a dimensao passional do discurso: o diálogo entre retórica semiótica

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Gragoatá, Niterói, n. 38, p. 52-72, 1. sem. 2015 52 Resumo A partir da problemática da manipulação passional, a proposta deste artigo é a de estabelecer um diálogo entre os ensinamentos da retórica e os desenvolvimen- tos atuais da semiótica francesa, propondo ampliar a perspectiva de análise das paixões em ambos os domínios: tanto em um movimento de semiotização da retórica das paixões, ao tornar possível a depreensão e o estabelecimento das propriedades necessariamente discursivas das configurações passionais no discurso em ato, quanto de retoricização da semiótica das paixões, assinalando a dimensão retórica dos núcleos patêmicos discursivizados. Palavras-chave: Paixões. Discurso. Enunciação. Semiótica. Retórica. a Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), [email protected]. A dimensão passional do discurso: um dialógo entre Retórica e Semiótica Eliane Soares de Lima a Recebido em 20/01/2015 Aprovado em 07/04/2015

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Revista Gragoatá, 2015, vol. 1

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  • Gragoat, Niteri, n. 38, p. 52-72, 1. sem. 2015 52

    ResumoA partir da problemtica da manipulao passional, a proposta deste artigo a de estabelecer um dilogo entre os ensinamentos da retrica e os desenvolvimen-tos atuais da semitica francesa, propondo ampliar a perspectiva de anlise das paixes em ambos os domnios: tanto em um movimento de semiotizao da retrica das paixes, ao tornar possvel a depreenso e o estabelecimento das propriedades necessariamente discursivas das configuraes passionais no discurso em ato, quanto de retoricizao da semitica das paixes, assinalando a dimenso retrica dos ncleos patmicos discursivizados.

    Palavras-chave: Paixes. Discurso. Enunciao. Semitica. Retrica.

    a Universidade de So Paulo (FFLCH-USP), [email protected].

    A dimenso passional do discurso: um dialgo entre Retrica e Semitica

    Eliane Soares de Limaa

    Recebido em 20/01/2015Aprovado em 07/04/2015

  • A dimenso passional do discurso: um dialgo entre Retrica e Semitica

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    Retrica e Semitica: pontos de convergncia

    A retrica, concebida antes de mais nada como tcnica, como prtica discursiva, e no necessariamente como cincia, surge, na Antiguidade, sendo a primeira disciplina dedicada ao estudo terico-metodolgico do discurso, a primeira reflexo sistemtica sobre os poderes da linguagem (KLINKENBERG, 2001, p. 11). Caracterizada por uma concepo racionalista da produo discursiva, na qual os efeitos de sentido criados e a sua fora de influncia sobre o ouvinte ocupam o primeiro plano, a retrica fundada por Aristteles chama a ateno para a lgica interna do processo discursivo e oferece mtodos (techn) prprios arte de bem falar (apte e ornate), a uma actio eficiente sobre o auditrio.

    Embora, j h algum tempo, muito se fale sobre o declnio e desprestgio da retrica, fato que, de uma maneira ou outra, muitos dos ensinamentos deixados por ela ainda vigoram e, em geral, todas as teorias voltadas anlise das produes discursivas retomam, ao longo dos sculos, algum aponta-mento, alguma noo operatria j assinalada pelos tratados retricos precedentes.

    No caso especfico da vizinhana entre a retrica e a se-mitica da Escola de Paris, por exemplo, uma questo, central para ambas as disciplinas, chama a ateno para o grande ponto de convergncia entre as duas perspectivas tericas principalmente no que diz respeito aos desenvolvimentos contemporneos da semitica francesa, cada vez mais volta-dos problemtica da enunciao, da prxis enunciativa e da semiose em ato: o interesse pelos processos de produo do sentido, intimamente relacionados interao entre o orador e o auditrio (o enunciador e o enunciatrio) e estudados a partir do discurso, objeto fulcral de preocupao terica para ambas.

    Tanto para a retrica quanto para a semitica cada uma a seu modo, bem verdade importa, pois, compreender as escolhas, os procedimentos discursivo-textuais subjacentes aos efeitos de sentido provocados, o que pe em destaque no s a figura daquele que produz o discurso (o orador-enunciador), mas tambm a daquele a quem este ltimo dirigido (o audi-trio-enunciatrio). Como esclarece Aristteles: com efeito, o discurso comporta trs elementos: o orador, o assunto de que fala e o ouvinte; e o fim do discurso refere-se a este ltimo, isto , o ouvinte (2005, p. 104).

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    Dentre esses trs elementos, apenas dois foram real-mente internalizados e explorados mesmo com interesses um pouco diferente pela semitica do discurso: (i) aquele que diz respeito ao orador, o thos, ou seja, a imagem do enunciador instituda a partir do enunciado produzido por ele; e (ii) o que se refere ao discurso em si, ao logos, aos proce-dimentos discursivos adotados pelo enunciador no momento da produo do seu enunciado. Mesmo tendo reconhecido a participao do auditrio, a que chama enunciatrio, na produo da significao dos discursos, dada a sua influncia direta sobre as escolhas e estratgias operadas, um estudo mais sistemtico sobre a sua atuao sobretudo no que o determina como pathos, ou melhor, como disposio a ser gerenciada, manipulada afetivamente resta a fazer no do-mnio da semitica de linha francesa; e exatamente a que, presumindo a viabilidade de um produtivo dilogo entre os desenvolvimentos atuais da teoria e aqueles fornecidos pela retrica aristotlica, pretendemos, a partir de algumas ideias iniciais, poder propor algum avano.

    Nos estudos retricos, nos quais a problemtica da per-suaso central, o auditrio ocupa papel de destaque, at por-que a ele que o discurso deve persuadir. Conforme assinala Mathieu-Castellani (2000, p. 191) ao relembrar os ensinamentos da retrica: o auditrio , portanto, o critrio decisivo, pois a ele que se reporta o fim, o foco (tlos) da oratio. Para alm de um receptor apenas, o auditrio concebido pela retrica em posio de juiz, como aquele que sanciona o enunciado a ele aderindo ou se contrapondo. Da a necessidade de poder influir em sua disposio, de poder lev-lo ao melhor nimo, a um estado conveniente de receptividade. Como explica ainda a autora (Idem, p. 482):

    A palavra grega [pathos], para a qual o latim criaria vrios equivalentes, entre os quais sobressaem os termos perturba-tio, adfectus, ou motus animi, designa o estado de alma, sua disposio, em especial quando ela despertada por alguma causa exterior; a qualidade de uma substncia ou sua pro-priedade; mas tambm um acontecimento que se produz, uma mudana, uma alterao. [] o pathos considerado como uma qualidade altervel []; e, por fim, aquilo que experimentamos, que sofremos, e que produz no sujeito uma modificao.

