garantida por meio do seguimento/acompanhamento do usuário. Reforça-se que

na literatura internacional, o termo „continuidade‟ tem sido utilizado como sentido semelhante

a „longitudinalidade‟. Entretanto, considerou-se a definição de longitudinalidade como

“relação terapêutica estabelecida entre usuários e profissionais da equipe de APS, que se

traduz no reconhecimento e utilização da unidade básica de saúde como fonte regular de

cuidado ao longo do tempo” (CUNHA, GIOVANELLA, 2011). Já Starfield (2002) considera

a longitudinalidade um atributo central e exclusivo da APS.

Todavia, foi observado que os profissionais não conseguem garantir a

longitudinalidade do cuidado. Isso decorre, principalmente, pela oferta limitada do serviço

especializado e a falta de comunicação com os outros níveis de atenção. Associado a isso, há

uma visão reducionista pelos profissionais frente ao seu papel para assegurar a continuidade

do cuidado. Isso pode ser observado e inferido pelos relatos a seguir.

[...] a maioria dos pacientes que nos procuram eles têm a necessidade de um

atendimento secundário, de um atendimento terciário e muitas vezes eles ficam

soltos porque o sistema não favorece [...] não proporciona o seguimento do seu

tratamento e eles ficam perdidos [...] (M1, M2)

A distorção do papel da APS fica mais evidente neste relato do gestor (G6): “[...]

profissional da atenção secundária ele só sai do plantão quando chega o outro pra render e na

atenção primária ele não tem essa preocupação de passar plantão [...]”, quando o gestor

refere-se à necessidade de “passar plantão”, que remete ao cuidado hospitalar, que diverge do

cuidado a nível primário.

Atrelado a isso, percebe-se a insegurança dos profissionais frente à compressão

limitada dos usuários quanto ao seu fluxo no serviço de saúde. Com isso, entende-se a atitude

dos usuários quando em situações extremas se dirigem a UAPS, pois para o usuário a atenção

primária é resolutiva para ele. Seria talvez a oportunidade de fortalecer seu papel de

coordenador dos níveis subsequentes de atenção.

[usuário alvejado por arma de fogo] [...] ao invés de proceder um serviço de

urgência, terciário, ele procurou o posto [...] uma expectativa de que qualquer coisa

pode ser atendida na unidade de saúde [...] (E6, M1)

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Infelizmente, a comunicação entre os níveis de atenção é algo tão frágil, que no

decorrer na inserção do campo investigado, marcou-se uma reunião com gestor da atenção

especializada e gestor da atenção primária. Esta reunião teve que ser remarcada por falta de

coro.

Na reunião marcada, os especialistas médicos convidados para discussão não

compareceram. Com isso, foi relatado pelo gestor o prejuízo que tal situação ocasiona

principalmente aos usuários, já que os profissionais da unidade desmarcaram seus

atendimentos. Percebe-se claramente que a comunicação é frágil também no que se refere a

vagas disponíveis no sistema informatizado para o serviço especializado. Isto é, verificou-se

que há serviços especializados que têm a disponibilidade da vaga, mas não são visualizados

no sistema informatizado. Isso denota um erro grave e que limita ainda mais o acesso do

usuário na RAS.

Diante dessa realidade, há uma maior procura pelos usuários do serviço da UAPS

decorrente de suas necessidades não atendidas. Dessa forma, gerou-se um aumento de

consultas não programadas com ênfase no atendimento de emergência, , descaracterizando a

ESF, conforme relatado por M6: “[...] população tá vendo a unidade básica sem muita

diferenciação das unidades de pronto atendimento (UPA) [...]”.

Na consulta programada com o profissional de saúde foi percebido o

desconhecimento dos serviços de atenção da rede por parte dos usuários e pelos profissionais.

Há ainda dificuldade frente a organização dessa demanda, como relatado por M6:

“[...] como eu trabalho também em unidade de pronto atendimento o que acontece é: eu vejo

aqui o que é de lá e vejo lá o que é do posto [...]”.

Ainda mais grave, foi observado a distorção do modelo proposto. A atenção

primária à saúde na perspectiva de sua inserção na rede de atenção com ênfase nas condições

crônicas é o modelo que está se tentando implantar nestas unidades mediante a consultoria do

Dr. Eugenio Vilaça. Entretanto, é notória a distorção observada e relatada:

[modelo de saúde das cronicidades] dentro do próprio sistema existem contradições

na forma como ele é aplicado [...] {atendimento odontológico} os diabéticos e

hipertensos, antigamente existia uma atenção maior, no modelo novo da prefeitura,

os diabéticos foram deixados de fora [...] ( D1, D4)

Percebe-se que há um foco grande voltado para as consultas de curta duração,

onde grande quantidade de usuários é consultada com ênfase nas condições agudas.

Constatou-se ainda que os profissionais de saúde não foram sequer sensibilizados para esta

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mudança, evidenciando resistência ao mesmo, tendo em vista que desconhecem o modelo

proposto. Como relatado a seguir.

[...] prefeitura preconiza mais o acolhimento do que o PSF [...] essa DEPS acabou,

descaracterizou o PSF e a gente tem feito das tripas o coração pra conseguir um

tempo pra suprir a necessidade dos programas [...] (M2, M6)

Conforme citado nos relatos anteriores, na tentativa de reorganização do fluxo dos

usuários nas UAPS, criou-se o serviço „Acolhimento‟ também conhecido como demanda

espontânea (DEPS) com ênfase na díade queixa-conduta. Neste serviço, o foco são usuários

com queixas agudas e com necessidade imediata de atenção. A DEPS reforça o modelo

médico centrado, por ter seu foco estritamente na doença e na prescrição medicamentosa.

Fato é que se o usuário precisar de um encaminhamento para outro nível de

atenção, ele será direcionado para consultas agendadas, isto é, programadas, acarretando um

prolongamento desta condição. Com isso, pode haver um atraso do diagnóstico. Segundo

Wallis e Dovey (2009), os eventos adversos mais frequentes na APS estão relacionados ao

atraso do diagnóstico (16%). Essa incidência cresce no estudo de Wetzels et al. (2009) para

20%.

Diante da limitação apresentada pelos colaboradores da investigação no que tange

à compreensão sistêmica, há a necessidade de pensar no modelo formador para a Saúde da

Família. Em 1997, Demo já demonstrava o grande nó crítico relacionado a falha dos

especialistas em dar conta das necessidades de saúde dos indivíduos e da limitação dos

generalistas em abordar os pacientes integralmente, “distribuindo” os pacientes aos

especialistas. Não obstante, isso não se limita apenas à formação médica, mas a fragmentação

do indivíduo também pode ser vista nos demais trabalhadores de saúde. Essa reflexão foi

proposta a seguir: “[...] essa postura profissional é uma coisa que a gente precisa pensar na

faculdade, no modelo formador dos nossos recursos humanos [...]” (G6).

Além disso, os gestores também referem limitações na sua gestão local para lidar

com os entraves do sistema. Não havendo autonomia suficiente para transpor as dificuldades.

[...] infelizmente em alguns momentos não está dentro da governabilidade da gente

então, a gente vai ate onde a gente pode [...] vou dar um exemplo: um paciente que

precisa fazer uma tomografia computadorizada, a gente sabe que é um procedimento

de alto custo, um procedimento que é difícil hoje de conseguir no município porque,

todos os problemas que tem na parte especializada, então assim a gente tenta as

vezes, liga para a secretaria, tenta falar com alguém da regulação, envia email para

regulação pedindo que aquele paciente seja priorizado, que o caso dele é de

urgência, a gente tenta esgotar o que a gente pode, mas nem sempre a gente

consegue ter o acesso e o paciente tem que permanecer na fila de espera aguardando

para quando aparecer algum tipo de vaga para ele [...] então isso foge da

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governabilidade da gente, as vezes é um pouco frustrante porque a gente não

consegue ajudar, mas realmente não consegue resolver tudo 100% (G1).

Logo, a compreensão do todo favorece e amplia a discussão para a qualidade de

atenção prestada, tornando UAPS mais segura para o cuidado.

Entender que A UAPS “não são somente paredes” (D4) não é o suficiente para

transformar a realidade, mas já permite uma reflexão inicial sobre o cuidado integral e seguro.

Na abordagem da produção do cuidado em saúde, há necessidade de olhar o todo

e não somente as partes separadas. A ESF como estratégia facilitadora e estimuladora do

processo de ampliação e consolidação das redes de cuidado em saúde não se traduz em uma

prática linear e pontual, mas se constitui num processo gradual, dinamizada pela integração de

uma visão sistêmica e intermediada pela multiplicidade de relações e interações que

interferem positivamente tanto na atuação dos profissionais de saúde, quanto na dinâmica dos

usuários/famílias (BACKES et al, 2012).

Diante disso, considera-se o papel essencial do acompanhamento do usuário na

RAS, mesmo que haja obstáculos que aparentemente parecem intransponíveis. Isso permite

que o usuário se sinta seguro e evita até certo ponto que sua condição de adoecimento não seja

exacerbada.

4.4.1.1.4 Subcategoria 4.: Pertencimento

Pertencer-se está relacionado ao sentido do sujeito fazer parte de. Para o SUS

(BRASIL, 2009) está relacionado ao “empoderamento” para a construção de um sistema que

contemple ampla participação social e cogestão, estando relacionado com consciência

coletiva. Para tal, entende-se que o cuidado centrado no usuário é capaz de promover isso.

Ao capacitá-lo, permite-se que ele assuma seu cuidado em parceria com o serviço.

Entretanto, observou-se que o usuário não é inserido ativamente neste processo, no qual ainda

prevalecem as decisões clínicas pelos profissionais de saúde. Como pode ser visto, no relato

dos usuários U7 e U10: [solicitação para seguir a terapêutica] „a senhora tem que seguir

assim‟, às vezes é difícil, vou ser sincera [...].

Percebe-se que há resistência pelos usuários em seguir o que foi solicitado.

Mendes (2011) sugere o autocuidado apoiado como estratégia para empoderar os usuários

para autogerenciar sua saúde. Nessa perspectiva, o cuidado seria mais seguro e haveria menos

erros clínicos no seu seguimento e exige uma mudança de postura dos envolvidos. Dessa

forma, o usuário passa a ser protagonista na sua saúde. Neste processo, incluem-se avaliação

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do estado de saúde, metas a serem alcançadas, elaboração de planos de cuidado, ações para

resolver problemas e monitoramento.

Entretanto, os usuários ao ser indagados sobre participar conjuntamente com

profissional de saúde no seu cuidado, entendem que seu papel é apenas receber o que foi dito,

sem questionar. Conforme relatado por U3, U4, U10, U16, U19: “O médico é que tem que

dizer o que deve ser feito [...]”.

Diante disso, pode-se inferir claramente que ainda não houve avanço na proposta

pelo SUS de ultrapassar o termo „paciente‟ para „usuário‟. Talvez se deva ao processo

histórico no qual a população está inserida. O setor saúde, principalmente na APS, pode

possibilitar a emancipação por meio do autocuidado apoiado, pois sustenta o princípio de que

pessoas portadoras de condições crônicas conhecem tanto quanto, ou mais, de sua condição e

necessidade de atenção.

Dessa forma, pode-se inserí-lo e fazê-lo parte do seu cuidado. Ainda segundo

Mendes (2011) o autocuidado efetivo é muito mais que dizer o que o usuário deve fazer, é

desenvolver um sentido de auto-responsabilização sanitária. Já que segundo Freire (1999),

onde há assistencialismo não há responsabilidade, pois não há decisão, revelando passividade

e „domesticação do homem‟. Dessa forma, não há possibilidades de participar de sua própria

recuperação.

Diante dessa preocupação frente a cidadania no processo emancipatório na saúde,

fortalece-se os Conselhos de Saúde por meio da Lei 8142/90 que dispõe sobre a participação

da comunidade na gestão do SUS. Nesta proposta, nas UAPS reformadas, há salas destinadas

para os Conselhos de Saúde Local. Infelizmente, observou-se e foi relatado que são

subutilizados e mal-usados. Foi observado também que a comunidade, os profissionais de

saúde e os trabalhadores não conhecem os seus integrantes:

[...] a gente conseguiu fazer eleição, mas a partir dai, foram agendadas reuniões,

mas sempre esvaziadas, que não foram adiante e pessoas já abandonaram [...] (E4,

G6).

