universidade estadual de campinas faculdade de enfermagem...

189
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio SUPERVISÃO DE ENFERMAGEM: CONSTRUINDO UM CAMINHO PARA A PRÁTICA SISTEMATIZADA CAMPINAS 2017

Upload: others

Post on 31-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENFERMAGEM

Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio

SUPERVISÃO DE ENFERMAGEM: CONSTRUINDO UM CAMINHO PARA A PRÁTICA SISTEMATIZADA

CAMPINAS

2017

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

MARIA SILVIA TEIXEIRA GIACOMASSO VERGILIO

SUPERVISÃO DE ENFERMAGEM:

CONSTRUINDO UM CAMINHO PARA A PRÁTICA SISTEMATIZADA

Tese apresentada à Faculdade de Enfermagem da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Doutora em Ciências da

Saúde.

Área de Concentração: Enfermagem e Trabalho.

ORIENTADORA: Profa. Dra. Eliete Maria Silva.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA

PELA ALUNA MARIA SILVIA TEIXEIRA GIACOMASSO VERGILIO,

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ELIETE MARIA SILVA.

CAMPINAS

2017

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento
Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE DOUTORADO

MARIA SILVIA TEIXEIRA GIACOMASSO VERGILIO

ORIENTADORA: PROFA. DRA. ELIETE MARIA SILVA

MEMBROS:

1. PROFA. DRA. MARIA MANUELA FREDERICO FERREIRA

2. PROFA. DRA. LUCIELI DIAS PEDRESCHI CHAVES

3. PROFA. DRA. ANDRÉA BERNARDES

4. PROFA. DRA. EDINÊIS DE BRITO GUIRARDELLO

5. PROFA. DRA. ELIETE MARIA SILVA (ORIENTADORA)

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da

Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: DATA DA DEFESA 25/10/2017

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho ao meu marido, companheiro, parceiro, amigo,

Sérgio Roberto, pelo incentivo e muita insistência para que eu começasse essa

caminhada e por estar ao lado, vivenciando e ouvindo minhas angústias e não ter

me deixado desistir, compartilhando e me dando confiança para

Sonhar mais um sonho impossível;

Lutar quando é fácil ceder;

Vencer o inimigo invencível;

Negar quando a regra é vender.

...

...

...

E assim, seja lá como for;

Vai ter fim a infinita aflição;

E o mundo vai ver uma flor;

Brotar do impossível chão.

(Sonho Impossível de Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra, 1972)

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

AGRADECIMENTOS

A minha eterna gratidão a todos que participaram da minha vida

profissional, compartilhando saberes, respeito, ética, amizade, fidelidade

companheirismo e sincera amizade.

Em especial, meu muito obrigada

À profa Dra Eliete Maria Silva (orientadora, parceira e amiga), que me acolheu na

caminhada do doutorado e compartilhou seus “tesouros da pasta preta”,

possibilitando-me aprofundar no universo, mais que complexo, da supervisão em

enfermagem.

Às professoras Maria Manuela Frederico Ferreira, Lucieli Dias Pedreschi Chaves

Andréa Bernardes, Edinêis de Brito Guirardello pela disponibilidade e contribuições.

Às pessoas que colocaram luz ao meu caminhar, M.Manoela F Ferreira, Vanessa

Pellegrino Toledo, Rosana Garcia e Dalvani Marques.

Às colegas da área e Administração em Enfermagem, Edineis B. Guirardello, Kátia

Stancato, Ariane P. Dini e Renata C. Gasparino por compartilhar as apaixonantes e

angustiantes vivências da prática da gestão em enfermagem.

Às colegas da área de Saúde Coletiva, à querida Marcia Nozawa, Eliete M.Silva,

Dalvani Marques, M Filomena Vilela (Mena), Sandra Santos, Ana Paula Garcia por

compartilhar conhecimentos e vivências nas unidades básicas de saúde, ampliando

meus horizontes sobre gestão no Sistema Único de Saúde.

A todos os alunos e pesquisadores do grupo de GEPEPES, aos colegas de

disciplinas da pós-graduação pelas discussões e preciosas reflexões que

contribuíram para a condução e finalização dessa pesquisa.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

Aos profissionais da biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas, em nome da

diretora Rosana E. Poderoso, pelo acolhimento, disponibilidade, profissionalismo e

paciência (no pronto atendimento às solicitações de artigos de última hora e

urgentes).

À diretoria de enfermagem do Departamento de Enfermagem do Hospital de Clínicas

da Universidade Estadual de Campinas, em nome da diretora Silvia Angélica Jorge,

às enfermeiras da educação continuada Angélica O Almeida e Daniela F Alves e, em

especial, a todos os supervisores de enfermagem pelo acolhimento e oportunidade

de grande aprendizado no caminhar para tornar a prática da supervisão mais

qualificada. Sem a participação de vocês, não seria possível a realização e a

finalização deste trabalho.

À Deus por sua preseça constante na minha vida.

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem.

Por isso existem momentos inesquecíveis,

coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

(Fernando Pessoa)

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

RESUMO

A organização da assistência hospitalar é complexa tarefa de superar dificuldades para atender integralmente às necessidades de saúde da população. Nesse contexto, o trabalho da supervisão em enfermagem tem potencial para planejar e organizar uma assistência acolhedora, qualificada e segura, devido à sua interlocução entre planejadores institucionais e executores do trabalho assistencial. Para tanto, se faz necessário que o seu processo de trabalho seja sistematizado e direcionado para o gerenciamento do cuidado. Esta pesquisa teve por objetivo sistematizar a prática da supervisão de enfermagem hospitalar para gerenciar o cuidado. Realizamos pesquisa de abordagem qualitativa, com método de pesquisa-ação, em quatro etapas desenvolvidas em conjunto com diretores e supervisores de enfermagem de hospital universitário e público. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas na primeira fase, a exploratória e observação participanrte na segunda fase, a de aprofundamento. O material empírico coletado foi interpretado por análise de conteúdo, segundo referencial do processo de trabalho marxista. Como estratégia da fase três, de ação, realizamos com todos os supervisores de enfermagem oficinas cuja tarefa foi construir propostas de mudanças no trabalho da supervisão, visando a um processo sistematizado, direcionado para o gerenciamento do cuidado. As avaliações e validações dos resultados, fase quatro, foram realizadas no decurso de toda pesquisa por meio de reuniões, instrumentos individuais e questionário online. Os resultados da primeira e segunda fases nos forneceram a compreensão de um processo de trabalho fragmentado entre o período diurno e noturno, com rotina de visitas nas enfermarias, controle da frequência da equipe de enfermagem, gestão de recursos materiais, resolução de demandas inesperadas e, com menor frequência, educação em serviço. A finalidade do trabalho está centrada em controlar, por instrumentos gerenciais rotineiros a organização das unidades e a frequência da equipe. Esses resultados serviram para o planejamento das oficinas, nas quais foi desenvolvida a consciência crítica dos supervisores sobre um fazer rotineiro cristalizado em ações instituídas. As oficinas favoreceram trocas de experiências, reflexões e pactuações para a construção coletiva de uma proposta de ação para superar dificuldades no processo de trabalho que desviam a supervisão do gerenciamento do cuidado. O conhecimento produzido nas fases da pesquisa-ação nos permitiu construir um “Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”, com estrutura planejada em três momentos: exploratório (explicativo e investigativo), de intervenção-ação, e de encaminhamentos e pactuações. Esse método poderá contribuir para qualificar a prática da supervisão em enfermagem por meio da educação permanente de supervisores de qualquer serviço de enfermagem do sistema de saúde.

Palavras-Chave: Supervisão de Enfermagem; Serviço Hospitalar de Enfermagem;

Administração Hospitalar; Organização e Administração.

Linha de Pesquisa: Gerenciamento dos Serviços de Saúde e de Enfermagem.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

ABSTRACT

The organization of hospital care is a complex task of overcoming difficulties to fully meet the health needs of the population. In this context, the work of nursing supervision has the potential to plan, organize a welcoming, qualified and safe care, due to its interlocution between institutional planners and executors of care work. For this, a systematized work process is required for the management of care. The objective of this research was to systematize the practice of hospital nursing supervision to manage care. We conducted a qualitative research with a research-action method, in four stages, developed jointly with nursing directors and supervisors of the hospital (university and public). For the data collection were carried out Interviews in the first phase, the exploratory phase, and observation in the second phase, the deepening. The collected empirical material was interpreted by content analysis, according to the reference of the marxist work process. As a phase three action strategy, we have done workshops, with all nursing supervisors, whose task was to build proposals for changes in the work of supervision aiming at a systematized process directed to the management of care. The evaluations and validations of the results, phase four, were carried out in the course of all research by meetings, individual instruments and online questionnaire. The results of the first and second phases provided us with an understanding of the work process fragmented between the daytime and nightime periods, routine visits to the wards, control of the nursing staff frequency, management of material resources, resolution of unexpected demands and less often education in service. The purpose of the work is centered on controlling the organization of the units and the frequency of the team by routine managerial instruments. These results were used to plan the workshops, where it was developed the supervisors’critical awareness about crystallized pre-estabelished practice actions.The workshops favored experience exchanges, considerations and agreements for the collective construction of an action proposal to overcome difficulties in the work process that deviate the supervision from the care management. The knowledge produced in the action-research phases the researches allowed to construct a "Method to systematize the practice of nursing supervision", with three planning moments structure: exploratory work (explanatory and investigative); intervention-action and referrals and agreements. This method may contribute to qualify the supervision practice in nursing, through the permanent education of supervisors of any nursing service in the health system.

Keywords: Nursing, Supervisory; Nursing Service, Hospital; Hospital Administration;

Organization and Administration.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Relações entre pesquisa, ação, aprendizagem e avaliação ....................60

Figura 2- Desenho das quatro fases da pesquisa-ação "Supervisão de enfermagem:

construindo um caminho para a prática sistematizada", Campinas-SP, 2017 ..........61

Figura 3 - Resultados das oficinas dos supervisores de enfermagem: proposta de

ação, atividades operacionais e pactuação, Campinas-SP, outubro 2016 ...............90

Figura 4 - Mapa reflexivo sobre os perfis necessários para a construção do

gerenciamento do cuidado. Oficina com supervisores de enfermagem, Campinas-

SP, outubro 2016.....................................................................................................180

Figura 5 - Folha de atividade (individual) referente ao mapa reflexivo da segunda

oficina de supervisores, Campinas-SP, outubro 2016.............................................181

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Atividades da primeira oficina com supervisores de enfermagem,

Campinas-SP, outubro 2016 .....................................................................................75

Quadro 2- Atividades da segunda oficina com supervisores de enfermagem,

Campinas-SP outubro 2016 ......................................................................................77

Quadro 3- Atividades da terceira oficina com supervisores de enfermagem,

Campinas-SP, outubro 2016 .....................................................................................79

Quadro 4- Objetivos, instrumentos, período de realização e principais resultados das

quatro fases da pesquisa-ação, Campinas- SP, outubro 2017..................................87

Quadro 5- Primeiro momento exploratório do “Método para sistematizar a prática da

supervisão de enfermagem”, Campinas- SP, outubro 2017......................................93

Quadro 6- Segundo momento: intervenção-ação do “Método para sistematizar a

prática da supervisão de enfermagem”, Campinas- SP, outubro 2017.....................95

Quadro 7- Terceiro momento: encaminhamentos e pactuacão do “Método para

sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”, Campinas- SP, outubro 2017

....................................................................................................................................96

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

LISTA DE ABREVIATURAS/SIGLAS

ABEn Associação Brasileira de Enfermagem

CAISM Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher- Hospital da Mulher “Prof.

Dr. José Aristodemo Pinotti”

CBEn Congresso Brasileiro de Enfermagem

CC Centro Cirúrgico

CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CLATES Centro Latino-Americano de Tecnologia Educativa em Saúde

CNS Conferência Nacional da Saúde

CO Cultura Organizacional

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

COREN Conselho Regional de Enfermagem

DEnf Departamento de Enfermagem

DO Desenvolvimento Organizacional

Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz

Gepepes Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação e Práticas de Enfermagem e Saúde/Unicamp

GEPRO Gestão por Processos

HC Hospital de Clínicas

MIT Massachussets Institute of Technology

MS Ministério da Saúde

ONG Organizações Não Governamentais

OPAS Organização Panamericana de Saúde

PA Pesquisa-Ação

PDG Programa de Desenvolvimento Gerencial

PE Processo de Enfermagem

PES Planejamento Estratégico Situacional

PP Pesquisa Participante

SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem

SC Supervisão Clínica

SEC Seção de Educação Continuada

SUS Sistema Único de Saúde

TA Teorias Administrativas

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UER Unidade de Emergência Referenciada

UIA Unidade de Internação de Adultos

Unicamp Universidade Estadual de Campinas

UTI Unidade de Terapia Intensiva

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................................... 16

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 18

1.1Referencial teórico ...................................................................................................................... 22

1.1.1 A construção histórica da função de supervisão na perspectiva das teorias administrativas

....................................................................................................................................................... 22

1.1.2 Supervisão de enfermagem - o construído e o desconstruído ............................................ 31

1.1.3 Processo de trabalho em saúde e na enfermagem .............................................................. 43

2 OBJETIVOS .......................................................................................................................................... 50

2.1 Objetivo geral ............................................................................................................................. 50

2.2 Objetivos específicos .................................................................................................................. 50

3 MÉTODO ............................................................................................................................................. 51

3.1 Cenário da pesquisa ................................................................................................................... 51

3.2 Trajetória metodológica ............................................................................................................. 54

3.2.1 Desenho do estudo .............................................................................................................. 59

3.2.2 Preparação da pesquisa - o ponto de partida ...................................................................... 62

3.2.3 Primeira fase exploratória - compreendendo o processo de trabalho da supervisão em

enfermagem .................................................................................................................................. 63

3.2.4 Segunda fase - aprofundamento e encontro com a prática da supervisão em enfermagem

....................................................................................................................................................... 67

3.2.5 Terceira fase- ação ............................................................................................................... 71

3.2.6 Quarta fase – avaliação ........................................................................................................ 81

3.3 Análise dos resultados ............................................................................................................... 82

3.4 Critérios de credibilidade e confiabilidade ................................................................................ 83

3.4.1 Credibilidade ........................................................................................................................ 83

3.4.2 Confiabilidade ...................................................................................................................... 85

3.5 Aspectos éticos........................................................................................................................... 86

4 RESULTADOS ...................................................................................................................................... 87

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

4.1 Principais Resultados ................................................................................................................. 87

4.1.1 Resultados das oficinas* ...................................................................................................... 89

4.2 Contribuições da pesquisa-ação para a enfermagem ................................................................ 90

4.2.1 Para que sistematizar? ......................................................................................................... 91

4.2.2 Qual será o eixo de sistematização? .................................................................................... 91

4.2.3 Como será a estrutura sistematizada? ................................................................................. 92

4.3 Artigos ........................................................................................................................................ 99

4.3.1 “Processo de trabalho gerencial da supervisão de enfermagem”. ...................................... 99

4.3.2 “Oficinas como proposta democrática para mudanças no trabalho da supervisão em

enfermagem”. ............................................................................................................................. 113

5 DISCUSSÃO GERAL ............................................................................................................................ 126

5.1 Perfil dos supervisores de enfermagem .................................................................................. 126

5.2 Compreendendo o processo de trabalho da supervisão em enfermagem ............................. 128

5.2.1 Trabalho desconhecido e fragmentado ............................................................................. 130

5.2.2 Autonomia para o trabalho ................................................................................................ 132

5.2.3 Instrumentos para a supervisão do trabalho ..................................................................... 135

5.2.4 Relações de poder .............................................................................................................. 136

5.3 Processo de trabalho da supervisão de enfermagem - reflexões e mudanças ....................... 138

5.3.1 Trabalho da supervisão cristalizado no cumprir tarefas .................................................... 138

5.3.2 A influência da comunicação na dinâmica grupal .............................................................. 141

5.3.3 Supervisores ou apoiadores: projetos em disputa ............................................................. 143

5.4 Proposta de ação: gerenciamento compartilhado da assistência ........................................... 146

5.5 Limitações e recomendações ................................................................................................... 147

6 CONSIDERAÇOES FINAIS ................................................................................................................... 150

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 155

8 APÊNDICES........................................................................................................................................ 167

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

APÊNDICE A - Roteiro para entrevistas com enfermeiros e supervisores de enfermagem .......... 167

APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Primeira e segunda fases da PA)

........................................................................................................................................................ 170

APÊNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Terceira fase da pesquisa-

oficinas) .......................................................................................................................................... 172

APÊNDICE D- Atividades produzidas para a primeira oficina de supervisores, outubro 2016. ..... 174

APÊNDICE E - Folha de avaliação individual das oficinas ............................................................... 179

APÊNDICE F – Mapa Reflexivo ........................................................................................................ 180

APÊNDICE G - Roteiro norteador para propostas de ação. ............................................................ 182

APÊNDICE H – Tabelas sobre o perfil dos supervisores de enfermagem....................................... 183

9 ANEXO .............................................................................................................................................. 186

ANEXO A- Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade

Estadual de Campinas. Aprovado sob nº 887.936, em 24/11/2014. ............................................. 186

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

16

APRESENTAÇÃO

A motivação para o desenvolvimento desta pesquisa nasceu de um

desejo pessoal de aprofundar estudos sobre a prática da supervisão em

enfermagem. Refletir sobre o trabalho da supervisão e poder intervir, de alguma

forma, foi desejo latente advindo da vivência e convivência com esse tema na maior

parte da minha trajetória profissional, com atuação na área de gerenciamento em

enfermagem ora na prática em cargos de supervisão e direção de serviços de

enfermagem, em hospitais universitários de nível terciário de atenção à saúde, ora

como docente da área de administração e saúde coletiva no ensino do exercício

gerencial.

Segundo Minayo(1:90), “...nada pode ser intelectualmente um problema, se

não tiver sido, em primeira instância, um problema na vida prática”. Portanto, a

supervisão em enfermagem se tornou objeto deste estudo por tê-la vivenciado

intensamente sob diversos aspectos.

Minha primeira experiência, como supervisora, deu-se logo após o

primeiro ano da admissão, em 1985, no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp), que funcionava no antigo prédio da Santa Casa,

no centro da cidade de Campinas.

Na época, tinha pouca experiência devido ao curto tempo de formada, e

assumi as responsabilidades do cargo com grande desafio e receio, pois, sem

treinamento específico, o aprendizado para o exercício da supervisão se dava de

forma empírica pelos tropeços e percalços do cotidiano. Contava com o apoio e

orientação dos colegas supervisores mais experientes, e atuava na resolução dos

problemas, seguindo as normas estabelecidas com bom senso e observação.

As dificuldades para manter as unidades do hospital funcionando eram

muitas, pois, na época, estava-se criando outro hospital, o Centro de Atenção

Integral à Saúde da Mulher-CAISM, o Hospital da Mulher, no campus de Barão

Geraldo, da Unicamp. Assim, ao mesmo tempo, nós, enfermeiras, mantínhamos o

funcionamento do HC, preparávamos sua mudança para o campus e iniciava a

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

17

organização do CAISM. Tudo isso aconteceu sem quadro de pessoal suficiente e

sem um planejamento estruturado para as ações de médio e longo prazo.

Compúnhamos um pequeno grupo de enfermeiras compartilhando ideias

e o intenso trabalho com entusiasmo, determinação, garra e comprometimento em

fazer uma enfermagem de excelência para ser referência no cenário nacional.

Lembro-me da expressão “parece que, a cada dia, temos que matar um leão”, muito

comum entre os colegas na hora do café, quando havia tempoa.

Anos depois, na vivência da docência, contatos com as práticas da

supervisão se deram por meio das parcerias firmadas com os supervisores nos

campos de práticas e estágio para conduzir o aprendizado dos alunos nas

disciplinas da área de administração do curso de graduação em enfermagem. Essas

parcerias produziram bons frutos pelas intervenções realizadas em conjunto com os

acadêmicos que atuavam nas diversas unidades assistenciais.

Nessa aproximação com os supervisores de enfermagem, sempre havia

uma palavra de orientação ou até mesmo apoio emocional para desabafar o peso da

carga de trabalho e das insatisfações do cotidiano. Uma questão, frequentemente

discutida, dizia respeito aos problemas diários causados pela ausência dos

profissionais ao trabalho. Essa questão, além de desarticular o planejamento do dia,

também desviava o supervisor para a cobertura assistencial da unidade desfalcada,

e, desse modo, o supervisor não conseguia dar continuidade às ações planejadas

para o trabalho da supervisão.

Havia prazer nos resultados alcançados, mas também sofrimento e

desmotivação pela “supervisão sofrer pressão de todos os lados”: da equipe de

enfermagem (subordinados) e de um sistema de chefias (superiores) formatada por

um modelo racional de administração com morosidade para resolução de problemas

que interferiam no trabalho assistencial e gerencial.

Essas questões - colocadas na atualidade, mas com as quais eu convivo

desde o início no exercício em cargos de chefia - estimularam-me a desenvolver

a O leitor que desejar saber sobre as atividades da enfermagem do CAISM pode encontrá-las no livro “Memórias da Enfermagem: nos bastidores do hospital da mulher”, organizado por Nádia RC Alves, editora Maxprint, publicado em 2012. São depoimentos emocionantes de experiências de vitória, fracasso, superação e solidariedade que compõem o cotidiano do fazer em enfermagem.

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

18

este estudo com o objetivo de trazer contribuição para qualificar a prática da

supervisão de enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

No contexto das práticas em saúde, o hospital encontra-se entre as

instituições ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o acesso da

população à prestação de assistência de média e alta complexidade que atenda

integralmente às necessidades de saúde.

Essas instituições são sistemas gerenciais complexos que necessitam de

atenção e intervenção em vários aspectos, pois, apesar do avanço com a existência

de equipes multidisciplinares e discussões sobre o princípio da integralidade do

cuidado ao paciente, a produção do trabalho continua fragmentada nas

especialidades médicas e centrada no controle de doenças. Na atualidade, essas

questões são agravadas por insuficiente financiamento para inovações tecnológicas,

pela fragilidade na gestão do trabalho, pelo deficit e qualificação adequada dos

profissionais, carências na ambiência e na humanização do atendimento, além das

contradições na condução do modelo de gestão que se diz participativo e

democrático, mas ainda tem poder de decisão centralizado e hierarquizado, com

resquícios do modelo de gestão racional direcionando a assistência pelo modelo

biomédico (2-4).

Na discussão da superação desses desafios, encontram-se, também, os

direitos à saúde do usuário/cidadão que deseja ter atenção integral, acolhedora,

qualificada e segura, satisfazendo suas necessidades por melhores condições de

saúde e de qualidade de vida (5).

Essas questões, que impactam na estrutura e na gestão hospitalar, que

deve respondê-las, irão afetar o trabalho da enfermagem, pois a organização do seu

processo de trabalho tem respondido às expectativas da administração hospitalar

para organização e controle das atividades assistenciais e gerenciais (6-7).

No que diz respeito à organização do trabalho da enfermagem, esta tem

suas origens a partir das ações desenvolvidas por Florence Nightingale na segunda

metade do século XIX.

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

19

Miss Florence pertencia à alta burguesia inglesa, era pessoa

determinada, apresentava cultura e preparo acadêmico superior ao das mulheres da

sua época, o que lhe fez romper com as práticas míticas, incorporando elementos da

racionalidade científica e da estatística para organizar o cuidado, o ambiente

terapêutico (purificação do ar, água, limpeza), diminuindo a mortalidade dos doentes

hospitalizados. Florence também se preocupou com a formação e o preparo dos

agentes (nurses) por meio de técnicas disciplinares, rigoroso cumprimento das

normas e obediência ao poder da hierarquia centralizada no saber e fazer do

profissional médico (8).

Dessa forma, inicia-se a construção do trabalho gerencial da enfermagem

com preceitos disciplinadores, autoritários e controladores das tarefas realizadas e

dos trabalhadores de enfermagem (os agentes). A organização do trabalho

fundamentou-se nas teorias administrativas científica, clássica e burocrática, as

quais ditavam um padrão administrativo para conferir unidade, racionalização do

tempo e das atividades para garantir a ordem, o cumprimento das normas e rotinas

determinadas pela autoridade hierárquica superior (3,5).

Nesse contexto, surge a função de supervisão ocupando uma posição

intermediária na hierarquia institucional. Essa posição permite, ao supervisor,

promover a interlocução e a articulação entre os planejadores institucionais do

trabalho e os profissionais do nível operacional para a organização, condução e

realização do que foi planejado. Para tanto, é esperado que o supervisor tenha

capacidade de liderar a equipe de enfermagem; tome decisões para solucionar

problemas rotineiros e inesperados; e organize o trabalho assistencial, inclusive

oferecendo condições para a realização do trabalho de outros profissionais da

saúde, principalmente do médico (6,9).

Desse modo, a supervisão de enfermagem como instrumento gerencial

orquestrando o trabalho assistencial da enfermagem e institucional tem uma visão

ampla, podendo fazer a diferença na prestação de cuidado qualificado e livre de

danos, que vise a atender as necessidades de seus usuários e as contingências do

momento social (10-11).

Essa aposta, de que o trabalho da supervisão em enfermagem pode fazer

a diferença na qualidade da assistência, é debatida em vários fóruns desde a

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

20

década de 1950, por estudos teóricos sobre modelos de supervisão e relatos de

experiências da prática de supervisão (12-19).

Desde então, a supervisão em enfermagem vem somando atribuições à

sua prática, além do controle do trabalho, com objetivo de melhorar a qualidade da

assistência prestada. A educação em serviço para o desenvolvimento da equipe de

enfermagem com atividades de orientação, treinamento e acompanhamento a fim de

promover reflexões sobre o trabalho realizado e avaliação de desempenho é

atribuição que passou a configurar como uma das finalidades do trabalho da

supervisão (11,19).

Outra finalidade da supervisão em enfermagem, importante para garantir

a qualidade da assistência, é o seu caráter político de intermediação e interlocução

entre as diferentes equipes (de enfermagem, multiprofissional, administrativa), pela

capacidade de negociação e intervenções para garantir as melhores condições de

trabalho, recursos e materiais adequados às necessidades do paciente. Nessa

perspectiva, a atuação proativa do supervisor de enfermagem é fundamental para

implementar e garantir a integralidade do cuidado com práticas baseadas em

evidências (11).

Portanto, o primeiro pressuposto para este estudo é acreditar no

potencial da supervisão de enfermagem para melhorar continuamente a qualidade

da assistência prestada na atenção hospitalar. Entretanto, para que a supervisão

em enfermagem possa contribuir na gestão hospitalar, com vistas à qualidade, se

faz necessário que o seu processo de trabalho se dê de forma sistematizada e

envolva atividades de planejamento, coordenação, execução e avaliação dos

resultados por meio de instrumentos, estratégias e técnicas adequados aos

propósitos e ao contexto, além de desenvolver as potencialidades da equipe de

enfermagem para prestar uma assistência adequada e livre de riscos (10-11,19-21).

Nessa direção, estudos da década de 1990 sobre a organização do

trabalho da supervisão em enfermagem na assistência hospitalar mostram que esta

tem sido realizada sem a adoção de um método, ou seja, sem uma sistematização

que lhe permita realizar suas ações de forma organizada para cumprir o planejado e

obter melhores resultados. Na maioria das vezes, o trabalho se realiza para o

controle da frequência dos trabalhadores, de recursos materiais e atuações pontuais

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

21

para atender demandas inesperadas, distante de uma prática refletiva, de orientação

educativa e sem considerar a satisfação do trabalhador no trabalho (6, 22-26).

Essas considerações nos levaram ao segundo pressuposto: as práticas

da supervisão em enfermagem acontecem, na maioria das vezes, de forma não

sistematizada no desempenho de suas atribuições gerenciais para atender às

demandas institucionais, resolver problemas da assistência e de outros profissionais,

postergando o planejamento de suas atividades.

Feitas essas considerações, retomamos à questão motivadora, colocada

na apresentação do estudo: como contribuir para qualificar a prática da supervisão

em enfermagem?

A resposta se desdobrou em outra: devemos investir na atuação da

supervisão em enfermagem, construindo um caminho para desenvolver a sua

prática cotidiana, de forma sistematizada?

Nessa direção, ocorreu a pergunta seguinte: como poderia ser feito? É no

processo de trabalho que podemos estabelecer as reais mudanças, pois é no

desenvolvimento do trabalho que acontece o processo de tranformação. Para esse

processo de transformação há a necessidade de se utilizar materiais, instrumentos e

meios adequados; dimensionar pessoas; ter e desenvolver conhecimentos; fazer um

planejamento e direcionamento sistematizado do trabalho. Portanto, ao almejar

mudanças na forma de trabalhar, o primeiro passo é a compreensão de como as

atividades são realizadas (o trabalho em si), de porque são realizadas (as

finalidades) e dos instrumentos que são utilizados para materializar o trabalho em

um produto ou serviço no final do processo (27).

Partindo dessa compreensão, precisávamos adentrar no cotidiano da

supervisão em enfermagem para compreender seu processo de trabalho e, a partir

dele, fazer as propostas de mudanças. Dessa forma, tínhamos encontrado o

principal referencial teórico para compreensão e fundamentação da pesquisa: o

referencial do processo de trabalho (27).

O passo seguinte para a construção do projeto de pesquisa partiu do

questionamento: como adentrar no complexo cotidiano hospitalar e propor aos

supervisores e diretores de enfermagem mudanças na sua rotina de trabalho

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

22

estabalecida há muitos anos? Essa resposta foi identificada pelo referencial

metodológico da Pesquisa-Ação (PA).

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que se propõe a

diagnosticar um problema específico da prática, com vistas ao desenvolvimento de

ações para sua resolução, a partir de um trabalho conjunto do pesquisador com os

profissionais envolvidos no problema (28).

Essa modalidade de pesquisa se torna significativa na área gerencial da

saúde por proporcionar, ao pesquisador e aos profissionais da instituição

participante, o compartilhamento de saberes e meios para responder ao problema

de pesquisa proposto e atende ao objetivo de mudanças, pois pesquisadores, em

conjunto com os profissionais da instituição, de forma democrática e participativa,

constroem propostas de ação factíveis à sua realidade (29-30).

Respondendo a esses questionamentos, havíamos reunido as condições

necessárias para o desenvolvimento da proposta da pesquisa, ou seja, acreditando

no potencial da supervisão de enfermagem como instrumento gerencial importante

para viabilizar uma assistência qualificada e adequada às necessidades dos

usuários. Entretanto, para que isso ocorra, se faz necessário, que a supervisão de

enfermagem tenha um processo de trabalho sistematizado direcionado para a

finalidade de desenvolver as potencialidades na equipe de enfermagem e voltado

para o gerenciamento da assistência (10-11,19-21).

Justifica-se, portanto, investir na supervisão em enfermagem pela posição

que esta ocupa na condução do trabalho assistencial em saúde, por sua atuação

diária junto à equipe de enfermagem, com posição favorável para estabelecer, com

ela, um processo de comunicação e orientação e, desse modo, influenciar atitudes e

comportamentos e constituir espaço estratégico para o pensar e o agir que direcione

o trabalho de forma mais resolutiva e qualificada (11,19, 23-24).

1.1 Referencial teórico

1.1.1 A construção histórica da função de supervisão na

perspectiva das teorias administrativas

Quando consideramos que a perspectiva deste estudo é o trabalho

gerencial da enfermagem no ambiente hospitalar e que, sabidamente, segue um

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

23

modelo racional de gestão, foi necessário olhar o objeto de estudo - a supervisão de

enfermagem – por meio do resgate de sua raiz histórica construída segundo as

teorias administrativas.

A seguir, realizaremos breve apresentação das principais Teorias

Administrativas (TA) que influenciaram a organização do trabalho das instituições da

saúde e, consequentemente, do trabalho da enfermagem.

Foram as TAs, construídas ao longo da história, que deram sustentação

ao pensamento administrativo para a organização do trabalho e aos modelos de

gestão das instituições prestadoras de serviços à sociedade, nas quais os hospitais

estão inseridos e compartilham desses saberes.

A administração como ciência foi desenvolvida com conhecimento e

contribuição de várias instituições (militares, religiosas e outras), pesquisadores e

profissionais de diversas áreas (matemáticos, economistas, engenheiros, físicos,

psicólogos, sociólogos etc) que foram somando ideias, teorias para atender às

necessidades das demandas de cada época, modificando sua forma de atuar e

estabelecendo modelos de gestão para as instituiçõesb (32).

Sendo assim, as TAs vão se apresentando com a evolução das

tecnologias de cada época para melhorar o desempenho produtivo das empresas,

com otimização e racionalização dos recursos para redução de custos. A ciência

administrativa inicia sua trajetória no século XVIII, produzindo suas estratégias e

dispositivos gerenciais nos países norte-americanos e europeus e, apenas no século

XIX, chegaram a ser introduzidas no setor das indústrias brasileiras, e, anos depois,

das indústrias, foram incorporada nas instituições de saúde (32-33).

A preocupação com o exercício da gerência, a partir de um conteúdo mais

organizado e científico, tem origem com o advento da Revolução Industrial, no final

do século XVIII, a partir dos estudos da administração científica do engenheiro

americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que revolucionou o pensamento

b Em administração pode-se nominar “empresa”, “organização” ou “instituição” as formas de organismos públicos ou privados, produtores de bens ou de serviços, com finalidades lucrativas ou não. Neste trabalho, optou-se pelo termo “instituição” por ser uma nominação para identificar organizações com objetivos sociais, sem fins lucrativos, atuantes nas áreas da saúde, educação, cultura, religião e outras de interesse comunitário (31).

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

24

administrativo pela aplicação de métodos da ciência positiva, racional e metódica (32-

33).

A abordagem da administração taylorista centrava-se na hierarquização e

centralização das decisões com divisão social do trabalho, sendo a parte intelectual

responsabilidade do dono e administradores, e a execução do trabalho

responsabilidade dos operários. O trabalho era fragmentado em tarefas e distribuído

a diferentes trabalhadores que se especializavam em uma única atividade,

alienando-se da produção final. A vantagem desse modelo era a normatização e

racionalização do tempo do trabalho, com menor custo e máxima produtividade pelo

enfoque dado à execução por tarefas (32-33).

A escola francesa do engenheiro Henry Fayol (1841-1925), com a teoria

clássica, propunha aumentar a produtividade da empresa pela organização em

setores e departamentos. Nesse momento, o enfoque administrativo é dado à

composição de uma estrutura institucional e são criados os organogramas

hierárquicos com as linhas de comando e as funções administrativas. Essas funções

nortearam as atividades de gerenciamento até os dias atuais para qualquer nível da

estrutura institucional: planejamento, organização, coordenação, comando e controle

(33).

Para as instituições que se estruturam em níveis hierárquicos, nasce a

necessidade de se ter uma pessoa para comandar e controlar o trabalho, assim, é

criada formalmente a função da supervisão do trabalho como um elo importante

entre o dono da fábrica e os trabalhadores, para fazer acontecer o trabalho de forma

normativa e prescritiva(33).

O termo supervisão foi usado para designar a função de direção, sendo

chefe imediato dos empregados do nível operacional para acompanhar e controlar a

execução da produção das atividades e responde ao seu superior, geralmente um

diretor de serviço. O supervisor é o representante da administração superior, tem

conhecimento técnico profundo da sua área de atuação e possui restrita autoridade

e autonomia para decisões (33).

Os avanços tecnológicos da época, como a máquina de fiar, a máquina a

vapor e o tear mecânico, aumentavam a produção e atraíam as pessoas para as

cidades, que, despreparadas para receber os migrantes e sem condições de

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

25

saneamento, abastecimento de águas e acomodações, propiciavam a ocorrência de

problemas de saúde e epidemias (33).

Outro aspecto relevante, apontado na época, foi a guerra da Crimeia

(1856): havia muitos soldados feridos e com necessidade de voltar ao campo de

batalha, porém os hospitais militares não encontravam as condições necessárias

para a recuperação desses combatentes. Careciam de higienização e organização

para atender aos doentes e reverter a ideia de local de exclusão e morte de

mendigos e doentes mentais (34).

Foi Florence Nightingale, moça de família nobre e bem-educada, que

atendeu a essas necessidades, reestruturando a atenção aos doentes e

organizando o trabalho da enfermagem, intervindo na assistência direta ao doente,

na ordem e limpeza do ambiente e na organização da hierarquia do pessoal

hospitalar (34).

A formação do “corpo” de trabalho da enfermagem, com as ladies nurses

e com as nurses, bem como sua formação acadêmica foram preocupação de

Florence Nightingale. O ensino formal era ministrado às ladies nurses, que

procediam de classe social mais elevada e preparadas para desenvolver a parte

mais intelectual com planejamento, supervisão e controle do trabalho. As nurses, de

nível social mais baixo, aprendiam a cuidar dos doentes na prática, a fazer o

trabalho manual, sob comando das ladies nurses (08).

Desse modo, seguiam-se os fundamentos da administração científica e

modo de pensar capitalista, com a divisão do trabalho (técnico e social) na

enfermagem, com sistema hierarquizado para “o cuidar” e para “o administrar” na

prática e no ensino (35).

Nesse modelo de organização de trabalho, a enfermeira é quem domina a

concepção do fazer, assumindo cargos de chefia, planejando, coordenando e

controlando as atividades dos demais profissionais, de nível médio, da enfermagem.

Nos aspectos assitenciais, se estabelece o modelo clínico com o médico na

centralidade do processo de trabalho, exercendo posição de autoridade e poder de

decisão (3,9).

Desta forma, concretiza-se a hierarquia e a divisão de trabalho para a

saúde, ou seja, a parte intelectual cabendo ao médico e a operacional cabendo a

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

26

outros profissionais da saúde. O trabalho da enfermagem passa a ser um meio para

organizar o ambiente da assitência hospitalar, do trabalho médico e de outros

profissionais da saúde que vão sendo incorporados à prestação do cuidado (36).

O desenvolvimento das ciências humanas, com destaque para a

sociologia e a psicologia, com estudo do comportamento humano no trabalho, e os

movimentos sindicais que denunciavam a exploração do trabalhador pelo sistema

implantado nas fábricas abrem espaço no pensamento administrativo para

introdução do estudo sobre o comportamento das pessoas no trabalho.

Isso se deu por volta de 1930, com a teoria das relações humanas,

defendida pelo psicólogo Elton Mayo (1880-1947), que valorizava o sujeito no

trabalho, considerando a existência de uma estrutura informal que, também,

influenciava o desempenho das instituições. Essa teoria combatia o formalismo e as

ações mecanicistas das teorias anteriores (32-33).

Com essa abordagem, a supervisão passa a considerar, além dos

aspectos técnicos, as necessidades sociais dos trabalhadores na administração de

pessoal. Discutem-se as lideranças informais, melhorando os processos de

comunicação entre as equipes multiprofissionais e a satisfação do trabalhador pelos

incentivos aplicados pelo bom desempenho (33).

Nos anos seguintes, nas décadas de 1950 e 1960, Herbert A. Simon

(1916-2001) marca o início da teoria comportamental na administração, fazendo

uma crítica às teorias das relações humanas pelo seu caráter de estímulo ao

trabalho por recompensas. Seus princípios se baseavam nos estudos do

comportamento de grupos no trabalho. Nessa abordagem, evoluíram os estilos de

liderança, teoria das decisões, as motivações do homem para o trabalho com base

na teoria das necessidades básicas do psicólogo americano Maslow (1908-1970) e

na teoria dos dois fatores (higiênicos e motivacionais) de F.Herzberg (1923-2000),

apontados como causadores de insatisfação/satisfação no ambiente de trabalho (32-

33).

Nessa fase, a administração de pessoal fundamenta-se nos dispositivos

estimuladores de satisfação no trabalho por estabilidade no emprego, redução da

especialização, avaliação e promoção salarial por mérito e valorização do saber dos

profissionais na instituição. A supervisão do trabalho passou a ter um caráter de

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

27

apoio às equipes e a dar espaço para participação das decisões, assumindo uma

posição de líder democrático e inclusivo (33).

O psicólogo alemão Kurt Lewin (1890-1947) abriu caminho para os

estudos com grupos humanos em empresas americanas. Desenvolveu o conceito de

teoria do campo psicológico, relacionando as tensões e as percepções que o

indivíduo tem de si mesmo a partir do ambiente em que se insere; também

conceituou a dinâmica de grupos e iniciou os métodos de pesquisa participativa,

chamado de pesquisa-ação, na busca de soluções democráticas para os problemas

institucionais(32-33).

Nessa abordagem a preocupação era com a dinâmica organizacional e

com o relacionamento dos grupos no trabalho do que com a estrutura hierárquica,

assim a capacidade para liderança passa a ser um atributo primordial para o

desempenho da função de supervisão, assim como o consenso para decisões,

estabelecendo harmonia no ambiente de trabalho (33).

No final da década de 1950, surge o estruturalismo, predominantemente

europeu, para responder aos empresários que sentiam necessidade de rever as

orientações das escolas humanas consideradas muito paternalistas. Estudiosos da

administração foram buscar inspiração na teoria da burocracia desenvolvida por Max

Weber nas décadas anteriores (1863-1920) (33).

A burocracia tinha como princípio a racionalização dos processos de

trabalho, da estrutura para adequar os meios aos fins, ou seja, o desenvolvimento

de padrões que normatizavam o fazer e o comportamento na instituição com a

formalização das relações humanas. A partir desses princípios, o modelo burocrático

de gerenciar assume uma estrutura hierárquica de autoridade centralizadora,

definida por cargos e competências descritas, e as relações são formais com fluxo

de comunicação verticalizada, formulação de regulamentos, normas e rotinas para a

atividade de todas as unidades produtivas (32).

As instituições de saúde públicas e privadas já fundamentadas no padrão

taylorista encontram terreno fértil para se guiarem por esses princípios, com os quais

alcançaram bons resultados, mas, com o exagero na formalidade e rigidez das

normas, ocorreram desvios - chamados de disfunções -, tais como impessoalidade,

inflexibilidade nas condutas que levaram à ineficiência pela morosidade na

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

28

resolutividade dos problemas, perda de tempo com papéis e descrédito na

instituição (32-33).

Ao longo dos anos, a organização do ambiente hospitalar se fundamentou

nessas teorias e desenvolveu um modelo gerencial hierarquizado e centralizador,

disciplinado por normas, rotinas, com fragmentação e racionalização do trabalho.

Esses elementos se cristalizaram e estão presentes até os dias atuais, e no trabalho

da enfermagem, percebemos a valorização das normatizações direcionando o

“como fazer”, em detrimento da prática reflexiva necessária ao “por que se faz”.

Outra consequência para o fazer da enfermagem, apontada na literatura,

é a forma como os profissionais se acomodam no cumprimento de determinações

superiores e passam a desenvolver um trabalho acrítico, chegando a ser

descompromissado de mudanças e inovações (3).

Até esse momento da história, as instituições funcionavam como sistemas

fechados, organizados com a visão apenas do seu negócio, mas, a partir dos

estudos da teoria de sistemas do biólogo Karl Ludwig von Bertalanffy (1901-1972),

as empresas passaram a ser compreendidas como um sistema aberto, em constante

interação com o ambiente externo, portanto expostas à imprevisibilidade do

ambiente e das demandas sociais, devendo estar atentas para realizar adequações

ao seu negócio (32-33).

Essa nova forma de pensar impôs outro ritmo para o gerenciamento

institucional e modificou conceitos. As mudanças provocadas pela crise econômica

mundial após a segunda metade do século XX e o aparecimento de novas

tecnologias (robótica, sistemas computacionais, internet, tecnologias da informação,

mídias sociais) modificaram, por exemplo, os conceitos de espaço e de tempo, com

abordagem de trabalho “em tempo real”. O enfoque sistêmico permitiu ao

administrador ampliar sua visão e compreender a necessidade de integrar as

unidades para um trabalho harmônico e integrado.

A partir da década de 1960, apareceu o movimento chamado

Desenvolvimento Organizacional (DO), que advogava a necessidade do

administrador fazer um diagnóstico da situação: pela análise do ambiente interno

(pessoas, conflitos, relacionamentos, estrutura) e do ambiente externo (demandas

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

29

da sociedade) e, a partir dessa análise, realizar um planejamento para mudanças

internas para atender as demandas externas (37).

