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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA – UNEB
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS – SEMARH
CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS – CRA NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO MEIO AMBIENTE
NEAMA SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL –
SENAI
ANTONIO LUIZ ARCA SEDA E JOSÉ HENRIQUE DOS SANTOS JÚNIOR
ATERRO SANITÁRIO SIMPLIFICADO: PROPOSTA DE ADAPTAÇÕES DO MODELO DA CONDER, PARA OS
MUNICÍPIOS DE ALCOBAÇA E CARAVELAS/BA.
Salvador - Bahia 2004
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ANTONIO LUIZ ARCA SEDA
JOSÉ HENRIQUE DOS SANTOS JÚNIOR
ATERRO SANITÁRIO SIMPLIFICADO: PROPOSTA DE ADAPTAÇÕES DO MODELO DA CONDER, PARA OS
MUNICÍPIOS DE ALCOBAÇA E CARAVELAS/BA.
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão Ambiental Municipal da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, como requisito para a obtenção do Grau de Especialista.
Orientadora: Prof. Msc Rita de Cássia Góes Cardoso.
Salvador - Bahia 2004
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A nossos familiares, que relevaram pacientemente mais esta etapa de nossas vidas. Em especial, a nossas esposas, Ana Lúcia e Andréa Muraro e a nossos filhos, Joana, Thiago e Sophia; e a Andressa e Vanessa.
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AGRADECIMENTOS
À DEUS, essência das nossas vidas.
Aos familiares pelo apoio a nós dedicado.
Às nossas esposas, Ana Lúcia e Andréa Muraro que, incondicionalmente
nos encorajaram a enfrentar mais um desafio em nossas vidas.
À nossa orientadora Msc. Rita de Cássia Góes Cardoso que durante esse
trabalho foi solícita e prestativa com sua bagagem intelectual, dando-nos
as devidas orientações pra a concretização deste trabalho.
À amiga Profª Maria da Cruz, uma das responsáveis pela municipalização
da gestão ambiental, razão do nosso curso.
Às Prefeituras Municipais de Alcobaça e Caravelas nas pessoas dos
Ilustríssimos Secretários de Administração, o Sr. José Crispim Dias de
Almeida e a Sra. Eliane Anne Gonçalves de Oliveira Ferraz,
respectivamente.
Aos funcionários do NEAMA, pelo acolhimento carinhoso que nos
dispensaram.
Aos colegas do Curso pelo convívio e troca de experiências.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho como Marcus Vianna Soares, Anilda Souza e Elna Cândida .
A todos vocês, O NOSSO SINCERO MUITO OBRIGADO!!!
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“A decisão de proteger os ambientes naturais e controlar a poluição não está apenas nas mãos dos políticos e das grandes indústrias”. Está também na rotina diária de cada cidadão comum do planeta ...”
SOS Planeta Terra
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RESUMO
A disposição final adequada dos resíduos sólidos consiste em um dos maiores problemas urbanos da atualidade, agravado pelo crescimento populacional e pelo incremento de produção de lixo per capta. O gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos (GIRSU) tem como objetivos a redução da quantidade gerada, a reutilização ou reciclagem com inserção sócio - econômica e a disposição dos resíduos finais em locais apropriados, como aterros sanitários que podem restringir, quando bem localizados e operados, os impactos sócio – ambientais das cidades que se utilizam desta tecnologia. Nesse contexto, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) apresentou um modelo de aterro sanitário simplificado para ser implantado em pequenos municípios do Estado entre eles Alcobaça e Caravelas. O presente trabalho fundamenta também os estudos dos modelos de aterros simplificados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) e do Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB), além de utilizar outras fontes bibliográficas (Estudo de impacto ambiental, por exemplo) e entrevistas com a população e técnicos locais. O resultado referendado por estes estudos constitui de um conjunto de críticas e recomendações baseadas nos aspectos construtivos, ambientais, operacionais e sociais, entre outros, adaptados ao modelo da CONDER nos municípios de Alcobaça e Caravelas, objetos desta pesquisa. Palavras – chave: Resíduos Sólidos, Gerenciamento Integrado de
Resíduos, Reciclagem, Aterros Sanitários, Impactos Sócio – ambientais.
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LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIAÇÕES
% – Percentagem
> – Maior (símbolo matemático)
< – Menor ou Igual (símbolo matemático)
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
APA – Área de Proteção Ambiental
APP – Área de Preservação Permanente
ASPE – Área Sob Proteção Especial
BVQI – Bureau Veritas Quality International
CEMPRE – Centro Empresarial para Reciclagem
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CH4- – Metano (gás)
CI – Conservação Internacional do Brasil
cm – Centímetro (unidade de comprimento)
CO2 – Dióxido de Carbono (gás)
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa de Meio Ambiente
CONDER – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
CRA – Centro de Recursos Ambientais / BA
DAC – Departamento de Aviação Civil
DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
DQO – Demanda Química de Oxigênio
EIA – Estudo Prévio de Impacto Ambiental
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EMBASA – Empresa Baiana de Água e Saneamento
EPI – Equipamento de Proteção Individual
FAB – Força Aérea Brasileira
FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler
GIRSU – Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos Urbanos
ha – Hectare (unidade de área)
hab – Habitante
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBJ – Instituto Baleia Jubarte
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
k – Coeficiente de Permeabilidade
kg – Quilograma (unidade de massa)
km – Quilômetro (unidade de comprimento)
km² – Quilômetro Quadrado (unidade de área)
m – Metro (unidade de comprimento)
m² – Metro Quadrado (unidade de área)
m³ – Metro Cúbico (unidade de volume)
mm – Milímetro (unidade de comprimento)
N – Nitrogênio (gás)
nº – Número
NBR – Norma Brasileira
º – Grau (unidade angular)
O2 – Oxigênio (gás)
ºC – Grau Celsius (unidade de temperatura)
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ONG – Organização Não Governamental
PARNAM – Parque Nacional Marinho
PEAD – Polipropileno de Alta Densidade
PET – Politereftalato de Estileno
pH – Potencial Hidrogeniônico (unidade de acidez)
PN – Projeto de Norma
PRAD – Plano de Recuperação de Área Degradada
PROBIO – Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade
Brasileira
PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico
PVC – Cloreto de Polivinil
R$ – Real (unidade monetária brasileira)
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
RPPN – Reserva Particular de Patrimônio Natural
RSS – Resíduos dos Serviços de Saúde
RSU – Resíduos Sólidos Urbanos
s – Segundo (unidade de tempo)
SIG – Sistema de Informação Geográfico
t – Tonelada (unidade de massa)
TECOTAF – Termo de Cooperação Técnica Administrativa e Financeira
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LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 – Comparação entre modelos de Aterros Sanitários 76 Quadro 2.1 - Comparação entre modelos de Aterros Sanitários - continuação 77
Quadro 3.1 – Distância dos Distritos à sede de Alcobaça 99
Quadro 3.2 – Distância dos Distritos à sede de Caravelas 111
Quadro 4.1 – Situação da Coleta e disposição dos resíduos sólidos no município de Alcobaça 116
Quadro 4.2 - Situação da Coleta e disposição dos resíduos
sólidos no município de Caravelas 117
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Região do Extremo Sul da Bahia
Figura 2 – Região de Alcobaça, Caravelas e Nova Viçosa
Figura 3 – Invasão da ASPE
Figura 4 – Atual Área do Lixão de Alcobaça – sede
Figura 5 – Entrega de contentores plásticos para disposição de RSU
Figura 6 – Área do Antigo Lixão de Caravelas – sede
Figura 7 – Antiga Área do Lixão – Distrito Barra de Caravelas
Figura 8 – Cerca Viva e Guarita do Aterro Simplificado de Caravelas
Figura 9 – Construção de Diques sobre camada de areia no fundo da vala aberta anteriormente – Aterro
Simplificado de Alcobaça
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
1 MARCO CONCEITUAL 21
1.1 Alternativas de Aterros Sanitários para pequenos
Municípios 23
1.2 Concepção de Projeto Simplificado 25
1.2.1 Estudos Preliminares 25
1.3 Variação Tecnológica 27
1.3.1 Escolha da Área 27
1.3.2 Aspectos Construtivos 28
1.3.3 Plano de monitoramento 31
1.4 Tecnologia de Tratamento e Disposição Final de Resíduos
Sólidos Urbanos para Pequenos Municípios 33
1.4.1 Simplificado (modelo CONDER) 33
1.4.2 Valas (modelo CETESB) 44
1.4.3 Aterro Sustentável (modelo PROSAB) 53
2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MODELOS DA CONDER,
CETESB E PROSAB 67
3 EXTREMO SUL DA BAHIA: CARACTERÍSTICAS GERAIS 78 3.1 Localização, limites da região 78
3.1.1 Clima / meteorologia 78
3.1.2 Geomorfologia 80
3.1.3 Geologia 81
3.1.4 Geologia das águas subterrâneas 83
12
3.1.5 Bacias hidrográficas 85
3.1.6 Qualidade das águas subterrâneas 86
3.2 Caracterização do meio biótico 88
3.2.1 Ecossistemas predominantes 90
3.2.2 Flora ameaçada 91
3.2.3 Unidades de conservação 93
3.3 Aspectos sócio – econômicos 93
3.3.1 Contexto sócio – econômico 93
3.4 Breve Histórico: Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos 96
3.4.1 Alcobaça 96
3.4.2 Caravelas 99
4 SISTEMA DE DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NOS MUNICÍPIOS DE ALCOBAÇA E CARAVELAS 112 4.1 Atual Área De Disposição Final 113
4.2 Proposta (Aterro Simplificado) 118
4.3 Processo de Licenciamento Ambiental 120
5 CRÍTICAS E RECOMENDAÇÕES 125 REFERÊNCIAS ANEXO A - MAPAS
Mapa 1 – Político e Administrativo do Extremo Sul da Bahia Mapa 2 – Precipitação Média Anual
Mapa 3 – Áreas de Preservação Ambiental
ANEXO B – DOCUMENTOS
Documento 1 – Licença Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Alcobaça para o aterro sanitário
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(Portaria 1700 / 03 de 25/11/2003) Documento 1.1 –
Licença Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Alcobaça para o aterro sanitário - verso
(Portaria 1700 / 03 de 25/11/2003)
Documento 2 – Licença Ambiental da Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas para o aterro sanitário (Portaria 130 / 03 de 01/09/2003)
Documento 3 – Licença Ambiental da Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas para o aterro sanitário (Portaria 031 / 04 de 18/03/2004)
Documento 3.1 –
Licença Ambiental da Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas para o aterro sanitário - verso (Portaria 130 / 03 de 01/09/2003)
ANEXO C – FIGURAS
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INTRODUÇÃO
A Produção de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) vem, desde o
surgimento da raça humana, através dos povos de características nômades
que produziam os seus resíduos através de suas atividades cotidianas
limitadas à sua sobrevivência. Nessa época, com impactos ambientais eram
insignificantes, pois a população era muito reduzida e os resíduos
essencialmente biodegradáveis ou inertes (ex. matéria orgânica, vidros e
cerâmicas) (CARDOSO,1998).
A Revolução Agrícola ocorrida há 8,0 a 10,0 mil anos atrás resultou na
fixação do homem no campo surgindo aí as aldeias, vilas e posteriormente as
cidades. Durante este período, as características físico-químicas dos resíduos
sólidos não se modificaram, alterando-se apenas sob o aspecto quantitativo
(CARDOSO,1998).
No final da Idade Média (476-1453) deu-se o início a Revolução
Comercial na Europa, onde grandes transformações sociais, políticas,
religiosas e econômicas foram verificadas, tendo como conseqüência, a
procura de novos mercados consumidores e fornecedores, principalmente de
produtos agrícolas, metais preciosos e especiarias. Estimula-se esse momento
(1453 – 1789) a expansão comercial marítima européia que foi fator decisivo
para o processo de colonização por parte das potências européias da época.
Em decorrência deste movimento expansionista verifica-se o aumento da
população mundial e conseqüentemente dos resíduos urbanos gerados
(DARÓS; CARDOSO, 1986, 1998).
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A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra em 1760, na Europa e
E.U.A. promoveu descobertas tecnológicas significativas que resultaram no
surgimento de novos produtos, em quantidade maior, aumentando a geração
de emprego provocando a migração do homem do campo a migração do
homem do campo para as cidades. Como conseqüência, a população cresceu
desordenada, sem qualquer planejamento, gerando problemas de ordem
social, econômica, saneamento básico e saúde pública. As cidades não
dispunham de estrutura para o adequado recolhimento dos resíduos urbanos e
destinação final, permitindo a proliferação de epidemias (varíola, peste
bubônica) que mataram milhões de pessoas. Foram adotadas as práticas de
queima e aterramento de resíduos que não resolveram o problema devido
grande acúmulo destes resíduos e a enorme quantidade de roedores e insetos
no local da disposição (LIMA, 1991).
No Brasil, entre os séculos XVIII e início do século XX, foram
estabelecidas determinadas áreas ao longo da cidade para a disposição dos
resíduos através de decretos estaduais e municipais. Estes locais eram
geralmente de baixo valor imobiliário (depressões, encostas, vales,
manguezais). Na Bahia, alguns registros históricos relatam várias ocorrências
de deslizamento de pontos de encostas nas cidades que tiveram como causa o
lançamento inadequado de “lixo” urbano, causando prejuízos materiais e
mortes (CARDOSO, 1998).
A partir do século XX, os resíduos urbanos sofrem grandes
transformações na sua composição química. Neste período, surge uma grande
quantidade de pesticidas, herbicidas, fungicidas e outros defensivos usados na
agricultura que contaminaram corpos d’água, águas subterrâneas, solo/subsolo
16
e o próprio homem. Outros tantos surgiram para fins bélicos que foram usados
durante a II Guerra Mundial. O setor petroquímico se desenvolve em escala
industrial, surgindo diversos compostos e entre eles, “o plástico”
(CARDOSO,1998).
É indiscutível a importância que estes compostos complexos exercem na
nossa vida, melhorando o nosso bem estar, porém a natureza não dispõe de
mecanismos capazes de reincorporá-los nos diversos ciclos naturais, repondo
o equilíbrio ambiental (CARDOSO; SCHNEIDER, 1998, 2001). Como resultado,
são acumulados resíduos perigosos (químicos, biológicos, radioativos), com
distintos graus de periculosidade, ocasionando o seu lançamento no ambiente
ou no surgimento de seus depósitos de forma inadequada, pondo em risco à
saúde humana (CARDOSO, 1998).
No século XXI, o volume crescente de resíduos sólidos urbanos
acontece em decorrência do modelo capitalista que induz à elevação do padrão
de consumo de maneira exacerbada, tendo como conseqüência direta o
desperdício, intensificando assim, a geração de resíduos e aumentando os
impactos ambientais na destinação final, que é feita na maioria das cidades
baianas em áreas a céu aberto (CARDOSO,1998).
A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia -
CONDER preocupada com esta problemática, apresentou, como solução, um
modelo de aterro Sanitário Simplificado para pequenos municípios, baseado no
baixo custo; na quantidade de resíduos gerados; no número de habitantes e
nos aspectos sanitários e ambientais aceitáveis (BAHIA, 2002a).
Destacamos, no Extremo Sul, os municipais de Alcobaça e Caravelas,
que foram contemplados por este novo modelo de aterro Sanitário. Estes
17
municípios são abastecidos das águas subterrâneas dos Aqüíferos Caravelas e
Sedimentar de Deposito Quaternário existindo uma preocupação com a
contaminação destes mananciais, devido a implantação desta alternativa
tecnológica (BAHIA, 1997a).
Outras propostas de aterros Sanitários foram apresentadas como
alternativas neste trabalho para atender a disposição adequada dos RSU para
pequenos municípios, como os modelos da Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental - CETESB e do Programa de Pesquisa em
Saneamento Básico - PROSAB – Edital 3.
As variações tecnológicas que diferem estes modelos podem ser
alternativas de ajustes da proposta simplificada da CONDER, para as
condições específicas dos municipais de Alcobaça e Caravelas, com objetivo
de minimizar os riscos de contaminação dos recursos hídricos locais.
Tendo em vista as considerações acima discutidas, o objetivo deste
trabalho é de analisar criticamente a adequação do modelo de aterro Sanitário
Simplificado proposto pela CONDER, ajustando-o de acordo com algumas
propostas técnicas e operacionais dos modelos de aterros da CETESB e
PROSAB, para os municípios, objeto desta pesquisa.
Para atingir o objetivo formulado neste trabalho, o mesmo foi conduzido
em etapas, conforme descrito a seguir:
SELEÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE DISPOSIÇÃO FINAL PARA
MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE. O modelo simplificado da CONDER foi
selecionado, pois o mesmo está sendo implantado nos municípios de Alcobaça
e Caravelas. O modelo de CETESB foi elencado pela simplicidade de
implantação e operação, sendo muito utilizado em pequenos municípios no
18
Estado de São Paulo. O modelo do PROSAB foi escolhido por se tratar de uma
proposta conduzida por um grupo de pesquisadores que têm como objetivo
buscar a melhor adequação ambiental de aterros sanitários para pequenos
municípios.
FONTES, COLETA E ANÁLISE DE DADOS. Os dados empregados
neste trabalho são secundários, obtidos por meio de análise dos projetos de
aterro para os municípios de pequeno porte, e de materiais bibliográficos
adquiridos de órgãos estaduais. Complementou-se com entrevistas abertas,
não estruturadas, realizadas com antigos moradores dos municípios em foco,
com responsáveis técnicos da CONDER (autores do modelo de Aterro
Sanitário Simplificado) e nas prefeituras locais. Alguns dados foram obtidos por
documentação fotográfica, análise de documentações técnicas (EIA-RIMA da
HIGESA e outros) e de mapas (geológico, hidrológico, solos, vegetais, divisão
política-administrativa e outros).
Os dados obtidos foram analisados de maneira qualitativa e comparativa
entre as três alternativas tecnológicas de disposição final para municipais de
pequeno porte, sugerindo alterações técnicas e operacionais mais adequadas
às condições locais.
ÁREA DE ESTUDO E DURAÇÃO. Para área de estudo foram
escolhidos Alcobaça e Caravelas, pois estes municípios foram contemplados
pelo Governo do Estado da Bahia, através do CONDER, que está implantando
unidades do aterro Sanitário Simplificado, nestas localidades. O período de
coleta de dados de campo foi de 60 dias e 30 dias de pesquisa bibliográfica.
Durante o workshop que aconteceu em 29 de novembro de 2003, sobre
gestão de limpeza urbana em pequenos municípios, com foco no Aterro
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Simplificado, sediado e ministrado pela CONDER, para capacitar os técnicos
dos municípios mencionados, onde foram observados que alguns aspectos
técnico-operacionais não estariam de acordo com as condições ambientais de
suas localidades. Agregando a estes fatos, a participação dos autores deste
trabalho no I° Curso de Pós-graduação em Gestão Ambiental Municipal
consolidou o desejo e execução deste trabalho.
Este trabalho está constituído em capítulos descritos a seguir:
1 MARCO CONCEITUAL - Este capítulo relata as alternativas de
modelos de aterros sanitários para pequenos municípios (modelos da
CONDER, CETESB e PROSAB), ressaltando os aspectos de escolha de área
(levantamentos geológicos, pedológicos e uso das águas), aspectos
construtivos (dimensionamento do aterro, sistema de drenagem, sistema de
gás, impermeabilização e outros), medidas operacionais, monitoramento e
análise de custos, fazendo uma análise comparativa entre os mesmos.
2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MODELOS DA CONDER,
CETESB E PROSAB - Neste capítulo compara-se os modelos de aterros
sanitários simplificados da CONDER, CETESB e PROSAB, levando em
consideração critérios operacionais, construtivos, ambientais e sociais como:
aquisição e escolha de área; vida útil; cobertura dos resíduos; sistemas de
drenagem; educação ambiental; plano de monitoramento; estrutura de apoio;
valas de resíduos de serviços de saúde; entre outros.
3 EXTREMO SUL DA BAHIA: CARACTERÍSTICAS GERAIS - Neste
capítulo, ressaltam-se a localização e limites da região especificando os
aspectos: climáticos; geomorfológicos; geológicos; das bacias hidrográficas e
da qualidade das águas subterrâneas. O meio biótico está caracterizado
20
através dos ecossistemas predominantes, da flora ameaçada, das unidades de
conservação e dos aspectos sócio-econômicos da região.
Descreve ainda a história dos surgimentos dos municípios de Alcobaça e
Caravelas retratando a forma da disposição dos resíduos urbanos produzidos
até os dias atuais.
4 SISTEMA DE DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS NOS MUNICÍPIOS DE ALCOBAÇA E CARAVELAS - Este capitulo
descreve a atual área de disposição final dos resíduos sólidos destes
municípios assim como a proposta de aterro sanitário feita pela CONDER e o
procedimento do licenciamento ambiental nestes locais.
5 CRÍTICAS E RECOMENDAÇÕES - Neste capitulo, descrevem-se
críticas do modelo de aterro sanitário da CONDER nos aspectos construtivos,
ambientais, operacionais, monitoramento e outros, além do processo de
licenciamento ambiental. Recomendando ainda, alterações, adaptando-as aos
aterros dos municípios de Alcobaça e Caravelas, baseadas nas características
e/ou técnicas indicadas pelos modelos da PROSAB e CETESB, que podem
maximizar o modelo proposto.
21
1 MARCO CONCEITUAL
No Brasil, 4.026 municípios têm população menor ou igual a 20.000
habitantes, correspondendo a 73,1% do total brasileiro, e que, 68,5% dos
resíduos gerados nestes, são vazados em lixões e em áreas alagadiças (IBGE,
2002). Estes municípios, na sua grande maioria, apresentam problemas
comuns ressaltando-se, dentre outros, a questão de serem muito pobres com
baixa geração de recursos, para atender às condições básicas de saúde dos
seus concidadãos, tanto do saneamento básico, quanto da Gestão Integrado
dos Resíduos Sólido Urbanos. De acordo com IPT/CEMPRE (2000), estes são
dois grandes desafios que se impõem para municípios na faixa populacional de
20.000 habitantes. Conforme BAHIA (1997d, 2003), Alcobaça e Caravelas
possuem 22.355 e 20.481 habitantes respectivamente, portanto incluídos neste
contexto. Diante da impossibilidade do atendimento destas premissas básicas
pela grande maioria dos municípios, o Estado é o responsável em criar as
condições mínimas necessárias para que os danos à saúde pública e ao meio
ambiente sejam sanados, com reflexo na melhoria da qualidade de vida destas
comunidades.
A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia - CONDER, o
Programa de Pesquisa em Saneamento Básico – PROSAB – Edital 03, a
Companhia de Tecnologia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo -
CETESB apresentaram alternativas de soluções tecnológicas, com bases
científicas, para a disposição final sustentável dos RSU. Estas alternativas de
solução para os RSU se propõem a serem adaptáveis às condições específicas
de cada localidade, com simplicidade operacional e integrada,
22
simultaneamente, às demais etapas do Gerenciamento Integrado dos RSU
(GIRSU).
Esta proposta alternativa pode atender a pequenos municípios, que têm
como características comuns, a baixa disponibilidade de recursos financeiros e
deficiência no quadro de técnicos habilitados efetivos. Segundo Castilhos
Junior e outros (2003), o treinamento e a capacitação dos profissionais
envolvidos na operação é de fundamental importância, para bom andamento
dos trabalhos desenvolvidos. O manejo adequado dos aterros propostos, se
executados criteriosamente os procedimentos técnicos recomendados,
diminuem os riscos à saúde humana e de contaminações do meio ambiente
CETESB (1997). Os riscos mais evidenciados nestes projetos são,
principalmente, com relação aos recursos hídricos, pela sua imprescindibilidade
à vida e a disponibilidade finita, com previsões pouco otimistas para o futuro
deste bem renovável (IPT/CEMPRE, 2000).
O monitoramento, conforme CETESB (1997), é o acompanhamento da
evolução de um processo passível de alterações corretivas, diante dos
subsídios obtidos pelas avaliações constantes da influência do aterro sobre o
ambiente local.
O envolvimento na gestão dos RSU pelas comunidades locais deve ser
estimulado, para que possam interferir positivamente no processo,
possibilitando a não geração, a reutilização, os aumentos do volume de
material segregado na fonte implementando a reciclagem, assim contribuindo
efetivamente para o equacionamento dos RSU:
23
Para que isto ocorra, entretanto, é necessário que haja um relacionamento estreito entre o órgão responsável pelos serviços e a população, o que pode ser conseguido através de canais de comunicação permanentemente abertos,...[...]... são também importantes as campanhas de sensibilização da sociedade para estas questões,...”. (IBGE, 2002, p. 62).
A educação ambiental contínua tem valor preponderante para efetivar as
propostas de equacionamento dos RSU, principalmente, em pequenos núcleos
urbanos.
Para a implantação e operação dos modelos simplificados de aterros
sanitários é necessária a elaboração de projetos aonde são previstos estudos
técnicos, com os levantamentos básicos preliminares e seleção de área,
conforme Castilhos Junior e outros (2003), que acompanham o
empreendimento durante todas as suas etapas, até o encerramento das
atividades, como descritas a seguir:
1.1 Alternativas de Modelos de Aterros Sanitários para pequenos
municípios
Os modelos de aterros sanitários alternativos para pequenos municípios
devem manter os aspectos sanitários e segurança ambiental dos aterros
convencionais, de acordo com as normas técnicas e leis pertinentes, porém,
devendo ser um sistema de baixo custo de implantação e operação (BAHIA,
2002a).
Este equipamento vem sendo adotado em outros países da América
Latina como a Colômbia, Cuba e o Peru (BAHIA, 2002a). A Resolução
CONAMA n°. 308/02, foi uma resposta a esta problemática no nosso país,
24
demonstrando o interesse do Ministério do Meio Ambiente, que legalmente
viabiliza o licenciamento de unidades de disposição com estas características,
para municípios com população de até 30.000 habitantes (BRASIL, 2002).