A concepção enraizada na maioria dos trabalhadores de saúde e dos usuários é de

que fazer saúde se resume a medicamentos. Com isso, os profissionais não valorizam o

espaço de diálogo para discussão de assuntos pertinentes para APS e os usuários utilizam esse

espaço como “balcão de reclamação”.

Há ainda aqueles que se recusam a frequentar às reuniões de controle social por

não compreenderem a dimensão política que a UAPS tem de espaço de discussão (CRUZ et

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al, 2012). Foi observado também que há um sentimento de indiferença também por parte dos

conselheiros de mudar essa realidade. No período de investigação, não houve nenhum contato

deles com os profissionais.

Dessa forma, reflete-se também sobre o papel do Conselho Local em estimular e

promover essa interação maior, tendo em vista que se supõe que tenham consciência social e

política do seu papel na transformação, em especial, da concepção de saúde.

Ainda segundo Cruz et al (2012), a participação nos conselhos permite a

transformação da participação popular nos serviços locais de saúde. Mas infelizmente esse

espaço se mantém fechado e subutilizado.

Freire (1999) acredita que somente será possível mudança por meio da

consciência, organização e participação da população. Essa mudança só pode ocorrer de

baixo para cima.

Portanto, corroborando com a ideia de Groene et al (2010), o empoderamento do

usuário permite constribuiçoes para a gestão da qualidade através do qual ele consegue

expressar suas necessidades, apresenta suas preocupações, elabora estratégias de participação

na tomada de decisão e alcança a ação política, cultural e social para atender suas

necessidades.

Outro aspecto importante é a autorresponsabilidade. Não apenas do usuário frente

a sua saúde por meio do autocuidado apoiado, mas também pelos profissionais de saúde.

Sabe-se que decorrente da cultura hegemônica médico-centrado e hospitalocêntrica, há uma

dificuldade para a produção do cuidado voltado para família e comunidade. Pode-se inferir

que a ausência de reflexão sobre o cuidado produzido e prestado limita ultrapassar esse

modelo, manifestando-se por meio de apatia, como relatado por M2: “[...] eu sou uma pessoa

pacífica, obediente, adoro obedecer, adoro ser mandada e ter chefe”.

Entretanto, observou-se também que há uma mobilização dos profissionais, ainda

que incipiente, na melhoria da qualidade. Mas ainda numa perspectiva reducionista e limitada,

sem organização e planejamento, conforme sugerido por M6, E6, D6: “[...] os próprios

profissionais, que resolveram se juntar para tentar amenizar muitas coisas”.

O sentimento de “pertença” pode ser a mola propulsora para a realização de

mudanças por meio de uma construção coletiva. Entretanto, observou-se que os profissionais

não se sentem fazendo parte e acreditam que os problemas vivenciados não lhe dizem

respeito. O relato do médico (M4) a seguir expressa a gravidade do fato, já que o princípio da

Estratégia da Família é estar inserido no território vivo e dinâmico: “[...] eu ainda não me

considero fazendo parte de uma equipe ainda, me sinto um pouco é excluído”.

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Para a promoção de um cuidado seguro, isso se torna crítico, pois a mudança para

uma cultura de segurança perpassa o empoderamento, que se acredita vai além do sentimento

de pertença. O empoderamento rompe com as dificuldades e vislumbra mudança para que se

mudem práticas e saberes. O cuidado seguro exige que o indivíduo esteja realmente inserido

no seu contexto laboral por meio de suas atitudes e sentimentos para realizar essa mudança.

Dessa forma, proporcionaria uma cultura de segurança, que influenciaria na qualidade na

assistência prestada (PAESE, SASSO, 2013).

Nessa perspectiva, os achados da investigação corroboram com os achados de

Moretti-Pires (2009) quando os pacientes são percebidos pelos profissionais como pessoas

sem instrução é o conhecimento médico que tem o papel de esclarecê-los, de iluminá-los.

Ainda o autor, defende que a abordagem à saúde é pautada no contexto cultural claramente

desconsiderando o conhecimento do usuário, assim como também a horizontalidade

necessária ao vínculo e à corresponsabilidade entre usuário e profissional, prevalecendo a

visão biomédica pautada na doença (MORETTI-PIRES, 2012).

Atrelada a essas considerações, a gestão do caso, ferramenta para a gestão da

clínica, objetiva que os trabalhadores de saúde advoguem pelo usuário em condição de saúde

complexa, em especial, o portador de evento crônico. O papel de advocacia implica em

defender os interesses do usuário, coordenar o cuidado em toda a rede de atenção à saúde e

empoderá-lo para o autocuidado e para sua autonomia (MENDES, 2011). Com isso, o

cuidado torna-se de qualidade e, consequentemente, seguro. Já que o sentimento de pertença

está diretamente relacionado ao cuidado seguro e de qualidade. Entretanto, observou-se essa

dificuldade no relato dos profissionais a seguir, que diverge do que foi observado.

Observou-se que há um interesse genuíno deles de resolver os problemas dos

usuários. Apesar de que isto nem sempre ocorre e depende do profissional conforme relatado

(D6): “[resolução de problemas dos usuários] [...] tem profissional que já tenta resolver,

outros já ficam mais distantes, indiferentes [....]”, articularam junto aos gestores de NAC e da

própria unidade pelo o que podia ser feito para atender aquela necessidade enfrentada pelo

usuário.

Entende-se que para que se advogue pelo usuário, tanto gestores, como todos os

trabalhadores de saúde, devem ter o sentimento de pertença embutido em si para que

assumam esse papel de gestor de caso. Isto ultrapassa as obrigações profissionais, estando

relacionado com mudança de postura profissional como relatado a seguir.

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[assumir a responsabilidade junto a população adscrita]..é um processo que a agente

não vai conseguir só com implantação de pops, é uma mudança de postura do

profissional frente a seu papel dentro da equipe...(G6)

Diante disso, o empoderamento permite a consciência social que ultrapassa a

tomada de iniciativa individual de conhecimento e superação de uma realidade em que se

encontra. A redução dos riscos existentes e dos eventos adversos na atenção primária seria

reduzida se todos os envolvidos na produção do cuidado se apropriassem de seu papel. Com

isso, talvez se conseguisse uma mudança radical nos cuidados prestados na APS, algumas

vezes cuidados não tão seguros.

4.4.1.1.5 Subcategoria 5: Trabalho em Equipe

Nas últimas décadas, a qualidade é uma máxima que ampliou a discussão sobre o

cuidado prestado em saúde. Neste contexto, emerge a necessidade da prática interprofissional

para aumentar a eficiência e eficácia na atenção à saúde (PEDUZZI et al, 2011).

A fim de atender essa necessidade urgente, o SUS percebe que fortalecer o

trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade

possibilita a humanização no cuidado (BRASIL, 2008).

O trabalho em equipe representa um processo de relações a serem pensadas pelos

próprios trabalhadores e tem múltiplas possibilidades de significados (VIEGAS, PENA,

2013). Mendes (2011) reforça ainda que a atenção multiprofissional não é apenas um grupo

de pessoas de diferentes categorias profissionais trabalhando juntas. Frequentemente esse

trabalho resume-se à participação de duas categorias profissionais, não havendo o

envolvimento entre todos os membros da equipe, como relatado a seguir pelos profissionais

M1, M2, D1, D6: “[...] o médico e a enfermeira tem mais essa proximidade de tá nos

comunicando e conseguindo fazer o melhor para o paciente [...]”.

A ineficiência do trabalho em equipe tem sido citada com frequência como fator

contribuinte para a ocorrência de eventos adversos. Já foi demonstrada que há maior chance

de ocorrer complicações e morte quando a equipe não interage adequadamente (WEAVER,

DY, ROSEN, 2014). Além disso, na perspectiva da gestão da clínica, a falta dessa interação é

um entrave sério. Cita-se a gestão da condição de saúde no instante em que haverá a

elaboração do plano de cuidado para o usuário. Neste momento é necessário atitudes para o

trabalho em equipe a fim de que esse plano seja realizado de forma a vislumbrar a realidade

do usuário.

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Observou-se também a baixa interação e ausência de momentos entre os

trabalhadores de saúde para o planejamento das ações de promoção da saúde e até mesmo de

discussão de casos clínicos. Como relatado pela profissional E1: “[...] no que é possível, no

que a gente consegue, a gente planeja juntos, mas nem sempre acontece [...]”.

Entretanto, é possível notar que há uma distorção sobre o real sentido da

finalidade do trabalho em equipe. Muitas vezes confundida com relação interpessoal.

Conforme visto no relata de M2: “[...] a minha equipe a gente trabalha junto há muito tempo e

nós temos uma parceria excelente [...]”.

A boa relação interpessoal é facilitadora desse processo, mas não pode ser vista

unicamente como condição para o trabalho em equipe. Afinal, segundo Mendes (2011) se faz

necessária a criação do espírito de equipe, que implica no compartilhamento de saberes e na

solução de problemas na comunicação, permitindo a otimização das habilidades de cada um.

Mendes (2011) reforça ainda a importância da interação produtiva com ênfase no

cuidado colaborativo:

[...] baseado em evidência e atendendo às necessidades de saúde das pessoas usuárias,

com participação da família e que envolve: a avaliação do estado de saúde; a avaliação

das habilidades e do grau de confiança para o autocuidado; a atenção personalizada e

estruturada em diretrizes clínicas; o plano de cuidado elaborado em conjunto pela

equipe de saúde e pessoa usuária, com metas e instrumentos de solução de problemas

acordados; e o monitoramento ativo e colaborativo do plano de cuidado (MENDES,

2011).

Situando-se que na proposta do cuidado colaborativo na perspectiva do plano de

cuidado, o plano é elaborado não só pela equipe, mas envolve o usuário. A partir disso, há o

estabelecimento de metas a serem cumpridas por todas as partes envolvidas por meio da

gestão colaborativa e centrada na pessoa e na família (MENDES, 2011). Essa proposta

pretende romper com o paradigma da relação de poder que existe na interação entre

trabalhadores de saúde e o usuário.

Assim como visto por Peduzzi et al (2011), em seu estudo sobre a contribuição da

ação gerencial para promover a prática interprofissional, a comunicação é a principal

ferramenta utilizada pelos gestores G1,G4 e G6, mediante relato a seguir : “ [...] o que eu

venho desenvolvendo é mais a comunicação”.

Entretanto, no processo de observação durante a investigação, esta ferramenta não

foi tão utilizada, reforçando a insatisfação dos profissionais referente à relação da equipe com

os gestores. Isso pode ser vislumbrando conforme relato desta gestora (G6): “[...] trabalhar

junto com as equipes de maneira a proporcionar condição pro trabalho delas [...]”.

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Estranhamente, os gestores apresentaram uma compreensão ampliada no que se

refere ao seu papel para propiciar o trabalho em equipe. Com isso, percebe-se o conflito

existente entre o que se diz e o que de fato ocorre e a compreensão pelo outro do que se esta

fazendo. Apesar dos gestores estarem convictos da promoção do trabalho em equipe, os

trabalhadores não conseguem perceber dessa forma, o que gera conflito e limita a

potencialidade desse trabalho.

Infelizmente, a investigação inferiu que no trabalho em equipe prevalece ainda o

modelo flexneriano/biomédico que reduz e fragmenta o indivíduo e o trabalho em saúde,

evidenciando a sobrecarga de uma categoria específica a fim de que organize o serviço, sem a

participação de todos os envolvidos. Há um destaque maior para a enfermagem neste processo

de organização, segundo relato desta gestora (G6): “[...] a enfermagem é quem acaba tocando

a atenção primária [...].

Diante de tamanha divergência de olhares entre os sujeitos da investigação, deve-

se apoiar uma mudança na cultura das instituições, onde se valorize pessoas, estimule novas

ideias, desenvolvam trabalhos em equipe e haja reconhecimento pessoal(OMS, 2012). O

trabalho em equipe, onde os profissionais estejam envolvidos com o planejamento e ações

conjuntas é uma necessidade para a melhoria da qualidade da assistência prestada, do acesso

integral e da atitude humanizada (TAVARES, QUEIROZ, JORGE, 2006). Sendo

imprescindível pactuações por meio de negociação entre os envolvidos no cuidado para que o

desfecho seja resolutivo. Isto é um aspecto ressaltado pelo profissional médico M6: “[...]

conversar dos problemas, pactuar com os profissionais, escutar a opinião deles, eu acho que o

processo de trabalho nenhum em equipe vai pra frente.”