O DO, com apoio das ciências comportamentais, estabeleceu o conceito

de “cultura organizacional”, no qual repousa um sistema de crenças, valores,

tradições e hábitos que determinam as interações e os relacionamentos no ambiente

de trabalho. Certos aspectos do conceito de Cultura Organizacional (CO) podem ser

percebidos com facilidade, são os considerados formais, porém há aspectos

informais que são ocultos e mais difíceis de serem percebidos. Esses últimos

carecem de interpretação em um processo, no qual, se desejam mudanças,

principalmente se a cultura se mostra conservadora e rígida (37).

Outra contribuição importante, dessa época, foi o desenvolvimento do

modelo sociotécnico, para organização, de Tavistok (1963). Esse modelo trouxe o

conceito de que a instituição é caracterizada por dois subsistemas: o subsistema

técnico e o subsistema social. Dessa forma, cabe ao supervisor combinar na sua

visão administrativa o subsistema técnico (tarefas, procedimentos, estrutura física,

recursos materiais e equipamentos disponíveis) e o subsistema social, que é

baseado nas relações e comportamentos entre as equipes multiprofissionais, para

melhorar o desempenho do trabalho (32).

Os estudos progrediram, considerando as instituições como sistemas

abertos, a partir da complexidade da vida contemporânea e das contingências

sociais, ou seja, algo incerto ou eventual que acontece de forma imprevista.

Os pesquisadores P.R.Lawrence e J.W.Lorsch (1973) relacionaram a

interferência do ambiente externo e da sociedade nas instituições pelo

desenvolvimento da teoria contingencial. Esses autores concluíram que existem dois

fenômenos nas instituições para os gerentes se preocuparem: a diferenciação e a

integração (32).

A diferenciação é a divisão da estrutura institucional em subsistemas -

departamento, setor, unidade, programa - criados para desempenharem tarefas

especializadas e diferenciadas do restante da instituição, para atender uma

necessidade do meio ambiente. A integração se caracteriza como um esforço da

organização para coordenar e unir seus subsistemas na direção para alcançar suas

metas e objetivos. Portanto, quanto mais a organização tem subsistemas

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

30

diferenciados, maior é seu esforço para manutenção do equilíbrio e da unidade.

Sendo assim, as empresas precisam ser mais flexíveis, visando a estratégias e

métodos para atender as exigências do mercado.

Um marco dessa época são os métodos para a gestão da qualidade total,

criados pelas empresas automobilísticas do Japão, a Toyota. Esse modelo tem

como princípio estabelecer uma gestão flexível e participativa, com revisão e

melhorias contínuas nos processos de trabalho, foco no atendimento às

necessidades de seus clientes, ambiente de trabalho dinâmico integrando

empregados, fornecedores e usuários para otimizar o trabalho com menor custo e

maior eficiência (5,33).

Novos conceitos, instrumentos e estratégias são empregados para a

organização do trabalho e demandam que a supervisão atualize seus

conhecimentos e busque estratégias para atender as novas exigências que o

modelo da qualidade requer para uma gestão com a abordagem participativa. São

exemplos de instrumentos gerenciais introduzidos no cotidiano do trabalho: a

reengenharia dos processos de trabalho, benchmarking, kaban, just in time para

reposição de materiais; novos conceitos para a organização do trabalho: redes

virtuais em colaboração, terceirização dos serviços e novas abordagens para a

gestão, como o modelo Lean Healthcare, que tem como princípio eliminar

desperdícios e criar fluxos para enxugar etapas dos processos de trabalho (32-33,38).

No século XXI, a gestão das instituições de saúde é frequentemente

desafiada por constantes mudanças no ambiente externo: contingências climáticas,

violência urbana, doenças epidêmicas emergentes (Aids, influenza/H1N, ebola),

entre outras (39).

Nos modelos gerenciais contemporâneos, cabem aos gestores respostas

rápidas que contemplem a otimização de recursos e o modo de conduzir a

organização do trabalho, com gestão democrática e participativa, com humanização

na gestão do trabalho e do cuidado, valorizando os princípios do Sistema Único de

Saúde (SUS), como equidade, integralidade e acolhimento na produção do

cuidado(5).

Aos supervisores cabem atitudes proativas por meio da antecipação e da

prevenção de situações-problema, desenvolvendo estratégias inovadoras e

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

31

habilidades de liderança para estimular os talentos da sua equipe, dando

responsabilização e autonomia para o trabalho, mantendo a equipe motivada,

cooperativa e treinada, desenvolvendo seu autoconhecimento para buscar novos

conhecimentos e instrumentos de gestão para ter segurança nas tomadas de

decisões, mas, principalmente, tendo foco nas necessidades de saúde dos usuários

para o planejamento assitencial e gerencial (8).

Nesse sentido, as teorias administrativas “dialogam” pouco com a

necessidade de compreender e formular propostas adequadas para a gerência de

serviços de saúde, baseadas nos princípios e diretrizes do SUS, que consideram

modelos assistenciais voltados para os determinantes das condições de saúde da

população e não apenas para tratamento de doenças, inseridas em um modelo

racional de gestão (40).

1.1.2 Supervisão de enfermagem - o construído e o desconstruído

Na história da enfermagem, é possível identificar as atividades que

caracterizam supervisão do trabalho, desde sua institucionalização na Inglaterra do

século XIX, com Florence Nightingale (1820-1910), a precursora da enfermagem

moderna e do trabalho gerencial no âmbito hospitalar, conforme já exposto

anteriormente (36).

Essas atividades se fundamentavam nos preceitos da administração

científica, cujos objetivos eram conferir unidade disciplinar a partir das normas e

padrões estabelecidos, organizar e manter a ordem do ambiente, do controle das

tarefas executadas pelos trabalhadores e determinadas pela autoridade hierárquica

superior (35). Desde então, a enfermagem foi evoluindo na construção de saberes

próprios, considerados como instrumentos para qualificar e dar visibilidade à sua

finalidade primordial: a prestação do cuidado de enfermagem.

Pesquisadoras realizaram, na década de 1980, um estudo retrospectivo

das práticas de enfermagem na perspectiva histórico-social desde o levantamento

de procedimentos caseiros da época do cristianismo até a organização do trabalho

nos ambientes de prestação de cuidados à saúde. Nessa pesquisa, selecionaram,

como instrumentos do trabalho da enfermagem, as técnicas, os princípios científicos

e as teorias de enfermagem (41).

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

32

As técnicas foram organizadas por Florence Nightingale para direcionar e

disciplinar o cuidado realizado por tarefas que atendiam às ordens médicas. Os

princípios científicos aparecem como preocupação da década de 1950, para

fundamentar o fazer das técnicas. Nas décadas seguintes, foram desenvolvidas as

teorias de enfermagem americanas com um corpo específico de conhecimento que

delimitou o espaço e a autonomia do profissional enfermeiro (41).

Esses saberes, as teorias, fundamentaram o campo de atuação muito

específico da enfermagem, a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE),

desenvolvida por meio do Processo de Enfermagem (PE). O PE é um método

sistematizado para planejamento do cuidado, por meio do diagnóstico e enfermagem

com prescrição e executado pela equipe de enfermagem durante o período em que

o paciente se encontra sob seus cuidados. Essa metodologia do trabalho

assistencial se difundiu mundialmente, facilitando a troca de experiências entre

enfermeiros, instituições assistenciais e de ensino, como ponto essencial na

cientificidade e da evolução da profissão das práticas de enfermagem (42).

O saber das técnicas ampliou-se para o conceito de “tecnologias em

enfermagem”, as quais são consideradas como conjunto de atividades e meios

(materiais e equipamentos) que requerem conhecimento para concretizar o ato de

cuidar, considerando a questão ética, a qualidade de vida em um processo reflexivo

(43).

Com a implantação de cursos de pós-graduação, no nível de mestrado

(1972) e de doutorado (1981), foram ampliadas as pesquisas, com aumento de

conhecimentos em todas as áreas de atuação da enfermagem (44).

São inegáveis os avanços no saber da enfermagem na área assistencial e

também na área gerencial, porém é intrigante reconhecermos como a organização

do trabalho, principalmente em instituições hospitalares, ainda está implicada aos

princípios da administração científica, clássica e burocrática, direcionando um

modelo racionalc de gerenciar (5).

c Considera-se modelo de gestão racional aquele estruturado pelo modo de produção

capitalista com divisão social e técnica entre a concepção pelos intelectuais e execução

pelos operários; fragmentação do processo em tarefas de racionalização pelo tempo;

controle do trabalho e do trabalhador pela padronização em normas; processo de

comunicações verticalizado com centralização das decisões (40:78-80).

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

33

Retomamos, aqui, a avaliação das precursoras dos estudos sobre a

prática de enfermagem (41), pois, na época, já haviam analisado que os instrumentos

determinantes do saber específico da profissão trouxeram embasamento científico,

mas não contemplaram as dimensões sociais da divisão de trabalho que

determinaram as relações de poder e as contradições da dimensão histórica em

relação ao trabalho em saúde ser subjugado ao fazer médico.

Percebe-se um descompasso na evolução dos saberes da enfermagem e

na forma como ela se comporta na organização do trabalho em instituições

hospitalares ainda subjugadas ao controle dos trabalhadores e do trabalho

institucional (7,40,45).

Observamos que, desde a gestão pela qualidade, muitas estratégias e

instrumentos gerenciais foram importados e adaptados da indústria automobilística

e, mais recentemente, da aviação, com a metodologia da “causa raiz”, aprendizado

para análise e resolução dos erros assistências, porém muito pouco se produziu

com um saber próprio da enfermagem (46).

Corroboram com essas indagações resultados de pesquisas da última

década sobre a organização e o processo de trabalho da enfermagem, os quais

mostraram que, apesar dos inúmeros avanços para construir um corpo de

conhecimentos para a enfermagem e a existência de várias iniciativas por modelos

de gestão participativos, esses ainda não foram suficientes para apontar mudanças

significativas na forma de conceber e realizar o trabalho nos serviços de

enfermagem (3,5,7,25,45,47-48).

Diante dessas reflexões, olha-se para o passado para compreender como

algumas ações foram construídas e cristalizadas por valores morais, sociais e

vontade política de interesses individuais ou de grupos e, até mesmo,

desconstruídas pelos mesmos interesses.

Pesquisas da década de 1990 sobre a produção científica da prática da

supervisão em enfermagem mostram que foram principalmente três elementos

centrais que conduziram a sua finalidade: o controle e a fiscalização das atividades

da enfermagem, a orientação e educação da equipe de enfermagem e a articulação

política, devido à posição de mediador das demandas institucionais, entre os

gestores e a equipe que executa o trabalho (22-23,49).

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

34

A primeira finalidade da supervisão, ter enfoque fiscalizatório e

controlador, foi determinada pelo modelo racional para assegurar o cumprimento das

normas e regulamentos da instituição e os padrões das técnicas e princípios

científicos estabelecidos para as práticas de enfermagem (21). Nessa direção, a

formalidade e a rigidez do trabalho do supervisor ficam bem expressas na afirmação

a seguir (50:6).

“O supervisor de enfermagem, cuja responsabilidade é encaminhar e orientar o pessoal na direção do objetivo máximo da organização, que é a prestação da assistência à pessoa hospitalizada ou em tratamento ambulatorial, pode ser considerado uma autoridade administrativa”.

Esse enfoque também ficou estabelecido na literatura americana

especializada pela recomendação da utilização de um sistema de controle pela

enfermeira supervisora para a eficiência institucional. A função da supervisão é

destacada como decisória no processo administrativo, com atividades de autoridade

e influência no trabalho da equipe de enfermagem (51).

Voltando algumas décadas, nas produções cientíticas da enfermagem

brasileira dos anos 1940 a 1960, verificamos a preocupação com o desenvolvimento

de conhecimento e instrumentos para o trabalho da supervisão na prática dos

serviços e saúde bem como para o ensino de graduação e pós-graduação na

perspectiva de formar futuras enfermeiras aptas para assumirem o cargo de

supervisão (12-18, 22,49).

Essas produções são relatos de experiência publicados nos anais do

primeiro (1947) e sexto (1952) Congresso Nacional de Enfermagem (CBEn),

promovidos pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) (22), e no Seminário

sobre Supervisão em Enfermagem, realizado pela Faculdade de Higiene e Saúde

Pública, disciplina de enfermagem em saúde pública, em maio de 1969. Esse

seminário teve por objetivos ampliar o conhecimento sobre supervisão e a sua

aplicação no campo da enfermagem, na área de saúde pública e hospitalar, e

reconhecer os problemas e propor métodos mais adequados para seu trabalho. O

resultado desse seminário também serviu para dinamizar o programa de supervisão

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

35

do curso de pós-graduação em Saúde Pública para enfermeiros da Universidade de

São Paulo (14).

Acreditamos que a preocupação com o desenvolvimento de uma estrutura

para o trabalho da supervisão se deve a duas considerações: a primeira diz respeito

aos escassos recursos humanos da época, em quantidade e qualidade, e a segunda

pelo crédito dado à supervisão, como meio eficiente para realizar e manter elevado

“o padrão da assistência” prestada nos serviços de saúde (14).

O quadro de pessoal de enfermagem era composto por atendentes de

enfermagem com pouca qualificação e auxiliares de enfermagem, portanto

demandavam supervisão direta das suas ações. Por sua vez, as enfermeiras, em

pequeno número, assumiam cargos de chefia quase que imediatamente à sua

admissão, portanto havia a preocupação com o preparo das enfermeiras para a

orientação dos atendentes e auxiliares de enfermagem. Os cargos de chefia para

hospital de grande porte são destacados como sendo: enfermeiro-coordenador,

enfermeiro-assistente, enfermeiro-supervisor e enfermeiro-chefe, obedecendo à

hierarquia, visando à interação e à funcionalidade (52).

Essas produções sofreram influência da literatura norte-americana(d) e

também da autora mexicana Cecília M Perrodin (1967)(e), citada em vários trabalhos

implicados com a construção de um modelo para atuação do supervisor (15-16,50).

A literatura da época apresentou o desenvolvimento de um processo

sistematizado para a supervisão dos serviços de enfermagem das instituições de

saúde. Nos trabalhos, encontramos: conceito de supervisão; seus princípios e

funções para atuação em diversas áreas da instituição; suas finalidades e

responsabilidades; sistema de informação, métodos e instrumentos para

levantamento de problemas; plano de trabalho e avaliação do trabalho da

supervisão. Também há conteúdo para a capacitação de supervisores com

conhecimentos nas áreas: técnico-administrativas sobre supervisão,

relacionamentos sobre a natureza humana, metodologia de aprendizagem e

liderança para o efetivo exercício do cargo (12-18). Nessa época, o trabalho da

d Alguns autores americanos citados nos trabalhos da época: Newman WH (1951), Carnagie D (1952), Donavan H (1957), Webstesh R (1962), Knowles LN e Herlich JF (1968), Connally GE (1971). e Perrodin, CM. Supervisión de los Servicios de Enfermería. Interamericana. México. 1965.

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

36

supervisão é orientado e sistematizado com instrumentos direcionados para um

planejamento que valoriza o instituído (normas, rotinas, padrões) com formalidade

nas relações de poder e respeito à hierarquia.

Estudos das décadas posteriores, anos 1980 e 1990, destacam que a

supervisão incorpora a segunda finalidade, a perspectiva educativa, passando a ter

a responsabilidade de preparar e capacitar a equipe para estar apta para o

desempenho de suas atividades (21-22,49).

Lembramos que, na evolução do pensamento administrativo da época, o

modelo centralizador de caráter punitivo e fiscalizador cedeu espaço às influências

das teorias humanas e comportamentais, com a valorização dos profissionais,

agregando valor ao trabalho, aos conceitos de liderança, motivação, trabalho em

equipe, integrando a cooperação e satisfação do trabalhador no trabalho (40).

A supervisão passa a ser um importante aspecto para o desenvolvimento

de pessoal: sendo o supervisor conhecedor das deficiências e das necessidades da

equipe de enfermagem, ele pode planejar adequadamente as ações de educação

continuada para introdução de novos conhecimentos científicos e treinamentos de

procedimentos assistenciais especializados (22).

Outro fator impulsionador da responsabilidade da educação à supervisão

foram os movimentos internacionais, da década de 1980, que discutiram e

valorizaram o trabalho da supervisão para a educação em serviço. Tem destaque o

Seminário Internacional sobre Supervisão, no Peru, realizado pela Organização Pan-

americana de Saúde (OPAS), com apoio do Centro Latino-Americano de Tecnologia

Educativa em Saúde (CLATES), que resultou em discussões teóricas e propostas

para a capacitação em supervisão ser operacionalizada a partir de seminários

nacionais dos países participantes (23,53).

No Brasil, em março de 1980, houve a VII Conferência Nacional da Saúde

(CNS), cujo tema central foi Extensão das ações de saúde através dos serviços

básicos, e deu ênfase às necessidades e ao preparo de recursos humanos. Em

1982, foi criado o Grupo de Trabalho de Supervisão e Educação Continuada, ligado

ao Ministério da Saúde (MS), que ampliou discussões sobre problemas da

supervisão no trabalho e sobre a necessidade de educação continuada para

fortalecer e integrar os serviços de saúde (23,49).

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

37

O Ministério da Saúde (54) definiu a atividade da supervisão como:

“... um processo educativo e contínuo, que consiste fundamentalmente em motivar e orientar os supervisionados na execução de atividades com base em normas, a fim de manter elevada a qualidade dos serviços prestados”.

Percebemos, nesse movimento internacional e nacional dos anos 1980, a

importância depositada no trabalho da supervisão para elevar a qualidade dos

serviços prestados nas instituições de saúde, visando à promoção da saúde e

recuperação das doenças e, também, à responsabilidade para o aperfeiçoamento

dos profissionais e à avaliação do seu desempenho.

O caráter político conferido à terceira finalidade da supervisão se deve à

sua posição intermediária na estrutura hierárquica institucional, uma vez que o

supervisor é o interlocutor e articulador entre os diretores de nível hierárquico

superior ao seu, com as equipes de enfermagem do nível operacional (55). Sendo

assim, a supervisão é um “elo de ligação”, traduzindo e orientando as políticas

institucionais e o planejamento estratégico para efetivá-lo no nível operacional. O

trabalho desenvolvido nesse nível requer intervenção às resistências, conflitos,

negociações, articulações com a equipe de enfermagem e multiprofissional, bem

como a transmissão aos seus superiores das expectativas e demandas expressas

pela equipe no cotidiano do trabalho (55-56).

Nessa posição, o supervisor sofre, de ambos os níveis, tensões

determinadas pelas relações de poder formais e informais, pois responde como

subordinado e atua como autoridade, inerente ao cargo, no relacionamento com os

seus subordinados. As consequências desse exercício nem sempre são positivas,

podem surgir tensões e conflitos inerentes à forma como acontecem os

relacionamentos na cultura organizacional, dada a complexidade do ambiente

hospitalar (25).

Entretanto, os supervisores são considerados os “representantes” da

instituição perante a equipe de enfermagem, os pacientes e seus familiares. Apesar

de serem representantes, não participam das decisões do planejamento estratégico

institucional e aguardam as determinações para fazer acontecer o plano no nível

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

38

operacional. Desse modo, os supervisores possuem uma falsa percepção do poder

concedida pela autoridade do cargo. Atuam de forma neutra, alienada e acrítica,

assegurando que o processo de trabalho clínico ocorra por qualificados aspectos

técnicos e burocráticos, atendendo o que é determinado pelas normas e protocolos

(53,57-58).

A centralização das decisões sobre “o que fazer” fica no nível

administrativo superior da sistematização do planejamento estratégico, ficando

somente o “compartilhar e ouvir as opiniões”, localizados nos passos, “como, quem

e quando fazer”, partilhados no nível operacional. Essa é a maneira pela qual se

sustenta, até os dias atuais, a divisão social e técnica do trabalho, com a separação

do trabalho intelectual do manual interferindo na organização do trabalho, com o

controle do poder e do saber mantido pela força da cultura organizacional formal que

determina as relações de trabalho na dinâmica institucional tanto internamente ao

serviço de enfermagem quanto externamente pela autoridade administrativa

determinada pela hegemonia médica (58-60).

Consideramos que essas reflexões possam explicar as indagações

iniciais sobre o descompasso entre a evolução dos saberes da enfermagem e a

forma como está a organização do seu trabalho, na qual a enfermagem persite em

atuar segundo a cultura e os princípios conservadores com traços do modelo

racional de gestão.

Estudo realizado, com revisão integrativa, sobre supervisão de

enfermagem hospitalar demonstrou que o seu trabalho está direcionado,

principalmente, para a coordenação administrativa das unidades e para o controle

da equipe de enfermagem. Aponta, também, a falta de experiências exitosas sobre

mudanças da supervisão para uma atuação mais condizente com os modelos de

gestão contemporâneos, com enfoque participativo e educativo da equipe de

enfermagem (61).

Essas considerações nos levam a outra questão sobre a evolução da

supervisão de enfermagem ao longo do século XX. Percebe-se certa desconstrução

no trabalho da supervisão na década de 1990 em relação às décadas de 1940 e

1960, período em que há publicações de um modelo estruturado para a supervisão

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

39

de enfermagem que era seguido pelos serviços, para sistematizar as práticas

cotidianas do supervisor.

Verificamos que essas práticas que eram descritas como uma estrutura/

modelo para supervisão de enfermagem, de certa forma, não foram mantidas nas

décadas de 1970 e 1980.

Trabalhos da década de 1990 discutem a necessidade de o trabalho da

supervisão de enfermagem ter um padrão sistematizado com desenvolvimento de

um processo que envolvesse atividades de planejamento, execução e avaliação das

atividades realizadas por meio de técnicas e instrumentos de supervisão para avaliar

a qualidade das intervenções feitas aos pacientes (10-11,20-21,23). Como técnicas são

relatados análise de registros, observação direta, entrevistas, reuniões, discussão

em grupo, demonstração, estudo de caso, análise da situação, e como instrumentos

da supervisão a auditoria, o plano da supervisão, o plano de desenvolvimento e

avaliação do funcionário, cronograma de atividades, manual de normas, rotinas e

procedimentos (21).

O Planejamento Estratégico Situacional (PES) também foi estudado como

uma possibilidade para auxiliar a sistematização da supervisão em enfermagem,

objetivando realizar intervenção efetiva numa perspectiva de construção coletiva,

considerando a dinâmica das relações e as diferentes estruturas das instituições de

saúde (62).

Algumas causas foram relatadas para que o trabalho da supervisão de

enfermagem acontecesse de forma não sistematizada, tais como: falha no

desempenho profissional pelo perfil inadequado ou falta de conhecimento gerencial,

omissão das instituições formadoras em abordar questões da atuação do enfermeiro

na função de supervisão, falta de condições ambientais e de organização do

trabalho nas instituições empregatícias (19,22-23,63).

Refletindo sobre essa lacuna na história do desenvolvimento da

supervisão na enfermagem, buscamos uma justificativa e detectamos uma possível

causa para ter acontecido essa descontrução.

Em julho de 1973, deu-se a criação do sistema dos conselhos da

profissão, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e dos Conselhos Regionais

(COREN) para cada Estado, formalizando a lei do exercício profissional, o código de

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

40

ética e as atribuições para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Os

conselhos, a partir dessas legislações, são responsáveis pela fiscalização do

exercício das práticas de enfermagem nos estabelecimentos da saúde (64-65).

A Lei nº 7498/86/COFEN(64) regulamenta o exercício profissional da

enfermagem e determina o que são ações privativas do profissional enfermeiro, tais

como a organização e a direção dos serviços de enfermagem, exercício das funções

administrativas de planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação

dos serviços da assistência de enfermagem (Art.11) e a supervisão do trabalho

realizado pelos profissionais do nível médio da enfermagem (Art.15). O código de

ética, Resolução COFEN-311/2007(65), acrescenta a responsabilidade do enfermeiro

pelo aperfeiçoamento técnico, científico e cultural da equipe de enfermagem (Art.

69).

A Lei nº 7498/86 (Art.11) também definiu que são privativos do enfermeiro

a direção do serviço de enfermagem das instituições de saúde, bem como os cargos

de chefia das suas unidades, entretanto não definiu uma orientação quanto às

atribuições e às responsabilidades dos cargos de direção e supervisão. Dessa

forma, há diferentes definições de responsabilidades do enfermeiro e dos cargos de

chefia do serviço de enfermagem, dependendo do porte, da estrutura social, da

cultura, dos recursos financeiros para dimensionar o quadro de pessoal das

instituições de saúde.

Na literatura, as ações de supervisão são citadas ora como instrumento

gerencial para a prática do enfermeiro (atividades de supervisão da assistência) (45,

47-48), ora como atribuições de um cargo (função do supervisor) que faz parte do

sistema hierárquico do serviço de enfermagem (6,10,24-25,66).

Acreditamos que tais indefinições são devidas à lei do exercício

profissional, a qual estabelece que, independentemente do cargo ou função que

exerça, a supervisão do trabalho da enfermagem é prerrogativa do enfermeiro,

faltando definir as atribuições para os cargos da hierarquia, como diretores,

supervisores e outros.

Refletimos que a falta de descrição dos cargos, de certa forma, contribuiu

para desarticular e fragmentar ainda mais a prática da supervisão de enfermagem

pela indefinição de atribuições dos supervisores e enfermeiros e dos supervisores e

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

41

diretores. Sem uma determinação das responsabilidades e distribuição de tarefas, o

trabalho transcorre sem uma organização sistematizada.

Também não encontramos, na literatura nacional, atualizações sobre o

conceito, a finalidade e a responsabilidades da supervisão que reflita as

necessidades atuais do trabalho da enfermagem.

Corrobora com essa consideração a ausência do capítulo sobre

supervisão de enfermagem no livro “Gerenciamento em Enfermagem” (67), publicado

em 2005, segunda edição em 2010 e revisada em 2016, por um grupo de

renomadas professoras da área de administração da Universidade de São Paulo. O

mesmo grupo publicou, em 1991, com o título “Administração em Enfermagem” (68),

obra com um capítulo sobre supervisão, que passou a ser referência nacional para a

orientação da prática e do ensino de administração em enfermagem.

Na literatura internacional, verificamos que, vários países da Europa

(Reino Unido, Portugal, Suécia, Dinamarca, Holanda e Finlândia), Canadá, Estados

Unidos da América e Austrália, desde o início da década de 1990, encontraram na

Supervisão Clínica (SC), por meio de discussões em círculo de especialistas, órgãos

governamentais, conselhos e associações profissionais, um caminho para

acompanhamento e orientação das práticas assistenciais em serviços de saúde (69-

74).

Para o desenvolvimento da SC, a enfermagem desses países está

investindo na criação de cursos de pós-graduação, eventos internacionais,

produzindo teoria e políticas para a implantação da prática de supervisão clínica nos

serviços de saúde e também na formação de conhecimentos e competências para

novos profissionais (69-70,73,75-76).

Encontramos várias definições sobre supervisão clínica, porém há certo

consenso entre autores que se trata de processo formal sistematizado, orientado por

um modelo, para fornecer suporte e ensino para o profissional estar apto a tomar

decisões, planejar e realizar procedimentos com segurança, principalmente em

situações de complexidade clínica (69-70,77).

O fundamento da SC se baseia na prática reflexiva das experiências da

prática, promovendo o crescimento profissional por meio da articulação da teoria à

prática, individual ou em grupo, com orientação de um supervisor clínico que

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

42

desenvolva habilidades, estimule e apoie a autonomia para decisões no contexto

assistencial clínico. Pode acontecer, também, por meio da experiência

compartilhada entre pares do mesmo ambiente de trabalho, onde discutem e criam

soluções para as dificuldades e adversidades diárias (73,78).

Para tanto, recomenda-se que a supervisão clínica deva ser distinta da

supervisão administrativa, realizada em momentos distintos e por diferentes

profissionais, pois a supervisão clínica teria como objetivo melhorar a performance

do trabalho clínico, e a supervisão administrativa, assegurar a adesão às

legislações, políticas, normas e procedimentos da instituição (73).

Comparando a literatura norte-americana com a europeia, há duas

concepções diferentes para a finalidade e a prática da SC. Na perspectiva norte-

americana, a SC é realizada por profissionais experts na especialidade que irão

acompanhar. Na concepção europeia, não há necessidade de supervisores

especialistas e a SC se dá por meio de fórum de discussões e reflexões sobre a

prática. Consideram-se também, no processo supervisivo, os aspectos pessoais e

interpessoais dos profissionais com vistas a mantê-los qualificados e

emocionalmente aptos para o trabalho (72).

O trabalho reflexivo e de acompanhamento do supervisor clínico é

desenvolvido por três funções: a restaurativa, para proporcionar apoio ao enfermeiro

na sua prática clínica; a educativa, para promover desenvolvimento pessoal e

profissional; e a normativa, para promover cuidados de enfermagem com qualidade.

Foram desenvolvidos vários modelos com base nessas funções para sistematizar a

SC, com um quadro conceptual que determina o processo de supervisão. Um dos

modelos mais antigos e utilizados foi proposto por Proctor (f). Nesse modelo,

supervision alliance model, a autora propõe uma aliança entre supervisor clínico e

supervisionados, na qual o profissional deverá refletir sobre sua atuação em um

ambiente de liberdade de expressão, sem censura quanto a erros e acertos, e, por

sua vez, o supervisor clínico lhe dará o feedback e as orientações apropriadas (73).

Outra linha de atuação da supervisão clínica está estruturada em um

processo de cooperação formal entre as instituições formadoras e as instituições

f Proctor B. Training for the supervision alliance attitude, skills and intention. In: Cutcliffe J, Butterworth T, Proctor B. Fundamental Themes in Clinical Supervision. London: Routledge Editions. 2001.

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

43

onde ocorre a prática assistencial, com um enfermeiro da prática ou um supervisor

clínico participando da formação dos alunos de enfermagem. Esse processo

proporciona aos aluno e profissionais envolvidos o desenvolvimento de

conhecimentos técnicos e organizacionais, competências pessoais e profissionais,

valores de humanidade e autoavaliação de desempenho durante o percurso de

formação (73).

Observa-se que, no momento atual brasileiro, a supervisão de

enfermagem precisa ser discutida para encontrar um caminho que possibilite exercer

todo seu potencial para qualificar a prática assistencial com práticas reflexivas. Os

modelos já desenvolvidos e testados, pela literatura internacional, podem dar luz a

esse caminho.

1.1.3 Processo de trabalho em saúde e na enfermagem

Ao tomarmos como categoria central de análise o trabalho da supervisão

de enfermagem, faz-se necessária a compreensão teórica sobre o trabalho e como

esse se processa na saúde, na qual a enfermagem está inserida.

Os serviços de saúde fazem parte do setor terciário da economia,

integrando a prestação de serviços à sociedade, com foco nas contingências do

ambiente externo, para realizar planejamento e gestão dos processos de trabalho,

de acordo como as demandas apresentadas.

Por sua vez, os processos de trabalho dizem respeito à forma como são

realizadas as práticas dos profissionais de saúde no cotidiano de uma realidade

institucional a partir dos recursos disponíveis. Para entender como os processos são

estruturados, há necessidade de se conhecerem os componentes que constituem

sua matriz conceitual. Antes de apresentá-los, é necessário entender o conceito de

processo.

Processo é um conjunto de atividades sistematizadas, ordenadas no

tempo e no espaço, tendo um início (entrada/input de insumos), as atividades-meio

que farão a transformação dos produtos iniciais e a finalização (output), resultando

em um produto ou serviço depois de concluído o processo de transformação (33).

Na concepção marxista, o trabalho é um processo em que participam o

homem e a natureza. A força motivadora para impulsionar um processo de trabalho

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

44

é a necessidade ou intenção de produzir algo que tenha valor ou utilidade, para

tanto o trabalho persegue um propósito (finalidade) para sua concretização. Assim, o

homem, orientado por uma finalidade, investe energia para transformar um

determinado objeto (ação inicial) em um produto final. Esse produto deve satisfazer

a necessidade que motivou a ação inicial (27).

O processo de transformação requer energia, a qual advém da motivação

para o fazer/acontecer; também há necessidade de instrumentos (materiais,

técnicas), uma organização em divisão de tarefas e pessoas para a realização do

trabalho e, desse modo, para chegar ao produto desejado. Os componentes

principais para que um processo de trabalho seja realizado são: o objeto, a

finalidade, o trabalho em si, os agentes e os instrumentos principais do processo de

trabalho (27).

Conceituando cada componente, temos que o “objeto” do trabalho é

considerado “aquilo” sobre o qual se incidem as ações dos trabalhadores e que, no

final do processo, será modificado atendendo a intenção que originou o trabalho. O

objeto de trabalho em saúde e da enfermagem é o cuidado, o qual é considerado na

perspectiva da qualidade de vida e se concretiza pelas ações de prevenção,

promoção, tratamento e reabilitação (36).

A “finalidade” do trabalho é a razão, o propósito pelo qual é realizado,

atendendo à necessidade ou intenção que motivou sua existência (36). No caso de

um trabalho em equipe, vários profissionais compartilham da mesma finalidade, a

atenção à saúde, e participam cada qual, contribuindo no seu campo de saber para

a integralidade do ser humano (79).

O trabalho em si é um complexo movimento determinado pelas atividades

realizadas por vários profissionais, por meio de instrumentos e de relações

hierárquicas estabelecidas pela divisão técnica e social do trabalho (59,79). Os

agentes são os profissionais da área da saúde e outros que atuam para assistir o

objeto de trabalho para modificá-lo são considerados os “agentes” (79). Os

“instrumentos” de trabalho são um conjunto de meios, técnicas, métodos, da esfera

material e não material, usados para dar concretude à realização do trabalho em si,

e que se inserem entre o trabalhador e seu objeto de trabalho (27,79-80).

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

45

Instrumentos, ferramentas e tecnologias são termos empregados, de

diversas formas, na realização do trabalho em saúde. Para clarear esses conceitos,

verificamos que instrumentos ou ferramentas são considerados dispositivos ou

mecanismos de ordem físico/material ou de propriedade intelectual, empregados

para realizar alguma tarefa. As tecnologias não são consideradas apenas como um

instrumento tecnológico (por exemplo, um equipamento), são um conjunto de

saberes que permitem ampliar as intervenções para além do tratamento, com

acolhimento às demandas do usuário, estabelecendo vínculo e humanização ao

atendimento (79).

Nessa linha conceitual, as tecnologias em saúde são classificadas em

três tipos: as tecnologias duras, as tecnologias leve-duras e as tecnologias leves.

Por tecnologias duras se entende os produtos já materializados por saberes e

fazeres de processo de trabalho anteriores. São exemplos: os insumos, máquinas,

equipamentos, medicamentos, entre outros. As tecnologias leve-duras referem-se

aos saberes estruturados que direcionam o trabalho por conhecimento do campo

dos saberes multiprofissionais, da legislação ou da instituição. São os protocolos,

normas, rotinas, guidelines, leis, fluxos assistenciais, processo de enfermagem e

outros. As tecnologias leves são os conhecimentos e habilidades que se processam

para proporcionar adequados relacionamentos entre trabalhadores e

usuários/familiares, nos locais onde se dão as práticas de saúde. São exemplos o

acolhimento, a empatia, a atenção e a responsabilização do profissional pelo

cuidado ao usuário, criando vínculo e confiança no serviço(79,81).

O processo de trabalho em saúde acontece em um espaço de relações

chamado de espaço intercessor g - onde se produz um encontro entre profissionais e

usuários -, marcado pela subjetividade de ambos. Nesse momento, os profissionais

buscam, no seu arsenal tecnológico, solucionar as necessidades e demandas dos

usuários, podendo-se dizer que o trabalho se processa “in ato”, ou seja, no momento

da sua realização. O trabalho “in ato” pode acontecer de duas formas: o chamado

“trabalho morto” e o “trabalho vivo” (79, 82).

g Espaço intercessor é o local onde há o encontro de sujeitos no processo de trabalho (profissionais e usuários). Esse espaço caracteriza-se por uma intercessão de partilha com possibilidade de aprendizado uns com outros para realizar o trabalho vivo que permite alterar condutas das ações em saúde considerando a integralidade do usuário (82).

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

46

O “trabalho morto” é considerado quando se realiza o trabalho “in ato”,

com produtos-meio envolvidos em processo de trabalhos anteriores, ou seja, as

necessidades dos usuários são atendidas por meio de tecnologias estruturadas

(protocolo), sem considerar a subjetividade ou integralidade do usuário. Essa forma

de trabalhar é considerada “morta” por seguir determinações, com pouca

possibilidade de criatividade por parte dos profissionais, que seguem à risca os

protocolos, fazendo uso das tecnologias leve-duras e duras (79).

O “trabalho vivo” acontece “in ato”, quando os profissionais escutam as

demandas de forma ampliada, entendem a singularidade do usuário e optam, com

autonomia, por intervenções que melhor o atenda. Os profissionais para esse

atendimento utilizam, principalmente, das tecnologias leves (79).

O resultado do trabalho em saúde não é somente um processo de

transformação em serviços prestados aos usuários, mas também a transformação

do próprio trabalhador, que aprende com o usuário. Isso acontece no trabalho vivo,

“in ato”, pelas experiências adquiridas no processo de trabalho, advindas do

conhecimento produzido, das relações entre as pessoas e da forma de execução

ditada pelo modelo de gestão. A maneira como se organiza o trabalho pode estar

baseada na exploração do trabalhador, que fica alienado de todo o processo e dos

resultados alcançados, ou de forma diferenciada com criação e emancipação do

trabalhador, quando a este é permitida a autonomia para decisões (81,83).

Como parte do processo de trabalho em saúde, a enfemagem integra a

prestação de serviços “in ato” na medida em que lida com o ser humano como

objeto seja para o atendimento individual ou coletivo. As intervenções e os

instrumentos para a realização do trabalho advêm de acúmulo do conhecimento

técnico científico e também das concepções de saúde/doença, da dinâmica social e

da organização dos serviços de saúde, portanto há de se compreender sua

construção histórico-social (59).

Na institucionalização do trabalho da enfermagem moderna, conforme já

apresentado, podemos verificar uma dicotomia do trabalho (intelectual e manual)

que leva a divisão do trabalho da enfermagem em dois processos interligados, o

cuidar, prioritariamente desenvolvidos pelos profissionais de nível médio, e o

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

47

administrar, realizado pelos profissionais de nível superior, perpetuando-se até os

dias atuais (35,48,59).

As abordagens teóricas que explicam a gerência como processo de

trabalho de enfermagem partem de dois paradigmas: um positivista e outro

materialista (8). O paradigma positivista, hegemônico na abordagem da enfermagem

hospitalar, é fundamentado pelas teorias administrativas e corresponde ao modelo

racional (tradicional) de gerenciamento (8,59). Nesse enfoque, a finalidade do trabalho

da gerência é atender os objetivos institucionais por meio de ações, em todos os

níveis hierárquicos de atuação, efetivadas pelas funções administrativas e controle

dos processos de trabalho (55).

O outro, o materialista, é apreendido enquanto inserido nas práticas

historicamente estruturadas e socialmente articuladas, em que a gerência é

instrumento para a efetivação das políticas vigentes, originando o chamado modelo

histórico-social (8,59). Nesse modelo, a gerência, além da organização do trabalho

institucional, volta-se ao atendimento das necessidades de saúde da população, o

que requer a democratização da gestão, redefinição de políticas de atendimento,

ampliação da autonomia dos profissionais e a participação do usuário (57).

Nas instituições hospitalares, nas quais ainda predominam o controle e a

cura de doenças como objeto do trabalho, a enfermagem atua reproduzindo o fazer

assistencial fundamentado no modelo biomédico e o fazer gerencial com traços do

modelo racional de gestão (5-7). É preciso reflexão sobre o objeto, as finalidades do

fazer da enfermagem para superar o paradigma positivista e a maneira fragmentada

de atuar (84).

Estudos referem a possibilidade de integrar e articular os dois processos

de trabalho, o cuidar e o gerenciar, por meio do “gerenciamento do cuidado”, por

meio de ações de uma gerência participativa, com melhora nos processos de

comunicação e interação entre os profissionais da assistência direta e da gerência

(supervisão) para planejarem a assistência ao usuário considerando sua

integralidade e continuidade, desse planejamento, pelos profissionais de outros

níveis assistenciais do sistema de saúde (48,84-86).

Em estudo de revisão integrativa identificou-se oito atividades da gerência

do cuidado na prática cotidiana do enfermeiro, a saber:

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

48

1) dimensionar a equipe de enfermagem;

2) exercer liderança no ambiente de trabalho;

3) planejar a assistência de enfermagem;

4) educar/capacitar a equipe de enfermagem;

5) gerenciar os recursos materiais;

6) coordenar o processo de realização do cuidado;

7) realizar o cuidado e/ou procedimentos mais complexos e

8) avaliar o resultado das ações de enfermagem.

Essas ações também foram relacionadas à busca pela qualidade

assistencial e por melhores condições de trabalho (85).

Outro estudo, realizado a partir de produções nacionais consagradas na

área de gerenciamento, conceitua a gerência do cuidado de enfermagem em

cenários hospitalares, (86:739)

“A gerência do cuidado de enfermagem em sua concepção teórica envolve uma relação dialética entre o saber-fazer gerenciar e o saber-fazer cuidar. A dialética do termo estabelece um jogo de relações que resulta em um processo dinâmico, situacional e sistêmico, que articula os saberes da gerência e do cuidado, possibilitando a existência de uma interface entre esses dois objetos na prática profissional. O saber-fazer da gerência do cuidado de enfermagem ancora-se na dimensão ontológica, de caráter expressivo, à medida que envolve conhecimento científico, ético, estético e pessoal acerca da complexidade do homem no que se referem às singularidades, multiplicidades e individualidades e sua relação e inserção nos diferentes contextos de vida. Este saber-fazer também ancora-se em uma dimensão técnica e da tecnologia, de caráter instrumental, a qual envolve conhecimento científico e pessoal, habilidade técnica, competência gerencial e assistencial. As ações de gerência do cuidado de enfermagem caracterizam-se por ações expressivas e instrumentais de cuidado direto e indireto, a articulação e a interface dos aspectos técnicos, políticos e da politicidade, social, comunicativo, de desenvolvimento da cidadania e organizacionais, que envolvem a práxis da enfermeira em cenários hospitalares”.

Acreditamos que essa definição possibilite refletir não apenas a

integração dos saberes do cuidar e administrar, rompendo os paradigmas

racionalistas, mas abre espaço para construção de novas possibilidades no saber-

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

49

fazer na enfermagem. Nessa perspectiva, acreditamos no potencial da supervisão

de enfermagem para o gerenciamento do cuidado. Essa confiança se baseia na

atuação da supervisão de enfermagem no espaço intercessor do cuidado, com uma

posição hierárquica que lhe permite articular, negociar com várias equipes de

profissionais (administrativos, diretores, enfermeiros e técnicos de enfermagem,

farmácia, almoxarifado, laboratório, assistentes sociais e outros). Essa posição é

facilitadora para a integração dos processos de cuidar e gerenciar pelo

conhecimento ampliado que a supervisão possui sobre o planejamento da

assistência, gestão de recursos materiais, gestão da equipe e a organização do

trabalho orquestrando as atividades que compõem o gerenciamento do cuidado.

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

50

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Sistematizar a prática da supervisão de enfermagem hospitalar para

gerenciar o cuidado.

2.2 Objetivos específicos

Compreender o processo de trabalho da supervisão de enfermagem

na prática cotidiana hospitalar;

Analisar o trabalho, as dificuldades e as necessidades de mudanças;

Construir colaborativamente propostas de ação para a supervisão de

enfermagem gerenciar o cuidado;

Descrever um método para sistematizar a prática da supervisão de

enfermagem.

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

51

3 MÉTODO

Optamos por desenvolver um estudo de abordagem qualitativa por

entender que esse tipo de pesquisa no campo das ciências sociais se fundamenta

na relação dinâmica e indissociável entre o sujeito e sua realidade. Essa abordagem

trabalha com a compreensão dos valores, motivações e atitudes que ocorrem nesse

universo entre sujeitos e sua realidade, aprofundando-se nos significados das

relações não perceptíveis pelos métodos quantitativos (87).

3.1 Cenário da pesquisa

Desenvolvemos a pesquisa em um serviço de enfermagem de Hospital de

Clínicas (HC), público, universitário, do interior do Estado de São Paulo. Esse

serviço ocupa a posição de “departamento” na hierarquia institucional, sendo

nominado como Departamento de Enfermagem (DEnf).