Os modelos alternativos consistem na aplicação do método da trincheira,
conforme IPT/CEMPRE (2000), escavando-se, com retroescavadeiras, valas
ou trincheiras feitas em solo argiloso, para dispor os RSU, que podem ser
espalhados manualmente com ferramentas e posteriormente aterrados. As
valas têm pequenas dimensões e configurações apropriadas, sob condições
especiais de solo, para a construção de aterros sanitários. O solo retirado nas
escavações deverá ser reservado para as coberturas intermediárias (final da
jornada diária de trabalho) e a cobertura final, no encerramento da vala. Esta
técnica pode ser aplicada a terrenos planos ou com baixa declividade,
(CASTILHOS JUNIOR e outros, 2003).
Os aterros alternativos sugeridos pela CETESB, PROSAB E CONDER,
apresentam as seguintes limitações: implantação em relação às possibilidades
locais de escavação; regiões onde o lençol freático está muito próximo da
superfície ou nos terrenos rochosos; a distância da jazida para operações do
aterro e a população de até 20.000 habitantes ou a quantidade gerada de até
20,0 t/dia de resíduos.
25
1.2 Concepção de projeto de Aterros Sanitários para pequenos
municípios
1.2.1 Estudos Preliminares
Para a implantação e operação de aterros sanitários são previstos
estudos técnicos que vão desde o levantamento básico até a elaboração do
projeto, sendo recomendados, indiferentemente, do porte do empreendimento
(LIMA,1991).
A escolha da área é primordial para a viabilização do projeto nos
aspectos técnicos, socio-econômicos e ambientais, com base nos estudos
preliminares; na caracterização específica de cada comunidade; e no
diagnóstico da gestão integrada dos RSU. Os dados sobre os resíduos gerados
são a base de cálculos para determinação das dimensões da área a ser
adquirida, além da vida útil que se deseja dar ao aterro (mínimo de 5,0 anos).
Sugere-se também que se deva reservar uma área do mesmo tamanho, para
futuras expansões ou para construções com fins sociais e educacionais
(FEPAM, 2003).
Nestes estudos preliminares leva-se em consideração:
LEVANTAMENTOS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS, USO DA ÁGUA
E DO SOLO. Para escolha da área, Castilhos Junior e outros (2003),
recomendam também, que pode ser usado o Sistema de Informações
Geográficas (SIG), com base em análise de dados, permitindo a otimização do
tempo com credibilidade e transparência, garantindo as condições de suporte
ambiental, para a disposição dos RSU e aplicando de forma adequada os
26
recursos públicos. Os critérios técnicos preliminares em uso pela FEPAM
(2003), baseado neste sistema, para escolha de área, são:
• Se possível, inicialmente, seleciona-se as áreas com base em
fotografias aéreas e cartas topográficas;
• Estar de acordo com a legislação de proteção dos recursos hídricos,
de preservação da flora e fauna e a legislação do uso do solo
vigente.
• A área estar a mais de 200,0 metros (m) de recursos hídricos,
medida horizontalmente a partir da cota máxima de inundação.
• O nível do lençol freático deve estar no mínimo a 2,0 m da base da
vala.
• A distância de núcleos habitados deve estar entre 2.0 e 15,0
quilômetros (Km).
• Os ventos predominantes não soprarem em direção a núcleos
residenciais.
• Manter distância mínima de 20,0 m a partir da fixa de domínio de
rodovias, estradas ou caminhos e de 10,0 m das divisas com
propriedades vizinhas.
• A área não deve estar sujeita a inundações, desmoronamento ou
fenômenos similares.
• A declividade deve situar-se entre 2% e 20%.
• O solo local pode ser material adequado e suficiente para cobrir os
RSU ou jazidas próximas, ambas deverão estar licenciadas.
• Vida útil de no mínimo 10 anos, para o aterro.
27
• A área deve permitir a operação e o acesso mesmo em época de
chuva.
• Dispor de área para ampliação.
• A área deve situar-se a no mínimo a 100,0 m da borda de patamar ou
de linha de ruptura de relevo nas regiões serranas.
A FEPAM (2003) recomenda ainda que priorizem, de acordo com
realidade de cada município, os aspectos mais significativos, atribuindo valores
a estes critérios acima descritos, visando adequar ambientalmente a escolha
da área, com resultado adaptado às necessidades locais.
1.3 Variação Tecnológica
1.3.1 Escolha da área
A escolha da área representa a etapa mais importante do GIRSU, pela
proteção ambiental e pela redução significativa de custos operacionais
envolvidos, para permitir a viabilização técnica da implantação e operação do
aterro (GUIMARÃES, 2000).
Por ocasião da escolha da área para a implantação deste modelo
alternativo, recomenda-se que o solo tenha baixa permeabilidade, em torno de
K= 10-7 cm/s (centímetros por segundo), como depósito de argilas, siltes e suas
misturas, baixa declividade, próximo a 10% de declividade, além das
exigências legais comuns aos aterros convencionais (CETESB, 1997).
28
1.3.2 Aspectos construtivos
As propostas, para municípios de pequeno porte, têm como premissas: a
simplicidade, o baixo custo de implantação e de operação. Para tanto, algumas
variações tecnológicas não aplicadas aos aterros convencionais foram
introduzidas, pela CONDER, CETESB e PROSAB em função das pequenas
dimensões das valas ou trincheiras e do baixo volume de resíduos aterrados.
Desta forma, alguns elementos assumem importância nestes modelos, com a
função de baixar os custos referentes à impermeabilização das valas e a
implantação/operação de sistema de tratamento de líquidos lixiviados, que são
implementadas sob condições especiais de solo. Outras variações como a
eliminação da balança para pesagem dos caminhões da coleta e a utilização
de máquinas leves são previstas nestas propostas. Os modelos têm diferenças
entre si e os elementos básicos referendados por estas entidades, são
descritos a seguir:
SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL - o Sistema de Drenagem de
Águas Pluviais, como mencionado por Guimarães (2000), tem a função de
evitar a entrada de água do escoamento superficial, para o interior das
trincheiras, que é primordial, nestes modelos alternativos, minimizando o
volume de líquidos lixiviados, além de evitar os efeitos danosos das águas
sobre as estruturas do aterro (formação de poças; erosão do solo; impedir o
transporte indevido do solo da escavação, que será utilizado no fechamento
das valas). Com este objetivo são construídos drenos localizados próximos aos
taludes, nas curvas de níveis, e próximas ao acumulo de solo da escavação da
29
vala. A quantidade de drenos depende da área de contribuição (quanto maior o
volume, maior número de canaletas escavadas). Estes podem ser de:
• Drenagem Definitiva - quando permanecem ativos mesmo após o
encerramento das atividades do aterro, portanto necessitam de aplicação
de material de revestimento e técnicas especiais;
• Drenagem Provisória - quando são destruídos e construídos pela própria
evolução do aterro, refeitos sempre que necessário (IPT/CEMRE 2000).
Com base no levantamento topográfico e climatológico, conforme
Castilhos Junior e outros (2003), é definido e dimensionado esse sistema,
através da construção de canaletas que são abertas manualmente, na direção
preferencial do fluxo de escoamento superficial.
SISTEMA DE DRENAGEM E TRATAMENTO DE EFLUENTES
LÍQUIDOS (LIXIVIADOS). Os líquidos lixiviados são formados a partir da
degradação do RSU no sistema, e das águas das chuvas que incidem
diretamente sobre as trincheiras. Estes líquidos devem ser removidos do
sistema de disposição e tratados, citando-se dentre outras tecnologias: lagoas
de estabilização; filtros biológicos e recirculação que é operada percolando os
lixiviados através da massa dos resíduos aterrados (LIMA, 1991).
Para a remoção desses líquidos, conforme IPT/CEMPRE (2000), são
necessárias as seguintes medidas:
• as valas ou trincheira sejam projetadas com declividade interna, para um
dos lados e escavadas diretamente no solo ou na camada
impermeabilizante do fundo destas;
• que sejam construídos drenos distribuídos nessa superfície e cobertos com
material drenante (pedra britada). Estes drenos devem ser interligados para
30
um ponto de convergência, permitindo o fluxo dos lixiviados para um local
de menor cota (ponto mais baixo do aterro). Assim, os lixiviados ficarão
armazenados para posterior remoção e/ou tratamento na própria vala. Em
condições especiais de clima e solo pode ser dispensado este sistema
(CASTILHOS JUNIOR e outros, 2003).
IMPERMEABILIZAÇÃO. Na impermeabilização das laterais e fundo das
valas, conforme IPT/CEMPRE (2000), podem ser utilizadas camadas de solos
argilosos compactados (com 0,6m de espessura), denominada manta mineral e
geomembanas ou membranas sintéticas (Polipropileno de Alta Densidade –
PEAD ou Cloreto de Polivinil – PVC). Independentemente do material
empregado, o Sistema de Impermeabilização deverá apresentar resistência
mecânica e química a eventuais agressões:
• dos materiais aterrados, dos líquidos e gases gerados, durante um
espaço de tempo (longevidade);
• dos processos naturais de estabilização dos resíduos, não permitindo
a passagem de líquidos para o solo (estanqueidade).
A manta mineral, conforme Castilhos Junior e outros (2003), pode ser
indicada como revestimento das trincheiras de RSU, para municípios de
pequeno porte, quando o levantamento geotécnico obtenha dados confiáveis
em relação à geologia local. Castilhos Junior e outros (2003), justificam ainda
o uso da manta mineral, desde que, observada à distância mínima de 2,0 m do
fundo da vala até o lençol freático e sua correta implantação.
31
1.3.3 Plano de Monitoramento
A elaboração e a execução de um plano de monitoramento de um aterro
sanitário está prevista no GIRSU, como comentado por Castilhos Junior e
outros (2003), com abrangência nas etapas de implantação, operação e pós-
encerramento do projeto. O plano de monitoramento é um conjunto de medidas
adotadas para avaliar a eficiência real dos sistemas de proteção ambiental,
assegurando que aquelas sejam suficientes para manter as emissões sob
controle, ao longo do tempo. Estas medidas devem promover, possíveis
alterações corretivas durante todo o período de duração do processo, com os
dados obtidos pelas avaliações constantes da influência do aterro sobre o
ambiente local.
O MONITORAMENTO DURANTE A FASE DE IMPLANTAÇÃO - são
utilizados 2 métodos para análise dos recursos hídricos subterrâneos
(CETESB, 1997):
• Nos métodos diretos são perfurados poços em pontos estratégicos do
terreno visando cercar a área de influência do aterro, permitindo a retirada
de amostras para análises laboratoriais.
• Os métodos indiretos, sem perfuração, utilizam o conhecimento da
eletricidade (pela sondagem ou caminhamento elétrico), para que, por meio
da resistividade dos materiais do subsolo detecte-se alterações causadas
por poluentes, bem como o seu caminhamento, posicionamento,
concentração, rastreamento etc.
Os recursos hídricos são enfatizados nesta fase, com abertura de 4
poços de monitoramento na área do aterro, um à montante (no sentido da
32
entrada do fluxo das águas) e 3 à jusante (no sentido de saída do fluxo das
águas), coletando-se amostras das águas de subsolo e superficiais e enviadas
para análise em laboratório, estabelecendo parâmetros naturais (testemunhas).
Para a coleta das amostras, são utilizados os procedimentos constantes
nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) bem como a
amostragem. Os parâmetros para monitoramento das águas superficiais e
subterrâneas são baseados na listagem apresentada pela Portaria do
Ministério da Saúde n° 1469, de 29 de dezembro de 2000, conforme Brasil
(2000), que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo
humano.
Para o lançamento de efluentes nas coleções hídricas, conforme
Castilhos Junior e outros (2003), deve-se coletar amostras a 100,0 m à
montante do ponto de descarga e 50,0 m à jusante do mesmo ponto. Os
parâmetros monitorados são os estabelecidos na Resolução CONAMA n°
20/86, conforme BRASIL (1986), e a amostragem segue as normas da ABNT.
O MONITORAMENTO NA FASE DE OPERAÇÃO - nesta fase
monitora-se, como citado pelo IPT/CEMPRE (2000), as características físico-
químicas dos lixiviados e dos sólidos, além da qualidade das águas
subterrâneas e recalques das trincheiras. Utiliza-se para este fim:
- monitoramento direto da massa dos resíduos (recalque),
- monitoramento indireto (quali-quantativamente o biogás e lixiviados).
A coleta e a análise das amostras seguem as normas da Associação
Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Os parâmetros usuais a serem
monitorados são: pH (Potencial Hidrogêniônico), DQO (Demanda Química de
Oxigênio), DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), nitrogênio amoniacal e
33
fosfatos totais. Castilhos Júnior e outros (2003) recomendam que a
amostragem seja realizada mensalmente, dependendo da avaliação dos
resultados destas análises.
Para o biogás, os parâmetros monitorados são os gases metano (CH4),
dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N) e oxigênio (O2).
MONITORAMENTO DE PÓS-ENCERRAMENTO DO ATERRO - no
pós-encerramento, conforme Castilhos Junior e outros (2003), dá-se
continuidade ao monitoramento da qualidade das águas de superfície e
subterrâneas, como anteriormente definido (efluentes líquidos, biogás e os
recalques), podendo sofrer alterações e adaptações quanto a freqüência e aos
parâmetros monitorados.
MONITORAMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA
DEGRADADA (PRAD) - o PRAD de lixão tem por objetivo corrigir ou mitigar
impactos ambientais, como comentado pelo IPT/CEMPRE (2000), após sua
identificação e diagnóstico, estabelecendo padrões de qualidade a serem
atingidos (adequação). O monitoramento do lixão é análogo ao monitoramento
de aterros sanitários.
1.4 Tecnologia de Tratamento e Disposição Final de Resíduos
Sólidos Urbanos para Pequenos Municípios: Aterro Simplificado
1.4.1 Aterro Simplificado (modelo CONDER)
O modelo de “Aterro Sanitário Simplificado” apresentado pela CONDER
“preconiza um sistema que seja de baixo custo de implantação e operação,
sem descuidar dos aspectos sanitários e ambientais que lhe são inerentes”
34
(BAHIA, 2002, p.7). É proposto como uma alternativa para a solução da
disposição final do RSU, para pequenos municípios com baixa geração de
recursos. O Aterro Simplificado deve ser a unidade principal e indispensável do
GIRSU, atendendo a municípios e cidades com até 20.000 habitantes e/ou que
gerem até 20,0 t/dia, justificando a necessidade real da solução deste grave
desafio. A CONDER menciona a possibilidade de encontrar dificuldades na
implantação deste equipamento em municípios que nada desembolsam para
dispor os RSU, pois estas instituições não fazem distinção entre em Lixões e
Aterros Sanitários.
Este modelo de aterro tem as seguintes características técnicas:
A. Processo de escolha de área
I. Caracterização da Área
A área escolhida para construção deste modelo de aterro é de
fundamental importância para garantir a viabilidade econômica, social e
ambiental do empreendimento. No aterro simplificado recomenda-se o uso
mínimo de 5,0 hectares (ha), porém é sugerida, ao município, a aquisição de
10,0 ha para salvaguardar futuras expansões ou para construções com fins
sociais e educacionais.
A redução dos custos, na fase de aquisição da área, deve ser o objetivo
das prefeituras, já que este ônus é atribuição dos municípios. Quando for
possível, podem ser utilizadas cavas de jazidas de solo ou pedreiras já fora de
uso, possibilitando a recuperação da área com a implantação deste modelo de
35
aterro. Caso contrário, devem ser escolhidos terrenos, quando disponíveis, de
baixa importância ecológica, econômica, sócio-cultural e paisagística, além da
disponibilidade de material de cobertura final situado na própria área.
LEVANTAMENTOS GEOLÓGICOS E PEDOLÓGICOS, DE USO DA
ÁGUA E DO SOLO - são preferidas as áreas com geologia e pedologia
favoráveis à minimização da poluição das águas subterrâneas e superficiais
(BAHIA, 2002a):
• afastamento do lençol freático conforme normas ambientais
• declividade do terreno deve ser de no máximo de 10%;
• vegetação do local sem expressividade ecológica de preferência
afastada de mananciais, e respeitando o zoneamento urbano;
• acesso fácil e distando no máximo 20,0 Km do centro gerador, para
viabilizar o transporte municipal de resíduos;
• evitar proximidade de vizinhos;
• a titulação da área escolhida de fácil aquisição;
• localizada próxima à jazida para material de cobertura (na própria
área se possível);
• distância mínima de 500,0 m de núcleos habitados e de rodovias,
para evitar incômodos por odores desagradáveis.
II. Aspectos Construtivos
As valas são costruídas escavando-se o solo com maquinários leves
(retroescavadeiras) ou manualmente e mantendo o solo escavado em local
36
próximo dentro da área do aterro para ser utilizado posteriormente em
operações do próprio aterro, minimizando gastos de transporte.
O projeto da CONDER propõe 2 opções de aterro, a saber:
ATERROS EM VALAS – tem como principal característica ser de baixo
custo de implantação e operação não descuidando dos aspectos ambientais e
atendendo municípios e cidades com até 20.000 habitantes com produção de
até 20,0 t/dia. As dimensões das valas são;
• altura alcançando no máximo 4,0 metros, para a segurança dos
operadores desde que, “...o lençol freático estiver a mais de 8,0m de
profundidade e se o solo for coeso a ponto de permitir a profundidade
sem riscos” (BAHIA, 2002a, p. 15);
• distância mínima entre as valas é de 5,0 metros;
• comprimento variável de acordo com a topografia local, preferindo-se
valas com no mínimo de 100,0 metros;
• largura na base desta estrutura é variável, podendo ter no mínimo de
4,0 até 6,0 metros quando previsto o acesso de veículos para dispor
o lixo no seu interior; laterais da vala ou taludes devem ter de 45º a
90º de inclinação, dependendo da condição de coesão1 do solo. Em
solos argilosos é possível a utilização de paredes verticais,
otimizando a utilização da área.
Uma alternativa tecnológica do modelo Simplificado é a construção de
valas superpostas que consiste, somente, em construir novas valas entre as já
cheias, cobertas definitivamente. Assim, favorecem a otimização do uso da
1 A argila é um colóide mineral que compõe a fração do solo. Uma de suas características físicas é o aumento da atração entre as partículas coloidais, à medida que se reduz a água da massa do solo (BUCKMAN; BRADY, 1976).
37
área, pois são construídas, de forma a permitir a ampliação, no sentido vertical,
da área do aterro.
As valas superpostas ficam localizadas sobre a superfície do solo,
utilizando-a como fundo destas valas. A altura de 1,0 metro do fechamento
definitivo, de duas valas já encerradas, forma as paredes laterais (taludes) da
nova vala superposta. A altura dos resíduos dispostos, do mesmo modo que as
valas cavadas, deve ser de no máximo 1,0 a 1,5 m acima do nível do
fechamento destas. Após estarem cheias, recebem a cobertura definitiva com
solo argiloso.
ATERRO EM CÉLULAS – o modelo possibilita uma variante com
aplicabilidade para cidades e municípios com precariedade de recursos e que
possuam população até 8.000 habitantes (BAHIA, 2002a). Esta opção tem
custos ainda menores que os evidenciados na opção anterior, não implicando
na utilização de equipamentos pesados nas fases de implantação e de
operação. Todo o processo é manual, desde o início com a construção e
abertura das células, trincheiras ou valetas como podem ser chamadas, até a
cobertura final dos RSU. As células são construídas seqüencialmente, a partir
do preenchimento e cobertura final de uma, inicia-se a construção da próxima.
As células são fechadas, no máximo, em uma semana, quando estas têm a
previsão de estarem cheias. As células devem ser de 1,0 a 2,0 m de altura
cavadas no solo, com a seção quadrada da área (comprimento é igual a
largura) variando de 2,0 a 6,0 m. A sucessão destas valetas depois de
encerradas, formam o corpo do aterro sanitário, não havendo
impermeabilização do fundo destas e com distância superior a 4,0 m do lençol
freático.
38
O SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL E INTERNO - tem função
primordial neste modelo de controlar a ação das chuvas, não permitindo que
adentrem as valas provocando danos a esta; dos acessos às valas; evitar o
aumento do volume de chorume; impedir o transporte indevido (erosão) do solo
da escavação, que será utilizado no fechamento das valas; desviar as águas
da chuva de dentro da vala para a lagoa de captação para sua infiltração ou
bombeamento manual ou mecânico para fora das valas. Os drenos são
divididos em: permanentes calculados com base em fórmula racional e os
provisórios. Estes drenos superficiais são localizados próximo aos taludes, nas
curvas de níveis, e próximas ao acumulo de solo da escavação da vala.
SISTEMA DE DRENAGEM E TRATAMENTO DE LIXIVIADOS - neste
modelo, não está previsto o sistema de tratamento dos líquidos lixiviados. A
CONDER considera que a cobertura final dos RSU acontece em poucos dias
ou semanas. “Com este procedimento será drasticamente reduzida a produção
de chorume podendo o solo através de condições naturais ou solo de
empréstimo (num primeiro momento) promover o tratamento do pouco chorume
gerado.” (BAHIA, 2002a, p.10). Esta companhia considera ainda, que o seu
modelo de aterro bem operado, proporciona principalmente, o tratamento dos
metais pesados pelo solo. Havendo a opção da retirada dos RSU úmidos
(matéria orgânico), este problema será ainda mais amenizado.
SISTEMA DE DRENAGEM DE GASES - este sistema, da mesma
forma, não é recomendado para o Aterro Simplificado, devido ao seu
dimensionamento e reduzido volume de resíduos dispostos, gerando baixo
volume de gases, permitindo que os gases saiam livres do sistema sem ocorrer
acúmulos perigosos, com riscos de explosões.
39
MEDIDAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL - com propósito de garantir
condições de segurança para que os resíduos aterrados ou os seus
subprodutos, da decomposição, não contaminem os recursos hídricos, a
CONDER propõe, no seu projeto básico, a construção de valas com
declividade de 2% no sentido lateral. Essas valas são dotadas de diques no
seu interior (pequenas barragens de terra) dispostas a de 30,0 em 30,0 m, com
a função de evitar que em dias chuvosos, o excesso de água contaminada com
chorume, se espalhe por toda a vala. A água da chuva é bombeada para fora
do sistema. O líquido contaminado é espalhado no interior da área interna da
vala subseqüente, para que infiltre no solo e o excesso fique retido no dique.
IMPERMEABILIZAÇÃO - a retenção do chorume, no fundo da vala, se
dá pela compactação relativa do solo, na ordem de 90% e/ou seu capeamento
(manta mineral). A adição de 50,0 cm de manta mineral, devido às condições
de solo local, é utilizada como recurso para aumentar a impermeabilidade e
garantindo a velocidade máxima de infiltração da ordem de K= 10-6 cm/s.
III. Medidas Operacionais
IMPLANTAÇÃO - os projetos fornecidos, em manual, pretendem
capacitar aos interessados em implantar os Aterros Simplificados, apenas
adaptando-os à topografia e as condições de solo local (BAHIA, 2002a). A
Companhia baiana além de implantar opera estes modelos durante um período
de uma semana, treinando o pessoal das prefeituras, envolvidos na atividade,
capacitando-os adequadamente para a operação/manutenção, mantendo a
qualidade dos equipamentos e dos serviços prestados. A CONDER
40
disponibiliza a Educação Ambiental, através de solicitação da autoridade
municipal, para ser ministrada junto a agentes multiplicadores da comunidade
solicitante2.
OPERAÇÃO - segundo (BAHIA, 2002a), a disposição dos resíduos é
feita pelos veículos coletores e se dá diariamente, descarregando-os pelas
bordas da vala, no período chuvoso, e diretamente no seu interior, pela rampa
de acesso durante o período de baixa precipitação. Os resíduos são dispostos
no sentido vertical no interior da vala e espalhados com ferramentas manuais,
para ocupar os espaços vazios, facilitando a cobertura com a lona de Cloreto
de Polivinil – PVC - e a sua compactação pelo peso das camadas superpostas
de resíduos. Opcionalmente pode-se fazer a compactação manual dos RSU.
A cobertura se dá com a aplicação de uma camada de 0,1 a 0,2 m de
solo impermeável local, ao final da jornada de trabalho, ou ao término do
enchimento das valas, desta forma reduzindo o volume de resíduos, em
detrimento desta adição compulsória. A técnica que permite maior longevidade
do aterro, acontece com a cobertura dos RSU com a lona plástica de PVC, ao
final da atividade do dia. A impermeabilidade do material cria uma condição de
isolamento parcial dos resíduos com o meio, evitando o espalhamento pela
ação dos ventos e a presença de vetores de doenças e aves.
O encerramento das valas acontece após os RSU, compactados
manualmente, atingir a altura de 1,0 a 1,5 m a cima do nível do terreno.
Procede-se a adição de solo argiloso, como cobertura final, com 0,6 m de solo
impermeável sobre os RSU, que é compactado, manualmente ou por um trator
agrícola, para a impermeabilização da superfície, mantendo-se a forma
2 Conforme relato de viva voz de Maurício Fiúza, Coordenador de Resíduos Sólidos da CONDER.
41
abaloada, para que não formem poças. Só então, recebe uma camada de solo
orgânico para plantio de gramíneas e/ou arbustos (recuperação do degradado).
A vegetação, além da função já citada, ainda, no seu processo fisiológico de
evapotranspiração, reduz o volume de água das chuvas que podem penetrar
nos resíduos.