Os atributos para a gestão da clínica na APS são dispositivos que podem ser

disparados quando os sujeitos se agregam para um mesmo sentido, a forma como se desenvolvem

são arranjos desenvolvidos nas relações entre gestores, trabalhadores e usuários. Esse modo de

atuação leva à construção de autonomia, corresponsabilização no processo terapêutico entre

profissional e usuário, que desenvolve motivação e satisfação no trabalho, devido à visualização

da eficácia e eficiência do trabalho (CAMPOS, 2007).

4.4.1.2 Categoria 2: Entraves na Promoção da Segurança do Paciente

Esta categoria abrange os entraves experimentados diariamente na APS e que

limitam a produção do cuidado pelos trabalhadores de saúde, gerando insatisfação nos

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100

usuários. Os entraves estão relacionados à precarização do serviço e a gestão autocrática não

participativa.

4.4.1.2.1 Subcategoria 1.: Precarização do Serviço

O termo precarização do trabalho é apontado como a fragilidade de vínculos

empregatícios existentes para os profissionais de saúde (GONÇALVES et al, 2009).

Entretanto, na presente investigação, os trabalhadores de saúde possuem vínculo estatutário.

Com isso, ampliou-se essa terminologia para precarização do serviço, enfatizando as

condições de trabalho precárias para que o cuidado clínico aconteça com segurança.

Por meio do fluxograma analisador, que serão apresentados e comentados a

seguir, identificaram-se os nós críticos existentes que limitam a produção do cuidado seguro.

Para tal, utilizou-se o fluxograma descritor (Figura 28) utilizado nas UAPS e proposto pelo

Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), órgão responsável pela gestão da rede de

atenção à saúde municipal.

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Figura 28 – Fluxograma descritor da UAPS

Fonte: UAPS.

Desta forma, demonstra-se esse fluxograma a partir dos dados obtidos nesta

pesquisa. No primeiro momento retratou-se a entrada do usuário na UAPS e o acesso e não

acesso aos serviços da unidade, conforme pode ser visto na figura 29.

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Figura 29– Fluxograma analisador referente o acesso do usuário a consultas

programadas

Fonte: UAPS.

Neste contexto, a Política Nacional de Atenção Primária (PNAB) regulamenta que

um dos princípios deste nível de atenção seria a acessibilidade, o que pressupõe uma lógica de

organização do serviço com qualidade e resolubilidade que permite receber e ouvir todas as

pessoas que procuram o serviço (PNAB, 2012). Porém, foi observado e relatado pelos

colaboradores da pesquisa que a qualidade do percurso na rede de atenção é ruim, inacessível

e precária. A dificuldade de uma integração com outros níveis é percebida pelos profissionais,

conforme relatado a seguir.

[...] o paciente pra ir por CEO ele não tem conforto, ele vai volta, até cansar ou não

dar pra ir ou se desinteressa...a gente tinha que ter um vinculo com a unidade

secundária, unidade terciária, devia ter um fluxo estabelecido, de consultas com

especialistas, de procedimentos, de cirurgias, um canal aberto, que você pudesse

entrar em contato com o serviço online. (D1,M2)

O PNAB (2012) também reforça que o acesso deve ser de forma universal e sem

diferenciações excludentes. Entretanto, foi observado e relatado que as UAPS, mesmo

reformadas, ainda apresentam limitações que proporcionam exclusão e desconforto aos

usuários.

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Em 1978, a declaração de Alma-Ata anunciou uma mudança de paradigma no

cuidado em saúde, enfatizando a equidade em saúde com abordagem centrada no usuário, na

gestão do cuidado e na medicina preventina (OMS, 2012). Entretanto, no que tange a

equidade ainda não se conseguiu níveis de equidade que favorecessem o acesso. Inclusive aos

usuários acamados que estão impossibilitados de ir a UAPS e de serem acompanhados pelos

profissionais de saúde, já que o número de transportes para este serviço é insuficiente.

Mediante relato a seguir dos trabalhadores de saúde ACS 5, ACS 6, E6: “[...] acesso as

cadeirantes é limitado e o local onde usuários esperam são muito quentes [...] [visita

domicilar][...] eles dizem que tem um carro só para não sei quantos postos”.

Já no relato dos usuários, essas barreiras implicam diretamente na continuidade do

cuidado e na resolução da sua condição de saúde. A dificuldade no acesso é evidente no relato

a seguir.

Mandam pra UPA, quando chega na UPA não é resolvido também, volta para o

posto [...] vai para o Gonzaguinha e não tem também atendimento, eles dizem que o

atendimento tem que ser no posto. (U9,U10)

Mediante a essa situação, a (des)organização nas UAPS evidenciada durante a

observação da pesquisa foi latente. As UAPS continuam sem sinalização adequada e sem um

fluxo de informações aos usuários, como visto na figura 29.

As UAPS investigadas são reformadas e possuem nas portas placas indicativas,

porém os usuários relataram a necessidade da sinalização adequada na unidade, tendo em

vista a sua limitação até mesmo na leitura destas placas presentes nas portas dos setores, isso

pode ser constatado mediante relato a seguir de usuários U18, U19: “[sinalização no posto]

ficava organizando dizia „clínico fica aqui, pediatra aqui‟ [...]. Devia ter mais organização,

devia ter outra pessoa pra auxiliar”. Reforça-se que grande parte da clientela que frequenta as

UAPS tem nível educacional baixo com déficits relacionados à leitura.

Ainda no que se refere ao acesso, houve bastante reclamação pelos usuários, que

destacaram barreiras também para agendamento das consultas, conforme pelos usuários

U1,U2, U3,U4,U5, U6, U9: “[...] esse negócio de marcar consulta esse mês ser só daqui a dois

meses, isso não existe, é horrível”.

Para os trabalhadores de saúde, tal situação ocasiona preocupação à continuidade

do cuidado sem uma organização adequada no gerenciamento da agenda do profissional,

como relatado a seguir.

[...] o agendamento ainda é um prazo muito longo [...] a gente tem uma grande

dificuldade com marcação que isso dificulta muito a continuidade desse

atendimento... A agenda do médico passa dias e dias fechada e quando abre, ai vem

todo mundo de uma vez (E6, M1, ACS 2)

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Uma sugestão apontada na tentativa de minimizar esta situação seria que as

agendas fossem abertas aos usuários paulatinamente:

Tentar abrir a agenda de uma forma a não preencher um espaço tão grande, mas

tentar ir abrindo aos poucos e colocando realmente aqueles que estão necessitando

de uma consulta agendada. (M1)

Decorrente da demora do atendimento foi observado que o usuário, na tentativa de

resolução imediata do seu problema, tenta se direcionar a outros serviços. Dessa forma, o

índice de absenteísmo pelos usuários as consultas programadas é elevado, percebendo-se que

não há gestão adequada do agendamento das consultas. Tal situação faz com que os usuários

cogitem a situação anterior de marcação de consulta, o que demonstra a necessidade de

reorganização desse processo: “[...] muito simples isso de resolver: “A gente faz a fichinha

mesmo, número um, médico tal, a quantidade x e saia distribuindo. Acabou a ficha, pronto, só

no próximo mês [...]” (U12,14,17,18).

Além disso, o setor que é responsável pela gestão da marcação de consultas

programadas, em todas as UAPS investigadas, foi apontado pelo mau atendimento e baixa

resolubilidade, como visto a seguir.

[NAC] não esperou nem ela [usuária] dizer o que é que ela precisava [...]o que eu

tenho contra, é aqui o NAC, o atendimento deixa muito a desejar [...] o que a gente

encontra lá fora [NAC] é que não tem [...] colocaram pessoas inexperientes pra

trabalhar, o pessoal do NAC que não entende nada [...] (U1, U11, ACS 3, ACS4,

U9).

O usuário ao apontar o NAC como „lá fora‟ evidencia o distanciamento dele a

este setor. No relato a seguir esse distanciamento e a dificuldade sentida por ele nesta

expressão: “ [...] tem esses problemas aí, mal atendimento, então por isso não somos bem

recebidos nas micro áreas não [...] NAC precisaria ser muito mais bem preparado [...]”

(ACS7, E6).

Além disso, foi relatado por um trabalhador de saúde a „troca de favores‟ para se

conseguir algo neste setor, que é considerado um setor estratégico na UAPS: “[...] para

conseguir acesso ao NAC, é um conjunto de favor, ela faz por mim eu faço por ela [...]”

(ACS8).

Outro aspecto vislumbrado foi a falta constante de insumos, estando essa condição

relacionada à segurança do paciente: “Sempre oferecer condições de trabalho para o

profissional para que ele possa tá oferecendo um bom serviço de forma segura [...]” (D4).

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105

Relatou-se a falta de itens que interferem diretamente na segurança do paciente,

como por exemplo, materiais para higienização das mãos. Conforme pode ser visualizado na

figura 30.

As situações visualizadas no fluxograma também foram relatadas pelos

trabalhadores de saúde:

[...] falta alguns itens como o álcool gel [..]. [falta de papel para envolver a maca] eu

já tive um caso de escabiose em gestante, transmitida por um paciente que eu atendi

antes dela [...] falta água praticamente toda semana, a nossa higienização muitas

vezes é feita com álcool gel, porque não tem agua para lavar as mãos, não tem papel

toalha [...] não tinha material, no posto não tem uma gaze [...]Porque se há quebra de

algum instrumental, de algum equipamento, vai ficar limitado o desenvolvimento

dessa segurança e ate atrapalhar o serviço [...] tem o profissional, tem uma boa

estrutura, mas a logística do material que a gente necessita para realizar o tratamento

tá meio complicado (M2, M4, ACS 1, ACS 2, ACS 5, D1, D4, D6).

Outra situação que gera insegurança no cuidado prestado na APS é o atendimento

a urgências e emergências. Foi observado e relatado que não há suporte de insumos

suficientes e treinamento específico para tal.

[...] existe também uma deficiência ate nessa questão de suporte de emergência [...]

nós temos uma bala de oxigênio aqui, mas não tem a válvula [...] se tivesse o

material, talvez se conte nos dedos quem era o profissional que estaria preparado

para uma situação de emergência. (E6, M6, D6, E1)

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Figura 30– Fluxograma analisador acesso aos atendimentos específicos da UAPS

Fonte: UAPS.

Um aspecto bastante ressaltado por usuários e que foi observado que gera angústia

e insegurança ao profissional de saúde é a falta de medicamentos na farmácia básica nas

UAPS, o que não garante o seguimento seguro aos usuários: “[..] .não tem o remédio que a

doutora passou pra mim, não tem na farmácia” (U1,U2,U,4,U5,U11, U13,U15,U16).

A ausência de homogeneidade no cuidado ao usuário foi outra situação que

ocasiona insegurança. Frisa-se que para a implantação da gestão da clínica é fundamental que

o cuidado seja guiado por diretrizes clínicas. Apesar dos profissionais de saúde informarem

que utilizam os protocolos clínicos do Ministério da Saúde, observou-se que não condiz com

o que é proposto nestas diretrizes, havendo uma variabilidade de condutas para uma mesma

condição clínica.

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Protocolo clínico, eu não vejo muito isso aqui, então a gente não tem padronizado

algumas condutas... ...sistematizam de um jeito o atendimento, outros de outro jeito,

torna um pouco confuso o atendimento (M4, M6).

Dessa forma, foi sugerido também que não basta ter protocolos, é essencial que

eles sejam implementados mediante capacitação e treinamento em serviço para que sejam

efetivos, segundo sugestão da profissional de saúde (M6): “Ter protocolos bem estabelecidos,

que esses protocolos sejam respeitados sobre maneira”.

Aliado a isso, a ausência de prontuário integrado aos outros níveis de atenção e os

registros de informações insuficientes e inconsistentes sobre a condição do usuário propicia

um cuidado fragmentado e inseguro, já que é por meio dos dados que a coordenação pela APS

é possível, conforme apresentado na página 31.