    1 Sa lvo meno em cont r r io, toda s a s tradues feitas neste artigo so de nossa res-ponsabilidade e estaro acompanhadas, nas no-tas, pelo trecho origi-nal. Trecho original: Lauditeur est ainsi le critre dcisif, car cest lui que se rapporte la fin, la vise (tlos) de loratio.2 Trecho original: Le mot grec [pathos], dont le latin donnera plu-sieurs quivalents, et notamment perturbatio, adfectus, ou motus animi, dsigne ltat de lme, sa disposition, en par-ticulier lorsquelle est agite par quelque cause extrieure; la qualit dune substance ou sa proprit; mais aussi un vnement qui se pro-duit, un changement, une altration. [] le pathos est dfini comme une qualit altrable []; et enfin ce quon prouve, ce quon subit, et qui produit dans le sujet une modification.

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    a que as paixes, como modos de sensibilizao, mos-tram a sua eficincia persuasiva, o seu papel na produo do julgamento que determina a forma de adeso ao discurso; afinal, conforme salienta Aristteles, persuade-se pela dispo-sio dos ouvintes, quando estes so levados a sentir emoo por meio do discurso, pois os juzos que emitimos variam, conforme sentimos tristeza ou alegria, amor ou dio (2005, p. 97), uma vez que, insiste ele, os factos no se apresentam sob o mesmo prisma a quem ama e a quem odeia, nem so iguais para o homem que est indignado ou para o calmo, mas, ou so completamente diferentes ou diferem segundo critrios de grandeza (2005, p. 159-160); ele acrescenta ainda, as emoes so as causas que fazem alterar os seres humanos e introduzem mudanas em seus juzos [...] (2005, p. 160).

    Todavia, embora tenha chamado a ateno para o carter persuasivo das paixes, apresentando um estudo detalhado das particularidades de algumas delas, os apontamentos feitos por Aristteles, mesmo sublinhados pela advertncia de que as provas de persuaso, nas quais os afetos esto inseridos, devem ser todas fornecidas pelo discurso, so de carter ps-quico e social, relacionados, como era caracterstico ao ponto de vista filosfico da poca, a consideraes e reflexes de ordem tica e moral, quase nada dizendo sobre as especificidades da configurao propriamente discursiva em cada caso.

    A semitica, por sua vez, ateve-se, em seus primrdios, aos limites do discurso enunciado, com a enunciao relegada ao estatuto de pressuposto lgico, e, assim, no dedicou gran-de ateno noo de persuaso, que s foi abordada pelos semioticistas a propsito do estudo da fase da manipulao do esquema narrativo cannico, e de qualquer maneira com caractersticas distintas daquelas do panorama retrico, isto , como um fazer-fazer, um fazer-crer, e no necessariamente um fazer-sentir. Mesmo quando voltou a sua ateno anlise das paixes, da dimenso passional dos discursos, a teoria semiti-ca continuou a privilegiar o exame do enunciado manifestado, dos afetos j discursivizados, o que talvez explique o fato de, com a expanso dos estudos sobre a enunciao, a figura do enunciador ter sido claramente beneficiada em detrimento a do enunciatrio. H, entre os semioticistas greimasianos,

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    quem fale da enunciao passional na perspectiva daquele que produz o discurso3, mas, at onde sabemos, muito pouco se tratou daquele a quem ele se dirige4.

    Assim, ao considerar que tanto para a retrica quanto para a semitica o thos e o pathos interessam analiticamente como simulacros, imagens suscitadas no e pelo enunciado que elas delimitam, achamos possvel, com base nos desenvolvi-mentos atuais da semitica do discurso, nos quais a proble-mtica da enunciao e da tensividade tem ganhado cada vez mais importncia, retomar o dilogo entre retrica e semitica para trazer cena o estudo semitico do pathos do discurso, do enunciatrio, que no s toma conhecimento do contedo dos textos, mas se envolve e reage passionalmente a ele, estabele-cendo no apenas uma assimilao cognitiva, mas tambm uma interao afetiva. Importa avanar a nfase dada at o momento afetividade do sujeito do enunciado, ou ao discurso apaixonado do sujeito enunciante, e lanar luz tanto ao papel ocupado pelo enunciatrio na produo da significao dos textos aos quais ele exposto, quanto s condies discursi-vas de emergncia do modo de interao afetiva configurado a partir do contato com o enunciado.

    Em suma, a ideia estabelecer um caminho de anlise passvel de ajudar na compreenso da maneira pela qual, as-sim como no ponto de vista da retrica, ligam-se as instncias do enunciador, do enunciado e do enunciatrio (thos, logos e pathos, respectivamente) na produo dos efeitos passionais, no gerenciamento do envolvimento patmico deste ltimo; como, a partir das estratgias de produo dos textos, pode-se influir na configurao do julgamento, da sano intersubjetiva que determina o modo de adeso ao contedo enunciado, o modo de assuno enunciativa por parte do enunciatrio. Como destaca Bertrand (2007, p. 755):

    Aparentemente reservada retrica restrita da elocutio, que dela se apoderou, associando intimamente a estesia pro-duo dos efeitos estticos nas figuras do discurso, a questo da sensibilizao emocional encontra-se, na verdade, desde Aristteles, no cerne da retrica geral. Objeto precpuo do Livro II do clebre tratado, ela ali concebida como prin-cpio operatrio da eficcia de um discurso que, buscando influenciar, tende ao mesmo tempo a modificar os estados de alma do auditrio.

    3 Sobre esse assunto, consultar os trabalhos de Denis BERTRAND (1986, 2003) e Anne H-NAULT (1986, 1994).4 H que mencionar, contudo, o artigo O pa-thos do enunciatrio, de Jos Luiz Fiorin, publica-do na revista Alfa, nme-ro 48, volume 2, 2004, e republicado em seu livro Em busca do sentido: estu-dos discursivos, 2012; e o artigo Ethos, pathos, et persuasion: le corps dans largumentation. Le cas du tmoignage, de Jacques Fontanille, publicado na revista Se-miotica, volume 163, 2007.5 Tr e c h o o r i g i n a l : Apparemment rser-ve la rhtorique res-treinte de lelocutio, qui se lest pour ainsi dire approprie associant troitement lesthsie la production des effets esthtiques dans les fi-gures du discours, la question de la sensibi-lisation motionnelle se trouve en ralit au coeur de la rhtorique gnrale depuis Aristo-te. Objet mme du Livre II du clbre trait, elle y est assume comme principe opratoire de lefficacit dune paro-le qui, cherchant in-fluencer, tend du mme coup modifier les tats dme de son auditoire.

