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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CAMILLA QUESADA TAVARES DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA PONTA GROSSA 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CAMILLA QUESADA TAVARES

DISCURSO POLÍTICO NO HGPE:

UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA

GROSSA

PONTA GROSSA 2010

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CAMILLA QUESADA TAVARES

DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS

UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de bacharel em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Ciências Sociais Aplicadas.

Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi

PONTA GROSSA

2010

3

TERMO DE RESPONSABILIDADE

DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO ÉTICO COM A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL

Responsabilizo-me pela redação do trabalho de Projeto Experimental em Jornalismo

sob o título DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO

SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS UTILIZADAS NAS CAMPANHAS

MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA, atestando que todos os

trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou não) e

que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está

identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou

somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme

normas e padrões da ABNT vigentes. Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que

posso ser responsabilizado legalmente caso infrinja tais disposições.

Ponta Grossa, 03 de novembro de 2010.

____________________________________________________

Assinatura do estudante

Nome: Camilla Quesada Tavares

Número do RA: 071042267

4

CAMILLA QUESADA TAVARES

DISCURSO POLÍTICO NO HGPE: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS

UTILIZADAS NAS CAMPANHAS MUNICIPAIS DE 2008 EM CURITIBA E PONTA GROSSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de bacharel em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Ciências Sociais Aplicadas.

Ponta Grossa, ____ de ________________ de 2010.

Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi – Orientador

Doutor em Ciências Políticas

Universidade Estadual de Ponta Grossa

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

5

Dedico aos meus pais, Robson e Rita de Cássia.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus , que sempre me guiou e me deu forças quando eu

pensei que estas já não existiam mais em mim.

Aos meus amados pais, Robson e Rita de Cássia , pelo incentivo e investimento

que dedicaram a mim ao longo destes quatro anos. Obrigada por acreditarem na

minha competência e na profissão que escolhi.

Às minhas pequenas, Amanda e Ana Paula , que sempre fizeram da minha vida

uma alegria sem fim.

Aos meus avôs, Antônio e Marlene , e à minha bisavó, Nena, por todo o carinho e

atenção que nunca deixaram faltar.

Ao Italo , por todo o amor, carinho, atenção, paciência, cumplicidade e

companheirismo que demonstrou ao longo de todo este ano, não só devido à

produção deste trabalho.

À Laís , que esteve ao meu lado desde o início da universidade, ouvindo minhas

teorias absurdas e minhas paranóias sem fim.

Ao Emerson U. Cervi , orientador desta monografia, por ter aceitado estar comigo

nesta pesquisa, sempre contribuindo de forma significativa com o trabalho e com

minha formação.

A todos que, direta ou indiretamente, estiveram envolvidos na realização deste

estudo.

7

8

RESUMO

O trabalho tem como tema as eleições municipais de Ponta Grossa e Curitiba, enfocando as estratégias discursivas dos candidatos a prefeito apresentados nos programas veiculados no Horário Gratuito Político Eleitoral (HGPE) de 2008. Busca-se, pela análise, identificar as estratégias de discurso mais utilizadas pelos prefeituráveis de dois partidos, comparando os resultados das duas cidades. Os dados coletados foram dos programas do primeiro turno das eleições de ambas as cidades. A análise realizada foi a de conteúdo, empregando o método quantitativo, que possibilitou fazer a comparação entre as duas disputas. Os candidatos foram escolhidos de acordo com sua posição dentro da disputa (situação ou oposição). Sendo que tanto em Curitiba quanto em Ponta Grossa haviam candidatos do mesmo partido (PSDB) disputando à reeleição, os outros dois candidatos que constituem o estudo são os de oposição. Sendo assim, a hipótese inicial deste trabalho é saber se o partido político em questão utilizou as mesmas estratégias jornalísticas em ambas às disputas, ou se manteve a similaridade de discursos.

Palavras-chaves: Discurso Político; Campanha Eleitoral; HGPE, Curitiba, Ponta

Grossa.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................10

CAPÍTULO 1 - MÍDIA E POLÍTICA...................... ....................................................16

1.1 Política nos tempos atuais..................................................................................19

1.2 O discurso político midiatizado...........................................................................24

1.3 O discurso político e sua relação com a mídia...................................................38

1.4 Definição do conceito de Espaço Público proposto por Habermas....................43

CAPÍTULO 2 - DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E COMUNICAÇÃO.... ........................47

2.1 Sistemas Eleitorais.............................................................................................51

2.1.1 A campanha e o voto no Brasil........................................................................55

2.2 Campanhas Eleitorais.........................................................................................59

2.3 Campanhas na TV..............................................................................................67

2.4 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, o HGPE............................................73

2.4.1 O HGPE televisivo de Curitiba e Ponta Grossa...............................................78

CAPÍTULO 3 - ANÁLISE DOS RESULTADOS................ .......................................81

3.1 Comparação geral dos conteúdos do HGPE de Curitiba e Ponta Grossa.........86

3.2 Comparação dos elementos jornalísticos presentes nos programas.................98

CONCLUSÃO.......................................... ...............................................................123

REFERÊNCIAS BLIOGRÁFICAS........................... ...............................................128

ANEXO A – RELATÓRIO ANALÍTICO...................... ............................................130

10

INTRODUÇÃO

O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) é um mecanismo

utilizado pela elite política para difundir suas idéias, ou seja, um espaço assegurado

por lei que os candidatos têm direito para apresentar as propostas e estratégias.

Como a finalidade dos partidos é ganhar poder político, se faz necessário buscar

meios de persuadir o eleitor, ou seja, persuadi-lo a votar em determinada pessoa.

Assim, o discurso é marcado pela retórica ficcional. “Visando convencer os eleitores,

todos constroem um mundo atual possível, igual ou um pouco diferente do mundo

atual real, e com base nele projetam um novo e bom mundo futuro possível”.

(FIGUEIREDO et al., 2004. p.152).

Além disso, o candidato tem liberdade de conteúdo e pode lançar mão de

suas próprias estratégias (o marketing é a mais utilizada) para seduzir o eleitor. Para

conseguir identificar os jogos político-ideológicos que perpassam a fala dos

candidatos é preciso analisar o conteúdo e a forma de apresentação de cada

político.

Esta pesquisa tem como tema a relação dos meios de comunicação, mais

especificamente, do jornalismo, com as eleições municipais de 2008 de Curitiba e

Ponta Grossa. No mundo moderno, com o advento da tecnologia e o aumento da

abrangência geográfica, o candidato que quer desenvolver uma campanha eficaz

deve usar os meios de comunicação de massa. Eles têm uma grande área de

cobertura e chegam a quase 100% do território nacional.

A abrangência do HGPE é importante tanto numa disputa de âmbito nacional

quanto na municipal. As eleições para prefeito têm maior proximidade com os

eleitores do que uma disputa para a presidência da República, por isso pode-se

pensar que o HGPE não teria tantos efeitos no contexto local do que no contexto

11

nacional. Entretanto, não é isso o que se verifica. Sendo assim, esta pesquisa se

propõe a estudar as estratégias discursivas jornalísticas utilizadas nos programa dos

candidatos à prefeitura de Curitiba e de Ponta Grossa, a partir do Horário Gratuito de

Propaganda Eleitoral (HGPE) de 2008.

Os estudos sobre mídia e política no Brasil ainda são recentes – os

primeiros começam a surgir na década de 80, e tem como objeto de pesquisa a

relação entre os veículos de comunicação e o regime ditatorial (ALBUQUERQUE,

1999; RUBIM e AZEVEDO, 1998). A análise do processo de articulação entre mídia

e política ganha força com a primeira eleição direta para presidente após a ditadura,

em 1989. Segundo Albuquerque (1999), o HGPE - apesar de ser regulamentado

desde 1962, só conseguir um poder efetivo em 1985 – passou a contribuir de forma

significativa com o jogo político e a disputa pelo poder. Até então, a campanha pré-

eleitoral consistia nos comícios e na campanha chamada ‘corpo-a-corpo’. (RUBIM,

2007). Na televisão, a visibilidade dos políticos, das propostas e da campanha é

maior. Talvez isso explique a grande dedicação dos profissionais da área de

Marketing para produzir um programa eleitoral convincente.

O conteúdo analisado é de âmbito local porque se entende que “as disputas

eleitorais nos municípios representam o ponto de partida para se atingir os cargos

de maior destaque na carreira política” (TEIXEIRA, 2000. p. 99). Podemos pensar

que o prefeito é o cargo político mais fácil de ser cobrado e o que está sujeito a

vários tipos de pressão, por ser o mais próximo da população.

A identificação das estratégias discursivas ajuda a entender o resultado

incomum da eleição majoritária de Curitiba, onde o atual prefeito Beto Richa (PSDB)

conseguiu se reeleger com uma grande diferença de porcentagem da segunda

colocada, a candidata do PT, Gleisi Hoffmann. Richa venceu o pleito com 77,27%

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dos votos válidos, contra 18,17% da segunda colocada e principal oponente. Em

número de votos, o prefeito reeleito de Curitiba convenceu 778.514 eleitores a

prorrogar sua gestão por mais quatro anos, enquanto que a candidata do PT

conseguiu apenas 183.027 votos. Tirando o terceiro colocado na disputa, o Reitor

Moreira – que conseguiu 1,9% de eleitores, os outros cinco candidatos que

disputaram o cargo para assumir a prefeitura da capital do Paraná não chegaram a

fazer nem 1% de votos. Já em Ponta Grossa um dos principais candidatos

esperados para o segundo turno ficou de fora da disputa. Jocelito Canto (PTB),

principal oponente do candidato à reeleição pelo PSDB, Pedro Wosgrau Filho, foi

desbancado pelo radialista Sandro Alex (PPS), que nunca havia disputado uma

eleição antes. Pedro Wosgrau Filho passou para o segundo turno com a aprovação

de 39,44% dos eleitores. Sandro Alex conseguiu 28,5% dos votos - apenas 0,35% a

mais que Jocelito Canto, que teve um total de 28,15% dos votos válidos, ficando de

fora da disputa no segundo turno.

Observando os números gerais da eleição de Curitiba é inevitável se pensar

como que um candidato conseguiu tanta aprovação do eleitorado a ponto de

conseguir se reeleger sem ao menos precisar disputar o segundo turno? Em Ponta

Grossa a situação foi tão incomum quanto em Curitiba. Entretanto, na cidade

interiorana houve uma modificação de intenção de voto bastante significativa no

decorrer da campanha, principalmente através da campanha na televisão, o que fez

com que o desfecho do pleito tomasse caminhos diferentes. Estes fatos refletem a

diferença que o HGPE faz dentro de uma corrida eleitoral. Contudo, apesar de ele

ser um espaço publicitário, o Jornalismo aparece presente entre as ferramentas que

são utilizadas para ganhar legitimidade e credibilidade perante o público.

Dispositivos jornalísticos, como o formato do programa sendo o de um telejornal, a

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apresentação do programa pelo âncora e etc., leva a crer que, apesar de ser um

espaço de propaganda, existe algum tipo de informação presente nos programas.

Sendo assim, a pergunta que guia esta pesquisa é: será que existem semelhanças

entre os discursos jornalísticos utilizados pelos candidatos dos mesmos partidos,

mesmo sendo oposição x situação?

Esta monografia tem como objetivo geral identificar as estratégias discursivas

jornalísticas adotadas pelos candidatos a prefeito de Curitiba e Ponta Grossa, a

partir do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) televisivo de 2008. Os

objetivos específicos que constituem a pesquisa são analisar a linguagem utilizada

nos programas eleitorais e verificar como é construída a imagem do candidato a

partir das estratégias jornalísticas presentes no HGPE, sempre fazendo uma análise

comparativa entre os dois pleitos.

O trabalho contribui cientificamente por focar em uma segmentação da

política ainda pouco estudada pela Comunicação, mais especificamente pelo

Jornalismo – o HGPE e os elementos jornalísticos contidos nele. A pesquisa de

campanha eleitoral se justifica por interferir diretamente no cotidiano social. É

necessário preencher a lacuna existente nesse âmbito de estudos da Comunicação,

pois pesquisar campanha política possibilita entender certos aspectos da sociedade

que antes não eram percebidos. Como já se sabe, a articulação entre mídia e

política no Brasil é recente, mas se tratando do HGPE, a demanda é ainda inferior,

pois se observa a visível a carência de artigos científicos na área de propaganda

eleitoral.

A maioria dos estudos existentes sobre eleições se dá pela análise da

cobertura da mídia sobre determinada disputa. O estudo é puramente jornalístico.

No caso da análise de programas eleitorais, o objeto de estudo perpassa o

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Jornalismo e envolve também a Propaganda, visto que é um espaço reservado à

elite política para apresentar suas propostas e argumentos. O Jornalismo neste caso

está implícito, visto que é partir dele que os candidatos constroem os temas que

serão apresentados nos programas.

A comparação entre os pleitos de Curitiba e Ponta Grossa se justifica

justamente por haver candidatos do mesmo partido disputando o mesmo cargo nas

eleições. Teoricamente, eles demandaram dos mesmos mecanismos de mídia para

se apresentar ao público, no entanto, o resultado final mostra que no caso de

Curitiba o candidato Beto Richa (PSDB) já tinha mais da metade das intenções de

voto. Enquanto que em Ponta Grossa, o tucano Pedro Wosgrau era um dos

favoritos, mas não tinha a preferência de grande parte da população. Desta maneira,

é interessante estudar como a campanha influenciou na decisão dos votos dos

eleitores.

A forma de abordagem proposta e a metodologia utilizada – a análise

quantitativa dos dados dos programas - permitem traçar um panorama acerca das

estratégias discursivas adotadas pelos candidatos nos pleitos de duas cidades

distintas. Como é visível a pouca quantidade de estudos na área, o trabalho ajudará

na constituição de pesquisas posteriores a esta.

O texto está dividido em três capítulos, dois de fundamentação teórica e um

de análise dos dados. No primeiro capítulo será discutido o conceito de Discurso

Político, um dos eixos centrais deste trabalho. A abordagem será feita a partir do

universo amplo envolvendo comunicação política, sendo direcionada ao longo do

capítulo para pontos mais específicos que realmente interessam a esta monografia,

como a aplicabilidade dos conceitos no HGPE.

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O segundo capítulo aborda democracia, campanha eleitoral e HGPE. É

importante explorar o conceito de democracia neste contexto porque a sociedade ao

qual este estudo se designa é a democrática. Seguindo esta linha, a campanha

eleitoral é uma conseqüência deste Estado democrático, e é onde todas as

estratégias de ação e persuasão do eleitor se desenvolvem, entre elas o HGPE. O

debate sobre o HGPE encerra este capítulo, que vai dar base para a análise dos

dados obtidos e apresentados no capítulo três.

O último capítulo consiste na apresentação dos resultados. A análise foi

possível através de uma coleta quantitativa de dados, a qual possibilitará também

comparar os resultados dos pleitos de Curitiba e Ponta Grossa. Para isso, quatro

variáveis foram analisadas: Apelo, Formato, Linguagem e Orador Dominante. O

‘apelo’ revela o tipo de conteúdo da mensagem veiculada, se possui conteúdos

informativos ou não. Complementarmente, tem-se a variável ‘linguagem’ que vai

mostrar em qual linguagem o candidato se comunica com o público. O formato dos

segmentos e o orador dominante finalizam a relação entre estas variáveis,

mostrando em qual formato o conteúdo é passado ao eleitor e quem é que transmite

as mensagens.

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CAPÍTULO 1

Mídia e Política

O estudo sobre Mídia e Política, mais especificamente Discurso Político, é

pertinente para que as pessoas possam descobrir o que há por trás das mensagens

das campanhas eleitorais que nos são apresentadas. O jogo pela disputa do poder

fica bastante evidente no período de campanha eleitoral, onde os eleitores são tão

visados como em nenhum outro período.

De maneira complementar, como coloca Susana Salgado, o estudo sobre

campanha eleitoral é pertinente porque existe um “interesse de perceber a forma

como os partidos se apresentam ao eleitorado, procurando captar o seu voto” (2007,

p. 41). Além disso, Segundo Gerstlé (1992 apud SALGADO, 2007), esta vontade em

realizar estudos sobre as campanhas aumentou com a modernização do espaço

público. Pode-se pensar na modernização do espaço público a partir do avanço da

tecnologia, como rádio, televisão, internet. Eles possibilitaram a amplitude do espaço

de discussão. Além disso, o espaço público existe também num âmbito localizado,

ou seja, o conceito aplica-se em uma sociedade local.

O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) é um programa

privilegiado da elite política brasileira que demanda de mecanismos para atrair o

público, e o principal deles é a linguagem. O horário político, como é chamado

cotidianamente, é um direito de todos os partidos registrados no Tribunal Superior

Eleitoral (TSE) e que tem um espaço reservado por lei dentro da grade de

programação tanto do rádio como da televisão. No Brasil, o espaço destinado à

17

propaganda é gratuito e, conseqüentemente, mais democrático. Ao contrário, nos

EUA, os partidos compram um espaço na grade de programação – não havendo

limite de tempo nem horário exclusivo para tal. Desta forma, o impacto econômico é

maior e a concorrência chega a ser desleal. Para exemplificar é só lembrar a

campanha de Barack Obama, que comprou um dos horários mais caros da televisão

americana para transmitir seu programa eleitoral – o intervalo do SuperBall.

A campanha eleitoral acontece no sistema social e no político, ou seja, é um

produto da elite política que tem como alvo a sociedade. Ela é entendida como uma

forma organizada de persuadir e informar os eleitores (SALGADO, 2007). Toda

campanha eleitoral deve ter quatro elementos fundamentais:

• ambiente contextual: regulações legais e estrutura dos mass media (diferente de país para país); • os objectivos estratégicos que os organizadores de campanha procuram comunicar; • os canais de comunicação directos e/ou mediados utilizados para passar as mensagens dos organizadores de campanha; • o impacto das mensagens na audiência-alvo. (SALGADO, 2007, p. 42).

Esses elementos divergem para dois objetivos centrais: informar e persuadir

o eleitor. O primeiro caso dirige para o debate, gerando discussão sobre temas e

assuntos apresentados. Já o segundo tenta convencer, e não informar. O primeiro

caso pode ser ilustrado com um programa eleitoral que apresenta propostas e meios

de execução, informando a população que tal ação é possível devido a

determinados fatores; ou então quando mostra, em números, os gastos públicos,

taxa de desemprego, etc. Já a persuasão é identificada em programas onde o

político se apresenta como se fosse a melhor opção dentre os concorrentes,

mostrando-se a partir de apelos emocionais.

18

O HGPE faz parte da campanha eleitoral, mas é apenas um dos

mecanismos utilizados para chamar a atenção do eleitor. Tanto o HGPE como a

campanha em sua totalidade devem ter objetivos estabelecidos para serem

cumpridos (SALGADO, 2007). A autora cita os três tipos mais utilizados:

1. Difusão das idéias do candidato ou do partido, que acontece com maior probabilidade se o partido não tem hipóteses de ganhar as eleições nem de obter um bom resultado. Neste caso, o partido e/ou candidato podem utilizar a campanha com outros objectivos: aumentar a sua popularidade, melhorar a sua imagem, bem como promover e difundir as suas idéias. 2. Um outro tipo de objectivo é a obtenção de um bom resultado. Um bom resultado é normalmente uma boa votação, maior do que a obtida nas eleições anteriores, o que dará ao partido maior influência política. 3. Por fim, vencer as eleições. A obtenção de maioria absoluta ou relativa pode será outro objectivo a fixar. (SALGADO, 2007. p. 43).

Entende-se neste trabalho que estes objetivos definidos por Susana Salgado

representam o básico que uma campanha eleitoral estabelece. Ao se observar

qualquer corrida eleitoral é fácil identificar os objetivos presentes dentro da mesma,

pois eles acabam se tornando, muitas vezes, uma ferramenta de identificação com o

eleitor. Para exemplificar é só se lembrar de uma inserção, tanto como propaganda,

quanto como HGPE, do Partido Verde (PV). Se não em todas, mas na maioria delas,

o PV opta por divulgar a posição ideológica do partido – neste caso, com a ampla

preocupação com o meio ambiente. Como é um partido pequeno frente aos outros

(como PSDB, PT e PMDB), também se pode considerar um de seus objetivos

divulgar políticos e candidatos para conquistar a vitórias nas urnas. Este exemplo é

pensado em proporção nacional, mas se nota que vale também para âmbitos

regionais e locais. O PV, ao contrário da maioria, coloca a ideologia do partido acima

de qualquer tema, o que, por um lado, pode prejudicá-lo na disputa, pois ele pode

deixar de lado abordagens que são relevantes para determinada localidade. Em

19

contra partida, verifica-se que os outros partidos se posicionam melhores frente aos

temas.

As estratégias utilizadas também são definidas antes do início do período

eleitoral. Salgado alega que a campanha é o resultado de todo o trabalho de

elaboração da mensagem política que deverá ser passada ao público. Ela afirma

que essa mensagem deve condizer com os objetivos do partido político para tal

pleito. Por fim, a autora defende a importância da articulação entre mídia e política,

defendendo que os meios de comunicação são a melhor ferramenta para que o

cidadão tenha acesso às diferentes campanhas dos partidos políticos.

Até aqui, observou-se a razão pela qual os estudos sobre campanhas vêm

ganhando importância. O primeiro tópico deste capítulo conceitua política e abre

caminhos para a discussão sobre a dependência da política para o discurso, e a

relação de ambos dentro do campo social e midiático.

1.1 Política nos tempos atuais

O que é política, afinal? Na conceituação moderna, a palavra “política”

significa “a atividade ou conjunto de atividades, que, de alguma maneira, têm como

termo de referência a pólis, ou seja, o Estado” (BOBBIO, 1998, 954). Porém,

acredita-se, que o foco destas atividades está mais voltado ao Público do que ao

Estado, visto que é onde as ações políticas são desenvolvidas.

Então, como se sabe, tudo o que envolve o Estado, e a manutenção deste,

diz respeito à política. Existem formas para que ela se articule dentro do campo

20

social, como as ações políticas. Patrick Charaudeau (2008) afirma que a política “se

concretiza mediante várias atividades de regulamentação social [...]” (2008, p. 27).

Esta regulamentação social significa ações que permeiam a sociedade, como ser

responsável por manter a ordem, governar para o bem estar social – levando

sempre em conta os interesses coletivos, formular e regulamentar leis, aplicar

punições, dentre outros. O político, junto com sua equipe de governo, é o

responsável por manter essa regulamentação. Através do HGPE ele pode mostrar à

sociedade como pretende proceder frente a estas ações essenciais para o bem

estar coletivo.

A articulação entre mídia e política acontece através da interação dos

campos político e midiático. De acordo com Bourdieu, campo político é “una

<<arena>> que se da como tal y en la cual hay combates, enfrentamientos

declarados” (1990). O campo político e midiático muitas vezes se confunde. A

política encontrou na mídia – rádio, televisão, impresso e internet – uma forma de

levar sua mensagem a um grande número de pessoas de uma só vez. Quando se

trata de eleições, esta dependência é ainda mais visível. Isso porque no período

eleitoral os partidos políticos querem atingir um grande número de pessoas para

então tentar converter em votos a seu favor. Como os Meios de Comunicação de

Massa (MCM) são bastante eficazes quanto ao seu alcance, a mídia acaba se

tornando uma forte ferramenta para a execução da campanha eleitoral. Wolton

(1995), de acordo com Charaudeau (2008), admite que a “publicização, por

intermédio das mídias, tem a vantagem de facilitar a circulação dos problemas e

discursos em um espaço público: tudo se torna passível de discussão” (WOLTON,

1995 apud CHARAUDEAU, 2008, p. 26).

21

As ações só são possíveis porque existe um espaço para que se possa

desenvolvê-las. Dentro do campo social, mais especificamente, na ação social, está

a ação política. É a ação política que permite que a vida social seja organizada, e

que a sociedade possa tomar decisões coletivas, sempre pensando no bem

universal (CHARAUDEAU, 2008). Precisa-se entender que a sociedade é complexa

e possui grupos fragmentados, que, por sua vez, emitem opiniões divergentes.

A política, por si só, já compreende, desde a Grécia antiga, um espaço

destinado a discussões pertinentes ao meio em que se vive. É um campo de disputa

pelo poder. Hannah Arendt (1972) define “poder político como o poder dos cidadãos,

princípio de determinação da comunidade que encontra aqui sua própria justificação,

seu próprio fim” (ARENDT, 1972 apud CHARAUDEAU, 2008). Esse poder se

democratiza na sociedade de massa devido ao debate que é realizado através dos

meios de comunicação de massa.

Em regimes democráticos, o cidadão tem o direito de escolher quem ele

quer que governe. Ele elege pessoas, no caso, os políticos, para ser o seu

representante dentro do governo. Nisso identificamos uma ação coletiva, onde os

indivíduos estão em busca de um objetivo comum. Entretanto, para que essa

“decisão coletiva” aconteça, é preciso que eles exprimam opinião e compartilhem

uns com os outros.

Uma organização da ação política que compreende um espaço de discussão dos objetivos a definir (tanto nos partidos, sindicatos e outros grupos associativos quanto nas mídias), um modo de acesso à representação do poder (eleições) e modalidades de controle (no interior das diversas instituições e no exterior, por movimentos reivindicativos diversos). Vê-se que a linguagem não está ausente do desenrolar da ação política, já que esse espaço depende de um espaço de discussão (CHARAUDEAU, 2008, p. 18).

22

Percebe-se que temos a linguagem sob duas diferentes instâncias: de um

lado, ela se manifesta através do discurso político; do outro, através dos

comentários e opiniões dos atores sociais. Neste ponto já começamos a perceber o

entrelaçamento entre três campos sociais, partir da linguagem: o campo político

(discurso), o campo social (opinião) e o campo midiático (comentários)¹. O campo

midiático aparece aqui primeiro como espaço hábil para o campo social apresentar

suas propostas, mas também é o responsável por fazer comentários e levantar

questões por vezes não abordadas nas propagandas eleitorais 1.

Esta forma de comunicação presente nas propagandas eleitorais faz parte

do que se chama comunicação política. Alguns teóricos entendem a comunicação

política como sendo um universo anterior ao espaço de discussão. Para Hannah

Arendt [2001, (1958)], por exemplo, a política é, por si só, comunicação, já que ela

entende como política a articulação entre palavra e persuasão. (apud SALGADO,

2007). Já para Eulau, Eldersveld e Janowitz (1956), a comunicação política integra

um dos três processos de intervenção (junto com a liderança e estruturas de grupo)

que mobilizam e transmitem as influências políticas entre instituições

governamentais formais e o comportamento eleitoral (apud SALGADO, 2007).

A definição de De Sola Pool se aproxima da anterior citada, porém, ela

acredita que a comunicação política é “a actividade de certas instituições

encarregues de difundir informações, idéias e atitudes relativas aos assuntos

governamentais” (DE SOLA POOL, 1968 apud SALGADO, 2007, p. 17).

1 No caso da comunicação política pela televisão é possível identificar de forma clara essa articulação. O HGPE, que é o campo político, utiliza o espaço do campo midiático para tornar público o discurso. Este discurso vai então adentrar o campo social e, teoricamente, vira discussão entre os cidadãos.