Figura 31 – Fluxograma analisador do acesso aos encaminhamentos para os outros

níveis de atenção

Fonte: APS

[...] a falta realmente do prontuário...de fazer relatório, de preencher prontuário, ele

{profissional de saúde} tem dificuldade de acompanhar o paciente... ... a questão do

prontuário eletrônico que dá mais segurança pra tudo... {uso do prontuário

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eletrônico} tentando sempre colocar as informações necessárias pra um bom

acompanhamento do paciente... (E1, G6, M1, M4)

A ausência do acompanhamento efetivo pelos agentes comunitários de saúde

(ACS) também foi relatado pelos usuários U3: “[...] eu nunca vi o meu [ACS][...] não minha

área não tem[...] agente de saúde aqui não funciona.” Enfatiza-se que o ACS é o elo de

ligação do usuário com a UAPS. Foi observado que os ACS encaram seu acompanhamento

sempre atrelado a „fornecer algo ao usuário‟, havendo uma distorção do seu papel na

comunidade.

O vínculo também com os profissionais de saúde é almejado pelos usuários,

relatando que não ficam satisfeitos quando não têm acesso a sua equipe de saúde, o que é

bastante comum nas UAPS e que é decorrente do desconhecimento de quem é responsável

por marcar as consultas, assim como também do desconhecimento da própria população da

sua área adscrita.

[...] além de tudo isso ainda tem que ficar passando pela a mão de um e outro

profissional [...] as duas vezes que eu me consultei o médico uma vez foi um, outra

vez já foi outro [...] Aqui é tudo por cor e eu nem sei a cor da minha equipe (U1,U2,

U3,U4,U5, U6, U10).

Devido a isso, os usuários referem não se sentirem seguros no cuidado, relatando

que há diferenças nas condutas prestadas: “[...] também não sinto segurança porque eu não

conheço os médicos [...] médica passou vários exames de sangue, inclusive eu nunca nem fiz

aqui, porque eu acho que demora demais” (U3, U4).

Dessa forma, a rotatividade de atendimentos pelos profissionais é usual, já que

dão suporte a equipes que não possuem médicos. Além disso, há equipes com número

superior de microáreas preconizado pelo PNAB. Como consequência da grande quantidade

de microáreas por equipe, há uma população além da capacidade de atendimento pelos

profissionais de saúde. Com isso, há relatos frequentes de sobrecarga de trabalho.

[...] um problema que ainda existe na unidade é porque tem equipe que ainda não

está completa [...] a gente sabe que hoje tem varias áreas que são descobertas, então

isso compromete muito [...] eu acho que precisaria de uma ampliação maior, uma

reorganização da questão da cobertura dos profissionais da área [...] quando

tivermos realmente as equipes completas, vai resolver muita coisa [...] (D6, M1, E6,

M1).

Foi observado que em geral os usuários não sabem a qual equipe pertence. Isto

limita seu acesso ao cuidado em saúde. Os trabalhadores de saúde entendem que tal vínculo é

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essencial para o cuidado: “[...] saber qual a equipe em que ele tá vinculado pra evitar os

prejuízos de um paciente não ter a continuidade da assistência pelo profissional da sua área

[...]” (E6).

Além disso, com a implantação do serviço do Acolhimento, as queixas de

sobrecarga e insatisfação do trabalho aumentaram bastante, gerando um clima de estresse e de

tensão para todos os envolvidos. Os nós críticos podem ser vistos no fluxograma analisador

na figura 32.

Nesta situação, não há protocolo e é visível a desorganização do serviço,

conforme relatado.

[...] ninguém consegue trabalhar sem parar feito um robô [...] eu acho que é o que

esta sendo o problema maior daqui por conta da grande demanda de atendimentos

[...] o tempo que é dispensado pra esse acolhimento é o que tem que ser repensado

[...] o enfermeiro atende 60 a 80 pessoas [...] uma melhor organização dessa

demanda pra que tanto os profissionais como os usuários se sintam de forma mais

confortável pra direcionar e solucionar os problemas. (D6, E6, M1)

Os usuários percebem essa sobrecarga de trabalho e até sugerem

acompanhamento para esses profissionais de saúde: “tem que ter psicólogo pra esse pessoa”

(U17).

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Figura 32 - Fluxograma analisador do serviço Acolhimento

Fonte: APS.

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Referem também que para atuar na APS, o treinamento deve existir. Isso ressalta

que a população também percebe esta necessidade. Os usuários anseiam por treinamentos que

enfatizem a humanização e o acolhimento pela UAPS por todos seus funcionários: “A pessoa

para atender a população tem que ter preparo [...]” (U10).

Essa necessidade também foi sugerida pelos gestores e profissionais de saúde:

[...]deveria ter educação continuada pra eles, deveria ter educação em serviço, uma

orientação mais próxima, ofertados cursos [...] tem que tá trabalhando a questão da

educação permanente [...] para funcionar melhor deveria haver treinamento melhor

com os funcionários [...] a questão da capacitação sempre, especialmente nas

auxiliares da enfermagem. (G1, G4, M4, E1)

Interessante que também foi citada a necessidade de capacitação na área da

Segurança do Paciente para a melhoria do serviço na tentativa de minimizar erros:

[...] capacitação dos profissionais envolvidos para a gente tá melhor conhecendo a

temática {segurança do paciente} e tá aplicando na nossa realidade. Porque se ele

não é bem capacitado, ele vai correr o risco de cometer falhas e erros durante o

atendimento [...] perguntar ao paciente, confirmando nomes, checando realmente a

questão da identificação do paciente pra evitar exatamente esses erros

[...] (E4, G4).

Certamente, a maior problemática na APS é a não superação do paradigma com

ênfase na doença e no atendimento médico. Os profissionais apesar de terem essa percepção,

ainda não conseguiram superá-lo.

[...] fazer com que o paciente se sinta mais a vontade na unidade, não tanto que eles

venham pra cá acreditando que vão encontrar só barreiras e dificuldades, mas que

esse acolhimento seja feito de uma forma esclarecedora, dialogando, explicando pro

paciente [...] (M1).

A situação se torna bastante agravada decorrente da influência política por meio

de legendas partidárias, influenciando o cuidado prestado. Essa situação é sentida pelos

trabalhadores de saúde, o que proporciona um clima institucional tenso e estressante.

[...] se as coisas fossem feitas de uma forma pra ficar, de uma forma fixa, pensando

no futuro e não apenas em 4 anos de gestão, as coisas fluiria de uma forma melhor

[...] (M2).

4.4.1.2.2 Subcategoria 2.: Gestão Autocrática

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Outro entrave crítico e que dificulta a implantação de uma cultura de segurança

atualmente na APS em Fortaleza, Ceará é a presença da Gestão Autocrática. A gestão

autocrática se configura como modelo de gestão centralizada baseado nos pressupostos da

Administração Clássica proposta por Taylor e Fayol (ALMEIDA,MELO, 2012), no qual as

diretrizes a serem seguidas são determinadas pelo gestor, sem qualquer participação do grupo

(DITTERICH, MOYSÉS, MOYSÉS, 2012).

Diante disso, foi observado claramente que os trabalhadores de saúde, assim como

também os usuários, não participam do que é deliberado na UAPS. Isso foi corroborado pela

ausência de reuniões para que fossem discutidos aspectos relevantes sobre o planejamento de

ações para o cuidado. Assim como também no período observado não houve reuniões com

Conselho Local de Saúde.

Ressalta-se que quando ocorreram reuniões para discutir problemas da UAPS,

não se percebe a necessidade dos profissionais participem, como relatado a seguir: “[...]

alguém lá da gerência dizendo que não havia necessidade [participar de reunião da unidade]

porque era para discutir problemas de organização aqui [...]” (M4).

Nesse sentido, Dussault (1992) afirma que a gestão autoritária não deveria ser

adotada nos serviços públicos de saúde, pois não reconhece o papel central dos profissionais.

Portanto, sua capacidade de promover o comprometimento e envolvimento destes com os

objetivos organizacionais torna-se limitada, afastando-os das atividades que não sejam

eminentemente técnicas, não gerando a sinergia que ocorre quando há participação plena de

todos os atores envolvidos no processo.

Dessa forma, tal situação vai de encontro aos princípios e diretrizes propostos

pelo Plano Nacional da Atenção Básica (PNAB, 2012), no qual determina que sua gestão

deve ser democrática e participativa por meio do trabalho em equipe. Sobre a participação na

tomada de decisão da unidade foi observado a dificuldade de autonomia para o gestor decidir

algo. Isto pode ser confirmado no relato a seguir.

[...] mesmo que seja uma opinião unânime de todos os profissionais, eles [gestão]

não concordam de forma nenhuma [...] todas as opiniões que foram emitidas [para a

gestão] não foram acatadas, não foram escutadas (E4, M1, M6, E6, E1, D1, D6,

ACS2, ACS3, ACS15, ACS19).

Sendo relatada ainda a imposição das ações de saúde e que as diretrizes proviam

do nível central de gestão. A alienação do processo de cuidado é evidente. Com isso, não há

envolvimento dos colaboradores, pois não conseguem agregar valor ao que se quer

implementar, reforçando a pouca resolubilidade das ações propostas.

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[...] há mudança no protocolo de atendimento, há mudanças em papeladas, em

alguns tipos de normas, de horários, e as vezes nos só temos que nos encaixar, a

gente não tem que opinar [...] É opinião de alguém e pronto, alguém que muitas

vezes não conhece as normas técnicas para ser executados esse trabalho e alguém

que além de não ter o conhecimento da área, não se dispõe a escutar quem tem,

quem tá justificando o porquê disso [...]. (M6, D4)

Infere-se que a falta de resolubilidade deva-se a não participação na elaboração do

planejamento pelos envolvidos diretos: quem faz o protocolo é quem não participa

diretamente do processo. Isto gera nos envolvidos diretos no processo descrédito nos

protocolos nos quais não houve participação direta. Com isso, há pouco envolvimento e pouca

importância dele.

[...] é importante que as decisões sejam tomadas por nós profissionais junto com eles

[gestão] e não eles tomarem decisão e trazer aqui pra dentro e nós sermos apenas

executores do que eles estão pedindo [...] você não é motivado, alguém chega e diz:

„tem que ser assim‟, isso não é motivação, não há como ser motivado um funcionário

dessa forma. (D1, M1, M6, E6, E4, M4)

Os resultados corroboram com os achados de Almeida e Melo (2012), que

evidenciaram a inexistência de espaços de diálogo e participação, a pouca criatividade da

gestão no nível local e a caracterização meramente burocrático-distorcida da prática gestora,

revelando uma gestão centrada na figura do gestor.

[...] nenhuma decisão é compartilhado com os profissionais, não se tem direito de

dar opinião a nada, a decisão chega imposta, muitas vezes nem explicação porque

aquilo esta sendo feita [...] As decisões já vem de cima pra baixo e nós só temos que

acatar. Elas não são discutidas [...] [gestão] existem normalmente ordens, „façam!‟, e

a gente tenta cumprir... (D6, M6, E4, D4)

Percebeu-se ainda que essa situação ocorre desde níveis mais altos para os níveis

mais descendentes, isto é, a não participação da tomada de decisão perpassa dos níveis mais

centrais para níveis regionais e resvala em nível local. Isso pode ser observado e pontuado

pelos gestores locais sobre a dificuldade na sua autonomia frente a tomada de decisão de

assuntos relacionados a UAPS (G1,G6,G4): “[...] a nossa gestão não tem tanta autonomia

[...]”. Tal situação também é percebida pelos profissionais de saúde: “[..] muitas vezes quando

nós vamos dar alguma opinião, a decisão já havia sido tomada antes [...] a maioria dos nossos

processos eles vem de cima, vem da gestão [...]” (D1, M1).

Conforme relatado por trabalhadores de saúde, isso gera impactos diretos no

cuidado prestado. Há um desequilíbrio evidente na saúde mental e física deles. Isso se

manifestou durante a investigação por meio de choro, rispidez e angustia ao relatar situações

vivenciadas.

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Percebe-se ainda que a falta de autonomia não gerou apenas consequências para

os trabalhadores, mas também para os gestores. Alguns gestores também se manifestaram

com comportamento de sofrimento semelhante aos dos trabalhadores. No relato a seguir,

evidenciou-se a angústia sofrida, tanto para o médico que fez a avaliação de saúde, quanto

para o trabalhador de saúde.