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    Desse modo, ao estabelecer um dilogo com a perspec-tiva retrica, a competncia discursiva qual est atrelada, no nvel do enunciado, a manipulao passional, a atividade persuasiva, ser pensada no apenas como um fazer-fazer, mas, antes de mais nada, agora no nvel da enunciao, como um saber-fazer-sentir que regula o fazer-crer, com o sensvel arti-culado ao inteligvel no momento de configurao da sano epistmica. Isso interessa porque pode possibilitar, para a semitica do discurso, um estudo terico-metodolgico tanto a propsito da dimenso persuasiva dos discursos, quanto da experincia esttica.

    A articulao do sensvel com o inteligvel no momento da sano: quando o fazer-crer tambm um fazer-sentir

    Embora a semitica do discurso por ter optado inicial-mente pelo exame do discurso enunciado no tenha dedicado grande ateno questo da persuaso, ela sempre admitiu a sua presena. Via-a, no entanto, na perspectiva da narrati-vidade, como um fazer cognitivo simplesmente, um fazer-crer sem qualquer relao com o patmico, com as paixes que se devem instilar no nimo do sujeito para melhor controlar a configurao do seu julgamento, da sua sano. bem verda-de que, na poca de tais formulaes, com o interesse dirigido quase que exclusivamente ao nvel narrativo dos discursos, o passional, ou, mais do que isso, a articulao do sensvel com o inteligvel, no era ainda alvo do interesse dos semioticistas.

    A sano ficou definida, ento, no quadro geral da teoria, como uma figura discursiva correlata manipulao, a qual, uma vez inscrita no esquema narrativo, se localiza nas duas dimenses, na pragmtica e na cognitiva (GREIMAS; COUR-TS, 2008, p. 426). Concebendo-a como juzo epistmico, seja no nvel do enunciado, seja no da enunciao, os autores do Dicionrio de semitica, no verbete Epistmicas (Modalidades ~), explicam (Idem, p. 172-173, grifo nosso):

    As modalidades epistmicas dizem respeito competncia do enunciatrio (ou, no caso do discurso narrativo, do Destinador final) que, em seguida ao seu fazer interpretativo, toma a cargo, assume (ou sanciona) as posies cognitivas formuladas pelo enunciador (ou submetidas pelo Sujeito). Na medida em que no interior do contrato enunciativo (implcito ou explcito) o

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    enunciador exerce um fazer persuasivo (isto , fazer-crer), o enunciatrio, por sua vez, finaliza o seu fazer interpretativo por um juzo epistmico (isto , por um crer) que ele emite sobre os enunciados de estado que lhe so submetidos. [] a categoria epistmica comporta apenas oposies graduais e relativas que permitem a manifestao de um grande nmero de po-sies intermedirias. Esse estatuto particular das modalida-des epistmicas abre simplesmente uma nova problemtica, a da competncia epistmica: o juzo epistmico no depende somente do valor do fazer interpretativo que se supe o preceda (isto , do saber que incide sobre as modalizaes veridictrias do enunciado), mas tambm numa medida a ser ainda determinada do querer-crer e do poder-crer do sujeito epistmico.

    Mesmo sabendo que a noo de competncia epistmica

    concebida a em funo do percurso narrativo do sujeito, se pensada no nvel da enunciao, do discurso em ato, ela pode remeter tambm atuao do enunciador no gerenciamento do modo de assuno enunciativa do enunciatrio, da sua resposta tmica, afetiva, ao que lhe exposto, s posies cognitivas formuladas (Idem, p. 173); ela passa a dizer respeito, portanto, ao modo como o contedo do discurso apresentado.

    Conforme explica Fontanille (2002, p. 786), a assuno enunciativa uma propriedade do discurso, que diz respei-to ao envolvimento do sujeito da enunciao [enunciador e enunciatrio] em seu enunciado, e aos valores que este ltimo comunica. As modulaes interpostas maneira de dizer do enunciador, de apresentar ao enunciatrio o contedo, mostram a a sua eficcia persuasiva, aliando ao fazer-crer um fazer-sentir que o precede e determina. Para Mathieu-Castellani (2000, p. 977), trata-se, precisamente, para o orador, de impor s coisas uma imagem, uma representao que as far ser avaliadas da maneira como ele deseja. Ela explica (Idem, ibid8):

    O prazer [e o desprazer] que pode suscitar o discurso no tem nada de gratuito; ele a resultante do exerccio de manipu-lao: na perspectiva pragmtica da retrica latina, o orador deve se perguntar como provocar as paixes, ciente de que o homem obedece a seus impulsos irracionais e a seus sentidos mais do que razo, e que o exerccio do judicium, o judicare, est estritamente relacionado emoo e ao desejo que ele capaz de suscitar no auditrio. Ora, como sustenta Ccero [] a origem da paixo a opinio, a espera, a representao, poderamos dizer, que se forma na mente, a qual Aristteles denominava phantasia []

    6 Trecho original: La asuncin enunciativa es una propiedad del discurso que atae al compromiso del sujeto de la enunciacin con su enunciado y a los valores que este ltimo comunica; [...]7 Tr e c h o o r i g i n a l : Pour lorateur, il sagira prcisment de modifier les opinions, dimposer des choses une image, une reprsentation qui les fera apprcier de la faon quil souhaite.8 Trecho original: Le plaisir que peut donner la parole na rien de gratuit; il est le ncessaire prliminaire lexercice dinf luence: dans la perspective pragmatique d e l a r h t o r i q u e l a t i n e , l o r a t e u r d o i t s e d e m a n d e r c o m m e nt m o u vo i r les passions, sachant b i e n q u e l h o m m e obit ses impulsions irrationnelles et ses sens plus qu la raison, et que lexercice du judicium, le judicare, est sous ltroite dpendance de lmotion et du dsir quil saura susciter dans lauditoire. [] lorigine de la passion est lopinio, lattente, on pourrait dire la reprsentation qui se forme dans lesprit, ce quAristote nommait la phantasia [...]

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    Embora a perspectiva da autora citada, assentada na clssica oposio entre o sensvel e o inteligvel, as paixes e a razo, seja diferente da nossa, sua colocao interessa por chamar a ateno para a fora do discurso na sensibilizao da sano do auditrio, para o poder do discurso logo, do enunciador-orador na determinao da recategorizao axiolgica dos valores postos em cena, colocando as paixes despertadas como resultado da interao tmico-frica estabe-lecida com o contedo do discurso, como resposta aos efeitos de sentido produzidos, predicao tensiva da categoria se-mntica de base.