Esse hospital, com 420 leitos é referência macrorregional para o

atendimento terciário e quaternário do Sistema Único de Saúde (SUS)

exclusivamente. Presta atendimento ambulatorial, de internação e urgências para

uma população em torno de seis milhões de habitantes. Sua produtividade anual

atinge, em média, 2,6 milhões de consultas em 44 especialidades; 3,3 milhões de

exames; 15 mil internações eletivas; quase 15 mil cirurgias, além dos atendimentos

de urgência e emergência. Tem como objetivo a promoção do ensino, da pesquisa e

da assistência, servindo de campo de ensino e treinamento a residentes e

estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação de medicina, enfermagem da

Unicamp, de outras áreas da saúde e instituições de ensino (88).

O HC está subordinado diretamente à Reitoria da Universidade e tem

como missão (89):

“Ser um hospital de referência e excelência, prestando assistência complexa e hierarquizada, formando e qualificando recursos humanos, produzindo conhecimento, atuando no sistema de saúde e valorizando os princípios de humanização com racionalização de recursos e otimização de resultados”.

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

52

É importante verificar que essa missão foi determinada para responder

com excelência à assistência, dando importância para aspectos como a qualificação

de pessoal e humanização do atendimento, porém observa-se que seu modus

operandi, desde sua implantação, privilegiou uma organização para atuação dos

departamentos médicos da faculdade de medicina na lógica acadêmica, baseada no

modelo assistencial, fragmentado em especialidades médicas (90).

O modelo gerencial construído desde sua implantação em 1985 foi

moldado pelas teorias administrativas científicas, clássicas e burocráticas, porém

vem buscando alternativas de mudanças no seu modo de gerenciar (66,90). Na

década de 1990, essa instituição passou por problemas de gestão provocados por

importante crescimento da produtividade do hospital, nos atendimentos

ambulatoriais, internações e cirurgias, sem correspondente aumento de repasse de

recursos financeiros ou contratação de profissionais. Essas questões levaram o

hospital a uma crise financeira; sua administração, com o apoio da Universidade,

buscou soluções em medidas de inovações na área gerencial(90).

A primeira medida se deu por volta de 2003, denominada inovação

gerencial, motivada pelo referencial da “Qualidade Total”, promovendo a criação de

comitês da qualidade, visando à racionalização de custos, por meio da revisão dos

processos de trabalho. Para subsidiar as ações gerenciais nessa direção, a

Universidade criou e ofereceu para profissionais de cargos de direção e supervisão

cursos sobre Gestão de Processos (Gepro) e Plano de Desenvolvimento Gerencial

(PDG). Outra medida destacada foi reduzir níveis hierárquicos pela reestruturação

do organograma do hospital (90).

O segundo movimento se deu por volta dos anos 2007 e 2008, chamado

“mudanças de modelo de atenção”, com uma nova tentativa de reestruturação pela

criação de unidades produtivas e colegiados de gestão, abordagens da metodologia

“Paideia”, desenvolvida por Campos (2010) (91), para mudanças na gestão em saúde.

Essa nova proposta de mudança teve a intenção de favorecer a

democratização da gestão e diminuir a fragmentação do cuidado pelas

especialidades médicas. Foram criadas as “unidades produtivas de cuidado” com a

composição de colegiado gestor para buscar soluções conjuntas para resoluções de

problemas da área.

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

53

Para a operacionalização dessa proposta, lançou-se mão de dispositivos

como visitas multiprofissionais, construção de projetos terapêuticos para casos

complexos, contrarreferenciamento de pacientes para os outros níveis da rede de

atenção à saúde, integração das unidades assistenciais (internação e ambulatórios)

com as de apoio diagnóstico e terapêutico e um curso de gestão hospitalar para

apoiar os gerentes das áreas estratégicas da assistência e de administração do

hospital (90).

Para compreensão deste trabalho, que retrataremos nas discussões mais

adiante, cabe destacar que os supervisores de enfermagem, nesta proposta,

passaram a ser denominados “apoiadores”, como profissionais de referência para as

unidades de produção/internação, com a responsabilidade de fazer a interface entre

a macro e a microgestão institucional.

Com essa diferenciação de nominação, “apoiadores”, havia uma

expectativa de mudança na atuação dos supervisores centrados na fiscalização e

controle do trabalho para atitudes de estímulo ao diálogo e análise crítica do

trabalho, com o apoio a soluções conjuntas com a equipe de trabalho (91).

Essa proposta de chamá-los “apoiadores” não foi adiante e a nominação

“supervisores” permanece.

Atualmente o departamento de enfermagem conta com um quadro de

pessoal próximo a 1.530 profissionais, sendo 82 do quadro administrativo, a saber:

01 diretora do DEnf, 03 assistentes de direção, 01 assessora para ensino e pesquisa

representante da faculdade de enfermagem, 02 enfermeiras da educação

continuada, 04 enfermeiros responsáveis por unidades, 08 diretores de serviço, 25

supervisores (02 cargos vagos), 38 administrativos, e 1.447 do quadro de pessoal

operacional, a saber: 346 enfermeiros, 1.083 profissionais de nível médio, 18

instrumentadores (88).

Em dezembro de 2014, a jornada de trabalho para os profissionais de

enfermagem envolvidos diretamente na assistência aos pacientes passou a ser de

30 horas/semanais. Os supervisores foram contemplados nessa nova jornada pela

justificativa que estão diretamente envolvidos no planejamento e acompanhamento

da assistência. Com a redução da jornada de trabalho dos supervisores, sem

acrescentar novos cargos, adotaram-se horários flexíveis de trabalho para os

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

54

supervisores do período diurno, para acompanhamento dos plantões da manhã (7-

13h) e da tarde (13-19h). O supervisor do noturno trabalha cerca de 11 plantões no

mês, no horário das 19 às 7h. Nos plantões em que estão de folga, há uma

cobertura pelo supervisor que se encontra de plantão.

Com essas mudanças, a nova diretoria do DEnf estabeceu no seu

planejamento para a gestão de 2014 a 2018 a revisão do processo de trabalho dos

supervisores. Considerou-se esse momento político favorável para a escolha desse

serviço de enfermagem e promissor para o desenvolvimento da pesquisa-ação, uma

vez que a nossa proposta/demanda foi bem aceita para a construção conjunta de

ações, visando a mudanças no processo de trabalho e objetivando o gerenciamento

da assistência como finalidade do trabalho da supervisão em enfermagem.

3.2 Trajetória metodológica

A prática da enfermagem no ambiente hospitalar se processa por meio de

relacionamentos internos ao serviço de enfermagem, entre sua equipe (gerentes,

secretários, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) e relacionamentos

externos por meio dos serviços de apoio, com a equipe multiprofissional em todos os

níveis hierárquicos, dentro de um universo complexo e conflituoso, onde há muitos

interesses e projetos em disputa que nem sempre atendem os interesses coletivos

e, principalmente, dos pacientes e familiares internados.

Nesse cenário, encontramos fundamentos para o desenvolvimento da

pesquisa qualitativa, que se propõe a analisar,(1:21)

“... os significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalizações de variáveis”.

No campo da pesquisa social em saúde, há possibilidade de o

pesquisador incorporar a compreensão do “significado e da intencionalidade como

inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais” (1:10), refletindo sobre

aspectos da dinâmica social e agindo nas atitudes e interações interpessoais a partir

do significado e valores que os sujeitos atribuem à sua prática.

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

55

Com a visão ampliada pela abordagem qualitativa e o seu entendimento

da dinâmica social que envolve os interesses institucionais e de grupos específicos

(1,28,88), pudemos avançar na compreensão da subjetividade e objetividade que

envolvem e influenciam o trabalho da supervisão de enfermagem. A subjetividade,

dada pela variação da formação profissional, experiências, preparo e despreparo

para exercer a função, bem como as motivações, as insatisfações, entre outras

questões pessoais que interferem no desempenho do supervisor, e, por outro lado, a

objetividade da realidade hospitalar apresentada na sua missão, cultura e valores, a

redução de recursos financeiros, sua natureza pública com relações de poder

hierarquizadas e interferência política, entre outras questões determinam o modo de

atuação da enfermagem.

Existem cinco classificações para pesquisas sociais propostas por

Bulmerh, a saber: pesquisa básica, pesquisa estratégia, pesquisa orientada para

assuntos específicos, pesquisa de inteligência e a pesquisa-ação.

Consideramos que, desses cinco tipos, a Pesquisa-Ação (PA) seria o

referencial metodológico que melhor atenderia aos nossos objetivos de sistematizar

a prática da supervisão de enfermagem por meio de mudanças no seu processo de

trabalho, pois é o tipo de estudo em que ocorre o envolvimento do pesquisador e

atores que vivenciam a situação a ser investigada para trabalharem de forma

cooperativa e participativa em ações resolutivas (30).

Esse propósito participativo e de inclusão confere à PA um caráter

intervencionista e, ao mesmo tempo, um caráter educativo pelo compartilhamento de

saberes e uso de meios científicos para responder, com maior eficiência, aos

problemas da situação vivenciada, construindo estratégias para ações

transformadoras que impulsionem a produção de um novo conhecimento (93).

Por essas características, a pesquisa-ação tem sido utilizada de forma

significativa na área da saúde e na enfermagem quando há interesse de ambos, da

academia e da instituição de saúde, em modificar uma realidade local (29,94-96).

Ao revisitar a história para entender a gênese e os fundamentos da PA,

verificamos que é atribuído a Kurt Lewin (1890-1947) suas origens (28-30,97). Segundo

h Bulmer M. Social Policy Research. Londres:The Macmillan Press; 1978. Apud Minayo, 2010 (1:25).

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

56

Mailhiot (2013) (97), Kurt Lewin era judeu, nascido na Alemanha nazista, onde

estudou psicologia e trabalhou como professor e pesquisador no Instituto

Psicanalítico de Berlim. Sofrendo perseguição do regime nazista na época da

Segunda Guerra Mundial, refugiou-se nos Estados Unidos da América, onde se

tornou professor e pesquisador na Universidade de Harvard. Em 1945, a pedido do

Massachussets Institute of Technology-MIT, fundou um centro de pesquisas em

dinâmica de grupos, desenvolvendo pesquisas na área de psicologia organizacional

e atribuindo grande valor à ciência para solução racional dos problemas das

instituições.

Esse breve histórico nos forneceu a compreensão do envolvimento desse

psicólogo em estudos da dinâmica envolvendo pequenos grupos, pois, tendo sofrido

preconceitos, queria entender como as formas de discriminação se reproduziam na

sociedade. Acreditava na democracia e no poder da união da pesquisa, da

educação e da ação social para deter as injustiças sociais e a discriminação aos

pequenos grupos e, desse modo, solucionar conflitos intergrupais. Para esse autor,

as transformações culturais e estruturais na sociedade só seriam possíveis a partir

de mudanças em pequenos grupos para posteriormente se estenderem aos grupos

majoritários (30,97).

As pesquisas de Lewin sofreram influências das técnicas de

quantificações dos resultados e análises estatísticas das pesquisas positivistas de

sua época, porém o autor se diferenciava por entender que toda pesquisa em

psicologia social deveria fazer referência ao contexto e ter uma abordagem

interdisciplinar (97).

Com o passar dos anos, a PA, aplicada internacionalmente, toma outros

rumos, passando a ser pensada em associação a diversos quadros teóricos, como

antropologia, teoria dos sistemas, comunicação política e filosofia, assumindo a

abordagem qualitativa sem perder sua concepção original de transformação da

realidade (30,98).

Verificamos, na literatura, pesquisas em diversas áreas, em diferentes

momentos históricos que se confundem com a abordagem participativa da PA,

sendo utilizadas como instrumento de investigação de trabalho para diagnóstico

participativo de uma situação problema; intervenção institucional ou em

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

57

departamentos governamentais; pesquisas sobre práticas profissionais das áreas da

administração, serviço social, educação e saúde (99-100). Nessas intervenções recebe

nomenclatura diversificada, tais como: pesquisa-ação-participante, pesquisa

participante, pesquisa intervenção, autoinvestigação, pesquisa militante, entre outras

(30, 93).

A partir da década de 1960, em alguns lugares da América Latina, Ásia e

África, aparece a nominação de Pesquisa Participante (PP) muito confundida e, por

vezes, usada como sinônimo de PA, mas com a característica específica de

pesquisar as realidades sociais (101).

A PP é um tipo de pesquisa participativa, também usada como alternativa

às práticas convencionais de pesquisa, em que há o compromisso social, político e

ideológico do(a) pesquisador(a) com a comunidade e com suas causas sociais,

tendo como eixo teórico norteador a educação (28,101).

No Brasil, esse tipo de pesquisa aparece a partir dos anos 1970 com os

trabalhos do educador Paulo Freire (1921-1997), fundamentados na teoria da

libertação e problematização, para atuar em problemáticas específicas de educação

popular, moradores de periferia, populações indígenas, desenvolvimento rural,

condições da mulher, meio ambiente e outras, envolvendo ações para grupos e

movimentos sociais, com apoio de organismos internacionais e Organizações não

Governamentais (ONG) (30,101).

Com essa breve revisão, observamos que as pesquisas de caráter

participativo possuem duas vertentes metodológicas de fontes intelectuais

diferentes, uma na sociologia (trabalhos institucionais), outra na educação (trabalho

com comunidades e movimentos sociais), mas ambas valorizam a participação e o

conhecimento dos sujeitos envolvidos no problema como princípios básicos para

transformação da sua realidade (30,93).

Para esta pesquisa, consideramos a definição segundo a vertente

sociológica da pesquisa-ação (30:15):

“...um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada com estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes, representativos da situação ou do problema, estão envolvidos de modo cooperativo e participativo”.

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

58

A pesquisa-ação pressupõe uma concepção de ação, requer a definição

dos atores (pesquisador e membros da instituição participante), um objeto sobre o

qual se aplica a ação, definição dos objetivos, os meios e estratégias para seu

desenvolvimento e um campo ou domínio delimitado (99:24).

A PA apresenta princípios norteadores que serviram para nos guiar, são

eles (99:20):

a) inicialmente deve haver esclarecimento e conscientização dos

participantes sobre o objeto da ação, os objetivos e os interesses que envolvem a

pesquisa, bem como o compromisso e as expectativas de todos os envolvidos;

b) empregar várias técnicas como: entrevistas, observação, grupo focal,

pesquisa de dados e documentos para melhor compreensão dos fatos a partir da

triangulação dos dados;

c) realizar a alternância entre teoria e prática durante todo o

desenvolvimento da PA;

d) prevalecer o caráter democrático e de participação em todas as etapas

da pesquisa com liberdade para que as pessoas tenham iniciativas para pesquisar,

conhecer a realidade, expressar suas opiniões e ideias divergentes;

e) informar e validar por meio da devolutiva dos resultados parciais e

andamento das etapas da PA;

f) ter objetividade e, com a veracidade dos dados, elucidar a questão

central do problema, desconsiderando situações particulares ou de pouca

importância para o coletivo;

g) a cultura organizacional deve ser compreendida para auxiliar nos

consensos a partir da reflexão de fatores envolvidos nas relações de poder e

conscientização da forma de trabalhar dos grupos;

i) informar e publicar os resultados da PA à instituição e à sociedade

científica para que deem legitimidade à pesquisa.

Para a organização do projeto de PA, recomenda-se um planejamento

flexível, composto por fases desenvolvidas por procedimentos técnicos e operativos,

em um movimento circular, para adequá-lo às necessidades da realidade. Esse

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

59

movimento de circularidade carateriza-se por um ciclo de ação-reflexão e

aprendizagem-ação, no qual participam os atores envolvidos na PA para que

possam compreender e tomar decisões sobre o caminho metodológico mais

adequado para cada fase que se deseja intervir (29,92,99).

Sendo assim, a investigação na pesquisa-ação não se define totalmente

no projeto, sendo um processo de permanente construção a partir de um diagnóstico

da situação e reconstrução de acordo com os resultados alcançados no

desenvolvimento das etapas da pesquisa (98).

Apesar do entendimento da necessidade de flexibilização no

planejamento da PA, autores advertem para a necessidade do rigor científico na

utilização de métodos e técnicas para o desenvolvimento das suas fases, bem como

para a validação e divulgação dos resultados (28-30,93-94).

3.2.1 Desenho do estudo

O número de fases e sua nominação podem variar, dependendo dos

propósitos do projeto e das adaptações feitas pelo grupo envolvido na PA. De forma

geral, inicia-se com a compreensão do problema na sua realidade, por meio de:

levantamento de dados; análise e interpretação; identificação das necessidades de

mudança; levantamento de possíveis soluções em conjunto com os participantes e

planejamento de ações com vistas à mudanças da realidade (28-29,99).

Estabecemos um desenho de quatro fases para o desenvolvimento da

PA, a saber (99:45):

1. Fase exploratória - momento em que foi proposta para a diretoria do

DEnf a revisão do processo de trabalho da supervisão em enfermagem com vistas a

uma prática sistematizada. Nessa fase, iniciamos a compreensão do processo de

trabalho na prática por meio de entrevistas com enfermeiros e supervisores;

2. Fase de aprofundamento - momento em que adentramos ao universo

da prática da supervisão de enfermagem de um serviço de enfermagem do DEnf

para conhecimento, observação e vivência do cotidiano do trabalho da supervisão.

Nessa fase, fizemos devolutivas e discussão sobre os resultados obtidos na primeira

fase da PA; analisamos o trabalho, as dificuldades e as necessidades de mudanças;

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

60

3. Fase da ação - momento em que realizamos, por meio de oficinas,

reflexões, discussões e concensos para construir, colaborativamente, propostas de

ação para aproximar a supervisão do gerenciamento do cuidado;

4. Fase da avaliação - essa fase se encontra por último por uma questão

didática. As análises, as avaliações e as validações dos resultados foram

acontecendo durante e após todas as fases citadas acima, com os participantes da

institução e pesquisadores.

O conhecimento adquirido pelos resultados discutidos e analisados foram

norteadores para as adequações do planejamento e estratégias no prosseguimento

das fases da pesquisa. Esse movimento é compreendido como o ciclo da pesquisa-

ação, ou seja, da “ação-reflexão” para o “aprendizagem-ação” (figura1).

Figura 1- Relações entre pesquisa, ação, aprendizagem e avaliação.

Fonte: Thiollent, 2009 (99:46).

Apresentamos, a seguir, o desenho da pesquisa-ação, realizado em

quatro fases, com estratégias e técnicas utilizadas em cada uma delas (figura 2).

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

61

Figura 2- Desenho das quatro fases da pesquisa-ação "Supervisão de enfermagem: construindo um caminho para a prática sistematizada", Campinas-SP, 2017.

Fonte: Elaboração da autora, fundamentado no método da pesquisa-ação (29-30,93,99).

Descrevemos, a seguir, a estrutura formal metodológica para o

desenvolvimento de cada fase da PA, seguindo sequencia recomendada por Bosco

(2014) (93:146) : objetivos, instrumentos e organização da fase.

Os resultados obtidos pelas atividades desenvolvidas, em cada fase,

foram analisados e discutidos por meio de encontros entre as pesquisadoras e os

atores participantes da instituição. Esse movimento de devolver os resultados e

verificar sua pertinência é considerado uma validação em PA (30). Em alguns

momentos, também foram envolvidos, para análise e discusão dos resultados,

pesquisadores do grupo de Pesquisa e Estudos em Educação e Práticas de

Enfermagem e Saúde-Gepedes/Unicamp e professores especialistas na área de

gestão e método da PA, conforme relatado mais adiante.

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

62

3.2.2 Preparação da pesquisa - o ponto de partida

O ponto de partida da pesquisa aconteceu em agosto de 2014 por meio

de um encontro das pesquisadoras com a diretora e assistentes do DEnf do hospital

onde se realizou a pesquisa. Apresentamos o objetivo do estudo e a proposta de

desenvolvê-lo pelo método da PA. Naquele momento, estava se iniciando uma nova

gestão e, no seu planejamento para o período de 2014-2018, havia sido

estabelecida, como uma das prioridades, a revisão do processo de trabalho dos

supervisores.

Verificamos, dessa forma, que os propósitos do estudo estavam em

consonância com os interesses e as necessidades do DEnf, e assim ficou

estabelecida a “demanda”, sendo pactuada as implicações de participação na PA de

ambas as partes, pesquisadoras e participantes da instituição.

Seguiram-se conversas em que foram disponibilizados dados sobre o

dimensionamento do quadro de pessoal e dos supervisores, escalas de trabalho e

regimento do serviço de enfermagem com as atribuições do supervisor. Com a

demanda pactuada, ou seja, a revisão do processo de trabalho dos supervisores

com vistas a mudanças para uma prática sistematizada, elaboramos o projeto de

pesquisa, que foi encaminhado para apreciação e sugestões do grupo participante,

ou seja, a diretoria do DEnf e enfermeiras da Seção de Educação Continuada

(SEC).

Em dezembro de 2014, foi aprovada a realização da pesquisa pelo

Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e realizado o planejamento das ações

propostas para a primeira fase, a exploratória. Para o início dessa fase, realizamos

duas reuniões, uma com os diretores dos serviços de enfermagem e outra como os

supervisores do DEnf, para apresentação do projeto, da proposta de trabalho com o

método PA, com esclarecimentos sobre a participação e construção conjunta dos

atores institucionais e foram esclarecidas as dúvidas e acatadas as sugestões dos

presentes.

Esses momentos de preparação para a entrada no campo nos permitiram

nos aproximar de críticas, sugestões, expectativas e dificuldades com o objeto de

estudo - a supervisão de enfermagem -, e foram fundamentais para iniciar o

relacionamento da pesquisadora com a diretoria do DEnf, com diretores de serviço e

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

63

supervisores de enfermagem bem como a implicação e participação de todos no

desenvolvimento das fases da PA.

3.2.3 Primeira fase exploratória - compreendendo o processo de

trabalho da supervisão em enfermagem

Essa fase marca o processo de exploração que nos permitiu compreender

o processo de trabalho da supervisão e seus principais componentes, ou seja, o

trabalho em si nas atividades cotidianas, a finalidade pelo qual desempenham o

trabalho e os instrumentos que usam para materializar o trabalho.

A organização metodológica será apresentada na sequência de: objetivo,

instrumento e organização, conforme já mencionado (93:146).

1. Objetivos da primeira fase exploratória:

- descrever o perfil dos enfermeiros e supervisores de enfermagem;

- compreender e validar a prática da supervisão de enfermagem no

contexto institucional;

- identificar a finalidade do trabalho da supervisão de enfermagem;

- verificar métodos e técnicas utilizados no desenvolvimento do trabalho

da supervisão.

2. Instrumento

Realizamos entrevistas com enfermeiros e supervisores de enfermagem

para a coleta de dados, pois consideramos que, por meio dessa técnica, pode-se

estabelecer processo de interação entre o pesquisador e os informantes,

oferecendo-lhes condições para que, sem constrangimento e com espontaneidade,

forneçam as informações necessárias à investigação (1,98).

Para facilitar o processo de interação e objetividade, seguimos os passos

propostos por Haguete (102) ,

a saber:

a) preparo do pesquisador como entrevistador, a partir de postura, forma

de abordagem dos entrevistados e ajustes nas questões fornecidos pelas entrevistas

do projeto-piloto;

b) escolha dos entrevistados, que será descrita a seguir;

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

64

c) preparo do local da entrevista. Fizemos contato prévio, com os

indicados à entrevista, explicando-lhes a importância da sua participação com

agendamento, em ambiente privativo da rotina das enfermarias e dentro do horário

de trabalho. Para essa organização, contamos com o apoio das enfermeiras do

Serviço de Educação Continuada do DEnf (SEC).

Fizemos um roteiro semiestruturado para as entrevistas que foi pré-

testado e revisado em um estudo-piloto. Esse roteiro continha um questionário para

caracterização dos profissionais e perguntas abertas focadas em questões sobre a

rotina da supervisão, as atribuições do supervisor, a finalidade, os instrumentos

(métodos e técnicas) utilizados na prática da supervisão, entre outras (Apêndice A).

No momento da entrevista, explicamos os objetivos da pesquisa, a

importância da participação espontânea e pedimos a permissão para gravação e

solicitamos a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Apêndice B).

3. Organização

A população foi constituída por supervisores de enfermagem e por

enfermeiros de quatro unidades (unidade de emergência referenciada, unidade de

terapia intensiva, pediatria e internação adulto) consideradas representativas da

dinâmica hospitalar pela demanda, complexidade e diversidade dos pacientes

quanto ao nível de complexidade do cuidado. Desse modo, conforme recomenda-se

para amostras representativas, foram identificadas nessas unidades várias

dimensões do contexto hospitalar que favoreceram a compreensão do objeto do

estudo e o trabalho da supervisão de enfermagem (103).

O envolvimento dos enfermeiros na composição da amostra teve como

justificativa a triangulação de informações para ampliar a visão do trabalho da

supervisão e confirmar as informações obtidas pelos supervisores. Desse modo,

obtivemos o significado da prática da supervisão pelo olhar dos profissionais que a

realizam e de outros profissionais que estão sob sua orientação e subordinação.

Para a composição da amostra, foi considerado o critério da

intencionalidade para a representação de grupos relevantes (28). A amostra foi

constituída por oito supervisores, sendo quatro do período diurno e quatro do

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

65

noturno (um diurno da unidade de emergência referenciada; dois da unidade de

terapia intensiva - um diurno e um noturno; um noturno da pediatria e quatro da

unidade de internação adulto, sendo dois diurnos e dois noturnos) e por doze

enfermeiros de cada unidade referida, sendo um de cada plantão (manhã, tarde e

noturno), para a compreensão do trabalho da supervisão nas 24 horas.

Consideramos suficiente o número definido para a amostra, não sendo

necessária a inclusão de novos participantes. Essa afirmação tem fundamento nos

critérios de saturação da amostra, que assegura ser o número suficiente da amostra

quando à repetição de informações nas entrevistas (104).

A indicação dos participantes foi feita pelo diretor de cada serviço citado,

pelo critério descrito abaixo:

- Para os supervisores: profissionais com mais de um ano na

atividade de supervisão que demonstravam proatividade para o trabalho e eram

preocupados com os resultados alcançados na assistência de enfermagem,

garantiam o cumprimento das normas institucionais, orientavam e planejavam a

ação de educação permanente com sua equipe, estavam preocupados com a

qualidade da assistência prestada aos pacientes e familiares e motivados para

processos de mudança no trabalho cotidiano.

- Para enfermeiros: profissionais que demonstravam proatividade

para o trabalho e se preocupavam com os resultados da assistência prestada aos

pacientes e familiares e que cumpriam as normas e protocolos institucionais e

estavam preocupados com a qualidade da assistência aos pacientes e familiares.

Foram excluídos da amostra os profissionais indicados que se

encontravam em férias, afastamentos ou aqueles que não desejaram participar do

estudo.

Organização e análise dos dados. Para a organização dos dados,

seguimos os passos operacionais propostos por Minayo (2010) (1:234), com a

ordenação dos dados, classificação e análise final.

O conteúdo das entrevistas gravadas foi transcrito literalmente, ouvido e

lido repetidamente, considerando as frases, as colocações com entonações

enfáticas em palavras e o sentido das ideias expressas pelos entrevistados. Esse

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

66

primeiro movimento de leitura dos dados coletados permitiu a ordenação e

organização do conteúdo das narrativas dos entrevistados, a cada resposta às

perguntas e também no cruzamento delas.

O passo seguinte foi fazer um quadro com dados pré-classificados em

três categorias analíticas construídas a partir do referencial do processo de trabalho:

o trabalho em si (trabalho feito no cotidiano), a finalidade e os instrumentos do

trabalho da supervisão de enfermagem.

Em seguida, fizemos a reclassificação dos dados, considerando as ideias

centrais expressas pelos entrevistados e apreendendo a estrutura de relevância de

pontos-chaves para a interpretação do objeto do estudo. Assim, iniciamos a

codificação, utilizando cores diferenciadas para o material organizado nas categorias

empíricas, levando em consideração sua repetição e relevância (103).

Finalizamos a ordenação e classificação do material empírico em três

categorias analíticas: o trabalho do supervisor, a finalidade do trabalho e os

instrumentos que utilizam no trabalho da supervisão.

A primeira categoria analítica diz respeito ao trabalho em si (do cotidiano

da supervisão) e foi subdividida em três categorias empíricas: a rotina de trabalho,

responsabilidades e autonomia para tomada de decisões. A segunda categoria

analítica se relacionou à finalidade do trabalho e foi subdividida em duas

categorias empíricas: considerações pessoais sobre a finalidade do trabalho da

supervisão e aproximações conceituais sobre as finalidades apontadas; e a terceira

categoria teórica analítica, os instrumentos, subdividiu-se em duas categorias

empíricas: o conhecimento de métodos e técnicas empregadas no desenvolvimento

do trabalho da supervisão de enfermagem.

As análises finais resultaram de interpretações feitas das narrativas dos

entrevistados em comparações com o referencial teórico sobre o processo de

trabalho em saúde e das inferências das pesquisadoras pela vivência prática e pela

validação da sua pertinência feita pela diretoria do DEnf. Essas análises foram

ampliadas pelas contribuições dos pesquisadores do Grupo de Pesquisa e Estudos

em Educação e Práticas de Enfermagem e Saúde-Gepepes/Unicamp.

Após a discussão e validação dos resultados da primeira fase, segundo

preceitos da PA, combinamos, com os participantes do DEnf, o planejamento e as

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

67

estratégias para a fase dois: aprofundamento no cotidiano do trabalho da supervisão

de enfermagem.

3.2.4 Segunda fase - aprofundamento e encontro com a prática da

supervisão em enfermagem

Esta fase se fundamentou na perspectiva epistemológica da pesquisa-

ação de não conceber a verdade somente nos fatos e dados preexistentes, mas

construí-la a partir das aproximações sucessivas com o objeto investigado, com

ampla e explícita interação entre pesquisadora e profissionais implicados na

situação investigada (30).

1. Objetivos desta fase

- Observar e acompanhar as atividades do cotidiano da supervisão de

enfermagem;

- Analisar o trabalho da supervisão, as dificuldades e necessidades de

mudanças.

2. Instrumentos

Foram realizadas reuniões com a diretora do Denf, diretores de serviço e

supervisores para discutir os resultados da primeira fase e fazer os

encaminhamentos do planejamento da segunda fase da PA. Para a coleta de dados,

utilizamos a observação participante e um diário de campo como instrumento para

registros das observações. A técnica de observação participante prevê a inserção do

pesquisador em interação com o grupo observado por um período de tempo em que

seja possível perceber o significado do trabalho por meio do convívio e partilha das

atividades do seu cotidiano (105).

As observações foram registradas em moleskine ou gravadas após os

fatos observados para preservar a memória e distante da presença do profissional

que estava sendo acompanhado para não constrangê-lo ou provocar informações

encobertas ou não verdadeiras (92,106). O conteúdo das anotações foi mais

abrangente que simplesmente a descrição das ocorrências. Registramos as

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

68

impressões e percepções por análises crítica e interpretativa das situações

vivenciadas (106).

Esses apontamentos e gravações foram ouvidos e organizados segundo

os componentes do processo de trabalho, seguindo a organização dos dados

coletados e análise dos resultados da primeira fase.

3. Organização

A unidade escolhida para continuidade da segunda fase da PA, em

conjunto com a diretoria do DEnf, foi a Unidade de Internação de Adultos (UIA).

Partimos da concepção de que uma área restrita de atuação, em pesquisa-ação,

favorece o conhecimento em profundidade do objeto de estudo e pode, futuramente,

ter articulação com outras áreas sob influência da mesma realidade (93).

Desse modo, a UIA foi escolhida por ser o maior serviço de enfermagem

do DEnf, composta por unidades de internação denominadas pelas especialidades

médicas (UI cardiologia/pneumologia, UI nefrologia,UI psiquiatria, UI transplante de

medula óssea, UI neurologia, UI hematologia, UI trauma entre outras), localizadas

nos quarto, quinto e sexto andares do hospital, com 307 leitos ativos em 2016, um

quadro de pessoal de enfermagem de 154 enfermeiros, 406 técnicos de

enfermagem, nove supervisores diurnos e três noturnos para acompanhar a

assistência nas 24 horas.

Consideramos também para a escolha a representatividade da UIA por

ser um serviço de enfermagem bem diversificado pelas especialidades médicas,

com vários níveis de complexidade assistencial e sua articulação com vários

serviços de enfermagem, como, por exemplo, a Unidade de Emergência

Referenciada (UER), a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o Centro Cirúrgico

(CC).

Nessa ocasião, uma das assistentes do DEnf responsável pela gestão do

cuidado estava coordenando um projeto de revisão das atividades técnicas

utilizando a metodologia da problematização, com objetivo de adequar o processo

de trabalho dos supervisores ao acompanhamento da assistência prestada pela

equipe de enfermagem. A experiência desse projeto está relatada nos anais do 67º

Congresso Brasileiro de Enfermagem (107).

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

69

Esses treinamentos eram programados para acompanhamento da rotina

de um plantão matutino de uma determinada enfermaria, para um pequeno número

de supervisores (3 a 4) com duração de oito dias. O treinamento era conduzido pela

assistente do DEnf/coordenadora do projeto, acompanhada por um grupo de

observadoras composto pela diretora do serviço de enfermagem da UIA e a

enfermeira da SEC).

Fomos convidadas para participar desse projeto com o objetivo de nos

integrarmos ao grupo de supervisores e diretores da UIA. Isso aconteceu em junho

de 2015 com a participação da pesquisadora em um dos treinamentos, com a

observação sobre a forma do supervisor conduzir o trabalho assistencial aos

pacientes internados, postura e relacionamento com as equipes de enfermagem e

discussões críticas sobre as práticas realizadas.

Posteriormente a essa atividade, foram realizadas três reuniões com as

Diretoras de Enfermagem e supervisores (diurnos e noturnos) da UIA, nas quais

foram apresentados os resultados da primeira fase da PA e foi planejada a

participação da pesquisadora em atividades do cotidiano do serviço durante o

segundo semestre de 2015.

No desenvolvimento dessa fase, houve algumas intecorrências de ordem

institucional que julgamos necessário relatar nesse capílulo, pois demandou reflexão

e adequação do percurso metodológico da PA.

No cenário macroinstitucional e as reformas da previdência social

anunciadas em nível nacional foram um estímulo para os servidores em condições

de se aposentarem solicitarem seu desligamento abruptamente. Esse foi um dos

fatos que interferiram na continuidade do projeto mencionado acima e que levou à

aposentadoria da assistente do DEnf que coordenava os trabalhos, além da

rotatividade de funcionários pelas saídas e consequentes admissões que

demandavam atenção constante dos supervisores, com a escala de trabalho e

treinamento de novos funcionários.

No primeiro semestre de 2016, retomamos o planejamento do projeto com

as diretoras da UIA e foi programada a observação participante com supervisores

em atividades cotidianas e de eventos planejados, como tutoria de supervisores,

auditoria da estrutura das unidades e planejamento da implantação do protocolo

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

70

sobre prevenção de quedas. Mesmo assim, tivemos dificuldades para encaminhar

discussões e reflexões necessárias para a continuidade da PA com os supervisores

da UIA.

Vivenciamos o que os estudiosos da pesquisa-ação alertam sobre o

objeto de investigação não ser constituído pelas pessoas mas, sim, por situações

sociais e institucionais de diversas naturezas que, muitas vezes, são obstáculos

encontrados na realidade(30,108). Diante desses obstáculos, lançamos mão do recurso

da formação de grupo de estudo e/ou seminários com especialistas para conceber,

orientar e auxiliar o processo e desenvolvimento da pesquisa-ação (99:55).

Desse modo, as dificuldades e os resultados preliminares das fases um e

dois foram apresentados e discutidos em reunião do grupo de pesquisa Gepepes.

Nessa ocasião (maio 2016), contamos com a participação de uma especialista da

área de gestão, a Dra Maria Manoela Frederico Ferreira, professora da Escola

Superior de Coimbra, Portugal, que, se encontrava como professora visitante do

programa de pós-graduação da Faculdade de Enfermagem-Unicamp.

Os resultados analisados na reunião do grupo de pesquisa foram levados

à diretoria do DEnf e discutimos a necessidade de reconsiderarmos o planejamento

anterior, e decidimos compor com todos os supervisores (100% do grupo) para a

continuidade da PA. Outro fator determinante para a substituição da proposta foi o

tempo acadêmico para a finalização da pesquisa, pois tínhamos planejado um

semestre para a conclusão dessa segunda fase, e já se estendia por dois

semestres. Compreendendo que a pesquisa-ação pressupõe um movimento de

circulariedades entre “ação-reflexão” e “aprendizagem-ação”, passamos pela

experiência de (re)construção do percurso para alcançar os objetivos da pesquisa

(93,99).

Obtivemos total apoio do DEnf para a continuidade da terceira fase, a

ação. Acordamos pela estratégia de oficinas, com um cronograma de atividades

pactuado dentro das possibilidades apresentadas pelo DEnf, para a participação de

todos os supervisores de enfermagem, do período diurno e do noturno com o apoio

dos diretores de serviço para a cobertura do trabalho na ausência do supervisor.

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

71

3.2.5 Terceira fase- ação

Para a fase de ação, definimos, em conjunto com os participantes, a

realização de oficinas, por sua abordagem ser participativa e democrática, portanto

adequada aos objetivos da pesquisa-ação.

1. Objetivo dessa fase

Construir colaborativamente propostas de ação para solucionar as

dificuldades que afastam a supervisão do gerenciamento do cuidado.

2. Instrumento

Optamos por desenvolver como instrumento para o trabalho dessa fase

oficinas de abordagem psicossocial para estimular o trabalho grupal participativo,

com integração, cooperação e estímulo aos supervisores para a construção de

trabalho coletivo e representativo do grupo.

O termo “oficina” é atribuído às diversas formas de trabalho com grupos,

em diversas áreas da educação, saúde, movimentos sociais, para diversas faixas

etárias, em que se busca construir soluções para problemas ou situações

vivenciadas no seu contexto (109-110). Para tanto, o método de “oficina” oferece uma

estrutura planejada em encontros que permite ao grupo participante ter voz e

sensibilização para as diferenças grupais emergentes a partir de um processo

democrático, participativo, com liberdade de expressão. A tarefa grupal é refletir

dificuldades sobre uma questão ou problema central e fazer propostas para

solucioná-las (109-110).

Esse trabalho se diferencia de projetos pedagógicos, que visam trabalhar

vivências, e também de grupos terapêuticos porque não possui a pretensão de uma

análise terapêutica mais profunda de seus participantes (109).

A literatura ressalta, também, o potencial das oficinas na promoção do

exercício ético e político. Ao mesmo tempo em que o trabalho em oficinas propõe

discutir e gerar material para análises e solução de uma questão central, provoca-se

exposição de fatos e ideias que geraram conflitos construtivos e podem conduzir a

debates políticos de transformação da realidade(110).

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

72

Para alicerçar a complexa tarefa de conduzir o grupo a aprender a pensar

sobre os incômodos da sua vivência, integrando estruturas afetivas, ressignificando

conceitos e reconstruindo ideias para transformá-las em práticas promotoras de

respostas positivas às demandas do trabalho, Afonso (2010) (109) e uma equipe de

psicólogos desenvolveram um método para desenvolver “oficinas com abordagem

psicossocial”. Nesse método, as autoras reuniram contribuições de teorias de

consagrados autores que trabalharam com dinâmica de pequenos grupos,

abrangendo três dimensões(109:30):

1. A dimensão psicossocial vinda da contribuição dos estudos de Kurt

Lewin, com a teoria de campo que trabalha comportamento, linguagem e valores

nas instituições, papel de liderança. Lewin é também criador do método da

pesquisa-ação, dos estudos sobre dinâmica de grupo e estudioso do papel do

coordenador como dinamizador e motivador da comunicação no grupo.

2. A dimensão psicodinâmica encontrada em autores como Freud, que

facilita a compreensão da identificação e sublimação como base do vínculo grupal;

Bion, pela identificação do nível consciente e inconsciente das angústias e medos,

interferindo no processo grupal e do papel do coordenador para identificar as

defesas que independem do andamento dos trabalhos; Foulkes, com o conceito de

matriz grupal, que visa tornar consciente os elementos recalcados e defesas

inconscientes e auxiliar no campo da comunicação grupal; e Pichon-Rivière, que

identifica as matrizes de resistências às mudanças pela tarefa interna do grupo

(defesas) e pela tarefa externa (objetivo consciente a ser alcançado), orientando a

compreensão dos processos grupais e o papel do coordenador;

3. A dimensão educativa, baseada na pedagogia da autonomia de Paulo

Freire, que advoga o aprender em grupo, no contexto do grupo, com o saber do

grupo. No trabalho educativo, o processo de aprendizagem, comunicação e

autonomia estão inter-relacionados.

Consideramos, para o desenvolvimento de oficinas no contexto do nosso

estudo, a definição de Afonso (2010) (109:9).

“Oficina é um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número de encontros, sendo focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto social”.

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

73

3. Organização das oficinas

Para organização e planejamento das oficinas, seguimos as orientações

de Afonso (2010) (111) detalhadas a seguir:

a) Grupo participante das oficinas: Todos os supervisores do período

diurno e noturno, exceto os que se encontravam de férias.

b) Demanda e tarefa: A demanda inicial da PA partiu de nós e foi

pactuada com a diretoria do Denf, sobre a necessidade de rever o processo de

trabalho da supervisão de enfermagem de forma mais sistematizada. Com o

percurso e interlocução da pesquisadora com supervisores e diretores durante a

primeira e segunda fases, foi partilhada a necessidade de alinhar o trabalho da

supervisão de enfermagem ao gerenciamento do cuidado. Portanto, a tarefa do

grupo de supervisores, com o apoio da coordenação das oficinas, ficou pactuada

que seria: refletir sobre as dificuldades no processo de trabalho que afastam os

supervisores da finalidade do gerenciamento da assistência para propor uma

prática sistematizada compatível com a realidade institucional.

c) Para o planejamento das oficinas, foram realizadas três reuniões

preparatórias, no mês de agosto 2016, das quais participaram a pesquisadora, a

diretoria do DEnf, uma professora da Faculdade de Enfermagem/Unicamp,

assessora para o ensino e pesquisa, e as duas enfermeiras da SEC. Nesse

momento, foi combinado que as oficinas aconteceriam em três encontros (em

outubro de 2016) com duração de três horas cada um. Para a apresentação do

trabalho das oficinas (a tarefa) foi programada uma reunião (novembro, 2016), com

a presença da diretoria do DEnf, dos diretores dos serviços de enfermagem e a

coordenação das oficinas.

A coordenação das oficinas ficou sob responsabilidade da pesquisadora,

e como apoiadoras as duas enfermeiras da SEC e a professora assessora com a

responsabilidade de colaborarem nas discussões, no registro e avaliação dos

encontros. O planejamento foi flexível, com um plano geral contendo o conteúdo

previsto para cada encontro. A descrição dos dados de cada encontro foi feita pela

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

74

pesquisadora, que os compartilhou com as apoiadoras, após cada oficina. Nesses

encontros foram discutidos a avaliação da dinâmica grupal, a produção do grupo, o

comprometimento deles com a tarefa e também a revisão do planejamento da

próxima oficina.

Para a organização da estrutura das oficinas, construímos um plano de

atividades com três momentos (111:36), a saber:

1. No primeiro momento, realizamos atividades para descontração e

relaxamento com o objetivo de um aquecimento e sensibilização do grupo. As

atividades escolhidas estavam relacionadas com o tema que foi trabalhado no dia.

2. No segundo momento, as atividades programadas eram para mobilizar

discussões e reflexões e motivar a produção do grupo, chamamos de “trabalho do

dia”.

3. O terceiro momento foi destinado ao fechamento dos trabalhos daquele

dia. A coordenadora fazia uma síntese dos conteúdos abordados, estimulando

discussões e a validação/concordância do grupo sobre a produção do dia. Nesse

momento, era realizada a avaliação do encontro, com instrumento individual e os

combinados para o próximo encontro.

Essa estrutura não foi rígida, após cada encontro fizemos mudanças nas

estratégias e conteúdos necessárias às demandas e avaliações do grupo.

d) Desenvolvimento dos encontros. O conteúdo de cada oficina foi

planejado com algumas questões norteadoras que estimularam a participação e a

reflexão para a realizacao da tarefa, tais como:

como a supervisão de enfermagem é realizada hoje?

quais atividades aproximam ou afastam da sua finalidade o

gerenciamento da assistência?

quais as dificuldades?

o que é necessário para trabalhar de forma sistematizada?