O Aterro Simplificado deverá ser operado por no mínimo por 5
funcionários com suas respectivas atribuições: 1 supervisor dos trabalhos,
preferencialmente, de nível superior3, 2 serventes se ocupando da arrumação e
cobertura, 1 servente faz a limpeza geral, podendo ajudar na operação, nas
horas ociosas e 1 vigia noturno. Nas operações simplificadas do aterro são
utilizadas ferramentas manuais (carro de mão, pá, enxada, rastilho, apiloadores
de madeira, e rolo compressor), e que, necessariamente os operadores devem
estar usando Equipamentos de Proteção Individual – EPIs (farda, mascara,
luvas e botas), além de capacitados sobre a importância da sua utilização
(BAHIA, 2002a).
VALAS PARA DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE
- a disposição dos resíduos dos serviços de saúde (RSS) é operada em valas
especialmente construídas com esta finalidade, onde os resíduos são lançados
sobre uma manta de PVC, previamente instalada. Por serem resíduos
contaminantes, não devem ser manuseados pelos operadores, minimizando
riscos à saúde. Ao encerramento, da mesma, os RSS são envolvidos pela
manta, recebendo a cobertura final de 0,6 m de solo e compactando-o
manualmente (BAHIA, 2002a).
3 Conforme relato de viva voz de Maurício Fiúza, Coordenador de Resíduos Sólidos da CONDER, em reunião de apresentação e treinamento para operação de Aterro Simplificado, promovido e ministrado nas dependências desta Companhia, aos municípios contemplados com este equipamento no dia 28/11/2003.
42
INSTALAÇÕES DE APOIO - no projeto de Aterro simplificado prevê
(BAHIA, 2002a):
• a construção de cercamento da área com estacas de madeira com 1,8 m de
altura, usando 8 fios de arame farpado com 0,2 m de espaçamento, para
evitar o acesso de pessoas não autorizadas (catadores) e animais.
• “Cerca viva”, constituída do plantio de árvores e arbustos (eucaliptos e
sanção do campo) com alinhamento paralelo a cerca ao redor da área, com
função de reduzir assim, dispersão dos odores característicos.
• a construção de uma guarita (dotada de sanitário) junto a um portão de
acesso, uma portaria e poço de água para abastecimento próprio. As
funções da portaria são: - recepção dos resíduos, com a certificação do
cadastro dos veículos, transportadores dos RSU; - verificar a procedência e
somente permitir a entrada dos resíduos classe II, de serviços de saúde,
podas de árvores e entulhos; - indicação da frente de trabalho para o
deposito do resíduos; e, - controle do volume diário recebido do resíduo.
• “Sistema–Híbrido” - opcionalmente na área do aterro, quando assim
solicitado pelo município, pode ser instalado que consiste em Galpão de
triagem e compostagem dos resíduos úmidos, desta forma aumentando a
vida útil do aterro. A concepção híbrida deste modelo reforça a redução do
chorume gerado, já que, a decomposição da matéria orgânica dos RSU, em
determinadas condições, é a responsável por tal geração.
• eletrificação para suas instalações, com a finalidade de extrair água dos
poços de monitoramento, de equipamentos do galpão de triagem e dar
conforto e segurança aos funcionários.
43
IV. Monitoramento
O monitoramento, segundo (BAHIA, 2002a), deverá ser orientado pela
autoridade ambiental competente, consistindo na comparação entre resultados
obtidos das análises das amostras de água coletadas em poços construídos
em pontos estratégicos para o monitoramento das águas subterrâneas.
Existe a possibilidade, em alguns casos, somente do controle visual,
desde que indicado pelo órgão ambiental responsável pelo licenciamento, ou
haja dificuldades significativas na obtenção do material para coleta.
MANUTENÇÃO - para que um aterro simplificado possa operar de forma
rápida e eficiente, far-se-á necessário um serviço constante de manutenção,
principalmente, a desobstrução dos drenos superficiais para obter boas
condições de descargas durante os períodos chuvosos e limpeza de material
disperso (BAHIA, 2002a).
Outros serviços devem ser mantidos como: supervisão das atividades
propostas, controle dos investimentos anuais (gastos com mão de obra e
outros); controle de proliferação de vetores de doenças e formigueiros,
vigilância da área e cuidar para que não haja instabilidade dos taludes.
V. Análise de custos
Este modelo propõe-se a manter os aspectos sanitários e ambientais
dos aterros tradicionais, a baixo custo de implantação. O custo financeiro aos
cofres do Estado com a implantação desta unidade simplificada de disposição
do RSU, segundo BAHIA (2002a), são da ordem de R$ 88.500,00, e a
44
operação tem custo de mão-de-obra de, no máximo, R$ 3.500,00
mensalmente. Já com os encargos sociais, o valor atual é aproximadamente,
de R$ 150.000,00 (BAHIA, 2004). Enquanto que os 15 aterros convencionais já
implantados, pela CONDER, em municípios com população com faixa acima de
60.001 habitantes, conforme a BAHIA (2002a), representando 3,6% dos
municípios baianos com os recursos da mesma fonte, que variam de R$
500.000,00 a 2.600.000,00 e custo médio de operação entre R$ 15.000,00 a
R$ 20.000,00.
1.4.2 Valas (modelo CETESB)
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB do
Estado de São Paulo apresentou em 1997, o Aterro em Valas de Pequenas
Dimensões, como uma proposta na busca do equacionamento da problemática
dos pequenos municípios, de pequeno porte, com escassos recursos
financeiros e de pessoal qualificado e que geram pequenas quantidades de
resíduos, impossibilitados de implantarem o modelo convencional nos seus
territórios, “Esse é o grande obstáculo oferecido por todos os tipos de aterros,
quando aplicados a pequenas comunidades, exceto aqueles em valas e
operados sem a utilização de equipamentos” (CETESB, 1997, p.9). Esta
técnica só é viável economicamente para municípios com geração de até 10
t/dia de resíduos.
Devido à principal característica da tecnologia do aterro sanitário
(aterramento de resíduos no solo), uma das maiores preocupações consiste na
proteção da coleção de água subterrânea. Neste sentido, é imprescindível, a
45
observância já desde o processo de seleção de área para implantação de um
aterro sanitário, da distância entre o fundo da vala e o nível mais alto do lençol
freático e as características do solo local. O solo deve ser mais homogêneo
possível, trabalhável, isento de blocos grandes de rochas e matações (grandes
pedras soltas) e com permeabilidade em torno de K= 10-7 cm/s, como depósito
de argilas, siltes e suas misturas.
Este modelo de aterro tem as seguintes características técnicas:
A. Processo de seleção de área.
I. Caracterização da Área
LEVANTAMENTO GEOLÓGICO E GEOTÉCNICO, USO DA ÁGUA E
DO SOLO - a proposta valas/ CETESB está norteada pela legislação do uso do
solo e de proteção dos recursos naturais hídricos, fundamentalmente, os
levantamentos: geologia, geomorfologia, tipo de solo local, além de
predominância dos ventos, relevo, uso do solo no entorno e pela facilidade de
acesso em qualquer época do ano e menor distância dos centros geradores,
possíveis.
As características do solo da área escolhida, indicadas pela CETESB,
que devem ser analisadas são: coeficiente de permeabilidade em torno de K=
10-7 cm/s; consistência; resistência à compressão simples; granulometria; limite
de liquidez; índice de plasticidade.
A área deve ter a declividade máxima em torno de 10%, com distância
mínima de 500,0 m de áreas residências isoladas e 2.000,0 m de áreas
urbanizadas.
46
A distância mínima de quaisquer corpos de água superficiais (várzeas de
rio, pântano e manguezal) é de 200,0 m, e de 3,0 m para distância de águas
subterrâneas em solos argilosos, e superiores a esta distância em solos
arenosos, deixando a avaliação final para técnico especializado.
O solo deve ter as características: de não apresentar grande quantidade
de pedras, rochas aflorantes e grandes pedras soltas (matações); composição
argilosa predominantemente; o mais impermeável e homogêneo possível.
B. Etapas do Projeto
A CETESB (1997) utiliza como exigência mínima para projetos aterros
sanitários para resíduos classe II, na qual podem ser enquadrados os resíduos
domiciliares, o projeto de norma PN 1:603.06.006 – “Aterros de Resíduos não
Perigosos – Critérios para Projeto, Construção e Operação” elaborado pela
ABNT.
I. Aspectos construtivos
DIMENSIONAMENTO DO MODELO SUSTENTÁVEL - consiste na
escavação de valas ou trincheiras em pequenas dimensões, destinadas ao
confinamento dos resíduos sólidos urbanos, compreendendo:
• as laterais (taludes) sub-verticais (com angulação menor ou próximos a
90°);
• com dimensões pré-fixadas em 3,0 m, tanto a altura quanto a largura;
47
• tendo o seu comprimento variável, dependente do volume diário a ser
disposto, porém, atinge o máximo de 27,0 m para o volume de 10,0 ton/dia
(tonelada por dia);
• Com base em cálculo, nos dados de estudos preliminares, imprescindível
para o dimensionamento de qualquer aterro sanitário, segundo a CETESB,
(1997), deve-se reservar cerca de 1,0 m² (um metro quadrado) de terreno
por tonelada de resíduo a ser aterrado.
• Vida útil maior que 5 anos.
• Área de 7,3 ha.
SITEMA DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS - é primordial a
redução do volume de líquidos percolados gerados em um aterro, implantando-
se um sistema adequado de drenagem das águas pluviais, desviando ao
máximo, a entrada de águas de chuva na célula de lixo. Nos períodos
chuvosos, a CETESB (1997) recomenda a redução do comprimento das valas
ou secção destas, diminuindo o tempo de fechamento, com a finalidade de
minimizar o contato das águas das chuvas com os RSU.
O sistema de drenagem de águas pluviais deve captar as águas das
chuvas e desviá-las por canaletas escavadas no terreno, de forma, a
proporcionar uma declividade conveniente ao dreno. A quantidade de drenos a
serem escavados depende da área de contribuição, ou seja, quanto maior o
volume das águas precipitadas, maior número destas canaletas. O
dimensionamento dos drenos é feito de forma analítica com base nos dados do
levantamento climatológico.
SISTEMA DE DRENAGEM E TRATAMENTO DOS LIXIVIADOS - o
sistema de drenagem de lixiviados dos aterros em valas não é recomendado,
48
pois quando o dimensionamento das valas for adequado e nas estações
chuvosas forem utilizadas valas menores, reduzindo assim a área exposta às
chuvas, o volume de líquidos percolados gerados será muito pequeno,
mantendo-os acumulados na própria vala em operação.
Outra alternativa é construir valas seccionadas transversalmente (como
uma vala subdividida), evitando o contato da água de chuva com os resíduos,
podendo esta ser descartada sem tratamento. Quando as valas são
encerradas, devido à espessura da cobertura de solo que recebe,
praticamente, impossibilitando a produção de líquidos (CETESB, 1997).
O Sistema de Tratamento de Lixiviados é dispensado neste
equipamento, pois os volumes gerados são muito pequenos, ficando
acumulados dentro da própria vala, desde que, seguindo corretamente, todos
os procedimentos de operação recomendados pela CETESB, exceto em locais
com alto nível de precipitações pluviométricas.
SISTEMA DE DRENAGEM DE GASES - no modelo de valas para
pequenos municípios, a formação e a dispersão de volumes pouco
significativos de gases gerados, segundo o projeto da CETESB (1997), está
diretamente relacionado com a reduzida quantidade de resíduos acumulados e
a pequena profundidade das valas, permitindo que saiam livres das valas.
Desta forma é dispensável a construção de sistemas especiais para a
drenagem de gases, pela impossibilidade destes formarem acúmulos
perigosos.
IMPERMEABILIZAÇÃO - quando há a necessidade da
impermeabilização das valas, a única alternativa é a utilização de mantas ou
membranas sintéticas de Polietileno de Alta Densidade – PEAD de 2,0 mm
49
(milímetros) de espessura. A utilização de solo argiloso compactado para
impermeabilização do fundo da vala, “... é inviável devido à técnica construtiva
e às dimensões reduzidas das valas, devendo-se, obrigatoriamente, escolher-
se áreas que naturalmente reúnam condições de permeabilidade favorável à
implantação do aterro sem o uso de impermeabilizações.” (CETESB, 1997, p.
16).
II. Medidas Operacionais
Para a abertura das valas, o solo deve dar sustentação de taludes sub-
verticais (solo argiloso), e pode ser operado por qualquer equipamento, com
capacidade de escavação, contudo, a CETESB condiciona essas operações à
capacidade operacional das retroescavadeiras, pela possibilidade destes
modelos de máquinas leves estarem disponíveis nas pequenas comunidades,
com baixos recursos financeiros.
As valas são abertas com vida útil que não excedam um mês, e
seccionadas por 0,5 m de solo, a cada 20,0 m. O solo resultante da escavação
deve ser acumulado sobre a vala já encerrada mais próxima (opção de
compactação).
Os resíduos são dispostos verticalmente pelo lado livre fora das valas,
sem ingresso dos veículos no seu interior. Não é prevista a compactação dos
RSU neste modelo, sendo estes manualmente nivelados e cobertos com terra,
diariamente, tolerando-se freqüências menores, apenas, em circunstâncias
especiais. Os resíduos atingem 0,5 m cima do nível do terreno, para então
receber a cobertura final de 0,5 m de terra, prevendo prováveis recalques.
50
Desta forma, a partir do total preenchimento do primeiro trecho da vala, passa-
se para outro até o completo aterramento desta.
A CETESB (1997) sugere que diante da disponibilidade de trator de
esteiras no município, poderá se promover melhor compactação dos resíduos,
com a passagem deste equipamento diversas vezes sobre o local aterrado. Na
impossibilidade da compactação referida, o procedimento da abertura da vala
seguinte deve permitir que a terra de escavação seja acumulada sobre as valas
já aterradas, impondo assim, uma certa compactação, desta forma acelerando
os recalques.
INSTALAÇÕES DE APOIO - esta proposta de aterro prevê a construção
de cerca de arame e uma cerca viva ao redor da área do aterro; um sistema
viário construído de forma a permitir acesso à frente de trabalho na área do
aterro, inclusive, em dias chuvosos; “tela móvel” para evitar o espalhamento
dos resíduos pela ação dos ventos; e uma portaria, conforme descrito:
[...] “num portão de entrada com uma guarita onde, se possível, deverá permanecer um vigia. Quando o aterro for localizado distante de comunidade, sendo improvável a presença de catadores, é admissível que a portaria resuma-se num portão fechado, ficando a chave de posse do motorista do veículo coletor e do encarregado dos serviços de limpeza pública.” (CETESB, 1997, p. 15).
PLANO DE UTILIZAÇÃO DA ÁREA - este plano visa o aproveitamento
integral da área. O plano de utilização da área consiste nas recomendações
básicas da escolha da área, disposição das estruturas de apoio, as valas e os
sistemas de drenagem e viário, não permitindo que seja reduzida sua vida útil,
bem como, a qualidade operacional do sistema.
51
III Monitoramento
A CETESB (1997) recomenda a consulta do projeto de norma - PN
1:63.06.003 – “Construção de Poços de Monitoramento e Amostragem de
Aqüífero Freático”, elaborado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
– ABNT. Pois, diante da inexistência de procedimentos padronizados que
sejam válidos em quaisquer circunstâncias, deve-se combinar as diferentes
técnicas de avaliação existentes com o objetivo de controle efetivo desse
manancial, pelos métodos diretos e indiretos. Nos métodos diretos são
perfurados poços visando a área de influência do aterro, permitindo a retirada
de amostras para análises laboratoriais. Os métodos indiretos, sem perfuração,
pela sondagem ou caminhamento elétrico.
MANUTENÇÃO - o projeto não apresenta uma proposta objetiva de
manutenção do aterro, evidenciando apenas, os aspectos operacionais de
drenagem de águas pluviais, para evitar sua entrada nas valas, minimizando a
formação dos líquidos percolados, e o acumulo de água próximo os montes de
terra (que irão servir de cobertura dos resíduos dispostos) (CETESB, 1997).
ENCERRAMENTO DO ATERRO - as áreas ocupadas pelos aterros
sanitários deixam alterações na topografia, nas condições de escoamento
superficial e subterrâneo das águas, bem como, outras características locais.
Mesmo os aterros já encerrados exigem obras que protejam suas estruturas
durante um tempo, que dependem das dimensões construtivas, até sua
integração, com relativa estabilidade, ao ambiente local.
No caso dos aterros sanitários em valas, algumas medidas simples
podem minorar os problemas, como: questão ambiental deve ser resolvida ao
52
longo da escolha da área; operação criteriosa; nivelamento da superfície da
área do aterro encerrado (com motoniveladoras); plantio de culturas que não
apresentem raízes profundas, nem contato com o solo e nem consumidas in
natura (cana-de-açúcar, milho) podem ocupar imediatamente a área, após o
encerramento das atividades; alternativamente pode ser aproveitada a área, da
forma acima descrita, a medida que o aterro vai sendo executado.
Recomendando para cada situação particular a consulta a um engenheiro
agrônomo. Segundo a CETESB (1997), empregando-se as recomendações
apresentas no manual de ATERROS SANITÁRIOS EM VALAS, CETESB,
1997, o encerramento do aterro consistirá em operações relativamente fáceis
de execução, de baixo custo e não necessitar de outras providências, além das
mencionadas.
IV Análise de Custos
O manual do modelo simplificado de aterro sanitário da CETESB, do ano
de 1997, não apresenta análise de custos.
1.4.3 Aterro Sustentável (modelo PROSAB)
O Aterro Sustentável, conforme modelo concebido pela Rede de
Pesquisa em Saneamento Básico do Programa de Pesquisa em Saneamento
Básico – PROSAB – Edital 3 – Resíduos Sólidos, é uma tecnologia alicerçada
em procedimentos científicos, para a disposição final sustentável dos RSU
gerados em municípios de pequeno porte, propondo-se a compatibilizar a
concepção, projeto e operação com requisitos ambientais e com as
53
potencialidades locais, aliado a uma simplicidade operacional. Esta alternativa
busca atender as condições peculiares dos municípios de pequeno porte
quanto às dimensões: ambiental; sócio-cultural; política; econômica; financeira
e integrada, simultaneamente, às demais etapas do GIRSU.
O modelo tecnológico de Aterro Sustentável/PROSAB, segundo
Castilhos Junior e outros (2003), visa:
• manejo ambientalmente adequado dos RSU;
• capacitar tecnicamente as equipes responsáveis pelo projeto, operação,
monitoramento e encerramento do aterro;
• adequar os custos à realidade sócio-econômica dos municípios;
• gerar emprego e renda e envolver efetivamente os atores políticos,
institucionais e da população local.
Este modelo de aterro tem as seguintes características técnicas:
A. Estudos Preliminares.
O modelo prevê estudos preliminares, com o levantamento de
informações necessárias para a escolha da área e do tipo de sistema a ser
empregado, bem como o controle posterior ao longo de toda a operação do
aterro. Os estudos preliminares podem ser divididos em duas partes: na
caracterização do município e no diagnóstico do GIRSU adotado.
54
I. Caracterização do Município
São levantadas informações tais como dados sobre a população,
principais atividades sócio-econômicas desenvolvidas e a infra-estrutura
existente para os serviços de saneamento básico. Este levantamento de dados
permite o maior conhecimento da geração de RSU da comunidade.
II. O diagnóstico do GIRSU em andamento no município
O diagnóstico do GIRSU em andamento no município deve abranger
todas as etapas, desde a geração até a destinação final, colhendo dados quali-
quantitativos, recomendando-se a elaboração de um questionário
contemplando:
Geração – geração per capta e composição gravimétrica, ou seja, o
percentual correspondente entre diferentes componentes da quantidade do
total RSU;
Varrição – número de funcionários lotados nesta atividade, tipos e
número de equipamentos, freqüência, volume gerado, comprimento das ruas,
percentual de área da cidade contemplada por este serviço;
Coleta/Transporte – tipo de veículo utilizado, percentual de cobertura por
este serviço, percentual de coleta convencional e seletiva, freqüência e
quantidade coletada/mês pelo método de cubagem (avaliação volumétrica) ou
pesagem;
55
Tratamento – indicar a existência de alternativas de tratamento a
exemplo de compostagem da fração orgânica e de resíduos de podas e
capinas e de triagem de materiais recicláveis visando posterior reciclagem;
Destinação final – descrição do sistema empregado (aterro controlado,
lixão), localização e análise de áreas de proteção permanente – APP e outras
restrições legais, área total, caracterização ambiental da área e do seu entorno,
relação da área com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, presença de
recursos hídricos inclusive nível do lençol freático, geologia, geomorfologia, tipo
de solo local, direção predominante dos ventos, relevo e uso do solo no
entorno, dentre outros.
Os estudos preliminares citados anteriormente subsidiarão a conclusão
da necessidade de recuperação da atual área, por meio da adoção de ações
de caráter mitigador, ou que, a área é segura para a instalação do aterro
sustentável, assim como, podem indicar a viabilidade de implantação de um
sistema de compostagem ou de uma usina de triagem, visando posterior
reciclagem.
B. Processo de Seleção de Área.
O processo de seleção de área para municípios de pequeno porte,
conforme modelo do PROSAB, pode ser simplificado. No entanto, devem ser
considerados três critérios: ambientais; de uso e ocupação do solo; e
operacionais. Com matriz de pontuação para cada critério adotado, incluindo
definição, justificativa, observações, faixa de avaliação e correspondente
nota/peso, a ser aplicado a cada área cogitada no processo de seleção. Segue
56
relação dos critérios ambientais; de uso e ocupação do solo; e operacionais
adotados pelo citado modelo:
critérios ambientais - distância de recursos hídricos superficiais e
subterrâneos; áreas inundáveis; geologia e potencial hídrico; condutividade
hidráulica; profundidade do lençol freático e fauna e flora (presente ou
ausente).
critérios de uso e ocupação de solo - distância de vias; distância dos
centros urbanos e legislação municipal e outras restrições legais.
critérios operacionais - clinografia; espessura do solo (horizonte B) e
reaproveitamento do lixão.
C. Etapas do Projeto.
I. Caracterização da Área
LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO - o modelo de aterro
sustentável/PROSAB recomenda a realização de levantamento topográfico
planialtimétrico na escala de 1:1000 (escala de detalhe). O mapa resultante
deverá constar o relevo com curvas de nível e a indicação dos usos da área,
delimitação da área indicada para disposição de RSU, dos acessos, dos
prédios, da vegetação e dos recursos hídricos superficiais.
LEVANTAMENTO GEOLÓGICO E GEOTÉCNICO - o modelo de aterro
sustentável/PROSAB sustenta a necessidade da realização de levantamento
geológico e geotécnico nas etapas de seleção de área e posteriormente na sua
implantação apresentando metodologias simplificadas de ensaios para análise
57
granulométrica, limite de liquidez, limite de plasticidade, ensaio de
permeabilidade e ensaio de peso específico real dos grãos.
LEVANTAMENTO CLIMATOLÓGICO - o modelo de aterro
sustentável/PROSAB evidencia a necessidade de determinação dos índices
pluviométricos da região para dimensionar o sistema de drenagem superficial,
estimar a geração de lixiviados e a definição quanto à necessidade de
instalação de uma cobertura na trincheira em operação, visando a minimização
desta geração, o que justificaria a dispensa de implantação de um sistema de
tratamento de lixiviados, reduzindo os custos financeiros do projeto. Uma
alternativa é colocar uma manta de PVC entre os resíduos e a camada de solo,
a segunda, sugerida por Castilhos Júnior e outros (2003), consiste na cobertura
da trincheira em operação, por um modelo de “Telhado móvel”, construído com
lona plástica e estrutura de bambu ou eucalipto, dependendo da disponibilidade
local. Este telhado pode ser montado e remontado a cada nova trincheira a ser
operada, apresentando as seguintes vantagens:
• não aumentar o volume de lixiviados pela adição da água das chuvas;
• quando prevista a recirculação, a não utilização de cobertura com terra
minimiza os custos financeiros e os impactos locais ou em outra área, com
a retirada de solo para cobertura dos RSU;
• uso desta cobertura que pode justificar ausência do sistema de tratamento
destes líquidos, pelo baixo volume gerado;
• oferecer condições de trabalho mais amenas para os operadores.
LEVANTAMENTO DE USO DA ÁGUA E SOLO - o modelo de aterro
sustentável/PROSAB prevê o levantamento de usos da água e do solo na área
de intervenção e no seu entorno.
58
AQUISIÇÃO DA ÁREA - conforme Castilhos Júnior e outros (2003), a
aquisição e desapropriação do local representa um dos principais custos da
fase de planejamento do aterro sustentável, dando-se preferência aos terrenos
de propriedade da própria prefeitura ou de baixo valor econômico. Quando a
área escolhida for o lixão são previstos outros gastos para adequar o local para
implantação do aterro sanitário.
II. Aspectos Construtivos
O método utilizado neste modelo é o de escavação de trincheiras feitas
no solo, para posterior aterramento dos resíduos. O solo retirado no processo
de construção das mesmas deverá ser reservado para as coberturas
intermediárias (final da jornada de trabalho) e a cobertura final. Esta técnica
pode ser aplicada em terrenos planos ou com baixa declividade. As trincheiras,
construídas por retroescavadeiras, podem ter a forma de paralelepípedo
(laterais são verticais em relação ao fundo, inclinação 1:1) que depende das
características do solo, ou trapezoidal (laterais pouco inclinadas 1:2 a 1:3)
utilizadas quando é recomendado a geomembrana, para impermeabilização do
fundo da trincheira.