23

Como se pode perceber, este segmento da comunicação permite várias

definições. Susana Salgado defende que esta forma de comunicação é constituída

pelo político, pela mídia e pelo público. Além disso, pensando de uma forma ideal,

deveria ser o mediador entre quem governa e quem é governado, utilizando a mídia

como suporte.

Numa abordagem mais específica, Dominique Wolton chama de

comunicação política o espaço onde se desenvolve a discussão dentro da esfera

pública2 pelos cidadãos.

O espaço onde se trocam os discursos contraditórios dos três atores que têm a legitimidade para se exprimir publicamente sobre a política: os políticos, os jornalistas e a opinião pública conhecida por meio de pesquisas3 (CHARAUDEAU, 2008, p. 24).

O espaço público é onde as pessoas discutem assuntos importantes a elas e

emitem opinião pessoal. As pessoas saem da esfera privada, ou da esfera estatal,

para discutir, teoricamente, assuntos que são de interesse coletivo. Como afirma

Cucurella (2001), fazendo uma leitura sobre o pensamento habermasiano,

La publicidad relacionada com la opinión de um público constituido como conjunto de personas privadas que proyectan su racionalidad em diversos aspectos sociales y se afirman como jueces de las decisiones políticas (Cucurella, 2001, p. 59).

A configuração deste espaço proporcionou aos cidadãos debaterem

assuntos que lhes são pertinentes tanto fora da esfera política como também fora da

esfera privada. A discussão destes temas socialmente pertinentes gerou o que

Habermas chama de opinião pública. Entretanto, Habermas defende uma opinião

2 O conceito de esfera pública, proposto por Habermas, será amplamente discutido nos próximos

tópicos deste capítulo. 3 “Communication politique: construction d’um modele” e “Communication politique: les médias, amillon faible de la communication politique, Hermèsnº4, Paris, CNRS Éditions, julho de 1989. Citado por Patrick Charaudeau (2008).

24

pública crítica, que permite discutir os conflitos sociais. “Sólo uma publicidad crítica

permitirá la expresión de los conflictos reales y la superación de los mismos por la

generación de consensos, de voluntad común” (CUCURELLA, 2001, p. 62). Para

ele, só existirá democracia a partir da publicidade crítica e suas formas de

organização.

A mídia pode ser um agente regulador de assuntos discutidos dentro da

sociedade. Porém, sabemos que não é tudo o que é vinculado na mídia que gera

debate, discussão. De acordo com Charaudeau (2008), as pessoas só discutem o

que querem, e ainda assim as opiniões alheias não mudam o posicionamento do

indivíduo, na maioria dos casos.

Mesmo assim, os meios de comunicação ainda são as grandes ferramentas

para a elite política. Neles, o discurso político se mostra explicitamente com todas as

suas estratégias de persuasão e sedução, mesmo que não percebida pelo

espectador. Antes de começar a discussão da relação de discurso de mídia,

precisamos entender como o discurso se representa dentro do campo político.

1.2 O discurso político midiatizado

A palavra, ou a língua propriamente dita, integra de forma indispensável

todos os campos sociais. Obviamente que ela não é tudo dentro da política, ou seja,

existem outros mecanismos que também têm seu mérito. Entretanto, não há política

sem palavras.

A palavra intervém no espaço de discussão para que sejam definidos o ideal dos fins e dos meios da ação política; a palavra intervém no espaço de ação para que sejam organizadas e coordenadas a distribuição das tarefas e a promulgação das leis, regras e decisões de todas as ordens; a palavra

25

intervém no espaço de persuasão para que a instância política possa convencer a instância cidadã dos fundamentos de seu programa e das decisões que ela toma ao gerir os conflitos de opinião em seu proveito (CHARAUDEAU, 2008, p. 21).

A política nada mais é também do que um lugar de “luta discursiva”. Partindo

da definição moderna de política, ela tem que voltar suas atividades ao bem Público,

com o objetivo de manutenção da sociedade. Contudo, sabemos que a sociedade

não é homogênea, e que existem muitos grupos fragmentados passíveis de opinião

diferenciada uns dos outros (Charaudeau, 2008). Para a manutenção da ordem e

até mesmo para a aprovação das ações do governo por parte dos cidadãos é que o

discurso político se faz necessário. Como explica Charaudeau, o discurso “circula

nesses meandros metamorfoseando-se ao sabor das influências que sofre de cada

um deles” (2008, p. 31).

Além disso, a política utiliza o discurso, para fazer promessas, ameaçar,

manipular, entre outros, o cidadão. O que Charaudeau (2008) chama aqui de

discurso é uma forma de organização de idéias e estratégias através de palavras

que rodeiam o mundo social e causam “efeitos psicológicos e sociais”. Por trás do

discurso político existem muitas armadilhas, estratégias e posicionamentos

implícitos.

A palavra política deve e debater entre uma verdade do dizer e uma verdade do fazer, uma verdade da ação que se manifesta por meio de uma palavra de decisão e uma verdade de discussão que se manifesta mediante uma palavra de persuasão (ordem da razão) e/ou sedução (ordem da paixão) (CHARAUDEAU, 2008, p. 23).

A formulação deste discurso depende do estudo do contexto social. A

análise dele compreende também a explicação do universo além do próprio

discurso. Anterior à construção da narrativa em si se precisa estudar o cenário onde

26

se desenvolve a comunicação política. O HGPE é uma das ferramentas utilizadas na

campanha eleitoral, mais especificamente, uma forma de discurso político. Nele, os

candidatos constroem sua imagem para o público a partir de atributos que lhe são

mais convenientes, abordam temas que interessam a população, dentre outros.

Dentro do HGPE o discurso é elaborado a partir das estratégias com a finalidade de

ajudar o político a ganhar a simpatia do eleitor. Entretanto, estes mecanismos de

ação acontecem também fora do HGPE, como em comícios e entrevistas.

De acordo com Charaudeau (2008), a estratégia discursiva política se

constitui em três lugares de fabricação: o discurso político como sistema de

pensamento, como ato de comunicação e como comentário. No primeiro caso, é

montado “um ideal político em função de certos princípios que devem servir de

referência para a construção das opiniões e dos posicionamentos” (CHARAUDEAU,

2008, p. 40). No HGPE este espaço encontra-se na etapa de preparação do

programa, discutindo o que interessa abordar ou não. No discurso como ato de

comunicação, espera-se conseguir influenciar a opinião do indivíduo a fim de

conseguir adesões, rejeições ou consensos. É neste momento que se utiliza os

“procedimentos retóricos” para tentar seduzir e/ou persuadir o indivíduo. Este lugar é

o de comunicação direta com o público, o HGPE em si. O discurso como comentário

“não está necessariamente voltado para um fim político” (CHARAUDEAU, 2008, p.

40). Ele se trata aqui do político em si, mas não de suas propostas ou benfeitorias.

Aqui o discurso diz respeito a apenas fazer comentários a respeito da pessoa

política, e não de seus atos.

Quando construímos nossas falas, obedecemos a normas e convenções da

linguagem e partilhamos delas junto com o restante da sociedade. Mas quando

27

vamos construir um discurso, podemos demandar características exclusivas que nos

diferenciam das demais pessoas (Charaudeau, 2008). É neste ponto que se encaixa

o discurso político, pois ele busca meios de se distinguir perante aos demais. Ele é

utilizado pela elite política porque ela tem como objetivo chamar a atenção do eleitor.

Este por sua vez, está interessado no debate, que é promovido pela elite política

dentro da sociedade.

Como toda comunicação, esse discurso deve estar inserido em algum

segmento da sociedade. Assim, de acordo com Charaudeau, ele encontra-se no

“contrato de comunicação”.

Todo discurso se constrói na intersecção entre um campo de ação, lugar de trocas simbólicas organizado segundo relações de força (Bourdieu), e um campo de enunciação, lugar dos mecanismos de encenação da linguagem. O resultado é o que chamamos de “contrato de comunicação” (CHARAUDEAU, 2008, p. 52).

Neste ponto comum que se forma entre o campo de ação e o campo de

enunciação está o discurso político e suas significações. O entendimento, captação

da mensagem e os seus efeitos são resultados de um complexo jogo de “circulação

e de entrecruzamento dos saberes e das crenças que são construídos por uns e

reconstruídos por outros” (Charaudeau, 2008, p. 52). Estas significações fabricadas

e refabricadas são produzidas pelo pelos dispositivos de comunicação e interação. A

significação de dada mensagem depende do contexto social do qual o indivíduo faz

parte, e das crenças das quais compartilha. Os dispositivos de interação estruturam

“a situação na qual se desenvolvem as trocas linguageiras ao organizá-las de

acordo com os lugares ocupados pelos parceiros de troca". Portanto, “o dispositivo é

aquilo que garante uma parte da significação do discurso político ao fazer com que

28

todo enunciado produzido em seu interior seja interpretado e a ele relacionado”

(Charaudeau, 2008, p. 54).

Os dispositivos são destinados ao público, e ele faz parte do “contrato de

comunicação”. Contudo, quem são os parceiros deste contrato? Charaudeau (2008)

defende que são as entidades humanas, ou, como ele mesmo define, as instâncias.

As instâncias do dispositivo são “categorias abstratas, desencarnadas e

destemporalizadas, definidas pela posição que elas ocupam no dispositivo e às

quais os indivíduos são remetidos” (CHARAUDEAU, 2008, p 55). É basicamente o

conhecimento das pessoas de determinado contexto social e, principalmente, da

interpretação do que elas estão falando.

Ela evita que se caia em dois extremos: o que consiste em reduzir as explicações dos fatos políticos apenas à personalidade psicológica e social dos atores reais da vida política [...]; e o que consiste em interessar-se apenas pelas idéias veiculadas pelos discursos (a ideologia), em levar em conta a natureza das instâncias do dispositivo (CHARAUDEAU, 2008, p. 55).

Dada a complexidade do campo político, não podemos considerar que a

identificação do político se dê apenas em duas instâncias: a política e a cidadã. O

discurso político é fabricado em três lugares diferentes: um lugar de governança

(onde se encontra a instância política e adversária), um lugar de opinião (onde se

encontra a instância cidadã) e um lugar de mediação (onde se encontra a instância

midiática) (CHARAUDEAU, 2008). O lugar que mais interessa para o

desenvolvimento deste trabalho é o de mediação.

No centro do lugar de governança estão os políticos e governantes. Ao seu

redor, os partidos, as instâncias jurídicas, financeiras, científicas e técnicas e, por

29

fim, os organismos supranacionais, internacionais e não governamentais. Destes,

apenas as últimas instituições não são dependentes das instâncias governamentais.

“A instância política encontra-se no lugar em que os atores têm um ‘poder de

fazer’ – isto é, de decisão e de ação – e um ‘poder de fazer pensar’ – isto é, de

manipulação” (CHARAUDEAU, 2008, p. 56). Neste primeiro lugar de ação, o

discurso

Pode apenas se dedicar a propor programas políticos quando se trata de candidatar-se aos sufrágios eleitorais, a justificar decisões ou ações para defender sua legitimidade, a criticar as idéias dos partidos adversários para melhor reforçar sua posição e a conclamar o consenso social para obter o apoio dos cidadãos, tudo com a ajuda de diversas estratégias de persuasão e sedução (CHARAUDEAU, 2008. p. 56).

O teórico argumenta que o principal parceiro da instância política é a

instância cidadã. Ela é vista sob várias óticas, o que facilita a permeabilidade do

discurso político dentro dela. A instância cidadã suporta relações diversas, seja

como “público heterogêneo”, quando se precisa utilizar a mídia como forma de

mediação; como “público-cidadão que tem uma opinião”, quando diz respeito a

promessas eleitorais; ou ainda como “público-militante que já tem uma orientação

política”, quando se precisam convocar os aliados do partido. Neste estudo sobre

estratégias discursivas a partir do HGPE é possível observar de forma mais clara

essas posições da instância cidadã. Ela é tratada como público heterogêneo quando

as mensagens são enviadas a partir de um veículo de comunicação de massa, ou

seja, para um público geral, não específico, como no HGPE; quando se fazem

propostas eleitorais, a instância cidadã é vista como aquela que tem opinião, pois vai

questionar as possibilidades de determinadas propostas – assim o político não utiliza

qualquer promessa para atrair o cidadão; e por fim, pode-se convocar aliados

30

político quando se enxerga o público como militante. No HGPE é possível identificar

essa chamada quando ouvimos discursos como, por exemplo: Se você se importa

com o futuro do nosso planeta, vote em tal candidato.

Foi visto, anteriormente, que nesse lugar de governança também está

estabelecida a instância adversária. Ela é concomitante à instância política,

apresenta os mesmos objetivos e as mesmas estratégias discursivas. Porém, ela

não detém o poder, o que leva a produção de um discurso crítico ao poder vigente.

O segundo lugar de formação do discurso político é o de opinião fora do

governo, onde está localizada a instância cidadã. Pode-se associar a instância

cidadã com a esfera pública de Habermas. Ambos são espaços de discussão e

formação de opinião da sociedade, ao que diz respeito às ações de governo e seus

governantes. “O discurso da instância cidadã dedica-se essencialmente a interpelar

o poder governante” (CHARAUDEAU, 2008, p. 59).

Por uma questão de heterogeneidade e grande fragmentação em muitas

comunidades, Charaudeau propõe subdividir esta instância entre sociedade civil e

sociedade cidadã. A sociedade civil é o lugar de pura opinião individualizada, onde

os indivíduos agem autonomamente ou em pequenos grupos. Aqui se pode ter uma

opinião, sem ter necessariamente uma consciência cidadã. Já a sociedade cidadã é

uma sociedade construída que reúne pessoas “que têm consciência de um papel a

desempenhar na organização política da vida social” (CHARAUDEAU, 2008, p 60).

É composta por “indivíduos de direitos e não de pessoas físicas concretas, o que a

distingue da sociedade civil” (CHARAUDEAU, 2008, p 60). A sociedade cidadã

“tende a estabelecer um elo social entre os indivíduos em torno de valores abstratos

e de ordem racional [...]” (CHARAUDEAU, 2008, p. 62). Na campanha eleitoral a

31

sociedade cidadã apenas é vislumbrada enquanto público e alvo dos discursos e

das propostas. Por outro lado, na prática, verifica-se a campanha mais voltada para

a sociedade civil do que para a cidadã. Isso porque, na maioria das vezes, busca-se

cumprir interesses privados, individuais. A sociedade cidadã pode ser pensada a

partir de propostas que envolva o bem estar coletivo. Estes são temas que

abrangem a sociedade como um todo, pois é dever básico do Estado oferecer a todo

cidadão boas condições de saúde, educação, segurança, etc. Desta forma, quando

as propostas apresentadas não interessam a maioria do eleitorado, ou então não

interferem diretamente na vida dele, é possível identificar o centro da campanha

sendo a sociedade civil.

Por fim, existe a instância midiática. Segundo Charaudeau, este é o ponto

intermediário entre a instância política e a cidadã. Busca-se cumprir o papel de

informante, e ao mesmo tempo ter a confiança e credibilidade por parte do público e

do político. Para se fazer a comunicação, a instância midiática aprendeu a formular

discursos para alvos abstratos, e não mais direcionados a um determinado grupo. O

exemplo da televisão como meio de comunicação de massa ilustra bem este alvo

abstrato. Ela fala para todo mundo e, conseqüentemente, não fala pra ninguém em

específico. O mesmo acontece no HGPE, já que ele é veiculado nos meios de

comunicação de massa. O discurso nesta instância faz parte de dois dispositivos: o

de exibição, que é a busca pela credibilidade; e o de espetáculo, que é a busca por

cooptação.

O discurso da instância midiática encontra-se, portanto, como já discutimos, entre um enfoque de cooptação, que o leva a dramatizar a narrativa dos acontecimentos para ganhar a fidelidade de seu público, e um enfoque de credibilidade, que o leva a capturar o que está escondido sob as declarações dos políticos, a denunciar as malversações, a interpelar e mesmo a acusar os poderes públicos para justificar seu lugar na construção da opinião pública (CHARAUDEAU, 2008, p. 63).

32

Para este estudo, os dois dispositivos são de fundamental importância. O de

exibição tem como um de seus objetivos expor as entrelinhas da fala do adversário,

tornando público àquilo que está camuflado. O dispositivo de cooptação coloca o

político na cena pública, buscando conquistar o público e ganhar credibilidade junto

a ele. Isso garante a aceitação de tal candidato perante a sociedade, o que

influencia o resultado das eleições. A tabela abaixo resume o papel de cada

instância no processo.

Instâncias Função

A sociedade civil é o lugar de pura opinião individualizada, onde os indivíduos agem autonomamente ou em pequenos grupos. Aqui se pode ter uma opinião, sem ter necessariamente uma consciência cidadã.

A sociedade cidadã é uma sociedade construída que reúne pessoas com consciência de que possuem um papel a desempenhar na organização política da vida social. Ela é composta por “indivíduos de direitos”, o que a diferencia da sociedade civil. Ela tende a estabelecer um elo entre valores abstratos.

Política É o lugar onde os atores têm o poder de fazer (executar alguma ação) e de fazer pensar, ou seja, de manipular. A principal aliada desta instância é a instância cidadã.

Cidadã Pode-se associar a instância cidadã com a esfera pública de Habermas. Ambos são espaços de discussão e formação de opinião da sociedade, ao que diz respeito às ações de governo e seus governantes. É dividida entre sociedade civil e sociedade cidadã.

Midiática Ponto intermediário entre a instância política e a cidadã. Busca-se cumprir o papel de informante, e ao mesmo tempo ter a confiança e credibilidade por parte do público e do político. Para se fazer a comunicação, a instância midiática aprendeu a formular discursos para alvos abstratos, e não mais direcionados a um determinado grupo.

QUADRO 1 – Funções das instâncias definidas por Cha raudeau (2008)

O dispositivo do contrato de comunicação se apresenta como uma forma de

forjar imagens de lealdade, quando tratado da instância política; de protesto, quando

se refere à instância cidadã; e de denúncia para a instância midiática. A imagem de

lealdade é construída a partir do reforço da legitimidade do poder, enquanto que a

de protesto diz respeito à “legitimidade do ato de tomar a palavra”, e por fim, a de

33

denúncia que “mascara a lógica comercial pela lógica democrática” (CHARAUDEAU,

2008). No HGPE, o político constrói para si uma imagem legal, leal e legitimada, por

mais que se saiba que não seja assim fora do horário eleitoral. Como se sabe, é

muito jogo de interesses e disputa pelo poder, o que leva a lógica comercial ser

escondida pelo discurso democrático (CHARAUDEAU, 2008).

Charaudeau afirma que o político deve construir uma dupla identidade

discursiva: uma que diz respeito ao conceito, e outra que corresponde à prática. A

primeira está associada ao "posicionamento ideológico" e a segunda, à "posição do

sujeito no processo comunicativo" (CHARAUDEAU, 2008, p. 79 e 80). No processo

comunicativo, a voz do político corresponde a três vozes, na realidade: a voz do Eu,

a voz do Tu e a voz Terceira. Como diz Charaudeau, "ele é a voz de todos na sua

voz, ao mesmo tempo em que se dirige a todos como se fosse apenas o porta-voz

de um Terceiro, enunciador de um ideal social" (2008, p. 80). É por isso que nos

deparamos com os discursos sempre enaltecendo o "nós". Tantos nos programas do

HGPE, quanto em aparições propagandísticas, o político sempre constrói a frase da

seguinte forma: "Nós não podemos deixar..." ou "Nós somos os responsáveis..." e

assim por diante.

Tudo isso porque o político precisa inspirar confiança aos cidadãos, ou seja,

saber "aderir à imagem ideal do chefe que se encontra no imaginário coletivo dos

sentimentos e das emoções" (CHARAUDEAU, 2008, p. 80 e 81). Charaudeau

compartilha da idéia de que a influência política é exercida tanto no terreno da

paixão quanto na do pensamento. Em outras palavras, as paixões integram o

processo comunicativo, pois não há como "descartar os sentimentos em nenhum

processo linguageiro que tenda a influenciar o interlocutor". (CHARAUDEAU, 2008,

34

p. 81). No HGPE, mesmo se o candidato tenta tornar seu programa imparcial, ele

acaba recorrendo às emoções, mesmo que de forma implícita.

Assim, nesta interação entre convicção e persuasão dentro do discurso

político, as estratégias pensadas e utilizadas dependem de vários fatores. Ele fala

tanto para a elite política, quanto para as massas. Logo, deve abordar em sua fala

ações que interessem tanto a uma quanto a outra.

As estratégias discursivas empregadas pelo político para atrair a simpatia do público dependem de vários fatores: de sua própria identidade social, da maneira como ele percebe a opinião pública e do caminho que ele faz para chegar até ela, da disposição dos outros atores políticos, quer sejam parceiros ou adversários, enfim, do que ele julgar necessário defender ou atacar: as pessoas, as idéias ou as ações (CHARAUDEAU, 2008, p. 82).

A forma como o discurso é proferido também demanda de estratégia. Ele

não pode apenas falar, sem nenhuma convicção naquilo, o político precisa de

dramaturgia para conquistar o público. Neste caso, a dramaturgia nada mais é do

que "uma guerra de imagens para conquistar imaginários sociais" (CHARAUDEAU,

2008, p. 85).

Para o político, é uma questão de estratégia a ser adotada na construção de sua imagem (ethos) para fins de credibilidade e de sedução, da dramatização do ato de tomar a palavra (pathos) para fins de persuasão, da escolha e da apresentação dos valores para fins de fundamento do projeto político (CHARAUDEAU, 2008, p. 84).

O efeito emocional não é atingido de forma satisfatória somente através da

dramaturgia. Charaudeau (2008) apresenta outros fatores que ajudam na produção

de tal efeito: 1) Natureza da crença ao qual o discurso remete (vida/morte, acidente,

etc); 2) A encenação discursiva; e o 3) Posicionamento do interlocutor ou do público

em relação às crenças e ao estado de espírito em que se encontra. Em outras

35

palavras, é preciso montar o discurso a partir de um remetente, precisa-se fazer o

bom uso da encenação do discurso, já imaginando como o público vai incorporar

essa mensagem e qual o efeito que se espera produzir nele. No Horário Gratuito de

Propaganda Eleitoral é possível observar na prática a utilização desses três fatores.

A encenação do discurso político se dá de forma clássica: apresentando o

bem e o mal. Desta forma, ele é baseado na desqualificação do adversário, ou seja,

na apresentação de argumentos que mostrem o lado "mal" do adversário e como

ele, o lado do bem, vai apresentar uma "solução salvadora".

A solução salvadora consiste em propor medidas que deveriam reparar o mal existente. De repente, o defensor dessas medidas aparece crível, persuasivo e tenderá a construir para si uma imagem mais ou menos forte de salvador da pátria, dado que o objetivo é fazer o público encontrar o libertador de seus males e voltar-se totalmente para ele. Isso mostra a que ponto a construção da imagem de si (ethos) é importante no discurso político (CHARAUDEAU, 2008, p. 91).

Dentro do HGPE observa-se muito dessa tentativa de colocar o candidato

como salvador da pátria. Principalmente em programas de candidatos à reeleição, é

comum verificar situações onde o político argumenta que fez melhorias na saúde,

educação, ilustrando a fala com imagens que nem sempre demonstram realmente a

realidade. Para exemplificar, pode-se pensar num programa onde o candidato

mostra que em seu governo acabaram-se as filas de espera nos postos de saúde,

que a desigualdade social diminuiu, que o número de empregos aumentou, que a

segurança melhorou e que o tráfico de drogas foi amenizado. Junto a isso, somam-

se as falas onde atacam, de forma indireta, os outros candidatos ou até mesmo as

outras gestões.

As estratégias de desqualificação são muitas, e entre elas está: manipular a

ironia, revelar as contradições do adversário, projetar indícios de manipulação da

parte do adversário ou ir à denúncias de conseqüências nefastas à população

36

(CHARAUDEAU, 2008). Resumindo: a argumentação política se reduz a ataques

entre os políticos. Todas essas estratégias de persuasão utilizadas nos discursos

relacionam-se com a paixão, razão e com a imagem do político. Como coloca

Charaudeau (2008), relaciona-se com a paixão porque é a base das relações de

poder e de submissão; com a razão porque os que "procuram comandar devem se

tornar legítimos e fidedignos"; e por último, relaciona-se com a imagem quando não

há adesão a idéias que não passe pelos homens. A imagem política se sobressai

quando os cidadãos compartilham da idéia de um determinado político somente

porque gosta ou se identifica com a pessoa em si.

Outro ponto que pesa bastante no discurso político é quanto à questão dos

valores adotados. Não basta apenas escolher aqueles que compartilham a grande

maioria dos cidadãos, mas sim "adequar-se aos valores da maioria – ao menos, aos

que ele imagina que sejam – sem se contradizer por causa disso" (CHARAUDEAU,

2008, p. 96). A apresentação desses valores precisa satisfazer as condições de

simplicidade e argumentação. Quanto à simplicidade, precisa-se reduzir ao máximo

as questões complexas à sua expressão mais simplificada, mas sem cair numa

"falsa verdade; a uma verdade não provada ou mesmo a uma contraverdade"

(CHARAUDEAU, 2008, p.98).

Quanto aos argumentos, eles são de diversas espécies, e devem mostrar a

força da razão. Nem todos podem ser empregados no discurso político, por isso

Charaudeau apresenta apenas aqueles que interessam para a comunicação política.

Existem os de força das crenças partilhadas (o respeito pelo país em que se vive,

direto à vida); os de peso das circunstâncias (globalização econômica, por exemplo);

os pela vontade de agir do sujeito que argumenta (quando se dispõe a executar

37

ações por si próprio); pelos argumentos do risco de não fazer a escolha certa ou de

um dilema (quando incita as conseqüências de um acontecimento, por exemplo "Se

deixarmos passar essa oportunidade de tirar as armas de fogo da casa dos

cidadãos", ou então "O cuidado ou a segurança"). Existem também aqueles relativos

à autoridade de si, que se funda em sua legitimidade ou credibilidade, ou à

autoridade de um outro ("Se eu for eleito, vou acabar com os pedágios de nossas

estradas, e para isso tenho o apoio do nosso presidente da República"); pela

desqualificação do adversário (quando insulta o adversário dizendo que ele não tem

moral, por exemplo); e por fim, os argumentos por analogia, tanto com fatos que já

aconteceram, quanto com os acontecimentos do passado que representam um

papel de referência (quando utilizam, por exemplo, greves ocorridas para justificar

alguma atitude política ou relacionam determinados acontecimentos com as guerras

de outrora). "Todos esses procedimentos concorrem para dar ao discurso político

uma aura de racionalidade, produzindo um efeito dramatizante" (CHARAUDEAU,

2008, p. 104).