Estabelecemos objetivos específicos para cada oficina, em uma

sequência de conteúdos que foram trabalhados sobre as questões norteadoras e

que contribuíram para o cumprimento da tarefa.

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

75

e) Primeira oficina:

Objetivos:

- refletir sobre as práticas de supervisão em enfermagem nas 24 horas;

- destacar as atividades que se aproximam da finalidade do trabalho da

supervisão em enfermagem (gerenciamento da assistência).

Planejamento: No Quadro 1, apresentamos a estrutura de atividades

planejadas para a primeira oficina.

Quadro 1 – Atividades da primeira oficina com supervisores de enfermagem, Campinas-SP, outubro 2016.

Momentos Atividades Tempo

Apresentação Apresentação da coordenadora, apoiadoras e proposta das oficinas. Contrato de participação, validação e consenso sobre a tarefa

10 min

Sensibilização e

Descontração

Dinâmica: aceita o desafio? 15 min

Trabalho do dia

1. Responder às questões da folha do trabalho individual 20 min

2. Trabalho em quatro subgrupos: discussões com base nas questões individuais, chegar a consensos e responder à folha do trabalho em grupo. Registro da síntese do subgrupo pelo relato.

45 min

Intervalo Coffee 15 min

Apresentação Relatores dos subgrupos apresentam seu trabalho 40 min

Fechamento Discussões no grupo. Coordenadora faz síntese dos trabalhos e busca consensos. Síntese do trabalho grupal

20 min

Avaliação Encerramento

Avaliação do encontro pelo grupo e avaliação individual (questionário)

15 min

Fonte: elaboração da autora, segundo referencial de Afonso, 2010 (109,111).

Nesse primeiro encontro, foi esclarecida a proposta da pesquisa-ação,

pactuada a concordância da demanda inicial e a proposta da tarefa construída nas

fases anteriores com o grupo de supervisores.

Esclarecemos os objetivos, o planejamento das oficinas, discutimos as

dúvidas e foi assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Apêndice C).

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

76

No trabalho do dia, os participantes responderam na folha de trabalho

individual sem necessidade de se identificar e sem a preocupação de certo ou

errado, baseando-se na sua vivência profissional, contendo as questões:

1. O que é supervisão para você?

2. Quais atividades que você realiza na supervisão?

Em seguida, os participantes foram divididos em quatro subgrupos, com

cerca de cinco pessoas, para a segunda atividade do trabalho do dia. Cada

subgrupo elegeu um coordenador para conduzir o trabalho e um relator para fazer

as anotações e apresentações em plenária. Trabalharam um consenso sobre as

atividades rotineiras da supervisão respondidas individualmente, relacionando-as

quanto: ao tempo que realizam, a satisfação de realizá-las e a relação daquela

atividade com a finalidade do trabalho da supervisão, usando uma legenda.

Apresentamos no apêndice D um exemplo do material produzido para as

atividades planejadas para a oficina (Apêndice D).

Os conteúdos apresentados pelos subgrupos a respeito da questão “O

que é supervisão” se referiam à atuação, ao perfil ou competências do supervisor.

Percebemos e discutimos a dificuldade que tiveram em definir a função. Isso foi

analisado pelos participantes sobre a falta de reflexão em relação à finalidade do

trabalho: no cotidiano estão preocupados com o cumprimento das tarefas e das

demandas e não discutem os reais propósitos do trabalho.

Quanto à segunda questão, “Quais atividades que você realiza na

supervisão?”, analisamos os dados, fizemos uma organização dos conteúdos dos

quatro grupos, apresentamos e refletimos principalmente as atividades realizadas

com insatisfação e que não estão de acordo com a finalidade do trabalho. Na

finalização do encontro, discutimos as questões trabalhadas, as diferenças e

conflitos emergentes, fizemos uma síntese do trabalho do dia e a avaliação

individual em instrumento próprio (Apêndice E).

f) Segunda Oficina

Objetivos:

- Reflexão teórica sobre supervisão, gestão e competência gerenciais;

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

77

- Relacionamento da teoria às vivências práticas (de acordo com o

trabalho da primeira oficina).

Planejamento: No Quadro 2, apresentamos a estrutura de atividades

planejadas para a segunda oficina.

Quadro 2- Atividades da segunda oficina com supervisores de enfermagem, Campinas-SP, outubro 2016.

Momentos Atividades Tempo

Apresentação Apresentação dos objetivos da segunda oficina Retorno da avaliação e validação dos resultados

20 min

Sensibilização Dinâmica: acerte o cesto! 20 min

Trabalho do dia

1. Apresentação teórica (supervisão de enfermagem; competências gerenciais; gerenciamento da assistência). Articulação da teoria com os resultados da primeira oficina. 2. Construir o MAPA REFLEXIVO (folha de trabalho individual)

60 min

Discussão 20 min

Intervalo Coffee 15min

Fechamento

Deverão construir propostas para a operacionalização da supervisão nas 24 horas e organização das atividades do supervisor, tendo como prioridade a gestão da assistência. Terão como base: o seu mapa reflexivo, o compilado das atividades da supervisão dos 4 grupos com comentários e o regimento das atribuições do supervisor/HC

25 min

Avaliação e encerramento

Individual em folha de avaliação 20 min

Fonte: elaboração da autora, segundo referencial de Afonso, 2010 (109,111).

Enviamos um texto sobre “gerenciamento do cuidado” (85) para leitura

prévia ao segundo encontro. Verificamos que a maioria havia lido e gostado do

texto, conforme comentários sobre o conteúdo ser esclarecedor. Outros

supervisores estavam com o texto impresso e destacando trechos da leitura, o que

demonstrou interesse e necessidade de se apropriar de conhecimentos para o

exercício da supervisão.

A dinâmica realizada nessa oficina foi escolhida para provocar reflexão

sobre a questão do “fazer pelo fazer”, do cumprir ordens sem muito critério ou

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

78

informações. Esses aspectos haviam aparecido nas narrativas e discussões do

encontro anterior.

No trabalho do dia, foi apresentado conteúdo teórico compartilhando a

teoria a partir dos saberes dos supervisores e das experiências da prática.

Colocamos na parede da sala os materiais produzidos na oficina anterior, os

cartazes sobre “O que é supervisão” e o quadro da síntese das atividades realizadas

pela supervisão, e, dessa forma, foram apontadas as aproximações da prática com a

teoria, estimulando a crítica em processo dialético, problematizando o concreto do

vivido e o abstrato do conhecimento científico (112).

Discutimos as incoerências das atividades realizadas quanto à frequência

e ao tempo gasto para realizá-las, principalmente aquelas que não se relacionam à

finalidade do trabalho da supervisão. Foram destacadas as atividades pontuadas

com insatisfação, uma vez que o supervisor deve ser um líder motivador de sua

equipe para obter dela o comprometimento no cumprimento do planejamento

assistencial (113).

Na segunda atividade do trabalho do dia, discutimos as atividades

necessárias para compor o gerenciamento do cuidado com base na literatura

enviada (85), ou seja, como planejar e capacitar os recursos humanos, realizar a

gestão de recursos materiais, ter liderança, planejar a assistência pelo processo de

enfermagem (PE), coordenar, acompanhar e avaliar os resultados da assistência

prestada pela equipe de enfermagem.

Para o gerenciamento do cuidado, deveriam ter domínio sobre o perfil da

unidade, da assistência prestada, dos pacientes e acompanhantes, da equipe de

enfermagem e, por último, deveriam refletir sobre o autoconhecimento e a sua

atuação como supervisor. Para essa atividade, fornecemos um quadro, que

chamamos de mapa reflexivo, onde os supervisores preencheram os dados dos

perfis acima citados. Refletimos o que o conhecimento desses perfis permitiria ter

informações para planejar e organizar sua unidade e a assistência aos pacientes

internados. O autoconhecimento lhes ajudaria a refletir sobre sua capacidade de

atuação e as competências que precisariam para melhorar o seu desempenho na

liderança com sua equipe. O material produzido sobre o mapa reflexivo está

apresentado no apêndice F (Apêndice F).

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

79

Nesse encontro, orientamos sobre a atividade para o próximo encontro,

quando deveriam construir uma proposta para a operacionalização da supervisão

nas 24 horas, organizando as atividades do supervisor num processo de trabalho

sistematizado e tendo como norte as atividades e dificuldades discutidas.

Outra questão apontada foi a governabilidade da sua proposta, indicando

o que é da competência do supervisor resolver, o que precisaria da intervenção do

diretor de serviço e também do Departamento de Enfermagem. Fornecemos como

apoio o Regimento do DEnf com às atribuições da função de supervisor, o mapa

reflexivo individual e o quadro da síntese das atividades desenvolvidas pelos

supervisores no primeiro encontro. Foram realizadas as avaliações individuais do

encontro em formulário próprio (Apendice E).

g) Terceira Oficina:

Objetivo:

- Fazer propostas de ação para mudanças no processo de trabalho da

supervisão de enfermagem de forma mais sistematizada para concretizar o trabalho

da gestão da assistência.

Planejamento: No Quadro 3, apresentamos a estrutura de atividades

planejadas para a terceira oficina.

Quadro 3- Atividades da terceira oficina com supervisores de enfermagem, Campinas-SP, outubro 2016.

Momentos Atividades Tempo

Apresentação Apresentação do objetivo Devolutiva e validação da avaliação da 2ª oficina

15 min

Trabalho do dia Divisão em quatro subgrupos Cada subgrupo escolher: coordenador (faz síntese e busca consensos) e relator representante do grupo (faz anotações e a apresentação do trabalho do seu grupo) Cada subgrupo deverá construir proposta para: - a operacionalização da supervisão nas 24 horas; - organizar as atividades do supervisor. Utilizar a folha de trabalho como roteiro norteador e construir seu cartaz de propostas

60 min

Intervalo Coffee 10 min

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

80

Fechamento Relatores apresentam suas propostas Discussão e consensos

40 min

Relatório das propostas assinado coletivamente Representante dos supervisores apresenta proposta para a diretoria (próxima reunião em novembro)

40 min

Avaliação e encerramento

Individual em folha de avaliação 15 min

Fonte: elaboração da autora, segundo referencial de Afonso, 2010 (109,111).

Nesse encontro, não fizemos a dinâmica de descontração para destinar

mais tempo para discussões e desenvolvimento de propostas no trabalho nos

subgrupos. Foi oferecida a folha de trabalho 3 como um roteiro norteador para as

discussões e para ajudá-los a fazer as propostas de ação (Apêndice G).

Na atividade do dia, discutiram-se as propostas individuais que cada um

havia feito como tarefa do encontro anterior e estabeleceram-se consensos para

uma proposta coletiva. O relator de cada subgrupo apresentou o resultado do seu

trabalho oralmente e um resumo da folha de trabalho em um cartaz. A coordenadora

fez uma síntese das propostas dos quatro subgrupos, destacando os pontos em

comum. O núcleo central do consenso coletivo estava numa ideia que chamaram de

“gerenciamento compartilhado”. Essa ideia se baseou nas discussões sobre pontos

que dificultam ou emperram o processo de trabalho da supervisão e na amplitude da

responsabilidade de cada profissional, no seu nível de competência (enfermeiros,

supervisores, diretores de serviço e diretoria do DEnf) para fazer acontecer o

gerenciamento do cuidado.

As discussões que se apresentaram nesse encontro foram marcadas pela

angústia e pelo tempo insuficiente para a finalização da tarefa. Houve manifestação

de compromisso do grupo, liderado pelos relatores dos subgrupos, em marcar outro

encontro para a finalização da proposta que apresentavam. Foram realizados mais

dois encontros (de 3 horas cada um) para a organização da proposta de construção

coletiva a partir do conteúdo que resultou do trabalho das três oficinas. A proposta

construída coletivamente denominou-se de “gerenciamento compartilhado da

assistência”, foi apresentada para a diretoria do DEnf. e foram pactuados alguns

encaminhamentos para sua operacionalização.

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

81

3.2.6 Quarta fase – avaliação

Esta fase é descrita neste momento por uma questão didática, porém as

análises e avaliações foram acontecendo durante todo o percurso das fases

anteriores, em movimento circular, característico da PA, apoiando a condução e

retomadas do planejamento, conforme já descrito (99).

1. Objetivos desta fase:

- analisar e discutir os resultados parciais de cada fase com os

participantes;

- redirecionar as estratégias planejadas a partir dos resultados e

conhecimento produzidos em cada fase;

- avaliar o conhecimento produzido para construção de um método para

sistematizar a prática da supervisão de enfermagem como contribuição para a área.

2. Instrumentos

Utilizamos vários instrumentos, conforme já descrito em cada fase:

a) Na primeira e segunda fases: para validação dos resultados foram

realizadas reuniões com as pesquisadoras, a diretoria do DEnf, diretores de serviço

e supervisores e reuniões com grupo de pesquisa-Gepepes e especialistas;

b) Na terceira fase: reuniões do grupo coordenador das oficinas

(pesquiadora, assessora do DEnf e enfermeiras do SEC) para planejamento e pós-

oficinas; pelos instrumento de avaliação individual para os participantes das oficinas;

c) Na quarta fase: formulário online enviado para os participantes após a

realização das oficinas.

3. Organização

As avaliações realizadas na sequência das fases já foram

mencionadas anteriormente.

Um questionário construído pelo formulário Google foi enviado por e-mail

para os supervisores participantes três meses após a realização das oficinas

(fevereiro 2017).

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

82

3.3 Análise dos resultados

Os resultados obtidos das fases um e dois da pesquisa-ação foram

analisados e organizados por adaptação do referencial proposto por Franco e Mehry

(82,114) para análise de processo de trabalho em gestão. Para essa análise,

consideramos os pontos mais significativos e relevantes relacionados à micropolítica

da organização do trabalho que nos permitiram identificar alguns analisadoresi, ou

seja, pontos encobertos na narrativa dos atores (supervisores, enfermeiros,

diretores); nos ruídos e incômodos; na comunicação não verbal que nos ajudou a

identificar “as pontes” explicativas do modo, relações e afetos implicados com o

processo produtivo da supervisão de enfermagem.

Desse modo(115:46),

“Com a compreensão destas questões, não fica difícil entender da possibilidade de se criar analisadores institucionais sobre o espaço intercessor em saúde, que permitam interrogar o modo como o trabalho vivo opera com esta “tecnologia leve das relações” e como produz estes “produtos da intersecção”, que consideramos como “bens relações” fundamentais em saúde; e que também permitem analisar o modo como o processo de gestão do trabalho se realiza, apropriando-se do espaço institucional da gestão organizacional, inclusive expondo a dinâmica da relação de apropriação pública ou privada deste processo”.

Consideramos que esses analisadores, elementos com características

comuns, possuíam um ponto central implicado na compreensão de uma estrutura

ampla de significados e, desse modo, os chamamos de núcleos analisadores da

realidade. Esses núcleos abrangem elementos com características comuns ou que

se relacionam entre si, e foram categorizados em: 1. Trabalho desconhecido e

fragmentado; 2. Autonomia para o trabalho; 3. Instrumentos para o trabalho e 4.

Relações de Poder.

Os resultados das oficinas foram analisados e organizados considerando

os dados da evolução da dinâmica grupal quanto à diferenciação e identidade

i Analisador, na concepção de Franco e Merhy (2013) (82: 339), “é o que faz aparecer coisas que estão ali, mas não são tão visíveis”. No cotidiano do trabalho, acontecem situações que não são conversadas, mas que estão presentes, meio ocultas, e que determinam relacionamentos, atitudes e o modo de conduzir as ações.

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

83

grupal; produtividade expressos pela motivação, cooperação; sentimentos marcados

pelo afeto, desconfiança, irritação, indiferença; processo de comunicação bloqueada

e filtrada e coesão do grupo para a construção da tarefa final, conforme indicado

pelo referencial de Afonso (109,111), para análise no trabalho com grupos em oficinas

de abordagem psicossocial. Essa análise resultou nos núcleos reveladores.

Denominamos núcleos reveladores porque colaboraram para a

consciência crítica e o entendimento do grupo sobre a base que se estrutura a

produção do trabalho da supervisão. São eles: 1. Trabalho da supervisão

cristalizado no cumprir tarefas; 2. Processo de comunicação interferindo na dinâmica

grupal; 3. Supervisores ou apoiadores: projetos em disputa.

A compreensão do processo de trabalho da supervisão e o conhecimento

produzido na realização das fases da pesquisa-ação nos permitiram construir,

fundamentados no referencial da sistematização de experiências (116), uma proposta

denominada “Método para sistematizar a prática da supervisão de

enfermagem”, que será uma contribuição para os serviços de enfermagem, de

qualquer nível do sistema de saúde, para análise e propostas de mudanças do

processo de trabalho da supervisão de enfermagem.

3.4 Critérios de credibilidade e confiabilidade

A preocupação com cientificidade e a validação dos resultados, ao longo

do desenvolvimento da pesquisa, foram nossa preocupação constante. Para obter

qualidade dos dados e dos resultados, foram aplicadas técnicas recomendadas na

literatura para obter a credibilidade e confiabilidade de pesquisa qualitativa (92,117).

3.4.1 Credibilidade

Considerando que a coleta de dados de todas as etapas foi feita por nós,

haveria necessidade de se adquirir confiança e estabelecer empatia com o DEnf e

com o grupo de supervisores. O engajamento prolongado com investimento de

tempo e disponibilidade no campo foi apontado como um movimento muito

importante para o pesquisador adquirir credibilidade no grupo e para a coleta de

dados com qualidade (92).

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

84

Nossa permanência e persistência no campo conferiram credibilidade,

com a qual obtivemos apoio e confiança do grupo para o prosseguimento da

pesquisa e, principalmente, no momento das oficinas (fase três), quando os grupos

de supervisores se sentiram muito à vontade para fazer as narrativas sobre suas

dificuldades no trabalho da supervisão de enfermagem.

A triangulação foi uma das técnicas utilizadas para garantir a credibilidade

na qualidade dos dados coletados e é definida como (118:254):

“... uma combinação de procedimentos ou metodologias no estudo do mesmo fenômeno, sendo usados múltiplos pontos de referência para determinar característica de um objeto de estudo com maior confiança, buscando maior precisão nos julgamentos, pela busca de diferentes tipos de dados, ou em diferentes fontes, relacionados ao mesmo fenômeno...”

Na primeira fase exploratória, a inclusão de supervisores e enfermeiros

nas entrevistas favoreceu a triangulação de mais de uma fonte de dados, indicada

para validar os resultados (92,117). Nessa pesquisa, a intenção foi verificar a rotina de

trabalho, a finalidade e a utilização de instrumentos para a prática da supervisão de

enfermagem na visão dos supervisores e dos enfermeiros.

A validação das inferências e interpretações dos resultados, usando mais

de um pesquisador, a “triangulação do investigador”, que é recomendada pela

literatura, foi realizada em reuniões com o grupo de pesquisa Gepepes (maio/2014,

jun/2015, out/2016 e março/2017), proporcionando orientação e segurança no

seguimento da pesquisa pela “base de convergência da verdade” (92: 296).

Esse procedimento também é conhecido como “técnica de verificação

externa”, quando a validação dos resultados é feita pelos pares ou especialistas

(1:200). No caso, contamos com a já mencionada profª Manoela Federico Ferreira, na

área de gestão da qualidade, para análises e avaliações preliminares dos

resultados. Tivemos, também, o privilégio de dois encontros com o prof. Dr. Michel

Thiollent, em reunião científica com o grupo de pesquisa Gepepes, em que o

professor ministrou aula teórica sobre pesquisa-ação, tivemos a oportunidade de

discussões e orientações sobre o desenvolvimento dessa pesquisa. No primeiro

momento, em outubro de 2016, realizamos uma pré-análise dos resultados e, em

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

85

março 2017, discutimos os resultados finais e as contribuições desta pesquisa para

o conhecimento da área gerencial da enfermagem.

3.4.2 Confiabilidade

Confiabilidade é entendida como a validação dos resultados por pessoa

externa, bem como pelos participantes pela devolutiva dos resultados (92). A

preocupação com a integridade e fidedignidade do conteúdo transcrito das falas dos

participantes, do conteúdo das entrevistas gravadas, na primeira fase, foi confirmada

por uma pessoa que não fazia parte do estudo.

Por meio de reuniões com o DEnf, foram feitas a validação do projeto

(agosto/2014), a devolutiva e discussão dos resultados da primeira fase (maio/2015)

e da segunda fase de aprofundamento (ago/2016) para verificar a pertinência dos

resultados pela coerência com a realidade que vivenciavam. Também aconteceram

devolutivas dos resultados com as diretoras e supervisores da UIA (set/2015 e

ago/2016).

Na fase três, no momento inicial de cada oficina, eram apresentados os

resultados das avaliações individuais feitas pelos supervisores participantes do

encontro anterior para validação da sua pertinência e conteúdo. Foram realizados

relatórios descritivos do conteúdo das três oficinas para verificação e análise pelo

grupo de apoiadoras que acompanharam os encontros.

Consideramos que todas as ações realizadas para validação interna e

externa nos proporcionaram a objetivação da realidade num movimento de análises

e sínteses em que percebemos as “pistas e indicações” para encaminhamento da

pesquisa-ação (1:237).

O critério de “transferência” dos resultados de uma pesquisa para outros

contextos também se refere à validade, credibilidade e confiabilidade de uma

pesquisa qualitativa (92:298). Dessa forma, o produto que desenvolvemos a partir das

discussões finais desta pesquisa-ação nos fortaleceu a crença da possibilidade da

sua transferência para outros ambientes da prática de enfermagem.

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

86

3.5 Aspectos éticos

A pesquisa seguiu as diretrizes e normas regulamentares da Resolução

CNS nº 466/12 para pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi

encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de

Campinas-CEP e aprovado sob Parecer nº 887.936 em 24/11/2014 (Anexo A).

Todos os participantes nas fases da pesquisa foram orientados, com

explicações verbais, a respeito dos objetivos da pesquisa, receberam e assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) no momento das entrevistas e

(primeira fase) e nas oficinas (fase três) (Apêndices B e C).

Foram garantidos o anonimato e sigilo dos participantes pelo uso de

pseudônimos. Consideramos prudente garantir também sigilo sobre fatos e

informações presenciadas na instituição durante todo o período de realização da

pesquisa (119).

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

87

4 RESULTADOS

Neste capítulo, apresentamos um quadro com os principais resultados

alcançados nas quatro fases da PA para facilitar a compreensão da discussão geral

do estudo, que será apresentada no próximo capítulo; o resultado do conhecimento

produzido na PA, que nos permitiu construir uma proposta a que denominamos

“Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem” e dois artigos

referentes aos resultados obtidos na primeira e terceira fases da pesquisa-ação.

4.1 Principais Resultados

Apresentamos no Quadro 4 uma síntese dos objetivos, instrumentos,

período em que foram realizadas e principais resultados das quatro fases da PA.

Quadro 4- Objetivos, instrumentos, período de realização e principais resultados das quatro fases da pesquisa-ação, Campinas-SP, 2017.

Período Objetivos Instrumentos

Principais resultados

Fase

Ex

plo

rató

ria

ago a dez

2014

jan a fev 2015

Compreender o processo de trabalho da supervisão de enfermagem Verificar os componentes do processo de trabalho da supervisão

Reuniões com a diretoria DEnf, diretores de serviço e supervisores Entrevistas (supervisores e enfermeiros)

A finalidade do processo de trabalho da supervisão está centrada em tarefas para controle e organização das unidades com o cumprimento da rotina estabelecida por protocolos e normas institucionais. Há diferenças na rotina dos turnos diurno e noturno. Dificuldade para planejar ações assistênciais integradas. Há descontinuidade do planejamento por demandas inesperadas. Possuem relativa autonomia para tomada de decisões. Utilizam instrumentos rotineiros para o trabalho, como agenda; discussão de casos; reuniões e auditorias. De ordem relacional, conversas para resolução de conflitos e negociação.

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

88

2

ª F

as

e A

pro

fun

dam

en

to

jun 2015 a

out 2015

fev 2016 a

jun 2016

Analisar o trabalho da supervisão, e necessidades de mudanças Definir a ação.

Observação participante (participação e observação da prática da supervisão em uma unidade assistencial) Diário de campo

Atividades participação e observação: treinamento supervisores (48h); tutoria (6h), auditoria da estrutura das unidades (20h), planejamento implantação do protocolo prevenção de quedas (12h), treinamentos para equipes de enf. dos turnos M,T,N (20h). Reuniões orientação e condução; com diretores e supervisores, grupo de pesquisa. Resultados confirmam os discutidos da 1ª fase. Foram classificados por relevância em núcleos analisadores:1.trabalho desconhecido e fragmentado: alienação do fazer da supervisão por preocupação com a rotina e controle do trabalho sem reflexão da sua real finalidade. Esta forma de organização do trabalho tem construção histórica na profissão e se estrutura no modelo racional de gestão; 2.Autônomia determinada pelas relações de autoridade hierárquicas; limitação na governabilidade; falta de definição na atribuição de algumas atividades com retrabalho entre diretores, supervisores e administrativo; 3. Instrumentos: reproduzem um fazer cristalizado, não se apropriam dos resultados do trabalho para planejamento e dificuldades para manter na rotina novas tecnologias; 4.Relações de poder como forças restritivas á mudanças; O poder formal instituído limitando o fazer subserviente e cordato. Por outro lado, o poder informal (subordinados), pela indisciplina e desrespon- sabilização da sua frequência e do trabalho assistêncial. Ação: Trabalho com todos os supervisores (diurnos e noturnos) por meio de oficinas de abordagem psicossocial.

Fa

se

ão

ago. 2016

a

nov. 2016

Construir propostas de ação.

Reuniões Oficinas (abordagem psicossocial)

Tarefa: refletir as dificuldades que afastam a supervisão do gerenciamento da assistência; propor mudanças para uma prática sistematizada, compatíveis com a realidade

institucional. Resultados das oficinas foram classificados em núcleos reveladores:1. Trabalho da supervisão cristalizado no cumprir tarefas: o fazer centrado em ações instituídas sem reflexão; há necessidade de alinhar condutas (diretor/supervisor) e atividades em retrabalho; 2. Influência da comunicação: dificuldade para transmitir informações; no feedback do desempenho; falta tomada de decisões pelo enfermeiro; melhorar fluxo com serviços de apoio; 3. projetos em disputas aspectos pessoais interferindo na dinâmica do grupo e no bem coletivo. Proposta de ação: “Gerenciamento compartilhado da assistência”. * (Item 4.1.1 para detalhamento)

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

89

Fa

se A

va

lia

ção

Durante as fases

out. e

nov. 2016

fev. a mar. 2017

mar. de 2017

Avaliar resultados de cada fase da PA Avaliar oficinas Avaliar conhecimentoproduzido na PA; Construir método sistematizado.

Reuniões Reuniões pré e pós oficinas; Instrumentos de avaliação individual. Questionário online (após três meses) Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem.

Análise, discussão e validação dos resultados produzidos nas fases da PA com a diretoria do DEnf, diretores de serviço e supervisores; reuniões com grupo de pesquisa-Gepepes e especialistas. Avaliação das oficinas: 64,7% boa estratégia para reflexão do papel e finalidade da supervisão; boa oportunidade para discutir e propor ações para as dificuldades; 35,3% faltou tempo para discussões e objetividade nas propostas; número de participantes (21) foi excessivo, provocando desvio da atenção na tarefa. 67% de respondentes. Quanto à realização das atividades propostas: 64% afirmaram que estão sendo realizadas parcialmente, 22% afirmaram que não são realizadas e 14% realizadas integralmente Método sistematizado em três momentos: 1.Exploratório (explicativo e investigativo), com quatro fases; 2. Intervenção-Ação, com quatro fases; 3. Encaminhamentos e pactuação, com três fases.

Fonte: elaboração da autora, com fundamentação teórica na pesquisa-ação (93:145-261)

e na sistematização de experiências (116:29).

4.1.1 Resultados das oficinas*

Destacamos que a proposta elaborada pelos supervisores, resultado do

trabalho coletivo das oficinas, nominada “Gerenciamento compartilhado da

assistência”, foi estruturada em três atividades para solucionar as dificuldades

discutidas nos encontros, visando melhorar o processo de trabalho da supervisão

nas 24 horas e aproximá-lo do gerenciamento do cuidado. Essa proposta está

sintetizada na figura 3, na qual apresentamos a sequência: proposta de ação,

operacionalização por meio de três atividades e pactuação para sua realização,

considerando as etapas da finalização da PA(99).

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

90

Figura 3 – Resultados das oficinas dos supervisores de enfermagem: proposta de ação, atividades operacionais e pactuação, Campinas-SP, outubro 2016.

Fonte: elaboração da autora, segundo Thiollent, 2009 (99).

4.2 Contribuições da pesquisa-ação para a enfermagem

A vivência no desenvolvimento de cada uma das fases da pesquisa-ação,

as discussões, impasses, contradições, análises e os resultados do conhecimento

produzido nos permitiram sistematizar uma proposta que denominamos de

“Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”.

Essa proposta poderá contribuir para estruturar o planejamento de

momentos para reflexão do trabalho da supervisão e encaminhamento de propostas

de mudanças no seu processo de trabalho de qualquer nível do sistema de saúde.

Acreditamos que esse método poderá contribuir para os profissionais

repensarem o seu fazer no seu ambiente de trabalho e, desse modo, reduzir a

fragmentação do cuidar e administrar, otimizando o desempenho da função de

supervisionar para melhorar a qualidade da assistência prestada por meio de um

processo de trabalho sistematizado.

O conceito de sistematizar é utilizado em diversas áreas, como na

educação, na pesquisa, na gestão, com o significado de organizar dados e

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

91

informações que foram classificados e ordenados em um sistema de etapas/passos.

Entretanto, foi no trabalho de projetos sociais e na educação popular que o ato de

“sistematizar experiências” ganhou abrangência (116,120). Desse modo, entende-se

que sistematização de experiências: (116:08)

“... pressupõe como fundamento a concepção metodológica dialética, que entende a realidade histórico-social como uma totalidade, como processo histórico: a realidade é, ao mesmo tempo, una, mutante e contraditória porque é histórica; porque é produto da atividade transformadora, criadora dos seres humanos”.

Desse modo, a sistematização de experiências é uma interpretação crítica

de uma ou mais experiências em que são recomendadas sua ordenação,

reconstrução e análises do processo vivido para extrair aprendizagens a serem

compartilhadas (120-121). Com base nesse direcionamento, construímos a proposta:

“Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”, e, para

tanto, fizemos adaptações dos métodos da pesquisa-ação(93:145) e da sistematização

de experiências(120:29) para desenvolver uma estrutura e planejamento, que

apresentamos a seguir.

4.2.1 Para que sistematizar?

A concepção dessa proposta tem por objetivo fornecer um instrumento

que possibilite à educação permanente de supervisores um caminho para

construírem propostas de ação concretas e viáveis para modificarem seu processo

de trabalho, alinhando-o à finalidade do gerenciamento do cuidado para uma

determinada realidade.

4.2.2 Qual será o eixo de sistematização?

O eixo da sistematização ou o fio condutor central da estrutura proposta

foi pensado pela associação de três aspectos - políticos, teórico-científicos e práticas

pedagógicas- para fundamentar o projeto em conteúdos e estratégias que

proporcionem ao grupo participante reflexões e conhecimentos para a ação.

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

92

1) Nos aspectos políticos: espaço para discussões e reflexões de

questões encobertas no cotidiano do trabalho para tomada de consciência sobre as

disputas e interesses da estrutura de poder (cultura, modelo de gestão, hierarquias)

que, muitas vezes, bloqueiam o processo de comunicação e emperram as

transformações desejadas;

2) Nos aspectos teóricos-científicos: fundamentação teórica sobre os

componentes do processo de trabalho para refletirem sobre a finalidade do seu

trabalho e seus reais propósitos, os instrumentos que utilizam, processo de

comunicação, conceito de gerenciamento do cuidado e outros referenciais sobre

questões específicas que surgirem;

3) Nos aspectos das práticas pedagógicas: recomenda-se a utilização de

oficinas como estratégia para o desenvolvimento do trabalho. Esse método favorece

trabalho em grupo, de forma participativa, democrática, orienta o planejamento dos

encontros com estratégias e técnicas motivadoras para revelar aspectos encobertos

e também meios e instrumentos para avaliação dos resultados dos encontros (109,111).

4.2.3 Como será a estrutura sistematizada?

O formato da proposta “Método para sistematizar a prática da supervisão”

segue uma estrutura de momentos e fases norteadoras em uma sequência de

passos, porém seu planejamento deve ser flexível para atender as necessidades da

evolução da dinâmica e do tempo grupal.

Utilizamos as seguintes definições (93:147):

- método: sequência dos passos descritos nos momentos e fases;

- momento: conjunto de atividades com objetivos determinados;

- fase: sequência de passos operacionais de cada momento com

objetivos específicos;

- instrumento: sugestões de técnicas alternativas para cada fase e que

devem ser discutidas e adaptadas à realidade e necessidade do grupo participante.

A estrutura da proposta “Método para sistematizar a prática da

supervisão” é composta de três momentos que se desdobram em fases. Para cada

uma das fases há objetivos, procedimentos e instrumentos.

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

93

1. Momento: exploratório (explicativo e investigativo), com quatro fases.

2. Momento: intervenção-ação, com quatro fases.

3. Momento: encaminhamentos e pactuação, com três fases.

Primeiro momento: exploratório

Objetivos: apresentar a proposta de trabalho para a diretoria do serviço de

enfermagem, tendo como objeto do estudo o trabalho, o processo de trabalho da

supervisão; discutir e pactuar os encaminhamentos para realização de investigação

diagnóstica, visando compreender como acontece o trabalho e seus aspectos

facilitadores e dificultadores.

Quadro 5 – Primeiro momento exploratório do “Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”, Campinas- SP, outubro 2017.

PRIMEIRO MOMENTO – EXPLORATÓRIO

Objetivo Procedimentos/passos Instrumentos

Pri

meir

a F

ase

Início do trabalho para verificar interesses.

Estabelecer equipe para planejamento do trabalho e definir os participantes.

Estabelecer um meio de comunicação com o grupo de trabalho.

Apresentar a proposta. Elaborar projeto com participação de diretores, supervisores, serviço de educação permanente.

Compor com profissionais de grupos estratégicos envolvidos no problema. Se possível, compor com docentes e pesquisadores das escolas vinculadas à instituição. Definir um coordenador. Lista de e-mail, grupo WhatsApp.

Reuniões. Agenda e anotação sobre os acordos e deliberações. Cronograma do trabalho com data de reuniões, responsáveis por atividades.

Apoio da secretaria do serviço de enfermagem e serviço de educação permanente.

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

94

Se

gu

nd

a F

ase

Conhecer a cultura institucional, o serviço de enfermagem, o processo de trabalho do supervisor. (investigação para diagnóstico).

Coletar dados sobre a percepção dos profissionais (supervisores, enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem) do trabalho da supervisão: dificuldades facilidades, finalidades e instrumentos gerenciais. Conhecer aspectos da instituição: modelo de gestão, cultura e relações com o sistema de hierarquias, outros que forem necessários. Conhecer o regimento do serviço de enfermagem, a rotina de trabalho, dimensionamento de pessoal, indicadores utilizados e outros

Pesquisar documentos (ex: livro de plantão, escalas de trabalho etc).

Entrevistas. Grupo focal.

Observação participante.

Sistematizar e analisar as informações pesquisadas.

Fazer a leitura dos dados coletados, organizar por relevância. Se possível, triangular as análises dos dados. Fazer a devoluta dos resultados, discussão e validação dos resultados.

Reuniões com o grupo participante.

Fazer um quadro com os possíveis diagnósticos da situação a ser trabalhada.

Terc

eir

a

Estabelecer a demanda pelo diagnóstico da situação. Definir prioridades para o desenvolvimento do trabalho.

Discussão das informações sistematizadas para estabelecer um conjunto de temas envolvidos no problema.

Reunião com a equipe estabelecida.

Qu

art

a

Estabelecer coerência interna com a equipe com respeito à fundamentação teórica que irá orientar o trabalho.

Compartilhar o conhecimento teórico prévio da equipe, relacionar com pontos críticos da prática e a fundamentação teórica.

Roda-conversas sobre textos científicos para consensos de conceitos.

Aulas com especialistas.

Fonte: elaboração da autora, adaptação da obra de João Bosco (93:148).

Segundo momento: intervenção-ação

Objetivos: planejar o trabalho por meio de oficinas, no mínimo em três

encontros, com a tarefa de realizar reflexão crítica sobre o trabalho da supervisão de

enfermagem; discutir a demanda estabelecida e propor mudanças factíveis à

realidade.

Recomenda-se que os encontros das oficinas sejam planejados, no

mínimo, com três momentos (111), a saber:

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

95

1) Primeiro momento com atividades lúdicas que proporcionem ao grupo

descontração, mas com conteúdo pertinente ao tema de discussão do encontro e

que provoquem sensibilização para as discussões futuras;

2) Segundo momento deve ser elaborado o “trabalho do dia”, com

conteúdo pertinente aos objetivos a serem trabalhados, provocando reflexões,

discussões, partilha de vivências. Pode-se usar atividades em subgrupos;

3) Terceiro momento é destinado à síntese e às discussões do trabalho

produzido no dia, buscando consensos para sistematizar o aprendizado do grupo.

Fazer a avaliação e os combinados para próximos encontros.

Quadro 6- Segundo momento: intervenção-ação do “Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”, Campinas- SP, outubro 2017.

SEGUNDO MOMENTO - INTERVENÇÃO-AÇÃO

Objetivo Procedimentos/passos Instrumentos

Pri

meir

a F

ase

Planejamento (flexível) de oficinas com, no mínimo, três encontros.

Combinar número de encontros, cronograma, local, horário, dispensa do trabalho.

Estabelecer o coordenador e apoiadores para as oficinas Agendar reuniões pré e pós-oficinas para avaliação e replanejamento.

Planejar e organizar as atividades para cada encontro das oficinas. Encontros com três momentos: 1.aquecimento e sensibilizacao, 2.elaboração do trabalho do dia e discussões, 3.sistematização do aprendizado e avaliação.

Reuniões. Agenda. Usar meios de divulgação para participantes.

Elaborar material instrucional para o trabalho do dia , flip chart, cartazes, canetas, slides, vídeos, instrumento para avaliação e outros).

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

96

Se

gu

nd

a F

ase

1º encontro: discutir as atividades do cotidiano da supervisão, relacionando-as qto ao: - tempo que realizam; - satisfação de realizá-las; - relação com a finalidade da supervisão.

Sensibilização e reflexão sobre o fazer da supervisão. Verificar as diferenças na condução da prática da supervisão. Discutir: aspectos culturais institucionais, relacionamentos hierárquicos, processo de comunicação que dificultam o processo de trabalho da supervisão.

Aquecimento e sensibilização com a dinâmica: “ Como eu faço” . Mapa das atividades. (Apêndice D).

Terc

eir

a F

ase Discutir a prática com

fundamentação teórica e planejamento da sua unidade com foco no gerenciamento do cuidado.

Discussão dos resultados do primeiro encontro. Preencher e discutir o mapa reflexivo. Discutir dificuldades que os afastam do gerenciamento da assistência.

Trabalho em subgrupos. “Mapa reflexivo” e folha para preenchimento dos perfis. (Apêndice F)

Qu

art

a F

ase

Propor mudanças no processo de trabalho para atender o gerenciamento do cuidado.

Sistematizar o trabalho realizado nas oficinas anteriores. Discutir propostas para as dificuldades apontadas. Considerar a cultura, recursos disponíveis e a governabilidade.

Trabalho em subgrupos. Plano de ação.

Fonte: elaboração da autora, adaptação da obra de João Bosco (93:148).

Terceiro momento: encaminhamentos e pactuação

Objetivo: apresentar a proposta construída coletivamente; divulgá-la em

reuniões e fóruns para toda a equipe de enfermagem; realizar encaminhamentos

para a operacionalização da proposta, acompanhar os trabalhos e avaliar

continuadamente os resultados.

Quadro 7 – Terceiro momento: encaminhamentos e pactuacão do “Método para sistematizar a prática da supervisão de enfermagem”, Campinas- SP, outubro 2017.

TERCEIRO MOMENTO - ENCAMINHAMENTOS E PACTUAÇÃO

Objetivo Procedimentos/passos Instrumentos

Pri

meir

a Apresentar proposta

construída coletivamente.

Representante do grupo de supervisores.

Fórum de discussão com diretores, supervisores e educação permanente.

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

97

Se

gu

nd

a Encaminhar acordos

para a operacionalização da proposta.

Discussão para acordos; Fazer a priorização de atividades; Realizar um plano de ação.

Compor grupos de trabalho. Cronograma de atividades com responsabilidade e prazos.

Terc

eir

a

Acompanhar e avaliar os trabalhos.

Monitorar o cumprimento do cronograma. Relatar intercorrencias; Avaliar a realização do plano e mudanças efetivadas.

Chek-list de atividades realizadas com justificativas. Questionários de opinião e satisfação com o trabalho. Auditorias (após três meses, seis meses).

Fonte: elaboração da autora, adaptação da obra de João Bosco (93:148).

Esperamos que a proposta “Método para sistematizar a prática da

supervisão” seja realizada em outros contextos e relatada para ser ampliada e

melhorada, num contínuo movimento para qualificar o trabalho da supervisão de

enfermagem. Desse modo (120:8), consideramos que;

“ ... trata-se, assim, de construir o sentido da experiência que terá como ação de retorno, uma nova forma de interpretar, agir e sentir não apenas a experiência, mas a si mesmos e à sociedade”.

Apresentamos, também, alguns aspectos importantes para qualificar o

trabalho da supervisão de enfermagem e que complementam o método proposto e

os denominamos de “elementos-chave” para qualificar a prática da supervisão de

enfermagem, são eles:

1. Capacitação prévia dos enfermeiros para assumir cargos, com

competências gerenciais (137, 139), não considerar apenas a dimensão técnica, mas,

também, as dimensões relacionais, éticas e políticas que lhes permitiram bom

desempenho nos processos de comunicação, negociação, relacionamentos e

equilíbrio emocional para aprimorar as ações do trabalho.

2. Espaço coletivo para fazer a “supervisão” do trabalho da supervisão.

Seria uma metassupervisão em que os supervisores poderiam trocar experiências,

ser orientados sobre a condução do trabalho, expor suas angústias, se fortalecer

pelo acompanhamento e feedback do seu desempenho, desenvolvendo o

autoconhecimento para buscar novos conhecimentos e habilidades, melhorando

atitudes e adequando seu desempenho. Sob essa perspectiva, há modelos de

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

98

supervisão clínica que trabalham com autoconfiança e preparo para a carreira

profissional dos enfermeiros (73-74).

3. Estabelecer critérios para enfermeiros assumirem cargos de gerência.

Acreditamos ser necessária discussão mais ampla, pelos órgãos de classe, para

determinar responsabilidades e competências de cada função, bem como ter

critérios definidos para um processo de seleção de cargos, terminando, desse modo,

com as indicações por questões políticas ou somente pela competência técnica de

bons enfermeiros. O primeiro passo seria começar com cursos preparatórios para

enfermeiros assumiram cargos de gerência e, nas instituições, haver processos

seletivos internos para os cargos. Realizar processo seletivo com entrevista, provas

psicotécnicas, conhecimento gerencial, análise e resolução de situações do

cotidiano, planejamento para o serviço de enfermagem e outros, considerando

preparo acadêmico/currículo, experiência técnica/vivências com tempo de trabalho

profissional e ter realizado cursos preparatórios. Enfim, que os processos seletivos

apontem profissionais com perfil e preparados para assumir com segurança e

responsabilidade cargos específicos.

4. A formação acadêmica envolvida em discusões sobre mudanças de

paradigmas dos modelos tradicionais de gestão e estímulo aos graduandos para

atitudes humanizadoreas e propositvas aos princípios do SUS e padrões de

qualidade (5). Para tanto, há necessidade de ampliar o conhecimento sobre as

competências gerenciais (139) para o desenvolvimento do processo de supervisão,

utilizando metodologias ativas com treinamentos específicos de casos gerenciais

envolvendo liderança, processo de comunicação, tomada de decisão, entre outros.