    Mantendo essa linha que privilegia a recepo, ou me-lhor, a interpretao judicativa atrelada produo do discur-so, podemos dizer que o incio do processo de sensibilizao emocional operado pelo enunciador-orador est, nesse sentido, intimamente relacionado escolha da direo argumentativa, isto , tomada de posio perante a oposio elementar que edifica o texto. Ao imprimir, a partir desse posicionamento axiolgico, uma orientao discursiva ao enunciado, e a sua recepo, o enunciador estaria apto a incutir, no processo de discursivizao e textualizao, uma espcie de carga de sen-tido suplementar, uma tenso que transforma o discurso em um campo de existncia modulado, no qual o modo de apreenso do que dito e, sobretudo, dos valores que o sustentam , de assuno enunciativa por parte do enunciatrio-auditrio, fica condicionado dinmica tensiva instaurada, s modulaes procedentes da maneira de dizer, de apresentar a categoria de base. Como confirmam as palavras de Aristteles (2005, p. 106):

    [] como todos os oradores, quando elogiam ou censuram, exortam ou dissuadem, acusam ou defendem, no s se es-foram por provar o que disseram, mas tambm que o bem ou o mal, o belo ou o feio, o justo ou o injusto so grandes ou pequenos, quer falem das coisas em si, quer as comparem entre si, evidente que seria tambm necessrio ter pemissas sobre o grande e o pequeno, o mais e o menos, tanto em geral como em particular; como, por exemplo, qual o maior ou o menor bem, a maior ou menor aco justa ou injusta; e o mesmo em relao s demais coisas.

    Os valores semnticos colocados em situao pela ati-vidade de produo convertem-se, no momento da recepo,

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    do contato com o texto, em valores tmicos, axiologizados. , pois, o tratamento tensivo dado categoria semntica de base no instante da colocao em discurso que responde por essa modificao (relacionada ao pathos). Essa seria a maneira de, na perspectiva mais geral da prxis enunciativa, agir sobre a configurao da competncia epistmica do enunciatrio, com o sensvel, o patmico, influindo diretamente sobre o inteligvel, a sano.

    Ao gerenciar o grau de presena de cada um dos termos que compem a oposio elementar do discurso no proces-so sintagmtico, o enunciador regula o modo de convocao tmico-frica do enunciatrio, o seu modo de assuno enunciativa: mais sensvel ou mais inteligvel, conforme melhor lhe conve-nha. Segundo ressalta Mathieu-Castellani (2000, p. 549), a partir dos ensinamentos de Ccero, em De Oratore, o juiz, dominus rei, senhor da situao [...], deve, por sua vez, ser dominado pelo orador, ad causam oratione moderandus, isto , levado da benevolncia ao dio, do dio benevolncia, governado por suas paixes ao sabor do discurso que as excita.

    Insere-se a, ento, a problemtica dos modos de existncia, do controle dos graus de presena das grandezas discursivas em oposio, com o figural atuando sobre o figurativo na pro-duo dos efeitos de sentido passionais. Se este ltimo, o figura-tivo, concretiza as evidncias, os argumentos e a partir deles a argumentao em si , conduzindo o enunciatrio-auditrio a crer na posio axiolgica assumida pelo enunciador-orador, o primeiro, o figural, caracteriza o modo de acesso a essas provas argumentativas e leva-o, antes de tudo, a sentir.

    O julgamento epistmico, prprio configurao do valor do valor subjacente paixo desencadeada, procede, ento, no s de um esforo cognitivo de interpretao, mas de uma sensibilizao emocional prvia (tnica ou tona) operada ao longo do processo de apreenso do contedo pela manipu-lao dos valores em discurso, da tenso que os faz interagir. Para Bertrand (2007, p. 8010), pelas variaes dos graus [de presena], cria-se um sentido lbil que ora se dissimula, ora se manifesta, ora se sugere, ora se exalta.[...] A carga tmica encontra a o seu lugar final de exerccio, como um aconteci-mento de reconhecimento.

    9 Trecho original: [...] le juge dominus rei, matre de la situation [], doit tre son tour domin par lorateur, ad causam orat ione moderandus, cest--dire inclin de la bienveil lance la haine, de la haine la bienveillance, gouvern par ses passions au gr de la parole qui les excite.10 Tr e c h o o r i g i n a l : Par les variations de ces deg rs, un sens labi le se dploie en se dissimulant ou en s e m a n i fe s t a nt , e n se suggra nt ou en sexaltant. [...] La charge thymique trouve ici son l ieu dexercice f inal, comme un vnement de reconnaissance.

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    Os efeitos de sentido sensveis produzidos no e pelo dis-curso provm, dessa forma, no exatamente da figuratividade, mas da tenso que sobredetermina a categoria semntica de base subjacente ao enunciado domnio no qual atua o figu-ral , prescrevendo ao mesmo tempo o modo de insero, e de assimilao dos valores investidos no componente figurativo. Conforme bem lembram Bordron e Fontanille (2000, p. 10-1111):

    Introduzir em uma categoria, ou em um campo discursivo, uma tenso semntica, ou at mesmo direes argumen-tativas opostas, suscitar a [...] o surgimento de valores; instituir no seio dessa categoria ou desse campo discursivo orientaes concorrentes, diferenas, em suma, um esboo de sistema de valores. Isso significa que a dimenso retrica do discurso seria parte integrante da formao dos sistemas de valores, na perspectiva do discurso em ato; [...]

    A axiologizao da oposio elementar que sustenta o discurso, ao definir a interao entre as duas grandezas semnticas como uma relao orientada, dirigida por uma intencionalidade, mostra-se, assim, como elemento-chave da dimenso retrica do discurso, passvel, por isso mesmo, de ser concebida como uma dimenso polmica, uma dimenso tensiva. Assim, para que se possa tirar proveito do potencial persuasivo dessa categoria, a confrontao dos dois univer-sos semnticos de base vida vs. morte, por exemplo , bem como sua manifestao discursiva, devem ser reguladas pelo enunciador-orador, que, consequentemente, passa a ter maior domnio sobre os efeitos de sentido sensveis e afetivos a partir da produzidos.