As ações políticas se desenvolvem num plano em que o político apresenta

suas propostas sem muitas vezes saber como vai dispor de mecanismos para

realizar tais promessas. No caso da ação política eleitoral, mais especificamente no

HGPE, subentende-se que essas ações devam ser mais bem elaboradas, para não

comprometer o conteúdo do programa e nem deixar o discurso inconsistente. Para

isso, é preciso demandar estratégias discursivas para que essas promessas não

sejam muito explícitas e nem pareçam muito vagas, e nem que façam o político

perder sua credibilidade mediante ao povo (CHARAUDEAU, 2008). Existem as

estratégias da imprecisão, estratégia do silêncio, estratégia de ação suprema e

estratégia de denegação, como define Charaudeau (2008). A primeira estratégia

38

"consiste em fazer declarações suficientemente gerais, sutis e, às vezes, ambíguas,

para que seja difícil surpreendê-lo em erro ou recriminá-lo por ter mentido

conscientemente" (p. 106). A estratégia do silencio é a ausência de declarações –

medidas são tomadas, mas não são anunciadas, visando o bem da sociedade. A

estratégia da razão suprema é a "razão do Estado", ou seja, "a mentira pública é

então justificada por se tratar de salvar o que constitui a identidade de um povo, indo

de encontro à opinião pública ou mesmo à vontade dos próprios cidadãos"

(CHARAUDEAU, 2008, p. 107). A última estratégia é a de denegação, "quando o

político, surpreendido em negócios que são objeto de uma ação da justiça nega sua

implicação ou a de um de seus colaboradores" (p. CHARAUDEAU, 2008, 108). No

próximo tópico será abordada esta dependência da política com a mídia e como ela

pode colaborar com a campanha eleitoral.

1.3 O discurso político e sua relação com a mídia

O discurso político faz parte da comunicação política. Um tipo do discurso

político é o eleitoral. Ele é uma das ferramentas utilizadas pelos partidos para

persuadir o eleitor. Para que este mecanismo seja eficaz é preciso que atinja a um

grande número de pessoas, por isso a dependência dos meios de comunicação de

massa.

Desta forma, a mídia se tornou uma grande aliada ao jogo de disputa pelo

poder da elite política. No mundo moderno, com o desenvolvimento da tecnologia, o

cidadão de qualquer canto do país – desde pequena cidade do interior até o meio

rural – pode ter acesso, pelo menos, ao rádio e à televisão. Os chamados Meios de

39

Comunicação de Massa (MCM) atingem a quase cem por cento do território

nacional. Isso significa que chegam a um grande número de pessoas e eleitores.

O mundo político acostumou-se a servir dos modernos meios de difusão da palavra política (imprensa escrita, rádio, televisão), cuja principal característica é dirigir-se a uma opinião que é, ao mesmo tempo, informe e múltipla e que deve ser mantida a seu favor. Segue-se uma grande prudência na escolha das palavras, uma estratégia de emprego de fórmulas inanes, suscetíveis de agradar a maioria, ou uma estratégia de banalização do vocabulário, certamente, do emprego do vocabulário da parte adversa (CHARAUDEAU, 2008, p. 35).

O que temos explicitado no trecho acima nada mais é do que as estratégias

de marketing e persuasão para seduzir o eleitor. De acordo com Mauro Wolf,

Persuadir os destinatários é um objectivo possível, se a forma e a organização da mensagem forem adequadas aos factores pessoais que o destinatário activa quando interpreta a própria mensagem. Por outras palavras, as mensagens dos meios de comunicação contêm características particulares do estímulo que interagem de maneira diferente com os traços específicos da personalidade dos elementos que constituem o público. (WOLF, 1995. p. 31).

Interpretando Wolf, entende-se que a mensagem, para ter seu efeito

esperado, deve ser bem construída, englobando elementos que fazem com o que o

indivíduo se identifique e consiga compreender o significado do conteúdo. Com a

articulação entre meio de comunicação de massa e comunicação política, a

mensagem é desenvolvida para atingir ao maior número de pessoas possíveis, sem

ter um alvo específico. Essa difusão da mensagem através dos meios de

comunicação de massa proporciona a ela sofrer algumas influências.

A interação entre a comunicação política e a mídia proporciona a mediação

da mensagem e a mediatização da mesma. (SALGADO, 2007). No primeiro caso, a

mídia serve como um mediador entre a política e os cidadãos. Já no segundo, de

acordo com Philippe Breton (1995) “é o canal de difusão de informação, sendo um

40

caso particular da função mais vasta que é assegurada pela mediação” (apud

SALGADO, 2007, p. 26). Já a mediação se aproxima mais da propaganda, que é

vista como uma forma de combate político mais do que uma ferramenta de

socialização política.

A propaganda pode ser considerada como uma modalidade da comunicação persuasiva que, de uma maneira geral, não implica o diálogo entre a fonte e o alvo. Desta forma, é algo imposto, o que leva a que o receptor crie um maior número de barreiras no momento de percepção da mensagem. Além disso, a propaganda, para além do suporte físico que usa, não prevê mais qualquer tipo de mediação, seja realizada por um jornalista ou outra. (SALGADO, 2007, p. 28).

A partir disso, vê-se que a mídia, de certa forma, modifica a mensagem que

chega até o cidadão. Isso porque ela “influencia sobre as condições em que se

exerce a argumentação política e sobre as modalidades de formação das idéias

políticas” (SALGADO, 2007, p. 27). O discurso passa por diversos filtros, o que leva

a pensar em até que ponto a mensagem que chega ao público é a mesma proposta

no início do processo?

Segundo Salgado, os veículos de comunicação cumprem três funções que

também fazem parte da intervenção na mensagem: primeiro, a mídia transmite a

mensagem sem ser exatamente um mero transmissor. Ela se torna produto de uma

seleção e de uma hierarquização dos fatos (o que nos remete à hipótese do Agenda

Setting4. A transmissão desse fato ajuda a transformar o discurso político em

“acontecimento”. A segunda função desempenhada pela mídia enquanto

midiatização é quanto à encenação da mensagem. “Toda e qualquer apresentação

implica escolha de citações, cortes e montagens de texto e imagens, o que

4 A hipótese do Agenda Setting diz que a mídia pauta a sociedade, e que seu poder não é limitado no que se refere à formação da agenda para o debate público, pois é a mídia que determina o que será discutido na esfera pública.

41

transforma a mensagem inicial” (SALGADO, 2007, p. 27). Isso possibilita a

manipulação da informação. Por fim, a terceira função diz respeito ao comentário do

discurso, geralmente atribuído aos especialistas da área. Este comentário deve ser

pedagógico, para ajudar na compreensão do que o político quer dizer, e

contextualizado para determinar em qual cenário tal declaração foi dada.

Os meios de comunicação procuram acontecimentos para preencherem os

noticiários. Existem dois conceitos que se aplicam a esta situação: o Media Events,

proposta por Elihu Katz e Daniel Dayan (1995); e os “pseudo- acontecimentos”,

proposto por Daniel Boorstin (déc. 1960). O primeiro caso se refere a

acontecimentos que não são suscitados pela mídia, ou seja, acontecem

independentes dela. Porém, eles são preparados pensando numa cobertura

midiática, como é o caso dos comícios. Diferentemente, o segundo conceito diz

respeito a fatos criados ou provocados pelos meios de comunicação. Um exemplo

disso são as conferências de imprensa.

No HGPE não acontece essa excessiva perda de significado, uma vez que

neste formato a mídia, mais especificamente a televisão, cumpre o papel de

mediadora. Murray Edelman (1988) defende que a mídia mostra um espetáculo, ou

seja, uma construção narrativa e não uma série de fatos. Assim, ele (re)nomeia a

propaganda como um “espetáculo político” contemporâneo, onde um conjunto de

símbolos e significantes determina as concepções da realidade (apud SALGADO,

2007)

Percebe-se que essas midiatizações surtiram efeitos dentro do processo de

comunicação política. O sentido e a forma como ela é entendida pelo cidadão é

questionada devido a esta midiatização, já que se introduziram no processo o

42

marketing político, consultores de imagens e sondagens. Isso se torna claro quando

pega-se a televisão como exemplo.

A participação política tem diminuído, passando a manifestar-se através de vias menos formais e mais variadas do que a ação partidária, enquanto que os media confiscaram o lugar dos partidos políticos como ‘canais de comunicação’ privilegiados entre as elites políticas e a população” (SALGADO, 2007, p. 29).

Os partidos perderam espaço para as mídias - mais a televisão do que

outras - porque elas são mais eficientes quanto aos objetivos propostos nas

campanhas. As mensagens são mais entendidas pelos cidadãos quando veiculadas

na televisão devido a utilização de quatro ferramentas, de acordo com Gianfranco

Pasquino: personalização, dramatização, fragmentação e a normalização.

Segundo Pasquino (apud DIAMANDOUROS e GUNTHER, 2001, apud

SALGADO, 2007), a personalização garante um caráter de individualização dos

problemas sociais o que pode gerar a apatia dos cidadãos. Ele afirma ainda que a

personalização é a base da escolha do voto, principalmente devido à semelhança

dos programas eleitorais de diferentes partidos (apud SALGADO, 2007). Ou seja, é

a causa de qualquer campanha eleitoral. A dramatização caracteriza uma amostra

exagerada da vida política pela comunicação e se desenvolve sob várias formas:

“assimilando a política a um jogo ou espetáculo, o ganha/perde, a utilização de

emoções entre outros”. (SALGADO, 2007, p. 30). Estes dois mecanismos são

bastante visíveis nos HGPEs, pois por mais que a propaganda política seja boa,

existem pessoas que votam apenas por simpatia ao candidato; a dramatização

também pode ser observada em vários aspectos, mas um exemplo é quando o

candidato apela para as emoções, pedindo votos em função de alguma crença.

[...] O uso de símbolos, a importância da imagem, a utilização de uma linguagem algo teatral e de frases curtas, assim como a exploração de

43

emoções têm como objectivo chamar a atenção de forma espetacular ou dramática. Balandier (1999) sublinha que a teatralidade própria da política nunca foi tão potenciada como hoje pelos media, a ponto de ele falar numa “teatrocacia” que assenta numa inversão que faz do poder quase vítima, senão mesmo sujeito submetido à tirania da sua representação mediática (SALGADO, 2007, p. 31).

As mensagens políticas também passam pela fragmentação e normalização.

A televisão forçou um ritmo mais rápido à atualidade política. O tempo de reação

após o recebimento da mensagem diminuiu devido justamente a este imediatismo.

Desta forma, incorporou ao destinatário um papel ativo depois da midiatização da

comunicação política.

Os receptores da palavra do político têm de ser tornar decifradores, estando aí uma parte do prazer do jogo. Procuram o texto escondido no interior do discurso convencional, empobrecido pela repetição: a palavra que produz efeito de surpresa ou de choque, a “pequena frase” à qual se reduz a mensagem, o desfazamento entre a formulação aparente e aquela que ela mascara segundo a lógica da dupla linguagem (BALANDIER, 1999, p. 126 apud SALGADO, 2007, p. 32).

Simplificar a mensagem é uma forma de se aproximar do eleitorado,

facilitando o contato. Otto Kirchheimer (1966) sugere que a simplificação da

linguagem da mensagem se dá pela catch-all syndrome, ou, numa tradução

simplista, síndrome de atingir a todos. No HGPE isso se aplica no objetivo de atingir

ao maior número de pessoas possíveis, sem ter exatamente um alvo definido, ou

seja, o público é heterogêneo. Isso transformou o modo de construir o discurso para

atingir ao maior número de pessoas possível: foram verificadas mudanças como

redução de bagagem ideológica dos partidos, importância da figura do líder em

detrimento do membro partidário anônimo. A seguir retoma-se a discussão sobre

esfera pública, conceituando a idéia a partir de alguns autores, sendo o principal

deles Jürgen Habermas.

1.4 Definição de esfera pública por Habermas

44

Como foi apresentada, a comunicação política é vista de forma diferente por

diversos autores. Para Hannah Arendt (1958) e Dominique Wolton (1995), ela é

também um espaço de discussão política. Esse entendimento do ponto de vista dos

dois teóricos leva a aproximação de outro conceito proposto por Jürgen Harbermas

(1981) o da esfera pública.

Está claro que a política atua no espaço estatal, que aqui está sendo

chamado também de espaço político. Já os cidadãos pertencem ao espaço privado.

Segundo Habermas, existe ainda um terceiro espaço: o público. Ele está entre o

espaço político e o privado. Muitas vezes o espaço político e o espaço público são

confundidos. O espaço público é onde as pessoas discutem assuntos importantes a

elas e emitem opinião pessoal. As pessoas saem da esfera privada, ou da esfera

estatal, para discutir, teoricamente, assuntos que são de interesse coletivo. Como

afirma Cucurella, fazendo uma leitura sobre o pensamento habermasiano,

La publicidad relacionada com la opinión de um público constituido como conjunto de personas privadas que proyectan su racionalidad em diversos aspectos sociales y se afirman como jueces de las decisiones políticas (CUCURELLA, 2001, p 59).

A configuração deste espaço proporcionou a discussão de assuntos

socialmente pertinentes, além de gerar o que Habermas chama de opinião pública.

A opinião pública nada mais é do que a posição dominante da sociedade acerca de

determinado assunto. Entretanto, a esfera pública e a opinião pública não existiriam

se não houvesse de um lado, os profissionais da mídia, e do outro, os políticos. De

acordo com Habermas, só é possível a formação de uma opinião pública porque os

meios de comunicação proporcionam assuntos ao público para entrar em discussão.

Ele parte do pressuposto de que os debates na esfera pública são, na grande parte,

45

de cunho político, por isso nomeia a esfera pública também de esfera pública política

(HABERMAS, 2006).

Entretanto, Habermas defende uma opinião pública crítica, que permite

discutir os conflitos sociais. “Sólo uma publicidad crítica permitirá la expresión de los

conflictos reales y la superación de los mismos por la generación de consensos, de

voluntad común” (CUCURELLA, 2001, p 62). Para ele, só existirá democracia a

partir da publicidade crítica e suas formas de organização.

Dominique Wolton (1995) concorda com Habermas sobre a opinião pública

crítica. Ele faz uma releitura do autor e defende um espaço dentro da esfera pública

chamada de comunicação política.

O espaço onde se trocam os discursos contraditórios dos três atores que têm a legitimidade para se exprimir publicamente sobre a política: os políticos, os jornalistas e a opinião pública conhecida por meio de pesquisas (apud CHARAUDEAU, 2009, p 24).

Além dos jornalistas e dos políticos – fundamentais para a constituição da

esfera pública, existem cinco outros atores que aparecem dentro da discussão: os

lobistas (defendem interesses específicos), os advogados (defendem interesses

gerais), os especialistas (que têm conhecimentos profissionais ou científicos), os

empreendedores morais (chamam a atenção pública para assuntos marginalizados)

e os intelectuais (que têm conhecimento em uma área específica) (HABERMAS,

2006). Todos contribuem para formar a opinião pública.

Neste capítulo foram discutidos os conceitos centrais que permeiam este

trabalho. O principal deles diz respeito ao discurso político, mais especificamente, o

eleitoral, presente no HGPE. Verificou-se que, antes do discurso, é preciso pensar

na campanha eleitoral como um todo, demandando seus objetivos, para depois

46

pensar no desenvolvimento do discurso utilizado. Quando se formula o discurso,

procura-se demandar de estratégias que seduzam o público e façam com que ele dê

credibilidade e legitimidade ao candidato. Além disso, é preciso pensar numa

sociedade heterogênea e bastante fragmentada, que não vai receber a mensagem

de forma igualitária. A interação e a dependência dos meios de comunicação são

baseadas nesse pressuposto de público grande, mas não segmentado. Desta forma,

não tem um alvo determinado e também não há como conhecer as características

das pessoas para com quem está falando. Logo, o discurso demanda de muitas

ferramentas e pesquisas para conseguir atingir o seu objetivo: se fazer entender

para o maior número de pessoas, além de convencê-las de que as propostas

apresentadas em determinado programa são melhores do que as dos adversários.

Tudo o que foi discutido, desde a formulação do discurso, os elementos que

demandam a construção de um bom discurso político, até a forma como este se

apresenta nas campanhas eleitorais - depois de sofrer várias interferências da mídia

e passar por vários filtros até chegar ao público – será de bastante importância para

analisar os resultados encontrados a partir da pesquisa de campo. No próximo

capítulo, democracia e eleição serão os eixos centrais de discussão, já que a base

do HGPE é de uma sociedade democrática, e ele faz parte das eleições e integra,

de forma bastante significativa, a campanha eleitoral de todos os partidos políticos.

47

Capítulo 2

Democracia, Eleições e Comunicação

Democracia e eleição estão interligadas. A eleição direta de representantes

políticos não existe se não num regime democrático, onde o povo tem o poder de

escolhê-los. Neusa Gomes (2001) diz que “a campanha eleitoral é o mais importante

elemento para o processo eleitoral democrático” (p. 13). A partir do significado

formal, Norberto Bobbio (1998) entende democracia como um

Método ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de Governo e para a formação das decisões políticas (ou seja das decisões que abrangem a toda a comunidade) mais do que uma determinada ideologia (BOBBIO, 1998, p. 326).

Ou seja, a democracia é um sistema de governo que prima pela vontade da

maioria, obedecendo sempre o princípio do bem estar social e coletivo, onde o povo

tem voz ativa dentro do governo ao qual pertence. Segundo Bobbio (1998) para

chegar nesta denominação a Teoria Contemporânea da Democracia passou a

englobar alguns princípios de três correntes políticas: 1) da Teoria Clássica; 2) da

Teoria Medieval e 3) da Teoria Moderna da Democracia.

A Teoria Clássica se baseia nos estudos de Aristóteles e Platão. Para

Aristóteles, de acordo com Bobbio (1998), havia três formas de governo

consideradas pura e outras três consideradas corruptas. Desta forma, a Democracia

se enquadrava nas formas corruptas, porque era atribuída ao “’Governo de

vantagem para o pobre’” (BOBBIO, 1998, p. 320) que se opunha ao “’Governo de

48

vantagem para o monarca’ (tirano) e ao ‘Governo de vantagem para os ricos’

(oligarquia)” (BOBBIO, 1998, p. 320)5. É bom frisar que nesta teoria a democracia

era vista como algo negativo para a sociedade, justamente por entender que o povo

não tem competência para governar o Estado.

Já a segunda linha de pensamento político, com a Teoria Medieval, defende

que, apesar das formas de governo absolutistas, o povo nunca transferiu todo o seu

poder para as mãos do imperador, e sim o designou como seu procurador. Bobbio

cita a obra de Marsílio de Pádua para legitimar esta idéia do pensamento medieval.

[Pádua] se afirma e demonstra abertamente, com vários argumentos, o princípio de que o poder de fazer leis, em que se apóia o poder soberano, diz respeito unicamente ao povo, ou à sua parte mais poderosa (valentior pars), o qual atribui a outros não mais que o poder executivo, isto é, o poder de governar no âmbito das leis. De um lado, portanto "o poder efetivo de instituir ou eleger um Governo diz respeito ao legislador ou a todo o corpo dos cidadãos, assim como lhe diz respeito o poder de fazer leis... (BOBBIO, 1998, p. 321).

Em outras palavras, para Pádua não há como existir um governo sem a

intervenção do povo de alguma forma, mesmo que seja mínima, implícita, ou

indireta. Seguindo este pensamento, conclui-se que todos os sistemas são

democráticos, já que existe essa participação - mesmo que mínima - da população.

No Brasil, por exemplo, pode-se dizer que existe esta forma mínima de participação

popular no processo democrático. Um exemplo claro disso são as eleições

5 Seguindo o pensamento de Aristóteles, Bobbio explica que Platão não defendia a democracia por compartilhar da idéia de que os cidadãos não sabem governar. Ambos os filósofos acreditavam que nem todas as pessoas tinham aptidão para governar, e que apenas um pequeno grupo saberia qual rumo tomar. Para Platão, a única forma boa de governo era a aristocracia (onde caberia aos melhores cidadãos de cada sociedade - neste caso, os filósofos - dirigir o Estado).

49

acontecerem a cada quatro anos, ou seja, o cidadão interfere, de fato, nas escolhas

políticas sociais uma vez a cada dois anos6.

Avançando o pensamento da Teoria Medieval, a Teoria Moderna compreende

a Democracia como um “regime policrático oposto ao regime monocrático” (BOBBIO,

1998, p. 322), ou então todo sistema de governo que se opõe às formas de

despotismo. Nesta teoria se encaixa a obra O Contrato Social, de Jean-Jacques

Rousseau (1748) onde ele estabelece regras para o bom funcionamento da

sociedade. Dentro deste livro, ele também fala sobre a democracia, a partir de um

governo absolutista, e apesar de defender a divisão do poder e participação do

povo, não acredita que um dia irá existir uma democracia, pois “se houvesse um

governo de deuses, ele se governaria democraticamente. Tão perfeito governo não

convém aos homens” (ROUSSEAU, 1762, p. 96).

É a partir desta última teoria que a democracia é entendida hoje e,

conseqüentemente, a que mais importa para este estudo. Entre as três

apresentadas, é a única que entende a democracia de forma positiva, como ainda é

vista hoje. Contudo, a participação do povo sempre vai ficar restrita ao um seleto

grupo de pessoas, que, de acordo com Bobbio (1998) Mosca (1992) chama de

“classe política”, aquela que realmente detém o poder. Assim, para ele, todo governo

seria oligárquico (controlado por pequenos grupos), mas se diferenciaria na maneira

como forma esta classe política, ou, como é chamada neste trabalho, a elite política.

O HGPE é um espaço exclusivo desta elite política. O intuito é apresentar ao povo

as propostas para tentar convencê-lo a votar neste ou naquele candidato. Ilustrando

a teoria contemporânea, o HGPE representa àqueles que detém o poder de

6 A cada dois anos devido à intercalação dos períodos eleitorais. As eleições presidenciais sempre acontecem dois anos depois das eleições municipais e vice-versa.

50

governar, que tentam seduzir o eleitor para ganhar o seu voto. O eleitor, então, faz

parte da sociedade que tem a participação assegurada na decisão de uma

campanha. Em outras palavras, o HGPE não existiria se não em uma sociedade

democrática, onde a democracia é entendida a partir desta última teoria.

Completando este pensamento, Bobbio apresenta a definição de Schumpeter (1942)

para Democracia - sendo a que mais se aproxima da praticada no Brasil. É preciso

existir uma participação mínima dos cidadãos para que haja um consenso. No caso

das eleições, o consenso da maioria da população culmina na vitória de um

candidato.

A Democracia para Schumpeter (1942) só é possível onde existem vários

grupos concorrendo entre si pela conquista do poder através do voto popular.

Uma definição deste tipo leva em conta a importância primária, não desprezível, da liderança em qualquer formação política e ao mesmo tempo permite distinguir um regime do outro na base do modo como as diferentes lideranças disputam o poder, especificando, na Democracia, aquela forma de regime em que a contenda pela conquista do poder é resolvida em favor de quem conseguir obter, numa disputa livre, o maior número de votos. (BOBBIO, 1998, p. 326).

O conceito de democracia entendida por Mosca (1992) é elitista, pois ele

defende que existe apenas uma parcela da sociedade hábil para tomar decisões

pela maioria. Assim, o cidadão precisa votar somente para escolher essa elite que

vai governar. Já Schumpeter (1942) é minimalista e complementa o pensamento de

Mosca porque acredita que se todos decidissem tudo, haveria um constante conflito

na sociedade. A forma proposta pelos autores simplifica o processo democrático,

onde todos têm o direito de escolha – mesmo que seja para eleger quem vai

governar em nome do povo. Estas duas visões democráticas são importantes para

este trabalho porque sistematizam a forma adotada no Brasil. Visto que o povo não

é capaz de governar por si só, e que sempre deverá haver uma elite política que

51

seja apta para tal função, a campanha eleitoral é uma ferramenta de fundamental

importância para apresentar ao povo informações que sejam úteis na hora da

escolha – principalmente pelo voto ser obrigatório.

Desta forma fica claro o conceito de Democracia dentro de uma sociedade

como a brasileira. A classe política é definida a partir dos candidatos com maior

número de votos. O cidadão tem pleno poder e liberdade para escolher em quem

votar em uma eleição. Mas para escolher entre tantos candidatos, é preciso recorrer

aos mecanismos existentes para se informar sobre cada um, e o HGPE é um destes

mecanismos. O HGPE representa a democracia na prática, onde todos os

candidatos têm direito a apresentar um programa ao público, lançando de todas as

suas ferramentas para seduzi-lo; e, ao mesmo tempo, o público tem onde recorrer

para conhecer melhor o candidato, para então usar de seu poder democrático para

escolher o seu melhor representante. No próximo tópico deste capítulo serão

discutidas as eleições. Neste ponto ficará mais clara a visualização do conceito de

democracia, colocado em prática.

2.1 Sistemas Eleitorais

Os sistemas eleitorais variam entre os países. Jairo Nicolau (2001)

sistematiza três tipos deles: os sistemas majoritários, proporcionais e mistos. O

primeiro é possível aplicar tanto em eleições majoritárias (presidente, governador,

prefeito) quanto nas proporcionais (deputado federal, deputado estadual e vereador).

No entanto, os sistemas proporcionais e mistos são possíveis apenas em eleições

proporcionais7.

7 O Brasil utiliza o sistema de voto proporcional nas eleições para deputado federal, deputado

estadual e governador.

52

O Brasil adota o sistema majoritário para os cargos de prefeito, governador,

presidente e senador, onde, segundo Nicolau (2001), ganha o pleito o candidato que

obtiver o maior contingente de votos dos eleitores – geralmente a porcentagem

mínima é de 50%, mas pode ser diferente dependendo do país. Assim, dois

caminhos são possíveis para decidir a eleição: o sistema de maioria simples ou o de

dois turnos.

A principal variação na “família” dos sistemas eleitorais majoritários é o estabelecimento ou não de um contingente mínimo de votos – geralmente 50% - para que um candidato seja eleito. O sistema de maioria simples não garante que o mais votado receba pelo menos o apoio da metade dos eleitores, condição que é assegurada pelo sistema de dois turnos (com apenas dois candidatos disputando o segundo turno) [...] (NICOLAU, 2001, p. 15).

O sistema de maioria simples garante que o candidato que tiver o maior

número de votos, vença a eleição (NICOLAU, 2001). Neste caso não é preciso

atingir um determinado número de votos para se considerar vencedor. Para

entender melhor, pode-se pensar em uma eleição onde existam três candidatos. O

candidato A alcançou 35% dos votos válidos; o candidato B, 30%; e o C teve apenas

25%. Votos brancos e nulos somaram 10%. Mesmo que o candidato A não tenha

conseguido pelo menos metade dos votos da população, ele seria o eleito.

Associando ao conceito de democracia, o voto de maioria simples não seria o

melhor exemplo de uma eleição democrática, visto que a vontade da maioria

(totalizando os alcançados pelo candidato A e B, 55%) não foi realmente feita.

Os defensores dos sistemas eleitorais de dois turnos [...] enfatizam dois outros aspectos. O primeiro é a maior representatividade dos eleitos. Como vimos, no sistema de maioria simples, um parlamentar pode se eleger com menos da metade dos votos dos eleitores de um distrito. Os sistemas de dois turnos garantem representantes eleitos com pelo menos 50% dos votos nos casos em que apenas dois candidatos concorrem a um segundo turno, ou com votação mais adensada nos modelos que permitem mais de dois representantes concorrendo no segundo turno, como é o caso da França (NICOLAU, 2001, p. 22 e 23).

53

Jairo Nicolau utiliza o exemplo das eleições para a Câmara de Deputados,

mas o conceito pode se aplicar em eleições presidenciais, estaduais e municipais.