Por exemplo, utilizar simulação realística ou a técnica de role-play para simular uma

situação de trabalho, abordando situações de enfrentamento de conflitos e

negociações interpessoais e, assim, consolidar o aprendizado teórico-prático.

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

99

4.3 Artigos

4.3.1 “Processo de trabalho gerencial da supervisão de

enfermagem”.

Este artigo refere à primeira fase exploratória da pesquisa-ação com o

objetivo de compreender e validar o trabalho da supervisão de enfermagem de um

hospital universitário, para subsidiar a construção de um processo sistematizado

para sua atuação.

PROCESSO DE TRABALHO GERENCIAL DA SUPERVISÃO EM ENFERMAGEM

Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio Dalvani Marques Eliete Maria Silva

RESUMO

Objetivo: compreender o processo de trabalho da supervisão em enfermagem hospitalar. Método: estudo qualitativo, realizado em hospital universitário de grande porte, por entrevistas com oito supervisores e 12 enfermeiros.Os dados coletados foram interpretados por análise de conteúdo, validados com participantes e grupo de pesquisa pelo referencial do processo de trabalho. Resultados: foram apresentados em três categorias: 1.trabalho do supervisor, há diferenças na rotina de trabalho dos turnos diurno e noturno, priorizam atividades da frequência da equipe e possuem relativa autonomia para decisões; 2. finalidade está centrada no controle do trabalho e dos trabalhadores;3.instrumentos, acomodados ao uso de métodos e técnicas rotineiras sem inovação de tecnologias gerenciais para o trabalho cotidiano. Conclusão: o processo de trabalho da supervisão favorece a dimensão do controle na organização para responder às necessidades institucionais. Os profissionais têm consciência que a finalidade do trabalho deveria estar voltada para gerenciar a assistência, contudo, mudanças são necessárias para direcionar essa atuação.

DESCRITORES: Supervisão de enfermagem; Organização e administração; Administração hospitalar.

INTRODUÇÃO

O trabalho da enfermagem compõe-se de duas dimensões

complementares, a gerencial e a assistencial, entretanto, no cotidiano da assistência

hospitalar, observa-se fragmentação e distanciamento dos profissionais que as

executam(1). Essa forma de atuar pode ser explicada pela construção histórica do

trabalho de enfermagem, desde a sua institucionalização, com Florence

Nightingale, na segunda metade do século XIX.

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

100

A organização do trabalho foi guiada pelos princípios da administração

científica tayloriana e burocrática, cumprindo tarefas determinadas pela autoridade

hierárquica, com divisão técnica e social do trabalho, cabendo às nurses (atuais

enfermeiras), mulheres de classe social alta, a parte mais intelectual pelas

atividades administrativas de organizar o ambiente terapêutico e controlar o trabalho

assistencial, realizado por outros agentes (atuais técnicos de enfermagem),

assegurando o bom funcionamento hospitalar (2,3).

Desde então, muitas teorias e estratégias foram acrescentadas ao

pensamento administrativo para rever e superar essas concepções.

Entretanto, evidencia-se que na organização do trabalho, ainda se percebem

elementos da forma racional de administrar, apesar de iniciativas inovadoras para

práticas de gestão democráticas, participativas e flexíveis (4).

A função de supervisão foi desenvolvida para acompanhar e controlar a

execução da produção das atividades no nível operacional e responder ao diretor de

serviço (5).

Estudos apontam que o trabalho gerencial da supervisão hospitalar tem

sido realizado de forma não sistematizada, voltados para o controle do trabalho e

dos trabalhadores, atendendo às demandas inesperadas, muitas vezes para

resolver problemas de outros profissionais, relegando a segundo

plano o planejamento das atividades de enfermagem(6-9).

Acredita-se que a supervisão em enfermagem tenha potencial para

qualificar a assistência prestada no ambiente hospitalar, articulando o trabalho

gerencial e o assistencial, pela posição intermediária que ocupa na hierarquia

formal, intermediando o trabalho entre os diretores de enfermagem

(planejadores) e a equipe de enfermagem (executora), com visão ampla do fluxo de

trabalho das equipes de apoio (farmácia, almoxarifado e outros) e multidisciplinares

(médicos, assistente social etc.) às condições necessárias para a assistência.

Para tanto, há necessidade de se rever a organização da supervisão,

visando um processo sistematizado, reflexivo e inclusivo, adequado à finalidade do

gerenciamento da assistência e não somente para o controle do trabalho.

Ao se tomar como categoria central de análise o trabalho, é necessário

compreender a sua fundamentação teórica. Na visão marxista (10), o trabalho

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

101

acontece quando o homem motivado por uma necessidade irá reunir as condições

necessárias (materiais, conhecimento, trabalhadores etc.) para a sua efetivação em

um processo sistematizado e ordenado. Portanto, no processo de trabalho há

um objeto, aquilo sobre o qual incidem as ações guiadas por uma finalidade, o

propósito da existência do processo, e um conjunto de instrumentos que

são saberes, técnicas e métodos para dar concretude ao trabalho(10).

Pelo exposto, mostra-se ser necessário investir na revisão do processo de

trabalho da supervisão como função articuladora, para desenvolver práticas

assistenciais qualificadas. Com essas considerações, o objetivo desta pesquisa

foi compreender o processo de trabalho da supervisão em enfermagem no contexto

hospitalar, como primeiro passo para subsidiar propostas de mudanças.

MÉTODO

Optou-se pela abordagem qualitativa, por ser mais adequada

para compreender a supervisão na sua realidade, a partir do significado

atribuído pelos profissionais que a executam (11).

O local da pesquisa foi o Departamento de Enfermagem (DEnf) de um

Hospital de Clínicas, público, universitário que atende como referencia do

Sistema Único de Saúde, localizado no interior de São Paulo.

O DEnf possui 1.525 profissionais, sendo: 346 enfermeiros e

1.101 profissionais de nível médio; gerentes (1 diretora e 3 assistentes do Denf, 8

de diretores de serviços e 25 supervisores) e funcionários administrativos (12).

A escolha desse campo se justifica pelo início de uma nova gestão, para

o período de 2014 a 2018, quando a diretoria estabeleceu rever o processo de

trabalho dos supervisores. Assim, os objetivos das pesquisadoras estavam em

consonância aos interesses do DEnf, sendo pactuada a participação, de ambas as

partes, no desenvolvimento da pesquisa. Ressalta-se que este estudo fez parte da

primeira fase, a exploratória, de um projeto maior, desenvolvido pelo método

de pesquisa-ação.

A coleta de dados foi realizada por meio de 20 entrevistas gravadas, de

janeiro a fevereiro de 2015, com roteiro semiestruturado, contendo perguntas

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

102

abertas sobre a rotina da supervisão, responsabilidades, finalidades,

autonomia, instrumentos utilizados, entre outras.

A amostra foi intencional, buscando representatividade dos profissionais

na prática da supervisão(13). Participaram da amostra oito supervisores (quatro do

período diurno e quatro do noturno) e 12 enfermeiros, um de cada plantão (manhã,

tarde e noturno) para a compreensão do trabalho da supervisão nas 24

horas. Os critérios de inclusão na amostra: mais de um ano no cargo de supervisor

ou de trabalho na instituição; atuação proativa na assistência, educação em serviço

e disposição às mudanças. Foram excluídos os profissionais em férias e os não

aceitaram participar.

A análise dos dados foi feita pela técnica de análise de

conteúdo, seguindo as etapas de pré-análise, categorização, tratamento e

interpretação (11). As entrevistas foram transcritas e ouvidas repetidamente, e, após,

procedeu-se à ordenação do conteúdo das narrativas em quadro organizado em três

categorias analíticas do processo de trabalho, o trabalho em si, as finalidades e os

instrumentos, pois, na concepção marxista (10), é nesse conjunto que se apreende a

realidade vivida. Posteriormente, essas três categorias foram subdivididas em

subcategorias empíricas e codificadas por cores diferenciadas, levando-se em

consideração a sua repetição e relevância (14).

Os critérios de confiabilidade e credibilidade (15) foram contemplados pela

triangulação das informações das entrevistas de supervisores e enfermeiros e pela

validação das análises dos dados, as quais foram discutida com pesquisadores do

grupo de Pesquisa e Estudos em Educação e Práticas de Enfermagem e

Saúde (Gepepes) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e

pertinência dos resuldades apresentados e dicutidos com diretores de enfermagem

e supervisores do DEnf.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa/Unicamp, sob

parecer nº 887.936. Os participantes foram orientados e assinaram o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para sigilo, a identificação dos participantes, foi composta pela letra da

categoria funcional, seguida de palavra, indicada pelo entrevistado como significativa

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

103

da supervisão, assim: supervisor identificado por S. ualidade ou enfermeiro por

E. Apoio.

RESULTADOS

Caracterização dos participantes

No grupo dos supervisores, cinco eram mulheres e três homens; com

idade de 33 a 52 anos (média de 42 anos). Quanto à escolaridade, seis

apresentavam tempo de formados entre 10 e 16 anos e dois com 28 e

29 anos; todos os profissionais possuíam algum tipo de pós-graduação lato sensu e

um com mestrado acadêmico. Quanto ao tempo de trabalho na instituição, havia

quatro profissionais com nove a 15 anos, quatro com mais de 22 anos. Exercendo a

função de supervisor: três deles até cinco anos, quatro profissionais entre cinco até

10 anos e um com 26 anos de trabalho na supervisão.

No grupo de enfermeiros, haviam 11 mulheres e um homem com idade de

variando de 27 a 59 anos (média de 40 anos). Quanto ao tempo de trabalho na

unidade: seis profissionais relataram menos de cinco anos, um profissional com oito

anos, três de 11 a 20 anos e dois com mais de 25 anos. Quanto à escolaridade: três

profissionais com tempo menor que cinco anos de graduação; sete graduados no

intervalo de seis a doze anos e dois com 28 e 30 anos, respectivamente.

Quanto à pós-graduação, oito entrevistados fizeram algum tipo de curso de pós-

gradução lato sensu e um tinha mestrado acadêmico.

Categorias analíticas do processo de trabalho da supervisão de

enfermagem

O tratamento final resultou em três categorias analíticas: trabalho do

supervisor, finalidade do trabalho e instrumentos do trabalho. O trabalho

foi subdividido em: rotina da supervisão, responsabilidades e autonomia para

tomada de decisões. A finalidade do trabalho da supervisão foi subdividida

em: considerações sobre a finalidade do trabalho e aproximações da prática sobre

as finalidades apontadas. Os instrumentos, subdivididos em técnicas e

métodos utilizados no trabalho.

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

104

Categoria 1- O trabalho da supervisão

Na rotina de trabalho da supervisão foram destacadas as diferenças entre os

turnos diurno e noturno. Esse último, intensificado por algumas tarefas que ficaram

sob sua responsabilidade devido aos serviços administrativos institucionais não

funcionarem no período noturno. Desse modo, os supervisores do período noturno

possuem certa autonomia para tomadas decisões sem compartilhá-las com os

diretores de serviço.

A rotina, de modo geral, se inicia com a passagem do plantão entre

supervisores, após fazerem uma visita para controle da frequência do pessoal

escalado, verificam as intecorrências assistenciais com foco em procedimentos

técnicos, casos especiais e gerenciam materiais e equipamentos. Acompanham a

realização de protocolos assistências, como exemplo, a prevenção de quedas;

realizam atividades administrativas, como exemplo, a conferência do cartão ponto e

com menor frequência, também realizam educação em serviço. Essa rotina é

relatada, na visão do enfermeiro:

[...] geralmente ele passa ali no posto, pergunta se está tendo algum problema, alguma intercorrência, alguma falta. Ou chama a gente para conversar ou para dar alguma informação, alguma coisa que precisa fazer ou orientação. E no final... pega nosso plantão: número de funcionários, número de pacientes, pacientes entubados, pacientes acamado, isolados... É assim (E. Apoio).

Alguns enfermeiros referiram desconhecer a rotina do supervisor

relataram atividades pontuais e sua presença na enfermaria quando chamados nas

intercorrências.

A mudança da jornada de trabalho do supervisor para 30h/semana foi

fator que interferiu na sua rotina. Sem acréscimos de cargos e número insuficiente

para cobertura de folgas, decorrentes desta jornada, o supervisor de plantão faz a

“cobertura” das enfermarias do colega que está de folga, reduzindo a possibilidade

de acompanhamento da equipe na assistência, conforme depoimento,

O supervisor não está todos em os plantões com a gente, porque segue a escala dos supervisores da noite. A gente reclama bastante

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

105

porque, às vezes eu passo quatro, cinco plantões sem encontrar com o supervisor (E. Responsável).

Quanto às responsabilidades da supervisão foi referido: fazer o controle

da frequência; gerenciar a falta de materiais e equipamentos; organizar a

implantação de protocolos e mudanças estruturais; treinar e avaliar recém-admitidos;

mediar situações com diretores de enfermagem e equipe multiprofissional e, com

menor frequência, está o gerenciamento da assistência, apoio ao ensino

e pesquisas, confirmado na fala a seguir.

Como responsabilidade, a cobertura de escala, é o que mais a gente faz [...]. E supervisão da assistência mesmo, dos processos, das técnicas. Acho que isto... e gerenciar conflitos. Acho que é o principal (S. Qualidade).

Quanto à autonomia do supervisor, há controvérsia nas falas. Alguns

supervisores referiram ter autonomia para atuar com o apoio do diretor do serviço,

outros referiram autonomia limitada quanto às questões da micropolítica assistencial,

ditada pelo poder de decisão médico e restrita governabilidade na política

financeira, sendo de responsabilidade da universidade como admissões,

demissões, compra de equipamentos, sistemas informatizados e outras

demandas que interferem diretamente no trabalho assistencial, citado por:

Então, tem dois pontos da autonomia: até um determinado ponto em que não se mexe com os médicos e tem autonomia dependendo das relações informais (E.Hierarquia).

[...] dentro da unidade o supervisor tem bastante autonomia para as práticas e para que as atividades sejam realizadas. Mas, não tem para algumas coisas que são engessadas (S. Equipe).

Outro aspecto citado nas falas de alguns enfermeiros é a falta de

consenso entre supervisores e diretores em decisões do cotidiano:

É dada a autonomia para ele (o supervisor) fazer, mas quando chega o diretor... mudou! Não é mais para fazer deste modo. Então, tem uma autonomia entre aspas (E.Organização).

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

106

Categoria 2- Finalidade do trabalho da supervisão

Os entrevistados consideraram, idealmente, como finalidade da

supervisão realizar o planejamento da unidade em consonância com o planejamento

estratégico do DEnf e da instituição; ter o paciente como foco do planejamento;

monitorar a equipe para prestar assistência de qualidade; realizar treinamentos de

técnicas,ter comportamento ético e comprometimento como trabalho; resolver

problemas da gestão de materiais e equipamentos e fazer o dimensionamento de

enfermagem. Entretanto, ao serem questionados sobre quais atividades se

aproximavam das mencionadas, relataram que muitas delas, não são realizadas. A

justificativa para tal situação é porque atuam nas intercorrências e falta-lhes tempo

para acompanhar a assistência e a educação em serviço. Percebe-se no relato:

[...] Eu queria muito poder fazer mais. Eu sinto que eu não faço o trabalho de supervisão. Eu sinto que a gente ainda continua naquele modelo de apagar fogo. De resolver coisas pontuais aqui, ali e acolá (S. Sofrimento).

Categoria 3 - Instrumentos do trabalho

Os entrevistados tiveram certa dificuldade para identificar os instrumentos

utilizados para o trabalho de supervisão, conforme as falas abaixo:

[...] eu percebo que eles tem, às vezes, alguma linha motivacional. Mas, saber exatamente uma técnica ou um método eu não sei dizer. Eu percebo que eles têm uma linha de raciocínio, mas não consigo identificar (E.Visionária).

Não tem uma técnica específica para eu estar utilizando na supervisão. É o dia a dia, não tem no processo de supervisão, não tem isso (S. Dedicação).

Referem como métodos utilizados o uso de agenda para anotações e

controle das atividades diárias; discussão de casos com a equipe; reuniões e

planejamento das ações da unidade. Quanto às técnicas referem ações como agir

de forma assertiva na condução de uma negociação individual, em escala de

trabalho ou resolução de conflitos, com conversa individual ou com o grupo para a

resolução do problema.

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

107

Ressalta-se que durante as entrevistas, os supervisores referiram o uso

de auditorias, ferramentas para a análise da causa raiz de um problema, método do

planejamento estratégico, porém, sem identificá-los como instrumentos de trabalho

gerencial.

DISCUSSÃO

Ao analisar o perfil dos entrevistados, os dados revelam a predominância

do sexo feminino corroborando a característica histórica da profissão. No grupo de

supervisores, chama a atenção a porcentagem maior de homens (37,5%) em

relação ao grupo dos enfermeiros (5%), indicando tendência masculina para cargos

de chefia, conforme também verificado em alguns estudos(16-17).

Os profissionais são preparados academicamente, uma vez que 100% do

grupo de supervisores e 67% dos enfermeiros fizeram algum tipo de curso de pós-

graduação lato sensu. Entretanto, há relatos a respeito de alguns supervisores

não apresentarem perfil e preparados especificamente para assumir o trabalho da

supervisão. Sem o devido treinamento, os novos supervisores aprendem com os

percalços da rotina e com orientação dos mais antigos e diretores, reproduzindo o

que lhes é ensinado e determinado, conforme citado em “trabalho engessado”.

Nessa direção, na literatura internacional, estudo apresentam a

preocupação em preparar enfermeiros para assumir futuras posições de liderança(18).

Na literatura nacional, autores relatam a falta de conhecimentos gerenciais como

barreira para atuação eficiente do supervisor. A capacitação de gerentes deve

contemplar competências, que vão além das técnicas, como: liderança,

comunicação, resolução de conflitos, negociação para qualificar o fazer da

supervisão, uma vez que é essencialmente fundamentada em relacionamentos

coletivos(19-21).

A rotina de trabalho da supervisão acontece de forma diferenciada e

fragmentada entre os turnos diurnos e noturnos, marcada por variáveis níveis de

autonomia para decisões: o supervisor do noturno não tem a parceria com os

diretores de enfermagem e o apoio de serviços administrativos, assim lhes

cabe a tomada imediata de decisões do seu plantão e as resoluções de problemas

são passadas para a gerência diurna.

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

108

Nesse fluxo, nem sempre acontece o feedback da finalização ou

resolução da situação vivenciada. Aos supervisores do noturno fica a sensação de

sempre estar “apagando fogo”. Em estudo que indicou situação semelhante, há a

sugestão de deficiências de planejamento das ações e, certo grau de insatisfação

dos enfermeiros supervisores (17).

Apesar de evidenciar diferenças na organização da supervisão nos

turnos, percebe-se rotina direcionada para a dimensão do controle do trabalho, com

relações de poder hierarquizadas. Essa rotina é determinada, prioritariamente, por

diversas atividades, tais como o controle da frequência da equipe de enfermagem,

as quais são destacadas na passagem de plantão entre supervisores, na visita às

enfermarias, nas justificativas pela falta de tempo para as ações planejadas e de

treinamentos em serviço.

Pesquisas e revisões de literatura (1,4,19,21), com abordagem no processo e

organização do trabalho gerencial, tecem considerações semelhantes sobre a

gerência dos serviços de enfermagem que se limitam a manter a ordem e a rotina

institucional, em detrimento de ações para o gerenciamento do cuidado, ficando

esse sob a responsabilidade dos demais enfermeiros.

Ressalta-se que essas questões estão ligadas à força e ao poder da

cultura institucional cristalizada, bem como na construção histórica da profissão, em

que à enfermagem cabia a organização, ordem e disciplina do ambiente

terapêutico (22).

No exercício da gerência, mecanismos de controle e de poder são

elementos inseparáveis e podem ser produtivos e necessários, dependendo da

forma como gerentes os conduzem no exercício cotidiano da prática(23).

Não se realiza adequado planejamento sem obter dados para determinar

objetivos, prioridades, selecionar recursos integrados em um plano realizado de

forma coletiva e participativa (24). E, nesse caso, o supervisor tem papel

fundamental como intermediador do trabalho assistencial e operacional, para levar

informações e articular as necessidades das equipes e dos pacientes para

os responsáveis pelo planejamento institucional.

Outro aspecto analisado nessa direção é a autonomia relatada

pelos supervisores no exercício da função. Nota-se que essa autonomia está

Page 110: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

109

centrada em tarefas rotineiras, pelo conhecimento que detêm sobre as rotinas

institucionais e, desse modo, possuem certo poder para solução

e/ou encaminhamento das demandas, pelas relações interpessoais que construíram

ao longo do tempo de trabalho. Nessa direção, há pesquisa que mostra a

interferência da variável tempo de serviço no favorecimento da autonomia, para

atuação dos enfermeiros (25).

Pelas questões discutidas, é compreensível a dificuldade do supervisor

em direcionar seu fazer para a finalidade do gerenciamento da assistência da

enfermagem, pois seu processo de trabalho está estabelecido para atender às

necessidades de uma instituição pública, gerenciada por modelo, que se diz

participativo, mas tem elementos da administração científica/burocrática direcionada

para atender um modelo assistencial fragmentado nas especialidades médicas, com

disputa de interesses e poderes centralizados.

Apesar de essa instituição ter vivenciado várias mudanças com

estratégias baseadas nos modelos participativos da qualidade total, da gestão por

processos e da gestão Paideia para favorecer a democratização da gestão e

diminuir a fragmentação do cuidado, essas não foram suficientes para modificar a

cultura institucional no modo tradicional de conduzir o trabalho(26).

Verifica-se que esse descompasso na condução do trabalho, provoca

insatisfação e desmotivação para inovações, pela morosidade para romper velhos

paradigmas e estabelecer mudanças com novas possibilidades de atuação na

prática gerencial.

O caráter educativo deve estar presente no fazer do supervisor, uma vez

que é sua responsabilidade o acompanhamento e avaliação do trabalho da equipe

de enfermagem, com vistas à sua capacitação para adequar às necessidade da

prática assistencial(9). Nessa questão, foi relatado que os supervisores diurnos estão

mais à frente nas atividades de caráter educativo com orientação de novos

procedimentos e treinamentos de funcionários recém-admitidos. Os supervisores

do período noturno expressam certa frustração por não conseguirem realizá-las pela

dinâmica de trabalho desse período, assumindo multitarefas, sem tempo específico

para tais atividades.

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

110

Por fim, analisam-se os instrumentos e tecnologias que os supervisores

utilizam para o trabalho gerencial. Instrumentos são considerados dispositivos ou

mecanismos de ordem físico/material ou de propriedade intelectual empregado para

realizar uma tarefa (27). Tecnologia não é apenas um aparelho, como exemplo, um

respirador mecânico, é também um conjunto de saberes que permitem ampliar as

intervenções de tratamento, por meio de acolhimento, vínculo e

humanização compatíveis à subjetividade do paciente (27).

Para o trabalho em saúde, existe uma tipologia para tecnologias, que

são as tecnologias leves (saberes relacionais entre profissionais/usuários que só

têm materialidade em ato), as tecnologias leves-duras (saber técnico estruturado,

protocolos e outros) e tecnologias duras (27).

Partindo desse referencial, infere-se, pela análise dos relatos,

que há desconhecimento conceitual, por parte dos entrevistados, sobre instrumentos

gerenciais traduzidos como métodos, técnicas e tecnologias. Ressalta-se uma

contradição nesta questão, pois utilizam instrumentos no trabalho cotidiano, mas não

se apropriam da potencialidade dos resultados que estes recursos e tecnologias

possuem para avaliar ou planejar seu trabalho. Corroboram nesta afirmação

comentários de diretoras e enfermeira da educação continuada, sobre novas

tecnologias que são utilizadas imediatamente após treinamentos, porém não são

incorporadas à prática cotidiana.

Infere-se por essa colocação que os supervisores preocupados em

cumprir uma rotina centrada em tarefas pré determinadas para o controle do

trabalho, se acomodaram com os recursos costumeiros, como uso de agendas,

visitas às enfermarias para saber das intercorrencais, conversas e reuniões para

resolução de conflitos e negociações sem a preocupação de inovações.

Outra questão que podemos apontar a esse repeito é a falta de feedback,

tanto do seu desempenho, quanto da utilização dos recursos/instrumentos/

procedimentos para os quais foram capacitados. Desse modo, os supervisores não

são estimulados a desenvolverem uma prática reflexiva, na qual são analisam os

resultados obtidos, com apropriação de instrumentos para um fazer diferenciado,

criativo e inovador na prática cotidiana.

Page 112: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

111

CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa permitiram compreender o trabalho

realizado no cotidiano da supervisão de enfermagem, por meio

do significado atribuído aos componentes do processo de trabalho pelos

supervisores e enfermeiros.

Verifica-se que o processo de trabalho da supervisão em

enfermagem favorece a dimensão do controle e organização, para responder às

necessidades institucionais, principalmente no período noturno, quando os serviços

de apoio não funcionam.

Os supervisores são sobrecarregados por múltiplas atividades

que os afastam do acompanhamento e avaliação da assistência prestada e,

também, do desempenho da equipe de enfermagem. Essa forma de atuar está

cristalizada em aspectos de submissão, construídos historicamente na profissão, e

às normatizações de um modelo gerencial institucional burocrático. Sem clareza da

finalidade do processo de trabalho e de fatores que provocam seus desvios, eles

continuam a reproduzir um trabalho rotineiro e pouco criativo.

Acredita-se que os resultados apresentados nesta pesquisa, primeira fase

exploratória da pesquisa-ação, constituíram importante diagnóstico para abrir

reflexão nesse Departamento de Enfermagem, sobre a alienação “do fazer pelo

fazer” da supervisão de enfermagem. Sendo uma importante contribuição à revisão

do processo de trabalho da supervisão com vistas à obter práticas sistematizadas,

guiadas pela finalidade do gerenciamento da assistência de enfermagem.

REFERÊNCIAS

1.Hausmann M, Peduzzi M. Articulação entre as dimensões gerencial e assistencial do processo de trabalho do enfermeiro. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2009 [cited 2014 mar 15]; 18(2): 258-65. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v18n2/08.pdf. 2. Matos E, Pires D. Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm.  [Internet]. 2006  [cited  2017 2014 mar 15];  15(3): 50814. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072006000300017&lng=en. 3. Ferreira MMF. Gestão em enfermagem de Florence Nightingale aos nossos dias. In: Rodrigues MA, Bento MC (orgs). Enfermagem: de Nightingale aos dias de hoje 100 anos. Unidade de investigação da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

Page 113: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

112

Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Série monográfica número 01. Braga: Candeias Artes Gráficas.2012. p. 57-74. http://www.Users/PRINCIPAL/ Dropbox/1 .TESE/Capitulos/Introdução/textos/Enfermagem_de_Nightingale_aos_dias_de_hoje_100_anos.pdf. 4..Lorenzetti J, Oro J, Matos E, Gelbcke FL. Work organization in hospital nursing: literature review approach. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2014.   [cited  2017 2014 mar 15]; 23(4): 1104-12. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-0707201400 0401104& script=sci_arttext 5. Chiavenato I. Administração: Teoria, Processo e Prática. 5ª ed. Rio de Janeiro, Manole, 2014. p. 472. 6. Souza FM, Soares E. A visão administrativa do enfermeiro no macrossistema hospitalar: um estudo reflexivo. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2006 [cited 2016 July 24]; 59(5): 620-625. Available from: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672006000500005&lng=en. 7. Prochnow AG, Leite JL, Erdmann AL, Trevizan MA. Conflito como realidade e desafio cultural no exercício da gerência do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP. 2007; 41(4):542-50. 8. Ferreira MMF. Relacionamento com o supervisor e satisfação no trabalho: estudo em profissionais de saúde. Cadernos de Ciência e Saúde. 2013; 3(3):15-22. 9. Silva EM. Supervisão como essência do gerenciamento em enfermagem. In: Vale EG, Peruzzo SA, Felli VEA, organizadores. PROENF Programa Atualização em Enfermagem: Gestão: Ciclo 03. Porto Alegre: Artmed/Panamericana; 2014. p.79-107. 10. Marx K. O capital: crítica da economia política. Trad. Reginaldo de Sant'Anna. 29.ed. vol 01. Rio de Janeiro (RJ): Civilização Brasileira; 2011. 11.Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec; 2010. 12. Hospital de Clínicas. Universidade Estadual de Campinas. Institucional [Internet] Imprensa. Relatório de Gestão-2010-2014 [cited 2017,abr 01]. Available from http://www.hc.unicamp.br/sites/default/files/users/Administrador/relatorio-gestao-2010-2014.pdf 13.. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5a ed., São Paulo (SP): Athas, 2010. 14. Turato ER. Tratado da metodologia clínico-qualitativa. Petropolis, RJ: vozes, 5ª ed, 2011. 15. Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 7a. ed. Porto Alegre: Artmed; 201. 16. Simões J, Amâncio L. Gênero e enfermagem: um estudo sobre a minoria masculina. Sociologia. 2004; 44:72-8. 17. Ayres JA, Berti HW, Spiri WC. Opinião e conhecimento do enfermeiro supervisor sobre sua atividade. REME – Rev. Min. Enf. 2007;11(4):407- 13. 18.Patrician PA, Oliver D, Miltner RS, Dawson M, Ladner KA. Nurturing charge nurses for future leadership roles. J Nurs Adm, 2012; 42 (10): 461- 66. 19. Santiago ARJV, Cunha JXP. Supervisão de enfermagem: instrumento para a promoção da qualidade. Rev Saúde e Pesquisa, 2011; 4 (3): p. 443-8. 20. Almeida ML, Peres AM, Bernardino E, Santos MF. Formação de competências para o gerenciamento em enfermagem. Cogitare Enferm, 2014;19(2):269-76.

Page 114: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

113

21. Soares MI, Camelo SHH, Resck ZMR, Terra FS. Nurses’ managerial knowledge in the hospital setting. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016; 69(4):676-83. Available from http://www.scielo. br/pdf/reben/v69n4/0034-7167-reben-69-04-0676.pdf. 22.JericóMC,Peres AM, K P. Organizational structure of nursing services: reflections on the influence of the organizational power and culture. Rev.esc. enferm.USP. [Internet]. 2008. [cited 2016 July 24]; 42(3):56977. Available from: http://www .scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0080-6234 20080003 00022& lng=en. 23. Gonçalves RBM. Tecnologia e organização social das práticas em saúde: características tecnológicas de processo de trabalho na rede estadual de centros de saúde de São Paulo. SP:Hucitec, 1994. 24. Ciampone MHT, Melleiro MM. O planejamento e o processo decisório como instrumento do processo de trabalho gerencial. In: Kurcgant P. (organizadora) Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010, Cap 37-53. 25.Silva JMR. The professional autonomy of nurses. Rev de Enfermagem Referência III Série. 2011. n.° 5:pp.27-36. Avaiable from:http://www.scielo .mec.pt/pdf/ref/vserIIIn 5/serIIIn5a03.pdf. 26. Massuda A, Campos GWS. El método de soporte Paideia en el hospital: la experiencia del Hospital de Clínicas de la Universidade Estadual de Campinas (HC-Unicamp). Salud Colectiva [Internet]. 2010 [cited 2017 maio 24] ; 6(2): 163-80. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1851-82652010000200004&lng=en. 27. Merhy EE. Saúde: A cartografia do trabalho vivo. 4a ed. São Paulo: Editora Hucitec; 2014.187 p.

4.3.2 “Oficinas como proposta democrática para mudanças no

trabalho da supervisão em enfermagem”.

Este artigo é um relato da experiência de planejar, desenvolver e avaliar

as oficinas, de abordagem psicossocial, visando rever o trabalho da supervisão em

enfermagem hospitalar, realizadas na terceira fase da PA.

OFICINAS COMO PROPOSTA DEMOCRÁTICA PARA MUDANÇAS NO

TRABALHO DA SUPERVISÃO EM ENFERMAGEM

Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilioj, Vanessa Pellegrino Toledok,

Eliete Maria Silval

jAutor correspondente. Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem (Doutorado). Campinas-São Paulo, Brasil.

Page 115: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

114

Resumo

Objetivo: relatar a experiência de desenvolver oficinas como estratégia de

intervenção em uma pesquisa-ação, visando rever o trabalho da supervisão em

enfermagem hospitalar. Método: relato da experiência de planejar, desenvolver e

avaliar oficinas com abordagem psicossocial. Foram realizadas três oficinas, em

local reservado, com a participação de 21 supervisores de hospital público

universitário. Cada oficina foi organizada com aquecimento, trabalho do dia,

fechamento com sínteses e consensos. Resultado: o trabalho proporcionou trocas

de experiências, reflexão e propostas para dificuldades identificadas no processo de

trabalho que afastam os supervisores do gerenciamento da assistência como

comunicação falha, retrabalho e indefinição de atribuições na equipe. Conclusão: a

dinâmica das oficinas favoreceu o grupo de supervisores a rever e propor ações

para soluções das dificuldades da sua prática de forma mais democrática e

participativa, mediante interações dialógicas, partilha dos sentimentos pertinentes ao

contexto de trabalho e estabelecimento de consensos para a finalização da tarefa.

Descritores: Supervisão de Enfermagem; Serviço Hospitalar de Enfermagem;

Educação; Administração Hospitalar; Organização e Administração.

Key words: Nursing, Supervisory; Nursing Service, Hospital; Education; Hospital

Administration; Organization and Administration.

Palabras clave: Supervisión de Enfermería; Servicio de Enfermería en Hospital;

Educación; Administración Hospitalaria; Organización y Administración.

Introdução

Na prática gerencial do trabalho da enfermagem está a atividade de

supervisão como elemento intermediador que integra gerentes do nível central

Endereço: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. CEP 13083-887. Cidade Universitária Barão Geraldo. E-mail: [email protected]. kUniversidade Estadual de Campinas/UNICAMP, Faculdade de Enfermagem. Contato e-mail:

[email protected]. l Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, Professora Associada da Faculdade de Enfermagem. Campinas-São Paulo, Brasil. Email: [email protected].

Page 116: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

115

(planejadores) com profissionais da equipe de enfermagem (operacionais) e outros

profissionais envolvidos, direta e indiretamente, na assistência, orientando-os a fim

de cumprir o que foi planejado e, ao mesmo tempo, administrando as demandas de

pessoal e de materiais, tensões e conflitos entre as equipes de trabalho, assim como

outras questões cotidianas(1-2).

Tal característica da supervisão, como um elemento de ligação e

conhecedora da dinâmica institucional, confere ao profissional de enfermagem

posição estratégica para atuação reflexiva sobre como fazer a gestão do cuidado no

ambiente hospitalar, promovendo mudanças no pensar e no agir da equipe de

enfermagem e saúde, planejando a assistência na qual se considera a subjetividade

dos pacientes e não somente o controle do cumprimento de técnicas e protocolos

clínicos(2).

De modo geral, a literatura nacional aponta o potencial da supervisão

para melhorar a qualidade assistencial integrando os processos de cuidar e

administrar de forma sistematizada e reflexiva, planejando ações, atuando com

fundamentação em dados, avaliando resultados com habilidade para empreender e

realizar ações inovadoras(1,3).

Na literatura internacional, há estudos, desde a década de 1990, sobre

uma prática denominada supervisão clínica, focada no desenvolvimento de

competências e capacidade reflexiva, que orienta enfermeiros na condução do

planejamento da assistência, proporcionando suporte para tomada de decisão nas

intervenções. Para tanto, desenvolveram-se modelos que sistematizam a sua

prática, mostrando resultados positivos para a assistência com maior capacidade de

liderança dos enfermeiros supervisionados, redução de erros, melhoria na motivação

para o trabalho com a redução do estresse e insatisfações(4).

Diante do exposto, considera-se que a supervisão de enfermagem tem

papel fundamental no gerenciamento da assistência, com potencial para mudar a

forma de trabalhar do enfermeiro, aproximando-se mais de práticas reflexivas

conforme as experiências internacionais, se sobrepondo ao controle e a organização

do ambiente terapêutico hospitalar observado nos dias atuais(1-4).

Com essa motivação, as pesquisadoras desenvolveram estudo com

objetivo de rever o processo de trabalho da supervisão de enfermagem, para

Page 117: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

116

construir, em conjunto com o grupo de supervisores, proposta de atuação que

supere as dificuldades que os afastam do gerenciamento da assistência. Para isso,

optou-se pela abordagem qualitativa, fundamentada no referencial do processo de

trabalho, alicerçado na metodologia da Pesquisa-Ação (PA).

A PA é um tipo de pesquisa social, com origens nos estudos de Kurt

Lewin sobre a dinâmica de pequenos grupos, realizados na década de 1940. A PA é

desenvolvida em processo de investigação construído por etapas, de forma

colaborativa e democrática, em que pesquisadores e membros da instituição

trabalham juntos, de forma crítica e participativa, para diagnosticar e propor soluções

para uma situação ou um problema identificado(5). Na enfermagem a PA tem sido

desenvolvida para produzir conhecimentos em várias áreas de atuação, bem como

diagnóstico da equipe, das relações e ambiente de trabalho para sinalizar estratégia

mobilizadora para gestores e apoio institucional visando à promoção de mudanças

efetivas(6).

Este estudo contou com a participação das pesquisadoras, da Diretoria

do Departamento de Enfermagem (DEnf) e dos supervisores, desde o

desenvolvimento do projeto, planejamento das ações de cada fase, avaliações,

validação dos resultados apresentados em reuniões respeitando os interesses do

grupo e pactuação das ações.

O estudo foi realizado em quatro fases: a primeira foi destinada a

compreender o processo de trabalho da supervisão; na segunda realizou-se

observação participante o que propiciou a interlocução com o grupo de supervisores;

na terceira foram desenvolvidas ações por meio de oficinas e por último, se

apresenta a quarta fase de avaliação, que se deu ao longo de todo o processo da

pesquisa.

Os resultados da primeira fase, por meio de entrevistas com

supervisores e enfermeiros, mostraram que o trabalho da supervisão acontece de

forma fragmentada nas 24 horas, com dificuldades de comunicação para a

continuidade da assistência entre os períodos diurno e noturno. As ações de

supervisão estão centradas no controle do trabalho, principalmente voltadas para a

frequência da equipe de enfermagem e disponibilidade dos materiais, responde às

demandas inesperadas que dificultam a continuidade do planejamento realizado

Page 118: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

117

pelos Serviços de Enfermagem, sobretudo quanto ao acompanhamento de

atividades da gestão da assistência. As observações e acompanhamento de

atividades dos supervisores, na segunda fase, validaram os resultados da primeira e

subsidiaram o planejamento de ações da terceira fase.

Para o desenvolvimento da terceira fase, optou-se pelo método de

“oficinas” por entender que são espaços planejados em encontros,

independentemente do número, destinadas ao trabalho com pequenos grupos para

construção coletiva de uma tarefa(7).

A prática de oficinas não é recente e bastante disseminada como

dispositivo privilegiado para promover a reflexão, a consciência crítica em um

trabalho coletivo, sendo empregada em diversas áreas, como na psicologia para

intervenções psicoterapêuticas, na educação para a formação pedagógica, no setor

público para o desenvolvimento de competências gerenciais para gestores(7-9). A

literatura nacional, após os anos 90, mostra a sua utilização na enfermagem em

intervenções educativas para diversos pacientes (crônicos, gestantes, adolescentes,

cuidadores), no atendimento terapêutico na saúde mental, na investigação(9),

identificando-se uma lacuna para o desenvolvimento profissional na área gerencial

da enfermagem. Na literatura internacional, além das citadas, oficinas mostram-se

eficientes para a capacitação de profissionais em obter habilidades na pesquisa e

conhecimentos com especialistas, para implementar evidências na sua prática(10).

Considera-se desenvolver oficinas como uma estratégia adequada aos

princípios norteadores da pesquisa-ação, em que os participantes constroem

propostas para resolução de problemas com apoio da pesquisadora, por meio de

diálogos e estabelecimento de consensos para buscarem soluções capazes de

provocar mudanças, uma vez que o grupo participante da pesquisa é conhecedor da

cultura e da realidade institucional. Outro fator determinante para a escolha de

oficinas foi seu caráter democrático e participativo(7-8), pois intencionava-se colocar à

disposição dos supervisores uma estratégia diferenciada das capacitações

tradicionais com transmissão do conhecimento, proporcionando-lhes espaço de

reflexão e socialização de suas experiências, sendo uma experiência inovadora para

este grupo.

Page 119: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

118

Diante do exposto, o presente artigo teve por objetivo relatar a

experiência do desenvolvimento de oficinas como estratégia utilizada para a fase de

intervenção de uma PA, na qual a proposta, a partir da construção coletiva, foi

baseada em mudanças no processo de trabalho da supervisão de enfermagem.

Percurso metodológico das oficinas

Trata-se de relato de experiência do planejamento, desenvolvimento e

avaliação de oficinas, realizadas com supervisores de enfermagem.

A pesquisa foi desenvolvida no DEnf de um Hospital de Clínicas (HC)

de grande porte (405 leitos) e alta complexidade, universitário, vinculado ao Sistema

Único de Saúde. O DEnf possui 1.447 profissionais operacionais entre enfermeiros,

técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem, dimensionados para atuar em

todas as unidades do hospital. A supervisão envolve 25 supervisores, sendo oito no

período noturno (19-7h) e o restante no diurno em horários flexíveis para

acompanhamento dos plantões da manhã (7-13h) e da tarde (13-19h), respondem

hierarquicamente ao Diretor de Serviço.

O método de oficinas utilizado propõe abordagem psicossocial,

fundamentada na contribuição de várias teorias que se articulam para ajudar a

coordenação na compreensão da dinâmica e evolução do grupo. Essa articulação

teórica abrange três dimensões: 1) dimensão psicossocial para entendimento da

dinâmica de grupo com contribuição da teoria de campo de Kurt Lewin, 2) dimensão

psicodinâmica de grupos, encontrada em autores como Freud, Bion, Foulkes e

Pichon-Rivière e 3) dimensão educativa baseada na pedagogia da autonomia de

Paulo Freire(7).

Planejamento e organização das oficinas(7):

A demanda sobre a necessidade de rever o processo de trabalho da

supervisão foi proposta pelas pesquisadoras e acordada com a diretoria do Denf,

possibilitando o apoio para a participação de todos os supervisores, do diurno e

noturno. Porém, o que foi trabalhado neste vasto campo, emergiu dos resultados da

primeira fase do projeto e confirmados pela interlocução da pesquisadora no

acompanhamento do cotidiano de supervisores na unidade de internação, durante a

Page 120: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

119

segunda fase. Deste modo, a tarefa pactuada com o grupo participante, ou seja o

objetivo das oficinas ficou estabelecido: discutir as atividades realizadas pelos

supervisores e determinar o que se aproxima, ou não, da finalidade do trabalho, o

gerenciamento da assistência, para propor mudanças no processo de trabalho

compatíveis com a realidade institucional.

A composição do grupo para a coordenação das oficinas foi

estabelecida entre a pesquisadora (com a responsabilidade de coordenar as

oficinas), duas enfermeiras da Seção de Educação Continuada (SEC) e uma

professora da Faculdade de Enfermagem/Unicamp, assessora do DEnf para o

ensino e pesquisa, como apoiadoras no planejamento, organização, discussões,

registro dos encontros e avaliações.

Para a organização e planejamento da estrutura das oficinas foram

realizadas três reuniões preparatórias nas quais participaram o grupo de

coordenação das oficinas com a diretoria do DEnf. Nesses encontros foram

discutidas as expectativas e estabelecidos consensos sobre a finalidade e

responsabilidades da supervisão de enfermagem na instituição. Tal alinhamento de

conceitos e ideias foi fundamental para a construção do eixo norteador para o

trabalho das oficinas (Figura1).

Figura 1- Eixo norteador do trabalho das oficinas com supervisores de enfermagem-outubro 2016

Fonte: Elaboração primária das autoras.

Page 121: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

120

Realizou-se um planejamento flexível contendo plano geral, como um

guia para cada oficina, contendo na sua sequência temas e estratégias que

estimularam a consciência crítica ao grupo para o cumprimento da tarefa. O plano foi

revisto pela coordenação das oficinas, após cada encontro, considerando as

avaliações individuais dos participantes, a dinâmica do grupo, o conteúdo das

discussões, a produção do dia e envolvimento dos participantes na realização da

tarefa.