    A dimenso retrica do discurso foi, de fato, definida pelos semioticistas franceses, a ttulo de hiptese, no momento em que se dedicaram ao possvel dilogo entre semitica e re-trica12, como espao de coexistncia de duas grandezas semn-ticas postas em conflito, em competio. Embora essa acepo tenha sido estabelecida em funo das figuras retricas, os tropos, ela pode, por englobar a dimenso tmico-frica dos enunciados, abranger tambm, sem nenhum inconveniente, conforme tentamos demonstrar at aqui, a atividade argumen-tativa na qual se insere a problemtica das paixes, ou melhor, da sensibilizao exercida pelo enunciador-orador, por meio do discurso produzido, sobre o enunciatrio-auditrio; tal qual

    11 Tr e c h o o r i g i n a l : I n t r o d u i r e d a n s une catgorie ou un champ discursif une tension smant ique, voire des direct ions a r g u m e n t a t i v e s opposes, cest y susciter [. . .] l appa r it ion de valeurs; cest disposer au sein de cette catgorie ou de ce champ discursif d e s o r i e n t a t i o n s c o n c u r r e n t e s , d e s d i f f r e n c e s , d o n c lbauche dun systme de valeurs. Cela signifie q u e l a d i m e n s i o n rhtorique du discours p a r t i c ip e ra i t de l a formation des systmes de va leurs, da ns la perspective du discours en acte; [...]12 Em 1998, o Sminaire Intersmiotique de Paris dedicou-se ao confron-to entre a perspectiva retrica e a semitica, buscando depreender o possvel dilogo entre as duas disciplinas. Dois anos mais tarde, surgia o nmero 137 da revista Langages, dirigido por Jean-Franois Bordron e Jacques Fontanille, intitulado Smiotique du discours et tensions rhtoriques.

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    confirmam Bordron e Fontanille (2000, p. 713) ao esclarecer que a dimenso retrica reagruparia, na perspectiva do discurso em ato, o conjunto de procedimentos capazes de gerenciar a coexistncia problemtica entre duas grandezas em competio.

    Desse modo, cientes de que prprio retrica organizar, determinar e fixar operaes da prxis enunciativa eficientes atividade persuasiva, aproveitaremos a discusso terico--metodolgica apresentada por Bordron e Fontanille no texto j citado, bem como em outras publicaes de Fontanille (1999; 2002) sobre o mesmo assunto, para semiotizar, desta vez, no a retrica dos tropos, como sugerem os autores citados, mas a das paixes, buscando demonstrar a quais operaes sintxico--discursivas o enunciador-orador pode recorrer para sensibili-zar, da maneira como deseja, o seu enunciatrio-auditrio. A inteno a de interpretar o esquema retrico cannico proposto por Fontanille (2002) na perspectiva do passional, da sensibili-zao emocional que patemiza o discurso e, por conseguinte, tambm a sua apreenso, submetendo a interpretao judica-tiva ao sentir, experincia sensvel a ela imposta.

    O gerenciamento do pathos do enunciatrio no discurso do enunciador-orador: o esquema retrico cannico

    Considerando tanto a produo do enunciado quanto a sua interpretao como atos de semiose, a partir dos quais se constitui a significao, o percurso de sensibilizao do enuciatrio-auditrio pode ser formalizado aspectualmente14, em trs momentos: (i) o incoativo, que diria respeito s condies de emergncia da interao afetiva, ao instante em que se inicia o contato com o discurso; (ii) o durativo, prprio ao processo de configurao da afetividade, de sensibilizao da assimi-lao do contedo; e (iii) o terminativo, quando o enunciatrio--auditrio, tendo apreendido a totalidade discursivo-textual, da qual se concatena a sua competncia epistmica, sanciona o enunciado a ele aderindo ou se contrapondo15.

    A atuao da atividade persuasiva se incutiria, pois, nas duas primeiras fases desse percurso de interao, a incoativa e a durativa, responsveis pela determinao do modo de in-sero, e, consequentemente, de apreenso, dos valores. Como atesta Mathieu-Castellani (2000, p. 416), a recepo emotiva

    13 Trecho original: [...] la dimension rhtorique regrouperait, dans la perspective du discours en acte, lensemble des procdures permettant de grer la co-habitation problmatique entre deux grandeurs en comptition.14 Adaptao da pro-posta formulada por Fontanille em seu livro Smiotique et littrature (1999), a propsito do discurso em ato (p. 8).15 Sobre a aspectualiza-o da atividade enun-ciativa na perspectiva do enunciador, pensada como fundamentao do estilo, consultar o livro Corpo e estilo, de Norma Discini (2015).16 Trecho original: [...] la rception motive du message est aussi condi-tionne par les modalits de sa transmission; [...]

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    da mensagem est condicionada pelas modalidades de sua transmisso. Enquanto a primeira etapa concerne maneira de articular a categoria semntica de base, tirando da tenso a ela imanente o maior proveito, a segunda concerne regulao do dilogo entre a convocao sensvel e inteligvel ao longo do desenvolvimento do discurso.

    De acordo com Bordron e Fontanille (2000, p. 1417):De fato, a dimenso retrica de nossas prticas semiticas est, de alguma forma, [] relacionada a tudo aquilo que constitui o cerne da semiose: a tomada de posio (constitutiva do campo do discurso para a semitica estrutural ou ps-es-trutural, constitutiva do ground para a semitica peirciana); a formao de sistemas de valores (constitutiva de diferenas significantes); a distino entre os modos de existncia (cons-titutiva de uma espcie de profundidade do discurso); etc.

    Sem desconsiderar o modelo de anlise proposto pela retrica antiga, que concebia a composio discursiva em cinco partes: inventio, dispositio, elocutio, memoria e actio / pronuntiatio, mas o integrando a uma concepo mais geral da produo dos discursos, as estratgias enunciativas, enquanto operaes retricas de manipulao dos valores, prprias ao esquema predicativo operado pelo enunciador-orador, encarregado do gerenciamento do pathos do enunciatrio-auditrio, podem, para facilitar o seu exame, ser firmadas com base nas etapas do esquema retrico cannico sugerido por Fontanille em Retrica y manipulacin de los valores artigo publicado em 2002, na revista Tpicos del Seminario, nmero 8. Nesse texto, o semio-ticista viabiliza uma forma de anlise semitica das figuras retricas, os tropos, buscando compreender como as operaes retricas produzem os efeitos axiolgicos que afetam as categorias discursivas (p. 7518).

    A dimenso retrica do discurso constituda, segundo o autor, por um pequeno nmero de categorias discursivas: a intensidade, a quantidade, o conflito e a assuno, considera-das como categorias da prxis enunciativa ela mesma (FON-TANILLE, 2002, p. 7619); e so exatamente elas que viabilizam a homologao entre as duas perspectivas de abordagem da atividade persuasiva a do processo de sensibilizao emocio-nal, de gerenciamento do pathos do enunciatrio-auditrio, e a das figuras retricas , uma vez que, atualizadas no discurso,

    17 Trecho original: En e f fe t , la d i men sion r h t o r i q u e d e n o s pratiques smiotiques a quelque chose voir, [] avec tout ce qui constitue le cur de la semiosis: l a pr i s e d e po s it i o n (constitutive du champ du discours pour la smiotique structurale ou post-st ructurale, constitutive du ground pou r la sm iot ique peircienne); la formation des systmes de valeur ( c o n s t i t u t i v e d e s diffrences signifiantes); la d ist inct ion ent re les modes d existence (con st i t ut ive du ne sorte de profondeur du discours); etc.18 Tr e c h o o r i g i n a l : [...] comprender cmo las operaciones retricas p r o d u c e n e f e c t o s axiolgicos que afectan las categoras discursivas.19 Trecho original: [...] consideradas como las categoras de la propria praxis enunciativa.