Contudo, este exemplo não se aplica ao Brasil, pois aqui a eleição proporcional para

deputado acontece em um único turno.

De acordo com o autor, o sistema de dois turnos é o mais utilizado dentre os

países democráticos, porque garante maior representatividade aos eleitos. Cada

partido ou legenda apresenta um único candidato nas eleições. Se nenhum

conseguir mais de 50% dos votos, o pleito vai para o segundo turno com os dois

candidatos mais votados. Assim, “quando apenas dois candidatos participam do

segundo turno, é que o presidente é sempre eleito com mais da metade dos

eleitores que foram às urnas” (NICOLAU, 2001, p. 28). Como no Brasil o voto é

obrigatório, é certo de que a grande maioria compareça para votar. Mas para fazer

com que o eleitor não anule o voto ou vote em branco é preciso que ele esteja

informado sobre os candidatos concorrentes. Além do HGPE existem diferentes

técnicas para que o cidadão comum escolha votar em determinado candidato, como

os panfletos informativos, inserções na televisão fora do HGPE, debates e etc.

Quando se trata de eleição municipal a campanha feita fora dos meios de

comunicação de massa também tem grande peso. Como o público para quem se

fala é mais restrito, é comum observar-se outdoors, pessoas segurando faixas e

banners dos candidatos nas ruas, entre outros. Em Curitiba e Ponta Grossa os

candidatos utilizaram bastante esses meios para atingir o eleitor, já que eram

colocados em lugares de grande circulação de pessoas.

Contudo, as eleições no Brasil nem sempre adotaram o modelo de dois

turnos. Entre 1945 e 1964, os chefes do poder executivo foram escolhidos com o

voto de maioria simples. Eurico Gaspar Dutra foi o único que obteve mais da metade

54

dos votos, com 55,3%; ao contrário, enquanto que Juscelino Kubitschek teve a

menor porcentagem dos votos – apenas 35,6%. Nicolau explica que apenas com a

Constituição de 1988 foram implantadas duas regras eleitorais diferentes: nas

cidades com mais de 200 mil eleitores é realizado o sistema de dois turnos,

enquanto que nas cidades com menos de 200 mil eleitores o sistema adotado é o de

maioria simples. No entanto, o voto de maioria simples ainda é possível caso o

candidato seja eleito com, pelo menos, 50% + 1 dos votos da população. Dois

exemplos podem exemplificar bem este sistema eleitoral: as eleições de 1994 e

1998, onde Fernando Henrique Cardoso ganhou as eleições logo no primeiro turno,

com 54,3% e 53,1% dos votos, respectivamente. Caso isso não ocorra, os dois

candidatos mais votados vão para a disputa do segundo turno. Nas eleições de

1989, Fernando Collor de Mello foi para o segundo turno com 30,5% dos votos, e

acabou ganhando o pleito com 53% dos votos válidos. É bom lembrar que o HGPE

começou a ser utilizado efetivamente na campanha presidencial de 1989. No

primeiro turno, o tempo do candidato variava de acordo com o “número de

parlamentares de cada partido ou coligação no Congresso Nacional”

(ALBUQUERQUE, 1999, p. 50). Já no segundo turno, os dois candidatos teriam

direito ao mesmo tempo no HGPE: vinte minutos diários – dez para cada candidato

(ALBUQUERQUE, 1999).

A regra dos dois turnos possibilita que candidatos que chegam em segundo lugar com uma votação muito inferior ao primeiro colocado acabem ganhando as eleições. Nas eleições presidenciais de Portugal de 1986, o candidato Diogo Freitas do Amaral foi o mais votado no primeiro turno, com 46,3%, e o segundo colocado, Mário Soares, obteve 25,4%. No segundo turno, Mário Soares acabou eleito com 51,3% dos votos (Mackie & Rose, 1991, p. 376 apud NICOLAU, 2001, p. 29).

O resultado inesperado pode acontecer devido ao fato das novas bases

aliadas que se formam no segundo turno das eleições. Os partidos dos candidatos

55

que ficaram de fora refazem alianças e apóiam um dos candidatos que disputarão o

segundo turno. Nicolau (2001) afirma que “candidatos com índice de rejeição muito

grande e partidos muito marcados ideologicamente tendem a ter dificuldades no

segundo pleito” (p. 29).

Este tópico serviu para se entender como funciona o sistema eleitoral no

Brasil e perceber como o HGPE pode agir na campanha política. A cada pesquisa

de opinião e a cada turno disputado, o candidato deve produzir um programa que

atenda à necessidade de ganhar votos. O próximo tópico vai abordar a campanha

eleitoral brasileira.

2.1.1 A campanha e o voto no Brasil

Em um estudo sobre estratégias discursivas jornalísticas utilizadas nas

campanhas eleitorais é preciso também entender como o voto se dá no Brasil. Pelo

voto ser obrigatório, a campanha eleitoral cumpre um papel diferente de países onde

o voto é facultativo. Neusa Gomes (2001) explica que em países democráticos mais

desenvolvidos o voto é um direito adquirido, e não uma obrigação. Desta forma a

campanha vem com a função de convencer o eleitor a ir votar. Já no Brasil, ela vai

além e tenta induzir o eleitor a votar em determinado candidato.

O Brasil adota o regime Presidencialista, com eleições diretas. Ele é um

regime próprio das repúblicas, onde o líder (presidente) é escolhido pelo povo.

Porém, durante a ditadura, existiam apenas eleições para os cargos de deputado

federal, estadual e vereador, e existiam também apenas dois partidos: a ARENA e a

MDB (NICOLAU, 2002). O presidente, governadores, prefeitos e senadores eram

escolhidos sem a intervenção da população. Os três primeiro presidentes militares –

56

Castello Branco, Costa e Silva, e Garrastazu Médici foram eleitos pelo Congresso,

em sessão pública, com votação nominal. Ernesto Geisel, João Baptista Figueiredo

(últimos presidentes militares) e Tancredo Neves “foram eleitos pelo Colégio

Eleitoral, que era composto pelos deputados federais, senadores e delegados

escolhidos pelas assembléias legislativas dos estados” (NICOLAU, 2002, p.56).

Observa-se aqui que, mesmo com a ditadura, o povo ainda conseguiu participar, de

forma indireta, da escolha de cargos públicos. Se hoje se tem uma participação

mínima, naquela época tinha-se uma participação indireta dos eleitores na escolha

da elite política. Da mesma forma como hoje os candidatos tentam convencer os

eleitores através da campanha – e, mais especificamente, do HGPE, os eleitores

tinham que se convencer de que tal candidato é o melhor para assumir determinada

posição – visto que era aquele voto que ia desencadear a escolha do presidente8.

Com a volta da eleição para governador9, apareceram também novas regras

na legislação eleitoral. O multipartidarismo foi então permitido, mas os dispositivos

impostos pela lei os prejudicavam. Todos os novos partidos (PMDB, PDS, PTB, PDT

e PT) tiveram que apresentar chapas completas para todos os cargos eletivos de

âmbito estadual e municipal.

Além de favorecer os partidos com mais diretórios organizados (PDS e PMDB), tal dispositivo obrigou os novos partidos a deslocarem os nomes dos principais líderes para as eleições majoritárias, nas quais a chance de vitória era mínima. O eleitor foi obrigado a votar em candidatos do mesmo partido para todos os cargos (voto vinculado), as coligações entre os partidos continuaram proibidas e, pela primeira vez desde 1962, foi negada ao eleitor a possibilidade de votar na legenda (NICOLAU, 2002, p. 59).

Com o fim do Regime Militar, em 1985, o presidente José Sarney aprovou

uma série de medidas que modificaram a dinâmica do sistema eleitoral brasileiro,

8 As eleições para presidente e vice foram suspensas em 1965, e somente em 1989 teve-se a primeira eleição direta para presidente. A suspensão da eleição para governador de vice-governador ocorreu em 1966, juntamente com a interrupção da para prefeitos e vice-prefeitos da capital. 9 As eleições diretas para governador voltaram a ser permitidas em 1982, e para prefeito somente três anos depois, em 1985 (NICOLAU, 2002).

57

entre eles estava o estabelecimento de eleições diretas para presidente (mas nesta

época ainda não havia definida as datas para o pleito), pelo sistema de maioria

absoluta em dois turnos. As eleições para deputados federal e estadual,

assembléias legislativas e câmaras municipais são realizadas a partir do sistema de

voto proporcional, onde um partido precisa obter um número mínimo de votos para

obter representação. Em 1985, a práticas das coligações para estes pleitos foram

novamente permitidas (elas tinham sido suspensas no regime militar).

A possibilidade de fazer coligação entre os partidos permite ampliar o

universo de eleitores. Por exemplo, nas eleições de 2008 para prefeito em Curitiba,

dois dos três primeiros colocados optaram por fazer alianças com outros partidos. O

candidato do PSDB, Beto Richa, fazia parte da coligação entre onze partidos, entre

eles o DEM, PDT, PSB, PPS. A candidata da oposição, Gleisi Hoffmann, do PT,

também teve sua candidatura coligada com outros cinco partidos. Entretanto,

nenhum desses partidos era tão expressivo como os partidos que apoiavam o

tucano Beto Richa. O único partido que não realizou alianças para o pleito foi o

PMDB, do candidato Reitor Moreira (que coincidentemente ficou em terceiro entre

estes). Em Ponta Grossa, o partido do candidato Jocelito Canto (PTB) firmou

alianças com outros seis partidos na cidade: PDT, PMDB, PRP, PHS, PMN e PSB.

Já o candidato Sandro Alex, do PPS, foi apoiado apenas pelo PP. Por outro lado, o

tucano Pedro Wosgrau foi o candidato que mais fez coligações nas eleições de

Ponta Grossa. Ao todo, dez partidos apoiaram a candidatura de Wosgrau, do PSDB:

PSL, PTN, PRB, PSC, PR, DEM, PSDC, PRTB, PTC e PT do B. Nota-se que em

ambas as cidades, o PSDB foi o partido que mais conseguiu formar alianças

políticas para seus candidatos.

58

Outra medida importante foi a autorização do voto à pessoas analfabetas,

mesmo com a não-obrigatoriedade do mesmo. Além deles, hoje o voto é facultativo

também para adolescentes com 16 e 17 anos e para pessoas acima de 70 anos.

Para o restante da população o voto é obrigatório (em vigor desde a Constituição de

1934), estando a pessoa sujeita a sanções pelo não comparecimento no dia do

pleito.

A punição para os eleitores faltosos que não justificarem a ausência é o pagamento de uma multa, cujo valor, definido pelo juiz eleitoral, pode variar entre 3% e 10% do valor de 33 UFIR (entre R$ 1,00 e R$ 3,00); em virtude da situação econômica do infrator, o juiz pode aumentar em até 10 vezes o valor da multa. Caso o eleitor não demonstre que votou, justificou o voto ou pagou a multa, ele não pode, entre outras coisas, inscrever-se em concurso público, receber salários, caso seja funcionário público, e obter passaporte e identidade. O eleitor que não votar em três eleições sucessivas (ou não justificar ou pagar multa) tem seu nome retirado do cadastro dos eleitores (NICOLAU, 2002, p. 62 e 63).

Antes de instaurar uma legislação única, a campanha eleitoral variava de

eleição para eleição. O HGPE, por exemplo, foi restringido devido ao medo da

oposição. Em 1990 foram aprovadas duas emendas para a Constituição de 1988. A

primeira, sancionada em 1994 reduziu o tempo de mandato para quatro anos. A

segunda, sancionada em 1997, permitiu que o presidente “se recandidatasse por

mais um mandato consecutivo” (NICOLAU, 2002, p. 66). Também em 1997 foi

aprovada uma lei (nº 9.504) definitiva para regulamentar as eleições (antes havia

uma legislação específica para cada pleito, como explica Nicolau. Isso causava

grande discrepância entre os pleitos, como número de candidatos, distribuição do

tempo nos HGPEs, gastos das campanhas, entre outros).

Entre outros tópicos, a lei nº9.504 definiu prazo de um ano para domicilio e filiação em um partido para ser candidato; normas rigorosas para prestação de gastos de campanha; uma nova data na qual a eleição seria realizada, primeiro e último (no caso de segundo turno) domingo de outubro; número de candidatos que um partido pode apresentar nas eleições proporcionais; e critérios para realização do debate, propaganda eleitoral e distribuição de tempo no rádio e televisão (NICOLAU, 2002, p. 66).

59

Assim, a definição de uma lei específica para as eleições garantiu a

legitimidade do pleito.

2.2. A Campanha Eleitoral

Atenção dada às campanhas eleitorais e o reconhecimento de que elas

interferem diretamente nas eleições veio somente a partir dos anos de 1980. Até

então, os estudiosos da área acreditavam que ela não tinha uma força significativa

dentro de uma disputa política.

Um destes estudiosos foi Paul Lazarsfeld. De acordo com Antonio Lavareda

(2009), o austríaco, que era um teórico da comunicação, foi um dos fundadores da

Escola Sociológica de explicação do voto, da Universidade de Colúmbia. Ele e sua

equipe esperavam descobrir o efeito dos meios de comunicação na escolha dos

candidatos. Entretanto, eles observaram que a mídia só conseguia informar e

influenciar uma parcela da população – que foi batizada de “líderes de opinião”.

Esses, por sua vez, tinham o poder de disseminar sua posição para o restante das

pessoas, “através dos contatos pessoais com seus ‘seguidores’” (LAVAREDA, 2009,

p. 133). Devido a isso, concluíram que os meios de comunicação pouco interferiam

sobre a predisposição política das pessoas, assim como as campanhas eleitorais.

O que as campanhas podiam fazer era, apenas, reforçar as preferências políticas existentes, para os indivíduos que já haviam se decidido, ou, no caso dos indecisos, ativar os vínculos latentes (LAVAREDA, 2009, p. 133).

Lavareda acredita que Lazarsfeld e sua equipe estavam meios certos. Ele faz

duas observações sobre as conclusões chegadas por eles.

A primeira, óbvia, é que em contextos fortemente bipolares, em que o padrão das urnas seja o de resultados apertados – as eleições sendo decididas por pequenas margens -, o trabalho das campanhas para

60

conquistar essa pequena fatia de eleitores é, a um só tempo, muito importante e mais difícil (LAVAREDA, 2009, p. 134).

Ao que tudo indica, a campanha desempenha um forte papel em casos como

este, onde se precisa persuadir um pequeno grupo de eleitores. Tomando por

exemplo uma situação onde os 40% dos eleitores estejam decididos a votar no

candidato A e 40% no candidato B. A campanha neste caso não interfere, pois essa

parcela da população já escolheu o candidato mesmo antes do período eleitoral

começar. Entretanto, existem 20% das pessoas que estão indecisas. Neste caso a

campanha influi de forma determinante, pois é através dela que o eleitor vai optar

votar em determinado candidato. No caso das eleições de 2008 em Ponta Grossa

verifica-se que a campanha mudou o desenrolar do pleito. Comparando a pesquisa

de intenção de voto anterior ao começo da campanha e o resultado do primeiro

turno é possível identificar uma mudança estrutural. O candidato Jocelito Canto

(PDT) era o principal oponente de Pedro Wosgrau Filho (PSDB), e até o início da

campanha era nome certo no segundo turno junto com o tucano. Porém, ao longo da

corrida eleitoral, o inexperiente candidato do PPS, Sandro Alex, ultrapassou Jocelito

Canto e conseguiu chegar ao segundo turno das eleições municipais daquele ano. A

primeira pesquisa realizada antes da campanha começar oficialmente, realizada

pela Ibope entre os dias 29 e 30 de junho de 2008, mostra que o candidato Jocelito

Canto liderava as intenções de voto, com 50%. Em segundo lugar aparecia o então

candidato à reeleição, o tucano Pedro Wosgrau Filho, com 27,91%, seguido do

inexperiente Sandro Alex, com 18,6%. A última pesquisa, datada dos dias 21 e 22

de setembro, revela a modificação da preferência dos eleitores. O candidato Pedro

Wosgrau Filho assumiu a liderança da pesquisa, com 41,57%; em segundo lugar

estava Jocelito Canto, com 33,71%, e em terceiro aparecia Sandro Alex, com

61

21,35%. Aqui já é possível verificar a influencia que a campanha desempenha ao

longo da corrida eleitoral. Como se sabe, os candidatos Pedro Wosgrau Filho

(39,44%) e Sandro Alex (28,5%) foram para a disputa no segundo turno. Entretanto,

a diferença de votos entre o segundo e terceiro colocados foi mínima. Enquanto que

Sandro Alex seguia na disputa com 28,5%, Jocelito Canto encerrava sua

participação com 28,15% da preferência dos eleitores. Nota-se que esse resultado é

conseqüência dos efeitos da campanha eleitoral em candidatos indecisos.

A segunda observação feita por Lavareda “diz que mesmo com o processo de

decisão do voto sociologicamente condicionado não é de pouca relevância mobilizar

os eleitores potenciais” (2009, p. 134). Neste caso a campanha tem menor

relevância, visto que grande parte dos cidadãos já decidiu o voto. O que aconteceu

nas eleições de Curitiba em 2008 ilustra bem este caso. Desde antes do início da

campanha, como quando durante, a porcentagem de pessoas que diziam votar no

candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB), não sofreu grandes alterações. A

primeira pesquisa de opinião feita pouco antes de a campanha eleitoral começar foi

realizada pela Datafolha, nos dias 23 e 24 de julho de 2008. Nesta época, o tucano

Beto Richa aparecia com 80,9% das intenções de votos, seguido por Gleisi

Hoffmann, 12,77% e Reitor Moreira, com 6,34%. Observa-se que ao longo da

campanha a porcentagem dos votos não oscilou consideravelmente – mesmo em

outras agências de pesquisa. Seguido à Datafolha, a VoxPopuli e o Ibope realizaram

a pesquisa de opinião entre os dias oito a 11 de agosto, e oito a dez de agosto de

2008, respectivamente. Mais uma vez o candidato peemedebista apareceu em

primeiro lugar das intenções de votos dos curitibanos, com mais de 80% em ambos.

Pela pesquisa realizada pela VoxPopuli, Beto Richa tinha 86,05% de preferência,

62

enquanto que pelo Ibope ele atingiu os 80,9% - mesmo resultado obtido pela

pesquisa da Datafolha.

A última pesquisa realizada pelas agências citadas aconteceu entre os dias

23 e 25 de setembro (VoxPopuli), 29 e 30 de setembro (Datafolha), e no último dia

antes das eleições, dia 4 de outubro, pelo Ibope. Mais uma vez, em todas as

pesquisas o candidato Beto Richa ficou em primeiro lugar com mais de 70% das

intenções de voto. A Vox Populi identificou 79,78% dos votos para o tucano,

enquanto que o Datafolha obteve 73,12% e o Ibope, 79,35%. Neste caso as

pesquisas estavam certas. O tucano tinha a preferência de mais da metade do

eleitorado desde o início da campanha, e isso ficou claro com a vitória nas urnas

logo no primeiro turno, com 77,27% dos votos válidos.

0 20 40 60 80 100

23 a 25/set

29 a 30/set

4/out

Ibope

Datafolha

Vox Populi

GRÁFICO 1 – Intenções de voto do candidato à reele ição Beto Richa (PSDB/Curitiba)

Essa grande aceitação do candidato Beto Richa leva ao estudo realizado por

Martin Wattenberg (1998) sobre “o declínio dos partidos e a emergência das

eleições centradas na figura do candidato” (apud LAVAREDA, 2009, p. 136). Essa

tese defende que “os cidadãos agem racionalmente na eleição e se preocupam em

63

reduzir seus custos de informação, cada um votando em quem lhe parece que trará

mais benefícios” (LAVAREDA, 2009, p. 136)10. Desta forma, a escolha eleitoral é

entendida como um reflexo dos acontecimentos passados.

A partir desta tese foram formuladas duas vertentes. Na primeira delas, “o

voto expressa simplesmente punição ou recompensa pelo desempenho

governamental” (LAVAREDA, 2009, p. 136). A escolha é feita basicamente nas

ações realizadas pelo candidato que interferiram de maneira positiva na vida

daquele cidadão.

Nada de comparar propostas ou posicionamentos. A eleição é um referendo sobre o partido que está no comando. Governo avaliado de forma positiva recebe o voto, seja no incumbente (o governante que disputa a reeleição), seja no seu candidato. De outro modo, governo avaliado negativamente, quem ganha é a oposição. Campanhas não fazem diferença. O que importa é o desempenho do partido que está no poder (LAVAREDA, 2009, p. 137).

A segunda vertente é mais elaborada e leva em conta outro aspecto. No

chamado voto retrospectivo-prospectivo, o eleitor compara as realizações do atual

governo com as propostas da oposição. Ele não vota simplesmente pra punir ou

recompensar o político, neste caso o cidadão vota baseado em ações e propostas.

O eleitor, preocupado com o futuro, economiza custos de informação, e em vez de se investir em análises comparativas complexas dos programas dos candidatos, coteja o desempenho dos governantes com as propostas da oposição, como melhor caminho para antecipar o que poderá a vir ser o próximo governo (LAVAREDA, 2009, p. 137).

Como se pode perceber, os resultados obtidos não eram tidos como

conseqüências das mensagens políticas veiculadas durante o período do pleito.

Antonio Lavareda (2009) atribui à Thomas Holbrook (1996) o início da argumentação

sobre a importância das campanhas eleitorais. Nesta obra, segundo Lavareda,

Holbrook reúne informações que justifiquem o estudo.

10

Cf. Key, 1996, op. cit.

64

São eles: a) o fato de que há um número significativo de pessoas que decidem seu voto durante a campanha; b) que a identificação partidária é menor do que costumava ser; c) que há uma significativa flutuação nas intenções de voto durante as campanhas; d) e que, à medida que as eleições são mais orientadas para a mídia, elas geram uma massa de informações que pode ser usada pelos eleitores para decidir como votar (HOLBROOK, 1996, apud LAVAREDA, 2009, p.140)11.

Em época de eleição, os cidadãos são bombardeados por todos os lados com

informações sobre os candidatos que disputarão o pleito. Além das mídias

convencionais – como televisão e rádio, o avanço da internet proporcionou mais

uma tentativa de chamar a atenção do eleitor. A divulgação de material através dos

sites de relacionamento, miniblogs e email cresceu bastante nos últimos anos.

Lavareda apresenta também alguns fatores que Holbrook acredita que sirvam

como previsões sobre o resultado das eleições. São eles: “a) a aprovação

presidencial; b) contexto econômico; c) a incumbência; d) o tempo de permanência

no poder; e) e a identificação partidária” (HOLBROOK, 1996, apud LAVAREDA,

2009. p. 140). De acordo com Lavareda, Holbrook entende que se o candidato tiver

grande popularidade, se a situação econômica do país for estável, se o eleitor se

identificar com o partido do candidato e se ele (ou o partido) não estiver há muito

tempo no poder, as chances de ele se eleger são grandes. Assim, Holbrook chega à

seguinte conclusão:

A combinação das condições nacionais – popularidade do governante e

satisfação com a economia – com os esforços das campanhas produz efetivamente

flutuações nas curvas de intenção de voto e influencia os resultados eleitorais. Para

ele, ‘as condições nacionais são mais influentes que os eventos das campanhas,

embora as campanhas tenham o potencial para alterar os resultados da eleição’. O

contexto nacional estabelece os parâmetros. As campanhas podem mover os

11

Cf. Holbrook, 1996, op. cit.

65

eleitores para uma ou outra direção” (HOLBROOK, 1996, apud LAVAREDA, 2009, p.

141). Para Neusa Gomes (2001),

A campanha eleitoral deve ser, no seu sentido estrito, o conjunto de atividades que facilitariam uma parte importante de tal informação, difundindo as posições e respectivas qualidades dos partidos e candidatos (GOMES, 2001, p. 16).

Apesar do grande espaço de divulgação, as campanhas brasileiras ainda têm

um caráter de espetáculo. Lavareda acredita que elas precisam melhorar e defende

a idéia de torná-las “menos espetaculares e mais informativas” (2009, p. 15).

No Brasil, em especial, as campanhas sempre foram palco de disputas apaixonadas, e como a propaganda já usava beber na fonte das nossas principais características culturais – aí incluída a tradição de forte musicalidade -, elementos como jingles, trilha sonoras e metáforas esportivas o tempo todo estiveram presentes na nossa comunicação política (LAVAREDA, 2009, p. 142).

Os jingles são realmente o grande trunfo das campanhas, pois uma música

bem elaborada, com rimas fáceis garante ao eleitor a lembrança de determinado

candidato. Quem não se lembra dos jingles utilizados na campanha de reeleição do

presidente Lula, em 2006 - “Eu quero o Lula lá. Deixa o homem trabalhar” - ou então

- “É Lula de novo com a força do povo”?

Esse é um claro exemplo de estratégia eleitoral. Segundo Lavareda, uma boa

estratégia muitas vezes leva à vitória na eleição. O autor coloca que o candidato não

precisa ser amado pelo povo, nem ser considerado como um salvador da pátria para

conseguir o maior número de votos, basta apenas saber utilizar dos mecanismos

existentes. De acordo com o autor, existem várias estratégias adotadas pelos

candidatos para conseguir produzir uma campanha eficaz – como a estratégia

organizacional, estratégia jurídica -, mas nenhuma é tão importante quanto à de

comunicação.

66

Para que uma campanha seja eficaz, segundo Lavareda, é preciso montar um

plano com todos os aspectos e estratégias a serem adotadas e, além disso, é

preciso ter a certeza de que poucas pessoas têm acesso a ele. Comentar sobre os

mecanismos utilizados colabora com o adversário – que ficará sabendo das armas

de determinado candidato.

Na maioria das vezes, assim que o político vitorioso assume o cargo, os

responsáveis pela campanha eleitoral já começam a planejar qual será a próxima

campanha, a de reeleição. Durante o mandato são realizadas pesquisas sobre o

candidato, observando se a repercussão é positiva ou negativa – já pensando na

próxima eleição. A propaganda governamental também tem um peso grande na

campanha (LAVAREDA, 2009). Particularmente no Brasil, elas ajudam bastante o

político que está no poder a divulgar as ações que realizou durante o governo. Para

quem está no poder e vai tentar se reeleger é uma estratégia bastante importante.

Essas propagandas ficam mais freqüentes perto do término do mandato, onde é

recorrente também o aumento do número de inaugurações e anúncio/início de

novas obras – principalmente em cidades e estados onde quem governa é a

oposição (LAVAREDA, 2009). Basta um esforço para lembrar que essa estratégia é

bastante visível perto de época eleitoral, mas às vezes não é feita a ligação entre

propaganda e campanha.

Lavareda (2009) explica que com a abertura oficial da época de período

eleitoral, os meios de comunicação aumentam o espaço na grade de programação

dedicado à eleição. Os debates são liberados e começa também a veiculação do

HGPE por um período de 45 dias. É durante esse tempo que parte dos eleitores

decide em quem vão votar. Isso significa que o HGPE influi bastante na campanha,

pois lança ao eleitor muita informação e o HGPE permite utilizar a principal arma

67

existente: a mensagem política que cada candidato adota, ou seja, o discurso

político.