DIMENSIONAMENTO DO ATERRO SUSTENTÁVEL/PROSAB E DAS
TRINCHEIRAS - o dimensionamento visa:
• quantificar o volume diário que será disposto;
• utilizar cobertura diária com 0,1 a 0,2 m de solo local, com compactação
média (250,0 a 350,0 Kg/m³) ou 25% do volume de resíduos a serem
aterrado;
59
• estimativa de vida útil para cada trincheira entre 2 e 4 meses;
• estimativa de vida útil mínima de 5 anos para o aterro;
• definir índice de compactação (sem compactação a densidade média é de
100,0 a 150,0 Kg/m³ e compactado manualmente é de 250,0 a 350,0
Kg/m³);
• definir a profundidade da trincheira que dependerá do nível do lençol
freático e da camada de solo, sendo sugerida em torno de 2,0 a 3,0 m;
• largura da trincheira estimada entre 3,0 a 6,0m;
• comprimento é função da quantidade de resíduos a serem dispostos,
inferior a 40,0 m³/dia, ou limitado a uma população de 10.000 habitantes,
máximo de 35,0 m;
• espaço para a construção dos acessos viários para o trânsito dos
caminhões para o descarregamento do material nas trincheiras, sempre
observando as cotas do terreno a fim de diminuir a movimentação de terra.
SISTEMA DE DRENAGEM SUPERFICIAL - é prevista a implantação de
sistema de drenagem superficial no modelo de aterro sustentável/PROSAB
cujas canaletas serão abertas manualmente, na direção preferencial do fluxo
de escoamento superficial minimizando os custos.
SISTEMA DE DRENAGEM E TRATAMENTO DE EFLUENTES
LÍQUIDOS (LIXIVIADOS) - conforme comentário de Castilhos Junior e outros
(2003), a menor geração de lixiviados em aterros de pequeno porte é uma
questão que cabe discussão, no tocante à real necessidade da implantação de
um sistema específico de tratamento dos efluentes líquidos. O modelo proposto
pelo PROSAB propõe a recirculação dos lixiviados como viável para acelerar a
degradação dos resíduos, como pela supressão de um sistema de tratamento,
60
podendo ser implementada por: infiltração (rega), ou bombeamento. Para as
duas alternativas propostas de recirculação de lixiviados torna-se necessário
um sistema de drenagem de lixiviados, coleta para reservatório e posterior
bombeamento para retorno à trincheira. O volume a ser recirculado é função da
precipitação média mensal local. Castilhos Junior e outros (2003), propõem
recirculação mensal para cada trincheira, após a passagem da fase ácida da
digestão anaeróbia, com a função de manter as condições ótimas (umidade
alta) para a rápida degradação microbiana dos RSU e evitar a recirculação de
altas taxas de concentração de microrganismos.
Em regiões com alto índice pluviométrico, em determinadas épocas do
ano, aconselha-se construção de telhado cuja estrutura poderá ser móvel, para
o período de preenchimento da trincheira, evitando a chuva direta sobre esta e
melhorar as condições de trabalho dos funcionários.
IMPERMEABILIZAÇÃO - a manta mineral é indicada como o
revestimento para as trincheiras de RSU em aterros de pequeno porte
conforme modelo proposto pelo PROSAB, desde que o levantamento
geotécnico obtenha dados confiáveis em relação à geologia local. Caso
contrário, deve se utilizar a geomembra de PEAD ou PVC. Para o sistema
simplificado/PROSAB analisam-se, especificamente, as seguintes
características do solo:
• espessura da camada;
• granulometria do solo;
• baixa permeabilidade do solo (< 10-7 cm/s);
• condutividade hidráulica;
• baixo índice de vazios;
61
• capacidade de carga;
• distância do lençol freático (mais de 2,0 m do fundo da trincheira); e,
• ausência de falhas geológicas.
O emprego exclusivo de revestimento mineral deverá garantir a
utilização de materiais apropriados na construção do revestimento, a
disposição e compactação adequada dos materiais apropriados e que a
camada é adequadamente protegida contra possíveis danos. Os tipos de solos
apropriados para tal fim, de acordo com o sistema de classificação unificado
(ASTM D-2487), são os solos argilosos de baixa e de alta plasticidade e os
areno-argiloso, obtidos no próprio local, de preferência, ou trazidos de jazidas
próximas do aterro.
O solo pode ser, ainda, utilizado diretamente ou processado. O
processamento do solo consiste em remover, dentre outros, pedras e outros
materiais maiores e grandes partículas, alterar o conteúdo de água ou
adicionar materiais (bentonita, argila comercial) visando reduzir a condutividade
hidráulica (10-7 cm/s).
SISTEMA DE DRENAGEM DE GASES - no modelo de aterro
sustentável/PROSAB recomenda-se, por segurança, pelo menos, a instalação
de um dreno vertical para o biogás gerado. Na confecção deste utiliza-se cano
de PVC de 40,0 mm (perfurando sua parede) envolvido com brita, da base até
o topo da trincheira, podendo ser utilizado opcionalmente outros materiais
encontrados no aterro, a exemplo de pneus descartados e garrafas PET,
devidamente furadas, o que contribuirá para a redução dos custos financeiros.
62
III. Medidas Operacionais
IMPLANTAÇÃO - na etapa de implantação do aterro são executadas
todas as atividades cabíveis a qualquer tipo de aterro.
O procedimento adequado para a construção do revestimento mineral,
conforme Castilhos Junior e outros (2003), devem ser seguidas as seguintes
indicações: - espalhamento em camadas de 0,2 m de solo sobre a superfície
regularizada do terreno; - compactar o solo (podem ser usados soquetes e
compactadores manuais do tipo pé de carneiro e/ou liso) para garantir o
amassamento, passando 5 vezes antes de lançar a próxima camada; - a
preparação da superfície para o receber a próxima camada, consiste em
escarificá-la (com ranhuras de 0,2 – 0,3 m) para melhorar a adesão entre
estas, procedendo do mesmo modo anterior, até atingir 0,6 m de espessura; -
molhar ou revestir com lona plástica as superfícies, assim impermeabilizadas,
para evitar o ressecamento (fissuras).
Os operadores devem utilizar os Equipamentos de Proteção Individual,
além, de vacinados contra hepatite A, B e tétano.
OPERAÇÃO - esta fase do aterro sanitário sustentável está ligada a
todas as etapas do GIRSU, que determinam a forma de operação das
trincheiras. Castilhos Junior e outros (2003), recomendam que o encarregado
de operação tenha no seu perfil a responsabilidade, a desenvoltura, a
paciência e a metodicidade e que receba treinamento específico. Desta forma,
sugere que as prefeituras invistam na capacitação profissional, como uma das
medidas mais importantes para o bom gerenciamento da área.
63
A qualidade e o porte dos equipamentos necessários para implantação e
operação do aterro sanitário são bastante variáveis, dependendo das
especificidades da área, da época do ano, complexidade de execução e da
fase em que se encontra o projeto.
A operação consiste na disposição dos RSU, descarregados diretamente
do caminhão coletor, independendo da existência ou não da triagem antes do
descarte, nas trincheiras. Durante a aproximação dos veículos coletores para
descarga nas trincheiras devem ser tomados cuidados, evitando riscos de
acidentes, tanto para o operador, quanto para o revestimento de geomembrana
(caso seja empregada, é sugerido a cobertura desta com solo, evitando o
contato direto caminhão-manta), além da possibilidade do veículo entrar na
trincheira para a descarga.
Os resíduos descarregados na trincheira podem ser espalhados
manualmente com gadanho, enxadas e pás em camadas horizontais de 0,3 m,
assegurando o preenchimento uniforme da trincheira e sua compactação, com
rolo compactador manual.
A cobertura diária é aplicada ao final da jornada de trabalho, enquanto
que a cobertura intermediária dos resíduos pode ser utilizada ou não,
dependendo da alternativa adotada (não é recomendável quando esteja
prevista a recirculação dos lixiviados). Esta operação tem a função de diminuir
a taxa de formação dos lixiviados, eliminar a proliferação de vetores de
doenças, reduzir a geração de odores desagradáveis e a saída descontrolada
de biogás.
Após o preenchimento de cada trincheira, são colocadas camadas de
20,0 cm e compactadas até atingir 0,6 m (cobertura final) de solo compactado,
64
recobrindo-o com terra fértil para plantio de gramíneas, que auxiliam tanto na
estética quanto na diminuição da infiltração da água das chuvas.
INSTALACÕES DE APOIO - as instalações de apoio do aterro
sustentável do PROSAB são:
• vias de acesso interno e externo;
• isolamento da área;
• cancela e guarita de controle;
• dependências para o pessoal da operação;
• galpão para manutenção,
• galpão de triagem para reaproveitamento reciclagem e compostagem dos
resíduos (opcional)
• valas para aterramento de animais mortos.
• pesagem dos RSU, para o controle e pesagem de resíduos, Castilhos
Junior e outros (2003), propõem um controle periódico, utilizando-se,
trimestralmente, balanças da região, durante 7 dias seguidos.
O modelo não prevê valas para resíduos de serviço de saúde – RSS.
IV. Monitoramento
Para municípios de pequeno porte, o plano de monitoramento pode
trazer implicações financeiras consideráveis, sendo relevante fazer
adequações do seu dimensionamento, garantindo a sua efetiva execução, ou
seja, cada caso deverá ser avaliado considerando-se as peculiaridades locais.
Neste modelo, está previsto o monitoramento na fase de Implantação,
65
operação pós-encerramento do aterro e o monitoramento de área degradada
do lixão.
Os parâmetros a serem monitorados do aqüífero para este modelo de
aterro (que deve receber exclusivamente resíduos de origem domiciliar e que
adote, também, a recirculação dos lixiviado), são: pH, DQO, DBO, nitrogênio
amoniacal e fosfatos totais, dependendo do modelo operacional do sistema
(CASTILHOS JÚNIOR e outros, 2003).
Para o biogás, os parâmetros monitorados são os gases metano (CH4),
dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N2) e oxigênio (O2), recomendando-se
para o modelo de aterro sustentável a “cromatografia de fase gasosa” para
análise.
As implicações geotécnicas deverão ser analisadas, para municípios de
pequeno porte, nas fases de caracterização da área, projeto e implantação da
obra. O monitoramento geotécnico é projetado em função do risco de
contaminação envolvida, podendo ser dispensado, quando forem bem
avaliadas as seguintes características:
• Físicas, da estratigrafia e espessura da camada de subsolo;
• Intensidade pluviométrica, fluxo de subsuperfície e a profundidade do lençol
freático;
• Estruturas do sistema de disposição final adotado, enumerando: sistemas
de contenção dos líquidos, de biogás; de drenagem pluvial, camada de
cobertura, espessura total do sistema e das células dos resíduos; volume e
composição dos resíduos; recalques.
66
V. Análise de Custos
A análise de custos envolve avaliação econômica de todas as etapas do
aterro, sendo determinada pelos aspectos específicos de cada projeto e
dependendo do local onde esse será implantado. Desta forma, Castilhos Junior
e outros (2003), exemplificam com valores estimativos de custo relativo à obra
de implantação de uma trincheira pelo modelo de aterro sustentável/PROSAB
na cidade de Catas Altas, MG, que apresenta uma população urbana de 2.969
habitantes, produção per capita de 0,470 Kg/RSU, produção diária de 1.250,0
Kg de RSU e abrangência da coleta de 90%. A trincheira construída foi
projetada para ter vida útil de 90 dias e dimensionamento de 30,0 m de
comprimento, com 5m de largura de topo, com 3,0 m de base e com 3,0 m de
profundidade apresentou um custo estimado de execução, operação e
fechamento de R$ 3.269,31 e um custo estimado para implantação das obras
de infra-estrutura e equipamentos de R$ 13.860,32.
67
2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MODELOS DA CONDER,
CETESB E PROSAB
Os Elementos Elencados Pertinentes aos Modelos Simplificados em Foco são:
AQUISIÇÃO DA ÁREA - a CONDER e o PROSAB afirmam que um dos
principais custos para os municípios é a aquisição e a desapropriação do local,
dando-se preferência aos terrenos da própria prefeitura ou de baixo valor
econômico. Ainda recomendam, nos seus projetos, que as prefeituras
adquiram áreas excedentes para a disposição final dos RSU destes municípios,
com base na projeção do aumento populacional do IBGE. A CONDER
recomenda a aquisição de 10,0 ha, que é o dobro da área calculada para a
implantação do seu projeto, enquanto o PROSAB recomenda a aquisição de
5ha. O objetivo desta sugestão de acréscimo de área, visa a atender
ampliações futuras do aterro, de impedir construções de empreendimentos ou
residências, próximas e espaço para ações sociais, (BAHIA, 2002a). A
CETESB não faz estas previsões.
ESCOLHA DA ÁREA - o processo de escolha da área, Castilhos Junior
e outros (2003), sugerem critérios: ambientais, de uso e ocupação do solo, e
operacionais, que a partir da definição do local são realizados levantamentos
nos estudos preliminares: geológicos, geotécnicos, climatológicos e de usos da
água, além, da caracterização do município e no diagnóstico do GIRSU
adotado. A CETESB utiliza critérios comuns aos acima propostos, contudo, não
faz a caracterização do município nem o diagnóstico da Gestão dos RSU local,
calculando o volume de resíduos gerados por valores obtidos pelas diversas
experiências da Companhia. Segundo o projeto da CONDER, as informações e
68
os projetos, fornecidos em seu manual, pretendem capacitar aos interessados
em implantar seus aterros, apenas adaptando-os à topografia e as condições
de solo local, além de que possuam as condições sugeridas pela Companhia,
para a escolha da área.
A CONDER (nos caso de Alcobaça e Caravelas) e o PROSAB
recomendam a recuperação da área degradada dos lixões ou aterros
controlados nos municípios, por ocasião da implantação destes modelos. A
CETESB não faz menção a este tópico.
VIDA ÚTIL - a vida útil do aterro de no mínimo de 10 anos é
recomendada no processo de escolha de área (BAHIA, 2002a). Contudo, a
CETESB e o PROSAB prevêem uma vida útil de, no mínimo 5 anos, para seus
modelos. Porém o segundo, como descrito acima, pode compensar esta
carência de área, com o excedente disponibilizado para implantação do projeto.
A CONDER e o PROSAB recomendam, quando adequada, a implantação do
aterro utilizando áreas de jazidas de solo ou pedreiras desativadas, podendo
recuperar o local degradado. A CETESB não faz menção a este alternativa.
COBERTURA DOS RESÍDUOS - considerando-se as distâncias do
lençol freático utilizadas pelos modelos, o emprego das técnicas para evitar o
contato direto das águas das chuvas com os RSU (lona de PVC – CONDER e
telhado móvel e manta de PVC – PROSAB e manta mineral – os 3 modelos),
reduzindo o volume de lixiviados, que poderiam ser formados pelo acréscimo
das chuvas, e pelo tipo de solo escolhido para implantá-los (argiloso e
variações de argiloso), desta forma, podem aumentar o tempo de passagem
dos pequenos volumes de lixiviados pelo solo, possibilitando a sua filtragem,
depurando os percolados (GUIMARÃES, 2000). A CETESB não apresenta
69
alternativas com este fim, além da redução das dimensões ou seccionamento
das valas nos dias chuvosos.
VALAS SUPERPOSTAS - o Aterro de Superfície, conforme Lima (1991),
pode ser operado pelo método de trincheiras ou valas, de rampa e de área. O
método de acordo com a CETESB e a CONDER, têm como alternativa a
construção de Valas Superpostas, que otimizam a vida útil dos aterros,
reduzindo os gastos com escolha de novas áreas, os impactos inerentes do
empreendimento e a possibilidade de risco ambientais nestas áreas. Dentre os
modelos propostos somente o PROSAB não menciona esta alternativa.
NÚMERO DE HABITANTES ATENDIDOS PELO MODELO DE
ATERROS - a população atendida é, aproximadamente, de 20.000 habitantes
pelo Aterro Simplificado, considerando-se 0,7 Kg/hab/dia para o cálculo do
volume de RSU e que, até pouco mais de 20t/dia destes resíduos, é possível
operar o modelo, conforme o projeto da CONDER. Os valores de resíduos
sólidos gerados dependem do porte da cidade, conforme CETESB (1997), que
ainda afirma, com base em nossas experiências na área de assistência aos
municípios, pode ser utilizado nestes dimensionamentos o valor 0,4 Kg/hab/dia.
O modelo do PROSAB e da CETESB atendem municípios ou cidades com até
10.000 habitantes, utilizando para cálculo de volume de RSU o valor sugerido
pela CETESB.
SISTEMAS EMPREGADOS NOS MODELOS DE ATERROS – o
Sistema Drenagem das águas pluviais é de fundamental importância para os
modelos em discussão pela função de evitar a formação de grandes volumes
de lixiviados. No sistema de drenagem de gases, somente, o projeto do
PROSAB emprega pelo menos um dreno por trincheira, com as dimensões
70
propostas do seu modelo, além de utilizar alternativamente (dependendo da
profundidade do lençol freático), um sistema de tratamento de lixiviados por
recirculação (rega ou bombeamento sobre a massa de resíduos). Os modelos
da CONDER e CETESB dispensam estes sistemas.
OPERAÇÃO DOS MODELOS DE ATERROS - a descarga dos
caminhões coletores de RSU no interior das valas ou trincheiras oferece
menores riscos aos operadores comparados à descarga pela lateral das
mesmas. Esta é uma alternativa dos modelos da CONDER e do PROSAB. Nos
dias chuvosos, os três modelos se igualam nesta operação, com a descarga
executada pela lateral das valas, todavia, sugerem que esta atividade seja
criteriosa, com o máximo de atenção e segurança.
O ato de espalhar os RSU, com ferramentas manuais nos três modelos,
tem a função de melhor ocupar o volume das valas ou trincheiras. A
compactação, após o espalhamento, pode aumentar a quantidade de RSU por
unidade de volume, conforme afirmam Castilhos Junior e outros (2003),
quando sem compactação a densidade média dos resíduos é da ordem de
100,0 a 150,0 kg/m³ e para a compactação manual é da ordem de 250,0 a
350,0 kg/m³. Os modelos do PROSAB e da CONDER apresentam as
vantagens do método manual de compactação, além de sugestões de
ferramentas para esta operação. O modelo CETESB recomenda a
compactação mecânica, quando possível, ou o peso do solo removido da vala
subseqüente depositado sobre esta, para executar esta operação e os
possíveis recalques.
A cobertura com lona de PVC diretamente sobre os RSU após o
encerramento do dia de trabalho (CONDER), ou o uso de telhado móvel
71
(PROSAB) tem a função primordial de evitar o aumento do volume de lixiviados
pelo acréscimo das águas das chuvas, possibilitando reduzir os custos do
projeto, por dispensar o sistema de tratamento destes líquidos, dependendo
das condições, anteriormente analisadas, de solo e distância do lençol freático.
A cobertura dos RSU com camada de 0,1 a 0,2 m de solo diariamente, tem a
mesma função, segundo os autores dos três modelos, além de minimizar os
impactos; visual, da proliferação de vetores, dos odores e o espalhamento dos
materiais leves. A lona de PVC disposta como recomendada possibilita a
atender às duas funções, evita os impactos acima citados e impede o aumento
de volume por acréscimo das águas das chuvas e melhor aproveitamento do
volume das valas, por não ser adicionado volumes de solo a estas (BAHIA,
2002a).
TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO - a maior dificuldade observada
para os municípios de pequeno porte, segundo Castilhos Junior e outros
(2003), talvez seja a limitação de pessoal qualificado para coordenar e
operacionalizar um programa de monitoramento ambiental e geotécnico. Para
amenizar esta questão, são sugeridas parcerias com instituições públicas e
privadas, desde que tenham atividades afins. O treinamento e a capacitação da
equipe de operação é recomendado pelo PROSAB e pela CONDER, nos
municípios de Alcobaça e Caravelas, a CONDER além de apresentar o modelo
simplificado, em forma de palestra, para técnicos e secretários municipais,
treinou durante uma semana os operadores do aterro implantado e prestam
assistência periódica aos municípios.
TRIAGEM E COMPOSTAGEM - a triagem dos RSU para
reaproveitamento, reciclagem e compostagem pode promover a reinserção de
72
grande volume de materiais com economia dos recursos naturais, podendo
gerar emprego e renda. Esta operação, conforme Nunesmaia (2002), a partir
da participação das comunidades neste processo promovendo a inclusão
social, podendo melhorar as condições sanitárias, ambientais e econômicas
para estas pessoas e para os munícipes. Desta forma, as políticas públicas
devem incentivar o uso racional de materiais, aprimorando-se assim, a gestão
dos RSU dos municípios. Os modelos da CONDER e PROSAB apresentam
como alternativa a instalação de galpão, para a realização desta operação,
quando solicitada pelo município. Quando uma prefeitura optar por esta
alternativa, o IPT/CEMPRE (2000), afirma que, podem ser reduzidos cerca de
50% dos RSU destinados ao aterro, somente, com a compostagem. Contudo,
uma decisão estratégica deve ser tomada para implementá-la, optando-se pela
implantação da coleta seletiva ou triagem dos RSU. No caso da fração
orgânica o recomendado é a coleta seletiva com segregação na fonte, para
evitar à contaminação com resíduos perigosos.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL - visando valorizar os recicláveis, se deve
evidenciar a coleta seletiva como instrumento do GIRSU. Contudo, a
viabilidade da sua implantação depende fundamentalmente, da pesquisa de
mercado de recicláveis, dentre outros, além de que se deve nortear a educação
ambiental para privilegiar sempre todas as partes deste processo, pois os
resíduos segregados na fonte de origem obterão maior qualidade, como
matéria - prima secundária. Assim a educação ambiental:
[...] é instrumento da maior importância na gestão dos resíduos sólidos. Através dela pode-se levar a população a conscientizar-se da sua própria responsabilidade, fazendo que reduzam o lixo que produz e desenvolva nova visão e atitude em relação a ele [...] O instrumento educação ambiental poderá
73
e deverá intervir, a médio e longo prazo, na relação que o homem estabelece com o lixo.” (NUNESMAIA, 1997, p.36).
A CONDER oferece a educação ambiental em forma de palestras para
multiplicadores dos municípios na fase de implantação do Aterro Simplificado,
se solicitada oficialmente pelos prefeitos. O PROSAB sugere que, a
comunicação possibilite a participação social nos processos decisórios e a
educação ambiental junto ao programa de GRSU, se implementada para
formação da consciência coletiva, sobre a limpeza pública, favorecem a
melhoria dos serviços prestados.
VALAS DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE - a responsabilidade
sobre a disposição final adequada dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) é
do gerador, conforme a Resolução CONAMA n° 283, de 30 de julho de 2001
(BRASIL, 2001). Estes resíduos devem ser dispostos em valas especialmente
construídas para este fim. A CONDER prevê no projeto de Aterro Simplificado
a implantação de valas com as dimensões de 2,0 x 2,0 x 2,0 m para a
disposição dos resíduos infectantes ou biológicos, impermeabilizada no fundo e
laterais com geomembrana de PVC, cabendo ao município esta operação. Os
modelos PROSAB e CETESB não prevêem esta alternativa.
PLANO DE MONITORAMENTO - o Plano de Monitoramento, segundo
Castilhos Junior e outros (2003), é um conjunto de medidas adotadas para
avaliar os impactos e riscos ambientais de um aterro sanitário, determinando a
eficiência real dos sistemas de proteção ambiental ao longo do tempo. Este
plano deve, necessariamente, contemplar as etapas de implantação, operação
e pós-encerramento e que, pode ser periodicamente adaptado. O PROSAB
recomenda o monitoramento das águas superficiais e subterrâneas, dos gases,
74
da massa dos resíduos e do recalque. A CETESB evidencia o monitoramento
do aqüífero freático, visando o controle efetivo desse manancial com os
métodos disponíveis. Dependendo da disponibilidade de maquinários no
município, a CETESB recomenda o nivelamento da área, das valas já
encerradas ou no encerramento do aterro com o uso de motoniveladora ou
trator de esteira. A CONDER recomenda a análise das águas subterrâneas na
área de influência do aterro, caso haja dificuldades significativas na coleta de
amostras de água ou, se o órgão ambiental julgar necessário, pode ser
realizado somente uma avaliação visual das condições do aterro (asseio da
área de disposição, confinamento dos resíduos em áreas reduzidas e o
recobrimento). No encerramento das valas da CONDER, são promovidos os
recalques com a compactação mecânica ou manual destas.
ESTRUTURAS DE APOIO - as estruturas de apoio como o cercamento,
o portão com cadeado e acessos internos são comuns aos modelos, bem como
a manutenção dos drenos, acessos viários e da limpeza da área do aterro. As
estruturas da guarita, instalações para o pessoal e o galpão de triagem são
comuns aos modelos da CONDER e PROSAB. A CETESB recomenda,
utilização de tela móvel evitando o espalhamento dos RSU, o cercamento da
área do aterro com um portão com cadeado e copias das chaves com o
motorista do caminhão coletor.
A CONDER e o PROSAB recomendam a obrigatoriedade do uso de
EPIs, sendo que o segundo inclui vacinas contra doenças, não sendo
mencionada, pela CETESB, esta recomendação.
AVALIAÇÃO DO VOLUME DE RESÍDUOS COM DESINO AO ATERRO
- entre os modelos estudados, somente a CONDER e o PROSAB propõem
75
uma alternativa de avaliação da massa de resíduos que são dispostos no
aterro, por métodos indiretos.
ENCERRAMENTO DO ATERRO - o recalque das valas ou trincheiras já
encerradas pode favorecer ao aproveitamento da mesma área com a
continuidade da disposição dos RSU, como sugerem Castilhos Junior e outros
(2003), além do monitoramento do pós-encerramento. A CETESB recomenda,
como alternativa a terraplanagem gradual (das valas enceradas), caso
disponível, motoniveladoras no município, e plantio de culturas de cana-de-
açúcar ou milho, podendo assim, reduzir os custos, com a geração de renda. A
CONDER recomenda, nas trincheiras já encerradas, a compactação manual ou
mecânica, adição de terra vegetal e cobertura de grama.
O uso futuro da área é previsto na fase de projeto, conforme Castilhos
Junior e outros (2003), que pode ser reintegrada a natureza, cultivo de culturas,
como área de lazer e/ou outras atividades.
As informações deste capítulo estão sintetizadas nas páginas seguintes,
visualizadas no quadro n.° 2.1, comparando os aterros sanitários simplificados
dos modelos da CONDER, CETESB e PROSAB para municípios com até
20.000 habitantes.