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    essas categorias respondem, de maneira geral, pelas condies de produo-recepo do texto, pela atividade discursiva e persuasiva, como um todo, na qual enunciador, enunciado e enunciatrio (thos, logos e pathos) se inter-relacionam. Ainda nas palavras de Fontanille (2002, p. 8420):

    A solidariedade observada entre as categorias da prxis enunciativa [] convida a associ-las a um princpio comum, de cunho sintxico, que seria a forma de toda operao na dimenso retrica do discurso: essa forma se apresenta como uma sequncia cannica, a qual assume, de certo modo, a intencionalidade operativa das transformaes retricas.

    O esquema retrico cannico proposto pelo semioticista

    citado opera sob duas perspectivas, as quais ele nomeia: ponto de vista pragmtico (aquele da gerao sintxica da figura); e ponto de vista cognitivo (aquele de sua interpretao). Para cada uma, ele atribui as seguintes fases:

    P.d.v. pragmtico (gerao) P.d.v. cognitivo (interpretao)

    Confrontao Problematizao

    Dominao-meDiao Controle-assuno

    resoluo moDo interPretativo

    Tabela 1: Tabela das fases dos dois pontos de vista que sustentam o esquema retrico cannico

    (conforme apresentada no referido artigo FONTANILLE, 2002, p. 85-86).

    Com a mesma denominao das fases, mas adaptando um pouco a sua concepo inicial, idealizada em funo das figuras retricas, propomos, ao pensar na formalizao sint-xica do processo de sensibilizao emocional mais geral, isto , relacionado ao exerccio argumentativo em seu conjunto, falar em ponto de vista da produo (a encargo do enunciador) e ponto de vista da recepo (da parte do enunciatrio) produo e re-cepo intrinsecamente relacionadas, com o desenvolvimento da primeira diretamente atrelado ao percurso interpretativo prprio segunda. Ademais, para manter a representao clssica dos esquemas cannicos, concebidos como etapas que sucedem uma a outra a partir de uma relao de pressuposio lgica, optaremos pela seguinte forma de esquematizao:

    20 Tr e c h o o r i g i n a l : La sol idaridad que hemos observado entre las categor as de la prxis enunciativa [] invita a llevarlas a un fondo comm, de tipo sintctico, y que sera la forma de toda operacin em la dimensin retrica del discurso: esta forma toma la apariencia de una secuencia cannica, q u e , d e a l g u m a ma nera, se enca rga de la intencionalidad o p e r a t i v a d e l a s t r a n s f o r m a c i o n e s retricas.

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    Esquema retrico cannico

    Ponto de vista da produo

    Confrontao Dominao-meDiao resoluo

    Ponto de vista da recepo

    Problematizao Controle-Assuno Modo Interpretativo

    Esquema 1: Esquemas das fases dos dois pontos de vista possveis para o esquema retrico cannico (elaborao nossa a partir da tabela proposta no referido artigo

    FONTANILLE, 2002).

    Nesse esprito, a fase da confrontao / problematizao ser por ns entendida como aquela da tomada de posio perante a oposio elementar subjacente configurao discursiva, com um dos polos determinado como eufrico e outro como disfrico. Se o enunciador-orador demarca essa valorizao axiolgica na produo de seu enunciado, confrontando duas linhas argumentativas a partir das quais uma ser a defendida, o enunciatrio-auditrio, de sua parte, identifica o conflito, a problematizao entre elas, na expectativa do desenvolvimento argumentativo.

    a que atua a fase da dominao-mediao / controle-assun-o etapa retrica por excelncia , com o enunciador-orador regulando os graus de presena dos dois universos semnticos e, por conseguinte, a tenso estabelecida entre eles, a sua fora de impacto e de convocao da interao sensvel-inteligvel do enunciatrio-auditrio com o contedo que se desenvolve. Trata-se da fase de controle da interpretao, da sano, do modo de assuno enunciativa (forte ou fraca, direta ou indireta) da instncia de recepo do discurso.

    Com o domnio da tenso que patemiza o enunciado, o enunciador-orador pode enfatizar como quer o posiciona-mento assumido por ele, tanto em um estilo ascendente, que tonifica o conflito semntico, dando maior fora de impacto, de convocao sensvel, linha argumentativa defendida, quanto

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    em um estilo descendente, que o atoniza, com maior apelo assimilao inteligvel do enunciatrio-auditrio conforme as proposies de Zilberberg (2011) ao falar dos estilos tensivos.

    Na primeira possibilidade de predicao tensiva, o enunciador-orador adota uma estratgia argumentativa de intensificao da sensibilizao emocional da sano, com o sensvel dominando o inteligvel; na segunda, de enfraque-cimento, chamando razo o seu enunciatrio-auditrio, isto , diminuindo a influncia do sensvel sobre o inteligvel. Segundo corroboram Bordron e Fontanille (2000, p. 1021), a carga tmica est intimamente relacionada com os potenciais semnticos de intensidade das figuras.

    Esse ponto de vista vai ao encontro da observao de Mathieu-Castellani (2000) ao se referir perspectiva retrica de anlise das paixes: o modelo de descrio que se impe o de um mecanismo em bom funcionamento, de uma mquina funcionando pelo princpio de ao e reao, capaz de provocar um movimento (ducere), e depois revert-lo ao estado anterior (deducere), de levar para c e para l o auditrio (p. 7222). Ela acrescenta ainda: o bom orador aquele que suscita em seu auditrio toda a gama de paixes contrrias, assegurando as-sim a eficcia de seu discurso e constatando seu poder sobre o ouvinte; trata-se de uma operao de domnio (p. 7723).

    A atividade discursiva, ou melhor, de intencionalidade persuasiva, exercida nessa fase de dominao-mediao / controle--assuno, , portanto, a responsvel pelo gerenciamento da ar-ticulao do sensvel com o inteligvel anterior interpretao judicativa final; ela que, ao dirigir, pelo sentir, a configurao da competncia epistmica do enunciatrio-auditrio, delineia o modo de assuno enunciativa, ao qual est condicionada a sano.