Além de demandar estratégias de persuasão para atrair o eleitor, Neusa

Gomes (2001) defende que a campanha deve desempenhar seis funções, que são:

1) função de conversão;

2) funções de comunicação política

2.1) as campanhas como meio de legitimação política

2.2) as campanhas como meio de fixação dos temas de interesse

político;

3) as campanhas como difusão dos símbolos políticos;

4) as campanhas como meio de educação cívica;

5) a campanha moderna como meio de seleção e recrutamento de pessoal

político;

6) as campanhas como meios de transparência da ação política dos

candidatos e partidos. No caso da função de comunicação política, deveria existir

uma dupla via de comunicação entre políticos e eleitores, principalmente em casos

de campanhas municipais – já que o candidato se encontra bem mais próximo ao

eleitor.

Até aqui foi discutido campanha eleitoral de forma geral. Como se viu ela

pode ser pensada sob vários meios de divulgação, mas para este trabalho o

principal veículo de difusão das campanhas é a televisão. O próximo tópico vai tratar

da campanha eleitoral dentro dos meios de comunicação de massa, mais

especificamente dentro da televisão.

2.3 Campanha Eleitoral na Televisão

68

Como já se sabe, um dos objetivos de uma campanha é conseguir atingir ao

maior número de pessoas para que se possa apresentar as idéias e posições do

candidato em questão. Os meios de comunicação de massa são os principais

aliados desta luta discursiva, pois são eficazes quanto a sua abrangência. Até

poucos anos atrás as campanhas consistiam basicamente em comícios, mas agora

os meios de comunicação de massa incorporaram essa essência (GOMES, 2001).

“Esse papel foi absorvido pela imprensa, pelo rádio e, principalmente, pela televisão”

(GOMES, 2001, p. 18).

A campanha feita na televisão e no rádio é voltada para a superprodução dos

programas, ou seja, é pensada a partir de todos os mecanismos comunicativos

possíveis. Apesar de a legislação brasileira reservar um período na grade de

programação dedicada exclusivamente à campanha eleitoral, muitos eleitores ainda

não conseguem se interessar pelas campanhas. Neusa Gomes (2001) afirma que “o

eleitorado não gosta das propagandas eleitorais” (p. 10), baseada numa pesquisa

realizada em Porto Alegre, onde 56% dos entrevistados considerarem o HGPE de

Regular a Muito Ruim. De acordo com ela, os programas são mal feitos, não

conseguindo atrair a atenção da população. Gomes (2001) acredita que a campanha

eleitoral deve desempenhar também uma função educativa, ou seja, contribuir com o

crescimento do eleitor enquanto cidadão, e não apenas garantir alguns votos para

determinado candidato.

Segundo Neusa Gomes, desde o início o eixo central das campanhas é a

informação. Isso se perdeu com o passar dos anos, culminando na crescente

utilização do mecanismo de persuasão, sendo a informação apenas um degrau

dentro do processo.

69

Há um acúmulo de informações que o cidadão recebeu, por meio das campanhas eleitorais, durante toda sua vida. A campanha deve administrar essa informação acumulada, numa ação educacional e socializadora do conhecimento político. Num país como o Brasil, as campanhas deveriam contribuir mais para a educação política do que simplesmente para a seleção política (GOMES, 2001, p. 22).

Isso quer dizer que as campanhas deveriam se voltar também para educar a

população. Tratando-se da televisão, essa função parece mais latente ainda. Como

é considerada um meio de maior alcance, a campanha televisiva ajudaria na

conscientização política das pessoas que não tem acesso a outros meios de

informação. A campanha política deveria desempenhar o mesmo papel do

jornalismo, socialmente falando: a de formar e informar o cidadão.

A campanha publicitária eleitoral, como designa Neusa Gomes (2001), faz

parte do processo comunicativo gerado pelo período eleitoral. Ela nada mais é do

que

O conjunto de ações comunicativas, desenvolvidas durante um período de tempo previamente estabelecido, geralmente sob a direção estratégica de um comando único e com a intenção de atingir a determinados objetivos eleitorais em favor de uma organização política, representada por seus candidatos (GOMES, 2001, p. 59).

Na televisão, as campanhas se convertem em distribuição massiva de

informação gratuita ao eleitor (GOMES, 2001). Elas integram um processo

comunicativo imprescindível para as eleições, e em um resumo simplista, pode-se

dizer que consiste em fazer a comunicação entre o partido e o cidadão. Mendelsohn

(1973 apud GOMES, 2001) situa cinco princípios das mensagens de uma campanha

para obter uma boa comunicação entre ambos:

1) Valorização adequada das necessidades, desejos e capacidades do eleitorado;

2) Sistematização e planificação da campanha; 3) Avaliação contínua do desenvolvimento da mesma; 4) Complementação constante com ações de comunicação pessoal, da

comunicação aparecida nos meios, e 5) Seleção cuidadosa dos meios apropriados para difundir as mensagens entre

os segmentos do eleitorado escolhido (MENDELSOHN, 1973 apud GOMES, 2001, p. 61).

70

Além disso, a mensagem da campanha também deve ser apresentada com

uma linguagem objetiva e de fácil compreensão, pois será consumida por pessoas

de todas as classes sociais e níveis de alfabetização. Este é mais um ponto onde se

identificam as estratégias jornalísticas adotadas pelas campanhas eleitorais.

Já foi dito que a informação foi por muito tempo o conceito de origem do

processo eleitoral. Hoje, porém, integra-se à informação o conceito de persuasão.

Neusa Gomes (2001) defende que o eleitor, tendo que escolher entre tantos nomes

disputando um cargo público, precisa de um incentivo a mais para definir o seu voto.

Ele precisa de algo a mais do que mera informação – e esse isso seria a persuasão.

A informação transmitida, pelo candidato ou pelo partido, ao eleitor, através dos meios de comunicação de massa, só ajuda a cumprir o objetivo maior da comunicação publicitária, que é exercer uma influência sobre o cidadão, para que este assuma uma determinada posição frente à mensagem que recebe. Esta posição deve significar uma mudança positiva em seu comportamento: a adesão a este ou aquele partido ou a este ou aquele candidato (GOMES, 2001, p. 66 e 67).

Assim, a passagem da informação para a persuasão deveria ser sutil, mas

não é o que acontece. Com a utilização da persuasão chega-se também a

linguagem demagógica – que já não tem mais a intenção de informar, e sim apenas

manipular o eleitor (GOMES, 2001). Antes era possível identificar essa demagogia

principalmente em comícios, mas com a televisão isso ficou ainda mais evidente –

sobretudo nos programas do HGPE.

Como se sabe, antes de uma campanha começar é preciso que se defina um

eixo central, um enfoque a seguir. Neusa Gomes (2001) diz que o enfoque deve

partir das necessidades básicas de cada eleitorado, e divide os temas centrais em

quatro grandes enfoques:

1) estabelecer-se em grandes princípios ideológicos;

71

2) os eixos podem ser selecionados de acordo com os interesses temporais e

contingentes do eleitorado;

3) os eixos podem fixar-se em redor da personalidade do candidato;

4) eixo que se centra no líder dos partidos adversários, com a campanha

preocupada em desprestigiar o concorrente.

Na divisão dos eixos centrais presume-se a interligação entre campanha e

jornalismo nos itens dois e quatro, porque no segundo é preciso fazer um

levantamento das necessidades reais do eleitorado – o que pode ser encontrado nas

notícias diárias, sob qualquer âmbito; e no último caso onde a mídia pode ajudar a

investigar e até contribuir para a desqualificação de determinado candidato. Claro

que os meios de comunicação deveriam ser imparciais quando se diz respeito às

eleições, pois o jornalismo tem o compromisso de narrar os fatos, sem se posicionar

a favor ou contra – mas às vezes não é isso o que acontece.

A partir da escolha do eixo de campanha é que se vai montar a campanha, e

também aquela voltada para os meios de comunicação de massa, entre eles, a

televisão.

Todos os informes prévios à criação deverão ser transformados em textos com títulos, argumentos concretos, slogans, imagens formadas por fotografias e composição, logotipos, cores, etc. que deverão motivar o eleitor. [...] Ao entrar em contato com o eleitorado alvo, por meio da sugestão, informação e persuasão, este material deve ser capaz de prender sua atenção e levá-los a uma atitude positiva em favor do partido ou candidato (GOMES, 2001, p. 92).

Nota-se aqui que os formatos jornalísticos ficam bastante evidentes quando a

campanha é pensada já em uma forma prática: textos, imagens, linguagem, etc. O

conteúdo disso tudo é o que vai garantir a eficácia ou não da campanha – mais

especificamente, do programa. Gomes (2001) explica que o conteúdo deve levar em

conta dois tipos de atenção do votante: a espontânea e a voluntária. A primeira é

72

conseqüência da atração que o anúncio ou programa (no caso da televisão) exerce.

Ela é independente da vontade do eleitor e seus efeitos são poucos efetivos. Ao

contrário, a atenção voluntária é produto da razão. O programa da campanha

desperta aqui o interesse pela mensagem enviada. “Para alcançar esta etapa, é o

que deve ser feito tanto na forma (linguagem atraente e vocabulário inteligível em

todos os níveis) como no fundo (conteúdo afetivo, exposição de vantagens e

positivismo em geral) (GOMES, 2001, p. 94). A forma, dita aqui, é o formato

jornalístico que se observa adotado pelas campanhas. No entanto, o conteúdo tem

causado repulsa no eleitorado em geral.

Nas campanhas municipais, em geral a televisão e o rádio, se for analisado o produto que oferecem ao eleitorado, têm sido mais desestimulante do que persuasivo. Isto é observado porque o longo tempo que a legislação proporciona; a periodicidade saturativa, principalmente dos pequenos partidos que não variam os candidatos expostos; e a pouca criatividade na confecção das peças têm um efeito irritador, logo, desmotivador sobre o eleitorado em geral (GOMES, 2001, p. 97).

Além disso, observa-se uma padronização da produção dos programas dos

candidatos a cargos municipais, isto é, o formato, a linguagem e até mesmo os

temas abordados são semelhantes.

A campanha municipal “se caracteriza como uma campanha local, porque é o

primeiro degrau na carreira política” (GOMES, 2001, p. 109). Nela, o candidato tem

uma comunicação mais restrita, apenas com os eleitores de determinada cidade.

Quando se trata de campanha municipal, o candidato segue basicamente duas

linhas de conduta no que diz respeito à comunicação: 1) precisa mostrar sua

posição com respeito aos interesses e características locais, bem como com o cargo

que se pretende disputar; 2) conhecer os problemas nacionais e entender que

existem problemas locais que não poderão ser resolvidos devido à ligação com o

contexto nacional (GOMES, 2001).

73

Para as eleições municipais, o candidato deverá ater-se muito mais aos fatores locais que aos demais, mas sem deixar de levar em conta o programa global do partido nos níveis estadual e nacional, e sua campanha deve conter elementos que o relacionem diretamente com o programa e com a campanha publicitária majoritária do partido a que pertence (GOMES, 2001, p. 109).

Os problemas que vão ser transformados em plataforma eleitoral podem ser

detectados por duas vias: 1) Buscar problemas práticos de alguns setores do

município, como em associação de moradores, sindicatos e etc. onde o problema

vem a público através de seus líderes; e 2) problemas mais urgentes da população

– aqueles que são identificados através do estudo do contexto de determinada

sociedade.

Após entender a campanha eleitoral na televisão e seus mecanismos de

ação, o último tópico deste capítulo se resume a apresentar a discussão sobre o

Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, o HGPE - principal foco de estudo desta

monografia.

2.4 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral

Desde o início da discussão deste trabalho, fala-se sobre o HGPE e sua

importância dentro do contexto eleitoral. Conhecido popularmente como

“propaganda política”, ele é uma forma de discurso político utilizado pelos

candidatos, reservado por lei a todos aqueles que se candidataram e estão inscritos

no Tribunal Superior Eleitoral.

A propaganda eleitoral surgiu em 1962, mas só foi regulamentada por lei em

1982, após a ditadura militar (FIGUEIREDO et al., 2000). Porém, os estudos sobre

74

mídia e política, a partir do HGPE, começaram a surgir no Brasil somente a partir

das eleições presidenciais de 1989.

Figueiredo et. al. (2000) explicam que essa forma diferente de fazer

campanha eleitoral começou em 1952, nos EUA, com a campanha de Eisenhower

para a presidência da República dos Estados Unidos. Os assessores do candidato

resolveram gravar comerciais para veicular no rádio e, desta forma, chegar à maioria

dos eleitores.

Dias depois, esses assessores aproveitaram a presença de vários

‘americanos típicos’ que esperavam para ver um show na Rádio City Music Hall e

gravaram, em estúdio, perguntas por eles dirigidas ao candidato Eisenhower. Da

fusão desses dois conjuntos de gravações em uma série de spot12, dominados

Eisenhower answers America13, nascia uma ‘nova era de campanha de mídia’”

(DIAMOND e BATES, 1988 apud FIGUEIREDO et. al. 2000). Desta forma, começou-

se a pensar em campanhas eleitorais voltadas para veículos de comunicação de

massa que, além de chegarem à basicamente todo o território, também

proporcionariam a interação entre candidatos e eleitores.

Entretanto, com o aprimoramento das propagandas tudo ficou mais bem

produzido e melhor pensado. As campanhas sempre foram pensadas para

convencer o eleitorado, mas depois do surgimento das propagandas e, no caso do

Brasil, dos HGPEs, a maioria do discurso passou a ser ficcional (FIGUEIREDO et.

al.,2000).

No debate eleitoral, os candidatos empregam uma retórica cuja argumentação é de natureza ficcional. Visando convencer os eleitores, todos controem um mundo atual possível, igual ou um pouco diferente do mundo atual real, e com base nele projetam um novo e bom mundo futuro possível (FIGUEIREDO et. al., 2000).

12 Spot são pequenos comerciais de geralmente 30 segundos veiculados ao longo da programação. 13 A tradução para o nome do programa de Eisenhower é Eisenhower responde a América.

75

Isso significa que através da propaganda eleitoral os candidatos tentam

convencer o eleitor por meio da construção de um mundo atual possível. Se o

candidato é da oposição, ele vai basear o seu discurso na melhoria desse mundo

possível. Se o candidato é da situação, vai fazer o eleitor acreditar que a sociedade

em que ele vive é boa, mas que pode melhorar ainda mais, caso ele seja eleito

(FIGUEIREDO et. al., 2000).

Observa-se, a partir disso, que os programas – tanto do HGPE quanto os

spots – tentam construir um mundo ideal para apresentar ao eleitor. Ou seja, tentam

fazer uma construção social da realidade. Essa é uma teoria bastante estudada

dentro do Jornalismo, pois afirma que o Jornalismo recorta parte da realidade

cotidiana e transforma em noticias apresentadas ao cidadão. Ampliando este

pensamento, pode-se trazer para a discussão dos programas do HGPE, onde os

candidatos também constroem essa realidade a partir de pontos de vista diferentes

e, sobretudo, públicos diferentes.

O formato utilizado nesses programas é puramente jornalístico. A maneira

como o candidato se comunica com o eleitor varia, mas as mais utilizadas

jornalisticamente são telejornal, documentário, entrevistas, debates e depoimentos

(FIGUEIREDO et. al., 2000). Além dos recursos verbais, Kathleen Jamieson (1993

apud FIGUEIREDO et. al., 2000) considera a utilização de recursos visuais e

sonoros bastante importantes porque influenciam na forma como a mensagem vai

chegar ao eleitor.

Para Jamieson, o modo como a televisão tem sido usada produz uma gramática do sentimento. No que se refere aos comerciais políticos, a autora relaciona o uso de recursos como o áudio, edição, mudança de luz e câmera, vozes diversas e outros à possibilidade de manipulação da mensagem e reconfiguração da realidade com a intenção de induzir sentimentos que podem afetar o julgamento do receptor. Além disso, a

76

conjugação de recursos diversos pode facilitar a memorização de informações complexas (FIGUEIREDO et. al., 2000).

Mais uma vez ficam claras as ferramentas jornalísticas utilizadas nos

programas televisivos de campanha. Além dos recursos de produção, identifica-se a

preocupação de tornar a campanha plural no que diz respeito a quem fala dentro do

programa. O recurso “Fala Povo”, empregado nos programas do HGPE, tenta

garantir a pluralidade de fontes para legitimar tal candidato (mesmo que seja algo

meramente ilustrativo, previamente esquematizado, não revelando a verdadeira

posição do eleitor, na maioria dos casos).

O programa do HGPE é privilegiado por deter legalmente o direito de ser

transmitido em todas as emissoras de canal aberto, em horário fixo determinado pro

TSE. Porém, é sabido que a maioria das pessoas não gosta do HGPE. Segundo

pesquisa realizada pela Gallup/Imprensa (revista Imprensa, ao. 1996 apud

FIGUEIREDO et. al., 2000), apenas 32% dos eleitores de São Paulo aprovam a

veiculação dos programas com duração de meia hora, enquanto que 53% preferem

a extinção desse tipo de propaganda. De acordo com Figueiredo et. al. (2000), os

eleitores preferem os comerciais inseridos no meio da programação, que tem em

média, a duração de 30 segundos. Apesar dessa constatação, o HGPE ainda tem

sua importância por permitir discussões mais aprofundadas.

O horário eleitoral brasileiro, fornecendo espaço de mídia gratuito para todos os partidos e candidatos, independentemente de seu poder econômico, abre espaço para os atores políticos, oferecendo-lhes ‘a possibilidade de apresentar sua própria versão da campanha e da realidade política’ (ALBUQUERQUE, 1996:267 apud FIGUEIREDO et. al., 2000, p. 167 e 168).

77

Neste trecho de Albuquerque fica ainda mais evidente o poder que os

candidatos possuem em seus programas do HGPE. Porém, segundo Albuquerque, o

HGPE geralmente tem como objetivo cumprir umas destas funções: “apontar

problemas sociais e apresentar sugestões para o seu solucionamento; promover a

imagem do candidato, seu partido e seus aliados em termos atraentes para o eleitor;

atacar adversários, candidatos ou não” (ALBUQUERQUE, 1999, p. 69). Além disso,

Albuquerque classificou as mensagens veiculadas nos programas em três

categorias principais: “mensagens de campanha, de metacampanha e ‘auxiliares’”

(1999, p. 69). As mensagens da campanha dizem respeito às propostas e problemas

políticos, e também estão encarregadas de construir a imagem do candidato.

A discussão dos problemas políticos, em especial, tem sido considerada por muitos como a tarefa nobre do HGPE, e a sua principal razão de existir. Quanto à construção de uma imagem favorável do candidato e seus aliados e o ataque aos adversários, embora não sejam considerados necessariamente como desejáveis no HGPE, eles são normalmente encaradas como elementos inerentes ao jogo político e, como tais, inevitáveis” (ALBUQUERQUE, 1999, p. 70).

Para ilustrar essa categoria basta lembrar-se das propostas apresentadas, de como

o candidato se mostra ao público e como constrói a narrativa do programa. A

segunda categoria diz respeito à metacampanha. Isso quer dizer que as mensagens

veiculadas se constituem de informações sobre a campanha em si – ente elas estão

as pesquisas de opinião. De acordo com Albuquerque (1999), devido à semelhança

dos programas com o telejornal, esse caráter periódico exige material novo com

certa freqüência para que o eleitor se sinta motivado a assistir aos programas.

Tal como os telejornais, os programas do HGPE têm a necessidade de preencher com material audiovisual um período de tempo pré-determinado. Mais do que isso, a forte concorrência que se estabelece entre os programas dos diversos partidos – tanto mais evidente no HGPE na medida em que os programas adversários são apresentados, nele, em conseqüência, um após o outro – os incita a renovarem constantemente o material que levam ao ar a fim de atrair para si a atenção dos telespectadores. O noticiamento e o comentário de assuntos do momento –

78

em especial aqueles relativos à própria campanha eleitoral – fornece, a este respeito, uma solução prática para os programas do HGPE (ALBUQUERQUE, 1999, p. 84).

Por fim, existem as mensagens auxiliares. Elas desempenham a função de

garantir ao HGPE uma estrutura mais agradável aos olhos do telespectador, mais

parecido como um programa de televisão (um telejornal, geralmente). Para isso,

utiliza dois recursos: os clipes políticos (também conhecidos como jingles) e as

vinhetas (ALBUQUERQUE, 1999).

Essas categorias se referem ao conteúdo dos programas. Entretanto, existe

ainda um elemento fundamental para a produção de qualquer programa do HGPE: o

personagem. Ele nada mais é do que o próprio candidato. Albuquerque deposita no

candidato grande importância dentro dos programas. Como ele é a figura central,

existe a preocupação de como se dará esta apresentação ao público.

O HGPE é, para o candidato, muito mais do que um mero veículo para a transmissão de conteúdos políticos, um instrumento por meio do qual ele busca sugerir aos eleitores a existência de um laço profundo entre ele e os eleitores, um relacionamento especial, dotado de características muito particulares. Mais do que isso, o HGPE permite ao candidato grande versatilidade no trato com os telespectadores, na medida em que possibilita introduzir – através do uso de convenções do discurso verbal e da narrativa televisiva – novos significados e interlocutores virtuais na relação com os telespectadores (ALBUQUERQUE, 1999, p. 95).

A respeito disso existem várias ferramentas dentro do HGPE que são

utilizadas para construir essa imagem ao público. No terceiro capítulo deste trabalho

serão apresentadas essas ferramentas que ajudam a construir tanto de imagem do

candidato, quanto o conteúdo das mensagens – que neste estudo serão chamadas

de variáveis.

2.4.1 O HGPE televisivo de Curitiba e Ponta Grossa

79

Como já se sabe as eleições de tanto de Curitiba quanto de Ponta Grossa

foram atípicas. Isso porque em Curitiba, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral

(TRE), o candidato à reeleição conseguiu se eleger no primeiro turno, com mais de

77% dos votos válidos, e em Ponta Grossa porque um dos principais candidatos do

pleito foi desbancado por um inexperiente político – que disputava sua primeira

eleição. Em Curitiba já se imaginava a vitória esmagadora do candidato Beto Richa

(PSDB), que sempre teve uma grande aceitação por parte dos eleitores. Só não se

imaginava uma vitória com tanta discrepância entre a porcentagem do primeiro e

segundo colocado. Gleisi Hoffmann (PT), a segunda colocada do pleito, obteve

míseros 18,17%14 dos votos. Em se tratando de programa eleitoral, vê-se que ela

não teve valor significativo neste caso, porque antes mesmo de o período eleitoral

começar o candidato eleito já tinha a preferência disparada entre os eleitores.

Ao contrário, em Ponta Grossa, é visível a importância da campanha - mais

especificamente, do HGPE - no resultado final do pleito. O candidato Pedro Wosgrau

Filho (PSDB) chegou para disputar o segundo turno com o radialista Sandro Alex

(PPS), que desbancou o então favorito Jocelito Canto (PTB) nas urnas. Para um

favorito, que até antes da campanha tinha a preferência de 50%15 da população, não

conseguir chegar ao segundo turno por uma diferença de apenas 0,35%16 dos votos

é algo que somente um estudo aprofundado sobre HGPE pode explicar.

A partir daqui a campanha eleitoral será deixada de lado e o estudo vai se

voltar somente à análise sobre o HGPE. Isso se deve ao fato de que o HGPE é

objeto de estudo deste trabalho, onde se pretende estudar as ferramentas

jornalísticas utilizadas neste tipo de programa eleitoral.

14 Fonte: TRE. 15 Fonte: Ibope. 16 Fonte: TRE.

80

No próximo capítulo serão apresentadas as variáveis dos programas a

serem analisadas, para posteriormente traçar uma linha comparativa entre os

programas de Curitiba e Ponta Grossa, a fim de tentar explicar o resultado das

eleições de ambas as cidades.

81

CAPÍTULO 3

HGPE 2008: O estudo da disputa em Curitiba e Ponta Grossa

O período de coleta se deu do dia 19 de agosto a 2 de outubro de 2008 –

referente ao primeiro turno da disputa, e de 14 a 24 de outubro de 2008 – relativo ao

segundo turno das eleições17. O estudo é feito a partir da análise de conteúdo

quantitativa dos resultados obtidos através da coleta dos dados dos programas do

horário nobre.

Para que seja possível, utilizar-se-á a metodologia de análise de conteúdo.

Os resultados são gerados a partir do método quantitativo, o qual possibilita o uso

da técnica estatística e comparativa, pois se busca confrontar os resultados obtidos

em Curitiba e em Ponta Grossa. Os dados coletados se apresentam através de

porcentagens e estatísticas, onde é possível aplicar a teoria da probabilidade e

generalizar os resultados obtidos.

Os programas coletados foram divididos em segmentos18. Cada um destes

segmentos coletados diz respeito a uma única unidade de análise e, a partir disso,

foi classificado de acordo com as variáveis previamente definidas e desenvolvidas

pelo grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais, da Universidade Estadual

de Ponta Grossa19. Devido ao grande número de variáveis, serão apresentadas aqui

apenas as quatro categorias que interessam ao trabalho: Apelo, Formato,

17 Em Curitiba as eleições foram decididas logo no primeiro turno. Desta forma, a coleta dos dados referente ao segundo turno será realizada apenas em Ponta Grossa. 18 O segmento corresponde a uma unidade de análise independente quanto ao formato e ao conteúdo. O segmento é definido como um trecho do programa onde não se alteram o locutor, o tema, nem o cenário. Quando algum destes elementos sofre alteração, termina um segmento e se começa outro. 19 A autora agradece ao grupo de pesquisa por proporcionar os dados para a realização desta monografia.

82

Linguagem e Orador Dominante20. Estas variáveis foram escolhidas porque

possuem ligação com o Jornalismo. A variável ‘apelo’ mostra o tipo de conteúdo da

mensagem veiculada, se possui conteúdos informativos ou não.

Complementarmente, tem-se a variável ‘linguagem’ que vai mostrar em qual

linguagem o candidato se comunica com o público – se é informativa ou não. O

formato dos segmentos e o orador dominante finalizam a relação entre estas

variáveis, mostrando em qual formato o conteúdo é passado ao eleitor e quem é que

transmite as mensagens. Para isto, existem categorias jornalísticas dentro destas

variáveis que possibilitam ao partido utilizá-las para ganhar credibilidade perante o

público.

A variável ‘Apelo’ diz respeito ao conteúdo das mensagens, ou seja, o que

está inserido dentro daquilo que o candidato está falando em seu programa. Esta

variável apresenta cinco tipos de apelo: o pragmático, ideológico, político, emocional

e documental ou credibilidade da fonte. De acordo com Figueiredo, Aldé, Dias e

Jorge (2000), o apelo pragmático se dá quando o programa instiga o eleitor a pensar

e a pesar prós e contras antes de votar em algum candidato. O apelo ideológico

acontece quando “o candidato faz uso de seu posicionamento em relação a modelos

de Estado, regimes de governo, formas de promover a justiça social etc. [...]”