76
MODELOS
Critérios
Especificações CONDER CETESB PROSAB
Estudos preliminares
sim sim sim
tamanho 5 ha 7,3 ha >2ha vida útil 10 anos >5 anos >5 anos
área para uso futuro 5ha - sim
recuperação de lixão - - sim
Distância de casas/núcleos
urbanos 0,5km a 20km 0,5km a 15km 0,5km a 15km
Distância mínima do lençol freático 4m 3m 2-3m
Escolha da área
águas superficiais 500m >200m >200m K = 10-7 cm/s sim sim sim
argiloso - sim - Solo argiloso variações sim - sim
Comp. x largura x altura (m)
(tr) >100 x 3-6 x 2-4 (c) 2-6 x 2-6 x 1-2
(v) 27 x 3 x 3 (tr) 35 x 3 a 6 x 3
ângulo dos taludes 45° a 90° 90° < 90°
Dimensão das valas (v),
trincheiras (tr) e célula (c)
valas superpostas sim/opcional não não população < 20.000 hab. < 10.000 hab < 10.000 hab. População atendida
tonelada/dia 20t/dia 10t/dia 10t/dia águas superficiais sim sim sim
lixiviados não não alternativo Sistemas de drenagens
gases não não sim
descarga interior ou lateral lateral interior ou lateral
espalhamento sim sim sim
compactação Manual ou mecânica
Mecânica (opcional)
Manual (opcional)
cobertura diária Lona de PVC ou 10-20cm de solo
10-20cm (de solo )
10-20cm de solo / Telhado Móvel
treinamento sim não sim capacitação técnica não não sim/parceria
triagem e compostagem opcional não opcional
Operacionais
tela móvel não sim não
Social Educação ambiental opcional não Opcional
Quadro n°. 2.1 - Comparação entre modelos de aterros sanitários: Simplificado/CONDER, Valas/CETESB e Sustentável/PROSAB.
77
MODELOS
Critérios
Especificações CONDER CETESB PROSAB
Disposição de RSS
vala específica/RSS sim não menciona não menciona
cobertura final 60cm 50cm 60cm
controle de recalque
sim sim sim
recalque com RSU não não sim
Encerramento da vala ou trincheira
recuperação da
área sim sim sim
águas superficiais e subterrâneas
opcional (visual) sim sim
gases não não sim Monitoramento
ambiental
pós-encerramento não não sim
cerca/cerca viva sim sim sim portão com
cadeado sim sim sim
portaria com sanitário sim não sim
instalações para pessoal
(chuveiro/sanitário) opcional não sim
cubagem sim não menciona sim
Estruturas de apoio
utilização de EPIs sim não menciona sim, inclui vacinação
Galpão de triagem compostagem/ reciclagem opcional não opcional
nivelamento da área sim sim recalque
plantio de vegetação sim sim sim
Encerramento do aterro
plantio de culturas não sim não
Quadro n°. 2.1. Comparação entre modelos de aterros sanitários: Simplificado/CONDER, Valas/CETESB e Sustentável/PROSAB. (Continuação).
78
3 EXTREMO SUL DA BAHIA: Características Gerais
3.1 Localização e limites da Região
A Região do Extremo Sul da Bahia faz fronteiras ao sul, com o Espírito
Santo, ao norte com a bacia do rio Jequitinhonha, a oeste com Minas Gerais e
a leste com o oceano Atlântico (BAHIA 1997a). No Anexo - A, Mapa 1 e no
Anexo - C, Figuras 1 e 2 visualiza-se a Região do Extremo Sul da Bahia e a
localização dos municípios de Alcobaça e Caravelas.
3.1.1 Clima / Meteorologia
CLIMA- dos tipos climáticos do Nordeste, apenas o tropical úmido está
representado na região, segundo Köppen (CEPEMAR, 2000).
Segundo índice (T-E) de THORNTHWAITE, a área está completamente
inserida dentro de um clima megatérmico, próximo ao litoral, passando a
mesotérmico em direção ao interior. A partir do índice (P-E), observa-se que a
área está quase que completamente inserida em um clima sub-úmido, o qual
passa a úmido em direção à porção litoral norte da área. (BAHIA, 1997a).
VELOCIDADE E DIREÇÃO DOS VENTOS - os ventos sopram
predominantemente de Nordeste-Sudeste durante todo o ano, com uma
velocidade média de 3,0 m/s, diminuindo a partir do litoral em direção ao
interior ( BRASIL,1997).
CHUVA - a região é caracterizada pelo elevado nível de chuvas
superiores a 1000,0 mm e pela sua uniformidade ao longo de todo o ano, sem
79
uma estação seca ou chuvosa definida. O período mais chuvoso acontece
entre outubro e fevereiro. Já o menos chuvoso ocorre entre julho e setembro,
no trecho do litoral sul da área, entre os municípios de Prado e Mucuri. A chuva
média anual encontra-se entorno de 1.400,0 mm para o Extremo Sul por ano,
(BAHIA, 1997b). As cidades de Caravelas e Alcobaça apresentam isoietas que
se desenvolvem paralelamente à costa e as precipitações têm influências dos
ventos úmidos do litoral, atingindo 1770,0 mm por ano. A distribuição das
chuvas diminui no sentido leste-oeste, onde a região litorânea caracteriza-se
pela sua maior umidade (CEPEMAR, 2000), conforme expresso no Anexo - A,
Mapa n. 2.
UMIDADE RELATIVA DO AR E EVAPORAÇÃO - a distribuição ao
longo do ano dá-se, conforme BAHIA (1997b), da seguinte forma: a primavera
e o verão são os períodos de menor umidade relativa do ar, com um valor
médio para o semestre, de 81,0%; As maiores umidades relativas do ar são
observadas nos meses de maio, junho e julho, onde a média para o trimestre é
de 83,7% e média anual de 80,0% no Sul; Os níveis de evaporação mais
elevados ocorrem nos meses de verão, atingindo os maiores valores médios
em janeiro da ordem 100,9 mm a região, caindo até o mês de junho
gradativamente, quando atinge um mínimo de 76.3 mm em Caravelas. A
evaporação média anual da região é de 1093,0 mm (BAHIA, 1997b).
TEMPERATURA - a temperatura média compensada é de 24,5°C pouco
variando ao longo do ano sendo os meses de dezembro a abril, ligeiramente,
mais quentes que os demais. Alcobaça e Caravelas apresentam média
compensada das temperaturas dos meses mais frios 22,5°C (julho a setembro)
e nos meses mais quentes 26,5°C (janeiro).
80
A nebulosidade apresenta um grau de cobertura do céu superior a
50,0% e o período de maior insolação na região acontece nos meses de
janeiro, fevereiro e março (HIGESA, 2000).
3.1.2 Geomorfologia.
Na Região do Extremo Sul ocorrem três tipos de relevo: Tabuleiros
Costeiros; Planícies Costeiras e Depósitos Fluviais, refletindo a ação dos
processos morfogenéticos sobre as unidades geológicas. A estas unidades,
conforme HIGESA (2000), correspondem relevos suaves, localmente com
encostas abruptas, predominando extensas planícies e tabuleiros.
TABULEIROS COSTEIROS - são constituídos por sedimentos terciários
do grupo Barreiras. Esta unidade está posicionada no sentido norte-sul,
apresenta largura variável (entre 20,0 e 120,0 Km), altitudes de 10,0 a 100,0 m
com leve inclinação em direção ao Oceano Atlântico, destacando-se a
presença de Falésias, como ao norte do município de Prado, e paleo-falésias
associadas principalmente aos estuários afogados, como dos rios Caravelas,
Itanhém, Peruipe e Jucuruçu. Os tabuleiros são entalhados por inúmeros vales
em forma de “U”, as paredes com inclinação entre média a fortemente
íngremes e fundo chato, nos vales dos principais rios e córregos (BAHIA,
1997b).
Destacam-se numerosas lagoas, brejos e áreas alagadiças que se
desenvolvem sobre esta unidade como resultado de camadas argilosas pouco
permeáveis, abaixo de coberturas arenosas, principalmente, nas áreas de
81
borda dos Tabuleiros, onde a influência dos depósitos costeiros facilita o
desenvolvimento de horizontes superficiais arenosos (BAHIA, 1997a).
PLANÍCIES COSTEIRAS as Planícies Costeiras associam-se aos
depósitos sedimentares resultantes dos processos marinhos e dos estuários
dos rios no período Quaternário, por variações do nível do mar e mudanças
climáticas. As Planícies Costeiras ocupam uma posição intermediária entre os
Tabuleiros Costeiros e o Oceano Atlântico, possuindo largura variável (estreitas
nos extremos norte e sul e alargada na área mediana) desde as faixas de praia
muito estreitas até 25,0 Km de largura (BRASIL, 1997). Destacam-se três
modelados, que retratam diversos processas atuantes na faixa costeira,
conforme HIGESA (2000): Depósitos Flúvio-Marinhos (Afm), Depósitos
Marinhos (Am) e Terraços Marinhos (Atm).
3.1.3 Geologia
Na região, foram individualizados três grandes domínios geológicos. As
Unidades Geológicas, segundo HIGESA (2000) são: o Complexo Metamórfico-
Magmatítico, o Grupo Barreiras e os Depósitos Aluvionares.
• Complexo Metamórfico-Magmatítico. As rochas do Complexo Metamórfico-
Magmatítico (PEKZ), de idade pré-cambriana, constituem o embasamento
cristalino da área capeadas por sedimentos do Grupo Barreiras. Esta
unidade, de acordo com BAHIA (1997a), apresenta rochas com xistosidade
desenvolvida e submetidas a diversos episódios de deformação tectônica. É
composto por metatexitos de composição kinzigítica, com faixas
neossomáticas leucocráticas, graníticas e pegmatíticas.
82
• Grupo Barreiras. Os sedimentos do Grupo Barreiras (Tb), do período
Terciário, recobrem as rochas do Complexo Metamórfico-Magmatítico e
apresenta ampla distribuição na região, com seu característico relevo em
tabuleiro e a formação de falésias no litoral. Os sedimentos Barreiras são
representados sedimentos terrigenos de ambiente continental pouco
consolidado, ou seja, por níveis lenticulares onde se alternam horizontes de
composição areno-argilosa e conglomerados, com espessuras muito
variável atingindo valores entre 3,0 e 250,0 metros.
• Depósitos Aluvionares. Os Depósitos Aluvionares de idade do Quaternário,
representados por sedimentos fluviais e flúvio-marinhos, ocorrem na costa,
principalmente ao sul de Prado até Caravelas, onde são mais
desenvolvidos, e avançam pelo continente nos vales dos principais rios da
Região, como os depósitos de planície de maré associados aos
manguezais, cordões litorâneos, barras de pontal e aluviões fluviais.
SOLOS - os principais tipos de solos encontrados na região, conforme
HIGESA (2000), e BAHIA (1997a), são:
• Latossolo Vermelho Amarelo – utilizados com predominância para
pastagens, seguido de grandes extensões de reflorestamento, em menor
escala culturas de cana-de-açúcar, mamão, melão e pimenta do reino.
• Latossolo Vermelho-Amarelo Húmico – Utilizados com pastagens e
reflorestamento.
• Podzólico Vermelho-Amarelo Escuro – Pela baixa fertilidade natural tem
limitações do seu uso, utilizado com pastagens.
• Podzol Hidromórfíco – Utilizado com pastagens naturais, por sua baixa
fertilidade e drenagem deficiente, tem pouco aproveitamento agrícola.
83
• Solos Indiscriminados de Mangues –Os substratos dos manguezais em
geral têm muita matéria orgânica, que ajudam a reter o silte (inclusive os
sistemas radiculares dos mangues são armadilhas para reter o silte),
conforme Vannucci (1999), muita matéria orgânica, alto conteúdo de sal,
pouco consistentes, com cor normalmente cinza. Utilizado para o
extrativismo de peixes, crustáceos e moluscos, além de ser muito
importante para a cadeia alimentar de muitas espécies de animais
(SHAEFFER-NOVELLI, 1995).
• Aluviais Distróficos - São representados por sedimentos fluviais e flúvio-
marinhos, compostos por areia e argila com matéria orgânica transportados
pelos cursos d’água. Uso agrícola limitado relacionado às inundações
periódicas, cultivos de subsistência, pastagens (BAHIA, 1997a).
• Areias Quartzosas Marinhas - Constituídas de areias de quartzo dos
depósitos marinhos na era anterior, caracterizados por cordões litorâneos
amalgamados, formando uma planície com ondulações alongadas e
estreitas, aonde predominam os sedimentos arenosos. Utilizado para
cultura de coco-da-baía, dendê, e outros (BAHIA, 1997a).
3.1.4 Geologia das Águas Subterrâneas.
A região possui duas unidades aqüíferas distintas: Cristalino e
Sedimentar.
AQÜÍFERO CRISTALINO - as rochas do cristalino e a camada de rocha
alterada pela ação do tempo (quando presente) de acordo com BAHIA (1997a),
é que formam este aqüífero, o qual apresenta pouca capacidade de armazenar
84
e produzir água subterrânea quando comparada a outras unidades aqüíferas.
Ocorre na porção extremo sul e a montante das principais bacias, formando o
embasamento cristalino, a chuva é um dos fatores responsáveis pela
alimentação do sistema.
AQÜÍFERO SEDIMENTAR - é representado pelos Depósitos
Quaternários de sedimentos fluviais e flúvio-marinhos e pelos sedimentos da
Formação Caravelas e Grupo Barreiras, conforme HIGESA (2000), sendo
subdividido em três aqüíferos:
• Aqüífero dos Sedimentos Quaternários concentra-se nos vales dos rios e no
litoral, entre a linha de praia e as falésias da Formação Barreiras, já
explorado em grande escala para o abastecimento de particulares e mesmo
de órgãos públicos entre as cidades de Prado e Nova Viçosa;
• Aqüífero Caravelas, onde as melhores áreas de exploração estão na faixa
entre Alcobaça e Nova Viçosa, a chuva é a principal alimentação deste
ocorrendo com atraso de um mês aproximadamente. A espessura varia
entre 140,0 m em Cumuruxatiba (Prado) no litoral e 45,0 m em Posto da
Mata (Nova Vicosa) mais para o interior, constituída por seqüências de
calcários, argilas margosas e arenitos calcíferos intercalados com areitos
grosseiros, às vezes argilosos, com folhelhos intercalados, como um
aqüífero confinado;
• Aqüífero Barreiras que permite a obtenção de duas vazões, com água de
excelente qualidade, conforme BAHIA (1997a), ocupando a porção a leste
da região, em uma faixa variável que do litoral ergue-se ao continente,
sendo uma significativa opção para o abastecimento de comunidades
urbanas e rurais.
85
3.1.5 Bacias Hidrográficas
As Bacias hidrográficas da região, conforme (BAHIA; BRASIL,
1997b,1997), são:
BACIA DO RIO MUCURI. O rio Mucuri sul nasce próximo a cidade de
Malacacheta, em Minas Gerais, a uma altitude de 800m e o Mucuri Norte nasce
a 950m próximo ao povoado de Concordia, no mesmo Estado, que juntos
formam o rio Mucuri, com vazão média de 110,79m³/s. Percorrendo uma
extensão de 450,40 km até o oceano Atlântico.
BACIA DO RIO PERUÍPE - rio Peruípe Sul e Peruípe Norte, principais
afluentes que formam o rio Peruípe. O ponto de confluência dos dois rios
acontece aproximadamente a 5 km a antes da cidade de Helvécia, com vazão
média de 26,72 m³/s. Com extensão de 144.50km até sua foz.
BACIA DO RIO ALCOBCA OU ITANHÉM - o rio Itanhém nasce em
Minas Gerais, no município de Pampã, a uma altitude de 320,0 m, com vazão
media de 43,37 m³/s. Este rio tem uma extensão de 248,0 Km até sua foz no
Oceano Atlântico.
BACIA DO RIO JUCURUÇU - o Rio Jucuruçu nasce no município de
Felizburgo, em Minas Gerais, a uma altitude de 840,0 m, e é formado a partir
da confluência dos rios Jucuruçu Braço Sul e Jucuruçu Braço Norte,
percorrendo uma extensão de 241,0 Km até o deságua no Oceano Atlântico,
com vazão media de 27,40 m³/s, próximo a cidade de Prado.
BACIA DO RIO BURANHÉM. O rio Buranhém tem o curso total de 148
km e antes de desaguar no Oceano Atlântico forma um estuário de 12 km de
comprimento, com vazão media conforme BAHIA (1997), de 25,32 m³/s, com
86
manguezais e espécies estuarinas características. O Rio Buranhém é
navegável por pequenas embarcações desde a Vila de Lage até a sua foz na
cidade de Porto Seguro, contudo, a lâmina d’água sofre influência marcante da
maré.
As características climáticas regionais possibilitam uma riqueza, pelo
seu potencial hídrico, deste recurso de fácil acesso, conforme CEPEMAR,
(2000), mesmo com a devastação da Mata Atlântica, cobertura vegetal original,
a disponibilidade hídrica é considerada muito boa.
3.1.6 Qualidade da água subterrânea.
Os poços localizados na região têm condições de serem utilizados para
abastecimento humano, pois os seus teores médios de sólidos totais, dureza,
cloretos e nitratos estão abaixo do máximo permissível, apresentando
condições de potabilidade apropriadas para o consumo (HIGESA, 2000).
VULNERABILIDADE DOS AQÜÍFEROS À POLUIÇÃO - a falta de
sistema de captação e tratamento de esgotos domésticos dos núcleos urbanos
(condicionados a fossas sépticas), na disposição inadequada dos resíduos
domiciliares e de serviços de saúde, através de lixões, e a existência de
algumas áreas de mineração e industria de transformação que despejam seus
rejeitos diretamente nos rios, estariam relacionados principalmente, como
possíveis fontes de poluição dos mananciais superficiais e subterrâneos
(BAHIA, 1997a).
• AQÜÍFERO BARREIRAS - dadas suas características litológicas, o Aqüífero
Barreiras apresenta um baixo risco de Poluição, devido ao fato de
87
apresentar um nível estático médio da água subterrânea mais profundo
(em torno de 18,0 m), além de sua composição, por vezes argilosa,
impedir a penetração direta da água de superfície. Esta, a medida que se
infiltra pelo nível não-saturado do solo fica limpa de praticamente todos os
elementos contaminantes, contudo, recomenda-se um acompanhamento
criterioso quando encontrar sobre ele área urbana e for utilizado como
fonte de abastecimento local (BAHIA, 1997a).
• AQÜÍFERO DOS SEDIMENTOS QUATERNÁRIOS - o aqüífero formado
pelos sedimentos Quaternários, aflora principalmente as margens dos rios,
onde estão situados grande parte dos núcleos urbanos e algumas sedes
municipais, é particularmente vulnerável à contaminação. Colabora para
esta condição, também, a sua natureza de aqüífero granular (arenoso),
onde as velocidades de recarga das águas subterrâneas são mais altas. O
nível estático médio deste aqüífero também contribui como um fator de risco
adicional, por ser este quase aflorante como se percebe em extensos
trechos a leste da Rodovia BA-001 entre as cidades de Alcobaça e
Caravelas (BAHIA, 1997a).
• AQÜÍFERO CARAVELAS. O aqüífero Caravelas, devido à espessura
das camadas e a sua constituição, que lhe conferem características de
confinamento, além da recarga de forma indireta, não apresenta riscos
de contaminação iminente (BAHIA, 1997b).
88
3.2 Caracterização do meio biótico
3.2.1 Ecossistemas predominantes
MATA ATLÂNTICA - a Mata Atlântica ocupava originalmente na região,
os tabuleiros costeiros e as partes mais úmidas das serras próximas ao litoral.
A Mata Atlântica, de forma geral, encontra-se em processo de regeneração,
podendo ser encontradas plantas como a juerana (Parkaia pendula), a canela -
gigante (Ocotea gardneri), a maçaranduba (Manilkara longifolia) e a sapucaia
(Lacythis pisinis) (HIGESA, 2000). A Mata Atlântica é um ambiente natural dos
mais importantes do mundo, devido à representatividade de espécies animais e
vegetais com alto grau de endemismo, que nela convivem. Contudo, a área
entre o Prado e Mucuri encontra-se desprovida desta cobertura vegetal,
restritas às áreas de proteção ambiental, particulares, do governo ou as áreas
de preservação permanentes e reserva legal exigidas no Código Florestal de
1965 (BRASIL, 1965).
As condições de clima e relevo, propiciam a formação de diferentes
regiões fitoecológicas, como: Floresta Ombrófila Densa, restinga, manguezal,
áreas brejosas/alagadiças, e mussunungas (CEPEMAR, 2000).
FLORESTA OMBRÓFILA DENSA: apesar da devastação, que vem
ocorrendo desde a época do descobrimento do Brasil, até os dias atuais, ainda
abriga uma grande diversidade de espécies animais e vegetais. As áreas mais
importantes são constituídas por espaços protegidos pelo governo e por
particulares e as Áreas de Preservação Permanentes situadas nas margens
dos rios e lagoas (BAHIA, 1997a). Dos remanescentes, a formação arbórea é
89
semelhante a Amazônica com concentração de grande variedade e quantidade
de madeira de valor, mas que rareiam em certos trechos e se adensando em
outros, podendo atingir mais de 30,0 m de altura (FERREIRA; PORTUGAL,
1991).
MANGUEZAL: o ecossistema costeiro de transição entre os ambientes
terrestres e marinhos, de acordo com Shaeffer-Novelli (1995), está sujeito ao
regime de marés, ambientes de grande importância ecológica e econômica
para as comunidades de pescadores ribeirinhos e marisqueiros dos municípios
de Alcobaça e principalmente, de Caravelas e Nova Viçosa, pois é nele que
buscam seu sustento com o extrativismo de animais, com evidência para os
crustáceos Caranguejo uçá (Ucides cordatus) e Guaiamu (Cardisoma
guanhumi), e para os moluscos Ostra de mangue (Crassostrea rhizophorae),
Sururu (Mytella falcata) e Lambreta ou ameixa (Lucina pectinata).
A sua flora é pouco diversificada, só existindo praticamente o mangue
vermelho (Rhizophora mangle), mangue branco (Laguncularia racemosa),
Siriba (Avicennia schaueriana), mangue de botão ( Conocarpus erectus),
algodão-da-praia (Hibiscus tiliaceus), gravatá (Tillandsia usneoides). No
município de Caravelas, a população que vive do extrativismo se utiliza de
árvores secas dos manguezais, como fonte de energia para beneficiamento,
bem como, para cozimento dos seus alimentos.
Os manguezais próximos dos núcleos habitados são aterrados para
expansão urbana e habitualmente, nos municípios de Alcobaça e Caravelas, do
lançamento dos efluentes sanitários e resíduos sólidos urbanos (RSU)
(HIGESA, 2000).
90
BREJOS: nessas áreas, as formações de vegetação pantanosas variam
de herbáceos até arbustivos e que foram gradativamente desmatadas, dando
lugar a implantação de vários cultivos na região, como o cultivo de cacau, e
outras frutíferas e vastas áreas de plantio de eucalipto, além de áreas de
pastagens. (HIGESA, 2000). Nas zonas urbanas, principalmente, do município
de Caravelas, estas áreas foram aterradas com RSU, para a expansão
imobiliária e para construção de vias de acesso.
RESTINGA: as restingas ocorrem nas planícies quaternárias com
predominância de Areias Quartzosas Marinhas na faixa litorânea entre
Alcobaça e Caravelas (CEPEMAR, 2000). As espécies ai encontradas são
adaptadas a altas concentrações de sal, insolação e deficiência nutricional do
solo (BAHIA, 1997a). Segundo BVQI, (2004) é comum a presença de Mangaba
(Hancornia spesiosa), Cajueiro (Anacardium occidentalis) e Pitanga (Eugenia
uniflora) entre outras.
A expansão urbana e a implantação de loteamentos na ocupação do
litoral tem degradado áreas significativas de restingas do Extremo sul da Bahia
(BAHIA, 1997a).
3.2.2 Flora Ameaçada.
Vários vegetais são citados na relação de Espécies da Flora Brasileira
Ameaçadas de Extinção pelo IBAMA n°. 37, de 03/04/1992, que para a região
destacamos: palmito (Euterpe edulis), jacarandá-da-bahia (Bdalbergia nigra),
brauna (Melanoxylon brauna) dentre outros (BRASIL, 1992).
91
FAUNA PRESUMÍVEL ASSOCIADA: a grande diversidade de ambiente
que existe na região reflete diversidade da fauna, ou seja, a Mata Atlântica
(Floresta Ombrófila Densa), com seus ecossistemas associados (manguezais e
restingas com suas áreas úmidas características), conforme Prado e outros
(2003), dada a seu elevado grau de endemismo diante da degradação
contínua, o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade
Brasileira (PROBIO) está financiando o projeto Corredor de Biodiversidade da
Mata Atlântica do Sul da Bahia em um esforço para proteger uma das regiões,
biologicamente, mais ricas e ameaçadas do planeta, onde Alcobaça e
Caravelas estão inseridas.
ANIMAIS AMEAÇADOS: a fauna da Mata Atlântica é a mais ameaçada
do país e vários animais deste ecossistema estão incluídos na Lista Oficial
Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, como: entre os
mamíferos, o primata mono-carvoeiro ou muriqui (brachyteles arachnoides), o
roedor ouriço-preto (Chetomys subsinosus), o tatu-canastra (Priodontis
giganteus) a ave sabiá-pimenta (Carponis melanocephalus), e o réptil, cágado
(Phrinops hojei), dentre outros (BRASIL, 1992).