[...] me deparei com duas situações de angústias de funcionário daqui que se dizem

preocupados porque tão passando por problemas e não conseguem tirar férias e tem

medo de perseguição. (M4)

Nesta perspectiva, para que a segurança do paciente seja possível na APS, o

primeiro entrave a ser vencido é a gestão autocrática, livre do medo e com diálogo entre os

envolvidos: “[...] estimular essa cultura de diálogo, entre os profissionais [...]conversa, com

acolhimento dos funcionários, trabalhadores, é tentando ouvir as angustias.” (M4)

Na presente investigação, há relatos que evidenciam o caráter punitivo existente

na APS. Na situação relatada, a profissional mostrou-se satisfeita pelo resultado alcançado, ou

seja, achou justa a demissão do funcionário decorrente do seu erro. Além disso, informou que

não houve discussão sobre o que levou ao erro. Ressalta-se que diante desse relato, fica claro

que não apenas os gestores possuem uma visão punitiva e de medo, mas está imbuído no

profissional de saúde também.

Os últimos casos [entrega errada de medicamentos] que aconteceram as pessoas

responsáveis já foram removidos pra outros locais, aliás, perdeu o emprego [...] as

pessoas que não são concursadas tem medo de perder o emprego [...] (M2, M4)

Diante disso, o primeiro passo para tornar o cuidado seguro é reconhecer os erros

e identificar os riscos para prevenir sua ocorrência. Entretanto, para que isso seja possível, um

clima institucional adequado é fundamental. Diferentemente do que é relatado a seguir.

[...] a gente recebe ordens, a gente recebe pressão, a gente recebe muito mais uma

ação disciplinatória [...] cultura de submissão mesmo, de vigiar, de vigilância, um tá

um vigiando o outro, ficar apontando o dedo, então passa por isso mesmo, de

punição. (D1, E6, M4)

O histórico de punições aos profissionais de saúde frente a ocorrência de erros,

acompanhados frequentemente de exposições públicas, provocando sentimentos de medo e

vergonha contribuem para a manutenção de uma cultura punitiva (MOURA, MAGALHÃES,

2013). O desconforto em falar sobre erro e a forma como é visto pode ser notado no relato a

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seguir: “[...] eu não tenho como chegar [colega que comete erro] e discutir isso com ele, não

tenho essa abertura [...]” (M2).

Logo, o reconhecimento e a comunicação do erro demonstram a autonomia do

sujeito para agir de maneira responsável e prudente (COLI, ANJOS, PERREIRA, 2010), o

que é dissonante com uma gestão autocrática.

4.4.1.3 Categoria 3.: Potencialidades para a Promoção da Segurança do Paciente

Foi possível apreender que mesmo diante dos entraves existentes, há

potencialidades para promover a segurança do paciente. Nesta categoria, vislumbram-se

aspectos positivos e sugestões apontados pelos colaboradores da pesquisa.

Tanto gestores, trabalhadores de saúde e usuários conseguiram visualizar

aspectos que permitem um cuidado seguro na APS. No que tange a estrutura, foi relatada e

observada a melhoria da ambiência das UAPS, que favoreceu a organização do serviço e

aumentou a estima dos trabalhadores em trabalhar em um local com estrutura mais adequada.

Entretanto, ainda assim o número de consultórios é pequeno em relação ao número de

profissionais e os equipamentos dificultam a ergonomia para os profissionais.

...o posto tá lindo, as paredes estão linda, o estacionamento está grande, as plantas

estão bem aguadas... ficou mais confortável para o usuário, isso é inquestionável...

estrutura no momento foi melhorada em relação ao que era antes, então assim,

favorece claro, que essa assistência seja prestada de uma forma mais organizada...

(U7, D6, E6, E4)

Foi possível perceber que os profissionais convergiram com o que propõe o

Ministério da Saúde (MS) ao associar o ambiente físico como possibilidade para organização

do serviço. De acordo com diretrizes do MS, a ambiência na saúde refere-se ao tratamento

dado ao espaço físico entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais

que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana (BRASIL, 2010).

Segundo Baião et al (2014), o conceito de ambiência tem como eixos norteadores

o espaço que visa à confortabilidade, focalizando a privacidade e individualidade dos sujeitos

envolvidos; o espaço que possibilita a produção de subjetividades (encontro de sujeitos); e o

espaço usado como ferramenta facilitadora do processo de trabalho, favorecendo a otimização

de recursos, o atendimento humanizado, acolhedor e resolutivo.

Valorizam-se elementos do ambiente que interagem com as pessoas, tais como

cor, cheiro, som, iluminação e morfologia, garantindo conforto aos trabalhadores e usuários.

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Dessa forma, percebeu-se que a ambiência das unidades de saúde promove

conforto e facilita a organização do serviço. Entretanto, foram sugeridas melhorias para

acessibilidade para deficientes físicos, pois ainda foram relatadas dificuldades por estes

usuários.

Mesmo que ainda não avaliado, outro processo que certamente diminuirá os erros

no que se refere a administração de medicamentos é a prescrição informatizada. Nas unidades

investigadas, essa estratégia é vista como uma potencialidade do serviço: “ [...] a prescrição é

impressa, ele corre menos risco de ter a medicação confundida [...]” (E1).

Foi relatado como ponto positivo entre os médicos o uso do prontuário eletrônico

favorecendo a oportunidade de obter as informações necessárias para o seguimento adequado

do paciente. Lamenta-se que o prontuário não seja integrado em todos os níveis de atenção a

fim de que se fortaleçam os mecanismos de referência e contra referência dos variados níveis

de atenção: “[...] o prontuário digital, informatizado, ele é um ganho excelente”. (E1, M1)

Corroboramos com Crosson et al (2011) ao sugerir em seus resultados que a e-

prescrição auxiliará na mudança da prática clínica e exige recursos suficientes para que essas

mudanças sejam implementadas, principalmente melhorias na infraestrutura de informação

em saúde, permitindo o acompanhamento do usuário : “[...] eu pude ter acesso a esse

acompanhamento dele e, isso favorece muito o seguimento e favorece muito a relação

médico- paciente, que melhorou bastante”. (M1)

Já no que tange ao abastecimento de insumos, percebe-se que há um esforço da

gestão local para suprir os insumos das UAPS a fim de promover a segurança de usuários e

trabalhadores. Entretanto, os gestores relataram que têm dificuldades financeiras para suprir

os insumos relacionados à atenção primária. O abastecimento de insumos na APS em

Fortaleza é de responsabilidade do ISGH. Dessa forma, os gestores por meio de comunicação

interna solicitam o suprimento de insumos para o ISGH, que vem em quantidade insuficiente.

[...] a gente tenta disponibilizar primeiramente para os profissionais os EPI‟s

necessários, para que tanto os profissionais tenham segurança como eles gerem

segurança no atendimento do paciente. (G4, G1, G6)

Outro aspecto para o cuidado seguro se refere à relação terapêutica que o usuário

tem com a equipe de saúde, o que vai influenciar positivamente na recuperação da sua saúde.

Foi observado e relatado pelos usuários que a confiança existe e que se sentem seguros com o

cuidado prestado no interior do consultório pelos profissionais que fazem parte da equipe:

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“[...] eles são ótimos profissionais eu confio muito neles, tanto a capacidade do médico como

do enfermeiro” (U13).

Para a gestão da clínica, os usuários são a razão de ser. O núcleo central deve ser a

parceria entre usuários e profissionais (NICHOLLS et al, 2000). Dessa forma,

aperfeiçoamentos focados no Acolhimento e em Escuta Qualificada devem ser priorizados a

fim de que a implantação desse modelo seja possível.

Outro aspecto que foi demonstrado é que a parceria entre usuários e profissionais

pode ser fortalecida por meio do reconhecimento da qualificação dos profissionais pelos

usuários no que compete a sua habilidade técnica, conforme foi observado. Ressalta-se que a

confiança favorece o cuidado seguro: “Nós temos médicos bastante competentes [...]

reclamam porque demora a consulta aqui dentro, mas demora porque é uma consulta de

qualidade” (ACS1, U9).

Acredita-se que o cuidado seguro não seja apenas promovido por técnicas bem

desenvolvidas, mas também por uma relação terapêutica, mediada pelo acolhimento e

vínculo, que promova o conforto e o bem-estar de todos os envolvidos.

Nesta perspectiva, o acolhimento pode favorecer a formação do vínculo. Segundo

Coelho e Jorge (2009), o vínculo é uma conquista, não um acontecimento imediato. Quanto

mais apropriado for o vínculo, melhor será o resultado, maior a troca de saberes entre

trabalhadores da saúde e comunidade. Para gestor e profissional de saúde estar há certo

tempo na unidade favoreceu o vínculo entre profissionais, usuários e gestores: “[...] estou

nessa unidade há oito anos, então muitos usuários já me conhecem, já sabem a minha forma

de trabalhar, de agir [...]” (M1).Entretanto, entende- se que esse é um fator facilitador, mas

não determinante para que o vínculo ocorra.

O profissional que se tornou gestor por meio de um processo seletivo tem

facilidade para gerir (quando lotado na mesma unidade que desempenhava anteriormente suas

funções laborais). Isto decorre do bom relacionamento de outrora: “[facilidade para gerenciar]

o fato de eu ser servidor e ser lotada nessa própria unidade.” (G1).

Foi sugerido pelos colaboradores que seria interessante que a escolha de gestores

fosse por meio de meritocracia. Segundo Almeida et al (2013), a meritocracia é um princípio

orientador das políticas e práticas de gestão de pessoas, de modo a direcionar as decisões para

o merecimento – uma combinação entre capacidade intelectual, esforço, competência e

resultados gerados. A escolha de gestores baseado na meritocracia poderia ser uma forma de

estimular o trabalhador de saúde para estar se capacitando e buscando melhoria contínua. É

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válido reforçar que o processo seletivo já representou mudança, pois em outro momento a

indicação era política.

O profissional que galga a gestão por meio da meritocracia pode estar mais

estimulado para promover mudanças e proporcionar uma gestão voltada para as diretrizes do

SUS. Dentre as diretrizes, a gestão compartilhada torna-se essencial e desafiante na gestão em

rede, tendo em vista a multiplicidade de atores presentes no contexto organizacional (FEURY,

OUVERNEY, 2012). Neste processo, a descentralização por meio de estabelecer

responsabilidade técnica, favorece a implantação da gestão compartilhada. Em uma UAPS

investigada foi possível visualizar os profissionais assumindo a responsabilidade técnica na

unidade como forma de melhoria da qualidade do cuidado prestado. A escolha do responsável

técnico se deu mediante a competência e estímulo para que fosse de fato assumida.

[responsabilidade técnica] ver a necessidade de cada setor, as necessidades de

treinamento dos profissionais, da dificuldade que cada profissional tem, né, além da

liderança que o enfermeiro exerce na equipe de saúde da família. (E6)

Neste contexto, a fim de promover a gestão compartilhada, estabelecer calendário

para que reuniões ocorram é fundamental. Como base para isso, a reunião interna entre as

equipes proporciona o diálogo e a discussão sobre assuntos diversos no cuidado do usuário de

sua área adstrita. Entretanto, foi observado que as reuniões de equipe contam apenas com o

enfermeiro e os agentes comunitários de saúde a fim de elaborar o consolidado mensal do

Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). Está se propondo aqui reuniões que visem

analisar os dados obtidos pela consolidação dos dados e com a participação de todos os

membros da equipe a fim de se discutir e avaliar os indicadores no cuidado à atenção

primária. Além disso, a reunião permite o aprendizado e o crescimento da equipe por meio de

troca e vivências entre os membros da equipe.

Houve relatos de implantação de Protocolos Operacionais Padrão (POP), o que

padronizaria as atividades exercidas nas UAPS: “[...] a gente tem alguns POPs [...] a gente

segue linhas, a gente segue diretrizes [...]” (G1, G6). Entretanto, não há avaliação e

monitoramento frequente dos processos relacionados aos POP.

A definição de protocolo, em especial, protocolo clínico garante a eliminação de

intervenções desnecessárias e respeita a singularidade do sujeito, promovendo assim a

segurança do paciente. A utilização de protocolos estabelecidos permite ainda a mudança na

lógica do atendimento, permitindo que o critério de priorização da atenção seja o agravo e/ou

o grau de sofrimento e não mais a ordem de chegada (BRASIL, 2008).