(FIGUEIREDO et al., 2000, p. 162). O apelo político está presente em mensagens

onde o candidato referencia o partido ou grupo político ao qual faz parte; o apelo

emocional é aquele em que a mensagem é desprovida de qualquer outro conteúdo, 20 Ao todo existem 23 variáveis no livro de códigos desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Mídia e Política. São elas: tempo de duração do segmento; uso do cargo; postura acima da briga; associação à administração em curso em disputa/ênfase em realizações; associação à administração de outra esfera; endosso de lideranças políticas; endosso de lideranças da sociedade civil organizada; endosso do patrono; menção ao partido ou coligação; apelo a mudanças; ofensiva quanto a temas; ataques à administração em curso; ataques aos adversários; objeto/tema; formato; orador dominante; apelo; retórica; linguagem; dimensão temporal; valência da dimensão temporal; atributo do candidato ou adversário; valência do atributo.

83

superestimando apenas o lado emocional. E a última categoria desta variável é o

apelo documental ou de credibilidade da fonte. Este é o que mais interessa ao

estudo, visto que nele predomina o argumento de autoridade, ou seja, de uma fonte,

de um documento, de alguém confiável e que seja reconhecido como alguém

legitimado para falar sobre determinado assunto. Aqui é possível identificar uma

característica puramente jornalística: a dependência da fonte para que a informação

seja reconhecida e acreditada por parte do público. No primeiro programa do

candidato do PPS à prefeitura de Ponta Grossa, Sandro Alex, observa-se, logo no

segundo segmento, a ausência de conteúdo na seguinte frase: “Está começando um

novo jeito de governar: simples, mais humano e ao lado do povo”. Nota-se que neste

caso o apelo desta mensagem não instiga o eleitor a pensar nos prós e contras do

candidato, nem apresenta ideologias e propostas. Ela simplesmente pende para o

lado emocional, ou seja, tenta ganhar o eleitor pela comoção. Já no primeiro

programa do candidato do PTB, Jocelito Canto, também de Ponta Grossa, é

apresentado um gráfico com as intenções de votos da população até o início do

HGPE. Este tipo de mensagem se enquadra naquela onde o apelo é documental ou

de credibilidade da fonte, pois apresenta dados de pesquisas realizadas pelos

institutos publicitários.

A segunda variável é o Formato. Existem onze formatos de programas.

Contudo, apenas cinco farão parte da análise justamente por serem as que têm

ligação com o Jornalismo: o documentário, o telejornal, a entrevista, a

dramatização/ficção, chamada e o ‘povo fala’. Esta última se caracteriza por uma

seqüência de pronunciamentos de pessoas (quase) anônimas, que geralmente

aparecem falando bem do candidato em questão. O documentário, o telejornal e a

entrevista são os formatos puramente jornalísticos presentes nas categorias de

84

análise, que são importados para o HGPE como uma forma de conseguir

legitimidade de tal informação perante o público. O documentário, por exemplo, é

uma produção onde a retratação da realidade é o objetivo central. Já o telejornal se

caracteriza por um apresentador, geralmente sentado em uma bancada, passando

suas propostas através de textos estruturados como notícias. Da mesma forma, a

entrevista complementa esta “notícia”, pois se apresenta como uma fonte confiável

que transmite a “informação” ao público. As outras categorias de formato não farão

parte do estudo por estarem muito distante do Jornalismo, ou seja, partilham de

outro campo que não o jornalístico21.

A Linguagem é a terceira variável discutida, composta por três categorias:

didática, panfletária e informativa. A linguagem didática caracteriza um texto onde

existe a apresentação detalhada dos fatos e a interpretação dos mesmos. Ao

contrário, a linguagem panfletária defende ou ataca determinado tema sem

aprofundá-lo com interpretação ou com informação. Já a linguagem informativa é

aquela onde o único objetivo é transmitir a informação.

A última variável a ser analisada é quanto ao Orador Dominante. Esta é

outra que apresenta várias categorias22, mas as únicas que interessam são o âncora

e o off do locutor, por serem os que integram o meio jornalístico. Isso porque o

âncora é aquele que apresenta o telejornal, ou seja, um jornalista. Além dele, existe

o off do locutor, que é a pessoa que narra as matérias que vão ao ar. Estes dois

oradores remetem à credibilidade daquilo que está sendo transmitido, porque se

21 As outras categorias de formato são: pronunciamento do candidato; pronunciamento do candidato a vice; vídeo clipe/jingle; ilustração/animação. 22 Os outros oradores dominantes são: candidato; candidato à vice; patrono político; garoto propaganda; líder partidário; off (cantor); popular; personagem/ficção; personalidade; instrumental.

85

acredita que o jornalista narra os acontecimentos do dia-a-dia sem tomar posição

em nenhum momento.

Agora que já se conhece o que vai ser estudado dentro dos programas de

Beto Richa (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT), Reitor Moreira (PMDB), em Curitiba, e

Pedro Wograu Filho (PSDB), Jocelito Canto (PTB) e Sandro Alex (PPS), em Ponta

Grossa, pode-se partir para a análise das variáveis do HGPE de 2008. Estes

candidatos foram escolhidos por serem os três que tiveram o número de votos mais

expressivos. Em Curitiba, por exemplo, o restante dos candidatos (ao todo foram

oito que disputaram o pleito) somaram menos de 1% dos votos válidos. Em Ponta

Grossa, a escolha dos três candidatos se deu pelo fato de que antes da campanha,

o candidato do PTB, Jocelito Canto, era o principal oponente de Pedro Wosgrau,m

do PSDB. Ao longo da campanha, mais precisamente do HGPE, Jocelito Canto foi

perdendo votos para o inexperiente político Sandro Alex, que o desbancou nas

urnas e chegou ao segundo turno contra o tucano à reeleição. Os programas

analisados foram os do horário da noite e dizem respeito ao primeiro turno da

disputa em Curitiba e aos dois turnos na disputa em Ponta Grossa.

3.1 Comparação geral dos conteúdos do HGPE de Curitiba e Ponta Grossa

Os dados a seguir são mostrados seguindo a ordem das variáveis que foram

anteriormente apresentadas. Além disso, o resultado da análise de Curitiba e Ponta

Grossa será exposto comparativamente. Neste primeiro momento serão analisadas

apenas as freqüências simples das variáveis. O cruzamento dos dados será

realizado no próximo tópico deste capítulo.

86

A primeira variável é quanto ao Apelo utilizado nas mensagens dos

candidatos a prefeito. Como já foi dito, ele está dividido em cinco categorias:

pragmático, ideológico, político, emocional e documental ou credibilidade da fonte.

Na tabela 1 pode-se observar o percentual dos resultados, que mostram o tipo de

apelo que predominou na campanha de Curitiba:

TABELA 1 – Apelo das mensagens dos programas do HGP E de Curitiba - 2008

Apelo % Gleisi Hoffmann (PT)

% Reitor Moreira (PMDB)

% Beto Richa (PSDB)

Pragmático 15,7 26,6 17,1 Ideológico 0,7 0,5 0 Político 1,0 0,5 0,2 Emocional 82,6 72,4 82,5 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0,2 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

De acordo com a tabela 1, observa-se que houve uma regularidade do tipo

de apelo empregado pelos candidatos de Curitiba. Nos três concorrentes estudados,

o apelo emocional (que é aquele quando não se identifica nenhum conteúdo

presente nas mensagens) foi o que mais apareceu entre as mensagens dos

programas do HGPE. O candidato à reeleição Beto Richa (PSDB) e sua principal

oponente, Gleisi Hoffmann (PT), obtiveram basicamente o mesmo percentual nesta

variável: 82,5% e 82,6%, respectivamente. O candidato Reitor Moreira utilizou

menos o tipo de formato emocional em seus programas, mas ainda sim foi o que

mais apareceu, em 72,4%. Já o segundo tipo de apelo mais utilizado foi o

pragmático. Entretanto, a porcentagem desta categoria ficou bem abaixa da primeira

colocada. O Reitor Moreira (PMDB) foi o que mais empregou o apelo pragmático, em

26,6% dos programas. Beto Richa e Gleisi Hoffmann tiveram outra vez um

percentual aproximado. O apelo pragmático apareceu em 17,1% dos programas do

87

peemedebista, enquanto que nos da petista ele foi identificado em 15,7%. Como se

pode observar, nenhum dos três candidatos fez uso dos cinco tipos de apelo

categorizados. Enquanto que Gleisi Hoffmann e Reitor Moreira deixaram de lado o

apelo documental ou de credibilidade da fonte, Beto Richa não usou o apelo

ideológico.

Neste aspecto acredita-se que houve uma similaridade no discurso dos

candidatos de Curitiba quanto ao apelo. Nos programas dos três concorrentes ficou

clara a opção pelo apelo emocional, o que revela que mesmo partidos conhecidos

por sua forte ideologia e pragmatismo - como o PT – deixam de lado este tipo de

discurso no programa do horário eleitoral. Mesmo aparecendo em segundo lugar

entre todos os candidatos, a porcentagem das mensagens com apelo pragmático

veiculadas nos programas do PT fica em último lugar quando se olha para os

resultados do PMDB e do PSDB. Nota-se também que é quase inexistente o apelo

político e ideológico em ambos os partidos. Estes resultados permitem concluir,

parcialmente, que os partidos políticos não adotam no HGPE o discurso conhecido

pela grande maioria da população: o PT, por exemplo, conhecido pela sua forte

postura ideológica, isenta-se desta posição e iguala o seu discurso ao PSDB, sua

grande frente opositora.

Em Ponta Grossa, o resultado encontrado foi diferente do de Curitiba,

embora existissem candidatos do mesmo partido disputando o mesmo cargo nesta

eleição. A seguir a tabela 2, que mostra os dados referentes ao Apelo em Ponta

Grossa.

88

TABELA 2 – Apelo das mensagens dos programas do HGP E de Ponta Grossa - 2008

Apelo % Jocelito Canto (PTB)

% Sandro Alex (PPS)

% Pedro Wosgrau (PSDB)

Pragmático 37,8 29,0 40,0 Ideológico 26,8 35,5 23,0 Político 1,2 3,2 3,0 Emocional 32,9 31,2 29,8 Documental ou Credibilidade da Fonte 1,2 1,1 4,2 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A tabela 2 mostra que o apelo pragmático foi o que embalou a campanha em

Ponta Grossa. O candidato Pedro Wosgrau veiculou mensagens com este tipo de

apelo em 40% dos seus programas, seguido do Apelo Emocional. O segundo

candidato a empregar o Apelo Pragmático foi Jocelito Canto, em 37,8% de seus

programas, e por último aparece Sandro Alex, com 29%. O segundo apelo que mais

apareceu nos programas dos dois últimos também foi o emocional, com 32,9% e

31,2%, respectivamente.

Os resultados presentes na tabela 2 revelam que em Ponta Grossa houve

uma melhor divisão no tipo de apelo presente nas mensagens dos programas. O

apelo pragmático foi o mais identificado, variando entre 29% e 40%. O emocional e

ideológico também obtiveram porcentagens significativas nos programas dos

candidatos dos Campos Gerais. O apelo emocional apareceu entre 29% e 32% dos

programas e o ideológico entre 23% e 35,5%. Uma possível interpretação deste fato

se dá na questão de que os partidos políticos mantém uma proximidade de discurso

em eleições de mesmo âmbito e prova, mais uma vez, que a ideologia partidária não

é tão forte no HGPE como se imaginava.

Nota-se que houve uma inversão dos resultados quando se compara

Curitiba e Ponta Grossa. Na capital o apelo emocional apareceu em primeiro lugar

nos programas dos três candidatos estudados, seguido pelo apelo pragmático. Já

89

em Ponta Grossa, o apelo pragmático apareceu em primeiro lugar, desbancando o

apelo emocional. Outra diferença encontrada observando os dados das duas

cidades é que enquanto em Curitiba os candidatos não faziam questão de utilizar

todos os tipos de apelo, em Ponta Grossa todos foram, mesmo que de forma

mínima, encontrados. O apelo documental ou de credibilidade da fonte apareceu

somente no programa do tucano Beto Richa (0,2%), no pleito de Curitiba. Ao

contrário, em Ponta Grossa, esta categoria foi identificada nos programas dos três

candidatos. Porém, os programas do também tucano Pedro Wosgrau foram os que

deram mais atenção a esta categoria (4,2%). Por fim, é bom ressaltar que os

candidatos de Ponta Grossa optaram por dividir melhor o espaço destinado a cada

tipo de apelo em suas mensagens. Enquanto que em Curitiba quase 80% dos

programas foram focados no apelo emocional, em Ponta Grossa obteve-se uma

divisão aproximada entre o percentual do apelo pragmático e do apelo emocional.

A segunda variável a ser analisada é o Formato. Ele está dividido em onze

categorias, mas nenhum candidato utilizou as onze ao longo de seus programas. A

tabela 3 apresenta os formatos que foram empregados nos programas dos

candidatos a prefeito de Curitiba.

90

TABELA 3 – Formato das mensagens dos programas do H GPE de Curitiba - 2008

Formatos % Gleisi Hoffmann (PT)

% Reitor Moreira (PMDB)

% Beto Richa (PSDB)

Pronunciamento do candidato 22,4 19,6 7,6 Pronunciamento do candidato a vice 0,3 1,0 0 Documentário 0 0 0 Telejornal 8,7 11,1 19,7 Entrevista 0,7 10,6 0,5 Video Clipe/jingle 33,4 12,1 29,3 Ilustração/animação 7,0 7,5 5,0 Dramatização/ficção 0 1,0 0,1 “Povo Fala” 6,7 7,0 17,5 Depoimentos 6,0 10,6 1,9 Chamada 14,7 19,6 18,5 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A tabela 3 mostra que os formatos mais utilizados de orador dominante nos

programas de Gelisi Hoffmann, Reitor Moreira e Beto Richa foram o videoclipe/jingle,

telejornalismo, chamada e pronunciamento do candidato. A candidata do PT, Gleisi

Hoffmann, assim como o tucano Beto Richa, em 33,4% e 29,3% dos programas

respectivamente, utilizaram o formato do videoclipe/jingle. Esta categoria é aquela

em que aparece no programa um clipe de imagens com fundo musical, geralmente

mostrando o político nas ruas, com os eleitores. Em segundo lugar, nos programas

petistas apareceu o pronunciamento do candidato (22,4%), seguido do formato

chamada (14,7%). O pronunciamento do candidato acontece quando o próprio

político é o que mais apresenta os programas, não demandando de outras

estratégias para se mostrar ao público. Já a chamada é mais uma categoria

proveniente do Jornalismo, e se caracteriza por justamente chamar, contar aos

eleitores, os próximos assuntos que serão discutidos dentro do programa. O

segundo formato dos programas de Beto Richa foi o telejornal (19,7%) e em terceiro

apareceu também o formato ‘chamada’, em 18,5%. Os programas do Reitor Moreira

91

foram divididos entre chamada e pronunciamento do candidato (19,6% cada),

videoclipe/jingle (12,1%) e telejornalismo (11,2%). É interessante ressaltar que em

nenhum programa dos candidatos de Curitiba foi identificado o formato

documentário. Ainda assim, os programas de Gleisi Hoffmann também não

exploraram o formato dramatização/ficção, e os de Beto Richa deixaram de fora o

pronunciamento do candidato a vice.

Os resultados apresentam semelhança nas categorias de formato mais

identificadas - videoclipe/jingle, telejornalismo, chamada e pronunciamento do

candidato. O videoclipe/jingle, por exemplo, é um forte aliado dos partidos por

proporcionar ao público assimilar de forma rápida e marcante a música presente na

campanha de determinado candidato. Isso faz com que o político seja lembrado

assim que o eleitor ouvir o jingle de sua campanha – mesmo sem nem saber de

imediato a qual candidato aquela música remete. O telejornalismo e o

pronunciamento do candidato também são formatos bastante fortes nos programas

do HGPE. O telejornalismo porque passa a idéia de credibilidade e o próprio

candidato porque o público deve conhecê-lo, identificá-lo e também identificar-se

com ele.

Em Ponta Grossa o resultado não foi muito diferente do da capital, como

mostra a tabela 4. Jocelito Canto preferiu ser o orador dominante em metade de

seus programas (50%), enquanto que Sandro Alex e Pedro Wosgrau optaram pelo

videoclipe/jingle como carro chefe dos HGPEs em 28,7% e 24,2%.

92

TABELA 4 – Formato das mensagens dos programas do H GPE de Ponta Grossa - 2008

Formatos % Jocelito Canto (PTB)

% Sandro Alex (PPS)

% Pedro Wosgrau (PSDB)

Pronunciamento do candidato 50,0 23,3 19,2 Pronunciamento do candidato a vice 0 0,4 0,4 Documentário 6,1 5,0 2,6 Telejornal 4,9 9,0 10,2 Entrevista 2,4 1,8 7,9 Vídeo Clipe/jingle 20,7 28,7 24,2 Ilustração/animação 2,4 4,7 0 Dramatização/ficção 0 0 5,7 “Povo Fala” 4,9 14,0 15,8 Depoimentos 7,3 5,0 10,2 Chamada 1,2 8,2 3,8 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

O segundo formato que mais apareceu foi o videoclipe/jingle nos programas

de Jocelito Canto (20,7%), e o pronunciamento do candidato nos de Sandro Alex

(23,3%) e Pedro Wosgrau (19,2%). Os depoimentos apareceram em 7,3% dos

programas de Jocelito Canto, ficando em terceiro lugar. Já nos programas do

radialista Sandro Alex e do tucano Pedro Wosgrau, o terceiro lugar ficou com o

“povo fala”, aparecendo em 14% e 15,8%. Observa-se que houve diferença nos

formatos mais utilizados quando comparado Curitiba e Ponta Grossa. Enquanto que

na capital a chamada foi a única que apareceu entre os três primeiros formatos mais

usados nos programas dos três candidatos, e o telejornalismo também apareceu

entre os três primeiros nos programas de Reitor Moreira e Beto Richa, estes

formatos ficaram de fora do top 3 dos programas dos Campos Gerais.

O formato chamada apareceu em último colocado nos programas de Jocelito

Canto, sendo utilizada apenas em 1,2% dos programas. Nos programas de Sandro

Alex ela ficou em 5º lugar, aparecendo em 8,2%; e nos programas de Pedro

Wosgrau ela ocupa a 7ª posição, com 3,8% de aparição. Apesar dessa diferença de

resultados, os candidatos de Ponta Grossa também não demandaram de todos os

93

tipos de formatos em seus programas. O candidato do PTB, Jocelito Canto, não deu

voz a seu vice em nenhum dos programas, e também não recorreu ao recurso de

dramatização/ficção, assim como Sandro Alex, do PPS. Já Pedro Wosgrau, do

PSDB, deixou de fora apenas o formato ilustração. Talvez essa diferença de

recursos utilizados nos programas de Curitiba e Ponta Grossa represente a não

padronização da campanha dos partidos, ou seja, as estratégias adotadas podem

variar de acordo com a cidade do pleito. Isso faz com que a campanha ganhe um

caráter local.

Agora que já se sabe qual formato foi o mais utilizado em cada programa,

precisa-se conhecer a linguagem adotada para mostrar as propostas dos candidatos

ao público. Na tabela 5 pode-se verificar a porcentagem de cada tipo de linguagem

empregada pelos candidatos à prefeitura de Curitiba. Ela está dividida em três tipos:

didática, panfletária e informativa.

TABELA 5 – Linguagem utilizada nas nos programas do HGPE de Curitiba - 2008

Linguagem % Gleisi Hoffmann (PT)

% Reitor Moreira (PMDB)

% Beto Richa (PSDB)

Didática 0,7 0,5 0,1 Panfletária 21,7 29,6 22,8 Informativa 77,6 69,8 77,2 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Esta é a variável mais fácil de ser entendida. Como já foi explicado

anteriormente, o tipo de linguagem possibilita entender como o candidato quis

passar sua mensagem ao público, se foi de forma superficial, aprofundada ou

apenas um repasse de informação. Olhando para a tabela vê-se que todos os

candidatos de Curitiba optaram pela linguagem informativa. Gleisi Hoffmann e Beto

Richa ficaram, mais uma vez, com o percentual muito aproximado (77,6% e 77,2%

94

respectivamente). Já Reitor Moreira utilizou menos a linguagem informativa quando

comparado aos concorrentes (69,8%). A linguagem panfletária ficou em segundo

lugar entre todos os candidatos e a linguagem didática foi quase que inexistente.

Entende-se que os candidatos da capital optaram por transmitir ao público suas

propostas através da informação, ao invés de ficar apenas bombardeando com

idéias superficiais. Talvez essa seja uma estratégia de campanha que tenta não

superestimar o eleitor, apresentando-lhe um conteúdo mais explicativo.

Em contrapartida, em Ponta Grossa houve, mais uma vez, a inversão de

papéis. A linguagem predominante nas mensagens dos candidatos foi a panfletária,

enquanto que a informativa apareceu em segundo lugar.

TABELA 6 – Linguagem utilizada nas nos programas do HGPE de Ponta Grossa - 2008

Linguagem % Jocelito Canto (PTB)

% Sandro Alex (PPS)

% Pedro Wosgrau (PSDB)

Didática 9,8 11,8 8,7 Panfletária 64,6 63,1 64,2 Informativa 25,6 25,1 27,2 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A maior utilização da linguagem panfletária indica que os candidatos de

Ponta Grossa preferiram apenas tratar os assuntos de forma superficial, ao contrário

de Curitiba. Porém, nota-se que houve um considerável uso da linguagem didática,

quando se compara com o percentual encontrado na Capital. Dentre este tipo de

linguagem, Sandro Alex foi o que mais tentou aprofundar os temas, em 11,8% dos

programas, seguido de Jocelito Canto (9,8%) e Pedro Wosgrau (8,7%).

Agora que já se sabe o apelo contido nas mensagens, o formato de

programa adotado e a linguagem empregada para transmitir o conteúdo ao público,

95

resta saber quem foi que mais falou nos programas do candidato, ou seja,

quem/qual foi o orador dominante.

A última variável está representada nas tabelas 7 e 8, referentes a Curitiba e

Ponta Grossa. Observa-se a seguir que esta variável foi a que mais houve

disparidade na escolha dos candidatos.

TABELA 7 – Orador dominante dos programas do HGPE d e Curitiba - 2008

Orador Dominante % Gleisi Hoffmann (PT)

% Reitor Moreira (PMDB)

% Beto Richa (PSDB)

Candidato 29,1 31,7 10,1 Candidato a vice 0,3 1,5 0 Patrono político 2,0 1,0 0 Garoto propaganda 0,3 1,5 0,5 Âncora 2,7 3,0 16,8 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 39,8 22,1 29,3 Off/cantor 13,0 5,5 9,7 Popular 7,0 10,6 20,0 Personagem/ficção 0 1,0 0,1 Personalidade 3,7 12,6 1,9 Instrumental 2,0 9,5 11,7 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A petista Gleisi Hoffmann e o tucano Beto Richa mais uma vez obtiveram o

mesmo resultado na categoria mais empregada nos programas. O orador dominante

tanto do programa de Gleisi quanto de Richa foi o off/locutor, enquanto que nos

programas do Reitor Moreira foi ele próprio. A partir da segunda categoria houve

muitas diferenças. Em segundo lugar nos programas da petista ficou a fala do

candidato (29,1%), seguido pelo off/cantor (13%). O Reitor Moreira optou pelo

off/locutor (22,1%) e pela fala de uma personalidade em 12,6% de seus programas.

Por fim, pode-s dizer que Beto Richa foi o único a adotar duas categorias

jornalísticas entre os três primeiros colocadas. Já se sabe que o off/locutor foi o

96

orador dominante na maioria dos programas, seguido pela fala popular (20%) e pelo

âncora (16%) – que é o outro recurso jornalístico empregado. Esta categoria

apareceu em apenas 2,7% dos programas de Gleisi Hoffmann e 3% nos programas

do Reitor Moreira.

Os resultados de Ponta Grossa não diferem muito dos de Curitiba quanto ao

tipo de orador dominante empregado. Porém, a utilização dos elementos

jornalísticos foi diferenciada.

TABELA 8 – Orador dominante dos programas do HGPE d e Ponta Grossa - 2008

Orador dominante % Jocelito Canto (PTB)

% Sandro Alex (PPS)

% Pedro Wosgrau (PSDB)

Candidato 56,1 25,1 24,2 Candidato a vice 0 0,7 0,4 Patrono político 0 0,4 0,8 Garoto propaganda 1,2 4,3 5,7 Âncora 2,4 3,2 4,5 Lider partidário 2,4 1,4 2,3 Off/locutor 6,1 15,4 18,9 Off/cantor 15,9 16,5 15,5 Popular 6,1 15,4 18,9 Personagem/ficção 1,2 0 7,2 Personalidade 7,3 5,4 8,7 Instrumental 1,2 0,4 0,8 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Apesar de Jocelito Canto e Pedro Wosgrau optarem pelo mesmo orador

dominante na maioria de seus programas, o próprio candidato, o concorrente pelo

PTB o fez em mais da metade, em 56,1%. Este resultado é mais do que o dobro do

percentual encontrado nos programas de Pedro Wosgrau, que foi o próprio orador

em apenas 24,2%. Isso mostra que Wosgrau investiu em mais estratégias do que

Jocelito Canto. O candidato Sandro Alex também diversificou o orador dominante de

sua campanha, colocando o off/locutor em primeiro lugar, com 27,2%, seguido pela

fala dele próprio (25,1%) e pelo off/cantor (16,5). O off/cantor também apareceu

97

entre as três categorias mais utilizadas nos programas de Jocelito Canto (15,9%) e

Pedro Wosgrau (15,5%). O outro tipo de orador dominante presente nos programas

dos dois últimos candidatos citados foi a personalidade (Jocelito – 7,3%) e o popular

(Wosgrau – 18,9%). Observa-se que as categorias jornalísticas, como o off/locutor e

âncora, foram deixadas de lado. O off/locutor apareceu entre os primeiros somente

nos programas de Sandro Alex. Por outro lado, apesar do orador dominante âncora

não ter aparecido entre os mais empregados, ele esteve mais presente nos

programas de Ponta Grossa do que nos de Curitiba. Este tipo de orador apareceu

em 4,5% dos programas de Wosgrau; 3,2% nos de Sandro Alex e em 2,4% nos de

Jocelito Canto.

Até aqui, verificou-se como os principais candidatos à prefeitura de Curitiba

e de Ponta Grossa desenvolveram sua campanha a partir de quatro variáveis: apelo,

formato, linguagem e orador dominante. Em Curitiba ficou claro que eles não se

preocuparam em preencher o discurso com conteúdos políticos, pois mais de 80%

das mensagens dos programas do PT e do PSDB tiveram um apelo emocional. Em

contrapartida, a linguagem adotada pelos programas foi a informativa. Aqui se

observa uma das contradições da campanha: mensagens informativas tiveram o

apelo emocional presente em sua grande maioria. Além disso, o discurso, no pleito

de Curitiba, foi transmitido ao público, na maioria das vezes, através do formato

videoclipe/jingle, seguido pelo telejornalismo.

Em Ponta Grossa o videoclipe/jingle também foi um dos formatos mais

empregados, seguido pelo pronunciamento do candidato e do “povo fala” – nota-se

que houve diferença nos formatos seguintes, quando comparado à Curitiba. A

linguagem e o apelo também não foram os mesmos. A mensagem dos programas

98

do HGPE em Ponta Grossa foi transmitida através da linguagem panfletária, com

apelo pragmático. Isso quer dizer que o discurso apresentou conjecturas de políticas

públicas, entretanto, estas proposições foram discutidas superficialmente pelos

candidatos, sem demonstrar formas de aplicá-las.