3.2.3 Unidades de Conservação
Foram identificadas as seguintes Unidades de Conservação nos
municípios estudados (HIGESA, 2000):
• APA Ponta da Baleia/Abrolhos - criada pelo Governo do Estado da
Bahia, através do Decreto n° 2218 de 14/06/1993. Esta APA possui
34.600 ha na faixa costeira dos municípios de Alcobaça, Caravelas e
Nova Viçosa. É constituída por ecossistemas especiais e raros, como
recifes e bancos coralíneos com espécies endêmicas como Muricea
flama, Plexaurella regia, e Favia leptophylla, associados à fauna e
92
flora marinhas, (HETTZEL e outros, 1994). Na linha paralela às
praias ocorrem lagoas costeiras e uma restinga herbácea, arbóreo e
arbustiva. Os extensos manguezais formados pelos estuários dos
rios, principalmente, entre Caravelas e Nova Viçosa, refletem a
riqueza da diversidade da fauna marinha local.
• Área Sob Proteção Especial (ASPE) - criada pelo Decreto Municipal
nº 192 de 7 de junho de 1999, a área é formada por manguezal e
restingas. no Anexo – C a Figura 3.
• Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (PARNAM/Abrolhos) - criado
pelo decreto federal n° 88218, de 6 de abril de 1983, localizado no
Arquipélago Marinho de Abrolhos, com área total de 91.000 hectares,
distante cerca de 36,0 milhas náuticas do litoral do Terminal Fluvio-
Marinho de Caravelas, (BRASIL, 1986). O Parque guarda uma
grande riqueza de corais, com a formação coralínea endêmica
denominada Chapeirões. O solo das ilhas é raso, com o
desenvolvimento de uma vegetação quase que exclusivamente
herbácea de gramíneas e ciperáceas. A fauna terrestre tem sua
maior expressão nas aves. A administração do Parque está sob as
cuidados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiental e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA.
• Reserva Particular Bosque Maria Amélia Siquara - área de
preservação com 2,0 ha, aproximadamente, no perímetro urbano de
Caravelas.
• Reserva Particular do Patrimônio Natural da Fazenda Havaí (RPPN) -
criada pela portaria federal nº 701/90, situada na zona rural do
município de Caravelas, com uma área de 469,0 ha. A área é
formada por remanescentes da Mata Atlântica.
• Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Cassurubá - Estão
sendo realizados os estudos preliminares sócio-econômicos pela
organização não governamental (ONG), Conservação Internacional
do Brasil e biológicos pelo IBAMA, para atender uma demanda das
comunidades de Caravelas e Nova Viçosa que reivindicam a criação
desta reserva, como forma de conter o processo de degradação de
93
área de manguezal em especial, devido à captura intensiva de
caranguejos. A área estimada é de 43.851,0 ha, abrangendo trecho
destes municípios.
Todas as unidades de conservação citadas anteriormente encontram-se
plotadas no Anexo – A, Mapa 3.
3.3 Aspectos Sócio-Econômicos
3.3.1 Contexto Sócio-econômico
A primeira atividade econômica do Extremo Sul baiano, de acordo com
HIGESA (2000), foi a exploração do pau brasil, além da produção de açúcar e
pela pesca. No século XX houve a introdução da lavoura do cacau, por volta
dos anos vinte, seguido da pecuária.
A partir dos anos cinqüenta do século XX, com a intensificação da
exploração madeireira, a região sai do isolamento, a partir do investimento de
capitais e da articulação econômica com os estados de Minas Gerais, Espírito
Santo e Rio de Janeiro, iniciando uma nova orientação do seu
desenvolvimento. A dinâmica de ocupação populacional modifica da tênue rede
urbana esparsa e litorânea, em função principalmente, do extrativismo vegetal,
para a interiorização da ocupação regional, com a introdução de atividades
econômicas diversificadas. A pecuária foi a atividade de expressiva expansão
na ocupação da região, devido ao favorecimento de sua implantação, diante
das grandes extensões de terras desmatadas (BAHIA, 1998b).
Nos anos setenta, com o término da construção da BR-101 e o início da
diversificação da produção agropecuária e da fruticultura moderna, com
destaque para o mamão; da pecuária; da silvicultura, articulada à produção de
94
celulose e madeira, surgiu um novo vetor de crescimento econômico do
Estado da Bahia (HIGESA, 2000). Houve a expansão do turismo ao lado
destas atividades, principalmente no município de Porto Seguro e Santa Cruz
Cabrália. Já nos municípios de Prado, Alcobaça, Caravelas, Nova Viçosa e
Mucuri, esta atividade foi considerada pouco atrativa a nível turístico (BAHIA,
1997c). Com a inclusão do PARNAM/Abrolhos aos municípios citados, a região
passou a ser denominada de Complexo Turístico Ponta da Baleia/Abrolhos,
evidenciando a perspectiva de Caravelas se tornar o principal ponto de apoio
urbano deste Complexo, por sua infra-estrutura aeroviária, pelas facilidades
portuárias, beleza paisagística com seus ecossistemas ainda preservados,
além de variada flora e fauna (BAHIA, 1994). O resultado da expansão do
turismo neste Complexo está profundamente relacionado com o asfaltamento
de parte da malha viária entre estes municípios do Extremo Sul da Bahia,
sendo as artérias principais: BR-101, BA-001 e BA-290 (BRASIL, 1997).
A atividade turística, em toda a região do extremo sul baiano, apresenta
picos, principalmente, no período de férias escolares (janeiro, fevereiro março e
julho) e nos feriados nacionais.
A possibilidade de geração de empregos na região deve-se
principalmente, pelo fluxo turístico acentuado em Porto Seguro e Santa Cruz
Cabrália, refletindo, também, para os demais municípios da região (HIGESA,
2000).
É preciso atentar para a necessidade de preservação do patrimônio
natural, principalmente, os manguezais e restingas ameaçados pela
proliferação de casas, condomínios e barracas de praia, como do patrimônio
histórico, pela ação predadora de alguns turistas. A preocupação com a
95
preservação ambiental e do ordenamento dos centros turísticos demonstra a
necessidade da criação de legislação que discipline a utilização do solo e dê
proteção aos monumentos, limitando a especulação imobiliária e as atividades
predatórias desta atividade (BAHIA, 1997c).
Nos anos noventa, a principal atividade regional é a indústria de papel e
celulose, bem como, se observa até esta data (BAHIA, 1997a).
OCUPAÇÃO DO SOLO: dados do IBGE (2000), totalizam na região
Extremo Sul do Estado uma área plantada de 662.833,0 ha e um total de 13.
311 empresas agrícolas. Da área, 545.394,0 ha estão ocupados com apenas
duas atividades: pastagem e silvicultura.
O desenvolvimento da silvicultura no Extremo Sul teve início em 1972. A
estimativa da área florestal regional na atualidade é de 350,0 mil ha plantados
com pinus e eucaliptos.
Entre as principais lavouras da região, destaca-se o mamão (cuja
produção é relevante tanto a nível nacional como internacional), além de,
cacau, café, côco, abacaxi, melancia, mandioca e outros (HIGESA, 2000).
Caravelas destaca-se como 5° produtor baiano de batata-doce e 7° em cana-
de-açúcar (BAHIA, 1997 d).
A pecuária, de natureza semi-extensiva, tem como principal produção o
gado bovino. Esta atividade ocupava a maior área da região, quando
comparada com a agricultura (áreas de lavouras existentes) e as áreas de
florestas implantadas. Com o advento do “Fomento” da silvicultura, observa-se
que este quadro se altera aceleradamente com o crescimento das áreas de
eucaliptos em detrimento das de pecuária e agricultura4.
4 Fonte: Secretarias Municipais de Meio Ambiente dos municípios de Alcobaça e Caravelas .
96
Há atividade de mineração e Usina de Beneficiamento de Caulim no
município de Prado, e existe projeto de investimento previsto para a mineração
no período 2000-2004, resultante de um empreendimento a ser realizado
através da parceria entre a Petrobrás e a Chevron, na Bacia de Cumuruxatiba
(HIGESA, 2000).
PESCA - a exploração pesqueira (peixe, crustáceos e moluscos) do mar
e dos rios é uma atividade econômica de peso, principalmente nos municípios
costeiros, com menor intensidade no inverno; sendo disciplinada mediante
legislação, freqüentemente não cumprida. Os dados oficiais recentes sobre a
produção pesqueira indicam o Extremo Sul como grande produtora de pescado
da Bahia (BAHIA, 2002b).
ARTESANATO - a produção artesanal dos municípios é diversificada,
mas quantitativamente é pouco representativa nos estabelecimentos de
comércio, ressalta-se a produção artesanal dos índios, que está sendo
comercializada para Salvador, com perspectiva de atingir o Mercosul e o
mercado europeu (HIGESA, 2000).
3.4 Breve Histórico: Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos
3.4.1 Alcobaça
Segundo dados oficiais, os fundadores e colonizadores de Alcobaça
foram Antônio Gomes Pereira e Antônio Mendes. Membros de suas famílias
estabeleceram-se à margem esquerda do rio Itanhém, em terras pertencentes
a sesmaria, concedida ao capitão Francisco Martins Pereira em 06 de
97
novembro de 1697. Mais adiante, em 1752 foi fundado nesta região, o povoado
de Itanhém (BAHIA, 1997d).
Surgiram as primeiras casas de taipa e coberta com palhas de licuri
(oleaginosa), às margens deste rio. Eram circundadas com cercas de pau-a-
pique, para garantir a defesa dos moradores contra as feras e os gentios que
habitavam o litoral.
Por carta régia 3 de março de 1755, assinada pelo rei de Portugal, D. José I, foi criado o município e elevada sua sede à categoria de vila com o nome de São Bernardo de Alcobaça, a qual foi instalada em 12 de novembro de 1772, pelo Desembargador José Xavier Machado Monteiro, ouvidor e provedor da Comarca de Pôrto Seguro”. (BAHIA, 1997d, p.26).
Alcobaça recebeu este nome em homenagem a cidade natal de seus
fundadores e os terrenos deste novo município foram desmembrados das
antigas vilas de Prado e Caravelas, criando os primeiros limites territoriais
(BAHIA, 1997d).
Sua elevação à categoria de cidade deu-se por força da Lei Estadual n.º
122, de 20 de julho de 1896, tendo como governador do Estado o Conselheiro
Luís Viana. A inauguração solene foi em 22 de agosto do mesmo ano através
do juiz de direito Dr. Clemente Mendes (BAHIA, 1997d).
Em 1911, Alcobaça era formada pelo distrito da sede porém, em 1933, já
configurava também o distrito de Nossa Senhora do Itanhém. Em 30 de
dezembro 1953, através de Lei Estadual n° 628, foram criados mais 5 distritos
e o município passou a ter a seguinte constituição: Alcobaça, Batinga,
Cachoeira do Mato, Ibirajá, Itanhém, Itupeva e Medeiros Neto (BAHIA, 1997d).
A disposição dos resíduos sólidos em Alcobaça acontecia de maneira
bastante peculiar, pois esta se restringia desde a rua Vila Pena (na época
98
conhecida como rua da Palha pelas casas serem feitas de palha) até o bairro
Novelo que eram os limites da cidade, no final da década de 40. O lixo era
jogado pelos moradores através de carroças em alguns pontos próximos à
praia, onde não havia moradias5.
Só a partir do final da década de 60, a coleta dos RSU foi realizada por
um caminhão, sem um local apropriado para serem depositados os resíduos,
normalmente, junto a praia6.
Por ser uma cidade litorânea, o crescimento populacional e o aumento
do consumo aconteceram de maneira desordenada, principalmente com o fim
da obra de construção da BR-101, iniciando-se o fluxo turístico para a região
(BRASIL, 1997). Assim, esta nova fonte de recursos financeiros para o
município trouxe o aumento significativo do volume produzido de RSU,
causando danos ao meio ambiente, pois, a maior preocupação dos gestores
era atrair pessoas para o município, que no entanto não possuía uma infra-
estrutura adequada.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, os
RSU produzidos desde 2001 até os dias atuais são dispostos a céu aberto em
área localizada a 7,0 km da sede do município junto a BA-290 na Fazenda
Esperança em área de propriedade particular, conforme Anexo – C, Figura 4.
O município de Alcobaça tem a superfície de 1.825,0 Km² e dista 944,0
Km de Salvador. Ocupa o 68° lugar do Estado referente ao número de
indústrias, 44ª posição dentre os municípios baianos em número de
estabelecimentos comerciais e 54° no ranking dos municípios baianos no item
5 Conforme relato de viva voz de D. Madil Castro Pereira, antiga funcionária da prefeitura. 6 Relato do Sr. Natival Santos antigo funcionário da prefeitura e do fórum de justiça de Prado.
99
consumo de energia elétrica. O seu parque hoteleiro registra 1557 leitos com
uma população estimada em 2003 de 22.355 habitantes (BAHIA, 1977d, 2003).
O município de Alcobaça é formado por sua sede, com o mesmo nome, pelos
distritos São José, Igrejinha, Novo Destino, Pouso Alegre, Taquari, Aparaju,
Itaitinga e o Projeto 40/45, popularmente conhecido por Reforma.
No quadro abaixo estão relacionados estes distritos com suas
respectivas distâncias da sede.
Distrito
Distância da Sede
São José 30 km
Igrejinha 75 km
Novo destino 45km
Pouso Alegre 60 km
Aparaju 35 km
Taquari 50 km
Itaitinga 70 km
Projeto 40/45 (Reforma) 50 km
Quadro nº 3.1 Distância entre Alcobaça (sede) e seus distritos
Fonte: Secretaria de Obras de Alcobaça
3.4.2 Caravelas
A. Cronologia Histórica.
SÉCULO XVI - em 1503 a segunda expedição exploradora, a mando de
D. Manoel I, o Venturoso, sai do Tejo. Américo Vespúcio que comandava uma
dos navios da esquadra, dirigiu-se sozinho para o sul, depois de ver frustrada
100
sua entrada na Baia de Todos os Santos a procura do Capitão-mor, conforme
relato a seguir:
[...]não encontrou Gonçalo Coelho; dirigindo-se para o sul, costeou a terra até 18° de latitude, entrando em um pôrto, onde permaneceu alguns meses, fundando uma feitoria em que deixou 24 homens, fortificada com 12 peças de artilharia, fez negócio com o gentio, carregou pau-brasil e voltou para Lisbôa, alí chegando a 18 de junho de 1504. ...[...]... Tomando-se em consideração vários pesquizadores de nossa história, o pôrto tocado por Vespucci ou Gonçalo Coelho foi o de CARAVELAS.” (RALILE, 1949, p. 13-14).
Em 1534, Pero do Campo Tourinho por carta régia recebe a capitania de
Porto Seguro, com limite ao sul com o rio Doce e ao norte com o rio
Jequitinhonha. O atual município de Caravelas está inserido entre estes limites
(BRASIL, 1958).
Antônio Dias Adorno em 1574, foi quem deu nome ao estuário de
Caravelas, chamando-o de “RIO SANTO ANTÔNIO”, em razão de ter aportado
no dia em que a igreja comemora a morte deste santo, apelidando-o ainda de
Rio das Caravelas (RALILE, 1949).
Em 1581 foi fundada a Aldeia de Santo Antônio do Campo dos
Coqueirais (BAHIA, 1980).
NO SÉCULO XVIII – a aldeia foi elevada à categoria de Vila com o nome
de Santo Antônio do Rio das Caravelas, ato confirmado por D. Pedro II por
Carta Régia de 7 de junho de 1701, com território desmembrado de Porto
Seguro. Mais tarde, foi elevada a categoria de Freguesia Eclesiástica de Santo
Antônio de Caravelas, por Alvará Régio datado de 18 de janeiro de 1755
(BRASIL, 1958).
101
NO SÉCULO XIX - Caravelas foi elevada à sede da Comarca, entre as
vilas de Alcobaça, Prado, Viçosa e São José do Porto Alegre (atual município
de Mucuri). Neste século foi estabelecida a primeira linha marítima regular
Salvador-Caravelas com 4 vapores (RALILE, 1949).
EM 1855, foi elevada à categoria de cidade com a denominação de
Constitucional de Cidade de Caravelas, pela Lei Provincial de 23 de abril deste
ano (BAHIA, 1997d).
I. Histórico da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos
Este histórico terá como marco inicial a década de 20 do século XX,
devido à inexistência de registros anteriores a este período, referentes à gestão
dos RSU.
DÉCADA DE 20 – a coleta dos resíduos já ocorria semanalmente, na
cidade de Caravelas. A disposição dos RSU tinha como destino o aterramento
de áreas alagadas, (manguezais e várzeas) que foram consideradas focos de
proliferação de mosquitos da malária7.
DÉCADA DE 50 - na sede do município foi implementado o serviço
semanal de coleta de resíduos mecanizada, com a importação de trator para
rebocar caçamba8. A disposição final dos resíduos era inadequada a céu
aberto e não havia um único local determinado para realizar esta operação.
Antigos moradores do município enfatizaram que a Capitania dos Portos de
Caravelas nunca permitiu o lançamento de resíduos nas praias e nos rios,
7 Relato de viva voz de Elias de Jesus Siquara, antigo morador nascido no município. 8 Conforme relato de Jordonio Alves da Silva, funcionário da Prefeitura Municipal de Caravelas desde 1955.
102
principalmente na área do porto de Caravelas, inclusive, multando os
transgressores.
DÉCADA DE 60 - a decadência paulatina do modelo agro-exportador
principalmente, no nordeste brasileiro à medida que surgia no centro-sul o
processo de industrialização, diminuiu os fluxos para a região, fazendo cair em
depressão a estrutura regional alicerçada na costa, inclusive as suas cidades
(BAHIA, 1994).
Em Caravelas, abateu-se uma grave crise9, tendo como principal fator
responsável pela decadência regional a paralisação da estrada de ferro BAHIA-
MINAS e a remoção dos seus trilhos, tão bem narrada em trecho citado a
seguir da canção intitulada Ponta de Areia “Ponta de Areia ponto final, da Bahia
- Minas estrada natural, que ligava Minas ao porto ao mar. Ao caminho de ferro
mandaram arrancar...” (NASCIMENTO, 1975)
O gerenciamento do RSU resumia-se à sua coleta semanal ou com
maior freqüência, a depender das demandas, utilizando-se trator - caçamba em
Caravelas e de carroça puxada por tração animal, no povoado da Barra de
Caravelas. A disposição dos RSU era solicitada, algumas vezes, por
moradores ou proprietários de sítios próximos a núcleos habitados, utilizando
basicamente, o material para aterramento, registrando-se vários pontos
simultâneos de disposição inadequada de resíduos10.
O desconhecimento generalizado sobre os perigos à saúde pública e ao
meio ambiente, relacionados à prática inadequada de disposição dos resíduos,
foi o responsável para que, este quadro persistisse até as três últimas décadas
9 Relato de Viva Voz de Elias de Jesus Siquara, antigo morador nascido no município. 10 Conforme relato de Jordônio Alves da Silva, funcionário da Prefeitura de Caravelas desde 1955.
103
do século passado. Os resíduos eram utilizados, com maior freqüência, como
fonte de alimentação para animais domésticos, devido à fração predominante
de matéria orgânica, ou como aterramento de depressões de cavas deixadas
pela operação nas jazidas de barro, em área de manguezal, da “Olaria do Seu
Laurindinho”11 (empresa localizada às margens do rio Caravelas, que funcionou
até 1984, hoje, atual “Bairro da Olaria”), conforme observado no Anexo – C,
Figura 3. Outro bairro que surgiu do aterramento de lixo em áreas alagadiças
de manguezal e mussununga, é conhecido como “Bairro Novo”. Com o objetivo
de conter estes tipos de invasões, o município criou a Área Sob Proteção
Especial (ASPE).
DÉCADA DE 80- neste período, ocorreu um incremento da atividade
turística na região litorânea dos municípios da costa do Extremo Sul do Estado
da Bahia, como um reflexo do “boom” turístico experimentado nos municípios
de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália (BRASIL, 1997). Como conseqüência,
registra-se em Caravelas um aumento da geração de resíduos urbanos, em
especial em determinados períodos do ano (férias escolares, feriados),
impelindo a uma melhoria no serviço municipal de coleta diárias dos resíduos
urbanos na sede (trator-carroça) e varrição das ruas e carroça tração animal na
Barra de Caravelas, não ocorrendo entretanto modificações na forma
inadequada de disposição final, a céu aberto e sem um local específico para a
operação12.
O município introduz melhorias na prestação de coleta dos resíduos
11 Conforme relato de viva voz de Fabiano Antonio Costa, filho do Proprietário da extinta empresa e Ailton Francisco Paranaguá, ex – proprietário e Carpinteiro naval do “Estaleiro Olaria”, situado no local aterrado. 12 Conforme relato de viva voz de Gerson Luiz Matos Dias, motorista e prestador de serviço de coleta de RSU, desde 1986.
104
urbanos em 1986, diante do volume crescente de resíduos causado também,
pelo aumento do fluxo turístico. Na operação utilizava-se um caminhão-
caçamba, em dias alternados, na sede do município e tração animal no
povoado da Barra de Caravelas13. O destino final persistiu na disposição a céu
aberto e sem local específico, citando-se Fazenda Cajueiro, em jazida de
extração manual de areia, nas cavas da Olaria, às margens do rio Caravelas, e
na rua dos Eucaliptos. Em 1989 são criados o Departamento de Meio Ambiente
Municipal e a Seção de Paisagismo e Jardinagem, locados na Secretaria de
Saúde. O Departamento assumiu a supervisão dos serviços de coleta e
disposição final dos resíduos urbanos em interação com a Secretaria de Viação
e Obras, tendo a função de apoiar ações de educação ambiental, como a
produção de mudas utilizadas na arborização da sede do município, do
povoado e dos distritos. Ocorreu, periodicamente, distribuição de latões no
centro da cidade e nos distritos para coleta de RSU.
Os mutirões de limpeza da cidade, de praias e as campanhas de
educação ambiental com moradores promovidos pela Secretaria de Saúde não
surtiram os resultados esperados. O baixíssimo desempenho destas ações foi
atribuído à falta de continuidade das ações propostas pelos órgãos municipais
responsáveis, a difícil articulação / integração entre as secretarias e estas com
o poder privado, além do desinteresse da população. As instituições de
educação e ensino municipal e estadual foram as que mais provocaram
discussão sobre as questões ambientais, no município de Caravelas, com
trabalhos escolares sobre temas ambientais ao longo dos períodos letivos14.
13Conforme relato de viva voz de Gerson Luiz Matos Dias, motorista e prestador de serviço de coleta de RSU, desde 1986. 14 Conforme relato de viva voz de Kletslova S. Campos, ex-chefe de Divisão de Meio Ambiente Municipal.
105
DÉCADA DE 90 - o aumento do número flutuante de habitantes devido
ao turismo, desde o começo dos anos 90, gerou quantidades crescentes de
resíduos produzidos pelo turismo altamente consumidor. O comércio entre os
municípios intensificou-se, com ênfase para o mercado de frutos do mar.
Caravelas ainda é um dos maiores produtores de pescados do sul da Bahia,
principalmente, de crustáceos atraindo empresas que se instalaram com este
fim (BAHIA, 2002b).
Neste período, o município aumentou a freqüência da coleta municipal,
diante do crescente volume de resíduos e pela falta de planejamento do seu
gerenciamento. Esta operação foi ampliada abrangendo o distrito de Ponta de
Areia (carroça com tração animal e logo depois com caminhão caçamba).
Todavia, não existia a pré-determinação de horários e roteiros de coleta15 e os
RSU eram dispostos, pelos moradores, em vasilhames sem tampa e/ou em
sacos plásticos, expostos durante muito tempo até a coleta, à mercê de
animais que os espalhavam pelas cidades.
Os RSU, que habitualmente foram dispostos nos quintais por solicitação
dos moradores, geraram manifestos de populares. Desta forma, o poder
público municipal limitou a disposição destes resíduos, somente, nas áreas
mais afastadas dos centros urbanos, de maneira inadequada, a céu aberto.
A junção destes fatores - crescimento do fluxo de visitantes e o
incremento da atividade de pescado - não foi devidamente acompanhada de
melhorias na infra-estrutura da sede de Caravelas, implicando dentre outros, na
geração de volumes crescentes de resíduos. Neste período, foram registradas
15 Conforme Relato de Gerson Luiz Matos Dias, motorista e prestador de serviços de coleta de RSU, desde 1986.
106
muitas reclamações da comunidade pela grande proliferação de ratos e insetos
geração de mau cheiro16.
Como resultados da crescente pressão da comunidade local,
enfaticamente, do setor turístico e Organizações Não Governamentais - ONGs,
sobre o poder público local, registrou-se ainda em 1994, a aprovação do
Código de Posturas do Município e a criação do Conselho Municipal de Defesa
de Meio Ambiente de Caravelas – CONDEMA17.
Em 1997, foi realizado um diagnóstico pela então Divisão de Meio
Ambiente ligada à Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente
encaminhando proposta de ordenamento da coleta do lixo, que também não
logrou o êxito desejado. O avanço foi tímido no ordenamento do horário da
coleta, estabelecido diariamente no centro da cidade de Caravelas e em dias
alternados nos bairros mais afastados e também, no distrito de Ponta de Areia
e do povoado da Barra de Caravelas.
A Divisão de Meio Ambiente encaminhou proposta de sugestão de
elaboração de lei para adequar o município à Federal Lei n.º 9605/98 de
Crimes Ambientais, culminando com a aprovação da Lei Municipal n.° 100, de
22 de abril de 1998, Código do Meio Ambiente de Caravelas . Desta forma foi
imposta a coleta diferenciada de restos de podas de vegetais na sede, no
distrito de Ponta de Areia e no povoado de Barra de Caravelas e o
ordenamento da coleta do lixo. Os RSU gerados em Caravelas (sede) e no
distrito de Ponta de Areia, foram dispostos a céu aberto a 2,0 Km do centro da
sede do município, na Fazenda Cajueiro. Nesta propriedade, a atividade de
16 Conforme relato de viva voz de Kletslova S. Campos, ex-chefe de Divisão de Meio Ambiente Municipal. 17 Consta como primeiro da Região do Extremo Sul do Estado da Bahia.