    Essa ao do enunciador sobre o contedo do discurso, em uma perspectiva mais produtiva, isto , operatria, pode ser, por sua vez, formalizada com base na relao predicativa que o componente figural (tensivo) estabelece com o compo-nente figurativo (temtico), determinando as caractersticas quali e quantitativas da composio isotpica procedente deste ltimo. Em outras palavras, na inteno de controlar o pathos do enunciatrio, intimamente atrelado apreenso (sensvel--inteligvel) do enunciado manifestado, dos efeitos de sentido

    21 Trecho original: [...] la charge thym ique est en relation troite ave c le s p ote nt ie l s smantiques dintensit des figures.22 Trecho original: Le modle de description qui simpose est celui dune mcanique bien rgle, dune machine fonct ion na nt sur le principe de laction et de la raction, capable d e p r o v o q u e r u n mouvement (ducere), puis de faire revenir u n tat a ntr ieu r (deducere), de mener et l lauditeur.23 Trecho original: [...] le bon orateur est celui qui fa it parcourir son auditoire toute la gamme des passions contraires, et sassure ainsi de lefficacit de sa parole, en constatant son pouvoir sur lauditeur; cest dune opration de matrise quil sagit.

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    produzidos, o enunciador-orador submete a dimenso figura-tiva, que concretiza, no nvel discursivo, a categoria semntica de base do nvel profundo, a um fluxo perceptvel modulado em termos de intensidade e extensidade, conforme acontece na interao entre os constituintes e os expoentes formulao emprestada de Hjelmslev (1985).

    Na perspectiva da semitica, como explica Fontanille (1999, p. 7524), os constituintes so as unidades discretas da predicao frstica ou narrativa; os expoentes, as modulaes contnuas da presena discursiva sob o controle de uma enun-ciao. Embora essa homologao terica tenha sido feita para pensar a interdependncia das modalidades com a tensividade na dimenso afetiva do discurso, ela vlida tambm para pens-la na relao do figural com o figurativo.

    O figural, sendo a dimenso de gerenciamento da per-cepo do enunciatrio durante o processo de configurao da significao, no qual a apreenso sensvel do contedo se articula formulao inteligvel subsequente, delineia, pela correlao da intensidade com a extensidade, o grau de presen-a, de tonicidade, das duas grandezas opositivas manifestadas pela figuratividade, sensibilizando as diferentes possibilidades de relao semntica (de semelhana ou de contraste dos con-tedos em jogo). Nesse sentido, dois regimes de confrontao segundo a intensidade do acento emocional podem distinguir--se: um intenso e outro distenso.

    O primeiro regime (intenso) resultado da concentrao da intensidade no desenvolvimento figurativo, atravs da inflexo de tonicidade acelerada em uma das grandezas opositivas, em uma das linhas argumentativas, ou no contraste entre elas. Nesse caso, a dimenso figurativa, no expandindo o campo discursivo no qual se d a tenso entre os valores opostos, funciona como inflexo de tonicidade de um deles, chamando a ateno para a ausncia do outro. Ao enfatizar a oposio entre universos semnticos contrastantes, a discrepncia entre eles, com o acento de sentido colocado seja sobre o valor disfrico, seja sobre o eufrico, que sensibiliza a interpretao do enunciatrio na sua relao com o contedo discursivo.

    O segundo regime (distenso) procede de uma estrat-gia contrria, que privilegia a distribuio da tenso entre os valores opostos ao longo do desenvolvimento figurativo. Os

    24 Trecho original: [...] les constituants sont les units discrtes de la prdication phrastique ou narrative; les expo-sants sont les modula-tions continues de la prsence discursive, sous le contrle dune nonciation.

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    valores surgem no campo discursivo, atravs da figuratividade, de forma desacelerada, atonizando a sua fora de impacto e permitindo, dessa forma, uma assimilao mais inteligvel do ponto de vista argumentativo defendido. Trata-se da estratgia discursiva segundo a qual os valores semnticos subjacentes figuratividade em questo emergem no discurso pouco a pou-co, em paralelo expanso figurativa que abre os horizontes do espao tensivo, distribuindo na extensidade a tenso. Da a interao afetiva do enunciatrio ser, nesse caso, de ordem mais inteligvel que propriamente sensvel.

    A dinmica figural permite, dessa forma, a regulao do grau de envolvimento afetivo do sujeito da recepo. Como explica Fontanille (2002, p. 10025):

    [...] essa conjugao sistemtica de um deslocamento da intensidade e de um remanejamento na extenso de uma dada figura [ou um argumento] condiciona, ao mesmo tem-po, a percepo da presena configuracional do segmento textual, e aquela do valor da figura [ou do argumento]: ela conduz, ento, pela mediao de um efeito de configurao, resoluo interpretativa.

    Assim, os procedimentos de dominao e controle a serem assumidos pelo enunciador-orador na produo de seu discurso assentam-se conforme prope Zilberberg (1998; 2012) , segundo o tratamento discursivo dado aos termos da categoria semntica de base, em: (i) uma sintaxe intensiva, que, ao operar por aumentos e diminuies, determina o acento de sentido, o grau de tonicidade perceptiva de cada uma das iso-topias correspondentes s grandezas em cena; (ii) uma sintaxe extensiva, prpria s triagens ou misturas figurativas e, por conseguinte, abertura ou ao fechamento do campo tensivo no qual atua a categoria semntica subjacente; (iii) uma sintaxe juntiva, que, subsumindo os dois outros tipos de predicao sintxica da tensividade, responde pelo que Fontanille chama em seu artigo (2002) modalidades da confrontao; ela regula a maneira como as grandezas oponentes se relacionam entre si no desenvolvimento discursivo: por concesso, aumentando a densidade de presena da tenso em um campo de atuao circunscrito, e produzindo, ao mesmo tempo, um efeito de sentido tnico, regido sobretudo pela convocao sensvel do enunciatrio-auditrio; ou por implicao, diminuindo a

    25 Trecho original: [] esta conjugacin siste-mtica de un desplaza-miento de intensidad y de un cambio en la extensin de una figura dada condiciona, a la vez, la percepcin de la presencia configu-racional del segmento textual, y la del valor de la figura: conduce, por lo tanto, a la resolucin interpretativa por la mediacin de un efecto de configuracin.

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    densidade de presena da tenso pela abertura do campo, e suscitando, assim, um efeito de sentido tono, com maior proeminncia do inteligvel. No que diz respeito ao modo de funcionamento dessas instncias predicativas no interior dos discursos, Zilberberg (1998, p. 20326) explica:

    Se cada uma dessas predicaes apresenta um interesse em si, so sobretudo as relaes que devem chamar a ateno. Se admitirmos que elas tm por direo a diferena, a presena e o impacto, respectivamente, a questo ser vislumbrar as relaes de dependncia entre essas categorias. Sublinhemos, de incio, que o discurso no encontra obstculos naquilo que chamaramos a pluralidade de suas vozes: passar de uma a outra por sucesso, ajust-las entre si por simultaneidade, eis precisamente o que ele faz.