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Segundo Mendes (2011), as consultas dos profissionais baseadas em linhas-guias

e protocolos clínicos são essenciais para a gestão do caso para implantação do plano de

cuidado. Entretanto, não foi observado, apesar de relatado, seu uso pelos profissionais no

período observado:

[...] sigo as normas de atendimento dos pacientes, as técnicas necessárias para

atendê-los pra que eu possa fornecer essa segurança [...] a gente trabalha muito

dentro do protocolo de atendimento, ficha de acolhimento, a realização de

tratamento completo. (D4, D6)

É importante que os protocolos sejam elaborados por quem participa do processo,

pois facilita sua construção e utilização do serviço. Protocolo elaborado pelos próprios

profissionais permite que seja replicado, como aconteceu com o protocolo para o serviço de

Acolhimento em uma das UAPS: “Existe um protocolo que foi elaborado aqui na nossa

unidade e até replicado pra outras unidades [...]” (E6).

Referiu-se a necessidade de seguir padrões estimulados, que se entendeu aqui

como protocolos. No que tange ao uso de protocolos, de acordo com resultados preliminares

do PMAQ apontaram que 62% dos profissionais de saúde não utilizam os protocolos

recomendados para realizar a avaliação clínica inicial, indicando espaço para melhorias das

práticas seguras. Corroborando com a observação da pesquisadora, que observou-se que não

foram utilizados protocolos, apesar destes serem apontados como necessários para a

segurança do paciente: “[...] o acompanhamento seguindo os padrões já estipulados

[biossegurança]”. (M1)

Para estabelecimento de protocolos, mapear processos é fundamental. Por meio do

mapeamento dos processos é possível aperfeiçoá-los a fim de que riscos e erros sejam

minimizados.

[...] nós tivemos condição de mapear alguns pontos e solicitar alguns

posicionamentos da regional e posteriormente, provavelmente da secretaria pra

definição de fluxo de atendimento dentro da unidade garantindo a segurança do

usuário. (G6)

Foi observado o ganho quando esse processo é feito em conjunto e mobiliza todos os

envolvidos diretamente no processo que está sendo rediscutido. Para tal, é necessário que o

gestor perceba a importância desse momento de avaliação dos processos instaurados.

4.5 TEMA II: SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

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4.5.1 Categoria 1.: Percepções atribuídas à Segurança do Paciente pelos usuários,

trabalhadores e gestores

Por meio do recurso de árvore de palavras do software NVivo foi possível ilustrar

panoramicamente os diversos contextos em que foram utilizados a palavra “segurança”.

Figura 33- Árvore de palavras da subcategoria Percepções atribuídas à Segurança do

Paciente pelos usuários, trabalhadores e gestores. Via QRS N.Vivo

Fonte: APS.

Como pode ser visualizado na Figura 33, a temática Segurança do Paciente é

considerada por muitos na APS como algo novo. Isso também foi relatado por todos os

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entrevistados:“[...] uma temática que no universo da atenção primária é uma coisa ainda muito

incipiente [...] uma temática nova para nós profissionais da ponta” (D1, G4, E4). Talvez isso

ocorra porque poucos são os estudos relacionados à segurança do paciente em países em

desenvolvimento.

É importante destacar que a Política Nacional de Segurança do Paciente,

inicialmente, voltou-se para o âmbito hospitalar com ênfase nas Metas Internacionais.

Entretanto, a temática ainda não está institucionalizada na APS, o que reforça ainda mais o

desconhecimento sobre a temática. Atrelada a isso, observou-se que as pessoas de um modo

geral, não percebem os riscos que podem estar imbuídos no cuidado prestado na APS.

Há uma falsa impressão que o cuidado prestado na APS é seguro, o que já foi

questionado pela OMS na reunião inaugural do grupo de trabalho em segurança do cuidado na

APS que ocorreu em Genebra em 2012. Nas UAPS investigadas, apenas uma gestora

conhecia a temática, pois trabalhava em uma unidade hospitalar onde o tema estava sendo

bastante debatido. Por isso, ela tinha a percepção que o erro também poderia ocorrer nas

UAPS, como pode ser percebido no relato a seguir.

[...] eu acho que é um tema que passa despercebido dentro das unidades. Como te

falei, a gente vê muito isso dentro das unidades hospitalares por conta dos erros e

aqui a gente também é passível de erro [...] O risco que ele corre de ter uma

medicação mal aplicada, de receber um remédio errado na farmácia [...] (G4, E1)

Decorrente do desconhecimento sobre a temática, durante as entrevistas ao

instigá-los por meio de tempestade de ideias sobre o tema, foi frequente a associação pelos

colaboradores com a Segurança Pública, relacionando com violência vivenciada por usuários

na UAPS. Pelo o que se observou, isso se deve a sensação de insegurança vivida nas UAPS:

“[...] eu pensei na segurança pública mesmo [...]”. (D6, E1)

Porém, após o primeiro momento, a segurança do paciente na APS foi bastante

associada a biossegurança em procedimentos, especialmente odontológicos. Foi dada bastante

ênfase ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI) pelos profissionais de saúde.

Quanto aos gestores, a segurança do paciente ficou ligada ao suprimento destes materiais para

que o cuidado fosse prestado de forma segura: “[...] no sentido de segurança de atendimento

mesmo, de procedimentos e a forma como ele é tratado dentro das normas de biossegurança

[...]”. (G1, D6, D1, D4, M4)

Apesar dos profissionais no primeiro momento não conhecerem a temática, eles

conseguem perceber e despertar por meio de insgths sobre aspectos relacionados ao controle

de infecção, que é uma das metas internacionais propostas pela OMS.

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[...] a questão de barreiras de proteção para evitar contaminação / infecção

cruzadas... o profissional que esta atendendo deve usar de higiene, limpeza, lavagem

das mãos, troca de luvas, higienização de estetoscópio entre um paciente e outro,

coisas que muitas vezes nós não temos tempo de fazer por conta da alta demanda

[...]. (M2, D1)

Alguns profissionais enfatizaram a segurança do paciente ao cuidado prestado e às

condutas clínicas tomadas. No entanto, muito pouco se sabe sobre os possíveis riscos para os

pacientes na APS. É sabido que uma proporção significativa de incidentes relacionados à

segurança do paciente que ocorrem em hospitais tinha origem em níveis anteriores de cuidado

(OMS, 2012). Valorizou-se a importância da anamnese e do exame físico adequados de

forma a evitar que erros ocorressem. Assim como também, atender às necessidades básicas do

usuário. Entretanto, observou-se que nem sempre isso ocorre, já que a vontade do profissional

prevalece em detrimento ao que o usuário deseja.

[...] a questão da tentativa da segurança vem muito ligada a anamnese, conduzir da

melhor forma possível para ter o menor risco possível [...] sentir amparado pelas

necessidades básicas que a equipe pode suprir [...]. (D4, D6, M1)

Inferiu-se também que pelos colaboradores da investigação, há uma percepção de

que a relação terapêutica “usuário e profissional” é determinante para o cuidado seguro.

Confiança e aptidão foram apontados como fortalezas nessa relação: “[...] eu acho que a

segurança também envolve isso de você confiar no profissional que você tá nas mãos [...]”

(D4, E1).

Já para os usuários, houve fortemente relatos de que a segurança está intimamente

ligada com o acesso. Alguns profissionais fizeram essa relação de que para alcançar a

segurança, o acesso deve estar garantindo. Para a OMS, a cobertura universal por meio do

acesso seguro a APS é uma meta prioritária (OMS, 2012). Para os usuários, o acesso é um

ponto chave para se sentir seguro: “[...] mas quando se pensa em segurança, é a gente

pensando em acesso [...]” (M1, E6, M1, U1,U2,U4,U5,U7,U13).

Na perspectiva de acesso, a continuidade do cuidado é outro fator associado a

segurança do paciente pelos colaboradores da investigação.

[...] falando em continuidade, eu tento ao máximo conseguir com que ele saia daqui,

encaminhado, com seguimento pra que ele possa ter a segurança do seu atendimento

garantido. (M1, M2, E6)

Apesar da dificuldade em definir o que seria segurança do paciente, para um

gestor (G4) a segurança do paciente está relacionada a “evitar erros”. Importante frisar que a

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gestora já tinha conhecimento prévio por exercer atividades laborais em uma unidade

hospitalar onde a temática está sendo trabalhada.

[...] é uma ferramenta que a gente tem que tá utilizando constantemente para evitar

os erros dentro das unidades, dentro dos procedimentos que são executados dentro

da unidade [...] (G4)

Para uma profissional, percebeu-se que a sua percepção sobre o que seria

segurança do paciente estava alinhada com a definição proposta pelo Ministério da Saúde

(MS) (BRASIL, 2013). Para o MS, a definição seria a redução do risco de dano desnecessário

à atenção à saúde.

[...] são todas as ações desempenhadas no sentido de preservar o cliente, tanto no

sentido de fazer menos intervenções possíveis, as intervenções que a gente faz

necessárias a gente faça com eficiência, naquela ação com qualidade e sempre e

preservando o cliente [...] (E4)

Este conceito está intimamente relacionado com o proposto pelo Institute of

Medicine (2000), que define segurança do paciente como a capacidade de um sistema de

atenção à saúde evitar os danos da atenção que se supõe ser prestada para ajudá-las a melhorar

suas condições de saúde.

Dessa forma, pode-se inferir que a segurança do paciente na APS tem outro foco,

visto que a redução de danos aos usuários é possível por meio do entendimento sobre o que

realmente pode causar dano e com isso ampliar a definição do conceito sobre a segurança do

paciente para APS.

4.5.2 Categoria 2.: Riscos e Eventos Adversos na ESF: percepção dos

trabalhadores, gestores e usuários

A gestão de riscos consiste em desenvolver boas práticas clínicas a fim de reduzir

os riscos clínicos e a ocorrência de incidentes que causem danos aos usuários (MENDES,

2011). Diante disso, minimiza-se ou eliminam-se fatores que poderiam desencadear riscos e

eventos danosos. Desde 2012, a OMS vem ampliando a discussão sobre os riscos para os

pacientes no cuidado primário (OMS, 2012). Logo, conhecer esses fatores é primordial para o

desenvolvimento da qualidade do cuidado no APS e é isto que se propõe nesta categoria

investigada.

Foi possível apreender nesta categoria os tipos de riscos identificados pelos

colaboradores da pesquisa. Dessa forma, poderá ser feita a gestão desses riscos. A gestão dos

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riscos consiste na aplicação sistêmica e contínua de políticas, procedimentos, condutas e

recursos na avaliação e controle de riscos e eventos adversos que afetam a segurança, a saúde

humana, a integridade profissional, o meio ambiente e a imagem institucional (FELDMAN,

2004).

A gestão de riscos da atenção à saúde procura aumentar a capacidade das

organizações de saúde e de seus membros para desenvolver ações positivas que reduzam os

riscos de morte e de sequelas para as pessoas usuárias e as suas consequências econômicas,

morais ou de prestígio para as organizações de saúde (MENDES, 2011).

Os riscos assistenciais são provenientes das situações que envolvem a dinâmica

dos cuidados durante seu atendimento (FELDMAN, 2009). No que tange ao risco assistencial

foram relatadas situações que poderiam ter gerado dano ao usuário. Entretanto, frisa-se que os

casos foram relatados e não houve observação do seguimento destes.

Foi relatada situação de fornecimento de resultado errado de exames, o que nesta

situação específica ocasionou o retardo do diagnóstico precoce. Atrelado a isso, há a demora

na realização dos exames, o que pode virá causar dano a paciente e ter sua condição de saúde

ainda mais prejudicada: “[...] o exame, que eu vim para consultar dois meses depois, pra

mostrar pra a doutora que eles pegaram e disseram que estava errado [...]” (U7).

Outra situação relatada está relacionada a erros de prescrição médica.

[...] muitas vezes a prescrição [feito por colegas médicos] não é correta né, as

posologias muitas vezes diferentes, eu considero que muitas vezes erradas [...] erros

médicos de prescrição a gente observa também. (M2, E4)

Há ainda a não observância ao protocolo nas UAPS. No caso a seguir, o usuário

relata que foi administrado um medicamento que somente pode ser feito na atenção

secundária e terciária, mas mesmo assim, isso não foi seguido: “[...] eu já fiz três vezes aqui

[aplicação de benzetacil] essa já é a quarta”. (E6). Há uma grande discussão que envolve a

administração de benzetacil em UAPS.