107
mineração de extração de areia em restinga18 foi exercida pelo proprietário,
para uso na construção civil, inclusive pela prefeitura. A disposição dos RSU
tinha como objetivo a recuperação de área degradada, cobrindo as depressões
deixadas pela atividade. Os resíduos gerados no povoado da Barra de
Caravelas foram dispostos a céu aberto, à beira da estrada de acesso à praia
de Yemanjá19. Algumas iniciativas em busca de alternativas para solução, com
o intuito de minimizar os impactos negativos causados pelo gerenciamento
inadequado dos RSU, envolveram a Prefeitura Municipal de Caravelas, as
ONGs Instituto Baleia Jubarte – IBJ e Conservação Internacional do Brasil – CI,
e empresários de vários seguimentos comerciais. As ações incrementadas
neste período foram:
• educação ambiental, com a proposta de não lançamento dos resíduos
resultantes do beneficiamento de pescados em logradouros públicos e no
rio Caravelas:
• limpeza em mutirões, dos núcleos urbanos consolidados de Caravelas,
Ponta de Areia e Barra de Caravelas.
• divulgação de programa educativo por meio de serviço de sonorização nas
ruas de Caravelas.
• distribuição em pontos estratégicos de contentores plásticos de 200 litros,
para disposição de resíduos gerados em vias públicas, visualizados
conforme Anexo - C, Figura 5.
Estes esforços não foram suficientes para alterar o grave quadro de limpeza
urbana instalado no eixo beira mar nesta ocasião. No caso dos contentores,
estes foram criminosamente subtraídos por pessoas da comunidade, para
18 Área de Preservação Permanente com função estabilizadora de manguezal. 19 Conforme relato de Kletslova S. Campos, ex-chefe de Divisão de Meio Ambiente Municipal.
108
serem usados como reservatórios d’água em suas residências. Mesmo quando
reinstalados, (atentando-se para que os mesmos fossem furados,
previamente), o lamentável fato repetiu-se, pois, estes foram indevidamente
apoderados e calafetados20 para uso como recipiente de armazenamento
d’água21.
No dia 10 de junho de 2000 foi emitida multa, pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiental e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, à Prefeitura de
Caravelas, pela disposição inadequada de resíduos na Fazenda Cajueiro,
visualizada no Anexo - C, Figura 6. O prefeito persistiu em manter vários
pontos de disposição inadequada, inclusive em Área de Preservação
Permanente e de segurança aeroviária22. Diante dos protestos expressos pela
administração do aeroporto de Caravelas, a prefeitura concentrou a disposição
em sítio localizado no povoado da Barra de Caravelas.
O COMDEMA, motivado pela inadequação do local que a prefeitura
passou a dispor os RSU, elabora o documento intitulado Parecer Técnico de 22
de agosto de 2000. Este documento registra que os resíduos não eram
cobertos e que o local escolhido é área de restinga, próximo a lagoas costeiras,
apresentando lençol freático muito alto. Ainda solicita ao governo local, a
transferência desta para a área sugerida pelo estudo da HIGESA Engenharia
Ltda. e pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do e Estado da Bahia -
CONDER para implantação do aterro sanitário municipal.
Na negociação entre a Prefeitura de Municipal de Caravelas e o
COMDEMA, foi estabelecido um acordo, em que todos os RSU gerados em
20 Vedados os furos 21 Conforme relato de Kvetoslava S. Campos ex chefe de Divisão de Meio Ambiente Municipal 22 Conforme relato de Gerson Luiz Matos Dias, motorista e prestador de serviço de Coleta de RSU, desde 1986
109
Caravelas, Ponta de Areia e Barra de Caravelas deveriam ser dispostos no
mesmo local (restinga). Para tanto, a prefeitura se comprometia a construir
valas rasas e a recobrir a massa de resíduos, além de remover aquele disposto
em manguezal na Fazenda Cajueiro (lixão anterior multa pelo IBAMA). A
disposição deverá observar também outros critérios técnicos e operacionais de
um aterro controlado, conforme Lima (1991), pelo prazo máximo de 2 anos.
Caso a implantação de um aterro sanitário não ocorresse neste período,
deveria ser estudada e apresentada pela prefeitura, uma nova área, para dar
continuidade à disposição dos resíduos em conformidade com este acordo. As
exigências constantes no acordo não foram cumpridas a contento, uma vez
que a disposição e a cobertura não foram implementadas, tão pouco a
remoção dos resíduos da área de manguezal23.
No processo de escolha do local, conforme HIGESA (2000), para
implantação do aterro de Caravelas pela Equipe Técnica do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) dos aterros sanitários
de Prado, Alcobaça e Caravelas, só foi identificada uma área, por apresentar
viabilidade ambiental. Desta forma foi assim indicada a área a 4,5 Km do
aeroporto de Caravelas, e em média, a 32,0 Km, dos centros geradores de
RSU, sendo metade deste percurso de estrada de barro batido.
No dia 02 de novembro de 2000, o IBAMA aplicou nova penalidade
(multa nominal) ao prefeito, pela disposição inadequada na área do aterro
controlado (lixão da Barra de Caravelas), como visualiza-se no Anexo – C,
Figura 7. No dia seguinte (03/11/2000) duas novas multas foram aplicadas:
uma por reincidência nesta mesma área e outra na localidade conhecida como
caminho da praia de Yemanjá.
23 Relato de Guilherme F. Dutra, vice – presidente do CONDEMA de Caravelas (1999-2004)
110
SÉCULO XXI - o serviço de coleta dos RSU é instituído em todo o
município a partir de 2001. Quanto ao aterro controlado, sua utilização está
limitada à sede do município ao distrito de Ponta de Areia e ao povoado de
Barra de Caravelas, ainda não atendendo a todas exigências técnicas legais e
ambientais. O município está cumprindo o acordo estabelecido mantendo o
aterro controlado operando regularmente.
O IBAMA - Regional de Teixeira de Freitas, bienalmente, realiza
fiscalização nas 2 áreas onde foram aplicadas as multas (Fazenda Cajueiro e
aterro controlado), acompanhados de técnico da Divisão de Meio Ambiente,
locado na atual, Secretaria de Turismo, Esporte e Meio Ambiente.
O município de Caravelas tem a superfície de 2.267,0 Km², distando
822,0 Km de Salvador. Ocupa o 88° lugar do Estado referente ao número de
indústrias, 80ª posição dentre os municípios baianos em número de
estabelecimentos comerciais e 66° no ranking dos municípios baianos no item
consumo de energia elétrica. O seu parque hoteleiro registra 482 leitos, com
uma população estimada em 2003 de 20.481 habitantes (BAHIA, 1997d, 2003).
O município de Caravelas é formado pela sede, com o mesmo nome, pelo
povoado de Barra de Caravelas e pelos distritos de Ponta de Areia, Juerana,
Taquari, Ferrasnópolis, Nova Tribuna, Barcelona.
No quadro da página seguinte estão relacionados estes distritos com
suas respectivas distâncias da sede.
111
Distritos
Distância da sede
Santo Antônio de Barcelona 140 km
Nova Tribuna 128 km
Rancho Alegre 109 km
Nova Esperança ou
(Espora gato) 73 km
Juerana 52 km
Taquari 36 km
Barra de Caravelas 8 km
Ponta de Areia 4 km
Quadro 3.2 distâncias entre a Sede e os distritos de Caravelas
Fonte: Secretaria de Educação de Caravelas.
112
4 SISTEMA ATUAL DE DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS NOS MUNICÍPIOS DE ALCOBAÇA E CARAVELAS
A disposição a céu aberto dos RSU durante décadas teve baixos custos
financeiros para os municípios de Alcobaça e Caravelas. Muito pouco foi feito
para minimizar ou solucionar este grave problema de saúde pública e
ambiental, tanto que, os lixões são uma realidade que persistem nos dias
atuais (ver Quadros 4.1 e 4.2, pág 116 e 117). O descaso com esta questão
macula núcleos habitacionais com marcos do consumimos desmedido e a falta
de políticas públicas adequadas às realidades locais, permitindo agressões
tanto às comunidades, como também, dentre outras, às áreas de preservação
permanentes, principalmente os recursos hídricos e ecossistemas como
manguezais e restingas.
O município de Alcobaça não dispõe de um planejamento para o destino
final dos resíduos sólidos e a disposição é feita a céu aberto, em lixões, tanto
na sede como nos distritos. A “coleta diferenciada” de restos de podas de
árvores está restrita a sede e ao distrito de São José.
Na atual gestão dos RSU no município de Caravelas, somente a sede, o
distrito de Ponta de Areia e o povoado de Barra de Caravelas possuem a
disposição no mesmo Aterro Controlado. Nos outros distritos, os resíduos são
dispostos em lixões, alguns, muito próximos aos núcleos urbanos
consolidados.
113
4.1 Atual Área de Disposição Final
A escolha das áreas dos lixões se dá pela administração pública
municipal, que leva em consideração principalmente o aspecto econômico. São
escolhidas áreas que possuem menor distância dos pontos de coleta, assim
como, outras, impróprias para construções e não causem impactos visuais
(encostas). Estas áreas podem mudar de local de acordo com as pressões
populares, quando causam incômodo à vizinhança. No caso de áreas doadas
ao município por particulares e que reservam uma distância que não interfiram
diretamente nas comunidades, são menores as queixas24.
No município de Caravelas, os lixões são encontrados nos distritos de
Taquari, Ferrasnopolis, Nova Tribuna, Santo Antônio de Barcelona e Juerana.
Em Alcobaça, estas áreas se encontram de maneira representativa nos
distritos de Pouso Alegre, Novo Destino, São José e Sede, conforme dados da
Secretaria de Obras dos Municípios de Alcobaça e Caravelas,
respectivamente.
Ainda de acordo com estas secretarias, a operação dos lixões de modo
geral inicia-se com o transporte dos RSU, provenientes dos núcleos geradores,
utilizando-se caminhões, camihões-basculantes ou tratores-carretas. A
operação de transportes não ocorre a contento, visto que espalham papéis,
plásticos e outros resíduos no seu percurso, devido à ausência de
recobrimento das carrocerias. Os municípios em voga possuem apenas uma
alternativa adequada do transporte de RSU - caminhão compactador. No local
24 Conforme relato de viva voz de Eudir Rodrigues Siqueira, Secretario de Viação e Obras de Caravelas, encarregado pela coleta dos RSU
114
da disposição final o descarregamento acontece de forma aleatória, sem
critério de aproveitamento da área. Os funcionários que executam esta
operação utilizam ferramentais como enxadas, pás e garfos, ou, muitas vezes,
as próprias mãos, usando apenas luvas e algumas vezes botas como únicos
equipamentos de proteção individual.
Os lixões de Alcobaça (sede e distritos) não possuem áreas cercadas,
sendo observado a presença de animais (bovinos , suínos, muares e eqüinos);
aves (urubus); vetores de doenças (ratos, moscas, mosquitos, etc.) e de
pessoas (catadores) sem usar nenhuma proteção individual. Os RSU ali
depositados não sofrem nenhum recobrimento com solo e estão próximos a
rios ou a áreas com lençol freático raso, contaminando estes recursos hídricos.
Esta situação é mais agravante no lixão da sede, pelo volume de resíduos
coletados (36m³/dia), gerando grande volume de lixiviados que podem
comprometer o Aqüífero Sedimentar de Areias Quaternárias, pois a área de
disposição é plana e possui lençol freático raso, localizado a 1,0 m de
profundidade.
Em Caravelas, os lixões localizados nos distritos já mencionados,
apresentam problemas que se não diferem daqueles já relatados para o
município de Alcobaça (ausência de cercamento, presença de animais,
proximidade de recursos hídricos, presença de catadores, ausência de
cobertura dos RSU). As áreas de disposição são planas, com exceção do
distrito de Juerana, que utiliza encosta para disposição destes resíduos,
próxima a rodovia BA-001, trazendo perigo aos motoristas que passam por
esta via de acesso. Na sede, como também, no distrito de Ponta de Areia e no
115
Povoado de Barra de Caravelas é utilizado um único Aterro Controlado, que
pela proximidade de lagoas costeiras põem em risco estes recursos hídricos.
O volume estimado de RSU gerado é de 60m³ diários para cada
município, sofrendo flutuação sazonal, principalmente, nos meses de janeiro,
fevereiro e julho, em função do fluxo turístico regional, acrescendo até 40%
destes resíduos durante período de férias escolares e feriados nacionais, de
acordo com as informações das Secretarias de Obras destes municípios. Em
conseqüência deste fluxo, em Alcobaça, novas áreas são abertas para
disposição do excedente. Nestes valores estimados, está incluído o volume de
matéria orgânica provinda da coleta diferenciada de restos de podas de
vegetais, estimadas em 25,5 m³ para Caravela e 9,0 m³ para Alcobaça.
Ainda de acordo com as fontes citadas, em Caravelas, os resíduos de
“coleta diferenciada” não são dispostos e aterrados junto com os resíduos
residenciais dentro das valas, mas sim, dispostos sobre o terreno da área do
aterro controlado ou levado para recuperação de área degradada de lavra de
extração de areia. No caso específico de Alcobaça, por não possuir aterro
controlado, os restos vegetais são dispostos na mesma área do lixão, porém,
colocados separadamente.
As informações do sistema atual de disposição final dos RSU dos
municípios de Alcobaça e Caravelas estão sintetizadas nos quadros 4.1, e 4.2
(páginas 116 e 117), respectivamente.
116
Localidade Volume de Resíduos gerados (m³/dia)
Transporte Número de viagens/dia
Forma de disposição
final
Distância entre coleta e
disposição final (Km)
Alcobaça
(Sede)
36,0
compactador
03 basculantes 2,0/ veículo Lixão 7,0
São José 4,5 basculante 1,0 Lixão 1,0
Novo Destino 4,5 trator-carreta 1,0 Lixão 1,0
Igrejinha Não há controle
pelo Município - - Lixão *
Taquari Não há controle
pelo Município trator-carreta - Lixão *
Pouso Alegre 4,5 trator-carreta 1,0 Lixão 2,0
Itaitinga Não há controle
pelo Município - - Lixão *
Projeto 40/45
(Reforma)
Não há controle
pelo Município - - Lixão *
Quadro 4.1. Situação da coleta e disposição dos resíduos no município de Alcobaça. *A disposição é feita pelos próprios moradores em um só ponto.
Fonte: Secretaria de Obras do Município de Alcobaça.
117
Localidade
Volume de Resíduos gerados
( m³ / dia)
Transporte Número de viagens/dia
Forma de disposição
final
Distância entre coleta e
disposição final (Km)
Caravelas
(Sede) 10,0 a 12,0
Caminhão
compactador 2,0 a 3,0
Aterro
controlado* 2,0
Ponta de Areia 4,5 Caminhão
basculante Dias alternados
Aterro
controlado* 6,0
Barra de
Caravelas 4,5
Caminhão
basculante Dias alternados
Aterro
controlado* 2,0
Juerana 12,0 Caminhão
basculante 4,0
Lixão/lado da
(BA-001) 3,0
Taquari 0,3 Trator - carreta 3,0 Lixão 0,3
Ferrasnópolis 0,3 Carroça –
animal 1,0 a 2,0 Lixão 0,3
Nova Tribuna 0,3 Carrinho de
mão 6,0 Lixão 1,50
St. Antônio de
Barcelona 09
Caminhão
basculante 02 Lixão 0,50
Quadro 4.2. Situação da coleta e disposição dos resíduos no município de Caravelas. * Aterro Controlado da Barra de Caravelas
Fonte: Secretaria de Obras do Município de Caravelas.
118
4.2 Proposta
o ano de 2000, a CONDER, através da HIGESA Engenharia Ltda, fez o
levantamento de dados preliminares (EIA/RIMA), para a implantação de uma
solução de aterro sanitário convencional conjunta, para os municípios de
Prado, Alcobaça e Caravelas e antevendo a negativa dos administradores
públicos destes municípios, estudou a alternativa individual para os mesmos. A
proposta de aterro individual para estes municípios foi a escolhida por seus
administradores. O modelo simplificado sugerido pela equipe técnica da
empresa consultora, tem diferenças tecnológicas, quando comparado ao
modelo apresentado em 2002 pela CONDER do ano de 2002. As condições e
características que devem ser atendidas para os aterros de Alcobaça e
Caravelas segundo a equipe técnica da HIGESA, são:
• Adoção de Aterro Sanitário Simplificado associado a instalação simplificada
de Reciclagem e Compostagem; (consta no modelo CONDER/2002 as
instalações de reciclagem e compostagem de maneira opcional);
• Sistema de Drenagem e Tratamento do chorume por meio de Lagoa de
Estabilização impermeabilizada com argila compactada, cujos efluentes
deverão ser irrigados no solo; (não consta no modelo CONDER/2002)
• O aterro deverá atender a sede municipal de Alcobaça, neste município, e
as localidades de Ponta de Areia, Barra de Caravelas e a sede no município
de Caravelas; (como recomenda o modelo CONDER para estes
municípios);
119
• Construção e operação segundo o Método das Trincheiras, sendo
impermeabilizado o fundo e as laterais com argila compactada; (consta a
compactação somente do fundo da vala no modelo CONDER/2002);
• Operação do aterro de acordo com as boas práticas de Engenharia
Ambiental. Simultaneamente, deverá ser implantado o Plano de
Recuperação da Área Degradada (PRAD) de todos os lixões das
localidades contempladas com o aterro simplificado. Estes que serão
encerrados imediatamente, a partir do início desta atividade, que será
licenciado como o único local de recebimento de RSU das localidades
acima citadas; (como recomenda o modelo CONDER/2002);
• Monitoramento da área de influência direta do aterro inclusive na etapa de
encerramento do aterro; (como recomenda o modelo CONDER/2002);
• Recomenda atividade permanente de reciclagem e compostagem. (consta
como opcional no modelo CONDER/2002)
O Governo do Estado vem adotando uma política de implantação,
inicialmente, em 30 municípios com unidades de Aterro Sanitário Simplificado,
constando entre estes, Alcobaça e Caravelas.
A proposta apresentada em 2002 tem como premissas (BAHIA, 2002 a):
• 87,2% municípios baianos possuem população até 20.000 habitantes,
• falta de estrutura para o adequado recolhimento e disposição final de RSU,
permitindo a proliferação de doenças acarretando problemas de saúde
pública como: febre tifóide, cólera giardíase, amebíase e outros (vetores:
baratas e moscas); leptospirose, peste bubônica e tifo murino (vetores:
ratos e pulgas); teníase e cisticercose (vetores: bovinos e suínos) e
toxoplasmose (vetores: cão e gato).
120
• De baixo custo com valor atual de, aproximadamente, R$ 150.000,00
(BAHIA, 2004).
Desta forma, para a implantação desta proposta de aterro, utilizaram-se
os resultados da escolha de áreas apresentadas pela HIGESA (2000). No
município de Alcobaça, esta área está localizada a 13,0 Km da sede nas
margens da BA - 290 e no município de Caravelas está a 32,0 Km dos centros
geradores de RSU e 4,5 Km do aeroporto, sendo a metade deste percurso de
estrada de barro.
4.3 Processo de Licenciamento Ambiental
Definido, segundo a Resolução 237 de 19/12/1997 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em seu artigo 1°, parágrafo I, como:
Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. (BRASIL, 1997).
Ainda na mesma Resolução e artigo, no parágrafo II, entende-se como
licença ambiental:
...ato administrativo pelo qual o órgão ambienta competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. (BRASIL, 1997).
121
Como órgãos locais, os municípios de Alcobaça e Caravelas celebraram
convênio de cooperação técnica e administrativa com o Centro de Recursos
Ambientais (CRA) visando a descentralização da gestão ambiental,
licenciamento e fiscalização de atividades de impacto ambiental local
registrados sob o n.° 050/01 e 015/01 respectivamente. Desta forma,
Caberá aos Órgãos Locais executar as atividades de licenciamento e fiscalização das atividades efetiva ou potencialmente degradadoras com impacto direto ambiental local, nos termos do disposto na legislação federal pertinente, ou da atividade com impacto que extrapole o território municipal mediante celebração de convênio com o CRA, observadas as exigências e condições estabelecidas em regulamento. (BAHIA, 2001, p.11).
A CONDER, em agosto de 2003, informou através de telefonema aos
municípios citados que os mesmos foram agraciados com um aterro sanitário e
para a sua implantação fár-se-ia necessário a obtenção da licença ambiental e
o registro da área que seria ocupada, pelo aterro sanitário em nome da
prefeitura que deveriam ser encaminhados para esta companhia com
urgência25.
Os técnicos dessas prefeituras de posse do EIA/RIMA da HIGESA e
sem o projeto de Aterro Sanitário Simplificado (consta que até a presente data
não foi disponibilizado para os municípios) fundamentaram a Licença Ambiental
sob o processo n.° 2003-0052/TEC/LS-037 de Alcobaça e 2003-026/LS-016 de
Caravelas, conforme Anexo – B, Documentos 1, 1.1 e 2.
Em 13/11/03, através da circular n.° 008/2003, a CONDER oficializou a
contemplação de Aterro Sanitário Simplificado para os municípios em foco,
25 Conforme relato de José Crispim Dias de Almeida e Eliane Anne Gonçalves de Oliveira Ferraz, Secretários de Administração de Caravelas e Alcobaça respectivamente.
122
tendo como conseqüência a participação destes em um workshop na sede
desta Companhia, no dia 28/11/2003, sobre gestão de limpeza urbana em
pequenos municípios. Este encontro teve como objetivo preparar as 30
prefeituras contempladas para a correta dinâmica dos aterros, incluindo os
aspectos legais, ambientais, sociais, administrativos e operacionais.
Durante este encontro a prefeitura de Alcobaça promove a entrega da
licença ambiental e a cópia da escritura da área a ser ocupada pelo
empreendimento (já enviadas pelo município de Caravelas), que foram
solicitados anteriormente.
Consta na licença ambiental de Alcobaça que o aterro sanitário tem
localização na área indicada pela equipe técnica do EIA/RIMA da HIGESA
ocupando aproximadamente 6,0 ha. Após a visita técnica municipal nesta área,
não se constatou problemas quanto aos aspectos ambientais; de uso e
ocupação do solo e operacionais, para a implantação do aterro. Por este
motivo foi formalizado a Licença Ambiental Prévia que prevê entre outros
condicionantes: implantação de programas de redução de geração de resíduos
na fonte; implantação de programa que estimulem a reutilização de resíduos;
disponibilização de área de reserva para localização de construções que
permitam reciclagem e compostagem, ver Anexo – B, Documentos 1 e 1.1.
Na licença ambiental de Caravelas prevê nos seus condicionantes:
implantação do projeto de aterro sanitário na área determinada pela HIGESA ;
operar de acordo com o projeto e normas de segurança pessoal e ; promover a
coleta seletiva para realização da reciclagem. Este município, após o workshop
percebendo que modelo agora proposto possuía características que
anteriormente foram apresentadas. Desta forma publicou-se uma nova licença
123
ambiental em 18/04/2004, sob o n.° 2003-033/LS-021 ver Anexo – B,
Documentos 3 e 3.1.
Neste ultimo processo, Caravelas, solucionou o problema da escolha da
área (próxima ao aeroporto) levando em consideração a Portaria - DAC n.°
1116/GMS do Departamento de Aviação Civil, que prevê a implantação de
empreendimentos a 4,5Km no mínimo, fora do cone de aproximação das
aeronaves durante o pouso e decolagem em relação as cabeceiras das pistas,
com prévia autorização da Força Aérea Brasileira (FAB), em detrimento da
Resolução CONAMA n.° 004/95, que estabelece uma distância mínima de 13,0
Km de raio entre aeródromos e vazadouros de lixo. Por não se tratar de um
vazadouro de lixo e a área solicitada para implantação do aterro sanitário estar
situado nas distâncias indicadas pela legislação pertinente, foi concedida a
autorização pela FAB.
Uma outra problemática neste município concebida, nesta ocasião, é
que a área em questão está situada a 32,0 Km dos centros geradores de
resíduos por este motivo, nesta ultima licença se prevê a implantação de uma
unidade de triagem, fora da área do aterro viabilizando a operacionalidade e
aumento da vida útil deste, pois havendo uma triagem ocorrerá a redução do
volume de RSU direcionados ao aterro. Ressalta-se que nos arquivos desta
prefeitura existem registros de solicitações para implantação de um galpão de
triagem e equipamentos de apoio ao funcionamento deste.
Na implantação do aterro de Caravelas através da empresa Construção
e Meio Ambiente Ltda (CEEMA), vencedora de licitação para implantação dos
aterros simplificados nestes municípios objetos deste trabalho, tomou-se
conhecimento que o projeto de Caravelas abrangeria 12,0 ha, contrariando a
124
solicitação de 6,0 ha feita pela CONDER (consta na escritura desta área 7,0
ha), inclusive parte desta área está locada em Área de Preservação
Permanente26 (120,0 m do manguezal). Pela falta do projeto do Modelo de
Aterro Simplificado da CONDER, a área prevista para sua implantação não
consta na licença ambiental deste município.
26 Conforme relato de viva voz de Antonio Carlos Pires Nunes, Secretario de Turismo, Esporte e Meio Ambiente de Caravelas.
125
5 CRÍTICAS E RECOMENDAÇÕES
O modelo de Aterro Simplificado da CONDER que está sendo
implantado nos municípios de Alcobaça e Caravelas possui características
peculiares, sendo necessário evidenciá-las recomendando possíveis soluções
de baixo custo e que minimizem os riscos ambientais, principalmente, a
contaminação dos recursos hídricos. Assim sendo, a seguir, foram
mencionadas críticas e recomendações baseadas nos modelos da CETESB e
PROSAB para serem adaptadas ao modelo destes municípios, nas condições
locais.
TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ADMINISTRATIVA E
FINANCEIRA – (TECOTAF) - na concepção das tecnologias de tratamento e
disposição final de RSU para pequenos municípios, não foi observado
oficialmente um conjunto de compromissos entre o Estado e o município, que
preveja dentre outros objetivos:
• participação do município no processo de escolha de área; na
escolha dos equipamentos/instalações de apoio prioritários e na
elaboração do projeto do aterro, adaptando-os para a realidade
local;
• cooperação técnica e a elaboração de convênio entre a
CRA/CONDER e instituições de ensino/pesquisa, para capacitação
dos técnicos municipais, promoção da educação ambiental, análise
dos parâmetros de monitoramento do aterro, licenciamento de
jazidas utilizadas neste equipamento e elaboração do GIRSU;
126
• participação técnico/financeiro do Estado na etapa de elaboração do
GIRSU do município.
• orçamento municipal para garantir a implantação e manutenção do
GIRSU, visando a implementação da educação ambiental que
promova a inserção social dos catadores, a redução da geração de
RSU, o reaproveitamento e a reciclagem.
• participação técnico-financeira do Estado para os municípios de
baixa geração de recursos permitindo a ampliação, manutenção e
operação do aterro.
• cumprimento da legislação ambiental vigente com a efetiva
fiscalização do CRA
Deste modo recomendamos a criação e celebração do Termo de
Cooperação Técnica Administrativa e Financeira (TECOTAF) entre o Município
(contemplado com aterro simplificado), CRA e CONDER.
ESCOLHA DA ÁREA - os estudos preliminares, além dos
levantamentos geológicos e geotécnicos para escolha de área destinada para
aterro sanitário, não são indicados pela CONDER, deixando possivelmente
para as prefeituras este ônus, que, conforme Guimarães (2000), privilegiam os
parâmetros econômicos (adequando-os ao seu orçamento) em detrimento dos
parâmetros técnicos e ambientais.
No caso específico do Município de Caravelas, a CONDER, que prevê
no seu manual a distância de 500,0 m dos corpos d’água superficiais,
contrariando a sua proposta, locou o modelo Simplificado a 120,0 m do
manguezal. A empresa Construção e Meio Ambiente Ltda. – CEEMA,
responsável pela implantação do mesmo, apresentou a planta construtiva com
127
esta orientação, que necessita portanto de alterações. Recomenda-se que a
escolha da área seja feita com critérios ambientais, de uso, de ocupação do
solo e de técnicas operacionais, como indicado por Castilhos Junior e outros
(2003), com participação do município como previsto no TECOTAF.
REDUÇÃO DO VOLUME DE LIXIVIADOS - a Cobertura com lona de
PVC dos RSU e o bombeamento das águas não contaminadas para fora do
sistema são as indicações da CONDER, contudo, não são suficientes para
evitar a formação de lixiviados, conforme apresentado no experimento de
Teixeira e outros (2003), com riscos reais de contaminação e poluição dos
recursos hídricos. Esta situação agrava-se nos municípios em foco, cuja
precipitação pluviométrica anual conforme CEPEMAR (2000), é de 1770,0 mm,
aumentando, acentuadamente, a possibilidade da geração dos lixiviados.
Recomenda-se a redução do comprimento ou secção das valas, nos períodos
chuvosos, para evitar o aumento do volume de lixiviados, conforme indicado
pelo modelo valas/CETESB, além de um “Telhado móvel”, conforme indicado
pelo modelo trincheiras/PROSAB, por reduzir o volume de água no sistema nos
períodos mais chuvosos do ano, além de, melhorar as condições de trabalho
dos operadores. Estas técnicas somadas às já previstas pela CONDER podem
minimizar o volume dos lixiviados, reduzindo-se a entrada de águas das
chuvas.
RISCO DE CONTAMINAÇÃO DOS AQÜÍFEROS SUBTERRÂNEOS.
As distâncias do lençol freático utilizadas pelo modelo e o tipo de solo
escolhido para implantá-lo (argiloso e variações de argiloso), podem aumentar
o tempo de passagem dos lixiviados pelo solo, possibilitando a sua filtragem,
depurando os percolados (GUIMARÃES, 2000). Contudo, esta afirma que a
128
detecção do processo de contaminação não é imediata, pois a migração dos
poluentes é governada pela advecção (o contaminante é transportado pelo
fluxo natural da massa d’água subterrânea), pela dispersão e diluição do
contaminante, que apresentam velocidades reduzidas de deslocamento,
podendo ser percebidos anos ou décadas após o início do processo de
poluição. Recomenda-se a impermeabilização das valas conforme descrição no
item IMPERMEABILIZAÇÃO DO FUNDO E LATERAIS DAS VALAS, neste
capítulo. Também propõe-se realizar, periodicamente, o monitoramento das
águas superficiais e subterrâneas, através da avaliação mensal ou conforme
resultado das análise realizadas (CASTILHOS JÚNIOR e outros, 2003).
COMPACTAÇÃO - a compactação dos RSU pelo método manual,
conforme experimento de Teixeira e outros (2003), com a utilização de
compactador de concreto de 0.25 x 0.25 x 0.15 m com 23,0 Kg de peso, caindo
de uma altura de 1,5 m, resultando em uma pressão de 368,0 Kg/m², pode
acrescer 60% na quantidade de resíduos disposta por unidade de volume.
Porém, o modelo da CONDER apresenta esta técnica de maneira opcional não
obrigatória, como definido na NBR 8419 de 1985 da ABNT, onde afirma, que
devem ser utilizados princípios de engenharia para confinar na menor área
possível e no menor volume permissível, os RSU e permitindo o uso, de modo
mais eficiente, dos recursos municipais, sem degradar novas áreas.
Recomenda-se a obrigatoriedade da compactação manual, ou mecânica,
quando possível, dos resíduos para o modelo CONDER em Alcobaça e
Caravelas. Esta exigência poderá ser prevista no TECOTAF, caso formalizado.
IMPERMEABILIZAÇÃO DO FUNDO E LATERAIS DAS VALAS - o
modelo simplificado da CONDER não prevê a impermeabilização total das
129
superfícies internas das valas ou trincheiras com manta mineral e que, após o
encerramento da vala, a espessura da camada de solo não permite a produção
de líquidos percolados. Contudo, Guimarães (2002), cita que a alteração de pH
(acidificação) do solo faz com que haja uma interação deste com alguns
materiais de limpeza doméstica, presentes nos líquidos lixiviados, alterando
sua capacidade de troca catiônica e modificando a estrutura cristalina do solo,
criando condições que facilitam a percolação. No experimento de Teixeira e
outros (2002), os resultados encontrados demonstram que a falta de
impermeabilização do fundo e das laterais das valas apresentam real
capacidade de poluição e/ou contaminação do solo, e eventualmente dos
recursos hídricos (mesmo com as valas cobertas com 50 cm de solo e manta
plástica), enfatizando a necessidade de que nestes procedimentos serem
utilizadas as geomembranas. Contudo, existe uma real dificuldade financeira
dos pequenos municípios, pelo alto custo, na aquisição destas membranas
sintéticas. Recomenda-se portanto a impermeabilização do fundo e das laterais
das valas com manta mineral, conforme recomendado por Castilhos Júnior e
outros (2003), juntamente com implantação de “Sistema Híbrido” (aterro-
compostagem), principalmente para Caravelas (BAHIA, 2002a).
VALAS DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE - a CONDER inclui
nos projetos de Aterros Simplificados as valas específicas para a disposição de
RSS, para ser operado pela prefeitura local. Todavia, não estabelece com os
responsáveis pela geração destes resíduos, uma adequação de uso, que
enfatize a obrigatoriedade de dispor, somente nestas valas, os resíduos
infectantes e biológicos, como previsto pela ABNT. Recomenda-se o
estabelecimento de um Termo de Responsabilidade para o cumprimento legal
130
das resoluções e normas pertinentes entre a Vigilância Sanitária Municipal e o
gerador dos RSS permitindo assim, o bom andamento dos trabalhos evitando
riscos de contaminação dos operadores e do ambiente. Uma outra
recomendação é a solicitação dos geradores dos RSS (prevista na sua licença
ambiental), para a CONDER promover a orientação e capacitação dos
operadores, quanto ao manejo adequado do RSS.
As valas de RSS que estão sendo implantadas nos municípios de
Alcobaça e Caravelas têm dimensões de 2,0x2,0x2,0 m. A CONDER prevê no
seu modelo de aterro a impermeabilização do fundo e das laterais com a
utilização manta sintética de PVC. Contudo, conforme Castilhos Júnior e outros
(2003), este material é susceptível às variações de pH e da ação direta dos
raios solares, portanto, o seu uso será mais apropriado, como cobertura dos
resíduos (sem contato com os lixiviados). Além disso, esta manta pode sofrer
deformações devido às variações de tensões provocadas pela cobertura final
dos resíduos com solo local. Recomenda-se a utilização da manta mineral no
fundo e laterais da vala de RSS, anteriormente à manta de PVC ou manta de
PEAD, dependendo dos resultados dos estudos preliminares realizados
(condições locais) e/ou condições financeiras do município (CASTILHOS
JÚNIOR e outros, 2003).
MONITORAMENTO - a CONDER recomenda o monitoramento do
aqüífero freático sob os aterros visando o controle efetivo desse manancial, e
em caso de dificuldades significativas para coleta das amostras, ou mesmo, por
julgamento do órgão ambiental, a realização somente de um controle visual
(asseio, confinamento e recobrimento dos RSU dentre outros). Entretanto,
Castilhos Júnior e outros (2003), indicam o monitoramento nas fases de
131
implantação, operação, pós-encerramento do aterro e o monitoramento de área
degradada do lixão. Recomenda-se, portanto, o monitoramento em todas as
etapas do aterro, buscando parcerias com instituições afins, como a
Universidade Estadual de Santa Cruz, EMBASA e outros conforme o autor
acima citado.
RECUPERAÇÃO DE LIXÕES - a CONDER está se responsabilizando
pela recuperação da área degradada , que será realizada após a implantação
do modelo Simplificado, para os lixões de Alcobaça e Caravelas. A
recuperação mencionada se limita, simplesmente, no aterramento dos
resíduos, cercamento da área e a fixação de uma placa indicativa de “antigo
lixão”. Observa-se que os municípios citados, se abastecem somente, de
aqüíferos de águas subterrâneas, podendo ocasionar a contaminação destes
recursos hídricos, diante da sua vulnerabilidade (GUIMARÃES, 2000).
Recomenda-se, o estabelecimento de parcerias com ONG’s e instituições de
ensino e pesquisa para a realização de levantamentos dos dados de avaliação
do aqüífero, bem como, da massa de resíduos, nas áreas de influência dos
lixões, nos municípios onde serão implantados esta tecnologia de disposição
de RSU da CONDER (CASTILHOS JÚNIOR e outros, 2003).
AVALIAÇÃO DO VOLUME DE RESÍDUOS DISPOSTOS NO ATERRO
– devido ao custo, a CONDER não prevê a instalação de balanças rodoviárias
para mensurar a massa de resíduos que são dispostos nas valas, durante a
vida útil dos seus modelos simplificados de aterros sanitários, propondo uma
alternativa para a avaliação volumétrica por cubagem diária. Recomenda-se,
periodicamente, realização de análise gravimétrica dos RSU, em parceria com
ONG’s, instituições de ensino e pesquisa que irá gerar dados que subsidiarão
132
uma avaliação quanto à potencialidade de realizar a compostagem ou
implantar coleta seletiva, visando posterior comercialização dos materiais
recicláveis (CASTILHOS JÚNIOR e outros, 2003). Esta recomendação poderá
estar prevista no TECOTAF, caso formalizado.
SISTEMA DE DRENAGEM DE GASES E DE LIXIVIADOS - a CONDER
dispensa estes sistemas com a justificativa de que, seu modelo tem pequenas
dimensões contendo pequenos volumes de resíduos, e portanto, os gases não
se acumulariam perigosamente, dispersando-se pela camada de recobrimento
para a atmosfera. Da mesma forma, devido aos cuidados elencados para não
ser adicionada água ao sistema, a quantidade de lixiviados gerada será
minimizada podendo ser tratada pela infiltração no solo. No experimento de
Teixeira e outros (2002), evidencia a real capacidade de poluição e/ou
contaminação do solo, e eventualmente dos recursos hídricos, principalmente
em regiões de alto índice pluviométrico que é o caso dos municípios em
análise. Desta forma, recomenda-se a implantação do Sistema de Drenagem
de Lixiviados, para locais onde a área de implantação do aterro for susceptível
à contaminação das águas subterrâneas. Recomenda-se, ainda, para os
aterros Simplificados de Alcobaça e Caravelas, durante o processo de
disposição dos RSU nas valas, a implantação de drenos de gases, conforme
indicado por Castilhos Júnior e outros (2003), podendo substituir o cano de
PVC de 40,0 mm por pneus descartados e/ou garrafas PET. Esta última
recomendação é justificada pelos possíveis bolsões de gases, formados a
partir do processo de degradação da matéria orgânica dos RSU disposta na
vala, de dimensão considerável, quando comparadas com o modelo/PROSAB.
133
SISTEMA DE TRATAMENTO DE LIXIVIADOS – a CONDER não indica
o tratamento dos lixiviados para o seu modelo de aterro. Contudo, conforme já
descritos por Teixeira e outros (2002), estes efluentes podem poluir e
contaminar o solo e os aqüíferos dos municípios objeto desta pesquisa.
Recomenda-se, portanto a implantação obrigatória de uma estrutura de apoio,
conforme descrito no item GALPÃO DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM,
(capitulo 5, página 137), além de programa de ações de conscientização
descritas no item EDUCAÇÃO AMBIENTAL (capitulo 5, página 138).
CINTURÃO VERDE – a CONDER prevê no seu manual de Aterro
Sanitário Simplificado, a implantação de um cinturão verde formado por um
único alinhamento de árvores, de eucaliptos e sansão do campo, para que
possa reduzir os impactos visuais, ruídos, poeiras, odores e a ação dos ventos,
neste modelo. Porém o cinturão verde dos aterros de Alcobaça e Caravelas
estão restritos, somente, a uma linha de eucaliptos plantados com um
espaçamento entre árvores de 2,5 m, no entorno das áreas, conforme
visualiza-se no Anexo – C, Figura 8. Recomenda-se, o plantio de sansão do
campo nos espaços entre as árvores de eucaliptos, para os aterros destes
municípios (BAHIA, 2002a). Esta recomendação está relacionada,
principalmente, aos fortes ventos (3m/s, em média), constantes nestas
localidades, que promovem os impactos citados (BRASIL, 1997).
TREINAMENTO PARA OPERAÇÃO - a CONDER, prevê nos casos de
Alcobaça e Caravelas, o treinamento de uma equipe de operadores do aterro
durante uma semana, após a implantação do mesmo, resumindo-se a um
conteúdo teórico em forma de palestra conforme a apresentação do modelo
simplificado para os técnicos e secretários municipais. Recomenda - se adotar
134
um programa de treinamento contemplando também aulas práticas,
simultaneamente, a operação do aterro em um período não inferior a três
meses.
DIQUES NO INTERIOR DAS VALAS - o modelo da CONDER indica a
construção de diques no interior das valas distando 30,0 m entre si, com a
função de evitar a contaminação das águas pluviais não contaminadas pelos
lixiviados, confinando-as e promovendo seu bombeamento para o exterior da
vala. Contudo, nestes municípios, a construção destes diques deve ser
reavaliada, pois foram dispostas camadas de solo argiloso sobre o fundo da
vala, sem promover a devida aderência entre os solos, como se visualiza no
Anexo - C, Figura 9. Possivelmente a função destes diques pode ser
comprometida, pois, conforme Guimarães (2000), a migração dos poluentes se
dá pela advecção (o contaminante é transportado pelo fluxo natural da massa
d’água subterrânea), pela dispersão e diluição do contaminante. Recomenda-
se, desta forma, a construção adequada dos diques internos das valas,
promovendo a raspagem do solo no interior destas, misturando-o com o solo
adicionado para a formação do dique, que com a compactação posterior,
promove-se a devida aderência entre ambos. Nos períodos de alta intensidade
pluviométrica nestas localidades (outubro a fevereiro), ainda recomenda-se a
utilização de valas de menores comprimento ou valas seccionadas, conforme
CETESB (1997) , desta forma possivelmente evita-se o excesso do acúmulo de
água contaminada.
COMPRIMENTO E NÚMERO DE VALAS ABERTAS - nos municípios
de Alcobaça e Caravelas, a CONDER estará entregando a obra do aterro
simplificado com 4 valas (com mais de 100m de comprimento) para dispor os
135
RSU. As valas foram projetadas para estarem encerradas no prazo médio de
1,5 anos, ou seja, cada vala com vida útil de 4,5 meses, recebendo a cobertura
argilosa final mais solo orgânico e cobertura de gramíneas. Contudo, nos
municípios que possuem pluviosidade bem distribuída durante o ano, mais
acentuada nos meses entre outubro e fevereiro, as valas que estão à espera
do encerramento da sua antecedente, podem sofrer assoreamento parcial, com
o processo de erosão dos taludes e a ação dos ventos (erosão eólica) (BAHIA,
1997a). Neste período, as manobras dos caminhões na operação de descarga
colocam em risco os operadores e os bens materiais. Recomendam-se
aberturas de valas, de menor comprimento de acordo com Castilhos Júnior e
outros (2003), com vida útil entre 2 e 4 meses e que as mesmas sejam
construídas pela prefeitura de forma gradual, minimizando os efeitos negativos
relacionados anteriormente.
LOCALIDADES ATENDIDAS - o modelo de aterro sanitário em
Alcobaça atende somente a sede, e em Caravelas também nos distritos de
Ponta de Areia e Barra de Caravelas. Para os demais distritos destes
municípios não se prevê, por enquanto, solução para os lixões aí formados.
Os distritos de São José em Alcobaça e Taquari em Caravelas estão
localizados a uma distância inferior a 20,0 Km recomendados pelo projeto da
CONDER e portanto os RSU gerados, podem ser dispostos no aterro.
Recomenda-se, portanto, a implantação, em médio prazo, de “Galpões para
triagem e compostagem” nessas localidades que resultaria na minimização do
volume de resíduos destinados ao aterro e na maximização de outros materiais
(vidros, papel, papelão, latas de alumínio e garrafas PET) que serão vendidos
para empresas de reciclagem. Outros, como restos vegetais de podas, serão
136
utilizados na compostagem. Essas práticas aumentam a vida útil do aterro
sanitário destes municípios, além de reduzir os efeitos negativos decorrentes
da geração de lixiviados gerando também empregos.
Para os distritos como Pouso Alegre, Novo Destino em Alcobaça e
Ferrasnópolis e Nova Tribuna em Caravelas recomenda-se a implantação de
um aterro (modelo da CONDER) com impermeabilização das laterais e fundo
das células com manta mineral (CASTILHOS JÚNIOR e outros, 2003).
Especificamente, no distrito de Santo Antônio de Barcelona (Caravelas)
que tem uma produção de 9,0 m³ diário de RSU (volume alto segundo modelo
da PROSAB), recomenda-se o modelo misto CONDER/PROSAB/CETESB, de
aterro com as seguintes características adaptadas:
• do modelo PROSAB - dimensão e impermeabilização das valas,
telhado móvel e sistema de drenagem de gases;
• do modelo CONDER - cobertura diária com lona de PVC dos RSU,
descarga dos caminhões coletores dentro da vala, sistema de diques
para bombeamento das águas não contaminadas do fundo da vala e
secção das valas para evitar o acúmulo de água da chuva;
• do modelo CETESB - tela móvel armada para interceptar papeis e
plásticos.
As recomendações acima mencionadas, antes da implantação destas
alternativas mistas propostas, devem ser precedidas de todos os
procedimentos indicados por Castilhos Júnior e outros (2003), adicionadas, às
de educação ambiental na rede pública municipal e do Galpão de Triagem e
compostagem.
137
GALPÃO DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM - a implantação do Galpão
de Triagem e Compostagem como estrutura de apoio consta no projeto básico
da CONDER como opcional para o município. Contudo, dependendo da fonte
de recursos financeiros para a realização deste empreendimento, esta
premissa pode se modificar, chegando a inviabilizar esta opção27. A
compostagem no município, segundo IPT/CEMPRE (2000), pode reduzir até
50% do volume dos resíduos orgânicos (restos vegetais de podas, feiras livres,
domicílios e outros) com destino ao aterro sanitário, além de contribuir
significativamente com a minimização dos danos causados ao meio ambiente,
podem ser utilizados como fertilizantes (LIMA, 1997). Em Alcobaça, há uma
produção total de RSU, em média, de 20,0 m3/dia e em Caravelas de 35,0
m3/dia. Neste, já estão contabilizados os restos vegetais provenientes do
transporte marítimo de toros de eucaliptos do terminal da Aracruz Celulose.
Recomenda-se a implantação desta estrutura de apoio,
obrigatoriamente, em locais estratégicos, tendo como conseqüência a geração
de emprego e renda, além de aumentar a vida útil do aterro sanitário,
especialmente, em Caravelas, onde o aterro sanitário, a ser implantado,
encontra-se à 32,0 Km da principal fonte geradora (sede) de RSU, viabilizando
a operacionalibildade do mesmo.
A redução de geração de resíduos na fonte através de uma educação
ambiental eficaz, conforme Nunesmaia (2002), também, é uma medida
recomendada e imprescindível na gestão dos RSU.
OBTENÇÃO DE DADOS DE PESQUISA E OUTROS - a dificuldade de
obtenção de dados junto à Administração Pública Municipal ficou evidenciada
27 Conforme relato de viva voz de Maurício Fiuzza, Coordenador de Resíduos Sólidos da CONDER.
138
durante o processo de licenciamento ambiental dos aterros simplificados e está
relacionada à desorganização ou inexistência de arquivos que possuam
documentos técnicos, principalmente, por ocasião da mudança de
administração28.
Recomenda-se a criação de arquivos técnicos sob organização do
Conselho Municipal do Meio Ambiente e a criação de uma Biblioteca Ambiental
Municipal.
LICENCIAMENTO DAS JAZIDAS PARA COBERTURA DO FUNDO
DAS VALAS - o modelo de aterro sanitário da CONDER prevê uma camada de
30 cm de areia depositada no fundo das quatro valas, inicialmente abertas,
com o objetivo de não ocorrer alagamento, prejudicando a entrada de
caçambas durante a disposição dos RSU. Esta areia é proveniente de outro
local e, portanto, faz-se necessário a Licença de Lavra junto ao Departamento
Nacional de Produção Mineral – DNPM prevista em legislação própria,
juntamente com o Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) sob
responsabilidade de um profissional habilitado. Essas exigências não são
pontuadas no projeto da CONDER, ficando o município à margem da
legislação pertinente. Recomenda-se que tal licença seja prevista durante a
concepção do projeto do aterro sanitário simplificado para os pequenos
municípios.
EDUCAÇAO AMBIENTAL - a CONDER dá pouca ênfase para a
educação ambiental no seu projeto. Contudo, de acordo com Nunesmaia
(1997), esta deve ser utilizada como instrumento do GIRSU e pode intervir,
positivamente, conscientizando o indivíduo, fazendo com que estabeleça, a
28 Conforme relato de viva voz de Antonio Carlos Pires Nunes, Secretario de Turismo, Esporte e Meio Ambiente de Caravelas.
139
médio e longo prazo, uma nova relação com os RSU (pela percepção das suas
responsabilidades com o meio ambiente), reduzindo assim sua produção. Para
estimular o envolvimento das comunidades locais neste processo, há a
necessidade do estreitamento de relações entre o órgão responsável pelos
serviços e a população, através de canais de comunicação permanentemente
abertos, e campanhas de sensibilização (BRASIL, 2002). Recomenda-se,
contudo, a elaboração de um Termo de Cooperação Técnica Administrativa e
Financeira, que evidencie o efetivo funcionamento do aterro, e que seja
responsabilidade das prefeituras municipais, o estabelecimento de diretrizes
educacionais a médio e longo prazo por meio de programa de educação
ambiental visando: a redução da geração, na fonte, dos RSU e valorar os
recicláveis, evidenciando a coleta seletiva.
140
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Mapa 1: Mapa Político e Administrativo do Extremo Sul da Bahia Fonte: DERBA – BA
(www.derba.ba.gov.br/db_map_teixeiradefreitas_amp.htm)
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Mapa 2: Mapa de Precipitação Média Anual Fonte: Plano Diretor de Recursos Hídricos do Extremo Sul da Bahia –
1997
149
Documento 1 - Licença Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de
Alcobaça para o aterro sanitário (Portaria 1700 / 03 de 25/11/2003) Fonte: Secretaria de Meio Ambiente de Alcobaça
150
Documento 1.1 - Licença Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Alcobaça para o aterro sanitário - verso (Portaria 1700 / 03 de 25/11/2003)
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente de Alcobaça
151
Documento 2 - Licença Ambiental da Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas para o aterro sanitário (Portaria 130 / 03 de
01/09/2003) Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas
152
Documento 3 - Licença Ambiental da Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas para o aterro sanitário (Portaria 031 / 04 de
18/03/2004) Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas
153
Documento 3.1 - Licença Ambiental da Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas para o aterro sanitário - verso (Portaria 130 /
03 de 01/09/2003) Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas
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Figura 5: Entrega de contentores plásticos para disposição de RSU Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas
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Figura 6: Área do Antigo Lixão de Caravelas - sede Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio Ambiente de Caravelas
161
Figura 7: Antiga Área do Lixão – Distrito Barra de Caravelas Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio ambiente de Caravelas
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Figura 8 - Cerca Viva e Guarita do Aterro Simplificado de Caravelas Fonte: Secretaria de Turismo, Esportes e Meio ambiente de Caravelas