Quando se faz este breve levantamento dos dados da campanha das duas

cidades, conclui-se que, apesar de existirem candidatos do mesmo partido,

ocupando a mesma posição na eleição (candidatos à reeleição, como o caso dos

dois do PSDB), as estratégias discursivas utilizadas pelos partidos mudam de

acordo com cada cidade. Existe sim uma similaridade de discurso, mas apenas

quando olhamos para os outros candidatos da mesma cidade. Até agora o que se

pode perceber é que a campanha em Curitiba, no HGPE televisivo, foi bastante

diferente da de Ponta Grossa.

Agora que já se tem um parâmetro geral dos resultados de Curitiba e Ponta

Grossa, o próximo passo é analisar somente os elementos jornalísticos presente nos

programas dos prefeituráveis. Este será o foco de estudo do próximo tópico.

3.2 Comparação dos elementos jornalísticos utilizados no HGPE

O HGPE, apesar de ser um espaço exclusivo dedicado à elite política, é

também um espaço onde o Jornalismo está presente. Apesar de muitas vezes não

se perceber, muitos elementos do programa eleitoral são ‘emprestados’ do campo

jornalístico. Nesta segunda parte, a análise se dará através do cruzamento das

variáveis apresentadas no item 3.1. Ao todo, cinco combinações foram realizadas:

formato x linguagem; orador dominante x linguagem; apelo x linguagem; dimensão

99

temporal x linguagem e orador dominante x formato. O cruzamento destes dados vai

proporcionar uma visão mais específica sobre como os elementos jornalísticos foram

empregados durante a campanha na televisão.

A tabela 9 apresenta o tipo de linguagem utilizada em cada formato do

segmento dos programas do candidato à reeleição do PSDB, Beto Richa.

TABELA 9 – Formato x Linguagem – Beto Richa (PSDB) – 2008

Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa

Beto Richa (PSDB)

Pronunciamento do candidato 0 18,9 4,3 Pronunciamento do candidato a vice 0 0 0 Documentário 0 0 0 Telejornal 0 24,4 18,3 Entrevista 0 0,4 0,5 Vídeo Clipe/jingle 0 23,1 31,1 Ilustração/animação 0 20,6 0,4 Dramatização/ficção 0 0 0,1 “Povo Fala” 0 1,7 22,2 Depoimentos 100 3,8 1,2 Chamada 0 7,1 21,8

Total 100 100 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Como se observa, a linguagem informativa esteve presente em 31,1% dos

programas no formato videoclipe/jingle, seguido pelo ‘povo fala’ (22,2%) e pela

chamada (21,8%). A linguagem didática mais uma vez apareceu exclusivamente em

apenas um formato: neste caso, sob forma de depoimentos. Por fim, a linguagem

que mais esteve presente nas mensagens da campanha de Curitiba, a panfletária,

apareceu em forma de telejornal (24,4%), videoclipe (23,1%) e ilustração (20,6%).

Isso mostra que mesmo o telejornal sendo um formato proveniente do Jornalismo,

no HGPE ele assume outra conotação quanto ao tipo de discursos veiculado, já que

nem mesmo a linguagem informativa aparece entre as mais utilizadas nos formatos

jornalísticos. A entrevista, por exemplo, foi informativa apenas em 0,4% de suas

100

aparições. O ‘povo fala’ também o percentual informativo muito baixo – 1,2%. A

chamada foi o formato jornalístico que mais empregou a linguagem informativa

(21,8%), seguido do telejornal, em 18,3%. Nos programas do candidato do PSDB, o

telejornal aparece mais com linguagem panfletária (24,4%) do que informativa.

Já a tabela 10 traz os resultados do cruzamento dos dados encontrado nos

programas da candidata da oposição, Gleisi Hoffmann (PT).

TABELA 10 – Formato x Linguagem – Gleisi Hoffmann ( PT) – 2008

Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa

Gleisi Hoffmann (PT)

Pronunciamento do candidato 0 29,2 20,7 Pronunciamento do candidato a vice 0 1,5 0 Documentário 0 0 0 Telejornal 0 7,7 9,1 Entrevista 0 1,5 0,4 Vídeo Clipe/jingle 0 32,3 34,1 Ilustração/animação 0 12,3 5,6 Dramatização/ficção 0 0 0 “Povo Fala” 50,0 0 8,2 Depoimentos 50,0 3,1 6,5 Chamada 0 12,3 15,5 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Nos programas da candidata do PT, a linguagem informativa – a mais

identificada nas mensagens em geral - apareceu no formato de videoclipe/jingle em

34,1%. Em seguida vem o pronunciamento do candidato, com 20,7%, e a chamada,

em 15,5% dos programas. A linguagem panfletária, a segunda que mais foi

empregada no discurso dos candidatos de Curitiba, também foi veiculada através do

videoclipe/jingle na maioria das vezes (32,3%), seguida pelo pronunciamento do

candidato (29,2%). Já em terceiro lugar, o formato ilustração e chamada ficam

empatados, veiculando mensagens panfletárias em 12,3% das suas aparições. Já a

linguagem didática ficou apareceu apenas nos formatos ‘povo fala’ e depoimentos,

101

com 50% cada. Nas categorias puramente jornalísticas, como telejornal, entrevista e

‘povo fala’, a linguagem informativa apareceu muito pouco. O formato telejornal

apresentou a linguagem informativa em apenas 9,1%; já na entrevista este tipo de

linguagem foi praticamente inexistente (0,4%), voltando a um percentual um pouco

mais representativo no formato ‘povo fala’ (8,2%). O terceiro candidato que aparece

é o Reitor Moreira. A tabela 11 apresenta os percentuais obtidos a partir de seus

programas.

TABELA 11 – Formato x Linguagem – Reitor Moreira (P MDB) – 2008

Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa

Reitor Moreira (PMDB)

Pronunciamento do candidato 0 18,6 20,1 Pronunciamento do candidato a vice 0 1,7 0,7 Documentário 0 0 0 Telejornal 0 18,6 7,9 Entrevista 100 15,3 7,9 Vídeo Clipe/jingle 0 1,7 16,5 Ilustração/animação 0 15,3 4,3 Dramatização/ficção 0 1,7 0,7 “Povo Fala” 0 0 10,1 Depoimentos 0 11,9 10,1 Chamada 0 15,3 21,6 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Nos programas do candidato do PMDB a linguagem informativa é

empregada, na maioria das vezes, no formato chamada (21,6%). O pronunciamento

do candidato é o segundo formato que em que a linguagem informativa mais

aparece, assim como nos programas da candidata do PT. Nos programas do Reitor

Moreira, o formato videoclipe/jingle é o terceiro em que a linguagem informativa está

mais presente. A segunda categoria de linguagem, a panfletária, aparece bastante

dividida entre os formatos. Em primeiro lugar, ela se faz presente tanto no

pronunciamento do candidato, quanto no telejornal (18,6%). De acordo com a tabela

102

9, os formatos de entrevista, ilustração e chamada foram os segundos a utilizarem a

linguagem panfletária (15,3%), seguido pelos depoimentos, com 11,9%. Já a

linguagem didática foi identificada exclusivamente no formato de entrevista. Quando

se olha apenas para as categorias próximas ao jornalismo, percebe-se que mais

uma vez a linguagem informativa não está presente, na maioria das vezes. O

formato telejornal, por exemplo, teve mais mensagens veiculadas na linguagem

panfletária (18,6%) do que informativa (7,9%). O mesmo aconteceu com a

entrevista. Enquanto que a informativa ocupou apenas 7,9% das entrevistas, a

panfletária se fez presente em 15,3%, e a didática em 100%. O ‘povo fala’ foi o

formato, entre estes três, em que a linguagem informativa foi mais identificada

(10,1%).

A análise do cruzamento destas duas variáveis, formato e linguagem, abrem

um leque de conclusões a que se pode chegar. Primeiro que todos os candidatos

utilizaram basicamente os mesmos formatos e os mesmos tipos de linguagem para

cada um. Além disso, apesar de muitas vezes formatos jornalísticos estarem

presentes entre os mais utilizados, nenhum teve a linguagem informativa como a

mais presente – na maioria das vezes foi a panfletária. O telejornal é o formato onde

a linguagem panfletária apareceu em primeiro lugar, sendo que, teoricamente,

deveria ser a informativa, já que um telejornal pressupõe a veiculação de

informação.

Já em Ponta Grossa, a linguagem panfletária foi a que mais esteve presente.

Entretanto, a informativa apareceu bastante entre os formatos jornalísticos, como

mostra as tabelas seguintes.

103

TABELA 12 – Formato x Linguagem – Pedro Wosgrau (PS DB) – 2008

Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa

Pedro Wosgrau (PSDB)

Pronunciamento do candidato 39,1 18,2 15,3 Pronunciamento do candidato a vice 0 0,6 0 Documentário 4,3 2,4 2,8 Telejornal 8,7 10,0 11,1 Entrevista 4,3 8,2 8,3 Vídeo Clipe/jingle 8,7 25,3 26,4 Ilustração/animação 0 0 0 Dramatização/ficção 8,7 4,7 6,9 “Povo Fala” 13,0 18,8 9,7 Depoimentos 13,0 8,2 13,9 Chamada 0 3,5 5,6 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A linguagem informativa nos programas do candidato do PSDB apareceu em

primeiro lugar no formato videoclipe/jingle, em 26,4% dos programas seguidos pelo

pronunciamento do candidato (15,3%) e por depoimentos (13,9%). A linguagem

panfletária apareceu mais em forma de videoclipe/jingle (25,3%), em 18,8% no

formato ‘povo fala’ e em 18,2% pelo pronunciamento do candidato. Contudo, mais

uma vez a linguagem panfletária apareceu dividida entre vários formatos. Na maioria

deles, o pronunciamento do candidato foi o que mais utilizou a linguagem didática

(39,1%), seguido pelo ‘povo fala’ e depoimentos (13% cada um) e pelo telejornal,

videoclipe e dramatização, em 8,7% cada. Os formatos de telejornalismo (15,7%) e

do ‘povo fala’ (11,4%) foram os que a linguagem informativa esteve mais presentes,

ao contrário da campanha em Curitiba, onde nenhum candidato primou pela

linguagem informativa nos formatos jornalísticos. Já a tabela 13 apresenta os dados

do candidato do PTB, Jocelito Canto.

104

TABELA 13 – Formato x Linguagem – Jocelito Canto (P TB) – 2008

Candidato Formatos % Linguagem Didática Panfletária Informativa

Jocelito Canto (PTB)

Pronunciamento do candidato 50,0 49,1 52,4 Pronunciamento do candidato a vice 0 0 0 Documentário 0 9,4 0 Telejornal 12,5 1,9 9,5 Entrevista 12,5 1,9 0 Vídeo Clipe/jingle 0 20,8 28,6 Ilustração/animação 12,5 1,9 0 Dramatização/ficção 0 0 0 “Povo Fala” 12,5 3,8 4,8 Depoimentos 0 9,4 4,8 Chamada 0 1,9 0 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

O candidato do PTB adotou o formato pronunciamento do candidato na

maior parte de sua campanha. Sendo assim, este é o formato onde os três tipos de

linguagem estiveram mais presentes: a informativa apareceu em 52,4% dos

programas, a panfletária em 49,1% e a didática em 50%.O videoclipe/jingle

apareceu em segundo lugar tanto na linguagem informativa, quanto na panfletária –

28,6% e 20,8% respectivamente. No caso dos programas do PTB para prefeito de

Ponta Grossa, os formatos jornalísticos estiveram presentes entre os mais

identificados na campanha quanto à linguagem. O telejornal aparece com a

linguagem informativa em 9,5% dos programas, o documentário em 9,4% em

linguagem panfletária e a linguagem didática se dividiu em 12,5% dos programas em

telejornal, entrevista, ilustração e ‘povo fala’. Percebe-se que nos programas do

Jocelito a linguagem informativa e didática esteve mais presente nos formatos

jornalísticos do que a panfletária.

Por outro lado, o candidato do PPS, Sandro Alex, construiu o discurso

informativo em forma de ilustração em 37,1% dos programas seguidos pelo

105

pronunciamento do candidato (21,4%) e pelo telejornalismo (15,7%), como mostra a

tabela 14.

TABELA 14 – Formato x Linguagem – Sandro Alex – 200 8

Candidato Formato s % Linguagem Didática Panfletária Informativa

Sandro Alex (PPS)

Pronunciamento do candidato 18,2 25,0 21,4 Pronunciamento do candidato a vice 0 0 1,4 Documentário 0 6,8 2,9 Telejornal 15,2 5,1 15,7 Entrevista 3,0 1,1 2,9 Vídeo Clipe/jingle 18,2 27,3 37,1 Ilustração/animação 0 5,7 4,3 Dramatização/ficção 0 0 0 “Povo Fala” 18,2 14,2 11,4 Depoimentos 3,0 6,8 1,4 Chamada 24,2 8,0 1,4 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A linguagem panfletária, nos programas do PPS, se mostrou presente no

formato videoclipe/jingle (27,3%), em segundo lugar também no pronunciamento do

candidato (25%) e no ‘povo fala’ (14,2%). Já a linguagem didática esteve bem divida

entre os formatos. Em primeiro lugar ela aparece em forma de chamada (24,2%),

seguida pelo ‘povo fala’, videoclipe/jingle e pronunciamento do candidato (18,2%) e

em terceiro, no formato de telejornalismo (15,2%).

Quando se olha apenas para os formatos jornalísticos, percebe-se que os

programas do PSDB em Ponta Grossa também não optaram por fazer uso da

linguagem informativa na maior parte deles. Entre estes formatos, a linguagem

informativa apareceu mais sob forma de telejornalismo (11,1%), seguido pelo ‘povo

fala’ (9,7%) e entrevista (8,3%).

106

O formato e o tipo de linguagem utilizada para transmitir a mensagem ao

público variam bastante entre candidatos e entre pleitos. Em Curitiba observa-se que

houve ainda certa similaridade em alguns aspectos, como na linguagem panfletária

e formatos jornalísticos. Ela esteve presente em grande parte nestes formatos, ao

contrário de Ponta Grossa. Mesmo a linguagem informativa não atingindo grande

percentual nos formatos jornalísticos, ela esteve mais presente do que a panfletária.

As tabelas seguintes nos mostram o cruzamento dos dados do orador

dominante com a linguagem. Se antes foi apresentada qual a linguagem utilizada em

determinado formato de segmento, agora saber-se-á o jeito que determinado

assunto foi falado e por quem foi falado.

TABELA 15 – Orador dominante x Linguagem – Beto Ric ha (PSDB) – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Beto Richa (PSDB)

Didática Panfletária Informativa Candidato 0 26,1 5,5 Candidato a vice 0 0 0 Patrono político 0 0 0 Garoto propaganda 0 1,7 0,1 Âncora 0 16,8 16,9 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 0 43,3 25,2 Off/cantor 0 2,5 11,8 Popular 100 2,1 25,2 Personagem/ficção 0 0 0,1 Personalidade 0 4,2 1,2 Instrumental 0 3,4 14,1

Total 100 100 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Observando a tabela 15 é possível observar que o candidato tucano à

prefeitura de Curitiba utilizou bem pouco a linguagem informativa. Ela foi

identificada, na maioria das vezes, no off/locutor e na fala do popular, em 25,2% dos

107

programas cada. A candidata do PT também optou pela utilização da linguagem

informativa no formato off/locutor, como mostra a tabela 16.

TABELA 16 – Orador dominante x Linguagem – Gleisi H offmann (PT) – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Gleisi Hoffmann (PT)

Didática Panfletária Informativa Candidato 0 36,9 27,2 Candidato a vice 0 1,5 0 Patrono político 0 1,5 2,2 Garoto propaganda 0 0 0,4 Âncora 0 1,5 3,0 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 0 56,9 35,3 Off/cantor 0 0 16,8 Popular 100 0 8,2 Personagem/ficção 0 0 0 Personalidade 0 1,5 4,3 Instrumental 0 0 2,6 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Como se pode verificar, a candidata Gleisi Hoffmann utilizou a maior parte

da linguagem informativa na fala do off/locutor (35,3%). Já o candidato do PMDB,

Reitor Moreira, preferiu empregar a linguagem informativa em sua própria fala, em

25,9% dos programas.

108

TABELA 17 – Orador dominante x Linguagem – Reitor M oreira (PMDB) – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Reitor Moreira (PMDB)

Didática Panfletária Informativa Candidato 0 45,8 25,9 Candidato a vice 0 1,7 1,4 Patrono político 0 0 1,4 Garoto propaganda 0 0 2,2 Âncora 0 0 4,3 Lider partidário 0 0 0 Off/locutor 0 23,7 21,6 Off/cantor 0 0 7,9 Popular 0 0 15,1 Personagem/ficção 0 1,7 0,7 Personalidade 100 20,3 8,6 Instrumental 0 6,8 10,8 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A linguagem informativa também apareceu na fala do candidato (27,2%) nos

programas de Gleisi Hoffmann, no off/locutor (21,6%) nos programas do Reitor

Moreira e no orador dominante âncora (16,9%) nos programas de Beto Richa. Entre

os formatos jornalísticos, o off/locutor foi o orador dominante onde este tipo de

linguagem mais apareceu nos programas dos três candidatos: em 35,5% nos

programas petistas; 21,6% nos programas do peemedebista; e 25,2% nos

programas do tucano, juntamente com a fala do popular. Entretanto, isto não

representa um bom percentual do ponto de vista jornalístico, sendo que a linguagem

panfletária foi mais recorrente neste orador dominante do que a linguagem

informativa. A linguagem panfletária foi a mais utilizada entre os três candidatos no

orador dominante off/locutor. Assim como se pode verificar na tabela, esta

linguagem apareceu em 56,9% das aparições do off/locutor nos programas da

candidata Gleisi Hoffmann; em 23,7% nos programas do Reitor Moreira e em 43,3%

nos programas do tucano Beto Richa. Isso representa, mais uma vez, a ausência de

preocupação em empregar ao orador dominante jornalístico a linguagem adequada

109

a isso, ou seja, a informativa. O resultado destes dados mostra que o locutor não

transmite informação na maioria dos casos, e sim fala sobre temas diversos

superficialmente, quando não está fazendo algum ataque ao adversário.

Quando se olha especificamente para o resultado dos programas do PT e do

PSDB dá para perceber que a proximidade de estratégia neste ponto é grande. O

PSDB, como era governo nesta eleição, poderia ter trabalho de forma mais

informativa sobre ações realizadas durante o governo. Entretanto, não o fez, e nem

mesmo o PT, por exemplo, se preocupou em informar a população sobre outras

ações que seriam possíveis, mas que não foram realizadas. Ou seja, a estratégia foi

a mesma para os três partidos estudados, mesmo tendo duas oposições neste

pleito.

Em Ponta Grossa, por outro lado, já se identifica mais linguagem informativa

presente em formatos jornalísticos, embora a panfletária não tenha desaparecido. A

tabela 18, 19 e 20 trazem os percentuais.

TABELA 18 – Orador dominante x Linguagem – Pedro Wo sgrau (PSDB) – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Pedro Wosgrau (PSDB)

Didática Panfletária Informativa Candidato 43,5 22,9 20,8 Candidato a vice 0 0,6 0 Patrono político 4,3 0,6 0 Garoto propaganda 4,3 5,9 5,6 Âncora 4,3 4,1 5,6 Lider partidário 0 0,6 6,9 Off/locutor 0 12,9 11,1 Off/cantor 8,7 15,3 18,1 Popular 13,0 23,5 9,7 Personagem/ficção 8,7 5,3 11,1 Personalidade 8,7 7,6 11,1 Instrumental 4,3 0,6 0

Total 100 100 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

110

Nos programas do tucano Pedro Wosgrau, em 5,6% deles, o orador âncora

apresentou linguagem informativa, como se pode verificar na porcentagem presente

na tabela acima. Já Jocelito Canto, do PTB, foi o candidato que mais fez uso da

linguagem informativa na fala do orador dominante âncora, como é possível

observar na tabela 19.

TABELA 19 – Orador dominante x Linguagem – Jocelito Canto (PTB) – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Jocelito Canto

(PTB)

Didática Panfletária Informativa Candidato 62,5 56,6 52,4 Candidato a vice 0 0 0 Patrono político 0 0 0 Garoto propaganda 0 1,9 0 Âncora 0 0 9,5 Lider partidário 0 3,8 0 Off/locutor 0 3,8 14,3 Off/cantor 0 18,9 14,3 Popular 12,5 5,7 4,8 Personagem/ficção 0 1,9 0 Personalidade 12,5 7,5 4,8 Instrumental 12,5 26,1 22,9 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

O orador dominante âncora apresentou linguagem informativa em 9,5% dos

programas do candidato Jocelito Canto e em 5,7% nos programas do candidato do

PPS, Sandro Alex.

111

TABELA 20 – Orador dominante x Linguagem – Sandro A lex (PPS) – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Sandro Alex

(PPS)

Didática Panfletária Informativa Candidato 24,2 26,1 22,9 Candidato a vice 0 0,6 1,4 Patrono político 0 0 1,4 Garoto propaganda 3,0 5,7 1,4 Âncora 9,1 1,1 5,7 Lider partidário 0 0,6 4,3 Off/locutor 30,3 24,4 32,9 Off/cantor 9,1 19,3 12,9 Popular 18,2 15,3 14,3 Personagem/ficção 0 0 0 Personalidade 6,1 6,6 1,4 Instrumental 0 0 1,4 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Por outro lado, o off/locutor não superou o percentual de Curitiba. Em Ponta

Grossa o único candidato que superou a margem dos 30% foi Sandro Alex, do PPS,

apresentando linguagem informativa em 32,9% dos segmentos. Nos programas de

Jocelito Canto (PTB), a linguagem informativa esteve mais presente na fala do

próprio candidato (52,4%), seguido pelo off/locutor (14,3%) e pelo âncora (9,5%). Já

Sandro Alex (PPS) enfatizou o uso informativo no off/locutor (32,9%), na fala do

candidato (22,9%) e na fala do popular, em 14,3% dos programas. Por fim, Pedro

Wosgrau (PSDB) também adotou a maior parte da linguagem informativa em sua

própria fala, porém o percentual foi bem menor do que seus concorrentes: este

orador dominante representa apenas 20,8% das aparições da linguagem informativa

ao longo dos programas. Em segundo lugar, tem-se o off/cantor, com 18,1% e em

seguida aparece o off/locutor, personagem/ficção e personalidade, com 11,1% cada

um.

O estudo mostra que os candidatos preferiram utilizar a maior parte da

linguagem informativa em formatos não jornalísticos, como o pronunciamento do

112

candidato. Apesar dos formatos como off/locutor e âncora terem aparecido entre os

quais a linguagem informativa esteve mais presente, o percentual pode ser

considerado baixo. Ou seja, os candidatos de Ponta Grossa também não se

preocuparam em adequar a linguagem ao formato. Isso mostra, mais uma vez, que

os formatos jornalísticos tomam outra conotação quando empregados no HGPE.

Já a linguagem panfletária aparece mais concentrada em poucos oradores.

O candidato do PTB priorizou esta linguagem em sua própria fala em 56,6% dos

programas. Sandro Alex, do PPS e Pedro Wosgrau, do PSDB, apresentaram

porcentagens muito próximas nesta categoria: enquanto que Sandro Alex empregou

a linguagem panfletária em seu próprio discurso em 26,1% dos programas, Wosgrau

optou pelo orador popular em 23,5% das vezes.

Ao contrário da linguagem panfletária, a didática apareceu bem dividida

entre as categorias de orador nos programas dos três candidatos. Nos de Jocelito

Canto, ela apareceu no candidato enquanto orador (62,5%), popular, personalidade

e instrumental (12,5% cada categoria). Assim como seu oponente, Pedro Wosgrau

concentrou a utilização da linguagem didática na fala do candidato (43,5%), seguido

pelo popular (13%) e off/cantor, personagem/ficção e personalidade em 8,7% das

aparições cada um. Nos programas de Sandro Alex, a linguagem didática foi

identificada no off/locutor (30,3%), na fala do candidato (24,2%) e na fala popular

(18,2%).

A análise do cruzamento destas variáveis mostra que, mesmo a linguagem

informativa não sendo utilizada em sua maioria em formatos jornalísticos, ela ainda é

mais recorrente nestes formatos do que os outros tipos de linguagem, salvo

exceções.

113

Quando se compara a análise de Curitiba e Ponta Grossa verifica-se que em

Ponta Grossa ainda se teve mais linguagem informativa presente em formatos

jornalísticos do que na capital do Estado. Na realidade, em Curitiba a presença de

linguagem informativa nestes formatos não foi tão expressiva, pelo contrário. No

caso do off/locutor, por exemplo, em Ponta Grossa ele veiculou mensagens

informativas na maioria das vezes que foi exibido. Já nos programas dos candidatos

de Curitiba, todas as inserções de off/locutor nos HGPEs tiveram mais o uso da

linguagem panfletária. A linguagem didática também é outra que aparece bastante

diferente nas duas cidades. Em Curitiba, ela geralmente aparece concentrada em

apenas um formato, o que não acontece em Ponta Grossa. Isso representa, talvez, a

intenção do partido de fazer o público entender melhor as suas propostas através de

vários formatos.

A próxima tabela traz o cruzamento das variáveis apelo e linguagem. Já se

sabe que o tipo de apelo que embalou a campanha na capital paranaense foi o

emocional, enquanto que a linguagem empregada nas mensagens foi a informativa.

Quando as freqüências se cruzam, pode-se verificar a linguagem presente em cada

categoria de apelo. A tabela 21 apresenta o percentual da campanha de Curitiba.

114

TABELA 21 – Apelo x Linguagem - Curitiba – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Gleisi Hoffmann (PT)

Didática Panfletária Informativa Pragmático 100 66,2 0,9 Ideológico 0 0 0,9 Político 0 4,6 0 Emocional 0 29,2 98,3 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0 Total 100 100 100

Reitor Moreira (PMDB)

Pragmático 100 83,1 2,2 Ideológico 0 0 0,7 Político 0 1,7 0 Emocional 0 15,3 97,1 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0 Total 100 100 100

Beto Richa

(PSDB)

Pragmático 100 71,8 0,9 Ideológico 0 0 0 Político 0 0,4 0,1 Emocional 0 27,7 98,8 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 0 0,2 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Como se pode perceber, nos programas da candidata do PT, Gleisi

Hoffmann, a linguagem informativa esteve mais presente quando o apelo da

mensagem era emocional (98,3%). Por outro lado, a linguagem panfletária esteve

divida entre o apelo pragmático (66,2%) e emocional (29,2%), e a didática aparece,

mais uma vez, concentrada em uma única categoria, que neste caso foi no apelo

pragmático.

Seguindo com a análise, observa-se que os resultados não variam muito na

campanha dos outros candidatos. O candidato do PMDB, Reitor Moreira, também

utilizou a linguagem informativa nas mensagens com apelo emocional em quase

100% dos programas (97,1%). A linguagem panfletária esteve presente tanto no

apelo pragmático (83,1%) quanto no emocional (15,3%), e a didática aparece outra

115

vez concentrada no apelo pragmático - o que se observa também nos programas do

candidato à reeleição, Beto Richa.