    O agenciamento sintxico-predicativo, ou de configurao, nos termos de Fontanille (2002) regente das categorias dis-cursivas destacadas anteriormente intensidade, quantidade, conflito e assuno responde, pois, pelo processo de sensi-bilizao emocional, ou, mais especificamente, pela produo progressiva do valor do valor responsvel pela patemizao da interpretao epistmica subjacente sano final. atravs dele que, nesse percurso, o enunciador-orador submete o crer sancionador ao sentir competencializante. Nesse sentido, a fase de dominao-mediao / controle-assuno prpria ao modo como o discurso se apresenta ao enunciatrio-auditrio, convocando-o em sua sensibilidade e inteligibilidade age di-retamente na fase seguinte, da resoluo, do modo interpretativo.

    Essa ltima etapa do esquema cannico retrico, concebido como um modelo da prxis enunciativa, da dimenso retrica do discurso (FONTANILLE, 2002, p. 10727), corresponde, ento, em nossa interpretao, sano, ao modo de assuno enunciativa do enunciatrio-auditrio em relao ao contedo do discurso, linha argumentativa defendida. o momento em que se ma-nifesta, e se configura com maior exatido, o valor do valor em ambos os pontos de vista. Trata-se, portanto, da fase em que se conciliam ou se confrontam os posicionamentos assu-midos pelos sujeitos da enunciao (de um lado o enunciador e de outro o enunciatrio); a etapa em que se pode avaliar a eficcia do discurso, das estratgias discursivas adotadas na fase de dominao-mediao para o gerenciamento do pathos do enunciatrio-auditrio.

    26 Tr e c h o o r i g i n a l : Si ch ac u ne de ces prdications prsente un intrt par elle-mme, ce sont surtout leurs relations qui doivent retenir lattention. Si nous admettons quelles ont p ou r d i r e c t ion r e s p e c t i v e m e n t l a diffrence, la prsence e t l c l a t , i l s ag i t dentrevoir les relations de dpendance entre ces catgories. Il convient dabord de souligner que le discours, lui, nest pas embarrass par ce que nous a imerions appeler la pluralit de ses voix: passer de lune lautre par succession, les ajuster entre elles par simultanit est justement son affaire.27 Tr e c h o o r i g i n a l : [...] un modelo de la praxis enunciativa, de la dimensin retrica del discurso [].

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    Consideraes finais

    A dimenso retrica do discurso , nesse sentido, aquela na qual a inter-relao entre produo e recepo do discurso, entre thos, pathos e logos (enunciador, enunciatrio e enunciado) mais se evidencia, chamando a ateno para a fluidez das fron-teiras que separam uma e outra instncia e para o papel central do enunciatrio-auditrio na elaborao discursivo-textual. Alm disso, tambm nela que a articulao entre sensvel e inteligvel mostra a sua coerncia, o seu valor operatrio, o seu valor esttico-persuasivo. Isso importa porque, conforme bem ressalta Mathieu-Castellani (2000, p. 828), retomando Benve-niste, todo discurso espera persuadir, e a expresso discurso persuasivo na verdade um pleonasmo, uma vez que, como o diz E. Benveniste, todo discurso busca influenciar o outro de alguma maneira.

    De toda forma, no podemos perder de vista que, se essa nova interpretao do esquema retrico cannico, idealizada como modelo de anlise do processo de patemizao da recepo dos discursos, concebidos, por sua vez, como uma rede estruturada de diferenas a partir das quais emergem os valores, permite a depreenso e anlise da dinmica figural (lgica tensiva) subjacente produo dos efeitos de sentido passionais, ela precisa, todavia, para poder dar conta da peculiaridade dos estados de alma j categorizados culturalmente, combinar-se s determinaes figurativas, e mesmo icnicas, impostas pelo uso a cada uma das paixes. Afinal, como postulado por Aristteles na Retrica (2005, p. 160), convm distinguir em cada uma delas trs aspectos, no s (i) em que disposies (discursivas) somos incitados a essa ou aquela paixo, mas (ii) a quem as dirigimos, (iii) quais as causas que as provocam; e ele enfatiza (p. 161): se no se possui mais do que um ou dois desses aspectos, e no a sua totalidade, impossvel algum que inspire a ira [por exemplo]. E o mesmo acontece com as outras emoes.

    Por isso, longe de valorizar o ponto de vista semitico, em que se privilegiam as inter-relaes sintxico-semnticas subjacentes aos fenmenos passionais, em detrimento daquele da retrica, mais ligado s observaes de ordem tico-cultural dos afetos, nossa inteno, ao buscar compreender sintaxicamen-te a lgica interna das configuraes passionais, a de salientar

    28 Tr e c h o o r i g i n a l : [. . .] t out d i s c ou r s entend persuader, et la formule discours persuasi f nest r ien dautre que plonasme, puisque, comme le dit E. Benveniste [1966, Problmes de linguistique gnrale, p. 241-242], toute pa role v i se inf luencer lautre de quelque manire.

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    a produtividade do dilogo entre as duas disciplinas, o qual deve ser estabelecido em termos de complementaridade.

    Assim como o domnio da dinmica tensiva (figural) no basta, se no estiver atrelado ao conhecimento de suas determi-naes icnicas (figurativas), para poder incitar essa ou aquela paixo no enunciatrio-auditrio; da mesma maneira, apenas saber quais os tipos de argumentos que o levam disposio passional desejada tambm no o suficiente se no se puder recriar, discursivamente, a sua fora de impacto, o seu poder de sensibilizao, mais sensvel ou mais inteligvel, como me-lhor convier. Citando uma vez mais Mathieu-Castellani (2000, p. 7729), que corrobora essa observao: o orador deve saber que os melhores argumentos no tero eficcia alguma para determinar a ao que se deseja incitar (uma deciso), se ele no toca seu auditrio.

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    29 Tr e c h o o r i g i n a l : [...] lorateur est averti q u e l e s m e i l l e u r s a rg uments nauront aucune efficacit pour dterminer laction quil souhaite inspirer (une dcision) sil ne touche pas son auditoire.

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    AbstractThe pathemic dimension of discourse: a dialogue between Rhetoric and SemioticsThrough the issue of the pathemic manipulation, the proposal of this article is to establish a dialogue between the precepts of Rhetoric and the current developments of French Semiotics. The aim is to broaden the perspective of analysis of passions in both fields: in a movement of semiotization of the Rethoric of Passions, establishing the necessarily discoursive properties of the pathemic configurations of the discourse in act; as well as in adopting a rethorical view of the Semiotic of Passions, pointing out the rethorical dimension of the enunciated affections.

    Keywords: Emotions. Discourse. Enunciation. Semiotics. Rhetoric.