A estrutura das oficinas foi composta por três momentos(7). No primeiro

momento, foram realizadas atividades lúdicas, escolhidas de acordo com o tema

trabalhado na oficina, para sensibilização e descontração do grupo. No segundo

momento, foram organizadas atividades chamadas “trabalho do dia”, para mobilizar

discussões, reflexões e incentivar a sua produção. No terceiro momento, a

finalização, com exposição sistematizada pelo coordenador da produção e questões

conflituosas do dia buscando consensos e validação pelo grupo produzindo uma

síntese e avaliação do encontro. O Quadro 1 apresenta uma estrutura-padrão das

oficinas.

Quadro 1 – Estrutura-padrão das oficinas com supervisores de enfermagem, outubro de 2016. Atividades Tarefas Tempo

Apresentação Apresentação da coordenadora, apoiadoras e proposta das oficinas Contrato de participação, validação e consenso sobre a tarefa.

10 min

Sensibilização e descontração

Dinâmica: aceita o desafio? 15 min

Trabalho do dia

Trabalho individual: responder questões da folha de trabalho.

20 min

Organização em quatro subgrupos Trabalho em subgrupos: discussões com base nas questões individuais, chegar a consensos e responder a folha de trabalho em grupo. Registro da síntese do subgrupo pelo relator.

45 min

Intervalo Coffee 15 min

Apresentação Relatores dos subgrupos apresentaram o resultado do trabalho.

40 min

Fechamento Discussões das apresentações, síntese dos trabalhos e consensos.

20 min

Avaliação e encerramento

Avaliação individual em instrumento próprio. Acordos para o próximo encontro.

15 min

Fonte: elaboração das autoras, segundo referencial de Afonso, 2010(7)

Page 122: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

121

Foram marcadas inicialmente três oficinas, de três horas cada,

segundo possibilidade oferecida pelo Denf, em local reservado, fora do ambiente de

trabalho, para garantir a privacidade e despreocupação das atribuições cotidianas.

Esclarecemos sobre a oportunidade de terem assegurado um espaço

reservado para partilhar vivências, angústias e críticas sobre o processo de trabalho

da supervisão, para construir propostas de mudanças.

A figura 1, eixo norteador das oficinas, foi apresentada neste momento

para reflexão do grupo sobre “onde estamos” e, com o decorrer do trabalho, para

“onde queremos chegar” com o trabalho da supervisão em enfermagem e atitudes

esperadas do supervisor.

As questões em destaque no centro da Figura 1 foram trabalhadas ao

longo dos três encontros, estimulando a crítica e a reflexão. As discussões entre os

participantes permitiram a problematização da prática por meio de relatos sobre as

experiências, provocando ruídos internos e conflitos marcados pela percepção das

diferenças de atuação. Os relatos carregavam angústias e, por vezes, “falas

filtradas” pelos ruídos externos ao grupo, determinadas pela cultura de uma

instituição pública, com relações de poder hierarquizadas e, atualmente, com forte

redução de recursos financeiros, falta de materiais, provocando conflitos de

relacionamentos entre os pares e os serviços de apoio (farmácia, laboratório e

outros).

A avaliação do trabalho foi feita pela coordenação das oficinas, por

meio do registro das narrativas, observação das posturas, comportamentos e

produção do grupo, considerando a combinação de duas dimensões: a tarefa

externa mais objetiva, centrada no que se propôs alcançar e a tarefa interna mais

subjetiva relacionada ao crescimento do grupo(7).

Após três meses do término das oficinas enviamos um questionário

online, para o grupo participante, para acompanhamento e avaliação do

entendimento das oficinas como espaço de reflexão do trabalho e a realização das

atividades propostas.

Ressalta-se que foram seguidos os preceitos ético-legais de pesquisa e

os participantes foram orientados quanto aos objetivos e sigilo. Após esclarecidas

Page 123: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

122

suas dúvidas, foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Unicamp/Campus Campinas, sob parecer nº 887.936.

Avaliação dos resultados das oficinas

- Os três encontros de três horas (totalizando 9 horas) não foram

suficientes para finalizar a tarefa, devido o envolvimento dos participantes nas

discussões e houve necessidade de acrescentar mais dois encontros (somando

outras 6 horas, totalizando 15 horas) organizados pelo grupo mostrando o seu

comprometimento com a finalização da tarefa. O tempo planejado para o trabalho

nem sempre é coincidente com os processos internos de elaboração do grupo,

portanto, há necessidade de esclarecer, tanto na instituição quanto com os

participantes, a possibilidade de um planejamento flexível tanto de tempo como de

conteúdo e estratégias(7-8).

- Participaram 21 supervisores, pois dois se encontravam em férias e dois

estavam impedidos por outros compromissos profissionais. Este número foi avaliado

como excessivo, dificultando a evolução das discussões. No trabalho em subgrupos,

com cerca de 6 pessoas, a participação e interação se deu com maior intensidade e

melhor interatividade. Na literatura é recomendada a formação de grupos de 5 a 12

pessoas, para não gerar subgrupos com ideias cristalizadas que dificultam o

processo democrático de acordos e consensos(8).

- Quanto à dinâmica grupal, as oficinas proporcionaram ao grupo

discussões e trocas de experiências da vivência e dificuldades. O espaço

preservado foi fundamental para o diálogo sobre algumas dificuldades recorrentes,

relacionadas ao nível superior hierárquico, como a falta de feedback do trabalho,

falha na comunicação e falta de definição de responsabilidades para algumas

tarefas apontadas como realizadas com retrabalho. Após análise, concluiu-se que os

momentos de discussão da dinâmica grupal, a tarefa interna, foram necessários e

fundamentais para que os participantes evoluíssem na sua identificação como

grupo, se sentissem sensibilizados para a existência de diferenças de atuação entre

o período diurno e noturno e, dessa forma, alcançassem a coesão necessária para

terem foco e concluírem a tarefa externa.

Page 124: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

123

- Quanto à conclusão da tarefa externa, o grupo construiu coletivamente

uma proposta, para solucionar dificuldades emergentes do cotidiano contendo um

plano de ações, estratégias, cronograma e os responsáveis para cada uma delas,

denominada “Gerenciamento compartilhado da assistência”, composta de três

atividades para sua operacionalização: 1) rever a gestão do trabalho assistencial nas

24 horas, 2) melhorar a comunicação institucional e 3) rever retrabalho entre

supervisores, diretores, enfermeiros e funcionários administrativos. Esta proposta foi

apresentada por um representante dos supervisores, por explanação oral e

documento com assinatura de todos os supervisores, em reunião na qual,

participaram supervisores, diretores e assistentes do Denf. Houve discussão sobre

cada atividade e pactuação para a sua realização.

- As oficinas foram avaliadas após três meses, por questionário online,

por 67% dos participantes. Na afirmativa “Oficinas como espaço de reflexão sobre o

trabalho”, obtiveram-se 50% de concordância parcial, 35,7% integral e 14,3% de

discordância parcial, justificada pelo excessivo número de participantes. Quanto à

realização das atividades 1, 2 e 3, citadas acima, 64% afirmaram que são feitas

parcialmente, 22% afirmaram que não são realizadas e 14% que são realizadas

integralmente. Avaliamos que a discrepância de realizações se deve à falta de

unicidade de condutas nos serviços de enfermagem, fato que também foi apontado

pelos supervisores nas oficinas.

Considerações Finais

O método das oficinas proporcionou ambiente favorável às interações

dialógicas, respeitando às diferenças, de acordo com o que se espera de um

processo democrático e participativo, bem como a implicação e engajamento do

grupo para cumprir os objetivos propostos. Neste processo democrático, ao terem

livre expressão de suas angústias e insatisfações expressadas pela falta de

autonomia, falta de apoio e descrédito, os supervisores se fortaleceram na sua

identidade grupal, refletindo sobre novas possibilidades para uma atuação diferente

do “cumprir e fazer cumprir tarefas”, superando dificuldades cotidianas que os

desviam da finalidade do seu trabalho. Deste modo, avaliamos que as oficinas foram

uma experiência intensa, na instituição estudada, sendo uma estratégia positiva e

Page 125: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

124

inovadora para um grupo acostumado à capacitações técnicas tradicionais que

enfocam a transmissão do conhecimento.

Para a coordenadora e apoiadoras o desenvolvimento das oficinas foi

um desafio contínuo, árduo e ao mesmo tempo prazeroso, na medida em que, se

acompanhou a evolução do grupo. As constantes avaliações, pré e pós encontros,

permitiram entender o movimento do grupo e fortalecer o seu processo interno de

pertencimento, comunicação, cooperação, aprendizagem e produção.

Conclui-se que o método de oficinas pode contribuir em instituições

semelhantes, sendo uma estratégia eficiente para gestores de enfermagem

desenvolverem consciência crítica sobre processos internos encobertos pela

comunicação bloqueada e atravessada por relações de poder institucionalizadas.

Este movimento de conscientização é necessário e fundamental nas discussões

sobre mudanças nos processos de trabalho, sem o qual não deixarão de reproduzir

atitudes e comportamentos restritos ao controle do trabalho para reais

transformações das práticas de supervisão alinhadas à finalidade do gerenciamento

da assistência.

Agradecimentos. Sinceros agradecimentos à Diretoria do Departamento de

Enfermagem e Seção de Educação Continuada pelo apoio, parceria e implicação no

desenvolvimento da pesquisa.

Referências

1. Soares MI, Camelo SHH, Resck ZMR, Terra FS. Nurses’ managerial knowledge in

the hospital setting. Rev.bras enferm [Internet].2016 [cited 2017 feb 03]; 69(4):631-7.

Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034167 201

6000400676&lng=em&nrm = iso&tlng=pt.

2. Silva EM. Supervisão como essência do gerenciamento em enfermagem. In: Vale

EG, Peruzzo SA, Felli VEA, organizadores. PROENF Programa Atualização em

Enfermagem: Gestão: Ciclo 03. Porto Alegre: Artmed/Panamericana; 2014. p.79-

107.

3. Hausmann M, Peduzzi M. Articulação entre as dimensões gerencial e assistencial

do processo de trabalho do enfermeiro. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2009

Page 126: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

125

[cited 2014 mar 15]; 18(2): 258-65. Available from: http://www.scielo.br/

pdf/tce/v18n2/08.pdf.

4. Dilworth S, Higgins I, Parker V, Kelly B, Turner J. Finding a way forward: A

literature review on the current debates around clinical supervision. Contemporary

nurse [Internet]. 2013[cited 2014 mar 15]; 45(1): 22-32. Available from:

http://www.tandfonline. com/doi/pdf/ 10.5172/ conu.2013.45. 1.22.

5. Tanajura LLC, Bezerra AAC. Pesquisa-ação sob a ótica de René Barbier e Michel

Thiollent: aproximações e especificidades metodológicas. Rev. Eletrônica

Pesquiseduca [Internet]. 2015[cited 2017 jan 10];7(13):10-23. Available from:

http://periodicos.unisantos.br/index.php/ pesquiseduca /article/view/408.

6. Silva AP, Munari DB, Brasil VV, Chaves LDP, Bezerra ALQ, Ribeiro LCM.

Trabalho em equipe de enfermagem em unidade de urgência e emergência na

perspectiva de Kurt Lewin. Cienc Cuid Saude. [Internet]. 2012 [cited 2017 jan 10];

11(3):549-556. Available from: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Cienc

CuidSaude/article/view/ 6609/pdf.

7. Afonso MLM, organizadora. Oficinas: em dinâmica de grupos na área da saúde.

2ª Ed. São Paulo. SP: Casa do psicólogo, 2010.

8. Spink MJ, Meganon VM, Medrado B. Oficinas como estratégia de pesquisa:

articulações teórico-metodológica a aplicações éticas-políticas. Psicol. soc. [Internet].

2014. [cited 2016 nov 22]; 26(1):32-43. Available from: http://www.scielo.br/pdf

/psoc/v26n1/05.pdf.

9. Amaral MA, Fonseca RMGS. A oficina de trabalho como estratégia educativa com

adolescentes na área de sexualidade. Rev Min Enferm. [Internet].2005.[cited 2017

jun10]; 9(2):168-73. Available from: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/457.

10. Yost J, Ciliska D, Dobbins M. Evaluating the impact of an intensive education

workshop on evidence-informed decision making knowledge, skills, and behaviours:

a mixed methods study. Medical Education. [Internet]. 2014. [cited 2017 jun10];

2014, 14:13. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24433582.

Page 127: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

126

5 DISCUSSÃO GERAL

Esse capítulo está organizado em cinco subitens para a apresentação da

discussão geral sobre os resultados produzidos no desenvovimento das quatro fases

da PA. Inicialmente apresentamos o perfil dos supervisores, os “atores” implicados

no fazer da supervisão. No segundo subitem, “compreensão do processo de

trabalho da supervisão”, apresentamos a discussão dos núcleos analisadores, os

quais consideramos pontos centrais implicados em ampla estrutura de significados

do “como se faz” as práticas no cotidiano complexo contexto hospitalar. No terceiro

subitem, “processo de trabalho - reflexões e mudanças”, apresentamos os núcleos

reveladores construídos a partir das reflexões do grupo de supervisores, no

momento das oficinas, que revelaram as dificuldades no trabalho e, a partir delas,

foram desenvolvidas propostas de ação. No quarto subitem, apresentamos a

proposta de ação contruída pelos supervisores. Por último, discutimos as limitações

da PA e recomendações para futuras pesquisas.

5.1 Perfil dos supervisores de enfermagem

O perfil dos participantes da terceira fase da pesquisa-ação, que

corresponde a 21 supervisores (84% do grupo), foi obtido por meio de questionário

online, respondido por 14 participantes (67% do grupo participante), tendo sido os

resultados analisados por estatística simples (Apêndice H).

A análise dos dados nos permitiu afirmar que a supervisão de

enfermagem é conduzida por um grupo predominantemente feminino: 85,7% dos

profissionais. Esse resultado é coincidente com a característica histórica da

profissão, com predomínio de mulheres no seu exercício profissional. Em 2015, a

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) concluiu pesquisa solicitada pelo Conselho

Federal de Enfermagem (COFEN) sobre o perfil da enfermagem e constatou que

84,6% da equipe de enfermagem é composta por mulheres, porém com aumento

nos últimos anos do percentual de homens em todos os estados da federação (122).

A faixa etária do grupo participante ficou entre 35 e 54 anos, e 71%

apresentavam menos de 45 anos, mostrando ser uma população jovem assumindo

cargos de gerência. No exercício do cargo de supervisão, 42,8% do grupo tinham

Page 128: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

127

menos de quatro anos, outros 42,8%, no período, de 5 a 10 anos e poucos (14,4%)

com até 30 anos. Esses dados mostram que se trata de um grupo heterogêneo

quanto à experiência de gerenciar, com renovação do quadro de supervisores em

quase metade do grupo (42,8%) por ocasião da mudança de gestão da diretoria de

enfermagem em 2014.

Nessa instituição, não há processo seletivo para a escolha de

supervisores, que são indicados pela diretora do DEnf em comum acordo com os

diretores de serviço, considerando, prioritariamente, a competência técnica do

enfermeiro e o relacionamento entre os pares. Em relação à questão da escolha de

supervisores, há relatos de participantes durante as fases da pesquisa sobre a

necessidade de critérios adequados para a seleção de enfermeiros com perfil, bem

como de desenvolvimento de programa específico para capacitá-los com

competências gerenciais e outras de abordagens relacionais que vão além da

especificidade técnica.

Os dados mostram que 57,2% do grupo não foram preparados para a

função e o restante participou do Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG) ou

outros cursos de curta duração oferecidos pela universidade. Destacamos que a

universidade oferece cursos de capacitação para desenvolvimento de profissionais

em cargos de chefia (curso de Gestão por Processos(Gepro), PDG e outros), porém

não são específicos para a área da saúde e a disponibilidade de vagas é limitada

para as unidades. Essa dinâmica não favorece a participação de todo o grupo que

compõe o quadro da gerência da enfermagem do DEnf, o que poderia contribuir, por

exemplo, para a capacitação no desenvolvimento do planejamento estratégico da

atual gestão. Esses cursos, apesar de possuírem ótimos conteúdos gerencias,

reforçam ações pontuais e fragmentadas por aqueles supervisores ou diretores que

participam.

A falta de instrumentos adequados e de espaços para reflexão e

orientação para o enfrentamento das dificuldades encontradas pelos supervisores

novatos pode causar barreiras na sua atuação, gerando conflitos, desmotivação,

cansaço físico e mental, repercutindo no seu desempenho profissional e na

satisfação pessoal (123-124). Nessa direção, pesquisas apontam que algumas das

dificuldades para o exercício efetivo da supervisão de enfermagem se deve à falta

Page 129: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

128

de conhecimento (10,24) e capacitação com competências específicas para a práxis

gerencial, para tanto, há necessidade de conhecimentos (saber), habilidades (saber-

fazer) e atitudes (saber ser e agir) que agreguem valor ao campo das relações

interpessoais, além da capacitação técnica (125-126).

Na literatura norte-americana, avançam discussões sobre a dificuldade de

enfermeiros se manterem em cargos e a necessidade de prepará-los para

assumirem futuras posições de liderança com melhor desempenho e satisfação (127).

Quanto ao tempo de formação na graduação em enfermagem, 57% do

grupo apresentaram de 10 a 20 anos e todos (100%) fizeram algum tipo de curso de

pós-graduação lato sensu (78,6%) ou stricto sensu/ mestrado acadêmico

(21,4%).Trata-se de um grupo preparado academicamente, portanto há necessidade

de aproveitar essa motivação e investir no desenvolvimento pessoal e profissional

na área gerencial, considerando também que, na atualidade, estão convivendo no

mesmo ambiente de trabalho com pessoas de diversas gerações. A nova geração

possui expectativas e respondem de maneira diferente ao modelo de gestão

tradicional, às relações disciplinares rotineiras e às formas de comunicação formais

e verticalizadas, utilizando as redes e mídias sociais (128).

As expectativas, interesses pela vida e carreira profissional de

supervisionados e supervisores se mostram diferentes pelas demandas atuais da

sociedade apresentadas por baixos salários, desemprego e incertezas para o tempo

e condições de aposentadoria. Esses e outros aspectos interferem nas relações e

desempenho profissional e são pontos necessários à reflexão do trabalho gerencial

da supervisão, pois o trabalho não é uma categoria à parte do contexto produtivo e

relacional, não se pode entendê-lo apenas pelo olhar técnico. O cotidiano do

trabalho é um espaço onde se produzem os ruídos, as falhas, os estranhamentos

num processo dinâmico cheio de significados e atravessado por disputas de

interesses a partir da ação dos sujeitos (82).

5.2 Compreendendo o processo de trabalho da supervisão em

enfermagem

Para a compreensão do trabalho da supervisão em enfermagem,

partimos de análises realizadas por várias fontes de dados: dados obtidos dos

Page 130: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

129

discursos das entrevistas realizadas com enfermeiros e supervisores (primeira fase

da PA), do conteúdo das reuniões com diretores do DEnf (primeira fase da PA),

dados das observações e participações da pesquisadora na realidade da supervisão

nas unidades de internação (segunda fase da PA).

Essas análises articuladas à base teórica marxista(27) do processo de

trabalho em saúde (80-83) e a literatura da área gerencial de enfermagem nos

permitiram discutir as evidências sobre a forma como a supervisão processa os

componentes constitutivos do trabalho, ou seja, o trabalho em si concretizado em

suas atividades cotidianas, a finalidade como fio condutor do trabalho e os

instrumentos gerenciais que utilizam na realidade do cotidiano hospitalar.

Verificamos que o trabalho da supervisão em enfermagem está centrado

em realizar tarefas estabelecidas para o controle e organização das unidades

hospitalares, cumprindo uma rotina estabelecida, protocolos e normas institucionais.

A rotina de trabalho dos supervisores dos turnos diurnos e noturnos e

também dos diversos serviços de enfermagem é realizada de forma diferenciada e

fragmentada. De forma geral, no seu fazer cotidiano, os supervisores realizam visitas

nas enfermarias, priorizam atividades para controle da frequência e

dimensionamento da equipe de enfermagem, realizam a gestão de materiais e

equipamentos, acompanham a realização dos protocolos assistenciais e demandas

do núcleo de qualidade e segurança do paciente, da Seção de Educação

Continuada (SEC) e Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).

Os enfermeiros e supervisores relataram que a finalidade da supervisão

em enfermagem deveria ser o gerenciamento da assistência, treinamentos da

equipe de enfermagem, gestão de materiais e equipamentos e a organização da

unidade, porém admitem que não realizam muitas dessas atividades, pois se

dedicam rotineiramente a resolver conflitos e demandas inesperadas.

Uma das dificuldades percebidas para esse afastamento da real

finalidade da supervisão se deve a fatores ideológicos e culturais enraizados na

profissão e que marcam o direcionamento da gerência em enfermagem para

responder à organização do trabalho das instituições, incorporando elementos

disciplinadores de lealdade às normas e rotinas estabelecidas (7,25).

Page 131: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

130

Para o trabalho gerencial, utilizam instrumentos como agenda, discussão

de casos, reuniões, negociações para efetivação de escalas de trabalho de forma

rotineira pouco criativa. Utilizam uma nova tecnologia no momento que recebem

treinamento ou a determinação para sua implantação, porém com certa dificuldade

para efetivaram seu uso ao longo do tempo.

Verificamos que lhes faltam espaços para reflexão sobre os propósitos

das atividades que realizam, as dificuldades que encontram na condução de

atividades essencialmente administrativo-burocráticas, de modo que possam

superar a fragmentação do trabalho subdividido nos processos de cuidar e

administrar, articulando-os numa relação de troca e cooperação entre todos os

atores para efetivar o gerenciamento do cuidado.

Apresentamos de forma geral, os resultados obtidos das duas fases

iniciais desenvolvidas na pesquisa-ação que nos permitiram identificar os quatro

núcleos analisadores da realidade: 1. trabalho desconhecido e fragmentado; 2.

autonomia para o trabalho; 3. instrumentos para o trabalho e 4.relações de poder, os

quais discutimos a seguir.

5.2.1 Trabalho desconhecido e fragmentado

Verificamos que o processo de trabalho da supervisão de enfermagem

do período diurno tem uma organização diferenciada da supervisão do noturno.

Os supervisores diurnos e noturnos desconhecem o que ambos realizam, apesar

de terem as mesmas atribuições sob a direção do mesmo regimento do Denf.

Esse desconhecimento do fazer de uns e outros, como um estranhamento sobre

as atividades que produzem, é traduzido como a alienação do trabalho, em que

os supervisores, preocupados com a rotina, perdem o domínio da totalidade do

seu processo de trabalho e da relação com finalidade do trabalho (129).

Os supervisores diurnos em maior número (17) respondem por uma ou

duas unidades de internação, compartilham decisões e recebem apoio do diretor

de serviço; já os supervisores noturnos, em menor número (8), são referência

para várias unidades de internação e, no dia de seu plantão, respondem também

pelas unidades dos colegas que estão de folga. Dessa forma, seu trabalho se

Page 132: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

131

restringe a uma “visita” para o controle da frequência da equipe e a resolver as

intercorrências internas e externas à enfermagem, para tanto possuem certo grau

de autonomia para as decisões, uma vez que não há a presença dos diretores de

serviço.

Outra questão pertinente ao trabalho da supervisão noturna é o

atendimento às demandas delegadas dos serviços de apoio (por exemplo, o setor

de recursos humanos) e da diretoria de enfermagem que trabalham em horário

administrativo (das 8h30min às 17h30min). Por essas questões, percebem-se

fragmentação e descontinuidade do planejamento de atividades assistenciais e

educativas entre os turnos diurno e noturno.

Nesse primeiro núcleo analisador, estão presentes evidências das

marcas históricas e aspectos ideológicos intimamente ligados à representação da

profissão por uma categoria majoritariamente feminina, submissa e leal às normas

da instituição, modelada na divisão social do trabalho, prestando cuidado aos

doentes nas 24 horas em todas as unidades, dando condições para a realização

do seu trabalho e do de outros profissionais da saúde (36).

Essas questões construídas historicamente representam para gerentes

de enfermagem que a sua atribuição é organizar e controlar o trabalho e dar

condições para a realização de procedimentos, desde os mais simples até a

prestação de cuidados mais complexos, bem como suprir as deficiências de

alguns serviços de apoio (por exemplo, buscar remédios na farmácia, encaminhar

os exames aos laboratórios, pegar a assinatura no documento de férias).

Entretanto, observamos que a resolução de situações inesperadas faz parte da

rotina de trabalho, atrapalha a continuidade do planejamento realizado para o

serviço de enfermagem e causa sobrecarga no trabalho dos supervisores.

Essa dinâmica de trabalho em que enfermeiros gerentes geralmente

executam mais do que planejam ou não conseguem realizar o planejamento é

também reconhecida na literatura (5,47,49). Essas adversidades deixam que lacunas

acarretem prejuízos na qualidade e na satisfação do trabalho gerencial, pela

desvalorização da continuidade das ações programadas, realização de um trabalho

fragmentado e dificuldades para se obter os resultados desejados.

Page 133: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

132

Os resultados de pesquisa sobre a influência da cultura organizacional e

de elementos ideológicos da profissão, manifestados na forma de organização do

trabalho, apontam insatisfações e conflitos no exercício da gerência (25). A

insatisfação advém do envolvimento dos gerentes no cumprimento de multitarefas

determinadas pelo contexto global, e, sem forças ou estratégia para negá-las,

acabam perdendo a noção do resultado final do seu trabalho. O conflito é gerado

pelo desvio de energias e tempo para realizar atividades que não correspondem ao

interesse da categoria ou do seu planejamento (25).

Todas as questões aqui colocadas e discutidas justificam a construção

desse núcleo para a compreensão do trabalho da supervisão e a necessidade de

reflexão sobre a tensão existente na forma de organização desse trabalho,

determinada pela cultura institucional centrada no poder da hegemonia médica e nas

questões da conformação e submissão da própria profissão.

5.2.2 Autonomia para o trabalho

Nas narrativas dos participantes do nosso estudo, percebemos certa

contradição quanto à autonomia para tomar decisões no trabalho da supervisão.

Alguns supervisores referem ter autonomia para decisões cotidianas, porém, quando

essas esbarram em questões políticas ou de ordem assistencial médica, não são

respeitados em sua opinião, mesmo justificando sua decisão com base nas normas

institucionais (por exemplo: questões de frequência ao trabalho, ocupação de leito,

horários de coleta de exames), destacando-se o sentimento de falta de apoio e

insatisfação.

Há relatos de enfermeiros que referem que os supervisores possuem

“certa autonomia” para desenvolver seu trabalho, isso se justifica pelas divergências

de opiniões e condutas entre supervisores e diretores e, nesse caso, prevalece a

opinião da autoridade hierárquica.

Notamos certa confusão do que se entende por autonomia, pois há

conceitos sobre autonomia profissional, autonomia pessoal e autonomia no trabalho.

A autonomia profissional é atribuída quando o enfermeiro assume a

responsabilidade pelo planejamento da assistência, com fundamento em princípios e

nas teorias da enfermagem, considerando as necessidades e a integralidade do

Page 134: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

133

paciente, além do cumprimento e/ou supervisão das tarefas rotineiras decorrentes

da prescrição médica: seria a autonomia para a ação assistencial (130-131).

A autonomia pessoal é influenciada pela experiência e pelo tempo de

serviço do profissional, permitindo-lhe relacionamentos interpessoais que favorecem

sua tomada de decisão. Essa autonomia facilita a resolução de problemas devido ao

fato de o profissional ter conhecimentos da cultura, das normas, da maneira de

funcionamento da estrutura hierárquica e dos serviços de apoio (131).

A autonomia no trabalho é determinada pelas relações de autoridade

hierárquicas, com forte influência nos modelos de gestão. Ambientes burocráticos

com trabalho fragmentado e centrado em rotinas e inadequada comunicação

dificultam o processo de autonomia dos seus profissionais, diferente de ambientes

onde há práticas participativas, integradoras e sensíveis que estimulam a autonomia,

considerando a capacidade intelectual para decisões e para inovações no trabalho

(132).

Nessa perspectiva, compreendem-se os motivos pelos quais os

supervisores ora são autônomos nas decisões ora não o são. A conquista da

autonomia na prática da gerência em enfermagem é um processo complexo que

depende da construção entre os fatores condicionantes que influenciaram o

percurso da profissão, a subjetividade de cada profissional, suas competências, os

relacionamentos interpessoais e de interesses políticos desenvolvidos no espaço

institucional (130-132).

Autores que estudam a gestão do trabalho em saúde (82:243) alertam que a

“liberdade é potência para o cuidado em saúde”: quando discutida e planejada no

microcosmo do trabalho cotidiano, os trabalhadores são direcionados a manejar os

casos com a singularidade necessária para tomar decisões contextualizadas e com

os recursos disponíveis do ambiente. Tendo autonomia, o trabalhador desenvolve

trabalho vivo, criativo, estabelecendo vínculos com os pacientes, familiares e com a

equipe num movimento de troca de saberes e colaboração (82). Ao contrário da

gestão do trabalho exclusivamente administrativa, burocrática, cumpridora de

tarefas, em que há pouca oportunidade de o profissional colocar em prática seu

saber e, desse modo, não consegue se identificar com os resultados alcançados.

Page 135: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

134

Estudos norte-americano (133) e português (131) fazem forte relação da

promoção de autonomia na equipe de enfermagem com a melhora da qualidade de

atendimento, satisfação e comprometimento dos profissionais no trabalho.

Pelas questões citadas, entendemos que a autonomia na gestão é

fundamental para criar condições de mudanças no processo de trabalho em direção

à finalidade determinada. Para tanto, buscamos entendimento e sustentação nos

fundamentos da autonomia de Freire (112). Para esse autor, o ser humano é

“inacabado” e tem a possibilidade de “fazer e refazer” sua história a partir de um

processo reflexivo e crítico sobre os condicionantes de subjugação determinados por

processos históricos, culturais e políticos.

Essa consciência é pré-requisito fundamental para se tomar atitude na

construção da autonomia, intelectual, ética e moral no contexto em que se insere

(134). A autonomia implica que o profissional tenha responsabilidade pelos seus atos,

pelos atos delegados a outrem ou, ainda, pelas tarefas que lhe foram confiadas.

Dessa forma, um requisito fundamental na gestão é a clareza da designação das

atribuições e determinações das tarefas pelas categorias profiassionais (135).

Nessa direção, analisamos a necessidade de discussões sobre

alinhamento de condutas e determinação das responsabilidades entre enfermeiros,

supervisores e diretores. Para tanto, há a necessidade de confiança para determinar

as tarefas aos profissionais bem como para planejar capacitações que sejam

necessárias para a responsabilização e compromisso dos enfermeiros para tomada

de decisões no seu plantão, favorendo sua autonomia.

Quanto às responsabilidades para os cargos (diretores, assistentes,

supervisores), apesar de estarem descritas no regimento do DENf., percebemos que

alguns serviços encontraram melhor equilíbrio na relação de trabalho entre diretor e

supervisores. Sabidamente os serviços de enfermagem têm suas especificidades,

porém há condutas de abordagem gerencial (exemplo: critérios de férias, trocas de

folga, faltas abonadas etc.) que precisam ser acordadas para terem direcionamento

comum para toda a instituição, garantindo um projeto gerencial com identidade da

enfermagem, evitando conflitos nas relações de trabalho.

Além disso, em alguns aspectos, a divisão e o compartilhamento de

responsabilidades seriam estratégias motivadoras para os enfermeiros, por exemplo,

Page 136: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

135

dando a oportunidade de fazer as escalas de trabalho junto com a equipe de seu

plantão. Isso estimularia a participação, envolvimento e maior comprometimento de

todos da equipe de enfermagem com a presença ao trabalho.

Ainda, na questão do controle da frequência, os funcionários

administrativos poderiam assumir mais atividades pertinentes à documentação

burocrática e ao sistema informatizado de recursos humanos, principalmente no

período noturno, conforme sugestão dos supervisores. Dessa forma, o processo de

trabalho do supervisor seria organizado com tempo para o acompanhamento e

discussões clínicas sobre planejamento e avaliação da assistência com sua

presença constante nas enfermarias junto a sua equipe e pacientes.

5.2.3 Instrumentos para a supervisão do trabalho

Na primeira fase do projeto, verificamos quais instrumentos, métodos e

técnicas os supervisores utilizam para o trabalho e como esses métodos e técnicas

são reconhecidos pelos enfermeiros da equipe. No seguimento da segunda fase da

pesquisa-ação, outras questões sobre os instrumentos nos inquietaram, pois

diretores/assistentes/enfermeiras da educação continuada comentavam a respeito

das capacitações e cursos realizados, com frequentes participações dos

supervisores, e que as ferramentas gerenciais eram colocadas em prática

momentaneamente e não se apropriavam delas rotineiramente.

Essas inquietações passaram a ser outro núcleo analisador, uma vez que,

sabidamente, os protagonistas da supervisão são profissionais com boa formação

acadêmica, possuem conhecimento e utilizam ferramentas gerenciais observadas

por nós quando estivemos em campo.

Um dos elementos do processo de trabalho são os instrumentos e não

haverá uma produção com qualidade se não houver o emprego de tecnologias, ou

seja, um conjunto de saberes, meios e métodos específicos e adequados com

potência para sua realização (27,79,80). Essa potência não se estabelece apenas pela

utilização de meios apreendidos dos saberes estruturados (protocolos, normas,

legislação, planejamentos etc.), dos recursos materiais (insumos, equipamentos,

estrutura etc.) ou de recursos da esfera de não materiais (saberes relacionais,

negociação, comunicação etc.), mas, também, pela energia conduzida pelo desejo e

Page 137: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

136

motivação que são propulsoras da ação profissional, nas dimensões individual e

coletiva(79,82).

Percebemos que a produção do trabalho dos supervisores são ações

para o controle ou determinações da diretoria de enfermagem ou da instituição,

portanto acabam por utilizar os costumeiros instrumentos ditados pela normatização

institucional, reproduzindo o trabalho morto, portanto um trabalho sem muita energia

inovadora ou motivadora para a manutenção dos instrumentos gerenciais colocados

em uso.

Os instrumentos da dimensão “não material” (tecnologias relacionais)

foram os mais reconhecidos no desenvolvimento do trabalho cotidiano da supervisão

de enfermagem pelos supervisores e enfermeiros no momento das entrevistas, tais

como atitudes e procedimentos dos supervisores para resolver conflitos

interpessoais entre a equipe de enfermagem, multiprofissional e familiares;

negociações para a confecção de escalas de trabalho, mostrando que esse é o

espaço onde há um grau de implicação da atuação do supervisor que merece

atenção e desenvolvimento de competências para melhorar o seu desempenho.

5.2.4 Relações de poder

Neste núcleo analisador, as relações de poder, no espaço do trabalho,

atravessam as questões discutidas nos núcleos analisadores anteriores. As

discussões sobre o poder sempre são muito complexas e não conseguimos olhar

para todas as direções que esse tema penetra, tais como: poder político, poder

econômico, poder pela detenção de conhecimentos ou informações, poder pelo nível

social, poder pelos símbolos ou marcas famosas (logotipos) ou de pessoas célebres,

entre outros.

A perspectiva que vamos analisar diz respeito ao potencial do poder em

exercer influências, determinando o comportamento e o fazer entre as pessoas ou

grupos (129). A evolução do trabalho da supervisão, na perspectiva da administração,

seguiu as finalidades de controle, educação e articulação política, onde as ações se

concretizam por meio de relacionamentos sociais, conforme já apresentamos. Dessa

forma, pela posição hierárquica que a supervisão ocupa, haverá momentos que

Page 138: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

137

serão sujeito (relações de dominação) e outros que serão objeto (relações de

subordinação) do poder na dinâmica das relações institucionais (22).

Isso é devido ao poder que está presente nas relações e nas práticas do

cotidiano da vida social como algo que se exerce em rede, e, desse modo, os

indivíduos tanto exercem o poder sobre outrem quanto sofrem seus efeitos (136).

As relações de poder estão presentes em todos os espaços institucionais.

Na estrutura formal, por meio do organograma funcional que estabelece as relações

hierárquicas, legitimando a autoridade das funções. Também se fazem presentes na

estrutura informal, não sendo visualizadas de forma concreta, mas percebidas nas

manifestações das relações interpessoais, nos valores e crenças, nos interesses

individuais ou coletivos, dando significado à dinâmica de trabalho. O poder informal

pode ser um fator facilitador ou de barreiras/boicotes, emperrando o trabalho

gerencial (58).

Ao se considerar que supervisão de enfermagem está voltada para o

controle e a organização do trabalho, está-se atuando em relações de subordinação,

fazendo valer os interesses da cultura instituída, por meio de um fazer cristalizado

nos saberes e práticas hegemônicas. Nessa relação, percebemos atitudes passivas,

cordatas, de cooperação, mas, também, o medo de se expressar livremente na

presença de superiores.

A supervisão, na relação com os subordinados/equipe de enfermagem, se

dá por meio da autoridade conferida pelo cargo. A atividade que mais dispende

tempo e energia da supervisão é o controle da frequência da equipe de

enfermagem. Uma tarefa rotineira, conflituosa pelo exaustivo exercício de

negociações e cobertura das frequentes ausências no trabalho, além de desviar sua

atenção do cumprimento de outras atividades planejadas.

As atividades para o controle da frequência e dimensionamentos de

pessoal estão implicadas na relação de poder de ambas as partes. Por um lado, as

chefias (diretores e supervisores) com seus instrumentos de punição e critérios

instituídos exercem a autoridade imputada pelo cargo; por outro lado, a equipe de

enfermagem, os subordinados, exerce seu poder (informal) pela indisciplina,

respaldados pela estabilidade do emprego dada pela instituição pública, sem a

devida conscientização da sua responsabilização no atendimento ao paciente.

Page 139: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

138

Assim, o poder tem raízes na prática cotidiana institucional, permeado por

sua cultura e ideologias que são forças de resistência ao que está instituído, e se

torna um ato desafiador entendê-las para poder propor mudanças na forma de

trabalhar: “mexer em processos de trabalho é mexer com cabeças e interesses”

(82:42).

Nessa direção, percebemos que falta à enfermagem um projeto político

próprio que possa transcender às mudanças políticas institucionais e aos modelos

de gestão racionais. Entendemos que enfermagem possui um “poder” representado

pelo trabalho da supervisão e dimensionamento de pessoal distribuído nas 24 horas

por todas as unidades do hospital, faltando-lhe, pois, a conscientização desse poder.

5.3 Processo de trabalho da supervisão de enfermagem - reflexões e

mudanças

Nesse subitem discutimos os resultados das oficinas organizados nos

núcleos reveladores, que possuem conteúdo organizado a partir da consciência e

entendimento do grupo de supervisores sobre a base que está estruturada a

produção do trabalho da supervisão e as dificuldades que os afastam da finalidade

do gerenciamento do cuidado. São eles: 1. Trabalho da supervisão cristalizado no

cumprir tarefas; 2. Processo de comunicação interferindo na dinâmica grupal e 3.

Supervisores ou apoiadores: projetos em disputa.

5.3.1 Trabalho da supervisão cristalizado no cumprir tarefas

Na primeira oficina, trabalhamos o significado da supervisão e a descrição

das atividades que os supervisores realizam cotidianamente, relacionando-as

quanto: ao tempo que realizam, à satisfação de realizá-las e à relação dessa

atividade com a finalidade do trabalho da supervisão.

Nesse primeiro movimento, percebemos uma questão reveladora sobre o

significado da supervisão de enfermagem para o grupo de supervisores. O conteúdo

discutido e apresentado por eles, nos subgrupos, se reduzia ao perfil ou às

competências do supervisor. Alguns participantes verbalizaram que não pensavam

sobre a organização da prática da supervisão em um processo de trabalho para

Page 140: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

139

atender a uma finalidade; referiram que se limitam a discutir as tarefas determinadas

ou como resolver as intercorrências ou dificuldades que aparecem no cotidiano do

trabalho. As narrativas expressaram uma atuação a partir do senso comum, do

“fazer porque é assim que se faz”, sem muitas ponderações ou reflexões.

Entendemos que, para o exercício efetivo, os supervisores devam ter

domínio dos componentes do processo de trabalho e clareza dos propósitos que

buscam atender para não se limitarem a um trabalho alienado, conforme já

discutido.

Foi revelador ao grupo participante que o seu fazer se processe como um

trabalho “morto” (79), pouco criativo, centrado em instrumentos e ações cristalizadas,

e com algumas ações “emperradas” que ficam sem soluções pelo jogo de forças

estabelecido nas relações de poder relacionadas à macro e à micropolítica

institucional (82). Na macropolítica institucional, os conflitos advêm de questões de

difícil resolutividade e não possuem governabilidade, por exemplo, a contratação de

pessoal ou o desligamento do profissional que não atende às necessidades do

serviço. Na micropolítica institucional, há, rotineiramente, dispêndio de tempo e

energias em negociações para a resolução de problemas com a equipe

multiprofissional de apoio à assistência, como falta de roupas, o fluxo de

dispensação de medicamentos da farmácia que não atende às necessidades das

enfermarias, o médico que não fez a prescrição, entre outras que desviam a atenção

do supervisor.

Refletir sobre questões do cotidiano trazidas nas narrativas dos

supervisores, tais como: o desgaste emocional ao lidar com conflitos, atividades

feitas em retrabalho, coleta de dados para indicadores assistenciais e relatórios

mensais para outros serviços foram disparadoras da consciência do “fazer pelo

fazer”, sem a apropriação dos resultados dessas ações.

A administração e enfermagem no contexto hospitatar não são tarefas

fáceis, conforme apontam estudos sobre a organização e gerência, destacando

necessidade de mudanças na forma de pensar, cuidar e gerenciar a partir da

construção de novos saberes, tanto por centros formadores, quanto pelas

instituições hospitalares na implementação de estratégias de educação permanente

por meio de práticas democráticas e participativas (6,137).

Page 141: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

140

Não advogamos que as atividades de controle não sejam importantes e

nem tiramos a responsabilidade da supervisão de fazê-las, porém há de ser fazer o

controle para acampanhamento e direcionamento de um planejamento que sustente

ações com um padrão de qualidade.

Para estimular discussões sobre a finalidade do trabalho da supervisão

para o gerenciamento do cuidado, construímos um “mapa reflexivo”, já descrito no

método (Apêndice F).

Observamos que, inicialmente, todos os participantes estavam envolvidos

e fazendo suas anotações, porém, à medida que íamos avançando na construção

dos perfis, foram abandonando a folha, mesmo estimulados a continuar, talvez pela

falta de informações sobre sua unidade. Refletimos com o grupo sobre a

necessidade de se apropriarem dos dados para leitura dos seus significados, de dar

feedback para a equipe, de criar dispositivos motivadores para estimular a atuação

da equipe na assistência, de avaliar os indicadores para monitorar a aplicação dos

protocolos assistenciais e de segurança do paciente implantados, enfim, de terem

um desempenho proativo para o gerenciamento da assistência.

Essa atividade permitiu a reflexão de questões sobre a autonomia o grupo

para decisões sobre o planejamento e responsabilidade, para garantir a condução

necessária de prestação de assistência qualificada, segura, humanizada, com foco

nas necessidades do paciente e da família.

Outro ponto destacado na atividade do mapa reflexivo foi a importância do

autoconhecimento como primeiro passo para perceber as próprias dificuldades para

enfrentamentos e emoções envolvidas em determinadas situações.

O autoconhecimento é destacado como exercício importante para um

adequado desenvolvimento pessoal e profissional na área gerencial. Quando o

profissional se propõe a refletir sobre as suas deficiências (em relação à liderança, à

tomada de decisões, aos enfrentamentos e negociações), passa a ter consciência

das competências necessárias para qualificar o seu desempenho profissional (137-

138).

Na análise da dinâmica grupal, percebemos um grupo dividido, entre

aqueles com brilho nos olhos, que despertaram para a possibilidade de propor um

fazer diferente e aqueles acomodados no processo rotineiro de um fazer instituído e

Page 142: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

141

cristalizado. Nesta posição, se torna mais cômodo cumprir as determinações

construídas historicamente em uma instituição pública, em que as mudanças são

morosas, difíceis de acontecer pelas questões da cultura e do poder das

macropolíticas e micropolíticas que interferem nas relações e decisões gerenciais.

5.3.2 A influência da comunicação na dinâmica grupal

Os estudiosos do processo grupal (97,109) esclarecem que o sentimento de

pertencimento e afiliação em um grupo, se dá quando percebem e aceitam as

“diferenças” entre os participantes. Desse modo, a partir do reconhecendo de uma

identidade grupal, deixam de ser um agrupamento de pessoas e passam a ser

realmente um grupo coeso para trabalharem com os objetivos comuns.