O tucano manteve a estratégia de seus oponentes, alcançando resultados

muito próximos. Na campanha do candidato do PSDB, o apelo emocional esteve

presente na forma da linguagem informativa na maioria de suas aparições (98,8%);

a linguagem panfletária também apareceu entre o apelo pragmático (71,8%) e o

apelo emocional (27,7%); e a didática se fez presente através do apelo pragmático.

Os resultados levam a acreditar que, mesmo com a linguagem informativa

tomando conta da campanha, ela esteve presente sob forma do apelo emocional,

que também foi o que mais apareceu nas mensagens da campanha dos principais

candidatos à prefeitura de Curitiba. Isso significa que apesar do conteúdo ser

informativo, ele não apresentou propostas e informação referente à assuntos de

campanha que realmente interessam ao eleitor como, por exemplo, discussão de

temas importantes para o bem estar social (como saúde, educação, segurança).

Entretanto, a linguagem panfletária – que é aquela onde os temas até podem ser

apresentados, mas de forma superficial - foi identificada, em sua grande maioria, nos

segmentos com apelo pragmático (aquele que apresenta alguma proposição de

política pública). Isso leva a crer que o tipo de linguagem empregada condiz com o

tipo de apelo do segmento. Entretanto, o mesmo não ocorre quando se olha para a

linguagem informativa. O apelo onde ela mais se adequaria é o apelo documental ou

credibilidade da fonte, porém ele sequer foi utilizado na campanha dos candidatos a

prefeito de Curitiba.

Ao contrário de Curitiba, em Ponta Grossa a linguagem panfletária foi a mais

identificada dentre os segmentos coletados. Porém, com o cruzamento dos

116

resultados verifica-se que os três tipos de linguagem estiveram bastante distribuídos

entre as cinco categorias de apelo entre os candidatos do PSDB e do PTB, como

mostra a tabela 22.

TABELA 22 – Apelo x Linguagem – Ponta Grossa – 2008

Candidato Orador dominante % Linguagem

Jocelito Canto (PTB)

Didática Panfletária Informativa Pragmático 25,0 41,5 33,3 Ideológico 50,0 24,5 23,8 Político 0 1,9 0 Emocional 12,5 32,1 42,9 Documental ou Credibilidade da Fonte 12,5 0 0 Total 100 100 100

Sandro Alex (PPS)

Pragmático 27,3 24,4 41,4 Ideológico 54,5 44,3 4,3 Político 6,1 4,0 0 Emocional 12,1 25,6 54,3 Documental ou Credibilidade da Fonte 0 1,7 0 Total 100 100 100

Pedro Wosgrau

(PSDB)

Pragmático 52,2 42,9 29,2 Ideológico 30,4 28,2 8,3 Político 8,7 3,5 0 Emocional 4,3 21,8 56,9 Documental ou Credibilidade da Fonte 4,3 3,5 5,6 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Apesar de as estatísticas mostrarem a similaridade de discurso neste ponto

da pesquisa, quando se analisa mais precisamente, verifica-se que cada tipo de

linguagem esteve presente em vários segmentos com diferentes tipos de apelo. Nos

programas de Jocelito Canto, do PTB, por exemplo, a linguagem informativa

apareceu mais entre o apelo emocional em 42,9% dos programas, em 33,3% no

apelo pragmático e em 23,8% nos de apelo ideológico. Já a linguagem panfletária

apareceu nos segmentos com apelo pragmático (41,5%), emocional (32,1%) e

ideológico (24,5%). Talvez o resultado da linguagem didática tenha sido a que mais

117

diferiu do resultado de Curitiba. Na campanha televisiva de Jocelito Canto, ela

apareceu entre quatro categorias de apelo: no ideológico (50%), pragmático (25%),

emocional (12,5%) e documental ou credibilidade da fonte (12,5%). Isso também é

verificado nos programas dos outros candidatos de Ponta Grossa.

O candidato Sandro Alex, do PPS, veiculou mensagens em linguagem

informativa e apelo emocional em 54,3% dos HGPEs; e com apelo pragmático em

41,4%. Já a linguagem panfletária apareceu entre o apelo ideológico (44,3%),

emocional (25,6%) e pragmático (24,4%). Percebe-se, até aqui, mais uma vez a

proximidade de resultados quando comparado ao pleito de Curitiba. Nos programas

do progressista, a linguagem didática também foi identificada entre quatro tipos de

apelos, assim como nos de Jocelito Canto. Ela apareceu mais quando o segmento

tinha o apelo ideológico (54,5%), seguido pelo pragmático (27,3%), emocional

(12,1%) e político (12,1%).

O último concorrente analisado em Ponta Grossa é o então candidato à

reeleição Pedro Wosgrau, do PSDB. Em seus programas, a linguagem informativa

também esteve mais presente nos segmentos com apelo emocional (56,9%) e

pragmático (29,2%). A linguagem panfletária apareceu junto com o apelo pragmático

em 42,9% dos programas, com apelo ideológico em 28,2% e com apelo emocional

em 21,8%. A linguagem didática, entretanto, esteve concentrada basicamente no

apelo pragmático (52,2%) e no ideológico (30,4%).

Um número novo que aparece em Ponta Grossa e não está presente em

Curitiba é quanto à utilização do apelo documental ou de credibilidade da fonte. Na

cidade dos Campos Gerais este apelo esteve presente em 12,5% nos programas de

Jocelito Canto, construído a partir da linguagem didática; nos programas de Sandro

118

Alex ele aparece em 1,7% das mensagens panfletárias. Nos programas de Pedro

Wosgrau, o apelo emocional apareceu entre as três linguagens existentes: em 4,3%

na linguagem didática; 3,5% na panfletária e em 5,6% na informativa. O apelo

documental, enquanto linguagem informativa, representa que o conteúdo informativo

veiculou mensagens com fontes de credibilidade, mesmo que em pequena escala.

Os resultados analisados permitem visualizar que a abordagem dada ao

apelo e linguagem em Curitiba foi diferente da de Ponta Grossa. Em Curitiba, tanto

nos programas do PSDB, quanto do PT e do PMDB, a linguagem informativa

apareceu quase em 100% das vezes ligada ao apelo emocional, o que não

aconteceu nos programas dos partidos em Ponta Grossa. Ainda que o apelo

emocional em linguagem informativa tenha alcançado uma porcentagem alta (mais

de 40% nos programas do PSDB, PTB e PPS), não comprometeu a utilização em

outros tipos de apelo. Isto significa que o apelo pragmático e ideológico, por

exemplo, também apresentaram conteúdos informativos.

As próximas tabelas vão mostrar qual a dimensão temporal em que cada

linguagem aparece, ou seja, se ela se refere ao passado/presente, futuro ou é

indefinido. A tabela 23 traz as estatísticas dos candidatos de Curitiba.

119

TABELA 23 – Dimensão temporal x Linguagem - Curitib a – 2008

Candid ato Dimensão temporal % Linguagem Gleisi Hoffmann

(PT)

Didática Panfletária Informativa Passado/presente 50,0 35,4 97,4 Futuro 0 64,6 2,2 Indefinido 50,0 0 0,4 Total 100 100 100

Reitor Moreira (PMDB)

Passado/presente 100 23,7 84,9 Futuro 0 76,3 14,4 Indefinido 0 0 0,7 Total 100 100 100

Beto Richa (PSDB)

Passado/presente 100 59,2 97,1 Futuro 0 40,8 2,6 Indefinido 0 0 0,2 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

A candidata do PT, Gleisi Hoffmann, informou mais assuntos relacionados

ao passado e presente, em 97,4% dos programas. A linguagem panfletária trouxe

mensagens voltadas ao futuro na maioria dos programas (64,6%), mas também

falou sobre o passado/presente em 35,4% das vezes. Já as mensagens que foram

veiculadas em linguagem didática apresentaram-se falando do passado/presente e

em dimensão temporal indefinida (50% cada um). O candidato do PMDB, Reitor

Moreira, falou menos que Gleisi Hoffmann no passado/presente em linguagem

informativa (84,9%), porém ele optou por dedicar mais espaço falando sobre o

futuro, em linguagem panfletária (76,3%) do que a candidata do PT. Em linguagem

informativa, o candidato do PMDB também falou sobre o futuro em 14,4% dos

programas, e em linguagem panfletária, falou sobre o passado/presente em 23,7%.

Nos programas do peemedebista, a dimensão temporal da linguagem didática foi

100% passado/presente.

Já o candidato Beto Richa, do PSDB, teve os percentuais do seu programa

muito parecidos com os de sua principal oponente, Gleisi Hoffmann. Richa também

120

utilizou a linguagem informativa, na grande maioria das vezes, (97,1%) para falar no

passado/presente. A linguagem panfletária veiculou mensagens se referindo ao

passado/presente em 59,2% e se referindo ao futuro em 40,8%. Aqui a linguagem

didática também foi utilizada em mensagens que falavam sobre o passado/presente,

assim como nos programas do Reitor Moreira.

O que se verifica é que tanto Gleisi Hoffmann (PT) quanto Beto Richa

(PSDB) optaram por informar os eleitores no que se refere a ações passadas e

acontecimentos do presente, assim como o Reitor Moreira também fez, só que em

menos segmentos. Já a linguagem panfletária apareceu em maior escala nos

programas do tucano falando sobre o futuro. Os resultados indicam que os

candidatos ficaram presos a comentar sobre o passado e o presente, sem se

preocupar em apresentar propostas para melhorar o futuro dos cidadãos. Quando a

dimensão temporal ‘futuro’ apareceu nos programas dos candidatos de Curitiba, ele

esteve atrelado à mensagens com linguagem panfletária, ou seja, as propostas de

governo que diziam respeito ao futuro, como a implantação de um novo programa de

assistência, foi demonstrado de forma superficial.

Em Ponta Grossa, mais uma vez, pode-se perceber que as mensagens

estiveram bastante segmentadas do ponto de vista da dimensão

temporal/linguagem, como mostra a tabela 24.

121

TABELA 24 – Dimensão temporal x Linguagem – Ponta G rossa – 2008

Candidato Dimensão temporal % Linguagem

Jocelito Canto (PTB)

Didática Panfletária Informativa Passado/presente 37,5 56,6 28,6 Futuro 37,5 39,6 42,9 Indefinido 25,0 3,8 28,6 Total 100 100 100

Sandro Alex (PPS)

Passado/presente 54,5 76,1 31,4 Futuro 33,3 10,8 24,3 Indefinido 12,1 13,1 44,3 Total 100 100 100

Pedro Wosgrau

(PSDB)

Passado/presente 69,6 88,2 40,3 Futuro 17,4 5,3 16,7 Indefinido 13,0 6,5 43,1 Total 100 100 100

Fonte: Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais

Através da tabela 24 consegue-se observar que as mensagens com

linguagem informativa estiveram bem divididas entre passado/presente (28,6%),

futuro (42,9%) e indefinido (28,6%) nos programas do candidato do PTB, Jocelito

Canto. A linguagem panfletária se apresentou, na maioria das vezes, falando sobre

o passado/presente (56,6%), seguido pelo futuro (39,6%). Já a linguagem didática

foi identificada em 37,5% mencionando o passado/presente e futuro, e em 25% dos

programas não foi identificada a dimensão temporal do conteúdo.

O candidato Sandro Alex, PPS, utilizou a linguagem informativa sem fazer

menção à temporalidade em 44,3% dos programas, seguida pelo passado/presente

31,4%, e pela dimensão temporal ‘futuro’ (24,3%). A linguagem panfletária se referiu

ao passado/presente em 76,1% dos programas, e apareceu em segundo lugar não

citando o tempo de ação (13,1%), mas falou sobre o futuro em 10,8%. Por fim, a

linguagem didática fez referência ao passado/presente em mais da metade de sua

aparição (54,5%) e ao futuro em 33,3% dos programas.

122

Por fim, o candidato Pedro Wosgrau utilizou a linguagem informativa para

falar sobre ações sem mencionar a dimensão temporal em 43,1%, e informou sobre

ações do passado/presente em 40,3% dos programas. A linguagem panfletária

abordou assuntos do passado/presente em 88,2% dos programas, e a linguagem

didática também foi mais empregada nesta dimensão temporal (69,6%).

Estes dados permitem entender que a campanha de Ponta Grossa esteve

mais voltada para os acontecimentos futuros do que em Curitiba. Porém, a

discussão acerca de propostas para o futuro foi quase inexistente nos programas de

Pedro Wosgrau, candidato à reeleição pelo PSDB, em Ponta Grossa. Aqui é

possível identificar que tanto nos programas de Curitiba, quanto nos de Ponta

Grossa, a campanha dos candidatos à reeleição não esteve preocupada em discutir

propostas para o futuro, mas sim focar no passado/presente e mostrar, talvez, tudo o

que foi realizado durante seus governos.

Depois de se conhecer e estudar detalhadamente todos os resultados

obtidos nesta pesquisa é necessário abordar pontualmente as conclusões a que se

pode chegar com a análise.

123

Conclusão

Ao longo da pesquisa foi possível conhecer o conteúdo existente nas

mensagens do HGPE dos principais candidatos a prefeito de Curitiba e Ponta

Grossa em 2008. Desta forma, pode-se chegar a pelo menos quatro conclusões

significativas e que respondem a pergunta inicial que direcionou esta pesquisa:

existem semelhanças entre os discursos jornalísticos utilizados pelos candidatos de

mesmos partidos, sendo ‘situação’ em ambas as disputas? O que se pode concluir é

que, na maioria dos casos, não há.

A primeira conclusão a que se chega é que o PSDB não se comportou como

partido com mesmas estratégias nessas eleições considerando os dois municípios,

ou seja, não manteve uma regularidade de estratégias nos pleitos. Isso significa que

a estratégia de campanha do partido varia de acordo com os interesses locais, das

elites locais. Ou seja, mesmo quando o partido está na mesma posição – candidato

à reeleição, as necessidades locais são mais importantes do que o posicionamento

partidário.

O PSDB esteve presente nas duas campanhas com candidatos disputando à

reeleição. Isso quer dizer que em ambas as cidades o partido tucano estava fazendo

campanha para se manter no poder – e para isso utilizou estratégias que, claro, se

convergiram em alguns pontos, mas que na maioria foram diferentes. Tomando por

base o apelo, em Curitiba o PSDB optou por levar a campanha baseando-se no

apelo emocional do público, enquanto que em Ponta Grossa as mensagens tiveram

um apelo maior no aspecto pragmático. Talvez isso se explique pelo fato de que em

Curitiba o candidato à reeleição não necessitava persuadir tanto o público quanto o

candidato de Ponta Grossa, pois a maioria dos eleitores simpatizava e aprovava o

124

governo feito pelo tucano Beto Richa. Ao contrário, em Ponta Grossa, a população

não se mostrava tão satisfeita com as realizações de Wosgrau frente à prefeitura da

cidade, o que levou o partido a adotar outra categoria de apelo. A linguagem e o

formato dos programas também foram outras variáveis que apresentaram resultados

diferentes. A linguagem presente nos programas do PSDB em Curitiba foi

predominantemente informativa – mesmo que em menor porcentagem quando

comparado aos demais, enquanto que em Ponta Grossa se adequou mais à

categoria panfletária. Isso mostra, mais uma vez, que na cidade dos Campos Gerais

o partido teve que fazer um esforço maior em convencer a população a continuar

votando no candidato tucano. Ou seja, nada melhor do que tentar convencer pelo

número de propostas e idéias, o que explica as diferenças.

Outra questão é que em Curitiba o candidato Beto Richa tem a simpatia da

população, como mostraram as pesquisas de opinião antes de a campanha

começar. Uma das pesquisas, que foi realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 23

e 24 de julho de 2008, aponta que o tucano Beto Richa aparecia com 80,9% das

intenções de votos. Isso justifica o fato de Richa quase não ter aparecido nos seus

programas do HGPE (ver tabela 7 sobre orador dominante, na página 87), sempre

dando voz a outras pessoas para contarem sobre seus feitos durante o governo. Já

Pedro Wosgrau investiu em sua própria aparição nos programas para tentar ganhar

o afeto do eleitorado (ver tabela 8 sobre orador dominante, na página 88), já que não

é tão bem aceito quanto o colega de partido. Para isso, Wosgrau fez uso de

formatos de programas onde ele próprio falava com o público (ver tabela 4 sobre o

formato dos programas, na página 84), tentando passar a idéia de que é simpático e

acessível ao eleitorado.

125

Já os candidatos adversários, em ambos os pleitos, não se comportaram

como opositores. O que se entende por oposição aqui são os candidatos de partidos

adversários aos que estavam tentando a reeleição, e que precisam ter uma postura

crítica permanente. Desta forma, em Curitiba a oposição seria composta pela

candidata do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo candidato do PMDB, Reitor Moreira. Já em

Ponta Grossa tivemos como principal oponente de Pedro Wosgrau, o candidato do

PTB, Jocelito Canto, e no segundo turno o candidato do PPS, Sandro Alex. Em

muitos casos é possível identificar a semelhança de estratégias empregadas nos

programas dos candidatos da oposição com o candidato da situação. Para isso,

basta olhar para os programas da candidata do PT em Curitiba, Gleisi Hoffmann, e

para os de seu oponente, o candidato do PSDB. Salvos alguns casos, ambos

obtiveram quase sempre os mesmos resultados. A diferença é que empregar as

mesmas ações que seu oponente, principalmente se ele tem grande aprovação do

eleitorado, não é muito seguro quando se pretende convencer o eleitor de que a

candidata do PT é melhor do que o candidato e atual prefeito do PSDB. Beto Richa

só fez aumentar o carisma do público com seus programas do HGPE; também

conseguiu valorizar as suas ações enquanto governante da cidade de Curitiba,

informando sobre assuntos variados e mostrando suas principais obras. Em Ponta

Grossa os concorrentes de Pedro Wosgrau se opuseram um pouco mais do que os

concorrentes de Beto Richa, em Curitiba, mas mesmo assim ainda existem

bastantes pontos onde se encontram semelhanças.

Outra conclusão a que se chega é que apesar de existirem várias categorias

provenientes do Jornalismo, que possibilitam ao partido levar ao eleitor informações

de interesse público, elas não possuem a mesma função quando utilizadas na

propaganda eleitoral. Em outras palavras, o HGPE, que deveria ser também um

126

espaço de discussão e apresentação de propostas viáveis ao público, informando-o

e garantindo o bom entendimento acerca de assuntos realmente pertinentes para tal

sociedade, torna-se um espaço puramente publicitário.

Este estudo permite concluir, ainda, que se o eleitor busca no HGPE

informação, ele não vai encontrá-la pura. Isso quer dizer que a informação, na

maioria das vezes, estará misturada com outros elementos que ajudam na tentativa

de convencimento. Pior ainda, o público vai encontrar no HGPE vários discursos que

não trazem informação, mas sim um cardápio de propostas e de benfeitorias, e que

são transmitidas ao público em formatos e através de oradores que são originais do

Jornalismo (como o formato de telejornal e o orador dominante entrevista, por

exemplo).

Estes apontamentos remetem ao referencial teórico utilizado neste estudo,

onde Patrick Charaudeau (2008) defende que o discurso político tem como

finalidade seduzir o eleitor, ou seja, é um jogo pela disputa do poder, e para isso não

interessa se ele vai utilizar informação ou mensagens puramente emotivas. Além

disso, Charaudeau (2008) coloca que o eleitor vota em determinado candidato como

forma de gratificação ou punição. No caso do candidato Beto Richa, do PSDB de

Curitiba, é possível identificar a recompensa dada a ele através do público, afinal,

não é qualquer candidato que consegue se reeleger com 77% dos votos no primeiro

turno. O caso de punição é observado em Ponta Grossa, onde a população deixou

de fora do segundo turno o candidato Jocelito Canto, do PTB, que, até antes da

campanha começar oficialmente, era um dos favoritos ao cargo. Com o início do

HGPE e a aparição de um novo político no cenário (Sandro Alex/PPS), a população

127

preferiu apostar em um candidato que ainda não tinha um passado político para

enfrentar o candidato à reeleição.

Susana Salgado (2007) afirma que é importante estudar a mensagem

política para observar o que realmente se tem por trás daquilo que é passado ao

público. Foi isto que este estudo se propôs a fazer através não propriamente do

Jornalismo, mas sim de suas estratégias utilizadas no HGPE. Por fim, conclui-se que

o HGPE é um espaço da elite política onde o eleitor é visto como inofensivo do

ponto de vista da informação, ou seja, a elite política pressupõe que ele não exige

mensagens informativas para escolher seu candidato, mas sim que ele precisa se

identificar com aquele conteúdo e vislumbrar o seu mundo melhor a partir daquilo

que está lhe sendo passado.

As conclusões aqui apresentadas dizem respeito a um ponto específico do

HGPE, que são as estratégias jornalísticas presente nos programas. Isso significa

que existem outros aspectos a serem explorados nesta ferramenta tão poderosa na

campanha eleitoral. Espera-se que este trabalho e estas conclusões abram

caminhos para futuros estudos na área de comunicação e política.

128

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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130

ANEXO A – RELATÓRIO ANALÍTICO

131

Quando entrei na universidade, lá em 2007, adorava as matérias do primeiro ano.

Enquanto todos reclamavam porque só tínhamos matérias teóricas, eu me realizava

lendo inúmeros textos e tendo que comparecer a todas as aulas. Achava o máximo.

No segundo semestre daquele ano, resolvi participar de um projeto de pesquisa

oferecido pelo curso: Mídia, Política e Atores Sociais, coordenado pelo professor

Emerson Cervi.

Desde então, integro este projeto de pesquisa que me proporcionou uma das mais

importantes experiências (em questões acadêmicas) enquanto estudante da

graduação: ser pesquisadora bolsista pelo Programa de Iniciação Científica,

financiado pelo CNPq. A IC foi desenvolvida entre agosto de 2008 a julho de 2009,

sob a orientação de Sérgio Luiz Gadini.

Foi na pesquisa que me encontrei, e foi então que comecei a perceber por que

gostava tanto das matérias teóricas do primeiro ano. A idéia de fazer esta pesquisa

como trabalho de conclusão de curso surgiu a partir do projeto de iniciação

científica, que também era sobre o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral.

Particularmente, eu tive certa facilidade em desenvolver a pesquisa. Muito se deve

ao fato de eu ter realizado estudos anteriores na área, e por isso já possuía um

pouco de conhecimento sobre a literatura acerca do tema. Contudo, acho que não

conseguiria me virar tão bem sem a ajuda do meu orientador: o Emerson.

No final de 2009 eu já estava meio desesperada pra saber quem seria o meu

orientador, já que existem poucos professores no Departamento de Comunicação

que estudam mídia e política. Lembro que cheguei um dia e falei para o Emerson

que queria que ele fosse o orientador do meu trabalho, e ele disse: “Camilla, ainda é

muito cedo para pensarmos nisso”. Esse negócio de gostar de respostas curtas e

132

“mini-saias” de vez em quando não soa legal. Porém, no começo deste ano veio a

notícia que eu esperava ouvir, e cá estamos nós hoje.

O Emerson sempre foi muito organizado – coisa que dá inveja em qualquer pessoa,

e por isso logo no começo de março eu já estava tendo minhas primeiras

orientações. Enquanto todos da minha sala ainda estavam naquela empolgação do

“uhul é último ano, vamos aproveitar”, eu já estava lá lendo e escrevendo – toda

sexta-feira eu tinha que mandar uma parte do texto. Confesso que no começo foi

meio chato, até pegar o ritmo. Porém, quando eu via o quanto estava adiantada

quando comparado aos outros, eu ficava aliviada e bem sossegada. Sentia-me

orgulhosa, sabe. E assim foi semana após semana até o final de agosto, quando eu

terminei a pesquisa.

O trabalho foi bem planejado e é tudo mérito do Emerson, que me obrigava a

escrever toda semana. E eu, como uma boa aluna (quase um exemplo, eu diria),

cumpria com minhas obrigações. Não foram poucas as vezes que eu tive que trocar

o bar numa sexta à tarde, de calor e sol, por uma linda tarde enfurnada no quarto

lendo e escrevendo. Mas, como todo esforço, valeu à pena: em quatro meses eu

tinha a parte teórica do trabalho pronta, só faltava escrever a análise.

Falando em análise, eu tive sorte com a obtenção dos dados da minha pesquisa,

pois eles já estavam todos coletados. Devo um agradecimento especial para todos

aqueles que trabalharam coletando dados do HGPE, que, modéstia a parte, é

chatinho. Então quando eu terminei de escrever a parte teórica, me sobrou tempo

para a parte prática – que era coleta e análise. Em uma semana analisei todas as

variáveis e já comecei a escrever a última parte da pesquisa. Quando terminei a

análise, eu estava toda empolgada para terminar logo, mas quando comecei a fazer

133

aquelas inúmeras tabelas, eu desanimei total. Primeiro que eu resolvi fazer todas as

tabelas de uma única vez, aí quando terminei percebi que poderia ter feito de um

jeito mais simples. E o que aconteceu: Lá foi a Camilla refazer as 20 e poucas

tabelas que existiam na época (porque depois eu separei algumas e resultou no

número de tabelas que existem nesta versão final).

Entre textos e tabelas, a pressão de ter que escrever um tanto de páginas a cada

semana me desesperou em alguns momentos. A gastrite atacou, a tendinite

ressurgiu e a dor de cabeça não me largava. Por alguns momentos achei que não

seria capaz de terminar a pesquisa, porque tinha medo da minha concentração

nunca mais voltar (eu sou desesperada mesmo, ok?). Mas quem tem Emerson como

orientador, tem tudo. Apesar das cobranças, ele dava folga vez ou outra, quando via

que a gente merecia (a gente = eu e Aline Pavezi, a outra orientanda dele). E no

final que deu tudo certo.

O melhor de tudo foi terminar o TCC dentro do nosso prazo, que era antes do

restante da minha turma. Mas por um motivo em especial: eu quero começar a fazer

mestrado logo no ano que vem em 2011. Visto que as provas para seleção são

sempre no segundo semestre, perto da entrega do TCC, o Emerson montou o

cronograma de trabalho pensando nisso. Desta forma, eu tive bastante tempo para

me dedicar aos estudos para a prova e para a elaboração do projeto. No dia 15 de

outubro eu fiz a prova de seleção para o mestrado em Ciências Sociais Aplicadas,

aqui na UEPG mesmo. No dia 12 de novembro sai o resultado da primeira fase.

Caso eu passe, farei a entrevista dia 18, mas eu só vou poder contar para vocês se

eu passei ou não na banca final, porque precisei protocolar o TCC no dia 3 de

novembro.

134

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

Departamento de Comunicação

Coordenação de Projeto Experimental em Jornalismo

INDICAÇÃO DE COMPOSIÇÃO DE BANCA DE PROJETO EXPERIMENTAL

EM JORNALISMO

Acadêmico(s):________________________________________________________

Título:______________________________________________________________

Tema:______________________________________________________________

Banca:

1)_______________________________________________________

2)_______________________________________________________

3)_______________________________________________________

Justificativa:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________.