A portaria 3.161/ 2011 do Ministério da Saúde determina que a Penicilina seja

administrada em todas as UBS. No entanto, há pareceres técnicos de alguns Conselhos

Regionais de Enfermagem e discussão no Conselho Federal de Enfermagem para que haja

condições necessárias para que seja realizada sua administração, como suporte de emergência

para reação anafilática. Há ainda a recomendação de POP específico para a administração de

penicilina e que a responsabilidade seja compartilhada pelos profissionais médico,

farmacêutico e enfermeiro.

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Além disso, ainda há o risco biológico relatado pelos profissionais. O risco

biológico, segundo a NR-32, consiste na probabilidade de exposição a agentes biológicos.

Para que as normatizações propostas pela NR-32 sejam efetivas, é necessário o fornecimento

de insumos para reduzir a exposição a agentes biológicos pelos utentes e profissionais de

saúde. Entretanto, há relatos, conforme a seguir, de situações em que a falta de insumos

prejudica a segurança no cuidado prestado.

[...] não há uma limpeza efetiva, por exemplo, de cadeira, é passado pano, mas

barreiras de proteção biológica não há [...] luva rasgou na hora do atendimento [...]

eu tenho uma sala de curativo que tá funcionando sem material para elas enxugarem

a mão, sem papel pra cobrir a maca, sem o material adequado para fazer curativo,

você deita um paciente infectado, faz um curativo todo contaminado e depois vai

pegar outro que não tá infectado ele deita na mesma maca sem higienização

nenhuma. Será que realmente os profissionais estão lavando as mãos se não tem nem

aonde secar? (D1, D4, M6)

Foi válido perceber que há consciência pelos profissionais de situações de

cuidados críticos que exigem normatizações e que são pouco valorizadas.

[...] o ambiente é todo o tempo entrando e saindo gente, todo mundo considera um

exodontia como se fosse uma besteira, mas exodontia é uma cirurgia, ninguém entra

em um centro cirúrgico médico sem esta todo paramentado [...] (D1)

Foi ainda citado o erro no diagnóstico (D4). Não se pode afirmar que tal situação

tenha gerado dano, mas acredita-se que certamente houve um risco na continuidade do

cuidado deste usuário.

O risco profissional é oriundo das ações e procedimentos realizados diretamente

no paciente pelo responsável da conduta e da tomada de decisão e pela aplicação e tratamento

fornecido (FELDMAN, 2009). Os eventos mais citados foram os relacionados com a

administração de medicamentos, como se segue: “Erros da administração de medicamentos e

a falta de destreza manual de alguns técnicos de enfermagem, no acesso venoso [...]” (E4)

Uma situação frequente relatada e observada foi relacionada a administração de

medicamentos, o que não diverge de estudos anteriores (KUO et al, 2008; GAAL et al, 2010).

A dispensação errada de medicamentos pela farmácia foi identificada em 10 % dos erros

relacionados a medicamento (KUO et al, 2008). Outra situação relatada foi a entrega de

medicamentos com a data de validade expirada.

[...] a gente já teve medicação trocada [...] os hipertensos recebem muitas

medicações erradas [...] No mês de setembro eu recebi os medicamentos tudo

vencido [...] eu tive casos de gestantes receber no lugar do sulfato ferroso outra

medicação, receber no lugar de um paracetamol, o sulfametoxazol com trimetropim

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são a cartela muito parecida, a cor do comprimido e o tamanho é o mesmo do

paracetamol [...] (E1, M2,U10)

Ao se investigar as causas disso, foi relatado que a medicação trocada aconteceu

anteriormente da implantação da prescrição eletrônica. Já no momento da entrega de

medicamentos com data de validade expirada não havia farmacêutico presente.

No caso da troca de medicamento da gestante, os funcionários eram novatos.

Pretende-se com isso inferir que a causa dessas ocorrências de risco está relacionada à falta de

supervisão do profissional responsável e falta de capacitação específica para a função.

O risco institucional refere-se a situações decorrentes de conflitos e crises de

relacionamento entre pessoas, quer seja profissional, gestor, usuário ou organização de saúde

e que geram danos por ações e processos contra a organização de saúde (FELDMAN, 2009).

Geralmente, provém de comunicação ineficaz ou inadequada, conforme relatado a seguir:

“[...]a gente marca consulta, quando vem ai ele diz que marcou errado [...]” (U8).

Foi observado que frequentemente consultas são marcadas erradas, seja em datas

e/ou horários em que o profissional não está presente. Dessa forma, são orientados a remarcar.

Com isso, há demora no diagnóstico e agravamento dos sinais e sintomas apresentados pelo

usuário.

Outra situação que sugere risco institucional relacionada à falha no processo

comunicativo refere-se a informações incorretas e não uniformizadas: “Informações não

corretas, informações que tipo assim, uma pessoa dá uma informação e a outra dá outra [...]”

(D4)

A falha no processo comunicativo não ocorre somente em relação a usuários, mas

também afeta os trabalhadores. Não há um trabalho em equipe. Em geral, os trabalhadores se

sentem oprimidos e não participam do processo decisório da unidade.

A reunião que tem aqui é quando a prefeitura ou a chefe da equipe quer mandar a

gente fazer alguma coisa, ai a gente tem reunião, pra impor [...] pedem para fazer tal

coisa em tal área ou em tal local quando é a tarde muda tudo e a gente fica sem saber

[...] (ACS 2,3)

Com isso, há um sentimento de desconforto e de baixa autoestima, como relatado

a seguir: “ [...] eu já fui aí varias vezes e fui tratada assim, que nem um lixo [...]”. (ACS 3)

Os riscos clínicos representam-se por variâncias nas intervenções diagnósticas ou

terapêuticas em relação a padrões definidos intencionalmente (MENDES, 2011). Essa

situação fica clara no depoimento do usuário a seguir. A usuária relatou que sua semana

gestacional estava divergente na avaliação de dois profissionais, gerando dúvidas quando ao

cuidado prestado.

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[...] fizeram minhas contagens erradas, vou fazer 38 semanas [...] eu tava com

anemia, aí a Dra.A disse que eu não tava com anemia, quando eu mostrei para a

Dra.B, ela disse que estava [...] (U9)

Situações como estas geram descrédito no serviço e consequentemente

influenciarão no prognóstico do usuário.

[...] eu cheguei na UPA, tenho pedra no rins, eu cheguei na UPA para tomar

medicação a doutora me passou dipirona, não vou tomar, porque dipirona é para

febre né [...] (U7)

Outra situação relatada que infere em risco clínico está relacionada a falta de

seguimento e continuidade do cuidado. A dificuldade de acesso a outros níveis de atenção

persiste, agravando a sua condição clínica.

[...] paciente fica solta passa nove meses esperando uma consulta com a

endocrinologista e não consegue [...] paciente com fibromialgia com dores intensas e

encaminhei para o reumatologista. Há 1 ano, ela espera um diagnóstico. Hoje ela

veio solicitar um novo encaminhamento, porque há 1 ano ela tá numa fila de espera

e não consegue né, então é uma coisa sem vínculo, quebrada, fracionada, nós como,

a atenção básica não temos como dar esse seguimento, precisamos de especialista...

(M2)

Os eventos adversos são eventos que resultam em dano ao paciente (MENDES et

al, 2009). É sabido que a cada dez pessoas hospitalizadas, um sofre evento adverso

relacionado ao cuidado recebido. Entretanto, na APS brasileira ainda não há estudos que

quantifiquem estes eventos. No presente estudo houve dificuldade pelos profissionais em

identificar situações de ocorrência de eventos adversos. Isso se torna preocupante, pois denota

a falta de acompanhamento, pois não se acredita que não tenha ocorrido, já que em outros

momentos foi possível identificar algumas situações que remetem a danos ao paciente, como

relatado a seguir: “ [...] nós temos casos de óbitos dos pacientes, que tem acidentes vasculares

cerebrais, tem infartos, por conta de uma falta de assistência [...]” (M2)

Foi observado e apontado que a falta de cuidado seria uma das principais causas

dos eventos adversos nas UAPS investigadas. Isso corrobora com dados prévios que inferem

que na APS 70% dos efeitos adversos são evitáveis e prevenir os efeitos adversos é visto

como uma estratégia prioritária (APEAS, 2008). Outra situação comum observada e relatada é

o aparecimento de úlceras por pressão em idosos que não recebem visitas devido à falta de

acompanhamento pela equipe de saúde decorrente de causas diversas, dentre as quais a

principal seria a falta de transporte para deslocamento até a residência desses usuários, como

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visto a seguir: “[idosos acamados] estão tendo escaras e isso é por falta de continuidade de

assistência”. (E6)

Reconhece-se que os erros e os eventos adversos são resultados acumulativos de

problemas que se dão na forma como os processos são organizados e nos ambientes físico e

social em que a atenção à saúde é prestada (MENDES, 2011), conforme relata a seguir:

Eu saí de licença durante esse tempo nenhum profissional substituiu, então quando eu

retornei eu soube que essa paciente sofreu dois AVCs consecutivos, ela continuou

usando a medicação, mas da maneira que ela estava usando a muito tempo atrás, sem

o devido acompanhamento. Hoje essa paciente tem sequelas, aí querendo ou não é

decorrente de uma quebra desse atendimento... (E6)

Neste contexto, em busca da qualidade pelos padrões ótimos da clínica, há um

reconhecimento crescente que a gestão de risco deve estar integrada à prática dos

profissionais e dos serviços de saúde. Dentro da proposta de gestão de riscos, há a

implantação do relato de eventos adversos.

No que tange à gestão da cínica, uma ferramenta bem documentada é a gestão do

caso na redução de eventos adversos (MENDES, 2011). Outra ferramenta que precisa ser

implementada é a auditoria clínica com ênfase a revisão dos eventos adversos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITES E CONTRIBUIÇÕES

No transcorrer deste estudo procurou-se apresentar de forma singular a segurança

do paciente na atenção primária em saúde na perspectiva por quem dela participa diariamente:

o gestor local, o trabalhador de saúde e o usuário. Atrelada a isso, a experiência da

pesquisadora no decorrer da pesquisa foi fundamental para sua inserção neste campo, no qual

também está inserida por fazer parte da ESF.

Em consonância com o pressuposto inicial, evidenciou-se que a segurança do

paciente no serviço de atenção primária pode ser construída a partir de práticas e saberes

compartilhados entre gestores, profissionais de saúde, usuários e família, a partir da

integração dos atributos (compreensão sistêmica, o trabalho em equipe, comunicação,

pertencimento e liderança) essenciais para a gestão da clínica e sua articulação com o modelo

de saúde integral preconizado pelo SUS e que se está tentando implantar na cidade de

Fortaleza por meio de UAPS “pilotos”.

Outra singularidade do estudo foi identificar que mesmo havendo esta tentativa

de implantação do Modelo de Atenção às Condições Crônicas nestas unidades, as atividades

realizadas ainda são distantes das necessidades dos usuários, não se conseguindo visualizar

mudanças impactantes no modus operandi outrora realizadas pela ESF: ainda há ênfase no

evento agudo e má gestão do cuidado ao paciente portador de cronicidade. É visível que a

estrutura física melhorou, mas os processos de cuidado ainda são limitados e confusos.

Uma singularidade também do estudo é tentar avaliar a segurança do paciente em

uma perspectiva epistemológica qualitativa. Os estudos em geral referentes à segurança do

paciente são de ordem quantitativa. Acredita-se que a visão da pesquisa qualitativa pode

evidenciar lacunas que somente são identificadas por meio da subjetividade do indivíduo e do

pesquisador. Ressalta-se que a triangulação dos métodos qualitativos e quantitativos,

relacionando-os é primordial. Porém, a ênfase da pesquisa foi explorar profundamente a APS

para que identificasse pontos críticos que dificultam a implantação de um ambiente seguro.

Reconhecer que a APS não é um espaço totalmente seguro e livre de riscos é outra

singularidade da pesquisa. Isso foi possível por meio da reflexão gerada pelos colaboradores

no transcorrer de sua construção, podendo ser evidenciado pelo relato dos colaboradores em

questionar sobre como poderia haver melhorias a fim de proporcionar a segurança do

paciente.