As “diferenças” no processo grupal aparecem pela comunicação das

singularidades, pois os participantes querem que as particularidades do seu trabalho

sejam conhecidas por todo grupo. Outro fator estimulador para o aparecimento das

diferenças é o tempo limitado pelo número de encontros para as oficinas(97,109).

Percebemos que os supervisores, apesar de conviverem na mesma

realidade, precisavam do espaço das oficinas para se conhecerem e reconhecerem

as diferenças no desenvolvimento do trabalho da supervisão dos períodos diurno e

noturno. Já apresentamos, no núcleo analisador, os motivos dessas diferenças e

nos cabe destacar, nesse núcleo revelador, os pontos que foram mobilizadores de

sentimentos de solidariedade e de resistências evidenciados por interesses pessoais

sobrepondo ao coletivo.

O entendimento da maioria sobre a forma de realizar o gerenciamento do

cuidado e as orientações para as equipes de enfermagem deve ser por meio de um

fluxo verticalizado nas 24 horas, sendo de responsabilidade, esse fluxo e

planejamento das ações, do(s) diretor(es) e supervisores do período diurno, com o

apoio do supervisor do período noturno para a sua continuidade nesse período. Nas

discussões sobre essa forma de pensar o fluxo da assistência, não houve consenso

sobre a participação do supervisor noturno pelas divergências de condutas entre os

diferentes serviços de enfermagem, pela falta de comunicação para a continuidade

da assistência e acordos em questões que seriam comuns a todos. Nessa direção,

Page 143: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

142

sugestões foram dadas para uma revisão e padronização de algumas condutas

entre os serviços e profissionais de todos os níveis.

Na transmissão de comunicações entre os plantões, houve outro ponto de

tensão no que diz respeito aos treinamentos e capacitações destinados às equipes

do noturno. O supervisor do noturno não consegue, rapidamente, replicar os

conteúdos de treinamento/orientações para todas as equipes de enfermagem devido

a sua dinâmica de trabalho, já explicada. Por sua vez, os supervisores do diurno

apresentaram resistências para assumirem essa responsabilidade e apresentaram

dúvidas sobre a atuação e as responsabilidades do Serviço de Educação

Continuada (SEC).

Nessa questão, o grupo se posicionou quanto à necessidade de separar o

que deve ser tratado como urgência, no caso de um surto de infecção, de outros

temas que carecem de planejamento e podem ser delegados aos enfermeiros para

replicarem a sua equipe de trabalho.

A dificuldade para obter consenso se deve a atravessamentos pela falta

de clareza sobre as responsabilidades dos setores, no caso a SEC, e por questões

pessoais sobrepondo-se às decisões, no caso de alguns supervisores do diurno que

não aceitam realizar atividades no turno noturno. Percebemos aspectos da

micropolítica da organização do trabalho revelados por conflitos, em que há projetos

individuais em disputa que interferem no compromisso com o trabalho coletivo (79).

Outros aspectos destacados sobre a questão da comunicação é a

dificuldade no processo de transmissão das informações/orientações entre os níveis

hierárquicos e as equipes de trabalho das enfermarias e também a comunicação

externa à enfermagem quando participam os serviços de apoio e administração

superior institucional. Os participantes destacam a morosidade para chegar uma

informação na “ponta”, no nível operacional e a falta do retorno por parte da chefia

superior sobre uma solicitação feita e até mesmo pela falta de feedback do trabalho

realizado tanto por parte dos diretores, sua chefia imediata, como também deles

para com a equipe pelas quais são responsáveis.

Analisamos e discutimos duas questões sobre as situações apresentadas.

A primeira sobre os meios de transmissão de mensagens institucionais, com certa

carga de indignação por parte dos supervisores que relatam não serem informados,

Page 144: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

143

imediatamente, sobre uma mudança ou falta de material, por exemplo, situações

que interferem na dinâmica de trabalho cotidiano e geram conflitos. A outra é a

forma como se colocaram por meio de uma comunicação “filtrada” (97), na qual se

percebem insinuações e nem tudo sendo dito com clareza no que se refere à

relação com a hierarquia do serviço de enfermagem.

O processo de comunicação sempre é o grande vilão da gestão, pois está

na raiz dos problemas relacionados a atos inseguros, conflitos de opiniões,

insatisfações no trabalho e falta de reconhecimento. As causas estão nas barreiras

colocadas no relacionamento formal com o sistema de chefias pelo distanciamento

do cargo e na forma como são transmitidas as informações (109,111). Há tendência dos

gerentes de enfermagem, no uso da comunicação formal e escrita, para informar ou

repassar comunicados sem a devida importância ao diálogo, interação e troca de

saberes com sua equipe de enfermagem (140).

Nesse sentido, a competência comunicacional deve ser fortalecida na

gerência de enfermagem para melhorar as relações no trabalho, a interação com os

pacientes, bem como melhorar a comunicação das informações que sustentam o

trabalho assistencial e gerencial. Para seu desenvolvimento, é essencial ter

conhecimento da forma como acontecem as interações e os instrumentos de

comunicação entre as equipes de enfermagem, saber como administrar conflitos e o

processo de negociação, ter uma escuta ativa quanto às questões do poder e da

cultura institucional (126, 139).

Esse núcleo revelador foi importante para expor as forças restritivas e

bloqueadoras importantes que interferiram sobremaneira na dinâmica grupal para

avançar na conclusão da tarefa, entretanto aspectos importantes foram apontados

para serem melhorados no processo de trabalho da supervisão de enfermagem.

5.3.3 Supervisores ou apoiadores: projetos em disputa

Percebemos que algo estava “emperrando” a evolução do trabalho do

grupo no período planejado, tanto que aconteceram mais dois encontros para sua

finalização. A barreira se encontrava em conversas extraoficinas, “nos bastidores”,

de alguns supervisores que expressavam a possibilidade de retornarem ao antigo

Page 145: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

144

modelo de “apoiadores”, vivenciado no passado, para resolver a falta de dois

supervisores do período noturno (uma vaga e uma licença gestante).

Entendemos que houve uma falha na comunicação pela interpretação

adversa da palavra “apoiador” pelo pequeno grupo quando foi mencionada pela

pesquisadora em vários momentos das oficinas, quanto à característica do

supervisor como “apoiador” das equipes de enfermagem para denvolverem

autonomia para o planejamento da assistência. Desse modo, foi criada uma

fantasiam remetendo os supervisores às lembranças da época que ocorreram

mudanças no modelo de gestão baseado no método Paideia de gestão, explicado

no método.

Segundo relatos de alguns participantes sobre o ocorrido na época, a

estrutura hierárquica foi modificada para enxugar cargos de “supervisores” e criou-se

um dispositivo chamado de “apoiadores”, com uma visão mais horizontalizada e

partilhada da assistência, porém a cultura institucional com os valores e a forma de

trabalhar permaneceu a mesma.

Os “apoiadores” ficaram sobrecarregados por responderam pela

assistência das 24 horas. Permaneciam, muitas vezes, até às 22 horas para ter

contato com o período noturno e para resolução de problemas e, também,

respondiam, à distância, nos finais de semana. Para alguns, essa experiência não

foi positiva, pois não conseguiram estabelecer relações construtivas e de

responsabilização pelo fazer entre os distintos atores, permanecendo a

centralização e a dependência aos “apoiadores” para a resolução de problemas.

Alguns supervisores chegaram a verbalizar seu receio em retornar para

tal situação. Outros repetiam que não seria possível o supervisor fazer a gestão da

assistência nas 24 horas sem refletir o real valor do planejamento com distribuição

de tarefas e responsabilidades baseadas na cooperação de um trabalho em equipe.

m Fantasia individual é explicada quando o trabalho em grupo demanda que seus membros tenham objetivos em comum claros e explícitos. Porém, participantes têm sua individualidade e seus próprios interesses, que podem estar implícitos e, por vezes, inconscientes. Assim, uma pessoa que tenha certa liderança no grupo pode sobrepor seus interesses aos do grupo, causando barreiras que impedem a progressão da tarefa grupal (97).

Page 146: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

145

Trabalhamos as atitudes de resistência, as relações de poder e as

disputas de interesses em jogo que estavam paralisando o desafio de pensar algo

novo, pois estavam acostumados a cumprir tarefas e serem cordatos às demandas.

O “desconstruir e reconstruir” estava trazendo angústia pelo

desconhecido, por algo que não sabiam bem como conduzir, pois estavam

acostumados a receber treinamentos e se encontravam diantes de uma nova forma

de construir algo novo a partir da participação e construcao coletiva. Desse modo,

rompe-se com o que estava sendo velado, gerando inércia ao grupo, a partir daí se

concretiza a confiança entre a coordenação (pesquisadora) e participantes, dando

significado à coesão no processo grupal dos supervisores (111).

Nesse momento, há fortalecimento da identidade do grupo (como

supervisores), sentimentos de confiança e cooperação são expressos, dando um

novo ânimo para a finalização da tarefa. Mais dois encontros, além dos previstos,

foram realizados para a construção de propostas para as dificuldades no processo

de trabalho que os afastam do gerenciamento do cuidado.

Vale a pena ressaltar que Kurt Lewin (1988)(97) provou, nos seus

experimentos com pequenos grupos, que ritmos crescentes de produtividade e

criatividade de um grupo estão estreitamente relacionados, não somente com a

competência e conhecimento, mas também com a solidariedade, cooperação e

coesão de seus participantes na busca de objetivos comuns.

O resultado do trabalho coletivo, fruto das discussões, reflexões e

conscientizações vivenciadas nas oficinas, foi organizado em uma proposta que

chamaram de “Gerenciamento Compartilhado da Assistência” para superar as

dificuldades que enfrentam no processo de trabalho da supervisão em enfermagem.

Os pontos discutidos que dificultam o trabalho da supervisão em

enfermagem foram: o desenvolvimento de um trabalho cristalizado para as

determinações institucionais sem reflexão; a necessidade de alinhar o planejamento

do DEnf para os serviços de enfermagem, bem como nos períodos diurnos e

noturnos; a necessidade de alinhar condutas entre supervisores do diurno e noturno;

a necessidade de rever algumas atividades que são realizadas por dois profissionais

em retrabalho (do diretor e supervisor ou administrativos); as dificuldades no

processo de comunicação para transmissão de informações; a falta de feedback de

Page 147: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

146

desempenho do supervisor; a discussão sobre a autonomia do enfermeiro para

tomar decisões e resolver problemas do seu plantão e rever pontos críticos no fluxo

de trabalho com os serviços de apoio (farmácia, almoxarifado, laboratório etc).

5.4 Proposta de ação: gerenciamento compartilhado da assistência

A proposta para um “gerenciamento compartilhado da assistência” foi

construída coletivamente, pensada com o objetivo de integrar, direcionar e

responsabilizar cada profissional no seu nível de competência (departamento,

diretores, supervisores, enfermeiros, funcionários administrativos, serviços de apoio)

em um trabalho participativo e compartilhado para atingir o objetivo comum, a

assistência segura e qualificada.

Para a operacionalização da proposta “gerenciamento compartilhado da

assistência”, os supervisores organizaram as dificuldades em três atividades, e para

cada uma construíram um plano de ação, com estratégias considerando as etapas:

O que será feito? Como? Quando? E os responsáveis.

As três atividades que compõem o gerenciamento compartilhado da

assistência estão elencadas a seguir:

1. Rever a gestão do trabalho assistencial nas 24 horas.

Objetivo: garantir que o planejamento realizado atinja os resultados

esperados.

2. Melhorar a comunicação institucional nas 24 horas.

Objetivo: estabelecer mecanismos, para todos, que agilizem e divulguem

informações administrativas, técnicas e mudanças de condutas dos serviços de

apoio. Favorecer a padronização de condutas entre supervisores e as equipes de

trabalho.

3. Rever condutas dos supervisores, diretores, enfermeiros e funcionários

administrativos (secretários) e fazer cumprir o que está ou será acordado.

Objetivo: definir e redistribuir tarefas onde há retrabalho.

Page 148: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

147

O trabalho desenvolvido nas oficinas com a proposta de ação foi relatado

em um documento assinado por todos os supervisores, demonstrando o

envolvimento e a responsabilização do grupo de supervisores. Esse documento foi

apresentado por um representante dos supervisores, discutido e entregue em

reunião com a presença da diretoria do DEnf, dos diretores de serviços, das

enfermeiras da SEC, da assistente do DEnf para ensino e pesquisa e da

pesquisadora. Nessa reunião, foram pactuados alguns pontos e combinados os

próximos encontros para formar grupos de trabalho, para a realização das atividades

e efetivação da proposta “gerenciamento compartilhado da assistência” (Figura 3).

Todos os momentos vivenciados nas oficinas foram marcados com

discussões sobre problemas recorrentes do cotidiano da supervisão de enfermagem,

e esse espaço foi fundamental para os supervisores falarem sobre suas angústias,

frustrações, tomarem consciência das diferenças e das questões veladas sobre seu

trabalho e, assim, fazerem propostas factíveis e necessárias para o momento.

Esse foi o primeiro passo para, futuramente, construírem propostas para a

operacionalização da supervisão nas 24 horas e organização das atividades do

supervisor, num processo de trabalho mais sistematizado, e, possivelmente,

seguirem um modelo proposto para a supervisão clínica.

5.5 Limitações e recomendações

Apresentamos como limitação do estudo a falta de familiaridade do grupo

(diretoras e supervisores) com a metodologia da PA. Os profissionais estão

acostumados com as pesquisas tradicionais, nas quais o pesquisador apresenta e

executa seu projeto.

A pesquisa-ação requer diálogo entre os pesquisadores e profissionais

envolvidos para construção conjunta e desenvolvimento das fases. Essa forma de

abordagem da PA, por vezes, foi limitadora e até mesmo angustiante para a

pesquisadora pela dependência para continuidade da pesquisa e para definir as

ações.

Avaliamos, também, que o tempo acadêmico é um fator limitante para a

realização de uma pesquisa-ação com vistas a mudanças no contexto institucional.

O tempo acadêmico tem sua finalização determinada pelo cronograma proposto no

Page 149: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

148

projeto de pesquisa, entretanto o tempo para a realização das ações e avaliação dos

resultados, no complexo espaço hospitalar, é outro. Há muitos imprevistos;

morosidade na resolução de problemas; aspectos institucionais que envolvem a

política de recursos humanos, como o absenteísmo e as aposentadorias abruptas,

ou seja, constantes desafios pelas contingências sociais e ambientais do truculento

momento atual que o pesquisador não pode controlar e que interferem na dinâmica

da pesquisa.

Cumprimos o cronograma e finalizamos essa PA, mas temos a certeza de

ter deixado uma semente e um caminho para o grupo seguir. Foi instigado a realizar

discussões sobre sua prática para ressignificá-la e efetivar as mudanças

necessárias e desejadas pelo grupo. Acreditamos que (93:56):

“As experiências com métodos participativos deixam “marcas problematizadoras” no grupo envolvido, provocando tardiamente transformações pessoais e coletivas pela sua conscientização”.

Apresentamos como recomendação para futuras pesquisas, as quais

tiverem o objetivo de compreender o processo de trabalho da supervisão em

enfermagem, a inclusão dos técnicos de enfermagem e diretores de serviço na

amostra. Não incluímos a categoria de técnicos de enfermagem pelo fato de a

prática de supervisionar o trabalho ser uma prerrogativa do enfermeiro, assegurada

pela lei do exercício profissional. Portanto, com essa justificativa somente incluímos

os supervisores e enfermeiros nas entrevistas. Entretanto, no período de nossa

permanência em campo (segunda fase da PA), pela observação e pelo compartilhar

das opiniões com os técnicos de enfermagem, avaliamos que a visão desses

profissionais como subordinados do supervisor poderia ser importante para a

compreensão mais ampla das relações no processo de trabalho da supervisão.

Acreditamos ser um trabalho bem interessante para futuras pesquisas

investigar a compreensão do trabalho da supervisão de enfermagem por vários

olhares da equipe de enfermagem e da equipe multiprofissional, uma vez que

apostamos no potencial da supervisão de enfermagem como trabalho coletivo para

qualificar a prática assistencial.

Page 150: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

149

Outra recomendação é para que futuros estudos que se proponham a

descrever as atribuições delimitem o campo de atuação e responsabilidades dos

cargos de direção e supervisão de enfermagem. Os resultados dessa proposição

serão de valiosa contribuição para o sistema COFEN/COREN e para serviços de

enfermagem para orientar e direcionar o processo de trabalho da supervisão de

enfermagem nas instituições de saúde.

Page 151: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

150

6 CONSIDERAÇOES FINAIS

Olhar para o objeto de estudo, a supervisão de enfermagem no contexto

hospitalar, tendo como objetivo sistematizar a prática da supervisão de enfermagem

hospitalar para gerenciar o cuidado e, para tanto, as estratégias utilizadas nas

quatro fases da PA, nos permitiu a compreensão do processo de trabalho da

supervisão em um contexto repleto de significados históricos, contradições e

revelações, os quais reafirmam os pressupostos iniciais e motivadores desta

pesquisa.

O primeiro diz respeito à afirmação de que a supervisão de enfermagem é

instrumento gerencial potente para qualificar a assistência prestada pela posição

que ocupa na hierarquia institucional e o segundo diz respeito à crença de que a

supervisão de enfermagem, muitas vezes, é realizada de forma não sistematizada.

Acreditamos que a supervisão de enfermagem como atividade-meio

intermediadora entre o nível central e o operacional da hierarquia institucional seja

um instrumento gerencial potente para melhorar a qualidade da assistência, pois,

nessa posição, a supervisão tem relação próxima com as equipes de enfermagem,

equipe multiprofissional e serviços de apoio para conduzir, acompanhar, controlar e

avaliar a assistência prestada aos pacientes, bem como direcionar o planejamento

de ações de educação em serviço à equipe de enfermagem para atualização

técnico-científica e aprimoramento de competências adequadas ao nível de

complexidade e especificidade da assitência.

Nessa perspectiva, no desenvolvimento da PA observamos supervisores

de enfermagem em todas as unidades de internação hospitalar, no período diurno e

noturno, relacionando-se com as equipes de enfermagem e multiprofissional, muitas

vezes em multitarefas, desdobrando-se para atender as intercorrências cotidianas e

fazer acontecer a assistência nas 24 horas.

Essa forma de trabalhar está enraizada na gênese da enfermagem,

histórica e socialmente construída, para organizar o ambiente terapêutico dando

condições para o trabalho multiprofissional, principalmente do profissional médico.

Percebemos tentativas de ruptura com esse modelo por meio da preservação de

compromissos éticos e valores da profissão, advogando-se pelo bem do paciente.

Page 152: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

151

Porém, anda-se a “passos de formiguinha” com avanços e retrocessos ao modelo de

gestão racional centralizador e hierarquizado, convivendo no espaço micropolítico

institucional projetos em disputa pela manutenção do paradigma de controle do

trabalho, com práticas fragmentadas, determinadas pelas especialidades médicas,

mas, também, pela própria hierarquia do departamento de enfermagem com a

manutenção de seu status quo pelos cargos de direção.

No segundo pressuposto sobre a supervisão de enfermagem ser

realizada de forma assistemática, verificamos que os supervisores têm uma rotina de

trabalho definida e respondem por suas ações ao diretor de serviço, porém há uma

fragmentação na condução da assistência do período diurno e noturno, com certa

diferenciação de atividades e autonomia para o exercício cotidiano.

Apesar de terem atribuições definidas, responsabilidade de executar o

planejamento dos serviços de enfermagem com cronograma de ações definidas

(quinzenais, mensais), muitas vezes não conseguem cumpri-lo em virtude de

demandas inesperadas e, principalmente, pelas intercorrências com a gestão de

pessoal (absenteísmo, controle da frequência e outros), que desviam o trabalho da

supervisão de uma prática sistematizada.

Existem vários motivos para esse desvio, um deles seria atividades

realizadas por dois profissionais, ou seja, por supervisores/diretores ou

supervisores/administrativos, as quais foram apontadas como um “retrabalho”

desnecessário, que consome tempo e energia dos profissionais envolvidos. Nessa

direção, a proposta de ação construída pelos supervisores prevê a revisão das

atribuições e responsabilidades dos profissionais envolvidos em atividades

duplamente realizadas.

Acreditamos que essa revisão de atribuições, que envolve diretores,

supervisiores e administrativos, principalmente para atividades administrativas,

possa otimizar o tempo do supervisor para uma atuação mais efetiva junto ao

paciente e à equipe de enfermagem. Vale a pena destacar que os supervisores

acompanham os pacientes que se destacam na enfermaria, pelo caso clínico ou

gravidade, mas o que se propõe aqui é ter um processo de trabalho sistematizado

com práticas reflexivas sobre a assistência prestada, com acompanhamento do

Page 153: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

152

planejamento e diagnósticos de enfermagem, bem como avaliação dos resultados

obtidos.

Consideramos que com os resultados da primeira e segunda fases,

obtivemos a compreensão do processo de trabalho e seus componentes, ou seja, o

trabalho em si (cotidiano), a finalidade e instrumentos, que nos permitiram identificar

os núcleos analisadores da realidade (trabalho desconhecido e fragmentado;

autonomia para o trabalho; instrumentos para o trabalho e relações de poder). Esses

núcleos analisadores foram norteadores para a terceira fase da PA, o momento da

ação, realizado pelo método de oficinas de abordagem psicossocial.

Avaliamos que as estratégias e a estrutura planejada para as oficinas

foram positivas e proporcionaram um “espaço protegido” para dar “voz aos

supervisores”, o que favoreceu trocas de experiências, discussões sobre suas

diferenças, emergindo conflitos, disputa de interesses, bloqueios na comunicação,

determinados pelas relações de poder e da cultura institucional. A análise dessa

dinâmica grupal nos permitiu organizar os núcleos reveladores: trabalho da

supervisão cristalizado no cumprir tarefas; influência da comunicação interferindo na

dinâmica grupal e supervisores ou apoiadores: projetos em disputa.

O conteúdo desses núcleos reveladores foram refletidos e trabalhados até

estabeleceram consensos e coesão do grupo para a finalização da tarefa, resultando

em uma proposta de ação construída coletivamente e denominada de

“gerenciamento compartilhado da assistência”.

Consideramos que esse resultado, produto do trabalho dos supervisores

nas oficinas, construído com atividades e plano de ação para superar algumas

dificuldades que afastam a supervisão do gerenciamento do cuidado, tem

potencialidade para melhorar a organização do trabalho, porém não apresenta

mudanças significativas no processo de trabalho da supervisão de enfermagem.

A vivência e a participação da pesquisadora na prática da supervisão na

realidade hospitalar, com a visão esclarecedora da teoria, “colocaram luz” sobre a

complexidade do nosso objetivo geral: sistematizar a prática da supervisão de

enfermagem hospitalar para gerenciar o cuidado.

Page 154: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

153

Para propor mudanças é preciso primeiro entender os ruídos e incômodos

da complexa realidade, refletir sobre eles, ter consciência das suas amarras e

bloqueios para traçar planos que viabilizem transformações no processo de trabalho.

Há também de se considerar a limitação da ação da supervisão de

enfermagem, seja pela autonomia seja pela governabilidade. Na autonomia, há uma

relação de dependência em relação aos grupos hieráquicos instuticionais para

decisões e pela governabilidade; há ações institucionais que demandam recursos

financeiros, por exemplo, que não competem ao supervisor de enfermagem.

Todavia, também há de se acreditar na potencialidade do trabalho das

oficinas, que mobilizou no grupo de supervisores a consciência crítica sobre a

finalidade da supervisão, estimulando energias motivadoras para inovar e modificar

a prática e, desse modo, transformar a realidade.

Com essas considerações, consideramos positivas as marcas de um

trabalho participativo/reflexivo. Acreditamos que as experiências com métodos

participativos provoquem consciência de fatores encobertos e deixam “marcas” no

grupo envolvido que podem provocar tardiamente transformações pessoais e

coletivas.

Nesse caminhar, aprendemos muito com os protagonistas da supervisão,

os supervisores, e não poderíamos deixar de tecer considerações a esse respeito. O

acolhimento à proposta inicial dessa nossa pesquisa foi de total aceitação e criação

de vínculo. Tal afirmação tem fundamento nas manifestações de colaboração e

participação do grupo nos nossos encontros para explicações sobre a pesquisa,

orientações teóricas, devolutivas dos resultados, planejamento das fases,

observações e acompanhamento do trabalho nas unidades de internação, nos

movimentos das oficinas, enfim, em todo o processo da pesquisa-ação.

Os supervisores trabalham e se empenham muito para dar conta das

suas multifunções. É um grupo heterogêneo em atitudes, na sua maioria são

profissionais criativos, alegres e dispostos a mudanças, mas, também, há um

pequeno grupo acomodado cumprindo e fazendo cumprir ordens.

Observamos que, por vezes, se mostram emocionalmente cansados e

desmotivados para discussões sobre temas que destacam como problemas, com os

quais convivem há muito tempo, sem solução. A maioria dos participantes

Page 155: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

154

encontrou, nas oficinas, espaço para compartilhar angústias, frustrações vividas no

cotidiano da supervisão, bem como se fortaleceram na determinação da finalização

da tarefa com propostas que irão melhorar o cotidiano de trabalho.

Percebemos que muitas das atividades da supervisão ficaram

cristalizadas e repetitivas, considerando a falta de capacitação prévia para os

enfermeiros assumirem as funções da supervisão, a falta de um espaço para a

construção coletiva da prática guiada pela finalidade do trabalho, assim como para

refletir sobre o cotidiano do trabalho, com suas potencialidades e dificuldades e

buscar soluções criativas e novas práticas.

Consideramos que a escolha da pesquisa-ação como referencial

metodológico foi adequada para o desenvolvimento dos objetivos propostos.

Avaliamos que foi desafiador cumprir o cronograma proposto nas quatro fases,

exigiu constante atenção, revisões do percurso, com aprofundamento dos estudos

em referenciais para além do inicialmente proposto, o processo de trabalho.

Destacamos que essa abordagem, pesquisa-ação, nos possibilitou

aprendizado diferenciado, confirmando que é um método dinâmico, exigente de

atenção, porém muito adequado às formulações de pesquisas na área gerencial

para promover mudanças na realidade.

Ressaltamos que não foi fácil construir e desenvolver a pesquisa em

conjunto com os profissionais da instituição em processo participativo, momentos de

idas e vindas, ou seja, retomar o projeto e refazer o caminho foi doloroso e, por

vezes, angustiante pela pressão do cronograma a ser cumprido pelo tempo

acadêmico. Entretanto, na sua concretização, avaliamos que o “caminhar para a

construção de uma prática sistematizada da supervisão em enfermagem” foi positivo

pela maturidade adquirida pelo grupo participante, pelo crédito no potencial de

tranformação do objeto de estudo e pelo conhecimento produzido pela pesquisa-

ação.

As contribuições desta pesquisa, expressas pelo “Método para

sistematizar a prática da supervisão de enfermagem” e nos “elementos-

chave”, poderão auxiliar na sistematização das práticas da supervisão de

enfermagem, qualificando o seu trabalho e, consequentemente, a assistência

prestada no contexto da saúde.

Page 156: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

155

7 REFERÊNCIAS

1.Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8a ed. São Paulo (SP): Hucitec; 2010. 2.Merhy EE, Cecílio LCO. Algumas reflexões sobre o singular processo de coordenação dos hospitais. [Internet]. [cited 2014 July 15]. Repositório da Universidade Federal Fluminense. Instituto de Saúde da Comunidade. Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Available from: http://www.uff.br/saudecoletiva/ professores/merhy. 3.Matos E, Pires D. Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Texto contexto enferm. [Internet]. 2006 [cited 2016 July 16]; 15(3): 508-514. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n3/v15n3a17.pdf 070720060 00300017. 4.Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Nota Técnica 24. Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP). [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 20]; Available from: http://www.conass.org.br/biblioteca/wp-content/ uploads /2013/01/NT-24-2013-PNOHOSP-vf.pdf. 5.Paiva SMA, Silveira CA, Gomes ELR, Tessuto MC, Sartori NR. Management theories in health care. Rev. enferm. [Internet]. 2010 [cited 2016 Jan 20]; 18(2):311-6. Available from: http://www.facenf.uerj.br/v18n2/v18n2a24.pdf. 6.Souza FM, Soares E. A visão administrativa do enfermeiro no macrossistema hospitalar: um estudo reflexivo. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2006 [cited 2016 July 24]; 59(5):620-625. Available from: http://www.scielo.br/scielo. php?script =sci_ arttext&pid =S0034- 71672006000500005&lng=en 7.Lorenzetti J, Oro J, Matos E, Gelbcke FL. Work organization in hospital nursing: literature review approach. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2014.   [cited  2016 mar 15]; 23(4): 1104-12. Available from: http://www.scielo.br/scielo .php ?pid=S0104-0707201400 0401104& script=sci_arttext. 8.Ferreira MMF. Gestão em enfermagem de Florence Nightingale aos nossos dias. In: Rodrigues MA, Bento MC (orgs). Enfermagem: de Nightingale aos dias de hoje 100 anos. Unidade de investigação da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Série monográfica número 01. Braga: Candeias Artes Gráficas. 2012. p. 57-74. Available from: http://www.Users/ PRINCIPAL/Dropbox/1.TESE/Capitulos/Introdução/textos/Enfermagem _de_Nightingale_aos_dias_de_hoje _100_anos.pdf. 9.Pires, D. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde no Brasil. 2ª ed.São Paulo(SP): Anna Blume; 2008. 10.Santiago ARJV, Cunha JXP. Supervisão de enfermagem: instrumento para a promoção da qualidade. Rev Saúde e Pesquisa.[Internet]. 2011.   [cited  2013 mar 13]; 4 (3): p. 443-8. Available from: http://periodicos.unicesumar.edu.br /index. php/saudpesq/article/view/ 1964/1395. 11.Silva EM. Supervisão como essência do gerenciamento em enfermagem. In: Associação

Page 157: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

156

Brasileira de Enfermagem; Vale EG, Peruzzo SA, Felli VEA, organizadores. PROENF-Programa de Atualização em Enfermagem: Gestão. Ciclo 3. Porto Alegre (RS): Artmed/Panamericana; 2014. p.79-107. (Sistema de Educação em Saúde Continuada a Distância, v. 3). 12.Teixeira MS. Interesse geral: Supervisão. Rev. bras. enferm. 1963; 16(6): 446-52. 13.Martinez BM. Plano de trabalho do supervisor de enfermagem. Rev. bras. enferm 1966; 19(4): 425-48. 14.Andrade OB, Piva N. Seminário sobre supervisão em enfermagem. Rev. Saúde públ. [São Paulo] 1969; 3(2): 233-41. 15.Ribeiro CM. Supervision. Revista paulista de hospitais. 1971; [ano XIX]; 19(7): 30-9. 16.Correia TT, Leite M, Santos IS. Novo processo de supervisão de enfermagem hospitalar. In: Anais do 30º Congresso Brasileiro de Enfermagem, 1978; jul 16- 22. Belém (PA). Brasília. Associação Brasileira de Enfermagem; 1978. p.165-76. 17.Nery IS, Fernandes W. Supervisão de enfermagem. (Primeira parte) Enf Atual 1978; 01 (2): 18-24. 18.Nery IS, Fernandes W. Supervisão de enfermagem. (Segunda parte) Enf Atual 1979; 01 (3): 28-32. 19.Servo MLS, Correia VS. Supervisão e a educação permanente da força de trabalho em enfermagem. Rev. Diálogos & Ciência [Internet]. 2006 [cited 2013 feb ]; 04(8): 01-1. Avaiable from: http://www.ftc.br/revistafsa. 20.Leite MLS. Padrão de supervisão da enfermeira em hospitais de Feira de Santana. Salvador (BA). Dissertação [Mestrado em Enfermagem]. Escola de Enfermagem. Universidade Federal da Bahia; 1995. 147p. 21.Cunha KC. Supervisão e enfermagem. In: Kurcgant P, coordenadora. Administração em enfermagem. São Paulo (SP): EPU; 1991. p. 117-32. 22.Silva EM. Supervisão do trabalho de enfermagem em saúde pública no nível local. Ribeirão Preto (SP).Tese [Doutorado em Enfermagem]. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- Universidade de São Paulo; 1997. 306p. 23.Servo MLS. O pensar, o sentir e o agir da enfermeira no exercício da supervisão na rede SUS local: o (re) velado de uma práxis. Ribeirão Preto (São Paulo). Tese [Doutorado em enfermagem]. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-Universidade de São Paulo; 1999. 278p. 24.Ayres JA, Berti HW, Spiri WC. Opinião e conhecimento do enfermeiro supervisor sobre sua atividade. Rev. Min. Enf [Internet]. 2007[cited 2013 feb 05]; 11(4):407-13. Avaiable from: http://www.reme.org.br/content/imagebank/pdf/ v11n4a10.pdf. 25. Prochnow AG, Leite JL, Erdmann AL, Trevizan MA. Conflito como realidade e desafio cultural no exercício da gerência do enfermeiro. Rev Esc Enferm- USP [Internet]. 2007 [cited 2013 feb 05]; 41(4): 542-50. Avaiable from:

Page 158: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

157

https://www.revistas.usp.br/reeusp/article/view/41653 26.Ferreira MMF. Relacionamento com o supervisor e satisfação no trabalho: estudo em profissionais de saúde. Cadernos de Ciência e Saúde [Internet]. 2013; [cited 2016 nov 02]; 3(3):15-22. Avaiable from: https://www.researchgate.net/ publication/279531201_RELACIONAMENTO_COM_O_SUPERVISOR_E_SATISFACAO_NO_TRABALHO_ESTUDO_EM_PROFISSIONAIS_DE_SAUDE_RELATIONS_SUPERVISOR_AND_JOB_SATISFACTION_A_STUDY_IN_HEALTH_PROFESSIONALS. 27.Marx K. O capital: crítica da economia política. Trad. Reginaldo de Sant'Anna. 29a ed. Rio de Janeiro RJ): Civilização Brasileira; 2011. 966p. 28.Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5a ed. São Paulo (SP): Athas, 2010. 29.Koerich MS, Backes DS, Sousa FGM, Erdmann AL, Alburquerque GL. Pesquisa-ação: ferramenta metodológica para a pesquisa qualitativa. Rev. Eletr. Enf. [Internet] 2009 [cited 2013 feb 05]; 11(3):717-23. Available from: http://www. fen.ufg.br/revista/v11/n3/v11n3a33htm. 30.Thiollent M.Metodologia da pesquisa ação. 18a ed. São Paulo (SP): Cortez, 2011. 31.Duarte G. Dicionário de administração e negócios. [Internet]. 2013 [cited 2015 mar 25]. Available from: https://ler.amazon.com.br/?asin=B007GPFKH0. 32.Maximiano ACA. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 7a ed. São Paulo (SP): Atlas; 2012.p.296. 33.Chiavenato I. Introdução à teoria geral da administração. 4ªed. compactada. Rio de Janeiro (RJ): Manole; 2014. p 544. 34.Cabral IE, Garcia TR. Notas sobre enfermagem:um guia para cuidadores na atualidade. Internation Council of Nurses (ICN), trad. Telma R Garcia. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier, 2010. p.180. 35.Gomes ELR, Anselmi ML, Mishima SM, Villa TCS, Pinto IC, Almeida MCP. Dimensão histórica da gênese e incorporação do saber administrativo na enfermagem. In: Almeida MCP, Rocha SMM, organizadoras. O trabalho de enfermagem. São Paulo (SP): Cortez; 1997. p. 229-50. 36.Almeida MCP, Rocha SMM. Considerações sobre a enfermagem enquanto trabalho. In: Almeida MCP, Rocha SMM, organizadoras. O trabalho de enfermagem. São Paulo (SP): Cortez; 1997, p.15-26. 37.Chiavenato I. Comportamento Organizacional. A dinâmica de sucesso das Organizações. 3ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Manole; 2014. p 492. 38.Sarantopoulos A, Spagnol GS, Vergílio MSTG. Melhorias na gestão hospitalar por meio da abordagem Lean Healthcare. In: Frederico MMF, Stancato K, organizadoras. Enfermeiros uma gestão profissional e pessoal. Campinas (SP): Ed.Unicamp; 2016. p.213-32. 39.Silva AA. Cenários e tendências em saúde: um ambiente de desafios. In: Allgayer CJ, organizador. Gestão em saúde: temas contemporâneos abordados por especialistas do

Page 159: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

158

setor. Porto Alegre (RS): Instituto de administração hospitalar e ciências da saúde - IAHCS; 2011. p.11- 49. 40.Vergílio MSTG. Teorias da administração: articulações com a enfermagem em saúde coletiva. In: Santos AS, Traldi MC, organizadores. Administração de Enfermagem em Saúde Coletiva. Barueri (SP): Manole, 2015. p. 69-135. 41.Almeida MCP, Rocha JSY. O saber de enfermagem e sua dimensão prática. 2ª Ed. São Paulo (SP): Cortez,1989. 42.Santos WN. Systematization of nursing care: the historical context, the process and obstacles to deployment. J Manag Prim Health Care [Internet]. 2014 [cited 2015 feb 05]; 5(2):153-158. Available from: https://grupos.moodle .ufsc.br/ pluginfile.php/177493/mod_resource/content/1/SAE_o%20contexto%20hist%C3%B3rico%20e%20obst%C3%A1culos%20na%20implanta%C3%A7%C3%A3o.pdf. 43.Crozeta K, Stocco JGD, Labronici LM, Méier MJ. Interface between ethics and technological nursing concepts. Acta Paul Enferm [Internet]. 2010 [cited 2014 jun 23]; 23(2):239-43. Available from: http://www.uacm.kirj.redalyc.redalyc .org/articulo.oa?id =307023 858 014. 44.Erdmann AL, Fernandes JD, Teixeira GA. Panorama da educação em enfermagem no Brasil: graduação e pós-graduação. Enfermagem em Foco [Internet]. 2011[cited 2017 jan 23]; 2(supl):89-93. Available from: http://revista. portal cofen.gov. br/index.php/ enfermagem/article/view/91. 45.Chaves LDP, Mininel VA, Silva JAM, Alves LR, Silva MF, Camelo SHH. Supervisão de enfermagem para a integralidade do cuidado. Rev. Bras. Enferm. [Internet]. 2017 [cited 2017 set 12]; 70(5): 1106-1111. Available from: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-7167201700050 1106&lng=en. 46.Cardoso ATT, Bortoli CSH. Análise de causa raiz: avaliação de erros de medicação em um hospital universitário. Revista da Escola de Enfermagem da USP [Internet]. 2010 [cited 2014 set 30]; 44( 1 ): 139-146. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342010000100 020 &lng=em 47.Amestoy SC, Cestari ME, Thofehrn MB, Milbrath VM, Porto AR. Enfermeiras refletindo sobre seu processo de trabalho. Cogitare Enferm [Internet]. 2010 [cited 2016 oct 25]; 15(1):158-63. Available from: http://revistas.ufpr.br/cogitare/ article/ viewFile/17188/11323. 48.Hausmann M, Peduzzi M. Articulating between management and care dimensions in the nursing work process. Texto contexto - enferm. [Internet]. 2009 [cited 2017 Aug 01]; 18(2):258-65. Available from: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid =S0104-07072009000200008. 49.Silva EM. Supervisão em enfermagem: análise crítica das publicações no Brasil dos anos 30 à década de 80. Ribeirão Preto (SP). Dissertação [Mestrado em enfermagem]- Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-Universidade de São Paulo; 1991. p.158. 50.Santos, Iraci dos. Supervisão em enfermagem. Rio de Janeiro (RJ): Cultura Médica; 1987. p.88.

Page 160: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

159

51.Arndt C, Huckabay LMD. Nursing administration. 2a ed. trad Maria Stella T. de Oliveira e Clenir BM Pereira. Rio de Janeiro(RJ). Interamericana. 1983. p.53-93. 52.Machado AP. Importância da enfermagem no contexto da administração hospitalar. Revista Paulista de Hospitais 1977 (Ano XXV); 25 (10):10-15. 53.Peres Fumika. Administração em saúde: supervisão, ensaio de interpretação. [Internet]. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 1986 [cited 2017 mar 20]. Available from: https://books. google. com.br/books /about/administracao_em_saude_supervisao_ensaio.html?id=Ehy1HAAACAAJ&redir_esc=y. 54.Brasil. Ministério da Saúde. Guia de supervisão em estabelecimento de saúde; 2a Ed. 1983. Normas e Manuais Técnicos (Série A, 9). Centro de Documentação. p. 25. 55.Chiavenato I. Administração: Teoria, Processo e Pratica. 5ªEd. Rio de Janeiro: Manole, 2014. p 472. 56.Ciampone MHE, Melleiro MM. O planejamento e o processo decisório como instrumento do processo de trabalho gerencial. In: Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. 2ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2010. p.37-53. 57.Oliveira BRG, Collet N. Interprofessional and interinstitutional power relationships. Rev. bras. Enferm [Internet]. 2000 [cited 2016 oct 25]; 53(2): 295-300. Available from: http://www.scielo .br /pdf/reben/v53n2/v53n2a15.pdf. 58.Kurcgant P, Masarollo MCKB. Cultura e poder nas organizações de saúde. In: Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. 2ª. ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2010. p. 26-36. 59.Felli VEA. Peduzzi M. O trabalho gerencial em enfermagem. In: Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. 2ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2010.p.01-13. 60.Jericó MC, Peres AM, Kurcgant P. Organizational structure of nursing services: reflections on the influence of the organizational power and culture Rev. esc. enferm. USP [Internet] 2008 [cited 2016 July 24] ; 42(3): 569-577. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S00806234 2008000300022&lng=en. 61.Carvalho JFS, Chaves LDP. Supervisão de enfermagem no contexto hospitalar: uma revisão integrativa. Rev. Eletr. Enf. [Internet] 2011 [cited 2015 jan 24]; 13(3):546-53. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/v13 /n3/v13n3a 21.htm. 62.Servo MLS. Pensamento estratégico: uma possibilidade para a sistematização da supervisão em enfermagem. Rev. gaúcha Enferm [Internet] 2001. [cited 2013 July 14]; 22 (2): p.39-59. Available from: http://seer.ufrgs.br /index.php/ Revista Gaucha deEnfermagem/article/view/4373/2326.

63.Ciampone MHT. Supervisão e enfermagem. Rev Paul. Enf. São Paulo 1985; 5(3):111-3. 64.Conselho Federal de Enfermagem (Brasil). [homepage na internet]. Resolução-COFEN Lei no. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da

Page 161: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

160

Enfermagem e dá outras providências [Internet] 1986. [cited 2017 feb 10]. Available from: http://www.cofen.gov.br/lei-n-749886-de-25-de-junho-de-1986 _4161.html. 65.Conselho Federal de Enfermagem(Brasil). [homepage na internet]. Resolução- COFEN no. 311/2007 Código de ética dos profissionais de enfermagem. [Internet] 1986. [cited 2017 feb 10]. Available from: http://www. cofen.gov.br/resoluo-cofen-3112007_4345.html. 66. Bueno FMG. O profissional enfermeiro e a gestão hospitalar: possibilidades e desafios. Campinas (SP). Tese [Doutorado em ciências da saúde] Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas; 2013. 67.Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. 2ªed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2010. p.198. 68.Kurcgant P, coordenadora. Administração em enfermagem. São Paulo (SP): EPU; 1991.p. 237. 69.Butterworth T, Bishop.V, Carson J. First steps towards evaluating clinical supervision in nursing and health visiting: theory, policy and practice development. A review. Journal Clin. Nurs 1996; 5(2):127-32. Available from: https://www.ncbi .nlm .nih .gov /pubmed/8696597. 70.Fowler J. The organization of clinical supervision within the nursing profession: a review of the literature. Journal of Advanced Nursing [Internet].1996 [cited 2014 may 23]; 23: 471-478. Available from: http://online library.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-648. 1996. tb00008 .x/abstract. 71.Porter N. Clinical supervision: the art of being supervised. Nursing Standard [Internet]. 1997 [cited 2014 may 23]; 11(45): 44-45. Available from: http:// journals.rcni.com/doi/pdfplus /10.7748/ns .11.45.44.s44. 72.Cutcliffe JR, Lowe L.A Comparison of North American and European conceptualizations of clinical supervision. Ment Health Nurs [Internet]. 2005 [cited 2014 may 23]; 26(5):475-88. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih. gov/ pubmed/16020063.

73.Garrido A, Simões J, Pires R. Supervisão clínica em enfermagem: perspectivas práticas. Avieiro (Portugal): Universidade de Avieiro; 2008. p. 112. 74.Dilworth S, Higgins I, Parker V, Kelly B, Turner J. Finding a way forward: A literature review on the current debates around clinical supervision. Contemporary nurse [Internet]. 2013 [cited 2014 mar 15]; 45(1): 22-32. Available from: http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.5172/conu.2013.45. 1.22. 75. I Congresso Internacional de Supervisão Clínica: Da qualidade da formação à certificação de competências; 2011, Porto (Portugal). Livro de comunicações e resumo. Núcleo de supervisão, formação e informação: Escola Superior de Enfermagem do Porto-ESEP; 2011. Available from: https://books.google.com.br books?id=ddGHklQjif4C&printsec=frontcover&hl=ptBR&source=gbs_ge_summary _r&cad= 0#v=onepage&q&f=false.

Page 162: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

161

76.II Congresso Internacional de Supervisão Clínica; 2014, Porto (Portugal). Livro de comunicações e Conferências. Núcleo de supervisão, formação e informação: Escola Superior de Enfermagem do Porto; 2014. Available from: https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14277/1/e-book_cse4.pdf.

77.White E, Butterworth T, Bishop V, Carson J, Jeacock J, Clements. Clinical supervision: insider reports of a private world. AJ. Adv Nurs [Internet]. 1998; 28(1):185-2. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9687147. 78.Francke AL, Graaff FM. The effects of group supervision of nurses: a systematic literature review. J Nurs Stud [Internet]. 2012 [cited 2014 may 23]; 49 (9): 1165-79. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22177 568. 79.Merhy EE. Saúde: A cartografia do trabalho vivo. 4a ed. São Paulo (SP): Editora Hucitec; 2014. 80.Gonçalves RBM. Tecnologias e organização social das práticas em saúde: características tecnológicas de processo de trabalho na rede estadual de centros de saúde de São Paulo. São Paulo (SP): Editora Hucitec; 1994. 81.Merhy EE, Feuerwerker LCM. Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea [Internet] [s.d.] [cited 2017 feb 15]. Available from: http://www.uff.br/saudecoletiva/professores/merhy/capitulos-25.pdf. 82.Franco TB, Merhy EE. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde. São Paulo (SP): Editora Hucitec; 2013. 83.Peduzzi M, Schraiber LB. Processo de trabalho em saúde. In: Pereira IB, Lima JCF, organizadores. Dicionário da educação profissional em saúde. 2aed. rev. Ampliada. Rio de Janeiro (RJ): Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio- EPSJV/Fiocruz; 2008. Available from: http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario /verbetes/protrasau.html. 84.Jacondino MB, Martins CL, Nunes NJS, Thofehrn MS. Processo de trabalho em enfermagem: competências gerenciais. In: Thofehrn MS, organizadora. Enfermagem: manual de gerenciamento. Porto Alegre(RS): Moriá; 2016. p.13- 26. 85.Santos JLG, Pestana AL, Guerrero P, Meirelles BSH, Erdmann AL. Nurses’ practices in the nursing and health care management: integrative review. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2013 [cited 2017 fev 10]; 66(2): 257-263. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/16.pdf. 86.Christovam BP, Porto IS, Oliveira DC. Nursing care management in hospital settings: the building of a construct. Rev. esc. enferm. USP [Internet]. 2012 [cited 2017 fev 01]; 46(3): 734-741. Available from: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S00802342012000300028&lng=en. 87.Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: teoria método e criatividade. 21a ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2002. p.96. 88.Hospital de Clínicas [homepage na internet]. Universidade Estadual de Campinas, Institucional. Imprensa. Relatório de Gestão 2010-2014. [cited 2017 abr 04]. Available from:

Page 163: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

162

http://www.hc.unicamp.br/sites/default/files/users/ Administrador/relatorio-gestao-2010-2014.pdf. 89.Hospital de Clínicas [homepage na internet]. Universidade Estadual de Campinas. Institucional. Missão [cited 2017 abr 04]. Available from: http://www. hc .unicamp.br/node/177. 90.Massuda A. O método do apoio Paidéia no hospital: descrição e análise de uma experiência no HC – Unicamp. Campinas (SP). Dissertação [Mestrado em saúde coletiva]- Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas; 2010. 91.Cunha GT, Campos GWS. Método Paidéia para co-gestão de coletivos organizados para o trabalho. Org & Demo [Internet]. 2010; 11(1), p. 31-46. Available from: http://www2.marilia.unesp. br/revistas/ index.php/orgdemo/ article /view/468/364. 92.Polit DF, BecK CT, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização para a prática da enfermagem. 5ªed, Porto Alegre (RS): Artmed, 2004. 93.Duque-Arrazola LS, Thiollent MJM, organizadores. Metodologia, teoria do conhecimento e pesquisa-ação: textos selecionados e apresentados/João Bosco Guedes Pinto. Belém-PA: Instituto de ciências aplicadas(ICSA); 2014. p.375. 94.Cordeiro L, Soares CB. Implementation of evidence-based health care using action research: An emancipatory approach International. Int J Nurs Pract. [Internet]. 2016 [cited 2017 jan10]; 22: 333- 8. Available from: https:// www.ncbi.nlm. nih.gov/pubmed/27562664. 95.Silva AP, Munari DB, Brasil VV, Chaves LDP, Bezerra ALQ, Ribeiro LCM. Trabalho em equipe de enfermagem em unidade de urgência e emergência na perspectiva de Kurt Lewin. Cienc Cuid Saude. [Internet]. 2012 [cited 2017 jan 10]; 11(3):549-556. Available from: http://www.periodicos. uem.br/ojs/index.php/ CiencCuidSaude/article/view/16609/pdf. 96.Nogueira IS, Labegalini CMG, Pereira KF, Higarashi KFR, Harumi I, Bueno SMV, Baldissera VDA. Pesquisa-ação sobre sexualidade humana: uma abordagem freiriana em enfermagem. Cogitare Enferm [Internet]. 2017[cited 2017 jan 10]; 22(1): 01-10. Available from: http://www.dx. doi.org/10.5380 /ce. v22i1.46281. 97.Mailhiot GB. Dinâmica e gênese dos grupos: atualidade das descobertas de Kurt Lewin. Petrópolis (RJ): Vozes; 2013. 98.Jesus DM, Vieira AB, Siqueira AP. Pesquisa-ação colaborativo-crítica: em busca de uma epistemologia. Educação & Realidade [Internet]. 2014; [cited 2015 my 15]; 39(3), 771-88. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S217562 36201 4000 300008&script=sci_abstract&tlng=PT. 99.Thiollent M. Metodologia da pesquisa ação na organizações. 2aed, São Paulo (SP): Athas, 2009. 100.Tanajura LLC, Bezerra AAC. Pesquisa-ação sob a ótica de René Barbier e Michel Thiollent: aproximações e especificidades metodológicas. Rev. Eletrônica Pesquiseduca [Internet]. 2015 [cited 2017 jan 10]; 7(13):10-23. Available from: http://periodicos.unisantos.br/index.php/pesquiseduca/article/ view /408.

Page 164: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

163

101.Brandão CR, Borges MB. A pesquisa participante: um momento da educação popular. Rev. Ed. Popular [Internet]. 2007 [cited 2015 may 15]; 6 (1): 51-62. Available from: http://www.seer.ufu.br/index. php/reveduc pop /article /view/ 19988. 102.Haguette MTF. Metodologias qualitativas na sociologia. A entrevista. 14ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2013; p. 86-91.

103.Turato ER. Tratado da metodologia clínico-qualitativa. 5ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2011. 104.Falqueto J, Farias J. Saturação teórica em pesquisas qualitativas: relato de uma experiência de aplicação em estudo na área de administração. In: Atas do Congresso de Investigação Qualitativa em Ciências Sociais. 2016. Vol 3. p. 560- 69. 105.Queiroz DT, Vall J, Souza AMA, Vieira NFCR. Observação participante na pesquisa qualitativa: conceitos e aplicações na área da saúde. Rev. enferm. UERJ [internet]. 2007; [cited 2015 may 15]; 15(2):276-83. Available from: http:// www.facenf.uerj.br/v15n2/v15n2a19.pdf. 106.Roese A, Gerhardt TE, Souza AC, Lopes MJM. Field diary: construction and utilization in scientific researches. Bibliographic analysis. Online Brazilian Journal of Nursing [Internet]. 2006; 5(3) [cited 2015 dec 06]. Available from: www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/rt/printerFriendly/598/14. 107.Godoy BFP, Jorge AS, Vegian CFL, Pato NRV, Toledo VP. Revisão prática do processo de trabalho do enfermeiro supervisor: relato de experiência. In: Anais do 67oCongresso Brasileiro de Enfermagem. “Para onde caminha a enfermagem brasileira?”. 2015, out. 27- 30; São Paulo (Brasil): Associação Brasileira de Enfermagem; 2015. p. 2255. 108. Picheth SF, Cassandre M P, Thiollent MJM. Analisando a pesquisa-ação à luz dos princípios intervencionistas: um olhar comparativo. Educação [Internet]. 2016; [cited 2015 may 15]; 39. (n. esp- supl.): 3-13. Available from: https://www. researchgate.net/publication/313959981_Analisando_a_pesquisaacao_a_luz_dos_principios_intervencionistas_um_olhar_comparativo. 109.Afonso MLM, organizadora. Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. 3ª ed. São Paulo (SP): Casa do psicólogo; 2010. 110.Spink MJ, Meganon VM, Medrado B. Oficinas como estratégia de pesquisa: articulações teórico-metodológica a aplicações éticas-políticas. Psicol. soc. [Internet]. 2014. [cited 2016 nov 22]; 26(1):32-43. Available from: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v26n1/05.pdf. 111.Afonso MLM, organizadora. Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde. 2ª ed. São Paulo (SP): Casa do psicólogo; 2010. 112.Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra; 2000. 113.Amestoy SC, Backes VMS, LL Trindade. Liderança dialógica na enfermagem. In: Thofehrn MS, organizadora. Enfermagem: manual de gerenciamento. Porto Alegre (RS): Moriá, 2016. p.27- 46. 114.Franco TB, Merhy EE. O Uso das ferramentas analisadoras para apoio ao planejamento

Page 165: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

164

dos serviços de saúde: o caso do serviço social do hospital das clínicas da Unicamp (Campinas, SP). São Paulo: Hucitec, 2003. 115.Merhy EE, Chakkour M. Em busca de ferramentas analisadoras das tecnologias em saúde: a informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo trabalhos. In: Merhy EE, Onocko R, organizadores. Agir em saúde um desafio para o público. São Paulo (SP): Hucitec, 1997. p.35-70. Available from: http://digitalrepository.unm.edu/lasm_pt/145/. 116.Holliday OJ. Para sistematizar experiências. Trad. de Maria Viviana Resende. 2a ed.revisada. Brasília: Ministério do Meio Ambiente Brasília, 2006. 128 p. (Série monitoramento e avaliação, no 2). Available from: http://www.mma. gov.br/estruturas/168/_publicacao/168_publicacao30012009115508.pdf. 117.Minayo MCS, Assis SG, Souza ER, organizadoras. Avaliação por triangulação de métodos. Rio de Janeiro (RJ): Editora Fiocruz; 2005. 118.Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na saúde. Santa Maria (RS): Pallotti, 2002. p. 249. 119.Víctora CG, Knautk DR, Hassen MNA. Pesquisa qualitativa em saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo editorial, 2000. 120.Hollyday OJ. Orientações para sistematizar experiências. Material de apoio para oficina “Escola de Governo”. Trad. Dénia Claudino; 2011. p.01-22. Available from:http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/files/orientacoes.pdf. 121.González LC, Carrillo AT. La sistematizacion como experiencia investigativa y formativa. Rev. Aportes. Dimensión Educativa, Bogotá; 2004. Available from: http://www.cepalforja.org/sistem/documentos/lola_cendales-alfonso_ torresla_sistematizacion_como_experiencia_investigativa_y_formativa.pdf. 122.Conselho Federal de Enfermagem (Brasil). COFEN [homepage na internet]. Pesquisa Perfil da Enfermagem (Cofen/Fiocruz). 2015 [cited 2012 jun10]. Available from: http://www.cofen.gov.br/perfilenfermagem. 123.Santos JLG, Prochnow AG, Silva DC, Silva RM, Leite JL, Erdmann AL. Prazer e sofrimento no exercício gerencial do enfermeiro no contexto hospitalar. Esc. Anna Nery [Internet]. 2013 [cited 2017 feb 04]; 17(1): 97-103. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S141 481452013000100014& lng=en. 124.Stancato K, Oliveira AM. Qualidade de vida da equipe de enfermagem: resultados de pesquisas. In: Frederico MMF, Stancato K, organizadoras. Enfermeiros uma gestão profissional e pessoal. Campinas (SP): Editora Unicamp, 2016. p.25-40. 125.Almeida ML, Peres AM, Bernardino E, Santos MF. Formação de competências para o gerenciamento em enfermagem. Cogitare Enferm [Internet]. 2014; [cited 2017 feb 04]; 19(2):269-76. Available from: http://www.revistas.ufpr.br/cogitare/ article/ view/36976. 126.Balsanelli AP; Feldman LB, Ruthes RM, Cunha ICKO, organizadores. Competências gerenciais: desafio para o enfermeiro. São Paulo (SP): Martinelli, 2008, 208p.

Page 166: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

165

127.Patrician PA, Oliver D, Miltner RS, Dawson M, Ladner KA. Nurturing charge nurses for future leadership roles. J Nurs Adm [Internet]. 2012 [cited 2017 feb 04]; 42(10): 461-6. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/229 68118. 128.Boog GG. O choque das gerações Baby Boomers, X e Y: como sair desta? [Internet]. 2009 [cited 2013 mar 04]; Available from: http://carreiras. empregos. com.br/comunidades/rh/colunistas. 129.Bobbio N, Matteucci N, Pasquino G. Dicionário de Política. Trad. de Carmen C. Varriale CC.11ª ed. Brasília (DF): Editora Universidade de Brasília; 2013.p. 20-3. 130.Fentanes LRC, Hermann AP, Chamma RC, Lacerda MR. Autonomia profissional do enfermeiro: revisão integrativa. Cogitare Enferm [Internet]. 2011[cited 2017 feb 04]; 16(3):530-5. Available from: http://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/ 24227/16242. 131.Ribeiro JMS. The professional autonomy of nurses. Referência. [Internet]. 2011 [cited 2017 fev 04]; ser III (5): 27-36. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087402832011000300003&lng=pt. 132.Jesus MS, Said FA. Autonomia e a prática assistencial do enfermeiro. Cogitare Enferm [Internet]. 2008 [cited 2017 fev 04]; 13(3):410-21. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000084&pid=S0104-07072012000 0002200004&lng=pt. 133.Kramer M, Schmalenberg CE. Magnet hospital staff nurses describe clinical autonomy. Nurs Outlook [Internet]. 2003 [cited 2017 fev 04]; 51(1):13-19. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/12595822. 134.Pitano SC, Ghiggi G. Autoridade e liberdade na práxis educativa: Paulo Freire e o conceito de autonomia. R. Saberes [Internet]. 2009; [cited 2017 fev 04]; 2 (3):80-93. Available from: http://www.cchla.ufrn.br/saberes. 135.Leopardi MT. Responsabilidade frente à gestão do trabalho da enfermagem. In: Thofehrn MS, organizadora. Enfermagem: manual de gerenciamento. Porto Alegre(RS): Moriá; 2016. p.165- 76. 136.Foucault M. Micropolítica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. 18ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Graal, 2003. p. 295. 137.Soares MI, Camelo SHH, Resck ZMR, Terra FS. Nurses’ managerial knowledge in the hospital setting. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2016 [cited 2017 feb 04]; 69(4):676-683. Available from: http://www.scielo.br/scielo .php? script= sci_arttext &pid=S0034-71672016000400676&lng=en. 138. Luz ED, Silva RF, Avelar SA. Percepção do enfermeiro sobre seu papel no exercício da liderança. Rev. Enferm Integrada [Internet] 2010 [cited 2017 fev 04]; 03 (01): 442- 52. Available from: https://www.unilestemg.br/enfermagem integrada/artigo/v3/07-percepcao-enfermeiro sobre-seu- papel.pdf. 139.Camelo SHH, Rocha FRL, Chaves LDP, Silva VLS, Soares MI. Competências

Page 167: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

166

profissionais e estratégias organizacionais de gerentes de enfermagem. Cienc. enferm. [Internet]. 2016 [cited 2017 feb 10]; 22(1): 75-86. Available from: http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S07179 5532016000100007&lng=eshttp://www.scielo.cl/pdf/cienf/v22n1/art_07.pdf. 140.Santos JLG, Prochnow AG, Lima SBS, Leite JL, Erdmann AL. Communication conceptions in hospital nursing management between head nurses in a University Hospital. Rev. Esc. Enferm. USP [Internet] 2011 [cited 2016 nov 22]; 45(4):959-65. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/ v45 n4/v45n4a24.pdf. 141.Paulillo G. Cinco dinâmicas de motivação no trabalho muito fáceis de aplicar. [Internet] [cited 2016 set 22]; Available from: http://www.agendor.com.br/blog/ dinamicas-de-motivacao-no-trabalho/

Page 168: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

167

8 APÊNDICES

APÊNDICE A - Roteiro para entrevistas com enfermeiros e

supervisores de enfermagem

Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade

Estadual de Campinas

Projeto de pesquisa “Supervisão de enfermagem: construindo um caminho para a

prática sistematizada”

Questionário para caracterização dos profissionais

(Supervisores e Enfermeiros)

Número: (____) Data:____/____/____ Início(h): _________

Codinome: ____________________________ Término: _________

Sexo: M ( ) F ( ) Idade:_________anos.

Tempo de Formada (o):_________anos.

Tempo que trabalha no hospital:_________anos.

Tempo que trabalha no cargo de supervisão: _________anos.

Formação em Pós-graduação:

( ) Mestrado, concluído em _______(ano), na área: _________________________

( ) Doutorado, concluído em _______(ano), na área _________________________

( ) Curso lato sensu, concluido em ____(ano). Qual? ________________________

Fez alguma capacitação para a função de supervisão: ( ) Não

( ) Sim

Qual capacitação oferecida pela educação continuada da instituição:____________

( ) Outros (relacionados a supervisão ou de outras áreas que possam ajudar a

desenvolver habilidades para o trabalho )__________________________________

Page 169: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

168

Roteiros para entrevistas- Enfermeiros

1. Fale sobre a rotina de trabalho na unidade.

2. Fale sobre a rotina de trabalho do supervisor na unidade.

3. Quais os métodos e técnicas que o supervisor emprega para o desenvolvimento

da supervisão?

4. Quais as atribuições do supervisor?

5. Relate uma situação em que você precisou do supervisor e ele atendeu o que

você esperava.

6. Relate uma situação em que você precisou do supervisor e ele não atendeu as

suas expectativas.

7. Quais as finalidades da supervisão em enfermagem?

8. O trabalho do supervisor se aproxima desta(s) finalidade(s)?

9. Se sim, em que aspectos?

10. Se não, em que aspectos?

11. O que você espera do trabalho do supervisor?

12. O que você espera da supervisão institucional?

13. Gostaria de acrescentar mais alguma informação?

Roteiro para entrevista-Supervisores

1. Fale sobre a rotina de trabalho na unidade?

2. Fale sobre a rotina de trabalho como supervisor?

3. Quais os métodos que emprega no desenvolvimento do trabalho?

4. Quais as técnicas que emprega no desenvolvimento do trabalho?

5. No cotidiano, as ações planejadas são realizadas? Exemplifique.

6. Quais as intercorrências mais frequentes no trabalho?

7. Quais as responsabilidades do cargo de supervisor?

8. Há autonomia para atuar?

9. Há respaldo/apoio institucional para tomada de decisões?

10. Relate uma situação em que precisou de apoio e obteve.

11. Relate uma situação em que precisou de apoio e não foi correspondido.

Page 170: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

169

12. Quais as finalidades da supervisão em enfermagem?

13. Em que o trabalho se aproxima desta(s) finalidade(s)?

14. O que espera do trabalho do supervisor?

15. O que espera da supervisão institucional?

16. Gostaria de acrescentar mais alguma informação?

Page 171: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

170

APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Primeira e segunda fases da PA)

Título da pesquisa: “Supervisão de enfermagem: construindo um caminho para a

prática sistematizada”

Pesquisadora : Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio

Orientadora: Profa. Dra. Eliete Maria Silva

Você está sendo convidado a participar como voluntário de um estudo. Este

documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus

direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e

outra com o pesquisador.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se

houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o

pesquisador. Se preferir, pode levar para casa e consultar seus familiares ou outras pessoas

antes de decidir participar. Se você não quiser participar ou retirar sua autorização, a

qualquer momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo.

Objetivos: Investigar como a supervisão de enfermagem está sendo realizada em um

hospital geral universitário; descrever o perfil dos enfermeiros e supervisores do serviço de

enfermagem; compreender a prática da supervisão de enfermagem na visão de enfermeiros

e supervisores; identificar as finalidades e intrumentos (métodos e técnicas) utilizados pelo

para o trabalho; observar e participar das atividades do supervisor de enfermagem.

Justificativa: Este estudo se justifica no pressuposto de que a supervisão de enfermagem

desenvolvida de forma sistematizada, dinâmica, reflexiva e educativa pode fazer a diferença

na condução do trabalho assistencial, uma vez que desenvolve as potencialidades da

equipe de enfermagem e organiza o trabalho por referencia às necessidades dos usuários,

livre de riscos e com qualidade.

Procedimentos: Participando do estudo você está sendo convidado a: responder um

questionário, em aproximadamente cinco minutos e conceder entrevista gravada em áudio

em local, horário e data a ser combinada previamente. Esta entrevista tem duração

estimada em 30 minutos.

Desconfortos e riscos:Você não deve participar deste estudo, se em algum momento

sentir conflito ou embaraço para responder as questões sobre o trabalho de supervisão. Se

Page 172: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

171

tiver iniciado as entrevistas poderá desistir a qualquer momento, sem constrangimentos. A

sua participação neste estudo não tem riscos ou desconfortos previsíveis.

Benefícios: Não há benefícios financeiros para a sua participação, mas você estará

contribuindo com informações importantes para realizarmos um diagnóstico da supervisão

em enfermagem com objetivo de desenvolver um modelo para uma prática sistematizada

que contribuirá para qualificar o trabalho da enfermagem. Você terá acesso aos resultados.

Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e

nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de

pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado.

Ressarcimento: Estaremos agendando o encontro, para a entrevista, no local e horário de

trabalho para que não haja prejuízo da sua rotina de trabalho e despesas financeiras.

Contato: Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com a

pesquisadora Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio pelo email

[email protected]; Fone (19) 9-91117373 ou (19)35218830.

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do

estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da UNICAMP: Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas –

SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail: [email protected]

Consentimento livre e esclarecido: Após ter sido esclarecimento sobre a natureza da

pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, ausência de riscos previsíveis ou

incômodo que esta possa acarretar, aceito participar:

Nome do(a) participante: _______________________________________________

Assinatura do participante:_____________________________________________

Data: ____/____/_____.

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e

complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma cópia deste

documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o

projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta

pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento e conforme o

consentimento dado pelo participante.

Assinatura do pesquisador): ____________________________ Data: ____/_____/_____.

Page 173: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

172

APÊNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Terceira fase da pesquisa- oficinas)

Título da pesquisa: Supervisão de enfermagem: construindo um caminho para a

prática sistematizada

Pesquisadora: Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio

Orientadora: Profa. Dra. Eliete Maria Silva

Você está convidado a participar como voluntário dessa pesquisa. Este documento,

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos como

participante. Elaborado em duas vias, uma ficará com você e outra com as pesquisadoras.

Por favor, leia com atenção, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver

perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com as

pesquisadoras. Se preferir, pode levar para casa e consultar seus familiares ou outras

pessoas antes de decidir participar. Se você não quiser participar ou retirar sua autorização,

a qualquer momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo.

Justificativa: Esse estudo se justifica no pressuposto de que a supervisão de enfermagem

desenvolvida de forma sistematizada, dinâmica, reflexiva pode fazer a diferença na

condução do trabalho assistencial, uma vez que desenvolve as potencialidades da equipe

de enfermagem e organiza o trabalho assitencial, livre de riscos e com qualidade.

Objetivos: Discutir, de modo participativo, possíveis modificações no processo de trabalho

da supervisão visando aproximação do grenciamento do cuidado; Elaborar um plano de

ação viável a realidade instucional.

Procedimentos: Participar de encontros planejamedos pelo método de oficinas

psicossociais. Nessas oficnas você está sendo convidado a contribuir, na sua visão, de

como se desenvolve a supervisão em enfermagem e propor mudanças para melhorias.

Desconfortos e riscos: Você não deve participar deste estudo, se em algum momento

sentir que o conflito ou embaraço gerado está além do esperado e com o qual lidaria em seu

cotidiano profissional para responder às questões sobre o trabalho de supervisão. E mesmo

que tiver iniciado a participação poderá desistir a qualquer momento, sem constrangimentos.

A sua participação neste estudo não tem riscos ou desconfortos previsíveis.

Benefícios: Não há benefícios financeiros para a sua participação, mas você estará

contribuindo com informações importantes para realizarmos modificações no processo de

trabalho da supervisão em enfermagem com objetivo de desenvolver um modelo para uma

Page 174: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

173

prática sistematizada que contribuirá para qualificar o trabalho da enfermagem. Você terá

acesso aos resultados em todas as fases desenvolvidas.

Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e

nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de

pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado.

Ressarcimento: Estaremos agendando os encontros de trabalho e oficinas no local e

horário de trabalho para que não haja prejuízo da sua rotina de trabalho e nem despesas

financeiras.

Contato: Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com a

pesquisadora Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio pelo email

[email protected]; Fone (19) 9-91117373.

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do

estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da UNICAMP: Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas –

SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail: [email protected]

Consentimento livre e esclarecido: Após ter recebido esclarecimento sobre a natureza da

pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, riscos previsíveis ou incômodo que

esta possa acarretar, aceito participar:

Nome do(a) participante: _____________________________________________________

___________________________________________ Data: ____/_____/______.

Assinatura do participante)

Responsabilidade da Pesquisadora:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na

elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma cópia deste documento ao(s)

participante(s). Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi

apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa

exclusivamente para as finalidades previstas neste documento e conforme o consentimento

dado pelo participante.

(Assinatura da pesquisadora):____________________________ Data: ____/_____/____.

Page 175: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

174

APÊNDICE D- Atividades produzidas para a primeira oficina de

supervisores, outubro 2016.

1. Dinâmica realizada para descontração e sensibilização no primeiro

momento da oficina:

Dinâmica para descontração e sensibilização: Aceita o desafio? (141)

Objetivo: integrar o grupo de supervisores para desenvolver competências

relacionadas à motivação, confiança, busca de informações para a superação de

desafios do cotidiano.

Materiais necessários: Uma caixa embrulhada que seja impossível

identificar do que se trata. Dentro dela há instruções para se cumprir um desafio.

Execução:

1. Divida as pessoas em dois grupos iguais.

2. Posicione-as em um círculo.

3. Entregue a “caixa do desafio” para um participante qualquer.

4. Explique que dentro daquela caixa existe um grande desafio a ser

cumprido. Você vai tocar uma música e, quando parar, a pessoa que estiver com a

caixa na mão terá de cumprir o desafio.

Se falhar, precisará pagar um mico, será excluída da dinâmica e seu

grupo perde 4 pontos. Se cumprir o desafio, ganha 3 pontos e não paga o mico.

5. A música começa a tocar e, quando para, um dos participantes está

com a caixa na mão.

6. Nesse momento você adiciona uma nova regra na dinâmica, com 3

alternativas:

Ele pode tentar cumprir o desafio.

Ele pode passar o desafio para outra pessoa do seu grupo.

Ele passa a caixa para alguém do grupo adversário.

7. Caso a pessoa não aceite o desafio, você também dá a oportunidade

da nova pessoa escolhida optar por uma das 3 alternativas, só não pode devolver a

caixa para quem lhe entregou.

Page 176: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

175

8. Pela terceira e última vez (caso uma nova pessoa seja escolhida), você

dá a ela a oportunidade de optar por uma das 3 alternativas.

9. Agora, quem receber a caixa terá que cumprir o desafio. E, ao rasgar o

papel e desembrulhar, vai perceber que se trata de uma caixa de balas/bombons e

que o desafio é comer à vontade!

Com esse desfecho, além de boas risadas, a moral da história fica clara:

“ É melhor encarar desafios com coragem do que passar a

responsabilidade para os outros”.

Para encorajá-los a enfrentar desafios, colocar uma mensagem que

permanecerá na sala até a finalização do trabalho.

Fonte: Internet. [cited 2016 Set 22]. Available: http://3.bp.blogspot.com/-e74oG

15Ioxw/T-YBUx334jI/AAAAAAAAAHE/KkyAIHJ3Bug/s1600/escada.jpg

Observação: Colocar um cartaz com mensagens significativa referente ao objetivo

trabalhado em cada oficina, conforme a evolução do trabalho.

Page 177: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

176

2. Atividades para o trabalho do dia (individual e em grupo):

- Folha de trabalho 01 (1ª oficina). Responda individualmente, sem

necessidade de se identificar e sem a preocupação de certo ou errado baseando-se

na sua vivência profissional.

1. O que é supervisão para você?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. Quais atividades realiza rotineiramente na supervisão?

Frequência Atividades

Diárias

Quinzenais

Mensais

Esporádicas

- Folha de trabalho 02 (1ª oficina) para trabalho em subgrupos (6 a 8

pessoas):

A finalidade do trabalho é a razão pela qual ele é feito. Vai ao encontro da

necessidade que o fez acontecer e que dá significado à sua existência. As

finalidades podem ser compartilhadas por trabalhos diferentes profissionais, isto dá

sentido ao trabalho em equipe.

Considerando que a finalidade da supervisão em enfermagem é o

“Gerenciamento da assistência” (planejamento, organização e avaliação da

assistência), para tanto, deve-se realizar atividades para:

- Gerenciar a equipe de enfermagem;

- Gerenciar recursos materiais;

- Realizar educação permanente da equipe de enfermagem;

- Refletir e acompanhar o planejamento da assistência (SAE);

- Organização das unidades, fluxos dos processo de trbalho/relação com

serviços de apoio;

Page 178: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

177

- Gerenciar os resultados da assistência (indicadores, protocolos,

satisfação dos pacientes);

- Desenvolver competências gerenciais próprias/equipe de enfermagem

(liderança, comunicação, negociação e outras).

Considerando que a supervisão sistematizada é um processo que

envolve planejamento, execução e avaliação das atividades (diárias, quinzenais,

mensais) realizadas por meio de instrumentos gerenciais (métodos e técnicas).

O grupo deverá discutir as respostas individuais da questão de número um,

chegarem num consenso sobre a definição de supervisão e anotá-la no cartaz .

Com relação a questão dois relacione as atividades quanto: ao tempo, a

satisfação de realizá-la e a que finalidade do trabalho ela corresponde, utilizando

as legendas abaixo.

Se houver divergência entre os períodos diurno/noite destacar, com

marca texto, as atividades do noturno.

Frequência Atividades Tempo Satisfação Finalidades

Diárias

Quinzenais

Mensais

Esporádicas

LEGENDAS:

Para TEMPO gasto na realização da atividade:

T1- menos que 30mim T3- de 01 a 2h

T2- de 30 mim a 01h T4- mais que 2h

Page 179: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

178

Para SATISFAÇÃO que realiza a atividade:

S1: Realizo com satisfação (prazer, vontade, motivação).

S2: Realizo atividade com insatisfação (uma obrigação, se

pudesse não faria).

S3: Indiferente realizo atividade para cumprir o planejado (tem

que fazer!).

Esta atividade esta relacionada à FINALIDADE de:

F1- Gerenciamento da assistência (planejamento);

F2- Gerenciamento da assistência (organização);

F3- Gerenciamento da assistência (avaliação);

F4- Gerenciamento da equipe de enfermagem;

F5- Educação permanente da equipe de enfermagem;

F6- Organização da(s) unidade(s);

F7- Organização do trabalho da supervisão;

F8- Gerenciamento de recursos materiais.

F9- Gerenciar os resultados da assistência.

F10- Não se encaixa nas anteriores. Explique.

Page 180: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

179

APÊNDICE E - Folha de avaliação individual das oficinas

Responder individualmente, não precisa se identificar:

1. O que aprendeu ou vivenciou como novidade neste encontro?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. O que foi bom?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. O que pode melhorar?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

4. O que te desagradou?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5. Acrescente algo que não foi contemplado.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Page 181: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

180

APÊNDICE F – Mapa Reflexivo

Apresentamos na figura 4, o “mapa reflexivo” produzido para auxiliar os

supervisores de enfermagem, na reflexão sobre dados que compõem os perfis

(enfermaria/unidade, paciente, assistência, equipe, autoconhecimento), aspectos

necessários para o planejamento de ações para o gerenciamento do cuidado das

enfermarias sob a responsabilidade. Na figura 5 apresentamos a folha para

preenchimento individual, sobre os dados do mapa reflexivo.

Figura 4- Mapa reflexivo sobre os perfis necessários para a construção do gerenciamento do cuidado. Oficina com supervisores de enfermagem, Campinas – SP, outubro de 2016.

Fonte: elaboração da autora, com fundamento em Santos (2013) (85)

Page 182: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

181

Figura 5- Folha de atividade (individual) sobre o mapa reflexivo da segunda oficina de supervisores, Campina-SP, outubro 2016.

Fonte: elaboração da autora, com fundamento em Santos (2013) (85).

Page 183: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

182

APÊNDICE G - Roteiro norteador para propostas de ação.

(Folha de trabalho do dia da 3ª Oficina, outubro 2016)

Escolher um Coordenador e um Relator do subgrupo. O relator deverá apresentar a proposta do grupo para discussões e consenso na plenária final e a proposta construída coletivamente será apresentada, por um representante dos supervisores, na reunião com as diretoras de serviço e diretoria do DEnf. Discutir em grupo, estabelecer uma proposta consensuada: 1. Como operacionalizar a supervisão em enfermagem nas 24 hs (diurno e noturno)? Finais de semana? Tendo como finalidade a gestão do cuidado,considerar: a governabilidade da função, a cultura institucional e a jornada de trabalho de 30h/semana. ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. O que e como vamos fazer para melhorar processo de trabalho para atender a finalidade da supervisão? (Reorientar atividades/tarefas cotidianas do supervisor; considerar as dificuldades discutidas e fazer propostas para soluções). ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. O que será necessário? (baseado nas discussões dos encontros: rever atribuições (diretores/supervisores) e delegar atividades (administrativos/ enfermeiros) capacitação teórica, novas tecnologias gerenciais, fazer pilotos para testar intervenções, se apropriar e divulgar os resultados) Propostas: __________________________________________________________________________

____________________________________________________________

Plano de ação:

O que é de minha governabilidade

(decisão imediata)

1. Proposta: O que será feito?

Como? (estratégias)

Quando? (cronograma)

Responsáveis

2. Proposta:

O que será feito?

Como? (estratégias)

Quando? (cronograma)

Responsáveis

O que precisamos da parceria do Diretor

do Serviço?

3. Propostas:

O que precisamos da

parceria do Departamento de

Enfermagem?

4. Propostas

Page 184: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

183

APÊNDICE H – Tabelas sobre o perfil dos supervisores de

enfermagem

Obtivemos o perfil dos supervisores de enfermagem participantes das

oficinas, segundo questionário online, enviado em fevereiro 2017. Foram 14

respondentes (67%), do total de 21 participantes.

Tabela 1- Distribuição de supervisores de enfermagem, segundo sexo, outubro de 2016.

Sexo No respondentes %

Feminino 12 85,7

Masculino 02 14,3

14 100

Fonte: questionário online

Tabela 2- Distribuição de supervisores de enfermagem, segundo idade, outubro de 2016.

Faixa etária (anos) No respondentes %

De 30 a 39 07 50,0

De 40 a 49 05 35,7

De 50 a 59 02 14,3

14 100

Fonte: questionário online

Tabela 3- Distribuição de supervisores de enfermagem, segundo tempo de trabalho no HC, outubro de 2016.

Tempo de trabalho (anos) No respondentes %

De 05 a 10 04 28,6

De 11 a 15 03 21,2

De 16 a 20 02 14,4

De 21 a 30 04 28,6

Mais de 31 01 7,2

14 100

Fonte: questionário online

Page 185: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

184

Tabela 4- Distribuição de supervisores de enfermagem, segundo tempo que trabalha no cargo de supervisão, outubro de 2016.

Tempo de trabalho no cargo de

supervisão (anos)

No respondentes %

Menos que 4 06 42,8

De 05 a 10 06 42,8

De 11 a 15 01 7,2

De16 a 20 ----

De 21 a 30 01 7,2

Mais de 31 ---

14 100

Fonte: questionário online

Tabela 5-Distribuição de supervisores de enfermagem, segundo tempo de formada(o) na graduação de enfermagem, outubro de 2016.

Anos de formado No respondentes %

De 10 a 15 05 35,7

De 16 a 20 03 21,4

De 21 a 30 05 35,7

Mais de 31 01 7,2

14 100

Fonte: questionário online

Tabela 6- Distribuição de supervisores de enfermagem, segundo a capacitação que receberam para exercer o cargo de supervisão, outubro de 2016.

Capacitação para exercer o cargo No %

Sim 06 42,8

Não 08 57,2

14 100

Fonte: questionário online

Tabela 7- Distribuição de supervisores de enfermagem, quanto a sua qualificação profissional.

Nível de qualificação profissional No respondentes %

Page 186: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

185

Pós-graduação-Lato sensu

(especialização nas áreas de enfermagem: em

terapia intensiva, do trabalho, pediátrica,

nefrologia. ADM/MBA)

11 78,6

Pós-graduação-Stricto sensu (mestrado) 03 21,4

14 100

Fonte: questionário online

Page 187: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

186

9 ANEXO

ANEXO A- Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da Universidade Estadual de Campinas. Aprovado sob nº 887.936, em

24/11/2014.

COMITÊ DE ÉTICA EM

PESQUISA DA UNICAMP -

CAMPUS CAMPINAS

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: SUPERVISÃO DE ENFERMAGEM: CONSTRUINDO UM CAMINHO PARA A PRÁTICA

SISTEMATIZADA

Pesquisador: Maria Silvia Teixeira Giacomasso Vergilio

Área Temática:

Versão: 1

CAAE: 38548114.6.0000.5404

Instituição Proponente: Hospital de Clínicas - UNICAMP Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 887.936 Data da Relatoria: 24/11/2014

Apresentação do Projeto:

Supervisão de enfermagem é atividade fundamental no gerenciamento da assistência, promove a interlocução e

articulação entre os planejadores institucionais do trabalho e os executores fazendo diferença na prestação da

assistência qualificada e segura. É catalisador das questões institucionais transformando-as em ações efetivas em

conjunto com a equipe de enfermagem. Esta pesquisa tem por objetivo investigar a supervisão de enfermagem

hospitalar, acreditando na necessidade de revê-la e propor um modelo de atuação sistemático, reflexivo, educativo e

voltado para uma assistência autônoma e resolutiva. Com base na pesquisa-ação propõe-se quatro fases com métodos

e técnicas que permitam a participação coletiva em todas as etapas. Neste projeto pretende-se desenvolver a primeira

fase, com levantamento e análise de dados sobre o trabalho da supervisão em enfermagem. Será realizado estudo

exploratório, tendo como sujeitos supervisores e enfermeiros de diferentes turnos de trabalho de um hospital

universitário. A coleta de dados será realizada por meio de entrevista semiestrutura, o material empírico produzido nas

entrevistas serão analisado por meio da técnica de análise de conteúdo. Os resultados trarão visibilidade da prática de

supervisão e permitirão diagnóstico de fundamental importância para as etapas seguintes do estudo, que visam

estimular os supervisores participantes, a construírem um modelo norteador para o trabalho cotidiano da supervisão em

enfermagem.

Endereço: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126

Bairro: Barão Geraldo CEP: 13.083-887

UF: SP Município: CAMPINAS

Telefone: (19)3521-8936 Fax: (19)3521-7187 E-mail: [email protected]

Página 01 de 04

Page 188: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

187

COMITÊ DE ÉTICA EM

PESQUISA DA UNICAMP -

CAMPUS CAMPINAS

Continuação do Parecer: 887.936

Objetivo da Pesquisa:

Objetivo Primário:

- Investigar como a supervisão de enfermagem está sendo realizada em um hospital geral universitário. Objetivos

Secundários:a) Descrever o perfil dos enfermeiros e supervisores do serviço de enfermagem;

b) Compreender a prática da supervisão de enfermagem;

c) Identificar as finalidades da supervisão de enfermagem;

d) Conhecer métodos e técnicas utilizados pelo supervisor para o trabalho.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

Protocolo de pesquisa com baixo potencial de riscos que podem ser superados pelos benefícios. Os resultados estarão

contribuindo com informações importantes para realizar um diagnóstico da supervisão em enfermagem com objetivo de

desenvolver um modelo para uma prática sistematizada que contribuirá para qualificar o trabalho da enfermagem.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Trata-se de um protocolo de pesquisa de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de

Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas.

Protocolo de pesquisa bem redigido explicitando claramente os objetivos, a metodologia que será usada e a análise dos

dados.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

Os seguintes documentos foram apresentados: folha de rosto assinada pelo superintendente do Hospital das

Clínicas/Unicamp, informações básicas sobre o projeto (Plataforma Brasil), protocolo de pesquisa completo, Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorização para a realização da pesquisa assinada pelo superintendente do

Hospital das Clínicas/Unicamp e autorização para realização da pesquisa da diretora do departamento de enfermagem

do Hospital das Clínica/Unicamp.

Endereço: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126

Bairro: Barão Geraldo CEP: 13.083-887

UF: SP Município: CAMPINAS

Telefone: (19)3521-8936 Fax: (19)3521-7187 E-mail: [email protected]

PtafcOpOffTtp

~ ctrB

Página 02 de 04

Page 189: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/333352/1/... · 2019. 3. 1. · TA Teorias Administrativas . TCLE Termo de Consentimento

188

COMITÊ DE ÉTICA EM

PESQUISA DA UNICAMP -

CAMPUS CAMPINAS

Continuação do Parecer: 887.936

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

Não possui pendências.

Situação do Parecer:

Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:

Não

Considerações Finais a critério do CEP:

- O sujeito de pesquisa deve receber uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, na íntegra, por ele

assinado.

- O sujeito da pesquisa tem a liberdade de recusar-se a participar ou de retirar seu consentimento em qualquer fase da

pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado.

- O pesquisador deve desenvolver a pesquisa conforme delineada no protocolo aprovado. Se o pesquisador considerar

a descontinuação do estudo, esta deve ser justificada e somente ser realizada após análise das razões da

descontinuidade pelo CEP que o aprovou. O pesquisador deve aguardar o parecer do CEP quanto à descontinuação,

exceto quando perceber risco ou dano não previsto ao sujeito participante ou quando constatar a superioridade de uma

estratégia diagnóstica ou terapêutica oferecida a um dos grupos da pesquisa, isto é, somente em caso de necessidade

de ação imediata com intuito de proteger os participantes.

- O CEP deve ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que alterem o curso normal do estudo. É

papel do pesquisador assegurar medidas imediatas adequadas frente a evento adverso grave ocorrido (mesmo que

tenha sido em outro centro) e enviar notificação ao CEP e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA - junto

com seu posicionamento.

- Eventuais modificações ou emendas ao protocolo devem ser apresentadas ao CEP de forma clara e sucinta,

identificando a parte do protocolo a ser modificada e suas justificativas. Em caso de projetos do Grupo I ou II

apresentados anteriormente à ANVISA, o pesquisador ou patrocinador deve enviá-las também à mesma, junto com o

parecer aprovatório do CEP, para serem juntadas ao protocolo inicial.

Endereço: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126

Bairro: Barão Geraldo CEP: 13.083-887

UF: SP Município: CAMPINAS

Telefone: (19)3521-8936 Fax: (19)3521-7187 E-mail: [email protected]

PtofcOpOffTtp

~ ctrB

Página 03 de 04