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Acredita-se que incutir isso na APS por meio de indicadores é o caminho viável,

mas para que isso ocorra são necessários gestores locais envolvidos e treinados para

direcionar os trabalhadores no uso de ferramentas gerenciais para a qualidade.

Ainda sobre o que tange ao gestor local, percebe-se que além da capacitação

ineficiente, não há autonomia para tomada de decisão e até mesmo receio em discutir junto às

equipes o que poderia ser melhorado, pois há um temor que as expectativas da resolução dos

problemas não sejam alcançadas.

A pesquisadora entende ainda que o gestor torna-se refém de decisões em níveis

hierárquicos superiores e que não são “envolvidos” o suficiente para compreender sua

importância. Dessa forma, as mudanças não acontecem. Além disso, por não haver discussão

aprofundada referente sobre o que é decidido, é repassado aos trabalhadores apenas como

algo a ser cumprido, não conseguindo apropriar-se suficientemente do que deve ser feito.

Mediante o que foi visto, a organização do serviço é um ponto nevrálgico na APS.

Há descontentamento em todos os âmbitos. Não há como haver uma prática segura com

serviço que não é organizado, onde faltam insumos e com trabalhadores não capacitados.

Além disso, vislumbrou-se que práticas precisam ser mudadas. Para utilização de

ferramentas para a gestão da clínica, é necessário que o profissional seja capacitado e que haja

suporte na Rede de Atenção á Saúde (RAS). O uso da rede informal pelos profissionais para a

continuidade do cuidado do usuário é usual.

No que tange à microgestão, a gestão do cuidado feito pelo profissional é de suma

importância. A demanda excessiva nos serviços de alta complexidade depende como a gestão

do cuidado se desenvolve. Dessa forma, as estratégias para a gestão da clínica favorece que a

gestão do cuidado seja feita de forma segura. Uma estratégia urgente é a implantação de

protocolo e que os protocolos sejam repassados por meio de treinamento em serviço.

Protocolos clínicos efetivos para que haja critérios claros para o cuidado e para referencia

para outros níveis de atenção.

Além disso, o trabalho em equipe atrelado ao suporte da RAS é essencial para que

o cuidado se concretize. No entanto, ele não ocorre na UAPS, limitando ainda mais o acesso

ao cuidado pelo usuário. Dessa forma, por meio do trabalho em equipe poderia ser fortalecida

a relação com o usuário e aos usuários assumir autorresponsabilidade no seu cuidado.

No que se refere aos riscos identificados, é possível dentro das competências

gerenciais e profissionais, desenvolver meios para que a segurança do cuidado seja

implantada. No entanto, o mapeamento dos riscos e notificação dos eventos adversos devem

ser realizados continuamente.

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Ao mesmo tempo pertencer ao universo da APS foi fator facilitador para a

pesquisadora, também foi limitante. Já que o distanciamento necessário em alguns momentos

foi inevitável. Entretanto, fazer parte da ESF também foi bastante favorável, pois se

conseguiu mergulhar mais profundamente nas questões ocultas e veladas referentes a

segurança do paciente.

Outro fator limitante, observado foi o temor de alguns colaboradores sobre a

pesquisa. Como a pesquisa tratava-se de avaliação, em alguns momentos, percebeu-se que

houve uma tentativa de “sugerir” ao pesquisador quem deveria ser entrevistado. Por isso, a

fase da estratégia para imersão no campo foi essencial para que os colaboradores não se

sentissem com receio de fazer parte da pesquisa.

No que tange à colaboração da pesquisa, percebeu-se que os colaboradores se

mostraram interessados pela temática, sugerindo inclusive um curso sobre a temática, que será

marcado posteriormente com as respectivas secretarias regionais.

Acredita-se que por meio da análise dos dados gerados poderá elaborar-se um

plano de ação a fim de que intervenções sejam feitas para minimizar riscos. Para tal, a

pesquisadora sugere que processos avaliativos e de monitoramento sejam feitos na medida do

possível, e por que não desenvolver-se a cultura de avaliação da segurança do paciente?

A pesquisadora ressalta ainda que ao tecer as considerações finais avalia que

houve ampliação do olhar do pesquisador frente a temática do estudo, assim como também

aos métodos utilizados para a construção do conhecimento no que tange a pesquisa

qualitativa, limitada até então pela experiência nos estudos quantitativos da pesquisadora.

Adquirindo assim uma nova perspectiva por meio deste estudo. Dessa forma, pode-se inferir

que os pressupostos iniciais mantêm-se pertinentes para que outros trabalhos sejam realizados

e aprofundados.

Acrescento ainda que pesquisas sobre segurança do paciente estimulam

profissionais de saúde a refletirem suas ações sobre o tema.

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REFERÊNCIAS

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143

APÊNDICES

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APÊNDICE A– Temário do Grupo Focal com Usuários

- Segurança no cuidado

- Comunicação

- Pertencimento

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APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Trabalhadores de Saúde

das UAPS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Leia

cuidadosamente o que segue e me pergunte sobre qualquer dúvida que você tiver. Após ser

esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso aceite fazer parte do estudo, assine ao

final deste documento, que consta em duas vias. Uma via pertence a você e a outra ao

pesquisador responsável. Em caso de recusa você não sofrerá nenhuma penalidade.

Declaro ter sido esclarecido sobre os seguintes pontos:

O trabalho tem por finalidade contribuir com a melhoria da qualidade na assistência,

tanto para profissionais, assim como também para os usuários e dos gestores. Ao participar

desse trabalho estarei contribuindo para que esse objetivo seja alcançando, proporcionando

um cuidado melhor e seguro no posto de saúde. Não terei que doar para a realização dessa

pesquisa, nenhum material (ais) biológico (s). A minha participação como voluntário deverá

ter a duração de no máximo 3 horas. Poderei deixar de participar do estudo a qualquer

momento sem prejuízo. Meu nome será mantido em sigilo, assegurado assim a minha

privacidade e se desejar, deverei ser informado dos resultados dessa pesquisa; Qualquer

dúvida ou solicitação de esclarecimentos poderei entrar em contato com a equipe científica

pelo telefone (85) 3101- 9891.

Diante dos esclarecimentos prestados, concordo em participar do estudo

AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE:

ATRIBUTOS PARA O CUIDADO CLÍNICO SEGURO na qualidade de voluntário (a).

Fortaleza,________de__________________de________.

_________________________________________________________________

Assinatura do voluntário

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APÊNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Gestores das UAPS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Leia

cuidadosamente o que segue e me pergunte sobre qualquer dúvida que você tiver. Após ser

esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso aceite fazer parte do estudo, assine ao

final deste documento, que consta em duas vias. Uma via pertence a você e a outra ao

pesquisador responsável. Em caso de recusa você não sofrerá nenhuma penalidade.

Declaro ter sido esclarecido sobre os seguintes pontos:

O trabalho tem por finalidade contribuir com a melhoria da qualidade na assistência,

tanto para profissionais, assim como também para os usuários e dos gestores. Ao participar

desse trabalho estarei contribuindo para que esse objetivo seja alcançando, proporcionando

um cuidado melhor e seguro no posto de saúde. Não terei que doar para a realização dessa

pesquisa, nenhum material (ais) biológico (s). A minha participação como voluntário deverá

ter a duração de no máximo 1 horas. Poderei deixar de participar do estudo a qualquer

momento sem prejuízo. Meu nome será mantido em sigilo, assegurado assim a minha

privacidade e se desejar, deverei ser informado dos resultados dessa pesquisa; Qualquer

dúvida ou solicitação de esclarecimentos poderei entrar em contato com a equipe científica

pelo telefone (85) 3101- 9891.

Diante dos esclarecimentos prestados, concordo em participar do estudo

AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE:

ATRIBUTOS PARA O CUIDADO CLÍNICO SEGURO na qualidade de voluntário (a).

Fortaleza,________de__________________de________.

_________________________________________________________________

Assinatura do voluntário

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APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos Usuários das UPAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Leia

cuidadosamente o que segue e me pergunte sobre qualquer dúvida que você tiver. Após ser

esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso aceite fazer parte do estudo, assine ao

final deste documento, que consta em duas vias. Uma via pertence a você e a outra ao

pesquisador responsável. Em caso de recusa você não sofrerá nenhuma penalidade.

Declaro ter sido esclarecido sobre os seguintes pontos:

O trabalho tem por finalidade contribuir com a melhoria da qualidade na assistência,

tanto para profissionais, assim como também para os usuários e dos gestores. Ao participar

desse trabalho estarei contribuindo para que esse objetivo seja alcançando, proporcionando

um cuidado melhor e seguro no posto de saúde. Não terei que doar para a realização dessa

pesquisa, nenhum material (ais) biológico (s). A minha participação como voluntário deverá

ter a duração de no máximo 20 minutos. Poderei deixar de participar do estudo a qualquer

momento sem prejuízo. Meu nome será mantido em sigilo, assegurado assim a minha

privacidade e se desejar, deverei ser informado dos resultados dessa pesquisa; Qualquer

dúvida ou solicitação de esclarecimentos poderei entrar em contato com a equipe científica

pelo telefone (85) 3101- 9891.

Diante dos esclarecimentos prestados, concordo em participar do estudo “Avaliação

da cultura de segurança na perspectiva da gestão da clínica na atenção primária em

saúde da cidade de Fortaleza-CE. ” , na qualidade de voluntário (a).

Fortaleza,________de__________________de________.

_________________________________________________________________

Assinatura do voluntário

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Pesquisa: “Avaliação da cultura de segurança na perspectiva da gestão da clínica na

atenção primária em saúde da cidade de Fortaleza-CE. ”

Fortaleza,CE, ___/___/___.

Assinatura do Participante

Assinatura do Pesquisador

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APÊNDICE E – Roteiro de Entrevista para Gestores e Trabalhadores de Saúde nas UAPS

Identificação (Iniciais):

Data da entrevista:

Local: Hora:

GESTORES:

- Fale sobre a segurança do paciente na UAPS.

- Que atributos você considera essencial para desenvolver sua gestão?

- Fale sobre a sua comunicação com usuários e com os trabalhadores.

PROFISSIONAIS:

- Fale sobre a segurança do paciente na UAPS.

- Fale sobre 3 situações que causaram danos ao paciente aqui na unidade.

- Como se dá o trabalho entre os membros da equipe?

- Fale um pouco sobre a questão da liderança no dia a dia do seu trabalho?

- Fale como se dá a tomada de decisão a respeito das questões relacionada ao trabalho e o

cuidado aqui dentro da unidade.

- Fale sobre a comunicação entre os profissionais e entre você com a gestora?

- Fale da comunicação entre você e os usuários.

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APÊNDICE F - Questionário para Traçar o Perfil Socioeconômico de Gestores e Profissionais

de Saúde da ESF

1.Dados de identificação

Sexo: 1. ( ) Masculino 2.( ) Feminino

Idade:

Naturalidade:

2. Dados Familiares

Estado civil: 1. ( ) casado 2. solteiro 3. ( ) separado 4. ( ) divorciado 5. ( ) viúvo 6.

outros:______

Quantidade de dependentes na família: ________

Renda Pessoal: ( ) Menos de 1 salário mínimo ( ) De 2 a 3 salários mínimos ( ) De 4 a 5

salários mínimos ( ) De 5 a 10 salários mínimos ( ) De 10 a 20 salários mínimos ( ) De 20

a 30 salários mínimos ( ) De 30 a 40 salários mínimos.

Outra: _______________

4. Dados profissional

Escolaridade:

Período ou anos cursados de graduação:

Tempo de formado:

Possui ou faz outra graduação.

( ) Sim Especifique: ____________ ( ) Não:

Possui alguma bolsa de incentivo. Se sim Especifique

Possuem algum vinculo empregatício:

Tempo de ingresso no serviço:

Qual tipo de vínculo empregatício : 1. ( ) Funcionário público 2. ( ) celetista 3. ( ) cargo

comissionado 4. ( ) Terceirizado 5. ( ) Outro: _____________

Possui mais de um vinculo empregatício? Qual (is)?

Tem participado de cursos de capacitação ou treinamento? Se sim especificar tema, carga

horário e período.

___________________________________________________________________________

________________________________________________________________

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Na sua formação ou serviço, qual curso ou treinamento que você considera necessário para

sua qualificação?___________________________________________________

_____________________________________________________________________